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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS Emanuell dos Santos Silva NANOPARTÍCULAS POLIMÉRICAS BIODEGRADÁVEIS DE POLI (ÁCIDO LÁCTICO-CO-GLICÓLICO) FUNCIONALIZADAS PARA INCORPORAÇÃO DE PEÇONHA DE Bothrops jararaca ORIENTADOR: Arnóbio Antônio da Silva Júnior CO-ORIENTADOR: Matheus de Freitas Fernandes Pedrosa NATAL-RN 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS

Emanuell dos Santos Silva

NANOPARTÍCULAS POLIMÉRICAS BIODEGRADÁVEIS DE POLI (ÁCIDO

LÁCTICO-CO-GLICÓLICO) FUNCIONALIZADAS PARA

INCORPORAÇÃO DE PEÇONHA DE Bothrops jararaca

ORIENTADOR: Arnóbio Antônio da Silva Júnior

CO-ORIENTADOR: Matheus de Freitas Fernandes Pedrosa

NATAL-RN

2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS

Emanuell dos Santos Silva

NANOPARTÍCULAS POLIMÉRICAS BIODEGRADÁVEIS DE POLI (ÁCIDO

LÁCTICO-CO-GLICÓLICO) FUNCIONALIZADAS PARA

INCORPORAÇÃO DE PEÇONHA DE Bothrops jararaca

Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Ciências Farmacêuticas, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Mestre em Ciências Farmacêuticas.

ORIENTADOR: Arnóbio Antônio da Silva Júnior

CO-ORIENTADOR: Matheus de Freitas Fernandes Pedrosa

NATAL-RN

2018

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências da Saúde - CCS

Silva, Emanuell dos Santos.

Nanopartículas poliméricas biodegradáveis de poli (ácido

láctico-co-glicólico) funcionalizadas para incorporação de

peçonha de Bothrops jararaca / Emanuell dos Santos Silva. -

2018.

72f.: il.

Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande do

Norte, Centro de Ciências da Saúde, Pós-Graduação em Ciências

Farmacêuticas. Natal, RN, 2018.

Orientador: Arnóbio Antônio da Silva-Júnior.

Coorientador: Matheus de Freitas Fernandes Pedrosa.

1. Bothrops (jararaca) - Dissertação. 2. Nanopartículas de

PLGA - Dissertação. 3. Imunoadjuvantes - Dissertação. 4.

Nanobiotecnologia - Dissertação. I. Silva Júnior, Arnóbio Antônio

da. II. Pedrosa, Matheus de Freitas Fernandes. III. Título.

RN/UF/BS-CCS CDU 598.115.33

Elaborado por ANA CRISTINA DA SILVA LOPES - CRB-15/263

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Emanuell dos Santos Silva

NANOPARTÍCULAS POLIMÉRICAS BIODEGRADÁVEIS DE

POLI (ÁCIDO LÁCTICO-CO-GLICÓLICO) FUNCIONALIZADAS

PARA INCORPORAÇÃO DE PEÇONHA DE Bothrops jararaca

NATAL / RN

2018

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Dedico este trabalho ao meu Deus, e aos meus pais Francisca Maria e Manoel

Neto, que em TUDO estiveram do meu lado.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, primeiramente, pela grande misericórdia, paciência e bondade que

tem tido comigo e por ter me livrado de todo o mal até o presente momento,

nunca esquecendo de mim.

Aos meus pais, por terem sido o meu suporte e meu afago nos momentos

mais difíceis, nunca me faltando o seu amor verdadeiro, carinho e compreensão.

Ao meu irmão Esaul Santos, por ser a pessoa que consegue tirar a minha

infinita paciência nas horas mais inoportunas, mas que me faz o amar e apoiar a

cada dia.

A toda minha família, por me inspirar a ser alguém melhor a cada dia, não

só por mim, mas também por eles.

Aos meus, não muitos, amigos, todos eles que conseguiram me

compreender e me respeitar na decisão de estar sempre me dedicando aos

estudos e mesmo com minha ausência, permaneceram por mim. Em especial a

Marcus Guedes por ter sido meu grande irmão, mesmo que distante, que me

ajudou e me suportou em quaisquer que fossem as circunstâncias; e a Iaponira

Barbosa que pegou na minha mão e me trouxe o grande presente de enxergar o

mundo da maneira mais real que ele possa ser.

Ao professor, doutor, orientador, aconselhador, paciente, pai, de ótimo

senso de humor, as vezes um pouco duro nas palavras, de ótimas intenções,

Arnóbio (SILVA-JÚNIOR, A.A) por ter todos esses adjetivos, por confiar em

minha capacidade e ter me dado a oportunidade de entrar na sua equipe e ter

experiências que eu jamais imaginaria.

Ao professor, meu coorientador, Matheus Pedrosa pela disponibilidade e

confiança no meu trabalho, ensinando a importância de se trabalhar em equipe e

dentro dos planos.

As minhas filhotas IC’s, Renata de Carvalho, Laise Cerqueira e

Mariana Farias por terem tido toda essa paciência comigo, me suportando nos

altos e baixos, nos meus devaneios e hipóteses malucas, minhas tentativas de

ajuda e por todo o apoio.

Ao meu grupo de pesquisa em nanotecnologia, Alaine, Arthur, Lannya,

Tábata, Edilamar, Ednaldo e tantos outros que já concluíram sua passagem pelo

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grupo e deixaram um pouco deles em mim, para que eu possa crescer cada dia

mais como um excelente acadêmico.

Aos meus colegas de laboratório por me darem todo o orgulho que eu

poderia ter dentro do laboratório e serem pessoas que eu possa me inspirar e

contar sempre. Por todo o carinho e admiração de cada um, sabendo que

continuarei tendo vocês do meu lado e evoluindo junto comigo. Em especial,

Fiamma Gláucia que num dos momentos mais críticos da minha jornada, foi

muito além de colega de trabalho ou amiga, foi uma mãe, um ser humano de

imenso coração e me ajudou da forma mais especial que uma pessoa poderia

ajudar.

Aos meus parceiros do Programa de Pós-graduação em Ciências

Farmacêuticas, por todo o apoio durante essa trajetória.

Aos meus amigos e irmãos CCB, Deus os abençoe, seria impossível citar

todos e desejar tudo que penso, pois me faltam palavras.

A todos aqueles que minha mente consegue alcançar e até aqueles

somente torceram e me deram apoio e não consigo lembrar, o meu mais sincero

e humilde agradecimento. Meu muito obrigado.

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“Porquanto, ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; o produto da

oliveira minta, e os campos não produzam mantimento; as ovelhas da malhada

sejam arrebatadas, e nos currais não haja vacas, todavia, eu me alegrarei no

Senhor, exultarei no Deus da minha salvação. Jeová, o Senhor, é minha força, e

fará os meus pés como os das cervas, e me fará andar sobre as minhas alturas. ”

Habacuque 3:17-19

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RESUMO

Envenenamento por serpentes representa um problema de saúde pública

mundial. A pesquisa por novos imunoadjuvantes e vacinas expande as

alternativas terapêuticas e melhoram soros antivenenos. A nanotecnologia é

associada à melhoria do soro do antiveneno, uma vez que as nanopartículas

carregadas com veneno modulam a liberação de proteína e ativam o sistema

imune a produzir anticorpos específicos. As nanopartículas poliméricas são

dispersões coloidais com tamanhos entre 1-1000 nm que são utilizados como

sistemas de administração de fármaco e macromoléculas bioativas. O objetivo

deste estudo foi obter e caracterizar nanopartículas catiônicas biocompatíveis

para o carreamento de proteínas. Nanoparticulas menos que 200 nm de poli

(ácido láctico-co-glicólico) (PLGA) foram produzidas e funcionalizadas com

polietilenimina hiper-ramificada (PEI) usando a técnica de nanoprecipitação. Os

parâmetros físico-químicos avaliados por dispersão de luz dinâmica, medidas de

potencial zeta e morfologia foram monitorados para estabelecer uma formulação

adequada. Foram obtidas partículas de tamanho reduzido (100-200 nm), esféricas

e com eficiência de associação de proteína de aproximadamente 100%. A alta

eficiência de associação da proteína, a eletroforese e os resultados do potencial

zeta demonstraram que a peçonha de Bothrops jararaca foi adsorvida na

superfície da partícula, permanecendo como uma dispersão coloidal estável

durante 6 semanas. Foi observado um perfil de liberação lento seguindo o

mecanismo cinético de difusão parabólica. Os testes in vivo mostraram

capacidade imunoadjuvante das nanopartículas, semelhante ao encontrado com a

utilização de hidróxido de alumínio. Sendo assim, as nanopartículas catiônicas

como veículo para moléculas bioativas foram desenvolvidas com sucesso e

demonstraram-se como um imunoadjuvante promissor e um novo nanocarreador

para a liberação de proteína ou ácidos nucleicos.

Palavras-chaves: Bothrops jararaca, imunoadjuvantes, nanopartículas de poli

(ácido láctico-co-glicólico), nanobiotecnologia

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ABSTRACT

Snake-envenoming represents a worldwide public health issue. The search for

new immunoadjuvants and vaccines expands the therapeutics alternatives and

improves antivenoms sera. Nanotechnology is associated to antivenom serum

improvement once venom-loaded nanoparticles modulate the protein release and

activating immune response to produce specific antibodies. Polymeric

nanoparticles are colloidal dispersions with particle size between 1-1000 nm which

have been used as drug delivery systems for bioactive macromolecules. The aim

of this study is obtain and characterize biodegradable cationic nanoparticles to

proteins loading. The sub 200 nm poly (lactic-co-glycolic acid) (PLGA)

nanoparticles were produced and functionalized with hyper-branched

polyethylenimine (PEI) using the nanoprecipitation technique. The parameters

assessed by dynamic light scattering, zeta potential measurements and

morphology were monitored to establish a suitable formulation. Small-sized (100–

200 nm) and spherical particles with protein association efficiency of about 100%

were reached. The high protein loading efficiency, electrophoresis and zeta

potential results demonstrated that Bothrops jararaca venom were adsorbed on

particle surface, which remained as a stable colloidal dispersion (over 6 weeks). A

slow release protein profile was observed admitting the release kinetics by

parabolic diffusion. The in vivo studies showed immunoadjuvant ability of the

nanoparticles, similar to that found to aluminum hydroxide. Thus, the cationic

nanoparticles as carrier to bioactive molecules was successfully developed and

demonstrated to promising immunoadjuvant and a novel nanocarrier for protein or

nucleic acids release.

Keywords: Bothrops jararaca, immunoadjuvants, PLGA nanoparticles,

nanobiotechnology

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Lista de figuras

Figura 1. Representação esquemática do processo de obtenção de

nanopartículas pelo método de nanoprecipitação ....................... 20

Figura 2. Representação esquemática da estrutura química do

PLGA............................................................................................ 21

Figura 3. Representação esquemática da estrutura química da

polietilenimina............................................................................... 23

Figura 4. Serpente Bothrops jararaca.......................................................... 25

Figura 5. Diâmetro e potencial zeta (PZ) de nanopartículas poliméricas a

partir da variação da concentração de PLGA............................... 40

Figura 6. Diâmetro e potencial zeta de nanopartículas poliméricas a partir

da variação da concentração dos

surfactantes................................................................................. 42

Figura 7. Diâmetro e potencial zeta de nanopartículas poliméricas de

PLGA a partir da variação da razão de PEI:PLGA....................... 44

Figura 8. Determinação do perfil eletroforético de: MM, marcador

molecular; BJ, peçonha de Bothrops jararaca; PEI,

polietilenimina; NPC, nanopartículas catiônicas. Gel corado

com solução de nitrato de prata................................................... 48

Figura 9. Espectros de infravermelho de nanopartículas catiônicas

(NPC), peçonha pura de Bothrops jararaca (BJ) e

nanopartículas associadas a peçonha (NPC+BJ)........................ 50

Figura 10. Imagens topográficas em 2D e 3D obtidas por Microscopia de

Força Atômica e imagens de Microscopia Eletrônica de

Varredura...................................................................................... 52

Figura 11. Estudo de estabilidade física de nanopartículas catiônicas

(NPC); nanopartículas catiônicas associadas a peçonha de

Bothrops jararaca 0,5% (NPC+BJ0,5%); nanopartículas

catiônicas associadas a peçonha de Bothrops jararaca 1,0%

(NPC+BJ1,0%), no período de 45 dias......................................... 54

Figura 12. Perfil de liberação de proteínas in vitro de peçonha de Bothrops

jararaca, em diferentes concentrações (0,5 e 1,0%) associadas

a nanopartículas catiônicas, em função do tempo....................... 55

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Figura 13. Viabilidade celular de nanopartículas catiônicas em diferentes

concentrações (1,7; 7; 17,5; 35; 70 e 140 µg.mL-1) em células

sanguíneas durante 72 horas.......................................................

