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XIII SIMPÓSIO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA FÍSICA APLICADA
A DEGRADAÇÃO AMBIENTAL COMO CONSEQÜÊNCIA DO CRESCIMENTO URBANO SEM PLANEJAMENTO NO MUNICÍPIO DE
CALDAS NOVAS – GO
Eixo temático: PROBLEMAS SOCIOAMBIENTAIS URBANOS E RURAIS
Professor Carlos Alberto Biella Mestre em Geografia
Universidade Estadual de Goiás
Caldas Novas – GO
A DEGRADAÇÃO AMBIENTAL COMO CONSEQÜÊNCIA DO CRESCIMENTO URBANO SEM PLANEJAMENTO NO MUNICÍPIO DE CALDAS NOVAS – GO
Carlos Alberto Biella
UEG – Caldas Novas – GO [email protected]
1. INTRODUÇÃO
Os processos de ocupação do espaço pelo homem, em especial aqueles que levam à urbanização, na
maioria dos casos sem planejamento, acaba gerando conseqüências que podem ser detectadas ao
observarmos as condições relacionadas à destruição dos recursos naturais na maior parte das cidades
brasileiras. As áreas naturais foram sendo fragmentadas, cedendo espaço para as culturas agrícolas, as
pastagens e as cidades, muitas destas passando por acelerados processos de crescimento, na maioria,
sendo impactados pelos processos de urbanização e ocupação desordenada. A devastação dos recursos
naturais advindos com o processo de ocupação urbano interfere também na dinâmica das microbacias
hidrográficas urbanas tendo como principal conseqüência o desenvolvimento da erosão hídrica como
ravinas, voçorocas e erosão marginal, alem do desaparecimento das nascentes incluídas nestas regiões.
O constante aumento da área urbana de muitas cidades provoca a destruição de áreas naturais para a
implantação de novos loteamentos que se transformarão em bairros residenciais ou industriais.
Em vários aspectos o meio ambiente sofre as conseqüências da evolução tecnológica da raça humana,
que, se por um lado trouxe benefícios, por outro criou situações desfavoráveis, como no caso da
necessidade de abrigar um número cada vez maior de pessoas que nos leva a destruir áreas de
vegetação, promovendo uma constante diminuição das áreas naturais.
A região de Caldas Novas, como um bom exemplo de crescimento desordenado, sem critério e com
total falta de planejamento impulsionada pelo turismo em torno da utilização de um recurso natural, no
caso as águas termais, também passa por sérios problemas de ocupação do espaço, perda de áreas
naturais, contaminação do solo e das águas, impermeabilização do solo entre tantos outros problemas.
Graças a seu grande potencial hídrico termal, a região conhecida como o “maior manancial
hidrotermal do mundo” teve todo seu desenvolvimento ligado à exploração destas águas termais.
Caldas Novas mostra um crescente aumento populacional, com ocupação desordenada do solo e
precário sistema de saneamento básico, em especial no que diz respeito à destinação final dos resíduos
sólidos e a falta de um sistema de coleta e tratamento de esgoto urbano.
Todo o crescente interesse pela exploração das águas termais para fins turísticos motivou a indústria
imobiliária, fazendo com que a cidade passasse a sofrer uma ruptura com o meio ambiente, tendo
praticamente toda sua área urbana ocupada, culminando com poucos pontos de representação autentica
do Cerrado brasileiro.
1.1 Localização e caracterização da área de estudo
O município de Caldas Novas está situado na região sul do estado de Goiás, na micro-região do rio
Meia Ponte, ocupa uma área de aproximadamente de 1.590 Km², com cotas altimétricas que variam
entre 520 e 1043 metros. A Figura 01 mostra a localização de Caldas Novas que dista cerca de 170 km
da capital do estado de Goiás, Goiânia e 270 km de Brasília, fazendo divisa ao Norte com os
municípios de Piracanjuba, Santa Cruz de Goiás e Pires do Rio; ao Sul com Corumbaíba e Marzagão; à
Leste com Ipameri e à Oeste com Morrinhos e Rio Quente.
Figura 01 – Localização geográfica ilustrativa de Caldas Novas – GO (Biella, 2008)
Caldas Novas possui altitude variando entre 520 e 1043 metros, com predomínio do clima tropical
semi-úmido, com precipitação média anual entre 1.400 a 1.700mm, caracterizada pela existência de
Localização geográfica de Caldas Novas – GO
duas estações bem definidas: uma chuvosa, de setembro a abril, com temperaturas mais elevadas e
outra seca, de maio a agosto, com temperaturas mais amenas.
