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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CAMPUS ACADÊMICO DO AGRESTE
NÚCLEO DE DESIGN
WANESSA CRISTINA BATISTA DA SILVA
PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DE MODELAGEM
DE CALÇA JEANS NAS INDÚSTRIAS DE TORITAMA
CARUARU/2011
WANESSA CRISTINA BATISTA DA SILVA
PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DE MODELAGEM
DE CALÇA JEANS NAS INDÚSTRIAS DE TORITAMA
Monografia apresentada à Universidade Federal de
Pernambuco, Centro Acadêmico do Agreste, como
requisito parcial para a obtenção do título de
Bacharel em Design.
.
Orientador: Prof.ª Flávia Zimmerle da Nóbrega Costa
CARUARU/2011
Catalogação na fonte
Bibliotecário Elilson Rodrigues Góis CRB4 - 1687
S586p Silva, Wanessa Cristina Batista da. Processo de desenvolvimento de modelagem de calça jeans nas indústrias de
Toritama. / Wanessa Cristina Batista da Silva. - Caruaru : A autora, 2011. 70.: ; il. ; 30 cm. Orientador: Flávia Zimmerle da Nóbrega Costa Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso) – Universidade Federal de
Pernambuco, CAA. Design, 2011. Inclui bibliografia. 1. Moda - Vestuário - Roupa - Traje - Desenho - Design. 2. Jeans (Vestuário –
calça jeans). 3. Vestuário – Indústria – Toritama (PE). I. Costa, Flávia Zimmerle da Nóbrega (orientador). II. Indústria de jeans – Toritama / PE. III. Título.
745.4 CDD (22.ed.) UFPE (CAA 2012-07)
WANESSA CRISTINA BATISTA DA SILVA
PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DE MODELAGEM DE CALÇA JEANS NAS INDÚSTRIAS DE TORITAMA
Monografia apresentada á Universidade Federal de Pernambuco, Centro Acadêmico do
Agreste, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Design
Aprovada em 07 de Dezembro de 2011
BANCA EXEMINADORA
_________________________________________________________Profª Flávia Zimmerle da Nóbrega Costa, Doutoranda (Orientadora)
Universidade Federal de Pernambuco-CAA
_________________________________________________________Profº Roberto Guerra, Doutorando (Avaliador Externo)
__________________________________________________________Profª Bárbara Heliodora Gollner Medeiros Moreira (Avaliador Interno)
Universidade Federal de Pernambuco-CAAProf. José Roberto Ferreira Guerra 2º Avaliador
Prof.ª Flávia Zimmerle da Nóbrega Costa Orientadora
Prof.ª Bárbara Heliodora Gollner de M. Moreira 1ª Avaliadora
Agradecimentos
A Deus por estar sempre presente em minha vida, intercedendo de forma tão maravilhosa
em todos minhas escolhas.
A minha família, que de forma direta ou indireta contribuiu para mais uma missão.
Em especial a minha orientadora Flavia Zimmerle, pelo interesse, dedicação e paciência
durante a construção desta pesquisa.
Ao Sr Edilson Tavares, pela atenção e disponibilidade, para o desenvolvimento da entrevista
do como iniciou o pólo de confecção de jeans em Toritama, necessário para o
desenvolvimento desta pesquisa.
A direção do SENAI Santa Cruz, Cristina Barbosa, pelo apoio e atenção, durante essa etapa
profissional na minha carreia, como também aos meus colegas de trabalho desta instituição
que contribuíram nesta etapa.
Ao meu namorado André Luis, por me incentivar e se envolver durante todo período de
realização deste trabalho.
Aos meus amigos da faculdade que estiveram junto a mim durante esse período acadêmico,
sempre me incentivando a seguir em frente.
Enfim, agradeço a todos que de alguma forma acreditaram na realização deste sonho.
Modelar é a gramática do design de moda. Sem o
domínio da modelagem o traçado se torna em vão,
o desenho de moda, um rabisco. A modelagem é
como a estrutura de uma edificação. Resguarda em
suas linhas o espaço e o conforto para o corpo que
nele habitará, É a inteligência do desenhar, a
sabedoria do fazer (Jum Nakao, 2005) .
)
Resumo
No papel de consumidores de produtos do pólo Jeans da cidade de Toritama, identificamos
a existência de uma variação de medidas na grade de tamanhos das calças ofertada pelas
marcas. Na variação de modelos as numerações sofriam intensa oscilação, ocasionando
que peças com a mesma medida vestissem manequins diferentes. Esse estudo teve o
objetivo de investigar o processo produtivo das indústrias de jeans de Toritama, buscando
identificar os problemas geradores da desconformidade, e comparar com as recomendações
de processos contidas no referencial teórico utilizado, gerando insights que trouxessem um
diferencial de qualidade ao produto. Para tanto, levantamos as recomendações teóricas
para o processo de desenvolvimento de modelagem industrial no sentido da aplicação da
antropometria na padronagem dimensional do vestuário, fizemos observação direta e
entrevistas abertas com funcionários do setor em duas empresas locais, e uma entrevista
narrativa com um empresário da cidade que acompanhou o crescimento do pólo de
confecções. Nossos resultados revelaram que alguns processos encontram-se ainda muito
arraigados no fazer intuitivo, uma cultura que se estabeleceu em uma construção sócio-
histórica bastante peculiar.
Palavras chave: Padrão de Modelagem, Calça Jeans, Indústria de Toritama.
Abstract
In the role of consumers of the pole Jeans Toritama City, identified the existence of a range
of measures in the grid sizes of pants offered by the brands. Variation in the numbering of
models suffered intense oscillation, leading to the same parts with mannequins dressed as
different. This study aimed to investigate the production process of industries Toritama jeans,
trying to identify the problems of inconsistency generators, and compare with the
recommendations contained in the theoretical processes used, generating insights that bring
a difference to the quality product. To this end, we raised the theoretical recommendations
for the development process modeling industry towards the implementation of anthropometry
dimensional pattern in clothing, we direct observation and open interviews with industry
officials in two local companies, and a narrative interview with an entrepreneur city that
accompanied the growth of the garment center. Our results indicate that some processes are
still very much rooted in making intuitive, a culture that settled in a socio-historical rather
peculiar.
Key-words: Modeling Standard, Denim, Industry Toritama
Lista de Figuras
Nº FIGURA PG
Figura 1 Estudo do corpo humano, de Leonardo da Vinci 22
Figura 2 Mensuração das medidas fundamentais 30
Figura 3 Mensuração das medidas auxiliares e complementares 31
Figura 4 Materiais de modelagem 34
Figura 5 Construção do diagrama dianteiro 36
Figura 6 Diagrama Dianteiro 36
Figura 7 Barra da Calça 37
Figura 8 Construção do Diagrama Traseiro 38
Figura 9 Diagrama Traseiro 38
Figura 10 Encaixe e risco 45
Figura 11 Aparelhos para jeans 47
Lista de Tabelas
Nº TABELA PG
Tabela 1 Perfil antropométrico e padronagem dimensional do Vestuário 27
Tabela 2 Medidas referenciais do corpo humano: Busto e Cintura 32
Tabela 3 Ficha Técnica 46
Tabela 4 Questionário simplificado 52
Tabela 5 Categoria e Observações 53
Tabela 6 Caminhos possíveis 58
SUMÁRIO
1- INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 09
1.1 OBJETIVOS......................................................................................................... 11
1.1.1 Objetivo Geral ...................................................................................... 11
1.1.2 Objetivos Específicos ........................................................................... 11
1.2 JUSTIFICATIVAS ................................................................................................. 12
2- FUNDAMENTAÇÃO TEORICA ....................................................................................... 13
2.1 CALÇA JEANS ..................................................................................................... 13
2.2 O PÓLO DE CONFECÇÕES DE JEANS, TORITAMA ......................................... 13
2.3 O CORPO E A MODELAGEM ............................................................................. 21
2.3.1- Antropometria na Modelagem ............................................................. 21
2.3.1.1- Variações das Medidas ............................................................. 23
2.3.2- Processo de Desenvolvimento de Modelagem .................................... 27
2.4 PROCESSO PRODUTIVOS DO VESTUARIO ................................................... 42
3- PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ........................................................................ 49
3.1 METODO DE PESQUISA ..................................................................................... 49
3.2 COLETA DE DADOS ........................................................................................... 50
3.3 PROCEDIMENTOS ANALITICOS ........................................................................ 51
4- DESCRIÇÃO DOS RESULTADOS ................................................................................. 53
4.1 ESPECIALIZAÇÃO ............................................................................................... 53
4.2 NORMAS TÉCNICAS .......................................................................................... 54
4.3 CONTROLE .......................................................................................................... 55
4.4 RECURSOS TECNOLÓGICOS ............................................................................ 55
4.5 PLANEJAMENTO ................................................................................................ 56
5- CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 59
REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 61
APÊNDICE .......................................................................................................................... 64
9
1- INTRODUÇÂO
Podemos considerar um elevado crescimento do consumo de produtos em tecido
denim nas ultimas décadas. Em meio ao desenvolvimento tecnológico e a conseqüente
elaboração de tecidos inteligentes, que acumulam inúmeras qualidades em termos de sua
praticidade, leveza, conforto e elegância, ainda assim o jeans destaca-se nos mais variados
contextos sociais da sociedade mundial. Contudo, desde o desenvolvimento da primeira
calça jeans, elaborada por Levi Strauss em 1845 para fins do trabalho em minérios até os
dias atuais, é importante ressaltar as modificações em termos de aplicação tecnológica, que
proporcionou ao jeans conforto, dinamismo quanto à variedade dos modelos, entre outros.
O crescimento do consumo e conseqüentemente da produção do jeans, entende-se
não só um alargamento da moda em si, mas sim de contextos sociais, econômicos e
culturais. Esse refletido na cidade de Toritama localizada no agreste pernambucano, hoje
considerada o segundo maior pólo produtor de jeans do Brasil com 16% da produção
nacional, logo, recebendo milhares de pessoas durante o ano e vestindo grande parte do
país. Antes produtora de calçados, e que paulatinamente migrou-se para a produção do
jeans, graças a um perfil empreendedor contido nos habitantes daquela localidade.
Na qualidade de consumidores de produtos do pólo Jeans da cidade de Toritama,
identificamos a existência de uma variação de medidas na grade de tamanhos das calças
ofertada pelas marcas. A depender do modelo escolhido, a numeração do manequim
passava do padrão 36 para o padrão 38, e vice-versa. Notamos que o mesmo problema se
repetia com as demais numerações. Tendo em vista a identificação desse problema, nosso
estudo se propôs a buscar entendimento do como isso é possível de acontecer em uma
produção industrial.
Assim, nossa hipótese foi a de que algumas indústrias de Toritama produzem bons
produtos, mas que não mantém uma padronização em relação ao padrão de medidas
antropométricas adotadas para cada manequim em sua variação de modelos, por alguma
falha (falta de informação ou modo de fazer) que ocorre no decorrer do processo. Essa
identificação denota uma questão de qualidade de produção que pode prejudicar o
crescimento de vendas dessas empresas. Hoje, por exemplo, a comercialização se expande
sem se prender a distâncias geográficas: um portal na internet, por exemplo, pode levar a
comercialização dos produtos para o mundo todo.
Entendemos que a não preocupação com essa etapa é um problema ameaçador à
imagem das marcas uma vez que pode provocar uma resistência dos consumidores, sejam
eles varejistas ou pessoas físicas, pois envolve a quebra de um elo de confiança que
deveria ser estabelecido entre as partes na negociação, mexendo inclusive com questões
10
de ética profissional (confiabilidade, respeito e responsabilidade), o que é passível de refletir
até na lealdade deste consumidor para com a empresa, já que esse relacionamento é
sempre uma via de mão-dupla (SOLOMON, 2002). Assim, este conhecimento e a
padronização de medidas, são essenciais para o sucesso comercial da indústria de moda
(BOUERI, 2008).
Para controlar esta variável, as empresas confeccionistas costumam adotar uma
tabela de medidas que as referenciam no desenvolvimento de suas bases específicas. A
tabela de medidas é indispensável para o desenvolvimento da base, pois é a partir desta
base que se fazem as adaptações que irão gerar os variados modelos, sem perder o padrão
de tamanhos. Na variação dos modelos em cada estação, novas modelagens se fazem
necessárias, e as medidas fundamentais da tabela devem ser mantidas, pois o consumidor
precisa confiar que a roupa lhe cairá bem, independente do modelo. Nesse sentido, além da
antropometria, ciência que trata da questão de medidas corporais para determinar diferença
entre indivíduos e grupos (PANERO & ZELNIK, 2006), os estudos ergonômicos contribuem
em toda a área do design, para auxiliar e avaliar condições de uso dos produtos, trazendo
soluções para os projetos de produtos usados no dia a dia, facilitando as suas diversas
tarefas a que se propõem (JONES, 2005).
Esse estudo teve o objetivo de investigar o processo produtivo das indústrias de
jeans de Toritama, buscando identificar os problemas e comparar com as indicações de
processos contidas no referencial teórico utilizado, gerando insights que trouxessem um
diferencial em qualidade ao produto. Desse modo, o projeto em questão buscará analisar
exatamente como se dá o processo de desenvolvimento de modelagem verificando porque
a variação de numeração entre os modelos da mesma empresa é de intensa oscilação.
11
1.1- Objetivos
1.1.1 Objetivo Geral
Identificar como se dá o processo de modelagem e a variação dos tamanhos, no
desenvolvimento de modelos de calça jeans nas indústrias de Toritama, visando à qualidade
no processo produtivo e a produção em escala.
1.1.2 Objetivos Específicos
Investigar as recomendações teóricas para o processo de desenvolvimento de
modelagem industrial no sentido da aplicação da antropometria na padronagem
dimensional do vestuário e descrever o processo recomendado teoricamente.
Compreender o processo de modelagem da calça jeans (no sentido das
particularidades da modelagem do denim)
Levantar o histórico do pólo produtor de jeans de Toritama (no sentido de conhecer o
contexto do estudo e as peculiaridades do processo industrial como um todo).
Analisar como se dá o processo de modelagem em duas empresas locais.
Propor alternativas de desenvolvimento de modelagem que considere as
especificidades das práticas hoje realizadas (questões de dificuldades e de cultura),
com a finalidade de melhorar a padronização dos produtos dessas indústrias.
12
1.2- Justificativas
Este trabalho teve o intuito de investigar o processo produtivo de calças jeans, das
indústrias de Toritama, com a finalidade de melhorar a qualidade das peças produzidas em
escala, com relação à padronização dos tamanhos. A pesquisa foi feita com base em duas
empresas na cidade de Toritama, devido sua importância no pólo de confecção nacional,
além de ser a segunda maior produtora de índigo no Brasil e referência no mercado
nacional.
Para tanto, nos apoiamos no arcabouço teórico dos estudos antropométricos e
ergonômicos, que contribuem em toda a área do design para auxiliar e avaliar condições de
produção e uso dos produtos, trazendo soluções para os projetos de produtos usados no dia
a dia, facilitando as suas diversas tarefas a que se propõem. Nesse sentido, nossa
contribuição teórica se voltou especificamente para o produto de moda, área onde existe
uma enorme carência de pesquisas nesse tema específico.
A falta de tamanho padrão é um problema ameaçador à imagem das marcas, além
de gerar, por vezes, um aumento dos custos para as indústrias com a fabricação de várias
peças-pilotos e com o retrabalho dos profissionais de desenvolvimento. Independente do
modelo, a empresa deve definir sua tabela de medidas e manter um padrão de qualidade,
pois o consumidor precisa confiar no produto que está adquirindo. Nesse sentido encontra-
se a contribuição prática de nosso estudo: considerando as dificuldades do contexto,
propomos algumas soluções práticas que podem auxiliar as empresas a manterem um
padrão com menor variação entre os modelos.
13
2- FUNDAMENTAÇÃO TEORICA
Essa seção nos embasou teoricamente para tratar da questão proposta em nosso
estudo. Iniciamos por contextualizar o leitor sobre o processo produtivo da calça jeans,
tratamos do histórico do Pólo confeccionista da cidade de Toritama e suas práticas
específicas, para então trazer as questões do corpo e da modelagem, onde, então, foram
abordadas as recomendações teóricas para o processo produtivo confeccionista.
2.1 – Calça jeans
Hoje nos vestimos com uniforme do mundo: a calça jeans. O que antes foi ícone de
manifestações de liberdade dos jovens, e que atualmente atinge as mais variadas tribos do
universo da moda, é uma roupa que caracteriza conforto, resistência, beleza e praticidade.
