17
Observatório da Educação: Tecnologia Assistiva e Atendimento Educacional Especializado na rede básica de ensino no estado de São Paulo – enfoque estatístico Olga Lyda Anglas Rosales Tarumoto – [email protected] – FCT/UNESP Mário Hissamitsu Tarumoto – [email protected] – NeaD-FCT/UNESP Klaus Schlunzen Júnior – [email protected] – NeaD-FCT/UNESP Elisa Tomoe Moriya Schlunzen – [email protected] - NEaD-FCT/UNESP Danielle Aparecida do Nascimento Santos – [email protected] - FCT/UNESP Resumo O projeto intitulado “Observatório da Educação: Tecnologia Assistiva e Atendimento Educacional Especializado na rede básica de ensino no estado de São Paulo – enfoque estatístico” foi desenvolvido na Faculdade de Ciências e Tecnologia (FCT) – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp), Campus de Presidente Prudente/SP, com financiamento da Coordenadoria de Aperfeiçoamento do Ensino Superior (CAPES). O objetivo geral foi analisar as práticas e estratégias de uso das TAs desenvolvidas e utilizadas pelos professores do Atendimento Educacional Especializado nas Salas de Recursos (SR) das escolas públicas municipais e estaduais do Estado de São Paulo. A metodologia de pesquisa utilizada é de natureza quali-quantitativa, pois além da interpretação sobre a qualidade das práticas e estratégias de uso de TA no contexto escolar, foram utilizadas informações estatísticas e consultas em bases de dados para análise quantitativa detalhada sobre a distribuição de TA nas SR no Estado de São Paulo. A coleta de dados possibilitou visualizar a distribuição espacial das SR no âmbito estadual, identificando-se a distribuição por regiões. Um plano amostral complexo foi desenvolvido para aplicação de questionário a ser aplicado aos gestores e professores das SR. O questionário será aplicado de forma on-line através de convite por email. A partir dos dados, foi observado que o grau de comprometimento dos professores em relação ao atendimento educacional especializado foi maior que 89% e o grau de satisfação também foi maior que 89%. Em torno de 60% dos professores receberam formação adequada para atuar na Sala de Recursos e em torno de 40% usam as salas com frequência. Palavras Chaves: Tecnologia Assistiva, Salas de Recursos, Atendimento Educacional Especializado. I - Introdução A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2007) inaugura no cenário brasileiro um paradigma educacional fundamentado na construção de sistemas educacionais formais inclusivos, por meio da organização da escola comum em conjunto com o serviço de Educação Especial. Esse paradigma congrega grandes mudanças estruturais da escola, que passa a pensar nas especificidades de TODOS os estudantes em termos de acesso e oportunidade de aprendizagem com qualidade. Ao longo da história, a Educação Especial foi oferecida a pessoas “deficientes” por instituições filantrópicas e devocionais, como serviços de atendimento educacional especializado que podia

virtual educa 2015 - mexico - Olga Anglas Tarumoto.pdf · quantitativa detalhada sobre a distribuição de TA nas SR no Estado de São Paulo. A coleta de dados possibilitou visualizar

  • Upload
    vanlien

  • View
    213

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Observatório da Educação: Tecnologia Assistiva e Atendimento Educacional Especializado na rede básica de ensino no estado de São Paulo – enfoque