O município é parte integrante da bacia do Rio Paranaíba, sendo que os limites municipais são
formados pelos principais rios da região: Rio Piracanjuba na porção noroeste; Ribeirão do Bagre a
sudoeste; Rio do Peixe a nordeste e o Rio Corumbá, limitando o município de leste a sul e se
constituindo no principal curso d’água da região. Vários outros cursos d` água drenam o município,
entre os quais se destacam o Ribeirão Pirapitinga, afluente da margem direita do Rio Corumbá que
corta a porção centro norte do município e é a fonte de abastecimento de água da cidade de Caldas
Novas, captada pelo sistema público e o e Ribeirão Caldas que corta praticamente toda a área urbana
de Caldas Novas. Vale ressaltar que grande parte da área de recarga deste recurso hídrico termal
encontra-se na região do Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, que está inserido em quase sua
totalidade dentro dos limites do município de Caldas Novas, sendo que boa parte da bacia hidrográfica
urbana nasce na própria Serra de Caldas Novas, conforme mostra a Figura 02.
Figura 02 – Rede de drenagem e localização da Serra de Caldas Novas (Fonte: Geocaldas)
As águas subterrâneas da região se distribuem por aqüíferos rasos (lençol freático) e profundos, do tipo
fissural. Estas últimas apresentam enorme importância econômica devido a sua exploração para
balneabilidade, uma vez que apresentam um termalismo resultante da circulação profunda das águas
em sistemas hierarquizados de fraturas e demais descontinuidades do maciço rochoso, alcançando altas
temperaturas através do fenômeno chamado grau geotérmico (HAESBAERT; COSTA, 2000). O
fraturamento existente em Caldas Novas pode ser visto na Figura 03.
Figura 03 – Falhas e fraturas existentes em Caldas Novas, GO (Fonte: Geocaldas)
2. METODOLOGIA
O presente trabalho realizou-se através de um levantamento bibliográfico sobre a degradação
ambiental e também sobre Caldas Novas, além de levantamento de imagens de satélite e fotos aéreas
de diferentes anos, tomando-se o início dos anos 1960 como ponto de partida, analisando até os dias
atuais, baseando-se nas informações contidas nas imagens para detecção das áreas degradadas.
Foram também realizados trabalhos de campo para vistoriar as áreas de degradação bem como as áreas
preservadas, buscando deste modo montar um perfil do processo de degradação ambiental na região
onde se situa o município de Caldas Novas, visando demonstrar os diferentes processos de degradação
ambiental que se acumulam, provocados direta ou indiretamente pelo crescimento e urbanização sem
planejamento.
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
3.1 Ações antrópicas degradando o ambiente natural
Com relação à degradação ambiental provocada por ações antrópicas, Guerra e Marçal (2006) relatam:
O aumento dos problemas ambientais principalmente nos séculos XX e XXI, vem comprometendo o equilíbrio dos ecossistemas e a manutenção da diversidade biológica, promovendo o desaparecimento de ecossistemas inteiros para a implantação de áreas, num crescimento desordenado. (GUERRA: MARÇAL, 2006, pág. 99)
Esta degradação no ambiente promovida ou provocada por ações antrópicas não é uma discussão atual,
como pode ser observado no texto de Dorst (1973) que já relatava a impossibilidade da dissociação do
homem junto aos habitats ditos naturais:
Na realidade, pode-se constatar atualmente que o homem não pode ser dissociado dos habitats naturais, tomados em sua totalidade. Se se pretende salvar a natureza selvagem – ou pelo menos o que sobra dela –, só se atingirá o objetivo proposto integrando-a no teatro das atividades humanas. (DORST, 1973, pág. 333)
Desta forma, podemos constatar que a ação antrópica, em especial naqueles ambientes onde se
instalam os centros urbanos, provoca um grande reflexo nas estruturas naturais, resultando numa série
de danos ambientais, como o desaparecimento de áreas de vegetação nativa, extinção de nascentes,
mudanças em cursos de água, degradação do solo e das águas, entre tantos outros danos.
3.2 A ocupação do Cerrado
O termo domínio Cerrado refere-se a uma grande extensão região geográfica composta por um
complexo de formações vegetais que podem ter sido formadas em diferentes épocas, sendo o termo
bioma Cerrado utilizado para se referir a um conjunto mais homogêneo de vegetação onde pode haver
o predomínio de um tipo específico de vegetação (MACHADO, et al, 2004).
