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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM SILVANA HELENA NEVES DE MEDEIROS JERÔNIMO A PESSOA IDOSA COM DOENÇA CRÔNICA NÃO TRANSMISSÍVEL ATENDIDA EM SERVIÇOS DE MÉDIA COMPLEXIDADE NA CIDADE DE NATAL/ RN NATAL/ RN 2011

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Silvana Helena Neves de Medeiros Jerônimo A PESSOA IDOSA COM DOENÇA CRÔNICA NÃO TRANSMISSÍVEL ATENDIDA EM SERVIÇOS

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CINCIAS DA SADE

DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM

PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENFERMAGEM

SILVANA HELENA NEVES DE MEDEIROS JERNIMO

A PESSOA IDOSA COM DOENA CRNICA NO TRANSMISSVEL ATENDIDA

EM SERVIOS DE MDIA COMPLEXIDADE NA CIDADE DE NATAL/ RN

NATAL/ RN

2011

Silvana Helena Neves de Medeiros Jernimo

A PESSOA IDOSA COM DOENA CRNICA NO TRANSMISSVEL ATENDIDA

EM SERVIOS DE MDIA COMPLEXIDADE NA CIDADE DE NATAL/ RN

Dissertao apresentada ao Curso de Mestrado em

Enfermagem, do Programa de Ps-Graduao em

Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande

do Norte (UFRN), como requisito parcial para

obteno do ttulo de Mestre.

Grupo de pesquisa: Prticas assistenciais e

epidemiolgicas em sade

Orientao: Profa. Dr Rejane Maria Paiva de

Menezes

NATAL/RN

2011

Silvana Helena Neves de Medeiros Jernimo

A PESSOA IDOSA COM DOENA CRNICA NO TRANSMISSVEL ATENDIDA

EM SERVIOS DE MDIA COMPLEXIDADE NA CIDADE DE NATAL/ RN

Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Enfermagem da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PGENF-UFRN), rea de concentrao

Enfermagem na Ateno sade, como requisito parcial para obteno do Ttulo de Mestre

em Enfermagem.

Aprovada em 15/12/2011.

___________________________________________________

Professora - Dr Rejane Maria Paiva de Menezes

(Departamento de Enfermagem/UFRN)

_________________________________________________

Professora DrWilma Dias de Fontes

(Universidade Federal da Paraba-UFPB)

__________________________________________________

Professora - Dr Bertha Cruz Enders

(Departamento de Enfermagem-UFRN)

__________________________________________________

Professor - Dr.Jamerson Viegas Queiroz

(Departamento de Engenharia de Produo-UFRN)

DEDICATRIA

Ao Grande Pai, por estar me guiando nesta longa caminhada de vida profissional, pessoal,

proporcionando tudo de bom que tenho vivido, dando-me fora, coragem, perseverana para

realizao desse trabalho;

Aos meus avs (in memorian), que um dia tambm foram idosos, acometidas por doenas

crnicas no transmissveis;

Aos meus pais, Sebastio e Maria Jos, por tudo que me ensinaram, que desde cedo me

mostraram o caminho certo a ser percorrido, proporcionando com esforos, instituies de

ensino de qualidade para mim, apoiando-me em minhas decises, acreditando sempre em

meus objetivos;

Ao meu marido Cssio, companheiro compreensivo e dedicado de todos os momentos e

minhas amadas filhas Bruna e Renata, pela compreenso nos momentos de stress

suportando com pacincia tantas horas de estudo no computador e ausncia.

.

AGRADECIMENTOS

Agradeo a todos que, direta ou indiretamente, contriburam para a concretizao do presente

estudo. Em especial gostaria de agradecer:

minha orientadora, Rejane Maria P. de Menezes, que conheci nestes ltimos anos, e

acreditou no meu esforo, compreendendo as minhas opinies, necessidades de

aprendizagem.Obrigada pelos ensinamentos!

Ao professor Jamerson Viegas de Queirz, professor de engenharia de produo da UFRN,

pelo apoio, orientao e contribuio em banca de qualificao, com relao ao mtodo

estatstico do estudo.

s minhas amigas de Mestrado da turma 2010, em especial a Fernanda, Concebida, Illa,

Karol, Magna, Deborah, Mayana, Vivianne, Raimunda, agradeo pelo acolhimento e por

compartilharem dessa trajetria de convivncia, amizade e experincias, parabenizando-as pelo

esforo de cada uma durante esse percurso.

Aos profissionais do CEASI, e idosos que participaram deste estudo, agradeo por torn-lo

possvel!

Aos profissionais do Hospital dos Pescadores, e idosos que colaboraram com o estudo, em

especial a enfermeira Anastcia que participou do acolhimento aos idosos que participaram

deste estudo, obrigada por torn-lo possvel!

Direo, colegas enfermeiras e demais funcionrios do Hospital Universitrio Ana

Bezerra (HUAB) pelo apoio e incentivo.

A todos os docentes do Programa de Ps-graduao em Enfermagem da Universidade

Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), que contriburam na formao durante o mestrado,

em especial a Prof. Bertha C. Enders, por quem tenho admirao, e pelo trabalho

desenvolvido para a enfermagem e para o Departamento de Enfermagem ao longo destes

anos.

Aos funcionrios do Departamento de Enfermagem da UFRN, pelo acolhimento e pela

disponibilidade a colaborar diante das solicitaes apresentadas durante esse perodo.

Aos bolsistas Juliana e Pedro pelo apoio tcnico.

A Maria, pela dedicao junto as minhas filhas proporcionando-me segurana nos momentos

de ausncia.

A todos os amigos que a vida me ofereceu e que conquistei. So muitos que no tenho como

citar os nomes.

Enfim, a todos que de uma forma ou de outra contriburam para a realizao deste trabalho.

Muito obrigada!

No fim tudo d certo, e se no deu certo porque ainda no chegou ao fim

Fernando Sabino

RESUMO

O processo de transio demogrfica e epidemiolgica causado pela diminuio dos

ndices de natalidade e mortalidade e modificao do perfil de morbimortalidade

representado pelo aumento da populao idosa e das doenas crnicas no transmissveis.

Estas doenas caracterizam-se por etiologia mltipla, fatores de risco, perodo longo de

latncia, curso prolongado, origem no infecciosa e associao com deficincias e

incapacidades funcionais. Desse modo, a pessoa idosa com doena crnica no transmissvel

encontra-se em prioridade por tratar-se de um grupo vulnervel para essas comorbidades no

envelhecimento, com aumento da procura e gastos nos servios de sade. O objetivo deste

estudo analisar o perfil da pessoa idosa com Doena Crnica No Transmissvel atendida

em servios de mdia complexidade. Trata-se de um estudo descritivo e exploratrio, com

abordagem quantitativa, realizado no Centro Especializado de Ateno Sade do Idoso e no

Hospital dos Pescadores. A populao foi de 4180 pessoas e com uma amostra aleatria

simples de 124 idosos com idade igual ou acima de 60 anos, atendidos nesses servios de

mdia complexidade. O instrumento, um formulrio estruturado, adaptado do questionrio de

monitoramento para fatores de risco e proteo para doena crnica do Ministrio da Sade.

Na coleta de dados usou-se a entrevista acompanhada de formulrio contendo dados

sociodemogrficos, hbitos e condio de sade e o atendimento nos servios de sade. Os

resultados foram processados no programa Statistical Package for the Social Science, verso

18.0, analisados atravs da estatstica simples. Identificou-se que a maioria dos idosos era do

sexo feminino, com predomnio entre 70 e 74 anos, casados, de cor parda e catlicos; mais da

metade tinha ensino fundamental incompleto; renda familiar entre 1 a 2 salrio mnimo e

residia com a famlia. Quanto aos hbitos de vida, 94,4% consumiam frango e, 97,6% frutas;

observou-se haver reduo do tabagismo, do alcoolismo e da atividade fsica; 58,1%

possuam insnia e 18,5% utilizavam remdios para dormir. A procura pelo servio de sade

deu-se devido adoecimento (51,6%), buscando a ateno primria no primeiro momento

(30,6%); 52% no receberam encaminhamento e a procura era por livre demanda (38.7%). A

morbidade mais referida foi a hipertenso, seguida das doenas musculoesquelticas. Sobre as

dificuldades na procura pelos servios de sade, a demora no atendimento e as filas foram

citadas pelos idosos. Quase todos relataram no haver atividades de promoo sade nesses

servios e que recebiam orientao individual sobre as doenas crnicas. Os profissionais de

sade que os atendiam, em sua maioria eram mdicos, seguidos dos enfermeiros. Mediante os

resultados apresentados, considera-se que os servios de sade de mdia complexidade

precisam exercer de forma mais contnua a interlocuo com os demais nveis de ateno e

enfocar no atendimento as aes de promoo e preveno sade. Recomenda-se tambm a

necessidade de qualificao dos profissionais para o atendimento pessoa idosa e a

implantao de protocolos pela equipe multiprofissional de sade, de modo a proporcionar

melhor atendimento e continuidade do tratamento pessoa idosa com doenas crnicas no

transmissveis.

