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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA DEPARTAMENTO DE LETRAS E ARTES GRADUAÇÃO EM LETRAS ISABELI LEMOS FERREIRA UM OLHAR SOBRE O TRATAMENTO DADO AOS MARCADORES DISCURSIVO-CONVERSACIONAIS NO FILME MEXICANO “ME LATE CHOCOLATE”, QUANDO/SE TRADUZIDOS AO PORTUGUÊS

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANADEPARTAMENTO DE LETRAS E ARTES

GRADUAÇÃO EM LETRAS

ISABELI LEMOS FERREIRA

UM OLHAR SOBRE O TRATAMENTO DADO AOS MARCADORES DISCURSIVO-CONVERSACIONAIS NO FILME MEXICANO “ME

LATE CHOCOLATE”, QUANDO/SE TRADUZIDOS AO PORTUGUÊS

FEIRA DE SANTANA2017

ISABELI LEMOS FERREIRA

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UM OLHAR SOBRE O TRATAMENTO DADO AOS MARCADORES DISCURSIVO-CONVERSACIONAIS NO FILME MEXICANO “ME

LATE CHOCOLATE”, QUANDO/SE TRADUZIDOS AO PORTUGUÊS

Trabalho monográfico apresentado ao Colegiado de Letras/Espanhol, do Departamento de Letras e Artes da Universidade Estadual de Feira de Santana - UEFS como requisito parcial para obtenção do grau de Licenciado em Letras Língua Espanhola e Literaturas.

Orientadora: Professora Mestre Iranildes Almeida de Oliveira Lima

FEIRA DE SANTANA2017

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FOLHA DE APROVAÇÃO

ISABELI LEMOS FERREIRA

UM OLHAR SOBRE O TRATAMENTO DADO AOS MARCADORES DISCURSIVO-CONVERSACIONAIS NO FILME MEXICANO “ME

LATE CHOCOLATE”, QUANDO/SE TRADUZIDOS AO PORTUGUÊS

Trabalho monográfico apresentado como requisito parcial para a obtenção do grau de Licenciada em Letras com Língua Espanhola e respectivas Literaturas, da Universidade

Estadual de Feira de Santana-UEFS, pela seguinte Banca Examinadora.

Orientadora

Professora Mestra Iranildes Almeida de OliveiraUniversidade Estadual de Feira de Santana-UEFS

Membros da Banca Examinadora

Professora Mestra Liz Sandra Souza e SouzaUniversidade Estadual de Feira de Santana-UEFS

Professora

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Feira de Santana, 18 de janeiro de 2018.

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RESUMO

O estigma sobre os marcadores discursivos conversacionais persistiu durante muitos anos, mas vários estudos de referência sobre o tema, provaram que esses itens lexicais, tem fundamental importância na construção do discurso. O objetivo desta pesquisa, é catalogar no filme mexicano “Me late chocolate”, marcadores discursivos conversacionais, no intuito de revisar a manutenção ou não de seus componentes pragmáticos, quando/se traduzidos ao português. Para tanto, coletamos dados importantes de que esses mecanismos atuam pragmaticamente na mensagem, seja para guiar o discurso ou até mesmo checar a sua recepção, não podendo portanto, serem negligenciados, ou rebaixados a meros vícios de linguagem, já que comprovadamente exercem funções imprescindíveis para compreensão do seu interlocutor, graças às suas características semântico-pragmáticas. Por essa razão, exploramos os marcadores conversacionais da variedade mexicana, a fim de oferecer uma proposta de classificação de tais marcadores e esclarecer as funções que exercem, ampliando o conhecimento a cerca desse estudo. Realizamos a transliteração dos áudios do filme, em espanhol e versão em português, e nos utilizamos também da legendagem, para coleta e análise de exemplos das entradas desses marcadores, para finalmente avalia-los pragmaticamente e propor ampliação dos estudos que não abrangem a variedade mexicana da língua.

Palavras-chave: Marcadores discursivos conversacionais. Vícios de linguagem. Pragmática. Discurso.

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RESUMEN

El estigma sobre los marcadores discursivos conversacionales persistió por muchos años, pero varios estudios de referencia sobre el tema, demostró que estos artículos léxicos, tienen importancia fundamental en la construcción del discurso. El objetivo de esta investigación es catalogar en la película mexicana "Me late chocolate", los marcadores discursivos conversacionales, con el fin de revisar el mantenimiento o no de sus componentes pragmáticos, cuando/si traducidos al portugués. Para ello, recogemos importantes datos que estos mecanismos actúan en la pragmática del mensaje, empezando por guiar el discurso, o hasta incluso, consultar su comprensión, por el que no pueden por lo tanto, ser descuidados o relegados a meros vicios del lenguaje, desde probado para llevar a cabo funciones esenciales para la comprensión de su interlocutor, gracias a sus características semántico-pragmático. Para ello, exploramos los marcadores conversacionales de la variedad mexicana, con el fin de ofrecer una propuesta para la clasificación de tales marcadores y aclarar las funciones que ejercen, acreciendo el conocimiento cerca de este estudio. Realizamos la transliteración de los audios de la película, en español y su versión en portugués, y utilicémonos también de su subtitulación, para la coleta y analice de ejemplos de las entradas de estos marcadores, para finalmente evalualos pragmáticamente y proponer la ampliación de los estudios que no abarcaron la variedad mexicana de la lengua.

Palabras-llave: Marcadores discursivos conversacionales. Vicios del lenguaje. Pragmática. Discurso.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Estruturadores da informação

Tabela 2 - Conectores

Tabela 3 – Reformuladores

Tabela 4 – Operadores argumentativos

Tabela 5 - Marcadores conversacionais

Tabela 6 - Marcadores conversacionais catalogados por Zorraquino e Portolés

Tabela 7 - Marcadores conversacionais do corpus não catalogados por Zorraquino e

Portolés

Tabela 8 – Tradução dos marcadores conversacionais ao português

Tabela 9 - Tabela de marcadores conversacionais do corpus estudado

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LISTA DE ABREVIATURAS

ago. – agosto

dez. – dezembro

fev. - fevereiro

il. – item lexical

jan. - janeiro

jul. – julho

le. – língua espanhola

lp. – língua portuguesa

MDc - marcadores discursivos conversacionais

MDs. - marcadores discursivos

nov. - novembro

out. - outubro

p. – página

set. - setembro

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LISTA DE SIGLAS

ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas

CDMX- Ciudad de México

DF - Distrito Federal

DLA - Departamento de Letras e Artes

UEFS - Universidade Estadual de Feira de Santana

UNAM- Universidad Nacional Autónoma de México

MX - México

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................11

2 MARCADORES DISCURSIVOS......................................................................................14

2.1 DEFINIÇÃO..............................................................................................................................14

2.2 CLASSIFICAÇÃO.....................................................................................................................15

2.3 MARCADORES CONVERSACIONAIS X VÍCIOS DE LINGUAGEM.................................18

2.3.1 Marcadores discursivos conversacionais em filmes – antecedentes...............................19

3 METODOLOGIA................................................................................................................21

3.1 O CORPUS................................................................................................................................21

3.2 PROCEDIMENTOS DE PESQUISA.........................................................................................21

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO.........................................................................................24

4.1 OS MARCADORES CONVERSACIONAIS NO FILME (presença/ausência dos que foram catalogados por Zorraquino e Portolés, 1999.).................................................................................25

4.2 COMO ELES FORAM TRADUZIDOS AO PORTUGUÊS NA VERSÃO TRADUZIDA DO FILME..............................................................................................................................................27

4.3 ANÁLISE DOS DADOS...........................................................................................................28

5.CONCLUSÃO......................................................................................................................34

REFERÊNCIAS......................................................................................................................36

