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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA – UNIR CAMPUS DE CACOAL DEPARTAMENTO DE DIREITO DPVAT: UM SEGURO DESCONHECIDO Mário Sóstenes de Matos Ribeiro Cacoal ─ RO, 2008

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA – UNIR CAMPUS DE CACOAL

DEPARTAMENTO DE DIREITO

DPVAT: UM SEGURO DESCONHECIDO

Mário Sóstenes de Matos Ribeiro

Cacoal ─ RO, 2008

II

MÁRIO SÓSTENES DE MATOS RIBEIRO

DPVAT: UM SEGURO DESCONHECIDO

Monografia apresentada à banca examinadora da Universidade Federal de Rondônia – UNIR – Campus de Cacoal, como exigência parcial para obtenção do título de bacharel em Direito, sob a orientação do Professor Especialista Nilton Ladislau.

Cacoal ─ RO, 2008

III

PARECER DE ADMISSIBILIDADE DO ORIENTADOR

O acadêmico MÁRIO SÓSTENES DE MATOS RIBEIRO desenvolveu o

presente Trabalho de Conclusão de Curso sob o tema DPVAT: UM SEGURO

DESCONHECIDO, observado os critérios do Projeto Monográfico apresentado ao

Departamento do curso de Direito, da Universidade Federal de Rondônia – UNIR, campus

de Cacoal.

O acompanhamento foi efetivo, tendo sido observado os prazos fixados pelo

Departamento do curso de Direito para o seu desenvolvimento.

Destarte, o acadêmico está apto à apresentação expositiva de sua monografia

junto à banca examinadora.

Cacoal/RO, 28 de março de 2008.

____________________________________

Nilton Ladislau Professor orientador

IV

MÁRIO SÓSTENES DE MATOS RIBEIRO

DPVAT: UM SEGURO DESCONHECIDO

AVALIADORES

__________________________________________________________ ____________ Professor Nota

__________________________________________________________ ____________ Professor Nota

__________________________________________________________ ____________ Professor Nota

___________________________

Média

Cacoal ─ RO, 2008

V

Agradeço a: Deus, meu guia, fortaleza, me concedendo sabedoria, persistência, força e fé em todos os momentos de minha vida. Se hoje chego aqui, é graças à Ele. Minha família, papai Mário Antônio Ribeiro, mamãe Irene Ferreira de Matos Ribeiro e mana Raquel de Matos Ribeiro, pelo apoio incondicional na realização desta obra, meu braço direito, minha sustentação, meu exemplo de garra, luta, amizade e de vida. Minha namorada, Débora de Almeida Lima, que com paciência e maturidade, entendeu os intermináveis dias de ausência e nervosismo. Queridos colegas e mestres de labuta, Dr. Jean de Jesus Silva e Dra. Ivone Ferreira Magalhães Oliveira, pelo incomensurável apoio e o verdadeiro braço amigo.

Professora Esp. Claudinéia Duarte, pelas incipientes orientações acerca do tema deste trabalho, sem a qual, jamais teria realizado e pela confiança em minha capacidade. Professor Esp. Nilton Ladislau, pelo destemor, garra e determinação com que aceitou me acompanhar na finalização desta obra, suas sugestões foram decisivas.

VI

Professor Ms. Sérgio Nunes de Jesus, pela atenção, simplicidade e sabedoria dispensada a esta obra, digna de menção, desde o primeiro contato. Professora Maria Lindomar dos Santos, pela dedicação e incontáveis orientações e paciência. Aos advogados, Dr. André Luis Gonçalves, Dr. José Luis Torelli Gabaldi, nobres causídicos, pela atenção dispensada fornecendo informações avivadas pela experiência no sacerdócio, que muito ajudou para o crescimento intelectual desta obra. E a todos entrevistados, que de uma forma decisiva me ajudaram para que a pesquisa de campo tivesse seu escopo atingido com lisura e credibilidade.

VII

Dedico este trabalho a meus amáveis pais Mário e Irene pelo apoio e incentivo proporcionado e também aos demais professores e amigos do curso que juntos vivenciamos cada etapa desta caminhada.

“A direção é mais importante que a velocidade.”

Roberto Scaringella

IX

RESUMO

A presente pesquisa bibliográfica apresenta um breve estudo sobre o instituto de seguro obrigatório desconhecido pela sociedade, evidenciando a sua importância, observando seu caráter social. Procurou-se apresentar pontos relevantes para os beneficiários deste seguro, discorrendo seus benefícios legais, pela esfera extrajudicial, abordando a forma de fazê-lo e, de igual modo, judicial, prevalecendo as ações cabíveis e seus procedimentos. Nesse sentido, abordou-se também aqueles que em detrimento ao desconhecer busca auferir vantagem. Desta forma, cada tópico foi abordado de maneira a levar o leitor a compreensão desse seguro sem a pretensão de esgotar qualquer debate sobre o contexto. Baseou-se a presente pesquisa, no conhecimento dedutivo, nas teses dos doutrinadores, bem como em obras específicas, artigos de internet, revista especializada, e, ainda, recentes decisões de tribunais.

Palavras-chave: DPVAT, Seguro Obrigatório, Desconhecimento Social.

X

ABSTRACT

The present bibliographical research presents a briefing study on the institute of unknown obligatory insurance for the society, evidencing its importance, observing its social character. It was looked to present excellent points for the beneficiaries of this insurance, being discoursed its legal benefits, for the extrajudicial sphere, approaching the form to make it and, equally, judicial, taking advantage the appropriate actions and its procedures. In this direction, one also approached those that in detriment when being unaware of search to gain advantage. Of this form, each topic was boarded in way to take the reader the understanding of this insurance without the pretension to deplete any debate on the context. It was based present research, in the deductive knowledge, in the teses of the doctrinize, as well as in specific workmanships, InterNet articles, specialized magazine, and, still, recent decisions of courts. Key-Words: DPVAT, Obligatory Insurance, Social Unfamiliarity.

XI

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.......................................................................................................................14

1- HISTÓRIA DO SEGURO.................................................................................................16

1.1- CONCEITO DE SEGURO................................................................................................20

1.2- ESBOÇO HISTÓRICO DO SEGURO OBRIGATÓRIO.................................................21

1.3- O SEGURO OBRIGATÓRIO NO BRASIL.....................................................................22

1.3.1- O seguro obrigatório de veículos automotores de via terrestre......................................23

1.4- O “NASCIMENTO” DO SEGURO OBRIGATÓRIO DE DANOS PESSOAIS

CAUSADOS POR VEÍCULO AUTOMOTOR DE VIA TERRESTRE, OU

SIMPLESMENTE - DPVAT....................................................................................................26

1.5- A VINCULAÇÃO DO VALOR DA INDENIZAÇÃO AO SALÁRIO-MÍNIMO...........27

1.5.1- Breve apontamento acerca da nomenclatura deste seguro..............................................30

2- A NATUREZA JURÍDICA DO DPVAT E SUA PRESCRIÇÃO..................................31

2.1- DEFINIÇÃO DE NATUREZA JURÍDICA.......................................................................31

2.2- SEGURO DE RESPONSABILIDADE CIVIL VERSUS SEGURO DE DANO...............31

2.3- CONCEITO DE TRIBUTO...............................................................................................33

2.4- O ENTENDIMENTO DE NOSSOS TRIBUNAIS............................................................35

2.5- NATUREZA JURÍDICA TRIBUTÁRIA..........................................................................36

2.6- DA PRESCRIÇÃO.............................................................................................................39

2.6.1- Do início do prazo prescricional......................................................................................40

2.6.2- Da prescrição e situação intertemporal ..........................................................................41

3- A INDENIZAÇÃO NO SEGURO DPVAT E SEUS BENEFICIÁRIOS.......................43

3.1- DEFINIÇÃO DE INDENIZAÇÃO...................................................................................43

3.2- O VALOR DA INDENIZAÇÃO, EM DECORRÊNCIA DO EVENTO DANOSO

COBERTO PELO DPVAT........................................................................................................44

XII

3.3-QUAIS AS CATEGORIAS DE VEÍCULOS COBERTOS PELO

DPVAT?....................................................................................................................................45

3.3.1- Quais são os eventos danosos cobertos pelo DPVAT?...................................................46

3.3.2- O evento danoso sofrido pelo ladrão do veículo.............................................................46

3.4- EM SE TRATANDO DE VEÍCULO NÃO IDENTIFICADO E/OU SEGURO

OBRIGATÓRIO NÃO ADIMPLIDO.......................................................................................48

3.5- O USO DA “TABELA DE AÇOUGUE” NA INDENIZAÇÃO POR INVALIDEZ

PERMANENTE.........................................................................................................................51

3.6- AS INDENIZAÇÕES DO SEGURO DPVAT SÃO CUMULATIVAS?..........................54

3.7- QUEM TEM DIREITO A INDENIZAÇÃO, A VÍTIMA E/OU SEUS

BENEFICIÁRIOS?....................................................................................................................55

3.8- DA INDENIZAÇÃO DOS BENEFICIÁRIOS ABSOLUTAMENTE E

RELATIVAMENTE INCAPAZES...........................................................................................56

4- OS MEIOS DE LIQUIDAÇÃO NO DPVAT....................................................................57

4.1- DA LIQUIDAÇÃO............................................................................................................57

4.1.1- Definição.........................................................................................................................57

4.2- LIQUIDAÇÃO EXTRAJUDICIAL E SEU PROCEDIMENTO......................................58

4.3- DA LIQUIDAÇÃO JUDICIAL.........................................................................................60

4.3.1- Conceito...........................................................................................................................61

4.3.2- Do procedimento.............................................................................................................62

4.3.2.1- Da ação de cobrança.....................................................................................................63

4.3.2.2- Da ação de execução.....................................................................................................63

4.3.3- Da legitimidade ativa.......................................................................................................64

4.3.4- Da legitimidade passiva...................................................................................................65

4.4- COMPETÊNCIA................................................................................................................65

4.5- O CABIMENTO DA CULPA NO DPVAT.......................................................................67

5. DPVAT: UM SEGURO OBRIGATÓRIO DESCONHECIDO......................................69

5.1- O DPVAT, É DESCONHECIDO EM CACOAL/RO?......................................................69

5.1.1- Da pesquisa de campo.....................................................................................................70

5.1.2- Informações colhidas na pesquisa de campo...................................................................71

5.1.2.1- Alguma vez já ouviu falar sobre o DPVAT?................................................................71

5.1.2.2- Do conhecimento real do Instituto DPVAT?...............................................................71

5.1.2.3- Quanto ao conhecimento dos benefícios cobertos pelo DPVAT.................................72

5.1.2.4- Dos dados suplementares..............................................................................................72

XIII

5.2- A INFORMAÇÃO QUE VEM NO BOLSO.....................................................................73

5.3- O BACILUM FRAUDIS E SUAS VÁRIAS FACETAS PATOLÓGICAS.......................73

5.3.1- O desinteresse e a fraude.................................................................................................74

5.3.2- Os agentes da fraude........................................................................................................75

5.4- O REMÉDIO PARA COMBATER O BACILUM FRAUDIS............................................77

CONCLUSÃO.........................................................................................................................80

REFERÊNCIAS......................................................................................................................81

ANEXOS .................................................................................................................................85

14

INTRODUÇÃO

A evolução humana trouxe uma série de mudanças na esfera social, um traço

marcante foi no sistema de transporte.

Há muito, que os “estalar” dos cascos dos eqüinos nas alamedas, avenidas

metropolitanas e cidades interioranas vem reduzindo paulatinamente “seu som”. De outro

modo, essa evolução vem propiciando melhor condição de vida, e com ela o recrudescimento

do ronco dos motores já se faz alto, bem como o número de veículos que transitam nas

cidades.

Neste sentido, a “galope” vêm os números gritantes de acidentes nas rodovias

brasileiras1. Vê-se assim, que o seguro obrigatório de Danos Pessoais Causados por Veículo

de Via Terrestre (DPVAT), veio de modo a amparar uma necessidade social.

Desta forma, pontuou-se seu marcante traço histórico, sempre co-relacionado a

idéia de proteção patrimonial, passando pelas diversas formas de seguro e preponderante

embasamento científico e o fundamental alicerce do mutualismo.

No percurso traçamos as diversas formas de indenização, desvencilhando do

caráter material e primando pela reparação de ordem pessoal, amparando até mesmo o próprio

causador do sinistro, bem como todos os envolvidos. Evidenciando, assim, seu marcante traço

social.

1 Pelo menos 723 acidentes ocorrem por dia nas rodovias pavimentadas. Fonte: <http://sos.estradas.com.br/estudos/sos_estudos_acidentes.asp>. Acesso em: 26 de mar. de 2008.

15

Aspectos controvertidos foram da mesma maneira objeto de análise, desde os

valores monetários até as formas de se apurar a maneira de aplicar o benefício, bem como seu

inaceitável desconhecimento, utilizando para tanto de uma pesquisa de campo, com intuito de

se apurar seu real desconhecimento, e a maneira de reverter este quadro.

16

1. HISTÓRIA DO SEGURO

Tendo como progênie a necessidade inata da natureza humana em resguardar o

que é seu, principalmente a própria vida, somando ao fato, de que, o homem começou a ter

consciência de sua efêmera existência e a falibilidade de suas criações, pode-se atestar que a

história do seguro confunde-se, por certo, com a própria história da humanidade.

Já explicitava o ilustre doutrinador Venosa2: “Sua origem no espírito humano

decorre da defesa contra o risco de perda do patrimônio, da saúde e da vida”.

“Percebe-se, assim, que o seguro sempre esteve ligado à idéia de proteção,

primeiro do patrimônio e, a seguir, da própria pessoa humana (caso do seguro de vida)”3.

As primeiras notícias que temos concernente ao seguro de forma, ainda,

incipiente, assenta sobre a atividade comercial marítima chinesa, exactamente no período de

5.000 a 2.300 a.C., época em que a civilização chinesa (antiga China) utilizava o Rio Amarelo

para o transporte de pessoas e mercadorias. E de forma a amenizar os eventuais prejuízos da

viagem, os chineses faziam uma divisão das mercadorias em várias embarcações, para que, se

caso alguma embarcação viesse a naufragar ou ocorrer o apresamento, nenhum comerciante

perderia toda sua mercadoria, apenas parte delas.

Esta simplória técnica, de divisão espacial do risco como forma de minimizar os

prejuízos, ainda é utilizada até os dias atuais, devido sua eficiência.

2 Sílvio de Salvo Venosa. Direito Civil: contratos em espécie. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2003. (Coleção direito civil; v. 3)., p. 376. 3 Rafael Tárrega Martins. Seguro DPVAT. 2. ed. Rafael Tárrega Martins. Campinas, SP: LZN Editora, 2007., p.19.

17

Mais adiante na história, em 3.000 a.C., pastores de Caldéia, buscavam maneira

de reporem seu rebanho, caso viesse a sofrer alguma perda, utilizando para tanto da

coletivização.

É da Babilônia, precisamente na Mesopotâmia4, por volta de 2.300 a.C. que temos

as primeiras informações gravadas em pedras, concernente aos perigos do deserto, ensinados

por Celso Marcelo de Oliveira5, “cameleiros cruzavam a imensidão do deserto para

comercializar seus animais e pactuavam que a morte de cada camelo seria paga pelos demais

membros do grupo como meio de minorar eventuais prejuízos”. Instrumentos semelhantes

foram usados por hebreus e fenícios, todavia foram empregados nos mares, precisamente no

Mediterrâneo e Egeu.

Assim, não obstante, esta maneira de proceder dos povos da Antigüidade, de

modo a diminuir os prejuízos, não se deve atribuir a eles a concepção de seguro, pois lhes

faltavam o pensamento econômico do seguro.

No mesmo sentido, assevera Venosa6, Embora possuísse institutos próximos, a

Antigüidade não conheceu esse contrato.

Com o progresso do comércio marítimo, torna-se necessária a busca de medidas

visando à proteção contra riscos futuros, bem como o aperfeiçoamento das mesmas. E desta

forma, é na Grécia, por volta de 900 a.C., na ilha de Rodes, que é criada a Lex Rhodia de

Jactu, visando a proteção contra os perigos do mar, denominada de Leis de Rodes. Estas leis

formavam o Código Navale Rhodorium, este código teve sua eficácia por vários séculos. O

código tinha várias regras, entre elas, caso fosse indispensável lançar mercadorias ao mar para

o bem de todos, o prejuízo resultante deste ato deveria ser reparado pela contribuição de

todos os envolvidos na empreitada.

4 Localizada Entre a Ásia, a África e Europa, uma região fertilizada pelas inundações periódicas de dois grandes rios viveu muitos povos que foram obrigados a desenvolver obras de engenharia. Para coordenar sua realização surgiu o Estado. Essa região foi chamada Mesopotâmia e dominada, sucessivamente pelos sumérios, acádios, amoritas, assírios e caldeus. A economia da Mesopotâmia baseava-se principalmente na agricultura, mas os povos da região desenvolveram também a criação de gado, o artesanato, a mineração e um ativo comércio à base de trocas que se estendia à Ásia menor, ao Egito e à Índia. Fonte: <http://www.brasilescola.com/historiag/mesopotamia.htm>. Acesso em 23 de jan. 2008. 5 Celso Marcelo de Oliveira. Contrato de seguro: interpretação doutrinária e jurisprudencial. Campinas: LZN, 2002. p. 03. 6 Sílvio de Salvo Venosa. Direito Civil: contratos em espécie. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2003. (Coleção direito civil; v. 3).

18

Tais leis foram tão importantes para os assuntos marítimos, que no século I, o

imperador romano Antônio Pio, reconhecendo sua importância, declarou: “Sou o senhor do

mundo, mas não do mar, porque a lei do mar é a Rhodia”. No entanto, o rei Ricardo Coração

de Leão na Inglaterra, ainda, efetuou melhorias na Lex Rhodia de Jactu, desencadeando, um

prestígio maior aos seguros marítimos. Temos, então, o exórdio do seguro atual.

Em 500 a.C., surge uma das principais base do seguro, o MUTUALISMO7,

quando gregos e fenícios passam a desenvolver grupos (grêmios) de muitas pessoas, de

maneira a acumular recursos, para que, em caso de infortúnios (naufrágios, ataques de piratas

incêndios), nenhuma pessoa suportaria as despesas sozinha.

O seguro de vida, por vezes conturbado e discutido, foi concebido na Inglaterra

em 1.300, onde se segurava a vida humana como um seguro marítimo que garantia um

ressarcimento no caso de perda de um homem no mar.

Outro marco na história do seguro, foi a Ordenança de Pisa, em 1.318, sendo

considerada a primeira legislação conforme contornos atuais. Historiadores apontam que foi

em 1437, quando se entabulou o primeiro contrato, referente ao transporte de mercadorias

entre a cidade de Gênova e a ilha de Maiorca , com o qual surgiu a primeira apólice de seguro

marítimo.

Daí as palavras do festejado doutrinador Silvio Rodrigues8: “Assim, o primeiro

ramo a aparecer é o seguro marítimo, já conhecido no século XVI”.

Por outro lado, de maneira, ainda, tímida, o incipiente seguro terrestre firma sua

primeira apólice em 1.488, tendo como beneficiário o rei de Nápoles se tratando a um

transporte de uma coroa de Florença até seu reino.

7 O glossário de seguros da SUSEP o define como o princípio fundamental que constitui a base de toda operação de seguro. É pela aplicação do princípio do mutualismo que as empresas de seguros conseguem repartir os riscos tomados, diminuindo, desse modo, os prejuízos que a realização de tais riscos lhes poderia trazer. Fonte: <http://www.susep.gov.br/menubiblioteca/glossario.asp> acesso em 09 de fev. de 2008. 8 Silvio Rodrigues. Direito civil. Dos contratos e das declarações unilaterais da vontade. v. .3. ed. 29. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 334.

19

Corroborando nosso entendimento, aduz o civilista Silvio Rodrigues9: “O seguro

terrestre começa a desenvolver-se na Inglaterra a partir do século XVII. Mas só no fim do

século XVIII e começo do XIX é que se vai difundir, alcançando, a final, no século XX,

extraordinário desenvolvimento”.

O seguro, definitivamente se consolida de modo inquestionável na história da

humanidade em 1.654, ao ter como mais um de seus sustentáculos basilares o Embasamento

Científico, digo mais um, pois o mutualismo veio a ser a “pedra fundamental” do seguro, se

complementando com o embasamento científico já necessário naquela época10.