A área coberta pelo domínio Cerrado, segundo o IBGE abrange mais de 23 % do território nacional,
com mais de 2 milhões de km², localizando-se predominantemente no Planalto Central do Brasil e
constituindo-se na segunda maior formação vegetal brasileira, sendo a primeira a Floresta Amazônica.
Sua área engloba os estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rondônia, Goiás, Tocantins,
Maranhão, Piauí, Bahia, Minas Gerais, São Paulo e o Distrito Federal, conforme mostra a figura 04.
Figura 04 – Abrangência geográfica da área do domínio Cerrado no Brasil, em laranja (Adaptado de Machado
et al, 2004)
Considerando-se a região onde se localiza o município de Caldas Novas, a área central do Cerrado no
Brasil, de acordo com o IBGE (1993) ocupava uma área de aproximadamente 1.5 milhões de km², ou
pouco mais de 158 milhões de hectares, conforme mostra a figura 05.
Figura 05 – Área central do Cerrado no Brasil. Adaptado de IBGE (1993).
A diversidade de climas, solos e relevos existentes nessa extensa região brasileira, resultam no
domínio denominado Cerrado, com um mosaico de diferentes tipos de vegetação, reflexo de sua
heterogeneidade espacial.
O termo "cerrado" significa "fechado" ou “vegetação densa" e refletem uma combinação de diferentes
formações vegetais onde árvores e arbustos coexistem com uma vegetação rasteira formada
principalmente por gramíneas, formando um bioma característico de uma savana tropical.
A ocupação do Cerrado teve início no século XVIII com as bandeiras saindo da região sudeste do
Brasil em busca de riquezas minerais na região central brasileira, culminando com a abertura e
assentamento de povoados na região que vai de Cuiabá ao oeste de Goiás, onde foram encontrados
ouro e pedras preciosas. Entretanto, devido à exaustão das modestas reservas de minerais preciosos,
sua economia restringiu-se a uma agricultura de subsistência rudimentar e a uma extensiva pecuária
bovina, com uma população reduzida e dispersa. A região do Triângulo Mineiro e o sul de Goiás
somente passaram a ter assentamentos mais intensos na década de 1930, após a construção da ferrovia
ligando São Paulo à cidade goiana de Anápolis.
A expansão agrícola mais vigorosa só se verificou no início da década de 1950, com a construção de
Brasília e do sistema rodoviário ligando a nova capital ao restante do país, o que acabou estabelecendo
uma ocupação de uma área quase vazia, requerendo substanciais investimentos para a criação de
sistema de transporte para ligá-la ao Sudeste do Brasil. Assim, após a vinda dos bandeirantes, a
pecuária deu início ao processo de ocupação do Cerrado, o que passou a ter uma acentuação maior
após o advento de Brasília como capital nacional e mais recentemente com a expansão agrícola sobre a
área nativa de Cerrado.
A devastação do Cerrado, de acordo com Machado et al (2004), ocorrida no período de 1985 a 2002,
seria de aproximadamente 1,1% ao ano, o que representa uma perda anual de 2,2 milhões de hectares.
A figura 06 mostra as áreas de desmatamento na zona central do Cerrado brasileiro.
Figura 06 – Áreas desmatadas na parte central do Cerrado e os principais blocos remanescentes de vegetação
nativa. Adaptado de IBGE (2000).
3.3 Desenvolvimento da região de Caldas Novas
A ocupação da região de Caldas Novas teve seu início quando da descoberta das fontes termais, no
século XVIII, com as atividades exploratórias dos bandeirantes que, saindo da região sudeste visavam
desbravar o interior brasileiro, em especial as terras do Centro-Oeste brasileiro, em busca de suas
riquezas minerais. Em uma destas bandeiras, no ano de 1722, Bartolomeu Bueno da Silva Filho veio a
explorar os lados do que hoje conhecemos como Serra de Caldas Novas, onde encontrou um riacho
com algumas nascentes de águas quentes onde hoje se situa o complexo Resort Thermas Pousada do
Rio Quente, no município vizinho a Caldas Novas, Rio Quente.
