26
XXV ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI - BRASÍLIA/DF PROCESSO, JURISDIÇÃO E EFETIVIDADE DA JUSTIÇA II MARCOS LEITE GARCIA MIGUEL KFOURI NETO ROGERIO LUIZ NERY DA SILVA

XXV ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI - BRASÍLIA/DF · do novo diploma processual cível. 12. ... A distribuição do ônus da prova no processo ... a extensão da benesse às custas

  • Upload
    lytuong

  • View
    213

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

XXV ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI - BRASIacuteLIADF

PROCESSO JURISDICcedilAtildeO E EFETIVIDADE DA JUSTICcedilA II

MARCOS LEITE GARCIA

MIGUEL KFOURI NETO

ROGERIO LUIZ NERY DA SILVA

Copyright copy 2016 Conselho Nacional de Pesquisa e Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito

Todos os direitos reservados e protegidos Nenhuma parte destes anais poderaacute ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios empregados sem preacutevia autorizaccedilatildeo dos editores

Diretoria ndash CONPEDI Presidente - Prof Dr Raymundo Juliano Feitosa ndash UNICAP Vice-presidente Sul - Prof Dr Ingo Wolfgang Sarlet ndash PUC - RS Vice-presidente Sudeste - Prof Dr Joatildeo Marcelo de Lima Assafim ndash UCAM Vice-presidente Nordeste - Profa Dra Maria dos Remeacutedios Fontes Silva ndash UFRN Vice-presidente NorteCentro - Profa Dra Julia Maurmann Ximenes ndash IDP Secretaacuterio Executivo - Prof Dr Orides Mezzaroba ndash UFSC Secretaacuterio Adjunto - Prof Dr Felipe Chiarello de Souza Pinto ndash Mackenzie

Representante Discente ndash Doutoranda Vivian de Almeida Gregori Torres ndash USP

Conselho Fiscal

Prof Msc Caio Augusto Souza Lara ndash ESDH Prof Dr Joseacute Querino Tavares Neto ndash UFGPUC PR Profa Dra Samyra Haydecirce Dal Farra Naspolini Sanches ndash UNINOVE

Prof Dr Lucas Gonccedilalves da Silva ndash UFS (suplente) Prof Dr Fernando Antonio de Carvalho Dantas ndash UFG (suplente)

Secretarias Relaccedilotildees Institucionais ndash Ministro Joseacute Barroso Filho ndash IDP

Prof Dr Liton Lanes Pilau Sobrinho ndash UPF

Educaccedilatildeo Juriacutedica ndash Prof Dr Horaacutecio Wanderlei Rodrigues ndash IMEDABEDi Eventos ndash Prof Dr Antocircnio Carlos Diniz Murta ndash FUMEC

Prof Dr Jose Luiz Quadros de Magalhaes ndash UFMG

Profa Dra Monica Herman Salem Caggiano ndash USP

Prof Dr Valter Moura do Carmo ndash UNIMAR

Profa Dra Viviane Coecirclho de Seacutellos Knoerr ndash UNICURITIBA

P963

Processo jurisdiccedilatildeo e efetividade da justiccedila II [Recurso eletrocircnico on-line] organizaccedilatildeo CONPEDIUnBUCBIDP

UDF

Coordenadores Marcos Leite Garcia Miguel Kfouri Neto Rogerio Luiz Nery Da Silva ndash Florianoacutepolis

CONPEDI 2016

Inclui bibliografia ISBN 978-85-5505-198-2

Modo de acesso wwwconpediorgbr em publicaccedilotildees

Tema DIREITO E DESIGUALDADES Diagnoacutesticos e Perspectivas para um Brasil Justo

1 Direito ndash Estudo e ensino (Poacutes-graduaccedilatildeo) ndash Brasil ndash Encontros 2 Processo 3 Jurisdiccedilatildeo 4 Efetividade da

Justiccedila I Encontro Nacional do CONPEDI (25 2016 Brasiacutelia DF)

CDU 34

________________________________________________________________________________________________

Florianoacutepolis ndash Santa Catarina ndash SC wwwconpediorgbr

Comunicaccedilatildeo ndash Prof Dr Matheus Felipe de Castro ndash UNOESC

XXV ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI - BRASIacuteLIADF

PROCESSO JURISDICcedilAtildeO E EFETIVIDADE DA JUSTICcedilA II

Apresentaccedilatildeo

O Conpedi acaba de realizar seu XXV Encontro Nacional como mais uma iniciativa de

estiacutemulo agraves atividades de intercacircmbio cientiacutefico entre os atores da Poacutes-graduaccedilatildeo em direito

no Brasil Coube-nos conduzir as apresentaccedilotildees referentes ao Grupo de Trabalho Processo

Jurisdiccedilatildeo e efetividade da Justiccedila II Os artigos dali decorrentes agora satildeo ofertados agrave

leitura segundo uma ordem loacutegica que prestigia tanto o aspecto principioloacutegico das

inovaccedilotildees operadas pelo Novo Coacutedigo de Processo Civil mas sobretudo dando especial

ecircnfase - como ponto de maior destaque das inovaccedilotildees - agrave adoccedilatildeo da doutrina do Precedente

Judicial Esperamos com isso proporcionar o acesso eficiente agraves novidades e novos olhares

sobre os avanccedilos do processo civil Para tanto recomenda-se a leitura pela ordem que se

segue

1 As normas fundamentais do novo CPC (lei 131052015) e o fenocircmeno de

constitucionalizaccedilatildeo do processo civil

2 Precedentes e argumentaccedilatildeo juriacutedica

3 Precedentes e novo cpc razatildeo argumentativa na consolidaccedilatildeo do estado democraacutetico via

direito judicial

4 O novo CPC e o sistema de precedentes (ldquocommonlizaccedilatildeordquo)

5 A aplicaccedilatildeo do precedente judicial contrastes com as suacutemulas vinculantes

6 A democratizaccedilatildeo do processo civil atraveacutes do sistema de precedentes o amicus curiae

como instrumento de participaccedilatildeo popular na formaccedilatildeo de precedentes vinculantes de grande

repercussatildeo social

7 Os modelos americano e inglecircs de vinculaccedilatildeo ao precedente

8 Breviacutessimas consideraccedilotildees a respeito do incidente de resoluccedilatildeo de demandas repetitivas

(IRDR)

9 Inovaccedilotildees e alteraccedilotildees do coacutedigo de processo civil e a manutenccedilatildeo do subjetivismo do

termo ldquoinsuficiecircncia de recursosrdquo para a concessatildeo da gratuidade de justiccedila

10 O princiacutepio da publicidade como medida essencial ao controle dos atos estatais

11 A contratualizaccedilatildeo do processo judicial anaacutelise principioloacutegica de sua efetividade agrave luz

do novo diploma processual ciacutevel

12 Novo CPC negoacutecios juriacutedicos processuais ou arbitragem

13 Algumas observaccedilotildees sobre os prazos processuais e o princiacutepio da seguranccedila juriacutedica no

novo coacutedigo de processo civil

14 O princiacutepio da cooperaccedilatildeo judiciaacuteria do novo coacutedigo de processo civil uma anaacutelise a

partir da proteccedilatildeo ao trabalhador frente ao instituto da recuperaccedilatildeo judicial

15 O direito agrave prova no processo civil sob uma perspectiva constitucional

16 A distribuiccedilatildeo do ocircnus da prova no processo coletivo ambiental

17 Toda decisatildeo seraacute motivada

18 O artigo 489 do novo coacutedigo de processo civil e a fundamentaccedilatildeo das decisotildees judiciais

na perspectiva dworkiniana

19 Fundamentaccedilatildeo das decisotildees e a superaccedilatildeo do livre convencimento motivado

20 Operaccedilotildees midiaacuteticas e processo penal o respeito aos direitos fundamentais como fator

legitimador da decisatildeo judicial na esfera penal

21 Tutelas diferenciadas instrumento de auxiacutelio agrave efetivaccedilatildeo da justiccedila

22 Desconstituiccedilatildeo do tiacutetulo executivo judicial fundado em norma declarada inconstitucional

pelo STF e a impugnaccedilatildeo do art 525 sect 12ordm do CPC

23 Teacutecnica procedimental e a audiecircncia de justificaccedilatildeo nos procedimentos possessoacuterios por

um contraditoacuterio dinacircmico

24 O mandado de seguranccedila coletivo e a proteccedilatildeo dos direitos difusos

Na esperanccedila de encontrarmos dias de maior efetividade processual e procedimental no

atendimento e na efetivaccedilatildeo dos direitos fundamentais desejamos uma excelente leitura

Professor-doutor Rogeacuterio Luiz Nery da Silva (UNOESC)

Professor-doutor Marcos Leite Garcia (UNIVALI)

Professor-doutor Miguel Kfouri Neto (UNICURITIBA)

INOVACcedilOtildeES E ALTERACcedilOtildeES DO COacuteDIGO DE PROCESSO CIVIL E A MANUTENCcedilAtildeO DO SUBJETIVISMO DO TERMO ldquoINSUFICIEcircNCIA DE

RECURSOSrdquo PARA A CONCESSAtildeO DA GRATUIDADE DE JUSTICcedilA

INNOVATIONS AND CHANGES OF PROCEDURE CIVIL CODE AND MAINTENANCE OF THE SUBJECTIVISM TERM RESOURCES INSUFFICIENT FOR GRANTING OF JUSTICE OF GRATUITY

Juliane Dziubate KreftaAline Fatima Morelatto

Resumo

O presente trabalho eacute voltado agrave anaacutelise da Gratuidade da Justiccedila como um importante

mecanismo de acesso agrave justiccedila Pretende abordar as novidades sobre a Gratuidade da Justiccedila

no atual Coacutedigo de Processo Civil recentemente alterado pela Lei nordm 131052015 trazendo

agrave tona importantes alteraccedilotildees que corrigiram a obsoleta Lei nordm 106050 Objetiva fazer uma

reflexatildeo a respeito do requisito para a concessatildeo do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila qual

seja a insuficiecircncia de recursos e o seu alto grau de subjetivismo pontuando algumas

questotildees positivas e negativas a ele relacionadas

Palavras-chave Acesso agrave justiccedila Gratuidade Alteraccedilotildees Inovaccedilotildees Insuficiecircncia de recursos Subjetivismo

AbstractResumenReacutesumeacute

This work is focused on the analysis of Gratuity of Justice as an important mechanism of

access to justice It aims to address the news about the Gratuity of Justice in the current Civil

Procedure Code recently amended by Law nordm 131052015 bringing out important changes

that fixed the obsolete Law nordm 106050 Aims to reflect about the requirement for granting

the benefit of free justice namely the lack of resources and its high degree of subjectivity

emphasizing some positive and negative issues related to it

KeywordsPalabras-clavesMots-cleacutes Justice acess Gratuity Change Innovations Insufficient resources Subjectivism

156

INTRODUCcedilAtildeO

O presente artigo tem o desiderato de fazer uma reflexatildeo acerca do instituto da

Gratuidade da Justiccedila e as alteraccedilotildees promovidas pela Lei nordm 131052015 no atual Coacutedigo de

Processo Civil partindo da premissa de que eacute um importante instrumento de efetivaccedilatildeo dos

direitos fundamentais notadamente o direito ao acesso agrave justiccedila

O regramento sobre a Gratuidade da Justiccedila sofreu mudanccedilas significativas no

Coacutedigo de Processo Civil corrigindo vaacuterias distorccedilotildees e lacunas da decreacutepita Lei nordm 106050

que tratava sobre o assunto e que haacute tempos estava sendo plasmada pela jurisprudecircncia

A correccedilatildeo terminoloacutegica (gratuidade da justiccedila) a expressa previsatildeo de que a

pessoa juriacutedica tambeacutem pode figurar como beneficiaacuteria a extensatildeo da benesse agraves custas e aos

emolumentos dos notaacuterios e registradores satildeo algumas das vaacuterias alteraccedilotildees a respeito do

instituto preconizadas no Coacutedigo de Processo Civil

De outro lado malgrado o Coacutedigo de Processo Civil tenha inovado um pouco a

nominaccedilatildeo do requisito para a concessatildeo do benefiacutecio passando a simplesmente exigir a

alegaccedilatildeo da insuficiecircncia de recursos manteve a sua natureza subjetiva natildeo revelando

qualquer criteacuterio objetivo para elucidaacute-lo

Sobre esse aspecto o presente trabalho engendra um debate para saber se o

legislador caminhou ou natildeo bem expondo os pontos positivos e negativos quanto ao

indeterminismo do pressuposto insuficiecircncia de recursos e refletindo a respeito de suas

consequecircncias no mundo juriacutedico ndash principalmente a reaccedilatildeo da jurisprudecircncia ndash e tambeacutem na

sociedade tendo como metodologia acolhida a bibliograacutefica

1 O ACESSO Agrave JUSTICcedilA OS DIREITOS FUNDAMENTAIS E A

GRATUIDADE DE JUSTICcedilA ndash PRELIMINAR E INDISSOCIAacuteVEL

COMPREENSAtildeO

O direito agrave gratuidade da justiccedila eacute um direito fundamental do jurisdicionado (e natildeo

um simples benefiacutecio) A Constituiccedilatildeo Federal em seu artigo 5ordm LXXIV prevecirc que ldquoo Estado

prestaraacute assistecircncia juriacutedica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiecircncia de

recursosrdquo Ele tem o desiderato de evitar que a insuficiecircncia de recursos financeiros

represente um obstaacuteculo insuperaacutevel ao acesso agrave justiccedila1

1 Art 5ordm XXXV CF A lei natildeo excluiraacute da apreciaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio lesatildeo ou ameaccedila a direito

157

A justiccedila deve estar ao alcance de todos2 ricos e pobres competindo ao Estado ndash na

sua atuaccedilatildeo positiva ndash como seu gestor3 garantir que a pessoa de parcos recursos financeiros

tenha condiccedilotildees de acionar o Poder Judiciaacuterio da mesma forma que o afortunado

Como afirma Boaventura de Souza Santos ldquoo tema do acesso agrave justiccedila eacute aquele que

mais diretamente equaciona as relaccedilotildees entre o processo civil e a justiccedila social entre

igualdade juriacutedico-formal e desigualdade socioeconocircmicardquo (2003 p167)

Para Cappelletti e Garth uma das finalidades do termo acesso agrave justiccedila eacute determinar

que o sistema juriacutedico fosse igualmente acessiacutevel a todos e reafirmam a importacircncia de sua

efetividade

De fato o direito ao acesso efetivo tem sido progressivamente reconhecido como sendo de importacircncia capital entre os novos individuais sociais uma vez que a titularidade de direitos eacute destituiacuteda de sentidos na ausecircncia de mecanismos para sua efetiva reivindicaccedilatildeo O acesso agrave Justiccedila pode portanto ser encarado como requisito fundamental ndash o mais baacutesico dos direitos humanos ndash de um sistema juriacutedico moderno e igualitaacuterio que pretenda garantir e natildeo apenas proclamar os direitos de todos (2002 p 4)

Os referidos autores identificam vaacuterios oacutebices ao acesso agrave justiccedila ndash entre elas as

desigualdades socioeconocircmicas ndash e sequencialmente propotildeem soluccedilotildees praacuteticas ao

problema emergindo como primeira a assistecircncia judiciaacuteria ao que eles denominaram de

ldquoprimeira ondardquo (CAPPELLETI GARTH 2002 p 6-12)

Nesse vieacutes a gratuidade da justiccedila ndash natildeo tecendo nesse primeiro momento qualquer

consideraccedilatildeo acerca das distinccedilotildees terminoloacutegicas ndash eclode com um importante mecanismo

viabilizador do acesso agrave justiccedila e tem a preciacutepua finalidade de dar efetividade a outros direitos

fundamentais constitucionalmente previstos como a igualdade (art 5 caput CF) a cidadania

(art 1ordm inciso II CF) e a proacutepria dignidade da pessoa humana (art 1ordm inciso III CF)

2 Eacute o que Emeteacuterio Silva e Juvecircncio Vasconcelos chamam de universalizaccedilatildeo ou horizontalizaccedilatildeo do acesso agrave justiccedila ensinando que ldquoHorizontalizar eacute fazer com que agrave todas as pessoas (pobres ou ricas) sejam assegurados os mesmos meios de acesso agrave justiccedila Eacute promover a isonomia ou seja a igualdade na e perante a lei pois esta lsquonatildeo deve ser fonte de privileacutegios ou perseguiccedilotildees mas instrumento regulador da vida social que necessita tratar equitativamente todos os cidadatildeosrsquo (BANDEIRA DE MELLO 2013 p 10) Com efeito o acesso agrave justiccedila nos termos do artigo 60 sect 4ordm inciso IV da Carta de 88 eacute claacuteusula peacutetrea e por estaacute alccedilado agrave categoria hieraacuterquica superior natildeo pode sofrer menoscabos o que exclui possiacuteveis discriminaccedilotildees arbitraacuterias entre as pessoas quando da execuccedilatildeo desta garantia fundamental Assim considerando a forccedila normativa da constituiccedilatildeo23 portanto das normas de direitos e garantias nela previstas a universalizaccedilatildeo do acesso agrave justiccedila aliada a efetividade da tutela jurisdicional ou dos meios assecuratoacuterios de direitos fomentadores da justiccedila social avultam imprescindiacuteveis (NETO Emeteacuterio Silva de Oliveira VIANA Juvecircncio Vasconcelos Acesso agrave justiccedila e o novo Coacutedigo de Processo Civil um olhar criacutetico In Acesso agrave justiccedila (recurso eletrocircnico on-line) Florianoacutepolis CONPEDIUFSC 2015 p 186 3 A jurisdiccedilatildeo eacute monopoacutelio do Estado proibindo a lei que as pessoas faccedilam justiccedila com as proacuteprias matildeos salvo raras exceccedilotildees como por exemplo as hipoacuteteses de autotutela ndash arts 1210 e 1219 do Coacutedigo Civil

158

Agrave medida que se busca a efetividade dos direitos fundamentais o direito processual

passa a ter um importante papel nessa missatildeo4 pois eacute ele quem indica qual eacute o (melhor)

caminho para se alcanccedilar o direito material sob essa perspectiva vecirc-se a necessidade de

atualizaccedilatildeo da lei processual a fim de se adequar as exigecircncias da sociedade moderna

A uacutenica lei que regulamentava o benefiacutecio da justiccedila gratuita data de 1950 eacute uma lei

natildeo soacute defasada do ponto de vista material e processual como tambeacutem dotada de

imperfeiccedilotildees teacutecnicas e entraves agrave concessatildeo do benefiacutecio Era preciso simplificar e

desmistificar para entatildeo avanccedilar ndash pelo menos um degrau ndash na universalizaccedilatildeo do acesso agrave

justiccedila e a Lei nordm 131052015 que alterou o Coacutedigo de Processo Civil (CPC) o fez

O autor Luiz Dellore (2015) ao tecer elogios ao legislador diz que ldquoas inovaccedilotildees do

CPC simplificam o procedimento buscam evitar abuso dos requentes da gratuidade e

especialmente pretendem obstar debates laterais e incidentes para que se possa focar na

discussatildeo do meacuteritordquo

2 O COacuteDIGO DE PROCESSO CIVIL EM VIGOR E AS INOVACcedilOtildeES

RELATIVAS Agrave GRATUIDADE DE JUSTICcedilA

A atualmente (e corretamente) nominada gratuidade da justiccedila foi profundamente

reformulada pelo Coacutedigo de Processo Civil As mudanccedilas satildeo muito significativas o Coacutedigo

consolidou o assunto em seis dispositivos do artigo 98 ao artigo 102 aleacutem do que revogou

expressamente vaacuterios artigos da Lei nordm 106050 (arts 2ordm 3ordm 4ordm 6ordm 7ordm 11 12 e 17)

Considerando isso o artigo pontuaraacute as alteraccedilotildees legitimadas

21Terminologia

O Coacutedigo corrigiu os equiacutevocos praticados quanto agrave terminologia que redundavam

em incompreensotildees acerca do tema Natildeo se pode confundir assistecircncia judiciaacuteria gratuita

gratuidade da justiccedila (justiccedila gratuita) e assistecircncia juriacutedica integral e gratuita

A assistecircncia judiciaacuteria gratuita consiste no patrociacutenio gratuito da causa seja por

advogado do Estado entidades conveniadas com o Estado escritoacuterios de praacutetica juriacutedica das

faculdades de Direito ou mesmo advogados particulares nomeados como dativos Jaacute a

gratuidade da justiccedila traduz-se na isenccedilatildeo para o adiantamento das custas do processo Por

4 O processo natildeo deveria ser colocado no vaacutecuo Os juiacutezes precisam agora reconhecer que as teacutecnicas processuais servem a questotildees sociais [] o lsquoacessorsquo natildeo eacute apenas um direito social fundamental crescentemente reconhecido ele eacute tambeacutem necessariamente o ponto central da moderna processualiacutestica CAPPELLETTI Mauro GARTH Bryant Acesso agrave justiccedila Trad Ellen Gracie Northfleet Porto Alegre Seacutergio Fabris Editor 2002 p 5

159

sua vez a assistecircncia juriacutedica integral e gratuita engloba aleacutem da representaccedilatildeo do

hipossuficiente em juiacutezo a orientaccedilatildeo juriacutedica dele em questotildees extrajudiciais (TARTUCE

DELLORE 2014 p 308 e 309)

Preconiza Rafael Alexandria de Oliveira

Eacute comum a confusatildeo quanto aos conceitos de benefiacutecio da justiccedila gratuita (ou da gratuidade da justiccedila ou ainda da gratuidade judiciaacuteria) de assistecircncia judiciaacuteria e de assistecircncia juriacutedica Todos eles decorrem do direito fundamental agrave assistecircncia juriacutedica integral e gratuita de que trata o art 5ordm LXXIV da CF1988 mas natildeo se confundem Pontes de Miranda (a) benefiacutecio da justiccedila gratuita eacute como jaacute dito a dispensa do adiantamento de despesas processuais para o qual se exige a tramitaccedilatildeo de um processo judicial o requerimento da parte interessada e o deferimento do juiacutezo perante o qual o processo tramita (b) assistecircncia judiciaacuteria consiste no direito de a parte ser assistida gratuitamente por um profissional do Direito normalmente membro da Defensoria Puacuteblica da Uniatildeo do Estados ou do Distrito Federal e que natildeo depende do deferimento do juiacutezo nem mesmo da existecircncia de um processo judicial (c) assistecircncia juriacutedica eacute um conceito mais amplo que abrange o benefiacutecio da justiccedila gratuita e a assistecircncia judiciaacuteria mas vai aleacutem deles englobando todas as iniciativas do Estado (em sentido amplo) que tecircm por objetivo promover uma aproximaccedilatildeo entre a sociedade e os serviccedilos juriacutedicos ndash como por exemplo as campanhas de conscientizaccedilatildeo de direitos do consumidor promovidas por oacutergatildeos administrativos e os serviccedilos juriacutedicos itinerantes prestados agrave populaccedilatildeo carente (2015 p 355)

Semelhantemente Augusto Tavares Rosa Marcacini desenvolve um conceito

distinguindo os institutos da assistecircncia judiciaacuteria justiccedila gratuita e a assistecircncia juriacutedica

integral e gratuita

A Constituiccedilatildeo Federal de 1988 em seu artigo 5ordm inciso LXXIV inclui entre os direitos e garantias individuais a assistecircncia juriacutedica integral e gratuita Utiliza a Lei Maior um terceiro conceito que tambeacutem natildeo deve ser confundido como sinocircnimo de assistecircncia judiciaacuteria ou justiccedila gratuita Por justiccedila gratuita deve ser entendida a gratuidade de todas as causas e despesas judiciais ou natildeo relativas a atos necessaacuterios ao desenvolvimento do processo e agrave defesa dos direitos do beneficiaacuterio em juiacutezo O benefiacutecio da justiccedila gratuita compreende a isenccedilatildeo de toda e qualquer despesa necessaacuteria ao pleno exerciacutecio dos direitos e das faculdades processuais sejam tais despesas judiciais ou natildeo Abrange assim natildeo somente as custas relativas aos atos processuais a serem praticados como tambeacutem todas as despesas decorrentes de efetiva participaccedilatildeo na relaccedilatildeo processual A assistecircncia judiciaacuteria envolve o patrociacutenio gratuito da causa por advogado A assistecircncia judiciaacuteria eacute pois um serviccedilo puacuteblico organizado consistente na defesa em juiacutezo do assistido que deve ser oferecido pelo Estado mas que pode ser desempenhado por entidades natildeo-estatais conveniadas ou natildeo com o Poder Puacuteblico [] Por sua vez a assistecircncia juriacutedica engloba a assistecircncia judiciaacuteria sendo ainda mais ampla que esta por envolver tambeacutem serviccedilos juriacutedicos natildeo relacionados ao processo tais como orientaccedilotildees individuais ou coletivas o esclarecimento de duacutevidas e mesmo um programa de informaccedilatildeo a toda a comunidade (2009 p 40-43)

O Coacutedigo de Processo Civil ao usar o termo teacutecnico gratuidade da justiccedila

acertadamente corrigiu as distorccedilotildees terminoloacutegicas afastando qualquer possibilidade de

160

confusatildeo que se possa fazer com a assistecircncia judiciaacuteria gratuita e a assistecircncia juriacutedica

integral e gratuita

22 Beneficiaacuterios

De acordo com a legislaccedilatildeo processual em vigor podem ser beneficiaacuterios da justiccedila

gratuita a pessoa natural ou juriacutedica brasileira ou estrangeira

A redaccedilatildeo do Coacutedigo de Processo Civil encerrou uma discussatildeo histoacuterica pontuada

jurisprudencialmente pelo STJ e agora reconhecida legislativamente ao prever (art 98

caput) que a pessoa juriacutedica tem direito ao benefiacutecio da gratuidade da justiccedila

Para que a pessoa juriacutedica seja beneficiada com a gratuidade da justiccedila natildeo basta a

mera declaraccedilatildeo devendo demonstrar que efetivamente necessita do benefiacutecio

independentemente de ter ou natildeo finalidade lucrativa (MEDINA 2015 p 190)

Natildeo obstante a utilizaccedilatildeo do termo ldquopessoardquo entende-se que o benefiacutecio pode ser

gozado pelos entes despersonalizados como por exemplo o condomiacutenio a massa falida etc

(OLIVEIRA 2015 p 357-358)

Aleacutem disso o art 98 estende o benefiacutecio da justiccedila gratuita aos estrangeiros sejam

eles residentes ou natildeo no paiacutes diferentemente do que traz o caput do art 5ordm da CF88 que em

relaccedilatildeo agrave generalidade dos direitos fundamentais engloba apenas os estrangeiros residentes no

paiacutes (NERY JUNIOR NERY 2015 p 472)

23 Pressupostos

A letra do Coacutedigo de Processo Civil alterou o aspecto objetivo para a concessatildeo do

benefiacutecio passando a constar apenas a ldquoinsuficiecircncia de recursos financeirosrdquo para o

adiantamento das custas natildeo mais se exige a situaccedilatildeo de miserabilidade da parte requerente

como tambeacutem se aboliu o uso da expressatildeo ldquoa parte natildeo pode arcar com as custas sem

prejuiacutezo do sustento proacuteprio ou da famiacuteliardquo

Para que se conceda o benefiacutecio haacute uma presunccedilatildeo iuris tantum de veracidade da

declaraccedilatildeo feita pela parte pessoa natural mas soacute com relaccedilatildeo agrave pessoa natural a pessoa

juriacutedica deve comprovar a impossibilidade de adiantar as custas

Apesar desta mudanccedila de paradigma a lei natildeo dispocircs de forma suficientemente clara

o que significa ldquoinsuficiecircncia de recursosrdquo e quais seriam os seus paracircmetros miacutenimos

deixando mais uma vez ao encargo do inteacuterprete a funccedilatildeo de aquilatar se o requerente faz jus

ou natildeo agrave benesse o que certamente continuaraacute acarretando distorccedilotildees e inseguranccedila juriacutedica

161

O subjetivismo da expressatildeo seraacute mais bem aprofundado no toacutepico seguinte mesmo

porque a sua discussatildeo constituiu um dos pilares do presente artigo

24 Abrangecircncia

A Lei da Assistecircncia Judiciaacuteria previa em seu artigo 3ordm quais seriam as despesas

processuais compreendidas pelo benefiacutecio da justiccedila gratuita e nesse aspecto a norma era

satisfatoacuteria entatildeo o Coacutedigo de Processo Civil manteve o que tinha na Lei nordm 106050 e

avanccedilou como por exemplo no tocante agrave previsatildeo da remuneraccedilatildeo do inteacuterprete e do

tradutor bem como na realizaccedilatildeo de memoacuteria de caacutelculo pelo contador para fins de execuccedilatildeo

entre outros

O art 98 sect1ordm do Coacutedigo em vigecircncia tratou de exemplificativamente discriminar as

despesas processuais que podem ser compreendidas pela gratuidade da justiccedila algumas delas

jaacute previstas no art 3ordm da Lei nordm 106050 agora expressamente revogado

O beneficiaacuterio estaacute dispensado de adiantar o pagamento de taxas ou custas judiciaacuterias

(inciso I) O CPC foi redundante ao prever taxas e custas mormente porque tais despesas tem

o mesmo significado elas ldquodesignam o valor que se deve pagar ao Estado pela prestaccedilatildeo do

serviccedilo judiciaacuterio Tecircm natureza juriacutedica tributaacuteria constituindo-se numa taxa [] a

concessatildeo do beneficio natildeo constitui isenccedilatildeo tributaacuteria visto que natildeo dispensa o pagamento

em si mas sim o adiantamento da verbardquo (OLIVEIRA 2015 p 359)

As despesas com postagens de qualquer natureza e com publicaccedilatildeo na imprensa

oficial tambeacutem satildeo abrangidas pelo benefiacutecio da justiccedila gratuita (incisos II e III)

O benefiacutecio engloba tambeacutem as indenizaccedilotildees de testemunhas (inciso IV) tanto os

custos com a viagem para depor em juiacutezo quanto agraves relativas ao dia de trabalho ganho e natildeo

trabalhado que deve ser paga ao empregador (NERY JUNIOR NERY 2015 p 472)

As despesas com realizaccedilatildeo do exame de DNA (inciso V) tambeacutem satildeo albergadas

pelo benefiacutecio da gratuidade da justiccedila Aliaacutes o Coacutedigo de Processo Civil inovou em relaccedilatildeo agrave

Lei da Assistecircncia Judiciaacuteria Gratuita incluindo neste inciso outros exames periciais

considerados essenciais

Os honoraacuterios do advogado e do perito a remuneraccedilatildeo do inteacuterprete tradutor e

contador e todos os terceiros que de alguma forma contribuem para o Poder Judiciaacuterio

(inciso VI e VII) estatildeo cobertos pela benesse da gratuidade

Importante destacar que o afastamento da responsabilidade pelo adiantamento das

custas dos honoraacuterios advocatiacutecios natildeo se refere aos honoraacuterios de sucumbecircncia devidos pelo

162

beneficiaacuterio ao advogado da parte contraacuteria nos termos do sect2ordm do artigo 98 mas tatildeo somente

os honoraacuterios devidos ao seu proacuteprio advogado quando este eacute nomeado pelo juiz ou seja o

defensor dativo (OLIVEIRA 2015 p 361)

O art 95 sect3ordm do Coacutedigo Processual Civil normatiza a respeito do custeio da periacutecia

(inclusive honoraacuterios) na hipoacutetese de o responsaacutevel pelo pagamento de tal despesa ser

beneficiaacuterio da justiccedila gratuita Dispotildee o paraacutegrafo que nessa hipoacutetese a periacutecia seraacute

realizada preferencialmente por um servidor do Poder Judiciaacuterio ou por oacutergatildeo conveniado e

subsidiariamente por particular Em ambos os casos os honoraacuterios seratildeo custeados com

recursos do orccedilamento do ente puacuteblico respectivo ndash Uniatildeo e Estado ou Distrito Federal

Ainda possibilita a legislaccedilatildeo processual civil que a Fazenda Puacuteblica recobre o

valor despendido a tiacutetulo de honoraacuterios periciais daquele que for condenado ao pagamento de

tais verbas (art 95 sect4ordm CPC) no caso de ser a parte vencida beneficiaacuteria da gratuidade da

justiccedila o ente puacuteblico deve observar as regras pertinentes agrave sucumbecircncia e a exigibilidade sob

condiccedilatildeo suspensiva previstas nos paraacutegrafos sectsect2ordm e 3ordm do art 98 Mas em nenhuma hipoacutetese

transferir tal ocircnus a outra parte natildeo beneficiaacuteria

Tambeacutem estatildeo incluiacutedos no conceito de gratuidade da justiccedila os depoacutesitos devidos

para interposiccedilatildeo de recurso propositura de accedilatildeo e para a praacutetica de outros atos processuais

inerentes ao exerciacutecio da ampla defesa e do contraditoacuterio (inciso VIII) esse dispositivo acaba

por servir como uma claacuteusula geral incluindo todas aquelas despesas natildeo arroladas nos

incisos anteriores e que por estarem intrinsicamente relacionadas ao exerciacutecio do

contraditoacuterio e da ampla devem ser afastadas

Por fim e natildeo menos importante trouxe uma importante inovaccedilatildeo incluindo os

emolumentos dos registradores e notaacuterios relativos a atos de averbaccedilatildeo e registro decorrentes

de processo judicial em que houve a concessatildeo do benefiacutecio da gratuidade (inciso IX)

O Coacutedigo de Processo Civil estendeu para o acircmbito extrajudicial o benefiacutecio da

gratuidade da justiccedila concedido judicialmente garantindo-se assim a prestaccedilatildeo jurisdicional

em sua inteireza

Outrossim o sect 8ordm do artigo 98 preconiza que se o tabeliatildeo ou registrador no

momento da realizaccedilatildeo do ato cartorial tiver duacutevida fundada quanto ao preenchimento dos

pressupostos para a concessatildeo da justiccedila gratuita ndash ou seja insuficiecircncia de recursos ndash pode

requerer ao juiacutezo competente para decidir questotildees notariais ou registrais (competecircncia do

juiz corregedor dos cartoacuterios extrajudiciais) que revogue a gratuidade ou permita o

parcelamento dos valores devido (DELLORE 2015)

163

Esse paraacutegrafo deu ensejo a algumas criacuteticas para Luiz Dellore o questionamento

judicial acerca da capacidade financeira da parte para arcar com as despesas notariais e

registrais

[] natildeo parece ser uma atividade jurisdicional mas administrativa em analogia agrave lsquosuscitaccedilatildeo de duacutevidarsquo hoje existente Trata-se de uma esdruacutexula inovaccedilatildeo que traz ainda mais temas para decisatildeo do Poder Judiciaacuterio Assim aleacutem de todas as questotildees que o juiz deve decidir teraacute ainda de apreciar se uma parte de um processo jaacute findo ainda tem ou natildeo dificuldades financeiras para fins de pagamento de taxas de cartoacuterio (2015)

Ainda no que tange a abrangecircncia do benefiacutecio impende destacar que as multas

processuais de qualquer natureza ndash como por exemplo as multas por litigacircncia de maacute-feacute e por

ato atentatoacuterio a dignidade da justiccedila ndash natildeo estatildeo abarcadas pela gratuidade da justiccedila pois

elas satildeo puniccedilotildees a comportamentos iliacutecitos ldquoE natildeo poderia ser diferente a gratuidade da

justiccedila natildeo pode servir como escudo para a procrastinaccedilatildeo e a litigacircncia de maacute-feacute Daiacute a razatildeo

pela qual o beneficiaacuterio da justiccedila gratuita deve ser executado normalmente em relaccedilatildeo a

elesrdquo (NERY JUNIOR NERY 2015 p 474)

25 Modulaccedilatildeo do benefiacutecio

Outra importante novidade trazida pela Lei nordm 1310515 foi a possibilidade do juiz

modular os efeitos do benefiacutecio abrangendo apenas alguns dos custos do processo ou mesmo

parcelar as despesas processuais (art 98 sectsect5ordm e 6ordm CPC)

Tal medida eacute interessante ao passo que o postulante pode ter condiccedilotildees financeiras

de arcar apenas com algumas despesas processuais como por exemplo as custas e taxas

todavia natildeo dispor de recursos para pagar os honoraacuterios periciais por exemplo Ainda ao

longo do processo pode sobrevir mudanccedila na condiccedilatildeo financeira da parte e ela passar por

dificuldades para custear as despesas processuais nesse ponto o juiz poderaacute conceder-lhe os

benefiacutecios a partir de tal momento

A possibilidade de parcelamento das despesas processuais sugere que o legislador

quis dizer que a concessatildeo da gratuidade da justiccedila eacute a uacuteltima opccedilatildeo sendo possiacutevel agrave parte

arcar com as despesas de forma parcelada o juiz deve optar pelo seu seccionamento e natildeo a

sua dispensa (NERY JUNIOR NERY 2015 p 474)

26 Responsabilidade do beneficiaacuterio

A gratuidade da justiccedila como jaacute dito eacute um instrumento do acesso agrave justiccedila daqueles

que se declaram financeiramente desprovidos de condiccedilotildees de custear o processo Isso

164

significa que se o beneficiaacuterio for perdedor em uma demanda ele seraacute igualmente responsaacutevel

pelo pagamento do ocircnus inerente a sua derrota a diferenccedila reside no fato de poder exigir ou

natildeo a sua cobranccedila

Se o beneficiaacuterio for vencido ele teraacute responsabilidade pelas despesas processuais

ele deveraacute reembolsar os gastos realizados pela outra parte seraacute condenado agraves verbas

sucumbenciais ficando todavia sob condiccedilatildeo suspensiva de exigibilidade podendo ser

cobradas pelo credor no prazo de 5 (cinco) anos contados do tracircnsito em julgado da decisatildeo

que fixou a sucumbecircncia desde que demonstre a ocorrecircncia um fato superveniente que

alterou a condiccedilatildeo financeira do beneficiaacuterio (MEDINA 2015 p 188-189)

Repisa-se a gratuidade natildeo isenta o seu beneficiaacuterio do pagamento das despesas

processuais tatildeo somente as coloca sob condiccedilatildeo suspensiva de exigibilidade

27 Requerimento e impugnaccedilatildeo

O benefiacutecio da gratuidade natildeo pode ser concedido de ofiacutecio pelo juiz devendo a

parte interessada requerecirc-lo no primeiro momento em que ela ingressa no feito ndash peticcedilatildeo

inicial contestaccedilatildeo ou na peccedila de ingresso do terceiro interveniente ndash ou em um momento

posterior ndash por meio de peticcedilatildeo simples ou mesmo no bojo de outra manifestaccedilatildeo ndash inclusive

na m grau recursal (art 99 caput e sect1ordm do CPC)

Nesse aspecto natildeo haacute um momento processual preacute-estabelecido e uacutenico para o

requerimento da gratuidade da justiccedila todavia o tempo do pedido eacute importante para delimitar

quais satildeo as despesas processuais que se dispensa o adiantamento isto porque a concessatildeo do

benefiacutecio tem efeito prospectivo natildeo alcanccedilando os atos processuais jaacute praticados

(OLIVEIRA 2015 p 371-372)

O requerimento natildeo demanda maiores formalidades devendo a parte apenas declarar

a insuficiecircncia de recursos se pessoa natural no caso de pessoa juriacutedica deveraacute ainda

comprovar a necessidade do benefiacutecio

O juiz ao analisar o pedido de gratuidade formulado apenas o indeferiraacute se nos autos

existiram elementos que demonstrem que o postulante natildeo preenche o pressuposto da

insuficiecircncia de recursos Todavia antes de indeferi-lo deve oportunizar a parte que

comprove a alegada carecircncia financeira para custear o processo (art 99 sect2ordm CPC)

A oportunidade de ser ouvido antes do indeferimento do pedido de gratuidade da

justiccedila somente se aplica a pessoa natural uma vez que em seu favor haacute presunccedilatildeo de

veracidade da alegaccedilatildeo de hipossuficiecircncia natildeo necessitando juntar qual prova nesse sentido

165

no momento da realizaccedilatildeo do pedido diferentemente do que acontece com a pessoa juriacutedica

que ao postular o benefiacutecio jaacute deve comprovar a sua necessidade (OLIVEIRA 2015 p 373)

Importante destacar que o Coacutedigo de Processo Civil encerrando discussotildees

expressamente previu que a assistecircncia do requerente por advogado particular por si soacute natildeo

constitui oacutebice para a concessatildeo do benefiacutecio (art 99 sect4ordm)

Na hipoacutetese de natildeo concessatildeo do pedido o requerente poderaacute interpor agravo de

instrumento nos termos do art 101 caput do CPC salvo se a questatildeo for solvida na

sentenccedila hipoacutetese em que caberaacute apelaccedilatildeo De outro lado se concedido poderaacute a parte

contraacuteria impugnaacute-lo

A impugnaccedilatildeo agrave gratuidade da justiccedila sofreu importantes alteraccedilotildees com o Coacutedigo de

Processo Civil a primeira delas eacute que ela natildeo mais se processa em autos apartados devendo

ser formulada nos proacuteprios autos Sem maiores formalidades a impugnaccedilatildeo deve ser

oferecida pela parte no primeiro momento posterior agrave concessatildeo que lhe couber falar nos

autos ou seja se o benefiacutecio for deferido por ocasiatildeo da peticcedilatildeo inicial deve o reacuteu impugnaacute-

la jaacute na contestaccedilatildeo se concedido ao reacuteu por ocasiatildeo da contestaccedilatildeo deve o autor impugnaacute-la

na reacuteplica se deferido no momento da interposiccedilatildeo do recurso a impugnaccedilatildeo deve ser

oferecida nas contrarrazotildees recursais e se o pedido for superveniente deve a parte contraacuteria

impugnaacute-lo no prazo de 15 (quinze) dias contados de sua concessatildeo

Haacute todavia algumas questotildees que natildeo restaram suficientemente esclarecidas pelo

Coacutedigo de Processo Civil no que concerne a impugnaccedilatildeo agrave gratuidade da Justiccedila Entre elas

o autor Luiz Dellore (2015) aponta o termo inicial do prazo para a impugnaccedilatildeo defendendo o

autor que este deveria se dar a partir do momento que a parte contraacuteria tomasse conhecimento

da situaccedilatildeo de natildeo hipossuficiecircncia da parte sob pena de se limitar o instituto

Outro ponto diz respeito ao ocircnus da prova na impugnaccedilatildeo pois o legislador

manteve-se silente nesse aspecto

A doutrina se inclina a defender que o ocircnus de comprovar que o beneficiaacuterio natildeo faz

jus agrave gratuidade eacute do impugnante ante a existecircncia de presunccedilatildeo relativa da necessidade com

a mera alegaccedilatildeo de insuficiecircncia de recursos (NERY JUNIOR NERY 2015 p 479)

28 Revogaccedilatildeo do benefiacutecio

A revogaccedilatildeo do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila implica na obrigaccedilatildeo da parte ex-

beneficiaacuteria de recolher todas as despesas de deixou de adiantar inclusive as despesas que

foram eventualmente adiantadas pelo ente puacuteblico (periacutecia por exemplo) e as vindouras (art

166

100 paraacutegrafo uacutenico do CPC) isso no caso de a parte natildeo fazer jus ao benefiacutecio desde o

momento em que a requereu (OLIVEIRA 2015 p 377)

No entanto a revogaccedilatildeo pode se dar pelo fato de ter cessado a situaccedilatildeo de

hipossuficiecircncia econocircmica que ensejou o benefiacutecio hipoacutetese em que ela apenas teraacute que

arcar com as despesas processuais a partir do momento que passou a dispor da boa condiccedilatildeo

financeira

Ainda evidenciada a maacute-feacute do ex-beneficiaacuterio o Coacutedigo de Processo Civil prevecirc a

aplicaccedilatildeo de multa de ateacute o deacutecuplo das despesas que tiver deixado de adiantar ndash nesse caso

natildeo basta a mera revogaccedilatildeo do benefiacutecio

Decidiu-se antes da entrada em vigor do Coacutedigo que ldquodeve ser cabalmente

demonstrada a intenccedilatildeo da parte em induzir o Poder Judiciaacuterio a erro se aproveitando

indevidamente do benefiacuteciordquo (MEDINA 2015 p 191)

Em linhas gerais essas satildeo algumas das alteraccedilotildees consubstanciadas pelo Coacutedigo de

Processo Civil em relaccedilatildeo ao benefiacutecio da gratuidade da justiccedila malgrado a lei processual natildeo

tenha esgotado o tema esclareceu vaacuterios pontos que antes era debatido pela jurisprudecircncia

Aleacutem do mais importante pontuar que o legislador reformador repensou o processo

civil atento aos anseios da sociedade moderna e preocupado com a efetividade dos direitos

constitucionais ndash acesso agrave justiccedila por exemplo ndash prevendo expressamente no artigo 1ordm do

CPC que ldquoo processo civil seraacute ordenado disciplinado e interpretado conforme os valores e

normas fundamentais estabelecidas na Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasilrdquo

Ocorre entretanto que mesmo diante de significativas alteraccedilotildees o legislador ainda

natildeo preencheu ou objetivou o pressuposto de concessatildeo dos benefiacutecios anteriormente citados

sendo remanescente o subjetivismo da anaacutelise do termo ldquoinsuficiecircncia de recursosrdquo o que

passaraacute a ser refletido no presente artigo

3 O SUBJETIVISMO DO PRESSUPOSTO INSUFICIEcircNCIA DE RECURSOS

Conforme jaacute visto o Coacutedigo de Processo Civil alterou o requisito para a concessatildeo

do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila bastando a declaraccedilatildeo de insuficiecircncia de recursos pela

pessoa natural e a sua comprovaccedilatildeo no caso de pessoa juriacutedica

Todavia eacute inegaacutevel a carga de subjetividade que haacute no conceito de insuficiecircncia de

recursos e como todo conceito juriacutedico vago traz certa inseguranccedila juriacutedica notadamente

porque pode acarretar decisotildees extremamente diacutespares no cotidiano forense uma vez que tal

anaacutelise (o que eacute insuficiecircncia de recursos) fica a criteacuterio do entendimento de cada

167

magistrado aleacutem do que pode gerar inuacutemeros abusos por parte dos seus requerentes ndash ainda

mais quando a mera alegaccedilatildeo eacute bastante agrave concessatildeo do benefiacutecio ndash que diferentemente do

que alegam gozam de boa sauacutede financeira para arcar com as despesas processuais

(TARTUCE DELLORE 2015 p 314-315)

Mesmo antes da alteraccedilatildeo do CPC ainda na Lei nordm 106050 jaacute discutia a doutrina e

a jurisprudecircncia acerca dos pressupostos para a concessatildeo do benefiacutecio ante a vagueza dos

conceitos de hipossuficiente necessitado carente de recursos financeiros para arcar com as

custas do processo sem prejuiacutezo do sustento proacuteprio e de sua famiacutelia e a falta de um criteacuterio

objetivo miacutenimo para a concessatildeo do benefiacutecio5

Nada obstante o progresso vivenciado com o Coacutedigo de Processo Civil de 2015 no

que tange a gratuidade da justiccedila vecirc-se que no ponto concernente agrave triagem dos

hipossuficientes de recursos o legislador conservou um conceito juriacutedico indeterminado

Segundo Frederico do Valle Abreu (2005) o conceito juriacutedico indeterminado eacute

caracterizado pela ldquovaguidade semacircntica existente em certa norma com a finalidade de que

ela a norma permaneccedila ao ser aplicada sempre atual e correspondente aos anseios da

sociedade nos vaacuterios momentos histoacutericos em que a lei eacute interpretada e aplicadardquo

Assim o conteuacutedo abstrato do pressuposto insuficiecircncia de recursos tenha sido

propositadamente pensado pelo legislador por entender que o inteacuterprete na anaacutelise casuiacutestica

goza de melhores condiccedilotildees para valoraacute-lo refletindo pois uma decisatildeo mais justa

O autor Augusto Tavares Rosa Marcacini defende que a insuficiecircncia de recursos eacute

um conceito indeterminado e natildeo segue um padratildeo rigoroso por isso a melhor soluccedilatildeo eacute a

anaacutelise caso a caso

O conceito de necessitado natildeo eacute determinado mediante regras riacutegidas matemaacuteticas natildeo se utilizando limites numeacutericos determinados Tecircm direito ao benefiacutecio aqueles que natildeo podem arcar com os gastos necessaacuterios agrave participaccedilatildeo no processo na medida em que contabilizados os seus ganhos e os seus gastos com o proacuteprio sustento e da famiacutelia natildeo lhe reste numeraacuterio suficiente para tanto O direito ao benefiacutecio decorre da indisponibilidade financeira do sujeito Em face da notoacuteria insuficiecircncia do salaacuterio miacutenimo vigente em nosso paiacutes pode ser possiacutevel presumir que aquele que aufere ateacute cinco salaacuterios miacutenimos por exemplo eacute quase que certamente merecedor de usufruir dos benefiacutecios Mas como dissemos natildeo se deve utilizar nuacutemeros fechados como criteacuterio Um chefe de uma famiacutelia numerosa que pague aluguel e que tenha filhos em idade escolar por exemplo mesmo percebendo o equivalente a dez salaacuterios miacutenimos pode natildeo ter condiccedilotildees de arcar com as despesas de um processo De outro lado um jovem que viva com os pais os quais

5 Fernanda Tartuce e Luiz Dellore por exemplo no artigo escrito em coautoria Gratuidade da Justiccedila no novo CPC divergem sobre o assunto enquanto ela acredita ser acertada a opccedilatildeo do legislador em trazer um conceito dotado de subjetividade por outro lado ele discorda defendendo que ainda que a norma deixasse uma margem para a decisatildeo do juiz de acordo com a casuiacutestica deveria ao menos estabelecer um criteacuterio objetivo miacutenimo de modo a evitar disparidades nas decisotildees (2015 314-315)

168

provecircm o seu sustento moradia e estudo e que ganhe uns dois ou trecircs salaacuterios miacutenimos que natildeo satildeo empregados em qualquer despesa essencial para sua mantenccedila pode natildeo ser considerado beneficiaacuterio (2009 p 90-91)

Nesse espectro o aplicador da norma juriacutedica eacute quem tem o poder-dever de

materializar no caso concreto o conceito juriacutedico indeterminado do que eacute ser necessitado

economicamente para arcar com as despesas processuais dando assim maior efetividade ao

preceito constitucional do acesso agrave justiccedila

Atento agraves alteraccedilotildees do Coacutedigo de Processo Civil quanto ao tema leciona Rafael

Alexandria de Oliveira

Insuficiecircncia de recursos Faz jus ao benefiacutecio da gratuidade aquela pessoa com lsquoinsuficiecircncia de recursos para pagar as custas despesas processuais e honoraacuterios advocatiacuteciosrsquo Natildeo se exige a miserabilidade nem estado de necessidade nem tampouco se fala em renda familiar ou faturamento maacuteximos Eacute possiacutevel que uma pessoa natural mesmo com boa renda mensal seja merecedora do benefiacutecio e que tambeacutem o seja aquele sujeito que eacute proprietaacuterio de bens imoacuteveis mas natildeo dispotildee de liquidez A gratuidade judiciaacuteria eacute um dos mecanismos de viabilizaccedilatildeo do acesso agrave justiccedila natildeo se pode exigir que para ter acesso agrave justiccedila o sujeito tenha que comprometer significativamente a sua renda ou tenha que se desfazer de seus bens liquidando-os para angariar recursos e custear o processo A lei natildeo fala em nuacutemeros natildeo estabelece paracircmetros O sujeito que ganha boa renda mensal pode ser tatildeo merecedor do benefiacutecio quanto aquele que sobrevive agrave custa de programas de complementaccedilatildeo de renda O que pode diferenciaacute-los eacute a maior ou menor dificuldade com que o pedido de concessatildeo do benefiacutecio eacute tratado o de melhor renda pode ser chamado a justificar o seu requerimento provando a insuficiecircncia de recursos Por isso mesmo nem sempre o beneficiaacuterio seraacute algueacutem em situaccedilatildeo de necessidade de vulnerabilidade de miseacuteria de penuacuteria Eacute preciso atentar para isso (2015 p 359)