O embasamento científico foi fruto de um trabalho realizado por Blaise Pascal11,

tendo como título “Geometria do Acaso”, referente ao cálculo de probabilidades. Desta forma,

após esse momento, tornou-se exeqüível a elaboração de “tábuas de mortalidade”, sendo,

ainda, a base para o cálculo do atualíssimo seguro de vida.

Em 1.671, com o fundamento no trabalho de Pascal, o holandês John de Witt,

efetua o primeiro cálculo tendo por escopo a probabilidade de uma pessoa, em cada ano de

sua vida, morrer num determinado lapso temporal. Urge esclarecer que tal estudo causou

tremendo alvoroço na época.

Outro fator marcante na história do seguro, contribuindo sobremodo para

expansão foram dois grandes incêndios:

O primeiro ocorrido em Londres, atingindo cerca de 25% (vinte e cinco por cento)

de toda cidade, sendo poupado o Edward Lloyd, ─ ponto de encontro dos navegadores e

pessoas interessadas em seguro ─, surgindo assim o seguro de incêndio sendo administrado

pela LLOYD’S UNDERWRITERS, corporação existente até os dias atuais.

9 Silvio Rodrigues, op. cit. p. 334. 10 Ao se fazer um estudo mais aprofundado concernente ao mutualismo e ao embasamento científico, evidencia-se que ambos devem subsistir no seguro, no qual um alicerça o outro. Ademais, sem o mutualismo não haveria como a seguradora arcar com as despesas, seria insensato, e o seguro se igualaria a um jogo de aposta, por outro lado sem o cálculo de probabilidades, este estaria fadado há altos valores, sob o risco de enriquecimento ilícito por parte da seguradora, ou sua falência, em caso de cobrança de valores insuficientes para cobrir o infortúnio. 11 Blaise Pascal (1623-1666), foi um filósofo, físico e matemático francês de curta existência, que como filósofo e místico criou uma das afirmações mais pronunciadas pela humanidade nos séculos posteriores, “O coração tem razões que a própria razão desconhece”, síntese de sua doutrina filosófica: o raciocínio lógico e a emoção. Fonte: Encyclopaedia Britannica Editores Ltda. Rio de janeiro, São Paulo.1977. Vol. 10. p. 317

20

O segundo incêndio, aconteceu nos Estados Unidos, onde, também após um

grande incêndio ocorrido na cidade de New York, no ano de 1835 (ano do grande incêndio),

desencadeou um vertiginoso crescimento no mercado de seguros, em todo país.

Por certo, um leitor mais compenetrado neste breve relato acerca da história do

Seguro deve estar se questionando com relação à falta, até então, da menção da civilização

romana referente ao seguro!

Pois bem! Não obstante, todo o esplendor jurídico e festejados legados deixados

pelos juristas romanos, alguns deles até hoje presente em nossa legislação, não se tem notícia

de que eles tenham conhecido este instituto.

Nesta ótica assim proferiu o mestre Silvio Rodrigues12: “O contrato de seguro é

desconhecido do direito romano”.

De modo uníssono corroborando é o entendimento do doutrinador Miguel Maria

de Serpa Lopes13, a saber: “O contrato de seguro é uma criação medieval. Os esforços no

sentido de lhe atribuir uma origem romana têm fracassado. Certos fatos históricos narrados

por Lívio e Suetônio nenhum adminículo lhes trouxeram”.

Um feito que pode ter contribuído para tal, diz respeito ao fato da atividade

comercial romana ser exercida pelos plebeus, que apesar de muitos, e mais tarde alcançarem

importantes posições no decorrer da história, eram considerados uma classe inferiorizada às

dos patrícios. Outro ponto determinante, foi a queda do império romano e o início da Idade

Média, provocando uma quietude indesejada na atividade comercial, o que acarretou um

longo período notícias a despeito do seguro.

1.1 CONCEITO DE SEGURO

Assim, com essas incipientes informações históricas concernente ao seguro

podemos “comungar” do conceito deste instituto juntamente com o abalizado doutrinador Rui

12 Silvio Rodrigues, op. cit., p. 334. 13 Miguel Maria de Serpa Lopes. Curso de Direito Civil: fontes das obrigações: contratos, volume IV. 5. ed. rev. e atual. pelo prof. José Serpa Lopes Maria. Rio de Janeiro: Freitas Bastos 1999. p. 421.

21

Stocco14, in verbis: “O seguro é uma garantia de recomposição de um dano ou perda futura e

incerta. É uma convenção entre partes que permite, mediante pagamento de certa quantia

(prêmio), a reparação futura de um dano apenas possível e hipotético, devidamente estipulado

com antecedência na respectiva apólice”.

1.2 ESBOÇO HISTÓRICO DO SEGURO OBRIGATÓRIO

Nos relatos históricos o aparecimento do Seguro Obrigatório ocorre no Estado de

Massachusets, nos Estados Unidos, no ano de 1927. Todavia, não retardou para que os países

europeus também passassem a regular sua legislações esta modalidade securatória, caso da

Inglaterra (1930), Suíça (1932) e Principado de Luxemburgo (1932).

Fruto do desenvolvimento paulatino da evolução ao longo da história, o seguro

obrigatório, é uma das infinitas modalidades existentes de seguro dentre outras15, ─ assim

podemos atestar (como veremos adiante), que o Seguro é gênero do qual seguro os Seguros

Obrigatórios são espécies.

Conforme veremos adiante, o seguro obrigatório, está “umbilicalmente”

vinculado, de modo geral, com a variação da postura do poder de império do Estado em

relação a seus súditos, caminhando da total interferência na vida privada (monarquia

absolutista, onde o poder sobrepunha na pessoa do rei), passando pelo vértice do Estado

liberal (precisamente, a partir da Revolução Francesa, em 1789), retornando novamente para a

invasão, ainda que de forma tímida e juridicamente controlada (Estado de direito), do ente

estatal na vida do indivíduo.

É então, neste cenário histórico que “desabrocharam” as incipientes formas de

seguro obrigatório, fruto da necessidade Estatal em ingerir a relações privadas, sob a premissa

maior de se preservar o equilíbrio social, dada as “ameaças” advindas das inúmeras e

crescentes relações conflitantes, com um acentuado recrudescimento dos eventos danosos.

14 Rui Stoco. Tratado de responsabilidade civil: doutrina e jurisprudência. 7. ed. revista, atualizada e ampliada. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. p. 702 / 703. 15 Atualmente é impressionante notarmos o aumento “galopante” das diversas formas de seguro, a saber: seguro de acidentes pessoais, seguro agrícola, seguro tumultos, para um melhor estudo desta matéria acesse: <http://www.fenaseg.org.br/main.asp?View=%7BB3380F9F-98AD-476E-8162-7B07B3D4A488%7D>. Acesso em: 04 jan. 2008.

22

Corroborando nosso entendimento supra, pondera Rui Stoco16: “Caracteriza, pois,

uma interferência do Poder Público na liberdade das pessoas, com o objetivo de proteger as

vítimas de acidentes, nas atividades que considerou de extremo perigo, como, ad exemplum, a

condução de veículos automotores”.

Na esteira de pensamento, ainda, preleciona o Mestre Rui Stocco17, “O seguro

obrigatório abrange várias atividades, mas tem sua maior atenção voltada para a circulação de

veículos automotores”.

1.3 O SEGURO OBRIGATÓRIO NO BRASIL

No Brasil o primeiro preceito legal a fazer menção ao seguro obrigatório em geral

foi o Decreto-lei n. 1.186/3918, observamos a redação conforme aduzia este decreto-lei em seu

art. 36, in verbis:

Art. 36. A partir de 1º de julho de 1940 ficam as sociedades comerciais e industriais obrigadas a segurar no Brasil, contra riscos de fogo e de transportes, os seus bens móveis e imóveis situados no país, desde que o valor total desses bens seja igual ou superior a quinhentos contos de réis.

No entanto, foi com o Decreto-lei nº 73, de 21-11-1966, que o seguro obrigatório

no Brasil se estabeleceu de modo firme, “sem volta”.

Tal Decreto de forma ímpar organizou a hierarquia do seguro composta pelos

seguintes membros, em grau de importância:

Art 8º Fica instituído o Sistema Nacional de Seguros Privados, regulado pelo presente Decreto-lei e constituído: a) do Conselho Nacional de Seguros Privados - CNSP; b) da Superintendência de Seguros Privados - SUSEP; c) dos Resseguradores; (Alínea alterada pela LC 126/07). d) das Sociedades autorizadas a operar em seguros privados; e) dos corretores habilitados.

16 Rui Stoco. op. cit., p. 705. 17 Ibid. p.705 18 Rafael Tárrega Martins. Seguro DPVAT, apud, Celso Marcelo de Oliveira em sua obra Contrato de Seguro, p. 105, “no Brasil já se conheciam os seguros obrigatórios contra incêndio de edifícios de mais de cinco andares e mercadorias depositadas em armazéns gerais (art. 6º da Lei nº 5.418, de 5.6.1928) . (...). O DL nº 1.186, de 1934, que criou o Instituto de Resseguros do Brasil, continha idêntica disposição com referência ao seguro, por empresas comerciais e industriais, contra os riscos de fogo e de transporte”.

23

1.3.1 O seguro obrigatório de veículos automotores de via terrestre

Restringindo nosso estudo de modo a regular o seguro obrigatório de veículos

terrestre, temos, então, a regulamentação Decreto-Lei nº 73, de 21 de novembro de 1966:

Art. 20. Sem prejuízo do disposto em leis especiais, são obrigados os seguros de: omissis... l) danos pessoais causados por veículos automotores de vias terrestres e por embarcações, ou por sua carga, a pessoas transportadas ou não;

Depreendemos do exposto supra, que inicialmente o seguro obrigatório de vias

terrestre foi disciplinado pelo Decreto-lei 73/66, sendo observado desde os anos 60.

Apesar de já previsto na legislação pátria, foi somente com a regulamentação

inserida pelo Decreto nº 61.867, de 7-11-1967, que o seguro obrigatório de veículo automotor

passou efetivamente a ser realizado sob observação deste. Expunha ele, verbis:

Art 1º Os seguros obrigatórios previstos no artigo 20, do Decreto-lei nº 73, de 21 de novembro de 1966, serão realizados com observância do disposto neste Decreto. ... Art. 5º. As pessoas físicas ou jurídicas, de direito público ou privado, proprietários de quaisquer veículos relacionados com os artigos 52 e 63 da Lei 5.108, de 21 de setembro de 1966, referente ao Código Nacional de Trânsito, ficam obrigados a segurá-los, quanto à responsabilidade civil decorrente de sua utilização.

Ao analisarmos amiúde a legislação que passou a regulamentar (Decreto nº

61.867/67) o seguro obrigatório, depreendemos que tal reparação deste seguro era extensiva,

abrangendo, além dos danos causados pelos veículos, qualquer danos causados pela carga

transportada a pessoas, transportadas ou não, bem como a reparação de danos materiais não

transportados, senão vejamos:

Art 6º O seguro obrigatório de responsabilidade civil a que se refere o artigo anterior garantirá os danos causados pelo veículo e pela carga transportada, a pessoas transportada, ou não, e a bens não transportados. (ênfase acrescentada)

Assim, com a efetividade do dispositivo, tornou-se obrigatória aos proprietários de

veículo a contratação deste seguro, em face dos acidentes que poderiam advir da utilização do

veículo, sob pena de não ser licenciado (o que significa impossibilidade de trafegar com o

24

veículo, sob pena de apreensão), conforme o art. 28 do Decreto regulamentador, o qual

transcrevemos.

Art. 28.Nenhum veículo a que se refere o artigo 5º deste Decreto poderá ser licenciado, a partir de 1º de janeiro de 1968, sem que fique comprovada a efetivação do seguro ali previsto.

É de bom alvitre lembrarmos, que na Europa esta espécie de seguro (seguro

obrigatório concernente a reparação de danos causado de acidentes automobilístico) já era

disciplinada desde a metade da década de 10, (alastrando-se posteriormente por inúmeros

países).

O Brasil, na realidade, seguiu uma propensão mundial liderado pela Europa e

países industrializados19, fato que levou o Brasil inicialmente a perfilhar da mesma corrente

européia, quando então, havia a previsão de cobertura para danos, pessoais e materiais

decorrentes de acidente de trânsito.

A influência deste seguro no Brasil pelos países europeus fica evidente na

inteligência do texto legal contido na legislação espanhola (Ley 30/95)20, quando a mesma

aduz que do infortúnio, se cobriria os danos causados a bens e às pessoas, sendo este o

entendimento de toda a Comunidade Européia.

Fazendo um cotejo com a legislação alienígena citamos o art. 7º do Decreto nº

61.867/67, de nossa legislação pátria, vejamos:

Art 7º O seguro de que trata este Capítulo garantirá, no mínimo: I - Por pessoa vitimada, indenização de seis mil cruzeiros novos, no caso de morte; de até seis mil cruzeiros novos, no caso de invalidez permanente, e de até seiscentos cruzeiros novos, no caso de incapacidade temporária. II - Por danos materiais, indenização de até cinco mil cruzeiros novos, acima de cem cruzeiros novos, parcela essa que sempre correrá por conta do proprietário do veículo.

19 Tal espécie de seguro já era possível ser encontrada em países europeus, enumeramos alguns: Finlândia (1925); Áustria (1929); Suécia (1929); Inglaterra (1930); Alemanha ( 1939); França (1958) etc. 20Artículo 1º. De la responsabilidad civil – 1. El condutor de vehículos a motor es responsable, em virtud del riesgo creado por la conducción del mismo, de los daños causados a lãs personas o em los bienes com motivo de la circulación.

25

Nesta esteira de entendimento, o Decreto supracitado, além de externar a cobertura

do seguro, a danos pessoais e materiais, de igual modo, quantificou monetariamente os

sinistros conforme sua ocorrência, para melhor visualização, observemos a tabela abaixo.

Sinistro21 Valor em cruzeiros

Se resultar em morte. Cr$ 6.000,00 (seis mil cruzeiros novos)

Se resultar em invalidez permanente. Cr$ 6.000,00* (seis mil cruzeiros novos)

Se resultar em incapacidade temporária. Cr$ 600,00* (seiscentos cruzeiros novos)

Por danos materiais Cr$ 5.000,00 (cinco mil cruzeiros novos)

* Poderia atingir este valor. Sendo necessário uma avaliação médica, para averiguar o grau.

Com o Decreto nº 61.867/67, o Conselho Nacional de Seguros Privados, conforme

tabela supra, se tornou o órgão máximo do setor de seguros do Brasil, observemos, verbum

pro verbo:

Art 4º O Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP) expedirá recomendações especiais sobre a liquidação de sinistros relativos aos seguros obrigatórios. ... Capítulo III Do seguro obrigatório de responsabilidade civil dos proprietários de veículos automotores hidroviários Art 8º A responsabilidade civil do proprietário ou explorador de veículos automotores hidroviários terá condições e limites fixados pelo CNSP. (Sic)

E foi deste órgão (CNSP) por meio da Resolução 25/67, que adveio a primeira

divergência sobre a aplicação da culpa se subjetiva ou objetiva, quando da ocorrência de um

sinistro de trânsito.

E como forma de extirpar a dissensão criada pela resolução do CNSP, ocorreu a

intervenção do governo militar editando o Decreto-lei 814, de 4-11-1969, acarretando grandes

mudanças neste instituto de seguro pátrio.

Entre elas, podemos afirmar que o Brasil rompeu o “cordão umbilical”, em que

ligava nosso entendimento atrelado ao entendimento da corrente adotada pelos países

europeus.

21 Sinistro. [Do lat. Sinistru.] Adj. (...) 7. Ocorrência de prejuízo ou dano (incêndio, acidente, naufrágio, etc) em algum bem sobre o qual se fez seguro, assevera, o Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. 2. ed. rev. e aumentada. Rio de Janeiro, RJ: Nova Fronteira S/A., p. 1591.

26

Com o Decreto-lei do governo militar 814/69, no Brasil somente os danos de

ordem pessoal passaram a ter a cobertura pelo seguro obrigatório, não sendo garantido a

cobertura aos danos de ordem material, posicionamento que perdura até os dias de hoje em

nossos tribunais.

Não obstante, de igual modo houve uma significativa mudança nos valores

monetários auferidos pelo sinistro, elevando e atualizando os mesmo, sendo eles:

Sinistro Valor em cruzeiros novos

Quando este resultar em morte. Cr$ 10.000,00 (dez mil cruzeiros novos)

Quando este resultar em invalidez permanente. *Cr$ 10.000,00 (dez mil cruzeiros novos)

Quando este resultar em despesas de assistência

médica e suplementares.

Cr$ 2.000,00 (dois mil cruzeiros novos)

* Poderia atingir este valor22. Sendo necessário uma avaliação médica, para averiguar o grau.

Por derradeiro, outro fator que se faz mister mencionarmos, referente as mudanças

implementadas pelo governos militar, repousa na forma de auferir os benefícios do seguro. O

acesso aos valores.

Ficou estipulado que bastaria a prova dos danos, sem qualquer indagação sobre a

culpa23 pelo evento, para que o desditoso alcançasse seu prêmio segurado, sem qualquer

burocracia.

1.4 O “NASCIMENTO” DO SEGURO OBRIGATÓRIO DE DANOS PESSOAIS

CAUSADOS POR VEÍCULOS AUTOMOTORES DE VIA TERRESTRE, OU

SIMPLESMENTE – DPVAT

O marco no seguro obrigatório de veículos automotores de vias terrestre no Brasil

se deu com a Lei 6.194, de 19 de setembro de 197424, revogando expressamente o Decreto-Lei

nº 814/69.

22 Ibid., p. 26. 23 A questão da culpa no DPVAT será melhor analisada mais adiante. 24 Cabe acrescentar que a esta legislação está em vigor até nossos dias, de forma a regulamentar a aplicação do seguro obrigatório de veículos, claro que houve várias alterações o que será explanado adiante.

27

Tamanha repercussão gerou esta alteração legal, que este instituto de seguro

passou a ser denominado por alguns de “instituto sui generis em comparação com a legislação

alienígena, onde sua elaboração é uma demonstração de arrojo de nosso legislador”25.

Com essa alteração “descaracterizou-se deliberadamente aquele seguro, que era de

responsabilidade civil passando a ser tratado doravante como seguro obrigatório de danos

pessoais”26.

1.5 A VINCULAÇÃO DO VALOR DA INDENIZAÇÃO AO SALÁRIO-MÍNIMO

Outra significativa mudança trazida por esta lei, foi da fixação do índice em

quarenta vezes o maior salário-mínimo em caso de morte; até essa quantia em caso de

invalidez permanente e em até oito vezes o maior salário-mínimo em caso de despesas de

assistências médicas e suplementares comprovadas, como forma de reembolsar a vítima ou

seu beneficiário.

Tal alteração do quantun “foi motivada pela inflação que, já naquele momento,

corroia nossa moeda. Alterando-se os índices de cada uma das indenizações previstas para

fixá-las ao salário-mínimo, procurava o poder público mantê-las dentro de patamares

aceitáveis.”27

De modo a ressaltar o conhecimento transcrevemos o que prelecionava o art. 3º da

Lei 6.194/74, in fine:

Art. 3º. – Os danos pessoais cobertos pelo seguro estabelecido no artigo 2º compreendem as indenizações por mote, invalidez permanente e despesas de assistência médica e suplementares, nos valores que se seguem, por pessoa vitimada:

a) 40 (quarenta) vezes o valor do maior salário-mínimo vigente no País – no caso de morte; b) Até 40 (quarenta) vezes o valor do maior salário-mínimo vigente no País – no caso de invalidez permanente;

25 Rafael Tárrega Martins. Seguro DPVAT. 2. ed. Rafael Tárrega Martins. Campinas, SP: LZN Editora, 2007., p. 26. 26 Ibid. p. 398. 27 Ibid. p. 27.

28

c) Até 8 (oito) vezes o valor do maior salário-mínimo vigente no País – como reembolso à vítima – no caso de despesas de assistência médicas e suplementares devidamente comprovadas.

Sinistro Valor fixado no salário-mínimo

Quando este resultar em morte. 40 (quarenta) vezes o valor do maior salário-

mínimo vigente no País.

Quando este resultar em invalidez permanente. *Até 40 (quarenta) vezes o valor do maior

salário-mínimo vigente no País.

Quando este resultar em despesas de assistência

médica e suplementares.

Até 8 (oito) vezes o valor do maior salário-

mínimo vigente no País.

* Poderia atingir este valor. Sendo necessário uma avaliação médica, para averiguar o grau.

No entanto, o Conselho Nacional de Seguros Privados, sob a prerrogativa do art.

