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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO ACADÊMICO DE VITÓRIA DE SANTO ANTÃO
NÚCLEO DE NUTRIÇÃO
Janilton Rodrigues Lima
UTILIZAÇÃO DO PROBIÓTICO LACTOBACILLUS CASEI NA PRODUÇÃO
DE QUEIJO DE COALHO
VITÓRIA DE SANTO ANTÃO/PE
2011
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO ACADÊMICO DE VITÓRIA DE SANTO ANTÃO
NÚCLEO DE NUTRIÇÃO
UTILIZAÇÃO DO PROBIÓTICO LACTOBACILLUS CASEI NA PRODUÇÃO
DE QUEIJO DE COALHO
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado ao Curso de Graduação
em Nutrição como requisito para
conclusão do Curso de Bacharel em
Nutrição
Estudante: Janilton Rodrigues Lima
Orientador: Profª Drª Christine
Lamenha Luna Finkler
Co-orientador: Profº Drº Leandro
Finkler
VITÓRIA DE SANTO ANTÃO/PE
2011
DEDICATÓRIA
Dedico esta conquista a Ti, Senhor; és o “culpado” da minha felicidade e “réu” da
minha gratidão; quando em meio às dificuldades e lágrimas, tu acendeste em mim
alegria, esperança, força e fé.
AGRADECIMENTOS
Agradeço ao meu Deus e Pai, que desde antes da fundação do mundo, planejou
uma vida vitoriosa para mim. Agradeço ao meu Senhor Jesus, há mais de dois mil
anos atrás, garantiu-me saúde divina, vida abundante e prosperidade. Agradeço ao
Espírito Santo, meu melhor amigo, pois desde que nasci se empenhou em dar-me
ferramentas e capacitar-me para operá-las em prol da conquista dos meus desejos,
postos em meu coração segundo sua Palavra. Ainda agradeço a Deus por Ele ser
meu abrigo, minha companhia perene, por me fazer andar várias vezes sobre as
águas, por me provar que com Ele não há impossíveis e que dEle dependo
exclusivamente, por ter rompido noites tristes me dando alegria junto ao nascer do
Sol, pelo seu imenso amor imutável e pela sua fidelidade incondicional.
Agradeço a minha progenitora, Leni Rodrigues Silva Lima a mulher que mais amo
nesta Terra e que tenho a honra de chamá-la de Mãe, ela é minha amiga, minha
financiadora, minha vida. Meu coração só bate devido ao seu amor e dedicação a
mim.
Agradeço ao meu pai, José Adenilton de Lima, que sempre me disciplinou e me
ensinou a ser um homem íntegro, um homem que não tem do que se envergonhar.
Agradeço ao meu irmão, Janailton Rodrigues Lima, pois sempre me motivou a
crescer e avançar em todas as áreas da minha vida, e cada gesto de carinho, cada
olhar de preocupação, cada sorriso de comemoração junto as minhas Vitórias, me
faz hoje dizer para ele que o amo e que sou grato a Deus por me dá-lo como irmão.
Agradeço ao Fábio Costa de Vasconcelos, alguém tão especial pra mim e que apesar
de longe, sempre esteve perto. Alguém que é muito mais que um amigo, que tem
um valor inestimável e que há anos tem feito parte da minha vida. Por ter me
ensinado a ser assim como ele, um nutricionista de sucesso e um professor
exemplar.
Agradeço a Universidade Federal de Pernambuco em especial ao Centro Acadêmico
de Vitória, pela oportunidade de cursar minha graduação, sendo educado com
bastante excelência e pelas oportunidades de desenvolver atividades de monitoria,
pesquisa e extensão. E ainda sou grato pelas bolsas recebidas de auxílio moradia.
Agradeço a PROPESQ – CNPq, que financiaram e possibilitaram o desenvolvimento
dos meus projetos de iniciação científica e realização do trabalho de conclusão de
curso.
Agradeço ao IPA, e ao Laboratório de Bactérias Entomopatogênicas, onde pude
aprender a trabalhar com microbiologia e desenvolver parte das minhas pesquisas,
aqui registro: Liane Maranhão, Gilvanda Ribeiro e Valdemar.
Agradeço a empresa Natural da Vaca®, por ter cedido o soro de leite para o
desenvolvimento da pesquisa.
Agradeço a Érika Maria Freitas, pois me ajudou a dar os primeiros passos
acadêmicos, ensinando-me a ser disciplinado, ser exigente comigo mesmo e que
biologia celular e embriologia são campos fascinantes de estudo. Agradeço-a, pois a
vendo lecionar aprendi não apenas o que ensinar, mas como ensinar. Mesmo em
meio de vários conflitos e mal entendidos, ela não desistiu de mim.
Agradeço a todos que me perseguiram ou que algum dia me causaram dor, pois me
fizeram ser mais forte, forjei no fogo das lutas um caráter puro, inquestionável e
uma essência de campeão.
Agradeço a todos aqueles que foram meus professores da infância até os dias
atuais, principalmente os da UFPE-CAV. Destaco em especial aqueles que foram e
são referências de vida, ensino e pesquisa: Carolina Peixoto, Carmem Lygia Burgos,
Carol Virgínia Gois Leandro, Eduila Couto, Keila Dourado, Juliana Oliveira e René
Duarte. A didática destes e a sensibilidade no construir do meu saber foram
extremamente importantes, para estruturação dos meus sonhos após esta
graduação e capacitação profissional.
Agradeço aos técnicos do Laboratório de Bromatologia, Higiene dos alimentos,
Microbiologia e Técnica dietética: Marcela Araújo, Michelle, Silvio, Danúbia Freitas,
Rafael, Kelly, Dewson e Renato.
Agradeço as primeiras técnicas de laboratório da UFPE-CAV Edilene Maria e
Sidicléia, pois nunca esquecerei as palavras de conselho e incentivo, dos lanches
que pagaram pra mim e das caronas que ganhei indo para casa. Aquelas noites
difíceis se converteram hoje em alegria e gratidão a vocês.
Agradeço aos meus amigos de confinamento no laboratório, Elizandra, Hebe,
Elidiane, Hyrlleson, Carina, Ana Karina, Cibele Maria, Renata Soares, Viviane
Lansky, Gabriella Dias, Franciscleide, Aline, pois com eles passei a maior parte dos
meus dias nos últimos 2 anos, trocando experiências de vida e conhecimento
científico, e pude prosseguir lutando pelos meus objetivos acadêmicos e pessoais.
Cada madrugada, cada ajuda, cada acidente, cada sentimento, cada tempo ocioso
será lembrado e valorizado, sentirei saudade de todos, em especial, destaco o
Gabriel Locatelli.
Agradeço aos meus amigos Rodrigo Martins, Marcos David, José Corrêa, Carlos
Roberto e Camilo Thomazini por várias vezes terem me consolado, me aconselhado,
aumentando minha auto-estima, e sempre me relembrando que eu sou capaz. Sou
grato pelas aventuras, passeios e momentos de descontração, bem como de
resolução de problemas.
Agradeço aos meus familiares que sempre apoiaram minhas decisões, perdoaram
minha ausência devido a dias de trabalho no laboratório, em especial a minha
sobrinha Ester Pessoa, minha cunhada Giselle Ester, as minhas avós Maria Ferreira e
Júlia Isabel, meus tios Claudenir, Yolanda Rodrigues, Ideocleide Rodrigues e Maria
Eugênia, aos meus primos Iane, Iara, Daisy, Dalila e Everthon. Sou grato a todos os
investimentos em mim de ordem financeira, espiritual ou afetiva.
Agradeço a família de coração que Deus me deu. “Há amigos mais chegados que um
irmão” Provérbios 18:24. Louvo a Deus pelo presente que ele me deu, compartilhar
vidas com Elainne Cordeiro, Nízia Mayra e Joelma Pessoa, minhas melhores amigas
e irmãs de coração. Nós somos para sempre a “família NATA”. Entre mim e Joelma
(Joba) foi amor a primeira vista, nos conhecemos um dia antes de iniciar as aulas e
cheios de sonhos e expectativas nos demos as mãos, triste foi sua partida, deixou
saudade, mas também a sua presença em meu coração, ela será a melhor
biomédica do mundo! Elainne por me suportar em amor há quatro anos, tornou-se
tão essencial para mim, que não consigo imaginar meus dias sem sua companhia.
Há quem diga que eu e Nízia somos um só, desde o despertar da manhã ao fechar
os olhos à noite, amiga de sala de aula, de estágio, de laboratório, de viagem, de
quarto, nossa sintonia é intacta e é real a recíproca do desejo puro de uma vida
feliz, de um para o outro.
Agradeço aqueles que fizeram diferença na minha caminhada, amigos de república:
Juliana, Elôysa, Bárbara, Igor, Débora e João, pessoas que eu pude admirar e amar,
pois fizeram dos meus dias, dias alegres no decorrer dos últimos quatro anos.
Agradeço ao meu co-orientador, Leandro Finkler por ter aceito o desafio de
desenvolver este trabalho, por ter me ajudado a ser um aluno bolsista de iniciação
científica me apresentando a sua esposa Christine Finkler, a esta agradeço por
último, mas ela é a principal responsável pelo êxito da minha graduação. Ela,
minha orientadora, foi durante todo tempo paciente, sábia, compreensiva e
tornou-se uma amiga. Cada dia, cada momento junto a Christine era de extrema
valia, pois não apenas aprendi ciência e tecnologia, aprendi também serenidade,
humildade e que devo fazer tudo com excelência e paciência.
EPÍGRAFE
Se clamares por conhecimento, e por inteligência alçares a tua voz, se como a
prata a buscares e como a tesouros escondidos a procurares, então entenderás o
temor do Senhor, e acharás o conhecimento de Deus. Porque o Senhor dá a
sabedoria; da sua boca é que vem o conhecimento e o entendimento.
Provérbios, capítulo 2, versículos 3 a 6.