PALAVRAS CHAVES: Idoso. Doena Crnica. Enfermagem. Servios de Sade

ABSTRACT

The demographic and epidemiological transition process caused by a declining in birth rates

and in mortality, also changes occurred in morbidity and mortality is represented by the

increasing of the aging population and the raising of chronic diseases. These diseases are

characterized by multiple etiologies, risk factors, long latency period, a prolonged evolution,

non-infectious origin and it has association with functional impairment and disability. Thus,

elderly with chronic non-communicable disease has priority because they belong to a

vulnerable group to get affection of comorbidities in aging, with increased demand and

spending on health services. This study is aimed to analyse the understanding of elderly

people with chronic non comunicable disease in the medium complexity service as a

contribution to the improvement of health care in the city of Natal / RN. This is a descriptive

and exploratory study with a quantitative approach, carried out at the Specialized Center for

Elderly Health Care and at the Pescadores Hospital. The population was composed of 4,180

persons with a sample of 124 elderly aged above 60 years, attended in these medium

complexity services. The instrument, a structured form, adapted from a questionnaire for

monitoring risk and protective factors for chronic disease of the Ministry of Health. To collect

data was was used the interview form containing demographic data, habits, health status and

health care services. The results were processed using the Statistical Package for Social

Science, version 18.0, analyzed by simple statistics. It was found that most seniors were

female, predominantly between 70 and 74 years old, married, with a brown skin tone and

Catholic religion, more than half had incomplete basic education, family income between one

to two minimum wages and living with their families. Regarding the interviewers lifestyle,

94.4%, of them ate chicken and 97.6%, fruits, it was observed a reduction in smoking,

alcoholism habits and physical activity according to the increasing age, 58.1 and 18.5% had

insomnia18,5 % used sleeping pills. The elderly (51.6%) reported using services in times of

sickness, seeking primary care at first (30.6%), 52% did not receive referral and was looking

for free demand (38.7%). The most reported morbidity was hypertension, followed by

musculoskeletal disorders. Regarding the difficulties in seeking health services, the delay in

treatment and the waiting line were the most cited by the elderly. Almost all of them reported

no activities to promote health in these services and those who received individual counseling

on chronic diseases. Almost always, the health professionals who care of them, were mostly

doctors followed by nurses. Based on the results presented, it is considered that the health

services of medium complexity must undergone a more continuous dialogue with other

attention level and focus on actions of health promotion and prevention. It is also

recommended the necessity for qualified professionals to delivery health care to elderly and

the implementation of protocols by a multidisciplinary health team, intending to provide

better and continous care for the elderly with chronic diseases. The healthcare professionals

who served them, were mostly physicians, followed by nurses. Through the results presented,

it is considered that the medium complexity healthcare services need to perform a more

continuous dialogue with the other levels of attention focusing attention to the health

promotion and prevention actions. It is also recommended the necessity for qualified

professionals to delivery healthcare for the elderly, in addition, a protocol implementation for

the multidisciplinary health care team, to provide better care, and also the care continuity to

elderly with chronic diseases.

KEYWORDS: Elderly.Chronic Disease. Nursing. Health Services.

LISTA DE ILUSTRAES

Grfico 1 Frequncia da procura pelos servios de sade por idosos atendidos em 2 servios

de mdia complexidade. NATAL, RN/2011............................................................................72

Grfico 2 Distribuio de idosos atendidos em 2 servios de mdia complexidade, segundo

primeiros servio procurados quando adoecem NATAL/ RN, 2011 (n =124).........................73

Grfico 3 Distribuio dos idosos atendidos em 2 servios de mdia complexidade segundo

recebimento de encaminhamentos para esses servios. NATAL/RN, 2011 (n = 124)............74

Grfico 4 Distribuio de idosos atendidos no servio de mdia complexidade, segundo a

DCNT referida. NATAL/RN, 2011 (n = 104).........................................................................80

Grfico 5 Distribuio dos idosos atendidos em 2 servios de mdia complexidade segundo

as dificuldades enfrentadas ao procurar atendimento no servio de mdia complexidade

NATAL/RN, 2011....................................................................................................................81

Grfico 6 Distribuio de idosos que receberam orientaes sobre DCNTs no servio de

mdia complexidade. NATAL/RN, 2011 (n = 124)........................................... ....................85

Grfico 7 Distribuio dos idosos atendidos em 2 servios de mdia complexidades

segundo os profissionais que o atenderam.NATAL/RN, 2011................................................87

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Distribuio dos idosos atendidos em 2 servios de mdia complexidade, segundo

as variveis demogrficas. NATAL, RN/2011.........................................................................65

Tabela 2 Distribuio dos idosos atendidos em 2 servios de mdia complexidade, segundo

as variveis sociais. NATAL, RN/2011....................................................................................68

Tabela 3 Distribuio dos idosos atendidos em 2 servios de mdia complexidade, segundo

hbitos pessoais de vida. NATAL, RN/2011...........................................................................70

Tabela 4 Distribuio dos idosos atendidos em 2 servios de mdia complexidade, segundo

a forma de acesso ao servio. NATAL/RN, 2011.....................................................................75

Tabela 5 Distribuio dos idosos atendidos em 2 servios de mdia complexidade, segundo

sexo e acometimento por DCNT. NATAL/RN, 2011.............................................................77

Tabela 6 Distribuio dos idosos atendidos em 2 servios de mdia complexidade, segundo

sexo e a quantidade de DCNTs referidas. NATAL/RN, 2011................................................78

Tabela 7 Distribuio dos idosos atendidos em 2 servios de mdia complexidade quanto a

opinio sobre a realizao de atividades de promoo sade. NATAL/RN,

2011...........................................................................................................................................82

Tabela 8 Distribuio dos idosos atendidos em 2 servios de mdia complexidade, segundo

o tipo de orientao recebida no servio sobre DCNTs. NATAL/RN, 2011...........................84

Tabela 9 Distribuio dos idosos atendidos em 2 servios de mdia complexidade segundo

orientaes realizadas sobre o tratamento e seguimento da doena no servio. NATAL/RN,

2011..........................................................................................................................................86

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

AME - Assemblia Mundial das Naes Unidas sobre envelhecimento

AVC Acidente Vascular Cerebral

CARMEN- Conjunto de Accines para la Reduccin Multifactorial de las Enfermedades No

Transmisibles

CEASI Centro Especializado de Ateno Sade do Idoso

CEP-UFRN - Comit de tica e Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte

CGDANT Coordenao Nacional de Vigilncia de Doenas e Agravos No Transmissveis

Cindi - Countrywide Integrated Noncommunicable Diseases Intervention Program

Crasi Centro de Referncia em ateno sade do idoso

CREAI Centro de Referncia de Ateno ao Idoso

DANT - doenas e agravos no transmissveis

DCNTs- Doenas Crnicas No Transmissveis

DIP Doenas Infecciosas e Parasitrias

DPOC Doena Pulmonar Obstrutiva Crnica

ESF Estratgia Sade da Famlia

FP Fatores Protetores

FR Fatores de Risco

HIPERDIA - hipertenso e diabetes

HOSPESC - Hospital dos Pescadores

IAM Infarto Agudo do Miocrdio

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

MS Ministrio da Sade

NOAS Norma Operacional da Assistncia Sade

OMS- Organizao Mundial de Sade

ONU Organizao das Naes Unidas

OPAS Organizao Pan-Americana de Sade

PAME - Plano de Ao Internacional sobre o Envelhecimento

PeNSE - Pesquisa Nacional de Sade Escolar

PID Programa de Internao Domicilar

PNAB Poltica Nacional de Ateno Bsica

PNAD - Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios

PNI - Poltica Nacional do Idoso

PNPS Poltica Nacional de Promoo de Sade

PNSI Poltica Nacional de Sade do Idoso

PNSPI - Poltica Nacional de Sade da Pessoa Idosa

PPI Programao Pactuada e Integrada

PS Posto de Sade

RN Rio Grande do Norte

SABE - Sade, bem-estar e envelhecimento

SAMU Servio de Atendimento Mvel de Urgncia

SM Salrio Mnimo

SMS Secretaria Municipal de Sade

SPSS - Statistical Package for the Social Science

SUS Sistema nico de Sade

SVS Secretaria de Vigilncia Sade

TCLE - Termo de Consentimento Livre Esclarecido

UBS Unidade Bsica de Sade

SUMRIO

1 INTRODUO...................................................................................................................17

2 OBJETIVOS........................................................................................................................27

2.1 OBJETIVO GERAL......................................................................................................... 28

2.2 OBJETIVOS ESPECFICOS............................................................................................28

3 REVISO DE LITERATURA.........................................................................................29

3.1 O PROCESSO DE TRANSIO EPIDEMIOLGICA.................................................30

3.2 POLTICAS DE SADE E DE ATENO A PESSOA IDOSA.................................. 36

3.2.1 Integralidade das aes na sade a pessoa idosa........................................................42

3.3 AS DCNTs E A VIGILNCIA A SADE .....................................................................47

4 METODOLOGIA...............................................................................................................55

4.1 TIPO DO ESTUDO.......................................................................................................... 56

4.2 LOCAL DO ESTUDO.....................................................................................................56

4.3 POPULAO E AMOSTRA..........................................................................................58

4.4 VARIVEIS DO ESTUDO.............................................................................................60

4.5 INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS..................................................................60

4.6 PROCEDIMENTOS TICOS E LEGAIS........................................................................61

4.7 PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS............................................................. 61

4.8 PROCEDIMENTOS DE ANLISE DOS RESULTADOS.............................................62

5 RESULTADOS E DISCUSSES................................................................................... ..63

5.1 CARACTERIZAO SOCIODEMOGRFICA E HBITOS PESSOAIS DE VIDA

DOS PARTICIPANTES.........................................................................................................64

5.2 OS SERVIOS DE SADE UTILIZADOS PELA PESSOA IDOSA NO MUNICPIO

DE NATAL/RN......................................................................................................................72

5.3 DOENAS CRNICAS NO TRANSMISSVEIS (DCNTs) REFERIDAS PELAS

PESSOAS IDOSAS E AS DIFICULDADES NO ATENDIMENTO EM SERVIOS DE

MDIA COMPLEXIDADE NA PERSPECTIVA DE IDOSOS..........................................77

5.4 AS ATIVIDADES DE PROMOO SADE E OS PROFISSIONAIS QUE

ATENDEM A PESSOA IDOSA EM SERVIO DE SADE DE MDIA

COMPLEXIDADE.................................................................................................................83

6 CONCLUSES..................................................................................................................89

REFERNCIAS....................................................................................................................95

APNDICE..........................................................................................................................108

ANEXO.................................................................................................................................117

INTRODUO

1 INTRODUO

O rpido envelhecimento da sociedade com o aumento crescente da populao

idosa nas ltimas dcadas tm sido alvo de interesse mundial entre diversos pesquisadores.

Apesar de ser um avano para a populao ter uma maior expectativa de vida, torna-se um

desafio para os governantes, tendo em vista a importncia desse processo de envelhecimento

em todos os aspectos da vida.

As transformaes populacionais ocorridas na atual sociedade so traduzidas por

mudanas em sua pirmide etria, resultantes da diminuio das taxas de natalidade e de

mortalidade promovendo o aumento significativo de anos vividos. Tais mudanas, ocorridas

inicialmente nos pases desenvolvidos, aconteceram de forma gradativa e mais lenta,

efetivando-se ao longo de mais de cem anos, enquanto que no Brasil aconteceram de forma

acelerada, em um perodo aproximado a quatro dcadas.

