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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO TRÊS RIOS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DO MEIO AMBIENTE - DCMA RELAÇÃO HOMEM E NATUREZA: A VISÃO DOS MORADORES DE TRÊS RIOS /RJ Tamires Rocha da Silva ORIENTADOR: Prof. Dr. Alexandre Ferreira Lopes TRÊS RIOS - RJ JULHO 2017

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO … questionário com 9 questões discursivas, de linguagem simples, para melhor entendimento ... Por meio da pesquisa pode-se refletir

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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO TRÊS RIOS

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DO MEIO AMBIENTE - DCMA

RELAÇÃO HOMEM E NATUREZA: A VISÃO DOS MORADORES DE

TRÊS RIOS /RJ

Tamires Rocha da Silva

ORIENTADOR: Prof. Dr. Alexandre Ferreira Lopes

TRÊS RIOS - RJ

JULHO – 2017

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO TRÊS RIOS

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DO MEIO AMBIENTE - DCMA

RELAÇÃO HOMEM E NATUREZA: A VISÃO DOS MORADORES DE

TRÊS RIOS /RJ

Tamires Rocha da Silva

Monografia apresentada ao curso de Gestão Ambiental,

como requisito parcial para obtenção do título de

bacharel em Gestão Ambiental da UFRRJ, Instituto Três

Rios da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.

TRÊS RIOS - RJ

JULHO – 2017

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO TRÊS RIOS

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DO MEIO AMBIENTE – DCMA

RELAÇÃO HOMEM E NATUREZA: A VISÃO DOS MORADORES DE

TRÊS RIOS /RJ

Tamires Rocha da Silva

Monografia apresentada ao Curso de Gestão Ambiental

como pré-requisito parcial para obtenção do título de

bacharel em Gestão Ambiental da Universidade Federal

Rural do Rio de Janeiro, Instituto Três Rios da

Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.

Aprovada em 10/10/2017

Banca examinadora:

__________________________________________

Prof. Dr. Alexandre Ferreira Lopes

__________________________________________

Profª. Drª. Ana Paula Perrota Franco

_____________________________________________

MSc. Monica Cardoso Ambivero

TRÊS RIOS - RJ

JULHO – 2017

“Agradeço e dedico todo meu sucesso e realizações primeiramente à Deus, este que é o

realizador e responsável por todas as minhas conquistas, alegrias e realizações, à minha

família linda e amada, que sempre foram meu apoio, meu alicerce, meu porto seguro. À todos

aqueles que me moldaram, tanto na vida secular quanto acadêmica, que tornaram-me nessa

mulher que hoje sou. Meus sinceros agradecimentos!”

AGRADECIMENTO

Aos meus professores e mestres que foram o pilar e deram-me todo suporte educacional para

que eu chegasse até aqui.

Ao orientador Alexandre Ferreira Lopes, pela paciência na minha enrolação, estava perdida,

mas ele me auxiliou, até na distância, não foi fácil, mas conseguiu. Eu agradeço por isso!

A minha mãe Zilmar Alves Rocha da Silva, companheira e amiga, mesmo na distância

sempre me cobriu e cercou de cuidados, amor, dedicação. Serei eternamente grata a essa

mulher-anjo da minha vida.

Ao meu pai Alex Lopes da Silva, que me fez sempre ter coragem na vida, correr atrás dos

meus sonhos, ter fé.

A minha amiga e irmã Lana Blay, pelas palavras de apoio, por todo cuidado, amor e

preocupação.

A amiga, que foi uma irmã, Michelle Martins, me ajudou a passar por tantos momentos

difíceis, longe de casa. Sou grata de verdade, ti levo pra vida!

“A natureza fez o homem feliz e bom, mas a sociedade deprava-

o e torna-o miserável.

(Jean-Jacques Rousseau,1712-1778)

RESUMO

O presente trabalho possui como base a relação homem e natureza na atualidade, tendo por

objetivo analisar a visão dos moradores da cidade de Três Rios, no que se diz respeito às

questões e problemas ambientais regionais decorrentes das atividades humanas e do

crescimento industrial acelerado do Município. Para a realização da pesquisa foi elaborado

um questionário com 9 questões discursivas, de linguagem simples, para melhor entendimento

do público pesquisado. As questões trataram de assuntos como o esgotamento dos recursos

naturais, a interferência do homem no meio ambiente, causas e consequências dos problemas

ambientais no Município de Três Rios, assim como, sugestões para melhorias ambientais para

cidade e por fim, consequências socioambientais do processo de industrialização de Três

Rios. As respostas obtidas com os questionários, trouxeram embasamento para a pesquisa.

Alguns temas se tornaram mais explícitos, com a análise dos dados da pesquisa, como os reais

problemas ambientais encontrados no Município e outros temas que apareceram como

resposta aos tais problemas ambientais, como ideias de melhoria da interferência humana no

meio natural, que poderiam servir de auxílio para ações da coletividade e do poder público no

Município de Três Rios. Por meio da pesquisa pode-se refletir sobre a importância da inserção

da sociedade nas questões ambientais, como a proximidade da população com a realidade do

meio que vive pode trazer uma reflexão e influências positivas sobre preservação ambiental,

foi possível também reafirmar que a relação atual do homem com a natureza precisa ser

revista. Além disso o êxito do trabalho se deu de forma a trazer uma conscientização de

pequena escala aos entrevistados e aqueles que de alguma forma foram inseridos e

influenciados pela pesquisa.

Palavras-chave: Problemas ambientais, Educação ambiental, Infraestrutura, Melhorias

ambientais, Análise quantitativa, Análise qualitativa.

ABSTRACT

The present work has as its relation man and nature, aiming to analyze the vision of the

residents of the city of Três Rios, regarding regional environmental issues and problems

arising from human activities and the accelerated industrial growth of the Municipality. To

carry out the research, a questionnaire was elaborated with 9 discursive questions, of simple

language, for a better understanding of the researched public. The issues dealt with issues

such as the depletion of natural resources, man's interference with the environment, causes

and consequences of environmental problems in the Municipality of Três Rios, as well as

suggestions for environmental improvements for the city and, finally, socio-environmental

consequences of the process. Industrialization of Três Rios. The answers obtained with the

questionnaires, provided background for the research. Some themes became more explicit,

with the analysis of the research data, such as the real environmental problems found in the

Municipality and other themes that appeared in response to such environmental problems,

as ideas for improving human interference in the natural environment, which could serve as

Assistance to actions of the community and public power in the Municipality of Três Rios.