estatístico

Olga Lyda Anglas Rosales Tarumoto – [email protected] – FCT/UNESP

Mário Hissamitsu Tarumoto – [email protected] – NeaD-FCT/UNESP

Klaus Schlunzen Júnior – [email protected] – NeaD-FCT/UNESP

Elisa Tomoe Moriya Schlunzen – [email protected] - NEaD-FCT/UNESP

Danielle Aparecida do Nascimento Santos – [email protected] - FCT/UNESP

Resumo O projeto intitulado “Observatório da Educação: Tecnologia Assistiva e Atendimento Educacional Especializado na rede básica de ensino no estado de São Paulo – enfoque estatístico” foi desenvolvido na Faculdade de Ciências e Tecnologia (FCT) – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp), Campus de Presidente Prudente/SP, com financiamento da Coordenadoria de Aperfeiçoamento do Ensino Superior (CAPES). O objetivo geral foi analisar as práticas e estratégias de uso das TAs desenvolvidas e utilizadas pelos professores do Atendimento Educacional Especializado nas Salas de Recursos (SR) das escolas públicas municipais e estaduais do Estado de São Paulo. A metodologia de pesquisa utilizada é de natureza quali-quantitativa, pois além da interpretação sobre a qualidade das práticas e estratégias de uso de TA no contexto escolar, foram utilizadas informações estatísticas e consultas em bases de dados para análise quantitativa detalhada sobre a distribuição de TA nas SR no Estado de São Paulo. A coleta de dados possibilitou visualizar a distribuição espacial das SR no âmbito estadual, identificando-se a distribuição por regiões. Um plano amostral complexo foi desenvolvido para aplicação de questionário a ser aplicado aos gestores e professores das SR. O questionário será aplicado de forma on-line através de convite por email. A partir dos dados, foi observado que o grau de comprometimento dos professores em relação ao atendimento educacional especializado foi maior que 89% e o grau de satisfação também foi maior que 89%. Em torno de 60% dos professores receberam formação adequada para atuar na Sala de Recursos e em torno de 40% usam as salas com frequência.

Palavras Chaves: Tecnologia Assistiva, Salas de Recursos, Atendimento Educacional Especializado. I - Introdução

A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2007) inaugura no cenário brasileiro um paradigma educacional fundamentado na construção de sistemas educacionais formais inclusivos, por meio da organização da escola comum em conjunto com o serviço de Educação Especial. Esse paradigma congrega grandes mudanças estruturais da escola, que passa a pensar nas especificidades de TODOS os estudantes em termos de acesso e oportunidade de aprendizagem com qualidade. Ao longo da história, a Educação Especial foi oferecida a pessoas “deficientes” por instituições filantrópicas e devocionais, como serviços de atendimento educacional especializado que podia

substituir a escola comum. Entre a Constituição Federal de 1988 até a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) 9394 de 1996, inúmeros decretos e iniciativas por parte do Ministério da Educação (MEC) fundamentaram ideais educacionais que condicionavam o acesso das pessoas com deficiência à classe comum do ensino regular desde que possuísse condições para acompanhar as atividades curriculares no mesmo ritmo que os estudantes ditos “normais”. Em 2001, mediante as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica (BRASIL, 2007), ficou determinado aos sistemas de ensino o dever de matricular todos os estudantes, organizando-se para o atendimento aos estudantes com “necessidades educacionais especiais”, e fornecendo as condições necessárias para a sua aprendizagem com qualidade. Esses estudantes devem receber um Atendimento Educacional Especializado (AEE) como serviço de apoio complementar e/ou suplementar à classe comum, o qual pode ser oferecido nas Salas de Recursos Multifuncionais (SRM). Um dos recursos disponíveis nessas salas é a Tecnologia Assistiva (TA) que compõe um conjunto de recursos de acessibilidade. Portanto, o tema delimitado é a TA e o AEE no processo de inclusão escolar nas escolas públicas municipais e estaduais do Estado de São Paulo.

Por meio do Decreto nº 5.803/06 foi instituído o Observatório da Educação (OBEDUC), que fomenta o desenvolvimento de estudos e pesquisas em educação, sob a gestão conjunta da Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP). Atualmente a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (SECADI), do MEC também faz parte do convênio.

Em 2013, por meio do edital nº49/2012 do OBEDUC, a Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, mediante o Grupo de Pesquisa Ambientes Potencializadores para a Inclusão (API) da Faculdade de Ciências e Tecnologia (FCT) de Presidente Prudente/SP propôs o projeto “Tecnologia Assistiva e Atendimento Educacional Especializado: um mapeamento sobre as estratégias, práticas, serviços e recursos de acessibilidade no processo de inclusão escolar de estudantes público-alvo da Educação Especial”. O projeto, com vigência de 2013 a 2015 insere-se nos eixos temáticos Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, Educação Básica e Educação a Distância.

O objetivo geral é analisar as práticas e estratégias de uso de TA desenvolvidas e utilizadas pelos professores do Atendimento Educacional Especializado nas Salas de Recursos Multifuncionais das escolas públicas municipais e estaduais do Estado de São Paulo.

Esta pesquisa teve ainda os seguintes objetivos secundários. Estudar as principais definições de TA e delimitar os tipos que estão disponíveis nas SRM implantadas nas escolas públicas municipais e estaduais do Estado de São Paulo. Mapear a implantação e implementação das SRM nas diferentes regiões brasileiras, e mais especificamente no Estado de São Paulo quais são as TA disponíveis nas escolas públicas municipais e estaduais do Estado de São Paulo em termos de CAA, softwares de computador acessíveis, auxílios para cegos e baixa visão e outros, no período de 2005 a 2013. Verificar os níveis de ensino em que essas TA tem sido utilizadas e quais são as suas implicações na autonomia, independência e acessibilidade dos Estudantes Público-Alvo da Educação Especial (EPAEE) incluídos nos ambientes escolares. Analisar como os professores das SRM planejam, organizam, utilizam e avaliam o emprego das TA junto aos EPAEE atendidos e quais são as ações que articulam o seu trabalho ao desenvolvimento desses estudantes na sala comum. Analisar quais são as implicações dessas estratégias e práticas na vida e inclusão escolar dos EPAEE incluídos nessas escolas em termos de autonomia, independência e acessibilidade para

compreensão dos conhecimentos historicamente construídos, abordados na classe comum.

