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0 UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJVANESSA CRISTI NA BAUER AS CONCEPÇÕES DE UM GRUPO DE ATORES SOCIAIS SOBRE MUDANÇA CLI MÁTI CA, RISCOS DE DESASTRES AMBIENTAIS E VULNERABILIDADE NO VALE DO ITAJAÍ – SC ITAJ- SC 2016

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

VANESSA CRISTINA BAUER

AS CONCEPÇÕES DE UM GRUPO DE ATORES SOCIAIS SOBRE MUDANÇA CLIMÁTICA, RISCOS DE DESASTRES AMBIENTAIS E VULNERABILIDADE

NO VALE DO ITAJAÍ – SC

ITAJAÍ - SC 2016

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ Vice-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação, Extensão e Cultura - ProPPEC

Programa de Pós-Graduação em Educação - PPGE Curso de Mestrado Acadêmico

VANESSA CRISTINA BAUER AS CONCEPÇÕES DE UM GRUPO DE ATORES SOCIAIS SOBRE MUDANÇA CLIMÁTICA, RISCOS DE DESASTRES AMBIENTAIS E VULNERABILIDADE

NO VALE DO ITAJAÍ – SC

Dissertação apresentada ao colegiado do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE) da Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI) como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre em Educação – área de concentração: Educação – (Linha de Pesquisa: Práticas Docentes e Formação Profissional).

Orientador: Prof. Dr. Antonio Fernando Silveira Guerra.

ITAJAÍ SC 2016

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“Teu dever é lutar pelo Direito, mas se algum dia encontrares o Direito

em conflito com a Justiça, luta pela Justiça”.

Eduardo Juan Couture

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AGRADECIMENTOS

A todos que estiveram ao meu lado nesta caminhada.

Agradeço primeiramente aos meus pais pelo dom da vida.

Agradeço ao meu esposo Rafael pela compreensão nos momentos de ausência.

Agradeço ao Professor Doutor Antonio Fernando Silveira Guerra pela

paciência, por fazer despertar o amor pela Educação Ambiental e pelos

ensinamentos transmitidos durante esta jornada.

Agradeço aos amigos Jean Carlos Venturi, Joel Korb e Meire Elis Coelho Bento,

pelo companheirismo e por compreenderem o meu afastamento da Advocacia em

prol da pesquisa.

Agradeço profundamente ao Grupo de Pesquisa Educação, Estudos

Ambientais e Sociedade (GEEAS), do Programa de Pós-graduação em Educação

da Univali, pela amizade, pela alegria e apoio recebido durante o Mestrado.

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RESUMO

A presente dissertação foi desenvolvida no Programa de Pós-graduação em Educação da Univali, junto ao Grupo de Pesquisa Educação, Estudos Ambientais e Sociedade (GEEAS), objetivando identificar a compreensão de um grupo de atores sociais acerca das causas e consequências que geram riscos de desastres na região do Vale do Itajaí-SC. Nesta pesquisa, foram analisadas as concepções sobre mudança climática, risco ambiental, desastres e vulnerabilidades, bem como se buscou identificar os programas e as políticas públicas direcionadas à mitigação de riscos e à prevenção de desastres. Para o embasamento teórico e o suporte necessário às análises, foram utilizados, principalmente, os seguintes autores: Jacobi (2011, 2014), Veyret (2013), Valêncio (2014). Para a coleta de dados, utilizou-se a análise documental, entrevistas semiestruturadas e a observação direta, a partir das indicações metodológicas de Bardin (2011). Os resultados da pesquisa apontaram que o discurso dos atores sociais considerou a mudança climática como uma causa relevante, mas não exclusiva, dos desastres ambientais, notadamente as enchentes, que ocorrem no Vale do Itajaí. O aspecto geográfico e a ocupação indevida do solo foram também apontados como fatores para o agravamento dos desastres. Quanto à compreensão do conceito de risco, percebeu-se sua vinculação à dimensão social, mas, nas falas houve pouco aprofundamento sobre a abordagem sociológica da questão. Ainda, apesar do reconhecimento e da identificação de inúmeras políticas públicas ambientais direcionadas à mitigação de riscos e à prevenção de desastres, a Educação Ambiental não foi incluída dentre as possíveis medidas não estruturais de prevenção de desastres e nem foi abordada, de maneira ostensiva, durantes os eventos. A pretensão da pesquisa foi apresentar reflexões que possam contribuir para aprofundar estudos sobre os impactos gerados em regiões consideradas de risco e potencialmente vulneráveis, levando-se em consideração as questões socioambientais e a mudança climática. Palavras-chave: Mudança climática. Risco. Desastre. Vulnerabilidade. Políticas públicas. Educação Ambiental.

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ABSTRACT

This dissertation was developed for the Graduate Program in Education of UNIVALI, together with the Education, Environmental Studies and Society Research Group (EESSR), with the aim of identifying the comprehension of a group of social actors in relation to the causes and consequences that generate risks of disasters in the Vale do Itajaí region of Santa Catarina. In this research, views on climatic change, environmental risks, disasters and vulnerabilities were analyzed, as well as identifying public programs and policies aimed at mitigating risks and preventing disasters. For the theoretical basis and the necessary support for the analysis, the following authors were used: Jacobi (2011, 2014), Veyret (2013), and Valêncio (2014). For the data collection, document analysis, semi-structured interviews and direct observation were used, based on the methodological indications of Bardin (2011). The results of the research indicate that based on their discourse, the social actors considered climatic change to be a relevant, though not the sole cause of environmental disasters, particularly floods, that occur in the Vale do Itajaí region. The geographical characteristics and disordered land occupation were also pointed out as factors that potentially exacerbate disasters. In regard to the respondents’ comprehension of the concept of risk, a connection to the social dimension was perceived, but the discourses showed a lack of depth in relation to the sociological approach to the issue. However, despite the recognition and the identification of numerous environmental public policies aimed at mitigating the risks and preventing disasters, Environmental Education was not included as one of the possible non-structural means of preventing disasters, and it was notable by its absence during the events. The intention of this research was to present reflections that may contribute to deepening of studies on the impacts generated in regions considered in risk and potentially vulnerable, taking into consideration the social-environmental issues and the climatic change. Keywords: Climatic change. Risk. Disaster. Vulnerability. Public policies. Environmental Education.

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LISTA DE ABREVIATURAS

AMAVI - Associação dos Municípios do Alto Vale do Itajaí

APPS - Áreas de Preservação Permanentes

ART. – Artigo

CCTMAR. - Centro de Ciências Tecnológicas da Terra e do Mar

CENAD - Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres

CF- Constituição Federal

CGEA - Coordenação Geral de Educação Ambiental do Ministério da Educação

CIASC - Sistema de Informações Geográficas de Santa Catarina

CO2 - Dióxido de Carbono

CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente

COMDEMA - Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente

CONPDEC - Conselho Nacional de Proteção e Defesa Civil

DCNEA - Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental

DEA - Diretoria de Educação Ambiental do Ministério do Meio Ambiente

DNOS - Departamento Nacional de Obras de Saneamento

EA - Educação Ambiental

FURB – Fundação Universidade Regional de Blumenau

GEAMBH - Gestão de Ambientes Naturais e Construídos em Bacia Hidrográfica

IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis

IPCC - Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (sigla em inglês)

JICA - Agência de Cooperação Internacional do Japão

MC - Mudança Climática

MMA - Ministério do Meio Ambiente

OECF - Fundo Ultramarino de Cooperação Financeira

PDE - Plano Nacional de Expansão de Energia

PLADE - Plano Global e Integrado de Defesa contra Enchentes - Ecossistema

Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí-Açu

PNEA - Política Nacional de Educação Ambiental

PNMA - Política Nacional do Meio Ambiente

PNMC - Plano/Política Nacional de Mudança do Clima

PNPDEC - Política Nacional de Proteção e Defesa Civil

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PPCDAm - Plano de Ação para a Prevenção e Controle do Desmatamento na

Amazônia Legal

PPCerrado - Plano de Ação para a Prevenção e Controle do Desmatamento e das

Queimadas no Cerrado

PPGEA - Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental da FURB

PPRD - Plano Integrado de prevenção e Mitigação de Desastres Naturais na Bacia

Hidrográfica do Rio Itajaí

ProNEA - Programa Nacional de Educação Ambiental

SC - Santa Catarina

SINPDEC- Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil

TEIA - Laboratório de Educação e Ambiente da Faculdade de Educação – da

Universidade de São Paulo - USP

UNESCO- Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

UNIDAVI - Centro Comunitário para o Desenvolvimento do Alto Vale

UNIFEBE - Centro Universitário de Brusque

UNIVALI - Universidade do Vale do Itajaí

USP - Universidade de São Paulo

WWF - World Wildlife Fund

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Localização do munícipio de Rio do Sul no mapa de SC (à esquerda) e

vista do município de Rio do Sul (à direita). ......................................................... 14

Figura 2: Impactos da atividade humana ultrapassam os limites do planeta....... 19

Figura 3: Dados Humanos por Tipo de Evento de Desastre – 2012. .................. 25

Figura 4: Síntese das premissas das duas teorias. ............................................. 27

Figura 5: Vulnerabilidade numa dinâmica social. ................................................ 28

Figura 6: Subdivisões do meio ambiente............................................................. 36

Figura 7: Estrutura do Sisnama ........................................................................... 41

Figura 8: Localização da Bacia do Rio Itajaí. ...................................................... 50

Figura 9: Fonte de dados da pesquisa. ............................................................... 56

Figura 10: Etapas da Análise de Conteúdo de Bardin. ........................................ 61

Figura 11: Enchente em 1975, Blumenau – SC. ................................................. 73

Figura 12: Enchente em 1978 - Blumenau – SC. ................................................ 73

Figura 13: Enchente em 2013, Rio do Sul – SC. ................................................. 74

Figura 14: População residente nas regiões costeiras. ....................................... 77

Figura 15: Proporção populacional residente em Área Costeira. ........................ 78

Figura 16: Vista de edificações implantadas junto ao curso do ribeirão, sujeitas a

enxurradas. .......................................................................................................... 79

Figura 17: Vista das edificações de alta vulnerabilidade localizadas na borda da

encosta. ................................................................................................................ 80

Figura 18: Vista de edificação existente no setor, construída sobre a canalização

da drenagem natural. ........................................................................................... 80

Figura 19: Edição de junho de 2012 do Jornal do Comitê do Itajaí, com matéria

sobre a criação do Fórum Permanente. ............................................................... 87

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Tópicos acerca do núcleo constitucional da proteção ambiental. ....... 39

Quadro 2: Fóruns realizados entre 2012 e 2015. ................................................ 53

Quadro 3: Caracterização dos atores da Pesquisa. ............................................ 59

Quadro 4: Síntese da construção histórica do processo de formação do Fórum de

Prevenção de Desastres da Bacia do Rio Itajaí. .................................................. 85

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 12

2 DEFINIÇÃO DOS TERMOS .................................................................................. 17

2.1 MUDANÇA CLIMÁTICA (MC).....................................................................................17

2.2. DESASTRES, DESASTRES AMBIENTAIS E VULNERABILIDADE ..........................24

2.3 RISCO E RISCO AMBIENTAL....................................................................................30

3 POLÍTICAS PÚBLICAS DE MEIO AMBIENTE NO CENÁRIO BRASILEIRO ............ 35

3.1 MEIO AMBIENTE: CONCEITO OU REPRESENTAÇÃO SOCIAL? ............................35

3.2 A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA SOBRE MEIO AMBIENTE ..........................................37

3.3 O MEIO AMBIENTE E SUA TUTELA ATRAVÉS DA LEGISLAÇÃO NO BRASIL ........38

3.4 A POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE ..........................................................40

3.5 O PRINCÍPIO DA SUSTENTABILIDADE NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA .................41

3.6 A POLÍTICA NACIONAL DE MUDANÇA CLIMÁTICA .................................................44

3.7 A POLÍTICA DE DEFESA CIVIL .................................................................................47

3.8 AS DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS PARA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

(DCNEA) ..........................................................................................................................48

4 O FÓRUM PERMANENTE DE PREVENÇÃO AOS RISCOS DE DESASTRES NA

BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO ITAJAÍ- SC .......................................................... 50

4.1 A BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO ITAJAÍ.................................................................50

4.2 O FUNCIONAMENTO E AÇÕES DO FÓRUM PERMANENTE DE PREVENÇÃO AOS

RISCOS DE DESASTRES NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO ITAJAÍ – SC .................51

5 CAMINHO METODOLÓGICO ............................................................................... 55

5.1 A ABORDAGEM E TIPO DE ESTUDO .......................................................................55

5.2 FONTES DE DADOS .................................................................................................55

5.3 OS ATORES DA PESQUISA ......................................................................................57

5.4 TÉCNICAS DE PREPARAÇÃO, COLETA E ANÁLISE DE DADOS ............................59

6 ANÁLISE E COMPARTILHAMENTO DOS RESULTADOS ..................................... 63

6.1 AS CAUSAS DA MUDANÇA CLIMÁTICA E SUAS CONSEQUÊNCIAS .....................63

6.2 O CONCEITO DE RISCO AMBIENTAL ......................................................................68

6.3 RELAÇÕES POSSÍVEIS ENTRE A MC E OS DESASTRES AMBIENTAIS ................70

6.4 A VULNERABILIDADE DA POPULAÇÃO AFETADA .................................................75

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6.5 QUANTO AO PAPEL DO FÓRUM PERMANENTE ....................................................83

6.6 DAS RESPONSABILIDADES PELAS POLÍTICAS PÚBLICAS AMBIENTAIS .............89

6.7 O CONHECIMENTO SOBRE AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE PREVENÇÃO E

MITIGAÇÃO DOS DESASTRES ......................................................................................92

6.8 A EA COMO POLÍTICA PÚBLICA NA MITIGAÇÃO DE RISCOS E PREVENÇÃO DE

DESASTRES AMBIENTAIS .............................................................................................96

7 CONSIDERAÇÕES E RECOMENDAÇÕES ........................................................... 99

REFERÊNCIAS .....................................................................................................102

APÊNDICES .........................................................................................................111

APÊNDICE A – ROTEIRO DE ENTREVISTA ................................................................. 111

APÊNDICE B – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ................... 113

APÊNDICE C – CONSENTIMENTO DE PARTICIPAÇÃO DO SUJEITO ........................ 114

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1 INTRODUÇÃO

A inserção da temática relativa ao meio ambiente é uma preocupação global,

sendo atualmente tratada como um problema social, na medida em que se

intensificam os impactos provenientes da relação entre a sociedade e o meio

ambiente, bem como, estão cada vez mais acirradas as disputadas pela posse e uso

dos bens ambientais e o desenvolvimento consumista e predatório ocidental,

conforme explica Lima (2011).

Assim, a intervenção humana pautada sobretudo por um modelo de

desenvolvimento econômico voltado ao consumo está causando o desequilíbrio no

meio ambiente, fato que pode ser percebido pela mudança climática1 (MC), poluição,

doenças transmitidas pela água, extinção de espécies, entre outros.

Nesse contexto de preocupação socioambiental em escala global, despontou a

necessidade de direcionar a pesquisa para o Brasil, e mais especificamente, repensar

o impacto gerado sobre uma área de risco e potencialmente vulnerável, levando-se

em consideração as questões sociais e a MC.

Nesta pesquisa foram analisadas as concepções de um grupo de atores

sociais2 sobre o risco ambiental e vulnerabilidade e sua relação com a mudança

climática no Vale do Itajaí, no qual os impactos sobre a população são sentidos de

maneira bastante significativa, na medida em que há, ao longo da história, uma

permanente exposição ao risco e à ocorrência de desastres ambientais, notadamente

as reiteradas enchentes.

A problematização sobre as noções ou concepções de risco é feita pela

abordagem subjetiva que se configura pelo modo de intervenção humana no meio

ambiente. Essa visão se coaduna com a ideias trazidas por Anthony Giddens e o

1 Embora alguns autores utilizados na fundamentação desse trabalho utilizem o termo “mudança climática” no plural, preferimos mantê-lo no singular por entendemos que é um fenômeno global. Assim, adotamos a terminologia corrente na comunidade ibero-latino-americana, e pela UNESCO, que se referem ao fenômeno como do “cambio climático”. 2 Neste estudo, vamos considerar o conceito de “atores sociais” da seguinte forma: O ator é alguém que representa, que encarna um papel dentro de um enredo, de uma trama de relações. Um determinado indivíduo é um ator social quando ele representa algo para a sociedade (para o grupo, a classe, o país), encarna uma ideia, uma reivindicação, um projeto, uma promessa, uma denúncia. Uma classe social, uma categoria social, um grupo podem ser atores sociais. Mas a ideia de “ator” não se limita somente a pessoas ou grupos sociais, instituições também podem ser atores sociais: um sindicato, partidos políticos, jornais, rádios, emissoras de televisão, igrejas etc. (SOUZA, 1991, grifo da autora)

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saudoso Ulrich Beck sobre sociedade de risco. Assunção (2014) explica que as

discussões feitas por Giddens e Beck trazem um alerta para a produção social dos

riscos, sendo que os desastres estariam mais relacionados à organização social do

que, propriamente, às ações da natureza.

Nesse contexto sociológico, a compreensão do paradigma da vulnerabilidade

também é essencial, pois significa que as pessoas necessitam receber informações

sobre os problemas ambientais e os riscos aos quais estão expostas. A partir do

momento em que compreendem o ambiente em que vivem, tornam-se menos

suscetíveis aos impactos causados pelos desastres ambientais.

A escolha deste tema funda-se na observação do sofrimento das pessoas

atingidas direta ou indiretamente pelos desastres e a preocupação com o futuro das

cidades que integram o Vale do Itajaí, e de todos os que habitam, convivem e

constituíram suas famílias na região. Ainda, tenho um vínculo emocional com a região,

pois sou natural de Agrolândia – SC, pequena comunidade colonizada por alemães e

situada no Alto Vale do Itajaí. Recordo-me do contato com natureza, da fartura em

água, das brincadeiras com os animais de estimação e da solidariedade e amizade

entre os moradores da cidade.

Residi em Agrolândia até o ano de 1994, quando ingressei na Universidade do

Vale do Itajaí – UNIVALI, situada em Itajaí – SC, para cursar Direito, graduação

concluída em 1999. Após a conclusão do ensino superior, retornei para o Alto Vale do

Itajaí e passei a residir em Rio do Sul – SC, onde constitui família e iniciei minhas

atividades profissionais. Atualmente resido na cidade, trabalho como advogada e

professora universitária.

A cidade de Rio do Sul está localizada no Vale do Itajaí, região Nordeste do

Estado de Santa Catarina (Figura 1). Rio do Sul possui uma população de 61.198

habitantes e área territorial de 260,970 Km² (BRASIL, 2010). É conhecida como a

capital do Alto Vale do Itajaí e está situada às margens do Rio Itajaí-Açu, que

desempenhou papel fundamental na colonização e desenvolvimento local (Figura 1).

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Figura 1: Localização do munícipio de Rio do Sul no mapa de SC (à esquerda) e vista do município de Rio do Sul (à direita).

Fontes: Santa Catarina, CIASC, 2014 (à esquerda); AMAVI – Associação dos Municípios do Alto Vale do Itajaí, 2014 (à direita).

A inquietação que motivou essa pesquisa foi o fato de a cidade de Rio do Sul

– SC ser atingida, desde a sua colonização, por enchentes periódicas. Além disto, a

adoção de políticas públicas preventivas e mitigadoras relacionadas apenas a

medidas estruturais, como a realização de obras, não está surtindo os efeitos

desejados na contenção dos desastres na cidade de Rio do Sul e na região do Vale

do Itajaí. Acredito ser necessária a busca de uma sensibilização da população no

exercício de seus direitos exigindo, do poder público, uma concreta e efetiva tomada

de decisões para minimizar os riscos e prevenir os desastres, conforme explicam

Espíndola e Nordari (2013, p. 31):

As grandes enchentes, que assolam o Município de Rio do Sul, desde a época em que, o mesmo, ainda era constituído como Distrito, associado à Blumenau, respondem a um padrão exaustivamente repetitivo, por não serem tomadas as devidas providências necessárias pelo Estado, por meio de Políticas Públicas céleres e adequadas. Consequentemente, a maioria das obras realizadas pelo mesmo, até então; não têm logrado êxito às contenções destes desastres ambientais, fazendo com que a situação se torne cada vez mais alarmante.

Assim, é necessário estabelecer-se, no campo ambiental, educacional e social,

uma interação e um avanço na implementação e na integração de políticas públicas

que conduzam ao enfrentamento dos problemas econômicos, socioambientais e

culturais decorrentes dos desastres ambientais provocados pelas inundações,

enxurradas, alagamentos e deslizamentos de terras, que historicamente atingem a

região do Vale do Itajaí, em Santa Catarina.

A formulação e a implementação de políticas públicas é uma temática complexa

e somente será eficaz na medida em que o Estado e a sociedade caminharem juntos.

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Andrade et al. (2014, p. 821) explica que existe um novo paradigma “[...] na busca de

caminhos para a elaboração de políticas públicas por meio do diálogo, visando à

participação social ao longo de todo o percurso e à formação de decisões e ações

sinérgicas entre o Estado e outras forças da sociedade”.

A sociedade contemporânea precisa se preocupar com a proteção ao meio

ambiente e as sequelas dos danos e riscos ambientais advindos das formas de

ocupação e do uso dos serviços naturais até o momento presente. Atualmente, nada

mais necessário do que demonstrar a importância de repensarmos as inter-relações

entre o ser humano, a sociedade e o meio ambiente.

Nesse contexto, no qual a intervenção humana exerce um papel preponderante

sobre a produção de riscos, o grande desafio na atualidade é a implementação de

políticas públicas capazes de minimizarem esses riscos e prevenirem a ocorrência

dos desastres ambientais.

A Educação Ambiental (EA), como modalidade educacional, também possui

sua política pública, representada pelo Programa (ProNEA, 2005), Política (PNEA,

1999) e Diretrizes Curriculares Nacionais para a EA (DCNEA, 2012a), as quais são

essenciais para a inserção e a execução da EA no espaço escolar da Educação

Básica à Superior, possibilitando às pessoas e a sociedade a refletirem criticamente

e construírem soluções e medidas mitigadoras para enfrentamento da crise e dos

problemas socioambientais. Nesse contexto a EA se inscreve como um dos

instrumentos para desenvolver estratégias à construção de uma sociedade

sustentável e justa.

Considerando o contexto, as perguntas que nortearam a pesquisa foram as

seguintes:

• Quais as concepções de um grupo de atores sociais sobre MC, os riscos de

desastres ambientais e vulnerabilidade social, na Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí?

• Para o grupo de integrantes, qual a natureza do Fórum Permanente de

Prevenção de Desastres na Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí e região?

• Nas políticas públicas ambientais os membros do Fórum percebem relações

direcionadas às formas de mitigação de riscos ambientais e prevenção de desastres

ambientais?

Pensando as questões de pesquisa, nosso objetivo central pauta-se em

reconhecer as concepções de um grupo de atores sociais, que participam do Fórum

Permanente de Prevenção de Desastres na Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí acerca

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das causas e das consequências da que geram riscos de desastres ambientais na

região.

Já, os objetivos específicos giram em torno dos seguintes tópicos: a) Identificar

programas e políticas públicas direcionadas à mitigação de riscos e à prevenção de

desastres; b) Compreender de que forma a EA, como política pública, intervém na

mitigação de riscos e na prevenção de desastres; c) Reconhecer como um grupo de

participantes do Fórum Permanente de Prevenção de Desastres na Bacia do Itajaí

percebe as questões relativas à MC, aos riscos de desastres ambientais e à

vulnerabilidade social.

Esta pesquisa encontra-se organizada da seguinte forma: introdução, na qual

se expõe a problematização, os objetivos, as perguntas da pesquisa e a relevância do

estudo. Em seguida, adentra-se no referencial teórico que está dividido em dois

capítulos: o primeiro, objetivando a definição dos conceitos fundamentais para a

investigação (mudança climática, desastres, vulnerabilidade e risco ambiental) e o

segundo, referindo-se às políticas públicas de meio ambiente no Brasil, fazendo-se

um levantamento de todo o arcabouço legislativo voltado às políticas públicas

ambientais.

Em sequência, encontra-se o capítulo relativo ao Fórum Permanente de

Prevenção aos Ricos de Desastres na Bacia Hidrográfica do Rio do Itajaí, no qual se

apresenta um levantamento sobre a bacia, o funcionamento e as ações do Fórum.

Posteriormente, encontra-se o capítulo referente ao caminho metodológico e o

capítulo com as considerações finais. Por fim, são apresentadas as referências e

apêndices.

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2 DEFINIÇÃO DOS TERMOS

Alicerçados em pesquisadoras e pesquisadores que, anteriormente, realizaram

estudos sobre o tema e definiram alguns conceitos-chave para facilitar a compreensão

do fenômeno da mudança climática e suas consequências, urge pensarmos, não só

a necessidade de ações efetivas, mas o estabelecimento de um rol de novos conceitos

que englobem diferentes áreas do conhecimento. Esses conceitos e as ações

posteriores necessitam ser entendidos e incorporados pelos grupos sociais, desde

que, em maior ou menor grau, a mudança climática afeta a todos os seres no planeta.

2.1 MUDANÇA CLIMÁTICA (MC)

O fenômeno da mudança climática vem sendo discutido por pesquisadores das

mais variadas áreas, amplamente divulgado pelas mídias, haja vista que há uma

inequívoca preocupação com o futuro da humanidade, bem como das demais

espécies que compartilham este planeta. Por causa dessa preocupação, existe um

constante debate entre ambientalistas e governos que se restringe a três questões

fundamentais: o grau de responsabilidade da ação humana3; os efeitos da MC, se são

iminentes e irreversíveis e a forma de impedir que o problema se agrave (SEIFFERT,

2011).

Antes da abordagem, é necessário esclarecer que fenômenos como o

aquecimento, o resfriamento global e o efeito estufa são naturais e acontecem na

evolução do planeta Terra, ao longo dos seus 4,54 bilhões de anos.

Entretanto, nas últimas décadas do século passado, assim como atualmente, a

mudança climática não está sendo causada por fenômenos naturais, mas,

principalmente, pela desgovernada atividade industrial, podendo-se deduzir daí, que

a atividade humana é um fator predominante para o aquecimento.

Do ponto de vista histórico, essa atividade humana começou a se intensificar

com a Revolução Industrial, conforme explica Morais (2010, p. 17):

O fenômeno da globalização, emergindo com o mercantilismo do século XVI e acelerando sobretudo a partir da revolução industrial, é agora reconhecido como tendo um impacto universal. Com a globalização reforçam-se os nexos

3 Neste trabalho partiremos da premissa defendida por um bom número de cientistas, principalmente vinculados ao Intergovernamental Panel on Climate Change – sigla IPCC, de que a atividade humana influencia a mudança climática.

