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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Faculdade de Engenharia Mecânica DANIELA GODOY FALCO Avaliação do desempenho ambiental do transporte coletivo urbano no estado de São Paulo: uma abordagem de ciclo de vida do ônibus a diesel e elétrico à bateria CAMPINAS 2017

(VERSAO FINAL)DISSERTACAO DE MESTRADO FALCO-revCarlarepositorio.unicamp.br › bitstream › REPOSIP › 322592 › 1 › ...auxiliaram na minha educação desde a Brasinha, Colégio

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  • UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Faculdade de Engenharia Mecânica

    DANIELA GODOY FALCO

    Avaliação do desempenho ambiental do transporte coletivo urbano no estado de São Paulo: uma abordagem de ciclo de vida do

    ônibus a diesel e elétrico à bateria

    CAMPINAS 2017

  • DANIELA GODOY FALCO

    Avaliação do desempenho ambiental do transporte coletivo urbano no estado de São Paulo: uma abordagem de ciclo de vida do

    ônibus a diesel e elétrico à bateria

    Orientadora: Profa. Dra. Carla Kazue Nakao Cavaliero

    CAMPINAS

    2017

    Dissertação de Mestrado apresentada à Faculdade de Engenharia Mecânica da Universidade Estadual de Campinas como parte dos requisitos exigidos para obtenção do título de Mestra em Planejamento de Sistemas Energéticos.

    ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELA ALUNA DANIELA GODOY FALCO, E ORIENTADA PELA PROFa. DRA. CARLA KAZUE NAKAO CAVALIERO ............................................................. ASSINATURA DA ORIENTADORA

  • Em memória de meu avô, Alcides Godoy.

  • Agradecimentos

    Agradeço primeiramente aos meus pais, Mario Rubens Falco e Marlene Godoy Falco,

    por minha formação profissional e pessoal que com muito amor e apoio, não mediram

    esforços para que eu chegasse até esta etapa de minha vida. Ao meu irmão, Luís Fernando

    Godoy Falco, que além de seu apoio fraternal incondicional, soube transmitir sua experiência

    sobre a vida acadêmica em uma universidade. Aos meus avós maternos, Mathilde de Freitas

    Pereira Godoy e Alcides Godoy, e avós paternos, Gilberto Falco e Hilda Chediac, que

    auxiliaram na formação de meu caráter e sempre me apoiaram em minhas decisões. À minha

    tia Márcia Godoy, que esteve sempre presente. Aos meus familiares.

    A todos os meus professores, que embora não haja espaço para citar todos aqueles que

    auxiliaram na minha educação desde a Brasinha, Colégio Visconde de Porto Seguro,

    Universidade Federal de São Carlos, Hochschule für Forstwirtschaft, até na Universidade

    Estadual de Campinas e Pontifícia Universidade Católica de Campinas, saibam que estão

    todos guardados em minhas lembranças com muito carinho.

    Ao meu primeiro orientador na graduação e membro da banca avaliadora, professor

    Frederico Yuri Hanai, que soube sempre extrair o meu melhor potencial para o

    aproveitamento acadêmico, sendo muito compreensivo, respeitoso e gentil. À minha atual

    orientadora, Carla Kazue Nakao Cavaliero, que além ser sempre solícita às minhas questões

    acadêmicas, sempre soube colocar o lado humano e afetivo como prioridade.

    Ao meu grupo de pesquisas Carla Cavaliero, Jorge Vargas, Arnaldo Walter e Joaquim

    Seabra, à Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL), ao Conselho Nacional de

    Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ) e à população brasileira pelo

    financiamento.

    Aos meus queridos amigos, Ana Luiza Silva, Anita Kurka, Débora Bessi, Débora

    Castro, Flávia Ramos, Gustavo Carneiro, Gustavo Mancilha, Hiper, Ingrid Fray, Isabella

    Ferreira, Juliana Busnardo, Júlia Piton, Leonardo Lima, Lilian Pedroso, Luan Guanais,

    Manuella Pereira, Maria Cecília Higa, Maria José Kurka, Mariana Macca, Marie

    Grimmelprez, Mathias Haverstreng, Michelle Frutuoso, Murilo Bonetto, Patrícia Barão, Paulo

    Breyner, Paulo Kurka, Paulo Marchioli, Pedro Kurka, Patrícia Colombini, Rafael Capaz,

    Rayssa Maryel, Sonia Martins, Tatiana Consoni e Valéria Paz família Burth, família Ferreira,

    família Kurka e família Lima, que sem eles, não haveriam tantas histórias para serem

  • contadas. Àqueles que contribuíram para a minha vida e meu crescimento pessoal, que apesar

    de não conseguir mencionar todos, fizeram significativa diferença para a formação de quem

    sou hoje.

    Aos meus colegas de mestrado.

    Ao Engenheiro Mecânico Marcelo Gustavo Liboni, da Mercedes-Benz, pelas

    informações técnicas prestadas sobre os ônibus comercializados pela empresa.

    Aos membros da banca Carla Cavaliero, Joaquim Seabra, Frederico Hanai, Arnaldo

    Walter e Otávio Cavalett.

  • Resumo

    Com o intuito de reduzir os aspectos ambientais gerados pelo setor de transporte coletivo

    urbano, algumas tecnologias têm sido desenvolvidas e/ou aperfeiçoadas em ônibus urbanos

    para substituir e/ou complementar os combustíveis fósseis. O biodiesel, como um combustível

    alternativo ao diesel fóssil, pode ser utilizado em motores a combustão interna e substituir,

    total ou parcialmente, o óleo diesel de petróleo. A substituição total do petrodiesel por

    biodiesel, principalmente em tecnologias futuras, demandaria de motores projetados

    exclusivamente para esse fim, dada a susceptibilidade de peças e componentes do motor ao

    desgaste prematuro. Os ônibus elétricos têm sido considerados como opções às motorizações

    convencionais por diversos fatores. Os motores elétricos oferecem uma eficiência maior e

    menos ruído sonoro do que os motores de combustão interna; fornecem torque mais elevado

    em velocidades baixas, o que resulta em melhor aceleração na saída do repouso; e aumentam

    também a eficiência energética mediante o freio regenerativo. Sendo assim, esta dissertação

    objetiva realizar uma análise comparativa da avaliação dos potenciais impactos ambientais do

    transporte coletivo urbano de passageiros atual, no estado de São Paulo, por meio de (i) de

    ônibus convencionais à combustão interna; e (ii) ônibus elétricos à bateria, com recarga plug-

    in; considerando tanto o ciclo de vida de suas fontes de energia (etapa well-to-tank, ou do

    poço-ao-tanque), quanto de seus usos (etapa tank-to-wheel, ou do tanque-à-roda) e dos

    processos produtivos de seus ônibus. Para isso, os sistemas considerados são: transporte

    coletivo urbano de passageiros, mediante ônibus a combustão interna, com SCR+ARLA32,

    utilizando diesel S-10 (B7) e biodiesel (B100); e transporte coletivo urbano de passageiros,

    mediante ônibus elétrico à bateria íon-lítio, com recarga plug-in em horários de demanda

    média e de maior demanda por eletricidade. Os resultados mostram que dentre os dois

    subsistemas de transporte coletivo urbano elétrico, quando se considerou o perfil de geração

    de eletricidade, conclusões semelhantes foram aplicáveis uma vez que ambos os perfis de

    geração apresentaram variação relativamente pequena. Já dentre a mobilidade a combustão

    interna, o ciclo de vida do biodiesel metílico de soja, ou diesel (B100), quando utilizado em

    ônibus urbano no estado de São Paulo, apresentou pior desempenho ambiental que a mistura

    diesel (B7) em cinco categorias: Depleção Abiótica; Ecotoxicidade de Água Doce;

    Ecotoxicidade Terrestre; Acidificação e Eutrofização. Nas demais categorias, o diesel (B7)

    possuiu maior potencial de impacto ambiental que o biodiesel (B100), sendo inclusive pior

  • que a motorização elétrica (em ambos horários) nas categorias de Depleção Abiótica

    (combustíveis fósseis), Aquecimento Global e Depleção da Camada de Ozônio.

  • Abstract

    In order to reduce environmental potentials impacts caused by urban collective transportation

    sector some technologies have been developed and/or improved for urban buses to replace

    and/or complement the use of fossil fuels. Biodiesel, as an alternative to fossil diesel, can be

    used in internal combustion engines and replace totally or partially diesel oil. The total

    replacement from diesel oil to biodiesel, especially in future technologies, would require

    engines designed exclusively for this purpose, given the susceptibility of its parts and

    components to premature wear. Electric buses have been considered as options to

    conventional powertrains by several factors. Electric engines offer a bigger efficiency and less

    noise than internal combustion engines; provide higher torque at low speeds, resulting in a

    better acceleration out of repose; and increase energetic efficiency in front of regenerative

    brake. Therefore, this dissertation aims to carry out a comparative analysis of the evaluation

    of the potential environmental impacts of urban collective transport of passengers, in the state

    of São Paulo, through (i) conventional internal combustion buses; and (ii) battery electric

    buses, with plug-in recharge; considering the life cycle of their energy sources (well-to-tank

    step), their uses (tank-to-wheel step) and their productive processes. For that, the considered

    systems are: urban collective transport of passengers, by internal combustion buses, with

    SCR+ARLA32, using diesel S-10 (B7) and biodiesel (B100); and urban collective transport

    of passengers, by Li-ion battery electric buses, with plug-in recharge during times of average

    and higher electricity demand. The results show that among the electric urban collective

    transport subsystems, when the electricity generation profile was considered, similar

    conclusions were applicable, since both generation profiles showed a relatively small

    variation. But among the mobility with internal combustion, the biodiesel life cycle of

    soybean diesel or biodiesel (B100), when used in urban buses in the state of São Paulo,

    presented worse environmental performance than the diesel blend (B7) in five categories:

    Abiotic Depletion; Freshwater Ecotoxicity; Terrestrial Ecotoxicity; Acidification; and

    Eutrophication. In the other categories, diesel (B7) had highers environmental potential

    impacts than biodiesel (B100) and was even worse than electric motorization (both recharge

    profiles) in categories of Abiotic Depletion (fossil fuels), Global Warming and Ozone Layer

    Depletion.

