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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE FACULDADE DE FARMÁCIA AMANDA CAPELLÃO RIBEIRO POTENCIAL DA TABERNANTHE IBOGA NO TRATAMENTO DE DEPENDÊNCIA AO CRACK RIO DE JANEIRO 2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

FACULDADE DE FARMÁCIA

AMANDA CAPELLÃO RIBEIRO

POTENCIAL DA TABERNANTHE IBOGA NO TRATAMENTO DE DEPENDÊNCIA

AO CRACK

RIO DE JANEIRO

2016

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Amanda Capellão Ribeiro

Potencial da Tabernanthe iboga no tratamento de dependência ao crack

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à

Faculdade de Farmácia da Universidade Federal do Rio

de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à

obtenção do grau de bacharel em Farmácia.

Orientadora

Profª. Dra. Virgínia Martins Carvalho

Rio de Janeiro

2016

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DEDICATÓRIA

Dedico esse trabalho a minha família que está

sempre ao meu lado, principalmente à minha

mãe Sonia Regina de Freitas Capellão, e ao

meu pai, Roberto Alves Ribeiro, por tudo que

sempre fizeram e fazem por mim e por todo

apoio, carinho e esforço prestado ao longo de

toda minha formação.

Ao meu tio Sylvio José de Freitas Capellão (in

memorian) que me mostrou que é possível

manter o carisma e sorrir mesmo diante das

adversidades da vida.

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AGRADECIMENTOS

À minha família que foi essencial para que eu pudesse cumprir mais essa etapa na

vida. Aos meus avós, os quais eu não tenho palavras para descrever o quanto sou feliz e grata

por ainda ter os quatro ao meu lado e por todo cuidado e mimo que sempre tiveram por mim.

À minha mãe, minha melhor amiga, que sempre me apoiou ao longo de toda vida, minha

maior inspiração e força durante esses anos de graduação, ao meu pai por sempre acreditar e

confiar na minha capacidade e nunca me deixar desistir dos meus sonhos, ao meu padrasto e

minha madrasta que junto com os meus pais caminharam ao meu lado durante todo esse

processo de formação. Aos meus irmãos, os de sangue, os de coração e os emprestados, que

sempre me fortalecem por meio do amor e companheirismo, e aos meus sobrinhos que me

fazem querer sempre evoluir buscando ser um exemplo na vida deles. A família é grande, não

da para citar cada um, mas agradeço também aos meus tios e tias, meus primos e primas,

cunhadas, madrinha e padrinho, que sempre estiveram ao meu lado torcendo pelo meu

sucesso.

Ao meu namorado, Fabio, que participou de grande parte do processo da minha

formação, e me aguentou ao longo da realização deste trabalho, sendo compreensivo e me

incentivando em momentos de cansaço. Seu amor e carinho foram e são essenciais para

construção e dedicação a esta carreira que escolhi.

À minha orientadora Profª. Dra. Virgínia, pela dedicação e paciência prestada ao longo

da execução deste trabalho, ensinando não apenas sobre o tema, mas também sobre o

desenvolvimento e construção de um trabalho acadêmico. E por aceitar me orientar e acreditar

na minha capacidade, conseguindo despertar em mim um interesse ainda maior na área de

toxicologia.

À banca, Profª. Dra. Ana Cláudia e Profª. Dra. Aloa e aos membros suplentes, Prof.

Dr. André e Prof. Dr. Reginaldo, por aceitarem avaliar meu trabalho e se disponibilizarem a

contribuir positivamente para sua finalização.

Às amizades que cresceram na UFRJ, Adalgisa, Andressa, Izobel, Jéssica, Priscila,

Renata e Thalita, sem as quais não teria sido possível suportar prazos e pressões, que em

muitos momentos aliviaram meu estresse com boas risadas e que foram companheiras, em

dias e noites de estudo, em busca de um mesmo objetivo.

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"Para se ter sucesso, é necessário amar de

verdade o que se faz. Caso contrário, levando

em conta apenas o lado racional, você

simplesmente desiste. É o que acontece com a

maioria das pessoas." (Steve Job)

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RESUMO

RIBEIRO, A. C. Potencial da Tabernanthe iboga no tratamento de dependência ao crack.

2016. 77p. Rio de Janeiro. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Farmácia) –

Faculdade de Farmácia, Universidade Federal do Rio de Janeiro.

O consumo de cocaína fumada aumentou expressivamente nas últimas décadas, em

recente levantamento realizado pela Fundação Oswaldo Cruz estimou-se que 370 mil

brasileiros fizeram uso de crack em 2012 nas capitais. Esta droga de alta nocividade e alto

potencial de dependência está normalmente associada com a marginalização de seus

consumidores e condições de vida degradante. Os efeitos relacionados à abstinência estão

associados ao forte desejo de consumir a droga (fissura) resultando em altas taxas de

abandono do tratamento que se baseia na psicoterapia aliada a um extenso arsenal

farmacoterapêutico (fármacos anticonvulsivantes, agentes aversivos, antidepressivos,

estabilizadores de humor, antipsicóticos e beta bloqueadores). Alternativamente têm sido

adotadas abordagens farmacológicas relacionadas ao uso de plantas alucinógenas, como

iboga, ayahuasca e cannabis. Dentre as plantas citadas vem crescendo o uso de iboga em

clínicas especializadas no tratamento de adicções sem haver, no entanto, respaldo sanitário

regulatório em relação a sua eficácia e segurança. Diante do exposto, o objetivo deste trabalho

foi levantar as evidências farmacológicas e toxicológicas da ibogaína, principal alcalóide

presente na planta, através de revisão de literatura e avaliar a relação risco benefício desta

terapia em pacientes dependentes de crack. Os resultados mostram que a ibogaína apresenta

evidências de eficácia farmacológica no tratamento da dependência de diferentes drogas de

abuso demonstrada em relatos de casos e estudos em modelo animal sendo sugerida atuação

em vários sistemas neurotransmissores, se destacando o serotoninérgico e o dopaminérgico.

Em relação à toxicidade aguda, a ibogaína apresenta menor risco do que o crack, e, embora as

evidências clínicas indiquem relativa segurança com poucos casos de morbiletalidade não há

dados de ensaios clínicos controlados. No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária

(ANVISA) não permite o comércio e a importação da ibogaína para fins terapêuticos devido à

falta de avaliação e registro do produto, porém o tratamento já vem sendo realizado de forma

ilegal o que justificaria a realização de ensaios clínicos em nosso país.

Palavras-chave: Adicção. Cocaína. Crack. Dependência. Iboga. Ibogaina. Tabernanthe

iboga. Tratamento.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1: Mapa geográfico com destaque da região onde a Tabernanthe iboga é

principalmente encontrada ........................................................................................................ 20

Figura 2: Imagem ilustrativa da Tabernanthe iboga ............................................................... 21

Figura 3: Estrutura química da ibogaína ................................................................................. 22

Figura 4: Aprovação do FDA do uso de ibogaina para testes em humanos ............................ 26

Figura 5: Cápsulas de Cloridrato de ibogaína ......................................................................... 27

Figura 6: Formas como a iboga é encontrada para fins terapêuticos ...................................... 28

Figura 7: Ação da cocaína no cérebro. .................................................................................... 43

Figura 8: Farmacocinética da ibogaína e seu metabólito, noribogaína, durante as primeiras 24

horas após administração de ibogaína por via oral em espécie humana .................................. 49

Figura 9: Comunicado do CONED no Diario Oficial do Estado de São Paulo ...................... 57

Figura 10: Contato por e-mail com uma clínica de reabilitação que oferece o tratamento para

dependência química com o uso de ibogaína no Brasil ............................................................ 59

Figura 11: Legislação da ibogaína nos EUA ........................................................................... 60

Figura 12: Legislação da raiz da Tabernanthe iboga na Argentina ........................................ 61

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Propriedades e identificação internacional da ibogaína.............................21

Quadro 2: Evidências experimentais da ibogaína em estudos de adiccção.................31

Quadro 3: Resultados experimentais sobre os efeitos da ibogaína em estudos de

dependência e toxicidade..............................................................................................34

Quadro 4: Evidências clínicas da ibogaína no tratamento de adicções.......................36

Quadro 5: Concentração da DA e seus metabólitos DOPAC e HVA no núcleo caudal

de ratos tratados com solução salina, cocaína, com ou sem um pré-tratamento com

ibogaína, e apenas ibogaína a curto prazo ....................................................................46

Quadro 6: Valores determinados da DL 50 da ibogaína.............................................49

Quadro 7: Comparação dos valores de DL50 estimados para ibogaína e

cocaína..........................................................................................................................53

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ANMAT Administração Nacional de Medicamentos, Alimentos e

Tecnologia Médica.

ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária

ATV Área tegmentar ventral

COC Cocaína

COFID Coordenação de Fitoterápicos, Dinamizados e Notificados.

CPF Córtex pré frontal

DA Dopamina

DL 50 Dose letal 50 %

DOPAC 3,4- Dihidroxifenilacético

EM Entrevista motivacional

EMA Metilanidroecgonina

EMEA Agência Europeia de Medicamento

EUA Estados Unidos da América

FDA Food and Drug Administration

GNDF Fator neurotrófico derivado das células da glia

HVA Ácido homovanilico

ICV Intracerebroventricular

IG Intragástrica

IN Intranasal

INVIMA Instituto Nacional de Vigilância de Medicamentos e Alimentos.

IP Intraperitonial

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IV Intravenoso

MAPS Multidisciplinary Association for Psychedelic Studies

MHRA Agência Reguladora de Medicamentos e Produtos da Saúde

NAcc Núcleo accumbens

NIH United States National Library of Medicine

NMDA N-metil D-aspartato

NOAEL Nível de efeito adverso não observado

PR Prevenção de recaída

SB Subcutânea

SNC Sistema nervosa central

TCC Terapia cognitiva comportamental

TdP Torsades de Pointes

TOXNET Toxicology Data Network

VA Via de administração

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 13

2. OBJETIVOS ....................................................................................................................... 18

2.1. Objetivo geral ........................................................................................................ 18

2.2. Objetivos específicos ............................................................................................. 18

3. MATERIAL E MÉTODO ................................................................................................. 19

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ....................................................................................... 20

4.1 A Tabernanthe iboga: propriedades, uso cultural e médico ................................... 20

4.2 Evidências experimentais ....................................................................................... 28

4.3 Evidências clínicas do uso da ibogaína no tratamento de adicções ........................ 36

4.4 O potencial terapêutico da ibogaína no tratamento da dependência ao crack e

avaliação do risco toxicológico .................................................................................... 42

4.5 Regulamentação e o uso da ibogaína no Brasil ...................................................... 55

5. CONCLUSÕES ................................................................................................................... 63

6. REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 64

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1. INTRODUÇÃO

O abuso de substâncias psicoativas representa um problema de saúde pública na

maioria dos países do mundo, estando muitas vezes associado com comportamentos violentos

que podem resultar em implicações jurídicas, como acidentes de trânsito e violência familiar,

principalmente entre indivíduos com complicações médicas e psiquiátricas, elevando

drasticamente os índices de mortalidade (CHALUB, TELLES, 2006; KOLLING et al., 2007;

NASSIF, 2004; SCHEFFER, PASA, ALMEIDA, 2010). No Brasil dentre as drogas que

causam dependência, a cocaína e o crack registram as maiores taxas de abandono do

tratamento (XAVIER, MONTEIRO, 2010) sendo mister o estudo deste tipo de dependência

para que as ações empreendidas sejam eficazes.

O crack é a cocaína (COC) na forma de base livre que devido ao baixo ponto de fusão

pode ser fumada, quando surgiu nos Estados Unidos da América (EUA), o crack era

preparado a partir do cloridrato de cocaína que ao ser misturado com um agente alcalinizante

como o NaOH e submetido ao aquecimento resulta na base livre de cocaína e seu sal

correspondente, neste caso o NaCl, que ao ser aquecido no ato de fumar produz o som

característico que originou o nome à droga, sendo, desta forma, a denominação crack um

termo onomatopeico que deriva do som emitido pelo aquecimento do sal (CARVALHO,

2006). O crack se apresenta em forma de pequenas pedras, é insolúvel em água e consumido

na forma fumada em cachimbo, tubo de PVC ou em latas (NETTO, 2013). Atualmente no

Brasil a cocaína fumada, embora seja conhecida como crack e menos frequentemente merla e

oxy, apresenta características da pasta de coca que é o produto obtido a partir da primeira

extração das folhas apresentando vários compostos derivados de petróleo e outros

adulterantes que a torna potencialmente mais tóxica que os sais de cocaína (SILVA et al.,

2012; FUKUSHIMA et al., 2014). Seja qual for sua composição ou forma de obtenção, no

Brasil se convencionou em todos os meios (acadêmico, serviços de saúde, veículos de

comunicação, etc.) utilizar a palavra crack para cocaína fumada.

A forma de uso fumada com absorção via pulmonar faz com que o usuário sinta os

efeitos psicoativos como a sensação de intenso prazer em menos de 10 segundos

(PULCHERIO et al., 2010) tais efeitos associados ao baixo preço que o crack é produzido e

vendido tornou essa droga muito popular (ANDRADE, ESPINHEIRA, 2008; PEREIRA,

WURFEL, 2011).

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O perfil mais recorrente entre os usuários de crack corresponde ao de indivíduos

adultos jovens do sexo masculino, com baixa escolaridade, desempregados, provenientes de

famílias desestruturadas e de baixa ou nenhuma renda que, em comparação aos usuários de

cocaína intranasal, possuem um padrão mais grave de consumo, com maior envolvimento em

atividades ilegais e prostituição (mais comum entre as mulheres), maior risco dos efeitos

adversos da substância e maior chance de morar ou ter morado na rua (OLIVEIRA, NAPPO,

2008; RIBEIRO, LARANJEIRAS, 2010). Por outro lado é provável que este perfil esteja

mudando, pois um estudo regional mostrou que os usuários de crack atendidos no CAPS da

Região Metropolitana de Porto Alegre apresentavam em sua maioria escolaridade

fundamental ou média, todos possuíam renda fixa e nenhum estava vivendo em condições de

rua (HORTA et al., 2011), embora esse achado possa ser atribuído às condições

socioeconômicas peculiares da capital gaúcha.