ANEXOS..................................................................................................................................37

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1 INTRODUÇÃO

As inferências que se realizam na comunicação, são comumente, guiadas por unidades

linguísticas invariáveis, as quais Martín Zorrraquino y Portolés (1999), chamaram de

'marcadores discursivos'. Embora não exerçam nenhuma função sintática no âmbito da

predicação oracional, essas unidades, de acordo com suas funções morfossintáticas,

semânticas e pragmáticas, atuam no discurso para facilitar a estruturação da informação,

vincular um membro discursivo a outro membro anterior, apresentá-lo como uma nova

formulação de um membro anterior, condicionar possibilidades argumentativas, e expressar o

grau de dúvida ou certeza do emissor em relação a verdade da proposição contida em seu

enunciado, ou ainda a obrigatoriedade de que se dê o conteúdo enunciado, em relação a um

sistema de normas.( ZORRRAQUINO; PORTOLÉS,1999)

O presente trabalho, por sua vez, trata de um destes aspectos, o fenômeno da

modalização epistêmica e deôntica, dito em outras palavras, dos marcadores discursivo-

conversacionais. Segundo Nascimento (apud Nascimento, 2010, p.32) o fenômeno da

modalização ou modalidade é considerado[...] como uma estratégia argumentativa que

permite a um locutor, responsável pelo discurso, imprimir em um enunciado uma avaliação ou

ponto de vista sobre o conteúdo de sua enunciação ou sobre a própria enunciação.

Com vista a identificar este tipo de fenômeno, é que se construiu o objetivo desta

pesquisa, de catalogar no filme mexicano “me late chocolate”, de Joaquín Bissner,

marcadores discursivos conversacionais, no intuito de revisar a manutenção ou não de seus

componentes pragmáticos, quando/se traduzidos ao português. Para tanto, fez-se necessário,

que conceituássemos marcadores discursivos, com base em teóricos como Zorraquino e

Portolés, cujo estudo acerca dos marcadores, apresenta-se de modo mais completo e

elucidativo, bem como artigos e publicações de natureza acadêmico/cientifica, cujo objeto de

estudo, relaciona-se aos marcadores discursivos. Nos debruçamos ainda, brevemente, em

estudos acerca dos vícios de linguagem, afim de reafirmar a validez dos marcadores

discursivo-conversacionais, para finalmente identificá-los, catalogá-los, contrastá-los com

seus equivalentes em português e avaliar o componente pragmático.

O cinema e o teatro, enquanto mostras de língua em uso, e que precisam sê-lo para

chegarem ao público e tocá-lo de alguma forma, são ótimos representantes de um discurso

que emerge, que está cheio de significado e intencionalidade, e que, portanto, não podem ser

estigmatizados, ou negligenciados simplesmente.

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Partindo desse pressuposto, e da experiência de internacionalização universitária, por

mim vivenciada, na cidade do México, DF, MX, no primeiro semestre do ano de 2016, na

UNAM, e enquanto estudante de espanhol como língua estrangeira, na UEFS, e falante nativa

de português, é que delineou-se o meu olhar nessa pesquisa; de buscar e compartilhar os MDs

num filme mexicano por influência da mobilidade acadêmica, contrastá-los com seus

equivalentes em português, por ser a minha língua materna, e avaliar o componente

pragmático, por acreditar, não só como estudante, mas também como futura docente de língua

espanhola, que estes elementos, se negligenciados em um discurso, podem comprometer a

comunicação.

Trata-se por todo o exposto, de uma pesquisa qualitativa, de caráter mais teórico que

aplicado, muito embora, seja fruto de investigação e análise de representações de língua em

uso.

A tradução de uma língua a outra requer um certo cuidado quanto a pragmática, e em

se tratando de marcadores discursivos conversacionais, isto não seria diferente, afim de

preservar a intenção do discurso, seu sentido. Pensando assim, nos surgiu uma pergunta: Que

tratamento é dado aos marcadores discursivos conversacionais dos filmes mexicanos, quando

adaptam o idioma original, espanhol, para o português? Seus componentes pragmáticos se

mantêm preservados?

Nessa perspectiva, objetivou-se inicialmente, identificar os marcadores

conversacionais no filme mexicano “Me late chocolate”, com vista a revisar a manutenção ou

não de seus componentes pragmáticos, quando/se traduzidos ao português, bem como

conceitua-los com base em teóricos e estudos realizados sobre eles, para discutir e reafirmar a

validez dos marcadores conversacionais, ante os vícios de linguagem, para finalmente,

identificar e listar os marcadores discursivos conversacionais presentes no filme, contrastá-los

com seus possíveis correlatos em português e avaliar a manutenção ou não de seus

componentes pragmáticos.

Para além da morfossintaxe, está a pragmática, que muito relaciona-se com o ato de

fala, com a construção de um discurso, ora como se inicia, se mantem, ou mesmo finaliza-se

este discurso. É sabido de todos, que cada discurso carrega consigo intencionalidades, que lhe

são imprimidas pelo locutor, através dos mecanismos coesivos que elege para tal, o que nos

leva a constatação que o desconhecimento destes elementos, pode produzir diferentes

processos de compreensão. Em se tratando de uma língua estrangeira, pode-se pressupor de

que estas divergências possam ser ainda maiores, tendo em vista, que entraria nesse processo

o fator interculturalidade; tomando-se língua enquanto cultura, compreende-se que o discurso

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de um povo, carrega consigo marcas que lhes são específicas, que os identificam enquanto

pertencentes a uma cultura e não outra. Tendo isto em vista, é que surgiu o interesse de

estudar os marcadores discursivos conversacionais, mecanismos estes, que são indispensáveis

a construção de um bom discurso, e mais ainda, fazê-lo chegar ao interlocutor, e chegar com

qualidade, sem cortes ou fragmentações. Enquanto estudante de espanhol como língua

estrangeira, e futura docente dessa língua, nasceu o desejo de conhecer mais profundamente,

como estes mecanismos atuam na língua espanhola, e ademais, como se relacionam com o

português, minha língua materna. Para tanto, na busca de mostras que possuíssem uma

verossimilhança com a língua em uso, é que decidiu-se buscar investiga-los em filmes, por

considerarmos nesta pesquisa, que sejam ótimos representantes de língua viva, pela

necessidade de chegarem ao público, de comunicarem, de tocá-los de alguma forma. A

escolha pelo filme mexicano não foi despretensiosa, ela partiu de uma experiência de

internacionalização, realizada no México, mais precisamente na CDMX, DF, onde pude

vivenciar de perto esta língua e algumas particularidades de seus discursos, no que diz

respeito ao objeto de estudo desta investigação, os MDs, precisamente os conversacionais. É

com base nestes aspectos que justifica-se o interesse desta pesquisa, e apresenta-se sua

relevância, uma vez que, conhecidos estes mecanismos, e comprovada a sua

indispensabilidade, cresça o interesse por estuda-los, ampliando assim, os conhecimentos

teóricos acerca do tema, o que pode fomentar maior enfoque destes elementos nas classes de

língua, munindo assim os sujeitos envolvidos no processo de aprendizagem, desta ferramenta

imprescindível a construção discursiva, e que os torna efetivamente usuários da língua. Por

todo o exposto, não há como negar a viabilidade deste estudo, que além de tudo, servirá para

desmistificar a ideia de que estes elementos, sejam na verdade, vícios de linguagem, não

exercendo portanto, função discursiva nenhuma, além de pausar, dar tempo ao locutor, o que

veremos, não é verdade. Tratam-se de elementos legítimos, presentes no discurso, e que

apesar de não exercerem função sintática, de acordo com as suas características semântico-

pragmáticas, assumem importantes papéis no discurso, desde guiar o interlocutor, até a

construção e/ou estruturação enunciativa, deliberando sim, se não lhes dada a devida

importância, diferentes processos de compreensão.