Eacute compreensiacutevel a carga de subjetividade impregnada ao termo insuficiecircncia de

recursos notadamente porque o legislador adotando a teoria do direito processual

constitucional (art 1ordm do CPC) quis que a normativa do benefiacutecio atendesse realmente agraves

exigecircncias da sociedade hodierna deixando ao encargo do juiz o dever juriacutedico de buscar

identificar e adotar a soluccedilatildeo apta a no caso concreto alcanccedilar satisfatoriamente a finalidade6

da norma ndash de que garantir a todos o acesso agrave justiccedila

Todavia eacute cediccedilo que a valoraccedilatildeo de um conceito subjetivo pelo magistrado (assim

como para qualquer pessoa) transcende a sua formaccedilatildeo juriacutedica e mesmo que inconsciente

revela suas convicccedilotildees pessoais (crenccedilas valores referecircncias sociais) deste modo o que no

sentir de um julgador eacute pessoa hipossuficiente aos olhos do outro natildeo o eacute eacute aiacute que repousam

as ldquoinjusticcedilasrdquo

6 Interpretaccedilatildeo teleoloacutegica

169

A falta de a lei definir um criteacuterio objetivo miacutenimo para se determinar o que eacute a

insuficiecircncia de recursos demandou trabalho da doutrina e especialmente da jurisprudecircncia

que mesmo timidamente adotou os mais diversos paracircmetros

Nesse sentido uma das primeiras orientaccedilotildees que surge na jurisprudecircncia eacute a

necessidade de prova cabal da insuficiecircncia de recursos para a concessatildeo do benefiacutecio da

gratuidade agraves pessoas juriacutedicas7 Depois de muita discussatildeo o entendimento sedimentado na

jurisprudecircncia8 foi consagrado pelo legislador no Coacutedigo de Processo Civil de 2015 em seu

artigo 98 caput

Tambeacutem se firmou o entendimento de que o requerente que se dedica a emprestar

dinheiro natildeo faz jus ao benefiacutecio uma vez que tal circunstacircncia eacute incompatiacutevel com a alegada

necessidade (NERY JUNIOR NERY 2015 p 475)

Os Tribunais tambeacutem jaacute fixaram como criteacuterio objetivo para se determinar se o

requerente eacute realmente hipossuficiente a renda mensal inferior a dez salaacuterios miacutenimos9

todavia o Superior Tribunal de Justiccedila jaacute refutou a utilizaccedilatildeo desse criteacuterio sob o fundamento

de que a desconstituiccedilatildeo da presunccedilatildeo estabelecida pela lei de gratuidade de justiccedila exige

perquirir in concreto a atual situaccedilatildeo financeira do requerenterdquo10

Outro paracircmetro que tem sido utilizado pelos juristas para aferir a condiccedilatildeo de

miserabilidade do requerente eacute a faixa de isenccedilatildeo do Imposto de Renda extraiacutedo da tabela

progressiva do tributo devidamente atualizada11

O criteacuterio do patrociacutenio da causa por advogado particular para afastar a benesse jaacute

era rechaccedilado pela jurisprudecircncia12 e foi recepcionado pelo atual Coacutedigo de Processo Civil em

seu artigo 99 sect4ordm 7 Assistecircncia judiciaacuteria Pessoa juriacutedica Demonstraccedilatildeo cabal da insuficiecircncia de recursos 1 Ademais de fundamentado exclusivamente na interpretaccedilatildeo do art 5ordm LXXIV da Constituiccedilatildeo Federal o certo eacute que a Corte jaacute assentou a necessidade de demonstraccedilatildeo cabal da insuficiecircncia de recursos para que a empresa possa desfrutar dos benefiacutecios da assistecircncia judiciaacuteria 2 Recurso especial natildeo conhecido (STJ - REsp 182557 RJ 19980053550-0 Relator Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO Data de Julgamento 02091999 T3 - TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJ 25101999 p 79) 8 Suacutemula 481 STJ Faz jus ao benefiacutecio da justiccedila gratuita a pessoa juriacutedica com ou sem fins lucrativos que demonstrar sua impossibilidade de arcar com os encargos processuais 9 ADMINISTRATIVO AGRAVO DE INSTRUMENTO ASSISTEcircNCIA JUDICIAacuteRIA GRATUITA - AJG PARAcircMETRO DEZ SALAacuteRIOS MIacuteNIMOS 1 A Segunda Seccedilatildeo desta Corte vem consolidando entendimento no sentido de fixar patamar objetivo para a concessatildeo do benefiacutecio da AJG qual seja dez salaacuterios miacutenimo 2 Hipoacutetese em que a agravante comprovou renda mensal bem inferior ao limite paradigmaacutetico destacado inexistindo qualquer razatildeo para o indeferimento do pleito em prestiacutegio agrave norma de regecircncia (Lei n 10601950) e ao princiacutepio da acessibilidade (artigo 5ordm XXXV Constituiccedilatildeo Federal) (TRF-4 - AG 50101513420134040000 5010151-3420134040000 Relator NICOLAU KONKEL JUacuteNIOR Data de Julgamento 14082013 TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DE 16082013) 10 STJ - AgRg no AREsp 626487 MG 20140315675-3 Relator Ministro RICARDO VILLAS BOcircAS CUEVA Data de Julgamento 28042015 T3 - TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJe 07052015 11 TJ-PR - AI 14520235 PR 1452023-5 (Decisatildeo Monocraacutetica) Relator Paulo Cezar Bellio Data de Julgamento 27102015 16ordf Cacircmara Ciacutevel Data de Publicaccedilatildeo DJ 1683 05112015

170

O Superior Tribunal de Justiccedila preconiza que o inteacuterprete deve conjugar o binocircmio

necessidade-possibilidade assim para se conceder o benefiacutecio da gratuidade da justiccedila deve-

se considerar natildeo apenas os rendimentos mensais do requerente mas tambeacutem o

comprometimento de suas despesas13

A anaacutelise da condiccedilatildeo financeira do postulante deve ficar restrita a sua situaccedilatildeo

presente e natildeo ao seu histoacuterico de riquezas o simples fato de o requerente jaacute ter sido rico

empresaacuterio ou pessoa de posses natildeo significa que natildeo possa ser hoje pessoa pobre na

acepccedilatildeo juriacutedica do termo e necessitar da assistecircncia judiciaacuteria Da mesma forma a reciacuteproca

eacute verdadeira o pobre que eacute beneficiaacuterio da gratuidade pode por fatores supervenientes

tornar-se pessoa abastada financeiramente o que certamente lhe cassaraacute o benefiacutecio (NERY

JUNIOR NERY 2015 p 477)

Destarte a adoccedilatildeo pelo juiz de um paracircmetro como ponto de partida para verificar o

preenchimento dos requisitos para a concessatildeo da justiccedila gratuita natildeo deve ser visto como

violador da norma Bem da verdade a gratuidade da justiccedila eacute uma das portas de acesso ao

Poder Judiciaacuterio entretanto natildeo pode ser utilizada pelo beneficiaacuterio tatildeo-somente para se

furtar das obrigaccedilotildees oriundas do processo

A Lei nordm 106050 exigia em sua redaccedilatildeo original que o requerente comprovasse o

estado de pobreza alegado hoje ndash a partir da nova redaccedilatildeo dada ao art 4ordm sect1ordm da referida lei

pela Lei Federal nordm 751086 ndash basta a simples afirmaccedilatildeo de necessidade do benefiacutecio o que

inclusive eacute referendado pela jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila14 Nesse sentir o

12 Assistecircncia judiciaacuteria Defensoria Puacuteblica Advogado particular Interpretaccedilatildeo da Lei nordm 106050 1 Natildeo eacute suficiente para afastar a assistecircncia judiciaacuteria a existecircncia de advogado contratado O que a lei especial de regecircncia exige eacute a presenccedila do estado de pobreza ou seja da necessidade da assistecircncia judiciaacuteria por impossibilidade de responder pelas custas que poderaacute ser enfrentada com prova que a desfaccedila Natildeo serve para medir isso a qualidade do defensor se puacuteblico ou particular 2 Recurso especial conhecido e provido (STJ - REsp 679198 PR 20040103656-9 Relator Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO Data de Julgamento 21112006 T3 - TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJ 16042007 p 184) 13 STJ - REsp 263781 SP 20000060786-0 Relator Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO Data de Julgamento 22052001 T3 - TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo lt-- DTPB 20010813ltbrgt --gt DJ 13082001 p 150ltbrgt JBCC vol 193 p 249 14PROCESSUAL CIVIL RECONHECIMENTO DE CONCUBINATO E PARTILHA DE BENS PEDIDO ALTERNATIVO DE INDENIZACcedilAtildeO POR SERVICcedilOS PRESTADOS INDEFERIMENTO DE PLANO DA INICIAL IMPOSSIBILIDADE CERCEAMENTO DE DEFESA ASSISTEcircNCIA JUDICIAacuteRIA E GRATUIDADE DA JUSTICcedilA ALEGACcedilAtildeO DA PARTE DESNECESSIDADE DE DEMONSTRACcedilAtildeO DE O ADVOGADO NAtildeO ESTAR SENDO REMUNERADO PRESUNCcedilAtildeO RECURSO PROVIDO Pelo sistema legal vigente faz jus a parte aos benefiacutecios da assistecircncia judiciaacuteria mediante simples afirmaccedilatildeo na proacutepria peticcedilatildeo de que natildeo estaacute em condiccedilotildees de pagar as custas do processo e os honoraacuterios de advogado sem prejuiacutezo proacuteprio ou de sua famiacutelia O deferimento da gratuidade garantia assegurada constitucionalmente aos economicamente hipossuficientes (Constituiccedilatildeo art 5ordm LXXIV) natildeo exige que a parte demonstre que o advogado natildeo estaacute sendo por ela remunerado Enquanto a Justiccedila gratuita isenta de despesas processuais e condenaccedilatildeo em honoraacuterios advocatiacutecios a assistecircncia judiciaacuteria mais ampla enseja tambeacutem o patrociacutenio por profissional habilitado Caracteriza cerceamento de defesa o indeferimento de plano da inicial de accedilatildeo que pretendeu o reconhecimento de concubinato e partilha de bens com pedido alternativo de indenizaccedilatildeo de

171

aplicador do direito exerce um fundamental papel para que o processo natildeo seja um fim em si

mesmo mas sim um instrumento para a materializaccedilatildeo de um direito

Nota-se que o indeterminismo do termo insuficiecircncia de recursos aliado a mera

alegaccedilatildeo da necessidade poderia transviar o sentido da norma devendo o magistrado ficar

atento para que os privilegiados de fortuna natildeo ingressem gratuitamente no feito

Assim havendo elementos no processo que infirmem a alegaccedilatildeo do postulante ndash que

goza de presunccedilatildeo iuris tantum ndash a hipossuficiecircncia deve ser comprovada

Duacutevida fundada quanto agrave pobreza O juiz da causa valendo-se de criteacuterios

objetivos pode entender que a natureza da accedilatildeo movida pelo interessado demonstra que ele possui porte econocircmico para suportar as despesas do processo A declaraccedilatildeo pura e simples do interessado conquanto seja o uacutenico entrave burocraacutetico que se exige para liberar o magistrado para decidir em favor do peticionaacuterio natildeo eacute prova inequiacutevoca daquilo que ele afirma nem obriga o juiz a se curvar aos seus dizeres se de outras provas e circunstacircncias ficar evidenciado que o conceito de pobreza que a parte invoca natildeo eacute aquele que justifica a concessatildeo do privileacutegio Cabe ao magistrado livremente fazer juiacutezo de valor acerca do termo pobreza deferindo ou natildeo o benefiacutecio (NERY JUNIOR NERY 2015 p 477)

Infelizmente a finalidade do benefiacutecio natildeo raras vezes eacute distorcida seja pela

abstraccedilatildeo do conceito ou mesmo pela lisura do ser humano e isso contribui para o aumento de

demandas desqualificadas respaldadas na ausecircncia de riscos no caso de improcedecircncia

Para Maacutercio Pirocircpo Galvatildeo (2010) os mecanismos de acesso agrave justiccedila fomentam

accedilotildees despretensiosas ndash e cita como exemplos as accedilotildees trabalhistas e aquelas do acircmbito dos

Juizados Especiais ndash exclusivamente pela ausecircncia de custo econocircmico defende inclusive

que o acesso ao Judiciaacuterio de forma gratuita virou uma ldquoloteria onde todos querem tentar a

sorterdquo

E continua o autor citando a decisatildeo do Juiz de Direito da 2ordf Vara Ciacutevel da Comarca

de Dourados Dr Joseacute Carlos de Souza que as demandas desnecessaacuterias ldquoabarrotam o Poder

Judiciaacuterio e dificultam o acesso agrave Justiccedila de jurisdicionados com pretensotildees mais nobres

Incentivam o aumento da inadimplecircncia e sedimentam a cultura do natildeo-cumprimento dos

contratos [] Configuram provocaccedilatildeo abusiva da maacutequina judiciaacuteria e maacute-feacute do devedorrdquo

(GALVAtildeO 2010)

Como visto a utilizaccedilatildeo abusiva da gratuidade da justiccedila pode representar o

congestionamento da maacutequina judicial comprometendo a razoaacutevel duraccedilatildeo do processo e ao

serviccedilos prestados sem possibilitar agrave parte a produccedilatildeo de qualquer prova notadamente em se tratando de alegado relacionamento de mais de trinta anos (Recurso Especial nordm 91609SP 4ordf Turma do STJ Rel Min Saacutelvio de Figueiredo Teixeira Recorrente A P M R Recorrida V G F B j 160498 un DJU 080698 p 113)

172

reveacutes de seu proposito servir como oacutebice ao efetivo acesso agrave justiccedila daqueles que tem

realmente tem urgecircncia na prestaccedilatildeo jurisdicional

Talvez uma boa alternativa para se evitar decisotildees diacutespares e a banalizaccedilatildeo do

benefiacutecio ante a carga de subjetividade do seu pressuposto fosse exigir uma comprovaccedilatildeo

miacutenima da insuficiecircncia de recursos Afinal quem realmente necessita do benefiacutecio natildeo teria

dificuldade alguma em demonstrar a sua impossibilidade financeira para arcar com as

despesas processuais

Eacute certo que a Lei nordm 106050 e agora o Coacutedigo de Processo Civil estabelecem ocircnus

ao litigante que de maacute-feacute requereu o benefiacutecio da gratuidade todavia a prova nesse sentido

deve ser contundente o que estimula de certa forma pedidos indiscriminados de gratuidade

uma vez que sopesando os riscos os ganhos prevalecem

Destarte o que se percebe eacute que nesse ponto o legislador civil natildeo conseguiu

encerrar as discussotildees deixando a soluccedilatildeo para a doutrina e a jurisprudecircncia agora basta

saber como as discussotildees seratildeo encaminhadas de modo que natildeo se instale ndash ou aumente ndash um

estado de desconfianccedila em torno do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila em decorrecircncia dos

abusos praticados mas que tambeacutem natildeo se deixe de cumprir a sua preciacutepua finalidade

constitucional de ser um instrumento de acesso ao Judiciaacuterio daqueles que natildeo desfrutam de

plenas condiccedilotildees financeiras

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O atual Coacutedigo de Processo Civil atuou muito positivamente no que pertine ao

instituto da Gratuidade da Justiccedila ele alvoreceu pontos que a Lei nordm 106050 era retroacutegrada e

mesmo silente bem como normatizou questotildees jaacute consolidadas pela jurisprudecircncia

Em contrapartida a legislaccedilatildeo processual civil natildeo se fez clara quanto ao pressuposto

para a concessatildeo do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila mormente porque se limitou a prever

que a simples afirmaccedilatildeo de insuficiecircncia de recursos para pagar as despesas processuais eacute

suficiente ao seu deferimento

Afinal o que insuficiecircncia de recursos Qual o criteacuterio objetivo para se definir quem

se enquadra ou natildeo nesse perfil Mais uma vez a lei que trata sobre a gratuidade da justiccedila

silenciou nesse pormenor reservando ao aplicador do direito a missatildeo de examinar

casuisticamente quem eacute merecedor ou natildeo da benesse partindo de uma interpretaccedilatildeo

alicerccedilada na finalidade da lei ndash promover o acesso agrave justiccedila

173

Assim duas questotildees surgem A primeira eacute se o legislador foi relapso ou se ele

propositadamente preferiu a um conceito indeterminado para a concessatildeo do benefiacutecio E a

segunda eacute se ele agiu bem

E ao que se conclui eacute que a preferecircncia por um termo dotado de subjetivismo tem

um propoacutesito qual seja permitir que a lei seja adaptaacutevel as mais diversas situaccedilotildees do

cotidiano forense de modo a tornar o acesso agrave justiccedila um direito fundamental mais efetivo

Conquanto agrave segunda questatildeo (se ele agiu bem) apenas a experiecircncia praacutetica poderaacute dizer

notadamente porque vai depender e muito da consciecircncia do postulante (e seu advogado) o

qual eacute o real sabedor de sua condiccedilatildeo financeira

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ABREU Frederico do Valle Conceito juriacutedico indeterminado interpretaccedilatildeo da lei

processo e suposto poder discricionaacuterio do magistrado Jus Navigandi Teresina ano 9 n

674 10 maio 2005 Disponiacutevel em lthttpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=6674gt

Acesso em 27032016

ANGHER Anne Joyce (Org) Vade mecum acadecircmico de direito Rideel 21ed

atual e ampl Satildeo Paulo Rideel 2015

BRASIL Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Recurso Especial nordm

19980053550-0 Relator Ministro Carlos Alberto Menezes Data de Julgamento 02091999

Data de Publicaccedilatildeo DJ 25101999 p 79

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Agravo Regimental no Recurso

Especial nordm 20140315675-3 Relator Ministro Ricardo Villas Bocircas Cueva Data de

Julgamento 28042015 Data de Publicaccedilatildeo DJe 07052015

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Recurso Especial nordm

20040103656-9 Relator Ministro Carlos Alberto Menezes Direito Data de Julgamento

21112006 Data de Publicaccedilatildeo DJ 16042007 p 184

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Recurso Especial

20000060786-0 Relator Ministro Carlos Alberto Menezes Direito Data de Julgamento

22052001 Data de Publicaccedilatildeo 13082001 p 150

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Quarta Turma Recurso Especial 91609SP

Relator Ministro Saacutelvio de Figueiredo Teixeira Data de Publicaccedilatildeo 08061998 p 113

174

_____ Tribunal Regional Federal (4ordf Regiatildeo) Terceira Turma Agravo nordm

50101513420134040000 5010151-3420134040000 Relator Nicolau Konkel Juacutenior Data

de Julgamento 14082013Data de Publicaccedilatildeo 16082013

_____ Tribunal de Justiccedila do Estado do Paranaacute 16ordf Cacircmara Ciacutevel Agravo de

Instrumento nordm 14520235 PR 1452023-5 (Decisatildeo Monocraacutetica) Relator Paulo Cezar Bellio

Data de Julgamento 27102015 Data de Publicaccedilatildeo 05112015

CAPPELLETTI Mauro GARTH Bryant Acesso agrave justiccedila Trad Ellen Gracie

Northfleet Porto Alegre Seacutergio Fabris Editor 2002

CARNEIRO Paulo Cezar Pinheiro Normas Fundamentais do Processo Civil Em

Breves Comentaacuterios ao Novo Coacutedigo de Processo Civil Tereza Arruda Alvim Wambier et

al[coord] Satildeo Paulo Editora RT 2015

DELLORE Luiz Novo CPC o lado A da justiccedila gratuita Disponiacutevel em http

httpjotauolcombrjustica-gratuita-novo-cpc-lado publicado em 09 de marccedilo de 2015

Acesso em 27032016

______ Novo CPC o lado B da justiccedila gratuita Disponiacutevel em

httpjotauolcombrnovo-cpc-o-lado-b-da-justica-gratuita publicado em 13 de abril de

2015 Acesso em 27032016

GALESKI JUNIOR Irineu RIBEIRO Marcia Carla Pereira Direito e economia

uma abordagem sobre a assistecircncia judiciaacuteria gratuita In Publica Direito (recurso eletrocircnico

on-line) Fortaleza CONPEDI 2010

GALVAtildeO Maacutercio Pirocircpo Abuso de direito agrave gratuidade da Justiccedila Revista Jus

Navigandi Teresina ano 17 n 3339 22 ago 2012 Disponiacutevel em

lthttpsjuscombrartigos22466gt Acesso em 27032016

MARCACINI Augusto Tavares Rosa Assistecircncia Juriacutedica Assistecircncia Judiciaacuteria e

Justiccedila Gratuita Satildeo Paulo Editora Forense 2009 (ediccedilatildeo eletrocircnica)

MEDINA Joseacute Miguel Garcia Novo Coacutedigo de Processo Civil Comentado Satildeo

Paulo Editora RT 2015

NERY JUNIOR Nelson e NERY Rosa Maria de Andrade Comentaacuterios ao Coacutedigo

de Processo Civil Satildeo Paulo Editora RT 2015

NETO Emeteacuterio Silva de Oliveira VIANA Juvecircncio Vasconcelos Acesso agrave justiccedila

e o novo Coacutedigo de Processo Civil um olhar criacutetico Em Acesso agrave justiccedila (recurso eletrocircnico

on-line) Florianoacutepolis CONPEDIUFSC 2015

175

OLIVEIRA Rafael Alexandria de Da Gratuidade da Justiccedila Em Breves

Comentaacuterios ao Novo Coacutedigo de Processo Civil Tereza Arruda Alvim Wambier et

al[coord] Satildeo Paulo Editora RT 2015

SANTOS Boaventura de Souza Pela matildeo de Alice o social e o poliacutetico

na poacutes-modernidade Satildeo Paulo Cortez 2003

TARTURE Flaacutevia DELLORE Luiz Gratuidade da justiccedila no novo CPC Em

Revista de Processo Satildeo Paulo v 39 n 236 p 305-323 out 2014

176

Copyright copy 2016 Conselho Nacional de Pesquisa e Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito

Todos os direitos reservados e protegidos Nenhuma parte destes anais poderaacute ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios empregados sem preacutevia autorizaccedilatildeo dos editores

Diretoria ndash CONPEDI Presidente - Prof Dr Raymundo Juliano Feitosa ndash UNICAP Vice-presidente Sul - Prof Dr Ingo Wolfgang Sarlet ndash PUC - RS Vice-presidente Sudeste - Prof Dr Joatildeo Marcelo de Lima Assafim ndash UCAM Vice-presidente Nordeste - Profa Dra Maria dos Remeacutedios Fontes Silva ndash UFRN Vice-presidente NorteCentro - Profa Dra Julia Maurmann Ximenes ndash IDP Secretaacuterio Executivo - Prof Dr Orides Mezzaroba ndash UFSC Secretaacuterio Adjunto - Prof Dr Felipe Chiarello de Souza Pinto ndash Mackenzie

Representante Discente ndash Doutoranda Vivian de Almeida Gregori Torres ndash USP

Conselho Fiscal

Prof Msc Caio Augusto Souza Lara ndash ESDH Prof Dr Joseacute Querino Tavares Neto ndash UFGPUC PR Profa Dra Samyra Haydecirce Dal Farra Naspolini Sanches ndash UNINOVE

Prof Dr Lucas Gonccedilalves da Silva ndash UFS (suplente) Prof Dr Fernando Antonio de Carvalho Dantas ndash UFG (suplente)

Secretarias Relaccedilotildees Institucionais ndash Ministro Joseacute Barroso Filho ndash IDP

Prof Dr Liton Lanes Pilau Sobrinho ndash UPF

Educaccedilatildeo Juriacutedica ndash Prof Dr Horaacutecio Wanderlei Rodrigues ndash IMEDABEDi Eventos ndash Prof Dr Antocircnio Carlos Diniz Murta ndash FUMEC

Prof Dr Jose Luiz Quadros de Magalhaes ndash UFMG

Profa Dra Monica Herman Salem Caggiano ndash USP

Prof Dr Valter Moura do Carmo ndash UNIMAR

Profa Dra Viviane Coecirclho de Seacutellos Knoerr ndash UNICURITIBA

P963

Processo jurisdiccedilatildeo e efetividade da justiccedila II [Recurso eletrocircnico on-line] organizaccedilatildeo CONPEDIUnBUCBIDP

UDF

Coordenadores Marcos Leite Garcia Miguel Kfouri Neto Rogerio Luiz Nery Da Silva ndash Florianoacutepolis

CONPEDI 2016

Inclui bibliografia ISBN 978-85-5505-198-2

Modo de acesso wwwconpediorgbr em publicaccedilotildees

Tema DIREITO E DESIGUALDADES Diagnoacutesticos e Perspectivas para um Brasil Justo

1 Direito ndash Estudo e ensino (Poacutes-graduaccedilatildeo) ndash Brasil ndash Encontros 2 Processo 3 Jurisdiccedilatildeo 4 Efetividade da

Justiccedila I Encontro Nacional do CONPEDI (25 2016 Brasiacutelia DF)

CDU 34

________________________________________________________________________________________________

Florianoacutepolis ndash Santa Catarina ndash SC wwwconpediorgbr

Comunicaccedilatildeo ndash Prof Dr Matheus Felipe de Castro ndash UNOESC

XXV ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI - BRASIacuteLIADF

PROCESSO JURISDICcedilAtildeO E EFETIVIDADE DA JUSTICcedilA II

Apresentaccedilatildeo

O Conpedi acaba de realizar seu XXV Encontro Nacional como mais uma iniciativa de

estiacutemulo agraves atividades de intercacircmbio cientiacutefico entre os atores da Poacutes-graduaccedilatildeo em direito

no Brasil Coube-nos conduzir as apresentaccedilotildees referentes ao Grupo de Trabalho Processo

Jurisdiccedilatildeo e efetividade da Justiccedila II Os artigos dali decorrentes agora satildeo ofertados agrave

leitura segundo uma ordem loacutegica que prestigia tanto o aspecto principioloacutegico das

inovaccedilotildees operadas pelo Novo Coacutedigo de Processo Civil mas sobretudo dando especial

ecircnfase - como ponto de maior destaque das inovaccedilotildees - agrave adoccedilatildeo da doutrina do Precedente

Judicial Esperamos com isso proporcionar o acesso eficiente agraves novidades e novos olhares

sobre os avanccedilos do processo civil Para tanto recomenda-se a leitura pela ordem que se

segue

1 As normas fundamentais do novo CPC (lei 131052015) e o fenocircmeno de

constitucionalizaccedilatildeo do processo civil

2 Precedentes e argumentaccedilatildeo juriacutedica

3 Precedentes e novo cpc razatildeo argumentativa na consolidaccedilatildeo do estado democraacutetico via

direito judicial

4 O novo CPC e o sistema de precedentes (ldquocommonlizaccedilatildeordquo)

5 A aplicaccedilatildeo do precedente judicial contrastes com as suacutemulas vinculantes

6 A democratizaccedilatildeo do processo civil atraveacutes do sistema de precedentes o amicus curiae

como instrumento de participaccedilatildeo popular na formaccedilatildeo de precedentes vinculantes de grande

repercussatildeo social

7 Os modelos americano e inglecircs de vinculaccedilatildeo ao precedente

8 Breviacutessimas consideraccedilotildees a respeito do incidente de resoluccedilatildeo de demandas repetitivas

(IRDR)

9 Inovaccedilotildees e alteraccedilotildees do coacutedigo de processo civil e a manutenccedilatildeo do subjetivismo do

termo ldquoinsuficiecircncia de recursosrdquo para a concessatildeo da gratuidade de justiccedila

10 O princiacutepio da publicidade como medida essencial ao controle dos atos estatais

11 A contratualizaccedilatildeo do processo judicial anaacutelise principioloacutegica de sua efetividade agrave luz

do novo diploma processual ciacutevel

12 Novo CPC negoacutecios juriacutedicos processuais ou arbitragem

13 Algumas observaccedilotildees sobre os prazos processuais e o princiacutepio da seguranccedila juriacutedica no

novo coacutedigo de processo civil

14 O princiacutepio da cooperaccedilatildeo judiciaacuteria do novo coacutedigo de processo civil uma anaacutelise a

partir da proteccedilatildeo ao trabalhador frente ao instituto da recuperaccedilatildeo judicial

15 O direito agrave prova no processo civil sob uma perspectiva constitucional

16 A distribuiccedilatildeo do ocircnus da prova no processo coletivo ambiental

17 Toda decisatildeo seraacute motivada

18 O artigo 489 do novo coacutedigo de processo civil e a fundamentaccedilatildeo das decisotildees judiciais

na perspectiva dworkiniana

19 Fundamentaccedilatildeo das decisotildees e a superaccedilatildeo do livre convencimento motivado

20 Operaccedilotildees midiaacuteticas e processo penal o respeito aos direitos fundamentais como fator

legitimador da decisatildeo judicial na esfera penal

21 Tutelas diferenciadas instrumento de auxiacutelio agrave efetivaccedilatildeo da justiccedila

22 Desconstituiccedilatildeo do tiacutetulo executivo judicial fundado em norma declarada inconstitucional

pelo STF e a impugnaccedilatildeo do art 525 sect 12ordm do CPC

23 Teacutecnica procedimental e a audiecircncia de justificaccedilatildeo nos procedimentos possessoacuterios por

um contraditoacuterio dinacircmico

24 O mandado de seguranccedila coletivo e a proteccedilatildeo dos direitos difusos

Na esperanccedila de encontrarmos dias de maior efetividade processual e procedimental no

atendimento e na efetivaccedilatildeo dos direitos fundamentais desejamos uma excelente leitura

Professor-doutor Rogeacuterio Luiz Nery da Silva (UNOESC)

Professor-doutor Marcos Leite Garcia (UNIVALI)

Professor-doutor Miguel Kfouri Neto (UNICURITIBA)

INOVACcedilOtildeES E ALTERACcedilOtildeES DO COacuteDIGO DE PROCESSO CIVIL E A MANUTENCcedilAtildeO DO SUBJETIVISMO DO TERMO ldquoINSUFICIEcircNCIA DE

RECURSOSrdquo PARA A CONCESSAtildeO DA GRATUIDADE DE JUSTICcedilA

INNOVATIONS AND CHANGES OF PROCEDURE CIVIL CODE AND MAINTENANCE OF THE SUBJECTIVISM TERM RESOURCES INSUFFICIENT FOR GRANTING OF JUSTICE OF GRATUITY

Juliane Dziubate KreftaAline Fatima Morelatto

Resumo

O presente trabalho eacute voltado agrave anaacutelise da Gratuidade da Justiccedila como um importante

mecanismo de acesso agrave justiccedila Pretende abordar as novidades sobre a Gratuidade da Justiccedila

no atual Coacutedigo de Processo Civil recentemente alterado pela Lei nordm 131052015 trazendo

agrave tona importantes alteraccedilotildees que corrigiram a obsoleta Lei nordm 106050 Objetiva fazer uma

reflexatildeo a respeito do requisito para a concessatildeo do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila qual

seja a insuficiecircncia de recursos e o seu alto grau de subjetivismo pontuando algumas

questotildees positivas e negativas a ele relacionadas

Palavras-chave Acesso agrave justiccedila Gratuidade Alteraccedilotildees Inovaccedilotildees Insuficiecircncia de recursos Subjetivismo

AbstractResumenReacutesumeacute

This work is focused on the analysis of Gratuity of Justice as an important mechanism of

access to justice It aims to address the news about the Gratuity of Justice in the current Civil

Procedure Code recently amended by Law nordm 131052015 bringing out important changes

that fixed the obsolete Law nordm 106050 Aims to reflect about the requirement for granting

the benefit of free justice namely the lack of resources and its high degree of subjectivity

emphasizing some positive and negative issues related to it

KeywordsPalabras-clavesMots-cleacutes Justice acess Gratuity Change Innovations Insufficient resources Subjectivism

156

INTRODUCcedilAtildeO

O presente artigo tem o desiderato de fazer uma reflexatildeo acerca do instituto da

Gratuidade da Justiccedila e as alteraccedilotildees promovidas pela Lei nordm 131052015 no atual Coacutedigo de

Processo Civil partindo da premissa de que eacute um importante instrumento de efetivaccedilatildeo dos

direitos fundamentais notadamente o direito ao acesso agrave justiccedila

O regramento sobre a Gratuidade da Justiccedila sofreu mudanccedilas significativas no

Coacutedigo de Processo Civil corrigindo vaacuterias distorccedilotildees e lacunas da decreacutepita Lei nordm 106050

que tratava sobre o assunto e que haacute tempos estava sendo plasmada pela jurisprudecircncia

A correccedilatildeo terminoloacutegica (gratuidade da justiccedila) a expressa previsatildeo de que a

pessoa juriacutedica tambeacutem pode figurar como beneficiaacuteria a extensatildeo da benesse agraves custas e aos

emolumentos dos notaacuterios e registradores satildeo algumas das vaacuterias alteraccedilotildees a respeito do

instituto preconizadas no Coacutedigo de Processo Civil

De outro lado malgrado o Coacutedigo de Processo Civil tenha inovado um pouco a

nominaccedilatildeo do requisito para a concessatildeo do benefiacutecio passando a simplesmente exigir a

alegaccedilatildeo da insuficiecircncia de recursos manteve a sua natureza subjetiva natildeo revelando

qualquer criteacuterio objetivo para elucidaacute-lo

Sobre esse aspecto o presente trabalho engendra um debate para saber se o

legislador caminhou ou natildeo bem expondo os pontos positivos e negativos quanto ao

indeterminismo do pressuposto insuficiecircncia de recursos e refletindo a respeito de suas

consequecircncias no mundo juriacutedico ndash principalmente a reaccedilatildeo da jurisprudecircncia ndash e tambeacutem na

sociedade tendo como metodologia acolhida a bibliograacutefica

1 O ACESSO Agrave JUSTICcedilA OS DIREITOS FUNDAMENTAIS E A

GRATUIDADE DE JUSTICcedilA ndash PRELIMINAR E INDISSOCIAacuteVEL

COMPREENSAtildeO

O direito agrave gratuidade da justiccedila eacute um direito fundamental do jurisdicionado (e natildeo

um simples benefiacutecio) A Constituiccedilatildeo Federal em seu artigo 5ordm LXXIV prevecirc que ldquoo Estado

prestaraacute assistecircncia juriacutedica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiecircncia de

recursosrdquo Ele tem o desiderato de evitar que a insuficiecircncia de recursos financeiros

represente um obstaacuteculo insuperaacutevel ao acesso agrave justiccedila1

1 Art 5ordm XXXV CF A lei natildeo excluiraacute da apreciaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio lesatildeo ou ameaccedila a direito

157

A justiccedila deve estar ao alcance de todos2 ricos e pobres competindo ao Estado ndash na

sua atuaccedilatildeo positiva ndash como seu gestor3 garantir que a pessoa de parcos recursos financeiros

tenha condiccedilotildees de acionar o Poder Judiciaacuterio da mesma forma que o afortunado

Como afirma Boaventura de Souza Santos ldquoo tema do acesso agrave justiccedila eacute aquele que

mais diretamente equaciona as relaccedilotildees entre o processo civil e a justiccedila social entre

igualdade juriacutedico-formal e desigualdade socioeconocircmicardquo (2003 p167)

Para Cappelletti e Garth uma das finalidades do termo acesso agrave justiccedila eacute determinar

que o sistema juriacutedico fosse igualmente acessiacutevel a todos e reafirmam a importacircncia de sua

efetividade

De fato o direito ao acesso efetivo tem sido progressivamente reconhecido como sendo de importacircncia capital entre os novos individuais sociais uma vez que a titularidade de direitos eacute destituiacuteda de sentidos na ausecircncia de mecanismos para sua efetiva reivindicaccedilatildeo O acesso agrave Justiccedila pode portanto ser encarado como requisito fundamental ndash o mais baacutesico dos direitos humanos ndash de um sistema juriacutedico moderno e igualitaacuterio que pretenda garantir e natildeo apenas proclamar os direitos de todos (2002 p 4)

Os referidos autores identificam vaacuterios oacutebices ao acesso agrave justiccedila ndash entre elas as

desigualdades socioeconocircmicas ndash e sequencialmente propotildeem soluccedilotildees praacuteticas ao

problema emergindo como primeira a assistecircncia judiciaacuteria ao que eles denominaram de

ldquoprimeira ondardquo (CAPPELLETI GARTH 2002 p 6-12)

Nesse vieacutes a gratuidade da justiccedila ndash natildeo tecendo nesse primeiro momento qualquer

consideraccedilatildeo acerca das distinccedilotildees terminoloacutegicas ndash eclode com um importante mecanismo

viabilizador do acesso agrave justiccedila e tem a preciacutepua finalidade de dar efetividade a outros direitos

fundamentais constitucionalmente previstos como a igualdade (art 5 caput CF) a cidadania

(art 1ordm inciso II CF) e a proacutepria dignidade da pessoa humana (art 1ordm inciso III CF)

2 Eacute o que Emeteacuterio Silva e Juvecircncio Vasconcelos chamam de universalizaccedilatildeo ou horizontalizaccedilatildeo do acesso agrave justiccedila ensinando que ldquoHorizontalizar eacute fazer com que agrave todas as pessoas (pobres ou ricas) sejam assegurados os mesmos meios de acesso agrave justiccedila Eacute promover a isonomia ou seja a igualdade na e perante a lei pois esta lsquonatildeo deve ser fonte de privileacutegios ou perseguiccedilotildees mas instrumento regulador da vida social que necessita tratar equitativamente todos os cidadatildeosrsquo (BANDEIRA DE MELLO 2013 p 10) Com efeito o acesso agrave justiccedila nos termos do artigo 60 sect 4ordm inciso IV da Carta de 88 eacute claacuteusula peacutetrea e por estaacute alccedilado agrave categoria hieraacuterquica superior natildeo pode sofrer menoscabos o que exclui possiacuteveis discriminaccedilotildees arbitraacuterias entre as pessoas quando da execuccedilatildeo desta garantia fundamental Assim considerando a forccedila normativa da constituiccedilatildeo23 portanto das normas de direitos e garantias nela previstas a universalizaccedilatildeo do acesso agrave justiccedila aliada a efetividade da tutela jurisdicional ou dos meios assecuratoacuterios de direitos fomentadores da justiccedila social avultam imprescindiacuteveis (NETO Emeteacuterio Silva de Oliveira VIANA Juvecircncio Vasconcelos Acesso agrave justiccedila e o novo Coacutedigo de Processo Civil um olhar criacutetico In Acesso agrave justiccedila (recurso eletrocircnico on-line) Florianoacutepolis CONPEDIUFSC 2015 p 186 3 A jurisdiccedilatildeo eacute monopoacutelio do Estado proibindo a lei que as pessoas faccedilam justiccedila com as proacuteprias matildeos salvo raras exceccedilotildees como por exemplo as hipoacuteteses de autotutela ndash arts 1210 e 1219 do Coacutedigo Civil

158

Agrave medida que se busca a efetividade dos direitos fundamentais o direito processual

passa a ter um importante papel nessa missatildeo4 pois eacute ele quem indica qual eacute o (melhor)

caminho para se alcanccedilar o direito material sob essa perspectiva vecirc-se a necessidade de

atualizaccedilatildeo da lei processual a fim de se adequar as exigecircncias da sociedade moderna

A uacutenica lei que regulamentava o benefiacutecio da justiccedila gratuita data de 1950 eacute uma lei

natildeo soacute defasada do ponto de vista material e processual como tambeacutem dotada de

imperfeiccedilotildees teacutecnicas e entraves agrave concessatildeo do benefiacutecio Era preciso simplificar e

desmistificar para entatildeo avanccedilar ndash pelo menos um degrau ndash na universalizaccedilatildeo do acesso agrave

justiccedila e a Lei nordm 131052015 que alterou o Coacutedigo de Processo Civil (CPC) o fez

O autor Luiz Dellore (2015) ao tecer elogios ao legislador diz que ldquoas inovaccedilotildees do

CPC simplificam o procedimento buscam evitar abuso dos requentes da gratuidade e

especialmente pretendem obstar debates laterais e incidentes para que se possa focar na

discussatildeo do meacuteritordquo

2 O COacuteDIGO DE PROCESSO CIVIL EM VIGOR E AS INOVACcedilOtildeES

RELATIVAS Agrave GRATUIDADE DE JUSTICcedilA

A atualmente (e corretamente) nominada gratuidade da justiccedila foi profundamente

reformulada pelo Coacutedigo de Processo Civil As mudanccedilas satildeo muito significativas o Coacutedigo

consolidou o assunto em seis dispositivos do artigo 98 ao artigo 102 aleacutem do que revogou

expressamente vaacuterios artigos da Lei nordm 106050 (arts 2ordm 3ordm 4ordm 6ordm 7ordm 11 12 e 17)

Considerando isso o artigo pontuaraacute as alteraccedilotildees legitimadas

21Terminologia

O Coacutedigo corrigiu os equiacutevocos praticados quanto agrave terminologia que redundavam

em incompreensotildees acerca do tema Natildeo se pode confundir assistecircncia judiciaacuteria gratuita

gratuidade da justiccedila (justiccedila gratuita) e assistecircncia juriacutedica integral e gratuita

A assistecircncia judiciaacuteria gratuita consiste no patrociacutenio gratuito da causa seja por

advogado do Estado entidades conveniadas com o Estado escritoacuterios de praacutetica juriacutedica das

faculdades de Direito ou mesmo advogados particulares nomeados como dativos Jaacute a

gratuidade da justiccedila traduz-se na isenccedilatildeo para o adiantamento das custas do processo Por

4 O processo natildeo deveria ser colocado no vaacutecuo Os juiacutezes precisam agora reconhecer que as teacutecnicas processuais servem a questotildees sociais [] o lsquoacessorsquo natildeo eacute apenas um direito social fundamental crescentemente reconhecido ele eacute tambeacutem necessariamente o ponto central da moderna processualiacutestica CAPPELLETTI Mauro GARTH Bryant Acesso agrave justiccedila Trad Ellen Gracie Northfleet Porto Alegre Seacutergio Fabris Editor 2002 p 5

159

sua vez a assistecircncia juriacutedica integral e gratuita engloba aleacutem da representaccedilatildeo do

hipossuficiente em juiacutezo a orientaccedilatildeo juriacutedica dele em questotildees extrajudiciais (TARTUCE

DELLORE 2014 p 308 e 309)

Preconiza Rafael Alexandria de Oliveira

Eacute comum a confusatildeo quanto aos conceitos de benefiacutecio da justiccedila gratuita (ou da gratuidade da justiccedila ou ainda da gratuidade judiciaacuteria) de assistecircncia judiciaacuteria e de assistecircncia juriacutedica Todos eles decorrem do direito fundamental agrave assistecircncia juriacutedica integral e gratuita de que trata o art 5ordm LXXIV da CF1988 mas natildeo se confundem Pontes de Miranda (a) benefiacutecio da justiccedila gratuita eacute como jaacute dito a dispensa do adiantamento de despesas processuais para o qual se exige a tramitaccedilatildeo de um processo judicial o requerimento da parte interessada e o deferimento do juiacutezo perante o qual o processo tramita (b) assistecircncia judiciaacuteria consiste no direito de a parte ser assistida gratuitamente por um profissional do Direito normalmente membro da Defensoria Puacuteblica da Uniatildeo do Estados ou do Distrito Federal e que natildeo depende do deferimento do juiacutezo nem mesmo da existecircncia de um processo judicial (c) assistecircncia juriacutedica eacute um conceito mais amplo que abrange o benefiacutecio da justiccedila gratuita e a assistecircncia judiciaacuteria mas vai aleacutem deles englobando todas as iniciativas do Estado (em sentido amplo) que tecircm por objetivo promover uma aproximaccedilatildeo entre a sociedade e os serviccedilos juriacutedicos ndash como por exemplo as campanhas de conscientizaccedilatildeo de direitos do consumidor promovidas por oacutergatildeos administrativos e os serviccedilos juriacutedicos itinerantes prestados agrave populaccedilatildeo carente (2015 p 355)

Semelhantemente Augusto Tavares Rosa Marcacini desenvolve um conceito

distinguindo os institutos da assistecircncia judiciaacuteria justiccedila gratuita e a assistecircncia juriacutedica

integral e gratuita

A Constituiccedilatildeo Federal de 1988 em seu artigo 5ordm inciso LXXIV inclui entre os direitos e garantias individuais a assistecircncia juriacutedica integral e gratuita Utiliza a Lei Maior um terceiro conceito que tambeacutem natildeo deve ser confundido como sinocircnimo de assistecircncia judiciaacuteria ou justiccedila gratuita Por justiccedila gratuita deve ser entendida a gratuidade de todas as causas e despesas judiciais ou natildeo relativas a atos necessaacuterios ao desenvolvimento do processo e agrave defesa dos direitos do beneficiaacuterio em juiacutezo O benefiacutecio da justiccedila gratuita compreende a isenccedilatildeo de toda e qualquer despesa necessaacuteria ao pleno exerciacutecio dos direitos e das faculdades processuais sejam tais despesas judiciais ou natildeo Abrange assim natildeo somente as custas relativas aos atos processuais a serem praticados como tambeacutem todas as despesas decorrentes de efetiva participaccedilatildeo na relaccedilatildeo processual A assistecircncia judiciaacuteria envolve o patrociacutenio gratuito da causa por advogado A assistecircncia judiciaacuteria eacute pois um serviccedilo puacuteblico organizado consistente na defesa em juiacutezo do assistido que deve ser oferecido pelo Estado mas que pode ser desempenhado por entidades natildeo-estatais conveniadas ou natildeo com o Poder Puacuteblico [] Por sua vez a assistecircncia juriacutedica engloba a assistecircncia judiciaacuteria sendo ainda mais ampla que esta por envolver tambeacutem serviccedilos juriacutedicos natildeo relacionados ao processo tais como orientaccedilotildees individuais ou coletivas o esclarecimento de duacutevidas e mesmo um programa de informaccedilatildeo a toda a comunidade (2009 p 40-43)

O Coacutedigo de Processo Civil ao usar o termo teacutecnico gratuidade da justiccedila

acertadamente corrigiu as distorccedilotildees terminoloacutegicas afastando qualquer possibilidade de

160

confusatildeo que se possa fazer com a assistecircncia judiciaacuteria gratuita e a assistecircncia juriacutedica

integral e gratuita

22 Beneficiaacuterios

De acordo com a legislaccedilatildeo processual em vigor podem ser beneficiaacuterios da justiccedila

gratuita a pessoa natural ou juriacutedica brasileira ou estrangeira

A redaccedilatildeo do Coacutedigo de Processo Civil encerrou uma discussatildeo histoacuterica pontuada

jurisprudencialmente pelo STJ e agora reconhecida legislativamente ao prever (art 98

caput) que a pessoa juriacutedica tem direito ao benefiacutecio da gratuidade da justiccedila

Para que a pessoa juriacutedica seja beneficiada com a gratuidade da justiccedila natildeo basta a

mera declaraccedilatildeo devendo demonstrar que efetivamente necessita do benefiacutecio

independentemente de ter ou natildeo finalidade lucrativa (MEDINA 2015 p 190)

Natildeo obstante a utilizaccedilatildeo do termo ldquopessoardquo entende-se que o benefiacutecio pode ser

gozado pelos entes despersonalizados como por exemplo o condomiacutenio a massa falida etc

(OLIVEIRA 2015 p 357-358)

Aleacutem disso o art 98 estende o benefiacutecio da justiccedila gratuita aos estrangeiros sejam

eles residentes ou natildeo no paiacutes diferentemente do que traz o caput do art 5ordm da CF88 que em

relaccedilatildeo agrave generalidade dos direitos fundamentais engloba apenas os estrangeiros residentes no

paiacutes (NERY JUNIOR NERY 2015 p 472)

23 Pressupostos

A letra do Coacutedigo de Processo Civil alterou o aspecto objetivo para a concessatildeo do

benefiacutecio passando a constar apenas a ldquoinsuficiecircncia de recursos financeirosrdquo para o

adiantamento das custas natildeo mais se exige a situaccedilatildeo de miserabilidade da parte requerente

como tambeacutem se aboliu o uso da expressatildeo ldquoa parte natildeo pode arcar com as custas sem

prejuiacutezo do sustento proacuteprio ou da famiacuteliardquo

Para que se conceda o benefiacutecio haacute uma presunccedilatildeo iuris tantum de veracidade da

declaraccedilatildeo feita pela parte pessoa natural mas soacute com relaccedilatildeo agrave pessoa natural a pessoa

juriacutedica deve comprovar a impossibilidade de adiantar as custas

Apesar desta mudanccedila de paradigma a lei natildeo dispocircs de forma suficientemente clara

o que significa ldquoinsuficiecircncia de recursosrdquo e quais seriam os seus paracircmetros miacutenimos

deixando mais uma vez ao encargo do inteacuterprete a funccedilatildeo de aquilatar se o requerente faz jus

ou natildeo agrave benesse o que certamente continuaraacute acarretando distorccedilotildees e inseguranccedila juriacutedica

161

O subjetivismo da expressatildeo seraacute mais bem aprofundado no toacutepico seguinte mesmo

porque a sua discussatildeo constituiu um dos pilares do presente artigo

24 Abrangecircncia

A Lei da Assistecircncia Judiciaacuteria previa em seu artigo 3ordm quais seriam as despesas

processuais compreendidas pelo benefiacutecio da justiccedila gratuita e nesse aspecto a norma era

satisfatoacuteria entatildeo o Coacutedigo de Processo Civil manteve o que tinha na Lei nordm 106050 e

avanccedilou como por exemplo no tocante agrave previsatildeo da remuneraccedilatildeo do inteacuterprete e do

tradutor bem como na realizaccedilatildeo de memoacuteria de caacutelculo pelo contador para fins de execuccedilatildeo

entre outros

O art 98 sect1ordm do Coacutedigo em vigecircncia tratou de exemplificativamente discriminar as

despesas processuais que podem ser compreendidas pela gratuidade da justiccedila algumas delas

jaacute previstas no art 3ordm da Lei nordm 106050 agora expressamente revogado

O beneficiaacuterio estaacute dispensado de adiantar o pagamento de taxas ou custas judiciaacuterias

(inciso I) O CPC foi redundante ao prever taxas e custas mormente porque tais despesas tem

o mesmo significado elas ldquodesignam o valor que se deve pagar ao Estado pela prestaccedilatildeo do

serviccedilo judiciaacuterio Tecircm natureza juriacutedica tributaacuteria constituindo-se numa taxa [] a

concessatildeo do beneficio natildeo constitui isenccedilatildeo tributaacuteria visto que natildeo dispensa o pagamento

em si mas sim o adiantamento da verbardquo (OLIVEIRA 2015 p 359)

As despesas com postagens de qualquer natureza e com publicaccedilatildeo na imprensa

oficial tambeacutem satildeo abrangidas pelo benefiacutecio da justiccedila gratuita (incisos II e III)

O benefiacutecio engloba tambeacutem as indenizaccedilotildees de testemunhas (inciso IV) tanto os

custos com a viagem para depor em juiacutezo quanto agraves relativas ao dia de trabalho ganho e natildeo

trabalhado que deve ser paga ao empregador (NERY JUNIOR NERY 2015 p 472)

As despesas com realizaccedilatildeo do exame de DNA (inciso V) tambeacutem satildeo albergadas

pelo benefiacutecio da gratuidade da justiccedila Aliaacutes o Coacutedigo de Processo Civil inovou em relaccedilatildeo agrave