Devido a esse envelhecimento rpido da populao no pas, que ocasionou um

perfil demogrfico semelhante ao dos pases desenvolvidos, que preciso melhorar a

infraestrutura dos servios de sade. Tais transformaes demogrficas, ocorridas

principalmente nas ltimas dcadas, tiveram repercusses socioeconmicas, apresentam como

consequncia uma maior procura por servios de sade, internaes mais frequentes, e o

maior tempo de ocupao dos leitos hospitalares bem maior, em decorrncia da

multiplicidade de patologias que essa faixa etria apresenta com o aumento da expectativa de

vida.

No censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE), em 2010, o

crescimento absoluto populacional nestes ltimos dez anos se deu principalmente em funo

da populao adulta, com destaque tambm para o aumento da participao da populao

idosa. A evoluo da estrutura etria tambm sugere que, confirmadas as tendncias esperadas

de mortalidade e fecundidade, a populao brasileira tende a dar continuidade a esse processo

de envelhecimento. A Regio Nordeste tinha nveis altos de fecundidade at 1980, porm a

rpida queda a partir dessa dcada indica a tendncia de envelhecimento da populao para

essa regio. A proporo de idosos na populao passou de 5,1% em 1991 a 5,8% em 2000, e

7,2% em 2010 (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica, 2011).

No Brasil ressalta-se atualmente, o crescimento acelerado das Doenas Crnicas

No Transmissveis (DCNT) em adultos e nos idosos, havendo consequncias nos setores

sociais e de sade. Para Malta et al. (2008), esse segmento etrio tem recebido crescente

ateno por ser a populao que mais cresce no mundo e por apresentar a maior carga de

doenas e de incapacidades, fazendo uso frequente dos servios de sade. No Brasil, as

estimativas para o perodo de 2000 a 2025 permitem supor que a expectativa mdia de vida

estar prxima de 80 anos (KALACHE, VERAS, RAMOS, 1987).

Nas ltimas dcadas, no Brasil, as DCNTs passaram a determinar a maioria das

causas de bito e de incapacidades prematuras. Hoje, se observa que essas doenas esto cada

vez mais prevalentes nos pases em desenvolvimento e, sendo consideradas como epidemia na

atualidade, constitui srios problemas de sade pblica, tanto nos pases ricos quanto nos de

mdia e baixa renda; estes ltimos sofrem de forma tanto mais acentuada quanto menores as

suas possibilidades de garantir polticas pblicas que alterem positivamente os determinantes

sociais de sade (BRASIL, 2008a).

Segundo o IBGE (2002), a Organizao Mundial de Sade (OMS) define a

populao idosa a partir dos 60 anos de idade, limite vlido para os pases em

desenvolvimento, subindo para 65 anos de idade quando se trata de pases desenvolvidos. No

Brasil, a Lei n 10.741, de 1 de outubro de 2003, do Estatuto do Idoso, no Art. 1, e a Portaria

n 2.528, de 19 de outubro de 2006, que aprova a Poltica Nacional de Sade da Pessoa Idosa,

consideram como idosos as pessoas com 60 anos de idade ou mais (BRASIL, 2003, 2006b).

Embora o envelhecimento no seja sinnimo de doenas, incapacidades e

dependncia, os fatores de risco como m alimentao, consumo de lcool, tabagismo, entre

outros, predispem s Doenas Crnicas no Transmissveis (DCNTs). De acordo com

Lebro (2007, p.140), tanto nos pases desenvolvidos como em desenvolvimento, as doenas

e agravos crnicos no transmissveis so significativos, podendo causar incapacidade e

reduzida qualidade de vida nos idosos. As DCNTs frequentemente so encontradas nos

idosos e esto se tornando as principais causas de mortalidade, limitando as atividades de vida

diria, independente de idade ou classe social.

Para o IBGE (2010), no Brasil o perfil epidemiolgico teve modificao que se

reflete na morbimortalidade, cujo padro, anteriormente caracterizado por doenas e bitos

por causas infecciosas e transmissveis, vem sendo progressivamente substitudo pelo perfil

constitudo de doenas crnicas, degenerativas e causas externas ligadas a acidentes e

violncia.

Veras (2003) afirma que as doenas nos idosos passam a ser crnicas e mltiplas,

exigindo a implantao de aes voltadas para esse grupo e mudanas nos modelos

assistenciais. Estima-se que, no decorrer de algumas dcadas, o relgio biolgico se ampliar,

alcanando 120-130 anos, e o desafio ser a elaborao de cenrios em que os avanos da

cincia e a tecnologia permitiro maior longevidade ao ser humano e possibilidades para o

desempenho de suas atividades de forma independente, livre de diversas doenas. Portanto, se

fazem necessrias novas aes para se enfrentar os desafios e cabe aos profissionais de sade

viabilizar o Sistema nico de Sade (SUS), para atendimento a essa nova realidade que se

apresenta.

De acordo com Berardinelli et al. (2010), a situao crnica de sade tem sido

uma preocupao mundial por parte de organizaes nacionais e internacionais de sade,

gestores e sociedade. No Brasil, a partir do Pacto pela Sade, em 2006, os idosos com DCNT

encontram-se com prioridade nas polticas de sade, por representar grande preocupao e ser

um grupo etrio vulnervel com probabilidade de apresentar doenas crnicas que afetam

mais sua qualidade de vida, e que podem resultar em dificuldades para a recuperao da sua

sade, aumentando a procura e os gastos dos servios pblicos.

Ainda pautada nas afirmaes de Berardinelli et al. (2010), os efeitos das

transformaes sociopolticas e econmicas, e as mudanas globalizadas expressas nos

indicadores epidemiolgicos de morbidade e mortalidade relativos cronicidade em sade

tm provocado aumento da prevalncia dos distrbios e agravos no transmissveis (DANTs).

Para Gomes e Senna (2008), o impacto das doenas crnicas sobre as sociedades humanas

crescente, especialmente se evolui para incapacidades ou morte. Na sociedade atual encontra-

se um nmero elevado de indivduos com alguma disfuno, o que cresce diariamente no

mundo.

Desde o incio da dcada de 50 do sculo XX, em que o aumento da populao

idosa no mundo vem acontecendo, buscam-se meios para melhorar a qualidade de vida dessas

pessoas e para controlar as morbidades que mais as acometem. Dentre elas, observa-se maior

ocorrncia de idosos com doenas cardiovasculares, respiratrias, neoplsicas,

cerebrovasculares, osteoarticulares e endcrinas (KUSAMOTA; RODRIGUES; MARQUES,

2004).

Trentine et al. (2005) afirmam que a doena crnica pode representar uma ameaa

aos planos de vida dessas pessoas, principalmente quando se trata de pessoas idosas, e devem-

se considerar as dificuldades que os indivduos vivenciam para controlar os problemas

crnicos de sade.

A conceituao sobre as doenas crnicas no transmissveis segundo o

Ministrio da Sade define que,

as DCNTs caracterizam-se por ter uma etiologia mltipla, seus mltiplos

fatores de risco, perodos longos de latncia, curso prolongado, origem no

infecciosa e por estar associadas a deficincias e incapacidades funcionais,

no entanto, apesar da sua etiologia mltipla, que no permite que elas

possuam causas claramente definidas, as investigaes biomdicas tornaram

possvel identificar diversos fatores de risco (BRASIL, 2008, p.15).

Observa-se, no entanto, que as doenas crnicas no transmissveis podem ser

prevenidas, retardadas e atenuadas, se seus fatores de risco forem identificados e controlados

precocemente, pois h maiores dificuldades para realizar mudanas comportamentais na fase

adulta. Na pessoa idosa, essas doenas representam uma ameaa autonomia e

independncia, com o surgimento de dependncia e incapacidades funcionais, e vo requerer

maior ateno familiar e assistncia especializada, com o aumento da demanda por servios

de sade.

Segundo dados da Organizao Mundial de Sade (2005a), das 58 milhes de

mortes em 2005, em todo o mundo, 35 milhes referem-se s DCNTs. A projeo mostra um

aumento futuro de 17% nos prximos 10 anos, com apenas 20% das mortes por doenas

crnicas acontecendo em pases de alta renda, enquanto que 80% delas acontecero em pases

de renda baixa e mdia, onde vive a maioria da populao do mundo.

A rpida ascenso das DCNTs representa um enorme desafio para o setor sade

com relao ao desenvolvimento global. Se, por um lado, a ameaa das DCNTs em pases

desenvolvidos reconhecida h dcadas, por outro, a predominncia dessas doenas nos

pases em desenvolvimento cada vez mais preocupante. Exemplos dessa natureza so os

fatores de risco como obesidade, alcoolismo, tabagismo, entre outros, e as doenas a eles

associadas, que eram historicamente mais comuns nos pases industrializados; as doenas

crnicas mais comuns e de maior importncia para a sade pblica na Amrica Latina e

Caribe so: doenas cardiovasculares (incluindo hipertenso), neoplasias, doenas

respiratrias crnicas e diabetes. (Organizao Pan -Americana de Sade, 2003, 2007).

O conhecimento e monitoramento da prevalncia dos fatores de risco para DCNT,

principalmente os de natureza comportamental (dieta, sedentarismo, dependncia qumica

tabaco, lcool e outras drogas) cujas evidncias cientficas de associao com as doenas

crnicas estejam comprovadas, fundamental, pois sobre eles que se podem programar as

aes preventivas com maior poder custo efetivo no pas (MALTA et al. 2006).

Segundo Lessa (1998, p.204), estratgias populacionais para as DCNTs, devem ser

institudas precocemente, pois os seus frutos s podem ser avaliados nas idades em que

normalmente as DCNTs comeam a aumentar suas prevalncias, no significando com isso

que no se deva institu-las para os idosos.

Compreende-se a importncia da adoo de um modelo preventivo voltado para os

indivduos nas suas comunidades, pois proporcionar ateno em sade e atividades educativas

a um membro da famlia pode resultar na reduo de riscos para o restante da famlia, visto

que eles podem estar presentes em parentes prximos. Desse modo, o conhecimento adquirido

pode ser multiplicado para outras pessoas e, assim, podem-se prevenir as DCNTs atravs da

mudana de comportamentos e reduo de fatores de riscos.

A criao das polticas pblicas de sade, a partir da dcada de 90, que priorizam

o atendimento s demandas especficas do grupo etrio igual ou maior de 60 anos de idade,

atravs da implantao de estratgias e aes inovadoras, visam resolutividade de suas

questes, assegurar um envelhecimento ativo para o idoso, proporcionar um equilbrio fsico-

psquico-social, e promover melhor qualidade de vida na velhice.

