Vol7 Como Andam Curitiba Maringa

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urbanismo

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  • Como AndamCuritiba e Maring

    7Conjuntura Urbana

    OrganizadOras

    Rosa Moura Ana Lcia Rodrigues

  • CIP-BRASIL. CATALOGAO NA FONTESINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ.

    ObservatriO das MetrpOlesTels. (21) 2598-1932 / 2598-1950

    web.observatoriodasmetropoles.net

    letra Capital editOraTels. (21) 3553-2236 / 2215-3781

    www.letracapital.com.br

    Copyright Rosa Moura e Ana Lcia Rodrigues, 2009

    Direitos reservados e protegidos pela Lei n 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. proibida a reproduo total ou parcial sem autorizao, por escrito, da editora.

    COOrdenaO geral

    editOr

    CO-editOr

    revisO Final

    revisO OrtOgrFiCa

    PrOjetO grFiCO e diagramaO

    1 ediO, 2008

    2 ediO, 2009

    imPressO

    Luiz Cesar de Queiroz Ribeiro

    Joo Baptista Pinto

    Orlando Alves dos Santos Junior

    Eglasa Cunha e Roberto Pedreira

    Henrique Pesch e Roanita Dalpiaz

    Virtual Design

    Francisco Macedo | Letra Capital Editora

    Imos Grfica

    C728

    Como andam Curitiba e Maring / organizadoras Rosa Moura, Ana Lcia Rodrigues. - Rio de Janeiro: Letra Capital: Observatrio das Metrpoles, 2009.

    il. - (Conjuntura urbana; 7)

    ApndiceInclui bibliografia ISBN 978-85-7785-046-4

    1. Regies metropolitanas - Brasil. 2. Crescimento urbano - Brasil. 3. Poltica pblica. 4. Poltica urbana - Brasil. I. Moura, Rosa, 1952-. II. Rodrigues, Ana Lcia, 1962-. III. Ttulo. IV. Srie.

    09-2012. CDD: 307.7640981 CDU: 316.334.56

    30.04.09 04.05.09 012332

  • O Observatrio das Metrpoles um grupo que funciona em rede, reunin-do instituies e pesquisadores dos campos universitrio, governamental e no-governamental. A equipe constituda no Observatrio vem trabalhan-do h 17 anos, envolvendo 97 principais pesquisadores e 59 instituies de forma sistemtica e articulada sobre os desafios metropolitanos colocados ao desenvolvi-mento nacional, tendo como referncia a compreenso das mudanas das relaes entre sociedade, economia, Estado e os territrios conformados pelas grandes aglo-meraes urbanas brasileiras.

    O Observatrio das Metrpoles tem como uma das suas principais carac-tersticas reunir Programas de Ps-graduao em estgios distintos de consolidao, o que tem permitido virtuosa prtica de cooperao e intercmbio cientfico atra-vs da ampla circulao de prticas e experincias acadmicas. Por outro lado, o Observatrio das Metrpoles procura aliar suas atividades de pesquisa e ensino com a realizao de atividades que contribuam para a atuao dos atores governamentais e da sociedade civil no campo das polticas pblicas voltadas para esta rea.

    O Observatrio das Metrpoles integrou o Programa do Milnio do CNPq e, nos prximos 5 anos, integrar o Programa Instituto Nacional de Cincia e Tec-nologia, tambm do CNPq, com apoio da FAPERJ. O objetivo do programa de-senvolver pesquisa, formar recursos humanos, desenvolver atividades de extenso e transferncia de resultados para a sociedade e para os governos envolvidos, tendo como eixo a questo metropolitana. Por envolver grupos de pesquisas distribudos em todas as 5 Grandes Regies do pas (Norte, Centro-Oeste, Nordeste, Sudeste e Sul), as atividades de pesquisa que desenvolvemos permitem aprofundar o conhe-cimento da diversidade da realidade metropolitana do pas e suas relaes com as desigualdades regionais.

    O Observatrio das Metrpoles um programa plurinstitucional e plu-ridisciplinar que procura aliar pesquisa e ensino com a misso social de realizar e promover atividades que possam influenciar as decises dos atores que intervm no campo da poltica pblica, tanto na esfera do governo, como da sociedade civil. O seu Programa de Trabalho para os prximos 5 anos est organizado nas seguintes linhas:

    Linha I - Metropolizao, dinmicas intermetropolitanas e o territrio nacional.

    Linha II - Dimenso scio-espacial da excluso/Integrao nas metrpoles: estudos comparativos.

    Linha III - Governana urbana, cidadania e gesto das metrpoles.

    Linha IV - Monitoramento da realidade metropolitana e desenvolvimento institucional.

  • Apresentao

    A institucionalizao das regies metropolitanas brasileiras obedeceu a duas

    fases. A primeira, nos anos 1970, como parte da poltica nacional de desenvolvimen-

    to urbano, relacionada expanso da produo industrial e consolidao das me-

    trpoles como locus desse processo. Reguladas por legislao federal, foram criadas nove Regies Metropolitanas RMs, incluindo os principais centros nacionais

    particularmente capitais de estados e suas reas de polarizao direta, constitudas

    por municpios integrantes da mesma unidade socioeconmica. Visaram realizao

    de servios comuns de interesse metropolitano1, de modo a constituir uma unidade

    de planejamento e gesto, e deveriam organizar-se sob um arcabouo padro estru-

    turado em dois conselhos, o deliberativo e o consultivo.

    A segunda etapa teve incio com a Constituio Federal de 1988, que facultou aos

    Estados Federados a competncia de institucionalizao de suas unidades regionais.

    Com ela, findava um modelo que criou regies sobre as quais os Estados Federados no

    tinham autonomia para interveno, e se abriam possibilidades de insero das regies

    metropolitanas em processos estaduais de planejamento regional. Alm de regies me-

    tropolitanas, o texto constitucional admitiu outras categorias de organizao regional,

    como as aglomeraes urbanas e as microrregies. Mantendo e adequando os objetivos

    1 Segundo a Lei Complementar /: I planejamento integrado do desenvolvimento econmico e social; II saneamento bsico, notadamente abastecimento de gua e rede de esgotos e servios de limpeza pblica; III uso do solo metropolitano; IV transportes e sistema virio; V produo e distribuio do gs combustvel canalizado; VI aproveitamento dos recursos hdricos e controle da poluio ambiental, na forma do que dispuser a lei federal; VII outros servios includos na rea de competncia do Conse-lho Deliberativo por lei federal.

  • da etapa anterior, as unidades criadas deveriam integrar a organizao, o planeja-

    mento e a execuo de funes pblicas de interesse comum.

    Esse processo de metropolizao, ao mesmo tempo em que abriu a possibili-

    dade de alterao dos limites das RMs existentes, incluindo ou mesmo excluindo

    municpios, desencadeou um contnuo ciclo de institucionalizao de novas unida-

    des regionais, com diferentes portes de populao, considerando at pequenas aglo-

    meraes urbanas, e quase sempre classificado-as como metropolitanas. Parte des-

    sas regies tm crescido a taxas anuais superiores a 3% ao ano, com expanso

    expressiva, at mesmo nos plos, enquanto outras mantm elevado apenas o cresci-

    mento de suas periferias. So regies com distintos pesos no que se refere partici-

    pao na renda e na dinmica da economia. Muitas delas se articulam configurando

    novos arranjos espaciais, com redobrada importncia no plano econmico e social, e

    tambm redobrada complexidade quanto ao compartilhamento de uma gesto vol-

    tada incluso social e municipal. o caso dos grandes complexos urbanos, como o

    que articula num processo nico as regies de So Paulo, Campinas e da Baixada-

    Santista, alm de outras aglomeraes urbanas vizinhas.

    As leis estaduais que vm instituindo tais unidades mantm em seu escopo

    orientaes mnimas para organizao do sistema de gesto e, em alguns casos, alm

    da rea metropolitana, identifica reas de expanso como nas legislaes do Esta-

    do de Santa Catarina, denominada rea de expanso metropolitana; nas do Estado

    de Minas Gerais, colar metropolitano; e na do Estado de Gois/Distrito Federal,

    regio de desenvolvimento integrado- RIDE/DF.

    Em 2003, o Brasil registra 26 unidades metropolitanas oficialmente institudas2,

    com a possibilidade da Regio Integrada de Desenvolvimento (RIDE)3 do Distrito

    Federal somar-se a este conjunto, pelo porte metropolitano da cidade principal.

    Em geral, as unidades metropolitanas esto concentradas nas regies Sul (Santa

    Catarina, com seis unidades; Paran, com trs; e Rio Grande do Sul, com uma RM) e

    Sudeste (So Paulo e Minas Gerais possuem, respectivamente, trs e duas unidades;

    2 Esse clculo considera uma nica unidade a RM e sua respectiva rea de expanso, colar metropolitano ou regio de desenvolvimento integrado. No inclui a RM de Aracaju que, embora criada em 1995, ainda no havia obtido a ratificao da adeso dos municpios por parte das Cmaras de Vereadores, conforme exige seu artigo 5, e a RM de Manaus, constituda em 2006.

    3 As RIDEs esto previstas nos artigos , inciso IX, e , inciso IV da Constituio Federal. Sua institucionali-zao compete Unio por envolver municpios de mais de uma unidade federativa.

  • Rio de Janeiro e Esprito Santo possuem uma unidade cada um). No Nordeste, o Ce-

    ar, Pernambuco e Bahia j possuam, cada qual, sua unidade metropolitana; e foram

    institucionalizadas, por leis estaduais, novas unidades em Alagoas, Maranho, Paraba

    e Rio Grande do Norte, totalizando sete unidades na Regio. No Norte, apenas Be-

    lm manteve a unidade j existente; e no Centro-Oeste foi institucionalizada a RM de

    Goinia. Nessa Regio, a RIDE do Distrito Federal, criada em 1998, incorpora, alm

    do DistritoFederal, municpios dos Estados de Gois e de Minas Gerais4.

    As diferentes legislaes criaram unidades regionais bastante distintas, dificul-

    tando a comparao entre elas. Como permanecem ausentes projetos estaduais de

    regionalizao, e diante da inexistncia de critrios definidos pela Constituio Fede-

    ral ou por normas especficas que traduzam conceitualmente as novas categorias espa-

    ciais a serem institudas pelos estados e instruam demarcaes e classificaes regio-

    nais, a maior autonomia adquirida para promover a regionalizao, inevitavelmente,

    vem induzindo distores no mbito da hierarquizao dessas categorias.

    Embora todas as unidades apresentem um padro de ocupao que se parti-

    culariza por transcender limites poltico-administrativos municipais, descrevendo

    manchas contnuas assentadas sobre municpios autnomos, sua delimitao no

    expressa contornos conexos ao fato urbano das espacialidades de aglomerao sobre

    as quais incidem, sequer confere aderncia preciso conceitual que identificaria a

    unidade metropolitana, a partir do padro funcional, diante das demais categorias

    disponveis para classificao das unidades regionais5.

    Nota-se, assim, uma lacuna acerca das relaes metropolitanas de forma que

    a ao integrada por entes federativos no espao metropolitano demanda um marco

    legal nacional que articule esta ao regulando a inter-relao entre os municpios

    integrantes dessas regies, e suas relaes com os governos estadual e federal.