RESUMO
É crescente o número de pesquisas sobre a elaboração, aplicação e efeito dos
alimentos com alegação de propriedade funcional. Um dos mais importantes diz
respeito à inserção de probióticos devido a diversidade de benefícios clínicos e
biotecnológicos. Lactobacillus casei é um dos microrganismos que apresenta
maiores perspectivas industriais e comerciais, mas é necessário escolher
racionalmente o alimento que irá veiculá-lo. Este trabalho objetivou produzir L.
casei por fermentação e realizar a incorporação das células, livres e encapsuladas
em alginato, em queijo de coalho. Um cultivo realizado em caldo MRS mostrou que
a fase exponencial de crescimento se inicia a partir de 9 h de cultivo. Foram
realizadas fermentações no mesmo meio com diferentes concentrações de inóculo
e em cultivo agitado (50 rpm) e estacionário, tendo-se verificado que a melhor
condição para a produção de células ocorreu a uma concentração de inóculo de 5%
(v/v). Também foi realizado um ensaio fermentativo em um meio preparado à base
de soro de leite em cultivo estacionário e agitado, observando-se que não houve
diferença significativa em relação a agitação. A fermentação realizada em soro de
leite proporcionou uma concentração final de células viáveis de 3,4 x 108 UFC/mL.
Para verificação da capacidade de adesividade intestinal de L. casei, foram
realizados testes de caracterização de hidrofobicidade e características ácido-
básicas da parede celular. Foi observado que o microrganismo possui característica
ácida e alta hidrofobicidade, demonstrando que é viável sua utilização como
probiótico. Foi realizada a imobilização de células em alginato de cálcio, sendo
obtida uma concentração de células nas microcápsulas secas de 7,40 x 107 UFC/g.
Não houve diferenças significativas entre as amostras do queijo controle e dos
queijos enriquecidos com L. casei quanto a caracterização físico-química. Os
queijos apresentaram baixa umidade provavelmente devido ao período de coleta
das amostras, entretanto verificou-se um teor de lipídios de acordo com o que é
descrito na legislação. Os resultados de contagem microbiana a partir dos queijos
de coalho controle e com inserção de células livres e imobilizadas de L. casei
demonstraram uma maior concentração de bactérias láticas no queijo contendo
células livres (1,4 x 108 UFC/g) quando comparado ao queijo controle (1,9 x 107
UFC/g), o que pode ser atribuído à incorporação de L. casei e seu crescimento no
produto. Já o queijo suplementado com células imobilizadas em alginato de cálcio
apresentou um teor de células de 9,1 x 107 UFC/g, sugerindo uma liberação gradual
de células no produto.
Palavras-chave: Lactobacillus casei. Microencapsulação. Probióticos. Queijo de
coalho. Soro de leite.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Página
Figura 1 – Imagem ilustrativa da bactéria Lactobacillus casei ..............................17
Figura 2 – L. casei, em lâmina preparada pela coloração de Gram, vista em microscopia
óptica, com aumento de 1000x ..................................................................18
Figura 3 – Formação do gel de alginato de cálcio por engaiolamento .....................21
Figura 4 - Desenho de estudo empregado no trabalho .......................................27
Figura 5 – A: Fermentação de L. casei (cultivo estacionário) em estufa com circulação
de ar. B: Fermentação de L. casei (cultivo com agitação) em shaker .....................31
Figura 6 – Análise de contaminantes microbiológicos do fermentado de L. casei em meio
de cultura a base de soro de leite ...............................................................32
Figura 7 – A: Gotejamento da suspensão celular de L. casei em alginato na solução de
cloreto de cálcio, sob leve agitação. B: microcápsulas formadas de L. casei. C: Lavagem
das microcápsulas. D: microcápsulas úmidas ..................................................34
Figura 8 – Etapas da fabricação do queijo de coalho .........................................37
Figura 9 – Variação da absorbância e do pH durante o cultivo do inóculo de L. casei em
meio caldo MRS .....................................................................................39
Figura 10 – Variação da absorbância durante o cultivo de L. casei em meio caldo MRS
nas condições de cultivo estacionário e agitado a 50 rpm e com concentrações de
inóculo de 1 e 5%(v/v) .............................................................................40
C D
Figura 11 – Valores de velocidade máxima de crescimento celular de L. casei em meio
caldo MRS nas condições de cultivo estacionário e agitado a 50 rpm e com
concentrações de inóculo de 1 e 5% (v/v) .....................................................40
Figura 12 – Variação do pH durante o cultivo de L. casei em meio caldo MRS nas
condições de cultivo estacionário e agitado a 50 rpm e com concentrações de inóculo
de 1 e 5%(v/v) ......................................................................................41
Figura 13 – Concentração de células de L. casei em meio a base de soro de leite de
acordo com o tipo de cultivo (concentração de inóculo de 5% v/v) .......................43
Figura 14 – Porcentagem de hidrofobicidade e características ácido-básicas da parede
celular de L. casei .................................................................................44
Figura 15 – Curva de secagem das partículas de alginato contendo L. casei .............45
Figura 16 – A: microcápsulas de L. casei úmidas. B: microcápsulas de L. casei após a
secagem .............................................................................................46
Figura 17: Queijos de coalho após 7 dias de maturação refrigerada (10ºC). A: queijo
controle, sem probióticos. B: queijo enriquecido com microcápsulas de L. casei. C:
queijo enriquecido com células livres de L. casei ............................................48
LISTA DE TABELAS
Página
Tabela 1 – Composição do meio caldo MRS ................................................29
Tabela 2 – Composição do meio à base de soro de leite ................................30
Tabela 3 – Composição do leite pasteurizado tipo C padronizado Bom Leite® .....35
Tabela 4 – Concentração de células viáveis de acordo com a condição de cultivo em
meio caldo MRS (tempo de cultivo de 32 h) ..............................................42
Tabela 5 – Composição centesimal do soro de leite empregado nos cultivos
de L. casei ......................................................................................43
Tabela 6 – Concentração de células viáveis de L. casei de acordo com a amostra nos
ensaios de imobilização ......................................................................45
Tabela 7 – Dados de perda de massa percentual dos queijos ao longo do tempo ...47
Tabela 8 – Composição centesimal dos queijos realizada após 10 dias de preparo .47
Tabela 9 – Análise microbiológica dos queijos realizada após 10 dias de preparo...47
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária
FAO/OMS – Food and Agriculture Organization/Organização Mundial de Saúde
CVB – Caldo Verde Brilhante
EMB – Eosina Azul de Metileno
MRS – DE MAN, ROGOSA e SHARPE
PCA – Plate Count Agar
UFC – Unidade Formadora de Colônia
RDC – Resolução da Diretoria Colegiada
LISTA DE SÍMBOLOS
µL – microlitros
µm - micrômetro
g – grama
h – hora
L – litro
M – molar
mg – miligrama
min - Minuto
mL – Mililitro
NaCl – Cloreto de Sódio
HCl – Ácido Clorídrico
CaCl2 - Cloreto de Cálcio
nm – nanômetro
O2 – oxigênio(forma molecular)
p/v – peso por volume
v/v – volume por volume
pH - potencial hidrogeniônico
rpm – rotação por minuto
mg/L – miligrama por litro
g/L – grama por litro
% - percentual
ºC – grau Celcius
® - marca registrada
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 14
CARACTERIZAÇÃO DO PROBLEMA...................................................................................................................... 14
MARCO TEÓRICO .................................................................................................................................................. 15
JUSTIFICATIVA ..................................................................................................................................................... 23
OBJETIVOS ............................................................................................................ 25
OBJETIVO GERAL ................................................................................................................................................. 25
OBJETIVOS ESPECÍFICOS ..................................................................................................................................... 25
HIPÓTESES ............................................................................................................ 26
METODOLOGIA ....................................................................................................... 27
ÁREA ...................................................................................................................................................................... 27
OBJETO DE ESTUDO E GRUPOS DE ESTUDO ..................................................................................................... 27
PERÍODO DE REFERÊNCIA ................................................................................................................................... 27
DESENHO DO ESTUDO ......................................................................................................................................... 27
DEFINIÇÃO DAS VARIÁVEIS ................................................................................................................................. 28
MÉTODO DE COLETA DE DADOS ......................................................................................................................... 29
MÉTODOS DE ANÁLISE ......................................................................................................................................... 29
ASPECTOS ÉTICOS ............................................................................................................................................... 39
RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................................ 40
CONCLUSÕES ......................................................................................................... 51
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 53
14
INTRODUÇÃO
CARACTERIZAÇÃO DO PROBLEMA
O principal objetivo da nutrição é promover, manter e restabelecer a saúde
através da alimentação. Quando o estado nutricional de um indivíduo está
adequado, o corpo pode se desenvolver e crescer com uma manutenção ideal. Para
isto é importante ter o controle da ingestão hídrica, de macronutrientes e
micronutrientes, que consequentemente proporciona uma melhor qualidade de
vida.
Segundo a portaria nº 42 da ANVISA (BRASIL, 1998), alimento é toda
substância que se ingere no estado natural, semi-elaborada ou elaborada,
destinada ao consumo humano, incluídas as bebidas e qualquer outra substância
utilizada em sua elaboração, preparo ou tratamento, excluídos os cosméticos, o
tabaco e as substâncias utilizadas unicamente como medicamentos. Os padrões de
vida da sociedade moderna, inclusive a alimentação, muitas vezes contribuem para
o acometimento da saúde, e isso é refletido na transição epidemiológica e
nutricional (BATISTA FILHO e RISSIN, 2003; PINHEIRO, FREITAS, e CORSO, 2004).
O avanço da ciência e tecnologia dos alimentos pode garantir produtos
alimentícios que além de suprirem as necessidades nutricionais, tenham boas
características organolépticas e sejam seguros para o consumidor, integrando uma
alimentação saudável que proporcione benefícios físicos e psicológicos para os
comensais. O ideal é que a dieta de todos seja equilibrada, tenha qualidade,
esteja na quantidade correta de acordo com as necessidades nutricionais
individuais, tenha harmonia entre os nutrientes e alimentos e por fim que seja
adequada levando em consideração as características fisiológicas e/ou
fisiopatológicas.