II – Materiais e métodos Esta pesquisa, envolvendo dados qualitativos e quantitativos é um grande desafio para o desenvolvimento do projeto, por se tratar de uma equipe multidisciplinar, envolvendo pedagogos, nos diferentes níveis (professores da rede básica de ensino, professores e alunos de pós-graduação), equipe de Tecnologia da Informação e Estatísticos. Para a realização do levantamento de dados, foi possível a obtenção dos dados junto ao (SECADI/MEC) com todas as escolas a nível nacional, que receberam as SRM. Esta base de dados, foi o ponto de partida para a elaboração do plano amostral para a realização do levantamento de dados. Considerando-se a informações contidas nesta base, optou-se por realizar uma amostragem em múltiplos estágios, sendo o primeiro estágio, a amostragem estratificada (sendo que os municípios foram divididos de acordo com o porte em termos populacionais de acordo com o censo/IBGE de 2010). O segundo estágio, dentro de cada estrato, foi aplicado amostragem por conglomerados, sendo que cada município foi considerado como sendo conglomerado. No terceiro estágio, dentro do município selecionado, foi considerada novamente a amostragem estratificada, sendo considerado como estrato, o fato da escola ter recebido ou não a SRM. Em cada estrato neste último estágio as escolas foram amostradas através de uma amostragem aleatória simples.

Para a análise das variáveis quantitativas, foram realizadas análises de estatística descritiva, como tabelas e gráficos e técnicas da Análise Multivariada, em particular, a Análise de Conglomerados ou cluster analysis. A análise de conglomerados, é uma técnica de interdependência que busca agrupar os elementos conforme sua estrutura “natural”. É uma técnica que visa segregar elementos ou variáveis em grupos homogêneos internamente, heterogêneos entre si e mutuamente exclusivos, a partir de determinados parâmetros conforme uma medida de similaridade ou de distância. Neste sentido, tem por objetivo principal definir a estrutura dos dados de maneira a alocar as observações parecidas no mesmo grupo (Favero, Belfiore, Silva e Chan, 2009). Desta forma, esta análise busca identificar elementos semelhantes com base em suas características. Assim, a técnica identifica grupos de objetos, de modo que cada objeto é semelhante aos demais no agrupamento, buscando assim, maximizar a homogeneidade dos objetos dentro dos grupos, e maximizar a heterogeneidade entre os demais grupos (Hair, Anderson, Tatham e Balck, 2005 apud Favero, Belfiore, Silva e Chan, 2009).

Para a análise das questões abertas, envolvendo informações qualitativas, foram analisadas de várias formas, entre elas a utilização de nuvens de palavras mais frequentes e a construção de dendogramas com as palavras mais frequentes e construção de conglomerados. O convite para responder os questionários foram encaminhadas a todas as escolas que receberam a SRM de acordo com o cadastro do MEC/SECADI (2013) e com o plano amostral construído.

II.1 – Procedimento de coleta de dados

Como a segunda etapa, é necessária a aplicação de questionários aos responsáveis pelas Salas de Recursos (SR). Considerando-se que no período de 2005 a 2011, o Governo Federal disponibilizou 39298 SR, conforme distribuição apresentado na Tabela 1.

Tabela 1: Distribuição das salas multimeios por período no Brasil

período Frequência Porcentagem frequência acumulada

porcentagem acumulada

2005 250 0,64 250 0,64 2006 376 0,96 626 1,59 2007 625 1,59 1251 3,18 2008 4300 10,94 5551 14,13 2009 14997 38,16 20548 52,29 2010 3750 9,54 24298 61,83 2011 15000 38,17 39298 100,00

Entre as SR apresentadas na Tabela 1, 3688 estão no Estado de São Paulo, desta forma, considerando se o interesse de realização da pesquisa somente neste estado, existe a necessidade de aplicação de um plano amostral. Para a construção deste, foram consideradas todas as escolas do estado de São Paulo, com pelo menos um aluno matriculado. Observou se que neste estado, 152 municípios não receberam nenhuma sala e 493 receberam, totalizando os 645 municípios. A distribuição das salas recebidas por ano é apresentada na Tabela 2.