    4 Outras RIDEs localizam-se nos Estados de Pernambuco/Bahia (Petrolina/Juazeiro) e de Piau/Maranho (Teresina/Timon).

    5 O Estado do Rio Grande do Sul foi o que demonstrou melhor compreenso conceitual, mantendo como metropolitana apenas a unidade regional polarizada por Porto Alegre e instituindo duas aglomeraes urbanas, a de Caxias do Sul e a de Pelotas.

  • Classificao e TipologiasOs estudos que resultaram nesta Srie voltaram-se para identificar entre as

    regies metropolitanas institucionalizadas e outros grandes espaos urbanos, aque-

    les que efetivamente se constituem como metropolitanos, classificando, tipifi-

    cando e indicando, nesses espaos, a rea especfica onde ocorre o fenmeno metro-

    politano; isto , est voltado identificao e caracterizao dos espaos

    metropolitanos brasileiros, em sua dimenso scio-territorial e em seu desempenho

    institucional, tendo como objetivos:

    a) Organizar uma base de indicadores para a classificao e identificao

    dos espaos metropolitanos brasileiros, considerando-os como unidades

    territoriais particulares, devido s funes de maior complexidade por

    eles exercidas na rede urbana nacional. Tal identificao foi possvel a

    partir da anlise de indicadores econmicos, sociais e territoriais repre-

    sentativos do fenmeno metropolitano, e possibilitou dirimir dvidas

    quanto ao uso adequado dos conceitos de metrpole e de regio me-

    tropolitana, muitas vezes empregada de forma no pertinente ao espa-

    o institucionalizado.

    b) Desenvolver uma tipologia de espaos segundo a forma e o contedo,

    ordenados em uma escala de acordo com o grau de importncia na rede

    urbana brasileira. A anlise incidiu sobre os pontos focais dessa rede: me-

    trpoles e/ou regies metropolitanas institucionalizadas, aglomeraes

    urbanas polarizadas por capitais de estados e capitais de estados que no

    conformem aglomeraes.

    c) Identificar os territrios socialmente vulnerveis no interior das reas me-

    tropolitanas e seu diagnstico, a partir da anlise do ponto de vista das

    dimenses fundamentais da vida social daqueles espaos onde se con-

    centram os segmentos da populao que vivem em situao de acmulo

    de privaes, inclusive quanto degradao ambiental e s dificuldades

    tcnicas de conexo s redes de infraestrutura e servios pblicos.

    d) Analisar as condies institucionais e fiscais das unidades municipais que

    compem as reas onde se expressa o fenmeno metropolitano, de modo

    a avaliar sua capacidade de responder implementao de polticas de

    desenvolvimento urbano.

  • Buscando atingir estes objetivos foram construdos dois produtos. O primei-

    rocontemplou a classificao e demarcao espacial da intensidade do fenmeno

    dametropolizao, com base nos seguintes procedimentos:

    I) Classificao dos grandes espaos urbanos brasileiros para a identificao

    dasmetrpoles e respectivas aglomeraes metropolitanas, tendo como

    universode anlise as metrpoles e/ou regies metropolitanas institucion

    alizadas,aglomeraes urbanas polarizadas por capitais de estados e as ca-

    pitais deestados que no conformam aglomeraes.

    II) Identificao das unidades de carter metropolitano e no-metropolitano.

    III) Classificao dos municpios segundo o nvel de integrao na dinmica

    derelaes que se estabelece entre os municpios da aglomerao;

    IV) Elaborao de uma tipologia dos municpios dos espaos metropolitanos,

    segundo os indicadores sociais;

    V) Identificao e anlise dos territrios socialmente vulnerveis das aglo-

    meraes metropolitanas.

    O segundo produto desenvolveu uma avaliao do quadro institucional dos mu-

    nicpios e a identificao das aes de cooperao intermunicipal, assim como a anlise

    do desempenho fiscal dos municpios que compem os espaos metropolitanos.

    Esses produtos possibilitaram uma anlise sociourbana de doze espaos me-

    tropolitanos quanto s desigualdades sociais e urbanas na escala intrametropolitana

    (diagnstico social e urbano do territrio segmentado em espaos, segundo a sua

    vulnerabilidade). Essas anlises compem a Srie Como Andam as Regies Metropolita-nas, editado originalmente na Coleo de Estudos e Pesquisas do Programa Nacional de Capacitao das Cidades, do Ministrio das Cidades.

  • A Srie Foi Organizada da Seguinte Forma:O Volume 1 Hierarquizao e Identificao dos Espaos Urbanos - define uma

    hierarquiapara os espaos urbanos, tendo como pressupostos a centralidade, medida

    por indicadores do grau de importncia, complexidade e diversidade de funes e

    sua abrangncia espacial, e a natureza metropolitana, associada a nveis elevados de

    concentrao de populao e atividades, particularmente as de maior complexidade,

    e as relaes que transcendem a regio.

    No Volume 2, apresenta-se o trabalho de pesquisa sobre Tipologia das Cidades Brasileiras, cujo objetivo foi o de identificar e classificar os municpios brasileiros. Os demais volumes especficos esto dispostos da seguinte forma:

    Volume 3 Como Anda So Paulo

    Volume 4 Como Anda Salvador

    Volume 5 Como Anda Fortaleza

    Volume 6 Como Andam Natal e Recife

    Volume 7 Como Andam Curitiba e Maring

    Volume 8 Como Anda Porto Alegre

    Volume 9 Como Anda Rio de Janeiro

    Volume 10 Como Anda Belo Horizonte

    Volume 11 Como Andam Belm e Goinia

  • autOres

    Rosa Moura Daniel Nojima

    Dbora Zlotnik WerneckEloise Machado

    Josil R. V. BaptistaMaria Isabel de Oliveira Barion

    Maria Luiza M. S. Marques DiasMarley Vanice Deschamps

    Paulo Roberto DelgadoSandra Terezinha da Silva

    Como Anda Curitiba

    7Conjuntura Urbana

    OrganizadOra

    Rosa Moura

  • Como Anda Curitiba 1

    1Captulo

    1

    A Regio Metropolitana de Curitiba RMC, foi criada em 1973, no corpo da lei federal 14/73. Atualmente, agrega 26 municpios: os 14 originais, cinco desmembrados desses e sete municpios integrados aos limites regionais por legislaes estaduais (Quadro 1.1 e Mapa 1.1).

  • 2 Conjuntura Urbana Volume 72

    Em 1970, a RMC sequer contava com um milho de habitantes e, em trs dcadas e meia, passou a abrigar mais de 3,1 milhes de moradores, segundo estimativas do IBGE para 2004. A ocupao do espao regional j na primeira dcada transcende os limites territoriais do municpio-plo, configurando uma aglomerao contnua que incorpora dinmica metropolitana os municpios de seu entorno imediato.

    Nessa poca, o Estado do Paran passava por mudanas na agropecuria moderni-zao da base tcnica de produo, expanso de culturas, comercializao de commodities e agroindustrializao e por um processo de intensa concentrao fundiria, com expressivos fluxos migratrios na direo dos centros urbanos, particularmente para Curitiba e entorno. A industrializao, que tinha maior expressividade no interior do Estado, intensifica-se no espao metropolitano, com a introduo dos ramos modernos na linha da metalmecnica, como parte do processo de desconcentrao da atividade econmica a partir de So Paulo.

    Nos anos 1970 e 1980, Curitiba sediou grandes grupos econmicos, particularmente na Cidade Industrial de Curitiba. Araucria, municpio limtrofe, recebeu a Refinaria da Petrobrs, alcanando a segunda maior participao no valor adicionado fiscal (VAF) da Regio (NOJIMA et al., 2004).

  • Como Anda Curitiba 33

    O impacto inicial do crescimento populacional e da intensificao no uso do solo metropolitano foi simultneo ao processo ininterrupto de planejamento urbano em Curitiba, iniciado nos finais dos anos 1960. A implementao do planejamento criou elementos que valorizaram a terra urbana e a moradia do plo e elevaram o custo de melhorias e tributos locais, tornando o processo de ocupao seletivo e induzindo o crescimento da ocupao de segmentos mais pobres para reas perifricas internas e principalmente externas aos seus limites administrativos. reas nas quais haviam disponveis lotes mais compatveis ao poder aquisitivo desses segmentos, e cuja distncia era coberta por um sistema de transporte coletivo que facilitou a comutao diria entre o local de moradia e o de trabalho.

    Nos anos 1990, a alterao da composio original da estrutura industrial, incor-porando novos segmentos, sustentada por uma poltica estadual de atrao de novos investimentos, reforou o espao metropolitano, que disponibilizava vantagens locacionais da proximidade do mercado do Sudeste e do Porto de Paranagu, oferta de infra-estrutura em termos de energia, telecomunicaes, aeroporto internacional e rodovias, dentre outros fatores que se somaram concesso de incentivos fiscais e financeiros.

    Os investimentos econmicos foram realizados particularmente nos municpios de So Jos dos Pinhais, que foi contemplado com a localizao das duas maiores montadoras automotivas (Renault e Volkswagem/Audi) e que recebeu uma srie de investimentos em comrcio e servios, alm da adequao do aeroporto internacional; Campo Largo (que por pouco tempo sediou a Chrysler, tendo vivido o impacto da condio efmera desse investimento); Araucria e Curitiba (com a modernizao e ampliao de segmentos existentes); assim como pequenas inverses nos demais municpios limtrofes ao plo.

    Acompanhando o reforo atividade industrial, os setores Comrcio e Servios demonstram maior incremento em toda a dcada. O ltimo, fortemente concentrado no plo, voltou-se particularmente s empresas e ao mercado constitudo pelos empreendimentos, pelo fluxo de executivos e profissionais especializados que se intensificou e pelos novos habitantes da cidade, que demandam servios mais complexos e sofisticados, peculiares ao mundo globalizado. Curitiba passou a ter visibilidade entre as cidades que desempenham papel relevante no cenrio econmico nacional, adicionando sua condio de cidade-modelo a de metrpole-competitiva (FIRKOWSKI, 2001). Atividades desses setores tambm se espraiaram entre os municpios metropolitanos. So Jos dos Pinhais destaca-se por apresentar-se como nova centralidade desse espao regional transformado.

  • 4 Conjuntura Urbana Volume 74

    Alm dos supermercados, hipermercados, shopping centers, e do setor de hotelaria, os elementos mais expressivos e reveladores das mudanas em curso relacionam-se s atividades de publicidade e propaganda, moda, bancos, servios especializados para empresas, eventos e feiras relacionados s demandas do turismo de negcios, livrarias, alm de atividades que se fazem presentes de modo imaterial, como as novas demandas por servios por meio eletrnico, centros de compras 24 horas, alm de outros valores urbanos recm-incorporados vida do curitibano (FIRKOWSKI, 2001).

    A desconcentrao da atividade econmica, ou concentrao dispersa entre municpios, alterou substancialmente o perfil da economia metropolitana, com trans-formaes socioespaciais e efeitos ambientais marcantes (IPARDES, 2005a). Ademais, reforaram o aglomerado metropolitano como o espao econmico de maior relevncia no Paran (IPARDES, 2005b).