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de interdependência entre países, gerado pelo fluxo de bens, serviços, informações e ideias. Estados, organismos nacionais e internacionais, bem como indivíduos, confrontam-se agora com dinâmicas globais de mercados, fluxos de energia, mercadorias e informação, que desafiam fronteiras impostas por governos na sua tentativa de controlar ou regular as forças econômicas numa escala planetária.

Nossa ação humana sobre o Planeta Terra foi tão intensa que acarretou

alterações de grande escala, causando a mudança climática e o aquecimento global,

fatores indicativos de uma nova era geológica denominada Antropoceno (JACOBI,

2014). Nesse contexto, pesquisadores de diversas áreas começaram a perceber que,

pela primeira vez, o ser humano surge como uma força capaz de alterar

geologicamente a dinâmica do Planeta Terra e o funcionamento do sistema climático.

Nas palavras de Artaxo (2014, p. 15):

Desde os anos 80, alguns pesquisadores começaram a definir o termo Antropoceno como uma época em que os efeitos da humanidade estariam afetando globalmente nosso planeta. O prêmio Nobel de Química (1995) Paul Crutzen auxiliou na popularização do termo nos anos 2000, através de uma série de publicações discutindo o que seria essa nova era geológica da Terra (Crutzen, 2002) na qual a influência humana se mostra presente em algumas áreas, em parceria com as influências geológicas. A humanidade emerge como uma força significante globalmente, capaz de interferir em processos críticos de nosso planeta, como a composição da atmosfera e outras propriedades.

Embora ainda haja controvérsias, esse e outros estudos concordam que a

atividade humana é responsável por influenciar a mudança climática e o aquecimento

global4 causado pelo aumento da concentração dos gases de efeito estufa na

atmosfera. Com efeito, o relatório do IPCC, aponta para a elevação da temperatura

média global, cujas projeções indicam um aumento de 1,4ºC a 5,8ºC nos próximos

100 anos (SEIFFERT, 2011).

O meio ambiente vem sofrendo os impactos da mudança climática; e a

capacidade dos ecossistemas em suportar tal degradação está bastante

comprometida. Conforme explicam Rockström et al. (2009), os impactos causados

pela atividade humana estão ultrapassando os limites seguros, como se pode

observar nas mudanças no ciclo global de nitrogênio e fósforo; na taxa de perda da

biodiversidade; na escassez de água doce, dentre outros, como podemos visualizar

na Figura 2:

4 Não abordaremos a discussão acerca do esfriamento do Planeta, defendida por alguns pesquisadores.

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Figura 2: Impactos da atividade humana ultrapassam os limites do planeta.

Fonte: Traduzido de Rockström et al. (2009)

• Concentração de CO2 na atmosfera

• Perda da biodiversidade

• Contaminação por nitrogênio

• Escassez de água doce

• Ciclo do fósforo

• Perda do uso do solo

• Acidificação dos oceanos;

• Depleção da camada de ozônio

• Contaminação por aerossóis

• Contaminação química

A identificação e a quantificação dos limites do planeta que não devem ser

transgredidos poderiam auxiliar na prevenção das atividades humanas que causam

mudanças ambientais inaceitáveis, argumentam Rockström e colaboradores (2009).

Conforme a leitura de Artaxo (2014), nossa espécie já ultrapassou a capacidade

de suporte e regeneração natural na perda de biodiversidade, contaminação por

nitrogênio e estamos próximos ao limite na área de mudança climática.

O Brasil também está sofrendo as consequências da mudança climática.

Durante os anos de 2003 a 2009 foram colhidos dados capazes de gerar um relatório

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demonstrando as políticas, as propostas, os projetos e as atividades que se

relacionam com educação, sustentabilidade e mudança climática no Brasil.

Assim, surgiu a lume, o Relatório realizado pelo TEIA – USP, Laboratório de

Educação e Ambiente para IALEI Project – Climate Change and Sustainable

Development: The Response form Education (2009), coordenado pelo Prof. Dr. Pedro

Roberto Jacobi, instaurando um olhar mais atento sobre os efeitos e as

vulnerabilidades a que estamos expostos diante das mudanças climáticas globais, e

os desafios para conter e minimizar a crise ambiental que vem acelerando essas

mudanças.

O relatório produzido pelo TEIA – USP apontou as seguintes características

(2009, p. 31):

- No Nordeste do Brasil as áreas semiáridas e áridas vão sofrer uma redução dos recursos hídricos por causa das mudanças climáticas. A vegetação semiárida provavelmente será substituída por uma vegetação típica da região árida. Nas florestas tropicais, é provável a ocorrência da extinção das espécies. - A recarga estimada dos lençóis freáticos irá diminuir drasticamente em amis de 70% no nordeste brasileiro (comparado aos índices de 1961-1990 e da década de 2050) - As chuvas irão aumentar no sudeste com impacto direto na agricultura e no aumento da frequência e da intensidade das inundações nas grandes cidades como Rio de Janeiro e São Paulo. - No futuro, o nível do mar, a variabilidade climática e os desastres provocados pelas mudanças climáticas devem ter impactos nos mangues. - De 38 a 45% das plantas cerrado correm risco de extinção se a temperatura aumentar em 1,7º em relação aos níveis da era pré-industrial.

No Sul do Brasil, o Estado de Santa Catarina está sentindo os efeitos das fortes

chuvas, principalmente na região do Vale do Rio Itajaí. Os desastres causados pelas

chuvas têm sido uma constante desde a colonização da região, conforme explica Silva

(1975, apud FRAGA; KOHLER, 1999). O autor fez um levantamento das enchentes

sob a ótica da imprensa, no decorrer da história de Santa Catarina, e suas

observações remontam enchentes desde o ano de 1855.

Nos anos de 1983 e 1984 ocorreram duas grandes enchentes nessa região do

Vale do Itajaí. A enchente de 1983 perdurou de 06 de julho e 02 de agosto e foi uma

das mais longas da história O índice a que chegou o nível do rio Itajaí-Açu, na época,

foi o terceiro maior desde a fundação da cidade Blumenau e o segundo maior em

volume de águas (FROTSCHER, 1997).

Hermann (2001, apud MARCELINO; NUNES; KOBIYAMA, 2006a, p. 73)

destaca que “[...] no período 1980-2000 a maioria dos desastres naturais computados

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está associada às instabilidades atmosféricas severas, isto é, aqueles associados a

decretação de situação de emergência e estado de calamidade pública”. Neste

período, a autora relata que houve 1.215 episódios de inundações graduais, seguidos

de 352 vendavais e 322 inundações.

No mês de novembro de 2008, o Vale do Itajaí e mais da metade da costa

catarinense, de Florianópolis a Itajaí, foram atingidos por enchentes e

escorregamentos de encostas de morros decorrentes do excesso de chuvas. O

desastre atingiu, aproximadamente 1,5 milhões de pessoas em 63 cidades declaradas

em situação de emergência e calamidade pública. Foram registradas 133 mortes, 10

desaparecidos e mais de 330 pessoas com leptospirose, sobretudo em Ilhota,

Blumenau, Jaraguá do Sul, Gaspar e Luiz Alves (FRAGA et al. 2015).

Em outubro de 2013, na cidade de Rio do Sul, milhares de pessoas foram

atingidas, ficando desabrigadas ou desalojadas. Em 2014, conforme informações

publicadas no portal da Secretaria de Estado da Defesa Civil, em 11 de julho de 2014,

Santa Catarina enfrentou dois períodos de fortes chuvas em junho. No início do mês

cerca de 460 mil pessoas foram afetadas (SANTA CATARINA, 2014). Na segunda

ocorrência, no final deste mesmo mês, 60 cidades foram afetadas, a maioria na região

Oeste do Estado, sendo que, 42 municípios decretaram situação de emergência e

cerca de 650 mil pessoas foram afetadas (op. cit., 2014)

Compreender esses fenômenos climáticos é tarefa árdua, pois conforme

explicam Marcelino, Nunes e Kobiyama (2006b) é notório, em todo o globo, o

incremento e a frequência de desastres; entretanto, para alguns autores, esses

desastres estão mais associados à exposição e à vulnerabilidade da própria

sociedade, sendo que para outros, os desastres têm se intensificado em razão das

mudanças globais, notadamente instabilidades atmosféricas, como furacões,

vendavais e tornados.

Marengo e Valverde (2007) assinalam que existem poucos estudos

observacionais sobre mudanças nos extremos de clima (chuvas, temperaturas,

tempestades) e os resultados são comprometidos em razão da falta de informação ou

qualidade climatológica diária confiável.

Independentemente dessa polêmica, é inegável que os desastres causam

danos sociais de grande magnitude, sendo necessário que estas questões sejam

discutidas, em espaços de discussão na escola e na universidade, pelo poder público,

pelos empresários e pela sociedade civil organizada, para que todos assimilem o

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conhecimento dessa problemática, e assumam o compromisso na sua prevenção e

mitigação.

Importante notar que, inobstante a mudança climática afetar diretamente a vida

das pessoas, ainda há dificuldades para perceber-se que a atividade humana sobre o

meio ambiente natural está transformando as condições de vida e sobrevivência de

todos os seres, no lugar onde vivem, bem como nos demais locais do planeta.

Logo, é fundamental que se tenha clareza de que a mudança climática é um

grande desafio para a humanidade. Trata-se de uma questão cultural, ou seja, todos

devem perceber a conexão existente entre nossas opções cotidianas de locomoção,

a emissão e gases de efeito estufa e, consequentemente, o aumento da temperatura

da terra, bem como o desmatamento que vem ocorrendo na Amazônia e na Mata

Atlântica e o processo de desertificação em parte da região Sul do Brasil, dentre outros

(JACOBI et al. 2011).

Essa questão de percepção entre as escolhas cotidianas e a conservação do

Planeta Terra não parece estar evidente para a maioria das pessoas, pois não há

mobilização na busca de soluções (TAMAIO; VASCONCELOS 2010). Pensar e

repensar nossas escolhas será um inevitável caminho se quisermos permanecer

neste Planeta compartilhado por inúmeras espécies que estão desaparecendo em

nome de um desenvolvimento insustentável. O fato é que estamos indo muito além

da conta possível de ser administrada pelo Planeta. Mas, o que fazer? Como mudar

este curso?

Não se trata de fazer um discurso catastrófico acerca do tema, mas sim, de

sensibilizar e despertar o senso crítico das pessoas para perceberem que existe uma

grande influência da atividade humana na alteração do processo de MC (JACOBI et

al. 2011).

A complexidade da crise climática passa pelo conhecimento sobre o fenômeno,

a maneira como é comunicado, sua interpretação e a percepção final das pessoas.

Além disso, as incertezas, ainda que reduzidas, sobre o trabalho desenvolvido pelo

IPCC deram margem a controvérsias, notadamente arguidas por um grupo

denominado de “ceticistas”, com seguidores também no Brasil, os quais defendem a

ideia de que o aquecimento global é um fenômeno natural, não havendo

responsabilidade humana sobre ele, e que nada pode ser feito para intervir nessa

situação (LIMA; LAYRARGUES, 2014).

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Nesse dramático contexto, existe uma preocupação mundial relacionada à

questão ambiental, pois as discussões permeiam desde a descaracterização dos

ambientes naturais alterados pela atividade humana até as consequências

decorrentes dessas perturbações e a busca por fontes alternativas de energia limpa,

menos onerosas ao ambiente (PEREIRA et al. 2013).

A temática abordada revela-se pertinente não só no contexto acadêmico, na

medida em que o ser humano coloca cada vez mais em risco sua existência no

planeta. Sobre tal ação auto devastadora, Freitas (2012, p. 23) faz a seguinte

afirmação “Ao que tudo indica, nos próximos milhões de anos, o planeta não será

extinto. A humanidade é que corre real perigo”. É impensável não considerar que a

permanência do ser humano no planeta está ameaçada pelo seu próprio

comportamento: destrutivo e consumista.

A atividade do ser humano influencia diretamente o clima, entretanto, essa

influência ocorre de maneira complexa e envolve vários fatores como o consumo da

energia produzida e utilizada; o modo de vida urbano ou rural; a riqueza ou pobreza

de um país, a idade e até mesmo a igualdade entre homens e mulheres na sociedade

(JACOBI et al. 2011).

Com efeito, a MC envolve vários fatores que não poderão ser analisados

isoladamente. Por isso, utilizando a clareza e a lucidez que lhe é peculiar, Giddens

(2010, p. 97), descreve que o aquecimento global deverá ser colocado em primeiro

plano, tanto no âmbito político quanto na mente das pessoas. Para tanto, não se trata

da adoção de pensamentos catastróficos, mas, sim, da necessidade de as pessoas

agirem com mais racionalidade sobre os problemas decorrentes da mudança

climática, também influenciada pela sua ação irresponsável.

Segundo explica Jacobi (2014, p. 65):

O caminho para uma sociedade sustentável se fortalece na medida em que se ampliem práticas educativas que, pautadas pelo paradigma da complexidade, conduzam para uma atitude reflexiva em torno da problemática ambiental, visando traduzir o conceito de ambiente na formação de novas mentalidades, conhecimentos e comportamentos. A ênfase na abordagem da complexidade coloca-se como uma alternativa para a busca de novas formas de gerar conhecimento, e promove uma inflexão na estrutura consolidada que gerou hierarquia de saberes.

A pertinência do tema surge a partir do momento em que a resolução dos

problemas decorrentes da destruição ou degradação do meio ambiente depende das

atitudes e das escolhas das pessoas e dos governantes, de sua visão de mundo e de

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seus valores, em relação ao meio em que vivem e com o qual compartilham com

outros seres.

Como se vê, a questão da mudança climática também se inscreve como uma

questão de percepção ambiental ou representação social, pois cada indivíduo possui

seus próprios processos de cognição, julgamento e expectativa, sendo influenciado,

também, por questões culturais (VASCO; ZAKRZEVSKI, 2010).

E foi justamente por essa necessidade premente de alteração dos mecanismos

de percepção dessa problemática, outrora não entendida como um problema social,

que a mudança climática passou a ter um papel preponderante no entendimento e

nas ações frente à intensificação de inúmeros desastres ambientais que têm

acontecido nos últimos anos, na região, no país, e no planeta. Nessa linha de

raciocínio, Jacobi et al. (2011, p.136) explica que “[...] o efeito das mudanças

climáticas dispara as migrações, destrói os meios de sustento, altera as economias,

debilita o desenvolvimento e exacerba as desigualdades entre os sexos”.

É inegável que o reflexo causado pelos desastres na sociedade elevou a

mudança climática ao papel de protagonista da história humana. Não obstante o fato

de existirem controvérsias na comunidade científica, quanto à comprovação científica

das causas dessa mudança, parece óbvio que ela representa um fato decisivo na

intensificação dos eventos climáticos extremos e suas consequências nas últimas

décadas.

A importância de se conhecer as abordagens sobre o assunto revela que os

desastres possuem “muitas causas e concausas”, sendo que a mudança climática é

uma delas (CARVALHO; DAMACENA, 2012). Por certo que dentre essas variáveis

naturais e sociais a mudança climática se apresenta como fator desencadeador dos

desastres sendo, por tal razão, importante compreender seu alcance na sociedade.

Para não cairmos em mais uma controvérsia, é relevante ter clara, também, uma

definição conceitual precisa do que entendemos por “desastres” – e, a partir dela, dos

conceitos de desastre ambiental e vulnerabilidade.

2.2. DESASTRES, DESASTRES AMBIENTAIS E VULNERABILIDADE

O tema relativo aos desastres vem sendo diuturnamente debatido, em especial

considerando-se as suas danosas consequências sobre a sociedade. No Brasil, a

crença existente no imaginário popular de que vivemos em um país onde não existem

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grandes desastres, começou a ser derrubada diante da ocorrência de inúmeros

eventos climáticos extremos (TADDEI, 2014, p.32).

O Anuário Brasileiro de Desastres Naturais (BRASIL, 2012b, p.33) consolida os

principais dados técnicos sobre os desastres ocorridos no Brasil no ano de 2012.

(Figura 3).

Figura 3: Dados Humanos por Tipo de Evento de Desastre – 2012.

Fonte: BRASIL, 2012b, p.30.

Como se pode verificar na tabela exposta pela Figura 3, dos quase 17 milhões

de pessoas afetadas por desastres, em 2011, os eventos de seca/estiagem, as

enxurradas e inundações atingiram 15.998.230 pessoas, as quais foram desabrigadas

ou desalojadas do local onde viviam, ou que ainda neles permanecem vivendo em

condições de risco.

A partir da divulgação desses dados, promovida especialmente pelas mídias, o

tema relativo aos desastres vem sendo debatido com veemência, s que a mudança

climática está causando sobre a sociedade, desde que os eventos a ela relacionados

vêm traçando cenários bem preocupantes.

Entretanto, o conceito de desastre ainda não se encontra claramente

cristalizado e, segundo Gilbert (1998 apud ASSUNÇÃO, 2014, p. 195) podem ser

observados três paradigmas distintos para sua abordagem:

“O primeiro traria a noção de desastre como resultado da ação de um agente externo ameaçador, que teria sido formulado a partir de um modelo de guerra. O segundo paradigma seria desenvolvido por cientistas sociais europeus, principalmente a partir da década de 1970, segundo o qual os desastres

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seriam a expressão social da vulnerabilidade. Já o terceiro traria a noção de que os desastres gerariam incertezas, geradas não apenas por falta de informações como também pela falta de articulação entre diferentes campos de saberes, o que dificultaria a formulação de medidas para a prevenção destas ameaças

Siena (2012, p. 4) sintetiza esses três paradigmas da seguinte maneira:

“desastre como replicação de um modelo de guerra; o desastre como expressão social

da vulnerabilidade; e o desastre como um estado de incertezas geradas pelas próprias

instituições”

No Brasil, o conceito de desastre foi embasado no paradigma do agente

externo ameaçador ou modelo de guerra, através do qual o Estado adota uma postura

de reação e monitoramento frente ao desastre, que é considerado como o “inimigo”

(VALÊNCIO, 2014, p. 3632).

Com efeito, a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil, instituída pela Lei

12.608 de 11 de abril de 2012, que foi regulamentada pelo Decreto 7.257 de 04 de

agosto de 2010, define desastre como o “[...] resultado de eventos adversos, naturais

ou provocados pelo homem sobre um ecossistema vulnerável, causando danos

humanos, materiais ou ambientais e consequentes prejuízos econômicos e sociais”

(BRASIL, 2012c).

Nessa perspectiva legislativa, o desastre é resultado de um fenômeno natural,

ou causado pelo ser humano ou decorrente da relação entre ambos (misto), e que

pode ser desencadeado de maneira lenta ou “temporalmente instantânea”

(CARVALHO, 2013, p. 403).

Mattedi e Butzke (2001) afirmam que o paradigma do agente externo

ameaçador, adotado pela legislação brasileira, é representativo da teoria dos Hazards,

que em sua gênese, considerava os fenômenos geofísicos como avalanches,

tornados, enchentes, dentre outros, fatores determinantes para caracterização do

desastre. Os autores ressaltam que somente a partir da década de 70, o

comportamento das pessoas passou a ser um fator determinante na caracterização

do desastre:

Os Hazards passaram a ser vistos como produtos da interação de forças físicas e humanas que, em combinação, determinam a significância e o impacto do evento. Eventos geofísicos que não afetam as atividades humanas não podem ser considerados Hazards. (MATTEDI; BUTZKE, 2001, p. 99)

A inclusão do fator social na compreensão do desastre, também significou a

alteração na legislação brasileira que passou a incorporar o comportamento humano

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antes, durante e posteriormente à ocorrência de um desastre. Com efeito, a Lei 12.608

de 11 de abril de 2012, estabeleceu em seu art. 3º, os pilares da política nacional de

proteção e defesa civil: ações de prevenção, mitigação, preparação, resposta e

recuperação.

Entretanto, Negredo (2009. p. 65) destaca que, na prática, normalmente as

ações são desenvolvidas durante ou imediatamente após a ocorrência de um

desastre, ignorando completamente o antes, pois os gestores públicos buscam

respostas imediatistas para satisfazer seus interesses. O autor afirma que o

“imediatismo dos resultados se opõe ao desenvolvimento de uma política preventiva,

comprometida com os resultados mais adequados às necessidades das

comunidades”.

Considerando as deficiências da Teoria Hazards, Valêncio (2014, p.3633),

Mattedi e Butzke (2001) e Ribeiro (1995), buscaram outras referências para

compreender os desastres. Para eles, o desastre deve ser abordado sob o aspecto

sociológico, ressaltando a importância da vulnerabilidade no contexto social, conforme

o segundo paradigma traçado por Gilbert (MARCHEZINI, 2009, p. 49).

Sintetizando a Teoria Hazards e a Teoria dos Desastres, Valêncio (2014, p.

3632) explica que a forma de abordagem dos desastres parte de duas premissas

básicas e bastante distintas:

Nos estudos sobre desastres, há uma distinção importante entre a teoria dos hazards e a teoria dos desastres. A teoria dos hazards enfatiza uma abordagem geográfica, na qual os mecanismos físicos, a distribuição temporal e espacial e dinâmica de eclosão dos eventos físicos têm maior peso, enquanto a teoria dos desastres, construída desde uma abordagem sociológica, enfatiza as considerações sobre a organização social complexa e o comportamento coletivo.

A síntese das premissas das duas teorias, estão descritas na Figura 4.

Figura 4: Síntese das premissas das duas teorias.

Fonte: Elaborada pela autora com base em Valêncio (2014, Mattedi e Butzke (2001) e Ribeiro (1995).

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Assim, essa diferenciação conceitual é importante porque demonstra os vários

ângulos de análise sobre os desastres, bem como a maneira como esse fenômeno

será abordado. Na presente pesquisa, a abordagem será feita em seu aspecto

sociológico, deixando para um outro estudo, os parâmetros geográficos estudados em

outras ciências.

Considerando a abordagem sociológica e o recorte traçado nesta pesquisa, a

MC somente é considerada uma efetiva ameaça, em virtude de algumas

características da população, conforme explicam Siena e Valêncio (2009, p. 60):

Ou seja, as Mudanças Climáticas geram eventos e o que os definem como ameaça é a vulnerabilidade da população que será afetada. E, tanto a total imersão num modelo equivocado de desenvolvimento quanto a ausência de desenvolvimento são fatores problemáticos para lidar com fatores de ameaça constante ou, ainda, que se agravam, como os eventos extremos prognosticados com as Mudanças Climáticas.

Para as autoras, no Brasil, o debate sobre mudança climática tem se

concentrado nos fatores de ameaça (como por exemplo as precipitações), em

detrimento da análise sociológica das dimensões socioeconômicas das

vulnerabilidades das pessoas afetadas.

Ribeiro (1995, p. 29), sociólogo português, explica a importância da

compreensão da vulnerabilidade, que é um processo dinâmico e com consequências

sociais. Na perspectiva proposta pelo sociólogo, pode-se visualizar a vulnerabilidade

numa dinâmica social e existente em três momentos:

Figura 5: Vulnerabilidade numa dinâmica social.

Fonte: Elaborada pela autora com base nas leituras realizadas.

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Esteves (2011, p. 73-74) argumenta que esses três elementos presentes na

noção de vulnerabilidade também podem ser reconhecidos como: a exposição ao

risco, que é considerado um componente multifacetados, uma vez que varia conforme

a problemática analisada; a capacidade de reação e finalmente a dificuldade de

adaptação diante da materialização do risco, os quais geralmente estão associados

aos grupos sociais mais pobres da sociedade.

É de suma importância o desenvolvimento de ações para reduzir a

vulnerabilidade daquelas populações mais expostas, principalmente, porque os

efeitos crescentes da mudança climática não podem ser evitados, conforme explicam

Gaudiano et al (2015, p.148). Para os autores, também é preciso promover formas

adequadas de adaptação, gerenciamento de risco e resiliência da comunidade.

Para o enfrentamento dos problemas decorrente da exposição aos riscos, bem

como, dos desastres e da vulnerabilidade social, principalmente da população mais

pobre, é fundamental a construção de políticas públicas fundadas no diálogo entre o

Estado e a Sociedade (GOHN, 2011)

Nesse contexto, Cruz (2010, p. 207) ressalta que atualmente “amplos

contingentes sociais são atingidos em seus direitos mais básicos, por normas que os

ignoram completamente”. Para o autor, as normas são aprovadas por uma elite que

geralmente opera

[...] nos subsolos do complexo jogo político, ditam normas que tornam absurdos certos pressupostos que o “poder” presume estejam disponíveis para conhecimento público, como o que sustenta que “o Direito se presume conhecido por todos” ou, pior ainda, aquele conforme o qual a Democracia supõe a atribuição a cada pessoa um voto.

Essa ausência de conexão entre as normas e as necessidades da sociedade,

pode ser evitada através de uma democracia participativa, que deve incluir a

sociedade civil, as organizações de base comunitária e as instituições (CARR; PLUIM;

THÉSÉE, 2014, p. 149).

Ojima e Marandola Jr (2012, p.33) ressaltam que “a política da vida cotidiana

deve ser entendida como um elemento fundamental nas transformações sociais

contemporâneas”. Os autores afirmam que “[...] para caminharmos em direção a uma

cidade sustentável, é necessário investir na sua resiliência estrutural, que envolve

tanto os elementos ecológicos quanto econômicos, sociais e políticos”.

Assim, para o enfrentamento dos desastres e a construção de cidades mais

sustentáveis, é necessária uma visão crítica, ampla e hegemônica. Não basta pensar

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a mudança climática como o único agente desencadeador dos desastres, pois

precisam ser levados em consideração outros aspectos como, geográfico, o

povoamento da região, a ocupação desordenada do solo, dentre outros.

2.3 RISCO E RISCO AMBIENTAL

Na discussão acerca da mudança climática e dos desastres ambientais, o risco

exerce papel preponderante pois representa um considerável aspecto da

vulnerabilidade. “O conceito de risco está estreitamente relacionado ao da

vulnerabilidade: uma vez que quanto maior a vulnerabilidade de um grupo de pessoas,

de uma região, ou de um país, maior o risco que o evento ocorra”. (RAMIRES, 2014,

p. 2619)

O risco possui vários conceitos na literatura, os quais, normalmente estão

atrelados à incerteza ou à probabilidade da ocorrência de um evento. Em suma, a

possibilidade de que o evento possa ocorrer, configura-se em um risco (DAGNINO;

CARPI JUNIOR, 2007, p. 52).

