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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA Cleuza Salete de Brito ESTUDO DO INCONSCIENTE ATRAVES DO SONHO '0 sonho, uma janela para a vidal' CURITIBA 2007

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA

Cleuza Salete de Brito

ESTUDO DO INCONSCIENTE ATRAVES DO SONHO

'0 sonho, uma janela para a vidal'

CURITIBA2007

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III

TERMO DE APROVACAoCleuza Salete de Brito

ESTUDO DO INCONSCIENTE ATRAVES DO SONHO'0 sonho, uma janela para a vida!'

Esta monografia foi julgada e aprovada para obtenc;ao do titulo de especiatista em Estudo doInconsciente atrav~s do sonho, no Curso de Psicologia Clinica, da Universidade Tuiuti do Parana.

Cur'iliba, 15 de maio de 2007.

PSicologia ClinicaUniversidade Tuiuti do Parana

Coordenador(a)Ora. Maria Cristina Antunes

Orientador:Prof. Nelio da Silva

Universidade Tuiuti do Parana

Banca Examinadora:

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Estudo do Inconsciente atraves do sonho'0 sonho, uma janela para a vida!'

RESUMO

o presente estudo ocupa-se em averiguar se ha interferencia dos sonhos dondivfduo em estado de dormencia na sua vida cotidiana. e se a vida vigil,consciente, contribui para a formar;:8o do sonho. Estudando a inconsciente,Tambem apresenta aspectos relevantes sobre este aspecto da mente humana, sua8r;:ao durante 0 sono. Oiscutindo quest6es acerca do sonho produzido durante 0sono, este trabalho abre possibilidades de a indivrduo programar sua mente paraencontrar no sonho respostas a problemas comuns au mais complexos que,durante a vida vigil nao Ihe sao oferecidas comumente, ista porque sua mente estaperturbada par problemas e preocupar;:6esdas mais variadas origens. Como fontes,serve-se de estudo de caso em psicologia clinica junguiana e de entrevista semi-aberta. 0 estudo e relevante por oferecer certo conhecimento a respeito doprocesso onirico, aspecto inerente ao ser humano, e que e pouco exploradocotidianamente pelos meios de comunica<;aoao alcance da populayao em gera!.Pretende contrapor uma certa tend€mciade alguns segmentos da cultura hodiernaem oferecer interpreta<;oesestanques para a simbologia onirica, desprezando amultipia riqueza do mundo pessoal que e unico, individual, que esta estreitamenteimplicado na vivencia do sonho.

Palavras-chave: fantasia, processo onirico, compensa<;ao, inconsciente xconsciente.

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1. INTRODUCAO

CARL GUSTAV JUNG, pSiquiatra sui90 (1875-1961), em suas descobertas

aeerca da psique afirmou: lidar com 0 inconsciente e urn processo (au conforme 0

casa, urn sofrimento ou urn trabalho) cujo nome e funr;;ao transcendente, porque

representa urna funyao que, fundada em dados reais e imagim3fias au racionais e

irracionais, ]anya urna ponte sabre a brecha existente entre 0 consciente e 0

inconsciente. E urn processo natural, urna manifesta980 de energia produzida pel a

tensao entre os contn3fias, farmada par urna sucessao de processos de fantasia que

surgem espontaneamente em sonhos e vis6es.

No processD de conhecimento parcial do inconsciente atrav8S da analise dos

sonhos, ap6s apanhar os conteudos produzidos espontaneamente (no inconsciente)

e integra-los a consciencia e seus conceitos, Jung utilizava a amplificayao, au seja,

buscava a confirmagao dos dados interpretados atraves de todos as meios

conscientes. Para comegar, diz Jung, nao se sabe que tipo de reayao provocamos

quando iniciamos uma analise dos son has. Alga de invislvel, de interior pode ser

acionado. Talvez algo mais tarde viria a tona, ou quem sabe nunca se manifestaria.

Ele compara este processo a abertura de um pogo artesiano em que corressemos 0

risco de topar com um vulcao. Na presenga de sintomas neur6ticos e preciso 0

maximo cuidado.

Quando conseguimos estabelecer a fungao denominada transcendente,

suprime-se a desuniao com a incansciente, recebendo dele todo 0 apaia e esHmulo

que uma natureza bondosa pode dar aD homem, uma vez que esta em constante

atividade, vai combinanda os seus conteudos de forma a determinar 0 futuro. Produz

combinagoes subliminais prospectivas, tanto quanto 0 nos so consciente; s6 que eals

superam de longe, em finura e alcance, as combinacoes conscientes. Podemos

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confiar ao inconsciente a conduc;ao do homem quando este e capaz de resistir a sua

sedw;:ao.2

Colocados estes pressupostos Junguianos, tenho que tarnar sa bid a a minha

decisao pela linha te6rica deste estudo. Descobri-me urn tamo pareciea CUIU ,JKIVIC,:)

M. nMLI.. \ I ::I~3), no que diz respeito ao 'assedio' da taeria Junguiana sabre a

interpretal'ao dos sonhos.

No prefacio de sua obra Jung e a interpretaqao dos sonhos - Manual de

Teoria e Pratica, ele explana como sentiu-se atraido pelos pressupostos Junguianos:

UDurante as primeiros dois anos de minha pratica psiquiiltrica, tentei manter urna

atitude neutra em rela~o as diferentes teorias de interpretac;ao dos sonhos. Eu

esperava que, 80 considerar todas essas teorias igualmente validas, achar-rne-ia em

condiyaes de discriminar as vantagens e desvantagens de cada urna delas, com

base na minha observa<;ao cHnica. Alimentava a esperan<;a de decidir

racionalmente, par mim mesmo, qual a teoria de interpretayao dos sonhos que iria

me parecer a preferivel.

[ ... J Finalmente, tornou-se, para mim, impossivel lidar de maneira satisfatoria

com as sonhos a partir de uma perspectiva nao-junguiana. Todas as Qutras teorias

dos sonhos pareciam ser casas especiais da concepc;ao junguiana, mas eu nao

conseguia encaixar a ampla visao de Jung em qualquer outra teoria existente.

Tornei-me um junguiano convicto.

Assim acontecendo comigo, entreguei-me it busca do sentido dos son has

dos meus pacientes, nestes poucos anos de clinica psicologica, 2003-2007, tempo

da Gradua<;8o e Especializa<;8o, complementando sempre 0 meu conhecimento pel a

ViS80 de supervisores e supervisoras junguianos. Sao quatro 'personagens'

(supervisores mais proximos) que contribuiram, aD longo deste caminho percorrido

2 JUNG, C. G. Psicologia do Inconsciente. 128 edi-;:ao, Vozes, RJ. 1971.

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com afinco. E, na trilha aberta na minha consciencia, sempre Jung teve precedencia

desde 0 primeiro momenta em que eu 0 estudei, passando superficial mente sua

teeria dos arquetipos e a interpreta~o dos sonhos atraves da associa~o livre de

ideias, contando com a colabora~o direta do paciente, fata que S8 deu no ana

2003, quando uma professora apresentava-nos a disciplina 'Psicologia Analitica'.

Como Leopold Caligor e Rollo May, tambem pergunto-me: LCual es 1. fueme

del sofiar?) Ssm duvida assaltam-me tantas temores na hara exata de encontrar na

atividade psicoterapeutica, juntamente com 0 paciente, urn significado plausivel para

esta au aquele sonho, de forma que ele auxilie a pessoa na resoluyao de seus

problemas diarios ou que, simplesmente, traga a vida uma maior qualidade.

Diversos autores e escolas de psicologia deram diferentes explicayoes. Para

Jung, 80 qual ater-me-ei neste estudo, "os sonhos sao a ajuda mais efetiva que

temos na tarefa de construir nossa personalidade. Cada sonho e uma exposiyao da

situayao psfquica total do individuo naquele momenta."

Jung analisou milhares de sonhos durante a periodo em que atuou como

analista. Para ele, 0 sonho e especial mente 0 espelho da mente humana, espelho

no qual a individuo pode ver a estrutura de sua pr6pria psique, tal como se encontra

no momento. Nele, a sonhador representa todos os papeis de uma s6 vez: e 0

espectador do sonho, mas tambem a escritor, a ator, 0 critico e a plateia. Ao

contrario de Freud, Jung nao considera 0 sonho como aquilo que oculta (por

exemplo, a serpente nao e serpente, mas ocultadora do simbolismo falico) e sim

como 0 que amplia ao indagar 0 que revela sobre a vida do individuo. 0 sonho e 0

que trata de ser. E um chamado de atenyao para aspectos pouco observados

3 CAUGOR, l. MAY,R. Suel10s y slmbolos, Troquel S. A. Buenos Aires, 1972, p~g.17.

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quando S8 esta desperto. De fata, e impassivel definir 0 tema, 0 quanta e 0 como de

urn sonho.

Outra diferenc;a com Freud seria que, enquanto ests pergunta-se "par que?",

Jung indaga acima de tudo, na interpreta<;:iiodos sonhos, para quiP, qual a

intencionalidade de proporcionar-Ihe esta sonho e nao Dutro? Sempre he uma

inten<;:iio,um prop6sito importante para a vida que faz com que ela se amplie. 0 que

pretende aretar?, Jung se perguntara.

Ainda que Jung considere, em alguns cases, a teoria de Freud sobre os

sonhos como satisfag80 de desejos, estes pertencem, segundo 81e, a tres tipos

fundamentais e tern, sobretudo, uma destas tres fungoes:

a) FunqBo compensat6ria

Quando he perigo de que 0 comportamento consciente ameace nosso

equillbrio vital, 0 sonho vira para compensar ou regular nossa atividade pslquica. Par

exemplo, a sonho-castigo, de Nabucodonosor, quando sle S8 encontrava no vertice

de sua grandeza. "Muito pouco por um lado traduz-se como demasiado por outro",

dirE!. E sempre formular primeiro esta pergunta: "Que atitude consciente compensa?"

o inconsciente procura sanar sempre a parte consciente da psi que incorporando a

ela as peyas soltas que faltam e evitando assim uma perda perigosa de equilibrio.

b) FunqBo antecipat6ria

A funyao prospectiva nao se alinha com 0 consciente, mas antecipa-se a ele.

Por isso 0 sonho converte-se num esboqa preparat6rio, em grandes finhas, um

projeto de urn plano a ser executado. Para Jung, isto nao se identifica com um

sonho premonitorio que prediria 0 futuro, mas mostra ao que sonha 0 caminho que

tem de seguir, ou 0 orienta nos periodos mais decisivos de sua vida, ou the mostra 0

que inevitavelmente aconteceria se seguisse pelo caminho em que estEI. Jung, sem

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excluir a interpretac;ao freudiana mais voltada ao passado, mostra, ao contra rio, urna

fung80 mais orientada para 0 futuro.

c) Funqao arquetipica

Os sonhos arquetipicos sao as mais dificeis de S8r identificados.

Experiencias de marte, ressurreig80 au renascimento podem aparecer no sonho de

urn individuo que esteja experimentando urna mudan~ psicol6gica importante.

Caracterizam-se tambem pela presen<;a de alguma figura mitol6gica au algum tema

universal. A partir dos arquetipos, constr6i-se toda urna ligac;ao com 0 inconsclente

coletivo.

