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Vozes da Nova Classe Média - 3º Caderno

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O 3º Caderno Vozes da Nova Classe Média, lançado em 29 de abril de 2013, apresenta dados sobre o tema "Empreendedorismo e Classe Média".

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Caderno 3

Brasília, abril de 2013

Empoderando vidas.Fortalecendo nações.

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Governo Federal

Presidência da República

Secretaria de Assuntos Estratégicos

Esplanada dos Ministérios

Bloco O, 7º, 8º e 9º andares

Brasília – DF / CEP 70052-900

http://www.sae.gov.br

Ministro Marcelo Neri

Parceiros

Caixa Econômica Federal

Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD)

Apoio

Confederação Nacional da Indústria (CNI)

Instituto Data Popular

Colaboradores

Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC)

Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE)

Editores

Diana Grosner (SAE/PR)

Daniela Gomes (PNUD)

Renato Meirelles (Data Popular)

Coordenação e produção

Alessandra Bortoni Ninis (SAE/PR)

Redação

Ricardo Paes de Barros (SAE/PR)

Diana Grosner (SAE/PR)

Mirela de Carvalho (Consultora SAE/PNUD)

Produção estatística

Samuel Franco (IETS)

Andrezza Rosalém (IETS)

Adriana Mascarenhas (SAE/PR)

Léa Nóbrega (SAE/PR)

Bárbara de Lima Moraes (SAE/PR, estagiária)

Felissa Marques (PNUD)

Revisão e edição

Diana Grosner (SAE/PR)

Mirela de Carvalho (Consultora SAE/PNUD)

Bruna de Paula Miranda Pereira (SAE/PR)

Projeto gráfico / diagramação

Rafael Willadino Braga (SAE/PR)

Empresa Estação Gráfica

Divulgação

Assessoria de Comunicação (SAE/PR)

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Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 5

SumárioApresentação .........................................................................................................................

Introdução .................................................................................................................................. 17

1. Os pequenos empreendedores no mercado de trabalho ............ 27

2. A distribuição de renda dos pequenos empreendedores:O futuro da classe média nesse grupo ocupacional .......................... 53

3. Faces: Pequenos empreendedores e seus empregados .............. 67

4. Opinião: O que atrapalha e o que ajudariaos empreendedores brasileiros .......................................................................... 79

5. Visão de futuro: Como o Estado brasileiro pode contribuir à prosperidade dos pequenos empreendedores .................................... 89

Colaborador permanente: Renato Meirelles Empreendedorismo, otimismo e a classe média brasileira .......... 95

Colaborador desta edição: Luiz Barretto Empreendedores impulsionam a nova classe média ........................ 99

Ensaio: Marcelo Neri Prosperidade, Equidade e Oportunidade Empresarial .................... 105

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Menos Empresas,Melhores NegóciosHá um largo espectro de atividades empresariais distintas, que vão desde

aquela do trabalhador por conta própria, cujo principal objetivo é prover

o sustento básico de sua família, até aquela com potencial de acumulação

de capital e crescimento. A primeira é tipicamente uma atividade decor-

rente da necessidade, enquanto a segunda se caracteriza pela convicção e

percepção de oportunidade de quem a empreende.

Pode parecer contraditório abordar pequenos e grandes empresários

num mesmo quadro, mas eles têm uma relação de parentesco entre si,

pois ambos são sócios de capital de risco. O primeiro é uma espécie de

primo pobre, sem capital e sem empregados, mas com risco. Essa relação

arriscada com o seu provento é partilhada pelos seus primos ricos. Há

ainda o caso híbrido do empresário da nova classe média brasileira, que

habita o meio da distribuição. Porém nenhuma posição, na ocupação ou

na desocupação, explica mais a pobreza do que famílias chefiadas por tra-

balhadores por conta própria. Pessoas que trabalham, mas, muitas vezes,

não ganham o suficiente para sustentar os seus.

O terceiro caderno da série Vozes da Nova Classe Média se propõe a

jogar um canhão de luz sobre esses atores econômicos que, em geral,

vêm atuando mais nas coxias do que na ribalta do cenário tupiniquim –

desempenhando papel central na mobilidade social e na sustentabilidade

da classe média brasileira.

As mudanças recentes de enfoque em relação ao tema têm sido exempla-

res. A CAIXA, ao se colocar como o banco da nova classe média brasilei-

ra, revela rara sensibilidade de identificar oportunidades onde antes só se

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percebia pobreza – desenvolvendo, ao mesmo tempo, sua função de banco público. O

Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) não nos deixa esquecer

a importância do trabalho e do empreendedorismo, em particular, como elementos cen-

trais do desenvolvimento humano.

O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), por sua vez,

revela a capacidade de se deslocar do mundo das maiores empresas, incubando dentro de

si uma nova secretaria com status de ministério, destinada ao apoio às menores empresas.

Na iniciativa do microempreendedor individual, o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas

Empresas (Sebrae) demonstra por que seu nome começa com “S” maiúsculo. Finalmen-

te, o Banco do Nordeste, com seus programas “Crediamigo” e “Agroamigo”, mostra o

potencial da região antes mais pobre e agora mais dinâmica do País, de descobrir suas

riquezas e exportar suas tecnologias para o resto do território nacional.

A SAE cumpre aqui a sua missão de apontar o norte estratégico das ações do Estado.

Este relatório demonstra que os pequenos negócios têm crescido e gerado melhores

empregos, com menor desigualdade, tanto dentro do grupo de microempreendedores

quanto na relação de seus lucros com os salários de seus empregados. Também ficaram

menos desiguais os retornos obtidos pela massa de pequenos negócios em operação no

País, com crescimento mais acelerado a partir da base da pirâmide produtiva. Há menor

quantidade relativa de negócios de subsistência trocados por empregos com carteira. Há

também aumento da qualidade social dos empreendimentos, seja pela geração de em-

pregos emanada, seja pela redução da desigualdade de renda entre empresários e seus

empregados e entre os próprios empreendedores.

Além disso, os dados reportados pelas pessoas na Pesquisa Mensal do Emprego (PME), pro-

duzida pelo Instituto Brasileiro de Estatística e Geografia (IBGE), mostram, assim como já

tínhamos constatado com os salários, que o lucro dos pequenos empreendedores das princi-

pais regiões metropolitanas também cresceu bem mais que o Produto Interno Bruto (PIB) em

2012, ao ritmo de 4% ao ano acima da inflação, acelerado nos dois primeiros meses de 2013.

Assim, constatamos que a imagem que passa na novela, da doceira da periferia que mul-

tiplica o tamanho de sua confeitaria, contratando as vizinhas para atender a demanda

crescente de outras vizinhas que ocupam postos de trabalho e não têm tempo para pro-

duzir suas festas, é representativa da nossa realidade. Agora, a empresária batalhadora da

periferia tem se desenvolvido mais que seus pares masculinos da capital?

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Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 9

O bolo de renda cresce com mais ou menos fermento na base dos negócios e das famílias?

Quais são os ingredientes da receita do crescimento empresarial inclusivo e sustentável

no Brasil? Mais educação, formalização e cooperativação, nenhuma delas, ou todas as al-

ternativas acima? Como a receita do sucesso empresarial muda se caminharmos da base

ao topo, passando pelo meio da distribuição de lucros empresariais?

As análises apresentadas neste caderno apontam direções interessantes e, em alguns ca-

sos, supreendentes, para todas essas questões. No ensaio final, revelamos inicialmente a

operação de externalidades positivas emanadas na geração de emprego e da desigualdade

entre empresários e empregados. O estudo também demonstra como negócios e famílias

têm se beneficiado da atividade empresarial.

Basicamente, buscamos responder qual é o impacto do novo contexto, com relativamen-

te menos empresas, geradoras de mais e melhores empregos, sobre o retorno que os

empresários levam para casa, aí incluindo o lucro do negócio e a renda da família.

Tomando como pano de fundo o período de ascensão da chamada nova classe média

brasileira, desde o fim da recessão de 2003 até os dias de hoje, testamos se o sonho de

subir na vida por meio de um negócio próprio foi, e continua sendo, operativo no mundo

empresarial pós-crise europeia.

Exploramos a face humana dessa revolução empresarial vinda de baixo, revelando um

espetáculo de crescimento a preços populares, estrelado por empresários de grupos tra-

dicionalmente excluídos como negros, mulheres e analfabetos. Estudamos os determi-

nantes da maior prosperidade, equidade e oportunidade entre microempresários, assim

como os menores riscos de retrocesso que eles têm experimentado como elemento

fundamental para a sustentabilidade da nova classe média brasileira.

Esperamos que este terceiro número da série Vozes da Nova Classe Média possa contri-

buir para transformações efetivas na maneira como encaramos e tratamos os protagonis-

tas do empreendedorismo no Brasil.

Marcelo Côrtes Neri

Ministro Chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República

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Empreendedorismo, classe média eum projeto para odesenvolvimentonacionalEmpreendedorismo pode ser definido como processo pelo qual as pessoas

identificam, iniciam e desenvolvem seus negócios. É, portanto, um compo-

nente crucial na geração de emprego e renda, desenvolvimento tecnológi-

co, e consequentemente uma economia globalmente competitiva.

De acordo com pesquisa do Global Entrepreneurship Monitor (GEM),

27 milhões de brasileiros possuem um negócio ou estão envolvidos na

criação de um, o que coloca o Brasil no terceiro lugar de uma lista de 54

países. Estamos atrás da China, que lidera o ranking com 370 milhões de

empreendedores, e dos Estados Unidos, que contabilizam 40 milhões.

Este dinamismo e vivacidade da prática empreendedora são resultado dos

avanços nas áreas econômica e social. Do ponto de vista da infraestrutura

econômica, a conjunção de responsabilidade fiscal e regime de metas de

inflação criaram condições para a melhoria do ambiente de negócios. Uma

das iniciativas foi a redução da taxa de juros de patamares superiores a

20% em 2002 para 7,25% em 2012.

Outros exemplos: a elevação do crédito público de 25% para 50% do

PIB; a redução da dívida líquida do setor público de 60% para 35% do PIB;

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e a redução da dívida cambial que, acompanhada por acúmulos significativos de reservas

internacionais, alçou o Brasil à condição de credor internacional.

No que se refere à promoção de um ambiente econômico mais amigável, avanços obtidos

com a Lei de Falências, a Lei de Microempresas e Empresas de Pequeno Porte e a criação

e implantação da Rede Nacional para a Simplificação do Registro Mercantil e Legalização

de Empresa (REDESIM), foram determinantes para facilitar as relações de negócios e a

prática empresarial.

Demonstrando o vigor deste novo ambiente empresarial brasileiro, o Simples Nacional

e o Programa de Formalização de Microempreendedores Individuais (MEI) – iniciativas

estruturantes da Lei Geral da Micro e Pequena Empresa – contabilizam juntos mais de 7,3

milhões de negócios formalizados.

Na abordagem social, mudanças decorrentes da política de valorização do salário mínimo

e de fortalecimento dos programas de transferência de renda conduziram a um incremen-

to substancial da renda real domiciliar brasileira, elevando-se em termos per capita de R$

637 em 2003 para R$ 932 em 2011.

Este cenário tem criado condições para elevação do poder de compra das famílias, for-

mando uma pujante classe de consumo que cresce cerca de 4% ao ano e que hoje cor-

responde a mais de 100 milhões de pessoas. Daí a ampliação na base produtiva nacional,

e, por consequência, da capacidade de empreender e gerar novos negócios.

Ciente da importância deste momento, o governo federal, sob a coordenação do Minis-

tério do Desenvolvimento, Indústria e Comercio Exterior e em parceria com diversos

setores da sociedade civil, desenvolve uma série de iniciativas para o estabelecimento da

Política Nacional do Empreendedorismo (PNE).

Tendo por base as diretrizes para o desenvolvimento econômico, preconizadas pelo Pla-

no Brasil Maior, a PNE tem como desafio principal atuar na coordenação dos esforços

governamentais para a promoção do empreendedorismo em suas diversas faces: empre-

endedorismo por porte empresarial; empreendedorismo inovador; empresas emergen-

tes; start-ups; segmentos estratégicos; e empreendedorismo social, só para citar alguns

exemplos.

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Como resultados principais desta iniciativa vemos um maior entusiasmo e motivação do

cidadão em relação à iniciativa empreendedora responsável. A partir daí, verifica-se a cria-

ção de condições igualitárias para o estímulo ao crescimento das empresas e valorização

do empresário.

O carro chefe da PNE será a promoção do empreendedorismo nos pequenos negócios.

Por meio da Agenda de Desenvolvimento e Competitividade das Micro e Pequenas Em-

presas 2013-2022, serão apresentadas à sociedade brasileira uma série de medidas de

incentivo aos pequenos, com efeitos de curto, médio e longo prazo.

Estes fatos, somados à crescente capacidade do estado em planejar e melhor gerir políti-

cas públicas, nos mostram um círculo de desenvolvimento econômico, com estabilidade

e inclusão social.

Como características essenciais deste modelo, a melhoria do ambiente de negócios e a am-

pliação da capacidade de consumo, em especial da nova classe média, são elementos fun-

damentais para a consolidação da prática empreendedora, pilar para a construção de um

País economicamente competitivo, socialmente equitativo e ambientalmente sustentável.

Fernando Pimentel

Ministro de Estado do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior

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Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 13

Atender a NovaClasse Média é anossa vocaçãoA Nova Classe Média, por apresentar uma demanda crescente de pro-

dutos e serviços, amplia significativamente o mercado nacional, potencia-

lizando o crescimento da economia brasileira e, consequentemente, um

novo patamar de desenvolvimento econômico e social, ou seja, fortalece

um ciclo virtuoso de mais crescimento e maior distribuição de renda.

Dentre os diversos produtos e serviços demandados, a Nova Classe Média

procura por serviços bancários e financeiros. A CAIXA assume o desafio

de promover a inclusão financeira de milhões de famílias que, beneficiadas

pelo crescimento econômico e o aumento da renda observados nos últi-

mos anos, ascenderam ao mercado de consumo. A inclusão financeira é

um dos eixos fundamentais da estratégia da Caixa.

Conhecer em profundidade esses novos atores econômicos é condição

necessária para a melhor atuação dos diversos atores sociais. Por essa ra-

zão, a Caixa participa do Projeto Vozes da Nova Classe Média desde seu

lançamento. Os dados e informações aqui apresentados têm se mostrado

valiosos na compreensão das necessidades, aspirações e comportamentos

das famílias da Nova Classe Média e do público ascendente, orientando

ações qualificadas junto a essa expressiva parcela da população brasileira.

Jorge Fontes Hereda

Presidente da Caixa Econômica Federal

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Empreendedorismo e Nova Classe MédiaA série de estudos Vozes da Nova Classe Média vem mostrando dados

impressionantes sobre a incorporação de quase 40 milhões de pessoas na

classe média brasileira, acompanhada de considerável queda na desigual-

dade de renda entre os brasileiros.

Estes resultados são fruto de esforços empreendidos pela sociedade bra-

sileira em diversas frentes: os programas de transferência de renda imple-

mentados nas últimas décadas no País, o incremento do salário mínimo, a

promoção da formalização no trabalho, os investimentos no incentivo ao

microempreendedorismo e a desburocratização do crédito.

O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento apoia esta ini-

ciativa, pois entende que a compreensão das novas dinâmicas socioeconô-

micas brasileiras não só é fundamental para a reflexão sobre a formulação

de políticas públicas adequadas ao novo contexto do país, como também

pode inspirar outros países que enfrentam dinâmicas semelhantes.

O presente caderno coloca luz na importante contribuição dos pequenos

empreendedores – com o aumento dos postos de trabalho e o crescimento

das remunerações do trabalhador brasileiro - neste fenômeno sem prece-

dentes que ocorre no Brasil. Além disso, o estudo aponta para o início de

uma tendência de significativa redução no hiato dos rendimentos dos em-

pregados em pequenos empreendimentos respectivamente aos seus em-

pregadores, indícios importantes de que também neste grupo econômico

está sendo trilhado o caminho certo rumo à consolidação de uma sociedade

mais equitativa. O estudo realça ainda que os pequenos empreendedores

contribuem para o aumento da formalização da economia brasileira.

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O microempreendedorismo brasileiro parece assim trilhar um caminho de sucesso no

desenvolvimento do País. É importante ressaltar que os benefícios e contribuições para a

redução das desigualdades sociais e aumento da qualidade do desenvolvimento brasileiro

podem ser ainda incrementados se o pequeno empreendedor puder integrar em suas

dinâmicas de mercado “ganhos triplos”, onde existam sinergias entre o crescimento de

seu negócio e o compromisso com uma sociedade mais socialmente justa e sustentável.

Jorge Chediek

Representante Residente do PNUD no Brasil

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IntroduçãoInclusão. Esta é a palavra-síntese para o processo de crescimento econômico

dos últimos dez anos no Brasil. Neste caderno, tratamos da relação entre os

pequenos empreendedores e esse processo de crescimento inclusivo. Explora-

mos meios pelos quais o empreendedorismo contribuiu para forte redução das

desigualdades de renda e para formação de uma vasta classe média no País. E

apresentamos, ainda, os perfis socioeconômicos predominantes entre diversos

tipos de ocupação ligados à atividade de empreender, os principais entraves que

empreendedores enxergam, e políticas que mais desejam. É preciso destacar

que a importância dos pequenos empreendedores para a economia brasileira

vem sendo finalmente reconhecida e estimulada por meio de novos marcos e

mecanismos oficiais, tais como o Simples Nacional (2006), a figura do Microem-

preendedor Individual (2008) e, mais recentemente, com a criação da Secretaria

da Micro e Pequena Empresa (2013).

Foi em vista de mudanças tão recentes, que certamente ampliaram e ainda am-

pliarão o peso desses importantes atores do cenário socioeconômico nacional,

que demos a este caderno um caráter não apenas retrospectivo, mas também

propositivo. Buscamos, portanto, identificar condições para que a atividade em-

preendedora continue prosperando, contribuindo assim para o desenvolvimen-

to brasileiro em geral – e para a sustentabilidade e a ascensão da nova classe

média, em particular.

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Quem são os pequenos empreendedores neste caderno?

O conceito de empreendedor admite múltiplas interpretações. Neste caderno, procura-mos utilizá-lo da forma mais ampla possível. Por ser extremamente rica e ter periodici-dade anual, a base que usamos na maior parte de nossa análise é a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD, produzida pelo IBGE. Dos diversos conceitos utilizados nessa pesquisa, cinco merecem particular atenção: empreendimento, conta própria, em-pregador, empreendedor e empregado. Em concordância com a PNAD, entendemos tais conceitos da seguinte forma:

Empreendimento: Empresa, instituição, entidade, firma, negócio etc., ou, ainda, traba-lho sem estabelecimento, desenvolvido individualmente ou com ajuda de outras pessoas (empregados, sócios ou trabalhadores não remunerados).

Conta própria: Pessoa que trabalha explorando o seu próprio empreendimento, sozinha ou com sócio, sem ter empregado e contando, ou não, com a ajuda de trabalhador não remunerado.

Empregador: Pessoa que trabalha explorando o seu próprio empreendimento, com pelo menos um empregado remunerado.

Empreendedor: Pessoa que trabalha por conta própria ou como empregador.

Empregado: Pessoa que trabalha para um empregador (pessoa física ou jurídica), geral-mente obrigando-se ao cumprimento de uma jornada de trabalho e recebendo por esta uma remuneração.

Contudo, ainda precisamos determinar quem são os pequenos empreendedores. As ca-tegorias encontradas na PNAD não são coincidentes com as estabelecidas na Lei Comple-mentar nº 123/2006, que criou o Simples Nacional. O Simples classifica as micro e peque-nas empresas de acordo com o faturamento bruto anual. As categorias utilizadas na PNAD, como vimos, derivam do tipo de ocupação no mercado de trabalho: empreendedor = conta própria + empregador.

Mas, como mesmo entre os empregadores há aqueles de maior ou menor porte, é pre-ciso definir quem destes pode ser considerado um pequeno empreendedor. A PNAD diferencia os empregadores pelo número de empregados que possuem, de acordo com as seguintes faixas:

• 1 empregado;• 2 empregados;

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• 3 a 5 empregados;• 6 a 10 empregados;• Acima de 10 empregados.

Para ajudar na determinação do pequeno empreendedor, usamos como referência a ta-bela de classificação do Sebrae, que define as micro e pequenas empresas de acordo o

número de empregados.

Tabela 1: Classificação das MPEs segundo o número de empregados

Porte Empregados

MicroempresaNo comércio e serviços: até 9 empregados

Na indústria: até 19 empregados

Empresa de pequeno porteNo comércio e serviços: de 10 a 49 empregados

Na indústria: de 20 a 99 empregados

Fonte: SEBRAE.

Optamos por não fazer distinções entre micro e pequenos empreendedores, uma vez que, pela PNAD, só aparecem desagregados os empregadores que possuem até 10 em-pregados. Assim, consideramos pequenos empreendedores aqueles que, na PNAD, ocu-pam as posições de conta própria e de empregador com até 10 empregados. Além disso, propomos também uma distinção entre o segmento formal e o informal. Chegamos, final-mente, aos seguintes conceitos:

Pequeno empreendedor: Pessoa que trabalha por conta própria ou como empregador com até 10 empregados.

Empreendedor formal: Empregador ou conta própria que contribui para a previdência.

Empreendedor informal: Empregador ou conta própria que não contribui para a pre-vidência.

Empregado formal: Empregado que possui carteira de trabalho assinada.

Empregado informal: Empregado que não possui carteira de trabalho assinada.

Esclarecemos, finalmente, que não contabilizamos – entre os empregados de pequenos empreendimentos – aqueles que trabalham em atividades agropecuárias. A razão para isso é que a PNAD não identifica o número total de empregados nos estabelecimentos que exercem atividade agropecuária, não nos sendo permitido saber se são empregados em pequenos ou em grandes empreendimentos.

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Cinco etapas para sua leitura

O terceiro Caderno Vozes da Nova Classe Média está dividido em cinco seções.

A Seção 1 - Os pequenos empreendedores no mercado de trabalho - responde a perguntas

como: Quantos pequenos empreendedores existem no Brasil? Isso é pouco, é muito? Por

quantos postos de trabalho os pequenos empreendedores respondem hoje? Quantos foram

gerados por eles na última década? Qual o rendimento gerado nestes postos? Como o rendi-

mento variou nos últimos 10 anos? Quais os reflexos disso na distribuição de renda no Brasil?

Na Seção 2 - A distribuição de renda dos pequenos empreendedores: o futuro da classe média nes-

se grupo ocupacional - tratamos mais detalhadamente da movimentação dos pequenos em-

preendedores e seus empregados entre as classes de renda baixa, média e alta. Quem ocupa

as melhores posições em termos do pertencimento às classes de renda mais elevadas? Em

que casos a classe média cresceu? Em que casos retraiu? A retração foi negativa ou positiva?

Já a Seção 3 - Faces: pequenos empreendedores e seus empregados - revela quais são os perfis

predominantes entre os pequenos empreendedores. São mais jovens? Mais velhos? O nível

educacional importa? Há mais homens ou mulheres? Mais brancos ou negros? Quem pre-

domina na informalidade, homens ou mulheres, brancos ou negros? E na área rural, quem

predomina? Como o perfil homem/mulher, branco/negro varia conforme se caminha da

classe baixa à classe alta?

A Seção 4 - Opinião: o que atrapalha e o que ajudaria os empreendedores brasileiros - trata

dos fatores que limitam o progresso do empreendedorismo no País, segundo os próprios

empreendedores. Como esses fatores variam por classe de renda? O que preocupa um

empreendedor na classe baixa é o mesmo que preocupa um empreendedor na classe

média ou alta?

Finalmente, a Seção 5 - Visão de futuro: Como o Estado brasileiro pode contribuir à prospe-

ridade dos pequenos empreendedores - busca identificar os fatores necessários para que os

empreendedores prosperem de forma crescente e contínua. Contrastamos a importante

contribuição do segmento para o desenvolvimento brasileiro com as suas dificuldades e

carências mais prementes. Qual o papel do setor público no suprimento de suas neces-

sidades? Que tipo de políticas públicas lhes são mais adequadas? Quais as diferenças nas

necessidades decorrentes da posição do empreendedor nas diferentes classes de renda?

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Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 21

Nota Sobre a Definição de Classe Média

Para alguns críticos, uma “classe média” formada por pessoas com renda per capita entre

R$291 e R$1.019 estaria empobrecida em demasiado. A percepção é que estaria incluído

nessa categoria um grupo com renda muito reduzida, que na realidade pertence à classe

baixa. Da mesma forma, a classe alta misturaria uma parcela da população de renda inter-

mediária à outra detentora de níveis mais elevados.

O eventual desconforto com a definição técnica das três classes de renda se deve basica-

mente a três fatores muito importantes, que serão tratados sequencialmente nessa nota.

a) Parte da classe alta deseja ser percebida como classe média

A discussão sobre classes baixa, média ou alta traz sempre embutida significados para

além da definição técnica, que apenas reparte a população em três grupos. Valores, pre-

conceitos e auto percepção pautam a crítica que se faz à definição técnica das classes de

renda. Boa parte da classe alta se recusa a ser percebida enquanto tal e se declara perten-

cente à classe média, por mais incoerente que isso possa parecer.

No Brasil, fazem parte dos 5% mais ricos todos aqueles em famílias com renda per capita

acima de R$2.400 ao mês e muitos membros desse grupo se consideram parte da classe

média. Seria impossível conceber qualquer divisão da população em três classes de renda

(baixa, média e alta) em que os 5% mais ricos estivessem fora da classe alta. Para todos

aqueles com essa opinião, qualquer definição coerente para a classe média sempre os

excluiria e, por essa razão, seria percebida como empobrecida.

b) Uso da renda declarada e sua subestimação

Os cortes de renda que definem quem pertence a que classe e a própria análise da dis-

tribuição de renda tomam como base informações declaradas em pesquisas domiciliares.