  • Lista de Ilustrações Figura 2.1: Emissão de poluentes locais (103t) e de CO2eq (106t) no Estado de São Paulo, no

    período de 2006-2015 ..............................................................................................................30

    Figura 2.2: Diagrama p-v do ciclo dual ideal e real .................................................................38

    Figura 2.3: Classificação dos ônibus elétricos conforme o grau de hibridização, o tipo de

    bateria, o método de recarga e a fonte de eletricidade .............................................................54

    Figura 2.4: Mapa do SIN ..........................................................................................................63

    Figura 2.5: As quatro fases da Avaliação do Ciclo de Vida ....................................................69

    Figura 3.1: Estrutura metodológica adotada ............................................................................79

    Figura 3.2: Representação gráfica dos sistemas de produto relativos ao transporte coletivo

    urbano convencional de pessoas, dentro do escopo de pesquisa, exclusos os processos

    logísticos de transporte e distribuição das unidades de processo .............................................81

    Figura 3.3: Representação gráfica dos sistemas de produto relativos ao transporte coletivo

    urbano elétrico de pessoas, dentro do escopo de pesquisa, exclusos os processos logísticos de

    transporte e distribuição das unidades de processo ..................................................................83

    Figura 4.1: Comparação por categoria de impacto do transporte coletivo urbano a combustão

    interna e elétrico à bateria, na unidade funcional de 100 km rodados, pelo método CML-

    IA............................................................................................................................................122

    Figura 4.2: Comparação por categoria de impacto do transporte coletivo urbano a combustão

    interna e elétrico à bateria, na unidade funcional de 100 km rodados, pelo método ReCiPe

    midpoint (H) ...........................................................................................................................124

    Figura 4.3: Comparação por categoria de impacto do transporte coletivo urbano a combustão

    interna e elétrico à bateria, na unidade funcional de 100 km rodados, pelo método IMPACT

    2002+ .....................................................................................................................................126

    Figura 4.4: Análise de contribuição e comparação por categoria de impacto do transporte

    coletivo urbano a combustão interna e elétrico à bateria, na unidade funcional de 100 km

    rodados ...................................................................................................................................138

    Figura 4.5: Comparação da sensibilidade por categoria de impacto e por motorização e

    combustível usados no transporte coletivo urbano a combustão interna e elétrico à bateria

    .................................................................................................................................................145

  • Lista de Tabelas Tabela 2.1: Principais poluentes emitidos em meios urbanos, de acordo com suas fontes, nível

    de impacto e alguns dos possíveis efeitos ambientais por eles causados ................................ 28

    Tabela 2.2: Estimativa da frota circulante de ônibus urbanos no estado de São Paulo em 2015

    .................................................................................................................................................. 31

    Tabela 2.3: Comprimento da carroçaria de ônibus convencionais da Mercedes-Benz, em

    função do motor, suspensão e tipo de operação ...................................................................... 37

    Tabela 2.4: Compilação de dados disponíveis na literatura para cálculo dos fatores de emissão

    do petrodiesel ...........................................................................................................................39

    Tabela 2.5: Limites máximos de emissão de poluentes para os motores do ciclo Diesel

    destinados a veículos automotores pesados novos, nacionais e importados, produzidos a partir

    de 1° de janeiro de 2012 ...........................................................................................................40

    Tabela 2.6: Inventário da produção de ônibus urbano, com sistema de redução catalítica

    seletiva, de acordo com sua massa total ...................................................................................42

    Tabela 2.7: Compilação de dados de autonomia de ônibus urbano a diesel disponíveis na

    literatura ...................................................................................................................................43

    Tabela 2.8: Compilação da produção de derivados de petróleo (m3), em nível nacional,

    estadual (SP) e regional, conforme a localização das refinarias, no ano de

    2015...........................................................................................................................................47

    Tabela 2.9: Consumo de energia para refino de petróleo (MJ/t), alocado por produto gerado na

    Refinaria de Paulínia (REPLAN) .............................................................................................48

    Tabela 2.10: Características de óleos com potencial na produção de

    biodiesel....................................................................................................................................52

    Tabela 2.11: Aplicação e funções de baterias, conforme o grau de hibridização da motorização

    ...................................................................................................................................................55

    Tabela 2.12: Lista não exaustiva de iniciativas referentes à mobilidade híbrida e elétrica e suas

    baterias no Brasil ......................................................................................................................57

    Tabela 2.13: Dados técnicos do ônibus urbano elétrico à bateria K9D da BYD

    ...................................................................................................................................................57

    Tabela 2.14: Inventário da produção de ônibus urbano elétrico, de acordo com sua massa total

    ...................................................................................................................................................58

  • Tabela 2.15: Sensibilidade da autonomia às condições adversas sofridas pelo transporte

    coletivo urbano elétrico, mediante o modelo K9D da BYD, consoante dados de Zhou et al.

    (2016) .......................................................................................................................................59

    Tabela 2.16: Alguns dos principais bancos de dados diponíveis para Avaliação de Ciclo de

    Vida ..........................................................................................................................................71

    Tabela 2.17: Alguns dos principais softwares de Avaliação de Ciclo de Vida disponíveis ....73

    Tabela 3.1: Compilação dos principais dados formadores do objetivo e escopo da ACV ......86

    Tabela 3.2: Compilação dos parâmetros utilizados para a produção, transporte e distribuição

    do diesel (B7) ...........................................................................................................................89

    Tabela 3.3: Compilação dos parâmetros utilizados na unidade do processo de exploração e

    produção de petróleo ................................................................................................................91

    Tabela 3.4: Compilação dos parâmetros utilizados na unidade do processo de transporte de

    petróleo .....................................................................................................................................92

    Tabela 3.5: Compilação dos parâmetros utilizados na unidade do processo de refino de

    petróleo na Refinaria de Paulínia – REPLAN .........................................................................93

    Tabela 3.6: Compilação dos parâmetros utilizados na unidade do processo de refino de

    transporte do petrodiesel ..........................................................................................................94

    Tabela 3.7: Compilação dos parâmetros utilizados na unidade do processo de produção de

    óleo de soja ...............................................................................................................................95

    Tabela 3.8: Compilação dos parâmetros utilizados na unidade do processo de produção e

    transporte de biodiesel de soja e sebo bovino ..........................................................................96

    Tabela 3.9: Compilação dos parâmetros utilizados nas unidades do processo de geração

    de eletricidade no horário médio de demanda e no horário de maior demanda

    ..........................99

    Tabela 3.10: Compilação dos parâmetros utilizados nas unidades do processo de produção,

    transporte e manutenção dos ônibus convencional e elétrico ................................................102

    Tabela 3.11: Compilação dos parâmetros utilizados no sistema de produto de transporte

    coletivo urbano convencional, com diesel (B7) e biodiesel (B100) ......................................106

    Tabela 4.1: Inventário em kg da produção e transporte de um litro de petrodiesel ...............109

    Tabela 4.2: Inventário em kg da produção, transporte e distribuição de um litro de diesel (B7)

    .................................................................................................................................................110

    Tabela 4.3: Inventário em kg da produção, transporte e distribuição de um litro biodiesel .................................................................................................................................................112

  • Tabela 4.4: Inventário em kg da produção, transporte e distribuição de 1 kWh de energia

    elétrica, gerada no horário de demanda média e maior demanda ..........................................113

    Tabela 4.5: Inventário em kg da produção e transporte de um ônibus a combustão interna com

    SCR (11.800 kg) ....................................................................................................................114

    Tabela 4.6: Inventário em kg da produção e transporte de um ônibus elétrico à bateria (13.800

    kg)...........................................................................................................................................115

    Tabela 4.7: Inventário em kg da produção e transporte de um litro de ARLA32 ..................116

    Tabela 4.8: Inventário em kg da manutenção de um ônibus a combustão interna .................117

    Tabela 4.9: Inventário em kg da manutenção de um ônibus elétrico à bateria ......................118

    Tabela 4.10: Inventário em kg da combustão do diesel (B7) e do biodiesel (B100) a cada km

    rodado .....................................................................................................................................120

    Tabela 4.11: Avaliação dos Potenciais Impactos do Ciclo de Vida do transporte coletivo

    urbano por modalidade ...........................................................................................................121

    Tabela 4.12: Pontuação de 0 a 1 dos resultados de AICV, considerando que 1 é a maior taxa

    de categorização, usada como referência para cada categoria de impacto ............................128

    Tabela 4.13: Avaliação dos Potenciais Impactos do Ciclo de Vida do transporte coletivo

    urbano por modalidade, nas fases do poço-ao-tanque e do tanque-à-roda, de acordo com a

    unidade funcional de 100 km rodados ...................................................................................131

    Tabela 4.14: Avaliação dos Potenciais Impactos do Ciclo de Vida do transporte coletivo

    urbano por modalidade, nas fases de produção dos ônibus e manutenção, de acordo com a

    unidade funcional de 100 km rodados ...................................................................................132

    Tabela 4.15: Avaliação dos Potenciais Impactos do Ciclo de Vida do diesel brasileiro pelo

    método ReCiPe midpoint (H), de acordo com a unidade funcional de um litro de diesel

    combustível ............................................................................................................................133

    Tabela 4.16: Avaliação dos Potenciais Impactos do Ciclo de Vida do biodiesel brasileiro de

    soja, pelo método CML, de acordo com a unidade funcional de um litro de biodiesel

    .................................................................................................................................................134

    Tabela 4.17: Avaliação dos Potenciais Impactos do Ciclo de Vida da eletricidade brasileira

    (média) pelo método CML-IA, de acordo com a unidade funcional de um kWh

    .................................................................................................................................................135

    Tabela 4.18: Avaliação dos Potenciais Impactos do Ciclo de Vida da eletricidade brasileira

