75
UNIVERSIDADE PAULISTA ALINE PIGOZZI DA COSTA CLAYTONS SANTOS DA CONCEIÇÃO MÔNICA DA SILVA ARAÚJO WALDEMAR TERÔ SATO RAIZ PAULISTANA: O resgate da música caipira em São Paulo SÃO PAULO 2013

UNIVERSIDADE PAULISTA ALINE PIGOZZI DA COSTA … · definição do tema e no desenvolvimento do projeto e também a todos os que gostam da música caipira e que, de alguma forma,

  • Upload
    lenhi

  • View
    220

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

UNIVERSIDADE PAULISTA

ALINE PIGOZZI DA COSTA

CLAYTONS SANTOS DA CONCEIÇÃO

MÔNICA DA SILVA ARAÚJO

WALDEMAR TERÔ SATO

RAIZ PAULISTANA:

O resgate da música caipira em São Paulo

SÃO PAULO

2013

ALINE PIGOZZI DA COSTA

CLAYTONS SANTOS DA CONCEIÇÃO

MÔNICA DA SILVA ARAÚJO

WALDEMAR TERÔ SATO

RAIZ PAULISTANA:

O resgate da música caipira em São Paulo

Trabalho de conclusão de curso para obtenção do título de graduação em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo, apresentado à Universidade Paulista – UNIP.

Orientador: (Profº Drº Luis Henrique Marques)

SÃO PAULO

2013

Costa, Aline Pigozzi da, 1992 – Raiz Paulistana: O resgate da música caipira em São Paulo. / Aline Pigozzi da Costa... [et al.]. – São Paulo, 2013.

73 f. il. Trabalho de conclusão de curso (graduação) – Universidade Paulista. Curso de Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo.

Orientador: Prof. Dr. Luis Henrique Marques.

1. Caipira. 2. Música. 3. Paulistana. 4. Rádio. I. Conceição, Claytos S. da. II. Araújo, Mônica da S. III. Sato, Waltemar T.

ALINE PIGOZZI DA COSTA

CLAYTONS SANTOS DA CONCEIÇÃO

MÔNICA DA SILVA ARAÚJO

WALDEMAR TERÔ SATO

RAIZ PAULISTANA:

O resgate da música caipira em São Paulo

Trabalho de conclusão de curso para obtenção do título de graduação em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo, apresentado à Universidade Paulista – UNIP.

Aprovado em:

BANCA EXAMINADORA

_______________________/__/___ Prof. Universidade Paulista – UNIP

_______________________/__/___

Prof. Universidade Paulista – UNIP

_______________________/__/___

Prof. Universidade Paulista UNIP

DEDICATÓRIA

Dedicamos esse trabalho à nossas famílias, porque elas são o ponto de apoio

de nossas atitudes decisivas; ao nosso amigo Daniel Baldini, que esteve conosco na

definição do tema e no desenvolvimento do projeto e também a todos os que gostam

da música caipira e que, de alguma forma, cooperam para a preservação da cultura

brasileira.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos, em primeiro lugar, a Deus que nos norteou e possibilitou a

realização desse trabalho.

Agradecemos também às pessoas que tiveram desprendimento e grandeza

no intuito de cooperar, direta ou indiretamente, para que fosse possível sua

concretização: Ernestino Ciambarella (Junior da Violla), Expedito Leandro Silva,

Inezita Barroso, Lucimaro Aparecido da Costa, Márcio Chizzolini, Maria de Lourdes

Barbosa Pigozzi e Milton Soares de Souza.

E agradecemos, em especial, ao professor Dr. Luis Henrique Marques, pois,

graças às suas orientações, atenção e profissionalismo, conseguimos trilhar no rumo

certo para finalizá-lo.

RESUMO

Este trabalho foi elaborado sob a temática “O resgate da música caipira na cidade

de São Paulo” e, portanto, aborda aspectos teóricos sobre a cultura e a música

caipira - estilo de vida e musical corresponsável pela formação da sociedade

paulistana e importante traço da cultura brasileira.

Após realização de pesquisas bibliográfica e de mercado, foi identificado que este

gênero - posteriormente conhecido como sertanejo de raiz - foi abafado pela

indústria fonográfica e o faz parecer uma música ultrapassada, uma vez que a cada

dia aparecem novos ritmos advindos do original, mas que não carregam

absolutamente nenhuma característica das toadas que surgiram no campo e

começaram a ser divulgadas em 1910, por Cornélio Pires.

Com a falta de interesse do público, a música caipira deixou de ser amplamente

divulgada pelas mídias e veículos de comunicação na grande cidade de São Paulo,

sendo assim preservada, tão somente por seus apreciadores - geralmente pessoas

mais velhas e suas gerações - e por artistas e pessoas que trabalham para que ela

não se perca no tempo.

Neste contexto é que o programa RAIZ PAULISTANA surge, a fim de retornar a

música caipira ao seu espaço no rádio - veículo pioneiro em sua divulgação - e, de

forma informativa e dinâmica, chamar a atenção e despertar o interesse dos

paulistanos.

Palavras chave: Caipira – Música – Paulistana – Rádio.

ABSTRACT

This work was prepared under the theme "The rescue of country music in the city of

São Paulo" and therefore addresses the theoretical aspects of the culture and

country music - lifestyle and musical co-responsible for the formation of Sao Paulo

society and important trait of Brazilian culture.

After conducting research and market literature was identified that this genre - later

known as backcountry root - was drowned out by the music industry and makes a

song seem outdated, since every day appear new rhythms coming from the original,

but not carry absolutely no feature of tunes that have emerged in the field and began

to be published in 1910 by Cornelio Pires.

With the lack of public interest, hillbilly music ceased to be widely publicized by the

media in the great city of São Paulo, and thus preserved solely by its admirers -

usually older people and their generations - and for artists and people who work so

she does not get lost in time.

In this context is that the program RAIZ PAULISTANA arises in order to return to

country music on the radio to your space - vehicle pioneer disclosure - and, in an

informative and dynamic, attention and arouse the interest of São Paulo.

Key-words: Hillbilly – Music – Paulistana – Radio.

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.......................................................................................................09

2. PROBLEMA ...........................................................................................................11

3. HIPÓTESE.............................................................................................................12

4. OBJETIVOS ...........................................................................................................13

4.1. Objetivo geral......................................................................................................13

4.2. Objetivos específicos..........................................................................................13

5. JUSTIFICATIVA ....................................................................................................14

6. REVISÃO DE LITERATURA .................................................................................16

6.1. O Caipira.............................................................................................................16

6.2. A música caipira..................................................................................................17

6.2.1. Moda de viola...................................................................................................18

6.2.2. Cururu..............................................................................................................18

6.2.3. Catira................................................................................................................18

6.2.4. Congada e Calango.........................................................................................19

6.3. O veículo rádio....................................................................................................20

6.4. Análise de mercado.............................................................................................21

7. METODOLOGIA....................................................................................................24

7.1. Estudo Teórico....................................................................................................24

7.2. Coleta de dados..................................................................................................24

7.2.1. Entrevistas........................................................................................................24

7.2.2. Visitas...............................................................................................................25

8. PROGRAMA DE RÁDIO .......................................................................................26

8.1. Roteiro do programa...........................................................................................26

8.2. Espelho do programa..........................................................................................27

9. CRONOGRAMA ....................................................................................................40

10. REFERÊNCIAS...................................................................................................41

ANEXO A...................................................................................................................43

9

1. INTRODUÇÃO

A proposta deste trabalho é trazer à tona a compreensão da música originária

do Estado de São Paulo que, segundo Rosa Nepomuceno, em seu livro “Música

caipira: da roça ao rodeio” (1999), especificamente, nasceu na região do médio Tietê

e no centro-sul do Estado: a música caipira. Cantado e difundido pela população

roceira, este gênero musical saiu do campo e, num determinado período, foi forçado

a se desenvolver na cidade em meio à formação do povo paulistano, mas

procurando não perder a influência do ambiente rural.

Para o desenvolvimento do projeto, foi necessário expor os diversos

componentes sociais e a relação que o homem do campo, denominado “caipira”,

manteve com suas raízes por meio da música. Adaptada para o novo ambiente, o

que antes era a narração de seu cotidiano, agora, é o lamento por ter que deixar o

seu lugar em contato com a natureza, forçados pelo domínio dos ricos fazendeiros.

Para o caipira, este novo lugar é estranho tanto no que se refere ao ambiente

urbano, quanto aos costumes das pessoas.

Por alguns anos, a essência dessa narração se manteve. No entanto, após

sua introdução na indústria fonográfica, a música caipira passou por várias

adaptações, fazendo-se necessário, portanto, diferenciar com o termo “sertanejo” o

que era a manifestação espontânea do homem da roça e o que passou a ser um

produto da indústria cultural.

Esse gênero fez surgir modalidades como o sertanejo pop, o pós-caipira e o

atual ritmo da moda, o sertanejo universitário. E, desse modo, para não perder de

vista o estilo que deu origem a todas essas modalidades, a música sertaneja,

oriunda da música caipira, foi então identificada como sendo “de raiz”.

Não foram poucas as obras encontradas a respeito da cultura e da música

caipira no processo de revisão de literatura. No entanto, a maioria das obras

impressas está esgotada. Já na rede virtual de computadores, foram encontrados

outros materiais, como trabalhos acadêmicos de mestrado e doutorado. Portanto,

este trabalho se baseia, principalmente, no livro de José Antônio Alves Junior,

“Música caipira raiz– O entrelugar da memória e da contradição” (2011) – uma das

principais referências nesse tema – e também em obras acadêmicas, trabalhos e

artigos de autores renomados disponibilizados na Internet.

10

Diante deste universo de estudos publicados, o presente trabalho cuidará da

música caipira ou música sertaneja de raiz, especificamente no âmbito da cidade de

São Paulo, com a apresentação de um programa de rádio no formato de

documentário radiofônico. O projeto trará uma perspectiva diferente em relação a

tantas formas já divulgadas. Desse modo, toda a população – principalmente as

novas gerações que, provavelmente, desconhecem este antigo gênero musical –

terá acesso a esclarecimentos, informações e particularidades que influenciaram o

surgimento de outros ritmos, tão propalados e conhecidos atualmente.

É graças ao estilo musical caipira, com origem em uma região restrita desde o

descobrimento do país, que todos os brasileiros têm a possibilidade de conhecer o

universo do Brasil rural.

11

2. PROBLEMA

O problema social e comunicacional que o trabalho buscou enfrentar é a falta

de abordagem jornalística a respeito da música caipira na cidade de São Paulo, no

que se refere ao resgate de sua essência – uma vez que o estilo musical modificou-

se no decorrer dos tempos e teve, como consequência, a perda de suas

características principais e sua importância, já que o caipira (música e estilo de vida)

teve sua parcela de contribuição na formação da cultura paulistana.

Diante desse cenário, portanto, o projeto procura preencher a lacuna deixada

pelos meios de comunicação convencionais, que se habituaram a evidenciar apenas

estilos musicais que facilmente podem ser introduzidos no mercado de consumo,

levando a crer que a música caipira, ou música sertaneja, não se enquadra nestes

moldes impostos pela indústria cultural.

12

3. HIPÓTESE

Com a elaboração de um programa de rádio, o projeto pretende criar um

espaço – que hoje é inexistente nas mídias massivas – para que a música sertaneja

de raiz seja disseminada, não apenas como mais um estilo musical, mas como fonte

de informação e expressão de uma cultura.

O formato jornalístico escolhido possibilitará maior alcance de pessoas,

devido à sua acessibilidade e a uma linguagem simplificada, o que facilitará o

conhecimento sobre origens, características, particularidades e importância do

gênero musical, a fim de que os ouvintes se identifiquem com este contexto, já que

este estilo ajudou a construir a cultura no meio em que vivem: a cidade de São

Paulo.

13

4. OBJETIVOS

4.1. Objetivo Geral

Produzir um programa de rádio com o objetivo de explorar os conceitos e

técnicas aprendidos e praticados no decorrer do curso de Comunicação Social com

habilitação em Jornalismo. Embasados nestes conhecimentos adquiridos, o projeto

prevê, como produto final, a elaboração de um programa de rádio no formato de

documentário radiofônico.

O programa será construído em torno do tema “O resgate da música caipira

na cidade de São Paulo” por meio de pesquisa bibliográfica, entrevistas com

especialistas e intérpretes deste gênero musical, bem como ouvintes e admiradores

da música caipira.

4.2. Objetivos Específicos

a. Elaborar um documentário especificamente direcionado para a produção de

um programa de rádio, com o objetivo de alcançar o público-alvo de forma

que desperte nele, a partir da divulgação de particularidades e informações, o

interesse e a curiosidade pelo sertanejo de raiz – estilo que teve grande

importância na formação da história da cidade de São Paulo.

b. Mostrar à sociedade paulistana que, apesar da hegemonia da indústria

cultural, a música caipira permanece viva e resistente com seu público,

formado, principalmente, pela população mais velha que passa às novas

gerações sua influência.

c. Chamar a atenção da sociedade sobre este gênero musical que faz parte da

cultura paulistana, com o objetivo de suprir a falta de divulgação das mídias

que se preocupam em disseminar apenas estilos musicais ligados a

interesses econômicos. Com esse propósito, atender o público interessado,

mas que tem dificuldade de encontrar informações sobre a música sertaneja

de raiz nos meios de comunicação convencionais.

14

5. JUSTIFICATIVA

Existem muitas definições sobre o que é música, mas o consenso geral se

refere à música como a arte de combinar os sons de maneira lógica e coerente,

criando um contexto sonoro rico em significados. Sendo assim, por ser a cidade de

São Paulo a miscigenação de várias culturas e haver pluralidade de gêneros

musicais, podemos dizer que a música, neste universo, se caracteriza por não ter

um estilo próprio.

De qualquer modo, antes desse cosmopolitismo passar a caracterizar o

universo cultural da capital paulista, podemos identificar a música caipira como o

gênero que se tornou a “a primeira trilha sonora da vida de São Paulo”, como afirma

o compositor Paulinho Boca de Cantor em seu artigo “Música de São Paulo – da

catira ao rap”.

Em uma mistura de elementos europeus com aspectos das culturas indígena

e afro-brasileira, a música caipira faz jus à definição acima, já que é rica em

significados de uma vida pobre e simples levada no campo. E foram essas

características, inclusive, que ajudaram a formar a sociedade paulistana na virada

do século XIX para o século XX quando, em busca de melhores condições de vida,

essa população interiorana migrou para a capital paulistana, trazendo seu estilo de

vida e sua arte musical.

Apesar de algumas manifestações da música caipira já serem conhecidas, foi

somente a partir de 1910 que o gênero foi amplamente divulgado e popularizado

pela sociedade por meio de uma iniciativa do jornalista, escritor e produtor Cornélio

Pires – considerado pai da música caipira – em repercuti-lo no mercado fonográfico

da época por meio do disco e do rádio.

Acontece que, com o passar do tempo, a participação do sertanejo de raiz

nos meios de comunicação e no mercado fonográfico deixou de ser evidência e de

ter uma procura significativa da sociedade, uma vez que este estilo musical traz com

ele características muito específicas que levam ao saudosismo, à memória e às

coisas que só quem viveu é que pode apreciar – geralmente a terceira idade.

Além disso, o caipira carrega consigo uma imagem destorcida de sua

realidade, um sentido pejorativo que acarreta ao preconceito por parte daqueles que

não o conhecem de fato. Sendo assim, as novas gerações, além de não viverem a

15

nostalgia proposta pelas canções, não veem interesse em contribuir com a

manutenção de uma figura já estereotipada e a mídia, por sua vez, não divulga algo

para o qual não há público.

Portanto, a fim de contribuir no acesso à música sertaneja de raiz, tanto pelos

mais velhos, quanto pelos mais jovens, é que este projeto se justifica. Pretende-se

preencher o espaço vazio deixado pelos meios de comunicação para tornar público,

em uma linguagem fácil e concebível, informações deste gênero musical que vão

além da divulgação das canções: que aborde características e particularidades de

sua música e da cultura a fim de que os cidadãos de São Paulo reflitam e possam

debater sobre a importância de se manter viva sua história no espaço urbano.

O rádio foi escolhido, por sua vez, como veículo responsável pela

disseminação deste documentário, por ser uma ferramenta tradicional, de baixo

custo, acessível, de pequeno porte e que garante presença em vários estratos

sociais, podendo, com isso, gerar grande impacto, dentro e fora de São Paulo – uma

vez que este projeto tem como público-alvo a sociedade paulistana, mas não se

restringe somente a ela.

Outro fator determinante para o uso do rádio é a correlação que esta mídia

tem com o tema do projeto, já que o primeiro contato da música sertaneja com a

sociedade por um meio de comunicação foi através de uma transmissão de rádio, o

que pode facilitar também na absorção das informações, uma vez que parte dos

ouvintes – considerando aqueles mais velhos – está familiarizada com a linguagem

apresentada.