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2 MARCADORES DISCURSIVOS

2.1 DEFINIÇÃO

Os estudos realizados sobre marcadores discursivos têm revelado que esse tipo de

mecanismo gera diferentes efeitos de sentido no enunciado e funciona como uma estratégia

argumentativa que é utilizada pelo locutor/emissor, não só para imprimir seu ponto de vista,

mas também para indicar ao seu interlocutor, como quer que o seu discurso seja lido, ou ainda

manter a comunicação, verificar se o canal discursivo se mantém aberto, tentar abri-lo,

chamando a atenção do leitor, ou mesmo para estruturar a informação, vincular um membro

discursivo a outro, dentre outras funções, que se lhes atribui, de acordo com suas

características semântico-pragmáticas e/ou morfossintáticas.

Os ‘marcadores do discurso’ são unidades linguísticas invariáveis, não exercem função sintática no marco da predicação oracional e possuem uma incumbência coincidente no discurso: o de guiar, de acordo com suas diferentes propriedades morfossintáticas, semânticas e pragmáticas, as inferências que se realizam na comunicação (PORTOLÉS, 1998a, p. 23-24 apud ALMEIDA; MARINHO, 2011, p.174).

Ocorre que os MDs, apesar de não exercerem função sintática no marco da predicação

oracional, atuam como unidades linguísticas que permitem a elaboração da linguagem nas

mais diversas situações comunicativas, guiando as inferências, por exercerem uma função

outra, a função pragmático-discursiva, que mesmo sem alterar o sentido global, confere aos

enunciados diferentes intenções.

Sus características principales son tener una gran movilidad distribucional, lo que les

permite, aparecer al inicio, en medio o al final del turno del habla, y haber sufrido un proceso

de gramaticalización que las ha fijado como formas invariables [...] suelen tener una forma

homónima[...] (PALACIOS, 2002, p. 226)

Assim como os advérbios, os marcadores discursivos prototípicos, não variam em

número, gênero ou pessoa, tendem a manter a mesma forma, em qualquer que seja o discurso,

o que irá variar de acordo com o ato discursivo, será o tipo de marcador escolhido na

enunciação, e a função desempenhada por estes. Quanto a isto, cabe acrescentar, que das

inferências que podem fazer nos discursos, os MDs podem ser estruturadores da informação,

conectores, reformuladores, operadores argumentativos, ou marcadores conversacionais, cujas

funções, podem verificar-se na subseção seguinte.

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2.2 CLASSIFICAÇÃO

Tabela 1 – Tabela de estruturadores da informaçãoESTRUTURADORES DA INFORMAÇÃO

COMENTADORES DIGRESSORES ORDENADORES

Apresentam o membro discursivo que introduzem como se fosse um novo comentário.

Introduzem um comentário lateral, em relação a um tópico lateral do discurso.

Indicam o lugar que ocupa um membro discursivo numa sequência ordenada por partes, ou a sequência como comentário único, e as partes deste, como comentários subsequentes.

pues, pues bien, así las cosas, dicho esto, etc.

por cierto, a todo esto, a propósito, etc.

en primer lugar / en segundo lugar; por una parte / por otra parte; de un lado / de otro lado, etc.

Fonte: Elaborada pela autora.

“[...] ‘los estructuradores de la información’, que sirven, esencialmente, para señalar la

organización informativa de los discursos. Se tratan de marcadores que carecen de significado

argumentativo.” (ZORRAQUINO; PORTOLÉS, 1999, p.4080, grifo do autor). Os

estruturadores da informação subdividem-se em comentadores, digressores e ordenadores. Os

comentadores apresentam como um novo comentário o membro discursivo que introduzem,

os digressores introduzem em relação a tópicos laterais do discurso, comentários laterais, e os

ordenadores indicam o local ocupado por um membro discursivo, numa sequência ordenada

por partes, ou ainda, a sequência como comentário único e as partes como subcomentários.

Tabela 2 – Tabela de conectoresCONECTORES

ADITIVOS CONSECUTIVOS CONTRAARGUMENTATIVOS

Unem um membro discursivo anterior a outro com a mesma orientação argumentativa.

Apresentam como consequência de um membro anterior o membro discursivo em que se encontram.

Vinculam dois membros discursivos, de modo que o segundo, se apresenta como atenuador ou supressor de uma possível conclusão do primeiro.

además, encima, aparte, incluso, por añadidura, es más, etc.

por tanto, por consiguiente, en consecuencia, de ahí, entonces, pues, así pues, por ende, de resultas, así, etc.

en cambio, por el contrario, antes bien, sin embargo, no obstante, con todo, empero, ahora bien, ahora, eso sí, etc.

Fonte: Elaborada pela autora.

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“[...] los conectores vinculan semántica y pragmáticamente un miembro del discurso

con otro anterior, de tal forma que el marcador guía las inferencias que se han de efectuar del

conjunto de los dos miembros discursivos conectados.” (ZORRAQUINO; PORTOLÉS, 1999,

p.4080). Os conectores estão classificados em, aditivos, consecutivos e contra argumentativos.

Os aditivos unem membros discursivos com a mesma orientação argumentativa, enquanto que

os consecutivos apresentam o membro discursivo em que se encontram como consequência

de um membro anterior, já os contra argumentativos, vinculam dois membros do discurso,

apresentando o segundo como atenuador ou supressor de uma possível conclusão do primeiro.

Tabela 3 – Tabela de reformuladoresREFORMULADORES

EXLICATIVOS RETIFICADORES DISTANCIADORES RECAPITULADORES

Explica o membro anterior do discurso, através de uma reformulação do membro que introduzem.

Apresentam uma reformulação que corrige ou melhora a introduzida pelo membro anterior.

Apresenta como irrelevante a formulação do membro anterior ao que ele se apresenta.

Apresentam o membro discursivo a que pertencem como uma recapitulação ou conclusão de anteriores.

o sea, es decir, esto es, a saber, en otras palabras, etc.

mejor dicho, mejor aún, más bien, digo, etc.

en cualquier caso, en todo caso, de todos modos, etc.

en suma, en conclusión, en definitiva, en fin, al fin y al cabo, después de todo, en resumidas cuentas, total, después de todo, etc.

Fonte: Elaborada pela autora.

“[...] los reformuladores presentan miembro del discurso en el que se encuentran como

una expresión más de lo que se pretendió decir con un miembro precedente.”

(ZORRAQUINO; PORTOLÉS, 1999, p.4080). Os Mds, quando reformuladores, podem ser,

explicativos, retificadores, distanciadores e recapituladores. Quando explicativos, atuam no

sentido de aclarar um membro anterior do discurso, através de uma reformulação do membro

que introduzem, retificadores quando a informação do membro anterior é melhorada ou

corrigida pelo membro que introduzem, distanciadores se desconsideram no membro a que

pertencem as formulações do membro anterior, ou recapituladores, quando se apresentam e ao

membro a que pertencem como uma conclusão dos anteriores.

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Tabela 4 – Tabela dos operadores argumentativosOPERADORES ARGUMENTATIVOS

REFORÇO ARGUMENTATIVO CONCREÇÃO

Reforçam como argumentos os membros discursivos em que se encontram.

O membro discursivo em que se encontra é apresentado como exemplo.

en realidad, en el fondo, de hecho, etc. por ejemplo, en particular…

Fonte: Elaborada pela autora.