Para Jung, as sonhos tem um grande papel de integradores dos diversos

elementos da personalidade manifestando a processo de encontro consigo mesma:

da sombra, passando pelo animus/anima, pela figura da sabedoria ate 0 Qsimesma",

que abre a comunicayao com a transcendente. Processo pessoal, integrac;ao com 0

historico e coletivo, abertura ao transcendente [...1 par isso afirman3: Minha

experiemcia favorece a probabilidade de que as sonhos sao as layes visiveis de uma

cadeia de acontecimentos invisiveis.

Talvez suas limitac;oes estejam na pouca enfase outorgada a sexualidade e

as sensac;6es fisicas. Par outro lado, a estabelecimento dos arquetipos mitol6gicos,

com todo seu atrativo. a torna um tanto esoterico.4

Sobre 0 sonho como compensayao, encontramos em Jung e a interpretar;ao

dos sonhos (HALL, 1993), em que a autor afirma que 0 sonho neste caso e

considerado um processo psiquico, natural, regulador, analogo aos mecanismos

compensat6rios do funcionarnento corporal. Diz ainda que a percep9ao consciente

pel a qual a ego S8 orienta constitui apenas, inevitavelmente, urna visao parcial, pOis

4 CABARRUS, C. R. Rezaro pr6prio sonho, Loyola, SP, 1997, paas. 16-1~

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muita ceisa fica sempre fora da esfera do ego. 0 inconsciente eontem material

esquecido, al6m de material como as arquetipos, que nao podem, em principia, ser

conscientes, embora mudan~s na consciencia possam assinalar a existencia deles.

Mesmo dentro do campo da consciimcia, alguns conteudos estao em foco, enquanto

Quiros, embora indispensaveis a manutenr;ao da percepc;ao focal, nao estejam.

Ainda baseando-se na leoria de Jung, 0 aulor apresenta tres maneiras possiveis de

S8 ver 0 sonho como atividade compensatoria, sendo todas importantes para a

compreensao usada pelo cHnica, 0 que explicitarei mais adiante.

2. RAZOES PARA ESTUDAR 0 INCONSCIENTE AT RAVES DO SONHO

2.1. Justificativas te6ricas a partir da pratica clinica e objetiva9fjo da pesquisa

Descobri, aD estudar as varios escritos de Jung, que para ele, no principio

da vida humana a psi que e apenas 0 inconsciente. 0 Ego emerge dele e reune

numerosas experiemcias e memorias, desenvolvendo a divisao entre 0 inconsciente

e 0 consciente. Nao hi! elementos inconscientes no Ego, s6 conteudos conscientes

derivados da experi€!ncia pessoal.

oal a relevancia deste estudo, atribuindo aos mecanismos de funcionamento

da mente inconsciente, grande parte de responsabilidade pelo bern estar geral do

individuo, em sua interayao na vida diaria com 0 ego vigil. E, exatamente 0 que leva-

me a estudar 0 inconsciente atraves do sonho, e uma questao pratica - a maioria dos

individuos nBo valoriza 0 sonho que produz, ou leva-o para outro mundo, nao

conectando-o ao seu interna, as quest6es pessoais, angustias e desejos,

dificuldades e acertos, decepQ6es, fracassos e vit6rias.

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Assim motivada, desejo contribuir com este estudo para a valoriz8Q80 do

material onfrico na vida do indivldua, propiciando com minha pratica clinica

esclarecimentos quanta a quest6es embarayosas, tais como:

• a insistencia de alguns setores da sociedade atuat em apresentarem livros e

revistas, inclusive sites com significados estanques dos simbolos oniricos;

• programas efetuados nos diversos meies de comunicay8o respondenda de

maneira inadequada aDs anseios do ser humane par uma tal seguranqa nos

caminhos trilhados diariamente, apoiando-se nos sonhos produzidos em

estado de dormencia;

E meu desejo ainda clarear que 0 inconsciente, ao encontrar caminhos

abertos durante 0 sonho, seu espa90 privilegiado segundo Jung, contribuira para 0

crescimento da qualidade de vida das pessoas, em sintonia com grandes anseios do

ser humano: ter continuamente uma 'vida feliz', integrada. De que forma? 0

inconsciente devolvera ao consciente quest6es importantes para 0 ajustamento

adequado deste individuo em seu meio. Porem, ao realizar a interpretayao de

determinado sonho, todo cuidado e pouco, sendo que a hist6ria de vida do individuo

deve estar em primeiro plano na analise terapeutica em que, profissional e paciente,

empenham-se buscando os significados da simbologia do sonho para 0 indivlduo

que 0 produziu.

Dito islo, ressalto aqui 0 que Jung afirmava que nenhum pSicoterapeuta

seriamente empenhado em compreender 0 homem inteiro, ficara dispensado de

entender-se com 0 simbolismo da linguagem dos sanhos. Como toda linguagem,

esta tambern necessitara de canhecimentas hist6ricas para sua interpretayao; tanto

mais, que naa se trata de urna linguagem de usa corrente, mas de urna linguagem

de simbolos, que, al8m de recorrer a formas recentes, tambem se serve de modos

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primitivQs de expresseo. 0 conhecimento dessa linguagem simb61ica da condic;:oes

ao medico de ajudar seu cliente a sair da estreiteza, muitas vezes angustiante, de

urna compreensao exclusivamente personalistica de 5i, e livra-Io da prisao

egocentrica, que ate agora Ihe encobria a perspectiva dos horizontes mais amp los

de sua evoluc;ao social, moral e espiritual. 5

- Problematizando ...

Entao, cabem aqui as perguntas·problemas: qual a interferencia do sonho na

vida cotidiana de determinado indivfduo? Suas atividades, hist6ria de vida e a cultura

em que esta inserido contribuem na formac;ao de seu sonho? 0 inconsciente

humano ocupa-se das atividades oniricas au e a mente consciente que desenvolve

esta fun9aO?

Hi! muito tempo estou levando em conta as sonhes que as pacientes me

trazem em sess6es terapeuticas na cHnica junguiana. E parece-me que 1550 faz a

diferen9a!

- Objetivando ...

Por isso, a apresenta980 do que segue tem 0 intuito de responder a estas

quest6es, partindo do estudo do inconsciente, a formaf;8o do sonho no dia a dia do

individuo, e 0 cotidiano presente em seu sonho quando em estado de dorm{mcia,

ressaltando a importancia da compreensBo e interpreta980 do sonho no setting

terapeutico, sua amplifica9Bo, resultado da intera980 entre terapeuta e paciente.

Terei por base um sonho contado em atendimento clinico psicologico e uma

entrevista cedida por A. M., abordando aspectos gerais de sua atividade onfrica

5 JUNG, C. G. A pratica da pSicoterapia, Vozes, RJ, 1971, prefacio. IX

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desde a infaneia ate a momenta presente, quando conta com Quaranta e sels (46)

anos de idade.

Sinto-me uma privilegiada com esta oportunidade de aprofundar 0 estudo do

inconsciente x consciente e 0 conhecimento da simbologia onirica, a partir de urn

sonho contado, anotar;c5es de aulas, entrevista semi-aberta e observa90es do

cotidiano, estabelecendo uma compara9ao desde a meu ponto de vista com a Teoria

de Carl Gus1av Jung (1875-1961), ° que tern resultado nurna arnplia980 da pratica

clinica, no que tange aas caminhos da mente consciente em comunic8<;.§o com a

inconsciente, contribuindo para a constru980 da vida humana com rna is qualidade

em todos as aspectos, especial mente na resoluyao de problemas do cotidiano,

buscando valorizar as ideias e sugestt5es que as sonhos produzidos em estado de

dormencia, oferecem ao indivlduo que 0 constr6i.

2. FUNDAMENTAyAO TEORICA

Varios autores ao longo dos tempos escreveram sobre a importancia do

sonhar para 0 ser humano. Tambem em nossos dias, estendem-se inumeros

estudos a esse respeito, e 0 nosso foco esta sobre 0 processo onlrico e suas

interferencias ou na~ no cotidiano do indivlduo. Especificamente buscamos

entendimento na teoria de Jung, que baseado em sua larga pratica clinica, fez

postula<;oes em seu tempo inovadoras e que, ate hoje muitas pessoas empenham-

se a fim de aprofundar 0 significado e 0 alcance do que ele disse e escreveu.

2.1. Abordagem junguiana

Encontrei de CARL GUSTAV JUNG - pSiquiatra clinico sui90, ern rneio a

tantas afirmac;5es suas a respeito dos sonhos em analise ou nao, a seguinte

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premissa: [ ... J nao tenho Dutra forma de transmitir 0 conceito da individu89ao a naD

ser mostrando, au tentando mostrar, as fen6menos do inconsciente no proprio

material empirica. IS50 parquet no processo evolutivo individual, 0 inconsciente

passa a ocupar a primeiro plano. A causa mais profunda desse fen6meno poderia

ser a unilateralidade anti-natural da postura neur6tica do consciente que par issa

mesmo e contrabalanyada pelos conteudos complementares e compensatorios do

inconsciente. Eis 0 motive porque 0 inconsciente tern uma importancia toda especial

na correyao da unilateralidade do consciente: dai a necessidade de S8 observarem

as ideias e sugestoes dos sonhos, pOis sao elas que VaG tsr que tamar 0 lugar dos

reguladores coletivos anteriores, a saber, a maneira de ver tradicional, os costumes,

os preconceitos de natureza intelectual e moral.

Jung dizia de Freud a respeito da interpreta9ao dos sonhos: ele chega a

conclus6es tipicamente suas, nao s6 porque 0 material tern urn aspecto sexual, mas,

sobretudo, porque ele 0 enxerga de urn determinado angulo. Freud acredita que 0

sonho e uma fachada, que ele pode ser interpretado as avessas, e alem disso, que

um au outro fator do sonho foi eliminado por algum censor cultural.

Diz Jung que ninguem nos impede de aehar que 0 sonho nao e urna

fachada, que nao existe censor algum e que, durante 0 sonho, 0 inconsciente se

exprime de urna maneira direta. 0 sonho e tao genuino quanto a albumina na urina,

o que afinal pode ser tudo, menos fachada. Quando urn sonho e visto dessa forma,

e evidente que as conclusoes a que se chega serao total mente diferentes. 6

Entendendo melhor Jung, se falamos no processo evolutivo individual, 0

inconsciente passa a ocupar 0 primeiro plano, dai a necessidade de S9 observarem

as ideias e sugestoes dos sonhos, pois sao elas que tomarao 0 lugar dos

6 JUNG, C. G. A pratica da psicoterapia, Vozes, RJ, 1981, pags. 8. 9 e 30.

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reguladores coletivos anteriores, 0 saber, a rnaneira de ver tradicional, as costumes,

as preconceitos de natureza intelectual e moral.

Ainda sabre a natureza dos sonhos e como devemos compreende-los,

Edinger (2004) apresenta um paralelo entre Jung e Freud: "Eles concordavam que 0

sonho e 0 caminho regia para 0 inconsciente, mas discordavam quanta ao destine

dessa estrada. Freud aehava que sla levava a descoberta dos desejos

inconscientes, e que a natureza simb61ica dos sanDS poderia ser explicada ao S8

postular algum tipo de censura. Jung nao aceitava essa ideia de jeito nenhum; ele

considerava 0 sonho urn produto da natureza. A natureza nao engana, ela apenas

fala na sua propria linguagem, e depende de nos aprendermos essa lingua gem,

chegar a uma compreensao dela.