O consumo mundial de cocaína foi estimado em 17 milhões de pessoas representando

0,37% da população mundial entre 15 e 64 anos em 2013 (UNODC, 2015) e a posição

geográfica do Brasil que possui fronteiras com a Colômbia, o Peru e a Bolívia, principais

produtores de cocaína, torna-o vulnerável à entrada de grandes quantidades de pasta de coca

(crack) sendo não somente um território de trânsito, mas de destino (FUKUSHIMA et al.,

2014) facilitando o consumo e o desenvolvimento de transtornos psiquiátricos.

A dificuldade nas intervenções de saúde e tratamento terapêutico da adicção ao crack

se atribui em grande parte à alta complexidade da dependência que é classificada como um

distúrbio psiquiátrico pela Classificação Internacional de Doenças (CID) e pelo Manual

Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM) que tem origem multifatorial e

diagnosticada por sinais e sintomas clínicos (OMS, 2007). A etiologia multifatorial envolve o

meio social, as características individuais e as propriedades da droga como potencial de

reforço e composição, neste caso é importante considerar que o caráter ilícito das drogas

contribui para a presença de inúmeras substâncias usadas como adulterantes ou resíduos de

produção que atuam em conjunto com o fármaco principal.

A rede de cuidados para o usuário de drogas é composta por diversos serviços que

oferecem diferentes abordagens de tratamento. Na saúde compreende desde serviços da

atenção básica, que podem articular ações específicas para o público usuário de drogas, como

os Consultórios de Rua e equipamentos especializados para o atendimento desse público,

como os Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS-AD) 24 horas, leitos

hospitalares e unidades de acolhimento (OBID, 2013).

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O tratamento do dependente de crack se baseia em estratégias psicoterapêuticas,

farmacoterapêuticas e na reinserção social. Os modelos psicoterapêuticos tradicionais

empregados no tratamento da dependência química são a Terapia Cognitiva Comportamental

(TCC) com foco na mudança do padrão comportamental associado aos pensamentos e crenças

do indivíduo, a Entrevista Motivacional (EM) que objetiva motivar o indivíduo para o

processo de mudança e a Prevenção de Recaída (PR) que está focada na identificação de

armadilhas (mentais ou situacionais) que estimulam a recaída e, assim evitá-la (KOLLING,

PETRI, MELLO, 2011).

Em relação ao tratamento farmacoterapêutico, embora não existam medicamentos

aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e nem mesmo pela Food

and Drug Administration (FDA) dos EUA para tratamento específico da dependência de

COC/crack, as diretrizes de atenção médica integral ao dependente adotam como estratégia os

fármacos anticonvulsivantes (carbamazepina, topiramato, gabapentina, lamotrigina, valproato

de sódio), antidepressivos (tricíclicos, inibidores seletivos da recaptação da serotonina,

noradrenalina e duais), estabilizadores de humor (lítio), antipsicóticos (haloperidol,

risperidona, olanzapina) e beta bloqueadores (propanolol). Ainda o tratamento da síndrome de

abstinência é baseado no manejo sintomático, e no caso de inquietação aguda com ansiedade

é recomendada a administração de ansiolíticos (diazepam 5 a 40 mg/dia) e em quadros

psicóticos ou agitação psicomotora e/ou agressividade violenta se indica antipsicóticos de alta

frequência como haloperidol (5mg intramuscular de 12/12 ou de 8/8 horas) podendo ser

associado a benzodiazepínicos de ação sedativa como o midazolam (15 mg, intramuscular)

(CFM, 2011).

Novas alternativas farmacológicas estão sendo estudadas no tratamento de

dependência de COC/crack. Dentre elas encontra-se o dissulfiram, um fármaco usado no

tratamento do alcoolismo, que parece reduzir o consumo de COC/crack ao inibir a enzima

aldeído desidrogenase 2 impedindo de forma dose-dependente o aumento dos níveis de

dopamina, induzido pela inibição da recaptação da mesma pelo uso da droga, sem alterar seus

níveis basais (YAO et al., 2010). Outra estratégia inovadora para esse tratamento é o

desenvolvimento de anticorpos ou imunoterapias, que possam impedir a entrada da cocaína

no cérebro, já existindo inclusive um estudo no Brasil realizado na Universidade Federal de

Minas Gerais para o desenvolvimento de uma nova vacina capaz de tratar a dependência, a

pesquisa encontra-se ainda em fase de testes em modelo animal, apresentando até então

resultados confirmatórios, dando início à etapa de verificação da biossegurança nesse modelo

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para posteriormente começarem os testes clínicos em humanos (Disponível em

http://g1.globo.com/bemestar/noticia/2016/09/cientistas-brasileiros-desenvolvem-vacina-

contra-vicio-em-cocaina.html). Nos EUA, a molécula utilizada no estudo da vacina é

diferente da estudada aqui no Brasil e já se encontra em fases mais avançadas do estudo,

tendo sido testada e aprovada em modelo animal, estando atualmente em fase de testes

clínicos em humanos (MARTELL et al., 2009; HANEY et al., 2010; KOSTEN et al., 2014).

Segundo a Organização Mundial de Saúde (2007) também já foi alvo do estudo para o

tratamento de COC/crack uma substância denominada vanoxerina ou GBR 12909 que se liga

ao transportador de dopamina inibindo de forma seletiva sua recaptação e que já demonstrou,

em modelo animal, antagonizar os efeitos da cocaína nos neurônios dopaminérgicos

mesolímbicos (BAUMANN et al., 1994) e bloquear sua auto-administração (ROTHMAN,

GLOWA, 1995). Entre 2005 e 2008 essa substância foi alvo de estudos clínicos (fase 1) para

o tratamento de dependentes de COC/crack (CLINICALTRIALS, 2008), porém após esse

período não foram encontrados mais estudos sobre o assunto, não sendo divulgado o motivo

pelo qual a pesquisa foi interrompida, encontrando-se atualmente apenas estudos da

vanoxerina para tratamentos ligados a problemas cardíacos e depressão.

Apesar de um extenso arsenal terapêutico que recomenda inúmeros medicamentos de

classes farmacológicas diferentes sem comprovação clínica da eficácia, do potencial

terapêutico de fármacos específicos e de imunoterapia que vem sendo estudados há anos,

ainda não existe uma terapia farmacológica classificada como altamente eficaz na prática

clínica. Desse modo, profissionais de saúde envolvidos com o manejo da farmacodependência

e as pessoas que sofrem desse distúrbio vêm buscando alternativas como o uso de plantas

enteógenas, como a iboga (Tabernanthe iboga), maconha (Cannabis sativa) e as que

compõem o chá de ayahuasca (Banisteriopsis caapi e Pychotria viridis).

Dentre as plantas citadas, a iboga vem sendo referida como uma alternativa no

tratamento da dependência ao crack, tendo sido inclusive assunto de interesse no Conselho

Regional de Medicina do Paraná (CRM-PR) que publicou um documento de posicionamento

sobre o assunto em 2009 em que explicou a origem da ibogaína, principal alcalóide presente

na planta, seu uso em rituais, efeitos toxicológicos, além do andamento de estudos sobre o

assunto, concluindo ao fim do parecer que “o uso terapêutico da ibogaína ainda não está

comprovado cientificamente. Por isso seu uso não é recomendado até que as evidências

científicas sejam fortes, especialmente por tratar-se de substância alucinógena potente que

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pode desencadear quadros psiquiátricos graves e mesmo outras conseqüências clínicas

danosas” (CRM-PR, 2009).

Recentemente os grandes veículos de comunicação vêm divulgando o uso desta planta

para o tratamento da dependência ao crack. O “Jornal Hoje” da emissora Rede Globo

transmitiu em outubro de 2014, uma reportagem cujo titulo era “Remédio ajuda usuários de

crack a se livrarem da dependência química”, onde explicou um pouco sobre a iboga e o

modo que vem sendo utilizada em estudos para o tratamento da dependência no Brasil

(Disponível em http://g1.globo.com/jornal-hoje/noticia/2014/10/remedio-ajuda-usuarios-de-

crack-se-livrarem-da-dependencia-quimica.html). O assunto também foi tratado pelo

jornalista Fausto Salvadori na revista Galileu, onde foi relatada a história de Wladimir

Kosiski, ex-dependente químico que diz ter se livrado do vício de crack após ter ficado 48

horas sob o efeito da ibogaína (Disponível em

http://revistagalileu.globo.com/Revista/Common/0,,ERT166297-17773,00.html). Apesar de

no Brasil este uso medicinal parecer ainda recente, o uso da iboga no tratamento da

dependência à cocaína já tinha sido referido há quase 20 anos (ALBURGES, HANSON,

1999) e no tratamento da dependência à heroína há mais de 50 anos (LOTSOF, 1985).

A Tabernanthe iboga, também conhecida por iboga, é uma planta arbustiva originária

dos Países da África Central cuja raiz contém o alcaloide ibogaína (LOTSOF, 1995).

Inicialmente, esse alcalóide demonstrou interromper de forma eficaz por cerca de seis meses o

uso de heroína em dependentes desse opióide quando administrada por via oral em uma unica

dose, que podia variar de 6 mg/kg a 19 mg/kg (LOTSOF, 1985). Ao longo do tempo foi

observada também sua eficácia para o tratamento de dependentes de outras drogas de abuso

como a cocaína (ALBURGES, HANSON, 1999) e recentemente seu potencial terapêutico no

tratamento da dependência ao crack foi discutido por um grupo de pesquisa brasileiro

(SCHENBERG et al., 2014), embora sua eficácia e segurança ainda não tenham sido

avaliadas em estudos pré clínicos e clínicos controlados de acordo com as agências

regulatórias do Brasil (ANVISA) e dos EUA (FDA).

Considerando o impacto da dependência ao crack em nossa sociedade, a dificuldade

em se adotar um tratamento eficaz e que há registros do uso da iboga como estratégia

terapêutica em clínicas no território nacional sem aprovação da ANVISA, o presente trabalho

faz uma revisão da literatura sobre as evidências farmacológicas e toxicológicas da iboga e

seu potencial terapêutico no tratamento do dependente de crack.

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2. OBJETIVOS

2.1. Objetivo geral

Avaliar o potencial terapêutico e a segurança toxicológica do uso da Tabernanthe

iboga no tratamento da dependência ao crack.

2.2. Objetivos específicos

Levantar e descrever o uso cultural e médico da iboga.

Levantar e descrever as propriedades farmacológicas da iboga.

Levantar e descrever os dados toxicológicos da iboga.

Comparar os dados experimentais e clínicos sobre o uso da iboga no tratamento da

dependência ao crack

Estimar o risco do uso da iboga no tratamento da dependência ao crack

.

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3. MATERIAL E MÉTODO

Foi realizada uma revisão da literatura, entre agosto de 2015 e outubro de 2016 através

de pesquisas em diferentes bases de dados científicos restringindo-se aos trabalhos publicados

a partir de 1956, época em que se iniciaram os estudos clínicos e farmacológicos sobre a

planta.

Os artigos científicos selecionados foram encontrados através de busca em inglês,

português e espanhol nas bases de dados ScienceDirect, LILACS, Portal CAPES, PubMed e

SciELO, nos portais das agências regulatórias Food and Drug Administration (FDA) e

Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e no Toxicology Data Network

(TOXNET) do United States National Library of Medicine (NIH) utilizando os descritores

“ibogaine”, “12-Methoxyibogamine”, “NIH-10567”, “ibogaine addiction”, “ibogaine

cocaine”, ”ibogaine treatment”, “ibogaine effects”, “tabernanthe iboga”, “noribogaine”,

“ibogaine toxicity”, , “ibogaine crack cocaine” “Endabuse”.

Foram também revisadas as listas de referências dos artigos incluídos na revisão da

literatura.

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4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 A Tabernanthe iboga: propriedades, uso cultural e médico

A Tabernanthe iboga, também conhecida por iboga, é uma planta arbustiva de origem

africana da família Apocynaceae encontrada na região do Gabão, Congo, Camarões,

Republica Central Africana, Guinea Equatorial e Angola (BRAMATTI, 2015) (Figura 1).

Figura 1: Mapa geográfico com destaque da região onde a Tabernanthe iboga é principalmente

encontrada.

Fonte: https://maps.google.com/.

O arbusto que chega a atingir 1,50 m de altura cresce em áreas de florestas tropicais,

solos pantanosos ou savanas molhadas, florescendo e produzindo frutos ao longo do ano todo.

Trata-se de um arbusto com pequenas folhas verdes, flores brancas e rosas com um fruto oval

alongado ou em forma redonda, ambos com uma cor alaranjada (POPIK, SKOLNICK, 1999).

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Figura 2: Imagem ilustrativa da Tabernanthe iboga (POPE, 1969).

A casca da raiz é a parte mais aproveitada da planta, onde está presente grande parte

dos alcalóides, mas também se atribuem propriedades medicinais às folhas, à casca do tronco

e à raiz em si, já os frutos, que quase não contêm alcalóide, são muito pouco utilizados

(POPE, 1969).

