VISÃO EUROPEIA PARA OCEANOS E MARES - LIVRO VERDE [UE - 2006]

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  • 7/29/2019 VISO EUROPEIA PARA OCEANOS E MARES - LIVRO VERDE [UE - 2006]

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    Para uma futura poltica martimada Unio: Uma viso europeia paraos oceanos e os mares

    Comunidades europeias

    Que imprprio chamar Terra

    a este planeta de oceanos!

    afirmao atribuda a Arthur C. Clarke

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    Encontram-se disponveis numerosas outras informaes sobre a Unio Europeia

    na rede Internet, via servidor Europa (http://europa.eu)

    Uma ficha bibliogrfica figura no fim desta publicao

    Luxemburgo: Servio das Publicaes Oficiais das Comunidades Europeias, 2006

    ISBN 92-79-01829-9

    Comunidades Europeias, 2006

    Reproduo autorizada mediante indicao da fonte

    Printed in Belgium

    IMPRESSO EM PAPEL BRANQUEADO SEM CLORO

    Europe Direct um servio que o/a ajuda a encontrar

    respostas s suas perguntas sobre a Unio Europeia

    Nmero verde nico (*):

    00 800 6 7 8 9 10 11

    (*) Alguns operadores de telecomunicaes mveis no autorizam o acessoa nmeros 00 800 ou podero sujeitar estas chamadas telefnicas a pagamento.

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    NDICE

    1. INTRODUO 4

    2. PRESERVAR A SUPREMACIA EUROPEIA EM MATRIADE DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL DAS ACTIVIDADES MARTIMAS 8

    2.1. Um sector martimo competitivo 82.2. Importncia do meio marinho para a utilizao sustentvel dos nossos recursos marinhos 112.3. Permanecer na ponta dos conhecimentos e da tecnologia 142.4. A inovao num contexto em mutao 162.5. Desenvolver as competncias martimas da Europa e promover o emprego sustentvel no sector martimo 192.6. Formao de clusters 222.7. Quadro regulamentar 23

    3. MAXIMIZAR A QUALIDADE DE VIDA NAS REGIES COSTEIRAS 263.1. A atractividade crescente das zonas costeiras enquanto local de vida e de trabalho 263.2. Adaptar-se aos riscos costeiros 283.3. Desenvolver o turismo costeiro 303.4. Gesto da interface terra/mar 31

    4. FORNECER OS INSTRUMENTOS PARA GERIR AS NOSSAS RELAES COM OS OCEANOS 344.1. Dados ao servio de actividades mltiplas 344.2. Ordenamento espacial para uma economia martima em expanso 364.3. Optimizar o apoio financeiro s regies costeiras 38

    5. GOVERNAO MARTIMA 405.1. Definio das polticas na Unio Europeia 405.2. Actividades dos Estados exercidas ao largo 425.3. Regras internationais para actividades globais 44

    5.4. Ter em conta as realidades geogrficas 47

    6. REIVINDICAR O PATRIMNIO MARTIMOE REAFIRMAR A IDENTIDADE MARTIMA DA EUROPA 50

    7. CAMINHO A SEGUIR PROCESSO DE CONSULTA 53

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    Os oceanos e os maressustentam a vida de centenas de milhes de pessoas, enquanto fonte de alimentose de energia, via de

    comrcio e de comunicao e elemento de atraco recreativa e paisagstica para o turismo nas regies costeiras. Por isso,

    o seu contributo para a prosperidade econmica das geraes presentese vindourasno pode ser subestimado.

    Sendo portugus, muito natural que osassuntosmartimosestejam no meu corao. Por isso, o uso sustentvele a governao

    dos nossos oceanos constitui, desde h muito tempo, uma questo de grande importncia para mim e surpreende-me que,

    apesar de osoceanos serem um elemento essencialpara a vida no nosso planeta, influenciando inclusivamente o nosso clima,

    continuem a ser relativamente desconhecidos. Da mesma maneira, a sua importncia para as nossas vidas muitas vezes

    subestimada.

    Isso aplica-se sobretudo Europa, que um continente martimo, rodeado de dois oceanos e de quatro mares, com uma orla

    costeira que se estende ao longo de quase 70.000 km. Oseuropeus sempre foram, e continuam a ser, lderes mundiaisno respei-

    tante aosassuntos martimos. Isso no nosdeve surpreender, j que 20 dos 25 Estados-Membrosda Unio Europeia so Estados

    costeirosou insularese 90% do comrcio externo da Unio e maisde 40% do seu comrcio interno se processa por via martima.

    Os sectores martimos e os recursos marinhos so, por isso, fundamentais para a economia europeia, j que representam a

    maior frota mercante do mundo, mais de 1.200 portos, uma indstria naval de ponta, um turismo costeiro, bem como uma

    importante fonte e meio de transporte da energia que consumimos.

    Temos de reconhecer todos estes factos, retirar deles as necessriasconcluses e utilizar a poltica como um instrumento para

    promover a nossa economia martima, assegurando simultaneamente uma proteco adequada do nosso ambiente marinho.

    Isso importante, porque os oceanos e os mares no so inesgotveis. Com efeito, enfrentam graves problemas devido

    poluio, reduo da biodiversidade e degradao ambiental. A investigao cientfica e as novas evolues tecnolgicas

    tornaram possveis novas utilizaes dos mares que concorrem entre si e so, por vezes, incompatveis. Os novos desafios,

    como asalteraes climticas, a subida do nvel dos mares, astempestades, a eroso costeira e as actividades ilegais, que vo

    desde o trfico de seres humanos pirataria, passando pelo terrorismo, requerem soluesinovadoras. Todas estasquestes

    exigem uma nova abordagem da forma como gerimos os mares e os oceanos.

    A fim de resolver osproblemas existentese de antever novosproblemas, e com o intuito de explorar asoportunidades econmi-

    case de estar altura dosdesafios que temos pela frente, a Comisso est a desenvolver uma viso europeia para os oceanos

    e os mares baseada numa nova abordagem holstica e mais integrada.

    Trata-se de um projecto ambicioso, pois, pela primeira vez na histria da Unio Europeia, o mar como um todo ocupa o centro

    das nossas atenes e a dimenso martima da Europa configura-se como uma prioridade estratgica para a Comisso. Comesta iniciativa orientada para o futuro estamos tambm a responder aos nossos compromissos internacionais em matria de

    uma melhor governao dos oceanos e, como tal, a afirmar o papelde liderana da Europa nos assuntos martimos mundiais.

    Esta deciso j est, neste momento, a produzir um efeito dinamizador. Os Estados-Membros e as autoridades regionais, os

    grupos interessados e os parceiros internacionais j nos enviaram inmeras reaces positivas e sugestes para uma futura

    poltica martima global. Essescontributos so muito bem-vindos, j que uma poltica desta natureza no pode, nem deve, ser

    imposta. Precisa de tempo para ser discutida, para emergir e para se desenvolver.

    Foi neste sentido que lanmos uma vasta consulta sobre a futura poltica martima para a Unio.

    O Livro Verde constitui o primeiro passo para este debate pblico, rumo a uma poltica martima global da Unio Europeia.

    Aguardamos com expectativa as vossas opinies.

    Mensagem do Presidenteda Comisso Europeia

    Jos Manuel Barroso

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    Com a adopo do presente Livro Verde, a Comisso lanou um vasto debate pblico sobre uma futura poltica martima

    para a Unio Europeia.

    O Livro Verde estabelece os alicerces para uma poltica martima da Unio Europeia comunitria, que far assentar numa base

    slida a gesto dos mares e dos oceanos e permitir o desenvolvimento de polticas e actividades martimas equilibradas e

    coerentes. Esta abordagem integrada tornou-se possvel graas aos esforos conjuntos de vrios servios da Comisso, que

    seguiram as orientaes polticas definidas por um grupo director de Comissrios, entre os quais os Vice-Presidentes

    Verheugen, Barrote Frattini, bem como os ComissriosDimas, Hbner, Potonik, Ferrero-Waldner,pidla, Piebalgs e eu prprio.

    O Livro Verde analisa as oportunidades proporcionadaspelos oceanose mares da Europa, bem como os desafios que nos

    esperam se quisermos aproveit-las da melhor maneira e de uma forma sustentvel. No pretende encontrar todas as

    respostas, mas antes colocar as perguntas certas, designadamente as seguintes:

    Como poderemos garantir a liderana e competitividade da economia europeia no apenasnos sectores da navegao,

    dos portos e da construo naval, como tambm nas indstrias em pleno crescimento, tais como a biotecnologia azul,

    a monitorizao dos oceanos e a robtica marinha, a aquicultura moderna, o sector doscruzeiros e da energia offshore?

    Como poderemos desenvolver ao mximo os nossos conhecimentos sobre os oceanos e os mares atravs da investi-

    gao cientfica e da tecnologia, e usar esses conhecimentos para assegurar a proteco dos recursos ocenicos e

    inverter as tendncias de degradao ambiental?

    Como poderemos maximizar a qualidade de vida nas regies costeiras e dinamizar o desenvolvimento de um turismo

    costeiro sustentvel?

    Que instrumentos poderemos desenvolver e usar para melhor gerirmos a nossa relao com o mar, incluindo a recolha

    de dados, o ordenamento do territrio e os instrumentos financeiros?

    Como poderemos instituir uma melhor governao dos assuntos martimos de modo a optimizar os resultados a nvel

    regional, nacional, europeu e internacional, e como poderemos promover a cooperao nas actividades offshore

    dos governos?

    Como poderemos preservar e promover o nosso patrimnio martimo europeu e reforar a identidade martima

    da Europa?

    Uma das mensagens centrais do Livro Verde a de que no podemos continuar a encarar os mares e os oceanos numa

    base estritamente sectorial. O desafio consiste em estudar a forma como as diferentes polticas sectoriais martimas

    interagem entre si e como podem ser combinadas para se complementarem mutuamente e criarem sinergias, tendo em

    conta que todas elas dizem respeito ao mesmo recurso essencial: o oceano nico do mundo.

    Este um grande desafio e s poderemos venc-lo se conseguirmos mobilizar as partes interessadas em toda a Europa.

    Diga-nos o que pensa. Diga-nos em que aspectos e de que forma uma poltica martima da Unio Europeia poder, em

    seu entender, gerar valor acrescentado para as regies costeiras, o ambiente marinho e a sua prpria actividade martima,

    ou simplesmente em que medida um novo olhar sobre os problemas existentes nos poder fazer avanar.

    Esperamos que a leitura deste Livro Verde lhe proporcione tanto prazer como o que tiremos em redigi-lo!