58

Figura 14. Taxa de apoptose celular de nanopartículas catiônicas de em

diferentes concentrações (1,7; 7; 17,5; 35; 70 e 140 µg.mL-1)

em células sanguíneas durante 72 horas .................................... 59

Figura 15. Avaliação dos títulos de anticorpos obtidos a partir de animais

imunizados com hidróxido de alumínio (Al(OH)3) e

nanopartículas catiônicas (NPC) associadas a peçonha de

Bothrops jararaca (BJ) em diferentes concentrações (0,5 e

1,0%). a) Densidade óptica na diluição de 1:200, b) Curva de

densidades ópticas em diluição seriada ...................................... 61

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Lista de Tabelas e Quadros

Tabela 1. Eficiência de Associação de BSA em nanopartículas catiônicas

de PLGA ...................................................................................... 45

Tabela 2. Eficiência de Adsorção da peçonha da serpente Bothrops

jararaca em nanopartículas catiônicas de PLGA......................... 46

Tabela 3. Tratamento matemático para o estudo da liberação de

proteínas in vitro .......................................................................... 56

Tabela 4. Médias das absorbâncias das diluições dos títulos de

anticorpos produzidos pelos animais durante o protocolo de

imunização.................................................................................... 61

Quadro 1. Distribuição dos grupos de animais experimentais que foram

imunizados com peçonha de Bothrops jararaca e peçonha de

Bothrops jararaca associado ás nanopartículas funcionalizadas

de PLGA e ao hidróxido de alumínio. N=49 animais para cada

peçonha, 7 por grupo.................................................................... 38

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Lista de abreviaturas e siglas

BCA: Ácido Bicincronínico

BJ: Bothrops jararaca

BSA: Bovine Serum Albumin / Albumina bovina sérica

CP: Grupo Controle

CMSP: Células mononucleares do sangue periférico

Da: Dalton

EA: Eficiência de Associação

FA: Fase aquosa

FO: Fase orgânica

FTIR: Fourrier Transform Infrared/ Infravermelho por transformada de Fourrier

kDA: Kilodalton

MEV: Microscopia Eletrônica de Varredura

MFA: Microscopia de Força Atômica

MM: Marcador molecular

MP: Massa de proteína

MPD: Massa de proteína dissolvida

MPt: Massa de proteína determinada

NPC: Nanopartículas catiônicas

P188: Poloxâmero 188

P407: Poloxâmero 407

PEI: Polietilenimina

pKa: Logaritmo negativo da constante de acidez

PLA: Poli (ácido lático)

PLGA: Poli (ácido lático-co-ácido glicólico)

PZ: Potencial zeta

r2: Coeficiente de determinação

rpm: Rotações por minuto

s.c.: Via de administração subcutânea

SAB: Soro antibotrópico

SDS-PAGE: Dodecil sulfato de sódio e Gel de poliacrilamida

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Sumário

1. INTRODUÇÃO ................................................................................ 17

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ...................................................... 19

2.1 Obtenção de nanopartículas poliméricas por nanoprecipitação ....... 19

2.2 Poli (ácido lático-co-ácido glicólico) ..................................................... 21

2.3 Funcionalização das nanopartículas com polietilenimina ................. 22

2.4 Acidentes ofídicos ................................................................................... 23

2.5 Serpente Bothrops jararaca ................................................................... 24

2.6 Imunização passiva – Soroterapia ......................................................... 25

3. OBJETIVOS .............................................................................................. 28

3.1 Objetivo Geral .......................................................................................... 28

3.2 Objetivos Específicos ............................................................................. 28

4. JUSTIFICATIVA ........................................................................................ 29

5. MATERIAL E MÉTODOS.................................................................... 30

5.1 Equipamentos, materiais e reagentes químicos .................................. 30

5.1.1 Materiais e reagentes químicos ................................................................ 30

5.1.2 Equipamentos ........................................................................................... 30

5.2 Obtenção das nanopartículas de PLGA ................................................ 31

5.3 Preparação das nanopartículas de PLGA-PEI ...................................... 32

5.4 Incorporação de albumina sérica bovina (BSA) ................................... 32

5.5 Incorporação da peçonha de Bothrops jararaca .................................. 32

5.6 Eletroforese em gel de poliacrilamida ................................................... 33

5.7 Caracterização das nanopartículas ....................................................... 33

5.7.1 Determinação do tamanho de partícula e do potencial zeta ..................... 33

5.7.2 Eficiência de incorporação de proteínas ................................................... 34

5.7.3 Microscopia de Força Atômica (MFA) ....................................................... 34

5.7.4 Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) ....................................... 34

5.7.5 Análise de espectroscopia na região do infravermelho -

Infravermelho Transformado de Fourier (FTIR – ATR) ...................

35

5.8 Testes de performance ........................................................................... 35

5.8.1 Estudo de estabilidade física ........................................................... 35

5.7.2 Estudo de liberação in vitro ....................................................................... 35

5.7.3 Estudo de biocompatibilidade in vitro......................................................... 36

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5.9 Testes in vivo ........................................................................................... 37

5.9.1 Animais ...................................................................................................... 37

5.9.2 Obtenção dos soros................................................................................... 37

5.9.1.1 Avaliação dos títulos de anticorpos por ELISA (Enzyme Linked

Immuno Sorbent Assay)..........................................................................

38

5.10 Análise estatística ................................................................................... 39

6. RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................ 39

6.1 Efeito da variação da concentração do polímero, no tamanho da

partícula............................................................................................ 39

6.2 Efeito da variação da concentração do surfactante, no tamanho da

partícula .................................................................................................... 41

6.3 Efeito da variação do agente funcionalizante, no tamanho da

partícula .................................................................................................... 43

6.4 Incorporação de proteínas em nanopartículas catiônicas de PLGA. 45

6.5 Morfologia das nanopartículas .............................................................. 51

6.6 Estudo de estabilidade física ................................................................. 53

6.7 Ensaio de liberação de proteínas in vitro ............................................ 55

6.8 Viabilidade celular ................................................................................... 57

6.9 Determinação de títulos de anticorpos ................................................ 60

7. CONCLUSÕES .................................................................................. 63

REFERÊNCIAS ............................................................................... 65

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1. INTRODUÇÃO

No Brasil, o Ministério da Saúde atribui um perfil de 135.000 casos

anualmente de acidentes com animais peçonhentos. Apesar das subnotificações

e falta de atualização dos registros em âmbito nacional, dados fornecidos pelo

Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) em 2016 mostraram o

registro de 172.412 acidentes, sendo os ataques por serpentes responsáveis por

26.295 ocorrências. O gênero Bothrops destaca-se como responsável por mais de

70% dos acidentes ofídicos registrados e a espécie Bothrops jararaca é

responsável pela maioria dos óbitos (SINAN, 2016).

No contexto da associação de nanocarreadores à proteínas (MESQUITA et

al., 2017; ROCHA SOARES et al., 2012), as nanopartículas podem ser

direcionadas para liberação modificada dessas biomoléculas e serem utilizadas

na produção de soros antiveneno, através de imunização ativa de animais, ou até

mesmo em pesquisas de vacinas contra envenenamento por animais

peçonhentos (WAGHMARE et al., 2014).

A aplicação de nanotecnologia tem se ampliado gradativamente com o

avançar dos anos. Através da indústria farmacêutica, produtos nanoparticulados

já são oferecidos para aplicação biomédica desde 1995 (WEISSIG; PETTIGER;

MURDOCK, 2014) como alternativa para terapias tradicionais. Os sistemas de

liberação de fármacos e biomoléculas são capazes de promover uma liberação

modificada de acordo com o período de tempo que se deseja a ação da

substância ativa. Uma vez que nanopartículas se encaixam como um dispositivo

para liberação modificada, outras funcionalidades têm sido associadas aos

sistemas para melhorar a eficácia terapêutica e diminuir os efeitos tóxicos(DE

CROZALS et al., 2016).

Quando a superfície das nanopartículas são funcionalizadas, a sua

performance é melhorada em testes in vitro e in vivo. Pesquisas, utilizando

materiais nanobiodegradáveis funcionalizados, têm aumentado nos últimos anos.

Nanopartículas, funcionalizadas para associação de biomoléculas, podem ser

direcionadas a tecidos/células-alvo (HU et al., 2017; WANG et al., 2016) e são

capazes de aumentar a internalização celular de substancias carreadas (HASHAD

et al., 2017; SANTOS-SILVA et al., 2017) e/ou interferir na modulação do sistema

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imune (DOBROVOLSKAIA; SHURIN; SHVEDOVA, 2016; NAIT MOHAMED;

LARABA-DJEBARI, 2015).

Alguns estudos têm demonstrado uma importante interação entre

nanomateriais e sua capacidade de estimular e/ou suprimir as respostas imunes

(LIU et al., 2016). A compatibilidade das nanopartículas frente ao sistema

imunológico é determinada principalmente pelas propriedades da superfície. O

tamanho da partícula, a forma, a composição, a ligação às proteínas e as rotas de

administração parecem ser os principais fatores que contribuem para estas

interações com o sistema imunológico (NAJAFI-HAJIVAR et al., 2016).

Diante do exposto, o presente trabalho consiste na obtenção de

nanopartículas biodegradáveis e biocompatíveis funcionalizadas com carga

positiva para a liberação modificada de peçonha de Bothrops jararaca. Desta

forma, pode-se inferir que seja possível empregar nanopartículas com o objetivo

de fornecer pequenas quantidades de peçonha em longa exposição no

hospedeiro a fim de que seja viável a indução de uma resposta imune adequada.

Com o sucesso das etapas experimentais pretende-se aumentar a

imunogenicidade da peçonha, observar a eficiência de internalização celular e

estudar os mecanismos de imunização envolvidos com a aplicação do sistema em

modelo in vivo.

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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

As nanopartículas poliméricas são sistemas carreadores de fármacos ou

biomoléculas, medidos em escalas nanométricas que têm sido amplamente

aplicadas na administração por via parenteral. Por apresentarem diâmetro médio

entre 1-1000 nm, as nanopartículas são consideradas dispersões coloidais. Esses

sistemas são de grande interesse em diversos ramos das ciências médicas,

desde o diagnóstico até o tratamento de doenças (CHEN; YIN, 2014; MASOOD,

2016). Características como estabilidade, tamanho de partícula, forma da

partícula, sua carga de superfície, porosidade, perfil de liberação e o tipo de

funcionalização para tecidos/células-alvo, são propriedades que precisam ser

conhecidas sobre as nanopartículas para aplicação biomédica (TANG et al.,

2016).

2.1 Obtenção de nanopartículas poliméricas por nanoprecipitação

O desenvolvimento de nanopartículas para carreamento de substâncias

tem se mostrado promissor para o delineamento de sistemas de liberação

modificada de fármacos e biomoléculas. O avanço nas pesquisas com

biomateriais têm mostrado a biocompatibilidade e biodegradabilidade de alguns

polímeros utilizados em dispersões coloidais para vetorização, liberação

tecido/célula-específica, aumento da estabilidade, solubilidade e permeabilidade

de moléculas bioativas em barreiras biológicas (CHEN; YIN, 2014; KAMALY et al.,

2013; TANG et al., 2016). Diversos métodos vêm sendo desenvolvidos para a

preparação de nanopartículas poliméricas. Estes métodos podem ser

classificados em duas categorias principais: métodos que envolvem uma reação

de polimerização e métodos que envolvem o uso de um polímero solúvel ou

insolúvel já formado (PINTO REIS et al., 2006). A obtenção de nanopartículas

através da polimerização de monômeros pode apresentar algumas desvantagens,

como a presença de resíduos dos reagentes, que podem ser tóxicos. A partir de

polímeros insolúveis formados, as nanopartículas podem ser preparadas por

diversas técnicas como emulsificação com evaporação de solvente, emulsificação

com difusão do solvente, nanoprecipitação e salting-out, e as partículas obtidas

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podem ser nanoesferas ou nanocápsulas. (FECZKÓ et al., 2011; MISHRA;

PATEL; TIWARI, 2010; MORA-HUERTAS; FESSI; ELAISSARI, 2010, 2011).

Em 1989, Fessi e colaboradores desenvolveram o método da

nanoprecipitação (Figura 1), também conhecido como deslocamento de solvente.

Esta técnica é bastante aplicada na obtenção de sistemas nanoparticulados, pois

é um método reprodutível, rápido e que obtém partículas entre 50-300nm. O

processo consiste na precipitação interfacial do polímero insolúvel dissolvido em

um solvente orgânico, miscível em água. Durante adição da fase orgânica na

solução aquosa, a rápida difusão do solvente pela água forma um sistema

coloidal que se estabiliza com ajuda de tensoativos presentes na fase aquosa. O

mecanismo de formação da nanopartícula pode ser entendido pela interação

entre água-solvente, água-polímero e solvente-polímero, pois durante a dispersão

da fase orgânica na fase aquosa, o solvente hidrofílico difunde rapidamente

carregando consigo o polímero ainda solubilizado. A medida que ocorre a difusão

pela água, o polímero que é insolúvel, precipita em vários locais e em diferentes

formatos, tanto em tamanhos nanométricos como micrométricos (BECK-

BROICHSITTER et al., 2010; DI PASQUALE; MARCHISIO; BARRESI, 2012;

FESSI et al., 1989; GALINDO-RODRÍGUEZ et al., 2005).

Figura 1: Representação esquemática do processo de obtenção de nanopartículas pelo método

de nanoprecipitação.