    A estratgia de atrao da atividade econmica acabou por reforar os fluxos migratrios para a Regio, acentuando a desigualdade, j que mesmo com o crescimento da oferta de empregos, grande contingente de mo-de-obra permanece fora do mercado. O processo de ocupao, da forma intensa e contnua como ocorreu na rea metropolitana de Curitiba nessas trs dcadas, no se fez acompanhar pela implementao de um processo regional de planejamento e gesto, e as polticas pblicas foram insuficientes para viabilizar o atendimento s novas e crescentes demandas. Novas ocupaes se adensaram em parcelas territoriais de municpios economicamente menos dinmicos e financeiramente dependentes de transferncias de recursos, como os provenientes do Fundo de Participao dos Municpios (FPM), muitas vezes em reas de mananciais de abastecimento hdrico de toda a regio ou ambientalmente vulnerveis.

    A fronteira de periferizao da ocupao metropolitana, iniciada com o extravasa-mento da ocupao de Curitiba sobre seus limites imediatos nos anos 1990, transcende o conjunto de municpios limtrofes e insinua-se na direo de outros, prximos a esses. Em 2000, a RMC j apresenta uma extenso da mancha contnua de ocupao, que incorpora as sedes municipais da maioria dos municpios vizinhos a Curitiba, e pores de municpios mais distantes incluindo os classificados como de nveis muito alto, alto e mdio, quanto integrao na dinmica metropolitana.

    Essa rea, embora contnua, bastante desigual, tanto no que se refere insero dos municpios na dinmica da economia regional, quanto nas condies socioambientais.

  • Como Anda Curitiba 55

    Sob efeitos do processo de internacionalizao da economia, a ocupao seletiva que formatou o espao metropolitano de Curitiba torna-se mais acentuada, agregando um diferencial. Atualmente, parcelas das classes de rendimentos mdio e alto esto optando pelas mesmas reas perifricas, at ento redutos de populao de menor renda, atradas pela oferta de condomnios de luxo, perfeitamente conectados a Curitiba. Nas periferias tambm se localizam os novos distritos industriais que conformam o plo automotivo do Estado do Paran, alm de grandes empreendimentos comerciais, empresariais e de servios.

    As municipalidades menos dinmicas no se encontram capazes de responder s exigncias de modernizao postas por esses empreendimentos, quanto aos padres de competitividade e atratividade s atividades modernas, permanecendo excludas do processo, abrigando a populao pobre e as atividades segregadas. A pobreza tambm pontua o interior do plo metropolitano, que responde pelos contingentes mais elevados de famlias carentes e domiclios inadequados, entre os municpios da RMC (IPARDES, 2005a).

    Para posicionar Curitiba perante as principais aglomeraes metropolitanas do Brasil, foram considerados os resultados dos estudos voltados s unidades institucionalizadas (regies metropolitanas e regies integradas de desenvolvimento - RIDE). Criadas por diferentes legislaes, configuram unidades regionais bastante distintas, o que justificou a realizao, no mbito dos produtos demandados pelo Ministrio das Cidades, de estudo visando identificar aquelas que efetivamente se constituem como metropolitanas, por meio de sua classificao; demarcar espacialmente a intensidade do fenmeno de integrao dos municpios na dinmica da aglomerao; dimensionar o nvel de concentrao de atividades nessas espacialidades; e caracterizar socialmente o conjunto.

    O universo dessa pesquisa constituiu-se das 26 regies metropolitanas institu-cionalizadas at o ano de 2003, das regies integradas de desenvolvimento do Distrito Federal e de Teresina/ Timon, das aglomeraes urbanas no institucionalizadas, desde que polarizadas por capitais de Estados e das capitais que no configuram aglomeraes, num total de 37 espaos urbanos. Os 471 municpios que compem esses espaos so a unidade de pesquisa.

  • 6 Conjuntura Urbana Volume 76

    O trabalho empregou o conceito de aglomerao urbana para as unidades que compem uma mancha contnua de ocupao sobre mais de um municpio, envolvendo fluxos intermunicipais, complementaridade funcional e integrao socioeconmica. Difere do entendimento de regio metropolitana que, nesse trabalho, corresponde a uma poro definida institucionalmente. Considerou metrpole, a cidade principal de uma aglomerao, destacando-se pelo tamanho populacional e econmico, desempenho de funes complexas e diversificadas, e relaes econmicas com vrias outras aglomeraes, funcionando como centro de comando e coordenao de uma rede urbana.

    Este entendimento orientou a classificao das unidades, que teve como pressupostos a centralidade, definida por indicadores do grau de importncia, aferindo a complexidade e diversidade de funes e sua abrangncia espacial, e a natureza metropolitana, associada a nveis elevados de concentrao de populao e atividades, particularmente as de maior complexidade, e a centralidade que transcende a regio. Para tanto, valeu-se de informaes sobre o volume populacional e de atividades, fluxos, e oferta de bens e servios mais raros e avanados, caractersticos da nova economia, disponveis para todo o territrio nacional.

    Entre as 37 unidades consideradas foram identificadas, por meio de dois processos classificatrios, seis categorias que expressam relativa homogeneidade. A categoria 1 inclui apenas a RM de So Paulo, com os resultados mais expressivos em todos os indicadores. A RM do Rio de Janeiro, com a segunda maior pontuao em todos os indicadores, tambm compe, individualmente, a categoria 2, com elevado desnvel entre sua posio e a de So Paulo. Na categoria 3 enquadram-se as RMs de Belo Horizonte, Porto Alegre, Braslia, Curitiba, Salvador, Recife e Fortaleza. Na categoria 4, as RMs de Campinas, Vitria, Goinia, Belm e Florianpolis, assim como Manaus. Estas quatro categorias foram consideradas como metropolitanas, dado que apresentam indicadores com mais expressividade que os das demais categorias.

    Na categoria 5 incluem-se as RMs Norte/Nordeste Catarinense, Baixada Santista, Natal e Londrina, configurando um perfil de espao metropolitano emergente, alm das RMs de So Lus, Macei e Joo Pessoa, as aglomeraes de Aracaju1 e Cuiab, e a capital Campo Grande. Na categoria 6, as RMs Vale do Itaja, Maring, Foz do Itaja, Vale do Ao,

    1 A RM de Aracaju, embora criada em 1995, ainda no havia obtido a ratificao da adeso dos muni-cpios por parte das Cmaras de Vereadores, conforme exige seu artigo 5.

  • Como Anda Curitiba 77

    Carbonfera e Tubaro, a RIDE Teresina e as capitais Porto Velho, Macap, Rio Branco, Palmas e Boa Vista.

    A leitura comparativa da posio da RMC perante as demais RMs do Brasil situa a Regio na sexta posio do ranking (tabela 1.1), incluindo-a entre as oito unidades da categoria 3 (OBSERVATRIO, 2005c). Tem o ndice fatorial de 0,119 e a somatria de 27 pontos no conjunto de indicadores, apresentando um distanciamento maior entre sua pontuao e a da RIDE de Braslia em posio imediatamente superior na hierarquia (ndice 0,146) do que entre ela e a RM de Salvador, em posio imediatamente abaixo (ndice 0,103).

  • 8 Conjuntura Urbana Volume 78

    Os indicadores destacam a RMC em relao aos demais espaos quanto ao nmero de agncias bancrias (288 unidades, em 2003), colocando-a na quinta posio, tendo logo a seguir a RM de Campinas (com 281). Esse o indicador que mais aproxima a RMC das regies metropolitanas consagradas nas primeiras posies dos rankings: So Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Porto Alegre.

  • Como Anda Curitiba 99

    A RMC mantm-se na sexta posio quanto ao total das operaes bancrias e financeiras (R$ 24.926,2 milhes, em 2003), com valores muito prximos aos da RM de Porto Alegre (R$ 26.813,0 milhes); quanto massa de rendimentos mensal (R$ 1.267,8 milhes em 2000), sendo outra vez seguida pela RM de Campinas (R$ 1.122,3 milhes); e quanto ao total de empregos formais em atividades de ponta (70.746 empregados em 2002), pouco abaixo da RM de Campinas (75.732).

    Coloca-se na stima posio quanto ao volume de passageiros areos, em 2003 (2.339.696), superando Recife (2.239.806 passageiros), importante destino turstico do litoral nordestino; em stimo lugar, quanto ao nmero de empresas includas entre as 500 maiores do Brasil (14), posio intermediria entre as RMs de Salvador e de Campinas (17) e a RM de Vitria (11); e em nona posio no que se refere populao, superando a ordem dos 3,1 milhes de habitantes em 2004.

    Internamente, Curitiba concentra com certa primazia todos os indicadores. Das 288 agncias bancrias, 232 situavam-se em Curitiba; em So Jos dos Pinhais havia 15 agncias, sendo seguido por Colombo, com 6 (tabela 1.2). Chama-se ateno para a inexistncia de agncias em 6 municpios da Regio e presena de uma nica unidade em 7 municpios. Repete-se a concentrao no que se refere s operaes bancrias e financeiras, com o municpio de Curitiba realizando 95,1% das operaes, seguido por So Jos dos Pinhais, com 1,8%, depois por Campo Largo e outros municpios com participaes inferiores a 1%.

    A massa de rendimentos apresenta grau de concentrao um pouco menor, com 77,6% do total dos salrios e outros rendimentos circulando em Curitiba, 5,1% em So Jos dos Pinhais, 3,4% em Colombo, e propores menores nos demais.

  • 10 Conjuntura Urbana Volume 710

  • Como Anda Curitiba 11 11

  • 12 Conjuntura Urbana Volume 712

    Das 14 empresas includas entre as 500 maiores do Brasil, 12 encontram-se em Curitiba, uma em So Jos dos Pinhais e outra em Araucria. So Jos dos Pinhais tambm se sobressai por sediar o aeroporto internacional da Regio. Nos empregos formais em atividades que se destacam como indicativas de segmentos de ponta da nova economia, a distribuio adquire outro contorno: Curitiba responde por 68,7% desses empregos; So Jos dos Pinhais, por 14,1%, e Pinhais, por 4,8%, com os demais municpios demonstrando menores valores.

    Essas informaes apontam para a RMC um grau de concentrao intermedirio das atividades, j que em mais de um dos indicadores selecionados o plo responde por percentuais inferiores a 75% proporo considerada primaz e representativa de plos concentradores , perfazendo essa participao em conjunto com um ou no mximo dois municpios.2 o caso de empregos formais em atividades de ponta, no qual Curitiba soma-se a So Jos dos Pinhais para superar os 75% (atingindo assim 82,7%) e de populao, para a qual os quatro municpios mais populosos no somam essa referncia.

    As 37 unidades em anlise, do universo nacional da pesquisa, foram classificadas conforme o nvel de integrao dos municpios dinmica da aglomerao. Esses nveis foram captados por indicadores de evoluo demogrfica, fluxos de deslocamentos pendulares, densidade, caractersticas ocupacionais, presena de funes especficas e indispensveis circulao de pessoas e mercadorias (portos e aeroportos), e a capacidade de gerao de renda pela economia local, tomando como referncia a participao do municpio na composio do PIB total da unidade. Por meio deles foi delimitada a abrangncia efetiva da aglomerao em cada unidade pesquisada.