Nas nossas sociedades, o conceito de risco é “[...] acompanhado por adjetivos

que o qualificam: ambiental, social, tecnológico, natural, biológico, alimentar, entre

outros”, conforme esclarece Castro (2012, p. 57).

Para Dagnino e Carpi Junior (2007, p. 60), o conceito de risco ambiental

engloba toda as situações que estão em seu entorno, quer seja o ambiente natural,

ou aquele construído pelo ser humano (social e tecnológico). Já Carvalho e Damacena

(2012, p. 87) esclarecem que a noção de risco é histórica, mas na atualidade ganha

uma “[...] nova roupagem, ou seja, deixa de ser individual (como era na época das

grandes descobertas históricas) para ser uma ameaça global”.

Nessa perspectiva, Veyret (2013) destaca que o risco é percebido de diferentes

formas, especialmente no passado, onde estava vinculado à sobrevivência aos

perigos (frio, seca, inundações). Segundo a autora, as catástrofes, as fomes, as

epidemias “[...] eram, então percebidas como signos de danação” (LAGRANGE, 1993,

apud, VEYRET, 2013, p. 13).

A autora explica que nas sociedades modernas, o risco adquire um lugar de

destaque, com diferentes significados para as populações dos países ricos, dos

pobres e daqueles em desenvolvimento, sendo os dois últimos os mais vulneráveis e

sensíveis, por exemplo, às flutuações meteorológicas, as quais, por um lado,

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produzem efeitos sobre a agricultura, a economia, os transportes, mas por outro,

corporificam-se em benefícios, como o que ocorre no setor do turismo.

Alerta, ainda, que na verdade , hoje o risco hoje é onipresente estando em toda

a parte, fazendo prevalecer um sentimento de insegurança, paradoxalmente

alimentado pela próprio progresso da segurança, pelo desenvolvimento das ciências

e de técnicas cada vez mais sofisticadas, que aumentam o risco individual e da

sociedade como um todo, expondo-os a riscos geopolíticos, nucleares (Three Miles

Island, Chernobyl, e Goiânia), dos acidentes tecnológicos (Bophal,– e mais

recentemente, no Brasil, da Samarco -), os quais aumentam o medo, já ampliado pelos

riscos sanitários das endemias e epidemias, dos atentados terroristas, das crises

financeiras e da violência urbana (VEYRET, 2013, p. 13 -14).

Corroborando a descrição desse cenário, de que “O risco tornou-se

onipresente, generalizado e distribuído indiscriminadamente”, Marandola Jr e Hogan

(2006, p. 34) destacam que “[...] a incerteza torna-se um elemento chave para

compreendermos os novos arranjos socioespaciais em várias escalas e a

vulnerabilidade aprece como conceito promissor para operacionalizar a compreensão

dessa situação vivida em toda parte”.

Por outro ângulo, o risco vem diuturnamente ganhando relevância na medida

em que as pessoas tendem a buscar segurança e tranquilidade. Nesse contexto, a

abordagem de “risco” inclui um elemento essencial que é a presença do ser humano,

fato que o define como um objeto social.

Novamente, Veyret (2013, p. 11) apresenta a perspectiva para esse ângulo

mais subjetivo:

O risco, objeto social, define-se como a percepção do perigo, da catástrofe possível. Ele existe apenas em relação a um indivíduo e a um grupo social ou profissional, uma comunidade, uma sociedade que o apreende por meio de representações mentais e com ele convive por meio de práticas específicas. Não há risco sem uma população ou indivíduo que o perceba e que poderia sofrer seus efeitos. Correm-se riscos, que são assumidos, recusados, estimados, avaliados, calculados. O risco é a tradução de uma ameaça, de um perigo para aquele que está sujeito a ele e o percebe como tal.

Segundo a autora, trata-se de uma abordagem global que se alimenta dos

aportes teóricos de diferentes áreas, tanto das ciências “duras” (Geologia,

Meteorologia, Química e Física), quanto da Sociologia, do Direito e da Economia. Para

ela, a Geografia, por exemplo, trata da problemática do risco relacionada às questões

socioambientais, particularmente das relações natureza/sociedade. Assim, podemos

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considerar várias abordagens: a dos riscos ambientais, geradores de perigos à

sociedade; os riscos industriais e a gestão de riscos. Assim, “A gestão dos riscos,

sejam eles ambientais, industriais, econômicos (na verdade, sociais), traduz as

escolhas políticas e as decisões finais de organização dos territórios (op. cit, p. 12).

Dagnino e Carpi Junior (2007, p. 51) corroboram que o risco sempre será um

objeto social, na medida em que os seres humanos podem ser atingidos

independentemente de suas ações diretas, como por exemplo, quando ocorre a

poluição de um rio à montante, que causa prejuízos aos pescadores à juzante.

Como se procurou demonstrar, os riscos assumiram uma nova conotação no

processo de modernização das sociedades, e segundo Ramires (2014), hoje a Ciência

e Tecnologia não estão sendo capazes de adotar soluções concretas e exequíveis,

no prazo que se faz necessário, para enfrentar os problemas socioambientais criados

ao longo da história humana. Para ela:

Os desastres ecológicos, terrorismo internacional, e sem dúvidas, as mudanças climáticas representam riscos para o planeta; mas a sociedade contemporânea já se reconhecer como causadora dessas ameaças e inicia um processo de autorreflexão sobre suas responsabilidades no processo. ZANIRATO et al., 2008, apud RAMIRES, 2014, p. 2617)

Contudo, mesmo com esse processo de autorreflexão, de aumento da

consciência crítica sobre os riscos, Marandola e Hogan (2006) alertam que na

literatura sobre desastres, esses “acidentes” têm uma conotação diferenciada dos

estudos sobre os perigos ambientais. Para os autores:

Embora o componente de incerteza esteja presente, pois nunca podemos prever com exatidão quando, onde e com que intensidade ocorrerá determinado evento, estes fenômenos não são exatamente excepcionalidades, pois possuem periodicidade cíclica. (op. cit., p. 35)

Ainda, remetendo-nos ao clássico Sociedade de Risco de Ulrich Beck, o autor

nos alerta que: “Deslocou-se a ideia de perigo e do risco de eventos excepcionais,

revestidos de uma roupagem caótica e casual (uso de ‘azar’ – outra tradução

encontrada na literatura para hazard - denota este entendimento) para a própria

estrutura social” (op. cit, 2010, p. 35).

Em outro campo, a “[...] vulnerabilidade como incapacidade de enfrentar os

riscos, ou como impossibilidade de manejar ativos para proteger-se” (CEPAL, 2002),

também vem sendo trabalhada nos estudos demográficos da Comisión Económica

para América Latina y el Caribe (Cepal).

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No que diz respeito, ainda, aos conceitos apresentados neste capítulo,

Marandola e Hogan (2006) contribuem para avançar em nossa conceituação sobre as

diferentes abordagens de risco e vulnerabilidade, que são os conceitos de “adaptação”

e “resiliência”.

Segundo eles, a respeito desses conceito, existe o diálogo, mas não

necessariamente convergência entre a comunidade científica a respeito desses

conceitos.

Enquanto resiliência, emprestada da física (na qual significa a capacidade de um corpo que sofre um impacto de retornar a sua forma original) e, mais recentemente, da ecologia (na qual significa a capacidade de um ecossistema de se recuperar de perturbações, retornando a sua configuração original), implica equilíbrio e manutenção do status quo, a adaptação enfatiza a capacidade de transformação daquilo (indivíduo, família, comunidade) que sofre impacto. São duas formas de resposta a perturbações. Vulnerabilidade, segundo os autores, é uma característica da sociedade pós-moderna e dirige nossa atenção não ao resultado da perturbação, mas as condições que limitam a capacidade de resposta. (op. cit., p. 40)

Podemos observar essa falta de convergência entre esses conceitos no próprio

Plano Nacional sobre Mudança do Clima – PNMC, onde os mesmos são assim

apresentados:

A adaptação pode ser definida como uma série de respostas aos impactos atuais e potenciais da mudança do clima, com objetivo de minimizar possíveis danos e aproveitar as oportunidades. A capacidade de adaptação de um sistema depende basicamente de duas variáveis: a vulnerabilidade, que é reflexo do grau de suscetibilidade do sistema para lidar com os efeitos adversos da mudança do clima, e da resiliência, ou seja, da habilidade do sistema em absorver impactos preservando a mesma estrutura básica e os mesmos meios de funcionamento. Em outras palavras, quanto menores forem as vulnerabilidades de um sistema e maior for a sua capacidade de auto-organização (resiliência), melhores serão as condições de adaptação desse sistema aos efeitos da mudança do clima. As ações de adaptação – ao contrário da mitigação, que tem seus resultados refletidos em níveis globais – são percebidas, normalmente, no local onde acontecem, o que acaba conferindo à adaptação um elevado grau de especificidade, dificultando que ações de adaptação tomadas em determinado local sejam fielmente replicadas em outras regiões do globo que possuem características sócio-econômicas e ambientais distintas. O alvo de medidas de adaptação varia de acordo com o método adotado e pode se referir a um país inteiro, a um estado, município, região, bacia hidrográfica. A escolha dessas medidas vai depender dos impactos percebidos, das vulnerabilidades (sócio-econômicas e climáticas) e das práticas (de adaptação) já adotadas. (BRASIL, 2008, p. 87- 88)

Concordo com os autores Marandola e Hogan (2006), no sentido de que, em

ambos os casos, é necessário articular os conhecimentos e buscar conceitos mais

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completos que incorporem problemáticas e dimensões provenientes do maior número

possível de campos do saber.

Concluindo a apresentação conceitual desse capítulo, infere-se, sem sombra

de dúvida, que os desastres e os riscos gerados com a MC afetam a toda a sociedade,

mas são entendidos e sentidos de maneira diferenciada, de acordo com o grau de

vulnerabilidade de cada indivíduo e das sociedades. Por isso, torna-se relevante o

estudo das possíveis respostas a essa problemática, as quais podem ser desveladas

pelo estudo da evolução da legislação a esse respeito, conforme será abordado no

capítulo seguinte.

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3 POLÍTICAS PÚBLICAS DE MEIO AMBIENTE NO CENÁRIO BRASILEIRO

Nesse capítulo, pretendemos desenvolver uma breve revisão da legislação

ambiental no Brasil.

3.1 MEIO AMBIENTE: CONCEITO OU REPRESENTAÇÃO SOCIAL?

Terminologicamente, maior parte da doutrina considera redundante o emprego

do termo “meio ambiente”, conforme explica Figueiredo (2013, p. 65):

De fato, os termos meio e ambiente têm essencialmente o mesmo significado, qual seja, daquilo que nos cerca. A expressão meio ambiente, todavia, acha-se hoje consagrada e isto tem a sua razão de ser. Em nosso idioma, tanto o termo meio como o termo ambiente, quando utilizados isoladamente, não possuem a mesma identidade semântica, razão pela qual os termos forma conjugados para trazer à tona a ideia que buscamos.

Frequentemente, o conceito de meio ambiente é atrelado à sua dimensão

naturalista, ou seja, o meio ambiente como sinônimo de natureza, de um fenômeno

biológico, independente, e que parte da premissa da existência de um mundo natural

em oposição ao mundo humano (CARVALHO, 2012, p. 37-38).

Atualmente, o conceito vem sendo compreendido de maneira mais integrada,

considerando a sustentabilidade e uma visão socioambiental, abrangendo para além

das questões ecológicas também as questões éticas, sociais, econômicas e

considerando que tudo está vinculado (FREITAS, 2012, p. 71). É nesse contexto que

a Constituição Federal (CF) de 1988 dispôs acerca do meio ambiente:

Art. 225 - Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

Além de ampliar o conceito de “meio ambiente”, a CF também impôs, ao Estado

e à sociedade a responsabilidade pela sua defesa e preservação. A eficácia das

políticas públicas ambientais deve-se à integração entre Estado e sociedade, que

deverá participar de forma efetiva, buscando uma cidadania participativa, conforme

explicam Wolkmer e Paulitsch (2013).

O conceito legal de meio ambiente também pode ser encontrado no art. 3º,

inciso I da Lei 6.938 de 31 de agosto de 1981 que dispõe sobre a Política Nacional do

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Meio Ambiente (PNMA): “Art. 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por: I -

meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física,

química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”.

Por meio da leitura do conceito legal, denota-se que o meio ambiente não pode

ser visto como um espaço estático, mas, sim, influenciado por uma série de fatores

dinâmicos, tais como condições, leis influências e interações (FIGUEIREDO, 2013, p.

63). Por certo que o disposto na Lei 6.938/81, acima citada, apesar de suficientemente

corporificado, ainda se mostra incompleta e não alcança todas as dimensões do meio

ambiente.

Didaticamente, Figueiredo (2013, p. 68) assim subdivide o meio ambiente:

Figura 6: Subdivisões do meio ambiente.

Fonte: Adaptado de Figueiredo (2013. P. 68).

Todas as dimensões devem ser observadas e levadas em consideração

quando tratamos de Meio Ambiente. Não basta um olhar apenas para o aspecto

naturalista ou natural, mas, sim, devem-se compreender todos os aspectos e,

principalmente, considerar que o ser humano faz parte do meio ambiente, sendo um

componente fundamental e integrador, que não pode ser visto como elemento

estanque e dissociado do conjunto.

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3.2 A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA SOBRE MEIO AMBIENTE

A legislação brasileira sobre meio ambiente é pautada em diversas fontes,

dentre as quais a Constituição Federal, normas infraconstitucionais, tratados

internacionais, normas e resoluções administrativas, dentre outras (SIRVINSKAS,

2014, p. 104)

Nesse contexto, o Brasil buscou se adequar às novas exigências da

sustentabilidade ambiental existentes em diversos países, pois a degradação

irracional do meio ambiente é uma questão crucial que deve ser levada em

consideração quando se fala em legislação ambiental, conforme explica Amado (2014,

p.1):

Na medida em que cresce a degradação irracional ao meio ambiente, em especial o natural, afetando negativamente a qualidade de vida das pessoas e colocando em risco as futuras gerações, torna-se curial a maior eficaz tutela dos recursos ambientais pelo poder Público e por toda a coletividade. Nesse sentido, em especial a partir dos anos 60 do século passado, os países começaram a editar normas jurídicas mais rígidas para a proteção do meio ambiente. No Brasil, pode-se citar, por exemplo, a promulgação do antigo Código Florestal, editado pela Lei 4.771/1965, assim como a Lei 6.938/1981, que aprovou a Política Nacional do Meio Ambiente.

O Brasil ocupa uma posição de vanguarda nas das questões ambientais,

notadamente pela inquietação de inúmeros juristas e ambientalistas preocupados com

a degradação ambiental, que colocam em risco a saúde ou até mesmo a vida de um

povo (SIRVINSKAS, 2014, p. 64).

Aliás, ao abordar a expressão meio ambiente, o legislador utilizou-a da maneira

mais ampla possível. No contexto legislativo, o meio ambiente inclui a esfera cultural,

natural e até mesmo a artificial e a do trabalho (AMADO, 2014, p. 14).

Na lição de Sirvinkas (2009, p. 40), o meio ambiente pode ser classificado da

seguinte maneira:

a) meio ambiente natural – integra atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a fauna, a flora, o patrimônio genético e a zona costeira (art. 225 da CF); b) meio ambiente cultural – integra os bens de natureza material e imaterial, os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, palentontológico, ecológico e científico (arts. 215 e 216 da CF); c) meio ambiente artificial – integra os equipamentos urbanos, os edifícios comunitários (arquivo, registro, biblioteca, pinacoteca, museu e instalação científica ou similar) (arts. 21, XX, 182 e s. e 225 da CF); d) meio ambiente do trabalho – integra a proteção do homem em seu local de trabalho, com observância às normas de segurança (arts. 200, VII e VIII, e 7º, XXII, ambos da CF).

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Assim, considerando o conceito mais amplo aplicado ao meio ambiente, a

legislação brasileira que trata sobre o assunto é composta de diversas leis,

resoluções, decretos, como exemplificativamente, pelo Plano Nacional de Cultura (Lei

12.343/2010), a Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938/1981); a Lei de

Proteção à Fauna (Lei 5.197/1967), a Lei de Crimes e Infrações Ambientais (Lei

9.605/1998), a Lei de Biossegurança (Lei 11.105/2005) e o Estatuto da Cidade (Lei

10.257/2001), além de inúmeras normas editas pelo Conselho Nacional do Meio

Ambiente (CONAMA) e pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA).

3.3 O MEIO AMBIENTE E SUA TUTELA ATRAVÉS DA LEGISLAÇÃO NO BRASIL

Desde a evolução da espécie humana no planeta, e sua apropriação sobre o

ambiente natural para garantir a sobrevivência, houve a necessidade de regras de

conduta, haja vista que o contato com os demais semelhantes, causa conflitos. Tais

regras norteiam a vida das pessoas e são encontradas, principalmente, na legislação

(leis).

Como já foi acima citado, a legislação ambiental brasileira é composta por

várias normas esparsas, não existindo propriamente uma codificação ou código

específico em Direito Ambiental. Assim, é importante conhecer algumas das mais

importantes normas vigentes na área ambiental.

Para Amado (2014, p. 20), os principais diplomas legais são:

“3.2 MEIO AMBIENTE CULTURAL • Artigos 215, 216 e 216-A da Constituição Federal de 1988; • Lei 12.343/2010 (Plano Nacional de Cultura) • Decreto-lei 25/1937 (Lei Geral do Tombamento) • Decreto 3.551/2000 (Registro de bens Imateriais) 3.3 MEIO AMBIENTE NATURAL • Artigo 225 da Constituição Federal de 1988 • Lei Complementar 140/2011 (regula as competências ambientais comuns entre as entidades políticas); • Lei 6.938/1981 (Política Nacional do Meio Ambiente) • Lei 5.197/1967 (Proteção à Fauna) • Lei 9.433/1997 (Política Nacional de Recursos Hídricos) • Lei 9.605/1998 (Crimes e Infrações Ambientais) • Lei 9.985/2000 (Sistema Nacional das Unidades de Conservação) • MP 2.186-16/2001 (Regulamenta a Convenção da Diversidade Biológica e dispõe sobre o conhecimento tradicional associado ao patrimônio genético) • Lei 11.105/2005 (Biossegurança) • Lei 11.284/2006 (Gestão de Florestas Públicas) • Lei 11.428/2006 (Bioma Mata Atlântica)

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• Lei 11.959/2009 (Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável da Aquicultura e da Pesca) • Lei 12.187/2009 (Política Nacional de Mudança do Clima) • Lei 12.305/2010 (Política Nacional de Resíduos Sólidos) • Lei 12.651/2012 (Novo Código Florestal) alterada pela Lei 12.727/2012 • Resolução 237/1997 – CONAMA (Licenciamento Ambiental) • Resolução 01/1986 – CONAMA (EIA-RIMA) • Resolução 09/1987 – CONAMA (audiência pública em EIA-RIMA) 3.4 MEIO AMBIENTE ARTIFICIAL • Artigo 182 da Constituição Federal de 1988 • Lei 10.257/2001 (Estatuto da Cidade).

Entretanto, também é importante destacar que a CF é a lei máxima do nosso

país e dedicou vários dispositivos ao meio ambiente, seja de maneira fragmentada,

seja através de um capítulo específico. Mais ainda, a defesa do meio ambiente foi

elevada à categoria de princípio constitucional, trazendo à lume, não somente a

questão do ponto de vista econômico, como também, uma garantia constitucional, um

direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado (FIGUEIREDO,

2013, p. 81).

Nesse aspecto, a CF merece destaque pela preocupação em inserir o meio

ambiente como princípio constitucional e direito fundamental. Essa nova ordem

jurídica determina “o desenvolvimento continuado e durável, socialmente redutor de

iniquidades, voltado para presentes e futuras gerações, sem endossar o crescimento

econômico irracional, aético, cruel e mefistofélico” (FREITAS, 2012, p. 112).

Talvez o maior avanço da CF esteja no art. 225 que define de maneira direta,

os direitos e os deveres da coletividade e do poder público. Sobre o núcleo

constitucional da proteção ambiental que se encontra no mencionado art. 225 acima

citado, Figueiredo (2013, p. 82-95) aponta alguns tópicos para discussão, conforme o

quadro a seguir:

Quadro 1: Tópicos acerca do núcleo constitucional da proteção ambiental.

Direito de todos

Bem de uso comum do povo

Dever do Poder Público e da Coletividade

Manejo ecológico

Patrimônio genético

Espaços protegidos

Estudo de impacto ambiental Controle de técnicas, métodos e

substâncias

Educação ambiental Proteção da fauna e da flora

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Responsabilidade por danos ambientais Competência na área ambiental

Competência material ou administrativa

Competência legislativa

Bens ambientais públicos

Garantias constitucionais de proteção do meio ambiente em juízo

Ordem econômica e meio ambiente

Política agrária e meio ambiente

Saúde e meio ambiente Meio ambiente cultural

Meio ambiente urbano Meio ambiente do trabalho

Comunicação social e mio ambiente

Fonte: Elaborado pela autora a partir de Figueiredo (2013).

Pela simples leitura dos tópicos, percebe-se a importância e abrangência que

o legislador constituinte pretendeu atribuir proteção ao meio ambiente.

3.4 A POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE

A PNMA, criada através da Lei 6.938/1981 e regulamentada pelo Decreto

99.274/1990, representa um importante instrumento legislativo na medida em que traz

conceitos importantes, tais como, meio ambiente, poluição, poluidor, recursos

ambientais e degradação da qualidade ambiental (FIGUEIREDO, 2013, p. 63).

A importância da Lei 6.938/81 está centrada na aplicação uniforme das políticas

públicas sobre o meio ambiente a todos os entes federativos. Antes da Lei 6.938/81,

cada ente federado possuía autonomia para editar normas e escolher as diretrizes

relacionadas ao meio ambiente, não havendo unicidade de princípios e de critérios a

serem adotados. Considerando que as políticas públicas precisam respaldar as

inquietudes da sociedade, a existência de muitos diplomas legais versando sobre o

assunto, causava insegurança jurídica, motivo pelo qual o Brasil procurou articular a

defesa do meio ambiente em um mesmo diploma legal (ANTUNES, 2013, p. 55).

Para Amado (2014, p. 105-106), a Lei 6.938/1981 criou o Sistema Nacional de

Meio Ambiente – Sisnama, é constituído por órgãos e entidades da União, dos

Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios, bem como das

Fundações instituídas pelo Poder Público, responsáveis pela proteção e pela melhoria

da qualidade ambiental e possui a seguinte estrutura:

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Figura 7: Estrutura do Sisnama

Fonte: Elaborada pela autora

A Lei 6.938/81, bem como os diplomas legais citados alhures, demonstram a

necessidade de adequação da realidade brasileira, ora calcada em processos

produtivos destrutivos do meio ambiente, às mudanças ambientais. A sociedade

contemporânea busca o crescimento econômico, gerando uma tendência ao

excessivo consumo, o que vem causando danos ao meio ambiente.

A gravidade dos danos ambientais encontra-se em estágio avançado, sendo

necessária a adoção de mecanismos de controle para preservar e manter o ambiente

ecologicamente equilibrado. Nesse contexto, a legislação não pode ser vista como

uma barreira para o desenvolvimento, mas sim, um mecanismo de planejamento para

o Poder Público (BELTRÃO, 2014, p.39).

3.5 O PRINCÍPIO DA SUSTENTABILIDADE NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA

A CF de 1988 trouxe importantes modificações ao sistema jurídico brasileiro,

principalmente ao considerar a defesa do meio ambiente como um princípio

constitucional, uma garantia constitucional, um direito fundamental ao meio ambiente

ecologicamente equilibrado (FIGUEIREDO, 2013, p. 81).

Órgãos locais: órgãos municipais voltados à proteção do meio ambiente

Órgãos seccionais: órgãos estaduais voltados à proteção do meio ambiente

Órgãos setoriais: órgãos da Administração Pública Federal voltados à proteção ambiental

Órgão executor: Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis – IBAMA

Órgão central: Ministério do Meio Ambiente – MMA

Órgão consultivo e deliberativo: CONAMA

Órgão superior: Conselho de Governo

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Atualmente, a CF dedica vários dispositivos legais ao meio ambiente, sendo

que o artigo 225, representa o ponto central das regras norteadoras do meio ambiente

no âmbito constitucional, ressalvando que, tanto o Estado, quanto a sociedade,

possuem a responsabilidade de preservar o meio ambiente para as futuras gerações

(SIRVINSKAS, 2014, p. 153).

Outro ponto que merece destaque encontra-se no artigo 170 da CF, que trata

da ordem econômica:

Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: I - soberania nacional; II - propriedade privada; III - função social da propriedade; IV - livre concorrência; V - defesa do consumidor; VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação; VII - redução das desigualdades regionais e sociais; VIII - busca do pleno emprego; IX - tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no País.

Denota-se que o princípio da defesa do meio ambiente, bem como da livre

concorrência e da iniciativa privada, estão no mesmo patamar, não há prevalência de

um sobre os outros. Assim, todas as atividades de ordem econômica deverão estar

adequadas as normas ambientais voltadas à defesa do meio ambiente (SIRVINSKAS,

2014, p. 175).

Aliás, a força dos princípios é bastante evidente na atual CF, pois, se

configuram como verdadeiras normas, deixando de ter caráter meramente supletivo

ou secundário. Conforme nos ensina Beltrão (2014, p. 15):

A função dos princípios de Direito evoluiu bastante, não se limitando mais a ser uma fonte secundária, como normas subsidiárias, mera técnica para ser utilizada na colmatação de lacunas das normas jurídicas, originária do Direito Civil. Os princípios foram publicizados, elevado ao status constitucional, passando a representar, no texto da Constituição Federal, as premissas de todo o ordenamento jurídico.

Nesse sentido, Antunes (2013, p. 18) destaca que os princípios jurídicos

possuem força normativa, vez que eles dão base de sustentação às regras jurídicas

positivadas.

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Importante destacar que após a promulgação da CF de 1988, a inserção dos

princípios no ordenamento jurídico ganhou especial relevância, na medida em que

representam a conquista formal dos objetivos sociais. Com efeito, Gohn (2004, p. 22),

destaca que na década de 80, as lutas pela redemocratização e pelas melhorais da

qualidade de vida urbana, representaram a consagração da cidadania coletiva.

Assim, a inclusão dos princípios ambientais na CF significou a consagração

dos anseios sociais e a inequívoca conscientização da crise ambiental, representada

pelo esgotamento dos recursos naturais. Em outras palavras, a crise ambiental fez

surgir as novas atribuições do Estado e a inclusão dos princípios a ela pertinentes

(SARAIVA NETO, 2010, p. 26-28).