“[...] ‘los operadores argumentativos’ [...] condicionan por su significado las

posibilidades argumentativas del miembro en el que se incluyen sin relacionarlo con otro

anterior.” (ZORRAQUINO; PORTOLÉS, 1999, p.4081). Quanto aos operadores

argumentativos, são duas as categorias, reforço argumentativo e concreção. Enquanto a

primeira categoria se refere ao reforço como argumento dos membros discursivos em se

encontram, a segunda refere-se a apresentação como exemplo do membro discursivo em que

se encontram.

Tabela 5 – Tabela dos marcadores conversacionaisMARCADORES CONVERSACIONAIS

ACEITAÇÃO EVIDENCIA ALTERIDADE METADISCURSIVOS

Mostrar ou solicitar concordância.

Apresentar o grau de certeza.

Chamar a atenção do outro.

Organizar o discurso, de modo a atrair a atenção de seus interlocutores, ou ainda indicar sua atitude com relação ao discurso.

claro, desde luego, por lo visto, en efecto, efectivamente, por supuesto, naturalmente, sin duda, etc.

bueno, bien, vale, de acuerdo, etc.

hombre, mira, oye, etc.

bueno, eh, este, etc.

Fonte: Elaborada pela autora.

“[...] ‘los marcadores conversacionales’. Incluimos en ese apartado las partículas

discursivas que aparecen más frecuentemente en la conversación.” (ZORRAQUINO;

PORTOLÉS, 1999, p.4081). No que diz respeito aos marcadores discursivos conversacionais,

as categorias são quatro, aceitação, que solicita ou imprime concordância, a evidência, que

apresenta o grau de certeza no discurso, a alteridade, que busca captar a atenção do

interlocutor, e os metadiscursivos, que organizam o discurso no intuito de atrair a atenção de

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seus interlocutores, ou ainda indicar sua atitude com relação ao discurso. Discutiremos mais

sobre este tipo de marcador na próxima seção.

2.3 MARCADORES CONVERSACIONAIS X VÍCIOS DE LINGUAGEM

Os marcadores discursivos foram, e tem sido ainda hoje, alvos de estigma e proibição

de uso, movimento involuntariamente iniciado nas escolas, pelo incentivo e busca da

modalidade padrão da língua portuguesa, livre e pura dos chamados vícios de linguagem, sem

contar das variantes não padrão da língua, que com suas particularidades, muitas vezes eram

classificadas como erros. “Por não existirem nas gramáticas normativas como uma categoria,

os marcadores discursivos são estruturas às margens da língua, sendo alvo de estigma e de

restrição de uso.” (FREITAG, 2007, p.33). Apesar de compreenderem grupos como o das

conjunções, advérbios e interjeições, sabe-se que estas classificações não dão conta de

abranger a significação total destes elementos. É nesse sentido, que começa-se a diferenciar

estes elementos dos vícios de linguagem, distanciando-os quanto às suas funções.

Segundo Marchuschi(1997), a conversação não é uma distribuição alheatória e

concomitante de turnos de fala, mas esta sustenta-se em estratégias de formação e

coordenação, na qual a perspectiva do desenvolvimento é múltipla, podendo cada turno,

reorientar, mudar ou quebrar o ponto de vista em curso, e acrescenta que a repetição de

conteúdos por parte de vários falantes não é redundante, e que para a fluidez do discurso, é

necessário que a passagem entre tópicos, aconteça de modo natural, e mais ainda, que esta

passagem seja marcada intencionalmente. Tal asserção faz cair por terra a ideia de que os

MDc seriam na verdade vícios de linguagem, uma vez que:

“Vícios de linguagem, de acordo com a tradição gramatical, são os usos linguísticos que fogem à norma, como o barbarismo, estrangeirismo, solecismo, etc. A lógica por detrás do rótulo é que se os marcadores discursivos não são previstos nas gramáticas normativas, é porque são vícios de linguagem. Já considerar os marcadores discursivos como ‘ruídos’ significa dizer que eles atrapalham a comunicação, negando, portanto, a sua importância para a estruturação da fala.” (FREITAG, 2007, p.29).

Em contextos de maior formalidade, essas unidades costumam ser definidas como

cacoetes linguísticos, ruídos de comunicação, utilizados tão somente para iniciar ou finalizar

um enunciado, de modo insistente e sem nenhuma função lógica de coerência e/ou coesão,

sendo portanto, estigmatizados socialmente, uma vez que além do já descrito, não há nenhum

tipo de prescrição destes na gramática. Os MDc, por sua vez, influenciam sobre os processos

argumentativo e inferencial, e podem atuar enquanto sustentadores do discurso, exercendo

portanto funções discursivas, que estão para além de iniciar e/ou finalizar um enunciado,

como os vícios de linguagem.

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La conversación constituye una situación comunicativa peculiar con propiedades

específicas, que determinan, o favorecen, la presencia de una serie de marcadores.

(ZORRAQUINO; PORTOLÉS, 1999, p.4081). Estes são os marcadores discursivos

conversacionais, os que assinalam o grau de certeza, evidenciam, atribuem, indicam atitudes

volitivas, enfocam, orientam como o locutor deve situar-se em relação ao seu interlocutor e a

relação interativa da comunicação, além de estruturarem o discurso, assumindo assim,

diversas funções pragmáticas, o que não caberia a meros vícios de linguagem.

2.3.1 Marcadores discursivos conversacionais em filmes – antecedentes

Silva (2010), afirma que os cursos de idiomas, em se tratando de língua estrangeira,

conquistam seus alunos, oferecendo fluidez e domínio da língua oral estudada, mas a verdade,

é que ao se depararem com um falante nativo, ou mesmo como expectadores de um filme

produzido na língua em questão, por exemplo, sentem que trata-se de um idioma diferente

daquele por eles estudado, quando não chegam a ter dificuldade de compreensão.

Partindo desse pressuposto, a autora supracitada, reconhece a importância de

apresentar a este alunado, não só textos de conversações espontâneas, mas também da

linguagem ficcional, seja via textos literários, como é bem comum na atualidade

encontrarmos trabalhos de estudo e análise desse tipo de corpus, ou via diálogos fílmicos, cuja

relação com a linguagem coloquial, é bastante próxima. Convencida disto, realizou estudo

semelhante ao apresentado neste trabalho, com o filme argentino, Valentín (2002), do diretor

Alejandro Agresti, onde buscou identificar os marcadores conversacionais, definidos por ela

como expressões altamente estereotipadas, com fins de análise para as funções que esses

marcadores exercem nos trechos de Valentín, em que foram encontrados, bem como de sua

ocorrência e recorrência. Conclui dizendo da importância desses elementos a conversação,

enquanto conectores textuais e discursivos, que contribuem não só para sua estruturação, mas

também para sua coerência, tendo sido algumas vezes desprezados na legenda do filme

utilizada como corpus.

Outro estudo similar sobre os marcadores discursivos, é o de Batalha, com os filmes

“A partilha” (2001), Daniel Filho e “Domésticas” (2000), Fernando Meirelles e o programa

“A grande família”, rede globo de televisão, afirma da legitimidade de estudo de corpus

fílmicos e/ou televisionados, como novelas ou minisséries, por exemplo, uma vez que estes

recursos paradidáticos permitem análise não só de seus elementos léxico-gramaticais, mas

também dos suprassegmentais e paralinguísticos. E como a ênfase desse estudo são aulas de

língua estrangeira, por tratarem-se de materiais, cuja característica principal é a do diálogo,

figuram com ótimas fontes para entender o funcionamento dos marcadores discursivos

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conversacionais e assim aprender a empregá-los adequadamente na prática discursiva.

