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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” INSTITUTO A VEZ DO MESTRE EVOLUÇÃO DA CIDADANIA NO BRASIL Por: Ivanice Cardoso da Silva Orientador Prof. Jorge Vieira da Rocha Rio de Janeiro 2010

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS … · discorrendo sobre a cidadania, ... Reino Unido, desenvolveu a ... la, ou pelo menos acabar com o tráfico de escravos

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

EVOLUÇÃO DA CIDADANIA NO BRASIL

Por: Ivanice Cardoso da Silva

Orientador

Prof. Jorge Vieira da Rocha

Rio de Janeiro

2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

EVOLUÇÃO DA CIDADANIA NO BRASIL

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em GESTAO

PÚBLICA...

Por: Ivanice Cardoso da Silva

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AGRADECIMENTOS

Ao Deus criador e sustentador de todas

as coisas, toda honra, toda glória, todo

louvor, agora e eternamente......

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DEDICATÓRIA

Aos meus pais, que nunca mediram

esforços para minha educação, e à minha

filha, Maria Clara, a quem devo muitas

horas que passei na elaboração desse

trabalho...

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RESUMO

Falar de cidadania é tratar dos direitos civis, dos direitos políticos e dos

direitos sociais, que são os elementos, as dimensões, através dos quais a

cidadania se expressa.

Não se pode pensar em cidadania no período colonial brasileiro, visto

que os direitos civis e políticos beneficiavam pouquíssimos e os direitos sociais

ficavam a cargo da Igreja e do paternalismo dos senhores de terra. O Brasil se

apresentava como um Estado absolutista e escravocrata. Com a proclamação

da Independência, o quadro pouco se alterou, pois a herança do período

colonial era extremamente forte. A única modificação importante ocorrida no

período entre a Independência (1822) e a proclamação da República (1889),

em relação à cidadania, foi a abolição da escravidão, em 1888.

O marco do desenvolvimento da cidadania brasileira corresponde ao

movimento revolucionário de 1930 que, através das massas populares e do

sentimento nacionalista, ampliou a noção de cidadania.

Com o fim do regime ditatorial, no qual o Brasil mergulhara a partir de

1964, teve início um processo gradual em direção à democracia, culminando

com a promulgação da Constituição em 1988. A “Constituição Cidadã”,

conforme ficou conhecida, foi a mais avançada carta constitucional da história

brasileira, abrindo caminho para o exercício dos direitos dos cidadãos,

largamente ampliados no texto constitucional.

A cidadania no Brasil seguiu caminhos tortuosos desde o seu início e

ainda hoje temos muitos desafios, sobretudo no que tange aos direitos sociais,

devido a um conjunto de obstáculos que precisam ser superados.

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METODOLOGIA

O trabalho foi desenvolvido através de uma análise exploratória do tema

escolhido e teve como base, principalmente, a obra “Cidadania no Brasil: o

longo caminho” de José Murilo de Carvalho, além de outros autores e obras.

Também foi utilizada a pesquisa em artigos, jornais e internet.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - Nosso Começo: Cidadania no

Império 10

CAPÍTULO II - Avanços e Retrocessos:

Cidadania na República 18

CAPÍTULO III – Uma Construção Inacabada:

Cidadania na Democracia 27

CONCLUSÃO 37

ANEXO 39

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 41

BIBLIOGRAFIA CITADA 42 ÍNDICE 43

FOLHA DE AVALIAÇÃO 45

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INTRODUÇÃO

O tema deste trabalho é a evolução da cidadania ao longo da história

do Brasil, desde a sua independência aos dias atuais, percorrendo um

caminho de 188 anos, no qual a cidadania obteve conquistas, mas também

sofreu perdas.

O tema se justifica e é importante para a compreensão de questões

pertinentes ao momento atual, pois a leitura que fazemos do nosso passado,

através de seus erros e acertos, nos auxilia na busca de soluções, de

alternativas que precisamos encontrar para que o exercício da cidadania se

estenda a todos os brasileiros.

Cidadania é fruto de um longo processo histórico percorrido por

caminhos distintos nos diversos países ocidentais. A história da cidadania se

confunde, e muito, com a luta dos direitos humanos, e que começou a partir

dos processos de lutas que culminaram com a Declaração dos Direitos

Humanos, nos Estados Unidos, e na Revolução Francesa. Até então, o que

vigorava era o princípio baseado nos deveres do súdito. A partir desses

eventos, esse princípio foi rompido, criando espaço para os direitos do

cidadão.

Ao longo dos anos, o exercício da cidadania vem se modificando. Há

cem anos, ser cidadão no Brasil representava muito pouco se compararmos ao

que é ser cidadão hoje, no século XXI, apesar do que ainda precisamos

conquistar.

Cidadania se faz com direitos, mas também com deveres. Cidadão é

um agente atuante que exerce seus direitos e cumpres seus deveres.

Cidadania é uma via de duas mãos, de um lado o Estado age, concedendo ou

ampliando direitos, de outro, o cidadão engajado, participante. Um processo de

construção e de conquista de toda a sociedade.

Este trabalho foi desenvolvido em uma seqüência histórica,

discorrendo sobre a cidadania, através do exercício dos direitos que a compõe,

em cada período da nossa história.

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O capítulo I aborda o período que vai desde a proclamação da

Independência (1822) até a proclamação da República (1889). Nesse capítulo

é visto como o passado colonial interferiu na conquista dos direitos; as

principais formas de participação política dos cidadãos e também algumas

revoltas populares ocorridas no Império.

O capítulo II abrange o período da Primeira República (1889) até o

início da redemocratização do país (1984). Os principais movimentos

populares que eclodiram na República, a cidadania na Era Vargas e no regime,

militar são vistos nesse capítulo.

O capítulo III inicia com o país já democratizado e se estende até os

dias atuais. Nele são abordadas as manifestações populares, como as “diretas

já” e a mobilização pelo impedimento do presidente Fernando Collor, passando

pela promulgação da “Constituição Cidadã”, culminando com um balanço da

cidadania no século XXI.

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CAPÍTULO I

NOSSO COMEÇO: CIDADANIA NO IMPÉRIO

...Na vida, ao contrário da escola, primeiro fazemos a prova,

para depois aprendermos a lição...

1.1 Significado e Dimensões da Cidadania

O termo cidadania se tornou popular nos nossos dias. Costuma-se

usá-lo para várias questões do cotidiano, e muitas vezes o seu significado se

esvazia.

O conceito de cidadania tem origem na Grécia clássica, sendo usado

então para designar os direitos relativos ao cidadão, ou seja, o indivíduo que

vivia na cidade e ali participava ativamente dos negócios e das decisões

políticas. Cidadania pressupunha, portanto, todas as implicações decorrentes

de uma vida em sociedade.

Ao longo da história, o conceito foi ampliado, passando a englobar um

conjunto de valores sociais que determinam o conjunto de deveres e direitos

de um cidadão.

Foi T.H. Marshall que, analisando a evolução histórica da cidadania no

Reino Unido, desenvolveu a distinção entre as três dimensões da cidadania:

civil, política e social. Cidadão pleno seria aquele titular das três categorias de

direitos correspondentes.

Definindo os direitos através dos quais se exerce a cidadania, os

direitos civis são os fundamentais à vida, à liberdade, à propriedade, à

igualdade perante a lei. Esses direitos são desdobrados na garantia de ir e vir,

de escolher o trabalho, de manifestar o pensamento, de organizar-se, de ser

respeitado quanto à inviolabilidade do lar, da correspondência, de não ser

preso a não ser pela autoridade competente e de acordo com as leis. São os

que garantem a vida em sociedade.

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Direitos políticos são os que conferem legitimidade à organização

política da sociedade, garantem a participação do cidadão no governo da

sociedade através, principalmente, do voto.

Finalmente, os direitos sociais são os que garantem a participação na

riqueza coletiva: direito à educação, ao trabalho, à saúde, à aposentadoria. A

idéia central dos direitos sociais é o da justiça social.

Conforme afirma José Murilo (CARVALHO, 2009), é possível haver

direitos civis sem haver direitos políticos, porém o contrário não. Sem os

direitos civis, os direitos políticos ficam sem sentido, como constatam alguns

períodos da nossa história.