Tem se difundido no meio cientifico o estudo de alimentos que possam estar
integrados em uma alimentação equilibrada, contribuir para reduzir o risco de
algumas patologias e até maximizar as funções fisiológicas de alguns indivíduos.
Estes alimentos são empiricamente chamados de “funcionais”, e é possível
encontrar na literatura definições como: “Alimentos funcionais são todos os
15
alimentos ou bebidas que, consumidos na alimentação cotidiana, podem trazer
benefícios fisiológicos específicos, graças à presença de ingredientes
fisiologicamente saudáveis” (CÂNDIDO e CAMPOS, 2005 apud MORAES e COLLA,
2006).
A Resolução Nº 18 da ANVISA (BRASIL, 1999), diz que alegação de
propriedade funcional é relativa ao papel metabólico ou fisiológico que o nutriente
ou não nutriente tem no crescimento, desenvolvimento, manutenção e outras
funções normais do organismo humano. Alimentos com alegação de propriedade
funcional e/ou de saúde devem ser seguros para consumo sem supervisão médica.
Contudo, a RDC Nº 2 (BRASIL, 2002) alerta que "Gestantes, nutrizes e crianças
somente devem consumir estes produto sob orientação de nutricionista ou médico".
Segundo a ANVISA (BRASIL, 2008), estes alimentos incluem os ácidos graxos
ômega 3, licopeno, luteína, zeaxantina, fibras alimentares, beta glucana, dextrina
resistente, frutooligosacarídeo, goma guar parcialmente hidrolisada, inulina,
lactulose, polidextrose, psillium, quitosana, fitoesteróis, manitol, xilitol, sorbitol,
proteína de soja e por fim um dos mais popularizados e bastante divulgados
atualmente na mídia, os probióticos.
A incorporação de probióticos em alimentos tem sido uma tendência no
desenvolvimento de produtos que possam apresentar efeitos benéficos sobre a
saúde e bem-estar do hospedeiro. Dentre estes, destacam-se os leites e seus
derivados, tais como os queijos. Estes apresentam certas características que os
tornam um produto adequado para incorporar bactérias probióticas, como por
exemplo a sua capacidade tamponante e o teor de gordura, que pode oferecer
proteção às células durante a passagem pelo trato gastrointestinal (STANTON et
al., 1998).
MARCO TEÓRICO
Probióticos
Probiótico é um termo derivado do grego que significa “pró-vida”
(HAVENAAR e HUIS IN’T VELD, 1992 apud COPPOLA e TURNES, 2004). São
microrganismos vivos que quando administrados em quantidade adequada conferem
efeitos benéficos à saúde do hospedeiro (FAO/OMS, 2001). O termo probiótico foi
16
utilizado pela primeira vez para designar substâncias secretadas por
microrganismos, capazes de estimular o desenvolvimento de outros microrganismos
(LILLY e STILLWELL, 1965 apud SEQUEIRA, RIBEIRO e GOMES, 2008). Fuller (1989)
descreve que os probióticos promovem o equilíbrio da flora intestinal e para
Schrezenmeir e De Vrese (2001) os probióticos devem conter microrganismos
viáveis.
Os probióticos devem ser inócuos, não patogênicos, manter-se viáveis após
processamento tecnológico, ter longa vida de prateleira, apresentar resistência ao
baixo pH do suco gástrico e à ação das secreções pancreática e biliar, não
transportar genes transmissores de resistência a antibióticos e possuir propriedades
anti-mutagênicas e anti-carcinogênicas, assim como resistir a fagos, ao oxigênio e
ter a capacidade de colonizar o cólon. O ideal é que sejam de origem humana e é
necessário conhecer as características funcionais e fisiológicas dos microrganismos,
ou seja, conhecer os mecanismos de aderência ao epitélio intestinal, antagonismo
aos patógenos, estimulação ou supressão da resposta imunológica e estimulação às
bactérias benéficas (SALMINEM, 1998 apud MORAES e COLLA, 2006; COPPOLA e
TURNES, 2004).
O mecanismo de ação dos probióticos ainda não foi totalmente elucidado.
Seus benefícios se dão por ações diretas e indiretas, havendo uma hipótese em
relação à exclusão de microrganismos patogênicos devido à competição por sítios
de ligação e nutrientes, por isso a necessidade de uma administração continuada.
Os probióticos também podem estabelecer o equilíbrio da flora intestinal pela
liberação de bacteriocinas, ácidos orgânicos voláteis e peróxido de hidrogênio.
Também há estudos que indicam a atuação dos probióticos sobre o metabolismo
celular, reduzindo a concentração de amônia no organismo e liberando enzimas
como a lactase e inibindo enzimas pro-carcinogênicas, devido à estimulação do
sistema imunológico do hospedeiro (COPPOLA e TURNES, 2004).
A necessidade do uso de probióticos está relacionada à mudança de hábitos
alimentares e estilo de vida da sociedade atual, que promove o consumo de
alimentos processados e estéreis, o que afeta a colonização intestinal por alguns
tipos de bactérias. Além disso, o consumo de produtos antibacterianos, variando do
vinagre aos fármacos antibióticos, colabora para um desequilíbrio na microflora
intestinal (GOMES e MALCATA, 1999).
17
A ANVISA (BRASIL, 2008) estabelece que a quantidade mínima de
microrganismos probióticos viáveis deve estar situada na faixa de 108 a 109
Unidades Formadoras de Colônias (UFC) na recomendação diária do produto pronto
para o consumo, conforme indicação do fabricante. Valores menores podem ser
aceitos, desde que a empresa comprove sua eficácia. Há trabalhos que propõem
que a dose mínima diária de culturas probióticas considerada terapêutica
corresponda ao consumo de 100 g de produto contendo 6 a 7 log UFC/g (BURITI e
SAAD, 2007; KOMATSU, BURITI e SAAD, 2008; CICHOSKI et al., 2008). Entretanto, a
quantidade mínima requerida para administração dos probióticos para que se
tenham efeitos benéficos à saúde depende de cada espécie de microrganismo
devido as suas peculiaridades (CICHOSKI et al., 2008).
O veículo alimentício escolhido para a incorporação de cepas probióticas
deve ser cuidadosamente estudado para a seleção conveniente do par cepa
probiótica-veículo, para não resultar em características não peculiares ou mesmo
indesejáveis ao produto (KOMATSU, BURITI e SAAD, 2008).
Tem sido desafiador para a comunidade cientifica selecionar racionalmente
os microrganismos e incorporar-lhes em produtos alimentícios (SEQUEIRA, RIBEIRO
e GOMES, 2008). Os principais microrganismos probióticos utilizados são
Lactobacillus e Bifidobacterium. O Bergey’s Manual of Systematic Bacteriology
caracteriza os Lactobacillus como um grupo heterogêneo de bastonetes regulares,
Gram-positivos e não-esporulados (GARRITY, 2005). Estes microrganismos foram
isolados pela primeira vez por Moro no ano 1900 a partir das fezes de lactentes
amamentados ao seio materno (GOMES e MALCATA, 1999). Dentro do gênero
Lactobacillus destacam-se Lactobacillus casei, e fazem parte deste grupo
taxonômico as espécies L. casei, L. paracasei, L. rhamnosusi e L. zeae, que
apresentam comportamento fisiológico, necessidades nutricionais, condições de
crescimento e habitat muito similares. A Figura 1 ilustra o aspecto morfológico de
L. casei. e a Figura 2 apresenta a imagem de L. casei vista sob microscopia óptica
no aumento de mil vezes.
18
Figura 1 – Imagem ilustrativa da bactéria Lactobacillus casei (FONTE:
http://jpkc.njau.edu.cn/spwswx/cankao/ShowArticle.asp?ArticleID=314)
Figura 2 – L. casei em lâmina preparada pela coloração de Gram, vista em
microscopia óptica, com aumento de 1000x (Foto do autor)
Já é comum na indústria de alimentos a utilização dessas bactérias láticas,
sendo crescente o número de evidências dos benefícios do seu consumo regular. O
grupo L. casei tem grande valor comercial devido à grande diversidade de
alimentos que podem ser produzidos, como por exemplo, alimentos infantis, leites
fermentados, queijos, mousses, sorvetes, sucos, produtos cárneos curados e
fermentados e produtos farmacêuticos (LORENZ, 2009; BURITI e SAAD, 2007;
MACEDO et al., 2005; RASIC e KURMANN, 1983 apud GOMES e MALCATA, 1999;
SOUZA, et al., 2003 apud MORAES e COLLA, 2006). Além dos benefícios para saúde
19
dos comensais, L. casei pode acidificar, conferir aroma, sabor, textura e ainda
auxiliar na bioconservação dos alimentos.
Silveira (2009) conseguiu com êxito a incorporação de L. casei B-442 em suco
de caju clarificado. Também é demonstrado na literatura o sucesso da
incorporação de L. casei em iogurte. Fuchs et al. (2006), em seu trabalho, elaborou
um iogurte simbiótico com L. casei e testou a resistência deste microrganismo
simulando os processos de digestão do organismo humano. L. casei apresentou uma
boa resistência às condições simuladas, caracterizando o iogurte como um bom
veículo probiótico.
Faria, Benedet e Guerroue (2006) conseguiram produzir leite de búfala
fermentado e obtiveram 106 UFC/mL de L. casei, demonstrando assim a viabilidade
da aplicação de probióticos em alimentos.
Estudos mostram que em camundongos a utilização de L. casei como
probiótico induz uma resposta antitumoral mediada por células T e a ativação de
macrófagos, assim como a supressão da formação de tumores de cólon e inibição
de metástases pulmonares (COPPOLA e TURNES, 2004).