    Prefcio do Comissrio Europeu responsvelpelas Pescas e Assuntos Martimos

    Joe Borg

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    Qualquer cidado europeu se lembrar dosrelatos das grandes viagens de descobrimentoque revelaram aos nossos antepassados avastido, a diversidade de culturas e a riqueza derecursos do nosso planeta. O xito destasviagens,que na sua maioria eram martimas, exigia, quasesempre, esprito de abertura a ideias novas e umplaneamento meticuloso, alm de coragem edeterminao. Graas a elas, no s foram sendodesvendadasao longo do tempo regiesdo mundoanteriormente desconhecidas, como tambmapareceram novas tecnologias, nomeadamente ocronmetro martimo, destinado a calcular a longi-

    tude exacta, e a turbina a vapor, que permitiuescapar tirania dos ventos dominantes.

    O nmero de europeusnas zonasdo litoral semprefoi elevado. No mar encontraram subsistnciacomo pescadores e marinheiros, mas tambmsade e prazer, novos horizontes para sonhar eum rico reportrio de vocbulos e metforas pre-sentes tanto na literatura como no quotidiano.Fonte de romance, mas tambm de separaes,perigos desconhecidos e sofrimento, o mar umdesafio permanente e suscita em ns uma von-

    tade profunda de melhor o conhecer.

    A Europa est rodeada por numerosas ilhas, porquatro mares(Mediterrneo, Bltico, mar do Norte

    e mar Negro) e por dois oceanos (Atlntico e rcti-co). O continente europeu uma pennsula comuma orla costeira de milhares de quilmetros maior do que a de outras grandes massas conti-nentais, como os Estados Unidos ou a Federaoda Rssia. Dada esta configurao geogrfica,mais de dois teros das fronteiras da Unio socostas e os espaos martimos sob jurisdio dosEstados-Membrosso mais vastos do que os seusespaos terrestres. Graas s suas regies ultra-perifricas, a Europa est igualmente presente nooceano ndico e no mar dasCarabas, para alm dooceano Atlntico. Os desafioscolocadospor estas

    regies no plano martimo so numerosos e afec-tam a Unio Europeia no seu todo.

    A Europa, essencialmente devido sua geografia,sempre teve, portanto, uma relao privilegiadacom os oceanos, cujo papel no desenvolvimentoda sua cultura, identidade e histria foi funda-mental desde temposimemoriais.

    Assim continua a ser hoje em dia. Num momentoem que a Unio Europeia procura revitalizar a suaeconomia, importante reconhecer o potencial

    econmico da sua dimenso martima. Estima-seque 3 a 5% do produto interno bruto (PIB) europeuso gerados pelas indstrias e servios do sectormartimo, sem contar com o valor de matrias-

    1. INTRODUO

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    primas como o petrleo, o gs ou o pescado. Asregiesmartimasrepresentam maisde 40% do PIB.

    No obstante, os cidados europeus nem sempreesto bem informados da importncia de que serevestem os oceanos e os mares na sua vida.Embora saibam que a gua um bem crucial,podero no saber que, na sua maior parte,provm dos oceanos sob a forma reciclada de

    chuva ou de neve. Preocupam-se com as alter-aes climticas, mas nem sempre sabem at queponto so moduladas pelos oceanos. Beneficiamda possibilidade de comprar produtos baratos detodo o mundo, sem se aperceberem da complexi-dade da rede logstica que o torna possvel.

    Justificao

    O desenvolvimento sustentvel ocupa um lugarpreponderante na agenda de trabalhos da UnioEuropeia1. O desafio consiste em assegurar o

    reforo mtuo do crescimento econmico, daproteco social e da proteco do ambiente.

    A Unio Europeia tem agora oportunidade deaplicar aos oceanos o princpio do desenvolvi-mento sustentvel. Para esse efeito, pode tirarpartido dos trunfos que sempre estiveram nabase da sua supremacia no domnio martimo:conhecimento dos oceanos, larga experincia ecapacidade para enfrentar novos desafios, con-jugados com um forte empenho na protecodos seus recursos.

    A gesto dos oceanos e mares passa obrigatoria-mente pela cooperao com pases terceirose nombito de forns multilaterais. neste contextointernacional que deve ser desenvolvida a acoda Unio Europeia em matria de oceanos.

    Para que a Europa possa melhorar a sua relao comos oceanos, no s o sector que tem de inovar, osdecisores polticos tambm. Devemos considerar apossibilidade de aplicar na gesto dos oceanos edos mares uma nova abordagem que, em vez deincidir unicamente naquilo que deles podemos

    extrair ou de os tratar sob um prisma meramentesectorial, passe a apreend-loscomo um todo.At agora, as nossas polticas em matria detransporte martimo, indstria martima, regies

    costeiras, energia offshore, pescas, meio marin-ho e outras reas de relevo foram desenvolvidasseparadamente. evidente que nos esformospor garantir a tomada em considerao doimpacto de umas nas outras. Contudo, negligen-cimos as articulaes mais vastas entre taispolticas, do mesmo modo que no procedemosa um exame sistemtico da forma de as combinarpara que se reforassem mutuamente.

    A fragmentao pode levar adopo de medi-das contraditrias, que, por sua vez, tm conse-quncias negativas para o meio marinho ou quepodem impor limitaes desproporcionadas aactividades martimas concorrenciais. Almdisso, a fragmentao do processo de decisono permite compreender o impacto potencial deum conjunto de actividadesnoutro e impede-nosde tirar proveito de sinergias inexploradas entrediferentes sectores martimos.

    Chegou agora a altura de reunir todos estes ele-mentos e forjar uma nova viso para a gesto danossa relao com os oceanos. Para isso, seronecessrias novas formas de conceber e aplicarpolticas ao nvel comunitrio, nacional e local,bem como ao nvel internacional, atravs da ver-tente externa das nossas polticas internas.

    Objectivo

    O presente Livro Verde tem por objectivo lanarum debate sobre uma futura poltica martimapara a Unio Europeia, caracterizada por uma

    abordagem holstica dos oceanos e dos mares.O Livro Verde tornar claro que, num perodo emque os seus recursos esto ameaados porpresses fortes e pela nossa crescente capaci-dade tecnolgica de os explorar, s uma atitudede profundo respeito pelos oceanos e pelosmares nos permitir continuar a desfrutar dosbenefciosque nos oferecem. A reduo acelera-da da biodiversidade marinha devido, nomea-damente, poluio, ao impacto das alteraesclimticas e sobrepesca um sinal de alarmeque no podemos ignorar.

    O Livro Verde, que se baseia nas polticas e ini-ciativas da Unio Europeia existentese se insereno contexto da Estratgia de Lisboa, procura

    1

    Comunicao da Comisso ao Conselho eao Parlamento Europeu relativa ao reexameda estratgia em favor do desenvolvimentosustentvel: Uma plataforma de aco,COM (2006) 658 final/2.

    O documento da Comisso est disponvelem http://eur-lex.europa.eu/, o do Conselhoem http://www.consilium.europa.eu/ e o doParlamento Europeu emhttp://www.europarl.europa.eu

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    estabelecer o justo equilbrio entre as dimen-

    ses econmica, social e ambiental do desen-volvimento sustentvel.

    Do Livro Verde se espera ainda que contribuapara que os europeus adquiram uma nova con-scincia da grandeza do seu patrimnio marti-mo, da importncia dos oceanos nas suas vidase do potencial dos oceanos para melhorar obem-estar e aumentar as oportunidadeseconmicas.

    O caminho a seguir

    Os princpios da boa governao apontam paraa necessidade de uma poltica martimaeuropeia que englobe todos os aspectos dosoceanos e mares. Tal poltica dever ser integra-da, inter-sectorial e multidisciplinar, e no umasimples compilao de polticas sectoriais verti-cais. Dever considerar os oceanos e os marespartindo de um conhecimento profundo daforma como funcionam e do modo de preservara sustentabilidade do seu meio e dos seus ecos-sistemas. Dever tambm determinar de queforma o processo de deciso e a conciliao de

    interesses concorrentes em zonas marinhas ecosteiras podem conduzir a um clima maispropcio ao investimento e ao desenvolvimentode actividades econmicas sustentveis.

    Para esse efeito, necessrio aumentar a coop-erao e promover a coordenao e a integraoefectivas das polticas relacionadas com osoceanos e os mares a todos os nveis.

    Princpios subjacentes

    Nos seus objectivos estratgicos para 2005-2006, a Comisso Europeia assinalou torna-se especialmente necessrio termos uma poltica

    martima abrangente, orientada para o desen-

    volvimento de uma economia martima flores-

    cente [] de uma forma sustentvel para o

    ambiente. Esta poltica deve assentar na exceln-

    cia da investigao cientfica, da tecnologia e da

    inovao martimas.

    A Comisso est convicta de que, para con-cretizar este objectivo, devemos alicerar a

    nossa abordagem em dois pilares.

    Em primeiro lugar, essa abordagem deve estar

    ancorada na Estratgia de Lisboa, estimulando ocrescimento e a criao de mais e melhoresempregos na Unio Europeia. O investimentopermanente no conhecimento e nas competn-cias um factor essencial para manter a com-petitividade e garantir empregos de qualidade.

    A abordagem comunitria integrada da polticaindustrial sublinha que o futuro da Europareside na introduo, no mercado mundial, denovos produtos de alta qualidade, pelos quaisos clientes estejam dispostos a pagar um preomais elevado2.

    Em segundo lugar, devemos manter e melhoraro estado do recurso em que se baseiam todasasactividades martimas, a saber, o oceano propri-amente dito. Para tal, imperativo aplicar umagesto baseada nos ecossistemas e assente emconhecimentos cientficos. Com a apresentaoda estratgia temtica para o meio marinho, aComisso terminou os trabalhos preparatriosnesse sentido3.

    Embora a utilizao destes pilares como base

    para a nossa nova poltica martima possa pare-cer relativamente simples, h que no perder devista duas caractersticas do meio marinho.

    A primeira consiste na natureza global dosoceanos, que faz com que as relaes entrepases sejam, ao mesmo tempo, comple-mentares e concorrenciais. Para regular asactividades martimas no interesse do desen-volvimento sustentvel ao nvel mundial, necessrio elaborar regras aplicveis univer-salmente. Contudo, cada parcela de oceano e demar singular e pode exigir as suas prpriasregras e uma gesto mais especfica. Estaaparente contradio ilustrativa do motivopelo qual a natureza global dos oceanos repre-senta um to grande desafio para os decisorespolticos.

