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XVI Congresso Brasileiro de Engenharia de Pesca. 18 a 22/10/2009. Natal/RN/Brasil. 198 UTILIZAÇÃO DO MEXILHÃO (Diplodon rhuacoicus, LEA, 1834) COMO FILTRO BIOLÓGICO Diego Barrios Ferreira Antunes*; Tâmara de Almeida Silva; Thiago Barrios Ferreira Antunes; Karine de Almeida Aguiar Bolsista FAPESB*. Universidade do Estado da Bahia – UNEB Campus VIII, Paulo Afonso – BA ([email protected]). Resumo: A poluição das águas provocada pela piscicultura em tanques-rede é um dos grandes problemas gerando produtos contaminados. Dentre as espécies de mexilhões que ocorrem na Bahia, destaca-se Diplodon rhuacoicus, na bacia do rio São Francisco. Para amenizar esse impacto, o presente trabalho teve como objetivo avaliar a ação do mexilhão como filtro biológico em tanques-rede na área de ação da piscicultura no reservatório Moxotó. Foi acompanhado durante 12 meses o crescimento de juvenil de tilápia com e sem mexilhões, sendo administrados em tanques ao ar livre onde foram aferidos: pH, temperatura, oxigênio dissolvido (O.D) e transparência. O cultivo foi realizado em duas etapas (experimentos I e II), em 4 M (mesocosmos). No experimento I, os mexilhões sobreviveram por 54 (M2) e 44 dias (M3) e para o experimento II 72 (M1) e 54 dias (M4). Observou-se diferença significativa na taxa de crescimento no comprimento do mexilhão no M3 (p<0,01) no Experimento I, enquanto no experimento II não houve diferença significativa na taxa de crescimento dos mexilhões (p>0,01), provavelmente devido à baixa concentração de calcário na água. A transparência esteve alta nos tanques onde existiam mexilhões possivelmente devido à capacidade dos mexilhões em filtrar partículas suspensas na coluna d’água. O pH manteve-se com médias entre 8 e 9 tendo pouca variação e aumento após a morte dos mexilhões. Os níveis de O.D mostraram-se satisfatórios nos tanques com mexilhões. Assim é possível melhorar a situação ambiental em águas com certo nível de eutrofização através da utilização de mexilhões como filtro biológico. Palavras - chave: Diplodon rhuacoicus. Cultivo. Filtrador biológico. Tanques - rede.

Utilização do mexilhão [Diplodon rhuacoicus] como filtro biológico

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XVI Congresso Brasileiro de Engenharia de Pesca. 18 a 22/10/2009. Natal/RN/Brasil. 198

UTILIZAÇÃO DO MEXILHÃO (Diplodon rhuacoicus, LEA, 1834) COMO FILTRO BIOLÓGICO

Diego Barrios Ferreira Antunes*; Tâmara de Almeida Silva; Thiago Barrios Ferreira Antunes; Karine de Almeida Aguiar

Bolsista FAPESB*. Universidade do Estado da Bahia – UNEB Campus VIII, Paulo Afonso – BA ([email protected]).

Resumo: A poluição das águas provocada pela piscicultura em tanques-rede é um dos grandes problemas gerando produtos contaminados. Dentre as espécies de mexilhões que ocorrem na Bahia, destaca-se Diplodon rhuacoicus, na bacia do rio São Francisco. Para amenizar esse impacto, o presente trabalho teve como objetivo avaliar a ação do mexilhão como filtro biológico em tanques-rede na área de ação da piscicultura no reservatório Moxotó. Foi acompanhado durante 12 meses o crescimento de juvenil de tilápia com e sem mexilhões, sendo administrados em tanques ao ar livre onde foram aferidos: pH, temperatura, oxigênio dissolvido (O.D) e transparência. O cultivo foi realizado em duas etapas (experimentos I e II), em 4 M (mesocosmos). No experimento I, os mexilhões sobreviveram por 54 (M2) e 44 dias (M3) e para o experimento II 72 (M1) e 54 dias (M4). Observou-se diferença significativa na taxa de crescimento no comprimento do mexilhão no M3 (p<0,01) no Experimento I, enquanto no experimento II não houve diferença significativa na taxa de crescimento dos mexilhões (p>0,01), provavelmente devido à baixa concentração de calcário na água. A transparência esteve alta nos tanques onde existiam mexilhões possivelmente devido à capacidade dos mexilhões em filtrar partículas suspensas na coluna d’água. O pH manteve-se com médias entre 8 e 9 tendo pouca variação e aumento após a morte dos mexilhões. Os níveis de O.D mostraram-se satisfatórios nos tanques com mexilhões. Assim é possível melhorar a situação ambiental em águas com certo nível de eutrofização através da utilização de mexilhões como filtro biológico. Palavras - chave: Diplodon rhuacoicus. Cultivo. Filtrador biológico. Tanques - rede.