Tabela 2: Distribuição das Salas de Recursos por período no estado de SP

Período Frequência Porcentagem Frequência acumulada

Porcentagem acumulada

2005 18 0,49 18 0,49 2006 27 0,73 45 1,22 2007 62 1,68 107 2,90 2008 374 10,14 481 13,04 2009 1680 45,55 2161 58,60 2010 430 11,66 2591 70,25 2011 1097 29,75 3688 100,00

Desta forma, para a construção do plano amostral, as cidades do estado de SP que receberam as SR foram divididas em 4 estratos de acordo com o número de salas recebidas no período de 2005 a 2011.

Tabela 3: Estatísticas do número de Salas de Recursos recebidos pelas cidades do estado de SP no período de 2005 a 2011 divididas por estratos

estrato Num.cidades média Desvio pad Mínimo máximo Total

1 (<= 5) 328 2,1433 1,2734 1 5 703 2 (6 – 10) 62 7,9032 1,5962 6 10 490

3 (11 – 20) 51 14,3529 2,6520 11 20 732 4 ( > 20) 52 33,9038 17,8680 21 138 1763

total 493 7,4807 11,5284 1 138 3688

Tabela 4: Estatísticas da proporção entre o número de Salas Recursos recebidos e o número total de estabelecimentos de ensino pelas cidades do estado de SP no

período de 2005 a 2011 divididas por estratos

Estrato Num.cidades média Desvio pad Mínimo máximo

1 (<= 5) 328 0,2424 0,1348 0,0289 0,8000 2 (6 – 10) 62 0,3419 0,1826 0,0758 1,0000

3 (11 – 20) 51 0,2913 0,1305 0,0747 0,6667 4 ( > 20) 52 0,3285 0,1261 0,0511 0,6579

Total 493 0,2691 0,1454 0,0289 1,0000

Considerando o cálculo do tamanho amostral, fixando-se a variável de interesse como sendo a proporção média de escolas atendidas, o tamanho amostral é dado por:

𝑛 =𝑁 ∗ 𝑝 ∗ 𝑞 ∗ 𝑧!!

𝑝 ∗ 𝑞 ∗ 𝑧!! + 𝑁 − 1 ∗ 𝐸!

De tal forma que:

N é o tamanho da população;

p é a proporção média de escolas atendidas por município e q=1-p

E é o erro máximo de estimação;

Na nossa situação, teremos: N=493, p=0,27 e admitiremos E=0,05.

Assim:

𝑛 =493 ∗ 0,27 ∗ 0,73 ∗ 1,96!

0,27 ∗ 0,73 ∗ 1,96! + 492 ∗ 0,05!= 187.85

Desta forma, o tamanho amostral a ser utilizado pode ser aproximado para 𝑛 = 190. Como proposta, será dado probabilidade 1 para que a cidade de SP (que recebeu 138 salas, no entanto, isto representa 5,11% dos estabelecimentos de ensino) para participar da amostra. A amostra das demais cidades será obtida utilizando a amostragem estratificada com a alocação proporcional de acordo com o tamanho do estrato a que pertence.

Tabela 5: Distribuição amostral dos municípios a serem pesquisados de acordo com a distribuição proporcional por estrato

estrato Num.cidades proporção Tamanho amostral

1 (<= 5) 328 0,6666 126 2 (6 – 10) 62 0,1260 24

3 (11 – 20) 51 0,1037 20 4 ( > 20) 51 0,1037 20

Total 492 1,0000 190

Tabela 6: Distribuição amostral dos municípios a serem pesquisados de acordo com a distribuição proporcional por estrato

estrato Tamanho amostral

Número médio de escolas por município na amostra

Numero de escolas

1 (<= 5) 126 2,2460 283 2 (6 – 10) 24 8,0417 193

3 (11 – 20) 20 15,4500 309 4 ( > 20) 20 31,0000 620

Total 190 7,3447 1405

A partir deste resultado, todas as escolas dos municípios sorteados que receberam a Sala de Recursos serão pesquisadas, desta forma, espera-se que em média teremos 1405 escolas amostradas do total de 3688 escolas.

III. Resultados Na aplicação de questionário, de acordo com o plano amostral estabelecido, foram encaminhados emails às escolas selecionadas, envolvendo professores que atuam na Sala de Recursos Multifuncionais e gestores destas mesmas escolas. Ao final 185 professores e 181 gestores responderam os questionários. Foram realizadas analyses qualitativas e quantitativas destes respondentes.