(BATALHA, 2018)

Com corpus de origem semelhante, apresenta-se ainda, o estudo de Nunes (2016),

baseado na série americana televisionada “FRIENDS”, onde analisou-se nas legendas,

original e em português, como foram traduzidos os marcadores discursivos, com vistas a

verificar se estabeleceram-se ou não, os mesmos efeitos de sentido, quanto a tradução, por

reconhece-los enquanto elementos essenciais ao processo de significação linguística, bem

como sua dimensão interacional na linguagem. A autora também afirma que o corpus de

estudo escolhido é altamente legítimo, por tratar-se de um gênero, cuja linguagem assemelha-

se a da conversa espontânea, devido ao grau de informalidade de seus diálogos, constituindo

assim, um simulacro de diálogos reais.

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3 METODOLOGIA

3.1 O CORPUS

O filme mexicano “Me late chocolate” (2013), de Joaquín Bissner, retrata os

problemas de relacionamento da protagonista Mônica Ballesteros, mulher adulta, discente de

confeitaria, que vive com o pai, e cuja mãe é falecida. Nutre uma relação amorosa com Xavi,

namorado ciumento e possessivo, até sua repentina morte. De maneira bem-humorada, Xavi

segue aparecendo para Mônica, especialmente em encontros amorosos, mesmo após a sua

morte, e a personagem acaba por afastar todos os pretendentes em potencial, por pensarem

que tratava-se de uma mulher louca. Mônica termina por apaixonar-se por seu novo professor

de tese, cuja ex noiva se recusa a aceitar o término do relacionamento. E em meio a tantos

conflitos, ela ainda tem que escrever sua tese sobre um chocolate que diminua as penas de

amor, tema por ela escolhido, devido a situação em que se encontra. Com uma linguagem

bem natural e típica dos jovens a história vai se desenrolando, até o desfecho final que ocorre

em dois momentos, a defesa de sua tese e comemoração, e no rompimento e reconciliação

com seu amado. Até aí, conta com a ajuda e apoio de seus amigos, que embarcam com ela na

maioria das aventuras, e a lembrança doce e sábia de sua mãe. A história se passa na Cidade

do México, Distrito Federal, e termina com um voo de balão sobre as pirâmides de

Teotihuacán, México. O filme tem duração de uma hora e quarenta minutos, e foi escrito e

dirigido por Joaquín Bissner, mexicano, e conta em seu elenco com Karla Souza, como Moni,

Jorge Luis Moreno, como Xavi, Osvaldo Benavides, como Alex, todos atores mexicanos, e o

próprio Joaquín Bissner, como Chef Peña, garantindo fidedignidade ao áudio e público-alvo

original do filme, para contar a história de como Mônica consegue recomeçar sua vida. O

filme está disponível na Netflix.

3.2 PROCEDIMENTOS DE PESQUISA

A fim de desenvolver o argumento que sustenta esta pesquisa, com relação ao que são

os marcadores discursivos, e reafirmá-los frente aos vícios de linguagem, de acordo com a

análise teórica que sustenta essa compreensão, adotaram-se os procedimentos metodológicos

registrados nesta seção.

3.2.1 Os dados

Para o desenvolvimento do tema, “Um olhar sobre o tratamento dado aos marcadores

discursivo-conversacionais no filme mexicano, “Me late chocolate”, quando/se traduzidos ao

português”, extraímos dados significativos de artigos e publicações, principais a saber:

A) Los marcadores del discurso; Zorraquino y Portolés, 1999.

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B) "No es muletilla, es marcador, cachái?" Análisis de la función pragmática del

marcador discursivo conversacional cachái en el español de Chile; Becerra; Carrasco;

Valenzuela, 2015.

C) Marcadores Discursivos e conectores: conceituação e teorias subjacentes; Almeida

e Marinho, 2012.

D) Análise da conversação; Marchuschi,1997.

3.2.2 A teoria

A fundamentação teórica que subsidiou nossas reflexões centrou-se no estudo de

Zorraquino y Portolés (1999) -marcadores discursivos-, de onde extraímos as ideias básicas

sobre 'o que são marcadores discursivos? E marcadores discursivos conversacionais?', suas

classificações e funções, com atenção especial para este último. A interpretação dos

marcadores discursivos conversacionais como vícios de linguagem, vinha sendo uma

constante, de modo que daí, ampliamos nossas revisões, em vista da correta aplicação destas

terminologias. Tais interpretações fundamentaram-se, primordialmente, em artigos centrados

nestas temáticas, por tratarem-se de documentos cuja base teórica para a composição do

pensamento, são os estudiosos da área, ora convergindo, ora divergindo quanto aos temas,

mas sobretudo complementando-se, o que por sua vez, garantiu para esta pesquisa, fontes

atualizadas e conteúdos já direcionados ao objeto deste estudo.

3.2.3 A Investigação

Através da revisão bibliográfica, buscou-se registrar teórico-descritivamente o objeto

desta pesquisa, que posteriormente, partindo da observação e registro deste, a partir do filme

mexicano selecionado, foram aplicados os seguintes métodos complementares: Transliteração

manual dos áudios do filme, correspondente em espanhol, idioma original e português,

adaptação para o público brasileiro, conversão desses arquivos para o formato txt( texto sem

formatação), para compatibilidade com a leitura computadorizada, mas sem desprezar os

primeiros arquivos em word, para eventuais consultas. Na sequência, com a ajuda do Corpus

Analysis Toolkit, em: <http://www2.lael.pucsp.br/corpora/index.htm> através do

concordanciador aí disponível, foi feito o alinhamento paralelo desses arquivos de texto,

facilitando sua análise. Já com auxílio das ferramentas disponibilizadas pelo Grupo de

Linguística e Comunicação Cognitiva da Insite, disponíveis em:

<http://linguistica.insite.com.br/corpus.php>, criou-se uma lista de palavras e frequência, para

cada idioma, com vistas a verificar a entrada de marcadores conversacionais em espanhol e a

catalogação dos equivalentes em português, para assim chegar a avaliação da manutenção ou

não de seus componentes pragmáticos.

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Para tanto, foram utilizados o áudio original em espanhol do filme, para coleta dos

marcadores discursivos conversacionais, em sequência, extração da legenda do mesmo, já

adaptada para o português, pelos possíveis equivalentes para os marcadores discursivos

coletados, quando haviam, e após processamento nas ferramentas computadorizadas,

disponibilizadas gratuitamente na internet, catalogaram-se em uma tabela os dados

encontrados. O passo seguinte desta investigação, foi a análise desses dados e mesmo das

omissões, o que respondeu ao questionamento inicial do tratamento dado, finalizando com um

parecer, no tocante as divergências e convergências do processamento da informação contida

no enunciado, através da comparação em seu idioma original, e sua respectiva tradução em

português.

E finalmente, a apresentação dos casos em espanhol, língua de origem do texto, a qual

resultou 20 entradas diferentes de marcadores conversacionais, num total de 219 aparições,

como anotado na tabela de resultados, a qual está organizada em ordem decrescente, quanto

ao número de entradas de cada marcador identificado no corpus analisado. A tabela também

conta com a classificação desses marcadores, de acordo com os estudos de Zorraquino y

Portolés, 1999, e a estratégia pragmática associada a cada um deles.

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4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Em relação ao objetivo da pesquisa, considera-se que o resultado foi atingido, uma vez

que, a partir da transliteração do áudio do filme mexicano, “Me late chocolate”, de Joaquín

Bissner, original em espanhol e tradução para o português, foi possível através de

concordanciadores e analisadores estatísticos de textos, como descrito na metodologia, criar

lista de palavras e frequências, em ambos os idiomas, para verificar as entradas e a relevância

dos marcadores, através das estatísticas de aparição no texto, além de alinhar os textos em

paralelo, para análise das equivalências, e logo registro da manutenção ou não de seus

componentes pragmáticos.