Lei da Assistecircncia Judiciaacuteria Gratuita incluindo neste inciso outros exames periciais

considerados essenciais

Os honoraacuterios do advogado e do perito a remuneraccedilatildeo do inteacuterprete tradutor e

contador e todos os terceiros que de alguma forma contribuem para o Poder Judiciaacuterio

(inciso VI e VII) estatildeo cobertos pela benesse da gratuidade

Importante destacar que o afastamento da responsabilidade pelo adiantamento das

custas dos honoraacuterios advocatiacutecios natildeo se refere aos honoraacuterios de sucumbecircncia devidos pelo

162

beneficiaacuterio ao advogado da parte contraacuteria nos termos do sect2ordm do artigo 98 mas tatildeo somente

os honoraacuterios devidos ao seu proacuteprio advogado quando este eacute nomeado pelo juiz ou seja o

defensor dativo (OLIVEIRA 2015 p 361)

O art 95 sect3ordm do Coacutedigo Processual Civil normatiza a respeito do custeio da periacutecia

(inclusive honoraacuterios) na hipoacutetese de o responsaacutevel pelo pagamento de tal despesa ser

beneficiaacuterio da justiccedila gratuita Dispotildee o paraacutegrafo que nessa hipoacutetese a periacutecia seraacute

realizada preferencialmente por um servidor do Poder Judiciaacuterio ou por oacutergatildeo conveniado e

subsidiariamente por particular Em ambos os casos os honoraacuterios seratildeo custeados com

recursos do orccedilamento do ente puacuteblico respectivo ndash Uniatildeo e Estado ou Distrito Federal

Ainda possibilita a legislaccedilatildeo processual civil que a Fazenda Puacuteblica recobre o

valor despendido a tiacutetulo de honoraacuterios periciais daquele que for condenado ao pagamento de

tais verbas (art 95 sect4ordm CPC) no caso de ser a parte vencida beneficiaacuteria da gratuidade da

justiccedila o ente puacuteblico deve observar as regras pertinentes agrave sucumbecircncia e a exigibilidade sob

condiccedilatildeo suspensiva previstas nos paraacutegrafos sectsect2ordm e 3ordm do art 98 Mas em nenhuma hipoacutetese

transferir tal ocircnus a outra parte natildeo beneficiaacuteria

Tambeacutem estatildeo incluiacutedos no conceito de gratuidade da justiccedila os depoacutesitos devidos

para interposiccedilatildeo de recurso propositura de accedilatildeo e para a praacutetica de outros atos processuais

inerentes ao exerciacutecio da ampla defesa e do contraditoacuterio (inciso VIII) esse dispositivo acaba

por servir como uma claacuteusula geral incluindo todas aquelas despesas natildeo arroladas nos

incisos anteriores e que por estarem intrinsicamente relacionadas ao exerciacutecio do

contraditoacuterio e da ampla devem ser afastadas

Por fim e natildeo menos importante trouxe uma importante inovaccedilatildeo incluindo os

emolumentos dos registradores e notaacuterios relativos a atos de averbaccedilatildeo e registro decorrentes

de processo judicial em que houve a concessatildeo do benefiacutecio da gratuidade (inciso IX)

O Coacutedigo de Processo Civil estendeu para o acircmbito extrajudicial o benefiacutecio da

gratuidade da justiccedila concedido judicialmente garantindo-se assim a prestaccedilatildeo jurisdicional

em sua inteireza

Outrossim o sect 8ordm do artigo 98 preconiza que se o tabeliatildeo ou registrador no

momento da realizaccedilatildeo do ato cartorial tiver duacutevida fundada quanto ao preenchimento dos

pressupostos para a concessatildeo da justiccedila gratuita ndash ou seja insuficiecircncia de recursos ndash pode

requerer ao juiacutezo competente para decidir questotildees notariais ou registrais (competecircncia do

juiz corregedor dos cartoacuterios extrajudiciais) que revogue a gratuidade ou permita o

parcelamento dos valores devido (DELLORE 2015)

163

Esse paraacutegrafo deu ensejo a algumas criacuteticas para Luiz Dellore o questionamento

judicial acerca da capacidade financeira da parte para arcar com as despesas notariais e

registrais

[] natildeo parece ser uma atividade jurisdicional mas administrativa em analogia agrave lsquosuscitaccedilatildeo de duacutevidarsquo hoje existente Trata-se de uma esdruacutexula inovaccedilatildeo que traz ainda mais temas para decisatildeo do Poder Judiciaacuterio Assim aleacutem de todas as questotildees que o juiz deve decidir teraacute ainda de apreciar se uma parte de um processo jaacute findo ainda tem ou natildeo dificuldades financeiras para fins de pagamento de taxas de cartoacuterio (2015)

Ainda no que tange a abrangecircncia do benefiacutecio impende destacar que as multas

processuais de qualquer natureza ndash como por exemplo as multas por litigacircncia de maacute-feacute e por

ato atentatoacuterio a dignidade da justiccedila ndash natildeo estatildeo abarcadas pela gratuidade da justiccedila pois

elas satildeo puniccedilotildees a comportamentos iliacutecitos ldquoE natildeo poderia ser diferente a gratuidade da

justiccedila natildeo pode servir como escudo para a procrastinaccedilatildeo e a litigacircncia de maacute-feacute Daiacute a razatildeo

pela qual o beneficiaacuterio da justiccedila gratuita deve ser executado normalmente em relaccedilatildeo a

elesrdquo (NERY JUNIOR NERY 2015 p 474)

25 Modulaccedilatildeo do benefiacutecio

Outra importante novidade trazida pela Lei nordm 1310515 foi a possibilidade do juiz

modular os efeitos do benefiacutecio abrangendo apenas alguns dos custos do processo ou mesmo

parcelar as despesas processuais (art 98 sectsect5ordm e 6ordm CPC)

Tal medida eacute interessante ao passo que o postulante pode ter condiccedilotildees financeiras

de arcar apenas com algumas despesas processuais como por exemplo as custas e taxas

todavia natildeo dispor de recursos para pagar os honoraacuterios periciais por exemplo Ainda ao

longo do processo pode sobrevir mudanccedila na condiccedilatildeo financeira da parte e ela passar por

dificuldades para custear as despesas processuais nesse ponto o juiz poderaacute conceder-lhe os

benefiacutecios a partir de tal momento

A possibilidade de parcelamento das despesas processuais sugere que o legislador

quis dizer que a concessatildeo da gratuidade da justiccedila eacute a uacuteltima opccedilatildeo sendo possiacutevel agrave parte

arcar com as despesas de forma parcelada o juiz deve optar pelo seu seccionamento e natildeo a

sua dispensa (NERY JUNIOR NERY 2015 p 474)

26 Responsabilidade do beneficiaacuterio

A gratuidade da justiccedila como jaacute dito eacute um instrumento do acesso agrave justiccedila daqueles

que se declaram financeiramente desprovidos de condiccedilotildees de custear o processo Isso

164

significa que se o beneficiaacuterio for perdedor em uma demanda ele seraacute igualmente responsaacutevel

pelo pagamento do ocircnus inerente a sua derrota a diferenccedila reside no fato de poder exigir ou

natildeo a sua cobranccedila

Se o beneficiaacuterio for vencido ele teraacute responsabilidade pelas despesas processuais

ele deveraacute reembolsar os gastos realizados pela outra parte seraacute condenado agraves verbas

sucumbenciais ficando todavia sob condiccedilatildeo suspensiva de exigibilidade podendo ser

cobradas pelo credor no prazo de 5 (cinco) anos contados do tracircnsito em julgado da decisatildeo

que fixou a sucumbecircncia desde que demonstre a ocorrecircncia um fato superveniente que

alterou a condiccedilatildeo financeira do beneficiaacuterio (MEDINA 2015 p 188-189)

Repisa-se a gratuidade natildeo isenta o seu beneficiaacuterio do pagamento das despesas

processuais tatildeo somente as coloca sob condiccedilatildeo suspensiva de exigibilidade

27 Requerimento e impugnaccedilatildeo

O benefiacutecio da gratuidade natildeo pode ser concedido de ofiacutecio pelo juiz devendo a

parte interessada requerecirc-lo no primeiro momento em que ela ingressa no feito ndash peticcedilatildeo

inicial contestaccedilatildeo ou na peccedila de ingresso do terceiro interveniente ndash ou em um momento

posterior ndash por meio de peticcedilatildeo simples ou mesmo no bojo de outra manifestaccedilatildeo ndash inclusive

na m grau recursal (art 99 caput e sect1ordm do CPC)

Nesse aspecto natildeo haacute um momento processual preacute-estabelecido e uacutenico para o

requerimento da gratuidade da justiccedila todavia o tempo do pedido eacute importante para delimitar

quais satildeo as despesas processuais que se dispensa o adiantamento isto porque a concessatildeo do

benefiacutecio tem efeito prospectivo natildeo alcanccedilando os atos processuais jaacute praticados

(OLIVEIRA 2015 p 371-372)

O requerimento natildeo demanda maiores formalidades devendo a parte apenas declarar

a insuficiecircncia de recursos se pessoa natural no caso de pessoa juriacutedica deveraacute ainda

comprovar a necessidade do benefiacutecio

O juiz ao analisar o pedido de gratuidade formulado apenas o indeferiraacute se nos autos

existiram elementos que demonstrem que o postulante natildeo preenche o pressuposto da

insuficiecircncia de recursos Todavia antes de indeferi-lo deve oportunizar a parte que

comprove a alegada carecircncia financeira para custear o processo (art 99 sect2ordm CPC)

A oportunidade de ser ouvido antes do indeferimento do pedido de gratuidade da

justiccedila somente se aplica a pessoa natural uma vez que em seu favor haacute presunccedilatildeo de

veracidade da alegaccedilatildeo de hipossuficiecircncia natildeo necessitando juntar qual prova nesse sentido

165

no momento da realizaccedilatildeo do pedido diferentemente do que acontece com a pessoa juriacutedica

que ao postular o benefiacutecio jaacute deve comprovar a sua necessidade (OLIVEIRA 2015 p 373)

Importante destacar que o Coacutedigo de Processo Civil encerrando discussotildees

expressamente previu que a assistecircncia do requerente por advogado particular por si soacute natildeo

constitui oacutebice para a concessatildeo do benefiacutecio (art 99 sect4ordm)

Na hipoacutetese de natildeo concessatildeo do pedido o requerente poderaacute interpor agravo de

instrumento nos termos do art 101 caput do CPC salvo se a questatildeo for solvida na

sentenccedila hipoacutetese em que caberaacute apelaccedilatildeo De outro lado se concedido poderaacute a parte

contraacuteria impugnaacute-lo

A impugnaccedilatildeo agrave gratuidade da justiccedila sofreu importantes alteraccedilotildees com o Coacutedigo de

Processo Civil a primeira delas eacute que ela natildeo mais se processa em autos apartados devendo

ser formulada nos proacuteprios autos Sem maiores formalidades a impugnaccedilatildeo deve ser

oferecida pela parte no primeiro momento posterior agrave concessatildeo que lhe couber falar nos

autos ou seja se o benefiacutecio for deferido por ocasiatildeo da peticcedilatildeo inicial deve o reacuteu impugnaacute-

la jaacute na contestaccedilatildeo se concedido ao reacuteu por ocasiatildeo da contestaccedilatildeo deve o autor impugnaacute-la

na reacuteplica se deferido no momento da interposiccedilatildeo do recurso a impugnaccedilatildeo deve ser

oferecida nas contrarrazotildees recursais e se o pedido for superveniente deve a parte contraacuteria

impugnaacute-lo no prazo de 15 (quinze) dias contados de sua concessatildeo

Haacute todavia algumas questotildees que natildeo restaram suficientemente esclarecidas pelo

Coacutedigo de Processo Civil no que concerne a impugnaccedilatildeo agrave gratuidade da Justiccedila Entre elas

o autor Luiz Dellore (2015) aponta o termo inicial do prazo para a impugnaccedilatildeo defendendo o

autor que este deveria se dar a partir do momento que a parte contraacuteria tomasse conhecimento

da situaccedilatildeo de natildeo hipossuficiecircncia da parte sob pena de se limitar o instituto

Outro ponto diz respeito ao ocircnus da prova na impugnaccedilatildeo pois o legislador

manteve-se silente nesse aspecto

A doutrina se inclina a defender que o ocircnus de comprovar que o beneficiaacuterio natildeo faz

jus agrave gratuidade eacute do impugnante ante a existecircncia de presunccedilatildeo relativa da necessidade com

a mera alegaccedilatildeo de insuficiecircncia de recursos (NERY JUNIOR NERY 2015 p 479)

28 Revogaccedilatildeo do benefiacutecio

A revogaccedilatildeo do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila implica na obrigaccedilatildeo da parte ex-

beneficiaacuteria de recolher todas as despesas de deixou de adiantar inclusive as despesas que

foram eventualmente adiantadas pelo ente puacuteblico (periacutecia por exemplo) e as vindouras (art

166

100 paraacutegrafo uacutenico do CPC) isso no caso de a parte natildeo fazer jus ao benefiacutecio desde o

momento em que a requereu (OLIVEIRA 2015 p 377)

No entanto a revogaccedilatildeo pode se dar pelo fato de ter cessado a situaccedilatildeo de

hipossuficiecircncia econocircmica que ensejou o benefiacutecio hipoacutetese em que ela apenas teraacute que

arcar com as despesas processuais a partir do momento que passou a dispor da boa condiccedilatildeo

financeira

Ainda evidenciada a maacute-feacute do ex-beneficiaacuterio o Coacutedigo de Processo Civil prevecirc a

aplicaccedilatildeo de multa de ateacute o deacutecuplo das despesas que tiver deixado de adiantar ndash nesse caso

natildeo basta a mera revogaccedilatildeo do benefiacutecio

Decidiu-se antes da entrada em vigor do Coacutedigo que ldquodeve ser cabalmente

demonstrada a intenccedilatildeo da parte em induzir o Poder Judiciaacuterio a erro se aproveitando

indevidamente do benefiacuteciordquo (MEDINA 2015 p 191)

Em linhas gerais essas satildeo algumas das alteraccedilotildees consubstanciadas pelo Coacutedigo de

Processo Civil em relaccedilatildeo ao benefiacutecio da gratuidade da justiccedila malgrado a lei processual natildeo

tenha esgotado o tema esclareceu vaacuterios pontos que antes era debatido pela jurisprudecircncia

Aleacutem do mais importante pontuar que o legislador reformador repensou o processo

civil atento aos anseios da sociedade moderna e preocupado com a efetividade dos direitos

constitucionais ndash acesso agrave justiccedila por exemplo ndash prevendo expressamente no artigo 1ordm do

CPC que ldquoo processo civil seraacute ordenado disciplinado e interpretado conforme os valores e

normas fundamentais estabelecidas na Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasilrdquo

Ocorre entretanto que mesmo diante de significativas alteraccedilotildees o legislador ainda

natildeo preencheu ou objetivou o pressuposto de concessatildeo dos benefiacutecios anteriormente citados

sendo remanescente o subjetivismo da anaacutelise do termo ldquoinsuficiecircncia de recursosrdquo o que

passaraacute a ser refletido no presente artigo

3 O SUBJETIVISMO DO PRESSUPOSTO INSUFICIEcircNCIA DE RECURSOS

Conforme jaacute visto o Coacutedigo de Processo Civil alterou o requisito para a concessatildeo

do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila bastando a declaraccedilatildeo de insuficiecircncia de recursos pela

pessoa natural e a sua comprovaccedilatildeo no caso de pessoa juriacutedica

Todavia eacute inegaacutevel a carga de subjetividade que haacute no conceito de insuficiecircncia de

recursos e como todo conceito juriacutedico vago traz certa inseguranccedila juriacutedica notadamente

porque pode acarretar decisotildees extremamente diacutespares no cotidiano forense uma vez que tal

anaacutelise (o que eacute insuficiecircncia de recursos) fica a criteacuterio do entendimento de cada

167

magistrado aleacutem do que pode gerar inuacutemeros abusos por parte dos seus requerentes ndash ainda

mais quando a mera alegaccedilatildeo eacute bastante agrave concessatildeo do benefiacutecio ndash que diferentemente do

que alegam gozam de boa sauacutede financeira para arcar com as despesas processuais

(TARTUCE DELLORE 2015 p 314-315)

Mesmo antes da alteraccedilatildeo do CPC ainda na Lei nordm 106050 jaacute discutia a doutrina e

a jurisprudecircncia acerca dos pressupostos para a concessatildeo do benefiacutecio ante a vagueza dos

conceitos de hipossuficiente necessitado carente de recursos financeiros para arcar com as

custas do processo sem prejuiacutezo do sustento proacuteprio e de sua famiacutelia e a falta de um criteacuterio

objetivo miacutenimo para a concessatildeo do benefiacutecio5

Nada obstante o progresso vivenciado com o Coacutedigo de Processo Civil de 2015 no

que tange a gratuidade da justiccedila vecirc-se que no ponto concernente agrave triagem dos

hipossuficientes de recursos o legislador conservou um conceito juriacutedico indeterminado

Segundo Frederico do Valle Abreu (2005) o conceito juriacutedico indeterminado eacute

caracterizado pela ldquovaguidade semacircntica existente em certa norma com a finalidade de que

ela a norma permaneccedila ao ser aplicada sempre atual e correspondente aos anseios da

sociedade nos vaacuterios momentos histoacutericos em que a lei eacute interpretada e aplicadardquo

Assim o conteuacutedo abstrato do pressuposto insuficiecircncia de recursos tenha sido

propositadamente pensado pelo legislador por entender que o inteacuterprete na anaacutelise casuiacutestica

goza de melhores condiccedilotildees para valoraacute-lo refletindo pois uma decisatildeo mais justa

O autor Augusto Tavares Rosa Marcacini defende que a insuficiecircncia de recursos eacute

um conceito indeterminado e natildeo segue um padratildeo rigoroso por isso a melhor soluccedilatildeo eacute a

anaacutelise caso a caso

O conceito de necessitado natildeo eacute determinado mediante regras riacutegidas matemaacuteticas natildeo se utilizando limites numeacutericos determinados Tecircm direito ao benefiacutecio aqueles que natildeo podem arcar com os gastos necessaacuterios agrave participaccedilatildeo no processo na medida em que contabilizados os seus ganhos e os seus gastos com o proacuteprio sustento e da famiacutelia natildeo lhe reste numeraacuterio suficiente para tanto O direito ao benefiacutecio decorre da indisponibilidade financeira do sujeito Em face da notoacuteria insuficiecircncia do salaacuterio miacutenimo vigente em nosso paiacutes pode ser possiacutevel presumir que aquele que aufere ateacute cinco salaacuterios miacutenimos por exemplo eacute quase que certamente merecedor de usufruir dos benefiacutecios Mas como dissemos natildeo se deve utilizar nuacutemeros fechados como criteacuterio Um chefe de uma famiacutelia numerosa que pague aluguel e que tenha filhos em idade escolar por exemplo mesmo percebendo o equivalente a dez salaacuterios miacutenimos pode natildeo ter condiccedilotildees de arcar com as despesas de um processo De outro lado um jovem que viva com os pais os quais

5 Fernanda Tartuce e Luiz Dellore por exemplo no artigo escrito em coautoria Gratuidade da Justiccedila no novo CPC divergem sobre o assunto enquanto ela acredita ser acertada a opccedilatildeo do legislador em trazer um conceito dotado de subjetividade por outro lado ele discorda defendendo que ainda que a norma deixasse uma margem para a decisatildeo do juiz de acordo com a casuiacutestica deveria ao menos estabelecer um criteacuterio objetivo miacutenimo de modo a evitar disparidades nas decisotildees (2015 314-315)

168

provecircm o seu sustento moradia e estudo e que ganhe uns dois ou trecircs salaacuterios miacutenimos que natildeo satildeo empregados em qualquer despesa essencial para sua mantenccedila pode natildeo ser considerado beneficiaacuterio (2009 p 90-91)

Nesse espectro o aplicador da norma juriacutedica eacute quem tem o poder-dever de

materializar no caso concreto o conceito juriacutedico indeterminado do que eacute ser necessitado

economicamente para arcar com as despesas processuais dando assim maior efetividade ao

preceito constitucional do acesso agrave justiccedila

Atento agraves alteraccedilotildees do Coacutedigo de Processo Civil quanto ao tema leciona Rafael

Alexandria de Oliveira

Insuficiecircncia de recursos Faz jus ao benefiacutecio da gratuidade aquela pessoa com lsquoinsuficiecircncia de recursos para pagar as custas despesas processuais e honoraacuterios advocatiacuteciosrsquo Natildeo se exige a miserabilidade nem estado de necessidade nem tampouco se fala em renda familiar ou faturamento maacuteximos Eacute possiacutevel que uma pessoa natural mesmo com boa renda mensal seja merecedora do benefiacutecio e que tambeacutem o seja aquele sujeito que eacute proprietaacuterio de bens imoacuteveis mas natildeo dispotildee de liquidez A gratuidade judiciaacuteria eacute um dos mecanismos de viabilizaccedilatildeo do acesso agrave justiccedila natildeo se pode exigir que para ter acesso agrave justiccedila o sujeito tenha que comprometer significativamente a sua renda ou tenha que se desfazer de seus bens liquidando-os para angariar recursos e custear o processo A lei natildeo fala em nuacutemeros natildeo estabelece paracircmetros O sujeito que ganha boa renda mensal pode ser tatildeo merecedor do benefiacutecio quanto aquele que sobrevive agrave custa de programas de complementaccedilatildeo de renda O que pode diferenciaacute-los eacute a maior ou menor dificuldade com que o pedido de concessatildeo do benefiacutecio eacute tratado o de melhor renda pode ser chamado a justificar o seu requerimento provando a insuficiecircncia de recursos Por isso mesmo nem sempre o beneficiaacuterio seraacute algueacutem em situaccedilatildeo de necessidade de vulnerabilidade de miseacuteria de penuacuteria Eacute preciso atentar para isso (2015 p 359)

Eacute compreensiacutevel a carga de subjetividade impregnada ao termo insuficiecircncia de

recursos notadamente porque o legislador adotando a teoria do direito processual

constitucional (art 1ordm do CPC) quis que a normativa do benefiacutecio atendesse realmente agraves

exigecircncias da sociedade hodierna deixando ao encargo do juiz o dever juriacutedico de buscar

identificar e adotar a soluccedilatildeo apta a no caso concreto alcanccedilar satisfatoriamente a finalidade6

da norma ndash de que garantir a todos o acesso agrave justiccedila

Todavia eacute cediccedilo que a valoraccedilatildeo de um conceito subjetivo pelo magistrado (assim

como para qualquer pessoa) transcende a sua formaccedilatildeo juriacutedica e mesmo que inconsciente

revela suas convicccedilotildees pessoais (crenccedilas valores referecircncias sociais) deste modo o que no

sentir de um julgador eacute pessoa hipossuficiente aos olhos do outro natildeo o eacute eacute aiacute que repousam

as ldquoinjusticcedilasrdquo

6 Interpretaccedilatildeo teleoloacutegica

169

A falta de a lei definir um criteacuterio objetivo miacutenimo para se determinar o que eacute a

insuficiecircncia de recursos demandou trabalho da doutrina e especialmente da jurisprudecircncia

que mesmo timidamente adotou os mais diversos paracircmetros

Nesse sentido uma das primeiras orientaccedilotildees que surge na jurisprudecircncia eacute a

necessidade de prova cabal da insuficiecircncia de recursos para a concessatildeo do benefiacutecio da

gratuidade agraves pessoas juriacutedicas7 Depois de muita discussatildeo o entendimento sedimentado na

jurisprudecircncia8 foi consagrado pelo legislador no Coacutedigo de Processo Civil de 2015 em seu

artigo 98 caput

Tambeacutem se firmou o entendimento de que o requerente que se dedica a emprestar

dinheiro natildeo faz jus ao benefiacutecio uma vez que tal circunstacircncia eacute incompatiacutevel com a alegada

necessidade (NERY JUNIOR NERY 2015 p 475)

Os Tribunais tambeacutem jaacute fixaram como criteacuterio objetivo para se determinar se o

requerente eacute realmente hipossuficiente a renda mensal inferior a dez salaacuterios miacutenimos9

todavia o Superior Tribunal de Justiccedila jaacute refutou a utilizaccedilatildeo desse criteacuterio sob o fundamento

de que a desconstituiccedilatildeo da presunccedilatildeo estabelecida pela lei de gratuidade de justiccedila exige

perquirir in concreto a atual situaccedilatildeo financeira do requerenterdquo10

Outro paracircmetro que tem sido utilizado pelos juristas para aferir a condiccedilatildeo de

miserabilidade do requerente eacute a faixa de isenccedilatildeo do Imposto de Renda extraiacutedo da tabela

progressiva do tributo devidamente atualizada11

O criteacuterio do patrociacutenio da causa por advogado particular para afastar a benesse jaacute

era rechaccedilado pela jurisprudecircncia12 e foi recepcionado pelo atual Coacutedigo de Processo Civil em

seu artigo 99 sect4ordm 7 Assistecircncia judiciaacuteria Pessoa juriacutedica Demonstraccedilatildeo cabal da insuficiecircncia de recursos 1 Ademais de fundamentado exclusivamente na interpretaccedilatildeo do art 5ordm LXXIV da Constituiccedilatildeo Federal o certo eacute que a Corte jaacute assentou a necessidade de demonstraccedilatildeo cabal da insuficiecircncia de recursos para que a empresa possa desfrutar dos benefiacutecios da assistecircncia judiciaacuteria 2 Recurso especial natildeo conhecido (STJ - REsp 182557 RJ 19980053550-0 Relator Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO Data de Julgamento 02091999 T3 - TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJ 25101999 p 79) 8 Suacutemula 481 STJ Faz jus ao benefiacutecio da justiccedila gratuita a pessoa juriacutedica com ou sem fins lucrativos que demonstrar sua impossibilidade de arcar com os encargos processuais 9 ADMINISTRATIVO AGRAVO DE INSTRUMENTO ASSISTEcircNCIA JUDICIAacuteRIA GRATUITA - AJG PARAcircMETRO DEZ SALAacuteRIOS MIacuteNIMOS 1 A Segunda Seccedilatildeo desta Corte vem consolidando entendimento no sentido de fixar patamar objetivo para a concessatildeo do benefiacutecio da AJG qual seja dez salaacuterios miacutenimo 2 Hipoacutetese em que a agravante comprovou renda mensal bem inferior ao limite paradigmaacutetico destacado inexistindo qualquer razatildeo para o indeferimento do pleito em prestiacutegio agrave norma de regecircncia (Lei n 10601950) e ao princiacutepio da acessibilidade (artigo 5ordm XXXV Constituiccedilatildeo Federal) (TRF-4 - AG 50101513420134040000 5010151-3420134040000 Relator NICOLAU KONKEL JUacuteNIOR Data de Julgamento 14082013 TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DE 16082013) 10 STJ - AgRg no AREsp 626487 MG 20140315675-3 Relator Ministro RICARDO VILLAS BOcircAS CUEVA Data de Julgamento 28042015 T3 - TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJe 07052015 11 TJ-PR - AI 14520235 PR 1452023-5 (Decisatildeo Monocraacutetica) Relator Paulo Cezar Bellio Data de Julgamento 27102015 16ordf Cacircmara Ciacutevel Data de Publicaccedilatildeo DJ 1683 05112015

170

O Superior Tribunal de Justiccedila preconiza que o inteacuterprete deve conjugar o binocircmio

necessidade-possibilidade assim para se conceder o benefiacutecio da gratuidade da justiccedila deve-

se considerar natildeo apenas os rendimentos mensais do requerente mas tambeacutem o

comprometimento de suas despesas13

A anaacutelise da condiccedilatildeo financeira do postulante deve ficar restrita a sua situaccedilatildeo

presente e natildeo ao seu histoacuterico de riquezas o simples fato de o requerente jaacute ter sido rico

empresaacuterio ou pessoa de posses natildeo significa que natildeo possa ser hoje pessoa pobre na

acepccedilatildeo juriacutedica do termo e necessitar da assistecircncia judiciaacuteria Da mesma forma a reciacuteproca

eacute verdadeira o pobre que eacute beneficiaacuterio da gratuidade pode por fatores supervenientes

tornar-se pessoa abastada financeiramente o que certamente lhe cassaraacute o benefiacutecio (NERY

JUNIOR NERY 2015 p 477)

Destarte a adoccedilatildeo pelo juiz de um paracircmetro como ponto de partida para verificar o

preenchimento dos requisitos para a concessatildeo da justiccedila gratuita natildeo deve ser visto como

violador da norma Bem da verdade a gratuidade da justiccedila eacute uma das portas de acesso ao

Poder Judiciaacuterio entretanto natildeo pode ser utilizada pelo beneficiaacuterio tatildeo-somente para se

furtar das obrigaccedilotildees oriundas do processo

A Lei nordm 106050 exigia em sua redaccedilatildeo original que o requerente comprovasse o

estado de pobreza alegado hoje ndash a partir da nova redaccedilatildeo dada ao art 4ordm sect1ordm da referida lei

pela Lei Federal nordm 751086 ndash basta a simples afirmaccedilatildeo de necessidade do benefiacutecio o que

inclusive eacute referendado pela jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila14 Nesse sentir o

12 Assistecircncia judiciaacuteria Defensoria Puacuteblica Advogado particular Interpretaccedilatildeo da Lei nordm 106050 1 Natildeo eacute suficiente para afastar a assistecircncia judiciaacuteria a existecircncia de advogado contratado O que a lei especial de regecircncia exige eacute a presenccedila do estado de pobreza ou seja da necessidade da assistecircncia judiciaacuteria por impossibilidade de responder pelas custas que poderaacute ser enfrentada com prova que a desfaccedila Natildeo serve para medir isso a qualidade do defensor se puacuteblico ou particular 2 Recurso especial conhecido e provido (STJ - REsp 679198 PR 20040103656-9 Relator Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO Data de Julgamento 21112006 T3 - TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJ 16042007 p 184) 13 STJ - REsp 263781 SP 20000060786-0 Relator Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO Data de Julgamento 22052001 T3 - TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo lt-- DTPB 20010813ltbrgt --gt DJ 13082001 p 150ltbrgt JBCC vol 193 p 249 14PROCESSUAL CIVIL RECONHECIMENTO DE CONCUBINATO E PARTILHA DE BENS PEDIDO ALTERNATIVO DE INDENIZACcedilAtildeO POR SERVICcedilOS PRESTADOS INDEFERIMENTO DE PLANO DA INICIAL IMPOSSIBILIDADE CERCEAMENTO DE DEFESA ASSISTEcircNCIA JUDICIAacuteRIA E GRATUIDADE DA JUSTICcedilA ALEGACcedilAtildeO DA PARTE DESNECESSIDADE DE DEMONSTRACcedilAtildeO DE O ADVOGADO NAtildeO ESTAR SENDO REMUNERADO PRESUNCcedilAtildeO RECURSO PROVIDO Pelo sistema legal vigente faz jus a parte aos benefiacutecios da assistecircncia judiciaacuteria mediante simples afirmaccedilatildeo na proacutepria peticcedilatildeo de que natildeo estaacute em condiccedilotildees de pagar as custas do processo e os honoraacuterios de advogado sem prejuiacutezo proacuteprio ou de sua famiacutelia O deferimento da gratuidade garantia assegurada constitucionalmente aos economicamente hipossuficientes (Constituiccedilatildeo art 5ordm LXXIV) natildeo exige que a parte demonstre que o advogado natildeo estaacute sendo por ela remunerado Enquanto a Justiccedila gratuita isenta de despesas processuais e condenaccedilatildeo em honoraacuterios advocatiacutecios a assistecircncia judiciaacuteria mais ampla enseja tambeacutem o patrociacutenio por profissional habilitado Caracteriza cerceamento de defesa o indeferimento de plano da inicial de accedilatildeo que pretendeu o reconhecimento de concubinato e partilha de bens com pedido alternativo de indenizaccedilatildeo de

171

aplicador do direito exerce um fundamental papel para que o processo natildeo seja um fim em si

mesmo mas sim um instrumento para a materializaccedilatildeo de um direito

Nota-se que o indeterminismo do termo insuficiecircncia de recursos aliado a mera

alegaccedilatildeo da necessidade poderia transviar o sentido da norma devendo o magistrado ficar

atento para que os privilegiados de fortuna natildeo ingressem gratuitamente no feito

Assim havendo elementos no processo que infirmem a alegaccedilatildeo do postulante ndash que

goza de presunccedilatildeo iuris tantum ndash a hipossuficiecircncia deve ser comprovada

Duacutevida fundada quanto agrave pobreza O juiz da causa valendo-se de criteacuterios

objetivos pode entender que a natureza da accedilatildeo movida pelo interessado demonstra que ele possui porte econocircmico para suportar as despesas do processo A declaraccedilatildeo pura e simples do interessado conquanto seja o uacutenico entrave burocraacutetico que se exige para liberar o magistrado para decidir em favor do peticionaacuterio natildeo eacute prova inequiacutevoca daquilo que ele afirma nem obriga o juiz a se curvar aos seus dizeres se de outras provas e circunstacircncias ficar evidenciado que o conceito de pobreza que a parte invoca natildeo eacute aquele que justifica a concessatildeo do privileacutegio Cabe ao magistrado livremente fazer juiacutezo de valor acerca do termo pobreza deferindo ou natildeo o benefiacutecio (NERY JUNIOR NERY 2015 p 477)

Infelizmente a finalidade do benefiacutecio natildeo raras vezes eacute distorcida seja pela

abstraccedilatildeo do conceito ou mesmo pela lisura do ser humano e isso contribui para o aumento de

demandas desqualificadas respaldadas na ausecircncia de riscos no caso de improcedecircncia

Para Maacutercio Pirocircpo Galvatildeo (2010) os mecanismos de acesso agrave justiccedila fomentam

accedilotildees despretensiosas ndash e cita como exemplos as accedilotildees trabalhistas e aquelas do acircmbito dos

Juizados Especiais ndash exclusivamente pela ausecircncia de custo econocircmico defende inclusive

que o acesso ao Judiciaacuterio de forma gratuita virou uma ldquoloteria onde todos querem tentar a

sorterdquo

E continua o autor citando a decisatildeo do Juiz de Direito da 2ordf Vara Ciacutevel da Comarca

de Dourados Dr Joseacute Carlos de Souza que as demandas desnecessaacuterias ldquoabarrotam o Poder

Judiciaacuterio e dificultam o acesso agrave Justiccedila de jurisdicionados com pretensotildees mais nobres

Incentivam o aumento da inadimplecircncia e sedimentam a cultura do natildeo-cumprimento dos

contratos [] Configuram provocaccedilatildeo abusiva da maacutequina judiciaacuteria e maacute-feacute do devedorrdquo

(GALVAtildeO 2010)

Como visto a utilizaccedilatildeo abusiva da gratuidade da justiccedila pode representar o

congestionamento da maacutequina judicial comprometendo a razoaacutevel duraccedilatildeo do processo e ao

serviccedilos prestados sem possibilitar agrave parte a produccedilatildeo de qualquer prova notadamente em se tratando de alegado relacionamento de mais de trinta anos (Recurso Especial nordm 91609SP 4ordf Turma do STJ Rel Min Saacutelvio de Figueiredo Teixeira Recorrente A P M R Recorrida V G F B j 160498 un DJU 080698 p 113)

172

reveacutes de seu proposito servir como oacutebice ao efetivo acesso agrave justiccedila daqueles que tem

realmente tem urgecircncia na prestaccedilatildeo jurisdicional

Talvez uma boa alternativa para se evitar decisotildees diacutespares e a banalizaccedilatildeo do

benefiacutecio ante a carga de subjetividade do seu pressuposto fosse exigir uma comprovaccedilatildeo

miacutenima da insuficiecircncia de recursos Afinal quem realmente necessita do benefiacutecio natildeo teria

dificuldade alguma em demonstrar a sua impossibilidade financeira para arcar com as

despesas processuais

Eacute certo que a Lei nordm 106050 e agora o Coacutedigo de Processo Civil estabelecem ocircnus

ao litigante que de maacute-feacute requereu o benefiacutecio da gratuidade todavia a prova nesse sentido

deve ser contundente o que estimula de certa forma pedidos indiscriminados de gratuidade

uma vez que sopesando os riscos os ganhos prevalecem

Destarte o que se percebe eacute que nesse ponto o legislador civil natildeo conseguiu

encerrar as discussotildees deixando a soluccedilatildeo para a doutrina e a jurisprudecircncia agora basta

saber como as discussotildees seratildeo encaminhadas de modo que natildeo se instale ndash ou aumente ndash um

estado de desconfianccedila em torno do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila em decorrecircncia dos

abusos praticados mas que tambeacutem natildeo se deixe de cumprir a sua preciacutepua finalidade

constitucional de ser um instrumento de acesso ao Judiciaacuterio daqueles que natildeo desfrutam de

plenas condiccedilotildees financeiras

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O atual Coacutedigo de Processo Civil atuou muito positivamente no que pertine ao

instituto da Gratuidade da Justiccedila ele alvoreceu pontos que a Lei nordm 106050 era retroacutegrada e

mesmo silente bem como normatizou questotildees jaacute consolidadas pela jurisprudecircncia

Em contrapartida a legislaccedilatildeo processual civil natildeo se fez clara quanto ao pressuposto

para a concessatildeo do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila mormente porque se limitou a prever

que a simples afirmaccedilatildeo de insuficiecircncia de recursos para pagar as despesas processuais eacute

suficiente ao seu deferimento

Afinal o que insuficiecircncia de recursos Qual o criteacuterio objetivo para se definir quem

se enquadra ou natildeo nesse perfil Mais uma vez a lei que trata sobre a gratuidade da justiccedila

silenciou nesse pormenor reservando ao aplicador do direito a missatildeo de examinar

casuisticamente quem eacute merecedor ou natildeo da benesse partindo de uma interpretaccedilatildeo

alicerccedilada na finalidade da lei ndash promover o acesso agrave justiccedila

173

Assim duas questotildees surgem A primeira eacute se o legislador foi relapso ou se ele

propositadamente preferiu a um conceito indeterminado para a concessatildeo do benefiacutecio E a

segunda eacute se ele agiu bem

E ao que se conclui eacute que a preferecircncia por um termo dotado de subjetivismo tem

um propoacutesito qual seja permitir que a lei seja adaptaacutevel as mais diversas situaccedilotildees do

cotidiano forense de modo a tornar o acesso agrave justiccedila um direito fundamental mais efetivo

Conquanto agrave segunda questatildeo (se ele agiu bem) apenas a experiecircncia praacutetica poderaacute dizer

notadamente porque vai depender e muito da consciecircncia do postulante (e seu advogado) o

qual eacute o real sabedor de sua condiccedilatildeo financeira

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ABREU Frederico do Valle Conceito juriacutedico indeterminado interpretaccedilatildeo da lei

processo e suposto poder discricionaacuterio do magistrado Jus Navigandi Teresina ano 9 n

674 10 maio 2005 Disponiacutevel em lthttpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=6674gt

Acesso em 27032016

ANGHER Anne Joyce (Org) Vade mecum acadecircmico de direito Rideel 21ed

atual e ampl Satildeo Paulo Rideel 2015

BRASIL Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Recurso Especial nordm

19980053550-0 Relator Ministro Carlos Alberto Menezes Data de Julgamento 02091999

Data de Publicaccedilatildeo DJ 25101999 p 79

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Agravo Regimental no Recurso

Especial nordm 20140315675-3 Relator Ministro Ricardo Villas Bocircas Cueva Data de

Julgamento 28042015 Data de Publicaccedilatildeo DJe 07052015

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Recurso Especial nordm

20040103656-9 Relator Ministro Carlos Alberto Menezes Direito Data de Julgamento

21112006 Data de Publicaccedilatildeo DJ 16042007 p 184

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Recurso Especial

20000060786-0 Relator Ministro Carlos Alberto Menezes Direito Data de Julgamento

22052001 Data de Publicaccedilatildeo 13082001 p 150

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Quarta Turma Recurso Especial 91609SP

Relator Ministro Saacutelvio de Figueiredo Teixeira Data de Publicaccedilatildeo 08061998 p 113

174

_____ Tribunal Regional Federal (4ordf Regiatildeo) Terceira Turma Agravo nordm

50101513420134040000 5010151-3420134040000 Relator Nicolau Konkel Juacutenior Data

de Julgamento 14082013Data de Publicaccedilatildeo 16082013

_____ Tribunal de Justiccedila do Estado do Paranaacute 16ordf Cacircmara Ciacutevel Agravo de

Instrumento nordm 14520235 PR 1452023-5 (Decisatildeo Monocraacutetica) Relator Paulo Cezar Bellio

Data de Julgamento 27102015 Data de Publicaccedilatildeo 05112015

CAPPELLETTI Mauro GARTH Bryant Acesso agrave justiccedila Trad Ellen Gracie

Northfleet Porto Alegre Seacutergio Fabris Editor 2002

CARNEIRO Paulo Cezar Pinheiro Normas Fundamentais do Processo Civil Em

Breves Comentaacuterios ao Novo Coacutedigo de Processo Civil Tereza Arruda Alvim Wambier et

al[coord] Satildeo Paulo Editora RT 2015

DELLORE Luiz Novo CPC o lado A da justiccedila gratuita Disponiacutevel em http

httpjotauolcombrjustica-gratuita-novo-cpc-lado publicado em 09 de marccedilo de 2015

Acesso em 27032016

______ Novo CPC o lado B da justiccedila gratuita Disponiacutevel em

httpjotauolcombrnovo-cpc-o-lado-b-da-justica-gratuita publicado em 13 de abril de

2015 Acesso em 27032016

GALESKI JUNIOR Irineu RIBEIRO Marcia Carla Pereira Direito e economia

uma abordagem sobre a assistecircncia judiciaacuteria gratuita In Publica Direito (recurso eletrocircnico

on-line) Fortaleza CONPEDI 2010

GALVAtildeO Maacutercio Pirocircpo Abuso de direito agrave gratuidade da Justiccedila Revista Jus

Navigandi Teresina ano 17 n 3339 22 ago 2012 Disponiacutevel em

lthttpsjuscombrartigos22466gt Acesso em 27032016

MARCACINI Augusto Tavares Rosa Assistecircncia Juriacutedica Assistecircncia Judiciaacuteria e

Justiccedila Gratuita Satildeo Paulo Editora Forense 2009 (ediccedilatildeo eletrocircnica)

MEDINA Joseacute Miguel Garcia Novo Coacutedigo de Processo Civil Comentado Satildeo

Paulo Editora RT 2015

NERY JUNIOR Nelson e NERY Rosa Maria de Andrade Comentaacuterios ao Coacutedigo

de Processo Civil Satildeo Paulo Editora RT 2015

NETO Emeteacuterio Silva de Oliveira VIANA Juvecircncio Vasconcelos Acesso agrave justiccedila

e o novo Coacutedigo de Processo Civil um olhar criacutetico Em Acesso agrave justiccedila (recurso eletrocircnico

on-line) Florianoacutepolis CONPEDIUFSC 2015

175

OLIVEIRA Rafael Alexandria de Da Gratuidade da Justiccedila Em Breves

Comentaacuterios ao Novo Coacutedigo de Processo Civil Tereza Arruda Alvim Wambier et

al[coord] Satildeo Paulo Editora RT 2015

SANTOS Boaventura de Souza Pela matildeo de Alice o social e o poliacutetico

na poacutes-modernidade Satildeo Paulo Cortez 2003

TARTURE Flaacutevia DELLORE Luiz Gratuidade da justiccedila no novo CPC Em

Revista de Processo Satildeo Paulo v 39 n 236 p 305-323 out 2014

176

XXV ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI - BRASIacuteLIADF

PROCESSO JURISDICcedilAtildeO E EFETIVIDADE DA JUSTICcedilA II

Apresentaccedilatildeo

O Conpedi acaba de realizar seu XXV Encontro Nacional como mais uma iniciativa de

estiacutemulo agraves atividades de intercacircmbio cientiacutefico entre os atores da Poacutes-graduaccedilatildeo em direito

no Brasil Coube-nos conduzir as apresentaccedilotildees referentes ao Grupo de Trabalho Processo

Jurisdiccedilatildeo e efetividade da Justiccedila II Os artigos dali decorrentes agora satildeo ofertados agrave

leitura segundo uma ordem loacutegica que prestigia tanto o aspecto principioloacutegico das

inovaccedilotildees operadas pelo Novo Coacutedigo de Processo Civil mas sobretudo dando especial

ecircnfase - como ponto de maior destaque das inovaccedilotildees - agrave adoccedilatildeo da doutrina do Precedente

Judicial Esperamos com isso proporcionar o acesso eficiente agraves novidades e novos olhares

sobre os avanccedilos do processo civil Para tanto recomenda-se a leitura pela ordem que se

segue

1 As normas fundamentais do novo CPC (lei 131052015) e o fenocircmeno de

constitucionalizaccedilatildeo do processo civil

2 Precedentes e argumentaccedilatildeo juriacutedica

3 Precedentes e novo cpc razatildeo argumentativa na consolidaccedilatildeo do estado democraacutetico via

direito judicial

4 O novo CPC e o sistema de precedentes (ldquocommonlizaccedilatildeordquo)

5 A aplicaccedilatildeo do precedente judicial contrastes com as suacutemulas vinculantes

6 A democratizaccedilatildeo do processo civil atraveacutes do sistema de precedentes o amicus curiae

como instrumento de participaccedilatildeo popular na formaccedilatildeo de precedentes vinculantes de grande

repercussatildeo social

7 Os modelos americano e inglecircs de vinculaccedilatildeo ao precedente

8 Breviacutessimas consideraccedilotildees a respeito do incidente de resoluccedilatildeo de demandas repetitivas

(IRDR)

9 Inovaccedilotildees e alteraccedilotildees do coacutedigo de processo civil e a manutenccedilatildeo do subjetivismo do

termo ldquoinsuficiecircncia de recursosrdquo para a concessatildeo da gratuidade de justiccedila

10 O princiacutepio da publicidade como medida essencial ao controle dos atos estatais

11 A contratualizaccedilatildeo do processo judicial anaacutelise principioloacutegica de sua efetividade agrave luz

do novo diploma processual ciacutevel

12 Novo CPC negoacutecios juriacutedicos processuais ou arbitragem

13 Algumas observaccedilotildees sobre os prazos processuais e o princiacutepio da seguranccedila juriacutedica no

novo coacutedigo de processo civil

14 O princiacutepio da cooperaccedilatildeo judiciaacuteria do novo coacutedigo de processo civil uma anaacutelise a

partir da proteccedilatildeo ao trabalhador frente ao instituto da recuperaccedilatildeo judicial

15 O direito agrave prova no processo civil sob uma perspectiva constitucional

16 A distribuiccedilatildeo do ocircnus da prova no processo coletivo ambiental

17 Toda decisatildeo seraacute motivada

18 O artigo 489 do novo coacutedigo de processo civil e a fundamentaccedilatildeo das decisotildees judiciais

na perspectiva dworkiniana

19 Fundamentaccedilatildeo das decisotildees e a superaccedilatildeo do livre convencimento motivado

20 Operaccedilotildees midiaacuteticas e processo penal o respeito aos direitos fundamentais como fator

legitimador da decisatildeo judicial na esfera penal

21 Tutelas diferenciadas instrumento de auxiacutelio agrave efetivaccedilatildeo da justiccedila

22 Desconstituiccedilatildeo do tiacutetulo executivo judicial fundado em norma declarada inconstitucional

pelo STF e a impugnaccedilatildeo do art 525 sect 12ordm do CPC

23 Teacutecnica procedimental e a audiecircncia de justificaccedilatildeo nos procedimentos possessoacuterios por

um contraditoacuterio dinacircmico

24 O mandado de seguranccedila coletivo e a proteccedilatildeo dos direitos difusos

Na esperanccedila de encontrarmos dias de maior efetividade processual e procedimental no

atendimento e na efetivaccedilatildeo dos direitos fundamentais desejamos uma excelente leitura

Professor-doutor Rogeacuterio Luiz Nery da Silva (UNOESC)

Professor-doutor Marcos Leite Garcia (UNIVALI)

Professor-doutor Miguel Kfouri Neto (UNICURITIBA)

INOVACcedilOtildeES E ALTERACcedilOtildeES DO COacuteDIGO DE PROCESSO CIVIL E A MANUTENCcedilAtildeO DO SUBJETIVISMO DO TERMO ldquoINSUFICIEcircNCIA DE

RECURSOSrdquo PARA A CONCESSAtildeO DA GRATUIDADE DE JUSTICcedilA

INNOVATIONS AND CHANGES OF PROCEDURE CIVIL CODE AND MAINTENANCE OF THE SUBJECTIVISM TERM RESOURCES INSUFFICIENT FOR GRANTING OF JUSTICE OF GRATUITY

Juliane Dziubate KreftaAline Fatima Morelatto

Resumo

O presente trabalho eacute voltado agrave anaacutelise da Gratuidade da Justiccedila como um importante

mecanismo de acesso agrave justiccedila Pretende abordar as novidades sobre a Gratuidade da Justiccedila

no atual Coacutedigo de Processo Civil recentemente alterado pela Lei nordm 131052015 trazendo

agrave tona importantes alteraccedilotildees que corrigiram a obsoleta Lei nordm 106050 Objetiva fazer uma

reflexatildeo a respeito do requisito para a concessatildeo do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila qual

seja a insuficiecircncia de recursos e o seu alto grau de subjetivismo pontuando algumas

questotildees positivas e negativas a ele relacionadas

Palavras-chave Acesso agrave justiccedila Gratuidade Alteraccedilotildees Inovaccedilotildees Insuficiecircncia de recursos Subjetivismo

AbstractResumenReacutesumeacute

This work is focused on the analysis of Gratuity of Justice as an important mechanism of

access to justice It aims to address the news about the Gratuity of Justice in the current Civil

Procedure Code recently amended by Law nordm 131052015 bringing out important changes

that fixed the obsolete Law nordm 106050 Aims to reflect about the requirement for granting

the benefit of free justice namely the lack of resources and its high degree of subjectivity

emphasizing some positive and negative issues related to it

KeywordsPalabras-clavesMots-cleacutes Justice acess Gratuity Change Innovations Insufficient resources Subjectivism

156

INTRODUCcedilAtildeO

O presente artigo tem o desiderato de fazer uma reflexatildeo acerca do instituto da

Gratuidade da Justiccedila e as alteraccedilotildees promovidas pela Lei nordm 131052015 no atual Coacutedigo de

Processo Civil partindo da premissa de que eacute um importante instrumento de efetivaccedilatildeo dos

direitos fundamentais notadamente o direito ao acesso agrave justiccedila

O regramento sobre a Gratuidade da Justiccedila sofreu mudanccedilas significativas no

Coacutedigo de Processo Civil corrigindo vaacuterias distorccedilotildees e lacunas da decreacutepita Lei nordm 106050

que tratava sobre o assunto e que haacute tempos estava sendo plasmada pela jurisprudecircncia