    O outro desafio que se oferece a uma boa gover-nao martima, directamente ligado ao aspectoanterior, prende-se com a multiplicidade dosintervenientes. Numerosas so as polticas sec-toriais que surgiram e que existem a todos osnveis de poder: comunitrio, nacional, regional

    e local4. Pode acontecer que intervenientes

    2

    http://ec.europa.eu/enterprise/enterprise_policy/industry/index_en.htm

    3

    Proposta de Directiva do ParlamentoEuropeu e do Conselho que estabelece um

    quadro de aco comunitria no domnio dapoltica para o meio marinho (Directiva

    estratgia para o meio marinho), COM(2005) 505 final, http://ec.europa.eu/

    environment/water/marine/dir_505_en.pdf

    4

    Ver documento de trabalho n. 11

    National Approaches to MaritimeAffairs Member State Expert Groupon Maritime Policy.

    http://ec.europa.eu/maritimeaffairs/suppdoc_fr.html

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    diferentes de entidades diferentes e pases

    diferentes ou organizaes internacionais, este-jam mais bem colocados para adoptar as pro-postas de aco. Para que as decises sejam

    tomadas ao nvel mais prximo dos interessa-

    dos, s devem ser desenvolvidas aces aonvel da Unio Europeia se tal conferir valoracrescentado s actividades de outros.

    Dever a Unio Europeia ter uma poltica martima integrada?

    Como pode a Unio Europeia conferir valor acrescentado s diversas

    iniciativas nacionais, locais e privadas que j existem no

    domnio martimo?

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    2.1. Um sector martimo competitivo

    Dimenso do sector

    A Unio Europeia a primeira potncia martimamundial, especialmente no que diz respeito aotransporte martimo, s tcnicas de construonaval, ao turismo costeiro, energia offshore,incluindo as energias renovveis, e aos servios

    conexos. No futuro, segundo um estudo do IrishMarine Institute, os sectores com maior potencialde crescimento sero o sector doscruzeiros, o sec-tor porturio, a aquicultura, as energias renov-veis, as telecomunicaes submarinas e abiotecnologia marinha5.

    O transporte martimo e os portos so essenciaispara o comrcio internacional. Para 90% docomrcio externo da Unio Europeia e mais de40% do seu comrcio interno, o transporte efec-tuado por via martima. A Unio Europeia, com

    40% da frota mundial, incontestavelmente older deste sector global. Anualmente, 3,5 milmilhes de toneladas de mercadorias e 350milhes de passageiros transitam pelos portosmartimos europeus. Cerca de 350 000 pessoastrabalham nosportose nosserviosconexos, que,no seu conjunto, geram um valor acrescentado deaproximadamente 20 mil milhes de euros6. Como aumento do volume do comrcio mundial e odesenvolvimento do transporte martimo de curtadistncia e das auto-estradas martimas, as per-spectivas para estes sectores so de crescimentocontnuo. O transporte martimo um catalizador

    para outros sectores, nomeadamente a con-struo naval e os equipamentos martimos. Osservios martimos conexos, como os seguros, abanca, a intermediao, a classificao e a con-sultoria so mais um domnio em que a Europadeveria manter a sua liderana.

    Os oceanos e os maresgeram igualmente receitasgraas ao turismo. Estima-se que o volume denegcios directo do sector do turismo martimo naEuropa tenha sido de 72 milhes de euros em20047. Osturistasque passam friasno litoralusu-

    fruem do mar, da praia e da zona costeira de for-mas muito diversas. Muitos destinos tursticosdevem a sua popularidade proximidade do mare dependem da qualidade ambiental deste. Para a

    sustentabilidade do turismo em geral e, em parti-cular, do eco-turismo, sector este que se encontraem rpida expanso, , pois, crucialprever um ele-vado nvel de proteco das zonas costeiras e domeio marinho8. O turismo gera trabalho para aindstria da construo naval. O sector europeudos cruzeiros desenvolveu-se fortemente nos lti-mos anos, registando uma taxa de crescimentoanual superior a 10%. Os navios de cruzeiro so

    praticamente todos construdos na Europa. O turi-smo de cruzeiro contribui para o desenvolvimentodas zonas costeirase insulares. O sector da nuti-ca de recreio registou um aumento constantenos ltimos anos, prevendo-se que o seu cresci-mento anual na Unio Europeia seja de 5 a 6%9.Nenhuma outra forma de lazer colectivo cobre umleque to grande de idades, interessese locais10.

    O mar desempenha um papel essencial na com-petitividade, no desenvolvimento sustentvele nasegurana do aprovisionamento energtico, os

    quais constituem objectivos essenciais identifica-dos pela Comisso11 e pelosChefes de Estado e deGoverno12. O mar do Norte , depoisda Rssia, dosEstados Unidos e da Arbia Saudita,13 a quartamaior fonte de petrleo e de gs no mundo . Osmares em torno da Europa desempenhamtambm um importante papel no sector da ener-gia, na medida em que permitem o transporte, porum nmero crescente de navios-tanque, de umagrande parte do petrleo e do gs consumidos naEuropa. A este propsito, dada a importncia cre-scente do gs natural liquefeito, ser necessrioconstruir novos terminais.

    O vento, as correntes ocenicas e as ondas emars representam uma vasta fonte de energiarenovvel. Convenientemente explorados, estestipos de energia poderiam assegurar uma impor-tante parte do abastecimento de electricidade emmuitas zonas costeiras da Europa e contribuem,assim, para o desenvolvimento econmico e acriao de emprego com carcter duradouro nes-sas regies.

    As empresas europeias desenvolveram know-

    howna rea das tecnologias marinhas, no s nodomnio da explorao de hidrocarbonetos nomar, como tambm nos dos recursos marinhosrenovveis, das actividades em guas profundas,

    5

    Marine industries global market analysis,mars 2005, Douglas-Westwood Limited,

    Marine foresight series n. 1,the Marine Institute, Ireland.

    6

    Organizao dos Portos Martimos Europeus(ESPO), contributo para o Livro Verde.

    7

    Ver nota de rodap 5.

    8

    http://www.tourism-research.org/sustainable.pdf

    9

    Este sector inclui, nomeadamente, a con-struo de embarcaes, a electrnica de

    ponta para fabrico de motores e equipamen-tos martimos, o financiamento e a con-

    struo e explorao de infra-estruturas.

    European Union Recreational MarineIndustry Group (EURMIG), contributo para o

    Livro Verde.

    10

    European Boating Association (EBA),contributo para o Livro Verde.

    11

    Livro Verde Estratgia europeia para umaenergia sustentvel, competitiva e segura,

    COM(2006) 105.

    12

    Conselho Europeu de 23-24 de Maro de2006, Concluses da Presidncia.

    13

    International Association of Oil and GasProducers (OGP), contributo para o Livro

    Verde.

    2. PRESERVAR A SUPREMACIA EUROPEIA EM MATRIADE DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL DASACTIVIDADES MARTIMAS

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    9

    da investigao oceanogrfica, dos veculos erobs subaquticos, das obras martimas e daengenharia costeira. Essastecnologiassero cadavez maisutilizadase estimularo o crescimento dosector europeu das tecnologias marinhas, espe-cialmente nos mercados mundiais de exportao.

    A Organizao das Naes Unidas para aAlimentao e a Agricultura14 indica que caber aquicultura satisfazer a maior parte da nova pro-cura no mercado de consumo de pescado. A difi-culdade consistir em gerir este aumento de uma

    forma sustentvel e compatvel com o ambiente.J que a competio pelo espao pode tambmconstituir um importante problema em certaszonas costeiras, a aquicultura poder distanciar-se da costa, o que exigir novos trabalhos de inve-stigao e o desenvolvimento da tecnologia decultura em jaulas offshore15.

    A Unio Europeia uma das principais potnciasde pesca ao nvel mundial e o maior mercado deprodutos transformados base de peixe. Emborao nmero de pescadores na Unio Europeia tenha

    vindo a baixar ao longo dos anos, o sectordas pescas, no seu conjunto, emprega cerca de526 000 pessoas16. So proporcionados numero-sos postos de trabalho, no s no sector da captu-

    ra, como na indstria da transformao, acondi-cionamento, transporte e comercializao, bemcomo nos estaleiros, fbricas de artes de pesca,empresas de abastecimento e de manuteno.Estasactividadestm uma importncia consider-vel no tecido econmico e social das zonaspesqueiras. A transio gradual para pescariasmaissustentveisprevista pela Unio Europeia e oaumento da procura de peixe enquanto alimentosaudvel conduzem a uma maior estabilidade,rentabilidade e, inclusive, crescimento econmicoem certos segmentos do sector daspescas.

    A importncia de se ser competitivo

    Dado que a economia europeia assenta nas expor-taes e atendendo ao incremento do volume dastrocas comerciais e s especificidades geogrficada Europa, a competitividade dos sectores dotransporte martimo, da construo naval, do equi-pamento martimo e das indstrias porturias crucial para a Unio Europeia. Para assegurar talcompetitividade, necessrio proporcionar aesses sectores condies de concorrncia equita-

    tivas ao nvel internacional, um factor de especialimportncia se se considerar que, em matria deactividades martimas, a concorrncia se exerceessencialmente no mercado global.

    14

    O estado das pescas e da aquicultura nomundo, FAO 2004.

    15

    Comunicao da Comisso ao Conselhoe ao Parlamento Europeu Estratgiade desenvolvimento sustentvel daaquicultura europeia, COM(2002) 511.

    16

    Factos e nmeros sobre a Poltica Comum daPesca (PCP), 2004.

    Statistical data: Eurostat Database: REGIO EuroGeographics, for the administrative boundariesCartography: Eurostat GISCO

    Zonas costeirasPIB em eurospor habitante

    2002 NUTS 3

    Dimenso e distribuio do PIB

    Zona costeira: faixa de 50 kmao longo da linha costeira

    270 milhesde euros

    Distribuio do PIB naszonas costeirasDistribuio do PIB naszonasdo interior

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    10

    O transporte martimo e os portos so elos-

    chave das cadeias logsticas que ligam o merca-do nico economia mundial. Num mundo cadavez mais global, a sua eficincia e vitalidade per-manentes so fundamentais para a competitivi-dade europeia.

    Os estaleiros navais constituem um bom exem-plo da forma como o sector martimo tradicionaleuropeu enfrenta presses crescentes da con-corrncia global, especialmente da sia. Na lti-ma dcada, a construo naval europeia perdeu36% dos seus postos de trabalho, mas ganhou43% em produtividade. O sector est agoraespecializado na construo de navios sofistica-dos. Osnavios construdosna Europa so excep-cionais em termos de complexidade, seguranae impacto ambiental, indo frequentementemuito alm das exigncias regulamentares.O sector europeu da construo naval (incluindoos estaleiros e os fabricantes de equipamento)

    mantm a sua posio de lder mundial norespeitante tecnologia, devendo-se Europatodas as grandes inovaes. Consequentemente,a construo naval da Unio Europeia tem um

    volume de negcios muito superior aos sectores

    equivalentes do Extremo Oriente, apesar de atonelagem construda ser inferior.