Dentre os princípios constitucionais ambientais, o mais importante alicerce do

Estado Democrático de Direito é o princípio da sustentabilidade, o qual pode ser

compreendido como uma ponderação entre o desenvolvimento econômico e a

preservação do meio ambiente (ANTUNES, 2013, p. 61).

A noção de sustentabilidade não é um delírio, e tampouco precisa ser

contraditória ao crescimento econômico, conforme explica Freitas (2012, p. 41):

Nessa perspectiva, eis o conceito proposto para o princípio da sustentabilidade: trata-se do princípio constitucional que determina, com eficácia direta e imediata, a responsabilidade do Estado e da sociedade pela concretização solidaria do desenvolvimento material e imaterial, socialmente inclusivo, durável e equânime, ambientalmente limpo, inovador, ético e eficiente, no intuito de assegurar, preferencialmente de modo preventivo e precavido, no presente e no futuro, o direito ao bem-estar.

Nesse mesmo sentido, Sirvinskas (2014, p. 133), afirma que a sustentabilidade

visa conciliar as necessidades sociais e econômicas com a preservação ambiental.

Por outro lado, Freitas (2012, p. 177) afirma que existem muitos vícios políticos

que impedem a concretização do princípio da sustentabilidade:

Medidas invisíveis de prevenção (por exemplo, de saneamento ambiental) não são implementadas, às vezes, por motivos subalternos e inconfessáveis. A política viciada alia-se à irracionalidade e faz preponderar concepções absolutamente autoritárias. Não suporta a liberdade de expressão. Tenta subjugá-la. O jogo da cooperação e do interesse comum é visto com desdém reacionário. Preocupações estritamente familiares ou de cumplicidade são a tônica dos políticos viciados. O outro, no gera das vezes, é visto como potencial inimigo. O realismo maquiavélico toma conta de tudo.

Certamente que os vícios políticos devem ser superados, pois resta bastante

claro que a sustentabilidade não pretende impedir o desenvolvimento econômico, mas

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apenas impor limites em virtude da escassez dos recursos naturais dos serviços

ecossistêmicos existentes para o suporte de vida no planeta, os quais se encontram

ameaçados conforme apontado no capítulo anterior.

3.6 A POLÍTICA NACIONAL DE MUDANÇA CLIMÁTICA

A elaboração de políticas públicas e recursos voltadas ao tema MC somente

ocorreu em 2008, com a promulgação do Plano Nacional de Mudança Climática –

Decreto 6.263 de 21/11/2007, conforme explicam Viola e Franchini (2013, p.52)

Posteriormente, o Decreto 6.263/2007 foi suplantado pela Lei 12.187 de 29 de

dezembro de 2009, que instituiu a Política Nacional sobre Mudança do Clima e, sobre

o surgimento desse novo diploma infraconstitucional. Figueiredo (2013, p. 571)

discorre sobre o assunto:

A edição da Lei 12.187, em 29 de dezembro de 2009, pouco significou para a evolução do Direito Ambiental Brasileiro. Sua leitura transmite a sensação de que foi quase nula a vontade política de se tomar qualquer medida visando à redução das emissões de gases de efeito estufa em nosso país.

Em sentido oposto, Carvalho e Damacena (2012, p.86) trazem uma visão mais

otimista acerca da nova legislação:

A Política Nacional de Mudanças Climáticas, positivada pela Lei 12.187/2009, demonstra a sensibilização legislativa brasileira a uma preocupação mundial e, também, a assunção de metas e compromissos objetivando sua mitigação. Para alcançar os objetivos da PNMC, o País adotou como compromisso nacional voluntário ações de mitigação das emissões de gases de efeito estufa, com vistas a reduzir entre 36,1% (trinta e seis inteiros e um décimo por cento) e 38,9% (trinta e oito inteiros e nove décimos por cento) suas emissões projetadas até 20120. A projeção das emissões para 2020 assim como o detalhamento das ações para alcançar os objetivos expressos estão previstos no Decreto nº 7.390 de 2010

Polêmicas à parte, a MC é um dos principais problemas ambientais globais,

sendo uma realidade a ser enfrentada pelos países do mundo inteiro, notadamente

porque a ocorrência de desastres ambientais e dos riscos associados a eles é cada

vez mais frequente, podendo vir a comprometer o equilíbrio dos ecossistemas

(SEIFFERT, 2011, p.99).

Nesse contexto, a implantação de uma PNMC, bem como sua regulamentação,

implicará numa atenção especial dos atores sociais, quais sejam: Estado e sociedade,

aos problemas ambientais decorrentes da MC (AMADO, 2014, p. 817).

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Interessante observar que a Lei 12.187/2009, logo em seu art. 2º, faz uma

conceituação dos principais tópicos tratados na lei, o que normalmente não se observa

na maior parte da legislação brasileira:

Art 2o Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por: I - adaptação: iniciativas e medidas para reduzir a vulnerabilidade dos sistemas naturais e humanos frente aos efeitos atuais e esperados da mudança do clima; II - efeitos adversos da mudança do clima: mudanças no meio físico ou biota resultantes da mudança do clima que tenham efeitos deletérios significativos sobre a composição, resiliência ou produtividade de ecossistemas naturais e manejados, sobre o funcionamento de sistemas socioeconômicos ou sobre a saúde e o bem-estar humanos; III - emissões: liberação de gases de efeito estufa ou seus precursores na atmosfera numa área específica e num período determinado; IV - fonte: processo ou atividade que libere na atmosfera gás de efeito estufa, aerossol ou precursor de gás de efeito estufa; V - gases de efeito estufa: constituintes gasosos, naturais ou antrópicos, que, na atmosfera, absorvem e reemitem radiação infravermelha; VI - impacto: os efeitos da mudança do clima nos sistemas humanos e naturais; VII - mitigação: mudanças e substituições tecnológicas que reduzam o uso de recursos e as emissões por unidade de produção, bem como a implementação de medidas que reduzam as emissões de gases de efeito estufa e aumentem os sumidouros; VIII - mudança do clima: mudança de clima que possa ser direta ou indiretamente atribuída à atividade humana que altere a composição da atmosfera mundial e que se some àquela provocada pela variabilidade climática natural observada ao longo de períodos comparáveis; IX - sumidouro: processo, atividade ou mecanismo que remova da atmosfera gás de efeito estufa, aerossol ou precursor de gás de efeito estufa; e X - vulnerabilidade: grau de suscetibilidade e incapacidade de um sistema, em função de sua sensibilidade, capacidade de adaptação, e do caráter, magnitude e taxa de mudança e variação do clima a que está exposto, de lidar com os efeitos adversos da mudança do clima, entre os quais a variabilidade climática e os eventos extremos.

Por outro lado, a lei acima citada, apresenta no art. 4º os objetivos a serem

seguidos para que a PNMC se concretize:

Art. 4o A Política Nacional sobre Mudança do Clima - PNMC visará: I - à compatibilização do desenvolvimento econômico-social com a proteção do sistema climático; II - à redução das emissões antrópicas de gases de efeito estufa em relação às suas diferentes fontes; III – (VETADO); IV - ao fortalecimento das remoções antrópicas por sumidouros de gases de efeito estufa no território nacional; V - à implementação de medidas para promover a adaptação à mudança do clima pelas 3 (três) esferas da Federação, com a participação e a colaboração dos agentes econômicos e sociais interessados ou beneficiários, em particular aqueles especialmente vulneráveis aos seus efeitos adversos; VI - à preservação, à conservação e à recuperação dos recursos ambientais, com particular atenção aos grandes biomas naturais tidos como Patrimônio Nacional;

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VII - à consolidação e à expansão das áreas legalmente protegidas e ao incentivo aos reflorestamentos e à recomposição da cobertura vegetal em áreas degradadas; VIII - ao estímulo ao desenvolvimento do Mercado Brasileiro de Redução de Emissões - MBRE. Parágrafo único. Os objetivos da Política Nacional sobre Mudança do Clima deverão estar em consonância com o desenvolvimento sustentável a fim de buscar o crescimento econômico, a erradicação da pobreza e a redução das desigualdades sociais.

Analisando-se os objetivos antes elencados, percebe-se claramente que há um

comprometimento com a tomada de medidas para concretizar a política sobre

mudança climática, entretanto, não há como deixar de observar que o parágrafo único

remete ao desenvolvimento sustentável (BELTRÃO, 2014, p. 499-500).

De qualquer sorte, para alcançar os objetivos previstos no art. 4º, o art. 12 da

Lei em questão, assim prescreve:

Art. 12. Para alcançar os objetivos da PNMC, o País adotará, como compromisso nacional voluntário, ações de mitigação das emissões de gases de efeito estufa, com vistas em reduzir entre 36,1% (trinta e seis inteiros e um décimo por cento) e 38,9% (trinta e oito inteiros e nove décimos por cento) suas emissões projetadas até 2020.

Nesse contexto, e visando colocar em prática as metas previstas na PNMC, foi

promulgado o Decreto 7.390 de 2010, o qual, especialmente em seu art. 3º, prevê um

conjunto de ações a serem observadas:

Art. 3o - Para efeito da presente regulamentação, são considerados os seguintes planos de ação para a prevenção e controle do desmatamento nos biomas e planos setoriais de mitigação e de adaptação às mudanças climáticas: I - Plano de Ação para a Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal - PPCDAm; II - Plano de Ação para a Prevenção e Controle do Desmatamento e das Queimadas no Cerrado - PPCerrado; III - Plano Decenal de Expansão de Energia - PDE; IV - Plano para a Consolidação de uma Economia de Baixa Emissão de Carbono na Agricultura; e V - Plano de Redução de Emissões da Siderurgia.

Entretanto, é importante notar que o impulso inicial trazido pela PNMC não

permaneceu, conforme explicam Viola e Franchini (2013, p. 71):

Passados dois anos da administração Dilma e três anos da sanção da lei do clima, os avanços no desenho e implementação dos planos setoriais de energia, transportes, indústria e agricultura são nulos para todo efeito prático. Apenas os planos da Amazônia e do Cerrado estão em funcionamento pleno, mas eles já estavam nessa situação antes de serem incorporados à PNMC. Paralelamente, faz tempo que o argumento ambiental/climático abandonou o

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discurso de desenvolvimento das autoridades nacionais, acompanhado por um significativo ocaso do MMA como vetor de políticas convergentes com a sustentabilidade. No âmbito do Congresso, é importante destacar o caráter errático do comportamento dos legisladores – especialmente na Câmara dos Deputados – em relação ao tópico. O movimento levou a uma drástica mudança entre fins de 2009 (aprovação da lei do clima) e meados de 2012 (aprovação da reforma do Código Florestal).

Desse modo, conforme anteriormente explicitado, percebe-se que neste

contexto de crise, a EA surge como uma política pública essencial para a construção

de soluções para os problemas socioambientais e como enunciadora de uma

sociedade transformadora. Para tanto, buscando fortalecer e dar legitimidade à EA no

país, foi promulgada a Lei 9.795/99, regulamentada em 2002, com a criação do órgão

Gestor da Política Nacional de EA, coordenado pelos ministérios da Educação, por

meio da Coordenação Geral de EA (CGEA), e pela Diretoria de Educação Ambiental

(DEA), de por parte do Ministério do Meio Ambiente, Abastecimento e Agricultura.

3.7 A POLÍTICA DE DEFESA CIVIL

A promulgação da Lei 12.608 de 10 de abril de 2012, instituiu a Política Nacional

de Proteção e Defesa Civil – PNPDEC que dispõe sobre o Sistema Nacional de

Proteção e Defesa Civil - SINPDEC e o Conselho Nacional de Proteção e Defesa Civil

– CONPDEC; autoriza a criação de sistema de informações e monitoramento de

desastres. Além disto, a referida Lei alterou as Leis nos 12.340, de 1o de dezembro de

2010, 10.257, de 10 de julho de 2001, 6.766, de 19 de dezembro de 1979, 8.239, de

4 de outubro de 1991, e 9.394, de 20 de dezembro de 1996 e deu outras providências.

Entretanto, Carvalho (2015, p. 44) explica que a legislação não é explícita quanto

à adoção destas medidas não estruturais, mas basta uma simples leitura da lei para

notar que, existe menção a medidas estruturais em poucos dispositivos legais (art. 3-

A, parágrafo segundo, III, da Lei 12.340/10, com redação dada pelo art. 22 da Lei n.

12.608).

Por outro lado, Oliveira (2015, p. 221) destaca que essa legislação representa

um marco “[...] no sentido educacional, pois estabelece que os currículos do ensino

fundamental e médio devem incluir os princípios de proteção e defesa civil aos

conteúdos obrigatórios”.

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Desta forma, percebe-se que a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil

atende ao anseio da sociedade como um todo, haja vista que privilegia as medidas

não estruturais, as quais são eficientes mecanismos na redução do risco de desastres.

3.8 AS DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS PARA EDUCAÇÃO AMBIENTAL (DCNEA)

A Resolução nº 2, de 15 de junho de 2012, que estabeleceu as Diretrizes

Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental – DCNEA (BRASIL, 2012), foi

publicada pelo Conselho Nacional de Educação _CNE, “dando continuidade ao

movimento de institucionalização da educação ambiental no país iniciado nos anos

1990 com a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA)” (TEIXEIRA E

TORALES, 2014, p. 128).

Conforme se observa da leitura do Capítulo I da mencionada Resolução, alguns

princípios devem ser observados:

I - totalidade como categoria de análise fundamental em formação, análises, estudos e produção de conhecimento sobre o meio ambiente; II - interdependência entre o meio natural, o socioeconômico e o cultural, sob o enfoque humanista, democrático e participativo; III - pluralismo de ideias e concepções pedagógicas; IV - vinculação entre ética, educação, trabalho e práticas sociais na garantia de continuidade dos estudos e da qualidade social da educação; V - articulação na abordagem de uma perspectiva crítica e transformadora dos desafios ambientais a serem enfrentados pelas atuais e futuras gerações, nas dimensões locais, regionais, nacionais e globais; VI - respeito à pluralidade e à diversidade, seja individual, seja coletiva, étnica, racial, social e cultural, disseminando os direitos de existência e permanência e o valor da multiculturalidade e plurietnicidade do país e do desenvolvimento da cidadania planetária.

Esses princípios e fundamentos são a garantia de que EA exerça um papel de

suma importância no contexto das discussões sobre MC, vulnerabilidade e risco.

Lima (2013, p.105) destaca o papel da EA, nos alertando:

Qual a educação necessária nesse contexto? Parece-me óbvio que, diante do que estamos vivenciando coletivamente hoje, para preservar e restaurar a qualidade e a dignidade da vida e das relações sociais precisa-se de mudança social e individual, de crítica do vivido, de deslocar a política e a ética para o centro do debate. Do ponto de vista educacional significa que, mais que nunca, dependemos de respostas e de pedagogias complexas, transformadoras e, sobretudo, orientadas por uma ética de responsabilidade e de solidariedade com a vida em sentido amplo e com sua plena realização. Cabe à educação a reflexão sobre relações sociais e os valores que as têm

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norteado, sobre as relações entre os indivíduos e seu contexto social e sobre as relações entre a sociedade e o ambiente.

Concordamos com Lima (2013), sobre esse duplo desafio de toda a sociedade,

no enfrentamento dos riscos ambientais provenientes do cenário presente e futuro em

relação à MC, para a preservação da vida e da diversidade biológica e cultural no

planeta.

Concordamos também com Lima (2013), quando há menção de uma

necessidade reflexiva crítica sobre o cenário vivido. Nesse âmbito, é relevante a fala

de Loureiro (2006, p. 15) quando este aponta que “Educação Ambiental, antes de

tudo, é educação. Mas não uma educação genérica, e sim aquela que se nutre das

pedagogias progressistas histórico-crítica e libertária, que são as correntes orientadas

para a transformação social”.

Nesse sentido, Guerra e Traglieber (2009) destacam que há necessidade de

ressignificar valores éticos, refletindo acerca das mudanças de atitudes em prol a um

desenvolvimento de uma (re)sensibilização com relação ao meio ambiente.

No mesmo enfoque, a EA apresenta-se como um instrumento de integração,

de popularização do conhecimento, conforme explica Sorrentino (2006, p. 56):

A construção de alternativas cotidianas de ação pessoal e coletiva na adaptação as mudanças climáticas e no enfrentamento das causas do aquecimento global, exige a popularização dos conhecimentos científicos através da sua comunicação com finalidade educacional. Portanto, potencializar cada humano e seus grupos sociais para a construção coletiva de sociedades sustentáveis, torna-se o maior desafio para todas as forças que se hoje no campo ambientalista de luta pela VIDA.

Nesse contexto educacional, ressalta-se a criação e as ações desenvolvidas

pelo Fórum Permanente de Prevenção aos Riscos de Desastres Ambientais, sendo o

trabalho desenvolvido elos integrantes, o de socializar e o conhecimento científico

desenvolvido no ambiente das universidades, junto aos municípios que compõem a

Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí.

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4 O FÓRUM PERMANENTE DE PREVENÇÃO AOS RISCOS DE DESASTRES NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO ITAJAÍ- SC

Neste capítulo faremos uma abordagem sobre a Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí

e a vinculação ao trabalho e funcionamento do Fórum Permanente de Prevenção aos

Riscos de Desastres na Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí- SC.

4.1 A BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO ITAJAÍ

Sob o ponto de vista geográfico, Aumond et al. (2009, p. 24) descrevem que “A

bacia hidrográfica do rio Itajaí tem área total de 15.000 km2, que corresponde a

16,15% do território catarinense”.

Figura 8: Localização da Bacia do Rio Itajaí.

Fonte: Lenzi, 2012.

Não bastasse a extensão territorial, é importante destacar que a Bacia está

situada no Vale do Itajaí, que é uma das regiões com maior densidade demográfica,

no Estado de Santa Catarina:

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[...] sendo a mesorregião do Estado de Santa Catarina que possui o maior contingente populacional e segunda maior densidade demográfica. Com uma área de 13.108,74 km² (quarta maior dentre as seis mesorregiões catarinenses), possui cerca de 115 habitantes por quilômetro quadrado. (SANTOS; ARUTO, 2011, p. 2)

Nesse contexto de crescimento da população, é preocupante a ocorrência

frequente de desastres na região é preocupante. Bohn, Mattedi e Morastoni (2013, p.

233) alertam que a forma da bacia e a sua ocupação são os principais problemas

encontrados:

O problema dos desastres na Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí acompanha o processo de desenvolvimento socioeconômico da região. A forma da bacia e a declividade dos cursos d’água que compõem a rede de drenagem, composta por vales estreitos, com pequenas faixas ao longo dos cursos de água, associadas ao padrão de ocupação do espaço e utilização dos recursos, converteram as planícies aluviais dos fundos de vale em áreas de exploração agrícola e assentamento urbano. Com o processo de industrialização e urbanização desencadeia-se uma dupla concentração espacial: nas maiores cidades da região (Rio do Sul, Blumenau e Itajaí) e nas margens dos rios nas planícies de inundação.

Inobstante a ocorrência frequente de desastres, a região da Bacia Hidrográfica

do Vale do Itajaí é considerada uma das mais ricas do Estado de Santa Catarina “[...]

quando, em 2008, o seu PIB atingiu mais de R$ 33 bilhões, o que equivale

praticamente a 27% do total do PIB catarinense para o mesmo ano” (SANTOS;

ARUTO (2011, p. 3).

Assim, diante dessas características peculiares da Bacia Hidrográfica do Rio

Itajaí, surgiu a necessidade do aprofundamento dos debates e das pesquisas

realizadas no âmbito das universidades, bem como o maior envolvimento dos

pesquisadores com a população.

Para tanto, houve a criação do Fórum Permanente de Prevenção aos Riscos

de Desastres na Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí- SC.

4.2 O FUNCIONAMENTO E AÇÕES DO FÓRUM PERMANENTE DE PREVENÇÃO AOS RISCOS DE DESASTRES NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO ITAJAÍ – SC

Conforme a transcrição dos relatos gravados nas entrevistas realizadas, a

criação do Fórum Permanente de Prevenção aos Riscos de Desastres na Bacia

Hidrográfica do Rio Itajaí surgiu da necessidade de criar um espaço de discussão,

uma espécie de canal entre os governos municipais, estadual e a sociedade civil,

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conforme orienta o Plano Integrado de prevenção e Mitigação de Desastres Naturais

na Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí – PPRD (SANTA CATARINA, 2009)

Desenvolvido após o desastre de novembro de 2008, o PPRD tem a missão de

congregar organizações públicas e privadas em torno da redução de risco de

desastres naturais na bacia do Itajaí, promovendo uma base comum para a definição

e a implementação de uma política pública permanente, orientadora e reguladora.

No mês de novembro do ano 2009, o Governo do Estado de Santa Catarina

firmou o acordo de cooperação com a Agência de Cooperação Internacional do Japão

– JICA, cujo objetivo era a elaboração de Estudo Preparatório para o Projeto de

Medidas de Prevenção e Mitigação de Desastres na Bacia do Rio Itajaí, sendo a

Comissão JICA criada por meio do Decreto n. 3.093 de 15/03/2010.5

No ano de 2010, houve a aprovação do Plano de Recursos Hídricos da Bacia

Hidrográfica junto ao Comitê do Itajaí. O Plano de Recursos Hídricos continha um

programa específico voltado à prevenção e mitigação aos riscos de desastres na

bacia.

Entretanto, conforme os relatos das entrevistas, uma professora vinculada à

Universidade Regional de Blumenau (FURB) idealizou um mecanismo paralelo para

discussão com a população dos municípios que compõem a Bacia do Itajaí. Buscava-

se fazer uma contraposição aos estudos que vinham sendo realizados pela equipe da

JICA.

Assim, surgiu o Fórum Permanente de Prevenção aos Riscos de Desastres na

Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí – SC, para discussão com a comunidade da região. O

Fórum é uma das ações do Programa Cidadania pela Água na Bacia do Itajaí – um

Programa de Extensão que vem sendo desenvolvido na FURB, o qual possui um

projeto específico de prevenção e mitigação aos riscos de desastres. Uma das metas

contidas no projeto é a de organizar o Fórum semestralmente.

Inicialmente, participavam deste projeto, a FURB, o Centro Comunitário para o

Desenvolvimento do Alto Vale (UNIDAVI), a UNIVALI, o Centro Universitário de

Brusque (UNIFEBE) e o Comitê do Itajaí. No ano de 2014, a UNIVALI saiu do projeto,

haja vista que não havia alguém que pudesse contribuir de forma mais efetiva,

segundo a entrevistada.

5 Mais informações em: www.jica.go.jp/brazil/portuguese/office/articles/110113.html.

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Até o mês de agosto de 2015, foram realizados sete Fóruns, conforme o quadro

abaixo (Quadro 2), a seguir:

Quadro 2: Fóruns realizados entre 2012 e 2015.

Fonte: Elaborado pela autora com base nos estudos realizados.

Como se percebe no Quadro 2, ao longo de vários anos, as universidades

envolvidas acompanham e sensibilizam a população para a prevenção e a mitigação

de desastres na Bacia do Itajaí.

Inserido nesse processo, desde a sua criação, o Fórum Permanente de

Prevenção aos Riscos de Desastres na Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí vem

I Fórum

II Fórum

III Fórum

IV Fórum

V Fórum

VI Fórum

VII Fórum

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disseminando o conhecimento científico construído nas universidades. No capítulo 6,

das análises, recuperamos outros detalhes da história de constituição do Fórum.

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5 CAMINHO METODOLÓGICO

5.1 A ABORDAGEM E TIPO DE ESTUDO

Na presente pesquisa, optou-se por utilizar uma abordagem de cunho

qualitativo, pois ela “[...] parte do fundamento de que há uma relação dinâmica entre

o mundo real e o sujeito, uma interdependência viva entre o sujeito e o objeto, um

vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito, segundo

Chizzotti (1998, p. 79).

Nesse contexto dinâmico, o pesquisador pode atuar com maior liberdade e,

principalmente, adentrar profundamente na realidade investigada a fim de que sejam

observadas todas as nuances e subjetividades, sem se preocupar em quantificar

dados ou construir estatísticas para mensurar ou valorar algo (DEVECHI; TREVISAN,

2010, p. 150).

Dessa forma, considerando que o objetivo maior da pesquisa é compreender a

concepção dos integrantes do Fórum Permanente de Prevenção de Desastres na

bacia do Itajaí, optou-se pela pesquisa qualitativa, haja vista que dificilmente seria

possível alcançá-lo somente através da análise quantitativa. A subjetividade que

envolve o objetivo central da dissertação, dessa forma direciona o trabalho a ser

desenvolvido pela pesquisadora.

Ainda, de acordo com Ludke e André (2012), esse tipo de abordagem visa a

compreensão de um fenômeno na sua totalidade, enfatizando a importância das

interpretações dos eventos. “A coleta de dados acontece sem a necessidade de

utilização de instrumentos formais e estruturados, buscando captar o contexto da

pesquisa na sua totalidade” (LUDKE; ANDRÉ, 2012, apud MOTA, 2015, p. 64). A

análise das evidências acontece de maneira sistematizada, intuitiva, enfatizando o

subjetivo como meio de compreender e interpretar as experiências.

5.2 FONTES DE DADOS

Como a escolha das fontes de coletas de dados é importante para que os

objetivos do autor/pesquisador possam ser alcançados e, por isso precisam ser

escolhidos cautelosamente, foi estabelecendo uma relação com os objetivos

propostos nesta investigação, que se percebeu quais deveriam ser as metodologias

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mais adequadas para a coleta dos dados seriam: análise documental, entrevistas

semiestruturadas e observação (Figura 9).

Figura 9: Fonte de dados da pesquisa.

Fonte: Elaborada pela autora.

Para identificar e compreender o papel e o reconhecimento da criação do

Fórum Permanente de Prevenção aos Riscos de Desastres na Bacia Hidrográfica do

Rio Itajaí- SC, utilizou-se a análise documental, recurso que se constitui numa

adequada técnica para a coleta de dados, conforme explica Godoy (1995, p. 21):

Como comumente pensamos que o trabalho de pesquisa sempre envolve o contato direto do pesquisador com o grupo de pessoas que será estudado, esquecemos que os documentos constituem uma rica fonte de dados. O exame de materiais de natureza diversa, que ainda não receberam um tratamento analítico, ou que podem ser reexaminados, buscando-se novas e/ou interpretações complementares, constitui o que estamos denominando pesquisa documental.

Já a entrevista semiestruturada foi escolhida com o propósito de se obter, o

mais fielmente possível, a percepção dos integrantes do Fórum acima identificado.