Through the research can reflect on the importance of the insertion of society in

environmental issues, such as the proximity of the population with the reality of the

environment that lives can bring a reflection and positive influences on environmental

preservation, it was also possible to reaffirm that the current relationship Of man with

nature needs to be reviewed. In addition, the success of the work was done to bring a small-

scale awareness to the interviewees and those who were somehow inserted and influenced

by the research.

Keywords: Environmental problems, Environmental education, Infrastructure,

Environmental improvements, Quantitative analysis, Qualitative analysis.

LISTA DE ABREVIAÇÕES E SÍMBOLOS

APP- Área de Preservação Permanente

CF- Constituição Federal

EA- Educação Ambiental

IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

ICMS- Imposto sobre Circulação de Mercadorias e prestação de Serviços

PNEA - Política Nacional de Educação Ambiental

RJ- Rio de Janeiro

LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Localização do município de Três Rios..................................................................18

Figura 2. Esgotamento dos recursos naturais...........................................................................23

Figura 3. Interferência menos agressiva ao Meio ambiente....................................................26

Figura 4. Relação da população trirriense com a natureza......................................................29

Figura 5. Formas de melhorar a quantidade de áreas verdes em Três Rios.............................29

Figura 6. Melhorias ambientais para cidade de Três Rios.......................................................32

Figura 7. Processo de industrialização de Três Rios................................................................32

Sumário

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 13

1.3 OBJETIVO GERAL ....................................................................................................... 19

1.3.1 Objetivos Específicos ......................................................................................... 19

2. MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................................................. 20

2.1. O QUESTIONÁRIO ...................................................................................................... 20

2.2 LOCAL DAS ENTREVISTAS .......................................................................................... 21

2.3 OS ENTREVISTADOS ..................................................................................................... 21

2.4 ANÁLISE DOS DADOS ................................................................................................... 22

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO ......................................................................................... 23

4. CONCLUSÕES .................................................................................................................... 35

5. REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 37

6. ANEXOS .............................................................................................................................. 39

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1. INTRODUÇÃO

O ser humano e o meio natural se estabelecem por meio de uma relação de

interdependência e de coexistência, pois desde os primórdios o homem está diretamente

ligado ao ambiente por meio da busca pelo suprimento de suas necessidades vitais.

“O que sempre esteve em jogo nos diversos modos de produção

surgidos ao longo da história foi sempre o como produzir e o para quem

destinar os frutos da produção, já que a questão de onde retirar a

matéria-prima necessária teve sempre uma resposta única: da natureza”.

(Pádua, 2004, p. 27)

Embora a utilização dos recursos naturais seja uma verdade pautada por meio de

registros, através do estudo da história da humanidade, é possível observar que a relação

entre o ser humano e o meio ambiente era menos impactante em comparação a essa

mesma relação nos dias de hoje, visto que esta utilização dos recursos naturais era para

suprir , em sua maioria, necessidades fisiológicas, e até mesmo culturais, porém de

forma regional isso que ao longo dos tempos veio mudando, de forma intensa, pois as

necessidades atuais, com toda descoberta de maneiras diferentes de utilização e

intervenção na natureza, o meio natural passa a ser o responsável e supridor de matérias

primas para o homem "sobreviver".

Na chamada Pré-História, a visão que se tinha da natureza, era como uma mãe

que cuida, acolhedora (visto que até hoje, em algumas culturas indígenas, por exemplo,

vivenciam este tipo de relação, onde boa parte de dados antropológicos apresentam

populações que se relacionam em sintonia com o meio natural.)

“Durante a chamada Pré-História, a experiência de inúmeros povos foi

de harmonia, de equilíbrio, de respeito, de parceria. Há poucas

evidências disso – mas as que existem são bastante convincentes –,

pois esses povos, que não viviam sob a lógica da dominação, não

erigiram grandes monumentos, nem castelos, nem desejaram deixar

marcas de sua ‘grandiosidade’”. (Mendonça, 2005)

Com o passar dos tempos, o homem começou a criar e utilizar técnicas e

ferramentas mais sofisticadas, isso permitiu uma maior intervenção do ser humano na

14

Terra. A finalidade desses instrumentos era a melhoria da produtividade, da

interferência do homem no meio natural, além de uma busca pelo conhecimento de suas

origens e sobre o que os cercava. Essas civilizações do Neolítico, mesmo consideradas

tecnológica e socialmente evoluídas em relação as anteriores, é possível se dizer que

viviam em equilíbrio com a natureza.

Na Grécia Antiga surgiram os primeiros filósofos da natureza, estes que

tentavam entender as interações e transformações do meio natural, na busca por uma

explicação racional dos fenômenos da natureza. Os gregos utilizavam a madeira, o ouro

e outros elementos naturais na construção de casas, templos, navios, instrumentos, sem

a consciência do que suas ações poderiam causar, porém essa interferência, a princípio,

em escala regional. Com o aumento da população grega, a necessidade de se manterem

a base do comércio e da pesca cresceu, e, ambas atividades necessitavam da confecção

de muitos barcos, navios, estes que eram feitos de grandes quantidades de madeira.

Com o aumento do desmatamento, o pensamento em preservação já começa a ser

considerado, através de Aristóteles por exemplo, este que reforçava a importância das

árvores ao Estado. Foram então criadas leis de proteção às florestas, para equilibrar a

extração da madeira (Perlin, 1992).

Na Roma Antiga, o uso da madeira, de igual forma, tinha grande relevância. De

acordo com John Perlin, com o esgotamento da madeira no entorno de Roma, os

lenhadores avançaram para outras regiões afastadas, para suprirem suas necessidades,

onde os troncos eram levados pelo percurso dos rios. As primeiras redes de esgoto,

aquedutos, queixas sobre a poluição atmosférica e também a reciclagem do vidro se

mostraram presentes em Roma. “Os romanos pobres corriam a cidade para recolher

vidro quebrado, no século I, da mesma forma que hoje as pessoas recolhem as latas de

alumínio para encaminhá-las para reciclagem” (Mendonça, 2005).