Podem até existir direitos sociais sem os direitos civis e político, mas

na ausência de direitos civis e políticos, o conteúdo e o alcance dos direitos

sociais costumam ser arbitrários.

1.2 O Peso do Passado

Quando o Brasil se tornou independente de Portugal, em 1822, herdou

uma população analfabeta, uma sociedade escravocrata e um Estado

absolutista. Não havia cidadãos brasileiros, muito menos uma pátria brasileira.

O que mais pesou para o exercício da cidadania foi, sobretudo, a escravidão.

Vinte e oito anos após nossa independência, a importação de escravos ainda

era praticada em terras brasileiras. O Brasil foi o último país ocidental de

tradição cristã, a libertar os escravos. Calcula-se que na época da

independência havia cerca de 5 milhões de pessoas, das quais, mais de 1

milhão eram escravos.

Toda pessoa com algum recurso possuía escravos. O Estado, os

funcionários públicos, os padres, todos possuíam escravos. Até os próprios

libertos adquiriam escravos. A sociedade brasileira era escravista de alto a

baixo. Os escravos não eram cidadãos, não tinham, em casos extremos, o

direito à própria vida, não possuíam direitos civis básicos, como o direito à

vida, eram equiparados a animais. Por outro lado, os senhores também não

eram cidadãos. Apesar de livres, de votarem, e serem votados nas eleições

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municipais, faltava-lhes o próprio sentido de cidadania, a noção de igualdade

de todos perante a lei. A justiça nas mãos dos senhores funcionava como

instrumento de poder pessoal.

Entre escravos e senhores, existia uma população legalmente livre,

mas faltavam-lhe as condições para o exercício dos direitos civis,

principalmente a educação. Essa população era dependente dos grandes

proprietários para trabalhar, morar ou defender-se contra o arbítrio do governo

e de outros proprietários. O cidadão comum ou recorria à proteção dos

grandes proprietários ou dependia da vontade dos mais fortes. Mulheres e

escravos ficavam à mercê dos senhores, não tinham acesso à Justiça para se

defenderem. Aos escravos, só restavam a fuga e a formação de quilombos que

eram exterminados por tropas do governo ou por particulares cadastrados pelo

governo.

Os proprietários de terra exerciam um poder muito grande, chegando a

haver confusão, por conveniência, entre o poder deles e do Estado. Funções

públicas, como os registros de nascimento, casamento, e de óbito eram

exercidos pelo clero católico. Não havia um poder que pudesse ser chamado

de poder público, o qual garantisse a igualdade de todos perante a lei, que

fosse a garantia dos direitos civis.

Outro obstáculo à conscientização dos direitos era o descaso pela

educação primária. Em 1872, meio século após a independência, apenas 16%

da população era alfabetizada. Aos senhores de escravos não interessava

difundir essa arma cívica. Não havia motivação religiosa para se educar. A

Igreja Católica não incentivava a leitura da Bíblia. A situação na educação

superior não era muito melhor. Portugal nunca permitiu a criação de

universidades em sua colônia. Os brasileiros que quisessem fazer um curso

superior tinham que ir para Portugal. O número de estudantes brasileiros que

passaram pela Universidade de Coimbra entre 1772 e 1872 foi de 1.242. No

México, nesse mesmo período, cerca de 150 mil estudantes freqüentaram

universidades.

A tranqüilidade de transição de Colônia para Império facilitou a

continuidade social. Em comparação com outros países da América Latina,

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nossa independência foi relativamente pacífica. Não houve mobilização de

grandes exércitos, e de figuras de grandes libertadores como em outros

países. A nossa independência não foi fruto de uma luta popular pela

liberdade, mas de uma “negociação” entre a elite nacional, a coroa portuguesa

e a Inglaterra. Foi implantado aqui um governo ao estilo das monarquias

européias. Não se tocou na escravidão, apesar da pressão inglesa para aboli-

la, ou pelo menos acabar com o tráfico de escravos.

1.3 Direitos Políticos na Dianteira

A Constituição outorgada de 1824, que vigorou no país até o fim da

monarquia, regulou os direitos políticos, definiu quem poderia votar e ser

votado. Para os padrões da época, era uma constituição bem liberal. Todos os

homens a partir de 25 anos, que tivessem renda mínima de 100 mil réis

podiam votar. O limite de idade caía para 21 anos no caso de chefes de

família, oficiais militares, bacharéis, clérigos, empregados públicos, todos que

tivessem independência econômica. O voto era obrigatório, mulheres não

votavam e escravos não eram considerados cidadãos, já os libertos podiam

votar na eleição primária.

De 1822 até 1930, houve eleições ininterruptas no país. Elas foram

suspensas apenas em casos excepcionais e em locais específicos, como no

caso da guerra contra o Paraguai (1865-1870), na província do Rio Grande do

Sul.

A freqüência das eleições era grande, os mandatos de vereador e juiz

de paz eram de dois anos. Havia eleições para senador sempre que um deles

morria. O quadro apresentava um grande avanço em relação à época de

colônia, porém o cidadão que exercia o seu direito político era o resultado de

três séculos de colonização. Mais de 85% eram analfabetos, não tendo

condições de ler um jornal, um decreto do governo, um alvará de justiça.

Nesse percentual, incluíam-se muitos dos grandes proprietários rurais. Com

cerca de 90% da população vivendo em áreas rurais, sob o controle dos

grandes proprietários, não fica difícil imaginar o quanto de manipulação havia

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nessas eleições. Entre os votantes existiam funcionários públicos que eram

controlados pelo governo.

Grande parte dos cidadãos desse país que começava a surgir não teve

a prática do voto durante o período de Colônia. Não tinham noção do que

significava escolher alguém como seu representante político. O chefe político

local, para não perder as eleições, pois isso significava a perda de prestígio, de

controle dos cargos públicos, como o de juiz municipal, de delegado de polícia,

se utilizava do cabalista. Este tinha a missão de garantir o maior número de

partidários de seu chefe na lista de votantes. O voto era negociado, alguns o

vendiam para mais de um cabalista, era mercadoria à venda pelo melhor

preço. A eleição se tornava em oportunidade para se ganhar dinheiro fácil,

uma roupa, um par de sapatos, ou simplesmente uma boa refeição.

,

1.4 Exercitando a Cidadania

• Os Jurados

Além da participação eleitoral houve outras formas de envolvimento

dos cidadãos com o Estado. A mais importante foi o serviço do júri. De acordo

com a Constituição de 1824, o Poder Judiciário era composto, tanto no criminal

como no cível, pelos juízes e jurados. Ser jurado significava participar de modo

direto do poder judicial, uma participação mais freqüente e mais intensa para

os sorteados do que o exercício do voto.

Os conselhos de jurados se reuniam pelo menos duas vezes por ano,

e as sessões duravam quinze dias, ou o tempo necessário para o julgamento

dos processos. Com isso, o contato com o Estado era mais profundo, pois

demandava uma exposição dos jurados às leis e aos procedimentos judiciais.

Estatísticas disponíveis no Ministério da Justiça mostram que o número de

jurados em 1871 era de 79.302, o que significava, mais ou menos, a metade

da população apta a exercer a função de jurado.

• A Guarda Nacional

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Outra forma de participação política era através da Guarda Nacional

criada em 1831. Tendo como modelo a Garde Nationale que teve origem em

1789 às vésperas da tomada da Bastilha, a Guarda Nacional deveria servir de

proteção contra a anarquia e revoltas populares que surgiam em várias

capitais, mas sobretudo era um mecanismo para transmitir aos guardas algum

sentido de disciplina e de exercício de autoridade legal. Estavam sujeitos ao

serviço da Guarda quase as mesmas pessoas que eram obrigadas a votar.

Assim como os jurados representavam a democratização da Justiça, e as

eleições, a democratização do Poder Executivo, a Guarda representava a

democratização do Exército. Jurados, votantes e guardas nacionais seriam os

cidadãos ativos do novo país.