Em geral esse método é utilizado para encapsular moléculas hidrofóbicas,

mas é possível introduzir variações na mesma para a encapsulação de moléculas

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hidrofílicas (MORALES-CRUZ et al., 2012). O tamanho e a estabilidade das

partículas obtidas por esse método são influenciados por parâmetros que devem

ser otimizados, como a razão de fase aquosa e fase orgânica, concentração de

tensoativo, forma de adição da fase orgânica na fase aquosa, o tempo de

evaporação do solvente, concentração do polímero e o tipo de solvente utilizado

(DI PASQUALE; MARCHISIO; BARRESI, 2012; MORA-HUERTAS; FESSI;

ELAISSARI, 2011).

2.2. Poli (ácido lático-co-ácido glicólico) - PLGA

Existem diversos polímeros que podem ser utilizados na obtenção de

nanocarreadores. Dentre eles, o poli (ácido láctico-co-ácido glicólico) (PLGA) é

um copolímero (poliéster alifático) biodegradável, amplamente utilizado na

indústria farmacêutica para sistemas de liberação de fármacos, aprovado pelo US

Food and Drug Administration (FDA). Este copolímero é composto por

monômeros de ácido láctico e ácido glicólico (Figura 2). Este polímero possui

características interessantes que incluem a sua alta estabilidade, a fácil

modificação química de seus monômeros, a biocompatibilidade e

biodegradabilidade. Os monômeros de ácido láctico e ácido glicólico são

produzidos através da erosão superficial da partícula por meio de hidrólise

enzimática. Estes monômeros são utilizados em rotas bioquímicas, como o Ciclo

de Krebs, sendo totalmente eliminado do organismo na forma de dióxido de

carbono e água (BIKIARIS, 2013). A substância encapsulada pode ser protegida

pelo polímero, através de uma rede de polímero que dificulta a sua degradação

(JAVADZADEH et al., 2010; MASOOD, 2016; ZHANG et al., 2014)

Figura 2: Representação esquemática da estrutura química do PLGA; a) monômero de ácido

glicólico e b) monômero de ácido láctico.

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2.3 Funcionalização das nanopartículas com polietilenimina

No uso de nanopartículas para melhoramento terapêutico, é possível

funcionalizar a superfície adicionando uma carga positiva a partícula promovendo

um comportamento de sistemas furtivos e aumentar a internalização celular por

endocitose (SPERLING; PARAK, 2010; WU et al., 2012). Além disso, a superfície

positiva permite interação com biomoléculas negativas ou especificamente com

resíduos de aminoácidos ionizados com carga negativa.

O uso de nanopartículas funcionalizadas tem demonstrado uma estratégia

promissora para o direcionamento intracelular de fármacos e biomoléculas. Os

polímeros catiônicos utilizados para esta finalidade apresentam uma série de

aplicações. Dentre elas, é importante destacar a capacidade que os polímeros

têm de complexar com biomoléculas, e a bioatividade inerente ao polímero, capaz

de produzir um aumento da eficácia terapêutica ou aumento de resposta para

diferentes atividades biológicas. Exemplos de atividade de polímeros catiônicos

são o estimulo ou inibição do sistema imunológico (DOBROVOLSKAIA; SHURIN;

SHVEDOVA, 2016), atividade antimicrobiana, antioxidante, antitumoral,

antiinflamatória, transfecção gênica e adsorção de peptídeos (LEE et al., 2014;

LOHCHAROENKAL et al., 2014; MESQUITA et al., 2017; ZHANG et al., 2016).

Os policátions têm sido compostos eficientes para funcionalizar superfície

de partículas, tornando os nanocarreadores excelentes sistemas de liberação.

Dentre esses polímeros catiônicos, a polietilenimina (PEI) (Figura 3) é um

policátion de alta densidade de carga positiva que pode apresentar-se

comercialmente com cadeias carbônicas lineares ou ramificadas e disponível em

diferentes massas molares. A PEI linear contém apenas aminas secundárias

enquanto a unidade monomérica do PEI ramificado contém aminas secundárias,

primárias e terciárias na proporção 1:2:1, respectivamente. A gama de massas

molares de PEI ramificada disponíveis comercialmente é 0.7-800 kDa, sendo o

pKa das suas aminas primárias 5.5. Por outro lado, PEI linear está disponível com

pesos moleculares 22 -220 kDa, sendo o pKa das aminas primárias semelhante

ao do PEI ramificado (PARK; SHIN; OH, 2008; XIAO et al., 2012).

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Figura 3: Representação esquemática da estrutura química da polietilenimina.

Esse polímero é um policátion solúvel em água e em solventes orgânicos

polares. Apresenta elevada densidade de carga devido aos seus grupamentos

amina secundária e terciária protonáveis com pKa próximo do pH

endossomal/lisossômico. Devido essas características, este policátion exibe alta

capacidade de tamponamento de pH em uma ampla faixa de pH. Essa

propriedade tamponante promove citotoxicidade no uso da PEI (KIM et al., 2016;

WANG et al., 2016). A PEI tem sido usada como ligante para adsorver

biomoléculas de interesse terapêutico devido às interações eletrostáticas

possíveis entre as diferentes cargas encontradas em ambas as macromoléculas.

(MESQUITA et al., 2017; SAMAL et al., 2012; WANG et al., 2016).

2.4 Acidentes ofídicos

No Brasil, estima-se um perfil de 135.000 casos anuais de acidentes com

animais peçonhentos. Em 2016, o Sistema de Informação de Agravos de

Notificação (SINAN) registrou 172.412 acidentes, na qual os ataques por

serpentes contribuem com 26.295 ocorrências e um percentual de letalidade de

0,49%. As regiões com maior incidência de acidentes ofídicos foram o Norte e o

Nordeste acumulando 58,2% dos ataques registrados (SINAN, 2016). Esses

valores também podem ser extrapolados, uma vez que as notificações de

acidentes por animais peçonhentos ainda não é uma prática comum em regiões

de risco, existindo a subnotificação que são os acidentes que ocorrem, mas não

são registrados. Outro fator são as notificações excessivas de casos

desconhecidos e encaixados em acidentes ofídicos.

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Existem cerca de 300 espécies de serpentes peçonhentas distribuídas pelo

mundo (SUNTRAVAT; NUCHPRAYOON; PÉREZ, 2010) e no território brasileiro

há o predomínio de 4 principais gêneros: Bothrops, Crotalus, Micrurus e Lachesis.

Dentre esses gêneros, o Bothrops destaca-se como responsável por mais de 70%

dos acidentes ofídicos registrados e a espécie Bothrops jararaca é responsável

pela maior causa de morte. Essa espécie é encontrada com mais frequência na

região sul do Brasil e apresenta taxa de letalidade em torno de 80 óbitos (SINAN,

2016). O envenenamento por Bothrops jararaca também é considerado um

preocupante fator de interesse público devido ao percentual de letalidade e

morbidade das vítimas, incluindo as sequelas.

2.5 Serpente Bothrops jararaca

A Bothrops jararaca (Figura 4) é uma das 60 espécies do gênero Bothrops

encontradas no Brasil. Estas serpentes geralmente apresentam uma cauda lisa

com ausência de chocalho e dependendo da região que forem encontradas,

podem apresentar diversas cores (BRASIL, 2001, 2009). A peçonha da Bothrops

jararaca é composta por uma mistura complexa de componentes como fosfolipase

A2, metaloproteases, serinoproteases, L-aminoácido oxidase, lectina do tipo C,

hialunoridase, nucleotidase, carboxipeptidase, fosfolipase B, dipeptidase,

glutaminil ciclotrasnferase, fosfodiasterase, fatores de crescimento e CRISP

(Cysteine Rich Secretory Protein) (ZELANIS et al., 2016).

As principais atividades relatadas da peçonha é apresentar alta capacidade

coagulante, hemorrágica e proteolítica. O efeito local da picada é caracterizado

principalmente pela presença de dor, edema e formação de bolhas que podem

evoluir para necrose. Os efeitos sistêmicos incluem vômitos, hipotensão arterial e

hemorragias que podem evoluir para choque e óbito (CARDOSO et al., 2003;

SANDRIN; PUORTO; NARDI, 2005).

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Figura 4. Serpente Bothrops jararaca. (Fonte: Adaptado de GONÇALVES-MACHADO et al.,

2016)

2.6 Imunização passiva - Soroterapia

A imunização passiva consiste na inoculação de imunoglobulinas (Igs),

específicas ou poliespecíficas, no intuito de proteger os organismos, humanos ou

animais, de infecções e/ou doenças. Um exemplo fisiológico natural de

imunização passiva que podemos destacar é o período de lactação dos

mamíferos, quando o leite da mãe é composto por Igs capazes de proteger o

recém-nascido contra doenças entéricas ou outras doenças (HURLEY; THEIL,

2011). No que diz respeito à proteção contra toxinas, a imunização passiva

consiste na utilização de soro/anticorpos de animais já imunizados para o

tratamento de acidentes letais como infecções por tétano ou picadas de cobra.

Em casos de acidentes ofídicos, o tratamento adotado é a soroterapia com

antiveneno poliespecífico. Na produção de soros antiveneno, geralmente utiliza-se

animais de grande porte, como equinos, que são submetidos a hiper-imunização

de antígeno referente à produção do soro. Quando imunizado com a peçonha de

apenas uma espécie de serpente, o soro antiveneno é considerado

monoespecífico. Por outro lado, quando o animal recebe um inóculo de várias

espécies de serpentes, o soro antiveneno é considerado poliespecífico

(GUTIÉRREZ et al., 2013).

O soro antibotrópico (SAB), usado na soroterapia para acidentes com

serpentes do gênero Bothrops, é um imunobiológico poliespecífico produzido pela

inoculação em equinos. A formulação utilizada no protocolo de hiper-imunização

dos animais, é produzida a partir de peçonhas de 5 espécies de serpentes do

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gênero Bothrops em quantidades relativas de 50% B. jararaca e 12,5% das

demais: B. alternatus, B. jararacussu, B. moojeni, B. neuwiedi (CARDOSO et al.,

2003; ESTEVAO-COSTA et al., 2016).

Após o estímulo antigênico, promovido pela imunização com a mistura das

peçonhas, o plasma dos cavalos é obtido e submetido a um processo de

purificação e fracionamento para obtenção de moléculas ativas. De acordo com o

protocolo de purificação utilizado, pode-se obter 3 tipos de moléculas antiveneno:

imunoglobulina G (IgG) íntegra, fragmentos F(ab’)2, ou Fab da IgG. Para aumentar

a estabilidade do soro, o produto obtido após o processo pode ser congelado

(GUTIÉRREZ; LEÓN; BURNOUF, 2011)

Soros antiveneno devem ser seguros e efetivos para uso em humanos e

animais. Sua eficácia deve ser demonstrada por meio de ensaios que atendam

aos requisitos de níveis pré-clínicos e clínicos (WHO, 2010).

Embora o uso do soro apresente protocolos já consolidados para terapia,

os estudos em busca de vacinas contra envenenamentos continuam avançando.

No intuito de aumentar a resposta imune do organismo, já é comprovado que

alguns compostos, quando associados ao inóculo, são capazes de elevar a

resposta imune e essa característica de compostos como os imunoadjuvantes,

que podem ser sintéticos ou naturais. Tais componentes são importantes para

antígenos que possuem baixa imunogenicidade, porém existe a desvantagem de

apresentarem diversos efeitos adversos (RYAN; DOWNES; ISBISTER, 2015). Em

vacinas, o principal imunoadjuvante utilizado e aprovado para uso em humanos é

o hidróxido de alumínio, devido este componente apresentar alto poder

inflamatório. Com isso, diversos estudos em busca de novos imunoadjuvantes

apontam alguns biomateriais poliméricos como sistemas promissores quando

utilizados em escalas nanométricas (ANDRIANOV & MUTWIRI, 2012, SOARES et

al., 2012).

Desta forma, o desenvolvimento de formulações que possibilitam aumentar

a eficácia na produção dos soros antiveneno é de grande importância para a

saúde pública e inovação em saúde. Uma vez que a qualidade do soro seja igual

ou superior aos que já são obtidos, a estratégia de utilizar nanocarreadores como

moduladores de resposta imune utilizando menores quantidades de ativo, torna-

se uma alternativa na produção de antiveneno. O dados e resultados obtidos

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desse trabalho, podem auxiliar no entendimento da vetorização e aumento da

eficácia de biomoléculas, assim como ampliar as possibilidades do uso dessas

estratégias na vinculação de outras proteínas de interesse terapêutico.

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3 OBJETIVOS

3.1 Objetivo Geral

Desenvolver nanopartículas de poli (ácido lático-co-ácido glicólico) (PLGA),

funcionalizadas com o polietilenimina (PEI) pela técnica de nanoprecipitação, para

a adsorção da peçonha da serpente Bothrops jararaca.

3.2 Objetivos Específicos

Obter nanopartículas à base de PLGA por nanoprecipitação;

Funcionalizar a superfície das nanopartículas com polietilenimina;

Incorporar peçonha de Bothrops jararaca às nanopartículas;

Fazer a caracterização fisico-química das nanopartículas obtidas;

Avaliar performance in vitro das nanopartículas por meio de:

o Estudo de liberação in vitro da peçonha;

o Estudo de biocompatibilidade in vitro das nanopartículas;

o Estudo de estabilidade física;

Avaliar performance in vivo por meio de:

o Imunização de camundongos Balb/c;

o Determinação dos títulos de anticorpos.