    Os construtores navais europeus e os seus for-necedores dominam segmentos de mercadocomo os navios de cruzeiro e os navios de pas-sageiros, os navios mercantes de pequenoporte, os navios militares e os navios especiali-zados; a Europa ocupa uma posio de desta-que no mercado das embarcaes e doequipamento de recreio, um sector altamentecompetitivo dada a sua engenharia de produomoderna e de ponta. A inovao nestes sectores

    determinada no s pela sociedade, que exigeum litoral mais limpo, mas tambm pela evo-luo da legislao.

    A competitividade pode ser estimulada por pol-ticas e programas bem concebidos, como omostrou LeaderSHIP 201517, que aborda a que-sto da competitividade futura do sector da con-struo e reparao naval e resulta de umesforo comum assente em conhecimentos deponta, no esprito empresarial, na inovao e naparticipao dos interessados. A Comisso con-

    sidera que este exemplo pode ser reproduzidomais amplamente. Em diversos sectores marti-mos, como o transporte, a construo naval e asenergias offshore, a introduo de novas tecno-logias destinadas a garantir a sustentabilidadeambiental das actividades cria oportunidadesde negcio e de exportao, especialmentequando outros pases se esto a orientar para odesenvolvimento sustentvel.

    Para poderem aproveitar as oportunidades decrescimento no sector do transporte martimo enoutros sectores martimos, as empresas euro-peias devem ser capazes de antecipar, com umcerto rigor, o desenvolvimento futuro do merca-do. Nesta lgica, ser certamente til dispor deinformaes e estatsticas suplementaresrespeitantes ao mercado.

    Quanto s regies ultraperifricas europeias, omelhoramento do acesso, nomeadamenteatravs do reforo das ligaes martimas tantodentro do Continente Europeu como com ele,permitir aumentar significativamente a suacompetitividade.

    Do exposto resulta que a fora do sector marti-mo europeu reside no seu esprito empresarial ena sua capacidade de inovar. Muito pode ser

    17

    http://ec.europa.eu/enterprise/maritime/maritime_industrial/leadership_2015.htm

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    11

    feito para garantir que o sector privado tenha

    acesso a factores de produo da mais elevadaqualidade. Tais factores so os oceanos propria-mente ditos, enquanto reserva de recursos, osconhecimentos cientficos sobre todos os aspec-

    tos dos oceanos e a qualidade e experincia da

    mo-de-obra. pois oportuno examinar essesfactores, bem como o quadro regulamentar querege o sector.

    Como manter a competitividade dos sectores martimos europeus sem

    deixar de ter em conta as necessidades especficas das PME?

    Que mecanismos devem ser criados para garantir a evoluo

    sustentvel do sector martimo?

    Proteco do ambiente marinho

    Fundo marinho protegido Fundo marinho no protegido

    2.2. Importncia do meio marinho para autilizao sustentvel dos nossos recur-sos marinhos

    Um meio marinho saudvel condio sine quanon para se tirar pleno partido do potencial dosoceanos. Por este motivo, a preservao destareserva de recursos essencial para melhorar acompetitividade da Unio Europeia, assimcomo o crescimento e o emprego a longo prazo.

    A deteriorao do meio marinho reduz a capaci-dade de os oceanos e mares gerarem rendimen-to e emprego. As actividades econmicas quedependem da qualidade do meio marinho soparticularmente afectadas. Est em jogo o vigordo turismo costeiro e martimo, principal sectoreuropeu ligado ao mar.

    As regies ultraperifricas isoladas enfrentamproblemas especficos, ligados s condicionan-tes naturais (ciclones ou terramotos) ou imi-grao clandestina, que exigem respostasespecficas.

    A pesca tambm afectada. Conservar um meiomarinho saudvel significa manter a quantida-de e a diversidade das formas de vida que eleencerra, incluindo as unidades populacionaisde peixes. Os recursos necessrios para umsector das pescas dinmico s podem ser asse-

    gurados se os nveis das unidades populacio-nais permitirem uma explorao sustentvel.As polticas de ambiente e das pescas devemser vistas como parceiros que lutam por objecti-vos comuns com base na cincia biolgica deponta. Em certos mares, esses objectivos spodem ser alcanados se outras ameaas queimpendem sobre a sade do meio marinho,nomeadamente a poluio com origem terrestree as descargas operacionais dos navios, pude-rem ser controladas. Para que os produtos domar contribuam da melhor forma para a alimen-

    tao e a sade humana, o meio marinho deveser saudvel. Existem cada vez mais provas

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    12

    cientficas de que o peixe um alimento espe-

    cialmente nutritivo, mas a presena no meiomarinho de contaminantes, como os metaispesados e os poluentes orgnicos persistentes,pode impedir o ser humano de tirar o mximoproveito dos benefcios dos produtos do marpara a sade18.

    A proteco deste recurso exige uma aco ime-diata. A Comisso adoptou uma estratgia tem-tica para a proteco do meio marinho que sero pilar ambiental da futura poltica martima. Aavaliao pormenorizada do estado do meiomarinho que essa estratgia fornecer ser espe-

    cialmente til para definir os quadros que permi-tiro reger todas as utilizaes dos oceanos. Oobjectivo final consiste em alcanar um bomestado ecolgico do meio marinho da UnioEuropeia at 2021. A estratgia introduz o princ-pio de um ordenamento espacial baseado nosecossistemas. Sem ele, seremos em breve inca-pazes de gerir utilizaes dos oceanos cada vezmais intensas e frequentemente conflituosas. Aintroduo deste princpio poder levar desi-gnao de mais zonas marinhas protegidas, quecontribuir para preservar a biodiversidade e

    assegurar uma transio rpida para nveis de

    pesca sustentveis.

    Um processo de deciso eficaz deve integrar avertente ambiental naspolticas martimas e con-ferir aos nossos sectores martimos a previsibili-dade de que necessitam. No mago de uma novapoltica martima deve estar a procura, por partede todos os decisores e intervenientes, de umacompreenso mtua e uma viso comum dasdiferentes polticas com impacto nos oceanos emares, incluindo o transporte martimo e os por-tos, a pesca, a gesto integrada da zona costeira,a poltica regional, a poltica energtica, bem

    como a investigao marinha e as polticas rela-tivas tecnologia. Tal significa que necessrioestabelecer elos entre diferentes polticas, a fimde alcanar o objectivo comum de uma expansoeconmica sustentvel, que ser o principalrepto da futura poltica martima.

    A poltica de segurana martima tambmdesempenha um papel importante na protecodo meio marinho. A legislao, as medidas e oscontrolos comunitriosforam reforadosaps ascatstrofes ambientais causadas pelos naufr-

    18

    Ver Autoridade Europeia paraa Segurana dos Alimentos Parecer

    do grupo cientfico sobre os contaminantesna cadeia alimentar relativo a um pedido

    do Parlamento Europeu relacionado coma avaliao da segurana dos peixesselvagens e de cultura.

    Questo n. AESA-Q-2004-22,the EFSA Journal (2005) 236.

    Evoluo das mars negras

    O nmero de mars negras tem vindo a diminuir, embora o transporte martimo tenhaaumentado significativamente, passando de um volume ligeiramente inferior a 20 000 milmilhes de toneladas-milha em 1994 para 27 500 mil milhes de toneladas-milha em 2004,das quais cerca de 45% so petrleo.Fonte: ITOPF

    35

    30

    25

    20

    15

    10

    5

    0

    1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005

    Mar s n egr as por ano M dia de deza n os1970-79:25,2 mars negraspor ano, em mdia

    1980-89:9,3 mars negras

    por ano, em mdia1990-99:

    7,8 mars negraspor ano, em mdia

    2000-05:3,8 mars negras

    por ano, em mdia

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    13

    gios do Erika e do Prestige em 1999 e 2002. A

    proibio e a retirada progressiva de servio dosnavios petroleiros de casco simples, o estreitocontrolo e a aplicao rigorosa da regulamen-tao existente, o aumento dos controlos nasguas territoriais da Unio Europeia e dasinspeces nos portos, a harmonizao parcialdas sanes penais em caso de poluiomarinha19 e a criao da Agncia Europeia daSegurana Martima20 so exemplos do esforocolossal desenvolvido para melhorar a segu-rana martima na Unio Europeia.

    A Comisso apresentou recentemente um tercei-

    ro pacote de propostas nesta matria quereforar a legislao existente, nomeadamenteno que diz respeito s sociedades de classifi-cao, inspeco pelo Estado do porto, ao con-trolo do trfego martimo, responsabilidadedos Estados de bandeira, investigao dos aci-dentes martimos e responsabilidade dos pro-prietrios de navios21.

    Para continuar a avanar, essencial explorarplenamente a avaliao dos riscos enquantoinstrumento de elaborao das polticas. Isso

    exigir um esforo concertado das instituiesda Unio Europeia para obterfeedbackdos por-tos e dos navios, desenvolver processos e mto-dos que permitam dispor de melhoresinformaessobre os incidentese o trfego mar-timos e para reduzir, atravs da avaliao dosriscos, as incertezas ligadas ao impacto e amplitude das prticas incompatveis com oambiente.

    A legislao pode igualmente ser apoiada poroutros tipos de aco. Segundo a CooperaoSub-regional dos Estados do Mar Bltico

    (BSSSC)22, a participao imediata de maisde 40

    autoridades regionais num projecto apoiado porInterreg, Baltic Master , o melhor exemplodesta maiorsensibilizao para a necessidade degerir a segurana e os acidentes martimosa estenvel. Eis um exemplo de como os fundos comu-nitrios podem ser utilizados para apoiar a exe-cuo de medidas estratgicas.

    A Conveno Internacional de 2001 relativa aocontrolo dos sistemas anti-vegetativos nocivosnos navios ( International Convention on theControl of Harmful Anti-Fouling Systems onShips) e a Conveno Internacional para o con-

    trolo e gesto das guas de lastro e sedimentosdos navios (International Convention for Controland Management of Ships Ballast Water andSediments -BWM)23 so dois exemplos de con-venes internacionais cuja ratificao contri-buir para a obteno de um meio marinhosaudvel.

    Vrios Estados-Membros reconheceram a neces-sidade de combater as espcies invasivas intro-duzidas atravs das guas de lastro e queafectam o meio marinho. A introduo dastecno-

    logias necessrias para o tratamento das guasde lastro deve, portanto, ser incentivada. AComisso contribuiu (nomeadamente atravsdos projectos do 5. Programa-Quadro sobre otratamento das guas de lastro24) para osesforos desenvolvidos pela OrganizaoMartima Internacional (IMO) na execuo doprograma de gesto mundial das guas de lastro(Global Ballast Water Management Programme),que ajuda os pases em desenvolvimento a com-preender o problema, a monitorizar a situao ea preparem-se para executar a conveno BWM.Estes esforos devem ser mantidos25.