A correccedilatildeo terminoloacutegica (gratuidade da justiccedila) a expressa previsatildeo de que a

pessoa juriacutedica tambeacutem pode figurar como beneficiaacuteria a extensatildeo da benesse agraves custas e aos

emolumentos dos notaacuterios e registradores satildeo algumas das vaacuterias alteraccedilotildees a respeito do

instituto preconizadas no Coacutedigo de Processo Civil

De outro lado malgrado o Coacutedigo de Processo Civil tenha inovado um pouco a

nominaccedilatildeo do requisito para a concessatildeo do benefiacutecio passando a simplesmente exigir a

alegaccedilatildeo da insuficiecircncia de recursos manteve a sua natureza subjetiva natildeo revelando

qualquer criteacuterio objetivo para elucidaacute-lo

Sobre esse aspecto o presente trabalho engendra um debate para saber se o

legislador caminhou ou natildeo bem expondo os pontos positivos e negativos quanto ao

indeterminismo do pressuposto insuficiecircncia de recursos e refletindo a respeito de suas

consequecircncias no mundo juriacutedico ndash principalmente a reaccedilatildeo da jurisprudecircncia ndash e tambeacutem na

sociedade tendo como metodologia acolhida a bibliograacutefica

1 O ACESSO Agrave JUSTICcedilA OS DIREITOS FUNDAMENTAIS E A

GRATUIDADE DE JUSTICcedilA ndash PRELIMINAR E INDISSOCIAacuteVEL

COMPREENSAtildeO

O direito agrave gratuidade da justiccedila eacute um direito fundamental do jurisdicionado (e natildeo

um simples benefiacutecio) A Constituiccedilatildeo Federal em seu artigo 5ordm LXXIV prevecirc que ldquoo Estado

prestaraacute assistecircncia juriacutedica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiecircncia de

recursosrdquo Ele tem o desiderato de evitar que a insuficiecircncia de recursos financeiros

represente um obstaacuteculo insuperaacutevel ao acesso agrave justiccedila1

1 Art 5ordm XXXV CF A lei natildeo excluiraacute da apreciaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio lesatildeo ou ameaccedila a direito

157

A justiccedila deve estar ao alcance de todos2 ricos e pobres competindo ao Estado ndash na

sua atuaccedilatildeo positiva ndash como seu gestor3 garantir que a pessoa de parcos recursos financeiros

tenha condiccedilotildees de acionar o Poder Judiciaacuterio da mesma forma que o afortunado

Como afirma Boaventura de Souza Santos ldquoo tema do acesso agrave justiccedila eacute aquele que

mais diretamente equaciona as relaccedilotildees entre o processo civil e a justiccedila social entre

igualdade juriacutedico-formal e desigualdade socioeconocircmicardquo (2003 p167)

Para Cappelletti e Garth uma das finalidades do termo acesso agrave justiccedila eacute determinar

que o sistema juriacutedico fosse igualmente acessiacutevel a todos e reafirmam a importacircncia de sua

efetividade

De fato o direito ao acesso efetivo tem sido progressivamente reconhecido como sendo de importacircncia capital entre os novos individuais sociais uma vez que a titularidade de direitos eacute destituiacuteda de sentidos na ausecircncia de mecanismos para sua efetiva reivindicaccedilatildeo O acesso agrave Justiccedila pode portanto ser encarado como requisito fundamental ndash o mais baacutesico dos direitos humanos ndash de um sistema juriacutedico moderno e igualitaacuterio que pretenda garantir e natildeo apenas proclamar os direitos de todos (2002 p 4)

Os referidos autores identificam vaacuterios oacutebices ao acesso agrave justiccedila ndash entre elas as

desigualdades socioeconocircmicas ndash e sequencialmente propotildeem soluccedilotildees praacuteticas ao

problema emergindo como primeira a assistecircncia judiciaacuteria ao que eles denominaram de

ldquoprimeira ondardquo (CAPPELLETI GARTH 2002 p 6-12)

Nesse vieacutes a gratuidade da justiccedila ndash natildeo tecendo nesse primeiro momento qualquer

consideraccedilatildeo acerca das distinccedilotildees terminoloacutegicas ndash eclode com um importante mecanismo

viabilizador do acesso agrave justiccedila e tem a preciacutepua finalidade de dar efetividade a outros direitos

fundamentais constitucionalmente previstos como a igualdade (art 5 caput CF) a cidadania

(art 1ordm inciso II CF) e a proacutepria dignidade da pessoa humana (art 1ordm inciso III CF)

2 Eacute o que Emeteacuterio Silva e Juvecircncio Vasconcelos chamam de universalizaccedilatildeo ou horizontalizaccedilatildeo do acesso agrave justiccedila ensinando que ldquoHorizontalizar eacute fazer com que agrave todas as pessoas (pobres ou ricas) sejam assegurados os mesmos meios de acesso agrave justiccedila Eacute promover a isonomia ou seja a igualdade na e perante a lei pois esta lsquonatildeo deve ser fonte de privileacutegios ou perseguiccedilotildees mas instrumento regulador da vida social que necessita tratar equitativamente todos os cidadatildeosrsquo (BANDEIRA DE MELLO 2013 p 10) Com efeito o acesso agrave justiccedila nos termos do artigo 60 sect 4ordm inciso IV da Carta de 88 eacute claacuteusula peacutetrea e por estaacute alccedilado agrave categoria hieraacuterquica superior natildeo pode sofrer menoscabos o que exclui possiacuteveis discriminaccedilotildees arbitraacuterias entre as pessoas quando da execuccedilatildeo desta garantia fundamental Assim considerando a forccedila normativa da constituiccedilatildeo23 portanto das normas de direitos e garantias nela previstas a universalizaccedilatildeo do acesso agrave justiccedila aliada a efetividade da tutela jurisdicional ou dos meios assecuratoacuterios de direitos fomentadores da justiccedila social avultam imprescindiacuteveis (NETO Emeteacuterio Silva de Oliveira VIANA Juvecircncio Vasconcelos Acesso agrave justiccedila e o novo Coacutedigo de Processo Civil um olhar criacutetico In Acesso agrave justiccedila (recurso eletrocircnico on-line) Florianoacutepolis CONPEDIUFSC 2015 p 186 3 A jurisdiccedilatildeo eacute monopoacutelio do Estado proibindo a lei que as pessoas faccedilam justiccedila com as proacuteprias matildeos salvo raras exceccedilotildees como por exemplo as hipoacuteteses de autotutela ndash arts 1210 e 1219 do Coacutedigo Civil

158

Agrave medida que se busca a efetividade dos direitos fundamentais o direito processual

passa a ter um importante papel nessa missatildeo4 pois eacute ele quem indica qual eacute o (melhor)

caminho para se alcanccedilar o direito material sob essa perspectiva vecirc-se a necessidade de

atualizaccedilatildeo da lei processual a fim de se adequar as exigecircncias da sociedade moderna

A uacutenica lei que regulamentava o benefiacutecio da justiccedila gratuita data de 1950 eacute uma lei

natildeo soacute defasada do ponto de vista material e processual como tambeacutem dotada de

imperfeiccedilotildees teacutecnicas e entraves agrave concessatildeo do benefiacutecio Era preciso simplificar e

desmistificar para entatildeo avanccedilar ndash pelo menos um degrau ndash na universalizaccedilatildeo do acesso agrave

justiccedila e a Lei nordm 131052015 que alterou o Coacutedigo de Processo Civil (CPC) o fez

O autor Luiz Dellore (2015) ao tecer elogios ao legislador diz que ldquoas inovaccedilotildees do

CPC simplificam o procedimento buscam evitar abuso dos requentes da gratuidade e

especialmente pretendem obstar debates laterais e incidentes para que se possa focar na

discussatildeo do meacuteritordquo

2 O COacuteDIGO DE PROCESSO CIVIL EM VIGOR E AS INOVACcedilOtildeES

RELATIVAS Agrave GRATUIDADE DE JUSTICcedilA

A atualmente (e corretamente) nominada gratuidade da justiccedila foi profundamente

reformulada pelo Coacutedigo de Processo Civil As mudanccedilas satildeo muito significativas o Coacutedigo

consolidou o assunto em seis dispositivos do artigo 98 ao artigo 102 aleacutem do que revogou

expressamente vaacuterios artigos da Lei nordm 106050 (arts 2ordm 3ordm 4ordm 6ordm 7ordm 11 12 e 17)

Considerando isso o artigo pontuaraacute as alteraccedilotildees legitimadas

21Terminologia

O Coacutedigo corrigiu os equiacutevocos praticados quanto agrave terminologia que redundavam

em incompreensotildees acerca do tema Natildeo se pode confundir assistecircncia judiciaacuteria gratuita

gratuidade da justiccedila (justiccedila gratuita) e assistecircncia juriacutedica integral e gratuita

A assistecircncia judiciaacuteria gratuita consiste no patrociacutenio gratuito da causa seja por

advogado do Estado entidades conveniadas com o Estado escritoacuterios de praacutetica juriacutedica das

faculdades de Direito ou mesmo advogados particulares nomeados como dativos Jaacute a

gratuidade da justiccedila traduz-se na isenccedilatildeo para o adiantamento das custas do processo Por

4 O processo natildeo deveria ser colocado no vaacutecuo Os juiacutezes precisam agora reconhecer que as teacutecnicas processuais servem a questotildees sociais [] o lsquoacessorsquo natildeo eacute apenas um direito social fundamental crescentemente reconhecido ele eacute tambeacutem necessariamente o ponto central da moderna processualiacutestica CAPPELLETTI Mauro GARTH Bryant Acesso agrave justiccedila Trad Ellen Gracie Northfleet Porto Alegre Seacutergio Fabris Editor 2002 p 5

159

sua vez a assistecircncia juriacutedica integral e gratuita engloba aleacutem da representaccedilatildeo do

hipossuficiente em juiacutezo a orientaccedilatildeo juriacutedica dele em questotildees extrajudiciais (TARTUCE

DELLORE 2014 p 308 e 309)

Preconiza Rafael Alexandria de Oliveira

Eacute comum a confusatildeo quanto aos conceitos de benefiacutecio da justiccedila gratuita (ou da gratuidade da justiccedila ou ainda da gratuidade judiciaacuteria) de assistecircncia judiciaacuteria e de assistecircncia juriacutedica Todos eles decorrem do direito fundamental agrave assistecircncia juriacutedica integral e gratuita de que trata o art 5ordm LXXIV da CF1988 mas natildeo se confundem Pontes de Miranda (a) benefiacutecio da justiccedila gratuita eacute como jaacute dito a dispensa do adiantamento de despesas processuais para o qual se exige a tramitaccedilatildeo de um processo judicial o requerimento da parte interessada e o deferimento do juiacutezo perante o qual o processo tramita (b) assistecircncia judiciaacuteria consiste no direito de a parte ser assistida gratuitamente por um profissional do Direito normalmente membro da Defensoria Puacuteblica da Uniatildeo do Estados ou do Distrito Federal e que natildeo depende do deferimento do juiacutezo nem mesmo da existecircncia de um processo judicial (c) assistecircncia juriacutedica eacute um conceito mais amplo que abrange o benefiacutecio da justiccedila gratuita e a assistecircncia judiciaacuteria mas vai aleacutem deles englobando todas as iniciativas do Estado (em sentido amplo) que tecircm por objetivo promover uma aproximaccedilatildeo entre a sociedade e os serviccedilos juriacutedicos ndash como por exemplo as campanhas de conscientizaccedilatildeo de direitos do consumidor promovidas por oacutergatildeos administrativos e os serviccedilos juriacutedicos itinerantes prestados agrave populaccedilatildeo carente (2015 p 355)

Semelhantemente Augusto Tavares Rosa Marcacini desenvolve um conceito

distinguindo os institutos da assistecircncia judiciaacuteria justiccedila gratuita e a assistecircncia juriacutedica

integral e gratuita

A Constituiccedilatildeo Federal de 1988 em seu artigo 5ordm inciso LXXIV inclui entre os direitos e garantias individuais a assistecircncia juriacutedica integral e gratuita Utiliza a Lei Maior um terceiro conceito que tambeacutem natildeo deve ser confundido como sinocircnimo de assistecircncia judiciaacuteria ou justiccedila gratuita Por justiccedila gratuita deve ser entendida a gratuidade de todas as causas e despesas judiciais ou natildeo relativas a atos necessaacuterios ao desenvolvimento do processo e agrave defesa dos direitos do beneficiaacuterio em juiacutezo O benefiacutecio da justiccedila gratuita compreende a isenccedilatildeo de toda e qualquer despesa necessaacuteria ao pleno exerciacutecio dos direitos e das faculdades processuais sejam tais despesas judiciais ou natildeo Abrange assim natildeo somente as custas relativas aos atos processuais a serem praticados como tambeacutem todas as despesas decorrentes de efetiva participaccedilatildeo na relaccedilatildeo processual A assistecircncia judiciaacuteria envolve o patrociacutenio gratuito da causa por advogado A assistecircncia judiciaacuteria eacute pois um serviccedilo puacuteblico organizado consistente na defesa em juiacutezo do assistido que deve ser oferecido pelo Estado mas que pode ser desempenhado por entidades natildeo-estatais conveniadas ou natildeo com o Poder Puacuteblico [] Por sua vez a assistecircncia juriacutedica engloba a assistecircncia judiciaacuteria sendo ainda mais ampla que esta por envolver tambeacutem serviccedilos juriacutedicos natildeo relacionados ao processo tais como orientaccedilotildees individuais ou coletivas o esclarecimento de duacutevidas e mesmo um programa de informaccedilatildeo a toda a comunidade (2009 p 40-43)

O Coacutedigo de Processo Civil ao usar o termo teacutecnico gratuidade da justiccedila

acertadamente corrigiu as distorccedilotildees terminoloacutegicas afastando qualquer possibilidade de

160

confusatildeo que se possa fazer com a assistecircncia judiciaacuteria gratuita e a assistecircncia juriacutedica

integral e gratuita

22 Beneficiaacuterios

De acordo com a legislaccedilatildeo processual em vigor podem ser beneficiaacuterios da justiccedila

gratuita a pessoa natural ou juriacutedica brasileira ou estrangeira

A redaccedilatildeo do Coacutedigo de Processo Civil encerrou uma discussatildeo histoacuterica pontuada

jurisprudencialmente pelo STJ e agora reconhecida legislativamente ao prever (art 98

caput) que a pessoa juriacutedica tem direito ao benefiacutecio da gratuidade da justiccedila

Para que a pessoa juriacutedica seja beneficiada com a gratuidade da justiccedila natildeo basta a

mera declaraccedilatildeo devendo demonstrar que efetivamente necessita do benefiacutecio

independentemente de ter ou natildeo finalidade lucrativa (MEDINA 2015 p 190)

Natildeo obstante a utilizaccedilatildeo do termo ldquopessoardquo entende-se que o benefiacutecio pode ser

gozado pelos entes despersonalizados como por exemplo o condomiacutenio a massa falida etc

(OLIVEIRA 2015 p 357-358)

Aleacutem disso o art 98 estende o benefiacutecio da justiccedila gratuita aos estrangeiros sejam

eles residentes ou natildeo no paiacutes diferentemente do que traz o caput do art 5ordm da CF88 que em

relaccedilatildeo agrave generalidade dos direitos fundamentais engloba apenas os estrangeiros residentes no

paiacutes (NERY JUNIOR NERY 2015 p 472)

23 Pressupostos

A letra do Coacutedigo de Processo Civil alterou o aspecto objetivo para a concessatildeo do

benefiacutecio passando a constar apenas a ldquoinsuficiecircncia de recursos financeirosrdquo para o

adiantamento das custas natildeo mais se exige a situaccedilatildeo de miserabilidade da parte requerente

como tambeacutem se aboliu o uso da expressatildeo ldquoa parte natildeo pode arcar com as custas sem

prejuiacutezo do sustento proacuteprio ou da famiacuteliardquo

Para que se conceda o benefiacutecio haacute uma presunccedilatildeo iuris tantum de veracidade da

declaraccedilatildeo feita pela parte pessoa natural mas soacute com relaccedilatildeo agrave pessoa natural a pessoa

juriacutedica deve comprovar a impossibilidade de adiantar as custas

Apesar desta mudanccedila de paradigma a lei natildeo dispocircs de forma suficientemente clara

o que significa ldquoinsuficiecircncia de recursosrdquo e quais seriam os seus paracircmetros miacutenimos

deixando mais uma vez ao encargo do inteacuterprete a funccedilatildeo de aquilatar se o requerente faz jus

ou natildeo agrave benesse o que certamente continuaraacute acarretando distorccedilotildees e inseguranccedila juriacutedica

161

O subjetivismo da expressatildeo seraacute mais bem aprofundado no toacutepico seguinte mesmo

porque a sua discussatildeo constituiu um dos pilares do presente artigo

24 Abrangecircncia

A Lei da Assistecircncia Judiciaacuteria previa em seu artigo 3ordm quais seriam as despesas

processuais compreendidas pelo benefiacutecio da justiccedila gratuita e nesse aspecto a norma era

satisfatoacuteria entatildeo o Coacutedigo de Processo Civil manteve o que tinha na Lei nordm 106050 e

avanccedilou como por exemplo no tocante agrave previsatildeo da remuneraccedilatildeo do inteacuterprete e do

tradutor bem como na realizaccedilatildeo de memoacuteria de caacutelculo pelo contador para fins de execuccedilatildeo

entre outros

O art 98 sect1ordm do Coacutedigo em vigecircncia tratou de exemplificativamente discriminar as

despesas processuais que podem ser compreendidas pela gratuidade da justiccedila algumas delas

jaacute previstas no art 3ordm da Lei nordm 106050 agora expressamente revogado

O beneficiaacuterio estaacute dispensado de adiantar o pagamento de taxas ou custas judiciaacuterias

(inciso I) O CPC foi redundante ao prever taxas e custas mormente porque tais despesas tem

o mesmo significado elas ldquodesignam o valor que se deve pagar ao Estado pela prestaccedilatildeo do

serviccedilo judiciaacuterio Tecircm natureza juriacutedica tributaacuteria constituindo-se numa taxa [] a

concessatildeo do beneficio natildeo constitui isenccedilatildeo tributaacuteria visto que natildeo dispensa o pagamento

em si mas sim o adiantamento da verbardquo (OLIVEIRA 2015 p 359)

As despesas com postagens de qualquer natureza e com publicaccedilatildeo na imprensa

oficial tambeacutem satildeo abrangidas pelo benefiacutecio da justiccedila gratuita (incisos II e III)

O benefiacutecio engloba tambeacutem as indenizaccedilotildees de testemunhas (inciso IV) tanto os

custos com a viagem para depor em juiacutezo quanto agraves relativas ao dia de trabalho ganho e natildeo

trabalhado que deve ser paga ao empregador (NERY JUNIOR NERY 2015 p 472)

As despesas com realizaccedilatildeo do exame de DNA (inciso V) tambeacutem satildeo albergadas

pelo benefiacutecio da gratuidade da justiccedila Aliaacutes o Coacutedigo de Processo Civil inovou em relaccedilatildeo agrave

Lei da Assistecircncia Judiciaacuteria Gratuita incluindo neste inciso outros exames periciais

considerados essenciais

Os honoraacuterios do advogado e do perito a remuneraccedilatildeo do inteacuterprete tradutor e

contador e todos os terceiros que de alguma forma contribuem para o Poder Judiciaacuterio

(inciso VI e VII) estatildeo cobertos pela benesse da gratuidade

Importante destacar que o afastamento da responsabilidade pelo adiantamento das

custas dos honoraacuterios advocatiacutecios natildeo se refere aos honoraacuterios de sucumbecircncia devidos pelo

162

beneficiaacuterio ao advogado da parte contraacuteria nos termos do sect2ordm do artigo 98 mas tatildeo somente

os honoraacuterios devidos ao seu proacuteprio advogado quando este eacute nomeado pelo juiz ou seja o

defensor dativo (OLIVEIRA 2015 p 361)

O art 95 sect3ordm do Coacutedigo Processual Civil normatiza a respeito do custeio da periacutecia

(inclusive honoraacuterios) na hipoacutetese de o responsaacutevel pelo pagamento de tal despesa ser

beneficiaacuterio da justiccedila gratuita Dispotildee o paraacutegrafo que nessa hipoacutetese a periacutecia seraacute

realizada preferencialmente por um servidor do Poder Judiciaacuterio ou por oacutergatildeo conveniado e

subsidiariamente por particular Em ambos os casos os honoraacuterios seratildeo custeados com

recursos do orccedilamento do ente puacuteblico respectivo ndash Uniatildeo e Estado ou Distrito Federal

Ainda possibilita a legislaccedilatildeo processual civil que a Fazenda Puacuteblica recobre o

valor despendido a tiacutetulo de honoraacuterios periciais daquele que for condenado ao pagamento de

tais verbas (art 95 sect4ordm CPC) no caso de ser a parte vencida beneficiaacuteria da gratuidade da

justiccedila o ente puacuteblico deve observar as regras pertinentes agrave sucumbecircncia e a exigibilidade sob

condiccedilatildeo suspensiva previstas nos paraacutegrafos sectsect2ordm e 3ordm do art 98 Mas em nenhuma hipoacutetese

transferir tal ocircnus a outra parte natildeo beneficiaacuteria

Tambeacutem estatildeo incluiacutedos no conceito de gratuidade da justiccedila os depoacutesitos devidos

para interposiccedilatildeo de recurso propositura de accedilatildeo e para a praacutetica de outros atos processuais

inerentes ao exerciacutecio da ampla defesa e do contraditoacuterio (inciso VIII) esse dispositivo acaba

por servir como uma claacuteusula geral incluindo todas aquelas despesas natildeo arroladas nos

incisos anteriores e que por estarem intrinsicamente relacionadas ao exerciacutecio do

contraditoacuterio e da ampla devem ser afastadas

Por fim e natildeo menos importante trouxe uma importante inovaccedilatildeo incluindo os

emolumentos dos registradores e notaacuterios relativos a atos de averbaccedilatildeo e registro decorrentes

de processo judicial em que houve a concessatildeo do benefiacutecio da gratuidade (inciso IX)

O Coacutedigo de Processo Civil estendeu para o acircmbito extrajudicial o benefiacutecio da

gratuidade da justiccedila concedido judicialmente garantindo-se assim a prestaccedilatildeo jurisdicional

em sua inteireza

Outrossim o sect 8ordm do artigo 98 preconiza que se o tabeliatildeo ou registrador no

momento da realizaccedilatildeo do ato cartorial tiver duacutevida fundada quanto ao preenchimento dos

pressupostos para a concessatildeo da justiccedila gratuita ndash ou seja insuficiecircncia de recursos ndash pode

requerer ao juiacutezo competente para decidir questotildees notariais ou registrais (competecircncia do

juiz corregedor dos cartoacuterios extrajudiciais) que revogue a gratuidade ou permita o

parcelamento dos valores devido (DELLORE 2015)

163

Esse paraacutegrafo deu ensejo a algumas criacuteticas para Luiz Dellore o questionamento

judicial acerca da capacidade financeira da parte para arcar com as despesas notariais e

registrais

[] natildeo parece ser uma atividade jurisdicional mas administrativa em analogia agrave lsquosuscitaccedilatildeo de duacutevidarsquo hoje existente Trata-se de uma esdruacutexula inovaccedilatildeo que traz ainda mais temas para decisatildeo do Poder Judiciaacuterio Assim aleacutem de todas as questotildees que o juiz deve decidir teraacute ainda de apreciar se uma parte de um processo jaacute findo ainda tem ou natildeo dificuldades financeiras para fins de pagamento de taxas de cartoacuterio (2015)

Ainda no que tange a abrangecircncia do benefiacutecio impende destacar que as multas

processuais de qualquer natureza ndash como por exemplo as multas por litigacircncia de maacute-feacute e por

ato atentatoacuterio a dignidade da justiccedila ndash natildeo estatildeo abarcadas pela gratuidade da justiccedila pois

elas satildeo puniccedilotildees a comportamentos iliacutecitos ldquoE natildeo poderia ser diferente a gratuidade da

justiccedila natildeo pode servir como escudo para a procrastinaccedilatildeo e a litigacircncia de maacute-feacute Daiacute a razatildeo

pela qual o beneficiaacuterio da justiccedila gratuita deve ser executado normalmente em relaccedilatildeo a

elesrdquo (NERY JUNIOR NERY 2015 p 474)

25 Modulaccedilatildeo do benefiacutecio

Outra importante novidade trazida pela Lei nordm 1310515 foi a possibilidade do juiz

modular os efeitos do benefiacutecio abrangendo apenas alguns dos custos do processo ou mesmo

parcelar as despesas processuais (art 98 sectsect5ordm e 6ordm CPC)

Tal medida eacute interessante ao passo que o postulante pode ter condiccedilotildees financeiras

de arcar apenas com algumas despesas processuais como por exemplo as custas e taxas

todavia natildeo dispor de recursos para pagar os honoraacuterios periciais por exemplo Ainda ao

longo do processo pode sobrevir mudanccedila na condiccedilatildeo financeira da parte e ela passar por

dificuldades para custear as despesas processuais nesse ponto o juiz poderaacute conceder-lhe os

benefiacutecios a partir de tal momento

A possibilidade de parcelamento das despesas processuais sugere que o legislador

quis dizer que a concessatildeo da gratuidade da justiccedila eacute a uacuteltima opccedilatildeo sendo possiacutevel agrave parte

arcar com as despesas de forma parcelada o juiz deve optar pelo seu seccionamento e natildeo a

sua dispensa (NERY JUNIOR NERY 2015 p 474)

26 Responsabilidade do beneficiaacuterio

A gratuidade da justiccedila como jaacute dito eacute um instrumento do acesso agrave justiccedila daqueles

que se declaram financeiramente desprovidos de condiccedilotildees de custear o processo Isso

164

significa que se o beneficiaacuterio for perdedor em uma demanda ele seraacute igualmente responsaacutevel

pelo pagamento do ocircnus inerente a sua derrota a diferenccedila reside no fato de poder exigir ou

natildeo a sua cobranccedila

Se o beneficiaacuterio for vencido ele teraacute responsabilidade pelas despesas processuais

ele deveraacute reembolsar os gastos realizados pela outra parte seraacute condenado agraves verbas

sucumbenciais ficando todavia sob condiccedilatildeo suspensiva de exigibilidade podendo ser

cobradas pelo credor no prazo de 5 (cinco) anos contados do tracircnsito em julgado da decisatildeo

que fixou a sucumbecircncia desde que demonstre a ocorrecircncia um fato superveniente que

alterou a condiccedilatildeo financeira do beneficiaacuterio (MEDINA 2015 p 188-189)

Repisa-se a gratuidade natildeo isenta o seu beneficiaacuterio do pagamento das despesas

processuais tatildeo somente as coloca sob condiccedilatildeo suspensiva de exigibilidade

27 Requerimento e impugnaccedilatildeo

O benefiacutecio da gratuidade natildeo pode ser concedido de ofiacutecio pelo juiz devendo a

parte interessada requerecirc-lo no primeiro momento em que ela ingressa no feito ndash peticcedilatildeo

inicial contestaccedilatildeo ou na peccedila de ingresso do terceiro interveniente ndash ou em um momento

posterior ndash por meio de peticcedilatildeo simples ou mesmo no bojo de outra manifestaccedilatildeo ndash inclusive

na m grau recursal (art 99 caput e sect1ordm do CPC)

Nesse aspecto natildeo haacute um momento processual preacute-estabelecido e uacutenico para o

requerimento da gratuidade da justiccedila todavia o tempo do pedido eacute importante para delimitar

quais satildeo as despesas processuais que se dispensa o adiantamento isto porque a concessatildeo do

benefiacutecio tem efeito prospectivo natildeo alcanccedilando os atos processuais jaacute praticados

(OLIVEIRA 2015 p 371-372)

O requerimento natildeo demanda maiores formalidades devendo a parte apenas declarar

a insuficiecircncia de recursos se pessoa natural no caso de pessoa juriacutedica deveraacute ainda

comprovar a necessidade do benefiacutecio

O juiz ao analisar o pedido de gratuidade formulado apenas o indeferiraacute se nos autos

existiram elementos que demonstrem que o postulante natildeo preenche o pressuposto da

insuficiecircncia de recursos Todavia antes de indeferi-lo deve oportunizar a parte que

comprove a alegada carecircncia financeira para custear o processo (art 99 sect2ordm CPC)

A oportunidade de ser ouvido antes do indeferimento do pedido de gratuidade da

justiccedila somente se aplica a pessoa natural uma vez que em seu favor haacute presunccedilatildeo de

veracidade da alegaccedilatildeo de hipossuficiecircncia natildeo necessitando juntar qual prova nesse sentido

165

no momento da realizaccedilatildeo do pedido diferentemente do que acontece com a pessoa juriacutedica

que ao postular o benefiacutecio jaacute deve comprovar a sua necessidade (OLIVEIRA 2015 p 373)

Importante destacar que o Coacutedigo de Processo Civil encerrando discussotildees

expressamente previu que a assistecircncia do requerente por advogado particular por si soacute natildeo

constitui oacutebice para a concessatildeo do benefiacutecio (art 99 sect4ordm)

Na hipoacutetese de natildeo concessatildeo do pedido o requerente poderaacute interpor agravo de

instrumento nos termos do art 101 caput do CPC salvo se a questatildeo for solvida na

sentenccedila hipoacutetese em que caberaacute apelaccedilatildeo De outro lado se concedido poderaacute a parte

contraacuteria impugnaacute-lo

A impugnaccedilatildeo agrave gratuidade da justiccedila sofreu importantes alteraccedilotildees com o Coacutedigo de

Processo Civil a primeira delas eacute que ela natildeo mais se processa em autos apartados devendo

ser formulada nos proacuteprios autos Sem maiores formalidades a impugnaccedilatildeo deve ser

oferecida pela parte no primeiro momento posterior agrave concessatildeo que lhe couber falar nos

autos ou seja se o benefiacutecio for deferido por ocasiatildeo da peticcedilatildeo inicial deve o reacuteu impugnaacute-

la jaacute na contestaccedilatildeo se concedido ao reacuteu por ocasiatildeo da contestaccedilatildeo deve o autor impugnaacute-la

na reacuteplica se deferido no momento da interposiccedilatildeo do recurso a impugnaccedilatildeo deve ser

oferecida nas contrarrazotildees recursais e se o pedido for superveniente deve a parte contraacuteria

impugnaacute-lo no prazo de 15 (quinze) dias contados de sua concessatildeo

Haacute todavia algumas questotildees que natildeo restaram suficientemente esclarecidas pelo

Coacutedigo de Processo Civil no que concerne a impugnaccedilatildeo agrave gratuidade da Justiccedila Entre elas

o autor Luiz Dellore (2015) aponta o termo inicial do prazo para a impugnaccedilatildeo defendendo o

autor que este deveria se dar a partir do momento que a parte contraacuteria tomasse conhecimento

da situaccedilatildeo de natildeo hipossuficiecircncia da parte sob pena de se limitar o instituto

Outro ponto diz respeito ao ocircnus da prova na impugnaccedilatildeo pois o legislador

manteve-se silente nesse aspecto

A doutrina se inclina a defender que o ocircnus de comprovar que o beneficiaacuterio natildeo faz

jus agrave gratuidade eacute do impugnante ante a existecircncia de presunccedilatildeo relativa da necessidade com

a mera alegaccedilatildeo de insuficiecircncia de recursos (NERY JUNIOR NERY 2015 p 479)

28 Revogaccedilatildeo do benefiacutecio

A revogaccedilatildeo do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila implica na obrigaccedilatildeo da parte ex-

beneficiaacuteria de recolher todas as despesas de deixou de adiantar inclusive as despesas que

foram eventualmente adiantadas pelo ente puacuteblico (periacutecia por exemplo) e as vindouras (art

166

100 paraacutegrafo uacutenico do CPC) isso no caso de a parte natildeo fazer jus ao benefiacutecio desde o

momento em que a requereu (OLIVEIRA 2015 p 377)

No entanto a revogaccedilatildeo pode se dar pelo fato de ter cessado a situaccedilatildeo de

hipossuficiecircncia econocircmica que ensejou o benefiacutecio hipoacutetese em que ela apenas teraacute que

arcar com as despesas processuais a partir do momento que passou a dispor da boa condiccedilatildeo

financeira

Ainda evidenciada a maacute-feacute do ex-beneficiaacuterio o Coacutedigo de Processo Civil prevecirc a

aplicaccedilatildeo de multa de ateacute o deacutecuplo das despesas que tiver deixado de adiantar ndash nesse caso

natildeo basta a mera revogaccedilatildeo do benefiacutecio

Decidiu-se antes da entrada em vigor do Coacutedigo que ldquodeve ser cabalmente

demonstrada a intenccedilatildeo da parte em induzir o Poder Judiciaacuterio a erro se aproveitando

indevidamente do benefiacuteciordquo (MEDINA 2015 p 191)

Em linhas gerais essas satildeo algumas das alteraccedilotildees consubstanciadas pelo Coacutedigo de

Processo Civil em relaccedilatildeo ao benefiacutecio da gratuidade da justiccedila malgrado a lei processual natildeo

tenha esgotado o tema esclareceu vaacuterios pontos que antes era debatido pela jurisprudecircncia

Aleacutem do mais importante pontuar que o legislador reformador repensou o processo

civil atento aos anseios da sociedade moderna e preocupado com a efetividade dos direitos

constitucionais ndash acesso agrave justiccedila por exemplo ndash prevendo expressamente no artigo 1ordm do

CPC que ldquoo processo civil seraacute ordenado disciplinado e interpretado conforme os valores e

normas fundamentais estabelecidas na Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasilrdquo

Ocorre entretanto que mesmo diante de significativas alteraccedilotildees o legislador ainda

natildeo preencheu ou objetivou o pressuposto de concessatildeo dos benefiacutecios anteriormente citados

sendo remanescente o subjetivismo da anaacutelise do termo ldquoinsuficiecircncia de recursosrdquo o que

passaraacute a ser refletido no presente artigo

3 O SUBJETIVISMO DO PRESSUPOSTO INSUFICIEcircNCIA DE RECURSOS

Conforme jaacute visto o Coacutedigo de Processo Civil alterou o requisito para a concessatildeo

do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila bastando a declaraccedilatildeo de insuficiecircncia de recursos pela

pessoa natural e a sua comprovaccedilatildeo no caso de pessoa juriacutedica

Todavia eacute inegaacutevel a carga de subjetividade que haacute no conceito de insuficiecircncia de

recursos e como todo conceito juriacutedico vago traz certa inseguranccedila juriacutedica notadamente

porque pode acarretar decisotildees extremamente diacutespares no cotidiano forense uma vez que tal

anaacutelise (o que eacute insuficiecircncia de recursos) fica a criteacuterio do entendimento de cada

167

magistrado aleacutem do que pode gerar inuacutemeros abusos por parte dos seus requerentes ndash ainda

mais quando a mera alegaccedilatildeo eacute bastante agrave concessatildeo do benefiacutecio ndash que diferentemente do

que alegam gozam de boa sauacutede financeira para arcar com as despesas processuais

(TARTUCE DELLORE 2015 p 314-315)

Mesmo antes da alteraccedilatildeo do CPC ainda na Lei nordm 106050 jaacute discutia a doutrina e

a jurisprudecircncia acerca dos pressupostos para a concessatildeo do benefiacutecio ante a vagueza dos

conceitos de hipossuficiente necessitado carente de recursos financeiros para arcar com as

custas do processo sem prejuiacutezo do sustento proacuteprio e de sua famiacutelia e a falta de um criteacuterio

objetivo miacutenimo para a concessatildeo do benefiacutecio5

Nada obstante o progresso vivenciado com o Coacutedigo de Processo Civil de 2015 no

que tange a gratuidade da justiccedila vecirc-se que no ponto concernente agrave triagem dos

hipossuficientes de recursos o legislador conservou um conceito juriacutedico indeterminado

Segundo Frederico do Valle Abreu (2005) o conceito juriacutedico indeterminado eacute

caracterizado pela ldquovaguidade semacircntica existente em certa norma com a finalidade de que

ela a norma permaneccedila ao ser aplicada sempre atual e correspondente aos anseios da

sociedade nos vaacuterios momentos histoacutericos em que a lei eacute interpretada e aplicadardquo

Assim o conteuacutedo abstrato do pressuposto insuficiecircncia de recursos tenha sido

propositadamente pensado pelo legislador por entender que o inteacuterprete na anaacutelise casuiacutestica

goza de melhores condiccedilotildees para valoraacute-lo refletindo pois uma decisatildeo mais justa

O autor Augusto Tavares Rosa Marcacini defende que a insuficiecircncia de recursos eacute

um conceito indeterminado e natildeo segue um padratildeo rigoroso por isso a melhor soluccedilatildeo eacute a

anaacutelise caso a caso

O conceito de necessitado natildeo eacute determinado mediante regras riacutegidas matemaacuteticas natildeo se utilizando limites numeacutericos determinados Tecircm direito ao benefiacutecio aqueles que natildeo podem arcar com os gastos necessaacuterios agrave participaccedilatildeo no processo na medida em que contabilizados os seus ganhos e os seus gastos com o proacuteprio sustento e da famiacutelia natildeo lhe reste numeraacuterio suficiente para tanto O direito ao benefiacutecio decorre da indisponibilidade financeira do sujeito Em face da notoacuteria insuficiecircncia do salaacuterio miacutenimo vigente em nosso paiacutes pode ser possiacutevel presumir que aquele que aufere ateacute cinco salaacuterios miacutenimos por exemplo eacute quase que certamente merecedor de usufruir dos benefiacutecios Mas como dissemos natildeo se deve utilizar nuacutemeros fechados como criteacuterio Um chefe de uma famiacutelia numerosa que pague aluguel e que tenha filhos em idade escolar por exemplo mesmo percebendo o equivalente a dez salaacuterios miacutenimos pode natildeo ter condiccedilotildees de arcar com as despesas de um processo De outro lado um jovem que viva com os pais os quais

5 Fernanda Tartuce e Luiz Dellore por exemplo no artigo escrito em coautoria Gratuidade da Justiccedila no novo CPC divergem sobre o assunto enquanto ela acredita ser acertada a opccedilatildeo do legislador em trazer um conceito dotado de subjetividade por outro lado ele discorda defendendo que ainda que a norma deixasse uma margem para a decisatildeo do juiz de acordo com a casuiacutestica deveria ao menos estabelecer um criteacuterio objetivo miacutenimo de modo a evitar disparidades nas decisotildees (2015 314-315)

168

provecircm o seu sustento moradia e estudo e que ganhe uns dois ou trecircs salaacuterios miacutenimos que natildeo satildeo empregados em qualquer despesa essencial para sua mantenccedila pode natildeo ser considerado beneficiaacuterio (2009 p 90-91)

Nesse espectro o aplicador da norma juriacutedica eacute quem tem o poder-dever de

materializar no caso concreto o conceito juriacutedico indeterminado do que eacute ser necessitado

economicamente para arcar com as despesas processuais dando assim maior efetividade ao

preceito constitucional do acesso agrave justiccedila

Atento agraves alteraccedilotildees do Coacutedigo de Processo Civil quanto ao tema leciona Rafael

Alexandria de Oliveira

Insuficiecircncia de recursos Faz jus ao benefiacutecio da gratuidade aquela pessoa com lsquoinsuficiecircncia de recursos para pagar as custas despesas processuais e honoraacuterios advocatiacuteciosrsquo Natildeo se exige a miserabilidade nem estado de necessidade nem tampouco se fala em renda familiar ou faturamento maacuteximos Eacute possiacutevel que uma pessoa natural mesmo com boa renda mensal seja merecedora do benefiacutecio e que tambeacutem o seja aquele sujeito que eacute proprietaacuterio de bens imoacuteveis mas natildeo dispotildee de liquidez A gratuidade judiciaacuteria eacute um dos mecanismos de viabilizaccedilatildeo do acesso agrave justiccedila natildeo se pode exigir que para ter acesso agrave justiccedila o sujeito tenha que comprometer significativamente a sua renda ou tenha que se desfazer de seus bens liquidando-os para angariar recursos e custear o processo A lei natildeo fala em nuacutemeros natildeo estabelece paracircmetros O sujeito que ganha boa renda mensal pode ser tatildeo merecedor do benefiacutecio quanto aquele que sobrevive agrave custa de programas de complementaccedilatildeo de renda O que pode diferenciaacute-los eacute a maior ou menor dificuldade com que o pedido de concessatildeo do benefiacutecio eacute tratado o de melhor renda pode ser chamado a justificar o seu requerimento provando a insuficiecircncia de recursos Por isso mesmo nem sempre o beneficiaacuterio seraacute algueacutem em situaccedilatildeo de necessidade de vulnerabilidade de miseacuteria de penuacuteria Eacute preciso atentar para isso (2015 p 359)

Eacute compreensiacutevel a carga de subjetividade impregnada ao termo insuficiecircncia de

recursos notadamente porque o legislador adotando a teoria do direito processual

constitucional (art 1ordm do CPC) quis que a normativa do benefiacutecio atendesse realmente agraves

exigecircncias da sociedade hodierna deixando ao encargo do juiz o dever juriacutedico de buscar

identificar e adotar a soluccedilatildeo apta a no caso concreto alcanccedilar satisfatoriamente a finalidade6

da norma ndash de que garantir a todos o acesso agrave justiccedila

Todavia eacute cediccedilo que a valoraccedilatildeo de um conceito subjetivo pelo magistrado (assim

como para qualquer pessoa) transcende a sua formaccedilatildeo juriacutedica e mesmo que inconsciente

revela suas convicccedilotildees pessoais (crenccedilas valores referecircncias sociais) deste modo o que no

sentir de um julgador eacute pessoa hipossuficiente aos olhos do outro natildeo o eacute eacute aiacute que repousam

as ldquoinjusticcedilasrdquo

6 Interpretaccedilatildeo teleoloacutegica

169

A falta de a lei definir um criteacuterio objetivo miacutenimo para se determinar o que eacute a

insuficiecircncia de recursos demandou trabalho da doutrina e especialmente da jurisprudecircncia

que mesmo timidamente adotou os mais diversos paracircmetros

Nesse sentido uma das primeiras orientaccedilotildees que surge na jurisprudecircncia eacute a

necessidade de prova cabal da insuficiecircncia de recursos para a concessatildeo do benefiacutecio da

gratuidade agraves pessoas juriacutedicas7 Depois de muita discussatildeo o entendimento sedimentado na

jurisprudecircncia8 foi consagrado pelo legislador no Coacutedigo de Processo Civil de 2015 em seu

artigo 98 caput

Tambeacutem se firmou o entendimento de que o requerente que se dedica a emprestar

dinheiro natildeo faz jus ao benefiacutecio uma vez que tal circunstacircncia eacute incompatiacutevel com a alegada

necessidade (NERY JUNIOR NERY 2015 p 475)

Os Tribunais tambeacutem jaacute fixaram como criteacuterio objetivo para se determinar se o

requerente eacute realmente hipossuficiente a renda mensal inferior a dez salaacuterios miacutenimos9

todavia o Superior Tribunal de Justiccedila jaacute refutou a utilizaccedilatildeo desse criteacuterio sob o fundamento

de que a desconstituiccedilatildeo da presunccedilatildeo estabelecida pela lei de gratuidade de justiccedila exige

perquirir in concreto a atual situaccedilatildeo financeira do requerenterdquo10

Outro paracircmetro que tem sido utilizado pelos juristas para aferir a condiccedilatildeo de

miserabilidade do requerente eacute a faixa de isenccedilatildeo do Imposto de Renda extraiacutedo da tabela

progressiva do tributo devidamente atualizada11

O criteacuterio do patrociacutenio da causa por advogado particular para afastar a benesse jaacute

era rechaccedilado pela jurisprudecircncia12 e foi recepcionado pelo atual Coacutedigo de Processo Civil em

seu artigo 99 sect4ordm 7 Assistecircncia judiciaacuteria Pessoa juriacutedica Demonstraccedilatildeo cabal da insuficiecircncia de recursos 1 Ademais de fundamentado exclusivamente na interpretaccedilatildeo do art 5ordm LXXIV da Constituiccedilatildeo Federal o certo eacute que a Corte jaacute assentou a necessidade de demonstraccedilatildeo cabal da insuficiecircncia de recursos para que a empresa possa desfrutar dos benefiacutecios da assistecircncia judiciaacuteria 2 Recurso especial natildeo conhecido (STJ - REsp 182557 RJ 19980053550-0 Relator Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO Data de Julgamento 02091999 T3 - TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJ 25101999 p 79) 8 Suacutemula 481 STJ Faz jus ao benefiacutecio da justiccedila gratuita a pessoa juriacutedica com ou sem fins lucrativos que demonstrar sua impossibilidade de arcar com os encargos processuais 9 ADMINISTRATIVO AGRAVO DE INSTRUMENTO ASSISTEcircNCIA JUDICIAacuteRIA GRATUITA - AJG PARAcircMETRO DEZ SALAacuteRIOS MIacuteNIMOS 1 A Segunda Seccedilatildeo desta Corte vem consolidando entendimento no sentido de fixar patamar objetivo para a concessatildeo do benefiacutecio da AJG qual seja dez salaacuterios miacutenimo 2 Hipoacutetese em que a agravante comprovou renda mensal bem inferior ao limite paradigmaacutetico destacado inexistindo qualquer razatildeo para o indeferimento do pleito em prestiacutegio agrave norma de regecircncia (Lei n 10601950) e ao princiacutepio da acessibilidade (artigo 5ordm XXXV Constituiccedilatildeo Federal) (TRF-4 - AG 50101513420134040000 5010151-3420134040000 Relator NICOLAU KONKEL JUacuteNIOR Data de Julgamento 14082013 TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DE 16082013) 10 STJ - AgRg no AREsp 626487 MG 20140315675-3 Relator Ministro RICARDO VILLAS BOcircAS CUEVA Data de Julgamento 28042015 T3 - TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJe 07052015 11 TJ-PR - AI 14520235 PR 1452023-5 (Decisatildeo Monocraacutetica) Relator Paulo Cezar Bellio Data de Julgamento 27102015 16ordf Cacircmara Ciacutevel Data de Publicaccedilatildeo DJ 1683 05112015

170

O Superior Tribunal de Justiccedila preconiza que o inteacuterprete deve conjugar o binocircmio

necessidade-possibilidade assim para se conceder o benefiacutecio da gratuidade da justiccedila deve-

se considerar natildeo apenas os rendimentos mensais do requerente mas tambeacutem o

comprometimento de suas despesas13

A anaacutelise da condiccedilatildeo financeira do postulante deve ficar restrita a sua situaccedilatildeo

presente e natildeo ao seu histoacuterico de riquezas o simples fato de o requerente jaacute ter sido rico

empresaacuterio ou pessoa de posses natildeo significa que natildeo possa ser hoje pessoa pobre na

acepccedilatildeo juriacutedica do termo e necessitar da assistecircncia judiciaacuteria Da mesma forma a reciacuteproca

eacute verdadeira o pobre que eacute beneficiaacuterio da gratuidade pode por fatores supervenientes

tornar-se pessoa abastada financeiramente o que certamente lhe cassaraacute o benefiacutecio (NERY

JUNIOR NERY 2015 p 477)

Destarte a adoccedilatildeo pelo juiz de um paracircmetro como ponto de partida para verificar o

preenchimento dos requisitos para a concessatildeo da justiccedila gratuita natildeo deve ser visto como

violador da norma Bem da verdade a gratuidade da justiccedila eacute uma das portas de acesso ao

Poder Judiciaacuterio entretanto natildeo pode ser utilizada pelo beneficiaacuterio tatildeo-somente para se

furtar das obrigaccedilotildees oriundas do processo

A Lei nordm 106050 exigia em sua redaccedilatildeo original que o requerente comprovasse o

estado de pobreza alegado hoje ndash a partir da nova redaccedilatildeo dada ao art 4ordm sect1ordm da referida lei

pela Lei Federal nordm 751086 ndash basta a simples afirmaccedilatildeo de necessidade do benefiacutecio o que

inclusive eacute referendado pela jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila14 Nesse sentir o

12 Assistecircncia judiciaacuteria Defensoria Puacuteblica Advogado particular Interpretaccedilatildeo da Lei nordm 106050 1 Natildeo eacute suficiente para afastar a assistecircncia judiciaacuteria a existecircncia de advogado contratado O que a lei especial de regecircncia exige eacute a presenccedila do estado de pobreza ou seja da necessidade da assistecircncia judiciaacuteria por impossibilidade de responder pelas custas que poderaacute ser enfrentada com prova que a desfaccedila Natildeo serve para medir isso a qualidade do defensor se puacuteblico ou particular 2 Recurso especial conhecido e provido (STJ - REsp 679198 PR 20040103656-9 Relator Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO Data de Julgamento 21112006 T3 - TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJ 16042007 p 184) 13 STJ - REsp 263781 SP 20000060786-0 Relator Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO Data de Julgamento 22052001 T3 - TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo lt-- DTPB 20010813ltbrgt --gt DJ 13082001 p 150ltbrgt JBCC vol 193 p 249 14PROCESSUAL CIVIL RECONHECIMENTO DE CONCUBINATO E PARTILHA DE BENS PEDIDO ALTERNATIVO DE INDENIZACcedilAtildeO POR SERVICcedilOS PRESTADOS INDEFERIMENTO DE PLANO DA INICIAL IMPOSSIBILIDADE CERCEAMENTO DE DEFESA ASSISTEcircNCIA JUDICIAacuteRIA E GRATUIDADE DA JUSTICcedilA ALEGACcedilAtildeO DA PARTE DESNECESSIDADE DE DEMONSTRACcedilAtildeO DE O ADVOGADO NAtildeO ESTAR SENDO REMUNERADO PRESUNCcedilAtildeO RECURSO PROVIDO Pelo sistema legal vigente faz jus a parte aos benefiacutecios da assistecircncia judiciaacuteria mediante simples afirmaccedilatildeo na proacutepria peticcedilatildeo de que natildeo estaacute em condiccedilotildees de pagar as custas do processo e os honoraacuterios de advogado sem prejuiacutezo proacuteprio ou de sua famiacutelia O deferimento da gratuidade garantia assegurada constitucionalmente aos economicamente hipossuficientes (Constituiccedilatildeo art 5ordm LXXIV) natildeo exige que a parte demonstre que o advogado natildeo estaacute sendo por ela remunerado Enquanto a Justiccedila gratuita isenta de despesas processuais e condenaccedilatildeo em honoraacuterios advocatiacutecios a assistecircncia judiciaacuteria mais ampla enseja tambeacutem o patrociacutenio por profissional habilitado Caracteriza cerceamento de defesa o indeferimento de plano da inicial de accedilatildeo que pretendeu o reconhecimento de concubinato e partilha de bens com pedido alternativo de indenizaccedilatildeo de

171

aplicador do direito exerce um fundamental papel para que o processo natildeo seja um fim em si

mesmo mas sim um instrumento para a materializaccedilatildeo de um direito

Nota-se que o indeterminismo do termo insuficiecircncia de recursos aliado a mera

alegaccedilatildeo da necessidade poderia transviar o sentido da norma devendo o magistrado ficar

atento para que os privilegiados de fortuna natildeo ingressem gratuitamente no feito

Assim havendo elementos no processo que infirmem a alegaccedilatildeo do postulante ndash que

goza de presunccedilatildeo iuris tantum ndash a hipossuficiecircncia deve ser comprovada

Duacutevida fundada quanto agrave pobreza O juiz da causa valendo-se de criteacuterios

objetivos pode entender que a natureza da accedilatildeo movida pelo interessado demonstra que ele possui porte econocircmico para suportar as despesas do processo A declaraccedilatildeo pura e simples do interessado conquanto seja o uacutenico entrave burocraacutetico que se exige para liberar o magistrado para decidir em favor do peticionaacuterio natildeo eacute prova inequiacutevoca daquilo que ele afirma nem obriga o juiz a se curvar aos seus dizeres se de outras provas e circunstacircncias ficar evidenciado que o conceito de pobreza que a parte invoca natildeo eacute aquele que justifica a concessatildeo do privileacutegio Cabe ao magistrado livremente fazer juiacutezo de valor acerca do termo pobreza deferindo ou natildeo o benefiacutecio (NERY JUNIOR NERY 2015 p 477)

Infelizmente a finalidade do benefiacutecio natildeo raras vezes eacute distorcida seja pela

abstraccedilatildeo do conceito ou mesmo pela lisura do ser humano e isso contribui para o aumento de

demandas desqualificadas respaldadas na ausecircncia de riscos no caso de improcedecircncia