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4. JUSTIFICATIVA

O envenenamento por Bothrops jararaca é considerado um preocupante

fator de saúde público devido ao percentual de letalidade e morbidade das

vítimas, além do reflexo de sequelas que podem perpetuar pelo resto das vidas

dessas vítimas. A soroterapia é a única forma de tratar pacientes de acidentes

ofídicos. Para tanto, há a necessidade de estudos em busca de alternativas que

aumentem as possibilidades de tratamento para as vítimas por picadas de

animais peçonhentos. Existem vários estudos com foco na produção e

caracterização de nanocarreadores associando biomoléculas. Esses sistemas são

aplicados em diversas áreas da terapêutica, porém quando se analisa a aplicação

para o uso na associação com peçonhas, a utilização para imunização é escassa.

Este trabalho apresenta um forte caráter de inovação na produção de produtos

biotecnológicos, especialmente na obtenção de soros para tratamento de

envenenamentos com imunobiológicos envolvendo antiveneno. Considerando o

emprego do polímero biocompatível e biodegradável, o PLGA, como base

matricial de um nanocarreador com propriedades imunoadjuvantes para

veiculação da peçonha da serpente da espécie Bothrops jararaca, será possível

construir uma plataforma de estudo e aplicação dessa formulação para a

obtenção de novos soros contra as toxinas presentes nas peçonhas desses

animais peçonhentos, além da possibilidade de ampliação para a imunização de

animais com outros antígenos.

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5. MATERIAL E MÉTODOS

5.1 Equipamentos, materiais e reagentes químicos

5.1.1 Materiais e reagentes químicos

Acetona – Qhemis (São Paulo, BRA)

Acrilamida – Biosystems (Barcelona, ESP);

Albumina bovina sérica (BSA) - Sigma-Aldrich Co. (St. Louis, MO, EUA.);

D,L-PLGA 50:50 (lactico:glicólico) (viscosidade inerente 0.63 dL g-1 a 30°

C) - Birmingham Polymers Inc. (Pelham, AL, EUA);

Dodecil Sulfato de sódio (SDS) - Biosystems (Barcelona, ESP)

Hidróxido de alumínio - Sigma-Aldrich Co. (St. Louis, MO, EUA.);

Kit BCA Protein Assay - Pierce Biotechnology (Woburn, MA, EUA);

Kit de ELISA para IgG total para camundongos – eBioscience (San Diego,

CA, EUA);

Kit FITC Annexin V – Becton Dickinson Bioscience (San Jose, CA, EUA)

Marcadores de peso molecular para eletroforese ColorBurst (St. Louis, MO,

EUA.);

Polietilenimina ramificada de massa molecular 25.000 Da - Sigma-Aldrich

Co. (St. Louis, MO, EUA.);

Peçonha da serpente Bothrops jararaca (Instituto Butantan, SP)

Poloxâmero 188 - Sigma-Aldrich Co. (St. Louis, MO, EUA.);

Poloxâmero 407 - Sigma-Aldrich Co. (St. Louis, MO, EUA.).

5.1.2 Equipamentos

Analisador de potencial zeta e tamanho de partícula, NanoBook ZetaPlus c/

aparato 90Plus/BIMAS – Brookhaven Instr. (EUA);

Balança analítica Gehaka, AG-200

Banho termostático modelo SL-150/22, Solab;

Centrífuga 5804R - Eppendorf® (Alemanha);

Espectrofotômetro UV visível Thermo Fisher Scientific, Evolution 60S;

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Infravermelho Transformado de Fourier (FTIR – ATR) - SHIMADZU IR

Prestige 21 (Japão);

Leitora de microplaca Epoch ™ Microplate Spectrophometer – BioTek

(EUA);

Microscópio de Força Atômica (MFA), SPM – 9700 - Shimadzu (Japão);

pHmetro Gehaka, PG 1800;

Sistema purificador de água por osmose reversa, modelo OS50 LX –

Gehaka (Brasil);

Vidrarias analíticas.

5.2 Obtenção das nanopartículas de PLGA

Inicialmente, as nanopartículas de PLGA foram obtidas pelo método

nanoprecipitação. Através desta técnica, concentrações de polímero e

surfactantes poliméricos (poloxameros 407 e 188) foram variadas a fim de

melhorar os parâmetros de obtenção das nanopartículas como o tamanho e

eficiência de incorporação. O polímero teve variação entre 0,25% a 1,25% (p/v) e

os surfactantes tiveram variação entre 0,25% - 2,0% (p/v). Para obtenção, o

polímero foi solubilizado em um solvente orgânico (acetona) formando a fase

orgânica (FO). Os surfactantes foram solubilizados com água, separadamente,

formando a fase aquosa (FA). As soluções orgânicas contendo polímero foram

filtradas em membrana de nylon com tamanho de poro de 0,22 µm, da marca

Maxcrom OEM, e as soluções aquosas contendo o surfactante foram filtradas

utilizando membrana de acetato de celulose com tamanho de poro de 0,45 µm

Milipore®. A solução orgânica foi injetada na fase aquosa na proporção de 3:7

(FO/FA) em fluxo contínuo de aproximadamente 1 ml.min-1, utilizando uma agulha

de calibre 25x0,7 mm. Após injeção da fase orgânica na fase aquosa, os sistemas

foram acondicionados a uma temperatura de 25°C, por um período de 24 horas,

sob agitação magnética constante na velocidade de 720 rpm. A otimização

consistiu na escolha da melhor concentração para o polímero na solução orgânica

e melhor concentração de surfactante na fase aquosa.

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5.3 Preparação das nanopartículas de PLGA funcionalizadas com PEI

A formulação contendo 0,5% (p/v) de poloxâmero 407 e 0,75% (p/v) de

PLGA foi considerada a melhor condição experimental da seção 5.2, capaz de

produzir partículas com distribuição de tamanho uniforme inferiores a 200nm. Esta

formulação foi selecionada para a etapa de funcionalização com PEI em

diferentes proporções. O agente funcionalizante foi adicionado a fase orgânica

juntamente com o polímero e foram testadas diferentes razões de PEI:polímero

(1:5, 1:10 e 1:15) (p/p). Ao final desta etapa é esperada a obtenção de partículas

com distribuição de tamanho uniforme menores que 200 nm e com potencial zeta

positivo.

5.4 Incorporação de albumina sérica bovina (BSA)

A formulação de nanopartículas utilizando 0,75% (p/v) de PLGA, 0,5% (p/v)

de poloxâmero 407 e a razão 1:5 (p/p) de PEI:PLGA, foi selecionada para

incorporação de albumina sérica bovina (BSA) em diferentes concentrações - 0,5

e 1,0% (p/v) - em relação a massa do polímero. Para obter um volume final de 8

mL de nanopartículas com a proteína incorporada, foi utilizado 2 mL da

suspensão de nanopartículas catiônicas e completou-se o volume com água

purificada. Sob agitação magnética de 720 rpm, as soluções de BSA contendo

1mg/mL foram adicionadas a estas amostras, que ficaram sob agitação por 1 hora

a 22°C ±2, em um sistema fechado para evitar possível evaporação da fase

aquosa. Ao final desta etapa, é esperada a obtenção de partículas carreadas com

albumina para serem utilizadas como sistemas modelo para a incorporação da

peçonha.

5.5 Incorporação da Peçonha de Bothrops jararaca

A formulação de nanopartículas utilizando 0,75% (p/v) de PLGA, 0,5% (p/v)

de poloxâmero 407 e a razão 1:5 (p/p) de PEI:PLGA, foi selecionada para a

incorporação da peçonha de Bothrops jararaca em diferentes concentrações - 0,5

e 1,0% (p/v) - em relação a massa do polímero. Para obter um volume final de 8

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mL de nanopartículas com peçonha incorporado, foi utilizado 2 mL de

nanopartículas catiônicas e completou-se o volume com água ultrapura. Sob

agitação magnética de 720 rpm, as soluções de peçonha contendo 1mg/mL foram

adicionadas a estas amostras, que ficaram sob agitação por 1 hora a 22°C ±2, em

um sistema fechado para evitar possível evaporação da fase aquosa. Ao final

desta etapa é esperada a obtenção de partículas carreadas com peçonha para

serem utilizadas nos estudos de caracterização físico-químicos e performance in

vitro e in vivo.

5.6 Eletroforese em gel de poliacrilamida

O perfil eletroforético da peçonha de B. jararaca, nanopartícula branca, PEI

e nanopartícula associada a peçonha, foram determinados por eletroforese em

gel de poliacrilamida e dodecil sulfato de sódio (SDS-PAGE), de acordo com

Laemmli (1970) utilizando-se o sistema de minigel (Mini-ProteanTM II) (LAEMMI,

1970). As amostras foram misturadas ao tampão de amostra SDS-PAGE com

redução, fervidas durante 5 minutos e aplicadas ao gel. A eletroforese foi

desenvolvida verticalmente, em placas de dimensão 10,0 x 8,0 x 0,8cm, à

180V, 24 mA, durante 3 horas. A massa molecular relativa das proteínas foi

determinada em gel de poliacrilamida, por comparação da migração eletroforética

de uma mistura de proteínas padrão, obtida comercialmente. O gel obtido foi

corado em solução de Prata (MORRISSEY, 1981).

5.7 Caracterização das nanopartículas

5.7.1 Determinação do tamanho de partícula e do potencial zeta

O diâmetro das partículas foi determinado usando a técnica de

espalhamento de luz (Dynamic Light Scattering) num modelo de analisador

NanoBrook 90Plus (Brookhaven Instruments Corp.) do Laboratório de

Biopolímeros - Biopol, do Centro de Biociências da UFRN. A análise de potencial

zeta foi feita pelo mesmo equipamento através da mobilidade eletroforética

usando o sistema Zeta-Meter a temperatura de 25 ± 2ºC. Para isso, cada sistema

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teve sua viscosidade e índice de refração conferidos, adequando-se para análise

quando injetados no equipamento.

5.7.2 Eficiência de incorporação de proteínas

As nanopartículas funcionalizadas contendo tanto albumina quanto

peçonha de Bothrops jararaca foram centrifugadas a 16.000 x g a 4°C por 30

minutos. Após a centrifugação, o sobrenadante foi removido e submetido a

análise de proteínas usando o Kit de Ensaio de Proteína BCA através do método

ácido bicincronínico. O ensaio foi feito em triplicatas, utilizando BSA como

controle, e a eficiência de associação (EA) das proteínas foram calculadas

usando a seguinte equação:

Equação1

5.7.3 Microscopia de Força Atômica (MFA)

A forma e o tamanho das nanopartículas foram observados usando

imagens MFA. As dispersões foram previamente secas sob dessecador durante

24 horas. As medições foram realizadas utilizando MFA (SPM - 9700, Shimadzu)

a 25ºC em cantilever sem contato, digitalização de 1 Hz.

5.7.4 Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV)

Para a obtenção das imagens por MEV, as amostras foram preparadas

espalhando uma gota da dispersão de nanopartículas numa fita de carbono do

microscópio, mantidas em 24h no dessecador utilizando um Microscópio SSX550,

Shimadzu, Tóquio, Japão.

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5.7.5 Análise de espectroscopia na região do infravermelho - Infravermelho

Transformado de Fourier (FTIR – ATR)

As análises espectroscópicas na região do infravermelho foram realizadas

com o objetivo de investigar o nível de interação do fármaco com os componentes

estruturais dos sistemas obtidos em fase sólida ou de possíveis alterações

químicas dos componentes dos sistemas obtidos. Para isso, foram obtidos os

espectros de absorção na região do infravermelho dos componentes estruturais

isolados e, posteriormente, dos diferentes sistemas obtidos, assim como das

respectivas misturas físicas de mesma composição. O equipamento utilizado foi

um Infravermelho Transformado de Fourier (FTIR), SHIMADZU IR Prestige 21. Os

espectros foram registados em 20 varreduras e a uma resolução de 4 cm-1 em

números de onda entre 5000 e 700 cm-1.

5.8 Testes de performance

5.8.1 Estudo de estabilidade física

O estudo de estabilidade física foi realizado para nanopartículas

funcionalizadas (catiônicas), contendo ou não peçonha da serpente Bothrops

jararaca. As análises foram feitas durante o período de 45 dias avaliando o

tamanho médio, potencial zeta e índice de polidispersão conforme o item 5.7.1.

As dispersões foram acondicionadas em geladeira na temperatura de 5 °C ± 2.