Inicialmente a criação de um banco de texto bilíngue, correspondente nos idiomas

espanhol e português, foi possível sem a preocupação com direitos autorais, por conta da

prerrogativa de tratar-se de um estudo e análise individuais, sem fins lucrativos. A

legitimidade do corpus criado evidencia-se no fato de haver sido escrito e interpretado por

falantes nativos, e não haver sido criado com fins de análises, o que lhe confere uma

fidedignidade maior com a linguagem corrente, como é sabido, uma linguagem natural para

chegar ao público, por tratar-se da indústria cinematográfica.

O segundo passo foi a conversão desses arquivos para o formato txt (texto sem

formatação), compatível com a leitura computadorizada das ferramentas insite utilizadas. De

posse dos arquivos já convertidos, criou-se uma lista de palavras e frequências para cada

idioma, a fim de observar as entradas dos marcadores discursivos conversacionais nos textos e

sua usualidade.

Os resultados podem ser sumarizados em dois pontos principais, a presença ou

ausência no filme dos marcadores discursivos conversacionais catalogados por Martín

Zorraquino e Portolés, e os marcadores discursivos conversacionais presentes no filme que

não foram por eles catalogados. Em se tratando do primeiro ponto citado, não houve

diferenças significativas quanto a variedade de marcadores encontrados no filme, tendo sido

estes, 2 para cada uma das classificações propostas por Zorraquino e Portolés, num total de 8

dos 18 marcadores por eles elencados. Os resultados em relação ao segundo ponto,

mostraram-se mais inquietantes, por apresentarem 13 marcadores discursivos conversacionais

não listados pelos estudiosos. A tensão quanto ao resultado apresentado pelo segundo ponto,

dá-se, especialmente, por tratar-se de estudos de referência da área de marcadores

conversacionais, que não dão conta da vasta gama de marcadores existentes na variedade

mexicana, ou mesmo das funções que outros já catalogados por eles podem exercer. A

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categoria que gerou resultados mais expressivos, foi a dos MDc de aceitação, cujo número de

marcadores encontrados no corpus de estudo, não catalogados chega a 8, porém a categoria

que mais chamou a atenção, foi a dos MDc de alteridade, por abrangerem o marcador de uso

mais frequente no corpus, dono de 33 entradas, também não catalogado no estudo-referência.

A categoria de dados menos expressivos, é a dos MDc de evidência, com duas entradas

diferentes no corpus estudado, de um total de 4 catalogadas por Zorraquino e Portolés.

Passando-se aos MDc metadiscursivos, a quarta categoria proposta pelos estudiosos

supracitados, encontram-se apenas 3 marcadores listados, dos quais 2 estão presentes no

corpus de estudo, 1 não apresenta entradas, e outros 3 não foram catalogados. Esses resultados

estarão melhor apresentados e discutidos, na subseção seguinte.

4.1 OS MARCADORES CONVERSACIONAIS NO FILME (presença/ausência dos que

foram catalogados por Zorraquino e Portolés, 1999.)Tabela 6- marcadores conversacionais catalogados por Zorraquino e Portolés

MARCADORES DISCURSIVOS CONVERSACIONAIS CATALOGADOS POR

MARTÍN ZORRAQUINO E PORTOLÉS

PRESENTES NO CORPUS

ACEITAÇÃO EVIDENCIA ALTERIDADE METADISCURSIVOS

claro bien mira bueno

efectivamente de acuerdo oye eh

AUSENTES NO CORPUS

desde luego, por lo

visto, en efecto, por

supuesto,

naturalmente, sin

duda, etc.

Bueno, vale, etc. hombre, etc. este, etc.

Fonte: Elaborada pela autora.

Na tabela 6, apresenta-se uma lista de marcadores discursivos conversacionais, de

acordo com a classificação de Martín Zorraquino e Portolés (1999), separados por função, e

com indicação dos que foram ou não encontrados no corpus. Observando-se este quadro, os

resultados parecem apontar que apenas o número de MDc de aceitação por eles catalogados,

é inferior no corpus de estudo em relação ao listado, o que infere que o corpus analisado, além

de possuir ampla variedade de MDc, reafirma a validade desse estudo, que torna-se ainda

mais necessário, se observamos, por exemplo, que nos casos dos marcadores de evidencia,

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alteridade e aceitação, há uma maior carência de exemplos, já que os estudiosos somente

citam os de uso mais frequente.

Munidos dessa percepção, e com base no número de MDc encontrados no corpus

analisado, e que desempenham as mesmas funções citadas por Zorraquino e Portolés (1999),

mas que não foram catalogados por eles, elaborou-se a tabela seguinte, com vistas a abranger

os demais marcadores conversacionais encontrados no corpus de análise, e que são de uso

frequente no espanhol do México. A saber:Tabela 7- marcadores conversacionais do corpus não catalogados por Zorraquino e Portolés

MARCADORES DISCURSIVOS CONVERSACIONAIS NÃO CATALOGADOS

POR ZORRAQUINO E PORTOLÉS ENCONTRADOS NO CORPUS

ACEITAÇÃO ALTERIDADE METADISCURSIVOS

¿verdad? ¿eh? ¿no? ¿en

serio? ¿sí? ¿orale? ¿vale?

¿sabes?

guey; ey; bueno; pues; ah;

Fonte: Elaborada pela autora.

Observando a tabela 7, percebe-se que não foram encontrados no corpus estudado,

marcadores de evidência, para além dos listados por Zorraquino e Portolés (1999), no entanto,

o número de MDc de aceitação, que eles não deram conta em sua classificação é bastante

relevante, especialmente, se considerarmos o número de aparições destes, o que demonstra

certas limitações para este estudo. No caso dos MDc de alteridade, a atenção especial volta-se

ao IL “guey”, com maior número de aparições no corpus estudado, e que é típico da variedade

mexicana do espanhol. Quanto aos metadiscursivos, destaca-se o IL “bueno”, cuja entrada, de

acordo com a classificação de Zorraquino e Portolés (1999), é frequente como marcador de

evidencia, mas aparece no corpus analisado como marcador discursivo conversacional

metadiscursivo, opção não colocada pelos estudiosos, o que mais uma vez, reafirma a

necessidade de ampliação dos estudos realizados por eles, não só para abarcar os marcadores

da variedade mexicana, mas também de outras variedades do espanhol, para oferecer aos

aprendizes desse idioma, uma noção mais ampla dos marcadores discursivo-conversacionais,

em sua abrangência intercultural e pragmática, desmistificando assim, a ideia de que exista

uma única vertente desse idioma que seja culta, padronizada, mas esclarecendo que existem

variedades desse idioma, todas com capacidade suficiente de comunicar e mobilizar

mudanças na língua, se se lhes der a devida atenção e investimentos. O preconceito linguístico

até hoje associado as variedades menos prestigiadas desse idioma, dá-se também, por conta da

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falta de conhecimento acerca dessas variedades da língua, então quanto mais estudos forem

realizados sobre elas, fomentar-se-á o interesse por conhece-las, e concomitante a isso, o

interesse por aprendê-las, para assim diminuir o nível de estigma negativo que carregam

consigo. Pode-se considerar que qualquer tipo de estigma sobre qualquer variedade de uma

língua, está em desacordo com a primazia da oralidade em relação à escrita, e isto vem de

encontro a um dos objetivos desta pesquisa, que é o desejo de fomentar a ampliação dos

estudos anteriores, para que se possa oferecer maior suporte aos aprendizes e profissionais da

área em questão.