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INTRODUÇÃO

A contaminação das águas é um problema para a saúde de todos os seres que habitam este planeta. Grande parte de nossas atividades depende da água, portanto devemos considerá-la um recurso estratégico, sendo sua conservação indispensável para o futuro. Nas últimas décadas, os ecossistemas aquáticos têm sido alterados em diferentes escalas como conseqüências negativas da atividade antrópica, a exemplo do cultivo de peixe em tanques-rede, que apesar de ser uma atividade rentável, se não for desenvolvida com consciência acaba por degradar o meio ambiente, pois para o melhor desempenho do cultivo, é necessário, dentre outros cuidados, o arraçoamento adequado, prática que tem sido associada a eutrofização do meio aquático receptor.

É conhecido que os bivalves, particularmente mexilhões, são eficientes filtradores alimentares capazes de esvaziar a coluna de água dos fitoplânctons (DANNE et. al., 1985, 1991).

Devido ao seu hábito alimentar filtrante, os moluscos podem absorver e bioacumular em seu tecido diversos patógenos humanos eventualmente presentes nas águas de cultivo e também contaminantes químicos (AHMED, 1992; NATIONAL ADVISORY COMMITTEE, 1992; JAYKUS et al., 1994; ROMALDE et al., 1994; CROMEANS et al., 1997). Devido a esta característica de bioacumulação os moluscos bivalves recebem o nome de bioindicadores.

Dentro desse contexto foi desenvolvido um trabalho com a finalidade de testar a eficiência do mexilhão nativo Diplodon rhuacoicus como filtro biológico para amenizar ambientes com certo grau de eutrofização advinda do arraçoamento de peixes cultivados em tanques.

METODOLOGIA

A área de coleta dos bivalves está situada na bacia do sub-médio rio São Francisco, no município de Nova Glória (BA), na Fazenda Bela Vista, distante 10 quilômetros de Paulo Afonso e com coordenadas geográficas: 9°19'50.10"S e 38°15'21.40” W. Os exemplares foram coletados no período de agosto de 2008 a junho de 2009.

Os bivalves foram obtidos através de coletas manuais, realizadas por meio de mergulho livre, armazenados em caixas térmicas com água do próprio local e transportados para o laboratório. Após a chegada no laboratório do CDTA (Centro de Difusão e Tecnologia em Aqüicultura), os bivalves passaram por um processo de limpeza, com o auxílio de uma escova. Após esta etapa foi aferido peso (g) e medidas, tais como: CT (comprimento total) e LT (largura total) dos mexilhões com o auxílio de balança digital de precisão e paquímetro, respectivamente. Em seguida, foi realizada depuração dos mexilhões por 48h. O estudo foi constituído por dois experimentos (Experimentos I e II). O experimento I foi iniciado em 3 de agosto de 2008, com duração de 6 meses. Em 4 mesocosmos (M) que foram armazenados na parte externa do laboratório de Limnologia do CDTA, expostos às condições de luminosidade e pluviosidades locais, dispostos em linha e enterrados 20 cm no solo, com a finalidade de evitar variação de temperatura para os mexilhões, os tratamentos foram dispostos do seguinte modo: M1-com 5 alevinos de tilápia; M2-com 5 alevinos de tilápia e 25 mexilhões; M3-com 5 alevinos de tilápia e 25 mexilhões (introduzidos 20 dias após o início do experimento) e M4-(Controle), onde não continham indivíduos. Nos M2 e M3, após cada semana foi introduzido