    (maior demanda) pelo método CML-IA, de acordo com a unidade funcional de um kWh

    .................................................................................................................................................136

  • Tabela 4.19: Avaliação dos Potenciais Impactos do Ciclo de Vida do ônibus convencional

    (OC) e do ônibus elétrico (OE) pelo método IMPACT 2002+, de acordo com a unidade

    funcional de um ônibus com 12 metros produzido ................................................................137

    Tabela 4.20: Parâmetros de sensibilidade da autonomia, consoante a variação na carga de

    passageiros .............................................................................................................................144

    Tabela A.1: Categorias de impacto utilizadas pelos principais métodos de AICV ...............159

    Tabela B.1: Revisão das Avaliações do Ciclo de Vida do biodiesel por soja e/ou sebo animal

    no Brasil, disponíveis na literatura .........................................................................................165

    Tabela B.2: Revisão das Avaliações do Ciclo de Vida do diesel no Brasil, disponíveis na

    literatura .................................................................................................................................167

    Tabela B.3: Revisão das Avaliações do Ciclo de Vida da eletricidade no Brasil, disponíveis na

    literatura .................................................................................................................................168

    Tabela B.4: Revisão das Avaliações do Ciclo de Vida da mobilidade coletiva elétrica à bateria

    e a diesel, disponíveis na literatura ........................................................................................169

    Tabela C.1: Sensibilidade da autonomia, consoante a variação na carga de passageiros para o

    Transporte Coletivo Urbano a Diesel B7 - TCUD (B7) ........................................................172

    Tabela C.2: Sensibilidade da autonomia, consoante a variação na carga de passageiros para o

    Transporte Coletivo Urbano a Diesel B100 - TCUD (B100) ................................................172

    Tabela C.3: Sensibilidade da autonomia, consoante a variação na carga de passageiros para o

    Transporte Coletivo Urbano Elétrico à Bateria, recarregado em horário de demanda média de

    eletricidade – TCUEB (média) ..............................................................................................173

    Tabela C.4: Sensibilidade da autonomia, consoante a variação na carga de passageiros para o

    Transporte Coletivo Urbano Elétrico à Bateria, recarregado em horário de maior demanda por

    eletricidade – TCUEB (maior demanda) ................................................................................174

  • Lista de Abreviaturas e Siglas

    Abreviaturas:

    ABIOVE – Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais

    ACV – Avaliação do Ciclo de Vida

    AICV – Avaliação do potencial Impacto do Ciclo de Vida

    AMD 10 – mistura de 10% de diesel de cana e 90% de óleo diesel S-50

    ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica

    ANFAVEA – Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores

    ANP – Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis

    ANTP – Associação Nacional de Transportes Públicos

    APROBIO – Associação de Produtores de Biodiesel do Brasil

    ARLA32 - Agente Redutor Líquido de NOx Automotivo, em solução aquosa de ureia de

    32,5%

    BEN – Balanço Energético Nacional

    BEST - Bio Ethanol Sustainable Transport

    BR – Brasil

    BRS – Bus Rapid Service

    BRT – Bus Rapid Transit

    BYD – Build Your Dreams

    CAR - Curva de Aversão ao Risco

    CETESB – Companhia Ambiental do Estado de São Paulo

    CETEA - Centro de Tecnologia de Embalagem

    CNPEM – Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais

    CNPQ - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

    CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente

    conscam - Consumo de combustível obtido do teste em campo

    CPFL – Companhia Paulista de Força e Luz

    CTB – Código de Trânsito Brasileiro

    CVU - Custo Variável Unitário

    dcomb - Densidade do combustível

    Diesel (B7) - Mistura de 7% de biodiesel ao diesel de petróleo

  • Diesel (B100) - Biodiesel

    Diesel S-10 – Diesel com 10 ppm de enxofre

    Diesel S-50 – Diesel com 50 ppm de enxofre

    Diesel S-500 – Diesel com 500 ppm de enxofre

    Diesel S-1800 – Diesel com 1800 ppm de enxofre

    EGR - Exhaust Gases Recirculation

    EPE – Empresa de Pesquisa Energética

    FABUS – Associação Nacional dos Fabricantes de Ônibus

    FAFEN – Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados do Paraná

    FEi - Fator de emissão do poluente estimado para a situação real

    fe_dini - Fator de emissão obtido do teste em bancada dinamométrica

    GANA - Grupo de Apoio à Normalização Ambiental

    GEE – Gases do Efeito Estufa

    GNV – Gás Natural Veicular

    GWP – Global Warming Potential

    GWP100 – Global Warming Potential in 100 years

    IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

    IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

    IBICT – Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

    ICV – Inventário do Ciclo de Vida

    ITAL – Instituto de Tecnologia de Alimentos

    INMETRO – Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia

    IPCC – Intergovernmental Panel on Climate Change

    ISO – International Organization for Standardization

    MAPA – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

    MMA – Ministério do Meio Ambiente

    MRI - Midwest Research Institute

    NIG – Nigéria

    OBD – On Board Diagnostic

    ONS – Operador Nacional do Sistema Elétrico

    PETROBRAS – Petróleo Brasileiro S.A.

    PIB – Produto Interno Bruto

    PNUMA - Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente

  • RENAVAM – Registro Nacional de Veículos Automotores

    RECAP – Refinaria Capuava

    REPLAN – Refinaria de Paulínia

    REVAP – Refinaria Henrique Lage

    RMBS – Região Metropolitana da Baixada Santista

    RMC – Região Metropolitana de Campinas

    RMRP – Região Metropolitana de Ribeirão Preto

    RMSO – Região Metropolitana de Sorocaba

    RMSP – Região Metropolitana de São Paulo

    RMVP – Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte

    RPBC – Refinaria Presidente Bernardes

    SETAC – Society of Environmental Toxicology and Chemestry

    SCR – Selective Catalytic Reduction

    SI – Sistema Isolado

    SIN – Sistema Interligado Nacional

    SPTRANS – São Paulo Transporte S.A.

    TCUD (B7) – Transporte Coletivo Urbano a Diesel, com mistura de 7% de biodiesel ao diesel

    de petróleo

    TCUD (B100) – Transporte Coletivo Urbano a Biodiesel

    TCUEB (media) – Transporte Coletivo Urbano Elétrico à Bateria, com recarga durante o

    horário de demanda média por eletricidade

    TCUEB (maior demanda) - Transporte Coletivo Urbano Elétrico à Bateria, com recarga

    durante o horário de maior demanda por eletricidade

    UFSCar – Universidade Federal de São Carlos

    UHEs – Usinas Hidrelétricas

    UTEs – Usinas Termelétricas

    UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas

    WECC - Western Electricity Coordinating Council

    Substâncias químicas:

    CH4 - Metano

    C2H4 eq. – Etileno equivalente

    CO – Monóxido de Carbono

  • CO2 – Dióxido de Carbono

    CO2 eq. – Dióxido de Carbono equivalente

    DB eq. – Diclorobenzeno equivalente

    MP – Material Particulado

    MP1 - Material particulado com diâmetro menor que 1 micron

    MP2,5 - Material particulado com diâmetro menor que 2,5 microns

    MP10 - Material particulado com diâmetro menor que 10 microns

    N - Nitrogênio

    NMCH – Non-Methane Hydrocarbons

    NOx – Óxidos de Nitrogênio

    N2O – Monóxido de Dinitrogênio

    RCHO – Aldeídos

    Sb eq. – Antimônio equivalente

    SOx – Óxidos de Enxofre

    SO2 – Dióxido de Enxofre

    SO2 eq. – Dióxido de Enxofre equivalente

    Unidades de medida:

    g – Grama

    GW – Gigawatt

    h - hora

    L ou l - Litro

    kg – Quilograma

    km – Quilômetro

    kWh – Quilowatt-hora

    m – Metro

    mg - Miligrama

    m3 – Metro cúbico

    MJ - Megajoule

    Mt – Megatonelada

    ppm – Partes por milhão

    t – Tonelada métrica

  • Sumário

    1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 22

    1.1 Objetivo geral ................................................................................................................. 25 1.2 Objetivos específicos ..................................................................................................... 25

    1.3 Estrutura da dissertação .................................................................................................. 26 2 REVISÃO DA LITERATURA ......................................................................................... 27

    2.1 Estado de São Paulo e a Mobilidade Coletiva Urbana ................................................... 27 2.2 Modais de transporte coletivo urbano ............................................................................ 33

    2.2.1 Transporte coletivo urbano com ônibus com a combustão interna ........................... 33 2.2.1.1 Petrodiesel ................................................................................................................ 44

    2.2.1.2 Biodiesel ................................................................................................................... 49 2.2.2 Transporte coletivo urbano com ônibus elétrico ....................................................... 53

    2.2.2.1 Eletricidade .............................................................................................................. 61 2.3 Avaliação do ciclo de vida ............................................................................................. 65 2.3.1 Histórico da Avaliação do Ciclo de Vida no mundo e no Brasil ................................ 66

    2.3.2 Conceitos gerais da Avaliação do Ciclo de Vida ........................................................ 68 2.3.3 Estudos de ACV sobre mobilidade coletiva convencional e elétrica .......................... 74

    3 METODOLOGIA ............................................................................................................. 78 3.1 Definição preliminar dos objetivos e escopo ................................................................. 80

    3.2 Análise de inventário da fase well-to-tank (do poço-ao-tanque) ................................... 88 3.2.1 Diesel combustível (B7) .............................................................................................. 88

    3.2.1.1 Petrodiesel ................................................................................................................ 89 3.2.1.2 Biodiesel ................................................................................................................... 94

    3.2.2 Biodiesel combustível (B100) ..................................................................................... 96 (ARLA32) ............................................................................................................................ 97

    3.2.4 Eletricidade ................................................................................................................. 97 3.3 Análise de inventário dos ônibus à combustão interna e elétrico ................................ 100

    3.4 Análise de inventário da fase tank-to-wheel (do tanque-à-roda) ................................. 103 3.4.1 Transporte Coletivo Urbano Convencional ............................................................... 104

    3.4.2 Transporte Coletivo Urbano Elétrico ........................................................................ 107 3.5 Agregação de dados e processos no software SimaPro ................................................ 107

    4 RESULTADOS ............................................................................................................... 109

  • 4.1 Inventário do Ciclo de Vida ......................................................................................... 109 4.2 Avaliação dos Potenciais Impactos do Ciclo de Vida .................................................. 120

    4.2.1 Análise de contribuição ............................................................................................. 131 4.2.2 Análise de sensibilidade ............................................................................................ 143

    5 CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................... 147 REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 150

    APÊNDICE A – Compilação das categorias de impacto utilizadas pelos principais métodos de AICV ............................................................................................................................. 159

    APÊNDICE B – Compilação de estudos de ACV de biodiesel, diesel, eletricidade e da mobilidade coletiva por ônibus elétrico e convencional .................................................... 165

    APÊNDICE C – Sensibilidade da autonomia, consoante a variação na carga de passageiros ............................................................................................................................................ 172

  • 22

    1 INTRODUÇÃO

    Durante os séculos XVII e XVIII, a busca europeia pela expansão de conexões

    comerciais culminou em um maior fluxo de produtos, gerando um aumento na

    competitividade e forçando os comerciantes a se adaptarem à nova realidade. Tais mudanças

    influenciaram diretamente na escala produtiva, transformando gradativamente as atividades

    realizadas por artesãos nas oficinas, em processos semelhantes aos das indústrias atuais,

    dando origem à “Primeira Fase da Revolução Industrial”.