Para Maacutercio Pirocircpo Galvatildeo (2010) os mecanismos de acesso agrave justiccedila fomentam

accedilotildees despretensiosas ndash e cita como exemplos as accedilotildees trabalhistas e aquelas do acircmbito dos

Juizados Especiais ndash exclusivamente pela ausecircncia de custo econocircmico defende inclusive

que o acesso ao Judiciaacuterio de forma gratuita virou uma ldquoloteria onde todos querem tentar a

sorterdquo

E continua o autor citando a decisatildeo do Juiz de Direito da 2ordf Vara Ciacutevel da Comarca

de Dourados Dr Joseacute Carlos de Souza que as demandas desnecessaacuterias ldquoabarrotam o Poder

Judiciaacuterio e dificultam o acesso agrave Justiccedila de jurisdicionados com pretensotildees mais nobres

Incentivam o aumento da inadimplecircncia e sedimentam a cultura do natildeo-cumprimento dos

contratos [] Configuram provocaccedilatildeo abusiva da maacutequina judiciaacuteria e maacute-feacute do devedorrdquo

(GALVAtildeO 2010)

Como visto a utilizaccedilatildeo abusiva da gratuidade da justiccedila pode representar o

congestionamento da maacutequina judicial comprometendo a razoaacutevel duraccedilatildeo do processo e ao

serviccedilos prestados sem possibilitar agrave parte a produccedilatildeo de qualquer prova notadamente em se tratando de alegado relacionamento de mais de trinta anos (Recurso Especial nordm 91609SP 4ordf Turma do STJ Rel Min Saacutelvio de Figueiredo Teixeira Recorrente A P M R Recorrida V G F B j 160498 un DJU 080698 p 113)

172

reveacutes de seu proposito servir como oacutebice ao efetivo acesso agrave justiccedila daqueles que tem

realmente tem urgecircncia na prestaccedilatildeo jurisdicional

Talvez uma boa alternativa para se evitar decisotildees diacutespares e a banalizaccedilatildeo do

benefiacutecio ante a carga de subjetividade do seu pressuposto fosse exigir uma comprovaccedilatildeo

miacutenima da insuficiecircncia de recursos Afinal quem realmente necessita do benefiacutecio natildeo teria

dificuldade alguma em demonstrar a sua impossibilidade financeira para arcar com as

despesas processuais

Eacute certo que a Lei nordm 106050 e agora o Coacutedigo de Processo Civil estabelecem ocircnus

ao litigante que de maacute-feacute requereu o benefiacutecio da gratuidade todavia a prova nesse sentido

deve ser contundente o que estimula de certa forma pedidos indiscriminados de gratuidade

uma vez que sopesando os riscos os ganhos prevalecem

Destarte o que se percebe eacute que nesse ponto o legislador civil natildeo conseguiu

encerrar as discussotildees deixando a soluccedilatildeo para a doutrina e a jurisprudecircncia agora basta

saber como as discussotildees seratildeo encaminhadas de modo que natildeo se instale ndash ou aumente ndash um

estado de desconfianccedila em torno do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila em decorrecircncia dos

abusos praticados mas que tambeacutem natildeo se deixe de cumprir a sua preciacutepua finalidade

constitucional de ser um instrumento de acesso ao Judiciaacuterio daqueles que natildeo desfrutam de

plenas condiccedilotildees financeiras

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O atual Coacutedigo de Processo Civil atuou muito positivamente no que pertine ao

instituto da Gratuidade da Justiccedila ele alvoreceu pontos que a Lei nordm 106050 era retroacutegrada e

mesmo silente bem como normatizou questotildees jaacute consolidadas pela jurisprudecircncia

Em contrapartida a legislaccedilatildeo processual civil natildeo se fez clara quanto ao pressuposto

para a concessatildeo do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila mormente porque se limitou a prever

que a simples afirmaccedilatildeo de insuficiecircncia de recursos para pagar as despesas processuais eacute

suficiente ao seu deferimento

Afinal o que insuficiecircncia de recursos Qual o criteacuterio objetivo para se definir quem

se enquadra ou natildeo nesse perfil Mais uma vez a lei que trata sobre a gratuidade da justiccedila

silenciou nesse pormenor reservando ao aplicador do direito a missatildeo de examinar

casuisticamente quem eacute merecedor ou natildeo da benesse partindo de uma interpretaccedilatildeo

alicerccedilada na finalidade da lei ndash promover o acesso agrave justiccedila

173

Assim duas questotildees surgem A primeira eacute se o legislador foi relapso ou se ele

propositadamente preferiu a um conceito indeterminado para a concessatildeo do benefiacutecio E a

segunda eacute se ele agiu bem

E ao que se conclui eacute que a preferecircncia por um termo dotado de subjetivismo tem

um propoacutesito qual seja permitir que a lei seja adaptaacutevel as mais diversas situaccedilotildees do

cotidiano forense de modo a tornar o acesso agrave justiccedila um direito fundamental mais efetivo

Conquanto agrave segunda questatildeo (se ele agiu bem) apenas a experiecircncia praacutetica poderaacute dizer

notadamente porque vai depender e muito da consciecircncia do postulante (e seu advogado) o

qual eacute o real sabedor de sua condiccedilatildeo financeira

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ABREU Frederico do Valle Conceito juriacutedico indeterminado interpretaccedilatildeo da lei

processo e suposto poder discricionaacuterio do magistrado Jus Navigandi Teresina ano 9 n

674 10 maio 2005 Disponiacutevel em lthttpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=6674gt

Acesso em 27032016

ANGHER Anne Joyce (Org) Vade mecum acadecircmico de direito Rideel 21ed

atual e ampl Satildeo Paulo Rideel 2015

BRASIL Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Recurso Especial nordm

19980053550-0 Relator Ministro Carlos Alberto Menezes Data de Julgamento 02091999

Data de Publicaccedilatildeo DJ 25101999 p 79

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Agravo Regimental no Recurso

Especial nordm 20140315675-3 Relator Ministro Ricardo Villas Bocircas Cueva Data de

Julgamento 28042015 Data de Publicaccedilatildeo DJe 07052015

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Recurso Especial nordm

20040103656-9 Relator Ministro Carlos Alberto Menezes Direito Data de Julgamento

21112006 Data de Publicaccedilatildeo DJ 16042007 p 184

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Recurso Especial

20000060786-0 Relator Ministro Carlos Alberto Menezes Direito Data de Julgamento

22052001 Data de Publicaccedilatildeo 13082001 p 150

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Quarta Turma Recurso Especial 91609SP

Relator Ministro Saacutelvio de Figueiredo Teixeira Data de Publicaccedilatildeo 08061998 p 113

174

_____ Tribunal Regional Federal (4ordf Regiatildeo) Terceira Turma Agravo nordm

50101513420134040000 5010151-3420134040000 Relator Nicolau Konkel Juacutenior Data

de Julgamento 14082013Data de Publicaccedilatildeo 16082013

_____ Tribunal de Justiccedila do Estado do Paranaacute 16ordf Cacircmara Ciacutevel Agravo de

Instrumento nordm 14520235 PR 1452023-5 (Decisatildeo Monocraacutetica) Relator Paulo Cezar Bellio

Data de Julgamento 27102015 Data de Publicaccedilatildeo 05112015

CAPPELLETTI Mauro GARTH Bryant Acesso agrave justiccedila Trad Ellen Gracie

Northfleet Porto Alegre Seacutergio Fabris Editor 2002

CARNEIRO Paulo Cezar Pinheiro Normas Fundamentais do Processo Civil Em

Breves Comentaacuterios ao Novo Coacutedigo de Processo Civil Tereza Arruda Alvim Wambier et

al[coord] Satildeo Paulo Editora RT 2015

DELLORE Luiz Novo CPC o lado A da justiccedila gratuita Disponiacutevel em http

httpjotauolcombrjustica-gratuita-novo-cpc-lado publicado em 09 de marccedilo de 2015

Acesso em 27032016

______ Novo CPC o lado B da justiccedila gratuita Disponiacutevel em

httpjotauolcombrnovo-cpc-o-lado-b-da-justica-gratuita publicado em 13 de abril de

2015 Acesso em 27032016

GALESKI JUNIOR Irineu RIBEIRO Marcia Carla Pereira Direito e economia

uma abordagem sobre a assistecircncia judiciaacuteria gratuita In Publica Direito (recurso eletrocircnico

on-line) Fortaleza CONPEDI 2010

GALVAtildeO Maacutercio Pirocircpo Abuso de direito agrave gratuidade da Justiccedila Revista Jus

Navigandi Teresina ano 17 n 3339 22 ago 2012 Disponiacutevel em

lthttpsjuscombrartigos22466gt Acesso em 27032016

MARCACINI Augusto Tavares Rosa Assistecircncia Juriacutedica Assistecircncia Judiciaacuteria e

Justiccedila Gratuita Satildeo Paulo Editora Forense 2009 (ediccedilatildeo eletrocircnica)

MEDINA Joseacute Miguel Garcia Novo Coacutedigo de Processo Civil Comentado Satildeo

Paulo Editora RT 2015

NERY JUNIOR Nelson e NERY Rosa Maria de Andrade Comentaacuterios ao Coacutedigo

de Processo Civil Satildeo Paulo Editora RT 2015

NETO Emeteacuterio Silva de Oliveira VIANA Juvecircncio Vasconcelos Acesso agrave justiccedila

e o novo Coacutedigo de Processo Civil um olhar criacutetico Em Acesso agrave justiccedila (recurso eletrocircnico

on-line) Florianoacutepolis CONPEDIUFSC 2015

175

OLIVEIRA Rafael Alexandria de Da Gratuidade da Justiccedila Em Breves

Comentaacuterios ao Novo Coacutedigo de Processo Civil Tereza Arruda Alvim Wambier et

al[coord] Satildeo Paulo Editora RT 2015

SANTOS Boaventura de Souza Pela matildeo de Alice o social e o poliacutetico

na poacutes-modernidade Satildeo Paulo Cortez 2003

TARTURE Flaacutevia DELLORE Luiz Gratuidade da justiccedila no novo CPC Em

Revista de Processo Satildeo Paulo v 39 n 236 p 305-323 out 2014

176

9 Inovaccedilotildees e alteraccedilotildees do coacutedigo de processo civil e a manutenccedilatildeo do subjetivismo do

termo ldquoinsuficiecircncia de recursosrdquo para a concessatildeo da gratuidade de justiccedila

10 O princiacutepio da publicidade como medida essencial ao controle dos atos estatais

11 A contratualizaccedilatildeo do processo judicial anaacutelise principioloacutegica de sua efetividade agrave luz

do novo diploma processual ciacutevel

12 Novo CPC negoacutecios juriacutedicos processuais ou arbitragem

13 Algumas observaccedilotildees sobre os prazos processuais e o princiacutepio da seguranccedila juriacutedica no

novo coacutedigo de processo civil

14 O princiacutepio da cooperaccedilatildeo judiciaacuteria do novo coacutedigo de processo civil uma anaacutelise a

partir da proteccedilatildeo ao trabalhador frente ao instituto da recuperaccedilatildeo judicial

15 O direito agrave prova no processo civil sob uma perspectiva constitucional

16 A distribuiccedilatildeo do ocircnus da prova no processo coletivo ambiental

17 Toda decisatildeo seraacute motivada

18 O artigo 489 do novo coacutedigo de processo civil e a fundamentaccedilatildeo das decisotildees judiciais

na perspectiva dworkiniana

19 Fundamentaccedilatildeo das decisotildees e a superaccedilatildeo do livre convencimento motivado

20 Operaccedilotildees midiaacuteticas e processo penal o respeito aos direitos fundamentais como fator

legitimador da decisatildeo judicial na esfera penal

21 Tutelas diferenciadas instrumento de auxiacutelio agrave efetivaccedilatildeo da justiccedila

22 Desconstituiccedilatildeo do tiacutetulo executivo judicial fundado em norma declarada inconstitucional

pelo STF e a impugnaccedilatildeo do art 525 sect 12ordm do CPC

23 Teacutecnica procedimental e a audiecircncia de justificaccedilatildeo nos procedimentos possessoacuterios por

um contraditoacuterio dinacircmico

24 O mandado de seguranccedila coletivo e a proteccedilatildeo dos direitos difusos

Na esperanccedila de encontrarmos dias de maior efetividade processual e procedimental no

atendimento e na efetivaccedilatildeo dos direitos fundamentais desejamos uma excelente leitura

Professor-doutor Rogeacuterio Luiz Nery da Silva (UNOESC)

Professor-doutor Marcos Leite Garcia (UNIVALI)

Professor-doutor Miguel Kfouri Neto (UNICURITIBA)

INOVACcedilOtildeES E ALTERACcedilOtildeES DO COacuteDIGO DE PROCESSO CIVIL E A MANUTENCcedilAtildeO DO SUBJETIVISMO DO TERMO ldquoINSUFICIEcircNCIA DE

RECURSOSrdquo PARA A CONCESSAtildeO DA GRATUIDADE DE JUSTICcedilA

INNOVATIONS AND CHANGES OF PROCEDURE CIVIL CODE AND MAINTENANCE OF THE SUBJECTIVISM TERM RESOURCES INSUFFICIENT FOR GRANTING OF JUSTICE OF GRATUITY

Juliane Dziubate KreftaAline Fatima Morelatto

Resumo

O presente trabalho eacute voltado agrave anaacutelise da Gratuidade da Justiccedila como um importante

mecanismo de acesso agrave justiccedila Pretende abordar as novidades sobre a Gratuidade da Justiccedila

no atual Coacutedigo de Processo Civil recentemente alterado pela Lei nordm 131052015 trazendo

agrave tona importantes alteraccedilotildees que corrigiram a obsoleta Lei nordm 106050 Objetiva fazer uma

reflexatildeo a respeito do requisito para a concessatildeo do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila qual

seja a insuficiecircncia de recursos e o seu alto grau de subjetivismo pontuando algumas

questotildees positivas e negativas a ele relacionadas

Palavras-chave Acesso agrave justiccedila Gratuidade Alteraccedilotildees Inovaccedilotildees Insuficiecircncia de recursos Subjetivismo

AbstractResumenReacutesumeacute

This work is focused on the analysis of Gratuity of Justice as an important mechanism of

access to justice It aims to address the news about the Gratuity of Justice in the current Civil

Procedure Code recently amended by Law nordm 131052015 bringing out important changes

that fixed the obsolete Law nordm 106050 Aims to reflect about the requirement for granting

the benefit of free justice namely the lack of resources and its high degree of subjectivity

emphasizing some positive and negative issues related to it

KeywordsPalabras-clavesMots-cleacutes Justice acess Gratuity Change Innovations Insufficient resources Subjectivism

156

INTRODUCcedilAtildeO

O presente artigo tem o desiderato de fazer uma reflexatildeo acerca do instituto da

Gratuidade da Justiccedila e as alteraccedilotildees promovidas pela Lei nordm 131052015 no atual Coacutedigo de

Processo Civil partindo da premissa de que eacute um importante instrumento de efetivaccedilatildeo dos

direitos fundamentais notadamente o direito ao acesso agrave justiccedila

O regramento sobre a Gratuidade da Justiccedila sofreu mudanccedilas significativas no

Coacutedigo de Processo Civil corrigindo vaacuterias distorccedilotildees e lacunas da decreacutepita Lei nordm 106050

que tratava sobre o assunto e que haacute tempos estava sendo plasmada pela jurisprudecircncia

A correccedilatildeo terminoloacutegica (gratuidade da justiccedila) a expressa previsatildeo de que a

pessoa juriacutedica tambeacutem pode figurar como beneficiaacuteria a extensatildeo da benesse agraves custas e aos

emolumentos dos notaacuterios e registradores satildeo algumas das vaacuterias alteraccedilotildees a respeito do

instituto preconizadas no Coacutedigo de Processo Civil

De outro lado malgrado o Coacutedigo de Processo Civil tenha inovado um pouco a

nominaccedilatildeo do requisito para a concessatildeo do benefiacutecio passando a simplesmente exigir a

alegaccedilatildeo da insuficiecircncia de recursos manteve a sua natureza subjetiva natildeo revelando

qualquer criteacuterio objetivo para elucidaacute-lo

Sobre esse aspecto o presente trabalho engendra um debate para saber se o

legislador caminhou ou natildeo bem expondo os pontos positivos e negativos quanto ao

indeterminismo do pressuposto insuficiecircncia de recursos e refletindo a respeito de suas

consequecircncias no mundo juriacutedico ndash principalmente a reaccedilatildeo da jurisprudecircncia ndash e tambeacutem na

sociedade tendo como metodologia acolhida a bibliograacutefica

1 O ACESSO Agrave JUSTICcedilA OS DIREITOS FUNDAMENTAIS E A

GRATUIDADE DE JUSTICcedilA ndash PRELIMINAR E INDISSOCIAacuteVEL

COMPREENSAtildeO

O direito agrave gratuidade da justiccedila eacute um direito fundamental do jurisdicionado (e natildeo

um simples benefiacutecio) A Constituiccedilatildeo Federal em seu artigo 5ordm LXXIV prevecirc que ldquoo Estado

prestaraacute assistecircncia juriacutedica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiecircncia de

recursosrdquo Ele tem o desiderato de evitar que a insuficiecircncia de recursos financeiros

represente um obstaacuteculo insuperaacutevel ao acesso agrave justiccedila1

1 Art 5ordm XXXV CF A lei natildeo excluiraacute da apreciaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio lesatildeo ou ameaccedila a direito

157

A justiccedila deve estar ao alcance de todos2 ricos e pobres competindo ao Estado ndash na

sua atuaccedilatildeo positiva ndash como seu gestor3 garantir que a pessoa de parcos recursos financeiros

tenha condiccedilotildees de acionar o Poder Judiciaacuterio da mesma forma que o afortunado

Como afirma Boaventura de Souza Santos ldquoo tema do acesso agrave justiccedila eacute aquele que

mais diretamente equaciona as relaccedilotildees entre o processo civil e a justiccedila social entre

igualdade juriacutedico-formal e desigualdade socioeconocircmicardquo (2003 p167)

Para Cappelletti e Garth uma das finalidades do termo acesso agrave justiccedila eacute determinar

que o sistema juriacutedico fosse igualmente acessiacutevel a todos e reafirmam a importacircncia de sua

efetividade

De fato o direito ao acesso efetivo tem sido progressivamente reconhecido como sendo de importacircncia capital entre os novos individuais sociais uma vez que a titularidade de direitos eacute destituiacuteda de sentidos na ausecircncia de mecanismos para sua efetiva reivindicaccedilatildeo O acesso agrave Justiccedila pode portanto ser encarado como requisito fundamental ndash o mais baacutesico dos direitos humanos ndash de um sistema juriacutedico moderno e igualitaacuterio que pretenda garantir e natildeo apenas proclamar os direitos de todos (2002 p 4)

Os referidos autores identificam vaacuterios oacutebices ao acesso agrave justiccedila ndash entre elas as

desigualdades socioeconocircmicas ndash e sequencialmente propotildeem soluccedilotildees praacuteticas ao

problema emergindo como primeira a assistecircncia judiciaacuteria ao que eles denominaram de

ldquoprimeira ondardquo (CAPPELLETI GARTH 2002 p 6-12)

Nesse vieacutes a gratuidade da justiccedila ndash natildeo tecendo nesse primeiro momento qualquer

consideraccedilatildeo acerca das distinccedilotildees terminoloacutegicas ndash eclode com um importante mecanismo

viabilizador do acesso agrave justiccedila e tem a preciacutepua finalidade de dar efetividade a outros direitos

fundamentais constitucionalmente previstos como a igualdade (art 5 caput CF) a cidadania

(art 1ordm inciso II CF) e a proacutepria dignidade da pessoa humana (art 1ordm inciso III CF)

2 Eacute o que Emeteacuterio Silva e Juvecircncio Vasconcelos chamam de universalizaccedilatildeo ou horizontalizaccedilatildeo do acesso agrave justiccedila ensinando que ldquoHorizontalizar eacute fazer com que agrave todas as pessoas (pobres ou ricas) sejam assegurados os mesmos meios de acesso agrave justiccedila Eacute promover a isonomia ou seja a igualdade na e perante a lei pois esta lsquonatildeo deve ser fonte de privileacutegios ou perseguiccedilotildees mas instrumento regulador da vida social que necessita tratar equitativamente todos os cidadatildeosrsquo (BANDEIRA DE MELLO 2013 p 10) Com efeito o acesso agrave justiccedila nos termos do artigo 60 sect 4ordm inciso IV da Carta de 88 eacute claacuteusula peacutetrea e por estaacute alccedilado agrave categoria hieraacuterquica superior natildeo pode sofrer menoscabos o que exclui possiacuteveis discriminaccedilotildees arbitraacuterias entre as pessoas quando da execuccedilatildeo desta garantia fundamental Assim considerando a forccedila normativa da constituiccedilatildeo23 portanto das normas de direitos e garantias nela previstas a universalizaccedilatildeo do acesso agrave justiccedila aliada a efetividade da tutela jurisdicional ou dos meios assecuratoacuterios de direitos fomentadores da justiccedila social avultam imprescindiacuteveis (NETO Emeteacuterio Silva de Oliveira VIANA Juvecircncio Vasconcelos Acesso agrave justiccedila e o novo Coacutedigo de Processo Civil um olhar criacutetico In Acesso agrave justiccedila (recurso eletrocircnico on-line) Florianoacutepolis CONPEDIUFSC 2015 p 186 3 A jurisdiccedilatildeo eacute monopoacutelio do Estado proibindo a lei que as pessoas faccedilam justiccedila com as proacuteprias matildeos salvo raras exceccedilotildees como por exemplo as hipoacuteteses de autotutela ndash arts 1210 e 1219 do Coacutedigo Civil

158

Agrave medida que se busca a efetividade dos direitos fundamentais o direito processual

passa a ter um importante papel nessa missatildeo4 pois eacute ele quem indica qual eacute o (melhor)

caminho para se alcanccedilar o direito material sob essa perspectiva vecirc-se a necessidade de

atualizaccedilatildeo da lei processual a fim de se adequar as exigecircncias da sociedade moderna

A uacutenica lei que regulamentava o benefiacutecio da justiccedila gratuita data de 1950 eacute uma lei

natildeo soacute defasada do ponto de vista material e processual como tambeacutem dotada de

imperfeiccedilotildees teacutecnicas e entraves agrave concessatildeo do benefiacutecio Era preciso simplificar e

desmistificar para entatildeo avanccedilar ndash pelo menos um degrau ndash na universalizaccedilatildeo do acesso agrave

justiccedila e a Lei nordm 131052015 que alterou o Coacutedigo de Processo Civil (CPC) o fez

O autor Luiz Dellore (2015) ao tecer elogios ao legislador diz que ldquoas inovaccedilotildees do

CPC simplificam o procedimento buscam evitar abuso dos requentes da gratuidade e

especialmente pretendem obstar debates laterais e incidentes para que se possa focar na

discussatildeo do meacuteritordquo

2 O COacuteDIGO DE PROCESSO CIVIL EM VIGOR E AS INOVACcedilOtildeES

RELATIVAS Agrave GRATUIDADE DE JUSTICcedilA

A atualmente (e corretamente) nominada gratuidade da justiccedila foi profundamente

reformulada pelo Coacutedigo de Processo Civil As mudanccedilas satildeo muito significativas o Coacutedigo

consolidou o assunto em seis dispositivos do artigo 98 ao artigo 102 aleacutem do que revogou

expressamente vaacuterios artigos da Lei nordm 106050 (arts 2ordm 3ordm 4ordm 6ordm 7ordm 11 12 e 17)

Considerando isso o artigo pontuaraacute as alteraccedilotildees legitimadas

21Terminologia

O Coacutedigo corrigiu os equiacutevocos praticados quanto agrave terminologia que redundavam

em incompreensotildees acerca do tema Natildeo se pode confundir assistecircncia judiciaacuteria gratuita

gratuidade da justiccedila (justiccedila gratuita) e assistecircncia juriacutedica integral e gratuita

A assistecircncia judiciaacuteria gratuita consiste no patrociacutenio gratuito da causa seja por

advogado do Estado entidades conveniadas com o Estado escritoacuterios de praacutetica juriacutedica das

faculdades de Direito ou mesmo advogados particulares nomeados como dativos Jaacute a

gratuidade da justiccedila traduz-se na isenccedilatildeo para o adiantamento das custas do processo Por

4 O processo natildeo deveria ser colocado no vaacutecuo Os juiacutezes precisam agora reconhecer que as teacutecnicas processuais servem a questotildees sociais [] o lsquoacessorsquo natildeo eacute apenas um direito social fundamental crescentemente reconhecido ele eacute tambeacutem necessariamente o ponto central da moderna processualiacutestica CAPPELLETTI Mauro GARTH Bryant Acesso agrave justiccedila Trad Ellen Gracie Northfleet Porto Alegre Seacutergio Fabris Editor 2002 p 5

159

sua vez a assistecircncia juriacutedica integral e gratuita engloba aleacutem da representaccedilatildeo do

hipossuficiente em juiacutezo a orientaccedilatildeo juriacutedica dele em questotildees extrajudiciais (TARTUCE

DELLORE 2014 p 308 e 309)

Preconiza Rafael Alexandria de Oliveira

Eacute comum a confusatildeo quanto aos conceitos de benefiacutecio da justiccedila gratuita (ou da gratuidade da justiccedila ou ainda da gratuidade judiciaacuteria) de assistecircncia judiciaacuteria e de assistecircncia juriacutedica Todos eles decorrem do direito fundamental agrave assistecircncia juriacutedica integral e gratuita de que trata o art 5ordm LXXIV da CF1988 mas natildeo se confundem Pontes de Miranda (a) benefiacutecio da justiccedila gratuita eacute como jaacute dito a dispensa do adiantamento de despesas processuais para o qual se exige a tramitaccedilatildeo de um processo judicial o requerimento da parte interessada e o deferimento do juiacutezo perante o qual o processo tramita (b) assistecircncia judiciaacuteria consiste no direito de a parte ser assistida gratuitamente por um profissional do Direito normalmente membro da Defensoria Puacuteblica da Uniatildeo do Estados ou do Distrito Federal e que natildeo depende do deferimento do juiacutezo nem mesmo da existecircncia de um processo judicial (c) assistecircncia juriacutedica eacute um conceito mais amplo que abrange o benefiacutecio da justiccedila gratuita e a assistecircncia judiciaacuteria mas vai aleacutem deles englobando todas as iniciativas do Estado (em sentido amplo) que tecircm por objetivo promover uma aproximaccedilatildeo entre a sociedade e os serviccedilos juriacutedicos ndash como por exemplo as campanhas de conscientizaccedilatildeo de direitos do consumidor promovidas por oacutergatildeos administrativos e os serviccedilos juriacutedicos itinerantes prestados agrave populaccedilatildeo carente (2015 p 355)

Semelhantemente Augusto Tavares Rosa Marcacini desenvolve um conceito

distinguindo os institutos da assistecircncia judiciaacuteria justiccedila gratuita e a assistecircncia juriacutedica

integral e gratuita

A Constituiccedilatildeo Federal de 1988 em seu artigo 5ordm inciso LXXIV inclui entre os direitos e garantias individuais a assistecircncia juriacutedica integral e gratuita Utiliza a Lei Maior um terceiro conceito que tambeacutem natildeo deve ser confundido como sinocircnimo de assistecircncia judiciaacuteria ou justiccedila gratuita Por justiccedila gratuita deve ser entendida a gratuidade de todas as causas e despesas judiciais ou natildeo relativas a atos necessaacuterios ao desenvolvimento do processo e agrave defesa dos direitos do beneficiaacuterio em juiacutezo O benefiacutecio da justiccedila gratuita compreende a isenccedilatildeo de toda e qualquer despesa necessaacuteria ao pleno exerciacutecio dos direitos e das faculdades processuais sejam tais despesas judiciais ou natildeo Abrange assim natildeo somente as custas relativas aos atos processuais a serem praticados como tambeacutem todas as despesas decorrentes de efetiva participaccedilatildeo na relaccedilatildeo processual A assistecircncia judiciaacuteria envolve o patrociacutenio gratuito da causa por advogado A assistecircncia judiciaacuteria eacute pois um serviccedilo puacuteblico organizado consistente na defesa em juiacutezo do assistido que deve ser oferecido pelo Estado mas que pode ser desempenhado por entidades natildeo-estatais conveniadas ou natildeo com o Poder Puacuteblico [] Por sua vez a assistecircncia juriacutedica engloba a assistecircncia judiciaacuteria sendo ainda mais ampla que esta por envolver tambeacutem serviccedilos juriacutedicos natildeo relacionados ao processo tais como orientaccedilotildees individuais ou coletivas o esclarecimento de duacutevidas e mesmo um programa de informaccedilatildeo a toda a comunidade (2009 p 40-43)

O Coacutedigo de Processo Civil ao usar o termo teacutecnico gratuidade da justiccedila

acertadamente corrigiu as distorccedilotildees terminoloacutegicas afastando qualquer possibilidade de

160

confusatildeo que se possa fazer com a assistecircncia judiciaacuteria gratuita e a assistecircncia juriacutedica

integral e gratuita

22 Beneficiaacuterios

De acordo com a legislaccedilatildeo processual em vigor podem ser beneficiaacuterios da justiccedila

gratuita a pessoa natural ou juriacutedica brasileira ou estrangeira

A redaccedilatildeo do Coacutedigo de Processo Civil encerrou uma discussatildeo histoacuterica pontuada

jurisprudencialmente pelo STJ e agora reconhecida legislativamente ao prever (art 98

caput) que a pessoa juriacutedica tem direito ao benefiacutecio da gratuidade da justiccedila

Para que a pessoa juriacutedica seja beneficiada com a gratuidade da justiccedila natildeo basta a

mera declaraccedilatildeo devendo demonstrar que efetivamente necessita do benefiacutecio

independentemente de ter ou natildeo finalidade lucrativa (MEDINA 2015 p 190)

Natildeo obstante a utilizaccedilatildeo do termo ldquopessoardquo entende-se que o benefiacutecio pode ser

gozado pelos entes despersonalizados como por exemplo o condomiacutenio a massa falida etc

(OLIVEIRA 2015 p 357-358)

Aleacutem disso o art 98 estende o benefiacutecio da justiccedila gratuita aos estrangeiros sejam

eles residentes ou natildeo no paiacutes diferentemente do que traz o caput do art 5ordm da CF88 que em

relaccedilatildeo agrave generalidade dos direitos fundamentais engloba apenas os estrangeiros residentes no

paiacutes (NERY JUNIOR NERY 2015 p 472)

23 Pressupostos

A letra do Coacutedigo de Processo Civil alterou o aspecto objetivo para a concessatildeo do

benefiacutecio passando a constar apenas a ldquoinsuficiecircncia de recursos financeirosrdquo para o

adiantamento das custas natildeo mais se exige a situaccedilatildeo de miserabilidade da parte requerente

como tambeacutem se aboliu o uso da expressatildeo ldquoa parte natildeo pode arcar com as custas sem

prejuiacutezo do sustento proacuteprio ou da famiacuteliardquo

Para que se conceda o benefiacutecio haacute uma presunccedilatildeo iuris tantum de veracidade da

declaraccedilatildeo feita pela parte pessoa natural mas soacute com relaccedilatildeo agrave pessoa natural a pessoa

juriacutedica deve comprovar a impossibilidade de adiantar as custas

Apesar desta mudanccedila de paradigma a lei natildeo dispocircs de forma suficientemente clara

o que significa ldquoinsuficiecircncia de recursosrdquo e quais seriam os seus paracircmetros miacutenimos

deixando mais uma vez ao encargo do inteacuterprete a funccedilatildeo de aquilatar se o requerente faz jus

ou natildeo agrave benesse o que certamente continuaraacute acarretando distorccedilotildees e inseguranccedila juriacutedica

161

O subjetivismo da expressatildeo seraacute mais bem aprofundado no toacutepico seguinte mesmo

porque a sua discussatildeo constituiu um dos pilares do presente artigo

24 Abrangecircncia

A Lei da Assistecircncia Judiciaacuteria previa em seu artigo 3ordm quais seriam as despesas

processuais compreendidas pelo benefiacutecio da justiccedila gratuita e nesse aspecto a norma era

satisfatoacuteria entatildeo o Coacutedigo de Processo Civil manteve o que tinha na Lei nordm 106050 e

avanccedilou como por exemplo no tocante agrave previsatildeo da remuneraccedilatildeo do inteacuterprete e do

tradutor bem como na realizaccedilatildeo de memoacuteria de caacutelculo pelo contador para fins de execuccedilatildeo

entre outros

O art 98 sect1ordm do Coacutedigo em vigecircncia tratou de exemplificativamente discriminar as

despesas processuais que podem ser compreendidas pela gratuidade da justiccedila algumas delas

jaacute previstas no art 3ordm da Lei nordm 106050 agora expressamente revogado

O beneficiaacuterio estaacute dispensado de adiantar o pagamento de taxas ou custas judiciaacuterias

(inciso I) O CPC foi redundante ao prever taxas e custas mormente porque tais despesas tem

o mesmo significado elas ldquodesignam o valor que se deve pagar ao Estado pela prestaccedilatildeo do

serviccedilo judiciaacuterio Tecircm natureza juriacutedica tributaacuteria constituindo-se numa taxa [] a

concessatildeo do beneficio natildeo constitui isenccedilatildeo tributaacuteria visto que natildeo dispensa o pagamento

em si mas sim o adiantamento da verbardquo (OLIVEIRA 2015 p 359)

As despesas com postagens de qualquer natureza e com publicaccedilatildeo na imprensa

oficial tambeacutem satildeo abrangidas pelo benefiacutecio da justiccedila gratuita (incisos II e III)

O benefiacutecio engloba tambeacutem as indenizaccedilotildees de testemunhas (inciso IV) tanto os

custos com a viagem para depor em juiacutezo quanto agraves relativas ao dia de trabalho ganho e natildeo

trabalhado que deve ser paga ao empregador (NERY JUNIOR NERY 2015 p 472)

As despesas com realizaccedilatildeo do exame de DNA (inciso V) tambeacutem satildeo albergadas

pelo benefiacutecio da gratuidade da justiccedila Aliaacutes o Coacutedigo de Processo Civil inovou em relaccedilatildeo agrave

Lei da Assistecircncia Judiciaacuteria Gratuita incluindo neste inciso outros exames periciais

considerados essenciais

Os honoraacuterios do advogado e do perito a remuneraccedilatildeo do inteacuterprete tradutor e

contador e todos os terceiros que de alguma forma contribuem para o Poder Judiciaacuterio

(inciso VI e VII) estatildeo cobertos pela benesse da gratuidade

Importante destacar que o afastamento da responsabilidade pelo adiantamento das

custas dos honoraacuterios advocatiacutecios natildeo se refere aos honoraacuterios de sucumbecircncia devidos pelo

162

beneficiaacuterio ao advogado da parte contraacuteria nos termos do sect2ordm do artigo 98 mas tatildeo somente

os honoraacuterios devidos ao seu proacuteprio advogado quando este eacute nomeado pelo juiz ou seja o

defensor dativo (OLIVEIRA 2015 p 361)

O art 95 sect3ordm do Coacutedigo Processual Civil normatiza a respeito do custeio da periacutecia

(inclusive honoraacuterios) na hipoacutetese de o responsaacutevel pelo pagamento de tal despesa ser

beneficiaacuterio da justiccedila gratuita Dispotildee o paraacutegrafo que nessa hipoacutetese a periacutecia seraacute

realizada preferencialmente por um servidor do Poder Judiciaacuterio ou por oacutergatildeo conveniado e

subsidiariamente por particular Em ambos os casos os honoraacuterios seratildeo custeados com

recursos do orccedilamento do ente puacuteblico respectivo ndash Uniatildeo e Estado ou Distrito Federal

Ainda possibilita a legislaccedilatildeo processual civil que a Fazenda Puacuteblica recobre o

valor despendido a tiacutetulo de honoraacuterios periciais daquele que for condenado ao pagamento de

tais verbas (art 95 sect4ordm CPC) no caso de ser a parte vencida beneficiaacuteria da gratuidade da

justiccedila o ente puacuteblico deve observar as regras pertinentes agrave sucumbecircncia e a exigibilidade sob

condiccedilatildeo suspensiva previstas nos paraacutegrafos sectsect2ordm e 3ordm do art 98 Mas em nenhuma hipoacutetese

transferir tal ocircnus a outra parte natildeo beneficiaacuteria

Tambeacutem estatildeo incluiacutedos no conceito de gratuidade da justiccedila os depoacutesitos devidos

para interposiccedilatildeo de recurso propositura de accedilatildeo e para a praacutetica de outros atos processuais

inerentes ao exerciacutecio da ampla defesa e do contraditoacuterio (inciso VIII) esse dispositivo acaba

por servir como uma claacuteusula geral incluindo todas aquelas despesas natildeo arroladas nos

incisos anteriores e que por estarem intrinsicamente relacionadas ao exerciacutecio do

contraditoacuterio e da ampla devem ser afastadas

Por fim e natildeo menos importante trouxe uma importante inovaccedilatildeo incluindo os

emolumentos dos registradores e notaacuterios relativos a atos de averbaccedilatildeo e registro decorrentes

de processo judicial em que houve a concessatildeo do benefiacutecio da gratuidade (inciso IX)

O Coacutedigo de Processo Civil estendeu para o acircmbito extrajudicial o benefiacutecio da

gratuidade da justiccedila concedido judicialmente garantindo-se assim a prestaccedilatildeo jurisdicional

em sua inteireza

Outrossim o sect 8ordm do artigo 98 preconiza que se o tabeliatildeo ou registrador no

momento da realizaccedilatildeo do ato cartorial tiver duacutevida fundada quanto ao preenchimento dos

pressupostos para a concessatildeo da justiccedila gratuita ndash ou seja insuficiecircncia de recursos ndash pode

requerer ao juiacutezo competente para decidir questotildees notariais ou registrais (competecircncia do

juiz corregedor dos cartoacuterios extrajudiciais) que revogue a gratuidade ou permita o

parcelamento dos valores devido (DELLORE 2015)

163

Esse paraacutegrafo deu ensejo a algumas criacuteticas para Luiz Dellore o questionamento

judicial acerca da capacidade financeira da parte para arcar com as despesas notariais e

registrais

[] natildeo parece ser uma atividade jurisdicional mas administrativa em analogia agrave lsquosuscitaccedilatildeo de duacutevidarsquo hoje existente Trata-se de uma esdruacutexula inovaccedilatildeo que traz ainda mais temas para decisatildeo do Poder Judiciaacuterio Assim aleacutem de todas as questotildees que o juiz deve decidir teraacute ainda de apreciar se uma parte de um processo jaacute findo ainda tem ou natildeo dificuldades financeiras para fins de pagamento de taxas de cartoacuterio (2015)

Ainda no que tange a abrangecircncia do benefiacutecio impende destacar que as multas

processuais de qualquer natureza ndash como por exemplo as multas por litigacircncia de maacute-feacute e por

ato atentatoacuterio a dignidade da justiccedila ndash natildeo estatildeo abarcadas pela gratuidade da justiccedila pois

elas satildeo puniccedilotildees a comportamentos iliacutecitos ldquoE natildeo poderia ser diferente a gratuidade da

justiccedila natildeo pode servir como escudo para a procrastinaccedilatildeo e a litigacircncia de maacute-feacute Daiacute a razatildeo

pela qual o beneficiaacuterio da justiccedila gratuita deve ser executado normalmente em relaccedilatildeo a

elesrdquo (NERY JUNIOR NERY 2015 p 474)

25 Modulaccedilatildeo do benefiacutecio

Outra importante novidade trazida pela Lei nordm 1310515 foi a possibilidade do juiz

modular os efeitos do benefiacutecio abrangendo apenas alguns dos custos do processo ou mesmo

parcelar as despesas processuais (art 98 sectsect5ordm e 6ordm CPC)

Tal medida eacute interessante ao passo que o postulante pode ter condiccedilotildees financeiras

de arcar apenas com algumas despesas processuais como por exemplo as custas e taxas

todavia natildeo dispor de recursos para pagar os honoraacuterios periciais por exemplo Ainda ao

longo do processo pode sobrevir mudanccedila na condiccedilatildeo financeira da parte e ela passar por

dificuldades para custear as despesas processuais nesse ponto o juiz poderaacute conceder-lhe os

benefiacutecios a partir de tal momento

A possibilidade de parcelamento das despesas processuais sugere que o legislador

quis dizer que a concessatildeo da gratuidade da justiccedila eacute a uacuteltima opccedilatildeo sendo possiacutevel agrave parte

arcar com as despesas de forma parcelada o juiz deve optar pelo seu seccionamento e natildeo a

sua dispensa (NERY JUNIOR NERY 2015 p 474)

26 Responsabilidade do beneficiaacuterio

A gratuidade da justiccedila como jaacute dito eacute um instrumento do acesso agrave justiccedila daqueles

que se declaram financeiramente desprovidos de condiccedilotildees de custear o processo Isso

164

significa que se o beneficiaacuterio for perdedor em uma demanda ele seraacute igualmente responsaacutevel

pelo pagamento do ocircnus inerente a sua derrota a diferenccedila reside no fato de poder exigir ou

natildeo a sua cobranccedila

Se o beneficiaacuterio for vencido ele teraacute responsabilidade pelas despesas processuais

ele deveraacute reembolsar os gastos realizados pela outra parte seraacute condenado agraves verbas

sucumbenciais ficando todavia sob condiccedilatildeo suspensiva de exigibilidade podendo ser

cobradas pelo credor no prazo de 5 (cinco) anos contados do tracircnsito em julgado da decisatildeo

que fixou a sucumbecircncia desde que demonstre a ocorrecircncia um fato superveniente que

alterou a condiccedilatildeo financeira do beneficiaacuterio (MEDINA 2015 p 188-189)

Repisa-se a gratuidade natildeo isenta o seu beneficiaacuterio do pagamento das despesas

processuais tatildeo somente as coloca sob condiccedilatildeo suspensiva de exigibilidade

27 Requerimento e impugnaccedilatildeo

O benefiacutecio da gratuidade natildeo pode ser concedido de ofiacutecio pelo juiz devendo a

parte interessada requerecirc-lo no primeiro momento em que ela ingressa no feito ndash peticcedilatildeo

inicial contestaccedilatildeo ou na peccedila de ingresso do terceiro interveniente ndash ou em um momento

posterior ndash por meio de peticcedilatildeo simples ou mesmo no bojo de outra manifestaccedilatildeo ndash inclusive

na m grau recursal (art 99 caput e sect1ordm do CPC)

Nesse aspecto natildeo haacute um momento processual preacute-estabelecido e uacutenico para o

requerimento da gratuidade da justiccedila todavia o tempo do pedido eacute importante para delimitar

quais satildeo as despesas processuais que se dispensa o adiantamento isto porque a concessatildeo do

benefiacutecio tem efeito prospectivo natildeo alcanccedilando os atos processuais jaacute praticados

(OLIVEIRA 2015 p 371-372)

O requerimento natildeo demanda maiores formalidades devendo a parte apenas declarar

a insuficiecircncia de recursos se pessoa natural no caso de pessoa juriacutedica deveraacute ainda

comprovar a necessidade do benefiacutecio

O juiz ao analisar o pedido de gratuidade formulado apenas o indeferiraacute se nos autos

existiram elementos que demonstrem que o postulante natildeo preenche o pressuposto da

insuficiecircncia de recursos Todavia antes de indeferi-lo deve oportunizar a parte que

comprove a alegada carecircncia financeira para custear o processo (art 99 sect2ordm CPC)

A oportunidade de ser ouvido antes do indeferimento do pedido de gratuidade da

justiccedila somente se aplica a pessoa natural uma vez que em seu favor haacute presunccedilatildeo de

veracidade da alegaccedilatildeo de hipossuficiecircncia natildeo necessitando juntar qual prova nesse sentido

165

no momento da realizaccedilatildeo do pedido diferentemente do que acontece com a pessoa juriacutedica

que ao postular o benefiacutecio jaacute deve comprovar a sua necessidade (OLIVEIRA 2015 p 373)

Importante destacar que o Coacutedigo de Processo Civil encerrando discussotildees

expressamente previu que a assistecircncia do requerente por advogado particular por si soacute natildeo

constitui oacutebice para a concessatildeo do benefiacutecio (art 99 sect4ordm)

Na hipoacutetese de natildeo concessatildeo do pedido o requerente poderaacute interpor agravo de

instrumento nos termos do art 101 caput do CPC salvo se a questatildeo for solvida na

sentenccedila hipoacutetese em que caberaacute apelaccedilatildeo De outro lado se concedido poderaacute a parte

contraacuteria impugnaacute-lo

A impugnaccedilatildeo agrave gratuidade da justiccedila sofreu importantes alteraccedilotildees com o Coacutedigo de

Processo Civil a primeira delas eacute que ela natildeo mais se processa em autos apartados devendo

ser formulada nos proacuteprios autos Sem maiores formalidades a impugnaccedilatildeo deve ser

oferecida pela parte no primeiro momento posterior agrave concessatildeo que lhe couber falar nos

autos ou seja se o benefiacutecio for deferido por ocasiatildeo da peticcedilatildeo inicial deve o reacuteu impugnaacute-

la jaacute na contestaccedilatildeo se concedido ao reacuteu por ocasiatildeo da contestaccedilatildeo deve o autor impugnaacute-la

na reacuteplica se deferido no momento da interposiccedilatildeo do recurso a impugnaccedilatildeo deve ser

oferecida nas contrarrazotildees recursais e se o pedido for superveniente deve a parte contraacuteria

impugnaacute-lo no prazo de 15 (quinze) dias contados de sua concessatildeo

Haacute todavia algumas questotildees que natildeo restaram suficientemente esclarecidas pelo

Coacutedigo de Processo Civil no que concerne a impugnaccedilatildeo agrave gratuidade da Justiccedila Entre elas

o autor Luiz Dellore (2015) aponta o termo inicial do prazo para a impugnaccedilatildeo defendendo o

autor que este deveria se dar a partir do momento que a parte contraacuteria tomasse conhecimento

da situaccedilatildeo de natildeo hipossuficiecircncia da parte sob pena de se limitar o instituto

Outro ponto diz respeito ao ocircnus da prova na impugnaccedilatildeo pois o legislador

manteve-se silente nesse aspecto

A doutrina se inclina a defender que o ocircnus de comprovar que o beneficiaacuterio natildeo faz

jus agrave gratuidade eacute do impugnante ante a existecircncia de presunccedilatildeo relativa da necessidade com

a mera alegaccedilatildeo de insuficiecircncia de recursos (NERY JUNIOR NERY 2015 p 479)

28 Revogaccedilatildeo do benefiacutecio

A revogaccedilatildeo do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila implica na obrigaccedilatildeo da parte ex-

beneficiaacuteria de recolher todas as despesas de deixou de adiantar inclusive as despesas que

foram eventualmente adiantadas pelo ente puacuteblico (periacutecia por exemplo) e as vindouras (art

166

100 paraacutegrafo uacutenico do CPC) isso no caso de a parte natildeo fazer jus ao benefiacutecio desde o

momento em que a requereu (OLIVEIRA 2015 p 377)

No entanto a revogaccedilatildeo pode se dar pelo fato de ter cessado a situaccedilatildeo de

hipossuficiecircncia econocircmica que ensejou o benefiacutecio hipoacutetese em que ela apenas teraacute que

arcar com as despesas processuais a partir do momento que passou a dispor da boa condiccedilatildeo

financeira

Ainda evidenciada a maacute-feacute do ex-beneficiaacuterio o Coacutedigo de Processo Civil prevecirc a

aplicaccedilatildeo de multa de ateacute o deacutecuplo das despesas que tiver deixado de adiantar ndash nesse caso

natildeo basta a mera revogaccedilatildeo do benefiacutecio

Decidiu-se antes da entrada em vigor do Coacutedigo que ldquodeve ser cabalmente

demonstrada a intenccedilatildeo da parte em induzir o Poder Judiciaacuterio a erro se aproveitando

indevidamente do benefiacuteciordquo (MEDINA 2015 p 191)

Em linhas gerais essas satildeo algumas das alteraccedilotildees consubstanciadas pelo Coacutedigo de

Processo Civil em relaccedilatildeo ao benefiacutecio da gratuidade da justiccedila malgrado a lei processual natildeo

tenha esgotado o tema esclareceu vaacuterios pontos que antes era debatido pela jurisprudecircncia

Aleacutem do mais importante pontuar que o legislador reformador repensou o processo

civil atento aos anseios da sociedade moderna e preocupado com a efetividade dos direitos

constitucionais ndash acesso agrave justiccedila por exemplo ndash prevendo expressamente no artigo 1ordm do

CPC que ldquoo processo civil seraacute ordenado disciplinado e interpretado conforme os valores e

normas fundamentais estabelecidas na Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasilrdquo

Ocorre entretanto que mesmo diante de significativas alteraccedilotildees o legislador ainda

natildeo preencheu ou objetivou o pressuposto de concessatildeo dos benefiacutecios anteriormente citados

sendo remanescente o subjetivismo da anaacutelise do termo ldquoinsuficiecircncia de recursosrdquo o que

passaraacute a ser refletido no presente artigo

3 O SUBJETIVISMO DO PRESSUPOSTO INSUFICIEcircNCIA DE RECURSOS

Conforme jaacute visto o Coacutedigo de Processo Civil alterou o requisito para a concessatildeo

do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila bastando a declaraccedilatildeo de insuficiecircncia de recursos pela

pessoa natural e a sua comprovaccedilatildeo no caso de pessoa juriacutedica

Todavia eacute inegaacutevel a carga de subjetividade que haacute no conceito de insuficiecircncia de

recursos e como todo conceito juriacutedico vago traz certa inseguranccedila juriacutedica notadamente

porque pode acarretar decisotildees extremamente diacutespares no cotidiano forense uma vez que tal

anaacutelise (o que eacute insuficiecircncia de recursos) fica a criteacuterio do entendimento de cada

167

magistrado aleacutem do que pode gerar inuacutemeros abusos por parte dos seus requerentes ndash ainda

mais quando a mera alegaccedilatildeo eacute bastante agrave concessatildeo do benefiacutecio ndash que diferentemente do

que alegam gozam de boa sauacutede financeira para arcar com as despesas processuais

(TARTUCE DELLORE 2015 p 314-315)

Mesmo antes da alteraccedilatildeo do CPC ainda na Lei nordm 106050 jaacute discutia a doutrina e

a jurisprudecircncia acerca dos pressupostos para a concessatildeo do benefiacutecio ante a vagueza dos

conceitos de hipossuficiente necessitado carente de recursos financeiros para arcar com as

custas do processo sem prejuiacutezo do sustento proacuteprio e de sua famiacutelia e a falta de um criteacuterio

objetivo miacutenimo para a concessatildeo do benefiacutecio5

Nada obstante o progresso vivenciado com o Coacutedigo de Processo Civil de 2015 no

que tange a gratuidade da justiccedila vecirc-se que no ponto concernente agrave triagem dos

hipossuficientes de recursos o legislador conservou um conceito juriacutedico indeterminado

Segundo Frederico do Valle Abreu (2005) o conceito juriacutedico indeterminado eacute

caracterizado pela ldquovaguidade semacircntica existente em certa norma com a finalidade de que

ela a norma permaneccedila ao ser aplicada sempre atual e correspondente aos anseios da

sociedade nos vaacuterios momentos histoacutericos em que a lei eacute interpretada e aplicadardquo