Há que se considerar, ainda, todos os dados apresentados na revisão de

literatura sobre a situação do rádio no Brasil e na cidade de São Paulo, que serviram

para nortear as características deste projeto.

16

6. REVISÃO DE LITERATURA

6.1. O caipira

O Mini Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa traz a seguinte definição

sobre caipira:1. Habitante do campo ou da roça. 2. Diz-se de caipira: caboclo,

capiau, jeca, matuto, roceiro, sertanejo. (FERREIRA, 2000, p. 119).

Estudiosos de várias correntes afirmam que, em um determinado período

histórico-social brasileiro, ele habitava nas zonas rurais das regiões Sudeste e

Centro-Sul do Brasil, compreendidas pelos Estados de Mato Grosso, Goiás, Minas

Gerais, São Paulo e Paraná.

Segundo o livro de José Antônio Alves Junior, “Música caipira raiz– O

entrelugar da memória e da contradição” (2011), a simplicidade do caipira tornava-o

diferente dos outros moradores de regiões rurais. Era considerada uma pessoa

retraída, tímida, discreta e vergonhosa, mas se transformava em um ser

extrovertido, alegre e festivo personificado no cantador-violeiro da moda caipira. Ele

vivia em rancho, uma espécie de abrigo de palha, composto de paredes de pau-a-

pique, mas também em casas de alvenaria tradicionais na cidade. Com esse tipo de

construção, sua condição de pobreza era evidente. Utensílios eram produzidos por

ele mesmo e para iluminação. Era comum a utilização do candeeiro de barro e o

lampião.

Ainda de acordo com Alves Junior (2011), para sua subsistência, o caipira

vivia da caça de animais silvestres, coleta de frutos encontrados na mata e da

pesca, mas a alimentação principal era à base do feijão, do milho e da mandioca.

Com uma organização familiar patriarcal, cabia ao pai o dever de gerir, distribuir o

trabalho e tomar toda a decisão como a educação dos filhos, a lida na roça, a

escolha do cônjuge para os filhos etc.

Este pacato modo de vida começou a mudar nas últimas décadas do século

XIX e nas primeiras do século XX, quando os investimentos econômicos passaram a

ser concentrados na cidade. O doutor em educação, Judas Tadeu de Campos, em

seu artigo “A educação do caipira: sua origem e formação”, completa: “O dinheiro

dos investidores, antes empregado nas lavouras, passou a ser canalizado para os

17

grandes centros”. Neste contexto, segundo Campos, “o caipira paulista passou a

sofrer, no próprio estado onde vivia, um preconceito cultural” (2011, p. 494).

Para J. S. Martins (1975, p. 4, 26 e 87 apud CAMPOS, 2011, p. 494), a

afirmação da superioridade do modo de vida urbano sobre o rural exprimiu-se

culturalmente na construção de estereótipos negativos sobre o morador da zona

rural, dando origem ao personagem Jeca Tatu, criado por Monteiro Lobato, que

descreve, de acordo com o que se pensava na época, o que seria um típico morador

da roça.

No entanto, para contrapor este estereótipo, Nepomuceno (1999, p. 24) expõe

a observação de Inezita Barroso em defesa ao homem sertanejo. Na opinião da

cantora caipira, “o termo caipira passou a ser pejorativo, sinônimo de brega, mal

vestido, idiota, velho, quando é ser exatamente o contrário. Caipira é aquele que se

conserva ligado à terra, à cultura original” (entrevista dada aos autores deste projeto

em colocar a data).

6.2. A música caipira

Alves Junior (2011) descreve que este gênero musical surgiu da influência

dos primeiros portugueses e dos índios no período da catequização, realizada pelas

missões jesuítas. Como consequência, foi acrescentada pelos portugueses a viola

rústica trazida de Portugal.

A característica marcante da música caipira é da tristeza causada pela

saudade do português no exílio, pelo sofrimento do negro escravo e pela humilhação

sofrida pelo povo indígena, em seu próprio país. É constituída pela pluralidade de

elementos de lugares e épocas diferentes. No gênero musical caipira, a viola é o

elemento principal, cantado por uma dupla.

Para o professor e pesquisador Ivan Vilela, em seu artigo “O caipira e a viola

brasileira”, uma das principais funções deste gênero é atuar, nas festas religiosas,

como o fio condutor de todo o processo ritual. “É através da música que os homens

e as mulheres do lugar se reúnem e se organizam para fazer com que ritos de

celebração da vida e realizações pessoais sejam manifestos” (VILELA, 2004, p.

175).

18

Alves Junior (2011) completa: estas composições caracterizadas pelo forte

apelo religioso foram disseminadas em típicas festas como Folia de Reis, Dança de

São Gonçalo, Folia do Divino e Festa Junina. E como expressão oral-popular

oriunda de criação anônima, elas possuem vários estilos conforme os ritmos, danças

e canções emergidas de uma arte mestiça:

6.2.1. Moda de viola

Moda de viola é o principal ritmo do qual se originaram vários outros

conhecidos. Como já apresentado anteriormente, a viola foi o elemento introduzido

com o objetivo de auxiliar na catequização dos índios. Esculpida a partir de um

tronco de madeira e composta de dez cordas de tripa de animal, ela era utilizada

para tocar melodias portuguesas ao ritmo das danças indígenas. Foi a partir desse

período da história do Brasil que a moda caipira originou.

De característica nostálgica e melancólica, a moda expressa os sentimentos

do povo predominantemente da zona rural, lembrando o ideal romântico com temas

diversos. Quase sempre os personagens fazem referências ao amor ou a dor.

6.2.2. Cururu

Cururu é um ritmo musical marcado pelas batidas dos pés e acompanhado da

viola. É utilizado em cantos religiosos, em especial, no interior do Estado de São

Paulo. Os cantores, chamados de cururueiros, formam uma roda composta de

quatro cantores e um tocador de viola.

O objetivo é um embate entre as duplas por meio de desafios com duração de

cerca de uma hora e meia até que se completem todos os participantes. Pode se

utilizar da linguagem a partir de qualquer tema, desde que não seja a mulher alheia

e os santos.

6.2.3. Catira

Conhecida como cateretê, a catira é uma dança religiosa indígena, da tribo do

cateretê, que forma, com o cururu, um dos mais primitivos e antigos sons caipiras.

19

Os portugueses, por meio dessa dança, procuravam atrair os nativos para a religião

católica. É uma dança rural característica da região Sudeste do Brasil. Para dançar a

catira, os participantes, em fila dupla formada por uma de homens e outra de

mulheres, sapateiam e batem palmas acompanhadas do som da música e da viola

sob o comando de dois violeiros-cantadores.

6.2.4. Congada e Calango

Com a chegada do negro para o Brasil, a música caipira sofreu influência das

tradições profano-religiosas do povo africano, da região de Angola e do Congo. Os

elementos rítmicos e dançantes se misturaram aos da tradição da zona rural,

resultando em uma manifestação cultural com mais cor e sensualidade.

Da convivência entre os escravos e o caipira, surgiu um novo ritmo que

incorporou outros instrumentos como a sanfona, o reco-reco e o pandeiro ao som da

viola: o calango.

A música caipira, gênero musical que fazia parte exclusiva do cenário do

campo, expandiu-se para outras regiões com o trabalho produzido, em 1910, por

Cornélio Pires – considerado pai da música caipira. Como explica Alves Junior

(2011), o trabalho foi um marco para a indústria fonográfica com a entrada do mundo

artístico-musical rural por meio das gravadoras como Odeon, Victor e Columbia que

passaram a procurar talentos para ser lançado ao mercado, já que o gênero musical

possibilitava rentabilidade econômica.

A partir deste período, ocorreram grandes transformações na música caipira,

pois devido às exigências da indústria fonográfica, ela precisou ajustar-se aos

padrões para o público da cidade. O tempo de duração da música foi diminuído, os

termos falados pelo povo do campo foram adaptados, temas de cunho religiosos

substituídos pelo profano, como dinheiro, sexo, política etc. A viola caipira foi

substituída por outros instrumentos ou precisou conviver com a guitarra, pistões,

banjos, violão elétrico, bateria e outros.

Com esse distanciamento das origens rurais, a música caipira transformou-se

em um gênero urbano, denominado sertanejo, com algumas características ainda

mantidas, como o som nasal e o canto agudo e alto.

20

Para Nepomuceno (1999, p. 23), “ser caipira ou um moderno sertanejo é uma

questão de destino, gosto, herança cultural, expectativas, escolhas – cada músico

tem a sua definição”. Ele enfatiza que “o artista do interior pode escolher entre

manter a tradição, cantando para plateias menores, ou trocar a viola por uma banda

inteira e botar milhares de pessoas de braços para o ar”.

Alves Júnior (2011) acrescenta que, em 1980, Léo Canhoto e Robertinho

foram considerados como um marco do gênero sertanejo moderno, utilizando-se de

guitarras, baixos, baterias e outros instrumentos de percussão. Chitãozinho e Xororó

apresentam-se com uma roupagem pop que lhes garantiu sucesso com o hit “Fio de

Cabelo”. A partir do sucesso da dupla, muitos jovens cantores, na condição de pop-

sertanejos, também ganharam fama como João Paulo e Daniel, Leandro e

Leonardo, Chrystian e Ralf, Gian e Giovani, Rick e Renner, Bruno e Marrone, Rio

Negro e Solimões e Zezé Di Camargo e Luciano.

Por outro lado, consagrados artistas caipiras como Teddy Vieira, Rolando

Boldrin, João Pacífico, Raul Torres, Vieira e Vieirinha, Tonico e Tinoco, Inezita

Barroso, Tião Carreiro, Pena Branca e Xavantinho e outros perderam destaque nas

mídias. O estilo musical caipira entrou em decadência diante o desinteresse da

indústria fonográfica, mas sobreviveu graças a um movimento promovido por

estudantes mineiros, paulistas e goianos interessados em resgatar a arte musical

rural.

6.3. O veículo rádio

Como já mencionado anteriormente, o rádio é um instrumento de baixo custo,

acessível, de pequeno porte e de programação diversificada, que garante presença

em vários estratos sociais. Daniela Oliveira Albertin, em sua dissertação “Uai, sô! A

gente tá no rádio: um estudo diacrônico sobre música caipira e sertaneja no Brasil”

afirma que “o rádio possui uma programação diversificada e ultrapassa em número

de ouvinte até mesmo a televisão” (2011, p. 19).

Podemos verificar esta informação a partir dos números apresentados por

Milton Jung, em seu livro “Jornalismo de rádio” (2004, p. 13), em que 96% do

território brasileiro está ligado ao rádio, contra 87% da televisão. E também segundo

um levantamento realizado pelo Monitor Evolution e divulgado pelo Instituto

21

Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (IBOPE), em janeiro de 2013, que aponta

um crescimento, de 2011 para 2012, de 15% dos investimentos no rádio – maior que

o da TV Aberta, que foi 11%.

Prosseguindo com as características do rádio, Emílio Prado, em seu livro

“Estrutura da Informação Radiofônica”, pontua que “o rádio como meio informativo,

além de transmitir o mais rapidamente possível os acontecimentos atuais, pode

aumentar a compreensão pública por meio da explicação e análise. Este

aprofundamento dos temas conta no rádio com a vantagem de poder ser exposto

pelos seus conhecedores” (1989, p. 28). Por este motivo, portanto, é que o presente

trabalho procura abordar o tema sobre a música caipira a partir de entrevistas com

especialistas, defensores e público apreciador do gênero.

No radiojornalismo, assim como em outros veículos, várias são as formas de

comunicar os fatos, porque há diferentes técnicas e particularidades que constituem

os gêneros e formatos radiofônicos.

No caso deste projeto, o gênero utilizado será o jornalístico ou informativo,

definido pelo professor Dr. Eduardo Vicente, da ECA/USP, em seu artigo “Gêneros e

formatos radiofônicos”, como “aquele em que o rádio busca levar ao ouvinte a

informação da forma mais atualizada e abrangente” (p. 2) e, dentro deste gênero, o

formato que deve preponderar neste trabalho é o documentário radiofônico, o qual,

ainda segundo Vicente, “pode incorporar elementos de outros gêneros radiofônicos,

já que pode incluir entrevistas, depoimentos pessoais, opiniões e dramatização de

textos e acontecimentos [...] com o uso de música e efeitos” (p. 3).

Deve-se considerar ainda que o presente projeto também carrega elementos

do formato de programa temático – contido no gênero dramático ou ficcional –, que

por sua vez é identificado por Vicente como um “programa voltado para a discussão

do conhecimento dentro de uma área ou tema específico” e que completa, enfim, as

características do programa de rádio desenvolvido.

6.4. Análise de mercado

Conforme explanado acima, o rádio foi o veículo escolhido para o

desenvolvimento deste projeto com base em informações provindas de análises de

mercado disponibilizadas eletronicamente por instituições de projeção para o próprio

22

mercado. As definições de emissora, público-alvo, planejamento do programa, dias e

horários de transmissão seguiram o mesmo parâmetro.

De acordo com uma pesquisa realizada em maio de 2013 pelo Easymedia e

divulgada pelo IBOPE, o índice de audiência do rádio, por dia, chega a 13,41 %,

sendo que desses, 11,93% representam as rádios FM, contra apenas 1,47% de

frequências AM. Diante disso, foi estipulada a escolha da Rádio Paulistana - produto

final deste trabalho - como uma emissora FM.

A mesma pesquisa ainda revela que o tipo de gênero musical preferido entre

os ouvintes é a música sertaneja, com 40% da preferência entre a classe C. No

entanto, essa informação não diminui a realidade da falta de divulgação e interesse

do público pela música tema deste trabalho - a caipira.

Para corroborar essa afirmação, foram analisadas as programações das 37

principais emissoras de rádio da cidade de São Paulo, as quais foram definidas pelo

IBOPE em março de 2013, conforme sua capacidade de audiência. Dessa lista

principal, 27 emissoras são segmentadas, ou seja, com estilos já definidos, como all

news, religiosas, esportivas ou que tocam gêneros musicais específicos.

Das emissoras que tocam estilos de música variados (8), apenas duas

mantém programas específicos de música sertaneja, embora mesclem ritmos de raiz

com universitários. São elas: Rádio Terra FM e Super Rádio Tupi FM. Outras duas

rádios (Nativa FM e Tupi FM) são voltadas para o segmento sertanejo, mas o novo

sertanejo e o sertanejo universitário são as preferências do público.

Emissoras de segmento específico* Emissoras de segmento variado*

Emissoras de segmento sertanejo*

Rádio Rock FM 89.1 Rádio Disney FM 91.3 Transcontinental FM 104.7 Nativa FM 95.3

Mix FM 106.3 Musical FM 105.7 Band FM 96.1 Tupi FM 104.1

Vida FM 96.5 Rede Aleluia FM 99.3 105 FM 105.1

Alpha FM 101.7 Rádio Bandeirantes FM 90.9 Gazeta FM 88.1

Antena 1 FM 94.7 BandNews FM 96.9 Tropical FM 107.9

Metropolitana FM 98.5 Território Eldorado FM 107.3 USP FM 93.7

Kiss FM 102.1 Iguatemi Prime FM 92.5 Terra FM 100.3

Nova Brasil FM 89.7 Cultura FM 103.3 Super Rádio Tupi FM

Gospel FM 90.1 Mundial FM 95.7

Jovem Pan FM 100.9 SulAmérica Trânsito FM 92.1

CBN FM 90.5 Nossa Rádio FM 106.9

Energia 97 FM 97.7 Estadão FM 92.9

Imprensa FM 102.5 Bradesco Esportes FM 94.1

Transamérica FM 100.1

*Por ordem de maior audiência (colocar a fonte do quadro ou das informações do quadro)

23

Sobre os ouvintes, é possível informar, segundo um estudo feito entre 2011 e

2012 e divulgado IBOPE, que a maioria do público de rádio é formada por pessoas

que buscam comodidade, interação social, participação e informações a respeito do

que gostam e ouvem. A partir desses dados é que foi desenvolvido o planejamento

do programa Raiz Paulistana, com entrevistas, músicas, informações e curiosidades

sobre o mundo caipira, além da dinâmica de interação e participação dos ouvintes.

Ainda com base no mesmo estudo, foram analisados os dados referentes ao

local em que os ouvintes mais sintonizam o rádio. A pesquisa mostra que 86% das

pessoas ouvem rádio em suas casas, entre 10 e 17 h, seguido de 27% que ouvem

rádio no carro a partir das 18 h, quando já estão no trânsito de São Paulo. Diante

disso, foram estipulados os dias e horários de transmissão do programa como sendo

quarta-feira, das 10h30min às 10h55min, com reprise à sexta-feira, das 17h30min às

17h55min, tanto para a dona de casa e o trabalhador que volta depois do

expediente, respectivamente.

24

7. METODOLOGIA

Com base na hipótese e nos objetivos enumerados anteriormente neste

trabalho, optou-se por uma metodologia que englobasse o estudo teórico e

bibliográfico sobre o mundo rural com foco na cultura e música caipira. Buscou-se

informações desde a origem e formação do homem do campo no ambiente rural até

seu comportamento durante o processo do êxodo rural e as transformações

ocorridas em suas características em meio a adaptação na cidade grande.