Os sonhos falam, sim, uma linguagem simb6lica. Existem, tambem,

diferentes niveis de sonhos - sonhos superficiais e sonhos profundos, sonhos

pequenos e grandes sonhos. Os grandes sonhos possuem, em seu conteudo,

imagens arquetipicas. Os sonhos menores parecem derivar do inconsciente pessoal,

e as sonhos maiores tem mais do que uma relevancia pessoa1. Eles sao relevantes a

toda uma comunidade, ou sociedade, ja que as fatores arquetipicos que determinam

a existencia individual tambem estao operantes na coletividade mais ampla. E

tambem e verdade que, em alguns casos, pode-se perceber urna sabedoria

impressionante revelada nos sonhos, sabedoria nao apenas do presente e do

passado, mas as vezes, sabedoria do futuro.

Jung demonstrou que 0 inconsciente funciona para alem das categorias de

tempo e espar;o. Isso significa que um evento relevante ao qual urn sonho se refere

pode encontrar-se no futuro, em vez de no passado, que a evento futuro esta

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projetando sua sombra para tn3:s, par assim dizer. Para 0 ego racional e dificil aceitar

estas coisas. mas existem dados muito claros de que essas eoisas acontecem," 7

A esse respeito, tambem se expressa Carlos Bein, psicologo clinico

junguiano, em seu artigo Sonhos, resposfas desta naile para as duvidas de amanha

(SP,1997), sonhar e uma atividade completamente inconsciente, 0 que faz com que

os simbolos que produz tenham urn carater natural e espontaneo. Vivemos num

mundo artificial regido par normas e preconceitos que nos afastam de nossa propria

essemcia. Se prestarmos aten<;ao ao que sonhamos, poderemos encontrar de novo

a nos mesmos e viver uma vida plena de sentido.

Os sonhos tern uma funcionalidade e a ego onfrico e 0 sujeito da ayao

dramatica, sendo regido pelo ego vigil, 0 que acorda a sujeito son hadar.

Sendo assim, 0 sonho tern a funr;ao de controlar, informar e equilibrar a

energia psiquica, islo se da pela funr;ao compensatoria, relar;ao dos opostos. 0

sonho lembrado tern a sua narrativa, imagens, urn quantum de energia foi

empregada naquela determinada vivencia. E a tonalidade afetiva que faz 0 sonho

significativo.8

Dr. Rollo May (1972) acentua a importancia deste axiom a psicanalitico que

comer;ou com Freud: A interprelar;ao dos sonhos e a via real que conduz ao

conhecimento das atividades inconscientes da psique. Atualmente, a maioria dos

psicanalistas coincidiriam em que os sonhos contem 0 essencial dos conflitos

centrais de uma pessoa e de sua maneira de conviver com eles. Oesde algum tempo

atras ja acreditava que, frequentemente, podemos obter urn quadro mais exato e

significativo das mudan~s importantes na vida do paciente, alendo-nos mais nos

7 EDINGER. E. F. Ci~ncia da 8fma· uma oerspectiva Junguiana, Paulus, SP, 2004, pag. 17 e 18 .. :.i1ota¢es de supervisao clinica, Universidade Tu;uti, disciplina de PsicoJogia Junguiana, outubro

2006.

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simbolos e mites que ele cria, e logo amolda e reeria em sua existencia ani rica, do

que baseando-nos no que ele diz.

E, continua 0 autor, as mais fascinantes de todas sao essas experiencias

noturnas, quando vou dormir preocupado par algum problema; preocupado,

digamos, par uma decisao que me manteve durante 0 dia perplexo e atormentado.

Frequentemente descubro, durante a noite au mesma pela manha seguinte,

que meus sonhos acudiram, naD com a resposta como tal, porem sim com

nova luz sobre 0 contexte do problema; e ainda que a solu~ao nao e

necessaria mente clara, pelo menes aparecem passos que me encaminham

para ela. Esle processo de receber ajuda dos sonhos na soluc;ao de problemas nilo

S8 produz, natural mente, em todos as cases. Porem, sim, com suficiente frequencia

para indicar que se trata de urn processo alta mente significativo em que 0 sonhar

reflete minhas preocupagoes mais profundas; processo que esta na esfera da minha

intencionalidade, ainda que nao a encontre em meu contra Ie consciente.

Assim, parece-me que a sonhar emana de capacidades mais profundas do

que geralmente supomos. Creio tambem que a sonhar tern certa conexao com a

capacidade caracteristica do homem para a transcendemcia, isto e, com sua

capacidade de transpor os limites objetives imediatos da existemcia e conjugar numa

dramatica uniae dimensoes de experiencias diversas.

Questionando-se sobre a (onte do sonhar, Rollo May afirma: creio que hi! algo

errado em nessa tendemcia ecidental a pensar nos sonhos como uma mera

linguagem prel6gica que superamos se nosso ajuste ou nossa integrac;ao

alcanc;aram suficiente desenvolvimento. Ha uma quanti dade de modes sutis e

igualmente pejorativos de considerar os sonhos, modos que sao nossa acriticamente

heran~a aceila num meio cultura em que sobressai 0 racionalismo e 0 objelivismo.

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Oevemos recordar que as sonhos sao trans16gicos aD mesma tempo que prel6gicos.

Constituem uma fonte de comunicayao conosco mesmos e nosso mundo que inclui

muitas dimens6es sirnultimeas, e, portanto, e perieitamente compreensivel que,

como Jung e Fromm (em seus primeiros trabalhos) sustentaram, incluam tambem

uma captay80 intuitiva ou insight, e mostrem nao privilegiadamente as desacertos

senaa tambem maior sabedoria e sensibilidade stica do que a pessoa tern

consciencia de passuir em sua vida vigil.

Assim, parsee que a finalidade do sonhar e capacitar a pessoa para vivenciar,

mais do que para explicar, simbolos e mitos. Estes apresentam uma totalidade de

sentido que nos toma, urn sentido que eonism uma uniao de sentir, querer e pensar.

Sinto-me agarrado tanto emotiva como volitivamente, Tal e a poderosa linguagem

dos simbolos e mitos nos sonhos. 9

Ha tambem os chamados grandes sonhos, os que trazem imagens

arquetipicas, distribuidos em epocas da vida humana:

- Sonhos da infancia

- Faixa da adolescencia

- Segunda metade da vida

- Sonhos sabre a morte

Tendo em conta que 0 inconsciente e atemporal, pode-se encontrar a

seguinte situaC;Ela, que numa idade mais avanc;ada 0 individuo produza sonhos com

um tern a especifico da prime ira infancia, no entanto, e comum perceber que as

9 CALlGOR.l. e MAY, R. Suet10s y S/mbolos, Buenos Aires, 1972, pags. 9, 15-17; 20-22.

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son has vao modificando-se na medida em que a pessoa cresce, amadurece em

todos as aspectos e passa a assumir a vida a partir da sua individualidade.lO

Jung defendia que 0 sonho, em termos genericos, e como urn auto-retrato

espontaneo, em forma simb6lica, da real situayao no inconsciente.11 0 sonho, para

ele, esta Iigada a consciencia basicamente com uma rela980 compensat6ria,

atraves da existencia de funt;6es auto-reguladoras e homeostaticas do organismo,

que atuam para equilibrar, ajustar, suplementar; atividade do inconsciente como

equilibria de qualquer tendencia para a unilateralidade da consciencia. Atividade que

S9 da em rela~o a conteudos reprimidos, excluidos e inibidos pel a orientac;ao

consciente do individuo que passam para a inconsciEmcia e lit formam um contra polo

da consciencia. Essa contraposi9fjo se fortalece com qualquer aumento de anfase

sabre a atitude consciente ate interferir com a atividade da propria consciencia.

Finalmente, conteudos inconscientes reprimidos reunem uma carga de energia

suficiente para irromper na forma de sonhos, imagens espontaneas au sintomas. 0

objetivo do processo compensat6rio, entao, e ligar, como uma ponte, os dois

mundos psicologicos - consciente e inconsciente.

Entao, a compensayao e um regulador inconsciente da atividade consciente,

porem, onde existe urn disturbio neur6tico, 0 inconsciente aparece em tamanho

contraste com 0 estado consciente, que a proprio processo compensat6rio se va

rompjdo. Se urn aspecto imaturo da psique e gravemente reprimido, a conteudo

inconsciente domina 0 objetivo consciente e destr6i sua intenyao. 0 objet iva da

terapia analitica, portanto, e uma compreensao de conteudos inconscientes, a fim de

que a compens8c;ao possa ser restabelecida.12

10 Anotac;oes de aula, Tuiuti, 2006."':w!atanea de Trabalhos Junguianos Vol. 8, parag. 505.

12 Coletanea de Trabalhos Junguianos Vol. 6, parag. 693 e segs.

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Da parte da inconsciencia, existindo 0 processo compensat6rio, sempre sera

inesperado, aparecendo de forma diferente do ponto de vista assumido per a

consciencia, trazendo a tona imediata e inevitavelmente, compenS8yOes." 13

Jung nutria em sua pratica clinica uma grande valoriz898o da fantasia e a

comparava com 0 processo onlrico, afirmando que ambos contribuem para a

individuayao da pessoa. Dizia ele que no ponto em que hoje estao nossos

conhecimentos, pare que a impulso vital, que S8 exprime na construy3o e na

conformayao individual de urn ser vivo, gera urn processo no inconsciente, au e a

proprio processo. Este, a medida que se torna parciatmente conscientizado, erepresentado par uma seqOencia de imagens, campara vel a sucessao ritmica de

fuga musical. [... ) Geralmente isto se de. em forma de impress5es visuais da fantasia.

No entanto, essas pessoas cometem a erro frequente de pensar que foram elas

mesmas que produziram essas fantasias quando na realidade elas simples mente

Ihes ocorreram espontaneamente. [ ... J Mais pr6ximos das seqOEmcias inconscientes

de imagens estao as sonhos. Muitas vezes, quando examinados em series

extensas, podemos identificar, com surpreendente clareza, a continuidade do fluxe

inconsciente de imagens. Favorecendo, desta maneira, 0 conhecimento

momentaneo da atividade do inconsciente, em que dire~o esta orientado e quais

sao as quest5es fundamentais do individuo naquela clrcunstancia.

Finalizando esta fundamentayao te6rica acerca da importancia dos sonhos

para a vida diaria, e a diario presente no onirice, sempre a partir do pensamento de

Jung, remelo-me a HALL, anteriormente citade, explicitando as tres maneiras

possfveis de compreender os sonhos como compensayao.

13 ~olelanea de Trabalhos JunQuianos Vol. 16, parag 330.

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Para 0 aulor, 0 sonho pode compensar diston;;6es temporarias na estrutura

do ego, dirigindo 0 individuo a um entendimento mais abrangente das atitudes e

acroes. 0 segundo modo, mais profunda, a sonho aconteee como auto-

representaIYBo da psique e pode colocar uma estrutura do ego em funcionamento

face a face com a necessidade de uma adaptaC;:8o mais rigorosa ao processo de

individu8ty030. 0 terceiro processo, mais misterioso e sutil, a sonho pode ser vista

como uma tentativa para alterar diretamente a estrutura de complexos sobre os

quais 0 ego arquetipico S8 apoia, para a identidade em niveis mais consclentes. E 0

resultado pod era ser uma mudanC;:8 na sua propria atitude au estado de animo.