Assim o conteuacutedo abstrato do pressuposto insuficiecircncia de recursos tenha sido

propositadamente pensado pelo legislador por entender que o inteacuterprete na anaacutelise casuiacutestica

goza de melhores condiccedilotildees para valoraacute-lo refletindo pois uma decisatildeo mais justa

O autor Augusto Tavares Rosa Marcacini defende que a insuficiecircncia de recursos eacute

um conceito indeterminado e natildeo segue um padratildeo rigoroso por isso a melhor soluccedilatildeo eacute a

anaacutelise caso a caso

O conceito de necessitado natildeo eacute determinado mediante regras riacutegidas matemaacuteticas natildeo se utilizando limites numeacutericos determinados Tecircm direito ao benefiacutecio aqueles que natildeo podem arcar com os gastos necessaacuterios agrave participaccedilatildeo no processo na medida em que contabilizados os seus ganhos e os seus gastos com o proacuteprio sustento e da famiacutelia natildeo lhe reste numeraacuterio suficiente para tanto O direito ao benefiacutecio decorre da indisponibilidade financeira do sujeito Em face da notoacuteria insuficiecircncia do salaacuterio miacutenimo vigente em nosso paiacutes pode ser possiacutevel presumir que aquele que aufere ateacute cinco salaacuterios miacutenimos por exemplo eacute quase que certamente merecedor de usufruir dos benefiacutecios Mas como dissemos natildeo se deve utilizar nuacutemeros fechados como criteacuterio Um chefe de uma famiacutelia numerosa que pague aluguel e que tenha filhos em idade escolar por exemplo mesmo percebendo o equivalente a dez salaacuterios miacutenimos pode natildeo ter condiccedilotildees de arcar com as despesas de um processo De outro lado um jovem que viva com os pais os quais

5 Fernanda Tartuce e Luiz Dellore por exemplo no artigo escrito em coautoria Gratuidade da Justiccedila no novo CPC divergem sobre o assunto enquanto ela acredita ser acertada a opccedilatildeo do legislador em trazer um conceito dotado de subjetividade por outro lado ele discorda defendendo que ainda que a norma deixasse uma margem para a decisatildeo do juiz de acordo com a casuiacutestica deveria ao menos estabelecer um criteacuterio objetivo miacutenimo de modo a evitar disparidades nas decisotildees (2015 314-315)

168

provecircm o seu sustento moradia e estudo e que ganhe uns dois ou trecircs salaacuterios miacutenimos que natildeo satildeo empregados em qualquer despesa essencial para sua mantenccedila pode natildeo ser considerado beneficiaacuterio (2009 p 90-91)

Nesse espectro o aplicador da norma juriacutedica eacute quem tem o poder-dever de

materializar no caso concreto o conceito juriacutedico indeterminado do que eacute ser necessitado

economicamente para arcar com as despesas processuais dando assim maior efetividade ao

preceito constitucional do acesso agrave justiccedila

Atento agraves alteraccedilotildees do Coacutedigo de Processo Civil quanto ao tema leciona Rafael

Alexandria de Oliveira

Insuficiecircncia de recursos Faz jus ao benefiacutecio da gratuidade aquela pessoa com lsquoinsuficiecircncia de recursos para pagar as custas despesas processuais e honoraacuterios advocatiacuteciosrsquo Natildeo se exige a miserabilidade nem estado de necessidade nem tampouco se fala em renda familiar ou faturamento maacuteximos Eacute possiacutevel que uma pessoa natural mesmo com boa renda mensal seja merecedora do benefiacutecio e que tambeacutem o seja aquele sujeito que eacute proprietaacuterio de bens imoacuteveis mas natildeo dispotildee de liquidez A gratuidade judiciaacuteria eacute um dos mecanismos de viabilizaccedilatildeo do acesso agrave justiccedila natildeo se pode exigir que para ter acesso agrave justiccedila o sujeito tenha que comprometer significativamente a sua renda ou tenha que se desfazer de seus bens liquidando-os para angariar recursos e custear o processo A lei natildeo fala em nuacutemeros natildeo estabelece paracircmetros O sujeito que ganha boa renda mensal pode ser tatildeo merecedor do benefiacutecio quanto aquele que sobrevive agrave custa de programas de complementaccedilatildeo de renda O que pode diferenciaacute-los eacute a maior ou menor dificuldade com que o pedido de concessatildeo do benefiacutecio eacute tratado o de melhor renda pode ser chamado a justificar o seu requerimento provando a insuficiecircncia de recursos Por isso mesmo nem sempre o beneficiaacuterio seraacute algueacutem em situaccedilatildeo de necessidade de vulnerabilidade de miseacuteria de penuacuteria Eacute preciso atentar para isso (2015 p 359)

Eacute compreensiacutevel a carga de subjetividade impregnada ao termo insuficiecircncia de

recursos notadamente porque o legislador adotando a teoria do direito processual

constitucional (art 1ordm do CPC) quis que a normativa do benefiacutecio atendesse realmente agraves

exigecircncias da sociedade hodierna deixando ao encargo do juiz o dever juriacutedico de buscar

identificar e adotar a soluccedilatildeo apta a no caso concreto alcanccedilar satisfatoriamente a finalidade6

da norma ndash de que garantir a todos o acesso agrave justiccedila

Todavia eacute cediccedilo que a valoraccedilatildeo de um conceito subjetivo pelo magistrado (assim

como para qualquer pessoa) transcende a sua formaccedilatildeo juriacutedica e mesmo que inconsciente

revela suas convicccedilotildees pessoais (crenccedilas valores referecircncias sociais) deste modo o que no

sentir de um julgador eacute pessoa hipossuficiente aos olhos do outro natildeo o eacute eacute aiacute que repousam

as ldquoinjusticcedilasrdquo

6 Interpretaccedilatildeo teleoloacutegica

169

A falta de a lei definir um criteacuterio objetivo miacutenimo para se determinar o que eacute a

insuficiecircncia de recursos demandou trabalho da doutrina e especialmente da jurisprudecircncia

que mesmo timidamente adotou os mais diversos paracircmetros

Nesse sentido uma das primeiras orientaccedilotildees que surge na jurisprudecircncia eacute a

necessidade de prova cabal da insuficiecircncia de recursos para a concessatildeo do benefiacutecio da

gratuidade agraves pessoas juriacutedicas7 Depois de muita discussatildeo o entendimento sedimentado na

jurisprudecircncia8 foi consagrado pelo legislador no Coacutedigo de Processo Civil de 2015 em seu

artigo 98 caput

Tambeacutem se firmou o entendimento de que o requerente que se dedica a emprestar

dinheiro natildeo faz jus ao benefiacutecio uma vez que tal circunstacircncia eacute incompatiacutevel com a alegada

necessidade (NERY JUNIOR NERY 2015 p 475)

Os Tribunais tambeacutem jaacute fixaram como criteacuterio objetivo para se determinar se o

requerente eacute realmente hipossuficiente a renda mensal inferior a dez salaacuterios miacutenimos9

todavia o Superior Tribunal de Justiccedila jaacute refutou a utilizaccedilatildeo desse criteacuterio sob o fundamento

de que a desconstituiccedilatildeo da presunccedilatildeo estabelecida pela lei de gratuidade de justiccedila exige

perquirir in concreto a atual situaccedilatildeo financeira do requerenterdquo10

Outro paracircmetro que tem sido utilizado pelos juristas para aferir a condiccedilatildeo de

miserabilidade do requerente eacute a faixa de isenccedilatildeo do Imposto de Renda extraiacutedo da tabela

progressiva do tributo devidamente atualizada11

O criteacuterio do patrociacutenio da causa por advogado particular para afastar a benesse jaacute

era rechaccedilado pela jurisprudecircncia12 e foi recepcionado pelo atual Coacutedigo de Processo Civil em

seu artigo 99 sect4ordm 7 Assistecircncia judiciaacuteria Pessoa juriacutedica Demonstraccedilatildeo cabal da insuficiecircncia de recursos 1 Ademais de fundamentado exclusivamente na interpretaccedilatildeo do art 5ordm LXXIV da Constituiccedilatildeo Federal o certo eacute que a Corte jaacute assentou a necessidade de demonstraccedilatildeo cabal da insuficiecircncia de recursos para que a empresa possa desfrutar dos benefiacutecios da assistecircncia judiciaacuteria 2 Recurso especial natildeo conhecido (STJ - REsp 182557 RJ 19980053550-0 Relator Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO Data de Julgamento 02091999 T3 - TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJ 25101999 p 79) 8 Suacutemula 481 STJ Faz jus ao benefiacutecio da justiccedila gratuita a pessoa juriacutedica com ou sem fins lucrativos que demonstrar sua impossibilidade de arcar com os encargos processuais 9 ADMINISTRATIVO AGRAVO DE INSTRUMENTO ASSISTEcircNCIA JUDICIAacuteRIA GRATUITA - AJG PARAcircMETRO DEZ SALAacuteRIOS MIacuteNIMOS 1 A Segunda Seccedilatildeo desta Corte vem consolidando entendimento no sentido de fixar patamar objetivo para a concessatildeo do benefiacutecio da AJG qual seja dez salaacuterios miacutenimo 2 Hipoacutetese em que a agravante comprovou renda mensal bem inferior ao limite paradigmaacutetico destacado inexistindo qualquer razatildeo para o indeferimento do pleito em prestiacutegio agrave norma de regecircncia (Lei n 10601950) e ao princiacutepio da acessibilidade (artigo 5ordm XXXV Constituiccedilatildeo Federal) (TRF-4 - AG 50101513420134040000 5010151-3420134040000 Relator NICOLAU KONKEL JUacuteNIOR Data de Julgamento 14082013 TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DE 16082013) 10 STJ - AgRg no AREsp 626487 MG 20140315675-3 Relator Ministro RICARDO VILLAS BOcircAS CUEVA Data de Julgamento 28042015 T3 - TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJe 07052015 11 TJ-PR - AI 14520235 PR 1452023-5 (Decisatildeo Monocraacutetica) Relator Paulo Cezar Bellio Data de Julgamento 27102015 16ordf Cacircmara Ciacutevel Data de Publicaccedilatildeo DJ 1683 05112015

170

O Superior Tribunal de Justiccedila preconiza que o inteacuterprete deve conjugar o binocircmio

necessidade-possibilidade assim para se conceder o benefiacutecio da gratuidade da justiccedila deve-

se considerar natildeo apenas os rendimentos mensais do requerente mas tambeacutem o

comprometimento de suas despesas13

A anaacutelise da condiccedilatildeo financeira do postulante deve ficar restrita a sua situaccedilatildeo

presente e natildeo ao seu histoacuterico de riquezas o simples fato de o requerente jaacute ter sido rico

empresaacuterio ou pessoa de posses natildeo significa que natildeo possa ser hoje pessoa pobre na

acepccedilatildeo juriacutedica do termo e necessitar da assistecircncia judiciaacuteria Da mesma forma a reciacuteproca

eacute verdadeira o pobre que eacute beneficiaacuterio da gratuidade pode por fatores supervenientes

tornar-se pessoa abastada financeiramente o que certamente lhe cassaraacute o benefiacutecio (NERY

JUNIOR NERY 2015 p 477)

Destarte a adoccedilatildeo pelo juiz de um paracircmetro como ponto de partida para verificar o

preenchimento dos requisitos para a concessatildeo da justiccedila gratuita natildeo deve ser visto como

violador da norma Bem da verdade a gratuidade da justiccedila eacute uma das portas de acesso ao

Poder Judiciaacuterio entretanto natildeo pode ser utilizada pelo beneficiaacuterio tatildeo-somente para se

furtar das obrigaccedilotildees oriundas do processo

A Lei nordm 106050 exigia em sua redaccedilatildeo original que o requerente comprovasse o

estado de pobreza alegado hoje ndash a partir da nova redaccedilatildeo dada ao art 4ordm sect1ordm da referida lei

pela Lei Federal nordm 751086 ndash basta a simples afirmaccedilatildeo de necessidade do benefiacutecio o que

inclusive eacute referendado pela jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila14 Nesse sentir o

12 Assistecircncia judiciaacuteria Defensoria Puacuteblica Advogado particular Interpretaccedilatildeo da Lei nordm 106050 1 Natildeo eacute suficiente para afastar a assistecircncia judiciaacuteria a existecircncia de advogado contratado O que a lei especial de regecircncia exige eacute a presenccedila do estado de pobreza ou seja da necessidade da assistecircncia judiciaacuteria por impossibilidade de responder pelas custas que poderaacute ser enfrentada com prova que a desfaccedila Natildeo serve para medir isso a qualidade do defensor se puacuteblico ou particular 2 Recurso especial conhecido e provido (STJ - REsp 679198 PR 20040103656-9 Relator Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO Data de Julgamento 21112006 T3 - TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJ 16042007 p 184) 13 STJ - REsp 263781 SP 20000060786-0 Relator Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO Data de Julgamento 22052001 T3 - TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo lt-- DTPB 20010813ltbrgt --gt DJ 13082001 p 150ltbrgt JBCC vol 193 p 249 14PROCESSUAL CIVIL RECONHECIMENTO DE CONCUBINATO E PARTILHA DE BENS PEDIDO ALTERNATIVO DE INDENIZACcedilAtildeO POR SERVICcedilOS PRESTADOS INDEFERIMENTO DE PLANO DA INICIAL IMPOSSIBILIDADE CERCEAMENTO DE DEFESA ASSISTEcircNCIA JUDICIAacuteRIA E GRATUIDADE DA JUSTICcedilA ALEGACcedilAtildeO DA PARTE DESNECESSIDADE DE DEMONSTRACcedilAtildeO DE O ADVOGADO NAtildeO ESTAR SENDO REMUNERADO PRESUNCcedilAtildeO RECURSO PROVIDO Pelo sistema legal vigente faz jus a parte aos benefiacutecios da assistecircncia judiciaacuteria mediante simples afirmaccedilatildeo na proacutepria peticcedilatildeo de que natildeo estaacute em condiccedilotildees de pagar as custas do processo e os honoraacuterios de advogado sem prejuiacutezo proacuteprio ou de sua famiacutelia O deferimento da gratuidade garantia assegurada constitucionalmente aos economicamente hipossuficientes (Constituiccedilatildeo art 5ordm LXXIV) natildeo exige que a parte demonstre que o advogado natildeo estaacute sendo por ela remunerado Enquanto a Justiccedila gratuita isenta de despesas processuais e condenaccedilatildeo em honoraacuterios advocatiacutecios a assistecircncia judiciaacuteria mais ampla enseja tambeacutem o patrociacutenio por profissional habilitado Caracteriza cerceamento de defesa o indeferimento de plano da inicial de accedilatildeo que pretendeu o reconhecimento de concubinato e partilha de bens com pedido alternativo de indenizaccedilatildeo de

171

aplicador do direito exerce um fundamental papel para que o processo natildeo seja um fim em si

mesmo mas sim um instrumento para a materializaccedilatildeo de um direito

Nota-se que o indeterminismo do termo insuficiecircncia de recursos aliado a mera

alegaccedilatildeo da necessidade poderia transviar o sentido da norma devendo o magistrado ficar

atento para que os privilegiados de fortuna natildeo ingressem gratuitamente no feito

Assim havendo elementos no processo que infirmem a alegaccedilatildeo do postulante ndash que

goza de presunccedilatildeo iuris tantum ndash a hipossuficiecircncia deve ser comprovada

Duacutevida fundada quanto agrave pobreza O juiz da causa valendo-se de criteacuterios

objetivos pode entender que a natureza da accedilatildeo movida pelo interessado demonstra que ele possui porte econocircmico para suportar as despesas do processo A declaraccedilatildeo pura e simples do interessado conquanto seja o uacutenico entrave burocraacutetico que se exige para liberar o magistrado para decidir em favor do peticionaacuterio natildeo eacute prova inequiacutevoca daquilo que ele afirma nem obriga o juiz a se curvar aos seus dizeres se de outras provas e circunstacircncias ficar evidenciado que o conceito de pobreza que a parte invoca natildeo eacute aquele que justifica a concessatildeo do privileacutegio Cabe ao magistrado livremente fazer juiacutezo de valor acerca do termo pobreza deferindo ou natildeo o benefiacutecio (NERY JUNIOR NERY 2015 p 477)

Infelizmente a finalidade do benefiacutecio natildeo raras vezes eacute distorcida seja pela

abstraccedilatildeo do conceito ou mesmo pela lisura do ser humano e isso contribui para o aumento de

demandas desqualificadas respaldadas na ausecircncia de riscos no caso de improcedecircncia

Para Maacutercio Pirocircpo Galvatildeo (2010) os mecanismos de acesso agrave justiccedila fomentam

accedilotildees despretensiosas ndash e cita como exemplos as accedilotildees trabalhistas e aquelas do acircmbito dos

Juizados Especiais ndash exclusivamente pela ausecircncia de custo econocircmico defende inclusive

que o acesso ao Judiciaacuterio de forma gratuita virou uma ldquoloteria onde todos querem tentar a

sorterdquo

E continua o autor citando a decisatildeo do Juiz de Direito da 2ordf Vara Ciacutevel da Comarca

de Dourados Dr Joseacute Carlos de Souza que as demandas desnecessaacuterias ldquoabarrotam o Poder

Judiciaacuterio e dificultam o acesso agrave Justiccedila de jurisdicionados com pretensotildees mais nobres

Incentivam o aumento da inadimplecircncia e sedimentam a cultura do natildeo-cumprimento dos

contratos [] Configuram provocaccedilatildeo abusiva da maacutequina judiciaacuteria e maacute-feacute do devedorrdquo

(GALVAtildeO 2010)

Como visto a utilizaccedilatildeo abusiva da gratuidade da justiccedila pode representar o

congestionamento da maacutequina judicial comprometendo a razoaacutevel duraccedilatildeo do processo e ao

serviccedilos prestados sem possibilitar agrave parte a produccedilatildeo de qualquer prova notadamente em se tratando de alegado relacionamento de mais de trinta anos (Recurso Especial nordm 91609SP 4ordf Turma do STJ Rel Min Saacutelvio de Figueiredo Teixeira Recorrente A P M R Recorrida V G F B j 160498 un DJU 080698 p 113)

172

reveacutes de seu proposito servir como oacutebice ao efetivo acesso agrave justiccedila daqueles que tem

realmente tem urgecircncia na prestaccedilatildeo jurisdicional

Talvez uma boa alternativa para se evitar decisotildees diacutespares e a banalizaccedilatildeo do

benefiacutecio ante a carga de subjetividade do seu pressuposto fosse exigir uma comprovaccedilatildeo

miacutenima da insuficiecircncia de recursos Afinal quem realmente necessita do benefiacutecio natildeo teria

dificuldade alguma em demonstrar a sua impossibilidade financeira para arcar com as

despesas processuais

Eacute certo que a Lei nordm 106050 e agora o Coacutedigo de Processo Civil estabelecem ocircnus

ao litigante que de maacute-feacute requereu o benefiacutecio da gratuidade todavia a prova nesse sentido

deve ser contundente o que estimula de certa forma pedidos indiscriminados de gratuidade

uma vez que sopesando os riscos os ganhos prevalecem

Destarte o que se percebe eacute que nesse ponto o legislador civil natildeo conseguiu

encerrar as discussotildees deixando a soluccedilatildeo para a doutrina e a jurisprudecircncia agora basta

saber como as discussotildees seratildeo encaminhadas de modo que natildeo se instale ndash ou aumente ndash um

estado de desconfianccedila em torno do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila em decorrecircncia dos

abusos praticados mas que tambeacutem natildeo se deixe de cumprir a sua preciacutepua finalidade

constitucional de ser um instrumento de acesso ao Judiciaacuterio daqueles que natildeo desfrutam de

plenas condiccedilotildees financeiras

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O atual Coacutedigo de Processo Civil atuou muito positivamente no que pertine ao

instituto da Gratuidade da Justiccedila ele alvoreceu pontos que a Lei nordm 106050 era retroacutegrada e

mesmo silente bem como normatizou questotildees jaacute consolidadas pela jurisprudecircncia

Em contrapartida a legislaccedilatildeo processual civil natildeo se fez clara quanto ao pressuposto

para a concessatildeo do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila mormente porque se limitou a prever

que a simples afirmaccedilatildeo de insuficiecircncia de recursos para pagar as despesas processuais eacute

suficiente ao seu deferimento

Afinal o que insuficiecircncia de recursos Qual o criteacuterio objetivo para se definir quem

se enquadra ou natildeo nesse perfil Mais uma vez a lei que trata sobre a gratuidade da justiccedila

silenciou nesse pormenor reservando ao aplicador do direito a missatildeo de examinar

casuisticamente quem eacute merecedor ou natildeo da benesse partindo de uma interpretaccedilatildeo

alicerccedilada na finalidade da lei ndash promover o acesso agrave justiccedila

173

Assim duas questotildees surgem A primeira eacute se o legislador foi relapso ou se ele

propositadamente preferiu a um conceito indeterminado para a concessatildeo do benefiacutecio E a

segunda eacute se ele agiu bem

E ao que se conclui eacute que a preferecircncia por um termo dotado de subjetivismo tem

um propoacutesito qual seja permitir que a lei seja adaptaacutevel as mais diversas situaccedilotildees do

cotidiano forense de modo a tornar o acesso agrave justiccedila um direito fundamental mais efetivo

Conquanto agrave segunda questatildeo (se ele agiu bem) apenas a experiecircncia praacutetica poderaacute dizer

notadamente porque vai depender e muito da consciecircncia do postulante (e seu advogado) o

qual eacute o real sabedor de sua condiccedilatildeo financeira

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ABREU Frederico do Valle Conceito juriacutedico indeterminado interpretaccedilatildeo da lei

processo e suposto poder discricionaacuterio do magistrado Jus Navigandi Teresina ano 9 n

674 10 maio 2005 Disponiacutevel em lthttpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=6674gt

Acesso em 27032016

ANGHER Anne Joyce (Org) Vade mecum acadecircmico de direito Rideel 21ed

atual e ampl Satildeo Paulo Rideel 2015

BRASIL Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Recurso Especial nordm

19980053550-0 Relator Ministro Carlos Alberto Menezes Data de Julgamento 02091999

Data de Publicaccedilatildeo DJ 25101999 p 79

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Agravo Regimental no Recurso

Especial nordm 20140315675-3 Relator Ministro Ricardo Villas Bocircas Cueva Data de

Julgamento 28042015 Data de Publicaccedilatildeo DJe 07052015

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Recurso Especial nordm

20040103656-9 Relator Ministro Carlos Alberto Menezes Direito Data de Julgamento

21112006 Data de Publicaccedilatildeo DJ 16042007 p 184

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Recurso Especial

20000060786-0 Relator Ministro Carlos Alberto Menezes Direito Data de Julgamento

22052001 Data de Publicaccedilatildeo 13082001 p 150

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Quarta Turma Recurso Especial 91609SP

Relator Ministro Saacutelvio de Figueiredo Teixeira Data de Publicaccedilatildeo 08061998 p 113

174

_____ Tribunal Regional Federal (4ordf Regiatildeo) Terceira Turma Agravo nordm

50101513420134040000 5010151-3420134040000 Relator Nicolau Konkel Juacutenior Data

de Julgamento 14082013Data de Publicaccedilatildeo 16082013

_____ Tribunal de Justiccedila do Estado do Paranaacute 16ordf Cacircmara Ciacutevel Agravo de

Instrumento nordm 14520235 PR 1452023-5 (Decisatildeo Monocraacutetica) Relator Paulo Cezar Bellio

Data de Julgamento 27102015 Data de Publicaccedilatildeo 05112015

CAPPELLETTI Mauro GARTH Bryant Acesso agrave justiccedila Trad Ellen Gracie

Northfleet Porto Alegre Seacutergio Fabris Editor 2002

CARNEIRO Paulo Cezar Pinheiro Normas Fundamentais do Processo Civil Em

Breves Comentaacuterios ao Novo Coacutedigo de Processo Civil Tereza Arruda Alvim Wambier et

al[coord] Satildeo Paulo Editora RT 2015

DELLORE Luiz Novo CPC o lado A da justiccedila gratuita Disponiacutevel em http

httpjotauolcombrjustica-gratuita-novo-cpc-lado publicado em 09 de marccedilo de 2015

Acesso em 27032016

______ Novo CPC o lado B da justiccedila gratuita Disponiacutevel em

httpjotauolcombrnovo-cpc-o-lado-b-da-justica-gratuita publicado em 13 de abril de

2015 Acesso em 27032016

GALESKI JUNIOR Irineu RIBEIRO Marcia Carla Pereira Direito e economia

uma abordagem sobre a assistecircncia judiciaacuteria gratuita In Publica Direito (recurso eletrocircnico

on-line) Fortaleza CONPEDI 2010

GALVAtildeO Maacutercio Pirocircpo Abuso de direito agrave gratuidade da Justiccedila Revista Jus

Navigandi Teresina ano 17 n 3339 22 ago 2012 Disponiacutevel em

lthttpsjuscombrartigos22466gt Acesso em 27032016

MARCACINI Augusto Tavares Rosa Assistecircncia Juriacutedica Assistecircncia Judiciaacuteria e

Justiccedila Gratuita Satildeo Paulo Editora Forense 2009 (ediccedilatildeo eletrocircnica)

MEDINA Joseacute Miguel Garcia Novo Coacutedigo de Processo Civil Comentado Satildeo

Paulo Editora RT 2015

NERY JUNIOR Nelson e NERY Rosa Maria de Andrade Comentaacuterios ao Coacutedigo

de Processo Civil Satildeo Paulo Editora RT 2015

NETO Emeteacuterio Silva de Oliveira VIANA Juvecircncio Vasconcelos Acesso agrave justiccedila

e o novo Coacutedigo de Processo Civil um olhar criacutetico Em Acesso agrave justiccedila (recurso eletrocircnico

on-line) Florianoacutepolis CONPEDIUFSC 2015

175

OLIVEIRA Rafael Alexandria de Da Gratuidade da Justiccedila Em Breves

Comentaacuterios ao Novo Coacutedigo de Processo Civil Tereza Arruda Alvim Wambier et

al[coord] Satildeo Paulo Editora RT 2015

SANTOS Boaventura de Souza Pela matildeo de Alice o social e o poliacutetico

na poacutes-modernidade Satildeo Paulo Cortez 2003

TARTURE Flaacutevia DELLORE Luiz Gratuidade da justiccedila no novo CPC Em

Revista de Processo Satildeo Paulo v 39 n 236 p 305-323 out 2014

176

24 O mandado de seguranccedila coletivo e a proteccedilatildeo dos direitos difusos

Na esperanccedila de encontrarmos dias de maior efetividade processual e procedimental no

atendimento e na efetivaccedilatildeo dos direitos fundamentais desejamos uma excelente leitura

Professor-doutor Rogeacuterio Luiz Nery da Silva (UNOESC)

Professor-doutor Marcos Leite Garcia (UNIVALI)

Professor-doutor Miguel Kfouri Neto (UNICURITIBA)

INOVACcedilOtildeES E ALTERACcedilOtildeES DO COacuteDIGO DE PROCESSO CIVIL E A MANUTENCcedilAtildeO DO SUBJETIVISMO DO TERMO ldquoINSUFICIEcircNCIA DE

RECURSOSrdquo PARA A CONCESSAtildeO DA GRATUIDADE DE JUSTICcedilA

INNOVATIONS AND CHANGES OF PROCEDURE CIVIL CODE AND MAINTENANCE OF THE SUBJECTIVISM TERM RESOURCES INSUFFICIENT FOR GRANTING OF JUSTICE OF GRATUITY

Juliane Dziubate KreftaAline Fatima Morelatto

Resumo

O presente trabalho eacute voltado agrave anaacutelise da Gratuidade da Justiccedila como um importante

mecanismo de acesso agrave justiccedila Pretende abordar as novidades sobre a Gratuidade da Justiccedila

no atual Coacutedigo de Processo Civil recentemente alterado pela Lei nordm 131052015 trazendo

agrave tona importantes alteraccedilotildees que corrigiram a obsoleta Lei nordm 106050 Objetiva fazer uma

reflexatildeo a respeito do requisito para a concessatildeo do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila qual

seja a insuficiecircncia de recursos e o seu alto grau de subjetivismo pontuando algumas

questotildees positivas e negativas a ele relacionadas

Palavras-chave Acesso agrave justiccedila Gratuidade Alteraccedilotildees Inovaccedilotildees Insuficiecircncia de recursos Subjetivismo

AbstractResumenReacutesumeacute

This work is focused on the analysis of Gratuity of Justice as an important mechanism of

access to justice It aims to address the news about the Gratuity of Justice in the current Civil

Procedure Code recently amended by Law nordm 131052015 bringing out important changes

that fixed the obsolete Law nordm 106050 Aims to reflect about the requirement for granting

the benefit of free justice namely the lack of resources and its high degree of subjectivity

emphasizing some positive and negative issues related to it

KeywordsPalabras-clavesMots-cleacutes Justice acess Gratuity Change Innovations Insufficient resources Subjectivism

156

INTRODUCcedilAtildeO

O presente artigo tem o desiderato de fazer uma reflexatildeo acerca do instituto da

Gratuidade da Justiccedila e as alteraccedilotildees promovidas pela Lei nordm 131052015 no atual Coacutedigo de

Processo Civil partindo da premissa de que eacute um importante instrumento de efetivaccedilatildeo dos

direitos fundamentais notadamente o direito ao acesso agrave justiccedila

O regramento sobre a Gratuidade da Justiccedila sofreu mudanccedilas significativas no

Coacutedigo de Processo Civil corrigindo vaacuterias distorccedilotildees e lacunas da decreacutepita Lei nordm 106050

que tratava sobre o assunto e que haacute tempos estava sendo plasmada pela jurisprudecircncia

A correccedilatildeo terminoloacutegica (gratuidade da justiccedila) a expressa previsatildeo de que a

pessoa juriacutedica tambeacutem pode figurar como beneficiaacuteria a extensatildeo da benesse agraves custas e aos

emolumentos dos notaacuterios e registradores satildeo algumas das vaacuterias alteraccedilotildees a respeito do

instituto preconizadas no Coacutedigo de Processo Civil

De outro lado malgrado o Coacutedigo de Processo Civil tenha inovado um pouco a

nominaccedilatildeo do requisito para a concessatildeo do benefiacutecio passando a simplesmente exigir a

alegaccedilatildeo da insuficiecircncia de recursos manteve a sua natureza subjetiva natildeo revelando

qualquer criteacuterio objetivo para elucidaacute-lo

Sobre esse aspecto o presente trabalho engendra um debate para saber se o

legislador caminhou ou natildeo bem expondo os pontos positivos e negativos quanto ao

indeterminismo do pressuposto insuficiecircncia de recursos e refletindo a respeito de suas

consequecircncias no mundo juriacutedico ndash principalmente a reaccedilatildeo da jurisprudecircncia ndash e tambeacutem na

sociedade tendo como metodologia acolhida a bibliograacutefica

1 O ACESSO Agrave JUSTICcedilA OS DIREITOS FUNDAMENTAIS E A

GRATUIDADE DE JUSTICcedilA ndash PRELIMINAR E INDISSOCIAacuteVEL

COMPREENSAtildeO

O direito agrave gratuidade da justiccedila eacute um direito fundamental do jurisdicionado (e natildeo

um simples benefiacutecio) A Constituiccedilatildeo Federal em seu artigo 5ordm LXXIV prevecirc que ldquoo Estado

prestaraacute assistecircncia juriacutedica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiecircncia de

recursosrdquo Ele tem o desiderato de evitar que a insuficiecircncia de recursos financeiros

represente um obstaacuteculo insuperaacutevel ao acesso agrave justiccedila1

1 Art 5ordm XXXV CF A lei natildeo excluiraacute da apreciaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio lesatildeo ou ameaccedila a direito

157

A justiccedila deve estar ao alcance de todos2 ricos e pobres competindo ao Estado ndash na

sua atuaccedilatildeo positiva ndash como seu gestor3 garantir que a pessoa de parcos recursos financeiros

tenha condiccedilotildees de acionar o Poder Judiciaacuterio da mesma forma que o afortunado

Como afirma Boaventura de Souza Santos ldquoo tema do acesso agrave justiccedila eacute aquele que

mais diretamente equaciona as relaccedilotildees entre o processo civil e a justiccedila social entre

igualdade juriacutedico-formal e desigualdade socioeconocircmicardquo (2003 p167)

Para Cappelletti e Garth uma das finalidades do termo acesso agrave justiccedila eacute determinar

que o sistema juriacutedico fosse igualmente acessiacutevel a todos e reafirmam a importacircncia de sua

efetividade

De fato o direito ao acesso efetivo tem sido progressivamente reconhecido como sendo de importacircncia capital entre os novos individuais sociais uma vez que a titularidade de direitos eacute destituiacuteda de sentidos na ausecircncia de mecanismos para sua efetiva reivindicaccedilatildeo O acesso agrave Justiccedila pode portanto ser encarado como requisito fundamental ndash o mais baacutesico dos direitos humanos ndash de um sistema juriacutedico moderno e igualitaacuterio que pretenda garantir e natildeo apenas proclamar os direitos de todos (2002 p 4)

Os referidos autores identificam vaacuterios oacutebices ao acesso agrave justiccedila ndash entre elas as

desigualdades socioeconocircmicas ndash e sequencialmente propotildeem soluccedilotildees praacuteticas ao

problema emergindo como primeira a assistecircncia judiciaacuteria ao que eles denominaram de

ldquoprimeira ondardquo (CAPPELLETI GARTH 2002 p 6-12)

Nesse vieacutes a gratuidade da justiccedila ndash natildeo tecendo nesse primeiro momento qualquer

consideraccedilatildeo acerca das distinccedilotildees terminoloacutegicas ndash eclode com um importante mecanismo

viabilizador do acesso agrave justiccedila e tem a preciacutepua finalidade de dar efetividade a outros direitos

fundamentais constitucionalmente previstos como a igualdade (art 5 caput CF) a cidadania

(art 1ordm inciso II CF) e a proacutepria dignidade da pessoa humana (art 1ordm inciso III CF)

2 Eacute o que Emeteacuterio Silva e Juvecircncio Vasconcelos chamam de universalizaccedilatildeo ou horizontalizaccedilatildeo do acesso agrave justiccedila ensinando que ldquoHorizontalizar eacute fazer com que agrave todas as pessoas (pobres ou ricas) sejam assegurados os mesmos meios de acesso agrave justiccedila Eacute promover a isonomia ou seja a igualdade na e perante a lei pois esta lsquonatildeo deve ser fonte de privileacutegios ou perseguiccedilotildees mas instrumento regulador da vida social que necessita tratar equitativamente todos os cidadatildeosrsquo (BANDEIRA DE MELLO 2013 p 10) Com efeito o acesso agrave justiccedila nos termos do artigo 60 sect 4ordm inciso IV da Carta de 88 eacute claacuteusula peacutetrea e por estaacute alccedilado agrave categoria hieraacuterquica superior natildeo pode sofrer menoscabos o que exclui possiacuteveis discriminaccedilotildees arbitraacuterias entre as pessoas quando da execuccedilatildeo desta garantia fundamental Assim considerando a forccedila normativa da constituiccedilatildeo23 portanto das normas de direitos e garantias nela previstas a universalizaccedilatildeo do acesso agrave justiccedila aliada a efetividade da tutela jurisdicional ou dos meios assecuratoacuterios de direitos fomentadores da justiccedila social avultam imprescindiacuteveis (NETO Emeteacuterio Silva de Oliveira VIANA Juvecircncio Vasconcelos Acesso agrave justiccedila e o novo Coacutedigo de Processo Civil um olhar criacutetico In Acesso agrave justiccedila (recurso eletrocircnico on-line) Florianoacutepolis CONPEDIUFSC 2015 p 186 3 A jurisdiccedilatildeo eacute monopoacutelio do Estado proibindo a lei que as pessoas faccedilam justiccedila com as proacuteprias matildeos salvo raras exceccedilotildees como por exemplo as hipoacuteteses de autotutela ndash arts 1210 e 1219 do Coacutedigo Civil

158

Agrave medida que se busca a efetividade dos direitos fundamentais o direito processual

passa a ter um importante papel nessa missatildeo4 pois eacute ele quem indica qual eacute o (melhor)

caminho para se alcanccedilar o direito material sob essa perspectiva vecirc-se a necessidade de

atualizaccedilatildeo da lei processual a fim de se adequar as exigecircncias da sociedade moderna

A uacutenica lei que regulamentava o benefiacutecio da justiccedila gratuita data de 1950 eacute uma lei

natildeo soacute defasada do ponto de vista material e processual como tambeacutem dotada de

imperfeiccedilotildees teacutecnicas e entraves agrave concessatildeo do benefiacutecio Era preciso simplificar e

desmistificar para entatildeo avanccedilar ndash pelo menos um degrau ndash na universalizaccedilatildeo do acesso agrave

justiccedila e a Lei nordm 131052015 que alterou o Coacutedigo de Processo Civil (CPC) o fez

O autor Luiz Dellore (2015) ao tecer elogios ao legislador diz que ldquoas inovaccedilotildees do

CPC simplificam o procedimento buscam evitar abuso dos requentes da gratuidade e

especialmente pretendem obstar debates laterais e incidentes para que se possa focar na

discussatildeo do meacuteritordquo

2 O COacuteDIGO DE PROCESSO CIVIL EM VIGOR E AS INOVACcedilOtildeES

RELATIVAS Agrave GRATUIDADE DE JUSTICcedilA

A atualmente (e corretamente) nominada gratuidade da justiccedila foi profundamente

reformulada pelo Coacutedigo de Processo Civil As mudanccedilas satildeo muito significativas o Coacutedigo

consolidou o assunto em seis dispositivos do artigo 98 ao artigo 102 aleacutem do que revogou

expressamente vaacuterios artigos da Lei nordm 106050 (arts 2ordm 3ordm 4ordm 6ordm 7ordm 11 12 e 17)

Considerando isso o artigo pontuaraacute as alteraccedilotildees legitimadas

21Terminologia

O Coacutedigo corrigiu os equiacutevocos praticados quanto agrave terminologia que redundavam

em incompreensotildees acerca do tema Natildeo se pode confundir assistecircncia judiciaacuteria gratuita

gratuidade da justiccedila (justiccedila gratuita) e assistecircncia juriacutedica integral e gratuita

A assistecircncia judiciaacuteria gratuita consiste no patrociacutenio gratuito da causa seja por

advogado do Estado entidades conveniadas com o Estado escritoacuterios de praacutetica juriacutedica das

faculdades de Direito ou mesmo advogados particulares nomeados como dativos Jaacute a

gratuidade da justiccedila traduz-se na isenccedilatildeo para o adiantamento das custas do processo Por

4 O processo natildeo deveria ser colocado no vaacutecuo Os juiacutezes precisam agora reconhecer que as teacutecnicas processuais servem a questotildees sociais [] o lsquoacessorsquo natildeo eacute apenas um direito social fundamental crescentemente reconhecido ele eacute tambeacutem necessariamente o ponto central da moderna processualiacutestica CAPPELLETTI Mauro GARTH Bryant Acesso agrave justiccedila Trad Ellen Gracie Northfleet Porto Alegre Seacutergio Fabris Editor 2002 p 5

159

sua vez a assistecircncia juriacutedica integral e gratuita engloba aleacutem da representaccedilatildeo do

hipossuficiente em juiacutezo a orientaccedilatildeo juriacutedica dele em questotildees extrajudiciais (TARTUCE

DELLORE 2014 p 308 e 309)

Preconiza Rafael Alexandria de Oliveira

Eacute comum a confusatildeo quanto aos conceitos de benefiacutecio da justiccedila gratuita (ou da gratuidade da justiccedila ou ainda da gratuidade judiciaacuteria) de assistecircncia judiciaacuteria e de assistecircncia juriacutedica Todos eles decorrem do direito fundamental agrave assistecircncia juriacutedica integral e gratuita de que trata o art 5ordm LXXIV da CF1988 mas natildeo se confundem Pontes de Miranda (a) benefiacutecio da justiccedila gratuita eacute como jaacute dito a dispensa do adiantamento de despesas processuais para o qual se exige a tramitaccedilatildeo de um processo judicial o requerimento da parte interessada e o deferimento do juiacutezo perante o qual o processo tramita (b) assistecircncia judiciaacuteria consiste no direito de a parte ser assistida gratuitamente por um profissional do Direito normalmente membro da Defensoria Puacuteblica da Uniatildeo do Estados ou do Distrito Federal e que natildeo depende do deferimento do juiacutezo nem mesmo da existecircncia de um processo judicial (c) assistecircncia juriacutedica eacute um conceito mais amplo que abrange o benefiacutecio da justiccedila gratuita e a assistecircncia judiciaacuteria mas vai aleacutem deles englobando todas as iniciativas do Estado (em sentido amplo) que tecircm por objetivo promover uma aproximaccedilatildeo entre a sociedade e os serviccedilos juriacutedicos ndash como por exemplo as campanhas de conscientizaccedilatildeo de direitos do consumidor promovidas por oacutergatildeos administrativos e os serviccedilos juriacutedicos itinerantes prestados agrave populaccedilatildeo carente (2015 p 355)

Semelhantemente Augusto Tavares Rosa Marcacini desenvolve um conceito

distinguindo os institutos da assistecircncia judiciaacuteria justiccedila gratuita e a assistecircncia juriacutedica

integral e gratuita

A Constituiccedilatildeo Federal de 1988 em seu artigo 5ordm inciso LXXIV inclui entre os direitos e garantias individuais a assistecircncia juriacutedica integral e gratuita Utiliza a Lei Maior um terceiro conceito que tambeacutem natildeo deve ser confundido como sinocircnimo de assistecircncia judiciaacuteria ou justiccedila gratuita Por justiccedila gratuita deve ser entendida a gratuidade de todas as causas e despesas judiciais ou natildeo relativas a atos necessaacuterios ao desenvolvimento do processo e agrave defesa dos direitos do beneficiaacuterio em juiacutezo O benefiacutecio da justiccedila gratuita compreende a isenccedilatildeo de toda e qualquer despesa necessaacuteria ao pleno exerciacutecio dos direitos e das faculdades processuais sejam tais despesas judiciais ou natildeo Abrange assim natildeo somente as custas relativas aos atos processuais a serem praticados como tambeacutem todas as despesas decorrentes de efetiva participaccedilatildeo na relaccedilatildeo processual A assistecircncia judiciaacuteria envolve o patrociacutenio gratuito da causa por advogado A assistecircncia judiciaacuteria eacute pois um serviccedilo puacuteblico organizado consistente na defesa em juiacutezo do assistido que deve ser oferecido pelo Estado mas que pode ser desempenhado por entidades natildeo-estatais conveniadas ou natildeo com o Poder Puacuteblico [] Por sua vez a assistecircncia juriacutedica engloba a assistecircncia judiciaacuteria sendo ainda mais ampla que esta por envolver tambeacutem serviccedilos juriacutedicos natildeo relacionados ao processo tais como orientaccedilotildees individuais ou coletivas o esclarecimento de duacutevidas e mesmo um programa de informaccedilatildeo a toda a comunidade (2009 p 40-43)

O Coacutedigo de Processo Civil ao usar o termo teacutecnico gratuidade da justiccedila

acertadamente corrigiu as distorccedilotildees terminoloacutegicas afastando qualquer possibilidade de

160

confusatildeo que se possa fazer com a assistecircncia judiciaacuteria gratuita e a assistecircncia juriacutedica

integral e gratuita

22 Beneficiaacuterios

De acordo com a legislaccedilatildeo processual em vigor podem ser beneficiaacuterios da justiccedila

gratuita a pessoa natural ou juriacutedica brasileira ou estrangeira

A redaccedilatildeo do Coacutedigo de Processo Civil encerrou uma discussatildeo histoacuterica pontuada

jurisprudencialmente pelo STJ e agora reconhecida legislativamente ao prever (art 98

caput) que a pessoa juriacutedica tem direito ao benefiacutecio da gratuidade da justiccedila

Para que a pessoa juriacutedica seja beneficiada com a gratuidade da justiccedila natildeo basta a

mera declaraccedilatildeo devendo demonstrar que efetivamente necessita do benefiacutecio

independentemente de ter ou natildeo finalidade lucrativa (MEDINA 2015 p 190)

Natildeo obstante a utilizaccedilatildeo do termo ldquopessoardquo entende-se que o benefiacutecio pode ser

gozado pelos entes despersonalizados como por exemplo o condomiacutenio a massa falida etc

(OLIVEIRA 2015 p 357-358)

Aleacutem disso o art 98 estende o benefiacutecio da justiccedila gratuita aos estrangeiros sejam

eles residentes ou natildeo no paiacutes diferentemente do que traz o caput do art 5ordm da CF88 que em

relaccedilatildeo agrave generalidade dos direitos fundamentais engloba apenas os estrangeiros residentes no

paiacutes (NERY JUNIOR NERY 2015 p 472)

23 Pressupostos

A letra do Coacutedigo de Processo Civil alterou o aspecto objetivo para a concessatildeo do

benefiacutecio passando a constar apenas a ldquoinsuficiecircncia de recursos financeirosrdquo para o

adiantamento das custas natildeo mais se exige a situaccedilatildeo de miserabilidade da parte requerente

como tambeacutem se aboliu o uso da expressatildeo ldquoa parte natildeo pode arcar com as custas sem

prejuiacutezo do sustento proacuteprio ou da famiacuteliardquo

Para que se conceda o benefiacutecio haacute uma presunccedilatildeo iuris tantum de veracidade da

declaraccedilatildeo feita pela parte pessoa natural mas soacute com relaccedilatildeo agrave pessoa natural a pessoa

juriacutedica deve comprovar a impossibilidade de adiantar as custas

Apesar desta mudanccedila de paradigma a lei natildeo dispocircs de forma suficientemente clara

o que significa ldquoinsuficiecircncia de recursosrdquo e quais seriam os seus paracircmetros miacutenimos

deixando mais uma vez ao encargo do inteacuterprete a funccedilatildeo de aquilatar se o requerente faz jus

ou natildeo agrave benesse o que certamente continuaraacute acarretando distorccedilotildees e inseguranccedila juriacutedica

161

O subjetivismo da expressatildeo seraacute mais bem aprofundado no toacutepico seguinte mesmo

porque a sua discussatildeo constituiu um dos pilares do presente artigo

24 Abrangecircncia

A Lei da Assistecircncia Judiciaacuteria previa em seu artigo 3ordm quais seriam as despesas

processuais compreendidas pelo benefiacutecio da justiccedila gratuita e nesse aspecto a norma era

satisfatoacuteria entatildeo o Coacutedigo de Processo Civil manteve o que tinha na Lei nordm 106050 e

avanccedilou como por exemplo no tocante agrave previsatildeo da remuneraccedilatildeo do inteacuterprete e do

tradutor bem como na realizaccedilatildeo de memoacuteria de caacutelculo pelo contador para fins de execuccedilatildeo

entre outros

O art 98 sect1ordm do Coacutedigo em vigecircncia tratou de exemplificativamente discriminar as

despesas processuais que podem ser compreendidas pela gratuidade da justiccedila algumas delas

jaacute previstas no art 3ordm da Lei nordm 106050 agora expressamente revogado

O beneficiaacuterio estaacute dispensado de adiantar o pagamento de taxas ou custas judiciaacuterias

(inciso I) O CPC foi redundante ao prever taxas e custas mormente porque tais despesas tem

o mesmo significado elas ldquodesignam o valor que se deve pagar ao Estado pela prestaccedilatildeo do

serviccedilo judiciaacuterio Tecircm natureza juriacutedica tributaacuteria constituindo-se numa taxa [] a

concessatildeo do beneficio natildeo constitui isenccedilatildeo tributaacuteria visto que natildeo dispensa o pagamento

em si mas sim o adiantamento da verbardquo (OLIVEIRA 2015 p 359)

As despesas com postagens de qualquer natureza e com publicaccedilatildeo na imprensa

oficial tambeacutem satildeo abrangidas pelo benefiacutecio da justiccedila gratuita (incisos II e III)

O benefiacutecio engloba tambeacutem as indenizaccedilotildees de testemunhas (inciso IV) tanto os

custos com a viagem para depor em juiacutezo quanto agraves relativas ao dia de trabalho ganho e natildeo

trabalhado que deve ser paga ao empregador (NERY JUNIOR NERY 2015 p 472)

As despesas com realizaccedilatildeo do exame de DNA (inciso V) tambeacutem satildeo albergadas

pelo benefiacutecio da gratuidade da justiccedila Aliaacutes o Coacutedigo de Processo Civil inovou em relaccedilatildeo agrave

Lei da Assistecircncia Judiciaacuteria Gratuita incluindo neste inciso outros exames periciais

considerados essenciais

Os honoraacuterios do advogado e do perito a remuneraccedilatildeo do inteacuterprete tradutor e

contador e todos os terceiros que de alguma forma contribuem para o Poder Judiciaacuterio

(inciso VI e VII) estatildeo cobertos pela benesse da gratuidade

Importante destacar que o afastamento da responsabilidade pelo adiantamento das

custas dos honoraacuterios advocatiacutecios natildeo se refere aos honoraacuterios de sucumbecircncia devidos pelo

162

beneficiaacuterio ao advogado da parte contraacuteria nos termos do sect2ordm do artigo 98 mas tatildeo somente

os honoraacuterios devidos ao seu proacuteprio advogado quando este eacute nomeado pelo juiz ou seja o

defensor dativo (OLIVEIRA 2015 p 361)

O art 95 sect3ordm do Coacutedigo Processual Civil normatiza a respeito do custeio da periacutecia

(inclusive honoraacuterios) na hipoacutetese de o responsaacutevel pelo pagamento de tal despesa ser

beneficiaacuterio da justiccedila gratuita Dispotildee o paraacutegrafo que nessa hipoacutetese a periacutecia seraacute

realizada preferencialmente por um servidor do Poder Judiciaacuterio ou por oacutergatildeo conveniado e

subsidiariamente por particular Em ambos os casos os honoraacuterios seratildeo custeados com

recursos do orccedilamento do ente puacuteblico respectivo ndash Uniatildeo e Estado ou Distrito Federal

Ainda possibilita a legislaccedilatildeo processual civil que a Fazenda Puacuteblica recobre o

valor despendido a tiacutetulo de honoraacuterios periciais daquele que for condenado ao pagamento de

tais verbas (art 95 sect4ordm CPC) no caso de ser a parte vencida beneficiaacuteria da gratuidade da

justiccedila o ente puacuteblico deve observar as regras pertinentes agrave sucumbecircncia e a exigibilidade sob

condiccedilatildeo suspensiva previstas nos paraacutegrafos sectsect2ordm e 3ordm do art 98 Mas em nenhuma hipoacutetese

transferir tal ocircnus a outra parte natildeo beneficiaacuteria

Tambeacutem estatildeo incluiacutedos no conceito de gratuidade da justiccedila os depoacutesitos devidos

para interposiccedilatildeo de recurso propositura de accedilatildeo e para a praacutetica de outros atos processuais

inerentes ao exerciacutecio da ampla defesa e do contraditoacuterio (inciso VIII) esse dispositivo acaba

por servir como uma claacuteusula geral incluindo todas aquelas despesas natildeo arroladas nos

incisos anteriores e que por estarem intrinsicamente relacionadas ao exerciacutecio do

contraditoacuterio e da ampla devem ser afastadas

Por fim e natildeo menos importante trouxe uma importante inovaccedilatildeo incluindo os

emolumentos dos registradores e notaacuterios relativos a atos de averbaccedilatildeo e registro decorrentes

de processo judicial em que houve a concessatildeo do benefiacutecio da gratuidade (inciso IX)