III.1 – Análise qualitativa Para a realização da análise inicialmente foram realizados levantamentos de dados existentes, tendo como fonte, as bases de dados do SECADI/MEC, IBGE e Secretaria Estadual de Educação do Estado de São Paulo (SEE/SP). Foi possível obter várias estatísticas como por exemplo, a proporção de escolas no município que receberam a SRM do governo federal, a relação entre o porte do município, o número de moradores com deficiência e o número de salas SRM instaladas no mesmo. Pela figura 1, em que são apresentados os municípios de acordo com a proporção de escolas que receberam a SRM, parece não haver indicativo de que determinadas regiões tenham sido beneficiadas com maior ou menor proporção de escolas com SRM, no entanto, a região do Vale do Ribeira parece indicar menores proporções, no entanto, ainda é necessária a realização de estudos mais aprofundados, principalmente em relação ao número de pessoas com necessidades especiais em cada município. Este estudo será realizado neste próxima etapa.

Para a construção da nuvem de palavras, foi utilizado um software que funciona de forma online e pode ser acessado através do site http://www.wordle.net/.

A nuvem de palavras é uma das formas de ilustrar as frequências de palavras que aparecem em textos. Em geral é difícil tirar conclusões a respeito, principalmente das relações entre as palavras que aparecem entre os respondentes. Para ilustrar este resultado, no questionário aplicado aos Professores, uma das perguntas foi: “Quais as dificuldades encontradas no desenvolvimento das atividades de TA?”. Na Figura 2, observa-se a nuvem de palavras, sendo que as palavras mais frequentes foram: “falta”, “nenhuma”, “recursos”, “internet”, “materiais”, “dificuldades” e “alunos” apareceram com maior frequência entre os respondentes. Aqui o resultado pode indicar que existem menos problemas, considerando que uma das principais palavras que apareceram foi “nenhuma”.

Figura 1: Proporção de escolas por município que receberam SRM

Figura 2: Nuvens de palavras das dificuldades encontradas no desenvolvimento das atividades de Tecnologia Assistiva

Outra forma já mencionada é a utilização de dendograma de palavras, que pode ser utilizada para o estudo do contexto dos discursos em questões abertas em questionários. O agrupamento é realizado de acordo com a frequência conjunta de palavras que aparecem nas respostas. O exemplo utilizado para ilustrar esta técnica foram as mesmas respostas da pergunta utilizada para a construção da nuvem de

palavras, ou seja, “Quais as dificuldades encontradas no desenvolvimento das atividades de TA?” Na figura 3 é apresentado o dendograma contendo as palavras e os agrupamentos. No agrupamento, a palavra “nenhuma” aparece isolado no agrupamento, ou seja, um percentual grande de respondentes responderam esta palavra de forma isolada. Neste caso, indica que os respondentes não acusaram problemas no desenvolvimento das atividades de TA. No grupo 2, aparecem as palavras: “falta” e “internet” dentro do mesmo grupo, podendo indicar que os problemas de acesso a internet podem estar causando algum tipo de problema. Outra sequencia está relacionada a “alunos”, “materiais” e “recursos”.

Figura 3: Dendograma e agrupamento de palavras mais frequentes

III.2 – Análise quantitativa

Nesta parte, os dados quantitativos foram analisados. Observou-se que 87% dos gestores e 96% dos professores respondentes são do sexo feminino, sendo que menos de 2% dos respondentes não indicaram o gênero. Estes resultados podem ser observados na Figura 4. Como era de se esperar, os gestores possuem mais idade comparado aos professores, ou seja, nas faixas etárias abaixo de 30 anos são os professores são em maior percentual e a partir desta faixa etária, o percentual de gestores são sempre maiores, como pode ser observado na Figura 5. Ainda de acordo com a Figura 6, foram observados percentualmente mais professores que gestores com menos de 5 anos de atuação no magistério. A partir dos 5 anos de experiência, os gestores estão presentes em maior percentual, com exceção da faixa entre 15 e 20 anos de experiência, em que o percentual de professores que atuam na SRM foi maior.  