• O Serviço Militar

Experiência negativa do cidadão com o Estado foi o serviço militar. O

recrutamento era feito de forma violenta, a vida no quartel incluía o castigo

físico. Havia total repugnância ao serviço militar ao ponto das pessoas fugirem

para as matas para não serem recrutadas. O que em outros países

representava o símbolo do dever cívico, aqui contribuiu pouco, ou nada para a

educação cívica. Os soldados, diferentemente dos votantes, dos jurados e

guardas nacionais, eram cidadãos inativos, pois a persistência do castigo

físico, mesmo depois de abolido pela lei, indicava que a eles eram negados até

mesmo os direitos civis básicos. Nesse aspecto, os soldados se aproximavam

dos escravos, o que levou , em 1910, marinheiros a se rebelaram contra o uso

da chibata tentando eliminar os resquícios da escravidão (Revolta da Chibata).

1.5 O Despertar do Patriotismo

A forma mais intensa de envolvimento e participação dos brasileiros

ocorrida no período do Império foi, sem dúvida, durante a guerra contra o

Paraguai, entre 1865 e 1870. A idéia de pátria e o sentimento de identidade

dos brasileiros floresceram de uma forma nunca antes experimentada. De

todos os pontos do território surgiram voluntários dispostos a defender a pátria.

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Os negros formavam a maioria das tropas, inclusive muitos foram libertos com

a finalidade de serem recrutados, uma situação irônica: não cidadãos lutando

pela pátria que os escravizava.

O hino nacional e a bandeira nacional foram valorizados, o Imperador

surgiu como chefe da nação, o Brasil passou a ser uma realidade concreta.

As mulheres, excluídas da cidadania ativa, também tiveram

participação na guerra, como enfermeiras. Uma jovem, Jovita Feitosa, fazendo-

se passar por homem, alistou-se como sargento para participar da luta como

combatente a fim de vingar-se das injúrias cometidas pelos paraguaios contra

os brasileiros. Mesmo sendo descoberta, teve o seu alistamento aceito pelas

autoridades, recebeu muitas homenagens e tornou-se heroína nacional, sendo

chamada de Joana d’ Arc Nacional.

A guerra tornou possível que ex-escravos, mulheres e soldados quase

a soma dos cidadãos inativos, tivessem participação no mundo real e simbólico

da política.

1.6 Principais Movimentos Populares

Se na proclamação da Independência e, mais tarde, na da República,

o povo não teve papel central, ele encontrou outros meios de se manifestar.

No Primeiro Reinado (1822-1831) e na Regência (1831-1840) as

manifestações populares se beneficiavam de conflitos entre facções da

classe dominante. No Segundo Reinado (1840-1889) as revoltas ganharam

características de reação às reformas introduzidas pelo Governo.

A revolta popular mais violenta e dramática foi a Cabanagem, na

província do Pará, em 1835, cujos rebeldes eram, na maioria índios, negros e

mestiços. A luta continuou até 1840, e foi a mais sangrenta da história do

Brasil, a maior carnificina do Brasil independente. Cerca de 30 mil pessoas

foram mortas, 20% da população total da província.

Outra revolta popular, em 1838, no Maranhão, a Balaiada, reuniu 11

mil homens, entre os quais, uns 3 mil escravos que contestavam os privilégios

dos latifundiários e comerciantes portugueses.

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Em 1850, o Governo aprovou uma lei que mandava fazer o primeiro

censo demográfico do país e introduzia os registros civil de nascimento e de

óbito que até então eram feitos pela Igreja. O registro civil era condição para

garantia de vários direitos civis e mesmo de direitos políticos. Houve uma

reação da população à reforma introduzida, o que forçou o Governo a

paralisar o trabalho de registro e a suspender o censo. Somente em 1872 foi

realizado outro censo e um novo decreto, regulando o registro de casamento,

foi aprovado em 1874. A revolta do povo ao registro civil, sobretudo ao de

casamento, ainda se fez sentir em 1879, durante a revolta popular de

Canudos.

Um dos movimentos populares que indicou um início de cidadania

ativa foi o movimento abolicionista que ganhou força a partir de 1887.

Envolvendo pessoas de várias camadas sociais, desde membros da elite até

os próprios escravos, passando por jornalistas, pequenos proprietários e

operários, travou-se uma luta por um direito civil básico, a liberdade.

No Rio de Janeiro, em 1880, por causa de um aumento de um vintém

no preço da passagem do transporte urbano, 5 mil pessoas se reuniram em

praça pública para protestarem. A multidão quebrou coches, arrancou trilhos,

espancou cocheiros, esfaqueou mulas, levantou barricadas. Os distúrbios

duraram três dias. A partir daí, tornaram-se freqüentes as revoltas contra a

má qualidade dos serviços públicos mais fundamentais, como o transporte, a

iluminação e o abastecimento de água.

Essas e outras revoltas populares que aconteceram, principalmente a

partir do início do Segundo Reinado, significavam que, apesar de não

participar da política oficial, de não votar, ou ter consciência clara do sentido

do voto, a população tinha alguma noção sobre direitos e deveres do Estado.

Conforme afirma Carvalho (2009), esses cidadãos aceitavam o Estado, desde

que não interferisse em suas vidas privadas, que não desrespeitasse seus

valores. Eram movimentos reativos às mudanças que eram implementadas

pelo Governo e não movimentos propositivos. Havia nos rebeldes, um esboço

de cidadão, ainda que em negativo.

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CAPÍTULO II

AVANÇOS E RETROCESSOS: CIDADANIA NA

REPÚBLICA

... O rio atinge seus objetivos por que aprendeu a

contornar os obstáculos...

A proclamação da República (1889) não foi um episódio que marcou a

memória popular, a participação do povo foi ainda menor que na proclamação

da Independência. Não houve grande movimentação popular, nem a favor,

nem em defesa da monarquia. Era como o povo assistisse aos acontecimentos

como algo alheio a seus interesses. Até 1930, não havia povo organizado politicamente, nem sentimento

nacional consolidado. A participação na política nacional, inclusive nos grandes

acontecimentos, era limitada a pequenos grupos. Não se pode dizer que o

novo regime tinha sido uma conquista popular, e, portanto um marco na

criação de uma identidade nacional.

Segundo Carvalho (2009), o marco divisório na história do país foi o

ano de 1930, quando as mudanças sociais e políticas começaram a acelerar e

a história passou a andar mais rápido.

2.1 Revoltas Populares

Assim como no Império, houve diversas manifestações populares nas

quais era possível vislumbrar a busca, mesmo que ainda inconsciente, da

conquista da cidadania, através de reivindicações de alguns direitos, ou

mesmo da insatisfação com algumas medidas do governo. Alguns desses

movimentos merecem destaque.

A Revolta da Vacina foi a mais importante revolta urbana desse

período, ocorrida no Rio de Janeiro em 1904. Dois anos antes, o então

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prefeito, Pereira Passos, deu início a uma reforma urbanística e higiênica da

cidade. Foram abertas grandes avenidas, ruas alargadas, o porto foi

reformado, centenas de casas derrubadas o que deixou muitos moradores sem

teto. Na área da saúde, Oswaldo Cruz atacou a febre amarela pelo combate

aos mosquitos transmissores, o que levou à interdição de prédios e à remoção

de doentes. Foram visados principalmente os cortiços, conjunto de habitações

anti-higiênicas onde se aglomerava boa parte da população pobre.

Houve também, naquele mesmo ano, o combate à varíola por meio de

vacina obrigatória por lei, e muitos políticos se opuseram à obrigatoriedade,

alegando que o Estado não tinha autoridade para forçar as pessoas a se

vacinarem, e que a vacina não era segura, podendo causar outras doenças. A

oposição estendeu-se às camadas populares e a revolta se generalizou.

Ocorreram tiroteios, destruição de postes de iluminação, prédios públicos

foram danificados. A ira da população dirigiu-se, principalmente, contra os

serviços públicos, a polícia, as autoridades sanitárias e o ministro da Justiça. O

Governo decretou estado de sítio e chamou as tropas de outros estados para

controlar a situação.

Em 1910, outra revolta ocorreu no Rio de Janeiro. O mau tratamento

dado a marujos, por parte dos oficiais, aliado às más condições de alojamento

e alimentação foi o estopim para a Revolta da Chibata. O uso da chibata era

um velho regimento disciplinar usado nos couraçados Minas Gerais e São

Paulo. No início se rebelaram os marujos, porém dias depois, os fuzileiros

navais também aderiram ao movimento em defesa de propostas semelhantes

àquelas dos marujos. Em meio à repressão, o governo decretou estado de sítio

e mandou aprisionar os principais líderes da revolta. Dos seiscentos

prisioneiros, poucos sobreviveram aos maus tratos na prisão ou aos trabalhos

forçados na Amazônia.