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mais 25 mexilhões até alcançar 100 indivíduos. Todos os mesocosmos possuíam alevinos com peso entre 28 e 42 g, exceto o controle; telas para evitar fuga dos alevinos e ação de predadores; aeradores e arraçoamento diário, com medições diárias de pH, oxigênio dissolvido e temperatura da água através de kit eletrônico e transparência por meio do disco de Secchi.

O experimento II foi repetido e reiniciado em 16 de janeiro de 2009, com duração de 6 meses, diferenciando – se do Experimento I apenas na ordem dos tratamentos: M1, com 5 alevinos de tilápia e 25 mexilhões; M2 (Controle), onde não continham indivíduos; M3, com 5 alevinos de tilápia e M4, com 5 alevinos de tilápia e 25 mexilhões (introduzidos 20 dias após). Fez-se necessário distribuir aleatoriamente cada parcela, dentro da unidade experimental, para não ocorrer erro sistemático.

Nos M1 e M4, após cada semana foi introduzido 25 mexilhões até alcançar 100 indivíduos. A taxa de crescimento (TC) foi calculada através de uma fórmula que expressa o crescimento de porcentagem por período segundo Rezende (1998).

( ) 100×−

=t

LogCiLogCfTC

Onde: Cf = comprimento final, Ci = comprimento inicial e t = tempo em dias.

Foi aplicada aos tratamentos, a análise de variância (ANOVA, α=0,01%), através do programa Bioestat, versão 3.0 de 2003, para se determinar a existência de diferenças significantes entre eles, sendo usados também indicadores estatísticos como (desvio padrão e variância).

RESULTADOS E DISCUSÕES

Experimento I - No mês de setembro de 2008, constatou-se pH ligeiramente alcalino com média nas faixas entre 8,32 e 8,91 considerada ideais para o cultivo de tilápia (KUBITZA, 2000) e mexilhão (MACHADO et al., 2002). Houve diferença significativa no pH (p < 0,01) nos M2 e M3, onde o M2 mostrou-se ligeiramente mais alto que o M3, provavelmente pelo último apresentar mexilhões após 20 dias do experimento. A temperatura manteve-se abaixo de 2°C do conforto térmico (27 a 32 °C), (KUBITZA, 2000). O oxigênio dissolvido esteve adequado nos mesocosmos, onde o M2 mostrou-se melhor (p<0,01) em relação ao M3 e M4, não tendo diferença significativa do M3 e M4 (p>0,01), onde o nível mais baixo ocorreu no M4, com variação entre 9,4 e 11 mg/L. A transparência apresentou valores mais significativos (p<0,01), entre os tratamentos M2 e M3; M2 e M4 e M3 e M4. No tratamento M2 onde continha mexilhão desde o início o nível de transparência mostrou-se alta em relação ao M3 onde o mexilhão foi introduzido alguns dias após e ambos apresentaram melhor transparência em relação ao M4. Ainda neste mês ocorreu a mortalidade total dos alevinos do M1.

Durante o mês de outubro de 2008, o pH manteve-se alcalino, com média entre 8,22 e 9,73, tendo o M1 mostrado-se significante (p<0,01) em relação aos tratamentos M2, M3 e M4. Entre os tratamentos M2 e M3 e M2 e M4, houve leve aumento, porém significativo (p<0,01) e entre o M2 e M3 o pH esteve menor no M3, o que pode indicar redução da porcentagem de amônia tóxica na água (KUBITZA, 2000). A temperatura permaneceu ligeiramente abaixo do conforto térmico (27 a 32 °C), (KUBITZA, 2000). O oxigênio dissolvido apresentou valores alto nos tanques com mexilhões, com médias 8,5 e 9,4, porém houve um leve aumento do nível de