Procurou-se, nesse processo de pesquisa, saber quem é o caipira: o seu

modo de vida e sua música que o acompanha no dia a dia e após sua saída do

campo para a cidade. A partir dos dados colhidos e analisados, tem-se a

possibilidade de realização do programa de rádio sobre a cultura e música caipira,

mais precisamente na cidade de São Paulo, que é o produto a ser realizado como

propósito final desse trabalho.

7.1. Estudo Teórico

Conforme desenvolvido nos capítulos anteriores, a música caipira – objeto

pelo qual será produzido o programa de rádio – foi pesquisada e estudada em seu

processo de desenvolvimento no campo, na região do médio Tietê e no centro-sul

do estado paulista. Com o passar dos anos, foi disseminada em outras regiões do

Brasil, como o restante do estado de São Paulo, em Goiás, Paraná, Minas Gerais.

Estudou-se também o personagem que a canta e a compõe, mas transmite

aos outros integrantes daquela sociedade de forma oral, por não conhecer a escrita

como instrumento para composição das letras dos poemas e poesias transformados

em cantigas.

7.2. Coleta de dados

7.2.1. Entrevistas

Serão entrevistados sobre o tema estudiosos, compositores, intérpretes e

admiradores da música caipira, para se ter um panorama completo da importância e

abrangência deste gênero em vários aspectos.

25

7.2.2. Visita

Pretende-se, como objetivo de coletar informações para serem utilizadas na

complementação de parte do programa, visitar a Biblioteca Belmonte, em Santo

Amaro – local em que acontece um Sarau Sertanejo – para demonstrar a existência

da força resistente neste local para a perpetuação da música caipira ou sertaneja de

raiz na cidade de São Paulo.

26

8. PROGRAMA DE RÁDIO

Emissora: Rádio Paulistana, 100,5 FM - O melhor da cultura para você.

Nome do programa: Raiz Paulistana.

Transmissão: Quartas-feiras, das 10h30min às 10h55min, com reprise às sextas-

feiras, das 17h30min às 17h55min.

Público alvo: Dona de casa e trabalhadores que voltam para a casa depois do

expediente.

8.1. Roteiro do programa

O Raiz Paulistana terá duração de 25 minutos, dividido em cinco blocos.

Apresentamos, a seguir, o roteiro do programa-piloto:

Bloco 1

Abertura com cumprimentos aos ouvintes, apresentação do nome e horário do

programa, identificação dos apresentadores e apresentação das atrações da edição.

Bloco 2

Introdução do tema “caipira” e entrevista em estúdio com o especialista prof.

Expedito Leandro Silva.

Bloco 3

Apresentação de música do repertório caipira; Causos de Rolando Boldrin;

Entrevista em estúdio com o músico Junior da Violla.

Bloco 4

Entrevista exclusiva feita com a apresentadora Inezita Barroso.

Bloco 5

Apresentação de receita típica da roça; Matéria sobre curiosidades do mundo

caipira; Depoimento de apreciador da música caipira; Matéria sobre dicas culturais;

Agradecimentos aos ouvintes e encerramento do programa.

27

8.2. Espelho do programa

Redator:

Data: 13/09/2013

Programa: Raiz Paulistana

Matéria/ Retranca: Abertura/ Atrações

Tempo:

TEC

TEC

LOC 1

LOC 2

LOC 1

LOC 2

LOC 1

LOC 2

LOC 1

TEC

BLOCO 1

VINHETA ABERTURA (T=___)

SOBE TRILHA “MENINO DA PORTEIRA” (T= 05”) VAI A BG

OLÁ AMIGOS DA RÁDIO PAULISTANA. ESTE É O RAIZ PAULISTANA QUE

VAI AO AR, A PARTIR DE HOJE, TODAS AS QUARTAS-FEIRAS, ÀS DEZ E

MEIA DA MANHÃ, COM REPRISE TODAS AS SEXTAS, AS CINCO E MEIA

DA TARDE. EU SOU CLAYTON SANTOS. (T=___)

EU SOU ALINE PIGOZZI E LEVAREMOS ATÉ VOCÊ UM POUQUINHO DE

CULTURA, MÚSICAS, HISTÓRIAS E CURIOSIDADES DO MUNDO CAIPIRA,

ALÉM DE DELICIOSAS RECEITAS TÍPICAS DA ROÇA. (T=___)

NESTE PROGRAMA DE ESTRÉIA, VAMOS TRAZER PARA VOCÊ UMA

ENTREVISTA COM O PROFESSOR EXPEDITO SILVA, QUE ESTÁ EM

NOSSO ESTÚDIO E VAI FALAR UM POUQUINHO SOBRE A HISTÓRIA DO

HOMEM DO CAMPO. (T=___)

AINDA TEREMOS CAUSOS DE ROLANDO BOLDRIN, O SENHOR BRASIL.

(T=___)

E O NOSSO REPÓRTER WALDEMAR SATO TAMBÉM TRAZ PARA O

NOSSO ESTÚDIO O MÚSICO JÚNIOR DA VIOLLA. (T=___)

E AINDA UMA ENTREVISTA COM ELA... A APRESENTADORA DO

PROGRAMA VIOLA, MINHA VIOLA, INEZITA BARROSO. (T=___)

É ALINE, JÁ VAI COLOCANDO A ÁGUA DO CAFÉZINHO PARA FERVER,

ENQUANTO FAZEMOS UM RÁPIDO INTERVALO. O RAIZ PAULISTANA

VOLTA JÁ. (T=___)

BREAK COMERCIAL (T=___)

28

Redator:

Data: 13/09/2013

Programa: Raiz Paulistana

Matéria/ Retranca: Entrevista Expedito

Tempo:

TEC

LOC 1

TEC

LOC 2

TEC

LOC 1

LOC 2

BLOCO 2

SOBE TRILHA “MENINO DA PORTEIRA” (T= 05”) VAI A BG

ESTAMOS DE VOLTA COM O RAIZ PAULISTANA, QUE TRAZ PARA VOCÊ

O UNIVERSO CAIPIRA. E POR FALAR EM CAIPIRA... (T=___)

SOBE TRILHA “TRISTEZA DO JECA” (T= 05”) VAI A BG

O CAIPIRA ERA UMA PESSOA SIMPLES QUE VIVIA NO RANCHO, EM

UMA ESPÉCIE DE ABRIGO DE PALHA E PAU-A-PIQUE. ERA POBRE,

VIVIA DE CAÇA DE ANIMAIS SILVESTRES, COLETAS DE FRUTOS DA

MATA E DA PESCA. ERA UMA PESSOA TÍMIDA E DISCRETA, MAS SE

TORNAVA ALEGRE E FESTIVO, QUANDO CANTAVA SUAS MODAS DE

VIOLA. (T=___)

SOBE TRILHA (T= 02”) VAI A BG

ESSE MODO DE VIDA COMEÇOU A MUDAR NO FINAL DO SÉCULO 19 E

INÍCIO DO SÉCULO 20, LÁ PELOS ANOS 1800, QUANDO O GOVERNO

PASSOU A FAVORECER OS RICOS FAZENDEIROS. COM ISSO, O

HUMILDE HOMEM DO CAMPO FOI OBRIGADO A SE DESFAZER DE SUAS

TERRAS POR FALTA DE RECURSOS FINANCEIROS E TEVE QUE

MIGRAR PARA A CIDADE PARA SOBREVIVER.

MAS, PARA EXPLICAR MELHOR SOBRE ESSE ASSUNTO, EU GOSTARIA

DE PEDIR PARA MINHA COMPANHEIRA ALINE APRESENTAR PARA OS

NOSSOS OUVINTES NOSSO CONVIDADO ESPECIAL. (T=___)

NOSSA! OBRIGADA POR ME CONCEDER ESSA HONRA, CLAYTON.

VOCÊ ESTÁ MAIS CAVALHEIRO QUE DE COSTUME.

BOM, ESTAMOS COM O DOUTOR EM CIÊNCIAS SOCIAIS E

ANTROPOLOGIA PELA PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA (PUC) DE

SÃO PAULO E PROFESSOR DA UNIVERSIDADE DE SANTO AMARO,

EXPEDITO LEANDRO SILVA.

29

TEC

LOC 1

TEC

TEC

LOC 2

TEC

LOC 1

TEC

LOC 1

TEC

LOC 2

OLÁ PROFESSOR, SEJA BEM VINDO. VOCÊ PODE EXPLICAR PARA OS

NOSSOS OUVINTES QUEM É ESSE SUJEITO CAIPIRA? (T=___)

SONORA PROFESSOR (T=___)

PROFESSOR EXPEDITO, FOI MONTEIRO LOBATO, COM O

PERSONAGEM JECA TATU, QUE ACABOU CRIANDO ESSE

PRECONCEITO COM O CAIPIRA, PELO JEITO TODO ATRAPALHADO E

ACOMODADO? (T=___)

SONORA PROFESSOR (T=___)

SONORA JECA TATU (T=___)

E PROFESSOR, VOCÊ CITOU MÚSICA. ENTÃO, É POSSÍVEL A GENTE

AFIRMAR QUE A MÚSICA CAIPIRA AJUDOU A FORMAR A CIDADE DE

SÃO PAULO? (T=___)

SONORA PROFESSOR (T=___)

E, COMO ESSAS PESSOAS TÃO SIMPLES E A MÚSICA DE RAIZ

CHAMARAM A ATENÇÃO DA INDÚSTRIA FONOGRÁFICA? (T=___)

SONORA PROFESSOR (T=___)

O SENHOR FALOU NA POÉTICA DESSAS MÚSICAS, QUE CONTAM OS

VERDADEIROS CAUSOS, AS HISTÓRIAS. HOJE, A SOCIEDADE, DE UMA

FORMA GERAL, SE TORNOU MUITO COMPACTA, MUITO RÁPIDA.

TALVEZ, ESSAS LETRAS NÃO SE APLIQUEM TANTO HOJE. COMO

EXPLICAR QUE ELAS AINDA FAÇAM SUCESSO HOJE EM DIA? (T=___)

SONORA PROFESSOR (T=___)

ENQUANTO SAI O CAFEZINHO, PROFESSOR, FRESQUINHO E COM UM

BELÍSSIMO BOLO DE FUBÁ, POR SINAL, ME DIGA: AINDA EXISTE

COMPOSITOR E INTÉRPRETE DE MÚSICA CAIPIRA? (T=___)

30

TEC

LOC 1

TEC

LOC 1

TEC

TEC

LOC 1

TEC

SONORA PROFESSOR (T=___)

PARA ENCERRAR E TOMARMOS AQUELE CAFEZINHO, QUAL O

FUTURO DA MÚSICA DE RAIZ? (T=___)

SONORA PROFESSOR (T=___)

OK. ENTÃO EU QUERO AGRADECER A PRESENÇA DO PROFESSOR

EXPEDITO LEANDRO SILVA, QUE NOS DEU AQUI UMA AULA SOBRE A

CULTURA CAIPIRA. MUITO OBRIGADO, PROFESSOR. (T=___)

SONORA PROFESSOR (T=___)

SOBE TRILHA “MENINO DA PORTEIRA” (T= 05”) VAI A BG

E VOCÊ FIQUE LIGADO QUE O RAIZ PAULISTANA SÓ ESTÁ

COMEÇANDO. VOLTAMOS DEPOIS DO INTERVALO. (T=___)

BREAK COMERCIAL (T=___)

31

Redator:

Data: 13/09/2013

Programa: Raiz Paulistana

Matéria/ Retranca: Entrevista Junior

Tempo:

TEC

LOC 1

TEC

LOC 2

TEC

TEC

LOC 1

TEC

TEC

TEC

LOC 1

BLOCO 3

SOBE TRILHA “MENINO DA PORTEIRA” (T= 05”) VAI A BG

VOLTAMOS COM O NOSSO PROGRAMA AQUI NA RÁDIO

PAULISTANA, 100, 5 FM E AGORA VAMOS AO MOMENTO... (T=___)

VINHETA MODA DO DIA (T=___)

A MODA DE HOJE FALA SOBRE UM ASSUNTO QUE, INFELIZMENTE,

AINDA É MUITO ATUAL EM NOSSOS DIAS, MAS QUE JÁ FOI

RETRATADO LÁ EM MIL NOVECENTOS E CINQUENTA E QUATRO POR

TEDDY VIEIRA E PALMEIRA, QUANDO COMPUSERAM A TOADA QUE

CONTA A TRISTE HISTÓRIA DE UM VELHO PAI, ABANDONADO PELO

SEU FILHO. GRAVADA PELA DUPLA PALMEIRA E BIÁ, COM VOCÊS,

COURO DE BOI. (T=___)

SOBE TRILHA “COURO DE BOI” (T= ___)

SOBE TRILHA “MENINO DA PORTEIRA” (T= 05”) VAI A BG

QUE MUSICÃO, HEIN ALINE. E FALANDO EM HISTÓRIAS DA ROÇA, O

CAUSO DE HOJE É CONTADO POR ROLANDO BOLDRIN,

APRESENTADOR DO PROGRAMA SENHOR BRASIL. VAMOS OUVIR?

(T=___)

SOBE TRILHA “ABERTURA SR. BRASIL” (T= 05”) VAI A BG

SONORA CAUSO ROLANDO (T=___)

SOBE TRILHA “MENINO DA PORTEIRA” (T= 05”) VAI A BG

QUE BELA HISTÓRIA! MAS OLHA QUEM ESTÁ ENTRANDO AQUI NO

ESTÚDIO... NOSSO REPÓRTER WALDEMAR SATO. (T=___)

32

REP 1

LOC 1

TEC

LOC 2

TEC

REP 1

TEC

LOC 2

TEC

REP 1

TEC

OLÁ OUVINTES DA RÁDIO PAULISTANA. DEU TRABALHO TRAZER O

HOMEM, MAS ELE ESTÁ AÍ. JÁ TOMOU UMA ÁGUA E ESTÁ SE

ACOMODANDO AQUI. (T=___)

ENTÃO, VAMOS LÁ. VAMOS À ENTREVISTA COM O VIOLEIRO,

COMPOSITOR E PROFESSOR DE VIOLA, JUNIOR DA VIOLLA. SEJA

BEM VINDO. (T=___)

SOBE TRILHA “BRINCANDO COM A VIOLA BAMBICO” (T= 05” ) VAI A

BG

OLÁ, TUDO BOM? (T= 02”)

SONORA JUNIOR (T=___)

JUNIOR, OBRIGADO PELA PRESENÇA. SABEMOS QUE VOCÊ É

PAULISTANO E QUE FOI ATRAVÉS DE SEUS AVÓS QUE VOCÊ

CONHECEU A MÚSICA CAIPIRA. EXPLICA PRA GENTE COMO É

VIVER E CULTIVAR ESSA RAIZ EM MEIO À CIDADE GRANDE? (T=___)

SONORA JUNIOR (T=___)

E O QUE TE CHAMOU ATENÇÃO NESSA CULTURA E NA VIOLA DE 10

CORDAS, QUE É TÍPICA DA MÚSICA CAIPIRA? (T=___)

SONORA JUNIOR (T=___)

APESAR DESSAS MUDANÇAS QUE SOFREU ESSE GÊNERO

MUSICAL, AS PESSOAS AINDA SE INTERESSAM PELA MÚSICA

CAIPIRA OU MESMO PELA VIOLA, TANTO É QUE VOCÊ É

PROFESSOR HÁ TREZE ANOS, SALVO ENGANO. EU QUERIA SABER

QUAL A FAIXA ETÁRIA DESSES ALUNOS? TEM GENTE MAIS VELHA,

GENTE MAIS NOVA? (T=___)

SONORA JUNIOR (T=___)

33

LOC 1

TEC

LOC 1

TEC

REP 1

TEC

LOC 2

TEC

LOC 1

REP 2

E QUAL O INTERESSE NA PROCURA POR ESSE INSTRUMENTO?