Já no ano de 1777, outra bandeira, chefiada por Martinho Coelho de Siqueira acabou acidentalmente
descobrindo uma lagoa de águas quentes onde hoje se encontra o complexo aquático Lagoa Quente em
Caldas Novas. A partir de então, a urbanização de Caldas Novas deu inicio, com a construção de um
vilarejo que posteriormente emancipou-se em 1911 sob o nome de Caldas Novas.
Inicialmente explorando as propriedades tidas como terapêuticas destas águas quentes, a cidade foi
crescendo em ritmo lento, sendo que ao se tomar o rumo da exploração destas águas para fins de
turismo e lazer, especialmente no inicio dos anos 1980, o crescimento da zona urbana de Caldas Novas
acentuou-se de forma intensa, conforme mostrado anteriormente.
Este crescimento da exploração turística de Caldas Novas ativou o mercado imobiliário, o que
provocou o surgimento de numerosos loteamentos ampliando a zona urbana do município e trazendo
consigo alguns problemas em especial no que diz respeito ao saneamento publico, alem de aumentar a
captação de águas subterrâneas para os diversos empreendimentos turísticos que foram surgindo.
A retirada intensiva desta água subterrânea, especialmente após os anos 1980, quase promoveu um
colapso, com o incremento de perfurações de poços no perímetro urbano, levando à perda de pressão
do aqüífero termal que jorrava espontaneamente em alguns pontos. Com isto, as surgências naturais
termais no Córrego de Caldas, que corta a zona urbana e que serviram de local de banho no passado,
deixaram de existir. Esta retirada em excesso, sem que houvesse tempo de recarga do lençol, também
promoveu uma diminuição gradativa do nível do mesmo, conforme demonstra a figura 07 que mostra
um gráfico do nível do lençol termal medido mensalmente desde o final dos anos 1970 até abril de
2009, onde pode ser vista a diminuição do nível deste lençol especialmente nos anos 1990, culminando
com o nível de rebaixamento mais acentuado observado em 1996. O gráfico mostra também a
retomada gradativa do nível do lençol, atingindo níveis aproximadamente regulares após a implantação
do monitoramento pelo Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM).
Figura 07 – Variação no nível do lençol termal de Caldas Novas (AMAT, 2009)
Uma das práticas mais comuns que ocorre em Caldas Novas é o descarte das águas utilizadas nas
piscinas diretamente dentro dos corpos de água que cortam a cidade, como mostra a figura 08.
Figura 08 – Descarte de água proveniente de piscinas de clube em Caldas Novas, diretamente dentro do
Córrego Caldas (arquivo pessoal)
Este constante descarte de águas oriundas das piscinas somam-se ao diversos pontos de deposição de
esgotos domésticos principalmente nos córregos Caldas e Açude, conforme mostra a figura 09.
Figura 09 - Pontos de descarga de esgoto doméstico no Córrego do Açude em Caldas Novas, GO (arquivo
pessoal)
A degradação ambiental que ocorre principalmente no Córrego Caldas aparece praticamente, desde o
inicio de seu percurso, onde foram observados vários pontos de represamento de suas águas, destruição
das matas ciliares, construção de loteamentos e edificações sem a observância dos limites das áreas de
preservação permanentes (APPs), despejo de entulhos, despejo de efluentes e das águas de piscinas
oriundas de vários hotéis construídos próximos ao córrego. Vale ressaltar que a falta de planejamento
leva a deposição de lixo oriundo das vias pública, e especial na época das chuvas (meses de outubro a
março) que promove a deterioração das águas e acúmulo de material que pode provocar enchentes na
área central da cidade. O assoreamento em vários pontos também foi notado, em especial devido ao
desmatamento de suas margens e o acumulo de entulhos despejados (BIELLA, 2008).
Praticamente em toda a bacia hidrográfica urbana de Caldas Novas (Figura 10) são observadas
agressões ambientais, sendo as mais comuns a deposição de esgotos domésticos e lixo, desmatamento,
construções irregulares, assoreamento, erosões das margens, entre outros. As figuras 11 e 12 mostram
algumas destas agressões.
Figura 10 – Representação esquemática de parte da bacia hidrográfica urbana de Caldas Novas, GO.