A partir das perspectivas apresentadas sobre as mudanas populacionais e suas

consequncias para a populao que envelhece, entende-se haver perspectivas ainda maiores

para os prximos anos em termos do nmero de idosos e das DCNTs. Nesse sentido, existe

uma preocupao por parte dos rgos governamentais e dos profissionais que participam do

sistema de servios de sade.

importante haver um atendimento mais especfico sade da pessoa idosa em

todos os nveis de atendimento, de baixa, mdia e alta complexidade, de maneira que

proporcione uma avaliao global de sade, na qual a pessoa idosa seja identificada, avaliada

e tratada de acordo com suas demandas, considerando a sua singularidade, bem como a sua

participao em conjunto com a famlia, em seu processo sade/doena.

Nesse contexto, os idosos apresentam hoje diversas dificuldades, dentre elas, a do

acesso aos servios de sade, pois poucos servios so direcionados e exclusivos para a

pessoa idosa, possuem profissionais com pouca qualificao em gerontologia. Alm disso

muitos idosos com pouca escolaridade e rendimento mensal mnimo, de um salrio, muitas

vezes este no s utilizado para si, mas como complemento para o restante da famlia.

A prpria estrutura da ateno primria no SUS ainda encontra-se em fase de

organizao no que se refere ao atendimento a essa populao, na qual poderiam ser

detectados problemas e evitadas internaes, especialmente na populao de idosos com mais

de 80 anos, que cresce a cada ano e que, por falta de diagnstico, acaba aumentando sua

incapacidade e a internao prolongada, aumentando tambm os custos para o setor de sade.

O Brasil precisa acabar com as filas de espera nos servios de sade, por consultas, exames e

cirurgias, e investir mais nos nveis de ateno primria, que pode resolver grande parte dos

problemas de sade.

A forma como a populao envelhece e o fato dos idosos possurem mais ou

menos doenas crnicas, alm do aumento do nmero de consultas, elevam o consumo de

medicamentos, realizaes de exames complementares e hospitalizaes (VERAS;

PARAHYBA, 2007; Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica , 2009).

Desse modo, o idoso acometido por DCNT, possui maior necessidade de

atendimento em um servio especializado que o atenda de forma integral, e esteja estruturado

para acompanh-lo rotineiramente, devido aos problemas consequentes a uma DCNT. De

forma que propicie um tratamento continuado, com aes de preveno para evitar

complicaes que possam lev-lo a uma dependncia de atividades dirias, tornando-se

necessrio investimento pblico, em todos os nveis de ateno sade (bsica, mdia e alta

complexidade) no SUS.

Segundo Rodrigues et al. (2007), os dados demogrficos mostram a necessidade

dos gestores e polticos brasileiros observarem o panorama dessa transio e, em conjunto

com a sociedade, implantarem as polticas de ateno ao idoso nas esferas sociais, por

profissionais que atendam essa populao. Particularmente os da enfermagem, que atuam na

rea da sade, contribuem na abordagem do cuidado em aspectos do processo de

envelhecimento (capacidade funcional, avaliao cognitiva, promoo de sade, preveno de

doenas, entre outros) e da senilidade (condies crnicas, atendimento domiciliar, entre

outros).

Para Veras (2001), a cronicidade das doenas mais prevalentes entre os idosos

deve ser levada em considerao quando da organizao dos servios de sade, pois implica

em necessidade de pessoal qualificado e equipamento hospitalar de alto custo. Para o autor a

precariedade dos servios ambulatoriais, a baixa resolutividade da maioria dos servios

primrios e os escassos servios domiciliares contribuem para que o primeiro atendimento ao

idoso ocorra em estgio avanado da doena, no hospital, o que aumenta os custos e diminui

as chances de um prognstico favorvel.

necessrio, portanto, que em contextos de difcil acesso aos servios de sade

de qualidade, incluam-se a preveno clnica, servios de diagnstico, e o acesso a

medicamentos essenciais, pois so fatores importantes que contribuem para a diminuio da

carga de doenas crnicas. Muitas vezes populaes carentes enfrentam vrias barreiras na

assistncia sade, incluindo a incapacidade de arcar com as taxas de usurio para assistncia

sade, barreiras financeiras para medicamentos que exigem receita e falta de transporte para

chegar aos servios de sade (Organizao Pan -Americana de Sade, 2007).

Outro aspecto importante que observado quando se trata do atendimento ao

idoso a falta de interlocuo entre os nveis de ateno em sade e que precisam ser

superados e valorizados, principalmente no que se refere aos aspectos de promoo e

preveno, primordiais ao alcance de resultados positivos com relao sade da populao

idosa, que no nvel de mdia e alta complexidade no so contemplados como deveriam ser.

Ressalta-se a importncia de que as aes preventivas no so exclusivas do nvel

primrio e devem ser executadas em parceria entre as diversas equipes envolvidas na

assistncia, possibilitando ao cliente, entre outras aes, o reconhecimento de fatores de risco,

aes especficas no tratamento de comorbidades e doenas crnicas no transmissveis

(Gomes; Senna, 2008).

Atualmente, a estrutura da rede de ateno direcionada sade da pessoa idosa,

no Municpio de Natal/RN, ainda muito pequena, e isso faz com que os idosos com DCNT

enfrentem diversas dificuldades para serem atendidos nas instituies de sade. Dentre essas

dificuldades, destacam-se: o pouco pessoal qualificado e o difcil acesso aos servios pblicos

de sade para idosos, j que esses servios de sade especializados tambm se destinam

populao em geral, no atendendo de forma suficiente a demanda e as necessidades de sade

da pessoa idosa. Alm disso, observa-se uma demanda reprimida, onde a oferta bem menor

que a procura, principalmente nos servios que exigem maior complexidade.

De acordo com a Secretaria Municipal de Sade (2007), o foco de estratgias de

cuidado sade da pessoa idosa a manuteno de uma linha de cuidados que perpassa a

ateno bsica at os nveis mais complexos da assistncia, inclusive com associao ao

Programa de Internao Domiciliar (PID), junto aos servios de nvel primrio. Entretanto,

observa-se que parece ocorrer uma inverso: em princpio, a pessoa idosa chega ao servio de

mdia ou de alta complexidade com grandes comprometimentos, em estgio avanado da

doena e descompensao das DCNTs, e procura nesses servios uma maior resolutividade

em geral, no existente na ateno primria de sade.

Observa-se no Municpio de Natal/RN, que existe apenas uma modalidade de

atendimento direcionado ao idoso, a de ambulatrio especializado, que o Centro Estadual de

Ateno Sade do Idoso (CEASI), no suficiente para atender a demanda da populao

local. De modo que sobrecarrega os servios de mdia e de alta complexidade e potencializa o

foco da ateno em aes de cura e controle das doenas, em detrimento das aes de

promoo e preveno, como determinam a nova poltica e o paradigma do modelo

assistencial proposto pela ateno bsica.

Nesse sentido, a ateno sade da pessoa idosa com DCNT implica na

necessidade urgente da populao idosa ser mais compreendida pela equipe multiprofissional

de sade do que habitualmente. Os profissionais vivenciam e participam desse contexto,

intervindo nos diversos nveis de ateno em sade junto a essa populao, pois esse

atendimento, quando voltado para esse grupo etrio com DCNT, se torna complexo,

necessitando de servios especializados, integrais e complexos.

Os indivduos que vivem mais se tornam mais vulnerveis a adquirir patologias

crnico-degenerativas, podendo desenvolver dependncias funcionais, familiar, emocional e

financeira. Desse modo, a pessoa idosa que possui DCNT exige maior ateno, fato

comprovado por alguns indicadores sociais do Brasil, que citam a existncia de muitos idosos

em condies socioeconmicas desfavorveis, tendo que, cada vez mais, depender da famlia

para se manter. E esta, por sua vez, tambm se apresenta em condies apenas de

sobrevivncia, pois o salrio mnimo que recebe no suficiente para a manuteno do idoso

que possui DCNT e da sua famlia, no atendimento s suas necessidades.

Portanto, com o aumento populacional dos idosos, torna-se cada vez mais

necessrio que a sociedade e os gestores busquem caminhos que levem a uma distribuio

justa e adequada de servios que atendam demanda e necessidades da populao snior.

Com base no que foi descrito, este estudo pretende responder os seguintes

questionamentos:

- Quais DCNTs so predominantes em pessoas idosas atendidas nos servios de sade de

mdia complexidade?

- So realizadas aes de promoo sade e preveno de riscos e/ou agravos as DCNTs no

servio de atendimento de mdia complexidade?

- Por que a pessoa idosa procura pelo atendimento no servio de mdia complexidade e que

outros servios percorre antes de ser atendido nesse servio?

Assim, o problema deste estudo tem como foco pessoa idosa com DCNT ,

atendida em servios de mdia complexidade, na cidade de Natal/RN. Portanto, o crescimento

populacional de idosos, o aumento da longevidade e os aspectos a ela inerentes, como a

cronicidade das doenas e a vulnerabilidade em sade, que vm provocando um impacto nos

sistema de sade, elevando os custos e a utilizao dos servios pblicos em seus diversos

nveis, refletindo no atendimento e na assistncia ao idoso, determinam a importncia deste

estudo. Ressalta-se ainda o pouco conhecimento cientfico sobre o atendimento ao idoso no

nvel de mdia complexidade

O interesse em desenvolver um estudo sobre questes que envolvem a sade da

pessoa idosa me acompanha a algum tempo devido convivncia com idosos, tanto familiar

como profissional. A ele se soma atual relevncia cientfica e social, correspondente s

mudanas demogrficas vivenciadas pela atual sociedade e suas consequncias no setor de

sade.

Como enfermeira, desenvolvo minhas atividades profissionais com idosos h sete

anos, em servio de sade de mdia complexidade no municpio de Natal/RN e, pude

observar, no dia a dia, o aumento significativo de idosos atendidos com DCNT, as internaes

e a alta permanncia hospitalar, que muitas vezes finalizam com o bito, e o quanto esse fato

interfere na qualidade de vida dessas pessoas e de seus familiares. Percebe-se que muitos

desses usurios apresentam pouca escolaridade, baixa condio social e no possuem

informaes especficas sobre sua doena, sendo fatores que podem dificultar o seguimento

de medidas adequadas de promoo sade nas DCNTs.

Tal quadro apresentado vem demonstrando, atravs dos servios de atendimento

de mdia complexidade, que esses usurios com doenas crnicas passaram a representar uma

expressiva e crescente demanda para esses servios de sade, evidenciando a necessidade

cada vez maior de se conhecer mais sobre essa situao.