    Em decorrência dessas transformações, o homem deixou de recorrer às forças motrizes

    inconstantes, de limitado potencial energético e de fácil renovabilidade da natureza, para

    usufruir dos combustíveis fósseis, para a instalação de unidades de produção. O carvão, como

    elemento de alto potencial energético, associado às novas tecnologias de maquinário,

    proporcionou a renovação dos princípios produtivos, marcando o início da rápida aceleração

    do crescimento econômico e do desenvolvimento social da Europa.

    Com a expansão do processo, surgiu a chamada “Segunda Fase da Revolução

    Industrial”, marcada pelo desenvolvimento dos setores petroquímico e automobilístico. Foi a

    época em que o alemão Karl Benz construiu o primeiro ônibus com motor a explosão, que até

    então era movido à tração animal (ANFAVEA, 2006).

    Estes dois eventos – a Primeira e a Segunda Fase da Revolução Industrial –marcaram o

    surgimento de uma nova realidade que, dotadas de profundas transformações (e.g.

    tecnológicas, cientificas, econômicas, sociais, culturais, políticas e ambientais), tiveram

    aspectos positivos e negativos, gerando impactos que se refletem até os dias atuais.

    Na esfera ambiental, por exemplo, o aumento do uso energético para atividade industrial

    e logística propiciou o maior uso de entradas (inputs) material e energética. Com isso, trouxe

    consequências ambientais que ultrapassam o ato extrativo e são classificadas como impactos

    ambientais, ao gerar saídas (outputs) materiais e energéticas que, quando emitidas exaurem a

    capacidade de suporte local, regional ou global.

    Assim sendo, desde a Revolução Industrial até o momento presente, o equilíbrio do

    meio ambiente físico tem sido culturalmente modificado, devido a impactos constantes,

    crescentes e concentrados nos ecossistemas. Tamanha é a alteração ecossistêmica, que o

  • 23

    conceito de meio ambiente já se divide em Meio Ambiente Natural, ou Físico; e Meio

    Ambiente Construído, ou Artificial devido ao processo intensivo de urbanização.

    Ambientes excessivamente urbanizados, como algumas cidades do estado de São Paulo,

    são altamente afetados em nível local e/ou regional pelas emissões reguladas de gases (e.g.,

    óxidos de nitrogênio, monóxido de carbono e material particulado, entre outros), geradas das

    atividades industriais e de meios de transporte. Estudos epidemiológicos mostram estreitas

    correlações entre a exposição de poluentes atmosféricos e os efeitos de morbidade e

    mortalidade causados por problemas respiratórios e cardiovasculares, acometendo,

    principalmente, crianças, idosos e pessoas que já possuem doenças respiratórias. Além dos

    danos à saúde e à qualidade de vida, os efeitos da poluição atmosférica acarretam maiores

    gastos do Estado com o serviço público hospitalar (em atendimentos e internações,

    medicamentos, etc.), os quais poderiam ser evitados com a melhoria da qualidade do ar nas

    cidades (MMA, 2017).

    No âmbito global, as preocupações ambientais estão centradas nas emissões de Gases

    do Efeito Estufa (GEE) associadas às mudanças climáticas. De acordo com o Balanço

    Energético Nacional – BEN de 2016 –, o setor de transportes é o segundo setor que mais

    demanda energia no Brasil e a principal fonte de emissões de dióxido de carbono equivalente

    (CO2eq). Isso se deve ao fato de 79% de sua matriz ser derivada de combustíveis fósseis,

    dentre os quais destaca-se o óleo diesel, utilizado no setor de transportes coletivo de

    passageiros e de cargas. Esse combustível foi responsável pela emissão de aproximadamente

    86 Mt CO2eq., cerca de 18,6% das emissões antrópicas associadas à matriz energética brasileira

    em 2015 (EPE, 2016).

    Nesse contexto, com a queima do diesel de origem fóssil, além dos impactos do ponto

    de vista das mudanças climáticas, causados principalmente pelas emissões de CO2eq e o Black

    Carbon, produz-se também um impacto potencial tóxico local, em razão da emissão de outros

    poluentes. O material particulado fino, por exemplo, pode causar problemas respiratórios

    graves e, eventualmente, câncer no pulmão; e os óxidos de nitrogênio são precursores do

    ozônio troposférico, provocando danos à saúde por ser um gás irritante altamente radioativo 1

    (ANTP, 2016).

    Para reduzir algumas dessas emissões no segmento de transporte coletivo, uma

    alternativa é o uso do biodiesel, já adotada no Brasil e em alguns países. Quanto às emissões

    1 Por outro lado, o ozônio é benéfico quando está na estratosfera, filtrando os raios ultravioletas que chegam à superfície e que são prejudiciais à saúde humana e ao ecossistema.

  • 24

    de CO2, Black Carbon e material particulado, o biodiesel pode ser um substituto ao seu

    semelhante fóssil, sendo, entretanto, limitado pela alta emissão de óxidos de nitrogênio. Outra

    alternativa é a adoção do ônibus elétrico. Por não possuir emissões de escapamento na fase de

    uso, o transporte coletivo urbano elétrico tem os aspectos ambientais de seu energético

    concentrados às plantas de geração, as quais podem ser mais facilmente controladas e

    monitoradas.

    Por isso, a mobilidade elétrica vem sendo considerada uma medida importante na busca

    por um meio ambiente ecologicamente equilibrado, lato sensu, um direito fundamental da

    pessoa humana, que deve ser considerado no processo decisório das políticas de

    desenvolvimento urbano. No Brasil, esse direito é estabelecido no artigo 225 da Constituição

    Federal de 1988:

    Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações (BRASIL, 1988).

    Vislumbrando o potencial de adoção de veículos elétricos, tanto leves e individuais

    quanto pesados e coletivos, alguns estudos foram ou vêm sendo desenvolvidos no âmbito da

    academia e de empresas do setor de energia. Um deles, intitulado “Mobilidade Elétrica –

    Inserção Técnica e Comercial de Veículos Elétricos em Frotas Empresariais da Região

    Metropolitana de Campinas” vem sendo financiado pela Companhia Paulista de Força e Luz

    (CPFL) e executado junto com a Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), institutos

    de pesquisa e empresas privadas visando avaliar os aspectos técnicos, econômicos,

    regulatórios, sociais e ambientais do uso do veículo leve elétrico nas grandes cidades na

    atualidade e no médio prazo (cenário 2030).

    Do ponto de vista ambiental, uma forma de avaliar os impactos da inserção dos veículos

    elétricos é a utilização da ferramenta de Avaliação de Ciclo de Vida (ACV). Por meio da

    ACV são identificados todos os fluxos de entrada (insumos) e de saídas (efluentes) do sistema

    do produto ou serviço, sendo possível verificar quais as etapas que mais contribuem para

    determinada categoria de impacto ambiental. Na ACV são normalmente considerados os

    impactos desde a extração de matérias-primas até o uso e a disposição final do produto (“do

    berço ao túmulo”). Além disso, são também avaliadas alternativas para melhorias ou para

    reduzir os impactos e melhorar seu desempenho ambiental.

  • 25

    Dessa forma, considerando os impactos ambientais decorrentes do setor de transportes,

    com destaque para aqueles decorrentes da mobilidade coletiva, esta dissertação utilizou a

    ACV para avaliar os impactos gerados durante o ciclo de vida de ônibus convencionais

    movidos a combustão interna e dos semelhantes elétricos que operam à bateria, visando

    responder ao questionamento “Qual tecnologia de mobilidade coletiva urbana é mais

    conveniente ambientalmente na malha viária de São Paulo? O transporte a combustão interna

    ou o elétrico?”.

    Apesar de alguns estudos da ACV terem sido realizados no exterior, os resultados

    encontrados não podem ser extrapolados para outros países, em virtude das peculiaridades de

    cada caso. No Brasil, por exemplo, os estudos da ACV devem considerar o perfil de geração

    elétrica brasileira e o uso de ônibus a diesel, entre outros parâmetros específicos.

    Assim, espera-se que os resultados obtidos nessa dissertação possam contribuir com

    informações ambientais relevantes para a formulação de políticas públicas de mobilidade

    coletiva nas grandes cidades que resultem em menores impactos ao ser humano e ao

    ecossistema.

    1.1 Objetivo geral

    Realizar uma avaliação comparativa dos potenciais impactos ambientais do transporte

    coletivo urbano de passageiros no estado de São Paulo, por meio da Avaliação do Ciclo de

    Vida de ônibus a diesel e de ônibus elétrico à bateria, considerando tanto o ciclo de vida dos

    ônibus, quanto de suas fontes de energia.