    Excluindo os 37 plos, dos demais 434 municpios 187 apresenta nveis muito baixo ou baixo de integrao na dinmica da aglomerao, podendo ser considerados como no integrados ou em integrao embrionria dinmica da aglomerao, e 98 colocam-se numa posio intermediria quanto integrao nessa dinmica. Os 148 municpios classificados nos nveis alto e muito alto reuniam, em 2004, aproximadamente 28 milhes de pessoas, representando 34,2% da populao total das unidades pesquisadas. A sua participao no incremento populacional do perodo 1991/2000 foi de 45,0%, o que indica forte presso sobre essas reas. Esses municpios geravam 34,8% do PIB do total das unidades em

    2 Segundo a classificao, so muito concentradas as unidades em que o plo aponta para 75% e mais em todos os indicadores, e menos concentradas quando essa proporo se compe a partir de um nmero amplo de municpios.

  • Como Anda Curitiba 1313

    2003. Os 37 plos desses espaos, mesmo quando apresentam tendncia desacelerao do ritmo de crescimento, mantm sua condio de principais reas de concentrao populacional no pas, reunindo 47 milhes de habitantes (57% da populao total das unidades pesquisadas) e absorvendo 45,1% do incremento populacional verificado nos grandes espaos urbanos. Sua participao na composio do total do PIB do conjunto foi de 56,6%. Esses dados demonstram o descompasso entre os limites institucionais das regies metropolitanas e a efetiva configurao do recorte de sua aglomerao.

    No caso da RMC, dos 26 municpios que integram sua delimitao oficial, cinco foram classificados como com nvel de integrao na dinmica metropolitana muito alto, particularmente pelo elevado movimento pendular constatado, assim como pelo desempenho de funes relevantes. Correspondem aos municpios cujas reas ocupadas de maior densidade so relativamente mais prximas ao plo (quadro 1.2). Entre os municpios limtrofes, Araucria classificou-se com nvel alto, e Campo Largo, com nvel mdio ambos com fluxos menos significativos do movimento pendular, entre outros indicadores que os distinguiram dos demais municpios. Entre os mais distantes do plo, foram classificados 10 municpios com nvel muito baixo, e dois, com nvel baixo de integrao na dinmica da aglomerao, todos com caractersticas mais rurais e ausncia do desempenho de funes relevantes dinmica metropolitana.

  • 14 Conjuntura Urbana Volume 714

    Outra anlise comparativa entre as 37 unidades consideradas na pesquisa nacional, foi a condio social dos municpios, dado que a situao social de sua populao moradora mostra-se bastante distinta, seja na escala inter-aglomerados, seja na escala intra-aglomerados. Para dimensionar essas desigualdades foram considerados o ndice de Carncia Habitacional e a taxa de pobreza, em nvel municipal, estimados para o ano 2000, que orientaram uma classificao social relativa. Dos componentes desses ndices foram extradas as informaes dos contingentes absolutos de pobres e de domiclios carentes e deficientes, que demonstraram concentraes absolutas.

    Os municpios foram classificados em cinco grupos conforme sua condio social relativa: muito boa, boa, mdia, ruim e muito ruim. Nas condies sociais relativas muito boa e boa foram classificados 199 municpios (42% do total considerado). Excluindo os plos, a maioria desses municpios apresenta nvel de integrao na dinmica do aglomerado variando de mdio a muito alto. Nas condies sociais relativas muito ruim e ruim, foram classificados 131 municpios (28% do total), a maioria entre aqueles com nveis muito baixo e baixo de integrao. Em condio social intermediria encontram-se 140 municpios, sendo a maioria com nvel de integrao mdio a muito baixo.

    Observa-se que municpios mais distantes do plo ou menos integrados dinmica da aglomerao possuem pior condio social. Verifica-se tambm que nenhum plo se encontra na condio muito ruim, e somente Macap apresenta situao ruim. H que se ressaltar que inmeros municpios classificados nas condies muito boa e boa apresentam enormes concentraes populacionais. Disto decorre que, mesmo com as melhores condies sociais relativas, apresentam acentuada concentrao absoluta de pessoas em condio social desfavorvel (Tabela 1.3).

  • Como Anda Curitiba 1515

    Esta classificao dos municpios segundo sua condio social, considerando a infra-estrutura de saneamento e a pobreza, possui estreita correspondncia com o posicionamento dos municpios segundo classes do IDH-M. Os municpios classificados como de alto desenvolvimento (IDH-M igual ou superior a 0,800), em sua maioria, foram enquadrados em condio social muito boa ou boa. Aqueles considerados como de nvel de desenvolvimento mdio inferior (IDH-M entre 0,500 e 0,649) apresentam condio social muito ruim ou ruim.

    A distribuio de municpios nas unidades, conforme sua condio social relativa mostra que muitas unidades tm sua populao concentrada em municpios com condio social mdia. Somente as RMs de Campinas, Vale do Itaja, Florianpolis, So Paulo e Norte/Nordeste Catarinense apresentaram mais de 70% da populao residindo em municpios classificados na condio social relativa muito boa. Vale ressaltar que no caso das duas primeiras unidades, praticamente todos os municpios foram classificados nas condies sociais muito boa e boa, refletindo um quadro socialmente mais homogneo.

    Nas RMs do Rio de Janeiro, Porto Alegre, Curitiba, Maring, Foz do Itaja e Carbonfera tambm se verifica forte concentrao populacional (entre 50% e 70%) em municpios com condio social relativa muito boa, mas com participao tambm importante de municpios com condio social boa ou mdia.

  • 16 Conjuntura Urbana Volume 716

    Chama a ateno que, das 37 unidades, 22 no possuem nenhum municpio considerado socialmente muito bom, e 12 delas sequer possui municpio na condio social relativa boa. Chama tambm a ateno que as unidades de Braslia, Vale do Ao, Natal e Aracaju tm parcela importante de sua populao (entre 15% e 24%) residindo em municpios socialmente ruins ou muito ruins.

    Nas unidades de Teresina, So Lus, Macei, Recife, Joo Pessoa, Fortaleza, nenhum municpio foi classificado na condio social relativa muito boa ou boa e todas possuam 15% ou mais de sua populao residindo em municpios em condies ruim ou muito ruim.

    Alguns pontos sobressaem como conclusivos nas anlises e classificaes realizadas. O primeiro de ordem conceitual, provavelmente pela ausncia de parmetros, que vem levando institucionalizao de unidades como metropolitanas em espaos sem indicativos que confirmem esse perfil. Outro ponto, tambm demonstrando carncia de critrios comuns, a extenso dos permetros a um universo de municpios distantes e pouco integrados dinmica da aglomerao.

    Em relao classificao, a posio da RM de So Paulo, no conjunto, indubi-tavelmente a de uma metrpole nacional, j que se distingue sobremaneira dos demais espaos analisados. Quanto s demais, salienta-se que, a despeito da posio na ordem da classificao, de extrema importncia o papel que cada unidade representa como impulsionadora das dinmicas do respectivo Estado e regio, particularmente as polarizadas por capitais poltico-administrativas.

    Enquanto de modo geral se percebem diferenas sociais entre as unidades da poro Norte/Nordeste do pas, da Centro-Sul, colocando em situao de maior precariedade as da primeira poro, na segunda, particularmente no Sudeste, que se encontram os maiores focos de concentrao de contingentes de pobres e de domiclios carentes.

    Essa constatao leva a concluir que, mesmo representando o campo de foras econmicas, sociais e polticas, esses so espaos de conflitos, por atrarem grandes massas populacionais sem responder s suas demandas por ocupao, moradia e consumo de bens e servios. Alternativas de gesto pautadas em boas prticas de governana podem minimizar a perversidade de seus efeitos, desde que no desconsiderem as origens estruturais dos problemas e se apercebam da importncia da dimenso transescalar para enfrentamento dessas demandas e construo de estratgias polticas.

  • Como Anda Curitiba 17

    Captulo 2

    17

    O presente captulo faz parte dos estudos propostos pelo Projeto Metrpoles, Desigualdades Socioespaciais e Governana Urbana,2 que tem como finalidade avaliar de maneira comparativa os impactos do ajuste estrutural e da reestruturao produtiva sobre a dimenso urbano-metropolitana da sociedade brasileira, no contexto de globalizao.

    A pergunta bsica para a qual se volta a pesquisa : em que medida os efeitos negativos da estratgia defensiva de ajuste, neste quadro de recesso prolongada, de crise do setor pblico e de acmulo de desigualdades sociais na escala intrametropolitana poderiam estar se constituindo em obstculos adoo de uma poltica de insero e de reestruturao que combine estabilidade, produtividade e eqidade, levando a economia modernizao e ao desenvolvimento? (PROJETO, 1997).

    O Projeto entende que a insero na economia globalizada e a absoro do novo padro de acumulao baseado na flexibilizao produtiva, este caracterizado por mudanas profundas no paradigma tecnolgico vigente na fase fordista, aprofundaram e transformaram o nexo entre as dinmicas urbana (espacial) e econmica. A inter-

    1 Uma verso preliminar deste trabalho, realizado por Daniel Nojima, Rosa Moura e Sandra Terezinha da Silva, foi apresentada no VIII Seminrio Internacional da Rede Ibero-americana de Investigadores sobre globalizao e territrio, realizado no Rio de Janeiro, em maio de 2004. Alm de integrar os Anais desse Seminrio, consta da srie do Ipardes Primeira Verso, n 3, dez. 2004 (disponvel em http://www.pr.gov.br/ipardes/pdf/primeira_versao/Dinamica_RMC.pdf ).

    2 Desenvolvido em rede nacional sob coordenao do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IPPUR) e do Observatrio das Metrpoles.

  • 18 Conjuntura Urbana Volume 718

    conexo global entre os mercados cambiais e financeiros e o aprofundamento da internacionalizao produtiva; a reorganizao do modelo empresarial e tecnolgico, a formao de redes empresariais e a tendncia terceirizao trouxeram importantes mudanas nos padres locacionais. O novo padro de acumulao, alicerado em um fluxo contnuo de inovaes tecnolgicas e demanda de novos servios, exige que as cidades adaptem sua infra-estrutura e seu meio socioprofissional como condio para o desenvolvimento da base material. A presena ou ausncia desses requisitos implicar a constituio de plos dinmicos da economia globalizada ou a relegar concentrao de atividades de baixa qualificao, realimentando um processo de causao circular, no qual a degradao econmica, social e ambiental reiterada.

    Para compreender os efeitos desse processo, alm da vertente de anlise da rees-truturao econmica, o projeto demarca outras duas grandes reas de atuao: a anlise das transformaes da estrutura socioespacial e das desigualdades intrametropolitanas e a anlise da poltica local e da governana urbana, buscando compreender como, no quadro de ajuste e reestruturao, a segregao urbana e as desigualdades sociais geram mudanas no sistema de atores e na cultura cvica local.