    19

    Directiva 2005/35/CE e Deciso-quadro2005/667/JHA

    20

    http://www.emsa.europa.eu

    21

    Comunicao da Comisso: Terceiropacote de medidas legislativas em prol da

    segurana martima na Unio Europeia,COM (2005) 585.

    22

    BSSSC, contributo para o Livro Verde.

    23

    http://www.imo.org

    24

    Treatment of Ballast Water (TREBAWA),On Board Treatment of Ballast Water(Technologies Development andApplications) e Application of Low-sulphurMarine Fuel (MARTOB).

    25

    Ver documento de trabalho n. 6Maritime Safety and Security.http://ec.europa.eu/maritimeaffairs/suppdoc_en.html

    Como pode a poltica martima contribuir para preservar

    os recursos e o meio ocenicos?

    Como pode uma poltica martima contribuir para os objectivos da

    estratgia temtica para o meio marinho?

    Como utilizar da melhor forma a avaliao dos riscos

    para melhorar a segurana no mar?

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    14

    2.3. Permanecer na ponta dos

    conhecimentos e da tecnologia

    A Declarao de Galway, aprovada pelaConferncia EurOCEAN de 2004, definiu a contri-buio do sector martimo para a consecuodos objectivos de Lisboa, bem como o papelque deve ser atribudo no mbito do StimoPrograma-Quadro de Investigao e Desenvolvi-mento Tecnolgico da Unio Europeia (a seguirdesignado 7. Programa-Quadro)26 cincia e tecnologia marinhas, na perspectiva do desen-volvimento de uma excelncia mundial nessesdomnios. A Conferncia EurOCEAN de 2004

    destacou que, paralelamente investigaomarinha e martima, urge apoiar a recolha coor-denada e constante e o arquivamento de conjun-tos exaustivos de dados martimos e garantir umacesso fcil aos mesmos27.

    A investigao e a tecnologia so necessriasno s para manter a liderana europeia nos pro-dutos de ponta, como tambm para efectuarescolhas estratgicas com conhecimento decausa e evitar a degradao do meio marinho.

    A inovao e a I&D nas tecnologiasda informaoe comunicao podem oferecer solues de valoracrescentado em muitos domnios martimos.Nas prioridades estratgicas da Comisso para2005-2009, a cincia e a investigao relaciona-da com o mar constituem, assim, um dos princi-pais pilares da futura poltica martima europeia.

    O 7. Programa-Quadro proposto define temasprioritrios de investigao em domnios como o

    ambiente, os transportes, a alimentao, a agri-cultura, a biotecnologia, a energia, etc. Nele sedeclara que ser dada especial ateno a reascientficas prioritriastransversais, como as cin-cias e tecnologias martimas, com o objectivo demelhorar a coordenao e integrar a investigaosobre o meio marinho no 7. Programa-Quadro.

    A contribuio do 7. Programa-Quadro representauma fraco das despesas pblicas e privadasdedicadas investigao na Comunidade. essencial que a investigao relacionada com

    o mar na Europa seja considerada um todo e quea coordenao e a cooperao neste domniosejam significativamente melhoradas. Os tra-balhos de coordenao dos programasnacionaisnum domnio de investigao verdadeiramentepan-europeu comearam com o sistema ERA-NET28.

    26

    http://cordis.europa.eu/ist/about/fp7.htm

    27

    http://www.eurocean2004.com/pdf/galway_declaration.pdf

    28

    Exemplos: MARINERA, MARIFISH,AMPERA e BONUS.

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    15

    Urge conceber uma viso para a investigaosobre o meio marinho na Europa, a fim de elabo-rar uma estratgia que permita tirar o melhor par-tido dos programas-quadro e de outras fontes definanciamento na Europa29, evitar duplicaes,colmatar lacunas e criar sinergias. Essa estrat-gia deveria incluir mecanismos que permitissemoptimizar a coordenao, a cooperao e o di-logo entre a Comisso e os decisores polticos, osector e as comunidades cientficas nos Estados-Membros e nos pases terceiros. Com base nascontribuies da comunidade cientfica e tcni-ca, a estratgia deveria definir o que necessriopara favorecer uma integrao slida e duradou-

    ra das actividades a nvel das organizaes quedesenvolvem investigao ligada s actividadesmartimas e marinhas na Europa e assegurar umdilogo transversal mais intenso entre as disci-plinas cientficas e os criadoresde tecnologias, afim de contribuir para uma abordagem holsticada poltica martima.

    A Associao Europeia de Dragagem sugeriu acriao de um centro europeu de excelncia parao conhecimento do mar e dos oceanos, direccio-nado para os recursos marinhos, os efeitos das

    alteraes climticas, a dinmica das zonascosteiras, o impacto da construo de infra-estru-turas e a relao entre desenvolvimento e ecolo-gia a mais longo prazo30. Esta proposta pe emevidncia a natureza multifacetada da investi-gao relacionada com o mar. A tomada em con-siderao deste elemento poder facilitar ointercmbio de informaes entre os sectores eas instituies de investigao. Poder-se-,nomeadamente, estudar a possibilidade de rea-lizar regularmente uma conferncia para difundiros resultados da investigao relacionada com omar e obter dos sectores interessadosretorno de

    informao. Por outro lado, poder-se- prever acriao de um portal europeu nico na Internetdedicado aos projectos de investigao, para

    substituir as fragmentadas pginas Web quehoje existem.

    Em cooperao com osinteressadose os Estados-Membros que participam no transporte martimo,a WATERBORNE31 concebeu um projecto para 2020que contm um programa de investigao estra-tgica. Esse projecto prev, nomeadamente, aconstruo de um navio com um impacto no ar eno meio marinho substancialmente reduzido. Parao concretizar, necessrio reforar, no mbito do7. Programa-Quadro, a investigao no domniodas tecnologias navais no poluentes -nomeada-mente mquinas mais ecolgicas guas de

    lastro e recuperao de hidrocarbonetos.

    A investigao cientfica marinha uma activida-de mundial que deve apoiar a execuo deestratgias gerais e o planeamento ao nvelregional, mas deve igualmente ter em conta aspressesglobais, como o impacto dasalteraesclimticas. As regies martimas ultraperifricasda Unio Europeia esto bem situadas para aobservao do sistema ocenico, dos ciclosmeteorolgicos, da biodiversidade, etc. Este ele-mento poderia ser tomado em considerao no

    planeamento dos futuros programas de investi-gao e desenvolvimento neste domnio. Nointeresse da Humanidade, poder ser necessriodesenvolver a investigao relacionada com asZonas Econmicas Exclusivas (ZEE) e as platafor-mas continentais. Em domnios como estes, osacordos comunitrioscom pases terceiros pode-riam prever o consentimento mtuo necessriopara as actividades de investigao32, por formaa facilitar e promover a investigao de base, que financiada no interesse de todos.

    Os Estados-Membros poderiam incluir nos seus

    roteiros de execuo do plano de aco sobretecnologias ambientais uma seco consagradas tecnologias33 e inovaes marinhas.

    29

    Fundos dos Estados-Membros e fundos pri-

    vados; por exemplo, EUREKA,pan-Europeannetwork for market-oriented, industrial R&D COST European Cooperation in the fieldsof Scientific and Technological Research Fundo Social Europeu e INTERREG III.

    30

    EuDA, contributo para o Livro Verde.

    31

    http://ec.europa.eu/research/transport/news/article_2067_en.html

    32

    Ver artigos 242.-257. da Conveno dasNaes Unidas sobre o Direito do Mar.

    33

    Comunicao da Comisso ao Conselho e aoParlamento Europeu: Promoo deTecnologias para o DesenvolvimentoSustentvel: Plano de Aco sobreTecnologias Ambientais da Unio Europeia,COM (2004) 38.

    Como desenvolver uma estratgia europeia de investigao marinha destinada

    a aprofundar os nossos conhecimentos e promover novas tecnologias?

    Dever-se- criar uma rede europeia de investigao marinha?

    Quais os mecanismos mais adequados para converter o conhecimentoem rendimento e emprego?

    Quais as formas de participao dos interessados?

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    2.4. A inovao num contexto em

    mutao

    Alteraes climticas

    Os oceanos e os maresdesempenham um papelessencial na formao dos padres climticos emeteorolgicos, sendo ao mesmo tempo parti-cularmente sensveis s variaes climticas. Osoceanos funcionam como reguladores do clima,quer directamente, transferindo calor (de que exemplo a corrente do Golfo), quer indirecta-mente, atravs da absoro de CO2. Podemtambm ser afectados pelas actividades huma-

    nas exercidas nas zonas e guas costeiras. Ascalotes glaciares assumem, igualmente, umpapel fundamental no sistema climtico global.

    Em mdia, o aquecimento climtico na regiorctica duas a trs vezes mais acentuado doque em qualquer outro ponto do planeta, tendo-se registado um aumento de 3 C nos ltimos 50anos. A massa de gelo flutuante do rctico jdiminuiu 15% a 20% nos ltimos 30 anos34. Senada se fizer, a flora e a fauna dessa regiosofrero alteraes profundas, do mesmo modo

    que toda a cadeia alimentar, das algas unicelu-lares aos peixes e s focas. As consequnciaspara as populaes indgenas sero dramticas.A alterao do clima no rctico poder vir a con-stituir um problema fundamental para a polticamartima da Unio Europeia.

    Devido elevao do nvel do mar e ao aumentodas temperaturas, as alteraes que tm lugarno rctico repercutem-se em todo o planeta.Preservar o clima nesta regio muito importan-te para evitar alteraes climticas globais. Aluta contra as alteraes climticas est, porconseguinte, no centro da estratgia da UnioEuropeia.

    As alteraes climticas tm tambm conse-

    quncias graves para a Europa. Assim, poderocontribuir para a desacelerao da corrente doGolfo, com todos os efeitos negativos que daadviriam para o clima na Europa. Segundo oInternational Panel on Climate Change (IPCC), onvel mdio das guas do mar dever aumentarsignificativamente durante este sculo35. Aszonas costeiras e os portos sero cada vez maisvulnerveis aos temporais. O turismo poder,igualmente, ser afectado. Face s temperaturascada vez mais altas que se registam no Sulda Europa durante o Vero, os destinos tursti-cos predilectos podero conhecer grandes

    mudanas. provvel que as zonas costeirasmediterrnicas tenham de fazer frente s conse-quncias graves da alterao dos padres deprecipitao. O recurso dessalinizao para oabastecimento de gua poder vir a ser cada vezmais necessrio nas nossas costas. So de pre-ver grandes mudanas no equilbrio entre asespcies. A abundncia de peixes e a distri-buio dos peixes de gua salgada podem serafectadas, com as consequncias que daadvm para o sector das pescas.