5.8.2 Estudo de liberação in vitro

Para determinar o perfil de liberação in vitro das proteínas, as

nanopartículas catiônicas contendo a peçonha da serpente Bothrops jararaca

foram incubadas em solução tampão fosfato pH = 7,4 (KH2PO4 0,05 mol/L) e

mantidas em banho termostatizado à 37 °C ± 0,2 °C, em condição sink, em um

volume final de 1 mL. Em intervalos de tempo pré-determinados, as

nanopartículas foram centrifugadas a 16000 x g a 4,0 °C por 30 min e o

sobrenadante foi retirado para a dosagem de proteínas totais. Novo volume de

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solução tampão foi adicionado aos tubos de dissolução, os quais foram mantidos

no banho termostatizado até o próximo tempo de coleta. Com auxílio da equação

de regressão linear extraída da curva padrão construída nas mesmas condições

da análise, foi determinado o percentual de massa de proteína dissolvida a partir

da seguinte equação (adaptado de SILVA-JÚNIOR et al., 2008):

Equação2

em que MPD (%) é o percentual de massa de proteína dissolvida, MPt é a massa

de proteína determinada no tempo t e MP, a massa de proteína utilizada no

experimento. A massa percentual acumulada de proteínas da peçonha foi plotada

versus o tempo e diferentes modelos matemáticos foram utilizados para linearizar

os dados experimentais. Os modelos matemáticos aplicados para cinética de

liberação foram: Primeira ordem, Bhaskar, Freundlich e Difusão Parabólica. Como

critério de escolha do modelo que melhor explica o fenômeno de liberação das

proteínas das nanopartículas, foi selecionado o coeficiente de determinação (r2),

para avaliar o ajuste do modelo.

5.8.3 Estudo de viabilidade celular in vitro

Amostras de sangue heparinizadas foram coletadas de pacientes

voluntários saudáveis, assegurados pelo comitê de ética humano com número de

CAAE: 56191416.0.0000.5537. As células mononucleares do sangue periférico

(CMSP) foram separadas por centrifugação sobre um gradiente de Ficoll-Hypaque

(GE, New Jersey, EUA). As células mononucleares foram ressuspensas em meio

RPMI suplementado com 10% de soro humano AB Rh- (Corning, EUA), 10 mM de

HEPES (Sigma, EUA), 1,5 µM de L-glutamina (Sigma, EUA), 200 UI de penicilina

por ml e 200µg de estreptomicina por mL (Sigma, EUA) e foram ajustados para 2

x 106 células/mL. As CMSP (106 células por poço) foram cultivadas in vitro em

placas de fundo plano de 24 poços (Nunc, Roskilde, Dinamarca) a 37 °C numa

atmosfera umidificada de 5% de CO2 e na presença de diferentes concentrações

de nanopartículas catiônicas (1,7 a 140 µg/mL) ou meio sozinho. Após 3 dias em

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cultura, as células estimuladas foram colhidas e processadas para análises de

apoptose. Para análises de apoptose, foi utilizado o kit de detecção de apoptose

FITC Annexin V (BD), seguindo o protocolo proposto pelo kit. Vinte mil eventos

foram analisados de cada amostra na região de linfócitos usando um citómetro de

fluxo FACS Canto II (BD, citómetro de fluxo Canto II, Becton Dickinson

Bioscience, EUA). Anexina V e Iodeto de Propídio (PI) foram analisados usando o

software FlowJo vX.

5.9 Testes in vivo

5.9.1 Animais

Camundongos Balb/c (25–35 g) de 6–8 semanas de idade foram obtidos do

“Biotério de Criação de Animais do Centro de Ciências da Saúde da UFRN”. Os

animais foram mantidos em salas com temperatura controlada, recebendo

alimento e água ad libitum. Os animais foram mantidos nas salas de experimentos

por pelo menos 1 semana para se adaptarem. Os experimentos foram submetidos

às exigências das regulamentações estabelecidas pela Comissão de Ética de Uso

de Animais da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Os protocolos experimentais foram aprovados pela Comissão de Ética de

uso de Animais do Centro de Biociências da Universidade Federal do Rio Grande

do Norte sob o protocolo de número 026.037/2017.

5.9.2 Obtenção dos soros

Os camundongos foram imunizados semanalmente por via subcutânea

(s.c), durante 6 semanas, com 100 μL de diferentes concentrações da peçonha

(0,5 e 1 %) adsorvidas as nanopartículas catiônicas de PLGA, bem como

associadas ao hidróxido de alumínio (Al(OH)3) na concentração de 10%, como

mostra a divisão dos grupos no Quadro 1. O sangue dos animais foi coletado por

punção cardíaca para obtenção das amostras de soro. Amostras de sangue, na

ausência de anticoagulante, foram mantidas a 37°C por 30 minutos e,

posteriormente, a 4°C por 2 horas para retração do coágulo. Em seguida, as

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38

amostras foram centrifugadas a 1500 rpm por 5 minutos a 4 °C, sendo o

sobrenadante (soro) coletado e estocado a -20 °C.

Quadro 1. Distribuição dos grupos de animais experimentais que foram imunizados com peçonha de Bothrops jararaca ou peçonha de Bothrops jararaca associado ás nanopartículas funcionalizadas de PLGA e ao hidróxido de alumínio. N=49 animais para cada tratamento, 7 por grupo.

Grupos Tratamento

Grupo 1 (7 animais) 100 µL Nanopartículas de PLGA s.c

Grupo 2 (7 animais) 100 µL Hidróxido de alumínio 10% s.c

Grupo 3 (7 animais) 100 µL PBS s.c

Grupo 4 (7 animais) 100 µL Nanopartículas + Peçonha de Bothrops

jararaca 0,5% s.c

Grupo 5 (7 animais) 100 µL Hidróxido de alumínio 0,1% + Peçonha de

Bothrops jararaca 0,5% s.c

Grupo 6 (7 animais) 100µL Nanopartículas + Peçonha de Bothrops

jararaca 1,0% s.c

Grupo 7 (7 animais) 100µL Hidróxido de alumínio 0,1% + Peçonha de

Bothrops jararaca 1,0% s.c

5.9.1.1 Avaliação dos títulos de anticorpos por ELISA (Enzyme Linked

Immuno Sorbent Assay)

Os títulos de anticorpos das amostras dos soros de camundongos foram

obtidos após o processo de imunização e determinados por ensaios de ELISA.

Para tanto, placas de poliestireno foram sensibilizadas com 100 µL de peçonha

em tampão PBS (10 µg/mL) e incubadas “overnight” a 4°C. Após este período, as

placas foram lavadas com PBS e incubadas por 2 h a 37°C com a solução de

bloqueio (PBS/BSA/ 5%) e, posteriormente, incubadas com 100 µL dos soros

(soro de camundongo normal, soro de camundongo anti-peçonha, diluídas em

PBS/BSA 0,1%, e incubadas a 37°C por 1 h. As placas foram lavadas com

PBS/Tween 0,05% (três lavagens/ 5 min) e incubadas com o anticorpo secundário

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(anti-IgG de camundongo) conjugado com peroxidase, diluído 1:3.000, por 1 h a

37°C. As placas foram lavadas com PBS/Tween 0,05% e as reações reveladas

pela adição de o-fenilenediamina e peroxido de hidrogênio, e interrompidas após

20 minutos pela adição de ácido sulfúrico 2M. As absorbâncias foram

determinadas a 492 nm em leitor de ELISA.

5.10 Análise estatística

Os dados experimentais foram apresentados com as médias dos valores

experimentais e seus respectivos desvios padrões. Inicialmente será realizado

teste de normalidade, seguido de teste t Student para análises pareadas de duas

médias ou da análise da variância de uma entrada (ANOVA), seguido de teste

Tukey quando aplicável, e foram considerados significativamente diferentes os

valores p < 0,05.

6. RESULTADOS E DISCUSSÃO

De acordo com os métodos desenvolvidos para a preparação de

nanopartículas poliméricas, nesse trabalho foram utilizados métodos que

envolvem o uso de um polímero já formado, seguido do método de

nanoprecipitação.

6.1 Efeito da variação da concentração do polímero no tamanho da partícula

O efeito inicial da concentração do polímero no tamanho das

nanopartículas é mostrado na Figura 5, onde foi utilizada uma fase aquosa fixa

contendo 0,25% (p/v) dos poloxameros (188 e 407) a serem testados, e

quantidade variadas de polímero entre 0,25-1,25% (p/v).

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Figura 5. Diâmetro e potencial zeta (PZ) de nanopartículas poliméricas a partir da variação da

concentração de PLGA, onde [A] são sistemas estabilizados com poloxâmero 188 (P188) e [B]

estabilizados com poloxâmero 407 (P407).

Na figura 5A, é possível observar o diâmetro médio das nanopartículas

estabilizadas com poloxâmero 188 que variaram entre 121-168 nm. Na figura 5B

o diâmetro médio das nanopartículas estabilizadas com poloxâmero 407 variou

entre 129-186 nm. Os sistemas apresentaram distribuição homogênea com

polidispersões menores de 0,3 e potencial zeta levemente negativo (p<0,05).

Resultados semelhantes foram encontrados em estudos desenvolvidos por

Anwer e colaboradores (2016), os quais durante estudos de formulação de

nanopartículas de PLGA para incorporação de quercitina, fixaram uma

concentração de tensoativo e variaram concentrações crescentes de PLGA. Os

diâmetros encontrados foram entre 118 e 179 nm (ANWER et al., 2016).

O aumento do diâmetro médio de nanopartículas poliméricas com o

aumento da concentração do polímero matriz é bastante reportado na literatura

(JAVADZADEH et al., 2010; THIOUNE et al., 1997). Os resultados mostram que o

acréscimo da concentração do polímero resulta no aumento significante do

tamanho médio da partícula (p<0,05). Esse fenômeno é atribuído ao aumento da

viscosidade da fase orgânica onde a resistência na transferência de massa leva a

difusão lenta do solvente na fase aquosa e consequentemente a formação de

gotas maiores durante a adição da fase (DE OLIVEIRA et al., 2013).

As partículas menores foram obtidas com baixas concentrações de

polímero e a concentração escolhida para seguir com os estudos foi a de 0,75%

A B

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41

(p/v) por apresentar, no uso dos dois surfactantes, uma maior massa de polímero

com menor variação do diâmetro. O potencial zeta de todas as concentrações

estão próximos de 0 mV, pois tanto o polímero quanto os surfactantes utilizados

na obtenção são não-iônicos, conferindo uma carga neutra na camada de difusão

da partícula.

6.2 Efeito da variação da concentração do surfactante no tamanho da

partícula

Os poloxameros 407 e 188 foram utilizados como surfactantes poliméricos

para estabilizar os sistemas com o objetivo de reduzir o tamanho das partículas.

Ambos os tensoativos são não-iônicos com baixa toxicidade e baixa irritabilidade,

tornando-os viáveis na aplicação como sistemas de liberação de fármacos e

biomoléculas (DEVI; SANDHYA; HARI, 2013).

Os resultados experimentais mostrados na Figura 6, representam as

variações do tamanho da partícula e seus respectivos valores de potencial zeta.

Nesta etapa, a concentração da fase orgânica é fixa contendo 0,75% (p/v) de

polímero e a fase aquosa foi variada entre 0,25 – 2,0% (p/v) para ambos os

poloxâmeros, separadamente.

Na figura 6A, podemos observar o diâmetro médio das nanopartículas

estabilizadas com poloxâmero 188, que variaram entre 121-195 nm. Na figura 6B

o diâmetro médio das nanopartículas, estabilizadas com poloxâmero 407, variou

entre 99-146 nm. O segundo ponto de concentração do surfactante poloxâmero

407 (0,5%) reduziu o tamanho das partículas consideravelmente, quando

comparado à concentração anterior (0,25%).

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Figura 6. Diâmetro e potencial zeta de nanopartículas poliméricas a partir da variação da

concentração dos surfactantes, onde A são sistemas estabilizados com poloxâmero 188 e B

estabilizados com poloxâmero 407.

Diversos estudos demonstraram a capacidade dos poloxâmeros de

estabilizarem e reduzirem o tamanho de nanopartículas poliméricas (GIROTRA;

SINGH; KUMAR, 2016; JAIN et al., 2013; MANDAL; KUNDU, 2009;

SANTANDER-ORTEGA et al., 2006). Comumente, encontram-se resultados da

influência da variação da concentração de poloxâmero 188 nos aspectos físico-

químicos da obtenção de nanopartículas. Como no caso de Girotra e

colaboradores (2016), que utilizaram o componente para modular o tamanho de

nanopartículas de PLGA para incorporar zomultriptano, diminuindo ou

aumentando o diâmetro da partícula conforme a alteração da razão de massa do

tensoativo (GIROTRA; SINGH; KUMAR, 2016). Já em estudos desenvolvidos por

Shubhra e colaboradores (2014), observou-se o efeito do revestimento de

poloxamero na superfície de nanopartículas magnéticas para adsorção de

proteínas plasmáticas. Os resultados do revestimento de nanopartículas

magnéticas de PLGA por poloxâmero 188, levaram a um aumento do tamanho da

partícula, uma vez que o revestimento foi realizado com as nanopartículas já

obtidas (SHUBHRA et al., 2014).

Essa característica de aumento de partícula também é observada nos

resultados de obtenção das nanopartículas do presente estudo.

Os dados mostram que os aumentos das concentrações dos surfactantes

tendem a aumentar o diâmetro médio da partícula (p<0,05). Isto pode ser

A B

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explicado devido à adsorção de moléculas excedentes de poloxâmero ao redor da

partícula nas primeiras etapas do processo de obtenção. Quando a gotícula de

fase orgânica é envolvida pelo surfactante, acima de sua concentração crítica, a

coalescência das gotículas diminui até que superfície fica saturada de surfactante

e para de coalescer. Essa etapa final da obtenção leva a um tamanho específico

de partícula polimérica que pode ser determinada experimentalmente de acordo

com os tipos de surfactantes utilizados (MORA-HUERTAS; FESSI; ELAISSARI,

2011; SHUBHRA et al., 2014).