Os efeitos psicoativos da iboga são atribuídos ao alcalóide denominado ibogaína,

encontrado principalmente na raiz da planta e que teve sua estrutura química elucidada em

1958 por Bartlett, Dickel e Taylor (BARTLETT, DICKEL ,TAYLOR, 1958). Este alcalóide

apresenta uma subunidade bicíclica nitrogenada, fundida ao sistema 5-metóxi-indólico que

contém uma unidade amino etílica similar à serotonina (5-hidroxitriptamina) (Figura 3)

(BARREIRO, BOLZANI, 2009), tem fórmula molecular C20H26N2O e peso molecular de

310,44, sendo seu teor presente na casca da raiz estimado entre 5 a 6%. A ibogaína apresenta

um ponto de fusão que na literatura varia entre 148°C e 153°C, caráter básico com pKa de

8,1, solúvel em etanol, éter, clorofórmio, acetona e benzeno, mas praticamente insolúvel em

água, e pode se decompor pela ação do calor e da luz (ALBURGES, FOLTZ, MOODY, 1995;

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LEY, JEFFCOAT, THOMAS, 1996; ALPER, 2001). Assim como os cogumelos e a

ayahuasca, a ibogaína pertence à família dos alucinógenos, ou seja, alcaloides que atuam no

sistema nervoso central (SNC), porém de acordo com o neologismo criado por alguns

pesquisadores, a ibogaína trata-se de um enteógeno, termo criado para desviar os preconceitos

que a palavra alucinógena carrega de ser apenas um veículo de perturbações mentais e

psicopatológicos, e que significa algo que gera “experiência interna do divino”

(SANGIRARD, 1989; CIPRIAN-OLLIVIER et al., 1997; MAYFRANK et al., 1998;

SOUSA, 2011).

Figura 3: Estrutura química da ibogaína (BARREIRO, BOLZANI, 2009).

Quadro 1: Propriedades e identificação internacional da ibogaína.

Nome da Substância: Ibogaína

Origem Espécie Vegetal: Tabernanthe iboga

Fórmula Molecular: C20-H26-N2-O

Peso Molecular: 310,4384

Ponto de Fusão: 148°C

Log P (octanol - água) 3,65

Número CAS: 83-74-9

Registro FDA: 3S814I130U

Sinônimos: EINECS 201-498-4; HSDB 8180; 1,2-metoxiibogamina; iboga;

NIH 10567; NSC 249764; Endabuse

Fonte:TOXNET, disponível em https://chem.sis.nlm.nih.gov/chemidplus/rn/83-74-9.

Acredita-se que os pigmeus foram os primeiros a utilizar a iboga, observando os

javalis, que se alimentavam das raízes do arbusto e depois hibernavam por muitas semanas.

Durante vários séculos, a ibogaína foi utilizada em rituais xamânicos pelos índios Bwiti, um

grupo religioso da África Central, na forma de raspas de casca da raiz da Tabernanthe iboga

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(FERNANDEZ, 1982; ALPER, LOTSOF, KAPLAN, 2008). É referido um ritual de

iniciação, no qual até meio quilo de iboga é ingerida. A iniciação tem como objetivo induzir

um coma e é contextualizado como uma ligação com o passado através do contato com

ancestrais. De acordo com os praticantes, em algum momento o espírito sai do corpo e viaja

para o mundo dos mortos, onde entram em contato com espíritos e obtém informações úteis

para o grupo social em que vivem, podendo receber ainda revelações ou curas, terminada a

cerimônia, a pessoa “renasce” com uma nova identidade (CRM-PR, 2009)

Atualmente este ritual é realizado por curandeiros tradicionais dos países da bacia do

Congo e no Gabão, onde membros importantes das hierarquias políticas do país são adeptos

do culto. Além do uso ritualístico, a iboga também apresenta uso medicinal popular em

Camarões, no tratamento da depressão, da picada de cobra, da impotência masculina, da

esterilidade feminina, da AIDS e como estimulante e afrodisíaco (CRM-PR, 2009).

A primeira descrição de Tabernanthe iboga foi publicada em 1864 (GOUTAREL,

GOLLNHOFER, SILLANS, 1993; ALPER, 2001), quando uma amostra da espécie foi levada

do Gabão para a França durante a colonização da África pelas potências Européias, em 1885 o

Padre Henri Neu escreveu um manuscrito sobre a espécie onde dizia: “A maioria dos

europeus (que vivem no Gabão) já ouviram falar sobre esta planta, usados em cerimônias

fetichistas. Os nativos usam uma infusão da raspa de raiz da iboga como um meio potente que

permite descobrir coisas ocultas e prever o futuro. Aquele que a bebe, cai em um sono

profundo no qual ele está obcecado por sonhos ininterruptos, que, até o momento em que ele

acorda, ele considera serem eventos reais...” (GOUTAREL, GOLLNHOFER, SILLANS

1993).

Em 1901, Dybowsky e Landrin isolaram e cristalizaram pela primeira vez um

alcaloide a partir da casca da raiz da iboga e o nomearam de ibogaína (DYBOWSKY,

LANDRIN, 1901; ALPER, 2001). Entre 1901 e 1905 foram feitos os primeiros estudos sobre

os efeitos farmacológicos da planta, pelos franceses Lambert, (1901 e 1902), Heckel, (1901) e

Pouchet, (1905) (GOUTAREL, GOLLNHOFER, SILLANS, 1993), seu uso era inicialmente

recomendado para o tratamento de astenia (perda ou diminuição da força física), em dosagens

que variavam entre 10 e 30 mg por dia.

Apesar de já descoberta suas propriedades “antifadiga”, só quase 40 anos depois o

estudo desse alcaloide foi retomado, e entre 1939 e 1960 a ibogaína foi vendida na França

como Lambarene, sendo comercializada na forma farmaceutica de extrato seco de raízes da

Tabernanthe iboga, 0,20 gramas de extrato por cápsula onde era esperado conter cerca de 8

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mg de ibogaína, cuja embalagem descrevia ação terapêutica, posologia e efeitos como: "um

estimulante neuromuscular, promovendo uma maior liberação de energia e livrando-se da

fadiga, indicada em casos de depressão, astenia, recuperação pós doenças, doenças

infecciosas, aumento de esforços físicos ou mentais por indivíduos saudáveis. 2-4 cápsulas

por dia. Rápida e prolongada ação, não seguida de depressão. Pode ser administrado a

hipertensos.” (GOUTAREL, GOLLNHOFER, SILLANS 1993). Em 1955 Harris Isbell

administrou doses de até 300 mg do alcaloide para oito dependentes de morfina já

desintoxicados, no Centro de Pesquisa de Adicção nos EUA (ALPER, 2001) e em 1958 foi

publicada a descrição da estrutura química definitiva da ibogaína, sendo sua síntese total

publicada apenas em 1965 (TAYLOR, 1957; BUCHI et al., 1966; ALPER, 2001).

Destacamos a incoerência das datas, uma vez que de acordo com a literatura em 1955 já foi

administrado o fármaco ibogaína, sendo que sua estrutura química só foi elucidada em 1958 e

a síntese publicada em 1965, logo antes desse período ainda não se tinha o fármaco definitivo.

Parece que esta confusão ainda perdura, pois foi observado que é frequente na literatura

utilizar o termo ibogaína e iboga como se fossem a mesma coisa.

Apesar da iboga ser conhecida desde o século IX pelos europeus, parece que seu

potencial no tratamento da dependência foi conhecido apenas na década de 60, mas

precisamente em 1962, quando um jovem viciado em heroína chamado Howard Lotsof em

busca de uma nova droga se deparou com a iboga, e após utilizar a planta e ter uma “viagem”

de 36 horas, relata que perdeu totalmente o desejo de consumir heroína não sentindo nenhum

sintoma de abstinência. Lotsof resolveu então administrar a substância a sete amigos também

viciados em heroína, e em cinco casos o resultado foi o mesmo. Convencido de que tinha

encontrado a solução para o vício, dedicou boa parte de sua vida à promoção da ibogaína

como um tratamento (MARTINS, CAPARROZ, CRUÃNES, 2014), inicialmente apenas para

dependentes de heroína, mas com o tempo observou tratar-se de um potencial tratamento para

diversas outras drogas, como a cocaína.

A partir da experiência de Howard Lotsof, a ibogaina começa a ganhar espaço pelo

mundo e entre 1967 e 1970 a Assembleia Mundial de Saúde classificou a ibogaina como

alucinógeno e estimulante, ressaltando que tal substância poderia causar dependência e

representar um perigo à saúde humana. Nos EUA, o FDA alocou a ibogaína como uma droga

de Classe 1, a mesma classificação do LSD, além de entrar na lista de substâncias

consideradas como doping do Comitê Olímpico Internacional (GOUTAREL,

GOLLNHOFER, 1993; ALPER 2001).

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A primeira patente para o uso psicoterapêutico da ibogaína foi registrada em 1969, na

França, pelo psiquiatra Cláudio Naranjo (ALPER, 2001), e em 1983, Lotsof reportou as

propriedade anti-aditivas da ibogaína, obtendo em 1985 cinco patentes nos EUA (números

4,499,096; 4,587,243; 4,857,523; 5,026,697; 5,124,994) para o tratamento de dependências de

ópio, cocaína, anfetamina, etanol e nicotina (MARTINS, CAPARROZ, CRUÃNES, 2014).

Em 1986, Lotsof fundou o International Coalition for Addicts Self Help e desenvolveu o

método Endabuse, uma farmacoterapia experimental com cloridrato de ibogaína, a forma

hidrossolúvel da ibogaína e, ainda buscou fundos para pesquisas do uso de ibogaína no

tratamento de dependência aos opioídes, em modelo animal em Rotterdam e Nova York

(ALPER, BEAL, KAPLAN, 2001; BROWN, 2013). Entre 1989 e 1993 na Holanda, foram

conduzidos tratamentos fora dos padrões médicos convencionais, envolvendo organizações de

autoajuda para adictos. Em 1993 o FDA junto com o Medical Review Officer Curtis Wright,

aprovou o uso de ibogaina para testes em humanos, em dosagens de 1, 2, 5 mg/kg, iniciando

rapidamente a Fase I dos estudos, que logo depois foi interrompida, o manuscrito da

Associação de Estudos Psicodélicos sobre a aprovação do FDA é apresentado na Figura 4

(ALPER, 2001).

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Figura 4: Aprovação do FDA do uso de ibogaina para testes em humanos.

Fonte: MAPS, disponível em http://www.maps.org/news-letters/v04n3/04304ibo.html.

Nesse mesmo período, também começou o “Projeto Ibogaína” pela Divisão do

Departamento de Medicamentos do Instituto Nacional sobre Drogas de Abuso (National

Institute on Drug Abuse - NIDA), baseado em uma possível eficácia sugerida por casos

reportados e evidencias pré-clinicas, tendo como objetivo a avaliação toxicológica e o

desenvolvimento de um protocolo para ensaio em humanos. Seguindo com o projeto, em

1994 foram feitas algumas reuniões no NIDA com o intuito de desenvolver protocolos de

Fase I/II para testar o efeito da ibogaína no tratamento da dependência à cocaína, sendo

definida doses de ibogaína entre 150 e 300 mg administradas de forma única versus um

placebo, no entanto em 1995 entre reuniões que visavam o financiamento do estudo e a

grande critica por parte dos representantes de indústrias farmacêuticas ficou decidido não se

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financiar o estudo, chegando ao fim, desta forma, o“Projeto Ibogaína” relacionado a estudo

clínico, embora o NIDA tenha continuado a apoiar projetos não clínicos sobre o alcaloide

(ALPER, 2001).

No Brasil, a dependência aos opióides é extremamente baixa (ECKSCHMIDT et al.,

2013; FONSECA et al., 2010; SCHENBERG et al., 2014), mas a ibogaína tem sido usada no

tratamento de dependência de outras drogas desde 2001, principalmente na dependência ao

crack (SCHENBERG et al., 2014).

Para o tratamento da dependência de drogas de abuso a ibogaína é usada em doses

orais de 10 a 25 mg por kg corporal (ALPER, LOTSOF, KAPLAN, 2008; ALPER et al.,

1999; ALPER, STAJIC, GILL, 2012), na forma de cloridrato de ibogaína (sal solúvel), com

teores de pureza entre 95 a 98% (Figura 5). Além do fármaco isolado também é utilizado o

extrato da planta rico em alcalóide e a casca seca da raiz (Figura 6) (ALPER, STAJIC, GILL,

2012). No Brasil as clínicas oferecem o tratamento por via oral pela administração de

cápsulas contendo a casca seca da raiz com um custo entre R$ 5.000,00 e R$ 10.000,00.

Figura 5: Cápsulas de Cloridrato de ibogaína.

Fonte: http://plantandoconsciencia.org/novoblog/2014/09/30/boghaga/.

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Figura 6: Formas como a iboga é encontrada para fins terapêuticos (ALPER, STAJIC, GILL, 2012).

Nota: A foto esquerda superior mostra três formas diferentes, à esquerda é apresentado o cloridrato de

ibogaína 96% na forma de sal, no meio é apresentado as cápsulas de cloridrato de ibogaína com dose que variam

de 120 mg a 330 mg, e na direita é mostrada a casca da raiz seca e pulverizada. A foto superior direita apresenta

o extrato do alcaloide com um teor de cerca de 40-50% de iboga. A foto inferior mostra a raiz seca da

Tabernanthe iboga parcialmente raspada (ALPER, STAJIC, GILL, 2012).

4.2 Evidências experimentais

O potencial da ibogaína no tratamento da dependência química já foi foco de diversos

estudos em animais envolvendo diferentes drogas de abuso (Quadro 2). A ibogaína mostrou

reduzir alguns sintomas característicos da abstinência em animais dependente de morfina,

como a escavação (DZOLJIC, KAPLAN, DZOLJIC, 1988), os saltos (DZOLJIC, KAPLAN,

DZOLJIC, 1988; LEAL et al., 2003), a auto limpeza, o ranger dos dentes (GLICK et al.,

1992) e a diarreia (GLICK et al., 1992). Essa redução foi observada em diferentes estudos em

que todos administraram uma única dose de ibogaína, porém em diferentes dosagens e por

diferentes vias de administração, após a aplicação de um antagonista de morfina, como por

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exemplo, a naloxona, que induzia o processo de abstinência ao interromper os efeitos do

opióide no organismo.