    Especificamente, este trabalho analisa os efeitos da reestruturao produtiva da economia global sobre a dinmica da economia metropolitana de Curitiba, procedendo a uma rpida retrospectiva na emergncia e consolidao desse espao no cenrio econmico paranaense. Com maior detalhe, analisa o movimento da participao dos municpios da Regio Metropolitana de Curitiba no valor adicionado fiscal (VAF) total e setorial do Estado do Paran; avalia as mudanas na estrutura ocupacional e na distribuio das empresas nesses municpios, com base em informaes da Relao Anual de Informaes Sociais (RAIS); discute a desconcentrao da atividade industrial, a partir da aplicao do ndice de concentrao Hirschman-Herfindal (HH) sobre o VAF; e tece consideraes sobre as mudanas no processo de configurao espacial das atividades econmicas na RMC.

    Em termos temporais, o trabalho adota como referncia um perodo abrangente, entre 1970 e 2000, por considerar que ele incorpora grandes transformaes da base produtiva paranaense; porm, aprofunda-se na anlise da ltima dcada, perodo em que houve intensificao do processo de globalizao da economia.

  • Como Anda Curitiba 1919

    Delimita como rea especfica de anlise os 26 municpios que compem atualmente a RMC, instituda originalmente pela Lei Complementar Federal 14/73 e redefinida por legislaes estaduais, configurando um territrio extenso e bastante heterogneo.3

    Por essa circunstncia, originalmente a anlise foi particularizada conforme recortes a partir de classificaes ento em uso no Instituto Paran de Desenvolvimento IPARDES, sintetizadas na figura de anis concntricos, compostas com o objetivo de identificar distintas relaes entre os municpios oficialmente inseridos no territrio poltico-administrativo da RMC, j que os critrios de insero no implicam aderncia ao fenmeno metropolitano. Mais recentemente, a identificao dos nveis de integrao dos municpios dinmica metropolitana substituiu essa compartimentao, resultando em pequenas alteraes aos recortes anteriores, dado que ambas classificaes foram definidas sob referncia e finalidades similares. No caso da RMC, o fenmeno da metropolizao ocorre numa espacialidade central e diminuta, considerando a extenso territorial da Regio. Essa espacialidade, que rene o plo e as pores urbanizadas de seus municpios limtrofes, circunscreve a dinmica metropolitana e formata o aglomerado real.

    Os anos 1970 constituem o marco da transformao do perfil econmico do Estado do Paran, com progressiva diversificao na agropecuria pela modernizao da base tcnica de produo, expanso de culturas, comercializao de commodities e agroindustrializao e, no setor industrial, com a introduo dos ramos modernos na linha da metalmecnica, como parte do processo de desconcentrao da atividade econmica a partir de So Paulo (IPARDES, 2000).

    As atividades do setor primrio, que em 1970 respondiam por mais de 40% do VAF gerado no Estado, progressivamente foram superadas pelas do setor secundrio, que consolidou sua participao atingindo, em 2000, 49,96% da renda econmica estadual.

    A agricultura, em 2000, respondeu por 13,7% do VAF do Estado, mantendo, contudo, papel relevante, dada a dinmica multiplicadora na cadeia produtiva. Em

    3 Vale sublinhar que a RMC o recorte central da mesorregio Metropolitana de Curitiba, que, con-forme delimitao do IBGE, compe-se dos 26 municpios da Regio Metropolitana de Curitiba, oficialmente instituda, alm dos municpios do litoral paranaense e de municpios, ao sul da RMC, na fronteira com o Estado de Santa Catarina, integrando um total de 37 municpios, em 2000.

  • 20 Conjuntura Urbana Volume 720

    2000, 80,45% do valor bruto da produo agropecuria do Paran corresponderam produo de soja, trigo, algodo e milho importantes como commodities e base do segmento agroindustrial de primeiro processamento, bem como dos insumos cadeia protico-animal (IPARDES, 2003b).

    Numa dinmica paralela e inversa observada pelo setor agropecurio, os segmentos da indstria moderna da metalmecnica lideraram uma mudana qualitativa na estrutura industrial do Estado, centrada no aglomerado metropolitano de Curitiba.

    Como resultado da maturao de investimentos dos anos 1970, realizados por mecanismos institucionais de estmulo atividade produtiva, oriundos do extinto Banco do Desenvolvimento do Paran (Badep) e do Fundo de Desenvolvimento Econmico (FDE), os segmentos da metalmecnica passaram a apresentar os maiores ganhos no valor adicionado da indstria de transformao.

    As mudanas dos anos 1970 e 1980 refletiram a vinda de grandes grupos, porm com poucas empresas de grande porte. At ento, no constituam um parque de fornecedores nem desenvolviam relaes intersetoriais mais expressivas.

    Ao final dos anos 1980, a economia paranaense atingiu um patamar qualitativamente distinto, reunindo pr-condies para o desempenho nos anos 1990. Em termos de relaes de troca, cresceu significativamente seu grau de insero na economia brasileira e na economia internacional, dinamizando as vendas e compras nesses mercados tambm ampliados e atribuindo importncia a produtos dos segmentos mais modernos em detrimento dos tradicionais.

    Nos anos 1990, essa estrutura industrial incorporou novos segmentos e, desse modo, criou nova dinmica no Estado. Especificamente, a economia paranaense aproveitou-se, em meados da dcada, das condies macroeconmicas favorveis (estabilizao monetria, retorno do investimento direto estrangeiro etc.), ao implementar uma poltica de atrao industrial, baseada no resgate do FDE, que se combina a importantes vantagens locacionais endgenas, como proximidade do mercado do sudeste e do Porto de Paranagu, a oferta de infra-estrutura em termos de energia, telecomunicaes, aeroporto internacional e rodovias, dentre outras.

    Esse conjunto de fatores propiciou um ciclo de expanso de empresas de grande porte no Estado, em particular das sediadas na RMC, alm da introduo de segmentos modernos.

  • Como Anda Curitiba 2121

    Nesse sentido, destaca-se a instalao de grandes montadoras (Renault, com investimentos de US$ 1,12 bilho; Volkswagem/Audi, com US$ 750 milhes; e Chrysler, com investimentos de US$ 315 milhes esta j tendo encerrado suas atividades),4 e a expanso das atividades de empresas j existentes (Volvo, New Holland, Krone e Bosch). Essas polticas resultaram o adensamento do segmento metalmecnico do gnero de transporte no Estado e tambm a atrao de grande nmero de fornecedores e empresas complementares.

    Em termos regionais, o conjunto de polticas implementadas ao longo da dcada de 1990 constituiu-se em elemento fundamental para a insero do Paran na dinmica espacial da economia brasileira. Parte significativa dos investimentos vem ocorrendo no setor automotivo, com capacidade de gerao de efeitos endgenos diretos e indiretos, especialmente no Setor Servios (MACEDO et al., 2002).

    A linha de atuao adotada reforou o aglomerado metropolitano, pela concentrao dos investimentos econmicos realizados particularmente nos municpios de So Jos dos Pinhais, que sedia a localizao das duas maiores montadoras (Renault e Volkswagem/Audi), Campo Largo (onde se localizava a Chrysler), Araucria e Curitiba, dentre outras. Tal concentrao alterou substancialmente o perfil da economia metropolitana, com transformaes socioespaciais e efeitos ambientais marcantes. O fato de a quase totalidade dos investimentos de natureza estruturante ocorrer no aglomerado metropolitano e estar centrada na indstria metalmecnica, sinaliza para o carter concentrador do desenvol-vimento econmico do Paran e reitera sua posio receptora diante do movimento de desconcentrao concentrada, no que se refere economia brasileira.

    Acompanhando o reforo atividade industrial, os setores comrcio e servios tambm se espraiaram entre os municpios do aglomerado metropolitano, alguns dividindo as ocupaes em atividades da indstria e do setor tercirio. Excetuando-se o Municpio de So Jos dos Pinhais, que se apresenta como nova centralidade desse espao regional, tais municpios funcionam como extenses do uso e ocupao de Curitiba e tm como caracterstica principal o papel de dormitrio. Essa funo faz com que seja possvel consider-los parte de Curitiba a despeito dos limites territoriais , especialmente no que se refere ao mercado de trabalho, que o elemento unificador desse conjunto.

    4 A unidade da Chrysler instalada em 1998 foi desativada em 2001. Em 2002, a Tecumseh comprou as instalaes planejando implantar uma fbrica de motores a combusto, de modo que Campo Largo deve adquirir novo perfil nos prximos anos.

  • 22 Conjuntura Urbana Volume 722

    A trajetria desenvolvida pela economia paranaense, embora consolide o aglomerado metropolitano e sedimente nessa espacialidade os mais notrios indicadores de desempenho, reserva para outras regies do Estado dinmicas especficas e, tambm, expressivas, como ocorre com o agronegcio ou com atividades que resultam de desdobramentos da estrutura produtiva local. Mesmo assim, persistem as diferenas inter-regionais, dada a seletividade do capital por espaos dotados de externalidades infra-estruturais e aparato tecnolgico.

    A importncia auferida pela RMC e as caractersticas de sua atividade econmica lhe confirmam como um dos elos da rede de ncleos dinmicos cada vez mais integrada e articulada com o exterior a qual est passando a definir o processo de criao de riquezas na economia brasileira (MACEDO et al., 2002, p.18).

    Por tudo isso, dos 26 municpios da RMC, 11 vm apresentando crescimento da populao superior mdia do Estado desde 1970, e trs desde 1980 (IPARDES, 2004a). Entre 1991 e 2000, os municpios com as mais elevadas taxas de crescimento populacional do Estado situavam-se nessa Regio, com destaque para Almirante Tamandar, Colombo e So Jos dos Pinhais, com taxas superiores a 5% a.a. nos trs intervalos censitrios, e Fazenda Rio Grande e Piraquara, com taxas prximas ou superiores a 10% a.a. no intervalo mais recente. Embora alguns municpios tenham apresentado taxas de crescimento negativas em determinados momentos do perodo, estas sempre se fizeram seguir por recuperao.

    Paralelamente a essa dinmica, cresceu a populao rural da maioria dos municpios da RMC, numa demonstrao de reconverso de suas atividades ditada pelas oportunidades do mercado metropolitano, assim como da presso por ocupaes com caractersticas urbanas, em reas ainda consideradas rurais por situarem-se fora do permetro urbano dos municpios. Em 2000, a RMC concentrava 11,5% da populao rural do Estado e apresenta essa populao tambm em crescimento desde os anos de 1980.

    Na primeira metade dos anos 1970, os municpios da RMC dividiam, em desvantagem com os da mesorregio Norte Central, a maior participao na renda da economia do Estado.5 Com as mudanas no perfil industrial paranaense, fortemente centradas em

    5 Essa trajetria pode ser acompanhada no comportamento da participao das mesorregies paranaenses, considerando que a RMC responde pela quase totalidade da participao da mesorregio metropolitana.

  • Como Anda Curitiba 2323

    Curitiba, a RMC passou a apresentar participao crescente. Em 2003, a RMC respondia por 53,2% do VAF do Paran, e metade dessa renda era gerada por Curitiba, que se destaca como o plo industrial e de servios do Estado.