(T=___)

SONORA JUNIOR (T=___)

JUNIOR DA VIOLLA, TRATAMOS NESSE PROGRAMA SOBRE O

RESGATE DA MÚSICA CAIPIRA NA CIDADE DE SÃO PAULO E A

GENTE VIU QUE VOCÊ PASSOU POR VÁRIOS PROGRAMAS E

CONHECE VÁRIAS PESSOAS DO RAMO. ENTÃO, VOCÊ VÊ QUE HÁ

ESPAÇO PARA A DIVULGAÇÃO DA MÚSICA CAIPIRA OU SENTE UM

LIMITE, OU SEJA, NÃO É TODO MUNDO QUE ACEITA E QUE QUEIRA

MANTÊ-LA VIVA? (T=___)

SONORA JUNIOR (T=___)

NO SEU PONTO DE VISTA, QUAL VOCÊ ACHA QUE É O FUTURO

DESSA MÚSICA? (T=___)

SONORA JUNIOR (T=___)

JUNIOR, FALANDO EM ROCK, NÓS VIMOS QUE VOCÊ ADAPTOU UM

RITMO, QUE É O ROCK CAIPIRA. EXPLICA PARA NÓS E PARA OS

NOSSOS OUVINTES, O QUE SERIA ESSE ROCK CAIPIRA E PORQUE

VOCÊ FEZ ESSA ADAPTAÇÃO? (T=___)

SONORA JUNIOR (T=___)

A NOSSA REPÓRTER MÔNICA ARAÚJO ESTÁ CONOSCO POR

TELEFONE E TEM UMA PERGUNTA PARA VOCÊ. (T=___)

OI JUNIOR. PRIMEIRO EU QUERIA COMENTAR QUE, APESAR DE

VOCÊ NÃO TER VIVIDO NO CAMPO E NÃO SE CONSIDERAR UM

VIOLEIRO CAIPIRA, DE QUALQUER FORMA, VOCÊ CONTRIBUI PARA

A DIVULGAÇÃO DA MÚSICA SERTANEJA DE RAIZ. BOM, EU QUERIA

SABER UM POUQUINHO SOBRE SEU NOVO PROJETO DA VIOLA DE

12 CORDAS? (T=___)

34

TEC

LOC 2

TEC

TEC

SONORA JUNIOR (T=___)

E VOCÊ PODE DAR UMA PALHINHA PRA GENTE, AGORA? (T=___)

SONORA JUNIOR (T=___)

BREAK COMERCIAL (T=___)

35

Redator:

Data: 13/09/2013

Programa: Raiz Paulistana

Matéria/ Retranca: Entrevista Inezita

Tempo:

TEC

LOC 1

LOC 2

LOC 1

LOC 2

TEC

LOC 1

TEC

LOC 2

TEC

LOC 2

TEC

LOC 1

BLOCO 4

SOBE TRILHA “MENINO DA PORTEIRA” (T= 05”) VAI A BG

VOLTAMOS COM O RAIZ PAULISTANA. E AGORA, ALINE, QUAL A

PRÓXIMA ATRAÇÃO? (T=___)

AAAAH, AGORA VAMOS ENTREVISTAR ELA... (T=___)

ELA? ELA QUEM, ALINE? (T=___)

A CANTORA, ATRIZ, INSTRUMENTISTA, PROFESSORA DE FOLCLORE E

APRESENTADORA DO PROGRAMA VIOLA, MINHA VIOLA. É COM MUITO

PRAZER QUE AGORA VAMOS TRANSMITIR UMA ENTREVISTA

EXCLUSIVA QUE FIZEMOS COMA DAMA DA MÚSICA CAIPIRA, INEZITA

BARROSO. (T=___)

SOBE TRILHA “MARVADA PINGA” (T= 05”) VAI A BG

QUAL A IMPORTÂNCIA DA MÚSICA CAIPIRA PARA A CIDADE DE SÃO

PAULO? (T=___)

SONORA INEZITA (T=___)

E QUAL A IMPORTÂNCIA DO RÁDIO PARA A MÚSICA CAIPIRA? (T=___)

SONORA INEZITA (T=___)

TEM QUE FAZER CONHECER, NÉ?

SONORA INEZITA (T=___)

E AINDA ESTÃO SURGINDO COMPOSITORES DA MÚSICA SERTANEJA

DE RAIZ? (T=___)

36

TEC

LOC 2

TEC

LOC 1

TEC

LOC 2

TEC

LOC 2

TEC

LOC 1

TEC

LOC 1

TEC

TEC

TEC

SONORA INEZITA (T=___)

DONA INEZITA, POR QUE A INDÚSTRIA FONOGRÁFICA MUDOU TANTO

A IMAGEM DO CAIPIRA? (T=___)

SONORA INEZITA (T=___)

COMO OS COMPOSITORES DA NOVA GERAÇÃO SEMPRE RELEMBRAM

AS CANÇÕES MAIS ANTIGAS NOS SEUS PALCOS –SEMPRE HÁ ESSE

RESGATE –SIGNIFICA QUE A MÚSICA CAIPIRA NÃO FICOU ANTIGA, NÉ,

OBSOLETA?(T=___)

SONORA INEZITA (T=___)

ENTÃO, A SENHORA PERMANECE COM PROJETOS PARA CONTINUAR

REVIVENDO ESSA MÚSICA, PARA NÃO DEIXA-LA SE PERDER?(T=___)

SONORA INEZITA (T=___)

COM, ISSO A MÚSICA CAIPIRA, A SENHORA PODE DIZER QUE

CONTINUA? (T=___)

SONORA INEZITA (T=___)

PARA ENCERRAR E AGRADECENDO A SUA ATENÇÃO, DONA

INEZITA...(T=___)

SONORA INEZITA (T=___)

EU QUERO SABER QUAL É SUA MÚSICA FAVORITA?(T=___)

SONORA INEZITA (T=___)

SOBE TRILHA “PINGO D’ÁGUA” (T= ____)

SOBE TRILHA “ABERTURA VIOLA, MINHA VIOLA” (T= 05”)

37

Redator:

Data: 13/09/2013

Programa: Raiz Paulistana

Matéria/ Retranca: Variedades

Tempo:

TEC

LOC 1

TEC

TEC

LOC 1

LOC 2

TEC

TEC

LOC 2

TEC

LOC 1

TEC

TEC

TEC

BLOCO 5

SOBE TRILHA “MENINO DA PORTEIRA” (T= 05”) VAI A BG

ESTAMOS NO ÚLTIMO BLOCO DO NOSSO PROGRAMA RAIZ

PAULISTANA E APROVEITANDO QUE ESTÁ CHEGANDO A HORA DE

COMER... (T=___)

VINHETA RECEITAS DA ROÇA (T=___)

SOBE TRILHA “MENINO DA PORTEIRA” (T= 05”) VAI A BG

ALINE, O QUE VOCÊ PREPAROU PARA NÓS? (T=___)

CLAYTON, EU ENCONTREI UMA CAIPIRA LEGÍTIMA QUE VAI PASSAR

AGORA UMA RECEITINHA DELICIOSA PARA OS OUVINTES FAZEREM

EM CASA. DONA SANDRA, COMO É QUE FAZ O MÔI DE REPÔI NO AI E

ÓI? (T=___)

SOBE TRILHA “TOCANDO EM FRENTE” (T= 05”) VAI A BG

SONORA MATÉRIA RECEITA (T=___)

SE VOCÊ TEM UMA RECEITA TÍPICA COMO ESSA, ENVIE PARA NÓS

PELO E-MAIL . (dizer qual é o e-mail) QUEM SABE ELA APARECE POR

AQUI? (T=___)

SOBE TRILHA “VIOLA CATIRA” (T= 05”) VAI A BG

VAMOS SABER MAIS SOBRE O MUNDO CAIPIRA? (T=___)

VINHETA VEM CÁ QUE NÓIS CONTA (T=___)

SONORA MATÉRIA CURIOSIDADES (T=___)

38

TEC

LOC 2

TEC

LOC 2

TEC

TEC

TEC

LOC 1

TEC

TEC

TEC

LOC 1

LOC 2

SOBE TRILHA “JORGI NHO DO SERTÃO” (T= 05”) VAI A BG

SOBE TRILHA “________________” (T= 05”) VAI A BG

CHEGOU A HORA DO... (T= 02”)

VINHETA MINHA MODA FAVORITA (T=___)

E HOJE VAMOS OUVIR A HISTÓRIA DE DONA LOURDES, QUE VAI

CONTAR PRA GENTE PORQUE A MÚSICA RIO PEQUENO, DA DUPLA

TONICO E TINOCO, MARCOU A SUA VIDA. (T=___)

SONORA DEPOIMENTO (T=___)

SOBE TRILHA “RIO PEQUENO” (T= 05”) VAI A BG

SOBE TRILHA “MENINO DA PORTEIRA” (T= 05”) VAI A BG

E EU CHAMO NOVAMENTE NOSSA REPÓRTER MÔNICA ARAÚJO COM

DICAS CULTURAIS PARA VOCÊ. OO MÔNICA, TUDO BEM? O QUE VOCÊ

TROUXE DE DICA PARA OS NOSSOS OUVINTES? (T=___)

SOBE TRILHA “VIOLA CURURU” (T= 05”) VAI A BG

SONORA MATÉRIA DICA (T=___)

SOBE TRILHA “MENINO DA PORTEIRA” (T= 05”) VAI A BG

E QUEM ESTÁ COM A GENTE AÍ, ALINE, NO NOSSO MURAL? (T=___)

BOM, CLAYTON, EU QUERO AGRADECER AOS OUVINTES JULIO DO

PAIOL, O CASAL CHICO BENTO E ROSINHA, OS MENINOS DA

PORTEIRA E O NOSSO AMIGO ZÉ DA ESTRADA, QUE ESTÃO TODOS

NA SINTONIA DA NOSSA RÁDIO. MUITO OBRIGADA A TODOS. (T=___)

39

LOC 1

LOC 2

TEC

ENTÃO É ISSO AÍ. FICAMOS POR AQUI. OBRIGADA PELA AUDIÊNCIA,

TEMOS UM PRÓXIMO ENCONTRO MARCADO SEMANA QUE VEM. E

NÃO SE ESQUEÇAM DA REPRISE NA SEXTA-FEIRA, ÀS CINCO E MEIA

DA TARDE. INTÉ A PRÓXIMA, PESSOAR! (T=___)

SIMBORA, SÔ, QUE DEPOIS TE MAIS!

VINHETA ENCERRAMENTO (T=___)

40

9. CRONOGRAMA

Datas Descrições das atividades

26/02 Definição do tema

28/03 a 30/04 Levantamento bibliográfico: livros, teses, reportagens e documentos

26/04 Definição prévia das fontes primárias e trabalhos que serão acompanhados

30/04 Dúvidas e primeiras orientações com orientador

01 a 30/05 Elaboração do pré-projeto

04/06 Entrega prévia do pré-projeto

06/08 a 24/09 Período de orientações e conclusão do pré-projeto

28/08 Entrevista com primeira fonte, Expedito Silva

13/09 Entrevista com segunda fonte, Junior da Violla

17/09 Entrevista com terceira fonte, Inezita Barroso

27/09 Entrega do PREX parcial para banca de qualificação

07 a 11/10 Bancas de qualificação

08/11 Entrega do PREX definitivo

18 a 22/11 Bancas finais

41

10. REFERÊNCIAS

ALBERTIN, D. O.Uai, sô! A gente tá no rádio: um estudo diacrônico sobre música caipira e sertaneja no Brasil. 2011. 125 f. Dissertação (Mestrado em Comunicação) – Universidade Paulista, São Paulo, 2011.

AUDIÊNCIA SP: Band FM em segundo. UOL 89 A Rádio Rock e Mix FM seguem crescendo. Disponível em < http://tudoradio.com/noticias/ver/8957-audiencia-sp-band-fm-em-segundo-uol-89-a-radio-rock-e-mix-fm-seguem-crescendo>. Acesso em: 15 jun. 2013.

CAMPOS, J. T. de. A educação do caipira: sua origem e formação. In: Educação & Sociedade . Campinas: Cortez, 2011. v. 32, n. 115, 489-506 p. FERREIRA, A. B. H. Mini Aurélio Século XXI : o minidicionário da Língua Portuguesa. 4. ed. rev. e ampl. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000. IBOPE. 47% dos ouvintes de rádio escutam música sertaneja. Disponível em: <http://www.ibope.com.br/pt-br/noticias/Paginas/47-dos-ouvintes-de-radio-escutam-musica-sertaneja.aspx>. Acesso em 20 jun. 2013. IBOPE. Grande São Paulo - Evolução trimestral - abril/13. Disponível em: <http://www.ibope.com.br/pt-br/conhecimento/TabelasMidia/audienciaderadio/Paginas/GRANDE-SAO-PAULO-EVOLUCAO-TRIMESTRAL-2013.aspx>. Acesso em 20 jun. 2013. IBOPE. O meio rádio alcança 77% dos brasileiros . Disponível em: <http://www.ibope.com.br/pt-br/conhecimento/artigospapers/Paginas/O%20meio%20r%C3%A1dio%20alcan%C3%A7a%2077_%20dos%20brasileiros.aspx>. Acesso em 20 jun. 2013. JUNG, Milton. Jornalismo de Radio . São Paulo: Contexto, 2004. JUNIOR, J. A. A. Música caipira raiz : O entrelugar da memória e da contradição. Campinas: Appris, 2011. NEPOMUCENO, Rosa. Música caipira: da roça ao rodeio. São Paulo: Editora 34, 1999.

42

PAULINHO BOCA DE CANTOR, (Paulo Roberto Figueiredo de Oliveira). Música de São Paulo : da catira ao rap. [S.l.]: Disponível em: <http://www.musicadesaopaulo.com.br/paulinho_boca_de_cantor.pdf>. Acesso em: 04 mai. 2013. PRADO, Emílio. Estrutura da Informação Radiofônica . São Paulo: Summus,1989. TUDO RÁDIO. Levantamento do Ibope Media aponta crescimento de 7 % em investimentos em mídia . São Paulo: Disponível em <http://tudoradio.com/noticias/ver/8622-levantamento-do-ibope-media-aponta-crescimento-de-7-em-investimentos-em-midia>. Acesso em: 15 jun. 2013. VICENTE, Eduardo. Gêneros e formatos radiofônicos . [S.l.]: Disponível em:<http://www.bemtv.org.br/portal/educomunicar/pdf/generoseformatos.pdf>. Acesso em: 04 jun. 2013. VILELA, Ivan. O caipira e a viola. In: Sonoridades luso-afro-brasileiras : Brasileira. Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais, 2004. 173-189 p. VOGEL. Melissa. IBOPE Media . Disponível em: <http://media.wix.com/ugd/0e5e35_926611380469927759473bce621d7b6b.pdf>. Acesso em: 20 jun. 2013.

43

ANEXO A – Transcrições das entrevistas

Expedito Leandro Silva – especialista

Estamos recebendo nos nossos estúdios o professor E xpedito Leandro Silva,

que vai falar um pouquinho prá gente sobre quem é e sse sujeito caipira. Boa

noite, professor.

Boa noite.

Queria agradecer sua presença, professor e queria p edir para você descrever

para nossos ouvintes um pouquinho, para quem não co nhece, um pouquinho

desse cara, o caipira.

Pois bem. O caipira é um sujeito, um indivíduo que nasce (de uma forma breve, eu

vou tentar colocar aqui)... ele surge da junção do português, do colonizador

português com o índio. Então, o caipira, como diria o grande antropólogo Darci

Ribeiro, é um sujeito que não tem uma identidade, ele nasce como um Zé Ninguém.

Porque ele não é índio e ele não é português, né. Mas ele vai, com o passar do

tempo, se adaptando às transformações sociais e culturais que a região, na qual ele

está agora, ele está vivendo, especificamente São Paulo, Minas e, vamos pensar

assim, Goiás, né, mas basicamente, São Paulo e Minas, e que tem uma estrutura

peculiar no sentido da vivência coletiva do bairro, né, porque é o bairro, é o interior,

é a zona rural que caracteriza este caipira.

1:27:000

E, professor Expedito. Quem imortalizou essa imagem do caipira, nos meios

de comunicação, na televisão foi o Jeca Tatu. Ele q uem influenciou, né, ele

contribuiu com esse preconceito, inclusive existent e, em torno do caipira. Eu

queria que o senhor explicasse, se existe mesmo ess e preconceito e se foi

mesmo o personagem Jeca Tatu que acabou desencadean do isso?

1:52:000

Pois bem. O Jeca Tatu já é um personagem do caipira, como você colocou muito

bem, que o Monteiro Lobato, um escritor, né, aqui também do Vale do Paraíba, um

caipira, sim, né, ele cria esse personagem... para atender a uma solicitação do

44

governo, na época, que era para fazer uma campanha de conscientização sobre o

problema de saúde, especificamente, o problema da verminose.

2:21.292

No entanto, ele faz uma caricatura, ele desenha um caipira, dentro de sua forma de

entender, né, de compreender. O Monteiro Lobato, como é que ele compreende

esse caipira: um sujeito, assim, bastante rude, vamos dizer assim, né, se você for

ver, ele é aquela pessoa que no dizer dos que se acham modernos, é um sujeito

rude e atrasado, ignorante.

2:51.898

Na realidade, esse caipira, ele tem uma história antes, como eu acabei de dizer

agora a pouco, ele já passa a sofrer preconceito, na sua concepção, vamos dizer

assim, na sua... Desde a sua gestação. Porque, se ele não é índio, isto eu estou

falando do período da colonização, sim se ele não... Eu volto a dizer isso, porque é

importante a gente conhecer um pouco dessa história, dessa trajetória da formação

cultural e social desse sujeito. Se na gestação, quando ele nasce, ele nasce... Ele

táa.. A mãe dele é uma índia que é grávi... Que ficou grávida de um português, de

um sujeito que depois não aceita ele como um filho e ele também não é um branco

português, então ele já não tem um lugar. Ele não é aceito pelos portugueses, pelo

branco. Também não é aceito pelo índio, na comunidade, na aldeia. Por quê? Por

que não é índio e nem é branco, né, então, esse caipira já está sendo descriminado

e rejeitado. Ele, volto a dizer, ele é esse sujeito nato, sem terra, sem lugar para

pisar, né. E, ele vai vagando, de lugar a lugar, ele vai caminhando. Isso ele vai tendo

um...Ser um sitiante, né, ele vai morar num bairro, ele vai viver caçando, pescando.