Outros estudos demonstraram que a ibogaína também foi capaz de reduzir em ratos e

camundongos, a auto administração da própria morfina (GLICK et al., 1991; GLICK et al.,

1994) e outras drogas como cocaína (CAPPENDJIK, DZOLJID, 1993; GLICK et al., 1994;

DWORKIN et al., 1995.) e heroína (DWORKIN et al., 1995) , além de diminuir a preferência

por cocaína em um modelo de consumo oral por escolha de preferência (SERSHEN,

HASHIM, LAJTHA, 1994).

Existem diversos modelos experimentais em animais para avaliar a eficácia de

tratamentos contra a dependência a drogas de abuso. Os estudos de adiccção apresentados nos

Quadro 2 que testaram a eficácia da ibogaína a partir da diminuição na auto ingestão de

drogas de abuso utilizaram o modelo de condicionamento operante, que consiste no uso de

ratos treinados para se auto administrarem drogas por via intraperitoneal (IP), subcutânea

(SB) ou intracerebroventricular (ICV). Nesse modelo, os ratos passam por sessões diárias,

onde são modelados a emitir uma resposta-operante (como por exemplo, pressionar uma

barra) para conseguir inicialmente água (fase de treinamento), que depois é substituída pela

droga, sendo observado que em alguns estudos é utilizado um estimulo (luz ou barulho por

exemplo) para que a resposta-operante seja emitida. Ao se esforçarem para pressionar a

alavanca, os ratos são recompensados recebendo uma dose da droga, que tende a causar

dependência, criando uma relação de dependência entre ação de pressionar a barra e a

recompensa em receber a droga (PLANETA et al., 2007). Após os ratos apresentarem um

quadro de dependência, a dose a ser estudada de ibogaína é aplicada e então se observa

quanto o animal ira se esforçar para pressionar a alavanca em busca da droga, demonstrando o

quanto determinada dose de ibogaína foi capaz de interferir neste quadro de dependência

(GLICK, MAISONNEUVE, SZUMLINSKI, 2000), para provar que a ibogaína era a

responsável pelos efeitos da resposta-operante à morfina, Glick et al. (1991) também

administrou ibogaína em animais apenas treinados para pressionar a barra para obter água.

Nos estudos baseados nesse modelo comportamental foi observado que após a administração

da ibogaína em diferentes doses, ocorreu uma menor emissão da resposta-operante à

determinada droga, evidenciando a diminuição de sua auto-adminitração e,

consequentemente, um potencial efeito terapêutico da ibogaína na dependência.

Outro estudo que observou a auto-administração de uma determinada droga de abuso

em roedores, a partir de um modelo comportamental diverso do condicionamento operante foi

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o de Sershen, Hashim e Lajtha (1994), onde foi utilizado o modelo de consumo oral por

escolha de preferência para avaliar o efeito da ibogaína sobre o consumo de cocaína. Nesse

estudo, os ratos foram divididos em dois grupos, e por um período de uma semana um grupo

teve acesso somente a garrafa de água e o outro grupo teve acesso somente a garrafa contendo

uma solução de COC HCl no lugar da água (exposição forçada a cocaína, uma vez que em

ratos não é observado o consumo voluntário de cocaína), localizadas no meio da gaiola. Na

segunda semana, os ratos que foram expostos de forma forçada a cocaína tiveram acesso tanto

a água como a COC HCl, podendo escolher o que iriam consumir, ficando o tubo da garrafa

com COC HCl no lado esquerdo e o tubo da garrafa com água no lado direito da gaiola,

enquanto na gaiola com os ratos que só tiveram acesso a água foram colocadas duas garrafas,

uma em cada lado. As garrafas eram pesadas completamente cheias, e na manhã seguinte

eram pesadas novamente, calculando-se as quantidades consumidas de cada líquido

diariamente. Após duas semanas, o grupo que foi inicialmente exposto de maneira forçada a

COC HCl demonstrou preferência pelo consumo da solução de COC HCl do que pela água, e

então os animais de ambos os grupos receberam duas doses IP de ibogaína, sendo feito o

controle do consumo de cada líquido por mais cinco dias e comparando o consumo de COC

HCl antes e depois de receberam a injeção de ibogaína. Sendo observado que, após a

administração da ibogaína, os animais que consumiam anteriormente uma quantidade de

cocaína equivalente a 71% do volume total da garrafa, passaram a consumir 41% desse

volume, demonstrando que o consumo de cocaína após a administração da ibogaína também

diminuiu nesse modelo de estudo comportamental.

Além de avaliar a auto-administração de drogas, existe um meio diferente de estudar a

dependência em modelo animal que consiste em observar alterações nos sintomas de

abstinência. Nesse modelo de estudo, inicialmente os animais recebem determinada droga por

alguns dias, em diferentes dosagens e vias de administração de acordo com o pesquisador,

induzindo no animal a dependência à droga. Após o animal se tornar dependente, é

administrado por via IP um antagonista da droga, que irá acelerar e induzir a síndrome de

abstinência. Em todos os estudos analisados (Quadro 2) a droga utilizada nesse modelo foi a

morfina, sendo administrada a naloxona para induzir a abstinência e observar seus sintomas.

Os sintomas de abstinência observados foram ficar de pé sobre os pés traseiros, esconder a

cabeça, balançar apenas a cabeça, movimento de mastigação, contorção, alongamento, emitir

sons ao serem tocados, pálpebras baixas (ptose palpebral), diarreia, aumento na frequência da

micção, escoamento abundante de fluido do nariz (rinorréia), salivação, tremor nas patas,

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ejaculações, lamber a região peniana (DZOLJIC, KAPLAN, DZOLJIC, 1988), escavação,

balançar junto a cabeça, o pescoço e o tronco (como fazem os cachorros para se secar), auto

limpeza (se lamber) diarreia, ranger os dente (DZOLJIC, KAPLAN, DZOLJIC, 1988; GLICK

et al., 1991), perda de peso (GLICK et al., 1991) e saltar (DZOLJIC, KAPLAN, DZOLJIC,

1988; LEAL et al., 2003). A fim de avaliar a eficácia da ibogaína, foi então administrada uma

ou mais doses de ibogaína, dependendo do estudo, e observado se ocorreu ou não a

diminuição dos sintomas, podendo focar apenas em um sintoma, como os saltos por exemplo,

(LEAL et al., 2003) ou em todos, observando quais que diminuíram ou até mesmo

desapareceram (DZOLJIC, KAPLAN, DZOLJIC, 1988; GLICK et al., 1992). No estudo de

Leal et al. (2013) a ibogaína foi administrada antes do antagonista da morfina, induzindo a

síndrome de abstinência apenas após a administração da substância de tratamento, sendo um

método diferente do observado nos outros estudos. Nos três estudos foi constatada a

diminuição dos sintomas de abstinência em animais dependentes de morfina. No estudo de

Dzoljic, Kaplan e Dzoljic (1988) sintomas de abstinência relacionados com a atividade

motora, como escavação e saltos, normalmente observados durante a síndrome de abstinência,

diminuíram após os animais receberem uma única dose de ibogaína. Glick et al. (1991)

observou não apenas a diminuição dos sintomas relacionados com a atividade motora, mas

também a menor ocorrência de sintomas em geral, como agitação, auto-limpeza, ranger dos

dentes, mastigação e diarreia. Enquanto Leal et al. (2013) focou seu estudo em apenas um

sintoma, observando que após a administração da ibogaína, mesmo induzindo a síndrome de

abstinência com naloxona, a frequência de saltos diminuiu.

Nessas evidências experimentais foram utilizados diferentes modelos

comportamentais (auto administração de diferentes drogas de abuso, preferência condicionada

por lugar e avaliação dos sintomas de abstinência em dependentes de morfina), sendo

observado em todos os experimentos que após a administração de ibogaína ocorreu

diminuição desses comportamentos associados à dependência de diferentes drogas de abuso.

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Quadro 2: Evidências experimentais da ibogaína em estudos de adicção.

Modelo (espécie; VA; Dose de ibogaína) Tipo de estudo e resultado Referência

Ratos (190 -200 g); ICV; 4mcg/rato,

8mcg/rato e 16 mcg/rato, dose única.

Sintomas de abstinência em animais dependentes de morfina

Diminuiu atividade motora (escavação, saltos).

Dzoljic, Kaplan, Dzoljic,

1988.

Ratos (230 -250 g); IP; 2,5 mg/kg à 80

mg/kg, dose única ou até 3 doses (animais

que não apresentaram resultados

inicialmente)

Diminuiu auto ingestão de morfina Glick et al., 1991.

Ratos (230 -250 g); IP; 20 mg/kg, 40mg/kg e

80mg/kg, dose única.

Sintomas de abstinência em animais dependentes de morfina

Diminuiu agitação, auto limpeza, ranger dos dentes, mastigação,

esconder a cabeça e diarréria.

Glick et al., 1992.

Ratos (200 – 250 g); IP; 40mg/kg, dose

única; uma dose por semana durante 3

semanas; uma dose por dia durante 3 dias

consecutivos.

Diminuiu auto ingestão de cocaína. Cappendjik, Dzoljic, 1993.

Ratos (230 - 250 g); IP; 40mg/kg, dose

única.

Diminuiu auto ingestão de cocaína e morfina Glick et al., 1994.

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Ratos (peso não informado); IP; 40mg/kg,

duas doses.

Diminuiua preferência para a cocaína em um modelo de

consumo oral por escolha de preferência

Sershen, Hashim, Lajtha,

1994.

Ratos (250 – 300 g); IP; 40 mg/kg e 80

mg/kg; dose única

Diminuiu auto ingestão de cocaína e heroína (curto – prazo) Dworkin et al., 1995.

Camundongos (25 – 35 g); IP; 40 mg/kg e 80

mg/kg, dose única.

Sintomas de abstinência em animais dependentes de morfina

Diminuiu saltos

Leal et al., 2013.

Nota: ICV= intracerebroventricular; IG=intragastrica; IP=intraperitoneal; SB=subcutânea; VA=via de administração.

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Um dos artigos mais recentes sobre a ibogaína foi escrito por Belgers et al. (2016),

trata-se de uma revisão sistemática de estudos feitos em modelos animais com problemas de

adicção (Quadro 3). A metanálise buscou responder três questionamentos: (1) como a

ibogaína pode reduzir o comportamento de dependências em modelos de vício em animais;

(2) quais os efeitos tóxicos que a ibogaína tem sobre o funcionamento motor (tremores e

ataxia), células cerebelares e sistema cardíaco; (3) quais os mecanismos de ação

neurofarmacológicos baseados nas vias serotoninérgicas e dopaminérgicas do tratamento com

ibogaína em modelos de adicção em animais. Entre 32 estudos selecionados, 8 eram sobre o

efeito da ibogaína na auto administração de drogas de abuso, onde concluiu-se que em 64%

dos casos a ibogaína reduziu a auto administração, apresentando larga redução nas primeiras

24 horas após a primeira dose. Três estudos tratavam da preferência condicionada não sendo

observadas alterações desse fator com o uso da ibogaína, esse tipo de estudo demonstra como

estímulos ambientais normalmente neutros, podem gerar propriedades motivacionais positivas

após serem submetidos diversas vezes a alguma substância com potencial de abuso. Em

relação aos efeitos tóxicos da ibogaína foram encontrados 5 estudos sobre o

comprometimento do funcionamento motor devido ao uso da ibogaína, onde foi concluído

que ocorre tal comprometimento independente da dose administrada apenas durantes as

primeiras 24 horas após administração, 10 estudos tratam da perda celular cerebelar, que

embora não tenha sido evidenciado quando a ibogaína foi administrada por via oral (6

estudos), foi observada por via intraperitoneal (4 estudos), a partir de 72 horas após

administração. Esta revisão ainda destacou que não há dados sobre toxicidade cardíaca e

dados insuficientes sobre os mecanismos de ação neurofarmacológicos.

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Quadro 3: Resultados experimentais sobre os efeitos da ibogaína em estudos de dependência e toxicidade.

Auto administração de drogas Efeitos da ibogaína

Conclusão em relação à dependência ↓

Droga de abuso

Anfetamina ↓

Heroína ↓

Morfina ↓

Cocaína ↓

Álcool ↓

Período de avaliação após a

administração de ibogaína

0 - 24 horas ↓↓

24 - 72 horas ↓

> 72 horas ↓

Preferência condicionada por lugar Efeitos da ibogaína

Conclusão sobre a alteração de comportamento Sem efeito

Droga de abuso Anfetamina Sem efeito

Morfina Sem efeito

Período de avaliação após a administração

de ibogaína

0 - 24 horas Sem efeito

24 - 72 horas Sem efeito

Comprometimento de funcionamento motor Efeitos da ibogaína

Conclusão ↑

Período de avaliação após a

administração de ibogaína 0 - 24 horas ↑

24 - 72 horas Dados insuficientes

Perda de células cerebelares Efeitos da ibogaína

Conclusão ↑

Via de administração Oral Sem efeito

Intraperitoneal ↑

Dose de ibogaína

0 - 40 mg/kg Dados insuficientes

40 - 80 mg/kg ↑

> 80 mg/kg (apenas

intraperitoneal) ↑

Nota: Uma seta: o efeito foi encontrado com baixa significância; Seta dupla: o efeito foi encontrado com alta

significância; Direção de seta para cima: efeito positivo; Sentido para baixo: efeito negativo.

Fonte: BELGERS et al., 2016.

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4.3 Evidências clínicas do uso da ibogaína no tratamento de adicções

O uso da ibogaína como um tratamento informal e alternativo de adicções vem

crescendo nos últimos anos em diversos ambientes e contextos (clínicas privadas, grupos de

autoajuda, clínicas de reabilitação, etc.), principalmente devido à existência de evidências que

suportam a sua eficácia. Grande parte dessas evidências tratam-se de estudos de casos ou

testes experimentais em humanos (Quadro 4), mas ainda sem nenhum ensaio clínico

controlado.

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Quadro 4: Evidências clínicas da ibogaína no tratamento de adicções.