12 da Lei 6.194/7428 ─ em menos de um ano após a instituição do seguro ─, publica a

Resolução CNSP nº 01/1975, desvinculando o montante indenizatório do salário-mínimo.

Com a Resolução supra mencionada e outras que posteriormente advieram, o

quantum indenizatório ficou acima do atrelado ao salário-mínimo até então.

Ocorre que tais valores, não foram bem aceitos pelas seguradoras, que, não

obstante serem subordinadas às normas do CNSP, quando ocorria um sinistro, os valores dos

mesmos eram efetuados conforme disciplinava a Lei 6.194/74 indo de encontro com a norma

editada pelo CNSP, criando-se um cenário de acalorada dissensão de ordem jurídica.

O forte argumento do Conselho Nacional de Seguros Privados, para que a

Resolução fosse cumprida, pairava na alegação de inconstitucionalidade, contrariando o

disposto no inciso IV, art. 7º, (parte final) da Constituição, in verbis:

Art. 7º. Omissis...

IV- salário mínimo , fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim; (grifo nosso)

28 Art. 12 da Lei 6.194/74: “O Conselho Nacional de Seguros Privados expedirá normas disciplinadoras e tarifas que atendam ao disposto nesta lei”.

29

Deste modo, apesar do art. 3º da Lei 6.194/74, fazer referência expressa

concernente as forma vinculadas ao salário-mínimo, apoiava-se o CNSP na Constituição de

1988, precisamente em sua vedação de igual modo expressa, conforme supracitado.

Contudo, em várias decisões do judiciário29, pugnavam pela procedência da Lei e

não da Resolução do CNSP, alegando legitimidade daquela, sendo recebida pelos tribunais

positivamente sua fixação.

Como forma de dar um basta no litígio criado referente ao valor da indenização,

foi editada a Medida Provisória nº 340, de 29 de dezembro de 2006, alterando o referido artigo

em comento (art. 3º) da Lei do SEGURO DPVAT, ficando doravante estipulado o valor das

indenizações em moeda corrente, verbis:

Art. 8º. Os arts. 3º, 4º, 5º, e 11 da Lei 6.194, de 19 de dezembro de 1974, passam a

vigorar com as seguintes alterações:

Art. 3º. Os danos pessoais cobertos pelo seguro estabelecido no art. 20 compreendem as indenizações por morte, invalidez permanente e despesas de assistência médica e suplementares, nos valores que se seguem, por pessoa vitimada: I- R$ 13.500,00 (treze mil e quinhentos reais) – no caso de morte; II- até R$ 13.500,00 (treze mil e quinhentos reais) – no caso de invalidez permanente; III- até R$ 2.700,00 (dois mil e setecentos reais) – como reembolso à vítima – no caso de despesas de assistência médica e suplementares devidamente comprovadas.

No caso em comento, cabe salientar que o entendimento da MP 340/06 ficou

cristalizado com a conversão da referida Medida Provisória em Lei 11.482, de 31 de maio de

200730, adotando a lei em seu art. 8º a mesma redação pregada pela MP.

29 Neste entendimento citamos o Recurso Especial, verbis: “As leis 6.205 e 6.243 não revogaram o critério de fixação da indenização com base no valor do salário mínimo, tal como previsto no art. 3º da Lei 6.194/75, e isso quer pelo marcante interesse social e previdenciário desta modalidade de seguro, como porque a Lei 6.194/74 estabelece um simples critério de cálculo de valor indenizatório, não se constituindo no fator de correção monetária que as leis supervenientes buscaram afastar” (STJ – 4ª T. – REsp. – Rel. Athos Carneiro – j. 28.06.93 – RSTJ 51/222). Fonte: Rui Stocco, Tratado de responsabilidade civil: doutrina e jurisprudência. p. 712 30 Exposição de motivos desta lei: EMI Nº 146/2006 – MF/MEC/MT/MDIC. Brasília, 27 de dezembro de 2006. Excelentíssimo Senhor Presidente da República, Temos a honra de submeter à apreciação de Vossa Excelência o Projeto de Medida Provisória que objetiva: (...) f)- propor alteração da Lei no 6.194, de 19 de dezembro de 1974, a fim de tornar mais transparente e adequar tecnicamente as disposições legais aplicáveis ao Seguro Obrigatório de Danos Pessoais causados por veículos automotores de via terrestre, ou por sua carga, a pessoas transportadas

30

Destarte, colocando um “ponto final” na dissensão jurídica, primando pela clareza

e objetividade da norma.

Imprescindível se faz mencionar, que outra modificação legal de salutar

importância, refere-se a Lei 8.441, de 13 de julho de 1992, deixando de exigir o bilhete pago

pelo causador do sinistro, equiparando a companheira à esposa, entre outras modificações, de

modo a tornar o DPVAT, ainda, mais acessível ao povo.

Nesta esteira, temos um seguro (DPVAT) sui generis, destinado a amenizar os

danos experimentados pelas pessoas, transportadas ou não, oriundo de veículos automotores,

dilapidado no tempo, e apurado no “fogo” da hermenêutica.

1.5.1 Breve apontamento acerca da nomenclatura deste Seguro

A priori urge fazermos breves considerações quanto a terminologia usual deste

seguro, observando que é muito utilizada em nosso país o termo Seguro Obrigatório, para nos

referindo-se ao seguro em voga, quando na verdade ao mencionarmos seguro obrigatório,

estamos a falar do gênero, no qual, o Seguro Obrigatório DPVAT é espécie.

De igual modo, ainda, não menos comum, encontramos uma outra expressão,

referindo-se a este Seguro, apenas por DPVAT.

In casu¸ é bom que se diga: não há unanimidade de um ou outro termo, fato que

nos leva a observar que até mesmo em julgados não há uma retidão técnica, ao passo que em

nosso entender data vênia, perfilharemos nesta obra pela terminologia ao nos referirmos ao

Seguro Obrigatório de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de vias terrestre,

de apenas, DPVAT.

ou não, conhecido como seguro DPVAT. fonte: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Exm/EMI-146-MF-MEC-MT-MDIC.htm (grifo nosso).

31

2. NATUREZA JURÍDICA DO DPVAT E SUA PRESCRIÇÃO 2.1 DEFINIÇÃO DE NATUREZA JURÍDICA

Antes de “mergulharmos” no estudo propriamente dito da natureza jurídica, mister

se faz entendermos o que seja natureza jurídica.

Para tanto, nos valemos da inteligência da festejada doutrinadora Maria Helena

Diniz31, in verbis: “Filosofia geral. 1. Significado último dos institutos jurídicos. 2. Afinidade

que um instituto jurídico tem, em diversos pontos, com uma grande categoria jurídica,

podendo nela ser incluído a título de classificação.

Do exposto depreende-se que para o real enquadramento da natureza jurídica do

DPVAT, será necessário que este se identifique seus vários preceitos com alguma área

jurídica, sendo o que tentaremos demonstrar adiante.

2.2 SEGURO DE RESPONSABILIDADE CIVIL VERSUS SEGURO DE DANO

Poucos sãos os estudiosos (doutrinadores, juristas...) que tem-se aventurado ao

estudo da Natureza Jurídica do DPVAT. O consenso entre as obras parece muito distante, cabe

salientar que a própria norma legal, corrobora para tal assertiva, conforme veremos a seguir.

31

Maria Helena Diniz. Dicionário jurídico. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 1988. p. 337.

32

A princípio o DPVAT foi taxado como um seguro obrigatório de

Responsabilidade Civil, esta denominação foi concebida por meio do Decreto-lei nº 73/66,

especificamente na regulamentação deste, pelo Decreto-lei nº 814/69.

Acerca do tema (responsabilidade civil) Luiz Rodão de Freitas Gomes citando

Clóvis Bevilaqua, aduz: “ desde que alguém, por culpa ou dolo, ofender o direito de outrem,

rompe com a ordem jurídica, pratica um ato ilícito, deve reparação”32. (grifo nosso)

No entanto, conforme Rafael Tárrega Martins33, “preocupava-se ele (seguro

obrigatório de veículos automotores de vias terrestres) com os danos resultantes de um

sinistro, não se relacionando com o ato ilícito em si”. (grifo nosso)

Do exposto, entendemos que jamais o DPVAT, deveria ser taxado como seguro

obrigatório de responsabilidade civil, passível de incorrer o legislador em antinomia, indo de

encontro até mesmo com o Código Civil de 1916, vejamos:

Art. 1.436. Nulo será este contrato, quando o risco, de que se ocupa, se filiar a atos ilícitos do segurado, do beneficiado pelo seguro, ou dos representantes e prepostos, quer de um quer de outro.

Não obstante, o pensamento supra para o seguro obrigatório, bastava apenas a

comprovação do acidente, não buscando a quem deu causa, ou o motivo do mesmo.

Ademais, conforme supracitado, apesar de outrora ser enquadrado como de

responsabilidade civil, o seguro obrigatório em comento não sustentava (persistindo tal

entendimento até nossos dias) sua indenização na presença de um ato ilícito, e sim apenas em

danos, não se buscando a quem deu causa, ou motivo do mesmo, o que por certo já gerava

certa discussão.

No entanto, com a entrada em vigor da Lei nº 6.194/74 (ainda vigente entre nós),

com seu artigo 20 alterado pelo Decreto-lei nº 73/6634 ocorreu, para alguns estudiosos, uma

32 Clóvis Bevilaqua. Teoria Geral do Direito Civil. 7. ed. p. 252, apud Luiz Roldão de Freitas Gomes. Elementos de responsabilidade civil. Rio de Janeiro: Renovar, 2000. p. 45. 33 Rafael Tárrega Martins. op. cit., p. 29. 34 Assim menciona este Decreto, verbis: Art 20. Sem prejuízo do disposto em leis especiais, são obrigatórios os seguros de: a) danos pessoais a passageiros de aeronaves comerciais;

33

mudança na natureza jurídica do seguro obrigatório, passando este da natureza de

responsabilidade civil para a natureza jurídica de seguro de danos pessoais. Conforme declara

sua própria denominação (já estudado no capítulo predecessor), a saber, Seguro Obrigatório

de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Vias Terrestres – DPVAT.

Porém, com a devida data vênia, a quem assim comunga do enquadramento da

natureza jurídica no rol de danos, tal pensamento assim não deve prosperar, o que neste

trabalho demonstraremos.

2.3 CONCEITO DE TRIBUTO

Outrossim, pugnamos pela natureza jurídica tributária, entendimento este no qual

nos filiamos, e doravante tecemos sucintas35 considerações acerca do nosso posicionamento.

No entanto, para um melhor entendimento, faremos algumas ponderações acerca

do que vem a ser tributo.

Prescreve o nosso Código Tributário, em seu art. 3º, que:

Art. 3º. Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada.

b) responsabilidade civil do proprietário de aeronaves e do transportador aéreo; (Alínea alterada pela Lei 8374/91). c) responsabilidade civil do construtor de imóveis em zonas urbanas por danos a pessoas ou coisas; d) bens dados em garantia de empréstimos ou financiamentos de instituições financeiras públicas; e) garantia do cumprimento das obrigações do incorporador e construtor de imóveis; (Alínea revogada pela MP 2221/01). f) garantia do pagamento a cargo de mutuário da construção civil, inclusive obrigação imobiliária; g) edifícios divididos em unidades autônomas; h) incêndio e transporte de bens pertencentes a pessoas jurídicas, situados no País ou nele transportados; i) (Alínea revogada pela LC 126/07). j) crédito à exportação, quando julgado conveniente pelo CNSP, ouvido o Conselho Nacional do Comércio Exterior (CONCEX); (Alínea alterada pelo Del. 826/69). l) danos pessoais causados por veículos automotores de vias terrestres e por embarcações, ou por sua carga, a pessoas transportadas ou não; (Alínea acrescentada pela Lei 8374/91). (grifo nosso). m) responsabilidade civil dos transportadores terrestres, marítimos, fluviais e lacustres, por danos à carga transportada. (Alínea acrescentada pela Lei 8374/91). 35 O tema não será tratado de forma amiúde, sob pena do trabalho perder seu foco, outrossim, tratando o tema de forma aprofundada indicamos a Revista Tributária e de finanças públicas da editora Revista dos Tribunais, Ano 11 – n. 51.

34

Ao definir tributo o professor Sabbag36, se vale do entendimento do artigo

supracitado, fazendo um detalhamento do mesmo com sua inconfundível pedagogia, a saber:

O tributo... � a prestação pecuniária; � é compulsório; � é instituído por meio de lei; � não é multa; � é cobrado mediante lançamento.

De modo semelhante é o entendimento do festejado doutrinador Hugo de Brito

Machado37 ao tratar a matéria, vejamos:

Sabe-se que, em princípio, não é função da lei conceituar. A lei deve conter uma regra de comportamento. Entretanto, em face de controvérsias, às vezes deve a lei estabelecer conceitos. Isto aconteceu com o conceito de tributo, que é atualmente, no Brasil, legalmente determinado.

Registramos que tal conceito de tributo, recebeu severas críticas, ao ponto de

doutrinadores, sustentarem que, com base no conceito elencado pelo artigo supra, poderíamos

enquadrar o serviço militar obrigatório (sendo um dever do cidadão) como um regime

tributário, por se amoldar ao conceito tributário38.

É bom lembrarmos, que o estudo das normas tributárias deve ser feito com base no

entendimento constitucional, não obstante nossa Carta Magna se quer conter um conceito de

tributo, é por meio de seu estudo que delimitamos os contornos do texto tributário, de modo

que podemos afirmar o que seja ou não figura tributária.

Assis39, seguindo a esta linha de pensamento, é contundente ao afirmar que: “o

ponto de partida para se conceituar tributo é a Constituição, que, no entanto, não traz explícito.

Quem o expressa é o Código Tributário Nacional (Lei 5.172/66), em seu artigo 3º”,

(supracitado).

36 Eduardo de Moraes Sabbag. Direito tributário. São Paulo: Prima Cursos Preparatórios, 2004. p. 57. 37 Hugo de Brito Machado. Curso de direito tributário. 28. ed. São Paulo, 2007. p. 83/84. 38 Na esteira deste entendimento citamos, CARVALHO, Paulo de Barros et al. Comentários ao Código Tributário Nacional. São Paulo: RT, 1975. p. 43-44. 39 Emanuel Calos Dantas de Assis. Sistema Constitucional Tributário. Curitiba: Juruá, 1. Ed. (2002) 2. tiragem. p.83/84.

35

Desta feita, a Constituição prevê em seu art. 145, três espécies tributárias:

impostos, taxas e contribuições de melhoria40. Portanto, mais adiante em seus art. 149 e 195

enceta a possibilidade de instituição de exações chamadas pelo constituinte de contribuições.41

Daí Kiyoshi Harada42, afirmar:

Sabe-se que o tributo é gênero de que são espécies os impostos, as taxas e as contribuições de melhoria. É a clássica divisão tripartite dos tributos. Alguns autores negam o caráter de tributo ao empréstimo compulsório; outros excluem as contribuições sociais do elenco tributário denominando-as de contribuições parafiscais. Entendemos que a matéria deve ser examinada à luz do Sistema Tributário Nacional vigente e estudada em conformidade com os princípios constitucionais tributários, o que amplia o campo de análise (...) Em termos de direito positivo brasileiro, temos as seguintes espécies tributárias: impostos, taxa, contribuições de melhoria, empréstimo compulsório, contribuições sociais do art. 149 da CF e contribuições sociais do art. 195 da CF. (grifo nosso)

2.4 O ENTENDIMENTO DE NOSSOS TRIBUNAIS

Como forma de dirimirmos (sem a pretensão de esgotarmos o debate) a divisão

eleita pela Constituição, nos valemos do entendimento do professor Emanuel Carlos de

Assis43, ao se socorrer no Supremo, por meio das inteligências abalizadas de dois Ministros ─

Carlos Mário Velloso e Moreira Alves, que com seus votos apresentaram a questão da

seguinte forma, aduz o professor:

RE 138.284-8-CE (STF, Pleno, RTJ 143, p. 313/326), o Min. Carlos Mário Velloso se pronunciou como segue, tendo a formatação do texto sido aqui alterada, para melhor compreensão: “As diversas espécies tributárias, determinadas pela hipótese de incidência ou pelo fato gerador da respectiva obrigação tributária (CTN, art. 4º), são as seguintes: a) os impostos (CF, arts. 145, I, 153, 154, 155 e 156); b) as taxas (CF, art. 145, II);

40 Apenas a título de conhecimento histórico, conforme a construção erudita do professor Emanuel Calos Dantas de Assis. Sistema Constitucional Tributário. Curitiba: Juruá, (2002)., p. 66., mencionamos que : “esta trilogia introduzida de forma desordenada pelo Constituição de 1934, não se repetiu na Carta de 1937 mas reapareceu definitivamente na Constituição de 1946, constando ainda na Lei 4.320/64, na Emenda Constitucional 18/65 e no Código Tributário Nacional. Mantida na Constituição de 1967/69, permanece na atual Carta Magna. 41 Outra questão merecedora de destaque, se vislumbra nas correntes defendidas pelos tributarista, a saber: Teoria Dicotômica, advinda do art. 4º do CTN, reconhece como espécies tributárias impostos e taxas; teoria tricotômica, impostos, taxas e contribuições de melhoria e por fim, teoria pentapartida 05 (cinco) são as espécies jurídico-tributárias: impostos, taxas, contribuições de melhoria, contribuições sociais e os empréstimos compulsórios. 42 Kiyoshi Harada. Direito Financeiro e tributário. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2000., p252/253. 43 Emanuel Carlos Dantas de Assis. op. cit., p., 129.

36

c) as contribuições, que podem ser assim classificadas: c.1. de melhoria (CF, art. 145, III); c.2. parafiscais (CF, art. 149), que são: c.2.1. Sociais, c.2.1.1. de seguridade social (CF, art. 195, I, II e III), c.2.1.2. outras de seguridade social (CF, art. 195, §4º), c.2.1.3. sociais gerais (o FGTS, o salário-educação, CF, art. 212, §5º, contribuições para o SESI, SENAI, SENAC, CF, art. 240); c.3. Especiais: c.3.1. de intervenção no domínio econômico (CF, art. 149) e c.3.2. corporativas (CF, art. 149). Constituem, ainda, espécie tributária: d) os empréstimos compulsórios (CF, art. 148)”.

O Min. Moreira Alves, no RE 146.733-9, relatou:

De fato, a par das três modalidades de tributos (os impostos, as taxas e as contribuições de melhoria) a que se refere o artigo 145 para declarar que são competentes para instituí-los a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, os artigos 148 e 149 aludem a duas modalidades tributárias, para cuja instituição só a União é competente: o empréstimo compulsório e as contribuições sociais, inclusive as de intervenção no domínio econômico e de interesse das categorias profissionais ou econômicas. No tocante às contribuições sociais – que dessas duas modalidades tributárias é a que interessa para esse julgamento -, não só as referidas no art. 149 – que se subordina ao capítulo concernente ao sistema tributário nacional – tem natureza tributária, como resulta, igualmente, da observância que devem ao disposto nos artigos 146, III e 150, I e III, mas também as relativas a seguridade social previstas no artigo 195, que pertence ao título ‘Da Ordem Social44.

2.5 NATUREZA JURÍDICA TRIBUTÁRIA

É neste cenário que encontramos a natureza jurídica tributária do DPVAT, se

amoldando as Contribuições sociais, sendo ele: um seguro instituído por força de lei, possui

um caráter compulsório, que tem por princípio a socialização do risco, tem ainda, um forte

cunho social, visando primordialmente amparar as vítimas de acidentes.

Por derradeiro, salientamos conforme afirma Alberto Xavier45, verbis:

As contribuições são pois tributos conceituados exclusivamente em razão da sua finalidade específica tipificada no texto constitucional, isto é, dos fins a que estão diretamente vinculados (justiça social, intervenção econômica, interesses de categorias econômicas e profissionais), com total abstração de outros aspectos da sua natureza e regime jurídico.

44 Emanuel Calos Dantas de Assis. op.cit., p.129. 45 Alberto Xavier. Temas de direito tributário. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 1991, p. 26/27.