De outro modo, h idosos pouco ativos, em sua maioria sedentrios, que

permanecem grande parte de seu cotidiano em casa, vivenciando uma velhice pouco

prazerosa, podendo desenvolver a depresso, problema comum nessa faixa etria. Muitos

deles so idosos que possuem doenas crnicas degenerativas que evoluem, ao passar dos

anos, culminando com hospitalizaes at chegar ao desinteresse em participar da

comunidade em que vivem.

importante ressaltar, nesse contexto, a importncia da participao da equipe

multiprofissional de sade na promoo sade de grupos de pessoas que envelhecem,

promovendo, entre outras atividades, a educao em sade, considerando que o enfermeiro,

alm de uma formao especfica, possui formao acadmica para o desenvolvimento de

aes junto a essa populao.

Considera-se o estudo dessa problemtica, na perspectiva de uma ateno

integralizada, ampliada ao idoso, abordando o tema no sistema pblico de sade, como

contribuio s instituies que atendem o idoso na mdia complexidade, sensibilizando e

estimulando os profissionais a desenvolverem aes de promoo e preveno em sade para

a populao idosa, para postergar o surgimento de doenas, evitando ou diminuindo os

transtornos causados pelas DCNTs.

O presente estudo proporcionar o conhecimento sobre o idoso com DCNT

atendido no servio de mdia complexidade no municpio de Natal/RN, possibilitando a

ampliao de conhecimentos na rea do envelhecimento e da sade em geral, e como

contribuio para uma discusso e reorientao da ateno sade da pessoa idosa com

DCNT nos servios assistenciais de baixa, mdia e alta complexidade, direcionando

estratgias e estabelecendo planos para correo de necessidades identificadas no servio,

como tambm, no mbito do ensino da pesquisa e da extenso.

OBJETIVOS

1.1OBJETIVOS

1.1.1 OBJETIVOS GERAL

- Analisar o perfil da pessoa idosa com Doena Crnica No Transmissvel

atendida em servios de mdia complexidade.

1.1.2 OBJETIVOS ESPECFICOS

- Caracterizar os idosos atendidos em servios de sade de mdia complexidade

quanto aos aspectos sociodemogrficos e seus hbitos pessoais de vida e as Doenas Crnicas

No Transmissveis referidas pela pessoa idosa

- Verificar os servios de sade utilizados pela pessoa idosa com Doena Crnica

No Transmissvel no Municpio de Natal/RN.

- Identificar as dificuldades no atendimento em servios de mdia complexidade

na perspectiva de idosos.

- Identificar os profissionais que atendem e as atividades de promoo sade

realizada pessoa idosa em servios de sade de mdia complexidade.

REVISO DE LITERATURA

_____________________________________________

2 REVISO DE LITERATURA

Este captulo consiste na apresentao de referenciais tericos e conceituais que

fundamentam o desenvolvimento deste estudo, na perspectiva de autores que conceituam e

explicam a temtica a respeito da pessoa idosa com (DCNT) atendidas em servios de mdia

complexidade. So abordados temas que se constituem de importncia para essa pesquisa na

sequncia: o processo de transio demogrfica e epidemiolgica, as polticas de ateno

sade da pessoa idosa e As Doenas Crnicas No Transmissveis e a Vigilncia Sade

2.1 O PROCESSO DE TRANSIO DEMOGRFICA E EPIDEMIOLGICA

O envelhecimento mundial universal, dinmico, em que mesmo os pases mais

desenvolvidos ainda esto adaptando-se para essa mudana e o envelhecer j no est restrito

somente a uma parcela da populao, passou a ser uma experincia crescente para as pessoas

em todo o mundo e, com isso, as doenas crnicas comuns s idades mais avanadas tornam-

se mais prevalentes (KALACHE, VERAS E RAMOS, 1987).

A OMS (2005) prope uma nova definio de envelhecimento, como sendo um

envelhecimento ativo, que considera o processo de otimizao das oportunidades em sade,

participao e segurana, com a finalidade de melhorar a qualidade de vida medida que as

pessoas envelhecem.

Baseado nesse novo paradigma de envelhecimento, observa-se que o estilo de vida

daqueles que sobrevivem com idades avanadas em pases menos desenvolvidos est

associado a fatores de risco menores para determinadas doenas. O fumo, a falta de atividades

fsicas e outros componentes do estilo de vida do mundo moderno terminam por elevar

incidncia de Doenas Cardiovasculares, Neoplasias, Diabetes, entre outras.

No aspecto biolgico, o envelhecimento humano pode ser compreendido por dois

processos: o natural, que corresponde ao perodo de senescncia, e o que est condicionado a

uma patologia, conhecido como o perodo da senilidade. O primeiro corresponde

diminuio progressiva da reserva funcional dos indivduos e, em condies normais, no

costuma causar qualquer problema, mas a senilidade, que sob condies de sobrecarga,

doenas, acidentes e estresse emocional, podem ocasionar patologias que requerem

assistncia (BRASIL, 2006).

O envelhecimento, para muitas pessoas, passa a ser uma fase da vida em que h

declnio da sade com predomnio de doenas. Elas so vistas como inevitveis e prprias da

idade, no entanto, faz-se necessrio que esse perodo da vida se prolongue com bem estar e

boa sade, e que o profissional de sade considere a pessoa idosa na sua

multidimensionalidade. Para Santos et al. (2009), existem mltiplos fatores de

envelhecimento: fatores moleculares, celulares, sistmicos, comportamentais, cognitivos e

sociais, que interagem e regulam tanto o funcionamento tpico, quanto o atpico do indivduo

que envelhece, e fundamental que o profissional, a famlia e cuidadores tenham uma viso

integrada desses fenmenos.

De acordo com as projees para 2025, o Brasil ser a sexta populao idosa no

mundo e, considerando a continuidade das tendncias das taxas de fecundidade e longevidade

da populao brasileira, estima-se que em 20 anos poder ultrapassar 30 milhes ao final do

perodo, revelando intenso ritmo de crescimento do nmero de indivduos desta faixa etria

dos 60 anos ou mais. Em 2030, o nmero de idosos vai superar o de crianas e adolescentes

(menores de 15 anos) em cerca de 4 milhes, diferena esta que aumenta para 35,8 milhes

em 2050 (64,1milhes contra 28,3 milhes, respectivamente). (Organizao Mundial de

Sade, 2005; Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica , 2002; Organizao Naes

Unidas, 2002; Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica , 2009).

Portanto, se fazem necessrias novas aes para se enfrentar os desafios e cabe aos

profissionais de sade viabilizar o Sistema nico de Sade (SUS) para atendimento a essa

nova realidade que se apresenta.

Ramos, Veras e Kalache (1987) concluem que, se forem mantidas as tendncias de

declnio das taxas de fecundidade e mortalidade, a populao brasileira dever, at o ano de

2025, vivenciar um processo de envelhecimento comparvel, em intensidade, ao vivenciado

pelos pases desenvolvidos no passado.

Entende-se que o envelhecimento uma consequncia do processo de transio

demogrfica e epidemiolgica, evidenciado atravs da diminuio dos nveis de natalidade e

mortalidade observados ao longo de dcadas no mundo. Estas transformaes visveis

confirmam as mudanas ocorridas na demografia brasileira, que demandam novas aes

especficas ao setor sade.

A composio de uma populao causada pelo reflexo de sua dinmica ao longo

do tempo, e o processo de transio demogrfica refere-se aos efeitos que as mudanas nos

nveis de natalidade e mortalidade provocam sobre o ritmo de crescimento populacional e

sobre a estrutura por idade e sexo. Ao mesmo tempo em que ocorre um processo de transio

demogrfica na sociedade, tambm ocorrem mudanas nos padres de mortalidade e

morbidade de uma populao, e a esse processo se denomina transio epidemiolgica

(VERMELHO, MONTEIRO, 2006).

Lebro (2007) divide esquematicamente os pases quanto a sua transio

demogrfica: os de iniciao precoce de transio, que fizeram sua transio h sculos (por

exemplo, os europeus ocidentais), os de iniciao tardia, que iniciaram esse processo h cerca

de 50 anos (Amrica Latina e Caribe) e aqueles que ainda no iniciaram o processo de

transio demogrfica (como os pases africanos).

De acordo com Vermelho e Monteiro (2006), no processo de transio

demogrfica identificam-se trs estgios: a fase industrial ou primitiva, na qual as taxas de

natalidade e mortalidade so elevadas; a fase intermediria de divergncia de

coeficientes, onde as taxas de natalidade permanecem altas e decrescem as taxas de

mortalidade, caracterizando uma exploso demogrfica; e a fase intermediria de

convergncia de coeficientes, quando a natalidade diminui de forma mais acelerada do que

a mortalidade, cujo efeito mais evidente o envelhecimento populacional. No final desse

processo, h um equilbrio da populao, tornando-se estvel, e, como consequncia, a

esperana de vida aumenta, a populao envelhece e, em geral, observa-se uma ampliao da

proporo de mulheres.

Segundo Lebro (2007), os processos de transio epidemiolgica e demogrfica

no so a mesma coisa. O primeiro implica em mudanas nos padres de morbidade, alm da

mortalidade, havendo uma relao fundamental entre elas, pois a queda inicial da mortalidade

se concentrou nas causas de mortes infecciosas; e o segundo significa a passagem de um

regime demogrfico de alta natalidade e mortalidade, para outro com baixa natalidade e

mortalidade.

A transio epidemiolgica classifica-se em quatro principais estgios, com um

quinto estgio potencial: o primeiro com nveis de mortalidade e fecundidade elevados, com

predomnio de doenas infecciosas e parasitrias; o segundo com o desaparecimento das

pandemias, mortalidade em declnio e queda da fecundidade; o terceiro, das doenas

degenerativas e provocadas pelo homem, com mortalidade e fecundidade baixas; segue-se o

quarto estgio, de declnio da mortalidade por doenas cardiovasculares, envelhecimento

populacional, doenas emergentes e ressurgimento de doenas; e, por fim, o perodo de

longevidade paradoxal, emergncia de doenas enigmticas e capacitao tecnolgica para

sobrevivncia do inapto (OMRAN apud VERMELHO; MONTEIRO, 2006).

Para o Ministrio da Sade (2008, p.16),

a transio epidemiolgica caracteriza-se pela mudana do perfil de

morbidade e de mortalidade de uma populao, com reduo progressiva

das mortes por doenas infecto-contagiosas e elevao das mortes por

doenas crnicas e apresenta diversidades regionais quanto s

caractersticas socioeconmicas e de acesso aos servios de sade.