4.2 COMO ELES FORAM TRADUZIDOS AO PORTUGUÊS NA VERSÃO TRADUZIDA

DO FILME

Tabela 8 – Tradução dos marcadores conversacionais ao português MARCADORES

CONVERSACIONAISCLASSIFICAÇÃO ENTRADAS

NO CORPUSTRADUÇÃO AO

PORTUGUÊSGÜEY ALTERIDADE 33 X

¿VERDAD? ACEITAÇÃO 27 Verdade?OYE ALTERIDADE 26 Ouça

BUENO METADISCURSIVO 21 BomPUES METADISCURSIVO 17 Pois¿EH? ACEITAÇÃO 16 X¿NO? ACEITAÇÃO 15 Não

¿EN SERIO? ACEITAÇÃO 9 Sério?EH METADISCURSIVO 9 X

MIRA ALTERIDADE 8 OlhaCLARO ACEITAÇÃO 8 Claro

AH METADISCURSIVO 8 X¿SÍ? ACEITAÇÃO 7 Sim?

ÓRALE ACEITAÇÃO 4 X¿VALE? ACEITAÇÃO 4 Certo?

EY ALTERIDADE 2 XBIEN EVIDENCIA 2 Bem

DE ACUERDO EVIDENCIA 1 De acordo¿SABES? ACEITAÇÃO 1 Sabe?

EFECTIVAMENTE ACEITAÇÃO 1 EfetivamenteFonte: Elaborada pela autora.

Observando a tabela 8, elaborada com base na legendagem do filme “Me late

chocolate”, pode-se considerar, que no processo de tradução para língua alvo, o português,

houveram muitas omissões de MDc, como já dito antes, itens lexicais, fundamentais para a

construção de um discurso. Mediante as cenas do filme, em que apareciam esses marcadores

nos diálogos, verificou-se que suas entradas foram desprezadas na legenda em português, seja

pelo número de caracteres estipulado, ou mesmo pela sincronia com as imagens, à medida que

elas vão passando, mas o que sobremaneira não pode passar despercebido, é o fato de que

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estes elementos se desprezados, podem comprometer e muito, o processo de compreensão e

produção de sentido. Acrescenta-se a isso, o fato de que os expectadores esperam encontrar na

legendagem, uma correspondência fiel e natural do áudio, mas diversas vezes, como no caso

em questão, encontram divergências, quando não chegam ao extremo desse caso em que

sequer são traduzidos elementos essenciais.

Tomando-se em conta a tabela 8, e os dados por ela apresentados, notou-se que o

MDc, mais usual no filme foi omitido na legendagem, fato que se considerarmos a

importância desse marcador para o povo mexicano, é no mínimo intrigante, principalmente,

porque esse marcador, converteu-se numa marca popular para os personagens

cinematográficos, justamente por sua usualidade, e que curiosamente, os demais marcadores

também omitidos na legendagem, não foram catalogados por Zorraquino e Portolés, fator que

pode ter contribuído para esse tipo de tratamento dado aos marcadores presentes no filme, a

falta de catalogação deles por estudiosos do tema, daí salienta-se mais uma vez, a necessidade

de ampliar a lista desses marcadores, não só para dar suporte aos tradutores envolvidos no

processo de legendagem, por exemplo, mas também para dar uma devolutiva eficaz para os

expectadores.

4.3 ANÁLISE DOS DADOS

A apresentação dos casos em espanhol, língua de origem do texto, resultou 20 entradas

diferentes de marcadores discursivos conversacionais, num total de 219 aparições, como

anotado na tabela 9, a qual está organizada em ordem decrescente, quanto ao número de

entradas de cada marcador identificado no corpus analisado. A tabela também conta com a

classificação desses marcadores, de acordo com os estudos de Zorraquino y Portolés (1999), e

a estratégia pragmática associada a cada um deles. No que tange aos marcadores

conversacionais abaixo listados, que não foram catalogados pelos estudiosos, como expresso

na subseção anterior, aplicaram-se as definições de funções propostas por eles, para sua

análise e classificação, afim de verificar a que categoria cada um desses marcadores pertencia,

para daí poder confirmar se essas funções mantiveram-se inalteradas na versão traduzida do

filme para o português, ou se apresentavam limitações. A saber:

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Tabela 9-Tabela de marcadores conversacionais do corpus estudadoMARCADORES

CONVERSACIONAISCLASSIFICAÇÃO ENTRADAS

NO CORPUSESTRATÉGIA PRAGMÁTICA

GÜEY ALTERIDADE 33 Chamar atenção/proximidade relacional

¿VERDAD? ACEITAÇÃO 27 Solicitar confirmaçãoOYE ALTERIDADE 26 Chamar

atenção/proximidade relacional

BUENO METADISCURSIVO 21 Organizar o discurso/atrair atenção/conseguir tempo

PUES METADISCURSIVO 17 Organizar o discurso/atrair atenção/conseguir tempo

¿EH? ACEITAÇÃO 16 Solicitar confirmação¿NO? ACEITAÇÃO 15 Solicitar confirmação¿EN SERIO? ACEITAÇÃO 9 Solicitar confirmaçãoEH METADISCURSIVO 9 Organizar o

discurso/atrair atenção/conseguir tempo

MIRA ALTERIDADE 8 Chamar atenção/proximidade relacional

CLARO ACEITAÇÃO 8 Mostrar concordânciaAH METADISCURSIVO 8 Organizar o

discurso/atrair atenção/conseguir tempo

¿SÍ? ACEITAÇÃO 7 Solicitar confirmaçãoÓRALE ACEITAÇÃO 4 Mostrar concordância¿VALE? ACEITAÇÃO 4 Solicitar confirmaçãoEY ALTERIDADE 2 Chamar

atenção/proximidade relacional

BIEN EVIDENCIA 2 Apresentar grau de certeza/acordo ou colaboração

DE ACUERDO EVIDENCIA 1 Apresentar grau de certeza/acordo ou colaboração

¿SABES? ACEITAÇÃO 1 Solicitar confirmaçãoEFECTIVAMENTE ACEITAÇÃO 1 Mostrar concordânciaFonte: Elaborada pela autora.

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Um aspecto a ser salientado, refere-se a uma espécie de marcador base, encontrado no

corpus de LE analisado, em relação ao corpus em LP. Trata-se do IL “guey”. Notou-se que na

tradução automática do áudio e legendas (posteriormente consultadas com fins investigativos

do termo), há omissão dessa partícula discursiva, que marca tantas entradas no idioma

original. Por esse motivo criou-se um corpus em LP, que não desprezasse o real sentido desse

termo, que embora não exercesse nenhuma função na predicação oracional, está cheia de

significado e possui uma carga pragmática e usualidade impressionantes, para os falantes

nativos do espanhol do México, aparecendo com conotações positivas e/ou negativas a cada

vez, mas que, principalmente, assinalam cortesia na interação oral, tendo consigo, portanto,

um valor pragmático indispensável ao desenvolvimento da competência sociolinguística, por

sua vez, imprescindível a boa comunicação. O marcador conversacional guey, é próprio da

variedade mexicana, e está frequentemente na fala dos jovens, indicando camaradagem,

familiaridade no tratamento entre os falantes. Comunicativamente, no corpus analisado,

aparece 36 vezes, com as funções de enfatizar e/ou segmentar a informação, e indicar

confiança. De acordo com a classificação de Zorraquino y Portolés, 1999, apresentam-se

como marcadores conversacionais de alteridade, especialmente, chamando a atenção do

interlocutor, exceto nas linhas 212,213 e 273, em que aparece com uma conotação negativa, e

não figura como marcador.