    Poucos municpios da Regio se inseriram nesse processo, e apenas alguns acom-panharam a mudana do perfil industrial. Uma anlise dessa insero, considerando as distintas espacialidades que caracterizam a Regio Metropolitana, confirmam essa situao. Curitiba, ao longo de duas dcadas, dobrou sua participao no VAF estadual de 13,47%, em 1975, para 25,67%, em 1996, passando a perder posio no final da dcada, quando atingiu, em 2000, 19,89%, e retomando sua posio em 2003, com participao de 26,6% (Tabela 2.1). Em 1975, vinha seguida por Rio Branco do Sul situado entre os municpios com nvel baixo de integrao na dinmica metropolitana que, mesmo assim, registrava participao inferior a 1%. No total, naquele ano a RMC respondia por 17,1% do VAF paranaense.

    A expanso de Curitiba envolveu tangencialmente alguns dos demais municpios da RMC. Em destaque, Araucria alcanou a segunda maior participao da Regio no VAF estadual, devido implantao da Refinaria Getlio Vargas, da Petrobras. Em 1975, sua participao era de 0,3% do VAF do Paran (Mapa 2.1), elevando-se para 13,2%, em 1980, valor muito prximo ao de Curitiba, 15,8%. Em 1980, Araucria era responsvel pela quase totalidade da gerao da renda da RMC, elevando de 0,4% para 13,4% a

  • 24 Conjuntura Urbana Volume 724

    participao do conjunto de municpios com nvel de integrao alto. Ao contrrio do que era esperado, no houve grandes desdobramentos em novos investimentos nas atividades dessa refinaria. Contudo, a criao do Centro Industrial de Araucria (Ciar), naquele momento, favoreceu a agregao de outras atividades que garantiram ao municpio posio de destaque na participao do VAF.

    Entre todos os demais, apenas Campo Largo, no conjunto de nvel mdio de integrao, superava 1%. O total da participao regional atingia, ento, 33,5%. Ao longo da dcada de 1980, So Jos dos Pinhais suplanta a posio de Campo Largo, colocando-se como o terceiro municpio em gerao de renda na economia metropolitana e tornando significativa a participao do conjunto com nvel muito alto de integrao posio que se mantm nos anos 1990 e na virada do sculo.

    Esse conjunto de municpios com participao econmica relevante na composio da renda do Estado pode ser dividido em dois grupos: aqueles que j possuam uma estrutura produtiva, nos moldes tradicionais, e que incorporam novos segmentos como So Jos dos Pinhais (6,6%, em 2003, mantendo participao em ritmo crescente superior a 1% desde 1985) e Campo Largo (1,3%); e aqueles que incorporaram essas atividades como numa extenso fsica de Curitiba caso de Pinhais (1,2%) e Colombo (0,8%), cuja ocupao e usos do solo decorreram de um extravasamento do plo.

    Rio Branco do Sul (1% em 2000 a maior participao entre os municpios fora do aglomerado metropolitano, ou seja, aqueles com nveis entre mdio e muito alto de integrao), diferentemente, pauta sua representatividade econmica na fabricao de cimento, em virtude da disponibilidade da matria-prima.

    Esses ndices confirmam a primazia de Curitiba e a incluso, de forma restrita, de alguns municpios de seu entorno imediato na dinmica econmica recente. No ano de 2003 a RMC galgava a participao de 53,2% no total do VAF do Estado, mantendo a liderana de Curitiba (26,6% do total paranaense).

    No mbito setorial, a participao no VAF tem origem diversificada entre esses municpios. O peso da participao de Curitiba advm dos servios e secundariamente do comrcio. Araucria mantm sua posio em decorrncia da indstria, assim como Campo Largo e Rio Branco do Sul; So Jos dos Pinhais divide o peso da gerao da renda entre os setores indstria e servios; e Pinhais distingue-se pelo comrcio.

  • Como Anda Curitiba 2525

    Em 2003, a RMC concentrou 59,5% do VAF da indstria do Paran; 40,8% do VAF do comrcio e 55,6% do VAF dos servios (Tabela 2.2). Enquanto na indstria e no Comrcio essa participao manteve um acrscimo de menos de 10 pontos percentuais no intervalo 1989/2003, nos servios apresentou crescimento de 17,5 pontos percentuais. O plo metropolitano teve, no perodo, reduo da participao no VAF da indstria, confirmando o padro evidenciado nas demais metrpoles brasileiras, com notria queda de 28,6% para 17,3%. Em contraposio, o setor de servios cresceu continuamente no perodo, partindo de 22,7% para 43,9%.6

    Entre 1996 e 2003, os municpios com nveis muito alto e alto de integrao absorveram parcela expressiva das plantas industriais que se instalaram na RMC, reforando sua participao no VAF da indstria paranaense de 16,3% para 35,8%. Essa participao representada especialmente por Araucria e So Jos dos Pinhais, porm,

    6 Observa-se que o dado do valor adicionado fiscal tem abrangncia limitada nos setores Agropecurio e de Servios, sendo mais preciso entre aqueles que transacionam mercadoria, em virtude das exigncias tributrias diferenciadas entre os setores.

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    no descartvel o papel de Campo Largo (nvel mdio de integrao) nesse processo de absoro. Mesmo com proporo bastante inferior, esse setor da economia tambm adquiriu importncia significativa entre os municpios de nvel baixo de integrao, tendo maior representatividade no municpio de Rio Branco do Sul.

    Acompanhando a tendncia de transformao no perfil da economia da Regio, tambm houve crescimento dos setores comrcio e servios no conjunto de nvel de integrao muito alto e alto. Nesses setores, predomina a participao do municpio de So Jos dos Pinhais, que desponta com a segunda maior participao regional no VAF dos servios em 2003, depois de Curitiba.

    O setor agropecurio aquele no qual incide a principal contribuio dos municpios de nveis baixo e muito baixo de integrao, onde se localizam os produtores de frutas, principalmente ctricas, e de madeira para corte. Enquanto a participao do conjunto regional no VAF setorial do Estado era de 5,1%, em 2003, o valor bruto da produo (VBP) de olercolas j se situava em 5,88% no binio 1998/1999, correspondendo a 40,91% do total do Estado, fortemente representado pela produo de Colombo (17,06% do total do Paran) e de So Jos dos Pinhais (7,33%). No mesmo perodo, a Regio deteve 18,11% do VBP das flores, em grande parte produzidas em Curitiba; 17,04% do VBP das frutas, com destaque para a produo oriunda de Cerro Azul; e 15,94% do VPB da madeira no Paran, com incidncia nos municpios da Lapa, Doutor Ulysses e Cerro Azul.

    O PIB municipal na RMC,7 embora apresente um perfil menos concentrado no plo, com 49% do total regional de 2002, distribui-se mais significativamente em apenas dois outros municpios: Araucria e So Jos dos Pinhais, cada um com 16% de participao. Somados aos demais municpios com nvel muito alto de integrao na dinmica da aglomerao respondem conjuntamente por 73% da renda gerada na Regio (Tabela 2.3).

    7 A anlise do PIB municipal inclui-se nesta verso do estudo para permitir comparabilidade com as demais RMs analisadas na srie Como Anda a Metrpole.

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    Seguem, em ordem de importncia, os municpios de Pinhais (3,3% do PIB regional), Colombo (2,8%) e Campo Largo (2,6%). Nos demais, o PIB municipal apresenta valores significativamente mais modestos.

    Verifica-se, no entanto, que a maior parte dos municpios da Regio apresentou variao real mdia positiva para o PIB no perodo 1999-2002. As maiores taxas de variao so encontradas nos menores municpios, menos integrados ao plo metropolitano e cujo principal componente na formao do PIB a atividade agropecuria. Este o caso de Quitandinha (24%), Tijucas do Sul (19%), Agudos do Sul (15%) e, em menor intensidade, Contenda (9%) e Lapa (4%). So municpios de base econmica rural, em torno da qual orbitam atividades industriais e de servios, e com populao inferior a 20 mil habitantes, exceto no caso da Lapa que abriga uma populao de 41,5 mil habitantes. Outros municpios que apresentaram variao real expressiva no perodo foram Araucria (10%), So Jos dos Pinhais (9%), Almirante Tamandar (8%), Quatro Barras (7%) e Fazenda Rio Grande (6%), mais prximos e mais integrados dinmica do plo, alm de Rio Branco do Sul (6%), entre os mais distantes. Os demais municpios da Regio tiveram variaes menores que 5% e at mesmo negativas para o PIB, inclusive Curitiba com uma variao de -4,2%.

    Embora seja significativo o grau de concentrao populacional, o mesmo se relativiza na observao do PIB per capita, na medida em que reflete com mais intensidade o significado da base econmica de alguns municpios, notadamente daqueles que, ao longo dos anos 1990, diversificaram sua base produtiva, incorporando atividades econmicas urbanas e fortalecendo o setor industrial, como o caso de Araucria e So Jos dos Pinhais.

    Com menor intensidade, mas de forma extremamente relevante, a presena de uma grande empresa industrial interfere fortemente no VAF e no PIB per capita de

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    municpios como Balsa Nova, Quatro Barras e Rio Branco do Sul, nos quais o contingente populacional relativamente reduzido. Destaca-se ainda o caso de Mandirituba e Lapa, com PIB per capita prximo ao de Curitiba, mas cuja atividade econmica principal vincula-se agroindstria, e de Pinhais, com valor pouco superior ao da capital. Os demais municpios da RMC apresentam PIB per capita inferior ao observado para a cidade plo, sendo os menores valores encontrados em Piraquara rea de preservao de mananciais de abastecimento de gua para toda a Regio e com srias restries de implantao de atividades econmicas em seu territrio e Itaperuu, municpio dormitrio.

    Esses municpios podem ser considerados os que promovem a dinmica da economia metropolitana. Porm, no pode ser descartado o suporte de outros municpios que desempenham a funo de dormitrios a elevados contingentes da populao que opera essa dinmica por meio do trabalho e do consumo. o caso de Colombo e Almirante Tamandar, com mais de 100 mil habitantes, e de Piraquara e Fazenda Rio Grande, com populao estimada para 2004 de, respectivamente, 94,2 e 83,3 mil habitantes.

    Desses, Fazenda Rio Grande e Piraquara apresentaram as maiores taxas de crescimento da RMC, em torno de 10% a.a., entre 1991 e 2000; os demais se enquadraram na faixa entre 4,9% a.a. e 5,7% a.a., exceto Curitiba e Campo Largo, com taxas de 2,1% a.a. e 2,8% a.a., respectivamente (ver Tabela 1.2). Isso significa que esses municpios e outros de menor porte mas similar padro de crescimento, portanto referncias de ocupao em processo, vm representando opo de chegada aos fluxos migratrios que buscam a metrpole, ampliando os limites do recorte de insero na dinmica da aglomerao.

    So tambm representativos do movimento pendular, j que desenvolvem fluxos intensos de deslocamentos para trabalho e estudo fora do municpio de residncia, entre 32,6% e 41,9% do total da populao que estuda ou trabalha exceto So Jos dos Pinhais (18%), Araucria (15,9%) e Campo Largo (14,4%) , potencializando um movimento de circulao expressivo em uma rea relativamente pequena diante da extenso territorial da RMC.