Ela constitui-se como um importante instrumento para obter um contato mais próximo

com realidade dos sujeitos da pesquisa. Segundo Boni e Quaresma (2005, p. 72):

A entrevista como coleta de dados sobre um determinado tema científico é a técnica mais utilizada no processo de trabalho de campo. Através dela os pesquisadores buscam obter informações, ou seja, coletar dados objetivos e subjetivos. Os dados objetivos podem ser obtidos também através de fontes secundárias tais como: censos, estatísticas, etc. Já os dados subjetivos só

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poderão ser obtidos através da entrevista, pois que, eles se relacionam com os valores, às atitudes e às opiniões dos sujeitos entrevistados.

A escolha da entrevista semiestruturada também encontra razão de ser, pois,

conforme Triviños (1987, p. 147):

Podemos entender por entrevista semi-estruturada, em geral, aquela que parte de certos questionamentos básicos, apoiados em teorias e hipóteses, que interessam à pesquisa, e que, em seguida, oferecem amplo campo de interrogativas, fruto de novas hipóteses que vão surgindo à medida que se recebem as respostas do informante. Desta maneira, o informante, seguindo espontaneamente a linha de seu pensamento e de suas experiências dentro do foco principal colocado pelo investigador, começa a participar na elaboração do conteúdo da pesquisa

Por fim, para fornecer importantes subsídios à pesquisadora, utilizou-se a

observação, que vem sendo realizada desde 2014 por meio da participação nos

encontros do Fórum Permanente de Prevenção aos Riscos de Desastres na Bacia do

Rio do Itajaí, durante a realização das entrevistas, nos contatos telefônicos e por

correio eletrônico com os atores, sendo registrado no Diário de campo da

pesquisadora.

A importância da observação é destacada por Ludke e André (2012, p. 26):

Tanto quanto a entrevista, a observação ocupa um lugar privilegiado nas novas abordagens de pesquisa educacional. Usada como o principal método de investigação ou associada a outras técnicas de coleta, a observação possibilita um contato pessoal e estreito do pesquisador com o fenômeno pesquisado, o que apresenta uma série de vantagens. Em primeiro lugar, a experiência direta é sem dúvida o melhor teste de verificação da ocorrência de um determinado fenômeno. “Ver para crer”, diz o ditado popular.

Durante o trabalho, ficou patente a natureza da observação, uma técnica que,

efetivamente, representa a aproximação e a compreensão do contexto e das pessoas

que integram o Fórum Permanente de Prevenção aos Riscos de Desastres na Bacia

do Rio do Itajaí.

5.3 OS ATORES DA PESQUISA

Assim como as metodologias para a coleta dos dados são importantes para

que os objetivos possam ser alcançados, a escolha dos sujeitos ou atores da pesquisa

é essencial para isso seja efetivado. Assim, os participantes da investigação,

integrantes do Fórum Permanente de Prevenção aos Riscos de Desastres na Bacia

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Hidrográfica do Rio Itajaí- SC – corporificaram os sujeitos dessa pesquisa qualitativa,

como os qualifica Chizzotti (1998, p. 85):

Na pesquisa qualitativa, todas as pessoas que participam da pesquisa são reconhecidas como sujeitos que elaboram conhecimentos e produzem práticas adequadas para intervir nos problemas que identificam. Pressupõe-se, pois, que elas têm conhecimento prático, de senso comum e representações relativamente elaboradas que formam uma concepção de vida e orientam suas ações individuais.

Em função das caraterísticas sugeridas pelo autor acima citado, para a seleção

dos entrevistados utilizamos os seguintes critérios:

• Um representante do Centro Comunitário para o Desenvolvimento do Alto

Vale – UNIDAVI;

• Um representante da Universidade Regional de Blumenau - FURB,

organizadora do Fórum;

• Um representante da Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI

• A idealizadora do Fórum Permanente de Prevenção aos Riscos de

Desastres na Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí- SC;

Esse critério de escolha foi eleito, haja vista a competência de todos os

envolvidos (vide Quadro 3) que possuem conhecimento teórico e técnico sobre os

temas abordados no presente estudo. Consequentemente, cada um deles pode lançar

um olhar diferenciado para cada tema, de acordo com sua vivência e sua área de

atuação, contribuindo, sobremaneira, para a análise qualitativa do caso.

Como esses sujeitos fazem parte do núcleo de pessoas que trabalham de

maneira contínua, em todos os eventos, somam suas características individuais no

seu grupo, o que as distingue de outras pessoas que participam do Fórum de maneira

eventual ou esporádica. Por outro lado, mesmo que a idealizadora do Fórum não

esteja participando diretamente da organização do evento, justifica-se entrevistá-la,

pois é uma pessoa que detém reconhecido conhecimento teórico e prático acerca da

realidade vivenciada pelos municípios que compõem a Bacia do Rio Itajaí.

Na divulgação dos dados da pesquisa, os sujeitos da pesquisa serão

representados por um par de caracteres, formados por uma letra (E) e por um número

em ordem crescente.

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Quadro 3: Caracterização dos atores da Pesquisa.

Atores

Função/ atividade no

Fórum Permanente

Tempo que participa do

Fórum Permanente

Outras informações

E1 Organizadora e Participante Desde 2013

Mestra em Ciência Jurídica, com dupla titulação em Derecho Ambiental y de la Sostenibilidad - Universidade de Alicante/Espanha. Possui pós-graduação em Gestão Ambiental e é graduada em Direito. Atualmente é professora do Centro Universitário para o Desenvolvimento do Alto Vale do Itajaí – UNIDAVI. Representa a UNIDAVI no Conselho de Defesa do Meio Ambiente do Município de Rio do Sul (SC) - COMDEMA e no Comitê do Itajaí.

E2 Organizadora e Participante Desde 2012

Doutora em Direito das Relações Sociais, Mestra em Direito e graduação também em Direito. Atualmente é professora titular da Fundação Universidade Regional de Blumenau (FURB) no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental (PPGEA/FURB). Coordenadora do grupo de pesquisa e extensão; Gestão de Ambientes Naturais e Construídos em Bacia Hidrográfica (GEAMBH).

E3 Participante Desde 2012

Doutor e Mestre em Engenharia Oceânica, graduado em Oceanografia. É docente da Universidade do Vale do Itajaí, atuando no Curso de Oceanografia e no Programa de Mestrado em Ciência e Tecnologia Ambiental. É Diretor do Centro de Ciências Tecnológicas, da Terra e do Mar da UNIVALI desde 2004.

E4 Idealizadora

Doutora em Engenharia de Produção, Mestre em Física, Especialista em gestão de recursos hídricos e em gestão de risco de desastres, graduada em Física. Sua área de atuação é a gestão de bacias hidrográficas. É professora aposentada da Fundação Universidade Regional de Blumenau, onde teve atuação destacada no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental e no Instituto de Pesquisas Ambientais. Durante anos coordenou os trabalhos do Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Itajaí. Integra o movimento em prol da criação do Observatório das Águas, liderado pelo WWF Brasil.

Fonte: Elaborado pela autora.

Durante a pesquisa foi entregue a cada participante o Termo de Consentimento

Livre e Esclarecido, conforme consta do Apêndice “B” deste trabalho.

5.4 TÉCNICAS DE PREPARAÇÃO, COLETA E ANÁLISE DE DADOS

Conforme já explicitado, para a obtenção dos dados da presente pesquisa foram

utilizadas as técnicas de entrevista semiestruturada individual, análise documental e

observação.

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Na preparação da entrevista, buscou-se primeiramente uma aproximação com

os sujeitos da pesquisa. Assim, no dia 15 de agosto de 2014 participei do V Fórum

Permanente de Prevenção aos Riscos de Desastres na Bacia Hidrográfica do Rio

Itajaí realizado nas dependências da FURB, na cidade de Blumenau – SC. Naquele

dia, foi feita uma pequena apresentação pessoal, sem tecer maiores considerações

sobre a pesquisa. O primeiro objetivo era apenas conhecer os integrantes do Fórum

e compreender a dinâmica de seu funcionamento.

No dia 16 de junho de 2015 realizou-se o contato através de correio eletrônico

com a entrevistada E1, que prontamente aceitou participar da pesquisa. A entrevista

foi agendada para o dia 24 de junho de 2015, haja vista que ocorreria o VI Fórum

Permanente de Prevenção de Desastres na Bacia do Itajaí, no salão Nobre da

UNIDAVI, em Rio do Sul. No dia 15 de julho de 2015, foi realizado o contato com a

entrevistada E2 através de correio eletrônico, sendo a entrevista agendada para o dia

27 de julho de 2015, às 14 horas, no Campus II da FURB, Bloco I, Sala I 103, no

Programa de Pós- Graduação em Engenharia Ambiental, em Blumenau. No dia 06 de

dezembro de 2015, foi realizado o contato com E3, através de correio eletrônico,

sendo a entrevista agendada para o dia 07 de dezembro de 2015 às 10 horas, no

Centro de Ciências Tecnológicas da Terra e do Mar – CCTMAR da UNIVALI. No dia

15 de novembro de 2015, foi realizado o contato com E4, através de correio eletrônico,

sendo a entrevista realizada no dia 26 de novembro de 2015, na residência da

entrevistada, na cidade de Florianópolis – SC.

O roteiro da entrevista foi elaborado de maneira a combiná-los com os objetivos

e as questões da pesquisa. As perguntas foram formuladas com objetivos próprios e

específicos de acordo com as categorias descritas no referencial teórico.

A entrevista foi realizada com um gravador de voz e posteriormente foi transcrita

para que fosse possível a análise de seu conteúdo, que foi organizada por categorias:

• Concepção do sujeito quanto à causa da MC e suas consequências;

• Concepção do sujeito quanto ao conceito de risco ambiental;

• Concepção do sujeito quanto à relação da MC e os desastres ambientais;

• Concepção do sujeito quanto à vulnerabilidade da população afetada;

• Concepção do sujeito quanto ao papel do Fórum;

• Concepção do sujeito quanto à responsabilidade pelas políticas públicas

ambientais;

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• Concepção do sujeito quanto ao conhecimento sobre as políticas públicas

de prevenção e mitigação dos desastres;

• Concepção do sujeito quanto à EA como política pública.

Além da entrevista semiestruturada, também foi realizada a análise de

documentos representada pelas Atas de sete reuniões do Fórum, no período de 2012

a 2015; edições do Jornal do Comitê do Itajaí; com o objetivo de resgatar informações

sobre a criação e os objetivos do Fórum Permanente de Prevenção aos Riscos de

Desastres na Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí.

Como técnica de análise, considerando a abordagem dessa pesquisa, os

objetivos, a problemática e os métodos utilizados para a coleta dos dados, optou-se

pela metodologia da Análise de Conteúdo (BARDIN, 2011). Segundo Bardin (2011, p.

38), a análise de conteúdo refere-se a:

Um conjunto de técnicas de análise das comunicações, que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens. A intenção da análise de conteúdo é a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção, inferência esta que recorre a indicadores (quantitativos ou não).

Partindo desse pressuposto, Bardin (2011) sugere três etapas a serem seguidas

para a para a organização, a categorização e a interpretação dos dados: a pré-análise;

a exploração do material; e o tratamento dos resultados, inferência e interpretação

(Figura 10).

Figura 10: Etapas da Análise de Conteúdo de Bardin.

Fonte: Elaborada pela autora com base nos estudos realizados.

Na primeira etapa, a pré-análise, foi organizado o material a ser analisado, com

o propósito de sistematizar as ideias iniciais. A segunda, denominada exploração do

material, consistiu na exploração do mesmo, definindo os critérios para o registro e a

organização dos dados. Por fim, ocorreu a terceira etapa: tratamento dos resultados,

Pré-análise Exploração do material

Tratamento dos resultados, inferência e

interpretação

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inferência e interpretação. Aqui, os dados passaram por tratamento, ocorrendo a

sistematização e o destaque das informações para análise.

Posto isso, as seguintes análises partiram das etapas de Bardin (2011) acima

mencionadas para a realização da análise e a apreciação dos dados, interligando-os

com os objetivos, o problema e as questões de pesquisa inicialmente apresentados.

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6 ANÁLISE E COMPARTILHAMENTO DOS RESULTADOS

Neste capítulo apresentamos as análises e o resultado dos dados coletados, de

acordo com as categorias descritas anteriormente, para efeito da presente pesquisa.

6.1 AS CAUSAS DA MUDANÇA CLIMÁTICA E SUAS CONSEQUÊNCIAS

Com o objetivo de identificar a compreensão dos atores sobre a interferência

humana como causa da MC, e suas consequências no meio ambiente, respostas

semelhantes foram encontradas nas falas dos sujeitos da pesquisa. Conforme E1,

“[...] mudança climática é uma alteração provocada em todo o sistema climático, e ele

geralmente até advém de uma intervenção humana, que acaba com várias

degradações ambientais alterando o clima que a gente vive [...]”. (E1, 2015)

Nessa fala da entrevistada, a intervenção humana foi apontada como

responsável pela degradação ambiental que ocasiona mudança climática no Planeta.

Com efeito, Jacobi (2014, p. 59) afirma que “a humanidade tornou-se a principal força

de mudança geológica do planeta e a capacidade do planeta para continuar

assimilando e atenuando os impactos vindos da pressão humana está dando visíveis

sinais de esgotamento”.

Artaxo (2014, p.15) explica que o Planeta Terra passou por uma evolução

significativa, sendo que nos “últimos 3 bilhões de anos, a vida floresceu em nosso

planeta de modo lento, inicialmente. Uma espécie peculiar apareceu há 200 mil anos

e evoluiu a ponto de desenvolver a civilização que temos hoje”. Para o autor, a nossa

civilização está influenciando todo o sistema terrestre.

Nesse exato contexto, E2 ressalta que sempre houve ciclos geológicos de

aquecimento e resfriamento do planeta Terra, entretanto, a intervenção humana está

acelerando esse processo cíclico:

E, eu entendo que, ao meu ver, isso em grande parte, ele é o resultado de um processo cíclico, de evolução do planeta. Elas historicamente, ao longo de milhares de anos da evolução da terra né, essas mudanças elas ocorreram em períodos históricos, assim meio que determinados, isso já foi mapeado, é possível a gente perceber essas mudanças ao longo da história da evolução do nosso planeta. Então, eu percebo que nós estamos vivenciando um período desses de mudança, mas que por outro lado, ele tem uma contribuição, ou talvez esse processo esteja sendo acelerado pela interferência do homem, principalmente através da emissão de poluentes. (E2, 2015)

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Com efeito, Magaña e Galván (2010, apud FLORES; GAUDIANO, 2014, p. 37),

explicam que a mudança climática “[...] pode atribuir-se tanto à variabilidade natural,

como aos efeitos da atividade humana”.

Nesse mesmo sentido, o entrevistado E3 argumenta que a mudança climática:

[...] representa o efeito de anos que a gente, que a humanidade tem feito, tem transformado carbono fossilizado em carbono disponível na atmosfera. Isso gera todo um efeito sob a atmosfera, mudança de capacidade térmica da atmosfera, obviamente trazendo efeitos para a adaptação da atmosfera a essa nova condição. (E3, 2015)

A argumentação de E2 e E3 vai ao encontro daquilo que pregam os cientistas

que rebatem os argumentos do grupo do IPCC, segundo os quais, os fenômenos de

aquecimento e o resfriamento global e o efeito estufa, estão naturalmente presentes

na evolução do planeta Terra. O efeito estufa é considerado um fenômeno natural

existente no planeta e proveniente dos gases liberados pela atividade vulcânica.

Entretanto, o destaque principal nas últimas décadas do século passado, refere-se ao

fato de que o aquecimento global não está sendo causado apenas por fenômenos

naturais, mas sim, pela intervenção humana.

Jacobi (2013, p. 58) corrobora essa análise sobre os efeitos da mudança

climática e o agravamento da crise na chamada era do Antropoceno. Segundo ele:

As mudanças climáticas e o aquecimento da Terra indicam que estamos vivendo uma nova era glacial denominada de Antropoceno. A ação humana na natureza está promovendo alterações de grande escala na superfície terrestre há pelo menos um século. A compreensão dos fatores determinantes dos padrões climáticos mundiais desafia tanto os pesquisadores especializados como a população em geral, sobretudo devido às recentes conclusões do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas – IPCC, em 2014.

Reafirmando esses resultados do IPCC, concordamos com Gaudiano et al.

2015, p. 144) que “A mudança climática é real e, além de qualquer dúvida razoável, é

causado pela atividade humana” (tradução da pesquisadora).

Essa é a grande novidade que vem sendo abordada por parte dos cientistas em

todo o mundo, pois se percebeu que a mudança climática e suas consequências não

são decorrentes apenas do ciclo natural de evolução do planeta Terra, mas, sim, da

intervenção humana, e que estamos numa era geológica denominada Antropoceno.

Entretanto, a entrevistada E4, ressalvou que a mudança climática é um termo

autoexplicativo e que abrange inúmeras representações, sendo que “[...] ela é muito

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mistificada, porque aí se fala de muitas coisas e ela também tem que ser olhada, muito

geograficamente, quer dizer, o que os estudos apontam como mudança climática em

cada lugar. (E4, 2015)

Assim, ao contrário das narrativas de E1, E2 e E3 que mencionaram as

alterações causadas no Planeta Terra pela intervenção humana, não houve por parte

da E4, correlação entre a atividade humana e a MC. Para a entrevistada E4, a

mudança climática deve ser compreendida pelo viés dos impactos causados em cada

região.

Definida a primeira questão acerca da intervenção humana e a mudança

climática, buscou-se saber se os entrevistados compreendiam as alterações causadas

pela mesma, no meio ambiente ou na região em que vivem. Nesse sentido, todos os

entrevistados apontaram para os eventos climáticos extremos, como, por exemplo, as

enchentes, e o aumento das precipitações.

Para a entrevistada E1, existe associação entre os eventos climáticos extremos

(grande volume de chuvas/cheias) e a mudança climática, pois

[...] onde antes nós tínhamos tudo definido, outono, primavera, verão e inverno, e hoje tem dias que a gente passa as quatro estações num dia somente. Especificamente na nossa região, ela influencia quando a gente tem um grande número de volume de água e, a gente fica muito suscetível às cheias. (E1, 2015).

Embasados nos relatórios do IPCC, Marengo e Valverde (2007) ressaltam que

“eventos extremos como secas, enchentes, ondas de calor e de frio, furacões e

tempestades têm afetado diferentes partes do planeta e têm produzido enormes

perdas econômicas e de vidas”. Para os autores, fenômenos como o furacão Catarina

(março de 2004), a seca da Amazônia (2005), secas no sul do Brasil (2004, 2005 e

2006), o aumento no nível do mar e os impactos na saúde, na agricultura e na geração

de energia hidrelétrica, dentre outros, estão afetando, não são o Brasil, mas também

todo o Planeta Terra.

Sobre os efeitos da mudança climática em escala global, a entrevistada E2,

também apontou os estudos realizados pelo IPCC, destacando a questão do aumento

do degelo como um alerta importante para a sociedade:

Eu acredito realmente as mudanças climáticas existem, elas estão acontecendo, estão se acelerando, nós tivemos agora semana passada, um daqueles representantes aí que discutem a mudança climática no IPCC. Eles estão assim assustados com o nível, como está acelerado o degelo das geleiras, das grandes geleiras. Então o que eles achavam que ia se, assim o

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aumento no nível nos oceanos iria lá para o final do século, eles já estão j esperando para a década, agora 2050, já ter isso bem mais acelerado. (E2, 2015)

A mudança climática pode ser sentida em diversas partes do Planeta e pode ser

considerada a crise civilizatória e da racionalidade instrumental apontada por Leff

(2002). Para este autor, é “[...] a crise de nosso tempo. [...] Por isso, a crise ambiental

é acima de tudo um problema de conhecimento [...]” (op. cit., p. 191).

Quanto aos efeitos da mudança climática no Vale do Itajaí, a entrevistada E2

relatou a diferença entre os eventos que ocorreram em décadas passadas em relação

aos que estão correndo na atualidade:

Enquanto tem algumas regiões que vão ficar mais áridas, a princípio aqui, a nossa tendência seria esse aumento de precipitação, não em padrões talvez como a gente estava acostumado daquelas chuvas meio distribuídas ao longo de toda a bacia, mas o que a gente tem percebido ao longo dos últimos anos é a concentração das chuvas em pontos isolados né, o que dificulta os mecanismos de prevenção. Aquelas medidas estruturais que historicamente a gente vinha usando para controle de cheias ou de inundações, elas eram, serviam como resposta a um tipo de fenômeno né, que a gente percebe que não está mais se repetindo agora. (E2, 2015)

Para a entrevistada E2, a frequência de desastres, principalmente as chuvas,

estão se intensificado em razão das mudanças climáticas globais. Com efeito, estudo

realizado por Marcelino, Nunes e Kobiyama (2006a, p. 77) aponta que entre os anos

de 1983 e 2000, o Estado de Santa Catarina, principalmente, as regiões Oeste, vale

do Itajaí e Grande Florianópolis, foi afetado significativamente pela ocorrência de

desastres decorrentes de eventos climáticos. Os autores destacaram que os principais

desastres causados por instabilidades atmosféricas severas em Santa Catarina, foram

as inundações graduais (45%), as inundações bruscas (19%) e os vendavais (17%).

A entrevistada E4, não apontou a mudança climática como causa dos eventos

extremos, mas, sim, que vem observando um aumento no volume e na distribuição

das chuvas no Sul do Brasil:

[...] no sul do Brasil, nós vamos ter mais chuvas intensas, chuvas localizadas, ou seja, aquela chuva que se distribuía, principalmente àquelas nossas chuvas de inverno, elas já estão dando lugar a chuvas muito intensas e muito localizadas. Isso significa que, se um determinado solo, com aquela chuva suave, ele ficava bem molhado para o capim crescer bem, se a chuva é muito mais forte, esse solo vai ser varrido mais rápido. Então, as consequências são, um processo erosivo mais forte, mais enxurradas, etc. Isso a gente já observa. (E4, 2015)

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Marcelino, Nunes e Kobiyama (2006a) destacam que não há consenso sobre o

fato de que as mudanças climáticas estão efetivamente causando os eventos

climáticos extremos. Para os autores, é muito importante a busca por dados científicos

sobre os desastres e o conhecimento sobre a consistência dos já existentes, uma vez

que servem de base para o gerenciamento das medidas de mitigação e prevenção

desses desastres.

Nessa perspectiva, o entrevistado E3 compreende que os eventos climáticos

extremos estão ocorrendo em escala global, mas, destaca que é preciso pensar sobre

o aspecto regional da ocupação da Bacia do Itajaí:

É muito comum, e isso é importante separar, é muito comum as pessoas colocarem sempre a culpa em alguma coisa intangível, é o sujeito oculto. Então é como se diz ah “culpa é dos poderosos, mas quem são os poderosos? Dá nome a eles! Ah, a “culpa é o aquecimento global”. A gente sempre coloca a culpa em alguma coisa que a gente diz: “ah, a gente não tem como mexer nisso mesmo, então não vamos a nossa parte, primeiro tem que resolver o problema maior para resolver nosso problema menor”. Eu acho que não. A mesma coisa acontece no litoral. A gente sempre diz, o “nível do mar está subindo e aí a erosão acontece é por causa do nível do mar”. Não, as vezes a erosão acontece por causa de ocupação errada da beira da praia. E a mesma coisa acontece na bacia hidrográfica. Ocupou errado, a culpa é da ocupação, da mudança climática como um todo. (E3, 2015)

Na compreensão trazida pelo entrevistado E3, a mudança climática não é a

causa preponderante para a ocorrência de desastres, devendo ser entendida sob um

aspecto mais amplo, tanto social, quanto geográfico. Carvalho e Damacena (2012, p.

89), alertam que “[...] as consequências advindas de um evento climático extremo

oriundo das mudanças climáticas poderão variar de acordo com as condições do

ambiente no qual impactarem”.

Assim, verifica-se, na teoria e na maior parte dos depoimentos, que a mudança

climática está diretamente relacionada aos hábitos, atitudes e comportamentos

humanos, sendo de suma importância a sensibilização acerca da destruição ou

degradação do meio ambiente. Nesse sentido, tanto as escolhas das pessoas, quanto

dos governantes, deveriam refletir um significativo grau de consciência quanto às

possibilidades de continuidade da vida no planeta: consciência e ação são

fundamentais para a sobrevivência dos seres sencientes com os quais coabitamos na

Terra.

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6.2 O CONCEITO DE RISCO AMBIENTAL

Com base nos pressupostos apresentados na fundamentação desta pesquisa,

perguntou-se aos entrevistados qual era seu conceito de risco ambiental. O objetivo

foi verificar a existência de elementos como a incerteza do evento e a perspectiva

social no ambiente em que vivem.

Na fala de E1 percebe-se a presença da incerteza do evento e a probabilidade

de sua ocorrência pois “Nós todos vivemos em risco ambiental, de uma hora para

outra começar um volume de chuva grande e em questão de quatro dias a gente está

ilhado, está embaixo da água”. Na mesma compreensão, o entrevistado E3 destacou

que risco “é a chance de acontecer um evento, na verdade”

Os entrevistados E1 e E2, compreendem que o risco é caracterizado pela

incerteza/probabilidade de o evento acontecer e pela onipresença, pois ele está em

toda a parte, sendo generalizado e distribuído indiscriminadamente, como explicam

Marandola Jr e Hogan (2006. p. 34). Interessante ressaltar que os entrevistados E1

e E2, possuem vínculo com as cidades de Rio do Sul – SC e Itajaí – SC,

respectivamente, sendo que tais cidades são assoladas frequentemente por eventos

climáticos extremos. Nas pesquisas envolvendo o risco, a sua interpretação está

bastante atrelada à experiência e à honestidade individual do pesquisador, bem como

à memória coletiva daquelas pessoas que já vivenciaram alguma situação semelhante

(DAGNINO; CARPI JUNIOR, 2007).