Na interpreta"ao dos sonhos, e importante nao pensar nunca que 0 sonho

S8 esgotou. Na melhor das hipoteses, podemos encontrar urn significado uti I e

corrente para a sonho, mas ate mesma tal significado pade ser alterado a luz dos

son has subsequentes, pais uma interpretayao de sanhos envolve um dialogo

continuo entre a ego e a inconsciente, um dialogo que se estende indefinidamente e

cujo tema pode mudar tanto de foco quanta de nivel de referencia.

Mesma quando as sanhos nao sao interpretados, eles parecem as vezes ter

um profunda efeito sabre a consciencia vigil. Atraves da observayao do impacto de

sonhos nao analisados, e possivel inferir que, mesmo quando nao recordados, os

sonhos sao parte vital da vida total da psique. Na concep"ao junguiana, os sonhos

estao continuamente funcionando para compensar e complementar (uma forma mais

branda de compensa"ao) a visao vigil que 0 ego tem da realidade. A interpreta"ao

de um sonho permite que se preste um pouco de atenyaa consciente na direc;ao em

que a processo de individuayao ja esta se desenrolando, embora

inconscientemente. Quando bem sucedida, tal associayao de vontade consciente e

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dinamismo inconsciente promove e favorece a processo de individuayao com mais

rapidez do que e passivel quando as sonhos fiearn par examinar.

Urn beneficio adicional decorrente da interpretayao dos sonhos e 0 fato de 0

ego reter na memoria consciente urn residua do sonho que permite a pessoa

identificar motivQs semelhantes na vida cotidiana e assumir uma atitude au ay80

apropriadas, resultando em menor necessidade de compensacyao inconsciente

dessa area problematica especifica.14

3. PROCEDIMENTOS METODOLOGICOS

Durante 0 curso de Psicologia clinica, Pos-Gradua<;ao, realizei atendimento

na clinica Tuiuti. Curitiba - PRo compreendendo 0 periodo 2005-2006. Fixando minha

atenC;80 no fato de as pacientes relatarem son has que as faziam pensar e repensar

a vida, despertou-me para 0 tema deste trabalho.

Sempre interessou-me 0 quanta 0 sonho e capaz de estabelecer uma

interlocuyao entre a realidade e 0 sujeito sonhador. Entao escutei da minha paciente

um sonho que, trabalhado em sessao terapeutica, auxiliou-a na integrayao pessoal

quando ela ao contar 0 sonho, foi percebendo a presen~ de simbolos da sua

realidade psiquica, e de forma cooperativa, foi auxiliando-me na amplificac;ao do

sentido do sonho naquele momento existencial.

Servindo-me dos pressupostos da teona junguiana, atraves da associayao

livre de ideias, aproximando 0 sentido da realidade afetiva da paciente, houve uma

espantosa acelerac;ao do processo de individuac;ao da mesma, passando a entender

mais claramente seu processo vital e a assimilar da analise pontos importantes para

o seu desenvolvimento pessoal.

14 HALL, J. A. Jung e a interpretaql10 dos sonhos, Cultrix, SP, 1993, pags. 30-33.

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E ainda, para maior complemento de dados a respeito deste tema, realizei

uma entrevista semi-aberta orientada especialmente na percep~ao do individuo

quanta ao sonho presente em sua vivencia diaria e sua praxis construindo 0

conteudo onirico.

3,1, ESTUDODECASO

- 0 sonho contado

Dados de Identifica~ao

-Nome: S. B. C.

-Sexo: Feminino.

-Idade: 41 anos

-Estado civil: solteira

-Religiao: cat61ica

- Profissaolocupa~o: magisteria, estudante de psicologia, terceiro ana, trabalhava

numa escola a contragosto, havia realizado terapia com um profissional durante tres

meses e, naD haven do gostado, pois a pSicologo mostrava-se muito sonado,

bocejando durante as falas da paciente, resolveu mudar de terapeuta. Padente

relata que em jan.l2005, foi destinada a trabalhar nesla escola. Sentiu-se

tremendamente contrariada, mas foi porque nao ousa discordar, gostava de estar

em paz com tudo e com todos, e ademais, precisava do emprego para poder

estudar,

- Queixa inicial - falta de autoconhecimento, situando-se em junho 2005.

Eis 0 sonho:

Eu estava caminhando lentamente, sozinha, Entao, olhei para frente e percebi que

estava perla de um capaa de mata, havia umas ervas rasteiras, a fugar era calma. 0capao de mato estava a direita do meu caminho, mas pareceu-me, par uns

instantes, que 0 caminho terminava naquele local. Olhei bem e percebi que havia

uma lagoa enorme, bonita, a agua era tao limpa que eu podia ver as ervas verdinhas

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aD fundo, e mais para frente, aD fado direito, mais para 0 fim da lag08, havia uma

agua barrenta, cheia de sujeiras bOiando, principa/mente pedaqos de madeira podre.

Percebi que, de fato ali terminava 0 caminho, eu seguia caminhando, mas ja dentro

d'agua que na beirada era rasa, calma. 0 capao era redondo dava 0 acabamento na

lagoa que tamMm era arredondada, percebi que depois da lagoa havia uma mata

com arvores altas e fortes, nao faD grossas em diamelro nos francos, as copas das

arvores eram bonifas, viqasas. 0 maio esfava muito verde, alegre e vivaz. Havia

como que tres paredes de vidro erguidas ao fundo da lagoa, uma separada da outra

cerca de tres metros. 0 vidro era de diametro de uns cinco centimetros.

Entao, aproximei-me, e com muita dificuldade tentava sub;r numa das paredes de

vidro que estavam planfadas no meio da /ag08. Era a do meio. Sua altura era fa/vez

de uns cinco metros, 0 vidro bem firme, lransparente. Enquanto eu lentava,

agarrando-me a parede escorregadia, percebi que havia na parede a minha direita

uma mulher jovem que chamava-me a sub;r, que eu dana conta, que eu insistisse

que conseguiria, que nao desislisse, dizia-me que eu ja estava quase ehegando.

Quando eonsegui, senti tremenda alegria. Sentei-me com as pernas bafanr;ando,

ajeitando-me comodamente, enquanto ia olhando para a lagoa que estava repleta

de gente banhando-se, eram pessoas de todas as idades, mas eu enxergava-<Js

somente da cintura para eima, cabeqas com cabelos bem negros, crianqas em

companhia de seus pais, jovens, pessoas sozinhas, nadando e brineando n'agua avontade. Eu o/hava das alturas, maravilhada, sentla-me corajosa, veneedora, estava

a uns cinco metros de altura e sentia uma alegria indizivel, sentia-me confiante em

ficar /8 em Gima, ajeitava-me no tope da parede de vidro tranquilamente, parecia que

havia uma prateleira como acabamento dela. Entilo olhei do lado esquerdo, vi que

aquela mulher jovem que situava-se na parede vizinha, do lade direito enquanto eu

subia, achava-se agora sentada bem ao meu lado e comigo olhava a lagoa, sem

dizer nada. Seu semb/ante ere mudo sereno, alegre. Eu senNa como se ela fosse

para mim uma espeeie de guia, e eu deixa-me conduzir par ela em grande confianr;a

e docilidade. Na seqOencia, quando voltei a alhar para a lagoa, vi que alguem se

afogava, parecia ser uma pessoa jovem, estava nua. Entao joguei-me

imediatamente da parede de vidro abaixD, e antes de cair n'agua, acordei

sobressaltada. 0 cora9ao batia apressadamente, parecia querer sair da caixa

toraclea. Demorei a conciliar a sono.

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4. RESULTADOSE DISCUssAo

•Aplicayiioda teoriajunguiana

Lembro-me tao bern do seu semblante e de como a paciente do sonho

aeirna citado experimentou grande alfvio, serenidade e paz quando logramos fazer a

interpretavao de seu sonho, associando ideias a sua realidade. Assim aconteceu

que ela apresentou grande melhora das dares no corpo que ha muito senti a, estava

enrijecida pela dureza das suas vivencias.

Quando pudemos encontrar 0 significado para as simbolos da atividade

onirica que produzira, dizia ela que 0 seu horizonte abriu-se amplamente.

Chegamos a urn acordo: a pessoa no alto da parede poderia ser uma especie de

companheira, alguem que a estivesse escutando, que com ela olhasse 0 caminho

'desde 0 alto da parede', au seja, com visao mais ampla da realidade, au ate mesma

a terapeuta, na casa, eu.

A paciente cancardau prantamente, parecia que era isso mesmo, percebeu,

no tratamento psicol6gica, que em sua vida havia agua barrenta, ou seja, muitos

acontecimentos que fica ram nela impregnados como energia a ser reordenada, e

que a agua limpa da lagoa e as paredes de vidro seriam 0 processo terapeutico,

maior visualiza9ao das suas quest6es pessoais e 0 seu eu na rela9ao com as

pessoas estava desenvolvendo-se de tal forma que podia 'jogar-se n'agua' sem

medo, ou seja, entregar-se a vida com energia.

Que processo psfquico estava ocorrendo na minha paciente? Ela permite

que este aspecto da necessidade de adapta9ao ao momenta existencial torne-se

consciente, projelando 0 seu ego vigil na pessoa da terapeuta. realizando a

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compensac;ao dos elementos deficitarios da sua vivencia diaria. Para Jung, a

compensayao teria acontecido ai, na atividade onirica, tornando ad possiveis saidas

para as seus problemas mais acessevel na cotidianidade. IS50 poderia simbolizar

para ala mudanyas mais complexas e amplas que as habituais e que passam a ser

processadas na estrutura do ego, chegando ate a consciencia contelidos ate entao

desconhecidos.

Ademais do encontro terapeutico que S8 deu com esta paciente, e do seu

aesenvolVlmemo eSlupenao, 18moem 0 VOluntano que ceoeu-me a emreVISICl pdl d

~5ia pesqUisa assmalou que, Trequemememe, 0 seu cOtlCl8no e riuminado per

resoluyoes a partir dos sonhos que produz a noite, enquanto dorme, vejamos Uii;

fragmento da sua fala a este prop6sito: "E, 0 sonho pra mim e uma manifesta~ao,

as vezes ele e urna janela para eu en tender urna serie de coisas. 0 sonho, jaaconteceu rnuitas vezes de eu nac entender muita coisa e 0 sonho me revelar."

(sic)

o estudo e conhecimento do inconsciente atrav9s do sonho faz-se relevante

a partir da premissa que a pessoa que lembra do seu sonho pode orientar-se por ele

na resolu<;8o de problemas do seu dia a dia e, dizia Jung, mesmo 0 sonho nao

recordado tern a sua fun~o compensat6ria.

Como Jung, tenho feito a experiencia que na vida diaria tudo pode ser

diferente, na medida em que vou prestando rna is aten~o aos recados que 0

inconsciente me envia, especial mente nos momentos preciosos em que produzo

sonhos em estado de dormencia.

Jung dizia que os sonhos comparam-se a pontes, islo porque fazem ligaQoes

importantes entre processos conscientes e inconscientes. Se compararmos a nossa

vida onirica ao pensamento eonsciente, 0 ultimo eontsm menos emoc;oes intensas e

imagens simb6licas. Os simbolos oniricos frequentemente envolvem tanta energia

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psfquica, que somas compelidos a preslar aten~o neles. Neste senti do, as sonhos

que possuem uma dinamica propria, aut6noma, sao dramatizayaes de aspectos da

realidade psiquica que Jung chamou de complexos ou liga afetiva que relaciona

lembran~s. imagens e vivencias.