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Preste a finalizar nossa tese, parafraseando o mestre Hugo de Brito Machado46

encetamos que o objetivo do tributo pode se dar de três formas:

a) fiscal, aqui temos a arrecadação de recursos financeiros unicamente para o Estado; b) extrafiscal, nesta forma ele interfere no domínio econômico, tendo por escopo um fim diverso da simples arrecadação de recursos financeiros; c) parafiscal, aqui o tributo tem um escopo maior, sua arrecadação vai para atividades, que em princípio, não fazem parte das funções inata ao Estado, e sim ao particular, no entanto, o Estado a desenvolve por meio de entidades específicas. E aqui encontramos o DPVAT. (ênfase acrescentada)

De maneira clara o tributarista supra, ao discorrer acerca do instituto parafiscal

evidência que a arrecadação deste tem grande importância para sua qualificação e neste

sentido enumeramos a destinação do DPVAT, a saber:

No ano de 2006, a arrecadação do Convênio do Seguro Obrigatório DPVAT, que abrange todas as categorias de veículos – carros de passeio, motos, táxis, veículos de transporte coletivo, caminhões, caminhonetas, máquinas de terraplanagem e equipamentos móveis em geral (quando licenciados) – foi de R$ 2,912 bilhões, valor correspondente a 33.508.344 veículos segurados. Do total arrecadado, 45% foram destinados ao Fundo Nacional de Saúde - FNS, do Ministério da Saúde, conforme dispõe a Lei 8.212, de 1991, alterada pela Lei 9.503, de 1997, e 5% da arrecadação foram destinados ao Departamento Nacional de Trânsito – DENATRAN, do Ministério das Cidades, conforme determina a Lei 9.503, de 1997. Esses recursos foram repassados diretamente pela rede bancária e, de acordo com a legislação, destinaram-se ao FNS para fins de custeio do atendimento médico - hospitalar às vítimas de acidentes de trânsito e ao DENATRAN para a realização de programas voltados à prevenção de acidentes. No ano passado, o FNS recebeu R$ 1,311 bilhão e o DENATRAN, R$ 145,7 milhões.47 48

Acrescentando ao caso em comento, destacamos parcialmente, ainda, o Projeto de

Lei Complementar nº 55, DE 200749, (com a proposta da dispensa de contratação do DPVAT),

tendo a seguinte:

De fato, a desobrigação pretendida atinge o DPVAT - Seguro de Danos Pessoais causados por Veículos Automotores de Via Terrestre, cuja metade dos recursos

46 Hugo de Brito Machado. op. cit., p96. 47 Fonte: <http://www.dpvatseguro.com.br/conheca/informacoes.asp> acesso em: 20 jan. de 2008. 48 A título de informação, neste mesmo ano, foram pagos do montante de R$ 2,912 bilhões, o valor de 1,027 bilhão, além dos desembolsos com pagamentos dos sinistros, honorários advocatícios, serviço de investigação (que o governo possuí para averiguar casos de fraudes), entre outros, ou seja, somente com gastos de sinistro menos da metade do valor arrecadado, o que é um absurdo. 49 Recentemente o Projeto de Lei Complementar nº 55/2007, tendo como autor: Deputado Roberto Santiago e Relator: Deputado Sílvio Costa, objetivando a dispensa de contratação do seguro obrigatório em seu relatório aventa a natureza jurídica tributária do DPVAT, em um de seus parágrafos assim expressa: “Vale notar que, embora o seguro DPVAT não tenha o nome júris de tributo, sua natureza jurídica é de contribuição para fiscal, com características similares à contribuição social...” fonte: <<http://www.camara.gov.br/sileg/integras/495478.pdf>> acesso em: 20 jan. de 2008.

38

arrecadados destina-se à União, sendo 90% para o custeio da assistência médico-hospitalar, junto ao Sistema Único de Saúde – SUS, dos segurados vitimados em acidentes de trânsito e 10%, ao Conselho Nacional de Trânsito – CONTRAN, para aplicação vinculada a programas destinados à prevenção de acidentes. Os restantes 50% do DVAT são destinados às companhias seguradoras para cobertura de prêmios. (...) Vale notar que, embora o seguro obrigatório do DPVAT não tenha o nome júris de tributo, sua natureza jurídica é de contribuição parafiscal, com características similares à contribuição social, no que tange à parcela que representa receita pública. (ênfase acrescentada)50

Por fim, nos valemos do entendimento de nossos tribunais, pelo que citamos o r.

Acórdão51, verbis:

TRIBUNAL DE JUSTIÇA Décima Oitava Câmara Cível Apelação Cível nº 2003.001.04685 Ação: 2002.001.87150 – Indenizatória. Comarca Capital – 24ª Vara Cível Apelante 1: B S S/A Advogado 1: Doutor Roberto Moraes de Lima Rocha Advogado 2: Doutor Douglas Spinelli Rodrigues Apelante 2: J A da C Advogado:: Doutor G M B Apelados: os mesmos Relator: Desembargador Nagib Slaibi Filho ACÓRDÃO Direito Civil. Acidente de trânsito. Indenização por morte de irmã. Seguro obrigatório. DPVAT. Veículo não identificado. Ação de responsabilidade civil. Ilegitimidade passiva. Descabimento. Ao seguro obrigatório DPVAT, foi atribuída a natureza jurídica de contribuição parafiscal, conforme entendimento manifestado pelo Superior Tribunal de Justiça, não importando se o veículo foi ou não identificado e se havia prova ou não de contribuição para o seguro. Precedentes: STJ, REsp nº 68146/SP, REsp nº 218.418/SP. RECURSO ESPECIAL. SEGURO OBRIGATÓRIO. 1. Qualquer seguradora responde pelo pagamento da indenização em virtude do seguro obrigatório, pouco importando que o veículo esteja a descoberto, eis que a responsabilidade em tal caso decorre do próprio sistema legal de proteção, ainda que esteja o veículo identificado, tanto que a lei comanda que a seguradora que comprovar o pagamento da indenização pode haver do responsável o que efetivamente pagou. 2. Recurso especial conhecido e provido. (STJ, 3ª Turma, REsp nº 68146/SP, Min. Carlos Alberto Menezes Direito). Não obstante o acidente ter ocorrido sob a égide da Lei nº 6194/74, conforme o precedente apontado, no sentido de ser irrelevante a identificação ou não do veículo, por ter este seguro natureza de contribuição parafiscal, o pagamento do seguro deve ser integral. A Teoria do Prêmio do Seguro é conceituada pelo professor Alberto Xavier como a adaptação do conceito de seguro do contrato de direito privado ao seguro social. O prêmio do seguro equipara-se à contribuição previdenciária e a indenização tem institutos similares com a aposentadoria em suas diversas modalidades, assistência

50 O referido Projeto de Lei Complementar nº 55/2007, tendo como autor: Deputado Roberto Santiago e Relator: Deputado Sílvio Costa, pode ser visto de forma integral no seguinte sítio: <<http://www.camara.gov.br/sileg/integras/495478.pdf>> acesso em: jan. de 2008. 51 Fonte: <<http://www.nagib.net/arquivos/sent_tribut6.doc>> acesso em: dez. 29 de 2007.

39

médica, licenças, pensão por morte, auxílio acidente, auxílio acidente, reclusão e seguro-desemprego. Nem se poderia alegar que a compulsoriedade da contribuição previdenciária relativa ao empregado seria fator determinante para sua diferenciação do seguro de responsabilidade civil, pois como sabemos, essa modalidade de seguro é a vulgarmente conhecida como ‘seguro obrigatório’. O proprietário de veículo automotor está obrigado, por força de lei a fazer o seguro de responsabilidade civil e a isso não se pode furtar, da mesma forma que o empregado está obrigado a pagar a contribuição previdenciária, a qual, inclusive já é previamente descontada de seu salário mensal e repassada pelo empregador à autarquia competente. A parcela relativa à contribuição previdenciária do empregado se insere no contexto da parafiscalidade, portanto, possui natureza tributária, que, pelas suas características específicas, pode ter regime constitucional diferente daquele dedicado aos demais tributos. (Contribuições parafiscais -conceito e natureza jurídica, Marli Guayanaz Muratori, dissertação de mestrado, Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro, 2002) (grifei) Provimento parcial do segundo recurso e desprovimento do primeiro recurso. A C O R D A M os Desembargadores da Sexta Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, por unanimidade, em prover parcialmente o segundo recurso e negar provimento ao primeiro, nos termos do voto do Desembargador Relator. Rio de Janeiro, 1º de julho de 2003. Desembargador Albano Mattos Corrêa Presidente Desembargador Nagib Slaibi Filho Relator

Assim, pelo exposto acima, pugnamos pela natureza jurídica tributária do DPVAT,

salientando que não é nosso escopo neste trabalho, tecer discussões de forma circunstanciada

acerca desta matéria.

2.6 DA PRESCRIÇÃO

Como já exposto supra, nosso entendimento é de que o Seguro DPVAT, não é

seguro de responsabilidade civil, e sim um seguro de danos, com natureza jurídica tributária.

Deste modo, data máxima vênia entendimento contrários, entendemos que o prazo

prescricional do DPVAT, não deve sujeitar-se as normas do Código Civil, prelecionada no art.

206, parágrafo 3º, inciso IX, verbis:

Art. 206. Prescreve: §3º. Em três anos: IX – a pretensão do beneficiário contra o segurador, e a do terceiro prejudicado, no caso de seguro de responsabilidade civil obrigatório.

Ademais, cabe salientar que o Decreto-lei 73/66, em seu artigo 20, alínea l, de

forma diferenciada aos demais ali elencados, faz referência a este, como seguro obrigatório

apenas, e não seguro de responsabilidade civil como nos demais ali expresso, caso fosse

40

intenção do legislador colocá-lo como seguro de responsabilidade civil com prazo trienal,

assim o teria feito.

Por certo o legislador, no caso em comento, o legislador jamais se preocupou em

estabelecer prazos prescricionais para DPVAT. Noutro dizer, podemos observar que em razão

do silêncio da Lei 6.194/74 no que tange ao prazo prescricional do Seguro DPVAT, há de

prevalecer a incidência do artigo 205 do Código Civil, vejamos,

Art. 205. A prescrição ocorre em dez anos, quando a lei não lhe haja fixado prazo menor.”

2.6.1 Do início do prazo prescricional

Primeiramente esclarecemos que depende do tipo de indenização a ser pleiteada.

Em caso de óbito e em caso de assistência médica e suplementares devidamente comprovada

entendemos que apartir da data do fato do acidente. Sendo este um entendimento pacífico em

nossos tribunais e seguradoras.

De outro modo, em advindo invalidez permanente a prescrição somente começará,

após o laudo médico definitivo atestando que a vítima em virtude do acidente encontra-se com

invalidez permanente.

Cabe salientar, ainda, que o tratamento perdure por anos, buscando uma

recuperação, este tornando-se infrutífera culminando na invalidez permanente, ainda, sim, fará

a vítima jus ao seu benefício monetário, descontando, ser for o caso, do valor auferido pela

Despesas de Assistência Médica e Suplementares – DAMS.

Nesta esteira caminha nosso tribunal, vejamos:

Seguro obrigatório. Prescrição. Vigência do art. 206, § 3º, inc. IX, do CC. Acidente de trânsito. Invalidez permanente. Aferimento. Laudo técnico. Prova suficiente. Valor da indenização. Índice quantificador. Salários mínimos. Legitimidade da Lei n. 6.194/74. Honorários de advogado. Art. 20 do CPC e seus parágrafos. Nas pretensões pessoais, inclusive as oriundas de indenizações relativas ao seguro DPVAT, o prazo prescricional, a teor do art. 206, § 3º, inc. IX, do CC, é de 3 (três) anos, contados a partir do fato. Para fins do recebimento do seguro obrigatório, serve como prova acerca da invalidez do segurado' o laudo técnico elaborado pelo Instituto Médico Legal, que atesta o caráter definitivo das lesões sofridas pela vítima. O valor da indenização

41

do seguro obrigatório DPVAT por invalidez permanente é de até 40 (quarenta) salários mínimos, conforme parâmetro de fixação disposto no art. 31 da Lei n. 6.194/74, não se confundindo com índice de reajuste e, portanto, compatível com as Leis n. 6.205/75 e 6.423/77, que vedam o uso do salário mínimo como parâmetro de correção monetária. A fixação da verba honorária deve-se levar em conta fatores como o grau de zelo do profissional, o lugar da prestação do serviço, a natureza e importância da causa, o trabalho realizado pelo advogado e o tempo despendido para o serviço, estando correta a fixação entre 10% a 20%. ( Ap. Cível Suma, N. 10000120060190336, Rel. Juiz Raduan Miguel Filho, J. 07/08/2007).

2.6.2 Da prescrição e a situação intertemporal

Os prazos prescricionais, cotidianamente sofrem severas influências, muitas vezes

prejudiciais, com o surgimento de uma nova lei, e surgem acalorados debates principalmente

quando são atingidos princípios como direito adquirido, nesta sorte emerge o comentário do

aclamado doutrinador Humberto Theodoro Junior52, verbum pro verbo:

Quando uma lei nova interfere nos prazos prescricionais, a preocupação histórica sempre se situou no plano do direito adquirido e, consequentemente, na necessidade de evitar efeitos retroativos que pudessem desestabilizar a situação jurídica já estabilizada.

Para que a segurança jurídica não seja abalada, in casu, mister se faz a existência

de normas, respeitando desta forma as relações sociais, que no direito buscaram sua guarida e

sustentáculo no prazo prescricional outrora vigente.

Neste caso não é possível que prazos prescricionais da lei já revogados se

perpetuem no tempo com seu curso normal, de igual modo, imprescindível mencionar que não

é prudente o desejo de que novos prazos sejam aplicados de forma imediata concernentes

àqueles que já iniciaram seu curso.

Destarte, com intuito de dirimir uma possível controvérsia suscitada por este

trabalho, e tantas outras, o Código Civil, de forma enfática prevê uma regra de transição, nos

termos de seu artigo 2.028, verbis:

Art. 2.028. Serão os da lei anterior os prazos, quando reduzidos por este Código, e se, na data de sua entrada em vigor, já houver transcorrido mais da metade do tempo estabelecido na lei revogada.

52 Humberto Theodoro Junior. Comentários ao novo Código Civil. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2003. v. 3. t. II, p. 300.

42

Neste sentido, exemplifica a civilista Maria Helena Diniz53, in verbis:

Tomando, por exemplo, o caso da ação de indenização, cujo prazo prescricional foi reduzido de 20 para 3 anos. Se na data da entrada em vigor do novo Código já houver transcorrido 11 anos (mais da metade do prazo vintenário), aplica-se o prazo da lei anterior, ou seja, 20 anos (além dos 11 já transcorridos, mais 9 anos). A contrario sensu, se houver transcorrido 9 anos (menos da metade do prazo da lei velha), aplica-se o prazo da lei nova, com a contagem do prazo iniciada dali. Ou seja, além dos 9 anos, teria o titular da pretensão indenizatória mais 3 anos para exercê-la.

Não muito satisfeita, com a intentio legis em comento, complementa, ainda, a

doutrinadora, Maria Helena Diniz54:

Para eliminar dúvidas, melhor teria sido que se seguisse a esteira do atual CC português, que, no art. 297º, 1, assim dispõe: “A lei que estabelecer, para qualquer efeito, um prazo mais curto do que o fixado na lei anterior é também aplicável aos prazos que já estiverem em curso, mas o prazo só se conta a partir da entrada em vigor da nova lei, a não ser que, segundo a lei antiga, falte menos tempo para o prazo se completar”.

Desta feita, deve o beneficiário se atentar quanto ao prazo prescricional que lhe

tenha direito, velando pelo cuidado de não ter seu direito tolhido drasticamente. Observando

fielmente o brocardo, “o direito não socorre os que dormem”55.

53 Maria Helena Diniz. Código civil anotado. 11. ed. rev., aum, e atual. de acordo com o novo Código Civil. São Paulo: Saraiva. 2005, p. 1617 . 54 Ibid., p. 1618. 55 Autor desconhecido.

43

3. A INDENIZAÇÃO NO DPVAT E SEUS BENEFICIÁRIOS

3.1 DEFINIÇÃO DE INDENIZAÇÃO

A priori, teceremos breves definições acerca da indenização.

Pablo Stolze Gagliano56 e Rodolfo Pamplona Filho, citando De Plácido e Silva,

assim explica:

O termo é derivado do latim indemnis (indene), de que se formou no vernáculo o verbo indenizar (reparar, compensar, retribuir); em sentido genérico quer exprimir toda compensação ou retribuição monetária feita por uma pessoa a outrem, para a reembolsar de despesas feitas ou para ressarcir de perdas tidas.

Maria Helena Diniz57, em sua imensurável obra, expõe acerca da matéria:

Indenização. 1. Ato ou efeito de indenizar. 2. Reembolso de despesa feita. 3. Recompensa por serviço prestado. 4. Reparação pecuniária de danos morais ou patrimoniais causados ao lesado; equivalente pecuniário do dever de ressarcir o prejuízo. 5. Vantagem pecuniária que se dá a servidor público sob a forma de ajuda de custa, diária ou transporte (Othon Sidou). 6. Ressarcimento de dano oriundo de acidente de trabalho ou de rescisão unilateral do contrato trabalhista sem justa causa”.

Destarte, afirmamos de modo sucinto, que a indenização possui por escopo

compensar (reparar) o prejuízo de um dano experimentado pela vítima, de forma pecuniária ou

in natura.

Lecionando sobre formas de reparação, o professor Orlando Gomes58, observa:

56 Pablo Stolze Gagliano. Novo curso de direito civil. 4. ed. rev., atual. e reform. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 346. 57 Maria Helena Diniz, op. cit., 2, p. 816.

44

Reposição natural (...) Constitui a mais adequada forma de reparação, mas nem sempre é possível, e muito pelo contrário. Se o autor do dano não pode restabelecer o estado efetivo da coisa que danificou, paga a quantia correspondente ao seu valor. Se bem que a reposição natural seja o modo próprio de reparação do dano, não se pode ser imposta ao titular do direito à indenização. Admite-se que prefira receber dinheiro.

Do exposto cabe salientar, que no vertente caso em estudo, a vítima somente será

compensada por lesões de ordem pessoal, conforme já exposto, ou seja, in casu, não há que se

abordar, reparação referente à dano material ou moral.

O que é prático concluir, que uma reposição natural (como aduz o professor

Orlando Gomes), em se tratando de danos materiais seria plenamente cabível e até

recomendável, contudo, não cabendo em sede de danos pessoais.

3.2 O VALOR DA INDENIZAÇÃO, EM DECORRÊNCIA DO EVENTO DANOSO

COBERTO PELO DPVAT

Conforme já abordado neste trabalho o tema em comento, outrora, foi protagonista

de infindáveis controvérsias, tanto em sede extrajudicial quanto em sede judicial.

No entanto com vigência da Lei nº 11.482 de 31 de março de 200759, a matéria

ficou pacificada. 60

Destarte, assim expõe o art. 3º da Lei 6.194/1974, alterado pelo art. 8º da Lei

11/482/2007:

Art.3º omissis... ... I – R$ 13.500,00 (treze mil e quinhentos reais) – no caso de morte; II – até R$ 13.500,00 (treze mil e quinhentos reais) – no caso de invalidez permanente; e III – até R$ 2.700,00 (dois mil e setecentos reais) – como reembolso à vítima – no caso de despesas de assistência médica e suplementares devidamente comprovadas. (ênfase acrescentada) omissis...

58 Orlando Gomes. Obrigações. 9 ed., Rio de Janeiro: Forense, 1994, p. 51. 59 É bom lembrar, que esta lei apenas convalidou a então vigente, MP 340/2006. 60 Necessário que se observe, que a intentio legis foi vilipendiado com a malgrada alteração(11.482/07), pois não obstante o valor ser fixado abaixo do já praticado, o mesmo sequer é atualizado, o que por certo, esta norma deambula a norma na “contra-mão” do amparo social, sua única razão.

45

3.3 QUAIS AS CATEGORIAS DE VEÍCULOS COBERTAS PELO DPVAT?

Para que o beneficiário faça jus a indenização, é imprescindível que este conheça

quais são as categorias de veículos automotores, fazem parte do consórcio do Seguro

obrigatório – DPVAT.