confecção

alternativa

comunicação programas

utilização

conhecimento

encontradas

sala

impressora

manutenção

professorester

professor

utilizar

cursos

maioruso

sempre

computador

tempo

alguns

jogos

atendimento

deficiência

disponíveis

demanda

devido

informática

rede

comprometimento

desenvolvimento

espaço

trabalhar

softwares

apresentam

atividade

necessário

vezes

apoio

apresenta pois

novos

trabalho

somente

algumas

intelectual

alvo

publico

aluno

software dificuldades

acessibilidade

paginas

webdificuldade

momento

encontrei

presente atividades

computadores

desenvolver

acesso srm

formação

nada

nenhuma

falta

internet

alunos

materiais

recursos

010

2030

4050

Cluster Dendrogram

hclust (*, "ward")dist(mydt.df.scale, method = "euclidean")

Height

Figura 4: Distribuição dos respondentes por gênero entre os professores e gestores

Figura 5: Distribuição percentual dos professores e gestores por faixa etária

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

Feminino Masculino sem resp

87%

10%

2%

96%

4% 1%

gestores professores

0%  

5%  

10%  

15%  

20%  

25%  

30%  

Menos  de  25  

de  25  a  29   de  30  a  34   de  35  a  39   de  40  a  44   de  45  a  49   de  50  a  54   de  55  a  59   Mais  de  60  

0%  

2%  

6%  

20%  22%  

27%  

12%  

3%  

8%  

1%  

9%  

16%  15%  

18%  

22%  

11%  

3%  5%  

Gestores   Professores  

Figura 6: Distribuição percentual de professores e gestores de acordo com o tempo de serviço no magistério

Para entender melhor os dados, foi aplicada a análise de conglomerado, tanto para os questionários aplicados aos gestores quanto aos professores. Para a realização desta análise entre os gestores, foram utilizadas as perguntas cujos possíveis resultados foram de classificação entre 1 e 9. As perguntas utilizadas para esta análise foram:

8-Você julga importante a escola contar com o atendimento de AEE ? Para responder a esta questão, utilize a escala a seguir: 1 – Sem Importância e 9 – Muito Importante

11-Como você avalia o funcionamento do AEE ? Para responder a esta questão, utilize a escala a seguir: 1 – muito ruim e 9 – Muito bom

13- O professor do AEE atua juntamente com o professor da sala regular, com que frequência ? Para responder a esta questão, utilize a escala a seguir: 1 – nunca e 9 – sempre

16- Como você considera a sua participação frente aos Estudantes Público Alvo da Educação Especial, serviço de AEE? Para responder a esta questão, utilize a escala a seguir: 1 – muito ruim e 9 – Muito bom

20- Você acompanha o desenvolvimento dos alunos atendidos na SRM? Para responder a esta questão, utilize a escala a seguir, considerando : 1 – nunca e 9 – sempre

Para estas perguntas, na tabela 7 são apresentadas as médias e desvio padrão de cada questão por conglomerado. Este procedimento pode ser utilizado para verificar o percentual de respondentes de acordo com o padrão de respostas no conjunto de perguntas. Os resultados indicam que os respondentes que estão nos

0%  

5%  

10%  

15%  

20%  

25%  

30%  

35%  

40%  

45%  

Menos  de  6  meses  

6  meses  a  menos  de  1  

ano  

1  ano  a  menos  de  5  anos  

5  anos  a  menos  de10  

anos  

10  anos  a  menos  de  15  

anos  

15  anos  a  menos  de  20  

anos  

Acima  de  20  anos  

3%  

14%  

39%  

23%  

15%  

3%   3%  

8%  

22%  

43%  

16%  

5%   5%  

0%  

Gestores   Professores  

conglomerados 1 e 2 são os que tiveram as maiores médias em praticamente todas as questões pesquisadas, indicando que estes dois conglomerados podem ser considerados gestores mais satisfeitos e comprometidos. No conglomerado 2, somente a questão 13, referente a pergunta sobre atuação conjunta entre professores de SRM e professores de sala comum, o grau de concordância não foi muito alta.

Tabela 7: Média e desvio padrão das respostas por questão e por conglomerado obtido através da distância euclidiana

Cluster q8 q11 q13 q16 q20 1 8,97(0,18) 8,55(0,82) 8,32(0,80) 8,32(0,71) 8,33(0,92) 2 8,88(0,51) 7,64(1,27) 4,98(1,55) 6,97(1,38) 6,95(1,32) 3 7,22(1,56) 4,78(1,99) 2,33(1,32) 4,60(2,41) 3,13(2,30)

Na tabela 8, são apresentados a distribuição de frequência dos gestores por conglomerado. No conglomerado 1, estão presentes 72,61% e no conglomerado 2 22,93%. Ao agruparmos ambos, observa-se 95,54% dos respondentes. Estes dois conglomerados, podem ser considerados como sendo os gestores mais comprometidos com a SRM.