Desfecho igualmente sangrento teve a Revolta do Contestado em 1914

no sul do Brasil. Suas origens remontam ao isolamento e abandono em que

vivia a população de uma vasta área situada entre os estados do Paraná e de

Santa Catarina, num território contestado pelos dois governos estaduais. Ao

criar uma alternativa ao poder político dos coronéis e com a disposição até de

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enfrentá-los, o movimento do Contestado representava, do ponto de vista das

elites, um mal a ser exterminado. Tropas foram enviadas para exterminarem as

comunidades populares da região, procedendo-se ao massacre metódico dos

seus habitantes.

Outro movimento que merece referência foi o dos jovens oficiais do

Exército, iniciado em 1922. Apesar de natureza militar, o Tenentismo disputou

muitas simpatias, por atacar as oligarquias políticas estaduais. O ataque às

oligarquias agrárias estaduais contribuía para enfraquecer outro grande

obstáculo à expansão dos direitos civis e políticos.

O Tenentismo não tinha características propriamente democráticas,

mas foi uma poderosa força de oposição. Todo o período presidencial de 1922

a 1926 se passou sob o estado de sítio, em conseqüência da luta tenentista.

Embora derrotados, muitos tenentes continuaram a luta na clandestinidade ou

no exílio. Quando as circunstâncias políticas se tornaram favoráveis em 1930,

eles reapareceram e forneceram a liderança militar necessária para derrubar o

governo.

No campo cultural e intelectual também houve manifestações

oposicionistas. No ano de 1922 foi organizada, em São Paulo, a Semana de

Arte Moderna. Um grupo de escritores, artistas plásticos e músicos de grande

talento, patrocinados pela elite paulista, escandalizaram a bem-comportada

sociedade local com espetáculos de arte inspirados no modernismo e no

futurismo europeus, colocando em questão a natureza da sociedade brasileira,

suas raízes e sua relação com o mundo europeu. O movimento trazia em si

uma crítica profunda ao mundo cultural dominante. Na década seguinte, muitos

modernistas envolveram-se na política, à esquerda e à direita.

2.2 Cidadania no Estado Novo

Em 3 de outubro de 1930, o presidente da República, Washington

Luis, foi deposto por um movimento dirigido por civis e militares dos estados

de Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraíba. Terminava assim a Primeira

República (República Velha). O episódio ficou conhecido domo a Revolução de

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30. Foi o movimento mais marcante da história política do Brasil desde sua

independência. O modo como a Primeira República foi derrubada representou

um avanço em relação à sua proclamação em 1889. O movimento foi

precedido de uma eleição que, apesar das fraudes, levou o debate a uma

parcela da população. A mobilização revolucionária envolveu muitos civis nos

estados rebelados. O povo não esteve ausente como em 1889.

Entre 1930 e 1937, o Brasil viveu uma fase de agitação política. Os

movimentos políticos mobilizaram vários estados da federação, além da capital

da República; envolveram vários grupos sociais, operários, classe média,

militares, oligarquias, indústrias.

Em 1933 o governo federal convocou eleições para assembléia

constituinte que deveria eleger o presidente da República. Foram eleições que

representavam grande progresso em relação à Primeira República. Foi

introduzido o voto secreto e instituída a Justiça Eleitoral. Houve também

avanços na cidadania política. Pela primeira vez as mulheres ganharam o

direito ao voto. A constituinte confirmou Vargas na presidência. Iniciava o

período conhecido como “Era Vargas”, onde o populismo foi dominante.

Representava um avanço na cidadania, na medida em que trazia as massas

para a política, porém colocava os cidadãos em posição de dependência

perante o líder, ao qual votavam lealdade pelos benefícios que lhes oferecia.

Era a época dos direitos sociais, mas não vistos como tais, como independente

da ação do Governo, e sim como um favor em troca do qual deviam lealdade e

gratidão.

O Estado Novo (1937-1945) foi um período em que o país viveu sob

um regime ditatorial civil, garantido pelas forças armadas, em que as

manifestações políticas eram proibidas, o governo legislava por decretos, a

censura controlava a imprensa, os cárceres se enchiam de inimigos do regime.

O Estado Novo não queria saber de povo nas ruas, era um regime que

misturava repressão com paternalismo. Não se pode negar, portanto, que foi o

grande momento dos direitos sociais. Nele foi implantada a maior parte da

legislação trabalhista e previdenciária.

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Em 1945 Vargas foi derrubado do poder, e convocadas eleições

presidenciais e legislativas para dezembro do mesmo ano. Em 1946, o

presidente eleito, general Eurico Gaspar Dutra, toma posse, a constituinte

conclui seu trabalho e é promulgada a nova constituição. O país entrou em

uma fase que pode ser descrita como a primeira experiência democrática de

sua história. A constituição de 1946 manteve as conquistas sociais do período

anterior e garantiu os tradicionais direitos civis e políticos.

Apesar das limitações, a partir de 1945 a participação do povo na

política cresceu significativamente, tanto pelo lado das eleições, como da ação

política organizada em partidos e em sindicatos. Até 1964, houve liberdade de

imprensa e de organização política. Apesar de tentativas de golpes militares,

tiveram eleições regulares para presidente da República, senadores,

deputados federais e estaduais, governadores, prefeitos e vereadores. Vários

partidos políticos foram organizados.

Vargas volta ao poder em 1950, eleito pelo voto popular, e seu

segundo governo foi o exemplo mais típico de populismo no Brasil. Com o seu

suicídio, quatro anos mais tarde, torna-se um herói popular por sua política

social e trabalhista.

Os sucessores de Vargas também exibiram como crédito as

conquistas trabalhistas e sociais. A relação populista era dinâmica. A cada

eleição os partidos populares eram fortalecidos e aumentava o grau de

independência e discernimento dos eleitores. Foi o primeiro período da história

brasileira em que houve partidos nacionais de massa, diferentes dos partidos

nacionais do Império concentrados em estados maiores, dos partidos

estaduais da Primeira República e dos movimentos nacionais não partidários

da década de 30. Foram criados partidos como o PSD, PTB e UDN. Outros

pequenos partidos foram crescendo e tornaram-se competitivos, grande parte

da população tinha preferência partidária, acreditava no sistema, aceitava-o

como instrumento de representação política.

2.3 Cidadania no Regime Militar

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O rápido aumento da participação política levou, em 1964, a uma

reação defensiva e a imposição de mais um regime ditatorial, em que os

direitos civis e políticos foram restringidos pela violência. Assim como em 1937,

foram enfatizados os direitos sociais, agora estendidos aos trabalhadores

rurais. Quanto aos direitos civis e políticos, o período que se iniciou em 1964

com o golpe, foi marcado por medidas de repressão que atingiram duramente

esses direitos. Os instrumentos legais da repressão, os Atos Institucionais,

cassaram os direitos políticos pelo período de 10 anos, de grande número de

líderes políticos, sindicais, de intelectuais, e até de militares. Funcionários

públicos, tanto civis, como militares, tiveram aposentadorias forçadas pelos

governos ditatoriais da época. O Ato Institucional nº 2, de outubro de 1965,

aboliu a eleição direta para presidente da República, dissolveu os partidos

políticos criados a partir de 1945 e estabeleceu um sistema de apenas dois

partidos. O direito de opinião foi restringido, e juízes militares passaram a julgar

civis em causas relativas à segurança nacional. O Ato Institucional nº 5 atingiu

radicalmente os direitos políticos e civis. O Congresso Nacional foi fechado,

passando o então presidente, general Costa e Silva, a governar

ditatorialmente. O habeas corpus foi suspenso para crimes contra a segurança

nacional e todos os atos decorrentes do AI-5 foram colocados fora da

apreciação judicial.

Em 1965 foi promulgada nova constituição que incorporava os atos

institucionais, e foi introduzida uma nova lei de segurança nacional que incluía

a pena de morte por fuzilamento. A pena de morte fora abolida após a

proclamação da República, e mesmo no Império já não era aplicada.