    1.2 Objetivos específicos

    Para atingir o objetivo geral proposto foram desenvolvidos na dissertação os seguintes

    objetivos específicos:

    • Fazer um levantamento de dados de processos e produtos relacionados ao ciclo de

    vida de ônibus elétricos e a diesel;

  • 26

    • Obter e compilar uma base de dados brasileira para formulação de inventários

    ambientais do ciclo de vida de ônibus elétricos e a diesel;

    • Avaliar, mediante a análise de sensibilidade, a influência da autonomia dos veículos

    na estimativa dos potenciais impactos ambientais do transporte de passageiros por

    meio de ônibus urbanos elétrico e a diesel.

    1.3 Estrutura da dissertação

    Esta dissertação está estruturada em cinco capítulos. O Capítulo 1 (Introdução)

    apresenta a justificativa para a realização da pesquisa, bem como os objetivos geral e

    específicos e a estrutura do trabalho. O Capítulo 2 refere-se à Revisão da Literatura sobre os

    temas centrais da pesquisa: o transporte coletivo urbano; as tecnologias e fontes de energia

    adotadas; e a ACV e os estudos já realizados no âmbito da mobilidade coletiva urbana. No

    Capítulo 3 é mencionada a metodologia de pesquisa adotada e os pressupostos considerados

    para atingir o objetivo geral da dissertação. Os resultados da aplicação da metodologia para o

    caso da mobilidade coletiva no estado de São Paulo encontram-se no Capítulo 4. E, por fim,

    as conclusões do trabalho e sugestões para trabalhos futuros são apresentadas no Capítulo 5.

  • 27

    2 REVISÃO DA LITERATURA

    Neste capítulo são apresentados os temas centrais que serviram de base para o

    desenvolvimento desta dissertação: a mobilidade coletiva urbana no âmbito do estado de São

    Paulo; as rotas tecnológicas usadas na mobilidade coletiva urbana; a metodologia de

    Avaliação de Ciclo de Vida e os parâmetros relevantes para a sua aplicação; e os estudos de

    Avaliação de Ciclo de Vida já realizados no contexto da mobilidade coletiva.

    2.1 Estado de São Paulo e a Mobilidade Coletiva Urbana

    Quando uma delimitação político-administrativa atinge um alto nível de

    desenvolvimento econômico, as suas oportunidades tendem a atrair pessoas e a aumentar o

    adensamento populacional, gerando demandas cada vez maiores por diversos serviços, dentre

    eles o de transporte. É o que ocorre ao estado de São Paulo. Correspondendo à 2,9% do

    território do Brasil, o Estado concentra a maior população do país e representa a maior

    economia nacional, com participação de 31,9% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro

    (CETESB, 2016). Do ponto de vista energético, segundo o Balanço Energético do Estado de

    São Paulo 2015 (SÃO PAULO, 2015), o setor de transportes foi responsável por 34,7% do

    consumo final de energia em 2014, dentre os quais 30,4% se referiram ao consumo do

    segmento rodoviário. Dos combustíveis utilizados, o destaque foi o óleo diesel, contribuindo

    com 39,6% do consumo no setor no mesmo ano, seguido pela gasolina (27,1%) e o etanol

    total (21,4%), que inclui o hidratado e o anidro. Já em 2015, de acordo com a Agência

    Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) foram vendidos 12.390.488 m3

    de óleo diesel no estado de São Paulo, o que correspondeu a 21,7% da venda realizada em

    todo o território nacional (ANP, 2016).

    Como resultado do intenso consumo de energia dos veículos automotores, os ambientes

    urbanizados são afetados pela emissão concentrada (em espaço e tempo) de poluentes

    gerados, os quais promovem uma série de impactos locais, regionais e globais, como pode ser

  • 28

    visto no Tabela 2.1, que culminam em externalidades negativas (e.g. perdas em vidas,

    produtividade, uso da rede pública e privada de saúde) (ANTP, 2016).

    Tabela 2.1- Principais poluentes emitidos em meios urbanos, de acordo com suas fontes, nível de impacto e alguns dos possíveis efeitos ambientais por eles causados

    Poluentes Principais fontes Impacto Efeitos

    Monóxido de carbono Veículos. Local

    2

    • Diminui a oxigenação do sangue causando tonturas, vertigens e alterações no sistema nervoso central;

    • Pode ser fatal em concentrações altas, em ambiente fechado;

    • Portadores de doenças cardiorrespiratórias podem ter sintomas agravados; Transforma-se em dióxido de carbono e participa de reações fotoquímicas.

    Dióxido de enxofre

    Combustão de derivados de petróleo com alto teor de enxofre em veículos (principalmente diesel), fornalhas e caldeiras.

    Regional3

    • Provoca coriza, catarro, e danos aos pulmões; • Fatal em doses altas, especialmente combinado

    com material particulado; Afeta plantas e espécies mais sensíveis e, devido à formação de chuvas ácidas, contribui para a destruição do patrimônio histórico, acidificação do solo e corpos d’água.

    Ozônio

    Formado através de reações fotoquímicas na baixa atmosfera pela ação da luz solar sobre hidrocarbonetos e óxidos de nitrogênio emitidos principalmente por veículos e processos industriais.

    Regional

    • Causa envelhecimento precoce da pele; • Diminui a resistência a infecções; • Provoca irritação nos olhos, nariz e garganta, e

    desconforto respiratório; • Afeta plantas e espécies mais sensíveis e

    provoca desgaste prematuro de materiais; Contribui para a intensificação do efeito estufa.

    Material particulado

    Veículos movidos a Diesel; processos industriais; desgastes dos pneus e freios em veículos em geral; ressuspensão de poeiras.

    Regional

    • Agrava quadros alérgicos de asma e bronquite; • Pode ser carcinogênico; • Poeiras mais grossas ficam retidas no nariz e

    garganta, causam irritação e facilitam a propagação de infecções gripais;

    • Poeiras mais finas (partículas inaláveis) chegam aos alvéolos, agravando casos de doenças respiratórias ou do coração; Partículas de carbono contribuem para a intensificação do efeito estufa; partículas de sulfato têm o efeito contrário.

    2 Impacto local: principais efeitos ocorrem em localidades próximas da fonte de emissão. 3 Impacto regional: além do impacto local, o poluente pode ter efeitos a centenas de quilômetros de onde seus precursores foram emitidos.

  • 29

    Poluentes Principais fontes Impacto Efeitos

    Hidrocarbonetos não metano

    Queima incompleta e evaporação de combustíveis e de produtos voláteis.

    Local

    • Responsáveis pelo aumento da incidência de câncer no pulmão;

    • Provocam irritação nos olhos, nariz, pele e aparelho respiratório.

    Aldeídos Veículos e processos industriais. Local • Provocam irritação dos olhos, nariz e garganta; • Formaldeído é cancerígeno.

    Dióxido de nitrogênio

    Processos de combustão em geral; veículos.

    Local • Pode provocar desconforto respiratório,

    diminuição da resistência a infecções e alterações celulares.

    Dióxido de carbono

    Queima de combustíveis, principalmente fósseis.

    Global • Aumento do efeito estufa; • Aquecimento global.

    Metano

    Combustão incompleta, principalmente em motores a gás; vazamento de gás natural; fermentação anaeróbia.

    Global

    • Aumento do efeito estufa com intensidade 25 vezes superior à do dióxido de carbono;

    • Aquecimento global;

    Fonte: São Paulo Transporte S.A. - SPTRANS (2011).

    O mesmo estudo da CETESB considerou a limitação geográfica em três classes: as

    emissões do Estado; da Macrometrópole; e das regiões metropolitanas. Do total de emissões,

    em média 60% ficaram concentradas na Macrometrópole Paulista, que reúne as Regiões

    Metropolitanas de São Paulo (RMSP), Campinas (RMC), Baixada Santista (RMBS), Vale do

    Paraíba e Litoral Norte (RMVP), Sorocaba (RMSO) e Ribeirão Preto (RMRP), além dos

    polos urbanos de Jundiaí, Bragança Paulista e Piracicaba (CETESB, 2016). No total, a

    Macrometrópole dispõe de 174 municípios, concentrando cerca de 74% da população de todo

    o Estado.

  • 30

    Figura 2.1 – Emissão de poluentes locais (103t) e de CO2eq (106t) no Estado de São Paulo, no período de 2006-2015

    Fonte: Companhia Ambiental do Estado de São Paulo - CETESB (2016).

    Do total das emissões de MP (cancerígeno) e NOx (precursores da formação do ozônio -

    O3), os veículos a diesel se destacam com maior contribuição entre as fontes emissoras

    móveis (ANTP, 2016), dentre os quais os ônibus têm participação relevante. Por ser um meio

    de transporte barato, flexível e em muitos casos, ajustável às necessidades dos usuários tanto

    tem termos de capacidade, como em tempo de percurso, o ônibus ainda é a principal

    modalidade de transporte coletivo para muitas cidades (SPTRANS, 2012). Especialmente no

    caso do município de São Paulo, em 2012 em média 6,5 milhões de passageiros utilizaram o

    transporte público por dia, sendo que o transporte por ônibus respondeu por 2/3 das viagens

    coletivas.

    Quando se avalia a frota circulante de ônibus urbanos do estado de São Paulo em 2015,

    verifica-se que 60% correspondeu à categoria de Ônibus Urbanos (Tabela 2.2). Desta, as

    maiores frotas de ônibus urbanos estão concentradas justamente na Macrometrópole Paulista,

    onde a maior parte das emissões de poluentes é verificada, como mencionado, e o perfil de

    operação (tráfego e carregamento) é similar ao do município de São Paulo (CETESB, 2016).