Para melhor demonstrar como a leoria Junguiana sobre a atividade do

inconsciente e a produt;ao dos sonhos S8 confirma na vida diaria dos individuQs,

trago para esta pesquisa a situac;:ao do proprio JUNG, quando sofreu horrivelmente

porque 0 seu sonho que reincidiu par tres vezes, sendo premonit6rio, desvelou para

ele a realidade que estava par vir a ser. Era a sua visao antecipat6ria da Guerra

Mundial. Vejamos a seguir esta fragmento e a sua vivencia, conforme conta-nos, ele

mesmo. E impressionante como, para Jung. a sua vida cotidiana constelava seus

sonhos e, ao mesma tempo, a lembran~ do sanho produzia nele uma angustia

indizivel na dia a dia, interferindo ate mesma em seu estada fisica e disposi~o para

a vida no gera!.

"Por volta do outona de 1913, a pressaa que ate entao sentira pareceu

deslocar-se para 0 exterior, como se algo pairasse na ar. Efetivamente, a atmosfera

parecia-me mais sombria do que antes. Nao parecia tratar-se de uma situat;ao

psiquica, mas de uma realidade conereta. Esta impressao tornava-se cada vez mais

intensa.

No mes de outubro, viajanda sazinho, fui subitamente assaltado por urna

vi sao: vi urna onda colossal cobrir todos os paises da planicie setentrional, situados

entre 0 Mar do Norte e 0 Alpes. As ondas estendiam-se da Inglaterra a Russia, e das

costas do Mar do Norte que ate os Alpes. Quando atingiram a Suic;a, vi as

montanhas eJevarem-se cada vez mais, como para proteger nossa pais. Acabara de

oeorrer uma espantosa catastrofe. Eu via vagas impetuosas e amarelas, os

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destrogos flutuantes das obras da civilizayao e a morte de inumeros seres humanos.

o mar transformou-se em torrentes de sangue. Esta visao durou cerca de uma hara.

Perturbado, nauseado, tive vergonha de minha fraqueza.

Passaram-se duas semanas e a visao S9 repetju nas mesmas

circunstancias: porem a transforma~o final em sangue foi ainda mais terrivel. Uma

voz interior me disse: Olha bern, isto e real e sera assim; portanto, nao duvides.

No inverno seguinte, alguem me perguntou 0 que eu pensava a respeito dos

acontecimentos mundiais num futuro pr6ximo. Respondi-Ihe que nao pensava nada,

mas que via torrentes de sangue. A visao nao me abandonava.

Perguntava a mim mesma S9 essas vis6es aludiam a alguma revoluyao, mas

as imagens nao se precisavam. Assim, cheguei a conclusao de que essas vis6es me

diziam respeito e supus estar sendo amea~do por uma pSicose. 0 pensamento da

possibilidade de uma guerra nao ocorreu.

Pouco depois, na primavera ou no inicio do verao de 1914, urn sonho se

repeliu Ires vezes: no meio do verao urn frio artico irrompia e a terra como que se

pelrificava sob 0 gelo. Uma vez, por exemplo, vi que toda a regiao de Lorena, com

os seus canais, estava gelada. Fora abandonada pelos homens e todos os lagos e

rios encontravam-se cobertos pelo gelo. Toda a vegetat;ao viva congelara. Essas

imagens de sonhos ocorreram em abril, em maio e, pela ultima vez, em junho de

1914.

No terceiro sonho desla serie, urn frio monstruoso, que parecia provir dos

espa90s cosmicos, havia invadido a Terra. Esle sonho, entrelanto, leve um fim

inesperado: havia urna arvore com folhas, mas sem fruto (minha arvore da vida,

pensei); sob 0 efeito do gelo as folhas haviam-se transformado em bagos

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8c;ucarados de uva, cheios de urn sueD benefico. Eu colhia as uvas e as of ere cia a

uma grande multidao que aguardav8.

No fim de julho de 1914, convidado pela British Medical Association, eu

devia participar de urn congresso em Aberdeen, realizando uma conferencia sabre

"A significagao do Inconsciente na Psicopatologia". Estava esperando que algo

aconteceSS8, pais as vis6es e as sonhos que tivera me pareciam sinais do destin~.

No estado de espirito daquele momenta, e em razac das apreens6es que nutria,

pared a-me designia do destino que eu devesse talar naquela ocasiao precisamente

acerca do significado do inconsciente.

No dia 10 de agosto estourou a Guerra Mundia!. Minha tarefa pareceu-me

entao claramente definida: devia tentar compreender 0 que S8 passava e em que

medida minha pr6pria experiencia esta ligada a da coletividade. Nesse sentido eu

preciso refletir em primeiro lugar sobre mim mesmo."15

5. CONSIDERA90ES FINAlS E RECOMENDA90ES

Jung abordou as sonhos como realidades vivas que precisam ser

experimentadas e observadas com cuidado para serem compreendidas. Ele

tentou descobrir a significado dos simbolos oniricos prestando atenC;8o a forma e

ao conteudo do sonho e, com relaC;Bo a analise dos sonhos, Jung distanciou-se

gradual mente da mane ira psicanalltica na livre associac;.ao.

15 .IUNG. C. G. Mem6rias. Sonhos e Reflex6es. 218 edicao. Ed. Nova Fronteira. RJ. 2001. oag. 156 e

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Pelo fato do sonho lidar com simbolos, Jung aehava que eles teriam mais

de urn significado, nao podendo haver urn sistema simples ou mecanico para sua

interpretayao. Qualquer tentativa de analise de urn sonho precisa levar em conta

as atitudes. a exoeriencia e a formay8o do son hadar. E urna aventura comum

vivida entre 0 analista e 0 analisando. 0 carater das interpretac;6es do analista eapenas experimental, ate que elas sejam aceitas e sentjdas como validas pelo

analisando.

Mais importante do que a compreensao cognitiva dos sonhos e 0 ato de

experienciar 0 material onirico e leva-Io a serio. Para 0 analista junguiano

devemos tratar nOSSDS sonhos naD como eventos isolados, mas como

comunicac;6es dos continuos processos inconscientes. Para a corrente junguiana

e necessario que 0 inconsciente tome conhecida sua propria dire9aO, enos

devernos dar-Ihe os rnesrnos direitos do Ego, se e que cada lado deva adaptar-se

ao outro. A medida que 0 Ego ouve e a inconsciente e encorajado a participar

desse dialogo, a posic;ao do inconsciente e transformada daquela de um

adversario para a de um amigo, com pontos de vista de algum modo diferentes,

mas complementares.

Sonhar e uma experi€mcia humana universal. A fenomenologia do sonho

envolve acontecimentos que nao sao vividos no mundo vigil: subitas mudan9as de

tempo e lugar, mudanyas de idade, a presen~ de pessoas que se sabe terem

morrido ou de pessoas e anima is fantasticos que nunca existiram. Talvez a

mudan~ mais radical experimentada num sonho seja a mudanya da propria

identidade do ego de urn personagern para outro, ou talvez para personagern

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nenhum, como S8 0 ego onlrico observasse as acontecimentos de urna pOSi<;80

flutuante e onisciente.

Seja qual for a base biologica do processo onirico, tudo parece indicar que,

no ser humano, ele e necessaria 80 funcionamento psicologico saudavel. Jung

afirmava que 0 sonho compensa as vis6es limitadas do ego vigil, finalidade em

harmonia com a hip6tese de processamento de informa<;c3o da atividade onirica,

mas que vai muito alem de mera assimila~o de noves dados.

No cursa usual da analise junguiana, os sonhos sao freqClentemente

usados como ponto de referenda para a interaC;80 no processo anaHtico. Analista

e analisando sao aJiados na tentativa de compreender a "mensa gem" do sonho

em relat;ao aD ego do analisando. Par vezes, os sonhos indicam que a atenc;ao

deve ser dirigida para a transferencia-contratransferencia, a constelayao tipica de

interayao na situayao anaHtica. Como nao existe uma posiyao privilegiada da qual

se possa conhecer a uverdade~ da psique de uma outra pessoa, analista e

analisando estao empenhados num empreendimento explorat6rio que envolve

uma confianc;a basica entre eles.

Situayao que ocorreu comigo e a paciente, objeto deste estudo, em que

mais intensamente desenvolveu-se 0 processo de individuayao, propiciando a ela

o bem estar que tanto almejava alcan<;ar. A interpretagao de um sonho permitiu

que prestasse urn pouco de atenc;ao consciente na dire<;ao em que este processo

ja estava se desenrolando, embora inconscientemente. Bem sucedida, tal

associac;ao de vontade consciente e dinamismo inconsciente promoveu e

favoreceu a pracesso de individuac;ao com mais rapidez do que Ihe era passivel

naquele momenta existencial.

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Contudo, na interpreta~o dos sonhos, e importante nao pensar nunca que

o sonho S8 esgotou. Mesma quando as sonhos nao sao interpretados, ales

parecem as vezes ter urn profunda efelta sobre a consciencia vigiL Atraves da

observac;:aodo impacto de sonhos naD analisados, e passivel inferir que, mesmo

quando nao recordados, os sonhos sao parte vital da vida total da psique. Na

concepC;:8o junguiana, as sonhos estao continuamente funcionando para

compensar e complementar (uma forma mais branda de compensayao) a visao

vigil que 0 ego tem da realidade.

Urn beneficia adicional decorrente da interpretacyao dos sonhos e 0 fato de

o ego reter na memoria consciente urn residuo do sonho que permite a pessoa

identificar motivDs semelhantes na vida cotidiana e assumir uma atitude ou 8<;ao

apropriadas, resultando em menor necessidade de compensar;;8o inconsciente

dessa area problematica especifica."

Quero recomendar trabalhos futuros a respeito do conhecimento do

inconsciente atrav8s do sonho, pais considero inacabada esta pesquisa, deixando

abertas inumeras questoes a respeito do tema estudado. Dlante dos aspectos

abordados neste estudo, seria pertinente continuar a investiga<;8o do processo

on irico contando

o pr6prio Jung (1970), diz que a atividade cientifica da pesquisa nunca foi

para ele um meio de prestigio, mas um debate amargo, for<;adopela experiencia

psicol6gica diaria junto ao doente. E pede que isso seja levado em conta pela

generosidade do leitor, quando buscar a correr;;ao intelectual, deparar com trechos

urn tanto descosidos. Urna compoSir;;80 s6 pode ter fluemcia e harmonia, quando

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S8 escreve sobre coisas bern sabidas. Mas qua16ndo a necessidade de ajudar e

de curar nos impele a sair a procura de novos caminhos, e inevitavel que S8 fale

de cosias que ainda nao estao bern assimiladas.

Contudo, procurei apresentar, especificamente, noyoes do funcionamento

do inconsciente como instancia da produc;ao do sonho, e aD me sma tempo, 0

papel do sonho como restauradorda energia psiquica, compensandode forma

natural as conflitas nascidos no consciente humano. Elucidei a explanac;ao com

exemplos de urn sonho contado em analise, a entrevista sobre 0 sonhar de urn

individuo e passagens da vida do proprio Jung, motivador primeiro desta pesquisa

e do meu interesse pelo tema.

Durante este estudo de Especializayao e mais precisamente nos ultimos

oito meses da pesquisa, fiz-me experimentadora da tecnica de recordayao dos

son has, baseada nos pressupostos junguianos, contida na obra de Bosnak

(1994).