Os dois poloxâmeros possuem cadeias hidrofílicas similares, mas são

distintos quando compara-se as frações de massa das cadeias hidrofóbicas. A

cadeia hidrofóbica do poloxâmero 407 possui a massa da fração de óxido de

propileno maior que a do poloxâmero 188. Com isso, os tamanhos obtidos são

semelhantes quando comparados o desempenho dos surfactantes. Com tudo, é

possível observar que os sistemas estabilizados com poloxâmero 407 apresentam

tamanho menores devido às suas características mais hidrofóbicas tendo melhor

afinidade pelo polímero hidrofóbico, PLGA (JINDAL; MEHTA, 2015).

Com isso, os dois surfactantes têm se mostrado eficazes para obter e

estabilizar (p<0,05), com sucesso, as nanopartículas de PLGA, porém o sistema

escolhido para continuar os estudos foi o que contém 0,5% (p/v) de poloxâmero

407, por apresentar menor tamanho. O potencial zeta de todas as concentrações

estão em torno de 0 mV (± 10), pois tanto o polímero quanto os surfactantes

utilizados são não-iônicos, atribuindo uma falta de carga na camada de difusão da

partícula. A distribuição dos sistemas apresentou polidispersões menores de 0.3.

6.3 Efeito da variação do agente funcionalizante no tamanho da partícula

O sistema escolhido para etapa de funcionalização foi da formulação

contendo 0,75% (p/v) de PLGA e 0,5% (p/v) de poloxâmero 407. Nesta fase, há a

adição do policátion polietilenimina no processo de obtenção para conferir uma

carga positiva a superfície da partícula tornando-a catiônica. A figura 7 mostra o

efeito da adição da PEI no tamanho da partícula e no potencial zeta. Razões de

PEI/polímero (p/p) – 1:5, 1:10, 1:15 – foram utilizadas considerando a

concentração de polímero de 0,75% (p/v).

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Figura 7. Diâmetro e potencial zeta de nanopartículas poliméricas de PLGA a partir da variação da

razão de PEI:PLGA.

Os dados mostram um aumento linear do valor de potencial zeta (p<0,05),

variando de 0 a 45 mV, sendo observado desde as amostras que não contem PEI

até a maior razão de PEI/polímero (1:5). Os diâmetros médios das partículas

também variaram aumentando de 100nm, na formulação com a ausência da PEI,

para 150 nm na formulação com maior razão de PEI (p<0,05). A polidispersão dos

sistemas se manteve abaixo de 0,3 reafirmando a homogeneidade das partículas.

Apesar da citotoxicidade implícita da PEI, este componente é

frequentemente utilizado na composição de sistema de entrega de moléculas

ativas (MESQUITA et al., 2017; MUNIER et al., 2005; WANG et al., 2016).

Utilizando da estratégia de funcionalizar nanopartículas poliméricas de

forma catiônica, Kim e colaboradores (2005) adicionaram na fase externa do

processo de obtenção de nanopartículas de PLA (poli ácido lático) e PLGA, uma

polietilenimina de 64kDa em diferentes concentrações, para conseguir

nanopartículas catiônicas. Foi observado que com o aumento da concentração de

PEI, as nanopartículas reduziram o seu tamanho. Este dado é justificado pelos

autores através da carga positiva da PEI que pode afetar o processo de

solidificação das partículas (KIM et al., 2005).

O mesmo não acontece na funcionalização das nanopartículas desse

presente trabalho. Durante o processo de obtenção, a polietilenimina está

presente na fase orgânica (fase interna) juntamente com o polímero. Quando

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ocorre o processo de nucleação das nanopartículas, uma parte das moléculas de

PEI é capturada pela matriz polimérica de PLGA, e outra parte ancora na

superfície da nanopartículas, que se acumulam com o aumento de sua

concentração. Esse acúmulo resulta no aumento do diâmetro das nanopartículas.

Além disso, o policátion utilizado apresenta massa molar de 25kDa,

caracterizando-se assim um dendrímero. As moléculas de PEI se organizam na

superfície das partículas de forma que as porções protonadas das moléculas

confiram um potencial zeta positivo na camada de difusão das nanopartículas

(SHABANIAN et al., 2015; SPERLING; PARAK, 2010).

6.4 Incorporação de proteínas em nanopartículas catiônicas de PLGA

No final da etapa de funcionalização das nanopartículas de PLGA (item

6.3), os nanocarreadores apresentaram o potencial zeta positivo, indicando que

as partículas apresentam superfície catiônica. A formulação escolhida para etapa

de incorporação de proteínas foi a que contém 0,5% de poloxâmero 407, 0,75%

de PLGA e a PEI na razão de 1:5 (p/p) PEI/polímero. Para incorporação de

proteínas aniônicas nos carreadores, a proteína modelo utilizada foi a albumina

bovina sérica (BSA). A tabela 1 mostra a eficiência de associação (EA) das

proteínas na superfície da nanopartículas catiônicas (NPC).

Tabela 1: Eficiência de Adsorção de BSA em nanopartículas catiônicas de PLGA

Sistemas

Diâmetro

médio

(nm)

Índice de

polidispersão

Potencial

zeta (mV) EA (%)

NPC 140,0 ± 1,8 0,130 ± 0,01 47,38 ± 6,24 -

NPC + 0,5%

BSA 170,1 ± 1,3 0,037 ± 0,03 21,91 ± 11,5 97,4 ± 0,3

NPC + 1,0%

BSA 164,3 ± 4,4 0,117 ± 0,03 18,55 ± 4,6 97,8 ± 0,5

Notas: PLGA, Poli (ácido lático-co-glicólico); NPC, nanopartículas catiônicas; BSA, albumina

bovina sérica; EA, eficiência de associação. Os resultados são expressos como média ± desvio

padrão (n=3).

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Para as concentrações testadas de BSA (0,5-1,0%), as eficiências de

associação das proteínas foram superiores a 97%. Essa alta eficiência de

associação também pode ser verificada com alterações no diâmetro médio da

partícula e seu potencial zeta. Após a associação, houve um aumento no

diâmetro da nanopartículas passando de 140 nm (nanopartículas sem proteína)

para 170 nm (nanopartículas com proteínas) (p<0,05). Também foi observado

uma diminuição considerável do potencial zeta (p<0,05). As NPC apresentam

potencial zeta de aproximadamente 50 mV e após a incorporação da albumina, os

valores de potencial zeta diminuem para aproximadamente 20 mV.

Com o sucesso na incorporação da BSA nas NPC, a peçonha da serpente

Bothrops jararaca (BJ) foi incorporada as NPC como descrito no item 5.5. A tabela

2 mostra a eficiência de associação das proteínas da peçonha nas

nanopartículas.

Tabela 2: Eficiência de Adsorção de peçonha da serpente Bothrops jararaca em nanopartículas

catiônicas de PLGA

Sistemas

Diâmetro

médio

(nm)

Índice de

Polidispersão

Potencial

zeta (mV) EA (%)

NPC 140,0 ± 1,8 0,130 ± 0,01 47,38 ± 6,24 -

NPC +

0,5% BJ 167,3 ± 6,3 0,02 ± 0,02 42,83 ± 14,6 98,7 ± 0,07

NPC +

1,0% BJ 168,7 ± 3,8 0,01 ± 0,01 35,6 ± 13,4 98,2 ± 0,03

Notas: PLGA, Poli (ácido lático-co-glicólico); NPC, nanopartículas catiônicas; BJ, Bothrops

jararaca; EA, eficiência de associação. Os resultados são expressos como média ± desvio padrão

(n=3).

Para as concentrações testadas de peçonha de Bothrops jararaca (0,5-

1,0%), as eficiências de associação das proteínas foram superiores a 98%. Essa

eficiência de associação também pode ser verificada com alterações no diâmetro

média da partícula. Após a associação, houve um aumento no diâmetro das

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nanopartículas aumentando de 140 nm (nanopartículas sem proteína) para 168

nm (nanopartículas com proteínas) (p<0,05). Já para o potencial zeta é observado

uma aparente perturbação das cargas na superfície das nanopartículas (p>0,05).

As NPC apresentam potencial zeta de aproximadamente 50 mV e, após a

incorporação da peçonha, os valores de potencial zeta se mantem

aproximadamente 40 mV.

Na literatura já é bastante reportado o uso de sistemas nanoparticulados

contendo proteínas como princípio a ser carreado. Esses sistemas são

responsáveis geralmente para direcionar e aumentar a eficácia da atividade

biológica intrínseca dessas proteínas veiculadas (BEKALE; AGUDELO; TAJMIR-

RIAHI, 2015; LOHCHAROENKAL et al., 2014; NAJAFI-HAJIVAR et al., 2016).

A associação de proteínas em superfície de partículas através de

interações com polímeros de carga positiva, já possui possíveis mecanismos de

interação. Um estudo realizado em nosso grupo de pesquisa utilizando a BSA

como proteína modelo de associação, demonstrou a capacidade das

nanopartículas funcionalizadas com PEI de associar proteínas à superfície.

Alterações no potencial zeta das partículas e diminuição de estiramentos

espectroscópicos na região do infravermelho conseguem sugerir a interação

eletrostática das cargas negativas presentes na proteína com as cargas positivas

das aminas presentes na PEI (MESQUITA et al., 2017).

Os sistemas contendo a peçonha da Bothrops jararaca, as nanopartículas

catiônicas vazias, o agente funcionalizante (PEI) e a peçonha bruta, foram

submetidos a uma eletroforese em gel para demonstrar e confirmar a associação

das proteínas nos nanocarreadores. A figura 8 mostra o perfil eletroforético das

amostras em análise.

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Figura 8. Determinação do perfil eletroforético de: MM, marcador molecular; BJ, peçonha de

Bothrops jararaca (15 µg); PEI, polietilenimina (15 µg); NPC, nanopartículas catiônicas (15 µg).

Gel corado com solução de nitrato de prata.

As bandas apresentadas na coluna referente à peçonha da serpente (BJ)

confirmam uma diversificada composição molecular da peçonha quando

comparando com a coluna do marcador de peso molecular (MM). A composição

da peçonha é, em sua grande maioria, composta por proteínas de peso molecular

abaixo de 20 kDa, ou seja, proteínas de baixo peso molecular. A PEI e a as

nanopartículas catiônicas, foram testadas como controles negativos de detecção,

uma vez que as nanopartículas não entram na malha do gel. As colunas

referentes aos sistemas contendo diferentes concentrações de peçonha

associados aos nanocarreadores, não apresentaram bandas depois da

eletroforese. Essa informação confirma a alta eficiência de associação das

proteínas aos sistemas.

A utilização da técnica de eletroforese em gel é aplicada nesse caso de

nanopartículas catiônicas para ajudar a confirmar a associação das proteínas

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associadas ao sistema. Os resultados obtidos nesse trabalho corroboram com

estudos também já realizados no nosso grupo de pesquisa, os quais demonstram

a capacidade de confirmar a incorporação de proteínas em nanopartículas.

Soares e colaboradores (2017), utilizaram nanopartículas de quitosana para

incorporação da peçonha de escorpião Tityus serrulatus e, após submeter as

amostras ao gel, o perfil eletroforético das amostras confirmavam a incorporação.

A amostra de peçonha bruta aparece no gel com seu determinado perfil

eletroforético e as amostras com peçonha incorporadas as nanopartículas

apresentaram bandas de fraca intensidade quando comparadas com as do perfil

eletroforético da peçonha, sugerindo uma incorporação considerável das

proteínas (ROCHA SOARES et al., 2017). Utilizando uma estratégia semelhante

as nanopartículas catiônicas de PLGA, Mesquita e colaboradores (2017),

desenvolveu nanopartículas catiônicas de PLA funcionalizadas com PEI e

adsorveu albumina sérica bovina (BSA) na superfície das partículas. As bandas

referentes às nanopartículas com BSA associadas, apresentaram uma

intensidade bastante reduzida quando comparada com o perfil eletroforético da

BSA puro (MESQUITA et al., 2017).

Recentemente, Carneiro e Ward (2018) desenvolveram nanopartículas

paramagnéticas funcionalizadas com quitosana e um derivado do ácido

iminodiacético para demonstrar a capacidade de partículas paramagnéticas de

imobilizar e purificar proteínas. Esses testes se deram por capacidade de ligação

das proteínas a compostos da superfície das nanopartículas paramagnéticas. As

informações foram obtidas após submeter diferentes concentrações de proteínas

para associar as partículas e em seguidas avaliar a performance dessa

associação também através de perfil eletroforético (CARNEIRO; WARD, 2018).

Dentro desse contexto, as nanopartículas de PLGA funcionalizadas com

polietilenimina, desenvolvidas ao longo desse trabalho, apresentaram excelente

capacidade de associação com a peçonha da serpente e essa resposta pode ser

confirmada com o perfil eletroforético e alta eficiência de incorporação obtidos

durante os testes.