Tabela 8: Distribuição de frequências e percentual por conglomerado

Conglomerado Freq. Porc. 1 114 72,61% 2 36 22,93% 3 7 4,46% Total 157 100,00%

De forma geral, observa-se percentual maior de escolas pertencentes ao conglomerado 2 na região da capital e no conglomerado 3, alguns municípios do interior. Estes resultados são apresentados na Figura 6.

Ainda a partir dos dados, observa-se pela Figura 7, que 70% dos gestores indicaram que os professores recebem formação continuada para atuar nas SRM e 8% dos gestores não responderam a esta questão. Além disso, como pode ser observado na Figura 8, 46% dos gestores indicaram que não receberam recursos para o desenvolvimento das SRM, 44% indicaram que receberam e 8% não responderam esta questão.

Figura 6: Distribuição dos Municípios sorteados de acordo com o conglomerado na amostra de gestores

Figura 7: Distribuição percentual dos gestores que indicaram se os professores recebem formação continuada para atuar nas SRM

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

Não Sim Sem resposta

22%

70%

8%

Figura 8: Distribuição de frequência dos gestores quanto ao recebimento ou não de recursos para o desenvolvimento das SRM.

Para a análise dos Professores, as questões escolhidas para a aplicação da análise de conglomerados foram:

6 - Como você avalia o funcionamento do AEE na sua escola ? Para responder a esta questão, utilize a escala a seguir: 1 – Muito ruim e 9 – Muito bom

9 - Com qual frequência são desenvolvidas atividades no computador ? Para responder a esta questão, utilize a escala a seguir: 1 – nunca e 9 – sempre

10 – O professor do AEE atua juntamente com o professor da sala regular, com que frequência ? Para responder a esta questão, utilize a escala a seguir: 1 – nunca e 9 –sempre

14- Como você considera a sua participação frente aos Estudante Público Alvo da Educação Especial no AEE ? Para responder a esta questão, utilize a escala a seguir: 1 – Muito ruim e 9 – Muito bom

17 - Como você avalia o funcionamento da SRM na sua escola ? Para responder a esta questão, utilize a escala a seguir: 1 – Muito ruim e 9 – Muito bom

Na aplicação da análise de conglomerados para os professores, também observou-se que no conglomerado 2, a nota referente a atuação conjunta entre professores do AEE e professores da sala regular. Mesmo assim, pode considerar que nos conglomerados 1 e 2, estão os professores com maior comprometimento com as SRM.

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

40%

45%

50%

Não Sim Sem resposta

46% 44%

10%

Tabela 9: Média e desvio padrão das respostas por questão e por conglomerado obtido através da distância euclidiana

Cluster q6 q9 q10 q14 q17 1 8,34(0,81) 8,14(1,00) 8,42(0,70) 8,46(0,62) 8,35(0,74) 2 7,79(0,80) 6,39(1,28) 5,89(1,31) 7,70(0,97) 7,53(1,03) 3 4,95(1,35) 5,68(2,19) 4,32(1,95) 6,53(1,43) 5,35(0,86)

Entre os professores do AEE que responderam o questionário, observou se que 52,23% estão no conglomerado 1 e 36,94% no conglomerado 2. Desta forma, ao considerarmos os pertencentes nos conglomerados 1 e 2 como sendo comprometidos com as SRM, estes totalizam 89,17% dos professores.

Tabela 10: Distribuição de frequências e percentual por conglomerado

Conglomerado Freq. Porc. 1 82 52,23% 3 58 36,94% 2 17 10,83% Total 157 100,00%

Na Figura 9 é ilustrado a distribuição dos municípios que estão na amostra e o conglomerado a que pertencem. Observa-se que os municípios da capital e do litoral norte que caíram na amostra, pertencem ao conglomerado 3, indicando menos comprometimento destes professores com a SRM.

Figura 9: Distribuição dos Municípios sorteados de acordo com o conglomerado na amostra de professores

Em outra análise, foi feito um cruzamento entre as informações dos professores em relação ao funcionamento do AEE e da SRM. Foi aplicado o Teste Exato de Fisher para verificar independência entre estas duas variáveis. O valor p calculado foi menor que 0,001, indicando que existe uma relação entre estas duas variáveis, ou seja, existe associação entre as respostas apresentadas. Desta forma, observa-se que 89,81% dos professores, indicaram que os professores apontaram como sendo “bom” e “muito bom”, tanto para o funcionamento do AEE e SRM.