Embora pesquisas como o Censo Demográfico e a Pesquisa Nacional por Amostra de

Domicílios – PNAD coletem informações confidenciais de qualidade e abrangência in-

ternacionalmente reconhecidas1, não há dúvidas que subestimam a verdadeira renda das

famílias, tal como ocorre com qualquer pesquisa dessa natureza. Portanto, há de se reco-

nhecer que os pontos de corte sugeridos não retratam a “verdadeira” renda de cada um,

1 As três grandes compilações de informações sobre distribuição de renda no mundo (Deininger and Squire, 1996; Banco Mundial, 2005 e Pnud, 2005) reconhecem a Pnad como a principal fonte para o Brasil e classificam essa informação como de excelente qualidade, mesmo quando comparada com a dos países desenvolvidos.

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22 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média

mas sim a renda declarada. Esse é um fato que, em hipótese alguma, retira a importância

das análises da distribuição de renda baseadas em pesquisas domiciliares.

No caso específico da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD – existem

duas grandes razões para que ocorra subestimação da renda. Primeiro, há certos com-

ponentes da renda familiar que a pesquisa não captura. É o caso da renda não monetária,

das rendas voláteis ou eventuais que incluem, por exemplo, seguro desemprego, décimo

terceiro salário, horas extras não sistemáticas, indenizações e ganhos com loterias e ou-

tros prêmios. Afinal, uma pesquisa com essa amplitude, que avalia características demo-

gráficas, condições habitacionais, situação no mercado de trabalho, escolaridade etc. não

pode mesmo cobrir todos os itens necessários para a mensuração da renda das famílias

em alto grau de detalhe.

A segunda razão para que a PNAD subestime a renda das famílias é que mesmo os quesi-

tos da renda medidos por ela são subdeclarados. Esse é particularmente o caso dos ren-

dimentos normalmente recebidos de ativos financeiros e decorrentes de transferências

entre famílias.

Uma vez que os pontos de corte propostos no caderno Vozes se originam de análises

baseadas na distribuição de renda capturada pela PNAD, é natural uma percepção geral

de que esses pontos estejam abaixo do que deveriam. Uma forma de avaliar o ajuste ne-

cessário consiste em verificar como os pontos de corte se alterariam caso pudéssemos

contar com melhores medidas de renda. Tal oportunidade é oferecida pela Pesquisa de

Orçamentos Familiares – POF. A cada cinco anos, o Instituto Brasileiro de Geografia e Es-

tatística – IBGE – conduz essa pesquisa domiciliar especialmente dedicada a avaliar o nível

de consumo e renda das famílias brasileiras.

Em 2009 foram coletadas tanto a PNAD como a POF e, portanto, para esse ano, existem

dois retratos da distribuição de renda das famílias. De fato, os pontos de corte definidores

da classe média são sensíveis à qualidade da informação disponível e quanto mais comple-

ta a informação, mais altos deverão ser os pontos recomendados. A renda estimada pela

POF tende a ser aproximadamente 30% maior, o que faria da classe média um grupo com

renda entre R$357 e R$1.376.

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Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 23

Tabela 2: Limites que definem a classe média utilizando a renda familiar per capita e a renda familiar total, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) e a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF)

Limites que definem a classe média

Renda familiar per capita Renda familiar total

PNAD POF PNAD POF

Início da classe média 291 357 1.125 1.313

Final da classe média 1.019 1.376 2.712 3.667

Fonte: Estimativas produzidas pela SAE/PR com base na PNAD 2009 e POF 2008/2009.Nota: Todos os valores encontram-se expressos em R$ de abril de 2012.

Sem dúvida, as informações sobre renda da POF são mais fidedignas do que as da PNAD

e, portanto, preferíveis para definir as classes de renda. Entretanto, a PNAD é realizada

anualmente, enquanto a POF é coletada a cada cinco anos. Para acompanhar movimentos

de expansão ou contração das diversas classes de renda com periodicidade anual, é neces-

sário basear a análise na PNAD.

c) Renda familiar total versus renda familiar per capita

A renda de uma família é repartida entre seus membros e, por essa razão, o bem-estar

de cada pessoa depende não só da renda total, mas também do tamanho da família. É

evidente que dois casais que disponham do mesmo nível de renda familiar total não terão

o mesmo nível de bem-estar se um deles tiver dois filhos e o outro, cinco. Em princípio,

o nível de bem-estar do casal com dois filhos será maior. A renda familiar per capita é um

indicador de bem-estar que leva em consideração tanto a renda familiar total como o ta-

manho da família. Assim sendo, os pontos de corte que delimitam a classe média são, em

geral, expressos em valores per capita.

A família brasileira tem, em média, cerca de três membros, o que faz com que a renda per

capita tenda a ser 1/3 da renda familiar total. Aqueles que inadvertidamente acham que

os pontos de corte propostos são valores para a renda familiar total terão a sensação que

eles estão muito abaixo do que deveriam. As estimativas baseadas na POF revelam que se

utilizarmos a renda familiar total como referência, então a classe média incluiria pessoas

com renda familiar total variando de R$1.300 a R$3.700 por mês.

Page 24: Vozes da Nova Classe Média - 3º Caderno

24 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média

Deve-se atentar para o fato de que os pontos de corte que definem a classe média são

sensíveis tanto à qualidade da fonte de informação (POF versus PNAD) como ao conceito

de renda utilizado (total versus per capita). Definir a classe média como o grupo de pessoas

com renda familiar total entre R$1.300 a R$3.700 por mês (segundo a POF) é “equivalen-

te” a considerar como classe média, o grupo com renda familiar per capita entre R$291 e

R$1.019 por mês (segundo a PNAD).

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Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 25

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26 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média

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Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 27

1. Os pequenosempreendedores nomercado de trabalhoA despeito das generosas transferências de renda que o Estado brasileiro

garante a seus cidadãos, as evidências disponíveis não deixam dúvidas de

que o fator preponderante para a contração da classe baixa e a conco-

mitante expansão da classe média foi o trabalho. Não somente a renda

do trabalho cresceu, como também cresceu o número de postos. Este

crescimento, por sua vez, decorreu sobretudo da expansão da oferta de

trabalho formal, evidenciada pela acentuada queda nas taxas de desem-

prego e informalidade.

Nesta seção, debruçamo-nos sobre os meios pelos quais os pequenos

empreendedores contribuíram e beneficiaram desse processo de aumen-

to tanto do número de postos quanto da renda do trabalho, observado na

última década. E verificamos qual foi precisamente o papel deste segmen-

to na expansão da classe média e na redução das desigualdades de renda.

Hoje os pequenos empreendedores respondem, diretamente, por 40%

dos postos de trabalho disponíveis e por quase 40% da massa de remu-

nerações da força de trabalho brasileira. Respondem também por quase

40% da geração líquida de novos postos de trabalho e por 32%, ou seja,

quase um terço (1/3), do crescimento do montante de remunerações do

trabalho.

Há duas formas com que o pequeno empreendedorismo pode afetar di-

retamente o número de postos de trabalho. A primeira delas é pelas vagas

que são ocupadas pelos próprios pequenos empreendedores, ou seja, as

Page 28: Vozes da Nova Classe Média - 3º Caderno

28 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média

vagas que as suas atividades geram para si mesmos. Nesta contagem entram o número de

postos de trabalho ocupados pelos empregadores com até 10 empregados e o número de

postos ocupados pelos trabalhadores por conta própria. A segunda ocorre na medida em

que os pequenos empreendedores empregam trabalhadores em seus empreendimentos.

Nesta contagem entra, portanto, o número de postos de trabalho ocupados pelos empre-

gados de pequenos empreendedores.

Na última década, o aumento no número de postos de trabalho decorrente do pequeno

empreendedorismo se deu muito mais em função da expansão no número de empregados

do que no número de pequenos empreendedores. Se o número de trabalhadores por con-

ta própria cresceu relativamente pouco, o número de pequenos empregadores diminuiu.

Há que se ressaltar, porém, que a retração no número de pequenos empregadores não é

necessariamente um fato preocupante. Primeiro, porque a proporção de empregadores

sobre o total da força de trabalho no Brasil é maior do que a proporção mundial, sendo

também superior àquela observada em países desenvolvidos. Segundo, porque o número

médio de empregados por estabelecimento aumentou. Ou seja, aumentou o porte dos

estabelecimentos existentes. Por sua vez, a tímida expansão no número de trabalhadores

por conta própria também não precisa ser motivo de preocupação; a proporção destes

trabalhadores sobre a força de trabalho brasileira é superior à mundial e à dos países mais

desenvolvidos.

A grande transformação por que o segmento vem passando nos últimos anos definiti-

vamente não se refere à expansão, mas sim à sua expressiva formalização – resposta às

crescentes iniciativas de desburocratização e simplificação tributária estabelecidas desde

a criação do Simples Nacional.

Aliás, sobre o processo de formalização da economia brasileira, os pequenos empreendedo-

res tiveram papel central. Dos 6 milhões de novos postos de trabalho que os pequenos em-

preendedores geraram ao longo da última década, 95% eram formais. São, portanto, mais

trabalhadores que contam com o sistema público de proteção tanto em sua fase ativa (se-

guro desemprego, auxílio doença, auxílio maternidade etc) como na inativa (aposentadoria).

Mas os avanços sociais não se limitaram à expansão do acesso ao amplo sistema de prote-

ção ao trabalhador brasileiro. Na última década, todos os trabalhadores viram crescer as

suas remunerações. Contudo, aqueles que detinham inicialmente as remunerações mais

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Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 29

baixas foram justamente aqueles que observaram maior aumento (nas suas remunera-

ções). Em outras palavras: a renda dos trabalhadores mais pobres cresceu mais do que a

renda dos trabalhadores mais ricos.

E nesse sentido, a categoria dos pequenos empreendedores contribuiu para a redução nas

desigualdades de renda. A remuneração dos empregadores – que se encontravam mais

bem posicionados em termos de renda – teve um crescimento anual de 0,6% ao ano, en-

quanto a remuneração de seus empregados e a dos trabalhadores conta própria cresceu

a uma taxa superior a 2% ao ano.

Não por acaso a porcentagem de empregados dos pequenos empreendedores que per-

tencia à classe baixa foi reduzida à metade de sua posição inicial, passando de 36% em

2001 para 17% em 2011. O resultado disso é que, hoje, quase dois terços (2/3) dos em-

pregados dos pequenos empreendedores já integram a classe média.

O conjunto de pequenos empreendedores (empregadores e conta própria) também se

beneficiou, praticamente na mesma medida, pois a porcentagem destes empreendedores

que pertenciam à classe baixa também foi praticamente reduzida à metade de sua posição

inicial, passando de 39% em 2001 para 21% em 2011.

Embora a contração da classe baixa entre os pequenos empreendedores tenha sido se-

melhante àquela observada entre os seus empregados, a contribuição do pequeno em-

preendedorismo para a atual composição da classe média no Brasil veio mais pelo lado de

seus empregados.

Há basicamente duas razões para isso. A primeira é que o pequeno empreendedorismo

gerou, nos últimos dez anos, dois novos empregados para cada novo empreendedor,

quando historicamente a relação era precisamente oposta: de dois empreendedores para

cada empregado. A segunda é que foi justamente entre os empregados dos pequenos em-

preendedores que a classe média mais cresceu. Entre os empreendedores, a contração

da classe baixa foi contrabalanceada por uma expressiva expansão da classe alta. Isto é,

ao mesmo tempo que muitos empreendedores saíram da classe baixa em direção à classe

média, muitos outros saíram da classe média em direção à classe alta – consequentemen-

te, a classe média não cresceu tanto neste grupo.

Page 30: Vozes da Nova Classe Média - 3º Caderno

30 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média

Podemos dizer, portanto, que no tocante à classe média, o pequeno empreendedorismo

presta um duplo papel: i) atua como mecanismo de expansão e sustentabilidade, ao puxar

pessoas que estavam na classe baixa para a classe média; ii) atua como mecanismo de

ascensão à classe alta para aqueles que já se encontram na classe média.

As subseções seguintes trazem informações adicionais e expõem os detalhes do processo

descrito nesta introdução.

1.1 O papel dos pequenos empreendedores na força de trabalho brasileira

Como podemos ver na Tabela 1, o Brasil conta com uma força de trabalho composta por

92 milhões de trabalhadores. Deste total, 22 milhões são pequenos empreendedores: 19

milhões de trabalhadores por conta própria e 3 milhões de empregadores com até 10

empregados. Como já referido, os pequenos empreendedores, além de prover trabalho

para si próprios, também são responsáveis por empregar em seus empreendimentos con-

siderável parcela da força de trabalho brasileira. De fato, somente em atividades fora do

setor agropecuário, este segmento emprega 15 milhões de trabalhadores.

Ainda na Tabela 1 vemos que, mesmo excluindo os empregos que geram na atividade

agropecuária, ao todo, os pequenos empreendedores são diretamente responsáveis pela

geração de 37 milhões de postos de trabalho (somando os postos que geram para si mes-

mos e para aqueles que empregam). Por conseguinte, este grupo responde por 40% dos

postos de trabalho no País.

Tabela 1: Contribuição dos pequenos empreendedores para a absorção da força de trabalho no Brasil, 2011

Tipo de ocupação Postos de trabalho(milhões)

Contribuição(%)

Todos os trabalhadores 92 100

Pequenos empreendedores e seus empregados 37 40

Pequenos empreendedores* 22 24

Trabalhadores por conta própria 19 21

Pequenos empregadores** 3 3

Empregados em pequenos empreendimentos*** 15 16

Fonte: Estimativas produzidas pela SAE/PR com base na PNAD 2011.* Consideram-se pequenos empreendedores os trabalhadores por conta própria e os empregadores aqueles com até 10 empregados.** Consideram-se pequenos empregadores aqueles com até 10 empregados.***Devido a limitações na fonte de informação utilizada, não foram incluídos os empregados em estabelecimentos agropecuários.

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Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 31

Entre as classes de renda, os postos de trabalho gerados pelos pequenos empreendedo-

res encontram-se muito bem distribuídos. Na Tabela 2, observamos que o segmento é

responsável por cerca de 40% dos postos em cada uma das classes de renda (baixa, média

e alta). Isto é, do total de trabalhadores que pertencem à classe baixa, 40% deles ocupam

postos gerados pelos pequenos empreendedores – ocorrendo o mesmo nas classes mé-

dia e alta.

Tabela 2: Participação dos postos de trabalho gerados pelos pequenos empreendedores no total da força de trabalho, por classe de renda, Brasil, 2011

Tipo de ocupaçãoClasse

Todas*** Baixa Média Alta

Todos os trabalhadores (milhões) 86,0 16,6 46,7 22,6

Pequenos empreendedores* e seus emprega-dos** (milhões) 34,2 6,7 18,7 8,8

Pequenos empreendedores e seus empregados como porcentagem do total de trabalhadores (%) 40 40 40 39

Fonte: Estimativas produzidas pela SAE/PR com base na PNAD 2011.* Consideram-se pequenos empreendedores todos os trabalhadores por conta própria e os empregadores com até 10 empregados. ** Devido a limitações na fonte de informação utilizada, não foram incluídos os empregados em estabelecimentos agropecuários. *** Exclui os trabalhadores em domicílios sem renda domiciliar declarada.

Mas embora os pequenos empreendedores contribuam com a mesma parcela (40%) de

postos de trabalho em todas as classes de renda, a parcela que é preenchida pelos traba-

lhadores empregados varia de forma sistemática entre as classes. Conforme é possível ve-

rificar na Tabela 3, na classe alta, menos de 1/3 (31%) dos postos de trabalho gerados por

empreendedores são ocupados pelos empregados. Dos postos de trabalho gerados pe-

los pequenos empreendedores para trabalhadores na classe média, quase metade (48%)

são ocupados pelos empregados em seus empreendimentos. Ou seja, a contribuição do

segmento de pequenos empreendedores para a ocupação na classe média decorre forte-

mente dos empregados em seus empreendimentos.

Page 32: Vozes da Nova Classe Média - 3º Caderno

32 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média

Tabela 3: Participação dos empregados no total de postos de trabalho ge-rados pelos pequenos empreendedores, por classe de renda, Brasil, 2011

Tipo de ocupaçãoClasse

Todas*** Baixa Média Alta

Pequenos empreendedores e seus empregados (milhões)* 34,2 6,7 18,7 8,8

Empregados em pequenos empreendimentos (milhões)** 14,2 2,5 8,9 2,8

Empregados como porcentagem do total de postos de trabalho gerados pelos pequenos empreendedores (%)

41 37 48 31

Fonte: Estimativas produzidas pela SAE/PR com base na PNAD 2011.* Consideram-se pequenos empreendedores todos os trabalhadores por conta própria e os empregadores com até 10 empregados.** Devido a limitações na fonte de informação utilizada, não foram incluídos os empregados em estabelecimentos agropecuários.*** Exclui os trabalhadores em domicílios sem renda domiciliar declarada.

1.2 O empreendedorismo no Brasil e no mundo

Em relação aos diversos países do mundo, temos poucos empreendedores? Segundo as

últimas estatísticas divulgadas pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), estamos na

média ou acima, tanto em relação à média mundial com em relação à média de países desen-

volvidos (Europa, Canadá, Austrália e Nova Zelândia). Isto se verifica tanto em relação aos

empreendedores que são empregadores quanto àqueles que trabalham por conta própria.

Segundo tais estatísticas, enquanto 4,3% da força de trabalho brasileira é formada por

empregadores, a média mundial é de 3,9%. No que se refere aos trabalhadores por conta

própria, a média mundial é de 19,5%, enquanto – segundo esta mesma fonte – no Brasil

20,5% da força de trabalho seria formada desse tipo de trabalhador.

Em relação à América Latina, nossa proporção de empregadores sobre o total da popu-

lação ocupada é ligeiramente inferior (4,3% no Brasil, contra 4,4% na região). Em res-

peito aos trabalhadores por conta própria, as diferenças são maiores: na América Latina

a proporção dos conta própria sobre o total dos trabalhadores ocupados é de 24,6%, no

Brasil, de 20,5%. Consideramos, no entanto, que estar abaixo da América Latina em rela-

ção ao conta própria não deve ser um fato preocupante. Há muitos destes trabalhadores

que exercem a atividade de empreender por falta de opção, falta de emprego. Para eles,

empreender é mais uma estratégia de sobrevivência do que uma opção de vida.

Page 33: Vozes da Nova Classe Média - 3º Caderno

Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 33

O Gráfico 1, a seguir, mostra a proporção de empregadores sobre o total da força de

trabalho ocupada no Brasil e noutras regiões.

Gráfico 1: Proporção de empregadores sobre o total da população ocupada,

2009 a 2010

Fonte: Estimativas produzidas pela SAE /PR com base em informações da OIT, ILOSTAT, 2009 e 2010.

Já o Gráfico 2, mostra a proporção de trabalhadores por conta própria sobre o total da

força de trabalho ocupada no Brasil e noutras regiões.

Gráfico 2: Proporção de trabalhadores por conta própria sobre o total da

população ocupada, 2009 a 2010

Fonte: Estimativas produzidas pela SAE /PR com base em informações da OIT, ILOSTAT, 2009 e 2010.

Page 34: Vozes da Nova Classe Média - 3º Caderno

34 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média

1.3 O papel dos pequenos empreendedores na geração de novos postos de trabalho

Ao longo da última década, foram criados 15 milhões de novos postos de trabalho no País. Des-

te total, no entanto, pouco menos de 2 milhões devem-se à expansão do número de pequenos

empreendedores. Embora os pequenos empreendedores (empregadores e conta própria) re-

presentem 24% da força de trabalho brasileira, a expansão de 2 milhões respondeu por apenas

12% dos novos postos de trabalho gerados. Por este motivo, a participação dos pequenos

empreendedores na força de trabalho brasileira declinou de 26% para os atuais 24%.

Essa expansão mais lenta do pequeno empreendedorismo no País ocorreu particularmen-

te entre os empregadores. Enquanto o número de empregadores no País declinou em

120 mil nos últimos dez anos, passando de 2,8 (em 2001) para 2,7 milhões (em 2011), o

número de trabalhadores por conta própria cresceu em 2 milhões, passando de 17 para

19 milhões no mesmo período. Mas embora significativa, esta expansão dos trabalhadores

por conta própria foi inferior à média nacional, levando a que sua participação no total da

força de trabalho brasileira declinasse ligeiramente de 22% para 21%.

Temos que ressaltar, porém, que a contração no número de pequenos empregadores

limitou-se às atividades agropecuárias. Nas demais atividades, não só o número de peque-

nos empregadores cresceu ligeiramente (em 50 mil), como – e de maior importância –

cresceu em 33% o tamanho dos estabelecimentos, que passaram de empregar em média

4,8 trabalhadores para empregar 6,4 como mostra o Gráfico 3.

Gráfico 3: Evolução do tamanho médio dos pequenos empreendimentos

não agropecuários, Brasil 2001 a 2011

Fonte: Estimativas produzidas pela SAE/PR com base nas PNADs 2001 a 2011.Nota: Consideram-se pequenos empreendimentos aqueles com até 10 empregados.

Page 35: Vozes da Nova Classe Média - 3º Caderno

Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 35

Graças fundamentalmente ao aumento no porte dos pequenos empreendimentos não

agropecuários, 4 milhões de novos postos de trabalho foram gerados no período de 10

anos. Este crescimento acentuado representou 27% de toda a expansão de postos de

trabalho no País no período (15 milhões). A expansão no número de empregados em

pequenos empreendimentos não agropecuários foi mais acelerada que a média nacional

(considerando toda a força de trabalho brasileira), levando a que este segmento aumen-

tasse a sua participação na ocupação de 14% (em 2001) para 16% (em 2011).

Em conjunto, a expansão no número de pequenos empreendedores e nos empregos que

geram resultou em acréscimo de 6 milhões ao total de postos de trabalho disponíveis no

País. Como a expansão total no período foi de 15 milhões, a contribuição do pequeno

empreendedor foi de 39% e, portanto, apenas ligeiramente inferior à sua contribuição

para o estoque de postos de trabalho, equivalente a 40%.

A Tabela 4, seguinte, mostra como os pequenos empreendedores contribuíram para a

geração de novos postos de trabalho no Brasil, detalhando também a contribuição por

tipo de ocupação analisado. Na coluna “Postos de trabalho”, estão indicados o número de

postos em 2001 e em 2011. A coluna “Participação” refere-se à proporção dos diferentes

tipos de ocupação sobre o total da força de trabalho ocupada, também para cada um dos

anos mencionados. A coluna “Variação absoluta” refere-se ao crescimento no número de

postos de 2001 a 2011 por tipo de ocupação. A coluna “Contribuição para a variação”

mostra o quanto – em termos proporcionais – cada tipo de ocupação contribuiu para a

expansão no número total de postos de trabalho no Brasil (no período de 2001 a 2011).

Tabela 4: Contribuição dos pequenos empreendedores para o crescimento do número de postos de trabalho no Brasil, 2001 a 2011

Tipo de ocupação

Postos de trabalho (milhões)

Participação(%) Variação

absoluta (milhões)

Contribuição para a

variação(%)2001 2011 2001 2011

Todos os trabalhadores 76 92 100 100 15 100

Pequenos empreendedorese seus empregados 31 37 40 40 6 39

Pequenos empreendedores 20 22 26 24 2 12

Trabalhadores por conta própria 17 19 22 21 2 13

Pequenos empregadores* 2,8 2,7 4 3 -0,12 -1

Page 36: Vozes da Nova Classe Média - 3º Caderno

36 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média

Tipo de ocupação

Postos de trabalho (milhões)

Participação(%) Variação

absoluta (milhões)

Contribuição para a

variação(%)2001 2011 2001 2011

Setor agropecuário 0,5 0,3 1 0 -0,17 -1

Demais ramos de atividade 2,3 2,4 3 3 0,05 0

Empregados em pequenosempreendimentos** 11 15 14 16 4 27

Fonte: Estimativas produzidas pela SAE/PR com base nas PNADs 2001 e 2011.* Consideram-se pequenos empregadores aqueles com até 10 empregados.** Devido a limitações na fonte de informação utilizada, não foram incluídos os empregados em estabelecimentos agropecuários.

Com relação à contribuição dos pequenos empreendedores para a expansão dos postos

de trabalho nas classes média e alta, esta foi similar àquela verificada no estoque. Na clas-

se média, contribuíram com 5,4 milhões dos 14,6 milhões de novos postos de trabalhos

gerados (37%); na classe alta, contribuíram com 3,8 milhões dos 9,8 milhões de novos

postos de trabalhos gerados (38%), como podemos ver na Tabela 5.

Tabela 5: Expansão do número de postos de trabalho gerados pelos pe-quenos empreendedores como porcentagem do número total de novos postos de trabalho, por classe de renda, Brasil, 2001 a 2011

Tipo de ocupaçãoClasse

Média Alta

Novos postos de trabalho - todos os tipos de relação de trabalho (milhões) 14,6 9,8

Expansão do número de pequenos empreendedores* e seus empregados** (milhões) 5,4 3,8

Novos postos de trabalho gerados pelos pequenos empreendedores como porcentagem do total de postos de trabalho gerados (%) 37 38

Fonte: Estimativas produzidas pela SAE/PR com base nas PNADs 2001 e 2011.* Consideram-se pequenos empreendedores os trabalhadores por conta própria e os empregadores aqueles com até 10 empregados.** Devido a limitações na fonte de informação utilizada, não foram incluídos os empregados em estabelecimentos agropecuários.

No que se refere à expansão dos postos, a parcela correspondente ao número de peque-

nos empreendedores e de empregados também varia por classe de renda, como no caso

do estoque. Dos postos de trabalho diretamente gerados pelo pequeno empreendedoris-

mo na classe média, quase 2/3 (63%) foram preenchidos por empregados; enquanto que

na classe alta pouco mais de 1/3 (39%) dos novos postos foram dirigidos a empregados,

como vemos na Tabela 6.

Page 37: Vozes da Nova Classe Média - 3º Caderno

Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 37

Tabela 6: Expansão do número de postos de trabalho gerados pelos pe-quenos empreendedores, por classe de renda, Brasil 2001 a 2011

Tipo de relação de trabalhoClasse

Média Alta

Expansão do número de pequenos empreendedores e seus empregados (milhões)* 5,4 3,8

Expansão do número de empregados em pequenos empreendimentos (mi-lhões)** 3,4 1,5

Novos empregados em pequenos empreendimentos como porcentagem do total de novos postos de trabalho gerados pelos pequenos empreendedores (%) 63 39

Fonte: Estimativas produzidas pela SAE/PR com base nas PNADs 2001 e 2011.* Consideram-se pequenos empreendedores os trabalhadores por conta própria e os empregadores aqueles com até 10 empregados.** Devido a limitações na fonte de informação utilizada, não foram incluídos os empregados em estabelecimentos agropecuários.