Linhas em que o termo lexical “guey” aparece: 75, 179, 180, 212, 213, 216, 221, 240,

263, 265, 273, 274, 276, 277, 301, 315, 374, 382, 391, 420, 427, 469, 497, 501, 502, 512, 514,

519, 588, 592, 594, 755, 762, 773, 787, 878, 902, (Consultar texto bilíngue alinhado anexado

a este trabalho, para ver todos os casos) a exemplo de:

Outro marcador conversacional que enfoca alteridade, muito utilizado pelos

mexicanos para chamar a atenção de seus interlocutores, é o marcador “oye”. Esse termo

aparece 26 vezes, exercendo a função de captador de atenção no corpus observado, cujas

entradas verificam-se nas linhas: 50, 70, 137, 211, 271, 281, 291, 317, 422, 448, 462, 503,

508, 604, 685, 688, 699, 709, 755, 788, 789, 813, 815, 841, 894.

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Nessa mesma categoria, verificam-se no corpus estudado, a presença do marcador

“mira”, com 8 entradas, nas linhas: 53,84,260,344,416,432,713,775.

Ambos, observado o comportamento em seu idioma de origem, e as respectivas

equivalências em português, mostraram-se contínuos em significação, tendo sido preservado o

sentido primordial desses marcadores, a interação social, e a interdependência na

comunicação, daí a necessidade de ser ouvido, do chamar a atenção do outro, e assim,

diminuir a distância relacional entre os interlocutores. Com apenas duas aparições, registra-se

ainda, com a mesma funcionalidade, a partícula discursiva de interação oral, “ey”, nas linhas

367 e 691, não havendo divergência pragmática nos corpora LE e LP.

Outra classe de marcadores conversacionais, responsável por indicar o grau de certeza,

e expressar que o interlocutor, admite, confirma, consente ou não o que foi expresso, são os

chamados marcadores de evidencia, os quais, identificaram-se no corpus, como o IL “bien”, 2

entradas, linhas 129 e 669, similares no corpus analisado, e “de acuerdo”, uma entrada

correspondente, linha 81.

Com função semelhante, estão os marcadores conversacionais de aceitação, cuja

intenção é mostrar ou solicitar concordância, dentre os quais se identificaram nesse estudo,

“claro”, com 8 entradas, linhas: 88, 107, 145, 213, 565, 570, 842, 922, “efectivamente”, uma

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entrada, linha 227. No que se refere ao registro informal, ainda nessa categoria, registrou-se

no corpus de análise, o IL “órale”, com 4 entradas, nas linhas 423, 431, 493, 704.

Essa classe de marcadores, quando na função de solicitar concordância, apresenta-se

no corpus, com 6 entradas distintas, a saber: “verdad”, 27 vezes, nas linhas: 116, 194, 304,

315, 395, 402, 428, 442, 452, 463, 481, 485, 545, 558, 568, 579, 588, 606, 632, 674, 701, 759,

763, 777, 864, 911, 928, “eh”, linhas: 53, 198, 271, 281, 283, 343, 366, 442, 462, 517, 587,

636, 676, 757, 776, 806, “no”, nas linhas: 59, 85, 105, 194, 199, 265, 290, 441, 457, 464, 501,

632, 651, 666, 926, “sí”, nas linhas 124, 153, 278, 338, 581, 605, 614, “vale”, nas linhas:

333,356,367,416 e “sabes”, um registro, linha 251 e “en serio” 9 entradas, linhas

278,349,436,516,655.

Nos exemplos encontrados no corpus em LE, pertencentes a essa classe de

marcadores, notou-se que quando traduzidos ao português, suas propriedades pragmáticas, de

serem perguntas confirmatórias, permanecem intactas, uma vez que continuam a exercer o

controle de recepção da mensagem.

O marcador conversacional “bueno”, com 21 entradas, similares nos corpora

comparados, nas linhas: 22, 43, 146, 179, 189, 190, 248, 274, 392, 411, 434, 524, 536, 538,

553, 582, 589, 630, 736, 901, 904, figura como um marcador metadiscursivo, por sua

propriedade de organizar o discurso, de modo a atrair a atenção de seus interlocutores,

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indicando sua atitude com relação ao discurso, o que ocorre também em língua portuguesa,

tendo sido mantido, portanto, o componente pragmático.

Nessa categoria, registraram-se ainda 9 entradas para a partícula discursiva “eh”, nas

linhas: 205, 241, 246, 247, 285, 310, 581, 695, 826, “pues”, com 17 entradas, nas linhas: 176,

178, 185, 187, 220, 408, 409, 465, 545, 560, 630, 650, 652, 676, 763, 766, 909 e “ah”, 8

entradas, linhas 143,155,237,400,405,408,451,467.

Essas partículas são frequentemente utilizadas também, para ganhar tempo para

pensar no que ou como dizer.

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5.CONCLUSÃO

Os resultados deste estudo, evidenciaram que a presença dos MDc em espanhol,

identifica-se, principalmente, no discurso oral, e sua frequência depende do contexto e de sua

funcionalidade. Com o olhar voltado para os MDc do espanhol, encontrados no filme

mexicano “Me late chocolate”, verificou-se que os itens lexicais mais frequentes foram os

marcadores conversacionais “guey” e “oye”, ambos exercendo a mesma função de captadores

da atenção, classificando-se como marcadores conversacionais de alteridade, sendo o

primeiro, próprio da variedade mexicana da língua, e muito utilizado entre os jovens, pelo seu

caráter de identificação de grupo, e estreitador de laços. E em frequência similar, os usos de

“¿verdad?”, pregunta confirmatória fortemente utilizada, própria da função de solicitar

concordância dos marcadores discursivos conversacionais de aceitação, e “bueno”, MDc

metadiscursivo, ora utilizado nas mostras encontradas como captador de atenção, ora utilizado

como indicador de atitude em relação ao discurso. A isso, cabe acrescentar a variedade de

marcadores utilizada pelo povo mexicano, uma vez encontradas 20 entradas diferentes de

marcadores, num total de 219 aparições. Vale mencionar ainda, que esta análise baseou-se nos

estudos de Zorraquino y Portolés (1999), com um enfoque pragmático, para o uso desses

marcadores, e atenção especial ao tratamento dado a esse componente, quando/se traduzidos

ao português, questão fundamental em se tratando da compreensão efetiva da mensagem,

especialmente quando trata-se de estudantes de espanhol como segunda língua, da formação

de professores de espanhol como língua estrangeira, ou ainda da formação e exercício de

profissionais da tradução, motivo pelo qual o interesse sobre estas partículas discursivas

deve-se redobrar. Não é tímido o estudo realizado por estes estudiosos, mas esta pesquisa

parece nos deparar com a necessidade de novas pesquisas nesse campo, para ampliação desses

estudos, no tocante a abrangência da variedade da língua espanhola, bem como das funções

mutáveis de cada marcador, quanto ao contexto de uso. Consideradas estas implicações

teóricas, seria possível oferecer uma aplicação prática, desses materiais revisados e

ampliados, para o ensino-aprendizagem da língua espanhola, de maneira a não desprestigiar

nenhuma variedade da língua, e oferecer melhor suporte aos profissionais da tradução quando

tratarem desses termos, porque somente quando no processo de formação das áreas

especificadas, for dado o devido tratamento a esses imprescindíveis componentes discursivos,

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teremos opções de futuros aprofundamentos do campo de pesquisa, porque é papel da

Universidade, formar profissionais-pesquisadores, capazes de reconhecer as discussões

suscitadas por estudos antecedentes, mas sobretudo, reconhecer as lacunas que precisam ser

preenchidas com novas pesquisas, para fazer jus, às mudanças ao longo do tempo, no caso em

questão, as mudanças e avanços da língua, principal meio da expressividade e das relações

humanas, muitas vezes guiadas pelo nosso campo de estudo, os marcadores discursivo-

conversacionais.

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REFERÊNCIAS

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ANEXOS

ANEXO 1- Lista de palavras e frequência em espanhol

ANEXO 2- Lista de palavras e frequência em português

ANEXO 3- Texto bilíngue alinhado