Em 1970 foi introduzida a censura prévia em jornais, livros e outros

meios de comunicação. Qualquer publicação ou programa de rádio e televisão

tinham que ser submetidos aos censores do governo antes de ser levado ao

público. O governo, com freqüência, mandava instruções sobre os assuntos

que não podiam ser comentados, e nomes de pessoas que não podiam ser

mencionados. A censura à imprensa eliminou a liberdade de opinião. Não

havia liberdade de reunião, os partidos eram regulados e controlados pelo

governo, os sindicatos estavam sob constante ameaça de intervenção. Era

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proibido fazer greves, o direito de defesa era cerceado pelas prisões

arbitrárias. A justiça militar julgava crimes civis, a inviolabilidade do lar e da

correspondência não existia. A integridade física era violada pela tortura nos

cárceres do governo. O próprio direito à vida era desrespeitado. Foram anos

de sobressalto e medo, em que os órgãos de informação e segurança agiam

sem nenhum controle.

As eleições diretas para governador foram suspensas a partir de 1966,

só voltando a se realizar em 1982. Para presidente da República, não houve

eleições diretas de 1960 a 1989. Foram quase trinta anos em que o povo foi

excluído de escolher o chefe do Executivo. As eleições para o Senado e

Câmara Federal, assembléias estaduais e câmara de vereadores foram

mantidas, embora com restrições. A propaganda política era censurada, os

candidatos mais radicais eram vetados, entretanto o eleitorado cresceu

durante os governos militares. Em 1960, a parcela da população que votava

era de 18%; em 1986, 47%, um crescimento de 161%. Isto significava que 53

milhões de brasileiros, mais do que a população total do país em 1950, foram

formalmente incorporados ao sistema político, durante os governos militares.

Porém, ao mesmo tempo em que o eleitorado crescia, outros direitos

políticos e civis eram negados aos brasileiros, o que esvaziava muito o sentido

do direito político de votar.

Quanto aos direitos sociais, houve uma expansão. Em 1966 foi criado

o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) e o Fundo de Garantia por

Tempo de Serviço (FGTS) e em 1971 o Fundo de Assistência Rural

(FUNRURAL) que efetivamente incluía os trabalhadores rurais na Previdência.

As empregadas domésticas e trabalhadores autônomos também foram

incorporados em 1972 e 1973, respectivamente.

Do ponto de vista dos direitos civis e políticos, os anos mais sombrios

da nossa história foi o período de 1968 a 1974, em que a repressão política foi

a mais violenta já ocorrida no país. Os estudantes foram às ruas em grandes

manifestações pela democracia, sendo morto um estudante, Edson Luis, em

uma dessas manifestações.

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Vários órgãos estudantis e sindicais foram alvos de repressão, as

greves aconteciam à margem da estrutura sindical, já que muitos sindicatos

sofreram intervenção e suas lideranças foram severamente atingidas.

Os direitos sociais no regime militar, assim como no Estado Novo,

foram ampliados, ao mesmo tempo em que os direitos políticos eram

restringidos. O oposto ocorreu no período democrático de 1945 a 1964, em

que os direitos políticos foram expandidos e os direitos sociais ficaram

paralisados ou avançaram lentamente. Pode-se dizer que o autoritarismo

brasileiro sempre procurou compensar a falta de liberdade política, com

paternalismo social.

Foram, porém, os direitos civis os mais atingidos durante os governos

militares. As prisões arbitrárias, liberdade de pensamento cerceada, tortura que

muitas vezes levava à morte, censura prévia à mídia e às manifestações

artísticas, representaram enorme retrocesso na conquista da cidadania. O

Poder Judiciário, em tese, o garantidor dos direitos civis sofreu diversas

humilhações. Ministros do Supremo Tribunal Federal foram aposentados e

tiveram os direitos políticos cassados.

2.4 O Povo nas Ruas

A partir da segunda metade dos anos 70, os movimentos sociais

urbanos tiveram uma enorme expansão, com destaque para os movimentos

dos favelados e das associações de moradores da classe média. Esses

movimentos reivindicavam asfaltamento de ruas, redes de água e esgoto,

energia elétrica, transporte público, segurança, serviços de saúde. Era o

despertar da consciência de direitos. Algumas organizações se destacaram

como pontos de resistência ao governo militar, entre elas OAB e CUT.

Uma grande mobilização de artistas e intelectuais também acontecia

no país a partir da década de 70. Um nome que simbolizava a resistência ao

regime era o de Chico Buarque de Holanda, cujas canções se tornaram

verdadeiros hinos de oposição ao governo militar.

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O auge da mobilização popular foi a campanha para eleições diretas

em 1984, as “diretas já”, que culminou com um comício de 500 mil pessoas no

Rio de Janeiro e outro em São Paulo que reuniu mais de 1 milhão. Os

comícios se transformaram em grandes festas cívicas, tudo feito com muita

ordem. O sentimento pelas cores verde e amarelo foi despertado. O hino

nacional foi revalorizado e reconquistado pelo povo. A mobilização política foi

de dimensões inéditas na história do país. Terminava assim o ciclo dos

governos militares.

Apesar do desapontamento com o fracasso da luta pelas diretas e da

frustração causada pela morte de Tancredo Neves, os brasileiros iniciavam o

que chamamos de “Nova República”. O sentimento que ficou foi o de

participação, de transformação nacional, da colaboração em criar um país

novo.

O movimento pelas diretas serviu de aprendizado para que o povo

mais adiante pudesse se mobilizar em favor do impedimento do presidente

Fernando Collor de Mello, que foi também outra importante e inédita iniciativa

cidadã.

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CAPÍTULO III

CONSTRUÇÃO INACABADA: CIDADANIA NA

DEMOCRACIA

... A fé é a certeza das coisas que

esperamos e a convicção dos fatos que não

vemos...

3.1 A Constituição Cidadã

Com o fim do regime militar e a redemocratização do país a partir de

1985, embalados pelo clima de entusiasmo das grandes demonstrações

cívicas em favor das eleições diretas, o Brasil inaugura a Nova República.

O otimismo prosseguiu na eleição de 1986 para formar a Assembléia

Nacional Constituinte, a 4ª da República. Durante um ano, a Constituinte fez

um trabalho de ampla consulta a especialistas e a vários setores organizados e

representativos da sociedade a fim de elaborar a nova constituição.

Em 1988 a constituição foi promulgada. O texto final era um minucioso

documento no qual a preocupação central foi a garantia dos direitos dos

cidadãos. O presidente da Constituinte, Ulysses Guimarães, declarou em seu

discurso que seria a “Constituição Cidadã”, pois recuperaria como cidadãos,

milhões de brasileiros, vítimas da pior das discriminações, a miséria. Foi a

constituição mais liberal e democrática que o país já teve.

Os direitos civis estabelecidos antes do regime militar, tais como

liberdades de expressão, de imprensa e de organização, foram recuperados

após 1985. Em 1989 houve a primeira eleição direta para presidente da

República desde 1960. Os direitos políticos foram ampliados de modo nunca

antes experimentados.

A Constituição de 1988 eliminou o grande obstáculo ainda existente à

universalidade do voto, tornando-o facultativo entre os 16 e 18 anos de idade e

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aos analfabetos. Ampliou as conquistas sociais dos trabalhadores, garantiu o

direito de greve, a liberdade sindical, a constituição foi generosa em tratar dos

direitos civis, políticos e sociais e em criar mecanismos para que eles estejam

ao nosso alcance. Sem dúvida, ela representou um enorme avanço em relação

à história de um país regado com sangue de escravos.

Nos anos seguintes à promulgação da constituição foi elaborada ampla

legislação liberal, como: novo Código Civil, o Código de Defesa do

Consumidor, o Estatuto da Criança e do Adolescente e o Estatuto do Idoso. Foi

também criado o Programa Nacional dos Direitos Humanos, os Juizados

Especiais de Pequenas Causas Cíveis e Criminais, apenas para citar alguns

exemplos.

3.2 O Povo vai às Ruas e às Urnas

Após a redemocratização do país, as velhas práticas políticas

começaram a retornar. Os governantes causavam decepção ao povo

brasileiro. O desencanto começou a crescer a partir do 3º ano do governo

Sarney, pois o povo percebeu que a democratização não resolveria os

problemas do cotidiano.