Modelo

N; Ambiente; Dose de

cloridrato de ibogaína

Tipo de estudo (Drogas de abuso;

Parâmetros avaliados)

Resultados Referência

7; Não clínico; 700 a 1800 mg,

dose única.

Heroina ou codeína; Sinais e sintomas

de abstinência nas primeiras 24-38

horas após o tratamento e tempo de

abstinência.

Nenhum apresentou sinais ou sintomas

significativos de abstinência nas primeiras 24-38

horas após o tratamento, 3 pacientes mantiveram

abstinência completa por pelo menos 14

semanas, 1 paciente retornou com o abuso 2 dias

após o tratamento, outros 2 após algumas

semanas e 1 reverteu o uso diário para uso

intermitente da droga.

Sheppard, 1994.

3; Médico –hospitalar; 20 a 25

mg/kg, dose única.

Cocaína (IN ou IV) e crack; Sinais

subjetivos e/ou objetivos de abstinência

nas primeiras 24 horas após o

tratamento.

Nenhum paciente apresentou sinais subjetivos ou

objetivos de abstinência durante pelo menos 24

horas após o tratamento;

Luciano, 1998.

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33, Não clínico; 6 a 29 mg/kg,

dose única.

Heroína e/ou Metadona (IV, IN ou

fumada); Sinais e sintomas de

abstinência nas primeiras 48 horas após

o tratamento e comportamento de

busca pela droga nas primeiras 72

horas após o tratamento.

25 pacientes tiveram extinção completa dos

sinais e sintomas de abstinência e não

apresentaram comportamento de busca pela

droga, 4 pacientes tiveram extinção completa

dos sinais e sintomas de abstinência porém

apresentaram comportamento de busca pela

droga durante as primeiras 72 horas, 2

apresentaram sintomas de abstinência atenuados

mas sem comportamento de busca pela droga e 1

paciente não apresentou alterações nos

parâmetros avaliados.

Alper et al.,

1999.

27; Médico-hospitalar; 500, 600

e 800 mg, dose única.

Opióides e/ou cocaína; Fissura,

sintomas depressivos.

Redução significativa e sustentada da fissura e

dos sintomas depressivos por pelo menos 1 mês.

Mash et al.,

2000.

21; Diversos; Diferentes doses,

únicas ou mais (Questionário)

Variadas (principalmente opióide);

Manutenção da abstinência, sintomas

psiquiátricos gerais.

14 pacientes mantiveram abstinência, até a

coleta dos dados, 7 reduziram o consumo, 20

apresentaram melhoras de sintomas psiquiátricos

graves.

Bastiaans, 2004.

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75 (67 homens e 8 mulheres);

Médico-hospitalar; máximo 17

mg/kg, dose única ou múltipla.

Álcool, maconha, cocaína e crack;

Manutenção da abstinência após o

tratamento;

Até a coleta dos dados, 8 mulheres e 48 homens

mantiveram abstinência, porém 10 deles

necessitaram da intervenção de outros

tratamentos.

Schenberg et al.,

2014.

Nota:IN=intranasal; IV=intravenosa.

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Em todos os artigos referentes às evidências clínicas da ibogaína no tratamento de

adicções é possível observar o uso do cloridrato de ibogaína ministrado em cápsula por via

oral, sendo em alguns estudos administrada inicialmente uma dose menor para fins de testes,

como no estudo de Sheppard (1994) onde inicialmente administrou-se de 100 a 200 mg e de

Luciano (1998) onde a dose teste foi de 1 mg/kg para em seguida administrar a dose a ser

estudada (700 a 1800 mg e 20 a 25 mg/kg, respectivamente) Foi observada a prevalência da

administração de doses únicas, porém em alguns casos onde não foi observado efeitos após

ingestão de uma única dose, as doses foram repetidas em intervalos que variaram de acordo

com as necessidades do paciente, como observado em Schenberg et al. (2004), onde um

paciente chegou a receber até 9 doses de ibogaína durante o tratamento, recebendo 3 doses

iniciais de aproximadamente 14,81 mg/kg e as outras 6 doses de 7,5 mg/kg.

Reunindo as informações dos artigos citados no Quadro 4 observa-se que os pacientes

que receberam o tratamento a base de ibogaína tinham entre 20 e 40 anos, sendo a maioria do

sexo masculino e fazendo uso de mais de uma substância psicoativa, observando diversos

casos de uso de álcool e metadona concomitante ao uso de heroína, assim como de álcool e

heroína concomitante ao uso de COC/crack, sendo os dependentes de heroína a maioria nos

estudos, seguido pelos dependentes de COC/crack. Em relação à dependência a mais de uma

droga de abuso, foi possível observar que a ibogaína mostrou-se eficaz não apenas no

tratamento da dependência a droga que era foco do estudo, mas também na dependência do

paciente a outras drogas, por exemplo em Sheppard (1994) foi observado nos pacientes que

eram dependentes tanto do opióide como do álcool não apenas resultados positivos referentes

ao opióide (foco do estudo), mas também ao álcool. Assim como em Alper et al. (1999) os

resultados observados na dependência a heroína e/ou metadona (focos do estudo) foram

observados também na dependência a COC nos mesmos pacientes, demonstrando a eficácia

da ibogaína no tratamento de dependência de diferentes drogas de abuso. Porém, Sheppard

(1994) descreveu que o tratamento com ibogaína não foi capaz de suprir o desejo por

maconha.

Os efeitos adversos mais relatados nos estudos foram náusea e vômito, seguido de

ataxia e tremores, relatados apenas nas primeiras horas após a ingestão da ibogaína sendo

referida a administração de domperidona para diminuir tais efeitos (LUCIANO, 1998;

SCHENBERG et al., 2014). Apenas um caso de morte foi relatado durante o tratamento,

Alper et al. (1999) relataram uma fatalidade por parada respiratória 19 horas após o

tratamento, não houve nenhuma conclusão sobre o motivo da morte, especula-se que a falta

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de informação sobre a concentração e toxicidade da ibogaína pode ter sido o motivo, ou, até

mesmo, um alto consumo de heroína durante o tratamento.

Por ser um tratamento não permitido em diversos países, devido à falta de

comprovação em relação a sua eficácia e segurança e por ser considerada uma substância

alucinógena, poucos estudos foram feitos em ambiente médico-hospitalar. Luciano (1998)

realizou os experimentos no Centro Médico Paitilla, no Panamá e Schenberg et al. (2014)

realizou um estudo retrospectivo da experiência de uma clínica privada em Curitiba

juntamente com um Hospital privado em Santa Cruz do Rio Pardo em São Paulo, cujo

fármaco ibogaína foi importado do Canadá, uma vez que ainda não há registro para produção

e venda da substância no Brasil. Mash et al. (2000) também realizou o experimento em

ambiente médico, embora não tenha sido detalhado a localização, se foi nos EUA ou outro

país. Os outros estudos foram realizados em ambientes não clínicos, colocando em maior

risco a vida do paciente devido à falta de estrutura e assistência médica, Alper et al. (1999)

realizaram experimentos durante um longo período, entre 1962 e 1999, sempre sob a

supervisão de um dos três, em quartos de hotéis e apartamentos nos EUA (1962 e 1963) e na

Holanda (1989 e 1993). Sheppard (1994) também realizou o estudo em ambiente não clínico,

porém não há mais informações sobre o assunto, enquanto o estudo de Bastiaans (2004) por

se tratar de um questionário destinado a pessoas que haviam feito o uso da ibogaína

anteriormente, onde foi feito um recrutamento online e pessoas submetidas a diferentes

métodos de tratamento com a ibogaína participaram, não foi possível especificar um único

ambiente. Todos os estudos descrevam a importância de um ambiente calmo, silencioso e

escuro, segundo Sheppard (1994) os pacientes relatam que o quarto escuro foi essencial para

os bons resultados.

Essas evidências clínicas ainda não são suficientes para comprovar a eficácia e

segurança da ibogaína e tornar o tratamento de dependentes de drogas de abuso com esse

alcalóide permitido, no entanto é evidente a necessidade de condução de estudos clínicos

diante da aparente importância no manejo da dependência.

Na maioria dos estudos não foi possível acompanhar o paciente a longo prazo, sendo

relatados diferentes casos de pacientes que sumiram, foram presos ou até mesmo morreram

(sem relato do motivo) após o tratamento, comprometendo desta forma a interpretação dos

resultados. Sheppard (1994) relata que uma das maiores dificuldades, que acaba deixando o

estudo falho, é a falta de acompanhamento da rotina do paciente após o uso da ibogaína, como

por exemplo através de análise regular da urina, que não é possível ser feita devido a falta de

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estrutura do ambiente não clínico e a falta de cooperação do paciente, que muitas vezes não

quer se submeter a exames rotineiros, sendo a única saída confiar na palavra do paciente em

relação a estar ou não fazendo uso da droga após o tratamento. O mesmo estudo relata que a

única coisa que se pode ter certeza é a capacidade da ibogaína em reduzir os sinais e sintomas

de abstinência em curto prazo, uma vez que isso é observado pelos pesquisadores durante o

tratamento, porém Alper et al. (1999) dizem encontrar uma limitação nesse parâmetro uma

vez que alguns sintomas como náusea e vomito são sintomas observados não apenas durante a

síndrome de abstinência mas também são efeitos adversos do uso da ibogaína. Ainda existem

diversas outras limitações, como a encontrada no estudo de Luciano (1998), onde o N de 3 é

muito baixo para inferência populacional, além da falta de estudos farmacocinéticos,

farmacodinâmicos, toxicológicos e relacionados ao controle de qualidade como, por exemplo,

teor de ibogaína na cápsula.

4.4 O potencial terapêutico da ibogaína no tratamento da dependência ao crack e

avaliação do risco toxicológico

O crack, forma fumada da cocaína, é um poderoso estimulante do sistema nervoso

central e tem propriedades simpatomiméticas e anestésicas local. Seus efeitos

psicoestimulantes dependem do usuário, do ambiente, e manifestam-se de maneira dose-

dependente (FILHO et al., 1999; ZORZETTO, 2007)

A cocaína atua sobre a neurotransmissão dopaminérgica, mais especificamente sobre a

via mesocorticolímbica, que se projeta da área tegmetar ventral (ATV) do mesencéfalo para o

núcleo accumbens (NAcc) e o córtex pré-frontal (CPF), que compõem o chamado sistema de

recompensa cerebral (WISE, 1982), tal sistema foi descoberto acidentalmente por James Old

durante experimentos com eletrodos posicionados em cérebros de ratos, nesse experimento foi

verificado que os animais se sentiam atraídos por choques elétricos que estimulavam a região

cerebral correspondente à região mesolímbica mesocortical onde se localiza as vias

dopaminérgicas, os animais chegavam a se desinteressar por outras atividades prazerosas,

como a alimentação, para se dedicarem exclusivamente à busca de tal estímulo (KURA,

2009). Sendo a dopamina (DA) o principal neurotransmissor atuante no sistema de

recompensa, o estudo da dependência foca principalmente este neurotransmissor.

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Quando ocorre um impulso elétrico no terminal nervoso, a dopamina é liberada pelos

neurônios na fenda sináptica, e então atravessa essa fenda e se liga aos seus receptores

específicos na membrana do neurônio pós-sináptico. Após a dopamina ter se ligado ao seu

receptor ela é recaptada através de uma proteína especializada, conhecida como transportador

de dopamina, retornando para seu neurônio transmissor. Na presença de cocaína ocorre

bloqueio dos transportadores de dopamina, comprometendo o processo de recaptação que

resulta no aumento da concentração, do tempo de permanência e da intensidade de ação da

dopamina sobre os seus receptores (Figura 7). O resultado é um quadro de euforia e prazer

muito mais intenso do que as situações que estimulam o sistema naturalmente (ESPIRIDIÃO-

ANTONIO et al., 2008). Isso reforça a busca pela substância psicoativa, a fim de satisfazer a

necessidade da recompensa desencadeada. Essa ação pode ocorrer de forma direta, sobre os

neurônios dopaminérgicos, ou indireta, sobre neurônios de outros sistemas que modulam a

atividade dopaminérgica (glutamato, GABA, noradrenalina, serotonina) (NIDA, 2004).

Figura 7: Ação da cocaína no Cérebro (NIDA, 2004).

Com o tempo esse circuito começa a necessitar da droga para poder executar suas

funções normalmente, passando a produzir menos dopamina e gerando ansiedade, humor

alterado, diminuição da energia e até problemas cognitivos (CUNHA, 2008), fazendo com

que o individuo busque por mais droga caracterizando, assim o vício.

Quando o crack é fumado, ainda é produzido e absorvido pelo usuário o éster

metilanidroecgonina (EMA), um subproduto que se forma pela degradação térmica (CONE et

al., 1994; PAUL et al., 1999; TOENNES et al., 1999; CARVALHO, 2006), que, apresenta

efeitos colinérgicos no sistema nervoso autônomo em modelo animal (WOOLF et al., 1997;

HUANG et al., 1997; SCHEIDWEILER et al., 2003) e efeito ainda pouco conhecido na

neuroquímica comportamental.

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Devido à ação da dopamina, o crack se torna uma droga bastante atraente para os

usuários devido ao seu rápido aparecimento dos efeitos no centro do prazer (SCHWARTZ,

LUXENBERG, HOFFMANN, 1991; NAPPO, 1996; CARVALHO, 2006). A primeira

sensação experimentada pelo usuário de crack é denominada rush ou flash, sendo uma

sensação de extremo prazer caracterizada por minutos de intensa euforia, ilusão de

onipotência e autoconfiança com duração de aproximadamente 5 minutos (CONE, 1995;

NAPPO, 1996; KLEERUP et al., 2002; CARVALHO, 2006). Após o rush inicia-se uma

mudança repentina e transitória do estado de ânimo, caracterizado por ansiedade, depressão e

inquietude, além de compulsão e fissura para uma nova administração da droga. Esse

intervalo é conhecido como craving, onde o usuário torna-se agressivo e utiliza qualquer

recurso para obter a droga como roubar, vender seus pertences e dos familiares e prestar

favores sexuais. Com o uso crônico outros efeitos como disforia, paranoia, agitação,

alucinação e delírio podem surgir. Dentre esses efeitos, a paranoia que se caracteriza por um

medo terrível de serem descobertos fazendo uso da droga, se destaca. Com a paranoia os

indivíduos tornam-se muito desconfiados chegando diversas vezes a um estado de violência

(NAPPO, 1996). O padrão de consumo intenso, contínuo e repetitivo de crack denomina-se

padrão binge, e é provocado pela fissura podendo durar dias até que o suprimento de droga

termine, ou que haja a exaustão do usuário (SIEGEL, 1982; NAPPO, SANCHEZ,

OLIVEIRA, 2011; CHAVES et al., 2011).