Dela muitas vezes partem os ditames da moda atual, uma peça extremamente democrática
que pode ser utilizada entre as varias idades, desde um bebê até pessoas de idade
avançada, como também atende a todas as classes sociais, das classes populares às de
estrema fineza (CATOIRA, 2006; PEZZOLO, 2007).
Apesar de todas as tecnologias no avanço e no desenvolvimento de tecidos
inteligentes, que atendam as necessidades dos consumidores, o denim1 continua tendo a
preferência entre grande parte dos consumidores do vestuário, aliás, o numero de usuários
cresce a cada ano em todo o mundo (DISITZER; VIEIRA, 2006).
Nascido e criado na Alemanha, Levi Strauss quando jovem mudou-se pra os
Estados Unidos em 1845 a fim de fazer fortuna. De inicio vendeu um tecido de espessura
grossa para os mineradores cobrirem suas barracas e percebeu que os trabalhadores se
vestiam com tecidos como morim, aniagem ou lonita, que facilitavam sua lavagem e não
revelavam a sujeira, porém se desgastavam com facilidade. Conta uma lenda, que a partir
de então com a ajuda um velho garimpeiro, teve a idéia de confeccionar calças usando o
tecido que vendia para cobrir as barracas, o denim, e esse tipo de calça fez sucesso entre
os mineradores, visto que atendiam satisfatoriamente as necessidades dos mesmos
(CATOIRA, 2006; PEZZOLO, 2007).
Posteriormente o termo jeans surgiu. O mesmo foi originário da palavra Gênes,
expressão usada pelos franceses para denominar a cidade italiana de Gênova, lugar onde
era utilizado o denim na confecção de calças de trabalho resistentes, agora para os
marinheiros. Essa palavra ficou tão popular que nos tempos atuais é mais comum as
1 Denim – Tipo de tecido francês, conhecido como “toile de Nimes”, que leva o nome da sua cidade
originária “Nimes”, assim sendo simplificado pelos americanos para a expressão Denim.
14
pessoas conhecerem o tecido como jeans e não denim. No inicio esse tecido tinha
espessura muito grossa, logo, as calças que eram confeccionadas tinham características
rústicas e chegavam até a ficar em pé sozinhas, aos poucos foram utilizadas técnicas para
aperfeiçoá-las, que favoreceram tanto a diminuição da espessura do tecido utilizado como a
implantação do processo de lavanderia, métodos estes que deram mais conforto e caimento
as calças. Vale lembrar que a implantação de reforços nas calças, como o uso de taxas e
rebites, se deu a partir da necessidade de sustentar minérios no garimpo. No
contemporâneo perdeu-se a funcionalidade desses reforços, mas os mesmos se mantém
com o fim puramente estético (CATOIRA, 2006).
A tonalidade azul tradicional do tecido jeans deriva de um processo de tintura a
partir de uma família de plantas: as Indigofera Tinctoria provenientes do continente oriental,
porém hoje encontrada em vários lugares no mundo. A extração da tinta já acontecia há
muito tempo, só que eram empregadas em outros tecidos (PEZZOLO, 2007). “Temos
noticias de utilização desse corante em tecidos que embrulhavam múmias egípcias, maias e
de outros povos. Utilização como um dos primeiros cosméticos, corante de couros e outras
aplicações” (OLIVEIRA, 2008, p. 24). Atualmente, o termo “índigo” refere-se tanto a cor
como também ao próprio tecido em que foi aplicada a tintura, e esta possui propriedades
especificas para os efeitos que o produto conquista:
O tecido denim índigo blue tem como principal característica seu principio de fixação do corante na fibra, que é feita através de um processo de redução de tamanho da molécula do corante através de alcalinidade e oxidação desse corante por meio do oxigênio (exposição ao ar) que faz as moléculas se fixarem na fibra fisicamente, ou seja, superficialmente, o que possibilita o envelhecimento do tecido por ficção, ou ação mecânica (OLIVEIRA, 2008, p.23).
Os métodos de lavagem e acabamento que foram implantados ao jeans dão
aparência que lembram e até representam as calças que eram usadas pelos garimpeiros e
caubóis dos tempos de Levi Strauss. Como o envelhecimento, os desgastes, bigodes e
entre outros. Antes dos anos 1980 as peças em jeans eram desconfortáveis, pois além do
jeans ser grosso, possuía um alto teor de impregnação de corante deixando o tecido áspero.
Com a tecnologização das lavanderias, elas passaram a desengomar e amaciar o jeans,
além de criar efeitos como o Stone wash, Fast Pin e entre outros (OLIVEIRA, 2008;
MARTORELLI, 2011).
As principais modificações visuais estruturais nas peças no processo de
lavanderias são provocadas pela ação química, e para utilizá-las em um processo com
sucesso é necessário o conhecimento das fibras do tecido, para assim saber o efeito que os
15
produtos vão gerar, assim combinando sequência necessária de banhos2, temperatura
adequada, bem como a utilização de mais de um produto no banho para conquistar o efeito
desejado, respeitando suas características químicas (OLIVEIRA, 2008).
Buscando o conforto, inicialmente começou-se amaciar o Jeans, em lavagem
simples, sem grandes alterações na aparência, posteriormente viu-se a necessidade de
desbotamento químico, com o intuito de diminuir a quantidade de corante no tecido, pois
quando em grande quantidade, provocavam manchas em azul em roupas íntimas, banco de
carros e etc. Para obter esses efeitos é necessário usar no processo produtos como o cloro,
podendo também ser associado com pedras. Desta forma a lavanderia passou a se
preocupar com a qualificação dos operários, o que favoreceu a evolução técnica do setor
(OLIVEIRA, 2008).
São usados vários tipos de tratamentos na base de lavagem. Esse processo
modifica as propriedades físicas do tecido e essa variação pode influenciar o padrão de
modelagem. Alguns tratamentos referentes a cor, podem ser realizados com tecido, outros
como aspectos de desgastes, aplicados com as peças já confeccionadas. Alguns dos
principais usados no processo de lavanderia em Jeans, segundo Chataignier, 2006; Oliveira,
2008; Pezzolo, 2007, são:
Bleached: realizado antes da confecção da roupa, com o uso de alvejantes e
enzimas químicas, com o objetivo de amaciar e desbotar o jeans, podendo ser
integral ou localizado. Há utilização desse processo depois da roupa pronta
que leva o nome francês de délavé.
Destroyed: rasgões nas peças que são realizados com o uso de lavagem em
química corrosiva associada em algumas situações a pedras de argila,
caracterizando também o envelhecimento da peça e o contraste do azul (fio do
urdume) e do branco (fio da trama).
Estonado: tipo de lavagem, que geralmente é realizada com o uso de maquina
industrial. Usando pedras do tipo argila que entram em constante atrito com a
roupa, dando efeitos de gasta e usada, essas características geralmente se
encontram próximas as costuras, como também deixando as peças mais
macias e claras.
2 Relação de banho , ou seja, quantidade de água para quantidade de roupa beneficiada, ex RB 1/10 significa 1 k
de roupa para 10litros de água (OLIVEIRA, 2008).
16
Ligth Used: caracterizada pelo efeito de envelhecimento e desgaste de peças
em tonalidades mais claras, esse tipo de lavagem conta com a utilização de
alvejantes químicos de alta densidade.
Overdie: como característica principal o efeito de peças sujas, realizada com o
uso de múltiplas tonalidades de corantes.
Pré-washed: lavagem que torna o tecido macio ao toque, sem perder as
características de solidez do tecido índigo, sendo mais agradável ao uso e sem
modificar a tonalidade do tecido original. Esse tipo de processo utiliza enzimas
amaciantes ou silicone.
Snow wash: dá ao tecido aparência de flocos de neve, essa lavagem usa
material químico corrosivo que é aplicado respingos de maneira aleatória,
embranquecendo a peça em determinados lugares, esse processo de dá com
a roupa pronta.
Amassados permanentes: polimerização em prensas de alta pressão e
temperatura, acomodado na prensa manualmente ou com auxilio de presilhas,
pode ser localizada ou integral. Com o uso de produtos químicos esse
amassado resiste à lavagem domestica e ao uso, proporcionando aspecto de
roupa usada.
Desgaste localizado: caracterizado pelo uso de lavagens que proporcione
desgaste em locais específicos da roupa, que não caracteriza padrão uniforme
entre as peças, pois são feitas uma a uma manualmente com o auxilio de
ferramentas. O used com o uso da pistola para clarear parte das peças, no
lixado utilizando uma lixa para desgastar locais desejados, e no detonado
usando o esmeril apara realizar picotes em parte das peças. Todos esses
procedimentos realizados antes da lavagem.
Os tipos e nomes das lavagens podem mudar de acordo com a lavanderia indústria,
e de acordo com as mudanças dos padrões da moda modificam os procedimentos e
materiais, pois esse seguimento a todo o momento apresenta-se novidades, necessitando
cada vez mais de mão de obra capacitada (CHATAIGNIER, 2006).
Todos os procedimentos apresentados somado a outros que não são citados aqui,
influenciam na fabricação da modelagem. Muitos modificam a fibra ou o entrelaçamento dos
fios causando encolhimento ou fazem com que tecido ceda em demasia com o uso,
17
precisando assim ser vista essa questão no processo de desenvolvimento da modelagem. O
amassado permanente, por exemplo, realizado para a obtenção de um produto desgastado
e usado, pode de maneira localizada ou integral, influenciar a altura e/ou a largura das
calças, dependendo da posição em que são aplicados os mesmos. “[...] Quem confecciona
jeans tem que levar em conta que o encolhimento varia de acordo com a gramatura. “Por
isso, os tecidos sempre têm de ser testados antes da modelagem”” (DUARTE, 2010 p.50).
Um profissional desavisado pode comprometer toda a produção, em relação à padronização
dos tamanhos da peças (OLIVEIRA, 2008; CHATAIGNIER, 2006).
2.2 – O Pólo de Confecções de Jeans, Toritama
A insuficiência de materiais informativos e trabalhos escritos sobre como começou
a confecção de jeans em Toritama nos levou a elaborar uma entrevista com uma pessoa
que vivenciou juntamente com sua família, todas as fases de crescimento do setor industrial
desta cidade. Esta entrevista, que aconteceu dia quatro de novembro 2011, realizou-se com
Edilson Tavares, proprietário da lavanderia Mamute situada em Toritama. A nosso pedido
este fez um relato de como iniciou a confecção de jeans no município, nos deu detalhes de
fatos ocorridos daquela época, tendo em vista que ele e seu pai são pessoas que fazem
parte da historia da cidade e são pioneiros na confecção de jeans no município.
Decidimos que seria importante para compreensão de nosso trabalho que esta
narrativa fosse aqui transcrita e compusesse o capítulo juntamente com o material
bibliográfico consultado. Essa narrativa foi de importância relevante para compreensão de
nossa questão de pesquisa, tendo em vista que se tratou do relato de uma vivência histórica
que partilhou o amadurecimento desse pólo. Desse modo, parte de seus relatos integram,
bem como sua coleta e analise são explicadas em nosso procedimento metodológico.
Toritama encontra-se situada no Agreste Setentrional do Estado de Pernambuco, a
uma distância de 167 km da capital, Recife, e entre as cidades que integram o Pólo
confeccionista do Agreste: Caruaru e de Santa Cruz do Capibaribe. Na cidade predomina a
confecção de jeans, cuja produção de peças estima-se ter iniciado por volta 1975. Antes
disso a economia da cidade girava em torno da produção de calçados, que paulatinamente
deu lugar a produção de jeans, impulsionado pela visão empreendedora de José Valdir que
utilizava os retalhos de jeans que não eram aproveitados pelos santa-cruzenses
(FADE/SEBRAE, 2003; TAVARES, 2011).
A história da confecção de Santa Cruz do Capibaribe iniciou-se com a utilização de
retalhos que vinham da região Sul do Brasil, eram retalhos de vários tipos de tecidos, em
18
sua maioria malhas3. A produção da cidade utilizava apenas a malha, muita delas chamadas
de helanca, logo, a confecção ficou conhecida como SULANCA, uma junção dos nomes da
malha HELANCA que vinha do SUL. Desta forma, os retalhos que os confeccionista de
Santa Cruz não usavam eram repassados para a cidade de Toritama, e grande parte destes
eram de jeans (denim)4. O senhor José Valdir teve a iniciativa de utilizá-los para produção
de vestuário, porém o tipo de produto dependia do tamanho do retalho, que nem sempre era
de tamanho suficiente para a realização de peças para uma pessoa adulta. Quando o
retalho era maior, fazia-se calças e quando não, bermudas, menor ainda se transformava
em roupa para crianças. Essas peças eram confeccionadas na zona Rural de Toritama, pois
na cidade a mão de obra estava toda dedicada para a produção de calçados. Tendo em
vista que a subsistência nos campo do calçados apresentava-se em declínio, a confecção
de jeans representou para essa classe da população uma nova oportunidade de trabalho
(TAVARES, 2011).
Porém, como tudo começou de uma forma rudimentar e sem planejamento, nesse
pólo industrial faltava mão de obra especializada, não se utilizava o referencial das etapas
produtivas e nem sequer definiam o tipo de público ou de peças que seria produzido. Desde
o início, além de “copiarem” o modelo de outras marcas, não faziam a modelagem, usavam
as peças na qual estavam copiando o modelo, e desmanchavam as costuras de uma forma
que pudesse copiar cada uma das partes soltas do molde, para então cortarem nos retalhos.
Entretanto, a produção feita desta forma apresenta freqüentemente muitos defeitos:
além de seu resultado ser a falta de padronização nas numerações das peças5, como as
peças já haviam passado pelo processo de beneficiamento e lavagem, este fato propiciava
um caimento totalmente diferente na peça-cópia. Ainda, por vezes, antes de desmanchadas
essa peças já tinham sido usadas, ou seja, já tinha adquirido formas do corpo do usuário e
cedido em lugares de maior tensão (TAVARES, 2011). Essas particularidades trouxeram
uma falta de padronização e qualidade para os produtos que saíam desta indústria.
Os aviamentos para as peças, tais como zipper, linhas, fio, entre outros,
inicialmente eram encontrados apenas na cidade de Santa Cruz do Capibaribe. Porém,
como pólo desta cidade voltou-se especificamente para malharia, por vezes foram utilizados
3 Os tecidos são classificados em: tecidos planos, “obtidos pelo entrelaçamento de dois conjuntos de fios
(urdume e trama)”, e os tecidos de malha, “formado por laços que se interceptam lateral e verticalmente, provenientes de um ou mais fios”, como a helanca (CHATAIGNIER, 2006) 4 O jeans possui uma estrutura de tecido tipo sarja (CHATAIGNIER, 2006)
5 Existe uma variação de tamanhos, pois as normas brasileiras que regulam os padrões ainda é pouco
específica, deixando de fora várias medidas complementares, tendo em vista não ter sido definido o padrão nacional. Isto dá margem a uma variação de tamanhos entre as marcas.
19
os aviamentos não adequados para o jeans na produção local. No entanto, como a procura
foi aumentando a cada dia pelos confeccionistas de Toritama, com pouco tempo a cidade já
podia oferecer aviamentos adequados ao processo produtivo que se firmava no local.
Também aos poucos, as máquinas tanto de produção de calçados como de malharia foram
sendo adequadas para a produção de jeans, adaptadas com peças como: sapatas
(calcador), a serrilhas, chapas e a barras de agulha e as próprias agulhas. Com esse ajuste,
os confeccionistas passaram a costurar sem danificar as peças, alcançando uma qualidade
melhor. Contudo, parte expressiva desse maquinário ainda era constituído por máquinas de
costura domesticas e manuais, que em alguns casos funcionavam manualmente, girando
uma manivela e eram chamadas na região de “Cabeça de Gato” (TAVARES,2011).
Os retalhos de jeans utilizados naquela época eram pesados se comparados com o
que usamos hoje, variando de 14oz a 15oz (onças)6. Esse material apresenta dificuldades
para ser costurado em máquinas próprias para tecidos leves. Porém, como a cidade já
produzia calçados e a matéria-prima utilizada era o couro que tem espessura similar com o
jeans, tornou-se mais fácil adaptar esse tipo de maquinas para costurar o denim. Esse foi
também um dos motivos definidores para o começo da fabricação de jeans e não malha na
cidade, fugindo ao que acompanharia o seguimento das cidades circunvizinhas (TAVARES,
2011). Neste tempo ainda não se utilizava beneficiamento nas peças, um processo
fundamental para qualidade e conforto: o “jeans por se tratar de um tecido com alto teor de
impregnação de corante, aplicado em processo onde fixa fisicamente, o tecido índigo não
apresenta o mesmo conforto que quando depois de lavado.” (OLIVEIRA, 2008 p.28).