Quanto ao potencial de aderência celular de L. casei à mucosa, persistência
e multiplicação no intestino, para promoção dos seus benefícios ao hospedeiro, a
literatura demonstra que várias cepas de Lactobacillus e Bifidobacterium,
utilizadas como probióticos, têm essa capacidade. O potencial de adesão depende
da hidrofobicidade, da composição da parede celular e de receptores e ligantes
como as adesinas e de elementos de fixação que impedem sua eliminação pelo
peristaltismo intestinal e pelas correntes de fluidos, impedindo sua excreção pelas
fezes (TRABULSI e SAMPAIO, 2000).
A produção de ácidos, principalmente ácido láctico, por bactérias, incluindo
L. casei, reduz a proliferação de microrganismos patogênicos, pois torna o
ambiente intestinal impróprio para as condições de crescimento destes. Um dos
prováveis benefícios da acidificação do conteúdo intestinal é a estimulação do
peristaltismo evitando a constipação, regulando assim a motilidade intestinal
(TRABULSI e SAMPAIO, 2000).
Na prática clínica a administração de probióticos na dietoterapia deve ser
realizada com cautela, levando em consideração as características fisiopatológicas
de cada paciente, os sinais e sintomas e as diretrizes dietoterápicas. Segundo
20
Baorrielo et al. (2003) a administração de probióticos não causa riscos significativos
para imunodeprimidos. Entretanto, vale salientar que há pacientes nos quais a
supressão da imunidade é parte do tratamento, como por exemplo pacientes
transplantados, então cabe ao nutricionista observar o risco-benefício para cada
paciente quanto ao consumo de probióticos
Cabe também ao nutricionista a seleção do alimento diante das
recomendações nutricionais, obedecendo as leis da alimentação e em segundo
lugar os princípios de funcionalidade dos alimentos. Podemos observar que a
maioria dos alimentos enriquecidos com probióticos são de origem láctica e
geralmente constituem-se com alto teor de gordura saturada, isso também deve ser
levado em consideração no momento da determinação do plano alimentar.
Encapsulação de microrganismos probióticos
Segundo Covizzi et al. (2007), o número de publicações em periódicos
internacionais que utilizaram células imobilizadas aumentou em mais de 200% no
período de 1995 até 2007, constatando assim a importância do uso de
microrganismos imobilizados em diversos processos biotecnológicos. As técnicas
clássicas de imobilização celular podem ser classificadas em: a) naturais, as quais
incluem a formação de biofilmes e a adesão/adsorção microbiana em suportes
sintéticos ou naturais, b) artificiais, as quais incluem a encapsulação em matrizes
como alginato de cálcio ou uso de agentes ligantes.
A microencapsulação é uma tecnologia inovadora que tem sido empregada
com êxito na indústria de cosméticos, farmacêutica e alimentícia. Dentre os
propósitos gerais da microencapsulação podemos citar: transformar um líquido em
sólido, de modo a facilitar sua manipulação; transporte e adição em formulações;
separar materiais reativos; reduzir toxicidade do material ativo; promover
liberação controlada do ativo encapsulado; reduzir volatilidade ou inflamabilidade
de líquidos; mascarar odor de determinados componentes; aumentar a vida de
prateleira e proteger contra a luz, umidade e calor (FAVARO-TRINDADE, PINHO e
ROCHA, 2008).
Aplicando esta técnica na tecnologia de alimentos, mais precisamente na
elaboração de probióticos, a microencapsulação pode ser utilizada para a
21
imobilização celular, permitindo um aumento da resistência das células à ação dos
fluidos biológicos gerados no processo de digestão, íons, calor, pressão mecânica e
outros efeitos de estresse físico e bioquímico. Outra função seria a de proteger o
probiótico contra contaminantes microbiológicos (TERRA et al., 2009; LORENZ,
2009; ROSA, 2010).
As microcápsulas de probióticos podem liberar seu conteúdo de forma lenta
e controlada. Um dos objetivos do seu desenvolvimento e administração é que
possam ultrapassar intactas pelo estômago e rompam-se apenas no intestino, para
liberação dos probióticos. A escolha do agente encapsulante deve levar em
consideração os solventes e condições de ruptura das microcápsulas,
principalmente quando administradas em seres vivos (ROSA, 2010).
A imobilização celular por engaiolamento se dá pela inclusão artificial das
células, que ficam inseridas em uma malha rígida, ou semi-rígida. Mesmo
aprisionados os microrganismos podem trocar nutrientes, metabólitos e gases com
o meio (COVIZZI et al., 2007).
Há diversos tipos de polímeros empregados para encapsulação, entretanto
na indústria de alimentos um dos mais utilizados é o biopolímero alginato de sódio,
formado por unidades de ácido manurônico e ácido gulurônico unidos por ligações
glicosídicas (1,4), podendo variar em composição e sequência. Quando em presença
de cálcio e outros íons divalentes, o alginato de sódio pode, através de um
processo de ligação cruzada, trocar o íon sódio de sua estrutura por um íon
divalente, geleificando o meio em que se encontra (LORENZ, 2009; FAVARO-
TRINDADE, PINHO e ROCHA, 2008). A Figura 3 demonstra como acontece o
engaiolamento por alginato de cálcio.
22
Figura 3 – Formação do gel de alginato de cálcio por engaiolamento
(FONTE: COVIZZI et al., 2007)
Queijos
Os queijos são produtos com características peculiares que conferem
proteção às bactérias probióticas contra a ação do oxigênio, baixo pH e sais
biliares, durante a sua passagem pelo trato gastrointestinal. Esse conjunto de
características, as quais se incluem, entre outras, pH próximo ao neutro, atividade
de água normalmente elevada, matriz sólida e concentração relativamente elevada
de gordura, indica que esses produtos sejam mais adequados como veículos para os
probióticos que leites fermentados e iogurtes (KOMATSU, BURITI e SAAD, 2008).
Um dos queijos mais apreciados na Região Nordeste do Brasil é o queijo de
coalho. Geralmente o queijo tipo coalho é produzido artesanalmente, em
numerosas unidades de produção caseira e em pequenas propriedades rurais,
tornando difícil o controle de qualidade pelos órgãos de inspeção (LEITE, 2002;
2005).
Legalmente, o queijo de coalho é obtido por coagulação do leite com coalho
ou outras enzimas coagulantes apropriadas, complementada ou não por ação de
bactérias láticas selecionadas, podendo ser comercializado com até dez dias de
fabricação. Por “definição” na legislação brasileira o queijo de coalho é
classificado como queijo de massa semi-cozida ou cozida, de média a alta umidade
e um teor de gordura nos sólidos totais entre 35 e 60%. Sensorialmente deverá
apresentar consistência semi-dura, elástica, textura macia, compacta ou aberta
com olhaduras mecânicas pequenas; cor branco amarelado uniforme, sabor brando,
23
ligeiramente ácido e podendo ser salgado, odor ligeiramente ácido de coalhada
fresca, casca fina, sem trinca e não bem definida, e formato e peso variáveis
(BRASIL, 2001). Esta definição não condiz com as características reais dos queijos
de coalho produzidos na região nordeste, uma vez que ele não tem características
elásticas e não é um produto de massa cozida ou semi-cozida, pois a maior
temperatura aplicada no processo tecnológico é 37º.
CICHOSKI et al. (2008), demonstra em seu trabalho a viabilidade da inserção
de probiótico (Lactobacillus rhamnosus) em queijo prato com reduzido teor de
gordura fabricado com fibras e lactato de potássio, ocorrendo melhor
desenvolvimento das bactérias ácido láticas, maiores valores de pH e lactose.
Segundo o trabalho realizado por ALEGRO (2003), o queijo minas frescal
suplementado com Lactobacillus acidophilus e/ou com Bifidobacterium lactis,
também constitui-se em um ótimo veículo para administração de probióticos. Este
estudo ainda revela que não há diferenças sensoriais dos queijo suplementados e
não suplementados com os probióticos utilizados.
JUSTIFICATIVA
O consumo de alimentos com alegação de propriedade funcional tem sido
bastante incentivado pelos nutricionistas e médicos e contribui para quebrar o
paradigma de que a recuperação e/ou manutenção da saúde só acontece com o uso
de drogas ou produtos químicos.
Há consenso quanto aos benefícios à saúde do consumidor, mas é necessário
que esses alimentos cheguem às mesas da população em geral. Com relação a
fabricação desses alimentos, o primeiro interesse deve ser promover, manter ou
restabelecer a saúde dos indivíduos, através dos nutrientes e compostos funcionais;
o segundo interesse deve ser que a indústria tenha capacidade de produzir esses
alimentos com estas propriedades funcionais, de forma econômica e
tecnologicamente viável.
Uma vez que este trabalho visa contribuir para a otimização do processo
fermentativo de L. casei utilizando o soro de leite de vaca, que é um resíduo da
produção de queijo, pode-se contribuir para a diminuição dos custos de processo. O
24
estudo de variáveis importantes, tais como a concentração do inóculo e a agitação,
pode auxiliar na obtenção de uma maior concentração final de células viáveis.
Além disso, o soro de leite utilizado na composição do meio de cultura no processo
fermentativo pode ser originado do processamento tecnológico do queijo,
integrando as cadeias produtivas de ambos os produtos.
É possível se deparar na literatura com trabalhos que descrevem a inserção
de probióticos em diversos tipos de queijo, entretanto não foi encontrado nenhum
trabalho que desenvolvesse o probiótico L. casei em queijo de coalho de leite de
vaca.
No Brasil, principalmente na Região Nordeste, o queijo de coalho é muito
popularizado e a utilização de probióticos neste produto regional é uma alternativa
para que a população tenha um maior acesso aos alimentos com alegações de
propriedades funcionais. O produto contendo L. casei poderá integrar os cardápios
de pacientes hospitalizados, fazendo parte da dietoterapia (sob orientação
nutricional), sem que haja necessidade do uso de suplementação de probióticos.