A cocaína é considerada uma das drogas com maior potencial de adicção, devido a sua

poderosa capacidade de produzir reforço positivo, atribuído à potenciação da

neurotransmissão dopaminérgica dos neurônios mesocorticais e mesolímbicos. Após o uso

crônico, a retirada da cocaína pode gerar depressão, fadiga, irritabilidade, perda de libido,

impotência sexual, tremores, dores musculares, distúrbios de fome, mudança do

Eletroencefalograma (EEG) e dos padrões de sono (CHASIN, SILVA, CARVALHO, 2014) o

que explica a dificuldade no tratamento e interrupção do uso em dependentes.

Diante da complexidade associada à dependência ao crack, muitos tratamentos são

empregados sem, no entanto, haver altos índices de eficácia. A falta de tratamento eficaz

associada com o grande sofrimento vivenciado pelo paciente e seus familiares influenciam na

busca por tratamentos alternativos, incluindo aqueles que se dá em contextos não médico

como a religião e os que ainda carecem de regulação sanitária baseada na eficácia e segurança

como é o caso do uso de plantas ditas “sagradas” como as que compõem a ayahuasca e a

iboga, sendo que o uso desta última para tratamento da dependência apresenta registros na

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literatura científica internacional não constituindo fato novo. Embora no Brasil seu uso não

seja regulado pela ANVISA e muitas clínicas estejam oferecendo o tratamento com iboga

como uma terapia inovadora.

Em relação aos efeitos farmacológicos, a ibogaína representa o alcalóide marcador da

planta. Na literatura alguns efeitos de interesse no tratamento da dependência são descritos,

sendo alguns bastantes subjetivos carecendo de esclarecimento farmacológico, dentre eles

refere-se que em baixas doses, a ibogaína exerceria um efeito estimulante, aumentando o

estado de alerta e reduzindo a fadiga, a fome e a sede (REZAVANI, OVERSTREET, LEE,

1995) e em doses mais elevadas (acima de 3 mg/kg), apresentaria efeitos psicológicos,

incluindo a recuperação de memórias passadas e reprimidas durante um estado caracterizado

como “sonhar acordado” (POPIK, GLICK, 1996; FREEDLANDER, 2003)

O mecanismo de ação que justifica o uso da ibogaína como farmacoterapia para o

tratamento da dependência a drogas de abuso, entre elas o crack ainda precisa ser elucidado.

Como alvo são citados praticamente todos os sistemas neurotransmissores como o

dopaminérgico, opioidérgico, nicotínico, serotoninérgico, colinérgico, GABAérgico e

adrenérgico, além de apresentar afinidade micromolecular com diversos sítios, entre eles os

canais N-metil D-aspartato (NMDA) e sódio voltagem-dependente e, ainda o aumento do

fator neurotrófico derivado das células da glia (GNDF) que é a proteina responsável por

regular a sobrevivência neuronal (ALPER, 2001; LEVANT, PAZDERNIK, 2004; HE, RON,

2006). Mas um fator a ser considerado é que quando se tem como candidato quase todos os

sistemas neurotransmissores se remete à incerteza, afinal todas as possibilidades se traduz por

não se saber qual seria o sistema.

Em relação aos receptores glutamatérgicos foi referida a ação antagonista da ibogaína

em receptores inotrópicos do tipo NMDA (N-metil-D-aspartato) que parece estar relacionado

á neurobiologia da adicção (TRUJILLO, AKIL,1991; WOLF, KHANSA, 1991; KHANNA et

al., 1993; FILE, FERNANDES, 1994; POPIK, SKOLNICK, 1996; FREEDLANDER, 2003).

As evidências experimentais demonstram que o uso continuo do crack, influência a

transmissão de glutamato, o principal neurotransmissor excitatório, no NAcc, gerando as

alterações comportamentais relacionadas ao consumo da droga. Quando o dependente não

esta consumindo o crack, ocorre uma redução significativa nesses níveis de glutamato,

o que acaba gerando a fissura e a busca contínua pela droga. A partir do mecanismo

apresentado na neurotransmissão glutamatérgica sugerimos como hipótese para atuação da

ibogaína no controle da dependência o bloqueio competitivo na ação do NMDA que

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impediria o influxo de glutamato no NAcc com diminuição da neurotransmissão excitatória e

redução na magnitude dos efeitos do crack. Estudos também demonstram que a ibogaína

ainda é capaz de aumentar a atividade serotoninérgica no NAcc (BRODERICK et al., 1994;

ALI et al., 1996), assim como a serotonina, a ibogaína também contém um anel indólico em

sua estrutura, o que permite sua ligação com os transportadores dessa monoamina

neurotransmissora e consequentemente a inibição deles, como foi observado em células

cerebrais isoladas de porco (POPIK, SKOLNICK, 1999; ALPER, 2001). Esse aumento de

serotonina extracelular no NAcc e o bloqueio de sua recaptação geram um aumento na

sensação do prazer e bem estar mesmo sem a presença da droga, o que é importante na

tentativa de acabar com o vício.

Considerando que a cocaína atua principalmente na neurotransmissão dopaminérgica

diminuindo a recaptação de dopamina com aumento na fenda sináptica e intensificação de

seus efeitos, é importante descrever, a luz do conhecimento científico atual como a ibogaína

age nessa neurotransmissão.

Em relação à ação da ibogaína na neurotransmissão dopaminérgica, a ibogaína não

parece bloquear seus receptores, já em relação aos transportadores alguns estudos afirmam

que a ibogaína não afeta a ligação com a dopamina (BRODERICK, PHELAN, BERGER,

1992), enquanto outros relatam que ocorre um bloqueio competitivo (WELLS, LOPEZ,

TANAKA, 1999; ALPER, 2001), não se sabendo ainda ao certo a relação da ibogaína com a

dopamina. Em modelo animal, quando a espécie foi tratada apenas com a ibogaína sem a

posterior administração da droga de abuso, foi observada a curto prazo uma diminuição na

concentração da DA extracelular, principalmente na região do striatum e em menor proporção

nas regiões do núcleo accumbens e córtex pré-frontal (MAISONNEUVE et al., 1992;

BINIENDA et al., 2000), enquanto na concentração de seus metabólitos, ácido

dihidroxifenilacético (DOPAC) e ácido homovanilico (HVA), ocorreu um aumento se

comparado aos seus níveis basais (MAISONNEUVE, KELLER, GLICK, 1991; BINIENDA

et al, 2000) (Quadro 5). Já a longo prazo, as alterações na concentração extracelular da DA e

de seu metabólito HVA não apresentaram alterações relevantes após 19 horas, porém foi

observada uma queda na concentração do DOPAC após esse período (MAISONNEUVE et

al., 1992).

O tratamento com ibogaina em modelos animais seguido da administração da droga

de abuso demonstrou resultados semelhantes ao descrito acima em relação a DA, ocorrendo

um decréscimo desse neurotransmissor a curto prazo, enquanto os resultados observados nas

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concentrações extracelulares dos metabólitos foram diferentes dos observados quando a

espécie foi tratada somente com a ibogaína sem a posterior administração da droga, uma vez

que tanto a concentração de DOPAC como de HVA diminuíram (MAISONNEUVE et al.,

1997; BINIENDA et al., 2000). Maisonneuve et al. (1997) relatou esses resultado após

administrar nicotina em ratos e Binienda et al. (2000) após administrar COC no mesmo

modelo animal (Quadro 5), sendo esse um possível mecanismo de ação da ibogaína

relacionado com a eficácia dessa substância no tratamento de dependentes químicos uma vez

que diversos estudos demonstraram que após o consumo de drogas de abuso normalmente é

observado um aumento na concentração de DA extracelular (MAISONNEUVE, KELLER,

GLICK, 1991; MAISONNEUVE et al., 1992; MAISONNEUVE et al., 1997; BINIENDA et

al., 2000), sendo esse aumento associado à dependência a essas substâncias.

Quadro 5: Concentração da DA e seus metabólitos DOPAC e HVA no núcleo caudal de ratos tratados com

solução salina, cocaína, com ou sem um pré-tratamento com ibogaína, e apenas ibogaína a curto prazo

(BINIENDA et al., 2000).

Tratamento DA (ng/100mg) DOPAC (ng/100mg) HVA (ng/100mg)

Solução Salina 822,5 ± 26,7 79,3 ± 4,28 60,2 ± 7,34

COC 1008,8 ± 57,72 88,0 ± 8,44 70,5 ± 9,47

IBO 600,3 ± 48,89 157,9 ± 25,82 139,8 ± 21,90

IBO+COC 277,7 ± 4,70 28,6 ± 7,22 29,5 ± 1,24

Outro alvo de atuação da ibogaína relacionado com as vias dopaminérgicas seria sua

capacidade de aumentar a expressão de um fator de crescimento denominado fator

neurotrófico derivado das células da glia (GNDF), que é responsável por estimular o

crescimento dos axônios dos neurônios dopaminérgicos e suas interconexões, permitindo que

áreas do cérebro relacionadas com a dependência sejam reparadas, além de estimular a

produção dos neurotransmissores responsáveis pela produção do prazer. Ao estimular a

produção de mais GNDF, a ibogaína provoca um feedback positivo, permitindo que a

regeneração neuronal continue, mesmo após sua excreção, levando a um efeito a longo prazo

(RON, JANAK, 2005; VASTAG, 2005; CARNICELLA, RON, 2009).

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A ibogaína é metabolizada pelo fígado a partir da uma o-demetilação, gerando um

metabólito de longa duração denominado noribogaina ou 12- hidroxibogamina (POPIK,

SKOLNICK, 1999; MASH et al., 2000; FREEDLANDER, 2003). Uma alta dose de ibogaína

pode causar saturação ultrapassando a capacidade enzimática de metabolização no fígado

resultando na acumulação da ibogaína em tecido adiposo até ser totalmente biotransformada

em noribogaina, levando pelo menos 12 horas após a administração para eliminação neste

tecido, explicando a longa duração de efeito de uma única dose e sua elevada meia-vida

biológica (POPIK, GLICK, 1996; FREEDLANDER, 2003). Um estudo envolvendo três

pacientes dependentes de opióide demonstrou que após aproximadamente 4 horas de sua

administração por via oral, a ibogaína atingiu seu pico de concentração plasmática, chegando

a atingir de 600 a 1250 ng/ml, em doses elevadas de 800 e 1000 mg respectivamente, levando

mais de 24 horas (>90%) para ser completamente eliminada, enquanto seu metabólito

continuou presente no sangue em altas concentrações após esse período. Em uma dose mais

baixa de 500 mg, a concentração de ibogaína encontrada no sangue foi muito baixa (não

chegando, o pico de concentração, nem perto de 250 ng/ml), enquanto a concentração de

noribogaina, assim como seu pico de concentração, chegou a atingir valores bem próximos

dos encontrados após a administração das doses mais elevadas (Figura 8). O mesmo estudo

relata que apenas na dose de 500 mg não foi reportada alucinação após a ingestão da ibogaina,

porem as três doses (500 mg, 800 mg e 1000 mg) foram capazes de diminuir os sintomas de

abstinência nos dependentes de opióides, sugerindo que a ação do metabólito (noribogaina)

pode ser responsável, pelo menos em parte, pela capacidade da ibogaína de reduzir os

sintomas de abstinência em dependentes dessa classe de drogas (MASH et al., 1998). Outro

estudo envolvendo um grupo de pacientes dependentes de opióide e um grupo de pacientes

dependentes de cocaína demonstrou resultados similares aos descritos a cima (MASH et al.,

2000), sugerindo o mesmo sobre o metabólito na capacidade da ibogaína de reduzir os

sintomas de abstinência também em dependentes de cocaína.

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Figura 8: Farmacocinética da ibogaína e seu metabólito, noribogaína, durante as primeiras 24 horas

após administração de ibogaína por via oral em espécie humana (MASH et al., 1998).

Nota: SKM2 (Homem 39 anos, 800 mg); SKM-15 (Homem 46 anos,1000 mg); SKF2 (Mulher, 30 anos,

500 mg) (MASH et al., 1998).

Apesar dos benefícios que a ibogaína pode trazer ao tratamento da dependência ao

crack e outras drogas, sua segurança toxicológica ainda precisa ser estabelecida. Sabe-se que

sua dose letal 50% (DL 50) pode variar de 82 mg/kg à 327 mg/kg em porco e rato por via

intraperitonial e oral (Quadro 6). Os efeitos adversos mais comuns que o uso de ibogaína pode

gerar são náuseas, vômitos, fotossensibilidade, alterações discretas da pressão arterial, tremor

e ataxia, observados nas primeiras horas após a ingestão da substância e desaparecendo após

48 horas, sem consequências mais severas (SHEPPARD,1994; ALPER et al., 1999; CIENKI,

MASH, HEARN, 2001; MASH et al., 2001; KONTRIMAVICIUTE et al., 2006; HOELEN,

SPIERING, VALK, 2009; PALING et al., 2012; JALAL, DAHER, HILU, 2013;

SCHENBERG et al., 2014; O´CONNEL et al., 2015; SCHEP et al., 2016). Já entre os efeitos

adversos mais graves, encontra-se principalmente neurotoxicidade e problemas cardíacos,

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além de casos raros de coma (PAILING et al., 2012; PLESKOVIC et al., 2012; SHAWN et

al., 2012; VLAANDEREN et al., 2014; SCHEP et al, 2016), convulsões (HOELEN,

SPIERING, VALK, 2009; ALPER, STAJIC, GIL, 2012; ASUA, 2013; VLAANDEREN et

al., 2014; BREUER et al., 2015; SCHEP et al., 2016) e dificuldades respiratórias (ALPER et

al., 1999; JALAL, DAHER, HILU, 2013; KONTRIMAVICIUTE et al., 2006; PALING et al.,

2012; SCHEP et al., 2016). A ibogaína apesar de considerada alucinógena não causa

dependência, principalmente devido a seus efeitos adversos mais comuns que geram

desconforto ao usuário (ALPER, STAJIC, GILL, 2012), doses repetidas de ibogaína que

variaram de 10 a 40 mg/kg (doses geralmente adotadas no contexto do tratamento da

dependência química) não demonstraram causar dependência em estudos com ratos (ACETO

et al., 1990).