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oxigênio dissolvido no M1 com média 9,6, pois já não haviam mais alevinos; no M2 houve redução comparando com o M3 (p>0,01), pois já não haviam mexilhões, porém esteve alto quando comparado com o M4 (p<0,01). A transparência permaneceu alta onde existiam mexilhões, mostrando-se significativa (p<0,01) em relação aos tratamentos M1 e M3, M1 e M4, M2 e M3, M2 e M4 e M3 e M4, onde se destacou o tratamento M2 e M3, em que se notou o aumento no M2 (p<0,01), por não haver mais mexilhões e no M3 e M4 (p<0,01), comprovando a eficiência do mexilhão em reduzir os sólidos suspensos na coluna de água. A mortalidade total dos mexilhões no M2 ocorreu ao fim do mês e 18 dias após observou-se a mortalidade total dos alevinos do mesmo mesocosmo.

Verificou-se que, no mês de novembro de 2008, o pH manteve-se ligeiramente alcalino e que no M2 o mesmo sofreu leve aumento nas suas médias, porém não foi observada diferença estatística entre os tratamentos M2 e M3, M2 e M4 e M3 e M4 (p>0,01), apenas no M1 e M2 provavelmente causado pela ausência de mexilhões. A temperatura atingiu médias abaixo das consideradas de conforto térmico, com isso houve a redução do apetite e crescimento. O oxigênio dissolvido mostrou-se elevado no M3 se comparado com o M1, M2 e M4 (p<0,01), sendo mais significante no M4 (p=0,004). O nível de sólidos suspensos foi reduzido nos tratamentos onde apresentavam mexilhões (M2 e M3, p<0,01). Todos os mexilhões morreram neste mês e após 16 dias, os.

Observou-se que as médias de peso e comprimento para os indivíduos foram de 2,52 g e 2,59 cm, respectivamente. Essa faixa indica que a maioria dos espécimes encontrados em meio natural durante os meses de agosto a setembro, são indivíduos jovens. Não houve diferença significante nas taxas de crescimento (largura e comprimento) do Diplodon rhuacoicus, no tratamento M2 (p>0,01), onde houve somente crescimento significativo em relação ao comprimento dos mexilhões no M3 (p<0,01). Os valores de pH estiveram bastante alcalinos, acima de 8, o que segundo Machado et al. (2002) é considerado ótimo, pois é neste período que o mexilhão de água doce (Unionacea) cria as suas reservas de cálcio (micropérolas). Provavelmente pela baixa concentração de calcário na água dos mesocosmos, os mexilhões obtiverem valores de crescimento inferiores aos que foram encontrados por Amaral (2006) em experimento em meio natural.

Experimento II (REPETIÇÃO) - No mês de janeiro de 2009, o pH manteve-se com média 7, provavelmente por se tratar do início do experimento e não haver muita matéria orgânica, encontrando diferença somente entre o M2 e M4 (p<0,01). A temperatura manteve-se próxima ao conforto térmico. O oxigênio dissolvido apresentou diferença entre o M1 e M2, M2 e M3 e M2 e M4 (p<0,01), tendo níveis satisfatórios nos mesocosmos onde existiam mexilhões e sendo consumido no M2 (p>0,01), onde verificou-se abaixo de 11 mg/L. A transparência apresentou variações entre os 4 mesocosmos, com e sem mexilhões, estando alta no M4 em relação aos tratamentos M1 e M3 (p<0,01).