    A acidificao dos oceanos pelo dixido de car-bono (CO2) inevi tvel. Esta acidificaopoder levar a uma deteriorao, escala mun-dial, de zonas propcias ao crescimento de reci-fes de coral, a profundas alteraes dosecossistemas marinhos, susceptveis de afectara cadeia alimentar marinha, e a uma reduo dacapacidade dos oceanos para absorver dixidode carbono. de recear que os sistemas de reci-fes de corais existentes ao largo das costas dosterritrios tropicais e subtropicais dos Estados-Membros venham a sofrer graves alteraes.

    O impacto das alteraes climticasnos mareseoceanos, no ambiente em geral e, consequente-

    34

    Relatrio de sntese de 2001 do IPCC sobreas alteraes climticas: XVIII sesso

    plenria do IPCC (Wembley, Reino Unido)24-29 de Setembro de 2001.

    35

    Ver nota de rodap anterior.

    Correntes do Oceano Atlntico Norte

    Estaro as alteraes climticas a fragilizar a corrente quente do Golfo?Fonte: ESA-AOES MEDIALAB

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    mente, na nossa prosperidade econmica e

    bem-estar social pode ser muito vasto e tercustos significativos.

    , portanto, crucial que a Europa continue adesempenhar um papel proeminente ao nvelmundial no que toca luta contra as alteraesclimticas. A Europa tem de continuar a analisarmedidas adequadas para atenuar as alteraesclimticas, incluindo nos sectores do transportemartimo e da energia. O sector do transportemartimo continua a ser uma fonte importantede poluio atmosfrica na Europa. O principalgs com efeito de estufa emitido pelos navios

    o dixido de carbono. Asemisses de CO2 pelosnavios nos mares da Unio Europeia ascende-ram a 157 milhes de toneladas em 200036. Estevalor superior ao das emisses da aviao noespao areo da Unio Europeia. Na ausnciade novas medidas, prev-se que as emisses dexidos de azoto (NOx) pelos navios excedam,em 202037, as de todas as fontes terrestres com-binadas. Estas emisses tm de ser reduzidas,em conformidade com a estratgia temticasobre a poluio atmosfrica recentementeadoptada pela Comisso38.

    Se conseguir desenvolver novas tecnologiaspara reduzir o impacto do sector martimo noclima, bem como novas tcnicas de planeamen-to em previso das consequncias das alte-raes climticas para as zonas costeiras, aEuropa poder export-las para outras partes domundo que enfrentem problemas semelhantes.

    Assim, novas tecnologias offshore como a cap-

    tura e armazenagem geolgica de carbono, ounovas instalaes ao largo capazes de resistir amaiores solicitaes em caso de fenmenosmeteorolgicos extremos oferecem excelentesoportunidades econmicas, colocando aEuropa na vanguarda da inovao tecnolgicaem matria de atenuao e adaptao s alte-raes climticas. Vrios projectos de investi-gao financiados no mbito dos 4, 5 e 6Programas-Quadro estudaram a viabilidade, asconsequncias ambientais e a segurana dosequestro do carbono. Estima-se que, at 2050,possam ser capturadas e armazenadas cerca de

    483 mil milhes do total de 877 mil milhes detoneladas de CO2 emitidas

    39.

    Energia

    As guas costeiras da Europa oferecem ummanancial de oportunidades para instalaes deproduo de energia renovvel ao largo. O vento,as correntes ocenicas, as ondas e as mars tran-sportam uma enorme quantidade de energia.Segundo as projeces da Comisso, a energiaelica poder gerar 70 000 MWem 2010, 14 000 MW

    dos quais produzidos ao largo40

    . Outras tecno-logias esto a emergir, como os dispositivos queutilizam a energia das ondas e as turbinas movi-das pelas correntes de mar, que podem serinstalados no litoral ou ao largo. Em todos estescasos, poder haver concorrncia com outros uti-lizadores das guas costeiras, como os sectoresdo transporte martimo ou das pescas, devendo,

    36

    Quantificao das emisses dos naviosassociadas ao trfego entre portos naComunidade Europeia,

    http://www.ec.europa.eu/environment/air/background.htm#transport

    37

    Documento de trabalho dos servios daComisso, SEC (2005) 1133.

    38

    Comunicao da Comisso ao Conselho eao Parlamento Europeu: Estratgia Temticasobre a poluio atmosfrica, COM (2005) 446.

    39

    Institut Franais du ptrolehttp://www.ifp.fr/IFP/fr/espacepresse/Dossier_CO2/5_ADEME_FicheActionsCO2.pdf.

    40

    Comunicao da Comisso: Promoo daelectricidade produzida a partir de fontesde energia renovveis, COM (2005) 627.

    Parque elico ao largo da costa dinamarquesaFonte: Servio Audiovisual da CE

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    ao mesmo tempo, atender-se s necessidades

    das populaes locais. Nesse contexto, o ordena-mento espacial, preconizado no Captulo 4, sertanto mais necessrio.

    medida que os recursos offshore de petrleo ede gs facilmente acessveis se vo esgotando eos produtores se comeam a interessar por reser-vas menos acessveis, como as dos grandes fun-dos marinhos, surgem novas questes: comofacilitar a explorao desses recursos sem pr delado preocupaes de ndole ambiental e econ-mica? Que novas tecnologias so necessriaspara aceder a esses recursos e que modelos e

    regras empresariais inovadoras seriam adequa-dos neste contexto?

    no sector dos transportes que o consumo deenergia regista o crescimento mais rpido naUnio Europeia, mas existem solues que per-mitem economizar energia. Uma primeira opoconsistir em preferir o transporte martimo aotransporte rodovirio, dado o primeiro ter um con-sumo relativamente baixo de energia por tonela-da de mercadorias transportadas. Alm disso, otransporte martimo poder proporcionar ganhos

    de eficincia energtica, nomeadamente median-te a utilizao da energia elica e solar e dos bio-combustveis.

    Os hidratos de metano constituem mais um recur-so energtico emergente. Estima-se que esterecurso represente actualmente cerca de 10000Gt de equivalente carbono, isto , tanto quantotodos os outros recursos energticos fsseis reu-nidos41; para alm de libertar menos dixido decarbono para a atmosfera do que o petrleo ou ocarvo por unidade de energia obtida, esta formade energia contribuiria para diversificar as fontesde abastecimento. No entanto, a sua exploraoapresenta grandesdificuldadestcnicas no planoda extraco, acondicionamento, transporte econverso em gs metano comercial. A Europaocupa o primeiro lugar na pesquisa de hidratos demetano e na investigao dos riscos e das conse-quncias da sua libertao acidental, susceptvelde contribuir fortemente para o efeito de estufa42.

    O transporte martimo de produtos energticos,por gasodutos/oleodutos ou navios-tanque, aomesmo tempo que cria oportunidades econmi-

    cas, suscita preocupaes no respeitante segu-rana e ao impacto potencial dos acidentes noambiente. Estes aspectos podero ser objecto dedirectrizes para uma rede transeuropeia de tran-

    sporte de hidrocarbonetos, que cubra todos os

    elementos infra-estruturais.

    Biotecnologia azul43

    A biotecnologia azul diz respeito aos novos pro-dutos que podem ser obtidos atravs da explo-rao da nossa rica biodiversidade marinha.Oferece potencial a longo prazo, uma vez que seestima que 80% dos organismos vivos evoluemnos ecossistemas aquticos. A biotecnologiamarinha ser til em muitos sectores industriais:da aquicultura aos cuidadosde sade, passandopelos cosmticos e pelos produtosalimentares44.

    Para tirar pleno partido do potencial deste sector, indispensvel adoptar, o mais rapidamentepossvel, medidas eficazes que permitam obterum acordo multilateral de proteco da biodiver-sidade marinha no quadro da Conveno dasNaes Unidas sobre o Direito do Mar45. Faz-loseria consentneo com o objectivo de suster odeclnio da biodiversidade traado para 2010pela Unio Europeia em Gotemburgo46.

    Uma vez que a biotecnologia azul ainda est nos

    seus primrdios, o apoio deveria incidir na explo-

    41

    Eurogif, contributo para o Livro Verde.

    42

    Ver http://www.metrol.org/;http://www.igme.gr/anaximander/;

    http://www.hydratech.bham.ac.uk/;http://www.geotek.co.uk/hyacinth/;

    http://www.crimea-info.org/project3/crimea0.htm;

    http://www.gashydat.org/;http://www.eu-hermes.net/

    43Ver documento de trabalho n. 10

    Marine Biotechnology.http://ec.europa.eu/maritimeaffairs/

    suppdoc_en.html

    44

    A Study into the Prospects for MarineBiotechnology Development in the United

    Kingdom, Biobridge Ltd, 2005,Executive Summary,

    http://www.dti.gov.uk/files/file10469.pdf.Ver tambm Marine industries global

    market analysis, captulo 23(nota de rodap 5).

    45

    http://www.un.org/Depts/los/index.htm

    46

    Conselho Europeu de Gotemburgo,15-16.6.2001, Concluses da Presidncia.

    Biotecnologia azul

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    rao e no melhoramento dosconhecimentosem

    que se basear a produo de novos bens e ser-vios. Este trabalho poder ser efectuado emcolaborao com os interessados.

    Para mobilizar meios suplementares de financia-mento dosriscosassociadoss eco-inovaes no

    domnio martimo, seco-tecnologias marinhas e

    s biotecnologias, os Estados-Membros poderoinspirar-se no exemplo dos fundos de investi-mento verde existentes, criando fundos deinvestimento azul adequados.

    47

    Ver documento de trabalho n. 2Employment, social and training aspectsof maritime and fishing industries andrelated sectors.http://ec.europa.eu/maritimeaffairs/suppdoc_en.html

    48

    Contributo de Frana, Espanha e Portugalpara o Livro Verde Para uma futura PolticaMartima da Unio, p. 10-55.

    49

    Federao Europeia dos Trabalhadoresdos Transportes (ETF), contributo parao Livro Verde.

    50

    Documento de trabalho da Comissosobre as medidas tomadas na Comisso nodomnio do emprego no sector martimo,SEC (2005) 1400.

    Que outras medidas dever a Unio Europeia adoptar para atenuar

    e se adaptar s consequncias das alteraes climticas

    no meio marinho?