Ele vai ter sua vida. Até comprar algumas coisas básicas na cidade, mas ele tem

uma vida, assim bastante... de, do cultivo, vamos chamar assim, agricultura de

sobrevivência. Ele vai trabalhar nas fazendas que não é dele também; ele é expulso

da terra; ele vem morar, (estou fazendo uma trajetória rápida para a gente

compreender). Sim. Ele vai, depois, vir para a cidade grande, continua... Onde é que

ele vai morar? Na periferia, ele vai ser um sem-teto novamente, ou seja, ele continua

vagando.

4:40.600

O que tem de valor, de patrimônio desse caipira, é a sua tradição, vamos chamar

assim, mais visível para nós, é a música, né. Porque é a música que ele traz a sua

45

viola que ele não larga em lugar nenhum. Porque o sujeito, ele tem ... Ele pode

perder tudo, mas jamais ele vai perder a sua identidade cultural. “Eu pertenço a este

grupo”, ele vai sempre dizer isso. O sujeito que é do interior caipira, ele sempre vai

dizer e ele tem ciência: “Eu sou caipira”. Por mais que ele esteja num lugar moderno

ou não. Ele vai..aa .. Ele sabe a que grupo pertence. Com isso, não quer dizer que,

ele não sofra os preconceitos que aí a gente sabe que tem, mas ele sabe também

fazer esse jogo.

5:26.293

Perfeito, professor. E, você citou música, e assim, é possível a gente afirmar

que a música caipira foi corresponsável pela formaç ão da cidade paulistana,

da cidade de São Paulo?

5:38.036

Eu digo que sim, nos seguintes termos: a musicalidade caipira contribuiu e ainda

contribui, mas teve um papel maior no sentido da sociabilidade desse sujeito

interiorano. E aí, eu digo, falando na São Paulo, na formação como uma grande

metrópole, pensando na época da industrialização, sobretudo nos anos 50, 60 até

70, né, a música caipira vai ter um valor muito grande, porque ela, vamos dizer

assim, se consolida no mercado cultural, né, no mercado da música com duplas

sertanejas, outros aí, outros nomes, outros grandes produtores e, o rádio, a difusão

da música caipira via rádios, especificamente, vai uni... Vai trazer... A música torna-

se um elemento de sociabilidade e de crescimento de, vamos chamar assim, de

acolher, não só o caipira que chega, mas outros de outras regiões, o nordestino,

migrante que tem uma cultura sertaneja que é diferente da cultura sertaneja caipira,

o indivíduo lá do Rio Grande do Sul, enfim, de todas as regiões do Brasil que fala a

língua portuguesa que é bonita, como patrimônio.

7:00.390

Então, a música caipira, de repente, está falando de um mundo rural. Estou falando

da música caipira tradicional, música caipira que estamos dizendo, não a música

sertaneja, né. A música sertaneja é outra coisa que a gente pode discutir, mas a

música caipira vai falar do universo rural. E todos os migrantes que vieram para São

Paulo, a sua grande maioria, são do universo rural. Então, nós somos, na essência,

caipiras. Nós, eu digo, moradores de uma cidade de São Paulo. Por quê? Porque,

46

onde está a nossa ... Nossa identidade, a nossa raiz, como fala o termo, né, onde

estamos com os nossos pés fincados? Lá no interior. É a música sertaneja, a música

caipira e depois, a sertaneja, de certo modo, que deve ser considerada, que nos

alimenta como identidade. É o nosso retrato, culturalmente, quem somos. E São

Paulo não pode ser diferente. Por mais, assim, gigantesca que ela é, uma cidade

que tem centenas de manifestações culturais, de diversos estilos, enfim, várias

tribos, mas a música caipira, a gente pode dizer que ela traz, ela traz uma dimensão

muito forte. Eu digo isso, só para se ter uma ideia, como ela é vivida eee... Aqui em

Guarulhos, eu moro em Guarulhos, que é uma cidade da Grande São Paulo, eu

acompanho, há muitos anos um grupo de música... Um grupo de tradição caipira,

que é um grupo de Folias de Reis... E....Folias de Reis... e um grupo de Catira,

chama-se “Os Favoritos da Catira”. Muito conhecido no meio e tal, mas é um grupo

assim que tem uma atuação lúdica. Eles não vivem da ...da...da... arte. Por que eles

trabalham, né. A Catira, que é uma dança deste caipira é uma for... Que tem origem

indígena, assim como a viola e a música e tal, né. Então, veja, é uma cidade tão

grande, a segunda maior cidade do Estado de São Paulo, têm grupos que vivenciam

lá no meio da cidade, toda essa... essa... essa manifestação cultural, que tem uma

origem lá do interior. Não quer dizer que seja igualzinho. Há algumas adaptações

por que nós evoluímos, né.

9:22.912

Então, seja lá no interior também.

A cidade como um todo evoluiu.

9:26.716

E o caipira tem que evoluir.

E como essas pessoas tão simples, essa música de ra iz, a coisa tão simples

chamou a atenção da indústria fonográfica?

9:35.907

E aí, o mercado é muito esperto. Como todo mercado, todo sistema de mercado. O

mercado não está querendo saber se, vamos pensar assim, ele não quer saber se

tem qualidade ou não tem qualidade, eu estou falando de um modo geral agora.

Estou falando da música caipira. Se tem qualidade ou se não tem qualidade, se é

47

tradicional ou não. O que o mercado quer, a indústria cultural quer e, vamos pensar

nas primeiras décadas do século XX, portanto, aproximadamente uns 100 anos, um

paulista muito inteligente chamado Cornélio Pires, ele vai tá trazendo, é ele que traz

essa música interiorana, a música caipira, que .... para cidade.

10:21.762

Ele traz para a cidade e ele leva através das ondas do rádio essa música. Então,

vamos... pode-se... os grandes pesquisadores e, qualquer uma pessoa que queira

pesquisar, da área ou, enfim, que se interessa, tem no Cornélio Pires como esse é

... a gente, como um marco de que inicia a a...a...a... ele introduz a música caipira no

mercado. E, é bom. E, eu não digo que foi ruim. Eu sempre tem... alguns... aí outras

pessoas que pensam diferente. Eu vejo como uma coisa bonita e boa. Porque faz

com que e fez com que mantenhamos a nossa tradição porque acompanha. E essa

transforma... e ele traz vai....vai...ele agencia as duplas sertane... as duplas caipiras

depois ... programas de rádio, depois gravadoras e isso se torna ... E o mercado,

sabiamente, nesse sentido, o que o mercado vai fazer? Pega e vai trabalhar isso

com um grande produto para vender. Porém, no decorrer da história, o mercado,

lógico, ele vai fazer ...ele vai botar suas técnicas. Ele vai dá....dizer como é que quer

que se produza. Não pode ser uma música tal qual era lá na roça. Tem que fazer

algumas adaptações, algum arranjo, né. E o mercado vai fazer isso... por quê?

Porque o grande consumidor que o mercado estás visando é o público interiorano.

Então, é aquela história. É o dito popular. É a fome com a vontade de comer. Ou

seja,

11:58.784

E o...o sujeito chega do interior e vem trabalhar na cidade. Vem morar na cidade. Ele

vem morrer... ele vem por uma razão que o levou, né. E aqui ele fica lembrando dos

seus parentes, enfim, das pessoas que ele deixou. Então, nada melhor que matar a

saudade ouvindo a música de lá. E o mercado vai fazer isso. Aí o mercado

fonográfico, as emissoras de rádio “vai” ter programas exclusivos, com patrocinador

exclusivo, é... shows etc, etc.

12:27.719

E aí...só para a gente ter uma ideia, já que estou falando em uma linha de tempo,

vem a música caipira e depois as grandes duplas que se destacaram Tonico e

Tinoco que é referência, a Dupla Coração do Brasil, né. E, depois dos anos 70,

48

surgem os sertanejos que chamavam naquela época Sertanejo Classe A, depois

veio as duplas sertanejas. Tem aí umas das referências da época que agora me

vem à cabeça o Léo Canhoto e Robertinho que já era uma modalidade diferente, já

estava introduzindo outros é... outros... vamos dizer assim, valores, outras ... outros

de outras culturas que ele já estava misturando com o rock, ah! outras influências

culturais, era isso o que eu queria dizer. Que o rock na época já estava vivendo o

seu auge; então eles passavam algumas coisas do rock, misturando com a música

caipira, que era....a conjuntura da época, para vivenciar como ... depois veio outras

duplas sertanejas. Aí se você perguntar, não sei, alguém interrogar. E hoje?

13:36.912

Esse sertanejo universitário, é música caipira? Podemos dizer que não, pensando

no sentido do termo e da vivência do tradicional e deste... desta música moderna.

Agora o que é que tem que une os dois ...os dois elementos, o tradicional, a música

caipira que estamos falando aqui, o tradicional Tonico e Tinoco, vamos dizer assim,

e o sertanejo universitário? O que tem que ...a meu ver, em comum é exatamente a

identificação com o interior. É a identificação com essa... essa ideia que é rural. É a

identidade que você está vivendo o mundo ...ééé ... o mundo do sertanejo

interiorano. Não tal como o caipira, vamos pensar assim, o caipira ...ééé...transcrito,

analisado por um grande especialista da área que é o professor Antonio Cândido,

né, que é o único que tem assim... total... escreveu, descreveu a história do caipira

com muita propriedade. Ééé.... No seu livro “Os Parceiros do Rio Bonito”, né, mas é

um caipira que está já vivendo um mundo contemporâneo, moderno, com as

tecnologias que fala a linguagem da cidade. Por que quem está lá no interior, na

cidade, também tem o mesmo....hoje tem as mesmas....os mesmos contatos, as

mesmas referências que nós temos aqui na cidade. Tem a televisão etc. etc.

Já, já é bem diferente. Essas letras, o senhor cito u a palavra saudade, há

pouco em sua explanação...O caipira cantava muitos essas letras saudade,

saudade da família, saudade de um grande amor que e le deixou lá no campo

para vir para a cidade trabalhar, por que essas let ras elas fazem sucesso até

hoje? Até esses cantores de modalidades novas, da e volução da música

caipira, eles sempre gravam em seus discos, regrava m, na verdade, em seus

discos essas canções antigas, com lamento, né, com saudade de casa?

49

15:45.142

Pois é. Esse aspecto, você falou aí, de saudade ou da nostalgia, né, se você olhar,

em toda modalidade musical, sempre tem. Só para ter um exemplo assim, rapidinho,

no meu doutorado, eu fiz doutorado na Antropologia, e eu pesquisei, como eu gosto

de pesquisar música, já vinha pesquisando já há algum tempo, eu fui pesquisar a

música popular do Estado do Pará. Fui pesquisar a música brega paraense que é

diferente do brega nacional, que é, na essência, também falar de saudade, dor de

cotovelo, a dor do corno etc. etc.

16:25.406

É falar da amada que deixou, que foi traído, que não sei o quê. Na música sertaneja

você vai encontrar, nas músicas da MBP também você vai encontrar. Pode

observar. Então, isto, é comum. Agora, o que diferencia, aí, respondendo a sua

indagação, é que este universo que ele está falando, e dentro do universo do

cancioneiro popular, né, da cultura popular, quando se fala de saudade, se você

observar nas músicas populares, vamos pensar na música caipira, como estamos

dizendo, é um popular ...ééé uma saudade, é algo que está bem assim, é,

exagerado, muitas vezes, aquela coisa rasgada, aquela coisa de que o mundo

parece que está acabando.

Então, isso é típico, é isso que identifica como uma canção popular, que é originária

desse universo, vamos pensar assim, semianalfabeto, do mundo da oralidade, que

eu preciso descrever tudo com minhas palavras, para revelar, dizer que eu amo ou

que eu estou com saudade lá da minha terra, que eu vendi todos os meus pertences

e vim para a cidade, e que, o bom é estar lá... E aí. Essa música caipira, no primeiro

momento, ela retrata esse mundo rural interiorano, porque é o sujeito que está na

cidade, que está querendo rever. E, ele faz uma viagem, você pode observar,

ouvindo as músicas sertane .... as músicas caipiras, ele faz uma viagem, ele volta à

sua terra através da música, né. O rádio é muito bom por isso. Eu considero o rádio

como um grande ... vi... maior... o maior, se não for o maior, é um dos maiores meios

de comunicação, no sentido de ligar o sujeito. Então, é o rádio, no caso, através da

música, que faz esse sujeito voltar a vivenciar, ele vai lembrar da mãe, dos parentes

ou da namorada ou do ... da vaca do cavalo, das brigas. São verdadeiras narrativas,

são ...ééé, pode observar, que essas canções contam histórias, né, como a arte ...

ela ....expressa os elementos da natureza e da própria vida. Essas narrativas que

50

são... que estão contidas na música popular com saudade ou não, elas são

expressões que narram a vida cotidiana do indivíduo.

18:56.780

Não tal como na poesia, porque aquilo é uma poesia, mas no sentido de você poder

imaginar, viajar, vivenciar, sentir-se bem. Então é bom matar a saudade. É bom

rever aquilo que a gente gosta.

19:11.565

Professor, o sr. falou na poética tem essas letras contando os verdadeiros

causos e histórias. Hoje a sociedade, de uma forma geral, ela se tornou uma

sociedade muito compacta, muito rápida. Talvez essa s letras não se aplicam

tanto, mas como explicar isso ainda fazer sucesso h oje em dia?

19:38.182

Pois bem. Hoje, realmente, se você pensar, se a gente parar para rever a virada

desse século, a virada do século passado para esse agora, nós estamos aí com

uma década e três anos, né, treze anos, mudou muito. Se você vir olhar ...observar

hoje, mudou muito. Hoje, atualmente, como se fala aí na linguagem aí, a gente pode

dizer, da sociedade moderna, na sociedade consumista, porque vemos hoje na

sociedade do consumo, e é um consumo imediato, o sistema que que você consuma

para dizer que você só é feliz se você comprar a marca x, a marca tal, a marca y,

então você ... está sendo feliz. No universo ééé da música, no universo da cultura,

vamos dizer assim, da crença, né, isso também passa a usar essa mesma

linguagem, a linguagem do imediato. Então, fica só na lembrança, você pode até

falar, mas agora, se você observar, nas letra ...., falando em música, como estamos

falando aqui, as letras dessas canções de hoje, mesmo do sertanejo universitário aí,

que eu não tenho nenhuma crítica, apenas uma análise que eu faço, é algo

descartável. É uma coisa agora, de amor, de saudade. Ééé Eu estou com saudade

porque não meencontrei com você ontem, mas quero você agora para levar para o

meu apê, é uma coisa assim, rápida. É a mesma coisa que eu vou ali comprar um

chocolate e comer.

21:00.901

Então, uma ...os valores parece que ... só tem valor à vida se você tive... tiver

vivendo agora. Daqui a um minuto ou uma hora eu não sei se eu estou vivo. Isso é a

51

ideologia do consumo, da sociedade consumista. Daí, então, é que você fala, e

agora mudou? Mudou. Porque a sociedade está ... E quem faz isso, quem incentiva

isso, lamentavelmente, lemen..... E quem faz isso é o mercado e, lamentavelmente,

a sociedade ééé ...passa a aceitar como se fosse a coisa mais tranquila e sem um

questionamento. Por que é que estão dizendo isso? Por que que, de repente, reduz

você a nada?

21:41.194

Né? Eu não estou sendo aqui ...eu não estou aqui querendo ser conservador,

masestou querendo que a gente compreenda, um contexto que nós estamos

vivendo sociocultural e econômico, enfim, que tenha um projeto ideológico para

esse contexto que o sistema determina, a própria indústria. ... Por que é que nas

novelas agora, tem muito ...agora, eu digo, nesse momento, trilhas sonoras desse

sertanejo universitário? Porque, exatamente, porque tem um consumidor, tem uma

demanda do mercado para ele. E que, quem sabe, a novela é vendida para fora,

vamos vender para o exterior a nossa cultura brasileira. Porque, queiramos ou não,

também é cultura brasileira. Não é cultura brasileira tradicional caipira, não é. Mas é

também cultura brasileira. E nos identifica. Né, se a gente for olhar, se pensar num

sertanejo universitário, aí, quem é que se tornou famoso no mundo todo com a

música, dessas músicas efêmeras, assim é o Michel Teló, com essa “Ai se eu te

pego”. Veja, é uma coisa assim, de imediato, bem de uma época que vivencia, ou

seja, é passageiro. Porque na... em algum momento isso, vai saturar. Porque o

mercado é assim, ele explora, explora e satura.