Quadro 6: Valores determinados da DL 50 da ibogaína.

Espécie Via de

administração Dose Referência

Porco Intraperitonial 82 mg/kg Dhahir, 1971

Rato Intraperitonial 145 mg/kg Popik & Skolnick, 1999

Rato Oral 327 mg/kg Popik & Skolnick, 1999 Fonte: TOXNET, disponível em https://chem.sis.nlm.nih.gov/chemidplus/rn/83-74-9.

A neurotoxicidade causada pelo uso de ibogaína está relacionada principalmente

com a perda de células de Purkinje, localizadas no cerebelo. Trata-se de uma degeneração

dose-dependente, observada de forma mais severa em doses elevadas (O´HEARN,

MOLLIVER, 1997) tendo sido observada a perda de células do cerebelo em animais que

receberam 50 mg/kg de ibogaína por via intraperitonial (comparável à via intravenosa no ser

humano) (XU et al., 2000). Por outro lado, estudos realizados em primatas demonstraram que

a ibogaína por via oral quando administrada em 5 doses de 25 mg/kg, posologia bastante

usada no tratamento de dependentes de cocaína, parece ser segura e não causar danos

neuronais. (MASH, 1995; MASH et al., 1998). Em humanos, o grupo de Deborah C. Mash,

acompanhou a evolução neuropatológica de uma paciente do sexo feminino dependente de

opíoide e cocaína, com histórico de diversos problemas de saúde como asma, ulcera péptida,

hipertensão e amenorréia por um longo período, apresentando resultados positivos no exame

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de urina para cocaína, opióide e maconha. A paciente recebeu 4 doses de ibogaína ao longo de

15 meses que variavam de 10 a 30 mg/kg, no entanto não foi detalhado a posologia, nem o

intevalo de tempo entre as administrações das doses. Após 25 dias da última administração a

paciente veio a falecer por causas naturais (trombose venosa mesentérica) e foi observado que

não houve evidencias de mudanças neurodegenerativas ao longo do tratamento com ibogaína

(MASH et al., 1998). Um estudos focado na neurotoxicidade definiu como maior dose onde

não se observou efeito adverso (NOAEL) o valor de 25 mg/kg por via intraperitonial (XU et

al., 2000), sendo para muitos autores esse nível de dose considerado seguro para

administração por via oral em pacientes dependentes de drogas (MASH et al., 1998; SCHEP

et al.,2016).Além da neurotoxicidade, a ibogaína pode gerar problemas cardíacos, foi referido,

prolongamento no intervalo QT (período que vai desde o início da despolarização até o final

da repolarização ventricular), levando a demora na repolarização ventricular propiciando o

desenvolvimento de taquicardia ventriculares do tipo torsades de pointes (TdP) e morte súbita

(NOGUEIRA et al., 2011). Estudos demonstram que a ibogaína é capaz de reduzir a corrente

que passa através das subunidades hERG (human ether-a-go-go-related gene) dos canais de

potássio do coração, responsáveis por normalizar a atividade elétrica cardíaca em humanos,

de modo reversível e dependente da concentração, prolongando assim o intervalo QT

(KOENIG et al., 2014). Koenig et al. (2014) observou que o IC 50, ou seja a dose de ibogaína

necessária para inibir 50 % da atividade das subunidade hERG em células in vitro TSA-201 e

HEK 293 é aproximadamente 4 µM (0,00124 mg/ml ou 1240 ng/ml). Em diversos estudos é

possível observar a administração de doses iguais ou superiores a 1000 mg de ibogaína em

pacientes dependentes de drogas, segundo Mash et al. (1998) após a ingestão de uma dose de

1000 mg a concentração sanguínea de ibogaína é de aproximadamente 1250 ng/ml que se

considerarmos que 100% seja distribuído para o encéfalo, equivaleria a, um valor similar ao

capaz de inibir 50 % da atividade das subunidade hERG em células in vitro, aumentando o

risco de um QT prolongado podendo levar a arritmias, o que pode ser fatal principalmente em

pacientes com histórico de uso crônico de drogas simpatomiméticas como a COC/crack,

como é o caso dos pacientes que procuram o tratamento com essa substância. Outros efeitos

menos comuns registrados foram hipotensão (MASH et al., 2001; SCHEP et al., 2016),

bradicardia sinuosa (ASUA, 2013; PLESKOVIC et al., 2012; SHAWN et al., 2012; SCHEP

et al., 2016) e baixa concentração de alguns sais minerais importantes no sangue (HOELEN,

SPIERING, VALK, 2009; PALING et al., 2012; SHAWN et al., 2012; SCHEP et al., 2016).

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Entre 1990-2008 foram relatados 19 casos de morte relacionados com o uso da

ibogaína, sendo 15 homens e 4 mulheres entre 24 e 54 anos de idade. As mortes ocorreram

entre 1,5 – 76 horas após os indivíduos terem usado a substância tanto para fins de

desintoxicação (15), como para fins religiosos (2) ou desconhecidos (2). Não foi sugerida

nenhuma evidência clínica ou post-mortem característica de neurotoxicidade, sendo o motivo

das mortes desconhecido uma vez que a ibogaína por ser ilegal na maioria dos países é

administrada em ambientes sem controles clínicos e farmacêuticos, além de não haver dados

suficientes sobre a concentração tóxica da ibogaína em seres humanos. Porém problemas

cardiovasculares e uso de drogas de abuso durante o tempo de tratamento com a ibogaína

parecem estar ligados com essas fatalidades (ALPER, STAJIC, GILL, 2012; STRAVOULA

et al., 2013).

Apesar de muitos autores considerarem a dose de 25 mg/kg por via oral segura, e de já

serem usadas doses orais que variam de 10 a 30 mg/kg para o tratamento de pacientes

dependentes de drogas, alguns autores sugerem que a dose segura administrada por via oral,

está muito abaixo desse valor, para Mash et al. (1998) a dose inicial usada para o tratamento

de pacientes viciados deveria variar entre 1-2 mg/kg, já para Glue et al. (2015) a dose de 20

mg para qualquer paciente seria considerada segura, enquanto para Schep et al. (2016)

baseado em cálculos usados pelo Programa Internacional de Segurança Química (IPCS) a

dose considerada segura deveria ser de 0.87 mg/kg (SCHEP et al., 2016). Tais controvérsias

demonstram que o uso da ibogaína para o tratamento de dependentes químicos, ainda esta

longe de ser considerado seguro.

Levando em consideração o grave problema psicossocial, as comorbidades

relacionadas à dependência ao crack e a falta de tratamentos com alto índice de eficácia, a

ibogaína parece representar uma estratégia farmacoterapêutica promissora cuja patente foi

registrada para tratamento da dependência à cocaína há anos, porém já expirou sem que

qualquer medicamento a base de ibogaína tenha sido objeto de avaliação de segurança das

agências regulatórias e registrado. Por outro lado, no âmbito acadêmico estudos sobre eficácia

e segurança vêm sendo realizados, sendo possível através da compilação e interpretação de

tais estudos avaliar os potenciais benefícios e riscos da adoção deste fármaco no tratamento da

dependência ao crack. Ainda é importante levarmos em consideração a falta de estudos

controlados de eficácia e segurança em humanos o que resulta em suposições e falta de

resultados concretos, além de resultados equivocados uma vez que por se tratar de uma

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substância não regulamentada muitos estudos são feitos sem conhecer a pureza, origem e

autenticidade do material utilizado na pesquisa e sem qualquer controle de qualidade.

Seus benefícios já foram demonstrados anteriormente nessa revisão (Quadros 2 e 3)

quando citamos diferentes estudos com modelo animal, pré-clínico, e relatos de casos, que

evidenciam a eficácia da ibogaína no combate ao vício de diferentes drogas de abuso. A

ibogaína demonstrou ser benéfica ao diminuir ou até mesmo extinguir os sinais/sintomas da

síndrome de abstinência em dependentes de diferentes drogas de abuso e até mesmo ser capaz

de acabar com o vício pelo menos a curto prazo, sendo ainda bem escasso e confuso o

conhecimento sobre o mecanismo de ação responsável por essa capacidade, havendo

diferentes hipóteses sobre sua interação com diversos neurotransmissores que parecem estar

relacionados com a adicção.

Para avaliarmos os riscos do uso da ibogaína no tratamento de dependência ao crack é

importante conhecermos seu potencial toxicológico para então compararmos os riscos de seu

uso com os riscos que o crack pode gerar a saúde e analisar o que é menos nocivo aos

usuários. Uma forma de comparar o potencial tóxico de duas substâncias é através de seus

valores de DL 50, os valores de DL 50 da ibogaína tanto por via IP como por via oral em

ratos, é maior (2 a 3 vezes) do que a DL 50 da cocaína (Quadro 7), sendo possível inferir que

a COC/crack é capaz de matar em doses muito menores do que a ibogaína, assim se a

ibogaina for realmente capaz de manter o paciente abstinente à COC/crack será possível

inferir que a ibogaína representa um tratamento compassivo, isto é, diante da absoluta

ineficácia de outros tratamentos, a ibogaína preveniria o risco do uso de crack, uma vez que

uma característica deste distúrbio é o uso de dose cada vez maiores para a obtenção do efeito

que antes era obtido com doses menores e que muitas vezes pode levar o usuário à

superdosagem e óbito. Ainda é importante ressaltar que a dose de ibogaína administrada por

via oral em pacientes dependentes varia normalmente entre 10 a 25 mg/kg, um valor bem

abaixo de sua DL 50, já as doses consumidas de COC/Crack são desconhecidas e bem

variáveis. No entanto essa consideração levanta um risco no tratamento com a ibogaína, uma

vez que o uso da ibogaína para fins terapêuticos não é regulamentado, sendo realizado

provavelmente de forma ilegal onde parece ser difícil conhecer a pureza e a concentração de

ibogaína em uma dose, o que dificulta saber a quantidade exata de ibogaína ingerida. Outro

provável risco no tratamento com a ibogaína também estaria relacionado com seu uso de

forma ilegal, uma vez que ao não ser realizado em ambiente médico-hospitalar colocaria em

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risco a vida do paciente devido à falta de acompanhamento médico-farmacêutico, além

das condições sanitárias do ambiente. Por outro lado, é importante considerar que todos esses

riscos também são observados no consumo do crack, que é feito na maioria das vezes na rua

sem conhecimento algum da natureza da substância, tornando o paciente mais propenso a

utilizar a ibogaína sem controle sanitário sem temer as consequências de um tratamento de

risco, visto que a enfermidade per se já é considerada de alto risco.

Quadro 7: Comparação dos valores de DL50 estimados para ibogaína e cocaína.

Ibogaina Espécie; VA Cocaína

145 mg/kg Rato IP 70 mg/kg

327 mg/kg Rato Oral 99 mg/kg

Fonte: TOXNET, disponível em https://chem.sis.nlm.nih.gov/chemidplus/rn/83-74-9 e

https://chem.sis.nlm.nih.gov/chemidplus/rn/50-36-2.

Problemas cardíacos e de neurotoxicidade parecem ser as principais complicações à

saúde que o tratamento com a ibogaína pode gerar, tais complicações também são observadas

em usuários de crack, que ainda podem sofrer com outras complicações severas como

problema pulmonar e overdose, além de ser uma substância com alto poder de dependência e

riscos não apenas ao usuário mas também a sociedade, uma vez que usuários de crack

apresentam na maioria das vezes problemas psiquiátricos podendo apresentar comportamento

violento, o que aparentemente não é observado durante o uso da ibogaína. O crack é

responsável por milhares de casos de fatalidades por ano, na maioria relacionadas a

complicações na saúde, overdose, ou até mesmo violência, em contrapartida supõe-se que em

um intervalo de quase 20 anos as fatalidades relacionadas ao uso da ibogaína no tratamento

das adicções não ultrapassaram de 20 casos, embora seja importante considerar a falta de

dados de ensaios clínico controlados e de que essa substância é pouco conhecida justificando

uma baixa prevalência de uso que pode impactar no número de casos de intoxicação

registrados. Também é importante considerar que a toxicidade foi comparada em termos

dicotômicos, ou seja, supondo que o indivíduo deixe de consumir crack pelo consumo de

ibogaína, no entanto, caso o tratamento não dê certo e o indivíduo continue consumindo crack

teremos a somatória das toxicidades e os efeitos neurotóxicos e cardíacos provavelmente se

intensificarão aumentando a probabilidade de óbito.