Figura 11 – Deposição de material e erosão marginal no Córrego do Açude em Caldas Novas (arquivo pessoal)
Cor. Saia Velha Cor. do Açude
Cor. Aguão
Cor. Bicudo
Cor. Olhos d’água
Cor. Capão
Cor. Caldas
Cor. Caldas
Cor. Caldas
Cor. Caldas
Figura 12 – Acúmulo de lixo no Córrego Caldas em Caldas Novas (arquivo pessoal)
Um outro exemplo da degradação ambiental em Caldas Novas se deu com a implantação da barragem
no rio Corumbá, na região Sudeste do município, o que provocou o aparecimento do Lago de
Corumbá, o que, por um lado criou uma nova atração turística para o município, por outro provocou
uma extensa área alagada, chegando a 65 km² (conforme figura 13), além do surgimento de um grande
número de empreendimentos imobiliários que vem ocupando as margens do referido lago.
a b Figura 13 – Área alagada com a implantação da UHE Corumbá I (FURNAS)
a – 1986, antes da formação do Lago de Corumbá b – 2000, após a formação do Lago de Corumbá.
O crescimento urbano sem planejamento de Caldas Novas contabiliza um grande número de
loteamentos abertos em áreas naturais, muitos sem muita ocupação residencial, proporcionando um
grande número de lotes vagos, alguns servindo de deposito clandestino de resíduos diversos (figura 14)
ou como área de retirada de cascalho (figura 15), além da destruição de zonas de drenagem (figura 16),
em vários pontos do município.
Figura 14 – Deposição de resíduos diversos em área residencial em Caldas Novas (arquivo pessoal)
Figura 15 – Área de retirada de cascalho em Caldas Novas (arquivo pessoal)
Figura 16 – Área de drenagem cortada por rua em loteamento na zona urbana de Caldas Novas (arquivo pessoal)
A falta de planejamento e principalmente de fiscalização dos organismos competentes dão chance a
situações como o represamento e a criação de porcos no Córrego do Capão (Figura 17) e a nascente do
Córrego Aguão que se encontra dentro de uma residência construída em área de preservação (Figura
18)
Figura 17 – Represamento e criação de suínos no Córrego Capão em Caldas Novas (arquivo pessoal)
Figura 18 – Nascente do Córrego do Aguão localizada dentro de residência (arquivo pessoal)
O destino final dos resíduos sólidos urbanos encontra-se entre os grandes problemas para grande parte
dos municípios brasileiros, uma vez que a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (PNSB) realizada
em 2000 demonstrou que cerca de 63% dos municípios no Brasil utilizam a deposição a céu aberto
(lixão) como destinação final dos resíduos produzidos, o que promove uma gama de impactos
ambientais, além de impactos sociais e de saúde pública.
Com relação aos problemas ambientais que este tipo de deposição de resíduos urbanos acarreta,
podemos relacionar danos à atmosfera, solo, águas superficiais e subterrâneas. A atmosfera pode ser
afetada pelos odores que emanam dos processos resultantes da decomposição da matéria orgânica,
pelos gases que se formam neste processo e pela fumaça advinda da queima do lixo, prática muitas
vezes natural mas na maioria das ocasiões é provocada. O solo pode ser afetado pelas inúmeras
substâncias que são depositadas e pelos produtos de decomposição da matéria orgânica, além de
resíduos tóxicos como tintas, venenos, etc. As águas, de maneira especial sofrem danos sejam
diretamente pelo escoamento do chorume ou pelo despejo de material contaminante levados pelo vento
ou carregados pelas chuvas. Um problema que muitas vezes acontece é a infiltração do chorume
através do solo, atingindo as águas subterrâneas, muito utilizadas para abastecimento animal ou para
irrigação. O chorume é um produto da degradação da matéria orgânica presente no lixo urbano que
tem um alto poder de dissolução de resinas, tintas, pilhas e baterias e carregar consigo uma série de
microorganismos patogênicos e substâncias prejudiciais ao seres vivos de um modo geral.
Assim como a maioria das cidades brasileiras, Caldas Novas também apresenta deficiências no setor
de tratamento de seus resíduos, com seu depósito municipal de resíduos colocado em local não muito
adequado devido a questões de permeabilidade do solo e proximidade ao Córrego Fundo e a bairros
residenciais (BIELLA, 2008). A localização do deposito municipal de resíduos de Caldas Novas pode
ser conferida na figura 19 bem como a vala destinada a recepção dos resíduos que não apresenta
nenhum tipo de proteção do solo pode ser vista na figura 20.