Tabela 10: Distribuição de frequências em relação a opinião dos professores quanto ao funcionamento do AEE e do SRM.

Funcionamento do AEE

Funcionamento da SRM Total

Ruim Regular Bom Muito bom

Muito ruim 0(0) 1(0,64) 0(0) 0(0) 1(0,64) Ruim 2(1,27) 1(0,64) 1(0,64) 0(0) 4(2,55)

Regular 0(0) 5(3,18) 2(1,27) 0(0) 7(4,46) Bom 0(0) 2(1,27) 26(16,56) 11(7,01) 39(24,84)

Muito bom 1(0,64) 1(0,64) 14(8,92) 90(57,32) 106(67,52)

Total 3(1,91) 10(6,37) 43(27,39) 101(64,33) 157(100)

Entre os professores pesquisados, 59% indicaram que receberam algum tipo de treinamento para atuarem nas SRM, 29% indicaram que não e 12% não responderam a esta questão. Comparado aos gestores, o percentual dos que disseram que receberam o treinamento foi bem menor entre os professores.

Figura 10: Distribuição percentual dos professores em relação a treinamentos recebidos

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

Não Sim Sem resposta

29%

59%

12%

Na Figura 11, são apresentados os percentuais de professores em relação a frequência de utilização das SRM. Entre os respondentes, 34% responderam quase sempre” e 29% indicaram “sempre”. Por outro lado, 11% indicaram “nunca” ou “quase nunca”. Ainda entre os professores, 12% não responderam a este questionamento.

Figura 11: Distribuição de frequência dos professores em relação a utilização da SRM

CONCLUSÕES

Como observado pela análise dos dados, apesar de todo esforço federal, muitas escolas não possuem Salas de Recursos. Através deste estudo, foi possível fazer uma visualização espacial das SRM existentes no estado de São Paulo, em que pode se observar que de fato não houve privilégios de determinadas regiões.

Através das informações existentes, foi possível a construção de um plano amostral complexo, de tal forma que possamos obter os dados de forma probabilística dos dados. Esta metodologia permite a obtenção dos resultados contendo os erros de amostragem determinados.

As técnicas estatísticas podem e devem ser utilizadas em diferentes contextos e aplicações. Principalmente em equipes multidisciplinares em que profissionais de diferentes áreas estão presentes, é de extrema importância mostrar como a estatística pode ser utilizada como a principal ferramenta de tomada de decisões. Este trabalho tem conseguido este resultado, pois a equipe vem se consolidando e mostrando a possibilidade de interação cada vez maior.

De forma geral, observa-se satisfação entre professores e gestores que atuam no AEE. Entre os Professores, quase 30% não tiveram treinamento para atuarem no AEE. Quase 11% dos Professores que atuam nas SRM nunca usaram ou usaram pouco as SEM. Entre os gestores, quase 22% afirmaram que os Professores não tiveram formação para atuarem com AEE. Em torno de 46% dos gestores, afirmaram que não receberam recursos específicos para o desenvolvimento das SRM.

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

Nunca Esporadicamente Sempre

6% 5%

14%

34%

29%

12%

Bibliografia

BOLFARINE, H.; BUSSAB, W. O. Elementos de Amostragem. São Paulo: Edgard Blücher, 2005.

BRASIL. Ministério da Educação. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. LDB 9.394, de 20 de dezembro de 1996.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Especial. Atendimento Educacional Especializado: Deficiência Física. Brasília: MEC/SEESP, 2008.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Sala de Recursos Multifuncionais: espaços para o Atendimento Educacional Especializado. Brasília: MEC/SEESP, 2006.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Brasília: MEC/SEESP, 2007.

COCHRAN, W. G. - Sampling techniques, Nova York: Wiley, 3ª ed., 1977.

FAVERO, L.P., BELFIORE, P., SILVA, F.L, CHAN, B.L. Análise de dados: Modelagem Multivariada para tomada de decisões. Rio de Janeiro. Elsevier, 2009. HAIR Jr., J.F., ANDERSON, R.E., TATHAN, R.L. BLACK, W.C. Análise multivariada de dados. 5ªEd. Porto Alegre, Bookman, 2005. SCHLÜNZEN, E.T.M. el al. Tecnologias Assistivas, Formação de Professores e Educação a Distância. Brasília: I Encontro Internacional do Sistema UAB, 2009.

SHEAFFER, R. L.; MENDENHALL III, W; OTT, L. Elementary survey sampling. 5th ed., Belmont: Duxbury Press, 1996.