Kalache, Veras e Ramos (1987) descrevem que as mudanas graduais ocorridas

nas populaes so caracterizadas por alta mortalidade/alta fecundidade para a de baixa

mortalidade/baixa fecundidade e, em consequncia, uma alta proporo de idosos na

populao em geral. De outro modo, as taxas de natalidade por Doenas Infecciosas e

Parasitrias (DIP) so muito baixas na idade adulta, mesmo nos pases subdesenvolvidos, e,

medida que se atinge a idade adulta, as causas de morte variam pouco, e a maioria das pessoas

termina morrendo de doenas crnico-degenerativas, quer em pases desenvolvidos ou no.

Segundo Schramm, et al.(2004), a transio epidemiolgica engloba trs mudanas

bsicas: substituio das doenas transmissveis por doenas no transmissveis e causas

externas, deslocamento da carga de morbimortalidade dos grupos mais jovens para os

indivduos mais idosos, e a mudana do predomnio de mortalidade para a morbidade. Dentre

as principais DCNTs, as doenas cardiovasculares so consideradas responsveis pela

proporo maior de mortes prematuras, seguidas das neoplasias.

Minayo (1995) aponta que a obteno na melhoria das condies de vida da

populao tornou possvel a reduo da mortalidade geral, especialmente atravs do controle

das doenas infecciosas, resultando no envelhecimento populacional, passando a predominar

as DCNTs no perfil de morbimortalidade dos pases desenvolvidos e, dcadas depois, na

maioria dos pases do Ocidente.

Nas ltimas dcadas, observam-se no Brasil processos de transio

epidemiolgica (reduo de doenas transmissveis e aumentos de DCNT, acidentes e

violncias), demogrfica (reduo da mortalidade precoce e taxas de fecundidade, aumento

da expectativa de vida ao nascer e da populao idosa) e nutricional (declnio da desnutrio

e aumento da prevalncia de sobrepeso e obesidade). Desse modo, de fundamental

importncia a implantao de polticas pblicas na direo de reduzir os impactos negativos

das condies de vida na sade das populaes (BRASIL, 2008).

De acordo com Caldas (2003), a alterao demogrfica mais importante que

incidir no aumento da frequncia de utilizao dos servios de sade o acelerado

crescimento da proporo de indivduos com mais de 85 anos, que apresentam geralmente

uma grande carga de doenas crnicas e limitaes funcionais.

Atualmente, admite-se que o perfil epidemiolgico do Brasil encontra-se

representado tanto pelas doenas do subdesenvolvimento quanto por aquelas ditas da

modernidade, ou seja, o pas passa por uma ligeira transio no perfil, caracterizando-se pelo

predomnio das enfermidades crnicas no transmissveis seguidos da importncia crescente

dos fatores de risco para a sade, exigindo aes preventivas em seus diferentes nveis

(BRASIL, 2002b).

Silva Jr. (2006) exemplifica o processo contemporneo de transio

epidemiolgica acelerada no Brasil: as doenas cardiovasculares respondendo por cerca da

metade das DCNTs, contribuindo para a mortalidade precoce, perda de qualidade de vida e

despesas mdicas hospitalares, os acidentes e violncias e, ainda, as prevalncias de DCNTs,

que so diretamente proporcionais ao envelhecimento da populao.

Kalache, Veras e Ramos (1987) afirmam que, em termos de sade, o aumento do

nmero de idosos em uma populao se traduz em um maior nmero de problemas de longa

durao, que frequentemente dependem de intervenes custosas envolvendo tecnologia

complexa para um cuidado adequado. Desse modo, as doenas crnicas, comuns e presentes

das idades mais avanadas, esto se tornando progressivamente mais prevalentes num pas

como o nosso.

Veras e Parahyba ( 2007) afirmam que o cenrio, no entanto, aponta na direo de

uma populao idosa mais saudvel, mesmo a despeito das consequncias que o processo de

envelhecimento populacional ocasiona no tocante ampliao das doenas crnicas.

Veras (2009) ainda explica que, em menos de quatro dcadas, o Brasil passou de

um cenrio de mortalidade para um quadro de enfermidades complexas e onerosas, tpicas de

pases longevos, caracterizado por doenas crnicas e mltiplas que persistem por vrios

anos, com exigncia de cuidados contnuos e constantes, medicao contnua e exames

peridicos, onde se observa em paralelo a carncia de recursos.

Verifica-se que, na medida em que ocorre o avano do envelhecimento

populacional, aumenta a prevalncia das DCNTs e de incapacidades com repercusso em

gastos com a seguridade social, e as aes preventivas de vigilncia e assistenciais ainda so

insuficientes (ACHUTTI; AZAMBUJA, 2004).

Nesse sentido, cresce a preocupao com as questes de sade no envelhecimento

nos ltimos tempos, em virtude desse crescimento progressivo do nmero de idosos e das

DCNTs e, considerando-se a longevidade, um desejo de toda a sociedade vivenci-la com

ausncia de doenas e incapacidades, pois viver mais tempo e com bem estar um sonho de

todos. Desse modo, observa-se que a populao de hoje comea a realizar atividades fsicas e

a ter alimentao saudvel bem mais cedo, na busca de um futuro mais saudvel.

Desse modo, surgem novas necessidades de sade para a populao e de adaptao

dos servios de sade, pois o SUS enfrentar cada vez mais o aumento no nmero de doenas

crnicas e incapacitantes, e de ampliao da utilizao dos servios pblicos e dos gastos em

sade, trazendo consequncias para o setor socioeconmico e de sade, o que implicar em

desafios para os prximos governantes.

No Brasil, os dados de mortalidade da populao com 60 anos ou mais se

apresentaram, em 1998, na seguinte ordem, com as principais causas: Cardiopatia Isqumica,

Acidente Vascular Enceflico, Doena Broncopulmonar Obstrutiva crnica (DPOC), Diabetes

Mellitus, Pneumonia, Hipertenso arterial, Neoplasias, entre outras (BRASIL, 2002b). Hoje,

dados apontam para as doenas do aparelho circulatrio como causas majoritrias de

mortalidade em idades mais avanadas, seguidas das Neoplasias e das doenas respiratrias

(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica, 2010b).

Nas ltimas dcadas, as DCNTs passaram a ocupar lugar de relevncia nas causas

de bito no pas, chegando a representar em 2005 dois teros da totalidade das causas

conhecidas, dentre elas, as doenas do aparelho circulatrio, ultrapassando o valor da taxa de

mortalidade por doenas infecciosas e parasitrias (DIP), que caiu de 46% (em 1930) para

5,3% (em 2005) (BRASIL, 2008).

Assim, o Brasil, atravs do Ministrio da Sade, encontra-se desenvolvendo

diversas aes articuladas com vrios setores governamentais e no governamentais, visando

promoo da qualidade de vida, preveno e controle das DCNTs (BRASIL, 2005)

2.2 POLTICAS DE ATENO SADE DA PESSOA IDOSA

Para melhor compreenso das polticas nacionais de sade voltada pessoa idosa,

o governo toma como base alguns parmetros explicitados nas polticas internacionais, sendo

importante buscar algumas conferncias internacionais de sade j realizadas.

Desde a declarao de Alma Ata, em 1978, tm sido pontuadas medidas de

promoo da sade que implicam na busca de melhoria de vida para um envelhecimento

ativo.

Na Conferncia de Jacarta, em 1997, uma de suas principais metas foi de aumentar

as expectativas de sade e reduzir o espao quanto expectativa de sade entre pases e

grupos, onde as tendncias demogrficas, tais como a urbanizao, o aumento no nmero de

pessoas idosas e a prevalncia de doenas crnicas, um comportamento mais sedentrio, entre

outros, ameaam a sade e o bem-estar de centenas de milhes de pessoas. Desse modo, as

pessoas idosas passaram a fazer parte dos grupos prioritrios de investimento no

desenvolvimento da sade. (BRASIL, 2002a).

Correlaciona-se a essa etapa, no Brasil, a dcada de 90, na qual se institui a

Poltica Nacional do Idoso (PNI), expressa na Lei n 8.842, de 4 de janeiro de 1994, criando o

Conselho Nacional do Idoso, regulamentada pelo Decreto n 1.948, de 3 de julho de 1996,

tornando-se referncia para essa populao, tendo por finalidade assegurar os direitos sociais

do idoso, proporcionando condies na promoo de sua autonomia, integrao e participao

efetiva do mesmo na sociedade, reafirmando o seu direito sade nos diversos nveis de

atendimento (BRASIL, 1996 b).

A I Assembleia Mundial do Envelhecimento (AME), em agosto de 1982, em

Viena, ustria, realizada pela Organizao das Naes Unidas (ONU), teve como objetivo

traar um Plano Internacional de Ao para o envelhecimento, que orientou o pensamento e a

ao sobre o envelhecimento nos 20 anos que se seguiram, na formulao de iniciativas e

polticas de grande importncia (ORGANIZAO DAS NAES UNIDAS, 2003).

Por sua vez, a II AME, realizada em 2002, em Madri, teve como objetivo

examinar os resultados da I Assembleia e aprovar as revises do Plano de Ao definindo as

diretrizes que orientaro as polticas pblicas relativas populao idosa para o sculo XXI, e

estabeleceu um momento decisivo ao abordar os desafios e celebrar os xitos de um mundo

em transformao, no processo de envelhecimento (FONTE, 2002; ORGANIZAO

MUNDIAL DE SADE, 2005).

O novo Plano de Ao Internacional sobre o Envelhecimento (PAME), de 2002,

oriundo da II AME, exige transformaes de atitudes, das polticas e das prticas em todos os

nveis e em todos os setores, para que as possibilidades que o envelhecimento oferece possam

se concretizar, tendo, como objetivo maior, garantir populao um envelhecimento com

segurana e dignidade, proporcionando aos idosos a participao na sociedade como cidados,

com plenos direitos (ORGANIZAO DAS NAES UNIDAS, 2003; ORGANIZAO

MUNDIAL DE SADE, 2005).