O pensamento do ser humano superior e autorizado por Deus para uma

exploração da natureza passa a ser difundido na Idade Média. O capitalismo e as trocas

comerciais encontraram espaço no século XII e começaram a se intensificar. Com isso,

aos europeus, veio a necessidade em buscar especiarias, metais preciosos, matérias-

primas, terras e mercados diferentes e distantes, dando partida a expansão marítima

europeia, sendo um marco no processo de interação no globo terrestre.

15

“Houve práticas capitalistas muito antes da existência do capitalismo

como sistema econômico” (Koshiba, 2004, p. 228).

O conceito de natureza na Idade Moderna mudou. Essa nova concepção trouxe a

ideia de um meio natural mecânico, como máquinas, controlável pelo ser humano,

disponível para ser explorado. A obtenção dos recursos naturais passou a ser lucrativo,

não retirando da natureza apenas o necessário e essencial para sobrevivência das

populações regionais.

A transição da idade média para a idade moderna foi marcada por muitas

mudanças determinantes na sociedade e natureza, que trouxeram marcas à posteridade,

tanto no campo econômico, científico ou político. A construção de um novo modelo de

vida, de agir e realizar atividades, se estabeleceram por influência da economia e

política, pela passagem do feudalismo para o capitalismo, pelo enfraquecimento da

monarquia em muitas Nações, trazendo então, um novo conceito de mundo, de vida, de

natureza. O antropocentrismo, pensamento do ser humano ser o centro de todo universo,

passa a reger a estrutura da sociedade.

Com o advento da Revolução Industrial, a intervenção na natureza pelo homem

aumentou de forma drasticamente, iniciando assim uma luta desenfreada por uma

satisfação material. Assim pode-se dizer que Revolução industrial data o início da

degradação ambiental, que hoje claramente evidenciada. Franco e Druck (1998)

assemelha seus pensamentos ao dizer que a Revolução Industrial foi responsável por

importantes alterações na sociedade, nas relações de indivíduos entre si, e na forma em

que realizavam suas atividades, onde por consequência acarretou-se mudanças

significantes, de forma objetiva e subjetiva, tanto na saúde do homem quanto na

sustentabilidade ambiental. Roseiro e Takayanagui (2004) afirmam que o processo de

industrialização trouxe extremas implicações para a sustentabilidade ecológica da Terra,

por conta das mudanças climáticas e o efeito estufa, o desgaste dos recursos naturais, e

alterações na qualidade das águas, solo e ar. Em análises e estudos globais como a

Avaliação Ecossistêmica do Milênio e o “The Economics of Ecosystem and

Biodiversity Study” (Sukhdev 2008) direcionam para um trajeto de degradação de

ecossistemas, onde com o passar dos anos, o bem estar do homem tem sido reduzido, a

sustentabilidade ambiental e econômica, além da garantia de bem estar para as futuras

gerações vem sendo postas em perigo.

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Atualmente, na era das indústrias, da globalização e das tecnologias, é possível

perceber de forma clara e notável os efeitos da visão de um mundo natural como objeto

a ser dominado, onde o desenvolvimento econômico que estamos inseridos, tem

deixado rastros no solo, no ar, nas águas, em toda fauna e flora. Mediante a este cenário

da relação homem e natureza que vivemos, surge a necessidade de ações pró ambientais

e pensamentos em favor a melhoria da relação homem e meio natural. A presente

pesquisa traz a proposta de uma análise dessa relação descrita, homem e natureza, tendo

em vista a população do município de Três Rios, região Centro-sul Fluminense do

estado do Rio de Janeiro.

17

1.1 O MUNICÍPIO DE TRÊS RIOS

A delimitação da área de estudo, caracterizado a partir de dados do IBGE, 2013:

Município de Três Rios, Médio Paraíba do Sul, Estado do Rio de Janeiro. Com uma

área de 326,136 km², situada em altitude média de 269 m e com uma população de

77.432 habitantes.

Figura 1 Localização do município de Três Rios, Rio de Janeiro, Brasil (ABREU, 2006).

A partir de dados retirados de página eletrônica Associart Brasil (site da cultura

brasileira), soi retirado dados do município. Este que tem possui como característica

uma vegetação rasteira, de Mata Atlântica e Capoeira, com uma topografia de morro

arredondado. Tendo o mesotérmico como o clima que predomina na região, onde o

período de verão é quente e chuvoso e o inverno é frio e seco, com temperatura máxima

de 37.4ºC e temperatura mínima de 14.4ºC. O tipo de solo do Município é argiloso, mas

que em profundidade a baixo de 5m, é rochoso.

A apropriação da localidade, onde, hoje chamada Três Rios, está intimamente

ligada a exploração do ouro, consolidado com a chegada dos bandeirantes ao Rio

Paraibuna, a agricultura extensiva e por conseguinte, a pecuária. Nos primeiros períodos

do século XVIII, foram estabelecidas as sub-regiões de Nossa Senhora de Bem Posta, a

de Nossa Senhora de Mont Serrat, e a de São Sebastião de Entre Rios. A instalação da

rodovia União e Indústria e da estrada de ferro Dom Pedro II, tornou a localidade mais

propícia ao efetivo povoamento. Quando então, após o período republicano, a região foi

constituída por distrito de Entre Rios (1890). Por meio do decreto-lei 1056, o município

de Entre-Rios, em 31 de dezembro de 1943, tornou a ser chamado Três Rios, fazendo

alusão a três rios que passavam por seu território, o rio Paraíba do Sul, o rio Paraibuna e

18

o rio Piabanha, de acordo com o histórico do município de Três Rios, disponibilizado

no site da prefeitura da cidade.

O município se fundou e se desenvolveu por conta de ferrovias instaladas na

região, estas que possibilitaram o fluxo de matérias prima e melhores acessos à região.