Em 1989 um candidato à eleição presidencial surge no cenário

brasileiro com um discurso que prometia por fim à corrupção. Fernando Collor

de Mello se apresentava como um salvador da pátria, um caçador de marajás,

uma esperança para os “descamisados”. Soube fazer uso da televisão e da

mídia em prol da sua candidatura. Era um candidato jovem, investia em uma

imagem de pessoa audaciosa, amante de esportes, e que, embora vinculado

às elites políticas mais tradicionais do país, prometia combater os políticos

tradicionais.

A estratégia do candidato deu resultado. No 1º turno das eleições,

derrotou políticos experimentados, como Ulysses Guimarães e Mário Covas,

líderes do PMDB e PSDB, respectivamente. No 2º turno saiu eleito presidente

após derrotar o candidato do PT, Luis Inácio Lula da Silva.

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Empolgado pela legitimidade do mandato popular, Fernando Collor,

logo no início do governo, adotou medidas ambiciosas para acabar com a

inflação, diminuir o número de funcionários públicos e vender empresas

estatais. Uma de suas iniciativas que mais impacto causou foi o confisco de

contas correntes, poupança e demais investimentos que excedessem o valor

de 50 mil cruzeiros.

Como não tinha apoio político no Congresso que lhe desse

sustentação no governo, e com uma personalidade arrogante e

megalomaníaca, as dificuldades para governar começaram a surgir para

Fernando Collor.

Os escândalos, como venda de favores, barganhas políticas, extorsões

de empresários para financiamento da campanha presidencial, levaram à

trajetória de queda do então presidente.

A população que, oito anos antes se mobilizara pelas “diretas já”, foi

novamente às ruas, dessa vez para pedir o impedimento do primeiro

presidente eleito pelo voto direto desde 1960. O Congresso, pressionado pelas

manifestações nas ruas, abriu o processo de impedimento do presidente da

República apenas dois anos e meio após sua posse.

O processo que afastou o presidente foi uma das vitórias mais

importantes na história do país. Com exceção do Panamá, o Brasil foi o único

país presidencialista das Américas, a levar até o fim um processo de

impedimento. Foi um avanço na prática democrática que deu aos cidadãos a

sensação, até então inédita, de que possuíam algum controle sobre os seus

governantes.

As duas eleições presidenciais que vieram depois ocorreram em clima

de normalidade, o que representou também avanço em relação à democracia.

Em 1994 foi eleito em 1º turno o sociólogo, Fernando Henrique

Cardoso sendo reeleito em 1998. Em seu discurso de posse, anunciou o fim da

“Era Vargas” no Brasil. Com isso, dava o recado de que o seu governo não

faria grandes investimentos nas indústrias de base (siderúrgica, petroquímica,

petrolífera) e nem interviria mais nas relações de trabalho. Em seu governo

foram aprovadas mudanças na Constituição Federal, possibilitando colocar à

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venda, várias empresas estatais, com discurso de que o dinheiro obtido com as

vendas seria usado para reduzir a dívida pública que é paga por todos os

cidadãos, por meio dos impostos. No Rio de Janeiro, em 1997, um protesto

contra a privatização da Companhia Vale do Rio Doce terminou em violência

por parte da polícia contra os manifestantes.

Durante o governo de Fernando Henrique, os índices de desemprego

se mantiveram elevados e houve queda do poder de compra dos salários,

aumentando a insatisfação popular com o governo. Partidos de oposição

também se posicionaram contra as mudanças constitucionais que

possibilitaram o processo de privatização. Nos meios sindicais, a oposição foi

liderada pela CUT, e entre os movimentos sindicais, o mais combatível foi o

MST, que através da estratégia de invadir fazendas, acabou fazendo o governo

aumentar o número de assentamentos rurais em todo o país.

Em 2002 foram realizadas as maiores eleições da história do Brasil.

Mais de 150 milhões de eleitores habilitaram-se a votar. Luiz Inácio Lula da

Silva, ex-líder operário, venceu a disputa para a presidência da República com

uma vitória das mais expressivas ocorridas num país democrático. Em 2006,

Lula foi reeleito.

No seu primeiro discurso de posse, o presidente anunciou como

prioridade de seu governo, o Programa Fome Zero que, entre outras coisas,

prometia: extensão do direito à Previdência Social a todos os trabalhadores do

campo e da cidade, intensificação da reforma agrária, doação de cestas

básicas emergenciais, ampliação da merenda escolar, criação de restaurantes

populares.

Outras propostas apresentadas no início do seu governo foram: fim do

analfabetismo de adultos em quatro anos, criação de empregos e geração de

renda por diversos meios, extinguir o trabalho infantil em quatro anos,

implantar internet nas escolas do Ensino Fundamental.

O mandato do presidente Lula chega ao final neste ano, e pesquisas

têm demonstrado que a sua popularidade alcança índices bastantes elevados.

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3.3 A Cidadania em Classes

José Murilo de Carvalho (2009) divide os cidadãos brasileiros, do ponto

de vista dos direitos civis, em classes. Os que estão na 1ª classe, são os

privilegiados, os “doutores” que estão acima da lei, que conseguem ver seus

interesses defendidos pelo prestígio social, pelo poder do dinheiro. Esses

doutores são invariavelmente brancos, ricos, com formação universitária.

Nessa categoria incluem-se os grandes empresários, banqueiros, grandes

proprietários rurais e urbanos, políticos, altos funcionários. Mantêm vínculos

importantes no governo, no Judiciário, não dependem de um Estado provedor

para ter acesso a direitos sociais. A lei, para eles, funciona em benefício

próprio.

Abaixo dos cidadãos de 1ª classe estão os “cidadãos simples” que

representam a maior parte dos cidadãos brasileiros e que em geral,

confundem-se com a classe média modesta. São os trabalhadores

assalariados com carteira de trabalho assinada, os pequenos funcionários, os

pequenos proprietários urbanos e rurais. Podem ser brancos, pardos ou

negros, e geralmente possuem educação fundamental completa e o 2º grau.

Possuem uma cidadania limitada, uma vez que possuem relativa consciência

acerca de seus direitos, mas nem sempre dispõem de meios para o seu

exercício. Para eles, existem os códigos Civil e Penal, mas aplicados de

maneira parcial.

Por último, há os cidadãos de 3ª classe, ou os “não cidadãos”. É a

grande população marginal das grandes cidades, trabalhadores urbanos e

rurais sem carteira assinada, empregadas domésticas, biscateiros, camelôs,

menores abandonados, mendigos. Quase sempre são pardos ou negros,

analfabetos, ou com educação fundamental incompleta. São indivíduos

completamente abandonados pelo Estado, e para quem a cidadania não passa

de um termo sem significado prático. É a parte da população excluída dos

serviços de educação e saúde pública, desamparados pelos sistemas de

segurança e justiça, e que muitas vezes recorrem à criminalidade como forma

de sobrevivência e inclusão social. Para eles vale apenas o Código Penal.

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3.4 Balanço da Cidadania no Século XXI

Mais de 20 anos de promulgação da “Constituição Cidadã” e ainda não

conseguimos transportar o texto constitucional para o cotidiano do povo

brasileiro. Os problemas históricos da nossa sociedade como o analfabetismo,

oferta precária de serviços de saúde, saneamento, assistência social, e os

problemas mais recentes de violência urbana, segurança pública ineficiente,

corrupção, estão longe de serem solucionados. A parcela da população que

pode contar com a proteção da lei é pequena, mesmo nos grandes centros.

Ainda há no país uma enorme distância entre o Brasil legal e o Brasil

real. Os direitos civis e políticos exigem que todos gozem da mesma liberdade,

mas são os direitos sociais que garantirão a redução das desigualdades de

origem, para que a falta de igualdade não acabe gerando, justamente a falta

de liberdade. Da mesma maneira, é verdadeira a afirmação de que a liberdade

propicia as condições para a reivindicação dos direitos sociais.

A cidadania democrática pressupõe a igualdade diante da lei, a

igualdade de participação política e a igualdade de condições sócio-

econômicas básicas pra garantir a dignidade humana. Esta última igualdade é

crucial, pois exige uma meta a ser alcançada, não só por meio de leis, mas

pela correta implementação de políticas públicas, de programas de ação do

Estado. Há necessidade também de organização popular para a legítima

pressão sobre os poderes públicos. A cidadania ativa deve ser exercida de

diversas maneiras: nas associações de base e movimentos sociais, em

processos decisórios na esfera pública como os conselhos, o orçamento

participativo, iniciativa legislativa e consultas populares.