Visando clarificar um pouco a conceituação, a entrevistada E2 classificou o risco

como decorrente, ou de causa natural, ou da própria sociedade:

Então, esse risco (...) pode muitas vezes ser oriundo, de um fenômeno natural. A origem do risco está concentrada num fenômeno natural, numa seca, numa inundação, num granizo, um tornado, um furacão, o que for, um tremor de terra, aí, ele acaba trazendo o risco para as comunidades. Ou, ele pode ter a sua origem na própria sociedade, na forma como ela usa os recursos naturais ou degrada esses recursos. E, então, a gente poderia dizer que na origem do risco ambiental (...) pode ter a sua origem numa variável natural, que seria um fenômeno desses adversos, ou, um evento, fenômeno natural ou, uma variável social, que é forma como as pessoas utilizam o solo, ou degradam a cobertura florestal, ou eu diria: como é que elas potencializam os efeitos dos processos erosivos. Então, tem aí uma série que pode dar origem também a esse risco ambiental. (E2, 2015)

Nessa perspectiva, o entrevistado E3 ponderou que, normalmente, os riscos são

vistos sob o ponto de vista antropocêntrico, ou seja, centrados nos problemas

causados ao ser humano, mas, não se pode esquecer que existem riscos

provenientes de eventos naturais e que irão mudar o meio ambiente:

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A gente sempre atrela esse problema a uma posição um pouco antropocêntrica né, a gente sempre vê problema ao homem, o problema sempre acontece, mas não necessariamente para o homem. Mas é isso, essa possibilidade ou não de haver um evento qualquer que vá mudar a paisagem, um deslizamento, uma enchente, um grande vento, vendaval, uma grande seca, para mim, tudo isso representa risco ambiental. (E3, 2015)

Com efeito, o risco ambiental pode estar relacionado a causas físicas ou

decorrentes de um fenômeno natural, ou agravados pela atividade humana e

ocupação do território, sendo, portanto, resultante da vulnerabilidade da população

afetada, e de um processo de construção artificial (VEYRET, 2013).

Diferentemente, para a entrevistada E4, é incorreto considerar, indistintamente,

como risco ambiental, todos os eventos, mas assim classificar um episódio, somente

quando há uma ruptura social numa comunidade ou num determinado local:

E risco de desastre é um termo específico para todo tipo de desastres que significa ruptura social numa comunidade, num lugar maior ou menor etc. Na verdade, os desastres tem sido analisados pelas pessoas que trabalham em meio ambiente tradicionalmente, não na gestão de riscos de desastres, e esse pessoal que fala em risco ambiental. Então, tudo que tenha a ver com o risco de poluição de rios, ou risco de deslizamentos, escorregamentos, eles falam em riscos ambientais assim como uma coisa genérica, mas nem as políticas especificas tratam disto. (E4, 2015)

Para a entrevistada E4, a conceituação do risco ambiental é difícil e ambígua,

sendo que sequer existe previsão nas políticas públicas. Com efeito, analisando-se

detidamente a Lei 12.608/2012, observa-se que, realmente, não há conceituação de

risco. Os artigos 1º e 2º da mencionada Lei dispõem:

Art. 1o Esta Lei institui a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil - PNPDEC, dispõe sobre o Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil - SINPDEC e o Conselho Nacional de Proteção e Defesa Civil - CONPDEC, autoriza a criação de sistema de informações e monitoramento de desastres e dá outras providências. Parágrafo único. As definições técnicas para aplicação desta Lei serão estabelecidas em ato do Poder Executivo federal. Art. 2o É dever da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios adotar as medidas necessárias à redução dos riscos de desastre. § 1o As medidas previstas no caput poderão ser adotadas com a colaboração de entidades públicas ou privadas e da sociedade em geral. § 2o A incerteza quanto ao risco de desastre não constituirá óbice para a adoção das medidas preventivas e mitigadoras da situação de risco.

Essa Lei, que regulamenta a Política Nacional de Defesa Civil, estabelece

apenas as diretrizes para a redução dos riscos e a adoção pontual de medidas

preventivas e mitigadoras da situação de risco.

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Nesse contexto, é interessante observar que a prevenção do risco foi a mola

propulsora para a criação do Fórum Permanente de “Prevenção aos Riscos” de

Desastres da Bacia do Rio Itajaí. Segundo o levantamento histórico, o Fórum teve

sua primeira edição em 30/05/2012, portanto um mês após a promulgação da Lei

12.608/2012, e sua criação teve como objetivo, justamente, prevenir, na Bacia do Rio

Itajaí, o risco dos frequentes desastres como as enchentes, as enxurradas e os

desabamentos decorrentes da chuva.

Na presente pesquisa, foi adotado o risco como sinônimo de incerteza, de

probabilidade de um evento vir a ocorrer. Além disso, a dimensão sociológica foi

abordada, com base no trabalho de Veyret (2013). Para essa dimensão, o ser humano

é o centro da análise do risco. Nesta dimensão, não se trata apenas de medir

estatisticamente o índice pluviométrico por metro quadrado, em um determinado local,

mas, sim, compreender os riscos a que estão expostos os moradores da área afetada,

bem como, as medidas e alertas que precisam ser providenciadas pelo governo e

Defesa Civil para diminuir a vulnerabilidade dessa população ao fenômeno.

Assim, observa-se claramente que para todos os entrevistados, o risco está

diretamente vinculado à dimensão social. Para a entrevistada E1, a abordagem

sociológica reside no fato de as pessoas ficarem ilhadas em decorrência da enchente,

ou no sofrimento decorrente das precárias construções/casas em morros, nos quais

são frequentes os deslizamentos de terra. Para E2 e para E3, a dimensão sociológica

também está presente, vez que o risco pode ser construído pelo ser humano.

Entretanto, para os entrevistados E2 e E3 fica evidente que a variável social existe,

mas não foi apontada como a mais importante na análise do risco. Finalmente para a

entrevistada E4, o risco ambiental somente pode ser caracterizado quando representa

uma ruptura na sociedade, não sendo correta a utilização do termo para designar

eventos que não apresentem relevância numa comunidade, ou em um determinado

lugar.

6.3 RELAÇÕES POSSÍVEIS ENTRE A MC E OS DESASTRES AMBIENTAIS

Ainda quanto às concepções das entrevistadas, foi perguntado se haveria

relação entre a MC e os desastres ambientais na Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí.

Segundo E1:

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Eu acredito que sim, justamente porque a gente tem essa questão de muitas cheias, muitos deslizamentos. Quando a gente tem realmente as enchentes, a gente verifica isso de forma mais clara, mas eu volto a afirmar que muito disso tem também por falta de conscientização e cuidado da população. (E1, 2015)

Já para E2:

Há! Sim! Isso eu não tenho dúvida né. Eu acho que existe sim, a gente já sente um pouco esse efeito. Eu acho que nós estamos fugindo dos padrões, se tu pegares as séries históricas das enchentes aqui na Bacia do Itajaí, até praticamente 2000, eram, a gente chama de inundações graduais, era mais ou menos o padrão né. Então, até 2000, ali nós tínhamos, vivíamos um pouco essa realidade, enchentes graduais, dali para frente o que a gente começa a perceber são enchentes bruscas e atípicas. A água muito concentrada, a precipitação concentrada em alguns pontos e aí começa a aparecer um, se generalizar, os deslizamentos, aqueles como é que é, escorregamento de massa. Então nesse sentido, eu vejo que isso já é um pouco um efeito dessas mudanças no clima. Essa mudança também de padrão nos fenômenos que a gente vinha vivendo aqui na região. (E2, 2015)

Os dois primeiros entrevistados fizeram uma relação objetiva entre as

cheias/enchentes na nossa região como possivelmente causadas pela MC. Ainda

para E1, existe uma grande falta de conscientização e cuidado da população,

acreditando que o ser humano é, em grande parte, responsável pelas consequências

da MC, na região, de onde provêm os desastres no Vale do Itajaí, uma vez que as

cheias e os deslizamentos têm se repetido nos últimos anos.

É evidente, pois, que a resolução dos problemas decorrentes da destruição ou

degradação do meio ambiente, influenciados pelo aumento dos efeitos da MC

depende, também, das atitudes e das escolhas das pessoas de se colocarem em

situação de risco, aumentando sua vulnerabilidade aos efeitos dos eventos climáticos.

Entretanto, para o entrevistado E3, existem dois fenômenos climáticos

acontecendo simultaneamente:

Eu acho que sim e não. Nós temos dois efeitos que acontecem ao mesmo tempo, um que acontece regionalmente, e outro que acontece mundialmente, mas eles acontecem ao mesmo tempo e com efeitos muito parecidos. Uma delas, um desses efeitos é a ocupação do Vale do Itajaí, o que também, mais ou menos, está acontecendo, vamos dizer, do início do século passado para cá. Assim como também o aquecimento global, do início, ou um pouco antes, mas realmente forte do início do século para cá. Eles acontecem ao mesmo tempo. Então, a ocupação da bacia, ela gera variabilidade também no ciclo das águas. Então, nós temos eventos de secas maiores e eventos de chuvas mais intensas. Isso é normal quando se ocupa uma bacia hidrográfica, mas ao mesmo tempo isso acontece também quando a gente fala em aquecimento global. Eventos extremos também. Então, é difícil separar esses dois efeitos. Mas eu acho, acredito que sim, a gente não tem como fugir do que acontece mundialmente. Mas eu não sei se o que acontece mundialmente é mais importante do que acontece regionalmente. Eu acho

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que o aspecto regional é muito importante, pela conformação da bacia, que ela meio que se converge na região de Blumenau, ela se estreita ali e se você tem uma bacia toda ocupada, desmatada, aí torna esse ambiente mais frágil, essa região de Blumenau mais frágil.” (E3, 2015)

A argumentação de E3 é fundamental para o entendimento das questões sociais,

culturais e econômicas, bem como das características geográficas e da forma de

ocupação da Bacia do Itajaí, as quais acarretam uma probabilidade maior de

ocorrência de desastres do que a mudança climática propriamente dita. Nessa

mesma linha de argumento, a entrevistada E4, ressaltou que

[...] nós temos enchentes desde a origem da cidade, na verdade o rio já era conhecido pelas suas enchentes, antes de ter colonização. Então, isso faz parte é característico daquela bacia, pelo fato de ela ser redonda. Bacias que são compridas, elas não tem inundações deste tipo, porque aí a água tem um caminho, ela ser forma num lugar pequeno, onde da cheia, e vai, vai descendo.

Entretanto, é perceptível que os efeitos da mudança climática possam alterar o

volume e a intensidade das chuvas e, consequentemente, dos riscos. Segundo ela:

Porém, nós temos um agravamento, ou seja, a mudança climática, ela está modificando e também agravando o risco de desastre, ou seja, como nós estamos tendo cada vez mais aquelas pancadas de chuvas, nós estamos tendo mais enxurradas e etc. Então, isso é físico, é constatável. Então, por isso que, ou seja, o risco está aumentando. (E4, 2015)

Assim, para E3 e E4, o aspecto geográfico da Bacia do Rio Itajaí contribui

significativamente para a ocorrência de desastres. Aliado ao aspecto geográfico da

Bacia verifica-se que a forma de povoamento da região também contribui para o

agravamento dos fenômenos climáticos extremos.

O mosaico de imagens a seguir registra flagrantes de alguns períodos recentes

em que já ocorreriam grandes enchentes na Região, em Blumenau e Rio do Sul.

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Figura 11: Enchente em 1975, Blumenau – SC.

Fonte: Defesa Civil de SC.

Figura 12: Enchente em 1978 - Blumenau – SC.

Fonte: Defesa Civil de SC.

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Figura 13: Enchente em 2013, Rio do Sul – SC.

Fonte: Acervo particular da autora.

Nesse contexto Mattedi (2010, p. 03) explica que, para a perfeita compreensão

de um desastre, é preciso levar em conta tanto os fatores naturais quanto os sociais.

Segundo ele:

Como desastre compreende fenômenos multidimensionais, compreender os fatores que têm provocado o aumento da frequência e intensidade dos impactos dos desastres nas últimas décadas pressupõe o estabelecimento de um modelo de análise que relacione tanto os fatores naturais quanto os fatores sociais. Por um lado, constituem o resultado da sobrecarga da capacidade de suporte assimilativa e regenerativa do ambiente natural; por outro, da incapacidade de prever a sua ocorrência, mas também de agir adequadamente. Nesse sentido, pode-se se dizer que os desastres não são somente um problema para o desenvolvimento, mas, sobretudo, um produto do próprio processo de desenvolvimento.

Assim, Valêncio (2014, p. 3635), esclarece que o conceito de desastre cunhado

no Decreto 7.257 de 04 de agosto de 2010, que regulamenta a Política Nacional de

Defesa Civil (Lei 12.608/2012), traduz um “homem” genérico, sem histórico e que

dificulta a análise do contexto social.

Nesse sentido, dispõe do inciso II do art. 2º do Decreto 7.257/2010:

Art. 2o. Para os efeitos deste Decreto, considera-se: II - desastre: resultado de eventos adversos, naturais ou provocados pelo homem sobre um ecossistema vulnerável, causando danos humanos, materiais ou ambientais e consequentes prejuízos econômicos e sociais;

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Concordando com a autora, compreende-se portanto, que na abordagem

sociológica, o contexto social é condição fundamental para compreender e respaldar

as estratégias a serem adotadas para a redução dos desastres (VALÊNCIO, 2014)

Nesse contexto, percebe-se que a ocorrência de desastres na região da Bacia

do Rio Itajaí se constitui num problema que decorre de múltiplos fatores, sendo que o

aspecto geográfico e o povoamento da região se constituem em causas do

agravamento dos desastres causados pela Mudança Climática.

6.4 A VULNERABILIDADE DA POPULAÇÃO AFETADA

Nas políticas públicas, a questão da vulnerabilidade encontra previsão no inciso

X, do art. 2º da Lei 12.187/2009, sendo considerado

[...] o grau de suscetibilidade e incapacidade de um sistema, em função de sua sensibilidade, capacidade de adaptação, e do caráter, magnitude e taxa de mudança e variação do clima a que está exposto, de lidar com os efeitos adversos da mudança do clima, entre os quais a variabilidade climática e os eventos extremos (BRASIL, 2009).

Por meio do conceito legal, pode-se observar que a vulnerabilidade se traduz na

suscetibilidade ou na incapacidade de um sistema em lidar com os efeitos adversos

da MC. Para Marandola Jr e Hogan (2006 apud ESTEVES, 2011, p.70), essa

suscetibilidade ou incapacidade possui três elementos ou componentes, quais sejam,

a exposição ao risco, a capacidade de reação e o grau de adaptação diante da

materialização do risco. Ramires (2014), também discorre sobre estes três elementos,

denominando-os: exposição, sensibilidade e capacidade de adaptação

No que diz respeito a essa categoria, perguntou-se aos entrevistados se a

população que reside nos municípios que compõem a Bacia do Rio Itajaí, está mais

vulnerável aos efeitos da mudança climática. Nas narrativas dos atores percebe-se a

menção a alguns desses elementos.

Para três dos quatro entrevistados, a vulnerabilidade está relacionada à

ocupação indevida do solo e das cidades que margeiam a Bacia. Assim, haja vista o

crescente aumento das chuvas na região, os entrevistados apontaram que a

população do Vale do Itajaí está mais exposta ao risco de desastres. Para uma

entrevistada, a vulnerabilidade está vinculada à falta de capacidade da população em

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absorver o desastre que está ocorrendo, só dando-se conta dele quando é tarde

demais.

Já para a entrevistada E1, a vulnerabilidade da população do Vale do Itajaí

ocorre em razão da incapacidade de reação ou falta de preparo para enfrentar o perigo

de desastre, fato diretamente relacionado à sensibilidade. “Acredito que sim, nos

aspectos das cheias, justamente quando altera muito rapidamente, as pessoas não

estão preparadas para isso e ficam suscetíveis às cheias e aos deslizamentos.”

Considerando-se, mais uma vez, a abordagem sob o aspecto sociológico, pode-

se dizer que as condições sociais dos moradores do Vale do Itajaí, de fato, podem

aumentar o grau de sua vulnerabilidade à exposição e sensibilidade aos efeitos dos

eventos climáticos. Para Mendonça (2004), esse contexto de vulnerabilidade envolve

“uma gama de implicações sociais, econômicas, tecnológicas, culturais, ambientais e

políticas que estão diretamente vinculadas à condição de pobreza de representativa

parcela da sociedade moderna”.

No que diz respeito especialmente ao aumento da vulnerabilidade e do risco

causados pela mudança climática, para Guadiano et al. 2015:

Embora ninguém fique imune às suas consequências, os efeitos da mudança climática são diferenciados nas distintas regiões do mundo, onde são mais afetados os países tropicais e insulares, assim como as zonas costeiras. É fácil inferir que são mais vulneráveis aquelas populações que vivem em construções precárias em áreas de alto risco e que não contam com informações oportunas, nem as condições adequadas para se abrigar (alertas precoces, de evacuação, gestão de risco, locais para abrigo, etc.). (op. cit., p. 144, tradução da pesquisadora6)

Para E2, as características e a forma de ocupação da Bacia do Itajaí, aumentam

a exposição da população ao risco e, portanto, torna-a mais vulnerável à ocorrência

de desastres. Segundo ela

Bem! aí nós temos que pensar assim Vanessa. Nós estamos sempre trabalhando aqui num cenário (...). Nós estamos trabalhando numa perspectiva, eu diria assim, de num cenário de mudanças climáticas. Imagina, eu te coloquei aqui, isso em alguns trabalhos, que a previsão é de que aumente 40% no índice de precipitação na região sul do Brasil. Se isso se concretiza, esse cenário, nas próximas décadas, veja, nós já historicamente éramos uma área sujeita à riscos de inundação. Isto já historicamente, desde a fundação da cidade e toda a bacia do Itajaí, as cidades que foram

6 Aunque nadie permanecerá inmune a sus consecuencias, los efectos del cambio climático son diferenciales en las distintas regiones mundiales, en las que resultan más afectados los países tropicales e insulares, así como las

zonas costeras. Es fácil inferir que son más vulnerables aquellas poblaciones que habitan en construcciones

precarias en zonas de alto riesgo y que no cuentan con la información oportuna, ni las condiciones apropiadas para

ponerse a resguardo (alertas tempranas, evacuación, gestión del riesgo, sitios de refugio, etc.).

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construídas aqui, a gente se deparou com esse problema. Se nós temos um aumento no índice de pluviosidade, a tendência é de agravar muito mais esses riscos de desastres. Então, nós temos que trabalhar com esse cenário. (E2, 2015).

Nesse sentido, E3, também expõe, muito nitidamente, essa concepção:

A pergunta já está feita de uma maneira que eu diria sim à mudança climática. Eu não digo não à mudança climática, mas eu digo que a ocupação do solo é muito mais importante do que a mudança climática, no meu entender. E a população do vale, ela vai sofrer mais com aquilo que ela já...com a ocupação. (E3, 2015)

Interessante observar que as cidades desempenham um papel central na

moderna discussão sobre os impactos da mudança climática. Para Ojima e Marandola

Jr (2012), existe uma situação diferenciada, na qual os pequenos municípios possuem

maior dificuldade de enfrentar os problemas decorrentes das catástrofes ambientais

em razão das dificuldades financeiras, enquanto que os grandes municípios sofrem

com o volume maior de pessoas atingidas pelos desastres.

Outro aspecto interessante e que merece destaque se refere à concentração

populacional nas cidades e regiões costeiras (Figura 14), bem como a proporção

populacional residente nessas áreas (Figura 15).

Figura 14: População residente nas regiões costeiras.

Fonte: IBGE, 2010.

10.793.041

5.982.774

10.488.777

40.618.629

15.726.656

3.418.242

14.360.332

3.097.429

1.977.949

8.653.921

0 20.000.000 40.000.000 60.000.000

Rio Grande do…

Santa Catarina

Paraná

São Paulo

Rio de Janeiro

Espirito Santo

Bahia

Alagoas

Sergipe

Pernambuco

Em Áreas Costeiras

Total

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Figura 15: Proporção populacional residente em Área Costeira.

Fonte: IBGE, 2010.

Os dados demonstrados nas figuras acima, apontam as condições de

vulnerabilidade da população que vive em áreas costeiras em vários estados do país,

e foram compilados dos Censos Demográficos dos anos de 1991 e 2000, do século

XX e das Contagens da População (1996 e 2007), comparados à proporção de

habitantes na zona costeira de cada estado e também, às densidades populacionais

na escala municipal.

De fato, tanto a questão do aspecto físico da costa brasileira, e especialmente

da foz da Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí, em Santa Catarina, aliada à de ocupação

desordenada do espaço territorial, desde a colonização da região no século XVII,

contribuem para o aumento dos desastres decorrentes das cheias, conforme explica

Ribeiro (1995, p. 25-26):

No entanto, a ‘cheia’ como desastre social só se verifica, quando intervém, em simultâneo, causas sistémicas: ocupação indevida de terrenos aluviares com edifícios, desvio arbitrário de cursos de água para irrigação de outros locais, impermeabilização de determinadas áreas com construção de infraestruturas diversas impedindo o escoamento normal das águas das chuvas, etc. Uma precipitação semelhante que ocorra em locais não habitados ou corretamente ordenados territorialmente não passará, com certeza, de um acontecimento sem qualquer nota digna de registro, para além da referência meteorológica7 em si.

Na figura abaixo, pode-se observar um exemplo de ocupação indevida do solo,

com a construção de uma residência na cidade de Rio do Sul nas margens de um

7 Conservamos na citação a ortografia das palavras do autor no original, considerando as diferenças de grafia entre Portugal e Brasil.

Rio Grande do Sul

Santa Catarina

Paraná

São Paulo

Rio de Janeiro

Espirito Santo

Bahia

Alagoas

Sergipe

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ribeirão. Observa-se que além da destruição da mata ciliar e desvio do curso natural

do rio, a contenção da erosão e das inundações é realizada de forma improvisada,

por meio de um “muro de contenção” erguido com pneus:

Figura 16: Vista de edificações implantadas junto ao curso do ribeirão, sujeitas a enxurradas.

Fonte: Defesa Civil de Rio do Sul.

A questão da ocupação territorial como sinônimo de vulnerabilidade, foi um

aspecto importante trazido pela entrevistada E4, a qual apresenta uma interessante

reflexão acerca da vulnerabilidade em diferentes regiões do Brasil. Para ela, mesmo

com os problemas históricos enfrentados com as inundações, a população do Vale do

Itajaí é menos vulnerável do que as populações de algumas regiões no Estado do Rio

de Janeiro:

Mais vulnerável que quem? Que outras populações? Bom, considerando de forma geral, que o nosso índice de desenvolvimento social é melhor do que muitos lugares do país, ou seja, se a gente compara com as cidades do interior do Rio de Janeiro ou com lugares que eu vi muito vulneráveis no Rio de Janeiro. Eu andei lá, pelo interior. Nós estamos menos vulneráveis, porque lá, é mais casa amontoadinha em lugar mais inclinado. (E4, 2016)

Por certo que o índice de desenvolvimento econômico é um fator diferenciador

no Vale do Itajaí, entretanto, é importante destacar que existem muitas áreas de alta

vulnerabilidade, semelhantes aquelas situadas no Rio de Janeiro e mencionadas pela

entrevistada E4, conforme pode ser visto nas figuras abaixo.

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Figura 17: Vista das edificações de alta vulnerabilidade localizadas na borda da encosta.

Fonte: Defesa Civil de Rio do Sul.

Figura 18: Vista de edificação existente no setor, construída sobre a canalização da drenagem natural.

Fonte: Defesa Civil de Rio do Sul.

Tanto a fala quanto as imagens que selecionamos, demonstram que “[...]

ameaça só se converte em risco se a população afetada é vulnerável” (GAUDIANO,

et. al, 2015, p. 145, tradução da pesquisadora8). Nessa mesma linha de raciocínio,

Ojima e Marandola Jr (2012), esclarecem que a vulnerabilidade não pode ser

8 Una amenaza sólo se convierte en riesgo si la población afectada es vulnerable. Así, la vulnerabilidad está en relación directa con las condiciones físicas, económicas, políticas y sociales de una comunidade.

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considerada apenas do ponto de vista da exposição ao risco (casas amontoadas em

lugar inclinado, por exemplo), mas requer “[...] medidas que incorporem as

heterogeneidades inerentes aos indivíduos, grupos familiares, bairros, cidades,

regiões”. Os autores esclarecem que a exposição ao risco é um importante indicador,

porém, a vulnerabilidade deve ir além de questões econômicas, ou atreladas às

pessoas menos favorecidas economicamente.

Assim, Ojima e Marandola Jr (2012), esclarecem que a vulnerabilidade não pode

ser considerada apenas do ponto de vista da exposição ao risco (casas amontoadas

em lugar inclinado, por exemplo), mas requer “[...] medidas que incorporem as

heterogeneidades inerentes aos indivíduos, aos grupos familiares, aos bairros, às

cidades e às regiões”. Os autores esclarecem que a exposição ao risco é um

importante indicador, porém, a vulnerabilidade deve ir além das questões apenas

econômicas, ou atreladas às pessoas economicamente menos favorecidas.

Ojima (2012, p. 114) complementa muito bem essa análise:

Portanto, não bastaria apenas identificar populações em situação de risco ambiental a partir de sua proximidade com cursos d’agua, áreas sujeitas a escorregamentos ou inundações. Mas também mensurar a proximidade ou não destes ativos e políticas sociais que, de uma forma ou de outra, permitem caracterizar situações de menor vulnerabilidade social. Assim, as características individuais ou dos domicílios são estáticas e pouco descritivas nesse sentido, e preciso também inserir a população dentro do seu contexto. Afinal, incorpora-se a dimensão ambiental de maneira contextual e geográfica, mas as dimensões sociais tendem a ser tratadas como aspectos do foro íntimo dos indivíduos, descontextualizados do seu entorno.

A dimensão social traz um importante elemento para a compreensão da

vulnerabilidade do ponto de vista mais íntimo dos indivíduos, não importando as

características do entorno onde vivem, conforme explica Ojima.

Nessa mesma direção, Gaudiano et. al, destacam a importância de “[...] transitar

da administração dos desastres para a gestão da gestão de risco” (GARCÍA ACOSTA,

2005, apud GAUDIANO et al., 2015, p.145), para abordar os diferentes componentes

e dimensões da vulnerabilidade que limitam os modos de vida, minam a autoproteção

e estreitam uma intervenção social apropriada” (GAUDIANO et al., 2015, p. 145,

tradução da pesquisadora9)

9 De ahí la importancia de transitar de la administración de los desastres a la gestión del riesgo (García Acosta, 2005), para encarar los distintos componentes y dimensiones de la vulnerabilidad que limitan los medios de vida, merman la autoprotección y acotan una intervención social apropiada.

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Em seu artigo Paradojas de la sustentabilidad: ecológica versus social,

Guillermo Foladori (2007) alerta para essa contradição apontada por Ojima (2012)

entre a sustentabilidade ecológica e a sustentabilidade social. De acordo com o autor,

o paradoxo da sustentabilidade ecológica versus a sustentabilidade social é

impossível de ser resolvido dentro do regime capitalista de produção, pois esse

modelo visa à acumulação de capital, ao individualismo e ao consumo, o que não

condiz, definitivamente, com a equidade e a justiça social. Para ele “Somente a

redução das forças do mercado, que também implicaria modificações nas relações de

produção, poderia estabelecer uma relação mais equilibrada no seio da sociedade

humana com a natureza externa” (FOLADORI, 2007, p. 29).