Por volta de 1985 viu-se a necessidade de usar o processo de lavanderia nas
peças para melhorar o conforto e possibilidades estéticas, porém só existia lavanderia na
capital, em Recife, onde os confeccionistas de Toritama passaram a terceirizar esse
processo. Posteriormente apareceram lavanderias em Caruaru. Assim, a necessidade,
quase uma imposição fez surgir as primeiras lavanderias em Toritama, mesmo com toda
dificuldade, pois a cidade tem o menor índice pluviométrico de Pernambuco. Assim para as
lavanderias terem condições de funcionamento, precisaram criar um processo de reciclagem
do Afluente (juntando-se em cooperativas), para assim reaproveitar água, economizado no
custo das peças e, no decorrer do processo se aperfeiçoando e diminuindo a poluição no rio
Capibaribe (TAVARES, 2011).
6 Onças ou OZ é a medida de peso inglesa, que equivale a 28,34 gramas, e quando dizemos que um tecido tem
12oz, ou seja, 28,34 multiplicado por 12 que é igual a 340,08 gramas por metro quadrado de tecido (OLIVEIRA, 2008). Esse peso refere-se à quantidade de fios por centímetro quadrado de tecido.
20
Hoje a maior parte da confecção de jeans é produzida na cidade e não mais na
zona rural como iniciou. Isso começou quando José Éldes (empresário de confecção),
passou a utilizar maquinários industriais que necessitavam de energia elétrica, recurso que
na zona rural não existia. Essa decisão melhorou a produtividade e qualidade das peças. E
ao longo do tempo, a indústria de calçados na cidade foi se esvaindo, reforçada por diversos
motivos econômicos que assolaram o país na época, e cada vez mais a produção de jeans
foi ganhando seu espaço, sendo disseminada por toda cidade (TAVARES, 2011).
As peças jeans que eram confeccionadas pelos produtores toritamenses tinham de
inicio apenas dois destinos de venda: os municípios de Santa Cruz do Capibaribe e Caruaru.
A cidade de Santa Cruz naquele tempo já contava com uma pequena feira situada na
conhecida Rua da Emenda, onde os produtos eram em sua maioria expostos no chão sob
lençóis ou lonas, e as vendas funcionavam no período da madrugada. Já a feira que
acontecia na cidade de Caruaru, criada posteriormente a de Santa Cruz, contava com
melhor infra-estrutura. Esse ponto de comercialização de artigos têxteis além de obter
melhor organização com relação ao fluxo de pessoas, dispunha também de bancos de
madeira, lugar onde o produtor acomodava sua mercadoria para negociar com os clientes
que ali passavam. Só após a utilização desses dois centros de vendas, inicia-se a feira de
Toritama localizada as margens da BR104, onde seus confeccionistas podiam negociar
suas mercadorias dentro da própria cidade (TAVARES,2011).
O aumento e a progressão em termos estruturais e de organização foram
inevitáveis nos três municípios que integram o pólo de confecções do agreste, visto que a
procura e demanda de artigos têxteis teve grande crescimento. Hoje milhões de clientes,
principalmente do norte e nordeste do país, negociam com produtores da região ao longo do
ano. Esse tipo de contato favorece não somente aos compradores e vendedores do
segmento confeccionista, mas também a economia da cidade em geral, pois todos são
atingidos direta ou indiretamente pelo segmento econômico da mesma, com isso justificando
a baixa taxa de desemprego que também caracteriza o local, chegando a atingir um índice
zero, segundo Boriello, numa matéria da revista Costura Perfeita (Maio/Junho 2010).
Atualmente Toritama conta com um pólo de vendas, inaugurado em 2001,
localizado as margens da BR104, com o intuito de proporcionar aos clientes e vendedores
maior comodidade e segurança, contando com praça de alimentação, banheiros, caixas
eletrônicos e uma grande variedade de marcas e produtos em um só lugar, contrastando
com a situação anterior em que a feira acontecia ao ar livre, sem organização e segurança,
trazendo desconforto aos compradores e vendedores. Na mesma situação, Santa Cruz
21
disponibiliza da mesma comodidade: o Moda Center atrai vários vendedores da região, logo,
aglomerando milhares de compradores de todo a Brasil (BORIELLO, 2010).
Toritama apresenta-se em constante vigor econômico e estima-se que é
responsável por 16% da produção de jeans no Brasil, tendo em vista que são produzidos
dois milhões de peças em jeans por mês, em aproximadamente 2600 pontos de fabricação,
entre grandes, médios e pequenos negócios. O parque das Feiras recebe em media 10 mil
visitantes por semana, vindo de todo o país, sendo esse número triplicado em épocas de
maior movimento, tais como as festas juninas, natalinas, Festival de Jeans e Festival da
Cultura e Moda Pernambucana. A cidade ganha destaque no cenário nacional por ser vista
como uma fonte de empregos e por está em crescente desenvolvimento econômico
(MATOS, et al., 2009; BORIELLO, 2010).
2.3- O Corpo e a Modelagem
Falar em produto e em padronização de tamanhos requer que abordemos a relação da
antropometria com as necessidades específicas do designer que precisa desenvolver
determinado produto. Esses profissionais buscam nesta relação o conhecimento específico
que irá beneficiar o usuário ou consumidor dos produtos por eles desenvolvidos (PANERO &
ZELNIK, 2006). Esta seção tratará das relações entre o corpo, a antropometria e a
modelagem, buscando nesta relação demonstrar como a literatura recomenda a criação e
desenvolvimento de um produto de moda.
2.3.1 Antropometria na Modelagem
A ciência que trata das dimensões do corpo humano e determina quais as diferenças
existentes entre as medidas de indivíduos e grupos, é denominada antropometria. Apesar
de o termo ter surgido em 1870 como título de um livro do matemático Quetlet, foi apenas a
partir de 1940 que as necessidades dos dados antropométricos e as implicações
ergonômicas das dimensões corporais começaram a ser valorizadas e estudos
desenvolvidos com intuito de aplicação em projetos (PANERO & ZELNIK, 2006).
Na indústria do vestuário é essencial ter um conhecimento sólido em anatomia, pois
em todo o processo, desde a criação (o desenho da peça), a interpretação (definição do
modo de construção), a modelagem (execução do molde) e a aprovação, é necessário
entender pontos anatômicos, e conhecer como funciona esse conjunto quando está em
movimento. Desta forma, no processo de uma roupa os primeiros passos pressupõem um
conhecimento adquirido com a observação do corpo: a partir da estrutura biomecânica,
composta por uma série de movimentos dos ossos, articulação e músculos, que interferem
22
na usabilidade da roupa. Esse conhecimento é fundamental para o designer e facilita ao
profissional uma adequada elaboração em seus produtos (SANTOS, 2009, p45). Segundo o
autor, essa não é uma preocupação recente:
No Renascimento, período de valorização da teoria estética, Leonardo da Vinci (1452 – 1519) desenvolveu um desenho em que o homem é mostrado inscrito dentro de um quadrado e um circulo, inspirado no livro romano de Vitruvius, que explica a relação entre a simetria e a perfeição das proporções do corpo humano.
FIGURA 1 – Estudo do corpo Humano, de Leonardo da Vinci. Fonte: Boueri, 2004
Todas as populações são formadas por variações nas formas de corpo entre seus
indivíduos, ou seja, apresentam diferença nas proporções entre as partes do corpo,
formando os diferentes tipos físicos (PANERO & ZELNIK, 2006). Como isso, para que as
indústrias de vestuário desenvolvam produtos em larga escala e obtenham sucesso
comercial, é necessário que exista um estudo dessas variações para gerar a padronização
de numerações baseada em uma media de medidas e proporções dos tipos de corpos
encontrados (BOUERI, 2008).
Medir pessoas pode parece ser uma tarefa simples, pois para isso bastaria uma
régua, fita métrica, ou outros instrumentos similares (PANERO & ZELNIK, 2006). Porém não
é bem assim: quando se quer medidas representativas e confiáveis, alguns cuidados são
necessários, como as medidas tiradas com a postura ereta ou relaxada, com ou sem
calçados, com roupa ou sem, em que período do dia e alguns outros fatores relevantes, a
depender da população que vai ser medida. Ultimamente com o desenvolvimento
tecnológico surgem métodos de catalogação de medidas antropométricas em escala
industrial, utilizando-se, por exemplo, de equipamentos de escaneamento do corpo humano,
que somado a um software especialmente desenvolvido já realiza cálculos estatísticos das
medidas e extrai automaticamente características e proporções de corpos de determinada
população. Essa tecnologia facilita sobremaneira a extração de dados e agilizaram o
estabelecimento de uma padronização, o que embasa o desenvolvimento da modelagem e
organiza a comercialização (SANTOS, 2009).
23
Contudo, para processo de desenvolvimento de modelagem faz-se necessária além
da analise de algumas questões relacionadas às dimensões corporais, torna-se importante
saber quem é o usuário (a função que ocupará), como e onde vai usar o produto. Um
constante desafio de projetos está na seleção dos dados de antropometria que precisam ser
relacionados às exigências biodinâmicas envolvidas (PANERO & ZELNIK, 2006). Se a
pessoa que vai utilizar a roupa desenvolve muitas atividades no seu dia a dia (envolve
medidas dinâmicas), ou é para uma festa onde ela não precise se mover muito (envolve
medidas estáticas), geralmente usada para roupas estilo alfaiataria, peças tipo social.
Caminhar, sentar, pegar ônibus, dançar e entre outras atividades, influenciam tanto no
processo do planejamento da modelagem, como na escolha do tecido mais adequado. Nos
casos de necessidade de fazer movimentos corporais, as partes específicas do corpo que
envolve a articulação motora como o alcance de braços, por exemplo, deve ser medidas no
limite máximo de extensão ou considerar as folgas necessárias para o tipo de movimento.
Um bom exemplo para estes casos pode ser o estudo de roupas esportivas onde o usuário
precisa fazer movimentos complexos sem abrir mão do conforto, ainda preservando ou até
melhorando seu desempenho atlético (SANTOS, 2009).
2.3.1.1- Variações de Tamanhos
De acordo com IIDA (2005), até a idade média não existia a padronização nos
tamanhos dos calçados, sendo todos do mesmo tamanho e sem levar em consideração a
diferenciação antropométrica entre o pé direito e esquerdo, ou seja, não existiam estudos
antropométricos que levantassem medidas confiáveis e aplicáveis. Para o desenvolvimento
de peças em larga escala, precisou-se desenvolver uma tabela de medidas, visando
viabilizar a elaboração das roupas que se adequasse à maioria da população vigente. Para
Rosa (2009) a elaboração de uma tabela de medidas deu-se primeiramente com a
necessidade da fabricação de uniformes militares, considerando as diversidades físicas
existentes no quadro de profissionais.
O corpo é estudado como base para o produto de vestuário, na fase de
desenvolvimento de projeto de moda, na elaboração da modelagem é necessário que se
conheça o perfil antropométrico do usuário e que se obtenha uma tabela de medidas
padronizada. Com isso é importante levar em considerações diversos fatores de variações,
tais como as diferenças entre o sexo feminino e masculino, variações que ocorrem ao longo
da vida (infância, adolescência, adulto e senil), etnias e também influencias do clima (IIDA
2005).
24
O exercício da antropometria não é simples: as dimensões corporais variam com a
idade, o sexo, a raça e até mesmo os grupos ocupacionais (PANERO & ZELNIK, 2006). As
diferenças antropométricas do sexo feminino e masculino já começam desde recém
nascidos, as meninas são menores cerca de 0,6 cm e os meninos cerca de 0,2 kg mais
pesados. No desenvolvimento até os 9 anos de idade ambos os sexos crescem
relativamente iguais, mas quando chega na puberdade entre 10 a 12 anos as meninas
costumam crescer mais, serem mais pesadas e possuírem superfície corporal maior. Por
volta dos 12,5 a 15,5 de idade, na puberdade, geralmente os meninos ultrapassam as
meninas, ganham mais peso, mão e pé maiores. Após essa fase tanto os meninos quanto
as meninas continuam crescendo, ate chegar a sua estatura, dos 20 aos 23 anos (IIDA,
2005).
Em geral, o homem na fase adulta possui tórax, ombros, clavículas, escápulas,
cabeça, braços e pernas maiores do que as mulheres. A mulher tem ombros relativamente
estreitos e tórax menores e mais arredondados que os homens, a bacia mais larga, podendo
a diferença de estatura chegar de 6% a 11% a menos no sexo feminino. Os homens
possuem proporcionalmente mais músculos que gorduras, entretanto também a localização
da gordura é diferenciada. Segundo Ilda (2005, p. 99):
As mulheres têm uma maior quantidade de gordura subcutânea, que é responsável pelas suas formas arredondadas. Esta se localiza também nas nádegas, na parte frontal do abdômen, nas superfícies laterais e frontais da coxa e nas glândulas mamárias. A maior parte dessa gordura concentra-se entre a bacia e as coxas. Assim, quando uma pessoa engorda ou emagrece, há uma mudança das proporções corporais, afetando, por exemplo, a indústria do vestuário.
O ser humano sofre continuas mudanças físicas durante toda a vida, como
alterações de tamanhos, proporções corporais, formas e peso. Na fase de crescimento e da
infância até a adolescência esses mudanças se aceleram e na fase do crescimento, as
proporções entre diversos segmentos do corpo também sofrem alterações. Como por
exemplo, o recém nascido, tem cabeça proporcionalmente maior que o corpo e membros
curtos, sendo sua estatura é de 3,8 vezes do tamanho da cabeça e o tronco é equivalente
ao comprimento do braço (SANTOS, 2009).
A estatura de uma pessoa atinge o ponto máximo aproximadamente aos 20 anos e
permanece praticamente inalterável dos 20 aos 50 anos. Mas a partir dos 55 a 60 anos
todas as dimensões lineares começam a decair, e outras medidas como peso e
circunferência dos ossos podem aumentar. Assim também durante o envelhecimento existe
uma gradativa perda de força e mobilidade, tornando os movimentos musculares mais
fracos, lentos e com menor amplitude (SANTOS, 2009).
25
No mundo, as diferenças éticas em termos de variações são extremas (PANERO &
ZELNIK, 2006). Na África encontramos esses extremos, pois os menores homens, “os
Pigmeus” que medem em média 143,8 cm, e as mulheres 137,2 cm. Esta população
encontram-se na África Central, enquanto “os negros Neolíticos”, bem maiores, localizam-se
no Sul sudanês e medem: os homens cerca de 182,9 cm e as mulheres 168,9 cm
(SANTOS, 2009).
No Brasil existem misturas de diversas etnias e, desse modo, as variações
interindividuais são maiores que em países com etnias mais homogêneas. As pessoas da
região Nordeste do Brasil são menores comparadas as do Sudeste, tanto em altura como
em relação ao volume de massa corporal. Segundo IIDA (2005), os povos que habitam em
clima mais quentes normalmente possuem corpos mais finos e membros superiores e
inferiores mais longos, assim caracterizando um biótipo linear, e os de clima mais frio
possuem corpos mais cheios, volumosos e arredondados, com forma corporal esférica.
Essas características podem ser resultado de vários séculos, por que o biótipo linear tem
mais facilidade de resistir ao calor, e os mais cheios facilitam a conservação da temperatura
do corpo no frio:
No mercado Brasileiro, conforme levantamento antropométrico realizado em 1975 pelo IBGE, a diferença da estatura dos homens da Região Sul e os da Região Nordeste era de 4,8 cm. Já as das mulheres do Rio de Janeiro e as da Região Nordeste é de 3,8 cm. A maior diferença de altura em ambos os sexos foi de 15,7 cm entre os homens da Região Sul e as mulheres da Região Nordeste (BOUERI, 2008, p. 350)
Assim, com a intensa variação de proporções corporais, fica difícil estabelecer uma
tabela de medidas padrão que se adéqüe a todos, pois se o projeto for direcionado para as
“pessoas de tamanho médio” a indústria só vai conseguir atender 50% dos usuários. Desta
forma, as indústrias de vestuário em geral adéquam seus produtos de acordo com o publico
alvo que a empresa pretende atingir. No momento de uma exportação, por exemplo, é
preciso modificar seus produtos para o público em questão (BOUERI, 2008).