O Plano de Ao Internacional sobre Envelhecimento, em sua declarao poltica,

aponta ainda algumas recomendaes para a adoo de medidas, organizando-se em trs

direes prioritrias: os idosos e o desenvolvimento, a promoo da sade e o bem-estar at a

chegada da velhice, e a criao de ambientes propcios e favorveis (ORGANIZAO DAS

NAES UNIDAS, 2003).

emergente a necessidade de adoo de polticas direcionadas a esse segmento

etrio, de estratgias que promovam um envelhecimento ativo ao idoso, proporcionando

educao em sade, atividades sociais e culturais, tornando-os participativos em aes sociais,

evitando situaes que favoream o adoecimento ou minimizando situaes de desequilbrio.

No Brasil, apesar de seu processo de envelhecimento ter sido evidenciado desde

meados do sculo XX, somente a partir das duas ltimas dcadas desse sculo, o governo cria

e instala polticas pblicas para atender esse grupo de pessoas de idade acima dos 60 anos. Em

1999, aprova-se a Poltica Nacional de Sade do Idoso (PNSI), Portaria n. 1.395/GM, de 10

de dezembro de 1999, que fundamenta a ao do setor de sade na ateno integral

populao idosa e quela em processo de envelhecimento, na conformidade do que

determinam a Lei Orgnica da Sade n. 8.080/90 e a Lei 8.842/94, da Poltica Nacional

do Idoso (PNI), que assegura os direitos desse segmento populacional (BRASIL, 2002 b)

Pouco tempo depois, em 2003, institudo o Estatuto do Idoso, por meio da Lei de

n. 10.741, que define os principais direitos fundamentais dessa populao, tais como o direito

vida, sade, educao, ao lazer, entre outros, constituindo-se num instrumento legal

completo para a cidadania dessa faixa etria, resultado de esforos de muitos segmentos da

sociedade brasileira, incluindo o movimento nacional dos idosos e das entidades que

defendem seus direitos, e do Estado (GOLDMAN; FALEIROS, 2008).

Ainda como orientao da II AME, observa-se, a partir de ento, a importncia de

se perseguir e de ser adotada por todas as naes a condio de um envelhecimento ativo e

saudvel para referir-se ao processo de conquistas dessa faixa etria, com o objetivo de

melhorar a qualidade de vida medida que se envelhece (ORGANIZAO MUNDIAL DE

SAUDE, 2005).

Para Duarte (2007), ativo tem um sentido mais amplo, envolvendo a

participao do indivduo na sociedade, e no somente a capacidade de estar ativo fisicamente

ou fazendo parte da fora de trabalho, incluindo todas as pessoas que esto envelhecendo,

independente do seu estado fsico.

O perodo do envelhecimento tornou-se uma prioridade nas polticas de sade

pblica no mundo, e particularmente no Brasil, onde a populao de idosos vem aumentando

gradativamente, ancorado pelo avano da cincia, que vem colaborando de forma significativa

para o prolongamento de uma melhor qualidade e expectativa de vida da populao.

A partir de 2006, as trs instncias de gesto do SUS (federal, estadual e

municipal) compreenderam a necessidade de pactuar metas e objetivos a serem alcanado,

bem como de contribuir para o envolvimento na defesa e consolidao do SUS. Essa

pactuao agrega trs eixos: o Pacto em Defesa do SUS, o Pacto em Defesa da Vida e o Pacto

de Gesto. O Pacto em Defesa da Vida traz, dentre as suas prioridades, a sade do idoso, a

fim de implantar a Poltica Nacional de Sade da Pessoa Idosa (PNSPI), buscando a ateno

integral, a promoo da sade, para elaborar e implantar a Poltica Nacional de Promoo da

Sade, com nfase na adoo de hbitos saudveis por parte da populao brasileira e na

ateno bsica sade, com o objetivo de consolidar e qualificar a estratgia da Sade da

Famlia como modelo de ateno bsica sade e como centro ordenador das redes de

ateno sade do SUS. (BRASIL, 2006 a).

Assim, a Poltica Nacional de Sade da Pessoa Idosa (PNSPI), instituda pela

Portaria/GM de n 2.528, de 19 de outubro de 2006, surgiu em atendimento ao pacto, como

reestruturao da Portaria/GM de n 1.395, de 10 de dezembro de 1999, e tem por finalidade

primordial recuperar, manter e promover a autonomia e a independncia dos indivduos

idosos, direcionando medidas coletivas e individuais de sade para esse fim, em consonncia

com os princpios e diretrizes do Sistema nico de Sade. alvo dessa poltica todo cidado

e cidad brasileiros com 60 anos ou mais de idade, e ela define, ainda, que a ateno sade

do idoso ter como porta de entrada a Ateno Bsica/Sade da Famlia. Cabe destacar,

tambm, que tero como referncia as redes de servios especializados de mdia e alta

complexidade (BRASIL, 2006 b).

No Plano Nacional da Sade, o Pacto pela Sade no Brasil, com relao s

condies de sade, destaca entre os objetivos: fortalecer a gesto do Sistema Nacional de

Vigilncia, de forma a ampliar a sua capacidade de anlise de situao de sade e de resposta

s necessidades da populao; reduzir a morbimortalidade decorrente das doenas e agravos

prevalentes, mediante a intensificao de iniciativas de carter preventivo e curativo,

individuais e coletivos, levando em conta as diferenas locais e regionais, bem como os

grupos ou segmentos populacionais mais expostos e vulnerveis, portadores de patologias,

mediante a adoo de estratgias que contribuam para a sua qualidade de vida (BRASIL,

2004).

Portanto, para fazer valer esse novo pacto, o governo entendeu ser necessria a

implantao de novas portarias que sedimentem as propostas institudas pela lei e, logo depois

da implantao do Pacto pela Sade no Brasil, aprova a Poltica Nacional de Ateno Bsica,

regulamentada pela Portaria/GM de n 648, de 28 de maro de 2006, que caracteriza-se por

desenvolver um conjunto de aes de sade, no mbito individual e coletivo, que abrangem a

promoo e a proteo sade, a preveno de agravos, o diagnstico, o tratamento, a

reabilitao e a manuteno da sade (BRASIL, 2006 d).

Ainda em 2006 e seguindo a lgica de apoio implantao do Pacto pela Sade, o

Ministrio da Sade (MS), atravs da Portaria /GM de n. 687, de 30 de maro de 2006,

institui a Poltica Nacional de Promoo da Sade (PNPS), que tem como objetivo a

promoo da qualidade de vida e reduo da vulnerabilidade e riscos sade, relacionados a

seus determinantes e condicionantes (BRASIL, 2006 c).

A Lei 12.461/11 altera o art. 19 da Lei no 10.741, do Estatuto do Idoso, de 1

o de

outubro de 2003, e passa a estabelecer a notificao compulsria dos atos de violncia

praticados contra o idoso atendido em servio de sade.

Art. 19. Os casos de suspeita ou confirmao de violncia praticada contra

idosos sero objeto de notificao compulsria pelos servios de sade

pblicos e privados autoridade sanitria, bem como sero

obrigatoriamente comunicados por eles a quaisquer dos seguintes rgos

[...] (BRASIL, 2011, p.2).

Desse modo, o Ministrio da Sade vem incluindo vrias questes relativas ao

controle das DCNTs nas diferentes polticas e nos programas de sade institudos nos ltimos

anos. A prpria discusso e operacionalizao de tais polticas apontaram para a necessidade

do manejo integrado dessas questes, na busca da integralidade da ateno, respeitando-se e

considerando as diversidades de cada territrio. A Poltica Nacional de Ateno Bsica

(PNAB) e a Poltica Nacional de Promoo da Sade (PNPS) ilustram a afirmao anterior,

pois apresentam interfaces com vrias outras polticas, principalmente no que diz respeito

integralidade da ateno (BRASIL, 2008).

Porm, observa-se que o SUS ainda pouco eficiente na ateno primria

pessoa idosa, nvel de atendimento no qual poderiam ser detectados os diversos problemas

comuns idade e evitada a procura ao servio de maior complexidade e em seguida as

internaes, especialmente no caso do idoso mais idoso, pois a falta de um diagnstico

precoce acaba por prejudicar as suas atividades de vida diria, aumentando a sua

incapacitao, e, por conseguinte a internao prolongada, com maiores custos para o servio

pblico. Considerando como foco, a ateno integral ao portador de DCNT, entende-se que o

eixo da promoo da sade seja fundamental para a construo de intervenes que atuem nos

fatores de risco e proteo (BRASIL, 2008).

Segundo Pinho, Siqueira, Pinho (2006), os nveis de complexidade do SUS esto

dispostos em trs esferas, sendo o nvel primrio o que est qualificado para atender e resolver

os principais problemas que demandam servios de sade. Os que no forem resolvidos

devero ser encaminhados/referenciados para os servios de maior complexidade tecnolgica.

O nvel secundrio so os centros de especialidades e segue-se o nvel tercirio de ateno

sade, onde esto os hospitais de referncia.

Desse modo, na assistncia dos servios de sade, a ateno deve ser integral,

garantindo ao indivduo e coletividade a proteo, promoo e a recuperao da sade,

corroborando com os princpios do SUS e com as necessidades em todos os nveis de

complexidade.

De acordo com Malta et al. (2009), a promoo e proteo sade da populao,

a preveno de doenas e agravos sade e seus fatores de risco, bem como a garantia de

acessibilidade assistncia so objetivos centrais dos sistemas e servios de sade. Para

garantir que as estratgias de produo de sade componham uma linha de cuidado integral e

efetivo, necessrio estruturar um sistema de sade, para que proporcione um conjunto de

estratgias e medidas de alcance individual e coletivo.

A Portaria GM/MS de n 702, de 12 de abril de 2002, determina no art. 1 criar

mecanismos para a organizao e implementao de Redes Estaduais de Assistncia Sade

do Idoso. Essas Redes s quais se faz referncia so os Hospitais Gerais e Centros de

Referncia em Assistncia Sade do Idoso, integrantes do SUS (BRASIL, 2002b).

De acordo com essa portaria, entende-se como Centro de Referncia em

Assistncia Sade do Idoso:

aquele hospital que, devidamente cadastrado como tal, disponha de

condies tcnicas, instalaes fsicas, equipamentos e recursos humanos

especficos e adequados para a prestao de assistncia sade de idosos de

forma integral e integrada, envolvendo quatro modalidades assistenciais: a

internao hospitalar, ambulatorial especializado em sade do idoso,

hospital-dia geritrico e assistncia domiciliar, capaz de se constituir em

referencia para a rede de assistncia sade dos idosos (BRASIL, 2002b, p.

73).