Houve a instalação da Companhia Industrial Santa Matilde, porém na década de 1980,

suas atividades foram extintas do Município (ARAÚJO, 2011), gerando uma crise de

estagnação socioeconômica.

“O município já foi considerado o maior entroncamento rodoferroviário

da América Latina. Aqui, há saída para qualquer parte do Brasil: São Paulo,

Volta Redonda, Rio de Janeiro, Juiz de Fora”, diz o presidente da Companhia

de Desenvolvimento de Três Rios (Codetri), Landirso Ramos Jacob. “Essa

proximidade facilita muito. As empresas que estão aqui podem 8 importar e

exportar mercadorias sem problemas, usando o Porto do Rio de Janeiro” [...]

(ABDALA, 2009).

Em 04/04/2005 foi sancionado a Lei n°4.533, esta que tinha o objetivo de

beneficiar alguns municípios pertencentes ao estado do Rio de Janeiro, como a região

Sul Fluminense, onde os ICMS para estabelecer empreendimentos e indústrias seriam

reduzidos de 19% para 2%. O Município de Três Rios vivenciou períodos de

recuperação econômica e industrial.

O crescimento industrial por meio das isenções fiscais e localização da cidade,

estando entre as cidades de Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo, possibilitaram o

povoamento acelerado na região.

Atualmente, mediante ao processo de crescimento urbano e industrial acelerado do

Município, nota- se a importância de análise do cenário da relação homem e o meio

natural. Visto que por meio de um consenso e visão da realidade do Município é

possível observar problemas ambientais como: um quadro de desmatamento a grande

escala, possuindo de sua vegetação nativa, menos de 10%; a falta de atenção com os

corpos d’água, principalmente pelo governo, apresentando um tratamento de esgoto

inadequado, esse, que por sua vez é lançado ao Rio Paraíba sem o devido tratamento;

alteração do meio natural por conta da instalação de empreendimentos e de incentivos

fiscais a indústrias; as atividades industriais que causam impactos de caráter negativo ao

meio ambiente, entre outros.

19

1.3 OBJETIVO GERAL

Analisar sob o ponto de vista populacional, como se dá a relação do homem com

o meio ambiente no Município de Três Rios.

1.3.1 Objetivos Específicos

Identificar sob uma visão da população trirriense, as questões ambientais

críticas do s, decorrentes das atividades humanas;

Gerar conhecimento para ações que possam auxiliar nas questões

ambientais na cidade de Três Rios.

20

2. MATERIAIS E MÉTODOS

Para a realização do presente trabalho, a princípio, foi realizada uma pesquisa

social. Como Gil (1999) afirma:

“O objetivo fundamental da pesquisa é descobrir respostas

para problemas mediante o emprego de procedimentos

científicos. A partir dessa conceituação, pode-se, portanto,

definir pesquisa social como o processo que, utilizando a

metodologia científica, permite a obtenção de novos

conhecimentos no campo da realidade social”.

Um questionário (em anexo) foi produzido, que contou com 9 questões abertas e

fechadas, para a realização de entrevistas no Centro da cidade de Três Rios, estas que

foram realizadas nos dias 3 e 4 de abril de 2017. Para a escolha dos candidatos não

houve padrão, foram escolhidos de forma aleatória, nos pontos definidos para as

entrevistas. Logo após a essa fase, com os dados já coletados, foram feitas as análises

quantitativa e qualitativa, onde foi-se necessário a utilização do programa Excel,

obtendo então, os resultados mediante a elas.

2.1. O QUESTIONÁRIO

Como técnica de levantamento de dados, o questionário foi escolhido por ser um

instrumento que mais se adaptou ao estilo de pesquisa proposto pelo trabalho realizado,

definido como um “instrumento de coleta de dados constituído por uma série de

perguntas, que devem ser respondidas por escrito” (Marconi & Lakatos, 1999:100),

trazendo como característica questões abertas e fechadas, de caráter semi-estruturado.

Os sujeitos entrevistados tiveram liberdade ao propor suas opiniões, sendo assim uma

pesquisa de cunho social, para embasar o tema proposto, entendendo assim a relação

homem e natureza analisada.

Para a elaboração do questionário, foi pensado em questões acessíveis a

qualquer cidadão que pudesse ser convidado a participar da pesquisa. Dessa forma,

foram evitados termos técnicos e ainda foi considerado o auxílio da entrevistadora.

Informações como idade e o bairro dos entrevistados estiveram também presentes no

questionário.

21

2.2 LOCAL DAS ENTREVISTAS

As pesquisas foram realizadas estrategicamente no centro de Três Rios, pois

entende-se que a localidade é responsável por receber um maior fluxo de pessoas

durante o dia, por sua maioria, em horário comercial, de diferentes bairros do Município

de Três Rios, podendo assim obter uma amostra mais abrangente de entrevistados. Os

pontos de coleta foram: Praça São Sebastião, Praça da Autonomia, Rodoviária Nova e a

Beira Rio.

Sobre os bairros representados nas entrevistas, 9 entrevistados moram no bairro

Vila Isabel, 5 entrevistados moram no bairro Centro, 2 entrevistados moram no bairro

Cantagalo, 2 entrevistados moram no bairro Purys, 1 entrevistado mora no bairro Pilões,

1 entrevistado mora no bairro Monte Castelo, 1 entrevistado mora no bairro Triângulo,

1 entrevistado mora no bairro Ponte das Garças, 1 entrevistado mora no bairro Rua

Direita, 1 entrevistado mora no bairro Boa União e 1 entrevistado mora no bairro Jardim

Primavera. Contando com maior número de entrevistados residentes no bairro Vila

Isabel.

2.3 OS ENTREVISTADOS

A escolha dos entrevistados não seguiu padrão preestabelecido, apenas

escolhidos de forma aleatória, nos pontos que como dito anteriormente, delimitados

como estratégia para a pesquisa. Foram abordadas 25 pessoas para o preenchimento do

questionário, onde de forma não objetiva e bem aberta, em sua maioria, os assuntos

foram discutidos, as questões conversadas de forma crítica e construtiva, abrangendo

para outras pessoas que passavam no local durante a entrevista, ou que já estavam ao

redor. Entende-se então que o alcance da pesquisa e dos assuntos por ela tratados, foram

de maior alcance do que os 25 entrevistados. Aos entrevistados foram garantidos o

anonimato.