O Coacutedigo de Processo Civil estendeu para o acircmbito extrajudicial o benefiacutecio da

gratuidade da justiccedila concedido judicialmente garantindo-se assim a prestaccedilatildeo jurisdicional

em sua inteireza

Outrossim o sect 8ordm do artigo 98 preconiza que se o tabeliatildeo ou registrador no

momento da realizaccedilatildeo do ato cartorial tiver duacutevida fundada quanto ao preenchimento dos

pressupostos para a concessatildeo da justiccedila gratuita ndash ou seja insuficiecircncia de recursos ndash pode

requerer ao juiacutezo competente para decidir questotildees notariais ou registrais (competecircncia do

juiz corregedor dos cartoacuterios extrajudiciais) que revogue a gratuidade ou permita o

parcelamento dos valores devido (DELLORE 2015)

163

Esse paraacutegrafo deu ensejo a algumas criacuteticas para Luiz Dellore o questionamento

judicial acerca da capacidade financeira da parte para arcar com as despesas notariais e

registrais

[] natildeo parece ser uma atividade jurisdicional mas administrativa em analogia agrave lsquosuscitaccedilatildeo de duacutevidarsquo hoje existente Trata-se de uma esdruacutexula inovaccedilatildeo que traz ainda mais temas para decisatildeo do Poder Judiciaacuterio Assim aleacutem de todas as questotildees que o juiz deve decidir teraacute ainda de apreciar se uma parte de um processo jaacute findo ainda tem ou natildeo dificuldades financeiras para fins de pagamento de taxas de cartoacuterio (2015)

Ainda no que tange a abrangecircncia do benefiacutecio impende destacar que as multas

processuais de qualquer natureza ndash como por exemplo as multas por litigacircncia de maacute-feacute e por

ato atentatoacuterio a dignidade da justiccedila ndash natildeo estatildeo abarcadas pela gratuidade da justiccedila pois

elas satildeo puniccedilotildees a comportamentos iliacutecitos ldquoE natildeo poderia ser diferente a gratuidade da

justiccedila natildeo pode servir como escudo para a procrastinaccedilatildeo e a litigacircncia de maacute-feacute Daiacute a razatildeo

pela qual o beneficiaacuterio da justiccedila gratuita deve ser executado normalmente em relaccedilatildeo a

elesrdquo (NERY JUNIOR NERY 2015 p 474)

25 Modulaccedilatildeo do benefiacutecio

Outra importante novidade trazida pela Lei nordm 1310515 foi a possibilidade do juiz

modular os efeitos do benefiacutecio abrangendo apenas alguns dos custos do processo ou mesmo

parcelar as despesas processuais (art 98 sectsect5ordm e 6ordm CPC)

Tal medida eacute interessante ao passo que o postulante pode ter condiccedilotildees financeiras

de arcar apenas com algumas despesas processuais como por exemplo as custas e taxas

todavia natildeo dispor de recursos para pagar os honoraacuterios periciais por exemplo Ainda ao

longo do processo pode sobrevir mudanccedila na condiccedilatildeo financeira da parte e ela passar por

dificuldades para custear as despesas processuais nesse ponto o juiz poderaacute conceder-lhe os

benefiacutecios a partir de tal momento

A possibilidade de parcelamento das despesas processuais sugere que o legislador

quis dizer que a concessatildeo da gratuidade da justiccedila eacute a uacuteltima opccedilatildeo sendo possiacutevel agrave parte

arcar com as despesas de forma parcelada o juiz deve optar pelo seu seccionamento e natildeo a

sua dispensa (NERY JUNIOR NERY 2015 p 474)

26 Responsabilidade do beneficiaacuterio

A gratuidade da justiccedila como jaacute dito eacute um instrumento do acesso agrave justiccedila daqueles

que se declaram financeiramente desprovidos de condiccedilotildees de custear o processo Isso

164

significa que se o beneficiaacuterio for perdedor em uma demanda ele seraacute igualmente responsaacutevel

pelo pagamento do ocircnus inerente a sua derrota a diferenccedila reside no fato de poder exigir ou

natildeo a sua cobranccedila

Se o beneficiaacuterio for vencido ele teraacute responsabilidade pelas despesas processuais

ele deveraacute reembolsar os gastos realizados pela outra parte seraacute condenado agraves verbas

sucumbenciais ficando todavia sob condiccedilatildeo suspensiva de exigibilidade podendo ser

cobradas pelo credor no prazo de 5 (cinco) anos contados do tracircnsito em julgado da decisatildeo

que fixou a sucumbecircncia desde que demonstre a ocorrecircncia um fato superveniente que

alterou a condiccedilatildeo financeira do beneficiaacuterio (MEDINA 2015 p 188-189)

Repisa-se a gratuidade natildeo isenta o seu beneficiaacuterio do pagamento das despesas

processuais tatildeo somente as coloca sob condiccedilatildeo suspensiva de exigibilidade

27 Requerimento e impugnaccedilatildeo

O benefiacutecio da gratuidade natildeo pode ser concedido de ofiacutecio pelo juiz devendo a

parte interessada requerecirc-lo no primeiro momento em que ela ingressa no feito ndash peticcedilatildeo

inicial contestaccedilatildeo ou na peccedila de ingresso do terceiro interveniente ndash ou em um momento

posterior ndash por meio de peticcedilatildeo simples ou mesmo no bojo de outra manifestaccedilatildeo ndash inclusive

na m grau recursal (art 99 caput e sect1ordm do CPC)

Nesse aspecto natildeo haacute um momento processual preacute-estabelecido e uacutenico para o

requerimento da gratuidade da justiccedila todavia o tempo do pedido eacute importante para delimitar

quais satildeo as despesas processuais que se dispensa o adiantamento isto porque a concessatildeo do

benefiacutecio tem efeito prospectivo natildeo alcanccedilando os atos processuais jaacute praticados

(OLIVEIRA 2015 p 371-372)

O requerimento natildeo demanda maiores formalidades devendo a parte apenas declarar

a insuficiecircncia de recursos se pessoa natural no caso de pessoa juriacutedica deveraacute ainda

comprovar a necessidade do benefiacutecio

O juiz ao analisar o pedido de gratuidade formulado apenas o indeferiraacute se nos autos

existiram elementos que demonstrem que o postulante natildeo preenche o pressuposto da

insuficiecircncia de recursos Todavia antes de indeferi-lo deve oportunizar a parte que

comprove a alegada carecircncia financeira para custear o processo (art 99 sect2ordm CPC)

A oportunidade de ser ouvido antes do indeferimento do pedido de gratuidade da

justiccedila somente se aplica a pessoa natural uma vez que em seu favor haacute presunccedilatildeo de

veracidade da alegaccedilatildeo de hipossuficiecircncia natildeo necessitando juntar qual prova nesse sentido

165

no momento da realizaccedilatildeo do pedido diferentemente do que acontece com a pessoa juriacutedica

que ao postular o benefiacutecio jaacute deve comprovar a sua necessidade (OLIVEIRA 2015 p 373)

Importante destacar que o Coacutedigo de Processo Civil encerrando discussotildees

expressamente previu que a assistecircncia do requerente por advogado particular por si soacute natildeo

constitui oacutebice para a concessatildeo do benefiacutecio (art 99 sect4ordm)

Na hipoacutetese de natildeo concessatildeo do pedido o requerente poderaacute interpor agravo de

instrumento nos termos do art 101 caput do CPC salvo se a questatildeo for solvida na

sentenccedila hipoacutetese em que caberaacute apelaccedilatildeo De outro lado se concedido poderaacute a parte

contraacuteria impugnaacute-lo

A impugnaccedilatildeo agrave gratuidade da justiccedila sofreu importantes alteraccedilotildees com o Coacutedigo de

Processo Civil a primeira delas eacute que ela natildeo mais se processa em autos apartados devendo

ser formulada nos proacuteprios autos Sem maiores formalidades a impugnaccedilatildeo deve ser

oferecida pela parte no primeiro momento posterior agrave concessatildeo que lhe couber falar nos

autos ou seja se o benefiacutecio for deferido por ocasiatildeo da peticcedilatildeo inicial deve o reacuteu impugnaacute-

la jaacute na contestaccedilatildeo se concedido ao reacuteu por ocasiatildeo da contestaccedilatildeo deve o autor impugnaacute-la

na reacuteplica se deferido no momento da interposiccedilatildeo do recurso a impugnaccedilatildeo deve ser

oferecida nas contrarrazotildees recursais e se o pedido for superveniente deve a parte contraacuteria

impugnaacute-lo no prazo de 15 (quinze) dias contados de sua concessatildeo

Haacute todavia algumas questotildees que natildeo restaram suficientemente esclarecidas pelo

Coacutedigo de Processo Civil no que concerne a impugnaccedilatildeo agrave gratuidade da Justiccedila Entre elas

o autor Luiz Dellore (2015) aponta o termo inicial do prazo para a impugnaccedilatildeo defendendo o

autor que este deveria se dar a partir do momento que a parte contraacuteria tomasse conhecimento

da situaccedilatildeo de natildeo hipossuficiecircncia da parte sob pena de se limitar o instituto

Outro ponto diz respeito ao ocircnus da prova na impugnaccedilatildeo pois o legislador

manteve-se silente nesse aspecto

A doutrina se inclina a defender que o ocircnus de comprovar que o beneficiaacuterio natildeo faz

jus agrave gratuidade eacute do impugnante ante a existecircncia de presunccedilatildeo relativa da necessidade com

a mera alegaccedilatildeo de insuficiecircncia de recursos (NERY JUNIOR NERY 2015 p 479)

28 Revogaccedilatildeo do benefiacutecio

A revogaccedilatildeo do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila implica na obrigaccedilatildeo da parte ex-

beneficiaacuteria de recolher todas as despesas de deixou de adiantar inclusive as despesas que

foram eventualmente adiantadas pelo ente puacuteblico (periacutecia por exemplo) e as vindouras (art

166

100 paraacutegrafo uacutenico do CPC) isso no caso de a parte natildeo fazer jus ao benefiacutecio desde o

momento em que a requereu (OLIVEIRA 2015 p 377)

No entanto a revogaccedilatildeo pode se dar pelo fato de ter cessado a situaccedilatildeo de

hipossuficiecircncia econocircmica que ensejou o benefiacutecio hipoacutetese em que ela apenas teraacute que

arcar com as despesas processuais a partir do momento que passou a dispor da boa condiccedilatildeo

financeira

Ainda evidenciada a maacute-feacute do ex-beneficiaacuterio o Coacutedigo de Processo Civil prevecirc a

aplicaccedilatildeo de multa de ateacute o deacutecuplo das despesas que tiver deixado de adiantar ndash nesse caso

natildeo basta a mera revogaccedilatildeo do benefiacutecio

Decidiu-se antes da entrada em vigor do Coacutedigo que ldquodeve ser cabalmente

demonstrada a intenccedilatildeo da parte em induzir o Poder Judiciaacuterio a erro se aproveitando

indevidamente do benefiacuteciordquo (MEDINA 2015 p 191)

Em linhas gerais essas satildeo algumas das alteraccedilotildees consubstanciadas pelo Coacutedigo de

Processo Civil em relaccedilatildeo ao benefiacutecio da gratuidade da justiccedila malgrado a lei processual natildeo

tenha esgotado o tema esclareceu vaacuterios pontos que antes era debatido pela jurisprudecircncia

Aleacutem do mais importante pontuar que o legislador reformador repensou o processo

civil atento aos anseios da sociedade moderna e preocupado com a efetividade dos direitos

constitucionais ndash acesso agrave justiccedila por exemplo ndash prevendo expressamente no artigo 1ordm do

CPC que ldquoo processo civil seraacute ordenado disciplinado e interpretado conforme os valores e

normas fundamentais estabelecidas na Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasilrdquo

Ocorre entretanto que mesmo diante de significativas alteraccedilotildees o legislador ainda

natildeo preencheu ou objetivou o pressuposto de concessatildeo dos benefiacutecios anteriormente citados

sendo remanescente o subjetivismo da anaacutelise do termo ldquoinsuficiecircncia de recursosrdquo o que

passaraacute a ser refletido no presente artigo

3 O SUBJETIVISMO DO PRESSUPOSTO INSUFICIEcircNCIA DE RECURSOS

Conforme jaacute visto o Coacutedigo de Processo Civil alterou o requisito para a concessatildeo

do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila bastando a declaraccedilatildeo de insuficiecircncia de recursos pela

pessoa natural e a sua comprovaccedilatildeo no caso de pessoa juriacutedica

Todavia eacute inegaacutevel a carga de subjetividade que haacute no conceito de insuficiecircncia de

recursos e como todo conceito juriacutedico vago traz certa inseguranccedila juriacutedica notadamente

porque pode acarretar decisotildees extremamente diacutespares no cotidiano forense uma vez que tal

anaacutelise (o que eacute insuficiecircncia de recursos) fica a criteacuterio do entendimento de cada

167

magistrado aleacutem do que pode gerar inuacutemeros abusos por parte dos seus requerentes ndash ainda

mais quando a mera alegaccedilatildeo eacute bastante agrave concessatildeo do benefiacutecio ndash que diferentemente do

que alegam gozam de boa sauacutede financeira para arcar com as despesas processuais

(TARTUCE DELLORE 2015 p 314-315)

Mesmo antes da alteraccedilatildeo do CPC ainda na Lei nordm 106050 jaacute discutia a doutrina e

a jurisprudecircncia acerca dos pressupostos para a concessatildeo do benefiacutecio ante a vagueza dos

conceitos de hipossuficiente necessitado carente de recursos financeiros para arcar com as

custas do processo sem prejuiacutezo do sustento proacuteprio e de sua famiacutelia e a falta de um criteacuterio

objetivo miacutenimo para a concessatildeo do benefiacutecio5

Nada obstante o progresso vivenciado com o Coacutedigo de Processo Civil de 2015 no

que tange a gratuidade da justiccedila vecirc-se que no ponto concernente agrave triagem dos

hipossuficientes de recursos o legislador conservou um conceito juriacutedico indeterminado

Segundo Frederico do Valle Abreu (2005) o conceito juriacutedico indeterminado eacute

caracterizado pela ldquovaguidade semacircntica existente em certa norma com a finalidade de que

ela a norma permaneccedila ao ser aplicada sempre atual e correspondente aos anseios da

sociedade nos vaacuterios momentos histoacutericos em que a lei eacute interpretada e aplicadardquo

Assim o conteuacutedo abstrato do pressuposto insuficiecircncia de recursos tenha sido

propositadamente pensado pelo legislador por entender que o inteacuterprete na anaacutelise casuiacutestica

goza de melhores condiccedilotildees para valoraacute-lo refletindo pois uma decisatildeo mais justa

O autor Augusto Tavares Rosa Marcacini defende que a insuficiecircncia de recursos eacute

um conceito indeterminado e natildeo segue um padratildeo rigoroso por isso a melhor soluccedilatildeo eacute a

anaacutelise caso a caso

O conceito de necessitado natildeo eacute determinado mediante regras riacutegidas matemaacuteticas natildeo se utilizando limites numeacutericos determinados Tecircm direito ao benefiacutecio aqueles que natildeo podem arcar com os gastos necessaacuterios agrave participaccedilatildeo no processo na medida em que contabilizados os seus ganhos e os seus gastos com o proacuteprio sustento e da famiacutelia natildeo lhe reste numeraacuterio suficiente para tanto O direito ao benefiacutecio decorre da indisponibilidade financeira do sujeito Em face da notoacuteria insuficiecircncia do salaacuterio miacutenimo vigente em nosso paiacutes pode ser possiacutevel presumir que aquele que aufere ateacute cinco salaacuterios miacutenimos por exemplo eacute quase que certamente merecedor de usufruir dos benefiacutecios Mas como dissemos natildeo se deve utilizar nuacutemeros fechados como criteacuterio Um chefe de uma famiacutelia numerosa que pague aluguel e que tenha filhos em idade escolar por exemplo mesmo percebendo o equivalente a dez salaacuterios miacutenimos pode natildeo ter condiccedilotildees de arcar com as despesas de um processo De outro lado um jovem que viva com os pais os quais

5 Fernanda Tartuce e Luiz Dellore por exemplo no artigo escrito em coautoria Gratuidade da Justiccedila no novo CPC divergem sobre o assunto enquanto ela acredita ser acertada a opccedilatildeo do legislador em trazer um conceito dotado de subjetividade por outro lado ele discorda defendendo que ainda que a norma deixasse uma margem para a decisatildeo do juiz de acordo com a casuiacutestica deveria ao menos estabelecer um criteacuterio objetivo miacutenimo de modo a evitar disparidades nas decisotildees (2015 314-315)

168

provecircm o seu sustento moradia e estudo e que ganhe uns dois ou trecircs salaacuterios miacutenimos que natildeo satildeo empregados em qualquer despesa essencial para sua mantenccedila pode natildeo ser considerado beneficiaacuterio (2009 p 90-91)

Nesse espectro o aplicador da norma juriacutedica eacute quem tem o poder-dever de

materializar no caso concreto o conceito juriacutedico indeterminado do que eacute ser necessitado

economicamente para arcar com as despesas processuais dando assim maior efetividade ao

preceito constitucional do acesso agrave justiccedila

Atento agraves alteraccedilotildees do Coacutedigo de Processo Civil quanto ao tema leciona Rafael

Alexandria de Oliveira

Insuficiecircncia de recursos Faz jus ao benefiacutecio da gratuidade aquela pessoa com lsquoinsuficiecircncia de recursos para pagar as custas despesas processuais e honoraacuterios advocatiacuteciosrsquo Natildeo se exige a miserabilidade nem estado de necessidade nem tampouco se fala em renda familiar ou faturamento maacuteximos Eacute possiacutevel que uma pessoa natural mesmo com boa renda mensal seja merecedora do benefiacutecio e que tambeacutem o seja aquele sujeito que eacute proprietaacuterio de bens imoacuteveis mas natildeo dispotildee de liquidez A gratuidade judiciaacuteria eacute um dos mecanismos de viabilizaccedilatildeo do acesso agrave justiccedila natildeo se pode exigir que para ter acesso agrave justiccedila o sujeito tenha que comprometer significativamente a sua renda ou tenha que se desfazer de seus bens liquidando-os para angariar recursos e custear o processo A lei natildeo fala em nuacutemeros natildeo estabelece paracircmetros O sujeito que ganha boa renda mensal pode ser tatildeo merecedor do benefiacutecio quanto aquele que sobrevive agrave custa de programas de complementaccedilatildeo de renda O que pode diferenciaacute-los eacute a maior ou menor dificuldade com que o pedido de concessatildeo do benefiacutecio eacute tratado o de melhor renda pode ser chamado a justificar o seu requerimento provando a insuficiecircncia de recursos Por isso mesmo nem sempre o beneficiaacuterio seraacute algueacutem em situaccedilatildeo de necessidade de vulnerabilidade de miseacuteria de penuacuteria Eacute preciso atentar para isso (2015 p 359)

Eacute compreensiacutevel a carga de subjetividade impregnada ao termo insuficiecircncia de

recursos notadamente porque o legislador adotando a teoria do direito processual

constitucional (art 1ordm do CPC) quis que a normativa do benefiacutecio atendesse realmente agraves

exigecircncias da sociedade hodierna deixando ao encargo do juiz o dever juriacutedico de buscar

identificar e adotar a soluccedilatildeo apta a no caso concreto alcanccedilar satisfatoriamente a finalidade6

da norma ndash de que garantir a todos o acesso agrave justiccedila

Todavia eacute cediccedilo que a valoraccedilatildeo de um conceito subjetivo pelo magistrado (assim

como para qualquer pessoa) transcende a sua formaccedilatildeo juriacutedica e mesmo que inconsciente

revela suas convicccedilotildees pessoais (crenccedilas valores referecircncias sociais) deste modo o que no

sentir de um julgador eacute pessoa hipossuficiente aos olhos do outro natildeo o eacute eacute aiacute que repousam

as ldquoinjusticcedilasrdquo

6 Interpretaccedilatildeo teleoloacutegica

169

A falta de a lei definir um criteacuterio objetivo miacutenimo para se determinar o que eacute a

insuficiecircncia de recursos demandou trabalho da doutrina e especialmente da jurisprudecircncia

que mesmo timidamente adotou os mais diversos paracircmetros

Nesse sentido uma das primeiras orientaccedilotildees que surge na jurisprudecircncia eacute a

necessidade de prova cabal da insuficiecircncia de recursos para a concessatildeo do benefiacutecio da

gratuidade agraves pessoas juriacutedicas7 Depois de muita discussatildeo o entendimento sedimentado na

jurisprudecircncia8 foi consagrado pelo legislador no Coacutedigo de Processo Civil de 2015 em seu

artigo 98 caput

Tambeacutem se firmou o entendimento de que o requerente que se dedica a emprestar

dinheiro natildeo faz jus ao benefiacutecio uma vez que tal circunstacircncia eacute incompatiacutevel com a alegada

necessidade (NERY JUNIOR NERY 2015 p 475)

Os Tribunais tambeacutem jaacute fixaram como criteacuterio objetivo para se determinar se o

requerente eacute realmente hipossuficiente a renda mensal inferior a dez salaacuterios miacutenimos9

todavia o Superior Tribunal de Justiccedila jaacute refutou a utilizaccedilatildeo desse criteacuterio sob o fundamento

de que a desconstituiccedilatildeo da presunccedilatildeo estabelecida pela lei de gratuidade de justiccedila exige

perquirir in concreto a atual situaccedilatildeo financeira do requerenterdquo10

Outro paracircmetro que tem sido utilizado pelos juristas para aferir a condiccedilatildeo de

miserabilidade do requerente eacute a faixa de isenccedilatildeo do Imposto de Renda extraiacutedo da tabela

progressiva do tributo devidamente atualizada11

O criteacuterio do patrociacutenio da causa por advogado particular para afastar a benesse jaacute

era rechaccedilado pela jurisprudecircncia12 e foi recepcionado pelo atual Coacutedigo de Processo Civil em

seu artigo 99 sect4ordm 7 Assistecircncia judiciaacuteria Pessoa juriacutedica Demonstraccedilatildeo cabal da insuficiecircncia de recursos 1 Ademais de fundamentado exclusivamente na interpretaccedilatildeo do art 5ordm LXXIV da Constituiccedilatildeo Federal o certo eacute que a Corte jaacute assentou a necessidade de demonstraccedilatildeo cabal da insuficiecircncia de recursos para que a empresa possa desfrutar dos benefiacutecios da assistecircncia judiciaacuteria 2 Recurso especial natildeo conhecido (STJ - REsp 182557 RJ 19980053550-0 Relator Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO Data de Julgamento 02091999 T3 - TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJ 25101999 p 79) 8 Suacutemula 481 STJ Faz jus ao benefiacutecio da justiccedila gratuita a pessoa juriacutedica com ou sem fins lucrativos que demonstrar sua impossibilidade de arcar com os encargos processuais 9 ADMINISTRATIVO AGRAVO DE INSTRUMENTO ASSISTEcircNCIA JUDICIAacuteRIA GRATUITA - AJG PARAcircMETRO DEZ SALAacuteRIOS MIacuteNIMOS 1 A Segunda Seccedilatildeo desta Corte vem consolidando entendimento no sentido de fixar patamar objetivo para a concessatildeo do benefiacutecio da AJG qual seja dez salaacuterios miacutenimo 2 Hipoacutetese em que a agravante comprovou renda mensal bem inferior ao limite paradigmaacutetico destacado inexistindo qualquer razatildeo para o indeferimento do pleito em prestiacutegio agrave norma de regecircncia (Lei n 10601950) e ao princiacutepio da acessibilidade (artigo 5ordm XXXV Constituiccedilatildeo Federal) (TRF-4 - AG 50101513420134040000 5010151-3420134040000 Relator NICOLAU KONKEL JUacuteNIOR Data de Julgamento 14082013 TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DE 16082013) 10 STJ - AgRg no AREsp 626487 MG 20140315675-3 Relator Ministro RICARDO VILLAS BOcircAS CUEVA Data de Julgamento 28042015 T3 - TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJe 07052015 11 TJ-PR - AI 14520235 PR 1452023-5 (Decisatildeo Monocraacutetica) Relator Paulo Cezar Bellio Data de Julgamento 27102015 16ordf Cacircmara Ciacutevel Data de Publicaccedilatildeo DJ 1683 05112015

170

O Superior Tribunal de Justiccedila preconiza que o inteacuterprete deve conjugar o binocircmio

necessidade-possibilidade assim para se conceder o benefiacutecio da gratuidade da justiccedila deve-

se considerar natildeo apenas os rendimentos mensais do requerente mas tambeacutem o

comprometimento de suas despesas13

A anaacutelise da condiccedilatildeo financeira do postulante deve ficar restrita a sua situaccedilatildeo

presente e natildeo ao seu histoacuterico de riquezas o simples fato de o requerente jaacute ter sido rico

empresaacuterio ou pessoa de posses natildeo significa que natildeo possa ser hoje pessoa pobre na

acepccedilatildeo juriacutedica do termo e necessitar da assistecircncia judiciaacuteria Da mesma forma a reciacuteproca

eacute verdadeira o pobre que eacute beneficiaacuterio da gratuidade pode por fatores supervenientes

tornar-se pessoa abastada financeiramente o que certamente lhe cassaraacute o benefiacutecio (NERY

JUNIOR NERY 2015 p 477)

Destarte a adoccedilatildeo pelo juiz de um paracircmetro como ponto de partida para verificar o

preenchimento dos requisitos para a concessatildeo da justiccedila gratuita natildeo deve ser visto como

violador da norma Bem da verdade a gratuidade da justiccedila eacute uma das portas de acesso ao

Poder Judiciaacuterio entretanto natildeo pode ser utilizada pelo beneficiaacuterio tatildeo-somente para se

furtar das obrigaccedilotildees oriundas do processo

A Lei nordm 106050 exigia em sua redaccedilatildeo original que o requerente comprovasse o

estado de pobreza alegado hoje ndash a partir da nova redaccedilatildeo dada ao art 4ordm sect1ordm da referida lei

pela Lei Federal nordm 751086 ndash basta a simples afirmaccedilatildeo de necessidade do benefiacutecio o que

inclusive eacute referendado pela jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila14 Nesse sentir o

12 Assistecircncia judiciaacuteria Defensoria Puacuteblica Advogado particular Interpretaccedilatildeo da Lei nordm 106050 1 Natildeo eacute suficiente para afastar a assistecircncia judiciaacuteria a existecircncia de advogado contratado O que a lei especial de regecircncia exige eacute a presenccedila do estado de pobreza ou seja da necessidade da assistecircncia judiciaacuteria por impossibilidade de responder pelas custas que poderaacute ser enfrentada com prova que a desfaccedila Natildeo serve para medir isso a qualidade do defensor se puacuteblico ou particular 2 Recurso especial conhecido e provido (STJ - REsp 679198 PR 20040103656-9 Relator Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO Data de Julgamento 21112006 T3 - TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJ 16042007 p 184) 13 STJ - REsp 263781 SP 20000060786-0 Relator Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO Data de Julgamento 22052001 T3 - TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo lt-- DTPB 20010813ltbrgt --gt DJ 13082001 p 150ltbrgt JBCC vol 193 p 249 14PROCESSUAL CIVIL RECONHECIMENTO DE CONCUBINATO E PARTILHA DE BENS PEDIDO ALTERNATIVO DE INDENIZACcedilAtildeO POR SERVICcedilOS PRESTADOS INDEFERIMENTO DE PLANO DA INICIAL IMPOSSIBILIDADE CERCEAMENTO DE DEFESA ASSISTEcircNCIA JUDICIAacuteRIA E GRATUIDADE DA JUSTICcedilA ALEGACcedilAtildeO DA PARTE DESNECESSIDADE DE DEMONSTRACcedilAtildeO DE O ADVOGADO NAtildeO ESTAR SENDO REMUNERADO PRESUNCcedilAtildeO RECURSO PROVIDO Pelo sistema legal vigente faz jus a parte aos benefiacutecios da assistecircncia judiciaacuteria mediante simples afirmaccedilatildeo na proacutepria peticcedilatildeo de que natildeo estaacute em condiccedilotildees de pagar as custas do processo e os honoraacuterios de advogado sem prejuiacutezo proacuteprio ou de sua famiacutelia O deferimento da gratuidade garantia assegurada constitucionalmente aos economicamente hipossuficientes (Constituiccedilatildeo art 5ordm LXXIV) natildeo exige que a parte demonstre que o advogado natildeo estaacute sendo por ela remunerado Enquanto a Justiccedila gratuita isenta de despesas processuais e condenaccedilatildeo em honoraacuterios advocatiacutecios a assistecircncia judiciaacuteria mais ampla enseja tambeacutem o patrociacutenio por profissional habilitado Caracteriza cerceamento de defesa o indeferimento de plano da inicial de accedilatildeo que pretendeu o reconhecimento de concubinato e partilha de bens com pedido alternativo de indenizaccedilatildeo de

171

aplicador do direito exerce um fundamental papel para que o processo natildeo seja um fim em si

mesmo mas sim um instrumento para a materializaccedilatildeo de um direito

Nota-se que o indeterminismo do termo insuficiecircncia de recursos aliado a mera

alegaccedilatildeo da necessidade poderia transviar o sentido da norma devendo o magistrado ficar

atento para que os privilegiados de fortuna natildeo ingressem gratuitamente no feito

Assim havendo elementos no processo que infirmem a alegaccedilatildeo do postulante ndash que

goza de presunccedilatildeo iuris tantum ndash a hipossuficiecircncia deve ser comprovada

Duacutevida fundada quanto agrave pobreza O juiz da causa valendo-se de criteacuterios

objetivos pode entender que a natureza da accedilatildeo movida pelo interessado demonstra que ele possui porte econocircmico para suportar as despesas do processo A declaraccedilatildeo pura e simples do interessado conquanto seja o uacutenico entrave burocraacutetico que se exige para liberar o magistrado para decidir em favor do peticionaacuterio natildeo eacute prova inequiacutevoca daquilo que ele afirma nem obriga o juiz a se curvar aos seus dizeres se de outras provas e circunstacircncias ficar evidenciado que o conceito de pobreza que a parte invoca natildeo eacute aquele que justifica a concessatildeo do privileacutegio Cabe ao magistrado livremente fazer juiacutezo de valor acerca do termo pobreza deferindo ou natildeo o benefiacutecio (NERY JUNIOR NERY 2015 p 477)

Infelizmente a finalidade do benefiacutecio natildeo raras vezes eacute distorcida seja pela

abstraccedilatildeo do conceito ou mesmo pela lisura do ser humano e isso contribui para o aumento de

demandas desqualificadas respaldadas na ausecircncia de riscos no caso de improcedecircncia

Para Maacutercio Pirocircpo Galvatildeo (2010) os mecanismos de acesso agrave justiccedila fomentam

accedilotildees despretensiosas ndash e cita como exemplos as accedilotildees trabalhistas e aquelas do acircmbito dos

Juizados Especiais ndash exclusivamente pela ausecircncia de custo econocircmico defende inclusive

que o acesso ao Judiciaacuterio de forma gratuita virou uma ldquoloteria onde todos querem tentar a

sorterdquo

E continua o autor citando a decisatildeo do Juiz de Direito da 2ordf Vara Ciacutevel da Comarca

de Dourados Dr Joseacute Carlos de Souza que as demandas desnecessaacuterias ldquoabarrotam o Poder

Judiciaacuterio e dificultam o acesso agrave Justiccedila de jurisdicionados com pretensotildees mais nobres

Incentivam o aumento da inadimplecircncia e sedimentam a cultura do natildeo-cumprimento dos

contratos [] Configuram provocaccedilatildeo abusiva da maacutequina judiciaacuteria e maacute-feacute do devedorrdquo

(GALVAtildeO 2010)

Como visto a utilizaccedilatildeo abusiva da gratuidade da justiccedila pode representar o

congestionamento da maacutequina judicial comprometendo a razoaacutevel duraccedilatildeo do processo e ao

serviccedilos prestados sem possibilitar agrave parte a produccedilatildeo de qualquer prova notadamente em se tratando de alegado relacionamento de mais de trinta anos (Recurso Especial nordm 91609SP 4ordf Turma do STJ Rel Min Saacutelvio de Figueiredo Teixeira Recorrente A P M R Recorrida V G F B j 160498 un DJU 080698 p 113)

172

reveacutes de seu proposito servir como oacutebice ao efetivo acesso agrave justiccedila daqueles que tem

realmente tem urgecircncia na prestaccedilatildeo jurisdicional

Talvez uma boa alternativa para se evitar decisotildees diacutespares e a banalizaccedilatildeo do

benefiacutecio ante a carga de subjetividade do seu pressuposto fosse exigir uma comprovaccedilatildeo

miacutenima da insuficiecircncia de recursos Afinal quem realmente necessita do benefiacutecio natildeo teria

dificuldade alguma em demonstrar a sua impossibilidade financeira para arcar com as

despesas processuais

Eacute certo que a Lei nordm 106050 e agora o Coacutedigo de Processo Civil estabelecem ocircnus

ao litigante que de maacute-feacute requereu o benefiacutecio da gratuidade todavia a prova nesse sentido

deve ser contundente o que estimula de certa forma pedidos indiscriminados de gratuidade

uma vez que sopesando os riscos os ganhos prevalecem

Destarte o que se percebe eacute que nesse ponto o legislador civil natildeo conseguiu

encerrar as discussotildees deixando a soluccedilatildeo para a doutrina e a jurisprudecircncia agora basta

saber como as discussotildees seratildeo encaminhadas de modo que natildeo se instale ndash ou aumente ndash um

estado de desconfianccedila em torno do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila em decorrecircncia dos

abusos praticados mas que tambeacutem natildeo se deixe de cumprir a sua preciacutepua finalidade

constitucional de ser um instrumento de acesso ao Judiciaacuterio daqueles que natildeo desfrutam de

plenas condiccedilotildees financeiras

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O atual Coacutedigo de Processo Civil atuou muito positivamente no que pertine ao

instituto da Gratuidade da Justiccedila ele alvoreceu pontos que a Lei nordm 106050 era retroacutegrada e

mesmo silente bem como normatizou questotildees jaacute consolidadas pela jurisprudecircncia

Em contrapartida a legislaccedilatildeo processual civil natildeo se fez clara quanto ao pressuposto

para a concessatildeo do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila mormente porque se limitou a prever

que a simples afirmaccedilatildeo de insuficiecircncia de recursos para pagar as despesas processuais eacute

suficiente ao seu deferimento

Afinal o que insuficiecircncia de recursos Qual o criteacuterio objetivo para se definir quem

se enquadra ou natildeo nesse perfil Mais uma vez a lei que trata sobre a gratuidade da justiccedila

silenciou nesse pormenor reservando ao aplicador do direito a missatildeo de examinar

casuisticamente quem eacute merecedor ou natildeo da benesse partindo de uma interpretaccedilatildeo

alicerccedilada na finalidade da lei ndash promover o acesso agrave justiccedila

173

Assim duas questotildees surgem A primeira eacute se o legislador foi relapso ou se ele

propositadamente preferiu a um conceito indeterminado para a concessatildeo do benefiacutecio E a

segunda eacute se ele agiu bem

E ao que se conclui eacute que a preferecircncia por um termo dotado de subjetivismo tem

um propoacutesito qual seja permitir que a lei seja adaptaacutevel as mais diversas situaccedilotildees do

cotidiano forense de modo a tornar o acesso agrave justiccedila um direito fundamental mais efetivo

Conquanto agrave segunda questatildeo (se ele agiu bem) apenas a experiecircncia praacutetica poderaacute dizer

notadamente porque vai depender e muito da consciecircncia do postulante (e seu advogado) o

qual eacute o real sabedor de sua condiccedilatildeo financeira

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ABREU Frederico do Valle Conceito juriacutedico indeterminado interpretaccedilatildeo da lei

processo e suposto poder discricionaacuterio do magistrado Jus Navigandi Teresina ano 9 n

674 10 maio 2005 Disponiacutevel em lthttpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=6674gt

Acesso em 27032016

ANGHER Anne Joyce (Org) Vade mecum acadecircmico de direito Rideel 21ed

atual e ampl Satildeo Paulo Rideel 2015

BRASIL Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Recurso Especial nordm

19980053550-0 Relator Ministro Carlos Alberto Menezes Data de Julgamento 02091999

Data de Publicaccedilatildeo DJ 25101999 p 79

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Agravo Regimental no Recurso

Especial nordm 20140315675-3 Relator Ministro Ricardo Villas Bocircas Cueva Data de

Julgamento 28042015 Data de Publicaccedilatildeo DJe 07052015

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Recurso Especial nordm

20040103656-9 Relator Ministro Carlos Alberto Menezes Direito Data de Julgamento

21112006 Data de Publicaccedilatildeo DJ 16042007 p 184

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Recurso Especial

20000060786-0 Relator Ministro Carlos Alberto Menezes Direito Data de Julgamento

22052001 Data de Publicaccedilatildeo 13082001 p 150

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Quarta Turma Recurso Especial 91609SP

Relator Ministro Saacutelvio de Figueiredo Teixeira Data de Publicaccedilatildeo 08061998 p 113

174

_____ Tribunal Regional Federal (4ordf Regiatildeo) Terceira Turma Agravo nordm

50101513420134040000 5010151-3420134040000 Relator Nicolau Konkel Juacutenior Data

de Julgamento 14082013Data de Publicaccedilatildeo 16082013

_____ Tribunal de Justiccedila do Estado do Paranaacute 16ordf Cacircmara Ciacutevel Agravo de

Instrumento nordm 14520235 PR 1452023-5 (Decisatildeo Monocraacutetica) Relator Paulo Cezar Bellio

Data de Julgamento 27102015 Data de Publicaccedilatildeo 05112015

CAPPELLETTI Mauro GARTH Bryant Acesso agrave justiccedila Trad Ellen Gracie

Northfleet Porto Alegre Seacutergio Fabris Editor 2002

CARNEIRO Paulo Cezar Pinheiro Normas Fundamentais do Processo Civil Em

Breves Comentaacuterios ao Novo Coacutedigo de Processo Civil Tereza Arruda Alvim Wambier et

al[coord] Satildeo Paulo Editora RT 2015

DELLORE Luiz Novo CPC o lado A da justiccedila gratuita Disponiacutevel em http

httpjotauolcombrjustica-gratuita-novo-cpc-lado publicado em 09 de marccedilo de 2015

Acesso em 27032016

______ Novo CPC o lado B da justiccedila gratuita Disponiacutevel em

httpjotauolcombrnovo-cpc-o-lado-b-da-justica-gratuita publicado em 13 de abril de

2015 Acesso em 27032016

GALESKI JUNIOR Irineu RIBEIRO Marcia Carla Pereira Direito e economia

uma abordagem sobre a assistecircncia judiciaacuteria gratuita In Publica Direito (recurso eletrocircnico

on-line) Fortaleza CONPEDI 2010

GALVAtildeO Maacutercio Pirocircpo Abuso de direito agrave gratuidade da Justiccedila Revista Jus

Navigandi Teresina ano 17 n 3339 22 ago 2012 Disponiacutevel em

lthttpsjuscombrartigos22466gt Acesso em 27032016

MARCACINI Augusto Tavares Rosa Assistecircncia Juriacutedica Assistecircncia Judiciaacuteria e

Justiccedila Gratuita Satildeo Paulo Editora Forense 2009 (ediccedilatildeo eletrocircnica)

MEDINA Joseacute Miguel Garcia Novo Coacutedigo de Processo Civil Comentado Satildeo

Paulo Editora RT 2015

NERY JUNIOR Nelson e NERY Rosa Maria de Andrade Comentaacuterios ao Coacutedigo

de Processo Civil Satildeo Paulo Editora RT 2015

NETO Emeteacuterio Silva de Oliveira VIANA Juvecircncio Vasconcelos Acesso agrave justiccedila

e o novo Coacutedigo de Processo Civil um olhar criacutetico Em Acesso agrave justiccedila (recurso eletrocircnico

on-line) Florianoacutepolis CONPEDIUFSC 2015

175

OLIVEIRA Rafael Alexandria de Da Gratuidade da Justiccedila Em Breves

Comentaacuterios ao Novo Coacutedigo de Processo Civil Tereza Arruda Alvim Wambier et

al[coord] Satildeo Paulo Editora RT 2015

SANTOS Boaventura de Souza Pela matildeo de Alice o social e o poliacutetico

na poacutes-modernidade Satildeo Paulo Cortez 2003

TARTURE Flaacutevia DELLORE Luiz Gratuidade da justiccedila no novo CPC Em

Revista de Processo Satildeo Paulo v 39 n 236 p 305-323 out 2014

176

INOVACcedilOtildeES E ALTERACcedilOtildeES DO COacuteDIGO DE PROCESSO CIVIL E A MANUTENCcedilAtildeO DO SUBJETIVISMO DO TERMO ldquoINSUFICIEcircNCIA DE

RECURSOSrdquo PARA A CONCESSAtildeO DA GRATUIDADE DE JUSTICcedilA

INNOVATIONS AND CHANGES OF PROCEDURE CIVIL CODE AND MAINTENANCE OF THE SUBJECTIVISM TERM RESOURCES INSUFFICIENT FOR GRANTING OF JUSTICE OF GRATUITY

Juliane Dziubate KreftaAline Fatima Morelatto

Resumo

O presente trabalho eacute voltado agrave anaacutelise da Gratuidade da Justiccedila como um importante

mecanismo de acesso agrave justiccedila Pretende abordar as novidades sobre a Gratuidade da Justiccedila

no atual Coacutedigo de Processo Civil recentemente alterado pela Lei nordm 131052015 trazendo

agrave tona importantes alteraccedilotildees que corrigiram a obsoleta Lei nordm 106050 Objetiva fazer uma

reflexatildeo a respeito do requisito para a concessatildeo do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila qual

seja a insuficiecircncia de recursos e o seu alto grau de subjetivismo pontuando algumas

questotildees positivas e negativas a ele relacionadas

Palavras-chave Acesso agrave justiccedila Gratuidade Alteraccedilotildees Inovaccedilotildees Insuficiecircncia de recursos Subjetivismo

AbstractResumenReacutesumeacute

This work is focused on the analysis of Gratuity of Justice as an important mechanism of

access to justice It aims to address the news about the Gratuity of Justice in the current Civil

Procedure Code recently amended by Law nordm 131052015 bringing out important changes

that fixed the obsolete Law nordm 106050 Aims to reflect about the requirement for granting

the benefit of free justice namely the lack of resources and its high degree of subjectivity

emphasizing some positive and negative issues related to it

KeywordsPalabras-clavesMots-cleacutes Justice acess Gratuity Change Innovations Insufficient resources Subjectivism

156

INTRODUCcedilAtildeO

O presente artigo tem o desiderato de fazer uma reflexatildeo acerca do instituto da

Gratuidade da Justiccedila e as alteraccedilotildees promovidas pela Lei nordm 131052015 no atual Coacutedigo de

Processo Civil partindo da premissa de que eacute um importante instrumento de efetivaccedilatildeo dos

direitos fundamentais notadamente o direito ao acesso agrave justiccedila

O regramento sobre a Gratuidade da Justiccedila sofreu mudanccedilas significativas no

Coacutedigo de Processo Civil corrigindo vaacuterias distorccedilotildees e lacunas da decreacutepita Lei nordm 106050

que tratava sobre o assunto e que haacute tempos estava sendo plasmada pela jurisprudecircncia

A correccedilatildeo terminoloacutegica (gratuidade da justiccedila) a expressa previsatildeo de que a

pessoa juriacutedica tambeacutem pode figurar como beneficiaacuteria a extensatildeo da benesse agraves custas e aos

emolumentos dos notaacuterios e registradores satildeo algumas das vaacuterias alteraccedilotildees a respeito do

instituto preconizadas no Coacutedigo de Processo Civil

De outro lado malgrado o Coacutedigo de Processo Civil tenha inovado um pouco a

nominaccedilatildeo do requisito para a concessatildeo do benefiacutecio passando a simplesmente exigir a

alegaccedilatildeo da insuficiecircncia de recursos manteve a sua natureza subjetiva natildeo revelando

qualquer criteacuterio objetivo para elucidaacute-lo

Sobre esse aspecto o presente trabalho engendra um debate para saber se o

legislador caminhou ou natildeo bem expondo os pontos positivos e negativos quanto ao

indeterminismo do pressuposto insuficiecircncia de recursos e refletindo a respeito de suas

consequecircncias no mundo juriacutedico ndash principalmente a reaccedilatildeo da jurisprudecircncia ndash e tambeacutem na

sociedade tendo como metodologia acolhida a bibliograacutefica

1 O ACESSO Agrave JUSTICcedilA OS DIREITOS FUNDAMENTAIS E A

GRATUIDADE DE JUSTICcedilA ndash PRELIMINAR E INDISSOCIAacuteVEL

COMPREENSAtildeO

O direito agrave gratuidade da justiccedila eacute um direito fundamental do jurisdicionado (e natildeo

um simples benefiacutecio) A Constituiccedilatildeo Federal em seu artigo 5ordm LXXIV prevecirc que ldquoo Estado

prestaraacute assistecircncia juriacutedica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiecircncia de

recursosrdquo Ele tem o desiderato de evitar que a insuficiecircncia de recursos financeiros

represente um obstaacuteculo insuperaacutevel ao acesso agrave justiccedila1

1 Art 5ordm XXXV CF A lei natildeo excluiraacute da apreciaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio lesatildeo ou ameaccedila a direito

157

A justiccedila deve estar ao alcance de todos2 ricos e pobres competindo ao Estado ndash na

sua atuaccedilatildeo positiva ndash como seu gestor3 garantir que a pessoa de parcos recursos financeiros

tenha condiccedilotildees de acionar o Poder Judiciaacuterio da mesma forma que o afortunado

Como afirma Boaventura de Souza Santos ldquoo tema do acesso agrave justiccedila eacute aquele que

mais diretamente equaciona as relaccedilotildees entre o processo civil e a justiccedila social entre

igualdade juriacutedico-formal e desigualdade socioeconocircmicardquo (2003 p167)

Para Cappelletti e Garth uma das finalidades do termo acesso agrave justiccedila eacute determinar

que o sistema juriacutedico fosse igualmente acessiacutevel a todos e reafirmam a importacircncia de sua

efetividade

De fato o direito ao acesso efetivo tem sido progressivamente reconhecido como sendo de importacircncia capital entre os novos individuais sociais uma vez que a titularidade de direitos eacute destituiacuteda de sentidos na ausecircncia de mecanismos para sua efetiva reivindicaccedilatildeo O acesso agrave Justiccedila pode portanto ser encarado como requisito fundamental ndash o mais baacutesico dos direitos humanos ndash de um sistema juriacutedico moderno e igualitaacuterio que pretenda garantir e natildeo apenas proclamar os direitos de todos (2002 p 4)

Os referidos autores identificam vaacuterios oacutebices ao acesso agrave justiccedila ndash entre elas as

desigualdades socioeconocircmicas ndash e sequencialmente propotildeem soluccedilotildees praacuteticas ao

problema emergindo como primeira a assistecircncia judiciaacuteria ao que eles denominaram de

ldquoprimeira ondardquo (CAPPELLETI GARTH 2002 p 6-12)

Nesse vieacutes a gratuidade da justiccedila ndash natildeo tecendo nesse primeiro momento qualquer

consideraccedilatildeo acerca das distinccedilotildees terminoloacutegicas ndash eclode com um importante mecanismo

viabilizador do acesso agrave justiccedila e tem a preciacutepua finalidade de dar efetividade a outros direitos

fundamentais constitucionalmente previstos como a igualdade (art 5 caput CF) a cidadania

(art 1ordm inciso II CF) e a proacutepria dignidade da pessoa humana (art 1ordm inciso III CF)

2 Eacute o que Emeteacuterio Silva e Juvecircncio Vasconcelos chamam de universalizaccedilatildeo ou horizontalizaccedilatildeo do acesso agrave justiccedila ensinando que ldquoHorizontalizar eacute fazer com que agrave todas as pessoas (pobres ou ricas) sejam assegurados os mesmos meios de acesso agrave justiccedila Eacute promover a isonomia ou seja a igualdade na e perante a lei pois esta lsquonatildeo deve ser fonte de privileacutegios ou perseguiccedilotildees mas instrumento regulador da vida social que necessita tratar equitativamente todos os cidadatildeosrsquo (BANDEIRA DE MELLO 2013 p 10) Com efeito o acesso agrave justiccedila nos termos do artigo 60 sect 4ordm inciso IV da Carta de 88 eacute claacuteusula peacutetrea e por estaacute alccedilado agrave categoria hieraacuterquica superior natildeo pode sofrer menoscabos o que exclui possiacuteveis discriminaccedilotildees arbitraacuterias entre as pessoas quando da execuccedilatildeo desta garantia fundamental Assim considerando a forccedila normativa da constituiccedilatildeo23 portanto das normas de direitos e garantias nela previstas a universalizaccedilatildeo do acesso agrave justiccedila aliada a efetividade da tutela jurisdicional ou dos meios assecuratoacuterios de direitos fomentadores da justiccedila social avultam imprescindiacuteveis (NETO Emeteacuterio Silva de Oliveira VIANA Juvecircncio Vasconcelos Acesso agrave justiccedila e o novo Coacutedigo de Processo Civil um olhar criacutetico In Acesso agrave justiccedila (recurso eletrocircnico on-line) Florianoacutepolis CONPEDIUFSC 2015 p 186 3 A jurisdiccedilatildeo eacute monopoacutelio do Estado proibindo a lei que as pessoas faccedilam justiccedila com as proacuteprias matildeos salvo raras exceccedilotildees como por exemplo as hipoacuteteses de autotutela ndash arts 1210 e 1219 do Coacutedigo Civil

158

Agrave medida que se busca a efetividade dos direitos fundamentais o direito processual

passa a ter um importante papel nessa missatildeo4 pois eacute ele quem indica qual eacute o (melhor)

caminho para se alcanccedilar o direito material sob essa perspectiva vecirc-se a necessidade de

atualizaccedilatildeo da lei processual a fim de se adequar as exigecircncias da sociedade moderna

A uacutenica lei que regulamentava o benefiacutecio da justiccedila gratuita data de 1950 eacute uma lei

natildeo soacute defasada do ponto de vista material e processual como tambeacutem dotada de

imperfeiccedilotildees teacutecnicas e entraves agrave concessatildeo do benefiacutecio Era preciso simplificar e

desmistificar para entatildeo avanccedilar ndash pelo menos um degrau ndash na universalizaccedilatildeo do acesso agrave

justiccedila e a Lei nordm 131052015 que alterou o Coacutedigo de Processo Civil (CPC) o fez

O autor Luiz Dellore (2015) ao tecer elogios ao legislador diz que ldquoas inovaccedilotildees do

CPC simplificam o procedimento buscam evitar abuso dos requentes da gratuidade e

especialmente pretendem obstar debates laterais e incidentes para que se possa focar na

discussatildeo do meacuteritordquo

2 O COacuteDIGO DE PROCESSO CIVIL EM VIGOR E AS INOVACcedilOtildeES

RELATIVAS Agrave GRATUIDADE DE JUSTICcedilA

A atualmente (e corretamente) nominada gratuidade da justiccedila foi profundamente

reformulada pelo Coacutedigo de Processo Civil As mudanccedilas satildeo muito significativas o Coacutedigo

consolidou o assunto em seis dispositivos do artigo 98 ao artigo 102 aleacutem do que revogou

expressamente vaacuterios artigos da Lei nordm 106050 (arts 2ordm 3ordm 4ordm 6ordm 7ordm 11 12 e 17)

Considerando isso o artigo pontuaraacute as alteraccedilotildees legitimadas

21Terminologia

O Coacutedigo corrigiu os equiacutevocos praticados quanto agrave terminologia que redundavam

em incompreensotildees acerca do tema Natildeo se pode confundir assistecircncia judiciaacuteria gratuita

gratuidade da justiccedila (justiccedila gratuita) e assistecircncia juriacutedica integral e gratuita