A inserção do microrganismo encapsulado no queijo vislumbra a manutenção
da viabilidade das células por um maior período de tempo, devido a proteção
contra agentes estressores do ambiente proporcionada pelo engaiolamento das
células pelo polímero. A escolha do alginato de sódio se dá pela eficiência do
processo de encapsulação demonstrado na literatura e por esse biopolímero não ter
características tóxicas ao organismo, podendo ser utilizado sem causar danos à
saúde do homem.
25
OBJETIVOS
OBJETIVO GERAL
Produzir Lactobacillus casei por fermentação e realizar a incorporação das
células, livres e encapsuladas em alginato, em queijo de coalho.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Estudar a melhor condição de fermentação de L. casei em cultivos
estacionário e agitado, a diferentes concentrações de inóculo, utilizando
meio de cultivo padrão para bactérias láticas (caldo MRS);
Produzir L. casei utilizando como substrato soro de leite a partir das
melhores condições de cultivo da etapa anterior;
Realizar a caracterização físico-química do soro de leite;
Realizar o acompanhamento cinético dos cultivos (absorbância, pH e células
viáveis);
Avaliar as características de hidrofobicidade de L. casei;
Imobilizar as células utilizando alginato como agente encapsulante;
Preparar queijo tipo coalho contendo células probióticas livres e
imobilizadas;
Avaliar as características físico-químicas e microbiológicas dos queijos de
coalho obtidos.
26
HIPÓTESES
É viável a produção de células de L. casei por fermentação utilizando como
substrato o soro de leite, de forma a ser obtido um meio de cultivo de baixo custo
e numa concentração de microrganismos adequada para a sua incorporação no
queijo coalho.
O acompanhamento cinético do cultivo fornece dados para se conhecer as
condições mais favoráveis de produção de L. casei.
As células obtidas são inócuas e o produto formulado apresenta condições
ideais para a incorporação ao queijo de coalho.
O microrganismo em estudo tem alta hidrofobicidade e potencial de
adesividade para colonização do epitélio intestinal.
Quanto à incorporação de probiótico no queijo, a presença de L. casei não
interfere negativamente nas características deste produto, e as células
permanecem viáveis e numa concentração adequada durante o tempo de prateleira
investigado (7 dias de maturação).
O queijo suplementado com células de L. casei imobilizadas em alginato de
cálcio apresenta uma maior concentração de células viáveis deste microrganismo
quando comparado aos queijos controle (sem adição de probiótico) e suplementado
com células livres de L. casei.
O queijo de coalho suplementado com probiótico é seguro para o consumo,
diante das avaliações físico-químicas e microbiológicas.
27
METODOLOGIA
ÁREA
O presente trabalho foi desenvolvido nos Laboratórios de Bromatologia,
Microbiologia dos Alimentos e Técnica Dietética da Universidade Federal de
Pernambuco – Centro Acadêmico de Vitória, Vitória de Santo Antão – PE.
OBJETO DE ESTUDO E GRUPOS DE ESTUDO
O objeto de estudo foi avaliar a produção de Lactobacillus casei por
fermentação e verificar sua aplicabilidade em queijo de coalho. Foram elaborados
três queijos: controle, queijo suplementado com microcápsulas de alginato de
cálcio contendo L. casei e queijo suplementado com células livres de L. casei.
PERÍODO DE REFERÊNCIA
Para estruturação e desenvolvimento do presente trabalho foi realizada uma
revisão bibliográfica de trabalhos publicados até o ano de 2010 nas bases de dados
Scielo, Periodicos Capes e Google Acadêmico, com o emprego das seguintes
palavras-chave: Lactobacillus casei, probiótico, alimentos funcionais, soro de leite,
queijo de coalho e microencapsulação. A pesquisa foi realizada de maio de 2010 a
junho de 2011.
DESENHO DO ESTUDO
Foi utilizado um desenho de estudo do tipo analítico experimental, que pode
ser ilustrado na Figura 4.
28
Figura 4 - Desenho de estudo empregado no trabalho
DEFINIÇÃO DAS VARIÁVEIS
De acordo com cada etapa experimental, as variáveis estudadas no presente
trabalho estão descritas abaixo:
Ensaios de fermentação
29
a) Variáveis investigadas: concentração de inóculo, cultivo agitado ou estacionário,
composição do meio de cultivo.
b) Variável resposta: concentração de células viáveis.
Ensaios de hidrofobicidade e características ácido-básicas de L. casei
a) Variáveis investigadas: tipos de solvente
b) Variáveis resposta: grau de hidrofobicidade e características ácida ou básica da
parede celular de L. casei.
Ensaios de imobilização das células
a) Variáveis investigadas: concentração de células viáveis.
b) Variável resposta: eficiência de imobilização.
Ensaios de fabricação do queijo coalho
a) Variáveis investigadas: queijos contendo células probióticas livres ou
imobilizadas.
b) Variáveis resposta: características físico-químicas e microbiológicas dos queijos.
MÉTODO DE COLETA DE DADOS
A coleta de dados foi realizada a partir dos resultados experimentais obtidos
nos ensaios laboratoriais, sendo os dados registrados em caderno de laboratório e
em computador.
MÉTODOS DE ANÁLISE
Manutenção do microrganismo
Foi adquirida uma cepa de Lactobacillus casei proveniente da coleção de
culturas do Departamento de Antibióticos da Universidade Federal de Pernambuco.
As células foram armazenadas em tubos inclinados com meio MRS Ágar
suplementado com 2% de glicose. A cultura foi armazenada sob refrigeração a 10ºC
e repiques periódicos eram realizados a cada 15 dias para manutenção das células.
30
Pré-inóculo e inóculo
Foi preparado um pré-inóculo por meio da inoculação de alçadas da cultura
original em tubo contendo 5 mL de solução salina estéril (0,85% p/v) até obtenção
de turbidez equivalente ao tubo 0,5 da escala de McFarland.
Posteriormente, o inóculo foi preparado utilizando-se frasco tipo Erlenmeyer
de 250 mL de capacidade contendo 45 mL de meio caldo MRS suplementado com 2%
(p/v) de glicose. A composição do meio caldo MRS está apresentada na Tabela 1.
Ao inóculo foi adicionado o volume de 5 mL do pré-inoculo (concentração de
10% v/v), sendo o cultivo realizado na condição estacionária e incubação em estufa
a 37ºC por 12 horas. Neste período, foi avaliada a cinética de crescimento celular
por análise da absorbância e do pH ao longo do tempo.
Tabela 1 – Composição do meio caldo MRS
Composto Concentração (g/L)
Peptona 10 Extrato de carne 10
Extrato de levedura 5 Dextrose 20
Polisorbato 80 1 Citrato de amônio 2 Acetato de sódio 5
Sulfato de magnésio 0,10 Sulfato de manganês Fosfato dipotássio
Agar
0,05 2 12
Cultivo de L. casei em meio caldo MRS
Foram testadas as seguintes condições de cultivo em meio caldo MRS: cultivo
agitado (50 rpm) em agitador tipo shaker (Marconi®) e estacionário (estufa com
circulação de ar, marca Marconi®) e concentrações de inóculo de 1 e 5 % (v/v). Os
cultivos foram realizados em frascos tipo Erlenmeyer de 500 mL de capacidade
contendo 200 mL de meio. Em todos os casos o inóculo foi adicionado quando este
atingiu a fase exponencial de crescimento celular, o que correspondeu a 10 h de
cultivo. A temperatura de incubação em todos os ensaios foi de 37oC e os cultivos
foram acompanhados em termos da variação da absorbância e do pH durante 32 h.
Amostras foram retiradas no final do período para análise da concentração final de
células viáveis.
31
Cultivo de L. casei em meio à base de soro de leite
Foi formulado um meio de cultura à base de soro de leite, conforme mostra
a Tabela 2. O soro foi gentilmente cedido pela empresa Natural da Vaca®,
localizada em Gravatá-PE.
Tabela 2 – Composição do meio à base de soro de leite
Composto Concentração (g/L)
MnSO4.H2O 0,05 MgSO4.7H2O 0,10
Citrato de sódio 2,00 Acetato de sódio 5,00
K2HPO4 2,00 Glicose 40,00
Tween 80 1,00 Extrato de levedura 25,00
Soro de leite Volume de 100mL
A fermentação em soro de leite foi realizada empregando-se as melhores
condições de crescimento celular observadas no ensaio anterior para o meio caldo
MRS, ou seja, utilizando uma concentração de inóculo de 5% (v/v) para as
condições em estado estacionário e frascos agitados a 50 rpm, respectivamente
(Figura 5). Os ensaios foram realizados empregando-se frascos tipo Erlenmeyer de
500 mL de capacidade contendo 200 mL de meio, tempo de inóculo de 10 h a 37oC.
Os cultivos foram acompanhados em termos da concentração de células viáveis
durante 50 h de fermentação.
Avaliação físico-química do soro de leite
A caracterização físico-química do soro de leite utilizado na formulação do
meio de cultura para a fermentação de L. casei foi realizada por meio da
determinação de pH, umidade, proteínas e lipídios de acordo com os Métodos
Analíticos Oficiais (Instituto Adolpho Lutz, 1985).
32
Figura 5 – A: Fermentação de L. casei (cultivo estacionário) em estufa com
circulação de ar. B: Fermentação de L. casei (cultivo com agitação) em shaker
(Foto do autor)
Métodos analíticos para os ensaios de fermentação
a) Contagem de células viáveis: a partir de diluições decimais seriadas em tubos de
ensaio contendo solução salina (0,85% p/v de NaCl), um volume de 10µL das
amostras foi inoculado em placas de Petri contendo meio MRS Ágar suplementado
com 2% de glicose pela técnica de “pour plate”. As placas foram incubadas em
estufa com circulação de ar por 72 horas, a 37ºC.
b) Determinação do pH: foram retiradas amostras de 3mL para leitura do pH por
meio de potenciômetro (Marconi®).
c) Crescimento celular: foi avaliado de maneira indireta por meio de medidas de
absorbância ao longo do tempo em espectrofotômetro (Spectrum®), a 600nm.
d) Pesquisa de contaminantes (Figura 6):
- Análise microscópica a fresco e pela técnica de Gram;
- Meio MRS Ágar: empregado para verificar a pureza do caldo fermentado;
- Meio Sabouraud com Cloranfenicol: utilizado para pesquisar possíveis
contaminações por fungos e leveduras. A presença do antibiótico de amplo-espectro
cloranfenicol inibe a presença de bactérias, sendo adicionado assepticamente após
a esterilização do meio a uma concentração de 100mg/L. As amostras foram
inoculadas na forma de estrias sobre a superfície de placas de Petri contendo o
meio, e incubadas a 30oC durante 48h.