O perfil dos entrevistados foram: 13 entrevistados do sexo feminino e 12

entrevistados do sexo masculino. Com a faixa etária: dos 19-39 anos: 10 entrevistados;

dos 39-59 anos: 10 entrevistados; dos 59-80 anos: 4 entrevistados.

22

2.4 ANÁLISE DOS DADOS

Para a análise dos dados coletados, foi necessária a utilização do programa

Excel, na disposição dos dados obtidos, facilitando a compreensão das respostas

contidas nos 25 questionários. Os dados foram preenchidos no programa de maneira

que: na primeira linha, em sua parte superior foram dispostas as 9 perguntas do

questionário. Os entrevistados ficaram na primeira coluna e por conseguinte, as

respectivas respostas foram dispostas ao lado de cada nome, seguindo a ordem das

perguntas, tornando possível identificar e examinar os significados dos dados e as

interações entre as respostas dos entrevistados (BARTUNEK; SEO, 2002). Assim

houve uma complementariedade entre análise quantitativa e qualitativa. Uma vez que

foram considerados o número de respostas dadas pelos entrevistados, assim como falas

individuais.

Como afirma NEVES (1996), nesse procedimento, existe a vantagem na

utilização das duas análises na pesquisa, podendo explicitar todos os passos e prevenir a

interferência de sua subjetividade nas conclusões obtidas. Ressaltando que ambas as

análises foram feitas separadas, de forma particular.

Os resultados obtidos foram agrupados sob os mesmos pontos de vista em

comum.

23

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para análise dos dados obtidos nos questionários, foram criadas categorias a

posteriori, de acordo com as respostas dadas. Na questão 1, onde busca uma razão do

esgotamento dos recursos naturais sob a visão dos entrevistados, foram citadas algumas

categorias, estas que são relacionadas à poluição, principalmente do Rio Paraíba (esgoto

destinado ao Rio Paraíba sem o tratamento adequado), as queimadas, o desmatamento, o

papel das ações governamentais voltadas a educação, fiscalização, programas

ambientais e outros como a criação de mais áreas verdes no Município de Três Rios.

A partir da análise proposta foi possível observar na perspectiva da maior parte

dos entrevistados (22 do total de 25 entrevistados), que na cidade de Três Rios há um

processo de esgotamento dos recursos naturais, e a razão para isso, se dá pelas

queimadas/desmatamento; pela poluição dos rios/falta de eficaz tratamento dos

efluentes líquidos; pela falta de gestão; pelo desperdício; pela falta de fiscalização e pela

falta de chuvas na cidade (Figura 2).

Figura 2 Esgotamento dos recursos naturais.

Sobre a questão 1, de acordo com alguns entrevistados, foi possível destacar

algumas falas, que mais sobressaíram nas questões acima citadas.

24

“A poluição da água que causa mal para a nossa saúde. Eu mesma e

minha família (filha e neta), ficamos doentes por conta da água

contaminada.” Afirma uma moradora do bairro Vila Isabel.

Ao analisar essa afirmativa, podemos observar, o que por vezes apresentada

pelos entrevistados, que citam a poluição das águas por conta da falta de um tratamento

apropriado de efluentes líquidos, como um dos problemas principais na cidade, relatam

um inadequado descarte no principal corpo hídrico da cidade, o Rio Paraíba do Sul,

levando à poluição e degradação do mesmo. Além de altas concentrações de metais

pesados, acima dos níveis recomendados pelo CONAMA 357/2005, dissolvidos nos

corpos hídricos que cortam a cidade (GOMES et al., 2010).

“[...] entre os metais traços é possível separar os elementos

biologicamente essenciais (como zinco, cobre, cobalto, manganês,

selênio), daqueles que não apresentam nenhuma utilidade biológica,

ou seja, os metais não essenciais (como mercúrio, chumbo, cádmio,

arsênio, estanho). Vale ressaltar ainda que cada metal traço (essencial

ou não essencial) apresenta um caráter tóxico para os seres vivos a

partir de uma determinada concentração” (PITRAT In: GOMES et al.,

2010)

“Falta de proteção, de fiscalização, programas para conscientizar

sobre os procedimentos a serem adotados na preservação- educação!”

Afirma um morador do bairro Centro.

A afirmativa de um entrevistado, deixa claro a necessidade de investimentos e

iniciativas do governo em prol a melhoria das questões ambientais na cidade. Na

conversa com o mesmo, ele cita a educação como pilar para essa melhoria, onde esse

aspecto citado, refere-se a uma educação ambiental. Podemos ver isso expressamente no

artigo 13 da PNEA:

“Parágrafo único. O Poder Público, em níveis federal, estadual e

municipal, incentivará: III - a participação de empresas públicas e

privadas no desenvolvimento de programa de educação ambiental em

parceria com a escola, a universidade e as organizações não-

governamentais”.(...) (BRASIL, 1999)”

25

Os entrevistados afirmaram:

•“Os lixos que as pessoas jogam na rua. E os lixos demoram a se

decompor. As pessoas destroem tudo, o homem não sabe o que faz,

depois chora.”

•“A má educação, lixos jogados no chão, destruição pelas pessoas,

falta de cuidado!”

As declarações revelam um dos mais frequentes temas citados na pesquisa pelos

entrevistados, onde o papel do cidadão ante ao meio ambiente fica evidenciado, a total

falta de gestão das questões ambientais, a qual se reflete no desequilíbrio da natureza,

no bem-estar social quanto na saúde pública. Nesse mesmo sentido, fortalecendo a

escrita anterior, através da resposta de um dos entrevistados (não será identificado):

“ainda se tem muito recurso, não falta água nem comida”, pensamento presente nos dias

de hoje, inserido na sociedade que vivemos, referente a falta do conhecimento das

questões ambientais e a visão de natureza como apenas supridora das necessidades

humanas.