    Como promover e pr em prtica tecnologias inovadoras de produo

    de energia renovvel ao largo? Como aumentar a eficincia energtica

    e diversificar os combustveis no sector do transporte martimo?

    Quais os meios de materializar as vantagens potenciais

    da biotecnologia azul?

    2.5. Desenvolver as competncias mar-timas da Europa e promover o empregosustentvel no sector martimo

    As actividades martimas precisam de atrair pes-soas altamente qualificadas. No entanto, embora,no seu conjunto, o emprego no sector martimoeuropeu seja estvel47, o nmero de martimoseuropeus est a diminuir. A penria actual, que dizrespeito principalmente a oficiais da marinha decomrcio, no afecta todos os Estados-Membrosna mesma medida.

    O recrutamento, em nmero suficiente, de marti-mos e outros profissionais bem formados e com-petentes essencial para garantir a sobrevivnciado sector martimo e a segurana, assim comopara manter a vantagem concorrencial da Europa.Diversos sectores, nomeadamente as autoridadesde controlo do Estado do porto e as sociedadesdeclassificao, necessitam constantemente de anti-gos martimos, especialmente oficiais de convsede mquinas, pilotos, responsveis de estaleirosnavais, inspectoresde naviose instrutores. Muitospostos de trabalho a bordo dos navios so agora

    ocupados por nacionais de pases terceiros. Estasituao deve-se aos condicionalismos da carrei-ra, ao isolamento que estasprofissesimplicam, falta de prestgio que lhes est associada e ao

    baixo nvel de remunerao dos martimosde pa-ses terceiros48.

    De acordo com os dados disponveis, as causasdeste declnio encontram-se tanto no lado da pro-cura como no da oferta. No sector do transportemartimo, a presso concorrencial faz com que osempregadores estejam menos dispostos a ofere-

    cer remuneraes atraentes aos europeus. Esteelemento, associado impresso de que osempregos no so seguros e as condies de tra-balho so ms, levou a uma diminuio do nme-ro de candidatos s profisses martimas, emborahaja quem argumente que no h provas que per-mitam afirmar que os jovens europeus nodesejam enveredar por uma carreira martima49.

    Num relatrio apresentado em Outubro de 2005, aComisso formulou propostas destinadas a inver-ter a tendncia para a diminuio do nmero demartimos europeus e a atrair pessoas para a pro-

    fisso de martimo . As concluses do Conselho50

    Transportes Martimos de 5 de Dezembro de2005 indicam que foram realizados progressosneste domnio.

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    Para inverter a tendncia de declnio do

    emprego martimo, afigura-se essencial incen-tivar a mobilidade profissional entre sectores,o que passa pelo reconhecimento e pela apli-cao do conceito de clusters martimos.

    A mobilidade pode ser um factor determinantena criao de alternativas de emprego para ospescadores e as mulheres.

    O ensino e a formao no domnio martimodevero ter por objectivo conferir aos poten-ciais candidatos as mais elevadas competn-cias, que possam abrir mltiplas perspectivas

    profissionais. Os obstculos de cariz legislati-vo, como a falta de reconhecimento mtuo dasquali ficaes ou os requisi tos nacionaisaplicveis aos oficiais, deveriam ser elimina-dos. A execuo da directiva relativa aoreconhecimento mtuo dos certificados dosmartimos emitidos pelos Estados-Membrosdever acabar definitivamente com os ltimosobstculos51.

    Os fundos comunitrios deveriam ser utiliza-

    dos para apoiar a gesto da mudana e facili-tar a reciclagem e reorientao profissionais,incluindo nos casos de reestruturao e deperda de postos de trabalho. Os debates reali-zados no clustermartimo podero examinar apossibilidade de criar sistemas que permitama outros sectores contribuir financeiramentepara estgios no sector do transporte marti-mo. Esta medida facilitaria a aquisiode experincia no mar, necessria para ospotenciais futuros profissionais obterem umemprego.

    Seria desejvel rever os actuais curricula doensino e formao no domnio martimo, tantono que diz respeito ao sector do transportemartimo e aos sectores conexos, como engenharia marinha e s pescas. Neste con-texto, a Confederation of European MaritimeTechnology Societies sugeriu, neste contexto, oestabelecimento de um inventrio das com-petncias de que o sector necessita52. OConselho solicitou Comisso que preparasseum inqurito estruturado sobre a evoluo dasmotivaes dos aspirantes, a fim de identificar

    as razes que levam os estudantes a noconcluir a sua formao53. O objectivo consis-tir em garantir que todos os candidatos daUnio Europeia beneficiem de uma formaoque satisfaa as normas internacionais,nomeadamente as prescritas pela ConvenoInternacional sobre Normas de Formao, deCertificao e de Servio de Quartos para osMartimos (Conveno STCW)54, e adquiramtoda uma gama de competncias suplementa-res, que correspondam s necessidades dosector e lhes garantam maior empregabilidade,bem como reforar a competitividade dafrota europeia. No sector das pescas, obaixo nmero de ratificaes da ConvenoSTCW-F55 impede que as normas acordadas emmatria de formao e certificao entrem emvigor e sejam, portanto, aplicadas ao nvelinternacional.

    A Unio Europeia dever prosseguir a sua acono respeitante formao mnima exigida, scondies de trabalho e execuo das normas.No sector do transporte martimo, os martimosso, por vezes, remunerados segundo as regras

    do pas de origem/de residncia. Nos casos emque se aplica a legislao comunitria sobre a

    51

    Directiva 2005/45/CE do ParlamentoEuropeu e do Conselho, de 7 de Setembro

    de 2005, relativa ao reconhecimento mtuodos certificados dos martimos emitidos

    pelos Estados-Membros e que altera aDirectiva 2001/25/CE, JO L 255 de 30.9.2005.

    52Confederation of European Maritime

    Technology Societies,contributo para o Livro Verde.

    53

    Concluses do Conselho 15208/05:Transportes, Telecomunicaes e Energia

    de 5 de Dezembro de 2005 Fomentar asperspectivas de emprego no sector martimo

    comunitrio e atrair os jovens paraa profisso de martimo.

    54

    http://www.stcw.org/

    55

    Conveno Internacional sobreNormas de Formao, de Certificao e deServio de Quartos para os Martimos dos

    Navios de Pesca (STCW-F), 1995.

    Operrios a trabalhar(Cortesia de TKMS/HDW)

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    livre circulao dos trabalhadores e em que os

    parceiros sociais do Estado de pavilho conclu-ram acordos salariais, essas prticas podem serproblemticas.

    A associao dos navios ao territrio do Estadode pavilho e a existncia de pavilhes de con-venincia que no cumprem adequadamente aregulamentao internacional e nacional torna asituao ainda mais complexa. Quando se apli-cam as condies de remunerao do Estado depavilho e os parceiros sociais deste estabele-ceram nveis salariais para os martimos supe-riores aos auferidos pelos martimos no pas de

    origem/de residncia, certos armadores podemconsiderar a possibilidade de transferir o registodos navios ou substituir os martimos europeuspor nacionais de pases terceiros. Estas que-stes devem ser objecto de uma anlise apro-fundada por parte da Unio Europeia, emestreita colaborao com os parceiros sociais.

    A Unio Europeia deveria, igualmente, definirboas prticas e promover a sua aplicao.O projecto Coordinated Academic Researchand Education to Support Innovation in European

    Marine Industries (CAREMAR), que tem porobjectivo favorecer a coordenao da investi-gao e do ensino universitrio para apoiara inovao nas indstrias marinhas euro-peias, constitui um exemplo deste tipo deabordagem56.

    A excelncia dos candidatos a emprego s sergarantida se se conseguir atrair para o ensino ea formao no domnio martimo os jovens maiscapazes. nesse quadro que importa lutar con-tra a imagem do sector. essencial oferecer aosmartimos, homens e mulheres, condies devida e de trabalho adequadas, ao nvel dasexpectativas a que os europeus se habituaramcom toda a legitimidade. Nessa perspectiva,apresenta-se como fundamental a ratificao daConveno consolidada sobre o trabalho marti-mo, adoptada pela Organizao Internacionaldo Trabalho (OIT) em Fevereiro de 2006. AComisso tenciona apresentar, em 2006, umacomunicao sobre as normas mnimas do tra-balho martimo, que incidir na execuo daConveno consolidada da OIT no quadro dodireito comunitrio, eventualmente atravs de

    um acordo dos parceiros sociais. Essa execuodeveria tornar as inspeces do Estado do porto

    extensivas s normas laborais aplicadas a bordo

    de todos os navios que escalam os portos euro-peus, independentemente do seu pavilho e danacionalidade dos martimos. Os Estados-Membros devero ratificar a Conveno n. 185da OIT relativa aos documentos de identificaodos martimos, dada a sua importncia tantopara o bem-estar dos martimos (licena de ira terra ou trnsito), como para o reforo dasegurana57.

    A pesca conhecida por ser uma actividademuito mais propcia a acidentes do que asoutras actividades martimas. As condies de

    trabalho so frequentemente piores do que nou-tras profisses. No quadro da reforma e domelhoramento da regulamentao da Unio eda OIT em matria de condies de trabalho abordo dos navios, importa dedicar especialateno ao sector das pescas. Esto actualmen-te a ser desenvolvidos esforos nesse sentido, anvel do Fundo Europeu para as Pescas (FEP) edo Instrumento Financeiro de Orientao dasPescas (IFOP)58.

    O nmero de empresas e de convenes colecti-

    vas que conjugam salrios mais altos, melhorescondies, maior eficincia operacional e maior

    56

    Polish Society of Naval Architectsand Marine Engineers (KORAB),contributo para o Livro Verde.

    57

    Deciso 2005/367/CE do Conselho,de 14 de Abril de 2005, que autoriza osEstados-Membros a ratificar, no interesseda Comunidade Europeia, a Conveno da

    Organizao Internacional do Trabalhorelativa aos documentos de identificaodos martimos (Conveno n. 185),JO L 136 de 30.5.2005.