Freitas e Moraes (2008) afirmam que os Centros de Referncia em ateno

Sade do Idoso (Crasi) ainda no foram implantados em muitos estados; os que esto em

funcionamento se concentram principalmente na Regio Sudeste e um levantamento realizado

pela rea Tcnica de Sade do Idoso da MS, em 2005, sobre o perfil de funcionamento dos

Crasi mostrou que a modalidade assistencial mais presente, em todos os Crasi, o

ambulatrio especializado.

Nesse ambulatrio, o paciente idoso, receber atendimento individual (consultas

multidisciplinares) e grupal (atividades educativas, atividade socioterpica, grupo de

orientao, atividades de sala de espera, entre outras), sendo importante a orientao e o apoio

constante ao paciente, ao cuidador e famlia (FREITAS; MORAES, 2008).

A Secretaria de Sade do Municpio de Natal/RN (2007) refere que, com relao

aos servios de sade, para a populao em geral, o Estado do Rio Grande do Norte adotou as

modalidades de ateno bsica e ateno especializada em mdia e alta complexidade, tanto

ambulatorial quanto hospitalar. Em Natal, tem-se como prioridade a prestao de servios a

partir da pessoa, de sua famlia e de seu entorno comunitrio, tendo como eixo estruturante a

Estratgia Sade da Famlia (ESF). No nvel de ateno especializada esto includos as aes

e servios ambulatoriais e hospitalares que visam atender os problemas de sade da populao

que demandem profissionais especializados, recursos tecnolgicos de apoio diagnstico e

teraputico.

A Secretaria de Sade do Municpio de Natal/RN, no documento (Re) desenhado

a Rede de Sade na Cidade de Natal, ainda cita que a ateno em sade no nvel de mdia

complexidade realizada preferencialmente nas policlnicas distritais, seguidas dos

ambulatrios pblicos e, em carter complementar, pela rede filantrpica e privada

contratada. Servem de referncia para a ateno bsica, atendendo, alm da populao de

Natal, a demanda referenciada por outros municpios do estado, conforme acordado na

Programao Pactuada e Integrada PPI, e os servios ofertados na ateno hospitalar so

integrantes dos nveis de mdia e alta complexidade, estando intimamente ligados

diversidade das especialidades mdicas, inovaes tecnolgicas e qualificao profissional

(NATAL, 2007)

O Hospital dos Pescadores (HOSPESC) caracterizado como Hospital Geral de

pequeno porte com especialidade em clnica mdica, e presta assistncia de mdia

complexidade, alem de atendimento de urgncia. (NATAL, 2007)

Com relao s estratgias de cuidados sade da pessoa idosa, a Secretaria de

Sade do Municpio de Natal (SMS/Natal), amparando-se no princpio da equidade, optou

pela redefinio do desenho da rede assistencial, fundamentando-se na garantia do acesso,

integralidade da ateno, humanizao e resolutividade. Assim, a partir do acompanhamento

dos idosos na unidade bsica, referencia-se para unidades com maior especializao no

cuidado clnico, em especial o Centro de Referncia de Ateno ao Idoso CREAI (NATAL,

2007).

Implantado em 1998, atualmente com o nome de Centro Especializado de

Ateno Sade ao Idoso (CEASI), desempenha importante papel no acolhimento s

demandas mais especializadas nas clnicas comumente associadas a essa faixa etria,

disponibilizando, alm de consultas e exames de apoio diagnstico, o adequado tratamento e

recuperao para a clientela. Ressalta-se ainda o papel dessa unidade de referncia para o

diagnstico e tratamento qualificado na assistncia ao portador da Doena de Alzheimer

(NATAL, 2007).

2.2.1 Integralidade na ateno sade da pessoa idosa

O Sistema nico de Sade (SUS) a maior conquista de uma Conferncia de

Sade e resultado obtido atravs dos esforos da populao pela redemocratizao do pas no

incio da dcada de 80, atuando nos trs nveis de ateno sade da populao, o primrio,

secundrio e tercirio, tem como princpios doutrinrios a Universalidade, Equidade,

Integralidade das aes, Descentralizao e participao social (BRASIL, 2008; MACHADO,

2007; FIGUEIREDO, 2009).

Na ltima dcada, a integralidade tem recebido relevncia e centralidade dos

gestores e de estudiosos sobre o tema. O SUS preconiza, dentro de seus princpios e diretrizes,

a integralidade de assistncia, entendida como um conjunto articulado e contnuo das aes e

servios preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigido para cada caso em todos os

nveis de complexidade do sistema (BRASIL, 1990).

A Constituio Federal, em seu artigo 198, estabelece que as aes e servios

pblicos de sade integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema

nico, organizado de acordo com as algumas diretrizes, dentre as quais o atendimento

integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuzo dos servios

assistenciais (BRASIL, 1988).

Desse modo, observa-se a dimenso ampla e complexa que este princpio pode

assumir na organizao das aes e servios, que deve abranger o individuo como um ser

integral, indivisvel, em conjunto com o contexto em que vive. O SUS, em sua grande

dimenso, prope uma ateno sade que est voltada no s para a cura das doenas, mas

tem um compromisso com a promoo de um cuidado integral, amplo, em sade, atravs de

programas e estratgias de ao que visam realizar as prticas de sade, facilitando e

orientando os profissionais de sade a intervir no processo sade doena.

A ateno primria entendida como o primeiro nvel da ateno sade no SUS

e deve ser a porta de entrada preferencial do sistema, incluido procedimentos mais simples,

com tecnologia de baixa intensidade, capaz de atender a maior parte dos problemas comuns

de sade da comunidade (BRASIL, 2007a).

A Portaria n 373, de 27 de fevereiro de 2002, que aprova na forma de anexo a

Norma Operacional da Assistncia Sade NOAS-SUS 01/2002, conceitua a

Ateno de Mdia Complexidade como:

um conjunto de aes e servios ambulatoriais e hospitalares que visam

atender os principais problemas de sade da populao, cuja prtica clnica

demande a disponibilidade de profissionais especializados e a utilizao de

recursos tecnolgicos de apoio diagnstico e teraputico, que no justifique

a sua oferta em todos os municpios do pas (BRASIL, 2002, p.15).

A promoo da sade uma estratgia de articulao transversal que confere

visibilidade aos fatores que colocam a sade de uma populao em risco e s diferenas entre

necessidades, territrios e culturas existentes em nosso pas, e que estreita sua relao com a

vigilncia em sade, possibilitando a construo de possibilidades que reduzam situaes de

vulnerabilidade (BRASIL, 2006).

Desse modo, nos servios de mdia complexidade, tambm devem ser realizadas

atividades educativas, em ambiente adequado, conferindo ao idoso maior conhecimento sobre

a sua sade, doenas e particularidades inerentes ao ciclo de sua vida.

A integralidade vem sendo amplamente utilizada para entendermos a

integralidade no cuidado dos indivduos e grupos no seu contexto social, porm, o texto

constitucional utiliza o termo atendimento integral priorizando as aes preventivas sem

prejuzo das aes assistenciais; esse termo tem um conceito amplo e deve ser um indicador

de como conduzir as prticas de sade (MATTOS, 2006).

Seu processo de construo e implementao talvez seja, nos dias de hoje, um dos

desafios nas prticas em sade no Brasil, e deve nortear os projetos tcnico-sociais, alm de

conduzir os profissionais para as aes voltadas ateno coletiva e individual, congregando

aes de promoo e preveno sade articuladas com as aes curativas e reabilitadoras,

combinando assim, ao mesmo tempo, preveno e cura.

Backes et al.(2009) pontua que os profissionais de sade precisam superar o

modelo biomdico de assistncia sade, centrado na doena e voltado para o diagnstico e a

teraputica, o tecnicismo e as relaes impessoais, e investir no modelo de ateno focalizado

na promoo da sade, levando em conta as dimenses do ser humano (biolgica, psicolgica,

histrica e sciocultural), considerando a diversidade cultural do nosso pas.

De acordo com Loureno (2005), a maioria das instituies brasileiras voltadas

para o ensino da rea da sade no oferece contedo gerontolgico suficiente, aumentando a

carncia de recursos tcnicos e humanos especializados para enfrentar o aumento deste grupo

que exigir mais cuidados nas prximas dcadas.

O interesse inicial da enfermagem brasileira pela rea do envelhecimento iniciou-

se atravs de publicaes em 1970. Nos dias atuais vem se expandindo, com disciplinas nas

universidades j direcionadas pessoa idosa e investimentos por parte de gestores para

qualificar os profissionais envolvidos com essa populao, demonstrando o visvel interesse

da categoria em aprofundar os conhecimentos no assunto (GONALVES; ALVAREZ, 2004).

Ao abordar a integralidade do cuidado na formao do enfermeiro, se requer uma

compreenso do ensino como um processo dinmico construdo por docentes, estudantes,

profissionais de servios e a comunidade que se movimenta como sujeitos que determinam as

prticas de sade, de educao e de controle social (SILVA; SENA, 2006).

Santos et al. (2008), afirma que, para o alcance da promoo da sade da pessoa

idosa, destacam-se como aes de Enfermagem Gerontogeritrica: a aquisio de

conhecimentos gerontolgicos, os aspectos demogrficos e epidemiolgicos, a legislao

nacional e polticas pblicas voltadas pessoa idosa, e difundi-las entre essa populao, seus

familiares e comunidade; o desenvolvimento de aes que incluam as limitaes, a presena

das DCNTs das pessoas idosas nos diferentes contextos (domiclio, instituies de longa

permanncia, instituies hospitalares), entre outras.

Assim, compreendemos que a Enfermagem, ao longo do tempo, vem assumindo

uma postura crtica, reflexiva, desvinculando-se do paradigma flexneriano, valorizando

prticas inovadoras em sade, direcionando sua ateno para a integralidade do cuidado na

sade.

No incio do sculo XXI, no Brasil, o movimento de construo de novos

paradigmas do processo sade/doena repercute na organizao dos servios de sade, nas

concepes de promoo sade, preveno de agravos e tratamento, resultado da

consolidao do Sistema nico de Sade. Tais mudanas incidem no modelo de formao dos

profissionais de sade, dentre eles, os de enfermagem (SILVA; SENA, 2008).

A integralidade um princpio que est em constante mudana, incidindo em

diferentes pontos, referindo-se s caractersticas das prticas dos profissionais de sade, da

organizao dos servios e das respostas governamentais aos problemas de sade, como, por

exemplo, quando no uso de tcnicas de prev