- Meio CVB - Caldo Verde Brilhante: utilizado para realização do teste presuntivo
para coliformes. Em um tubo de ensaio estéril contendo o meio de cultivo e um
tubo de Durhan, o material a ser testado foi inoculado com duas alçadas e incubado
A B
33
a 35oC ± 0,5oC por 24 a 48h. A presença de gás retido no tubo de Durhan indicaria a
presença de bactérias pertencentes ao grupo dos coliformes totais;
- Meio EMB - Eosina Azul de Metileno: utilizado com o objetivo de verificar possíveis
contaminações por bactérias Gram-negativas e diferenciar o aparecimento de
colônias do tipo coliforme. Estas apresentam uma característica morfológica típica,
com colônias com centro escuro e brilho metálico;
- Meio Específico para Staphylococcus aureus (Baird-Parker suplementado com
gema de ovo): utilizado para detectar eventual contaminação por Staphylococcus
aureus. As placas foram incubadas a 35oC durante 48h;
- Meio Caldo Listeria: o material a ser testado foi inoculado com duas alçadas e
incubado a 35oC ± 0,5oC por 24 a 48h. A turvação do meio indicaria a presença de
bactérias do tipo Listeria sp.
Figura 6 – Análise de contaminantes microbiológicos do fermentado de L. casei em
meio de cultura a base de soro de leite (Foto do autor)
Ensaios de adesividade de L. casei
A partir da cultura mantida em tubo contendo MRS Ágar, foi preparada uma
suspensão de L. casei em 35 mL de tampão KH2PO4-Na2HPO4 (50 mM, pH 7,0) até
atingir o tubo no 2 da escala de Mcfarland. Em seguida, a amostra foi centrifugada
a 3000 rpm por 15 min, o sobrenadante foi descartado e as células foram lavadas
por duas vezes pela adição de 35 mL do tampão. Este procedimento é necessário
para retirada de componentes do meio de cultura. Por fim, o centrifugado foi
ressuspenso em 50mL de KNO3.
34
As análises foram realizadas em triplicata, de acordo com Barbosa et al.
(2005). A partir de um tubo de vidro rosqueável, foi adicionado 1 mL de solvente
(xilol – caráter apolar, clorofórmio – caráter ácido, e acetato de etila – caráter
básico) e 4 mL de suspensão celular. Após a mistura célula-solvente, as amostras
ficaram em repouso por 5 minutos e mesclou-se as fases por agitação em vórtex por
2 min. Após repouso de 60 min, foi realizada a leitura de absorbância da fase
aquosa a 600 nm em espectrofotômetro (Spectrum®).
O percentual de adesão de células de L. casei foi determinado de acordo
com a Equação 1:
(1)
Onde:
DOA ⇒ Branco – 5 mL de solução de KNO3
Amostra – 5 mL de solução de KNO3 + Células
DOB ⇒ Branco – 4 mL de solução de KNO3 + 1 mL dos solventes em cada tubo
Amostra – 4 mL de suspensão celular em solução de KNO3 + 1 mL dos
solventes em cada tubo
Ensaios de imobilização das células em alginato
As células obtidas nos ensaios de fermentação em soro de leite foram
centrifugadas sob refrigeração (Hermle®, modelo Z36HK), a 4000 rpm, 10oC por 60
segundos.
Visando o controle microbiológico da etapa de imobilização celular, uma
amostra do alginato foi submetida a diluições seriadas (10-1 a 10-3), inoculada em
meio Agar Nutritivo e incubada a 35ºC por 48 h.
As microcápsulas foram preparadas a partir de uma solução de alginato de
sódio (Danisco®) a uma concentração de 1% (p/v) em tampão fosfato 1M (pH 7)
previamente esterilizado. Após a adição do alginato ao tampão estéril, a
solubilização do biopolímero foi realizada em banho maria a 50 ºC, sob constante
agitação.
Como ilustrado na Figura 7, uma suspensão de células/alginato na proporção
de 1:4 (v/v) foi então gotejada com uma seringa de 20mL em um volume de 100mL
35
de uma solução de CaCl2 a 0,1M sob leve agitação. As microcápsulas formadas
foram mantidas sob refrigeração (10ºC) por 2 horas, sendo posteriormente lavadas
duas vezes com solução salina (NaCl) a 0,85% (p/v). Após pesagem das partículas
úmidas, estas foram submetidas à secagem em estufa com circulação de ar a 35ºC
até peso constante. O armazenamento das microcápsulas após a secagem foi
realizado em um frasco hermeticamente fechado mantido sob refrigeração (10ºC).
Amostras da suspensão de células centrifugadas, da suspensão células/alginato e
das partículas secas foram retiradas para determinação da concentração de células
viáveis.
Figura 7 – A: Gotejamento da suspensão celular de L. casei em alginato na solução
de cloreto de cálcio, sob leve agitação. B: microcápsulas formadas de L. casei. C:
Lavagem das microcápsulas. D: microcápsulas úmidas (Fotos do autor)
C D
36
Produção do queijo de coalho e incorporação de células livres e imobilizadas
Inicialmente, foi realizada uma caracterização físico-química e
microbiológica do leite empregado na fabricação do queijo. O produto utilizado foi
o leite pasteurizado tipo C padronizado, industrializado e comercializado em
Pernambuco. As embalagens (volume de 1L) foram adquiridas em um supermercado
da cidade de Vitória de Santo Antão –PE, e apresentavam data de fabricação em 31
de maio de 2011, com validade até 04 de junho de 2011. As análises do leite e a
manufatura do queijo foram realizadas no dia 01 de junho de 2011. A Tabela 3
mostra a composição do leite conforme o rótulo do fabricante.
Após a higienização de 6 (seis) embalagens (100 ppm de cloro por 10
minutos), estas foram abertas de forma estéril utilizando uma tesoura flambada e
depositadas em um recipiente previamente higienizado com álcool a 70% (v/v). O
volume de leite foi homogeneizado e, em seguida, uma amostra de 150 mL (2,5% do
volume total) foi retirada para a realização das análises microbiológicas e físico-
químicas.
Tabela 3 – Composição do leite pasteurizado tipo C padronizado
Valor nutricional em 100 mL do leite
Valor energético 55 Kcal
Carboidratos 4,5g
Proteínas 3g
Gorduras Totais 3g
Gorduras Saturadas 1,75g
Gorduras Trans 0g
Fibra Alimentar 0g
Sódio 52,5 mg
As avaliações microbiológicas consistiram no plaqueamento de um volume de
500 µL das diluições (10-1 a 10-4) nos seguintes meios de cultura: EMB (isolamento e
diferenciação de bactérias entéricas Gram-negativas; colônias pretas-azuladas com
reflexo verde metalizado indicam a presença de coliformes), PCA (meio de
enriquecimento para contagem total de microorganismos) e MRS Agar (bactérias
láticas mesófilas). As análises físico-químicas compreenderam as leituras do índice
de refração (Refratômetro Unoterm®) para análise dos sólidos solúveis, e pH.
37
O processo de fabricação do queijo coalho foi realizado como descrito por
Cavalcante et al., (2007), Laguna e Egito (2008) e Laguna et al., (2009) com
algumas modificações, de acordo com as seguintes etapas (Figura 8):
Aquecimento do leite a 37ºC;
1. Adição lenta de CaCl2 (0,05% p/v) previamente diluído em 10mL de água;
2. Adição lenta do coalho a uma concentração de 0,0625 g/L, previamente
diluído em 10mL de água;
3. Repouso por 50 minutos;
4. Corte da coalhada com o auxílio de liras horizontais e verticais;
5. Mexedura da coalhada por 3 minutos com colher estéril, aguardar 5 minutos
e mexer novamente por 5 minutos;
6. Realização da dessoragem: passar o material por uma peneira de plástico
desinfetada em água fervente por 5 minutos, até retirar o excesso de soro;
7. Salga da massa (concentração de sal de 0,4% p/v);
8. Enformagem e adição do probiótico: para o preparo do queijo tipo controle,
uma quantidade de 200 g de massa foi disposta em uma forma. Para os
queijos contendo o probiótico (células livres e encapsuladas), o preparo foi
realizado de acordo com a seguinte sequência: adição de uma camada de
massa de cerca de 100g, adição do probiótico (0,022g de microcápsulas ou
um volume de 10 µL de suspensão celular centrifugada diluída em 1 mL de
soro de leite) e adição de 100 g massa;
9. Prensagem por um período de 14 h a temperatura ambiente;
10. Desenformagem: os queijos foram retirados das formas, pesados novamente,
embalados em um tecido estéril e colocados em refrigerador a 10ºC;
11. Maturação: 7 dias a 10ºC;
12. Pesagem;
13. Retirada de amostras para análise físico-química e microbiológica.
38
V
Figura 8 – Etapas da fabricação do queijo de coalho. A- Aquecimento a 37 ºC. B-
Adição do cloreto de cálcio. C- adição do coalho. D- corte com lira vertical. E-
corte com lira horizontal. F- mexedura. G- dessoragem. H- pesagem. I- salga. J-
enformagem. K- microcápsulas de L. casei . L- células livres de L. casei. M-
prensagem. N- desenformagem. O- armazenamento. P- queijo de coalho controle
(Foto do autor)
A B C
D E F G
H I J
K L M
N O P
39
Avaliação físico-química e microbiológica dos queijos
As análises físico-químicas foram realizadas de acordo com os seguintes
métodos: Cinzas; Gordura, pela metodologia do butirômetro de Gerber; Umidade;
Nitrogênio total (Kjeldahl); pH (BRASIL, 1981).