    58

    Proposta de Regulamento do Conselho Fundo Europeu para as Pescas, 2004/0169CNS, COM (2004) 497 final, Regulamento(CE) n. 1263/1999 do Conselho, de 21 deJunho de 1999, relativo ao InstrumentoFinanceiro de Orientao da Pesca, ehttp://ec.europa.eu/scadplus/leg/en/lvb/l60017.htm

    59

    Ver declarao comum do Forum

    Internacional de Negociao. Reuniode Tquio, 5 e 6 de Outubro de 2005http://www.itfglobal.org/press-area/index.cfm/pressdetail/611/region/1/section/0/order/1

    Negociao colectiva internacional

    Em 6 de Outubro de 2005, o Frum Inter-nacional de Negociao que rene, dolado dos empregadores, a Comisso Inter-nacional de Empregadores Martimos(International Maritime Employers Com-mittee IMEC) e a Comisso Internacional

    de Gesto dos Trabalhadores Martimosdo Japo (International Mariners Mana-gement Committee of Japan IMMAJ) e,do lado dos trabalhadores, a FederaoInternacional dos Trabalhadores dosTransportes (International TransportWorkers Federation ITF) celebraramum novo acordo que abrange 55 000 tra-balhadores martimos em 3 200 navioscom base na anterior conveno colectivainternacional de 2003. O resultado dasnegociaesfoi considerado um sucesso.59

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    2.6. Formao de clusters

    O desenvolvimento de uma percepo comumdas articulaes entre os diferentes sectoresmartimos permitir melhorar a sua imagem eaumentar a sua atractividade e produtividade. Oconceito de clusterresulta desta ideia.

    A ttulo de exemplo, segundo o EMEC (EuropeanMarine Equipment Council), a existncia de umacomunidade martima forte na Europa uma con-dio essencial para a prosperidade e o desen-volvimento do transporte martimo. Dado o altograu de interaco e de interdependncia de

    todos os intervenientes no sector (construonaval), a alterao da situao num dado sectortem inevitavelmente repercusses nos outros60.

    Os clusters podem contribuir para estimular a

    competitividade de todo um sector ou grupo desectores. o que acontece se se partilharconhecimentos, realizar projectos comuns deinvestigao e inovao (desenvolvimento deprodutos), unir esforos no ensino e naformao, partilhar mtodos de organizaoinovadores dentro de um grupo de empresas

    60

    EMEC, contributo para o Livro Verde.

    Como inverter a tendncia para a diminuio do nmero de europeus

    que enveredam por carreiras martimas e garantir a segurana

    e atractividade dos postos de trabalho?

    Como melhorar as condies de trabalho, os salrios e a segurana

    e garantir, ao mesmo tempo, a competitividade sectorial?

    Como assegurar a qualidade do ensino, da formao e da certificao?

    Indstria

    Construo e reparao navalFornecedores martimos e no

    martimosEquipamento martimo e em offshoreConstruo, reparao e conversode navios

    Transitrios e agentesAprovisionamentoClassificaoDragagemFinanciamento

    SegurosPilotagemMeios de comunicaosocial especializados

    Servios eoutrasactividades

    CruzeirosActividades costeirasNavegao e portosde recreio

    Lazer e Turismo

    Educao e FormaoGovernaoServios hidrogrficos

    Marinha, guarda costeirae servios de busca esalvamento (SAR)ONGSindicatos e associaes

    Sector pblico

    Consultadoria

    Institutos deOceanografia eOceanologiaTanques de ensaioUniversidades

    Investigao

    Transporte

    Navegao interiorPortos e terminais

    Transporte martimo

    Recursos

    Transformao de pescadoPesca e aquicultura

    Petrleo, gs e energiasrenovveis

    ORGANIZAES INTERNACIONAIS

    UNIO EUROPEIA

    ESTADOS-MEMBROS

    REGIES

    segurana mostra que isso possvel. A Europa

    deveria ter por objectivo dotar-se de navios de

    qualidade, com tripulaes altamente qualifica-

    das e com as melhores condies de trabalho.

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    (aquisio e distribuio em comum) ou estrat-

    gias de promoo comuns, nomeadamente emmatria de marketing e publicidade61.

    A explorao do potencial oferecido pela for-mao de clusters pertinente em sectores comcadeias de abastecimento complexas, queenvolvem produo e servios, e com um grandenmero de pequenas e mdiasempresas. esseo caso da construo naval. Na construo navalmoderna, mais de 70% do navio acabadoresulta do trabalho de uma vasta rede de forne-cedores de sistemas, equipamentose servios62. possvel disseminar as boas prticas ligando

    estes sectores entre si e transformando-os emredes de excelncia martima, que abranjam

    todos os sectores martimos, incluindo o dos

    servios.

    O conceito de clusterfoi aplicado com xito emvrios Estados-Membros63. Esto em curso inicia-tivas destinadas a reforar os laos entre clu-sters, tambm ao nvel europeu. O Frum dasIndstrias Martimas (FIM)64 rene representan-tes europeus das indstrias martimas. Almdisso, foi recentemente criada a rede dos clu-sters martimos europeus. Embora muitos des-ses clusters estejam concentrados nas zonascosteiras, a economia martima tem repercus-ses fora dasregiescosteiras, pelo que neces-

    srio estabelecer igualmente relaes comintervenientes de regies afastadas da costa.

    61

    Ver documento de trabalho n. 1sobre a competitividade.Competitiveness of the EuropeanMaritime Industries.http://ec.europa.eu/maritimeaffairs/suppdoc_en.html

    62

    Associao dos Estaleiros Europeus deConstruo e Reparao Naval (CESA),contributo para o Livro Verde.

    63

    Ver nota de rodap 4.

    64

    http://www.mif-eu.org/

    65

    Directivas 98/59/CE do Conselho, JO L 225de 12.7.1998, e 2001/23/CE do Conselho,JO L 82 de 22.3.2001.

    Que papel podem ter os clusters martimos no aumento da competitividade,

    em especial das PME, no reforo da atractividade do emprego martimo

    e na promoo de um sentimento de identidade martima?

    Como pode a Unio Europeia promover sinergias entre sectores

    interrelacionados?

    2.7. Quadro regulamentar

    Em sectores como os do transporte martimo, dasinfra-estruturas porturias e da explorao derecursos ao largo, incluindo os recursos haliuti-cos, em que se fazem grandes investimentos emprodutos inovadores concebidos para durarmuitos anos, importante existir um clima regula-mentar estvel. Esta necessidade particularmen-te pertinente no que toca s regras que afectam alocalizao da actividade econmica. Tambm poreste motivo, seria desejvel instaurar, logo quepossvel, um sistema global de ordenamentoespacial para as guascosteiras europeias.

    Muito h a fazer para melhorar, simplificar e con-solidar a regulamentao. A simplificao e aracionalizao da regulamentao esto j emcurso na Unio Europeia. Estes esforos devem,igualmente, ser aplicados s regras que regem osector martimo e os sectores conexos. Ao nvelinternacional, a Conveno da OIT sobre as con-

    dies de trabalho no mar prova que uma melhorregulamentao no plano internacional pode,simultaneamente, ser benfica para os martimose melhorar a transparncia e eficcia do quadroregulamentar.

    A excluso dos sectores martimos de algumasvertentes da legislao laboral e social europeia,nomeadamente a directiva relativa aos despedi-mentos colectivos e a directiva relativa tran-sferncia de empresas65, deve ser reexaminadaem estreita colaborao com os parceiros sociais.

    Atendendo interdependncia dos sectoresmartimos e das polticas que lhes esto associa-das, pode suceder que a legislao elaboradapara responder s necessidades e objectivos deuma dada poltica tenha repercusses imprevi-stas e antagnicas noutros objectivos martimos,no contexto geral do desenvolvimento sustent-vel. Segundo a Comisso, quando essas reper-cusses podem ser identificadas, h queconsiderar a possibilidade de alterar a legislaocomunitria em causa. Para evitar que este pro-cesso se converta num exerccio terico e buro-crtico, a Comisso convida os interessados a

    identificar os casos pertinentes, a fim de proporalteraes baseadas numa anlise integrada.

    Impor o cumprimento das regras num espao tovasto como o ocenico depende no s da aco

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    governamental, como tambm da aceitao des-

    sas regras por aqueles a quem se aplicam. Poreste motivo, a participao dos interessados noprocesso normativo particularmente desejvel.A Comunidade interiorizou este princpio no sectordas pescas, atravs da instituio de ConselhosConsultivos Regionais no mbito da polticacomum da pesca reformada. Estes conselhosregionais so consultados pela Comisso acercada legislao futura que afecta as zonas da suacompetncia e podem apresentar propostassobre o desenvolvimento da poltica das pescas.

    A auto-regulao, apesar dos seus limites, e a

    responsabilidade social das empresas (RSE)podem desempenhar um papel importante ecomplementar. A adopo de estratgias RSE e acomunicao dos resultados obtidos relativa-mente aos objectivos anunciados representamuma alternativa regulamentao. A RSE podecontribuir para o desenvolvimento sustentvel e,ao mesmo tempo, desenvolver o potencial deinovao e a competitividade da Europa. Almdisso, pode trazer benefcios directos s empre-sas, permitindo-lhes funcionar numa simbiosetotal com o ambiente e induzir efeitos positivos,

    nomeadamente ao nvel dos prmiosde seguro edo acesso aos financiamentos.

    Um sistema regulamentar eficaz garantirtambm que os sinais econmicos enviados aomercado reforcem o funcionamento deste.Segundo a Associao Europeia das Sociedadesde Classificao, o xito futuro depender tantodos incentivos a um desempenho de qualidade,como de um certo grau de penalizao no caso dedesempenhos insatisfatrios66. Devem ser pro-movidos mecanismos de incentivo adequadospara os armadores com uma boa folha de ser-vio, sob forma, por exemplo, de reduo dastaxas porturiase de menosinspeces de segu-rana. As inspeces select ivas no Estado doporto revelaram-se uma estratgia valiosa paraerradicar dos oceanos os navios que no satisfa-zem as normas e aumentar o nvel das normasgerais de segurana aplicveis no sector do tran-sporte martimo internacional67. Seria desejvelaplicar um regime de seguro obrigatrio e umsistema de bnus-malus, como acontece emrelao a outros modos de transporte. Os Clubesde Proteco e Indemnizao (P&I) deveriam

    velar por que as suas operaes incentivem umtransporte martimo de qualidade e penalizem osnavios que no satisfazem as normas. Aquando

    de uma reviso global do quadro regulamentar e

    estrutural, seria conveniente identificar as possi-bilidades de melhorar os incentivos econmicosem todos os sectores martimos, incluindo o dotransporte.

    A concorrncia constitui o mecanismo fulcralpara estimular o mercado de forma racional. Osarmadores tm por tradio cooperar no mbitode consrcios, alianas, agrupamentos ou con-ferncias martimas. A Comisso apercebeu-serecentemente de que estas ltimas tm umimpacto negativo na concorrncia, pelo queprops ao Conselho a sua supresso. Para que a

    transio para um ambiente mais concorrencialse efectue sem sobressaltos, a Comisso tencio-na publicar directrizes sobre a aplicao dasregras de concorrncia a todasas restantesformasde cooperao no sector do transporte martimo68.

    Nos termos da Conveno das Naes Unidassobre o Direito do Mar, o pas em que o navioest registado,