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VALENÇA EM QUESTÃO // debate / crítica / opinião ano VII // edição 48 // janeiro de 2013 // blogdovq.blogspot.com Virtudes e dilemas das políticas de comunicação O crack e as políticas de combate à droga // Leia o livro antes de assistir o filme. Será? // Nada vale a pena // Crise de liderança

VQ 48

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Valença em Questão, edição 48

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VALENÇA EM QUESTÃO // debate / crítica / opinião ano VII // edição 48 // janeiro de 2013 // blogdovq.blogspot.com

Virtudes e dilemas das políticas de comunicação

O crack e as políticas de combate à droga // Leia o livro antes de

assistir o filme. Será? // Nada vale a pena // Crise de liderança

VALENÇA EM QUESTÃO

ano VII // edição 48 // janeiro 2013www.blogdovq.blogspot.com

Endereço:R. Francisco Di Biase 26 Torres HomemValença-RJ CEP [email protected] Tel.: 21-8187-7533

Colaboraram nesta edição:Vitor Castro (30.325 Mtb), Bebeto, Marianna Araujo, Miguel Rep, Patrícia Oliveira, Rodrigo Bodão, Sanger Nogueira, Santiago Marino e Panta.

Ilustração de capa:Rafael Balbueno

Projeto Gráfico e Diagramação: Mórula Oficina de Ideiaswww.morulaideias.com.br

Tiragem: 1500 exemplares

Impressão:Gráfica PC Duboc Ltda.

O Valença em Questão circula no município de Valença, arredores e Rio de Janeiro, além de enviado via correio eletrônico e disponibilizado na internet.

Colabore Com o VQ: Banco Itaú – Agência 0380

Conta Poupança 60713-5/500

O VALENçA EM QuESTãO ESTá SOB LICENçA CREATIVE COMMONS. ALGuNS DIREITOS RESERVADOS:

ATrIBuIção.

VOCê DEVE DAR CRéDITO AO AuTOR ORIGINAL, DA FORMA ESPECIFICADA PELO AuTOR Ou LICENCIANTE.

uSo não-ComErCIAl.

VOCê NãO PODE uTILIzAR ESTA OBRA COM FINALIDADES COMERCIAIS.

PErmITIDA A CrIAção DE oBrA DErIVADA.

SE VOCê ALTERAR, TRANSFORMAR Ou CRIAR ALGO A PARTIR DESTE TRABALHO, VOCê PODE DIVuLGAR O RESuLTADO DESDE QuE SOB uMA LICENçA IGuAL A ESTA.

EnTrEVISTA Com álVAro CABrAl

Pelos diversos assuntos contidos na entrevista, a nova administração irá fazer seus estudos com base apenas em duas situações: “urgente e urgentíssima”! O Estado, tirando o corpo fora de suas obrigações na área de educação é preocupante. Os poderes Executivo, Le-gislativo e Municipal devem ter suas obrigações solidá-rias com o progresso educacional do país. Coleta de lixo precária, limpeza das ruas inexistente, vide bairros de periferia. Servidores do município com problemas pre-videnciários. Terceirizações desnecessárias que levaram o município à inadimplência. Que a nova administração arregace as mangas, trabalhe e tire Valença dessa UTI, urgente/urgentíssimo!

Alexandre Rabelo Morgado

***O que nós temos que exigir tanto de um como de ou-

tro é que as relações do Álvaro com o André Correa não atrapalhem ainda mais a nossa cidade. Como li no Local, é no mínimo estranho que o André ajeite tudo para es-tadualizar o hospital e nem fale com o prefeito eleito. Já começa mal essa relação, e o André, que não é nenhum ingênuo, não fez isso por acaso.