Para realização das análises microbiológicas, amostras de 25 g dos queijos
foram coletadas com o auxílio de uma faca estéril, homogeneizadas por 30 s em
liquidificador previamente desinfetado com álcool a 70% (v/v) e dispostas em
frascos tipo Erlenmeyer de 500 mL de capacidade contendo 225 mL de água
peptonada (0,1% p/v). As amostras foram agitadas por 3 min e em seguida um
volume de 500 µL foi retirado para realização de diluições decimais em tubos
contendo solução salina a 0,85% (p/v). As amostras foram plaqueadas nos meios
PCA e MRS Ágar e incubadas a 37oC por 72h para avaliação da microbiota dos
queijos.
ASPECTOS ÉTICOS
Não foi necessária a submissão do trabalho à aprovação pelo comitê de ética
da Universidade Federal de Pernambuco pelo fato de que a pesquisa não foi
realizada com seres humanos ou animais.
40
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A Figura 9 mostra a variação da absorbância e do pH durante o cultivo do
inóculo de L. casei em meio caldo MRS. Observou-se que a partir de 9 h de cultivo o
microrganismo inicia a fase exponencial de crescimento celular, com velocidade
máxima de crescimento equivalente a 0,4 h-1. Foi escolhido um tempo de cultivo de
10 h para inoculação das células nos ensaios subseqüentes.
Figura 9 – Variação da absorbância e do pH durante o cultivo do inóculo de L. casei
em meio caldo MRS
A Figura 10 mostra a variação da absorbância durante o cultivo de L. casei
em meio caldo MRS nas condições de cultivo estacionário e agitado a 50 rpm e com
concentrações de inóculo de 1 e 5%(v/v). As velocidades máximas de crescimento
celular estão apresentadas na Figura 11.
0 2 4 6 8 10 12 14
0,01
0,02
0,03
0,04
0,05
0,06
0,07
0,08
Ab
so
rbâ
ncia
(6
00
nm
)
Tempo (h)
Absorbância
4,0
4,5
5,0
5,5
6,0
6,5
7,0
= 0,4 h-1
pH
pH
41
Figura 10 – Variação da absorbância durante o cultivo de L. casei em meio caldo
MRS nas condições de cultivo estacionário e agitado a 50 rpm e com concentrações
de inóculo de 1 e 5%(v/v)
Figura 11 – Valores de velocidade máxima de crescimento celular de L. casei em
meio caldo MRS nas condições de cultivo estacionário e agitado a 50 rpm e com
concentrações de inóculo de 1 e 5%(v/v)
Pode-se observar que a maior velocidade máxima de crescimento é atingida
na condição estacionária com 5% de inóculo (0,48 h-1), seguindo-se da condição
estacionária a 1% de inóculo (0,37 h-1). Nestas condições, não foi observada uma
0 5 10 15 20 25 30 35
0,000
0,005
0,010
0,015
0,020
0,025
0,030
0,035
Absorb
ância
(60
0 n
m)
Tempo (h)
Estacionário - Inóculo 5%
Estacionário - Inóculo 1%
50 rpm - inóculo 5%
50 rpm - inóculo 1%
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
-5,6
-5,4
-5,2
-5,0
-4,8
-4,6
-4,4
-4,2
-4,0
-3,8
-3,6
-3,4
-3,2
= 0,27 h-1
= 0,26 h-1
= 0,37 h-1
= 0,48h-1
Ln
(a
bs)
Tempo (h)
Estacionário - inóculo 5%
Estacionário - inóculo 1%
50 rpm - inóculo 5%
50 rpm - inóculo 1%
42
fase lag de crescimento celular. Os menores valores de velocidade máxima de
crescimento foram obtidos para os cultivos agitados, independentemente da
concentração de inóculo (0,26 e 0,27 h-1).
Analisando os resultados em termos da absorbância final atingida após o
término da fermentação, os resultados indicam que os maiores valores foram
observados para as condições de maior concentração de inóculo. Vale salientar que
em ambos os cultivos agitados foi observada uma fase lag de crescimento, sendo
esta mais acentuada no cultivo agitado com 1% de inóculo (2 h).
Os valores de pH durante os cultivos (Figura 12) mostram uma leve tendência
à acidificação. Hujanem e Linko (2001) demonstram que a temperatura ótima para
crescimento celular e produção de ácido lático, por L. casei, é 37ºC. Tais condições
de cultivo explicam uma leve acidificação do fermentado. As bactérias ácido
láticas crescem bem em pH inicial neutro ou próximo da neutralidade variando
entre 7,5 e 5,5, sendo 6,5 pH ótimo.
Figura 12 – Variação do pH durante o cultivo de L. casei em meio caldo MRS nas
condições de cultivo estacionário e agitado a 50 rpm e com concentrações de
inóculo de 1 e 5%(v/v)
0 5 10 15 20 25 30 35
5,00
5,25
5,50
5,75
6,00
6,25
6,50
6,75
7,00
pH
Tempo (h)
Estacionário - inóculo 5%
Estacionário - inóculo 1%
50 rpm - inóculo 5%
50 rpm - inóculo 1%
43
O estudo de Faria, Benedet e Guerroue (2006) subsidia dados para acreditar
que L. casei quando administrado em alimentos apresenta pós-acidificação lenta,
característica desejável para garantir viabilidade no produto e conservação do
alimento durante a estocagem.
Silveira (2009) realizou fermentações de L. casei em um meio sintético
contendo 50 g/L de açúcares redutores e 6 g/L de extrato de levedura em pH 6,5 a
37ºC, com a finalidade de obtenção de ácido lático. Os autores obtiveram uma taxa
específica de crescimento de 0,61 h-1, maior que as encontradas no presente
trabalho. No entanto, este estudo foi realizado com um meio de cultura contendo
fonte de carbono a uma concentração superior a aplicada neste trabalho, que foi
de 20 g/L de glicose.
Os resultados de concentração de células viáveis ao final das 32 h de cultivo
para os quatro ensaios realizados são mostrados na Tabela 4. Percebe-se que em
termos de números absolutos os resultados são similares (em torno de 107
UFC/mL), exceto para a condição do cultivo agitado com 1% de inóculo.
Tabela 4 – Concentração de células viáveis de acordo com a condição de cultivo em
meio caldo MRS (tempo de cultivo de 32 h)
Condição Células viáveis (UFC/mL)
Estacionário – inóculo 5% 1,10 x 107 ± 0,09 x 107
Estacionário – inóculo 1% 1,60 x 107 ± 0,26 x 107
Agitado a 50 rpm – 5% 1,60 x 107 ± 0,27 x 107
Agitado a 50 rpm – 1% 3,50 x 106 ± 1,00 x 106
Com base nos resultados apresentados acima, buscou-se formular um meio
de cultivo à base do soro de leite, fornecido por uma indústria láctea do Estado de
Pernambuco e que tem interesse em realizar uma melhor disposição do seu
efluente de processo. O soro representa um subproduto rico em nutrientes e que
pode ser reaproveitado na produção de probióticos, reduzindo os custos destinados
ao tratamento deste efluente e a poluição ambiental associada ao seu descarte
inadequado (ALVES FILHO, 2002; SÁ et al., 2009; TERRA et al., 2009).
O soro apresentou os seguintes resultados em relação à sua composição
centesimal (Tabela 5):
44
Tabela 5 – Composição centesimal do soro de leite empregado nos cultivos
de L. casei
Componente Concentração média1 ± dp2 (%)
Proteínas 0,14 ± 0,00 Lipídios 0,10 ± 0,00 Umidade 95,23 ± 0,06 Cinzas 0,50 ± 0,10
Carboidratos 4,03 (por diferença) 1 – Média de três valores; 2 – Desvio padrão
Desta forma, um novo cultivo foi realizado na melhor condição obtida
(cultivo estacionário; concentração de inóculo de 5% (v/v)). Visando um melhor
entendimento da influência da agitação no crescimento do microrganismo, também
foi realizado um cultivo com a mesma concentração de inóculo com agitação a 50
rpm. Os resultados estão apresentados na Figura 13.
Figura 13 – Concentração de células de L. casei em meio a base de soro de leite de
acordo com o tipo de cultivo (concentração de inóculo de 5% v/v)
Observa-se que não houve diferença significativa na cinética dos cultivos
estacionário e agitado. Foi obtida uma concentração final de células viáveis de 3,4
x 108 UFC/mL, adequada para o uso do caldo fermentado como inoculante em
alimentos com características probióticas. O comportamento observado justifica-se
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60
103
104
105
106
107
108
109
Co
nce
ntr
açã
o d
e c
élu
las (
UF
C/m
L)
Tempo (h)
Cultivo estacionário
Cultivo agitado
45
pelo fato de que Lactobacillus sp. são microaerófilos facultativos, se adaptando
bem as duas condições de cultivo.
Os resultados de pesquisa de contaminantes nas amostras dos caldos
fermentados demonstraram a pureza dos cultivos, sem ocorrência de
contaminação.
A Figura 14 mostra os resultados dos ensaios de adesividade e características
ácido-básicas da parede celular de L. casei. Os experimentos realizados com o
solvente xilol (apolar) indicam que as células possuem um grau elevado de
hidrofobicidade (86%), enquanto que os resultados a partir dos experimentos com
clorofórmio (solvente ácido) e acetato de etila (solvente básico) mostram que o
microrganismo apresenta uma superfície celular mais ácida. Segundo Pelletier et
al. (1997), estudos físico-químicos de superfícies celulares microbianas têm
demonstrado relações entre cargas superficiais, hidrofobicidade e a composição
elementar da superfície celular. No caso de L. casei, cultivado em MRS Agar, ficou
constatado que este microrganismo possui uma parede celular mais hidrofóbica e
ácida, sugerindo que esta cepa possui grande tendência à adesão ao epitélio
intestinal, e desta forma sendo adequada para uso como probiótico.