  • 31

    Tabela 2.2 – Estimativa da frota circulante de ônibus urbanos no estado de São Paulo em 2015

    Região Quantidade de ônibus urbanos (unidades)

    Estado de São Paulo 64.912

    Macrometrópole 50.702

    Município de São Paulo 20.659

    Região Metropolitana de São Paulo 34.447

    Região Metropolitana de Campinas 5.492

    Região Metropolitana da Baixada Santista 1.801

    Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte 3.017

    Região Metropolitana de Sorocaba 2.433

    Região Metropolitana de Ribeirão Preto 2.105

    Fonte: Companhia Ambiental do Estado de São Paulo - CETESB (2016).

    De maneira geral, os ônibus têm perfis tecnológicos e de uso diversos. No Estado de

    São Paulo, por exemplo, a idade média dos ônibus urbanos em 2015 foi de 10,7 anos, sendo

    que as frotas mais novas se concentravam principalmente nas regiões metropolitanas do

    estado (Regiões Metropolitanas de São Paulo - RMSP, Campinas - RMC, Baixada Santista -

    RMBS, Vale do Paraíba e Litoral Norte - RMVP, Sorocaba - RMSO e Ribeirão Preto -

    RMRP) (CETESB, 2016).

    A capacidade máxima de transporte de passageiros de um ônibus pode variar

    drasticamente de um modelo para outro, comportando de 30 até 270 assentos. E quanto às

    condições de uso, os ônibus, lato sensu, podem ser classificados de acordo com os seus tipos

    de operação: (i) urbana, com linhas distribuidoras, alimentadoras, troncais e sistemas de

    corredores com exclusividade constante ou variável, como o BRT (Bus Rapid Transit) e BRS

    (Bus Rapid Service), respectivamente; (ii) rodoviária; (iii) mista (urbana e rodoviária); (iv)

    intermunicipal; e (v) escolar (CAIO INDUSCAR; MERCEDES-BENZ; FABUS, 2016).

    Guercio e Mello Filho (2016) citam que a São Paulo Transporte (SPTrans) apresenta um

    levantamento realizado de março de 2013 a junho de 2015 quanto à velocidade média e

    distância percorrida de ônibus em faixas exclusivas nos sentidos Centro-Bairro e Bairro-

    Centro no município de São Paulo. Em horários de pico, constatou-se que o tráfego fluiu à

    velocidade média de 20,6 km/h, com operação aproximada de 18 horas diárias.

  • 32

    Todos esses parâmetros (uso urbano, idade média dos ônibus, capacidade de transporte

    de passageiros, velocidade média e outros) influenciam a escolha da tecnologia do veículo, a

    autonomia e, principalmente, as emissões de poluentes e de gases de efeito estufa (GEE),

    fazendo com que os aspectos ambientais gerados pelo uso dessa modalidade de transporte

    tenham seus valores altamente flexíveis.

    Além da emissão de poluentes, a geração de ruído é também outro aspecto ambiental

    que impacta diretamente à saúde e à qualidade de vida urbana, ao passo que a emissão de

    calor tem um potencial indireto ao contribuir com a elevação da temperatura, intensificando

    possíveis ilhas de calor e potencialmente afetando o ciclo micrometeorológico local

    (SPTRANS, 2011). A partir do momento em que o ciclo micrometeorológico é alterado, a

    população humana, na tentativa mitigatória de diminuir seus efeitos negativos, recorre a

    sistemas de climatização artificial, que também demandam de energia.

    Para lidar com os aspectos ambientais gerados pelo transporte coletivo urbano, uma

    medida é a introdução de regulamentação específica. O município de São Paulo, por exemplo,

    possui a Lei Municipal de Mudança do Clima (n° 14.933/09), a qual estabelece que até 2018

    toda a frota municipal de transporte público utilize combustível renovável. Para que essa meta

    fosse alcançada, em fevereiro de 2011 foi criado o programa Ecofrota, que consiste na

    introdução gradativa, na frota de ônibus do transporte público, de veículos que adotem

    tecnologias menos poluentes, seja pela utilização de um combustível renovável, como o

    biodiesel, ou pela utilização de veículos com tecnologias mais avançadas, como ônibus

    híbridos e elétricos. Os modais de transporte coletivo urbano existentes no Ecofrota envolvem

    tanto aqueles à combustão interna (e.g. biodiesel, etanol e diesel de cana-de-açúcar), quanto

    àqueles elétricos (e.g. híbrido, elétrico puro, a célula a combustível e trólebus) (SPTRANS,

    2011).

    Outras inciativas também podem ser vistas, como por exemplo na cidade de Campinas,

    que tem 10 ônibus elétricos puros em operação desde 2015 (ANTP, 2016). Ainda que no caso

    de Campinas a introdução dos veículos elétricos não tenha sido promovida por uma

    regulamentação municipal específica, a inserção de modelos mais eficientes e menos

    poluentes indicam uma mudança no contexto do transporte público.

  • 33

    2.2 Modais de transporte coletivo urbano

    Os principais meios de transporte urbano motorizado de passageiros são o ônibus, o

    automóvel, o trem e o metrô. Na maioria das cidades brasileiras, o sistema de transporte

    coletivo por ônibus predomina no atendimento de grandes massas por possuir, entre outros

    motivos, grande flexibilidade para conexão de pontos de origem e destino e custos baixos de

    implantação e oferta adaptáveis a incrementos na demanda (até o limite da densidade de

    tráfego), como já mencionado (ARAÚJO et al., 2011).

    Ressalta-se que para efeitos de definição, de acordo com o Código de Trânsito

    Brasileiro (CTB), ônibus é um veículo automotor de transporte coletivo, com capacidade para

    mais de vinte passageiros, com duas ou mais portas para embarque e desembarque, podendo

    ou não ter, como opcional, ar-condicionado (FABUS, 2016). Quando com capacidade inferior

    a vinte passageiros, se enquadra às categorias de Midi, Mini e Micro-ônibus.

    Com o intuito de reduzir os aspectos ambientais gerados pelo setor de transporte

    coletivo urbano, algumas tecnologias têm sido desenvolvidas e/ou aperfeiçoadas em ônibus

    urbanos para substituir e/ou complementar os combustíveis fósseis. Diante do escopo dessa

    dissertação, a seguir são apresentadas características gerais dos ônibus à combustão interna e

    dos elétricos.

    2.2.1 Transporte coletivo urbano com ônibus com a combustão interna

    No que se refere aos ônibus à combustão interna, motores convencionais equipados de

    sistemas de pós-tratamento de emissões e tecnologia veicular para uso de gás natural veicular

    (GNV) e para o uso de etanol destacam-se nas possibilidades de uso de combustíveis como

    petrodiesel de baixo teor de enxofre, misturas de petrodiesel e biodiesel, biodiesel, gás

    natural, biometano, etanol aditivado e diesel de cana (ANTP, 2016).

    O biodiesel, como um combustível alternativo ao diesel fóssil, pode ser utilizado em

    motores a combustão interna e substituir, total ou parcialmente, o óleo diesel de petróleo.

    Trata-se de um combustível essencialmente livre de compostos sulfurados e aromáticos e que

  • 34

    gera menores emissões no processo de combustão, à exceção das emissões de óxidos de

    nitrogênio (ANTP, 2016).

    A mistura compulsória de 7% (em volume) de biodiesel no petrodiesel foi estabelecida

    pela Medida Provisória n° 647/2014, convertida na Lei n° 13.033/2014 (MAPA, 2015). Para

    misturas de maiores teores, somente é autorizada pela indústria, sem restrições de manutenção

    e garantia, a adição até a proporção de 20%, desde que a qualidade4 do biodiesel seja

    certificada. A substituição total do petrodiesel por biodiesel, principalmente em tecnologias

    futuras, demandaria de motores projetados exclusivamente para esse fim, dada a

    susceptibilidade de peças e componentes do motor ao desgaste prematuro. O uso de biodiesel

    em altos teores de mistura ou em substituição total ao petrodiesel pode levar: ao entupimento

    precoce de filtros, principalmente em condições de operação sob baixas temperaturas, em

    especial quando a gordura animal é utilizada como matéria-prima e tende a solubilizar nesses

    casos; ao aumento do consumo de combustível, já que o poder calorífico do biodiesel é

    inferior ao petrodiesel, entre outras consequências (ANTP, 2016).

    Outras alternativas energéticas ao diesel incluem o GNV, por seu impacto ambiental

    local reduzido, tanto em relação à emissão de MP fino – abundante em motores a diesel,

    especialmente os mais antigos e aqueles em más condições de manutenção – quanto à redução

    do ruído do ônibus. A operação de ônibus dedicados a queimar GNV pode ser menos

    impactante caso esse gás seja proveniente do biometano.

    O biometano pode ser produzido a partir de biogás gerado por dejetos e resíduos

    orgânicos domésticos, industriais e agropecuários. O uso do biogás oriundo de resíduos para

    força motriz nos transportes tem duas grandes vantagens: substitui um combustível fóssil e

    evita o lançamento direto de biometano na atmosfera, bastando que o biogás seja tratado e

    purificado para atingir às especificações oficiais do GNV a níveis de 90 a 99% de metano, por

    meio da remoção do dióxido de carbono e sulfeto de hidrogênio. Esse tipo de combustível,

    entretanto, demanda de uma infraestrutura para abastecimento e de tecnologia própria para

    sua combustão, seja aquela dedicada à queima do gás metano em motores de quatro tempos

    de ignição por centelha do ciclo Otto, ou aquela Dual Fuel adaptada ao motor a diesel para

    queimar simultaneamente o gás junto ao petrodiesel, biodiesel ou diesel de cana (ANTP,

    2016). 4 A contaminação microbiológica, identificada no elo final da cadeia (manuseio, transporte, recebimento e abastecimento) pode ocorrer no biodiesel, tendo como consequência a biodegradação. A contaminação pode ser veiculada por meio do ar ou pela água com perda de qualidade do combustível e consequente formação de borra (ANTP, 2016).