Comentário anônimo

***Li a entrevista e percebo que ela não traz nada de

substancioso. Variações em cima de um mesmo tema - desacertos que precisamos apurar. Uma semana de governo e não se pode exigir nada, por enquanto. É nor-mal. Mas algumas postagens aqui e fora daqui já dão mostras que o front se prepara para o mais do mesmo. Pelo menos em termos de nomeações. Parentes, paren-tes de amigos, amigos de parentes... a fome de assalto ao bolso da viúva municipal não é diferente nos demais níveis. O grau de transparência nas ações de governo será o termômetro do rumo que este governo tomará. A Súmula 13 está em vigor?

Comentário anônimo

// Deu no blog

noVo SECrETArIADo DE VAlEnçA

Administração - Carlos Alberto Almeida dos Santos Fazenda - Paulo Roberto Russo Serviços Públicos - Sérgio Carlos Ferraz Controle Interno - José Eugênio Ribeiro dos Santos Obras - Paulo Cesar Pereira de Souza Saúde - Sérgio Gomes Educação - Tania Maria Machado Pinto Planejamento - Sandro Ricardo Esteves Agricultura - Cyro Guimarães Esportes - Márcio Vieira MartinsAssessoria de Comunicação - Katia Berkowicz

// Comentários do blog

No Brasil pouco se discute sobre uma lei que regulamen-te os veículos de comunicação, especialmente em relação à concentração de propriedades dos meios. Os movimentos brasileiros de democratização da comunicação são cons-tantemente abafados pelos grandes veículos com a falta de informação – ou mesmo a desinformação.

Isso já indica que esta não é uma luta simples e menos ainda que será fácil em nosso país mudar a estrutura dos conglomerados de comunica-ção. Nesta edição do VQ trou-xemos o exemplo do que vem acontecendo na Argentina, que desde 2009 vem tentan-do aplicar a Ley de Medios, e a disputa entre o governo de Cristina Kirchner e o conglo-merado exercido pelo Clarín. Embora a discussão por lá esteja bem mais avançada do que por aqui, fica evidente o poder dos grandes meios, es-pecialmente quando há oligo-pólio da informação.

Aqui no Brasil também são restritas as informações sobre o andamento da Lei de Mídia argentina. O que comumen-te os meios de comunicação daqui fazem é nomear a Lei como “censura” do estado aos meios de comunicação, sem se aprofundar e explicar o que de fato significa a lei. Cla-ro, esta é uma forma de defesa das empresas brasileiras para enfraquecer qualquer tipo de mobilização contra o controle da comunicação por um nú-mero pqueno de organizações – no Brasil, seis grupos fami-liares comandam o oligopólio midiático: Abravanel (SBT), Civita (Editora Abril), Frias (Folha de S. Paulo), Marinho (Organizações Globo), Saad (Rede Bandeirantes) e Si-rotsky (Rede Brasil Sul – RBS

eDITorIal

– em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul).

Além dessa reflexão sobre a comunicação brasileira, o VQ também destaca um de-bate que vem sendo feito de maneira superficial pela im-prensa. A questão do crack, cada vez mais visível pelos usuários que têm aparecido em grande medida nos notici-ários. O pesquisador Rodrigo Nascimento aponta a impor-tância de se esclarecer o tema tanto para o usuário como para familiares, já que há um desconhecimento generaliza-do. Mas também afirma que o tratamento por si só não resolve o problema, é preciso pensar na estruturação des-ses serviços e na formação de profissionais para esse tipo de atendimento.

Além disso, Sanger Noguei-ra traz ao VQ uma discussão que se iniciou na comunida-de do Facebook “Cinéfilos de Valença” sobre a adaptação de quadrinhos e obras literárias para o cinema. Sanger ques-tiona a necessidade de se ler a obra antes do filme, e arrisca dizer que talvez seja mais inte-ressante avaliar o filme como filme, e não comparando com a obra original. Os aficionados pelos livros e quadrinhos po-dem discordar – e são muito bem vindos ao debate.

Na seção Navegando, um novo blog que disponibiliza gratuitamente acesso a con-teúdos apenas para assinan-tes, o Bê Neviani, a poesia de Adriano Gonçalves e o qua-drinho de Panta. Trouxemos ainda um pouco da repercus-são da entrevista com o pre-feito Álvaro Cabral. Aqui ao lado selecionamos 3 dos mais de 30 comentários no blog so-bre a entrevista. Ainda não se manifestou? Então acesse o blog e deixe sua opinião.

Destaques desta edição: artigo de pesquisador argentino sobre a Ley de Medios de seu país e sobre políticas de combate ao crack

Já passa da hora de se pensar a comunicação no Brasil

2 Janeiro de 2013

// Mídia

3Janeiro de 2013

Virtudes e dilemas das políticas de comunicação na Argentina da Ley de Medios

Nossos hermanos argentinos vêm desde 2009 trilhando um importante caminho no rumo da consolidação de políticas de comunicação democráticas. Este é o ano da aprovação da Lei de Serviços de Comunicação Audiovisual, a conhecida Ley de Medios. A lei representa um enorme avanço pois regula a concentração de propriedade e garante parte significativa do espectro para emissores sem fins lucrativos. Assim como no Brasil, a Argentina tinha seus serviços de comunicação regulados por uma lei da época da ditadura e as mudanças propostas pela nova legislação representam grande disputa entre a iniciativa privada e aqueles que militam por uma outra comunicação.

No entanto, a aprovação da lei não significou a imediata transformação do cenário de concentração e oligopólio. De 2009 para cá o que se viu foi um grande embate público entre o governo de Cristina Kirchner e o grupo Clarín, maior conglomerado de comunicação do país. A história parecia

POR Santiago Marino TRADUÇÃO Marianna Araujo

caminhar para um desfecho em 7 de dezembro de 2012, dia em que a Suprema Corte determinou como limite para que o Clarín começasse a se adequar à lei.

O que aconteceu depois do esperado 7D? Quais os desafios que a sociedade argentina ainda precisa enfrentar para efetivar uma política pública de comunicação democrática? Que transformações esse processo pode gerar na sociedade? Para explicar o que está acontecendo e responder a algumas dessas perguntas, o VQ convidou o professor argentino Santiago Marino. Santiago é um pesquisador que acompanhou todo o processo desde e o começo e sua avaliação é útil não apenas para que possamos compreendê-lo, mas também para refletirmos sobre a realidade brasileira. A regulação da propriedade e outras medidas voltadas para a democratização da comunicação são urgentes para que possamos avançar na redução das desigualdades no Brasil.

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// Mídia

4 Janeiro de 2013

O sistema de radiodifusão argentino se ca-racterizou, historicamente, por sua estrutura pri-vada e comercial, com intervenções estatais que tenderam, na maioria das vezes, a beneficiar esta lógica. Desde o retorno à democracia, a lei de ra-diodifusão foi modificada para permitir a criação de conglomerados, o ingresso de capital estran-geiro e reforçar o sistema baseado na busca do lu-cro. Este processo resultou no crescimento cons-tante da concentração de propriedade dos meios de comunicação, que foi reforçada pelos governos que se sucederam.

No início da crise de 2001, que implicou no fim do governo da Alianza, a gestão de Eduardo Duhalde manteve a estrutura de radiodifusão que derivava em benefícios para a iniciativa privada. Ainda assim, os maiores efeitos de sua interven-ção no marco regulatório só se materializaram durante o mandato seguinte, de Néstor Kirchner, quando aquela lógica mudou, ao menos no tocan-te à regulação.

Por diversas razões (as quais ainda são ampla-mente discutidas), desde 2008 o governo de Cris-tina Fernández de Kirchner e os grandes grupos de comunicação (principalmente o Grupo Clarín) vêm se enfrentando abertamente. Esta situação culminou a partir da aprovação da Lei de Serviços de Comunicação Audiovisual (LSCA) 26522/09, que produziu uma mudança na lógica da discus-são e sanção de outorgas, estabeleceu limites à concentração de propriedade dos meios e propôs novas condições para a produção de conteúdos audiovisuais.

Um dos elementos mais importantes da nova lei é o fato de que através dela reconhecem-se três tipos diferentes de atores sociais. Um deles é o não-comercial, caracterizado de maneira ampla e inclusiva, sem cair na armadilha de listar quem poderia estar incluído na categoria, correndo o risco de deixar de fora algum ator que deveria ser contemplado.

A reserva de 33% de todas as bandas e frequên-cias para setores sem fins lucrativos é o avanço mais relevante na nova legislação, juntamente com os argumentos que sustentam esta decisão: a possibi-lidade de autonomia diante dos poderes econômicos e políticos. Além disso, a lei abre a possibilidade de outorgar licenças de modo direto a emissores de bai-xa potência em zonas de conflito, o que pode acelerar o processo de liberação de emissores comunitários.

Por outro lado, a inclusão de novos limites para a concentração de propriedade e o avanço na estrutura dos organismos de aplicação e con-trole (AFSCA - Autoridade Federal de Serviços de Comunicação Audiovisual, Conselho Federal e Comissão Bicameral), ainda que falte avançar na gestão deles, são aspectos a serem destacados.

Idas e vindas da leiDesde sua sanção a LSCA nunca foi aplicada

plenamente. Desde 2009 até 2011 as reações dos grandes conglomerados de comunicação para fre-ar a lei foram bem sucedidas, ainda que tenham contado com a permeabilidade de alguns setores judiciais. Outros fatores que colaboraram foram a falta de decisão integral do governo e a disposição da maioria dos partidos de oposição em adotarem a agenda dos grupos de mídia, deslegitimando a LSCA com suas intervenções. De 2011 em diante alguns fatores se alteraram: o governo reduziu a aplicação da lei ao “caso Clarín”, medidas cau-telares foram adiando as decisões e a oposição mudou sua estratégia, mas foi incapaz de intervir efetivamente no processo, recusando-se a consti-tuir a Bicameral e a nomear seus diretores para a AFSCA.

Após este périplo e em meio a uma grande disputa discursiva (com a campanha dobre o 7D, a favor e contra, e com muita desinformação por parte da iniciativa privada), parecia que caminhá-vamos para uma definição, o que se mostrou um equívoco. As decisões vão se sobrepondo como jogadas de uma partida de xadrez, com múltiplas intervenções: do governo, do grupo Clarín e de distintas instâncias judiciais - civil, comercial e a Corte Suprema de Justiça.

Em maio de 2012 a sentença da Corte resolvia que no dia 7 de dezembro terminava o prazo de 36 meses que o grupo Clarín tinha para apresen-tar um plano de adequação à lei (para os demais grupos de mídia este prazo terminou em 22 de de-zembro de 2011). Desde então teve início uma dis-puta discursiva e judicial que se intensificou até o fim do ano. As estratégias eram claras: o gover-no apostou suas fichas na data simbólica, o 7D. O grupo Clarín, por sua vez, buscou adiar na justiça

a aplicação da nova legislação até que haja alguma mudança no cenário político (o que não ocorreu até agora). Por fim, há as estratégias das instân-cias judiciais que não são únicas e vão variando com o tempo e espaço.

Na quinta, 6 de dezembro de 2012, a justiça (vara Civil e Comercial) estendeu a medida caute-lar em favor do grupo Clarín até que exista uma resolução definitiva para a questão. Algumas se-manas depois, outra instância decidiu a favor da constitucionalidade dos artigos 41 e 161 da LSCA, denunciados pelo Clarín. O grupo apelou na vara Civil e Comercial que impôs nova medida cautelar. O caso chegou de novo à Corte Suprema. A instân-cia máxima da justiça argentina sentenciou no dia 27 de dezembro que é a Câmara que deve indicar a resolução da questão, “dentro da maior brevida-de possível” (sem estabelecer uma data para isso). Esta é a parte da sentença que beneficia o Clarín. Por outro lado, a Corte revogou a sentença ante-rior da vara Civil e Comercial, declarando extinta a medida cautelar. A decisão implica que quando a Câmara resolva sobre o conflito, não poderá haver mais cautelares para nenhum dos dois lados.

Desde então, Clarín e todos os grupos que concentram propriedade acima do máximo esta-belecido deveriam se adequar, ou seja, apresentar um plano de como pretendem se desfazer de suas propriedades – e não uma lista de laranjas que assumirão o controle operativo das empresas. A sentença no último dia útil de dezembro inclui a decisão de dois juízes (Zaffaroni e Argibay), ainda que por razões diferentes.

Finalmente, houve um elemento favorável ao go-verno, em relação aos prazos: ficou definido que no 7D terminava o prazo do Clarín e toda a lei deveria ser aplicada ao grupo. A sentença da Corte Supre-ma, na verdade, foi relevante também porque deu uma resposta ao governo que desejava saltar instân-cias, devido a uma suposta gravidade institucional da questão e resolvê-la na Corte. Como o desejo do governo não foi atendido pelo tribunal, a disputa se arrastará por mais um tempo. Nos primeiros dias de janeiro o governo solicitou que a justiça siga traba-lhando mesmo durante o período de férias - como no Brasil, a justiça argentina tem férias coletivas no fim

Clarín e todos os grupos que concentram propriedade acima do máximo estabelecido deveriam se adequar, mas a disputa se arrastará por mais um tempo

A Lei de Serviços de Comunicação Audiovisual produziu uma mudança na lógica da discussão e sanção de outorgas, estabeleceu limites à concentração dos meios e propôs novas condições para a produção de conteúdos audiovisuais

// Mídia

5Janeiro de 2013

do ano. Se isto não acontecer, a Câmara poderá estender sua deci-são a até pelo menos meados de 2013, que é ano eleitoral na Argen-tina, ou seja, um ano politicamente tenso. Como se pode notar (se é que o leitor não se perdeu no labirinto de sentenças, juízes e datas), em relação à LSCA, neste país, falamos mais de questões judiciais do que de políticas de comunicação. E isso é um problema.

A aplicação desigual da lei gerou uma série de questões pendentes que se juntam aos aspectos que ela já não resolvia. Estão entre os aspectos mais importantes a forma de garan-tir a reserva do espectro, de outorgar licenças a operadores sem fins lucrativos onde o espectro está saturado por emisso-res comerciais, desenhar o plano técnico de frequência para conhecer o mapa do espectro, dar conta dos resultados do censo 2010 para saber quantos emissores existem e quantas frequências estão disponíveis. Do outro lado, está a demora na concessão de novas licenças a cooperativas em várias cidades que poderiam oferecer de modo imediato o serviço de televi-são a cabo com boa qualidade e preços mais competitivos que operadores comerciais, sobretudo em localidades onde existe apenas um operador ligado a um grupo que detém oligopólio.

DesafiosPor último, mas não menos importante, a elaboração de

marcos específicos para os atores sem fins lucrativos, que dêem conta de seus vínculos com as comunidades que integram e re-conheçam seu capital social é algo central e uma demanda ain-da sem resposta.

No meu entendimento, quase todas as questões não aplica-das não derivam de erros no texto da lei – que é algo a ser me-lhorado, como todas as leis –, mas desta aplicação fracionada, resultado de decisões políticas e da intervenção de outros ato-res, como demonstrei acima.

Outros desafios ficaram de fora da lei, como a questão da convergência digital e os modelos de sustentabilidade. No pro-grama de mestrado em Indústrias Culturais na Universidade de Quilmes falamos deste tema com a seguinte questão: quem paga a conta? A partir disso, algo para ser avaliado no longo prazo – e aberto ao debate – é se este é um tema que deve ser re-solvido pela lei. Parece-me que é melhor adotarmos um pacote de medidas que integrem uma política pública de fato, entre as quais deveriam estar a regulação da publicidade oficial, planos de financiamento por editais como no cinema e outros. A cur-to prazo, essa pergunta hoje tem a seguinte resposta: a conta é paga pelo Estado (por decisão do governo), com publicidade oficial destinada de forma desigual e fundos de fomento do mi-nistério do Planejamento. O problema é que isso não gera uma indústria sustentável e associa uma fonte de financiamento central à vontade do governo.

Várias perguntas sobre este assunto ainda são difíceis de responder. É complexo imaginar quem estaria interessado em comprar os meios dos quais os conglomerados precisam se des-fazer: rádios AM e FM, canais de TV aberta em Buenos Aires. Outra questão é saber o que acontecerá no dia seguinte à venda (que já não é o 8 de dezembro, mas algum em 2013). Esta é a per-gunta central para a aplicação efetiva da LSCA, para o funcio-

namento do sistema de comunicação em um novo paradigma regulatório e para a sustentabilidade do mesmo, num cenário em constante mudança.

A Argentina tem hoje três políticas para indús-trias culturais distintas: o cinema, o TDT (Televi-são Digital Terrestre) e a Ley de Medios. Em para-lelo atuam três agentes estatais diferentes: INCAA (Instituto Nacional de Cinema e Artes Audiovisu-ais), Ministério do Planejamento e AFSCA. Estes agentes trabalham de maneira isolada com temas

no Brasil, pouco se discute sobre uma lei que regulamente a mídia. na Argentina, até em estádio de futebol torcedores se

manifestam a favor da regulamentação

que deveriam ser pensados e dirigi-dos de modo integral, tanto junto ao setor privado como àquele sem fins lucrativos. Isso seria uma política de Estado, enfim.

Santiago Marino é argentino e co-ordenador acadêmico do mestrado em Indústrias Culturais da Universidade Nacional de Quilmes.

// Cinema

6 Janeiro de 2013

leia o livro antes de assistir o filme. Será?

POR Sanger Nogueira

O ano de 2012 demarcou a importância das adaptações de obras literárias para o cinema. Seja pela falta de originalidade dos roteiristas de Hollywood ou da persistente crise econômica afas-tando os investidores de um fracasso comercial, o mundo literário se tornou um celeiro para pos-síveis filmes. Das dez maiores bilheterias de 2012, cinco são filmes derivados de livros ou quadrinhos.

Do cruzamento de universos distintos surge a pergunta: “O filme derivado de um livro é um trabalho independente da obra literária?”.

A resposta mais comum que ouvimos é que não. O filme faz parte do universo literário. Um fil-me cuja história foi tirada da literatura tem a sua qualidade julgada em relação ao livro. Daí surge a antiga recomendação: “Leia o livro primeiro e veja o filme depois”.

A recomendação acima explica muito da frustração das pessoas com as adaptações para o cinema de obras literárias. Elas se transformam em “fiscais do livro” não aceitando nenhuma mudança na personalidade de um personagem ou a inclusão/exclusão de certos acontecimentos. Quando isso ocorre, o filme em questão se torna horrível.

Acho que o melhor caminho seria tratar o livro e o filme como coisas distintas. Um filme adap-tado de um livro deveria ser julgado como bom ou ruim de acordo com os padrões estabelecidos dentro do cinema (direção, atores, efeitos sonoros etc.) e não da maior ou menor fidelidade ao livro que deu origem. No último mês do ano ocorreu uma polêmica envolvendo o filme “Hobbit”.

No geral, as críticas afirmam que o Hobbit é um bom filme de aventura, mas muito aquém da originalidade que foi a trilogia de 10 anos atrás.

Maiores bilheterias de 2012

Os Vingadores

Batman - O Cavaleiro das Trevas

Operação Skyfall

A Era do Gelo 4

O Espetacular Homem-Aranha

Madagascar 3: Os Procurados

Jogos Vorazes

Homens de Preto 3

Valente

Ted

Uma sensação de que o filme não correspondeu com a expectativa em torno dele.

Um dos críticos do filme, Pablo Vilaça, co-meçou a sofrer ataques nas redes sociais dos apaixonados pelo universo do Senhor dos Anéis. Vilaça os nomeou como “tolkinetes”. Segundo o Vilaça, os “tolkinetes” argumentam que os furos do filme do Peter Jackson são res-pondidos com a leitura do livro de Tolkien. Al-guns são mais radicais: só é possível criticar o filme de Peter Jackson aqueles que leram o livro de J. R.R. Tolkien.

É interessante perceber como toda essa polê-mica sobre a qualidade do filme passa pela com-paração com a obra literária. Poderíamos ser menos estressados se mudarmos nossa forma de ver filmes adaptados dos livros.

Este texto foi escrito a partir dos debates realizados no Facebook com o grupo “Cinéfilos de Valença”http://www.facebook.com/groups/500025046683663/

// Drogas

7Janeiro de 2013

o crack e as políticas de combate à droga

POR Rodrigo Nascimento

Nos últimos meses, quase diariamente, recebemos notícias rela-cionadas ao problema do uso e dependência do crack em praticamente todo território nacional. Como agravante, temos presenciado a prolifera-ção das cracolândias, que é como são denominados os territórios da cida-de onde os usuários e dependentes se reúnem a fim de fazer uso da droga, ocupando com essa finalidade diversos espaços públicos.

Apesar de não ser propriamente o maior problema no que se refere ao uso de drogas no país, não sendo nem a droga mais consumida, nem a que apresenta maior índice de letalidade, há um notável clamor da sociedade para o tema. Esse clamor, produzido em parte pelo sensacionalismo pre-sente na abordagem da mídia em geral, em parte pelas próprias condições degradantes vivenciadas por esses indivíduos e por sua exposição pública ostensiva, fez com que fosse formulada e desenvolvida uma série de ações governamentais.

Dentre essas ações, podemos apontar uma ênfase excessiva na utili-zação de expedientes de cunho repressivo, que privilegiam o uso da força e da imposição de formas compulsórias de tratamento, apesar de contar-mos com uma ampla gama de dispositivos terapêuticos voltados para a abordagem em meio aberto.

Diante dessa ênfase, fica impossível não indicar a usual estigmatização dos moradores de favelas e das pessoas em situação de rua como um dos fa-tores que a motivam, na medida em que existe uma aprovação pela opinião pública, em geral, para a utilização da força nesses encaminhamentos como únicas saídas possíveis e adequadas diante dessa mazela social.

Desse modo, segundo a lógica da ordem pública, a limpeza das ruas e a dissolução, ainda que temporária, de algumas cracolândias produz uma sensação de alívio na sociedade, justamente por perceber nessas ações es-petaculares, de forte impacto midiático, a presença do poder público bus-cando meios de resolver o problema, nem que seja meramente ocultando--o, tornando-o invisível.

Ao contrário do que vem sendo apregoado pelo poder público, a cen-tralidade das intervenções voltadas para o enfrentamento ao crack na internação psiquiátrica e a utilização de expedientes autoritários, com-pulsórios, com uso inclusive das forças de segurança pública, podem pro-duzir um resultado inverso ao esperado, gerando resistência ao tratamen-

to e a percepção e/ou associação de um caráter agressivo e violento a uma abordagem que deveria primar pela lógica do acolhimento e do respeito aos direitos desses cidadãos.

Além disso, uma vez que essas ações são desencadeadas por uma ação judicial, sem a caracterização propriamente dita de um ato médico, podemos estar cometendo um erro grave ao adotarmos uma estratégia de atuação con-traproducente, ineficaz e com uma relação custo/benefício negativa.

Obviamente existem casos específicos em que as modalidades de interna-ção involuntária e compulsória são justificadas. No entanto, essa abordagem espetacularizada e feita no atacado, sem distinção de caso a caso, revela um forte viés higienista que pode, ao invés de contribuir, tornar ainda mais difícil uma abordagem terapêutica eficaz na recuperação desses sujeitos.

Ao contrário, a construção de um projeto terapêutico realmente eficaz decorre de uma relação de confiança com esses sujeitos e suas famílias, que muitas vezes encontram-se também numa situação que demanda acolhi-mento e atenção. Nesse sentido, é primordial o fortalecimento da rede de cuidados em saúde mental, priorizando serviços abertos de base comuni-tária, o investimento nos recursos humanos adequados e viabilização de projetos terapêuticos individualizados que promovam a autonomia, a cida-dania e a inclusão social.

Desse modo, a meu ver, a criação de um serviço telefônico de atendi-mento a usuários e familiares, voltado para a orientação da população acer-ca do melhor encaminhamento de cada caso é uma iniciativa, a princípio, louvável, tanto por vir de encontro ao desconhecimento generalizado dos diversos procedimentos possíveis, quanto por se coadunar com a lógica do acolhimento, tão importantes para a situação de desamparo geralmente vi-vida pelos familiares diante desse problema.

Entretanto, um dispositivo terapêutico em si não é essencialmente bom ou ruim, podendo ser usado de maneira positiva ou não. É fundamental, portanto, acompanharmos a estruturação desses serviços, o processo de formação dos profissionais e os encaminhamentos realizados, como meio de monitoramento e avaliação desses procedimentos para podermos garan-tir sua vinculação à lógica do acolhimento – e evitarmos que seja utilizado como mais um expediente que reforce o modelo autoritário que vem sendo adotado em outros municípios brasileiros.

Rodrigo é poeta, doutorando em psicologia pela UFRJ e pesquisador do Observatório de Favelas

A criação de um serviço telefônico de atendimento a usuários e familiares voltado para a orientação é louvável, especialmente por conta do desconhecimento generalizado sobre o tema. Mas um dispositivo terapêutipo em si não é necessariamente bom, é preciso que se acompanhe a estruturação desses serviços e a formação dos profissionais da área

// Navegando

A dica do mês é de leitura:

O blog lembra o Conteúdo Livre, já indicado nesta sessão e que não publica mais. O leitor já deve ter percebido que quando se trata de liberar conteúdos, a coi-sa é meio inconstante e o blog que está no ar hoje, pode já não estar amanhã. A pro-posta do Bê Neviani é parecida com a do Conteúdo Livre: libertar os textos. O blog oferece textos de jornais a quem de fato eles pertencem: os leitores. Colunas, ar-tigos, quadrinhos (como a imagem acima de André Dahmer - www.malvados.com.br) e principalmente textos de opinião são

beneviani.blogspot.com.br

pan

ta

libertados diariamente para alegria de nós leitores que não assinamos o jornal. Ulti-mamente o blog tem publicado quase que exclusivamente textos de um jornal gran-de de São Paulo. Mas no arquivo é possível encontrar material de outros estados. Não dá para saber se vai continuar assim, mas mesmo que seja apenas o folhetim paulista, já é de grande valia para a dose de informa-ção diária. Por isso, visite e nos conte como foi. E, já sabe, se tem algo para recomen-dar, escreva também. Esta é uma sessão aberta a sugestões.

a pena

8 Janeiro de 2013

Por Adriano Gonçalves

Parecia mentira quando você apareceuAbri meus olhos quando ouvi a sua voz me chamarDepois de muito tempo eu acordeiDepois de muito tempo eu enxerguei

Nada vale a penaSe não se é felizNada vale a penaSe não se tem o amor

Parecia mentira quando você apareceuTirou as vestes de solidão que cobriam o meu olharDepois de muito tempo eu acordeiDepois de muito tempo eu enxerguei

Nada vale a penaSe não se é felizNada vale a penaSe não se tem o amor

Nada vale

// Poesia