    Alguns desses municpios desempenham tambm funes de subcentros regionais, oferecendo mais opes para permanncia de sua fora de trabalho, o que interfere no fluxo do movimento pendular. Campo Largo, revelando a posio desempenhada nos anos 1980 e incio dos 1990, foi apontado no estudo sobre a regio de influncia das cidades (IBGE, 2000) como a nica centralidade, alm de Curitiba, por ser patamar intermedirio na polarizao de Balsa Nova, no oeste da RMC. Leituras da rede urbana

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    do Brasil nos anos 1990 j sinalizaram para a ascendncia de So Jos dos Pinhais como a nova subcentralidade metropolitana (IPARDES, 2000). Apontamento que se confirma no fato de que esse centro vem superando em nmero de funes e no dinamismo do setor Servios o papel de Campo Largo (OBSERVATRIO, 2005c).

    Com exceo de Campo Largo, que se classificou no nvel mdio, e Rio Branco do Sul, no nvel baixo, os demais foram classificados nos nveis muito alto e alto de integrao na dinmica metropolitana. Essa classificao confirma que a RMC incorpora em sua mancha de ocupao e de distribuio de funes que impulsionam a dinmica da aglomerao, municpios que sustentam a economia, seja desenvolvendo atividades e respondendo por funes especficas, seja abrigando a fora de trabalho que mantm essa dinmica.

    Ao longo da dcada passada, as economia paranaense e, em particular da Regio Metropolitana de Curitiba, sofreu fortes ajustes em suas estruturas produtivas, caracte-rizadas por reorganizao de processos, aumento nos nveis de eficincia e de qualidade das empresas, alm do redimensionamento de capacidade instalada em diversos ramos industriais (NOJIMA, 2002).

    Esses ajustes ocorreram intensamente na primeira metade do perodo, por um vis defensivo, derivado da recesso profunda do pas no primeiro trinio e da progressiva recuperao dos nveis de produo, tendo prosseguido ao longo da segunda metade, ento determinados pela consolidao do processo de abertura comercial iniciado ao final dos anos 80. No obstante, o Paran, e especialmente a RMC, foi contemplado por significativo pacote de investimentos, que determinou a ampliao quantitativa e qualitativa e a diversificao de sua base industrial.

    Esse processo dual de ajustamento versus expanso moldou a composio do valor adicionado industrial da Regio, de modo que a natureza dos investimentos e oscilaes conjunturais determinaram, respectivamente, notrios avanos dos gneros de material de transporte e qumica (Tabela 2.4). Ao mesmo tempo, fatores locacionais explicaram os declnios de participao no VAF, de produtos alimentares, bebidas e fumo, enquanto

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    impactos diferenciados da abertura econmica justificaram o desempenho em vesturio, txtil e material eltrico, que esboaram alguma recuperao na dcada.

    O crescimento de material de transporte reflete a instalao das montadoras de automveis de passeio e utilitrios, ao passo que em qumica a ampliao do valor adicionado fiscal industrial traduziu, em medida importante, o forte aumento de preos do petrleo no mercado internacional a partir de 1995. O gnero material eltrico e de telecomunicaes recuou, devido posio menos competitiva de segmentos vinculados telefonia, durante a fase ps-privatizao dos servios e de segmentos de bens de informtica, diante da produo importada. O declnio de participao de gneros mais tradicionais, como alimentos, bebidas e fumo, aponta para a tendncia de consolidao do crescimento destes fora dos limites da RMC, no perodo analisado.

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    Apesar de estarem longe de representar declnio permanente na RMC a exemplo da substituio da produo de fumo, levada ento pela Phillip Morris, e de chocolates e sucos em p, pela Lacta as tendncias observadas em alimentos, txtil, fumo etc. apenas reforaram o perfil consolidado na RMC, dado pela sobreposio de atividades industriais de maior contedo tecnolgico, instadas na metalmecnica e qumica, sobre as mais tradicionais, como as de produtos alimentares.

    Naturalmente, essa trajetria implicou um novo processo de rearranjo espacial da indstria da RMC, com sua base principal formada por empresas como Bosch, Siemens, Volvo, entre outras instaladas a partir dos anos 1970, na Cidade Industrial de Curitiba e em Araucria, alm de alguns ramos de extrao mineral e minerais no-metlicos em Rio Branco do Sul, Almirante Tamandar e Balsa Nova.

    Inicialmente, uma considerao do fluxo das intenes de investimentos para novos empreendimentos ou para modernizao e ampliao de antigas empresas percebido pela Regio durante a segunda metade dos anos 90 revela sua razovel distribuio por 15 entre os 26 municpios, tendo sido em essncia aquelas vinculadas indstria automobilstica preferencialmente direcionadas Curitiba (que dominou cerca de 33,1% das intenes), So Jos dos Pinhais, Quatro Barras, Campo Largo e Araucria (Tabela 2.5). No obstante, indica a ocorrncia de uma gama de investimentos de menor porte em vrios outros municpios do entorno, com destaque a Campina Grande do Sul, Balsa Nova e Mandirituba.

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    Os dados de VAF corroboram as informaes de investimentos para a Regio, apontando para uma desconcentrao do plo aos municpios com nveis entre mdio e muito alto de integrao. Uma anlise mais acurada nesse sentido, utilizando o ndice de concentrao Hirschman-Herfindal (HH)8 sobre o VAF, mostra trs movimentos importantes de deslocamento da expanso industrial (Tabela 2.6). O primeiro corresponde a uma desconcentrao efetiva com o declnio de 26,5% do HH para o conjunto da RMC de 37,5 em 1990, para 27,6 em 2000 , confirmando a queda da importncia de Curitiba e Araucria.

    8 O Hirschman-Herfindal (HH) um indicador de concentrao, que varia entre 0 (nenhuma concen-trao) e 100 (concentrao plena). Sua frmula dada pela soma dos quadrados da participao no conjunto de uma populao: H = Z wi

    2, em que wi= participao relativa de cada unidade no conjunto da populao. No presente caso, o indicador est mensurando a concentrao do VAF entre os municpios da RMC, de forma escalonada, retirando gradativamente do clculo os municpios maiores.

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    O segundo, que exclui os dois municpios supracitados, revela um aumento de 74,2% da concentrao, indicando que o resultado prtico da difuso dos investimentos direcionou-se a poucos municpios particularmente a So Jos dos Pinhais, que, com a excluso de Curitiba e Araucria do clculo do ndice, respondeu por 52% do VAF da RMC em 2000.

    O terceiro movimento, dado pela excluso progressiva dos trs municpios maiores, novamente de desconcentrao, contudo a taxas gradativamente menores (de -26,7% at -3,8%). Isso aponta para um esgotamento do processo de difuso industrial do ciclo de investimentos da dcada passada, em alguns poucos municpios de maior porte e j com maior participao na dinmica da economia da RMC, refletindo o reforo da posio de municpios vinculados a minerais no-metlicos (Rio Branco do Sul e Balsa Nova) e o crescimento, de fato, de municpios como Campo Largo, Pinhais, Colombo e Quatro Barras.

    Todo esse processo foi capitaneado pelo complexo metalmecnico, no qual a implantao das unidades da Audi/Volks, Renault/Nissan, Chrysler e unidades fornecedoras imediatas espraiou-se de Curitiba para Pinhais, Quatro Barras, So Jos dos Pinhais e Campo Largo, que responderam, em conjunto, por 57,3% do VAF do gnero de material de transporte em 2000. Alm disso, esses mesmos municpios absorveram ou reforaram outras funes produtivas nos gneros da metalurgia, da mecnica e de material eltrico e de telecomunicaes, com destaque para Pinhais e So Jos dos Pinhais: em 2000, o

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    primeiro deteve 8,5% da metalrgica, 6,5% da mecnica e 2,6% de material eltrico; e o segundo, respectivamente, 7,7%, 4,6% e 12,1%.

    Os municpios dos demais nveis de integrao permaneceram estagnados ao longo do perodo, tendo, inclusive, os de nvel muito baixo reduzido sua indstria metalrgica em decorrncia do fechamento da Plumbum (beneficiamento de minrio de chumbo) em Adrianpolis.

    No complexo qumico, reforou-se a posio de Araucria (com 65,19%, em 1990, para 71,2% do VAF do gnero, em 2000) e, conseqentemente, do conjunto de nvel alto de integrao, em virtude da atividade de refino de petrleo. Contudo, vale destacar do ponto de vista intra-complexo o espraiamento da indstria de matria plstica do plo, que concentrava, em 1990, 33,2% do VAF, em direo, particularmente a Pinhais, So Jos dos Pinhais e Quatro Barras, que juntos somaram 41,7% do VAF do complexo em 2000.

    Os complexos agroindustrial e madeireiro perderam participao no conjunto industrial da RMC, em razo, em parte, do deslocamento do dinamismo de crescimento para outras regies do Estado e, em parte, do crescimento mais acelerado das atividades da metalmecnica. Tanto assim que gneros, como o de alimentos, mantiveram sua participao em torno de 20% no total do Estado ao longo do perodo, enquanto o txtil ampliou de 8,1%, em 1990, para 14,4%, em 2000.

    As implantaes da Tafisa, em Pin, e da Placas do Paran, em Jaguariava ambas fora da RMC , exemplificam a desconcentrao do ramo da madeira no Estado. Apesar disso, municpios dos nveis mdio a muito alto de integrao ampliaram o gnero madeira na RMC, com forte aumento de participao no VAF em Araucria (de 1,2% para 7,6%) e com ampliaes menores em municpios como Pinhais, Fazenda Rio Grande, Contenda e Bocaiva do Sul. J os gneros papel e papelo e mobilirio perderam participao, sem apresentar qualquer movimento relevante de desconcentrao na Regio.

    No complexo agroindustrial, so claros os sinais de menor dinamismo nos gneros de confeces, bebidas e fumo na RMC comparativamente ao Estado, tendo o ltimo sido influenciado pelo fechamento da unidade de processamento de fumo em Araucria. Entretanto, em outros gneros do complexo, como o de alimentos, que manteve o dinamismo, ocorreu uma difuso, ainda que tmida, dos investimentos em vrios municpios de todos os nveis de integrao. J a ampliao do txtil, provavelmente associada ao fornecimento

  • 36 Conjuntura Urbana Volume 736

    indstria automobilstica da RMC (tapetes e carpetes), procedeu com concentrao em Curitiba, que, sozinha, respondeu, em 2000, por 10% do VAF do gnero no Estado.

    A indstria de minerais no-metlicos cresceu no conjunto de nvel baixo de integrao, devido, principalmente, expanso da indstria cimenteira de Balsa Nova e Rio Branco do Sul, modernizada e ampliada ao longo da dcada. Em 2000, esse municpio respondeu por quase 39,9% do VAF do gnero. De qualquer modo, importante notar algumas expanses marginais em Fazenda Rio Grande, Araucria, Pinhais, Quatro Barras e Itaperuu, que apresentaram alguma evoluo do VAF nesse gnero.