Em fevereiro de 2009, o pH manteve-se acima de 8,5 atingindo valores não superiores a 9,6, ideal para o desenvolvimento do mexilhão (MACHADO et al, 2002) e tilápia (KUBITZA, 2000). Com relação ao mês de janeiro, observou-se um aumento do pH provavelmente devido a excreção nitrogenada dos peixes, bem como decomposição microbiana dos resíduos orgânicos na água e segundo Kubitza (2000), quanto maior o pH maior será a porcentagem de amônia tóxica na água. O pH no M1 mostrou-se mais elevado do que os outros tratamentos (p<0,01), no M4 mais baixo em relação ao M1 (p<0,01), onde pode-se supor que a presença dos mexilhões reduziram certa quantidade de amônia na água. A temperatura manteve-

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se dentro da faixa do conforto térmico (KUBITZA, 2000), para os peixes e tido como mortal para os mexilhões (CARVALHO, 2006), abaixo de 36,5 °C. O oxigênio dissolvido manteve-se elevado nos M1 (11), M3 (10) e M4.(10), mesmo não se observando diferença estatística entre os tratamentos M1 e M3 e M1 e M4 (p>0,01), apresentando diminuição no M2 em relação aos outros tratamentos (p<0,01), isso devido ao excesso de material orgânico que diminui progressivamente com o aumento nos níveis de arraçoamento (KUBITZA, 2000). A transparência do M4 manteve-se consideravelmente elevada em relação ao tratamento M2 e M3 (p<0,01), mostrando que houve redução de material em suspensão.

No mês de março de 2009, houve diminuição nos valores de pH, mantendo-se alto no M2 (p<0,01). O M2 esteve alto em relação aos outros tratamentos, em M4 o pH manteve-se baixo (8,2), sendo significativo em relação ao M2 (p<0,01) e não tendo diferença em relação ao M1 (p>0,01) pelas mesmas condições ocorridas no mês de fevereiro. Notou-se que nos mesocosmos onde haviam mexilhões o pH esteve com valores inferiores aos que não possuiam mexilhão. Houve pequena variacão de temperatura em relação ao mês anterior. O oxigênio dissolvido manteve as proporções do mês anterior. Apesar dos valores de transparência terem sofrido diminuição nas médias, não houve diferença significativa entre o M1 e M4 mas houve entre os tratamentos com mexilhão e controle (p<0,01), apresentando assim altos valores.

Observou-se que houve leve aumento na média do pH para o mês de abril no M1. Com a ausência dos mexilhões houve uma pequena elevação no pH que segundo (KUBITZA, 2000), quanto maior o pH maior será a porcentagem de amônia tóxica na água. Isso leva a crer que a presença do mexilhão reduziu o nível de amônia da água, porém não foi observado estatisticamente diferença entre o M1 e M2 (p>0,01). Não houve variação de temperatura entre os mesocosmos durante esse mês. O O.D sofreu leve variação em relação ao mês anterior, porém não foi observada diferença significativa (p>0,01) em relação aos mesocosmos que ainda apresentavam mexilhões e elevou-se no M2, provavelmente devido a algumas poucas chuvas ocorridas no mês, diminuição no M4, possivelmente devido a ausência de mexilhões vivos. Houve melhora na transparência da água nos 4 mesocosmos, mostrando-se significante (p<0,01) em relação ao M2. Apesar de não haver mais mexilhões no M1 e M4 a transparência manteve-se alta (33). As poucas chuvas ocorridas no mês podem ter influenciado na sua melhora, pois a renovação da água diminui a carga orgânica e a concentração de amônia na água, (KUBITZA, 2000). A mortalidade total dos mexilhões ocorreu neste mês e 14 dias após os peixes.

Em maio de 2009, o pH teve um leve aumento (p<0,01) nos tratamentos M1 e M3, M1 e M4, M2 e M3 e M2 e M4. Nesse período os peixes do M3, onde não haviam mexilhão morreram em 123 dias. Tanto tempo se deve ao fato de as chuvas terem renovado parte da água que se encontrava no mesocosmo, melhorando assim sua qualidade, motivo pelo qual os peixes do M1 também continuaram vivos. Não houve significativa na variação na temperatura. Observou-se variação nos níveis de oxigênio dissolvido. (p<0,01) no M1 e M4 em relação ao mês anterior, assim como na transparência que no M2 mostrou-se baixa (21) em relação ao M1 (p<0,01) e não houve diferença estatística significativa (p>0,01) para os M3 e M4, apesar dos valores observados para as médias mostrarem leve diferença.