23:03.750

Eu lembro, na ...nas minhas pesquisas, eu conversando com um artista, que ele não

está mais vivo, faleceu recentemente, com o Dominguinhos e eu, estava também

pesquisando sobre também esse Forró eletrônico, eu perguntei a ele, essa coisa,

essa ideia, um pouco assim como você está falando, e disse, “olha, professor, isso

passa. O que é bom fica”. E o que é bom fica mesmo. O Almir Sater vai ficar, no

universo da música caipira. Renato Teixeira continua e vai ficar, sua obra, né. Um

dia a gente vai morrer. Não estou dizendo que ele vai morrer e nem tão cedo

esperamos que não. É... e outros que vão surgindo, né. Têm pessoas novas vão

ficando aí, né. E outros artistas que também surgiram nesta época. Chitãozinho

Chororó, também fica. Tem qualidade, né.

52

23:54.917

Que não é o caipira tradicional, mas eles mantêm essa originalidade e este aspecto

do qual a gente se encontra e se vê.

24:03.170

Eles ainda tinham um pouco dessa essência de raiz.

Esses, voltando só para concluir, esses que estão aí no universo do sertanejo

universitário, eles poderão ficar, se mudar um pouco e vão mudar, porque ... mas se

continuarem assim, o mercado mesmo vai excluir porque satura, né.

24:23.330

“Ah! que saudade” ... Daqui há 50 anos, “ah eu tinha saudade daquela música, ‘Ai se

te pego’”, isso ninguém vai dizer. Mas vão dizer assim, hoje a gente já diz: “Como

eu tenho saudade daquela música do ... como é? Do Tonico e Tinoco, Moreninha

Linda ... parece que é dele, não sei. Moreninha Linda, mas outras, por exemplo,

“Sou Caipira, Pirapora”, do Renato Teixeira, essa música é um clássico, vai estar

toda a vida, nós vamos morrer e ainda ela vai continuar, né. Porque tem qualidade.

24:56.381

Clássico que originou o nome desse programa.

Está chegando um monte de pergunta aqui de nossos ouvintes, para você professor.

Eu selecionei algumas aqui. Ééé. Os ouvintes estão perguntando bastante, estão

pedindo para o sr. diferenciar ah... o caipira do sertanejo.

25:12.459

Já falei um pouquinho disso, porque não dá para falar só do caipira. A diferença está

se... eu não sou músico, então, eu não vou me atrever a falar no sentido da

tonalidade, ao a.... assim, esse viola lá, é o violão, o que a gente vê, e aí eu estou

falando, da minha forma como eu tenho observado, o sertanejo é um caipira que não

usa mais viola. O sertanejo é um caipira que usa grandes ...ééé ... grande produção

de instrumentos, né, instrumento mesmo, do eletroeletrônico que há de mais

moderno, assim como um cenário, muito sofisticado, cenário .... um palco que não

perde para uma grande banda de rock. Então, isso já está dizendo que há uma

diferença. Estou colocando assim, só na plasticidade,para a gente entender. Já está

mostrando uma grande diferença, né. Uma dupla sertaneja não precisa disso. Ela

vai lá com sua viola e canta, né.

53

26:15.579

Mas a diferença não está só nisso. A diferença está nessa composição e na

referência do qual se o ...estou falando do sertanejo hoje, se você observa está num

sertanejo romântico, né, e ao sertanejo que está ligado ao mundo urbano.

Tipicamente, seu repertório é do universo urbano.

26:38.062

Enquanto o caipira, ele faz uma mistura, mas a base dele sempre está ligado ao

universo rural, interiorano. Então, isso é uma diferença bastante ...ééé... interessante

porque... Por que o que é peculiar do mundo caipira? É a sua base, a sua origem,

né. A formação também, a composição, né. O instrumento, porque tocar uma viola é

a coisa mais linda de ouvir. E o caipira não está fora de moda, que diga, vamos

lembrar aqui, um exemplo aqui rapidinho, o programa “Viola, Minha Viola”, da Inezita

Barroso. Há quantas décadas existe esse programa? Continua no ar e faz sucesso.

27:18.350

O sucesso é tamanho que ele ...ééé ....apresentado no domingo e é repassado no

sábado seguinte. Veja, veja bem. Nós estamos falando de algo que é uma

referência, né. E não está ali só a Inezita é uma grande autoridade nesse universo

caipira, não. Ela tem todo mérito, mas porque há um público fiel, novo e velho. Velho

no sentido assim, pessoas ...o avô e o neto, sentam para assistir. Então isso é que é

diferente, né. Então, essa questão da qualidade precisa a gente observar. E muitos

desses novos, desses novatos que cantam até no... no, no circuito universitário,

vamos assim dizer, também se apresentam nesse programa. Se a gente pensar, eu

estou aqui só para a gente visualizar, uma forma de exemplo, então, eu vejo isso.

São dois universos, agora, tem uma coisa em comum, entre o caipira e o sertanejo,

que é, o que eu já falei no início desse programa, que é a identificação, é uma

identificação com o mundo interiorano ou o mundo dos seus pais eu ...uma pessoa

que nasceu aqui em São Paulo, viveu a vida inteira, mas há alguma coisa o leva a

ele gostar do universo caipira, né. Basta pensar nas casas noturnas de músicas

sertanejas que tem aqui em São Paulo. É...Os nomes são todos nomes de, eu não

vou falar aqui, para não fazer propaganda, mas se você observar as casas noturnas,

todas são nomes grandes, realmente tem um nome grande, assim, né. Estilo

palhoção, não sei se tem essa casa. Mas é tudo nome grande. Referente,

referendando ou se referindo aí, ao universo lá do interior do mato, sobretudo, né.

54

29:06.534

Então, isso já é uma identificação. E o sujeito nasceu aqui, viveu, gosta de outros

estilos musicais também, mas ele vai lá. Ele tem ...faz até parte de comitiva. A

comitiva que ele faz parte não é igual a comitiva vaqueiro, do, do, do, homem que

“campiava” o gado, não é do caipira que “campiava” o gado, não é. É outra comitiva.

Mas essa forma, essa, essa forma que eles constroem a comitiva urbana, vamos

dizer assim, é uma forma de rememorar e reinventar uma tradição.

29:37.904

Então, eles, consciente ou não, eles estão reinventando uma tradição e a gente é

grato a eles, porque eles fazem manter uma tradição da cultura caipira na cidade.

Então, eu sou muito grato e fico feliz quando eu sei que tem, né... uma reinvenção

dessas. Porque é maravilhoso.

29:57.016

Professor, enquanto sai o cafezinho fresquinho, com um belíssimo bolo de

fubá, eu vou encerrar, fazendo mais duas perguntinh as para você.

A primeira é se existe, ainda, intérprete de música caipira, intérprete e também

compositor, mas de música caipira de raiz? Se eles ainda existem e são

dedicados só a esse estilo musical?

30:20.922

Existem. Existem muitos, o que é lamentável é que eles existem. Eles fazem

sucesso. Eles têm suas referências. Eles viajam o Brasil inteiro. E a mídia, estou

falando, a grande mídia, rádio, televisão, a mídia oficial ignora.

30:37.626

Ignora por preconceito, e por não ...o mercado ignora. Porque a mídia faz parte do

mercado. A mídia é a porta-voz desse mercado. Ignora completamente, né. Só para

você ter uma ideia, agora, no mês de julho, né, eu estava viajando, em férias,

estava... era meia noite, eu estava no aeroporto, em Recife, e vi uma dupla

sertaneja, um senhor que é aqui de Guarulhos, estava lá, com sua viola nas costas,

ele e o produtor dele. Ele estava sozinho, digo, é dupla tudo, mas só tinha um

integrante e o produtor dele, né. Estavam lá, pegando o avião, não sei para onde, se

estavam vindo para Guarulhos ou não, ou para onde iriam. E existe, né.

31:18.013

55

Então... E, volta e meia, essas ...e..e.e. essase.e.e.e revelações e.e.e.e esses novos

artistas, eles também se apresentam nesses programas tradicionais que eu estou

falando aqui, cito o “Viola, Minha Viola”, que é uma referência para a gente

acompanhar essa atualização. Tem, volta e meia, aparecem. A gente sempre tem.

Eu não quero dizer o nome de um ou outro, porque o..o. termina, termina, ééé ....

prejudicando outras pessoas ... outros grupos e ... eu digo que existem e que

existem não só em composição de letras, mas também de interpretação que é

belíssima.

31:55.480

Agora, volto a dizer, lamento é ...que o mercado ignora. O mercado aí, que eu estou

dizendo, esse mercado da indústria cultural, dos meios de comunicação, a televisão,

a grande mídia, ignora. Agora, o que está bom, nesta história toda é que existe a

internet, né. Então, essas novas mídias alternativas, se a gente pode dizer, então,

muitos estão aí, jogando nas suas redes sociais e tal, e vão crescendo. E vão se

revelando. Vão aparecendo. Então, isso é bom.

32:28.865

né, isso é interessante. Só para finalizar, eu queria dizer, nós estamos falando da

cultura caipira, é... eu queria dizer que eu a...eu tenho acompanhado, e acho

interessante, e eu aqui não estou fazendo nenhuma, ... o que é bom a gente tem

que dizer, por exemplo, tem um personagem aqui, num programa de televisão, aqui

em São Paulo e no Brasil, com certeza, que é tipicamente caipira e que as crianças

adoram, que é o Júlio do “Cocoricó”.

32:55.526

Quer dizer, que há algo mais real de um caipira do que o Júlio? Júlio mora na cida ...

na fazenda, com o avô e a avó, tem até as sardas que o caipira tem, porque é a

mistura de um português com um índio, e a criançada adora. E, ele fala a linguagem

do mundo caipira. Então, nós estamos a éé...vivendo e mantendo a nossa tradição...

33:19.714

cultural, da nossa tradição caipira, da forma que a gente vai encontrando e que a

tecnologia nos propicia.

33:25.618

Para encerrar, professor, para a gente tomar um caf ezinho...

Qual o futuro da música caipira de raiz?

56

33:31.663

Ela vai continuar, ela vai ter suas ééé....vai se adaptando, vai persistindo, eu não

usaria...usaria a palavra de resistir, mas ela persiste mesmo sendo colocada à

margem pelo mercado, mas ela vai continuar. Porque o que é do povo, o que é

popular, o povo faz isso acontecer, né. A cultura popular sempre existe. Porque há a

aa reinvenção. E essa persistência, mesmo que se alguém proíba, o sujeito vai lá e

faz. Ele, aaa não pode... ele vai lá estar. Essa teimosia, vamos dizer assim, é que

faz permanecer. E, então, o futuro eu vejo, eu vejo... eu sou muito otimista, eu vejo

assim que está ótimo, novos vão surgindo, vão se qualificando e revelando, né. O ..

Muitos que já estão no mer...no ..aãã .. vamos aí ... vivendo, à sua forma, tocando

viola há muitos anos, de repente, é descoberto, né. Não sei vocês lembram, mas em

Mato Grosso tinha uma grande tocadora de viola. Ela não cantava. Só tocava viola,

viola caipira. Que era a E... Helena Meireles. Quem quiser, por favor, coloque aí no

Youtube. Helena Meireles. Vocês vão ver. Ela foi revelada, ela já uma senhorinha de

mais de 70 anos. Ela foi revelada... Aonde ela foi revelada? No... um sobrinho dela,

pegou uma fita. Mandou para os EUA. Ela foi descoberta nos EUA para fazer

sucesso aqui no Brasil. E, já velhinha.

35:06.529

Quer dizer, esses talentos é.é.é...esses grandes defensores e... produtores e

propagadores da cultura caipira vão sempre existir, né. Mesmo nos submundos

como a a ..a ... Helena Meireles viveu, durante muito tempo, tocando a viola, nos

prostíbulos, considerado pela sociedade, aí de...o submundo, coisa que é..é..é..

ignora talentos como esse, né.

35:35.103

OK, professor, agrademos sua presença mais uma vez. Eu tenho certeza que

os ouvintes ficaram muito mais entretidos. Agora es tão sabendo um pouco

mais dessa cultura caipira, da música caipira.Eu qu eria agradecer a presença

do senhor aqui nos nossos estúdios.

35:52.711

Eu é que agradeço. Aaa. O convite. Foi um prazer. E espero que eu tenha

contribuído para ééé. despertar um pouco mais de conhecimento, de curiosidade,

a... os ouvintes, né que é o nosso, que é o público. Muito obrigado.

57

Junior da Violla – músico

Estamos aqui com o Junior da Villa, violeiro, compo sitor e professor de viola

há 13 anos. Olá Junior, seja bem-vindo.

Oi, tudo bom

Tudo bem. Junior, sabemos que você é paulistano, nã o teve muito contato

com a roça, com o campo, mas que a sua influência c om a música caipira, com

a música sertaneja foi desde pequeno através de seu s avós. E você

permaneceu com certa influência dessa música no seu trabalho. Então, explica

para a gente como é viver e cultivar a música serta neja, a música caipira, a

cultura sertaneja em meio a cidade de São Paulo?

0:39.500

Olha, ééé é diferente, mais a.a São Paulo é uma cidade muito grande, né, São

Paulo é uma cidade que tem muita gente, tem muita cultura, tem muitos povos em

São Paulo, então eu acho que a gente é mais um, né, mais um desses povos

vivendo nessa imensidão de São Paulo. A gente tem aí a cultura japonesa, a gente

tem a cultura italiana em São Paulo, a gente tem a cultura árabe e a gente tem a

cultura caipira, né, do nosso interior de São Paulo.

Aaaaa, a eu acho que, assim a cultura caipira vive bem dentro de São Paulo, dentro

da cidade de São Paulo. Claro que você, dentro da cidade, não vive a vida caipira,

né. Você não consegue acordar de manhã e ordenhar uma vaca, mais ...a.a.a. eu

acho que, assim, aa.aa a essência, a alma caipira ela, tá ali e permanece, mesmo a

gente vivendo na cidade, vendo esse caos que é São Paulo.

1:40.358

E o que te chamou atenção nessa cultura, na viola d e 10 cordas que é típica da

música caipira, da música sertaneja?

1:49.311

A pureza, a ingenuidade, a honestidade da música caipira. Eu acho que a música

caipira é uma música honesta. É uma música pura, né. Como o próprio nome diz, de

raiz, né. Então, eu acho que é uma música inocente. Pega algumas canções do

58

Tonico & Tinoco você vê a inocência, a inocência na nana não só nas vozes, mas

nas letras, naquelas letras sem malícias, sem... sem... éé... duplo sentido, não tem

aquelas...aquelas letras pegajosas, né... muitas vezes, a grande maioria das vezes,

é uma lição de vida, você aprende com as músicas, né. Hoje, você ouve uma música

e você não aprende nada com ela, né. Mas a música caipira de antigamente, você

aprende. São histórias. São lições de vida.

2:40.082

E, aí você falou muito desse gênero da música caipi ra que agora as músicas

totalmente diferentes nas letras. E nós percebemos que houve a mudança, é...

a partir da indústria fonográfica, houve uma mudanç a da música caipira para

música sertaneja atual e o que você considera, ser de interesse da música

fonográfica que mudasse este estilo, da música caip ira pelo que a gente

encontra hoje no mercado.

3:07.757

O interesse é puramente comercial. É venda, né. A música caipira ela começou a

deixar de ser música caipira a partir do momento que, começou-se gravar os

primeiros discos. Em 1929 quando foi feita a primeira gravação de música caipira se

gravou a música caipira tradicional, música sertaneja tradicional. É, éé na verdade

assim, a gente tem que colocar o seguinte ponto: a a até uma correção que eu vou

fazer aqui, uma correção que eu falei para você. Aa a Na época que foi gravado a

primeira música caipira, a gente tinha a música caipira e a música sertaneja. Então,

a música caipira era o que acontecia no interior do estado de São Paulo e a música

sertaneja era vista como a música nordestina, as emboladas, os cocos que na

época, década de 20 era muito, era muito popular, principalmente, aqui em São

Paulo e Rio de Janeiro, né. Hããã...Então, a.a.a. a música caipira quando ela chegou

no rádio, e, e, as gravadoras viram que era algo que .... vendia muito, porque os

programas de rádio começaram a tocar as músicas caipiras, e, e, e havia um público

gigantesco prá isso, que a maioria das pessoas que trabalhavam e moravam em

São Paulo, vinham do interior. Então, quando se tocava a música caipira no rádio a

pessoa ficava lembrando da infância dela. Então, era uma coisa muito emocional.

Então, ali as gravadoras viram que era a oportunidade de ganhar dinheiro.

4:37.307

59

E, ao longo do tempo eles foram modificando a música caipira, eles foram éé,

acrescentando coisas ...não tem na a ver com a música caipira, mais ajudavam a

vender. Isso aconteceu já na década de 30 com as guarânias, né. É, é, é, começou-

se a trazer ritmos paraguaios, começou-se a colocar a sanfona, é, é, é, começou-se

a colocar ritmos que não tinham muito a ver com a ....