Sinto-me realizada em ter aprendido mais e mais sobre a valorizayao dos

sonhos. Ja estou utilizando grandemente em minha pratica cHnica. Contudo,

sempre volto aos livros para buscar neste profundo poyo que 0 mundo perdeu ha

46 anos: Carl Guslav Jung. Nele abastel'o-me e prossigo a caminho de

atendimento a outrem, sempre venda se, ao mesmo tempo que escuto 0

interlocutor, nao estou escutando 0 meu eu, e em constanta dialogo, vou

crescendo com a paciente rumo a individua~o que busco alcan<;ar e no processo

analitico, acompanhar e favorecer no ser humano que se me apresenta.

16 JUNG, C. G. Psicologia do Inconsciente, 1211ediQ8o, Vozes, RJ, 1971, pegs. 106 e 109.

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7. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS

BOSNAK, R. Breve curso sobre sonhos - Tecnica junguiana para trabalhar com ossonhos. 3" edic;iio, Paulus, Sao Paulo, 1994.

CABARRUS, C. R. SJ. Rezar 0 pr6prio sonho, oficina de psicologia e espiritualidade.Ediqaes Loyola, Sao Paulo, 1997.

CAUGOR, L. MAY, R. Sueflos y Simbolos. Edic;iio Troquel S. A, Buenos Aires,1972.

EDINGUER, E. F. Ciencia de Alma, urna perspectiva junguiana. Colec;iio Arnor ePsique, Paulus, Sao Paulo, 2004.

HALL, J. A A experiencia Junguiana, amllise e Individuar;ao. Coler;ao estudos dePsicologia Junguiana par analistas junguianos, Cultrix, Sao Paulo, 1899.

HALL, J. A Jung e a interpretar;ao dos sonhos, manual de Teoria e Pratica. Coler;aoestudos de psicologia junguiana par analistas junguianos. Cultrix, Sao Paulo, 1993.

JUNG, C. G. A pratica da psicoterapia. Editora Vozes, Rio de Janeiro, 1981.

JUNG, C. G. Mem6n"as, sonhos, reflexoes - compilar;ao e prefacio de Aniela Jaffe.21a ediyao, Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 1963.

JUNG, C. G. Psicologia do Inconsciente. 12" edir;ao, Vozes, RJ, 1971.

Internet Dicionario crifico de verbetes Junguianos, disponlvel em:http://www.rubedo.psc.brldicjunglverbetes. acessado em 16.04.2007.

Internet, Fotografias de Carl Gustav Jung, disponiveis em: http:// www.tiosam.com/enciclopedia/enciclopedia.asp?title=CarLGustav_Jung, acessado em16.04.2007.

Internet, Pensamentos de Carl Gustav Jung, disponiveis em: http://www.symbolon.com.br/artigosl PraticadaPsicoterapia.doc, acessado em 16.04.2007.

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8. GLOSSARIO

1. Analise Junguiana - e urn relacionamento dialetico de longo prazo entre duaspessoas, analista e paciente, e e dirigida para uma investigar;:ao do inconsciente dopaciente, seus conteudos e processos com base na intensidade, profundidade,freqOencia de sess6es e dura<;ao do trabalho, conjugados a uma avalia9flo realistadas capacidades e limilac;oes psicol6gicas do padente. 0 analista tambem davemudar au transformar suas atitudes, a tim de ser capaz de uma interac;ao com seupaciente em muta<;8o.

2. Consciencia - a rela<;ao de conlaudos psiquicos com 0 ego, desde que essarelagao seja percebida pelo ego. Rela96es com 0 ego nao percebidas como tais saoinconscientes. A consci€mcia e a funC;8o da atividade que manlem a relayao deconteudos psiquicos com 0 ego. Em varias ocasi6es Jung equiparava a conscienciacom conscientiz8C;80, intuigao e apercepgao, ressaltando a fungao de reflexao suaconsecugao. Simbolos sao vistos como produtos inconscientes que S9 referem aconteudos capazes de entrarem na consciencia.

3. Ab-Rea~ao - Identificava 0 objetivo do tratamento como a integrayao dadissocia.yao ligada ao trauma, mais que sua ab-reaqao. Em sua opiniao, essa re-experimentagBo deveria revelar 0 aspecto bipolar da neurose, de modo que umapessoa mais uma vez pudesse se relacionar com 0 conteudo positiv~ au prospectivodo complexo; dai, exercer controle do afeto. A maneira como isso poderia serrealizado, pensava ele, era mediante 0 relacionamento com a terapeuta, urnrelacionamento que refon;asse a personalidade consciente do paciente 0 bastantepara que 0 complexo autonoma se tornasse sujeito a autoridade do ego. A ab-reaqao e uma forma de encenagao disponivel na analise.

4. Anima e Animus - A figura interior de mulher contida nurn homem e a figura dehomem atuando na psique de uma mulher. Embora desiguais nos modos como semanifestam, anima e animus tem certas caracteristicas em comum. Ambos saoimagens psiquicas. Cada qual e uma configura~ao que emana de uma estruturaarquetipica basica Como as formas fundamentais que subjazem aos aspectos"femininos~ do homem e aos aspectos "masculinosn da mulher, sao consideradoscomo opostos ..

5. Apercep~ao e um processo pelo qual urn novo conteudo psiquico (recognigao,avaliagao, intuigao, percepgao sensorial) e articulado de modo a se tornarcompreendido, captado ou "claro" E uma faculdade interior que representa coisasexternas como percebidas pela psique que as registrou e que responde; portanto, 0

resultado e sempre uma mistura de realidade e fantasia, uma mescla de experienciapessoal e imago arquetipica. Jung fazia distin9ao entre dois modos de apercepc;:ao,ativa e passiva.

6. Adapta~iio • Jung apontava que a adapta~ao per se tambem sugeria umequilibria das necessidades tanto do rnundo interno como do mundo externa, quepodem fazer solicitac;:oes bastante diferentes a uma pessoa. De inicio, a analisepode parecer destruir a adapta~o que um paciente conseguiu para si proprio; mas,posteriormente, este pode ver que isso era necessario, tendo a adapta(:iio anteriorsido ilegitima e obtida a um custo por demais elevado.

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7. Arquelipo - a parte herdada da psique; padroes de eslrutura980 do desempenhopsicol6gico ligados ao instinto; uma entidade hipotetica irrepresentavel em si mesmae evidente somente atraves de suas manifestac;:6es. 0 inconscienie coletivo promoveiais imagens. 0 arquetipo e urn conceito pSicossomatico, unindo corpo e psique,instinto e imagem.

8. Amplifica~ao - Parte do metodo de Jung para a interpreta980 (particularmente desonhos). Mediante a associa9ilo ele tentava estabelecer 0 contexto pessoal de umsonho; mediante a amplifica~o ligava-o a imagens universais. A amplificayaoenvolve 0 usa de paralelismo mfticos, historicos e culturais a tim de esclarecer eampliar 0 conteudo rnetaf6rico do simbolismo onirico.

9. Associa<;ao - A liga<;80 espontanea de ideias, percepc;6es, imagens, fantasias, deacordo com determinados temas, motivDs, semelhanC;:8s, oposic;:6es ou causalidadespessoais e psicologicos. A palavra pode designar 0 processo de fazer tais li9890e5(isto e, por associa~o) au especificar urn item em uma determinada cadeia (ista e,uma associa~o). Inicialmente, Jung explorou seu interesse par meio deassocia¢es. 0 resultado principal disso foi a verificay80 de uma ligayao entreassocia~o, afeto e carga de energia.

10. Compensac;ao - Jung asseverava que encontrou uma funyao compensat6riaempiricamente demonstravel operando em processos psicol6gicos. Correspondia afun<;oes auto-reguladoras (homeostaticas) do organismo, observaveis na esferafisiologica. Cornpensar significa equilibrar, ajustar, suplementar. Considerava aatividade compensat6ria do inconsciente como equilibrio de qualquer tendencia paraa unilateralidade par parte da consciencia.

11. Oissociac;ao - Refere-se a urna fragmentac;:ao inconsciente daquilo que deveriaestar ligado na personalidade, urn tipo de "desuniao consigo proprio" . Isto sugerecolapso do potencial de urna pessoa de incorporar a totalidade. Alternativamente, adissociar;ao pode ser usada para descrever urna abordagem rna is ou menosconsciente, que fragmenta, a fim de ~analisar", quando uma atitude holista e deabrangencia total seria mais produtiva.

12. Oiferenciac;ao - significa distinguir partes de urn tOdo, desemaranhar, separaraquilo que antes estava unido inconscientemente, resolver. E entao possivel falar departes da personalidade como mais diferenciadas que outras, significando maissolidamente discriminadas e engastadas na consciencia. A diferencia~o e tanto umprocesso natural de crescimento como urn empenho psicologico consciente. Fazparte de estados neuroticos de superdependencia e interdepend€mcia de figuras degenitor e parceiros de casamento, par exemplo, como tambem de estados interioresquando uma ou mais func;:oes psicol6gicas podem ser contaminadas por uma outraou quando 0 ego e a sombra estao "nao-diferenciadosn A individua~o e urnprocesso que exige urna diferenciaC;:80; urna pessoa dependente de suas projec;:oestem pouca ou nenhuma ideia daquifo que ela e ou de quem ela s.

13. Ego - 0 centro da consciencia, porem com limitac;oes, incompleto, 0 ego e algomenor que a personalidade inteira, assuntos tais como identidade pessoal,manuten<;Bo da personalidade, continuidade alem do tempo, media980 entrecampos conscientes e inconscientes, conhecimento e testes da realidade, tambsm

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deve ser considerado como uma instimcia que responde as necessidades de umaDutra que Ihe e superior. Esta e 0 self, 0 principia ordenador da personalidadeinteira. A relac;ao do self com 0 ego e comparada aquela do "que move com 0 que emovido". 0 ego adquire sua plena existelncia durante 0 terceiro ou quarto ana. Aconsciencia e a caracteristica distintiv8 do ego, porem issa e proporcional ainconsciencia. De fata, quanta maior for 0 grau de consci€mcia do ego, maior apossibilidade de se sentir 0 que nao e conhecido.

14. Eixo Ego-Setf - Como escreveu Jung, embora "0 ego esteja para 0 self como 0

movido para 0 movedor, ou como 0 objeto para 0 sujeito", ale tambem reconheceque dois grandes sistemas psfquicos necessitam urn do outro. 1550 parquet sem 0poder analisador do ego e sua capacidade de facilitar uma vida independente,separada da dependEmcia infantit e de outras dependencias, 0 self fica sempresenya no mundo cotidiano. Com a ajuda do ego, as tendencias do self parafomentar a vida em major profundidade e em maior nivel de integra980 tomam-sedisponfveis para um homem ou urna mulher.

15. Fantasia - fluxo ou agregado de imagens e idaias na psique inconsciente,constituindo sua atividade mais caracteristica. Deve-se distingui-Ia de pensamentoou cognj~o. A fantasia inconsciente a 0 resultado imediato da operayao deestruturas arquetipicas. Embora a materia-prima para a fantasia inconsciente possaderivar, em parte, de elementos conscientes (tais como tembran9as de pessoasreais ou experiencias com elas), estes nao estao objetivamente !igados a fantasia. Epreciso fazer uma disting80 entre a presenc;a de figuras reais, extemas, na fantasiafuncionando como mataria-prima para a fantasia, e figuras que podem servir deponte na divisao interno-externo.