Em suma, para o conjunto das classes de renda, os pequenos empreendedores – que são

responsáveis por gerar 40% dos 92 milhões de postos de trabalho existentes no País –

foram também responsáveis por quase 40% dos novos 15 milhões gerados ao longo da

última década. Esta contribuição, no entanto, deveu-se muito mais ao aumento (33%) no

número de empregados por estabelecimento do que propriamente à expansão no núme-

ro de estabelecimentos.

1.4 Urbanização e formalização

Nos últimos dez anos, enquanto o pequeno empreendedorismo retraiu em atividades

agropecuárias, nas demais atividades ele expandiu. De fato, na agropecuária o número de

pequenos empreendedores (trabalhadores por conta própria e pequenos empregadores)

declinou em 500 mil, enquanto que nas atividades não agropecuárias ocorreu uma ex-

pansão de 2,4 milhão. Como resultado deste descompasso, a porcentagem de pequenos

empreendedores agropecuários declinou de 23% em 2001 para 19% do total de pe-

quenos empreendedores. A mudança foi particularmente acentuada entre os pequenos

empregadores: a porcentagem daqueles em atividades agropecuárias declinou de 17%

para 11%. Em suma, o pequeno empreendedorismo, tal como o restante da economia

brasileira, urbanizou-se.

A urbanização dos pequenos empreendimentos pode ser observada na Tabela 7, a seguir.

Page 38: Vozes da Nova Classe Média - 3º Caderno

38 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média

Tabela 7: Expansão do pequeno empreendedorismo no Brasil, no setor agropecuário e demais setores, 2001 a 2011

Tipo e setor de atividadedo empreendedor

Postos de trabalho (milhões) Participação (%)

Variação absoluta (milhões)

2001 2011 2001 2011

Pequenos empreendedores (pequenos empregadores* e trabalhadores por conta própria)

19,7 21,6 100 100 1,9

Setor agropecuário 4,6 4,1 23 19 -0,5

Demais setores de atividade 15,1 17,5 77 81 2,4

Pequenos empregadores* 2,8 2,7 100 100 -0,1

Setor agropecuário 0,5 0,3 17 11 -0,2

Demais ramos de atividade 2,3 2,4 83 89 0,1

Fonte: Estimativas produzidas pela SAE/PR com base nas PNADs 2001 e 2011.* Consideram-se pequenos empregadores aqueles com até 10 empregados.

O processo de urbanização e saída do setor agropecuário foi também acompanhado por

um intenso avanço da formalização. Enquanto em 2001 apenas 20% dos pequenos em-

preendedores contribuíam para a previdência, dez anos depois (em 2011) esta porcen-

tagem já alcançava 28%, com a quase totalidade deste avanço tendo ocorrido a partir de

2008. Com efeito, podemos ver que, em 2008, o grau de formalização ainda era de 21%.

Gráfico 4: Evolução do grau de formalização entre pequenos empreendedo-

res, Brasil, 2001 a 2011

Fonte: Estimativas produzidas pela SAE/PR com base nas PNADs 2001 a 2011.Nota: Consideram-se pequenos empreendedores aqueles com até 10 empregados, e formais os que contribuem para a previ-dência social.

Page 39: Vozes da Nova Classe Média - 3º Caderno

Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 39

O avanço da formalização ocorre tanto entre os trabalhadores por conta própria, onde o

grau de formalização passou de 15% para 23% entre 2008 e 2011, como entre os peque-

nos empregadores, onde passou de 52% para 63% no mesmo período.

Embora a urbanização tenha contribuído para o avanço da formalização, certamente que

este não foi o único fator. Mesmo entre os empreendedores não agropecuários, o grau

de formalização cresceu de forma acentuada, passando de 24% em 2008 para 31% em

2011. Junto com o crescimento no grau de formalização dos empreendedores não agro-

pecuários, cresceu também o grau de formalização dos seus empregados. Enquanto em

2008 apenas 47% destes empregados tinham carteira de trabalho assinada, três anos

depois (em 2011) a porcentagem com carteira assinada já era de 56%.

A Tabela 8, seguinte, mostra a evolução no grau de formalização entre os diversos tipos

de ocupação gerados pequeno empreendedor (empregador, conta própria e empregado),

tanto em respeito às atividades agropecuárias, como nas demais (não agropecuárias).

Tabela 8: Evolução do grau de formalização dos postos de trabalho gerados pequenos empreendedores brasileiros, 2001, 2008, 2011

Tipo de relação de trabalhoe setor de atividade

Grau de formalização*** (%)

2001 2008 2011

Pequenos empreendedores 20 21 28

Trabalhadores por conta própria 14 15 23

Pequenos empregadores* 54 52 63

Setor agropecuário 6 11 14

Demais setores de atividade 24 24 31

Empregados em pequenos empreendimentos** 44 47 56

Fonte: Estimativas produzidas pela SAE/PR com base nas PNADs 2001, 2008 e 2011.* Consideram-se pequenos empregadores aqueles com até 10 empregados.** Devido a limitações na fonte de informação utilizada, não foram incluídos os empregados em estabelecimentos agropecuários.*** São considerados formais os empreendedores que contribuem para a previdência e os empregados que têm carteira de trabalho assinada.

1.5 Evolução da remuneração dos pequenos empreendedores e seus empregados

a) Remuneração atual

A remuneração média (R$ 1,2 mil por mês) nos postos de trabalho que são gerados dire-

tamente pelos pequenos empreendedores (isto é, aqueles postos que são ocupados por

Page 40: Vozes da Nova Classe Média - 3º Caderno

40 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média

eles mesmos somados aos ocupados pelos empregados que contratam) é muito similar à

média para o conjunto dos trabalhadores brasileiros (R$ 1,3 mil por mês).

Como os pequenos empreendedores são responsáveis pela geração de quase 40 milhões

de postos de trabalho e, em média, a remuneração em cada um destes postos é de R$

1,2 mil por mês, segue que, a cada ano, os pequenos empreendedores brasileiros res-

pondem diretamente por uma massa de remuneração que supera R$ 500 bilhões – o que

representa 39% do volume total de remunerações do País e é superior ao PIB de diversos

países, como o Chile.

* Estimativas produzidas pela SAE/PR com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD), a valores de 2011.** Estimativas produzidas pela SAE/PR com base no World Economic Outlook Database, FMI, Outubro 2012 a valores correntes de 2011.Nota: Valores expressos em US$ de 2011.

A participação dos pequenos empreendedores na geração de renda do trabalho (39%) é

muito próxima à sua participação na geração de postos de trabalho (40%). Isso resulta do

fato de que a remuneração média nos postos de trabalho que geram (R$ 1,2 mil por mês)

é próxima da média nacional (R$ 1,3 mil por mês).

A Tabela 9, a seguir, traz uma comparação entre a contribuição dos pequenos empre-

endedores para a geração de postos de trabalho e a sua contribuição para a massa de

remunerações no Brasil.

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Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 41

Tabela 9: Contribuição dos pequenos empreendedores para o número de postos de trabalho para a geração de renda no Brasil, 2011

Indicador Todos ostrabalhadores

Pequenosempreendedores* eseus empregados**

Participação dospequenos

empreendedorese seus empregados (%)

Número de postos de trabalho (milhões) 92 37 40

Remuneração mensal média(R$/mês) 1.255 1.223 -.-

Volume anual de remunerações (R$ bilhões/ano) 1.379 539 39

Fonte: Estimativas produzidas pela SAE/PR com base nas PNADs 2001, 2008 e 2011.* Consideram-se pequenos empreendedores os trabalhadores por conta própria e os empregadores que contrataram até 10 empregados.** Devido a limitações na fonte de informação utilizada, não foram incluídos os empregados em estabelecimentos agropecuários.

1.6 Disparidades na remuneração

a) Pequenos empreendedores versus empregados

Como esperado, a remuneração média de R$ 1,2 mil por mês oculta grandes disparida-

des. Disparidades estas que se verificam particularmente entre os pequenos empreende-

dores e os empregados que contratam. Enquanto a remuneração média dos pequenos

empreendedores é de R$ 1,5 mil por mês, a dos empregados que contratam é de R$

900 por mês. Ou seja, os empregados recebem, em média, 60% do valor recebido pelos

empreendedores.

No entanto, dentre os pequenos empreendedores, alguns trabalham por conta própria

(e, logo, não empregam), outros são empregadores em empreendimentos agropecuários.

Restam neste grupo os empregadores em atividades não agropecuárias que possuem até

10 empregados em seus empreendimentos. E são justamente os empregados deste tipo

de empreendedor que percebem remuneração média de R$ 900 por mês3.1

Nesse sentido, mais importante que observar o diferencial geral de remuneração entre o

conjunto de pequenos empreendedores e empregados em pequenos empreendimentos

é verificar o diferencial na remuneração média dos empregados dos empreendedores que

efetivamente os empregam, os empregadores em pequenos empreendimentos não agro-

3 Por limitações da base utilizada, não pudemos contrastar a remuneração dos empregadores no setor agropecuário com a percebida pelos seus empregados (a PNAD não identifica, no caso dos empregados agropecuários, o número total de empregados nos estabelecimentos onde trabalham, não nos permitindo diferenciar empregados em pequenos ou grandes empreendimentos).

Page 42: Vozes da Nova Classe Média - 3º Caderno

42 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média

pecuários. Neste caso, o diferencial é significativamente maior: os empregados recebem

pouco mais que 25% (R$ 900 por mês) da remuneração percebida pelos empreendedo-

res que os contratam (R$ 3,4 mil por mês).

A Tabela 10, seguinte, compara a remuneração dos empregados em pequenos empre-

endimentos com aquela percebida pelos empreendedores como um todo (incluindo os

conta própria e os pequenos empregadores do setor agropecuário) e também com a

remuneração daqueles empreendedores que efetivamente os contratam, que são os pe-

quenos empregadores não agropecuários.

Tabela 10: Diferenças de remuneração entre pequenos empreendedores e seus empregados, Brasil, 2011

Tipo de relação de trabalho e setorde atividade do empreendedor

Remuneração (R$/mês)

Remuneração dos empregados em pequenos empreendimentos não

agropoecuários como porcentagem da remuneração média do grupo

considerado (%)

Pequenos empreendedores (pequenos empre-gadores* e trabalhadores por conta própria) 1.465 60

Pequenos empregadores em atividades não agropecuárias 3.386 26

Empregados em pequenos empreendimentos não agropecuárias** 883 100

Fonte: Estimativas produzidas pela SAE/PR com base na PNAD 2011.* Consideram-se pequenos empregadores aqueles com até 10 empregados.** Devido a limitações na fonte de informação utilizada, não foram incluídos os empregados em estabelecimentos agropecuários.

b) Disparidades entre os pequenos empreendedores

Existe também grande heterogeneidade dentro do grupo dos empreendedores: (i) a re-

muneração nas atividades agropecuárias (R$ 900 por mês) é pouco mais da metade da

remuneração nas demais atividades (R$ 1,6 mil por mês); (ii) a remuneração nas atividades

informais (R$ 1,0 mil por mês) é pouco mais de 1/3 da remuneração nas atividades formais

(R$ 2,6 mil por mês); e (iii) a remuneração dos trabalhadores por conta própria (R$ 1,2

mil por mês) é próxima de ¼ da remuneração dos maiores dentre os pequenos empre-

gadores (R$ 4,7 mil por mês), que são aqueles que empregam de 6 a 10 trabalhadores.

Essas disparidades podem ser examinadas na Tabela 11, seguinte.

Page 43: Vozes da Nova Classe Média - 3º Caderno

Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 43

Tabela 11: Diferenças de remuneração entre empreendedores, Brasil, 2011

Tipo e setor de atividade do empreendedor Remuneração (R$/mês)

Pequenos empreendedores (pequenos empregadores* e trabalhadores por conta própria) 1.465

Setor agropecuário 891

Demais setores de atividade 1.602

Informal (não contribui para a previdência social) 1.028

Formal (contribui para a previdência social) 2.615

Trabalhadores por conta própria 1.203

Maiores dentre os pequenos empregadores (empregam de 6 a 10 trabalhadores) 4.738

Fonte: Estimativas produzidas pela SAE/PR com base na PNAD 2011.* Consideram-se pequenos empregadores aqueles com até 10 empregados.

b) Disparidades entre empregados

Embora sejam de magnitudes muito inferiores às verificadas entre empreendedores, tam-

bém existem grandes diferenças de remuneração entre os empregados trabalhando em

pequenos empreendimentos. Por exemplo, a remuneração mensal dos empregados sem

carteira de trabalho assinada (R$ 700) é próxima a 2/3 da correspondente remuneração

dos empregados com carteira (R$ 1,0 mil). O hiato entre os segmentos formal e informal

dos empregados em pequenos empreendimentos é certamente bem inferior ao hiato for-

mal/informal verificado entre os pequenos empreendedores. No caso dos empreendedo-

res, a remuneração mensal dos informais (R$ 1,0 mil) é próxima a 1/3 da correspondente

remuneração mensal dos formais (R$ 2,6 mil).

Essas disparidades podem ser vistas na Tabela 12, a seguir.

Tabela 12: Diferenças de remuneração entre os segmentos formal e infor-mal, Brasil, 2011

Segmentos formal e informal Empregados em pequenos empreendimentos*

Pequenosempreendedores**

Todos (Remuneração em R$/mês) 883 1.465

Informal (Remuneração em R$/mês) 691 1.028

Formal*** (Remuneração em R$/mês) 1.035 2.615

Rendimento no setor informal como porcentagem do rendimento no segmento formal (%) 67 39

Fonte: Estimativas produzidas pela SAE/PR com base na PNAD 2011.* Consideram-se pequenos empreendimentos aqueles com até 10 empregados.** Consideram-se pequenos empreendedores todos os trabalhadores por conta própria e os empregadores com até 10 empregados.*** Consideram-se formais os empreendedores que contribuem para a previdência social e os seus empregados com carteira de trabalho.

Page 44: Vozes da Nova Classe Média - 3º Caderno

44 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média

Assim, embora – tanto entre os pequenos empreendedores como entre seus empregados

– existam diferenças marcantes de remuneração nos segmentos formal e informal, estas

diferenças tendem a ser muito maiores no caso dos empreendedores que no caso dos

empregados. Este é apenas um aspecto do maior grau de desigualdade entre pequenos

empreendedores que entre empregados.

1.7 Crescimento das remunerações ao longo da década

De 2001 a 2011, a remuneração por trabalhador no País cresceu em média 2,2% ao ano.

Este crescimento, entretanto, não foi monotônico, isto é, sempre crescente ao longo do

período. Ao contrário, é o resultado líquido de dois subperíodos com tendências opostas.

A remuneração do trabalho declinou de forma acentuada (-5,0% ao ano) entre 2001 e

2003, para a partir daí passar a crescer de forma acelerada (4,0% ao ano), como mostra

o Gráfico 5, seguinte.

Gráfico 5: Evolução da remuneração dos trabalhadores, Brasil, 2001 a 2011

Fonte: Estimativas produzidas pela SAE/PR com base nas PNADs 2001 a 2011.

Da mesma forma que para o conjunto dos trabalhadores brasileiros, também dentre os

postos de trabalho de responsabilidade direta dos pequenos empreendedores (aqueles

ocupados por eles mesmos e aqueles ocupados pelos empregados em seus empreen-

dimentos) ocorreu crescimento significativo nas remunerações. A taxa de crescimento,

entretanto, embora significativa (1,4% ao ano) ficou abaixo da média para o conjunto dos

trabalhadores (2,2% ao ano), como mostra a Tabela 13.

Page 45: Vozes da Nova Classe Média - 3º Caderno

Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 45

Devido a uma taxa de crescimento das remunerações abaixo da média, a contribuição

dos pequenos empreendedores para o aumento na massa de remunerações, de 32%,

foi inferior à sua contribuição para a massa total (estoque) de remunerações, de 39%.

Mesmo assim, a contribuição dos empreendedores foi bastante significativa, representan-

do um acréscimo próximo a R$ 150 bilhões ao ano no volume total de remunerações.

Novamente, veja Tabela 13.

Tabela 13: Contribuição dos pequenos empreendedores para o crescimento do volume anual de remunerações dos trabalhadores brasileiros, 2001 a 2011

Indicador Todos ostrabalhadores

Pequenosempreendedores*

e seusempregados**

Participação dos pequenos empreendedores e seus

empregados (%)

Número de postos de trabalho (milhões) 92 37 40

Crescimento, entre 2001 e 2011, no número de postos de trabalho (milhões)

15 6 39

Taxa média anual de crescimento, entre 2001 e 2011,na remuneração mensalpor trabalhador (% ao ano)

2,2 1,4 -.-

Volume anual de remunerações em 2011 (R$ bilhões/ano) 1.379 539 39

Crescimento, entre 2001 e 2011, do volume anual deremunerações (R$ bilhões/ano)

452 145 32

Fonte: Estimativas produzidas pela SAE/PR com base na PNAD 2011.* Consideram-se pequenos empreendedores os trabalhadores por conta própria e os empregadores com até 10 empregados.** Devido a limitações na fonte de informação utilizada, não foram incluídos os empregados em estabelecimentos agropecuários.

a) Crescimento das remunerações com redução nas desigualdades

Para que haja diminuição das desigualdades de renda, é necessário que a renda dos mais

pobres cresça mais rápido (a taxas maiores) que a renda dos mais ricos. Ou seja, para atin-

gir a igualdade de renda, é necessário um crescimento desigual entre as rendas (que seja

favorável àqueles com menores rendas). Uma das características marcantes do processo

de crescimento nas remunerações ao longo da última década tem sido a sua natureza

equitativa.

No que se refere ao pequeno empreendedorismo, o crescimento nas remunerações não

tem beneficiado de forma igual todos os tipos de postos de trabalho diretamente gerados

Page 46: Vozes da Nova Classe Média - 3º Caderno

46 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média

por este segmento. Efetivamente, este crescimento não igualitário das remunerações tem

beneficiado muito mais aqueles com menor remuneração do que os grupos com remune-

ração bem acima da média. Ou seja, quem detinha inicialmente os menores rendimentos

foi quem mais viu sua remuneração crescer. Em outras palavras, nos postos gerados pelos

pequenos empreendedores, o crescimento da remuneração do trabalho foi acompanha-

do pela diminuição das desigualdades de renda.

b) Empreendedores versus empregados

Pelo caráter equitativo do crescimento na remuneração do trabalho observado nos últi-

mos dez anos, aqueles que trabalham como empregados em pequenos empreendimentos

(que recebem menores remunerações) têm se beneficiado muito mais que aqueles que

são, em última instância, os responsáveis por gerarem os postos de trabalho, os pequenos

empreendedores (que recebem maiores remunerações). De fato, enquanto a remunera-

ção dos empregados em pequenos empreendimentos não agropecuários cresceu 2,3%

ao ano (acima da média nacional), dentre os pequenos empreendedores, a taxa de cres-

cimento foi de 1,4% ao ano ao ano e, dentre os empreendedores não agropecuários, de

1,0% (abaixo da média nacional em ambos os casos), como mostra o Gráfico 6, a seguir.

Gráfico 6: Taxa anual média de crescimento da remuneração por trabalha-

dor entre 2001 e 2011, diferenciais entre pequenos empreendedores e seus

empregados no Brasil

Fonte: Estimativas produzidas pela SAE /PR com base nas PNADS 2001 e 2011.Nota: Consideram-se pequenos empreendedores os trabalhadores por conta própria e os empregadores com até 10 empregados.

Page 47: Vozes da Nova Classe Média - 3º Caderno

Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 47

c) Disparidades em crescimento entre pequenos empreendedores

Dentre os pequenos empreendedores, também o processo de crescimento foi equitativo,

com a remuneração crescendo muito mais entre os trabalhadores por conta própria, que ti-

picamente percebem menores remunerações, que dentre os pequenos empregadores, que

recebem maiores remunerações. Enquanto a remuneração dos trabalhadores por conta

própria tem seguido a média para o conjunto dos trabalhadores (média de 2,2% ao ano ao

longo da última década), o crescimento da remuneração dos empregadores tem sido muito

mais lento (média de 0,6% ao ano ao longo da última década), como mostra o Gráfico 7.

Gráfico 7: Taxa anual média de crescimento da remuneração dos empre-

endedores entre 2001 e 2011, diferenciais entre conta própria e pequenos

empregadores no Brasil

Fonte: Estimativas produzidas pela SAE /PR com base nas PNADS 2001 e 2011.Nota: Consideram-se pequenos empreendedores os trabalhadores por conta própria e os empregadores com até 10 empregados.

A queda na desigualdade também levou a reduções nos diferenciais entre: i) atividades

agropecuárias e as demais atividades, e ii) entre trabalhadores formais e informais. No

caso das atividades agropecuárias e não agropecuárias, o histórico diferencial de remu-

neração declinou de forma acentuada, haja vista que a remuneração dos pequenos em-

preendedores agropecuários cresceu, em média, 2,3% ao ano e, portanto, bem acima

da média para todos os pequenos empreendedores (1,4% ao ano), ao passo que, entre

os (pequenos) empreendedores não agropecuários, a taxa de crescimento média anual

limitou-se a 1,0%, conforme mostra o Gráfico 8, a seguir.

Page 48: Vozes da Nova Classe Média - 3º Caderno

48 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média

Gráfico 8: Taxa anual média de crescimento da remuneração dos empre-

endedores entre 2001 e 2011, diferenciais entre os setores agropecuário e

demais setores no Brasil

Fonte: Estimativas produzidas pela SAE /PR com base nas PNADS 2001 e 2011.Nota: Consideram-se pequenos empreendedores os trabalhadores por conta própria e os empregadores com até 10 empregados

d) Disparidades entre os segmentos formal e informal

Similarmente, também declinaram os diferenciais entre trabalhadores formais e informais,

tanto entre os pequenos empreendedores como entre seus empregados.

Entre os pequenos empreendedores a diferença foi extremamente marcante. Na última

década, enquanto a remuneração entre os informais crescia 1,7% ao ano, entre os for-

mais ocorria um declínio de 1,1% ao ano nas remunerações. Vale ressaltar, porém, que

esta diferença se deve muito mais à acelerada formalização que marcou o período do que

propriamente à adversidade de condições econômicas enfrentadas pelo segmento formal.

Como, no período analisado, muitos pequenos empreendedores com baixa remuneração

se formalizaram, a adesão destes novos formais levou a uma queda na remuneração média

do conjunto dos empreendedores formais. Em outras palavras, a queda na remuneração

média dos empreendedores formais se deveu muito mais a uma mudança na composição do

grupo (que abriu as portas para segmentos com remuneração mais baixa) que propriamente

por uma queda na remuneração daqueles que já pertenciam ao grupo. Uma evidência que

corrobora esta hipótese é o fato de que o volume total de remunerações cresceu em 35%

na década, enquanto a remuneração média declinou em 10% (ou em 1,0% ao ano).

Page 49: Vozes da Nova Classe Média - 3º Caderno

Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 49

As disparidades entre pequenos empreendedores formais vs. informais podem ser vistas na

Tabela 14, seguinte.

Tabela 14: Crescimento da ocupação e remuneração dos empreendedores por segmento, Brasil, 2001 a 2011

Indicador 2001 2011 Taxa média anual de crescimento (%)

Pequenos empreendedores* (milhões) 19,8 21,6 0,9

Segmento formal (milhões) 3,9 6,0 4,2

Segmento informal (milhões) 15,8 15,7 -0,1

Remuneração média dos pequenos empreendimentos (R$/mês) 1.276 1.465 1,4

Segmento formal (milhões) 2.906 2.615 -1,0

Segmento informal (milhões) 872 1.028 1,7

Volume de remunerações dos pequenos empreendimentos (R$ bilhões/ano) 305 380 2,3

Segmento formal (milhões) 138 187 3,1

Segmento informal (milhões) 165 193 1,6

Fonte: Estimativas produzidas pela SAE/PR com base na PNAD 2011.* Consideram-se pequenos empreendedores os trabalhadores por conta própria e os empregadores que contratam até 10 empregados.

Também entre os empregados em pequenos empreendimentos não agropecuários o di-

ferencial entre formal e informal foi reduzido. Assim, embora a remuneração dos em-

pregados com carteira permaneça 50% superior à dos sem carteira, de 2001 a 2011, o

crescimento na remuneração dos empregados informais (2,0% ao ano em média) foi mais

acentuado que o dos formais (1,7% ao ano), como mostra o Gráfico 9, a seguir.

Page 50: Vozes da Nova Classe Média - 3º Caderno

50 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média

Gráfico 9: Taxa anual média de crescimento da remuneração dos emprega-

dos em pequenos empreendimentos entre 2001 e 2011, diferenciais entre os

segmentos formal e informal no Brasil

Fonte: Estimativas produzidas pela SAE /PR com base nas PNADS 2001 e 2011.Notas:1- Condideram-se pequenos empreendimentos aqueles com até 10 empregados.2 - Consideram-se formais aqueles empregados que possuem carteira de trabalho assinada. 3 - Devido a limitação na fonte de informação utilizada, não foram incluídos os empregados em estabelecimentos agropecuários.

e) Crescimento na ocupação e na remuneração

A evidência dos últimos dez anos também revela – em todos os segmentos onde a geração

de postos de trabalho era responsabilidade dos empreendedores – uma significativa relação

inversa entre expansão na ocupação e aumento na remuneração.

Como mostra o Gráfico 10, foi nos segmentos que se retraíram, como o agropecuário e o

informal, que o crescimento na remuneração foi maior. Nos segmentos formais e não agro-

pecuários, o crescimento acentuado no número de pequenos empreendedores foi acompa-

nhado por um crescimento muito mais lento na remuneração, até com reduções em um dos

casos (empreendedor formal). Daí resulta evidência de que a expansão do empreendedo-

rismo em atividades não agropecuárias e formais resultou provavelmente muito mais de um

ambiente institucional facilitador do que propriamente de maior atratividade do ambiente

econômico nestes segmentos.