Ao analisar a vulnerabilidade da população, após o terremoto de 2010 no Haiti,

Carr, Pluim e Théssé (2014), vão muito além das dimensões ecológica e social da

sustentabilidade, e descrevem a vulnerabilidade como uma questão que envolve a

própria democracia. Para esses autores:

[...] mudanças ambientais afetam as pessoas de formas diferentes, sendo inevitavelmente injustas, e denunciam a falta de oportunidade que alguns cidadãos vivenciam, o que torna alguns grupos sociais particularmente vulneráveis a desastres ambientais. (op. cit, 2014, p. 137)

Esse contexto apresentado pelos autores nos remete ao conceito de justiça

ambiental, como representativa, uma vez que: “[...] a noção de cidadania está

vinculada à questão do território, visto as desigualdades sociais frente aos riscos

ambientais” (NÓBREGA, 2006, p.54).

Conforme o Manifesto de Lançamento da Rede Brasileira de Justiça Ambiental,

entende-se por justiça ambiental10 o conjunto de princípios e práticas que:

a - asseguram que nenhum grupo social, seja ele étnico, racial ou de classe, suporte uma parcela desproporcional das consequências ambientais negativas de operações econômicas, de decisões políticas e de programas federais, estaduais, locais, assim como da ausência ou omissão de tais políticas; b - asseguram acesso justo e equitativo, direto e indireto, aos recursos ambientais do país; c - asseguram amplo acesso às informações relevantes sobre o uso dos recursos ambientais e a destinação de rejeitos e localização de fontes de riscos ambientais, bem como processos democráticos e participativos na definição de políticas, planos, programas e projetos que lhes dizem respeito; d - favorecem a constituição de sujeitos coletivos de direitos, movimentos sociais e organizações populares para serem protagonistas na construção de modelos alternativos de desenvolvimento, que assegurem a democratização

10 Para um maior aprofundamento da gênese e evolução desse conceito ver especialmente o artigo de Acserlrad (2002) com o título Justiça Ambiental e Construção Social do Risco.

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do acesso aos recursos ambientais e a sustentabilidade do seu uso. (BRASIL, 2001)

Assim, concordando com Nóbrega (2006, apud Ferreira, 2015, p. 153) reafirmo

então que a informação sobre os problemas ambientais, riscos e vulnerabilidade a que

estão expostos os indivíduos e comunidades são subsídios à prática da cidadania,

uma vez que cada cidadão necessita da informação, tanto para o discurso quanto para

a ação, em busca de justiça ambiental. Portanto, o direito à informação junto aos

órgãos públicos através de interesses de uma dada coletividade constitui um direito

tão importante quanto os demais devido à influência direta que este repercute na

discussão crítica dos problemas vivenciados (NÓBREGA, 2006, p.56).

6.5 QUANTO AO PAPEL DO FÓRUM PERMANENTE

A entrevistada E1 participa do Fórum Permanente desde a segunda metade de

2013 e, quando questionada quanto ao seu papel e importância como articulador de

políticas públicas ou programas de governo, assim respondeu:

Da mudança climática em si, perpassando por algumas temáticas, mas não que tenha sido feito um fórum exatamente sobre MC. Mas no papel da informação dos riscos ambientais, eu creio que ele contribui. Porém, a população que deveria vir, acaba não vindo, e geralmente quem vem são aqueles que já tem conhecimento desses riscos ambientais que a gente sofre. (E1, 2015)

Na visão da entrevistada, o Fórum atua com maior frequência como um

instrumento de informação ambiental. Entretanto, o Fórum foi originalmente criado

para promover o debate científico acerca dos riscos de desastres na Bacia

Hidrográfica, sendo, portanto, de suma importância à socialização dos resultados

obtidos a toda a sociedade.

Essa resposta da entrevistada nos remete a uma importante reflexão: embora

o Fórum possa se constituir num importante instrumento, tanto de informação

ambiental à população, quanto para sugerir e exercitar o controle social, e exigir a

implementação das políticas públicas de MC na região do Vale do Itajaí, até esse

momento não transparece essa possibilidade pela entrevistada E1.

Entretanto, essa ausência de abordagem sobre MC e, consequentemente, de

ação efetiva na discussão e na implementação de políticas públicas de prevenção de

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risco e mitigação de desastres na região do Vale do Itajaí, ficou bastante evidente na

fala de E2:

Olha, eu vejo assim, ele contribui bastante para, o nosso foco é sempre a questão dos riscos tá. Então, assim, de promover formas de, assim, discutir, de uma forma mais ampla, para que as pessoas tomem consciência desse problema. Trazer experiências de fora, a gente tem trazido sempre, procurando trazer palestrantes vindos de outros locais, que tem uma experiência, para dar um outro olhar sobre a questão do risco de diferentes áreas. Então, eu acho que isso é importante para sensibilizar a comunidade. Agora, realmente a questão, eu vou te ser sincera, a questão da mudança climática nós não enfatizamos. A gente sempre estava preocupado muito com esse risco um pouco histórico e as medidas agora que a gente deveria tomar. Realmente a gente não conseguiu ainda chegar naquele ponto de olhar para frente, quer dizer o que que está vindo ainda. (E2, 2015)

Nesse mesmo contexto, importante destacar a narrativa de E3:

Eu acho que contribui, por ele ter um efeito de capilaridade muito grande, na verdade. Mas, volto também a colocar limites nessa palavra ‘mudanças climáticas’, entende? Eu acho que, continuo batendo na tecla, eu acho que o que a gente está chamando de mudanças climáticas. Na verdade o clima em si não mudou, o que mudou é a parte de baixo desse ambiente. Quer dizer o solo mudou. Eu acho que o que a gente está vendo aqui é um efeito da ocupação, muito mais do que a mudança climática. Também não tem nenhum trabalho científico que mostre isso, mas me parece que se nós propuséssemos soluções regionais de ocupação de solo, nós teríamos um efeito grande, independentemente de haver mudança climática ou não (E3, 2015)

A fala desse entrevistado se contrapõe às anteriores. Pode até parecer que ele

é um tanto cético em relação à MC, no entanto com um olhar mais apurado, percebe-

se que sua preocupação está centrada na mudança do foco que se está dando ao

tema, o que deixa na “[...] escuridão ou na penumbra, temas importantes, como o da

histórica ocupação desordenada do solo na região do Vale, e da falta de uma política

estadual de recursos hídricos, dentre outros”. (E3, 2015)

Interessante notar, também, que inobstante todos os entrevistados afirmarem

que provavelmente a MC vem influenciando os impactos na Bacia do Itajaí, não houve

até o presente momento, a discussão do tema nas várias edições do Fórum já

realizadas.

Por último, a queixa da entrevistada E1 sobre “A população que deveria vir,

acaba não vindo [...]”, talvez se justifique por problemas de comunicação do próprio

Fórum com a sociedade, uma vez que um exame preliminar da programação das atas

dos fóruns revela uma maior participação dos próprios membros do Comitê do Itajaí.

Importante observar que os eventos são realizadas, normalmente nas universidades

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comunitárias da região (UNIDAVI, FURB, UNIFEBE), o que acaba reforçando o

caráter acadêmico do Fórum.

Entretanto, essa concepção acerca da participação da população, é bastante

diferenciada para E3:

[...] a gente consegue trazer conhecimentos de gestão, conhecimentos científicos, pra população do Vale, porque das pessoas que participam do Fórum, existe um percentual muito grande de pessoas da população. É diferente de outros lugares, que muitas vezes os fóruns ficam restritos à universidade ou a órgãos do governo e tal. E a gente vê que não, quer dizer, realmente as pessoas participam do Fórum, quer pela influência do Comitê de Bacia, quer por estarem acontecendo em universidades onde os alunos são convidados, mas não necessariamente por força de uma atividade científica, puramente cientifica, mas ele é bastante participativo. (E3, 2015)

Esses dois importantes aspectos da informação ambiental e da participação da

sociedade no Fórum já emergiram durante a pesquisa documental e a construção da

fundamentação teórica desse trabalho. Perceberam-se uma série de lacunas quando

procuramos reconstruir a história do Fórum Permanente de Prevenção de Desastres,

apresentado no capítulo 4. No entanto, tivemos o privilégio de contar com uma das

entrevistadas nesse trabalho que testemunhou a formação desse coletivo, e colocou-

se a nossa disposição para esclarecer nossas dúvidas.

A pesquisadora E4 teve uma ampla participação no processo de formação do

Fórum, o qual podemos resumir da seguinte forma, no Quadro 4 a seguir:

Quadro 4: Síntese da construção histórica do processo de formação do Fórum de Prevenção de

Desastres da Bacia do Rio Itajaí.

1996 Surgimento da ideia de criação do Comitê do Itajaí. Naquela época, as barragens de contenção de enchentes estavam abandonadas no Estado de Santa Catarina. O problema das enchentes era tratado pelo Governo Federal.

1997 Em 5 de agosto de 1997, por meio do Decreto Estadual 2.109, foi criado o Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí, denominado simplesmente de Comitê do Itajaí. Trata-se de um órgão deliberativo e consultivo O governo do Estado de Santa Catarina levou um ano para reconhecer oficialmente o Comitê.

1998 Instalação e início das atividades do Comitê. Nesse mesmo ano, uma comissão formada por prefeitos, professores e integrantes do Comitê foi a Suíça e para a Alemanha, conhecer a Bacia do Rio Reno, como ocorriam as enchentes e a forma de gestão dos riscos naqueles países

1999

O Governo do Estado de Santa Catarina solicita ao Comitê do Itajaí a elaboração de um Plano de Prevenção de Enchentes. Entretanto, o Comitê não concordava com a proposta do Plano de Contenção de Cheias no Vale do Itajaí, elaborado pela Agência de Cooperação Internacional do Japão (JICA). Este projeto Jica, é fruto de uma um convênio de cooperação técnica internacional, firmado em abril de 1986, sob os cuidados da Diretoria Regional do DNOS, a Japan International Cooperation Agency – JICA. Em conseqüência da desativação do DNOS, o projeto da JICA foi assumido pelo Governo do Estado de Santa Catarina (gestão 1991-1994), que elaborou uma proposta ampla intitulada Plano Global e Integrado de Defesa contra Enchentes - Ecossistema Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí-Açu, ou simplesmente PLADE, com a

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finalidade de obter recursos externos para as obras previstas pelo projeto da JICA. O financiador em potencial seria o OECF - Fundo Ultramarino de Cooperação Financeira. Em junho de 1999, após três dias de discussão e, não concordando com o projeto JICA, o Comitê do Itajaí elaborou o Plano de prevenção de enchentes, o qual, após muita resistência, foi aprovado no Conselho de Recursos Hídricos de Santa Catarina

2005

Vários anos se passaram, mas sempre era pauta das reuniões do Comitê do Itajaí, o sistema de alerta e prevenção de enchentes. Criação da Câmara Técnica de Desastres, ocupada pela Defesa Civil. Não houveram avanços significativos, porque somente se conseguiu pensar em respostas, e não na prevenção ou mitigação das enchentes.

2008 Ocorre o desastre das enchentes na região do Vale do Itajaí. O Comitê foi reunido em caráter de emergência. Cumpre ressaltar que o governo do Estado não costumava consultar o Comitê do Itajaí para discutir o Plano de Bacias.

2009

No mês de maio, foi realizada uma reunião na Assembleia Legislativa do Estado, da qual participaram as autoridades municipais para apresentar trabalhos e ideias dos membros do Comitê no sentido de desenvolver um plano para a Bacia do Rio Itajaí. O resultado foi criar uma comissão responsável por desenvolver um plano para a Bacia do Itajaí e que servisse de referência para o Governo na implementação de políticas públicas. Houve a geração do plano (PPRD). Foi aprovado no Conselho de Recursos Hídricos de Santa Catarina. O Comitê do Itajaí ele incorporou o PPRD no seu Plano de Bacias, que por sua vez, foi aprovado em 2010. Ao mesmo tempo, o Governo do Estado não encampou a ideia, pois queria um plano da JICA.

2010 Plano de Bacias.

2011-

2012

O Estado novamente insistiu no Projeto JICA, em detrimento do Plano de Bacias. Assim, o Comitê tentou traçar discussões sobre o Plano de Contenção de Cheias no Vale do Itajaí, elaborado pela Agência de Cooperação Internacional do Japão (JICA)11. Houve a realização de Audiências Públicas organizadas pelo Comitê12 para explicar o Plano à população. Como resultado das audiências verificou-se que a população não queria as obras. Desta divergência entre o Comitê e o governo do Estado, nasceu a ideia de criar o Fórum Permanente, com a participação das universidades, Governo Estadual e Municipal e sociedade Civil

Fonte: Elaborado pela autora a partir da entrevista realizada com E4.

Segundo a entrevistada E4, a ideia que norteou o surgimento do Fórum

Permanente de Prevenção de Desastres da Bacia do rio Itajaí surgiu da ideia de que

a prevenção de enchentes não passava, necessariamente, pela criação de medidas

estruturais, mas sim, partindo-se das premissas de que a prevenção aos riscos requer

o conhecimento e aplicação de medidas de prevenção e mitigação.

11 Ver comentários sobre esse Plano da JICA, e a posição dos governos estadual e federal em http://wp.clicrbs.com.br/moacirpereira/2011/12/28/ministra-ouve-exposicao-sobre-projeto-jaica/? topo=67,2,18,67, bem como a previsão das obras previstas e seus custos em http://wp.clicrbs.com.br/moacirpereira/2011/12/29/enchentes-as-obras-previstas-no-projeto-jaica/?topo=67,2,18,,,67 (Acesso em 12 abril 2016.) 12 O único registro das audiências localizada na internet, foi na página da Prefeitura de Ituporanga divulgando a realização de uma das audiências. http://www.ituporanga.sc.gov.br/noticias/audiencia-publica-discutira-plano-de-contencao-de-cheias-2051.htm.

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Figura 19: Edição de junho de 2012 do Jornal do Comitê do Itajaí, com matéria sobre a criação do Fórum Permanente.

Fonte: Acervo da autora.

Diante desse cenário traçado por E4, torna-se relevante uma questão

ressaltada pela entrevistada E1, que diz respeito à necessidade de uma visão

sistêmica para o entendimento do desastre e também das medidas de prevenção e

mitigação. Segundo ela:

Veja só, é um pouco aquela história (...), nós temos que tomar medidas estruturais de contenção de cheias, e eu acho que isso é pertinente. Mas, também eu vejo, hoje, muito mais é organizar a sociedade civil para estar preparada para isso. Não adianta nada eu fazer obras estruturais e dizendo que nós vamos estar livres destes problemas no futuro, porque construindo sete barragens, por exemplo, no Alto Vale, nós não teremos mais enchentes no município de Rio do Sul ou na Bacia. Não é isso (...) quer dizer, os problemas vão continuar acontecendo. Muitas vezes o que vai acontecer é o retardamento do efeito desse impacto, mas o fenômeno continua. Então, o que se vende hoje, um pouco, é essa desinformação para a sociedade, é que essas obras de infraestrutura vão resolver, e não é o que o cenário está mostrando. Assim, o que a gente está vendo na frente, é um agravamento do problema, e não vai ser com obra de engenharia que a gente vai resolver isso. Eu acredito mais nessas medidas não estruturais. É um trabalho forte de educação, e de preparação da sociedade. Ela saber (...) a aprender a conviver com essas mudanças. Não tem saída, não tem outra alternativa. (E1, 2015)

Como se vê, reforçando o relato de E4 sobre as causas da formação do Comitê,

a partir do conflito dos membros do Comitê da bacia com o governo estadual, a

entrevistada também demonstra uma preocupação muito grande, e expressa seu

descrédito nas medidas estruturais relacionadas com a construção de mini-barragens

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de contenção, que podem até minimizar, mas não resolver o problema das inundações

no Vale do Itajaí.

Por outro lado, conforme demonstrado, ela aposta nas medidas não estruturais

de prevenção de desastres, as quais ganharam especial destaque na legislação.

Sobre isso, e corroborando uma série de medidas até aqui apontadas pelos

entrevistados neste estudo, Carvalho (2015, p. 45) expressa essa necessidade da

seguinte forma:

Exatamente em razão das características dos desastres mais recorrentes no contexto brasileiro (enchentes, deslizamentos e secas), as principais estratégias adotadas na legislação dizem respeito preponderantemente a sistemas de informação para prevenção de desastres e instrumentos de controle e ordenação do solo.

Se considerarmos que no atual contexto de MC – não levando em conta a

polêmica entre aquecimentistas e céticos -, quando a ocorrência de desastres tem

sido uma constante, as medidas de prevenção são extremamente necessárias e

urgentes. Assim, não há que se falar em prevalência de medidas estruturais sobre as

não estruturais. Ambas devem ser aplicadas de maneira a auxiliar as populações mais

afetadas pelos desastres, pela questão, tanto de participação e controle da sociedade

civil, quanto de justiça ambiental, como anteriormente já abordamos,

Para a entrevistada E2, esse conjunto de medidas estruturais e não estruturais

são essenciais para a sociedade, sendo que há muita desinformação quanto à sua

efetividade:

Veja só, é um pouco aquela história (...), Nós temos que tomar medidas estruturais de contenção de cheias. Eu acho que isso é pertinente, mas também eu vejo, hoje, muito mais é organizar a sociedade civil para estar preparada para isso. Não adianta nada eu fazer obras estruturais e dizendo que nós vamos estar livres destes problemas no futuro porque construindo sete barragens, por exemplo, no Alto Vale nós não teremos mais enchentes né no município de Rio do Sul ou na Bacia. Não é isso né, quer dizer, os problemas vão continuar acontecendo. Muitas vezes o que vai acontecer é o retardamento do efeito desse impacto, mas o fenômeno continua. Então, o que se vende hoje, um pouco, é essa desinformação para a sociedade, é que essas obras de infraestrutura vão resolver e não é o que o cenário está mostrando né? (E2, 2015)

Concluindo esse resgate do histórico do Fórum Permanente de Prevenção aos

Riscos de Desastres, observa-se que ele surgiu da necessidade de se ter um efetivo

espaço de discussão junto à sociedade civil, universidades, defesa civil, dentre outros

órgãos, acerca das resultantes dos desastres que, rotineiramente, assolam a região

do Vale do Itajaí.

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6.6 DAS RESPONSABILIDADES PELAS POLÍTICAS PÚBLICAS AMBIENTAIS

Dando sequência à abordagem do tema, na questão seguinte do roteiro de

entrevista procuramos identificar a quem os atores sociais13 atribuem a

responsabilidade pela busca de soluções em relação à redução dos riscos de

desastres. Trata-se de uma análise sobre a responsabilidade pela criação e

implementação das políticas públicas ambientais

A esse respeito, a entrevistada E1 mencionou que, tanto o Estado, quanto a

sociedade, não exercem seu papel.

Quanto aos integrantes do Fórum em si, a gente nunca sentou e conversou e entrou numa padronização sobre o que gente pensa nisso, até porque a gente se reúne geralmente nos fóruns, e fora isso, é via e-mail e outros contatos. Mas do meu ponto de vista, eu creio que é questão de coletividade. Não basta a gente colocar a culpa somente no governante, enquanto a população em si não faz nada. Então eu creio que seja falta de políticas públicas, em si, mas também de questão cultural, mudança de cultura, mudança de hábito, e falta de educação ambiental da população no todo. (E1, 2015)

Já para E2:

Olha eu vejo assim, a responsabilidade é de cada cidadão. É, eu não acho que a gente possa concentrar essa responsabilidade apenas no Estado, né. Eu vejo assim, eu acho que as pessoas, elas recebem informação, muita informação, sobre né os riscos, hoje em dia, a mídia toda ela tem enfatizado, muito essa problemática, então as pessoas tem que começar a se preocupar um pouco com isso. Então, eu acho que cada um tem a sua parcela de responsabilidade nesse processo. (E2, 2015)

Com efeito, aqui se manifestam, mais uma vez, os referenciais adotados nesta

pesquisa, segundo os quais, a ideia de construção de um novo paradigma nas

políticas públicas envolve o diálogo entre o Estado e a sociedade, na superação dos

conflitos.

Este diálogo entre Estado e Sociedade foi expressamente previsto no art. 225

da Constituição Federal, que dispõe acerca da participação de ambos, no cuidado e

na preservação do meio ambiente. Assim, denota-se que as duas entrevistadas

apontaram para a participação conjunta de Estado e sociedade em perfeita

consonância com o texto constitucional.

13 Como apresentado na introdução deste trabalho, na nota de referência 1, consideramos nesse estudo como ator social, as “pessoas ou grupos sociais, instituições também podem ser atores sociais: um sindicato, partidos políticos, jornais, rádios, emissoras de televisão, igrejas etc.” (SOUZA, 1991, grifo da pesquisadora)

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Referindo-se a essa participação social, respaldada na CF de 1988, Wolkmer

e Paulitsch (2013, p. 266) observam o que segue:

Em outras palavras, o direito fundamental ao ambiente, contemplado na Constituição Federal de 1988, passa a vincular a atuação estatal e demanda, para sua concretização, a realização de uma justiça ambiental constitucional conjugada à governança ambiental, denotando a democracia participativa, especialmente no tocante à sensibilização da coletividade sobre questões ambientais e à sua organização e à participação na promoção e na proteção da sadia qualidade do meio ambiente.

Cruz (2010, p. 202) aponta que essa democracia participativa “[...] pode

representar um estágio mais avançado do conceito de Democracia. É a Democracia

como valor social e não apenas como procedimento”. Para o autor, a democracia

participativa não se resume à tomada de decisões políticas, mas à participação efetiva

da sociedade nos processos de deliberação que levam a decisões efetivas e

definitivas.

Assim, cada vez mais se procura um diálogo entre o Estado e Sociedade na

construção de políticas públicas pois “Os movimentos realizam diagnósticos sobre a

realidade social, constroem propostas. Atuando em redes, constroem ações coletivas

que agem como resistência à exclusão e lutam pela inclusão social”. (GOHN, 2011, p.

336)

Carr, Pluim e Thésée (2014, p. 149) por sua vez, ressalta a importância do

diálogo para resolução de problemas sociais, pois:

A falta de participação - ou, pelo menos de uma consideração crítica – dos mais vulneráveis em decisões centrais, ilustra as catástrofes vivenciadas pelos grupos vulneráveis não resultam de problemas ambientais, mas sim de um problema ligado diretamente à democracia.

Concordamos com os autores, pois a democracia participativa representa o

protagonismo da participação social no processo de tomada de decisões.

Nessa mesma linha de raciocínio, Gohn (2004) denomina de “empoderamento”,

o processo onde a comunidade “passa ser protagonista de sua própria história” (op.

cit., p. 23). Para a autora, esse protagonismo da participação social pode-se se referir

a mobilizações e práticas destinadas a promover e impulsionar grupos e

comunidades, ou visar ações mais específicas, destinadas a, simplesmente, promover

a pura integração das pessoas excluídos ou carentes.

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Entretanto, nesse contexto, Andrade et al. (2012) ressaltam que “Ao se

estabelecer, no entanto, a opção pela participação social na construção de políticas

públicas, encontra-se um novo obstáculo, que é a ausência de espaços que garantam

tal participação”. (op. cit., p. 615)

Nesse contexto, é interessante destacar que o Fórum Permanente de

Prevenção ao Riscos de Desastres surgiu, justamente, dessa participação ou

manifestação popular, conforme esclarece E3:

Eu acho que a própria existência do Comitê, como o Comitê de Bacias nasceu, partiu da manifestação popular, o próprio Fórum ele tem essa característica também. Eu acho que a gente acaba atribuindo a responsabilidade a gente mesmo. Isso é uma característica de Santa Catarina, principalmente do Vale do Itajaí. Essa colonização que acabou dando isso, a gente não espera por governo, então você acaba promovendo as soluções você mesmo. E o que a gente acaba entrando em conflito, muitas vezes, é porque a gente tenta fazer, e aí vem o governo do Estado, que é quem tem a responsabilidade legal, porque a Bacia é uma Bacia Estadual, então teoricamente quem tem que tomar conta é o governo do Estado, realmente a atribuição legal é deles, e aí, em cima disso a gente propõe de outra forma, e a gente entre em conflito né, normalmente é isso. Mas, a gente, nunca percebeu o Governo do Estado como sendo responsável, pelo menos nunca quis ser, a gente chama para gente mesmo a responsabilidade.

Observa-se que no caso do Fórum Permanente de Prevenção aos Riscos

surgiu como um movimento para a discussão de práticas educativas e políticas sociais

voltadas aos riscos e desastres ambientais no Vale do Itajaí. Percebe-se que houve,

então, um movimento de reflexão e tomada de ação por alguns atores sociais

preocupados com as políticas públicas adotadas pelo Governo do Estado de Santa

Catarina. Novamente, fica nítido o descontentamento da população, dos movimentos

sociais e da comunidade científica em relação à adoção de medidas estruturais como

única forma de prevenção de enchentes.

Nesse contexto de participação social no desenvolvimento de políticas

públicas, é de fundamental importância o incremento de uma educação para a

democracia, conforme explicam Carr Pluim e Thésée (2014). Para os autores “A

ausência de uma educação democrática ‘espessa’ ou de pedagogias críticas ou

transformadoras, permite-se a reprodução de desigualdades, estruturas hegemônicas

e vulnerabilidades sociais”. (op. cit., p.150)

Essa ausência da dimensão ambiental da Educação, especialmente das

abordagens críticas, é destacada por Gohn (2011) ao relembrar Vygotsky, Paulo

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Freire e outros, uma vez que para eles, “o aprendizado faz sentido para os indivíduos

quando inseridos em um dado contexto social14”. (op. cit, p. 352)

Com efeito, no atual contexto brasileiro e mundial, a educação, especialmente

a Educação Ambiental, mostra-se como fundamental para o desenvolvimento da

participação e controle social das políticas públicas ambientais, conforme argumenta

E4: “Então, tem coisas que são responsabilidade do Estado, outras são de

responsabilidade do município. Tem também coisas que são de responsabilidade do

cidadão. Cabe a todos. E claro, muita coisa, a educação para permear essas ideias.