  • 35

    O etanol também pode ser uma alternativa ao petrodiesel. Deve ser aditivado em 5%

    com uma substância (Beraid) que provoca a detonação por compressão da mistura sem

    necessidade da centelha, atuando também como anticorrosivo. Sem considerar a adoção de

    equipamentos de tratamento dos gases de exaustão, como filtros e catalisadores, os ônibus a

    etanol apresentam níveis de emissão muito inferiores aos dos motores a diesel, especialmente

    quanto ao MP. A tecnologia para uso deste combustível deve ser equipada com motor

    especialmente projetado para o etanol, com alta taxa de compressão, e manufaturada com

    materiais e equipamentos compatíveis com o uso do álcool (ANTP, 2016).

    A exemplo da produção de etanol, o diesel de cana também é produzido a partir de

    fermentação usando, entretanto, leveduras modificadas geneticamente que convertem um

    concentrado rico em açúcar em diesel de cana, por meio de síntese biológica. A mistura de

    diesel de cana AMD 10 (10% de diesel de cana e 90% óleo diesel S-50) não apresenta

    alterações significativas no desempenho operacional e nem na durabilidade do sistema de

    injeção e alimentação do combustível, tampouco no período de troca de filtros de combustível

    (IZQUIERDO et al., 2014).

    De acordo com a Associação Nacional de Fabricantes de Ônibus (FABUS), o Brasil é o

    quarto maior produtor mundial de ônibus, atrás somente da China, Índia e Rússia. Os ônibus

    de uso nacional têm suas carroçarias produzidas pela Marcopolo (Caxias do Sul - RS),

    Neobus (Caxias do Sul – RS), Comil (Erechim – RS), Marcopolo Rio (Duque de Caxias - RJ),

    Irizar (Botucatu – SP), Caio Induscar (Botucatu – SP) e Mascarello (Cascavel – PR), com

    participações de 25,9%, 11,4%, 12,4%, 14,9%, 2,8%, 22,1%, e 10,5%, respectivamente, na

    produção acumulada de carroçarias no Brasil em 2015 (FABUS, 2016).

    No que se refere exclusivamente à produção de carroçarias destinadas ao uso urbano, as

    maiores produtoras em 2015 foram a Caio Induscar (34,9%), Marcopolo Rio (27,4%), Comil

    (12%), Neobus (9,6%), Marcopolo (8,2%) e Mascarello (7,9%). No primeiro semestre de

    2016 observou-se uma redução da participação da Marcopolo Rio e da Comil, fazendo com

    que as demais empresas ocupassem uma parcela maior do mercado, o qual ainda é liderado

    pela Caio Induscar5 (FABUS, 2016).

    A Caio Induscar produz quatro tipos de carroçarias para ônibus urbanos:

    5 No primeiro semestre de 2016 a distribuição do mercado de carroçarias apresentou-se da seguinte ordem: Caio Induscar (42,1%), Marcopolo (22,8%), Neobus (12,2%), Comil (9,7%), Mascarello (8%) e Marcopolo Rio (5,2%) (FABUS, 2016).

  • 36

    (i) Apache Vip, de aplicação urbana e escolar, com 9,5 a 13,2 metros de comprimento,

    comportando chassis Agrale, Mercedes-Benz, Scania, Volkswagen, Volvo, entre outros;

    (ii) Millenium, de aplicação urbana, com 13,25 a 15 metros, comportando chassis

    Mercedes-Benz, Scania e Volvo;

    (iii) Millenium BRT, voltado a sistemas BRT, BRS, com até 13,2 metros (motor

    dianteiro), até 15 metros (motor traseiro), até 18,6 metros (articulado), de 23 metros (super

    articulado), e 26.61 metros (biarticulado), comportando chassis Mercedes-Benz, Scania,

    Volkswagen e Volvo; e

    (iv) Mondego, voltado ao mercado externo, com 12,33 a 13,2 metros de comprimento, e

    suporte para chassis Agrale, Mercedes-Benz, Scania, Volkswagen, Volvo e outros.

    Quanto ao chassi, baseado em dados de emplacamento do Registro Nacional de

    Veículos Automotores (RENAVAM), constatou-se que a Mercedes Benz deteve 74% da

    participação no mercado de ônibus urbanos em 2015, mediante 14 modelos comerciais

    (MERCEDES-BENZ, 2016). As características gerais do ônibus da Mercedes-Benz são

    apresentadas na Tabela 2.3.

    O motor a combustão interna convencional, usado em ônibus urbanos, conta com um

    sistema de ignição por compressão, no qual a combustão é iniciada pela injeção de

    combustível no ar quente comprimido, sem que uma fonte externa de energia seja aplicada.

    Esse motor, operando como um ciclo diesel ideal, passa pelas seguintes etapas (SANTANA,

    2015):

    (i) admissão: durante o qual ar puro (sem combustível) é admitido para dentro do

    cilindro, com a válvula de aspiração aberta;

    (ii) compressão isoentrópica: durante o qual o ar é comprimido no cilindro, elevando a

    temperatura acima do ponto de ignição do combustível, com as válvulas fechadas;

    (iii) combustão (adição de calor): ocorre a injeção do combustível em regime que

    possibilita a combustão sob pressão constante, onde é expandido de forma isoentrópica até

    Ponto Morto Inferior (PMI), com as válvulas fechadas;

    (iv) escape (rejeição de calor a volume constante): durante o qual o êmbolo expulsa de

    dentro dos cilindros os gases resultantes da queima, estando aberta a válvula de descarga.

  • 37

    Tabela 2.3 - Comprimento da carroçaria de ônibus convencionais da Mercedes-Benz, em função do motor, suspensão e tipo de operação

    Fonte: Mercedes-Benz (2016).

    No entanto, na prática o funcionamento dos motores Diesel modernos é melhor

    representado pelo ciclo dual, composto por cinco processos termodinâmicos que, na condição

    de análise ar-padrão, consideram a adição de calor ocorrendo em 2 passos: a volume

    constante (2-3) e, depois, a pressão constante (3-4) (MORAN & SHAPIRO, 2009). As

    diferenças entre o ciclo ideal e o ciclo real, vistas na Figura 2.2, são atribuídas à perda de

    calor no cilindro, ao tempo de abertura e fechamento das válvulas de admissão e de escape, à

    combustão não instantânea do processo, entre outras razões (BAPTISTA, 2014).

    Posição  do  motor Tipo  de  suspensão Tipo  de  operação Comprimento  da  carroçaria

    Motor dianteiro

    Suspensão metálica

    Escolar De 8 a 12 metros

    Urbana De 11 a 13,2 metros

    Rodoviária De 8 a 13,2 metros

    Suspensão pneumática Urbana

    De 11 a 13,2 metros Rodoviária

    Motor traseiro

    Suspensão metálica Urbana

    11 metros Rodoviária

    Suspensão pneumática Urbana De 9 a 23 metros

    Rodoviária De 9 a 14 metros

  • 38

    Figura 2.2 – Diagrama p-v do ciclo dual ideal e real

    Fonte: Baptista (2014).

    Além da geração de potência, o resultado do processo de combustão é a emissão de

    escapamento. Para a estimativa das emissões de escapamento do petrodiesel, Sugawara (2012)

    utiliza a seguinte equação:

    𝐹𝐸! = 𝑓𝑒_𝑑𝑖𝑛! ∗1

    𝑐𝑜𝑛𝑠!"#∗ 𝑑!"#$ ∗ 1000 ∗ 1/𝑐𝑜𝑛𝑠!"#

    Em que:

    i = tipo de poluente medido;

    FEi = fator de emissão do poluente estimado para a situação real (g/km)

    fe_dini = fator de emissão obtido do teste em bancada dinamométrica (gi/kWh)

    consdin = consumo de combustível obtido do teste em bancada dinamométrica (gdiesel/kWh)

    dcomb = densidade do combustível (kg/L)

    conscam = consumo de combustível obtido do teste em campo (km/L)

  • 39

    A Tabela 2.4 indica os valores disponíveis na literatura para o cálculo dos fatores de

    emissão dos poluentes segundo alguns autores.

    Tabela 2.4 – Compilação de dados disponíveis na literatura para cálculo dos fatores de emissão do petrodiesel

    fe_dinCO

    (gCO/kWh)

    fe_dinCO2 (gCO2/kWh)

    fe_dinNOx (gNOx/kWh)

    fe_dinHC (gHC/kWh)

    fe_dinMP (gMP/kWh)

    consdin (gdiesel/kWh)

    conscam (km/L)

    Fonte

    0,55333 705,54 4,53 0,17667 0,08233 217,5 2,3767 Sugawara, 2012

    0,27 x 1,29 0,02 0,0125 224 2,3 MMA, 2014

    0,263 730 1,442 0,01 0,013 220 2,1 CETESB, 2016

    0,0285 708,2 2,41 0,1589 x x x Santana, 2016

    1,5 x 2,00 0,46 0,02 x x IBAMA, 2016

    FECO (gCO/km)

    FECO2 (gCO2/km)

    FENOx (gNOx/km)

    FEHC (gHC/km)

    FEMP (gMP/km)

    FECH4 (gCH4/km)

    FEN2O (gN2O/km)

    Fonte

    0,89915 1.146 1.384,458 0,28708 0,13379 x x Sugawara, 2012

    0,44 1.240 2,103 0,033 0,02 0,06 0,03 MMA, 2014

    0,479 1.327 2,623 0,018 0,023 0,06 0,03 CETESB, 2016

    0,54 1.168 2,69 0,0147 0,0209 x x ANTP, 2016

    0,54 1.643 2,69 0,0147 0,0209 x x ANTP, 2016

    Fonte: Autoria própria.

    Na tabela acima são expostas as emissões de MP oriundas apenas da queima de

    petrodiesel. De acordo com dados europeus, fornecidos pelo Guia Europeu para Inventário de

    Emissões, citado pelo MMA (2014), o fator de emissão de MP10 (material particulado com

    diâmetro menor que 10 microns) por desgaste de pneus e freios corresponde a 0,59g/km e

    pelo desgaste da pista, a 0,038 g/km. Vale ressaltar também que os dados da Tabela 2. tratam-

    se de dados conservadores, por não refletirem o estado real da manutenção da frota em

    circulação, que pode elevar as estimativas de emissão (ANTP, 2016).