5:04.703

A música caipira, quando ela nasceu, ela era moda de viola, cururu e cateretê. Era

só isso. E reisado. Isso era música caipira. Não tinha valsa. Não tinha guarânia. Não

tinha ritmos, esses tipos de ritmos. Então, isso foi sendo acrescentado, né.Nos anos

50, veio aaaa influência, a forte influência do Paraguai ...na música, na música

caipira nossa.

5:27.929

Nos anos 60 veio a influência da Jovem Guarda. Então, você começou a ter é, é,

gravações com bateria, com guitarra, contrabaixo. Eram toscas. (riso) Eram

péssimas, mais já nessa época você já começou a ter isso.

5:45.580

A, a, a, Nos anos 80 a gente começou a ter a aa influência do Pop, né, que era

muito forte. Nos anos 90, a influência do Country, da Country Music. Então, e hoje a

gente tá tendo a influência até ...extremamente ... hoje não dá para dizer que isso é

uma mistura com a música caipira porque nem se chama mais música caipira, mais

isso se mistura o gênero com funk, com coisa que não tem, absolutamente, na a ver,

né. É, é, é. Por um lado, acho que a mistura é, ela é, em alguns pontos, ela é válida,

né. Em outros acho que é mosca na sopa, entendeu. Não tem muito, não tem muita

liga. Não tem muita, muito a ver.

6:32.855

É, apesar dessa mudança ainda há pessoas que se int eressam pela música, a

de raiz mesmo, pela viola. Tanto é que você é profe ssor há 13 anos, tem

muitos alunos. Qual a faixa etária, mais ou menos, dos seus alunos?

Olha tem de tudo. Tem de criança a senhor de idade. Mas vamos dizer que a faixa

etária, uma média, vou pegar uma média, uns 40 anos, por aí.

60

6:665.580

E qual o principal interesse na procura por esse in strumento?

É música caipira, música de raiz. É a verdadeira música caipira, né.

E aí eles procuram as aulas, realmente, prá aprende r e prá tocar. Há um motivo

especial?

É, a viola, quando você vai ensinar viola, na verdade você acaba ensinando música

caipira. Não tem muito jeito porque a viola é um dos poucos instrumentos que tem

uma coisa chamada sotaque. Se você não souber uma viola soar como uma viola

ela vai soar como um violãozinho de 10 cordas. Então, você tem saber a linguagem

do instrumento. Então, não tem como. Você vai estudar a viola, tem que passar pela

música caipira, mesmo que você toque outros gêneros, mais prá frente, mas você

tem que passar pela música caipira prá aprender o que é um pagode, o que é um

ponteio, né. Aprender o ritmo. Aprender a dar aquela pegada de viola para o

instrumento, porque aí você passa a fazer a viola a falar como viola e não como um

violãozinho de 10 cordas ou coisa semelhante.

7:57.573

A gente está tratando, nesse programa, sobre o resg ate da música caipira na

cidade de São Paulo, que está se perdendo, que as p essoas não conhecem

muito, se conhecem é muito, vagamente, e a gente vi u que você já passou por

vários programas, várias mídias, é, é, conhece vári as pessoas do ramo da

comunicação e, então, você sente que há espaço melh or para a divulgação da

música caipira ou ainda sente um limite, não é todo mundo que aceita, que

queira divulgar, que queira manter vivo?

8:34.390

Olha acho que espaço, está ruim para todo mundo. Se você não for músico de funk

ou não for cantor de sertanejo universitário, tem que seguir a tendência você não

tem espaço, seja roqueiro, seja sambista, né, a, a basta você ver aí banda que há

pouco tempo atrás estavam no auge, Skank, J Quest, cadê esse pessoal, né. Então,

acho que espaço está pouco para todos não é só para música caipira. A música

caipira já tem um agravante que é o fato de a gente ter um músico, a gente tem um

61

público pequeno, né, fiel, é um músico, é um público fiel. E, está ali com você

sempre, né. É aquela panelinha, mais é um público pequeno, né. Seletivo.

9:18.089

Mas nós ainda temos, que muitos compositores, muito s intérpretes, mesmo da

sertaneja universitário de agora, ainda cantam, ain da relembram algumas

músicas, então, quero dizer, não morreu, né. Tá viv a, tá aí.

Olha. Não diria que não morreu por conta da procura desse pessoal pela música

caipira. Eu vejo a procura deles mais como, ...não sei se a palavra é meio forte, mas

oportunismo, ou seja, eu vou tocar uma música caipira porque assim eu consigo

aquele público, ou seja, uma forma de içar um público que, de uma certa forma,

iriam torcer o nariz para ele.

9:55.469

Porque, geralmente, quem gosta de música caipira, fanático pela música caipira,

odeia o sertanejo moderno. Então, geralmente, algumas duplas lançam essa ...esse

artifício para ... para poder laçar aí alguns... alguns fãs, né, que.. que ... que vai, vai

pensar e vai falar, poxa, ele toca música de raiz, então, eles tem que, né, dar o

devido respeito a eles, mais é.é.é eu acho que são poucos casos que levam isso à

sério, por exemplo, a dupla João Carreiro e Capataz é uma dupla que faz um

sertanejo moderno, mas ao mesmo tempo eles conseguem ... metade do repertório

deles é caipira e durante todo tempo no show se vocês verem, eles estão tocando

com viola e violão, ou seja, tem uma certa mistura, então, aí não é oportunismo. É o

estilo deles. Então, é honesto. Vocês vêem que tem uma honestidade naquilo. Agora

é diferente, por exemplo, você pega uma dupla, um cantor sozinho, ééé que faz uma

música com, geralmente, palavras monossílabas o show inteiro, o cara pega uma

viola e toca uma música prá falar que toca, ah, ah, ah vou tocar aqui uma moda do

Tião Carreiro e toca “Boate Azul”, (riso) não tem nada a ver, ou seja, não é do Tião.

Você vê que é oportunismo. Você vê que o cara ele quer usar isso prá agradar um

determinado público que não é o dele, ou seja, para vender mais. É uma questão

comercial.

11:23.118

E o que você acha do futuro da música caipira, da m úsica sertaneja?

62

Olha, é, é, é. É triste o que vou dizer, mais eu acho que o futuro é, cada vez mais a

música caipira ela ser vista como uma música do passado, como uma música de

antigamente, assim como a gente tem hoje, a gente ouve falar hoje do samba-

canção dos anos 40, né. Você não vê mais samba-canção, né, mais é, é, um estilo

de música que acho que vai ficar mais prá memória. Você até tem duplas novas,

mas as duplas novas elas não conseguem vencer a barreira das duplas antigas, né

...mmm isso muito é culpa de quem ouve a música caipira. Por quê? O cara entra

numa loja e ele tem lá um cd do Tião Carreiro e Pardinho e ele tem lá um cd de uma

dupla nova. O que que ele vai comprar? Ele vai no óbvio, né. E, infelizmente, isso

mata, né, a geração de hoje. É difícil você trabalhar com disco, hoje, com venda de

disco, e ainda você tem que lidar com uma, uma, uma concorrência forte dessa, diria

até, desleal porque você não tem como competir com Tião Carreiro, não tem como

competir com Tonico & Tinoco. Mas você não tem muita chance. É diferente, por

exemplo, do público que curte rock, por exemplo, que é mais aberto às novidades, é

mais aberto à, à, às coisas novas, às novas bandas, a novos sons. As pessoas

estão sempre procurando coisas novas. Ó, ó, olha, achei, né, essa banda e mostra

para os amigos. ... Isso não existe na música caipira. Então, o cara ele vai, escuta

aquilo, e nasce escutando aquilo e vai morrer escutando aquilo.

13:07.135

Então, é, é, é. Como é que você pode ter um futuro se você não tem uma

renovação, se você não tem ...é.é... Os compositores que compõem para a música

caipira estão morrendo de fome porque não conseguem emplacar nada e quem toca

música caipira, vivendo de trocado, então, ... Infelizmente, assim, eu não vejo futuro

muito ...bonito, nos próximos 20, 30 anos, eu diria.

13:30.775

E, falando em rock nós vimos que você também criou um ritmo, adaptou um

ritmo que é o rock caipira. E o que seria esse rock caipira e porque essa

adaptação?

É, é, na verdade assim. É, é eu vou dar u, u, uma longa explicação sobre isso. Ã, a

gente tem duas coisas que a gente tem que dividir bem. Uma é a música caipira

como gênero musical e a outra é a viola como instrumento musical. E a viola sendo

63

um instrumento musical, ela não necessariamente ou obrigatoriamente ela precisa

estar presa à música caipira. Ela por ser um instrumento musical você toca o que

você quiser nela. Assim, como no violão, você toca blues, você toca jazz, você toca

MPB, você toca pop-rock, você toca samba, você toca choro. Porque a viola não

pode fazer isso? Qual... o que a viola proíbe à viola de fazer isso? Nada. Apenas o

preconceito de algumas pessoas com o instrumento.

14:27.032

Então, é, é, Eu, quando eu comecei a tocar viola, claro, eu fui me informar sobre a

viola, eu fui conhecer o instrumento, fui aprender os ritmos, eu fui vivenciar um

pouco a vida de violeiro. Não que eu fui para o campo vivenciar isso, mas eu fui

atrás dos violeiros para ver como eles tocavam, saber como era a vida deles... para

conhecer, realmente, de... a fundo a viola. Mais, eu não sou um músico caipira. Eu

não nasci no meio do mato. Eu não vivenciei isso. Então, seria muito falso, não seria

honesto da minha parte eu vender uma imagem de uma coisa que eu não sou. Ia

soar falso, ia soar forçado. E, e, eu cresci em São Paulo. Nasci dentro da cidade,

ouvindo RPM, ouvindo Legião Urbana, ouvindo Cazuza. A minha infância foi isso.

Então, não é uma coisa que eu posso, simplesmente, apagar da minha vida. Então,

eu, eu resolvi juntar as duas coisas, tanto a, a, a música que eu acabei, é, é, é

adquirindo gosto, já adulto com a música que eu cresci ouvindo.

26:44.027

Mais porque não fazer isso com um instrumento que eu gosto? Então, o fato de eu

trazer a viola prá ritmos que não tem, absolutamente, nada a ver com a música

caipira, vem um pouco disso, de querer ser honesto no meu trabalho e fazer um, um

trabalho que seja genuíno, que não seja é, é, é, forçado. E, também é um trabalho

diferente porque não é um mais do mesmo. Quando você fala em viola, você espera,

né, que o cara, ele apareça de calças jeans, camisa xadrez, chapéu, bota e toando

Tião Carreiro, né. E, e, e, eu acho que é, é legal. Isso é um estilo .... bacana, mais

não é o todo. Então você pode fazer coisas, completamente diferente na viola. Ela

aceita e faz muito bem esse papel. Muito bem.

16:19.112

É, mas é interessante é, é, justamente, isso. Você não viveu, não conviveu no

campo, não se considera um violeiro caipira, no ent anto você contribui prá,

64

prá divulgação, ou prá manter a música caipira quan do você toca a sua viola

no estilo, caipira de ser.

A gente tentar ajudar um pouquinho.

Me conta um pouquinho sobre esse novo, novo projeto seu da viola de 12

cordas que a J. V. Signature.

Esse projeto, ele nasceu de uma necessidade, é, é, eu além de, ã, ã, o meu forte é

aula de viola, mas a gigantesca maioria dos alunos é de viola, mas, às vezes, me

aparece alunos de violão. Então, a primeira necessidade foi, é, é, é, ...foi poder, ter

um instrumento que eu pudesse usar para as duas coisas. Porque muitas vezes eu

me via dando aula de violão com a própria viola, né. Violão não é uma coisa assim,

que me chama muito a atenção, mais é, é, é essa foi a primeira necessidade, ou

seja, ter um instrumento com o qual para mim fosse prático e que pudesse dar aula

tanto de viola quanto de violão. A segunda é foi, é, a segunda necessidade que esse

instrumento me, me, me supriu é, é, é, o, a a falta de grave que a viola tem. A viola é

um instrumento que tem dez cordas. São cinco pares, mas é um instrumento,

excessivamente, agudo. Então, quando eu, eu, eu, é, é, eu tenho meu trabalho solo,

instrumental, então, eu tinha mu, eu tinha muita, é, é, como é que eu posso falar ....

eu tinha, não é dificuldade, mas eu ... é, é, é, tinha muita dificuldade prá lidar com

aquele som todo agudo, faltava o grave, assim sentia a falta o grave do som. E, o

ano passado, eu me tornei indosser da Rozini e eu comecei a, a, a namorar com

eles, esse tipo de instrumento a tentar convencer eles, que era uma boa ideia, tal e

aí, eles toparam a ideia e fizeram uma viola de 12 cordas para mim. É uma viola

caipira. Até é o mesmo formato de uns dos instrumentos que eles fabricam, mas a

gente adaptou 12 cordas em vez de dez, são 12 cordas. Então, isso ajudou

bastante, principalmente, nos shows a vila encorpou o som. Ficou bem encorpado.

Não perdeu a essência, continuou sendo uma viola de 12 cordas, mas é importante

frisar uma coisa, não é uma invenção minha. A Gianini já fabricava uma viola de 12

cordas na década de 50, né. Então, não é uma invenção. Na verdade, isso é uma

coisa que existe há muitos e muitos anos, né. Na verdade, esse instrumento, a viola

de 12 cordas, é, é, uma informação que muita gente desconhece, mas, o violão

nasceu da viola, não ao contrário, viola nasceu do violão. O violão veio da viola.

19:12.944

65

Primeiro veio a viola, depois veio o violão. Existia a viola de quatro pares, depois

virou de cinco pares, depois virou de seis pares e a de seis pares perdeu os pares e

virou violão. Então, na verdade,esse instrumento já existiu (sonoplastia digital) há

mais de 200 anos. Não é uma invenção, isso, na verdade, é um resgate. É,éé,

então, esse instrumento que eu estou segurando aqui, é uma viola de 12 cordas, ele

é, exatamente, instrumento que foi a transição da viola p’ro violão.

19:41.398

E, você pode dar uma palhinha prá gente, agora?

19:45.227

Sem problemas.

Tô só. ... Viola é meio complicado. Prá desafinar.

Inezita Barroso – apresentadora

Qual é a importância da música caipira para a cidad e de São Paulo?

Importância de uma raça. A música caipira, a música de raiz é raça. Ninguém

quebra, ninguém apaga. Aí tá, às vezes, lá no alto, às vezes, abaixa um pouquinho.

Mas, meu Deus do céu, como paulista ama sua terra! Num parece, paulista é meu

quietão, meio parado, né? Ele não se externa, (risos) muito assim, com as opiniões,

mas se você cutucar, minha filha, eu estou nessa briga, faz ...quanto? Uns 60 anos...

60 anos. Um dia de minha vida, falei: Agora, chega! Não vou dar aula mais, não vou

fazer nada. Vou me dedicar só à música de raiz. Porque eu quero tirar ela do fundo

da terra.

Qual é a importância do rádio para a música caipira ?

Do rádio? Eu gosto de mais do rádio. Fiz rádio. Houve um tempo em que a música

caipira era só no horário aí horrível que ninguém ouvia (risos), 4 horas da manhã,

mas tinha muita gente que ouvia. E, o pessoal não deixa de lado, mas não deixa. É

que o paulista não é muito extrovertido, né? Ele é mais quietão, principalmente, o

caipira, mas ele é muito sentimental. Falou na terra e ele lá, fica aceso. E, agora,

falei, ah, agora nessa estrada de terra mesmo que eu vou. Chega. (risos)

66

Cantei muito samba, muita coisa variada também, muita coisa brasileira de norte à

sul. Eu amo a música do Sul, música gaúcha admiro demais porque eles são

grudados no que é deles. (risos) Não adianta! Não adianta! De vez em quando

aparece uma coisinha diferente, mas volta, volta prá música do sul. E, e outros

estados também, muito conservadores. Achei uma beleza quando se uniram muitos

gaúchos e mato-grossenses. Acho que, talvez, por força de algum trabalho, de

alguma profissão e se uniram muito. Só que as músicas não se uniram (risos).

Então, isso é lindo! Porque você é você, eu sou eu. Não tem que um copiar do outro.

E é assim mesmo. E outras coisas que o pessoal, às vezes, não entende. Eu faço

muita palestra, muita coisa. Dei aulas, muitos anos, né, em faculdade. Fui prá Mogi

das Cruzes, dei aula lá muito tempo. Uuu, entortei lá pessoal (risos). Fiz até gente

fabricar carro de boi prá sair no desfile do Divino. Porque não tinha. O boi mancava,

o boi coitado. E, um dia, saiu lá uma propaganda política, no lombo, falei, ah, esse

boi não vai entrar não. (risos) Eu vou segurar ele (risos). Não entrou. Imagine que

absurdo! Um negócio folclórico, na festa séria que é o Divino, pelo amor de Deus!