No mês de junho de 2009, o pH manteve-se constante, não sendo encontrado diferenças estatísticas. Não houve variação de temperatura. O oxigênio dissolvido manteve-se baixo (7 mg/L) no M2 mas não apresentou diferença estatística (p>0,01)

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e o nível da transparência mostrou-se baixo no M2 em relação ao M1 e M3 (p<0,01). De acordo com Kubitza (2000), a tilápia parece apresentar uma grande habilidade em filtrar as partículas do plâncton, o que pode explicar a alta transparência no M1. No M1 ainda haviam os 5 (cinco) exemplares de tilápia, provavelmente pela sua resistência a condições de baixa qualidade de água e tolerância a amplas variações ambientais (POLI et al., 2003).

Também foi observado que as médias de peso e comprimento para os indivíduos foram de 5,10 g e 3,77 cm, respectivamente. Essa faixa indica que a maioria dos espécimes encontrados em meio natural durante os meses de janeiro a junho, são indivíduos jovens. Não foram observadas diferenças significativas nas taxas de crescimento do Diplodon rhuacoicus (LEA, 1834), nos tratamentos M1 E M4. Os valores de pH mínimo e máximo foi de 7,7 e 9,6 entre os meses de janeiro e março no M1 e de 7,8 e 8,5 nos meses de janeiro a abril no M4. Provavelmente pela baixa concentração de calcário na água dos mesocosmos os mexilhões obtiveram valores de crescimento inferiores dos que foram encontrados por Amaral (2006) em experimento em meio natural.

Os níveis de oxigênio dissolvido mostraram-se satisfatórios nos tanques com mexilhões e abaixo do esperando onde não se encontravam, provavelmente, devido ao limite da capacidade máxima de retenção dos mexilhões em reciclar os metabólitos advindos do nível de eutrofização da água terem cessado. Nos tanques onde existiam mexilhões houve uma melhora moderada da qualidade da água, o pH manteve-se na faixa entre 8 e 9, com pouca variação e tendo leve aumento após a morte dos mexilhões possivelmente pelo aumento da quantidade de amônia na água. A transparência da água que foi usada como indicativo da densidade planctônica esteve alta nos tratamentos onde existiam mexilhões comprovando sua eficácia como redutor de material em suspensão. Não houve diferença significativa na taxa de crescimento do mexilhão D. rhuacoicus provavelmente devido à baixa concentração de calcário na água dos mesocosmos. É possível melhorar a situação ambiental em águas com certo nível de eutrofização através da utilização do mexilhão, sendo esta uma boa alternativa encontrada para amenizar os impactos causados pela piscicultura em tanques-rede ao meio ambiente, ou mesmo aplicá-lo a em águas residuárias. Espera-se que com esses resultados obtidos sejam mostrados caminhos visando à recuperação dos estoques naturais impactados pela ação antrópica e venha a contribuir para o uso racional dos ecossistemas aquáticos utilizados pela aqüicultura com tanques-rede minimizando os impactos. Considerando a situação atual de incentivo à criação de parques aquícolas nos reservatórios e os problemas potenciais das instalações dos mesmos, além da ausência de estudos dessa natureza, fica clara a importância da realização de trabalhos de pesquisas e monitoramento que possam auxiliar na regulamentação e implantação de piscicultura em tanques-rede, a fim de estabelecer critérios para evitar uma possível degradação ambiental. Com os resultados espera-se que esses estudos venham a contribuir para melhorar a qualidade de água, minimizando a eutrofização destes ecossistemas, através do uso do Diplodon rhuacoicus, como filtro biológico. Agradecimentos: A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB), pelo apoio financeiro para a realização da pesquisa. A Tâmara de Almeida e Silva, Karine de Almeida Aguiar e Thiago Barrios Ferreira Antunes.

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REFERÊNCIAS

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