  • 40

    Considerando que as emissões de escapamento contribuem significativamente para a

    deterioração da qualidade ambiental, especialmente em centros urbanos, em 1986 foi

    instituído o Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores

    (PROCONVE) pela Resolução n° 18/86 do Conselho Nacional do Meio Ambiente

    (CONAMA) (apud IBAMA, 2011). Visando reduzir e controlar a contaminação atmosférica e

    a emissão de ruídos por veículos automotores, o PROCONVE passou a fixar prazos, limites

    máximos de emissão de escapamento e a estabelecer exigências tecnológicas para veículos

    novos (IBAMA, 2016).

    A fase vigente do PROCONVE, disposta na Resolução CONAMA n° 403/08 (apud

    IBAMA, 2011), dispõe sobre as exigências para veículos pesados novos, nacionais e

    importados, doravante denominada Fase P-7, e estabelece os limites máximos de emissões de

    escapamento do óleo Diesel6 S-10 (com teor de enxofre máximo de 10 ppm), para veículos

    produzidos a partir de 1° de janeiro de 2012, consoante apresentado pela Tabela 2.5.

    Tabela 2.5 – Limites máximos7 de emissão de poluentes para os motores do ciclo Diesel destinados a veículos automotores pesados novos, nacionais e importados, produzidos a partir de 1° de janeiro de 2012

    Poluentes Limites (Fase P-7) em ciclo de testes ESC8

    Monóxido de carbono (g/kWh) 1,5

    Hidrocarbonetos (g/kWh) 0,46

    Óxidos de nitrogênio (g/kWh) 2

    Material particulado (g/kWh) 0,02

    Amônia (ppm/kWh) 25

    Fonte: Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA (2011).

    Além de dispor os limites de emissão, a fase P-7 estabelece a obrigatoriedade da

    incorporação de tecnologia de controle de emissão e de dispositivos para o autodiagnostico

    das funções de gerenciamento do motor que exerçam influência sobre as emissões de 6 Considerando que para as homologações dos veículos deve ser utilizado o combustível de referência, disposto na Resolução da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) n° 40/08. 7 Para efeitos de homologação, na comprovação de atendimento aos limites de emissão de escapamento, não são aplicados os Fatores de Deterioração da Emissão. Contudo, o fabricante deve manter as respectivas emissões dentro dos limites por 160.000 km rodados ou o prazo de cinco anos, o que se suceder primeiro. 8 Ciclo ESC = Ciclo de Regime Constante. Consiste de um ciclo de ensaio com 13 modos de operação em regime constante.  

  • 41

    poluentes do ar. Para atender às especificações impostas pela fase P-7, as tecnologias de

    controle de emissão mais utilizadas são os sistemas de pós tratamento dos gases de

    escapamento por Recirculação de Gases de Escape – Exhaust Gases Recirculation (EGR); e

    por Redução Catalítica Seletiva - Seletive Catalitic Reduction (SCR), com injeção de solução

    de ureia (ARLA32).

    O primeiro sistema visa reduzir a formação de NOX com a recirculação de uma fração

    dos gases de escapamento de volta aos cilindros de combustão, o que promove a diluição da

    mistura nova e redução da temperatura e pressão máximas de combustão. No entanto, o

    emprego de EGR requer cuidados especiais no motor, pois haveria uma tendência de aumento

    de consumo de combustível em virtude da perda de rendimento (LASCALA, 2011).

    O segundo sistema utiliza um catalisador e a solução ARLA32 (Agente Redutor Líquido

    de NOx Automotivo, em solução aquosa de ureia de 32,5%9), os quais permitem a redução de

    emissões de óxidos de nitrogênio, monóxido de carbono e hidrocarbonetos (PETROBRAS,

    2016). De acordo com a Petróleo Brasileiro S/A (Petrobras), no Brasil, os fabricantes de

    veículos coletivos optaram, em sua maior parte, pelo uso do sistema SCR em função do

    aumento da eficiência da combustão, entre outros fatores.

    Os motores com SCR são monitorados pelo sistema OBD (On Board Diagnosis), que

    identifica a extrapolação de limites de emissão, indicando a ausência de ARLA32. Nesses

    casos, um aviso luminoso é acionado e o sistema reduz gradualmente a potência do veículo.

    Após 48 horas de funcionamento do motor, se o problema não for sanado, a potência é

    reduzida ao mínimo, até que ocorra o reabastecimento da solução (ANTP, 2016).

    Com relação às emissões de MP, filtros cerâmicos são usados para captura do material,

    incluindo o MP1 (material particulado com diâmetro menor que 1 micron), que é o mais

    pernicioso para o sistema respiratório humano. Em função do acúmulo de MP, o dispositivo

    precisa ser constantemente regenerado, processo esse que ocorre por aquecimento elétrico e

    aumento da temperatura de escape (controle do motor) para queimar o MP absorvido.

    Na Tabela 2.6 está disposto um inventário que compila as informações mássica e

    energética da produção do veículo convencional com SCR pertencente à fase P-7.

    9 Os gases de escapamento atravessam o sistema, onde a ureia é pulverizada em doses exatas na corrente de escape antes do SCR, e então permite que as reações químicas se processem, reduzindo o lançamento de óxidos de nitrogênio na atmosfera, transformando a sua maior parcela em nitrogênio, água e oxigênio (ANTP, 2016).

  • 42

    Tabela 2.6 – Inventário da produção de ônibus urbano, com sistema de redução catalítica seletiva, de acordo com sua massa total

    Material Ônibus convencional (% em massa)

    Produção de peças em aço fundido 53,030%

    Polipropileno 12,122%

    Peça de ferro fundido 9,091%

    Mistura de lingotes de alumínio 11,611%

    Vidro 5,050%

    Aço inoxidável 3,999%

    Madeira 2,020%

    Lubrificantes 0,917%

    Etilenoglicol 0,154%

    Água deionizada 0,459%

    Ácido sulfúrico 0,060%

    Borracha 0,830%

    Chumbo 0,349%

    Cobre 0,308%

    Energia para montagem (primária) 36,137 MJ/kg

    Energia para montagem (fóssil) 28,994 MJ/kg

    Fonte: Sanchéz et al. (2012).

    Quanto à vida útil do ônibus, o Ministério de Minas e Energia (MMA, 2014) utiliza um

    valor médio nacional de 1.191.819 km de intensidade de uso de ônibus urbanos, valor esse

    semelhante àquele proposto pela CETESB (2016) ao estado de São Paulo, de 1.186.968 km.

    A composição dos gases de escapamento é influenciada por alguns fatores operacionais,

    entre eles a autonomia e a lotação do veículo. A autonomia varia largamente pelas condições

    do tráfego, modo de dirigir, condições climáticas e topográficas, da manutenção adequada,

    uso de ar condicionado, número de passageiros, etc. Guercio e Mello Filho (2016) utilizaram

    de dados da Bio Ethanol Sustainable Transport (BEST), coletados entre 2008 e 2009, e

  • 43

    concluíram que, para os meses mais quentes (dezembro, janeiro, fevereiro e março), a média

    de consumo de diesel é de 1,4 km/l; enquanto para os meses mais frios (junho, julho, agosto e

    setembro) a média é de 1,53 km/l, com uma média anual total de 1,48 km/l.

    Zhou et al. (2016) demonstraram que a lotação máxima de passageiros aumenta o

    consumo de energia em 20%, enquanto a metade da capacidade total ocupada aumentaria em

    10%, quando comparados ao veículo vazio. O uso de ar condicionado eleva a demanda

    energética em 24%. Considerando a velocidade média de 15km/h como referência, a queda

    deste valor para 10km/h aumentaria em 26% o consumo energético, ao passo que a 20km/h

    esse consumo cairia em 16% (ZHOU et al., 2016).

    O levantamento bibliográfico realizado indicou outras referências para a autonomia dos

    ônibus, cujos valores encontram-se na Tabela 2.7.

    Tabela 2.7 - Compilação de dados de autonomia de ônibus urbano a diesel disponíveis na literatura

    Especificações Autonomia Fonte

    Ônibus urbano a diesel B5 (OM 904 LA) 42,7 L/100km Sugawara (2012)

    Ônibus urbano a petrodiesel (OM 904 LA) 42,1 L/100km Sugawara (2012)

    Ônibus urbano a diesel 43,5 L/100km MMA, (2013)

    Ônibus urbano a diesel 47,6 L/100km CETESB (2016)

    Ônibus urbano a diesel (Euro 3) 67,6 L/100km Guercio e Mello Filho (2016)

    Ônibus urbano a diesel, velocidade de 15km/h, vazio, ar condicionado desligado 49,3 L/100km Zhou et al. (2016)

    Fonte: Autoria própria.

    Quanto às emissões de biodiesel, Sheehan et al. (1998), indicam que:

    Ó𝑥𝑖𝑑𝑜𝑠  𝑑𝑒  𝑛𝑖𝑡𝑟𝑜𝑔ê𝑛𝑖𝑜   → 𝑦 =  0,0889𝑥  

    𝑀𝑎𝑡𝑒𝑟𝑖𝑎𝑙  𝑝𝑎𝑟𝑡𝑖𝑐𝑢𝑙𝑎𝑑𝑜 → 𝑦 = −0,6807𝑥

    𝑀𝑜𝑛ó𝑥𝑖𝑑𝑜  𝑑𝑒  𝑐𝑎𝑟𝑏𝑜𝑛𝑜 →  𝑦 =  −0,4623𝑥

    𝐻𝑖𝑑𝑟𝑜𝑐𝑎𝑟𝑏𝑜𝑛𝑒𝑡𝑜𝑠  𝑛ã𝑜  𝑚𝑒𝑡𝑎𝑛𝑜 → 𝑦 =  −0,3673𝑥

  • 44

    Em que:

    y = a porcentagem de mudança nas emissões, relativa ao padrão do diesel combustível com

    baixo teor de enxofre;

    x = a mistura de biodiesel expressa em volume percentual no combustível;

    Sheehan et al. (1998) assumem que não há enxofre no