De forma clara a própria Resolução do CNSP 109/2004, em seu art. 4º,

recentemente alterada pela resolução 142/2006, nos diz quais são os veículos automotores

amparados pelo DPVAT, o que, pela importância de nosso estudo, transcrevemos adiante:

Art. 4º O seguro DPVAT cobre as seguintes categorias de veículos automotores:

I – Categoria 1 - Automóveis particulares; II – Categoria 2 - Táxis e carros de aluguel; III – Categoria 3 - Ônibus, microônibus e lotação com cobrança de frete (urbanos, interurbanos, rurais e interestaduais); IV – Categoria 4 - Microônibus com cobrança de frete, mas com lotação não superior a 10 passageiros e ônibus, microônibus e lotações sem cobrança de frete (urbanos, interurbanos, rurais e interestaduais); V – Categoria 9 - Motocicletas, motonetas, ciclomotores e similares; e 3 VI – Categoria 10 - Máquinas de terraplanagem e equipamentos móveis em geral, quando licenciados, camionetas tipo "pick-up" de até 1.500 kg de carga, caminhões e outros veículos. Parágrafo único. A Categoria 10 inclui, também: I - Veículos que utilizem "chapas de experiência" e "chapas de fabricante", para trafegar em vias públicas, dispensando-se, nos respectivos bilhetes de seguro, o preenchimento de características de identificação dos veículos, salvo a espécie e o número de chapa; II - Tratores de pneus, com reboques acoplados a sua traseira destinados especificamente a conduzir passageiros a passeio, mediante cobrança de passagem, considerando-se cada unidade da composição como um veículo distinto, para fins de tarifação; III - Veículos enviados por fabricantes a concessionários e distribuidores, que trafegam por suas próprias rodas, para diversos pontos do País, nas chamadas "viagens de entrega", desde que regularmente licenciados, terão cobertura por meio de bilhete único emitido exclusivamente a favor de fabricantes e concessionários, cuja cobertura vigerá por um ano; IV - Caminhões ou veículos "pick-up" adaptados ou não, com banco sobre a carroceria para o transporte de operários, lavradores ou trabalhadores rurais aos locais de trabalho; e V – Reboques e semi-reboques destinados ao transporte de passageiros e de carga.

Logo todo proprietário de veículo que se enquadre em uma das categorias acima,

estará coberto pelo DPVAT, bem como pessoas não transportadas, desde que, aqueles venham

de alguma forma, causar-lhes algum tipo de evento danoso descrito na norma legal.

46

3.3.1 Quais são os eventos danosos cobertos pelo DPVAT?

O art. 3º da Lei 6.194/74 demonstra quais são os eventos danosos coberto pelo

DPVAT.

Art. 3º. Os danos pessoais cobertos pelo seguro estabelecido no art. 2º desta Lei compreendem as indenizações por morte, invalidez permanente e despesas de assistência médica e suplementares, ... omissis

Vale destacarmos que tanto a morte, invalidez permanente e despesas de

assistência médica e suplementares somente serão, indenizáveis quando decorrente de

participação ativa por veículo automotor e/ou por sua carga (enumerados no tópico anterior),

sem a qual o dano não teria ocorrido, jamais se falando em indenização de modo diverso.

Cabe salientar, que as vítimas poderão ser pessoas que se encontrem no interior do

veículo ou não, noutro dizer, transportadas ou não.

Todavia, trazemos a baila, algumas das exceções, na qual o DPVAT não cobre,

contida no art. 3º da Resolução 109/2004, que assim expõe:

Art. 3º. A cobertura do seguro não abrange: I – Danos pessoais resultantes de radiações ionizantes ou de contaminações por radioatividade de qualquer resíduo de combustão de matéria nuclear; II – Multas e fianças impostas ao condutor ou proprietário do veículo e as despesas de qualquer natureza decorrentes de ações ou processos criminais; e III – Acidentes ocorridos fora do Território Nacional. (grifo nosso)

Observamos que o artigo supracitado chega até mesmo a usar a locução dano

pessoal, todavia o agente causador do dano, não se ajusta ao especificado pela norma em

estudo, qual seja Lei 6.194/74.

3.3.2 O evento danoso sofrido pelo ladrão do veículo

Acerca deste assunto, nos traz uma narrativa muito interessante o doutrinador

Ricardo Bechara Santos61, no qual gostaríamos de parafraseá-la, nos seguintes termos.

61 Ricardo Santos Bechara. Direito de seguro no cotidiano: coletânea de ensaios jurídicos. Rio de Janeiro: Forense, 1999., p. 451/455

47

Consta-se de um acidente envolvendo dois ladrões, que na tentativa de um assalto

à residência de um médico, foram surpreendidos pela polícia, desse modo, empreenderam

fuga dirigindo um veículo roubado, diante da situação de perigo e na ânsia de escaparem da

polícia, vieram a se chocar primeiramente com um cavaleiro e finalmente com um poste, no

qual resultou a morte de ambos meliantes, e escoriações ao cavaleiro.

Observa, ainda, o doutrinador, que o veículo envolvido no assalto, tinha sido

adquirido a pouco tempo, e sua documentação não estava em ordem, ou seja, seu proprietário

não havia efetuado a legalização bem como a transferência. O que, para o caso é

desimportante, haja vista, que o seguro em estudo (DPVAT) segue o veículo, independente

dos procedimentos formais.

Do exposto, arremata o doutrinador, verbis:

Quanto ao eventual reembolso de despesas médicas e hospitalares ou a indenização por eventual invalidez referente aos danos pessoais no cavaleiro atropelado, o fato dos ladrões não implica em recusa nesse particular, dada a não participação daquele no evento criminoso, operando, assim, com relação à vítima inocente os efeitos sociais do seguro em tela.62

No entanto, em se tratando da morte dos ladrões observamos que tal tratamento

não deve prosperar, senão vejamos:

Força é convir, que a lei não se compadece – e nem poderia – com o fato de qualquer seguro pudesse dar guarida a atos infringentes da lei, máxime quando praticados co violação à lei penal, notadamente como crime de roubo ou sua tentativa, ilícitos abomináveis por uma sociedade legítima (...). Se nem mesmo o seguro facultativo de responsabilidade civil, que tem assento na culpa do segurado, portanto em ato ilícito seu, tolera a cobertura para atos decorrentes de dolo ou culpa grave do segurado, por muito mais razão ainda, o seguro DPVAT não poderá cobrir os danos decorrentes de crime doloso da vítima, como sói ser o de roubo.63

De outro modo, seria repugnante e inaceitável, o convívio de um norma

eminentemente social, no caso do DPVAT, assegurando um ato ilícito, uma vez que o escopo

social, jamais, viabiliza situações reprimidas pelo ordenamento jurídico, ou noutro dizer. “A

ordem jurídica, pois, não pode jamais se compadecer com hipóteses que pudessem premiar o

autor de um crime que a sociedade execra”64.

62 Ibid., 451/452 63 Ibid., p.451/452 64 Ibid., 451/452.

48

Neste contexto, cumpre salientar que de igual modo, os beneficiários do meliante,

não farão jus as indenizações, oriundas do infortúnio.

3.4 EM SE TRATANDO DE VEÍCULO NÃO IDENTIFICADO E/OU SEGURO

OBRIGATÓRIO NÃO ADIMPLIDO

A norma é clara e totalmente incontroversa ao caso em estudo, o que nos atemos a

transcrever o art. 7º da Lei 6.194/74, com nova redação introduzida pela Lei 8.441/92, in

verbis:

Art. 7º. A indenização por pessoa vitimada por veículo não identificado, com seguradora não identificada, seguro não realizado ou vencido, será paga nos mesmos valores, condições e prazo dos demais casos por um consórcio constituído obrigatoriamente por todas as sociedades seguradoras que operem no seguro objeto desta lei.

Deste modo, a pessoa, transportada (que se encontra dentro do veículo) ou não (por

exemplo, pedestre), vítima do acidente, mesmo que não se identifique o veículo (cor, placa,

modelo...), e ainda, que identificado, este se encontre com o DPVAT vencido, cabe a vítima

acionar, qualquer uma das seguradoras65 integrantes do consórcio DPVAT, para receber sua

devida indenização.

Neste sentido tem caminhado os tribunais, verbum pro verbo:

Seguro Obrigatório de Veículos Automotores, Indenização securitária. DPVAT. Ação de cobrança de indenização securitária (caso do DPVAT, sob a disciplina do art. 7º da Lei nº 6.194/74, com as alterações da Lei 8.441/92). Seguro obrigatório é de interesse social. Requerente, sucessor legítimo da vítima de acidente (queda de caminhão) ocorrido quando estava sendo transportada em veículo automotor em circulação. Caso de morte causada apenas por veículo não identificado. Dever legal da companhia seguradora, que opera no ramo do referido seguro obrigatório, de indenizar, considerado o disposto no art. 7º, parágrafos 1 e 2, da Lei nº 6.194/74. requisitos e condições comprovados nos autos. Inexistência de inconstitucionalidade dos dispositivos legais instituidores da modalidade indenizatória do seguro (Apelação Cível nº 95.001.07656, 6ª Câmara, Tribunal de Alçada do Rio de Janeiro, Relator: Juiz Ronald Valladares. Julgado em 12/12/1995).

De modo preciso, a súmula do Tribunal Superior de Justiça, vem ratificar o exposto

no termo do art. 7º da Lei 6.194/74, em se tratando de veículo causador do sinistro estar com o

Seguro DPVAT, vencido, vejamos: “Súmula 257 do STJ: A falta de pagamento do prêmio do

65 A norma dispõe seguradora, contudo na prática são as corretoras (cobrando um percentual) de seguro que fazem esse elo, intermediando entre o segurado e seguradora.

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seguro obrigatório de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Vias Terrestre

(DPVAT) não é motivo para a recusa do pagamento da indenização”.

No entanto, urge lembrarmos que outrora, tal cobertura não ocorria em se tratando

de veículo com Seguro DPVAT vencido ou sem seguro, a ponto das seguradoras exigirem a

comprovação do recolhimento do prêmio.

Neste diapasão, vejamos o que aduzia o art. 7º. da Lei 6.194/74, antes de sua

alteração, in verbis:

Art. 7º. A indenização, por pessoa vitimada, no caso de morte causada apenas por veículo não identificado, será paga por um Consórcio constituído, obrigatoriamente, por todas as Seguradoras que operarem no seguro objeto da presente lei. §1º. O limite de indenização de que trata este artigo corresponderá a 50% (cinqüenta por cento) do valor estipulado na alínea a do artigo 3º da presente lei.

Além da norma não cogitar a cobertura de modo claro e expresso, ficava implícito

a necessidade da vítima “correr” atrás do proprietário causador do acidente para apresentar o

bilhete à seguradora, não obstante tamanho sofrimento, caso viesse a vítima a receber o devido

valor indenizatório, este era reduzido pela metade.

Desnecessário, mencionarmos que tal atitude, ensejava uma verdadeira via

dolorosa para a vítima, caminhando na contramão do cunho social da lei, afrontando de

maneira clara o princípio da dignidade da pessoa humana.

Outrossim, mesmo após a alteração introduzida pela lei 8.441/92, conforme já

discorrido supra, de modo diverso não entendia os tribunais outrora, com relação aos valores

recebidos pelas vítimas anterior a lei, preservando assim o ato jurídico perfeito, o direito

adquirido e a coisa julgada66, vejamos:

Seguro obrigatório. DPVAT. Acidente ocorrido em maio/89 sob a vigência da Lei nº 6.194/74, que exigia a prova do pagamento do prêmio antes do sinistro, para efeito de indenização. A alteração efetuada pelo art. 7º da Lei nº 8.441/92 não pode ser aplicada às relações anteriormente constituídas, sob pena de violação ao princípio da irretroatividade e ao ato jurídico perfeito. O prazo, prescricional é de um ano, ex-vi do art. 178, §6º, II, do Código Civil, e Súmula 101 do STJ. Apelação provida

66 Princípios essenciais da nossa norma legal, aduzidos pela Lei de Introdução ao Código Civil, em seu artigo 6º, verbis: A lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada.

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(Apelação Cível nº 1999.001.14956, 16ª Câmara Cível, Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, Relator: Des. Carlos C. Lavigne de Lemos. Julgamento em 29/02/2000).

No entanto, o direito é dinâmico, e ininterruptamente está em evolução, reflexo

nada mais que o anseio e evolução da sociedade, corroborado pelos princípios basilares de

nossa Constituição, nesta esteira ocorreu uma mudança em nossos tribunais.

De maneira inovadora o Superior Tribunal de Justiça, passou a reconhecer a

desnecessidade de prova de pagamento da indenização causado por veículos não identificado,

bem como inadimplentes com o Seguro Obrigatório, antes da festejada Lei 8.441/92, e, diga-

se de passagem, se fez justiça, vejamos:

Civil e processual civil. Seguro obrigatório de responsabilidade civil dos proprietários de veículos automotores de via terrestre (DPVAT). Legitimidade passiva de qualquer das seguradoras. Lei 6.194/74. Exegese. Direito existente mesmo anteriormente à alteração procedida pela Lei nº 8.441/92. I. O Seguro Obrigatório de responsabilidade civil de veículos automotores é exigido por lei em favor das vítimas dos acidentes, que são suas beneficiárias, de sorte que independentemente do pagamento do prêmio pelos proprietários, devida a cobertura indenizatória por qualquer das seguradoras participantes. II. Interpretação que se faz da Lei nº 6.194/74, mesmo antes da sua alteração pela Lei nº 8.441/92, que veio apenas tornar mais explícita obrigação que já se extraía do texto primitivo. III. Recurso especial conhecido e provido (Recurso Especial nº 595105/RJ, 4ª Turma, Superior Tribunal de Justiça, Relator: Min. Aldir Passarinho Júnior. Julgamento em 01/09/2005).

In pari causa, de modo brilhante o Tribunal de Justiça de Rondônia, por meio da

Douta Juíza Tânia Mara Guirro, ao ser relatora do processo de Apelação Cível nº

100.001.2006.005562-5 Apelação Cível67 – Rito Sumário, assim proferiu seu parecer, (em

virtude da magnitude e extensão do Relatório, nos reservamos a mencioná-lo de modo parcial,

sem, contudo ferir seu intentum teológico), vejamos:

...

A indenização pelo seguro obrigatório (DPVAT) pode ser cobrada de qualquer seguradora que opere no complexo, mesmo antes da vigência da Lei nº 8.441/92, independente da identificação dos veículos envolvidos na colisão ou do efetivo pagamento dos prêmios. ... O seguro obrigatório de responsabilidade civil de veículos automotores é exigido por lei em favor das vítimas dos acidentes, que são suas beneficiárias, de sorte que independentemente do pagamento do prêmio pelos proprietários, devida a cobertura indenizatória pela seguradora participante.

67 Fonte: <<http://2.tj.ro.gov.br/apsg/new/inteiroteor.jsp?seqAcordao=5671>>. Acesso em: 19 de fev. de 2008.

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Interpretação que se faz da Lei 6.194/74, mesmo antes de sua alteração pela Lei n. 8.441/92, que veio apenas tornar mais explícita obrigação que já se extraia do texto primitivo. ... Assim, o seguro obrigatório constitui uma proteção imposta pela lei, não podendo ficar ao arbítrio de inadimplentes o direito que pertence a terceiros – vítimas, mesmo quando não efetuado o pagamento do prêmio. (ênfase acrescentada).

3.5 O USO DA TABELA DE “AÇOUGUE” NA INDENIZAÇÃO POR INVALIDEZ

PERMANENTE

É cediço que com a alteração da Lei 6.194/74, pela Lei 11.482/07, esta estancou os

debates acerca dos valores pagos.

Por exemplo, em caso de morte o valor a ser pago é de R$ 13.500,00 (treze mil e

quinhentos reais), e no caso de assistência médica e suplementares devidamente comprovadas,

o valor vai até R$ 2.700,00 (dois mil e setecentos reais), como visto não há dúvida.

Ainda, com relação a assistência médica e suplementares devidamente

comprovadas, importante mencionar, este montante alcança toda atividade desenvolvida por

profissional da saúde, caso a vítima necessite de cuidados médicos, odontológicos,

fisioterápico, além de outras áreas relacionadas à saúde, devendo atentar para a comprovação

do nexo causal entre os danos e o sinistro.

Todavia, nem mesmo a Lei 11.482/07 com sua precisão técnica quedou outra

controvérsia reinante até nossos dias, adentrando às portas do judiciário, qual seja, o valor da

Indenização por Invalidez Permanente.

O dilema assenta sobre o uso de uma tabela que discrimina o grau de porcentagem

de invalidez que a vítima sofreu, importa salientar, mesmo que a vítima esteja com um laudo

definitivo atestando sua invalidez permanente, ainda, assim, esta terá que se submeter a dita

tabela.

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Insta observarmos, que tal tabela recebeu a denominação “carinhosa” por alguns

causídicos de “Tabela de Açougue”68, (em anexo) por esta dar preço a todas as partes de

nosso organismo, tarifando até mesmo uma falange.

Ocorre, que para “apimentar” mais a discussão, a norma que aduz sobre a tabela é

encontrada em uma Resolução, a saber: Resolução 109/2004, em seu art. 13, inciso II, verbis:

Art. 13. omissis... II – em caso de invalidez permanente, desde que esteja terminado o tratamento e seja definitivo o caráter da invalidez, a quantia que se apurar, tomando-se por base o percentual da incapacidade de que for portadora a vítima, de acordo com a tabela constante das normas de acidentes pessoais, tendo como indenização máxima pessoais, tendo como indenização máxima a importância segurada prevista nas normas vigentes, na data da liquidação do sinistro;

Para melhor entendermos a sinistra discussão; primariamente devemos ter em

mente que a Lei 6.194/74 em seu art. 3º, inciso II, limitou-se a expor apenas o teto máximo da

indenização, vejamos:

Art. 3º. Os danos pessoais cobertos pelo seguro estabelecido no art. 2º desta Lei compreendem as indenizações por morte, invalidez permanente e despesas de assistência médica e suplementares, nos valores que se seguem, por pessoa vitimada: ........omissis II - até R$ 13.500,00 (treze mil e quinhentos reais) - no caso de invalidez permanente.

E de igual modo, o mesmo codex, outorgou o instituto médico legal como órgão

responsável pela quantificação das lesões, verbis:

Art. 5º. § 5o O instituto médico legal da jurisdição do acidente também quantificará as lesões físicas ou psíquicas permanentes para fins de seguro previsto nesta lei, em laudo complementar, no prazo médio de noventa dias do evento, de acordo com os percentuais da tabela das condições gerais de seguro de acidente suplementada, nas restrições e omissões desta, pela tabela de acidentes do trabalho e da classificação internacional das doenças.

E aí está a “raiz” da dissensão, pois a lei sequer trás alguma tabela capaz de auferir

algum grau concernente a invalidez permanente, e sim uma Resolução, resultando no uso de

tabelas não advindas da lei, mas sim de Resolução, que por vezes atendem aos interesses de

68 A referida tabela encontra-se em anexo neste trabalho, de forma integral.

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organismos vinculados, muitas vezes, a companhias seguradoras. Ademais, uma resolução

jamais obedecendo a hierarquia das normas pode sobrepor a uma lei.

Até mesmo o CNSP, em suas resoluções em que tem tratado do DPVAT, absteve-

se de apresentar qualquer tabela, e de igual modo, limitou-se a fazer referência a outras

aplicadas a acidentes pessoais.

O entendimento de alguns tribunais, em muito se divergem, um exemplo é o nosso

Tribunal de Rondônia, senão vejamos:

Seguro obrigatório. Invalidez permanente. Vinculação ao Salário mínimo. Possibilidade. Indenização. Grau de incapacidade. Descrevendo satisfatoriamente o laudo do IML a lesão e o grau de invalidez permanente sofrida pela vítima de acidente de trânsito, há que se aplicar a tabela de cálculos da indenização em casos de invalidez permanente. A fixação do valor da indenização do seguro obrigatório em salário mínimo não é incompatível com a legislação, que o veda somente como fator de correção monetária. O valor da indenização do seguro obrigatório DPVAT por invalidez permanente é determinado de acordo com o grau de incapacidade, conforme o disposto no art. 3º, al. b, da Lei n. 6.194/74.( Ap. Cível Suma, N. 10000120050194207, Rel. Des. Kiyochi Mori, J. 06/02/2007). (grifei) ipsis literis

De outro modo entende o nobre Desembargador, verbis:

Seguro obrigatório (DPVAT). Valor quantificado em salários mínimos. Legitimidade da Lei n. 6.194/74. É perfeitamente possível a fixação do valor da indenização do seguro obrigatório, em salários mínimos (Lei n. 6.194/74), vez que a Resolução do CNSP, não tem o condão de modificar o valor da cobertura do seguro estabelecido por lei. Havendo laudo pericial atestando debilidade permanente de membro do corpo do segurado, a indenização deve ser paga em seu valor máximo, sendo desnessária a aferição do grau de invalidez que acometeu o segurado.( Ap. Cível Suma, N. 10100120050117504, Rel. Des. Gabriel Marques de Carvalho, J. 23/05/2006) (grifo nosso) ipsis literis

No mesmo sentido perfilha o Tribunal do Rio Grande do Sul, que na magistral e

recente decisão assim pondera, vejamos:

EMENTA: AÇÃO DE COBRANÇA. SEGURO OBRIGATÓRIO (DPVAT). INVALIDEZ PERMANENTE. IMPORTÂNCIA DEVIDA EQUIVALENTE A QUARENTA SALÁRIOS MÍNIMOS INDEPENDENTEMENTE DO GRAU DE INVALIDEZ. SALÁRIOS MÍNIMOS VIGENTES À ÉPOCA DO PAGAMENTO ADMINISTRATIVO. DIREITO AO RECEBIMENTO DA DIFERENÇA.

