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Versão integral disponível em digitalis.uc · modo geral: versos ou poemas de Camilo Pessanha. Duas considera 90es me levaram a utilizar0 nomeparatodo 0 conjunto. A primeirafoi

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VEREDAS 8 (porto Alegre, 2007) 215-243

Editar Camilo PessanhaQuestoes de metodo e de principios

PAULD F'RANCHETTI

Universidade Estadual de Campinas

No final do ana de 1995, quando foi lancada a edicao portugue­sa dos versos de Pessanha por mim organizada, iniciei a apresentacaoafirmando que Clepsydra e 0 nome de urn livro que nao existe.' Naoexiste como desenho sequencial significativo, e nem sequer existe co­mo conjunto avalizado por uma clara assuncao autoral. Essa ea tesedefendida ao longo das setenta paginas de introducao ao volume entaoapresentado ao publico, e fundamentada tambem ao longo das outrassetenta em que nele vern dispostas as variantes e as consideracoes so­bre 0 texto escolhido como base para 0 registro das anotacoes.

Em decorrencia, os criterios para a ordenacao seqUencial dospoemas e fragmentos nessa edicao sao propositadamente fluidos, jaque nao pretendi dotar 0 conjunto dos textos de uma ordem significati­va. Dai que os tenha alinhado apenas de forma cronol6gica, segundo adata da primeira noticia que temos deles, seja aut6grafo datado, refe­rencias de terceiros ou primeira versao impressa.

Ja no que diz respeito ao texto de cada urn dos poemas, 0 pro­cedimento adotado, em consonancia com esses principios gerais, foi

1 PESSANHA, Camilo. Clepsydra. Estabelecimento de texto, notas e cornentarios de PauloFranchetti. Lisboa: Rel6gio d' Agua, 1995.

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apresentar no corpo do volume, como referencia para a anotacao dasvariantes, a versao que parecesse representar a ultima intervencao con­sistente do autor. Isto e: escolhi como textos-base, alem do conjuntomais recente de autografos, que e0 de 1916, os que traziam a indica­9ao "limpa" ou "definitiva", com que 0 poeta marcou varias versoesexistentes em seu cademo de trabalho. 0 objetivo desse procedimentonao era, esta claro, 0 defixar urn texto, mas apenas 0 de eliminar, tantoquanta possivel, dos textos que ate entao liamos como canonicos, asvariantes introduzidas pelos editores. Por outro lado, assumindo que 0

texto de Pessanha emelhor compreendido quando entendido comowork in progress, tratei de listar, no aparato critico, todas as versoescorrentes dos poemas de Pessanha ao lange do tempo da sua vida, berncomo todas as intervencoes do poeta, nos varies manuscritos e recortesde jomal, facultando ao leitor a escolha de versoes e leituras que me­lhores the parecessem.

No que diz respeito aadocao do nome Clepsydra para denomi­nar 0 conjunto dos textos recolhidos no livro, as consideracoes foramde outra ordem. 0 mais simples seria denominar 0 conjunto apenas demodo geral: versos ou poemas de Camilo Pessanha. Duas considera­90es me levaram a utilizar 0 nome para todo 0 conjunto. A primeira foia de que a edicao de 20 de forma alguma me parece ter sido concebida,supervisionada ou mesmo claramente sancionada por Camilo Pessa­nha. Por isso, nao parecia razoavel denominar Clepsydra apenas aque­Ie conjunto e ajuntar os demais sob a denorninacao 'outros'. Nao yOU

repetir aqui todos os argumentos que desenvolvi na introducao ao vo­lume ha pouco mencionado, embora mais adiante os deva retomar demodo sumario. Registro, por agora, apenas que as primeiras edicoesforam feitas com material de varia procedencia, e que 0 conjunto dosautografos que serviu de base aedicao de 1920 continha apenas dezoi­to dos trinta poemas que integraram 0 volume. 0 proprio Joao de Cas­tro Osorio reconheceu 0 carater precario da primeira edicao, afirman­do, em momentos varies, que 0 editor reuniu, para compor a Clepsy­dra, tudo 0 que havia disponivel emjomais e em copias de autografos,nos arquivos da familia, e que desde a primeira edicao era claro queoutros textos deveriam ter integrado 0 limitado conjunto de 1920. Foipor assim 0 reconhecer que ele continuou a denominar Clepsydra aoconjunto dos poemas de Pessanha; e quando, em 1969, intitulou 0 vo-

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EDITAR CAMILO PESSANHA. QUESTQES DE METODa E DE PRINCIPIOS 217

lume Clepsydra e outros poemas, 0 fez apenas para poder disporapar­te uns POUCos textos quejulgou nao estaremaaltura (por incompletudeou pequena realizacao estetica) ou nao terem 0 mesmo tom dos de­rnais.' Quanto apropriedade de incluir no conjunto principal dos poe­mas de Pessanha outros textos que nao os que vieram na edicao de 20,concordei, pois, plenamente com Joao de Castro Osorio. Jano que dizrespeito aos outros pontos, naopude concordar inteiramentecom aque­Ieeditor. Nao existindo aquela epoca (como ate hoje nao existem) tes­temunhos textuais que indicassem que 0 arranjo dos poemas na edicaode 1920 fosse de autoria de Pessanha, e claro que tampouco poderiareconhecer a propriedade dos sucessivos rearranjos do proprio CastroOsorio, segundo desenhos tematicos que ele atribuiaa indicacoesoraisde Pessanha; nem poderia concordar com a exclusao de alguns textosdo corpo principal do volume, conforme 0 seu presumivel acabamentoformal ou estetico.'

A segunda consideracao foi esta: nao podendo, por tudo queacabo de dizer, denominar Clepsydra apenas uma parte dos versos dePessanha, e sendo 0 nome tradicionalmente, por obra das edicoes su­cessivas, associado ao conjunto dos seus versos,e uma vez que nao pa­recia advir dai maior mal, pareceu-me razoavel manter 0 titulo e expli­car, como 0 fiz, que ele nao indicava qualquer desejo de ordenacaoternatica ou formal na apresentacao dos poemas. Nao escapou essa os­cilacao ainteligencia de Gustavo Rubim, quenuma recensao anotou

2 A secao "Outros poemas (nao indicados para a Clepsydra)",da edicao de 1969,ecompostapelos seguintes textos, agrupadosem tres subsecoes:a) "Poemas iniciais", contendo Lubrica(e a versao posterior, denominadaDesejos),Madrigal e 0 Sonetode Gelo;b) "Poemas de oca­siao e fragmentarios",contendo Rosas de lnverno, Numadespedida, "Fragmentode urnhino"e "Imagem nocturna da cidade vista do alto"; e c) "Dois sonetos de satiricairnitacao": A mira­gem e Transfiguracdo. 0 criterio utilizado para a exclusaode algunstextosdo corpoprincipaldo volume revelara toda a sua inconsistencia se considerarmos aqui unicamente dois casos:Lubrica e Roteiro da Vida.Lubrica aparecera,como parte do nucleo denominado Clepsidra,nas edicoes de 45 e 56, sendo dai excluido em 69; ja 0 conjuntoque CastroOsoriodenominouRoteiro da Vida e incluiu no nucleo denominado Clepsydra foi composto pelo editor, da se­guinte forma: a primeira parte ficou sendo urn poemaja publicado na Clepsidra de 1945; asegunda e a terceira parte resultaramdo agrupamentode tres conjuntosencontradosno cader­no de Macau, que nao tinham indicacao de sequencia,nem de formaremconjunto entre si oucom 0 poemaja publicado em 1945,e que vinham,no mesmocaderno, numaordem diferentedaquela em que vieram na edicao de Castro Osorio.3 Julguei por bern,por outro lado, manteraparte dois fragmentosde poemas reproduzidos dememoriapor terceiros, dos quais nao ha autografoou publicacaoem vida de Pessanha, e doissonetos de declarado intuito parodico ou satirico, enviados em carta a Trindade Coelho.

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