Ligado a igreja, tudo, bandeiras mil do Divino e o coitado do primeiro boi, lá meio

capenga, e com propaganda, pintado no lombo, falei, esse não entra! (risos) Eu era

muito brava, continuo, dependendo da ocasião, né? Quando precisa eu sou. Meus

alunos tinham meio medo de mim, mas olha, graças à Deus, eu posso dizer, que eu

formei vários alunos maravilhosos que entraram na faculdade sem saber o que era

música caipira. Ainda debochavam. Ih, caipira! O menino, vem cá (risos). O que é

caiçara? É o homem que nasce no litoral. E o que é que é caipira? Ihah! Apenas o

homem que nasce no interior! Entendeu? E, se não entendeu, eu vou dar um zerão,

heim! (risos)

4:35.440

Tem que fazer conhecer, né!

E tem saber brincar com eles também, né? Porque eles aceitam, mas tem umas

correntes, assim, estranha, meu Deus! Quanto estrangeiro que não ama a nossa

música maravilhosa, ama mesmo? Duplas de todas as raças diferentes. Sabe? É

uma coisa bonita. E eles querem assistir as festas. Querem dançar. Ih, (risos) onde?

Então, é obrigação da gente é desenterrar essas coisas porque não estão

enterradas. Elas estão dormindo, na flor da terra (risos) E, é fácil. É muito fácil se

67

lidar com crianças mesmo. E, ver uma criança cantar música imoral, que tem duplo

sentido, uma coisa muito feia. E, a boba da mãe, ai que bonitinho! Bonitinho, o quê,

minha senhora! A senhora já pensou na letra dessa música? Já pensou no rebolado

daquela coitadinha com 5 anos? Não é da idade. Vamos fazer a nossa coisa. É,

briguei muito, sabe? Briguei muito e continuo brigando (risos) até hoje. São 62 anos

de briga, mas acho que a coisa ficou quente, ficou boa. Tem muitos jovens.... Você

viu hoje as duas duplas? Uma é bem jovem e a outra é bem mais prá lá.

6:19.051

É mesma coisa. Senão acaba tudo. Desmonta tudo.

E existem compositores, ...estão surgindo composito res da música caipira de

raiz?

6:34.402

Estão. Estão, mas muito timidamente. Sabe? São Paulo, não muito porque essa

coisa enorme, mas Minas Gerais, ãã... olha. Rio Grande do Sul a gente nem fala

porque (risos) é maravilhoso! Ããã, olha, Goiás não é muito. Ééé, tá bom, mas não tá

como a gente quer. Não falo muito isso, não porque é capaz de ofender (risos) Não

falo, falo alguns estados, pelo amor de Deus, não deixem brigar comigo (risos) Não

deixem porque sou uma onça, heim! (risada) Aí a gente está assistindo umas coisas

lindas, por exemplo, agora no Natal, eu estou querendo fazer um espetáculo, já no

mês da Nossa Senhora Aparecida, já que é outubro, já começar catequisar criança.

Então, eu já fiz muitos espetáculos, já escrevi,aaa, uns trabalhos sobre o Natal

brasileiro, que não é nada de papai Noel, nem de bolinha (risos) de coisas de nada.

O negócio é religioso, gente. É o nascimento de Cristo! Apenas! Então, o que que

interessa aí? O nascimento de Cristo, menino Jesus! Mostrar prás crianças o

bercinho e eu escrevi um alto muito bonito que a gente representou anos e anos, e

anos e anos com o conjunto Flor do Campo, agora está tudo dispersado, né? Cada

um tem lá seu interesse ou outro estado muda, mas quando a gente conseguiu

reunir, a gente fez muito trabalho, muito trabalho e agora tem ... estão surgindo

novos núcleos de gente que quer trabalhar com crianças.

8:37.491

Então, estou planejando um espetáculo ... A gente percorreu muitos, muitos pelo

governo, muitos teatros do interior com crianças com tudo misturado e agora, partir

68

do meio quiss ...que tem muita criança, no meio de Nossa Senhora Aparecida, a

gente pegar firme nesta crença, nesta religiosidade, na nossa bandeira do Divino, na

nossa música caipira, caipira, caipira, caipira... (risos)

9:15.162

Então, eu tô treinando aí um grupo muito bom que é de crianças e aí, os que tocam,

não é baixo elétrico, não. É rabecão, mesmo tocou (risos)...

Então, não é que a gente queira destruir nada, nada. Nós não queremos destruir.

Queremos construir. Só que a criançada não pode continuar a cantando cacaca,

cucucu, o que é isso? Que isso! Um país rico de música, de ritmo, vê a coitadinha lá,

vêvê... Não sabe nem o que está falando, uma coisa feia! E, às vezes, a mãe ai que

bonitinhoéémenininha de tanga. Não, não é assim, minha senhora. Eu brigo muito,

brigo, brigo, brigo, brigo. Há muito tempo. Falei, não é! Um vestidinho rodadinho,

né? Uns brilhos na saia, não é, essa criança não é prá por um ...ah! Sei lá o quê! Um

fio dental, por exemplo? E se deixar, fica! Então, eu acho uma coisa nojenta! Palavra

de honra, o termo pode parecer acintoso, mas eu acho nojento! Meu Deus! Então, o

que que a criança vai dizer? Ah! Porque eu vejo na televisão! Ãh! Ãh! Ãh! Ãh!

Televisão também é culpada!

10:52.692

Dona Inezita, você falou da imagem. Por que que a i ndústria mudou tanto a

imagem do caipira, a indústria fonográfica?

11:00.489

Por que? Vou te contar. Por uma coisa tão boba, tão sem importância. Havia uns

remédios do laboratório, diva?diva? Quando eu tinha 5 anos, meu irmão tinha 4

anos, a gente tomava os remédios que era da moda. Agora, prá fazer a propaganda

sempre entrar o dinheiro, né? (eheheheh risadas) O dinheiro é um lixo, prá acabar

com a tradição! O dinheiro é o maior inimigo da tradição. Então, entrava o anúncio

lá, Monteiro Lobato! O grande Monteiro Lobato. Fazia um anúncio, assim, ele era um

caipira, e nas farmácias, vendiam uns almanaques, nem vendiam nada, você

pegava na farmácia. E lia aquilo. Era umas historinhas precursoras das histórias em

quadrinhos. Isso é o que eu acho bonito. E aí ia lá. Você não sabia quem é que fez.

Como é que era? Era de graça. Pegava na farmácia e tinha uma historinha. E, o

caipira sempre era um desgraçado, preguiçoso, (risos) ladrão, hã... sem caráter,

69

sem dinheiro, pelado quase, sem roupa, sem comida... Então, aquilo ali, ficou assim

uma coisa, mas fez sucesso. Fez sucesso. Todo mundo quer ver a caveira, né? A

caveira do negócio. Fez sucesso. Ó. E era um fortificante que ainda tem até hoje,

né.

12:53.292

Essa moça que está comigo, que cuida de mim. Cadê Ela? Tá lá fora. (risos) Tá lá

fora? Ela é baiana. E ela não deixa de tomar esse remédio. E, ainda tem até hoje. E

aí. É um remédio! É um fortificante. Não vou dizer nome, porque não interessa.

Depois eles vêem brigar com a gente (risos) Não adianta nada. E, Monteiro Lobato,

Monteiro Lobato morava ali na subida de Campos do Jordão. E, estava meio sem

dinheiro, tal. E, era amigo do pessoal do laboratório que não vamos falar o nome.

Porque não interessa. Que vendia esse remédio, vendia mais uns quatro remédios,

por sinal muito bom. (risos) Muito bom! Não era porcaria. Não era água com açúcar.

E o Monteiro Lobato foi convidado prá produzir alguma coisa com aquele laboratório.

E, aí ele fez uma historinha precursora das histórias em quadrinhos. Olhem bem!

Que era assim, um caipira com bicho de pé, encostado no muro, com chapéu na

cara, morto de fome, descalço, ruim, ruim. E, aí chega uma hora lá que ele toma

esse remédio. E, aí ele aparece de lenço no pescoço, chapéu de feltro, não tinha de

cowboy ainda, graças à Deus! (risos) Ele aparece com chapéu de caipira. Chique!

Era de feltro e com uma bota, bota até aqui que eles não tinha. E, aparece

chiquíssimo. Porque? Porque tomou o tal do remédio. O que venderam desse

remédio! Que vendem até hoje, esta minha acompanhante toma esse remédio que

ainda existe no interior, em São Paulo não é muito. E se eu contar prá vocês que é

maravilhoso fortificante. (risos) Ainda é! Não tem nada de coisa que não pode tomar,

de ingrediente do remédio, nada. É aquela porqueira, lá (risos) mesmo que.... E, o

cara ...Prá criança é maravilhoso. Criança que está amarela, ali vai. Toma aí todo

dia. Toma. Fica vermelhinha. Fica louca prá brincar. Então, esse... esse negócio aí

que ninguém quer ver. Não quer. Não sei se é medo. Ou se é ... Eu sei lá! Não sei.

Um dia eu vou entrar nessa mata aí (risos). E, aí a gente entrou de quatro patas. E,

o caipira .... eu sempre começo as minhas palestras... O caipira não é mendigo.

(risos) Nas faculdade todas. Como é? Não, caipira não é mendigo. Aí, isso, isso,

isso, lá vou eu. E já consegui grandes retornos. É um orgulho meu. Por exemplo,

festas de São João, com aqueles chapeuzinhos tudo arrebentados, ....tudo

70

desmontados... de palha ou o chapéu de cowboy, ou hã ... vestidinhos com

pedrinhas.

16:34.459

Eu fiz uma palestra muito séria na... no colégio São Bento.... com o reitor, com todo

mundo... Fiz palestras pros professores e eles ficaram... Nossa! Mas o caipira? ...

Falei, se você quiserem fazer uma festa aqui, você podem fazer, desde que seja

com chapéu de palha que custa 500 réis, novinho, não precisa ser todo arrebentado.

Caipira não é mendigo! Olha! Eu até chorei no dia em que fui na festa de São João

lá, no colégio São Bento. Chorei. As meninas de trancinhas postiças, aquelas

carinhas bonitinhas, de vestidinho.. Não mostra nada. Lógico! E... caipira vai mostrar

coisa! Não interessa! E as menininhas dançando com os menininhostodos

...bonitinhos! Uns tinham botinhas, tudo bonito. É a festa. Eu chorei muito, muito,

muito naquele dia. E os doces, né, que eu falei na palestra, doce de sidra, doce de

abóbora, pipoca, pinhão, tinha tudo. Eles patrocinaram tudo, uma mesa daqui lá.

Todo mundo foi, todo mundo dançou.

18:04.028

Foi muito bonito. Então, de vez em quando, você tem um trailer desses, quando

também eu tive com as netas quando elas eram pequenas. E aí, elas.... O meu

marido era cearense, mas ele ...inteligente. Até bom advogado... consciente de onde

ele estava pisando, em que terra que era. Tudo bem. Bem, as netas pequenininhas,

o meu gênero era paulista, minha filha mestiça (risos) Cearense e paulista educaram

as filhas daquele jeito. Ah! quando começou o show, uma menina lá professora com

a sanfona lá, abriu aquela sanfona e começaram entrar as crianças, era surpresa.

Aí, entraram duas netinhas, uma de 2 e outra de 4 anos vestidas de caipirinhas, mas

sem o chapéu arrebentado (risos), com lacinhos, sabe? Eu falei, o meu Deus! Eu já

estou (risos) na hora de morrer, não (risos) preciso ver mais nada! (risos) Ah, meu

Deus. Meu pai estava comigo também amou. E daí prá cá, a gente sente que tem

um movimento, assim, muito grande prá desenterrar as raízes.

19:35.113

Porque enterradas? Daí vai eu desenterrar as raízes.

19:42.614

71

E porque existem compositores da nova geração sempr e põe as canções mais

antigas nos seus palcos, assim, porque sempre há es ses resgates, já que a

música não ficou antigas, né, obsoletas.

19:59.597

Antigas! Escuta! Você acha antigo Chopin, Brame, Beethoven. Antigo?

De forma alguma.

Né? (risos) Então, a gente... Meu Deus! É burrice! Não quero xingar ninguém, mas é

burrice! Não tem um professor que diga, não é nada disso. Essa música aqui é da

Espanha até hoje dança desse jeito. Essa dança é da Argentina, do Chile é de todo

país pobre, país rico.. E, porque a nossa é discriminada? Porque o caipira é um

coitado, pé sujo, bicho de pé? Não é nada disso, gente. Já está melhorando. Eu

estou com isso aqui! ... (risos)Há muitos anos. Eu tenho aliados muito bons,

principalmente, com o Viola, muita dupla boa. Você vê que hoje foi uma moça e

outra mais velha. Nós estamos fazendo um balanço. E eles sabem. Então, taí o meu

trabalho. Graças à Deus! Está sendo glorificado (risos) Porque a gente, procura

reviver e tem muitas crianças que quer... mas o dinheiro mata, mata, mata, mata ...

Mas não adianta. Vamos brigar com o dinheiro até morrer.

21:31.668

Então, a senhora tem um projeto prá continuar reviv endo sobre essa música,

para não se perder, prá continuar no resgate mesmo?

É lógico!

O futuro da música caipira, a senhora pode dizer qu e continua?

Continua. E, tem assim no interior do Brasil, não é só aqui, tem muitos conjuntos,

tem muitos conjuntos que estão estudando, estão pesquisando. Agora, assim, de

onde que veio o forró? Eu não sei. ... Porque que você dançam o catira? O que é o

catira? Não sei. Ah! Meu Deus do céu! Eu sofri, continuo sofrendo mesmo com as

coisas que dói na gente. Mas, se eu puder pôr uma sementinha, pelo menos, na

cabeça ...está ganha a guerra.

Prá encerrar, e agradecendo a sua atenção, dona Ine zita...

72

Eu é que agradeço!

Eu quero saber qual é a sua música favorita?

Se há uma, né?

Se há uma, né?

São várias!

Só uma?

Peraí

(risos)

Pode ser mais de uma.

Pingo d’água, do João Pacífico.

22:58.541

(Inezita canta, Pingo d`água)

Quer coisa mais linda!

É...

É. O negócio que... mexe. E, olha. O autor, João Pacífico, terceiro ano na escola

primária, na fazenda, ele tem uma das coleções de músicas caipiras muito sérias.

Com terceiro ano primário. Morreu bem velho. De bom humor, maravilhoso que ele

era. Maravilhoso. Tem umas histórias lindas. Foi parceiro do Raul Torres. As

músicas mais lindas ele escreveu. E, tem uma história engraçada que, ele era pobre,

fez terceiro ano na roça, e ficou por lá bom.... A professora gostava dele porque ele

fazia pequenas poesias para ela (risos) já com oito anos de idade.

Aí foi crescendo, foi crescendo. Aí empregaram ele na São Paulo Railway, dos

trens... ele lavava pratos. Trabalhava na cozinha, lavava pratos, enxugava pratos,

com aquele aventalzinho dele. E, um dia apareceu um trem muito famoso aqui em

São Paulo, que era o Pullmann, que era para os governadores, às autoridades, né?

Qualquer um não entrava lá. Tinha a terceira classe, a segunda, tudo trem. E o

Pullmann, que era um vagão inteiro, só pros famosos. Quem estava sentado era o

Guilherme de Almeida. Aí chegou um cara para servir uma aguinha prá ele, muito

humilde. E falou, ah, se o senhor ouvisse meu colega que trabalha lá na cozinha... O

73

galego não era chato. Ah, é? Se interessou. E o que que ele faz? Ah, ele compõe.

Compõe? (risos)

O senhor quer que ele cante pro senhor? Eu vou pedir para ele vir aqui. Pro vagão.

O Pacífico demorou. Ele lavou a mão 400 vezes, enxugou no avental, tirou o avental

e foi conhecer. Foi lá muito humilde, e o Guilherme de Almeida. Você que é o João

Pacífico? É, sim senhor. Canta uma coisa sua prá mim! Aí ele cantou. Não foi o

Pingo d`agua, foi o Mourão da Porteira. É.

27:36.685

Lá no mourão esquerdo da porteira (Inezita canta)

Guilherme ficou com os olhos cheios de lágrimas.

Meu Deus! O que que é isso?

Um lava-pratos fazer uma poesia dessa! Ficou louco. Eu é que devia ter feito essa

poesia! E, o Pacífico, ele não era orgulhoso. Como caipira não é. Ficou feliz (risos)

ao homem gostar. Nem sabia direito quem era. Aí voltou prá cozinha. Ele

envergonhado, enxugando as mãos. Olha, gente! E o Guilherme sempre citou essa

poesia dele. Ele nunca deixou passar isso não. E, não tem nada que determine o

poeta, ou ele é ou ele não é. Ou ele é molambento lá, (risos) mendigo, pobre ou

então, ele pode ser rico, mas aqui é dentro que funciona. Achei tão bonito aquilo,

viu? E, o Pacífico durou muitos anos. Veio muito no “Viola, Minha Viola”. Querido até

hoje. Você viu que os discos dos rapazes ali ...eles tem composições dele. E, aí vai

a nossa vida, desenterrando.