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DESNECESSIDADE DE PROVA PERICIAL. INAPLICABILIDADE DA MP Nº 340 AOS SINISTROS ANTERIORES A SUA VIGÊNCIA. SÚMULA 14 DAS TURMAS RECURSAIS. 1.Afastada a alegação de incompetência do JEC por necessidade de realização de perícia, porquanto absolutamente desnecessária tal prova quando há prova do pagamento administrativo. 2.Não se pode graduar a invalidez permanente, sendo inviável a limitação da indenização com base em Resolução editada pelo Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP). Sentença confirmada por seus próprios fundamentos. Recurso improvido. (Recurso Cível Nº 71001571330, Primeira Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator: Ricardo Torres Hermann, Julgado em 13/03/2008) (ênfase acrescentada)

Cabe salientarmos, que a dissensão é de ordem nacional, não havendo unanimidade

nos entendimentos.

3.6 AS INDENIZAÇÕES DO SEGURO DPVAT SÃO ACUMULATIVAS?

Importante deixarmos claro, que caso a vítima amparada pela lei 6.194/74,

necessitando do amparo legal, em se tratando da cobertura de despesas de assistências médicas

e suplementares, o seu reembolso com as devidas despesas supracitadas, não, repita-se, não

pode ser descontado de qualquer indenização paga por morte ou invalidez permanente,

conforme é abordada na Resolução 109/2004.

De outro lado, em se tratando de invalidez permanente e morte não são

cumulativas, ou seja, paga a aquela, sobrevindo esta, em razão de um mesmo sinistro, a

seguradora deduzirá, quando do pagamento da segunda indenização, a quantia já devidamente

paga pela invalidez, de igual modo sendo o entendimento da Resolução 109/2004.

Dirimindo eventuais dúvidas, vejamos o que diz a Resolução supracitada em seu art. 14 e parágrafos:

Art. 14. As indenizações por morte e invalidez permanente não são cumulativas. § 1º No caso de morte da vítima em decorrência do mesmo acidente que já havia propiciado o pagamento de indenização por invalidez permanente, a sociedade seguradora pagará a indenização por morte, deduzido o valor pago a título de indenização por invalidez permanente. § 2º O reembolso de despesas de assistência médica e suplementares não poderá ser descontado da indenização por morte ou invalidez permanente.

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3.7 QUEM TEM DIREITO À INDENIZAÇÃO, A VÍTIMA E/OU SEUS BENEFICIÁRIOS?

Com a nova redação dada pela Lei 11.482/07 alterando o art. 4º da Lei 6.194/74,

em muito se distanciou de sua problemática redação, adotando o entendimento legal vigente,

desta forma obedecendo a ordem sucessória, conforme observamos:

Art. 4º. A indenização no caso de morte será paga de acordo com o disposto no art. 792 da Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002 – Código Civil. 69

Assim, no que diz respeito o art. 792 do Código Civil, apontado pelo artigo pode-se

notar também que:

Art. 792. Na falta de indicação da pessoa ou beneficiário, ou se por qualquer motivo não prevalecer a que for feita, o capital segurado será pago por metade ao cônjuge não separado judicialmente, e o restante aos herdeiros do segurado, obedecida a ordem da vocação hereditária.

A partir do exposto acima, depreendemos, que vindo a óbito à vítima do sinistro, a

indenização obedecerá a Ordem de Vocação Hereditária adotada pelo Código Civil, conforme

o artigo 1.829 e ss.

Fazendo parte deste rol de beneficiários estão: o cônjuge, companheiro(a), filhos,

netos (descendentes), ou pais, avós, tios, (ascendentes)...

Não ocorrendo o evento da morte no acidente, a vítima será a própria beneficiária

da indenização, neste sentido deve-se observar o parágrafo 3º do art. 4º, da Lei 6.194/774,

verbis:

Art. 4º. Omissis... §3º Nos demais casos, o pagamento será feito diretamente à vítima na forma que dispuser o Conselho Nacional de Seguros Privados – CNSP.

Assim sendo, observamos que, conforme o caso concreto, tanto a vítima ou seus

beneficiários terão direito a indenização.

69 Atenção para a recente alteração ocorrida neste artigo por intermédio da Lei nº 11.482/2007, sendo que sua redação antiga ensejava que caso houvesse o cônjuge como beneficiário da vítima, este receberia de forma integral a indenização, excluindo os prováveis herdeiros, culminando em mais uma dissensão legal, haja vista que tal disciplina, em muita distanciava da vocação hereditária existente no Código Civil.

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3.8 DA INDENIZAÇÃO DOS BENEFICIÁRIOS ABSOLUTAMENTE E

RELATIVAMENTE INCAPAZES

A priori, é necessário mencionar quais os beneficiários que se enquadram neste rol

sui generis; sendo imprescindível a distinção conforme infracitado, entre absolutamente

incapazes e relativamente incapazes, observamos:

Segundo o Código Civil, observa-se que:

Art. 3º. São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil: I – os menores de dezesseis anos; II – os que, por enfermidade o deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos; III – os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade. Art. 4o São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de os exercer: I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; II - os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham o discernimento reduzido; III - os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo.

A distinção por ora é apenas pedagógica, haja vista que, ambos os casos de

incapacidade, se faz necessário o instrumento procuratório identificando a pessoa responsável

a receber a indenização, tal assertiva tem como ponto de partida o entendimento da norma do

art. 5º, parágrafo segundo da Lei 8.441/92, in fine:

Art. 5º. (...) .................... §2º Deixando a vítima beneficiários incapazes, ou sendo ou resultando ela incapaz, a indenização do seguro será liberada em nome de quem detiver o encargo de sua guarda, sustento ou despesas, conforme dispuser alvará judicial.

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4. OS MEIOS DE LIQUIDAÇÃO NO DPVAT 4.1 DA LIQUIDAÇÃO

Devemos primeiramente, dividir a liquidação do DPVAT, em duas formas, a saber:

a) Liquidação extrajudicial e

b) Liquidação judicial.

Feito esta necessária divisão, para uma melhor compreensão do estudo adiante,

adentramos no conceito do que venha a ser liquidação.

4.1.1 Definição

A Festejada doutrinadora Maria Helena Diniz70, em sua brilhante obra Dicionário

Jurídico, ao mencionar o tema, com uma propriedade ímpar, o define nos seguintes termos:

Liquidação: 1. omissis... 2.Direito civil. a) Extinção da obrigação com o seu pagamento ou por qualquer outro meio; b) ato de apurar uma conta e pagar seu saldo; c) resgate de título; d) operação para reduzir a quantias certas, valores que não o eram; e) ato de tornar uma obrigação líquida e certa, possibilitando seu cumprimento.

Podemos afirmar que, pelo entendimento da doutrinadora supra, que a liquidação

do Seguro DPVAT, é nada mais, que o efetivo pagamento, por parte da seguradora,

concernente as devidas indenizações em decorrência de acidente automobilístico que por

ventura tenha originado vítimas, culminando na extinção da obrigação indenizatória.

70 Maria Helena Diniz. Dicionário Jurídico. São Paulo: Saraiva, 1998. v. 3, p. 142.

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Feitas estas considerações passaremos ao estudo da liquidação extrajudicial, e

posteriormente à liquidação judicial.

4.2 LIQUIDAÇÃO EXTRAJUDICIAL E SEU PROCEDIMENTO

A liquidação extrajudicial se aflora da assertiva constante nos moldes do art. 5º da

Lei 6.194/74, verbum pro verbo:

Art. 5º O pagamento da indenização será efetuado mediante simples prova do acidente e do dano decorrente, independentemente da existência de culpa, haja ou não resseguro, abolida qualquer franquia de responsabilidade do segurado. § 1o A indenização referida neste artigo será paga com base no valor vigente na época da ocorrência do sinistro, em cheque nominal aos beneficiários, descontável no dia e na praça da sucursal que fizer a liqüidação, no prazo de 30 (trinta) dias da entrega dos seguintes documentos: a) certidão de óbito, registro da ocorrência no órgão policial competente e a prova de qualidade de beneficiários no caso de morte; b) Prova das despesas efetuadas pela vítima com o seu atendimento por hospital, ambulatório ou médico assistente e registro da ocorrência no órgão policial competente - no caso de danos pessoais. (grifo nosso)

É certo que a documentação deverá ser entregue pelo próprio interessado, ou seu

procurador, à sociedade seguradora de sua afinidade, integrante do consórcio DPVAT,

especificando-os, senão, vejamos:

Art. 5º. (...) Omissis... §2º. § 2º Os documentos referidos no § 1º serão entregues à Sociedade Seguradora, mediante recibo, que os especificará.

De acordo ao exposto acima, a intentio legis se aflora como uma “norma que

anseia” em ressarcir o prejuízo da vítima ou seu beneficiário de maneira célere, sem as

prolixas e protelatórias discussões burocráticas.

Para tanto, para se provar a ocorrência de um acidente basta simplesmente a

juntada do Boletim de Ocorrência (BO) no caso de morte com a certidão de óbito; a invalidez

com laudo médico, atestando o grau de invalidez e em se tratando das despesas médicas

hospitalares e suplementares, as notas ficais e recibos.

Nesse sentido, pode ocorrer da certidão de óbito quedar-se silente quanto a causa

da morte, neste caso, deve ser acrescido a certidão de auto de necropsia, fornecido pelo

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instituto médico legal, com relação a invalidez permanente, utiliza-se da analogia, descobrindo

as origens das lesões que descortinaram a invalidez permanente, esta assertiva encontra arrimo

no artigo 5º em seu parágrafo terceiro, verbis:

Art.5º. (...) ........... § 3o Não se concluindo na certidão de óbito o nexo de causa e efeito entre a morte e o acidente, será acrescentada a certidão de auto de necrópsia, fornecida diretamente pelo instituto médico legal, independentemente de requisição ou autorização da autoridade policial ou da jurisdição do acidente.(grifo nosso) § 4o Havendo dúvida quanto ao nexo de causa e efeito entre o acidente e as lesões, em caso de despesas médicas suplementares e invalidez permanente, poderá ser acrescentado ao boletim de atendimento hospitalar relatório de internamento ou tratamento, se houver, fornecido pela rede hospitalar e previdenciária, mediante pedido verbal ou escrito, pelos interessados, em formulário próprio da entidade fornecedora.

Fica evidente o caráter social da norma, ao buscar a simplicidade de quem já

experimenta a dor do sinistro, de forma una voce tem se pronunciado os tribunais, verbis:

Atropelamento. Vítima fatal. Seguro obrigatório dos proprietários de veículos automotores de via terrestre (DPVAT). Não comprovação do pagamento do prêmio. Irrelevância.Lei nº 6.194/74. Estabelecia o art. 5º da Lei nº 6.194/74 que o pagamento da indenização do seguro obrigatório seria efetuado mediante simples prova do acidente e do dano decorrente, sendo, pois, irrelevante a apresentação do pagamento do prêmio. Recurso improvido (Apelação Cível nº 2002.001.11357, 14ª Câmara Cível, Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, Relator: Des. Walter D’agostino. Julgado em 15/10/2002).

Ademais, qualquer documento solicitado pela seguradora, afora dos citados acima,

bem como: prova da quitação do bilhete do seguro; habilitação do motorista; laudo pericial;

exame de corpo de delito, e outros, são totalmente desnecessários.

Efetuada todas as exigências legais, a seguradora tem um prazo de 30 (trinta) dias

para efetuar o justo pagamento da obrigação, tal pagamento poderá ser mediante um cheque

nominal, ou ainda conforme alteração proporcionada pela Lei 11.482/2007, por meio de

depósito ou Transferência Eletrônica de Dados – TED para a conta corrente ou conta

poupança do beneficiário, em caso de descumprimento, é mister esclarecer o beneficiário que,

passado o prazo legal, são aplicáveis impreterivelmente ao montante pecuniário as devidas

atualizações e correções legais, é o que depreende-se da norma infracitada:

Art. 5º. ...

60

§ 6o O pagamento da indenização também poderá ser realizado por intermédio de depósito ou Transferência Eletrônica de Dados - TED para a conta corrente ou conta de poupança do beneficiário, observada a legislação do Sistema de Pagamentos Brasileiro.71 § 7o Os valores correspondentes às indenizações, na hipótese de não cumprimento do prazo para o pagamento da respectiva obrigação pecuniária, sujeitam-se à correção monetária segundo índice oficial regularmente estabelecido e juros moratórios com base em critérios fixados na regulamentação específica de seguro privado.

Cabe ainda salientar que a praticidade se evidência no preenchimento dos

formulários para o recebimento da indenização, seja ela, por morte, invalidez permanente ou

despesas de assistência médica ou suplementares, podendo serem realizados diretamente pela

vítima por meio da internet, sem ajuda de terceiro, conforme se verifica na documentação

anexa ao final deste trabalho.

Contudo, não podemos quedar-se nossa manifestação, em esclarecer que a prática

não segue a teoria, na realidade os segurados devem procurar uma corretora (que claro cobrará

pelo serviço), esta enviará a documentação para a Reguladora, esta fará uma análise de toda

documentação, após a triagem enviará toda papelada a uma seguradora que repassará o

dinheiro diretamente à corretora com procuração ou ao beneficiário.

Procedimento este que não raro ultrapassa em muito o prazo legal de 30 (trinta

dias) aduzido na lei.

Efetuado o pagamento, encerra-se a obrigação da companhia seguradora.

4.3 DA LIQUIDAÇÃO JUDICIAL

De início, por liquidação judicial, poderíamos entender ser àquela cabível somente

nos seguintes casos:

a) em restando infrutífera a busca por da liquidação extrajudicial (administrativa),

ou ainda;

71 Salientando que o pagamento por meio do depósito se torna pratica corrente até mesmo no meio judiciário, o que por vezes não deve prevalecer, haja vista, a grande maioria de vítima deste seguro não possuir conta bancária.

61

b) se buscando a tutela extrajudicial e excedido o limite de 30 (trinta) dias do prazo

estipulado ficando o seguradora inerte.

No entanto, outro tem sido o entendimento do nosso Tribunal, conforme

verificamos no acordo in fine:

100.001.2006.000523-7 Apelação Cível - Rito Sumário Origem : 00120060005237 Porto Velho/RO (7ª Vara Cível) Ação de cobrança. Seguro obrigatório. DPVAT. Carência da ação. Falta de pedido administrativo prévio. Não constitui óbice ao ajuizamento de cobrança, a ausência de pedido administrativo ou extrajudicial anterior à interposição da ação, pois é garantia constitucional, segundo o art. 5º da CF, que qualquer lesão ou ameaça de direito seja apreciada pelo judiciário, independente da existência de contato prévio entre as partes da lide.( Ap. Cível Suma, N. 10000120060005237, Rel. Des. Gabriel Marques de Carvalho, J. 27/06/2006) (grifo nosso)

Assim, alicerçamos nosso entendimento, na desnecessidade em se buscar a via

administrativa em primeiro plano, caso o segurado, ou o beneficiário, vislumbre qualquer

“sombra contrária” à satisfação, devendo de pronto deve ele “bater às portas do judiciário”

para que se faça justiça, pois conforme já parafraseando o mestre Rui Barbosa: “Uma justiça

tardia, nada mais é do que uma negação à justiça”.

4.3.1 Conceito

De forma sintética, mas não menos profunda, assim define a doutrinadora civilista

Maria Helena Diniz:

1.liquidação judicial é aquela levada a efeito perante a autoridade judicial competente que nomeará o liquidante. 2. É a que se efetiva, em juízo, mediante a atuação do magistrado, obedecendo. Conforme o dano, aos critérios processuais.72

Deste modo, por Liquidação judicial, podemos conceituar como: A pretensão

levada ao órgão estatal, encarregado de prestar a adequada tutela, por iniciativa do interessado,

para que aquele em juízo, nomeando o liquidante, satisfaça a obrigação pleiteada.

72 Maria Helena Diniz. op. cit., p. 143.

62

4.3.2 Do procedimento

Seguindo a inteligência do art. 10 da Lei 6.194/74, fica claro o devido amparo

judicial ao beneficiário do Seguro DPVAT, verbis:

Art. 10 Observar-se-á o procedimento sumaríssimo do Código de Processo Civil nas causas relativas aos danos pessoais mencionados na presente lei.

Vislumbra-se aqui a intentio legis, primando pela busca de um caminho mais célere

e hábil a indenizar o beneficiário, e corroborando a norma supra, vejamos entendimento legal

do art. 3º, inciso II da Lei 9.099/95, verbum pro verbo:

Art. 3º. O Juizado Especial Cível tem competência para conciliação, processo e julgamento das causas cíveis de menor complexidade, assim consideradas: Omissis... II – as enumeradas no art. 275, inciso II, do Código de Processo Civil73;

A esse respeito é una voce o entendimento da jurisprudência, in verbis:

Civil. Seguro obrigatório (DPVAT). Competência dos Juizados Especiais Cíveis. Prova técnica. Desnecessidade. Laudo pericial produzido pelo IML. Idoneidade. Acidente de trânsito como fato gerador da obrigação de indenizar. Invalidez permanente. Complemento do valor da indenização devido (...) 01. Não se revela complexa a questão controvertida nos autos, já que desnecessária a realização de perícia para atestar a invalidez permanente do segurado, tanto pela existência de laudos elaborados pelo Instituto de Medicina Legal, quanto pela possibilidade de se colher declarações de peritos, e até parecer técnico, em audiência, conforme autoriza o artigo 35 da Lei 9.099/95. Assim, na hipótese em apreço, não merece acolhida a alegação de incompetência do Juizado Especial Cível para conhecer e decidir a matéria relativa a seguro obrigatório (DPVAT). (...) (Apelação Cível no Juizado Especial nº 240017, Primeira Turma Recursal dos D.F., Tribunal de Justiça do Distrito Federal, Relator: Sandoval Gomes de Oliveira. Julgamento em 14/02/2006).

Ao analisarmos a possibilidade de uma propositura judicial, de modo

concomitante, vislumbramos a possibilidade de se protocolizar ─ dependendo da indenização

a ser suplicada, dois tipos de ações, bem como observa-se a possibilidade em se utilizar dois

ritos distintos, a saber: Ação de Cobrança pelo Rito Sumário e Ação de Execução pelo Rito

Sumaríssimo.

73 Ademais, caso não se enquadre no rito sumaríssimo, o mesmo recebe a devida guarida do art. 275, inciso II do Código de Processo Civil, verbis: Observar-se-á o procedimento sumário: I – (...), II – nas causas, qualquer que seja o valor: e) de cobrança de seguro, relativamente aos danos causados em acidente de veículo, ressalvados os casos de processo de execução.

63

4.3.2.1 Da ação de cobrança

Será Ação de Cobrança o instrumento judicial hábil a socorrer o beneficiário,

quando este necessitar em juízo:

a) requerer perícia para que demonstre o grau de invalidez experimentado;

b) provar o nexo causal das despesas de saúde advindo do acidente por veículos

cobertos pelo DPVAT,

c) necessitar de cálculos referentes a diferenças de valores remanescentes de que

tem direito, e/ou outros meios de que necessite de prova e um juízo de cognição exauriente.

Lembrando que a ação de cobrança, no caso em comento, correrá pelo rito

Sumário74, diverso da Ação de Execução.

4.3.2.2. Da ação de execução

Caberá a Ação de Execução, quando o documento for título executivo com valor

líquido e certo75, nesta esteira disciplina o artigo 583 do Código de Processo Civil, vejamos:

Art. 583. Toda execução tem por base título executivo judicial ou extrajudicial.

Logo, o artigo supra deixa claro que não sendo título judicial ou extrajudicial a

ação não poderá prosseguir seu procedimento, sendo nula a execução de pleno direito.76

De modo a corroborar, Antônio Cláudio da Costa Machado77, lembra:

A regra em questão consagra o princípio expresso pelo brocardo nulla executio sine titulo: não há execução sem título executivo que a fundamente. A rigor, a falta de título significa processualmente carência da ação por ausência de interesse de agir.