De acordo com Maria Adelina, em entrevista para a revista eletrônica USE
FASHION, (2011) e a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), nos estudos para
a padronização de medidas no Brasil, um país onde há uma miscigenação visível, seria
apropriado estabelecer tabelas de medidas que atendesse a maioria da população
brasileira, desconsiderando a padronização das medidas apenas pelas proporções médias
do corpo. Desta forma, duas pessoas de igual estatura, mas de pesos e formas diferentes,
por exemplo, vestem numerações diferentes. Considerar apenas a altura ou uma média das
informações poderia gerar a indicação de uma mesma numeração de vestuário,
26
proporcionando uma deficiência de caimento e adequação, causando mal-estar entre os
consumidores, deixando de fora grande parcela da população.
Considerando a diversidade étnica que caracteriza a população brasileira, entende-
se a difícil missão de projetar uma tabela de medidas padrão que atenda a maioria da
população quanto ao consumo de vestimentas. A despeito dessa problemática em uma
enquete realizada por PEDROSO, (2011) pela revista eletrônica USE FASHION, constatou-
se que mais da metade dos usuários afirmam que o tamanho das roupas varia mais de duas
numerações conforme a marca. Deixando claro também, a insatisfação do cliente com a tal
diferenciação, inviabilizando a compra do produto a partir do tamanho descrito na etiqueta.
Pensando nisso a ABNT deverá padronizar as medidas que serão classificadas de
acordo com as formas e estaturas dos corpos. Por exemplo, no vestuário masculino
concentrarão três opções de tamanhos com suas subcategorias: atlético, normal e especial.
Como já acontece no mercado americano, baseando-se no perfil antropométrico de seus
consumidores. Boueri (2008) demonstra como aquele mercado utiliza a aplicação da medida
antropométrica na padronagem dimensional do vestuário (faixa etária, forma e estatura do
corpo), na Tabela 1:
Utilizando as medidas desta forma, torna-se mais fácil a adequação de produtos de
vestuário as populações que possuem especificações e características heterogêneas como
é o caso da brasileira, visto que a tabela considera vários tipos de espessuras corporais
enquadrando um maior numero de consumidores. Ao mesmo tempo em que garante uma
qualidade de produto, favorece uma maior segurança no ato da compra. A padronização
definida e cumprida possibilita a ampliação do mercado e vantagens comerciais para as
indústrias confeccionistas.
A falta de definição oficial é hoje um grande problema para as indústrias nacionais
de confecção, que buscam em um processo amplo de pesquisa, traçar um perfil das
características do seu consumidor buscando identificar não só questões subjetivas de
desejos e interesses, como também o conhecimento das formas anatômicas do seu publico
alvo, para assim melhor atendê-lo e conseqüentemente obter sucesso em seus negócios
(HEINRICH, 2005).
27
TABELA 1- Perfil Antropométrico e Padronagem Dimensional do Vestuário/ Sexo Feminino
Fonte: BOUERI, 2008, p. 363
Perfil Antropometrico Padronagem Dimensional Faixa Etária I
Anos Tipologia do Corpo / Forma estatura e Peso
1 7 a 11
Menina I Regular O corpo não apresenta desenvolvimento do busto e a cintura é levemente desenvolvida.
7,8,10,12,14
Menina I Corpulenta De mesma altura e idade que o tipo Regular, porém mais pesada.
7 ½, 8 ½, 10 ½, 12 ½, 14 ½,
Menina I Magra De mesma altura e idade que o tipo Regular, porém mais magra.
7S, 8S, 10S, 12S, 14S
2 12 a 14
Pré-adolescente O corpo apresenta um leve desenvolvimento do busto, a cintura é um pouco mais definida, ainda não tem como claramente o tipo adolescente. O tronco é mais acinturado do que o tipi Menina Regular.
8, 10, 12, 14, 16
3 15 a 18 Adolescente O corpo apresenta cintura mais definida, o busto está mais alto e arredondado e o quadril, desenvolvido.
3, 5, 7, 9, 11, 13
4 >19
Mulher I Junior Corpo adulto, com altura maior do busto e cintura menor do que o tipo Miss.
7, 9, 11, 13
Mulher I Miss Corpo Proporcional, mais alta e com cintura maior que o tipo Junior.
Mulher I ½ numeração Corpo igual ao tipo Mulher, mas com cintura menor.
12 ½, 14 ½, 16 ½, 18 ½, 20 ½, 22 ½, 24 ½
Mulher Corpo com abdômen e busto mais cheios. O quadril é menor em relação ao resto do corpo.
34, 36, 38, 40, 42, 44, 46
Mulher I Junior Petite Corpo pequeno com busto, quadril e cintura menor que o tipo Júnior.
3, 5, 7, 9, 13
Mulher I Corpulenta I Brevelínea Corpo igual ao tipo Mulher, porém mais pesado.
48, 50, 52
Mulher I Alta I Longilínea Corpo igual ao tipo Miss, porém mais alta que o tipo Mulher.
10, 12, 14, 16, 18, 20
2.3.2 Processo de Desenvolvimento de Modelagem
Na indústria, o processo de desenvolvimento da modelagem não obedece aos
mesmos métodos utilizados na fabricação das roupas sob medidas, embora as diretrizes
sejam relativamente às mesmas. Porém, uma das distinções encontra-se na diferenciação
das medidas que serão utilizadas na elaboração da roupa, enquanto na modelagem
industrial utiliza-se a tabela de medidas padrão que deverá englobar um maior numero de
28
indivíduos, na modelagem sob medidas o profissional alfaiate utilizará as circunferências e
comprimentos específicos da pessoa que usara a roupa para um fim desejado (HEINRICH,
2005).
A técnica de modelagem é uma das primeiras etapas para dar estrutura à roupa,
ela é responsável em dar formas, volumes e caimento perfeito, quando é bem desenvolvida.
Essa etapa é fundamental ao conhecimento do designer de moda, pois é nesta fase que se
consegue solucionar problemas na interpretação dos modelos a serem reproduzidos
(JONES, 2005).
Por outro lado, muitos designers partem da própria modelagem para criar coleções.
“É um trabalho que exige ao mesmo tempo conhecimento, habilidade, técnica e senso
estético no sentido e criar algo original e ao mesmo tempo usável [...]” (ROSA, 2009, p.22),
Contudo, tal como é necessário em qualquer processo, é preciso planejar nesta etapa as
possibilidades do como vai ser executado (possibilidades de confecção que viabilizem
produtividade, acabamento, etc.).
Entre as técnicas de modelagem utilizadas nas indústrias estão a bidimensional e a
tridimensional. A primeira se processa a partir da elaboração de diagramas, utilizando
recursos geométricos, para assim, elaborar formas que envolva todo o corpo ou parte dele,
respeitando o modelo e as medidas adotadas pela empresa. Atualmente várias empresas
utilizam de sistemas computadorizados CAD/CAM que utiliza da mesma técnica, porém com
mais agilidade e precisão nas medidas, proporcionando-lhes maior lucratividade. A segunda
refere-se à modelagem desenvolvida diretamente sobre o manequim ou corpo, utilizando
como base o material tecido ou tela (murim7), essa técnica é elaborada em três dimensões,
altura, largura e profundidade, diferentemente da bidimensional que trabalha apenas com
altura e largura (ROSA, 2009; HEINRICH, 2005).
Nos dias atuais, muitos profissionais modelistas mesclam as duas técnicas, para
ganhar tempo e precisão. Ressalvando que para a produção em escala a modelagem
tridimensional após sua aprovação dever ser transpassada para o plano bidimensional, para
assim atender as necessidades de ampliação e redução dos tamanhos (HEINRICH, 2005),
processos que também podem ser executados nos sistemas computadorizados.
7 Murim - tecido produzido na Índia, de algodão rústico branco ou tinto, que é usado na confecção de peças de
cama e mesa, servindo também como forro para algumas peças do vestuário. Esta estrutura de tela é utilizada nos moldes de moulage.
29
O aparecimento da modelagem com as técnicas similares ao que temos hoje nas
indústrias datam do século XVIII em Hamburgo, quando houve um aumento significativo da
imigração de muitos habitantes do campo para os grandes centros urbanos em busca de
uma melhor condição de vida, assim surgindo à necessidade que fazer roupas baratas, para
atender esse público que tinha poucos recursos (ROSA, 2009).
As técnicas de modelagem industrial aperfeiçoaram a partir do alargamento em
grande escala das roupas fabricadas prontas para vestir, chamadas de Prêt-à-porter, que
aparece no período pós a Segunda Grande Guerra, para atender a população que estava
em crise econômica presente em toda Europa. Desta forma observa-se um declínio da
fabricação em alta costura8, visto que a elaboração de roupas prontas para a utilização
ganha destaque em todo território mundial, pela melhor dinamização no processo produtivo,
bem como a adequação a um maior número de consumidores (DINIS; VASCONCELOS,
2009; RYBALOWSKI, 2008).
Um fator muito importante no processo de desenvolvimento da modelagem é a
mensuração das medidas, que terá que ser elaborada ou retirada com o máximo de
precisão, para que se consiga obter um perfeito caimento no produto desenvolvido,
proporcionando-lhe qualidade e conseqüentemente a diminuição no tempo do processo
produtivo. Essas medidas podem ser classificadas como “fundamentais” que são
imprescindíveis para o desenvolvimento tanto do diagrama de bottom9 quanto do top,
“auxiliares e complementares”, que envolvem muitas outras medidas como as alturas
especificas orientadas para o modelo escolhido(HEINRICH, 2005).
A partir desta fase, logo após tratarmos das medidas fundamentais, neste trabalho
serão tratadas apenas as medidas para o desenvolvimento do bottom, visando focar os
interesses do objeto de estudo em questão: o processo de construção da “calça jeans
feminina”. Para mensurá-las no corpo humano é preciso adotar alguns cuidados, que em
seguida serão demonstrados com a utilização de exemplos.
As Medidas Fundamentais (Ver Fig. 2):
a) Circunferência do Busto: Perímetro do tórax/busto, medido horizontalmente,
passando pela parte mais saliente do busto, abaixo das axilas, passando a fita
8 Alta Costura - roupas de alto-luxo, feitas com mão-de-obra extremamente qualificada e com exclusividade. As
roupas de alta-costura ditam moda no mundo. 9 Denomina-se de bottom as peças que vestem o corpo da cintura para baixo e de top a parte de cima do
vestuário.
30
métrica na frente e costas. (para tomar essas medidas em mulheres, estas devem
estar usando sutiã).
b) Circunferência da cintura: Perímetro do tronco no nível médio entre as costelas
mais baixas e a crista superior do ilíaco, passando a fita métrica horizontalmente,
envolvendo frente e costas (aproximadamente 2cm acima do umbigo).
c) Circunferência do quadril: Perímetro do corpo na altura do glúteo (nádegas)
medindo horizontalmente na área de maior circunferência.
FIGURA 2 – Mensuração das medidas fundamentais Fonte: HEINRICH, 2005
As Medidas Auxiliares (passe uma fita marcando a linha da cintura para facilitar o
processo de mensuração, pois muitas das medidas parte desta). (Ver fig. 3).
a) Altura do quadril: Perímetro da altura da cintura ate o glúteo (linha da
circunferência do quadril) medindo verticalmente, acompanhando a linha lateral.
b) Altura do Ganho: Com a pessoa sentada, de forma que a região abdominal e
torácica do corpo formem um ângulo de 90°, medida vertical entre a linha da
cintura ate o assento da cadeira.
c) Altura do Joelho: Distancia vertical entre a cintura e o centro da patela (rótula),
em posição ereta.
d) Joelho: Medida horizontal da circunferência do joelho.
e) Tornozelo: Medida horizontal da circunferência do tornozelo. Porém para a barra
da calça sem abertura a medida mínima é o período obliquo da parte superior do
peito do pé até a parte mais proeminente do calcanhar.
As Medidas Complementares – são as medidas mais especifica para o modelo,
tipo: folgas, comprimento da saia, costa, manga, frente, altura total do corpo, contorno do
31
braço e etc. Nesta etapa buscaremos salientar apenas as medidas referentes às
necessidades peça escolhida para esta pesquisa: a calça jeans.
f) Comprimento da Calça: Perímetro da altura da cintura ate o glúteo (linha da
circunferência do quadril) medindo verticalmente, acompanhando a linha lateral.
FIGURA 3 – Mensuração das medidas auxiliares e complementares
Fonte: HEINRICH, 2005; ABNT NBR 15127:2004
Para determinação dos padrões em uma tabela de medidas, tanto para calças,
saia, blusas, vestidos, enfim para o top ou bottom seguem o mesmo esquema de
numeração, podendo ser tanto de numero (36, 38, 40, etc.) ou pelas letras (P, M, G, GG),
seguindo a tabela de medidas feminina que foi determinada pela ABNT no ano 1995 e que é
referencia até hoje, pois a nova tabela ainda não esta disponível. Existe uma previsão que
esta tabela esteja disponível no começo do próximo ano (2012).
Na tabela 2 segue as seguintes medidas corporais contidas na NBR 13377
32
TABELA 2 – Medidas referenciais do corpo humano: Busto e Cintura
Fonte: NBR 13377/1995 Feminino
Medidas do
Busto (cm) 78 82 86 90 94 98 102 106 108
Tamanhos 36 38 40 42 44 46 48 50 52
PP P M G GG
Medidas da
Cintura (cm) 60 64 68 72 76 80 84 88 92
Tamanhos 36 38 40 42 44 46 48 50 52
PP P M G GG
Portando, no desenvolvimento de modelagens essa tabela precisa ser considerada
e adaptada tanto para as variações de modelo, como para os tipos de tecido, lavagem e
processo, respeitando assim suas respectivas características. A mudança do tecido, por
exemplo, de grosso e pesado para fino e leve, deve ser adequado para um modelo e
ajustado em algumas medidas da tabela para atender a mesma numeração. Outro exemplo,
na troca do tecido de uma determinada calça jeans cuja modelagem foi projetada para o
tecido plano sem elastano10 e que agora vai ser confeccionada no mesmo tecido com
elastano, as medidas precisam ser calculadas de acordo com o grau de elasticidade do
referido tecido e diminuídas na mesma proporção, para que a peça de roupa se ajuste ao
corpo e mantenha-se vestindo a mesma numeração. Também é preciso ter cuidado nas
margens de costura que se devem deixar na modelagem, pois os moldes programados para
determinada largura de bitolas11, devem ser usados em determinadas máquinas de
costuras, para que não haja distorção de forma ou de medidas. Com esses cuidados,
certamente consegue-se atingir um resultado favorável, com um mínimo de variação no
padrão (DINIS, VASCONCELOS, 2009).
Alguns materiais são indispensáveis para o desenvolvimento do diagrama do molde
com perfeição e agilidade para torna o trabalho padronizado e profissional (ver fig. 4), como
demonstra Dinis, Vasconcelos, (2009); Sorger, (2009) e Rosa (2009):
a) Régua milimetrada: tornasse ideal em marcações em que envolva milímetros, devesse
dar prioridade às réguas em aço, pois apresentam mais precisão.
10
Elastano é um filamento sintético adicionado à fibra do tecido, conhecido por sua excepcional elasticidade. 11
Bitola é a distancia entre a borda do tecido e o ponto de união da costura.