É dos poderes públicos que devem ser cobradas as novas propostas

de cidadania social, como os programas de renda mínima, bolsa-escola, bolsa-

família, de política agrária, entre outros.

No Brasil, no entanto, tem-se uma cultura orientada mais para o

Estado do que para a representação. É o que José Murilo (2009) chama de

“estadania” em contraste com a cidadania. O Estado é sempre visto como

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todo-poderoso, na pior das hipóteses, como repressor e cobrador de impostos,

na melhor, como distribuidor paternalista de empregos e favores. Sob essa

ótica, a ação política acaba orientada para a negociação direta com o governo,

sem passar pela mediação da representação. Essa opção pelo Executivo

associada à curta experiência que temos de democracia e persistência de

problemas sociais, resulta numa impaciência do povo com o funcionamento

geralmente mais lento do mecanismo democrático de decisões. Necessitamos

de um tempo maior para que a democracia brasileira amadureça, e aumente a

probabilidade de se fazer os ajustes necessários nos mecanismos políticos

(CARVALHO, 2009).

Como diz Júlio Mosquéra (2006), a prática aprimora o desempenho. A

constante participação no processo de decisões coletivas transforma o

indivíduo em cidadão.

Experiências recentes têm mostrado otimismo em relação à

colaboração entre a sociedade e o Estado. As organizações se multiplicaram a

partir dos anos finais da ditadura, substituindo, aos poucos, os movimentos

sociais urbanos. Com origem na sociedade, as organizações não

governamentais desenvolvem atividades de interesse público e isso tem

resultado em experiências inovadoras no encaminhamento e na solução de

problemas sociais, principalmente nas áreas de educação e direitos civis.

Conforme afirma Carvalho (2009), essa aproximação não tem o vício da

“estadania” e as limitações do corporativismo estatal porque democratiza o

Estado.

Outro tipo de aproximação entre sociedade e Estado é o que se dá

com as associações de moradores. Muitas prefeituras experimentam isso

como formas de alternativas de envolvimento da população na formulação e

execução de políticas públicas, sobretudo no que tange ao orçamento e obras

públicas. Com esse tipo de aproximação foge-se do paternalismo e do

clientelismo porque mobiliza o cidadão.

Cabe destaque também a participação da sociedade em questões

levadas ao Judiciário e que são de interesse coletivo. Recentemente o então

presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Gilmar Mendes, convocou

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representantes de setores de sociedade civil para participar de audiências

públicas a fim de discutir problemas relativos à crise na saúde pública.

Resta a pergunta: há de fato o que comemorar? Sim há motivos para

celebrar. Obtivemos, sim, conquistas na evolução da cidadania neste século. O

Brasil tem hoje, 98% das crianças nas escolas, índice similar ao de países

desenvolvidos, apesar de ainda figurar no ranking entre os piores do mundo

quando o assunto é qualidade da educação. Dados do IBGE informam que a

taxa de analfabetismo da população entre 10 a 14 anos, que em 1997 era de

8,7%, caiu para 3% em 2007 (IBGE, 2010).

A situação do idoso no país também mudou nos últimos 20 anos. O

Brasil possui hoje a maior cobertura previdenciária da América Latina em

relação aos que têm mais de 60 anos. Cerca de 70% das pessoas acima

dessa idade recebem algum tipo de transferência do governo, acima de 80

anos, 90% recebem algum benefício, sendo o Brasil, juntamente com a África

do Sul, o país com maiores programas de transferência para idosos no

hemisfério sul (O Globo, 2010).

Nosso sistema eletrônico utilizado nas eleições, considerado como

modelo nas principais democracias do mundo, possibilita mais celeridade nas

apurações, além de dificultar fraudes. Ponto para a cidadania política.

Pela primeira vez desde 1988, numa demonstração eloqüente da

consolidação dos valores democráticos no Brasil, a população mobilizou-se

para forçar seus representantes a tomar uma atitude contra a corrupção

endêmica do país. A campanha da “Ficha Limpa”, que levou à aprovação da lei

de iniciativa popular, que impede a candidatura de políticos condenados em

instâncias colegiadas da Justiça, é o primeiro passo num caminho que a

depender da sociedade civil, levará à tão necessária e urgente reforma do

sistema político brasileiro. Iniciada em 2003, organizada pelo Movimento de

Combate à Corrupção Eleitoral, reuniu mais de 1 milhão de assinaturas

favoráveis à proposta de lei, sendo aprovada pelo Senado em maio de 2010 e

sancionada pelo presidente Lula em 4 de junho de 2010.

Contudo, não podemos ignorar os desafios que ainda temos. Não há

saudosismo em relação à ditadura militar, porém a crença de que a

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democracia política resolveria com rapidez os problemas da pobreza e da

desigualdade, foi perdida. Muitos direitos civis, fundamentais na conquista de

outros direitos, continuam inacessíveis à grande massa da população.

Recentemente, o Jornal O Globo (2010) publicou uma reportagem sob

o título “Quando a Dor Tem de Aguardar”. O texto dizia que nas sete maiores

capitais do país, 170 mil pessoas aguardam na fila do SUS por cirurgias

eletivas (aquelas que podem ser agendadas, por não implicarem risco imediato

à vida). A pesquisa foi feita nas secretarias municipais e estaduais de saúde

que admitem que os dados estejam subestimados, já que na maioria dos

estados e capitais, gestores responsáveis pela administração da fila têm dados

parciais sobre a demanda reprimida, ou nem sequer os possuem. A espera

pode chegar a cinco anos e muitos acabam recorrendo à Justiça para garantir

o direito de ser operado.

A falta de garantia dos direitos civis se verifica também em relação à

segurança individual, à integridade física, ao acesso à Justiça. O rápido

crescimento das cidades transformou o Brasil em país predominantemente

urbano, em poucos anos. Em 2000, 81% da população já era urbana. Junto

com a urbanização, surgiram as grandes metrópoles que combinava

desemprego, trabalho informal e tráfico de drogas, proliferando a violência.

Roubos, assaltos, bala perdida, seqüestros, assassinatos, massacres,

passaram a fazer pare do cotidiano das grandes cidades brasileiras, trazendo a

sensação de insegurança à população, sobretudo nas favelas e bairros pobres.

Os índices de homicídio são alarmantes, na América Latina, o Brasil só perde

para a Colômbia.

Os exemplos citados são apenas alguns, dentre tantos, que nos

trazem a sensação de que a nossa cidadania ainda está incompleta. Ao

olharmos para o passado, verificamos que tivemos inegáveis progressos, mas

ainda há um longo caminho a percorrer. Nesses 10 anos de século XXI, ainda

vivenciamos situações análogas às da escravidão em alguns recantos do país.

Inspeção feita em 2007, em uma fazenda do Pará, constatou que mais de mil

trabalhadores viviam em alojamentos superlotados, com esgotos a céu aberto,

água de beber da cor de caldo de feijão, conforme relatório do Ministério do

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Trabalho. Em outra fazenda no Mato Grosso do Sul, trabalhadores que lidavam

com agrotóxicos, comiam depois, sob o sol, sem ter ao menos água para

retirar o produto das mãos. (O Globo, 2010).

Os desafios vão mais além. Hoje, no mundo, já se fala dos direitos

chamados de direitos da 4ª geração, que consiste no direito à

autodeterminação, direito ao patrimônio comum da humanidade, direito a um

ambiente saudável e sustentável, direito à paz e ao desenvolvimento. Essas

são tendências que consideram os cidadãos não mais apenas nacionais, mas

sim, cidadãos participantes de um regime político–global que devem ser

solidários nas mesmas preocupações e objetivos. Mas, para a conquista

desses direitos, como cidadãos de um mundo globalizado, precisamos

derrubar nossas barreiras para a implantação de uma cidadania segura,

consistente e duradoura estendida a todos os cidadãos brasileiros.

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37

CONCLUSÃO

Este trabalho monográfico, através de uma retrospectiva histórica da

evolução da cidadania no Brasil, mostrou que houve momentos de avanço dos

direitos que compõem a cidadania, assim como períodos marcados pelo

retrocesso.