Fazendo ligação a questão 2, onde buscou-se uma possível solução ou maneiras

de o ser humano interferir menos agressivamente na natureza (Figura 3). Dos 24 que

afirmaram a possibilidade de uma interferência menos agressiva, a maioria acredita que

a população deve exercer o cuidado ao meio ambiente, por meio de ações individuais.

Neste contexto surge uma reflexão sobre a educação ambiental crítica, esta que possui o

objetivo de promover um processo educativo capaz de motivar uma transformação

social em prol ao meio ambiente, entendendo que ações individuais não são eficazes

para a modificação de um contexto socioambiental, mas sim um processo coletivo,

exercitando a cidadania.

“é preciso recolocar os objetivos da prática educativa, situando-os

para além da esfera comportamental. Se a educação quer realmente

transformar a realidade não basta intervir na mudança dos

comportamentos sem intervir nas condições do mundo em que as

pessoas habitam... Neste sentido, podemos redefinir a prática

educativa como aquela que, juntamente com outras práticas sociais,

26

está implicada no fazer histórico, é produtora de saberes e valores e,

por excelência, constitutiva da esfera pública e da política, onde se

exerce a Ação humana.” Carvalho (1995)

A questão 2 reafirma a análise da questão 1, onde o ser humano foi o centro mais

frequente dos dados obtidos. Fixando a ideia de que o próprio causador deve ser o

restaurador e protetor do meio natural. Alguns declararam ser o replantio de áreas

desmatadas e a criação de áreas verdes uma boa forma de amenizar a interferência do

homem na natureza, apostaram também no saneamento básico capaz de garantir um

tratamento e destinação adequados para os efluentes líquidos, na educação ambiental, e

outros não souberam dizer nada a respeito. Dados quantificados na figura 3.

Figura 3 Interferência menos agressiva no Meio ambiente.

Sobre o conhecimento das questões ambientais regionais, na questão 3, os

entrevistados relataram a poluição dos rios pelo esgoto, o desmatamento e falta de áreas

verdes, a precariedade do sistema de tratamento de esgoto (saneamento básico), a falta

de interesse político em programas de educação, tendo em vista a necessidade de

investimentos em tecnologias e metodologias para ser desenvolvida uma EA efetiva nas

27

escolas,1, falta de fiscalização de empresas, estas que foram apresentadas por alguns dos

entrevistados, como responsáveis pelo desmatamento de áreas, trazendo prejuízo e

desconforto não só ao meio natural, mas também ao moradores ao redor das mesmas.

Baseado na terceira questão, sobre o conhecimento dos problemas ambientais

presentes no Município de Três Rios, destacamos a fala de um dos entrevistados, este

que se mostrou interessado na temática abordada pela pesquisa:

•“Não é de conhecimento que tenhamos projeto ou programa do

governo definido e também educacional, para proteção do meio

ambiente, haja visto, ao derredor da cidade, a falta de plantio de

árvores.”

Neste ponto da análise, faz-se necessário, mediante Lei, embasar tal afirmação do

entrevistado. Segundo Art. 225 da CF/88:

“§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao poder

público:

I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o

manejo ecológico das espécies e ecossistemas;

II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do

País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de

material genético;

III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e

seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração

e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer

utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem

sua proteção;

IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade

potencialmente causadora de significativa degradação do meio

ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará

publicidade;

V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas,

métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade

de vida e o meio ambiente;

1 Embora a população não tenha denominado o termo educação ambiental, mas o entendimento da

necessidade de um ensino sobre as questões ambientais entrou em pauta, e esse ensino, apresentamos

como EA

28

VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a

conscientização pública para a preservação do meio ambiente;

VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas

que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção

de espécies ou submetam os animais a crueldade.”

Um dos entrevistados declara sua indignação com a empresa Acciona

Concessões. Segundo o entrevistado, a empresa está realizando inúmeros cortes de

árvores na beira das estradas na cidade, outros moradores também se manifestaram

inconformados ao poder público, mas ainda com a “proibição” pelo secretário de Meio

Ambiente do Município de Três Rios, até a presente data da pesquisa, a empresa

continua suas atividades, pois possui Licença de Operação emitida pelo IBAMA, a

situação foi parar na delegacia do Município de Três Rios.

De acordo com a Resolução do CONAMA n° 237/97, “Licença de Operação

autoriza a operação da atividade ou empreendimento, após a verificação do efetivo

cumprimento do que consta das licenças anteriores, com as medidas de controle

ambiental e condicionantes determinados para a operação”. Entendendo assim, que

mediante a Lei, a empresa possui autorização pelo Órgão competente (IBAMA) para

exercer e continuar exercendo suas atividades. Relatando assim de igual forma, um dos

problemas atuais não só a nível estadual ou Nacional, mas pode-se dizer, Mundial, onde

o desenvolvimento segue, e a priori, independe do estrago ambiental e social que possa

fazer.

Fazendo uma ligação ás questões 4 e 5 (a 4 que fala sobre como é relação do

homem com a natureza em Três Rios, dando 3 opções como: boa, indiferente e péssima,

e a 5 que busca identificar a quantidade de áreas verdes, além de ideias de melhoria para

quantidade de áreas verdes na cidade), onde em sua maioria, (Figuras 4 e 5) os

entrevistados afirmam que a relação homem e natureza no município de Três Rios é

péssima e a quantidade de áreas verdes é insuficiente. Estes acreditam que para

melhoria da qualidade ambiental da cidade seria necessárias ações de replantio, criação

de áreas verdes (como parques e jardins), os mesmos relataram não só a necessidade

para o meio ambiente, mas também para a própria sociedade, como áreas de lazer, para

“o alívio do estresse e correria do dia a dia”.

29

Figura 4 Relação da população trirriense com a natureza.

Figura 5 Formas de melhorar a quantidade de áreas verdes em Três Rios.