16. Individuac;ao - urna pessoa tornar-se si mesma, inteira, indivisive! e distinta deoutras pessoas ou da psicologia coletiva (em bora tambem em relagao com estas).Como tal, esta inextricavelmente entrelayada com outros, sobretudo self, ego earquetipo, como tambem com a sintese de elementos conscientes e inconscientes.

17. Opostos - "Os opostos sao as inerradicaveis e indispensaveis precondigoes detoda vida psiquica", escreveu Jung em uma de suas ultimas obras. Conhecer bern 0principio da oposiyao e essencial para a compreensao de seu ponto de vista. Jungestava expressando 0 dinamismo da psique em termos da primeira lei datermodinamica que afirma que a energia requer duas foryas opostas.

18. Pensamento dirigido e de fantasia - termos introduzidos por Jung paradescrever diferentes formas da atividade mental e os diferentes modos como apsique se expressa. 0 pensamento dirigido envolve ° uso consciente da linguageme de conceitos. Esta baseado na realidade ou erigido com refenencia a ela. Naessemcia, 0 pensamento dirigido e comunicativo, um pensar para fora, para outros,por outros. 0 pensamento de fantasia, por outro lado, emprega imagens, ou deforma simples ou compondo urn tema, emoc;6es e intuic;6es. Jung assinalava que °pensamento de fantasia pode ser consciente, mas a normal mente prs-consciente auinconsciente em seu funcionamento.

19. Personifica~ao - uma atividade psicologica fundamental pela quat tudo aquitoque ° individuo experimenta e espontanea e involuntariamente personificado, isto 8,

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S8 torna uma "pessoa" psiquica. Encontramos nossas personificac;6es em sonhos,fantasia e na projevao. .

A prime ira referencia de Jung a personificac;ao nos fornece urn exemplo. Eparte de sua jnterpreta~o da fantasia de uma paciente, e ele diz: wera aespiritualidade da srta. M. que, personificada como 0 8steca, tornava-se par demaisexaltada para que ela, alguma vez, encontrasse urn amante entre as homensmortais~.Urn conteudo psiquico que tern suficiente intensidade ou magnitude paraseparar-se da personalidade como urn todo pode ser percebido somente quandoobjetivado ou personificado, de acordo com Jung. Assim, a personificac;ao capacita80 individuo ver 0 funcionamento da psique como uma serie de sistemasautonomos. Ela despotencializa 0 poder amea9ador da parte que S8 separou e tornauma interpretayaa passlve1.

20. Persona - a terma deriva da palavra latina para mascara usada par atores naepaca classica. Dai, persona refere-se a mascara ou face que urna pessoa poe paraconfrontar 0 mundo. A persona pode se referir a identidade sexual, urn estagio dedesenvolvimento (tal como a adolescencia), urn status social, urn trabalho ouprofissao. Durante toda uma vida, muitas personas serao usadas e diversas podemser combinadas em qualquer momenta especifica. A concepyao, de Jung, dapersona e a de um arquetipo, significando, neste contexto, que existe urnainevitabilidade e ubiqOidade para a persona. As vezes, a persona e referida como 0

~arquetipo social", envolvendo todos os compromissos proprios para se viver emuma comunidade.

21. Self - uma imagem arquetipica do potencial mais pieno do homem e a unidadeda personalidade como um todo. 0 self, como urn principio unificador dentro dapsique humana, ocupa a posic;ao central de autoridade com relavao a vidapsicol6gica e, portanto, do destino do individuo. As vezes Jung fala self como origemda vida psiquica; outras vezes refere-se a sua realizayao como 0 objetivo. uO selfnaD e somente a centro, escreve Jung, "mas tambem a circunferencia total queabrange tanto 0 consciente como 0 inconsciente; e 0 centro dessa totalidade, comoego e centro da mente conscienteft

• A intera9ao permanente entre 0 ego e self,envolvendo urn processo continuo de referenda ego-self, expressa-se naindividualidade da vida de uma pessoa.

22. Simbolo - Jung explica da seguinte forma: 0 verdadeiro simbolo essencialmentedeveria ser cornpreendido como uma ideia intuitiva que ainda nao pode serformulada de outra, ou de uma melhor forma. Antes havia escrito como urnadefini9ilo de simbolo: uum sirnbala sempre pressup6e que a expresseo escolhidaseja a melhor descriyao ou formulacao passivel de urn fato relativamentedesconhecido, que, nao obstante, se sabe existir ou se postula como existente".

23. Sombra - em 1945, Jung deu urna definiyao rnais direta e clara da sombra: uacoisa que uma pessoa nao tem desejo de ser". Nesta simples afirma~o estaoincluidas as variadas e repetidas referencias a sombra como 0 lado negativo dapersonalidade, a soma de todas as qualidades desagradaveis que 0 individuo queresconder, 0 lado inferior, sem valor, e primitiv~ da natureza do homem, a Uoutrapessoa" em um individuo, seu proprio lado obscuro. Jung, vezes inumeras enfatizouque todos nos temos uma sombra, que toda coisa substancial emite uma sombra,

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que 0 ego esta para a sombra como a luz para a penumbra, que e a sombra que nosfaz humanos.

24. Sincronicidade - experi€mciasrepetidas que indicavam eventos que nemsempre obedeciam as leis de tempo, espa,o e causalidade levaram Jung a buscar 0que poderia jazer par tras dessas leis. Desenvolveu 0 conceito de sincronicidadeque definiu de varios modos: principia nac causal de conexao, eventos relacionadosde forma significativa mas nao causal, nao coincidentes no tempo e no espac;o,eventos que coincidem no tempo e no espac;o mas que tambem podem sar julgadoscomo tendo conexoes pSicol6gicas significativas ou ligando as mundos psiquico ematerial

25. Sonhos - Jung definia 0 sonho em termas genericos como "urn auto-retratoespontaneo, em forma simb6lica, da real situayao no inconsciente". Via a relayao dosonho com a consciencia basicamente como uma relayao compensatoria. Jung naoreconhece urn significado fixo dos simbolos~.

o processo de associa98o foi usado por ambos na interpreta,8o de sonhos,ponem Jung, posteriormente, optou por uma variante em sua pn3tica de acordo comseus achados sobre 0 complexo, pais via nos sonhos comentarios sabre complexospessoais. a tecnica da associayao acrescentou a amplifica~o a partir do mita,historia e qualquer outro material cultural, a fim de prover um contexte tao amploquanta passivel para a interpretac;aa de imagens aniricas, permitindo que seuconteudo tanto manifesto como latente fosse explorado.

Enfatizava que existem certos sonhos (isto ii, pesadelos) cujo propositoparecia ser desintegrar, destruir, demolir. Eles cumprem sua tarefa compensatoriade uma maneira necessaria mente desagradavel. Sonhos impressionantes assimpodem se tornar os chamados "grande sonhos" que fazem com que 0 individuoaltere um curso de vida. Qutros podem nao pressagiar ou desafiar, mas sim resumiras tarefas necessarias para 0 preenchimento de uma condic;ao. os sonhos vistosnuma sequencia muitas vezes revelam 0 caminho do processo de individuayao deurn individuo e desvendam uma simbologia pessoal. os sonhos tambem podem serinterpretados dramaticamente, como uma pec;a, apresentando uma situayaoproblematica, urn desenvolvimento e conclusao.

26. Transforma~ao - uma transiC;ao psiquica envolvendo regressao e temporaria"perda da condic;ao do ego", a fim de levar a consciencia e preencher umanecessidade psicologica ate entao nao reconhecida. Em consequencia, a pessoa setorna mais complete. A transformac;ao e um processo continuo e mesmo aosestagios de transformac;ao nao se deveriam dar nomes dificeis e extravagantes, paraque nao acontec;a que alga vivo se tome estatico. Tida como objetivo dapsicoterapia, oposto pSicol6gico da repressao; na analise a transformac;ao envolveuma cuidadosa investigac;ao da sombra em todos as seus aspectos

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ANEXOS

ANEXO 1: Entrevista semi-aberta

Conlribui9ao de: A. M.

Idade: 46 anos

Sexo: Masculino

1) - Tu lembras 0 que sonhasle na noile passada?- Nao me lembro 0 sonho desla noile. Nada, nada desta noile. Nao me lembromesma.

- E a que alribuis 0 nilo lembrar?- Eu, geralmente, quando durmo muito bern, como eu dormi nesta nOite, acordo coma sensat;ao de equilibrio, parece-me que aearde; assim 6tima. Eu sei que sonhei,agora, naD me lembro 0 sonho. Repito: quando eu tenho urn sono muito 905t050,bern tranquilo, equilibrado, eu acordo com as energias bern restauradas. Fica asensa980 de paz, bern estar, sabe 0 dia que S8 acorda e S8 diz: ai que noiteg05t058, que 905t050, como dormi! Entao da impressao que sonhei muito, mas ficoula no inconsciente, nao se; aonde. E, geralmente quando eu durmo bern, eu naDlembro do sonho.

2) - Okl Entao para Ii, 0 que e 0 sonho? Na tua experilmcia de sonhador,alguma ceisa jti me falaste ai, da restaurac;ao das energias, do equilibrio, teriasalgo a acrescentar?- Para mim a sonho, geralmente, esta ligado com alguma eoisa da minha realidade.E alga que manifesta a minha realidade. Ouando eu diseardo com alguma coisa quemexe naquilo que e meu essencial, na minha esseneia, aquila se manifesta de paisem sonho. As vezes em forma de uma especie de pesadelo. Nao e bem pesadelo,mas uma manifestayao negativa. Ou entao, como se fosse urn sufoco, uma espeeiede sufaea. Par exemplo, sexta a naite me aeorde; assim, pareee que no sanha, euestava sonhando que enfiararn urn travesseiro ern eima de mim e estavam mesufacando, e ai eu me aeordei assustado. Se; que eram algumas situa'Yoes que saavitais para mim e que eu estau venda que durante a dia talvez naa tive tempo deelaborar bem, nao foi bem elaborada e fui dormir com aquela coisa mal elaborada.Ouanda eu nao elabaro as eoisas que mexem eomigo, urn sentimento, alga assim,ele se manifesta depois. Sexta feira fai assim, quer dizer aquele sufaea, algumaeaisa, mas eu se; bern, elaramente, em conseqOeneia de alga que mexeu mUlto, eque e vilal.

- 0 sopro, ai e 0 simbolo da respira~ao, da vida, por isso dizes que e vital?- E, a sonho pra mim e uma manifestagao, as vezes ele e uma janela para euentender uma serie de eoisas. 0 sonho, ja aeonteeeu muitas vezes de eu naaentender muita eoisa e 0 sonho me revelar. Tem tipos de sonhos. 0 sonho, esseque mexe na existeneia, alga que e existeneial, ele S8 manifesta em forma detragedia. Agora, dianle tambem de situa,oes ou eoisas que eu quero fazer, e que eunao eonsigo, 0 sonho me, pareee que no sonho eu ... eu realizo. Tern muitas eoisas

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que no sonho eu realizo e depois digo: bah! que pena que era apenas urn sonho,mas pareee que 0 sonho ele vern me, nao sei, ele responde as vezes alguma caisaque 0 real nao me responde.