A manutenção da escravidão durante, praticamente, todo o Império,

representou o principal obstáculo para o exercício dos direitos civis, base para

conquista de outros direitos.

Com a chegada da República, o povo não tinha ainda participação

ativa na política nacional. O regime republicano não representou mudanças

sociais e políticas significativas. Até 1930, o povo não tinha lugar no sistema

político, seja no Império, seja na República, consequentemente não havia lugar

para a introdução dos direitos sociais. Por isso, alguns autores consideram a

queda da Primeira República (1930), um avanço em relação a sua

proclamação (1889). Avanço esse, em direção aos direitos sociais, e não

necessariamente aos direitos civis e políticos.

Com a chegada de Vargas ao poder em 1930, o país viveu um período

de supressão dos direitos políticos e redução dos direitos civis. A falta de

liberdade política, pelo autoritarismo no Brasil nos anos pós-30, foi

compensada pelo paternalismo social. O período de 1930 a 1945 foi também

caracterizado por práticas que pretenderam limitar o exercício da cidadania no

país.

Após a derrubada de Vargas, em 1945, o Brasil passou por momentos

de certa estabilidade para os direitos civis e políticos, até 1964. A partir de

então, os governos militares que se sucederam no poder foram responsáveis

pela restrição dos direitos civis e políticos, sendo o período de 1968 a 1974, os

anos mais sombrios da nossa história, marcados por violenta repressão

política.

Em 1985, depois da queda do regime militar, os direitos civis

estabelecidos antes do regime, tais como, liberdade de expressão, de

imprensa e de organização, foram recuperados e a Constituição de 1988

expandiu os direitos do cidadão.

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Podemos dizer que ainda estamos no início do nosso processo de

democratização. Temos um longo caminho a percorrer na consolidação da

cidadania. Outros países ocidentais já têm esse processo mais amadurecido, e

ainda assim, apresentam muitas demandas na questão dos direitos dos seus

cidadãos, principalmente no que diz respeito aos direitos sociais. A idéia

desses direitos é uma invenção do século XX, consagrada pela Declaração

Universal dos Direitos do Homem (1948) que se somou aos direitos civis e

políticos que se originaram com a Revolução Francesa (século XIX) e que são

o pilar dos sistemas políticos democráticos.

Conforme afirma Pinsky (2003), sonhar com cidadania plena em uma

sociedade em que o acesso aos bens e serviços ainda é restrito, seria utópico.

A garantia de direitos civis e políticos no Brasil não representaram a solução

para muitos problemas que o país ainda tem.

Ainda há muito a ser feito, porém temos condições únicas na história

brasileira, de propor discussões e mobilizar forças para tentar transformar

situações de injustiça e desigualdade, que tanto prejudicam o exercício da

cidadania.

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ANEXO

Cidadania e o Voto nas Constituições

Constituição de 1824

Podiam votar:

• Homens livres maiores de 25 anos com renda anual superior a 100 mil réis

• Homens livres maiores de 21 anos com renda anual superior a 100 mil-réis,

desde que casados, oficiais militares, bacharéis formados e clérigos de

ordens sacras.

Obs: Os analfabetos que cumprissem as exigências acima tinham direito ao voto

Constituição de 1891

Podiam votar:

• Homens maiores de 21 anos

Não incluídos: mendigos, analfabetos, religiosos que renunciavam à liberdade

individual por voto de obediência à Igreja, militares de baixa patentes.

Constituição de 1934

Podiam votar:

• Homens e mulheres maiores de 18 anos

Não incluídos: mendigos, analfabetos, militares de baixa patente

Obs: 1. O voto passa a ser secreto. 2. O voto passa a ser obrigatório. Para as

mulheres que não trabalhassem no serviço público o voto era facultativo. 3. A

Constituição de 1934 adotou a regras do Código Eleitoral de 1932.

Constituição de 1937

Podiam votar:

• Homens e mulheres maiores de 18 anos

Não incluídos: mendigos, analfabetos, militares em serviço ativo

Obs: 1. O voto não era obrigatório. 2. Durante a ditadura Vargas (1937-

1945), o brasileiro praticamente não exerceu o direito ao voto.

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Constituição de 1946

Podiam votar:

• Homens e mulheres maiores de 18 anos

Não incluídos: analfabetos, estrangeiros naturalizados que não falassem o

português, militares de baixa patente.

Obs: O voto era secreto e obrigatório.

Constituição de 1967

Podiam votar:

• Homens e mulheres, maiores de 18 anos

Não incluídos: analfabetos, estrangeiros naturalizados que não falassem o

português, militares de baixa patente

Obs: O voto era secreto e obrigatório.

Constituição de 1988

Podem votar:

• Homens e mulheres maiores de 16 anos.

Não incluídos: conscritos (alistados para o serviço militar)

Obs: 1. Voto obrigatório para os maiores de 18 anos e facultativo para

menores entre 16 e 18 anos e maiores de 70 anos. 2. Voto secreto.

Em toda a história eleitoral brasileira, os presos foram proibidos de votar.

Fonte: MOSQUÉRA, Júlio. E eu com isso? p.114-115

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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no Brasil: O Longo Caminho. Rio de

Janeiro: Ed. Civilização Brasileira, 2009.

________________. Cidadania: Tipos e Percursos. Rio de Janeiro: Estudos

Históricos, nº 18, 1996.

JÚNIOR, Alfredo Boulos. Sociedade & Cidadania. São Paulo: Ed. FTD, 2004.

MOSQUÉRA, Júlio. E Eu com Isso? São Paulo: Ed. Globo, 2006.

VICENTINO, Cláudio; DORIGO, Gianpaolo. História Geral e do Brasil. São

Paulo: Ed. Scipione, 2002.

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BIBLIOGRAFIA CITADA

1 - CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no Brasil: O Longo Caminho. Rio

de Janeiro: Ed. Civilização Brasileira, 2009.

2 - CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no Brasil: O Longo Caminho. Rio

de Janeiro: Ed. Civilização Brasileira, 2009.

3 - CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no Brasil: O Longo Caminho. Rio

de Janeiro: Ed. Civilização Brasileira, 2009.

4 - MOSQUÉRA, Júlio. E Eu com Isso? São Paulo: Ed. Globo, 2006.

5 - CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no Brasil: O Longo Caminho. Rio

de Janeiro: Ed. Civilização Brasileira, 2009.

6 - IBGE. Séries Estatísticas e Séries Históricas. Disponível em:

http://wwwibge.gov.br/series_estatísticas/exibedados. Acesso em: 13/07/10.

7 – ALMEIDA, Cássia; RODRIGUES, Jorge Luiz. Retrato dos brasileiros mais

velhos. Jornal O Globo, p.31, ed: 11/04/10.

8 – FABRINI, Fábio; ALENCASTRO, Catarina. Quando a dor tem de aguardar.

Jornal O Globo, p. 3, ed: 23/05/10.

9 – LEITÃO, Miriam. Contra os fatos. Jornal O Globo, p. 40, ed: 02/05/10.

10 – PINSK, Jaime e Carla. História da Cidadania. São Paulo, 2003: Ed.

Contexto. http://www.espacoacademico.com.br/023/23res_pinsky. Acesso:

22/07/10

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

Nosso Começo: Cidadania no Império 10

1.1 – Significados e Dimensões da Cidadania 10

1.2 – O Peso do Passado 11

1.3 – Direitos Políticos na Dianteira 13

1.4 – Exercitando a Cidadania 14

1.5 – O Despertar do Patriotismo 15

1.6 – Principais Movimentos Populares 16

CAPÍTULO II

Avanços e Retrocesso: Cidadania na República 18

2.1 – Revoltas Populares 18

2.2 – Cidadania no Estado Novo 20

2.3 – Cidadania no Regime Militar 22

2.4 – O Povo na Rua 25

CAPÍTULO III

Construção Inacabada: Cidadania na Democracia 27

3.1 - A Constituição Cidadã 27

3.2 – O Povo vai às Ruas e às Urnas 28

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3.3 – A Cidadania em Classes 31

3.4 – Balanço da Cidadania no Século XXI 32

CONCLUSÃO 37

ANEXO 39

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 41

BIBLIOGRAFIA CITADA 42

ÍNDICE 43

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição:

Título da Monografia:

Autor:

Data da entrega:

Avaliado por: Conceito: