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UNIVERSIDADE DE SAtildeO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA LETRAS E CIEcircNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE LETRAS CLAacuteSSICAS E VERNAacuteCULAS
PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM FILOLOGIA E LIacuteNGUA PORTUGUESA
ANIELLE APARECIDA GOMES GONCcedilALVES JACOMETTI DE OLIVEIRA
Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo
semacircntico-diacrocircnico
VERSAtildeO CORRIGIDA
SAtildeO PAULO
2014
Anielle Aparecida Gomes Gonccedilalves Jacometti de Oliveira
Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
2
UNIVERSIDADE DE SAtildeO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA LETRAS E CIEcircNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE LETRAS CLAacuteSSICAS E VERNAacuteCULAS
PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM FILOLOGIA E LIacuteNGUA PORTUGUESA
Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo
semacircntico-diacrocircnico
ANIELLE APARECIDA GOMES GONCcedilALVES JACOMETTI DE OLIVEIRA
Tese apresentada ao Programa de
Poacutes-Graduaccedilatildeo em Filologia e Liacutengua
Portuguesa do Departamento de Letras
Claacutessicas e Vernaacuteculas da Faculdade de
Filosofia Letras e Ciecircncias Humanas da
Universidade de Satildeo Paulo como requisito
parcial para a obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Doutor
Aacuterea de Concentraccedilatildeo Filologia e Liacutengua Portuguesa
Orientador Prof Dr Maacuterio Eduardo Viaro
Co-orientadora Prof Dra Graccedila Maria de Oliveira e Silva Rio-Torto
VERSAtildeO CORRIGIDA
De acordo
SAtildeO PAULO
2014
Autorizo a reproduccedilatildeo e divulgaccedilatildeo total ou parcial deste trabalho por qualquer meio convencional ou eletrocircnico para fins de estudo e pesquisa desde que citada a fonte
Catalogaccedilatildeo na Publicaccedilatildeo Serviccedilo de Biblioteca e Documentaccedilatildeo
Faculdade de Filosofia Letras e Ciecircncias Humanas da Universidade de Satildeo Paulo
O48s Oliveira Anielle Aparecida Gomes Gonccedilalves Jacometti de
Os sufixos agentivos -nte e -(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico Anielle Aparecida Gomes Gonccedilalves Jacometti de Oliveira orientador Maacuterio Eduardo Viaro co-orientadora Graccedila Maria de Oliveira e Silva Rio-Torto - Satildeo Paulo 2014
358 f
Tese (Doutorado)- Faculdade de Filosofia Letras e Ciecircncias Humanas da Universidade de Satildeo Paulo Departamento de Letras Claacutessicas e Vernaacuteculas Aacuterea de concentraccedilatildeo Filologia e Liacutengua Portuguesa
1 Sufixo agentivo 2 Liacutengua portuguesa 3 Morfologia histoacuterica 4 Aspecto nos nomes 5 Teoria dos protoacutetipos I Viaro Maacuterio Eduardo orient II Rio-Torto Graccedila Maria de Oliveira e Silva
co-orient III Tiacutetulo
Anielle Aparecida Gomes Gonccedilalves Jacometti de Oliveira
Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
3
ANIELLE APARECIDA GOMES GONCcedilALVES JACOMETTI DE OLIVEIRA
OS SUFIXOS AGENTIVOS ndashNTE E ndash(DTS)OR NO PORTUGUEcircS UM ESTUDO SEMAcircNTICO-
DIACROcircNICO
Aprovada em 08092014
Observaccedilotildees
Banca examinadora
________________________________________________
Prof Dr Maacuterio Eduardo Viaro (orientador)
Instituiccedilatildeo Universidade de Satildeo Paulo (Brasil)
________________________________________________
Profa Dra Graccedila Maria Oliveira da Silva Rio-Torto (co-orientadora)
Instituiccedilatildeo Universidade de Coimbra (Portugal)
________________________________________________
Prof Dr Martin Gunther Becker
Instituiccedilatildeo Universitaumlt zu Koumlln (Alemanha)
________________________________________________
Profa Dra Maria Isabel Pires Pereira
Instituiccedilatildeo Universidade de Coimbra (Portugal)
________________________________________________
Profa Dra Ieda Maria Alves
Instituiccedilatildeo Universidade de Satildeo Paulo (Brasil)
Tese submetida agrave Coordenaccedilatildeo do curso de Poacutes-
graduaccedilatildeo da Faculdade de Filosofia Letras e
Ciecircncias Humanas da Universidade de Satildeo
Paulo como requisito parcial para a obtenccedilatildeo do
tiacutetulo de Doutor
Anielle Aparecida Gomes Gonccedilalves Jacometti de Oliveira
Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
4
AGRADECIMENTOS
A Deus pela vida plena
Ao orientador Prof Dr Maacuterio Eduardo Viaro e agrave co-orientadora Profa Dra Graccedila
Maria da Silva de Oliveira Rio-Torto pela orientaccedilatildeo disponibilidade amabilidade e
pela disposiccedilatildeo e grande ajuda com questotildees burocraacuteticas
Ao Prof Dr Martin Gunther Becker e agrave Profa Dra Maria Aparecida Barbosa pelo
direcionamento teoacuterico e bibliograacutefico fundamentais para a construccedilatildeo da tese e pela
motivaccedilatildeo
Agrave Profa Dra Ieda Maria Alves e agrave Profa Dra Maria Isabel Pires Pereira pela
atenccedilatildeo prestada ao trabalho e pelos comentaacuterios valiosos
Ao Grupo de Morfologia Histoacuterica do Portuguecircs (GMHP) e ao Nuacutecleo de Apoio agrave
Pesquisa em Etimologia e Histoacuteria da Liacutengua Portuguesa (NEHiLP) ambos da
Universidade de Satildeo Paulo pela contribuiccedilatildeo ao trabalho e pela amizade
Agrave famiacutelia e aos amigos pelo amor carinho e amizade
Ao meu marido Lucas Jacometti de Oliveira pelo amor incentivo e apoio em
todos esses anos de trabalho
Agrave Fundaccedilatildeo de Amparo agrave Pesquisa do Estado de Satildeo Paulo (FAPESP) pela
concessatildeo da bolsa de Doutorado no Brasil e agrave Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de
Pessoal de Niacutevel Superior (CAPES) pela concessatildeo da bolsa de Doutorado no exterior
cujos apoios financeiros para a realizaccedilatildeo dessa pesquisa foram vitais
Anielle Aparecida Gomes Gonccedilalves Jacometti de Oliveira
Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
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RESUMO
No processo derivacional os sufixos ndashnte e ndash(dts)or satildeo conhecidos por
formarem vocaacutebulos designados na liacutengua como agentivos O conceito de agente por
sua vez eacute fundamental para os estudos da linguagem pois descreve uma categoria
primaacuteria a qualquer ser vivo servindo por isso de base para a criaccedilatildeo de outras
categorias Propocircs-se observar descrever e organizar os significados dos sufixos ndashnte e
ndash(dts)or presentes na liacutengua portuguesa utilizando o mecanismo da paraacutefrase Por
tratar-se de afixos abrangentes fizeram-se necessaacuterios dois tipos de abordagem uma
qualitativa e uma quantitativa Num primeiro momento fez-se uma pesquisa
etimoloacutegica especiacutefica nos agentivos nomeadores de profissionais isto eacute em
designadores de seres humanos portadores de uma funccedilatildeo em que se examinou o
emprego primitivo dos sufixos que compotildeem essa anaacutelise Depois abarcaram-se
palavras pertencentes a campos diversos limitados pela presenccedila desses sufixos
Os sufixos formadores de nomina agentis ndashnte e ndash(dts)or remetem aos falantes a
ideia de algueacutem ou algo que faz alguma coisa isto eacute forma duas seacuteries nas quais se
corporizam as derivaccedilotildees deverbais de designaccedilotildees de pessoas que satildeo ldquoagentesrdquo da
accedilatildeo implicada no significado do verbo A hipoacutetese do trabalho eacute a de que os nomes em
ndashnte e ndash(dts)or possuem a propriedade do aspecto entendido como duraccedilatildeo da accedilatildeo
devido agrave constituiccedilatildeo histoacuterica tanto das bases que os integram como dos proacuteprios
afixos o que confere a cada um deles um papel semacircntico especiacutefico na liacutengua
Constatou-se que as paraacutefrases dos nomes em ndashnte e ndash(dts)or seguem um padratildeo
acional uacutenico sem variaccedilatildeo nos diversos grupos lexicais a que pertencem com uma
especificidade no significado do sufixo ndashnte Esses e os outros elementos morfoloacutegicos
se constituem como fundamento material para mediar a relaccedilatildeo do falante com sua
expressatildeo social
Descritores Sufixos agentivos Liacutengua portuguesa Morfologia histoacuterica Semacircntica
Paraacutefrase Aspecto nos nomes Teoria dos protoacutetipos
Anielle Aparecida Gomes Gonccedilalves Jacometti de Oliveira
Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
6
ABSTRACT
In the derivational process the suffixes ndashnte and ndash(dts)or are known for forming
words which are designated in the language as agentives The term agent is fundamental
to the studies of languages because it describes a primary category to any living being
and therefore it serves as a base to the creation of other categories The proposal of this
work is to observe to describe and to organize the meanings of the suffixes ndashnte and ndash
(dts)or in Portuguese utilizing the mechanism of paraphrase Since they are
comprehensive affixes two approaches ndash a qualitative and a quantitative one ndash were
necessary Firstly it was conducted a specific etymological research about the
professional agentives ie namely in human beings that have a function in which the
original function of the suffixes was examined Subsequently words of different fields
were analyzed with these affixes
The nomina agentis forming suffixes ndashnte and ndash(dts)or give to the speakers the
idea of someone or something that does some action forming two series in which they
embody the deverbal derivations of nouns of people who are ldquoagentsrdquo of the action
implied in the verb meaning The hypothesis of the work is that names in ndashnte and ndash
(dts)or own the property of the aspect videlicet the implication of the duration of the
action due to historic constitution of both the bases and the affixes which provides to
each suffix one specific semantic role in the language
It was noticed that the paraphrases of the names in ndashnte and ndash(dts)or follow one
single standard of action with no variation in the several and different lexical groups to
which they belong with a specificity in the meaning of the suffix ndashnte These and the
other morphological components constitute the material base to mediate the relationship
between the speaker and hisher social expression
Descriptors Agentive suffixes Portuguese language Historical morphology
Semantics Paraphrase Aspect in names Prototype theory
Anielle Aparecida Gomes Gonccedilalves Jacometti de Oliveira
Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
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RESUMEN
En el proceso de derivacioacuten los sufijos ndashnte y ndash(dts)or son conocidos por formar
vocablos designados en la lengua como agentivos El concepto de agente a su vez es
fundamental para los estudios de la lenguaje pues describe una categoriacutea que es
primaria a cualquier ser vivo siendo por eso base para la creacioacuten de otras categoriacuteas
Se propuso observar describir y organizar los contenidos semaacutenticos de los sufijos ndashnte
y ndash(dts)or presentes en lengua portuguesa con la utilizacioacuten del mecanismo de la
paraacutefrasis Por tratarse de afijos muy productivos se hicieron necesarios dos tipos de
abordaje una cualitativa y una cuantitativa En el primer momento hubo una pesquisa
etimoloacutegica especiacutefica en los agentivos que nombran profesionales o sea en palavras
que designan seres humanos portadores de una funcioacuten en que se examinoacute el empleo
primitivo de los sufijos que componen esa anaacutelisis Despueacutes fueron abordadas palabras
pertenecientes a campos diversos limitados por la presencia de eses sufijos
Los sufijos formadores de nomina agentis ndashnte y ndash(dts)or remiten a los hablantes
la idea de alguien o algo que hace alguna cosa o sea forman dos series en las cuales se
corporeizan las derivaciones deverbales de designaciones de personas que son ldquoagentesrdquo
de la accioacuten implicada en el significado del verbo La hipoacutetesis del trabajo es que los
nombres en ndashnte y ndash(dts)or poseen la propiedad del aspecto entendido como duracioacuten
de la accioacuten debido a la constitucioacuten histoacuterica tanto de las bases que los integran como
de los propios afijos lo que confiere a cada uno un papel semaacutentico especiacutefico en la
lengua
Se constatoacute que las paraacutefrasis de los nombres en ndashnte y ndash(dts)or siguen un patroacuten
de accioacuten uacutenico sin variacioacuten en los diversos grupos lexicales a los cuales pertenecen
con una especificidad en el significado del sufijo ndashnte Eses y los otros elementos
morfoloacutegicos se constituyen como fundamento material para mediar la relacioacuten del
hablante con su expresioacuten social
Descritores Sufijos agentivos Lengua portuguesa Morfologiacutea histoacuterica Semaacutentica
Paraacutefrasis Aspecto en nombres Teoriacutea de prototipos
Anielle Aparecida Gomes Gonccedilalves Jacometti de Oliveira
Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
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SUMAacuteRIO
Capiacutetulo 1 Introduccedilatildeo
1 1 Apresentaccedilatildeo do tema 18
1 2 Objetivos 19
1 3 Metodologia esclarecimentos iniciais 22
1 3 1 As paraacutefrases 23
1 4 Corpus 25
1 5 Hipoacutetese de trabalho 27
1 6 Fundamentaccedilatildeo teoacuterica 28
1 6 1 Agentivos conceitualizaccedilatildeo 29
1 6 2 Teoria dos Protoacutetipos a prototipicidade nos agentivos 35
1 6 3 O aspecto nos nomes 39
1 7 Importacircncia e justificativa 41
1 8 Estrutura do trabalho 41
Capiacutetulo 2 Para uma visatildeo histoacuterica dos objetos origem dos sufixos e suas
trajetoacuterias nas gramaacuteticas
2 1 O particiacutepio e o sufixo nte origem e valores do grego ao portuguecircs 43
2 2 O particiacutepio e o sufixo ndashnte nas gramaacuteticas histoacutericas e normativas da liacutengua
portuguesa 56
2 3 Siacutentese 67
2 4 Os sufixos gregos ndashτωρ e ndashτήρ 70
2 5 Comparaccedilatildeo entre ndashτωρ e ndashτήρ 75
2 6 O sufixo ndash(dts)or no latim e no portuguecircs 80
2 7 Siacutentese 85
2 8 As bases dos nomes em ndashnte e ndash(dts)or no latim 87
Anielle Aparecida Gomes Gonccedilalves Jacometti de Oliveira
Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
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Capiacutetulo 3 Pesquisa etimoloacutegica de corpus qualitativo os nomes de profissionais
3 1 Objetivo e metodologia 91
3 2 Palavras com o maior nuacutemero de ocorrecircncias 97
3 2 1 Nomes com o sufixo ndashnte 98
3 2 2 Nomes com o sufixo ndash(dts)or 135
Capiacutetulo 4 Anaacutelise morfossemacircntica-diacrocircnica dos sufixos ndashnte e ndash(dts)or na
liacutengua portuguesa
4 1 Anaacutelise e discussatildeo dos dados qualitativos 193
4 2 Anaacutelise e discussatildeo dos dados quantitativos 201
4 3 Um panorama dos sufixos ndashnte e ndash(dts)or na atualidade 212
Grupos lexicais 217
4 4 Esquematizaccedilatildeo dos dados 236
Capiacutetulo 5 Conclusotildees 239
Referecircncias bibliograacuteficas 242
Anexo I ndash Pares de palavras em ndashnte e ndash(dts)or 255
Anexo II ndash Vocaacutebulos em ndashnte e ndash(dts)or por ordem alfabeacutetica 263
Vocaacutebulos em ndashnte presentes no Houaiss (2001) 264
Vocaacutebulos em ndashnte que natildeo se encontram no Houaiss (2001) 293
Vocaacutebulos em ndash(dts)or presentes no Houaiss (2001) 295
Vocaacutebulos em ndashdor que natildeo se encontram no Houaiss (2001) 347
Anexo III ndash Vocaacutebulos em ndashnte e ndash(dts)or por ordem secular 351
Anielle Aparecida Gomes Gonccedilalves Jacometti de Oliveira
Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
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Vocaacutebulos em ndashnte ndash Listagem cronoloacutegica por seacuteculos de acordo
com o Houaiss (2001) 352
Vocaacutebulos em ndashnte ndash Listagem dos natildeo presentes no Houaiss (2001) e
ainda sem dataccedilatildeo 354
Vocaacutebulos em ndash(dts)or ndash Listagem cronoloacutegica por seacuteculos de
acordo com o Houaiss (2001) 355
Vocaacutebulos em ndashdor ndash Listagem dos natildeo presentes no Houaiss (2001) e
ainda sem dataccedilatildeo 358
Lista de abreviaturas 11
Lista dos 39 vocaacutebulos de profissionais com anaacutelise etimoloacutegica 13
Lista de figuras 15
Lista de tabelas 16
Anielle Aparecida Gomes Gonccedilalves Jacometti de Oliveira
Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
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Lista de abreviaturas
a = anterior a
abl = ablativo
a C = antes de Cristo
acus = acusativo
adapt = adaptaccedilatildeo
adj = adjetivo
adv = adveacuterbio
al = alematildeo
ant = antigo(a)
antr = antropocircnimo
aacuter = aacuterabe
arc = arcaico
aacutet = aacutetico
br = brasileiro
c = cerca de
cap = capiacutetulo
cast = castelhano
cat = catalatildeo
cf = confira
cit = citado
claacutess = claacutessico
conj = conjugaccedilatildeo
dat = dativo
d = depois de
d C = depois de Cristo
DC = Dicionaacuterio Completo
Italiano ndash Portuguecircs
(Brasileiro) e Portuguecircs
(Brasileiro) ndash Italiano (1974)
DCat = Dicionaacuterio
eletrocircnico de catalatildeo
Diccionariscat
DCECH = Diccionario
criacutetico etimoloacutegico
castellano e hispacircnico (1991)
DDLLF = Dictionnaire de la
Langue Franccedilaise [18--]
DECLC = Diccionari
etimologravegic i complementari
de la llengua catalana (1983)
DEDLI = Dizionario
Etimologico della Lingua
Italiana (1988)
DEDLP = Dicionaacuterio
etimoloacutegico da liacutengua
portuguesa (1955)
DEI = Dizionario
Etimologico Italiano (1952)
DELC = Diccionari
enciclopegravedic de la llengua
catalana (1933)
DELI = Dizionario
Etimologico della Lingua
Italiana (1994)
DELL = Dictionnaire
eacutetymologique de la langue
latine (1951)
DELP = Dicionaacuterio
etimoloacutegico da liacutengua
portuguesa (1952)
DENF = Dicionaacuterio
etimoloacutegico Nova Fronteira
da liacutengua portuguesa (1986)
der ou deriv = derivado
DLF = Le Grand Gaffiot ndash
Dictionnaire latin-franccedilais
(2000)
DLG = Diciopedia do seacuteculo
21 dicionario enciclopeacutedico
da lingua galega e da cultura
universal ilustrado (2007)
DPF = Lou tresor doacuteu
Felibrige ou dictionnaire
provenccedilal-franccedilais (1932)
doc = documento
doacuter = doacuterico
ed = ediccedilatildeo
esp = espanhol
eu = europeu
ex = exemplo
f = feminino
f = forma
fem = feminino
fig = figurado (sentido)
figurativo
fr = francecircs
gecircn = gecircneros
genit = genitivo
ger = geruacutendio
germ = germacircnico
got = goacutetico
gr = grego
hom = homeacuterico
id = idem
ie = isto eacute
ind eur = indo-europeu
inf = infinitivo
ing = inglecircs
it = italiano
Anielle Aparecida Gomes Gonccedilalves Jacometti de Oliveira
Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
12
lat = latim latino(a)
lat cl = latim claacutessico
lat ecl = latim eclesiaacutetico
lat med = latim medieval
lat tard = latim tardio
lit = literalmente
litu = lituano
LNPR = Le nouveau Petit
Robert (1995)
loc = locuccedilatildeo
loc cit = loco citato (no
trecho citado)
m masc = masculino
med = medieval
meacuted = meacutedio
mod = moderno
ms = manuscrito
NDLP = Noviacutessimo
Dicionaacuterio Latino-Portuguecircs
(1993)
neol = neologismo
nom = nominativo
OED = The Oxford English
Dictionary (1989)
op cit = opus citatum (na
obra citada)
p = paacutegina
p ext = por extensatildeo
paacutegs = paacuteginas
part pres = particiacutepio
presente
part pass = particiacutepio
passado
pass = passivo
pl = plural
poet = poeacutetica (forma)
pop = popular
port pt = portuguecircs
port br = portuguecircs
brasileiro
port eu = portuguecircs europeu
prep = preposiccedilatildeo
prop = proacuteprio
prov = provenccedilal
PtBr = Portuguecircs Brasileiro
PtEu = Portuguecircs Europeu
rad = radical
RAE = Dicionaacuterio eletrocircnico
de La Real Academia
Espantildeola (2005)
RFP = Regra de Formaccedilatildeo
de Palavras
RFP AG = Regra de
Formaccedilatildeo de Palavras dos
Agentivos
rom = romacircnico
sb = substantivo
sd = sem data
seacutec = seacuteculo
seacutecs = seacuteculos
sf = substantivo feminino
sg = singular
sm = substantivo masculino
sn = substantivo neutro
suf = sufixo
v = verbo ou verbal
v dep = verbo depoente
v intr = verbo intransitivo
VPL = Vocabulario
portuguez amp latino (1712 ndash
1728)
v tr = verbo transitivo
var = variaccedilatildeo variante
voc = vocaacutebulo
vol = volume
vulg = vulgar
Anielle Aparecida Gomes Gonccedilalves Jacometti de Oliveira
Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
13
Lista dos 39 vocaacutebulos de profissionais com anaacutelise etimoloacutegica
Agente 98
Ajudante 101
Assistente 104
Atendente 106
Comandante 107
Dirigente 110
Estudante 112
Gerente 115
Negociante 117
Palestrante 120
Presidente 121
Regente 124
Representante 126
Servente 128
Tenente 130
Assessor 135
Ator 138
Autor 140
Colaborador 143
Defensor 145
Diretor 147
Doutor 149
Escultor 152
Governador 154
Historiador 157
Inquiridor 159
Inspetor 160
Lavrador 162
Leitor 164
Anielle Aparecida Gomes Gonccedilalves Jacometti de Oliveira
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14
Pastor 167
Pesquisador 169
Procurador 171
Professor 174
Promotor 177
Realizador 179
Reitor 181
Relator 183
Senador 185
Servidor 187
Anielle Aparecida Gomes Gonccedilalves Jacometti de Oliveira
Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
15
Lista de figuras
Figura no 1 Latas de sucos Del Vallereg 18
Figura no 2 O particiacutepio o caminho de sua categorizaccedilatildeo e recategorizaccedilatildeo nas liacutenguas 68
Figura no 3 Modelo semacircntico-estrutural das formaccedilotildees agentivas em ndashnte e ndash(dts)or 230
Figura no 4 Ducha com desviador 234
Figura no 5 Aacutervore genealoacutegica do sufixo ndashnte 237
Figura no 6 A formaccedilatildeo das funccedilotildees do sufixo ndashnte com base na Teoria dos Protoacutetipos 237
Figura no 7 Aacutervore genealoacutegica do sufixo ndash(dts)or 238
Figura no 8 A formaccedilatildeo das funccedilotildees do sufixo ndash(dts)or com base na Teoria dos Protoacutetipos
238
Anielle Aparecida Gomes Gonccedilalves Jacometti de Oliveira
Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
16
Lista de tabelas
Tabela no 1 Vocaacutebulos sob anaacutelise 97
Tabela no 2 Origem dataccedilatildeo mais antiga na liacutengua base e produto do processo de
derivaccedilatildeo com os sufixos ndashnte 133
Tabela no 3 Vocaacutebulos em ndashnte e suas categorias gramaticais e paraacutefrases de origem
134
Tabela no 4 Origem dataccedilatildeo mais antiga na liacutengua base e produto do processo de
derivaccedilatildeo com os sufixos ndash(dts)or 189
Tabela no 5 Vocaacutebulos em ndash(dts)or e suas categorias gramaticais e paraacutefrases de origem
191
Anielle Aparecida Gomes Gonccedilalves Jacometti de Oliveira
Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
17
Geralmente a accedilatildeo passa pela coisa mais fundamental do universo real da fiacutesica e eacute
mesmo uma grandeza muito mais fundamental do que a massa ou a energia
Arthur Stanley Eddington 1920
E se o mais pequeno que podemos ver for ainda grande demais para noacutes
Anocircnimo
Anielle Aparecida Gomes Gonccedilalves Jacometti de Oliveira
Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
18
Capiacutetulo 1 Introduccedilatildeo
1 1 Apresentaccedilatildeo do tema
Figura no 1 latas de sucos Del Vallereg
Fonte httpwwweuteajudonetdelvalle-com-br-site-delvalle-sucos-sabores
Essa pesquisa se iniciou no ano de 2009 a partir da observaccedilatildeo de um fato
corriqueiro a constataccedilatildeo de que em latas dos sucos Del Vallereg comercializado
abundantemente no Brasil o que antes era denominado como um produto sem
conservantes ou seja sem tal substacircncia quiacutemica passara a ser descrito como sem
conservadores Isso levou agrave seguinte questatildeo os sufixos ndashnte e ndash(dts)or possuem um
mesmo significado quando estatildeo em uma base idecircntica Esse trabalho de pesquisa
comeccedilou entatildeo a partir dessa pergunta
Sufixos satildeo elementos linguiacutesticos que se ligam a radicais ambos sendo
conduzidos a um significado cujo resultado dessa junccedilatildeo eacute uma nova palavra uma
palavra derivada O estudo do elemento sufixal trabalha em favor do entendimento do
significado do produto final que eacute a palavra pois a carga semacircntica do sufixo direciona
o conteuacutedo dessa palavra para determinados sentidos objetivando a geraccedilatildeo de um
produto proacuteprio e exclusivo
Anielle Aparecida Gomes Gonccedilalves Jacometti de Oliveira
Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
19
Esse trabalho em especiacutefico tem como tema central o estudo dos sufixos ndashnte1 e ndash
(dts)or em liacutengua portuguesa pois se constataram dois fatos bastante perceptiacuteveis que
ocorrem na liacutengua citada a possibilidade de formaccedilatildeo de nomes substantivos e
adjetivos sobre os mesmos temas verbais com os sufixos ndashnte e ndash(dts)or e o grande
nuacutemero de formaccedilotildees com esses sufixos As formaccedilotildees existentes em ndashnte
compreendem o nuacutemero de 3495 e em ndash(dts)or 4519 formaccedilotildees segundo o dicionaacuterio
Houaiss (2001) Notou-se tambeacutem que muitas vezes uma mesma definiccedilatildeo lexical eacute
dada a esses nomes de base aparentemente idecircnticas mas com variaccedilatildeo no sufixo como
eacute o caso citado de conservante conservador entre muitos outros como se poderaacute ver
no desenvolvimento da tese
Devido agrave grande quantidade mencionada e aos grupos semacircntico-lexicais diversos
que ambos os sufixos abarcam que vatildeo desde a nomeaccedilatildeo de pessoas com papeis
semacircnticos diversos ateacute a nomeaccedilatildeo de objetos e de substacircncias faz-se necessaacuterio uma
delimitaccedilatildeo tanto quantitativa quanto qualitativa e expressiva de um determinado grupo
para que depois de amplamente abordado verificasse se as caracteriacutesticas recolhidas
dos sufixos nesse grupo especiacutefico (o qual passa a ser uma amostra do objeto sob
anaacutelise) se aplicam aos outros grupos cuja denominaccedilatildeo se daacute com esses sufixos A
abordagem temaacutetica dos sufixos tem como objetivo conhecer profundamente esses
objetos de delimitaccedilotildees muito vastas e buscar explicaccedilotildees e interpretaccedilotildees que se
tornem vaacutelidas para os outros casos caso contraacuterio ao se fazer uma anaacutelise muito
geneacuterica de todos os elementos do grupo natildeo se consegue adentrar e observar tal
universo minuciosamente Assim as referecircncias a casos particulares por meio de sua
descriccedilatildeo se tornam como um ponto de apoio para ilustrar afirmaccedilotildees gerais e para
argumentar a favor ou contra elas
1 2 Objetivos
O objetivo mais amplo dessa pesquisa estaacute na apreensatildeo do significado original
dos sufixos ndashnte e ndash(dts)or em funccedilatildeo nominal substantiva e em funccedilatildeo semacircntica
1 Esse sufixo se assenta sobre a vogal temaacutetica do verbo sendo muitas vezes mencionado como ndashante ndash
ente e ndashinte e representado nessa obra sob a forma ndashnte
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Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
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agentiva isto eacute em nomes que possuem uma concepccedilatildeo de algueacutem ou algo que faz
alguma accedilatildeo caracteriacutestica distintiva fundamental desses elementos Delimita-se a
anaacutelise em substantivos porque o sufixo ndashnte em especial possui diversas funccedilotildees
categoriais na liacutengua em virtude da sua histoacuteria originalmente com desempenho como
particiacutepio presente A abrangecircncia do particiacutepio presente ultrapassa a fronteira verbo-
nominal conhecida desde o latim ao adentrar em empregos equivalentes agrave preposiccedilatildeo e
ao adveacuterbio como por exemplo em mediante natildeo obstante tirante cujos termos
sofreram um processo de gramaticalizaccedilatildeo Assim apesar de natildeo se excluiacuterem os
adjetivos em ndashnte nesse estudo que satildeo tatildeo comuns quanto os substantivos o enfoque
da pesquisa natildeo se encontra nos mesmos
O primeiro passo dado para se adentrar no mundo tatildeo variado e complexo desses
sufixos foi escolher um grupo lexical em que as formaccedilotildees em ndashnte e ndashdor possuiacutessem
uma representatividade comum e conhecida de modo geral pelos utentes da liacutengua Para
isso procurou-se observar nas gramaacuteticas como os nomes em ndashnte e ndash(dts)or eram
conhecidos e a maioria dos estudiosos os descrevem como nomes de agente que
designam majoritariamente profissionais sendo salientada pois essa classe como o
ponto em comum entre esses dois afixos e como o ponto de partida para o nosso estudo
Logo o objetivo especiacutefico dessa pesquisa estaacute em examinar mais detidamente os
nomes de profissionais isto eacute tratar de formaccedilotildees que contenham como caracteriacutesticas a
presenccedila de seres humanos accedilotildees e atividades ocupacionais envolvidos
simultaneamente em que os sufixos ndashnte e ndash(dts)or exercem um papel fundamental
em liacutenguas como o portuguecircs o espanhol o francecircs o italiano o galego o provenccedilal o
catalatildeo o inglecircs e no que refere especificamente ao sufixo ndash(dts)or no alematildeo e no
papiamento2 muitas vezes atraveacutes de empreacutestimos A anaacutelise sob uma perspectiva
histoacuterico-etimoloacutegica dos 39 (trinta e nove) nomes substantivos referentes a
designativos de profissionais e cargos pode possibilitar em um acircmbito mais concreto a
compreensatildeo das propriedades e das etapas intermediaacuterias de formaccedilatildeo das palavras
com tais morfemas desde o latim ateacute o portuguecircs atingindo assim o objetivo geral
2 Como por exemplo em becircbecircdocirc bebedor balidocirc varredor fedocirc fazedor ganadoacute ganhador
provavelmente empreacutestimos no papiamento ou papiamentu liacutengua crioula de base lexical ibeacuterica
(portuguecircs espanhol) e principal liacutengua falada nas ilhas caribenhas de Aruba Bonaire e Curaccedilao O
sufixo ndashdocirc eacute ligado ao superestrato e pode ser considerado produtivo por jaacute fazer parte de provaacuteveis
formaccedilotildees vernaculares nesta mesma liacutengua como em ferfdoacute pintor e yogdoacute caccedilador Sobre esse
assunto ver Menezes (2013)
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Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
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exposto pois se teraacute uma ideia bastante exata e aprofundada do objeto constituindo-se
tambeacutem num meacutetodo de manuseio do mesmo
Uma anaacutelise histoacuterico-etimoloacutegica por sua vez visa pesquisar e entender o
caminho pelo qual determinada palavra foi organizada e o que motivou sua criaccedilatildeo
aleacutem de saber em qual liacutengua foi formada Logo o objetivo da anaacutelise etimoloacutegica eacute o
de fornecer o significado mais antigo da palavra e por conseguinte do sufixo Nesse
estudo mais aprofundado das 39 palavras o eacutetimo do vocaacutebulo isto eacute a liacutengua que
serviu de instrumento para a inserccedilatildeo de determinado elemento linguiacutestico em outra
liacutengua natildeo eacute o fundamental mas eacute imprescindiacutevel e necessaacuterio perscrutar sua origem
isto eacute em qual liacutengua o objeto sob pesquisa foi formado e qual era o possiacutevel sentido
primitivo que possuiacutea
Essa tese assim trata da origem e dos valores semacircnticos dos sufixos ndashnte e ndash
(dts)or em que se pretendeu restituir natildeo apenas suas formas mas interpretar suas
funccedilotildees e tambeacutem trata do aspecto semacircntico-formal desses sufixos em algumas
liacutenguas romacircnicas ndash catalatildeo espanhol francecircs galego italiano provenccedilal minus e natildeo
romacircnica minus inglecircs minus para se ter uma visatildeo mais proacutexima do objeto Sobre a pesquisa dos
sufixos ndashnte e ndash(dts)or nas liacutenguas mencionadas limita-se esse trabalho agrave recolha das
palavras constantes no corpus dos nomes de profissionais com suas respectivas
correspondecircncias natildeo se fazendo um estudo aprofundado da abrangecircncia desses sufixos
nas mesmas
De acordo com os objetivos do Grupo de Morfologia Histoacuterica do Portuguecircs
(GMHP)3 no qual essa pesquisa se insere pretende-se
I) conhecer o significado primitivo do sufixo ou seja procura-se a primeira
acepccedilatildeo que o sufixo teve na formaccedilatildeo de cada palavra seja em liacutengua portuguesa ou
natildeo Muitas vezes a palavra foi formada no grego latim ou francecircs e eacute na liacutengua em
que se deu tal formaccedilatildeo que as paraacutefrases dos sufixos satildeo feitas por se buscar o seu
significado original Eacute importante esclarecer nesse momento dada a natureza categorial
diversa do afixo ndashnte que quando se diz na anaacutelise etimoloacutegica que determinado
vocaacutebulo natildeo foi encontrado nos dicionaacuterios latinos expotildee-se que natildeo foi encontrada a
3 O Grupo de Morfologia Histoacuterica do Portuguecircs ndash GMHP eacute coordenado pelo Prof Dr Maacuterio Eduardo
Viaro na Universidade de Satildeo Paulo (USP) Para mais informaccedilotildees acessar o site
httpwwwuspbrgmhp
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Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
22
palavra no latim em sua forma participial ou nominal isto eacute dentro de um lexema
verbal ou como um lexema nominal respectivamente Isto natildeo quer dizer no entanto
que sua forma no particiacutepio natildeo existia na liacutengua mencionada mas tatildeo somente que natildeo
consta nos dicionaacuterios sob anaacutelise pois de modo geral o particiacutepio era entendido como
uma flexatildeo verbal e do mesmo modo que natildeo haacute flexotildees registradas nos dicionaacuterios
contemporacircneos natildeo haacute nos latinos A apariccedilatildeo de um particiacutepio presente como verbete
pode demonstrar que seu uso no latim jaacute estava fortemente dissociado do paradigma
verbal e relacionado largamente agrave classe dos substantivos e dos adjetivos A sua
ausecircncia por sua vez pode denotar que a mesma forma verbal ainda era usada e sentida
como uma flexatildeo verbal natildeo necessitando assim estar presente em um dicionaacuterio
II) reconhecer em que espeacutecie de base se deram e ainda se datildeo tais derivaccedilotildees
III) inferir a partir do conjunto de dados em qual liacutengua foi formada a palavra
pesquisada e sua respectiva data quando possiacutevel
IV) conhecer a data de apariccedilatildeo da palavra na liacutengua portuguesa
V) abordar natildeo toda a gama de acepccedilotildees que uma determinada palavra possui
mas tatildeo somente a primeira e constatar as especializaccedilotildees que os sufixos porventura
tenham adquirido em tal esfera
VI) atestar se de fato esses sufixos satildeo formadores produtivos de substantivos
agentivos como proclama a gramaacutetica e o porquecirc de tal produtividade
1 3 Metodologia esclarecimentos iniciais
A metodologia aplicada para a abordagem do significado do afixo eacute o emprego da
paraacutefrase que eacute um mecanismo semacircntico-frasal usado para denotar uma equivalecircncia
quanto ao significado Um estudo dos sufixos nesse molde eacute baseado em Rio-Torto
(1998) e Viaro (2009 2011) tanto no que diz respeito ao meacutetodo como agrave teoria A
Teoria dos Protoacutetipos explicada mais adiante tambeacutem seraacute utilizada como meacutetodo de
descriccedilatildeo semacircntica e de esquematizaccedilatildeo dos diversos grupos lexicais compostos com
os sufixos ndashnte e ndash(dts)or
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A fim de orientar-se na anaacutelise em niacutevel morfoloacutegico natildeo se consideraratildeo nesse
estudo os vocaacutebulos portadores dos sufixos mencionados em construccedilotildees sintaacuteticas ou
seja o niacutevel sintaacutetico e seu significado decorrente natildeo seratildeo considerados4 Do mesmo
modo natildeo se explicaraacute o significado da palavra derivada em funccedilatildeo da sintaxe do
radical verbal base das formaccedilotildees em ndashnte e ndash(dts)or
Destarte essa pesquisa natildeo se vale dos vocaacutebulos em textos jaacute que o contexto
pode modificar o significado da palavra Natildeo se estuda tambeacutem o significado dos
sufixos em uma mesma palavra no decorrer dos tempos5 porque o significado original
do sufixo soacute pode ser apreendido no momento da formaccedilatildeo da palavra Esse estudo
portanto centra-se exclusivamente na morfologia e nos seus significados internos e
primitivos sob uma abordagem histoacuterica
1 3 1 As paraacutefrases
Paraacutefrase eacute em sua conceituaccedilatildeo claacutessica6 um mecanismo semacircntico indicador de
equivalecircncia sendo utilizada quando em dada situaccedilatildeo procura-se explicar o conteuacutedo
de outro modo reproduzindo a intenccedilatildeo do referido A paraacutefrase eacute encarada como um
esclarecimento exato e pontual do sentido das expressotildees o que a caracteriza como uma
ferramenta linguiacutestico-semacircntica isto eacute como um meacutetodo de abordagem do objeto
Uma reflexatildeo sobre os significados dos sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or atraveacutes
do mecanismo da paraacutefrase foi feita previamente por Rio-Torto (1998) e Viaro (2009
2011) A partir do trabalho pioneiro da primeira autora tem-se um aprimoramento do
entendimento do significado dos agentivos em Viaro (2009) sendo o seu trabalho de
2011 importante para essa anaacutelise pois o autor chega muito proacuteximo da essecircncia do
significado dos agentivos a partir de seu estudo sobre um outro morfema agentivo o
sufixo ndasheiro
4 Para uma abordagem sintaacutetica eacute necessaacuteria a anaacutelise dos estatutos argumentais das nominalizaccedilotildees em
questatildeo assim como a consideraccedilatildeo de outros tipos de teorias o que foge da proposta morfoloacutegica
exclusiva da anaacutelise dos sufixos em questatildeo 5 O estudo diacrocircnico do sufixo em uma mesma palavra eacute um estudo natildeo mais morfoloacutegico mas mais
propriamente lexicoloacutegico ie um estudo natildeo mais soacute do sufixo mas do vocaacutebulo 6 Para uma discussatildeo mais profunda e abrangente sobre a paraacutefrase ver Fuchs (1982)
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Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
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Abaixo segue o rol de paraacutefrases dos agentivos desenvolvido pelos estudiosos
mencionados cuja gradaccedilatildeo aludida eacute visiacutevel e se constitui como ponto de partida para
a reflexatildeo do objeto de estudo aqui tratado7
Rio-Torto (1998 102-103)
RFP AG (Regra de Formaccedilatildeo de Palavras dos Agentivos) paraacutefrase que V
(entende-se V em sua obra como base verbal)
Nos estudos de Viaro (2009 2011) entende-se X como a base lexical sendo ela
verbal ou nominal Xv como a base exclusivamente verbal V como verbo subentendido
natildeo expliacutecito na base Vger como verbo subentendido no geruacutendio e suf como sufixo
Desse modo o autor aborda os sentidos dos sufixos agentivos da seguinte maneira
Viaro (2009 11)
AGE (lt agentivo) (pessoa) que Xv pessoa que V X pessoa que gosta de V
X (pessoa) que exerce atividade relacionada com X (pessoa) que V em X
Viaro (2011 2674)
Xsuf = pessoa que trabalha Vger X Xsuf = pessoa que trabalha Vger
Sobre as paraacutefrases desenvolvidas nessa tese como poderemos ver na anaacutelise dos
dados diversas possibilidades de leitura poderatildeo ser apreendidas Para uma elucidaccedilatildeo
preacutevia dos significados envolvidos nas paraacutefrases subsequentes eacute necessaacuterio esclarecer
que o elemento que ocupa a posiccedilatildeo de toacutepico pode ser um agente variaacutevel estando por
isso sempre entre parecircnteses
O componente Y deve por sua vez ser entendido como um complemento
nominal iniciado com a preposiccedilatildeo de cujo complemento pode ou natildeo estar presente o
que explica sua inserccedilatildeo tambeacutem entre parecircnteses O mesmo elemento Y se encontra
fora das aspas que indicam a paraacutefrase por ser um formante exterior agrave explicaccedilatildeo do
vocaacutebulo embora possa existir dependendo do contexto junto agrave palavra
7 Foram selecionadas apenas as paraacutefrases que dizem respeito aos agentivos
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1 4 Corpus
O corpus sob anaacutelise como se sabe eacute a etapa mais concreta da investigaccedilatildeo com
finalidade mais restrita em termos de explicaccedilatildeo geral dos fenocircmenos num primeiro
momento desse trabalho pois se encontra limitado a um domiacutenio particular
determinado pelos nomes de profissionais em ndashnte e ndash(dts)or
Esse meacutetodo de anaacutelise que se exerce isto eacute o de se recolher uma parte
representativa de um grande grupo para se estudar profundamente e posteriormente
comunicar e relacionar os conhecimentos adquiridos aos outros componentes do grupo
torna-se um caminho necessaacuterio e essencial quando muitas centenas de dados estatildeo agrave
disposiccedilatildeo Agindo desse modo consegue-se apreender padrotildees de formaccedilotildees
afastando a possibilidade de uma abordagem muito geral e simplista
Para que a seleccedilatildeo especiacutefica de dados natildeo se desse de forma arbitraacuteria ou
aleatoacuteria foram recolhidos os vocaacutebulos com maior nuacutemero de apariccedilotildees no
HouaissGoogle8 e no Corpus do Portuguecircs9 Trata-se pois de um corpus
representativo dos agentivos profissionais em ndashnte e ndash(dts)or na liacutengua portuguesa jaacute
que satildeo palavras muito utilizadas tanto no portuguecircs brasileiro como no portuguecircs
europeu
Uma visatildeo do todo no entanto tambeacutem eacute necessaacuteria equilibrando-se assim tal
grau de abrangecircncia com o de profundidade anteriormente citado A anaacutelise de 1390
vocaacutebulos pertencentes a grupos diversos se encontra no Anexo II
Atraveacutes dessa pesquisa mais abrangente percebeu-se que pares de substantivos
em ndashnte e ndash(dts)or como fumante (PtBr) fumador (PtEu) amaciante (PtBr)
amaciador (PtEu) conservante conservador falante falador pedinte pedidor que
nomeiam campos semacircnticos diversos alguns com diferenccedilas regionais satildeo muito
comuns na liacutengua portuguesa e foram assim listados (ver paacuteg 255 a 262) Vocaacutebulos
uacutenicos isto eacute os que natildeo possuem pares como comprador devedor fundador
8 Material organizado pelo GMHP ‒ Grupo de Morfologia Histoacuterica do Portuguecircs da Universidade de
Satildeo Paulo (USP) sob a coordenaccedilatildeo do Prof Dr Maacuterio Eduardo Viaro 9 Organizado por Mark Davies e Michael J Ferreira Disponiacutevel em wwwcorpusdoportguesorg
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Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
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utilizador pertencentes a grupos lexicais diversos teratildeo lugar nessa anaacutelise geral dos
objetos
Alguns esclarecimentos se tornam necessaacuterios Palavras com o sufixo ndash(dts)ora
natildeo constituem objeto de estudo pois muitas vezes natildeo se tratam do feminino de ndash
(dts)or Vilela (1994 69-70) informa que a oposiccedilatildeo de gecircnero ndash(dts)or ndash(dts)ora
se daacute unicamente quando os substantivos se referem a seres animados e no caso de um
substantivo apresentar caracteriacutestica inanimada tratar-se-aacute de um lexema10 distinto
provavelmente formado por extensatildeo de sentido como por exemplo em bobinador
bobinadora calculador calculadora entregador entregadora impressor impressora
lavador lavadora operador operadora transportador transportadora A partir desses
e de outros exemplos pode-se inferir que muitas vezes uma classe de nomes referentes
a natildeo-humanos foi formada em ‒(dts)ora por jaacute existir na liacutengua vocaacutebulos em ndash
(dts)or dirigidos a humanos que praticam determinada accedilatildeo o que mostra como
apontado por Vilela uma extensatildeo no sentido da praacutetica da accedilatildeo assim como o
surgimento de um novo grupo semacircntico-lexical Tambeacutem eacute prudente estudar
‒(dts)ora agrave parte sob um ponto de vista histoacuterico pois muitos casos de similaridade
como esses podem ocultar origens distintas unidos por homoniacutemia Desse modo pode-
se encontrar a menccedilatildeo agrave forma feminina ndash(dts)ora na anaacutelise etimoloacutegica das palavras
dessa tese nos casos em que os dicionaacuterios consultados a citem como o feminino de
(dts)or
Ainda o gecircnero comum de dois nos derivados em ndashnte (ex oa servente) ou seja
distinguidos pela concordacircncia eacute efeito da origem da terminaccedilatildeo como particiacutepio
presente logo constituiacutedo com forma uacutenica O uso de ndashnta como em presidenta em
voga atualmente para expressar o feminino de ndashnte mostra o afastamento de sua funccedilatildeo
participial passando ndashnte a ser vinculado e reconhecido como um sufixo derivacional
Como ndash(dts)ora ndashnta natildeo constitui objeto de estudo dessa pesquisa
10 Lyons (1977 17) compreende lexema como a palavra standard convencionalmente empregada em
dicionaacuterios e gramaacuteticas da liacutengua que reuacutene diferentes flexotildees flexotildees essas vistas como palavras
diferentes
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Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
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1 5 Hipoacutetese de trabalho
O objetivo da pesquisa eacute depreender o valor semacircntico-primitivo dos sufixos
agentivos ndashnte e ndash(dts)or Como se veraacute ao longo do trabalho apesar de a existecircncia
simultacircnea em um mesmo contexto vocabular ser comum em liacutengua portuguesa suas
diferentes origens e configuraccedilotildees morfoloacutegicas levam agrave hipoacutetese de que haacute diferenccedilas
semacircnticas entre eles cujo valor semacircntico original pode manter-se ateacute hoje Esse
trabalho investigativo entatildeo tem como fim confirmar ou refutar a hipoacutetese de uma
distinccedilatildeo semacircntica-histoacuterica entre tais sufixos assim como sua preservaccedilatildeo semacircntica
no portuguecircs
A averiguaccedilatildeo do intenso uso dos sufixos ndashnte e ndash(dts)or na constituiccedilatildeo de
agentes de um modo geral uso esse tatildeo intenso que ocorre muitas vezes em mesmos
contextos vocabulares faz levantar a seguinte questatildeo haacute diferenccedilas semacircnticas entre
eles A hipoacutetese lanccedilada eacute a de que natildeo satildeo iguais ou sinocircnimos pois a carga semacircntica
dos mesmos pode variar devido a sua distinta origem ‒nte suposta partiacutecula flexional
‒(dts)or suposta partiacutecula derivacional Para constatar essa possiacutevel diversidade eacute
preciso pois ver como cada um dos sufixos se opotildee ao conjunto de caracteriacutesticas do
outro a partir dos princiacutepios histoacuterico (de origem) de base e de conceituaccedilatildeo do sufixo
que fundamentam sua oposiccedilatildeo visto que natildeo eacute possiacutevel chegar agraves suas especificidades
senatildeo por aquilo que os diferencia Entender suas especificidades torna-se entatildeo o
verdadeiro alvo a ser alcanccedilado
A proposiccedilatildeo do trabalho eacute a de que as funccedilotildees agentivas desses dois sufixos
aparentemente comuns se distinguem por diferentes traccedilos aspectuais das bases e do
sufixo ndashnte desde o latim assim como pela convergecircncia de formas e de significados
do sufixo ndash(dts)or a partir do grego Assim apoacutes uma visatildeo histoacuterica do objeto
argumentar-se-aacute a favor da natildeo homogeneidade semacircntica dos sufixos em questatildeo
devido agraves suas caracteriacutesticas morfoloacutegicas Tem-se a tese de que a presenccedila de traccedilos
de aspecto em nomes formados a partir do particiacutepio presente (nomes em ‒nte) causa a
dessemelhanccedila entre as formaccedilotildees em ndashnte e ndash(dts)or isto eacute elas afirmam de maneira
natildeo igual Logo a noccedilatildeo de aspecto entendida como a duraccedilatildeo da accedilatildeo ainda estaacute
presente (apesar da noccedilatildeo de tempo ter se tornado saliente no latim) tanto na
configuraccedilatildeo verbal das bases como em alguns sufixos O fato de a noccedilatildeo de aspecto ter
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pouca visibilidade tanto no latim como nas liacutenguas romacircnicas natildeo isenta sua existecircncia
Analisar-se-aacute essa dupla expressatildeo a fim de ver se ela se mostra em uso livre e
arbitraacuterio ou se reflete uma diferenccedila cabendo responder qual eacute essa distinccedilatildeo Nesse
contexto o conhecimento mesmo que superficial das bases a que esses sufixos estatildeo
ligados eacute igualmente importante
Geralmente a perspectiva heuriacutestica que se adota para o estudo das oposiccedilotildees
entre os sufixos eacute um princiacutepio simples citado por Benveniste (1975 6) quando duas
formaccedilotildees vivas funcionam em concorrecircncia elas natildeo tecircm o mesmo valor Com a
hipoacutetese da presenccedila do aspecto nos nomes poder-se-aacute rejeitar ou natildeo tal princiacutepio a
partir de dados e estudos objetivos Ademais trabalha-se tambeacutem com a hipoacutetese de que
o conceito de agente agentivo e agentividade relacionado a alguns nomes e sufixos eacute
bastante amplo e tem conteuacutedo semacircntico diverso no meio cientiacutefico quando de fato
apesar de abranger elementos diversos dispotildee de um nuacutecleo semacircntico uacutenico
Como expliacutecito no tiacutetulo conduz-se o estudo de ndashnte e de ndash(dts)or sob um ponto
de vista semacircntico-diacrocircnico com vistas a contemplar o sentido que esses sufixos
agentivos possuiacuteam e adquirem no decorrer dos tempos especialmente na liacutengua
portuguesa buscando-se o significado inicial existente no momento da formaccedilatildeo da
palavra em que cada uma delas ocorreu em momentos diversos da histoacuteria tanto do
latim como do portuguecircs Esse escopo histoacuterico eacute insubstituiacutevel e sustentaccedilatildeo para
qualquer estudo decorrente desses objetos
1 6 Fundamentaccedilatildeo teoacuterica
Antes de atentar agraves questotildees mais especiacuteficas que esse estudo impotildee faz-se
necessaacuterio uma introduccedilatildeo teoacuterica aos principais assuntos aqui tratados
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1 6 1 Agentivos conceitualizaccedilatildeo
Comeccedila-se por uma pergunta evidente o que eacute um agente O que satildeo os
agentivos11 Como o conceito de agentividade eacute lidado pelos estudiosos
O conceito de agente eacute comumente entendido como o ser animado ou natildeo que
faz alguma accedilatildeo Em latim agens entis eacute ldquoo que faz o que atua age procederdquo
portanto o agente eacute aquele que faz aquele que executa alguma accedilatildeo ou funccedilatildeo eacute em
quem ou onde se encontra a fonte de energia do processo Assim um instrumento por
exemplo eacute considerado um agente por muitos estudiosos um apontador faz a accedilatildeo de
apontar um objeto logo eacute um meio inanimado com que uma accedilatildeo eacute levada a efeito
O termo agente eacute usado de maneira muito geral Ao referir-se agraves funccedilotildees do
sufixo ndash(dts)or por exemplo o Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa Contemporacircnea
(2001) o descreve como um elemento de formaccedilatildeo que exprime a noccedilatildeo de agente de
uma acccedilatildeo caracterizando-o assim de modo simplista sem nenhuma espeacutecie de
determinaccedilatildeo Por conseguinte presume-se que agente ou actante12 de um processo
seja esse processo qual for eacute quem age ou exerce poder distinto somente do paciente13
14 Seguindo ainda essa linha da indeterminaccedilatildeo do termo agente Koptjevskaja-Tamm
(1993 147) define agentes como geralmente limitados a nomes animados ou
personificados
Rio-Torto (1998 102-103) ao tratar sobre as Regras de Formaccedilatildeo de Palavras
(RFP) explicita que cada uma dessas regras eacute definida por uma relaccedilatildeo semacircntico-
categorial unitaacuteria mas natildeo necessariamente unicategorial e entre as RFP do
portuguecircs citadas pela autora estaacute a RFP AG que daacute origem a agentivos deverbais Na
RFP AG a paraacutefrase que V (entende-se V em sua obra como base verbal) constitui o
11 Natildeo me refiro aqui ao termo gramatical mas ao conceito semacircntico que pode encerrar-se no vocaacutebulo 12 Agente da accedilatildeo indicado pelo verbo o termo actante eacute considerado aqui como o termo mais proacuteximo
do ser (restrito aqui ao ser humano) que faz alguma accedilatildeo ie eacute aquele que simplesmente participa
ativamente da accedilatildeo sem nenhuma ampliaccedilatildeo do seu sentido literal Na terminologia de Lucien Tesniegravere
(1988 102) cada um dos participantes do processo verbal que satildeo sempre substantivos ou sintagmas
nominais 13 Paciente eacute entendido como o objeto afetado isto eacute indica que um ente (pessoa ou coisa) estaacute
diretamente envolvido num estado ou processo sem neles ter um papel ativo 14 Dowty (1991 572) no plano sintaacutetico lanccedila a hipoacutetese de que haacute somente dois papeis temaacuteticos que
nomeam de modo eficiente as categorias existentes o Proto-Agente e o Proto-Paciente em que cada
grupo acolheraacute diversos graus de conceitos discretos
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Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
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ponto central desse grupo em que os sufixos ndash(dts)or e ndashnte estatildeo a serviccedilo dessa
regra como em cobrador desenhador operador ajudante comerciante fabricante
ouvinte servente traficante Como se vecirc para a autora a caracteriacutestica essencial de um
sufixo agentivo eacute a manifestaccedilatildeo de uma accedilatildeo com base em uma pessoa
Viaro (2011 2673) questiona o que seria o nomen agentis que as gramaacuteticas
definem como principais formadores os sufixos ndasheiro ndashista ndash(dts)or e ndashnte em
portuguecircs e define que o agente de uma accedilatildeo eacute antes de tudo na loacutegica natural das
liacutenguas com visatildeo de mundo natildeo-animista um ser vivo mais especificamente um
animal e prototipicamente um ser humano
Assim de modo geral agente eacute entendido como o ser que executa alguma accedilatildeo e
logo o conceito de agentivo e de agentividade se constroacutei a partir de uma accedilatildeo liberada
por um ser vivo (sendo o ser humano o modelo prototiacutepico) que eacute de onde precede todo
tipo de energia primaacuteria e que depois se metaforiza para outros campos da realidade
Essa extensatildeo de sentido se encontra por exemplo em alguns substantivos que
denotam instrumentos pois os proacuteprios instrumentos possuem algumas vezes uma
noccedilatildeo semacircntica agentiva Ao refletir sobre o instrumento coador seu significado
perpassa necessariamente a ldquoque coardquo Sobre tal fato Said Ali (2001 178) menciona
que ldquoem alguns nomes em ndashor deu-se transferecircncia de sentido do nome da pessoa
agente para o nome do objeto com que se pratica a accedilatildeo regador aquecedor
abotoador ascensor raspadorrdquo Portanto haacute de fato um aspecto de agentividade
nesses instrumentos mas eacute uma agentividade metonimizada ou metaforizada porque
sempre seraacute necessaacuteria uma forccedila geratriz para que o instrumento funcione
Alguns autores satildeo de opiniatildeo controversa no exame dos instrumentos Enquanto
Meyer-Luumlbke (1890) insere os instrumentos na classe dos agentivos Panagl (1978)
distingue agentivos de instrumentais como classes de formaccedilotildees distintas as primeiras
relacionadas a seres viventes enquanto as segundas a objetos Em relaccedilatildeo agraves formaccedilotildees
instrumentais Panagl (1978 6-7) as vecirc como resultado de uma extensatildeo de significado
das formaccedilotildees agentivas umas atraveacutes de metaacuteforas outras de metoniacutemia Rainer
(2005 22) do mesmo modo considera a classe dos instrumentais como o resultado de
um ou muitos casos de extensatildeo de significado seguidos por uma reinterpretaccedilatildeo dos
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sufixos agentivos como instrumentais tornando-se os designativos de instrumentos
assim uma classe independente
Como se vecirc a noccedilatildeo de agente perpassa por uma questatildeo filosoacutefica isto eacute de
entendimento de um conceito para a categorizaccedilatildeo dos elementos do mundo Em
portuguecircs haacute dois sentidos basilares ambos que dizem respeito a pessoas enquanto o
segundo aleacutem disso se refere a coisas (a) pessoa que executa a accedilatildeo do verbo e (b)
pessoa ou coisa que opera e tem poder para produzir um efeito O primeiro sentido
muito ligado agrave definiccedilatildeo gramatical de sujeito define o agente como o que
simplesmente pratica uma accedilatildeo
A definiccedilatildeo de agente assim estaacute ligada agrave qualidade da accedilatildeo Tem-se na verdade
vaacuterios tipos e qualidades de accedilotildees expressos pelo verbo accedilotildees presentes passadas e
futuras com diferentes graus de duraccedilatildeo aspecto e modos de execuccedilatildeo De modo geral
existem diversos tipos de agentes porque existem diversos tipos de accedilotildees e esses
diferentes agentes satildeo expressos na liacutengua de modo particular tanto pelo afixo quanto
pela base
A noccedilatildeo de agente acaba constituindo-se portanto em um conceito muito amplo
e variado que encerra desde seres animados a objetos aleacutem de modos diversos de
praticar uma accedilatildeo Benveniste (1975 59) relata que na maior parte das descriccedilotildees
linguiacutesticas quando se conclui o estado ou a situaccedilatildeo dos nomes de agente (ou dos
nomes de accedilatildeo) eacute como se tratasse de uma classe homogecircnea em que se estabelece
uma definiccedilatildeo simples
Basicamente existem dois tipos de accedilatildeo a natural e a intencional Devido ao
contexto de uso dos sufixos sob estudo concentrar-se num primeiro momento nos
nomes de profissionais a anaacutelise mais minuciosa deter-se-aacute no segundo tipo de accedilatildeo A
accedilatildeo intencional de modo geral pressupotildee certo niacutevel de consciecircncia e capacidade de
conhecer conceber e valorar propoacutesitos estabelecendo conscientemente objetivos a
alcanccedilar Uma accedilatildeo intencional assim eacute uma accedilatildeo dirigida para a execuccedilatildeo de um
objetivo que leva a uma mudanccedila de determinado estado ou objeto praticada somente
por um agente que idealizou e valorizou a ideia de se conseguir determinado objetivo
Esse tipo de agente eacute o que realiza efetivamente a accedilatildeo que pensou pelo qual eacute
conhecido e entatildeo nomeado Nesses termos o agente eacute concebido como o ser que
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Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
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desencadearaacute o acontecimento o acontecimento que se produz seraacute o objetivo da accedilatildeo e
o que se produz eacute uma mudanccedila efeito da accedilatildeo em dado momento Por isso as
diferentes nomeaccedilotildees do agente no momento da formaccedilatildeo do vocaacutebulo seratildeo
determinadas pelas propriedades da accedilatildeo praticada pelo mesmo agente e essa accedilatildeo
intencional se refere quase sempre agrave accedilatildeo humana
Ao tratar do conceito de agente se torna necessaacuterio um estudo mesmo que de
modo breve do conceito de accedilatildeo Assim como agente a noccedilatildeo de accedilatildeo na Linguiacutestica
natildeo eacute muito desenvolvida aleacutem de permeada por grande generalizaccedilatildeo e adoccedilatildeo de
senso comum
Em sua filosofia Aristoacuteteles (384 ndash 322 aC) introduz o conceito de ato ou accedilatildeo
juntamente com o de potecircncia numa tentativa de explicar esse movimento enquanto
devir que gera uma mudanccedila a qual eacute a passagem de um estado de potecircncia ou
potencialidade a um estado de ato ou atuaccedilatildeo Em outras palavras o ser passa da
potecircncia de ser algo ao ato de secirc-lo Para o pensador o ato eacute a realidade do ser de tal
modo que a potecircncia eacute anterior ao ato e somente conhecida por meio dele O ato
determina o ser e eacute aquilo que faz ser aquilo que ele eacute atraveacutes como jaacute dito de uma
potecircncia preacutevia
A atividade por sua vez eacute por excelecircncia qualquer accedilatildeo humana executada com
frequecircncia e ligada agrave estrutura social do indiviacuteduo em que esse se propotildee mais do que
simplesmente fazer algo mas dedicar-se a algo com vistas a servir a si mesmo e agrave
sociedade alterando uma ou outra extensatildeo da estrutura social definida e preexistente
em que se insere por meio do seu trabalho
Pode entender-se o ato ou accedilatildeo (ἐνέργεια) de vaacuterias maneiras com diferentes
modos de atuar e de modo muito geral accedilatildeo pode ser caracterizada por uma forma
qualquer de esforccedilo e implica uma ideia de fim A atividade independe de fim e
representa precisamente um estado A vida representativa o estado funcional do
indiviacuteduo o seu motivo para exercer alguma accedilatildeo e a presenccedila do haacutebito derivam a
atividade Portanto enquanto a accedilatildeo caracteriza um movimento ou um conjunto deles a
atividade caracteriza o seu ser
Ver-se-aacute entatildeo pelos estudos etimoloacutegico e morfoloacutegico que na noccedilatildeo homogecircnea
de agente haveraacute duas espeacutecies de executores o autor de uma accedilatildeo e o agente de uma
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funccedilatildeo A proacutepria designaccedilatildeo de autor para a execuccedilatildeo de uma accedilatildeo e de agente para
uma funccedilatildeo encerra a adequaccedilatildeo semacircntica entre o ser que faz e o contexto de accedilatildeo
empregado Do ponto de vista do conteuacutedo o primeiro se associa melhor a um
experienciador que por definiccedilatildeo natildeo controla o estado de coisas representado O
termo agente por consequecircncia estaria mais propriamente ligado ao ser que executa
uma atividade pois se dirige agravequele que tem a faculdade ou o poder entendido como
uma manifestaccedilatildeo especial de energia que opera e que pode causar algum efeito
consciente como um agente controlador da atividade envolvida relacionando-se desse
modo ao domiacutenio semacircntico dos designativos de profissionais jaacute que o homem estar
numa profissatildeo ou exercer uma profissatildeo eacute o homem ser estar colocar sua forccedila em
uma atividade num determinado tempo e espaccedilo
Os sufixos ndashnte e ndash(dts)or satildeo definidos especialmente em gramaacuteticas
normativas como formadores de nomes de profissionais Provavelmente esses satildeo os
sufixos mais conhecidos dos falantes com a acepccedilatildeo agenteprofissional aleacutem de ndasheiro
e de ndashista Constata-se tambeacutem isso em outros tipos de obras como por exemplo nas
descriccedilotildees de dicionaacuterios O Dicionaacuterio etimoloacutegico da liacutengua portuguesa de Joseacute
Pedro Machado (1952 212) por exemplo enfatiza que uma das acepccedilotildees do sufixo ndash
ante eacute ldquosufixo para designar lsquoagente ou profissatildeorsquo comandante estudante militante
etcrdquo Tambeacutem de um modo geral os sufixos ndashnte e ndash(dts)or satildeo classificados de
maneira uniforme alheios agraves nuances de sentidos que o termo agente e seus exemplos
carregam Contudo isso natildeo ocorre somente nas gramaacuteticas ou se trata de um problema
de classificaccedilatildeo dos estudiosos da liacutengua portuguesa Mesmo em obras mais
especializadas de morfologia como em Ortega (2009 51-52) a mesma classificaccedilatildeo
geral ocorre
Essencialmente os autores fazem a seguinte classificaccedilatildeo semacircntica desses
sufixos
‒nte sufixo nominal e adjetival que indica ofiacutecio e ocupaccedilatildeo e sufixo adjetival
que indica relaccedilatildeo com ou qualidades ou propriedades de pessoas animais ou coisas
ndash(dts)or sufixo nominal e adjetival que indica ofiacutecio e ocupaccedilatildeo sufixo
adjetival que indica relaccedilatildeo com ou qualidades ou propriedades de pessoas animais ou
coisas sufixo nominal que indica objeto e instrumento sufixo nominal que indica lugar
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Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
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Avistam-se pelo menos duas caracteriacutesticas de ndashnte e ndash(dts)or em comum como
(i) sufixo nominal e adjetival que indica ofiacutecio e ocupaccedilatildeo e (ii) sufixo adjetival que
indica relaccedilatildeo com ou qualidades ou propriedades de pessoas animais ou coisas As
outras caracteriacutesticas satildeo as desenvolvidas de modo proacuteprio por cada sufixo de acordo
com a origem e a funccedilatildeo primaacuteria de cada um deles Haacute aleacutem dessas mencionadas mais
classes semacircnticas como ver-se-aacute nesse estudo
Seguindo a linha de conceituaccedilatildeo do agentivo primariamente ligado ao agente
humano tal como discorrido acima em Rio-Torto (1998) e em Viaro (2011) dentro do
grupo agentivo ou produtos prototipicamente de indiviacuteduo os deverbais de indiviacuteduo
como se refere Rodrigues (2008 152) apresentam predominacircncia do sufixo ndashdor em
que segundo a autora ldquoo operador sufixal natildeo apresenta restriccedilotildees salientes
relativamente agraves estruturas morfemaacuteticasmorfoloacutegicas das bases que seleccionardquo nos
3497 deverbais estudados Os substantivos deverbais com o sufixo ndashnte por sua vez
satildeo 394 de acordo com Rodrigues (2008 152-153) e em relaccedilatildeo agraves bases natildeo se
encontraram substantivos formados por ndashnte a partir de verbos circunfixados e de
verbos avaliativos A desproporccedilatildeo numeacuterica entre as formaccedilotildees de indiviacuteduo com os
sufixos ndashnte e ndashdor mostra de certo modo a produtividade de cada um deles assim
como sua tendecircncia na liacutengua
A reflexatildeo sobre a concepccedilatildeo de agente eacute tambeacutem fundamental para a proacutepria
delimitaccedilatildeo do corpus Os sufixos ndashnte e ndash(dts)or abrangem um vasto domiacutenio
semacircntico na formaccedilatildeo de palavras cujo cerne se pensa ser um soacute a noccedilatildeo de agente
entendida de modo geral primariamente como um ser vivo em que o ser humano eacute o
modelo tiacutepico juntamente com a praacutetica de uma accedilatildeo inerente a ele As demais noccedilotildees
satildeo camadas estendidas interligadas agrave fonte Tal ideia justifica a escolha por vocaacutebulos
que nomeiam exclusivamente seres humanos em que o sufixo nomeia o indiviacuteduo e seu
afazer A partir de um aprofundado estudo desse fundamento outros poderatildeo ser
desenvolvidos com vistas ao entendimento mais global dos sufixos mencionados
Os derivados em ndash(dts)or parecem corresponder a processos dinacircmicos nos
quais haacute um agente controlador Datildeo lugar a nomes de atividades geneacutericas que podem
denotar profissotildees (compositor vendedor) comportamentos habituais (falador
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reclamador15) e funccedilotildees ativas (executor explorador) Por sua parte tambeacutem os
derivados em ndashnte correspondem a estados ativos referentes agrave nomeaccedilatildeo de
profissionais (negociante presidente) e tambeacutem a estados ativos natildeo controlados em
que se podem denominar como agentes experienciadores (ouvinte) e funccedilotildees passivas
(recipiente)
Nesse estudo abordar-se-aacute o que haacute em comum entre os sufixos ndashnte e ndash(dts)or
o caraacuteter agentivo fato que constitui a grande caracteriacutestica e uso desse grupo de
sufixos No entanto apesar desse consenso um grande questionamento ainda impera
que tipo de agentivos satildeo esses marcados por diferentes afixos Quais satildeo suas
especificidades Como entender a construccedilatildeo de classes semacircnticas aparentemente tatildeo
diversas e desconexas formadas com os sufixos ndashnte e ndash(dts)or Como relacionaacute-las
Eacute em tal cerne que pousa a discussatildeo
Como se poderaacute constatar no estudo da origem desses sufixos os nomes agentivos
existem nas liacutenguas haacute muito tempo e reflete a necessidade antiga da nomeaccedilatildeo do ser
agente assim como os diferentes tipos de agentivos e de accedilotildees envolvidos na expressatildeo
da realidade traduzidos na liacutengua atraveacutes de diferentes formaccedilotildees tanto de bases como
de sufixos
1 6 2 Teoria dos Protoacutetipos e a prototipicidade nos
agentivos
Os estudos dos sufixos ndashnte e ndash(dts)or mostram aparentemente um caos
linguiacutestico nas formaccedilotildees de palavras constituiacutedas pelos mesmos devido a pelo menos
dois fatores (i) agrave similitude semacircntica entre os dois afixos semelhanccedila tal que eacute
possiacutevel ter formaccedilotildees em ndashnte e ndash(dts)or em um mesmo contexto vocabular como
por exemplo em falante falador governante governador negociante negociador (ii)
agrave diversidade de grupos ou categorias lexicais que tais afixos abarcam agentivos
humanos tanto os experienciadores ou executores de determinada accedilatildeo como tambeacutem
os profissionais instrumentos aparelhos entre outros Tem-se entatildeo os chamados
15 Com certa carga pejorativa nesses exemplos
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sufixos polifuncionais Nessa situaccedilatildeo o sufixo ndash(dts)or indica agente em
comprador e governador que vale salientar satildeo distintos tipos de agente instrumento
em abridor aparelho em secador etc16
Para a organizaccedilatildeo dos dados aleacutem de se levar em conta a histoacuteria dos sufixos
pretende-se entender a loacutegica de tais formaccedilotildees atraveacutes do conhecimento de uma teoria
especiacutefica a Teoria dos Protoacutetipos tanto no que concerne agrave sua origem como agraves ideias
veiculadas a ela com o intuito de entender e mapear natildeo a polissemia de determinada
palavra formada com os sufixos ndashnte ou ndash(dts)or mas a polissemia e desenvolvimento
do significado dos sufixos ao longo dos tempos Por uacuteltimo poder-se-aacute experimentar e
avistar a aplicabilidade dessa teoria na organizaccedilatildeo dos grupos semacircnticos em ndashnte e ndash
(dts)or cujo resultado esperado eacute compreender e obter o panorama geral do emprego
desses sufixos
O termo protoacutetipo eacute originaacuterio do gr πρωτότυπος o primeiro tipo de criaccedilatildeo
primitiva primitivo formado do antepositivo gr πρωτοςηου primeiro o que estaacute agrave
frente o excelente o mais distinto o principal e do pospositivo τύπος marca feita de
golpe marca impressa figura siacutembolo etc pelo lat prōtŏtypŭsăŭm protoacutetipo
elementar primitivo e em outras palavras significa fonte ou modelo Reportando ao
estudo dos sufixos o protoacutetipo pode ser considerado uma fonte tanto formal como
semacircntica o ponto de partida para outras construccedilotildees No entanto como seria possiacutevel
conhecer a fonte a primeira forma e significado de um elemento que por exemplo tem
provaacutevel origem no seacutec III a C
No Curso de Linguiacutestica Geral baseado nas aulas de Saussure (1970 [19161]
251-254) aborda-se a questatildeo do protoacutetipo discorrendo mais especificamente sobre o
protoacutetipo das liacutenguas Segundo o texto a liacutengua ou a fonte para o surgimento das outras
liacutenguas natildeo pode ser conhecida a partir de um dialeto mais antigo como se o primeiro
dialeto conhecido pudesse conter previamente tudo quanto se poderia deduzir da anaacutelise
dos dados subsequentes mas ao procurar o ponto de convergecircncia de todas as liacutenguas
ou dialetos encontrar-se-ia uma forma mais antiga do que a liacutengua mais antiga
conhecida ou seja o protoacutetipo fazendo com que natildeo houvesse confusatildeo entre a liacutengua
mais antiga conhecida suposta fonte e a liacutengua que apesar de natildeo conhecida seria a
16 Jaacute a formaccedilatildeo de nome de lugar com o sufixo ndashdor natildeo eacute comum no portuguecircs mas parece o ser um
pouco mais no espanhol com os exemplos de comedor e recibidor
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fonte de todas as outras Essa mesma reflexatildeo cabe agraves unidades menores da liacutengua
como os sufixos
A ideia de categorizaccedilatildeo existe desde Aristoacuteteles a qual consiste na capacidade
humana de identificar e categorizar objetos e eventos que compotildeem o seu universo A
categorizaccedilatildeo semacircntica por sua vez eacute uma teoria sobre a identificaccedilatildeo e estruturaccedilatildeo
de conceitos Na histoacuteria da categorizaccedilatildeo tecircm-se basicamente as seguintes fases
1ordf) Uma visatildeo claacutessica de categorias que abarca desde Aristoacuteteles ateacute o iniacutecio da
deacutecada de 70 Essa visatildeo eacute baseada na loacutegica aristoteacutelica em que determinado item deve
possuir atributos essenciais para fazer parte de certa categoria Natildeo haacute espaccedilo para casos
ou situaccedilotildees fronteiriccedilas cujo item deve necessariamente fazer parte ou natildeo de certa
categoria Trata-se de uma visatildeo objetivista do mundo em que a categoria conceitual
deve ser capaz de designar adequadamente as categorias do mundo real
2) Uma visatildeo prototiacutepica de categorias proposta por Rosch psicoacuteloga e
antropoacuteloga na deacutecada de 70 e outros Rosch (1973) atraveacutes de seus estudos percebe
que as categorias tecircm em geral membros centrais considerados os melhores
exemplares (os chamados protoacutetipos) formando o nuacutecleo da categoria Os protoacutetipos
tecircm caracteriacutesticas centrais necessaacuterias para o desenvolvimento de outras subcategorias
e logo satildeo os membros mais representativos de uma categoria Em outras palavras os
protoacutetipos satildeo os melhores exemplos cujos membros satildeo pontos de referecircncia
cognitiva
Segundo Lewandowska-Tomaszczyk (2007 149) a teoria dos protoacutetipos foi
originalmente desenvolvida fora da esfera lexical Sugestotildees nessa direccedilatildeo foram
primeiramente formuladas dentro da filosofia por Wittgenstein (1953) estudioso que
mostrou que membros de categorias satildeo relacionados pelo o que ele chamou de
semelhanccedila familiar que envolve o compartilhamento de algumas caracteriacutesticas entre
os membros de classes distintas sendo que nenhuma dessas caracteriacutesticas no entanto
satildeo suficientes para que os membros formem parte de uma soacute classe Ao ser
representado em um esquema onde haacute por exemplo trecircs categorias A B e C os
membros desses grupos teratildeo propriedades diferentes e coincidentes entre si O grupo A
por exemplo possui as caracteriacutesticas x y z o B as caracteriacutesticas i j z e o C por sua
vez p q j Assim os membros da classe A compartilham uma propriedade com a classe
B que compartilha uma propriedade com a classe C embora a classe A e C natildeo tenham
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caracteriacutesticas comuns
Na psicologia Rosch (1973) e outros estabelecem mais firmemente essa
concepccedilatildeo de protoacutetipo como base para a categorizaccedilatildeo lexical devido a uma pesquisa
em psicolinguiacutestica sobre a estrutura interna das categorias De acordo com essa teoria
a junccedilatildeo a uma categoria natildeo eacute determinada por certo nuacutemero de caracteriacutesticas
necessaacuterias e suficientes A adesatildeo a uma categoria eacute mais gradativa do que absoluta
formando membros centrais e perifeacutericos O melhor exemplo para a sua categoria eacute o
seu protoacutetipo cuja funccedilatildeo eacute interpretar o valor da categoria do termo Embora os
membros perifeacutericos sejam menos representativos para a categoria como um todo eles
natildeo satildeo excluiacutedos dela mas se deve atentar para o fato de que as categorias devem ter
algum tipo de estrutura interna formando o que se chama de adesatildeo gradual
O protoacutetipo e suas variaccedilotildees gradativas podem ser resultado das funccedilotildees
conceituais como pontos mentais de referecircncia Quando nos deparamos com novos
fenocircmenos tendemos a interpretaacute-los nos termos das categorias existentes Essas
categorias entatildeo funcionam como modelos cognitivos idealizados (Lakoff 1987) sendo
o padratildeo pelo qual medimos novos objetos e eventos Diferentes graus de combinaccedilatildeo
podem ser observados entre um modelo cognitivo idealizado a um dado objeto ou
evento e o objeto e evento em particular
Geeraerts (1989) propotildee que a teoria dos protoacutetipos abarque as seguintes
caracteriacutesticas
a) As categorias prototiacutepicas manifestam graus de tipicidade no qual nem todos
os membros satildeo igualmente representativos para uma categoria Desse modo haacute o
reconhecimento de que a adesatildeo a uma categoria pode possuir graus de classificaccedilatildeo
em que alguns membros satildeo melhores e mais tiacutepicos representantes de uma categoria do
que outros
b) Categorias prototiacutepicas possuem muitas vezes limites natildeo reconhecidos
c) Categorias prototiacutepicas natildeo podem ser definidas pelo significado de um uacutenico
grupo de atributos considerando-os como necessaacuterios e suficientes
d) Categorias prototiacutepicas exibem uma famiacutelia de estrutura semelhante em que a
estrutura semacircntica de um grupo irradia leituras agrupadas e coincidentes
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A teoria dos protoacutetipos enfatiza aspectos estruturais como fator determinante para
a prototipicidade quanto mais atributos um membro da categoria tem em comum com
os outros membros da categoria e poucos atributos em comum com membros de
categorias contraacuterias mais prototiacutepico ele eacute (Rosch 1977 350) A concepccedilatildeo de
categorizaccedilatildeo desenvolvida por Rosch se torna entatildeo importante para a linguiacutestica pois
um dos mais fundamentais fenocircmenos observados na linguagem eacute a existecircncia de uma
diversidade de significados relacionados e expressos seja por uma mesma palavra ou ateacute
por um mesmo morfema
1 6 3 O aspecto nos nomes
Os afixos que contribuem para a formaccedilatildeo de novas palavras satildeo aqueles que tecircm
conteuacutedo leacutexico e que por sua capacidade de derivar outras formas leacutexicas denominam-
se afixos derivativos Por sua vez os afixos que transmitem conteuacutedos gramaticais se
denominam afixos flexivos e natildeo colaboram na formaccedilatildeo de novas palavras senatildeo
flexionaacute-las isto eacute dotaacute-las das desinecircncias ― de gecircnero nuacutemero caso pessoa tempo
aspecto ou voz ― que sejam proacuteprias de cada categoria gramatical da liacutengua Na
passagem categorial da desinecircncia do particiacutepio presente para a classe dos nomes
denominado entatildeo como um afixo derivativo conservaram-se algumas das suas
caracteriacutesticas flexionais dentre elas uma essencial o aspecto que interfere no
significado dos nomes formados
Nesse ponto esclarece-se um tratamento importante ao analisar as bases dos
nomes nesse trabalho procede-se a um estudo semacircntico da configuraccedilatildeo das mesmas
junto ao afixo ou seja do tempo e do aspecto (duraccedilatildeo) expressos pelo tema verbal e
natildeo aos modos de accedilatildeo do verbo (Aktionsarten) isto eacute se se tratam de verbos estativos
incoativos iterativos etc O quadro teoacuterico aspectual utilizado se baseia principalmente
em Travaglia (2006) que apresenta a duraccedilatildeo da accedilatildeo como possuidora de diversas
fases em que duas delas interessam para esse estudo em especiacutefico a fase de
completamento isto eacute se a accedilatildeo se mostra completa ou incompleta e logo com o
aspecto perfectivo ou imperfectivo e a fase de desenvolvimento com ecircnfase no aspecto
cursivo em que a accedilatildeo se encontra em desenvolvimento
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Comumente o aspecto eacute conhecido por ser uma categoria ligada intimamente ao
verbo e pouco se aborda sobre a presenccedila do aspecto nos nomes
Ao discutir a questatildeo quanto agrave caracteriacutestica nuclear e distintiva do verbo
Benveniste (1989 165) argumenta que a expressatildeo do tempo eacute logo trazida agrave tona No
entanto ele lembra que haacute liacutenguas como o hopi17 em que o verbo natildeo implica
absolutamente nenhuma modalidade temporal mas tatildeo somente modos aspectuais
Mesmo no indo-europeu no grego antigo e ateacute mesmo ainda no latim a categoria do
aspecto era a central com predominacircncia sobre a categoria do tempo
Na breve historiografia sobre o particiacutepio presente nas gramaacuteticas ver-se-aacute que jaacute
no seacuteculo XVII na gramaacutetica de Port-Royal os autores reconhecem que o particiacutepio
reteacutem do verbo a designaccedilatildeo de tempo e que todo tempo verbal por sua vez tem um
aspecto Ao se considerar o particiacutepio como nomes verbais (Arnauld amp Lancelot 2001
[1656-16601] 108) a proacutepria nomeaccedilatildeo sugere natildeo se tratar de um nome comum mas
de nomes que assinalam uma accedilatildeo decorrente de sua origem participial
Pottier tambeacutem se configura como um dos poucos autores que reconhece a
presenccedila do aspecto nos nomes Segundo ele (1978 154) a aspectivaccedilatildeo nos nomes
marcaraacute a posiccedilatildeo de determinado processo numa perspectiva dinacircmica em que todas
as exemplificaccedilotildees fornecidas satildeo necessariamente deverbais pois soacute eles podem de
fato conter a noccedilatildeo de accedilatildeo e movimento
Entre os estudiosos brasileiros Cacircmara Jr (1970 102-103) discorre sobre a
existecircncia do aspecto nas formas nominais do verbo em que o geruacutendio indica o
aspecto inconcluso ou imperfeito e o particiacutepio passado o aspecto concluso e perfeito
Travaglia (2006 111) ao versar sobre esse assunto reconhece que parece que
podemos ter aspecto tambeacutem nos nomes () No Portuguecircs parece haver algumas
oposiccedilotildees aspectuais nos nomes Ao desenvolver esse raciociacutenio citando alguns
exemplos o autor explica que ao que parece a oposiccedilatildeo da expressatildeo de uma situaccedilatildeo
acabada e a de uma situaccedilatildeo natildeo-acabada existe em alguns pares de substantivos em ndash
ccedilatildeo e ndashura como em queimaccedilatildeo indicando uma situaccedilatildeo natildeo acabada em curso e
queimadura que indica o resultado de uma situaccedilatildeo acabada Ainda segundo o autor o
geruacutendio eacute marcado por um aspecto natildeo acabado cursivo e durativo enquanto o
particiacutepio marca o aspecto acabado apresentando uma situaccedilatildeo como concluiacuteda jaacute que
17 A liacutengua hopi pertence ao grupo uto-azteca e eacute falada pelos hopis uma naccedilatildeo indiacutegena do nordeste do
Arizona EUA
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para Travaglia a denominaccedilatildeo particiacutepio se refere exclusivamente ao particiacutepio
passado18
As categorias de tempo e de aspecto coexistem na conjugaccedilatildeo verbal resultando
num sistema complexo de categorias que no portuguecircs o reconhecimento do tempo eacute
predominante no paradigma verbal e se pode observar pelo menos uma distinccedilatildeo de
base aspectual o perfectivo e o imperfectivo
1 7 Importacircncia e justificativa
A contribuiccedilatildeo teoacuterica dessa pesquisa estaacute na compreensatildeo delimitaccedilatildeo e
aprimoramento do conceito de agente de agentivo e de agentividade e tambeacutem no
entendimento da eventual mudanccedila ou natildeo-mudanccedila semacircntica desses agentivos com
base nos dados e na anaacutelise dos sufixos ndashnte e ndash(dts)or na liacutengua portuguesa
A importacircncia desses sufixos para a liacutengua eacute extraordinaacuteria e singular pois
atraveacutes deles tem-se a junccedilatildeo de duas concepccedilotildees a do homem como um ser existente e
a do seu poder de accedilatildeo no mundo seja esta uma simples accedilatildeo ou uma accedilatildeo que requer
preparaccedilatildeo e direcionamento para se atingir um fim especiacutefico como se poderaacute ver nas
anaacutelises justificando a relevacircncia do estudo para a ciecircncia
A justificativa para a escolha dos nomes profissionais em ndashnte e ndash(dts)or
centrando-se a anaacutelise etimoloacutegica no acircmbito desses nomes explica-se pelas relaccedilotildees de
sinoniacutemia vocabular e por ser uma categoria taxonocircmica tradicional situaccedilatildeo perfeita
para uma profunda exploraccedilatildeo
1 8 Estrutura do trabalho
Nesse primeiro capiacutetulo houve a introduccedilatildeo ao objeto de investigaccedilatildeo explicitou-
se os motivos da realizaccedilatildeo do estudo a sua importacircncia fornecendo sua justificativa
18 Sobre esse assunto ver o capiacutetulo sobre a histoacuteria do particiacutepio nas gramaacuteticas mais especificamente a
paacuteg 55
Anielle Aparecida Gomes Gonccedilalves Jacometti de Oliveira
Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
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Houve tambeacutem uma revisatildeo da literatura em que se apresenta a evoluccedilatildeo da temaacutetica
sua problematizaccedilatildeo e relevacircncia para o campo dos estudos linguiacutesticos
No capiacutetulo 2 deter-se-aacute na origem dos sufixos ndashnte e ndash(dts)or assim como em
suas apresentaccedilotildees pelas gramaacuteticas histoacutericas enquanto o 3 traraacute a pesquisa qualitativa
mencionada isto eacute os dados etimoloacutegicos dos nomes de profissionais mais comuns nas
variantes brasileira e europeia e os dados semacircnticos dos sufixos apreendidos com a
formulaccedilatildeo das paraacutefrases
O capiacutetulo 4 por consequecircncia diz respeito agrave anaacutelise desses elementos cujos
assuntos a serem abordados satildeo o modo de formaccedilatildeo dos nomes de profissionais no
latim no portuguecircs e nas liacutenguas romacircnicas as paraacutefrases dos sufixos a proposta de
entendimento do sentido desses nomes a partir de sua formaccedilatildeo morfoloacutegica entre
outros O capiacutetulo 5 por sua vez traz as consideraccedilotildees finais sobre o trabalho
Haacute ainda 3 anexos referentes agrave pesquisa quantitativa levada a cabo O primeiro eacute
uma lista comparativa de palavras em ndashnte e ndash(dts)or em um mesmo contexto
vocabular O segundo anexo consiste na reuniatildeo das informaccedilotildees semacircnticas
morfoloacutegicas e etimoloacutegicas fornecidas pelo dicionaacuterio Houaiss (2001) assim como na
explicitaccedilatildeo das paraacutefrases decorrentes Jaacute o terceiro anexo eacute a separaccedilatildeo das mesmas
palavras do anexo 2 por seacuteculos organizando-as por data de apariccedilatildeo na liacutengua
portuguesa
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CAPIacuteTULO 2 Para uma visatildeo histoacuterica dos objetos origem dos
sufixos e suas trajetoacuterias nas gramaacuteticas
2 1 O particiacutepio e o sufixo ndashnte origem e valores do grego ao
portuguecircs
Compreender o estatuto de ndashnte que hoje eacute conhecido principalmente como um
sufixo nominal na liacutengua portuguesa conduz-nos agrave pesquisa sobre o que eacute o particiacutepio e
qual sua funccedilatildeo Durante a sua histoacuteria o particiacutepio representou e ainda representa um
ponto da liacutengua controverso e de estatuto muitas vezes confuso
Para entender um pouco mais sobre essa questatildeo abordar-se-aacute de modo geral
como o particiacutepio eacute tratado no grego no latim e em algumas importantes gramaacuteticas
histoacutericas e gerais
A Τέχνη Γραμματική atribuiacuteda a Dioniacutesio o Traacutecio (170-90 aC) eacute a primeira
gramaacutetica da tradiccedilatildeo ocidental Nela o particiacutepio eacute considerado uma classe de palavras
como os verbos os nomes os adveacuterbios Dioniacutesio define o particiacutepio muito
sucintamente da seguinte maneira o particiacutepio eacute uma palavra que participa da
propriedade dos verbos e da dos nomes Ele tem os mesmos atributos que o nome e o
verbo exceto a pessoa e o modo19
Lallot (1998 187-190) faz um estudo sobre o particiacutepio na gramaacutetica de Dioniacutesio
e em algumas gramaacuteticas gregas posteriores a ela O autor noticia que o particiacutepio gr
μετοχή literalmente participaccedilatildeo deve seu nome ao seu estatuto misto verbo-
nominal
19 Em grego μετοχή ἐστι λέξις μετέχουσα τῆς τῶν ῥημάτων καὶ τῆς τῶν ὀνομάτων ἰδιότητος παρέπεται
δὲ αὐτῆι ταὐτὰ ἃ καί τῶι ὀνόματι καὶ τῶι ῥήματι δίχα προσώπων τε καὶ ἐγκλίσεων A traduccedilatildeo consultada
foi a de CHAPANSKI Gissele Uma traduccedilatildeo da TEacuteKHNĒ GRAMMATIKḖ de Dioniacutesio Traacutecio para o
portuguecircs 2003 190 f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Universidade Federal do Paranaacute Curitiba
2003
Anielle Aparecida Gomes Gonccedilalves Jacometti de Oliveira
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A sua natureza hiacutebrida (i e composta de elementos diferentes) segundo o autor
deve-se tambeacutem ao seu lugar nas partes da frase imediatamente apoacutes o par nome-verbo
natildeo se sabe de qual desses dois constituintes ele participa Apollonius Dyscolus em
Sintaxe no seacutec II d C estabelece uma analogia entre duas triacuteades ordenadas do
seguinte modo masculino-feminino-neutro e nome-verbo-particiacutepio em que nos dois
casos o terceiro termo natildeo eacute compreensiacutevel em comparaccedilatildeo aos dois precedentes Esse
tipo de justificaccedilatildeo supotildee que a ordem de tais componentes eacute natildeo somente loacutegica mas
tambeacutem usual o lugar do particiacutepio diz que o mesmo participa do nome e do verbo
Tambeacutem no princiacutepio do seacutec IV localizam-se papiros que agrupando os cinco casos
ordena o particiacutepio depois do nome e do apelativo
Os estoicos natildeo faziam do particiacutepio uma parte autocircnoma da frase ie
independente Parece que eles o dividiram em dois conjuntos como nome (substantivo)
mdash os estoicos chamavam o particiacutepio de appellatio reciproca gr ἀντανάϰλαστος
προσηγορία lit apelativo reflexivo [usado como complemento de um verbo tendo
referecircncia idecircntica agrave do sujeito] alusatildeo ao considerado equivalente legens (part) =
lector (apelativo) mdash e como verbo eles o chamavam entatildeo ἔγϰλισις ῥήματος que
Prisciano (VI dC) traduz por modus verbi casualis modo casual do verbo mas
modo natildeo inclui aqui nenhuma referecircncia a um valor modal explica Lallot Como
indica a expressatildeo alternativa ἔγϰλιμα ῥήματος o particiacutepio eacute tratado como um
derivado do verbo ῥήματος παραγωγή e de fato os escolaacutesticos insistem sobre a dupla
caracteriacutestica morfoloacutegica do particiacutepio que eacute sempre derivada e sempre derivada de
verbo
Os gramaacuteticos fazem do particiacutepio como uma parte da frase distinta de modo
resoluacutevel segundo Prisciano eacute Trifoacuten ao final do seacutec I aC o primeiro a operar essa
separaccedilatildeo Os escolaacutesticos justificam essa escolha de maneira negativa os acidentes
nominais (caso e gecircnero) excluem que o particiacutepio seja um verbo seus acidentes verbais
(tempo e diaacutetese) excluem que ele seja um nome e logo dividido por um e por outro
em sentidos opostos ele natildeo se junta a nem um nem outro ele eacute outra coisa (ele eacute
diferente) (ἕτερόν τι) Segundo Lallot (1998 188) essa justificaccedilatildeo negativa com seu
nem o um nem o outro eacute feita por imitaccedilatildeo agrave relaccedilatildeo estabelecida por Apollonius entre
o particiacutepio e o gecircnero neutro
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O acidente misto do particiacutepio que se exprime evidentemente em sua morfologia
eacute igualmente expresso em sua sintaxe Esse fato tem parecido tatildeo importante que
renunciando agraves seduccedilotildees da definiccedilatildeo etimoloacutegica Apollonius definia o particiacutepio em
termos sintaacuteticos como uma palavra empregada no lugar do verbo Os escolaacutesticos
confiando nas anaacutelises de Apollonius fixam assim as sujeiccedilotildees sintaacuteticas que impotildee a
substituiccedilatildeo do verbo pelo particiacutepio
a) Eacute incorreto justapor sem conjunccedilatildeo dois verbos a uma forma pessoal Ex
ldquoAgamecircnon tem combatido tem vencidordquo
b) Se pode em compensaccedilatildeo construir dois casuais com um mesmo verbo Ex
o louro [nome adjetivo = casual 1] Menelau [nome proacuteprio = casual 2] tem
combatido
c) Desde entatildeo o particiacutepio que eacute uma transformaccedilatildeo casual do verbo (cf
Apollonius Dyscolus Sintaxe 2311 αἱ μεταλήψεις τῶν ῥημάτων εἰς πτωτικὰ
σχήματα) eacute a forma imposta que toma o verbo para evitar a incorreccedilatildeo da
primeira foacutermula ao reconduzir para o esquema sintaacutetico da segunda
Agamecircnon [nom = casual 1] combatente [part = casual 2] tem vencido
Lallot (1998 189) opina que a definiccedilatildeo da Τέχνη Γραμματική ao dizer que o
particiacutepio participa da propriedade (idiόtēs20) dos verbos e da dos nomes pode
naturalmente fazer alusatildeo a essas propriedades sintaacuteticas mas forccedila a reconhecer que a
alusatildeo subsiste de modo discreto
Enquanto forma de substituiccedilatildeo o particiacutepio estaacute para o verbo como o pronome
estaacute para o nome de acordo com Heliodoro de Emesa (apud Lallot 1998 189) A
natureza tem feito bem em inventar o particiacutepio para os verbos () e o pronome para os
nomes
Mais significativa ainda a essa analogia eacute o paralelismo das definiccedilotildees
apolonianas do particiacutepio e do pronome reconstruiacutedas por Schneider (GG II 3 p
1244 apud Lallot 1998 189-190)
ndash pronome λέξιν ἀντʼ ὀνόματος lt παραλαμβανομένην Schneider gt προσώπων
ὡρισμένων παραστατιϰήν palavra que substitui um nome e que mostra as pessoas
definidas
20 ἰδιότης propriedade particular caraacuteter proacuteprio
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ndash particiacutepio μέρος λόγου ἀντὶ ῥήματος παρὰ λαμβανόμενον παραστατιϰὸν
γένους ϰαὶ πτώσεων ϰαὶ τῶν συνόντων ἀριθμῶν ὁμοίως τῷ ὀνόματι parte da frase que
substitui um verbo e que mostra o gecircnero o caso e os nuacutemeros que lhes satildeo associados
como no nome
Desse modo enquanto o pronome eacute um substituto nominal enriquecido de
acidente (verbal) da pessoa o particiacutepio eacute um substituto verbal enriquecido com os
acidentes nominais do gecircnero do caso e do nuacutemero A definiccedilatildeo etimoloacutegica do
particiacutepio na Τέχνη Γραμματική por sua brevidade e logo sem um exame completo de
sua natureza deixa obscura essa analogia argumenta Lallot (p 190)
Vecirc-se entatildeo que ao possuir a funccedilatildeo de substituir um verbo na forma de nome o
particiacutepio passa a adquirir tambeacutem as caracteriacutesticas da sua posiccedilatildeo Torna-se entatildeo um
elemento uacutenico e sobrevive hoje natildeo conhecido por sua funccedilatildeo inicial mas por sua
posiccedilatildeo nominal
A diaacutetese21 torna-se entatildeo uma importante caracteriacutestica do particiacutepio Chapanski
(2003 156) descreve a funccedilatildeo da diaacutetese em Dioniacutesio
Ao trabalhar com diaacuteteses do nome Dioniacutesio Traacutecio estaacute trabalhando com a
capacidade de eneacutergeia realizaccedilatildeo accedilatildeo ou pathe recebimento de efeitos experienciaccedilatildeo
detida pela significaccedilatildeo dos nomes Em sua exemplificaccedilatildeo vale-se da alternacircncia de sufixo ndash
teacutes para -toacutes em alguns grupos de substantivosadjetivos resulta na alteraccedilatildeo do referente do
agente para o experienciador do resultado da accedilatildeo (cf poieteacutes o que faz poietoacutes o feito) E
Dioniacutesio Traacutecio natildeo estaacute aqui tratando com particiacutepios vale dizer De modo geral a diaacutetese
(diathesis disposiccedilatildeo) eacute aceita pela tradiccedilatildeo antiga como um acidente dos verbos ao observar
a diaacutetese dos nomes Dioniacutesio Traacutecio pode ter partido de uma subliminar comparaccedilatildeo entre
comportamentos dessas duas partes da frase historicamente admitidas como opostas
No excerto acima apesar da autora dizer que Dioniacutesio natildeo se refere ao particiacutepio
ao tratar da diaacutetese no nome torna-se difiacutecil desvincular sua afirmaccedilatildeo ao particiacutepio
devido agrave propriedade da diaacutetese acidente do verbo presente tambeacutem no nome assim
como o particiacutepio participa de propriedades verbo-nominais O nome na liacutengua grega
tem duas diaacuteteses a ativa e a passiva Como exemplo da ativa κριτής juiz que eacute o que
julga da passiva κριτός que eacute o que eacute julgado O verbo tem trecircs diaacuteteses ativa
passiva meacutedia Da ativa tem-se por exemplo τύπτω eu firo (Chapanski 2003 30)
Desse modo uma das hipoacuteteses que pode fundamentar a funccedilatildeo agentiva do particiacutepio eacute
o sentido ativo e participativo da diaacutetese
21 Do gr διάθεσις disposiccedilatildeo ordem
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Um fato essencial presente em Lallot (1998 187) eacute a comparaccedilatildeo feita pelos
estoicos de legens particiacutepio reflexivo com lector apelativo consideradas formas
equivalentes Na gramaacutetica de Port-Royal (2001 [1656-16601] 36) o conceito de nome
apelativo ou geral eacute o de nome que expressa ideias comuns ou gerais como a palavra
homem natildeo se referindo a algueacutem ou algo especiacutefico como faz o nome proacuteprio como
por exemplo Joatildeo Pedro etc Logo pode-se pensar que designar o sufixo ndashdtor como
apelativo significa nomear um ser de modo mais geral e natildeo especiacutefico enquanto as
formas em ndashnte seriam mais direcionadas agrave nomeaccedilatildeo do ser com forte viacutenculo agrave accedilatildeo
praticada pelo mesmo
O significado e a posiccedilatildeo do particiacutepio no latim jaacute eacute bem diferente do significado
e da posiccedilatildeo no grego No latim22 o particiacutepio foi classificado como uma forma
nominal do verbo ou seja tem uma forma e natureza morfoloacutegica que se aproxima do
nome uma vez que se flexiona em nuacutemero caso e algumas vezes em gecircnero possuindo
assim um valor aproximado a um substantivo ou a um adjetivo mas inserido dentro do
paradigma dos verbos por possuir tempo voz e algumas vezes regecircncia No latim haacute
trecircs particiacutepios o presente (ativo) o futuro (ativo) e o perfeito (passivo) que podem ser
considerados como nomes e como verbos Segundo Cardoso (2002 86) o particiacutepio
passado tem usualmente valor passivo nos verbos depoentes contudo seu valor eacute ativo
Tem a configuraccedilatildeo de um adjetivo de primeira classe e no periacuteodo claacutessico apresenta
o mesmo tema que o supino O particiacutepio futuro se relaciona com os tempos do infectum
pelo significado mas eacute formado pelo tema do supino acrescido do sufixo ndashurus a um
Ex laudaturus a um (o que haacute de louvar) Como o particiacutepio presente tem sentido
ativo23
O particiacutepio presente consiste em um tempo das formas nominais (em que a accedilatildeo
verbal natildeo eacute atribuiacuteda a pessoas gramaticais ie satildeo formas impessoais do verbo24) do
verbo com radical do infectum que serve de base para a formaccedilatildeo dos tempos de accedilatildeo
incompleta de aspecto entatildeo imperfeito inconcluso da accedilatildeo (diferente do grupo de
verbos latinos de radical do perfectum com aspecto perfeito cuja accedilatildeo ou processo
estatildeo concluiacutedos) Desse modo o particiacutepio presente considera a accedilatildeo como um
22 Na formaccedilatildeo dos tempos em latim tem-se tempos de accedilatildeo incompleta denominado infectum cujo
particiacutepio presente faz parte por ser um tempo formado com o radical do presente ou do infectum 23 O particiacutepio presente eacute comum agrave conjugaccedilatildeo ativa e depoente Os verbos depoentes satildeo aqueles que
embora tenham forma passiva possuem significados ativos Eacute o caso por exemplo do verbo sequor que
significa sigo e natildeo sou seguido 24 No latim as formas impessoais do verbo satildeo o infinitivo o geruacutendio o supino e os particiacutepios
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processo Estaacute presente nas quatro conjugaccedilotildees latinas e se caracteriza por natildeo possuir
o morfema de pessoa
Benveniste (1984 126) informa que desde o indo-europeu ndashntndash ndasheontndash servia
para formar alguns adjetivos especificamente sobre o tema verbal dos particiacutepios A
categoria do particiacutepio como tal segundo o autor eacute sem duacutevida menos antiga do que
parece e menos estritamente delimitada Em hitita a forma do adjetivo verbal em ndashanza
(=ndashontndashs nom sg) se serve muito do particiacutepio mas com essa particularidade curiosa
de que ele eacute de diaacutetese oposta agrave da raiz verbal se o verbo eacute transitivo o particiacutepio seraacute
de sentido passivo e o inverso tambeacutem acontece a natureza das coisas faz entatildeo com
que a maior parte dos particiacutepios em ndashanza seja passivo (adndash edndash ldquocomerrdquo adantndash
ldquocomidordquo) Isso implica do verbo ao adjetivo verbal uma relaccedilatildeo bastante frouxa e
corrige a ideia excessivamente precisa que algumas liacutenguas fizeram do particiacutepio como
o princiacutepio dessa ligaccedilatildeo Um segundo traccedilo ainda em hitita acentua tambeacutem a
indecisatildeo da forma com ndashant se pode dar secundariamente um aloacutetropo25 natildeo
importando qual seja o adjetivo e sem diferenccedila de sentido irmalandash e irmalantndash
ldquodoenterdquo daššundash e daššuwantndash ldquoforterdquo dapiyandash e dapiyantndash ldquointeirordquo etc Por ter estado
desse modo generalizado analogicamente eacute como se o sufixo natildeo tivesse suportado um
valor muito especiacutefico Ter-se-ia logo que se considerar simplesmente como apto a
fornecer adjetivos verbais e eventualmente adjetivos secundaacuterios
Lindsay (1894 539) menciona que os particiacutepios no indo-europeu eram
simplesmente adjetivos deverbais formados com vaacuterios sufixos Para a obtenccedilatildeo do
particiacutepio perfeito passivo os sufixos usados eram ndashto (ex ant ind -dhi-taacute- gr θε-τός
ldquoposto estabelecido adotadordquo lat crēdĭ-tus ldquoconfiado por empreacutestimo emprestado
creacuteditordquo litu dėacute-tas got vaurh-ts ldquoforjado batido lavrado trabalhadordquo) ou o sufixo
ndashno (ex ant ind pūr-naacute- ldquopreenchido ocupadordquo ant ing bund-en ldquolimitado
delimitadordquo ant eslavo nes-enŭ ldquotransportado transmitidordquo lat plē-nus ldquopleno cheio
completordquo) Para o gerundivo o sufixo ndashyo (ex ant ind ndashdrṧacute-ya- ldquovisiacutevel que vale a
pena verrdquo ant saxatildeo un-fōd-i ldquoinsaciaacutevelrdquo gr ἅγ-ιος ldquoveneraacutevelrdquo lat exĭm-ius
ldquoprivilegiado exiacutemiordquo) ou -two- -tĕwo- (ex ant ind kaacuter-tva ldquoobra de valor (algo)
bem feitordquo gr διωκ-τέ(Ϝ)ος ldquoque vale a pena seguirrdquo) Com o sufixo ndashlo eacute formado
25 Isto eacute uma forma divergente mas com eacutetimo comum
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particiacutepio passado ativo no ant eslavo ex nes-lŭ usado na periacutefrase neslŭ jesmĭ ldquoeu
tenho conduzidordquo
O mesmo autor (1894 352) afirma que as formas em ndashntndash (ndashentndash ndashontndash ndashntndash e
outros26) tem um importante papel nas liacutenguas indo-europeias sendo usado na formaccedilatildeo
de todos os particiacutepios ativos exceto o perfeito Na conjugaccedilatildeo temaacutetica ndashontndash estaacute
presente em todos os casos do grego e em outras liacutenguas Formas antigas latinas como
exuntes (do v exĕō ldquosairrdquo) como tambeacutem as claacutessicas exeuntes com um e
antecedente tem sido citado como prova de que o lat ferent-is ferent-em (do v fĕrǒ
ldquolevar suportar darrdquo) e outros possui como forma mais antiga feront- com mudanccedila
da vogal breve antes de consoantes duplas na siacutelaba natildeo-acentuada sob o princiacutepio da
lei de acentuaccedilatildeo de Verner para -ĕ- Esses particiacutepios se tecircm frequentemente tornado
adjetivos e substantivos como por exemplo no ing friend ldquoamigordquo (got frijōnds lit
ldquoque amardquo) fiend ldquodiabo democircniordquo (got fijands lit ldquoque odeiardquo germ fiend) gr
ἄρχωυ ldquochefe reirdquo lat rudens ldquocabo amarra fig naviordquo
Exemplos de formas latinas em ndashent lat ăgens do v agō is ĕre ēgī āctum
ldquoempurrar para frente impelir conduzir levar acompanhar arrastarrdquo (ant ind aacutejant-
gr ἄγωυ) fĕrens do v ferō ldquolevar suportar darrdquo (ant ind bhaacuterant- gr φέρωυ got
bairands ant eslavo bery) rudens do v rudō ldquozurrar rugirrdquo (ant ind rudaacutent- (i)
ldquorugidor ribombanterdquo (ii) ldquouma corda um cabordquo) vĕhens do v vehō is ldquotransportarrdquo
(ant ind vaacutehant- got gavigands lituano vežatildes ant eslavo vezy) bĕnĕvŏlens adj ldquoque
quer bem favoraacutevelrdquo frequentemente um substantivo nas Comeacutedias de Plauto (meus
benevolens ldquoo meu dedicado amigordquo) estaacute ligado ao adjetivo benevolus ldquobeneacutevolo
dedicadordquo e por conseguinte a benevolentior e benevolenter ldquocom benevolecircncia
afetuosamenterdquo que se realizaram como comparativo e adveacuterbio mais tarde como
tambeacutem aconteceu com magnĭfĭcentior magnificentissĭmus comparativo e superlativo
produzidos a partir de magnificus (adj ldquoglorioso esplecircndidordquo) Outros substantivos satildeo
părens ldquoo pai ou a matildeerdquo (ao lado do v părio ldquoproduzir gerarrdquo) serpens ldquoserpenterdquo
ădŭlescens ldquoadolescente jovemrdquo outros adjetivos ēlŏquens ldquoeloquenterdquo săpiens
ldquosapiente que conhecerdquo innŏcens ldquoinocenterdquo Os particiacutepios presentes que se tornaram
26 Sobre as formas -e-ont no latim Faria (1958 239) explica que houve uma generalizaccedilatildeo da vogal -e-
exceto nos verbos da primeira conjugaccedilatildeo cujo particiacutepio eacute em ndashantndash podendo-se explicar o fato pela
contraccedilatildeo das duas vogais o -a- do tema e o -e- do particiacutepio
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adjetivos jaacute em latim satildeo congruens adj ldquoque estaacute de acordo com conveniente justo
conformerdquo (ao lado de congruus adj ldquoconforme congruente conveniente que
conveacutemrdquo) benevolens adj ldquoque quer bem favoraacutevelrdquo (ao lado de benevolus adj
ldquobeneacutevolo dedicadordquo) satildeo usados por Plauto indĭgens natildeo indĭgus ldquoque tem falta que
tem necessidaderdquo e insciens adj ldquoque ignora que natildeo saberdquo)
Os particiacutepios presentes dos verbos latinos terminam em ‒ns e se declinam como
prudens prudentis no ablativo singular poreacutem terminam em ‒e quando funcionam
realmente com forccedila de verbo e em ‒i quando funcionam como adjetivos fervente aqua
(= enquanto a aacutegua ferve) ferventi aqua (= com aacutegua fervente) No genitivo plural sua
forma eacute regularmente em ‒ium quando funcionam como adjetivos (virorum sapientium
= dos homens saacutebios doutos) e em ‒um quando funcionam como verbos (virorum
sapientum = dos homens que sabem que conhecem) O particiacutepio ativo concorda em
gecircnero em nuacutemero e em caso com o nome a que se refere e se traduz geralmente por
uma oraccedilatildeo relativa
Cardoso (2002 86) por sua vez explica que os particiacutepios satildeo adjetivos verbais
O particiacutepio presente de valor ativo eacute formado na primeira e na segunda conjugaccedilatildeo e
no primeiro grupo de verbos da terceira conjugaccedilatildeo pelo radical do infectum27
acrescido da vogal temaacutetica e de um sufixo modo-temporal ndashnt No segundo grupo da
terceira conjugaccedilatildeo e na quarta o particiacutepio presente eacute formado pelo radical do presente
acrescido da vogal ndashindash (sufixal ou temaacutetica) e de uma vogal ndashendash analoacutegica com a dos
particiacutepios da segunda conjugaccedilatildeo e dos verbos do primeiro grupo da terceira Ex
faciens entis (o que faz) audiens entis (o que ouve)
Figueiredo amp Almendra (1988 212-213) elencam os principais empregos do
particiacutepio presente
bull como substantivos pugnantes os combatentes audientes os ouvintes em que
satildeo geralmente modificados por adveacuterbios e natildeo por adjetivos vere sapientes os
verdadeiros saacutebios
bull com valor oracional exprimindo tempo e causa Tempo Omne malum nascens
facĭle opprimĭtur (Ciacutecero Filiacutepicas 5 11 31) ndash Todo o mal se domina com facilidade
27 Esse tema seraacute melhor tratado no subcapiacutetulo 2 8 As bases dos nomes em ndashnte e ndash(dts)or no latim a
partir da paacutegina 87
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ao nascer (quando nasce) Causa (Dionysius) cultos metuens tonsorios candenti
carbōne sibi adurēbat capillum (Ciacutecero De Officiis 2 7 25) ndash Dioniacutesio por temer as
navalhas de barba queimava os cabelos com uma brasa
Um particiacutepio presente com valor verbal teraacute complemento de objeto direto em
acusativo (ex Non solum populi sed etiam amicorum ferens iniurias port suportando
as injusticcedilas)
Pode tambeacutem indicar uma accedilatildeo contemporacircnea da expressa pelo verbo principal
Emprega-se com os verbos que significam ver e ouvir concordando com o
complemento desses verbos para exprimir uma accedilatildeo natildeo habitual ou para pocircr em
evidecircncia o momento em que se pratica a accedilatildeo Exemplos Audivi te canentem ndash Ouvi-
te cantar vidi eum ingredientem ndash vi-o entrar Em suma o particiacutepio presente pode se
referir ao sujeito ou ao complemento do verbo da oraccedilatildeo principal
O particiacutepio presente eacute uma forma dos verbos depoentes (ie verbos que tem
formas passivas e significados ativos) cōnāns (ldquoque tentardquo) verēns (ldquoque temerdquo)
loquēns (ldquoque falardquo) mentiēns (ldquoque menterdquo) patiēns (ldquoque sofre que suportardquo)
Explicitam-se abaixo suas formas e significados nos verbos
1ordf conjugaccedilatildeo (voz ativa) ‒ Regulares de tema em ā amā (exemplo)
Amo amas amāre amāvi amātum ndash amar
Forma nominal do particiacutepio presente ama-ns ama-ntis amante amando que ama ou amava
2ordf conjugaccedilatildeo (voz ativa) ‒ Regulares de tema em ē dēle (exemplo)
Deleo deles delēre delevi delētum ndash destruir
Forma nominal do particiacutepio presente dele-ns dele-ntis destruindo que destroacutei ou destruiacutea
3ordf conjugaccedilatildeo (voz ativa) ‒ De tema em consoante leg (exemplo)
1ordm tipo Lego legis legĕre legi lectum ndash ler
Forma nominal do particiacutepio presente leg-e-ns leg-e-ntis lente lendo que lecirc ou lia
2ordm tipo (Conjugaccedilatildeo mista) Capio capis capĕre cepi captum ndash tomar
Forma nominal do particiacutepio presente cap-ie-ns cap-ie-ntis tomando que toma ou tomava
3ordf conjugaccedilatildeo (voz ativa) ‒ Regulares de tema em u tribu (exemplo)
Tribuo tribuis tribuēre tribui tribūtum ndash dar
Forma nominal do particiacutepio presente tribu-e-ns tribu-e-ntis dando que daacute ou dava
4ordf conjugaccedilatildeo (voz ativa) ‒ Regulares de tema em i audi (exemplo)
Audio audis audīre audīvi audītum ndash ouvir
Forma nominal do particiacutepio presente audi-e-ns audi-e-ntis ouvinte ouvindo que ouve ou
ouvia
Anielle Aparecida Gomes Gonccedilalves Jacometti de Oliveira
Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
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Considerados como verbos regem os mesmos casos que os verbos de que se
originam e se declinam como os adjetivos da segunda classe Quando denotam estado
ou qualidade pedem genitivo em vez de acusativo Ex Amans laudis que gosta da
gloacuteria Patiens algoris que aguenta o frio (Freire 1956 285)
Faria (1958 165) considera que ndashns ‒ntis jaacute eacute um sufixo no latim sendo o
particiacutepio presente um verdadeiro adjetivo da segunda classe do mesmo modo
declinaacutevel Griffin (1994 42) corrobora essa ideia ao afirmar que a forma potēns
(traduccedilatildeo verbal ldquoque poderdquo) pouco eacute usado como forma verbal seu uso jaacute nessa eacutepoca
eacute majoritariamente como adjetivo com o significado de ldquopoderosordquo
No latim familiar em que haacute a tendecircncia para o uso de vocaacutebulos com conotaccedilotildees
materiais mais concretas e expressivas recorre-se por exemplo a rigens ldquoque
arreganha os dentes (como um cachorro)rdquo em lugar de iratus ldquoiradordquo me non facias
rigentem em Petrocircnio 756 (Hofmann 1958 231)
Nebrija (1989 [14921] 203-204) ao tratar do particiacutepio reitera a ideia discorrida
no iniacutecio de sua gramaacutetica de que o particiacutepio eacute uma das dez partes da oraccedilatildeo e
comporta o tempo proacuteprio do verbo e possui casos como o nome
Os acidentes do particiacutepio satildeo seis segundo o autor tempo significaccedilatildeo gecircnero
nuacutemero figura caso com declinaccedilatildeo enquanto os tempos do particiacutepio satildeo trecircs
presente passado e futuro mas no castelhano apenas se sente o particiacutepio do presente e
do futuro alguns deles introduzidos a partir do latim por alguns autores como doliente
paciente bastante sirviente semejante corriente do tempo presente
Em relaccedilatildeo agrave significaccedilatildeo do particiacutepio geralmente haacute dois sentidos o ativo e o
passivo Os particiacutepios do presente satildeo todos ativos pois todos possuem um significado
de accedilatildeo corriente eacute ldquoo que correrdquo serviente eacute ldquoo que serverdquo Seu gecircnero eacute comum de
trecircs no espanhol e no que se referem a particiacutepios substantivados alguns possuem
gecircnero masculino outros femininos e no gecircnero neutro todos os particiacutepios podem ser
substantivados como exemplifica o autor el corriente la corriente lo corriente el
oriente el ocidente el levante el poniente la creciente la menguante la corriente
Na Gramaacutetica geral e razoada ou Gramaacutetica de Port-Royal (2001 [1656-
16601]) gramaacutetica de abordagem racional e filosoacutefica referecircncia na histoacuteria da
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Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
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evoluccedilatildeo dos estudos gramaticais eacute feita uma densa explanaccedilatildeo sobre o caraacuteter do
particiacutepio tratado em vaacuterios pontos da gramaacutetica principalmente em dois na discussatildeo
sobre a essecircncia do verbo e em capiacutetulo agrave parte dirigido ao estudo especiacutefico do
particiacutepio
Segundo os autores (p 84) o particiacutepio principalmente o ativo apesar de indicar
uma accedilatildeo natildeo eacute um verbo pois ele natildeo significa uma afirmaccedilatildeo (afirmaccedilatildeo eacute afirmar
um julgamento feito pelo homem sobre o conteuacutedo do discurso previamente objeto de
reflexatildeo que soacute pode ser feito de modo completo com est eacute o particiacutepio se constitui
por sua vez de acordo com o raciociacutenio dos autores numa afirmaccedilatildeo concebida e
atribuiacuteda como por exemplo em Petrus vivens em que haacute um atributo diferente de
Petrus est vivens afirmaccedilatildeo sobre o sujeito e logo natildeo se pode construir uma
proposiccedilatildeo que eacute a caracteriacutestica que fundamenta a existecircncia do verbo) Os particiacutepios
satildeo verdadeiros nomes contudo os de verbos ativos natildeo deixam de significar accedilotildees
ie o particiacutepio apesar de ser considerado definitivamente um nome jaacute nessa eacutepoca
tem um traccedilo intriacutenseco verbal de accedilatildeo
A definiccedilatildeo dada para o particiacutepio no seu capiacutetulo particular eacute os particiacutepios satildeo
verdadeiros nomes adjetivos (p 107) e por isso os autores natildeo consideram ser
adequado o lugar em que tratam sobre eles (logo apoacutes o capiacutetulo sobre verbos
impessoais) mas devido agrave ligaccedilatildeo que possuem com os verbos discorrem sobre os
mesmos Nessa gramaacutetica como jaacute se pode constatar apenas pela breve definiccedilatildeo
apresentada os particiacutepios satildeo considerados nomes (nomes adjetivos enquanto os
infinitivos28 satildeo nomes substantivos) A ligaccedilatildeo que possuem com os verbos eacute pela
significaccedilatildeo
A obra ainda cita que o ato de falar com o particiacutepio natildeo era comum no latim mas
mais comum no grego e no hebraico O latim desse modo prefere exprimir-se pela
forma simples amo do que pela composta sum amans em que se tem a marcaccedilatildeo de
pessoa no primeiro termo enquanto o segundo permanece invariaacutevel As caracteriacutesticas
28 Durante a Idade Meacutedia o infinitivo segundo Posner (1996 164-165) ainda funcionava mais
comumente como um nome e ainda o romeno reluta a usar o infinitivo como uma forma verbal o que
mostra que a distinccedilatildeo e a posiccedilatildeo categorial de alguns fatos gramaticais eacute causa de duacutevidas e disputas por
parte dos falantes e estudiosos
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verbais que o particiacutepio reteacutem do verbo eacute o atributo e o tempo29 sendo o particiacutepio
presente um verbo ativo ie que significa uma accedilatildeo amans que ama docens que
ensina
O uacuteltimo paraacutegrafo em que a Gramaacutetica de Port-Royal (p 108) se dedica ao
estudo do particiacutepio merece ser transcrita
O que haacute de proacuteprio nos particiacutepios dos verbos ativos eacute que significam a accedilatildeo do verbo
como ela se encontra no verbo isto eacute no decorrer da proacutepria accedilatildeo enquanto os nomes verbais
que tambeacutem significam accedilotildees significam mais essas accedilotildees no haacutebito do que no ato30 Daiacute
decorre que os particiacutepios tecircm o mesmo regime que o verbo amans Deum ao passo que os
nomes verbais soacute tecircm o regime dos nomes amator Dei o proacuteprio particiacutepio entra nesse
uacuteltimo regime dos nomes quando significa mais o haacutebito que o ato do verbo31 porque ele
tem entatildeo a natureza de um simples nome verbal como amans virtutis
Os autores da gramaacutetica conseguem discriminar um valor natildeo soacute puramente
acional no particiacutepio mas tambeacutem habitual como acontece com algumas formaccedilotildees
agentivas em ndashnte Nas observaccedilotildees de M Duclos (p 205) presentes nessa mesma
obra haacute novamente referecircncia sobre a habitualidade da accedilatildeo que o particiacutepio presente
encerra em seu significado Assim o livro em questatildeo trata do particiacutepio natildeo soacute em seu
aspecto categorial mas tambeacutem no semacircntico no que concerne agraves suas camadas mais
profundas Essa gramaacutetica natildeo trata das palavras derivadas e de seus componentes
No quadro geral latino o particiacutepio especialmente no que diz respeito ao
particiacutepio presente natildeo eacute situada nas gramaacuteticas como uma classe como o eacute no grego
mas estava associado ao paradigma verbal sob a designaccedilatildeo de verbo-nominal ie aleacutem
de natildeo ser uma classe distinta comporta as duas caracteriacutesticas No grego os elementos
participiais natildeo comportam as caracteriacutesticas dos verbos e dos nomes mas possuem
alguns traccedilos dos verbos e alguns traccedilos dos nomes formando por isso uma classe
distinta Satildeo visotildees e tratamentos do objeto que diferem
Por algum motivo talvez por suas caracteriacutesticas particulares natildeo serem mais tatildeo
notadas naquele momento e pela sua relaccedilatildeo com o verbo ser mais reconhecida e para
29 Segundo nota dos tradutores falta aos autores a noccedilatildeo de aspecto verbal que eacute o que permanece no
particiacutepio natildeo a de tempo (p 107) 30 Grifo meu 31 Grifo meu
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natildeo deixaacute-lo solto na liacutengua sem nenhum lugar especiacutefico o particiacutepio foi inserido no
paradigma verbal logo denominado como jaacute foi dito como uma forma verbo-nominal
Por essa e outras explicitaccedilotildees anteriores ainda no latim a terminaccedilatildeo ndashns natildeo eacute
considerada um sufixo pelo menos de modo oficial apesar de jaacute haver substantivos
com tal configuraccedilatildeo morfoloacutegica como poder-se-aacute comprovar pela anaacutelise etimoloacutegica
de alguns nomes logo natildeo estaacute inserida na relaccedilatildeo de sufixos nominais latinos pois
provavelmente ainda eacute sentida como uma forma muito ligada agrave funccedilatildeo verbal do
particiacutepio presente
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2 2 O particiacutepio e o sufixo ndashnte nas gramaacuteticas histoacutericas e
normativas da liacutengua portuguesa
Os sufixos dificilmente aparecem com uma soacute aplicaccedilatildeo em regra revestem-se de
muacuteltiplas Ao lado dos valores sistecircmicos associam-se aos sufixos valores ilocutoacuterios
intimamente ligados aos valores semacircnticos das bases a que se agregam dos quais natildeo
se dissociam Nas gramaacuteticas normativas como se veraacute a seguir o particiacutepio eacute uma
forma nominal de um verbo possuindo vaacuterias funccedilotildees podendo servir como
substantivo adjetivo adveacuterbio e tambeacutem na construccedilatildeo de frases compostas
A liacutengua portuguesa apresenta dois particiacutepios o particiacutepio passado (terminaccedilotildees
em ndashado e minusido) e o particiacutepio presente32 (terminaccedilotildees em minusante minusente e minusinte) O
particiacutepio presente (ou ativo) eacute uma derivaccedilatildeo da forma verbal no tempo presente
encontrada em algumas liacutenguas Ele pode ser empregado como verbo adjetivo ou
substantivo mas em portuguecircs geralmente tem funccedilatildeo de adjetivo ou de substantivo e
por isso a maioria dos gramaacuteticos considera que existe apenas um particiacutepio no
portuguecircs atual o particiacutepio passado enquanto o geruacutendio da liacutengua portuguesa poderia
desempenhar funccedilotildees semelhantes a um particiacutepio presente devido ao seu aspecto
imperfeito
Devido a essas questotildees contemporacircneas que remetem agrave falta do particiacutepio
presente nas gramaacuteticas cabe uma investigaccedilatildeo sobre a historiografia do particiacutepio
presente nas principais gramaacuteticas da liacutengua portuguesa desde as primeiras da liacutengua
ateacute a um mais abrangente olhar sobre as versotildees contemporacircneas
Comeccedilando pelo periacuteodo arcaico da liacutengua portuguesa (seacuteculos XII e XIII)
Mattos e Silva (2006 121) relata que se encontram remanescentes verbais do particiacutepio
presente como no Testamento de Afonso XI (1214) ldquoEu rei don Afonso pela gracia de
Deus rei de Portugal seendo sano e salvo temẽte o dia de mia morterdquo (= ldquotemendordquo)
Depois conforme a autora essas formas verbais vieram a fixar-se como adjetivo
32 Algumas gramaacuteticas jaacute natildeo tratam sobre o particiacutepio como Napoleatildeo Mendes de Almeida (1966) e
Vilela (1999)
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substantivo ou em outras classes de palavras (presente constante tirante durante etc)
Piel (1989 220) considera que a decadecircncia do particiacutepio presente parece ter-se
produzido nos meados ou fins do seacuteculo XIV mas ainda o encontra no seacuteculo XVI em
Garcia da Orta ldquoestante em Goardquo (= estando em Goa)
Gonccedilalves (1999 45) ao analisar a morfologia verbal do galego-portuguecircs
adverte que o tempo verbal do particiacutepio presente se encontra de modo escasso na
liacutengua Algumas dessas abonaccedilotildees satildeo encontradas esporadicamente em textos
notariais mas a maioria delas foram extraiacutedas dos Fragmentos da mais antiga versatildeo
da Regra de S Bento33 texto de forte influecircncia latina Seguem alguns exemplos
fazente teacuteeacutente teente teẽte temẽtes dizẽtes fugẽtes temẽte sabẽte dizẽte aguardatildete
amatildete seente andatildete estatildete Segundo a autora
() torna-se difiacutecil avaliar se tais formas ainda correspondem a verdadeiras formas
verbais ou se jaacute pertencem agrave classe dos adjectivos ou dos substantivos O facto eacute que o uso de
tais formas parece ser muito reduzido jaacute no seacuteculo XIII as formas encontradas satildeo escassas e
quando usadas revelam uma certa artificialidade (p 45)
Podemos contemplar uma visatildeo errocircnea sobre o particiacutepio presente no excerto
transcrito acima que se propaga em quase toda a literatura sobre o assunto O particiacutepio
presente natildeo se trata de verdadeira forma verbal porque na verdade nunca foi uma
forma verbal ou nunca foi soacute isso Ele sempre foi e ainda eacute uma realidade linguiacutestica
que possui caracteriacutesticas da classe verbal e da classe nominal natildeo importando qual
funccedilatildeo estaacute desempenhando na frase Ao expressar um verbo ou um nome o particiacutepio
presente estaacute transmitindo uma concepccedilatildeo que tem caracteriacutesticas das duas classes
Tratar-se-aacute mais desse assunto posteriormente na anaacutelise dos dados
Fernatildeo de Oliveira na Gramaacutetica da linguagem portuguesa (2000 [15361])
considerada a primeira do portuguecircs julga o particiacutepio como um verbo (p 73)
E tambeacutem tecircm os nossos verbos gerundios como sendo amando fazendo e
partecipios como lido amado regido lente regente perseverante e nomes verbaes como
liccedilatildeo e regedor
33 NUNES Joseacute Joaquim Fragmentos da mais antiga versatildeo da Regra de S Bento In Evoluccedilatildeo da
liacutengua portuguesa exemplificada em duas liccedilotildees principalmente da mesma versatildeo da Regra de S Bento
e ainda nos fragmentos da mais antiga que se conhece Com introduccedilatildeo e glossaacuterio Separata de Boletim
da Segunda Classe da Academia das Ciecircncias de Lisboa Coimbra (Imprensa da Universidade) v XIV-
XVI p 131-182 1926
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Vecirc-se que Fernatildeo de Oliveira considera o particiacutepio como inserido dentro da
classe verbal como dito anteriormente e logo em seguida estabelece uma classe de
nomes verbais34 em que consta como exemplo regedor35
Na Gramaacutetica da liacutengua portuguesa de Joatildeo de Barros (1957 [15401]) natildeo haacute
nenhuma menccedilatildeo sobre sufixos Eacute importante somente citar que o autor ao referir-se agrave
mateacuteria do nome sustantivo e ajetivo trata dos nomes participiais do seguinte modo
ldquoparticipial nome se chama aquele que vem de algum particiacutepio como de amado
amador de douto doutor e outros que o uso nos insina Estes bastem pera exemplo
delesrdquo (p 10) Ao tratar sobre o particiacutepio cita entatildeo somente o particiacutepio perfeito
Em Origem da liacutengua portuguesa (1983 [16041]) Duarte Nunes de Leatildeo vai tratar
de modo muito breve sobre aspectos da liacutengua portuguesa que sofreram uma reduccedilatildeo se
comparados aos latinos e entre eles estaacute o particiacutepio presente e o particiacutepio futuro
Sobre o particiacutepio presente o autor explica que noacutes natildeo temos mais que amante e do
futuro carecemos suprindo-o por rodeio de mais palavras E dizemos por amaturus o
que haacute-de amar36 (p 298) Nada mais eacute encontrado em sua obra no que cabe ao
particiacutepio presente Nota-se apesar da concisatildeo em que eacute versado que o particiacutepio
presente eacute relacionado agrave classe verbal ao ser tratado juntamente com outros verbos
Em 1725 Dom Jerocircnimo Contador de Argote em Regras da lingua portugueza
espelho da lingua latina registra possibilidades de uso no portuguecircs que possuem
identificaccedilatildeo com a liacutengua latina como o proacuteprio tiacutetulo da gramaacutetica denota Duas
importantes caracteriacutesticas dessa gramaacutetica se mostram na (i) utilizaccedilatildeo de exemplos
observados pelo autor na praacutetica da liacutengua37 e (ii) no conceito de idiotismo que consiste
em qualquer estrutura do portuguecircs natildeo coincidente com as regras do latim (Leite
2011)
34 Fernatildeo de Oliveira natildeo define em sua obra o que satildeo os nomes verbais mas entende-se que satildeo nomes
que denotam ou satildeo oriundos de verbos E os nomes verbaes assi tambeacutem satildeo diferentes porque de ler
dizemos liccedilatildeo e de orar oraccedilatildeo (p 58) 35 Sobre os nomes verbais em ndash(dts)or em Fernatildeo de Oliveira ver o subcapiacutetulo 26 O sufixo (dts)or
no latim e no portuguecircs paacutegina 80 36 Apoacutes esse capiacutetulo em que o autor explicita pontos que faltam em nossa liacutengua se comparada agrave latina
o capiacutetulo subsequente trata sobre o inverso o que haacute na nossa liacutengua que eacute mais larga e copiosa
referindo-se ao processo de derivaccedilatildeo em que expotildee a partir de uma palavra latina vaacuterias derivaccedilotildees da
mesma em portuguecircs Tratam-se dos capiacutetulos XIX e XX de sua obra respectivamente 37 Segundo Leite (2011 673) as primeiras gramaacuteticas portuguesas elaboradas com exemplos literaacuterios
satildeo do final do seacutec XVIII
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Sobre o particiacutepio o autor adverte o seguinte
D38 Ha idiotismos nos Participios activos
M Porque
D Porque na lingua Portugueza o Gerundio em Do quando leva adiante de si os
pronomes Eu Tu Elle Noacutes Voacutes Elles serve de Particiacutepio activo e tambeacutem muytas vezes
ainda que naotilde leve diante os taes pronomes vg Vendo eu o successo chamey a Pedro Onde o
Verbo Vendo estaacute no participio activo Da mesma sorte Soprando o vento se alterou o mar Onde
Soprando eacute participio activo (Grifamos) (Regras p 268)
Percebe-se nesse trecho que o particiacutepio ativo eacute considerado uma classe verbal
substituiacuteda jaacute a essa altura pelo geruacutendio
Outra importante gramaacutetica do final do seacutec XVIII eacute a Arte de Grammatica da
Lingua Portugueza (1770) de Antoacutenio Joseacute dos Reis Lobato gramaacutetica oficial
recomendada por Marquecircs de Pombal em suas reformas
Seguindo os passos das gramaacuteticas latinas que o precederam Lobato divide a
etimologia39 em nove partes artigo nome pronome verbo particiacutepio preposiccedilatildeo
adveacuterbio conjunccedilatildeo e interjeiccedilatildeo40 Assim o particiacutepio na tradiccedilatildeo latina medieval e
moderna ateacute o seacutec XVIII pelo menos era considerado uma classe de palavras Nessa
gramaacutetica o participio activo do presente eram as formas em ndashndo consideradas hoje
como as do geruacutendio e o que se entende hoje por particiacutepio do presente Lobato (2000
[17701] 292-293) designa somente como participio e sobre a sua natureza e divisatildeo o
autor descreve
Participio he hum nome adjectivo que participa (do que lhe proveacutem o nome) do verbo de
que se deriva a propriedade de mostrar tambem o tempo em que se obra a cousa que significa
como v gr o Participio Reinante que significa natildeo soacute a pessoa que reina mas tambem mostra
que reina no tempo presente
O Participio ou he activo ou passivo
Participio activo he aquelle que significa o que obra alguma acccedilatildeo no tempo presente
como v gr Amante que significa o que obra a acccedilatildeo de amar no tempo presente
Seguindo a linha da gramaacutetica anterior abordada a de Argote (1725) as formas
em geruacutendio satildeo as que estatildeo no paradigma verbal e as formas em ndashnte satildeo adjetivos
com propriedade de tempo presente
38 O texto de Argote possui a forma de diaacutelogo com a praacutetica da induccedilatildeo aristoteacutelica cujos interlocutores
satildeo o Mestre (M) e o Disciacutepulo (D) 39 Para o autor parte da grammatica que ensina as diversas especies de palavras 40 As dez classes de palavras ou classes gramaticais que a gramaacutetica contemporacircnea considera satildeo artigo
substantivo adjetivo numeral pronome verbo adveacuterbio preposiccedilatildeo conjunccedilatildeo e interjeiccedilatildeo
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No seacutec XIX na Grammatica Philosophica da Lingua Portugueza ou Principios
da Grammatica Geral Applicados agrave Nossa Linguagem (1822) de Jerocircnimo Soares
Barbosa o mesmo exemplo amante eacute considerado um adjetivo participio ativo ou
adjetivo verbal atributo das proposiccedilotildees Hei de ser amante Estou sendo amante
Tenho sido amante (p 197 e 238) Essa descriccedilatildeo sobre amante mostra definiccedilotildees de
nomes que incluem o verbo no paradigma dos particiacutepios as formas em ndashnte natildeo estatildeo
presentes
Nunes (1969 [1919]1 369) se debruccedila rapidamente sobre o particiacutepio do presente
no latim e no portuguecircs em que pontua que o sufixo ndashnt no latim servia para
adicionado a temas verbais formar particiacutepios do presente de gecircneros masculino e
feminino do singular e designavam jaacute nessa eacutepoca o agente de qualquer dos gecircneros
Aponta tambeacutem que no latim o particiacutepio do presente era usado agraves vezes com a
significaccedilatildeo de verbo e em sentido idecircntico ao do geruacutendio mas que na maioria de seus
usos era como adjetivo e tal fato explicaria o duplo papel que ele desempenhou no
antigo portuguecircs como verbo com forma invariaacutevel e como adjetivo em concordacircncia
com o nome a que se referia e daiacute sua passagem por vezes agrave classe dos substantivos
Sua frequecircncia na liacutengua arcaica era grande segundo o autor acabando por desaparecer
devido ao geruacutendio pois havia uma confusatildeo em seu emprego e passou a ser tido como
simples adjetivo deixando contudo vestiacutegios do seu primeiro emprego (p 303-304)
O autor ainda fornece exemplos elucidativos do particiacutepio do presente como
verbo em que ele vale por geruacutendio cobiiccedilante noacutes potildeer cima aas demandas
(Ordenanccedilas de D Afonso II em Portugaliae Monumenta Historica p 167)
demonstrante (a escritura) (Regra de S Bento cap 7 IV nos Ineacuteditos de Alcobaccedila)
comprinte e aguardante as ditas cousas (Revista Lusitana vol XXI 273-6) Figuram
como adjetivo mas igualmente com valor de geruacutendio em Noacutes prior e convento
ventes a vontade rogamos as vossas universidades mandantes-vos (Croacutenica da
Ordem dos Frades Menores I 22) estando os filhos presentes e chorantes (id 72)
susseguem ouvintes e dizentes (Regra de S Bento loc cit) Eacute simples adjetivo nos
seguintes casos Desto poreacutem som algũus tam mal conhocentes (Virtuosa Benfeitoria p
241) pessoas minhas conhecentes (Eufrosina 112)
Sobre a formaccedilatildeo de substantivos comuns no portuguecircs a partir de particiacutepios do
presente Nunes (1969 359) diz que se trata de um processo menos fecundo se
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comparado agraves formaccedilotildees com particiacutepios do passado e que em geral continuou a ser
usado como adjetivo que se configura como sua antiga funccedilatildeo brilhante corrente
nascente pendente soante torrente vertente etc e assim concordam com os
substantivos a que se referem Alguns exemplos de substantivos satildeo estante agente
lente vazante sargento (arc sergente) corrente enchente semblante consoante
aspirante oriente poente etc
Said Ali (2001 [1923]1 113) relata que apesar dos quinhentistas ainda escreverem
frases como ldquoCousas tocantes a piedade naturalrdquo (Arrais Diaacutelogos 511) ldquoPerlas ricas e
imitantes a cor da Aurorardquo (Camotildees Os Lusiacuteadas 10 102) ldquoRei e senhor natural natildeo
reconhecente superior em o temporalrdquo (Joatildeo de Barros Da Aacutesia deacutecadas 4 7 1)
ldquoIlheos de Ires e Meitarana circumstantes a Ternaterdquo (Joatildeo de Barros Da Aacutesia
deacutecadas 4 7 9) tratava-se antes de usos de latinismos do que expressatildeo de uma
linguagem espontacircnea e natural proacutepria da eacutepoca Ainda segundo Said Ali (2001 113)
ldquoA mesma coisa se haacute-de entender dos profusos exemplos de particiacutepio do presente
existentes na Regra de S Bento e dos que se encontram nos documentos oficiais e legislaccedilatildeo da
idade meacutedia Se fosse proacuteprio do falar usual o particiacutepio do presente natildeo escassearia como
escasseia nas narraccedilotildees descriccedilotildees e crocircnicas que possuiacutemos do mesmo periacuteodordquo
Ao referir-se sobre as terminaccedilotildees ndashante e ndashente Huber (1986 [19331] 212) as
coloca como particiacutepios presentes latinos que passaram agrave classe de nomes em
portuguecircs andante (em bem andante quer dizer ldquofelizrdquo) levante (em que se subentende
sol) semelhante temente conhocente (reconhecido sb conhecido) doente pendente
presente poente ciente (na locuccedilatildeo a seu ciente ldquocom conhecimento delerdquo) Como bem
nota (p 271) alguns adjetivos e particiacutepios passaram completamente a substantivos
inverno ferida Ainda segundo o autor todos os particiacutepios podem ser usados como
adjetivos sendo que alguns passaram definitivamente para a classe adjetival pendente
prudente e foi o geruacutendio que assumiu as funccedilotildees do particiacutepio presente em portuguecircs
citando os exemplos de temente o dia de mia morte ldquotemendo o dia de minha morterdquo
ventes a vontade ldquovendo a vontaderdquo e lanccedilantes bom cheiro ldquolanccedilando bom cheirordquo (p
212)
Algumas gramaacuteticas histoacutericas de liacutengua portuguesa ao atentar-se sobre a
procedecircncia do entatildeo sufixo portuguecircs ndashnte julgam tambeacutem ser essa terminaccedilatildeo uma
forma sufixal jaacute no latim Maurer Jr (1951 114) considera ndashns ndashntis (ndashans ndashens ndashiens)
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sufixos latinos No que diz respeito a sua origem o autor observa que em latim jaacute havia
a tendecircncia para reduzir o particiacutepio presente a adjetivo ou substantivo pois jaacute era
comum a substantivaccedilatildeo do particiacutepio em Plauto (c 230 ndash c 180 a C) e Terecircncio (c
184 ndash 160 a C) e Secircneca (4 a C ndash 65 d C) em diante parece ter sido evitado pelos
claacutessicos e ateacute por Tito Liacutevio (c 59 a C ndash 17 d C) essa substantivaccedilatildeo no nominativo
singular Nos demais usos eacute muito comum em todas as eacutepocas embora frequentemente
admita complemento acusativo O assunto principal discutido por Maurer Jr em relaccedilatildeo
a esse grupo sufixos eacute sobre a sua entrada nas liacutenguas romacircnicas ldquoreceberam as liacutenguas
romacircnicas o sufixo do latim vulgar ou atraveacutes do baixo latim e do latim medieval isto eacute
por via eruditardquo (p 100) Sua resposta eacute a de que eacute comum filiar esse processo de
derivaccedilatildeo ao latim vulgar como faz Grandgent mas falta a evidecircncia documental que
comprove o uso popular do sufixo na funccedilatildeo de substantivos e adjetivos Por outro lado
ainda segundo o autor em questatildeo existem indiacutecios de que as liacutenguas romacircnicas
conhecem esses sufixos devido ao latim literaacuterio pois
(i) o sufixo falta no romeno
(ii) O sufixo forma adjetivos e substantivos frequentes no baixo latim e no latim
medieval e essas formaccedilotildees ocorrem repetidas vezes nos antigos escritores cristatildeos Em
Gregoacuterio Magno41 (540-640) se observam os adjetivos fluctuans peccans subsequens
competens incessans insufficiens deprimens em Beda42 (672-735) se encontram os
substantivos credentes legentibus dormientis audientibus venientem viventem
Kinnavey (1935) observa que ldquoo extensivo uso dos particiacutepios como puros adjetivos
especialmente o particiacutepio presente tem sido notado como uma caracteriacutestica dos
escritores cristatildeos um uso geralmente atribuiacutedo agrave influecircncia das versotildees da Biacuteblia ()
Ao mesmo tempo em que natildeo eacute inerentemente um procedimento do latim tardio esse
largo uso eacute uma impressionante caracteriacutestica da Literatura Cristatilderdquo43
(iii) O particiacutepio presente logo entrou em decadecircncia na liacutengua vulgar sendo as
suas funccedilotildees em parte substituiacutedas pelo ablativo do geruacutendio O que resta do particiacutepio
presente latino com a sua funccedilatildeo verbal primitiva sobretudo na Gaacutelia e na Itaacutelia uacutenicas
41 Sexageacutesimo quarto Papa da Igreja Catoacutelica Apostoacutelica Romana 42 Monge e Doutor da Igreja 43 Traduccedilatildeo minha Citaccedilatildeo original ldquoThe extensive use of participles as pure adjectives especially the
present participle has been noted as a characteristic of Christian writers a use commonly credited to the
influence of the Versions of the Bible () While not inherently a Late Latin procedure this wide usage is
a striking feature of Christian Literaturerdquo
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Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
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regiotildees onde conserva certa vitalidade resulta da tradiccedilatildeo literaacuteria latina antes do que de
uma heranccedila vulgar
(iv) Verifica-se que a maior parte dos numerosos adjetivos e substantivos criados
com o sufixo ndashns ndashntis eacute de formaccedilatildeo culta e latina porque muitas vezes natildeo existe o
verbo correspondente nos romances
Tal fato pode ser mais bem constatado nas liacutenguas em que o particiacutepio natildeo chegou
a empregar-se geralmente como forma verbal como por exemplo no portuguecircs e no
espanhol do que em francecircs e italiano onde o particiacutepio presente por influecircncia latina
conservou-se como parte da conjugaccedilatildeo verbal De uma lista de centenas de nomes e
adjetivos portugueses vecirc-se que as formaccedilotildees eruditas satildeo muito mais frequentes do
que as de origem vernaacutecula e mesmo nesse uacuteltimo caso eacute muito comum a liacutengua culta
as criar Maurer Jr (1951 102) fornece alguns exemplos de formaccedilotildees cultas em
portuguecircs abundante aderente afluente aspirante atraente balbuciante cambiante
causticante circunstante comerciante constituinte delinquente desistente diferente
emocionante errante fabricante fascinante fatigante hesitante impetrante
inoperante insultante integrante interessante irritante litigante oficiante operante
pensante resultante solicitante vacilante De formaccedilotildees de verbos latinos ambiente
cadente ciente componente continente contingente consulente decente discente
docente diligente eloquente experiente imponente obediente paciente penitente
saliente tenente torrente vidente etc Apesar de natildeo tatildeo numerosas algumas
formaccedilotildees vernaacuteculas citadas pelo autor satildeo ajudante andante arquejante baixante
batente brilhante comprovante comungante confiante corante corrente cortante
crente danccedilante despachante empolgante enchente estafante estonteante estudante
falante feirante fervente governante gritante lente luzente maldizente minguante
outorgante ouvinte pagante pedinte poente quente remetente revoltante rodante
tocante vagante voltante Embora alguns desses termos segundo o autor tenham
certamente a sua origem na tradiccedilatildeo popular antiga (como por exemplo batente
enchente fervente quente) outros aludem a uma origem literaacuteria muitas vezes como
imitaccedilatildeo do latim como comungante (termo eclesiaacutestico) crente (lat cristatildeo
credentem) estudante governante lente outorgante revoltante e outros
Em espanhol se encontram geralmente os mesmos derivados predominando
tambeacutem os eruditos como se vecirc em acompantildeante afligente ardiente bastante
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constante corriente creyente desesperante gobernante incidente instante
interrogante paciente perseverante persistente potente semejante significante
siguiente triunfante viviente etc O mesmo acontece com as formas correspondentes
em outras liacutenguas romacircnicas
A terminaccedilatildeo do particiacutepio presente ativo latino perdeu a sua funccedilatildeo verbal nas
liacutenguas romacircnicas com algumas exceccedilotildees segundo o autor e se reduziu a sufixo
formador de adjetivos e de substantivos verbais de agente ou instrumento que depois
passam agraves vezes a designar objetos lugares nomes abstratos etc Entre os adjetivos
tem-se port entrante exuberante falante gritante humilhante obediente repugnante
tocante esp ardiente caliente corriente fulminante incesante semejante fr44 aimant
bienfaisant charmant obeacuteissant ravissant suivant preacuteceacutedent45 it amante differente
errante fulgente ripugnante (s)puzzante Como substantivos verbais de agente port
amante ajudante comandante despachante gerente lente negociante oponente
ouvinte pedinte principiante remetente representante vidente esp ayudante
comandante escribiente teniente fr amant arrivant commandant commerccedilant
croyant fabricant mendiant neacutegociant opposant protestant survivant traitant it
agente amante comandante combatente commediante fabricante mercante
negozziante Alguns outros substantivos verbais satildeo port batente calmante corante
crescente dormente estante estimulante levante nascente poente tirante vertente
volante esp calmante poniente tirante vertiente fr battant calmant couchant
montant penchant pendant tirant it calmante levante ponente sembiante etc A
frequecircncia com que as liacutenguas ocidentais formam as mesmas palavras e tambeacutem outras
palavras em contexto vocabular diverso de natildeo semelhanccedila com os sufixos -nte e -
(d)or revela que esse meio natildeo se trata apenas de uma heranccedila comum do latim mas
tambeacutem de uma unidade linguiacutestica moderna tatildeo ou mais viva quanto no latim
Sobre ndashnte o DELP (1952 168) o define como ldquosufixo romacircnico para particiacutepios
presentes substantivados como comandanterdquo
44 O particiacutepio presente eacute especialmente muito frequente no francecircs por ser usado nas oraccedilotildees
subordinadas adverbiais em portuguecircs nesse caso se usa o geruacutendio 45 Em francecircs ainda segundo Maurer Jr (1951 102) as formaccedilotildees eruditas se impuseram muitas vezes agrave
forma latina como eacute o caso da forma sufixal ndashent por ndashant o que natildeo modifica a pronuacutencia Exemplos
adheacuterent affluent confluent preacutesident diffeacuterent neacutegligent
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Segundo Coutinho (1984 170) ndashante ndashente ndashinte satildeo sufixos nominais latinos
formados a partir da vogal temaacutetica dos verbos mais o sufixo ndashnte do particiacutepio
presente Exprimem a noccedilatildeo de agente qualidade ou estado servindo para formar
substantivos e adjetivos tratante despachante estudante ajudante crente escrevente
lente delinquente pedinte ouvinte Cunha amp Cintra (1984 99) exemplifica com os
seguintes vocaacutebulos estudante navegante afluente combatente ouvinte pedinte46
Na contemporaneidade o dicionaacuterio Houaiss (2001) define o particiacutepio como
uma das formas nominais do verbo com caracteriacutesticas de nome (gecircnero e caso) e de
verbo (tempo aspecto voz) No entanto apesar de o Houaiss retratar o particiacutepio como
uma das formas nominais do verbo tanto ele como algumas gramaacuteticas natildeo citam o
particiacutepio presente como uma das formas participiais dentro do paradigma de
conjugaccedilatildeo dos verbos considerando como particiacutepio somente o particiacutepio passado
manifestando assim a situaccedilatildeo atual de como eacute considerado o particiacutepio na liacutengua O
Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa Contemporacircnea (2001) se refere ao particiacutepio
presente de duas maneiras primeiro relacionando-o a uma utilizaccedilatildeo verbo-adjetival
forma que pode ter emprego verbal ou adjectival forma nominal de emprego
adjectival e depois abrange seu uso para o substantivo as formas do particiacutepio
presente no portuguecircs antigo correspondem a adjectivos ou substantivos no portuguecircs
actual
Alguns estudos mais especializados consideram que o portuguecircs contemporacircneo
tem como particiacutepio apenas o particiacutepio passado (terminaccedilotildees em ndashado e ndashido) como
por exemplo Travaglia (2006) Souza (2011) entre outros pois somente ele eacute sentido
como uma forma verbal entre os falantes Em muitas gramaacuteticas de ensino da liacutengua
portuguesa as formas nominais de um verbo (isto eacute ao lado do seu valor verbal podem
desempenhar funccedilatildeo de nomes) satildeo basicamente trecircs o infinitivo (pessoal e impessoal)
o geruacutendio o particiacutepio (simples e composto) em que a simples denominaccedilatildeo
particiacutepio se refere ao particiacutepio passado Desse modo o particiacutepio presente natildeo eacute mais
sentido como verbo e logo natildeo eacute considerado como uma forma verbo-nominal de tal
paradigma mas simplesmente como uma forma nominal isto eacute um substantivo ou
adjetivo Sobre esse assunto Bechara (2005 224) corrobora a ideia de que o particiacutepio
46 Com relaccedilatildeo a essa lista chama-nos a atenccedilatildeo a palavra afluente que natildeo eacute um substantivo que denota
agente no sentido de agente humano e que estaacute no meio de outras palavras propriamente com essa
significaccedilatildeo
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presente desapareceu do quadro verbal portuguecircs para ingressar no quadro nominal
Oliveira (2003) ao analisar o particiacutepio presente em corpora da linguagem falada no
entanto menciona que o mesmo se mostra em diversas funccedilotildees como ocorria no latim
por exemplo
Essa perda ou natildeo reconhecimento da funccedilatildeo verbal do particiacutepio presente pode
estar associada agrave ausecircncia da categoria de pessoa Segundo Benveniste (1976 23-24) a
categoria de pessoa eacute bem proacutepria das noccedilotildees fundamentais e necessaacuterias do verbo pois
o verbo soacute existe para expressar marcar e se dirigir a uma pessoa e por conseguinte a
forma pessoal natildeo marcada em um verbo pode levaacute-lo a uma perda de sentido e de uso
por parte do falante podendo essa forma neutra e uacutenica ser confundida com outra classe
gramatical
Outro fato importante a considerar sobre o particiacutepio eacute que em Dioniacutesio o Traacutecio
por exemplo o particiacutepio eacute uma categoria independente em sua gramaacutetica pois para o
autor tratava-se de um objeto de tal modo peculiar que natildeo convinha classificaacute-lo como
uma subclasse dentro de uma classe como faziam os estoicos No latim e no portuguecircs
o particiacutepio presente sofre tentativas diversas de recategorizaccedilatildeo no latim trata-se de
uma forma verbo-nominal inserido no paradigma verbal e no portuguecircs segue um
processo de recategorizaccedilatildeo nominal Essas sucessivas mudanccedilas categoriais no
entanto natildeo alteram ou estabilizam seu caraacuteter que eacute no fundo diferenciado de
qualquer outro componente da liacutengua e consequentemente de difiacutecil demarcaccedilatildeo ou
inserccedilatildeo nas classes jaacute bem estabelecidas pela gramaacutetica normativa
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2 3 Siacutentese
O particiacutepio eacute em Dioniacutesio Traacutecio uma classe de palavras cujos elementos satildeo
considerados como nem verbais nem nominais mas tecircm alguns traccedilos das duas classes
formando assim outra classe com outro conceito Por conseguinte sua terminaccedilatildeo natildeo
eacute entatildeo nem um sufixo derivacional por natildeo se tratar de um nome mas tambeacutem natildeo eacute
uma flexatildeo verbal porque natildeo se trata de um verbo
No latim o particiacutepio tem claramente a denominaccedilatildeo verbo-nominal ie pela
proacutepria designaccedilatildeo dada naquele momento da histoacuteria incorpora as duas classes
(verbo-nome) Assim o objeto em questatildeo eacute encarado de maneiras diferentes no grego e
no latim no grego existe uma classe formada com caracteriacutesticas de outras classes
enquanto no latim o particiacutepio representa as duas classes juntas sendo entatildeo designado
verbo-nominal e encaixado no paradigma verbal apesar de natildeo ser propriamente um
verbo talvez por nessa eacutepoca seus traccedilos verbais serem mais reconhecidos
Sua trajetoacuteria do latim ao portuguecircs ocorre da seguinte maneira no latim havia
trecircs tipos de particiacutepios correspondentes a trecircs tempos verbais particiacutepio do presente
(amans amantis) do passado (amatus a um) e do futuro (amaturus a um) Na
morfologia portuguesa segundo a gramaacutetica somente sobreviveu dentro do paradigma
verbal o particiacutepio passado por isso mesmo muitas vezes designado simplesmente
como particiacutepio enquanto o particiacutepio presente deixou de existir passando a
terminaccedilatildeo ndashnte a ser uma forma nominal Fixou-se como adjetivo (aacutegua corrente sol
nascente) substantivo (estante ouvinte requerente) e preposiccedilatildeo (durante mediante)
aparecendo de modo esporaacutedico com valor verbal na liacutengua literaacuteria (este eacute o caminho
conducente agrave gloacuteria) Os particiacutepios presente e passado latinos com papel de oraccedilatildeo
subordinada adjetiva tambeacutem natildeo sobreviveram em portuguecircs poreacutem figuram em
determinadas construccedilotildees lembrando essa antiga funccedilatildeo Isso se verifica em frases do
tipo ela eacute uma crianccedila carente de afeto ele eacute um homem temente a Deus este eacute o
tema referente ao simpoacutesio ela recuperou seu filho perdido as histoacuterias escritas por
Eccedila de Queiroacutes fascinam os leitores nas quais as formas carente temente referente
perdido e escritas poderiam ser substituiacutedas por uma oraccedilatildeo subordinada adjetiva sem
mudar de sentido
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Portanto o particiacutepio presente latino passou ao portuguecircs sob as formas ndashante ndash
ente ndashinte com uso destinado agrave nomeaccedilatildeo de adjetivos e substantivos que tecircm um
sentido de agente formando palavras pertencentes a diversos grupos lexicais
No caso do portuguecircs contemporacircneo de acordo com as obras de referecircncia o
particiacutepio presente natildeo se apresenta no paradigma verbal porque essa sua funccedilatildeo verbal
que na verdade nunca foi propriamente verbal natildeo eacute mais reconhecida Ele soacute eacute
reconhecido como nome mas natildeo deixou por isso de ter seus traccedilos verbais que lhe satildeo
proacuteprios
Podemos demonstrar os movimentos que o particiacutepio sofreu no decorrer da
histoacuteria pela figura a seguir
Figura no 2 O particiacutepio o caminho de sua categorizaccedilatildeo e recategorizaccedilatildeo
nas liacutenguas
Em Dioniacutesio Traacutecio
Nas gramaacuteticas latinas
(1ordm momento)
Nas gramaacuteticas latinas
(2ordm momento)
No gramaacuteticas contemporacircneas
nome verbo particiacutepio
nome
verbo
particiacutepio
nome verbo
(particiacutepio
presente)
sufixo ndashnte
verbo nome particiacutepio
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Os balotildees condizem com as classes gramaticais citadas em seu interior quando
separados implicam em classes gramaticais uacutenicas e individuais e quando ocorre a
intersecccedilatildeo do balatildeo do particiacutepio com outra classe indica que houve a apropriaccedilatildeo do
mesmo pela classe gramatical em questatildeo As setas por seu turno traccedilam esses
deslocamentos sofridos pelo particiacutepio
O particiacutepio latino foi adequado ao paradigma verbal mas comeccedilaram a ser
iniciadas nominalizaccedilotildees com o particiacutepio presente ainda nessa liacutengua estabelecidas
definitivamente no portuguecircs A sua forma singular ndashnte(m) e plural ndashntes satildeo
provenientes como as palavras da liacutengua portuguesa em geral do acusativo latino e
passaram ao portuguecircs pelo latim culto devido ao proacuteprio desenvolvimento de sua
forma que em sua essecircncia eacute o acusativo com a queda final do ndashm
No entanto apesar do particiacutepio presente natildeo estar mais presente no portuguecircs as
formas verbo-nominais latinas deixaram suas marcas no sistema morfossintaacutetico
servindo de ponto de partida para inovaccedilotildees ou conservando em grau maior ou menor
suas primitivas feiccedilotildees Por fim vemos que a passagem do particiacutepio presente a nome
se deu definitivamente nas liacutenguas romacircnicas com graus diversos e algumas exceccedilotildees47
47 No francecircs por exemplo o particiacutepio presente se encontra no paradigma verbal e ainda eacute de certo modo
usual pelo menos na liacutengua escrita
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2 4 Os sufixos gregos ndashτωρ e ndashτήρ
Benveniste (1975 9) esclarece que uma das categorias mais seguramente
estabelecidas da morfologia nominal indo-europeia eacute a dos nomes de agente em minuster
tor Segundo ele esses sufixos se definem pela clareza e por um sentido constante
muito produtivo ao longo da histoacuteria e atestado nas liacutenguas mais antigas
Um acontecimento entretanto anormal e singular ocorre na liacutengua grega essa
categoria dos agentivos eacute representada em grego por dois sufixos distintos ndashτήρ e ndashτωρ
Mas como nada na liacutengua eacute por acaso ou de uso indiferente Benveniste vai investigar e
estabelecer as diferenccedilas entre ndashtor e ndashter48 O veacutedico aveacutestico49 e grego satildeo as
liacutenguas em que se encontram conservadas essas particularidades morfoloacutegicas e que
fundamentam e caracterizam as duas formaccedilotildees Elas se distinguem por trecircs
caracteriacutesticas pela natureza plena ou reduzida do vocalismo radical pelo lugar do
tom e pela recccedilatildeo nominal ou verbal No caso especiacutefico do grego satildeo distintas pelo
vocalismo e pelo tom mas natildeo pela recccedilatildeo50
Benveniste (1975) trataraacute entatildeo exaustivamente das formaccedilotildees gregas em ndashτωρ e
ndashτήρ Em seu trabalho o autor se concentra na elucidaccedilatildeo do sentido e das funccedilotildees
desses sufixos pois para o mesmo um sentido e uma funccedilatildeo natildeo podem estar
separados de uma forma (p 10) E eacute nesse momento que comeccedila a pesquisa de
Benveniste contrastar os dois tipos sufixais para ver se os mesmos realmente
apresentam equivalecircncia em relaccedilatildeo ao significado
Nesse primeiro momento seratildeo expostos tatildeo somente algumas ocorrecircncias de ndash
τωρ e ndashτήρ no grego antigo para que posteriormente haja a comparaccedilatildeo entre ambos
Desse modo alguns nomes de agente em ndashτωρ possuem as seguintes formaccedilotildees e
significados51
ϰαλήτωρ port ldquochamador aquele que chamardquo
ἐπιτιμήτωρ port ldquovingador aquele que vingardquo
ἕρϰτωρ port ldquoquem tem feito autorrdquo
48 Benveniste (1984 9) noticia que enquanto alguns estudos tratam ndashtor e ndashter como um sufixo uacutenico e
com uma noccedilatildeo indistinta e singela de agente evidencia-se no veacutedico dois tipos dāacutetar e dātaacuter
diferenciados pelo tom e pela recccedilatildeo cuja distinccedilatildeo eacute atribuiacuteda a uma inovaccedilatildeo indiana 49 Benveniste aborda esses sufixos agentivos nessas liacutenguas na obra mencionada 50 Recccedilatildeo presenccedila de traccedilos que marcam a relaccedilatildeo de subordinaccedilatildeo entre termos 51 Seguem alguns poucos exemplos para ilustraccedilatildeo Para muitos e variados casos ver a detalhada obra de
Benveniste (1975)
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δώτωρ port ldquodador doador aquele que daacuterdquo
πανδαμάτωρ port ldquodominador de tudordquo
A formaccedilatildeo em ndashτωρ eacute abundantemente representada nas Trageacutedias cuja
utilizaccedilatildeo desses nomes de agente se torna caracteriacutestica da liacutengua dos coros Seguem-se
os principais termos em ndashτωρ nesse gecircnero
ἁγήτωρ port ldquoque(m) conduzrdquo
ἀλεξήτωρ ῥύτωρ port ldquoque(m) protege protetorrdquo
ἁρμόστωρ port ldquoque comandardquo
γενέτωρ port ldquoque tem engendrado genitorrdquo
δέϰτωρ port ldquoque acolhe acolhedorrdquo
ἐφάπτωρ port ldquoque apanha que agarra que toca que apalpardquo
θέλτωρ port ldquoque encanta encantadorrdquo
ἵϰτωρ ἀφίϰτωρ προσίϰτωρ port ldquoque suplica suplicanterdquo Dessas trecircs
formas ἵϰτωρ designa os indiviacuteduos segundo um ato ou uma atitude presente
μιάστωρ port ldquoque sujardquo
μελέτωρ port ldquoque se ocupa de (especialmente de vingar-se)rdquo
μνήστωρ port ldquoque se lembrardquo
μαστίϰτωρ port ldquoque flagelardquo
οἰϰήτωρ port ldquoque habitardquo
πορθήτωρ port ldquoque destroacuteirdquo
πράϰτωρ port ldquoque reclama (o precircmio) que vingardquo
σάϰτωρ port ldquoque invaderdquo
συλήτωρ port ldquoque pilha saqueiardquo
συλλήπτωρ port ldquoque ajuda auxiliarrdquo
ταράϰτωρ port ldquoque perturbardquo
φιλήτωρ port ldquoque amardquo
φράστωρ port ldquoque indica que guiardquo
ἑστιάτωρ rarr quem oferece um banquete ao povo precisa bem aquele que
assume ocasionalmente uma liturgia mas natildeo cumpre uma funccedilatildeo
A liacutengua da liacuterica doacuterica fornece aleacutem de γενέτωρ ἀμύντωρ port ldquoque repudiardquo
ἵστωρ port ldquoperitordquo ϰτίστωρ port ldquoque fundardquo ἁγήτωρ port ldquoque comandardquo ἰάτωρ
port ldquoque curardquo Entre os prosadores como Heroacutedoto (485 ndash 420 aC) encontram-se
οἰϰήτωρ port ldquohabitanterdquo γενέτωρ port ldquoantepassado precursorrdquo προδέϰτωρ port
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ldquoque tem conhecimento do porvirrdquo συμπράϰτωρ port ldquocolaborador soacutecio
companheirordquo Vecirc-se que em determinadas ocorrecircncias acima como ἁρμόστωρ port
ldquoque comandardquo e ἵϰτωρ ldquoque suplicardquo teratildeo formaccedilotildees futuras em ndashnte em algumas
liacutenguas romacircnicas52 como no portuguecircs (comandante suplicante)
As palavras homeacutericas em ndashτήρ presentes sobretudo em antigos textos poeacuteticos
satildeo
ἀμητήρ port ldquoceifeiro segador (de profissatildeo de ofiacutecio)rdquo
ἀροτήρ port ldquolavradorrdquo
βοτήρ port ldquopastorrdquo
δρηστήρ (fem ndashείρα) port ldquoservidorrdquo
δοτήρ port ldquodador doador distribuidor encarregado de darrdquo
ῥυτήρ port ldquocapaz de atirar com o arco arqueiro encarregado de guardar
vigiar protetorrdquo como nome de instrumento ldquoesticador tensor sogardquo
Satildeo tirados de verbos denominativos
ἀρητήρ port ldquoo que ora pelo povo sacerdote (de ofiacutecio)rdquo
ἀθλητήρ port ldquolutador (profissional) atletardquo
ἀρνευτήρ port ldquomergulhador (acrobata) de profissatildeordquo
θηρητήρ port ldquocaccedilador (de profissatildeo)rdquo
ἰητήρ port ldquocapaz de curar curandeiro meacutedicordquo
ϰυδερνητήρ port ldquoencarregado de governar de conduzir pilotordquo
φυλαϰτήρ port ldquoencarregado de guardar guardador guardiatildeo sentinelardquo
A formaccedilatildeo em ndashτήρ eacute largamente desenvolvida depois de Homero (c 750 () a
C) nos Hinos em Hesiacuteodo (c 700 a C) e nos Traacutegicos (c 534 ndash 401 a C) afirma
Benveniste (1975 38) Seguem-se algumas palavras de Homero a outros poetas de
formaccedilotildees natildeo comuns agrave liacutengua poeacutetica (ἀροτήρ ldquolavradorrdquo βοτήρ ldquopastorrdquo μνηστήρ
ldquopretendenterdquo por exemplo)
δμητήρ port ldquocapaz de domar domadorrdquo
σωτήρ port ldquosalvador libertadorrdquo
θελϰτήρ port ldquoencarregado de apaziguar (por um feiticcedilo)rdquo
ῥεϰτήρ port ldquoque realiza realizadorrdquo
52 Para as formas de comandante em algumas liacutenguas romacircnicas e no inglecircs ver paacuteginas 107 e 108
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σϰαπτήρ port ldquocavador escavador do solordquo
Como derivados de verbos denominativos ληιστήρ port ldquopiratardquo ἐλατήρ port
ldquocondutor (de cavalo etc)rdquo empregados no Hino a Hermes (seacutec V aC) para destacar
as funccedilotildees permanentes da divindade Eacute provaacutevel que ἡγήτωρ port ldquochefe
comandanterdquo que rompe a sequecircncia das palavras em ndashτήρ natildeo deve sua forma senatildeo agrave
tradiccedilatildeo eacutepica
νειϰεστήρ port ldquoindagador questionador investigador pesquisadorrdquo
εὐθυντήρ port ldquoencarregado de corrigir diretor governadorrdquo
τρυγητήρ port ldquovindimadorrdquo
Nas Trageacutedias (c 534 ndash 401 a C)
ἐπαμδατήρ port ldquoencarregado de avanccedilar ao ataquerdquo
ἐλατήρ port ldquotreinador adestradorrdquo
ἱϰτήρ ἱϰετήρ port ldquoencarregado de suplicar suplicanterdquo
ἀναψυϰτήρ port ldquoencarregado de refrescarrdquo ψυϰτήρ port ldquovaso para
refrescarrdquo53
ὀπτήρ port ldquoencarregado de examinar examinadorrdquo
Satildeo estabelecidos sobre tema denominativo
Θρηνητήρ πενθητήρ port ldquoo que chora o que se lamentardquo o segundo
tambeacutem com o sentido de ldquocarpideira pranteadeira (profissional)rdquo
ἰατήρ port ldquomeacutedico encarregado capaz de curarrdquo σσὶ δ ἰατήρ
ἐπιϰαιρότατος ldquotu eacutes o meacutedico que reclama as circunstacircnciasrdquo quer dizer ldquotu eacutes
qualificado para curarrdquo
ϰολυμϐητήρ port ldquomergulhador nadadorrdquo
ϰαρανιστήρ port ldquodecapitadorrdquo
ϰομιστήρ port ldquoencarregado de cuidar de acompanharrdquo
Na liacuterica doacuterica tem-se certo nuacutemero de formaccedilotildees conhecidas em ndashτήρ
ἀλϰτήρ port ldquovingador protetor encarregado de afastarrdquo
μναστήρ port ldquoencarregado de chamarrdquo
ϰυϐερνατήρ port ldquoencarregado de governar pilotordquo
53 Objetoinstrumentomateacuteria que refresca σϰύφος πόνων ἀναψυϰτῆρα ldquouma taccedila (de leite) para
refrescar os castigosrdquo (Benveniste 1984 41)
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ὀρθωτήρ port ldquoencarregado de ter direitordquo
οἰϰιστήρ port ldquofundador colonizador habitante encarregado de
colonizar fundador de cidaderdquo
Eacute uacutetil sublinhar que esses nomes satildeo consistentes em seu exato valor e designam
os titulares de atividades funccedilotildees ou postos ἀροτήρ port ldquolavradorrdquo λευτήρ port
ldquolapidadorrdquo τιμωρητήρ port ldquodefensor protetor justiceirordquo ϰαταρτιστήρ port
ldquoconciliador aacuterbitrordquo termo teacutecnico conhecido pelas inscriccedilotildees sobretudo em regiotildees
doacutericas Benveniste (1975 44) assinala que haacute uma predominacircncia consideraacutevel dos
nomes em ndashτήρ pelo fato de esses textos fazerem menccedilotildees frequentes aos magistrados
que agrave tiacutetulos diversos intervecircm nos acordos ou garantem estipulaccedilotildees A categoria em
ndashτήρ eacute assim enriquecida de numerosos termos que resultam no mesmo princiacutepio de
designaccedilatildeo (escolha eleiccedilatildeo) ἁρμοστήρ port ldquogovernador de uma colocircnia atenienserdquo
ἀρτυητήρ port ldquopreparadorrdquo διϰαστήρ port ldquojuiz vingadorrdquo δοϰιμαστήρ port
ldquoexaminador juiz inspetor aprovadorrdquo βεϐαιωτήρ port ldquofiador aacuterbitro o que
deciderdquo ϰριτήρ port ldquojuiz aacuterbitro inteacuterpreterdquo etc
Anielle Aparecida Gomes Gonccedilalves Jacometti de Oliveira
Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
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2 5 Comparaccedilatildeo entre ndashτωρ e ndashτήρ
Como se pocircde perceber pelos casos acima explicitados ndashτωρ se dirige mais
propriamente a um agente que pratica uma accedilatildeo enquanto ndashτήρ a um agente
profissional Para melhor ressaltar a diferenccedila entre essas categorias Benveniste (1975
45) confronta sistematicamente as palavras que suportam essa dupla formaccedilatildeo e precisa
as formas em ndashτωρ como as de um autor de um ato enquanto as em ndashτήρ como agente
de uma funccedilatildeo Seguem aqui somente alguns poucos exemplos dessas duplas dentre os
muitos citados pelo autor
ἁρμόστωρ rarr aquele que organiza uma empresa
doacuter ἁρμοστήρ aacutet ἁρμοστής rarr aquele que tem por funccedilatildeo organizar trata-
se de um tiacutetulo que responde quase agrave governador de uma colocircnia
βώτωρ rarr aquele que guarda o rebanho de modo eventual natildeo como
emprego ou responsabilidade
βοτήρ rarr vaqueiro de profissatildeo profissional
δέϰτωρ rarr aquele que acolhe acolhedor
ἀποδεϰτήρ rarr designa o funcionaacuterio encarregado de cobrar receber as
rendas cobrador recebedor
δώτωρ rarr qualifica aquele que daacute doador por exemplo Hermes que era
doador da boa sorte e da alegria
σίτοιο δοτῆρες rarr satildeo os administradores encarregados de dar o patildeo
distribuidores
ἰάτωρ rarr eacute aquele que realiza ou tem realizado uma cura
ἰατήρ ἰητήρ rarr eacute o curandeiro profissional o meacutedico
φράστωρ rarr aquele que explica indica mostra ensina
φραστήρ rarr aquele que tem a missatildeo funccedilatildeo vocaccedilatildeo incumbecircncia de
explicar indicar mostrar ensinar em Xenofonte (c 430 aC ndash 355 a C)
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προπράτωρ rarr aquele que faz uma venda para um outro
πρατήρ rarr vendedor (profissional)
πράϰτωρ rarr tem dois sentidos distintos mas que revelam um e outro a noccedilatildeo
de ato ou aquele que tem feito o autor exprimindo aquele que reclama que
vinga realizador ator vingador executor
πραϰτήρ rarr em seus diversos empregos marca sempre o conceito de uma
destinaccedilatildeo πρηϰτὴρ ἔργων capaz de realizar as proezas de um ofiacutecio profissatildeo
πρηϰτήρ comerciante mercador negociante ou de uma funccedilatildeo administrativa
πρηϰτήρ agente encarregado de reembolsar as multas
ῥητήρ rarr qualifica aquele que estaacute apto agrave linguagem agrave fala
ῥήτωρ rarr orador orador puacuteblico homem de Estado retoacuterico
Sobre esse uacuteltimo caso Benveniste (1975 52-53) se refere ao sentido orador de
profissatildeo dado a ῥήτωρ como um erro arraigado consagrado pelos aacuteticos pois os
primeiros exemplos de uso dessa palavra que natildeo satildeo ainda especializados revelam que
ῥήτωρ tem designado somente em funccedilatildeo do particiacutepio aquele que fala (em puacuteblico)
e de nenhum modo orador profissional jaacute que diante do foacuterum todo ateniense adulto
e em posse de seus direitos civis poderia tomar a palavra e discutir as propostas do
priacutetane54 Desse modo nas reuniotildees puacuteblicas a ordem do dia convoca os oradores
inscritos o que natildeo implica ser aqueles que possuem o ofiacutecio da fala nem dons da
eloquecircncia A regra sobre a δοϰιμασία ῥητόρων experiecircncia do orador que Eacutesquino de
Atenas (c 390 ndash 315 a C) fazia remontar agrave eacutepoca de Soacutelon (c 640 ndash c 558 a C) natildeo
visava as capacidades profissionais mas somente a qualificaccedilatildeo ciacutevica indispensaacutevel a
todo aquele que comeccedilava a falar diante agrave assembleia Aleacutem disso esse primeiro sentido
de ῥήτωρ era bem conhecido dos antigos que o definem claramente cujo sentido real eacute
o equivalente exato de ὁ λέγων lit o escolhido i e aquele que fala (em puacuteblico)
ainda sem o sentido teacutecnico que tem prevalecido Eacute somente com o desenvolvimento da
atividade poliacutetica que certos ῥήτορες transformados em profissionais de debates na
aacutegora aperfeiccediloam-se como uma corporaccedilatildeo Assim doravante na linguagem dos
oradores aacuteticos uma distinccedilatildeo se estabelece entre ῥήτωρ orador qualificado e
54Segundo o Houaiss (2001) cada um dos 50 delegados de cada uma das dez tribos escolhidos
anualmente para formar o Conselho dos Quinhentos (equivalente ao senado na Greacutecia antiga)
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profissional e ἰὸιώτης que fala caso haja ocasiatildeo e sem arte Esclarecido por seus
primeiros empregos a forma ῥήτωρ entatildeo se mostra regular e eacute como em todos os
outros casos uma forma com valor participial indicando unicamente a realizaccedilatildeo da
noccedilatildeo e natildeo implicando em sua origem o valor especial que ela adquire ulteriormente
no vocabulaacuterio aacutetico A anomalia aparente eacute entatildeo eliminada
Jaacute o caso de ληίστωρ por exemplo natildeo parece diferir de ληιστήρ o que toma o
despojo saqueador ladratildeo pirata usurpador devido agraves convenccedilotildees meacutetricas
aproximadas que guiavam a escolha dos poetas Entretanto agrave luz das outras oposiccedilotildees
pode-se distinguir a primeira forma da segunda O problema dessas formas tatildeo
aproximadas se datildeo por erro ou por omissatildeo de dados esclarece Benveniste (1975 47)
como por exemplo no doacuter λείτωρ e λητήρ ldquosacerdoterdquo conhecidos por poucos
testemunhos epigraacuteficos e pelas glosas Natildeo se conhece esses nomes senatildeo por uma
significaccedilatildeo consagrada que natildeo deixa mais reconhecer as razotildees da preferecircncia dada
por uma ou outra forma conforme a pronuacutencia ou o acento e que na medida que
ldquosacerdoterdquo assume uma funccedilatildeo eacute normal que ele passe a ser designado por uma
palavra em ndashτήρ No entanto pode-se tambeacutem denominar em virtude do ato que ele
efetua habitualmente por uma palavra em ndashτωρ O autor tambeacutem cita outro ponto
importante o de que em um mesmo vocabulaacuterio religioso Hesiacutequio de Alexandria
(seacutec V d C) utiliza ἀγήτωρ e tambeacutem o particiacutepio ἱερεὺς para sacerdote
Segundo Benveniste (p 48-49) o prosador Xenofonte (c 430 ndash 355 aC) utiliza
as duas categorias de sufixo com um sentimento exato de sua diferenccedila cuja liacutengua se
observa influecircncias doacutericas Usos com o sufixo ndashτωρ em Xenofonte na obra Ciropeacutedia
os συμπαίστορες satildeo aqueles que brincam com natildeo aqueles que satildeo encarregados
de do mesmo modo συμπράϰτορες aqueles que ajudam Usos com o sufixo ndashτήρ
τοῖς μή θέλουσι ἑαυτοῖς προστάττειν ἐϰπονεῖν τἀγαθὰ ἄλλους αὐτοῖς ἐπιταϰτῆρας
δίδωσι para aqueles que natildeo querem ganhar os bens com grande esforccedilo deus daacute
outros homens que os comandaratildeo (encarregados de comandaacute-los) ἦσαν αὐτῷ ϰαὶ
προσόδων ἀποδεϰτῆρες ϰαὶ δαπανημάτων δοτῆρες ele tinha os funcionaacuterios
encarregados de cobrarreceber as rendas e de ordenar as despesas τοὺς περὶ τὸ ἑαυτοῦ
σῶμα θεραπευτῆρας os homens encarregados de velar sobre uma pessoa (seus
seguranccedilas) ϰαϰοὶ ταῖς πατρίσιν ἀλεξητῆρες maus defensores para seu paiacutes
ἐργαστήρ cultivador (profissional)
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Em σωτήρ libertador salvador tem-se um predicado de funccedilatildeo divina em que
os deuses desse modo qualificados satildeo invocados para a salvaccedilatildeo de quem os aguarda
Σωτήρ se torna assim um termo de invocaccedilatildeo e de apelaccedilatildeo permanente (Ζεὺς Σωτήρ)
O sentido da palavra exige que σωτήρ transferido do domiacutenio da qualificaccedilatildeo divina
agravequele dos homens ou das coisas denota depois da experiecircncia aquele que tem
salvado natildeo aquele que salvaraacute Ou seja a nomeaccedilatildeo que eacute para o ser divino eacute dada
tambeacutem ao ser humano e agraves coisas pois provam por meio da experiecircncia fazer ter a
habilidade para a execuccedilatildeo de algo Isso explica que se daacute um epiacuteteto como uma
recompensa agravequeles a quem se deve sua salvaccedilatildeo Jaacute em Eacutesquilo (c 525524 ndash 456455
aC) Danaos daacute graccedilas aos argianos por terem sido seus salvadores (σωτῆρες) e
Heroacutedoto (485 ndash 420 aC) pode escrever Natildeo se enganaria ao dizer que os
Atenienses tem sido os salvadores da Greacutecia σωτῆρας γενέσθαι τῆς Ἑλλάδος Por
causa desse desvio σωτήρ tem adquirido o valor da palavra em ˗τωρ que o emprego
original do epiacuteteto em sua funccedilatildeo estrita excluiacutea (Benveniste 1975 51)
Paralelamente mas em sentido inverso o vocaacutebulo ἵστωρ testemunha natildeo tem a
forma em ndashτήρ O sentido em si indica o porquecirc a testemunha natildeo sabe (weid-) mas
por ter visto adequa-se plenamente ao valor de ˗τωρ E de fato as expressotildees similares
em outras liacutenguas assinalam que o conhecimento da testemunha eacute necessariamente um
conhecimento adquirido got weitwoϸs testemunha eacute um particiacutepio perfeito Todavia
se essa razatildeo explica a formaccedilatildeo de ἵστωρ ela natildeo exclui mais uma vez a possibilidade
de um ιστήρ que significaria encarregado de ver ou de saber Poreacutem aqui interveacutem o
sentido proacuteprio de weid- que designa a visatildeo (ou o conhecimento) como passiva e
submetida por assim dizer e natildeo uma visatildeo intencional e consciente do olhar que se
dirige sobre o objeto que o apreende e o compreende
A condiccedilatildeo de oposiccedilatildeo entre ndashτωρ e ndashτήρ se reflete em outros aspectos da liacutengua
como por exemplo
a) Haacute somente nomes proacuteprios em ndashτωρ no grego pois esse sufixo coloca em
relevo o portador do ato tornando-se mais pessoal pela referecircncia direta ao
indiviacuteduo O uso de ndashτήρ nesses casos eacute inviaacutevel pois a noccedilatildeo de agente na
funccedilatildeo de alguma realizaccedilatildeo ou desempenho eacute um papel somente pertencente
aos deuses
b) A formaccedilatildeo dos nomes de instrumentos eacute entatildeo explicada por recorrer
exclusivamente aos nomes em ndashτήρ por esse sufixo representar uma funccedilatildeo
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Desde Homero (c 750 () a C) os nomes de instrumento satildeo expressos com ndash
τήρ e ele eacute muito representativo em Hipoacutecrates (c 460 ndash 370 aC)55 Ainda
segundo Benveniste (1975 56) eacute proacuteprio das palavras em ndashτήρ que designam o
agente de uma funccedilatildeo especializar-se por uma evoluccedilatildeo fatal na denominaccedilatildeo
de instrumentos que existem com essa formaccedilatildeo por sua funccedilatildeo56
Como se pode perceber ndashτήρ forma vocaacutebulos mais direcionados agrave profissatildeo
como por exemplo άμητήρ port ldquoceifador (de profissatildeo de ofiacutecio)rdquo cuja orientaccedilatildeo
semacircntica citada eacute clara e esse sufixo e o seu conceito passaram agraves liacutenguas romacircnicas
sendo a possiacutevel fonte das formas herdadas para a formaccedilatildeo de agentivos Importante
tambeacutem notar que a tonicidade das palavras formadas em ndashτήρ incide sobre o sufixo
enquanto que as em ndashτωρ sobre o radical o que pode dar uma maior forccedila e presenccedila agrave
primeira forma
Benveniste (1975 37-38) acrescenta que o emprego de uma forma em ndashτήρ
descreve qualquer estado como funcional de algum modo Portanto a principal funccedilatildeo
de ndashτήρ eacute por assim dizer exprimir a funccedilatildeo ou atividade do conceito dado pela base
sendo essa funccedilatildeo permanente isto eacute estaacutevel duradoura e constante Predica as ideias
de missatildeo encargo incumbecircncia funccedilatildeo predestinaccedilatildeo aptidatildeo vocaccedilatildeo habilidade
capacidade qualificaccedilatildeo e satildeo construiacutedos sob o regime de verbos factivos
A particularidade entre essas duas classes reproduz aquela que tem sido
demonstrada pelo indo-europeu Ela se reforccedila tambeacutem na medida em que as
necessidades da teacutecnica criam designaccedilotildees sempre mais especializadas referindo-se ou
ao homem ou ao instrumento o que eacute imprevisiacutevel pois depende de necessidades
locais Assim o conhecimento histoacuterico exposto de ndashτωρ e ndashτήρ mostra que os sufixos
percorrem um caminho que condiz com as transformaccedilotildees do mundo real no qual o
agente profissional por exemplo passa a existir juntamente com a noccedilatildeo do agente
executor de uma accedilatildeo qualquer ou seja o que antes possuiacutea a conotaccedilatildeo de uma accedilatildeo
geral com a consequente nomeaccedilatildeo do seu agente transforma-se e cria uma accedilatildeo e um
executor mais especializado em que eacute necessaacuterio criar um morfema que indica tais
criaccedilotildees e seus valores
55 Benveniste (1975 55) enumera uma seacuterie de termos em ndashτήρ que designam instrumentos ciruacutergicos
encontrados em dois manuscritos dos seacutecs IX e XI o que mostra a produtividade e persistecircncia desses
sufixos na linguagem teacutecnica da entatildeo considerada baixa eacutepoca que deveriam na verdade estar sendo
usadas haacute muito tempo na linguagem meacutedica 56 Traduccedilatildeo minha Citaccedilatildeo original ldquoCrsquoest le propre des mots en ndashτήρ qui deacutesignent lrsquoagent drsquoune
fonction de se speacutecialiser par une eacutevolution ineacuteluctable dans la deacutenomination des instruments qui
nrsquoexistent que pour leur fonctionrdquo
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2 6 O sufixo ndash(dts)or no latim e no portuguecircs
No latim por sua vez nenhuma distinccedilatildeo morfoloacutegica assinala essas duas
formaccedilotildees antigas subsistindo um uacutenico sufixo ‒(ts)or com as duas funccedilotildees
explicitadas Somente por meio de um estudo histoacuterico-comparativo entre outras liacutenguas
mais antigas como o indo-iraniano e o grego com suas distinccedilotildees aos dois tipos de
nomes de agente revelam tambeacutem as duas funccedilotildees em latim reduzidas no entanto a
uma soacute forma e consequentemente a uma soacute aparente funccedilatildeo A distinccedilatildeo traccedilada
entre as duas classes de nomes de agente eacute na histoacuteria do indo-europeu e das liacutenguas
tatildeo antiga como constante Os abundantes nomes de funccedilatildeo em ‒tor do tipo praetor
pretor tiacutetulo dado a um magistrado romano cujas funccedilotildees variaram conforme as
eacutepocas quaestor questor magistrado encarregado principalmente de funccedilotildees
financeiras que satildeo de data itaacutelica (osco kvaisztur umbro uhtur) satildeo segundo
Benveniste (1975 58) heranccedila do que seria os nomes em ‒ter (ltndashτήρ)
No latim citando outros autores Lindsay (1894 350) explica ndash(ts)ōr como
especificamente um sufixo masculino formador de nomes agentivos (os femininos satildeo ndash
(t)rī ndash(t)ria e ndash(t)rix) que eacute uma das variaccedilotildees de ndash(t)er que se especializou como
agentivos em latim ex actor ldquoaquele que conduz alguma coisa diante de si que faz
alguma coisa o executor o homem da accedilatildeordquo da forma āctum do v agō ldquoempurrar para
frente impelir conduzirrdquo + suf ndash(t)or) genit actōris que no grego eacute ἄκτωρ -ορος e
ἐπ-ακτήρ -ηρος Outros nomes agentivos em latim pōtor ldquobebedor (de aacutegua ou de
vinhordquo) da forma pōtum (v pōtō ldquobeberrdquo) + suf ndash(t)or (ant ind pātaacuter- e pāacutetar- gr
ποτήρ ldquovaso taccedilardquo) gĕnĭtor ldquopai criadorrdquo da forma genĭtum (v gignō ldquogerarrdquo) + suf ndash
(t)or (ant ind janitaacuter- gr γευετήρ e γευέτωρ (smldquopairdquo adj ldquogenitorrdquo) fem gĕnĕtrīx
ldquomatildeerdquo textor ldquotecelatildeordquo da forma textum (do v texō ldquotecerrdquo) + suf ndash(t)or (ant ind
taacuteštar- ldquocarpinteirordquo)
Faria (1958 278-279) divide o sufixo ndash(ts)or em dois grupos no latim De um
lado satildeo acrescentados a temas verbais indicando agente Ex uictor uictrix vencedor
vencedora de uinco vencer tonsor tonstrix tosquiador barbeiro cabeleireira de
tondeo tosquiar fazer a barba De outro a temas nominais tambeacutem indicando agente
Ex uiator viajante de uia estrada ianǐtor porteiro e ianǐtrix porteira de ianua
porta
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As terminaccedilotildees latinas em ndash(ts)or formam entatildeo substantivos comuns agentivos e
se conservaram em portuguecircs com a sonorizaccedilatildeo do t (t gt d) na maioria dos casos lat
arātor gt port arador lat spectātor gt port espectador lat ductor gt port condutor lat
victor gt port vencedor
Mattos e Silva (2006 103) ao tratar sobre o gecircnero dos nomes menciona que
lexemas terminados por r l e s ocorrem no portuguecircs arcaico com uma soacute forma
tanto para o masculino como para o feminino sendo os gecircneros indicados pela
concordacircncia ex ldquoo senhorrdquo ldquomia senhor branca e vermelhardquo No Cancioneiro
Medieval Portuguecircs eacute comum encontrar senhor pastor sabedor pecador como
substantivos comuns aos dois gecircneros dominando inclusive a forma masculina no
plural ldquoSenhor das Senhoresrdquo Jaacute em D Dinis haacute ldquoa pastorrdquo e ldquosenhorardquo havendo
assim a marcaccedilatildeo de gecircnero no segundo caso no proacuteprio vocaacutebulo e em outro
documento do seacutec XV se acha tanto senhor como senhora para o feminino57
Algumas gramaacuteticas portuguesas tambeacutem abordam o sufixo ndash(dts)or Dentre elas
estaacute a Gramaacutetica da linguagem portuguesa (2000 [15361] 60-61) de Fernatildeo de
Oliveira Sobre esse assunto o autor discorre que os nomes que satildeo propriamente da
liacutengua portuguesa utilizam a terminaccedilatildeo ‒eiro para nomear alguns ofiacutecios mecacircnicos
como pedreiro carpinteiro sapateiro Poreacutem haacute alguns nomes nossos que natildeo seguem
essa regra58 como ferrador boticairo surrador etc59 A terminaccedilatildeo em ndashdor se encaixa
na regra geral dos nomes verbais60 que se masculinos acabam em ndashdor como em
regedor governador
Ao discorrer brevemente sobre a origem dos sufixos Nunes (1969 [1919]1 363)
afirma que em geral os sufixos conservam ainda hoje a mesma significaccedilatildeo que tinham
em latim como ndashtor que se unia a temas verbais para significar o agente acontecendo o
mesmo com o ndashdor Novas ideias satildeo no entanto acrescentadas ou satildeo um
57 Ao analisar as palavras formadas com o sufixo ndashnte vecirc-se como no caso de palavras em ndash(td)or
formas comuns de dois gecircneros passar a formas biformes no Cancioneiro Medieval Portuguecircs aparecem
sergente sergenta hereje hereja e o sinocircnimo servente serventa (ldquoservordquo) como mostra Mattos e Silva
(2006 104) 58 As regras ou leis que digo satildeo como disse anotaccedilotildees do bo costume As quaes porque assi satildeo mais
gerais e comprendem mais chamamos-lhe naturaes e de feito parecem ser mais proprias e consoantes agrave
natureza da lingua pois lhe [a] ella mais obedecem (p 60) 59 Percebe-se entatildeo que em dada eacutepoca ndasheiro se constitui no sufixo que melhor expressa a ideia de ofiacutecio
pelo menos no que se refere a ofiacutecios mecacircnicos como mencionado pelo autor 60 Ver nota de rodapeacute nuacutemero 35 na paacutegina 58
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desenvolvimento da principal como em batedor e corredor em que o sufixo ndashdor
tomou tambeacutem o sentido de meio ou instrumento e lugar61
Segundo Nunes (p 375) a forma ndashdor proveniente de ndashtor junto a temas verbais
estaacute em plena vitalidade ateacute hoje nas formaccedilotildees de nomes que aleacutem da principal
significaccedilatildeo de agente humano podem tambeacutem possuir a de instrumento como se vecirc
desses exemplos a) canta-dor deve-dor escarra-dor fala-dor impera-dor menti-dor
(arc) persegui-dor pesca-dor sega-dor trabalha-dor trai-dor etc b) coa-dor corta-
dor rala-dor rega-dor Nas formaccedilotildees cultas ou populares em que natildeo houve um
abrandamento do -t- devido a uma consoante que o precedia manteve-se a forma
original como em agricul-tor escri-tor fei-tor lei-tor progeni-tor protec-tor rei-tor
etc o -s- que no latim resultara da combinaccedilatildeo das duas dentais -d- e -t- passou
tambeacutem para o portuguecircs com os nomes quase todos pertencentes agrave liacutengua literaacuteria
defen-sor impres-sor ofen-sor pre-sor (arc)
Em relaccedilatildeo agraves consoantes d t e s com que o elemento formativo ndashor pode
comeccedilar e que nele aparecem incorporadas satildeo segundo Said Ali (2001 [1923]1 177)
sufixos proacuteprios de temas participiais e que historicamente tem origem no latim Em
portuguecircs ainda segundo o autor citado juntando ndashor a temas do particiacutepio preteacuterito62
tem-se nomes de agente sendo necessaacuteria em verbos regulares da 2ordf conjugaccedilatildeo a
mudanccedila preacutevia de ndashidndash em ndashedndash escritor armador atador benzedor mordedor
roedor urdidor polidor torcedor brunidor etc
Sobre ndashtor Maurer Jr (1951 114) diz tratar-se de um sufixo popular e
panromacircnico cuja existecircncia no latim medieval forneceu agraves liacutenguas ocidentais certo
nuacutemero de derivados de particiacutepios fortes latinos (diz-se particiacutepios fortes aos
particiacutepios acentuados no radical) como no port ator autor compositor cultor leitor
motor protetor redator reitor etc e formas correspondentes nas demais liacutenguas que
segundo o autor natildeo passam de latinismos tomados por empreacutestimo apenas a liacutengua
francesa nacionaliza uma forma erudita ndashateur hoje bastante usual para a formaccedilatildeo de
nomes de agente e de instrumento accusateur eacutepurateur orateur No espanhol ‒dor
assim como ndashtor e ndashsor eacute um dos mais produtivos agentivos nessa liacutengua segundo
Ortega (2009 49)
61 Sobre essa questatildeo da direta extensatildeo de uma categoria semacircntica para outra (agente gt instrumento gt
lugar) ver Rainer (2005) 62 Pode-se entender e explicar a formaccedilatildeo dos vocaacutebulos em ndashdor a partir desse molde morfoloacutegico mas eacute
pouco provaacutevel que o falante assim o construa Ver discussatildeo sobre esse assunto na paacuteg 209
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Sobre o sufixo na liacutengua portuguesa Coutinho (1984 170) o trata como um
sufixo nominal latino e fornece os seguintes dados sobre os mesmos ndashdor e ndashtor lt ndash
tōre Indica agente e instrumento dando formaccedilatildeo a substantivos e adjetivos pregador
ferrador amador criador adulador regador coador leitor escritor autor Com a
forma ndashssor e ndashsor63 aparece em confessor impressor defensor revisor64
Bechara (2005 358-359) por sua vez informa que ndash(dts)or eacute um dos principais
sufixos formadores de nomes de agente e ainda forma nomes de instrumento e lugar
narrador genitor ascensor cantor corredor
Apenas com o objetivo de apreciar e exemplificar a situaccedilatildeo desse afixo em outras
liacutenguas examina-se a sua condiccedilatildeo no francecircs e de maneira breve cita-se sua presenccedila
no inglecircs e no alematildeo Os nomes de agente segundo Benveniste (p 60-61) tendem a se
dividir em duas classes no francecircs sob a forma ndash(t)eur Uma primeira classe eacute
constituiacuteda por nomes com valor participial acompanhados de uma determinaccedilatildeo le
libeacuterateur du territoire o libertador do territoacuterio l inventeur du phonographe o
inventor do fonoacutegrafo le fondateur de Rome o fundador de Roma le vainqueur de
Troie o vencedor de Troacuteia classificados como nomes de autor por imputar no sujeito
um ato particular e por classificar um homem de acordo com um acontecimento A
segunda classe muito abundante e que tem se enriquecido eacute a dos nomes que denotam
o sujeito segundo a funccedilatildeo pela qual ele eacute designado como por exemplo um inspecteur
inspetor um tailleur alfaiate e o instrumento aspirateur aspirador sendo desse
modo modelados e destinados em vistas de uma funccedilatildeo pelo qual o nome de agente se
justifica
Por isso tem-se em francecircs como aponta Benveniste (p 61) chauffeur (port
motorista condutor) que se aplica a um homem brucircleur (port aparelho de
combustiacutevel bico de gaacutes) a um aparelho relaccedilatildeo essa inevitaacutevel pois se vive ldquoem uma
civilizaccedilatildeo mais e mais mecanizada em que as tarefas humanas se assimilam ao das
funccedilotildees de instrumentosrdquo Algumas vezes o uso permite que a mesma palavra tenha
dois sentidos vendeur (port vendedor) em um ato de venda e vendeur de magasin
vendedor de armazeacutem de um estabelecimento auditeur dune repreacutesentation auditor
de uma representaccedilatildeo e auditeur au Conseil dEacutetat auditor do Conselho de Estado
63 O mesmo sufixo ndashtor se transforma agraves vezes em ndashsor em latim como afirma Guardia (p 269) 64 As questotildees semacircnticas que ocupam esse trabalho satildeo independentes da postura que se adote em
mateacuteria de alomorfia Dessa maneira ndashtor ndashdor ndashssor e ndashsor devem ser entendidos como meros roacutetulos
para o tratamento da questatildeo semacircntica
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Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
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lecteur dun livre (port leitor de um livro) e lecteur dUniversiteacute leitor da
Universidade O autor ainda acrescenta que no francecircs o sentimento de diferenccedila entre
os sentidos faz com que se utilizem formaccedilotildees distintas nomeadamente com a oposiccedilatildeo
‒eur e ‒teur considera-se donateur (port doador) aquele que tem feito uma oferta ou
doaccedilatildeo mas se cria a palavra donneur em uma acepccedilatildeo nova e de caraacuteter profissional
sauveur como aquele que tem salvado mas sauveteur ao referir-se ao profissional
deacutegusteur o provador ocasional eacute diferente do deacutegustateur de vinhos do especialista
em degustaccedilatildeo etc
O autor ainda afirma (p 61) que a existecircncia de dois tipos de nomes de agente natildeo
eacute entatildeo ligada a certa famiacutelia de liacutenguas nem a uma estrutura linguiacutestica definida Ela
pode ocorrer em condiccedilotildees histoacutericas muito variadas cada vez que se quer opor na
designaccedilatildeo do sujeito ativo os modos de accedilatildeo sentidos como distintos A observaccedilatildeo
feita para os nomes de agente em francecircs se encontra tambeacutem no inglecircs shaker (port
misturador batedor) como o grego ϰρατήρ (taccedila grande em que se misturava o vinho
com a aacutegua) drawer (port gaveta) container (port recipiente contentor contecirciner)
todos nomes de instrumento que se distinguem daqueles que indicam o autor de um ato
como maker (port criador construtor) founder (port fundador) giver (port doador)
etc O alematildeo Steiger poreacutem pode designar o homem que sobe ou senda pela qual
se pode ascender e assim como o portuguecircs natildeo haacute um recurso que diferencia os dois
aspectos semacircnticos enquanto que no francecircs ‒eur e ‒teur tem servido em certa medida
para essas distinccedilotildees
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2 7 Siacutentese
Por fim pode-se entatildeo delimitar a origem do sufixo da seguinte maneira
Portuguecircs ndashsor ‒tor ‒dor
Latim ndash(s)ōr ~ ndash(t)ōr
Via empreacutestimo
Indo-europeu ndashteacuter ~ ndashtoacuter
Grego ndashτήρ ~ ndashτωρ
No grego sobreviveu os dois graus de vocalismo sufixal65 e as duas distintas
funccedilotildees66 herdadas do indo-europeu enquanto no latim haacute a forma uacutenica ndash(t)ōr com a
variaccedilatildeo ndash(s)ōr derivada do indo-europeu e com as duas funccedilotildees aglutinadas que
depois eacute tambeacutem sentida com uma soacute funccedilatildeo No portuguecircs houve a sonorizaccedilatildeo da
consoante -t- e por consequecircncia do latim haacute uma soacute forma e as duas funccedilotildees satildeo
sentidas como equivalentes Possivelmente por isso ateacute hoje o termo conceito agente
= funccedilatildeo se confunde com o termo conceito agente = accedilatildeo No termo agente assim
estaacute incluso duas noccedilotildees accedilatildeo e funccedilatildeo mas haacute de fato uma diferenccedila entre elas
Assim pode-se cogitar a possibilidade de no iniacutecio do processo de formaccedilatildeo do
conceito do sujeito que faz alguma accedilatildeo porventura ainda no indo-europeu principiou-
se com essa ideia de accedilatildeo que no grego em cerca de VII ‒ V aC comeccedila a
diferenciar-se entre o sujeito que simplesmente faz uma accedilatildeo daquele que eacute responsaacutevel
em exercer uma funccedilatildeo No latim talvez pela natildeo percepccedilatildeo formal dessa diferenccedila
65 ndashτωρ corresponde ao sacircnscrito -acutetṛ e ndashτήρ ao -tṛacute em que se constata basicamente uma diferenccedila de
acento enquanto o primeiro natildeo possui tonicidade no sacircnscrito o segundo a possui 66 Segundo Benveniste (1975 121) esse fato eacute de uma importacircncia consideraacutevel pois envolve
potencialmente o princiacutepio de uma alternacircncia que se reproduz em vaacuterias outras formaccedilotildees e que
combinada com a variaccedilatildeo do tom determina algumas sequecircncias paralelas de neutros e de adjetivos
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expressam-se esses dois conceitos de uma soacute maneira como acontece tambeacutem com as
liacutenguas formadas a partir dele
Sobre sua morfologia o sufixo latino ndash(ts)or se junta ao tema ou do supino ou do
particiacutepio passado cujo tema eacute representado por partiacutecula -t- com variaccedilatildeo em -s-
Configura-se talvez como o principal sufixo nominal latino com a significaccedilatildeo de
agente (ndash(ts)or fem ndashtrix) ou seja jaacute desde o latim ndash(ts)or tinha a forma e a funccedilatildeo
estabelecida como um sufixo nominal com valor agentivo que eacute como o portuguecircs o
conhece hoje e esse sentido agentivo eacute niacutetido contemporaneamente sendo um dos
motivos para o mesmo ser tatildeo produtivo Desde o latim as formaccedilotildees com o sufixo ndash
(ts)or satildeo muitas vezes mais abundantes que as em ndashnte devido a esse caraacuteter agentivo
mais marcado Muitos desses termos foram inseridos no portuguecircs com alguns casos de
sonorizaccedilatildeo (-t- gt -d-) mantendo-se o sentido de accedilatildeo do sufixo
Do ponto de vista semacircntico agente de uma funccedilatildeo indicado pelo afixo grego ndash
τήρ eacute de modo especiacutefico o operador de uma funccedilatildeo ou atividade laboral profissional
enquanto autor de uma accedilatildeo indicado por sua vez pelo afixo grego ndashτωρ eacute quem faz
ou pratica uma accedilatildeo isolada pontual e associada a um momento No quarto capiacutetulo a
partir dos dados sob anaacutelise ver-se-aacute se e como esse valor semacircntico binaacuterio no grego
se manteacutem no portuguecircs
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2 8 As bases dos nomes em ndashnte e ndash(dts)or no latim
Fundamental toacutepico a ser examinado eacute a base dos nomes em ndashnte e ndash(dts)or pois
possui um papel que tambeacutem diferencia os nomes com esses afixos tanto do ponto de
vista formal quanto do semacircntico principalmente e de modo mais reconhecido na
liacutengua latina por apresentarem bases distintas Para isso faz-se necessaacuterio tratar sobre o
sistema verbal latino abordando os seguintes assuntos a base para a construccedilatildeo dos
tempos verbais latinos a noccedilatildeo de infectum e de perfectum a formaccedilatildeo dos radicais e as
formas nominais do verbo
Os tempos verbais no latim se agrupam em dois cada um dos quais indicadores
da realizaccedilatildeo e da natildeo realizaccedilatildeo do enunciado verbal o infectum e o perfectum Faria
(1958 229) faz um importante esclarecimento sobre as origens desse fenocircmeno no
indo-europeu transcrito abaixo
Os temas verbais do indo-europeu exprimiam a noccedilatildeo de aspecto indicando o verbo
o processo verbal em vias de realizaccedilatildeo (aspecto imperfectivo) ou o processo inteiramente
realizado (aspecto perfectivo) ou ainda excluindo-se toda a ideia de duraccedilatildeo (aspecto
pontual) o que era representado pelo aoristo Entretanto o latim constituiu para si um
sistema de conjugaccedilatildeo perfeitamente original passando a desenvolver uma seacuterie de
inovaccedilotildees que lhe satildeo proacuteprias () Umas das grandes inovaccedilotildees realizadas pela
conjugaccedilatildeo latina foi substituir a noccedilatildeo de aspecto peculiar ao verbo indo-europeu pela
noccedilatildeo de tempo que vai aparecer tanto no infectum como no perfectum em seus diversos
modos
Assim originalmente a noccedilatildeo de infectum e perfectum se reportava a dois
aspectos da accedilatildeo verbal sem indicaccedilatildeo precisa das diferenccedilas de tempo O perfectum
correspondia agrave accedilatildeo liquidada e natildeo deixava margem para se pensar numa accedilatildeo que natildeo
tivesse totalmente executada ideia essa que podia ser expressa pelo infectum Em
relaccedilatildeo agraves vozes do verbo enquanto o tema do infectum eacute comum agrave formaccedilatildeo das vozes
ativa e passiva67 o tema do perfectum eacute de uso exclusivo das formas ativas
Cardoso (2002 65) por sua vez define o infectum como a accedilatildeo verbal natildeo feita e
o perfectum como a accedilatildeo feita realizada Ao infectum se prendem os tempos verbais
que indicam accedilotildees ou procedimentos natildeo concluiacutedos ou em prosseguimento como o
presente o imperfeito e o futuro do presente do indicativo presente e futuro do
imperativo presente e imperfeito do subjuntivo e as formas nominais do verbo
67 Ambas as vozes latinas correspondem exatamente agraves portuguesas
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geruacutendio gerundivo e particiacutepio presente O perfectum diz respeito aos tempos que
indicam accedilotildees ou procedimentos concluiacutedos realizados o perfeito o mais-que-perfeito
e o futuro perfeito por exemplo
Sobre a formaccedilatildeo dos tempos os do infectum tecircm um mesmo radical enquanto os
do perfectum tambeacutem tecircm radical comum sendo ambos distintos entre si Segundo
Faria (1968 159) acha-se o radical do infectum tomando-se o verbo no indicativo
presente 1ordf pessoa do singular e tirando-se-lhe a desinecircncia modo-temporal ndasho (laud-o)
e de modo geral tem-se a presenccedila da vogal temaacutetica junto agrave raiz do infectum de onde
os radicais lauda- mone- leg-68 audi- O radical do perfectum por sua vez eacute formado
tomando-se a primeira pessoa do preteacuterito perfeito do indicativo (laudaui monui legi
audiui) e subtraindo a desinecircncia ndashi (laudau- monu- leg- audiu-)69 Toda a conjugaccedilatildeo
latina repousaraacute na oposiccedilatildeo desses dois temas De acordo com Faria (1958 228-229) a
oposiccedilatildeo e a independecircncia entre os temas do infectum e do perfectum jaacute fora percebida
pelos antigos como por exemplo por Varratildeo (116 ndash 27 aC) procurando poreacutem a
liacutengua latina aproximaacute-los sempre cada vez mais accedilatildeo essa concretizada nos verbos
derivados em que os temas do infectum e do perfectum jaacute aparecem ligados
O latim possui formas natildeo pessoais do verbo ou seja formas em que a accedilatildeo
verbal natildeo eacute atribuiacuteda a pessoas equivalendo a nomes por essa razatildeo denominadas
formas nominais Essas formas nominais satildeo o infinitivo (presente perfeito e futuro) o
geruacutendio o gerundivo o supino (em ndashum e em ndashu) e o particiacutepio (que como parte da
categoria dos verbos possui os trecircs tempos presente passado e futuro) em que os
quatro primeiros equivalem a substantivos verbais enquanto o uacuteltimo comumente a
adjetivos Cardoso (2002 67) observa que ldquoos radicais do infectum e do perfectum estatildeo
tambeacutem presentes em algumas formas nominais que embora funcionem como nomes
(substantivos ou adjetivos) conservam alguma conotaccedilatildeo temporalrdquo70 Aleacutem dos
radicais do infectum e do perfectum presentes nos tempos dos modos pessoais
gramaacuteticas histoacutericas e dicionaacuterios etimoloacutegicos informam que a maioria dos verbos
latinos tem em algumas das formas nominais o tema do supino que segundo Faria (p
68 A vogal -ĕ- observada nos infinitivos presentes ativos da terceira conjugaccedilatildeo natildeo tem a forccedila das vogais
temaacuteticas presentes nas outras conjugaccedilotildees 69 Materialmente o elemento caracterizador de perfeito eacute o ndashu em grande parte dos verbos de primeira e
segunda conjugaccedilotildees enquanto em outros verbos sobretudo nos de terceira conjugaccedilatildeo o elemento
caracterizador pode ser um ndashs(i) 70 Grifo meu
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229-230) era inteiramente independente de ambos mas que pelo sentido se liga
estreitamente ao perfectum
Sobre a configuraccedilatildeo do supino Cardoso (2002 87) afirma que o mesmo tem
radical proacuteprio Esse radical se identifica algumas vezes com o do infectum (lauda-
laudatum) embora quando se fale em radical de supino seja comum consideraacute-lo como
um radical que ao lado do sema dito engloba tambeacutem o sufixo (-tu) formador do
supino (laudat-) Outras vezes principalmente no que diz respeito aos verbos da terceira
conjugaccedilatildeo o radical do supino sofre modificaccedilotildees foneacuteticas eou graacuteficas decorrentes
da justaposiccedilatildeo do sufixo ndashtu Ex leg-tum gt lectum scrib-tum gt scriptum Em
alguns verbos tambeacutem por razotildees de ordem foneacutetica natildeo eacute encontrado o supino em ndash
tum mas em ndashsum enquanto alguns verbos natildeo tecircm supino
A autora ainda se refere ao supino como uma forma nominal que natildeo possui valor
temporal eou aspectual podendo-se entatildeo relacionaacute-lo agrave qualidade do aoristo presente
no indo-europeu e no grego antigo71 em que ao excluir-se a noccedilatildeo de duraccedilatildeo da accedilatildeo
permanece o aspecto dito pontual Ainda segundo Cardoso (2002 87) o supino eacute um
antigo nome verbal em ndashtu muito utilizado na eacutepoca arcaica e que teve seu uso bastante
reduzido no periacuteodo claacutessico quando apenas dele sobreviveram o acusativo em ndashum e o
dativo-ablativo em ndashu (ex laudatum laudatu) Com o radical do supino (laudat-) se
forma o particiacutepio futuro (laudaturus a um) enquanto o particiacutepio passado (laudatus
a um) natildeo eacute derivado do supino mas talvez por coincidecircncia apresenta radical igual ao
daquela forma no periacuteodo claacutessico Logo o supino se estreitou ao perfectum (tempo de
accedilatildeo completo) do ponto de vista semacircntico devido a essa convergecircncia de formas das
bases
Eacute utilizado tanto na formaccedilatildeo do infinitivo futuro passivo como para substituir o
infinitivo em adjuntos adverbiais de fim (forma acusativa) e como complemento de
alguns adjetivos (ablativo) Exs Misit milites petitum pacem (Enviou soldados para
pedirem a paz) mirable dictum (admiraacutevel de dizer) transmitindo em alguns casos uma
ideia geral de finalidade Corroborando tal ideia Souza (2003) explica que a funccedilatildeo do
supino era auxiliar na declinaccedilatildeo do infinitivo e tinha apenas trecircs casos o acusativo
71 O termo aoristo eacute inexistente na nomenclatura gramatical portuguesa mas se manifesta na gramaacutetica
do grego antigo Nessa liacutengua o aoristo eacute a nomeaccedilatildeo da forma aspecto-temporal do verbo que
expressava uma accedilatildeo sem a indicaccedilatildeo quanto agrave duraccedilatildeo do processo ou ao seu teacutermino O proacuteprio nome
grego ἀόριστος significa ldquoindefinido indeterminadordquo
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usado com verbos de movimento para indicar finalidade e o dativo-ablativo cujo
emprego era comum com adjetivos do tipo facilis iucundus fas etc
Como forma nominal Faria (1958 171) demonstra que os supinos em ndashum e em ndash
u satildeo formados ao acrescentar-se essas terminaccedilotildees ao radical do proacuteprio supino com o
seguinte significado no paradigma verbal
1ordf conjugaccedilatildeo laudāt-um laudāt-u a para louvar
2ordf conjugaccedilatildeo monǐt-um monǐt-u a para lembrar
3ordf conjugaccedilatildeo lect-um lect-u a para ler
4ordf conjugaccedilatildeo audīt-um audīt-u a para ouvir
Acha-se por sua vez o radical do supino tomando o particiacutepio passado neutro do
verbo e tirando-se-lhe a desinecircncia ndashum
Haacute portanto trecircs radicais diferentes no verbo latino o do infectum o do
perfectum e o do supino designados como tempos primitivos O supino tambeacutem eacute
considerado uma forma nominal do verbo ao lado por exemplo do particiacutepio De fato
o supino possui poucas referecircncias e explicaccedilotildees claras e contundentes nas obras latinas
mas se trata de um ponto muito importante a ser aqui discutido pois haacute a possibilidade
de constituir-se como o radical dos nomes latinos em ndash(ts)or De qualquer modo pode-
se resumir a questatildeo das bases em ndashnte e ndash(ts)or da seguinte maneira enquanto o
particiacutepio presente possui tema de infectum e o particiacutepio passado o de perfectum o
supino possui um radical proacuteprio sem valor temporalaspectual mas relacionado muitas
vezes ao significado do perfectum devido agrave disposiccedilatildeo formal semelhante apresentada
por ambos
Pelo o que se expocircs eacute importante notar que o ndashtndash eacute considerado por muitos
estudiosos como parte do radical verbal no latim diferentemente do que vai acontecer
depois no portuguecircs que faraacute parte do sufixo Esse entendimento sobre o -t- latino
como parte do radical do infectum ou do supino implica que o sufixo seja ndashor e natildeo ndashtor
no latim
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Capiacutetulo 3 Pesquisa etimoloacutegica de corpus qualitativo os nomes
de profissionais
3 1 Objetivo e metodologia
A fim de compreender o funcionamento e as principais caracteriacutesticas dos sufixos
ndashnte e ndash(dts)or eacute necessaacuteria uma anaacutelise pormenorizada de um conjunto de palavras
O objetivo de anaacutelise do corpus eacute lanccedilar um olhar profundo sobre o objeto com o
intuito de coligir suas propriedades formais e semacircnticas e inferir no seu processo de
composiccedilatildeo
A delimitaccedilatildeo do universo dos sufixos ndashnte e ndash(dts)or para a descriccedilatildeo dos
dados eacute forccedilosa por dois motivos por causa da impossibilidade de se analisar todos os
vocaacutebulos em ndashnte e ndash(dts)or na liacutengua portuguesa (em nuacutemeros 3413 em ‒nte 4700
em ‒(dts)or) e pela grande variedade de grupos lexicais que os mesmos englobam na
liacutengua citada O conceito de amostra eacute ser uma porccedilatildeo ou parcela convenientemente
selecionada do todo sendo pois um subconjunto do universo natildeo se fazendo uso de
forma aleatoacuteria de seleccedilatildeo mas intencional para uma escolha dos vocaacutebulos mais
representativos do universo abarcado Portanto por uma questatildeo de organizaccedilatildeo e de
melhor avaliaccedilatildeo dos dados optou-se por uma seleccedilatildeo em campo importante dos
sufixos em questatildeo para posteriormente lanccedilar luz aos outros dados O universo dos
sufixos ndashnte e ndash(dts)or submetido agrave avaliaccedilatildeo eacute o dos profissionais
O foco do agente profissional se encontra na relaccedilatildeo da pessoa com a atividade
que ela exerce cujo exerciacutecio eacute determinado habitual e repetitivo produzindo algum
bem material ou social Essa classe vai dirigir-se necessariamente agrave pessoa e a sua
ocupaccedilatildeo A escolha pela anaacutelise dos nomes de profissionais se deu porque eacute um grupo
que abarca os dois sufixos estudados e a partir dos resultados obtidos relativos a esse
conjunto poder-se-atildeo inferir o mais legitimamente possiacutevel os resultados das palavras
sufixadas em ndashnte e ndash(dts)or de um modo total se fossem verificadas
O criteacuterio para a seleccedilatildeo dos nomes dos profissionais foi o quantitativo Trata-se
de vocaacutebulos que tecircm os maiores nuacutemeros de ocorrecircncias tanto no HouaissGoogle
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como no Corpus do Portuguecircs tanto do portuguecircs brasileiro como do portuguecircs
europeu A opccedilatildeo por uma amostra estabelecida a partir do criteacuterio quantitativo se
fundamenta na loacutegica de que devido agrave provaacutevel frequecircncia da palavra mapeada por
meio de dois corpora representativos seus constituintes morfoloacutegicos se tornam um
bom molde ou bom exemplo para a criaccedilatildeo de outras palavras podendo logo ser
representantes do corpus como um todo
O meacutetodo de abordagem dos itens eacute o histoacuterico abrangendo a pesquisa
documental em dicionaacuterios etimoloacutegicos A etimologia remonta o passado das palavras
ateacute encontrar algo que as explique Ela eacute pois antes de tudo a explicaccedilatildeo das palavras
pela pesquisa de suas relaccedilotildees com outras palavras O objetivo da anaacutelise etimoloacutegica
nesse estudo eacute a confrontaccedilatildeo de seacuteries que apresentam um mesmo elemento
projetando num plano uacutenico as construccedilotildees de diferentes eacutepocas fazendo-se uma
siacutentese de todas as divisotildees operadas no curso do tempo com vistas a atingir dentro do
possiacutevel as caracteriacutesticas originais do objeto linguiacutestico isto eacute a formaccedilatildeo
morfoloacutegica da palavra com foco na forma e no significado do afixo Desse modo o
propoacutesito da anaacutelise etimoloacutegica aqui empregada eacute possibilitar o conhecimento do
primeiro suposto significado dos sufixos no momento de sua formaccedilatildeo e de seu entatildeo
possiacutevel nuacutecleo semacircntico assim como a reconstituiccedilatildeo e o reconhecimento da base
utilizada para a formaccedilatildeo do vocaacutebulo Portanto a anaacutelise etimoloacutegica eacute importante para
entender a formaccedilatildeo da palavra em seu todo tanto da base como do afixo sendo o
suporte para essa pesquisa e logo a necessidade de detalhamento se faz presente
justificando tambeacutem a investigaccedilatildeo em diversas fontes Os meacutetodos de procedimento
utilizados satildeo o histoacuterico estrutural e funcional aleacutem do comparativo na anaacutelise dos
dados ou seja as informaccedilotildees que satildeo buscadas nos dicionaacuterios e recolhidas dos
mesmos com indicaccedilatildeo das fontes satildeo
1ordm o modo de formaccedilatildeo da palavra
2ordm liacutengua de origem
3ordm data
4ordm primeiro suposto uso ou sentido do vocaacutebulo
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Para cada uma das palavras se identifica esse conjunto de notiacutecias e se propotildee a
reconstituiccedilatildeo da paraacutefrase72 do sufixo no momento de sua criaccedilatildeo A anaacutelise de cada
palavra eacute constituiacuteda por pesquisa nas seguintes liacutenguas
bull dados etimoloacutegicos em obras especializadas sobre a liacutengua portuguesa
bull dados etimoloacutegicos em obras especializadas sobre a liacutengua latina
bull dados etimoloacutegicos em obras especializadas sobre as seguintes liacutenguas
estrangeiras francecircs espanhol italiano inglecircs galego catalatildeo e provenccedilal
A anaacutelise de cada palavra se daacute pela apresentaccedilatildeo e discussatildeo dos dados com
vistas a definir ou chegar a um consenso sobre as informaccedilotildees coligidas
Acredita-se que somente com o conhecimento da origem e da histoacuteria de uma
palavra eacute possiacutevel apreender o verdadeiro estatuto de seus constituintes revelando-se de
importacircncia decisiva quando se tenciona apurar se o vocaacutebulo aparentemente erudito eacute
ou natildeo um produto lexical do portuguecircs ou se eacute construiacuteda em outras liacutenguas
manifestando-se tambeacutem na nossa Logo a necessidade de se conhecer a histoacuteria da
palavra tanto no latim como tambeacutem sua ocorrecircncia a partir de outras liacutenguas
demonstra uma aproximaccedilatildeo mais satisfatoacuteria do objeto
Para analisar os segmentos sufixais propostos nessa tese recorremos agrave pesquisa
em diversas liacutenguas romacircnicas e uma natildeo-romacircnica em que os sufixos se conservaram
Aleacutem da liacutengua portuguesa e latina avaliamos o aspecto semacircntico dos sufixos no
francecircs no espanhol no italiano no inglecircs no galego no catalatildeo e no provenccedilal
respectivamente As seis liacutenguas romacircnicas foram escolhidas por serem as mais
proacuteximas geograficamente de Portugal e por serem bastante influentes na cultura
romacircnica em geral73 enquanto a razatildeo da inclusatildeo do inglecircs eacute devido a sua importacircncia
cultural e econocircmica Sem o intuito de aprofundar-se na participaccedilatildeo e intervenccedilatildeo de
cada uma dessas liacutenguas em nossa proacutepria explicar-se-aacute a seguir a importacircncia de cada
uma delas para o estudo em questatildeo
72 Informaccedilotildees mais detalhadas sobre as paraacutefrases empregadas se encontram no subcapiacutetulo posterior 73 A escolha pelo estudo do objeto em liacutenguas mais conhecidas se deu pelos limites que qualquer trabalho
impotildee no entanto tal fenocircmeno tambeacutem deve ser estudado em outras liacutenguas e dialetos menos
conhecidos e influentes com a possibilidade de algumas das caracteriacutesticas primitivas terem-se
conservado melhor
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Nunes (1969 407) explica que as primeiras liacutenguas que influenciaram a liacutengua
portuguesa foram o francecircs e o provenccedilal Portugal existe como estado autocircnomo e
unidade poliacutetica desde o seacuteculo XII Desde os princiacutepios da monarquia a naccedilatildeo
portuguesa tem mantido relaccedilotildees com a Franccedila e isso fez com que houvesse a adoccedilatildeo
de diversas vozes da liacutengua francesa aleacutem do fato de que os livros franceses tanto em
prosa como em verso jaacute eram lidos no seacuteculo XIII como os satildeo ateacute hoje natildeo soacute pelos
portugueses como tambeacutem pelos brasileiros A poesia provenccedilal serviu de estiacutemulo e
modelo aos primeiros trovadores da Ibeacuteria sendo tambeacutem um veiacuteculo para a entrada de
vocaacutebulos em nossa liacutengua
Como o estado espanhol tambeacutem engloba a naccedilatildeo catalatilde e a galega o interesse
pelo catalatildeo e pelo galego surge para se ter um conhecimento maior da unidade
linguiacutestica da peniacutensula ibeacuterica O espanhol por sua vez nos transmitiu muitos
vocaacutebulos em virtude do estreito parentesco com o portuguecircs
Do italiano importamos quantidade natildeo pequena de vocaacutebulos que se referem em
especial agrave arte e agrave literatura dado o papel da Itaacutelia na eacutepoca do Renascimento Os afixos
com seus respectivos usos satildeo muito semelhantes em ambas as liacutenguas
O inglecircs tambeacutem foi muito influenciado pelo latim e pelo francecircs em sua
constituiccedilatildeo e por isso possui muitas vezes configuraccedilatildeo vocabular semelhante a das
liacutenguas romacircnicas mesmo natildeo sendo uma
Atraveacutes do meacutetodo comparativo de informaccedilotildees dadas por obras especializadas
pode-se ter mais convicccedilatildeo da origem da formaccedilatildeo e do sentido do sufixo Assim natildeo
se leva em consideraccedilatildeo somente uma obra mas o conjunto delas
As obras consultadas sobre a liacutengua portuguesa para a pesquisa etimoloacutegica satildeo
com suas respectivas siglas o ldquoDicionaacuterio etimoloacutegico da liacutengua portuguesardquo (DELP)
de Joseacute Pedro Machado (1952) e o ldquoVocabulario portuguez amp latinordquo (VPL) de
Raphael Bluteau cujos volumes foram publicados entre 1712 a 1728 Buscou-se
tambeacutem muitas vezes informaccedilatildeo no ldquoDicionaacuterio etimoloacutegico Nova Fronteira da liacutengua
portuguesardquo (DENF) de Antocircnio Geraldo da Cunha (1986) e no ldquoDicionaacuterio
etimoloacutegico da liacutengua portuguesardquo (DEDLP) de Antenor Nascentes (1955)
Em liacutengua latina as obras de referecircncia satildeo o ldquoNoviacutessimo Dicionaacuterio Latino-
Portuguecircsrdquo (NDLP) de F R dos Santos Saraiva (1993 [1927]9) ldquoLe Grand Gaffiot ndash
Dictionnaire latin-franccedilaisrdquo (DLF) de Feacutelix Gaffiot (2000 [1934]1) e o ldquoDictionnaire
eacutetymologique de la langue latinerdquo (DELL) de Ernout amp Meillet (1951 [1932]1)
Anielle Aparecida Gomes Gonccedilalves Jacometti de Oliveira
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No que se refere agraves liacutenguas neolatinas foram consultados dicionaacuterios de liacutengua
espanhola francesa italiana e inglesa Em liacutengua espanhola consultamos o
ldquoDiccionario criacutetico etimoloacutegico castellano e hispaacutenicordquo (DCECH) de Juan
Corominas amp Joseacute A Pascual (1991) e o dicionaacuterio eletrocircnico de La Real Academia
Espantildeola (RAE) de 2005 para o francecircs ldquoLe nouveau Petit Robertrdquo (LNPR) de
Josette Rey-Debove amp Alain Rey (1995) ldquoCentre National de Ressources Textuelles et
Lexicalesrdquo (CNRTL) da Universidade de Nancy (2006-2007) e o ldquoDictionnaire de la
Langue Franccedilaiserdquo (DDLLF) de Eacutemile Littreacute [1877] para o italiano ldquoDizionario
Etimologico Italianordquo (DEI) de Carlo Battisti amp Giovanni Alessio (1952) ldquoDizionario
Etimologico della Lingua Italianardquo (DELI) de Tristano Bolelli (1994) ldquoDizionario
Etimologico della Lingua Italianardquo (DEDLI) de Manlio Cortelazzo amp Paolo Zolli
(1988) para consulta em liacutengua inglesa utilizamos ldquoThe Oxford English Dictionaryrdquo
(OED) de John Andrew Simpson amp Edmund S C Weiner (1989) e finalmente o
dicionaacuterio da liacutengua galega de que se faz uso eacute o Diciopedia do seacuteculo 21 dicionario
enciclopeacutedico da lingua galega e da cultura universal ilustrado (DLG) 2007 o da
liacutengua provenccedilal eacute ldquoLou tresor doacuteu Felibrige ou dictionnaire provenccedilal-franccedilaisrdquo
(DPF) de Freacutedeacuteric Mistral (1932) e o da liacutengua catalatilde eacute Diccionari etimologravegic i
complementari de la llengua catalana (DECLC) de Joan Corominas (1983) e
ldquoDiccionari enciclopegravedic de la llengua catalanardquo (DELC) de 1933 aleacutem do dicionaacuterio
eletrocircnico Diccionariscat (DCat)
Objetivando tornar as informaccedilotildees dadas pelos dicionaacuterios mais visiacuteveis e para
efeito de comparaccedilatildeo principalmente das formas de determinada palavra e dos sufixos
nas diferentes liacutenguas uma tabela padronizada sobre as etimologias pesquisadas foi
planejada e construiacuteda para alcanccedilar esse propoacutesito com cada palavra do corpus
Ademais da origem explicita-se na tabela a forma da palavra em dada liacutengua
como se deu a formaccedilatildeo da palavra sua data classe gramatical e a primeira definiccedilatildeo
lexical da palavra em questatildeo cujas obras fornecem Em algumas ocasiotildees o dicionaacuterio
natildeo fornece nenhum significado para a palavra mas somente a sua forma em que o
dado apesar de incompleto para o objetivo do trabalho eacute do mesmo modo recolhido
pois serve ao menos para a comparaccedilatildeo formal com as outras liacutenguas Sobre as
mudanccedilas categoriais que as palavras sob anaacutelise sofreram a explicitaccedilatildeo de uma dada
ordem categorial foi tomada pelas notiacutecias das mesmas obras natildeo sendo provada ou
demonstrada atraveacutes de textos Com relaccedilatildeo agraves dataccedilotildees em exposiccedilatildeo dizem respeito agrave
Anielle Aparecida Gomes Gonccedilalves Jacometti de Oliveira
Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
96
liacutengua sobre a qual se discorre Muitas vezes tambeacutem as informaccedilotildees buscadas natildeo
foram encontradas o que justifica os espaccedilos em branco
Abaixo da tabela somente haacute comentaacuterios mais longos ou discussotildees sobre a
origem categoria gramatical etc quando se fez necessaacuterio devido por exemplo a
informaccedilotildees importantes sobre o vocaacutebulo em escopo ou agrave divergecircncia de relatos Caso
contraacuterio isto eacute em casos em que se encontre uma homogeneidade sobre o teor das
informaccedilotildees somente se explicita uma breve descriccedilatildeo da origem e da formaccedilatildeo da
palavra em questatildeo Por uacuteltimo encontra-se necessariamente a paraacutefrase semacircntica do
sufixo apreendida por tais dados em que se deve entender as siglas ACTAGE como a
regra de formaccedilatildeo de palavras da classe de accedilatildeo (nomina actionis) em que envolva um
agentivo (ver mais sobre esse assunto nas paacuteginas 23 e 24)
Anielle Aparecida Gomes Gonccedilalves Jacometti de Oliveira
Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
97
32 Palavras com o maior nuacutemero de ocorrecircncias
Nota-se que jaacute na seleccedilatildeo dos vocaacutebulos haacute mais designativos de profissionais em
ndash(dts)or 24 do que em ndashnte 15 porque com exceccedilatildeo dos profissionais selecionados
em ndashnte constantes da lista os outros possuem nuacutemero pouco significativo de apariccedilotildees
Logo tem-se um total de 39 palavras com anaacutelise etimoloacutegica cujos objetos seguem
abaixo
Tabela no 1 Vocaacutebulos sob anaacutelise
Palavras com o sufixo ndashnte Palavras com o sufixo ndash(tds)or
agente assessor
ajudante ator
assistente autor
atendente colaborador
comandante defensor
dirigente diretor
estudante doutor
gerente escultor
negociante governador
palestrante historiador
presidente inquiridor
regente inspetor
representante lavrador
servente leitor
tenente pastor
pesquisador
procurador
professor
promotor
realizador
reitor
relator
senador
servidor
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321 NOMES COM O SUFIXO ndashNTE
1 Agente
Liacutengua Obra
pesquisada
Forma da
palavra em
dada liacutengua
Liacutengua
de
origem
Formaccedilatildeo da
palavra
Data Classe
gramatical e
1ordf acepccedilatildeo na
liacutengua em
questatildeo
Latim NDLP ăgēnsēntĭs latim part pres de agere
ldquotrazer juntar
amontoarrdquo
70 aC ndash 19
aC
part pres
ldquoque faz ou
trazrdquo
DLF ăgensentis latim part pres do v ago
ldquofazer alguma
coisa obter um
resultadordquo
106 aC ndash 43
aC
adj ldquoque
produz com
efeito
expressivordquo
DELL agēns latim do infinitivo agere
ldquoser ativordquo o
sentido original de
agō eacute ldquoconduzir
para frenterdquo e
designa uma
atividade em seu
exerciacutecio contiacutenuo
Portuguecircs Houaiss agente latim agensēntis ldquoque
faz ou trazrdquo part
pres de agĕre
ldquofazerrdquo
seacutec XV adj e sb ldquoque
ou quem atua
opera
agenciardquo
DELP latim agente- seacutec XVI adjetivo
DENF latim agēns ndashēntis part
de ago agěre ldquoagirrdquo
seacutec XV
VPL latim agens entis ldquoagente
(geralmente
falando) eacute o
que tem
virtude para
produzir
qualquer
efeitordquo
DEDLP latim agente ldquoo que atuardquo
Francecircs LNPR agent latim
escolaacutesti
co
agens sb do part
pres de agere
ldquoagir fazerrdquo
1337 sm ldquoo ente
que agerdquo
CNRTL latim agentem acusativo
de agens part pres
de agere subst no
baixo lat agens in
rebus a partir do
seacutec IVes no
sentido de
1332 sb ldquoaquele
que eacute
encarregado
dos assuntos
ou negoacutecios de
algueacutemrdquo
Anielle Aparecida Gomes Gonccedilalves Jacometti de Oliveira
Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
99
ldquocomissaacuterio
imperialrdquo termo
juriacutedico advindo da
filosofia medieval
latina
Espanhol DCECH agente74 latim agens minustis
particiacutepio ativo do
v agĕre ldquoagir
fazerrdquo
c 1560
Italiano DEI agente latim agēns minusentis
(agere ldquofazerrdquo)
1265ndash1321 adj ldquoo que
tem faculdade
de agirrdquo (seacutec
XV) sb
ldquoaquele que
trata de
negoacutecios com
outrosrdquo
DELI latim agĕnte(m) part
pres de ăgere
ldquofazerrdquo
1304-1308 adj e sb ldquoque
age que opera
que eacute ativordquo
Inglecircs OED agent latim adaptado de agens
agentem ldquoativordquo
part pres de ag-ĕre
ldquoagir fazerrdquo
a 1600 adj 75 ldquoativo
efetivo
exercendo
poder em
oposiccedilatildeo agrave
pacienterdquo sb
ldquoquem (ou
aquele que)
age ou exerce
poder distinto
do paciente e
tambeacutem do
instrumentordquo
Galego DLG axente latim agente ldquoo que faz o
que atuardquo
adj ldquoo que faz
o que atuardquo
sb ldquopessoa
que tem ao seu
cargo uma
agencia ou
gerencia
assuntos
alheiosrdquo
Catalatildeo DELC agent latim adj ldquoque obra
ou produz
algum efeito
ant que eacute
ativo
diligenterdquo sm
ldquoaquele que
tem cuidado
dos negoacutecios
74 Trata-se de um cultismo segundo o DCECH 75 Como adj eacute de 1620 esclarece a obra
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Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
100
de outrem com
poder e
autoridaderdquo
DECLC latim agens ‒tis part
ativo de agere
1560 substantivo
Provenccedilal DPF agegraventegravento substantivo
Comentaacuterios
Agente eacute um vocaacutebulo formado provavelmente na liacutengua latina como part pres de
agĕre ldquoser ativo conduzir para frenterdquo e como tal desenvolve uma funccedilatildeo considerada
verbal com o sentido de ldquoque fazrdquo (ldquoque Xvrdquo) Ainda no que se refere ao latim segundo
os dados ăgēns ēntĭs em cerca de I aC desempenha a sua funccedilatildeo como um verbo e
como um nome especificamente como adjetivo em Ciacutecero (106 ndash 43 aC) Por essas
informaccedilotildees pode-se delinear um uso verbo-adjetival no latim
Segundo informaccedilotildees etimoloacutegicas de dicionaacuterios da liacutengua portuguesa o
significado inicial de agente era ldquoque ou quem atua opera agenciardquo que nada tem a ver
com o nome profissional somente vindo agrave existecircncia em definiccedilatildeo posterior como ldquoque
ou quem agencia negoacutecios alheiosrdquo (Houaiss) Nessas definiccedilotildees do vocaacutebulo tecircm-se
entatildeo basicamente dois significados ldquoque ou quem atua opera agenciardquo sentido que
designa uma accedilatildeo ie ldquo(pessoa) que Xvrdquo e ldquoque ou quem agencia negoacutecios alheiosrdquo
marcando jaacute natildeo somente uma accedilatildeo mas uma funccedilatildeo
O DELP particularmente informa que agente como um substantivo existe desde
o seacutec I d C e como substantivo e adjetivo em portuguecircs a partir do seacutec XVI O
mesmo dicionaacuterio tambeacutem fornece a informaccedilatildeo de que o significado indicativo de
funccedilatildeo em agente pode ter se iniciado no latim vulgar com o sentido de ldquoaquele que se
encarrega de uma missatildeordquo concretizado solidamente nas liacutenguas romacircnicas mais
especificamente no italiano em 1525 como ldquoaquele que eacute delegado a desenvolver uma
determinada atividade (em nome do poder puacuteblico ou privado)rdquo (DELI) que se
propagou talvez via francecircs para as outras liacutenguas segundo os dados etimoloacutegicos No
latim natildeo haacute nenhum indiacutecio de funccedilatildeo mas somente o de accedilatildeo
Paraacutefrase do valor semacircntico do sufixo ldquo(pessoa) que Xvrdquo (Y) ACT AGE
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101
2 Ajudante
Liacutengua Obra
pesquisada
Forma da
palavra em
dada liacutengua
Liacutengua
de
origem
Formaccedilatildeo da
palavra
Data Classe gramatical
e 1ordf acepccedilatildeo na
liacutengua em questatildeo
Latim NDLP
DLF
DELL
Portuguecircs Houaiss ajudante76 portuguecircs ajudar + -nte seacutec XIV adj e sb ldquoquem ou
o que ajudardquo
DELP portuguecircs do v port
ajudar + minusnte
seacutec XVII adj e sb ldquoquem ou
o que ajudardquo
DENF latim adjutans minusantis seacutec XIV
VPL (termo militar)
ldquoOficial de guerra
que serve ao Tenente
Geral levando as
ordens que lhe der
ou vocais ou por
escrito Tambeacutem
serve de levar o nome
ao Mestre de Campo
Geral amp a outros
oficiais quando o
Tenente do Mestre de
Campo General
estiver tatildeo ocupado
que natildeo possa levaacute-lo
pessoalmenterdquo
DEDLP
Francecircs LNPR adjudant espanhol ayudante de
ayudar ldquoajudarrdquo
1671 sm (termo militar)
ldquoajudante de
artilheiro
canhoneirordquo
CNRTL espanhol ayudante der de
ayudar ldquoajudarrdquo
lt lat adjutare
frequentativo de
adjuvare
ldquoajudarrdquo
167177 sm ldquoajudante
artilheirordquo
Espanhol DCECH ayudante espanhol do v esp
ayudar
Italiano DEI aiutante italiano do v aiutare
DELI italiano do v aiutare
ldquodar ajuda
oferecer a
outrem o
proacutepriordquo (c
1292)
fim do
seacutec XIV
adj ldquoque ajudardquo
(1671) sm ldquoquem
ajuda ou assiste
uma pessoa no
desenvolvimento de
um trabalhordquo
Inglecircs OED adjutant adaptaccedilatildeo
do latim
adjūtant-em
part pres de
adjūtā-re
1600 adj e sb ldquooficial
do exeacutercito cujo
trabalho eacute assistir
76 Segundo o Houaiss (2001) em Portugal se usa o f ajudanta 77 Sob a forma adjudan
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102
ldquoajudar assistirrdquo os oficiais
superiores
recebendo e
comunicando
ordens conduzindo
correspondecircncias e
similaresrdquo
Galego DLG axudante minusa galego do v axudar adj ldquoque ajudardquo sb
ldquodiz-se da pessoa que
assiste a um mestre e
o acompanha em
alguma atividade ou
profissatildeo para
adquirir o
conhecimento e
domiacutenio delardquo adj e
sb ldquoauxiliar
subalterno
assistenterdquo
Catalatildeo DELC ajudant minusa catalatildeo part ativo de
ajudar ldquoque
ajudardquo
adj e sb ldquoeacute dito
daquele que ajuda
no exerciacutecio de
uma profissatildeordquo
DECLC seacutec XIX-
XX78
Provenccedilal DPF ajudant minusanto substantivo
Comentaacuterios
Pelas dataccedilotildees trata-se de uma formaccedilatildeo romacircnica originaacuteria ou do catalatildeo ou do
espanhol ou do portuguecircs ou do italiano Os dicionaacuterios franceses datildeo como origem a
partir do espanhol encontrado sem data no Corominas
Devido agrave proximidade de formas o vocaacutebulo inglecircs foi provavelmente tomado a
partir do francecircs Presente sem exceccedilatildeo em todas as liacutenguas romacircnicas sob anaacutelise e no
inglecircs ajudante se constitui num fenocircmeno de disseminaccedilatildeo de formas No latim natildeo
consta tal nome mas existe o v ādjūtǒ ās āvī ātŭm ārĕ ldquoajudar aliviar assistir
socorrer por muitas vezesrdquo
Segundo os dicionaacuterios italianos pesquisados a palavra eacute um adjetivo no fim do
seacutec XIV vulgarmente em Santo Agostinho (DEI) e como substantivo com o sentido
78 A forma aidant anterior a ajudant eacute dos seacutecs XIII-XIV presente em Crogravenica del Cerimonioacutes No
catalatildeo haacute tambeacutem ajudador de 1128 segundo o DECLC
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103
de ldquoque ajuda ou assiste uma pessoa no desenvolvimento de um trabalhordquo em 1671
(DELI) Apoacutes essa acepccedilatildeo de acordo com o CNRTL ainda no seacutec XVII a palavra em
questatildeo passa a ser muito utilizada no campo militar como um oficial subalterno o que
se pode ver pelos dados
Pelas informaccedilotildees dos dicionaacuterios etimoloacutegicos natildeo parece ter possuiacutedo um uso
propriamente participial mas tatildeo somente nominal o que mostra ser ndashnte nessa altura
mais relacionado a um sufixo derivacional
Paraacutefrase do valor semacircntico do sufixo ldquo(pessoa) que Xvrdquo (Y) ACT AGE
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Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
104
3 Assistente
Liacutengua Obra
pesquisada
Forma da
palavra em
dada liacutengua
Liacutengua
de
origem
Formaccedilatildeo da
palavra
Data Classe gramatical e
1ordf acepccedilatildeo na liacutengua
em questatildeo
Latim NDLP
DLF
DELL
Portuguecircs Houaiss assistente latim assistens ou
adsistensentis
part pres de
assistĕre ldquoestar
ou conservar-
se de peacute junto
a estar
presente
comparecer
assistir em
juiacutezordquo
1541 adj e sb ldquoque ou
aquele que assiste a
(pessoa ou animal)
que exerce
assistecircnciardquo
DELP portuguecircs de assistir 1449 substantivo
DENF seacutec XV
VPL ldquo1 (Termo da praacutetica
Forense) Aquele que com
procuraccedilatildeo ou sem ela
assiste nos feitos ou
sobre se haver de executar
alguma coisa 2 Na
Companhia de Jesus eacute o
tiacutetulo que se daacute a uns
Padres graves de
diferentes Proviacutencias que
satildeo Conselheiros do Padre
Geral nas mateacuterias mais
importantes daquela
Religiatildeo Chamam-lhe
assistens entis m 3 Na
Cidade de Sevilha vale
tanto como Governador
chama-se assim porque
assiste ao governo ciacutevel
amp militar da Cidade com
24 Capitulares ele soacute tem
a terccedila parte dos votos
tem dois Tenentes aos
quais vatildeo a todas as
causas ciacuteveis amp criminais
da primeira instacircnciardquo
DEDLP
Francecircs LNPR assistant
ante
francecircs do v assister
ldquoestar
presenterdquo
1400 sb aquele que
assiste a algueacutem
CNRTL assistant
ante
particiacutepio presente e
substantivo
Espanhol DCECH asistente minusa espanhol do v esp
asistir (seacutec
XVI)
Italiano DEI assistente italiano do v assistere
estar perto
seacutec XIV
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105
prestar
socorro
DELI italiano do v it
assistere ldquoestar
presente em
um
acontecimento
em uma
representaccedilatildeo
curar ajudar
socorrerrdquo
1304 sm e adj ldquoque
assisterdquo
Inglecircs OED assistant francecircs assistant part
pres de
assister que eacute
por sua vez
adaptaccedilatildeo do
lat assistent-
em part pres
de assistĕre
ldquoassistirrdquo
a 1400 adj e sb ldquopresente
para ajudar uacutetil
auxiliar derdquo
Galego DLG asistente minusa latim assistente
que assiste
sb e adj ldquo(diz-se de)
quem assiste ou estaacute
presenterdquo
Catalatildeo DELC assistent adj que assiste
sm soldado ao
serviccedilo pessoal de
um oficial
DECLC
Provenccedilal DPF assistant latim assistens entis sb e adj assistente
Comentaacuterios
Apesar de alguns dicionaacuterios evidenciarem formaccedilatildeo no latim assistente natildeo foi
localizado nos dicionaacuterios consultados sobre essa liacutengua Trata-se de provaacutevel formaccedilatildeo
romacircnica talvez na liacutengua italiana de acordo com as dataccedilotildees encontradas do tema
verbal assiste- com adiccedilatildeo do sufixo ndashnte
Paraacutefrase do valor semacircntico do sufixo ldquo(pessoa) que Xvrdquo (Y) ACT AGE
Anielle Aparecida Gomes Gonccedilalves Jacometti de Oliveira
Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
106
4 Atendente
Liacutengua Obra
pesquisada
Forma da
palavra em
dada liacutengua
Liacutengua
de
origem
Formaccedilatildeo da
palavra
Data Classe gramatical
e 1ordf acepccedilatildeo na
liacutengua em questatildeo
Latim NDLP
DLF
DELL
Portuguecircs Houaiss atendente portuguecircs atender + -nte seacutec XX adj ldquoque atenderdquo
DELP
DENF seacutec XX
VPL
DEDLP
Francecircs LNPR79
CNRTL
Espanhol DCECH
Italiano DEI attendente seacutec XIX sm (militar)
ldquosoldado que
atende ao serviccedilo
do oficialrdquo
DELI italiano do v attendere
esperar
aguardar
dedicar-se com
empenho a
alguma coisa
1889 sm ldquosoldado que
atende ao serviccedilo
do oficialrdquo
Inglecircs OED
Galego DLG
Catalatildeo DELC
DECLC
Provenccedilal DPF
Comentaacuterios
Presente somente na liacutengua italiana e na portuguesa trata-se de provaacutevel formaccedilatildeo
na primeira de acordo com as dataccedilotildees encontradas do tema verbal attende- com
adiccedilatildeo do sufixo ndashnte
Paraacutefrase do valor semacircntico do sufixo ldquo(pessoa) que Xvrdquo (Y) ACT AGE
79 Attendant em francecircs natildeo possui correspondecircncia de significado
Anielle Aparecida Gomes Gonccedilalves Jacometti de Oliveira
Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
107
5 Comandante
Liacutengua Obra
pesquisada
Forma da
palavra em
dada liacutengua
Liacutengua
de
origem
Formaccedilatildeo da
palavra
Data Classe
gramatical e 1ordf
acepccedilatildeo na
liacutengua em
questatildeo
Latim NDLP
DLF
DELL
Portuguecircs Houaiss comandante portuguecircs comandar + -nte
por infl do fr
commant (1671)
1744 adj e sm ldquoque
comandardquo
DELP80 francecircs commandant seacutec XVIII adjetivo
DENF francecircs commandant seacutec XVIII
VPL
DEDLP
Francecircs LNPR commandant
ante
francecircs do v commander
(1080) ldquoexercer
sua autoridade
sobre algueacutemrdquo
1671 sm e adj
ldquoaquele que tem
um comando
militarrdquo
CNRTL francecircs part pres
substantivado de
commander
confiar ordenar
(alguma coisa a
algueacutem)
1661 adj e sm ldquochefe
(de um partido)rdquo
Espanhol DCECH81
Italiano DEI comandante italiano do v comandare
(seacutec XIV)
seacutec XIV
DELI italiano do v comandare
impor ordenar do
seacutec XIII do lat
falado
commandāre
pelo claacutessico
commendāre
entregar dar
confiar composto
de cŭm com e
mandāre entregar
confiar
seacutec XIV adj e sb ldquoque
comandardquo
(1680) ldquoquem eacute
preposto ao
comando de
uma formaccedilatildeo
militar de um
exeacutercito de um
ou mais navios
de uma
esquadrilha
aeacuterea etcrdquo
Inglecircs OED commandant francecircs commandant 1687 sb ldquooficial que
se sobressai
independente do
80 O autor cita uma passagem de Bloch-Wartburg sobre o v fr commander ldquoo sentido estritamente
militar de commander lsquocomandarrsquo eacute atestado desde 1573 Napoleatildeo tinha tambeacutem nomeado uma
categoria da legiatildeo de honra commandant lsquocomandantersquo tiacutetulo que a Restauraccedilatildeo logo impotildee para
aproximar a Legiatildeo das antigas ordens de cavalaria cujo tiacutetulo tem estado em vigor desde o seacutec XIIIrdquo
Traduccedilatildeo minha 81 Natildeo haacute comandante no DCECH mas os autores do dicionaacuterio assinalam que comandar eacute um galicismo
militar tardio
Anielle Aparecida Gomes Gonccedilalves Jacometti de Oliveira
Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
108
posto (aplicado
com muita
frequecircncia como
um tiacutetulo
estrangeiro)rdquo
Galego DLG comandante francecircs commandant do v
fr commander (lt
lat pop
commandāre
ldquomandar
juntamente comrdquo)
que significa
ldquomandar um
exeacutercito uma
frota um
destacamentordquo
sm ldquochefe militar
de categoria
compreendida
entre o capitatildeo e o
tenente coronel
militar que por
determinados
motivos exerce o
mando de uma
unidade ainda
que natildeo possua
esse graurdquo
Catalatildeo DELC comandanta
DECLC comandant seacutec XIX
Provenccedilal DPF82
Comentaacuterios
O Houaiss eacute o uacutenico dicionaacuterio da liacutengua portuguesa sob consulta que informa ser
comandante um vocaacutebulo de formaccedilatildeo vernacular por influecircncia do francecircs enquanto
os outros do portuguecircs e os de liacutenguas estrangeiras apontam para uma formaccedilatildeo
francesa com exceccedilatildeo dos dicionaacuterios italianos No latim haacute somente a forma verbal
cōmmēndǒ ās āvī ātŭm ārĕ ldquodepositar entregar confiar alguma coisa a algueacutem
recomendar indicar advertir fazer valerrdquo
De acordo com o dicionaacuterio italiano DELI trata-se de um adjetivo e substantivo
do seacutec XIV vulgarizado em Santo Agostinho com o significado de que comanda No
ano de 1680 seu significado eacute o de quem eacute preposto ao comando de uma formaccedilatildeo
militar de um exeacutercito de um ou mais navios de uma esquadrilha aeacuterea etc
O DELP cita uma passagem de Bloch-Wartburg sobre o v fr commander ldquoo
sentido estritamente militar de commander lsquocomandarrsquo eacute atestado desde 1573 Napoleatildeo
tinha tambeacutem nomeado uma categoria da legiatildeo de honra commandant lsquocomandantersquo
tiacutetulo que a Restauraccedilatildeo logo impotildee para aproximar a Legiatildeo das antigas ordens de
82 Natildeo haacute correspondecircncia
Anielle Aparecida Gomes Gonccedilalves Jacometti de Oliveira
Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
109
cavalaria que tem estado em vigor desde o seacutec XIIIrdquo83O CNRTL por sua vez afirma
que o vocaacutebulo eacute um particiacutepio presente substantivado e que em 1661 possuiacutea como
primeira acepccedilatildeo chefe (de um partido) e em 1671 passaria a significar aquele que
tem algum cargo em uma armada
Apesar da incerteza da liacutengua em que comandante foi formada o francecircs com
efeito provavelmente eacute a liacutengua fonte do empreacutestimo ao portuguecircs e agraves outras liacutenguas
A questatildeo do aparecimento de uma palavra em diversas liacutenguas com uma mesma base e
sufixo eacute muito comum e causa muitas duacutevidas quanto agrave origem da formaccedilatildeo Pode-se
tracejar no entanto que ao menos o sentido militar de comandante proveio do francecircs
jaacute que o mesmo sentido soacute se daacute no italiano posteriormente
Paraacutefrase do valor semacircntico do sufixo ldquo(pessoa) que Xvrdquo (Y) ACT AGE
83 Traduccedilatildeo minha
Anielle Aparecida Gomes Gonccedilalves Jacometti de Oliveira
Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
110
6 Dirigente
Liacutengua Obra
pesquisada
Forma da
palavra em
dada liacutengua
Liacutengua
de
origem
Formaccedilatildeo da
palavra
Data Classe gramatical e 1ordf
acepccedilatildeo na liacutengua em
questatildeo
Latim NDLP
DLF
DELL
Portuguecircs Houaiss dirigente latim de dirĭgens
entis que ou o
que dirige
ordena
conduz
1821 adj e sb ldquoque ou
quem dirigerdquo
DELP
DENF 1899
VPL
DEDLP
Francecircs LNPR dirigeant
ante
francecircs do v diriger
fazer andar
segundo uma
modo uma
ordem para
alcanccedilar um
resultado
1835 adj e sb (pessoa) que
dirige
CNRTL dirigeant
ante
particiacutepio presente
adjetivo e substantivo
Espanhol DCECH dirigente espanhol do v dirigir
(seacutec XV)
Italiano DEI dirigente italiano do v dirigere
dirigir
encaminhar
guiar
seacutec
XIV
DELI italiano do v dirigere
dirigir
encaminhar
(para um
ponto
determinado)
1712 particiacutepio presente
que dirige adj
(1851-1857) com o
mesmo significado
sm quem
desempenha cargo
diretivo (1846)
Inglecircs OED dirigent latim adaptaccedilatildeo de
dīrigent-em
part pres de
dīrigĕre
dirigir
1617 adj que dirige
diretivo84
Galego DLG dirixente latim dirigente part
pres de
dirigĕre pocircr
em linha reta
endireitar
alinhar dispor
ajeitadamente
sb e adj ldquoque ou
quem dirigerdquo sb
pessoa que exerce
funccedilatildeo ou cargo
diretivo numa
associaccedilatildeo partido
instituiccedilatildeo ou
84 De acordo com tal obra a dataccedilatildeo como um substantivo eacute de 1706
Anielle Aparecida Gomes Gonccedilalves Jacometti de Oliveira
Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
111
colocar
ajeitadamente
dirigir
conduzir
encaminhar
empresa
Catalatildeo DELC
DECLC
Provenccedilal DPF
Comentaacuterios
Apesar de alguns dicionaacuterios evidenciarem formaccedilatildeo no latim dirigente natildeo foi
localizado nos dicionaacuterios consultados sobre essa liacutengua Trata-se de provaacutevel formaccedilatildeo
romacircnica talvez na liacutengua italiana de acordo com as dataccedilotildees encontradas do tema
verbal dirige- com adiccedilatildeo do sufixo ndashnte
Paraacutefrase do valor semacircntico do sufixo ldquo(pessoa) que Xvrdquo (Y) ACT AGE
Anielle Aparecida Gomes Gonccedilalves Jacometti de Oliveira
Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
112
7 Estudante
Liacutengua Obra
pesquisada
Forma da
palavra em
dada liacutengua
Liacutengua
de
origem
Formaccedilatildeo da
palavra
Data Classe
gramatical e 1ordf
acepccedilatildeo na
liacutengua em
questatildeo
Latim NDLP studente(m) latim do v stŭdĕǒ ēs ŭī
ērĕ aplicar-se a
dar-se a desejar
buscar prosseguir
inclinar-se a
comprazer-se em
gostar de
sd particiacutepio
presente
NDLP studentes latim do v stŭdĕǒ ēs ŭī
ērĕ aplicar-se a
dar-se a desejar
buscar prosseguir
inclinar-se a
comprazer-se em
gostar de
c 430 ndash c
486
sm pl homens
dados agraves letras
letrados
literatos
DLF
DELL
Portuguecircs Houaiss estudante portuguecircs do v estudar +
minusnte
seacutec XV adj e sb ldquoque ou
o que frequenta
regularmente
curso (de ensino
fundamental ou
meacutedio
universitaacuterio etc)
em alguma
instituiccedilatildeo ou
qualquer outro
curso livre no
qual se pode
adquirir alguma
habilidade eou
conhecimentordquo
DELP
DENF seacutec XV85
VPL ldquoo que frequenta
o Coleacutegio para
aprenderrdquo
DEDLP
Francecircs LNPR eacutetudiant
iante86
francecircs do v eacutetudier
(1155) ldquobuscar
conseguir o
conhecimento derdquo
seacutec XIII sb87 ldquopessoa
que faz alguns
estudos
superiores e
segue os cursos
de uma
universidade de
85 Nessa data estudiante informa a obra 86 Feminino em 1789 raro depois do fim do seacutec XIX 87 Como adj em 1966
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Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
113
uma grande
escolardquo
CNRTL francecircs do v eacutetudier 1261 sb e adj
Espanhol DCECH estudiante espanhol do v esp estudiar 1462
Italiano DEI studente latim do part pres de
studēre ldquodar-se
aplicar-se ao
estudo estudar
instruir-serdquo
seacutec XIV adjetivo
DELI latim studĕnte(m) part
pres de studēre
ldquoocupar-se
aplicar-se aos
estudosrdquo de
origem
indoeuropeia
c 1400 sm ldquoaquele que
estaacute inscrito em
um curso de
estudo e o
frequenta
regularmenterdquo
Inglecircs OED student88 antigo
francecircs
estudiant
estudient uso
substantivado do
part pres de
estudier eacutetudier
ldquoestudarrdquo
1398 sb ldquooficial que
se sobressai
independente do
posto (aplicado
com muita
frequecircncia como
um tiacutetulo
estrangeiro)rdquo
Galego DLG estudante galego do v galego
estudar
sb ldquopessoa que
estudardquo
Catalatildeo DELC estudiant adj e sb ldquoque
estudardquo
DECLC estudiant89 catalatildeo v estudiar seacutec XIX-
XX
Provenccedilal DPF estudiant substantivo
masculino
Comentaacuterios
O dicionaacuterio latino NDLP e os dicionaacuterios italianos em questatildeo satildeo os uacutenicos
dentro do grupo de obras pesquisadas a atestarem studente(m) como uma palavra latina
Na obra latina mencionada haacute o uso como particiacutepio presente e tambeacutem como um
nome
Todas as outras obras de referecircncia situam a formaccedilatildeo do vocaacutebulo em suas
proacuteprias liacutenguas com exceccedilatildeo do dicionaacuterio inglecircs OED que apresenta as formas do
88 Mesma forma em alematildeo constituem formas latinizadas 89 Tambeacutem existe no catalatildeo a forma feminina estudianta (sd) aleacutem de estudiador (sd) ambos do v
estudiar
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Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
114
port esp it e provenccedilal advindas do ant fr estudiant estudient No entanto pela
presenccedila no latim e pelas dataccedilotildees trata-se provavelmente de uma palavra latina
disseminada pelo antigo francecircs agraves outras liacutenguas
Notar que estudante no francecircs natildeo se refere agrave pessoa que cursa o ensino baacutesico
ou secundaacuterio (eacutecolier) ou qualquer outro tipo de curso mas se refere especialmente a
quem faz um curso superior ou faz um curso em uma grande escola Nesse caso haacute uma
concepccedilatildeo de serviccedilo elevado
Paraacutefrase do valor semacircntico do sufixo ldquo(pessoa) que Xvrdquo (Y) ACT AGE
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Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
115
8 Gerente
Liacutengua Obra
pesquisada
Forma da
palavra em
dada liacutengua
Liacutengua
de
origem
Formaccedilatildeo da
palavra
Data Classe gramatical
e 1ordf acepccedilatildeo na
liacutengua em questatildeo
Latim NDLP gĕrēns ēntĭs latim de gĕrǒ ĭs
gēssī gēstŭm
gĕrĕrĕ
praticar fazer
(uma accedilatildeo)
executar
administrar
exercer
c 230 ndash c
180 a C
particiacutepio presente
DLF gĕrens tis latim particiacutepio de
gero guiar
conduzir
tomado
adjetivamente
com genitivo
106 ndash 43 a
C
particiacutepio
DELL
Portuguecircs Houaiss gerente portuguecircs gerir + -nte 1873 adj e sb ldquoque ou
aquele que gererdquo
DELP portuguecircs de gerir seacutec XIX
DENF latim de gerens
‒entis part de
gerěre90
1881
VPL
DEDLP
Francecircs LNPR geacuterant ante francecircs part pres de
geacuterer
administrar
(os interesses
os negoacutecios de
um outro)
1787 sb pessoa que
gere para o
interesse de outrem
que assume uma
gerecircncia
CNRTL geacuterant ante substantivo
Espanhol DCECH gerente latim de gerens ‒tis
o que
administra ou
leva a cabo
particiacutepio ativo
de gerere
1884
Italiano DEI gerente latim gerēns ndashentis
particiacutepio de
gerere
carregar
seacutec XIX sm ldquoquem
administra bem
outros quem tem a
responsabilidade de
uma gestatildeordquo
DELI latim gerĕnte(m)
part pres do
v gĕrere
conduzir
administrar
1839 sm e f quem
administra ou gere
afazeres a
terceiros
90 Com possiacutevel influecircncia francesa segundo a obra
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116
Inglecircs OED gerent91 latim adaptaccedilatildeo do
latim gerent-
em part pres
de gerĕre
gerir
157692 sb algueacutem que
preside uma
reparticcedilatildeo
administrador
Galego DLG xerente latim gerente part
pres de gerĕre
produzir
criar gerar
encarregar-se
de levar a
cabo
administrar
governar
sb ldquopessoa que
dirige administra e
representa uma
empresa uma
empresa mercantil
sociedade etcrdquo
Catalatildeo DELC gerent sm pessoa que
dirige os negoacutecios e
tem a assinatura em
uma sociedade ou
empresa mercantil
ou industrial
segundo a sua
constituiccedilatildeo
DECLC latim gerens -ntis
quem executa
um afazer
derivado por
sua vez do v
lat gĕrĕre
levar trazer
conduzir
executar
(gestotildees)
mostrar
(atividades)
1868
Provenccedilal DPF geregravent latim gerens entis sb gerente
Comentaacuterios
O vocaacutebulo foi constatado no latim como particiacutepio presente e se encontra em
todas as liacutenguas romacircnicas pesquisadas e no inglecircs como nome descrito principalmente
como um substantivo Do tema verbal gĕrĕ- com adiccedilatildeo do afixo -ēns ēntĭs
Paraacutefrase do valor semacircntico do sufixo ldquo(pessoa) que Xvrdquo (Y) ACT AGE
91 Forma rara segundo o dicionaacuterio 92 O adjetivo eacute de 1656
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117
9 Negociante
Liacutengua Obra
pesquisada
Forma da
palavra em
dada liacutengua
Liacutengua
de
origem
Formaccedilatildeo da
palavra
Data Classe
gramatical e 1ordf
acepccedilatildeo na
liacutengua em
questatildeo
Latim NDLP nĕgōtǐāns -
āntĭs
latim do v nĕgōtĭŏr que
significa por sua
vez ldquocomerciar
negociar fazer
comeacutercio em ponto
granderdquo
particiacutepio
presente
NDLP nĕgōtǐāns -
āntĭs
latim 106 ndash 43
aC
sm negociante
banqueiro
empreendedor
especulador
DLF nĕgōtĭans is latim part pres de
nĕgōtĭor ātus sum
āri (negotium)
ldquofazer negoacutecio
fazer comeacuterciordquo
sm ldquohomem de
negoacutecios
banqueiro
traficante
comercianterdquo
DELL negōtiāns latim derivado de
nĕgōtĭŭm minusĭī sn
ldquoocupaccedilatildeo
trabalho pl
negoacutecios
comerciaisrdquo
substantivo
masculino
Portuguecircs Houaiss negociante latim negotĭans āntis
ldquobanqueiro
empreendedor
negociante
especuladorrdquo
1682 sb ldquoindiviacuteduo
que faz negoacutecio
comercianterdquo
DELP latim negotiante-
ldquohomem de
negoacutecios
banqueiro
traficante
comercianterdquo
seacutec XVII adjetivo
DENF latim negōtǐāns -āntis seacutec XVIII
VPL latim de nĕgōtĭātŏr ōrĭs
sm ldquonegociante
banqueiro
empreendedor
especulador
comerciante
traficante escravo
encarregado de fazer
um comeacuterciordquo do v
lat nĕgōtĭārī
ldquocomerciar
negociarrdquo
sm ldquoaquele que
trata negoacutecios
proacuteprios ou
alheiosrdquo
DEDLP
Francecircs LNPR neacutegociant
iante
italiano negoziante 1550 sm ldquopessoa que
se dedica ao
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118
negoacutecio ao
comeacutercio em
geralrdquo
CNRTL neacutegociant
iante93
italiano part pres de
neacutegocier fazer
comeacutercio
possivelmente
formado depois do
it negoziante no
sentido de
comerciante
apoacutes o seacutec XIV
1550 sb
Espanhol DCECH negociante 1547-1616
Italiano DEI negoziante94 italiano do v negoziare seacutec XIV
DELI 1370 sm
ldquoproprietaacuterio ou
gestor de
negoacutecio pela
venda de
mercadorias ao
puacuteblicordquo
Inglecircs OED negotiant inglecircs do v negotiate
(1599) ldquooutorgar
(com outro) com o
fim de tratar algum
assunto por acordo
muacutetuo discutir um
assunto com vistas
a um acordo ou
compromissordquo
ldquonegociante
comerciante
(obsoleto)
aquele que
negocia
(assuntos
financeiros
contas
empreacutestimos
etc)rdquo
Galego DLG negociante latim negotiante adj e sb ldquo1
que ou quem
negocia ou se
dedica aos
negoacutecios 2 diz-
se da pessoa
haacutebil para os
negoacuteciosrdquo
Catalatildeo DELC negociant
DECLC negociant 95 1608
Provenccedilal DPF negouciant
93 Forma de 1599 segundo o dicionaacuterio CNRTL Em 1550 negociens 94 Em 1032 sob a forma negotiens 95 Tambeacutem em catalatildeo negociador como adj (Fuig al clergue negociador o mercader axiacute com a una fera
pestilegravencia em texto do seacutec XV) e sb de 1507 em 1696 com o significado de medianer entre els qui
estan en oposicioacute
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119
Comentaacuterios
Possiacutevel origem no latim e jaacute nessa liacutengua como um substantivo profissional
apesar de muitos dicionaacuterios de liacutenguas modernas apontarem a formaccedilatildeo do vocaacutebulo
como do italiano provavelmente por possuir uma dataccedilatildeo mais antiga se comparada agrave
das outras liacutenguas Os autores do DCECH no entanto afirmam que a formaccedilatildeo no
italiano dada por diversos dicionaacuterios eacute duvidosa
Ainda sobre o latim nĕgōtǐāns -āntĭs estaacute situado em duas entradas do dicionaacuterio
NDLP a primeira com a informaccedilatildeo de que se trata de part pres de negotior e a outra
de que eacute um substantivo masculino Por esse fato pode-se perceber a dupla funccedilatildeo do
afixo assim como de todo o vocaacutebulo no latim O DLF aponta tambeacutem ser um nome e
concorda sobre a origem verbal Embora o DELL indique que negōtiāns ldquonegocianterdquo
era um substantivo masculino derivado de nĕgōtĭŭm minusĭī sn ldquoocupaccedilatildeo trabalho pl
negoacutecios comerciaisrdquo sua formaccedilatildeo a partir de um verbo parece ser mais certa e real
devido agrave relaccedilatildeo que haacute entre a terminaccedilatildeo e a categoria do particiacutepio presente
pertencente ao paradigma verbo-nominal latino
Paraacutefrase do valor semacircntico do sufixo ldquo(pessoa) que Xvrdquo (Y) ACT AGE
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120
10 Palestrante
Liacutengua Obra
pesquisada
Forma da
palavra em
dada liacutengua
Liacutengua
de
origem
Formaccedilatildeo da
palavra
Data Classe gramatical
e 1ordf acepccedilatildeo na
liacutengua em questatildeo
Latim NDLP
DLF
DELL
Portuguecircs Houaiss palestrante portuguecircs palestrar + -nte adj e sb ldquoque ou
aquele que
palestrardquo
DELP
DENF
VPL
DEDLP
Francecircs LNPR
CNRTL
Espanhol DCECH
Italiano DEI
DELI
Inglecircs OED
Galego DLG
Catalatildeo DELC
DECLC
Provenccedilal DPF
Comentaacuterios
Provaacutevel formaccedilatildeo em liacutengua portuguesa a partir do tema verbal palestra- mais o
sufixo ndashnte
Paraacutefrase do valor semacircntico do sufixo ldquo(pessoa) que Xvrdquo (Y) ACT AGE
Anielle Aparecida Gomes Gonccedilalves Jacometti de Oliveira
Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
121
11 Presidente
Liacutengua Obra
pesquisada
Forma da
palavra em
dada liacutengua
Liacutengua
de
origem
Formaccedilatildeo da
palavra
Data Classe
gramatical e 1ordf
acepccedilatildeo na
liacutengua em
questatildeo
Latim NDLP prǣsĭdēns
ēntĭs
latim c 59 a C
ndash 17 d C
substantivo
DLF praeligsīdens
entis
latim v praeligsideo ldquoestar
diante presidir agrave
ter a precedecircncia (a
direccedilatildeo o
comando)rdquo
55minus120 d
C
sm ldquoaquele que
tem a
precedecircncia
governador (de
proviacutencia)rdquo
DELL Portuguecircs Houaiss presidente latim praesĭdensēntis
part pres de
praesidēre estar
assentado adiante
ter o primeiro
lugar estar agrave testa
de dirigir
administrar
seacutec XV sb ldquoindiviacuteduo
que preside
(algo)rdquo
DELP latim praesĭdente- ldquoo
que tem a
precedecircncia
governador (de
proviacutencia)rdquo
seacutec XV
DENF latim praesidēns minusentis seacutec XV adj e sb
ldquopessoa que
presiderdquo
VPL latim sm ldquoo que
preside em
algum Tribunal
Cabeccedila de
Conselho O
primeiro dos
Conselheiros ou
Juiacutezesrdquo
DEDLP Francecircs LNPR preacutesident minusa latim praeligsidens 1296 sb ldquopessoa que
preside (uma
assembleia uma
reuniatildeo ou todo
agrupamento
organizado em
vista de uma
accedilatildeo coletiva)
para dirigir os
trabalhosrdquo
CNRTL preacutesident
minusente
latim
imperial
part pres
substantivado de
praesidere
presidir
c 1296 sb ldquoaquele que
presiderdquo
Anielle Aparecida Gomes Gonccedilalves Jacometti de Oliveira
Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
122
praesidens aquele
que tem a
precedecircncia
governador [de
proviacutencia]
presidente
Espanhol DCECH presidente minusa 1493 ou
1495
Italiano DEI presidente latim praesidēns minusentis seacutec XVI96 substantivo
DELI latim praesidĕnte(m)
part pres de
praesidēre
ldquoproteger
governarrdquo
1341-42 ldquoaquele que
manda
coordena e
dirige a
atividade de
uma assembleia
de uma
corporaccedilatildeo
puacuteblica ou
privadardquo
Inglecircs OED president francecircs preacutesident (1296)
que por sua vez eacute
adaptaccedilatildeo do lat
praeligsidēns -dēnt-
em um presidente
governador
substantivo usado
do part pres de
praeligsidēre
presidir
c 1374
Galego DLG presidente minusa latim praesĭdente
ldquogovernador da
proviacutenciardquo
sb ldquopessoa que
presiderdquo
Catalatildeo DELC president minusa sb ldquoo que
presiderdquo
DECLC
Provenccedilal DPF presidegravent
minusegravento
latim praeligsidens entis substantivo
Comentaacuterios
No NDLP haacute a entrada de prǣsĭdēns ēntĭs como part pres de prǣsĭdĕǒ ldquoter a
presidecircncia presidir comandar governar dirigir administrarrdquo Num exemplo dado
pelo mesmo dicionaacuterio percebe-se a mudanccedila categorial da forma participial citada para
96 Como adj no seacutec XVII
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Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
123
um substantivo praeligsidens classi ldquocomandante da armadardquo em Tito Liacutevio (c 59 a C ndash
17 d C)
O OED por sua vez esclarece que a palavra inglesa president se trata de
empreacutestimo do fr preacutesident (1296) que por sua vez eacute adaptaccedilatildeo do lat praeligsidēns -
dēnt-em um presidente governador substantivo usado do part pres de praeligsidēre
presidir O dicionaacuterio CNRTL confirma que o termo francecircs eacute advindo do latim
imperial cujo significado era o de aquele que tem a precedecircncia governador [de
proviacutencia] aquele que preside Desse modo jaacute haacute indiacutecios do uso de ndashns -ntis como
substantivo no latim
Na liacutengua portuguesa segundo o Houaiss a forma substantiva precede agrave adjetiva
essa sendo de 1664
Paraacutefrase do valor semacircntico do sufixo ldquo(pessoa) que Xvrdquo (Y) ACT AGE
Anielle Aparecida Gomes Gonccedilalves Jacometti de Oliveira
Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
124
12 Regente
Liacutengua Obra
pesquisada
Forma da
palavra em
dada liacutengua
Liacutengua
de
origem
Formaccedilatildeo da
palavra
Data Classe
gramatical e 1ordf
acepccedilatildeo na
liacutengua em
questatildeo
Latim NDLP rĕgēns ēntĭs latim de rĕgǒ ĭs
rēxī rēctŭm
rĕgĕrĕ ldquodirigir
guiar
conduzir
reger
governarrdquo
106 ndash 43 aC particiacutepio
presente
general (39 ndash 65
d C) o que
reina rei (c 370
ndash 404 d C)
DLF rĕgens tis latim do v rĕgo
reger dirigir
DELL
Portuguecircs Houaiss regente latim de rĕgens
ēntis que rege
governa
dirige
1439 adj ldquoque regerdquo
DELP de rĕgĕr 1439 adjetivo
DENF latim de regens ndash
entis
seacutec XV
VPL ldquoaquele que rege
amp governa o
Reino em lugar
do Reirdquo
DEDLP
Francecircs LNPR reacutegent ente latim regens part
pres de regere
ldquodirigirrdquo
1261 sb ldquopessoa que
governa uma
monarquia
durante a
menoridade ou a
ausecircncia do rei
do soberanordquo
CNRTL reacutegent ente latim regens -tis
part passado
de regere
reger
1261 sb e adj
professor de
universidade
Espanhol DCECH regente (a) 1611
Italiano DEI reggente italiano do v it
reggere
ldquosuster
governar fazer
resistecircncia
manterrdquo
seacutec XIV
DELI latim regĕnte(m)
part pres
substantivado
em eacutepoca
claacutessica do v
lat rĕgere
1341-2 part pres e adj
que rege sm e
f (1587) quem
governa como
soberano o Estado
no caso de
Anielle Aparecida Gomes Gonccedilalves Jacometti de Oliveira
Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
125
menoridade
moleacutestia ou
ausecircncia do rei
Inglecircs OED regent latim ou
francecircs
do fr regent
(seacutec XIV) ou
do lat regent-
em part pres
de regĕre
ldquoregerrdquo
1387 adj e sb ldquoregente
de uma
Universidaderdquo97
Galego DLG rexente latim regente ldquoque
regerdquo part
pres de regĕre
ldquoregerrdquo
adj ldquoque rege ou
governardquo sb
pessoa
encarregada da
regecircncia
Catalatildeo DELC regent adj e sb ldquoque
rege ou governardquo
DECLC
Provenccedilal DPF regegravent latim regens entis substantivo
masculino
Comentaacuterios
No dicionaacuterio latino NDLP rĕgēns ēntĭs se encontra em entrada lexical indicado
como particiacutepio presente mas a mesma obra ainda aponta que em Lucano (39 ndash 65 d
C) possui o significado de general e em Claacuteudio (c 370 ndash 404 d C) o que reina
rei No dicionaacuterio DLF tambeacutem haacute a entrada rĕgens tis remetendo-se ao v rĕgo
reger dirigir O DELI informa que regĕnte(m) foi substantivado em eacutepoca claacutessica
Por essas informaccedilotildees pode-se inferir entatildeo que desde ao menos o seacutec I d C o
particiacutepio presente jaacute estaria sendo usado com a funccedilatildeo de nomeaccedilatildeo
O seu primeiro uso no francecircs se referiu ao regente de universidade (LNPR)
Vocaacutebulo que designa um alto cargo ou funccedilatildeo desde o latim
Paraacutefrase do valor semacircntico do sufixo ldquo(pessoa) que Xvrdquo (Y) ACT AGE
97 Tal significado eacute agora somente histoacuterico e era usualmente colocado depois de um sb explica o OED
Anielle Aparecida Gomes Gonccedilalves Jacometti de Oliveira
Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
126
13 Representante
Liacutengua Obra
pesquisada
Forma da
palavra em
dada liacutengua
Liacutengua
de
origem
Formaccedilatildeo da
palavra
Data Classe
gramatical e 1ordf
acepccedilatildeo na
liacutengua em
questatildeo
Latim NDLP
DLF
DELL
Portuguecircs Houaiss representante latim repraesentansantis
part pres de
repraesentāre
apresentar estar
presente
comparecer
seacutec XV adj ldquoque
representa
representador
representativordquo
DELP
DENF portuguecircs do v port
representar
1813
VPL latim ldquohomem que
representa
comediasrdquo
DEDLP
Francecircs LNPR repreacutesentant
minusante
francecircs do v repreacutesenter
ldquoter o lugar de
algueacutem agir em
seu nome em
virtude de um
direito que se tem
recebidordquo
seacutec XV adj ldquoque(m)
representa tem
a presenccedilardquo
CNRTL francecircs part pres
substantivado de
repreacutesenter
apresentar de
novo
1599 sb ldquoo qual eacute
chamado para
uma sucessatildeo
como exercendo
os direitos de
uma pessoardquo
(direito)
Espanhol DCECH representante
minusanta
espanhol do v representar
Italiano DEI
DELI rappresentante italiano 1551-54 part pres do v
rappresentare
ldquorepresentarrdquo e
adj ldquoque
representardquo
Inglecircs OED representant francecircs part pres do v fr
repreacutesenter + -ant
1622 ldquoatorrdquo (raro)
Galego DLG representante galego do v representar adj ldquoque
representardquo sb
ldquopessoa que
representa um
ausente
empresa
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Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
127
comunidade
etcrdquo
Catalatildeo DELC representant adj ldquoque
representardquo sm
ldquopessoa que
representa um
ausente corpo
ou comunidaderdquo
DECLC catalatildeo do v representar seacutec XIX-
XX
Provenccedilal DPF representant sm
ldquorepresentanterdquo
Comentaacuterios
Todas as obras sob anaacutelise que tratam sobre liacutenguas romacircnicas e o inglecircs julgam
ser uma formaccedilatildeo vernacular com exceccedilatildeo de duas obras de liacutengua portuguesa e da
inglesa aqui em questatildeo No entanto pelas dataccedilotildees e presenccedila em todas as liacutenguas
pesquisadas trata-se de provaacutevel formaccedilatildeo na liacutengua francesa que depois disseminou-
se para as outras liacutenguas
No que diz respeito agraves classes categorias consegue-se delinear um primeiro uso
adjetival e soacute posteriormente como um substantivo No francecircs por exemplo de acordo
com o LNPR o sb repreacutesentant ‒ante ldquopessoa que representa algueacutemrdquo eacute datado como
de 1508 O DELI por sua vez comenta que o vocaacutebulo italiano rappresentante como
sb ldquoaquele que representa um ente uma sociedade e similaresrdquo eacute de 1635 Ainda
segundo o Houaiss a sua forma substantiva representanteldquoque ou quem representa
que ou quem recebeu poder para agir em nome de outrem de uma empresa etcrdquo eacute de
1813
Paraacutefrase do valor semacircntico do sufixo ldquo(pessoa) que Xvrdquo (Y) ACT AGE
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128
14 Servente
Liacutengua Obra
pesquisada
Forma da
palavra em
dada liacutengua
Liacutengua
de
origem
Formaccedilatildeo da
palavra
Data Classe
gramatical e 1ordf
acepccedilatildeo na
liacutengua em
questatildeo
Latim NDLP
DLF
DELL seruiēns latim seruus minusa
minusum ldquoescravordquo
Portuguecircs Houaiss servente latim serviensentis
que serve
part pres de
servīre ter a
condiccedilatildeo de
escravo ser
escravo
tornar-se
escravo
obedecer
sujeitar-se
servir
seacutec XIII adj e sb
ldquoempregado que
executa serviccedilos
auxiliares
notadamente de
limpeza ou de
conservaccedilatildeo das
coisas em
reparticcedilatildeo ou
escritoacuterio zelador
do asseio e da
higiene de um
estabelecimento
servidor
empregadordquo
DELP seacutec XIV
DENF servente98 latim servǐens ndashěntis seacutec XIII adjetivo e
substantivo
VPL latim de servus minusi ldquoDiz-se de
homens amp
mulheres que
servem em
Conventos de
Religiosos e
Religiosasrdquo
DEDLP
Francecircs LNPR servant99 francecircs do v servir c 1120 adj m e sm
ldquoindiviacuteduos leigos
empregados nos
modestos
trabalhos do
conventordquo
CNRTL servant
minusante
francecircs part pres
substantivado
de servir
cumprir os
deveres para
com um
superior
c 1050 particiacutepio
presente adjetivo
e sm ldquoservidor de
Deusrdquo
98 Segundo o DENF no portuguecircs medieval tambeacutem se documenta serventa (seacutec XIII) 99 Servante feminino de servant eacute da metade do seacutec XIV cujo significado eacute ldquofilha ou mulher empregada
como criadardquo de acordo com o LNPR
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129
Espanhol DCECH sirviente espanhol do v esp
servir
1220-1250100
Italiano DEI servente101 italiano do v servire seacutec XIII
DELI italiano 1314 part pres e adj
ldquoque serverdquo
Inglecircs OED servant francecircs servant sb do
part pres de
servir
a 1225 ldquouma pessoa de
qualquer sexo que
estaacute a serviccedilo de
um patratildeo ou
patroa pessoa que
estaacute sob a
obrigaccedilatildeo de
trabalhar para o
benefiacutecio de um
superior e
obedecer aos seus
comandosrdquo
Galego DLG servente minusa latim serviente ldquoque
serverdquo part
pres de
servīre
ldquoservirrdquo
sb ldquopessoa que
trabalha para
outra servindo-ardquo
Catalatildeo DELC servent ‒a ldquoquem se dedica
ao serviccedilo
domeacutesticordquo
DECLC
Provenccedilal DPF servegravent substantivo
masculino
Comentaacuterios
Os dicionaacuterios latinos NDLP e DLF natildeo relatam nenhuma apariccedilatildeo de servĭens
entis como forma nominal Sua forma no particiacutepio eacute no entanto possiacutevel a partir do v
sērvĭǒ īs īvī ou ĭī ītŭm īrĕ ldquoter a condiccedilatildeo de escravo ser escravo viver na servidatildeo
no jugordquo O DELL eacute o uacutenico a mencionaacute-lo provavelmente jaacute como nome A formaccedilatildeo
no vernaacuteculo eacute plausiacutevel jaacute que servente natildeo conservou a vogal temaacutetica da base tanto
como eacute possiacutevel a adoccedilatildeo do francecircs devido a sua dataccedilatildeo anterior e ao fato do
vocaacutebulo estar presente em todas as liacutenguas analisadas
Paraacutefrase do valor semacircntico do sufixo ldquo(pessoa) que Xvrdquo (Y) ACT AGE
100 Consta no DCECH que sirvienta eacute de c 1295 101 Ant serviente
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130
15 Tenente
Liacutengua Obra
pesquisada
Forma da
palavra em
dada liacutengua
Liacutengua
de
origem
Formaccedilatildeo da
palavra
Data Classe
gramatical e 1ordf
acepccedilatildeo na
liacutengua em
questatildeo
Latim NDLP tenent latim part pres do
v tĕnĕǒ ēs ŭī
tēntŭm tĕnērĕ
ldquosegurar
agarrar pegar
em possuir
terrdquo
4 a C ndash 65
d C
particiacutepio
presente
DLF latim part pres do
v tĕnĕo tĕnŭi
tentum ērĕ
ldquoter ocupar
um lugar etcrdquo
particiacutepio
presente
DELL
Portuguecircs Houaiss tenente latim do lat tenens
entis ldquoo que
governa
administra
dirige estaacute agrave
frente derdquo daiacute
ldquoo que
comandardquo
part pres de
tenēre ldquoterrdquo
seacutec XV sm ldquoaquele que
substitui um chefe
na ausecircncia desterdquo
DELP latim tenente part
pres do v
těnēre ldquoter
aguentar
segurar
dirigir o que
ocupa (um
lugar um
posto) cujo
sentido
especializou-
se na
linguagem
militar
seacutec XVI substantivo
DENF francecircs (lieu)tenant seacutec XV sb ldquosubstituto de
um chefe na
ausecircncia deste
posto da
hierarquia
militarrdquo
VPL ldquoantigamente se
dava este tiacutetulo
aos ricos homens
amp valia o mesmo
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131
que Senhor ou
Governador a
cujo cargo estava
a defensatildeo de
lugar proacuteprio ou
cometidordquo
DEDLP latim tenente o que ocupa (um
lugar um posto)
especializou o
sentido na
linguagem militar
Francecircs LNPR lieutenant francecircs de lieu lugar
e tenant
defensor
mantenedor
1287 sm pessoa que
estaacute diretamente
sob as ordens do
chefe e o substitui
eventualmente
CNRTL tenant ‒ante particiacutepio
presente adjetivo
e substantivo
Espanhol DCECH teniente c 1570
Italiano DEI tenente seacutec XVII
DELI 1611 sm ldquosegundo
grau da hierarquia
dos oficiais
sucessivo ao de
cabordquo
Inglecircs OED tenente italiano
ou
portuguecircs
1929
Galego DLG tenente latim de tenente
que tem ou
possui part
pres de tenēre
ter possuir
adj ldquoque tem ou
possui algordquo sb
ldquooficial dos
exeacutercitos de terra
e ar de grau
intermeacutedio entre o
de alferes e o de
capitatildeo pessoa
que desempenha o
cargo ou
ministeacuterio de
outrardquo
Catalatildeo DELC
DECLC tenent latim tĕnēre ter
prendido ou
ocupado
manter reter
seacutec XII102 e
XIII
adjetivo e
substantivo
Provenccedilal DPF tenegravent subchefe de
trabalhadores
102 Sob a forma tinent hoje a mais usada segundo o dicionaacuterio
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132
Comentaacuterios
Tal vocaacutebulo consta registrado nos dicionaacuterios latinos como particiacutepio presente do
v tĕnĕǒ ēs ŭī tēntŭm tĕnērĕ ldquoter ocupar um lugar dirigir etcrdquo (DLF) ou seja tenens
entis eacute ldquoo que governa administra dirige estaacute agrave frente de comanda ocupa (um lugar
um posto)rdquo cujo sentido se especializou na linguagem militar denotando um cargo
Trata-se de formaccedilatildeo comum nas liacutenguas romacircnicas e no inglecircs jaacute como um
substantivo
Paraacutefrase do valor semacircntico do sufixo ldquo(pessoa) que Xvrdquo (Y) ACT AGE
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133
Por uacuteltimo segue a histoacuteria de formaccedilatildeo desses vocaacutebulos de modo resumido e
suas paraacutefrases de origem
Tabela no 2 Origem dataccedilatildeo mais antiga na liacutengua base e produto do processo de
derivaccedilatildeo com os sufixos ndashnte
Nota quando natildeo haacute plena certeza da liacutengua de origem haacute na descriccedilatildeo o sinal ldquo()rdquo
Vocaacutebulo Liacutengua de
origem Dataccedilatildeo Base + sufixo = produto
agente
estudante
gerente
negociante
presidente
regente
servente
tenente
latim
latim
latim
latim
latim
latim
latim
latim
106 ndash 43 a C
c 430 ndash c 486
c 230 ndash c 180 a C
106 ndash 43 a C
c 59 a C ndash 17 d C
106 ndash 43 a C
sd
4 a Cndash 65 d C
tema verbal ăgĕ- + ndashnsntis = agens ēntis
tema verbal stŭdē- + ndashnsntis = stŭdēns
ēntis
tema verbal gĕrĕ- + ndashnsntis = gĕrēns ēntĭs
tema verbal nĕgōtĭā- + ndashnsntis =
nĕgōtǐāns -āntĭs
tema verbal prǣsĭdĕ- + ndashnsntis =
prǣsĭdēns ēntĭs
tema verbal rĕgĕ- + ndashnsntis = rĕgēns ēntĭs
tema verbal sērvī- + ndashnsntis =
serviensentis
tema verbal tĕnē- + ndashnsntis = tenens entis
representante francecircs seacutec XV tema verbal repreacutesent- + ‒ant(e) =
repreacutesentant(e)
assistente
atendente
comandante
dirigente
italiano ()
italiano
italiano ()
italiano ()
1304
1889
seacutec XIV
seacutec XIV
tema verbal assiste- + ‒nte = assistente
tema verbal attende- + ‒nte = attendente
tema verbal comanda- + ndashnt(e) =
comandant(e)
tema verbal dirige- + ndashnte = dirigente
ajudante romacircnica seacutec XIII-XIV tema verbal ajuda- + ‒nte = ajudante
palestrante portuguecircs sd tema verbal palestra- + ‒nte = palestrante
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134
Tabela no 3 Vocaacutebulos em ndashnte e suas categorias gramaticais e paraacutefrases de
origem
Nota na categoria gramatical haacute a descriccedilatildeo dos percursos encontrados
Vocaacutebulo Categoria
gramatical
Paraacutefrase
agente particiacutepio gt nome
(adjetivo gt
substantivo)
ldquo(pessoa) que Xvrdquo (Y) ACT AGE
ajudante nome (adjetivo gt
substantivo) ldquo(pessoa) que Xvrdquo (Y) ACT AGE
assistente nome
ldquo(pessoa) que Xvrdquo (Y) ACT AGE
atendente nome
ldquo(pessoa) que Xvrdquo (Y) ACT AGE
comandante nome
ldquo(pessoa) que Xvrdquo (Y) ACT AGE
dirigente particiacutepio gt nome
ldquo(pessoa) que Xvrdquo (Y) ACT AGE
estudante particiacutepio gt nome
ldquo(pessoa) que Xvrdquo (Y) ACT AGE
gerente particiacutepio gt nome
ldquo(pessoa) que Xvrdquo (Y) ACT AGE
negociante particiacutepio gt nome
ldquo(pessoa) que Xvrdquo (Y) ACT AGE
palestrante nome
ldquo(pessoa) que Xvrdquo (Y) ACT AGE
presidente particiacutepio gt nome
ldquo(pessoa) que Xvrdquo (Y) ACT AGE
regente particiacutepio gt nome
ldquo(pessoa) que Xvrdquo (Y) ACT AGE
representante nome (adjetivo gt
substantivo) ldquo(pessoa) que Xvrdquo (Y) ACT AGE
servente particiacutepio gt nome
ldquo(pessoa) que Xvrdquo (Y) ACT AGE
tenente particiacutepio gt nome
ldquo(pessoa) que Xvrdquo (Y) ACT AGE
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135
332 NOMES COM O SUFIXO ndash(DTS)OR
1 Assessor
Liacutengua Obra
pesquisada
Forma da
palavra em
dada liacutengua
Liacutengua
de
origem
Formaccedilatildeo da
palavra
Data Classe
gramatical e 1ordf
acepccedilatildeo na
liacutengua em
questatildeo
Latim NDLP āssēssŏr ōrĭs latim do v lat
āssīdĕrĕ
ldquoassentar-se
sentar-se ao peacute
derdquo
106 ndash 43 aC sm ldquoassessor
ajudante
assistente
adjunto
participante em
funccedilotildees no
expedienterdquo
DLF adsessŏr
(ass-) ōris
latim do v adsideo
estar sentado
(posto) junto
de algueacutem
106 ndash 43 aC sm assistente
adjunto (em uma
funccedilatildeo)
DELL assessor latim do v adsideō
(assedeō)
estar perto
junto
Portuguecircs Houaiss assessor latim assessorōris
ajudante
assistente
acompanhante
participante
em funccedilotildees no
expediente do
v assidĕre
estar sentado
ao peacute junto de
seacutec XV sb ldquoaquele que eacute
adjunto a algueacutem
que exerce uma
atividade ou cargo
para ajudaacute-lo em
suas funccedilotildees e
eventualmente
substituiacute-lo nos
impedimentos
transitoacuteriosrdquo adj
ldquoque assessorardquo
DELP latim adsessōreminus
ldquoajudante
auxiliarrdquo
seacutec XVI substantivo
DENF latim de assessor ndash
ōris
seacutec XVI sm ldquoadjunto
auxiliar
assistenterdquo
VPL assessor latim de assessor
oris
sm ldquoO que assiste
juntamente com o
juiz para julgar amp
sentenciar alguma
causardquo
DEDLP latim de assessore
Francecircs LNPR assesseur latim de assessor
ldquoaquele que
ajuda que
aconselha
seacutec XIII sm ldquopessoa que
estaacute junto a
algueacutem que o
assiste em suas
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136
algueacutemrdquo funccedilotildees ou o
supre em sua
ausecircnciardquo
CNRTL assesseur latim assessor
aquele que
ajuda
aconselha
algueacutem (106
aC ndash 43 aC)
pessoa que
assiste a um
magistrado em
sua funccedilatildeo (4
a C ndash 65 d
C)
seacutec XIII sm aquele que
se assenta junto a
algueacutem aquele
que estaacute adjunto a
um juiz principal
Espanhol DCECH asesor latim assessor minusōris
ldquoo que se senta
ao lado
assessorrdquo
derivado de
assidēre ldquoestar
sentado ao
ladordquo e este de
sedēre ldquoestar
sentadordquo
1592
Italiano DEI assessore latim adotado da
administraccedilatildeo
medieval do
lat assessor ndash
ōris
ldquoconselheiro
de um
magistradordquo
no seacutec I aC
de assessus
assīdere
ldquosentar-se ao
lado perto
junto ao peacuterdquo
seacutec XIII substantivo
masculino
DELI latim assessōre(m)
propriamente
ldquoaquele que
senta ao lado
perto junto ao
peacuterdquo do v
assīdere
1292 sm ldquofuncionaacuterio
que tem o dever
de assistir e
aconselhar um
superior nas suas
incumbecircncias
juriacutedicasrdquo
Inglecircs OED assessor latim assessōr-em lat
claacutess juiz-
assistente lat
tardio quem
calcula taxas
agente formado
sobre assidēre
adoccedilatildeo do
antigo francecircs
assessour
c 1380 quem ocupa o
cargo de assistente
ou conselheiro de
um juiz ou
magistrado
especialmente um
assistente habilitado
e apto para
aconselhar sobre
pontos teacutecnicos do
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137
direito uso
comercial
navegaccedilatildeo etc
Galego DLG asesor minusora latim assesōre
ldquoajudante
auxiliarrdquo lt lat
assidēre
ldquoassistir a
algueacutem
ajudar-lherdquo
sb e adj ldquoque ou
quem informa
assessora ou
aconselha teacutecnico
que realiza
funccedilotildees de
assessoramentordquo
Catalatildeo DELC assessor ‒ra adj e sb quem
assessora ou daacute
conselhos a um
outro
DECLC
Provenccedilal DPF assessour latim assessor sm assessor
Comentaacuterios
Formado no latim e daiacute foi inserido nas liacutenguas romacircnicas O DELP ainda afirma
que assessor integrou o vocabulaacuterio portuguecircs por via culta O dicionaacuterio inglecircs OED
apresenta os significados de acordo com as principais fases da liacutengua latina e se pode
perceber que desde a eacutepoca claacutessica o vocaacutebulo jaacute estava relacionado a um cargo e
logo a uma funccedilatildeo
Paraacutefrase do valor semacircntico do sufixo ldquo(pessoa) que Xvrdquo (Y) ACT AGE
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138
2 Ator
Liacutengua Obra
pesquisada
Forma da
palavra em
dada liacutengua
Liacutengua
de
origem
Formaccedilatildeo da
palavra
Data Classe
gramatical e 1ordf
acepccedilatildeo na
liacutengua em
questatildeo
Latim NDLP āctŏr ōrĭs latim do v ăgǒ ĭs ēgī
āctŭm ĕrĕ
impelir
empurrar fazer
andar adiante de
si conduzir uma
coisa recitar
declamar
representar fig
fazer o papel de
proceder como
106 ndash 43 aC sm o que faz
mover o que
representa no
teatro o que
representa um
papel que natildeo lhe
pertence o que
faz executa
DLF actŏr ōris latim do v ago
colocar em
movimento
fazer
(expressatildeo da
atividade)
106 ndash 43 aC sm aquele que
faz mover
avanccedilar aquele
que faz aquele
que representa
que joga
DELL
Portuguecircs Houaiss ator latim actorōris o
que faz mover
o que
representa
orador o que
executa
dirige
1532 adj e sm ldquoaquele
que desempenha
um papel em
peccedilas teatrais
filmes novelas
etcrdquo
DELP latim de actōre- o
que faz o que
representa
1512-13 a
1605
sba antiga
significaccedilatildeo tinha
soacute caraacutecter
juriacutedico
DENF latim de āctor ndashōris seacutec XVI sm agente do
ato
VPL actor ou
actocircr
latim de actor oris sm
Representante O
que recita no
theatro
DEDLP
Francecircs LNPR acteur trice latim de actor
aquele que
age
1663 sb artista cuja
profissatildeo eacute de
desempenhar um
papel no palco ou
na tela
CNRTL acteur trice latim actor aquele
que age (106
aC ndash 43 aC)
1236 sbautor (de um
livro) por
confusatildeo com o
lat auctor
Espanhol DCECH actor latim actor o que
obra
1251-1284 ldquodemandante
acusadorrdquo (1729)
comediante
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139
Italiano DEI attore latim āctor ndashōris
(āctūs agere)
seacutec XIV sm ldquoquem
desempenha um
papel em uma
accedilatildeo dramaacutetica
pedagoacutegica
juriacutedicardquo
DELI latim actōre(m) de
ăgere fazer
iniacutecio do seacutec
XIV
vulgarizado
em Ciacutecero
sm quem
interpreta um
papel em um
espetaacuteculo
Inglecircs OED actor actour latim agente
formado sobre
act- part pass
raiz de ag-ĕre
empurrar
continuar
fazer agir
1382 um
administrador
supervisor
agente ou feitor
(traduccedilatildeo do latim
actor)
Galego DLG actor latim actōre o que
representa o
que faz como
quem
sb ldquopessoa que
representa um dos
personagens
numa obra teatral
cinematograacutefica
radiofocircnica ou
televisivardquo
Catalatildeo DELC actor sm cocircmico
aquele que
representa no
teatro
DECLC
Provenccedilal DPF atour latim actor sm ator
Comentaacuterios
Segundo o DELP enquanto a antiga significaccedilatildeo no portuguecircs se circunscrevia no
acircmbito juriacutedico provavelmente por influecircncia latina de acordo com alguns dicionaacuterios
o sentido teatral pode ter emergido no portuguecircs em 1611 por influecircncia do francecircs em
cuja liacutengua a palavra acteur passa a pertencer exclusivamente agrave linguagem do teatro no
seacutec XVII adesatildeo a essa tatildeo forte que soacute aparece fora dela por metaacutefora
Conforme o significado fornecido pelo dicionaacuterio latino DLF a paraacutefrase pode
encerrar-se num primeiro momento no acircmbito da accedilatildeo logo adquirindo ao analisar os
significados dos outros dicionaacuterios uma funccedilatildeo
Paraacutefrase do valor semacircntico do sufixo ldquo(pessoa) que Xvrdquo (Y) ACT AGE
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Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
140
3 Autor
Liacutengua Obra
pesquisada
Forma da
palavra em
dada liacutengua
Liacutengua
de
origem
Formaccedilatildeo da
palavra
Data Classe
gramatical e 1ordf
acepccedilatildeo na
liacutengua em
questatildeo
Latim NDLP aūctŏr ōrĭs latim de aūgērĕ
ldquoproduzirrdquo
sm e f ldquoo que
produz gera faz
nascerrdquo
DLF auctŏr ōris latim do v lat
augĕo ldquofazer
crescer
acrescentar
aumentarrdquo
43 aC ndash 17
ou 18 dC
sm ldquoaquele que
aumenta que
acrescenta que
faz avanccedilar
(progredir)rdquo
DELL auctor latim 70 ndash 19 aC ldquoaquele que faz
crescer ou que
faz encaminharrdquo
Portuguecircs Houaiss autor103 latim auctor ōris ldquoo
que produz o
que gera faz
nascer
fundador
inventorrdquo
seacutec XIV sm ldquoaquele que
origina que causa
algordquo
DELP latim auctōre- seacutec XV sb ldquoo que aumenta
que faz avanccedilar
progredir o que
aumenta a confianccedila
fiador que confirma
autoridade fonte
modelo senhor
autoridade fonte
histoacuterica o que obriga
a agir conselheiro
instigador promotor
criador iniciador
fundador autor o que
faz (compotildee) uma
obra escritorrdquo
DENF latim auctor ndashōris seacutec XV sm ldquoa causa
principal a
origem de
inventor escritorrdquo
VPL author
authocircr
auctor autor
latim auctor oris 106 ndash 43 aC m ldquoaquele que daacute
princiacutepio a
alguma coisa
como o ator o
instituidor ou
executor delardquo
DEDLP latim de auctore 1273
Francecircs LNPR auteur latim auctor ldquoaquele
que
c 1160104 sm ldquoescritorrdquo
103 O Houaiss e o DENF expotildeem que a forma anterior outor existe desde o seacutec XIII no portuguecircs O
DEDLP fornece a informaccedilatildeo de que outor eacute uma forma arcaica mais especificamente de 1273 104 Sob a forma auctur
Anielle Aparecida Gomes Gonccedilalves Jacometti de Oliveira
Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
141
acrescenta
que fundardquo
CNRTL latim auctor
instigador
conselheiro
1160-74105 sm escritor
aquele que tem
escrito um livro
Espanhol DCECH autor latim auctor minusōris
ldquocriador
autor fonte
histoacuterica
instigador
promotorrdquo
der de augēre
ldquoaumentar
fazer
progredirrdquo
1155106
Italiano DEI autore latim auctor ndashōris
propriamente
ldquoquem faz
crescerrdquo de
augēre ldquofazer
crescer
acrescentar ou
surgir
fundador
autorrdquo
seacutec XVI substantivo
masculino
DELI latim auctōre(m)
ldquoaquele que
faz avanccedilar o
promotor o
fazedorrdquo de
augēre ldquofazer
crescer
acrescentar
aumentar
engrandecerrdquo
c 1292 sm ldquoquem tem
criado uma obra
literaacuteria ou de
arterdquo
Inglecircs OED author latim auctor
formado sobre
o v augēre
ldquofazer crescer
originar
promover
aumentarrdquo
c 1300107 substantivo-
agente ldquoquem
procria gera um
pai um
antepassadordquo
Galego DLG autor minusora latim auctōre ldquoo que
causa ou
produz algordquo
sb ldquoo causante de
algo quem
realizou uma obra
artiacutestica literaacuteria
ou cientiacuteficardquo
Catalatildeo DELC autor minusora sb ldquoprimeira
causa de alguma
coisardquo
105 Sob a forma auctur 106 Sob a forma auctor 107 Sob a forma autor
Anielle Aparecida Gomes Gonccedilalves Jacometti de Oliveira
Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
142
DECLC
Provenccedilal DPF autour
Comentaacuterios
De acordo com os dados trata-se de vocaacutebulo formado na liacutengua latina a partir do
tema do perfectum ou do supino de aūgērĕ ou seja aūct- + suf ‒or No latim aūctŏr
ōrĭs eacute de cerca de I aC sempre desempenhando funccedilatildeo substantiva mantendo-se
firmemente como tal nas liacutenguas romacircnicas Tal rigidez eacute encontrada tambeacutem na
imutabilidade do sentido do sufixo A base eacute opaca em portuguecircs
O DCECH acrescenta o fato de que jaacute no baixo latim havia frequentes confusotildees
entre actor ldquoatorrdquo e autor ldquoautorrdquo
Paraacutefrase do valor semacircntico do sufixo pelas informaccedilotildees acima pode-se
delimitar o primeiro sentido como ldquo(pessoa) que Xvrdquo (Y) ACT AGE isto eacute ldquo(pessoa)
que produz que cria que funda que aumenta que faz avanccedilarrdquo denotando assim uma
accedilatildeo
Anielle Aparecida Gomes Gonccedilalves Jacometti de Oliveira
Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
143
4 Colaborador
Liacutengua Obra
pesquisada
Forma da
palavra em
dada liacutengua
Liacutengua
de
origem
Formaccedilatildeo da
palavra
Data Classe
gramatical e 1ordf
acepccedilatildeo na
liacutengua em
questatildeo
Latim NDLP
DLF
DELL
Portuguecircs Houaiss colaborador portuguecircs rad do part
colaborado + -
or
1836 adj e sm ldquoque
ou o que
colabora ou que
ajuda outrem em
suas funccedilotildeesrdquo
DELP
DENF francecircs de
collaborateur
1844
VPL
DEDLP
Francecircs LNPR collaborateur
trice
francecircs do v
collaborer
trabalhar em
colaboraccedilatildeo
(com outros)
1755 sb pessoa que
trabalha com
uma ou muitas
outras pessoas
em uma obra
comum
CNRTL collaborateur
trice
francecircs derivado do
baixo lat
collaborare
(colaborar)
sufixo ndashateur
(-eur) -atrice
(-ice)
1755 sb pessoa que
trabalha com
outra
Espanhol DCECH colaborador espanhol do v
colaborar
(1884)
Italiano DEI collaboratore italiano do v
collaborare
seacutec XIX
DELI francecircs collaborateur
(1755)
1940 se refere a
aqueles que
ajudaram os
nazistas em seus
desiacutegnios
Inglecircs OED collaborator latim forma latina
sobre o v
collabōrāre
colaborar
provavelmente
depois do
francecircs
1802 sb agentivo
algueacutem que
trabalha em
conjunccedilatildeo com
um ou outros
especialmente no
trabalho literaacuterio
artiacutestico ou
cientiacutefico
Galego DLG colaborador galego de colaborar adj ldquoque
Anielle Aparecida Gomes Gonccedilalves Jacometti de Oliveira
Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
144
‒ora colaborardquo sb
ldquopessoa que
colabora com
outra(s) numa
obra ou trabalho
comumrdquo
Catalatildeo DELC collaborador
‒ra
sb companheiro
na preparaccedilatildeo de
uma obra
especialmente
literaacuteria
DECLC 1839
Provenccedilal DPF coulabouradou
ouiro
sb e adj
colaborador
Comentaacuterios
Trata-se de provaacutevel formaccedilatildeo no francecircs do tema collabora- + suf ndashteur
Eacute digno de nota que segundo o DELI tal vocaacutebulo no italiano foi aplicado sobre
o modelo francecircs no contexto histoacuterico da Segunda Guerra Mundial referindo-se logo
agravequeles que colaboraram com os alematildees
Paraacutefrase do valor semacircntico do sufixo ldquo(pessoa) que Xvrdquo (Y) ACT AGE
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145
5 Defensor
Liacutengua Obra
pesquisada
Forma da
palavra em
dada liacutengua
Liacutengua
de
origem
Formaccedilatildeo da
palavra
Data Classe
gramatical e 1ordf
acepccedilatildeo na
liacutengua em
questatildeo
Latim NDLP dēfēnsŏr
ōrĭs
latim do v dēfēndǒ ĭs
dī sŭm dĕrĕ
defender livrar
proteger afirmar
dizer em proacutepria
defesa sustentar
revindicar
perseguir
criminalmente
106 ndash 43 aC sm o que desvia
o que afasta
defensor protetor
advogado
magistrado cujo
cargo eacute defender
as pessoas nas
cidades
populosas todo
que defende
protege livra
DLF dēfensŏr
ōris
latim do v defendo
afastar
manter longe
106 ndash 43 aC sm aquele que
impede que
repele [um
perigo]
DELL dēfēnsor latim do v dēfendō
-is -dī -sum -
ere ldquoempurrar
repelir afastar
(o inimigo
etc)rdquo
Portuguecircs Houaiss defensor latim defensorōris
defensor
1344 adj e sm ldquoque ou
o que defenderdquo
DELP latim de defensōre-
o que impede
que repele (um
perigo) que se
(lhe) opotildee
defensor
protector
seacutec XIV () substantivo
DENF latim de defensor ndash
ōris
seacutec XIV
VPL defensor ou
defensocircr
latim de defensor
oris
sm He nome de
officio e titulo de
dignidade
antigamente
usado na Igreja e
no Imperio
Aquelle que
apadrinha amp
defende alguem
ou alguma cousa
DEDLP latim de defensore
Francecircs LNPR deacutefenseur latim de defensor
do v lat
defendere
1213 sm pessoa que
defende algueacutem
ou alguma coisa
de agressores
Anielle Aparecida Gomes Gonccedilalves Jacometti de Oliveira
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146
CNRTL deacutefenseur latim
claacutessico
defensor
aquele que
defende que
protege
1213 sb aquele que
defende que
protege
Espanhol DCECH defensor latim de defensor -
oris
1444-1522
Italiano DEI defensore latim dēfēnsor ‒ōris seacutec XIV sm (juriacutedico)
ldquoquem defende
administrador dos
grandes
patrimocircnios da
Igreja romanardquo
DELI difensore latim defensōre(m)
do v lat
defĕndere
composto de
1294 sm e adj que
defende que
protege
representante e
assistente
processual que
explica em juiacutezo
uma atividade de
contestaccedilatildeo e
deduccedilatildeo no
interesse da
mesma
Inglecircs OED defender inglecircs
meacutedio ou
anglo-
francecircs
defendour do
ant fr
defendeor do
v defendere
defender
1297 algueacutem que
defende ou repele
um ataque
especialmente
algueacutem que luta
em defesa de um
castelo de uma
cidade etc
Galego DLG defensor
‒ora
latim defensōre sb e adj ldquoque ou
quem defende
especialmente
num juiacutezordquo
Catalatildeo DELC defensor ‒ra sb e adj que
defende ou
protege
DECLC latim defensor ‒oris c 1500
Provenccedilal DPF defensour latim defensor sm defensor
Comentaacuterios
De origem latina denotando jaacute um cargo na mesma a partir do tema do perfectum
ou do supino dēfēns- + suf ‒or
Paraacutefrase do valor semacircntico do sufixo ldquo(pessoa) que Xvrdquo (Y) ACT AGE
Anielle Aparecida Gomes Gonccedilalves Jacometti de Oliveira
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147
6 Diretor
Liacutengua Obra
pesquisada
Forma da
palavra em
dada liacutengua
Liacutengua
de
origem
Formaccedilatildeo da
palavra
Data Classe
gramatical e 1ordf
acepccedilatildeo na
liacutengua em
questatildeo
Latim NDLP
DLF dīrectŏr ōris latim do v dīrĭgo
(dērĭgo) rexī
rectum ĕrĕ
ldquocolocar em
linha reta
alinharrdquo
sm ldquoguia
diretorrdquo
DELL
Portuguecircs Houaiss diretor francecircs directeur
(1444) ldquoo que
dirige o que
orienta
condutor
guiardquo do lat
tar director
ōris ldquoguia
dirigenterdquo
1647 adj e sm ldquoque ou
aquele que dirige
dirigente cheferdquo
DELP francecircs directeur
deriv do lat
director -ōris
ldquoguia diretorrdquo
seacutec XVII
DENF adaptaccedilatildeo
do francecircs
directeur
deriv do lat
tardio director
-ōris
seacutec XVII108
VPL director latim de director
oris
em Ciacutecero
(106 ndash 43
aC)
sm o que tem a
seu cargo a
direccedilatildeo de alguma
coisa ou pessoa
DEDLP
Francecircs LNPR directeur
trice
latim director fim do seacutec
XV
adj ldquoque dirigerdquo
sb ldquopessoa que
dirige que estaacute agrave
frente (de um
serviccedilo de um
organismo de
uma empresa)rdquo
CNRTL baixo
latim
director
aquele que
guia
derivado do
supino
directum de
dirigere
1444 sb pessoa que
dirige adj
(1808) que
dirige
Espanhol DCECH director seacutec XVII
108 Sob a forma director segundo a obra
Anielle Aparecida Gomes Gonccedilalves Jacometti de Oliveira
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148
Italiano DEI direttoacutere latim
tardio
dīrēctor ndashōris
pelo fr
directeur (seacutec
XV)
seacutec XVII sm quem dirige
dirigente chefe
DELI seacutec XIV sm quem dirige
empresas escolas
entidades
associaccedilotildees e
semelhantes ou eacute
de qualquer
maneira investido
de funccedilotildees
diretivas no
acircmbito de
determinada
atividade
Inglecircs OED director anglo-
francecircs
directour lt lat
tar director
(governador
administrador)
de directminus
(provavelmente
baseado na
forma passiva
ou na do
particiacutepio
passado de
dirigere
derigere
ldquoendireitar
arrumar pocircr em
ordem dirigir
guiarrdquo que eacute
directus) + minusor
1477 sb agentivo
ldquoquem ou que
dirige governa
ou guia um guia
um condutorrdquo
Galego DLG director
minusora
latim directōre adj e sb ldquoque ou
quem dirigerdquo sb
ldquopessoa
encarregada de
dirigir um
negoacutecio um
estabelecimento
etcrdquo
Catalatildeo DELC director ra adj e sb que
dirige
DECLC 1696
Provenccedilal DPF direitour sb diretor
Comentaacuterios
Provavelmente do latim denotando jaacute um cargo no mesmo a partir do tema do
perfectum ou do supino dīrect- + suf ‒or De modo geral diretor tanto no portuguecircs
como nas outras liacutenguas eacute a pessoa que Xv ie a pessoa que dirige remetendo
assim a palavra a um significado acional conduzido para o acircmbito da atividade
Paraacutefrase do valor semacircntico inicial do sufixo ldquo(pessoa) que Xvrdquo (Y) ACT
AGE
Anielle Aparecida Gomes Gonccedilalves Jacometti de Oliveira
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149
7 Doutor
Liacutengua Obra
pesquisada
Forma da
palavra em
dada liacutengua
Liacutengua
de
origem
Formaccedilatildeo da
palavra
Data Classe
gramatical e 1ordf
acepccedilatildeo na
liacutengua em
questatildeo
Latim NDLP dōctŏr ōrĭs latim do v lat
dŏcērĕ ēs cŭī
ctŭm cērĕ
ldquoensinar
instruir
mostrar
indicar dar a
entender ter
escolardquo
106 ndash 43 aC sm ldquomestre
preceptor o que
ensinardquo
DLF doctŏr ōris latim do v dŏcĕo
ldquoensinar
instruir
mostrar
indicar fazer
verrdquo
106 ndash 43 aC sm ldquomestre
aquele que
ensinardquo
DELL doctor ldquoquem ensinardquo
Portuguecircs Houaiss doutor latim doctor ōris
ldquomestre
preceptor o
que ensinardquo a
partir do v lat
docēre
ldquoensinarrdquo
seacutec XIII sm ldquoaquele que
estaacute habilitado
para ensinarrdquo
DELP latim seacutec XIV ldquoprofessor o que
ensinardquo
DENF latim doctor ndashōris
ldquomestre
professor
preceptorrdquo
seacutec XIII109
VPL doutor
doutocircr
latim 106 ndash 43 aC sm ldquomestre em
alguma ciecircnciardquo
DEDLP latim de doctore ldquoo que ensina o
que sabe para
ensinarrdquo
Francecircs LNPR docteur latim doctor ldquoaquele
que ensinardquo
1160 sm quem
interpreta e ensina
a lei judaica
CNRTL latim
claacutessico
doctor ldquoaquele
que ensinardquo
seacutec XII sm ldquosaacutebio
eruditordquo
Espanhol DCECH doctor latim doctor ndashōris
ldquomestre o que
ensinardquo der
do v lat
docēre
c 1250
109 Nessa data sob a forma doctor segundo o dicionaacuterio
Anielle Aparecida Gomes Gonccedilalves Jacometti de Oliveira
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150
ldquoensinarrdquo
Italiano DEI dottore latim doctor ndashōris
ldquomestre
professorrdquo a
partir da base
do supino
doctus de
docēre
ldquoensinar
instruir
mostrar
indicar dar a
entenderrdquo
seacutec XIII sm ldquopassou na
Idade Meacutedia do
tiacutetulo de doctōrēs
ecclēsiae
atribuiacutedo a alguns
padres da Igreja
para indicar o
grau acadecircmico
conferido da
Universidade de
Bolonha (ano de
1140)rdquo
DELI latim
tardio
1292 sm ldquoquem por
vastidatildeo de
cultura estaacute em
grau de ensinar
uma disciplinardquo
(c 1400)
ldquomeacutedicordquo
Inglecircs OED doctor latim doctor ndashōrem
ldquoprofessorrdquo
sb agentivo de
docēre
ldquoensinarrdquo
adotado do
ant fr doctor
(minusur minusour
minuseur)
adaptaccedilatildeo do
latim
1303 especificamente
aplicado aos Doutores
da Igreja antigos
ldquopadresrdquo distintos por
sua eminente erudiccedilatildeo
e por sua santidade
heroica (1387) um
professor instrutor
quem daacute instruccedilotildees
em alguma aacuterea do
conhecimento ou
inculca opiniotildees ou
princiacutepios
Galego DLG doutor minusora latim doctōre
ldquomestre
professorrdquo
sb ldquopessoa que
recebeu o mais
alto grau
acadecircmicordquo
Catalatildeo DELC doctor ra sb ldquopessoa que
recebeu o derradeiro e
mais proeminente
grau acadecircmico que
confere uma
universidade ou outro
estabelecimento
docente devidamente
autorizado por meio
do qual pode ensinar a
todos sobre aquela
faculdade ou ciecircncia
em que eacute graduadordquo
DECLC latim doctor -ōris
mestre o que
ensina
derivado de
docēre
ensinar
1904
Provenccedilal DPF doacuteutour latim doctor
Anielle Aparecida Gomes Gonccedilalves Jacometti de Oliveira
Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
151
Comentaacuterios
Todos os dicionaacuterios sem exceccedilatildeo afirmam ser doutor de origem latina com
formaccedilatildeo a partir do tema do perfectum ou do supino dŏct- + suf ‒or foi reportada ao
seacutec I a C com significado ativo simples isto eacute sem nenhuma especificaccedilatildeo de
sentido ao contraacuterio de docente por exemplo de mesma origem verbal referente
necessariamente agravequele que ensina Doutor segundo Corominas (1983) reportou-se
primeiramente aos apoacutestolos da Santa Igreja que pregava ou ensinava cotidianamente
Deus aos pagatildeos e depois ao especialista do direito canocircnico aos poetas e ao graduado
escolar Esse vocaacutebulo eacute encontrado em liacutenguas natildeo aparentadas como o turco sob a
forma doktor provavelmente um empreacutestimo
Paraacutefrase do valor semacircntico inicial do sufixo ldquopessoa que Xvrdquo (Y) ACT
AGE isto eacute ldquopessoa que ensina que instruirdquo
Anielle Aparecida Gomes Gonccedilalves Jacometti de Oliveira
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152
8 Escultor
Liacutengua Obra
pesquisada
Forma da
palavra em
dada liacutengua
Liacutengua
de
origem
Formaccedilatildeo da
palavra
Data Classe
gramatical e 1ordf
acepccedilatildeo na
liacutengua em
questatildeo
Latim NDLP scūlptŏr ōrĭs latim do v scūlpǒ
ĭs psī ptŭm
pĕrĕ esculpir
23 ndash 79 d C sm escultor
DLF sculptŏr ōris latim do v sculpo
esculpir
c 485 ndash c
585 d C
sm escultor
DELL sculptor
scalptor e
sculpātor
latim do v
sc(au)lpō -is
-psī -ptum -
ere esgravatar
(a terra)
23 ndash 79 d
C110
escultor
Portuguecircs Houaiss escultor latim sculptorōris
ldquoescultorrdquo
1548 adj e sm ldquoaquele
que pratica a arte
da esculturardquo
DELP latim de sculptōre- 1813 escultor
DENF latim de sculptor ndash
ōris
1548
VPL latim de sculptor
oris
sm ldquoOfficial que
faz figuras de
madeira ou de
pedrardquo
DEDLP
Francecircs LNPR sculpteur latim de sculptor do
v lat sculpere
1538 sm pessoa que
pratica a arte da
escultura
CNRTL sculpteur latim
imperial
sculptor
artista que
pratica a arte
da escultura
derivado de
sculptum do
v sculpter
1400 sm artista que
pratica a arte da
escultura
Espanhol DCECH escultor111 latim de sculptor -
oris
c 1600
Italiano DEI scultore latim sculptor ndashōris seacutec XVI sm ldquoquem
esculperdquo
DELI latim
tardio
sculptōre(m)
de scŭlptus
part pass de
scŭlpere
esculpir
1514-20 sm quem
exercita a
escultura
Inglecircs OED sculptor latim sculptor
formado sobre
o v sculpĕre
1634 sb agentivo
algueacutem que
pratica a arte da
110 A data se refere agrave segunda forma em Pliacutenio o Velho 111 Antes esculpidor (1490) segundo o dicionaacuterio
Anielle Aparecida Gomes Gonccedilalves Jacometti de Oliveira
Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
153
esculpir
gravar
entalhar
escultura
sobretudo uma
artista que produz
trabalhos
estatuaacuterios em
maacutermore ou
bronze
Galego DLG escultor
‒ora
latim sculptōre sb ldquopessoa que
professa a arte da
esculturardquo
Catalatildeo DELC escultor ‒ra sb pessoa que
professa a arte da
escultura
DECLC
Provenccedilal DPF escultour latim sculptor sm escultor
Comentaacuterios
Provaacutevel formaccedilatildeo no latim a partir do tema do perfectum ou do supino scūlpt-
mais o sufixo ndashor
Paraacutefrase do valor semacircntico do sufixo ldquo(pessoa) que Xvrdquo (Y) ACT AGE
Anielle Aparecida Gomes Gonccedilalves Jacometti de Oliveira
Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
154
9 Governador
Liacutengua Obra
pesquisada
Forma da
palavra em
dada liacutengua
Liacutengua
de
origem
Formaccedilatildeo da
palavra
Data Classe
gramatical e 1ordf
acepccedilatildeo na
liacutengua em
questatildeo
Latim NDLP gŭbērnātŏr
ōrĭs
latim de gŭbērnārĕ
(gŭbērnǒ ās
āvī ātŭm)
ldquogovernar
dirigir um
navio marear
pilotear fig
governar
conduzir guiar
dirigir
administrarrdquo
106 ndash 43
aC
sm ldquoo que
governa dirige o
leme timoneiro
pilotordquo
DLF gŭbernātŏr
ōris
latim do v guberno
ldquodirigir um
navio ter o
lemerdquo
sm ldquoaquele que
tem o leme o
timatildeo do navio
timoneiro
homem da lemerdquo
DELL gubernātor latim do v gubernō -
ās -āre
ldquogovernar
sentido proacuteprio e
figuradordquo sendo
um empreacutestimo
teacutecnico da
linguagem
naacuteutica antiga e
latinizada do gr
ϰυδερνῶ com os
dois valores
Portuguecircs Houaiss governador latim gubernātor
ōris ldquoo que
dirige o leme
timoneiro
pilotordquo
seacutec XIV sm e adj ldquoque ou
aquele que
governardquo
DELP portuguecircs
ou latim
do v governar
ou mesmo do
lat
gubernātōre-
seacutec XIV ldquoo que dirige o
leme fig o que
dirige comandardquo
DENF latim de gǔbernātōr -
ōris
seacutec XIV
VPL latim gubernator
oris
substantivo
masculino
DEDLP
Francecircs LNPR gouverneur francecircs do v fr
gouverner
ldquogovernarrdquo
seacutec XII112 sm ldquochefe
militar alto
funcionaacuterio real a
quem estava
112 Nessa eacutepoca sob a forma gouvernere
Anielle Aparecida Gomes Gonccedilalves Jacometti de Oliveira
Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
155
confiado um
governo militarrdquo
CNRTL latim gubernator
quem tem o
leme fig
aquele que
dirige (um
Estado)formado
sobre o supino
gubernatum de
gubernare
gouverner
grego doacuterico
κυϐερνατήρ
(grego aacutetico -
ητήρ)
1130-40113 sm aquele que
tem o cargo de
uma pessoa
Espanhol DCECH gobernador espanhol do v gobernar
(2ordf metade do
seacutec X) que por
sua vez eacute do v
lat gŭbĕrnare
ldquogovernar uma
nave conduzir
governar
(qualquer
coisa)rdquo e este do
gr ϰυβερνᾶν
ldquodirigir um
navio pilotarrdquo
c 1220 ndash
1250
Italiano DEI governatore latim gubernātor -
ōris de sentido
mariacutetimo do v
lat gubernāre
governar
seacutec XIII114
DELI 1342 quem governa
Inglecircs OED governor anglo-
francecircs
ant fr
governēo(u)r lt
lat gubernator
de govern- (ant
fr governer lt
lat gubernare
ldquoguiar dirigir
governarrdquo lt gr
κυβερνάω
ldquodirigir um
navio pilotarrdquo)
+ minusor
inglecircs meacutedio
(seacutec XII ao
XV)
ldquoaquele que
governardquo
Galego DLG gobernador
minusora
latim gubernatōre
ldquotimoneiro
diretor
governante
governadorrdquo
adj e sb ldquoque ou
quem governa
maacuteximo
responsaacutevel de
uma proviacutencia ou
de uma
113 Nesse dicionaacuterio sob a forma gouverneres 114 No seacutec XVI sob a forma governadore
Anielle Aparecida Gomes Gonccedilalves Jacometti de Oliveira
Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
156
circunscriccedilatildeo
territorial
anaacutelogardquo
Catalatildeo DELC governador
ra
adj e sb que
governa
DECLC catalatildeo do v cat
governar seacutec
XIII que por
sua vez eacute do
lat gŭbĕrnāre
governar uma
nau conduzir
governar
(qualquer
coisa)
iniacutecio do seacutec
XX
Provenccedilal DPF gouvernour latim gubernator sm governador
diretor
Comentaacuterios
Provavelmente se trata de palavra formada no latim apesar de alguns dos
dicionaacuterios consultados considerarem governador uma forma vernacular O dicionaacuterio
italiano DEI expotildee as etapas de desenvolvimento de governador no italiano que podem
ser aplicadas de uma maneira geral nas outras liacutenguas cujo primeiro sentido eacute quem
governa e onze anos depois nessa liacutengua refere-se natildeo mais a somente quem
governa (accedilatildeo) mas a um alto funcionaacuterio do Estado (cargo que corresponde a uma
atividade) indicando portanto a especializaccedilatildeo do vocaacutebulo a uma funccedilatildeo Atualmente
as noccedilotildees de accedilatildeo funccedilatildeo e cargo fazem parte das propriedades do vocaacutebulo
Paraacutefrase do valor semacircntico inicial do sufixo ldquopessoa que Xvrdquo (Y) ACT AGE
Anielle Aparecida Gomes Gonccedilalves Jacometti de Oliveira
Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
157
10 Historiador
Liacutengua Obra
pesquisada
Forma da
palavra em
dada liacutengua
Liacutengua
de
origem
Formaccedilatildeo da
palavra
Data Classe
gramatical e 1ordf
acepccedilatildeo na
liacutengua em
questatildeo
Latim NDLP
DLF
DELL historior latim
tardio
de historia -ae
histoacuteria
Portuguecircs Houaiss historiador portuguecircs do radical do
particiacutepio
historiado + ndash
or
seacutec XIV adj e sm ldquoque ou
aquele que se
especializou em
ou que escreve
sobre histoacuteria
(lsquociecircnciarsquo)rdquo
DELP portuguecircs de historia seacutec XV115 substantivo
DENF seacutec XIV
VPL historiador
ou
historiadocircr
latim de historicus i sm o escritor de
alguma historia
DEDLP
Francecircs LNPR116
CNRTL
Espanhol DCECH historiador espanhol de historia c 1295
Italiano DEI
DELI
Inglecircs OED
Galego DLG historiador
‒ora
galego de historiar sb ldquoespecialista
em estudos
histoacutericos que
investiga na
histoacuteria ou que
escreve obras de
histoacuteriardquo
Catalatildeo DELC historiador
‒ra
sb pessoa que
escreve histoacuterias
DECLC 1696
Provenccedilal DPF
Comentaacuterios
No NDLP natildeo haacute tal formaccedilatildeo O dicionaacuterio registra termos correspondentes
historiaelig scriptor em Juvenal (c 55-60 ‒ 127 d C) historiaelig conditor em Oviacutedio (43 a
115 Nessa data sob a forma estoriador segundo Machado 116 Natildeo possui correspondecircncia historien
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Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
158
C ‒ 17 ou 18 d C) ao passo que o DELL registra a forma historior como do latim
tardio o que leva agrave conclusatildeo de que historiador seja uma provaacutevel formaccedilatildeo romacircnica
Das liacutenguas pesquisadas poucas satildeo as que usam o morfema ndash(dts)or para
expressar a pessoa que se dedica agrave histoacuteria Pelas dataccedilotildees disponiacuteveis sua presenccedila no
espanhol parece ser a mais antiga formado a partir do substantivo histoacuteria Pelas
caracteriacutesticas de formaccedilatildeo de palavras com o sufixo ndash(dts)or a sua constituiccedilatildeo
verbal tambeacutem eacute possiacutevel como indica o Houaiss mas a partir do tema verbal do v
historiar
Paraacutefrase do valor semacircntico do sufixo ldquo(pessoa) que V Xrdquo (Y) ACT AGE ou
ldquo(pessoa) que Xvrdquo (Y) ACT AGE
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Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
159
11 Inquiridor
Liacutengua Obra
pesquisada
Forma da
palavra em
dada liacutengua
Liacutengua
de
origem
Formaccedilatildeo da
palavra
Data Classe
gramatical e 1ordf
acepccedilatildeo na
liacutengua em
questatildeo
Latim NDLP
DLF
DELL
Portuguecircs Houaiss inquiridor portuguecircs de inquirido +
-or
seacutec XIII adj e sm ldquodiz-se
de ou oficial de
justiccedila que
inquiria
testemunhasrdquo
DELP portuguecircs do v inquirir seacutec XVI117 substantivo
DENF seacutec XIII
VPL enqueredor
enqueredocircr
ou inquiridor
sm Official de
Justiccedila que
pergunta as
testemunhas
DEDLP
Francecircs LNPR118
CNRTL
Espanhol DCECH inquiridor espanhol do v inquirir
(em meados
do seacutec XV)
Italiano DEI119
DELI
Inglecircs OED
Galego DLG
Catalatildeo DELC inquiridor
‒ra
adj que inquire
que investiga ou
indaga
DECLC 1390
Provenccedilal DPF120
Comentaacuterios
De acordo com as dataccedilotildees inquiridor pode ter sido formado no portuguecircs do
tema verbal de inquirir mais adiccedilatildeo do sufixo ndashdor
Paraacutefrase do valor semacircntico do sufixo ldquo(pessoa) que Xvrdquo (Y) ACT AGE 117 Ainda segundo Machado a variante enqueredor eacute de 1346 documentada ateacute o seacutec XVI 118 Em francecircs enquecircteur 119 Em italiano inquirente 120 Em provenccedilal enque(i)staire
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Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
160
12 Inspetor
Liacutengua Obra
pesquisada
Forma da
palavra em
dada liacutengua
Liacutengua
de
origem
Formaccedilatildeo da
palavra
Data Classe
gramatical e 1ordf
acepccedilatildeo na
liacutengua em
questatildeo
Latim NDLP īnspēctŏr
ōrĭs
latim do v īnspĭcĕrĕ
olhar para
pocircr os olhos
em olhar
atentamente
examinar
observar
visitar ver
descobrir
23 ndash 79 d C sm observador
DLF inspectŏr
ōris
latim do v olhar
em examinar
inspecionar
4 a C ndash 65
d C
sm observador
inspetor
examinador
DELL
Portuguecircs Houaiss inspetor latim inspectorōris
ldquovisitador
observadorrdquo
1670-1681 adj e sm ldquoque ou
aquele que
inspeciona
fiscaliza que
exerce inspeccedilatildeordquo
DELP latim de inspectōre-
observador
inspector
examinador
DENF latim de inspector ndash
ōris
1813
VPL inspector ou
inspectocircr
Aquelle que
vigia a obra que
se faz amp toma
fenrido nos
officiaes para que
a faccedilaotilde com a
devida perfeiccedilaotilde
O inspector da
obra
DEDLP
Francecircs LNPR inspecteur
trice
latim de inspector 1406 sb aquele que
escruta (1611)
agente de um
serviccedilo puacuteblico ou
privado que estaacute
encarregado de
vigiar de
inspecionar o
funcionamento de
uma
administraccedilatildeo de
uma empresa de
velar pela
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Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
161
aplicaccedilatildeo das
normas das leis
CNRTL inspecteur
trice
latim de inspector
observador
1447 sb inspetor do
coraccedilatildeo (isto eacute
aquele que escruta
o coraccedilatildeo em se
falando de
Deus) do latim
cristatildeo
Espanhol DCECH inspector latim inspector -
oris
1728
Italiano DEI ispettore
(insp-)
latim īnspector ndash
ōris de
īnspicere
observar
seacutec XIV substantivo
masculino
DELI latim inspectōre(m)
do part pass
inspĕctu(m)
de inspĭcere
olhar
(spĕcere)
dentro (in-)
examinar
1731-35 sm quem vigia a
condiccedilatildeo e o
andamento de
alguma coisa
Inglecircs OED inspector latim inspector de
inspicĕre
inspecionar
1602 sb agentivo
algueacutem que
inspeciona ou
olha
cuidadosamente
algo
Galego DLG inspector ndash
ora
latim inspectōre sb e adjldquoque ou
quem inspeciona
pessoa
encarregada de
inspecionar ou
controlar algordquo
Catalatildeo DELC inspector ndashra sb e adj que
reconhece e
examina uma
coisa
DECLC latim inspector
‒oris
1803-1805
Provenccedilal DPF ispeitour latim inspector sm inspetor
Comentaacuterios
De origem latina a partir do tema do perfectum ou do supino īnspēct- mais adiccedilatildeo
do sufixo ndashor
Paraacutefrase do valor semacircntico do sufixo ldquo(pessoa) que Xvrdquo (Y) ACT AGE
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162
13 Lavrador
Liacutengua Obra
pesquisada
Forma da
palavra em
dada liacutengua
Liacutengua
de
origem
Formaccedilatildeo da
palavra
Data Classe
gramatical e 1ordf
acepccedilatildeo na
liacutengua em
questatildeo
Latim NDLP lăbōrātŏr
ōrĭs
latim do v lăbōrǒ
ās āvī ātŭm
ārĕ trabalhar
laborar
trabalhar em
empenhar em
fazer por
trabalhar (uma
coisa) obrar
executar
354 ‒ 430 d
C
sm o que
trabalha
trabalhador
DLF lăbōrātŏr
ōris
latim c 485 ndash c
585
sm aquele que
trabalha
DELL labōrātor latim
tardio
de labōrō -ās
estar no
trabalho
Portuguecircs Houaiss lavrador portuguecircs do rad de
lavrado (part
do v lavrar) +
-or
seacutec XIII adj e sm ldquoque ou
o que lavra terra
proacutepria ou de
outremrdquo
DELP latim de laboratōre- 1251 sb ldquoo que
trabalhardquo
DENF latim de laborator ndash
ōris
seacutec XIII
VPL sm ldquoAquelle que
cultiva terras
proprias ou
alheyasrdquo
DEDLP
Francecircs LNPR laboureur francecircs de labourer
trabalhar
fatigar
1155 sm aquele que
trabalha a terra
CNRTL laboureur francecircs derivado de
labourer
trabalhar
sufixo -eur
iniacutecio do seacutec
XII
sb aquele que
trabalha que
produz alguma
coisa
Espanhol DCECH labrador 1220-1250
Italiano DEI lavoratore latim
medieval
laborātor -ōris a 1829
DELI latim
tardio
de
laboratōre(m)
do v laborāre
1273 sm quem
emprega a proacutepria
energia fiacutesica e
intelectual no
exerciacutecio de uma
atividade
produtora de bens
ou serviccedilos
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163
necessaacuterios agrave
proacutepria
existecircncia adj
(1869) que
trabalha
Inglecircs OED labourer
laborer
inglecircs v labour
laborar
trabalhar+ -or
c 1325 algueacutem que
trabalha
Galego DLG labrador
‒ora
latim laboratōre sb e adj ldquoque ou
quem lavra a
terrardquo
Catalatildeo DELC llaurador
‒ra
sb e adj que
lavra a terra
DECLC seacutec XIX ou
iniacutecio do seacutec
XX
Provenccedilal DPF labouradou baixo
latim
laborator oris sm lavrador
Comentaacuterios
Formaccedilatildeo no latim medieval do tema do perfectum ou do supino lăbōrāt- com
adiccedilatildeo do sufixo ndashor O dicionaacuterio latino NDLP informa que lăbōrātŏr ōrĭs eacute palavra
de mau cunho
Nascentes menciona que o v lavrar se especializou em trabalhar no campo em
liacutengua portuguesa como ocorreu no espanhol e no francecircs e tambeacutem como se pode
verificar nas outras liacutenguas romacircnicas apresentando ainda no espanhol a especializaccedilatildeo
trabalhar com madeiras No italiano por sua vez todos os vocaacutebulos derivados de
laborāre (lt labōre(m)) satildeo ligados agrave ideia de um trabalho duro e penoso extraiacutedo do v
labāre vacilar (por debaixo de um peso) segundo o DELI
Paraacutefrase do valor semacircntico do sufixo ldquo(pessoa) que Xvrdquo (Y) ACT AGE
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164
14 Leitor
Liacutengua Obra
pesquisada
Forma da
palavra em
dada liacutengua
Liacutengua
de
origem
Formaccedilatildeo da
palavra
Data Classe
gramatical e 1ordf
acepccedilatildeo na
liacutengua em
questatildeo
Latim NDLP lēctŏr ‒ōrĭs latim do v lĕgǒ ĭs
lēgī lēctŭm
lĕgĕrĕ
ldquoajuntar
reunir
escolher
eleger ler para
si ler em voz
alta (para que
outro ouccedila)
fazer leituras
derdquo
106 ndash 43 aC sm ldquoleitor o que
lecirc para si o que lecirc
para outro ouvir
o que tem o
encargo de lerrdquo
DLF lectŏr ‒ōris latim do v lego ldquofig
recolher pelos
ouvidos pelos
olhosrdquo
sm ldquoleitor que lecirc
para si que lecirc
com voz elevada
por conta de
algueacutemrdquo
DELL lēctor ‒ōris latim derivado do v
legō minusis lēgī
lēctum ldquolerrdquo
Portuguecircs Houaiss
leitor latim lector ōris de
lectum supino
de lěgěre ldquoo
que lecircrdquo
seacutec XV adj e sm ldquoque ou
aquele que lecirc para
si mentalmente
ou para outrem
em voz alta
textos escritos
ledorrdquo
DELP latim lectōre- seacutec XVI ldquoo que lecirc para si
o que lecirc em voz
alta por conta de
algueacutem na eacutepoca
cristatilde leitor o
segundo das
quatro ordens
menoresrdquo
DENF latim lector ‒ōris de
lectum supino
de lěgěre
seacutec XV121
VPL latim de lector is 106 ndash 43 aC sm ldquoaquele que
lecircrdquo
DEDLP latim de lectore
Francecircs LNPR lecteur trice latim lector 1307122 sb ldquopessoa que
(ocasionalmente
ou por funccedilatildeo) lecirc
121 Nessa data sob a forma lector segundo o dicionaacuterio 122 Termo da liturgia em c 1120 aponta a obra em questatildeo
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165
em voz alta diante
um ou muitos
ouvintesrdquo
CNRTL latim lector quem
lecirc para si
quem lecirc em
voz alta por
conta de
algueacutem o
qual tomou no
lat cristatildeo o
sentido de o
segundo das
quatro ordens
menores
1307 sm segundo
cleacuterigo das quatro
ordens menores
encarregado de ler
as liccedilotildees no
culto (c 1330)
quem faz a
leitura em voz
alta (1376)
professor de
curso puacuteblico
(1379) pessoa
que lecirc para ela
mesma (1867)
professor adjunto
para o ensino de
liacutenguas vivas nas
universidades
alematildes
Espanhol DCECH lector latim lector minusōris 1256-63
Italiano DEI lettore latim de lēctu(m)
part pass de
lĕgere do qual
entatildeo
lectōre(m)
seacutec XIII
DELI latim lectōre(m)
ensina de
lēctu(m) part
pass de
lĕgere
latinismo
erudito
1321 sm quem lecirc
Inglecircs OED lector latim lector ldquoleitorrdquo
do v legĕre
lect- ldquolerrdquo
1483 nome de agente
ldquoum membro
eclesiaacutestico que
pertence agraves ordens
menores que lecirc
excertos
biacuteblicosrdquo (1563)
ldquopessoa que lecirc
especialmente em
uma faculdade ou
universidade
(agora sobretudo
com um uso
histoacuterico e com
referecircncia a uso
estrangeiro como
por exemplo do
alematildeo)rdquo
Galego DLG lector minusora latim adj e sb ldquoquem lecircrdquo
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166
sm ldquoaquele que nas
comunidades
religiosas ensina
filosofia teologia ou
moral cleacuterigo que
antigamente ensinava
aos catecuacutemenos e
neoacutefitos nas
universidades e
noutros centros de
ensino professor de
nacionalidade
estrangeira
encarregado de
ensinar a liacutengua do
seu paiacutes de origem
nas editoras
companhias teatrais
etc pessoa
encarregada de ler e
revisar os textos
aparelho para ler
microfilmesrdquo
Catalatildeo DELC lector minusora
DECLC catalatildeo do v cat llegir
ler (fim do
seacutec XII) que
por sua vez eacute
do lat lĕgĕre
colher
apanhar
recolher
escolher ler
1860 ou
1873123
Provenccedilal DPF leitour
letour
Comentaacuterios
Formaccedilatildeo no latim do tema do perfectum ou do supino lēct- com adiccedilatildeo do sufixo
ndashor Sobre o espanhol o DCECH explica que lector em 1256-63 na obra de Alfonso
X eacute utilizado como um grau eclesiaacutestico explicitando assim uma noccedilatildeo de funccedilatildeo
tendo somente leedor uma acepccedilatildeo mais geral
Paraacutefrase do valor semacircntico do sufixo ldquo(pessoa) que Xvrdquo (Y) ACT AGE
123 Tambeacutem llegidor (1647)
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167
15 Pastor
Liacutengua Obra
pesquisada
Forma da
palavra em
dada liacutengua
Liacutengua
de
origem
Formaccedilatildeo da
palavra
Data Classe
gramatical e 1ordf
acepccedilatildeo na
liacutengua em
questatildeo
Latim NDLP pāstŏr ōrĭs latim de pāscĕrĕ
ldquolevar ao
pasto
apascentar
criar
(animais)rdquo
100 ndash 44 aC sm ldquoo que leva o
gado ao pasto
que guarda gadordquo
(seacutec V) ldquoPastor
dos povos reirdquo
DLF pastŏr ōrĭs latim de pasco
ldquolevar ao
pasto
apascentar
criar
(animais)
aquele que faz
pastar vaacuterias
ovelhasrdquo
106 ndash 43 aC
DELL pāstor latim derivado de
pāscō ldquonutrir
engordar
pastar comerrdquo
Portuguecircs Houaiss pastor latim pāstor ōris
ldquopastor o que
leva o gado ao
pasto o que
guarda
animais pastor
de povos reirdquo
1188-1230 sm e adj
ldquoindiviacuteduo que
leva os animais ao
pasto e os vigiardquo
(seacutec XIV) ldquoguia
espiritual cleacuterigo
protestanterdquo
DELP latim pastōre- seacutec XIII
DENF latim pastōr ‒ōris seacutec XIII
VPL pastocircr latim pastor is sm ldquogeralmente
falando o que
leva a pastar o
gado e o guardardquo
DEDLP latim de pastore
Francecircs LNPR pasteur latim pastor oris 1050124
CNRTL latim
claacutessico
pastōrem
acus de pastŏr
pastor
depois no
latim cristatildeo
pastor de
almas chefe
de uma
comunidade
cristatilde
seacutec XII sm ldquoaquele que
guarda cuida faz
pastar o gadordquo
Espanhol DCECH pastor latim de pastor c 1140
124 Cuja forma era pastur segundo o LNPR
Anielle Aparecida Gomes Gonccedilalves Jacometti de Oliveira
Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
168
minusōris
Italiano DEI pastore latim de pāstor
minusōris de
pāstus pāscī
ldquolevar ao
pasto
apascentarrdquo
seacutec XIV
DELI latim pastōre(m) de
pāscere
ldquopastar
pascerrdquo
fim do seacutec
XIII
Inglecircs OED pastor latim adotado do ant
francecircs pastour
pastor pastur
(seacutec XII)
adaptaccedilatildeo do lat
pastōr-em
ldquopastorrdquo
literalmente
ldquoalimentador o
que daacute pastordquo de
pasc-ĕre
ldquoalimentar dar
pasto parardquo No
seacutec XVI a
terminaccedilatildeo foi
alterada para ndashor
1362125 nome de agente
pastor
Galego DLG pastor latim pastōre
Catalatildeo DELC pastor ‒ora
DECLC 1251 o que faz
pastar bispo
Provenccedilal DPF pastour
Comentaacuterios
Provaacutevel origem latina cuja base segundo as descriccedilotildees deu-se a partir do v
pāscĕrĕ especificamente do tema do perfectum ou do supino pāst- mais adiccedilatildeo do
sufixo ndashor
Paraacutefrase do valor semacircntico do sufixo ldquo(pessoa) que Xvrdquo (Y) ACT AGE ie
ldquo(pessoa) que apascentardquo
125 Nessa data sob a forma pastour
Anielle Aparecida Gomes Gonccedilalves Jacometti de Oliveira
Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
169
16 Pesquisador
Liacutengua Obra
pesquisada
Forma da
palavra em
dada liacutengua
Liacutengua
de
origem
Formaccedilatildeo da
palavra
Data Classe
gramatical e 1ordf
acepccedilatildeo na
liacutengua em
questatildeo
Latim NDLP pērquīsītŏr
ōrĭs
latim de pērquīrǒ
ĭs sīvī sītŭm
rĕrĕ buscar
com cuidado
procurar por
toda a parte
205ndash184 aC sm o que busca
DLF perquīsītŏr
ōris
latim do v perquīro
sīvi sītum ĕre
investigar
com cuidado
procurar em
toda parte
sm aquele que
pesquisa
DELL
Portuguecircs Houaiss pesquisador portuguecircs do rad do part
de pesquisar +
-or
1789 adj e sm ldquoque ou
aquele que faz
pesquisa(s)rdquo
DELP
DENF 1813
VPL pesquizadocircr aquelle que
pesquiza
DEDLP
Francecircs LNPR perquisiteur francecircs de perquisition
pesquisa
1829 sm aquele que
faz pesquisas
CNRTL perquisiteur latim de perquisitor
aquele que
pesquisa de
perquirere
procurar em
toda parte
pesquisar com
cuidado
1360 sm aquele que
faz pesquisas
Espanhol DCECH pesquisidor espanhol de pesquisa
(1155)
1399
Italiano DEI
DELI
Inglecircs OED
Galego DLG
Catalatildeo DELC perquisitor sb e adj que
pesquisa
DECLC
Provenccedilal DPF
Anielle Aparecida Gomes Gonccedilalves Jacometti de Oliveira
Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
170
Comentaacuterios
Somente o dicionaacuterio latino NDLP e o francecircs CNRTL apontam a formaccedilatildeo da
palavra como no latim enquanto as outras obras datildeo como formaccedilatildeo vernacular uns a
partir do v pesquisar outros a partir do nome pesquisa Levando-se em consideraccedilatildeo a
sua comprovaccedilatildeo mais antiga foi formada provavelmente no latim do tema verbal do
perfectum ou do supino pērquīsīt- mais sufixo ndashor
Paraacutefrase do valor semacircntico do sufixo ldquo(pessoa) que Xvrdquo (Y) ACT AGE
Anielle Aparecida Gomes Gonccedilalves Jacometti de Oliveira
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171
17 Procurador
Liacutengua Obra
pesquisada
Forma da
palavra em
dada liacutengua
Liacutengua
de
origem
Formaccedilatildeo da
palavra
Data
Classe
gramatical e 1ordf
acepccedilatildeo na
liacutengua em
questatildeo
Latim NDLP prōcūrātŏr
ōrĭs
latim do v prōcūrārĕ
tratar com
cuidado
(negoacutecios
alheios) ter o
cuidado de
administrar ter
o cargo de
administrador
de procurador
106ndash43 aC sm o que estaacute
encarregado
dalguma coisa o
que tem a seu
cargo um
cuidado o que
administra
dirige
administrador
diretor
intendente
DLF prōcūrātŏr
(prŏ-) ōris
latim 106ndash43 aC sm procurador
[governador ou
administrador de
uma proviacutencia
funcionaacuterio
encarregado das
rendas do
impeacuterio
encarregado de
conduzir uma
accedilatildeo de justiccedila
DELL
Portuguecircs Houaiss procurador latim de procurātor ōris
do rad de
procurātum supino
de procurāre tratar
com cuidado de
negoacutecios alheios
administrar
governar olhar
por presidir a ter
o cargo de
administrador
cultivar amanhar
trabalhar
manufaturar fazer
expiaccedilotildees afastar
desviar uma coisa
funesta
seacutec XIII sm ldquoindiviacuteduo
que possui
procuraccedilatildeo para
resolver ou
administrar
negoacutecios de
outremrdquo
DELP latim de procuratōre- 1253-1254 sb o que tem
cuidados por outrem
o que administra
administrador
intendente
mandataacuterio
procurador
(governador ou
administrador de
proviacutencia
funcionaacuterio
encarregado dos
Anielle Aparecida Gomes Gonccedilalves Jacometti de Oliveira
Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
172
rendimentos do
impeacuterio)
DENF latim de procurātor ndash
ōris
seacutec XIII
VPL latim de procurator
is
sm aquelle que
em virtude da
procuraccedilatildeo de
alguem trata dos
negocios delle
em seu nome
DEDLP
Francecircs LNPR procurateur latim de procurator seacutec XII126 sm quem age
por procuraccedilatildeo
CNRTL procurateur latim procurator -
oris aquele
que tem
cuidado por um
outro
mandataacuterio
formado sobre
o supino
procuratum de
procurare
procurar
c 1207 sm aquele que
age por
procuraccedilatildeo
Espanhol DCECH procurador 1444-1522-
Italiano DEI procuratore latim procūrātor ndash
ōris
seacutec XIV sm
ldquoadministrador
diretor
magistrado
imperialrdquo
DELI procutarore127 latim procuratōre(m)
derivado de
procurāre ter
atenccedilatildeo a
composto de
prō em favor
de e curāre
1279-
1280128
sm pessoa
munida de
procuraccedilatildeo na
qual tem poder
de representaccedilatildeo
Inglecircs OED procurator adoccedilatildeo
do ant
francecircs
ou do
latim
procuratour ou
prōcūrātōr-em
administrador
agente
cobrador em
uma proviacutencia
representante
de prōcūrāre
procurar
c 1290 nome de agente
algueacutem que
administra os
negoacutecios de
outro quem eacute
devidamente
autorizado a agir
em benefiacutecio de
outro em algum
assunto um
agente um
representante
Galego DLG procurador ndash latim procuratōre sb ldquopessoa que
126 Sob a forma procuratour 127 Forma adquirida em 1300 segundo o dicionaacuterio 128 Nessa data procoratore
Anielle Aparecida Gomes Gonccedilalves Jacometti de Oliveira
Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
173
ora atua em nome de
outra em virtude
do poder que esta
lhe confererdquo
Catalatildeo DELC procurador ndash
ra
sb e adj que
procura
especialmente
que obra por
procuraccedilatildeo
DECLC
Provenccedilal DPF proucurour latim procurator oris sm procurador
Comentaacuterios
Formaccedilatildeo no latim cuja base segundo as descriccedilotildees deu-se a partir do v
prōcūrārĕ especificamente do tema do perfectum ou do supino prōcūrāt- mais adiccedilatildeo
do sufixo ndashor
Paraacutefrase do valor semacircntico do sufixo ldquo(pessoa) que Xvrdquo (Y) ACT AGE
Anielle Aparecida Gomes Gonccedilalves Jacometti de Oliveira
Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
174
18 Professor
Liacutengua Obra
pesquisada
Forma da
palavra em
dada liacutengua
Liacutengua
de
origem
Formaccedilatildeo da
palavra
Data Classe
gramatical e 1ordf
acepccedilatildeo na
liacutengua em
questatildeo
Latim NDLP prŏfēssŏr
ōrĭs
latim de profiteri (v
prŏfĭtĕŏr ērĭs
fēssŭs sŭm ērī
ldquodeclarar
manifestar
professar dar a
conhecer
ensinarrdquo)
35-95 d C sm ldquoprofessor
de mestre de
mestre
professor
retoacuterico o que
cultiva uma arte
o que eacute versado
emrdquo
DLF prŏfessŏr
ōris
latim de profiteor
ldquodeclarar
abertamente
reconhecer
abertamenterdquo
c 25 a C ndash
c 50 d C
sm ldquoaquele que
faz profissatildeo de
que se aplica a
que instruirdquo
DELL
Portuguecircs Houaiss professor latim de professorōris o
que faz profissatildeo de
o que se dedica a o
que cultiva
professor de mestre
do rad de professum
supino de profitēri
declarar perante um
magistrado fazer
uma declaraccedilatildeo
manifestar-se
declarar alto e bom
som afirmar
assegurar prometer
protestar obrigar-se
confessar mostrar
dar a conhecer
ensinar ser
professor
seacutec XV adj e sm ldquoque
professa aquele
que professa uma
crenccedila uma
religiatildeordquo
DELP latim de professōre- 1454 sb ldquoo que faz
profissatildeo de que
se entrega a que
cultiva professor
de mestre de
professorrdquo
DENF latim de professor ndash
ōris
seacutec XV
VPL latim de professor oris sm ldquoO que
ensina
publicamente
algũa Arte ou
Scienciardquo
DEDLP latim de professore o que declara
seus
conhecimentos
diante de
Anielle Aparecida Gomes Gonccedilalves Jacometti de Oliveira
Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
175
outrem
Francecircs LNPR professeur latim de professor a
partir da forma
verbal profiteri
ldquoensinar em
puacuteblico
publicamenterdquo
1337129 sm ldquopessoa que
ensina uma
disciplina uma
arte uma teacutecnica
ou algum
conhecimento de
modo habitual e
na maior parte
das vezes
organizadardquo
CNRTL professeur latim professor aquele
que se declara
conhecedor de
uma arte ou uma
ciecircncia de onde
professor de
mestre de
1337 sm aquele que
ensina (uma arte
uma ciecircncia)
Espanhol DCECH profesor latim professor minusōris
ldquoo que faz
profissatildeo de
algo professor
mestrerdquo
1490
Italiano DEI professore latim professor ndashōris
mestreprofessor
puacuteblico
seacutec XIV ldquoque conhece a
fundo uma arte
ou uma ciecircncia
(c 1389) que
ensina
publicamente
uma ciecircncia
mestrerdquo
DELI latim de professōre(m)
mestre puacuteblico
professor formado
a partir de
profĕssu(m) quem
tem declarado
abertamente part
pass de profitēri
declarar
abertamente da
composiccedilatildeo de prō
frente e fatēri
confessar declarar
intensivo de fāri
falar
1389 sm quem
ensina
Inglecircs OED professor latim lat professor em
que a base
professminus eacute uma
forma verbal
passiva ou uma
forma do particiacutepio
passado do v lat
profiteri ldquodeclarar
em voz alta ou
1538 ldquoaquele que faz
uma declaraccedilatildeo
aberta de seus
sentimentos
crenccedilas etc
aquele que
professa
(algumas vezes
129 Tratando-se de uma mulher a data eacute de 1846
Anielle Aparecida Gomes Gonccedilalves Jacometti de Oliveira
Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
176
publicamenterdquo sua
entrada no inglecircs
meacutedio tardio se
deu atraveacutes ou do
ant fr professeur
ou do latim
em oposiccedilatildeo
agravequele que
pratica)rdquo
Galego DLG profesor
minusora
latim professōre sb ldquopessoa que
ensina alguma
mateacuteriardquo
Catalatildeo DELC professor
minusra
sb pessoa que
exerce ou ensina
uma ciecircncia uma
arte uma
disciplina
DECLC latim professor -oris
o que faz
profissatildeo de
alguma coisa
professor
mestre
1596
Provenccedilal DPF proufessour latim professor sm professor
Comentaacuterios
Formaccedilatildeo no latim a partir do tema verbal do perfectum ou do supino prŏfēss-
mais adiccedilatildeo do sufixo ndashor
O DELI informa que o sm professore eacute quem ensina em 1389 e em 1871
comeccedila a surgir o seu uso mais comum que eacute o tiacutetulo de quem ensina em que a
nomeaccedilatildeo do ser da accedilatildeo passa ao ser da funccedilatildeo Assim pode-se constatar em dados
como esses o trajeto da accedilatildeo para a profissatildeo adquirido com as mudanccedilas sociais
Paraacutefrase do valor semacircntico do sufixo ldquo(pessoa) que Xvrdquo (Y) ACT AGE
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177
19 Promotor
Liacutengua Obra
pesquisada
Forma da
palavra em
dada liacutengua
Liacutengua
de
origem
Formaccedilatildeo da
palavra
Data Classe
gramatical e 1ordf
acepccedilatildeo na
liacutengua em
questatildeo
Latim NDLP
DLF prōmōtŏr
ŏris
latim sm aquele que
acrescenta
DELL
Portuguecircs Houaiss promotor latim de promotor ōris
aquele que faz
crer o que natildeo eacute
verdade do rad
de promōtum
supino de
promovēre
mover impelir
para diante fazer
andar dar
promoccedilatildeo
promover a
elevar
engrandecer levar
para fora fazer
sair adiantar-se
andar para diante
ter
aproveitamento
1619 adj e sm
ldquofuncionaacuterio do
poder judiciaacuterio
que promove o
andamento das
causas e certos
atos de justiccedilardquo
DELP
DENF francecircs de promoteur 1813
VPL promotocircr sm Official da
Justiccedila que em
materias
criminaes he parte
publica
DEDLP
Francecircs LNPR promoteur
trice130
baixo
latim
de promotor 1350 sb pessoa que daacute
o primeiro
impulso (a
alguma coisa)
que provoca a
criaccedilatildeo a
realizaccedilatildeo (final
do seacutec XVI)
procurador de
funccedilatildeo tendo
papel no
ministeacuterio puacuteblico
junto agraves
jurisdiccedilotildees
eclesiaacutesticas
CNRTL promoteur
trice
latim
medieval
promotor
derivado do
c 1350 sb iniciador
aquele que
130 A forma feminina eacute do seacutec XVI
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178
radical do
supino de
promovere
provoca a criaccedilatildeo
a realizaccedilatildeo que eacute
a causa de algo
Espanhol DCECH promotor
Italiano DEI promotore italiano 1265-1321 substantivo
masculino
DELI latim
medieval
promotōre(m)
de 1281-1288
do part pass
promōtus que
por sua vez eacute
do v lat
promovēre
composiccedilatildeo de
prō avante e
movēre
mover
a 1363 sm e adj que
promove alguma
coisa
Inglecircs OED promoter adaptaccedilatildeo
do lat
medieval
prōmōtor de
prōmov-ēre
promover A
forma da
palavra no
inglecircs adveacutem
do anglo-
francecircs do
iniacutecio do inglecircs
moderno
promotour e do
fr promoteur
aquele que
promove um
procurador
oficial em uma
corte
eclesiaacutestica um
agente
(obsoleto)
1450-1530 nome de agente
quem ou o que
promove avanccedila
ou ajuda algum
movimento ou
projeto um
favorecedor um
encorajador
Galego DLG promotor ndash
ora
latim promōtore sb e adjldquoque ou
quem promoverdquo
Catalatildeo DELC promotor ndashra adj que
promove que daacute a
primeira impulsatildeo
a uma coisa
DECLC catalatildeo do v cat
promoure
(1647) do lat
promovere
1803-1805
Provenccedilal DPF proumoutour latim promotor smpromotor
Comentaacuterios Formaccedilatildeo provaacutevel no latim do tema do perfectum ou do supino prōmōt- mais
sufixo ndashor
Paraacutefrase do valor semacircntico do sufixo ldquo(pessoa) que Xvrdquo (Y) ACT AGE
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179
20 Realizador
Liacutengua Obra
pesquisada
Forma da
palavra em
dada liacutengua
Liacutengua
de
origem
Formaccedilatildeo da
palavra
Data Classe gramatical e
1ordf acepccedilatildeo na liacutengua
em questatildeo
Latim NDLP
DLF
DELL
Portuguecircs Houaiss realizador portuguecircs do rad de
realizado + -or
seacutec XX adj e sm ldquoque ou o
que realiza (algo)
diretor de cinema
(regionalismo
Portugal)rdquo
DELP
DENF seacutec XX
VPL
DEDLP
Francecircs LNPR reacutealisateur
trice
francecircs do v reacutealiser
fazer existir agrave
tiacutetulo de
realidade
concreta (que
existia senatildeo
no espiacuterito)
1842 sb pessoa que
realiza produz o que
eacute real efetivo (1918)
pessoa que dirige
todas as operaccedilotildees e
de realizaccedilatildeo de um
filme ou de uma
emissatildeo
CNRTL reacutealisateur
trice
francecircs derivado de
reacutealiser
realizar
sufixo -(at)eur
1842 sb e adj (aquele)
que realiza
Espanhol DCECH
Italiano DEI
DELI realizzatoacutere 1955 sm quem realiza
Inglecircs OED realizer inglecircs formado sobre
o v realize + -
er
1809-10 quem ou o que
realiza
Galego DLG realizador ndash
ora
galego de realizar +
suf ndashdor que
indica agente
da accedilatildeo
sb e adjldquoque ou
quem realiza pessoa
que dirige a
filmagem de um
filme sob as
instruccedilotildees do diretorrdquo
Catalatildeo DELC
DECLC catalatildeo do v realitzar
(1840 -isar)
Provenccedilal DPF
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180
Comentaacuterios
Vocaacutebulo moderno presente em todas as liacutenguas pesquisadas com exceccedilatildeo do
espanhol e do provenccedilal Todos os dicionaacuterios atribuem a formaccedilatildeo ao proacuteprio
vernaacuteculo mas de acordo com as dataccedilotildees encontradas pode ter sido formado no inglecircs
ou no francecircs a partir do tema verbal mais adiccedilatildeo do sufixo ndashor
Os dicionaacuterios Houaiss LNPR e DLG explicitam um primeiro significado de accedilatildeo
e um posterior ligado agrave funccedilatildeo do agente No portuguecircs a designaccedilatildeo mais
propriamente do profissional eacute comum em Portugal mas natildeo no Brasil
Paraacutefrase do valor semacircntico do sufixo ldquo(pessoa) que Xvrdquo (Y) ACT AGE
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181
21 Reitor
Liacutengua Obra
pesquisada
Forma da
palavra em
dada liacutengua
Liacutengua
de
origem
Formaccedilatildeo da
palavra
Data Classe
gramatical e 1ordf
acepccedilatildeo na
liacutengua em
questatildeo
Latim NDLP rēctŏr ōrĭs latim do v rĕgǒ ĭs
rēxī rēctŭm
rĕgĕrĕ dirigir
guiar conduzir
reger governar
governar (um
estado) dirigir
administrar (os
negoacutecios
puacuteblicos)
106 ndash 43 aC sm o que
conduz rege
governa
DLF rectŏr ōris latim de rego
dirigir guiar
conduzir
106 ndash 43 aC sm aquele que
rege que governa
guia chefe
autoridade
DELL rēctor latim de regō -is rēxī
rēctum regere
dirigir em linha
reta no sentido
fiacutesico e moral por
seguinte ter a
direccedilatildeo ou o
comando de
condutor piloto
diretor
Portuguecircs Houaiss reitor latim de rectorōris
governador
reitor que ou
o que dirige
guia rege
1332 sm ldquoaquele que
rege governa
administra ou
dirigerdquo
DELP latim de rectōre- 1332 sb o que rege
que governa
guia chefe
mestre
governador
preceptor
governador da
proviacutencia
DENF latim de rēctor ndashōris seacutec XIII sm aquele que
rege dirige ou
governa
dirigente de
certos
estabelecimentos
de ensino em
especial de ensino
superior
VPL latim de rector is sm de
Universidades ou
Collegios
DEDLP latim de rector que dirige
Francecircs LNPR recteur latim rector de
regere reger
1213 sm capitatildeo de
um navio (1261)
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182
o chefe e o
primeiro oficial
eletivo de uma
universidade
CNRTL recteur latim rector (de
regere
dirigir)
aquele que
dirige
preceptor
governador de
uma
proviacutencia
1261 sm chefe de
uma
universidade
Espanhol DCECH rector latim rector -oris ldquoo
que regerdquo
c 1525
Italiano DEI rettore latim rēctor ndashōris
ldquoregedor
governadorrdquo
de rēctus
regere
1313-1375 sm ldquoregedor
governadorrdquo
DELI latim rectōre(m) do
part pass lat
rēctu(m) do v
rĕgere
fim do seacutec
XIII
sm quem rege
governa
Inglecircs OED rector latim rector de
regĕre guiar
dirigir reger
governar
1387 nome de agente
soberano ou
governador de um
paiacutes cidade
estado ou povo
Galego DLG reitor ndashora latim rectōre adj e sb ldquoque ou
quem rege
governa ou
dirigerdquo
Catalatildeo DELC rector ‒ra adj que rege
sm superior que
tem ao seu cargo
o governo de uma
comunidade
hospital coleacutegio
paroacutequia
DECLC
Provenccedilal DPF reitour latim rector substantivo
masculino
Comentaacuterios
Presente em todas as liacutenguas pesquisadas reitor possui origem no latim do tema
do perfectum ou do supino rēct- com acreacutescimo do sufixo ndashor Segundo o DELP em
1302 sob a forma rector ainda usada em 1460 Trata-se de um cargo
Paraacutefrase do valor semacircntico do sufixo ldquo(pessoa) que Xvrdquo (Y) ACT AGE ie
ldquo(pessoa) que regerdquo
Anielle Aparecida Gomes Gonccedilalves Jacometti de Oliveira
Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
183
22 Relator
Liacutengua Obra
pesquisada
Forma da
palavra em
dada liacutengua
Liacutengua
de
origem
Formaccedilatildeo da
palavra
Data Classe
gramatical e 1ordf
acepccedilatildeo na
liacutengua em
questatildeo
Latim NDLP rĕlātŏr ōrĭs latim do v rĕfĕrǒ
fērs rĕtŭlī e
rēttŭlī (poet)
rĕlātŭm
rĕfērrĕ referir
(em um
escrito)
transcrever
relatar
106 ndash 43 aC sm relator o que
faz um relatoacuterio
(ao senado)
DLF rĕlātŏr ōris latim de refero
colocar-se
atraacutes
transportar
I a C sm relator
aquele que faz um
relatoacuterio (no
senado)
DELL
Portuguecircs Houaiss relator latim de relātorōris
o que faz um
relatoacuterio
narrador
1502-c1536 adj ldquoque relatardquo
DELP latim de relatōre- seacutec XVI sb narrador o
que apresenta
uma relaccedilatildeo
DENF latim de relātor
‒ōris
seacutec XVI
VPL relatocircr latim de relator is sm aquelle que
relata algũa
cousa
DEDLP
Francecircs LNPR131
CNRTL
Espanhol DCECH relator 1444-1522
Italiano DEI relatore latim relātor quem
relata
seacutec XIII substantivo
masculino
DELI latim
tardio
relatōre(m) de
relātu(m) part
pass do v lat
refĕrre
relatar
1543 sm quem tem o
encargo de relatar
sobre
determinadas
questotildees apoacutes um
exame pessoal ou
uma discussatildeo
colegial adj
(1872) que
refere reporta
Inglecircs OED relator adotado
do latim
relātor de
relāt- + -or
1591 nome de agente
um relator
131 Natildeo haacute correpondecircncia em fr rapporteur euse
Anielle Aparecida Gomes Gonccedilalves Jacometti de Oliveira
Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
184
narrador
Galego DLG relator ndashora latim relatōre adj que relata ou
refere uma coisa
sb pessoa que
num congresso ou
assembleia faz
relaccedilatildeo dos
assuntos tratados
Catalatildeo DELC relator ndashra sb e adj que
relata ou refere
uma coisa
DECLC 1803-1805132
Provenccedilal DPF
Comentaacuterios
Relator possui origem no latim do tema do perfectum ou do supino rĕlāt- com
acreacutescimo do sufixo ndashor
Paraacutefrase do valor semacircntico do sufixo ldquo(pessoa) que Xvrdquo (Y) ACT AGE
132 A obra aponta relador como a forma mais antiga de 1647 Essa informaccedilatildeo demonstra ser a
sonorizaccedilatildeo de ndashtndash uma tendecircncia antiga e comum das liacutenguas romacircnicas posteriormente sendo a forma
claacutessica reestabelecida nessa liacutengua no caso em questatildeo
Anielle Aparecida Gomes Gonccedilalves Jacometti de Oliveira
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185
23 Senador
Liacutengua Obra
pesquisada
Forma da
palavra em
dada liacutengua
Liacutengua
de
origem
Formaccedilatildeo da
palavra
Data Classe
gramatical e 1ordf
acepccedilatildeo na
liacutengua em
questatildeo
Latim NDLP sĕnātŏr ōrĭs latim de sĕnēx nĭs
ldquovelho
anciatildeordquo
106 ndash 43 aC sm ldquosenadorrdquo
DLF sĕnātŏr ōris latim de senatus o
conselho dos
anciatildeos o
senado
106 ndash 43 aC sm senador
DELL senātor -ōris latim de senātus ūs
senado
assembleia dos
anciatildeos
certamente
formado sobre
dictātor
ōrātor
sm senador
Portuguecircs Houaiss senador latim de senātorōris
senador
seacutec XIV sm ldquopessoa eleita
ou designada para
exercer funccedilotildees
legislativas em
um senadordquo
DELP latim de senātōre- seacutec XIV sb ldquosenador
membro dum
senado em paiacutes
estrangeirordquo
DENF latim de sěnātor ndash
ōris
seacutec XIV sm ldquomembro do
senadordquo
VPL senadocircr latim de senator is smldquoAntigamente em
Roma era o
Magistrado que dizia
o seu parecer no
Senado amp como Juiz
decidia os negocios
concernentes ao
governo Foy este
Magistrado chamado
Senador do nome
Latino Senior porque
havia de ter senatildeo
idade prudencia fenil
Antes dos trinta annos
ninguem podia ser
Senador ()rdquo
DEDLP
Francecircs LNPR seacutenateur latim de senator fim do seacutec
XII
sm ldquomembro de
um senadordquo
CNRTL seacutenateur latim de senator -
oris senador
derivado de
senatus
c 1160 substantivo
masculino
Anielle Aparecida Gomes Gonccedilalves Jacometti de Oliveira
Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
186
Espanhol DCECH senador latim senator minusōris c 1220 ndash
1250
Italiano DEI senatore
(san- antigo)
latim senātor minusōris seacutec XIV sm ldquoquem faz
parte do senadordquo
DELI latim de
senatōre(m)
derivado de
senātu(m)
assembleia
dos anciatildeos
que eacute oriundo
de sĕnex
velho de
origem
indoeuropeia
1375 sm ldquomembro do
senadordquo
Inglecircs OED senator latim adotado do ant
fr senateur
adaptaccedilatildeo do
lat senātor
formado sobre
sen-em senex
ldquovelho homem
velhordquo
formaccedilatildeo
paralela com
senātus
ldquosenadordquo
c 1205 ldquoum membro de
um senado um
membro do antigo
senado romanordquo
Galego DLG senador ndashora latim senatōre sb ldquomembro do
senadordquo
Catalatildeo DELC senador sm ldquomembro de
um senadordquo
DECLC
Provenccedilal DPF senatour latim senator substantivo
masculino
Comentaacuterios
Segundo o NDLP a base morfoloacutegica dessa formaccedilatildeo eacute o substantivo sĕnēx nĭs
ldquovelho anciatildeordquo sendo no entanto mais provaacutevel a formaccedilatildeo a partir do substantivo
sĕnātŭs ldquosenado (romano)rdquo devido agrave forma e ao significado resultativo da derivaccedilatildeo
agentiva em questatildeo e tambeacutem considerando as informaccedilotildees dadas pelos outros
dicionaacuterios sob anaacutelise Sĕnātŭs por sua vez um nome no latim com formaccedilatildeo dada a
partir de sĕnēx nĭs tem certamente o seu tema remetido ao perfectum ou ao supino
podendo ser entatildeo uma antiga forma verbo-nominal Considerar-se-aacute a constituiccedilatildeo
denominal isto eacute de sĕnātŭs Trata-se de um cargo
Paraacutefrase do valor semacircntico do sufixo ldquo(pessoa) que V a Xrdquo (Y) ACT AGE
ie ldquo(pessoa) que pertence ao senadordquo
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187
24 Servidor
Liacutengua Obra
pesquisada
Forma da
palavra em
dada liacutengua
Liacutengua
de
origem
Formaccedilatildeo da
palavra
Data Classe gramatical e
1ordf acepccedilatildeo na liacutengua
em questatildeo
Latim NDLP sērvītŏr ōrĭs latim de servire ldquoter
a condiccedilatildeo de
escravo ser
escravordquo
sm ldquoservo (dos
deuses)rdquo
DLF servītŏr ōris latim de servio ser
escravo viver
na servidatildeo
sm ldquoservidor dos
deusesrdquo
DELL seruītor baixo
latim
de seruus
ldquoescravordquo
Portuguecircs Houaiss servidor latim
tardio
de servītor
ōris servo
servidor dos
deuses
seacutec XIII adj e sm ldquoque ou
aquele que serverdquo
DELP latim de servitōre- seacutec XIII sb ldquoservidor (dos
deuses)rdquo
DENF latim de sěrvītor ndash
ōris
seacutec XIII
VPL servidocircr ou
servidor
ldquoServo Criadordquo
DEDLP
Francecircs LNPR serviteur baixo
latim
de servitor seacutec XI sm ldquoaquele que
serve (algueacutem do
qual ele eacute devedor)rdquo
CNRTL serviteur baixo
latim
servitor -oris
servidor de
Deus
formado sobre
o supino
servitum de
servire
c 1050 sm aquele que
serve Deus (1155)
aquele que estaacute a
serviccedilo de algueacutem
Espanhol DCECH servidor espanhol do v servir (c
950)
c 1220 ndash
1250
Italiano DEI servitore133 latim
tardio
servitor ndashōris
de servīre
seacutec XIV sm ldquodevoto
obsequenterdquo
DELI latim
tardio
servitōre(m) 1250 sm ldquoquem presta
serviccedilo em casa
privadardquo
Inglecircs OED servitor latim
tardio
adotado do
ant fr
servitor por
sua vez do lat
tardio servītor
sb agentivo
formado sobre
o v servīre
c 1330 ldquoum atendente
pessoal (homem) ou
domeacutestico
(antigamente se
referia agravequele que
espera agrave mesa)rdquo
133 A forma servidore (seacutec XIII) eacute de origem provenccedilal atraveacutes da linguagem trovadoresca segundo a
obra
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188
ldquoservirrdquo
Galego DLG servidor ndashra latim servitōre sb ldquopessoa dedicada
ao serviccedilo de algo ou
de algueacutemrdquo
Catalatildeo DELC servidor ndashra adj e sb ldquoeacute dito da
pessoa que serve
aquele que estaacute a
serviccedilo de algueacutemrdquo
DECLC
Provenccedilal DPF se(a)rvitour latim servitor oris sm servidor
domeacutestico
Comentaacuterios
Servidor possui origem no latim do tema do perfectum ou do supino sērvīt- com
acreacutescimo do sufixo ndashor O dicionaacuterio latino NDLP informa que sērvītŏr ōrĭs eacute palavra
de mau cunho
Paraacutefrase do valor semacircntico do sufixo ldquo(pessoa) que Xvrdquo (Y) ACT AGE
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189
Por uacuteltimo segue a histoacuteria de formaccedilatildeo desses vocaacutebulos de modo resumido e
suas paraacutefrases de origem
Tabela no 4 Origem dataccedilatildeo mais antiga na liacutengua base e produto do processo de
derivaccedilatildeo com os sufixos ndash(dts)or
Nota quando natildeo haacute plena certeza da liacutengua de origem haacute na descriccedilatildeo o sinal ldquo()rdquo
Vocaacutebulo Liacutengua de
origem Dataccedilatildeo Base + sufixo = produto
assessor
ator
autor
defensor
diretor
doutor
escultor
governador
inspetor
lavrador
leitor
pastor
pesquisador
procurador
professor
latim
latim
latim
latim
latim
latim
latim
latim
latim
latim tardio
latim
latim
latim
latim
latim
106 ndash 43 a C
106 ndash 43 a C
70 ndash 19 a C
106 ndash 43 a C
sd
106 ndash 43 aC
23 ndash 79 d C
106 ndash 43 a C
4 aCndash 65 dC
354 ‒ 430 d C
106 - 43 a C
106 ndash 43 a C
205 ndash 184 a C
106 ndash 43 a C
c 25 a C ndash c
50 d C
tema do perfectum ou do supino
āssēss- + minusŏr = āssēssŏr ōrĭs
tema do perfectum ou do supino āct-
+ minusŏr = āctŏr ōrĭs
tema do perfectum ou do supino aūct-
+ minusŏr = aūctŏr ōrĭs
tema do perfectum ou do supino
dēfēns- + minusŏr = dēfēnsŏr ōrĭs
tema do perfectum ou do supino
dīrect- + minusŏr = dīrectŏr ōrĭs
tema do perfectum ou do supino dŏct-
+ minusŏr = dōctŏr ōrĭs
tema do perfectum ou do supino
scūlpt- + ‒ŏr = scūlptŏr ōrĭs
tema do perfectum ou do supino
gŭbērnāt- + ‒ŏr = gŭbērnātŏr ōrĭs
tema do perfectum ou do supino
īnspēct- + ‒ŏr = īnspēctŏr ōrĭs
tema do perfectum ou do supino
lăbōrāt- + ‒ŏr = lăbōrātŏr ōrĭs
tema do perfectum ou do supino lēct-
+ ‒ŏr = lēctŏr ‒ōrĭs
tema do perfectum ou do supino pāst-
+ minusŏr = pāstŏr ōrĭs
tema do perfectum ou do supino
pērquīsīt- + ndashŏr = pērquīsītŏr ōrĭs
tema do perfectum ou do supino
prōcūrāt-+ minusŏr = prōcūrātŏr ōrĭs
tema do perfectum ou do supino
prŏfēss- + ndashŏr = prŏfēssŏr ōrĭs
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190
promotor
reitor
relator
senador
servidor
latim
latim
latim
latim
latim
sd
106 ndash 43 a C
106 ndash 43 a C
106 ndash 43 a C
sd
tema do perfectum ou do supino
prōmōt- + ndashŏr = prōmōtŏr ōrĭs
tema do perfectum ou do supino rēct-
+ ndashŏr = rēctŏr ōrĭs
tema do perfectum ou do supino
rĕlāt- + ndashŏr = rĕlātŏr ōrĭs
radical de sĕnāt- + ndashŏr = sĕnātŏr ōrĭs
tema do perfectum ou do supino
sērvīt- + ndashŏr = sērvītŏr ōrĭs
colaborador francecircs 1755 tema verbal collabora- + ndashteur =
collaborateur
historiador espanhol () c 1295 tema verbal historia- + ndashdor =
historiador ou do substantivo
histoacuteria- + ndashdor = historiador
inquiridor portuguecircs seacutec XIII tema verbal inquiri- + ndashdor =
inquiridor
realizador inglecircs () 1809-10 tema verbal realize- + ndasher = realizer
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191
Tabela no 5 Vocaacutebulos em ndash(dts)or e suas categorias gramaticais e
paraacutefrases de origem
Nota na categoria gramatical haacute a descriccedilatildeo dos percursos encontrados
Vocaacutebulo Categoria gramatical Paraacutefrase
assessor substantivo e adjetivo ldquo(pessoa) que Xvrdquo (Y) ACT AGE
ator substantivo e adjetivo ldquo(pessoa) que Xvrdquo (Y) ACT AGE
autor substantivo ldquo(pessoa) que Xvrdquo (Y) ACT AGE
colaborador substantivo e adjetivo ldquo(pessoa) que Xvrdquo (Y) ACT AGE
defensor substantivo e adjetivo ldquo(pessoa) que Xvrdquo (Y) ACT AGE
diretor substantivo e adjetivo ldquo(pessoa) que Xvrdquo (Y) ACT AGE
doutor substantivo ldquo(pessoa) que Xvrdquo (Y) ACT AGE
escultor substantivo e adjetivo ldquo(pessoa) que Xvrdquo (Y) ACT AGE
governador substantivo e adjetivo ldquo(pessoa) que Xvrdquo (Y) ACT AGE
historiador substantivo e adjetivo ldquo(pessoa) que V Xrdquo (Y) ACT AGE
ou ldquo(pessoa) que Xvrdquo (Y) ACT AGE
inquiridor substantivo e adjetivo ldquo(pessoa) que Xvrdquo (Y) ACT AGE
inspetor substantivo e adjetivo ldquo(pessoa) que Xvrdquo (Y) ACT AGE
lavrador substantivo e adjetivo ldquo(pessoa) que Xvrdquo (Y) ACT AGE
leitor substantivo e adjetivo ldquo(pessoa) que Xvrdquo (Y) ACT AGE
pastor substantivo e adjetivo ldquo(pessoa) que Xvrdquo (Y) ACT AGE
pesquisador substantivo e adjetivo ldquo(pessoa) que Xvrdquo (Y) ACT AGE
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192
procurador substantivo e adjetivo ldquo(pessoa) que Xvrdquo (Y) ACT AGE
professor substantivo e adjetivo ldquo(pessoa) que Xvrdquo (Y) ACT AGE
promotor substantivo e adjetivo ldquo(pessoa) que Xvrdquo (Y) ACT AGE
realizador substantivo e adjetivo ldquo(pessoa) que Xvrdquo (Y) ACT AGE
reitor substantivo e adjetivo ldquo(pessoa) que Xvrdquo (Y) ACT AGE
relator substantivo e adjetivo ldquo(pessoa) que Xvrdquo (Y) ACT AGE
senador substantivo ldquo(pessoa) que V a Xrdquo (Y) ACT AGE
servidor substantivo e adjetivo ldquo(pessoa) que Xvrdquo (Y) ACT AGE
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193
4 ANAacuteLISE MORFOSSEMAcircNTICA-DIACROcircNICA DOS SUFIXOS
ndashNTE E ndash(DTS)OR NA LIacuteNGUA PORTUGUESA
4 1 Anaacutelise e discussatildeo dos dados qualitativos
A meta do recorte em nomes de profissionais em ndashnte e ndash(dts)or eacute confrontar a
significaccedilatildeo desses sufixos em campo comum e expressivo da classe dos agentivos e a
partir dessa anaacutelise ver se as caracteriacutesticas essenciais encontradas nesse grupo lexical
se manifestam nos outros grupos de palavras formados com os mesmos sufixos
A discussatildeo dos dados e a exposiccedilatildeo de algumas questotildees levantadas a partir dos
mesmos tomaraacute lugar dentro da seguinte ordem (i) a origem e as partes constituintes
dos nomes analisados (ii) as paraacutefrases (iii) a implicaccedilatildeo histoacuterica e a concepccedilatildeo
moderna das formaccedilotildees sob a oacutetica do aspecto nos nomes Certamente esses satildeo os
assuntos mais importantes a serem tratados aleacutem de outras consideraccedilotildees De iniacutecio os
dados submetidos agrave anaacutelise seratildeo os etimoloacutegicos e posteriormente dados em geral
presentes no anexo II a fim de se fazer uma comparaccedilatildeo entre o conteuacutedo semacircntico de
ambos os corpora e entre os grupos lexicais diversos
Os nomes em ndashnte e ndash(dts)or evocam ocupaccedilotildees sociais diversas Muitas vezes
denotam chefia cargos cuja posiccedilatildeo eacute considerada socialmente superior como
comandante dirigente presidente regente tenente diretor governador reitor
senador um total de 9 vocaacutebulos correspondendo a 2307 dos dados Outras vezes
indicam profissionais que ocupam funccedilotildees julgadas de niacutevel social mediano pela
coletividade pois natildeo representam uma atividade que envolve grande direccedilatildeo agente
assistente atendente estudante gerente negociante palestrante representante
assessor ator autor colaborador defensor doutor escultor historiador inquiridor
inspetor leitor pesquisador procurador professor promotor realizador relator um
total de 25 vocaacutebulos correspondendo a 625 dos dados Por fim haacute ainda praticantes
de serviccedilos considerados socialmente inferiores ajudante servente lavrador pastor
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194
servidor um total de 5 vocaacutebulos correspondendo por sua vez a 125 dos dados
Todas as formaccedilotildees profissionais no entanto tecircm algo em comum natildeo estatildeo ligadas agrave
pejoratividade mesmo as referentes agraves posiccedilotildees menos elevadas
Sobre a origem das palavras sob anaacutelise que satildeo as mais produtivas dentro dos
corpora pode-se perceber a forccedila estabelecedora do latim nas liacutenguas romacircnicas pois
aleacutem da presenccedila quase total de vocaacutebulos latinos principalmente no que diz respeito ao
afixo ndash(dts)or (ver tabela no 4 p 189 e 190) quando o vocaacutebulo tem origem na liacutengua
em questatildeo as liacutenguas subsequentes manteram a mesma formaccedilatildeo morfoloacutegica e
semacircntica criando-se a conhecida unidade romacircnica ocidental Em nuacutemeros um total
de 28 de todos os vocaacutebulos que corresponde a 70 dos dados tem origem no latim
enquanto 12 palavras 30 dos dados satildeo palavras formadas no francecircs portuguecircs
espanhol italiano e inglecircs Isoladamente dos 24 vocaacutebulos em ndash(dts)or 20 (8333)
satildeo do latim 1 (416) do francecircs 1 (416) do espanhol 1 (416) do portuguecircs e 1
(416) do inglecircs enquanto dos em ndashnte apresentam um pouco mais de diversidade
das 15 palavras 8 (5333) satildeo do latim 4 (2666) do italiano 1 (666) do francecircs
1 (666) do portuguecircs e 1 (666) como romacircnica
A presenccedila das formas em ndashnte e ndash(dts)or em escritores claacutessicos como Virgiacutelio
e outros mostra como as palavras formadas com esses afixos eram eruditas na eacutepoca do
latim logo tambeacutem mencionando profissotildees do mesmo modo consideradas de grande
valor A grande porccedilatildeo de 8333 dos nomes de profissionais em ndash(dts)or mais
utilizados em portuguecircs serem do latim mostra que a introduccedilatildeo e a adoccedilatildeo de
empreacutestimos latinos na liacutengua portuguesa eacute aceita de modo irrestrito e sem resistecircncia
pois tendo a palavra jaacute existido em um sistema anterior e ainda sendo necessaacuteria para
expressar determinada ideia ela eacute (re)introduzida em sistema posterior aceita e
utilizada pelos falantes Comprova-se pelos dados a aceitaccedilatildeo de latinismos como forccedila
integrativa de prestiacutegio e classicismo134
No cotejo dos dados que compreende o conjunto dos nomes de profissionais em ndash
nte e ndash(dts)or chama bastante atenccedilatildeo os processos de mudanccedilas gramaticais nos
quais alguns vocaacutebulos passaram
134 Roth (1980 163) afirma que palavras tomadas do grego e do latim satildeo consideradas de modo geral
eruditas pois satildeo vistas como um ldquoreservatoacuterio ou depoacutesito naturalrdquo e tambeacutem porque teriam sido
introduzida na liacutengua pela escrita apesar de ser difiacutecil verificar por que caminho oral ou escrito este ou
aquele empreacutestimo foi tomado
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195
Enquanto ndash(dts)or desde o latim jaacute se constituiacutea como um sufixo no campo da
derivaccedilatildeo nominal ndashnte nessa mesma liacutengua passava por um processo de
nominalizaccedilatildeo natildeo soacute a terminaccedilatildeo em si como a palavra e a categoria gramatical a
qual pertence como um todo Por terem sido considerados nomes desde o iniacutecio de sua
existecircncia percebe-se pela anaacutelise etimoloacutegica dos vocaacutebulos que haacute muito mais
informaccedilotildees sobre os vocaacutebulos sufixados em ‒(dts)or do que sobre os em ndashnte No
que diz respeito a essa uacuteltima forma seu progressivo movimento de reanaacutelise categorial
eacute marcado muitas vezes por uma falta de registro de informaccedilotildees quando se encontra em
determinadas categorias como a dos verbos porque os tempos modos e conjugaccedilotildees
natildeo satildeo explicitados em dicionaacuterios e outras obras dessa natureza e ateacute mesmo natildeo os
satildeo em obras de gramaacutetica quando direcionadas aos informes principais Essa transiccedilatildeo
de categoria gramatical pode ser visualizada na tabela 3 (p 134) e percebida nos
seguintes nomes analisados agente dirigente estudante gerente negociante
presidente regente servente e tenente pertencentes ao particiacutepio presente e relatados
tambeacutem como nomes no latim pois se encontram nas entradas dos dicionaacuterios e ou satildeo
definidos como tal Outros como ajudante assistente atendente comandante
palestrante e representante satildeo formados provavelmente nas liacutenguas romacircnicas no
momento em que se compreende ndashnte na fase de formaccedilatildeo de nomes natildeo se obtendo
pelas obras consultadas informaccedilatildeo qualquer sobre o uso desses nomes como particiacutepio