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4.5 Regulamentação e o uso da ibogaína no Brasil

Segundo a ANVISA, não há nenhum medicamento à base de ibogaína registrado no

país, sendo proibidos o seu comércio, produção e distribuição para esta finalidade

farmacêutica. Em pesquisa sobre a ibogaína no sítio eletrônico da ANVISA foi encontrado o

comunicado:

“A substância ibogaína é produzida fora do país e, portanto, não

poderia ser importada por não ter sido previamente avaliada quanto a

sua segurança e eficácia, conforme Art 5º da RDC 204/2006: Art. 5º

Ficam proibidas a importação e comercialização de insumos

farmacêuticos destinados à fabricação de medicamentos que ainda não

tiverem a sua eficácia terapêutica avaliada pela Agência Nacional de

Vigilância Sanitária. Parágrafo único. Excetuar do disposto no caput

deste artigo a utilização com a estrita finalidade de pesquisas e

trabalhos médicos e científicos. Assim, como a ibogaína não possui e

nem possuiu registro, não foi avaliada pela ANVISA quanto a

segurança e eficácia, não podendo ser comercializada no Brasil. A

importação é possível para realização de pesquisa clínica, conforme

determina o parágrafo único da norma supracitada.

Pelo fato de que, até o momento atual, não existem produtos

registrado na Anvisa com ibogaína, não nos foram apresentados dados

de publicações técnico-científicas ou estudos não-clínicos e clínicos

que suportem a segurança e eficácia dessa substância ou do derivado

vegetal de iboga. Portanto, não é possível conhecer quais os

benefícios da utilização nem quais os efeitos colaterais que pode

causar.” (ANVISA)

Por outro lado, a Coordenação de Fitoterápicos, Dinamizados e Notificados (COFID)

da própria ANVISA emitiu um comunicado em 2015 se manifestando sobre o uso medicinal

da ibogaína e sua proibição, onde informa que não ha restrições sanitárias na importação da

ibogaína para uso pessoal já que a substância não aparece classificada na Portaria n° 344/98.

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“Informamos que não há, atualmente, restrições legais à ibogaína no

Brasil, conforme atualizações da Portaria nº 344/98, mas seu uso

como medicamento não está regulamentado, uma vez que a Anvisa

não recebeu nenhum pedido de registro para essa substância. Dessa

forma, o único modo legal de utilizar a substância no país é por meio

da manipulação em farmácias autorizadas, a partir da prescrição de

profissional habilitado. Pelo fato de, até o momento atual, não existir

produto registrado na Anvisa com ibogaína, não nos foram

apresentados dados de publicações técnico-científicas ou estudos não-

clínicos e clínicos que suportem a segurança e eficácia dessa

substância ou do derivado vegetal de iboga, portanto, não conhecemos

quais os benefícios da utilização nem quais os efeitos colaterais que

podem causar.” (ANVISA, 2015)

Ao ser questionada sobre o uso religioso da raiz de iboga, a ANVISA respondeu:

“A ANVISA regulamenta o uso de plantas medicinais empregadas

com finalidade terapêutica, comercializadas sob a forma de

medicamentos. No Brasil, os medicamentos podem ser

industrializados por indústrias farmacêuticas ou manipulados em

farmácias, sendo essa atividade, em qualquer caso, regulada pela

ANVISA. Assim, qualquer medicamento industrializado a base de

plantas medicinais deve ser registrado perante esta Agência e só pode

ser produzido por empresa devidamente autorizada, ou seja, que

possui autorização de funcionamento expedida pela ANVISA. No

mesmo sentido, medicamentos contendo plantas medicinais só podem

ser manipulados por farmácias devidamente autorizadas pela

ANVISA. O uso não medicinal das plantas não é objeto de

regulamentação por parte desta Agência.” (ANVISA, 2015).

Ainda em 2015 o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo

(CREMESP), realizou uma consulta publica em que o assunto era: “sobre determinada raiz

africana (ibogaína) que não possui registro no Brasil”, em que diz que a ANVISA autoriza a

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importação da raiz sem registro para uso pessoal, mas informa que para tanto, são exigidos

alguns documentos, como: receita médica, laudo médico e termo de responsabilidade firmado

por médico e pelo paciente, sendo o parecer final da consulta que por se tratar de um

medicamento sem registro no Brasil, o profissional médico não poderá receitar o uso de

ibogaína (CREMESP, 2015). Ao contrario da posição do CREMESP, o Conselho Estadual de

Políticas Sobre Drogas (CONED) de são Paulo publicou no dia 14 de Janeiro de 2016, no

Diário Oficial do Estado de São Paulo, resoluções que tornam a partir de agora, obrigatório

que esse tipo de tratamento seja realizado em ambiente hospitalar, com acompanhamento

médico e psicológico (Figura 9). Isto mostra as leituras controversas dos atores envolvidos na

regulação do tema.

Figura 9: Comunicado do CONED no Diario Oficial do Estado de São Paulo.

Fonte: Diário Oficial do Estado de São paulo, disponível em

https://www.imprensaoficial.com.br/DO/BuscaDO2001Documento_11_4.aspx?link=/2016/executivo%2520seca

o%2520i/janeiro/14/pag_0008_03LJJBMC1BI06e7OF2AE5VBH6G0.pdf&pagina=8&data=14/01/2016&cadern

o=Executivo%20I&paginaordenacao=100008.

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Diante das dúvidas e controvérsias sobre o uso, comércio e importação da ibogaína no

Brasil, a ANVISA publicou recentemente em seu sítio eletrônico um comunicado com o título

“Ibogaína não pode ser vendida no Brasil”, onde diz não ser permitido o comercio da raiz da

planta africana no país.

“Além de nenhuma empresa ter solicitado a avaliação e o

registro do produto, a Agência não pode assegurar a eficácia e a

segurança da ibogaína. No entanto, a importação da substância é

possível para realização de pesquisa clínica. Esta exceção está prevista

na RDC 204/2006...” (ANVISA, 2016).

Apesar do recente posicionamento da ANVISA, em pesquisa realizada na internet é

possível localizar facilmente algumas opções de tratamento para dependendência química

com o uso de ibogaína no Brasil. As principais opções são as clínicas de reabilitação de

usuários de drogas, como o crack. Pelo menos quatro clínicas em São Paulo, uma no Rio de

Janeiro e uma em Curitiba usam a internet como meio de divulgação desse “promissor

tratamento contra as drogas”, como é descrita a terapia com a ibogaína por essas clínicas.

Em alguns sites é possível ter acesso a relatos de famíliares e pessoas que já passaram

pelo tratamento e obtiveram sucesso, e na maioria deles é preciso entrar em contato por

telefone ou e-mail para mais informações sobre o assunto. Em contato por e-mail uma das

clínicas explicou como é feito o tratamento e os valores cobrados (Figura 10).

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Figura 10: Contato por e-mail com uma clínica de reabilitação que oferece o tratamento para

dependência química com o uso de ibogaína no Brasil.

Também é possível encontrar na internet desde a venda da muda da planta Tabernathe

iboga pelo valor de R$ 349,90, até mesmo partes dela, como a casca da raiz, com valores que

variam entre R$ 120,00 para 5 gramas até R$ 970,00 para 50 gramas ou o fruto redondo que

custa R$ 99,90 e é onde encontram-se as sementes (8 a 15) para o plantio. Alguns sites dizem

não fazerem mais a venda desse produto apesar da propaganda, já outros informam que o

produto não é destinado ao consumo humano, não sendo vendido para terapia de dependencia

química, apenas para fins de pesquisa, coleção e amostra botânica, porém a venda é livre,

podendo qualquer pessoa comprar sem declarar sua finalidade.

Apesar da publicação recente da ANVISA esclarecendo e reforçando a proibição do

comércio e importação da ibogaína no Brasil, foi possível localizar com bastante facilidade

diferentes formas de acesso ao tratamento com a substância. A venda pela internet parece ser

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feita de forma livre, sem maiores dificuldades, assim como os tratamentos oferecidos pelas

clínica de reabilitação, que conseguem a ibogaína por meio da importação ilegal das cápsulas

contendo o cloridrato de ibogaína. Essa facilidade pode estar relacionada com as diversas

controvérsias sobre o assunto e a falta de uma legislação específica sobre a ibogaína e seus

fins terapêuticos, além da falta de fiscalização que deveria ser realizada pela agência

reguladora. O uso da ibogaína para tratamentos de dependentes químicos no Brasil parece já

ter sido utilizado em diversos pacientes, e apesar de ser considerado ilegal, sem comprovação

da eficácia e segurança e em muitos casos realizado sem controle de qualidade e fora de

ambiente médico-hospitalar, não foi registrado até o presente momento, nenhum caso de

morte durante o tratamento com o uso da substância no país.

Assim como no Brasil, em muitos outros países, como nos EUA e na Argentina, o uso

da ibogaína ainda não é aceito de forma legal para tratamentos médicos. Na agência de

regulação sanitária dos EUA (Food and Drug Administration - FDA), a ibogaína encontra-se

na lista de substâncias controladas (Schedule I), sendo classificada como alucinógena (Figura

11). As substâncias classificadas como Schedule I são substâncias que não são atualmente

aceitas para fins terapéuticos no país e não apresentam segurança comprovada para seu uso

mesmo sob supervidão médica, além de apresentarem alto potencial de abuso (FDA, 2009).

Figura 11: Legislação da ibogaína nos EUA.

Fonte: FDA, disponível em http://www.fda.gov/regulatoryinformation/legislation/ucm148726.htm.

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Na Agência Nacional de Medicamentos, Alimentos e Tecnologia Médica (ANMAT)

da Argentina, a raiz da espécie Tabernanthe iboga encontra-se na lista negativa de plantas

tóxicas (Figura 12), o que significa que ela não pode estar presente na formulação de

medicamento fitoterápico a ser registrado, (ANMAT, 2009), sendo a Argentina mais um país

que proíbe a comercialização da ibogaína para fins médicos.

Figura 12: Legislação da raiz da Tabernanthe iboga na Argentina.

Fonte: ANMAT, disponível em

http://www.anmat.gov.ar/webanmat/mercosur/pdf_files/01ag_coprosal/AGREGADO_VIII_MODIFICACION_

FITOTERAPICOS%20arg.pdf.

Em algumas agências reguladoras consultadas, não foi encontrada nenhuma menção a

regulação da ibogaína, como é o caso da EMEA (Agência Europeia de Medicamento – União

Europeia), MHRA (Agência Reguladora de Medicamentos e Produtos da Saúde – Reino

Unido) e INVIMA (Instituto Nacional de Vigilância de Medicamentos e Alimentos -

Colômbia).

O consumo do crack no Brasil aumentou muito nos últimos anos se tornando um

problema de saúde pública, trazendo sérios riscos aos usuários e aumentando a percepção de

insegurança à sociedade que se vê acuada em locais onde os usuários se concetram

denominadas popularmente “cracolândias”. Diversas ações foram e são realizadas na tentativa

de diminuir os índices de consumo da droga, como o programa coordenado pelo Ministério da

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Justiça “Crack, é possível vencer”, que busca desde a prevenção do consumo até o tratamento

da dependência e vem sendo implementado em parceria com outros ministérios.

Levando em consideração que o que o diagnóstico de dependência ao crack representa

uma condenação ao paciente e aos seus familiares pela falta de tratamentos eficazes e que a

ibogaína vem sendo empregada coomo estratégia terapêutica com registros de experiência

positivas e que seu uso está respaldado em seu histórico científico como o registro de uma

patente (Procedimento Endabuse) já expirada relacionada ao uso desse alcalóide no

tratamento da dependência à cocaína, além de diversas evidências envolvendo não apenas

modelo animal mas também humanos que indicam sua possível eficácia e uma segurança

relativa, torna-se de clareza solar a necessidade de se proceder estudos clínicos no país como

estratégia do programa nacional "Crack é possível vencer".

A incidência da dependência ao crack na população é bastante inferior a dos distúrbios

psiquiátricos como depressão e, provavelmente nenhuma indústria farmacêutica tenha

interesse em desenvolver um medicamento com tal especificidade cujo lucro não superaria o

custo. Nesse contexto, os órgãos ligados à ciência e tecnologia com foco no Sistema Único de

Saúde, por exemplo, a FIOCRUZ que congrega tanto indústria farmacêutica (Farmanguinhos)

quanto Plataforma de Pesquisa Clínica poderia assumir a responsabilidade do

desenvolvimento de estudo clínicos controlados com um fitomedicamento a base de iboga.

Nos últimos 4 anos (2011-2015) o governo federal investiu R$ 3,6 bilhões em ações do

Programa de Políticas sobre Droga – Crak, é possível vencer (Disponível em

http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2015-04/governo-investiu-em-quatro-anos-r-36-

bilhoes-no-combate-drogas-diz-senad), é fato que tal programa se pauta também na prevenção

do uso e combate ao narcotráfico, mas é importante ressaltar que uma parte deste valor seria

bem empregado no desenvolvimento de pesquisa clínica e produção de medicamento para os

casos onde o uso está ocorrendo e a dependência já instalada. Embora o tratamento da

dependência transcenda a questão farmacológica, sendo de igual importância a abordagem

psicossocial, certamente muitos indivíduos que estão em situação de rua nas chamadas

"cracolândias" estarão dispostos a participar de estudos clínicos com ibogaína e o país estaria

protagonizando a solução de um problema que causa grande desconfoto à nação e intenso

sofrimento para o dependente de crack e seus afetos.

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5. CONCLUSÕES

Diante dos riscos que acompanham a dependência ao crack e da falta de tratamentos

eficazes, a ibogaína, alcalóide presente na Tabernanthe iboga, aparece como uma

estratégia promissora no tratamento farmacoterapêutico.

A ibogaína apresenta evidências experimentais e clínicas de eficácia no tratamento da

dependência de diversas drogas de abuso, diminuindo a fissura e a auto-administração

e parece apresentar moderada toxicidade aguda sem potencial adictivo.

A despeito da ANVISA não permitir a comercialização e a importação da raiz da

iboga para fins terapêuticos, diversas clínicas especializadas vem realizando

tratamento para a dependência ao crack de forma ilegal, existindo relatos de resultados

positivos, mas poucos dados sobre segurança e eficácia.

A avaliação do risco-benefício do uso da ibogaína no tratamento da dependência ao

crack suporta a ideia dos órgãos ligados à ciência e tecnologia com foco no SUS

procederem a produção de medicamento à base de ibogaína para realização de estudos

clínicos.

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