33
b) Régua de alfaiate: será utilizada no traço de curvas longas.
c) Curva francesa: encontrada em diversos tamanhos, porém mais adequada para o
nosso trabalho é numero 1118, apresenta diversas curvas, que será utilizada no traçado
de cabeça de manga, cavas, decotes, entre outras curvaturas pequenas.
d) Jogo de esquadros: em tamanhos grandes para facilitar o trabalho, são usados dois
esquadros, um tem dois ângulos de 45° e um de 90°, o segundo de ângulo de 90°, 60°,
e 30°, servindo para traçar retas paralelas e perpendiculares na construção de
diagramas.
e) Fita métrica: indispensável no setor de modelagem utiliza-se geralmente para obter
uma perfeita precisão nas medidas servindo também para mensurar medidas no corpo
humano ou manequim, pois ela permite mobilidade. Vale lembra que é necessário obter
uma fita de qualidade e que não haja divergência com as medidas da régua, para que
não surjam problemas que venha a comprometer toda a modelagem.
f) Lapiseira e borracha: aconselha o uso de lapiseira para o traçado do diagrama, para
que este venha a fica fino e perfeito, como também o uso da borracha para excluir as
imperfeições ou erros, lembrando que nesse processo é importante trabalhar com
precisão tanto das medidas como no traçado, assim evitando oscilações nas
espessuras do traço.
g) Tesoura: ferramenta pela qual se deve utilizar único e exclusivamente para o corte do
papel, pois se esta servir também para outros fins, cortando papel poderá danificar a
tesoura, tornando-a imprópria para o uso no corte de tecido por exemplo.
h) Carretilha: importante instrumento para fazer marcação nos moldes, e transferência da
base para outro papel.
i) Alicate de picote: muito utilizado na produção de modelagens, pois proporciona
rapidez ao processo de execução de piques, como também garante sua maior precisão.
j) Calculadora: é importante seu uso pela modelista, pois como um traçado de diagrama
envolve cálculos, seu porte irá agilizar o processo.
k) Vazador e furador: geralmente são utilizados na marcação de pences, marcações de
bolsos, e outros piques internos que a modelagem necessite para sua melhor
sinalização.
l) Papel Pardo: por ser um papel fácil de encontrá-lo no mercado, é também conhecido
como papel craft, aconselha-se utilizar uma gramatura mediana, vale lembra que depois
de elaborado o molde eles são transpassados para outros papeis de maior espessura
para que venha a tornasse mais durável e melhor manuseável.
34
FIGURA 4 – Materiais de Modelagem Fonte:Rosa, 2009
O traçado do diagrama da modelagem (seja ela bi ou tri-dimensional) se constitui o
primeiro passo de criação do molde, que se desenvolve a partir da tabela de medidas
definida pela empresa. Após a aprovação (teste de vestibilidade) e conclusão do diagrama,
ele terá a finalidade de ser o “molde de trabalho”, portanto, a partir dele será desenvolvido
as adaptações necessárias para construção de modelos variados. É importante deixar claro
que o “molde de trabalho” delineará o corpo, sem folgas para movimentação, logo, o
modelista, na sua interpretação, definirá as margens de folga necessárias, de acordo com o
modelo (TREPTOW, 2007). Essa etapa é fundamental, pois “A exatidão dos traçados
depende inicialmente da compreensão da anatomia e seu princípios utilizados nos moldes,
bem como a aplicação das medidas de maneira precisa, de acordo com a tabela em uso”
(HEINRICH, 2005 p.31).
Em outras palavras, com diagrama pronto e aprovado, poderemos usar ele sempre
como ponto de partida (molde base), e a partir daí, fazer as adaptações necessárias para a
35
construção de um novo modelo. A etapa da interpretação, reforçamos, é de extrema
importância, tendo em vista que é onde se vai ser definir as margens de folgas, recortes,
pences, franzidos e etc. (TREPTOW, 2007).
Para facilitar o traçado do diagrama do molde, que servirá de norteio para a
adaptação dos modelos, utiliza-se metade do tamanho da frente e metade da costa, ou seja,
a circunferência total das partes (medidas fundamentais) será dividida por quatro,
respeitando a características do modelo, essa divisão não necessariamente será iguais
entre a frente e costa, por exemplo. O fracionamento das medidas fundamentais, fornecem
parte das medidas auxiliares e complementares (HEINRICH, 2005).
Desta forma de acordo com Rosa (2009), SENAC DN (2003), Duarte (2008) e
Heinrich (2005), o diagrama da calça feminina pode-se ser construído da seguinte forma:
Digrama da Calça Feminina – parte dianteira (ver Fig. 5 e 6):
Inicie trançando o vértice do ângulo reto;
1 ao 2- marcar a altura do gancho (Se a tabela não dispõe desta medida, de acordo com
SENAC DN (2003), pode-se encontrar através do calculo: ¾ da medida da reta de 2-6 (1/4
do quadril) o resultado soma-se com 8 cm, que vai ser a altura do gancho;
Traça o vértice de 90° no ponto 2, tanto para direita como para esquerda, tomando como
apoio a linha reta 1-2;
1 ao 3- marca 1,5 cm;
3 ao 4- marcar ¼ da medida da cintura;
Unir de 3 à 2 com linha reta;
3 a 5 – marcar 1cm (caída da cintura);
Unir de 4 a 5 com linha curva suave, formando a linha da cintura;
2 a 6- marcar ¼ do quadril;
1 a 8 – marcar a altura do quadril
8 a 9 – marcar 1\4 do quadril
2 a 7 – marcar 1\20 da medida do quadril;
Unir os pontos 7 a 8 com régua curva para formar o gancho dianteiro;
10 – metade da linha de 6 á 7;
Esquadrar o ponto 10, para cima e para baixa tomando como apoio a linha de 6 à 7 (linha
do vinco);
36
10 a 11 – marcar o comprimento do entre pernas (quando essa medida não dispõe na
tabela, usa-se o comprimento total da calça e subtrai pela altura do quadril, o resultado será
o comprimento do entre pernas);
10 a 12 – metade de 10 a 11 (entre pernas) menos 5 cm para cima, resultando na altura
do joelho;
Esquadrar os pontos 11 e 12 (joelho e barra) em linha horizontal, prolongando para os
dois lados;
12 a 13 e 12 a 13’ – marcar ¼ na circunferência do joelho menos 1 cm;
11 a 14 e 11 a 14’ – marcar ¼ da largura da barra menos 1 cm;
Unir os pontos 13 a 14 e 13’ a 14’ com linha reta;
Unir 7 a 13 e 4-9-6-13’ com curva (régua de alfaiate) de acordo com a figura 6.
11 a 11’ – marcar a largura da barra( para um perfeito caimento na montagem da peça é
necessário dobrar o molde na linha da barra (14-14’) e passar a carretilha conforme a figura
7) .
Transferir o diagrama dianteiro para outro papel, deixando marcada a linha do joelho e
linha do vinco para devidas orientações de corte e costura.
Colocar margem de costura e as informações necessárias no molde.
37
FIGURA 7 – Barra da Calça Fonte:Rosa, 2009
Diagrama da Calça Feminina – parte traseira (Ver Fig. 8 e 9):
O diagrama traseiro será construído sobre o dianteiro, para assim conseguimos agilizar o
processo;
Prolongar as linhas horizontais da cintura, quadril, gancho, joelho e barra do diagrama
dianteiro;
Na linha da barra e joelho aumenta 2 cm para cada lado, e numera como 15,15’, 16, 16’ e
17, 17’;
Unir com linha reta os pontos 15 a 16, 16 a 17, 15’ a 16’ e 16’ a 17’;
3 a 18 marcar 3 cm;
Unir os pontos 2 a 18 e prolongar a linha para cima;
18 a 19 marca 3 cm, na linha prolongada de 2 a 18;
19 a 20 – iniciando do ponto 19 em linha inclinada de forma a tocar na linha da cintura,
marcar ¼ da circunferência da cintura mais 3 cm de acréscimo para pence;
6 a 21 e 9 a 22 - marcar 3 cm;
Unir 20-22-21-15´ com linha curva (régua de alfaiate) de acordo com a figura 8;
7 a 23 – marcar 1/16 do quadril (pode-se chegar a essa medida também multiplicando 1,5
por a medida de 2 a 7);
2 a X – na linha de 2 a 17, partido do ponto 2, marcar 12 cm;
2 a Y – partindo do pondo 2, traçar um ângulo de 45° e marcar 4,5 cm;
Unir o ponto 23 a 15 com régua curva (conforme a figura 16) Utilizar a mesma curva do
entre pernas dianteiro, conferir a medida dos dois entre perna (dianteiro e traseiro) e se
houve diferença corrigir.
Unir 19 a X com linha reta e X-Y- 23 com régua curva para formar o gancho traseiro;
38
24 – marcar metade de 19 a 20;
25 - esquadra o ponto 24 para baixo, tomando como base a linha 19 a 20 e marcar 12
cm;
De 24 a 24a e 24 a 24b – marcar 1,5 cm para cada lado (profundidade da pence);
Unir os ponto 24a, 25 e 24b com linha reta conforma a figura 9 pra formar a pence.
Contudo, como já afirmamos, a escolha do tecido implica em adequações
necessárias à modelagem. Tratar especificamente do jeans exige a consideração de fatores
importantes tais como os tipos de acabamento de costura, lavagens, entre outros que aqui
já foram levantados. Porém, tratar de calças jeans para a mulher brasileira envolve
39
especificidades de gosto e de valor inerentes a cultura, que repercutem diretamente na
modelagem. Abaixo consideramos um exemplo que demonstra essa preocupação em
depoimentos de fácil acesso, retirados da internet:
No Brasil, a preferência entre as mulheres é a calça jeans muito justa e de
cintura baixa. Não importa se a mulher é magra, gorda, jovem, baixa ou alta.
Todas querem uma calça de cós baixo.
(...) os bolsos representam um detalhe importante na hora de escolher o
jeans: Bolsos com lapela, com mais recorte, ajudam a melhorar um bumbum
não tão bonito, mais achatado.
Achar aquela calça que faz você parecer magra e sexy é uma missão quase
impossível. Às vezes, mais difícil que escolher um biquíni. Até pela
diversidade de modelos, lavagens, tecidos, acabamentos e cores à
disposição no varejo. (PORTAL SÃO FRANCISCO, 2011)
O exemplo demonstra a ligação emocional que esta envolvida na escolha de uma
calça jeans e, essas características estão diretamente relacionadas com a modelagem das
peças. De acordo com Dias, 2010 a modelagem da calça jeans feminina, para que possua
um bom caimento precisa ter:
Cós anatômico e não reto, para evitar que fique largo na cintura (essa característica
é essencial para as calças de cós baixo);
Fio do Urdume – tem que ser respeitado, para que a peça não fique torta. Fazendo
um leve desvio (de 2 a 3 graus) no fio do urdume na parte traseira, para que o
caimento fique melhor (essa característica reporta-se especificamente ao
comportamento do tecido jeans aplicada ao tipo da modelagem);
Marcações de piques – é de extrema importância.
Se a calça tiver elastano na composição, é imprescindível cortar o forro dos bolsos a
45 graus, para assim evitar o encolhimento (essa condição permite também que os
bolsos não retenham a elasticidade da calça permitido que a mesma se ajuste ao
máximo no corpo da usuária).
Feito todos os moldes que irão compor um modelo, tona-se necessário aplicar
nestes, informações que nortearão a sua utilização no setor de corte, para assim agilizar o
processo e evitar equívocos na sua interpretação. O profissional de modelagem poderá
desenvolver carimbos, etiquetas adesivas ou até escrever diretamente nos moldes, que por
40
sua vez deverão constar as principais informações tais como referência do modelo, parte,
tamanho, quantas vezes deverá ser cortado aquela parte do molde, etc.
Entre as informações, o Modelo, refere-se a descrição do design que foi destinado
ao molde, exemplo, calça boyfriend12 em jeans, a Referência refere-se a números ou letras
que identificam o modelo produzido, devido ao grande numero de modelos confeccionados,
a empresa adota esse artifício para facilitar a localização, como também a organização das
modelagens, exemplo, CL11001, o CL (calça), 11 (ano 20011), 001 (ordem). Parte, envolve
a identificação da parte a que aquele molde corresponde, uma vez que os modelos são
compostos por varias partes como, frente, costas, bolso, pala, cós, entre outras. Tamanho,
o molde deve está com seu referido tamanho tipo P M G OU 36, 38, 40, para que não se
misture com os demais tamanhos daquela peça na produção. Quantidade de vezes que
precisa ser cortado para ser montada uma peça, se o molde vai ser cortado 2x ou 1x, por
exemplo, pois alguns moldes necessitam cortar de 2 vezes aquela parte, e as vezes o molde
assimétrico necessita ser espelhado, como o traseiro de uma calça, pra comportar as duas
partes dianteiras ou traseiras. Quantidade de parte composta pelo modelo, uma roupas é
composta por varias partes, e cada parte desta é de extrema importância para a confecção,
desta forma o modelista deverá sinalizar em cada molde a quantidade de peças existente no
modelo como, por exemplo uma calça, tem frente, costa, pala, bolso, forro entre outros,
dependendo do modelo totaliza mais de 10 partes. E por fim a identificação da (o)
modelista. de acordo com a necessidade da empresa pode-se inserir mais informações
(ROSA, 2009).
Na indústria de vestuário, uma coleção, para atender a diversos tipos físicos,
precisa colocar disponíveis os produtos em vários tamanhos. Para isso após a provação da
modelagem, com suas respectivas correções e inseridas sua margem de costura, vem o
processo de graduação. Este processo consiste no aumento e diminuição de tamanhos dos
moldes partindo de uma base que geralmente é o tamanho médio. É importante que essa
modelagem esteja finalizada, ou seja, com todas as partes prontas, margem de costura
colocada, e ter sido confeccionada a peça piloto e dada as devidas correções, pois um
molde com defeito graduado resultará defeito em todos os tamanhos (ROSA, 2009;
TREPTOW, 2007; HEINRICH, 2005).
Os moldes resultantes da graduação deverão esta proporcional ao desenho do
modelo, em relação a assegurar que costura, pences, recortes, detalhes, localizações de
bolso etc., estarão devidamente graduados a todos os tamanhos. A ampliação e redução se
dar através da diferença de um tamanho para outro de acordo com a tabela de medidas que
12
Calça Jeans, de modelagem reta, com caimento largo no quadril e nas coxas (STALDER, 2009).
41
a empresa adotou, onde partindo do tamanho base se vai fazer uma subtração com a
diferença para os tamanhos menores e uma adição para os maiores, geralmente essas
diferenças crescem ou diminuem proporcionalmente (ROSA, 2009).
De acordo Heinrich, 2005, para essas diferenças na graduação, dependerá também
do tipo de roupa ou material que se vai usar, pois em um modelo com modelagem ampla,
não necessitará de tantos tamanhos, como também um tecido plano precisará de mais
tolerância do que um com tecido com elastano.
A diferença encontrada na tabela de medidas é o valor total que será adicionado ou
subtraído do molde, essa medida pode ser dividida por dois, quatro ou ate mesmo oito,
dependendo do tipo de peças (recortes) a ser graduada. Assim é importante saber quantas
extremidades o molde tem e os pontos por onde essas medidas passam. Um exemplo pode
ser uma calça ou derivadas dela, que na graduação vai ter dois tipos de divisões, pois a
linha da cintura, quadril e gancho será dividida por oito, pois são duas partes dianteiras e
duas traseiras, onde cada uma tem costura no gancho e lateral totalizando oito
extremidades. Mas na linha do joelho e barra, como se trata de circunferência de pernas
individualmente terá duas partes, uma dianteira e uma traseira, onde totaliza quatro
extremidades. E para finalizar a graduação do molde da calça precisa colocar a diferença do
comprimento e altura do gancho, quadril, etc. (ROSA, 2009).
42
2.4 Processos produtivos do Vestuário
Tendo em vista identificar as recomendações gerais para a conquista da qualidade
no processo produtivo do vestuário, consultamos a literatura disponível acerca de como se
deve dar o processo produtivo após a etapa da modelagem.
O trabalho do designer de moda pode ser colocado em risco se a peça que foi
desenhada e modelada não for costurada de forma correta. Por vezes também pode ocorrer
modificações deste desenho no processo produtivo. As peças precisam ser montadas com
costuras para tornar o tecido bidimensional em uma roupa tridimensional para vestir um
corpo, portanto, torna-se necessário para conhecimento do designer de moda as várias
possibilidades de sua confecção: como e onde posicionar uma costura ou pence e todas as
possibilidades de sua transferência, bem como os diversos tipos de bolsos, palas e
possibilidades de costura: com ou sem pesponto, que tipo de fechamento, etc. “Você só
pode quebrar as regras se conhecê-las, e assim criar efeitos inovadores” (SORGER, 2009 p.
89).
A arte de costura é antiga, segundo Martorelli, numa matéria exibida na revista
Costura Perfeita (Nº 55, 2010), foram encontras agulhas feitas de ossos e marfim há mais
de 30 mil anos atrás, na antiga cidade de Çatal Hüyük, a partir de então se observou que ela
abrigou a primeira civilização que se preocupou não só com a funcionalidade da roupa,
como também valorizando a sua estética. Ao longo dos anos a confecção e
consequentemente seus modos de produção foram se desenvolvendo com a incorporação
da tecnologia no setor confeccionista, que favorece entre outras perspectivas a qualidade da
costura agregada a roupa. Por ser esse um setor muito importante na cadeia produtiva, pois
é a partir dele que se concretiza a produção em série, bem como favorece diretamente a
qualidade do produto, a partir deste se reconhece a importância da costureira que apesar
das dificuldades que vem enfrentando ultimamente, esse profissional sempre foi e sempre
será peça chave no setor de confecção.
Uma das fases mais importantes na produção é a verificação correta da
modelagem, no processo de pilotagem, onde uma costureira polivalente13 (pilotista) tem a
função de montar o protótipo e discutir com Design e/ou modelista questões que possam
facilitar a produção. É função da pilotista verificar e avisar se na montagem apresentou
algum problema que venha a dificulta e/ou comprometer a execução do modelo, e do
design/modelista acompanhar esse processo (TREPTOW, 2007).
13
Pessoa que faz vários tipos de atividades (costura em varias máquinas).
43
O protótipo precisa ser provado em modelo que correspondam à tabela de medidas
de forma apropriada antes de entrar em produção. Para tecido tipo jeans antes, precisará
ainda percorrer pelo processo de lavagem e depois acabamento (pregar botões, ribites,
tachinhas), só então será realizada a prova, pois nesses processos a peça sofre alterações
(como no dimensionamento). Na avaliação deverá ser considerado o caimento, conforto e
observar os movimentos da peça, assim sendo melhor que seja em modelo vivo
(TREPTOW, 2007; FISCHER, 2010).
Após a aprovação da peça piloto, o passo seguinte deverá ser o de graduação dos
moldes, a partir do tamanho que foi desenvolvido o protótipo para os demais tamanhos,
como foi relatado anteriormente no Capitulo: O corpo e a modelagem. Só depois destes
passos, e definidas as quantidades e tamanhos para a produção, é feito o planejamento de
encaixe dos moldes para o corte. “Esta etapa é fundamental para o cálculo preciso do custo
das peças, prevendo o consumo médio de matéria-prima para a produção da mesma”
(HEINRICH, 2005, p. 155). O consumo de tecido é percebido através de uma simulação de
encaixe dos moldes, as partes são posicionadas respeitando o sentido do fio do tecido e
riscadas de acordo com a quantidade equivalente ao modelo e a largura do tecido. Segundo
Oliveira, 2008; Treptow, 2007; Heinrich, 2005, alguns detalhes e observações são
importantes na elaboração do encaixe e risco de corte:
Ter cuidado com a armazenagem dos tecidos, pois quando está exposto
diretamente ao sol ou em lugares muito quentes apresenta variações de cores,
sujeiras e até vincos, por se ressecarem e perderem a hidrofilidade14, ocasionando
dificuldade de circulação de água, ou excesso se ficou temporariamente em lugares
úmidos apresentando manchas nestas áreas.
Empilhar os rolos de tecidos sempre na mesa direção quando estiver um sobre o
outro, pois o empilhamento irregular pode ocasionar distorções na modelagem,
como torção na perna de uma calça jeans, entre outros.
Os tecidos, principalmente os que contêm elastano na sua composição, precisam
ser desenrolados e deixá-lo descansar por no mínimo 24h, antes de ser enfestado,
sobre uma mesa sem haver esticamento, pressão, ou qualquer peso sob a
superfície estendida, acomodando o tecido de maneira sanfonada, para assim
voltar seu tamanho natural, evitando que a peça depois de cortada encolha.
14
Hidrofilidade é o nome atribuído à capacidade que a fibra de algodão possui de absorver e reter água.
44
Verificar todos os rolos de tecidos que serão utilizados no corte, pois apresentam
larguras ligeiramente diferentes, devendo ser considerado a menor e deixar o
desconto da ourela15 do tecido para fazer o encaixe.
Separar os rolos de tecido no enfesto16 que tenha nuance na tonalidade, pois
mesmo que seja todos os rolos de tecidos sendo do mesmo fabricante muitas
vezes há variações na tonalidade, sendo assim tem que separa com uma folha de
papel entre uma tonalidade e outra, para assim não confundir a costureira e montar
a peça com partes diferentes na tonalidade.
Depois de cortado, na separação das partes por modelo, que normalmente são
amarrados, é preciso ter cuidado, pois é possível provocar defeitos no tecido por
excesso de força no amarrado, deixando o tecido amarrotado e com marcações
localizadas de quebramento de fibra.
Sempre fazer o risco que vai ser cortado, numa folha de papel, e não diretamente
sobre o tecido, para não ocasionar manchas por pinceis ou até mesmo tinta de
carimbo usado para fazer o trabalho de etiquetagem das partes cortadas, assim
evitando o que seria para prevenir um problema, torna-se um, que muitas das
vezes mostra irreversível.
Após análise dos aspectos citados acima, e realizado o encaixe dos moldes,
enfesto e corte, para assim fazer os cálculos do consumo. No encaixe manual, pode-se
fazer através de um corte de uma folha de risco, em tamanho natural, ou em miniatura
confecionado em escala, e pesando-se a parte aproveitada e os resíduos separadamente,
chegando assim ao um percentual de aproveitamento do tecido. Porém o risco feito com
CAD/CAM mostra-se extremamente vantajoso, pois além de ser ágil (economizando tempo
e matéria prima) respeita com exatidão o sentido do fio dos moldes, quando o encaixe é
concluído o sistema informa o consumo total de tecido, de acordo com a largura do mesmo,
além do consumo médio por peça e o índice de aproveitamento para a produção, como
mostra a figura 10 (TREPTOW, 2007; HEINRICH, 2005).
15
Ourela - Borda do tecido paralela à trama caracterizada pelos pequenos vazados. 16
Um conjunto de folhas de tecido disposto em camadas uma sobre a outra, obedecendo uma metragem pré determinada para uma quantidade de peças que se deseja corta, é o que se chama de enfesto (SENAI.DR.PE, 2002).
45
Figura 10 - Encaixe e Risco Fonte: Própria, 2011
Para um bom andamento de uma peça dentro da confecção é importante que a
empresa adote a ficha técnica, documento descritivo de um produto, responsável pela
comunicação entre todos os setores da fábrica, desde a modelagem ate o estoque de
produto acabado, devendo mostra-se de fácil compreensão, além de conter informações
fundamentais para o bom desenvolvimento do processo, pois é a partir dela que se que faz
os cálculos de custos do produto, e insumos necessários para confecção conforme os
pedidos. O preenchimento da ficha pode ser pelo auxiliar de designer ou estagiário, porém
tem que ser supervisionado pelo designer ou pelo setor de engenharia do produto. O
preenchimento errado poderá acarretar diversos problemas como, a compra errada de
insumos para mais ou para menos, a utilização de aviamentos diferente do produto original,
podendo ocasionar também a incompatibilidade com a peça piloto e com o custo
determinado inicialmente (ROSA, 2009; TREPTOW, 2007).
46
TABELA 3 – Ficha Técnica Fonte: Rosa, 2009 ; Treptow, 2007
“Uma empresa funciona como uma corrente, onde cada setor é um elo. Todos os
elos devem trabalhar de forma interligada, ou seja, cada um dentro de suas atribuições deve
estar envolvidos com os demais para o alcance de um objetivo comum a todos” (SABRÁ, et
al., 2009 p.134). Na confecção não é diferente, pois o setor de costura depende diretamente
do corte e modelagem, beneficiamento do tecido (lavanderia),do acabamento da costura, e
assim sucessivamente. Muitos dos casos que causam “gargalos” na produção poderiam ser
evitados na modelagem, pois existem pequenas mudanças na modelagem que podem
melhorar a montagem das peças sem alterar a qualidade do produto final.
A criação de uma costura refere-se à união de dois pedaços de tecido e/ou o
detalhamento e efeitos que ela pode causar, sendo eles funcionais, estéticos ou
estéticos/funcionais, ajudam a estruturar a roupa, para que assim possam ser vestidas no
corpo. O maquinário usado para a fabricação de determinado tipo de roupa depende do
f i c h a t é c n i c a
coleção: nº do corte:
modelo: referência:
designer: modelista: data:
desenho técnico
dianteiro traseiro
matéria-prima
tecid fornecedor largura Cor preço u preç t comp
Aviamentos
desc fornecedor referen Cor qtdade preço u Preço t
Grade
cores folhas P M G GG Qtde t
Sequência Operacional
fase Operações máq / equip tempo:
47
tecido, modelo e acabamentos a que se desejam alcançar, logo, as larguras e margens de
costuras adicionadas a modelagem dependem do tipo de maquina e costura que se deseja.
(FISCHER, 2010; SORGER, 2009)
Para a montagem de uma calça jeans numa indústria são necessários diversos
tipos de máquinas, cada uma com sua função. A máquina “Reta”, que é mais usada para
unir duas partes de tecido (utilizada geralmente para a costura de tecido plano), “Overloque”
usada para fazer acabamento nas bordas do tecido para que não desfiem, “fechadeira de
braço” que proporciona a “costura inglesa rebatida”, trazendo a peça (ver figura 11 “a”)
maior qualidade no acabamento, é caracterizado por ter um ponto forte e durável, esse tipo
de costura é utilizado em tecidos como o brim, jeans e vários outros tecidos planos.
Os vários tipos de maquinas disponíveis no mercado podem de certa forma fazer
vários trabalhos, costurando tecidos planos ou malhas, grossos ou finos, como também
podem elaborar outras funções que especificamente aquela para a qual ela foi criada, como
a máquina galoneira, que é criada para elaborar acabamentos, no entanto pode muito bem
fazer riatas, justamente ela somada a um aparelho (ver figura 11 “b”) criado e adaptado a
isso. As dificuldades com a troca de tecido fino para tecido grosso, pode ser resolvida com a
troca da agulha de um numero menor para um numero maior, devemos também observar os
vários tipos de pontas de agulha existentes e adequadas a determinados tipos de tecidos.
Figura 11- Aparelhos para Jeans Fonte: Revista Costura Perfeita, Nº 53, Janeiro/Fevereiro, 2010
Nesse sentido, é de fundamental importância utilizar a ferramenta certa no material
adequado a ela para que se possa obter qualidade no trabalho, visto que uma agulha muito
48
grossa usada em um tecido fino poderá fazer perfurações grandes, e no caso do denim
quando expostas a ação química e/ou física, típicas da lavanderia, geram o rompimento de
fibras, podendo ocasionar marcações e distorções não desejadas.
Após a lavagem, as peças confeccionadas seguem para o setor de aprontamento
(arrematadeira)17, neste passando por analises de revisão, e são retiradas fiapos e pontas
de linha, e podem ganhar alguns detalhes especiais, como etiqueta externa, ribites,
taxinhas, strass, e entre outros (MARTORELLI, 2011).
A terceirização, uma constante entre o setor confeccionista, surge a partir da
grande demanda de vendas, e falta de mão de obra qualificada em alguns processos, como
também visando à inserção do grande peso da legislação trabalhista. A partir dai é
necessário a verificação de capacidade da empresa que será contratada para desempenhar
a atividade desejada pelo contratante, ao contrario a indústria poderá sofrer sérios
problemas de qualidade do produto, gerando assim uma insatisfação do consumidor
prejudicando a visibilidade da marca. Definido por Sabrá, (2009 p. 137):
Com isso, concluí-se que uma terceirização de modelagem sem o devido controle de qualidade (isto é, sem testa a modelagem desenvolvida ao confeccionar a peça-piloto, verificar o casamento de piques, a margem de costura, o tipo de ponto, a densidade de pontos/cm, o tipo de maquina, o alongamento do tecido a ser usado e o caimento da peça) leva a empresa à perda de produtividade, aumentando os custos do produto.
17
Responsável pela finalização das peças confeccionadas (MARTORELLI, 2011).
49
3- PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Este capítulo traz a construção metodológica de pesquisa que pautou este estudo.
Inicialmente apresentamos o método de pesquisa para então discorrer sobre como se deu a
coleta de dados e a técnica de análise utilizada.
3.1 Método de Pesquisa
Para o desenvolvimento da pesquisa, foi empregado o método indutivo que,
segundo (MACIEIRA, 2006, p. 9) “é aquele que possibilita o desenvolvimento de anunciados
gerais sobre as observações acumuladas de casos específicos. O Raciocínio caminha do
particular para o geral, permitindo tirar conclusões gerais”. Como a pesquisa partiu de um
problema especifico de padronização de tamanhos de calças jeans nas indústrias de
Toritama, o intuito da investigação foi, a partir do levantamento e análise de dados obtidos
em duas empresas locais, trazer indicações de caminhos possíveis que auxiliem o processo
de desenvolvimento de produtos em outras empresas da região, na mesma condição.
O método de procedimentos para esta pesquisa consistiu nos métodos
monográfico, tipológico e estruturalista. Monográfico, pois ele partiu de um estudo profundo
do caso (a padronização dos tamanhos das calças jeans), e objetivou generalizações de dos
resultados encontrados. Para tanto, “a investigação deve examinar o tema escolhido,
observando todos os fatores que o influenciaram e analisando-o em todos os seus
aspectos.” (MARCONI, LAKATOS, 2010, p. 90). Tipológico, porque consistiu em investigar o
problema das indústrias segundo suas diferenças ou semelhanças e, de acordo com as
observações em duas indústrias e o arcabouço teórico de recomendações, poder traçar um
tipo ideal de procedimento que atenda o contexto, diminua a margem de diferenças e
melhore a qualidade.
O setor de modelagem que foi o recorte estudado nesta pesquisa, e este não
trabalham isolados em uma indústria de confecção, ele dependente do trabalho de outros
setores, como o de corte, acabamento, lavanderia, produção (costura), entre outros. A
possibilidade de avaliá-lo por comparação e diferenças se deu pelo fato deste representar
um setor que possui funções claramente delimitadas e equivalentes em todas as indústrias
deste segmento. Assim fez-se necessário o uso do método Estruturalista, uma vez que,“por
baixo de todos os fenômenos existe uma estrutura invariante e é por este motivo que ela é
objetiva; assim, toda analise deve levar a um modelo, cuja característica é a possibilidade
50
de explicar a totalidade do fenômeno, assim como a sua variabilidade aparente” (MARCONI,
LAKATOS, 2010).
A pesquisa exploratória constituiu o primeiro passo, cuja finalidade foi criar maior
familiaridade do pesquisador com o problema estudado. Iniciamos por levantar o processo
recomendado teoricamente para o desenvolvimento de modelagem industrial de calça jeans,
utilizando o estudo bibliográfico, web sites e revistas. No segundo momento utilizamos o
estudo descritivo qualitativo para o estudo do caso em profundidade, buscando responder:
como se dá a variação dos tamanhos nos modelos de calça de jeans nas indústrias de
Toritama? Para tanto, realizamos observações e entrevistas. As entrevistas encontram-se
em anexo neste trabalho.
3.2 Coleta de dados
A coleta de dados primários para a pesquisa foi executada em duas grandes
indústrias de confecções, de calças jeans, na cidade de Toritama –PE. Em paralelo, buscou-
se entrevistar um empresário local que participou da história do desenvolvimento deste pólo,
tendo em vista a importância do contexto situacional para o entendimento do que levou
essas empresas a trabalharem desta forma e apresentarem o resultado identificado em
nossa problemática. A pesquisa deteve-se na primeira etapa na observação do contexto por
meio das técnicas de observação assistemática. Essa etapa “consiste em recolher e
registrar os fatos da realidade sem que o pesquisador utilize meios técnicos especiais ou
precise fazer perguntas diretas” (MARCONI, LAKATOS, 2010, p.175).
Em seguida, o método de coleta de dados foi o levantamento: foram
aplicadas entrevistas individuais em pessoas-chave18 do setor de modelagem em cada uma
das empresas investigadas, assim, o formato decidido para a entrevista foi o
despadronizado focalizado, com um roteiro de tópicos relativos ao desenvolvimento da
modelagem das calças jeans, com liberdade de o entrevistador fazer perguntas que quiser,
assim podendo explorar mais amplamente a questão, com gravações dessas conversas e
fotografias (YIN, 2005; MARCONI, LAKATOS, 2010) A amostra não-probabilística foi
selecionada por julgamento, tendo em vista que a escolha foi determinada pela possibilidade
de contribuir com o estudo. Em paralelo buscou-se que um empresário narrasse a história
do pólo confeccionista de acordo com sua vivencia. A narrativa é um conceito de discurso
que se refere à ações que ocorreram em uma temporalidade passada. Sua análise é feita
18
Pessoas que trabalhar no setor de modelagem, diretamente desenvolvendo a base e adaptando os modelos.
51
buscando compreender o texto como uma totalidade, por meio de suas particularidades
(ALVES; BLIKSTEIN, 2006).
3.3 Procedimentos analíticos
O desenvolvimento da análise de dados foi executado pela análise dos discursos
colhidos no campo. Os dados da fase de observação serviram de guia para orientar a
pesquisadora no entendimento dos resultados das entrevistas, complementando-os. As
entrevistas foram transcritas e levantados os pontos em comum. Para tanto elaboramos
uma tabela (Tab. 4) contendo as perguntas e as respostas resumidas (as entrevistas
encontram-se anexadas na íntegra no apêndice do trabalho). Para preservar suas
identidades serão usados pseudônimos das pessoas/empresas entrevistadas, para a
primeira Empresa A, que foi entrevistada a Pessoa A, a outra Empresa B, que foi entrevista
a Pessoa B. Durante as entrevistas foi mencionado o nome de outra pessoa que trabalha
junto com uma equipe, que denominamos de Pessoa C, sendo esta responsável pela
pesquisa (criação).
Assim, após a elaboração da tabela de respostas das entrevistas buscamos por
meio da comparação identificar os pontos convergentes entre as mesmas, o que nos gerou
a criação de sentidos e, com ajuda das observações efetuadas, criamos categorias que
puderam posteriormente ser comparadas novamente com os dados indicativos dos
caminhos que estão no campo teórico (Tab. 5). A triangulação das duas fases comparativas
gerou um quadro referencial que indicou os pontos de maior fragilidade (responsáveis pela
falta de qualidade identificada) e possibilitou que pudéssemos indicar caminhos a serem
adotados por essas indústrias em consenso com suas experiências de vida e dificuldades
específicas (Tab. 6), a tabela 5 e 6, serão exploradas na descrição dos resultados.
52
Tabela 4 – Questionário simplificado
Fonte: própria, 2011 Perguntas Empresa A Empresa B
01 Na empresa existe o setor de Criação, com um profissional atuando nesse desenvolvimento?
Não Não
02 A (O) modelista tem formação profissional, como foi que aprendeu a fazer modelagem?
Pouca formação Nenhuma formação
03 A empresa trabalha com tabelas de medidas? Se utilizar, como chegou a essa tabela, tem referencia a quem?
Não Medidas chaves para conferencia
04 A modelagem é feita só manualmente, usam um sistema CAD- CAM, ou mescla os dois?
Manualmente Computadorizada
05
Quais os procedimentos que a modelista utiliza para desenvolver uma modelagem, a parti de um croqui (desenho técnico), até passar para o setor de pilotagem?
Parte da base, mas ajusta em manequim de exposição, pilotagem
Parte da base, pilotagem
06
A empresa possuir um catalogo de tecidos, com informações de comportamento de acordo com o encolhimento, no lavado, passadoria, e tempo mínimo que o tecido precisa descansar?
Não, faz com base na experiência e terceiriza o corte (não tem domínio sobre essa etapa)
Faz testes com as peças prontas,(mas não registra, para um próximo) porém não faz procedimento de descanso do tecido no enfesto.
07
A modelista ao desenvolver uma modelagem, partir de uma base pronta, ou constrói diagramas. Se já tem bases prontas, como chegou a elas? Quais foram as referencias das medidas?
Bases só para um tipo de composição têxtil, cria novas bases para adequar ao tecido.
Tem as bases, mas por vezes seguem a modelagem de outra peça de referencia.
08 Que informações a modelista coloca nos moldes, para que as peças na hora da montagem fiquem padronizadas?
Faz indicações mínimas Faz indicações mínimas
09 Qual a tolerância para mais ou para menos nas diferenças das medidas de uma peça para outra?
Não tem tolerância, na montagem a costureira avalia e troca a numeração, se for necessário.
Deixa 1cm – mas se a peça não conferir passando de 2cm, volta para produção e é renumerada.
10 Qual o percentual de peças com defeito, ou fora da margem de tolerância? O que é feito com essas peças?
4 a 5% - procura-se solução na hora da montagem da peça.
A qualidade é feita nas células, não finaliza com defeito, mas não tem informação desse percentual no processo.
53
4- DESCRIÇÃO DOS RESULTADOS
Com base nas entrevistas e observações efetuadas, chegamos a cinco categorias
de análise acerca da situação encontrada nas empresas em relação ao problema aqui
levantado. Os resultados dessas duas fases: entrevista e observação direta encontram-se
na Tabela 6.
Tabela 5 – categorias e observações Fonte: própria, 2011
Categorias a partir das perguntas Observações
01 Especialização As empresas em geral não possuem setores específicos para as funções e sua mão de obra não possui especialização para efetuar o trabalho.
02 Normas Técnicas
Não se utiliza tabelas de referencia, pois, mesmo quando se possui estas bases copiam-se peças de referência, misturando-se os padrões. Ou controle é feito no setor de produção pelas próprias costureiras. Ou por outra, quando se afirma ter esse controle em outro setor, se diz que a tabela baseou-se em pesquisas com clientes. Não seguem uma orientação das normas técnicas.
03 Controle Ambas terceirizam partes do processo e indicam não possuem dados de controle para estas etapas.
04 Recursos tecnológicos
Em ambas falta algum recurso tecnológico – ou não tem Cad, manequins de prova apropriados, ou não consideram informações técnicas sobre os tecidos antes do piloto, ou ainda falham em etapas do procedimento – ou porque terceirizam ou porque não controlam.
05 Planejamento Falta de planejamento - soluções para problemas são tomadas no decorrer do processo.
Para compreendermos o como essas empresas atuam e produzem peças com
numerações variadas, é importante aqui mesclar as falas colhidas nas entrevistas com
profissionais do setor e a narrativa histórica efetuada pelo empresário local. Desse modo,
procederemos analisando cada uma das cinco categorias buscando suas justificativas
históricas, para então, posteriormente compararmos com as indicações teóricas de
procedimentos e podermos sugerir caminhos alternativos para esta prática.
4.1 Especialização
Segundo Tavares (2011), o pólo de confecções de jeans de Toritama começou de
uma forma bastante rudimentar: sem planejamento, as atividades eram executadas com
maquinário inadequado, sem mão de obra especializada, sem um planejamento de
produção Não se podia sequer traçar o perfil produtivo da empresa, pois a mesma dependia
54
do que lhes chegavam as mãos em termos de matéria-prima. O tamanho do retalho indicava
o público-alvo e o tipo de peça a ser produzido. Os produtos eram dispostos sobre lonas no
chão, os equipamentos eram inadequados e não se tinham processos de beneficiamento
têxtil.
Contudo, no decorrer do processo de amadurecimento muitas coisas foram
conquistadas, mas notamos que algumas outras ainda desprendem alguns cuidados. Nesse
sentido, observa-se que ambas as empresas demonstraram que seus profissionais tinham
pouca ou nenhuma base técnica para fazer o trabalho. Aprenderam com a prática, com a
necessidade, tal como aconteceu no início deste desenvolvimento, como pode ser
acompanhado em seus depoimentos:
Pessoa A, fez o curso técnico em produção de moda pelo SENAI, porém dentro do curso só teve uma disciplina de modelagem básica, a partir daí ficou treinando em casa com revista (usou muito a revista manequim) em seguida fez estagio numa empresa de Jeans, onde só fazia adaptações simples, e logo após passou a trabalhar na Empresa A, onde está ate hoje (mais ou menos 2 anos na empresa).
Pessoa B, não tem nenhuma formação na área, era cortador de uma empresa, com sua experiência de observação na confecção, ganhou muita noção de modelagem, diante disso recebeu um convite de uma amiga de sua irmã para ajudar a realizar as modelagens da coleção para o festival do Jeans, com essas experiências passou a desenvolver modelagens como Freelancer em casa, para diversas empresas, até recebe o convite da Empresa B para ajudar a modelista, que posteriormente iria gozar féria.
4.2 Normas Técnicas
Tavares (2011) ressalta que no início do processo muitas empresas copiavam peças, inclusive suas modelagens:
Desde o início, além de “copiarem” o modelo de outras marcas, não faziam a modelagem, pegava as peças na qual estavam copiando o modelo, e desmanchavam as costuras de uma forma que pudesse copiar cada uma das partes soltas das peças, para então cotarem nos retalhos (TAVARES, 2011).
Nesse sentido ele inclusive aponta para o problema de vários defeitos surgirem a
partir das cópias feitas em peças já usadas que adquiriam formas do uso, ou o próprio
beneficiamento já sofrido pela peça pronta era fonte de erro para as novas modelagens, e
mesmo assim, serviam de molde.
A idéia da cópia ainda parece ser uma grande causadora da falta de padronização:
55
Desde que ele chegou à empresa já existia as bases prontas, precisando só fazer algumas adaptações de acordo com o modelo. Mas nas pesquisas da Pessoa C (criação) trazendo peças para analise tanto de materiais como de modelagem, quando analisada e visto que a modelagem vestiu bem no manequim, se faz uma nova base (EMPRESA B).
Tavares (2011) apontou diretamente esta causa como responsável pela indefinição
dos tamanhos produzidos: a cópia foi responsável pela falta de padronização dos produtos
que saíam desta indústria.
A qualidade de produção depende desta etapa. Como já discutimos, Boueri
(2008,p.347) afirma que “para a produção do vestuário em larga escala, o conhecimento e a
padronização de uma numeração baseada nas mediadas e proporções do corpo são
fundamentais no sucesso comercial da indústria têxtil e da moda”. Esta colocação parece
ser de fundamental importância para apontar duas possíveis falhas no processo produtivo
de Toritama, responsáveis pela variação de numeração nas peças: falta profissionalização e
padronização. No entanto, embora interdependentes, estes eventos certamente indicam
outras faltas: pesquisas, criação, design, mesmo.
4.3 Controle
Na entrevista foi relatado que ambas as empresas trabalham com terceirização,
uma no processo de encaixe risco e corte e outra no processo de montagem das peças e
ambas no beneficiamento. Porém, não tem controle de inspeção de qualidade nesses
processos. Desta forma como já vimos, segundo Sabrá (2009), uma terceirização de
processos sem o devido controle de qualidade leva a empresa à perda de produtividade,
aumentando os custos do produto. Assim é necessária a verificação de capacidade da
empresa que será contratada para desempenhar a atividade desejada pelo contratante, ao
contrário a indústria poderá sofrer sérios problemas de qualidade do produto, gerando assim
uma insatisfação do consumidor prejudicando a visibilidade da marca.
4.4 Recursos tecnológicos
Nos processos das empresas entrevistadas, foi percebido que faltar alguns
recursos tecnológicos, pois não utilizam manequim de prova apropriado, utilizam de
processos manuais onde podiam utilizar de sistemas CAD, e não consideram técnicas sobre
os tecidos e ainda falham nos procedimentos de corte, por não ter controle deste processo.
Os procedimentos de beneficiamento de tecido, já discutido anteriormente,
influenciam na fabricação da modelagem. Muitos aferem a fibra ou o entrelaçamento dos
56
fios causando diminuição ou ate mesmo aumento no tecido, precisando assim ser vista essa
questão no processo de desenvolvimento da modelagem. Quem confecciona jeans tem que
levar em conta que o encolhimento varia de acordo com a gramatura, as possíveis variações
dos processos de beneficiamento e o teor de elasticidade do tecido. “Por isso, os tecidos
sempre têm de ser testados antes da modelagem” (DUARTE, 2010 p.50). Como já
salientamos, um profissional desavisado pode comprometer toda a produção, em relação à
padronização dos tamanhos da peças (OLIVEIRA, 2008; CHATAIGNIER, 2006).
Observamos que as empresas também perdem o controle com os cuidados que a
matéria-prima necessita, como: a armazenagem dos tecidos: falta de local adequado para
armazenar causa danos ao tecido. Distorções na modelagem também ocorrem por falta de
deixar o tecido com elastano descansar antes do enfesto, condições que também
levantamos como essenciais para os autores Chataignier, (2006) e Oliveira, (2008).
4.5 Planejamento
Como podemos perceber nas observações e entrevistas, em ambas as empresas
parece não existir um planejamento do modelo em si e, é apenas durante o processo, que
se perceber os possíveis problemas, muitas vezes pelas costureiras depois de um grande
número de peças cortadas, ficando difícil para arranjar uma solução que dê certo e não
modifique o modelo inicialmente planejado:
Defeitos com origem de modelagem dificilmente é passado para frente, é percebido dentro do setor de produção (montagem da peça) que arruma soluções praticas para que a peça não siga em frente com o defeito, se for preciso, corrige e recorte novamente a parte que está com problema. Um exemplo foi numa ordem de corte que em todas as peças foram colocadas o cós anatômico do lado errado, perdendo a funcionalidade deixando a peça “quadrada” na cintura, neste caso foi preciso modificar o modelo original, para colocar um elástico no cós e solucionar o problema de vestibilidade da peça (Entrevistado A).
Na conferencia de peças prontas se a calça era para ser 40cm em uma certa parte da peça e ficou com 41cm continua e passa a frente a peça, mas se a peça ficou com 39cm a peça volta para a produção e vai ser trocado a etiqueta para uma numeração menor (Entrevistado B).
Segundo TREPTOW, (2009) uma das fases mais importantes na produção é a
verificação correta da modelagem, no processo de pilotagem, onde uma costureira
polivalente (pilotista) tem a função de montar o protótipo e discutir com Design e/ou
57
modelista questões que possam facilitar a produção. É função da pilotista verificar e avisar
se a montagem apresentou algum problema que venha a dificultar e/ou comprometer a
execução do modelo, e do design/modelista acompanhar esse processo. Muitos dos casos
que causam “gargalos” na produção poderiam ser evitados na modelagem, pois existem
pequenas mudanças que podem melhorar a montagem das peças sem alterar a qualidade
do produto final.
Como já antecipamos, a triangulação das duas fases comparativas gerou a Tabela
6, que nos possibilitou enxergar os pontos de maior fragilidade (responsáveis pela falta de
qualidade identificada) e possibilitou que pudéssemos indicar caminhos a serem adotados
por essas indústrias em consenso com suas experiências de vida e dificuldades específicas.
PILOTAGEM Realiza o corte e a montagem do
protótipo ou peça- piloto de acordo com a modelagem desenvolvida e as
especificações para desenvolvimento. A pilotagem pode
ser considerada como a concretização da idéia do criador.
58
Tabela 6– Caminhos possíveis Fonte: Própria, 2011
Categorias/ particularidades Indicações teóricas Indicações para as indústrias de Toritama
01
Especialização: As empresas em geral não possuem setores específicos para as funções e sua mão de obra não possui especialização para efetuar o trabalho.
A profissionalização é fundamental para o crescimento de qualquer setor, pois o mercado exige cada vez mais inovação, criatividade e qualificação, para que se tenha um produto com inovação, e qualidade diferencial no mercado atual.
Acreditamos que a Universidade possa suprir essa deficiência ao longo dos anos – como também a gama de cursos técnicos oferecidos na região - as empresas que se profissionalizarem farão diferença em qualidade, produtividade, satisfação do cliente e conseqüentemente, ascenderão no mercado.
02
Normas Técnicas: Não se utiliza tabelas de referencia, pois mesmo quando se possui estas bases copiam-se peças de referencia, misturando-se os padrões. Ou controle é feito no setor de produção pelas próprias costureiras, ou por outra quando se afirma ter esse controle em outro setor, se afirma que tabela baseou-se em pesquisas com clientes. Não seguem uma orientação das normas técnicas.
Boueri (2008,p.347) afirma que “para a produção do vestuário em larga escala, o conhecimento e a padronização de uma numeração baseada nas mediadas e proporções do corpo são fundamentais no sucesso comercial da indústria têxtil e da moda”. Daí a importância de utilizar uma tabela de medidas, com referencias a ABNT, e independente do modelo, esta tem que ser respeitada.
Enquanto ainda não temos uma tabela padrão definida no Brasil, é possível seguir as recomendações das NBRs. Nesse sentido, é preciso selecionar e corrigir (adequar) uma das bases da empresa ao padrão recomendado e usá-la como referência para todos os modelos desenvolvidos. Isso é possível, pois mesmo com a dificuldade de pessoal qualificado, as empresas não só copiam, também desenvolvem seus moldes.