A questão 6 remete-se ao conhecimento sobre desastres ambientais que possam

ter ocorrido no Município e os seus responsáveis. Nesta questão, 11 pessoas afirmam

não ter nenhum conhecimento sobre, dos restantes, 6 dizem ser o homem, a própria

população responsável pelos desastres e 3 pessoas dizem ser as empresas instaladas na

região. A maioria dos entrevistados, como observado, não obtiveram informações sobre

o questionamento, porém alguns dos entrevistados afirmaram o desabamento de casas

em pontos como no Jardim Glória e na Rua João Felicidade, que causados pelas

construções inadequadas e principalmente pela retirada da cobertura vegetal nos morros,

que deixam o solo suscetível à erosão, problema ambiental referente ao desmatamento,

onde por meio de uma pesquisa realizada pela Fundação SOS Mata Atlântica, esta que

apontou alto índice de desmatamento em Três Rios, sendo uma das cidades com maior

30

quantidade de áreas desmatadas do Estado do Rio de Janeiro, podemos analisar uma

problemática vinda de anos passados, pela utilização do solo para a cafeicultura e

atividades agrosilvopastoris. Atualmente, as áreas verdes vêm diminuindo, com a

cidade, possuindo preservada, apenas 7% de vegetação Mata Atlântica. Demonstrando

também problemas referentes a infraestrutura oriundos do processo acelerado de

desenvolvimento/urbanização da cidade, onde a mesma não obteve estrutura para

atender o aumento demográfico. Além da realidade de construções instaladas bem

próximas ou até mesmo sobre áreas de APP.

Ao buscar um pensamento como embasamento para a falta de gerenciamento e

indiferença aos assuntos ambientais, a questão 7 surge com essa proposta, três

justificativas foram postas como opção, a primeira opção seria um aspecto cultural, a

segunda opção seria pela falta de conhecimento sobre as questões ambientais e a

terceira opção seria um aspecto moral dos seres humanos. As respostas se deram da

seguinte forma: 7 entrevistados acreditam que a falta de gerenciamento adequado do

meio ambiente, é um problema de aspecto cultural, mediantes costumes obtidos, 12

entrevistados afirmam ser a falta de conhecimento aos assuntos ambientais o

responsável, 6 pessoas apontam um aspecto moral como responsabilidade pela falta de

gerenciamento adequado ao meio natural.

“Por conta da maioria das pessoas fazerem, desde pequenos

aprendem assim”. Moradora do bairro Purys.

“As pessoas não são ensinadas sobre esse assunto”. Moradora

do Monte Castelo.

“As pessoas sabem que a natureza é vida, mas não fazem nada

porque não quer”. Moradora do bairro Vila Isabel.

A falta de conhecimento sobre as questões ambientais sobressai em relação a

outras opções, entendendo que de fato, as questões ambientais precisam ser de

conhecimento da população, por meio de processos educativos em escolas, em todos os

níveis de ensino e em meios não formais. Trazendo o conceito de EA, definido pelo Art.

1º lei nº 9795/1999 da PNEA:

31

"Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos

quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais,

conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a

conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial

à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade."

A questão 8 está ligada diretamente a questão 3, servindo como “resposta” aos

problemas ambientais analisados pelos entrevistados, buscando propostas de melhoria

ao meio ambiente para a cidade de Três Rios. Os entrevistados propuseram ações como:

a reponsabilidade do poder público na criação de mais áreas verdes (parques, jardins), a

melhoria no tratamento de efluentes líquidos na cidade (saneamento básico), criação de

projetos/programas do governo relacionados a educação, conscientização, incentivos e

fiscalização (em escolas e empresas por exemplo). No que se diz respeito a projetos de

educação citados por entrevistados, fica evidenciado a abertura da população para as

questões ambientais. Dois entrevistados afirmam ser necessário “criar projetos nas

escolas para as crianças, educando e levando elas para plantar nos lugares que mais

precisam na cidade” e a “criação de uma política pública que com a participação da

população estabelecesse normas e procedimentos para sua aplicação no processo

educacional permanente”.

A responsabilidade conjunta com ações de melhoria da qualidade ambiental

passa pela esfera governamental e populacional. Assim como expresso no caput do Art.

225 da CF/88:

“Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente

equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade

de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de

defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.”

32

Figura 6 Melhorias ambientais para cidade de Três Rios.

Foi proposto o tema sobre a visão dos entrevistados sobre o processo de

industrialização no Município de Três Rios, na questão 9 do questionário, entendendo a

importância do tema ao meio natural da região de análise. As respostas mais frequentes

obtidas foram agrupadas em pontos de vista comum, como relatado na figura 7.

Figura 7 Processo de industrialização de Três Rios.

33

Aqueles que acreditam que o processo de industrialização foi bom para a cidade,

mas para o meio ambiente não foi bom; os que afirmam que o processo de

industrialização foi bom para a cidade, mas para o meio ambiente não sabe dizer os

efeitos; outros afirmam que o processo de industrialização foi bom para a cidade, e não

afetou em nada no meio ambiente; aqueles que acreditam que o processo de

industrialização não foi bom para a cidade, nem para o meio ambiente e alguns que não

tiveram nenhum conhecimento sobre o tema tratado. Este agrupamento em 5 visões

distintas, expressou a princípio que o processo de industrialização da cidade de Três

Rios, ao ponto de vista da sociedade, em sua maioria, foi satisfatório, afirmando um

entrevistado que “foi bom, trouxe emprego e desenvolvimento para a cidade”, mas

poucos conseguiram relatar os reais efeitos causados ao meio ambiente, evidenciando

um problema clássico representado não só na região de Três Rios, mas em grande parte

da sociedade atual, onde o desenvolvimento econômico dificilmente se atrela a um bom

condicionamento ambiental, para que se mantenha o padrão que a sociedade atual se

encaixou ao longo dos anos.

“o padrão de produção e consumo que caracteriza o atual estilo de

desenvolvimento tende a consolidar-se no espaço das cidades e estas

se tornam cada vez mais o foco principal na definição de estratégias e

políticas de desenvolvimento” (FERREIRA, 1998).

“A determinação operativa onipresente no sistema capitalista é e

continua sendo o imperativo da lucratividade. [...] o sistema como um

todo é absolutamente dissipador, e tem de continuar a sê-lo em

proporções sempre crescentes” (MESZÁROS, 1989: 27).