Figura 14 – Porcentagem de hidrofobicidade e características ácido-básicas da
parede celular de L. casei
Os ensaios de imobilização evidenciaram que a partir de 20 mL de suspensão
alginato/células foi obtida uma massa de 7,3 g de partículas úmidas. Os testes
46
microbiológicos realizados na amostra de alginato evidenciaram a pureza do
biopolímero utilizado.
Os resultados de concentração de células viáveis nas amostras de caldo
fermentado, suspensão de células centrifugada, suspensão de células/alginato e
nas partículas secas são mostrados na Tabela 6. Pode-se notar que ocorre uma
perda de células viáveis no processo de imobilização celular.
Tabela 6 – Concentração de células viáveis de L. casei de acordo com a amostra nos
ensaios de imobilização
Amostra Concentração de células viáveis
Caldo fermentado 6,90 x 108 UFC/g Centrifugado 1,65 x 1010 UFC/g
Suspensão células/alginato 4,15 x 109 UFC/g Microcápsulas 7,40 x 107 UFC/g
A secagem das partículas imobilizadas foi realizada por um período de 3 h,
sendo observada uma umidade residual constante já a partir de 30 minutos de
secagem (Figura 15). A massa seca (Figura 16) de partículas obtida após a secagem
foi de 0,44 g.
Figura 15 – Curva de secagem das partículas de alginato contendo L. casei
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5
0
20
40
60
80
100
Pe
rda
de
um
ida
de
(%
)
Tempo (h)
47
Figura 16 – A: microcápsulas de L. casei úmidas. B: microcápsulas de L. casei após a
secagem (Fotos do autor)
Os resultados da análise físico-química do leite pasteurizado tipo C
padronizado, utilizado no presente estudo, foram os seguintes: pH 7,0 e índice de
refração do leite de 10º (medido a 20oC). Em relação à análise microbiológica, foi
obtida uma concentração de células totais por contagem padrão em placas
equivalente a 2,2 x 103 UFC/mL. Este valor está de acordo com o que é permitido
pela legislação brasileira (Instrução Normativa Nº 51 de 18/09/2002), que
estabelece uma tolerância de 2 entre 5 amostras coletadas com valores entre 1 x
105 e 3 x 105 UFC/mL para o leite pasteurizado tipo C (BRASIL, 2002). Em se
tratando da contagem de células em meio MRS Ágar (seletivo para bactérias
láticas), foi observada uma concentração de 4 x 102 UFC/mL, enquanto que não foi
observado crescimento de microrganismos no meio EMB.
Os dados de rendimento da produção dos queijos indicaram que a partir de
5,85 L de leite foram obtidas massas de queijo na etapa de pós-enformagem
equivalentes a 580g, sendo 200 g para produção do queijo controle, 200g para o
queijo suplementado com células livres e 180 g para o queijo suplementado com
células encapsuladas, o que equivale a um rendimento total de aproximadamente
48
10%. Os dados de perda de massa dos queijos ao longo do tempo podem ser
observados na Tabela 7.
Os resultados relativos à composição centesimal dos queijos e à análise
microbiológica estão apresentados nas Tabelas 8 e 9, respectivamente.
Tabela 7 – Dados de perda de massa percentual dos queijos ao longo do tempo
Período
AMOSTRA
Queijo controle Queijo suplementado com
células livres
Queijo suplementado com células
encapsuladas
Após 14 h de prensagem
38,0 37,8 37,5
Após 7 dias de maturação
46,5 46,7 46,5
Tabela 8 – Composição centesimal dos queijos realizada após 10 dias de preparo
Componente
(%)
AMOSTRA
Queijo controle Queijo suplementado com
células livres
Queijo suplementado com
células encapsuladas
Proteínas 25,7 25,3 26,0
Carboidratos (por diferença)
3,9 5,0 12,3
Lipídios 38,0 38,0 38,0
Umidade 29,7 28,9 20,7
Cinzas 2,6 2,8 3,0
Tabela 9 – Análise microbiológica dos queijos realizada após 10 dias de preparo
Meio
AMOSTRA
Queijo controle
(UFC/g)
Queijo suplementado com
células livres
(UFC/g)
Queijo suplementado com
células encapsuladas
(UFC/g)
PCA 5,4 x 108 4,5 x 108 4,3 x 108
MRS 1,9 x 107 1,4 x 108 9,1 x 107
Na Figura 17, pode-se observar os queijos produzidos (controle, com células
livres e com células encapsuladas).
49
Figura 17: Queijos de coalho após 7 dias de maturação refrigerada (10ºC). A: queijo
controle, sem probióticos. B: queijo enriquecido com microcápsulas de L. casei. C:
queijo enriquecido com células livres de L. casei
A legislação elaborada para o queijo de coalho não define bem este produto
A Instrução Normativa nº 30, de 26 de junho de 2001, aprova os
regulamentos técnicos de identidade e qualidade do queijo de coalho (BRASIL,
2001). De acordo com a resolução, o queijo de coalho é um queijo de média a alta
umidade, que apresenta um teor de gordura nos sólidos totais variável entre 35,0%
e 60,0%.
De acordo com o Regulamento Técnico de Identidade e Qualidade de Queijos
(BRASIL, 2001), são considerados queijos de média umidade os que possuem
umidade entre 36,0 e 45,9%, enquanto que os queijos de alta umidade possuem
entre 46,0 e 54,9% de umidade. O baixo teor de umidade observado nos queijos
obtidos neste estudo pode ser explicado pelo fato de que a análise físico-química
foi realizada após 10 dias de sua fabricação, havendo uma perda de umidade neste
período. O teor de gordura observado (38%) encontra-se de acordo com a
legislação.
Em relação à análise microbiológica, pode-se observar um maior teor de
bactérias láticas no queijo suplementado com células livres (1,4 x 108 UFC/mL)
quando comparado ao queijo controle (1,9 x 107 UFC/mL), o que pode ser atribuído
à incorporação de L. casei e seu crescimento no produto. Para o queijo contendo o
50
microrganismo encapsulado, foi observada uma concentração de células maior que
a observada no queijo controle e menor que a do queijo contendo células livres
(9,1 x 107 UFC/mL), sugerindo uma liberação gradual do microrganismo no produto
ao longo do tempo. Estes resultados, juntamente com a observação de quantidades
semelhantes de contagem total de microrganismos em meio PCA para os três
queijos, podem sugerir que o aumento no teor de L. casei nos queijos
suplementados pode ter inibido o crescimento de outros microrganismos no
produto.
51
CONCLUSÕES
Os ensaios de fermentação de L. casei demonstraram que não houve
diferenças significativas entre o cultivo estacionário e agitado (50 rpm). Quanto à
concentração do inóculo observa-se que a 5% (v/v) houve maior crescimento celular
e uma menor fase lag. A diminuição lenta do pH ocorre provavelmente devido a
liberação de ácido lático, sendo uma característica que promove a bioconservação
de alimentos suplementados com este microrganismo.
A utilização de meio de cultura a base de soro de leite de vaca constitui-se
numa alternativa viável, uma vez que demonstrou uma concentração de biomassa
maior em relação ao meio MRS, e o reaproveitamento deste subproduto da
indústria de laticínios é economicamente interessante, inclusive pelo uso do soro
gerado no processo de fabricação do queijo de coalho. Estes resultados fornecem
dados para o desenvolvimento de trabalhos posteriores para elaboração de um
meio que otimize a produção de L. casei.
Para que um microrganismo seja probiótico ele deve ter a capacidade de
aderir-se na mucosa e no epitélio intestinal. L. casei demonstra alta
hidrofobicidade e características ácidas em sua parede celular, sendo estas
indispensáveis para a adesão intestinal de microrganismos, qualificando-o como
probiótico, entretanto, é interessante que sejam realizados estudos experimentais
em animais.
A imobilização celular de L. casei em alginato de cálcio constitui-se numa
alternativa viável, embora tenha ocorrido uma diminuição do número de células
viáveis nas microcápsulas. Também se observou que a secagem das microcápsulas é
uma etapa rápida e que não necessita de alta temperatura.
O queijo de coalho é um alimento que contém nutrientes, teor de umidade e
condições de processamento que possibilitam a sua utilização como veículo
probiótico. O maior número de bactérias láticas nos queijos enriquecidos com L.
casei indica que houve uma proliferação de L. casei. Quanto à diferença entre
inserção de células livres e microencapsuladas são necessários mais estudos;
entretanto, acredita-se que o maior número de células viáveis no queijo
suplementado com células livres ocorreu devido à liberação lenta de células das
microcápsulas.
52
Este trabalho contribuiu imensamente para os objetivos da nutrição uma vez
que tenta desenvolver um produto alimentício de qualidade com funcionalidade.
Com relação a conclusão do curso de graduação, esta pesquisa foi essencial para
formação de pensamentos críticos sobre as ciências da nutrição e alimentação,
além de possibilitar a prática na elaboração de trabalhos científicos, desde a
pesquisa bibliográfica até como trabalhar em uma bancada de laboratório, escrever
e discutir resultados.
As perspectivas futuras para esta pesquisa são a otimização do processo
fermentativo, com controle sobre variáveis como por exemplo pH, concentração de
substrato, temperatura, testes experimentais de adesão intestinal e efeitos da
administração de L. casei, e posteriormente, ensaios clínicos. Também é desejável
a identificação do crescimento de L. casei no queijo, visando melhorar os processos
tecnológicos na fabricação desse alimento e investigar a diferença entre inserção
de células livres e células encapsuladas em alginato. Por último, é de interesse
testar outras formas de encapsulação para comparar a viabilidade financeira e
biotecnológica com a microencapsulação com alginato de cálcio que é um polímero
de baixo custo.
53
REFERÊNCIAS
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