03
Controle: Ambas terceirizam partes do processo e indicam não possuem dados de controle para estas etapas.
A terceirização é importante no setor confeccionista. Assim é necessária a verificação de capacidade da empresa que será contratada para desempenhar a atividade desejada pelo contratante
Consideramos a importância da terceirização. Tendo em vista que os maiores problemas encontrados não se referem a montagem das peças, seria necessário que as empresas se conscientizassem da importância da peça piloto como teste de tecidos, lavagens, etc.
04
Recursos tecnológicos: Em ambas falta algum recurso tecnológico – ou não tem Cad, manequins de prova apropriados, ou não consideram informações técnicas sobre os tecidos antes do piloto, ou ainda falham em etapas do procedimento – ou porque terceirizam ou porque não controlam.
Toda literatura consultada recomenda os cuidados com essas etapas. Tremptow (2007) fala da importância do planejamento e de reuniões sistemáticas entre setores da produção.
O fabricante têxtil sugere as lavagens e prevê as conseqüências para a peça pronta. O mesmo se dá com os fornecedores das demais matérias primas. Recomendamos que essas e outras informações importantes ao processo como um todo sejam disponibilizadas para os setores envolvidos e que o processo se dê com mais integração.
05 Planejamento: Falta de planejamento faz decisões serem tomadas no decorrer do processo
O planejamento é fundamental para qualquer negócio. Todas as fontes consultadas recomendam que seja efetuado em suas áreas específicas.
Se não existe a cultura do planejamento de todas as etapas, enxergamos que um bom começo seria considerar a execução completa dos testes recomendados para peça piloto. Com essa pratica muito desperdício seria eliminado.
59
5- CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com intuito de compreender um problema identificado enquanto consumidores dos
produtos de jeans da cidade de Toritama, a presente pesquisa objetivou identificar como se
dá o processo de modelagem que ocasiona a variação dos tamanhos, no desenvolvimento
de modelos de calça jeans desse pólo industrial. Assim, a pesquisa localizou os possíveis
problemas no processo e buscou indicar soluções que respeitassem as especificidades da
região, tais como as dificuldades enfrentadas e a cultura do fazer intuitivo, mas que
trouxessem uma melhor qualidade de produtos.
Iniciamos levantando as recomendações teóricas existentes nas fontes secundárias
de pesquisa acera de como se deve dar o processo de desenvolvimento de modelagem
industrial, especificamente no sentido da aplicação de questões antropométricas na
padronagem dimensional do vestuário. Este processo foi descrito e nos possibilitou
comparar com a condição de trabalho das empresas locais, nos auxiliando a fornecer
caminhos alternativos para conquista de qualidade em seus produtos. Em seguida
buscamos compreender as particularidades do processo de modelagem da calça jeans e os
beneficiamentos têxteis que alteram os padrões e precisam ser previstos ainda nesta fase
inicial.
Contudo, para investigação do problema proposto foi fundamental buscar conhecer
as particularidades históricas deste contexto produtivo, as causas e as dificuldades que
fizeram com que este problema se concretizasse e fizesse parte das práticas de muitos
empresários, mesmo estas práticas não sendo condizentes com as determinações teóricas
e, mesmo considerando que essa questão é paradoxal e a vontade empreendedora é que
move esses empresários. O pólo é um fruto de sua história e de problemas particulares que
ainda precisam ser sanados. Entendemos que o pólo iniciou por uma contingencia
econômica e graças ao potencial empreendedor nato na região, mas salientamos que seu
crescimento lhe impõe uma profissionalização em seus fazeres.
Ao analisar como se dá o processo de modelagem em duas empresas locais,
constatamos que existe ainda muito imbricada a prática da cópia e da produção sem os
testes necessários, ou seja, alguns processos encontram-se ainda muito arraigados no fazer
intuitivo, uma cultura que se estabeleceu em uma construção sócio-histórica bastante
peculiar. Considerando suas particularidades, propomos algumas alternativas para o
desenvolvimento de modelagem, tais como procurar profissionais capacitados para atuar em
setores específicos, tendo em vista que hoje a região conta com vários cursos em
andamento; estabelecer um padrão de tamanhos para sua produção que se embase nas
60
recomendações nacionais existentes e se guiar por uma base única, testada; considerar as
recomendações e informações técnicas dos fabricantes de matérias primas e compartilhar
essas informações com os setores diretamente implicados, fazer testes de todos os
acabamentos, ou seja, planejar as peças de vestuário por inteiro antes do corte em larga
escala.
Sabemos que nosso estudo encontra limitações, tendo em vista que se realizou em
apenas duas empresas deste pólo. Contudo, sabemos que esse é um problema enfrentado
pela maioria dos fabricantes locais. Apesar de não investigarmos os demais setores nas
indústrias pesquisadas, tais como compra, estoque, criação, etc., acreditamos que ser
guiados por um planejamento seria fundamental para seu crescimento. Essa seria uma
possibilidade de exploração de outros estudos que comportem uma visão macro dos
possíveis problemas ainda enfrentados por este pólo.
61
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APÊNDICE
Entrevista / Ou pontos para serem observados, na pesquisa de campo. Realizada no dia 22 de Junho 2011 Empresa: Empresa A Pessoa entrevistada: Pessoa A
1- Na empresa existe o setor de Criação, com um profissional atuando nesse
desenvolvimento?
Não. A modelista, Alessandra junto com a proprietária que fazem a criações( através de pesquisas na internet, em revistas e books de tendências ), pesquisam peças que tenham o perfil do publico e adaptam, nuca fazer completamente iguais, para manterem sua identidade, não trabalham com coleções, tem em media 10 modelos novos por semana.
2- A (O) modelista(o) tem formação profissional, como foi que aprendeu a fazer
modelagem?
Pessoa A fez o curso técnico em produção de moda pelo SENAI, porém dentro do curso só teve uma disciplina de modelagem básica, a partir daí ficou treinando em casa com revista (usou muito a revista manequim) em seguida fez estagio numa empresa de Jean, onde só fazia adaptações simples, e logo após passou a trabalhar na azul jeans onde está ate hoje( mais ou menos 2 anos na empresa). A base que aprendeu no curso deu ponto de partida para começar a desenvolver as modelagens na empresa, a partir daí aprofundar seus conhecimentos e habilidades com a prática nas empresas.
3- A empresa trabalha com tabelas de medidas? Se utilizar, como chegou a
essa tabela, tem referencia a quem?
Não trabalha com a tabela de medidas.
4- A modelagem é feita só manualmente, usam um sistema CAD- CAM, ou
mescla os dois?
A modelagem ate a graduações de tamanhos é desenvolvida só manualmente dentro do setor de modelagem na empresa. Porém o processo de encaixe, risco e corte é feito com terceirizações, usando sistema CAD.
5- Quais os procedimentos que a modelista utiliza para desenvolver uma
modelagem, a parti de um croqui (desenho técnico), até passar para o setor
de pilotagem?
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O primeiro passo ela faz a interpretação do modelo, como a empresa já têm algumas bases prontas (em papelão) copia a base faz as adaptações em cima da base, desenhando os detalhes, recortando e já colocando a margem de costura, em alguns casos mistura dentro da modelagem plana técnicas de moulage no manequim (esse manequim não apropriado para moulagem , usa o manequim de esposição), quando quer copiar exatamente alguns detalhes de outra peça, usa uma copiadora para tirar “Xerox” desses detalhes, recorta e colocar a margem de costura. Coloca as marcações e piques nos moldes, e informações do modelo dentro do molde (nome do molde, modelo, sentido do fio, tamanho, quantidade de vezes que precisa ser cortada para montar uma peça), em seguida a modelista corta 1 peça no tecido para desenvolver a pilotagem, que é feita dentro do setor de produção. A peça sendo aprovada vai ser encaminhada para o setor de corte que é terceirizado, desta forma a empresa tem 3 facções de corte, 2 usa o sistema computadorizado e a outra faz todo processo manual, portanto é importante que a modelagem chegue nas facções com todas as informações necessárias inscritas (como piques, quantidade de vezes a ser cortada, graduação, sentido do fio e entre outras informações).
6- A empresa possuir um catálogo de tecidos, com informações de
comportamento de acordo com o encolhimento, no lavado, passadoria, e
tempo mínimo que o tecido precisa descansar?
Não, como a empresa trabalha com uma pequena diversidade em tecidos, já se sabe mentalmente esse comportamento e já esta repassado para modelo, no caso de lavados, só vai modificar a peça quando tem um processo diferenciado , portando a empresa prefere por lavados simples, como só amaciado. Em relação ao descansar o tecido antes do corte, a empresa não tem uma inspeção pois o corte é terceirizado.
7- A modelista ao desenvolver uma modelagem, parti de uma base pronta, ou
constrói diagramas. Se já tem bases prontas, como chegou a elas? Quais
foram as referencias das medidas?
A empresa tem bases prontas (frente, costa e cós), em papelão com as marcações, de calça, cigarrete, short, pedal, para daí só fazer as adaptações. Só que essa base é para o tecido 98% algodão e 2% elastano, que a empresa faz maior consumo, porém quando muda o tecido precisa fazer uma nova base.
8- Que informações a modelista coloca nos moldes, para que as peças na hora
da montagem fiquem padronizadas?
Piques, marcações de pences e graduação,.
9- Qual a tolerância para mais ou para menos nas diferenças das medidas de
uma peça para outra?
Não trabalha com tolerância, porém quando a peça fica bem maior e bem menor, é percebido ainda dentro do setor de produção, no processo de
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montagem com as costureiras daí tem uma avaliação para trocar a numeração de tamanhos.
10-Qual o percentual de peças com defeito, ou fora da margem de tolerância? O
que é feito com essas peças?
De 4% a 5% no geral, porém defeitos com origem de modelagem dificilmente é passado para frente, é percebido dentro do setor de produção (montagem da peça) de arruma soluções praticas para que a peça não siga em frente com o defeito, se for preciso, corrige e recorte novamente a parte de esta com problema. Um exemplo foi numa ordem de corte que todas as peças foram colocadas o cós anatômico do lado errado, perdendo a funcionalidade deixando a peça “quadrada” na cintura, neste caso foi preciso modificar o modelo original, para colocar um elástico no cós e solucionar o problema de vestibilidade da peça.
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Entrevista / Ou pontos para serem observados, na pesquisa de campo. Realizada no dia 23 de agosto 2011 Empresa: Empresa B Pessoa entrevistada: Pessoa B
1- Na empresa existe o setor de Criação, com um profissional atuando nesse
desenvolvimento?
O setor de criação e modelagem é o mesmo, sendo que trabalham 8 pessoas: -Pessoa C, responsável pelas pesquisas, através de viagem em eventos e feiras, e repassa todas as informações para o grupo. -Pessoa D, responsável na parte de aprontamento, (linhas, botões, ribtes, etc.) -Pessoa E, responsável pelos bordados -Pessoa F, lavanderia -Pessoa G, desenho técnico (usa o software corel draw) -Pessoa H, ficha técnica e analise de custos. -Pessoa B, modelagem, estudo de encaixe e risco.
2- A (O) modelista(o) tem formação profissional, como foi que aprendeu a fazer
modelagem?
Não tem nenhuma formação na área, Pessoa B era cortador de uma empresa, com sua experiência de observação na confecção, ganhou muita noção de modelagem, diante disso recebeu um convite de uma amiga de sua irmã para ajudar a realizar as modelagens da coleção para o festival do Jeans, com essas experiências passou a desenvolver modelagens como Freelancer em casa, para diversas empresas, até recebe o convite da Empresa B para ajudar a modelista, que posteriormente iria gozar férias. Como suas experiências eram até então todas com modelagem manual, teve que aprender a computadorizada, para acompanhar o fluxo da empresa. Hoje ele é o responsável por toda parte de modelagem, estudo de encaixe e risco da empresa.
3- A empresa trabalha com tabelas de medidas? Se utilizar, como chegou a
essa tabela, tem referencia a quem?
Tem tabela sim, com as medidas chaves para conferência das peças. Chegou a essas medidas através de pesquisa do consumidor, fazendo o feedback com os clientes que compram na loja, portando essa tabela tem mudanças constantemente.
4- A modelagem é feita só manualmente, usam um sistema CAD- CAM, ou
mescla os dois?
95% computadorizada e 5% manual, pois ele faz a maior parte direto no computador, só quando a base precisa de algum ajuste especifico no modelo
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com “pences”, por não sentir segurança em algumas ferramentas do software. Nesses casos faz manual e digitaliza para o computador.
5- Quais os procedimentos que a modelista utiliza para desenvolver uma
modelagem, a parti de um croqui (desenho técnico), até passar para o setor
de pilotagem?
Parti de uma base pronta (já tem varias base prontas, de acordo com a largura do cós ou modelos), faz a adaptação de modelo (recortes, cria bolso, etc),coloca margem de costura, plottar a modelagem e repassa para a pilotagem, que é dentro do setor de produção. Na empresa não tem lavanderia as peças são mandadas para lavanderia fora. Manda também peças para facções no processo de montagem da peça.
6- A empresa possuir um catálogo de tecidos, com informações de
comportamento de acordo com o encolhimento, no lavado, passadoria, e
tempo mínimo que o tecido precisa descansar?
Não tem o um catalogo, mas fazem teste com peças prontas para saber o comportamento do tecido, em relação a processos de lavanderia, já no enfesto nunca deixam o tecido descansar, mas sempre deixam o enfesto maior que o risco uns 5cm, e deixa o tecido enfestado descansar em media 8 horas, antes de cortar.
7- A modelista ao desenvolver uma modelagem, parti de uma base pronta, ou
constrói diagramas. Se já tem bases prontas, como chegou a elas? Quais
foram as referencias das medidas?
Desde que ele chegou à empresa já existia as bases prontas, precisando só fazer algumas adaptações de acordo com o modelo. Mas nas pesquisas da Pessoa C (da criação) elas trás peças para analise tanto de materiais como de modelagem, quando analisada e vista que a modelagem vestiu bem no manequim se faz uma nova base.
8- Que informações a modelista coloca nos moldes, para que as peças na hora
da montagem fiquem padronizadas?
Piques e marcações de pences.
9- Qual a tolerância para mais ou para menos nas diferenças das medidas de
uma peça para outra?
1,0 cm. Na conferencia de peças prontas se a calça era para ser 40cm em uma certa parte da peça e ficou com 41cm continua e passa a frente a peça, mas se a peça ficou com 39cm a peça volta para a produção e vai ser trocado a etiqueta para uma numeração menor. A empresa sempre buscando manter suas medidas de acordo com a tabela, se sair do padrão sempre dando preferência para ficar para maior, que não comprometa o próximo tamanho.
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10-Qual o percentual de peças com defeito, ou fora da margem de tolerância? O
que é feito com essas peças?
O percentual Pessoa B não sabe informar, portando a empresa trabalha com células divididas por operações e dentro da célula existe a inspeção de qualidade por processo, evitando que sair peças prontas com defeitos.
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Autorização do Sr. Edilson Tavares
--------------------------- Mensagem Original ----------------------------
Assunto: Re: Material Toritama / Mamute (01)
Data: Qua, Novembro 16, 2011 1:42 pm
Para: [email protected]
--------------------------------------------------------------------------
Cara Wanessa,
Boa Tarde.
Fique a vontade para usar o depoimento.
Abraços.
Edilson Tavares
-----Mensagem Original-----
From: [email protected]
Sent: Monday, November 14, 2011 6:34 PM
Subject: Re: Material Toritama / Mamute (01)
Prezado senhor Adilsom Tavares
Venho por meio desta solicitar a sua autorização formal para que possamos
utilizar o depoimento que gentilmente nos cedeu acerca de como se deu o
início do pólo de jeans da cidade de Toritama. Sua narrativa foi muito
importante para finalizar nossa pesquisa, contribuindo com o entendimento
dos problemas levantados e orientando-nos sobre possíveis soluções para o
caso.
Agradeçemos sua atenção,
Wanessa Cristina Batista da Silva
Aluna de Design/CAA/UFPE
Flávia Zimmerle
Profª Design/CAA/UFPE
Orientadora da pesquisa
> Cara Wanessa,
>
> Segue o material que te prometi.
> Vou lhe enviar em partes devido ao tamanho das fotos.
> Espero que lhe atenda.
> Abraços.
>
> Edilson Tavares de Lima
> 81-37411212
> 81-88025657