Uma vez que existe a associação e possíveis interações entre as proteínas

da peçonha e as nanopartículas catiônicas, foram realizadas análises de

espectroscopia na região do infravermelho para acessar informações sobre essas

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possíveis interações. A figura 9 mostra os espectros provenientes de amostras

individualmente contendo nanopartículas catiônicas de PLGA (NPC), peçonha da

serpente Bothrops jararaca (BJ) e peçonha associadas a nanopartículas

catiônicas (NPC+BJ).

Figura 9. Espectros de infravermelho de nanopartículas catiônicas (NPC), peçonha pura de

Bothrops jararaca (BJ) e nanopartículas associadas a peçonha (NPC+BJ).

Uma análise inicial dos espectros de infravermelho sugere que não existam

reações que levem ao surgimento de ligações covalentes entre os componentes,

nem o surgimento de outros compostos diferentes dos já existentes. Os espectros

apresentam características de estiramentos semelhantes e apresentam os

grupamentos já esperados da composição da nanopartícula e da peçonha.

Numa análise entre os números de ondas entre 1000 e 2600 cm-1, observa-

se características interessantes a serem discutidas. No número de onda de 1635

cm-1 observamos a repetição do estiramento comum em todas as amostras. Esse

estiramento é referente ao grupamento amida primaria (N-H), grupo funcional

amplamente encontrado nos componentes das amostras, como os peptídeos e

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proteínas da peçonha e o agente funcionalizante da nanopartícula, a

polietilenimina (ALVAREZ-ORDÓÑEZ et al., 2011).

Entre a região de 2310 e 2380 cm-1, observa-se o surgimento de

estiramentos referentes aos componentes organofosforados (C-P) (AEIA;

THOMAS, 1965). No espectro referente às nanopartículas não é observado esse

grupamento, porém após a adição da peçonha, o estiramento é mantido tanto no

espectro da peçonha bruta quanto no espectro das nanopartículas associadas a

peçonha. A razão do aparecimento dos estiramentos na região de

organofosforados indica a presença desses componentes na composição química

da peçonha da serpente.

Essa afirmação é observada por Zelanis e colaboradores (2016) que em

estudos de identificação proteômica da peçonha da serpente Bothrops jararaca,

confirmam e determinam a diferença dos marcadores moleculares nos gêneros

das serpentes em função da produção de veneno. Dentre a composição é

possível identificar pelo menos 3 principais enzimas organofosforadas, que são as

fosfodiasterases, fosfolipase A2 e fosfolipase B (ZELANIS et al., 2016).

6.5 Morfologia das nanopartículas

Propriedades físico-químicas como tamanho de partícula, a forma e a

carga superficial podem afetar o comportamento de sistemas biológicos, mais

especificamente no aspecto de internalização celular (SALATIN; MALEKI DIZAJ;

YARI KHOSROUSHAHI, 2015).

A forma e superfície das nanopartículas catiônicas de PLGA com e sem

associação de peçonha da Bothrops jararaca, foram acessadas a partir de análise

de microscopia de força atômica (MFA) e microscopia eletrônica de varredura

(MEV). Em todas as amostras, a figura 10 mostra que as partículas são esféricas

com superfície lisa. Na figura 10B-C pode-se observar que, mesmo após

adicionar as proteínas da peçonha, as formas das partículas permaneceram

esféricas e com superfície lisa.

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Figura 10. Imagens topográficas em 2D e 3D obtidas por Microscopia de Força Atômica e

imagens de Microscopia Eletrônica de Varredura, respectivamente, de: A) nanopartículas

catiônicas de PLGA sem peçonha; B) nanopartículas catiônicas de PLGA com peçonha de

Bothrops jararaca a 0,5% e C) nanopartículas catiônicas de PLGA com peçonha de Bothrops

jararaca a 1,0%.

É possível observar que os tamanhos de nanopartículas informados pelas

análises de MFA, não são compatíveis com os valores obtidos pela determinação

do tamanho através do espalhamento de luz (tabela 2). Essa diferença se dá

pelos distintos fundamentos dos métodos usados e o modo de preparo das

amostras. Para o espalhamento de luz, as nanopartículas se mantêm em meio

aquoso quando submetidas a análise tamanho. Por outro lado, para ambas as

análises de microscopia, as amostras são submetidas a um período de secagem.

Essa etapa do processamento pode levar as nanopartículas a formarem

agregados e terem seu tamanho aumentado, ou terem sua camada de hidratação

superficial retirado, reduzindo o tamanho da nanopartícula (HOO et al., 2008).

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Essa camada de hidratação também é denominada por Lim e

colaboradores (2013) de raio hidrodinâmico. Durante a análise de espalhamento

de luz, é necessário um feixe monocromático para espalhar a luz e associar o

movimento browniano das partículas para fornecem informações necessárias ao

software de análise que irá determinar o raio hidrodinâmico da partícula. O

software utiliza da equação de Stokes-Einstein para a análise, onde a constante

de Boltzmann, a temperatura e a viscosidade são os dados fundamentais para

definir o raio que consiste a medida desde o centro da partícula até sua camada

mais externa de difusão (LIM et al., 2013).

6.6 Estudo de estabilidade física

Realizou-se um estudo de estabilidade das nanopartículas contendo ou

não a peçonha da Bothrops jararaca para observar possíveis instabilidades físicas

dos sistemas. Os resultados da variação do diâmetro médio da partícula em 45

dias podem ser visualizados na figura 11.

Comparando as análises desde 1° ao 45° dia, observamos que as

alterações no tamanho das nanopartículas foram mínimas, variando em torno de

20 nm (p<0,05). Os valores de potencial zeta continuaram positivos (+30mV ± 10).

Nenhum dos sistemas apresentou índice de polidispersão superiores 0,2

indicando uma homogeneidade do tamanho das partículas dos sistemas. Uma

característica interessante a se observar foi a distribuição dos diâmetros médios

dos sistemas contendo peçonha que mostraram valores de polidispersão menores

que 0,010.

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Figura 11: Estudo de estabilidade física de nanopartículas catiônicas (NPC); nanopartículas

catiônicas associadas a peçonha de Bothrops jararaca 0,5% (NPC+BJ0,5%); nanopartículas

catiônicas associadas a peçonha de 1,0% (NPC+BJ1,0%), no período de 45 dias.

A correlação da distribuição do tamanho de partícula e as populações de

partículas analisadas, determina que quanto maior esse valor seja (ou quanto

mais próximo de 1) mais heterogênea a amostra será, podendo apresentar

diversas populações de partículas, caracterizando assim uma amostra

multimodal. Por outro lado, quanto mais próximo de 0, melhor será a distribuição e

mais homogêneo será a população de nanopartículas (CORTI. et al., 1977; LIM

et al., 2013).

Essa estabilidade das nanopartículas também é influenciada pela

quantidade de cargas que os sistemas apresentam. As dispersões coloidais

podem apresentar fenômenos de instabilidades referentes à floculação,

cremagem, sedimentação e coalescência (SHEKUNOV et al., 2007). Todos esses

fenômenos estão relacionados a cargas ao redor da superfície da partícula que

propicia forças de interação entre as partículas. Forças eletrostáticas de atração e

repulsão, forças estéricas (dependem da geometria da partícula) e forças de

solvatação, que se devem a mudanças na quantidade de solvente adsorvido com

a aproximação de partículas adjacentes, são exemplos de forças que influenciam

na estabilidade de coloides (BONIELLO et al., 2017; MURDAN, 2003).

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As nanopartículas catiônicas já apresentam uma densidade de carga

considerável devido à presença da polietilenimina na sua composição. Mesmo

quando associada com concentrações de proteínas da peçonha, essas interações

entre as cargas continuam existindo uma vez que dentro da composição da

peçonha existem proteínas com moderada densidade de cargas, como o caso

das metaloproteases, que ajudam a aumentar a estabilidade física e eletrostática

do sistema (GAMBINOSSI; MYLON; FERRI, 2015).

6.7 Ensaio de Liberação de proteínas in vitro

Nanopartículas poliméricas são consideradas sistemas de liberação

modificada de fármacos e biomoléculas, por serem capaz de alterar o perfil de

biodisponibilidades desses componentes. O ensaio de liberação in vitro tem como

objetivo observar a influência da composição do sistema no perfil de liberação das

proteínas da peçonha de Bothrops jararaca.

Figura 12. Perfil de liberação de proteínas in vitro de peçonha de Bothrops jararaca, em diferentes

concentrações (0,5 e 1,0%) associadas a nanopartículas catiônicas, em função do tempo.

Tabela 3: Tratamento matemático para o estudo de liberação de proteínas in vitro

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Modelo Cinético k ( r2)

Sistemas Primeira

Ordem Bhaskar Freundlich

Difusão

Parabólica

NPC + BJ 0,5% 0,0003 h-1

(0,59 ± 0,03)

0,1741 h0.65

(0,90 ± 0,02)

145,11 h

(0,91 ± 0,02)

0,2722 h-0.5

(0,96 ± 0,01)

NPC + BJ 1,0% 0,0002 h-1

(0,56 ± 0,04)

0,1329 h0.65

(0,89 ± 0,02)

89,62 h

(0,94 ± 0,01)

0,3635 h-0.5

(0,97 ± 0,01)

A figura 12 mostra o perfil de liberação de proteína em função do tempo. O

ensaio foi realizado por 168 horas, equivalente a 7 dias. Percebe-se que ambos

os sistemas apresentam perfis semelhantes de liberação e se caracterizam como

sistemas que estão prolongando a liberação das proteínas na peçonha.

A formulação que contem 0,5% de peçonha (NPC + BJ 0,5%) apresenta

um notável efeito “burst” entre os tempos de 8 e 10 horas, liberando

aproximadamente 30% da massa total de proteínas contidas nas nanopartículas.

Em seguida, o sistema entra em equilíbrio com o meio, porém se manteve

liberando proteínas durante o tempo de ensaio, 168 horas. Na última leitura, as

nanopartículas foram capazes de liberar 98,7% da massa total de proteínas.

A formulação contendo 1,0% de peçonha (NPC + BJ 1,0%) manteve sua

liberação prolongada, lenta e crescente. Ao fim dos 7 dias de ensaio, as

nanopartículas haviam liberado apenas 57,8% da massa total de proteínas

associadas as nanopartículas.

Para definir o mecanismo cinético da liberação das nanopartículas

catiônicas contendo peçonha de Bothrops jararaca nas diferentes concentrações,

foi necessário utilizar a aplicação de diferentes modelos matemáticos como:

primeira ordem, Bhaskar, Freundlich e difusão parabólica (Tabela 3).

A escolha do mecanismo cinético de liberação dos sistemas, se dá pela

análise do coeficiente de determinação (r2) obtido através da regressão linear dos

dados provenientes da aplicação dos modelos matemáticos. O modelo é

escolhido quando possui o r2 próximo de 1. Neste caso, ambos as formulações

NPC + BJ 0,5% (r2 = 0,96) e NPC + BJ 1,0% (r2 = 0,97). Após a avaliação dos

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dados, observou-se que a cinética de liberação que melhor representa o perfil de

liberação é a difusão parabólica. Esse mecanismo propõe que as proteínas se

difundam no meio através de difusão intra-partícula ou difusão de proteínas

adsorvidas na superfície das nanopartículas.

Semelhantes aos resultados encontrados na literatura, as nanopartículas

catiônicas de PLGA, também foram capazes de prolongar a liberação das

proteínas da serpente.

No estudo de liberação de proteínas em nanopartículas, é conhecida a

capacidade desses sistemas de prolongar a liberação dessas biomoléculas e

diversos estudos são capazes de demonstrar este fato (LIU et al., 2016;

MESQUITA et al., 2017; MUNIER et al., 2005; ROCHA SOARES et al., 2017;

ZAMBAUX et al., 1999). Semelhante aos resultados obtidos nesse trabalho,

Munier e colaboradores (2005), utilizaram nanopartículas catiônicas de PLA para

modificar a liberação de DNA e observaram a liberação sustentada e contínua

durante o período de aproximadamente 100 horas. Apesar da semelhança, o

estudo não aplicou tratamentos matemáticos para indicar um possível mecanismo

de liberação (MUNIER et al., 2005). Mesquita e colaboradores (2017), ao

estudarem o perfil de liberação da BSA associadas a nanopartículas catiônicas de

PLA, observaram uma liberação sustentada e contínua das proteínas e após

tratamento matemático dos resultados, a cinética de liberação foi a difusão

parabólica (MESQUITA et al., 2017).

6.8 Viabilidade celular

A alta densidade de carga positiva encontrada na polietilenimina é

proveniente das aminas protonadas de seus monômeros. Essas cargas são

capazes de interagir com membranas negativas de células induzindo vias de

endocitose das moléculas de PEI. Essas moléculas livres no citoplasma da célula

irão interagir com as membranas das organelas celulares que ficarão instáveis,

levando a apoptose celular. Complexos de veiculação de moléculas utilizando

PEI, possuem a alta capacidade de aumentar a osmolaridade de vesículas ácidas

que resulta na ruptura endossomal e inibe a atividade lisossômica. Esse processo

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caracteriza uma limitação no uso de PEI devido sua citotoxicidade (KIM et al.,

2016; SHEN et al., 2013; TAN; HUANG, 2002).