3) - Es conhecedor de Freud. Ele fava que no sonho a genie realiza urn desejorecalcado, mas referia-se mais it energia sexual. Tu concordas com essaafirmaliva ou eslas falando do sonho como realiza~ao de desejos, deaspira~oes no geral, como energia da vida?- Eu concardo. Nao eu, naD que eu tenha vamos dizer, tido muitas vezes isso, maseu escuto muitas pessoas que alegam, que fazem alusao a esta situayao, querdizer, a esses sonhos de cunha afetivD sexual, compensatorio. Entao, eu acho quetern logica, sim, acho que tern 16gica. Eu concordo.

4) - Como 0 sonho se manifesta na tua vivencia diaria? Como vivencias 0

sonho em si? Falaste-rne que ai existe como que urn equilibria. Mas a partir doque voce vivencia 0 sonho na pratica? Tentando realizar 0 que 0 sonho sugereou ainda medias, refJetes, 0 sonho te da uma resposta pronta?- E, depende! Entao veja: tern muitas vezes 0 sonho, ele.. eu sonhei assim ... asonho parecia real. Tao real, tao real que, quanda eu me acordava eu pensava:mas foi sonho ou e realidade? Em muitos sonhos eu vivi esta experiencia.Sobretudo, e geralmente, estes sonhos fortes para mim eles sao de cunhe um poucotragico. Sonhos assim que marcam e depeis eles, durante a dia eles mexem comigo.Par exemple, tempos atras eu sonhei, foi violente, sabe. Um senho de um acidente,me lembro, de um amigo meu que, no sonho era esse meu amigo e ele estava decarro e de repente ele se desgovemou, fol para 0 precipiclo e morreu. Mas fai urnsonho assim, violento. Forte! E. .. quando me aeordei, demorei acho que uns dezminutos para perceber se era realidade ou era sonho. De tao intenso que ele foi. Eesses tipos de son has aeontecem seguidamente. Eles passam a dia assim sabe,tentando ... eles perpassam a dia e eu tentando entender a por que. Sei dizer que assonhos fortes eles tern urn fundo existencial muito forte. Geralmente, estes sonhostragieos lem aver comigo quando sao sonhos, na realidade, que tenho, e que eusinto assirn bloqueio au dificuldade, vamos dizer, devido a estruturas, uma serie deeoisas que nao me perrnitem realizar, que 0 que difieultam, eu sinto assim como seeu nao tivesse, eu tenho aquele sonho mas eu nao tenho a controle, tenho a projetapara realizar alguma caisa, mas nao tenho a eontrole sabre aquila, nao tenha apoder sobre aquilo, vamos dizer. Parque eu perceba que tern a ver multo com urndesejo forte do real, nao se realiza, e no sonha ele vem em forma de morte, dedestrui~o.

5) - 0 sonho Ie alrapalha ou ajuda?- Embora eu elabore logo. Mas tern sonhos que ficam varios dias, eles rnexem muitoporque e como se a realidade que estau vivendo fosse revivida no sanho. 0 sanha etao forte, as vezes, que passo urn au dois dias. Ate parece que ele me toma, pareeeque e real. Uns dais dias ate dizer: mas issa nao e, nao e real.

6) - Entao, con segues lembrar algum sonho da tua infancia que ainda marca atua vida no que chegaste a ser como pessoa, como voca~ao, como profissao?Urn sonho significativo?- Eu recordaassirnde dois sonhos. Urnsonho que se repetia rnuito na infancia era,eu sempre fui meia san hadar desde crianga e muita coisa nao acontecia, por causa

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da situac;:ao que a gente vivia, da dificuldade e a situ8r;80 econ6mica e tal, entaosonhos que vinha a noite, fortes, eram, eram como S8 tivesse, e isso fcram variasvezes que S8 sucederam, como S8 eu fosse, S8 au estivesse fugindo 0 tempo todDde urn animal. Alguem, urn animal me perseguindo. E cerca na frente e coisasassim, parsee que me impedindo, mas 0 animal nunca me, ele nunca me atingia,nunca. Eu me lembro, meus sonhos eram coisas que nunca soube entender direito 0que era esse animal. Mas era como se, no fundo aquele animal me perseguindo enaD me permitindo realizar 0 que eu desejava. Os sonhos fortes de inffincia foi esseque seguidamente eu recordo, seguidamente. E 0 outro loi da minha av6, umapessoa que marcou muito a minha vida, ela faleceu acho que eu tinha oite anos,entaD varias vezes eu sonhava que ela estava viva, ja tinha falecido, eu sonhava eme lembro ate 0 local que eu sonhava que tinha encontrado ela, no nosso terreno.

Porque era uma pessoa muito significativa, ela foi uma pessoa que marcoumuito a minha vida ate porque nos eramos muitos, dai a mae nao tinha tempo pragente porque vinha urn atras do outro, a avo tinha, quando ela morreu aquila memarcou multo, como a morte del a foi muito, muito marcante. E mae do pai. Eu melembro uma vez tambem que eu sonhei, quando ela estava doente e eu sonhei queela tinha melhorado entao eu lui latar com eta: - a av6 ta melhor? - Estou melhor, porque?! - Nao, s6 para saber! Eu tinha sonhado que eta tinha melhorado. EntaD, loiuma pessoa significativa e que eu diversas vezes sonhei com ela, nunca maissonhei assim com alguem. 0 pal faleceu, eu nunca sonhei assim com ele. A avomarcou assim posilivamente. 0 pai faleceu e me senli tranqOilo, eu ja tinhaelaborado tudo. Para mim, na infancia, marcou muito esle sonho forte da morte daavo. Me recorda de outro sonho que tambem acho interessante de quando eu eracrianga, eu devia estar na primeira serie do primario ou na segunda serie, acho quefoi na segunda,que eu achei multo engrac;ado. Eu tinha um tema de matematica,muito dificil, ninguem conseguia resolver. E aquilo ficou, ficou, ficou, ficou ... e eusonhei, e eu tentando entender e sonhei a noite com a resposta. Sonhei a resposta.

~E era 0 correto?1- Era 0 correto! Fui a escola, e no sonho eu recebi a resposta do que era 0 correto,dal eu soube fazer tranquilamente. Isso me marcou, eu devia ter uns seis, sete anos.Foi uma coisa assim muito interessante. Que tambem e urn sonho que eu recordoassim muito seguido. Uma coisa que passei dias tentando entender e no sonhoobtive a resposta.

8) - Terias algum sonho que durante a vida te marcou negativamente aupositivamente.ah~mdesses que ja falou?- Eu acho que sonho negativo e esse que e forte, do impacto, desse animal ai, essee um sonho que sempre me marcou, desde que eu acordava sentindo, parece quemothado tudo assim, sabe?! Medo, ne' No lundo, talvez ate tenha a ver com 0 latotambem do medo que a gente tinha. Tatvez pode tambem ser, alem desse sonho, 0

medo ne, que a gente tinha medo, medo ... do pai, medo, [ ... J um terror. Meu pai eramuito radical entao, [ ... J a gente morria de medo do pai. E tambem acho que iSso,esse sonho ai do animal me perseguindo era medo, medo, medo, medo. E variasvezes me acordava assim de manha sufocado, agitado. Entao esse sonho, essepesadelo, isso ai me marcou multo. Hoje eu sonho, dificilmente tenho sonhos assim,pesadelo. Mas ali na infancia me lembro desse sonho. Aquele do acidente ali loiterrivel, nossa foi urn verdadeiro pesadela mesma. E ele, agora, esta sexta-feira

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parece que um sufoco, sa be?! Eu acordei assim, desesperado! Sexta pra sabado.Fa; urn sonho terrlvel [ ... ] Quase que me sufoquei, aearde; assim desesperado, semar, sem respira98o.

- Projeto de nova faculdade, projeto de bispado, projetos ...- Pode ser um sufaco diante de tudo 0 que esta ai, serie de sufocos ai, pode ser,isso ai naD da pra negar, tudo issa me deixa meio desesperado.

9) - Agora, sobre 0 sonho maior, ou 0 grande sonho que abre, nao s6 a janera,mas abre partas, que naD e sonho bonito, mas ele reincide, e volta, que vern devarias formas.- E, a medo sempre, eu creio que sempre sinta desafiado, entaD, acho que no sonhovern muito meda, eu me lembro urna vez eu tambem, uns anos atras, um sonhoforte, (... 1 do pai, meda, depois a pai veia a falecer, mas 0 meda, medo naD e.. todacoisa nova, parece que quando e urna coisa nova ela, 0 sonho me antecipa, pareceque ele, 0 medo do sonho, do projeto, quer dizer, deixe eu explicar, mas e quando,quando esses sonhos e que alguma coisa grande esta par vir.

- Ahl E esse tamblirn oj urn aspecto dos teus sonhos?- E, e sonho com medo.

~Se poderia dizer que e urn sonho antecipat6rio entao.- E esse sonho traria as respostas que me faltam; e, pode ser antecipatario, etambem nao sou assim de ficar analisando muito 0 sonho[ ... ].

10) - Aprendemos que os sonhos que sao recordados eles trazem uma tareta,tern uma tareta, por isso os recordamos, eles te servem ai como uma bengala.Te ap6ias neles e vais tentando olhar, observar a vida, 0 dia a dia, olhar 0 queesta acontecendo.- Eu vivo nurn mundo em que, assim usando sirnbologia, eu vivo nurn rnundo dejardins, a minha vida e muito positiva.

- E tu constr6is os jardins, es construtor.- Exato, no dia a dia, na vida concreta. Entao eu vejo a vida sob uma atica muitoboa, positiva e vivo muito fortemente isso. Meus sonhos sao mais exatamente isso, ea desafio, e claro que 0 medo, eu acho coisa mais natural, diante do desafio, °medoque ..- Interessante, 0 sonho e contrario ao seu olhar psicol6gico da reaJidade!- E 0 contrario. Eo contrario do real, porque no real eu vivo bern ... [... ]

- Como se cumpre a teoria na pratical- Hein?!

11) - Entao, sintetizando, a ultima pergunta: qual a relevancia, qual aimportancia, 0 que teria ainda a acrescentar ... sabre 0 sonho? Para ti que javiveste quarenta e seis anos, na profissao que exerces, no que realizas e noque deixas de realizar ...- Ah! Os sonhos eu acho que para mim eles sempre tern essa conotayao de ..quando eu sonho fortemente, com [... J com sei 18 com 0 que, com sufoco as vezeseu fico, assim que por de tras esta ... e como S8 eu tivesse um projeto, e este projetopudesse ser negado. pudesse ser destruido, aborto, entao parece que 0 sonho ele

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me... talvez a fata de sonhar com isso me libera. Existe uma liberag80 de energia.Talvez porque ele sempre aconteee diante de cases assim que ... de situ8c;6es .. parexemplo: eu acredito numa caisa x e vejo na pratica que isso naD esta no meucontrole, 0 que t8 acontecendo e diferente ai real mente isto me indigna ... me indignae... 0 sonho entaD parece que 81e... ele libera essa energia sufocada, quer dizer,pelo fata de sonhar com a morte pareee que como no sonho a morte aconteee e issome libera, libera energia, [ ...J da essa impressao. Meus sonhos fortes sao geralmentes.. questeo de conseguir alguma caisa, sempre urn desejo, urn r ..] este serindignado, e alguma questeo que gostaria que S8 realizasse e ela S8 manifesta nosonho.

- Ok! Muito obrigada!