74 Conforme Marcus Rios Vinícius Gonçalves. Novo curso de direito processual civil, volume 1. 2. ed. p. 315, a despeito do rito Sumário aduz: “A adoção do sumário não depende de escolha do autor, mas da verificação de uma das hipóteses prevista em lei”. 75 A despeito do termo Obrigação líquida e certa, comenta Nelson Nery Junior, em sua obra Civil Comentado, ed. 2006. p. 835, “O termo certa não aumenta nem diminui o conceito de obrigação líquida. Com efeito, para que ela seja líquida é preciso que seja certa, isto é, existente. A obrigação certa pode ser líquida ou ilíquida. Considera-se líquida a obrigação certa, quanto à sua existência, e determinada, quanto ao seu objeto.” 76 Neste sentido, corrobora, o art. 618, inciso I do CPC: art. 618. É nula a execução: I – se o título executivo não for líquido, certo e exigível, cabe salientar que a nulidade tratada neste caso, pode ser reconhecida ex officio, a qualquer tempo e grau de jurisdição, independente de argüição da parte. 77 Antônio Cláudio da Costa Machado. Código de processo civil interpretado: artigo por artigo, parágrafo por parágrafo. 5. ed. rev. e atual. Barueri, SP: Manole, 2006., p. 1006.

64

Destarte, é imprescindível demonstrarmos que a apólice do seguro, em se tratando

de morte se enquadra no rol de títulos executivos extrajudiciais, senão vejamos o disposto no

art. 585, inciso III do Código de Processo Civil:

Art. 585. São títulos executivos extrajudiciais: (...) III – os contratos de hipoteca, de penhor, de anticrese e de caução, bem como de seguro de vida e de acidentes pessoais de que resulte morte e incapacidade; Omissis...

Para tanto, entendemos ser plenamente cabível a ação de execução, no caso de

morte, onde os beneficiários pleiteiam os benefícios, posto que estamos diante de um caso em

que conforme o artigo 3º, inciso I da Lei 6.194/74, o valor do título é líquido e determinado,

qual seja, R$ 13.500,00 (treze mil e quinhentos reais).

É bom lembrar que a Ação de Execução in casu, será distribuída no cartório do

juizado especial, não tendo qualquer prejuízo seu autor, pois o quantum pleiteado, nos moldes

atuais, jamais atingirá as cifras dos 40 (quarenta) salários-mínimos fixados pelo artigo 3º em

seu parágrafo 3º, da Lei 9.099/95.

Por outro lado, caso o quantum indenizatório ultrapasse o teto fixado pela Lei

9.099/95, o que poderá ocorrer em se tratando de valores acrescidos de correção e juros, caso a

seguradora não pactue no prazo estipulado, o que poderá levar até anos em recursos

protelatórios, o montante excedente já estará renunciado de forma tácita pelo autor da

demanda.

4.3.3 Da legitimidade ativa

A pretensão em sede de natureza extrajudicial, repousa a legitimidade ativa em

esfera judicial.

Deverá propor a ação a própria vítima, quando do sinistro resultar invalidez

permanente, ou ainda despesas médicas. Em se tratando de incapazes relativamente ou

absolutamente (conforme já exposto anteriormente), estes deverão estar assistidos ou

representados perante o juízo, sendo facultativo nos demais casos.

65

No entanto, em caso de passamento, serão autores da ação os beneficiários ou

dependentes legais daquele que, em virtude do sinistro jaz.

Em suma, possuí legitimidade ativa, aquele, que legalmente, irá dele (Seguro

DPVAT) se beneficiar.

4.3.4 Da legitimidade passiva

Em conformidade com a Lei e diverso do que acontece no procedimento

extrajudicial, a Seguradora é parte legítima para compor o pólo passivo, sendo este um

entendimento majoritário.

Até porque, na feitura do contrato de Seguro DPVAT, somente são partes

segurador e seguradora, cabendo à esta o repasse do montante monetário ao beneficiário.

In casu, outro não é o entendimento de nossos tribunais, vejamos:

Apelação civil. Ilegitimidade passiva - consórcio de seguradoras. Seguro obrigatório (DPVAT). Valor quantificado em salários mínimos. Legal. Critério. Validade. Quitação. Saldo remanescente. Qualquer seguradora integrante do consórcio de seguradoras estabelecido pelo art. 7º da Lei 6.194/74 é parte legítima para compor o pólo passivo da ação que vise ao recebimento da indenização securitária oriunda do seguro obrigatório DPVAT. O valor de cobertura do seguro obrigatório de responsabilidade civil de veículo automotor (DPVAT) é de quarenta salários mínimos, assim fixados consoante critério legal específico, não se confundindo com índice de reajuste e, destarte, não havendo incompatibilidade entre a norma especial da Lei n. 6.194/74 e aquelas que vedam o uso do salário mínimo como parâmetro de correção monetária.

4.4 DA COMPETÊNCIA78

78 Na dicção da afamada doutrinadora Maria Helena Diniz, em sua obra Dicionário Jurídico. São Paulo: Saraiva, 1998. p. 694, trazemos a lume a definição de competência para um melhor aproveitamento do estudo, vejamos: COMPETÊNCIA. 1. Direito civil. Em sentido amplo, indica capacidade ou aptidão pela qual a pessoa pode exercer seu direito. (...) 3. Direito processual. É a medida da jurisdição; poder conferido ao magistrado para o exercício da jurisdição outorgada em razão da matéria, do lugar ou das pessoas. A competência vem a ser o âmbito do poder jurisdicional em um dado caso. Se ela é a delimitação da jurisdição, ou seja, a capacidade de exercer, legitimamente, o poder jurisdicional no caso concreto, todos os juízes têm jurisdição, embora nem todos tenham competência para julgar determinada causa.

66

Em se tratando de esfera judicial necessário abordar o foro79 competente para o

ajuizamento da inicial, deste modo, a princípio cumpre esclarecermos que se trata de Justiça

Comum, observando o preceituado no art. 100, em seu parágrafo único do Código de Processo

Civil, a saber:

Art. 100. É competente o foro (...) Parágrafo único. Nas ações de reparação do dano sofrido em razão de delito ou acidente de veículos, será competente o foro do domicílio do autor ou do local do fato.

Vindo ao encontro do artigo supra, aduz a norma legal dos Juizados Especiais, no

art. 4º, III da Lei 9.099/95:

Art. 4º. É competente, para as causas previstas nesta lei, o juizado do foro: Omissis... III – do domicílio do autor ou do local do ato ou fato, nas ações de reparação de dano de qualquer natureza.

Dos artigos supracitados vislumbra-se a facilitação do acesso à justiça por àqueles

que vezes não possuem meios de se locomover à outras comarcas, o que não raro poderia ser

um óbice a propositura da demanda, neste diapasão obedecendo a finalidade deste trabalho,

enumeramos de forma didática os foros colocados a disposição do autor, a saber:

a) o foro do domicílio do autor;

b) o foro do local do “acidente”;

c) o foro do domicílio do réu.80

79 Foro, na cultura romana antiga, eram as praças onde se realizavam reuniões públicas e se julgavam causas; haja vista que os acalorados debates eram feitos nas praças sendo contemplados por todos interessados do povo, para o nosso Direito processual, entendemos pelo espaço físico-territorial onde os juízes desenvolvem suas atividades jurisdicionais nos limites de suas competências, exemplo foro comum, onde se ajuízam demandas que não tem foro especial ou privilegiado. 80 Tratando desta matéria assim expõe o doutrinador Theotonio Negrão em sua obra Código de Processo Civil e legislação processual civil em vigor. ed. 36., p. 215, verbis: ... Pode o autor ajuizar ação no domicílio do réu e não no foro do local do fato. Este só poderá recusa-lo, demonstrando que lhe interessa o outro, por exemplo, em virtude de maior facilidade para a produção de provas. Em regra, não se justifica a recusa do foro do próprio domicílio, se isso em nada o beneficia e apenas prejudica o autor”. No mesmo sentido segue a festejada obra de Nelson Nery Junior e Rosa Maria de Andrade Nery. Código de processo civil comentado. ed. 8. ed., p 566: Foros concorrentes: É do autor a opção pelo ajuizamento da ação no foro de seu domicílio ou no foro do lugar do acidente. O réu não pode opor-se à opção do autor. Este, entretanto, pode renunciar à prerrogativa de foro e ajuizar a ação no domicílio do réu (CPC 94). Se isto ocorrer, ao réu é vedado argüir a incompetência relativa, por falta de interesse processual, já que estaria sendo beneficiado com a escolha do autor pelo foro do domicílio dele, réu.

67

Deveras, resta de forma inequívoca, o tratamento benéfico dado ao autor no caso

em tela, estando a norma supra de “mãos dadas” ao escopo social dispensado ao Seguro

DPVAT, o que por certo é bem merecido.

4.5 O CABIMENTO DA CULPA NO DPVAT

Quem estava errado? Quem bateu? De quem é a culpa? De quem é a

responsabilidade?

Estes e outros questionamentos são comuns em qualquer acidente, por mais

simples que este seja, por vezes, bravejamos: De quem foi a culpa? E de pronto já tecemos

nosso pré-julgamento, deverás desacertado.

De outro modo, “um acidente é um evento indesejável e inesperado que causa

danos pessoais, materias (danos ao patrimônio), danos financeiros e que ocorre de modo não

intencional”.81

E ao discorrer sobre a culpa, o penalista Julio Fabbrini Mirabete82, com

propriedade aduz:

Age com culpa quem realiza o fato legalmente descrito por inobservância do dever de cuidado que lhe incumbe, de acordo com as circunstâncias e suas condições pessoais, e, no caso de representá-lo como possível, se conduz na confiança de poder evitá-lo.

Continua o penalista:

A cada homem, na comunidade social, incumbe o dever de praticar os atos da vida com as cautelas necessárias para que de seu atuar não resulte dano a bens jurídicos alheios. Quem vive em sociedade não deve, com uma ação irrefletida, causar dano a terceiro, sendo lhe exigido o dever de cuidado indispensável a evitar tais lesões.83

Em consonância o civilista Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho84, ao

examinar o tema, asseveram:

81Fonte: < http://pt.wikipedia.org/wiki/Acidente>, acesso em 02 de mar. de 2008. 82 Julio Fabbrini Mirabete. Manual de direito penal. 20. ed. São Paulo: Atlas, 2003., p.145. 83 Ibid., p. 146. 84 Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho. Op. cit., p. 123/124.

68

A culpa (em sentido amplo) deriva da inobservância de um dever de conduta, previamente imposto pela ordem jurídica, em atenção à paz social. Se esta violação é proposital, atuou o agente com dolo; se decorreu de negligência, imprudência ou imperícia, a sua atuação é apenas culposa, em sentido estrito.

Após estes entendimentos, depreende-se a magnitude do dever de cuidado imposto

sobre todos os seres humanos, e abrangência da culpa.

No entanto, a contrario sensu no Seguro DPVAT, não há que se falar em culpa

para que o beneficiário ou a vítima receba a indenização, corroborando nosso pensamento,

observemos os julgados abaixo:

Seguro obrigatório. Apuração da culpa. Dependentes do causador do acidente. Correção monetária – “Nessa modalidade de seguro, não se cogita da apuração da culpa e mesmo os dependentes economicamente do segurado fazem jus a serem indenizados. É aplicável a correção monetária em tais casos, por força do disposto na Lei 5.488/68” (STF – 1ª T. – RE 80.781 – Rel. Cunha Peixoto – j. 14.11.75 – DJU 08.07.76, p. 5.124). O seguro obrigatório cobre todos os acidentes, inclusive os motoristas. Por outro lado. Impõe à seguradora a obrigação de pagar a indenização sem que haja necessidade de se cogitar da culpa do motorista” (TJSC – 1ª C. – Ap.- Rel. Rid. Silva – j. 30.03.78 – RT 522/236).

De modo a dirimir qualquer entendimento contrário, vejamos o art. 5º da Lei

6.194/74:

Art 5º O pagamento da indenização será efetuado mediante simples prova do acidente e do dano decorrente, independentemente da existência de culpa, haja ou não resseguro, abolida qualquer franquia de responsabilidade do segurado.

Neste artigo fica evidente a máxima deste instituto, aflorando seu cunho social,

viabilizando por meio de uma simples prova de acidente, se quer cogitando a culpa, ademais,

necessitando apenas de uma simples prova para se galgar a indenização.

69

5. DPVAT UM SEGURO OBRIGATÓRIO DESCONHECIDO

Rui Stocco85, ao discorrer sobre as regras do trânsito brasileiro, chamando a

atenção para a os desdém das autoridades diante do sinistro prepondera, verbis:

Ora, cediço que a paz no trânsito depende do aprendizado de suas regras de convivência e do conhecimento das convenções estabelecidas. Se, nesse meio, uma única pessoa desconhece essas convenções, quebra-se o equilíbrio e instala-se o perigo e a insegurança..

De maneira análoga podemos incutir tal pensamento ao DPVAT, visto que este

possui, de igual modo, regras e meios para atingir seu primordial escopo, a saber: a reparação

do dano pessoal, advindo de um acidente de trânsito.

Desta feita, caso a população não tenha o devido conhecimento do Seguro

DPVAT, e somando-se a este dado, a fragilidade emocional experimentada pelo sinistro,

alojado estará o caos e aberta a “porta” para o acesso dos espertalhões, carreando no total

descrédito e ineficácia deste seguro social.

5.1 O DPVAT, é desconhecido em Cacoal/RO?

Diante de um cenário tão pessimista e aviltante, qual seja: a ignorância do povo

brasileiro concernente ao DPVAT, efetuou este acadêmico uma pesquisa de campo na área

central desta urbe (Cacoal-RO) com escopo de aferir de maneira escorreita dados que

corroborassem, ou não, o que os raros artigos, livros e manchetes de jornais86, atestam acerca

do DPVAT, qual seja: um seguro totalmente desconhecido pelos brasileiros.

85 Rui Stoco. op. cit., p. 1447. 86 Neste sentido temos: SEGURO DPVAT. O Que é? Disponível em: <http://www.dpvatseguro.com.br/conheca/oquee.asp>. Acesso em: 04 de fev. 2008; Rafael Tárrega Martins.

70

5.1.1- Da pesquisa de campo

Para realização da pesquisa de campo foram entrevistados 100 (cem) pessoas no

interregno de 25 de fevereiro de 2008 a 17 de março de 2008, tendo por escopo o público da

área central desta cidade, salientando priorizando aqueles que tivessem a Carteira Nacional de

Habilitação (CNH).

Desta forma, a pesquisa foi direcionada aos profissionais que trabalham com

transporte de pessoas ou cargas, a saber: os três pontos de moto-táxistas de Cacoal, (da Av.

Sete de setembro, Av. Porto Velho e Av. Dois de Junho), bem como ponto de táxi, na Av.

Porto Velho. De igual modo, foram abordados gerentes de lojas e seus funcionários,

principalmente aqueles que, devido seu comércio realizam serviço de busca e entrega, ex.

refrigeração, bem como a população que deambulava na área central desta urbe.87

As perguntas foram feitas tendo-se por cuidado, em obter respostas objetivas, e

rápidas, e em caso de qualquer manifestação de desapreço, esta era imediatamente

interrompida e não válida, já que se buscava resposta sincera e espontânea, conforme o

modelo abaixo:

Pesquisa de campo com escopo avaliativo - UNIR

1- Já ouviu falar sobre DPVAT: Não [ ] Sim [ ]

2- Sabe o que é DPVAT: Não [ ] Sim [ ]

3- Sabe dizer em quais ou qual desses casos cabe DPVAT:

a) Acidente com morte: [ ] b) Acidente resultando invalidez permanente: [ ] c) Acidente resultando em gastos com hospital em geral: [ ] d) Somente o morte: [ ] e) Somente gastos com hospital: [ ] f) Não cobre nenhum destes casos acima: [ ]

4- É motorista habilitado: Não [ ] Sim [ ]

5- Já usou este benefício: Não [ ] Sim [ ]

6- Conhece alguém que já usou o DPVAT: Não [ ] Sim [ ]

Nome (somente as iniciais):_________________

Endereço:_______________________________

Muito obrigado, Att. Sóstenes, acadêmico 10º período.

Modelo fiel do documento utilizado para a pesquisa de campo.

op.cit.,p.17; Revista jurídica. Ano XI, n. 257, Brasília-DF: 30-09-2007; Jornal A Gazeta. O Golpe do DPVAT: A máfia que se aproveita da tragédia do trânsito. Vitória-ES: acesso em 10 mar. de 2008. 87 Ao final de toda pesquisa, mesmo que fosse apenas uma pessoa, o tema era explicado e sanado qualquer dúvida advinda desta (e foram muitas), observando-se a conduta ética e moral.

71

5.1.2- Informações colhidas na pesquisa de campo

5.1.2.1- Alguma vez já ouvir falar sobre DPVAT ?

Gráfico - 01

Sim Não

54%

46%

0%

20%

40%

60%

80%

100%

Já ouviu falar sobre DPVAT

Sim Não

No gráfico acima, percebe-se que grande parte da população, pontuou que em

dado momento já ouviu falar sobre DPVAT.

5.1.2.2- Do conhecimento real do instituto DPVAT?

Gráfico - 02

28%

72%

0%

20%

40%

60%

80%

100%

1

Sabe o que é DPVAT

Sim se dizer o que é DPVAT Não sei dizer o que é DPVAT

Esta pergunta exige realmente um conhecimento do DPVAT, e já de início

percebemos que, apesar de já ouvir falar, a população não tem a noção do que seja.

72

5.1.2.3 - Quanto ao conhecimento dos benefícios cobertos pelo DPVAT

Gráfico - 03

Sabe informar em quais casos o DPVAT cobre o

beneficiário

6%

94%

Sim eu sei Não sabe

Este dado é o mais perigoso de todos, pois a aqui a população cacoalense se

mostra altamente vulnerável, pois ao ser questionado se sabe dizer do que se trata pelo menos

28% (vinte e oito porcento) conforme o gráfico – 02, asseveram que sabem em qual caso o

DPVAT atua, ao passo que esta mesmas pessoas que atestaram saber apenas 6% (seis

porcento) realmente conhecem o instituto, o que demonstra que o restante pode ser facilmente

manipulado, por “pensarem que sabem”.

5.1.2.4 – Dos dados suplementares

Gráfico – 4

81%

9%17%

0%

20%

40%

60%

80%

100%

1

Informações gerais

Sou motorista habilitado Já usei este benefício Conheço alguém que já usou o benefício

73

Do exposto acima, ficou evidente nas informações colhidas pela pesquisa de

campo, que a população cacoalense não tem o real conhecimento e discernimento acerca do

DPVAT, frisando que a população abordada em campo, em sua maioria possuía a Carteira

Nacional de Habilitação.

5.2 A INFORMAÇÃO QUE VEM NO BOLSO

Um dado que nos chama a atenção para a pesquisa, é que 81 % (oitenta e um

porcento) são motoristas habilitados, o que não trouxe qualquer otimismo para este trabalho.

Deste modo, é de bom alvitre lembrarmos que todos nós motoristas habilitados,

trazemos conosco juntamente com o certificado de registro e licenciamento de veículo o

Bilhete de Seguro DPVAT, estando no verso deste, as informações, bem como os respectivos

valores (em anexo).

Ademais, é de bom tom salientarmos, (antes que a consciência reclame pelo

desconhecimento do seguro) que tais informações não possuem o escopo informativo, a

começar pelas insuficientes informações ali aduzidas, corroborado pelo tamanho da letra. Com

ressalva para os telefones constantes ali, mas como ligar para o que não se sabe o que quer.

O que por certo sustenta o desconhecimento por parte da maioria dos motoristas de

nossa cidade e país.

5.3 O BACILUM FRAUDIS E SUAS VÁRIAS FACETAS PATOLÓGICAS

Como já exposto neste trabalho, o Seguro DPVAT, por ter uma natureza social,

sua indenização permite a todos, um acesso rápido e facilitado.

Ocorre que, tamanha facilidade aliada ao desconhecimento, se traduz em uma das

mais duras ignomínias da natureza humana, qual seja, o locupletamento à custa de pessoas

e/ou famílias psicologicamente transtornadas pelo infortúnio, ficando a mercê do “trabalho”

destes golpistas. Ato este que podemos denominá-lo de fraude.88

88 Corroborando nosso entendimento, o Dr. Luis Stefano Grigolin, corretor de seguros, consultor e especialista em tecnologia da informação, jornalista, com 29 anos de atuação no mercado segurador, desabafa: O caráter

74

No mesmo sentido, aprofundando um pouco mais o tema, o doutrinador Ricardo

Bechara Santos89, assevera:

Cometer fraude é enganar, lesar, privar, despojar, espoliar. A fraude é a materialização da má-fé, para ocultação da verdade, com intenção de causar prejuízo a terceiro. (...) O combate à fraude, pois, é direito de todos, dever primordial do Estado.