    Portanto, no contexto geral de acentuao do perfil metalmecnico e qumico da RMC, houve, em alternativa ao plo curitibano, a conformao de novas reas industriais, porm limitada a alguns municpios do seu entorno, nos nveis de integrao entre mdio e muito alto. Os municpios do nvel baixo de integrao, Rio Branco do Sul e Balsa Nova, mantiveram sua expresso industrial atrelada a apenas um tipo de indstria, no apresentando qualquer tendncia diversificao. A maior parte dos demais municpios incluindo-se a os de todos os nveis de integrao permaneceu com pouca expresso industrial, reduzida capacidade endgena de investimento e poupana e de atrao de recursos externos.

    Embora, na dcada de 1990, o maior montante de investimentos no Paran tenha se centrado no setor industrial, ocorreram mudanas significativas nos demais setores econmicos, especialmente na RMC, que absorveu maior volume das inverses pblicas e privadas. A instalao de novos e mais modernos empreendimentos ampliou a demanda por servios e produtos de maior especializao, muitos dos quais viabilizados por capital internacional e voltados ao mercado global.

    Dessa forma, vrios segmentos dos setores servios e comrcio foram internacionali-zados, como os supermercados, hotis, agncias de publicidade, telecomunicaes e outros, incrementando as relaes principalmente de Curitiba com outras cidades brasileiras e com o exterior (FIRKOWSKI, 2001). Prova dessa nova insero econmica o aumento na movimentao do aeroporto Afonso Pena, situado em So Jos dos Pinhais, que teve de ser ampliado e modernizado para suportar o trnsito crescente, tanto no que se refere ao nmero de passageiros e aeronaves como ao volume de cargas.

  • Como Anda Curitiba 3737

    A importncia da RMC nas atividades do tercirio paranaense j era evidente em 1996, quando respondia por 46,07% do VAF do comrcio e por 44,78% dos servios. Em 2000, enquanto no setor de servios houve um salto importante para 72,37%, a participao no setor comrcio ficou praticamente inalterada em 46,18%. O que chama a ateno o carter concentrador das atividades desses setores, internamente Regio. Em 2003, Curitiba apresenta uma suave retomada na participao no VAF da indstria e relativa queda nos servios. Na Regio como um todo, a participao da indstria no Estado cresce substantivamente e tambm declina a participao nos servios.

    Embora a RMC tenha forte peso na atividade industrial, em se tratando da gerao de empregos, o setor tercirio da economia, em relao indstria, tem o triplo de ocupaes. No tercirio, a participao mais relevante do setor de servios, que tem apresentado maior capacidade de gerao de postos de trabalho, quer pela forte representao do poder pblico, quer pelo setor privado, no atendimento s crescentes demandas do consumidor individual, familiar e empresarial. O incremento na oferta de postos de trabalho nesse setor acompanha o desenho de distribuio do VAF, com a maior insero desses postos em Curitiba.

    Tal fenmeno se repetiu em relao ao comrcio, que, em 1990, estava concentrado em Curitiba, sofrendo pequena diminuio de participao em 2000, cuja diferena foi capturada pelos municpios de nveis alto e muito alto de integrao dinmica metropolitana.

    Nos servios, o municpio de maior expresso na gerao do VAF do setor foi So Jos dos Pinhais, enquanto no comrcio, alm deste, sobressai ainda Araucria e Pinhais. Em termos de ocupao, destacam-se tambm Colombo e Quatro Barras.

    Na medida em que se afastam do plo metropolitano, os municpios passam a registrar maior nmero de empregos formais nos setores comrcio e servios, que nos demais setores, como o caso dos municpios que se inserem nos nveis baixo e muito baixo de integrao. Na mdia, eles registraram mais de 40% de seus empregos no setor de servios. Por outro lado, observa-se que o VAF desse setor foi baixo na maior parte dos municpios, o que indica que os postos de trabalho de servios ocorreram no poder pblico, principalmente nas prefeituras municipais.

    Ainda em relao ao setor de servios, as atividades que agregam maior valor esto localizadas em Curitiba, que se encontrava em posio privilegiada, e nos municpios de nveis muito alto e alto de integrao. Curitiba concentrava, em 2000, mais de 70% do

  • 38 Conjuntura Urbana Volume 738

    VAF regional dos segmentos alojamento e alimentao, e servios prestados s empresas, e entre 96% e 100% em correio e telecomunicaes, informtica, intermediao financeira, e outros servios. Somente no segmento transportes e em atividades imobilirias o conjunto dos municpios de nveis mdio a muito alto de integrao apresentou participao superior de Curitiba. Na medida em que se afasta do plo, as participaes dos municpios no valor adicionado setorial diminuem, com registros mais freqentes e significativos apenas no segmento alojamento e alimentao.

    Destaca-se, entretanto, que, de modo geral, a informalidade nesse Setor tambm bastante alta, denunciando que sua participao na economia regional pode ser maior do que a captada pelos organismos oficiais (SILVA e MOURA, 2003).

    No Comrcio, a maior insero da RMC ocorreu no segmento comrcio por atacado, fortemente localizado nesse mesmo conjunto, impulsionada principalmente pelos municpios So Jos dos Pinhais, Pinhais, Colombo e Campo Largo. Nesse segmento, Curitiba registrou participao de 36,32% do VAF.

    No comrcio e reparao de veculos e comrcio varejista, Curitiba contribua, respectivamente, com 78,28% e 83,98% do VAF desses segmentos na RMC. O conjunto de municpios de nveis de integrao entre mdio e muito alto aparecia tambm com expressivas participaes, porm sem atingir a supremacia que ocorria no comrcio por atacado.

    Diferentemente do setor de servios, no qual poucas atividades ocorrem genera-lizadamente nos municpios, os segmentos do setor comrcio funcionam de forma mais abrangente em todos os nveis de integrao. O segmento comrcio por atacado o nico que assume maior peso nos municpios dos nveis de integrao alto e muito alto, em detrimento de comrcio e reparao, influenciado pelo comportamento do municpio de Araucria, com uma gerao de valor adicionado superior at mesmo de Curitiba.

    Cabe destacar que a concentrao do segmento comrcio varejista em Curitiba decorreu tanto da implantao de grandes estabelecimentos como da aquisio de importantes redes locais e regionais por grandes grupos nacionais e internacionais. Disso resultou a ampliao de uma rede de fornecedores, com extenso nos horrios de atendimento, adoo de novos mtodos de trabalho e ampliao e diversificao de produtos. O impacto no mercado de trabalho foi tambm significativo, visto que as lojas apresentam maior porte, ocupando mais de 500 funcionrios, nmero difcil de ser obtido por outras atividades econmicas.

  • Como Anda Curitiba 3939

    No perodo de 1990-2003, com base em informaes da RAIS,9 houve criao de 593.974 empregos formais no Paran, o que significou um aumento de 46,1%, e 184.514 deles ocorreram na Regio Metropolitana de Curitiba (ou seja, 31,1%). Em termos de participao no total do emprego estadual, essa Regio apresentou inflexo de 46%, em 1990, para 41,3%, em 2003 (Tabela 2.7).

    Considerando o espao institucional compreendido pela RMC, o incremento do perodo foi distribudo 45,9% no plo e 40,4% entre os municpios com nvel de integrao muito alto. A anlise dos dados de 1995 demonstra que tal distribuio ocorreu diferentemente ao longo da dcada. Enquanto o plo foi o principal gerador de empregos formais entre 1990 e 1995 (83,11% dos empregos gerados no perodo), tal posio passa a ser assumida pelos municpios de nvel de integrao muito alta, a partir da segunda metade da dcada.

    9 A RAIS um registro administrativo com boa cobertura do emprego formal no Brasil. Entretanto, h que se considerar que essa cobertura, e o potencial para representar a dinmica do mercado de tra-balho, varivel conforme a escala de anlise. Esse potencial menor principalmente em relao aos municpios de pequeno porte, os quais so, geralmente, mais dependentes de atividades agropecurias, marcadas por maior informalidade.

  • 40 Conjuntura Urbana Volume 740

    preciso lembrar que o perodo em anlise os anos 1990 foi marcado pelo baixo desempenho do mercado de trabalho, fato que, apesar das particularidades regionais, atingiu as diversas regies do Brasil. As taxas de crescimento anual mdio do emprego formal, no perodo 1992-1999, foi de apenas 1,7%, para o Brasil, e de 1,0%, para o atual conjunto de regies metropolitanas brasileiras. Os dois anos iniciais da dcada foram de reduo do emprego formal. Nesse sentido, quando se destaca o crescimento do nvel de emprego no pas, h que se ter em conta que se trata de desempenho bastante medocre comparativamente a outros perodos ps-anos 1970, inclusive mais recentemente, aps a desvalorizao cambial de 1999.

    Em se tratando da estrutura do emprego formal, percebe-se que esse crescimento se refletiu em todos os setores, exceo da construo civil, setor que eliminou 1,5 mil postos de trabalho entre 1995 e 2000. O maior aumento, em termos absolutos e relativos, no emprego formal da Regio ocorreu no setor de servios, acompanhado do comrcio.

    O setor industrial, embora tenha registrado acrscimo de postos formais de trabalho, com variao de 29,2% entre 1990 e 2003, obteve decrscimo acentuado quanto participao no total do emprego formal no conjunto com nvel de integrao muito alto e no plo. Apresentou crescimento de aproximadamente 0,5 pontos percentuais no conjunto de nvel mdio e manteve-se com suave declnio nos demais (Tabela 2.8). Enquanto a RMC perde participao do emprego formal industrial no total do emprego formal, o Paran mostra sinais de aumento; no perodo, a RMC teve uma variao de 29,2% da ocupao industrial, e o Paran, de 56%.

  • Como Anda Curitiba 4141

    Neste setor foram observadas diminuies de empregos formais em Curitiba (-5,196). Os municpios inseridos no nvel muito alto de integrao foram os que obtiveram os maiores ganhos, confirmando um espraiamento da atividade a partir do plo. Essas mudanas foram mais acentuadas na segunda metade da dcada. Cabe apontar que esse crescimento constatado deve-se, particularmente, indstria de material de transporte, que, no perodo 1996-2001, teve um significativo aumento de postos de trabalho na Regio (IPARDES, 2004a). A indstria est presente em sete municpios da RMC, concentrando-se, porm, em Curitiba e So Jos dos Pinhais. Araucria e Piraquara, com nvel alto de integrao e que mostraram crescimento no emprego formal, mantendo a atividade na Indstria praticamente no mesmo patamar do incio dos anos 1990.

    Com relao aos municpios de nvel muito baixo de integrao, as limitaes apresentadas pela RAIS, particularmente no que se refere ao setor agropecurio, obscurecem o peso desse setor para alguns municpios. Dados do Censo Demogrfico 2000 referentes ocupao apontam que em Adrianpolis, Agudos do Sul, Cerro Azul, Contenda, Doutor Ulysses, Quitandinha e Tijucas do Sul a agropecuria ocupava 40% ou mais da mo-de-obra. Nestes, excluindo Adrianpolis, nenhum outro setor aparecia com destaque (IPARDES, 2004a). Lapa e Bocaiva do Sul tinham tambm significativa participao dessa ocupao, com respectivamente 36,0% e 38,7%.

    No que se refere s empresas, o comportamento apreciado em relao ao mercado formal de trabalho se repe