Neste contexto, foi realizado um ensaio de viabilidade celular para os

sistemas que foram funcionalizados com PEI 25 KDa. O objetivo desse ensaio foi

observar se a proporção de polietilenimina do sistema, obtida pela variação da

concentração de PLGA, causava citotoxicidade. Desta forma, foi avaliada a

viabilidade celular de células sanguíneas in vitro por ensaio utilizando CMSP das

nanopartículas catiônicas em concentrações de 140; 70; 35;17,5; 7; e 1,7 µg/mL

em 72 horas (Figura 13). O tempo de 72 horas foi escolhido por ser o período

necessário para se observar morte celular considerável, uma vez que 24 e 48

horas não apresentaram morte celular significante. Nesse mesmo ensaio, foi

possível analisar a taxa de apoptose recente e apoptose tardia causada pela

presença das nanopartículas, através da utilização do iodeto de propídeo.

Figura 13. Viabilidade celular de nanopartículas catiônicas de em diferentes concentrações (1,7;

7; 17,5; 35; 70 e 140 µg.mL-1) em células sanguíneas durante 72 horas.

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Figura 14. Taxa de apoptose celular de nanopartículas catiônicas de em diferentes concentrações

(1,7; 7; 17,5; 35; 70 e 140 µg.mL-1) em células sanguíneas durante em 72 horas.

Através desses resultados, podemos observar a viabilidade do sistema

nanoparticulado com a presença de PEI na superfície da partícula. A figura 13

mostra o percentual de viabilidade celular em função do aumento da

concentração de nanopartículas catiônicas. É possível observar que as

concentrações testadas de nanopartículas contendo polietilenimina apresentaram

morte celular considerável (p<0,05) apenas na concentração de 140 µg/mL,

atingindo uma viabilidade celular abaixo de 50%. Quando analisados os

resultados da taxa de apoptose na figura 14, somente após 72 horas as

nanopartículas conseguem estimular, em torno de 25% (p>0,05), o início do

processo de apoptose que é categorizado por apoptose recente. Também se

verifica que as nanopartículas apresentam apoptose tardia detectável com o

aumento da concentração das partículas, ou seja, as células entram no processo

de apoptose propriamente dito com o aumento da concentração de

nanopartículas.

Os resultados sugerem que quando a polietilenimina está associada a

nanopartículas, além de ser utilizada concentrações baixas, menor quantidade de

PEI livre está disponível para interagir com as células. Thomas e colaboradores

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(2005) desenvolveram um estudo acerca da utilização de PEI com diversas

massas moleculares. Durante o estudo, os policátions foram testados analisando

a sua capacidade de entrega de DNA isolado em células de mamíferos, tanto em

testes in vitro, quanto em testes in vivo. Ao fim do estudo, observaram que as

polietileniminas que tinham menor cadeia, apresentavam perfil não tóxico no

direcionamento de DNA, sendo considerados veículos biocompatíveis (THOMAS

et al., 2005). Outro estudo realizado em nosso grupo de pesquisa, utilizou

nanopartículas de poli ácido lático (PLA) funcionalizadas com PEI na razão de

PEI:PLA 1:1 e 1:2 (p/p). Após realização do ensaio de MTT em células VERO E6,

observou-se uma citotoxicidade dose dependente da PEI em concentrações

acima de 80 µg.mL-1 (MESQUITA et al., 2017).

O sistema desenvolvido neste trabalho apresenta indicativos de ser um

nanocarreador biocompatível e promissor. Apenas após 72 horas, observou-se

morte celular detectável e concentrações abaixo de 80 µg.mL-1 obtendo

viabilidade celular como relatado na literatura.

6.9 Dosagem de títulos de anticorpos

Após toda a caracterização fisico-química do nanocarreador catiônico,

estudos de performance in vivo foram feitos para avaliar a capacidade

imunogênica dos sistemas. Para tanto, os sistemas NPC, NPC+BJ 0,5% e

NPC+BJ 1,0%, foram testados seguindo um protocolo de imunização (item 5.9.2).

Ao final do período de vacinação dos animais, foram feitas as dosagens dos

títulos de anticorpos produzidos pelos grupos imunizados através da técnica de

ELISA.

A tabela 4 mostra a média das absorbâncias obtidas através da diluição

dos soros. Os grupos experimentais considerados controles (PBS, NPC e

Hidróxido de Alumínio) apresentaram uma absorbância mínima para a diluição de

1:25 de anticorpos. Os grupos de animais que foram imunizados com hidróxido de

alumínio contendo peçonha e os grupos contendo nanopartículas com peçonha,

foram capazes de produzir anticorpos. A partir da diluição dos soros de 1:200,

observa-se uma alta absorbância para os grupos experimentais contendo

peçonha (BJ 0,5-1,0%) que decai com aumento das diluições, sendo a maior

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diluição detectável a de 1:51200. Observando as absorbâncias isoladamente na

tabela 4, é possível identificar uma maior intensidade na absorbância dos grupos

imunizados com as nanopartículas contendo peçonha quando comparados aos

grupos em que a peçonha foi associada ao hidróxido de alumínio.

Tabela 4: Médias das absorbâncias das diluições dos soros produzidos pelos animais durante o

protocolo de imunização.

Grupos Experimentais

Diluições Salina NPC Al(OH)3 Al(OH)3 + BJ 0,5% Al(OH)3 + BJ 1,0% NPC+ BJ 0,5% NPC+ BJ 1,0%

1:25 0,377 ± 0,105 0,204 ± 0,075 0,200 ± 0,039 - - - -

1:200 - - - 2,479 ± 0,074 2,678 ± 0,168 3,069 ± 0,028 2,874 ± 0,036

1:400 - - - 2,233 ± 0,064 2,431 ± 0,160 2,919 ± 0,158 2,556 ± 0,014

1:800 - - - 1,948 ± 0,086 2,054 ± 0,243 2,781 ± 0,118 2,384 ± 0,079

1:1600 - - - 1,452 ± 0,091 1,659 ± 0,422 2,525 ± 0,087 2,238 ± 0,037

1:3200 - - - 1,035 ± 0,139 1,106 ± 0,225 2,171 ± 0,123 1,528 ± 0,098

1:6400 - - - 0,687 ± 0,070 0,690 ± 0,123 2,102 ± 0,212 1,043 ± 0,018

1:12800 - - - 0,433 ± 0,045 0,511 ± 0,161 1,239 ± 0,236 0,802 ± 0,050

1:25600 - - - 0,293 ± 0,030 0,335 ± 0,080 0,906 ± 0,179 0,483 ± 0,021

1:51200 - - - 0,222 ± 0,011 0,299 ± 0,106 0,691 ± 0,138 0,316 ± 0,022

Notas: NPC, nanopartículas catiônicas; BJ, Bothrops jararaca; Al(OH)3, Hidróxido de Alumínio. Os

resultados são expressos como média ± desvio padrão (n=3).

Figura 15. Avaliação dos títulos de anticorpos obtidos a partir de animais imunizados com

hidróxido de alumínio (Al(OH)3) e nanopartículas catiônicas (NPC) associadas a peçonha de

A B

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Bothrops jararaca (BJ) em diferentes concentrações (0,5 e 1,0%). A) Densidades ópticas na

diluição de 1:200, B) Curva de densidades ópticas em diluição seriada.

Analisando a figura 15, podemos observar o decréscimo da densidade

óptica de anticorpos (15 B) e identificar que a diluição de 1:25600 é a diluição

máxima capaz de observar a detecção de anticorpos. Após aplicar ANOVA,

seguido de Tukey, para comparar os resultados dos grupos imunizados (15 A), os

grupos das NPC contendo as concentrações de peçonha obtiveram produção de

anticorpos equivalentes aos grupos com hidróxido de alumínio contendo peçonha,

ou seja, não mostraram diferença estatística (p>0,05).

Apesar dos valores não mostrarem diferença estatística entre os grupos, o

grupo NPC+BJ0,5% apresenta diluições superiores aos outros grupos. Esse

resultado pode ser correlacionado com os dados de liberação, sendo esse o

sistema capaz de liberar quase 100% do seu conteúdo no período de 7 dias,

sugerindo uma maior eficiência no reconhecimento das proteínas liberadas e uma

maior produção de anticorpos desse grupo.

Diversos estudos já sugerem que micropartículas e nanopartículas de

PLGA podem ser utilizadas como imunoadjuvantes. Esta capacidade pode ser

explicada pelo fato de nanopartículas de PLGA estimularem citocinas pro-

inflamatórias, quando fagocitadas por macrófagos (NAJAFI-HAJIVAR et al., 2016;

PAWAR et al., 2013).

Nosso grupo de pesquisa foi pioneiro no contexto de produção de

nanopartículas poliméricas para produção de soro anti-peçonha de animais

peçonhentos. Soares e colaboradores (2012), desenvolvendo estudo em nosso

laboratório, conseguiram obter nanopartículas de quitosana como agente

imunoadjuvante para produzir soro antipeçonha do escorpião Tityus serrulatus

(ROCHA SOARES et al., 2012). Em 2016, Ayari-Riabi e colaboradores,

desenvolveram nanopartículas aniônicas de PLA conjugadas a peçonha de duas

espécies de escorpião (Androctonus australis hector e Buthus occitanus

tunetanus) para avaliação da capacidade imunogênica das partículas (AYARI-

RIABI et al., 2016).

Considerando que a dosagem dos título de anticorpos seja

aproximadamente o dobro da absorbância obtida dos grupos controles temos que:

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a diluição que representa os títulos do grupo Al(OH)3 + BJ 0,5% seja 1:28000; os

títulos do grupo Al(OH)3 + BJ 1,0% seja 1:28000; os títulos do grupo NPC+ BJ

0,5% seja superior a 1:51200 e os títulos do grupo NPC+ BJ 1,0% seja a

1:25600.

As nanopartículas catiônicas de PLGA conseguiram com sucesso estimular

o sistema imune e produzir uma resposta ativa contra a peçonha da serpente

Bothrops jararaca. A capacidade das NPC serem usadas como imunoadjuvantes

é confirmada uma vez que apresentam perfil de produção de anticorpo

semelhante ao do hidróxido de alumínio sendo uma alternativa biocompatível e

inovadora para futuros dispositivos de imunização.

7. CONCLUSÕES

Este trabalho desenvolveu com sucesso a obtenção de um sistema de

nanopartícula polimérica funcionalizada com uma carga catiônica para associação

de proteínas da peçonha da serpente Bothrops jararaca.

Através da nanoprecipitação foi realizada a padronização da produção de

nanopartículas utilizando PLGA como polímero matriz e surfactantes poliméricos

(poloxamero 407 e 188). Após o estudo de variação dos componentes, a

formulação final com concentrações fixas, foi capaz de produzir nanopartículas

com diâmetro médio de 99 nm.

No estudo de funcionalização, a polietilenimina foi capaz de fornecer uma

carga catiônica nas nanopartículas de PLGA, que mantiveram seu tamanho

reduzido com diâmetro médio de 140 nm e potencial zeta de +47,4 mV.

As nanopartículas funcionalizadas com carga catiônica foram testadas para

adsorver proteínas utilizando primeiramente a albumina bovina sérica como

proteína modelo, e em seguida utilizou-se a peçonha da serpente Bothrops

jararaca. Em ambos os testes, a eficiência de associação foi alta com percentual

acima de 95% e ensaios como eletroforese e infravermelho confirmaram a alta

eficiência de associação. Além disso, os diâmetros das nanopartículas

permaneceram abaixo de 200 nm e com potencial zeta positivo.

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Com análises microscópicas, através de microscopia de força atômica e

microscopia eletrônica de varredura, foi revelado que as nanopartículas são

esféricas e com sua superfície lisa.

Para testar o desempenho do nanocarreador polimérico funcionalizado com

adsorção de proteínas em sua superfície, testes de performances in vitro e in vivo

foram realizados.

Estudos de estabilidades indicaram que as nanopartículas funcionalizadas,

contendo ou não proteínas adsorvidas, conseguem se manter estáveis

fisicamente por mais de 6 semanas com mínimas variações de tamanho das

partículas.

Quando submetidas a teste de viabilidade celular, as nanopartículas

funcionalizadas sem a presença de proteínas apresentaram-se viáveis em

estudos com células mononucleares do sangue periférico, apresentando um perfil

de início de morte celular (apoptose tardia) apenas depois de 72 horas.

Para testar a performance da liberação dos sistemas contendo proteínas

da peçonha associadas, as nanopartículas foram capazes de prolongar a

liberação das proteínas por pelo menos 7 dias, sob condições específicas.

Utilizando um protocolo de imunização aprovado por comitê de ética para

uso de animais, as nanopartículas funcionalizadas contendo diferentes

concentrações de peçonha, foram capazes de induzir uma resposta imunológica

de memória contra a peçonha, de forte intensidade atingindo títulos de anticorpos

superiores a escalas de diluição de 1:51200.

Portanto, as nanopartículas de PLGA funcionalizadas com polietilenimina

se mostraram um interessante sistema bionanotecnológico de interesse

farmacêutico, uma vez que sua aplicação não se limita apenas ao uso como

dispositivo de imunização. O sistema também se mostra uma excelente

ferramenta de utilização para outros campos de estudo farmacêutico, como

biologia molecular, diagnóstico e aumento de eficácia terapêutica.

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