De forma ímpar continua o doutrinador supra traçando um paralelo da nossa

enfermidade pública com a enfermidade do nosso organismo no expõe, verbum por verbo:

Erradicar a fraude é obstinação que há de ter o mesmo ímpeto com que os abnegados perseveram no combate à uma enfermidade (...) O bacilum fraudis, pois, é inoculado na célula do seguro na medida em que sistema o imunológico de seu organismo esteja vulnerável. E tal vulnerabilidade acontece pela fragilização daqueles que julgam, analisam e decidem sobre as questões relacionadas aos sinistros, deixando-se encoberta a porta para que o mal cresça, e apareça.90 (grifei)

Ao final de suas palavras (sublinhado) o douto mestre analisa com propriedade,

haja vista, que, se realmente àqueles que detêm o conhecimento91 e os mecanismos propícios à

informação, divulgassem o DPVAT, por certo a “cura para esta patologia” estaria próxima, o

que, destarte, comungamos com mestre supracitado.

5.3.1 O desinteresse e a fraude

Ocorrendo o desconhecimento, naturalmente este se revelará na falta de interesse

da vítima ou beneficiário para com a devida indenização. Tal assertiva repousa tão somente no

fato de que o ser humano luta por aquilo que ele conhece, tendo um plus quando a luta repousa

no que é seu por direito.

social e possibilidade de uso universal do seguro de danos pessoais tem uma finalidade muito nobre. Porém na prática, o que acontece é um grande desrespeito ao consumidor que se vê obrigado a pagar caríssimo por um seguro concebido há muito tempo, desatualizado, descontextualizado, cheio de vícios, remendos, fraudes, partilhas ilegais, falta de fiscalização, administração histórica débil, e como não poderia deixar de ser, cheio de interesses. Fonte: <http://segurosobrigatorios.blogspot.com/2007/09/as-solues-alternativas-para-o.html>. Acesso em 27 de jan. de 2008. 89 Ricardo Bechara Santos. Direito de seguro no cotidiano: coletânea de ensaios jurídicos. op. cit., p. 99. 90 Ibid. mesma página. 91 Saliento neste momento que aqui cabe, não somente ao Estado, a tarefa neste mister, mas também, à comunidade acadêmica ao desempenhar o seu sacerdócio na sociedade enquanto defensores dos direitos e das causas sociais, pugnando pela dignidade da pessoa humana e da justiça.

75

E uma das formas iniciais de se aplicar o golpe, é o fraudador ter uma procuração

em branco, pois afinal a Lei 6.194/74 aduz que o pagamento da indenização será feita aos

beneficiários em caso de morte, e em se tratando de invalidez permanente ou despesas com

tratamento médicos e suplementares ao próprio interessado, não vedando a possibilidade

acerca da nomeação de um procurador, (o presente trabalho traz anexo um termo de cessão de

direito, padronizado para o fins do DPVAT, podendo ser adquirido rapidamente pela internet).

Nesta esteira entende nossa legislação pátria quanto ao uso de procuração

nomeando um terceiro para praticar quaisquer atos em nome do outorgante, nos dando guarida

o art. 653 do Código Civil, verbis:

Art. 653. Opera-se o mandato quando alguém recebe de outrem poderes para, em seu nome, praticar atos ou administrar interesses. A procuração é o instrumento do mandato.

Destarte, constatado o desinteresse, o fraudador de posse de uma procuração em

branco, alicia o beneficiário ou vítima à assinar a procuração, sem mencionar que se trata do

DPVAT, apenas lhe dizendo que caso assine conseguirá dinheiro para suprir as despesas com

o acidente.

Ledo engano, a vítima da fraude, sem saber do que se tratava, dificilmente recebe

algum dinheiro, e em muitos casos somente depois de muito tempo é que terá ciência de que

foi vítima de um golpista, geralmente tarde demais para reaver a indenização.

5.3.2 Os agentes da fraude

“O despachante veio me perguntar que tipo de caixão eu ia querer. Eu nem sabia

que meu marido havia morrido”.92

A estarrecedora frase foi noticiada pelo Jornal Gazeta de Vitória/ES, ao abordar a

matéria ora estudada com a seguinte nota de capa: A MÁFIA QUE SE APROVEITA DA

TRAGÉDIA DO TRÂNSITO (O golpe do DPVAT), para que o presente trabalho mantenha

92 Reportagem veiculada no jornal A GAZETA de Vitória /ES, segunda-feira 10 de março de 2008. fonte: <http://gazetaonline.globo.com/jornalagazeta/capa/capa.php> . Acesso em 10 de mar. de 2008.

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sua fidelidade e por interesse desta obra, transcrevemos ipsis literis algumas das matérias do

jornal supra a seguir, verbum pro verbo:

Família é coagida por advogado Quando a dona de casa Ivone (nome fictício), moradora de um bairro nobre de Vitória, chegou ao local onde o marido havia acabado de sofrer o acidente, foi surpreendida por um rapaz que só falava em um seguro que ela tinha para receber. "Ainda nem sabia o que tinha acontecido com o meu marido. E o rapaz não desgrudou mais de mim", conta. No hospital para onde o marido foi encaminhado, o despachante continuou a insistir. "Ele veio me perguntar que tipo de caixão eu ia querer, sendo que eu nem sabia que meu marido havia morrido. Também quis me vender uma sepultura e disse que o funeral era pago pelo seguro", recorda. A filha de Ivone lembram que para tudo o rapaz tinha pressa. "Ele ligava para a gente sem parar. Como ninguém sabia desse seguro, a gente caiu direitinho." Ela lembra que em nenhum momento o despachante esclareceu para a família o que era o seguro DPVAT nem qual era o procedimento para receber a indenização. O despachante queria que Ivone entregasse os documentos dela e do marido. "Disse que não daria os documentos. Então ele marcou um encontro no dia seguinte ao enterro, no escritório do advogado para quem trabalhava." No escritório, a dona de casa foi ameaçada pelo advogado, que disse que a processaria se ela desistisse dos serviços dele para receber a indenização. Ivone tentou argumentar, mas o advogado exigiu que ela assinasse a procuração. "Tentei desfazer a procuração, mas o advogado sempre dizia que eu teria que pagar para ele uma multa alta", conta. O advogado ficou com 20% da indenização, no valor R$ 13,5 mil. (grifei)

Em outra matéria:

Abordagem desde o hospital O dinheiro que o vigilante Marcos (nome fictício) contava para comprar um barraco onde poderia morar com a esposa, vítima de atropelamento, quase foi parar nas mãos de uma mulher que se apresentou como advogada e se ofereceu para resgatar o seguro DPVAT. "Ela me abordou na enfermaria do São Lucas, quando minha mulher ainda estava sendo atendida. Fica um monte deles lá na frente do hospital, pressionando a gente. Mesmo sem saber ler direito, ela assinou a procuração. A gente acaba confiando, porque está num momento de desespero", conta. Pouco depois, um policial alertou Marcos. "Ele disse que ela não era advogada e que já havia passado a mão no dinheiro do seguro de muita gente. Foi por um fio. Ainda bem que consegui anular a procuração." O vigilante procurou o Sindicato dos Corretores, por onde fez todo o processo de graça. Marcos conta que, mesmo com a gravidade das lesões sofridas pela mulher, ele não conseguiu receber o valor total do seguro por invalidez. Na própria seguradora onde foi feita a perícia, ele foi abordado por uma moça que lhe deu um cartão de uma despachante. "Ela me disse para procurá-la caso não conseguisse receber tudo. Enfermeiros e policiais também entregam esses cartões." O dinheiro da indenização acabou com o pagamento de dívidas e das despesas médicas. Agora, Marcos vai arriscar e contratou outra despachante para tentar conseguir o restante do seguro. "Vamos ver se esta é honesta. Estou afastado do trabalho e morando de favor. Preciso desse dinheiro", lamenta.93

93 Ibid. mesma página.

77

É de bom alvitre mencionarmos, que o bacilum fraudis, possui outras várias

facetas, sendo impossível enumerarmos todas, o que salientamos que o mesmo é como o

camaleão se amolda ao ambiente a espreita da melhor oportunidade.

5.4 O REMÉDIO PARA COMBATER O BACILUM FRAUDIS

“E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.”94

O único meio para o combate da fraude é o esclarecimento, a divulgação pelos

meios de comunicação acerca do DPVAT, este entendimento é uníssono nos mais diversos

lugares do país.

Assim, o primeiro exemplo que trazemos nesta esteira, visando estancar a

“infecção” do desconhecimento, temos o Departamento Estadual de Trânsito de Alagoas

(Detran/Al), que instalou um serviço social, em um shopping da cidade visando dar

orientações às vítimas de acidentes, envolvendo qualquer dos três casos cobertos pelo

DPVAT.

Tal iniciativa é louvável e pioneira, haja vista que (pasmem) segundo a FENASEG

95% 95 da população brasileira desconhecem o DPVAT.

Perfilhando a mesma linha de pensamento, o brilhante Sr. Ricardo Xavier (Diretor

Geral do Convênio DPVAT), em entrevista pelo site Estradas.com.br, ao ser questionado

acerca do desconhecimento de como funciona o DPVAT, aduziu:

- Estamos trabalhando para isso, ampliando os canais de comunicação com a sociedade e com a imprensa. Recentemente, treinamos a equipe do Núcleo de Apoio às Vítimas de Acidentes de Trânsito do DETRAN-RJ para orientar melhoras vítimas sobre o DPVAT. No Paraná através do sindicato de seguros, firmamos parceria com a Polícia Rodoviária, para que, em todo o boletim de acidente constem informações sobre o seguro DPVAT e esperamos que isso se estenda às demais polícias. As Assembléias Legislativas de todo país estão criando leis que determinam a exposição de informações sobre o DPVAT em hospitais públicos, funerárias, delegacias, para diminuir a figura do atravessador. Estamos trabalhando para melhorar a informação, aumentar a divulgação, ampliando nosso atendimento pelo

94 João 8:32, Bíblia em sua versão João Ferreira de Almeida Revista e Atualizada. (2000) 95 Fonte: <http://www.alagoas24horas.com.br/conteudo/?vEditoria=Macei%F3&vCod=42031>. Acesso em 02 mar. de 2008.

78

0800, incrementando a Ouvidora do DPVAT para responder prontamente às possíveis reclamações. 96(grifo nosso)

Já na capital paranaense, Curitiba, pensou-se em uma outra forma que além de

comunicar coloca a população perto do DPVAT, a comunicação é feita por meio de telefone,

vejamos a matéria:

A população de Curitiba ganha mais um serviço de informação sobre o seguro DPVAT, que garante indenizações para vítimas de acidentes de trânsito. A Central de Atendimento e Informações da Prefeitura, o 156, já está dando orientações sobre o DPVAT. A iniciativa é fruto de uma parceria entre a Prefeitura de Curitiba, a Centauro Vida e Previdência e o Sindicato dos Corretores de Seguros do Paraná (Sincor-PR), que treinou os funcionários da Central, serviço gerenciado pelo Instituto Curitiba de Informática (ICI) e elaborou um manual sobre o seguro com as principais respostas a dúvidas e orientações a serem repassadas aos interessados. O objetivo principal do novo atendimento é aproximar o seguro DPVAT da população curitibana. (grifo nosso)

Ademais, observamos nossos legisladores preocupados acerca do

desconhecimento da população, com edição de leis de modo a mudar a mentalidade do

cidadão, nesta esteira, citamos:

A Câmara de Curitiba aprovou no início do mês a obrigatoriedade de placas informativas sobre o seguro em hospitais, clínicas, pronto-socorros e também em funerárias. É mais uma maneira de se evitar que atravessadores e intermediários possam iludir e fraudar a população.

Contudo, mencionamos aqui o projeto de decreto legislativo nº 26/07, de autoria

do deputado estadual Maurício Picarelli (PMDB), conforme já vigente em outros estados

busca capacitar o Detran/MS (Departamento Estadual de Trânsito de Mato Grosso do Sul) a

divulgar informações sobre o DPVAT.

Nesta onda, observa-se também o legislativo buscando sanar a “obscuridade” do

seguro por meio de leis, o que entendemos válido, pois o país está literalmente doente e

morrendo por desconhecimento de um seguro criado, com escopo de atender à todos nós,

independente de condição social, raça, cultura.

E neste diapasão, afirmo que a divulgação do DPVAT, cabe principalmente a nós

operadores do direito, guardadores da justiça, e defensor da paz social97 .

96 Contexto original na página:<<<http:// www.estradas.com.br/new/entrevista_sos/entrev...>>. Acesso em: 29 de fev. 2008.

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97 Neste sentido cito uma mensagem já há muito conhecida, mas que pela nobreza, cabe aqui ser citada: “Faça a sua parte’. Um incêndio avançava sobre a floresta destruindo tudo o que encontrava pelo caminho. Os animais, assustados correm para se proteger na outra margem do rio. O "rei" leão procura por todos os seus amigos: lá estão os sapos, as cobras, os esquilos, as cabras, coiotes, os macacos, enfim, todos os animais. Com isso, ele sorri satisfeito pensando, pelo menos aqui todos estão seguros. Perto dali o pequenino beija-flor enche seu biquinho com água do rio voa e do alto solta aquelas gotas sobre o imenso fogo. Depois do quinto mergulho na água o leão faz a pergunta esperada por todos: Beija-flor, você acha que vai conseguir apagar este incêndio com estas gotinhas? Não, responde a pequenina ave, mas estou fazendo a minha parte! Se todos colaborarmos, sem buscar recompensas, tudo ficará melhor com o passar do tempo e a ajuda de uns fará a vida de outros muito melhor ou, pelo menos, menos pior. Concentre-se em fazer a sua parte e procure fazê-la muito bem feita. Autor desconhecido” fonte : < http://www.otimismoemrede.com/facaasuaparte.html>. Acesso em 28 de mar. de 2008.

80

CONCLUSÃO Verificou-se nesta obra, o desabrochar e a evolução do Seguro Obrigatório de

Danos Pessoais Causado por Veículo Automotor de Via Terrestre (DPVAT), um instituto

aparentemente sem grande relevância para a sociedade. Protagonista de diversos embates,

históricos, jurídicos e administrativos, ficando fadado ao desconhecimento.

Desta forma, as próprias divergências e seus embates, o dilapidaram concedendo a

este instituto de seguro uma revolução histórica, extirpando a culpa para se apurar a

indenização, e de igual modo, amparando os sinistros com resultados de grande relevância

social, bem como os mais “corriqueiros” sem descurar da praticidade e celeridade, pugnando

pela a socialização dos encargos.

Destarte, tais preceitos são de suma relevância para sociedade, pois para esta foi

criado, e por meio dela ele subsisti.

81

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85

ANEXOS

86

Anexo I – Cópia do Bilhete de seguro DPVAT (frente)

(verso)

87

Anexo II – Tabela utilizada para auferir o grau de invalidez permanente Tabela - Para cálculo de indenização em caso de Invalidez Permanente

98 15/02/2008

Discriminação da seqüela % sobre Estimativa

importância em reais segurada _________________________________________________________________________________ PERDA TOTAL DA VISÃO DE AMBOS OS OLHOS 100 13.500,00 PERDA TOTAL DO USO DE AMBOS OS MEMBROS SUPERIORES 100 13.500,00 PERDA TOTAL DO USO DE AMBOS OS MEMBROS INFERIORES 100 13.500,00 PERDA TOTAL DO USO DE AMBAS AS MÃOS 100 13.500,00 PERDA TOTAL DO USO DE UM MEMBRO SUPERIOR E UM MEMBRO INFERIOR 100 13.500,00 PERDA TOTAL DO USO DE UMA DAS MÃOS E DE UM DOS PÉS 100 13.500,00 PERDA TOTAL DO USO DE AMBOS OS PÉS 100 13.500,00 ALIENAÇÃO MENTAL TOTAL INCURÁVEL 100 13.500,00 PERDA TOTAL DA VISÃO DE UM OLHO 30 4.050,00 PERDA TOTAL DA VISÃO DE UM OLHO, QUANDO O SEGURADO JÁ NÃO TIVER A OUTRA VISTA 70 9.450,00 SURDEZ TOTAL INCURÁVEL DE AMBOS OS OUVIDOS 40 5.400,00 SURDEZ TOTAL INCURÁVEL DE UM DOS OUVIDOS 20 2.700,00 MUDEZ INCURÁVEL 50 6.750,00 FRATURA NÃO CONSOLIDADA DO MAXILAR INFERIOR 20 2.700,00 IMOBILIDADE DO SEGMENTO CERVICAL DA COLUNA VERTEBRAL 20 2.700,00 IMOBILIDADE DO SEGMENTO TÓRACO-LOMBO-SACRO DA COLUNA VERTEBRAL 25 3.375,00 PERDA TOTAL DO USO DE UM DOS MEMBROS SUPERIORES 70 9.450,00 PERDA TOTAL DO USO DE UMA DAS MÃOS 60 8.100,00 FRATURA NÃO CONSOLIDADA DE UM DOS ÚMEROS 50 6.750,00 FRATURA NÃO CONSOLIDADA DE UM DOS SEGMENTOS RÁDIO-ULNARES 30 4.050,00 ANQUILOSE TOTAL DE UM DOS OMBROS 25 3.375,00 ANQUILOSE TOTAL DE UM DOS COTOVELOS 25 3.375,00 ANQUILOSE TOTAL DE UM DOS PUNHOS 20 2.700,00 PERDA TOTAL DO USO DE UM DOS POLEGARES, INCLUSIVE O METACARPIANO 25 3.375,00 PERDA TOTAL DO USO DE UM DOS POLEGARES, EXCLUSIVE O METACARPIANO 18 2.430,00 PERDA TOTAL DO USO DA FALANGE DISTAL DO POLEGAR 9 1.215,00 PERDA TOTAL DO USO DE UM DOS DEDOS INDICADORES 15 2.025,00 PERDA TOTAL DO USO DE UM DOS DEDOS MÍNIMOS OU UM DOS DEDOS MÉDIOS 12 1.620,00 PERDA TOTAL DO USO DE UM DOS DEDOS ANULARES 9 1.215,00 PERDA TOTAL DO USO DE QUALQUER FALANGE, EXCLUÍDAS AS DO POLEGAR 0,00 PERDA TOTAL DO USO DE UM DOS MEMBROS INFERIORES 70 9.450,00 PERDA TOTAL DO USO DE UM DOS PÉS 50 6.750,00 FRATURA NÃO CONSOLIDADA DE M FÊMUR 50 6.750,00 FRATURA NÃO CONSOLIDADA DE UM DOS SEGMENTOS TÍBIOS PERONEIROS 25 3.375,00 FRATURA NÃO CONSOLIDADA DA RÓTULA 20 2.700,00 FRATURA NÃO CONSOLIDADA DE UM PÉ 20 2.700,00 ANQUILOSE TOTAL DE UM DOS JOELHOS 20 2.700,00 ANQUILOSE TOTAL DE UM DOS TORNOZELOS 20 2.700,00 ANQUILOSE TOTAL DE UM QUADRIL 20 2.700,00 PERDA PARCIAL DE UM DOS PÉS, PERDA DE TODOS OS DEDOS E DE UMA PARTE DO MESMO PÉ 25 3.375,00 AMPUTAÇÃO DO 1º (PRIMEIRO) DEDO 10 1.350,00 AMPUTAÇÃO DE QUALQUER OUTRO DEDO 3 405,00 PERDA TOTAL DO USO DE UMA FALANGE DO 1º DEDO, INDENIZAÇÃO EQUIVALENTE A 1/2 0,00 ENCURTAMENTO DE UM DOS MEMBROS INFERIORES: DE 5 (CINCO) CENTÍMETROS OU MAIS 15 2.025,00 ENCURTAMENTO DE UM DOS MEMBROS INFERIORES: DE 4 (QUATRO) CENTÍMETROS 10 1.350,00 ENCURTAMENTO DE UM DOS MEMBROS INFERIORES: DE 3 (TRÊS) CENTÍMETROS 6 810,00 ENCURTAMENTO DE UM DOS MEMBROS INFERIORES: MENOS DE 3 (TRÊS) CENTÍMETROS SEM INDENIZAÇÃO 0,00

Os valores apresentados estão sujeitas a alterações mediante análise técnica da seguradora.

98 Fonte: < ttp://dpvat.sintegrados.com.br/Tabela%20-%20Invalidez%20Permanente.htm> Acesso em 20 de mar. de 2008.