Figura 19 – Localização do depósito municipal de resíduos sólidos de Caldas Novas (Haesbaert; Costa, 2000)
Fratura
Figura 20 – Vala para deposição dos resíduos sólidos urbanos em Caldas Novas, GO (arquivo pessoal)
Outra questão bastante preocupante no que diz respeito à degradação ambiental em Caldas Novas
encontra-se na deposição irregular dos resíduos da construção civil, o entulho, uma vez que não existe
nenhum critério quanto a seu tratamento nem tampouco quanto a um local específico para sua
destinação, o que tem ocasionado sua deposição em áreas erodidas (figura 21) ou em meio aos
inúmeros terrenos vagos existentes nos diversos loteamentos do município (figura 22)
Figura 21 – Deposição de entulho em área de erosão em Caldas Novas (arquivo pessoal)
Figura 22 – Deposição de entulho em loteamento em Caldas Novas (arquivo pessoal)
Muitas vezes a construção de obras de engenharia sem licenciamento acaba provocando alguns
problemas de degradação ambiental, como são os casos das barragens feitas em propriedades rurais,
muitas delas sem critério ou licenciamento, que acabam provocando problemas quando de seu
rompimento, conforme pode ser observado na figura 23.
Figura 23 – Barragem com problemas estruturais, encontrada em Caldas Novas, GO (arquivo pessoal)
Esta prática de construção de barragens sem fiscalização pode provocar sérios problemas ambientais,
levando, inclusive, a causar vítimas fatais quando ocorre a junção de irresponsabilidade, degradação
ambiental e fenômenos naturais como ocorreu em 17 de janeiro de 2005, quando o rompimento de um
bueiro na rodovia GO-213 na entrada de Caldas Novas acabou provocando a morte de três pessoas.
Neste acidente ocorreu uma junção de grande volume de chuva com a falta de revestimento vegetal
nativo nas margens do rio e o rompimento de uma barragem, promovendo um grande acúmulo de água
no bueiro existente na rodovia acabou levando toda a estrutura de aterro que sustentava a rodovia,
abrindo uma cratera onde caíram dois veículos provocando as mortes (BIELLA; COSTA, 2005).
Ainda com relação aos problemas do crescimento urbano sem planejamento, um bom exemplo é um
loteamento que praticamente cobre toda a área de drenagem de um contribuinte do Córrego do Açude,
inclusive com a abertura de via pública exatamente sobre a área, conforme mostra a figura 24.
Figura 24 – Loteamento cobrindo área de drenagem em Caldas Novas, GO (arquivo pessoal)
Entre tanta devastação ambiental alguns locais ainda guardam resquícios de vegetação nativa como
mostra a figura 25, locais estes que poderiam estar sendo preservados, criando áreas de proteção de
nascentes ou ate mesmo alguns parques municipais englobando estes pontos que ainda persistem em se
manter em suas condições naturais.
Figura 25 – Área de nascente urbana em Caldas Novas, com vegetação nativa (arquivo pessoal)
A figura 26 mostra uma área em que poderia ser implantado um parque municipal onde seriam
recuperadas as nascentes do Córrego do Açude, incluindo a área citada anteriormente na figura 24,
além da criação de um local para atividades de lazer para crianças e adultos, pista para caminhadas,
horto ou viveiro, centro cultural, entre outras atividades.
Figura 26 – Representação de área onde poderia ser implantado um parque municipal em Caldas Novas.
4. Conclusões
A crescente preocupação com a questão ambiental, não somente no Brasil, mas em todo o mundo, tem
promovido uma serie de discussões sobre os mais variados problemas causados pelos processos de
urbanização descontrolados, sobretudo nos países menos desenvolvidos, o que acaba gerando uma
variedade de problemas ambientais.
À medida que cresce a degradação ambiental movida por esta urbanização sem critérios, cresce
também a necessidade da busca de medidas para minimizar esta degradação, com especial atenção à
proteção ou recuperação especialmente dos fundos de vale, da Serra de Caldas Novas e de locais onde
existam fraturas podem evitar o comprometimento da recarga natural das águas termais.
Caldas Novas, por sua urbanização rápida e desordenada, desenvolveu vários problemas ambientais,
promovendo uma má ocupação do ambiente e quase levando ao esgotamento do seu maior recurso
econômico que é a água termal. Assim, o crescimento sem ordenamento que vem ocorrendo no
município de Caldas Novas tem contribuído para o aumento da degradação ambiental, em especial
dentro de sua zona urbana, ao longo de seu desenvolvimento como importante município no cenário
turístico nacional.
5. Referencias bibliográficas
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