Page 51: Vozes da Nova Classe Média - 3º Caderno

Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 51

Gráfico 10: Relação entre a taxa de crescimento da remuneração e a ex-

pansão do número de pequenos empreendedores por segmento e setor de

atividade, Brasil, 2001 a 2011

Fonte: Estimativas produzidas pela SAE /PR com base nas PNADS 2001 e 2011.Nota: Consideram-se pequenos empreendimentos aqueles com até 10 empregados, e formais os que contribuem para a previ-dência social.

Page 52: Vozes da Nova Classe Média - 3º Caderno

52 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média

Page 53: Vozes da Nova Classe Média - 3º Caderno

Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 53

2. A distribuição de renda dos pequenos empreendedores: o futuro da classe média nesse grupo ocupacional

Crescimento econômico e mudanças na parcela da renda total apropriada

por cada pessoa são dois fenômenos que transformam a distribuição de

renda da sociedade. Uma boa estratégia para estudar tais transformações,

por sua simplicidade e transparência, consiste em dividir a população em

classes de renda e acompanhar o que aconteceu nos últimos dez anos com

o tamanho relativo desses grupos. Os cadernos Vozes da Nova Classe Média

vêm adotando tal estratégia de análise, desde sua primeira edição, e consi-

dera três classes de renda distintas entre a população brasileira:

a) Classe baixa: pessoas em domicílios com renda per capita inferior a

R$291 por mês;

b) Classe média: pessoas em domicílios com renda per capita entre R$291

e R$1.019 por mês;

c) Classe alta: pessoas em domicílios com renda per capita superior a

R$1.019 por mês

Page 54: Vozes da Nova Classe Média - 3º Caderno

54 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média

Conceitualmente, o que aconteceria com o tamanho relativo das classes de renda durante

o processo de enriquecimento da sociedade? Imaginemos um país pobre (com renda total

baixa) em que a maioria da população pertence à classe baixa, algumas pessoas já fazem

parte de uma classe média emergente e pouquíssimos compõem a classe alta. Nesse

exemplo, suponhamos que o país deixe de ser pobre, ganhe o status de “em desenvolvi-

mento” (de renda mediana), e, com isso, passe a concentrar a maioria da população na

classe média. Poucas pessoas pertenceriam às classes baixa ou alta. Isto é, o enriqueci-

mento do país teria dado um empurrão com força suficiente para levar muita gente que

estava na classe baixa para a classe média, conforme ilustra o Gráfico 1.

Gráfico 1: Crescimento econômico e mobilidade da classe baixa para a média

Porcentagem

da população

Classe baixa Classe média Classe alta Níveis de renda da sociedade

Digamos que o país passe por um novo ciclo de enriquecimento e que agora o empurrão

leve a população concentrada na classe média para a classe alta. Poucos ficariam nas clas-

ses baixa ou média, conforme ilustra o Gráfico 2.

Gráfico 2: Crescimento econômico e mobilidade da classe média para a alta

Porcentagem

da população

Classe baixa Classe média Classe alta Níveis de renda da sociedade

Page 55: Vozes da Nova Classe Média - 3º Caderno

Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 55

Portanto, não é verdade que o processo de crescimento e desenvolvimento de um país

sempre aumente o tamanho da classe média. Afinal, dependendo do estágio em que já

se encontra a sociedade, tais processos podem diminuir o tamanho da classe média, ao

empurrar pessoas para a classe alta!

Esse processo é válido tanto para transformações na distribuição de renda da sociedade,

como também para análises que envolvam grupos específicos da sociedade. Dado que

esta edição do caderno é dedicada aos pequenos empreendedores, apresentamos, na

presente seção, uma avaliação da distribuição de renda desse grupo. Em termos gerais, a

avaliação oferece ao leitor uma foto atual do percentual de pequenos empreendedores

em cada uma das três classes de renda (baixa, média e alta) e também uma descrição de

como o tamanho relativo das classes variou na última década.

O grupo dos pequenos empreendedores, por sua vez, pode ser subdividido em outras

categorias, tais como trabalhadores por conta própria e empregadores, contribuintes ou

não para a previdência (formais ou informais), ocupados em postos agropecuários ou não

agropecuários. A seção também apresenta informações relativas a tais subcategorias. Para

enriquecer a análise, ilustra, ao final, a situação do grupo dos empregados em pequenos

empreendimentos não agropecuários, de modo a oferecer ao leitor uma ideia das condi-

ções de vida do grupo contratado pelos empreendedores.

Antes de passarmos aos dados propriamente, vale, mais uma vez, enfatizar que as trans-

formações na distribuição de renda afetam o tamanho da classe média, dependendo do

estágio de desenvolvimento em que se encontra a sociedade ou o grupo analisado. Por

essa razão, iniciamos o capítulo aprofundando tal discussão conceitual. Dividimos o pro-

cesso de enriquecimento de uma sociedade ou grupo em oito etapas. A ideia é que pos-

samos identificar em que estágio (ou etapa) se encontra cada um dos grupos de pequenos

empreendedores analisados, o que permitirá tecer conjecturas sobre o tamanho futuro da

classe média e das demais classes.

2. 1. Etapas do processo de expansão do tamanho da classe média

Para avaliar as transformações ocorridas na distribuição de renda brasileira, completamos

com maior riqueza de detalhes a descrição das etapas do processo de expansão (e pos-

terior retração) do tamanho da classe média, levando em consideração dois fatores. Em

Page 56: Vozes da Nova Classe Média - 3º Caderno

56 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média

primeiro lugar, em todo o processo de crescimento econômico, a classe baixa se contrai

e a alta se expande. Porém, o impacto sobre o tamanho da classe média não é óbvio,

uma vez que nela podem entrar ou sair pessoas. O efeito final dependerá se as entradas

superam ou não as saídas. Além disso, embora o crescimento econômico empurre cada

vez mais pessoas para uma classe mais alta, alternam-se momentos de concentração da

população em uma das classes e posterior espalhamento. Por exemplo, a cada rodada

de crescimento, mais pessoas movem-se para a classe média, fazendo com que a classe

baixa concentre cada vez menos gente. Também há mobilidade da classe média para a

classe alta. Dependendo da intensidade desses movimentos, a classe média pode passar a

concentrar a maioria da população. Até que ocorra o ápice de tamanho da classe média,

haverá dispersão das pessoas entre as classes.

As etapas descritas na sequência obedecem a essa lógica, que combina movimentos de

entrada e saída na classe média e concentração/desconcentração da população em uma das

classes. Conceitualmente, o processo de crescimento pode prosseguir por oito etapas:

i) Digamos que, em um primeiro momento, a sociedade seja muito pobre. A

maioria da população pertenceria à classe baixa, uma pequena parcela à clas-

se média e outra parcela, em geral, menor ainda, pertenceria à classe alta.

ii) Na medida em que a renda da sociedade cresce, a classe baixa fica menor e

a classe alta, maior. Já o tamanho da classe média dependerá de quantas pes-

soas entraram e saíram. Quando entram mais pessoas na classe média do que

saem, há redução no tamanho da classe baixa mais intensa do que expansão

da classe alta. Esse processo segue, então, com redução no tamanho da classe

baixa até que ela não concentre mais a grande maioria da população. De fato,

o ponto final da segunda etapa é aquele em que nenhuma das classes detém

a maioria da população (mais de 50%), mas a classe baixa continua a ser a

maior e a classe alta, a menor.

iii) Com mais uma rodada de crescimento econômico, prossegue a redução da

classe baixa e a expansão da classe média. Na terceira etapa, tantas pessoas

teriam migrado da classe baixa para a média, que o tamanho da classe média

ultrapassaria o da classe baixa. A classe baixa permaneceria maior do que a

alta e, embora a classe média tenha se transformado na maior entre as três,

ainda não concentraria a maioria da população.

Page 57: Vozes da Nova Classe Média - 3º Caderno

Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 57

iv) A quarta etapa é aquela em que o processo de crescimento empurra novas

pessoas da classe baixa para a média até que a maioria da população final-

mente passe a pertencer à classe média. Como nas etapas anteriores, a classe

média continuaria a crescer, uma vez que a expansão da classe alta ainda é

menor que a contração da classe baixa.

v) Na quinta etapa, começam a ganhar destaque os movimentos na ponta su-

perior da distribuição de renda. Qualquer novo crescimento deste ponto em

diante traz um aumento da classe alta em extensão maior do que a redução

da classe baixa. Isso significa que haveria mais pessoas saindo do que entrando

na classe média, o que marca o início da contração da classe média.

vi) A sexta etapa engloba todas as contrações da classe média, até que ela deixe

de concentrar a maioria da população. Nesse momento, a menor das classes

é a baixa e a classe média possui tamanho intermediário.

vii) A penúltima etapa é aquela em que o declínio da classe média foi tal que a

classe alta se torna a maior entre as três.

viii) Por fim, com a continuidade do processo de crescimento, a maior parte da

população passaria a integrar a classe alta e a classe baixa manteria o status de

a menor entre as três.

Enfim, a classe média começa a reduzir de tamanho quando há mais gente saindo (para

a classe alta) do que entrando (vindo da classe baixa) e, a partir desse momento, a classe

alta vai se tornando maior do que a baixa. Portanto, em algum momento do processo de

crescimento, a classe média alcança um tamanho máximo.

O tamanho máximo atingido pela classe média dependerá, por sua vez, do tamanho das

classes baixa e alta nesse momento (o que equivale a dizer que dependerá do grau de

desigualdade de renda vigente na sociedade). Em uma sociedade com baixo grau de de-

sigualdade, há poucos ricos e pobres. Nesse caso, a classe alta começará a se expandir

apenas quando a classe baixa praticamente já não existir mais. Quando a desigualdade é

pequena, em sociedades com renda mediana, a classe média poderá concentrar até 2/3

da população.

Page 58: Vozes da Nova Classe Média - 3º Caderno

58 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média

Já quando o grau de desigualdade é elevado, a classe alta começa a se expandir mesmo quan-

do a classe baixa ainda é significativa. Assim, em sociedades de renda mediana e alto grau

de desigualdade, o ápice da classe média pode concentrar menos da metade da população.

Em qual dessas oito etapas se encontra uma dada sociedade dependerá do nível de renda

da mesma e de seu grau de desigualdade. Maiores níveis de renda fazem com que a classe

baixa seja pequena e a classe alta, grande. Já quanto maior o grau de desigualdade, maiores

serão as classes baixa e alta e menor será a classe média.

Na próxima seção, ao invés de olhar para a distribuição de renda da sociedade brasileira

como um todo, vamos analisar a distribuição de renda de alguns grupos específicos de

ocupação, a saber, os pequenos empreendedores e seus empregados. Buscaremos iden-

tificar o tamanho relativo das três classes (baixa, média e alta) dentro de cada grupo de

ocupação, nos valendo desse marco conceitual do desenvolvimento em oito etapas.

2.2. A distribuição de renda entre os pequenos empreendedores

Atualmente quase metade (49%) dos pequenos empreendedores pertence à classe mé-

dia, 30% à classe alta e 21%, à classe baixa, o que faz o grupo bastante heterogêneo.

Ao longo da última década, houve expansão da classe média em 8 pontos percentuais

(passou de 41% para 49% dos pequenos empreendedores), embora a classe baixa tenha

se contraído 18 pontos percentuais (passou de 39% para 21% dos empreendedores).

Portanto, a expansão da classe média entre os pequenos empreendedores poderia ter

sido ainda mais acentuada. Só não o foi porque a classe alta também se expandiu signifi-

cativamente (10 pontos percentuais, passando de 20% dos empreendedores para 30%).

Tabela 1: Percentual de empreendedores por classe de renda

Classes de renda 2001 2011 Variação (p.p.)

Pequenos empreendedores*

Alta 20 30 10

Média 41 49 8

Baixa 39 21 -18

Fonte: Estimativas produzidas pela SAE/PR com base nas PNADs 2001 e 2011.* Consideram-se pequenos empreendedores os trabalhadores por conta própria e os empregadores que contratam até 10 empregados.

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Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 59

Nesse período, a classe alta já se expandia mais do que a classe média. A classe média atu-

almente está estabilizada em seu ápice. Podemos dizer que a distribuição de renda entre

os empreendedores está iniciando a sexta das oito etapas descritas na seção anterior, eta-

pa esta marcada por duas características: (i) a classe média é a maior dentre as três sem,

no entanto, deter a maioria da população e (ii) a tendência é que a expansão das classes

fique restrita à classe alta.

2.3. Desagregando a distribuição de renda entre pequenos em-preendedores: conta própria versus empregadores

Boa parte da heterogeneidade que existe na distribuição de renda dos pequenos empreen-

dedores vem da convivência de trabalhadores por conta própria e pequenos empregadores.

Mais da metade dos trabalhadores por conta própria (51%) está na classe média e os

demais se dividem em grupos de praticamente igual tamanho: 23% pertencem à classe

baixa e 26% à classe alta. Já entre os pequenos empregadores, quase 2/3 dos trabalha-

dores (65%) estão na classe alta. A classe média responde por 32% dos empregadores e

está em declínio.

Tabela 2: Percentual de pequenos empreendedores por classe de renda

Classes de renda 2001 2011 Variação (p.p.)

Conta própria

Alta 15 26 11

Média 42 51 9

Baixa 44 23 -20

Pequenos empregadores*

Alta 52 65 13

Média 38 32 -6

Baixa 10 4 -4

Fonte: Estimativas produzidas pela SAE/PR com base nas PNADs 2001 e 2011.* Consideram-se pequenos empregadores aqueles com até 10 empregados.

Analisando historicamente a distribuição de renda dos trabalhadores por conta própria, a

classe média cresceu 9 pontos percentuais (de 42% para 51%). Resultado de uma con-

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60 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média

tração de 20 pontos percentuais na classe baixa (reduziu seu tamanho à metade, passando

de 44% para 23%) mitigada por um aumento de 11 pontos percentuais na classe alta (que

passou de 15% para 26%). A expansão da classe alta na última década já foi mais acentuada

do que a da classe média e essa distribuição encontra-se no início da quinta dentre as oito

etapas descritas: o tamanho da classe média alcança seu ápice e a contração da classe baixa

será menor do que a expansão da classe alta, o que reduzirá o tamanho da classe média.

Já a distribuição de renda dos pequenos empregadores encontra-se em um estágio muito

mais avançado e experimenta o oitavo degrau do processo de desenvolvimento da distri-

buição de renda, em que a maioria dos trabalhadores pertence à classe alta e há sucessiva

retração da classe média. De fato, ela reduziu de tamanho em 6 pontos percentuais e hoje

abarca 32% dos empregadores. Há uma diminuta (4%) classe baixa remanescente. Vale

ressaltar que, devido à elevada heterogeneidade interna no grupo de pequenos empre-

gadores, a classe média nunca chegou a representar mais do que 40% dos trabalhadores,

nem mesmo em seu ápice, no ano de 2004.

2.4. Desagregando a distribuição de renda entre os pequenos em-preendedores: atividades agropecuárias versus não agropecuárias

Para os pequenos empreendedores envolvidos em atividades agropecuárias, a classe mé-

dia ainda responde por menos da metade (44%) dos ocupados e encontra-se em amplo

processo de expansão. De fato, em dez anos, cresceu 15 pontos percentuais (de 29%

para 44%), movimento este acompanhado de substancial contração da classe baixa (23

pontos percentuais) contrabalanceada por uma pequena expansão da classe alta (8 pontos

percentuais), o que os coloca na terceira etapa do processo descrito anteriormente. Nes-

sa etapa, a classe média, a despeito de ser o grupo mais numeroso, ainda não é maioria

(classe baixa detém 41% dos trabalhadores e alta, 15%) e continua a crescer, dado que a

velocidade de retração da classe baixa é superior à velocidade de expansão da classe alta.

Para os ocupados em atividades não agropecuárias, a classe média cresceu, em dez anos,

apenas 5 pontos percentuais, mas congrega metade dos pequenos empreendedores. Na

verdade, há indícios de que a expansão da classe média nesse grupo já tenha alcançado o

ápice. A contração da classe baixa, que ainda detém 16% do grupo, é um pouco inferior

à expansão da classe alta (com 34% dos trabalhadores), o que mantém razoavelmente

estagnado o tamanho da classe média (cresceu apenas 5 pontos percentuais). Essa é uma

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Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 61

distribuição na quinta etapa do processo: a maioria da população ainda se encontra na

classe média, que começará a se retrair. A expansão da classe alta se tornará mais acele-

rada do que a redução da classe baixa.

Tabela 3: Percentual de pequenos empreendedores ocupados em ativida-des agropecuárias e não agropecuárias por classe de renda

Classes de renda 2001 2011 Variação (p.p.)

Agropecuário

Alta 7 15 8

Média 29 44 15

Baixa 64 41 -23

Não agropecuário

Alta 24 34 10

Média 45 50 5

Baixa 31 16 -15

Fonte: Estimativas produzidas pela SAE/PR com base nas PNADs 2001 e 2011.Nota: Consideram-se pequenos empreendedores os trabalhadores por conta própria e os empregadores que contratam até 10 empregados.

2.5. Desagregando a distribuição de renda entre pequenos empre-endedores: atividades formais versus informais

Talvez seja na questão da formalidade que a gigantesca heterogeneidade dos pequenos em-

preendedores melhor se revele. Os empreendedores formais são aqueles que contribuem

para a previdência e os informais, os que não contribuem.

Enquanto 53% dos pequenos empreendedores formais já pertencem à classe alta, para os

informais, a classe alta inclui somente 22% dos trabalhadores. No outro extremo, a classe

baixa engloba apenas 6% dos pequenos empreendedores formais e 26% dos informais.

Consequentemente, a classe média é maior entre os pequenos empreendedores informais

(52% informais versus 41% formais).

Ao longo da última década, a distribuição dos pequenos empreendedores formais nas três

classes de renda se alterou pouco. A classe baixa, que já era diminuta, declinou 3 pontos

percentuais adicionais, enquanto que a classe média, em lento declínio, passou de 42%

para 41% do total de trabalhadores no grupo. O resultado foi uma pequena expansão de

4 pontos percentuais na classe alta. Essa distribuição de renda encontra-se claramente no

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62 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média

último dos oito estágios de desenvolvimento, quando a classe alta é maioria e somente ela

se expande graças a contrações nas demais classes.

Ao contrário da estabilidade entre os formais, nos últimos dez anos, a distribuição dos

pequenos empreendedores informais se alterou bruscamente. A classe baixa, que era qua-

se majoritária (46%), caiu 20 pontos percentuais e em 2011 tinha quase metade de seu

tamanho inicial. A classe alta se expandiu em 9 pontos percentuais (passou de 13% para

22%). Como resultado líquido de uma contração da classe baixa muito mais acentuada do

que a expansão da classe alta, vimos a classe média crescer significativamente. De fato, a

classe média em 2011 abarcava a maioria (52%) dos pequenos empreendedores informais,

resultado de uma substancial expansão de 11 pontos percentuais ao longo da década (de

41% em 2001 a 52% em 2011). Uma vez que o grau de desigualdade entre os pequenos

empreendedores informais não é muito alto (tanto a classe alta como a baixa detém cada

uma aproximadamente 25% dos trabalhadores), a classe baixa continuará a se contrair

mais rapidamente do que se expande a classe alta. Com isso, a tendência da classe média

nesse grupo é continuar crescendo. Trata-se de uma distribuição encerrando a quarta das

oito etapas que caracterizam o processo de desenvolvimento analisado. Essa etapa é mar-

cada por uma classe média que inclui a maioria dos trabalhadores e continua a se expandir.

Neste momento a classe baixa ainda é maior do que a classe alta.

Tabela 4: Percentual de pequenos empreendedores formais e informais por clas-se de renda

Classes de renda 2001 2011 Variação (p.p.)

Formais*

Alta 49 53 4

Média 42 41 -1

Baixa 9 6 -3

Informais

Alta 13 22 9

Média 41 52 11

Baixa 46 26 -20

Fonte: Estimativas produzidas pela SAE/PR com base nas PNADs 2001 e 2011.Nota: Consideram-se pequenos empreendedores os trabalhadores por conta própria e os empregadores que contratam até 10 empregados.* Consideram-se formais os empreendedores que contribuem para a previdência social.

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Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 63

2.5. Empregados em pequenos empreendimentos não agropecuários

Ao contrário dos pequenos empreendedores – para os quais a classe média não chega a

representar a maioria (49%) – entre os empregados em pequenos empreendimentos não

agrícolas, a classe média engloba 63% dos trabalhadores.

Na última década, muitos desses empregados passaram a pertencer à classe média, que

cresceu 11 pontos percentuais (foi de 51% para 63%). Resultado este de uma substancial

contração da classe baixa em 19 pontos percentuais (que passou de 36% em 2001 a 17%

em 2011), contrabalanceada por expansão da classe alta em 8 pontos percentuais (que foi

de 12% dos trabalhadores para 20%).

Tabela 5: Percentual de empregados formais e informais e, pequenos em-preendimentos por classe de renda

Classes de renda 2001 2011 Variação (p.p.)

Empregados em pequenos empreendimentos*

Alta 12 20 8

Média 51 63 11

Baixa 36 17 -19

Formais**

Alta 16 24 8

Média 59 66 7

Baixa 25 10 -15

Informais

Alta 9 10 1

Média 46 59 14

Baixa 45 31 -14

Fonte: Estimativas produzidas pela SAE/PR com base nas PNADs 2001 e 2011.* Devido a limitações na fonte de informação utilizada, não foram incluídos os empregados em estabelecimentos agropecuários.**Consideram-se formais os empregados com carteira de trabalho.

Para o grupo dos empregados em pequenos empreendimentos não agropecuários, a ex-

pectativa para os próximos anos é que essas migrações entre as classes sigam o mesmo

padrão (classe baixa se contrai mais do que se expande a classe alta) e a classe média, que

já é extensa, continue a crescer. Essa é uma distribuição de renda passando pela quarta

das oito etapas descritas.

Page 64: Vozes da Nova Classe Média - 3º Caderno

64 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média

O grupo dos empregados em pequenos empreendimentos analisado nessa seção pode

ainda ser desagregado em duas categorias: formais (aqueles trabalhadores com carteira

de trabalho assinada) e os informais (sem carteira de trabalho assinada). Embora a desi-

gualdade no grupo, de uma maneira geral, não seja muito alta, há diferenças significativas

entre as duas categorias.

A classe média é muito maior (7 pontos percentuais) entre os empregados formais (66%

contra 59%) e tal diferença deve-se à importância da classe baixa em cada categoria (10%

entre os formais e 31% entre os informais). Consequentemente, a classe alta é maior para

os empregados formais (24% contra 10%).

Conforme esperado, os empregados formais têm melhor distribuição de renda compara-

tivamente aos informais: menor participação da classe baixa e maiores participações das

classes média e alta.

Na última década, diminuíram as diferenças de tamanho da classe média entre emprega-

dos formais e informais em pequenos empreendimentos (em 2001, a diferença era de 14

pontos percentuais e em 2011, 7 pontos percentuais). Mas as diferenças de tamanho da

classe alta aumentaram (em 2001, a diferença era de 7 pontos percentuais e em 2011,

igual a 14 pontos percentuais).

Considerações finais

De uma maneira geral, vimos que, para os pequenos empreendedores, a classe média é a

maior de todas (comparada com as classes alta e baixa) e tende a reduzir seu tamanho nos

próximos anos, ao mesmo tempo em que a classe alta deverá experimentar uma expansão.

A análise apresentada nesta seção permitiu olhar no interior do grupo de pequenos empre-

endedores, reconhecendo as nuances e identificando subgrupos em posição de vantagem

e outros em desvantagem. Dois subgrupos, embora estejam em uma etapa do processo de

desenvolvimento anterior à média dos pequenos empreendedores, repetem a tendência

do grupo de retração da classe média nos próximos anos: os trabalhadores por conta pró-

pria e os ocupados em atividades não agropecuárias.

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Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 65

Tabela 6: Síntese da etapa em que se encontra cada distribuição

Grupos Etapa Previsão para o futuro da classe média

Todos os pequenosempreendedores* 6a É a maior, mas não tem a maioria. Tendência é diminuir.

Conta própria 5a É a maior, tem a maioria. Tendência é diminuir.

Empregadores 8a Não é a maior. Classe alta é a maior. Tendência é classe média diminuir e alta aumentar.

Agropecuário 3a É a maior, mas não tem maioria. Tendência é aumentar.

Não agropecuário 5a É a maior, tem quase a maioria. Tendência é diminuir.

Formais 8a Não é a maior. Classe alta é a maior. Tendência é classe média diminuir e alta aumentar.

Informais 4a É a maior, tem a maioria. Tendência é aumentar.

Empregados em pequenosempreendimentos** 4a É a maior, tem a maioria. Tendência é aumentar.

Fonte: Previsões produzidas pela SAE/PR com base nas PNADs 2001 e 2011.* Consideram-se pequenos empreendedores os trabalhadores por conta própria e os empregadores que contratam até 10 empregados.**Devido a limitações na fonte de informação utilizada, não foram incluídos os empregados em estabelecimentos agropecuários.

Os demais subgrupos podem ser agrupados ou em posição de vantagem ou de desvan-

tagem quando comparados com a média dos pequenos empreendedores. Os pequenos

empregadores e empreendedores formais passam hoje pela última etapa do processo de

desenvolvimento e, neles, a classe média já não cresce mais, apenas a classe alta.

Já os ocupados em atividades agropecuárias e os pequenos empreendedores informais

se destacam negativamente, sendo que os agropecuários são o subgrupo no estágio mais

baixo do processo de desenvolvimento da distribuição de renda (3ª etapa). Para ambos,

a tendência nos próximos anos é de aumento da classe média. Vale notar que esses dois

grupos estão no mesmo estágio em que atualmente se encontram os empregados em

pequenos empreendimentos não agropecuários, que também devem passar por nova

expansão da classe média.

Page 66: Vozes da Nova Classe Média - 3º Caderno

66 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média

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Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 67

3.Faces: pequenosempreendedores e seus empregados

Os pequenos empreendedores já pertencem majoritariamente à classe

média ou alta. A tendência para os próximos anos é que cada vez mais os

pequenos empreendedores deixem a classe média e ingressem na classe

alta. De fato, entre eles, a classe média deverá se retrair.

Contudo há grande heterogeneidade no grupo. Os formais e, principal-

mente, os pequenos empregadores são os mais privilegiados. Por outro

lado, para os pequenos empreendedores em atividades agropecuárias ain-

da há grande concentração de pessoas na classe baixa, situação mais precá-

ria do que a dos pequenos empreendedores informais e até mesmo que a

dos empregados em pequenos empreendimentos não agropecuários.

Mas quem são os pequenos empreendedores em melhor situação? E aque-

les menos privilegiados? Nesta seção, exploraremos as dicotomias clássicas

homens vs. mulheres e brancos vs. negros. Além disso, verificaremos como

se distribui a população segundo a idade e o nível educacional nas dife-

rentes ocupações. Foram consideradas três grandes categorias ocupacio-

nais: empregador com até 10 empregados (doravante chamado pequeno

empregador), trabalhadores por conta própria (que se incluem no grupo

dos pequenos empreendedores) e empregado em empresa com até 10

empregados (doravante chamados empregados em pequenos empreendi-

mentos). Cada uma delas, por sua vez, foi desagregada em subcategorias

que combinam a formalização e se a atividade é ou não agropecuária.

Page 68: Vozes da Nova Classe Média - 3º Caderno

68 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média

Com isso, esperamos identificar se entre os grupos mais pobres há maior prevalência de

trabalhadores do sexo feminino ou de negros. É de se esperar que tais grupos, tipicamente

menos privilegiados, estejam sobrerrepresentados entre os mais pobres. Da mesma for-

ma, avaliamos, para cada categoria ocupacional, a distribuição dos trabalhadores segundo

a idade e o nível de escolaridade, o que nos permite saber, por exemplo, para quais grupos

há sobrerrepresentação dos mais jovens, idosos ou dos menos escolarizados. Como os

jovens e os menos escolarizados têm tradicionalmente ocupações mais precárias, é de se

esperar que estejam concentrados entre os ocupados em atividades agropecuárias ou até

mesmo entre os empregados.

Duas estratégias de investigação foram adotadas. A primeira considera para cada catego-

ria ocupacional uma espécie de “detector” de trabalhadores do sexo feminino (subseção

2) ou de trabalhadores negros (subseção 3) em cada uma das três classes de renda (baixa,

média e alta). A ideia é identificar se as mulheres e trabalhadores negros aparecem ou não

com maior frequência entre as classes mais baixas.

A segunda estratégia de investigação nos permite saber em que categorias ocupacionais há

maior prevalência de jovens e em quais há mais trabalhadores idosos (tema da subseção

3). Além disso, analisamos em quais categorias ocupacionais há mais trabalhadores com

baixa escolaridade e quais são as dominadas pelos altamente escolarizados (subseção 4).

Assim, caso as categorias ocupacionais menos privilegiadas ou as classes mais baixas te-

nham uma face bem definida, esperamos que esse capítulo ajude a revelá-la e, com isso,

contribua para o redesenho de ações especialmente voltadas para a melhoria das condi-

ções de trabalho e de vida dos grupos mais vulneráveis.

3.1. Homens versus Mulheres

Para analisar a dicotomia homens vs. mulheres com respeito às diferentes posições na

ocupação, produzimos a tabela 1, seguinte, que traz a proporção de homens e mulheres

por tipo de ocupação analisada, bem como a relação entre o número de homens e o de

mulheres por tipo de ocupação e classe de renda.

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Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 69

Tabela 1: Proporção de homens e mulheres por tipo de ocupação e relação homem/mulher por ocupação e por classe de renda, Brasil, 2011

Tipo de ocupação% Razão entre homens e mulheres

Total Homens Mulheres Todas as classes

Classe baixa

Classe média

Classe alta

Total dos trabalhadores 100 58 42 1,4 1,7 1,3 1,2

Pequenos empregadores*

Formais, em atividade não agropecuária 100 68 32 2,1 3,6 2,8 1,9

Informais, em ativida-de não agropecuária 100 70 30 2,4 7,7 2,9 2,0

Formais, em atividade agropecuária 100 87 13 6,6 - 5,5 6,8

Informais, em ativida-de agropecuária 100 89 11 8,1 14,0 6,3 9,5

Empregados em pequenos empreendimentos**

Formais, em atividade não agropecuária 100 56 44 1,3 3,0 1,3 1,0

Informais, em ativida-de não agropecuária 100 67 33 2,0 3,2 1,9 1,3

Conta própria

Formais, em atividade não agropecuária 100 67 33 2,1 3,5 2,1 2,0

Informais, em ativida-de não agropecuária 100 64 36 1,8 2,0 1,8 1,6

Formais, em atividade agropecuária 100 85 15 5,8 6,3 5,3 6,6

Informais, em ativida-de agropecuária 100 82 18 4,7 4,7 4,8 4,2

Fonte: Estimativas produzidas pela SAE/PR com base na PNAD 2011.* Consideram-se pequenos empregadores aqueles com até 10 empregados.** Devido a limitações na fonte de informação utilizada, não foram incluídos os empregados em estabelecimentos agropecuários.

Como podemos ver pela Tabela 1, para o total dos trabalhadores ocupados em todas

as classes, a relação é de 1,4. Isso quer dizer que o número de trabalhadores homens

ocupados é 1,4 vezes o número de trabalhadores mulheres ocupadas, isto é, o número

de trabalhadores ocupados do sexo masculino é 40% superior ao do sexo feminino. Exa-

minando este mesmo universo pelas diversas classes de renda, verificamos que a relação

entre o número de homens e o número de mulheres é sempre maior do que 1 – o que

significa que o número de homens ocupados é sempre superior ao número de mulheres

ocupadas. Vale notar, porém, que a relação diminui conforme se caminha da classe baixa

para a classe alta (1,7; 1,3; 1,2). Ou seja, quanto mais alta a classe de renda, menor é o

predomínio de homens.

Page 70: Vozes da Nova Classe Média - 3º Caderno

70 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média

Os pequenos empregadores (que ocupam a melhor posição em termos das chances de se

pertencer às classes de renda mais elevadas) são predominantemente do sexo masculino.

Nas atividades desenvolvidas por conta própria, ainda que com menor intensidade que

entre os empregadores, os homens também são predominantes. Passando aos emprega-

dos em pequenos empreendimentos, percebemos que neste segmento, o número de ho-

mens em relação ao de mulheres é bem mais equilibrado, especialmente no setor formal.

Fato que chama atenção é que nas atividades não agropecuárias – em qualquer tipo de

ocupação analisado – a relação homens/mulheres é monotônica e favorável às mulheres

com respeito à classe de renda, isto é, conforme se caminha da classe baixa, passando

pela classe média, em direção à classe alta, o predomínio de homens em relação ao de

mulheres sempre diminui. Enquanto nas atividades agropecuárias o mesmo não ocorre:

o predomínio de homens é maior na classe baixa, diminui na classe média, mas aumenta

novamente na classe alta.

Outro fato curioso é que, entre os pequenos empregadores e seus empregados, o predo-

mínio de homens é sempre maior no setor informal; ao passo que entre os trabalhadores

por conta própria ocorre exatamente o contrário, o predomínio de homens no setor

informal é menor.

3.2. Brancos versus Negros

Para analisar a dicotomia brancos vs. negros, construímos a Tabela 2, que mostra a pro-

porção de brancos e negros em cada tipo de ocupação analisado e também a relação en-

tre o número de trabalhadores brancos e o número de trabalhadores negros por tipo de

ocupação e classe de renda. Ao tomarmos o universo total de trabalhadores ocupados em

todas as classes, temos que a relação é igual a 1. Isso significa que o número de trabalhado-

res ocupados brancos é igual ao número de trabalhadores ocupados negros. Se houvesse

igualdade racial, esta relação deveria ser a mesma em qualquer ocupação e em qualquer

classe de renda analisada. Mas, como veremos, apesar de todo avanço social recente, a

igualdade racial ainda é um resultado a ser perseguido.

Page 71: Vozes da Nova Classe Média - 3º Caderno

Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 71

Tabela 2: Proporção de brancos e negros por tipo de ocupação e relação brancos/negros por ocupação e por classe de renda, Brasil, 2011

Tipo de ocupação% Razão entre brancos e negros

Total Branco Negros Todas as classes

Classe baixa

Classe média

Classe alta

Total dos trabalhadores 100 50 50 1,0 0,4 0,9 2,2

Pequenos empregadores*

Formais, em atividade não agropecuária 100 75 25 3,0 1,3 2,0 3,7

Informais, em atividade não agropecuária 100 59 41 1,4 0,6 1,0 1,9

Formais, em atividade agropecuária 100 82 18 4,5 0,2 2,2 8,7

Informais, em atividade agropecuária 100 59 41 1,4 0,4 1,0 2,9

Empregados em pequenos empreendimentos**

Formais, em atividade não agropecuária 100 55 45 1,2 0,6 1,1 2,5

Informais, em atividade não agropecuária 100 42 58 0,7 0,4 0,7 1,7

Conta própria

Formais, em atividade não agropecuária 100 65 35 1,8 0,9 1,3 2,7

Informais, em atividade não agropecuária 100 45 55 0,8 0,4 0,7 1,7

Formais, em atividade agropecuária 100 67 33 2,1 0,6 2,6 3,9

Informais, em atividade agropecuária 100 42 58 0,7 0,4 1,0 2,7

Fonte: Estimativas produzidas pela SAE/PR com base na PNAD 2011.* Consideram-se pequenos empregadores aqueles com até 10 empregados.** Devido a limitações na fonte de informação utilizada, não foram incluídos os empregados em estabelecimentos agropecuários.

Se com respeito à dicotomia homens vs. mulheres, caminhar da classe baixa em direção à

classe alta produzia um contexto favorável às mulheres, o mesmo não ocorre em relação

a brancos e negros. Quando olhamos o universo de todos os trabalhadores, temos que,

na classe baixa, os negros são predominantes e, na classe alta, os brancos predominam.

Este mesmo caminho desfavorável aos negros ocorre em todos os tipos de ocupação

analisadas.

Os brancos são mais frequentes nas ocupações de renda tipicamente mais elevada: pe-

quenos empregadores e trabalhadores por conta própria formalizados. Os brancos tam-

bém parecem conseguir melhores postos de trabalho quando exercem a ocupação de

empregados em pequenos empreendimentos, pois são maioria naqueles formais e tam-

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72 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média

bém nas classes de renda mais elevadas. Aliás, em qualquer tipo de ocupação analisado,

há uma clara presença maior de negros quando se passa do segmento formal ao informal

e que termina por refletir na posição que os negros tipicamente ocupam nas classes de

renda, porquanto as remunerações percebidas no setor formal são bastante superiores

àquelas percebidas no informal (conforme ilustrado na Seção 1).

3.3. Idade

Para vermos quais são as atividades tipicamente ocupadas por jovens (população que tem

entre 15 a 29 anos), aquelas predominantemente ocupadas por adultos (30 a 59 anos) e

por idosos (60 anos e mais), construímos a Tabela 3, que mostra a distribuição da popula-

ção por faixa de idade de acordo com os diferentes tipos de ocupação.

Tabela 3: Distribuição da população por faixa de idade de acordo com dife-rentes tipos de ocupação, Brasil, 2011

Tipo de ocupaçãoFaixa etária

Todas as idades 15 a 29 anos 30 a 59 anos 60 anos e mais

Total dos trabalhadores 100 31 62 7

Pequenos empregadores*

Formais, em atividade não agrope-cuária 100 11 81 8

Informais, em atividade não agrope-cuária 100 15 73 11

Formais, em atividade agropecuária 100 1 72 27

Informais, em atividade agropecuária 100 5 56 39

Empregados em pequenos empreendimentos**

Formais, em atividade não agrope-cuária 100 45 53 2

Informais, em atividade não agrope-cuária 100 53 44 3

Conta própria

Formais, em atividade não agrope-cuária 100 10 81 9

Informais, em atividade não agrope-cuária 100 19 68 12

Formais, em atividade agropecuária 100 7 80 13

Informais, em atividade agropecuária 100 12 64 24

Fonte: Estimativas produzidas pela SAE/PR com base na PNAD 2011.* Consideram-se pequenos empregadores aqueles com até 10 empregados.** Devido a limitações na fonte de informação utilizada, não foram incluídos os empregados em estabelecimentos agropecuários.

Page 73: Vozes da Nova Classe Média - 3º Caderno

Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 73

Como podemos ver na linha referente ao conjunto de trabalhadores ocupados, a popula-

ção jovem corresponde a 31%, a adulta a 62% e a dos idosos a 7%. Podemos considerar

que há predomínio de uma faixa etária em um dado tipo de ocupação se a proporção

daquela faixa de idade naquele dado tipo de ocupação for superior à proporção daquela

determinada faixa entre os trabalhadores ocupados como um todo. Por exemplo: os adul-

tos correspondem a 62% do total da força de trabalho ocupada, contudo correspondem

a 81% do total de pequenos empregadores formais em atividades não agropecuárias.

Consideramos, portanto, que os adultos são predominantes neste tipo de atividade.

Aliás, ao analisarmos o universo dos pequenos empregadores, vemos que esta é uma

atividade tipicamente ocupada por adultos. Com exceção dos informais em atividades

agropecuárias, em que há forte peso da população idosa. Os jovens aparecem relativa-

mente pouco entre os pequenos empregadores, sendo especialmente raros nas atividades

agropecuárias.

Os adultos aparecem muito fortemente nas atividades por conta própria. Os idosos tam-

bém. A proporção de ambas as faixas nestas atividades é bastante superior àquela obser-

vada para as mesmas faixas entre os trabalhadores como um todo. Os jovens têm pouca

participação neste tipo de atividade e, quando participam, são mais relevantes no setor

informal.

A única atividade predominantemente ocupada pelos jovens refere-se aos empregados

em pequenos empreendimentos, quer sejam formais ou informais. Os adultos, embora

sejam relevantes neste segmento, estão em proporção muito inferior àquela que exibem

entre os trabalhadores ocupados com um todo. Os idosos têm participação extremamen-

te reduzida neste tipo de ocupação.

No que diz respeito à informalidade, enquanto os adultos predominam no setor formal,

os jovens e os idosos são mais predominantes no setor informal. Isso é verdade em qual-

quer tipo de ocupação analisado.

3.4. Nível educacional

Para vermos como a população com diferentes níveis de educação está distribuída

pelos tipos de ocupação analisados, construímos a Tabela 4, seguinte.

Page 74: Vozes da Nova Classe Média - 3º Caderno

74 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média

Tabela 4: Distribuição da população por nível educacional de acordo com diferentes tipos de ocupação, Brasil, 2011

Tipo de ocupação

Nível Educacional

Todos os níveis

Ensinofundamental incompleto

Ensino fundamental

completo

Ensinomédio

incompleto

Ensino médio

completo

Alguma educação superior

Total dos trabalhadores 100 36 11 6 29 18

Pequenos empregadores*

Formais, em ativida-de não agropecuária 100 10 10 4 35 35

Informais, em ativida-de não agropecuária 100 13 13 6 32 21

Formais, em ativida-de agropecuária 100 15 15 3 24 21

Informais, em ativida-de agropecuária 100 9 9 4 18 8

Empregados em pequenos empreendimentos**

Formais, em ativida-de não agropecuária 100 20 12 8 43 17

Informais, em ativida-de não agropecuária 100 42 14 11 25 8

Conta própria

Formais, em ativida-de não agropecuária 100 27 12 5 32 24

Informais, em ativida-de não agropecuária 100 47 13 6 24 9

Formais, em ativida-de agropecuária 100 69 12 3 12 5

Informais, em ativida-de agropecuária 100 82 7 2 7 1

Fonte: Estimativas produzidas pela SAE/PR com base na PNAD 2011.* Consideram-se pequenos empregadores aqueles com até 10 empregados.** Devido a limitações na fonte de informação utilizada, não foram incluídos os empregados em estabelecimentos agropecuários.

Como podemos ver pela linha referente ao total de trabalhadores ocupados, ainda há

considerável proporção de trabalhadores com níveis educacionais muito baixos: 11%

com fundamental completo e 36% com fundamental incompleto. Em contraste com 29%

detendo ensino médio completo e 18% alguma educação superior. Seria de se esperar

que os níveis educacionais mais altos estivessem sempre predominantes nas melhores

ocupações, notadamente a de pequeno empregador. Mas veremos que isso nem sempre

ocorre.

Da mesma forma que fizemos com respeito à idade, iremos examinar se algum nível

educacional predomina em determinada atividade contrastando a proporção que aquele

nível de educação representa no total dos trabalhadores ocupados com a proporção que

Page 75: Vozes da Nova Classe Média - 3º Caderno

Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 75

ele representa em um dado tipo de ocupação. Por exemplo, os trabalhadores com algu-

ma educação superior representam 18% da população de trabalhadores ocupados, mas

representam 35% dos pequenos empregadores. Consideramos, portanto, que este nível

educacional predomina neste tipo de atividade.

Ainda no âmbito dos pequenos empregadores, percebemos um forte contraste entre a

realidade agro e não agropecuária. Se nas atividades não agropecuárias são predominantes

os níveis de educação mais altos (médio e superior), nas agropecuárias são mais frequen-

tes os níveis mais baixos (fundamental).

Mas isso não significa que nas atividades agropecuárias a educação não seja importante.

Quer seja entre os empregadores, quer seja entre os trabalhadores por conta própria,

nos segmentos formais há prevalência de níveis de educação mais altos. E é justamente

o segmento formal que encontra as melhores posições com respeito à classe de renda.

Nas atividades não agropecuárias, há um forte contraste entre os trabalhadores por conta

própria formais e os informais. Entre os formais, predominam níveis de educação mais

elevados (ensino médio e superior), enquanto entre os informais notam-se mais os menos

elevados (fundamental). O mesmo ocorre com os empregados em pequenos empreendi-

mentos: no setor formal predominam os níveis educacionais mais elevados; no informal,

os mais baixos.

Síntese

Dentre os diversos tipos de ocupação analisados – pequenos empregadores, empregados

em pequenos empreendimentos e trabalhadores por conta própria –, o primeiro tipo é o

que se encontra mais bem posicionado em termos de classe de renda, com predomínio

de sua população na classe alta. Em seguida aparecem os trabalhadores por conta própria

formais em atividades não agropecuárias – na frente dos empregados formais.

No entanto, a ocupação de pequeno empregador ainda é fortemente marcada pelas di-

cotomias homens vs. mulheres, brancos vs. negros, sendo esta segunda mais marcante.

Também pudemos ver que a idade influencia muito a posição na ocupação, com predo-

mínio dos jovens entre os empregados em pequenos empreendimentos e dos adultos e

Page 76: Vozes da Nova Classe Média - 3º Caderno

76 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média

idosos entre os pequenos empregadores e trabalhadores por conta própria. No entanto,

idosos e jovens estão mais próximos quando se toma em conta a (in)formalidade: enquan-

to jovens e idosos predominam no setor informal, adultos são mais predominantes no

formal.

Finalmente, com respeito a nível educacional, aqueles mais elevados são tipicamente pre-

dominantes nas atividades que se encontram em melhores posições em termos de renda.

Há que se ressaltar, porém, que no quesito educação a dicotomia atividades agropecuárias

vs. não agropecuárias é ainda bastante presente – com a predominância de níveis de edu-

cação mais baixos mesmo entre os pequenos empregadores.

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4.Opinião: O queatrapalha e o queajudaria osempreendedoresbrasileirosNesta seção buscamos conhecer os fatores que limitam o progresso do

empreendedorismo no País segundo os próprios empreendedores. Os fa-

tores examinados são velhos conhecidos: condições mercadológicas des-

favoráveis, elevada carga tributária, baixa formação profissional, pouca as-

sistência, medo da fiscalização etc. No entanto, o peso que cada um destes

fatores impõe ao desempenho do negócio varia substancialmente. Alguns

deles, inclusive, parecem não afligir tanto os empreendedores quanto ima-

ginaria o senso comum.

Além disso, também se esperaria que os fatores que angustiam os empre-

endedores na classe baixa não fossem os mesmos que angustiam os que

estão na classe alta. De fato, não são. E onde ficam os empreendedores

que fazem parte da classe média? Mais próximos daqueles que pertencem

à classe baixa ou dos que pertencem à alta? Quem considera mais árduo o

exercício de empreender?

Usamos bases de dados disponibilizadas pelo Instituto de Pesquisa Eco-

nômica Aplicada (IPEA), referentes ao Sistema de Indicadores de Percep-

ção Social (SIPS), nas análises a seguir. Por ausência de referência sobre

o número de empregados contratados, não foi possível fazer o recorte

Page 80: Vozes da Nova Classe Média - 3º Caderno

80 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média

dos pequenos empreendedores nesta seção. Por conseguinte, todas as investigações aqui

apresentadas referem-se ao conjunto total de empreendedores no País.

4.1. Comercialização

Dentre todos os grupos de trabalhadores, sem sombra de dúvida, são os empreendedo-

res aqueles cuja remuneração guarda relação mais próxima com a situação dos mercados.

Em última instancia, a função dos empreendedores é comprar insumos, transformá-los

em produto e vender estes produtos. Assim, com vistas a tornar possível e lucrativa sua

função produtiva - de transformar insumos em produtos - os empreendedores operam

comprando insumos ao menor preço que conseguem encontrar e vendendo seus produ-

tos ao maior preço possível. Isto é, quanto mais baixo o preço de compra e maior o de

venda (termos de troca mais favoráveis), maior será a sua lucratividade.

Sobrevivência, solvência, lucratividade, remuneração e condições de vida dos empreen-

dedores dependem, portanto, das condições dos mercados em que operam e de seu

poder de barganha nestes mercados. Do ponto de vista do empreendedor, o ideal seria

poder contar com excesso de oferta no mercado de insumos (abundância de vendedores

e, daí, baixo preço de compra) e excesso de demanda no mercado de produto (abundân-

cia de compradores e, daí, alto preço de venda).

As informações disponíveis sobre a percepção dos empreendedores confirmam a centra-

lidade da sua preocupação com a sua inserção nos mercados e as condições nestes mer-

cados. Cerca de ¼ (23%) dos empreendedores entrevistados - ao serem questionados

sobre a situação de seu trabalho - ressaltam em primeiro lugar dificuldades relacionadas

aos mercados em que operam, incluindo: (i) falta de acesso, (ii) baixo de poder de barga-

nha, (iii) concorrência muito acirrada e (iv) instabilidade da demanda.

A vulnerabilidade, no entanto, não é homogênea ao longo das classes de renda. A vulnerabi-

lidade a situações adversas dos mercados de insumos e produtos tende a ser mais alta entre

os empreendedores nas classes baixa e média do que entre aqueles na classe alta. Nenhuma

diferença significativa existe entre os empreendedores nas classes baixa e média.

Essa diferença entre classes é evidente também quando se contrastam as percepções

dos empreendedores em diferentes classes quanto à sua capacidade de negociar preços

Page 81: Vozes da Nova Classe Média - 3º Caderno

Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 81

com fornecedores, à adequação dos preços da produção, ao número maior de clientes

e menor concorrência como um fator importante para promover maior lucratividade e,

finalmente, quanto ao número e à diversidade da clientela.

Em todos os casos mencionados acima, a posição dos empreendedores na classe baixa é

bem mais sensível às condições do mercado do que a dos que estão na classe alta. A posi-

ção dos empreendedores da classe média é sempre intermediária. Por exemplo, enquan-

to que mais da metade (56%) dos empreendedores pertencentes à classe alta declara ter

capacidade de negociar preços com os fornecedores, 20% acreditam que conseguem

efetivamente estabelecer preços que lhes garantem boa margem de lucro e 35% decla-

ram que ter mais clientes e menos concorrentes seria importante para promover maior

lucratividade. Dentre os pertencentes à classe baixa pouco mais de 1/3 (38%) acreditam

que têm capacidade de negociar preços, apenas 11% acreditam que vendem seus produ-

tos a bons preços e mais da metade acredita que ter mais clientes e menos concorrentes

é o caminho para uma maior lucratividade.

A importância que os empreendedores dão ao acesso aos mercados pode também ser

vista pelo interesse por melhores condições para transporte, armazenagem e venda da

produção. 8% dos empreendedores declaram ser este o principal fator que permitiria

melhorar o desempenho de seu empreendimento. A preocupação com o acesso aos

mercados fica também evidente quando verificamos que 1/3 declaram que ou se associa-

ram ou gostariam de se associar a cooperativas e sindicatos com o objetivo de conseguir

melhores termos nas compras de insumos e vendas de produtos, conseguir mais clientes

e reduzir a concorrência desleal.

A Tabela 1, seguinte, resume as opiniões relatadas com respeito a fatores relacionados à

comercialização.

Page 82: Vozes da Nova Classe Média - 3º Caderno

82 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média

Tabela 1: Percepção do empreendedor sobre a importância de sua inserção no mercado e das condições do mercado para o desempenho de seu em-preendimento, por classe de renda, Brasil, 2010

Indicador TotalClasse

Baixa Média Alta

Percebe a situação atual do trabalho como uma onde (i) falta aces-so a mercados, (ii) tem baixo de poder de barganha, (iii) encontra concorrência muito acirrada e (iv) enfrenta grande instabilidade na demanda por seu produto

23 25 24 19

Não tem poder discricionário sobre as principais decisões relacionadas a seu próprio negócio 5 5 5 4

Sente-se explorado por fornecedores e clientes 1 1 0 0

Tem muitos concorrentes e disputam poucos clientes 10 10 10 8

A demanda é sazonal e daí a renda é muito instável 8 8 8 6

Possuem grande capacidade de negociar preços com fornece-dores 47 38 45 56

Consideram que vendem suas mercadorias a um bom preço e daí conseguem uma boa margem de lucro 16 11 16 21

Consideram que menos concorrentes/mais clientes poderiam melhor sua lucratividade 43 53 42 35

Consideram que melhores condições para transporte e armaze-nagem ou local mais adequado para a venda poderiam melhorar seu desempenho

8 6 8 8

Consideram que vender produtos em melhores condições é motivo para se associar a sindicato, cooperativa ou associação 33 32 30 36

Comprar matérias-primas e/ou mercadorias em melhores condições 7 7 6 8

Vender produtos e/ou serviços em melhores condições 3 2 3 4

Conseguir mais clientes 9 9 7 9

Reduzir a concorrência desleal 2 2 3 2

Facilitar o acesso ao crédito 11 12 10 12

Fonte: Estimativas produzidas pela SAE/PR com base no Sistema de Indicadores de Percepção Social (SIPS/IPEA), Trabalho (1a edição), 2010.Nota: Consideram-se empreendedores todos os trabalhadores por conta própria e os empregadores.

4.2. Disponibilidade de instalações e equipamentos e acesso a crédito

A produtividade e a rentabilidade de um empreendimento estão relacionadas à disponi-

bilidade tanto de capital físico (máquinas, equipamentos e instalações) como de capital de

giro. Quanto mais fácil o acesso ao mercado de crédito e mais barato o crédito, menor

a possibilidade de limitações à lucratividade por falta de capital de giro ou pela falta de

máquinas, equipamentos e instalações adequadas.

Page 83: Vozes da Nova Classe Média - 3º Caderno

Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 83

Por esse motivo, 12% dos empreendedores declaram ter interesse em se associar com

vistas a facilitar o acesso a crédito, 10% acreditam que o principal fator que prejudica o

desempenho de seu empreendimento em relação aos demais é não contar com os equi-

pamentos mais adequados e a pouca capacidade de obter crédito, e 14% veem numa

maior facilidade de obter crédito o principal fator que permitiria melhorar o desempenho

de seu empreendimento.

Dado que o acesso a crédito via de regra requer colateral (bens que são usados como

garantia), não é surpresa encontrar que os empreendedores na classe baixa têm menos

instalações e equipamentos do que aqueles nas classe média e alta. De fato, enquanto

35% dos empreendedores na classe alta têm equipamentos e instalações próprias com

valor superior a R$5 mil, na classe baixa, menos da metade desta porcentagem (16%)

encontram-se nesta situação. Por conseguinte, segue que a porcentagem dos empreende-

dores na classe baixa que acreditam que a falta de equipamentos adequados e de acesso

a crédito são os principais fatores que limitam o desempenho de seu empreendimento

é muito maior que entre os empreendedores na classe alta (12% na classe baixa contra

7% na alta).

A Tabela 2, seguinte, resume as opiniões relatadas com respeito a fatores relacionados à

disponibilidade de instalações e equipamentos e acesso a crédito.

Tabela 2: Percepção do empreendedor sobre a importância da disponibi-lidade de crédito e equipamentos adequados para o desempenho de seu negócio por classe de renda, Brasil, 2010

Indicador TotalClasse

Baixa Média Alta

Consideram que ter facilidade no acesso ao crédito é motivo para se associar a sindicato, cooperativa ou associação 11 12 10 12

Consideram que não ter acesso ao crédito ou equipamentos adequados é o principal motivo que prejudica seu desempenho 10 12 11 7

Consideram que ter maior facilidade para conseguir crédito é o principal fator para melhorar o desempenho do seu empreen-dimento

14 15 14 14

Utilizam, para desenvolver suas atividades, instalações ou equi-pamentos próprios com valor acima de R$ 5 mil 24 16 20 35

Fonte: Estimativas produzidas pela SAE/PR com base no Sistema de Indicadores de Percepção Social (SIPS/IPEA), Trabalho (1a edição), 2010.Nota: Consideram-se empreendedores todos os trabalhadores por conta própria e os empregadores.

Page 84: Vozes da Nova Classe Média - 3º Caderno

84 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média

4.3. Formação profissional e assistência técnica e em gestão

Em princípio, a falta de formação profissional e em gestão e a falta de assistência técnica,

jurídica e contábil podem ser fatores que restringem de maneira importante a produtivi-

dade e a lucratividade dos empreendimentos. É surpreendente, porém, verificar que ape-

nas 2% dos empreendedores veem sua limitada formação profissional como o principal

fator que limita seu desempenho em relação aos concorrentes e que apenas 3% veem

na busca por melhor capacidade de gestão ou assistência técnica, jurídica ou contábil um

importante fator para melhorar seu desempenho.

Existem três possíveis interpretações para essa, ao menos aparente, falta de demanda por

formação profissional. Ou os empreendedores brasileiros já detêm toda formação pro-

fissional e assistência técnica que necessitam; ou, embora ainda não detenham, acreditam

que já detêm; ou, embora ainda precisem de formação e assistência técnica, não acredi-

tam que os serviços disponíveis são adequados às suas necessidades.

Dada a clara insuficiência na formação profissional dos empreendedores brasileiros face

ao enorme esforço de ampliar a oferta, melhorar a qualidade e a adequação dos serviços

de formação e assistência técnica, o mais provável é que a aparente baixa demanda por

estes serviços resulte da falta de informação dos empreendedores sobre a sua importân-

cia para a produtividade e a lucratividade de seus empreendimentos.

A Tabela 3, seguinte, resume as opiniões relatadas com respeito a fatores relacionados a

formação profissional e assistência técnica e em gestão.

Tabela 3: Percepção do empreendedor sobre a importância da formação profissional e assistência técnica para o desempenho de seu negócio, por classe de renda, Brasil, 2010

Indicador TotalClasse

Baixa Média Alta

Consideram que ter menor qualificação limita seu desempenho em relação aos demais concorrentes 2 2 2 1

Consideram que ter maior capacidade de gestão ou assistência técnica, jurídica ou contábil poderia melhorar o desempenho de seu empreendimento

3 3 3 3

Fonte: Estimativas produzidas pela SAE/PR com base no Sistema de Indicadores de Percepção Social (SIPS/IPEA), Trabalho (1a edição), 2010.Nota: Consideram-se empreendedores todos os trabalhadores por conta própria e os empregadores.

Page 85: Vozes da Nova Classe Média - 3º Caderno

Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 85

4.4. Fiscalização, regulamentação e taxação

Impostos elevam os custos de produção e reduzem a receita líquida. Não surpreende,

portanto, que os empreendedores considerem reduções em impostos e taxas um fator

que melhoraria o desempenho de seus empreendimentos. Dos empreendedores entre-

vistados, 13% consideram este o principal fator.

A preocupação com impostos, no entanto, difere entre as classes de renda. É muito mais

acentuada entre os empreendedores na classe alta (22%) que entre aqueles na classe

baixa (6%). Uma provável razão é que sobre os empreendedores na classe baixa incidem

menores alíquotas efetivas, quer seja pelas desonerações e incentivos aos pequenos em-

preendedores, quer seja pelo maior grau de informalidade neste grupo.

Para os empreendedores, em particular para os micro e pequenos, os impostos e outras

taxações não são a única intervenção do Estado que preocupa e influencia a sua lucrati-

vidade. Em princípio, são também de relevância a burocracia necessária à formalização

do negócio e as exigências legais ao seu funcionamento. Embora exista a impressão de

que tais exigências possam estar sufocando os empreendedores nacionais, apenas uma

fração muito pequena vê nestes fatores um grande impedimento ao desempenho de seu

empreendimento. De fato, apenas 5% declaram que menos burocracia para formalizar o

negócio é o principal fator que impede uma maior lucratividade. Na mesma linha, temos

que apenas 7% dos empreendedores buscam o associativismo como forma de cumprir

exigências legais para o funcionamento do seu negócio.

O desempenho de um empreendimento, além de depender das exigências legais, depen-

de também do rigor com que estas regras serão fiscalizadas e exigidas. A despeito da im-

pressão geral de que existe grande incerteza jurídica no ambiente de negócios brasileiro,

esta incerteza parece afligir pouco os pequenos empreendedores. Apenas 4% declaram

que a principal característica de seu trabalho é ter que enfrentar cotidianamente proble-

mas com a fiscalização; apenas 2% buscam o associativismo como mecanismo para resol-

ver problemas com a fiscalização; e apenas 3% acham que problemas com a fiscalização

são o principal fator limitante ao desempenho de seu empreendimento.

Em suma, os empreendedores brasileiros se queixam muito mais dos impostos que têm

que pagar do que propriamente das exigências legais que têm que cumprir para abrir e

operar um negócio ou da forma como estas exigências são verificadas. É possível, contu-

Page 86: Vozes da Nova Classe Média - 3º Caderno

86 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média

do, que a falta de preocupação com estas questões reflita muito mais a importância e a

influência das condições dos mercados do que propriamente a desnecessidade de melhor

adequação às exigências legais e a ausência de receios quanto à fiscalização.

A Tabela 4, seguinte, resume as opiniões relatadas com respeito a fatores relacionados a

fiscalização, regulamentação e taxação.

Tabela 4: Percepção do empreendedor sobre a importância da taxação, re-gulamentação e fiscalização sobre o desempenho de seu negócio, por classe de renda

Indicador TotalClasse

Baixa Média Alta

Consideram que reduções em impostos e taxas poderiam me-lhorar seu desempenho. 13 6 12 22

Consideram que menos burocracia poderia melhorar o desem-penho do seu negócio 5 6 5 4

Consideram que cumprir exigências legais para funcionamento é motivo para se associar a sindicato, cooperativa ou associação. 7 5 8 8

Consideram que ter que enfrentar cotidianamente problemas com a fiscalização é a principal característica de seu trabalho. 4 4 4 6

Consideram que resolver problemas com a fiscalização e/ou regularização do negócio é motivo para se associar a sindicato, cooperativa ou associação.

2 2 2 2

Consideram que menos problemas com a fiscalização poderiam melhorar sua lucratividade 3 2 3 3

Fonte: Estimativas produzidas pela SAE/PR com base no Sistema de Indicadores de Percepção Social (SIPS/IPEA), Trabalho (1a edição), 2010.Nota: Consideram-se empreendedores todos os trabalhadores por conta própria e os empregadores.

4.5. Meritocracia e esforço

O empreendedorismo tem duas características marcantes. Por um lado, é marcado pela

incerteza: seja devido a flutuações na disponibilidade de clientes e, daí, no volume de ven-

das e no preço de venda negociado; seja na própria produção, por influência de condições

ambientais favoráveis ou desfavoráveis ou pela variação de outros fatores que afetam a

produção (como falta de energia ou defeitos nos equipamentos utilizados).

Por outro lado, o empreendedorismo é marcado pelo trabalho árduo, com longas jorna-

das de trabalho e poucas oportunidades para férias e descanso semanal. Quase 1/3 (29%)

dos empreendedores veem o trabalho árduo (entendido como a falta de controle sobre

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Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 87

a jornada de trabalho e a falta de oportunidade para descansar ou tirar férias) como a

principal característica do seu trabalho. Esta caracterização é significativamente mais im-

portante entre os empreendedores na classe alta (32%) que na classe baixa (26%).

Boa parte dos empreendedores, no entanto, não consideram que esse trabalho árduo es-

teja sendo devidamente recompensado. De fato, 11% consideram que trabalhar muito e

ganhar pouco é a principal característica de seu trabalho. Esta aparente falta de percepção

de uma ordem meritocrática, no entanto, é muito mais presente entre os empreendedo-

res na classe baixa (16%) que nos pertencentes à classe alta (6%).

Tabela 5: Percepção do empreendedor sobre a importância da meritocracia e do esforço para o desempenho de seu negócio, por classe de renda, Brasil, 2010

Indicador TotalClasse

Baixa Média Alta

Consideram que trabalho árduo com longas jornadas de trabalho e poucas oportunidades para férias e descanso é uma característica fundamental do empreendedorismo

30 26 30 32

Não tem poder discricionário sobre as principais decisões relacionadas a seu próprio negócio 15 14 16 16

Consideram que a falta de oportunidade parar descansar ou tirar férias é a principal característica de seu trabalho. 14 13 14 16

Consideram que trabalhar muito e ganhar pouco é a principal característica de seu trabalho. 11 16 12 6

Fonte: Estimativas produzidas pela SAE/PR com base no Sistema de Indicadores de Percepção Social (SIPS/IPEA), Trabalho (1a edição), 2010.Nota: Consideram-se empreendedores todos os trabalhadores por conta própria e os empregadores.

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88 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média

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Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 89

5.Visão de futuro: Como o Estadobrasileiro podecontribuir àprosperidade dos empreendedoresVimos nas seções anteriores que o pequeno empreendedorismo vem pres-

tando valiosa contribuição para o crescimento inclusivo no País. Os peque-

nos empreendedores são responsáveis por grande parte dos postos de tra-

balho existentes e aumentaram o seu grau de formalização de forma muito

acentuada em um pequeno espaço de tempo, o que consequentemente

ampliou o acesso de milhões de brasileiros ao sistema público de proteção

ao trabalhador.

Além disso, contribuíram também para a redução das desigualdades de

renda, na medida em que aqueles que detinham as maiores remunerações

iniciais foram os que menos observaram crescimento em suas remunera-

ções. Ou seja, as suas atividades geraram mais crescimento na renda da-

queles que eram mais pobres.

Mas embora seja importante reconhecer e ressaltar a contribuição do pe-

queno empreendedor para o desenvolvimento, não devemos perder de

vista que não lhe cabe exclusivamente o papel de herói nacional. O empre-

endedor, como qualquer tipo de trabalhador, busca legitimamente obter

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90 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média

prosperidade para si e para sua família. A sustentabilidade da atividade de empreender

requer a constante busca por rentabilidade, por retorno dos investimentos. Nesta seção

buscamos identificar as condições necessárias para que os pequenos empreendedores

prosperem e, assim, continuem prestando importante serviço à nação brasileira.

5.1. Dualismo interno do empreendedorismo

Os empreendedores formam um grupo dos mais heterogêneos. Apenas uma parcela des-

ta heterogeneidade se deve a disparidades entre grandes e pequenos empreendedores.

Mesmo dentre os pequenos empreendedores, o grau de heterogeneidade é extrema-

mente elevado. O grau de desigualdade na distribuição das remunerações (medido pelo

coeficiente de Gini), por exemplo, é maior entre os pequenos empreendedores que para

o conjunto de todos os trabalhadores. Além disso, o grau de desigualdade, segundo este

índice, é 60% maior entre os pequenos empreendedores que entre os empregados que

contratam.

A despeito dessa ampla variedade, para efeito do desenho de políticas públicas é desejável

organizar os empreendedores em dois grandes grupos, que seriam definidos em função

da motivação que tiveram para abraçar a atividade de empreender. De um lado, teríamos

os empreendedores com inquestionável capacidade empresarial, talento e habilidades ge-

renciais aguçadas e que por vezes detêm também conhecimento especializado profundo

das atividades específicas que empreendem. Os membros deste grupo buscam no empre-

endedorismo uma estratégia de vida ou para toda a vida. Esses querem ser empreendedo-

res, reconhecidos e tratados como tal.

De outro lado, teríamos muitos ou apenas alguns, dependendo do grau de aquecimento

da economia e das condições do mercado de trabalho, que optam por empreender de

forma improvisada, como uma estratégia de sobrevivência. Os membros deste grupo im-

provisam como empreendedores na falta de uma melhor oportunidade de trabalho como

empregado em algum empreendimento. Podemos considerar que os membros deste

grupo estão empreendedores e pretendem deixar de sê-lo assim que uma oportunidade

minimamente satisfatória de emprego surgir.

Em geral, quando nos referimos aos empreendedores tratamos exclusivamente do pri-

meiro grupo: aqueles que escolheram o empreendedorismo como estratégia de vida ou

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Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 91

para toda a vida. Mas a importância da opção do empreendedorismo como estratégia de

sobrevivência em tempos difíceis não deve nunca ser subestimada. Nesses momentos, é

o trabalho improvisado, e muitas vezes precário, que garante a sobrevivência de muitos,

evitando níveis mais elevados de pobreza. Embora para a economia possa ser um sinal de

fragilidade recorrer a este expediente, do ponto de vista do empreendedorismo, trata-se

de serviço que ele presta ao combate à pobreza.

5.2. Políticas públicas de apoio ao empreendedorismo enquanto estratégia de sobrevivência

A dualidade do empreendedorismo deve refletir na política pública que lhe é dirigida.

Como ressaltado, o empreendedorismo contribui para a superação da pobreza durante

períodos com lento crescimento econômico, na medida em que serve como colchão,

abrigando, mesmo que de forma temporária e precária, segmentos sem outra opção de

trabalho. Segmentos da força de trabalho que, sem esta alternativa, permaneceriam de-

sempregados nesses períodos.

Essa capacidade de absorção de mão de obra em períodos de lento crescimento ou mes-

mo recessões deve não apenas ser exaltada como também apoiada por políticas públicas

específicas, em particular, aquelas de apoio e estímulo ao trabalho por conta própria.

Este expediente é parte de qualquer leque efetivo de políticas públicas anticíclicas. Não

é mera coincidência que o apoio ao empreendedorismo aparece como um importante

componente da inclusão produtiva no Programa Brasil Sem Miséria, por meio do aceso

subsidiado à qualificação profissional (Pronatec e Mulheres Mil) e ao crédito (Crescer), à

assistência técnica (ATER) e à comercialização (compras governamentais, via PAA e PNAE),

entre outros programas de apoio ao pequeno empreendedor com baixo faturamento e à

economia solidária.

5.3. Políticas públicas de apoio ao empreendedorismo

O pequeno empreendedor sistemático, talentoso e gerencialmente competente, aquele

que adota o empreendedorismo como uma verdadeira estratégia de vida, contribui de

forma significativa para o desenvolvimento econômico e social do País, merecendo tam-

bém atenção e apoio das políticas públicas.

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92 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média

Poucos desses pequenos empreendedores, que escolheram esta atividade como estra-

tégia de vida, são pobres, muitos pertencem à classe média, e uma fração significativa e

crescente já se encontra na classe alta.

Poucos desses pequenos empreendedores, que escolherem esta atividade como estra-

tégia de vida, são pobres, muitos pertencem à classe média, e uma fração significativa e

crescente já se encontra na classe alta.

A oportunidade de explorar de forma plena e sistemática seus talentos empresariais é

– para cerca de ¼ da força de trabalho brasileira – o instrumento indispensável e eficaz

que lhes permite ingressar na classe média, ascender dentro da classe média e ter acesso

crescente à classe alta.

Conforme já mencionamos, além do benefício que obtêm para si com as suas atividades,

os pequenos empreendedores também contribuem de forma substancial e sistemática

para o desenvolvimento. Duas formas de contribuição merecem particular destaque e,

em ambos os casos, decorrem de seu impacto sobre o crescimento econômico.

De um lado, quem gera maior riqueza dentro da formalidade expande sua contribuição

tributária e, desta forma, permite que políticas sociais dirigidas às classes mais vulneráveis

e à classe média possam ser implantadas.

De outro, a demanda por trabalho deriva das necessidades de produção. Aumentos na

produção necessariamente levam à geração de novos postos de trabalho. Como já enfa-

tizado por diversas vezes neste caderno, é pela geração de postos de trabalho formais e

com remuneração típica da classe média que os pequenos empreendedores mais vêm

contribuindo para a expansão da classe média brasileira.

Por todas essas contribuições, é fundamental que o País conte com um amplo leque de

políticas públicas dirigidas especificamente à promoção do empreendedorismo como es-

tratégia de vida. As políticas públicas voltadas para estes empreendedores devem cobrir

ao menos quatro objetivos.

Em primeiro lugar, assegurar que todo talento empresarial do País se concretize, isto é,

que todos os potenciais empreendedores talentosos efetivamente se incorporem a esta

atividade. Em segundo, lhes garantir que encontrem uma legislação que facilite a abertura

de seu negócio e também que favoreça e estimule seu pleno funcionamento.

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Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 93

Em terceiro, devem garantir de forma permanente os serviços produtivos que os empre-

endedores tanto necessitam. Os serviços devem ser adequados, isto é, devem refletir as

verdadeiras necessidades dos empreendedores. Também deve ser garantido efetivo aces-

so aos serviços e, se necessário, de forma subsidiada. Por fim, deve-se reconhecer que a

atividade empresarial é intrinsecamente incerta. Desta forma, a política pública deve, de

uma lado, buscar promover um ambiente mais estável e previsível e, de outro, buscar

que estejam disponíveis os mais variados tipos de seguros. Tal como no caso dos serviços

produtivos, estes seguros devem ser adequados às necessidades dos pequenos empreen-

dedores, sendo também necessário garantir o seu efetivo acesso a estes seguros, mesmo

que subsídios sejam necessários.

Observações finais

A dualidade do empreendedorismo tem sido amplamente reconhecida no desenho das

políticas públicas brasileiras. Não é por outro motivo que o empreendedorismo aparece

ao mesmo tempo como um importante componente da inclusão produtiva no Programa

Brasil Sem Miséria e como uma fonte de crescimento e de ganhos de produtividade no

Programa Brasil Maior. Não há dúvida de que o País conta com uma política variada para

promover os dois lados do empreendedorismo nacional.

Resta saber se a quantidade total de serviços é adequada, se o volume de recursos é su-

ficiente e se a distribuição destes recursos entre programas é a mais adequada. Tomando

a opinião declarada pelos pequenos empreendedores entrevistados, temos a impressão

de que os serviços disponíveis possam estar excessivamente centrados nas questões de

formação profissional e assistência técnica, quando, na verdade, os empreendedores pa-

recem muito mais preocupados com o acesso e com as condições dos mercados de insu-

mos e produtos.

Os pequenos empreendedores parecem carecer mais de serviços que os apoiem na co-

mercialização de seus produtos e lhes deem maior poder de barganha na compra de seus

insumos. As vozes dos pequenos empreendedores parecem dizer que precisam menos de

informação e conhecimento e muito mais de mercados atrativos e com acesso facilitado.

Ouvir com atenção e responder devidamente a este importante segmento certamente

permitirá que mais ganhos sociais e econômicos sejam alcançados nos próximos anos.

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94 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média

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6. Colaborador permanente

EMPREENDEDORISMO, OTIMISMOE A CLASSE MéDIA BRASILEIRA

Renato Meirelles

Presidente do Data Popular

Não é novidade afirmar que o aumento da classe média brasileira impacta

diretamente a estrutura social e econômica do país. O crescimento da ren-

da proporcionado pela ampliação do emprego formal alavancou 40 milhões

de pessoas para a classe média, isso, somado à estabilidade econômica,

provocou um efeito colateral interessante que pode gerar impactos em

futuro próximo: o aumento do otimismo.

A cada nova pesquisa que realizamos, fica claro que o otimismo traz uma

série de consequências no comportamento cotidiano e na relação da classe

média com o futuro. Se, por um lado, observamos entre os otimistas uma

predisposição maior para o consumo (o que pode levar a um endivida-

mento excessivo), percebemos também que os otimistas estudam mais,

procuram mais por concurso público, e o que mais nos interessa neste

artigo: empreendem mais. A vontade de empreender do brasileiro vem

crescendo junto com a estabilidade econômica.

Se a carteira assinada nos trouxe ao atual nível de desenvolvimento social

no Brasil, o empreendedorismo tem grande potencial de nos levar adiante.

A estabilidade proporcionada pelo emprego formal e, em maior grau, pelo

concurso público, é cada vez menos encarada como um objetivo com fim

em si mesmo. Hoje, para muitos brasileiros, essas atividades se tornaram

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96 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média

um meio de juntar dinheiro enquanto começam a desenvolver alguma atividade empre-

endedora. Renda e estabilidade encorajam os brasileiros a sonhar mais alto, a acreditar no

seu potencial, a enxergar oportunidades que o medo e a falta de perspectiva do passado

não permitiam ser vistas.

No entanto, não é apenas o otimismo (quase como um exercício de fé) que tem alimenta-

do a vontade empreendedora da classe média. Ainda falta muito, é verdade, mas grandes

passos foram dados com a criação de um ambiente jurídico favorável para formalização

de empresas e recolhimento de impostos (MEI, EI, Super Simples etc.). A consequente

ampliação de crédito e das possibilidades comerciais decorrentes disso contribui para uma

atmosfera menos hostil às micro e pequenas empresas. Um dos desafios estratégicos do

Estado brasileiro, hoje, é colocar efetivamente a máquina púbica como parceira do em-

preendedor. Entre as inúmeras frentes de atuação possíveis, três objetivos se destacam:

NÃO ATRAPALHAR: É muito comum encontrarmos empreendimentos comerciais

que, assim que se formalizam, imediatamente recebem a visita de um fiscal municipal que

exige alvará disso ou daquilo. A legislação já garante que, mais do que punitiva, a fiscaliza-

ção destes estabelecimentos tenha caráter educativo. Infelizmente sabemos que essa não

é a realidade que encontramos.

INCENTIVAR COMPRAS GOVERNAMENTAIS DE MPEs: Os governos são gran-

des consumidores de produtos e serviços. O desenvolvimento de políticas públicas que

– respeitando sempre os critérios técnicos – privilegiem a compra de pequenas empresas

tem o potencial de contribuir para o sucesso do empreendedorismo. Isso pode significar,

por exemplo, sofisticar o cálculo da “busca pelo menor preço”, privilegiando comprar

de empresas que oferecem empregos no município, o que muitas vezes pode gerar uma

arrecadação indireta que compensa a falta de condições de competir com o poder de

compra das grandes corporações. Efetivamente, hoje, mesmo um fornecedor de uni-

forme escolar encontra dificuldade com o mar de papelada que tem que preencher para

vender para o governo.

FORTALECIMENTO DA ORIENTAÇÃO DE NEGÓCIOS E DO MICROCRÉDITO

PRODUTIVO: Estudos desenvolvidos para o SEBRAE apontam que a dificuldade de con-

seguir capital de giro e recurso para os investimentos iniciais do negócio aparecem junto

com a burocracia como o principal entrave para o desenvolvimento das empresas nos

dois primeiros anos de vida. A ação integrada dos projetos de microcrédito (que, por for-

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Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 97

ça de lei, já está vinculado a um processo de orientação financeira) com os programas de

orientação de negócio (como os desenvolvidos pelo SEBRAE, por exemplo) tem o duplo

mérito de garantir com que as MPEs não caiam no risco de um otimismo exagerado e que

tenham fôlego para o “período de risco” natural ao início de qualquer negócio. A oportu-

nidade está em ter uma orientação que vá além do “arroz com feijão” do fluxo de caixa e

da orientação burocrática. O empreendedor quer aprender a fazer o seu negócio crescer.

O empreendedorismo e a classe média

Diferente do passado, hoje, pouco mais de metade dos empreendedores pertence à

classe média, número muito semelhante à distribuição da população. Mais escolarizados

(apenas 24% estão abaixo do ensino médio), os novos empreendedores enxergam suas

iniciativas como via para garantir um bom futuro para a família. Se antes o empreende-

dorismo se dava, sobretudo, como a última opção de geração de renda, cada vez mais a

iniciativa empreendedora se concretiza como uma opção consciente. Ser uma escolha e

não uma imposição do desemprego traz reflexo imediato na taxa de sucesso. Os resulta-

dos práticos estão aí, com a queda da mortalidade das MPEs para menos de 30% nos dois

primeiros anos. Na vida real, falamos do trabalhador que arriscou montar uma vendinha

na garagem de casa e se deu bem. Ou daquela mulher que trabalhava como manicure

para ganhar um dinheiro extra, especializou-se e acabou montando um pequeno salão em

um cômodo da residência, assim como na revendedora de cosméticos que abandonou o

emprego e vive apenas deste ofício, e por aí vai.

O empreendedor da classe média geralmente emprega parentes ou vizinhos e abre seu

negócio no bairro onde mora. Assumir uma posição de empreendedor dentro da própria

vizinhança contribui para que haja um reforço dos vínculos locais intrapessoais, expandin-

do as amizades e movimentando a economia local.

Precisamos reconhecer que, embora tenha recebido tantas mulheres nas últimas duas

décadas, o mercado de trabalho não estava preparado para isso. Os cuidados com a casa e

os filhos ainda são atribuições majoritariamente femininas. As mulheres empreendedoras

não abrem o próprio negócio para trabalhar menos. Muito pelo contrário, elas trabalham

até mais do que antes, quando eram funcionárias. A grande vantagem percebida no em-

preendedorismo é justamente a possibilidade de ter maior autonomia no dia a dia e não

ter mais responder para chefe nenhum.

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98 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média

Imagine uma mulher que pegava três conduções todos os dias para chegar ao trabalho e

que para não perder a hora precisava acordar às 4h30 e sair de casa ainda antes do sol

raiar. Já chegava exausta no trabalho e ainda tinha que aguentar o mau humor do chefe.

Como os horários das creches não eram compatíveis com os seus, ela pagava uma quantia

à vizinha para que olhasse seus filhos.

Cansada da sua rotina puxada, essa mulher investiu em cursos de culinária e começou a

fazer bolos aos finais de semana para vender no trabalho e para vizinhança. Percebendo

o aumento da demanda, precisou de ajuda e contratou uma amiga. Em pouco tempo, já

estava ganhando a mesma quantia que ganhava em seu emprego. Impulsionada por essa

experiência, resolveu investir tudo no seu negócio. Hoje ela tem um pequeno Buffet na re-

gião. Trabalha mais, mas com horários flexíveis, consegue agora conciliar melhor a rotina

de mãe e trabalhadora. Essa história ainda representa uma pequena parcela das mulheres

brasileiras, mas se assemelha ao sonho das mais de 24 milhões de mulheres que preten-

dem abrir seu próprio negócio nos próximos três anos.

A geração atual – diferentemente da anterior, cujos integrantes sonhavam apenas em

ingressar numa boa empresa e construir carreira – pensa em ser dona do seu próprio

negócio ainda durante o curso de graduação. Mesmo iniciando uma carreira profissional

em alguma empresa, projetam para um futuro próximo a criação de um negócio próprio

que lhe dê liberdade para assumir sua vida.

O resgate da autoestima foi primordial para que este brasileiro pudesse tirar do papel as

suas metas e concretizar sonhos que pareciam inalcançáveis há anos. Agora é a hora e a

vez do empreendedorismo.

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Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 99

A ascensão social de expressiva parcela da população é um dos indicativos

mais sólidos do desenvolvimento sustentável do Brasil. Mais de 40 milhões

de pessoas entraram na classe média na última década, em uma transição

estimulada por fatores como os programas de transferência de renda, a

geração de empregos formais, a política de aumento do salário mínimo

e a capacidade empreendedora dos brasileiros. É impossível falar de em-

preendedorismo sem ressaltar a importância dos pequenos negócios, que

reúne empresas que faturam até R$ 3,6 milhões por ano. Hoje, esse setor

representa 99% do total de empresas do Brasil e emprega mais de 15

milhões de pessoas, o que corresponde a 52% das vagas formais no País,

segundo o Anuário do Trabalho da Micro e Pequena Empresa, publicado

pelo Sebrae e Dieese.

Os pequenos negócios têm grande influência no fortalecimento da classe

média brasileira: do total de empreendedores, mais de 55% integra a clas-

se C, revelou uma pesquisa do Instituto Data Popular feita para o Sebrae.

No nosso País, empreendedorismo representa um fenômeno de inclusão

social e os pequenos negócios simbolizam a porta de entrada do mercado

para milhões de pessoas.

7. Colaborador desta edição

EMPREENDEDORES IMPULSIONAMA NOVA CLASSE MéDIA

Luiz Barretto

Presidente do Sebrae Nacional

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O marco legal do setor é a Lei Geral da Micro e Pequena Empresa, promulgada em

dezembro de 2006. Ela instituiu a categoria jurídica do Microempreendedor Individual

(MEI), em vigor desde 2009, destinada a quem possui receita bruta anual de até R$ 60

mil – em média, R$ 5 mil por mês. O valor pago de imposto para quem integra essa

categoria é inferior a R$ 40 por mês. Cerca de 2,8 milhões de pessoas já se registraram

como microempreendedores individuais, categoria de empresas que mais cresce no País.

A projeção do Sebrae é que, até 2014, eles serão 4 milhões e o Brasil terá mais microem-

preendedores individuais do que qualquer outro modelo de negócio no País.

Além da redução da carga tributária para micro e pequenas empresas, outro importante

incentivo para a formalização de negócios no País é a facilidade para a abertura de pe-

quenos negócios. No caso dos microempreendedores individuais, é possível abrir uma

empresa pela Internet, em poucos minutos.

A formalização é um cenário onde todos ganham: os governos ampliam a arrecadação

e mais pessoas conquistam a cidadania empresarial, com direito a benefícios como apo-

sentadoria, auxílio-doença e licença-maternidade e a oportunidades de melhoria de vida.

Após a formalização, mais da metade dos microempreendedores individuais afirma que

houve aumento no faturamento, melhoria do controle financeiro e ampliação dos investi-

mentos no próprio negócio.

A Lei Geral da Micro e Pequena Empresa criou o Simples Nacional, que entrou em vigor

em julho de 2007 e já foi adotado por mais de 7 milhões de empresas. Este regime tribu-

tário diferenciado viabilizou uma redução média de 40% dos impostos, além de diminuir

significativamente a burocracia, já que reúne seis impostos federais – IRPJ, IPI, PIS, Cofins,

CSLL e INSS patronal, mais o ICMS recolhido pelos estados e o ISS recolhido pelos mu-

nicípios.

Por meio do Simples, houve um salto de mais de 455% na arrecadação entre 2007 e

2012, favorecendo os governos dos municípios, dos estados e da União. Em 2007, a partir

de julho, quando o regime entrou em vigor, foram arrecadados R$ 8,38 bilhões. Em 2012,

a arrecadação decorrente do Simples passou para R$ 46,5 bilhões – uma comprovação de

que a minirreforma tributária promovida pelo Simples gerou ganhos para todos.

De posse de um Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ), o empreendedor pode

emitir nota fiscal e vender para outras empresas. Dependendo da atividade, pode até

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Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 101

mesmo fornecer para governos. A Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas determina

exclusividade de participação dos pequenos negócios em licitações no valor de até R$ 80

mil. Acima desta quantia, a legislação garante uma reserva de pelo menos 25% destes

processos a esses negócios.

Há mais de 40 anos, o Sebrae atua nas cinco regiões do País com o objetivo de dinamizar

ainda mais esse segmento fundamental para a economia brasileira, visando ampliar as

oportunidades de melhoria de vida da população. A relevância dos pequenos negócios

se traduz em diversos números. Este segmento econômico, que atua principalmente em

comércio e serviços, oferece 70% das vagas de emprego criadas no País a cada mês. As

empresas que mais contratam são aquelas com até quatro funcionários.

As micro e pequenas empresas são responsáveis, atualmente, por aproximadamente 25%

do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil. Em países mais desenvolvidos, como Alemanha

e Itália, esse setor corresponde a cerca de metade do PIB. Países de economia sólida não

se fortaleceram apoiados somente em funcionários, mas também em empreendedores

- pessoas inovadoras que são imprescindíveis para o desenvolvimento de qualquer socie-

dade, pois geram empregos e aquecem o mercado.

Um contexto mais propício ao desenvolvimento dos pequenos negócios - que envolve fa-

tores como ambiente legal favorável, inovação e planejamento -, interessa não apenas aos

empreendedores, mas a todo o País. O segmento contribui para uma maior distribuição

da renda, com impactos perceptíveis especialmente nas pequenas cidades. O aumento de

salários nas micro e pequenas empresas é duas vezes superior ao de empresas de maior

porte. Do ano 2000 até 2011, os salários tiveram aumento real – descontada a inflação –

de 18% nas micro e pequenas empresas, enquanto nas médias e grandes o aumento foi

de cerca de 9%.

Um dado interessante, demonstrado por um censo do Sebrae a partir dos registros da

Receita Federal, indica que houve melhoria da qualidade dos pequenos negócios: mais de

70% dessas empresas superam os dois primeiros anos de atividade, período mais crítico

para consolidação do empreendimento. Há dez anos, essa taxa era de 50%. É relevante

destacar que, atualmente, a maioria dos empreendedores inicia um pequeno negócio não

mais por condições adversas, como ocasional desemprego ou falta de qualificação para

outra atividade, e sim porque detectou uma oportunidade de mercado. Outro indicador

positivo é a escolaridade do empreendedor de micro e pequenas empresas, maior que a

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102 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média

média da população brasileira. Mais da metade dos micro e pequenos empreendedores

concluiu o ensino médio ou técnico.

Os avanços já conquistados para o setor das micro e pequenas empresas devem nos

motivar a avançar muito mais. Para nós, do Sebrae, tão importante quanto multiplicar o

número de pequenos e microempreendedores no País é capacitá-los para uma boa gestão

de seus negócios, atendendo à nossa missão institucional de promover a competitividade

e o desenvolvimento sustentável das micro e pequenas empresas, bem como fomentar

o empreendedorismo no País. É por meio da capacitação que tornaremos nossas micro

e pequenas empresas mais competitivas, contribuindo, assim, para a ascensão social de

muito mais famílias brasileiras e o desenvolvimento contínuo e mais justo do Brasil.

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Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 103

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8. Prosperidade,Equidade eOportunidadeEmpresarial*1

Marcelo Neri

Ministro interino da SAE e presidente do Ipea

* Agradeço a eficiente assistência de Luisa Carvalhaes, Marcos Hecksher, Samanta Sacramento e Fábio Vaz, do Ipea, e as interações proveitosas com a equipe de Ricardo Paes de Barros na SAE.

O combustível da ascensão social brasileira dos últimos anos é o trabalho,

e não o consumo, nem mesmo o crédito ao consumidor. Estes últimos

elementos fazem parte da ascensão da chamada Classe C, mas como co-

adjuvantes. O protagonismo pertence ao mundo do trabalho. Os motores

são a melhora da quantidade do ensino e a redução da desigualdade no

impacto da educação sobre as rendas do trabalho, partindo de níveis inde-

centes. A combinação de mais educação e trabalho é o que tem tornado

o movimento de ascensão sustentável. Este é o que pode ser chamado de

lado brilhante dos pobres (The bright side of the poor).

Entre os trabalhadores, o maior símbolo da nova classe média brasileira

tem sido a carteira de trabalho, e não os pequenos empreendimentos que

habitam as cenas dos filmes onde as imagens do sonho americano são pro-

jetadas. Pode parecer contraditório abordar pequenos e grandes empre-

sários num mesmo quadro mas eles tem uma relação de trabalho similar,

como sócios de capital de risco. O primeiro é uma espécie de primo pobre,

sem capital e sem empregados mas com risco. Esta relação arriscada com

o seu provento é partilhada pelos seus primos ricos.

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106 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média

O brasileiro ocupado não tem aberto relativamente mais empresas, mas, cada vez mais,

tem se tornado um assalariado formal. A proporção dos empresários brasileiros em rela-

ção ao conjunto de ocupados tem caído: as chances de uma pessoa com as mesmas carac-

terísticas ter um empreendimento como ocupação estão 8,5% menores em 2013 do que

em 2006. Os mapas municipais a seguir também mostram entre os Censos demográficos

de 2000 e de 2010, queda visível da taxa de empreendedorismo, leia-se a proporção de

conta próprias e empregadores na população ocupada. Os mapas censitários também nos

mostram redução de esforço de trabalho de cada empresário pela redução de jornada

semanal de trabalho. Esta redução da quantidade de esforço empresarial é acompanhada

por aumento da qualidade do segmento medida pelo aumento do lucro e da escolaridade

média.

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Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 107

Taxa de empreendedorismo, 2000

Fonte: Ipea/SAE a partir dos microdados do CENSO/IBGE

Taxa de empreendedorismo, 2010

Fonte: Ipea/SAE a partir dos microdados do CENSO/IBGE

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108 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média

Rendimento médio do trabalho dos empreendedores, 2000

Fonte: Ipea/SAE a partir dos microdados do CENSO/IBGE

Rendimento médio do trabalho dos empreendedores, 2010

Fonte: Ipea/SAE a partir dos microdados do CENSO/IBGE

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Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 109

Anos de estudo médio dos empreendedores, 2000

Fonte: Ipea/SAE a partir dos microdados do CENSO/IBGE

Anos de estudo médio dos empreendedores, 2010

Fonte: Ipea/SAE a partir dos microdados do CENSO/IBGE

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110 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média

Horas trabalhadas pelos empreendedores no trabalho principal, 2000

Fonte: Ipea/SAE a partir dos microdados do CENSO/IBGE

Horas trabalhadas pelos empreendedores no trabalho principal, 2010

Fonte: Ipea/SAE a partir dos microdados do CENSO/IBGE

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Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 111

Neste processo há menor quantidade relativa de negócios de subsistência, com aumento

da qualidade social dos empreendimentos, seja pela geração de empregos emanada, seja

pela redução da desigualdade de renda entre empresários e seus empregados. Indo além,

qual é o impacto deste contexto, com relativamente menos empresas, geradoras de mais

e melhores empregos, sobre o retorno que os empresários levam para casa, aí incluindo

o lucro do negócio e a renda da família? Essa é a pergunta-chave que buscamos responder

nesta nota, tomando como pano de fundo o período de ascensão da chamada nova classe

média brasileira, desde o fim da recessão de 2003 até os dias de hoje (com dados até fe-

vereiro de 2013). Implicitamente, testamos se o sonho de subir na vida por meio de um

negócio próprio foi – e se continua – operativo no mundo empresarial brasileiro pós-crise

europeia. Ou seja, perguntamos se o sonho acabou.

Questões - A imagem que passa na novela, da doceira da periferia que multiplica o tamanho

de sua confeitaria caseira contratando as vizinhas para atender a demanda crescente de

outras vizinhas, agora empregadas e sem tempo para produzir suas festas, é representativa

da realidade brasileira. Isso parece patente na análise do restante deste relatório. Agora,

essa doceira da periferia se desenvolve mais que seus pares masculinos da capital? Indo

além de externalidades positivas emanadas na geração de emprego e da desigualdade entre

empresários e empregados, como seu negócio e sua família têm se beneficiado da atividade

empreendedora exercida? Os proventos familiares crescem no tempo? O bolo de renda

empresarial cresce? Com mais ou menos fermento nos negócios nanicos? E como estão

as ameaças e as oportunidades percebidas individualmente pelos detentores do capital

de risco e suas famílias? Quais são os ingredientes da receita do crescimento empresarial

inclusivo e sustentável tupiniquim? Mais educação, formalização e cooperativação, nenhu-

ma delas, ou todas as alternativas acima? Como a receita do sucesso empresarial muda se

caminharmos da base ao topo passando pelo meio da distribuição de lucros empresariais?

O mergulho no microcosmo dos negócios nanicos nos ensina que o lucro médio cresce

mais na base da distribuição de lucros, espelhando o que acontece no restante do mer-

cado do trabalho brasileiro. Esse crescimento tem sido mais pujante na base pirâmide

produtiva. Da mesma forma que tem subido o preço e reduzido a quantidade de trabalho

em segmentos compostos por trabalhadores com baixa qualificação, empregadas domés-

ticas, peões de obra e agricultores braçais, há um movimento similar de esvaziamento de

oferta no mundo das empresas brasileiras abertas inicialmente por necessidade de sobre-

vivência. A nossa tese aqui é que atividades de subsistência de grupos tradicionalmente

excluídos têm sido trocadas não só por empregos com carteira mas também por negócios

melhores, tanto no sentido social como no privado, que é o nosso foco aqui.

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112 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média

Transitamos de uma situação em que o setor empresarial gera baixos lucros e alta desi-

gualdade para outra, com maiores lucros, equidade e estabilidade. Neste novo equilíbrio,

em vez de empresários de subsistência competirem entre si de maneira predatória, parte

deles é atraída pelo setor de emprego formal, enquanto os demais conseguem dividir me-

lhor o acesso aos mercados de consumo. Sintomaticamente a pesquisa Economia Informal

Urbana (ECINF/IBGE) de 2003, os maiores problemas percebidos pelos pequenos em-

presários eram falta de clientes e excesso de concorrência, correspondendo a dois terços

dos negócios. Tudo se passa como num modelo de migração do campo à cidade, só que

dentro do contexto urbano, uma vez que os fluxos migratórios foram interrompidos. A

diferença básica é que práticas de subsistência não agrícolas das cidades são trocadas por

empregos formais ou por atividades empresariais com maior potencial de acumulação e

crescimento. Esta combinação de restrição de oferta de trabalho no segmento de subsis-

tência com expansão de demanda que se confunde com a ascensão da classe média dá

partida a prosperidade com equidade empresarial.

Em linha com essa interpretação, constatamos aumento de lucros e de renda nas famílias

dos microempresários brasileiros, redução nos riscos de redução de renda associados e

aumento das probabilidades de ascensão individual e familiar. Esse processo se mostra

mais forte na base da pirâmide produtiva, implicando queda de desigualdade e expansão

mais forte de grupos tradicionalmente excluídos – como empresários pretos, mulheres,

nordestinos, da periferia – assim como aqueles com menores atributos produtivos – anal-

fabetos, sem curso técnico, cooperativa ou formalidade, ou ainda de empresas menores

e recém-criadas. De maneira geral, todos os atributos associados a menores lucros estão

relacionados ao maior crescimento de renda no segmento entre 2003 e 2013. Além disso,

a desaceleração do Produto Interno Bruto (PIB) informada pelas Contas Nacionais a partir

de 2011 não é percebida no universo dos negócios na base produtiva.

Esta nota explora a dinâmica dos negócios brasileiros em termos de sua capacidade de

gerar renda para seus donos e suas famílias através da Pesquisa Mensal do Emprego (PME)

produzida pelo Instituto Brasileiro de Estatística e Geografia (IBGE). A PME possui uma

série de características úteis para captar a dinâmica empresarial. Em primeiro lugar, seu

período de vigência nos permite identificar a evolução dos empreendimentos brasileiros

até fevereiro de 2013, incluindo todo o período de ascensão da nova classe média bra-

sileira. Em segundo lugar, a característica de painel rotativo da PME nos permite acom-

panhar a trajetória dos mesmos negócios por curtos intervalos de tempo, identificando

elementos de risco e oportunidades idiossincráticos. Por ser também domiciliar, tal como

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Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 113

a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), a PME permite acompanhar o

impacto desses negócios sobre a renda per capita das famílias. Analisamos, a seguir, os

grandes números da PME nos últimos dez anos.

Prosperidade – Há diversas medidas e conceitos envolvidos na medição do desempenho

privado dos negócios e seus impactos sobre a vida das famílias dos empresários. O primei-

ro conceito utilizado é o lucro resultado das receitas, deduzido das despesas associadas à

atividade produtiva. O lucro habitual dos empresários metropolitanos, nos últimos doze

meses, terminados em fevereiro de 2013, era de R$ 2.152 por mês, 15,5% maior que o

rendimento médio dos ocupados, variando bastante conforme o segmento em questão:

desde R$ 1.577 entre os negócios dos conta-própria, passando por R$ 3.165 entre em-

pregadores de até cinco empregados e chegando a R$ 6.408 entre aqueles com mais de

5 empregados. Ou seja, o lucro aproximadamente dobra entre cada faixa de tamanho em

questão. O lucro habitual médio de todo o segmento empresarial cresceu 28,2%, desde

período semelhante em 20031, contra 27,3% nos rendimentos do conjunto de ocupados.

A tabela fornece os detalhes dessa evolução individual

Tabela 1: Lucro dos Microempresários

Período Final

Lucro Médio R$*

Lucro Mediano

R$*

Desigualdade Theil-T

Desigualdade Gini

Subir (Acima da Mediana 1) Ano %**

Cair (Abaixo da Mediana 1)

Ano %***

2003 1710,05 795,51 0,8173 0,6412 27,27 26,65

2004 1620,85 774,18 0,7207 0,6121 28,41 19,19

2005 1716,18 760,45 0,6838 0,5975 26,81 15,77

2006 1750,23 863,48 0,6809 0,5869 25,59 13,51

2007 1831,84 948,97 0,6541 0,5791 31,66 11,02

2008 1787,53 1005,79 0,6169 0,5610 33,2 12,48

2009 1926,56 997,02 0,6271 0,5683 29,62 13,6

2010 1958,19 1066,72 0,6102 0,5623 34,43 11,01

2011 2068,58 1107,60 0,6293 0,5600 36,58 11,85

2012 2132,42 1145,18 0,5940 0,5510 37,4 12,83

2013 2172,34 1207,54 0,5787 0,5489 35,02 14,15

Fonte: Ipea/SAE a partir dos microdados da PME/IBGE* preços de 2013 – observações concatenadas no segundo período.** possuía inicialmente renda abaixo da mediana do período 2003 a 2013*** possuía inicialmente renda acima da mediana do período 2003 a 2013

1 O conceito de lucro efetivo apresenta em 2013 um valor 0,2% maior, mas uma variação de 29,9% no mesmo período. Optamos por trabalhar com o conceito habitual, pois é o mesmo usado na Pnad.

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114 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média

O conceito per capita, por sua vez, é o mais relevante para as discussões sobre po-

breza e nova classe média. A renda familiar per capita do trabalho de pessoas entre

15 e 60 anos das famílias de conta próprias ou empregadores sobe 35,7% no perío-

do. A renda familiar per capita do trabalho de pessoas entre 15 e 60 anos das famílias

de conta-próprias ou empregadores corresponde a R$ 1.388 por membro adulto e

sobe 35,7% de 2003 a 2013. Note-se que, na PME, estamos excluindo os efeitos da

expansão de benefícios previdenciários e sociais e nos atendo somente à parcela tra-

balhista, que é a parte mais sustentável do processo de expansão. O lucro e a renda

familiar trabalhista mediana sobem 51,8% e 75,4%, bem acima da média, indicando

redução de desigualdade. A mediana no segmento microempresarial que é representa-

tivo da população trabalhadora brasileira é uma boa aproximação da nova classe mé-

dia brasileira. Em suma, houve maior prosperidade trabalhista no meio do que na mé-

dia dos microempresários metropolitanos e de suas famílias no período em questão.

Tabela 2: Renda do Trabalho per Capita dos Microempresários

Renda per Capita

Média R$*

Renda per Capita

Mediana R$*

Desigualdade Theil-T

Desigualdade Gini

Subir(Acima da Mediana 1) Ano %**

Cair(Abaixo da Mediana 1) Ano %***

2003 1023,00 454,55 0,7795 0,6303 21,88 23,62

2004 971,74 471,82 0,6948 0,6003 23,8 17,11

2005 1040,06 516,15 0,6455 0,5855 22,41 14,11

2006 1080,91 539,68 0,6619 0,5844 23,6 11,94

2007 1135,25 585,68 0,6380 0,5771 22,52 11,33

2008 1156,10 594,56 0,6918 0,5752 26,61 10,57

2009 1250,68 631,94 0,6461 0,5739 24,54 11,82

2010 1283,83 680,26 0,6135 0,5646 31,61 9,67

2011 1354,96 734,71 0,6101 0,5598 30,47 11,21

2012 1391,07 780,81 0,5906 0,5497 35,75 11,06

2013 1388,05 797,38 0,5410 0,5390 34,93 11,23

Fonte: Ipea/SAE a partir dos microdados da PME/IBGE* preços de 2013 – observações concatenadas no segundo período.** possuía inicialmente renda abaixo da mediana do período 2003 a 2013*** possuía inicialmente renda acima da mediana do período 2003 a 2013

Igualdade – A desigualdade de lucros, segundo a renda individual do trabalho dos em-

preendedores, embora alta, cai de forma consistente no período em questão. O índice

de Gini dos lucros cai quase 10 pontos percentuais, ou 14,6%, passando de 0,641 para

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Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 115

0,549. O índice de Theil-T, que é uma medida de desigualdade mais sensível à cauda da

distribuição, cai 29,2%, passando de 0,817 para 0,579 no período.

Também cai de forma similar a desigualdade de renda familiar per capita do trabalho de

pessoas entre 15 e 60 anos nas famílias de conta-próprias ou empregadores. O respectivo

índice de Gini também cai quase 10 pontos de porcentagem, ou 14,5%, passando de

0,63 em 2003 para 0,539. Nesse ínterim, o índice de Theil-T trabalhista per capita do

segmento cai de 0,78 para 0,541. Ou seja, do ponto de vista da equidade, houve marcado

avanço no desempenho trabalhista dos microempreendedores metropolitanos.

Oportunidade - Uma possibilidade oferecida pela PME é acompanhar as trajetórias de

um mesmo empresário e sua família ao longo de curtos intervalos de tempo. A partir

disso, captamos os riscos de queda e as oportunidades de ascensão vividos por cada um

deles e pelos seus familiares. Dividindo na mediana a amostra de todo o período 2003

a 2013, temos que, daqueles que estavam abaixo dessa mediana 12 meses antes, 35%

a cruzaram de baixo para cima entre os dois meses iniciais de 2012 e 2013, enquanto

14,2% dos que estavam acima dela fizeram o trajeto oposto. Se analisarmos as transições

anuais ocorridas dez anos antes, entre 2002 e 2003, 27,3% cruzaram a mediana de baixo

para cima e 26,7% fizeram o caminho oposto. Ou seja, havia fluxo descendente similar

ao ascendente entre 2002 e 2003, mas ambos os fluxos melhoraram desde então. Em

suma, nesses dez anos, a parcela dos que cruzaram a mediana de baixo para cima subiu

de 26,7% para 35%, ao passo que a proporção daqueles que passaram pela mediana no

sentido descendente caiu de 26,7% para 14,2%.

Partindo do nível individual para o familiar em análise semelhante, vê-se que a probabilida-

de de queda cruzando a mediana cai de 23,6%, entre 2002 e 2003, para 11,2% entre 2012

e 2013, enquanto a possibilidade de alta cruzando a mediana sobe de 21,9% para 34,9%.

Diferenciais em queda - De maneira geral, os exercícios com “equações de lucro”

apresentados a seguir mostram potencial explicativo estatisticamente superior ao das tra-

dicionais equações de salário, confirmando entre os microempreendedores toda a gama

de desigualdades associadas a grupos desfavorecidos, como analfabetos, mulheres, negros

e pessoas sem curso técnico, cooperativa ou carnê da previdência. Por outro lado, regis-

tram queda desses diferenciais por atributos ao longo do tempo, gerando maior equidade

horizontal no meio empresarial.

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116 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média

O restante desta nota empírica explora a face humana dessa revolução empresarial vinda

desde baixo. Estuda os determinantes da maior prosperidade e equidade entre empresá-

rios, assim como as maiores oportunidades de ascensão e os menores riscos de retroces-

so que eles têm experimentado.

Equações de Lucro

Provavelmente, o exercício empírico mais popular em economia do trabalho é a chamada

equação de salário, em que o logaritmo dos rendimentos do trabalho é regredido contra

uma série de variáveis explicativas sociodemográficas, como sexo, idade, região, educação.

Já se perde a conta do número de bancas de teses ou monografias nas quais a equação de

salários é a base utilizada. O instrumento é difundido pela sua aderência empírica e pela

simplicidade de interpretação direta de seus coeficientes como os retornos dos atributos

envolvidos. Por exemplo, um coeficiente de 0,15 na variável ‘anos completos de estudo’

nos informa que sobe em média 15% o rendimento do trabalho quando se passa de ano

na escola. Pelo artifício da regressão, isolamos o papel da educação do trabalhador vis-à-vis

outras características pessoais observáveis, como sexo, idade, localidade etc. Heuristica-

mente, analisamos a variação dos salários conforme os atributos de diferentes trabalha-

dores como se representasse as trajetórias típicas no rendimento médio de um mesmo

trabalhador que experimenta trocar cada uma de suas características ao longo do tempo.

Nesta nota, aplica-se exercício similar aos resultados reportados por empreendedores,

analisados em relações que podem ser apelidadas de equações de lucro. O primeiro resul-

tado da estimação a ser ressaltado é o coeficiente R2 da regressão básica, que, adequada-

mente interpretado, indica que 59,2% da desigualdade de desempenho entre empresas

são explicados pelo conjunto de atributos utilizados na regressão. Esse valor do R2 é

superior aos típicos 30% a 40% observados em regressões de salário tradicionais encon-

tradas na literatura.

Discute-se o papel de cada um dos determinantes observáveis do lucro dos pequenos

negócios, tomados um a um e isolados dos efeitos dos demais elementos considerados. É

conferida especial atenção às mudanças do impacto no lucro desses fatores observados ao

longo do tempo. Os determinantes incluem variáveis sociodemográficas como sexo, raça,

idade, posição na família e educação; características espaciais como a região metropolitana,

bem como a sua distribuição entre capital ou periferia; atributos dos negócios, como setor

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Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 117

de atividade, tamanho em número de empregados e esforço empresarial, medido por

tempo de empresa e jornada de trabalho e outros mais, sujeitos às mudanças de política

pública, como ser membro de cooperativa, fazer curso técnico ou ainda ser ou não formal.

Mais Renda - Conferimos especial atenção à variável ‘tempo’, que permite avaliar a evo-

lução do lucro de empresas e empreendedores com as mesmas características ao longo

dos meses e anos. O retorno em 2013 é 32,9% superior àquele observado dez anos an-

tes, com avanço por empreendedor de cerca de 3% por ano. A flutuação ano a ano pode

ser captada pelo gráfico abaixo.

Cabe notar que o ano de 2013 só tem disponíveis dados de janeiro e fevereiro, até o mo-

mento. Em função disso, incluímos nas regressões variáveis dummies relativas aos meses,

de forma a permitir análise comparável entre anos. Apesar do menor tempo decorrido,

2013 já registra um salto semelhante ao de anos anteriores, indicando, na verdade, acele-

ração da tendência histórica. Em 2012, o pequeno crescimento apelidado “pibinho” não

se refletiu na renda dos trabalhadores, nem na performance dos pequenos empresários,

que se mantém no passo dos 4% ao ano.

Mais Iguais - A ênfase será analisar o retorno, em termos de incremento de lucro pro-

veniente de atributos do empresário e de suas empresas, aí incluindo o seu nível e como

ele muda ao longo dos anos. A fim de captar este último efeito temporal, usamos uma

estimativa de diferença-em-diferença onde cada variável é interagida com a variável ano.

O coeficiente desta interação nos indica diretamente o quanto estes retornos mudaram

ao longo do tempo.

De maneira geral, os exercícios mostram que, olhando o período como um todo, há

desigualdade em todos os atributos produtivos e demográficos associados a grupos tradi-

cionalmente excluídos, como analfabetos, mulheres, pretos ou aqueles sem curso técnico,

cooperativa ou carnê da previdência. Começando pelos atributos pessoais dos empreen-

dedores, o lucro das mulheres é 39,9% menor que o dos homens, o de pretos é 23,6%

menor que o de brancos, o de analfabetos é 74,9% inferior ao daqueles com pelo menos

nível superior de ensino incompleto. Por outro lado, há queda desses diferenciais por

atributos ao longo do tempo. No nosso exemplo, o lucro de mulheres cresce no período

(2003 a 2013) 7,7% mais que o dos homens, o dos pretos cresce 10,7% mais que o de

brancos e, finalmente, o de analfabetos cresce 29,7% mais que o daqueles que já ingres-

saram nos bancos universitários.

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118 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média

A tabela indica que os retornos positivos são cadentes ao longo do tempo, ou vice-versa,

revelando uma compressão da desigualdade dos lucros entre os microempresários. Essa

maior equidade empresarial alcançada no período recente é o ponto a ser ressaltado

nesta seção.

Olhando a localização geográfica, os lucros dos negócios de Recife e Salvador, que são as

mais pobres entre as principais metrópoles brasileiras, sobem 20,9% e 19,4% mais que

os de São Paulo, que é a maior e tradicionalmente a mais rica metrópole brasileira. O

lucro nas periferias cresce 3% a mais do que nas capitais. Mesmo com essa melhora, as

conhecidas iniquidades territoriais brasileiras ainda se fazem presentes, sendo o lucro nas

metrópoles de Recife ou Salvador, respectivamente, 37,7% e 30,4% menor que o obser-

vado na Grande São Paulo. Ou ainda, o lucro dos negócios da periferia é 13,9% menor

que o das capitais.

O lucro dos informais cresce 25,3% mais que o dos formais. O de cooperativados, 14,2%

mais que o dos sem cooperativas. O daqueles que frequentam cursos técnicos sobe 17,4%

(36,1%) mais que o dos que não fizeram. Os que concluíram cursos técnicos não apresen-

tam resultados estatisticamente significativos em termos de evolução dos lucros. O lucro

de empresas maiores que 5 empregados cai 27,3% frente o de trabalhadores por conta

própria. E o daqueles com até 5 empregados cai 12,7%. Empresas abertas há menos de

30 dias têm seus lucros aumentados em 42,8% mais que os daqueles estabelecidos há

mais de dois anos. Note que este diferencial cai paulatinamente à medida que se caminha

para empresas há mais tempo estabelecidas: 18,8% e 11,6% para empresas com menos

de 1 ano (e mais de 30 dias) e para aquelas entre 1 e 2 anos, respectivamente.

Perfil - Embora crescentes entre os microempresários, as proporções de mulheres (de

39% para 40,4%), pretos (de 6,7% para 8,6%) e profissionais com curso técnico (de

20,3% para 33,5%) sobem menos que entre o conjunto total de ocupados. Ao passo que

sobem mais a dos que já sentaram nos bancos universitários (de 44,3% para 56,5%) e a

dos que contribuem para previdência (de 30% para 40,8%). Este aumento de formalida-

de cresce em particular a partir do advento do programa microempreendedor individual

em 2009 e se acelera depois da expansão dos critérios de elegibilidade em 2011.

A base, o meio e o topo – Até aqui, foram avaliados os impactos de cada variável so-

bre o desempenho médio dos negócios. Como diz o livro texto de estatística básica, “a

média esconde tanto quanto revela”. A heterogeneidade do desempenho empresarial é

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Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 119

comparável à do conjunto do mercado de trabalho brasileiro e, portanto, tem de ser com-

preendida também. Há um largo espectro de atividades empresariais distintas, que vão

desde aquela do trabalhador por conta própria, cujo principal objetivo é prover o sustento

básico de sua família, até aquela com potencial de acumulação de capital e crescimento.

A primeira é tipicamente uma atividade decorrente da necessidade, enquanto a segunda

se caracteriza pela convicção e percepção de oportunidade de quem a empreende. Há

ainda o caso híbrido do empresário da nova classe média brasileira que habita o meio da

distribuição. Portanto, dado nosso objetivo central de caracterizar as diferentes classes de

empresários brasileiros, há de se acompanhar o efeito de cada variável sobre a performan-

ce dos negócios em diferentes pontos da distribuição.

Uma variante da equação de lucro que permite investigar essa heterogeneidade é a re-

gressão quantílica. Ela evidencia como mudam os efeitos estimados ao longo da distribui-

ção de lucros, aqui divididos a cada vintil (isto é, subgrupos de 5% do total de pequenos

empreendedores, ordenados do menor até o maior lucro). A análise enfatiza efeitos si-

milares aos apresentados anteriormente para a média, porém no limite inferior (sobre

os 5% com menores lucros), na mediana da distribuição (centrada entre os 50% menos

lucrativos e a metade mais lucrativa) e na parte superior (com lucros superiores a 95%

do conjunto total).

Primeiro e mais importante, o ‘efeito tempo’: tomando 2003 como base zero, o ganho de

lucro acumulado a partir de 2006 é significativo em todos os pontos da distribuição de lu-

cros, conforme destacado graficamente nos vintis 5%, 50% e 95%. O ganho de lucro au-

menta à medida que caminhamos para períodos mais recentes. A novidade apontada pelo

aparato quantílico é mostrar que esse ganho é decrescente à proporção que caminhamos

da base para o topo da distribuição de lucros. Se fixarmos a análise nos meses de 2013,

perceberemos que o efeito na ponta dos lucros mais baixos é quase duas vezes maior que

na ponta de cima, ficando a mediana num nível intermediário de crescimento: 46% no

vintil 5%; 32,7% no 50%; e 24,5% no 95%. Em suma, o aumento da prosperidade dos

pequenos negócios de subsistência foi bem maior que nos negócios mais lucrativos.

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120 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média

Gráfico 1: Ganho de Lucro ao longo da Distribuição de Renda: efeito-ano

Fonte: Ipea/SAE a partir dos microdados da PME/IBGE

Gráficos similares para cada uma das dimensões contemplada no modelo são apresen-

tados ao final desta nota. Eles nos informam como se comportam diferenciais de lucro

diversos ao longo da própria distribuição de lucros em todo o período de 2003 a 2013,

que corresponde ao da ascensão da chamada nova classe média brasileira, aí incluindo

grupos sociodemográficos, espaciais e de atributos empresariais. Observa-se que alguns

tradicionalmente excluídos, como negócios menores, de empresários pretos, da periferia

e menos educados, têm diferenciais negativos, mas que se distribuem de formas variadas

da base ao topo da distribuição de lucros.

Em suma, características como raça, periferia, educação regular, cursos profissionalizan-

tes e tamanho de negócio são definidoras mais fortes dos lucros no topo, onde estão os

diferenciais mais expressivos, do que na base dos proventos das empresas. O oposto

acontece com diferenciais de gênero, tempo de negócio e entre a Grande São Paulo e

metrópoles nordestinas. Finalmente, os impactos de formalização e de cooperativismo

são relativamente constantes ao longo da distribuição de lucros.

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Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 121

Conclusões – Os pequenos negócios têm crescido e gerado melhores empregos, com

menor desigualdade tanto dentro do grupo de microempreendedores quanto na relação

de seus lucros com os salários de seus empregados. As principais marcas da ascensão de

pessoas à nova classe média têm sido a escolarização e a conquista do emprego com car-

teira. Nesse contexto, as chances de um brasileiro com ocupação ser um empreendedor

caíram 8,5% de 2006 a 2013, mas o lucro dos que mantêm pequenos negócios cresceu

4% ao ano, segundo a PME. Esses microempreendedores passaram a contratar mais tra-

balhadores com carteira assinada e salários que crescem ainda mais do que seus próprios

lucros. Também ficaram menos desiguais os retornos obtidos pela massa de pequenos ne-

gócios em operação no País, com crescimento mais acelerado a partir da base da pirâmi-

de. Há menor quantidade relativa de negócios de subsistência, com aumento da qualidade

social dos empreendimentos, seja pela geração de empregos emanada, seja pela redução

da desigualdade de renda entre empresários e seus empregados. Além disso, os dados

reportados pelas pessoas na PME mostram que, assim como já tínhamos constatado com

os salários, o lucro dos pequenos empreendedores das principais regiões metropolitanas

também cresceu bem mais que o PIB em 2012, ao ritmo de 4% ao ano acima da inflação,

ritmo este acelerado nos dois primeiros meses de 2013.

A renda familiar per capita do trabalho de pessoas entre 15 e 60 anos das famílias de

conta próprias ou empregadores sobe 35,7% de 2003 a 2013. A mediana no segmento

microempresarial, que é representativo da população trabalhadora brasileira, é uma boa

aproximação da nova classe média brasileira. A renda familiar trabalhista mediana sobe

75,4%, bem acima da média, indicando redução de desigualdade. De fato, o índice de

Gini da renda per capita, assim como de lucro, cai quase 10 pontos de porcentagem entre

2003 e 2013.

De maneira geral, os exercícios controlados de “equações de lucro” apresentam potencial

explicativo estatisticamente superior ao das tradicionais equações de salário, confirmando

entre os microempreendedores toda a gama de desigualdades associadas a grupos desfa-

vorecidos, como analfabetos, mulheres, negros e pessoas sem curso técnico, cooperativa

ou carnê da previdência. Por outro lado, registram queda desses diferenciais por atributos

ao longo do tempo, gerando maior equidade horizontal no meio empresarial.

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122 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média

O ganho de lucro aumenta à medida que caminhamos para períodos mais recentes. O

uso do aparato de regressão quantílica mostra que, quando comparamos pessoas iguais

nos mesmos trechos da distribuição de lucros, há ganho decrescente, à medida que ca-

minhamos da base para o topo da distribuição de lucros. Se fixarmos a análise nos meses

de 2013, o incremento controlado nos lucros mais baixos é quase duas vezes maior que

na ponta de cima, ficando a mediana num nível intermediário de crescimento: 46% nos

5% mais pobres; 32,7% na mediana; e 24,5% no 95%, demonstrando que o aumento da

prosperidade dos negócios nanicos de subsistência foi bem maior que nos mais lucrativos.

Uma última possibilidade oferecida pela PME é acompanhar as trajetórias de um mesmo

empresário e sua família ao longo de curtos intervalos de tempo. Entre 2003 e 2013, a

parcela dos que cruzaram a mediana de lucros de baixo para cima subiu de 26,7% para

35%, ao passo que a proporção daqueles que passaram pela mediana no sentido descen-

dente caiu de 26,7% para 14,2%. Demonstrando assim, a posteriori, queda das ameaças

de regressão e incremento das oportunidades de ascensão vividos por cada detentor po-

bre, remediado ou rico do chamado ‘capital de risco’

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Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 123

Apêndice 1: Perfil do lucro dos microempresários

Diferencial de Lucro

Controlado

D em D (2013 / 2003) Diferencial de Lucro

Controlado

Diferencial de Lucro Bivariado

2013

Variação Relativa de

Lucro 2013 / 2003*

perfil dos microempresários

Estimativa sig Estimativa sig Mar03-Fev04

Mar12-Fev13

Mulher -0,3994578 # 0,0770307 ## -36,15% 19,58% 39,10% 40,40%

Homem --- --- --- -4,76% 60,90% 59,60%

Parda -0,1801359 # 0,1087857 # -49,67% 143,36% 27,89% 32,73%

Preta -0,2364519 # 0,1066075 ## -53,68% 131,81% 6,71% 8,63%

Branca --- --- --- -2,66% 63,97% 57,15%

Cônjuge -0,0496249 # 0,0315812 ## -29,91% 70,37% 25,59% 26,19%

Filho -0,1910567 # 0,0716151 ## -39,28% 93,00% 12,85% 12,48%

Principal Responsável --- --- --- -23,81% 59,80% 59,04%

Sem instrução e menos de 1 ano de estudo

-0,7488309 # 0,2972997 ## -72,20% -30,04% 2,57% 1,34%

De 1 a 3 anos de estudo -0,6417401 # 0,1685933 ## -65,24% 159,11% 6,33% 3,69%

De 4 a 7 anos de estudo -0,4915923 # 0,1708873 # -61,42% 99,61% 27,77% 20,53%

De 8 a 10 anos de estudo -0,3351901 # 0,152337 # -54,23% 6,94% 18,88% 17,92%

11 ou mais anos de estudo --- --- --- -89,34% 44,28%

IDADE 0,0412448 #

IDADE 2 -0,0004428 #

Total de Moradores -0,0155045 #

Jornada de Trabalho 0,0133423 #

Empregador até 5 empregados 0,4542054 # -0,1268896 ## 99,80% -17,87% 13,31% 12,42%

Empregador com mais de 5 empregados

0,7965032 # -0,2726767 # 315,30% -23,21% 8,94% 7,81%

Conta própria --- --- --- 63,84% 77,74% 79,76%

Comércio, reparação de veículos automotores e de objetos pessoais e domésticos e comércio a varejo de combustíveis

-0,4022483 # -0,0625099 -55,44% 77,11% 29,41% 27,50%

Construção -0,2829899 # 0,0103116 -63,98% 16,42% 13,07% 13,47%

Indústria extrativa e de transformação e prod. e dist. de eletricidade, gás e água

-0,4297366 # -0,1362071 # # -57,33% -14,99% 15,78% 13,85%

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Diferencial de Lucro

Controlado

D em D (2013 / 2003) Diferencial de Lucro

Controlado

Diferencial de Lucro Bivariado

2013

Variação Relativa de

Lucro 2013 / 2003*

perfil dos microempresários

Estimativa sig Estimativa sig Mar03-Fev04

Mar12-Fev13

Intermediação financeira e atividades imobiliárias, aluguéis e serviços prestados à empresa

0,101556 # -0,0953155 -5,25% -56,77% 12,31% 12,83%

Outras atividades -0,5229824 # -0,0588215 -68,39% -202,61% 0,97% 0,84%

Outros serviços -0,327573 # -0,0547737 -56,22% -34,35% 22,82% 25,99%

Administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde e serviços sociais

--- --- --- 105,76% 5,63% 5,53%

Não contribui -0,4293022 # 0,2531137 # -61,94% 87,67% 70,05% 59,22%

Contribui --- --- --- -123,18% 29,95% 40,78%

Frequentou qualificação profissional -0,0652862 ## 0,3611106 ## -39,72% 27,83% 0,39% 0,62%

Não frequentou qualificação profissional -0,0431687 # 0,0047903 -38,88% -58,39% 79,31% 65,91%

Concluiu qualificação profissional --- --- --- 33,46% 20,30% 33,47%

Cooperativado 0,1302188 # -0,1420984 ## 47,82% -65,03% 3,04% 2,90%

Não cooperativado --- --- --- 3,00% 96,96% 97,10%

Até 30 dias na empresa -0,4646725 # 0,4281447 ## -69,33% 127,76% 1,81% 0,56%

De 31 dias a menos 1 ano na empresa -0,2936383 # 0,1884789 # -47,79% 158,76% 12,17% 8,09%

De 1 ano a menos de 2 anos na empresa -0,1784848 # 0,1160405 # -38,69% 74,56% 7,33% 7,77%

2 anos ou mais na empresa --- --- --- -28,52% 78,69% 83,58%

Periferia -0,1407859 0,0303556 ## -38,68% 53,67% 43,17% 43,48%

Capital --- --- --- -20,66% 56,83% 56,52%

Belo Horizonte -0,0340571 # 0,0853964 ## -15,24% 81,32% 11,26% 11,87%

Porto Alegre -0,0853968 # 0,0576548 -16,20% 102,29% 9,46% 8,04%

Recife -0,3987672 # 0,2049346 # -52,13% 93,15% 6,98% 5,57%

Rio de Janeiro -0,1350309 # -0,0358857 -35,96% -28,08% 25,83% 33,18%

Salvador -0,3107227 # 0,194151 # -38,74% 147,48% 5,58% 5,00%

São Paulo --- --- --- -14,46% 40,90% 36,34%

** R$ a preços de marços de 2013* informação do ano 2012--- base de comparação# Estatisticamente significante ao nível de confiança de 99%## Estatisticamente significante ao nível de confiança de 90%

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Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 125

Apêndice 2: regressões quantílicas

Regressões quantílicas nos permitem comparar a performance empresarial em diferentes

faixas de lucro. Os exercícios complementares ao do texto inicial demonstram que em

alguns casos aumenta o diferencial de lucro à medida que se caminha da base ao topo da

distribuição, como no caso de empresários pretos (-20,8% no vintil 5%; -19,9% no 50%;

e 29,4% no 95%) e os da periferia (-11,5% no vintil 5%; -12,4% no 50%; e -15,3% no

95%). Isso indica que os atributos cor negra e morar na periferia são relativamente mais

penalizados nos negócios mais lucrativos.

Efeito distinto se observa com negócios mais novos, criados há menos de 30 dias, que

possuem desempenho melhor no topo da distribuição, onde sua desvantagem no nível de

lucro é menor. Seu diferencial negativo em relação aos estabelecidos há mais de 2 anos é de

-76,3% no vintil 5%; -40,1% no 50%; e -31,8% no 95%. Por outro lado, negócios meno-

res têm pior desempenho, especialmente no topo. O diferencial positivo dos lucros em

negócio com mais de 5 empregados, comparado ao do trabalhador por conta própria, é de

68,6% no vintil 5%; 81,4% no 50%; e 91,8% no 95%. Portanto, no que tange às chama-

das start-ups, há no topo mais efeitos da escala e menos efeitos do tempo de negócio.

As empresárias mulheres e os empreendimentos nordestinos têm desempenhos mais

próximos de seus pares masculinos e paulistas entre os maiores lucros. À proporção que

se escala a pirâmide de lucros, cai o diferencial tanto para mulheres (-54,5% no vintil 5%;

-37,8% no 50%; e -34,6% no 95%) como para as metrópoles nordestinas, aqui exempli-

ficada com Recife (-56,5% no vintil 5%; -39% no 50%; e -30% no 95%).

O topo da distribuição oferece menor diferencial adverso de lucro aos novos negócios.

Por sua vez, o diferencial adverso da baixa escolaridade é menor no meio da distribuição

do que nos dois extremos. Tome-se como exemplo os empreendedores analfabetos, com

diferencial em relação a quem tem nível superior (completo ou incompleto) de 73,2% no

vintil 5%; -68,1% no 50%; e -83,9% no 95%. Já os impactos de formalidade previden-

ciária e de cooperativação não mudam muito ao longo da distribuição de lucros.

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126 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média

Gráfico 2: Gênero

Fonte: Ipea/SAE a partir dos microdados da PME/IBGE.

Gráfico 3: Raça

Fonte: Ipea/SAE a partir dos microdados da PME/IBGE

Gráfico 4: Escolaridade

Fonte: Ipea/SAE a partir dos microdados da PME/IBGE.

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Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 127

Gráfico 5: Tamanho do negócio

Fonte: Ipea/SAE a partir dos microdados da PME/IBGE.

Gráfico 6: Informalidade previdenciária

Fonte: Ipea/SAE a partir dos microdados da PME/IBGE

Gráfico 7: Cursos profissionalizantes

Fonte: Ipea/SAE a partir dos microdados da PME/IBGE.

Page 128: Vozes da Nova Classe Média - 3º Caderno

128 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média

Gráfico 8: Pertence a cooperativas

Fonte: Ipea/SAE a partir dos microdados da PME/IBGE.

Gráfico 9: Tempo do negócio

Fonte: Ipea/SAE a partir dos microdados da PME/IBGE

Page 129: Vozes da Nova Classe Média - 3º Caderno

Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 129

Gráfico 10: Setor de atividade

Fonte: Ipea/SAE a partir dos microdados da PME/IBGE.

Gráfico 11: Geografia - capital ou periferia

Fonte: Ipea/SAE a partir dos microdados da PME/IBGE

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130 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média

Gráfico 12: Geografia - região metropolitana

Fonte: Ipea/SAE a partir dos microdados da PME/IBGE.

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resumoexecutivo

Empoderando vidas.Fortalecendo nações.