presente com exceccedilatildeo de dirigente (p 110 e 111) pertencente ao particiacutepio presente
segundo o CNRTL (sem a indicaccedilatildeo da liacutengua de origem) e DELI (com a indicaccedilatildeo de
formaccedilatildeo no italiano) Aleacutem disso os dados de ajudante e representante (paacuteg 101 e
126 respectivamente) explicitam geralmente um primeiro uso do sufixo ndashnte na classe
dos nomes como adjetivo e depois como substantivo com um contraponto em
negociante relatado na classe dos nomes como um substantivo pelos dicionaacuterios
latinos
Assim no latim ndashnte passava por um complexo processo de mudanccedila de
categoria gramatical em que natildeo se tem somente como modificaccedilatildeo a passagem de um
afixo flexional para um derivacional mas o enfraquecimento de um paradigma
considerado como verbal no latim e que na liacutengua portuguesa contemporacircnea assume
diferentes funccedilotildees centrando-se principalmente em sua funccedilatildeo nominal
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196
Ao refletir sobre a transiccedilatildeo categorial do particiacutepio a partir dos dados analisados
pode-se pensar na seguinte proposiccedilatildeo um fato linguiacutestico aparentemente natildeo
determinado necessariamente teraacute uma inclinaccedilatildeo para algum dos usos relacionados a
ele em dado momento na histoacuteria No caso do particiacutepio presente em algum momento
da histoacuteria do latim estabeleceu-se seu uso como verbo apesar de ser de fato uma
classe distinta e em algum outro momento a tendecircncia foi relacionar sua forma a um
nome tais relaccedilotildees por sua vez circunscrevem-se nos limites do que eacute inerente ao
particiacutepio natildeo se tratando de inclinaccedilotildees voluacuteveis No momento da relaccedilatildeo do particiacutepio
presente ao nome o vocaacutebulo agente-verbo por exemplo comeccedila a ser associado a
agente-nome ou seja da accedilatildeo de agir se passa agrave (pessoa) que age sem a perda no
entanto de sua caracteriacutestica morfossemacircntica verbal
Nota-se que aleacutem da descriccedilatildeo de relaccedilotildees de sentidos entre os sufixos haacute a
necessidade de reconhecer as relaccedilotildees de sentido em outro ponto do interior das
palavras isto eacute nas bases Muitas vezes um mesmo verbo formaraacute um nome em ndashnte e
outro em ndash(dts)or que no latim exibiam bases distintas de um mesmo verbo Do
verbo latino agō is ĕre ēgī āctum (ldquotrazer juntar amontoar conduzir para frente
fazer alguma coisa obter um resultadordquo) por exemplo constroacutei-se o particiacutepio presente
em que a base de formaccedilatildeo eacute agĕ- constituiacutedo a partir do tema do infinitivo agĕre mais
a terminaccedilatildeo ‒ns ‒ntis resultando no vocaacutebulo agēns entis ldquoagenterdquo Tambeacutem do v
agō a partir do tema do perfectum ou do supino āctum haacute a construccedilatildeo de āctor ōris
com a inserccedilatildeo do sufixo derivacional ndashor ‒ōris Vejamos esse e outros exemplos de
verbos que geram os dois nomes no latim cujas bases satildeo constituiacutedas pelo tema verbal
do infectum e pelo tema do perfectum ou do supino do mesmo verbo135
135 Os pares dirigente e diretor governante e governador satildeo considerados sinocircnimos tanto em
dicionaacuterios como em gramaacuteticas Os pares de vocaacutebulos nomeadamente distintos por essas mesmas obras
satildeo agente e ator docente e doutor gerente e gestor regente e reitor servente e servidor
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Agō ĭs ĕ-rĕ ēgī āct-ŭm
+ ‒ns‒ntis + ‒or
Agensntis Actor
Agente Ator
Dīrĭgǒ ĭs ĕ-rĕ rēxī rēct-ŭm
+ ‒ns‒ntis + ‒or
Dirigensntis Director
Dirigente Diretor
Gĕrǒ ĭs ĕ-rĕ gēssī gēst-ŭm
+ ‒ns‒ntis + ‒or
Gerensntis Gestor
Gerente Gestor
Gŭbērnǒ ās ā-re āvī āt-ŭm
+ ‒ns‒ntis + ‒or
Governansntis Governator
Governante Governador
Rĕgǒ ĭs gĕ-rĕ rēxī rēct-ŭm
+ ‒ns‒ntis + ‒or
Regensntis Rector
Regente Reitor
Dŏcĕǒ ēs cē-rĕ cŭī ct-ŭm
+ ‒ns‒ntis + ‒or
Docensntis Doctor
Docente Doutor
Sērvĭǒ īs ī-rĕ īvī ou ĭī ī-tŭm
+ ‒ns‒ntis + ‒or
Servensntis Servitor
Servente Servidor
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Assim as duas palavras agente e ator por exemplo tal como os outros pares
explicitados possuem uma estreita relaccedilatildeo pois tecircm origem no mesmo verbo mas com
bases verbais diferentes cujas formas e significados tambeacutem expressaratildeo noccedilotildees
desiguais
Ao visualizar as ocorrecircncias acima assim como as tabelas de nuacutemero 2 e 4 (paacuteg
133 e 189 respectivamente) dos dados etimoloacutegicos o que mais salta aos olhos eacute sem
duacutevida o padratildeo morfossemacircntico das formaccedilotildees Ao rastrear pela etimologia
fornecida pelos dicionaacuterios os modos de formaccedilatildeo dos vocaacutebulos em ndashnte e em ndash
(dts)or por meio do estudo dos trinta e nove profissionais selecionados esses dois
grupos satildeo caracterizados por uma regularidade na formaccedilatildeo de palavras As liacutenguas
romacircnicas por sua vez perpetuam a formaccedilatildeo com esse afixo a partir de um tema
verbal uacutenico isto eacute sem a divisatildeo entre perfectum e infectum como ocorria no latim
No que diz respeito aos casos de formaccedilatildeo com o sufixo ndash(dts)or no latim e nas
liacutenguas romacircnicas a questatildeo sobre a base desses nomes eacute um tanto controversa ateacute
mesmo entre os estudiosos Nos dicionaacuterios consultados haacute 12 (doze) indicaccedilotildees de
formaccedilatildeo no tema do supino latino e 16 (dezesseis) no tema do particiacutepio passado no
que diz respeito a formaccedilotildees no latim e nas liacutenguas romacircnicas e agraves vezes um mesmo
dicionaacuterio fornece ora uma formaccedilatildeo ora outra como acontece com o dicionaacuterio
italiano DEI O tema do supino latino eacute dado pelos dicionaacuterios que seguem com o
respectivo nuacutemero de ocorrecircncias CNRTL (5 ocorrecircncias ndash formaccedilotildees no latim)
Houaiss (4 ocorrecircncias ndash formaccedilotildees no latim) DENF (1 ocorrecircncia ndash formaccedilatildeo no
latim) DEI (1 ocorrecircncia ndash formaccedilatildeo no latim) Jaacute com o tema do particiacutepio passado
tem-se Houaiss (6 ocorrecircncias ndash formaccedilotildees no portuguecircs) DELI (6 ocorrecircncias ndash
formaccedilotildees no latim) OED (3 ocorrecircncias ndash formaccedilotildees no latim) DEI (1 ocorrecircncia ndash
formaccedilatildeo no latim) Apesar da problemaacutetica sobre essas duas possibilidades de
formaccedilatildeo haacute do ponto de vista semacircntico de qualquer modo um valor oposto ao
cursivo
A descriccedilatildeo das bases desses derivados formados jaacute na liacutengua portuguesa eacute o
particiacutepio passado com inserccedilatildeo do sufixo ndashor segundo o Houaiss (2001) por
exemplo que prevecirc tal formaccedilatildeo morfoloacutegica com esse afixo para todos os vocaacutebulos
vernaculares Nessa obra a formaccedilatildeo de embalador eacute embalado + ndashor programador de
programado + ‒or computador de computado + ‒or cujos modelos se repetem em
quase todas as palavras que julga serem formadas no portuguecircs e com raras exceccedilotildees
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199
sugere como base um tema verbal com a adiccedilatildeo da forma ndashdor como sucede com
revedor de rever + -dor Pensa-se que tal proposta morfoloacutegica fornecida eacute motivada
por uma imitaccedilatildeo do modelo morfoloacutegico latino da expressatildeo do perfectum e que de
fato a realidade das formaccedilotildees em liacutengua portuguesa se datildeo a partir do tema do verbo a
ser expresso cujo sufixo natildeo eacute mais ndashor mas ndashdor e que palavras constituiacutedas no
portuguecircs natildeo seguem os padrotildees histoacutericos do sufixo latino ndash(ts)or mas sim um
processo produtivo regular comum aos nomes deverbais no portuguecircs O radical de ndash
nte por sua vez natildeo mudou do latim ao portuguecircs ao contraacuterio do radical de ndashdor
restando como resquiacutecio do antigo tema do perfectum ou do supino somente a partiacutecula
ndashdndash cuja base agora eacute como a de ndashnte de valor imperfeito havendo desse modo uma
assimilaccedilatildeo de base Ademais a leitura da base que o Houaiss (2001) provecirc eacute a de uma
base passiva o que natildeo corresponde agrave realidade semacircntica do vocaacutebulo
Assim os dois sufixos ndashnte e ndash(dts)or aparecem sistematicamente com a mesma
base no portuguecircs tornando-se dois procedimentos de derivaccedilatildeo estreitamente
aparentados tanto no que diz respeito agrave estrutura da formaccedilatildeo como ao significado dos
sufixos jaacute que como se pode ver pela lista de pares de palavras em ndashnte e ndash(dts)or
(anexo I p 255) competem entre si na formaccedilatildeo de substantivos e adjetivos ativos a
partir de bases verbais idecircnticas Com uma base comum o que os diferenciaraacute satildeo os
sentidos dos sufixos
A base nominal por seu turno eacute relatada em alguns casos natildeo sendo tatildeo
excepcional assim como por exemplo no latim senator e haacute outras poucas ocorrecircncias
no Anexo II como ver-se-aacute agrave frente
O processo de formaccedilatildeo de palavras eacute por sua vez de certo modo uma
transformaccedilatildeo sintaacutetica em expressatildeo nominal No que diz respeito agrave derivaccedilatildeo sufixal
a base e o sufixo comunicam um conceito oracional em que o afixo lanccedila uma ideia ao
radical direcionando e moldando o sentido do produto radical larr afixo Os diferentes
sufixos assim como os diferentes significados de um mesmo sufixo emitem novas
aplicaccedilotildees de significado ao radical As paraacutefrases contidas nos sufixos ndashnte e ndash(dts)or
evidenciam uma conjetura frasal isto eacute prendem-se a uma oraccedilatildeo de base como em
ajudante que encerra o sentido de ldquo(pessoa) que ajudardquo e diretor ldquo(pessoa) que dirigerdquo
No nome composto por exemplo a construccedilatildeo sintaacutetica eacute mais perceptiacutevel do que em
um produto derivacional pela sua proacutepria constituiccedilatildeo material pois enquanto na
composiccedilatildeo haacute dois elementos claramente definidos que logo falam por si na derivaccedilatildeo
Anielle Aparecida Gomes Gonccedilalves Jacometti de Oliveira
Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
200
se tem um uacutenico elemento visiacutevel em que suas partes estatildeo estritamente conjugadas
cujas relaccedilotildees podem ser menos evidentes
Pela visualizaccedilatildeo das tabelas no 3 e no 5 (paacuteg 134 e 191 respectivamente) vecirc-se
que as paraacutefrases de origem de ndashnte e ndash(dts)or resultativas dessa documentaccedilatildeo satildeo
uniformes sendo todas ldquo(pessoa) que Xvrdquo (Y) com exceccedilatildeo de senador ldquo(pessoa) que
V a Xrdquo (Y) Assim pela anaacutelise dos dados num olhar para a sua formaccedilatildeo original
atraveacutes da etimologia encontra-se um sentido de accedilatildeo uacutenico e basilar Tal paraacutefrase
como se poderaacute constatar iraacute se repetir do mesmo modo em todas as palavras em ndashnte e
ndash(dts)or sejam elas designativas de profissionais de instrumentos ou de qualquer
outro grupo lexical pois o significado da palavra ou do sufixo natildeo eacute determinado por
um grupo especiacutefico mas ao contraacuterio os vocaacutebulos satildeo formados e dirigidos ao grupo
lexical devido agrave transparecircncia semacircntica desses mesmos afixos e de uma disposiccedilatildeo
simples da base
Em relaccedilatildeo agraves definiccedilotildees dos vocaacutebulos em ndashnte e ndash(dts)or dadas pelos
dicionaacuterios a partir das quais se formulam as paraacutefrases tem-se de modo geral uma
primeira referecircncia simples da qualidade acional da palavra sendo as seguintes de
cunho acional mais especiacutefico podendo referir-se a uma pessoa a um profissional a um
produto etc
A mudanccedila semacircntica de um nome agentivo acional para o acircmbito do profissional
eacute bem clara na descriccedilatildeo dos dados de alguns dicionaacuterios (ver os comentaacuterios de
professor por exemplo p 174 a 176) O inverso tambeacutem acontece como em leitor O
dicionaacuterio italiano DELI expotildee as etapas de desenvolvimento de leitor no italiano que
podem de modo geral tambeacutem fazer parte do processo de mudanccedila semacircntica em
outras liacutenguas Abaixo se tem a formalizaccedilatildeo das apariccedilotildees semacircnticas no italiano136
1ordm) ano de 966 leitor eacute quem lecirc a liturgia (referente a uma funccedilatildeo)
2ordm) ano de 1306 leitor corresponde a professor (referente a uma funccedilatildeo)
3ordm) ano de 1321 leitor eacute quem lecirc (referente a uma accedilatildeo)
4ordm) ano de 1942 leitor corresponde a professor na universidade (referente a uma
funccedilatildeo)
136 O surgimento de um novo significado natildeo determina necessariamente o desaparecimento de outros
significados
Anielle Aparecida Gomes Gonccedilalves Jacometti de Oliveira
Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
201
5ordm) ano de 1963 leitor designa um aparelho oacutetico (referente a um instrumento)
Desse modo a palavra leitor da acepccedilatildeo de funccedilatildeo passa a de accedilatildeo situaccedilatildeo
cabiacutevel e possiacutevel por conta da histoacuteria do sufixo Tal mudanccedila pode ter ocorrido devido
agraves proacuteprias transformaccedilotildees pelas quais a sociedade passou frisando que essa passagem
ou duplicaccedilatildeo de informaccedilatildeo sob uma mesma forma soacute se realizou efetivamente porque
o sufixo ndash(dts)or possui condiccedilotildees histoacutericas para oferecer tais alteraccedilotildees natildeo
necessitando assim da criaccedilatildeo de outra palavra para a expressatildeo de ideia diversa agrave
primeira A acepccedilatildeo instrumental eacute possiacutevel devido ao significado do antigo sufixo
grego ndashτήρ Ver tambeacutem esse caminho semacircntico percorrido por lecteur no francecircs
exposto pelo dicionaacuterio CNRTL paacuteg 165
4 2 Anaacutelise e discussatildeo dos dados quantitativos
Saindo do campo especiacutefico dos nomes dos profissionais abordado sob um
metoacutedo de pesquisa qualitativo apresenta-se os dados do anexo II (paacutegs 263 a 350)
caracterizados pela diversidade no campo lexical e recolhidos com o intuito de se obter
um panorama dos objetos em questatildeo que compreende a seguinte amplitude numeacuterica
436 palavras em ndashnte e 823 palavras em ndash(dts)or coletadas do dicionaacuterio Houaiss
(2001) e 55 palavras em ndashnte e 76 em ndashdor captadas por meio de falantes e por meios
midiaacuteticos e natildeo presentes no dicionaacuterio Houaiss (2001) atingindo um total de 1390
palavras analisadas Os dados dessa abordagem quantitativa foram colhidos de modo
aleatoacuterio e se constitui em um corpus de palavras variadas cujo objetivo eacute confirmar ou
natildeo a existecircncia de certo padratildeo semacircntico nesses sufixos indicado pelo corpus
etimoloacutegico Nota-se pelos nuacutemeros das palavras natildeo registradas no Houaiss (2001)
com a possibilidade de alguns casos serem neologismos que a produtividade de
formaccedilotildees de palavras em ndashnte e ndashdor podem ser consideradas quase equivalentes
As datas e procedecircncias dadas pelo Houaiss (2001) satildeo alvos de criacuteticas diversas
muitas vezes fundamentadas Apesar de seus problemas trabalhou-se o conjunto das
formaccedilotildees em ndashnte e ndash(dts)or como um todo com as palavras e as informaccedilotildees
contidas nessa obra (ver Anexo II e III) pois ateacute o momento eacute a obra mais completa
Anielle Aparecida Gomes Gonccedilalves Jacometti de Oliveira
Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
202
relevante e atual que se tem em liacutengua portuguesa que abarca os diversos seacuteculos de
formaccedilotildees na liacutengua
Um segundo passo para o avanccedilo da ciecircncia desses nomes seria fazer a anaacutelise
etimoloacutegica de todos os itens que contecircm os afixos ndashnte e ndash(dts)or aprimorando e
corrigindo o conhecimento que haacute sobre eles No entanto devido agrave grande extensatildeo de
tal trabalho recolheu-se as 1390 palavras formadas com tais afixos para conhecer
mesmo que de modo superficial a categoria gramatical no portuguecircs a liacutengua de
formaccedilatildeo a dataccedilatildeo o modo de formaccedilatildeo da palavra e a primeira definiccedilatildeo explicitada
pelo dicionaacuterio e a partir da definiccedilatildeo morfoloacutegica e lexical explicitou-se a paraacutefrase
do sufixo A seguir tem-se a exibiccedilatildeo e discussatildeo desses dados
Sobre as categorias gramaticais das palavras em ndashnte
bull presentes no Houaiss (2001) substantivos e adjetivos 231 ocorrecircncias (52
98) somente adjetivos 199 ocorrecircncias (4574) somente substantivos 6
ocorrecircncias (137)
bull natildeo presentes no Houaiss (2001) substantivos e adjetivos 31 ocorrecircncias
(5636) somente adjetivos 24 ocorrecircncias (4363)137
Sobre as categorias gramaticais das palavras em ndash(dts)or
bull presentes no Houaiss (2001) substantivos e adjetivos 808 ocorrecircncias
(9817) somente substantivos 13 ocorrecircncias (157) somente adjetivos 2
ocorrecircncias (024)
bull natildeo presentes no Houaiss (2001) substantivos e adjetivos 75 ocorrecircncias
(9868) somente substantivo 1 ocorrecircncia (131)138
No plano das classes de palavras a terminaccedilatildeo ndashnte devido a sua proacutepria origem
e configuraccedilatildeo como particiacutepio pode manifestar-se como substantivo adjetivo e verbo
cujos dados mostram a tendecircncia de ndashnte como um adjetivo em liacutengua portuguesa
enquanto ndash(dts)or tem propensatildeo a estar relacionado agrave classe substantival apesar de
ser essa uacuteltima inclinaccedilatildeo bem menos significativa se comparada agrave anterior de acordo
com os dados No entanto eacute importante ter em vista que as informaccedilotildees referentes agraves
categorias gramaticais dos vocaacutebulos fornecidas pelo Houaiss (2001) nem sempre
correspondem agrave realidade dos usos Muitas vezes o que o dicionaacuterio em questatildeo
137 Essa classificaccedilatildeo gramatical foi dada pelos usos encontrados Faz-se necessaacuterio no entanto um
estudo sobre esse assunto para cada um dos elementos 138 Essa classificaccedilatildeo gramatical foi dada pelos usos encontrados Faz-se necessaacuterio no entanto um
estudo sobre esse assunto para cada um dos elementos
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Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
203
classifica somente como adjetivo por exemplo existe tambeacutem como substantivo como
eacute o caso de excludente procedente e outros
No que diz respeito aos dados etimoloacutegicos ‒(dts)or eacute mais descrito como um
substantivo nas liacutenguas pesquisadas e eacute no latim relatado tatildeo somente como um
substantivo Logo a vinculaccedilatildeo das formaccedilotildees em ndash(dts)or agrave posiccedilatildeo exclusivamente
nominal pode ser um dos possiacuteveis motivos para a grande produtividade que possui
A liacutengua de origem dos vocaacutebulos em ‒nte satildeo 194 ocorrecircncias (4449) do
latim 237 ocorrecircncias (5448) do portuguecircs 4 ocorrecircncias (091) do francecircs 1
ocorrecircncia (022) do espanhol
Por sua vez os em ‒(dts)or satildeo 231 ocorrecircncias (2806) do latim 585
ocorrecircncias (7108) do portuguecircs 2 ocorrecircncias (024) do francecircs 2 ocorrecircncias
(024) do espanhol 3 ocorrecircncias (036) do inglecircs
O segundo desses arranjos parece constituir-se como o mais produtivo no
portuguecircs segundo os dados sendo as derivaccedilotildees em ndashnte muito ligadas ainda ao latim
O Anexo III eacute a organizaccedilatildeo das palavras do Anexo II por suas dataccedilotildees natildeo
constituindo-se assim em uma nova ou diferente amostragem e nele se encontram o
nuacutemero de ocorrecircncias em cada seacuteculo Sobre os vocaacutebulos natildeo presentes no Houaiss
natildeo haacute indicaccedilatildeo de uma data
A formaccedilatildeo de palavras em ndashnte e ndash(dts)or segundo o Houaiss (2001) se daacute do
seguinte modo
bull a partir de uma base verbal constitui 99 54 dos casos em ndashnte que equivale a
434 ocorrecircncias e 100 dos em ndash(dts)or o que equivale agraves 823 ocorrecircncias
bull a partir de uma base nominal constitui 045 dos casos em ndashnte que equivale a
duas ocorrecircncias comediante de comeacutedia + ‒nte e possante de posse + ‒ante Natildeo se
encontrou a descriccedilatildeo de base nominal em ndash(dts)or
Se do latim as formaccedilotildees em ndashnte satildeo descritas a partir do particiacutepio presente e as
em ndash(ts)or com base no tema do perfectum ou do supino se do portuguecircs do verbo
mais sufixo ndashnte e do particiacutepio passado mais sufixo ndashor como explicado no caso de
descobridor ldquopart vernaacuteculo de descobrir sob a f rad descobrido + -orrdquo
Para os vocaacutebulos natildeo presentes no Houaiss pressupotildee-se nesse trabalho tratar-
se de elementos formados em liacutengua portuguesa139 como mostra a proposta
139 Uma pesquisa sobre a existecircncia desses itens em outras liacutenguas eacute necessaacuteria assim como de suas
dataccedilotildees tanto em liacutenguas estrangeiras caso existam como na liacutengua portuguesa
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Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
204
morfoloacutegica feita de acordo com o significado da palavra mostrando sua provaacutevel
tendecircncia de formaccedilatildeo cuja base possui valor semacircntico ativo o que converge para o
estabelecimento do nuacutecleo semacircntico jaacute constituiacutedo do vocaacutebulo ao contraacuterio da base
que propotildee o dicionaacuterio Houaiss (2001) que eacute o particiacutepio passado do verbo de valor
passivo o qual natildeo contribui para a formaccedilatildeo do significado do vocaacutebulo fornecido pela
proacutepria obra produzindo portanto uma condiccedilatildeo incoerente entre os dois planos
As paraacutefrases apreendidas satildeo as seguintes
bull em ndashnte ao todo fez-se 496 paraacutefrases Satildeo elas
1 ldquo(pessoa produto e substacircncia quiacutemica objeto etc) que Xvrdquo (Y) 222 ocorrecircncias
2 ldquo(pessoa) que natildeo Xvrdquo (Y) 2 ocorrecircncias (casos com o prefixo in-)
3 ldquo(algo) que Xv QNT+rdquo (Y) 1 ocorrecircncia (em enchente)
4 ldquo(pessoa) que Xv (XXXlt)rdquo (Y) 1 ocorrecircncia (em tratante)
5 ldquoque Xvrdquo (Y) 199 ocorrecircncias (referem-se somente a adjetivos)
6 ldquo(pessoa produto e substacircncia quiacutemica objeto etc) que V Xrdquo (Y) 27 ocorrecircncias
7 ldquoque V Xrdquo (Y) 43 ocorrecircncias (referem-se somente a adjetivos)
8 ldquoque V X QNT+rdquo (Y) 1 ocorrecircncia (em abundante refere-se somente a adjetivo)
bull em ndash(dts)or ao todo fez-se 926 paraacutefrases Elas satildeo
1 ldquo(pessoa produto e substacircncia quiacutemica objeto etc) que Xvrdquo (Y) 826 ocorrecircncias
2 ldquo(pessoa) que Xv (QNT+)rdquo (Y) 5 ocorrecircncias (em discutidor falador passeador
perguntador e vivedor)
3 ldquo(pessoa) que Xv (XXXgt+)rdquo (Y) 1 ocorrecircncia (em sambador isto eacute ldquo(pessoa) que
Xv (muito bem)rdquo)
4 ldquo(pessoa produto e substacircncia quiacutemica objeto etc) que V Xrdquo (Y) 95 ocorrecircncias
5 ldquoque Xvrdquo (Y) 2 ocorrecircncias (refere-se somente a adjetivo)
6 ldquoque V Xrdquo (Y) 1 ocorrecircncia (refere-se somente a adjetivo)
As paraacutefrases em ndashnte e ndash(dts)or expostas satildeo praticamente as mesmas
destacando-se os valores avaliativos de grande quantidade (QNT+) em ambas as
formaccedilotildees o pejorativo em ndashnte (XXXlt) e o ameliorativo (XXXgt+) em ndashdor que natildeo
eram esperados por se estar tratando de agentivos e do conceito de accedilatildeo que os
envolvem Nesses casos o primeiro significado explicitado pelo dicionaacuterio Houaiss
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Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
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(2001) eacute referente a uma pessoa ou situaccedilatildeo cuja praacutetica da accedilatildeo excede o conceito
social de normalidade do ato
A paraacutefrase eacute feita levando-se em consideraccedilatildeo dois pontos dos dados fornecidos
o modo de formaccedilatildeo da palavra e a primeira acepccedilatildeo definida pelo Houaiss (2001) As
definiccedilotildees dos vocaacutebulos por essa obra sobre tais agentivos satildeo geralmente configuradas
da seguinte forma a primeira apresenta o sentido de accedilatildeo do agentivo enquanto as
definiccedilotildees subsequentes satildeo desdobramentos da primeira para campos especiacuteficos da
realidade Como se pode ver no Anexo II a maioria das primeiras definiccedilotildees descrevem
uma accedilatildeo elementar sem se reportarem a um conteuacutedo especiacutefico Tal fato ocorre em
degolador por exemplo que segundo o Houaiss (2001) possui como primeira
definiccedilatildeo ldquoque ou o que degolardquo e somente os significados posteriores se referem a uma
pessoa com tal funccedilatildeo ldquoque ou o que exerce a funccedilatildeo de carrasco algozrdquo e depois ao
instrumento ldquodiz-se de ou instrumento usado pelo serralheiro para modelar e adelgaccedilar o
ferrordquo passando assim um soacute termo a vaacuterias etapas de construccedilatildeo com base na accedilatildeo
indicada pela base e pelo sufixo O mesmo se realiza no galego assistente cuja sucessatildeo
das accedilotildees se daacute do seguinte modo ldquo1 adj e sb (Diz-se de) quem assiste ou estaacute
presente 2 sm Soldado destinado ao serviccedilo pessoal dum superiorrdquo140 (DLG) Esse
continuum ocorre com quase todas as palavras em ndashnte e ndash(dts)or da liacutengua portuguesa
e muito provavelmente nas das liacutenguas romacircnicas Assim na maioria das vezes o modo
de formaccedilatildeo da palavra e a definiccedilatildeo dada pelo dicionaacuterio convergem obtendo-se entatildeo
uma paraacutefrase uacutenica
Contudo nem sempre a definiccedilatildeo corresponde agrave formaccedilatildeo dada e isso ocorre em
dicionaacuterios diversos mesmo nos etimoloacutegicos Natildeo se tem um padratildeo de definiccedilatildeo de
vocaacutebulos tornando-se ela entatildeo problemaacutetica em alguns casos pois natildeo haacute relaccedilatildeo
entre a composiccedilatildeo da palavra e o seu significado como ocorre por exemplo em
exorbitante definido como ldquoque ultrapassa a medida justardquo e adivinhante formado do
v adivinhar + nte cuja definiccedilatildeo eacute ldquoque ou o que supostamente tem poderes
adivinhatoacuteriosrdquo segundo o Houaiss (2001) configurando-se talvez em um problema
de metodologia sobre a definiccedilatildeo de vocaacutebulos ou desconhecimento do caraacuteter
semacircntico-morfoloacutegico dos componentes lexicais o qual resulta numa falta de relaccedilatildeo
de igualdade loacutegica ou implicaccedilatildeo muacutetua nesse sistema
140 Traduccedilatildeo minha
Anielle Aparecida Gomes Gonccedilalves Jacometti de Oliveira
Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
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Sobre esse assunto Laca (1993 182-183) ao analisar os nomes em ndashnte e ndashdor
em espanhol relata que em toda palavra deve distinguir-se o seu significado potencial e
o seu significado real O significado potencial eacute aquele concebiacutevel como o resultado de
uma operaccedilatildeo semacircntica sobre o elemento leacutexico de base enquanto o significado real eacute
aquele que de fato a palavra possui Esse uacuteltimo determinado por necessidade
designativa especiacutefica eacute sempre mais restrito que o significado potencial Como
exemplo a autora explica que o significado real de despertador eacute o de ldquoreloacutegio com um
dispositivo de alarme para despertarrdquo enquanto que o seu significado potencial pode ser
parafraseado por ldquoque despertardquo de sentido muito mais abstrato e amplo O que Laca
(1993) entende por significado potencial eacute o nuacutecleo semacircntico da palavra que se
desdobra em nomeaccedilotildees mais especiacuteficas de acordo com a necessidade do falante
Por haver os dois tipos de significados mencionados o nuacutemero de paraacutefrases
apresentadas difere do nuacutemero de vocaacutebulos como pode ser visto no Anexo II Dois
casos podem exemplificar ocorrecircncias bastante comuns
(i) prudente segundo a etimologia e a definiccedilatildeo providas pelo Houaiss (2001) eacute
do lat prudensentis lsquoque prevecirc que sabe antecipadamente previdente precatado
acautelado sagaz prudentersquo cuja paraacutefrase resultante eacute ldquoque Xvrdquo (Y) e ldquoque tem
prudecircnciardquo cuja paraacutefrase resultante eacute ldquoque V Xrdquo (Y)
(ii) ionizante segundo a proposta morfoloacutegica e a definiccedilatildeo fornecidas pelo
Houaiss (2001) eacute de ionizar + -ante elementos de formaccedilatildeo que daacute a entender a
paraacutefrase ldquo(elemento) que Xvrdquo (Y) e ldquoque ou o que forma iacuteonsrdquo cuja paraacutefrase
resultativa eacute ldquo(elemento) que V Xrdquo (Y)
Assim enquanto a primeira paraacutefrase diz respeito ao modo de formaccedilatildeo do
vocaacutebulo resultando numa paraacutefrase verbal a segunda se refere agrave estrutura da definiccedilatildeo
dada pelo Houaiss (2001) o que pode gerar uma paraacutefrase nominal Apesar das duas
paraacutefrases estarem manifestas a segunda eacute contestaacutevel pois haacute controveacutersia numa
definiccedilatildeo natildeo calcada no modo de formaccedilatildeo da palavra isto eacute que define natildeo se
atentando ao tipo de base e de sufixo por exemplo gerando consequentemente um
nuacutemero de paraacutefrases diversas e distantes da descriccedilatildeo do objeto
De acordo com os dados a paraacutefrase com uma base nominal se daacute geralmente a
partir de definiccedilatildeo no portuguecircs por dois possiacuteveis motivos como expliacutecito no
vocaacutebulo prudente porque o sentido verbal natildeo eacute mais reconhecido pelo falante que
natildeo consegue por sua vez recuperar a base verbal original ocorrendo geralmente em
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casos de formaccedilatildeo no latim Tal base soacute pode ser entatildeo apreendida a partir de um estudo
etimoloacutegico da palavra Ou nas formaccedilotildees jaacute em liacutengua portuguesa como no caso de
ionizante ao natildeo se levar em consideraccedilatildeo a provaacutevel formaccedilatildeo morfoloacutegica do
vocaacutebulo na definiccedilatildeo do lexema devido agrave forma nominal ser mais conhecida que a
verbal Esse uacuteltimo fato natildeo eacute incomum podendo-se citar mais dois exemplos
historiador cujo nome histoacuteria eacute muito mais recorrente que o verbo historiar e
aniversariante em que o nome aniversaacuterio eacute mais conhecido que o verbo aniversariar
A pouca probabilidade de uma base nominal em palavras portuguesas em ndashnte e ndash
dor pode ser ilustrada com caccedilador a base nominal caccedila isto eacute ldquo(pessoa) que faz caccedilardquo
(ldquo(pessoa) que X Vrdquo) por exemplo eacute pouco provaacutevel devido ao reconhecimento de uma
formaccedilatildeo deverbal clara e expliacutecita isto eacute ldquo(pessoa) que caccedilardquo (ldquo(pessoa) que Xvrdquo) em
que a extensatildeo da ideia soacute afasta a noccedilatildeo verbal da base que a compotildee O mesmo
ocorre entre outros em adorador assustador batalhador comprador maquinador e
vendedor a paraacutefrase ldquo(pessoa) que Xvrdquo ou seja ldquo(pessoa) que adorardquo ldquo(pessoa) que
assustardquo ldquo(pessoa) que batalhardquo ldquo(pessoa) que comprardquo ldquo(pessoa) que maquinardquo e
ldquo(pessoa) que venderdquo eacute mais proacutexima ao objeto do que ldquo(pessoa) que V Xrdquo isto eacute
ldquo(pessoa) que faz adoraccedilatildeordquo ldquo(pessoa) que daacute sustordquo ldquo(pessoa) que faz batalhardquo
ldquo(pessoa) que faz comprardquo ldquo(pessoa) que constroacutei uma maacutequinardquo e ldquo(pessoa) que faz
vendardquo
Apesar da construccedilatildeo nominal ser possiacutevel no campo das ideias como em pastor
que poderia ser descrito como ldquo(pessoa) que Xvrdquo traduzido por ldquopessoa que apascentardquo
e ldquo(pessoa) que V (a) Xrdquo ldquopessoa que leva ao pastordquo por exemplo a pesquisa
etimoloacutegica confirma somente a primeira cujos dados do anexo II tambeacutem mostram
uma confirmaccedilatildeo da base verbal resultando numa paraacutefrase feita a partir da informaccedilatildeo
da base e natildeo da definiccedilatildeo da palavra que natildeo corresponde agrave realidade da estrutura do
objeto
A constataccedilatildeo explicaccedilatildeo e separaccedilatildeo dessas duas situaccedilotildees satildeo essenciais pois
evitam uma contradiccedilatildeo de informaccedilotildees e uma indefiniccedilatildeo de meacutetodo que resulta numa
falha de descriccedilatildeo dos dados Percebeu-se tambeacutem na anaacutelise etimoloacutegica dos nomes de
profissionais uma tendecircncia das liacutenguas romacircnicas em descrever as palavras em ndash
(dts)or como se fosse formado a partir de um nome Revela-se aqui a complexidade do
tema mesmo ao sugerir uma proposta de intervenccedilatildeo
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Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
208
Pressupotildee-se uma base verbal em todos os casos natildeo presentes no Houaiss (2001)
com a paraacutefrase ldquo(pessoa) que Xvrdquo (Y) para os nomes substantivos e adjetivos cujos
toacutepicos satildeo preenchidos pelos seguintes tipos de agente
bull em ndashnte pessoa produto quiacutemico e substacircncia quiacutemica A paraacutefrase ldquoque Xvrdquo
(Y) satildeo exclusivamente para os nomes adjetivos
bull em ndash(dts)or pessoa instrumento aparelho maacutequina produto quiacutemico com
destaque ao caso uacutenico de horripilador cuja paraacutefrase eacute ldquo(oacutergatildeo) que Xvrdquo
A proposta feita nesse trabalho para a formaccedilatildeo de palavras em ndashnte e ndash(dts)or
no portuguecircs ser por meio do tema do verbo mais um afixo e natildeo a partir do infinitivo
ou do particiacutepio passado do verbo como comunicado pelo Houaiss (2001) tem uma
razatildeo Ao se fazer a paraacutefrase deve-se levar em consideraccedilatildeo que o tema expressa a 3ordf
pessoa do singular do tempo presente que transmite o tempo e o modo da accedilatildeo
expressos pelo verbo na definiccedilatildeo do dicionaacuterio Assim tal proposta morfoloacutegica
satisfaz a definiccedilatildeo do vocaacutebulo correspondendo mais agrave realidade do objeto
Para aleacutem da noccedilatildeo de equivalecircncia a paraacutefrase de um componente lexical pode
mostrar o movimento de lexicalizaccedilatildeo de antes uma ideia construiacuteda por meio de uma
sintaxe livre e original criada no momento da comunicaccedilatildeo para uma sintaxe em vias
de fixaccedilatildeo que possa alcanccedilar a memorizaccedilatildeo total com a integraccedilatildeo dos elementos
Segundo Pottier (1978 145) essa integraccedilatildeo se daacute por siacutentese e aspectivaccedilatildeo em que o
tema verbal expressa a accedilatildeo o sufixo por sua vez nesse caso o agente e se pode ter
tambeacutem o objeto da accedilatildeo representado por ldquo(Y)rdquo na anaacutelise dos dados que eacute o
elemento posterior ao nuacutecleo do sintagma nominal geralmente regido por preposiccedilatildeo
Valendo-se do exemplo citado pelo mesmo autor (p 145-146) na lexia141 ldquouma
maacutequina lava pratosrdquo pode ocorrer a siacutentese ldquouma lavadora de pratosrdquo em que o
morfema agentivo ndash(dts)or eacute ligado ao lexema da accedilatildeo enquanto ldquode pratosrdquo eacute o
objeto dessa accedilatildeo Assim enquanto o morfema ndash(dts)or se referiraacute a um agente
geneacuterico que pratica a accedilatildeo expliacutecita pela base os morfemas ndashccedilatildeo e ndashmento por
exemplo remeter-se-atildeo respectivamente ao ato e ao processo da accedilatildeo informada pela
base
Para Pottier (1978 154) a accedilatildeo pode ser apreendida em trecircs posiccedilotildees e em uma
natildeo posiccedilatildeo que eacute fora de qualquer aspecto segundo o seguinte esquema
141 Pottier (1978 145) define lexia como a ldquocombinaccedilatildeo estabelecida na competecircncia com implicaccedilotildees
do paciente por haacutebito culturalrdquo
Anielle Aparecida Gomes Gonccedilalves Jacometti de Oliveira
Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
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1 2 3
potencial em curso realizado fora de aspecto
virtual
Para o autor na posiccedilatildeo 1 se encontram as formas em ndash(dts)or (produtor
construtor corredor lavrador) e em ndashnte (negociante fabricante) enquanto na posiccedilatildeo
2 ‒ccedilatildeo ‒agem ‒ivo e o geruacutendio Como o aspecto nominal pressupotildee necessariamente
a propriedade da transitividade inerente aos verbos e por conseguinte aos deverbais
natildeo eacute possiacutevel relacionar as formaccedilotildees em ndash(dts)or agrave posiccedilatildeo ldquofora do aspectordquo devido
a essa relaccedilatildeo verbal ou mesmo agrave posiccedilatildeo 2 ou agrave 3 jaacute que os significados das
formaccedilotildees com esse sufixo natildeo se enquadram nos acircmbitos do aspecto cursivo ou do
resultativo e assim com efeito descreve-se melhor o seu significado na situaccedilatildeo 1 No
entanto de acordo com os estudos sobre ndashnte aqui discorridos o mesmo se insere na
posiccedilatildeo 2 por indicar uma accedilatildeo em curso e natildeo no aspectivo 1 como apontado por
Pottier
Corroborando tal ideia ao tratar sobre os adjetivos terminados pelo sufixo ndashnte
tais como corrente nascente constituinte residente por exemplo Travaglia (2006
112) os caracteriza como possuindo frequentemente um valor cursivo isto eacute comeccedilado
eou natildeo-acabado valor que fica niacutetido quando eles satildeo opostos a outros adjetivos
tambeacutem de origem participial do mesmo verbo que lhes servem de base como nascido
corrido constituiacutedo que expressam um valor acabado De fato a disparidade entre os
particiacutepios da linguagem como exposto tambeacutem por Sequeira (1954 147) eacute
significativa e de faacutecil percepccedilatildeo o significado de embargante eacute ldquoque embargardquo
enquanto embargado eacute ldquoque sofreu a accedilatildeo de embargarrdquo recorrente ldquoque recorrerdquo
recorrido ldquoque sofreu a accedilatildeo de recorrerrdquo reclamante ldquoque reclamardquo reclamado ldquoque
sofreu a accedilatildeo de reclamarrdquo apelante ldquoque apelardquo apelado ldquoque sofreu a accedilatildeo de
apelarrdquo agravante ldquoque agravardquo agravado ldquoque sofreu a accedilatildeo de agravarrdquo
demandante ldquoque demandardquo demandado ldquoque sofreu a accedilatildeo de demandarrdquo etc Ao
meditar sobre a oposiccedilatildeo entre o particiacutepio presente e o particiacutepio passado utilizados
largo e quase exclusivamente como nomes no portuguecircs contemporacircneo Travaglia
Anielle Aparecida Gomes Gonccedilalves Jacometti de Oliveira
Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
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conclui suas observaccedilotildees afirmando que os substantivos e adjetivos que contecircm valores
aspectuais satildeo necessariamente derivados de verbos
Cacircmara Jr (1970 103) considera o particiacutepio ldquoum nome adjetivo que
semanticamente expressa em vez da qualidade de um ser um processo que nele se
passa O estudo morfoloacutegico do sistema verbal portuguecircs pode deixaacute-lo de lado porque
morfologicamente ele pertence aos adjetivos embora tenha valor verbal no acircmbito
semacircntico e sintaacuteticordquo
Em estudo sobre a expressatildeo lexical de tempo e aspecto Franccedilois-Geiger (1988
27) afirma que pelo vieacutes da derivaccedilatildeo especialmente no que concerne aos deverbais
pode se exprimir um processo em curso ou o seu teacutermino em que o ldquosistema nominal se
enriquece muito com as expressotildees de tempo e aspectordquo142 Exemplos desses sufixos
apresentados pela autora no francecircs satildeo ‒ment ‒age ‒tion ‒son etc cujas seacuteries
marcam e pontuam o desenvolvimento temporal nessas palavras
Ainda sobre a presenccedila do aspecto nas formas nominais Travaglia (2006 152-
160) descreve o infinitivo como possuinte de uma configuraccedilatildeo aspectual neutra ou
seja natildeo possui qualquer valor aspectual por se referir a uma situaccedilatildeo em si sendo o
infinitivo flexionado ou natildeo Os dicionaacuterios e gramaacuteticas por sua vez ao informarem
que o processo de derivaccedilatildeo em ndashnte seja a partir do infinitivo modificam a essecircncia
semacircntica do vocaacutebulo pois ao apresentarem a base no infinitivo e natildeo no tema do
verbo por exemplo fornecem um direcionamento semacircntico alterado que se daacute pela
passagem do aspecto imperfectivo do tema verbal para o aspecto neutro proacuteprio do
infinitivo Desse modo ao se expor um modo de formaccedilatildeo equivocado sobre o
vocaacutebulo seus valores inerentemente vaacutelidos natildeo ficam mais claros
Tal erro tambeacutem percorre a descriccedilatildeo feita sobre as formaccedilotildees em ndash(dts)or
Necessariamente o sufixo eacute composto por alguma dessas variaccedilotildees na partiacutecula inicial
pois se trata do elemento limite do tema do perfectum ou do supino latino que marcava
um aspecto acabado e pontual respectivamente O particiacutepio passado descrito como a
base para a formaccedilatildeo dos nomes em ndash(dts)or no portuguecircs marca por sua vez o
aspecto perfectivo apresentando a situaccedilatildeo como concluiacuteda Portanto as obras de
referecircncia ao explicitar o particiacutepio passado como base dos nomes em ndash(dts)or
quando o modo de formaccedilatildeo mais provaacutevel e tiacutepico no portuguecircs eacute a partir do tema
verbal cujo processo posterior eacute acrescentar o sufixo ndashdor omitem a real mudanccedila
142 Traduccedilatildeo minha
Anielle Aparecida Gomes Gonccedilalves Jacometti de Oliveira
Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
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semacircntico-aspectual desses nomes Tais obras fazem a decomposiccedilatildeo da palavra em
particiacutepio passado + -or provavelmente por dois motivos primeiro numa tentativa de
imitaccedilatildeo do molde latino de formaccedilatildeo e segundo por tentar explicar o suposto interfixo
ndashdndash Vecirc-se nesse fato como a accedilatildeo de decomposiccedilatildeo da palavra em seus morfemas
constitutivos eacute uma tarefa aacuterdua pois exige um conhecimento histoacuterico da liacutengua
Os agentivos denominais ndasheiro e ndashista se encontram fora da noccedilatildeo de aspecto
porque natildeo satildeo deverbais Logo estatildeo num plano distinto dos sufixos ndashnte e ndash(dts)or
ou de qualquer outro sufixo agentivo deverbal cuja distinccedilatildeo nos denominais se daraacute no
niacutevel das qualidades intriacutensecas ao nome Eacute importante assinalar que ao contraacuterio das
vaacuterias possibilidades que o sufixo ndasheiro pode oferecer agrave noccedilatildeo do agente humano (Viaro
2011 2674) os agentivos em ndashnte e ndash(dts)or analisados natildeo geram algum produto
final concreto mas expressam uma atuaccedilatildeo ou modos de atuaccedilatildeo do agente
Assim sendo o aspecto eacute um fator inerente agraves formaccedilotildees com esses sufixos tanto
pelos radicais verbais como tambeacutem pelo atual sufixo nominal ndashnte oriundo do
particiacutepio presente que carrega em sua configuraccedilatildeo o aspecto cursivo e logo satildeo
ambos radical e sufixo possuidores de tempo e de aspecto Portanto a essecircncia
imperfectiva do particiacutepio presente perdura na classe dos nomes o que comprova que as
caracteriacutesticas histoacutericas de cada elemento continuam em sua essecircncia presentes nas
liacutenguas subsequentes Eacute importante destacar que para o que era o particiacutepio presente ser
considerado um nome avultou-se a tendecircncia para um uso suscetiacutevel de gecircnero143
nuacutemero e caso enquanto a sua propensatildeo ao regime verbal se manteve no que diz
respeito agrave semacircntica do tempo e principalmente do aspecto
Essa aspectualidade de qualidade contiacutenua ao adentrar na classe dos nomes fez
com que a terminaccedilatildeo ndashnte pudesse tornar-se uma referecircncia para a formaccedilatildeo de agentes
profissionais No entanto a paraacutefrase acional dos nomes em ndashnte ldquo(pessoa) que Xvrdquo (Y)
ACT AGE obtida pelos dados natildeo explicita de modo claro o aspecto cursivo proacuteprio
dessas formaccedilotildees Como entatildeo formular uma paraacutefrase que expresse esse aspecto
presente em todos os vocaacutebulos em ndashnte independente de esses serem profissionais ou
natildeo Uma paraacutefrase como ldquo(pessoa) que trabalha Vgerrdquo para os deverbais em ndashnte e
ldquo(pessoa) que exerce atividade relacionada com Xrdquo para os seus raros denominais
definem de modo satisfatoacuterio os nomes em ndashnte ao expressarem o aspecto imperfeito e
143 Ver por exemplo o caso de presidenta
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contiacutenuo contido no sufixo relacionados aos profissionais mas natildeo os nomes em ndashnte
de um modo geral Faz-se entatildeo necessaacuteria a construccedilatildeo de uma paraacutefrase que melhor
expresse os nomes em ndashnte e que seja mais abrangente e se sugere ldquo(pessoa) que estaacute
VGERrdquo144 em que tal periacutefrase verbal aponta que a accedilatildeo expliacutecita pela base se encontra
necessariamente em curso
Nos nomes em ndash(dts)or por seu turno devido ao papel acional que apresentam
sem nenhum tipo de marcaccedilatildeo aspectual no sufixo jaacute que o aspecto perfeito ou pontual
nesses nomes existia no tema do perfectum e no tema do supino latino natildeo se
apresentando no portuguecircs pode-se manter a paraacutefrase ldquo(pessoa) que Xvrdquo (Y) ACT
AGE que expressa simplesmente a ideia do agente em qualquer acircmbito ou grupo
lexical em que se encontre Assim ao natildeo seguir os padrotildees morfoloacutegicos da base
latina os nomes em ndash(dts)or se tornam formulaccedilotildees mais neutras no que diz respeito agrave
base enquanto o sufixo conserva as nuances histoacuterico-agentivas jaacute examinadas no
capiacutetulo 2 diluiacutedas sob uma soacute forma
Assim essa pequena especificaccedilatildeo para a paraacutefrase dos nomes em ndashnte eacute o que eacute
preciso para o entendimento dos nomes em ndashnte e ndash(dts)or que podem ser
considerados como signos morfologicamente motivados145 segundo o significado
aspectual dos mesmos (contiacutenuo versus natildeo marcado) Pelo estudo morfoloacutegico dos
sufixos conclui-se que ndashnte e ndash(dts)or natildeo satildeo equivalentes
4 3 Um panorama dos sufixos ndashnte e ndash(dts)or na atualidade
Apesar da diferenccedila semacircntica apontada ‒nte e ndash(dts)or satildeo considerados
sinocircnimos contemporaneamente coexistindo em base idecircntica Com o objetivo de
ilustrar quatildeo forte eacute a presenccedila de pares de palavras em ndashnte e ndash(dts)or em um mesmo
contexto vocabular mas natildeo necessariamente com um mesmo significado lexical uma
lista para a apreciaccedilatildeo dessa parelha estaacute disposta no Anexo I (p 255-262) cujos dados
foram extraiacutedos do dicionaacuterio Houaiss (2001) e dos falantes e miacutedia em geral Foram
elencados 366 pares de nomes em ndashnte e ndash(dts)or em um mesmo contexto vocabular
144 Sendo VGER o verbo expliacutecito pela base no geruacutendio 145 Em particular dir-se-aacute que um coacutedigo eacute morfologicamente motivado se uma propriedade ou um
conjunto de propriedades semacircnticas permitem operar uma classificaccedilatildeo dos morfemas
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mas certamente sua existecircncia eacute mais comum do que se pode prever sendo seu nuacutemero
real e total bem maior do que o apresentado
A partir desse ponto duas importantes consideraccedilotildees seratildeo examinadas a
primeira eacute sobre a noccedilatildeo de sinoniacutemia146 sufixal enquanto a segunda eacute sobre a
uniformidade das bases
Muitos desses pares satildeo concebidos como sinocircnimos pelo dicionaacuterio Houaiss
(2001) No entanto natildeo eacute soacute essa obra que os descreve desse modo Para fins de
ilustraccedilatildeo e de comparaccedilatildeo o Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa Contemporacircnea (2001)
outrossim fornece uma mesma definiccedilatildeo para as formaccedilotildees em ndashnte e ndashdor que se
encontram em mesmo contexto vocabular como por exemplo em bloqueador
bloqueante escravizador escravizante cujas entradas se reportam agraves outras como
ldquosinocircnimordquo ou ldquomesmo querdquo correspondendo-se portanto Tal designaccedilatildeo nesses casos
parece ser aceita e utilizada de modo geral
Apesar de serem denominados sinocircnimos a diferenccedila entre ndashnte e ndash(dts)or se daacute
pela especializaccedilatildeo das formas em ndashnte Vejam-se os casos de acompanhador
acompanhante alimentador alimentante contribuidor contribuinte despachador
despachante entorpecedor entorpecente escritor escrevente impermeabilizador
impermeabilizante pedidor pedinte repetidor repetente
Alimentante e contribuinte se enquadram no acircmbito juriacutedico e dizem respeito a
pessoas que devem executar obrigatoriamente uma accedilatildeo perante o Estado Despachante
e escrevente especificam um funcionaacuterio isto eacute aquele que tem ocupaccedilatildeo permanente e
retribuiacuteda Entorpecente e impermeabilizante satildeo substacircncias quiacutemicas cuja funccedilatildeo eacute
desempenhar uma accedilatildeo contiacutenua sobre determinado corpo Acompanhante pedinte e
repetente remetem a pessoas que datildeo seguimento ou permanecem na accedilatildeo especificada
pelo verbo Jaacute acompanhador alimentador contribuidor despachador entorpecedor
escritor impermeabilizador pedidor e repetidor conduzem a um significado acional do
agente sem determinaccedilatildeo quanto agrave duraccedilatildeo do processo ou accedilatildeo ou ao seu acabamento
Assim em palavras conjugadas como eacute o caso das em ndashnte e ndash(dts)or em uma delas
haveraacute um sentido mais geral enquanto na outra haacute alguma especializaccedilatildeo tendendo
ambas a integrar grupos lexicais distintos
146 Sinoniacutemia eacute entendida como ldquoidentidade de significaccedilatildeo ou de sentidordquo Para que dois termos
linguiacutesticos sejam eles quais forem sejam sinocircnimos eacute necessaacuterio que faccedilam em seus empregos a
mesma contribuiccedilatildeo de sentido Essa definiccedilatildeo no entanto convive com um grande nuacutemero de ressalvas
Sobre esse assunto ver Ilari amp Geraldi (2004)
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Por conseguinte apesar dos dicionaacuterios e obras em geral relatarem muitas vezes
significados sinoniacutemicos a ndashnte e ndash(dts)or trata-se de fato tanto de formas como de
conceitos diferentes as formas em ndashnte por causa do seu aspecto (duraccedilatildeo da accedilatildeo)
contiacutenuo ou imperfeito possuem a ideia de accedilatildeo habitual enquanto ndash(dts)or possui um
valor que natildeo marca essa continuidade ou seja o contribuidor como acima
mencionado eacute aquele que pode contribuir uma muitas ou n vezes natildeo se referindo
entretanto a uma conotaccedilatildeo habitual ou de obrigaccedilatildeo Essas questotildees podem ser
comprovadas pela morfologia da liacutengua mas como o aspecto natildeo eacute a categoria mais
relevante do verbo no portuguecircs essas noccedilotildees natildeo satildeo reconhecidas para os que se
utilizam dela
Constitui-se em caso especiacutefico conservante e conservador em que ambos os
vocaacutebulos dentre outras definiccedilotildees nomeiam uma mesma substacircncia quiacutemica No
portuguecircs do Brasil um fato peculiar estaacute ocorrendo nesses uacuteltimos anos o sufixo ndashnte
estaacute sendo substituiacutedo pelo ndashdor na nomeaccedilatildeo dessa substacircncia em produtos
alimentiacutecios Uma hipoacutetese que se lanccedila para esse fenocircmeno eacute a de que conservante por
possuir um afixo com carga semacircntica de continuidade pode transmitir um efeito
negativo sobre o produto jaacute que a ideia difundida pode ser a de um componente de accedilatildeo
forte e que por isso pouco recomendado para o consumo enquanto conservador natildeo
remete a um agente contiacutenuo Desse modo a escolha por um ou outro termo expressaraacute
conceitos distintos referentes agrave duraccedilatildeo da accedilatildeo
Outra hipoacutetese plausiacutevel eacute a de que pode haver interferecircncia da liacutengua espanhola
na liacutengua portuguesa no que concerne ao uso dos sufixos ndashnte e ndashdor porque haacute
atualmente muitos produtos alimentiacutecios biliacutengues portuguecircs espanhol no Brasil cujas
formas nem sempre idecircnticas podem com o passar do tempo serem confundidas eou
incorporadas pelo portuguecircs147
De qualquer modo pode-se constatar um princiacutepio de mudanccedila linguiacutestica no caso
acima como tantas outras mudanccedilas que jaacute ocorreram no campo morfossemacircntico
147 Usa-se geralmente conservador para a nomeaccedilatildeo da substacircncia em questatildeo no espanhol americano
Outro caso de produto alimentiacutecio biliacutengue portuguecircs espanhol com o sufixo ndashdor mas sem um
correspondente direto no portuguecircs eacute sazonador (sazonador para pasta no esp) que no portuguecircs eacute
tempero (tempero para macarratildeo instantacircneo) Nesse caso apesar da forma sazonador natildeo existir e
logo natildeo ser utilizada no portuguecircs ela pode ser potencialmente adotada por existir o v sazonar e a
marca Sazoacutenreg jaacute considerada como um produto Hipoteticamente o significado de sazonador em liacutengua
portuguesa seria (produto) que Xv ie (produto) que sazona que tempera ou (produto) que utiliza
X ie (produto) que utiliza sazoacuten dependendo uma ou outra leitura da base a ser considerada
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Assim como a sinoniacutemia lexical absoluta eacute rara148 o mesmo ocorre com suas
partes componentes desse mesmo leacutexico Logo a sinoniacutemia sufixal entre ndashnte e ndash
(dts)or como as obras gramaticais em geral apontam natildeo eacute de todo verdadeira pois
eles natildeo satildeo utilizados para o mesmo fim o que faz emergir nessa questatildeo outros
pontos como o problema da arbitrariedade do signo linguiacutestico e da possiacutevel motivaccedilatildeo
das construccedilotildees de vocaacutebulos com diferentes afixos
Os sufixos na maior parte das vezes satildeo considerados elementos que possuem
sentido arbitraacuterio e por isso podem ou mudar a significaccedilatildeo ou fixar-se em uma
determinada ou ainda um mesmo sufixo pode ter mais de um valor semacircntico o que eacute
constatado com frequecircncia nos estudos em geral sem nenhum motivo aparente em
todos os casos
Ao estudar as relaccedilotildees significante‒significado no entanto pode-se ver que em
certos casos podem ser motivadas e natildeo arbitraacuterias A presenccedila do aspecto nas bases e
em alguns sufixos (nesse caso em ndashnte) assim como a relaccedilatildeo com outros sufixos
formam sistemas que soacute podem ser definidos quando se conhecem as relaccedilotildees que
possuem entre si e com outros signos da liacutengua Desse modo soacute conhecemos os sufixos
ndashnte e ndash(dts)or quando se estuda as relaccedilotildees que possuem entre si assim como suas
relaccedilotildees com outros sufixos como eacute o caso de ndashista e ndasheiro
O problema da denominaccedilatildeo semacircntica de um sufixo eacute que a mesma implica uma
segmentaccedilatildeo semacircntica particular proacutepria de cada liacutengua ou de um conjunto de liacutenguas
e de suas necessidades de nomeaccedilatildeo pois a significaccedilatildeo de um signo-sufixo depende da
maneira como o conjunto do sistema articula as diferentes significaccedilotildees suscetiacuteveis de
serem comunicadas
Os sufixos assim satildeo coacutedigos motivados A aparente sinoniacutemia sufixal entre ndashnte
e ndash(dts)or e a postulaccedilatildeo da arbitrariedade em seus usos e construccedilotildees escondem a
motivaccedilatildeo das formaccedilotildees A motivaccedilatildeo para a construccedilatildeo de estudante por exemplo se
daacute devido agrave percepccedilatildeo de tempo e aspecto no agente que exprime asserccedilotildees de valor
permanente Estudador apesar de ser uma construccedilatildeo morfologicamente possiacutevel natildeo
se adeacutequa agrave necessidade da expressatildeo Desse modo os sufixos ndashnte e ndash(dts)or estatildeo
distribuiacutedos em duas vertentes semacircnticas distintas e complementares em que cada um
deles compreende apenas uma parte do tipo da accedilatildeo do verbo e estatildeo em uso
148 A sinoniacutemia lexical absoluta ocorre quando duas palavras apresentam definiccedilotildees e funccedilotildees em comum
Tal compatibilidade absoluta eacute excepcional na liacutengua
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concorrente As formaccedilotildees em ndashnte e ndash(dts)or satildeo assim motivadas e a escolha por
um ou outro natildeo eacute aleatoacuteria jaacute que natildeo afirmam de maneira igual Natildeo se pode dizer
tambeacutem que satildeo formas variantes pois a variaccedilatildeo pressupotildee formas diferentes para
significados iguais
As bases desses nomes tambeacutem contribuiacuteram para essa aparente convergecircncia
Devido agrave proacutepria configuraccedilatildeo do sistema verbal latino as bases dos nomes em ndashnsntis
e ndash(ts)or marcavam claramente uma distinta duraccedilatildeo da accedilatildeo Nas liacutenguas romacircnicas
de modo geral as bases dessas duas formaccedilotildees satildeo uma soacute a partir do tema verbal em
que nesse caso natildeo se tem mais uma distinccedilatildeo aspectual como havia no latim
O fenocircmeno da analogia pode explicar tais ocorrecircncias pois haacute uma regularizaccedilatildeo
no que diz respeito ao paradigma dos agentivos o que como expotildee Viaro (2011 201)
ao discorrer sobre analogia anula informaccedilotildees do passado sucedendo a uma difusatildeo
semacircntica uacutenica e comum para as duas formaccedilotildees A hipoacutetese que se pode lanccedilar para
tal fenocircmeno eacute devido a dois fatores agrave convergecircncia das bases no portuguecircs e ao natildeo
reconhecimento das caracteriacutesticas aspecto-temporais dos nomes em ndashnte natildeo se
tratando dessa maneira de um apagamento ou destituiccedilatildeo de tais traccedilos mas do seu
abrandamento devido agrave mudanccedila categorial sofrida jaacute que nomes satildeo tipicamente
entendidos como natildeo possuidores de tais propriedades
Aleacutem da anaacutelise etimoloacutegica do corpus de nomes de profissionais seraacute suficiente
justificar por meio de alguns exemplos a constituiccedilatildeo de outros grupos de palavras
formadas com os sufixos ndashnte e ndash(dts)or presentes no anexo II Natildeo raro o
componente de um determinado grupo lexical pode pertencer a um outro grupo tambeacutem
mencionado a seguir Tal plurivalecircncia natildeo invalida no entanto a distribuiccedilatildeo exibida
que tem como objetivo mostrar o caraacuteter unitaacuterio do componente por questatildeo miacutenima de
organizaccedilatildeo Ao selecionar sua entrada em um grupo agentivo determinado levou-se
em consideraccedilatildeo muitas vezes a segunda acepccedilatildeo do vocaacutebulo fornecida pelo Houaiss
(2001) jaacute que a primeira geralmente se refere a um significado mais geral e nuclear de
caraacuteter quase sempre acional
Eacute importante elucidar que diferentemente do grupo de agentivos profissionais
analisados acima os dados abaixo natildeo foram submetidos a uma anaacutelise etimoloacutegica
devido ao seu grande volume cuja origem e formaccedilatildeo foram baseadas no dicionaacuterio
Houaiss (2001) Para mais informaccedilotildees sobre os vocaacutebulos e sua respectiva paraacutefrase
ver o anexo II desse trabalho
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Grupos lexicais
Pessoas em ndashnte e em ndash(dts)or
(i) acusante amante andante aniversariante arrogante aspirante assaltante
assinante brigante burlante buscante cadeirante149 caminhante celebrante
contestante contraente contratante dante debutante deficiente denunciante
desafiante executante fabricante falante filante gestante indigente infante iniciante
integrante lente litigante manifestante pagante participante passeante protestante
reclamante requerente sequestrante sitiante transeunte visitante votante
(ii) aconselhador acumulador acusador admirador adorador agarrador
agressor alquilador alugador animador antojador anunciador apostador
apreciador aproveitador arrolhador assaltador atestador atirador atropelador
aviador baralhador batalhador blasfemador boleador150 brigador burlador
buscador151 buzinador caccedilador calculador caluniador caminhador causador
citador152 colecionador colonizador competidor comprador concretizador153
confessor conhecedor conquistador consumador consumidor contemplador
continuador corruptor coureador criador curador curtidor denunciador
desbravador descobridor desertor despendedor desperdiccedilador devedor devorador
dinamizador discursador dispensador154 driblador empregador encantador
encorajador enganador enunciador esbanjador escalador espancador espectador
149 Vocaacutebulo natildeo presente no dicionaacuterio Houaiss (2001) Segundo o iDicionaacuterio Aulete sb e adj ldquopessoa
que por deficiecircncia fiacutesica ou por estar provisoriamente impossibilitada de andar locomove-se em
cadeira de rodasrdquo de cadeira + ‒nte Fonte lthttpauleteuolcombrnossoauletecadeirantegt Acesso
em 4 set 2013 Existe tambeacutem o verbo cadeirar contemporaneamente ldquoCidades lindas (e acessiacuteveis para
cadeirar)rdquo ldquoAs pessoas podem andar correr cadeirarrdquo Fonte lthttpwwwmobilizeorgbrblogso-
direito-de-ir-e-virindexphpsem-categoriacidades-lindas-e-acessiveis-para-cadeirargt Acesso em 4
mar 2014 150 Instrumento usado para dar formato circular ou esfeacuterico a certos tipos de materiais como por
exemplo a alguns alimentos 151 No Houaiss trata-se de ldquoque ou aquele que buscardquo Hoje no entanto eacute amplamente conhecido como
ldquoinstrumento virtual de buscardquo fato que mostra o caminho semacircntico que o sufixo ndashdor muitas vezes
percorre 152 Vocaacutebulo natildeo presente no dicionaacuterio Houaiss (2001) 153 Vocaacutebulo natildeo presente no dicionaacuterio Houaiss (2001) 154 Atualmente muito utilizado para referir-se a instrumentos e maacutequinas dispensador de papel
dispensador de lata dispensador de senha dispensador de fita adesiva etc
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estafador estimulador estipulador estuprador evangelizador executor
experimentador explanador explorador fabricador falador fiador fingidor
frequentador fumador155 (port eu) fundador ganhador gastador genitor goleador
gritador imitador impostor incentivador infrator iniciador integrador invasor
inventor investidor libertador lidador locador logrador louvador lutador
madrugador malhador manifestador matador materializador mediador merecedor
moderador morador narrador observador opressor padecedor pagador passeador
patinador pecador pegador peleador pelejador pensador perdedor perseguidor
polemizador156 poluidor poupador predador pregador presumidor proclamador
profetizador proliferador157 protetor provedor questionador raptor recebedor
receptor reclamador recrutador remador requeredor rifador rimador rogador
roubador sabedor salvador sambador saqueador sedutor seguidor sequestrador
sitiador sofredor sonhador talhador telespectador testador tocador toureador
torturador trabalhador traccedilador transportador usurpador utilizador (port eu)
velejador vencedor versejador viador vingador violentador
Profissionais em ndashnte e em ndash(dts)or
(i) outros profissionais em ndashnte aleacutem dos que constam no corpus de anaacutelise
comediante comerciante despachante docente escrevente feirante lavrante
vigilante
(ii) outros profissionais em ndash(dts)or aleacutem dos que constam no corpus de anaacutelise
abatedor adestrador administrador agenciador agrimensor amassador amestrador
amolador apresentador armador assentador assoalhador atravessador balizador
bobinador bordador burilador cambador cantor caracterizador carregador
catador ceifador cobrador158 colocador comunicador consultor construidor
155 Fumador vocaacutebulo do portuguecircs europeu destaca o agente no momento da praacutetica da accedilatildeo enquanto
fumante do portuguecircs brasileiro ressalta a repeticcedilatildeo contiacutenua dessa accedilatildeo pelo agente O mesmo acontece
com amaciante (port br) e amaciador (port eu) em que se salienta no uacuteltimo o momento da accedilatildeo feita
pelo produto quiacutemico enquanto que no primeiro caso o que se coloca em evidecircncia eacute a accedilatildeo contiacutenua que
esse produto pode oferecer quando utilizado Tem-se nessa comparaccedilatildeo entre o port br e o port eu uma
diferenccedila pragmaacutetica da qualidade da accedilatildeo cuja consequecircncia eacute uma nomeaccedilatildeo distinta do agente 156 Isto eacute quem polemiza Vocaacutebulo natildeo presente no dicionaacuterio Houaiss (2001) 157 Isto eacute que ou o que prolifera Vocaacutebulo natildeo presente no dicionaacuterio Houaiss (2001) 158 Com a variante trocador
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Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
219
construtor contratador copiador corretor cuidador cultivador decorador
degustador depilador desenhador despachador despejador159 diagramador
digitador distribuidor dublador160 edificador educador elaborador embaixador
embalador empreendedor encanador ensinador entregador escaiolador esmaltador
estivador estucador examinador explicador finalizador fintador fornecedor
frisador gravador ilustrador imperador impermeabilizador161 impressor
instrumentador investigador julgador laccedilador laminador lastrador legislador
limpador maquiador minador minerador monitor montador operador orador
orientador pautador pescador pintor preparador produtor programador provador
rapador rasqueteador rebitador rebocador reciclador redator registrador
repositor restaurador retratador revedor revisor rotulador segador selador
semeador soldador supervisor tatuador tombador tosador tosquiador tratador
treinador varador varredor vendedor zelador
Faz-se nesse momento uma digressatildeo necessaacuteria Outrossim ndasheiro e ndashista fazem
parte do rol dos sufixos agentivos mais influentes da liacutengua portuguesa
O sufixo ‒eiro produz nomes que denotam ofiacutecios ou ocupaccedilotildees dentre outras
funccedilotildees Os nomes em ndasheiro (fem ndasheira) na nomeaccedilatildeo de profissionais podem ter certo
caraacuteter pejorativo162 pois os indiviacuteduos ou exercem atividades consideradas primitivas
isto eacute cujas teacutecnicas satildeo vistas como inferiores em relaccedilatildeo a de outros grupos ou de
pouca importacircncia A base para a ocorrecircncia do processo derivacional em ndasheiro eacute a
partir de um nome e com vistas a um contato com tais nomes e afirmaccedilotildees expostas
segue-se uma seacuterie de formaccedilotildees de profissionais com o referido afixo163
abelheiro accedilougueiro adegueiro alheiro armeiro164 azeitoneiro baleiro
baleeiro baloeiro banqueiro banqueteiro barbeiro barqueiro besteiro bicheiro
bilheteiro blogueiro165 bodegueiro boiadeiro boleiro bombeiro bordadeiro
borracheiro bucheiro cabeleireiro cadeireiro caixeiro caldeireiro camareiro
caminhoneiro campeiro canavieiro carcereiro cargueiro carpinteiro carroceiro
159 Pessoa que tem como funccedilatildeo despejar algo Vocaacutebulo natildeo presente no dicionaacuterio Houaiss (2001) 160 Dobrador no port eu 161 Profissional que impermeabiliza pisos etc 162 No tocante agrave sociedade atual 163 Para um estudo mais abrangente e aprofundado sobre o sufixo ndasheiro ver tese de livre-docecircncia de
Viaro (2011) 164 Pessoa que fabrica armas 165 Pessoa que trabalha escrevendo em blog Vocaacutebulo natildeo presente no dicionaacuterio Houaiss (2001)
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Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
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carteiro carvoeiro caseiro ceifeiro cervejeiro chapeiro166 chapeleiro chaveiro
churrasqueiro cigarreiro cocheiro colmeeiro confeiteiro copeiro corticeiro
costureiro coureiro coveiro cozinheiro cuteleiro doceiro dogueiro167 doleiro
empreiteiro especieiro estufeiro faisqueiro faxineiro ferramenteiro ferreiro
ferrageiro168 freteiro fruteiro funileiro fuzileiro garimpeiro gesseiro goleiro
granadeiro169 jardineiro jornaleiro kombeiro170 lancheiro lanterneiro lavadeiro
leiloeiro leiteiro livreiro lixeiro louceiro madeireiro manobreiro manteigueiro
manteiro maqueiro marceneiro marcheteiro marinheiro marqueteiro
marroquineiro mateiro merendeiro mineiro moedeiro moldureiro motoqueiro
moveleiro muambeiro oleiro ovelheiro padeiro pamonheiro171 papeleiro parteiro
pasteleiro pedreiro peixeiro pergaminheiro perueiro petroleiro picolezeiro172
pipoqueiro piscineiro173 pistoleiro174 porqueiro porteiro queijeiro quitandeiro
rancheiro rendeiro revisteiro roceiro saboeiro sacoleiro salgadeiro175 salsicheiro
sapateiro sementeiro seringueiro serralheiro sorveteiro suqueiro176 taifeiro
tanoeiro tapeceiro telheiro timoneiro toalheiro torneiro toureiro tripeiro vaqueiro
verdureiro vidraceiro vidreiro vigieiro
Alguns nomes em ndasheiro no entanto natildeo possuem tal conotaccedilatildeo pejorativa
enfermeiro engenheiro hoteleiro tesoureiro Vale lembrar que existem alguns casos de
pares de palavras em ndash(dts)or e ndasheiro em um mesmo contexto vocabular mas com
possiacutevel conotaccedilatildeo distinta devido aos significados dos sufixos ex ceifador ceifeiro
Por seu turno ‒ista um sufixo agentivo igualmente importante da liacutengua
portuguesa dirige-se ao profissional com qualificaccedilatildeo e especializaccedilatildeo em determinada
aacuterea tambeacutem de base nominal No dicionaacuterio Houaiss (2001) os nomes em ndashista jaacute
166 Pessoa que trabalha na chapa fazendo grelhados e lanches Vocaacutebulo natildeo presente no dicionaacuterio
Houaiss (2001) 167 Pessoa que trabalha na comercializaccedilatildeo de cachorro-quente e refrigerantes em veiacuteculos motorizados
Profissional regulamentado em 02082002 Fonte
lthttpwww1folhauolcombrfolhacotidianoult95u56197shtmlgt Acesso em 10 mai 2013 Vocaacutebulo
natildeo presente no dicionaacuterio Houaiss (2001) 168 Pessoa que comercia ferragem ou ferro Tambeacutem haacute como sinocircnimo a forma ferragista provavelmente
por ser uma aacuterea de venda mais especiacutefica 169 Soldado encarregado de lanccedilar granadas 170 Pessoa que dirige determinada caminhonete prestando serviccedilos de transporte coletivo de forma
irregular e fora das normas da lei Vocaacutebulo natildeo presente no dicionaacuterio Houaiss (2001) 171 Pessoa que vende pamonha Vocaacutebulo natildeo presente no dicionaacuterio Houaiss (2001) 172 Pessoa que vende picoleacute Vocaacutebulo natildeo presente no dicionaacuterio Houaiss (2001) 173 Pessoa que trabalha cuidando de piscinas Vocaacutebulo natildeo presente no dicionaacuterio Houaiss (2001) 174 Assassino profissional 175 Pessoa que fabrica salgados Vocaacutebulo natildeo presente no dicionaacuterio Houaiss (2001) 176 Pessoa que trabalha fazendo sucos Vocaacutebulo natildeo presente no dicionaacuterio Houaiss (2001)
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Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
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possuem como primeira acepccedilatildeo e muitas vezes como uacutenica acepccedilatildeo ldquoprofissional
que Vrdquo ldquoque ou aquele que eacute habilitado profissionalmente ardquo ldquoque ou aquele que eacute
especializado emrdquo ldquoteacutecnico ou especialista emrdquo ldquoque eacute proacuteprio de ou pertencente ardquo
ldquoque ou aquele que possui particular talento parardquo ou outra menccedilatildeo do gecircnero
remetendo os nomes em ndashista a um rumo semacircntico direcionado e especiacutefico e talvez
por essa clara orientaccedilatildeo semacircntica do sufixo agrave formaccedilatildeo de profissionais
especializados natildeo possui conotaccedilatildeo pejorativa177
acupunturista aderecista angiologista arabista arquivista articulista artista
ascensorista azulejista balconista barista178 bolsista179 burilista cambista
cardiologista caricaturista cartunista cerimonialista cinegrafista colagista
colorista colunista comentarista conferencista contabilista copista cronista
culinarista dentista desenhista diarista ecologista economista eletricista esportista
estilista estoquista etimologista fashionista florista geneticista ginecologista
golfista grafologista gravurista humorista infectologista jardinista jornalista
jurista legista linguista manobrista maquinista meteorologista mixologista180
modelista modista motorista musicista neurologista novelista nutricionista oculista
oftalmologista orientalista ortopedista paisagista papelista parecerista pianista
pilotista181 plotista182 projetista propagandista psicanalista quadrinista radialista
recepcionista roteirista socorrista taxista telefonista tenista tupinologista
urbanista varejista vitrinista
Pode-se dividir os quatro sufixos agentivos em dois grupos apoiando-se na sua
constituiccedilatildeo estrutural um grupo de base verbal (ndashnte e ndash(dts)or) e outro de base
nominal (ndasheiro e ndashista)
177 Para um estudo mais abrangente e aprofundado sobre o sufixo ndashista ver o estudo de Areaacuten-Garciacutea
(2007) 178 Profissional especializado em cafeacutes de alta qualidade (cafeacutes especiais) Tambeacutem trabalha criando
novas bebidas baseadas em cafeacute utilizando-se de licores cremes bebidas alcooacutelicas entre outros (fonte
httpptwikipediaorgwikiBarista Acesso em 26 fev 2014) Vocaacutebulo natildeo presente no dicionaacuterio
Houaiss (2001) 179 Que ou quem opera em bolsas (Economia) 180 No portuguecircs sua apariccedilatildeo se deu por cerca do ano 2010 2011 e segundo a fonte textual o vocaacutebulo
eacute definido do seguinte modo ldquomixologista ou um lsquosuperespecialistarsquo em coqueteacuteisrdquo (fonte
httprevistagalileuglobocomRevistaCommon0EMI260366-1782500-
EU+SOU+MIXOLOGISTAhtml Acesso em 2 mai 2013) Vocaacutebulo natildeo presente no dicionaacuterio
Houaiss (2001) 181 Profissional da aacuterea da costura que faz a peccedila piloto de um determinado modelo de roupa isto eacute a
primeira peccedila que serviraacute de exemplo para todas as costureiras Vocaacutebulo natildeo presente no dicionaacuterio
Houaiss (2001) 182 Profissional que faz plotagem (produccedilatildeo de uma imagem por meio de desenho de linhas) Vocaacutebulo
natildeo presente no dicionaacuterio Houaiss (2001)
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Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
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No jogo morfoloacutegico entre ndashnte ‒(dts)or ‒eiro e ndashista enquanto os dois
primeiros marcam uma relaccedilatildeo de diferentes aspectos ou duraccedilatildeo da accedilatildeo proacutepria do
verbo os dois uacuteltimos se definem por distintas qualidades atribuiacutedas ao sujeito proacuteprias
do nome Logo bases verbais exigem sufixos que pelo seu significado possam
demarcar o modo de accedilatildeo contido nesse tipo de base e da mesma maneira outros
sufixos especiacuteficos se juntam agraves bases nominais objetivando destacar alguma
caracteriacutestica da mesma Cada sufixo entatildeo possui invariavelmente um padratildeo
semacircntico construiacutedo e constituiacutedo historicamente cuja funccedilatildeo eacute formar um novo
vocaacutebulo que caracterizaraacute e orientaraacute o conteuacutedo semacircntico da base agrave direccedilatildeo a que se
propotildee Se se tratam de deverbais ter-se-aacute provavelmente a exposiccedilatildeo a um nome que
exibiraacute o fator tempo e ou aspecto com uma demarcaccedilatildeo desse processo assim como
os denominais marcaratildeo uma qualidade considerada positiva ou negativa no acircmbito
social ou mesmo algum tipo de seleccedilatildeo Nessa perspectiva os nomes em ndashnte e ndash
(dts)or pouco satildeo ligados a pejoratividade ou a outro qualquer tipo de atributo pois
sua constituiccedilatildeo morfoloacutegica deverbal natildeo eacute habilitada ou proacutepria para tal proposiccedilatildeo
Nessa situaccedilatildeo com o sufixo ndash(dts)or por exemplo encontra-se o caso de falador que
eacute aquele que fala muito que eacute indiscreto enquanto falante eacute algueacutem que tem a
capacidade de falar Deparou-se com um uacutenico caso em que ndashnte possui sentido
pejorativo No par tratante tratador tratante eacute ldquoaquele que trata de qualquer assunto ou
negoacutecio ardilosamenterdquo A tratador cabe entatildeo a funccedilatildeo de expressar ldquoaquele que cuida
que tratardquo referindo-se ao profissional Exemplos de sufixos formados em bases quase
exclusivamente verbais aleacutem de ndashnte e ndash(dts)or satildeo ndash(aei)do ‒agem183 ‒ccedilatildeo ‒ivo
‒mento184 que portanto marcam alguma posiccedilatildeo numa perspectiva dinacircmica (Pottier
1978 154)
Nota-se por esses quatro sufixos agentivos que cada morfema ou parte da palavra
possui um tipo de conotaccedilatildeo para o falante comprovado pelo uso linear dos mesmos
Efetua-se entatildeo no plano morfoloacutegico a natildeo permutabilidade de um componente e
logo a singularidade de cada elemento que compotildee a estrutura interna da palavra
Para fim de demonstraccedilatildeo um exemplo da diferenccedila entre ndashnte ndash(dts)or e ndashista
se revela uacutetil no trio equilibrante equilibrador e equilibrista No que diz respeito agraves
183 Para um estudo mais abrangente e aprofundado sobre o sufixo ndashagem ver o estudo de Gonccedilalves
(2009) 184 Para um estudo mais abrangente e aprofundado sobre o sufixo ndashmento ver o estudo de Freitas (2008 e
2014)
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classes gramaticais a que os vocaacutebulos mencionados pertencem o primeiro eacute um
adjetivo enquanto os dois uacuteltimos satildeo nomes substantivos e adjetivos segundo o
Houaiss (2001) Sobre o significado dessas mesmas palavras a primeira definiccedilatildeo
lexical de equilibrante eacute o ldquoque Xvrdquo (ie ldquoque equilibrardquo) equilibrador ldquoque ou o que
Xvrdquo (ie ldquoque ou o que equilibrardquo) enquanto equilibrista eacute ldquoque ou quem V Xrdquo (ie
ldquoque ou quem manteacutem equiliacutebriordquo) As definiccedilotildees posteriores de equilibrista tem o foco
na pessoa que exibe habilidade e destreza no equiliacutebrio em determinada situaccedilatildeo ou
espaccedilo nomeando de modo claro a pessoa e tambeacutem o profissional185 enquanto as
formas em ndashnte e ndash(dts)or possuem tatildeo somente as definiccedilotildees mencionadas podendo
se referir a uma pessoa no caso de ndash(dts)or186 ou natildeo no caso de ndashnte187 voltadas ao
acircmbito da accedilatildeo
Como ocorre com muitos pares em ndashnte e ndash(dts)or em que natildeo haacute definiccedilatildeo
lexical em um vocaacutebulo mas remissatildeo ao significado de outro vocaacutebulo do par referido
em ndash(dts)or e ndashista se daacute o mesmo como eacute o caso de desenhador desenhista em que
desenhador por exemplo natildeo possui definiccedilatildeo e o Houaiss (2001) o remete ao
significado de desenhista Um outro par de vocaacutebulos que tambeacutem ilustra esse fato eacute
coureiro e courador o primeiro se refere a ldquopessoa que comercializa courordquo enquanto
o segundo a ldquoque ou o que coureia que ou o que retira o couro do animal morto no
campordquo Logo ao passo que coureiro denota o profissional o significado de coureador
abrange somente a noccedilatildeo de pessoa sem referecircncia agrave profissatildeo mas entregados ao
usuaacuterio do dicionaacuterio como sinocircnimos no processo de remissatildeo Esbarra-se novamente
nos problemas de definiccedilatildeo dos vocaacutebulos e de sinoniacutemia dada entre duas palavras com
bases iguais mas formadas com sufixos diferentes Esse procedimento pode estar
vinculado ao natildeo conhecimento de nuances contidas na estrutura das palavras da liacutengua
como no caso um conhecimento mais aprofundado sobre os sufixos por parte dos
profissionais encarregados da elaboraccedilatildeo de obras como a abordada
O conceito de instrumento foi provavelmente desenvolvido a partir da noccedilatildeo de
agente pois a primeira acepccedilatildeo explicitada nos dicionaacuterios na maioria das vezes eacute um
significado acional transparente como ldquoque ou o que Xvrdquo cuja extensatildeo de sentido eacute
185 O Houaiss (2001) caracteriza equilibrista da seguinte maneira ldquo1 que ou quem se manteacutem em
equiliacutebrio em uma posiccedilatildeo difiacutecil incocircmoda ou arriscada 2 que ou quem (pessoa artista atleta) exibe
extrema habilidade e destreza de movimentos de corpo em jogos que consistem em agarrar objetos
atirados ao ar no equiliacutebrio em corda arame bicicleta etcrdquo 186 A definiccedilatildeo de equilibrador eacute tatildeo somente ldquoque ou o que equilibrardquo (Houaiss 2001) 187 A definiccedilatildeo de equilibrante eacute ldquoque equilibrardquo (Houaiss 2001)
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voltada para a definiccedilatildeo do instrumento em questatildeo O instrumento se caracteriza por
um objeto usado como ferramenta para executar alguma accedilatildeo A presenccedila do ser
humano ou de outro ser vivo eacute condiccedilatildeo indispensaacutevel para o confeccionamento e para a
utilizaccedilatildeo do instrumento enquanto o aparelho e a maacutequina se destacam por certa
independecircncia na funccedilatildeo a ser desempenhada O objeto por sua vez apesar de possuir
uma funccedilatildeo eacute entendido como um material imoacutevel e talvez por esse mesmo motivo
seja pouco produtivo na liacutengua nas formaccedilotildees agentivas em ndash(dts)or
Entende-se que os nomes de instrumentos satildeo tiacutepicos em formaccedilotildees com o sufixo
ndash(dts)or devido a sua accedilatildeo natildeo marcada Satildeo raros os instrumentos em ndashnte como se
constata nos escassos exemplos a seguir
Instrumentos ou utensiacutelios em ndashnte e em ndash(dts)or
(i) instrumentos artefatos ou ferramentas em ndashnte cortante hidrante octante
(ii) instrumentos artefatos ou ferramentas em ndash(dts)or abridor acendedor
aerador afiador amortecedor apagador apontador atuador bolador188 borrifador
calibrador coador colhedor cortador descascador desentupidor189 deslizador
dichavador190 emulsificador enformador escalfador escareador escarificador
escorredor esticador exercitador furador grampeador irrigador medidor
misturador nivelador oleador191 passador pelador perfurador picador picotador
prendedor pulverizador puxador ralador raspador refrator regador respirador
riscador rolador sinalizador192 transferidor
Aparelhos eou maacutequinas em ndash(dts)or
acelerador aglomerador alimentador alternador ampliador amplificador
aquecedor aspirador barbeador borbulhador cacheador193 carburador centelhador
188 Instrumento usado para enrolar fumo Vocaacutebulo natildeo presente no dicionaacuterio Houaiss (2001) 189 Instrumento usado para desentupir um recipiente Vocaacutebulo natildeo presente no dicionaacuterio Houaiss
(2001) 190 Instrumento usado para triturar a maconha Vocaacutebulo natildeo presente no dicionaacuterio Houaiss (2001) 191 Lubrificador conta-gotas utilizado na lubrificaccedilatildeo de maacutequinas e afins sendo o seu reservatoacuterio de
oacuteleo Vocaacutebulo natildeo presente no dicionaacuterio Houaiss (2001) 192 Instrumento piroteacutecnico que produz uma luz brilhante ou um calor intenso sem explosatildeo Vocaacutebulo
natildeo presente no dicionaacuterio Houaiss (2001) 193 Aparelho usado para cachear cabelos etc Vocaacutebulo natildeo presente no dicionaacuterio Houaiss (2001)
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circulador clarificador climatizador compactador compressor computador
debicador depurador desgastador despertador desviador desfibrilador destocador
ebulidor elevador entortador194 escaldador esterilizador exaustor extintor
faiscador fatiador195 filmador fritador196 grelhador197 higienizador iluminador
inalador ionizador liquidificador localizador198 modulador moedor nebulizador
oscilador picador processador projetor purgador purificador racionalizador199
radiador rastreador recortador refletor refrigerador regulador retificador rotor
sangrador saturador secador sedador200 separador temperador temporizador
tonalizador tonificador torcedor transformador triturador umedecedor
umidificador validador vaporizador ventilador vocalizador
Objetos em ndashnte e em ndash(dts)or
(i) absorvente cegante corrente estante presente recipiente volante
(ii) alargador atacador cobertor cravejador escorregador expositor
fervedor201 flutuador mordedor voador
Os produtos e as substacircncias quiacutemicas constituem grupos diferentes pois
enquanto no primeiro caso haacute geralmente uma referecircncia ao produto como uma
mercadoria alude-se ao segundo como um componente que se faz presente e necessaacuterio
para a constituiccedilatildeo do produto Seguem alguns exemplos
194 Instrumento usado para entortar tubos e outros objetos Tambeacutem pode se referir agrave pessoa que entorta
talheres ie ao maacutegico Vocaacutebulo natildeo presente no dicionaacuterio Houaiss (2001) 195 Instrumento ou aparelho que fatia alimentos Vocaacutebulo natildeo presente no dicionaacuterio Houaiss (2001) 196 Equipamento ou aparelho que frita alimentos Vocaacutebulo natildeo presente no dicionaacuterio Houaiss (2001) 197 Grelhador eacute usado no lugar de grelha por alguns falantes Vocaacutebulo natildeo presente no dicionaacuterio
Houaiss (2001) 198 Aparelho que localiza determinada posiccedilatildeo ou lugar Vocaacutebulo natildeo presente no dicionaacuterio Houaiss
(2001) 199 Aparelho eletrocircnico capaz de medir os consumos energeacuteticos em tempo real fixar um consumo
maacuteximo e desconectar cargas eleacutetricas selecionadas pelo cliente como natildeo prioritaacuterias Vocaacutebulo natildeo
presente no dicionaacuterio Houaiss (2001) 200 Aparelho usado para sedar esmalte cabelo etc Vocaacutebulo natildeo presente no dicionaacuterio Houaiss (2001) 201 Objeto usado para ferver liacutequido Em tal acepccedilatildeo pode tambeacutem ser classificado como um instrumento
Vocaacutebulo natildeo presente no dicionaacuterio Houaiss (2001)
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Produtos quiacutemicos em ndashnte e em ndash(dts)or
(i) produtos quiacutemicos em ndashnte adoccedilante aguardente alvejante amaciante (port
br) borbulhante calmante carburante clarificante202 coagulante cristalizante203
desengordurante desinfetante desodorante detergente espumante estimulante
expectorante fertilizante hidratante laxante oxidante propelente purgante
refrigerante saborizante204 tonalizante tonificante tranquilizante
(ii) amaciador (port eu) amolecedor branqueador bronzeador clareador205
condicionador desengordurador emagrecedor escurecedor finalizador melhorador
molhador revigorador206
Substacircncias quiacutemicas em ndashnte e em ndash(dts)or
(i) acidulante anabolizante aromatizante conservante corante edulcorante
emoliente emulsificante entorpecente espessante estabilizante gelificante
glaceante207 impermeabilizante inalante lubrificante nutriente repelente
sequestrante solvente umectante
(ii) catalisador conservador realccedilador208
Partes do corpo em ndashnte e em ndash(dts)or
(i) dente
(ii) horripilador209
202 Produto quiacutemico utilizado para clarear aacutegua de piscina aquaacuterio caldo de cana etc Vocaacutebulo natildeo
presente no dicionaacuterio Houaiss (2001) 203 Produto que cristaliza uma estrutura Vocaacutebulo natildeo presente no dicionaacuterio Houaiss (2001) 204 ldquoQue ou substacircncia que adicionada a um alimento (liacutequido ou soacutelido) lhe confere um determinado
sabor (Brasil)rdquo Saborizante In Infopeacutedia Porto Porto Editora 2003-2013 Disponiacutevel em
lthttpwwwinfopediaptlingua-portuguesasaborizantejsessionid=hn1hE2g9I30TAXhAj-txmg__gt
Acesso em 20 jun 2013 Vocaacutebulo natildeo presente no dicionaacuterio Houaiss (2001) 205 Produto quiacutemico que clareia pecirclos cabelos pele etc Vocaacutebulo natildeo presente no dicionaacuterio Houaiss
(2001) 206 Produto quiacutemico que revigora pecirclos etc Vocaacutebulo natildeo presente no dicionaacuterio Houaiss (2001) 207 Substacircncia que confere textura atraveacutes da formaccedilatildeo de um gel Vocaacutebulo natildeo presente no dicionaacuterio
Houaiss (2001) 208 Aditivo quiacutemico que realccedila o sabor de alimentos Vocaacutebulo natildeo presente no dicionaacuterio Houaiss
(2001)
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No que diz respeito ao grupo dos locativos o uacutenico componente com o sufixo ndash
nte eacute restaurante com o sentido de ldquo(lugar) que Xvrdquo ie ldquolugar que restaurardquo em que
tal nomeaccedilatildeo de lugar natildeo eacute comum no portuguecircs comprovado pelo fato da proacutepria
palavra ser um empreacutestimo do francecircs No espanhol parece ser um pouco mais comum
lugares em ndashdor (mirador comedor) Os sufixos ndashnte e ndash(dts)or provavelmente natildeo
satildeo produtivos nessa categoria porque a noccedilatildeo de lugar natildeo pressupotildee accedilatildeo
Locativos em ndashnte e em ndash(dts)or
(i) restaurante
(ii) corredor
A formaccedilatildeo de nomes de proprietaacuterios em ndashnte se explica pela condiccedilatildeo de
permanecircncia do agente enquanto as mesmas construccedilotildees em ndash(dts)or demonstram um
estado temporaacuterio sitiante eacute aquele que eacute ldquoproprietaacuterio ou morador de siacutetio quinta ou
roccedilardquo ao passo que sitiador eacute ldquoque ou quem sitia210 (praccedila tropa etc)rdquo fabricante eacute o
ldquodirigente ou proprietaacuterio do estabelecimento da maquinaria e dos produtos envolvidos
na fabricaccedilatildeordquo diferente de fabricador que eacute simplesmente aquele ldquoque ou o que
fabrica algordquo anunciante eacute ldquoque ou aquele que patrocina anuacutencios em qualquer meio de
comunicaccedilatildeordquo em oposiccedilatildeo a anunciador ldquoque ou o que anuncia ou prenunciardquo cujo
uacutetimo par eacute dado como sinocircnimo pelo Houaiss (2001)
Proprietaacuterio em ndashnte
anunciante fabricante sitiante
Outros substantivos e adjetivos em ndashnte
209 ldquoANATOMIA muacutesculo liso que existe na pele e que contraindo- se obriga a levantar o pelo a que
estaacute ligadordquo In Infopeacutedia [Em linha] Porto Porto Editora 2003-2013 [Consultado em 2013-09-30]
Vocaacutebulo natildeo presente no dicionaacuterio Houaiss (2001) 210 Cerca pressiona
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(i) substantivos e adjetivos em ndashnte ambiente absorvente aglomerante
aglutinante concorrente constante corrente correspondente designante enchente
existente expediente flagrante importante instigante inteligente interessante luzente
maccedilante permanente poluente referente relevante resultante secante seguinte
semelhante significante suficiente transparente vacante volante
(ii) adjetivos em ndashnte abrasante abundante alquilante altercante alucinante
alvescente ameaccedilante amolante amolecente amplificante angustiante apaixonante
apavorante aplacante ardente arrepiante arribante arrulhante aterrorizante
atuante atropelante azabumbante assoberbante atropelante balante batalhante
beneficente blasfemante candente captante capturante caracterizante cativante
centelhante cessante chamejante cintilante claudicante cogitante colante
colapsante comovente competente complacente concordante concludente confiante
constrangente constringente convergente convincente dardejante debicante
deferente degradante degustante deprimente depurante desesperante desgastante
deslizante deslumbrante destoante deteriorante detonante devaneante diferente
diligente dissecante diversificante domesticante duplicante ebuliente eficiente
eletrizante elogiante eloquente elucubrante embasbacante eminente emocionante
empolgante encorajante entediante equivalente escaldante estafante estonteante
estuante esvoaccedilante evangelizante evidente exacerbante examinante excelente
exigente exorbitante expectante expirante exuberante exulcerante exultante
faiscante faltante fascinante fervente filante filtrante florescente fortalecente
fosforescente frequente frondejante frondente frustrante fulgurante germinante
gratificante gritante hesitante horripilante humilhante iludente iluminante
ilustrante imitante impactante impressionante inerente inquietante insolente
interferente lampejante lancinante limitante maquinante massacrante medicante
moderante modulante molificante nitente obcecante obediente obliterante
obsequente ofuscante oprimente pacificante penetrante pensante perfurante
perpetuante perseverante perturbante petulante portante possuinte potente
prejudicante preocupante prevalecente procedente profanante provante provocante
prudente pujante pungente recente reducente redundante refrescante reivindicante
repugnante respeitante ressecante retificante ribombante riscante saltitante
soluccedilante sufocante supurante surpreendente temperante terminante titubeante
Anielle Aparecida Gomes Gonccedilalves Jacometti de Oliveira
Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
229
tocante torturante transbordante tumultuante umente vacilante validante ventilante
verdejante vibrante vicejante virente vivificante voante vocalizante vociferante
vogante volateante
Outros substantivos e adjetivos em ndash(dts)or
(i) abrasador aglutinador ameaccedilador amenizador arrepiador assustador
aterrador aterrorizador balador contestador controlador desafiador designador
dominador eletrizador ensalmador enxalmador indicador instigador intensificador
maquinador mitigador motivador refilador respeitador resumidor reparador
saidor suavizador tirador traidor vivedor
Assim como visto nos pares de palavras em ndashnte e ndash(dts)or do cotejo dos
esquemas de lexicalizaccedilatildeo tambeacutem se depreende que esses sufixos natildeo satildeo
funcionalmente equivalentes Rodrigues (2008 65) faz algumas interrogaccedilotildees sobre o
porquecirc de ndashnte e ndashdor quando comparados satildeo mais prototipicamente formantes de
classes determinadas como por exemplo ndashdor ao gerar maior nuacutemero de instrumentos
enquanto ndashnte um maior nuacutemero de substacircncias
Numa tentativa de organizar esses grupos recorreu-se agrave teoria dos protoacutetipos
(Rosch 1973) cuja proposta eacute a de que grupos ou categorias constituiacutedos com algum
tipo de semelhanccedila entre si possuem um molde ideal ou melhor exemplar que serve
como base para construccedilotildees posteriores
No que diz respeito agrave classe dos agentivos o humano eacute o protoacutetipo ao suprir todos
os requisitos que se tem de um conceito de agente conservando tal noccedilatildeo de modo
expliacutecito em todos os seus consequentes desdobramentos A teoria dos protoacutetipos
baseada num desenvolvimento de categorias a partir de um melhor exemplar fornece
desse modo uma armaccedilatildeo descritiva para a estruturaccedilatildeo desses agentivos cujo modelo
semacircntico-estrutural eacute demonstrado a seguir
Anielle Aparecida Gomes Gonccedilalves Jacometti de Oliveira
Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
230
Figura no 3 Modelo semacircntico-estrutural das formaccedilotildees agentivas em ndashnte e
ndash(dts)or
2ordm Instrumento
substitui o ser
humano em
determinada accedilatildeo A
accedilatildeo praticada pelo
instrumento eacute
pontual e depende da
forccedila do ser humano
1ordm HUMANO PESSOA
vincula-se agrave ideia
primaacuteria do ser que
pratica uma accedilatildeo seja
ela qual for O ser
humano em accedilatildeo eacute
designado de modo
geral como agente
2ordm Agente
profissional a accedilatildeo
do agente possui
frequecircncia e
intencionalidade
3ordm Aparelho e
maacutequina
elaboraccedilatildeo e
substituiccedilatildeo do
instrumento Imitaccedilatildeo e
cancelamento da forccedila
do ser humano
3ordm Objeto
elaboraccedilatildeo e
substituiccedilatildeo do
instrumento Imitaccedilatildeo
e abrandamento da
forccedila do ser humano
Substacircncia
quiacutemica accedilatildeo
feita por uma
substacircncia
2ordm Substacircncia
quiacutemica accedilatildeo
feita por uma
substacircncia
3ordm Produto
quiacutemico utilizado
para se obter
algum efeito
Conceito
de Agente
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Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
231
De acordo com esse esquema o ser humano eacute o protoacutetipo isto eacute o exemplo ou o
melhor exemplar para a caracterizaccedilatildeo da agentividade devido agrave accedilatildeo que eacute proacutepria do
ser humano Os diversos desdobramentos da agentividade tipicamente humana para os
profissionais para os instrumentos que depois desenvolvem os objetos e os aparelhos
para as substacircncias quiacutemicas formando posteriormente os produtos quiacutemicos datildeo-se
diante agrave nova realidade social do falante Sobre esse assunto Rainer (2013 185) explica
que
ldquoo latim e o proto-romance natildeo conheciam o uso instrumental de ndashtor O francecircs e o
italiano padratildeo natildeo conheceram esse uso antes dos seacuteculos XVII e XVIII e para presenciar o
grande auge desse uso () temos que esperar incluso ateacute o seacuteculo XIX Nessas duas liacutenguas o uso
instrumental se introduziu em concomitacircncia com as revoluccedilotildees cientiacutefica e industrial ()rdquo 211
Assim essa ordem de vinculaccedilatildeo se estabelece provavelmente com a sucessatildeo dos
fatos histoacutericos Logo a construccedilatildeo dessas vaacuterias classes se deu de modo natural De
uma perspectiva tradicional tais sequecircncias satildeo vistas como o resultado de uma
expansatildeo e extensatildeo de significado por meio de metaacutefora ou de metoniacutemia Meyer-
Luumlbke (1890) explica essa polissemia como uma consequecircncia do uso metafoacuterico dos
substantivos de agente humano como designaccedilotildees de instrumentos Rainer (2005)
propotildee o conceito de aproximaccedilatildeo que se daacute de modo metafoacuterico pelo falante A
metaacutefora e a metoniacutemia podem entatildeo ser operaccedilotildees que contribuem para a alta
produtividade desses sufixos agentivos que formam um continuum de unidades
simboacutelicas aumentando a extensatildeo secircmica com a transferecircncia de valores semacircnticos de
um para outro dos elementos coexistentes
Certamente alguns membros satildeo mais tipicamente agentivos do que outros e
algumas vezes o estado do membro pode natildeo ser claro O membro descascador por
exemplo inserido na categoria ou subcategoria do instrumento possui uma
agentividade secundaacuteria pois para se tornar um agente isto eacute fazer uma accedilatildeo eacute
necessaacuteria a forccedila primaacuteria de algo ou algueacutem que gere essa forccedila Assim de acordo
com a anaacutelise dos sufixos agentivos e com o pensamento de Wittgenstein A
representado pelo protoacutetipo humano em ndash(dts)or e C representado pelos aparelhos em
ndash(dts)or apesar de natildeo compartilharem nenhuma caracteriacutestica evidente possuem
relaccedilotildees funcionais aproximadas
As causas para o surgimento dessas relaccedilotildees seriam provavelmente a
211 Traduccedilatildeo minha
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Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
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expressividade e a eficiecircncia A manutenccedilatildeo do significado pode ser baseada
principalmente em dois princiacutepios o do isomorfismo em que se evita a polissemia e a
homoniacutemia e o princiacutepio da prototipicidade que assegura a estabilidade estrutural dos
conceitos com a manutenccedilatildeo simultacircnea da densidade da informaccedilatildeo e sua flexiacutevel
adaptabilidade Lakoff (1987 65) propotildee que ldquoo centro ou protoacutetipo da categoria eacute
previsiacutevel E enquanto os membros natildeo centrais natildeo satildeo previsiacuteveis eles satildeo
lsquomotivadosrsquo por ele no sentido que eles confirmam semelhanccedilas familiares com elerdquo212
Essas extensotildees natildeo se sobrepotildeem umas agraves outras apesar de haver uma noccedilatildeo do
ponto de partida e de seus desdobramentos mas se relacionam e coincidem
conceitualmente Ressalta-se que a categorizaccedilatildeo natildeo eacute estaacutetica isto eacute dada uma vez e
considerada pronta mas eacute dinacircmica e ativa acompanhando as necessidades de
expressatildeo do falante
Assim do sentido acional do agente se passou agrave construccedilatildeo do profissional
formado por meio de uma extensatildeo de sentido a partir da praacutetica normal e recorrente do
agente constituindo-se em um agentivo secundaacuterio De igual modo com o
desenvolvimento da teacutecnica recorreu-se a denominaccedilotildees para os instrumentos
(agentivos secundaacuterios) e aparelhos (agentivos terciaacuterios) em que os mesmos afixos
foram motivados para essas concepccedilotildees por serem extensotildees de sentido Os objetos em
ndash(dts)or (agentivos terciaacuterios) por sua vez podem ser considerados um
desenvolvimento do conceito de instrumento com funccedilotildees diferentes do aparelho O
mesmo acontece com as substacircncias quiacutemicas (agentivos secundaacuterios) e produtos
quiacutemicos (agentivos terciaacuterios) O sufixo assegura a perpetuaccedilatildeo e a conservaccedilatildeo
desses sentidos construindo uma grande rede de referecircncias para o falante A seleccedilatildeo
entre os sufixos ndashnte ou ndash(dts)or assim como entre outros sufixos para a formaccedilatildeo de
um neologismo fundamentar-se-aacute no procedimento da analogia em que o falante optaraacute
pelo conceito semacircntico e formal mais proacuteximo da noccedilatildeo que pretende expressar
Portanto no momento de formar uma nova palavra para expressar um determinado
conceito o falante tem como opccedilatildeo uma gama de morfemas cujo criteacuterio de seleccedilatildeo e
decisatildeo se encontra no acircmbito semacircntico funcional morfoloacutegico e analoacutegico
Seria entatildeo possiacutevel postular a existecircncia de conexotildees ou inter-relaccedilotildees entre esses
grupos compostos de mesma partiacutecula derivacional
De uma perspectiva morfoloacutegica o aspecto imperfeito do sufixo ndashnte pode
212 Traduccedilatildeo minha
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233
desencadear as formaccedilotildees de profissionais e de proprietaacuterios assim como a de
substacircncias e de produtos quiacutemicos motivadas pela accedilatildeo contiacutenua proposta por essas
classes enquanto a possiacutevel existecircncia do significado duplo de ndash(dts)or como autor de
uma accedilatildeo e agente de uma funccedilatildeo no indo-europeu e grego antigo esse uacuteltimo
relacionado agrave construccedilatildeo dos instrumentos pode explicar a existecircncia de ndash(dts)or na
morfologia dos aparelhos e objetos assim como tambeacutem a sua grande produtividade
pela utilidade de seus significados A unificaccedilatildeo focircnica dos valores indo-europeus de ndash
teacuterndashtoacuter e gregos de ndashτήρndashτωρ no latim e nas liacutenguas romacircnicas natildeo faz com que
ocorra no entanto a mesma unificaccedilatildeo no plano do significado os quais sobrevivem e
se mostram na construccedilatildeo do leacutexico demonstrando seus valores nas categorias lexicais
que os sufixos abrangem Dessa maneira as relaccedilotildees de semelhanccedilas entre os agentivos
humanos e as categorias decorrentes satildeo tanto funcionais como linguiacutesticas
Fato tambeacutem eacute que em muitos casos o caminho que se inicia no protoacutetipo
humano passa a outros grupos lexicais sob uma mesma composiccedilatildeo vocabular como
por exemplo em limpador e absorvente
Limpador
darr
1 Que ou aquele que limpa
darr
2 Diz-se de ou qualquer substacircncia usada para limpeza
darr
3 Diz-se de qualquer maacutequina que processa uma operaccedilatildeo de limpeza
Absorvente
darr
1 Que absorve (adjetivo)
darr
2 Diz-se de objeto que absorve (substantivo)
Constata-se que o conteuacutedo semacircntico do sufixo natildeo muda mas sim sua categoria
gramatical (passagem de adjetivo para substantivo por exemplo) e dentro da classe do
substantivo pode haver uma proliferaccedilatildeo de construccedilotildees a partir da ideia agentiva
expressa pelo sufixo criadas a partir da necessidade do falante cujo resultado eacute a
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Os sufixos agentivos ndashnte e ndash(dts)or no portuguecircs um estudo semacircntico-diacrocircnico
234
acumulaccedilatildeo de classes lexicais todas desenvolvidas sob uma mesma base de sentido
Natildeo se trata assim de diferentes acepccedilotildees de um mesmo objeto mas de uma sequecircncia
de desdobramentos rumo agrave estruturaccedilatildeo de diferentes objetos sob um mesmo molde e
mesma essecircncia linguiacutestica Tem-se entatildeo como suposta base de significado ldquo(pessoa)
que Xvrdquo que passa no caso especificamente de limpador a ldquosubstacircncia que Xvrdquo e por
fim a ldquoaparelho que Xvrdquo Em absorvente tem-se o sentido baacutesico de agente ldquoque Xvrdquo
que conduz agrave nomeaccedilatildeo do ldquoobjeto que Xvrdquo
O mesmo acontece com desviador No dicionaacuterio Houaiss (2001) desviador eacute
ldquoque ou aquele que desviardquo adj e sm de 1553 com um sentido muito geral e
abrangente e que atualmente eacute mais especificamente um aparelho que desvia a aacutegua
do chuveiro para a ducha tratando-se de uma acepccedilatildeo neoloacutegica
Desviador
darr
1 Que ou aquele que desvia
darr
2 Aparelho que desvia
Figura no 4 ducha com desviador
Fonte httpwwwtigraoderamoscombrcolchoesDucha-
para-Banho-Star-com-Desviador-2030_3271html
Um outro exemplo contemporacircneo de passagem de categoria pode ser observado
em engraxador que de pessoa ou profissional passa a denominar tambeacutem o aparelho
eleacutetrico
O sema213 de accedilatildeo estaacute presente em todos os vocaacutebulos em ndashnte e ndash(dts)or e
como segunda etapa nomeia um ser que pertence a um dos grupos dos agentivos
Outras etapas a essa se seguem muitas vezes em que a mesma denominaccedilatildeo perpassa
mais de um grupo Aleacutem dos exemplos citados tecircm-se muitos outros
ldquoo que Xvrdquo (sema de accedilatildeo) rarr acendedor (pessoa) rarr acendedor (instrumento)
213 Sema pode ser conceituado como o ldquotraccedilo distintivo semacircntico miacutenimordquo (Pottier 1968 120) ou seja eacute
a unidade miacutenima de significaccedilatildeo
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235
ldquoo que Xvrdquo (sema de accedilatildeo) rarr catador (pessoa) rarr catador (aparelho)
ldquoo que Xvrdquo (sema de accedilatildeo) rarr depilador (profissional) rarr depilador (aparelho)
ldquoo que Xvrdquo (sema de accedilatildeo) rarr engraxador (profissional) rarr engraxador (aparelho)
ldquoo que Xvrdquo (sema de accedilatildeo) rarr finalizador (profissional) rarr finalizador (produto
quiacutemico)
ldquoo que Xvrdquo (sema de accedilatildeo) rarr gravador (profissional) rarr gravador (aparelho)
ldquoo que Xvrdquo (sema de accedilatildeo) rarr limpador (profissional) rarr limpador (produto quiacutemico) rarr
limpador (maacutequina)
ldquoo que Xvrdquo (sema de accedilatildeo) rarr lustrador (profissional) rarr lustrador (produto quiacutemico)
rarr lustrador (aparelho)
ldquoo que Xvrdquo (sema de accedilatildeo) rarr monitor (profissional) rarr monitor (aparelho)
ldquoo que Xvrdquo (sema de accedilatildeo) rarr passeador (pessoa) rarr passeador (profissional)
ldquoo que Xvrdquo (sema de accedilatildeo) rarr pegador (pessoa) rarr pegador (instrumento)
ldquoo que Xvrdquo (sema de accedilatildeo) rarr picotador (profissional) rarr picotador (instrumento) rarr
picotador (maacutequina equipamento)
ldquoo que Xvrdquo (sema de accedilatildeo) rarr pregador (pessoa) rarr pregador (instrumento)
ldquoo que Xvrdquo (sema de accedilatildeo) rarr rebitador (profissional) rarr rebitador (maacutequina)
ldquoo que Xvrdquo (sema de accedilatildeo) rarr refilador (animal) rarr refilador (aparelho)
ldquoo que Xvrdquo (sema de accedilatildeo) rarr rotulador (profissional) rarr rotulador (aparelho)
ldquoo que Xvrdquo (sema de accedilatildeo) rarr selador (profissional) rarr selador (maacutequina equipamento)
rarr selador (produto quiacutemico)
ldquoo que Xvrdquo (sema de accedilatildeo) rarr semeador (pessoa profissional) rarr semeador (maacutequina
equipamento)
ldquoo que Xvrdquo (sema de accedilatildeo) rarr sequestrante (pessoa) rarr sequestrante (substacircncia
quiacutemica)
A ordem do aparecimento dessas diferentes categorias pode ser descrita pelas
dataccedilotildees das diferentes acepccedilotildees O que se pode afirmar eacute que o nuacutecleo semacircntico do
sufixo teraacute a ideia de accedilatildeo e que o tipo de accedilatildeo seraacute definido pelo sufixo e tambeacutem por
sua base no que diz respeito por exemplo agrave duraccedilatildeo da accedilatildeo Geralmente se partiraacute da
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236
ideia do ser humano em accedilatildeo e se formaratildeo os outros grupos de agentes cujos
desdobramentos podem ser considerados secundaacuterios ou terciaacuterios com base no
conceito primaacuterio da accedilatildeo praticada pelo ser humano confirmando a validade da teoria
do protoacutetipo para a descriccedilatildeo do objeto
O que se pretendeu com a Teoria dos Protoacutetipos foi propor um modelo semacircntico
que possa justificar a interaccedilatildeo e as afinidades entre os distintos paracircmetros operantes
A hipoacutetese do aspecto nos nomes pelo que jaacute foi evidenciado torna-se bastante
plausiacutevel na constituiccedilatildeo e organizaccedilatildeo desses grupos lexicais culminando na
construccedilatildeo das seguintes aacutervores
4 2 Esquematizaccedilatildeo dos dados
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Figura no 5
Aacutervore genealoacutegica do sufixo ndashnte
ndashns ndashntis (latim214)
ndashnte (portuguecircs215)
Figura no 6
A formaccedilatildeo das funccedilotildees do sufixo ndashnte com base na Teoria dos
Protoacutetipos
Nome
Substantivo Adjetivo
Pessoa
Profissional Proprietaacuterio Substacircncias quiacutemicas
Produtos quiacutemicos
O sufixo ndashnte eacute proacuteprio para a formaccedilatildeo de nomes de pessoas de profissionais de
proprietaacuterios de substacircncias e de produtos quiacutemicos pois satildeo campos semacircnticos
caracterizados por accedilotildees natildeo pontuais que se perpetuam ininterruptamente durante um
determinado tempo sendo caracterizado assim pela duraccedilatildeo e estabilidade da accedilatildeo
214 Utilizado para a formaccedilatildeo de verbos e de nomes 215 Utilizado para a formaccedilatildeo de nomes
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Figura no 7
Aacutervore genealoacutegica do sufixo ndash(dts)or216
ndash(ts)ōr (latim)
ndash(dts)or (portuguecircs)
Figura no 8
A formaccedilatildeo das funccedilotildees do sufixo ndash(dts)or com base na Teoria dos
Protoacutetipos
Nome
Substantivo Adjetivo
Pessoa
Profissional Instrumento Substacircncias quiacutemicas
Aparelho Objeto Produtos quiacutemicos
O sufixo ndash(dts)or por seu turno eacute proacuteprio para as seguintes formaccedilotildees do ser
acional de profissionais de instrumentos de aparelhos (extensatildeo moderna do conceito
de instrumento com a conservaccedilatildeo do sufixo) de objetos de substacircncias e de produtos
quiacutemicos em que tais campos semacircnticos satildeo caracterizados por accedilotildees mais pontuais e
natildeo-marcadas
216 Utilizado para a formaccedilatildeo de nomes substantivos e adjetivos no latim e no portuguecircs
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Capiacutetulo 5 Conclusotildees
Os sufixos ndashnte e ndash(dts)or possuem uma significaccedilatildeo agentiva desde sua origem
e essa eacute a identidade semacircntica que os une O agente talvez seja a expressatildeo do mais
importante papel temaacutetico presente na linguagem e a discriminaccedilatildeo desse termo no
campo lexical pode se dar a partir do estudo e da leitura dos sufixos pois eles emitem a
ideia expressada assim como o tipo de accedilatildeo praticada Averiguou-se que o conceito de
agente agentivo e agentividade relacionado a alguns nomes e sufixos e dado como
uniforme e homogecircneo conteacutem categorias discretas pois nele pode inserir-se a ideia de
pessoa profissional instrumento aparelho e maacutequina substacircncia e produto quiacutemicos
objeto e ateacute partes do corpo que de algum modo praticam uma accedilatildeo Apesar dessa
abrangecircncia para aacutereas tatildeo diversas possui um nuacutecleo semacircntico acional uacutenico
traduzido por ldquo(pessoaalgo) que Xvrdquo (Y) com a especificidade de ldquo(pessoaalgo) que
estaacute VGERrdquo para os nomes em ndashnte As diferentes duraccedilotildees e especificaccedilotildees da accedilatildeo
dependem do significado histoacuterico e atual das partes constituintes e da formaccedilatildeo como
um todo da palavra
As formaccedilotildees com esses afixos designam processos dados pelas categorias verbais
de tempo e de aspecto expressos pelas bases e pelo sufixo ndashnte A investigaccedilatildeo histoacuterica
sobre a contribuiccedilatildeo aspectual foi o foco dessa pesquisa apoacutes apontar-se como
questionamento inicial se haveria diferenccedila semacircntica entre eles jaacute que satildeo
considerados na literatura como sufixos sinocircnimos Constatou-se que por causa da
elevaccedilatildeo da categoria verbal do tempo no latim e nas liacutenguas romacircnicas o estudo do
aspecto ficou submetido a um plano inferior e no que se refere a sua presenccedila no
nome eacute pouquiacutessimo mencionado Viu-se que o aspecto nos nomes eacute definido tanto no
afixo como na base verbal
Desse modo ao contraacuterio do que determina as gramaacuteticas da liacutengua portuguesa os
afixos em questatildeo satildeo concorrentes e natildeo similares opondo-se agrave visatildeo da variabilidade
de ndashnte e ndash(dts)or como aleatoacuteria Ateacute mesmo os temas verbais que servem de base
para a formaccedilatildeo das palavras em ndashnte e ndash(dts)or no latim satildeo opostos (infectum e tema
do perfectum ou do supino respectivamente) pela necessidade de expressatildeo dos
diferentes aspectos fato que pode explicar a contiacutenua formaccedilatildeo de pares com esses
sufixos Tal oposiccedilatildeo aspectual foi mapeada e mais bem compreendida a partir da
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240
comparaccedilatildeo desses pares de substantivos No portuguecircs os nomes em ndashnte e ndash(dts)or
satildeo formados a partir do tema do verbo (radical + vogal temaacutetica) e natildeo do infinitivo
que possui aspecto futuro e do particiacutepio passado como afirma as obras de referecircncia
Eacute certo que todos os elementos envolvidos contribuem para a estruturaccedilatildeo do
significado isto eacute o afixo a base o produto e o contexto concorrem cada qual para esse
alvo A funccedilatildeo especiacutefica do sufixo por sua vez estaacute em direcionar o significado desse
conjunto envolvido Logo cada um dos morfemas possui um papel preciso no sistema
linguiacutestico muitas vezes definido em liacutenguas anteriores agrave latina e reformulado
conforme a perda de sensibilidade de determinadas funccedilotildees cuja consequecircncia eacute a
simplificaccedilatildeo no subsistema que a adquiriu
A constataccedilatildeo dessa contraposiccedilatildeo aspectual nos nomes em ndashnte e ndash(dts)or em
liacutengua portuguesa como uma heranccedila greco-latina se constitui na contribuiccedilatildeo desse
trabalho aleacutem de corroborar a tese de que haacute accedilotildees expressas pelos nomes A teoria dos
protoacutetipos se mostrou como um eficiente organizador de conceitos dentro do campo
linguiacutestico natildeo soacute no que diz respeito ao leacutexico mas tambeacutem agrave morfologia
especialmente a derivacional e se instala apenas como uma visatildeo e experiecircncia de
abordagem ainda sendo necessaacuterios mais estudos e novas percepccedilotildees sobre os mesmos
Sobre os sufixos ndashnte e ndash(dts)or o primeiro deve ser separado de todos os outros
casos de sufixaccedilatildeo pois sua origem lhes concede traccedilos verbais que permanecem em
sua adoccedilatildeo definitiva como nome Tambeacutem eacute possiacutevel que tenha se firmado de tal modo
como um sufixo derivacional que uma construccedilatildeo contemporacircnea como cadeirante217 a
partir do substantivo cadeira seja provaacutevel por ser esse nome muito recorrente O verbo
cadeirar por sua vez parece ser formado a partir da derivaccedilatildeo cadeirante jaacute que
relatos sobre ele parecem ser recentes O segundo sufixo eacute sem duacutevida o mais
produtivo deles possuindo vigor nessa e em todas as eacutepocas pelas quais passou
sobrevivendo sua forma e principalmente sua essecircncia significativa (Saussure 1970
[19161] 250) Semelhantemente no latim ndash(ts)or eacute tambeacutem um dos sufixos mais
produtivos na formaccedilatildeo de nomes de agente (Faria 1958 288)
Ademais sugere-se os seguintes estudos a serem desenvolvidos para uma melhor
compreensatildeo desse objeto
1 Estudo sobre o impacto da base nominal e da base verbal no produto final das
formaccedilotildees agentivas integrando os quatro principais sufixos agentivos da liacutengua
217 Essa formaccedilatildeo com ndashnte eacute motivada pela situaccedilatildeo contiacutenua sofrida pelo agente
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241
portuguesa ‒nte e ndashdor geralmente formados com bases verbais e ndasheiro e ndashista
geralmente formados com bases nominais
2 Estudo do aspecto nos nomes deverbais de accedilatildeo em ‒aacutevel ndashccedilatildeo ‒ivo e ‒mento
3 Estudo comparativo entre os sufixos de um mesmo grupo como por exemplo
o dos agentivos (‒nte ‒dor ‒eiro ‒ista etc) dos acionais (‒ccedilatildeo ‒mento etc) entre
outros pois a comparaccedilatildeo de sua constituiccedilatildeo sob um ponto de vista principalmente
histoacuterico pode apresentar as intenccedilotildees comunicativas para o seus surgimentos e usos
4 Estudo comparativo sobre a importacircncia a funccedilatildeo a abrangecircncia e a
produtividade desses sufixos em outras liacutenguas romacircnicas jaacute que a opccedilatildeo pelo uso de
um desses sufixos pode ser variaacutevel se comparado ao portuguecircs por exemplo
5 Pesquisa sobre a percepccedilatildeo do falante face ao aspecto dos nomes deverbais
principalmente no que diz respeito aos nomes em ndashnte com aplicaccedilatildeo de questionaacuterio
6 Estudo sobre o uso do particiacutepio presente em funccedilatildeo verbal (oraccedilatildeo relativa) no
portuguecircs contemporacircneo em corpora de liacutengua falada e escrita
7 Estudo sobre o complemento nominal das formaccedilotildees em ndashnte e ndashdor pois em
muitos casos o mesmo eacute possiacutevel mas pouco usual como em reclamador cujos
motivos devem ser investigados
8 Estudo comparativo entre o supino e o particiacutepio passado na liacutengua latina no
que diz respeito agraves suas funccedilotildees e papel na formaccedilatildeo de palavras nessa liacutengua
Por fim cabe aos estudiosos aos pesquisadores e aos ensinadores da liacutengua uma
reflexatildeo mais seacuteria sobre a divisatildeo e a compartimentaccedilatildeo tatildeo riacutegida de elementos
hiacutebridos da liacutengua como os particiacutepios A opccedilatildeo por uma abordagem histoacuterico-reflexiva
dos componentes concomitantemente com outras abordagens aleacutem de esclarecer
questotildees dos dias de hoje aparentemente insoluacuteveis pode ajudar num entendimento
mais completo e abrangente do objeto
O estudo das formas sufixais compreende o conhecimento de uma heranccedila
semacircntica de seacuteculos e milecircnios e tambeacutem mostra a extraordinaacuteria confluecircncia de
vaacuterias liacutenguas e dialetos cujas relaccedilotildees nesse caso pouco modificaram os elementos
gramaticais aqui sob foco
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