(E4, 2015)

Por último, destaque-se restar bastante evidente que a responsabilidade na

busca de soluções em relação à redução dos riscos de desastres na região é um

compromisso de todos os atores sociais. É importante relembrar que a própria

Constituição Federal, lei máxima do nosso país, dedicou vários dispositivos ao

assunto, inclusive elevando a defesa do meio ambiente à categoria de princípio

constitucional e enaltecendo o princípio da solidariedade na responsabilidade pelas

políticas públicas ambientais.

6.7 O CONHECIMENTO SOBRE AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE PREVENÇÃO E MITIGAÇÃO DOS DESASTRES

Ainda no que se refere às políticas públicas, questionou-se os entrevistados

sobre a compreensão daquelas que se referem à prevenção e mitigação dos

desastres ambientais.

A entrevistada E2 demonstrou conhecimento do assunto e identificou inúmeras

políticas públicas existentes para a mitigação de desastres:

Olha, se nós pegarmos a política ambiental, por exemplo, né uma medida de prevenção. É, só o respeito as áreas de preservação permanente, tu já estás assim, estaria dando uma contribuição imensa para evitar os riscos de desastre. Só deixar a margem, por exemplo, 100 metros ao longo do Rio Itajaí Açu, como observando as áreas de APPS... Eu não estou querendo dizer para tirar as cidades que já estão, evitar que daqui para frente a partir da aprovação da Lei 12651, que foi em 2012, que é a nova lei de proteção da

14 Para efeitos didáticos a autora destaca as múltiplas possibilidades de aprendizado, tanto individual quanto para o grupo social ocorrem nos processos de luta dos movimentos sociais. Dentre elas, a autora destaca as articulação entre as aprendizagens prática, teórica, técnica instrumental, política, cultural, linguística, sobre a economia, simbólica, social, cognitiva reflexiva e aprendizagem ética (GOHN, 2011, p. 352-3)

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vegetação nativa, se só isso fosse observado, já seria um fator importante para a gente reduzir os riscos de desastres. (E2, 2015) Na política de Proteção e Defesa Civil, eu vejo assim, além da infraestrutura, mas todo o, sistema de monitoramento e alerta é uma ferramenta fundamental para poder prevenir os riscos. Na política de desenvolvimento urbano, toda a política de uso e ocupação do solo, que está lá no plano diretor, se os planos diretores fossem efetivamente aplicados, a gente teria também (...) um uso melhor do solo urbano, evitando essa variável social dos desastres ali. Em boa parte é pela má ocupação das áreas urbanas, então uma política habitacional séria também evitaria, auxiliaria tanto na prevenção, quanto na mitigação aos riscos de desastres. Eu diria assim, eu citei algumas medidas, mas todas essas, por exemplo, construção de residências a baixo custo, fora das áreas de risco para as populações de baixa renda, seria uma medida de fundamental importância para garantir a resiliência desta população mais pobre aos eventos críticos né? Então, mas a gente sabe hoje nas áreas urbanas, os terrenos que estão as vezes fora das áreas de risco são os terrenos caros que são inacessíveis para as pessoas de baixa renda, e no final as pessoas acabam tendo que ir mesmo para aqueles locais que são sujeitos a deslizamentos de terra, inundações. Então esse é um problema, (...) todas essas políticas tem instrumentos interessantes que podem ser utilizados, e que o problema é que eles tem que ser usados de forma conjunta para potencializar o efeito deles né. (E2, 2015)

A longa reflexão de E2, corrobora o que foi apresentado na fundamentação da

presente dissertação. Realmente, existe um arcabouço legislativo bastante

significativo no que se refere às políticas públicas ambientais, sendo que o problema

consiste na sua implantação.

Com efeito, a entrevistada E1 não relatou as políticas públicas existentes na área

de mitigação e prevenção dos desastres, mas ressalvou que inexiste implementação

na região do Vale do Itajaí. Para E1 existe “(...) muita fala, muito discurso ou palestras

informativas, mas na prática eu não consigo visualizar políticas públicas assim que

estejam sendo eficientes”. (E1, 2015)

A entrevistada relata que a ausência de implementação de políticas públicas,

acarreta graves consequências para a população, a qual, muitas vezes, sequer recebe

informações adequadas do Poder Público:

Até uma questão que não é difícil, e que pode acontecer, é se respeitar o princípio da informação. A gente vê que, por exemplo, na enchente de 2011, para a população de Rio do Sul, o que faltou? A informação! Por isso que ela deu, da dimensão que deu. Então, as políticas públicas, em si, eu não vejo que estejam sendo efetivadas de fato como deveriam. (E1, 2015)

A formulação e a implementação de políticas públicas não é uma tarefa fácil, e

exige sensibilização de todos, sendo que Estado e a sociedade devem caminhar

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juntos na busca de soluções e de novos caminhos para mitigar riscos ambientais e

prevenir os desastres, conforme explicam Andrade et al (2014, p. 821).

Entretanto, esse diálogo para a construção de um novo paradigma nas políticas

públicas, encontra óbices e barreiras impostas, ora pelo próprio Estado, ora pela

própria sociedade.

Um aspecto interessante retratado pelo entrevistado E3, consiste na existência

de projetos voltados à correta ocupação do solo e o desenvolvimento de agricultura

sustentável no Estado de Santa Catarina, os quais não conseguiram ter continuidade,

ante a necessidade de desenvolvimento de métodos que privilegiassem a produção:

Tínhamos aí, não sei até quando a gente ainda tem esses projetos do governo do Estado, de microbacias, que eram projetos interessantes de ocupação do solo, de agricultura não totalmente sustentável, mas com viés de... Esses projetos eram muitos bons assim. Eu não sei, as notícias recentes que eu tive, eu não sei se isso permanece ou não, mas é que toda essa iniciativa estava meio que se acabando, porque a necessidade de produção, estava fazendo as pessoas voltarem a métodos mais antigos, que tem menos respeito a terra. Essa era muita política pública interessante. (E3, 2015)

Percebe-se que a política pública mencionada por E3, deixou de ser

implementada ante a dificuldade de conciliar desenvolvimento econômico e

sustentabilidade. Efetivamente, esse é um grande desafio na atualidade, pois, é

necessário abandonar uma visão desenvolvimentista e prestigiar a proteção ao meio

ambiente como uma forma de controlar os danos ambientais. Nesse contexto, Freitas

(2012, p. 14) ressalta que, a sustentabilidade não é um delírio ou uma ilusão, e pode

coexistir com o crescimento econômico.

Outro problema foi apontado pela entrevista E2, consiste no isolamento entre o

Estado e a sociedade na articulação e convergência entre as diversas políticas

públicas, fato que acarreta dificuldades na gestão do risco e prevenção de desastres.

Para a entrevistada:

Hoje, infelizmente cada política dessas, nós temos um conjunto de atores que é responsável pela sua implementação, eles conversam muito pouco com as demais políticas. Então, esse isolamento, essa falta de abertura para uma ação articulada é que acaba prejudicando, um pouquinho, a implementação né, ou a efetivação da gestão de risco. (E3, 2015)

Nessa perspectiva, a entrevistada da E4 ressalta que os problemas decorrentes

da gestão do risco também incluem a escolha equivocada de ações por parte do

Estado. Para a entrevistada, existem políticas voltadas à prevenção de eventos

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climáticos extremos, mas a escolha por medidas puramente estruturais, acarreta a

não resolução dos problemas:

Elas tem, numa política de recursos hídricos diz lá: prevenção de eventos extremos, é um de seus objetivos. Isso envolve muita coisa. Então, em região de seca, onde antes não tinha, por exemplo, no Estado de Santa Catarina, no Oeste, toda hora tem estiagem. Na verdade, não falta chuva. Lá chove mais do que aqui, em alguns lugares. Porque que falta água? Porque eles não tem floresta! Então, a água não fica no solo. Aí, mas ninguém discute: “pera aí, porque é que não tem?”. Então, vamos plantar mais mato. Não. Todo mundo só, e o Governo do Estado só financia perfurar mais poços. Não resolve o problema.” (E4, 2015)

Assim, percebe-se que, efetivamente, existem muitas políticas públicas

desenvolvidas no Brasil, mas também encontramos problemas no que se refere à

sensibilização da sociedade e às escolhas políticas inadequadas por parte do Estado

Não bastasse isso, a omissão ou a estagnação do Estado em relação à crise

climática, também é muito preocupante. Nesse âmbito, Viola e Franchini (2013, p. 56)

alertam que, a partir de 2011, não houveram avanços significativos na área:

A partir de 2011, o rumo da política doméstica brasileira começou a ser cada vez menos convergente com a agenda climática proposta em 2009 e 2010. Não apenas o tópico abandonou o discurso governamental, mas essa indiferença se concretizou numa série de ações e omissões que listamos a seguir. A estagnação da implementação da lei do clima é o principal indicador da posição marginal da questão climática no Brasil após o ápice de 2009-2010.

Essas hipóteses de estagnação e indiferença governamental, citadas por Viola

e Franchicini (op. cit.), também são perceptíveis e se acirraram em nível regional,

desde o confronto das universidades e das organizações da sociedade civil,

principalmente de pesquisadores das universidades, que se posicionaram de forma

contrária aos interesses do governo do Estado, tanto na aceitação do Projeto JICA de

prevenção das enchentes, quanto no que diz respeito aos espaços de discussão do

texto da Lei do Código Ambiental do Estado, aprovado pela Assembleia Legislativa,

em 2012.

A referida aprovação, abriu caminho ao enfraquecimento da legislação ambiental

no estado e no país.

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6.8 A EA COMO POLÍTICA PÚBLICA NA MITIGAÇÃO DE RISCOS E PREVENÇÃO DE DESASTRES AMBIENTAIS

Por último, buscou-se identificar, junto ao grupo de atores entrevistados, sua

concepção dos mesmos acerca da EA como um mecanismo de mitigação de riscos e

prevenção de desastres ambientais.

Para a entrevistada E1, a EA possui legitimidade a partir do momento em que é

desenvolvida em todos os níveis de ensino:

Então, eu acho que a Educação Ambiental tem que ser feita desde os pequenos, e isso vai avançando, e aí sim eu acredito que: Ah! A enchente vai ocorrer, vai, mas a população vai estar mais preparada, os impactos serão menores, porque as pessoas já vão fazer construções apropriadas que no caso de uma cheia e eles vão ter um espaço, casa, em cima de pilares (...). Desde os pequenos, e isso vai avançando. (E1, 2015)

Nesse contexto, é importante ressaltar que a oferta da EA em todos os níveis

de ensino, está presente na Legislação nacional desde a Lei 6.938 de 31 de agosto

de 1981, que no inciso X do art. 2º dispõe:

Art 2º - A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento sócio-econômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana, atendidos os seguintes princípios: X - Educação ambiental a todos os níveis de ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do meio ambiente.

Posteriormente, a CF de 1988 manteve a presença da Educação Ambiental em

todos os níveis de ensino, através do inciso X do art. 225: “VI - promover a educação

ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a

preservação do meio ambiente”.

Finalmente, a Lei n 9.795 de 1999, que institui a PNEA, regulamentada em

2002, definiu que “a educação ambiental é um componente essencial e permanente

da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os

níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não-formal”. Nessa

conjuntura, em 2003, uma consulta nacional produziu de forma participativa o

Programa Nacional de Educação Ambiental – ProNEA. (BRASIL, 2005)

Com efeito, Sorrentino et al. (2005, p. 287), afirmam que “A abordagem do

Programa Nacional de Educação Ambiental reitera um entendimento, historicamente

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construído, dos desafios desta como processo dialético de transformação social e

cultural.”

Para a entrevista E2, a EA também deverá acontecer em todos os níveis, mas,

vai muito além disso, pois através da Lei 12.608 de 10 de abril de 2012, que institui a

Política Nacional de Proteção e Defesa Civil, houve a inserção da temática relativa à

prevenção de riscos e mudança climática: Segundo ela:

A Lei 12.608, ela coloca claro, essa educação tem que acontecer no ensino básico e no ensino médio. Hoje a lei de diretrizes e bases da educação obriga que ela tem que incorporar no seu conteúdo, tanto no ensino básico, quanto no ensino médio, esse conteúdo da prevenção pra mudanças climáticas e prevenção de riscos. (...) Mas eu não preciso só trabalhar com a educação formal, a gente pode trabalhar com a educação informal, e que talvez, às vezes tenha um alcance bem maior, pode contribuir para uma mudança cultural no que se refere aos riscos. (E2, 2015)

Com efeito, os desafios que a EA e os educadores enfrentam, hoje, são mais

sérios e complexos do que as bandeiras que o movimento ecológico carregava na

década de 70 e 80 do século passado.

Hoje, em função da crise ambiental e dos efeitos da MC, não há mais sentido

em desenvolver um EA conservadora, somente com ações para a separação de

resíduos ou de economia de água e energia. O enfrentamento da mudança climática,

a apreensão de conceitos como de risco, vulnerabilidade e resiliência são o novo

desafio, tanto aos educadores e educadoras ambientais, bem como, de modo

abrangente, à totalidade da sociedade.

Entretanto, para dois dos entrevistados, a Educação Ambiental, atualmente,

não está conseguindo oferecer o suporte necessário para o enfrentamento da

mudança climática, bem como outros aspectos relativos ao tema:

(...) A educação ambiental ela é super importante, mas temos aí, não sei, eu pelo menos me sinto as vezes um pouco frustrado pelos resultados (...). Eu ouço falar em educação ambiental desde que eu era criança, assim, eu já tinha educação ambiental na escola e nada mudou, na verdade. Eu tenho dúvidas, com relação, se vamos realmente atingir um objetivo, um resultado lá na frente. Mas não diminuo a importância. É ali que a gente realmente consegue fazer as crianças, e adultos também, mas todos a terem os contatos com a questão ambiental. (E3, 2015)

Essa mesma frustração está presente na fala de E4:

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Agora eu vou te falar uma coisa que, não sei se tu vais gostar. Na verdade, eu vou até dar um exemplo. Eu acho que a Educação Ambiental tem um papel muito importante nisso, desde que ela realmente trabalhe muito com ecologia, ou seja, não com a ecologia, apenas a relação de plantas e animais, mas a relação desses fenômenos, porque tudo que eu estou te falando, tem por trás, um entendimento muito claro de como esses fenômenos ocorrem, ou seja, como a chuva causa isso, causa aquilo, a função da vegetação, etc. Ou seja, a conexão entre isso tudo. É, e esse tipo de coisa é, praticamente não é trabalhado pela Educação Ambiental, porque os Educadores Ambientais não conhecem isso. (E4, 2015)

Concordando com os entrevistados, Jacobi (2003), afirma que efetivamente a

Educação Ambiental tem sido desenvolvida dentro de uma modalidade formal, sendo

que os temas predominantes são “lixo, proteção do verde, uso e degradação dos

mananciais, ações para conscientizar a população em relação à poluição do ar.” O

autor conclui que a Educação Ambiental que tem sido desenvolvida no Brasil é muito

diversa, sendo que a presença dos órgãos governamentais como articuladores,

coordenadores e promotores de ações ainda é restrita.

Loureiro (2007), explica que um dos objetivos da Educação Ambiental atual é

repensar os próprios objetivos de projetos e práticas pedagógicas. Para o autor a

Educação Ambiental não visa conscientizar alunos e comunidades, mas sim,

encontrar maneiras de “[...] sensibilizar para o ambiente; transmitir conhecimentos;

ensinar comportamentos adequados à preservação, desconsiderando as

características socioeconômicas e culturais do grupo com o qual se trabalha”. (op. cit.,

p. 68)

Entretanto, é possível buscar ações significativas em EA em pesquisas como de

Gaudiano et al (2015), desenvolvida em municípios em condições de alto risco de

desastres, no estado de Veracruz, no México. O autores apresentam diversas

estratégias inter e intracomunitárias que contribuem para a redução de riscos das

comunidades mais vulneráveis, mediante estratégias participativas com diferentes

atores comunitários, mais, especificamente jovens e com um enfoque de gênero,

buscando incrementar sua resiliência social.

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7 CONSIDERAÇÕES E RECOMENDAÇÕES

Diante da fundamentação teórica e dos dados analisados foi possível

estabelecer considerações acerca das questões de pesquisa e dos objetivos

propostos.

Para a maioria dos atores sociais da pesquisa, a interferência humana foi

compreendida como a causa da mudança climática no Planeta Terra. Entretanto,

quanto às consequências da mudança climática no meio ambiente ou na região em

que vivem, parte dos atores sociais correlacionou a mudança climática com a

ocorrência de eventos climáticos extremos, enquanto que para outros, a mudança

climática está ocorrendo em escala global, mas não é o único fator desencadeador de

desastres do Vale do Itajaí. Nesse contexto, o aspecto geográfico e a ocupação

indevida do solo são fatores decisivos para o agravamento dos desastres na região.

Destaca-se da observação que não obstante o fato da mudança climática ter

sido apontada como causa de desastres ambientais na região, desde a criação do

Fórum Permanente de Prevenção de Desastres na Bacia do Itajaí, ocorrida no ano de

2012, não houve a abordagem dessa temática nos eventos.

Quanto ao entendimento do conceito de risco, percebeu-se a compreensão de

sua conexão à dimensão social, mas, nas falas, houve pouco aprofundamento sobre

a abordagem sociológica da questão. Para dois atores da pesquisa, o risco é

compreendido em seu aspecto de incerteza, probabilidade e onipresença. Para outros

atores, o risco está mais vinculado às causas físicas ou decorrentes de um fenômeno

natural, ou agravados pela atividade humana e ocupação do território, sendo, portanto

decorrentes da vulnerabilidade.

Para três dos quatro atores entrevistados, a vulnerabilidade está relacionada à

ocupação indevida do solo e das cidades que margeiam a Bacia do Rio Itajaí. Assim,

haja vista o crescente aumento das chuvas na região, os atores apontaram que a

população do Vale do Itajaí está mais exposta que outras, ao risco de desastres. Para

uma entrevistada, essa vulnerabilidade está vinculada à falta de capacidade da

população em absorver o desastre que está ocorrendo.

Já para a entrevistada E1, a vulnerabilidade da população do Vale do Itajaí ocorre

em razão da incapacidade de reação ou falta de preparo para enfrentar o perigo de

desastres. Observou-se que, se, por um lado, essa fragilidade restou caracterizada

em decorrência da localização, ou seja: o aspecto geográfico da Bacia expõe os

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moradores do Vale do Itajaí aos efeitos dos eventos climáticos, o que não é um fato

novo, pois ocorre desde a ocupação desordenada da região do Vale do Itajaí pelos

colonizadores. Por outro, a vulnerabilidade também restou caracterizada na

perspectiva da falta de preparo dos moradores para enfrentar os problemas, o que

caracteriza a mudança climática, não só como um evento ambiental, mas também

social.

No que se refere às políticas públicas, confirmou-se a necessidade de diálogo e

de uma participação igualitária entre Estado e sociedade. Por outro lado, acerca do

conhecimento de políticas públicas ambientais mitigadoras de desastres, evidente

está que há um enorme cabedal de mecanismos na legislação, mas que, na prática,

não são aplicados ou implementados.

Em que pese a importância da Educação, ao se falar de políticas públicas,

ressalta-se que não houve a inclusão da Educação Ambiental dentre as possíveis

medidas não estruturais de prevenção de desastres. Além disto, a Educação

Ambiental não foi abordada de maneira ostensiva durantes os eventos.

Consta-se igualmente que apesar de o Fórum possuir uma estrutura organizada,

sua abrangência tem se limitado às discussões no âmbito das universidades. Também

a socialização das informações ambientais está limitada, uma vez que tem ocorrido

apenas com alguns setores da sociedade. Verifica-se, outrossim, que após a

realização dos eventos de cada Fórum, não há uma maior interação entre as pessoas,

e nem sempre entre os próprios pesquisadores, uma vez que alguns dos atores

entrevistados afastaram-se com o tempo dos debates.

Contudo, a percepção dos atores, todos integrantes do Fórum Permanente de

Prevenção aos Riscos de Desastres, se mostrou relevante na medida em que é este

o único evento que faz a abordagem científica da temática ambiental, procurando

socializar o conhecimento junto à população dos municípios que compõem a Bacia

Hidrográfica, mesmo que de modo insipiente.

Ao final da presente dissertação, pode-se concluir que o tema da mudança

climática, riscos de desastres e vulnerabilidade social no Vale do Itajaí, mostra-se

atual e relevante na medida em que o sofrimento emocional e os impactos econômicos

e ecológicos, decorrentes principalmente das enchentes ainda estão vivos na

memória dos habitantes e dos pesquisadores da região.

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O Fórum Permanente de Prevenção aos Riscos de Desastres é um importante

instrumento de integração entre sociedade civil, comunidade cientifica e governos

estadual e municipal.

Entretanto, recomenda-se que seja ampliada a participação da comunidade nos

eventos, pois não há como limitar a discussão ao meio acadêmico e ao governo. Além

disso, é de fundamental importância que os registros dos eventos sejam catalogados,

armazenados e divulgados através das mídias sociais, pois há pouca socialização dos

resultados obtidos nos eventos. Por último, a inclusão da mudança climática e da

Educação Ambiental nas temáticas discutidas no Fórum é importante e necessária,

pois poderá ampliar a compreensão de todos acerca dos fenômenos, consequências

e medidas que poderão ser tomadas na prevenção de riscos e mitigação dos

desastres.

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APÊNDICES

APÊNDICE A – ROTEIRO DE ENTREVISTA

1. Para você, o que significa ou representa o termo mudança climática?

Objetivo da questão: identificar se o sujeito da pesquisa entende que a MC é causada pela interferência humana. 2. Para você, quais seriam as consequências da MC ao nosso País? E à nossa

região?

Objetivo da questão: identificar se o meio ambiente vem sofrendo os impactos com a mudança climática

3. Para você, o que significa ou representa o termo risco ambiental?

Objetivo da questão: identificar qual a concepção de risco ambiental por parte do sujeito da pesquisa.

4. No seu entendimento, há relação entre MC e os desastres ambientais na Bacia

Hidrográfica do Rio Itajaí-açu?

Objetivo da questão: identificar a concepção do sujeito sobre a relação entre as chuvas e enchentes no Estado de Santa Catarina, em especial, no Vale do Rio Itajaí, são decorrentes da MC. 5. Para você, a população do Vale do Itajaí é mais vulnerável aos efeitos da MC? Por

que?

Objetivo da questão: identificar se a mudança climática para o entrevistado é somente considerada uma ameaça efetiva em decorrência da vulnerabilidade da população que será afetada.

6. Há quantos anos você participa do Fórum Permanente de Desastres ambientais?

7. Para você, o Fórum contribui com a comunidade da região para divulgar o tema da

MC e dos riscos ambientais?

Objetivo das questões 6 e 7: Reconhecer a concepção do sujeito sobre o papel do Fórum e se tem possibilidade de propor programas de governo.

8. A quem você e os integrantes do Fórum atribuem a responsabilidade e a busca de

soluções em relação à redução dos riscos de desastres causados pela MC?

Objetivo da questão: identificar se as políticas públicas ambientais são apontadas como responsabilidade do Estado e/ou da sociedade em relação à redução dos riscos.

9. Quais os mecanismos de mitigação de riscos ambientais e prevenção de desastres

ambientais que você identifica nas políticas públicas ambientais?

Objetivo da questão: verificar se os sujeitos da pesquisa conhecem as políticas públicas de prevenção e mitigação dos desastres.

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10. No seu entendimento, qual o papel da Educação ambiental no enfrentamento dos

riscos e desastres ambientais causado pela MC? De que formas?

Objetivo da questão: identificar a concepção do sujeito a respeito da EA, se pode ser inserida nas políticas públicas como um mecanismo de mitigação de riscos e prevenção de desastres ambientais.

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APÊNDICE B – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação, Extensão e Cultura – ProPPEC Programa de Pós-Graduação em Educação – PPGE

Curso de Mestrado Acadêmico em Educação

Você está sendo convidado (a) para participar da pesquisa “Percepção de risco ambiental e vulnerabilidade e sua relação com a mudança climática: uma abordagem no Fórum Permanente de Prevenção aos Riscos de Desastres na Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí- SC. Este projeto tem por objetivo geral “Reconhecer as concepções de um grupo de atores sociais, que participam do Fórum Permanente de Prevenção de Desastres na Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí acerca das causas e das consequências da que geram riscos de desastres ambientais na região.”

Para a efetivação desse estudo, contamos com a sua participação nesta pesquisa de cunho qualitativo, do tipo estudo de caso, que utiliza como ferramentas a entrevista semiestruturada e a análise documental como fontes de evidências. Esta pesquisa oferece riscos mínimos aos participantes, pois as entrevistas serão gravadas apenas para propiciar uma melhor análise dos dados à luz do referencial teórico adotado.

O presente documento é redigido em duas vias, sendo que uma será entregue aos responsáveis dos participantes da pesquisa, e a outra via ficará de posse do pesquisador. Nesse encaminhamento, a pesquisa será conduzida com os membros do Fórum Permanente de Prevenção aos Riscos de Desastres na Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí- SC, sob a coordenação da Pesquisadora Esp. Vanessa Cristina Bauer, telefone (47) 9958-8340 e orientação do Professor Dr. Antonio Fernando Silveira Guerra, telefone (47) 9124-4925. A participação na pesquisa é voluntária e não será remunerada. Garante-se ao participante a liberdade de obter maiores esclarecimentos durante a aplicação da pesquisa, caso venha a sentir necessidade. Ao participante será possibilitada a liberdade de recusar-se a participar da pesquisa ou de retirar o seu consentimento no andamento dos trabalhos. Garante-se também sigilo e anonimato, bem como o direito de o sujeito retirar o consentimento a qualquer tempo sem penalidades.

Pesquisador responsável: Vanessa Cristina Bauer Ass.: _________________________________ Entrevistado: Ass.: _________________________________

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APÊNDICE C - CONSENTIMENTO DE PARTICIPAÇÃO DO SUJEITO

Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação, Extensão e Cultura – ProPPEC Programa de Pós-Graduação em Educação – PPGE

Curso de Mestrado Acadêmico em Educação Eu, _____________________________________________________________, RG

_______________________, CPF ____________________, concordo em participar

da presente pesquisa, entretanto não autorizo a divulgação dos meus dados pessoais

obtidos neste estudo. Fui devidamente informado e esclarecido sobre a pesquisa e os

procedimentos nela envolvidos. Foi-me garantido que posso retirar meu

consentimento a qualquer momento. Por fim, estou ciente que não terei direito a

qualquer tipo de remuneração.

Local, ____ de ______________ de 2015.

Assinatura do pesquisador:_________________________________________

Telefone para contato:_____________________________________________

E-mail:__________________________________________________________

Assinatura do sujeito ou Responsável:_________________________________

Telefone para contato:_____________________________________________

E-mail:__________________________________________________________