Poucos foram os que conseguiam enxergar as alterações/consequências no meio

ambiente, já que o processo de industrialização acelerado tanto na região de Três Rios,

como em outras regiões onde o processo se dá desta forma, é capaz de causar alterações

na fauna, flora, poluição de recursos hídricos, solo e ar, além de manifestar implicações

no bem-estar humano. A maioria enxergou o lado positivo da industrialização como

melhores oportunidades de emprego, acesso a tecnologias e recursos mais atualizados,

entretanto, alguns conseguiram também avaliar o aspecto negativo, assim demostra a

fala de um morador do bairro Vila Isabel, que afirma: “Não ajudou muito para emprego,

pois muitas empresas logo foram embora”, e o entrevistado acrescenta que como

34

consequência ambiental, “muitas árvores foram cortadas”. Outros afirmam que “a

poluição na cidade aumentou”, como também “trouxe desastres”. Bergamo (In:

FALCÃO, 2006, p.2) afirma que a “frequente deterioração do ambiente das cidades,

decorrente do processo urbano, influi na qualidade de vida da população, uma vez que

gera vários problemas ambientais, incluindo a alteração do sistema da bacia

hidrográfica”

35

4. CONCLUSÕES

O presente trabalho teve o intuito de realizar uma análise sobre a relação homem

e natureza, sob a visão dos moradores do Município de Três Rios, mas ao decorrer da

pesquisa em campo, da pesquisa bibliográfica e por conseguinte a análise de todos os

dados obtidos, a relevância se intensificou e alcançou proporções mais definidas. Como

a importância da inserção da sociedade nas questões ambientais, e como a proximidade

da mesma com a realidade do meio que vive pode trazer uma reflexão, um pensamento

novo, influências positivas sobre preservação ambiental, reflexão sobre seus

comportamentos frente ao meio natural e o ambiente que vive, além de enxergarem as

carências do poder público e poderem cobrar providências. Isso ficou perceptível

quando nas abordagens para a realização do questionário, não foi encontrado nenhum

tipo de rejeição pela parte das pessoas, muito pelo contrário, grande parte dos

entrevistados se mostraram interessados e abertos à conversação, alguns sentiram-se à

vontade em contar suas atitudes em favor a natureza, como suas experiências em plantar

árvores.

Alguns temas se tornaram mais explícitos, como os reais problemas ambientais

encontrados no Município, assuntos como o desmatamento da cidade, o saneamento

básico precário, a necessidade de programas do governo, o processo de industrialização

também esteve presente. Foi possível perceber como tais problemas afetam a vida das

pessoas, seu bem estar, suas interações sociais, quando declaram por exemplo, que os

“prédios e avenidas estão tomando os lugares das árvores”, a poluição do ar, da água

geram então problemas de saúde pública como no aumento de epidemias, problemas

psicológicos de irritabilidade, ansiedade, tensão, entre outros. Outros temas também

apareceram como resposta aos citados anteriormente, ideias de melhoria da interferência

humana no meio natural, com ações da coletividade e do poder público, como plantar

árvores, não atear fogo, não poluir, investimento em fiscalização, em educação

ambiental, na criação de parques e jardins na cidade, entre outros.

Por fim, baseado em toda a pesquisa desde a introdução às análises feitas, tornou

possível reafirmar que a relação homem e natureza de fato precisa ser revista em todos

os âmbitos, pois como caminha a sociedade atual, no que se diz respeito à interferência

humana, toda a coletividade, o meio ambiente em si tende a sofrer ainda mais com as

consequências desta relação. Além disso o êxito do trabalho se deu de forma a trazer

36

uma conscientização de pequena escala, é bem verdade, mas que alcançou o seu

objetivo, tanto nesta pesquisa, quanto se tornando elemento de estudo como base de

dados para ações futuras relacionadas a questão ambiental na cidade de Três Rios.

37

5. REFERÊNCIAS

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39

6. ANEXOS

O QUESTIONÁRIO

PERCEPÇÃO DA RELAÇÃO HOMEM E NATUREZA, NO

MUNICÍPIO DE TRÊS RIOS/RJ, SOB O PONTO DE VISTA

POPULACIONAL

Tamires Rocha da Silva – Graduanda em Gestão Ambiental

Curso de Gestão Ambiental - Departamento de Ciências

Administrativas e do Ambiente Instituto Três Rios/UFRRJ

Este questionário será suporte na obtenção de dados para um projeto pesquisa, realizado

pela graduanda Tamires Rocha- UFRRJ, com o objetivo de analisar como se dá a

relação do homem com o meio ambiente na cidade de Três rios, sob a perspectiva

populacional, tendo como base o nível de entendimento e conhecimento da população

trirriense sobre a área ambiental e as questões ambientais mais complexas do

Município.

1- Você acha que os recursos (água, solo, ar) estão se esgotando e sendo prejudicados

ao longo dos tempos? SIM( ) NÃO( )

Se SIM, cite uma razão:

2- Você acha que o homem pode interferir na natureza de forma menos agressiva?

SIM( ) NÃO( )

Se SIM, dê um exemplo:

3- Você acha que a cidade de Três Rios atualmente sofre com algum problema

ambiental?

SIM( ) NÃO( )

Se SIM, Cite alguns:

4- Ao seu ver, como é a relação da população de Três Rios com o meio ambiente?

5- Sobre o meio natural na cidade de Três rios, você acha que quantidade de áreas

verdes é: EXCELENTE () SUFICIENTE () INSUFICIENTE ( )

Se INSUFICIENTE, como melhorar isso?

6- Você consegue dizer se algum desastre ambiental, de pequeno ou grande porte, tenha

ocorrido na cidade ao longo dos anos? Quem seria o “responsável”?

7-A falta de cuidado com as questões ambientais é um problema:

() CULTURAL () FALTA DE CONHECIMENTO () FALTA DE ÉTICA E MORAL

Marque uma ou mais opções, e justifique-as:

40

8- Se pudesse propor alguma melhoria para cidade de Três rios, no que se diz respeito

ao meio ambiente. Qual seria?

9- Como você enxerga o processo de industrialização de Três rios? Cite alguma(s)

consequência(s) do mesmo: