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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS NÚCLEO INTERINSTITUCIONAL DE ESTUDOS DA VIOLÊNCIA E CIDADANIA CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM POLÍTICAS DE SEGURANÇA E DIREITOS HUMANOS WALLENSTEIN MAIA SANTANA OS CRIMES DE EMBRIAGUEZ AO VOLANTE NO ANO DE 2013, NA CIDADE DE CUIABÁ, APÓS A APROVAÇÃO DA LEI N° 12.760/12, EM COMPARAÇÃO COM OS CRIMES DE EMBRIAGUEZ AO VOLANTE OCORRIDOS EM 2011 E 2012 Cuiabá 2014

WALLENSTEIN MAIA SANTANA OS CRIMES DE ......WALLENSTEIN MAIA SANTANA OS CRIMES DE EMBRIAGUEZ AO VOLANTE NO ANO DE 2013, NA CIDADE DE CUIABÁ, APÓS A APROVAÇÃO DA LEI N 12.760/12,

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

    INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS NÚCLEO INTERINSTITUCIONAL DE ESTUDOS DA VIOLÊNCIA E CIDADANIA

    CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM POLÍTICAS DE SEGURANÇA E DIREITOS HUMANOS

    WALLENSTEIN MAIA SANTANA

    OS CRIMES DE EMBRIAGUEZ AO VOLANTE NO ANO DE 2013, NA CIDADE DE CUIABÁ, APÓS A APROVAÇÃO DA LEI N° 12.760/12,

    EM COMPARAÇÃO COM OS CRIMES DE EMBRIAGUEZ AO VOLANTE OCORRIDOS EM 2011 E 2012

    Cuiabá 2014

  • WALLENSTEIN MAIA SANTANA

    OS CRIMES DE EMBRIAGUEZ AO VOLANTE NO ANO DE 2013, NA CIDADE DE CUIABÁ, APÓS A APROVAÇÃO DA LEI N° 12.760/12,

    EM COMPARAÇÃO COM OS CRIMES DE EMBRIAGUEZ AO VOLANTE OCORRIDOS EM 2011 E 2012

    Monografia apresentada ao Núcleo Interinstitucional de Estudos da Violência e Cidadania do Instituto de Ciências Humanos e Sociais da Universidade Federal de Mato Grosso, como requisito parcial para obtenção do grau de Especialista em Políticas de Segurança e Direitos Humanos. Orientador: Prof. Dr. Valério Mazuolli

    Cuiabá 2014

  • “OS CRIMES DE EMBRIAGUEZ AO VOLANTE NO ANO DE 2013, NA CIDADE

    DE CUIABÁ, APÓS A APROVAÇÃO DA LEI N° 12.760/12, EM COMPARAÇÃO COM OS CRIMES DE EMBRIAGUEZ AO VOLANTE OCORRIDOS EM 2011 E

    2012”

    WALLENSTEIN MAIA SANTANA

    Monografia submetida à Banca Examinadora, composta por professores do Curso de Especialização em Políticas de Segurança Pública e Direitos Humanos, do Instituto de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Federal

    de Mato Grosso, e julgada adequada para a concessão do Grau de ESPECIALISTA EM POLÍTICAS DE SEGURANÇA PÚBLICA E DIREITOS HUMANOS.

    Banca Examinadora:

    _______________________________________________________

    Prof. Dr. Valério Mazuolli - Orientador

    _______________________________________________________ Prof. Henrique Oliveira

    ___________________________________________________________

    Prof. Dr. Naldson Ramos da Costa – Coordenador do Curso

    Conceito: 8,5 (APROVADO)

  • Dedico aos meus pais pelo amor transmitido em todos os momentos, e que nunca mediram esforços para me educar dentro dos princípios morais e éticos da sociedade, tornando-se minha fonte de inspiração.

  • AGRADECIMENTOS

    A Deus, por mais esta oportunidade de ascensão pessoal e Profissional

    iluminando o meu caminho para a conquista dos objetivos. Aos meus pais pelo amor

    e apoio incondicional em todos os momentos da vida e a minha irmã por me

    incentivar em todos os momentos. Agradeço a minha namorada pelo apoio e carinho

    dedicado a minha pessoa.

    E por fim, aos Doutores, Mestres e Especialistas que difundiram os seus

    conhecimentos no processo de aprendizagem dos alunos, bem como agradecer o

    harmonioso convívio com todos da turma e a prestatividade da coordenação, por

    oferecer um curso de alta qualidade durante todo o processo de ensino.

  • “A alegria não chega apenas no encontro do achado, mas faz parte do processo da busca. E ensinar e aprender não pode dar-se fora da procura, fora da boniteza e da alegria”.

    Paulo Freire

  • RESUMO Este trabalho tem como objetivo mostrar e analisar os efeitos da Lei 12.760/12, na cidade de Cuiabá, concernente à prática do cometimento do crime de embriaguez ao volante, no período 2011 a 2013. Para isso, foi realizada uma abordagem teórica que canaliza para a temática da violência no trânsito motivado pela ingestão de álcool pelo motorista, que por sua vez contabiliza um número elevado de acidentes de trânsito, muitos com vítimas fatais. Desta feita este estudo é primeiramente para abordar a razão sociológica da violência no transito, bem como tecer considerações a respeito dos efeitos da promulgação da Lei 9.503/97 que altera o Código Brasileiro de trânsito desde questões administrativas até as sanções penais de forma enérgica, especialmente, com enfoque no seu artigo 306, que dispõe sobre crime de embriaguez ao volante. Outros aspectos considerados foram as alterações deste artigo com a edição da Lei 11.705/08, que surgiu para reduzir os índices de acidentes de trânsito com feridos e mortos, denominada Lei Seca. A pesquisa, também, compreendeu a coleta de dados para obtenção de estatísticas das fiscalizações realizadas e seus desdobramentos, que por sua vez, resultaram na eficácia da Nova Lei Seca com o crescente número de registros na esfera administrativa e penal. Além disso, foi observada que a educação no trânsito é a principal forma de transformar o comportamento humano perante o exercício da cidadania no fiel cumprimento da lei que rege o trânsito, e que ao longo do tempo, certamente acarretará na diminuição dos acidentes causados pela embriaguez ao volante. Desta forma, tanto as referências bibliográficas como a coleta de dados mostram os efeitos da Lei 12.760/12, na cidade de Cuiabá, concernente à prática do cometimento do crime de embriaguez ao volante, no período 2011 a 2013, sem perder a perspectiva de que a lei entrou em vigor em dezembro de 2012.

    PALAVRAS CHAVES: Violência no trânsito, Embriaguez ao volante, Educação no trânsito, Nova Lei Seca, Código Brasileiro de Trânsito.

  • ABSTRACT This work aims to show and analyze the effects of Law 12,760 / 12 in the city of Cuiabá, concerning the practice of committing the crime of drunk driving in the period 2011 to 2013. For this, a theoretical approach was carried out which channels to the issue of traffic violence motivated by alcohol by the driver, which in turn accounts for a large number of traffic accidents, many fatal victims. This time this study is primarily to address the sociological reason of violence in traffic, as well as some considerations about the effects of the enactment of Law 9.503 / 97 amending the Brazilian Code of traffic from administrative issues by criminal sanctions vigorously, especially, focusing on Article 306 , which provides for driving drunk crime. Other aspects considered were the changes of this article with the enactment of Law 11.705 / 08, which appeared to reduce traffic accident rates with wounded and dead, called Prohibition. The survey also included the collection of data to obtain audits of statistics carried out and its consequences, which in turn resulted in the efficiency of the New Prohibition with the increasing number of records in the administrative and criminal cases. Moreover, it was observed that traffic education is the main way to transform human behavior to the exercise of citizenship in the faithful fulfillment of the law governing the traffic, and that over time , certainly will result in the reduction of accidents caused by drunkenness the wheel. Thus, both the references as collecting data show the effects of Law 12,760 / 12 in the city of Cuiabá, concerning the practice of committing the crime of drunk driving in the period 2011-2013, without losing the view that the law came into force in December 2012. KEYWORDS: Violence in traffic, drunk driving, Education in traffic, New Prohibition, Brazilian Traffic Code.

  • LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 – Quantitativo de ocorrência de acidente de trânsito com vítimas registradas em Cuiabá........................................................................................... 26 Gráfico 2 – Quantitativo de acidente de trânsito resultante da condução de veículo sob a influência de álcool registrada em Cuiabá....................................... 27 Gráfico 3 – Quantitativo de Barreiras de Fiscalização – Operações da Lei Seca.. 28 Gráfico 4 – Quantitativo de notificações resultantes das barreiras de fiscalização – Operações da Lei Seca....................................................................................... 29 Gráfico 5 – Quantitativo de ocorrências de trânsito por condução de veículos sob a influência de álcool registrada em Cuiabá.................................................... 30 Gráfico 6 – Quantitativo de perícias de alcoolemia realizado no Instituto Médico Legal....................................................................................................................... 30 Gráfico 7 – Quantitativo de perícia em acidentes de trânsito realizado em Cuiabá.................................................................................................................... 31 Gráfico 8 – Quantitativo de denúncias oferecidas pela Promotoria de Justiça especializada em delitos de trânsito....................................................................... 32

  • LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    ABRAMET – Associação Brasileira de Medicina de Tráfego CTB – Código de Trânsito Brasileiro CEBRID – Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas CONTRAN – Conselho Nacional de Trânsito DENATRAN – Departamento Nacional de Trânsito OMS – Organização Mundial da Saúde

  • SUMÁRIO

    INTRODUÇÃO........................................................................................................... 12 1. VIOLÊNCIA NO TRÂNSITO: UMA DOENÇA SOCIAL.........................................13 2. ASPECTOS GERAIS DA LEGISLAÇÃO DE TRÂNSITO..................................... 15

    2.1. CRIMES DE TRÂNSITO..................................................................................... 15

    3. EMBRIAGUEZ AO VOLANTE: UMA ARMA DE DESTRUIÇÃO DE VIDAS........ 16 4. A EMBRIAGUEZ AO VOLANTE TIPIFICADO NO ART. 306 DO CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO – NATUREZA DO CRIME............................................... 17

    4.1 ALTERAÇÕES DO CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO: RÍGIDA DISCIPLINA

    PARA EMBRIAGUEZ AO VOLANTE......................................................................... 19

    4.1.1 Sanção Administrativa....................................................................................... 19

    4.1.2 Sanção Penal.................................................................................................... 20

    5. EDUCAÇÃO NO TRÂNSITO: UMA MEDIDA PREVENTIVA E EFICAZ.............. 24 6. RESULTADOS E DISCUSSÃO............................................................................. 25 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................... 33 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS...................................................................... 35

  • 12

    INTRODUÇÃO

    Somente no trânsito são 120 mortes por dia, uma a cada 10 minutos e mais de 43

    mil anualmente. O Brasil é um dos campeões mundiais em mortes no trânsito.

    Segundo a fonte extraída do artigo Mortes no Trânsito e Impunidade do professor e

    jurista Luiz Flávio Gomes.

    O mais grave: essa violência no trânsito, que mata mais do que os outros

    crimes urbanos, é acometida, na grande maioria, pela ingestão de bebidas

    alcoólicas na condução de veículos automotores, conforme o Departamento

    Nacional de Trânsito (DENATRAN). A coexistência de álcool e volante é uma triste

    cultura que está impregnada em nós brasileiros há vários anos, típica de um povo

    que não sabe os limites de sua cidadania.

    Uma das primeiras iniciativas do legislador brasileiro em punir, com mais rigor

    o condutor embriagado, foi introduzir as medidas administrativas e penais do art. 306

    da lei 9.503/97(Código de Trânsito Brasileiro).

    Entretanto, necessitando de uma lei mais enérgica, foi sancionada a lei

    11.705/08, na tentativa de coibir o condutor sob efeito do álcool ou outras

    substâncias psicoativas, impondo-lhe uma penalidade mais severa, nas duas

    esferas: administrativa e penal. Essa lei, intitulada “Lei Seca”, criou, em

    contrapartida, um campo maior de impunidade ao estabelecer como única prova do

    referido crime o exame de sangue ou etilômetro, e mesmo assim, dependendo

    exclusivamente da colaboração da vítima, visto que a Constituição da República

    Federativa e o Pacto de São José da Costa Rica garantem o direito do indivíduo não

    produzir provas contra si mesmo.

    Essa brecha existente na lei 11.705/08 levou o legislador, no intuito de impor

    mais rigor nas medidas de repressão, e ao mesmo tempo facilitar a produção da

    prova material, a elaborar e aprovar a lei 12.760 de 20 de dezembro de 2012, que

    alterou a lei 9.503/97.

    Assim, esse trabalho procurou mostrar os efeitos da Lei 12.760/12 em relação

    aos crimes de embriaguez ao volante nos anos de 2011 a 2013, ou seja, antes e

    depois de sua entrada em vigor, (que ocorreu em dezembro 2012), lei essa que

    permite a autuação em flagrante pelo crime de embriaguez ao volante, mesmo

    ausente a realização do exame de alcoolemia, independente da colaboração do

  • 13

    indivíduo, podendo utilizar as provas obtidas por exame clínico, perícia, vídeo,

    prova testemunhal ou outros meios de prova em direito admitidos.

    Portanto, a finalidade dessa monografia é verificar se após o advento da lei

    12.760/12 houve mudança no quadro de acidentes causados por embriaguez no

    volante, dentro da cidade de Cuiabá-MT, em comparação com os anos anteriores.

    1. VIOLÊNCIA NO TRÂNSITO: UMA DOENÇA SOCIAL

    A manifestação da violência surgiu nos primórdios da humanidade que por

    sua vez tipificou as variações de violência no decorrer da civilização e são vários os

    conceitos existentes do termo “violência”, a primeira análise por meio do dicionário

    Houaiss da Língua Portuguesa (2009, p.772), que descreve o seguinte significado:

    “o uso da força física; ação de intimidar alguém moralmente ou o seu efeito; ação

    destrutiva, exercida com ímpeto, força; expressão ou sentimento vigoroso; fervor”.

    Saffioti (2004, p. 17) define a violência como ruptura de qualquer forma de

    integridade da vítima.

    A violência de forma geral pode ser entendida como ação de afetar a

    integridade física e psicológica, resultando ferimentos, sofrimento e a morte da

    vítima.

    Segundo o Relatório mundial sobre a violência e saúde da Organização

    Mundial da Saúde (OMS), que descreve a violência como:

    Uso intencional da força física ou do poder real ou em ameaça, contra si próprio, contra outra pessoa, ou contra um grupo ou uma comunidade, que resulte ou tenha qualquer possibilidade de resultar em lesão, morte, dano psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação (KRUG et al.,2002, p. 5)

    No Brasil, na década de 90, houve um aumento crescente na quantidade de

    automóveis nos meios urbanos e nas rodovias. A falta de uma legislação rigorosa,

    de uma condolência com os condutores embriagados, os motoristas passaram a

    desrespeitar cada vez mais as leis de trânsito, gerando assim, um alto número de

    acidentes no decorrer dos anos, que culminou na morte de milhares de pessoas.

    Com surgimento desse fenômeno da violência no trânsito, os legisladores

    sentiram a necessidade de elaborar e implantar a Lei 9.503 de 25 de setembro de

    1997, que institui o Código de Trânsito Brasileiro (CTB), mas só entrou em vigor em

  • 14

    janeiro de 1998 (CTB, 1997). Foi um Código que apresentou de maneira moderna e

    avançada e promoveu um impacto significativo e positivo (TAHA, 2001, 2001a;

    VIOLA, 2000; BRASIL, 2004).

    É fundamental ressaltar que a lei cumpriu as expectativas da época, porém

    com o decorrer dos anos teve um acréscimo vertiginoso de número de veículos em

    circulação, que por sua vez acarretou o desrespeito das pessoas com as regras de

    trânsito.

    Após um período de seis anos de vigência do código de trânsito, houve a

    descoberta de existência de falhas dos seus dispositivos legais aliados à falta de

    consciência e empenho social no seu fiel cumprimento (SCARINGELA, 2001; SILVA,

    1999; TAHA, 2001, 2001a).

    Resultado disso, foi a crescente estatística de pessoas feridas, inválidas e

    mortas, vítimas de acidentes de trânsito causados por um condutor desobediente a

    sinalização, descomprometido com seu papel de cidadão, abusando da velocidade e

    muitas vezes dirigindo sob o efeito do álcool ou outras drogas. Esses acidentes de

    trânsito podem ser atenuados e, até mesmo, impedidos, caso haja uma política

    atuante de conscientização na educação do trânsito.

    O documento da Política Nacional de Redução da morbimortalidade por

    Acidentes e Violências do Ministério da Saúde (BRASIL, 2001) define, tecnicamente

    que: “o acidente de trânsito é todo evento com dano que envolva o veículo, a via, a

    pessoa humana ou animais e que, para caracterizar-se, tem a necessidade da

    presença de pelo menos dois desses fatores”.

    A violência no trânsito é alimentada por um nível intolerável de abusos no

    trânsito de forma que implica na ausência de convivência pacifica dos cidadãos. Isso

    é evidenciado no perigo de motoristas que cometem imprudências e negligências ao

    ponto de transformar o automóvel em uma arma cruel que ceifa vida, mutila as

    pessoas e causam verdadeiros gastos para saúde pública.

    É muito forte no Brasil o hábito errôneo da sociedade brasileira na condução

    de veículos sob o efeito de álcool. Isso indica de forma clara a urgência da

    necessidade de criação e a continuidade das políticas e campanhas locais de

    segurança no trânsito (CONFEDERAÇÃO NACIONAL DE MUNICÍPIOS, 2009).

  • 15

    2. ASPECTOS GERAIS DA LEGISLAÇÃO DE TRÂNSITO

    Cabe ao legislador estabelecer normas reguladoras do trânsito para

    determinar a conduta humana perante a lei, preservando assim, a integridade física

    e psicológica dos motoristas, transeuntes, enfim, de todos aqueles que compartilham

    o mesmo espaço no trânsito, tendo como norma máxima o direito à vida e saúde,

    consagrado pela Constituição Federal, em seu art. 5º.

    Nesse paradigma o Código de Trânsito Brasileiro (Lei 9.503/97), no § 5° do

    artigo 1º, determina aos órgãos e entidades de trânsito a darem prioridade em suas

    ações à defesa da vida, nela incluída a preservação da saúde e do meio-ambiente.

    Dessa feita, o Sistema Nacional de Trânsito institui normas de condutas,

    infrações e penalidades para os usuários pertencentes ao complexo sistema de

    trânsito. Esse sistema apresenta o intuito de mitigar a violência no trânsito, expõem

    “objetivos básicos de aumentar a segurança de trânsito, promover a educação para

    o trânsito, garantir a mobilidade e acessibilidade com segurança e qualidade

    ambiental a toda a população, promover o exercício da cidadania, a participação e a

    comunicação com a sociedade e fortalecer o Sistema Nacional de Trânsito”

    (CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO, 1997).

    No entanto, todos esses aparatos de leis brasileiras não foram e nem são

    suficientes para estancar a violência no trânsito, já que a todo o momento, somos

    testemunhas das irresponsabilidades e atitudes criminosas dos condutores, que

    provocam vários acidentes tendo inúmeras consequências como vítimas feridas,

    sequeladas e, até mesmo, com as suas vidas ceifadas diante da violência no

    trânsito.

    2.1. CRIMES DE TRÂNSITO

    Viana (2013) aponta que os crimes de trânsito são quase sempre tratados

    como fatalidades quando, na maioria das vezes, são frutos de omissões estruturais

    quanto às condições das estradas e vias públicas, às condições dos veículos, à

    fiscalização, às imperícias, imprudências e negligências dos usuários – motoristas

    ou pedestres.

    Além disso, vejo que os processos de habilitação do motorista, além de serem

    insuficientes para a formação de um bom condutor de veículo, ainda são passíveis

  • 16

    de fraudes como falsificação de documento e até mesmo da lista de presença em

    cursos obrigatórios.

    Todos os estudiosos da violência no trânsito brasileiro reconhecem que os

    crimes no sistema viário, na sua quase totalidade, não responsabilizam os

    transgressores e nem comovem a opinião pública, em comparação com outros tipos

    de crimes (ESTEVES et al., 2001).

    Na verdade, não adiante ter uma legislação comparada aos países de

    primeiro mundo se não temos capacidade de cumprir a lei e muitas vezes, mesmo o

    condutor sabendo que está errado, não quer abrir mão de algumas condutas tais

    como: o excesso da velocidade, o uso de aparelho celular enquanto dirige, o uso

    obrigatório do cinto de segurança, o uso obrigatório do capacete e principalmente da

    comodidade de sair de casa com o intuito de beber, sabendo previamente que

    voltará dirigindo embriagado.

    Para tanto, os crimes de trânsito estão tipificados no CTB a partir do artigo

    291 até 312, especialmente, o artigo 306 sobre a condução do veículo sob efeito do

    álcool.

    3. EMBRIAGUEZ AO VOLANTE: UMA ARMA DE DESTRUIÇÃO DE VIDAS

    A bebida alcoólica no Brasil é a substância psicoativa mais usada, vendida e

    liberada, e seu consumo é considerado fator de alto risco para acidentes, porque ele

    prejudica o tempo de reação dos indivíduos (LIMA; GARCIA, 2001).

    Conforme destacam Moreno, Pasqua e Cristofoletti (1998) a realização da

    pesquisa do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas (Cebrid) para avaliar a

    influência da alcoolemia nos acidentes de trânsito, constatou que dos exames

    realizados com as 865 pessoas envolvidas em acidente de trânsito, em quatro

    capitais brasileiras, em 61% dos casos, foi detectada a presença de álcool no

    sangue e, em 27% das amostras, a quantidade excedia o limite permitido pelo

    Código Nacional de Trânsito Brasileiro.

    É importante analisar sobre os efeitos do álcool no organismo do ser humano,

    considerando menos de um grama por litro de sangue: - de 1,10 a 1,50 g por litro de sangue, há uma embriaguez, porém sujeita a ressalva; - de 1,60 a 3,0 g é certo o estado de embriaguez; - de 3,10 a 4,0 é completa; - de 4,10 a 6,0 g há uma embriaguez profunda;

  • 17

    - de mais de 6 a 10 g trata-se de uma intoxicação profunda (RIZZARDO, Arnaldo, 2002, p. 640).

    É interessante ressaltar o estudo realizado pela Secretaria de Vigilância do

    Ministério da Saúde (2005, p. 291) onde retrata que para o mesmo impacto físico de

    uma colisão, mantidas todas as outras variáveis, quanto mais o indivíduo tiver

    bebido, maior sua chance de morrer, porque a mesma batida traumatiza mais a

    pessoa alcoolizada.

    O consumo de álcool tem várias consequências: 1) reduz a percepção da velocidade e dos obstáculos, por exemplo, os reflexos e a habilidade de controlar o veículo em uma chuva; 2) limita a visão periférica e suas alterações começam antes do motorista entrar no carro e 3) diminui as barreiras morais, fazendo o condutor perder a autocrítica e negligenciar os riscos. Quando a taxa de alcoolemia (teor de álcool no sangue) atinge 0,08%, aumenta o tempo de reação ótica, auditiva e motriz e a descoordenação se manifesta. Na verdade, a partir de 0,5%, o risco de acidente mortal já se multiplica por 2,5. Muitos pensam que o limite permitido, de 0,5% na maioria dos países e de 0,6% no Brasil, não traz qualquer problema. Mas, sabe-se que a mesma quantidade ingerida pode ter efeitos diferentes em dias diferentes. Isso depende de vários fatores, dentre elees, as condições físicas, fisiológicas, emocionais e socioculturais dos motoristas (BRASIL, 2005, p. 291).

    Em virtude desses estudos é que o legislador quantificou que uma

    concentração igual ou superior a 6 decigramas de álcool por litro no sangue ou

    superior a 0,3 miligramas de álcool por litro de ar alveolar são suficiente para

    promoverem uma alteração psicomotora.

    4. A EMBRIAGUEZ AO VOLANTE TIPIFICADO NO ART. 306 DO CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO – NATUREZA DO CRIME

    O artigo 306 da lei 9.503/97 trazia em seu bojo a seguinte ação: “Conduzir

    veículo automotor, na via pública, sob a influência de álcool ou substância de efeitos

    análogos, expondo a dano potencial a incolumidade de outrem”.

    Fácil constatar que se tratava de crime de perigo concreto, ou seja, aquele

    tipo que necessita de comprovação de uma ação perigosa por parte do condutor, de

    forma a ensejar a sua condenação penal. Algumas práticas na condução do veículo

    poderiam servir para comprovar essa finalidade, tais como: excesso de velocidade, a

    condução do veículo em cima de calçadas, acostamentos, enfim, qualquer outra

    manobra anormal ou perigosa.

  • 18

    Nesse sentido, Siena (2011, p. 2) argumenta que:

    À época desta redação do artigo 306, restou consolidado, na doutrina e na jurisprudência, que se tratava de um crime de perigo concreto, ou seja, para a sua configuração era necessária efetiva demonstração da exposição do bem jurídico a um perigo de dano. No que concerne à “embriaguez ao volante”, o entendimento era de que somente a partir do momento em que o embriagado conduzisse de modo anormal o veículo automotor é que estaria configurado o crime. Além disso, de acordo com a antiga redação do artigo 306, era admitido o chamado exame clínico para a constatação de embriaguez, uma vez que o tipo penal não exigia qualquer quantia mínima de álcool por litro de sangue do embriagado.

    A lei 9.503/97 não conseguiu conter a violência no trânsito, que foi

    demonstrado com o aumento dos índices de acidentes, havendo uma necessidade

    do legislador em reformular esse artigo, o que ocorreu em 2008 com a publicação da

    lei 11.705, chamada de lei seca.

    Se até então o crime era de perigo concreto, agora com a edição da referida

    lei, essa fórmula foi abandonado pelo legislador, configurando crime o simples fato

    de “Conduzir veículo automotor, na via pública, estando com concentração de álcool

    por litro de sangue igual ou superior a 6 decigramas, ou sob a influência de qualquer

    outra substância psicoativa que determine dependência”. E, na atual redação do art.

    306, também não há nenhuma referência a dano potencial, bastando “conduzir

    veículo automotor com capacidade psicomotora alterada”.

    Dessa forma podemos estabelecer que o crime tipificado no art. 306 do CBT,

    a partir da promulgação da lei 11.705/2008, passou a ser de perigo abstrato, ou seja,

    a presunção de perigo é ditada pelo legislador.

    Atualmente basta que o condutor esteja conduzindo um veículo com

    capacidade psicomotora alterada para infringir a norma penal, mesmo que naquele

    instante não exponha efetivamente a vida de ninguém em risco, pois o simples fato

    do condutor estar embriagado já é suficiente para infringir a norma penal.

  • 19

    4.1 ALTERAÇÕES DO CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO: RÍGIDA

    DISCIPLINA PARA EMBRIAGUEZ AO VOLANTE

    4.1.1 Sanção Administrativa

    É essencial analisar, primeiramente, as alterações no artigo 165 do Código de

    Trânsito Brasileiro, que penaliza a pessoa que dirige sob influência de álcool ou

    qualquer tipo de substância que possa causar dependência.

    Durante a época da vigência da Lei 11.705/08 para o condutor sob a

    influência do álcool, dirigindo qualquer tipo de veículo automotor, a penalidade era

    considerada gravíssima e o valor da multa que deveria ser paga era de cinco vezes

    o valor da multa gravíssima, além dos sete pontos no prontuário do infrator.

    Com o surgimento da Lei 12.760/12, a referida penalidade permanece com a

    natureza gravíssima, porém altera para dez vezes o valor da multa gravíssima,

    contabilizando atualmente o valor de R$ 1.915,40 (um mil e novecentos e quinze

    reais e quarenta centavos).

    Outra alteração da medida administrativa presente no artigo 165 do Código de

    Trânsito Brasileiro com a Lei 11.705/08 foi o recolhimento do documento de

    habilitação e a retenção do veículo até a apresentação de condutor habilitado.

    Com base na Lei 12.760/12, permanece a referida medida de recolhimento do

    documento de habilitação pela autoridade policial competente, porém caso não

    apresente um condutor habilitado para retirada do veículo no local da infração, este

    será guinchado até o depósito, e o infrator responsável pelos custos da operação.

    De acordo com o art. 262 e seu parágrafo único, o veículo permanecerá sob a

    custódia e responsabilidade do órgão ou entidade empreendedora por um prazo

    determinado, que neste caso é de trinta dias, tempo suficiente para que o infrator

    regularize todas as pendências do veículo. Findo o prazo, o referido órgão não tem

    mais qualquer responsabilidade sobre o veículo apreendido.

    Além disso, a Lei 12.760/2012 criou o parágrafo único do artigo 165, que

    trata da reincidência da infração pelo condutor, ou seja, detectada a reincidência do

    condutor, a multa gravíssima será em dobro.

  • 20

    4.1.2 Sanção Penal

    A condução do veículo sob efeito do álcool está prevista expressamente no

    artigo 306 e inicialmente sob a égide da Lei 9503/97 consistia em:

    Art. 306. Conduzir veículo automotor, na via pública, sob a influência de álcool ou substância de efeitos análogos, expondo a dano potencial a incolumidade de outrem. (grifo nosso). Penas: detenção, de seis meses a três anos, multa e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou habilitação para dirigir veículo automotor.

    Esse dispositivo legal foi ineficaz para o combate a violência no trânsito pela

    embriaguez e por isso, em 2008, o legislador fez editar a Lei 11.705, que foi

    denominada de “Lei Seca”, numa tentativa de enrijecer a lei e prevenir a prática

    dessa malfadada conduta.

    Portanto, novamente a legislação foi alterada pela Lei 11.705/08:

    Art. 306. Conduzir veículo automotor, na via pública, estando com concentração de álcool por litro de sangue igual ou superior a 6 (seis) decigramas, ou sob a influência de qualquer outra substância psicoativa que determine dependência: (grifo nosso). Penas - detenção, de seis meses a três anos, multa e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.

    Observa-se que para configurar o tipo penal seria necessário ter uma

    concentração de, no mínimo, 6 decigramas de álcool por litro de sangue.

    Para garantir essa prova, seria imprescindível o uso do aparelho (bafômetro)

    ou exame de sangue, diga-se de passagem, dificílimas de serem realizadas uma vez

    que necessitavam da boa vontade do condutor em querer produzi-las.

    Desta forma, o Cabette (2013, p. 2) afirma que:

    [...] a redação inovadora da época, a Lei 11.705/08 criou um campo de impunidade ao estabelecer que a direção perigosa por abuso de álcool somente seria comprovada por meio da constatação da concentração de 6 decigramas de álcool por litro de sangue ou exame de aparelho de ar alveolar com equivalência respectiva (3 décimos de miligrama por litro de ar expelido dos pulmões). Ao erigir a concentração etílica em elemento do tipo, o legislador fez com que o dispositivo ficasse sob o controle não das agências estatais de repressão e prevenção, mas do próprio infrator. É que foi olvidado o Princípio da não autoincriminação em mais uma amnésia jurídica do Congresso Nacional. As tentativas de recuperar a funcionalidade do tipo penal foram frustradas e justamente frustradas porque sua validação

  • 21

    com a obrigatoriedade do teste ou o desprezo do elemento do tipo seria um terrível golpe em princípios constitucionais, tais como o direito à não autoincriminação e a legalidade.

    A sensível alteração da redação do tipo penal do artigo 306 do Código de

    Trânsito Brasileiro transformou-se praticamente inaplicável perante o princípio da

    não incriminação devido o direito de não produzir provas contra si mesmo. Esse

    contexto é fundamentado por Cappez (2010, p. 345) que expõe:

    Dessa forma, a prerrogativa individual contida na Constituição Federal, em seu art. 5º, LXII, poderá, em tese, ser estendida ao condutor embriagado, o qual terá o direito de ser informado acerca da não obrigatoriedade do uso do etilômetro (bafômetro) ou da realização de exame de sangue, muito embora essa garantia possa esvaziar o tipo penal, pois todo motorista embriagado faltamente lançará mão dessa prerrogativa, a fim de inviabilizar a persecução penal, tornando letra morta o art. 306, CTB.

    Vê-se claramente que houve um retrocesso na legislação, pois o número de

    decigramas de álcool por litro de sangue passou a fazer parte do tipo penal, o que

    não era exigido na Lei 9.503/97.

    Se tudo isso não bastasse, O Supremo Tribunal Federal, no julgamento do

    REsp 1.111.566/DF ementou o assunto dessa forma:

    “processual penal. provas. averiguação do índice de alcoolemia em condutores de veículos. vedação à autoincriminação. determinação de elemento objetivo do tipo penal. exame pericial. prova que só pode ser realizada por meios técnicos adequados. decreto regulamentador que prevê expressamente a metodologia de apuração do índice de concentração de álcool no sangue. princípio da legalidade” (STJ, REsp 1.111.566/DF, 3ª Seção, rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, relator p/ o Acórdão Min. Adilson Vieira Macabu, j. 28-3-2012).

    A expectativa da sociedade diante da lei seca foi frustrada, numa conjugação

    de ineficiência do legislador e de benevolência dos tribunais em relação à conduta

    daquele que dirigia alcoolizado, tudo por conta de um “garantismo” penal que

    notadamente causou milhares de vítimas de acidentes provocados por condutores

    embriagados e que ao final, saíram impunes.

    Houve uma necessidade urgente em reformular o tipo penal e a alteração

    ocorreu em dezembro de 2012, com a publicação da Lei 12.760/12 “a fim de

    consertar pelos meios adequados os equívocos cometidos pelo legislador na edição

    da Lei 11.705/08” (CABETTE, 2013, p. 3). Esse clamor da sociedade é decorrente

  • 22

    da sensação de impunidade envolvendo o alto número de mortes em acidentes de

    trânsitos provocados por condutores embriagados.

    Ao erigir a concentração etílica em elemento do tipo o legislador, fez com que o dispositivo ficasse sob o controle não das agências estatais de repressão e prevenção; mas do próprio infrator. [...] É nesse contexto que surge a iniciativa do legislativo de aprovar a Lei 12.760/12, a fim de consertar, pelos meios adequados, os equívocos cometidos na edição da Lei 11.705/08. [...] Com uma dicção mais sofisticada o legislador tenta disfarçar a vergonha de ter de retomar a antiga redação de 1997 do artigo 306, CTB. Na verdade é isso mesmo, retomou-se a sistemática da velha, simples e boa “influência” de álcool ou outras substâncias, sem necessidade nenhuma de referência a índices de alcoolemia, que somente trouxeram dificuldades, senão inviabilidade em determinados casos, de aplicação do dispositivo (CABETTE, 2013, p. 50).

    Com advento da Lei 12.760/12, o art. 306 ganhou uma nova roupagem

    passando a vigorar da seguinte forma:

    Art. 306. Conduzir veículo automotor com capacidade psicomotora alterada em razão da influência de álcool ou de outra substância psicoativa que determine dependência (Caput com redação determinada pela Lei n. 12.760, de 20-12-2012). Penas: detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, multa e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor. § 1.º – As condutas previstas no caput serão constatadas por: (§ 1º, caput, acrescentado pela Lei n. 12.760, de 20-12-2012). I – concentração igual ou superior a 6 decigramas de álcool por litro de sangue ou igual ou superior a 0,3 miligrama de álcool por litro de ar alveolar; ou; (grifo nosso). (Inciso I acrescentado pela Lei n. 12.760, de 20-12-2012). II – sinais que indiquem, na forma disciplinada pelo Contran, alteração da capacidade psicomotora. (grifo nosso). (Inciso II acrescentado pela Lei n. 12.760, de 20-12-2012). § 2.º – A verificação do disposto neste artigo poderá ser obtida mediante teste de alcoolemia, exame clínico, perícia, vídeo, prova testemunhal ou meios de prova em direito admitidos, observado o direito à contraprova. (grifo nosso). (§ 2.º acrescentado pela Lei n. 12.760, de 20- 12-2012). § 3.º – O Contran disporá sobre a equivalência entre os distintos testes de alcoolemia para efeito de caracterização do crime tipificado neste artigo (§ 3.º acrescentado pela Lei n. 12.760, de 20-12-2012).

    Fácil constatar que o elemento central do tipo penal deixou de ser a

    quantidade de álcool por litro de sangue e passou a ser a “capacidade psicomotora

    alterada”, determinada pela “influência de álcool ou de substância psicoativa que

    determine dependência”.

    Os estudiosos afirmam que a ingestão de álcool ou de substâncias de efeito

    psicotrópico é capaz de alterar a capacidade psicomotora do ser humano, como uma

  • 23

    forma de intoxicação aguda, porém, transitória. A Lei 12.706/12 estabelece que a

    concentração igual ou superior a 6 decigramas de álcool por litro de sangue ou igual

    ou superior a 0,3 miligrama de álcool por litro de ar alveolar são suficientes para

    promoverem essa alteração psicomotora.

    A novidade, porém, fica por conta do § 2º do art. 306 da Lei 12.760/12:

    A verificação do disposto neste artigo poderá ser obtida mediante teste de alcoolemia, exame clínico, perícia, vídeo, prova testemunhal ou outros meios de prova em direito admitidos, observado o direito à contraprova.

    Houve, portanto, uma ampliação dos meios de prova para tipificação do crime

    mesmo porque os vídeos e as provas testemunhais independem da vontade do

    agente.

    Além disso, a constatação da alteração da capacidade psicomotora também

    pode ser comprovada por sinais que a indiquem. Para tanto, a Lei 12.760/12

    determinou que o Conselho Nacional de Trânsito (CONTRAN) elaborasse e

    publicasse Resolução para especificar quais seriam esses sinais e a forma de sua

    coleta e comprovação, surgindo assim a normatização feita pelo citado Órgão,

    resultando na Resolução nº 432, de 23 de janeiro de 2013:

    Dispõe sobre os procedimentos a serem adotados pelas autoridades de trânsito e seus agentes na fiscalização do consumo de álcool ou de outra substância psicoativa que determine dependência, para aplicação do disposto nos arts. 165, 276, 277 e 306 da Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997 – Código de Trânsito Brasileiro (CTB)”.

    A partir desse contexto, na possibilidade do condutor se negar a realizar os

    testes de alcoolemia, poderão ser presos pelas autoridades competentes da

    fiscalização baseando-se em outros meios de provas, como testemunhas, vídeos e

    mesmo as evidências externas, conforme os critérios descritos nos anexos II, VI, da

    Resolução 432/2013 do Conselho Nacional de Trânsito (Contran), que relata as

    substâncias ingeridas ou usadas pelo condutor, os quais são:

    VI. Sinais observados pelo agente fiscalizador: a. Quanto à aparência, se o condutor apresenta: i. Sonolência; ii. Olhos vermelhos; iii. Vômito; iv. Soluços; v. Desordem nas vestes; vi. Odor de álcool no hálito. b. Quanto à atitude, se o condutor apresenta: i. Agressividade; ii. Arrogância; iii. Exaltação; iv. Ironia; v. Falante; vi. Dispersão. c. Quanto à orientação, se o condutor: i. sabe onde está;

  • 24

    ii. sabe a data e a hora. d. Quanto à memória, se o condutor: i. sabe seu endereço; ii. lembra dos atos cometidos; e. Quanto à capacidade motora e verbal, se o condutor apresenta: i. Dificuldade no equilíbrio; ii. Fala alterada;

    É importante ressaltar que a contraprova que o condutor solicita nada mais é

    do que o exercício do contraditório e da ampla defesa constitucionalmente garantida

    pela realização do teste de alcoolemia prevista na legislação.

    Agora, se o condutor se nega, usando de um direito constitucional seu, a submeter-se a exames de sangue ou de etilômetro, nada impede sua prisão em flagrante, seu processo e condenação, com base em outras provas, dentre as quais se destaca aquela que sempre foi a protagonista nestes casos, qual seja, o exame clínico de embriaguez levado a efeito pelo Médico – Legista. [...] Não é mais o próprio suspeito que irá decidir se haverá produção de provas contra si. São as agências estatais que irão produzir as provas necessárias, através de exames, testes ou outros meios legais que independem da colaboração do indigitado. (CABETTE, 2013, p. 59)

    Em posse desse respaldo jurídico, os agentes fiscalizadores detêm um

    poder maior para a concretização de seu trabalho de forma a enquadrar e

    responsabilizar o condutor embriagado na direção de veículo automotor, permitindo

    assim, a diminuição do alto número de acidentes envolvendo condutores sob

    influência de álcool ou agentes psicotrópicos, bem como a diminuição da sensação

    de impunidade gerada ao longo dos anos.

    5. EDUCAÇÃO NO TRÂNSITO: UMA MEDIDA PREVENTIVA E EFICAZ

    A violência no trânsito é um grave problema social perante o alto índice de

    acidentes, principalmente, envolvendo condutores sob a influência de álcool que

    desrespeitam as normas de trânsito. Dessa forma, existem poucas políticas públicas

    voltadas à educação no trânsito e ao fiel cumprimento da lei.

    De acordo com o artigo 74 do Código de Trânsito Brasileiro a “educação para o

    trânsito é direito de todos e constitui dever prioritário para os componentes do Sistema

    Nacional de Trânsito”. Nesse sentido, a gestão da Política Nacional de Trânsito deveria

    ser eficiente com intuito de esclarecer, educar e punir os infratores para promovem a

    paz no trânsito.

    É fundamental observar que a educação no trânsito se dá com a transformação

    de posturas adquiridas em longo prazo, começando com a obrigatoriedade do ensino

    nas escolas em todos os níveis, desde a pré-escola até a universidade.

  • 25

    A disseminação das regras de trânsito na infância são mais fáceis à aceitação de

    ensinamentos e à sua correta aplicação devido à construção do processo de formação

    de cidadão. Já a educação no trânsito para indivíduo na fase adulta oferece uma

    conduta de um pouco mais de resistência perante o processo de orientação educativa

    para o fiel cumprimento das medidas de segurança no trânsito.

    Diante desse contexto, a educação no trânsito pode ser manifestada por meio

    das campanhas educativas, com a utilização dos meios de comunicação de

    televisão, rádio, jornal, internet e outdoor, bem como repasse das orientações por

    parte das autoridades competentes de fiscalização por meio de ações informativas e

    orientativas para o fiel cumprimento das normas de trânsito vigente.

    Entretanto, atualmente, fica evidente que a educação no trânsito é de caráter

    somente de punição com a fiscalização por radares e a aplicação da severa da

    legislação de trânsito por meio de operações esporádicas de barreiras de

    fiscalização promovidas pelas autoridades competentes, ficando assim, as pequenas

    medidas de campanha educativas de segurança no trânsito.

    Em síntese, o que transforma o ser humano é uma educação extensiva por

    parte dos gestores do Sistema Nacional de Trânsito. Isso permite aos condutores e

    seus usuários do trânsito o respeito da lei e a busca a sua convivência harmoniosa,

    tendo o respeito dos direitos e deveres de cada cidadão, ocorrendo assim, a

    diminuição da violência no trânsito e menos tragédia para a vida da população.

    6. RESULTADOS E DISCUSSÃO

    Neste estudo foi utilizada a metodologia de corte transversal descritivo, com

    pesquisas baseadas em estatísticas, por meio de uma abordagem quantitativa.

    No delineamento deste estudo, foram solicitados dados estatísticos de

    natureza de embriaguez ao volante, nos períodos de 2011, 2012 e 2013, na cidade

    de Cuiabá. Esses dados foram fornecidos pelas instituições do Estado, sobre as

    fiscalizações realizadas: a) Relatórios do Batalhão de Trânsito Urbano e Rodoviário

    da Polícia Militar; b) Ocorrências registradas pela Polícia Judiciária Civil; c) perícias

    de alcoolemia e acidente de trânsito pela Perícia Oficial e Identificação Técnica; d)

    denúncias oferecidas pelo Ministério Público para iniciar o processo de ação penal

    pública pelos crimes de embriaguez ao volante.

  • 26

    Os dados colhidos foram analisados de forma quantitativa e demonstrados

    por meio de gráficos, com intuito de mostrar as informações obtidas pela pesquisa,

    para contribuir com os fundamentos teóricos e atender o objetivo principal do tema

    exposto.

    Como resultado da coleta de dados, foi possível ter acesso à realidade dos

    efeitos da Lei 12.760/12 em relação aos crimes de embriaguez ao volante na cidade

    de Cuiabá nos anos 2011, 2012 e 2013.

    O gráfico 1, consta o total de ocorrências de acidentes de trânsito com

    vítimas registradas em Cuiabá pela Polícia Judiciária Civil do Estado de Mato

    Grosso. Esse gráfico delimita o número geral de todos os acidentes de trânsito em

    Cuiabá, sem especificar que o motorista estava embriagado.

    No ano de 2011, 49 são resultados de morte no trânsito, enquanto 1.606

    são decorrentes de lesão corporal. No ano de 2012, foram registradas 25 mortes e

    1.471 vítimas com lesões corporais. Já no ano de 2013, resultaram em 72 mortes e

    2.126 vítimas com lesão corporal no trânsito.

    Estes dados apontam que houve no ano de 2013, um número crescente de

    mortes e vítimas decorrentes de acidentes de trânsito em relação aos outros anos.

    Isso pode ser explicado pelo fato que este dado é o quantitativo total das causas de

    acidentes de trânsito, evidenciando assim, a violência no trânsito de forma geral na

    cidade Cuiabá.

    Gráfico 1 – Quantitativo de ocorrência de acidente de trânsito com vítimas registradas em Cuiabá

    Fonte: PJC – MT

    Já no gráfico 2, evidencia o quantitativo de acidentes de trânsito resultante

    na condução de veículo sob a influência de álcool registrados em Cuiabá pela

  • 27

    Polícia Judiciária Civil do Estado de Mato Grosso. No ano 2011, não foi registrado

    nenhum acidente. No ano de 2012, foram computados 7. Já no ano de 2013,

    registrou-se 28 acidentes envolvendo embriaguez ao volante.

    Esses dados foram repassados pela Seção de Estatística Criminal da Polícia

    Judiciária Civil do Estado de Mato Grosso, mostrando que os anos de 2011 e 2012

    estão totalmente inconsistentes, devido à implantação do Sistema de Registro de

    Ocorrências Policiais (SROP). Por isso que no ano de 2013 tem um expressivo

    número de ocorrências registradas em relação aos anos de 2011 e 2012.

    Gráfico 2 – Quantitativo de acidente de trânsito resultante da condução de veículo sob a influência de álcool registrada em Cuiabá

    Fonte: PJC – MT

    O gráfico 3, demonstra o quantitativo de barreiras de fiscalização através

    das operações da “Lei Seca” do Batalhão de Trânsito Urbano e Rodoviário da

    Polícia Militar do Estado de Mato Grosso, registradas em Cuiabá no ano de 2011,

    que realizou 9 barreiras de fiscalização. No ano 2012, foram realizadas 59 barreiras

    de fiscalização. Já no ano de 2013, foram 15 barreiras de fiscalização.

    É possível afirmar que no ano de 2012 foi grande o número de barreiras de

    fiscalização através das operações da “Lei Seca”, na tentativa enérgica de aplicar as

    sanções administrativas e penais aos condutores de veículo sob a influência de

    álcool, com intuito de diminuir o número de acidentes envolvendo embriaguez ao

    volante. No ano de 2013, mesmo sob a égide da nova lei, observa-se uma

    diminuição do número de barreiras que pode ser proveniente dos fatores de baixo

    número de efetivo, viaturas e equipamentos pertencentes à instituição.

  • 28

    Gráfico 3 – Quantitativo de Barreiras de Fiscalização – Operações da Lei Seca Fonte: BPMTRAN – MT

    Constata-se pelo gráfico 4, o quantitativo de notificações resultantes das

    barreiras de fiscalização através das Operações da Lei Seca promovidas pelo

    Batalhão de Trânsito Urbano e Rodoviário da Polícia Militar do Estado de Mato

    Grosso, registradas em Cuiabá.

    No ano de 2011, realizaram um total de 395 notificações tanto urbana

    quanto em rodovias, sendo que 225 destas notificações são resultantes de

    embriaguez ao volante e nenhum teste de alcoolemia foi computado.

    No ano de 2012, foram lavrados um total de 2.179 notificações urbana e

    rodoviárias, sendo que 324 destas notificações são resultantes de embriaguez ao

    volante e de novo, nenhum teste de alcoolemia foi computado.

    Já no ano de 2013, sob o vigor da nova lei, realizaram um total de 650

    notificações tanto urbana quanto em rodovias, sendo que 571 são notificações por

    embriaguez ao volante, bem como foram realizados 27 testes de alcoolemia.

    A partir desses dados, pode-se observar o número expressivo de

    notificações de diversas causa de infração de trânsito no ano de 2012, bem como

    um aumento crescente de notificações por embriaguez ao volante nos anos de 2011

    a 2013, sendo constatada somente a realização de testes de alcoolemia no ano de

    2013.

    Isso pode ser interpretado pelo grande empenho das autoridades

    competentes, na tentativa de diminuir o alto número de acidentes no ano de 2012,

    ainda na égide da Lei 11.705/08.

  • 29

    Já em relação ao aumento de notificações por embriaguez ao volante, fica

    evidente os efeitos severos da Lei Seca, principalmente com sua nova redação em

    2012, havendo um aumento na aplicação das sanções administrativas e penais aos

    motoristas flagrados com consumo excessivo de álcool.

    Em relação ao teste de alcoolemia ser realizado somente no ano de 2013

    pode ser interpretado pela pequena quantidade ou ausência de instrumentos para

    aferir referido exame.

    Gráfico 4 – Quantitativo de notificações resultantes das barreiras de fiscalização – Operações da Lei Seca Fonte: BPMTRAN – MT

    É possível identificar no gráfico 5, o quantitativo de ocorrências de trânsito

    por condução de veículos sob a influência de álcool registradas em Cuiabá, pela

    Polícia Judiciária Civil do Estado de Mato Grosso, havendo um crescente aumento

    de 2011 até 2013.

    No ano de 2011, foram registradas 234 ocorrências por condução de

    embriaguez ao volante. No ano de 2012, foram registradas 256 ocorrências

    tipificadas por condução de embriaguez ao volante. E, no ano de 2013, foram

    registradas 500 ocorrências por condução de embriaguez ao volante.

    Dessa forma, é possível analisar que é gradativo as ocorrências registradas

    por condução de veículos sob a influência de álcool no período de 2011 a 2013. É

    importante ressaltar que esses registros são resultados do efeito da Lei Seca que

    alterou o Código Brasileiro Transito, notificações essas que ensejaram apuração

    criminal pela Polícia Judiciária Civil na forma de inquérito Policial e que

    posteriormente foram encaminhados ao Ministério Público para oferecimento de

    denúncia, dando início a ação penal.

  • 30

    Gráfico 5 – Quantitativo de ocorrências de trânsito por condução de veículos sob a influência de álcool registrada em Cuiabá

    Fonte: PJC – MT

    O gráfico 6 demonstra o quantitativo de perícias de alcoolemia realizado em

    Cuiabá pela Perícia Oficial e Identificação Técnica do Estado de Mato Grosso.

    No ano de 2011, realizaram 145 perícias de alcoolemia. No ano de 2012,

    foram realizadas 121 perícias de alcoolemia. Já no ano de 2013, foram realizadas

    386 perícias de alcoolemia.

    Analisando esta coleta de dados, percebe-se que no ano de 2013 foi

    realizado um número expressivo de testes para atender as diretrizes da Lei

    12.760/12, que entrou em vigor em dezembro 2012.

    Gráfico 6 – Quantitativo de perícias de alcoolemia realizado no Instituto Médico Legal Fonte: POLITEC – MT

    O gráfico 7, evidencia o quantitativo de perícias de acidentes de trânsito

    realizados em Cuiabá pela Perícia Oficial e Identificação Técnica do Estado de Mato

    Grosso.

  • 31

    No ano de 2011, foram realizadas 771 perícias de acidentes de trânsito. No

    ano de 2012, esse número subiu para 1.058 perícias. Já no ano de 2013, 879

    perícias envolvendo acidentes de trânsito.

    Os dados analisados mostram que o número de perícias de acidentes de

    trânsito diminuiu no ano de 2013, embora tenha diminuído também o número de

    barreiras conforme gráfico 04.

    Gráfico 7 – Quantitativo de perícia em acidentes de trânsito realizado em Cuiabá Fonte: POLITEC – MT

    O gráfico 8 destaca o quantitativo de denúncias de crimes de embriaguez ao

    volante na cidade de Cuiabá, oferecidas pela Promotoria de Justiça Especializada

    em Delitos de Trânsito do Ministério Público do Estado de Mato Grosso.

    No ano de 2011, foram feitas 115 denúncias. Esse número diminuiu em 2012

    para 78 denúncias e no ano de 2013, por coincidência também foram feitas 115

    denúncias de crimes de embriaguez ao volante na cidade de Cuiabá, que deram

    início a ação penal.

    Este resultado mostra, portanto, que as denúncias de crime de embriaguez

    são resultado das instaurações de inquérito por parte da Delegacia Especializada

    em Delitos de Trânsito, que apura o crime desde o seu registro até a obtenção das

    provas materiais necessárias para encaminhar o inquérito para a referida promotoria

    de justiça especializada promover a denúncia ou o arquivamento se não houver

    provas. É importante ressaltar que esse tramite do inquérito pode demorar alguns

    meses para a apuração de todas as provas e até que chegue ao Ministério Público,

    a denúncia ofertada em 2013 por exemplo, pode se referir a um crime cometido em

    anos anteriores, por isso essa discrepância de número encontrados.

  • 32

    Gráfico 8 – Quantitativo de denúncias oferecidas pela Promotoria de Justiça especializada em delitos de trânsito

    Fonte: 17° PROJUS – MT

    Essa pesquisa consistiu no levantamento dos crimes de embriaguez ao

    volante na cidade de Cuiabá em dois períodos distintos, sendo o primeiro de 01 de

    janeiro de 2011 a 22 de dezembro de 2012, ciclo anterior da publicação e vigência

    da nova lei e o segundo, de 23 de dezembro de 2012 a 31 de dezembro de 2013,

    ciclo posterior a publicação da Lei 12.760/12.

    Os gráficos foram subsidiados por dados estatísticos: a) Policia Judiciária

    Civil do Estado de Mato Grosso (PJC MT), referente às ocorrências registradas por

    autos de prisão em flagrante por crime de embriaguez ao volante; b) Informações da

    Promotoria de Justiça especializada em Delitos de Trânsito do Ministério Público

    Estadual a fim de obter o numero de denúncias oferecidas envolvendo crime de

    embriaguez no volante; c) Foram obtidos os dados do quantitativo de barreiras de

    fiscalização e seus desdobramentos através das operações da “Lei Seca” do

    Batalhão de Trânsito Urbano e Rodoviário da Polícia Militar do Estado de Mato

    Grosso com intuito de analisar o montante das sanções administrativas e a

    condução do infrator embriagado até a delegacia de polícia; d) foram extraídos os

    dados de testes de alcoolemia e perícia de acidentes de trânsito.

    É preciso frisar que ao traçar o panorama dos dados obtidos, chama-se a

    atenção para a incompletude, inconsistência e precariedade das estatísticas

    institucionais sobre o tema estudado, nos anos de 2011 e 2012. As várias fontes de

    coleta da estatística quantificam os dados somente para produtividade, não

    realizando, a classificação do tipo desses dados, o que prejudica um pouco na

    obtenção da informação acerca do assunto em tela. Além disso, foi detectado que

  • 33

    não existe articulação sistêmica entre instituições da Segurança Pública do Estado

    de Mato Grosso. Ministério Público e Poder Judiciário, o que impossibilita a

    agregação e comparação das informações.

    Diante de todo o exposto é possível responder que não houve diminuição de

    delitos de trânsito na cidade de Cuiabá após o advento da Lei 12.760/12, pelo

    contrário, houve um aumento, o que pode ser claramente observado pelos índices

    dos gráfico 05 e 06.

    No entanto esse aumento observado é um indicador de que a Lei 12.760/12

    esta sendo eficaz, pois possibilita aos agentes de fiscalização uma amplitude de seu

    campo de atuação para obtenção das provas da materialidade do delito, já que a lei

    lhes permitem várias possibilidades de enquadrar o condutor embriagado, mesmo se

    ele não quiser submeter-se aos testes de alcoolemia.

    Outro reflexo observado é um início da mudança comportamental do

    condutor de veículo frente a Nova Lei Seca que pela sua rigidez na aplicação das

    sanções administrativas e penais aliado a uma maior autonomia oferecida aos

    agentes de fiscalização para o enquadramento do condutor embriagado, que são

    fatores que infringem nas pessoas um certo temor de punição.

    7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

    O volumoso número de acidentes de trânsito no Brasil fez com que o

    legislador editasse leis mais rígidas a respeito do álcool associado à direção. Por

    esse motivo a primeira tentativa foi em 2008 com a chamada Lei Seca que alterou

    alguns artigos do Código de Transito Brasileiro.

    Em um ponto todos concordam: a Lei 11.705/08, principalmente em seu

    caráter pedagógico, foi positiva, no entanto, precisou ser remodelada para atingir

    sua eficácia ante a dificuldade de obter a materialidade do delito. A Nova Lei Seca,

    Lei 12.760/12, veio com o objetivo de consertar os equívocos da legislação anterior

    que tratou da embriaguez ao volante, conforme amplamente exposto no decorrer

    deste trabalho.

    A pesquisa identificou os efeitos da Lei 12.760/12, na cidade de Cuiabá,

    concernente à prática do crime de embriaguez ao volante no período de 2011 a

    2013.

  • 34

    Destacamos a incompletude, inconsistência e precariedade das estatísticas

    institucionais e ao mesmo tempo, vislumbramos uma mudança de postura do poder

    público no sentido de aprimorar os registros das ocorrências, criando um banco de

    dados e estatísticas, dando acesso a todos os órgãos públicos voltados a coibir a

    violência no trânsito pelo uso do álcool.

    Concluímos, diante dos números apurados, que não houve diminuição de

    delitos de trânsito na cidade de Cuiabá após o advento da Lei 12.760/12, pelo

    contrário, houve um aumento, o que pode ser claramente observado pelos índices

    dos gráfico 05 e 06, mas que esse aumento é um indicativo de que a nova Lei

    12.760/12, está causando um efeito positivo que é de coibir a impunidade dando

    um choque punitivo aos infratores que insistem em dirigir embriagados.

    No entanto não basta o rigor da lei se a sociedade não estiver preparada

    para uma mudança de comportamento, e para tanto é necessário uma política

    pública educacional para ensinar os condutores de que álcool e direção não

    combinam e que uma pessoa embriagada no volante faz de seu carro uma arma

    capaz de matar mais do que os outros crimes urbanos. A população deve estar

    disposta a não mais acobertar e suportar esse tipo de conduta.

    Ainda há muito a ser feito para que a segurança que procuramos seja

    alcançada. É preciso, portanto, uma fiscalização rigorosa nas cidades e nas

    estradas, além de campanhas que alertem os motoristas dos perigos e

    consequências de misturar álcool e direção, pois prevenção e conhecimento são

    armas indispensáveis para o estabelecimento de uma segurança no trânsito.

    Essa educação deveria começar imediatamente com as campanhas

    publicitárias e com a obrigatoriedade de introduzir o tema no currículo escolar, para

    efeito a longo prazo. Além disso, um maior investimento no sistema de transporte

    público diminuiria o número de automóveis nas ruas e consequentemente, o número

    de acidentes, inclusive por embriaguez ao volante.

    Neste aspecto, é oportuno sugerir que a partir desta pesquisa sejam

    realizados outros estudos dentro deste assunto, especialmente no que se referem os

    efeitos em longo prazo da Lei 12.760/12 a fim de analisar as estatísticas de

    acidentes de trânsito, principalmente, tendo como agente causador a embriaguez ao

    volante.

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    8. REFERÊNCIAS

    BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: Parte Geral 1. 15ª ed. rev. atual. e ampl. São Paulo. Ed. Saraiva, 2010. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. Disponível em: . Acesso em: 10 abr. 2014. BRASIL. Decreto n. 678, de 06 de novembro de 1992. Promulga a Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), de 22 de novembro de 1969. Disponível em: . Acesso em: 10 maio 2014. BRASIL. Lei n. 9.503, de 23 de setembro de 1997. Institui o Código de Trânsito Brasileiro. Disponível em:< http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9503.htm>. Acesso em: 10 maio 2014. BRASIL. Lei n. 11.705, de 19 de junho de 2008. Altera a Lei n. 9.503, de 23 de setembro de 1997, e a lei n. 9.294, de 15 de julho de 1996, que dispõe sobre as restrições ao uso e à propaganda de produtos fumígeros, bebidas alcoólicas, medicamentos, terapias e defensivos agrícolas, nos termos do § 4° do Art. 220 da Constituição Federal, para inibir o consumo de bebidas alcoólica por condutor de veículo automotor, e dá outras providências. Disponível em:< http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11705.htm>. Acesso em: 14 maio 2014. BRASIL. Lei n. 12.760, de 20 de dezembro de 2012. Altera a lei n. 9.503, de setembro de 1997, que institui o Código de Trânsito Brasileiro. Disponível em:. Acesso em: 12 maio 2014. BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Acórdão. Recurso Especial 1.111.566/DF 3ª Seção, rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, relator p/ o Acórdão Min. Adilson Vieira Macabu, dj. 28-3-2012. Disponível em: < http://www.espacovital.com.br/banco_img/acordao1111566.pdf> Acesso em: 05 novembro 2014. BRASIL. Resolução nº 432 de 23 de janeiro de 2013. Conselho Nacional de Trânsito. Dispõe sobre os procedimentos a serem adotados pelas autoridades de trânsito e seus agentes na fiscalização do consumo de álcool ou de outra substância

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    psicoativa que determine dependência, para aplicação do disposto nos arts. 165, 276, 277 e 306 da Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997 – Código de Trânsito Brasileiro (CTB). Anexo II, inciso V. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria MS/GM n.o 737 de 16/05/01. Política nacional de redução da morbimortalidade por acidentes e violências. Diário Oficial da União, Brasília, n. 96, Seção 1E, 18 maio, 2001 BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Análise de série temporal da mortalidade por acidentes de transporte terrestre e homicídios no Brasil e regiões, 1981-2001. Brasília: Coordenação Geral de Informação e Análise Epidemiológica, Departamento de Análise da Situação de Saúde, 2004. Mimeografado. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Impacto da violência na saúde dos brasileiros. Brasília: Ministério da Saúde, 2005. CABETTE, Eduardo Luiz Santos. Nova Lei Seca (Lei nº 12.760/12): perigo abstrato ou perigo concreto? Jus Navigandi, Teresina, ano 18, n. 3478, 8 jan. 2013. Disponível em:. Acesso em: 13 maio 2014. BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: Parte Geral 1. 15ª ed. rev. atual. e ampl. São Paulo. Ed. Saraiva, 2010. CAPPEZ, Fernando. Curso de direito penal – legislação penal especial. v 4. 5ª ed. Saraiva. São Paulo: 2010. CONFEDERAÇÃO NACIONAL DE MUNICÍPIOS. Estudos técnicos: mapeamento das mortes por acidentes de trânsito no Brasil, 2009. Disponível em: . Acesso em 1° novembro 2014. ESTEVES, R. et al. Por uma cultura do trânsito. Revista da ABRAMET, São Paulo, v. 36, p. 25-35, 2001. GOMES, Luiz Flávio. Mortes no trânsito e impunidade. Jusbrasil, Brasília-DF: 30 Jan. 2014. Disponível em: http://professorlfg.jusbrasil.com.br/artigos/112391536/mortes-no-transito-e-impunidade. Acesso em: 02 Dez. 2014.

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