A assistecircncia judiciaacuteria gratuita consiste no patrociacutenio gratuito da causa seja por

advogado do Estado entidades conveniadas com o Estado escritoacuterios de praacutetica juriacutedica das

faculdades de Direito ou mesmo advogados particulares nomeados como dativos Jaacute a

gratuidade da justiccedila traduz-se na isenccedilatildeo para o adiantamento das custas do processo Por

4 O processo natildeo deveria ser colocado no vaacutecuo Os juiacutezes precisam agora reconhecer que as teacutecnicas processuais servem a questotildees sociais [] o lsquoacessorsquo natildeo eacute apenas um direito social fundamental crescentemente reconhecido ele eacute tambeacutem necessariamente o ponto central da moderna processualiacutestica CAPPELLETTI Mauro GARTH Bryant Acesso agrave justiccedila Trad Ellen Gracie Northfleet Porto Alegre Seacutergio Fabris Editor 2002 p 5

159

sua vez a assistecircncia juriacutedica integral e gratuita engloba aleacutem da representaccedilatildeo do

hipossuficiente em juiacutezo a orientaccedilatildeo juriacutedica dele em questotildees extrajudiciais (TARTUCE

DELLORE 2014 p 308 e 309)

Preconiza Rafael Alexandria de Oliveira

Eacute comum a confusatildeo quanto aos conceitos de benefiacutecio da justiccedila gratuita (ou da gratuidade da justiccedila ou ainda da gratuidade judiciaacuteria) de assistecircncia judiciaacuteria e de assistecircncia juriacutedica Todos eles decorrem do direito fundamental agrave assistecircncia juriacutedica integral e gratuita de que trata o art 5ordm LXXIV da CF1988 mas natildeo se confundem Pontes de Miranda (a) benefiacutecio da justiccedila gratuita eacute como jaacute dito a dispensa do adiantamento de despesas processuais para o qual se exige a tramitaccedilatildeo de um processo judicial o requerimento da parte interessada e o deferimento do juiacutezo perante o qual o processo tramita (b) assistecircncia judiciaacuteria consiste no direito de a parte ser assistida gratuitamente por um profissional do Direito normalmente membro da Defensoria Puacuteblica da Uniatildeo do Estados ou do Distrito Federal e que natildeo depende do deferimento do juiacutezo nem mesmo da existecircncia de um processo judicial (c) assistecircncia juriacutedica eacute um conceito mais amplo que abrange o benefiacutecio da justiccedila gratuita e a assistecircncia judiciaacuteria mas vai aleacutem deles englobando todas as iniciativas do Estado (em sentido amplo) que tecircm por objetivo promover uma aproximaccedilatildeo entre a sociedade e os serviccedilos juriacutedicos ndash como por exemplo as campanhas de conscientizaccedilatildeo de direitos do consumidor promovidas por oacutergatildeos administrativos e os serviccedilos juriacutedicos itinerantes prestados agrave populaccedilatildeo carente (2015 p 355)

Semelhantemente Augusto Tavares Rosa Marcacini desenvolve um conceito

distinguindo os institutos da assistecircncia judiciaacuteria justiccedila gratuita e a assistecircncia juriacutedica

integral e gratuita

A Constituiccedilatildeo Federal de 1988 em seu artigo 5ordm inciso LXXIV inclui entre os direitos e garantias individuais a assistecircncia juriacutedica integral e gratuita Utiliza a Lei Maior um terceiro conceito que tambeacutem natildeo deve ser confundido como sinocircnimo de assistecircncia judiciaacuteria ou justiccedila gratuita Por justiccedila gratuita deve ser entendida a gratuidade de todas as causas e despesas judiciais ou natildeo relativas a atos necessaacuterios ao desenvolvimento do processo e agrave defesa dos direitos do beneficiaacuterio em juiacutezo O benefiacutecio da justiccedila gratuita compreende a isenccedilatildeo de toda e qualquer despesa necessaacuteria ao pleno exerciacutecio dos direitos e das faculdades processuais sejam tais despesas judiciais ou natildeo Abrange assim natildeo somente as custas relativas aos atos processuais a serem praticados como tambeacutem todas as despesas decorrentes de efetiva participaccedilatildeo na relaccedilatildeo processual A assistecircncia judiciaacuteria envolve o patrociacutenio gratuito da causa por advogado A assistecircncia judiciaacuteria eacute pois um serviccedilo puacuteblico organizado consistente na defesa em juiacutezo do assistido que deve ser oferecido pelo Estado mas que pode ser desempenhado por entidades natildeo-estatais conveniadas ou natildeo com o Poder Puacuteblico [] Por sua vez a assistecircncia juriacutedica engloba a assistecircncia judiciaacuteria sendo ainda mais ampla que esta por envolver tambeacutem serviccedilos juriacutedicos natildeo relacionados ao processo tais como orientaccedilotildees individuais ou coletivas o esclarecimento de duacutevidas e mesmo um programa de informaccedilatildeo a toda a comunidade (2009 p 40-43)

O Coacutedigo de Processo Civil ao usar o termo teacutecnico gratuidade da justiccedila

acertadamente corrigiu as distorccedilotildees terminoloacutegicas afastando qualquer possibilidade de

160

confusatildeo que se possa fazer com a assistecircncia judiciaacuteria gratuita e a assistecircncia juriacutedica

integral e gratuita

22 Beneficiaacuterios

De acordo com a legislaccedilatildeo processual em vigor podem ser beneficiaacuterios da justiccedila

gratuita a pessoa natural ou juriacutedica brasileira ou estrangeira

A redaccedilatildeo do Coacutedigo de Processo Civil encerrou uma discussatildeo histoacuterica pontuada

jurisprudencialmente pelo STJ e agora reconhecida legislativamente ao prever (art 98

caput) que a pessoa juriacutedica tem direito ao benefiacutecio da gratuidade da justiccedila

Para que a pessoa juriacutedica seja beneficiada com a gratuidade da justiccedila natildeo basta a

mera declaraccedilatildeo devendo demonstrar que efetivamente necessita do benefiacutecio

independentemente de ter ou natildeo finalidade lucrativa (MEDINA 2015 p 190)

Natildeo obstante a utilizaccedilatildeo do termo ldquopessoardquo entende-se que o benefiacutecio pode ser

gozado pelos entes despersonalizados como por exemplo o condomiacutenio a massa falida etc

(OLIVEIRA 2015 p 357-358)

Aleacutem disso o art 98 estende o benefiacutecio da justiccedila gratuita aos estrangeiros sejam

eles residentes ou natildeo no paiacutes diferentemente do que traz o caput do art 5ordm da CF88 que em

relaccedilatildeo agrave generalidade dos direitos fundamentais engloba apenas os estrangeiros residentes no

paiacutes (NERY JUNIOR NERY 2015 p 472)

23 Pressupostos

A letra do Coacutedigo de Processo Civil alterou o aspecto objetivo para a concessatildeo do

benefiacutecio passando a constar apenas a ldquoinsuficiecircncia de recursos financeirosrdquo para o

adiantamento das custas natildeo mais se exige a situaccedilatildeo de miserabilidade da parte requerente

como tambeacutem se aboliu o uso da expressatildeo ldquoa parte natildeo pode arcar com as custas sem

prejuiacutezo do sustento proacuteprio ou da famiacuteliardquo

Para que se conceda o benefiacutecio haacute uma presunccedilatildeo iuris tantum de veracidade da

declaraccedilatildeo feita pela parte pessoa natural mas soacute com relaccedilatildeo agrave pessoa natural a pessoa

juriacutedica deve comprovar a impossibilidade de adiantar as custas

Apesar desta mudanccedila de paradigma a lei natildeo dispocircs de forma suficientemente clara

o que significa ldquoinsuficiecircncia de recursosrdquo e quais seriam os seus paracircmetros miacutenimos

deixando mais uma vez ao encargo do inteacuterprete a funccedilatildeo de aquilatar se o requerente faz jus

ou natildeo agrave benesse o que certamente continuaraacute acarretando distorccedilotildees e inseguranccedila juriacutedica

161

O subjetivismo da expressatildeo seraacute mais bem aprofundado no toacutepico seguinte mesmo

porque a sua discussatildeo constituiu um dos pilares do presente artigo

24 Abrangecircncia

A Lei da Assistecircncia Judiciaacuteria previa em seu artigo 3ordm quais seriam as despesas

processuais compreendidas pelo benefiacutecio da justiccedila gratuita e nesse aspecto a norma era

satisfatoacuteria entatildeo o Coacutedigo de Processo Civil manteve o que tinha na Lei nordm 106050 e

avanccedilou como por exemplo no tocante agrave previsatildeo da remuneraccedilatildeo do inteacuterprete e do

tradutor bem como na realizaccedilatildeo de memoacuteria de caacutelculo pelo contador para fins de execuccedilatildeo

entre outros

O art 98 sect1ordm do Coacutedigo em vigecircncia tratou de exemplificativamente discriminar as

despesas processuais que podem ser compreendidas pela gratuidade da justiccedila algumas delas

jaacute previstas no art 3ordm da Lei nordm 106050 agora expressamente revogado

O beneficiaacuterio estaacute dispensado de adiantar o pagamento de taxas ou custas judiciaacuterias

(inciso I) O CPC foi redundante ao prever taxas e custas mormente porque tais despesas tem

o mesmo significado elas ldquodesignam o valor que se deve pagar ao Estado pela prestaccedilatildeo do

serviccedilo judiciaacuterio Tecircm natureza juriacutedica tributaacuteria constituindo-se numa taxa [] a

concessatildeo do beneficio natildeo constitui isenccedilatildeo tributaacuteria visto que natildeo dispensa o pagamento

em si mas sim o adiantamento da verbardquo (OLIVEIRA 2015 p 359)

As despesas com postagens de qualquer natureza e com publicaccedilatildeo na imprensa

oficial tambeacutem satildeo abrangidas pelo benefiacutecio da justiccedila gratuita (incisos II e III)

O benefiacutecio engloba tambeacutem as indenizaccedilotildees de testemunhas (inciso IV) tanto os

custos com a viagem para depor em juiacutezo quanto agraves relativas ao dia de trabalho ganho e natildeo

trabalhado que deve ser paga ao empregador (NERY JUNIOR NERY 2015 p 472)

As despesas com realizaccedilatildeo do exame de DNA (inciso V) tambeacutem satildeo albergadas

pelo benefiacutecio da gratuidade da justiccedila Aliaacutes o Coacutedigo de Processo Civil inovou em relaccedilatildeo agrave

Lei da Assistecircncia Judiciaacuteria Gratuita incluindo neste inciso outros exames periciais

considerados essenciais

Os honoraacuterios do advogado e do perito a remuneraccedilatildeo do inteacuterprete tradutor e

contador e todos os terceiros que de alguma forma contribuem para o Poder Judiciaacuterio

(inciso VI e VII) estatildeo cobertos pela benesse da gratuidade

Importante destacar que o afastamento da responsabilidade pelo adiantamento das

custas dos honoraacuterios advocatiacutecios natildeo se refere aos honoraacuterios de sucumbecircncia devidos pelo

162

beneficiaacuterio ao advogado da parte contraacuteria nos termos do sect2ordm do artigo 98 mas tatildeo somente

os honoraacuterios devidos ao seu proacuteprio advogado quando este eacute nomeado pelo juiz ou seja o

defensor dativo (OLIVEIRA 2015 p 361)

O art 95 sect3ordm do Coacutedigo Processual Civil normatiza a respeito do custeio da periacutecia

(inclusive honoraacuterios) na hipoacutetese de o responsaacutevel pelo pagamento de tal despesa ser

beneficiaacuterio da justiccedila gratuita Dispotildee o paraacutegrafo que nessa hipoacutetese a periacutecia seraacute

realizada preferencialmente por um servidor do Poder Judiciaacuterio ou por oacutergatildeo conveniado e

subsidiariamente por particular Em ambos os casos os honoraacuterios seratildeo custeados com

recursos do orccedilamento do ente puacuteblico respectivo ndash Uniatildeo e Estado ou Distrito Federal

Ainda possibilita a legislaccedilatildeo processual civil que a Fazenda Puacuteblica recobre o

valor despendido a tiacutetulo de honoraacuterios periciais daquele que for condenado ao pagamento de

tais verbas (art 95 sect4ordm CPC) no caso de ser a parte vencida beneficiaacuteria da gratuidade da

justiccedila o ente puacuteblico deve observar as regras pertinentes agrave sucumbecircncia e a exigibilidade sob

condiccedilatildeo suspensiva previstas nos paraacutegrafos sectsect2ordm e 3ordm do art 98 Mas em nenhuma hipoacutetese

transferir tal ocircnus a outra parte natildeo beneficiaacuteria

Tambeacutem estatildeo incluiacutedos no conceito de gratuidade da justiccedila os depoacutesitos devidos

para interposiccedilatildeo de recurso propositura de accedilatildeo e para a praacutetica de outros atos processuais

inerentes ao exerciacutecio da ampla defesa e do contraditoacuterio (inciso VIII) esse dispositivo acaba

por servir como uma claacuteusula geral incluindo todas aquelas despesas natildeo arroladas nos

incisos anteriores e que por estarem intrinsicamente relacionadas ao exerciacutecio do

contraditoacuterio e da ampla devem ser afastadas

Por fim e natildeo menos importante trouxe uma importante inovaccedilatildeo incluindo os

emolumentos dos registradores e notaacuterios relativos a atos de averbaccedilatildeo e registro decorrentes

de processo judicial em que houve a concessatildeo do benefiacutecio da gratuidade (inciso IX)

O Coacutedigo de Processo Civil estendeu para o acircmbito extrajudicial o benefiacutecio da

gratuidade da justiccedila concedido judicialmente garantindo-se assim a prestaccedilatildeo jurisdicional

em sua inteireza

Outrossim o sect 8ordm do artigo 98 preconiza que se o tabeliatildeo ou registrador no

momento da realizaccedilatildeo do ato cartorial tiver duacutevida fundada quanto ao preenchimento dos

pressupostos para a concessatildeo da justiccedila gratuita ndash ou seja insuficiecircncia de recursos ndash pode

requerer ao juiacutezo competente para decidir questotildees notariais ou registrais (competecircncia do

juiz corregedor dos cartoacuterios extrajudiciais) que revogue a gratuidade ou permita o

parcelamento dos valores devido (DELLORE 2015)

163

Esse paraacutegrafo deu ensejo a algumas criacuteticas para Luiz Dellore o questionamento

judicial acerca da capacidade financeira da parte para arcar com as despesas notariais e

registrais

[] natildeo parece ser uma atividade jurisdicional mas administrativa em analogia agrave lsquosuscitaccedilatildeo de duacutevidarsquo hoje existente Trata-se de uma esdruacutexula inovaccedilatildeo que traz ainda mais temas para decisatildeo do Poder Judiciaacuterio Assim aleacutem de todas as questotildees que o juiz deve decidir teraacute ainda de apreciar se uma parte de um processo jaacute findo ainda tem ou natildeo dificuldades financeiras para fins de pagamento de taxas de cartoacuterio (2015)

Ainda no que tange a abrangecircncia do benefiacutecio impende destacar que as multas

processuais de qualquer natureza ndash como por exemplo as multas por litigacircncia de maacute-feacute e por

ato atentatoacuterio a dignidade da justiccedila ndash natildeo estatildeo abarcadas pela gratuidade da justiccedila pois

elas satildeo puniccedilotildees a comportamentos iliacutecitos ldquoE natildeo poderia ser diferente a gratuidade da

justiccedila natildeo pode servir como escudo para a procrastinaccedilatildeo e a litigacircncia de maacute-feacute Daiacute a razatildeo

pela qual o beneficiaacuterio da justiccedila gratuita deve ser executado normalmente em relaccedilatildeo a

elesrdquo (NERY JUNIOR NERY 2015 p 474)

25 Modulaccedilatildeo do benefiacutecio

Outra importante novidade trazida pela Lei nordm 1310515 foi a possibilidade do juiz

modular os efeitos do benefiacutecio abrangendo apenas alguns dos custos do processo ou mesmo

parcelar as despesas processuais (art 98 sectsect5ordm e 6ordm CPC)

Tal medida eacute interessante ao passo que o postulante pode ter condiccedilotildees financeiras

de arcar apenas com algumas despesas processuais como por exemplo as custas e taxas

todavia natildeo dispor de recursos para pagar os honoraacuterios periciais por exemplo Ainda ao

longo do processo pode sobrevir mudanccedila na condiccedilatildeo financeira da parte e ela passar por

dificuldades para custear as despesas processuais nesse ponto o juiz poderaacute conceder-lhe os

benefiacutecios a partir de tal momento

A possibilidade de parcelamento das despesas processuais sugere que o legislador

quis dizer que a concessatildeo da gratuidade da justiccedila eacute a uacuteltima opccedilatildeo sendo possiacutevel agrave parte

arcar com as despesas de forma parcelada o juiz deve optar pelo seu seccionamento e natildeo a

sua dispensa (NERY JUNIOR NERY 2015 p 474)

26 Responsabilidade do beneficiaacuterio

A gratuidade da justiccedila como jaacute dito eacute um instrumento do acesso agrave justiccedila daqueles

que se declaram financeiramente desprovidos de condiccedilotildees de custear o processo Isso

164

significa que se o beneficiaacuterio for perdedor em uma demanda ele seraacute igualmente responsaacutevel

pelo pagamento do ocircnus inerente a sua derrota a diferenccedila reside no fato de poder exigir ou

natildeo a sua cobranccedila

Se o beneficiaacuterio for vencido ele teraacute responsabilidade pelas despesas processuais

ele deveraacute reembolsar os gastos realizados pela outra parte seraacute condenado agraves verbas

sucumbenciais ficando todavia sob condiccedilatildeo suspensiva de exigibilidade podendo ser

cobradas pelo credor no prazo de 5 (cinco) anos contados do tracircnsito em julgado da decisatildeo

que fixou a sucumbecircncia desde que demonstre a ocorrecircncia um fato superveniente que

alterou a condiccedilatildeo financeira do beneficiaacuterio (MEDINA 2015 p 188-189)

Repisa-se a gratuidade natildeo isenta o seu beneficiaacuterio do pagamento das despesas

processuais tatildeo somente as coloca sob condiccedilatildeo suspensiva de exigibilidade

27 Requerimento e impugnaccedilatildeo

O benefiacutecio da gratuidade natildeo pode ser concedido de ofiacutecio pelo juiz devendo a

parte interessada requerecirc-lo no primeiro momento em que ela ingressa no feito ndash peticcedilatildeo

inicial contestaccedilatildeo ou na peccedila de ingresso do terceiro interveniente ndash ou em um momento

posterior ndash por meio de peticcedilatildeo simples ou mesmo no bojo de outra manifestaccedilatildeo ndash inclusive

na m grau recursal (art 99 caput e sect1ordm do CPC)

Nesse aspecto natildeo haacute um momento processual preacute-estabelecido e uacutenico para o

requerimento da gratuidade da justiccedila todavia o tempo do pedido eacute importante para delimitar

quais satildeo as despesas processuais que se dispensa o adiantamento isto porque a concessatildeo do

benefiacutecio tem efeito prospectivo natildeo alcanccedilando os atos processuais jaacute praticados

(OLIVEIRA 2015 p 371-372)

O requerimento natildeo demanda maiores formalidades devendo a parte apenas declarar

a insuficiecircncia de recursos se pessoa natural no caso de pessoa juriacutedica deveraacute ainda

comprovar a necessidade do benefiacutecio

O juiz ao analisar o pedido de gratuidade formulado apenas o indeferiraacute se nos autos

existiram elementos que demonstrem que o postulante natildeo preenche o pressuposto da

insuficiecircncia de recursos Todavia antes de indeferi-lo deve oportunizar a parte que

comprove a alegada carecircncia financeira para custear o processo (art 99 sect2ordm CPC)

A oportunidade de ser ouvido antes do indeferimento do pedido de gratuidade da

justiccedila somente se aplica a pessoa natural uma vez que em seu favor haacute presunccedilatildeo de

veracidade da alegaccedilatildeo de hipossuficiecircncia natildeo necessitando juntar qual prova nesse sentido

165

no momento da realizaccedilatildeo do pedido diferentemente do que acontece com a pessoa juriacutedica

que ao postular o benefiacutecio jaacute deve comprovar a sua necessidade (OLIVEIRA 2015 p 373)

Importante destacar que o Coacutedigo de Processo Civil encerrando discussotildees

expressamente previu que a assistecircncia do requerente por advogado particular por si soacute natildeo

constitui oacutebice para a concessatildeo do benefiacutecio (art 99 sect4ordm)

Na hipoacutetese de natildeo concessatildeo do pedido o requerente poderaacute interpor agravo de

instrumento nos termos do art 101 caput do CPC salvo se a questatildeo for solvida na

sentenccedila hipoacutetese em que caberaacute apelaccedilatildeo De outro lado se concedido poderaacute a parte

contraacuteria impugnaacute-lo

A impugnaccedilatildeo agrave gratuidade da justiccedila sofreu importantes alteraccedilotildees com o Coacutedigo de

Processo Civil a primeira delas eacute que ela natildeo mais se processa em autos apartados devendo

ser formulada nos proacuteprios autos Sem maiores formalidades a impugnaccedilatildeo deve ser

oferecida pela parte no primeiro momento posterior agrave concessatildeo que lhe couber falar nos

autos ou seja se o benefiacutecio for deferido por ocasiatildeo da peticcedilatildeo inicial deve o reacuteu impugnaacute-

la jaacute na contestaccedilatildeo se concedido ao reacuteu por ocasiatildeo da contestaccedilatildeo deve o autor impugnaacute-la

na reacuteplica se deferido no momento da interposiccedilatildeo do recurso a impugnaccedilatildeo deve ser

oferecida nas contrarrazotildees recursais e se o pedido for superveniente deve a parte contraacuteria

impugnaacute-lo no prazo de 15 (quinze) dias contados de sua concessatildeo

Haacute todavia algumas questotildees que natildeo restaram suficientemente esclarecidas pelo

Coacutedigo de Processo Civil no que concerne a impugnaccedilatildeo agrave gratuidade da Justiccedila Entre elas

o autor Luiz Dellore (2015) aponta o termo inicial do prazo para a impugnaccedilatildeo defendendo o

autor que este deveria se dar a partir do momento que a parte contraacuteria tomasse conhecimento

da situaccedilatildeo de natildeo hipossuficiecircncia da parte sob pena de se limitar o instituto

Outro ponto diz respeito ao ocircnus da prova na impugnaccedilatildeo pois o legislador

manteve-se silente nesse aspecto

A doutrina se inclina a defender que o ocircnus de comprovar que o beneficiaacuterio natildeo faz

jus agrave gratuidade eacute do impugnante ante a existecircncia de presunccedilatildeo relativa da necessidade com

a mera alegaccedilatildeo de insuficiecircncia de recursos (NERY JUNIOR NERY 2015 p 479)

28 Revogaccedilatildeo do benefiacutecio

A revogaccedilatildeo do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila implica na obrigaccedilatildeo da parte ex-

beneficiaacuteria de recolher todas as despesas de deixou de adiantar inclusive as despesas que

foram eventualmente adiantadas pelo ente puacuteblico (periacutecia por exemplo) e as vindouras (art

166

100 paraacutegrafo uacutenico do CPC) isso no caso de a parte natildeo fazer jus ao benefiacutecio desde o

momento em que a requereu (OLIVEIRA 2015 p 377)

No entanto a revogaccedilatildeo pode se dar pelo fato de ter cessado a situaccedilatildeo de

hipossuficiecircncia econocircmica que ensejou o benefiacutecio hipoacutetese em que ela apenas teraacute que

arcar com as despesas processuais a partir do momento que passou a dispor da boa condiccedilatildeo

financeira

Ainda evidenciada a maacute-feacute do ex-beneficiaacuterio o Coacutedigo de Processo Civil prevecirc a

aplicaccedilatildeo de multa de ateacute o deacutecuplo das despesas que tiver deixado de adiantar ndash nesse caso

natildeo basta a mera revogaccedilatildeo do benefiacutecio

Decidiu-se antes da entrada em vigor do Coacutedigo que ldquodeve ser cabalmente

demonstrada a intenccedilatildeo da parte em induzir o Poder Judiciaacuterio a erro se aproveitando

indevidamente do benefiacuteciordquo (MEDINA 2015 p 191)

Em linhas gerais essas satildeo algumas das alteraccedilotildees consubstanciadas pelo Coacutedigo de

Processo Civil em relaccedilatildeo ao benefiacutecio da gratuidade da justiccedila malgrado a lei processual natildeo

tenha esgotado o tema esclareceu vaacuterios pontos que antes era debatido pela jurisprudecircncia

Aleacutem do mais importante pontuar que o legislador reformador repensou o processo

civil atento aos anseios da sociedade moderna e preocupado com a efetividade dos direitos

constitucionais ndash acesso agrave justiccedila por exemplo ndash prevendo expressamente no artigo 1ordm do

CPC que ldquoo processo civil seraacute ordenado disciplinado e interpretado conforme os valores e

normas fundamentais estabelecidas na Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasilrdquo

Ocorre entretanto que mesmo diante de significativas alteraccedilotildees o legislador ainda

natildeo preencheu ou objetivou o pressuposto de concessatildeo dos benefiacutecios anteriormente citados

sendo remanescente o subjetivismo da anaacutelise do termo ldquoinsuficiecircncia de recursosrdquo o que

passaraacute a ser refletido no presente artigo

3 O SUBJETIVISMO DO PRESSUPOSTO INSUFICIEcircNCIA DE RECURSOS

Conforme jaacute visto o Coacutedigo de Processo Civil alterou o requisito para a concessatildeo

do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila bastando a declaraccedilatildeo de insuficiecircncia de recursos pela

pessoa natural e a sua comprovaccedilatildeo no caso de pessoa juriacutedica

Todavia eacute inegaacutevel a carga de subjetividade que haacute no conceito de insuficiecircncia de

recursos e como todo conceito juriacutedico vago traz certa inseguranccedila juriacutedica notadamente

porque pode acarretar decisotildees extremamente diacutespares no cotidiano forense uma vez que tal

anaacutelise (o que eacute insuficiecircncia de recursos) fica a criteacuterio do entendimento de cada

167

magistrado aleacutem do que pode gerar inuacutemeros abusos por parte dos seus requerentes ndash ainda

mais quando a mera alegaccedilatildeo eacute bastante agrave concessatildeo do benefiacutecio ndash que diferentemente do

que alegam gozam de boa sauacutede financeira para arcar com as despesas processuais

(TARTUCE DELLORE 2015 p 314-315)

Mesmo antes da alteraccedilatildeo do CPC ainda na Lei nordm 106050 jaacute discutia a doutrina e

a jurisprudecircncia acerca dos pressupostos para a concessatildeo do benefiacutecio ante a vagueza dos

conceitos de hipossuficiente necessitado carente de recursos financeiros para arcar com as

custas do processo sem prejuiacutezo do sustento proacuteprio e de sua famiacutelia e a falta de um criteacuterio

objetivo miacutenimo para a concessatildeo do benefiacutecio5

Nada obstante o progresso vivenciado com o Coacutedigo de Processo Civil de 2015 no

que tange a gratuidade da justiccedila vecirc-se que no ponto concernente agrave triagem dos

hipossuficientes de recursos o legislador conservou um conceito juriacutedico indeterminado

Segundo Frederico do Valle Abreu (2005) o conceito juriacutedico indeterminado eacute

caracterizado pela ldquovaguidade semacircntica existente em certa norma com a finalidade de que

ela a norma permaneccedila ao ser aplicada sempre atual e correspondente aos anseios da

sociedade nos vaacuterios momentos histoacutericos em que a lei eacute interpretada e aplicadardquo

Assim o conteuacutedo abstrato do pressuposto insuficiecircncia de recursos tenha sido

propositadamente pensado pelo legislador por entender que o inteacuterprete na anaacutelise casuiacutestica

goza de melhores condiccedilotildees para valoraacute-lo refletindo pois uma decisatildeo mais justa

O autor Augusto Tavares Rosa Marcacini defende que a insuficiecircncia de recursos eacute

um conceito indeterminado e natildeo segue um padratildeo rigoroso por isso a melhor soluccedilatildeo eacute a

anaacutelise caso a caso

O conceito de necessitado natildeo eacute determinado mediante regras riacutegidas matemaacuteticas natildeo se utilizando limites numeacutericos determinados Tecircm direito ao benefiacutecio aqueles que natildeo podem arcar com os gastos necessaacuterios agrave participaccedilatildeo no processo na medida em que contabilizados os seus ganhos e os seus gastos com o proacuteprio sustento e da famiacutelia natildeo lhe reste numeraacuterio suficiente para tanto O direito ao benefiacutecio decorre da indisponibilidade financeira do sujeito Em face da notoacuteria insuficiecircncia do salaacuterio miacutenimo vigente em nosso paiacutes pode ser possiacutevel presumir que aquele que aufere ateacute cinco salaacuterios miacutenimos por exemplo eacute quase que certamente merecedor de usufruir dos benefiacutecios Mas como dissemos natildeo se deve utilizar nuacutemeros fechados como criteacuterio Um chefe de uma famiacutelia numerosa que pague aluguel e que tenha filhos em idade escolar por exemplo mesmo percebendo o equivalente a dez salaacuterios miacutenimos pode natildeo ter condiccedilotildees de arcar com as despesas de um processo De outro lado um jovem que viva com os pais os quais

5 Fernanda Tartuce e Luiz Dellore por exemplo no artigo escrito em coautoria Gratuidade da Justiccedila no novo CPC divergem sobre o assunto enquanto ela acredita ser acertada a opccedilatildeo do legislador em trazer um conceito dotado de subjetividade por outro lado ele discorda defendendo que ainda que a norma deixasse uma margem para a decisatildeo do juiz de acordo com a casuiacutestica deveria ao menos estabelecer um criteacuterio objetivo miacutenimo de modo a evitar disparidades nas decisotildees (2015 314-315)

168

provecircm o seu sustento moradia e estudo e que ganhe uns dois ou trecircs salaacuterios miacutenimos que natildeo satildeo empregados em qualquer despesa essencial para sua mantenccedila pode natildeo ser considerado beneficiaacuterio (2009 p 90-91)

Nesse espectro o aplicador da norma juriacutedica eacute quem tem o poder-dever de

materializar no caso concreto o conceito juriacutedico indeterminado do que eacute ser necessitado

economicamente para arcar com as despesas processuais dando assim maior efetividade ao

preceito constitucional do acesso agrave justiccedila

Atento agraves alteraccedilotildees do Coacutedigo de Processo Civil quanto ao tema leciona Rafael

Alexandria de Oliveira

Insuficiecircncia de recursos Faz jus ao benefiacutecio da gratuidade aquela pessoa com lsquoinsuficiecircncia de recursos para pagar as custas despesas processuais e honoraacuterios advocatiacuteciosrsquo Natildeo se exige a miserabilidade nem estado de necessidade nem tampouco se fala em renda familiar ou faturamento maacuteximos Eacute possiacutevel que uma pessoa natural mesmo com boa renda mensal seja merecedora do benefiacutecio e que tambeacutem o seja aquele sujeito que eacute proprietaacuterio de bens imoacuteveis mas natildeo dispotildee de liquidez A gratuidade judiciaacuteria eacute um dos mecanismos de viabilizaccedilatildeo do acesso agrave justiccedila natildeo se pode exigir que para ter acesso agrave justiccedila o sujeito tenha que comprometer significativamente a sua renda ou tenha que se desfazer de seus bens liquidando-os para angariar recursos e custear o processo A lei natildeo fala em nuacutemeros natildeo estabelece paracircmetros O sujeito que ganha boa renda mensal pode ser tatildeo merecedor do benefiacutecio quanto aquele que sobrevive agrave custa de programas de complementaccedilatildeo de renda O que pode diferenciaacute-los eacute a maior ou menor dificuldade com que o pedido de concessatildeo do benefiacutecio eacute tratado o de melhor renda pode ser chamado a justificar o seu requerimento provando a insuficiecircncia de recursos Por isso mesmo nem sempre o beneficiaacuterio seraacute algueacutem em situaccedilatildeo de necessidade de vulnerabilidade de miseacuteria de penuacuteria Eacute preciso atentar para isso (2015 p 359)

Eacute compreensiacutevel a carga de subjetividade impregnada ao termo insuficiecircncia de

recursos notadamente porque o legislador adotando a teoria do direito processual

constitucional (art 1ordm do CPC) quis que a normativa do benefiacutecio atendesse realmente agraves

exigecircncias da sociedade hodierna deixando ao encargo do juiz o dever juriacutedico de buscar

identificar e adotar a soluccedilatildeo apta a no caso concreto alcanccedilar satisfatoriamente a finalidade6

da norma ndash de que garantir a todos o acesso agrave justiccedila

Todavia eacute cediccedilo que a valoraccedilatildeo de um conceito subjetivo pelo magistrado (assim

como para qualquer pessoa) transcende a sua formaccedilatildeo juriacutedica e mesmo que inconsciente

revela suas convicccedilotildees pessoais (crenccedilas valores referecircncias sociais) deste modo o que no

sentir de um julgador eacute pessoa hipossuficiente aos olhos do outro natildeo o eacute eacute aiacute que repousam

as ldquoinjusticcedilasrdquo

6 Interpretaccedilatildeo teleoloacutegica

169

A falta de a lei definir um criteacuterio objetivo miacutenimo para se determinar o que eacute a

insuficiecircncia de recursos demandou trabalho da doutrina e especialmente da jurisprudecircncia

que mesmo timidamente adotou os mais diversos paracircmetros

Nesse sentido uma das primeiras orientaccedilotildees que surge na jurisprudecircncia eacute a

necessidade de prova cabal da insuficiecircncia de recursos para a concessatildeo do benefiacutecio da

gratuidade agraves pessoas juriacutedicas7 Depois de muita discussatildeo o entendimento sedimentado na

jurisprudecircncia8 foi consagrado pelo legislador no Coacutedigo de Processo Civil de 2015 em seu

artigo 98 caput

Tambeacutem se firmou o entendimento de que o requerente que se dedica a emprestar

dinheiro natildeo faz jus ao benefiacutecio uma vez que tal circunstacircncia eacute incompatiacutevel com a alegada

necessidade (NERY JUNIOR NERY 2015 p 475)

Os Tribunais tambeacutem jaacute fixaram como criteacuterio objetivo para se determinar se o

requerente eacute realmente hipossuficiente a renda mensal inferior a dez salaacuterios miacutenimos9

todavia o Superior Tribunal de Justiccedila jaacute refutou a utilizaccedilatildeo desse criteacuterio sob o fundamento

de que a desconstituiccedilatildeo da presunccedilatildeo estabelecida pela lei de gratuidade de justiccedila exige

perquirir in concreto a atual situaccedilatildeo financeira do requerenterdquo10

Outro paracircmetro que tem sido utilizado pelos juristas para aferir a condiccedilatildeo de

miserabilidade do requerente eacute a faixa de isenccedilatildeo do Imposto de Renda extraiacutedo da tabela

progressiva do tributo devidamente atualizada11

O criteacuterio do patrociacutenio da causa por advogado particular para afastar a benesse jaacute

era rechaccedilado pela jurisprudecircncia12 e foi recepcionado pelo atual Coacutedigo de Processo Civil em

seu artigo 99 sect4ordm 7 Assistecircncia judiciaacuteria Pessoa juriacutedica Demonstraccedilatildeo cabal da insuficiecircncia de recursos 1 Ademais de fundamentado exclusivamente na interpretaccedilatildeo do art 5ordm LXXIV da Constituiccedilatildeo Federal o certo eacute que a Corte jaacute assentou a necessidade de demonstraccedilatildeo cabal da insuficiecircncia de recursos para que a empresa possa desfrutar dos benefiacutecios da assistecircncia judiciaacuteria 2 Recurso especial natildeo conhecido (STJ - REsp 182557 RJ 19980053550-0 Relator Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO Data de Julgamento 02091999 T3 - TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJ 25101999 p 79) 8 Suacutemula 481 STJ Faz jus ao benefiacutecio da justiccedila gratuita a pessoa juriacutedica com ou sem fins lucrativos que demonstrar sua impossibilidade de arcar com os encargos processuais 9 ADMINISTRATIVO AGRAVO DE INSTRUMENTO ASSISTEcircNCIA JUDICIAacuteRIA GRATUITA - AJG PARAcircMETRO DEZ SALAacuteRIOS MIacuteNIMOS 1 A Segunda Seccedilatildeo desta Corte vem consolidando entendimento no sentido de fixar patamar objetivo para a concessatildeo do benefiacutecio da AJG qual seja dez salaacuterios miacutenimo 2 Hipoacutetese em que a agravante comprovou renda mensal bem inferior ao limite paradigmaacutetico destacado inexistindo qualquer razatildeo para o indeferimento do pleito em prestiacutegio agrave norma de regecircncia (Lei n 10601950) e ao princiacutepio da acessibilidade (artigo 5ordm XXXV Constituiccedilatildeo Federal) (TRF-4 - AG 50101513420134040000 5010151-3420134040000 Relator NICOLAU KONKEL JUacuteNIOR Data de Julgamento 14082013 TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DE 16082013) 10 STJ - AgRg no AREsp 626487 MG 20140315675-3 Relator Ministro RICARDO VILLAS BOcircAS CUEVA Data de Julgamento 28042015 T3 - TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJe 07052015 11 TJ-PR - AI 14520235 PR 1452023-5 (Decisatildeo Monocraacutetica) Relator Paulo Cezar Bellio Data de Julgamento 27102015 16ordf Cacircmara Ciacutevel Data de Publicaccedilatildeo DJ 1683 05112015

170

O Superior Tribunal de Justiccedila preconiza que o inteacuterprete deve conjugar o binocircmio

necessidade-possibilidade assim para se conceder o benefiacutecio da gratuidade da justiccedila deve-

se considerar natildeo apenas os rendimentos mensais do requerente mas tambeacutem o

comprometimento de suas despesas13

A anaacutelise da condiccedilatildeo financeira do postulante deve ficar restrita a sua situaccedilatildeo

presente e natildeo ao seu histoacuterico de riquezas o simples fato de o requerente jaacute ter sido rico

empresaacuterio ou pessoa de posses natildeo significa que natildeo possa ser hoje pessoa pobre na

acepccedilatildeo juriacutedica do termo e necessitar da assistecircncia judiciaacuteria Da mesma forma a reciacuteproca

eacute verdadeira o pobre que eacute beneficiaacuterio da gratuidade pode por fatores supervenientes

tornar-se pessoa abastada financeiramente o que certamente lhe cassaraacute o benefiacutecio (NERY

JUNIOR NERY 2015 p 477)

Destarte a adoccedilatildeo pelo juiz de um paracircmetro como ponto de partida para verificar o

preenchimento dos requisitos para a concessatildeo da justiccedila gratuita natildeo deve ser visto como

violador da norma Bem da verdade a gratuidade da justiccedila eacute uma das portas de acesso ao

Poder Judiciaacuterio entretanto natildeo pode ser utilizada pelo beneficiaacuterio tatildeo-somente para se

furtar das obrigaccedilotildees oriundas do processo

A Lei nordm 106050 exigia em sua redaccedilatildeo original que o requerente comprovasse o

estado de pobreza alegado hoje ndash a partir da nova redaccedilatildeo dada ao art 4ordm sect1ordm da referida lei

pela Lei Federal nordm 751086 ndash basta a simples afirmaccedilatildeo de necessidade do benefiacutecio o que

inclusive eacute referendado pela jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila14 Nesse sentir o

12 Assistecircncia judiciaacuteria Defensoria Puacuteblica Advogado particular Interpretaccedilatildeo da Lei nordm 106050 1 Natildeo eacute suficiente para afastar a assistecircncia judiciaacuteria a existecircncia de advogado contratado O que a lei especial de regecircncia exige eacute a presenccedila do estado de pobreza ou seja da necessidade da assistecircncia judiciaacuteria por impossibilidade de responder pelas custas que poderaacute ser enfrentada com prova que a desfaccedila Natildeo serve para medir isso a qualidade do defensor se puacuteblico ou particular 2 Recurso especial conhecido e provido (STJ - REsp 679198 PR 20040103656-9 Relator Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO Data de Julgamento 21112006 T3 - TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJ 16042007 p 184) 13 STJ - REsp 263781 SP 20000060786-0 Relator Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO Data de Julgamento 22052001 T3 - TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo lt-- DTPB 20010813ltbrgt --gt DJ 13082001 p 150ltbrgt JBCC vol 193 p 249 14PROCESSUAL CIVIL RECONHECIMENTO DE CONCUBINATO E PARTILHA DE BENS PEDIDO ALTERNATIVO DE INDENIZACcedilAtildeO POR SERVICcedilOS PRESTADOS INDEFERIMENTO DE PLANO DA INICIAL IMPOSSIBILIDADE CERCEAMENTO DE DEFESA ASSISTEcircNCIA JUDICIAacuteRIA E GRATUIDADE DA JUSTICcedilA ALEGACcedilAtildeO DA PARTE DESNECESSIDADE DE DEMONSTRACcedilAtildeO DE O ADVOGADO NAtildeO ESTAR SENDO REMUNERADO PRESUNCcedilAtildeO RECURSO PROVIDO Pelo sistema legal vigente faz jus a parte aos benefiacutecios da assistecircncia judiciaacuteria mediante simples afirmaccedilatildeo na proacutepria peticcedilatildeo de que natildeo estaacute em condiccedilotildees de pagar as custas do processo e os honoraacuterios de advogado sem prejuiacutezo proacuteprio ou de sua famiacutelia O deferimento da gratuidade garantia assegurada constitucionalmente aos economicamente hipossuficientes (Constituiccedilatildeo art 5ordm LXXIV) natildeo exige que a parte demonstre que o advogado natildeo estaacute sendo por ela remunerado Enquanto a Justiccedila gratuita isenta de despesas processuais e condenaccedilatildeo em honoraacuterios advocatiacutecios a assistecircncia judiciaacuteria mais ampla enseja tambeacutem o patrociacutenio por profissional habilitado Caracteriza cerceamento de defesa o indeferimento de plano da inicial de accedilatildeo que pretendeu o reconhecimento de concubinato e partilha de bens com pedido alternativo de indenizaccedilatildeo de

171

aplicador do direito exerce um fundamental papel para que o processo natildeo seja um fim em si

mesmo mas sim um instrumento para a materializaccedilatildeo de um direito

Nota-se que o indeterminismo do termo insuficiecircncia de recursos aliado a mera

alegaccedilatildeo da necessidade poderia transviar o sentido da norma devendo o magistrado ficar

atento para que os privilegiados de fortuna natildeo ingressem gratuitamente no feito

Assim havendo elementos no processo que infirmem a alegaccedilatildeo do postulante ndash que

goza de presunccedilatildeo iuris tantum ndash a hipossuficiecircncia deve ser comprovada

Duacutevida fundada quanto agrave pobreza O juiz da causa valendo-se de criteacuterios

objetivos pode entender que a natureza da accedilatildeo movida pelo interessado demonstra que ele possui porte econocircmico para suportar as despesas do processo A declaraccedilatildeo pura e simples do interessado conquanto seja o uacutenico entrave burocraacutetico que se exige para liberar o magistrado para decidir em favor do peticionaacuterio natildeo eacute prova inequiacutevoca daquilo que ele afirma nem obriga o juiz a se curvar aos seus dizeres se de outras provas e circunstacircncias ficar evidenciado que o conceito de pobreza que a parte invoca natildeo eacute aquele que justifica a concessatildeo do privileacutegio Cabe ao magistrado livremente fazer juiacutezo de valor acerca do termo pobreza deferindo ou natildeo o benefiacutecio (NERY JUNIOR NERY 2015 p 477)

Infelizmente a finalidade do benefiacutecio natildeo raras vezes eacute distorcida seja pela

abstraccedilatildeo do conceito ou mesmo pela lisura do ser humano e isso contribui para o aumento de

demandas desqualificadas respaldadas na ausecircncia de riscos no caso de improcedecircncia

Para Maacutercio Pirocircpo Galvatildeo (2010) os mecanismos de acesso agrave justiccedila fomentam

accedilotildees despretensiosas ndash e cita como exemplos as accedilotildees trabalhistas e aquelas do acircmbito dos

Juizados Especiais ndash exclusivamente pela ausecircncia de custo econocircmico defende inclusive

que o acesso ao Judiciaacuterio de forma gratuita virou uma ldquoloteria onde todos querem tentar a

sorterdquo

E continua o autor citando a decisatildeo do Juiz de Direito da 2ordf Vara Ciacutevel da Comarca

de Dourados Dr Joseacute Carlos de Souza que as demandas desnecessaacuterias ldquoabarrotam o Poder

Judiciaacuterio e dificultam o acesso agrave Justiccedila de jurisdicionados com pretensotildees mais nobres

Incentivam o aumento da inadimplecircncia e sedimentam a cultura do natildeo-cumprimento dos

contratos [] Configuram provocaccedilatildeo abusiva da maacutequina judiciaacuteria e maacute-feacute do devedorrdquo

(GALVAtildeO 2010)

Como visto a utilizaccedilatildeo abusiva da gratuidade da justiccedila pode representar o

congestionamento da maacutequina judicial comprometendo a razoaacutevel duraccedilatildeo do processo e ao

serviccedilos prestados sem possibilitar agrave parte a produccedilatildeo de qualquer prova notadamente em se tratando de alegado relacionamento de mais de trinta anos (Recurso Especial nordm 91609SP 4ordf Turma do STJ Rel Min Saacutelvio de Figueiredo Teixeira Recorrente A P M R Recorrida V G F B j 160498 un DJU 080698 p 113)

172

reveacutes de seu proposito servir como oacutebice ao efetivo acesso agrave justiccedila daqueles que tem

realmente tem urgecircncia na prestaccedilatildeo jurisdicional

Talvez uma boa alternativa para se evitar decisotildees diacutespares e a banalizaccedilatildeo do

benefiacutecio ante a carga de subjetividade do seu pressuposto fosse exigir uma comprovaccedilatildeo

miacutenima da insuficiecircncia de recursos Afinal quem realmente necessita do benefiacutecio natildeo teria

dificuldade alguma em demonstrar a sua impossibilidade financeira para arcar com as

despesas processuais

Eacute certo que a Lei nordm 106050 e agora o Coacutedigo de Processo Civil estabelecem ocircnus

ao litigante que de maacute-feacute requereu o benefiacutecio da gratuidade todavia a prova nesse sentido

deve ser contundente o que estimula de certa forma pedidos indiscriminados de gratuidade

uma vez que sopesando os riscos os ganhos prevalecem

Destarte o que se percebe eacute que nesse ponto o legislador civil natildeo conseguiu

encerrar as discussotildees deixando a soluccedilatildeo para a doutrina e a jurisprudecircncia agora basta

saber como as discussotildees seratildeo encaminhadas de modo que natildeo se instale ndash ou aumente ndash um

estado de desconfianccedila em torno do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila em decorrecircncia dos

abusos praticados mas que tambeacutem natildeo se deixe de cumprir a sua preciacutepua finalidade

constitucional de ser um instrumento de acesso ao Judiciaacuterio daqueles que natildeo desfrutam de

plenas condiccedilotildees financeiras

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O atual Coacutedigo de Processo Civil atuou muito positivamente no que pertine ao

instituto da Gratuidade da Justiccedila ele alvoreceu pontos que a Lei nordm 106050 era retroacutegrada e

mesmo silente bem como normatizou questotildees jaacute consolidadas pela jurisprudecircncia

Em contrapartida a legislaccedilatildeo processual civil natildeo se fez clara quanto ao pressuposto

para a concessatildeo do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila mormente porque se limitou a prever

que a simples afirmaccedilatildeo de insuficiecircncia de recursos para pagar as despesas processuais eacute

suficiente ao seu deferimento

Afinal o que insuficiecircncia de recursos Qual o criteacuterio objetivo para se definir quem

se enquadra ou natildeo nesse perfil Mais uma vez a lei que trata sobre a gratuidade da justiccedila

silenciou nesse pormenor reservando ao aplicador do direito a missatildeo de examinar

casuisticamente quem eacute merecedor ou natildeo da benesse partindo de uma interpretaccedilatildeo

alicerccedilada na finalidade da lei ndash promover o acesso agrave justiccedila

173

Assim duas questotildees surgem A primeira eacute se o legislador foi relapso ou se ele

propositadamente preferiu a um conceito indeterminado para a concessatildeo do benefiacutecio E a

segunda eacute se ele agiu bem

E ao que se conclui eacute que a preferecircncia por um termo dotado de subjetivismo tem

um propoacutesito qual seja permitir que a lei seja adaptaacutevel as mais diversas situaccedilotildees do

cotidiano forense de modo a tornar o acesso agrave justiccedila um direito fundamental mais efetivo

Conquanto agrave segunda questatildeo (se ele agiu bem) apenas a experiecircncia praacutetica poderaacute dizer

notadamente porque vai depender e muito da consciecircncia do postulante (e seu advogado) o

qual eacute o real sabedor de sua condiccedilatildeo financeira

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ABREU Frederico do Valle Conceito juriacutedico indeterminado interpretaccedilatildeo da lei

processo e suposto poder discricionaacuterio do magistrado Jus Navigandi Teresina ano 9 n

674 10 maio 2005 Disponiacutevel em lthttpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=6674gt

Acesso em 27032016

ANGHER Anne Joyce (Org) Vade mecum acadecircmico de direito Rideel 21ed

atual e ampl Satildeo Paulo Rideel 2015

BRASIL Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Recurso Especial nordm

19980053550-0 Relator Ministro Carlos Alberto Menezes Data de Julgamento 02091999

Data de Publicaccedilatildeo DJ 25101999 p 79

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Agravo Regimental no Recurso

Especial nordm 20140315675-3 Relator Ministro Ricardo Villas Bocircas Cueva Data de

Julgamento 28042015 Data de Publicaccedilatildeo DJe 07052015

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Recurso Especial nordm

20040103656-9 Relator Ministro Carlos Alberto Menezes Direito Data de Julgamento

21112006 Data de Publicaccedilatildeo DJ 16042007 p 184

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Recurso Especial

20000060786-0 Relator Ministro Carlos Alberto Menezes Direito Data de Julgamento

22052001 Data de Publicaccedilatildeo 13082001 p 150

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Quarta Turma Recurso Especial 91609SP

Relator Ministro Saacutelvio de Figueiredo Teixeira Data de Publicaccedilatildeo 08061998 p 113

174

_____ Tribunal Regional Federal (4ordf Regiatildeo) Terceira Turma Agravo nordm

50101513420134040000 5010151-3420134040000 Relator Nicolau Konkel Juacutenior Data

de Julgamento 14082013Data de Publicaccedilatildeo 16082013

_____ Tribunal de Justiccedila do Estado do Paranaacute 16ordf Cacircmara Ciacutevel Agravo de

Instrumento nordm 14520235 PR 1452023-5 (Decisatildeo Monocraacutetica) Relator Paulo Cezar Bellio

Data de Julgamento 27102015 Data de Publicaccedilatildeo 05112015

CAPPELLETTI Mauro GARTH Bryant Acesso agrave justiccedila Trad Ellen Gracie

Northfleet Porto Alegre Seacutergio Fabris Editor 2002

CARNEIRO Paulo Cezar Pinheiro Normas Fundamentais do Processo Civil Em

Breves Comentaacuterios ao Novo Coacutedigo de Processo Civil Tereza Arruda Alvim Wambier et

al[coord] Satildeo Paulo Editora RT 2015

DELLORE Luiz Novo CPC o lado A da justiccedila gratuita Disponiacutevel em http

httpjotauolcombrjustica-gratuita-novo-cpc-lado publicado em 09 de marccedilo de 2015

Acesso em 27032016

______ Novo CPC o lado B da justiccedila gratuita Disponiacutevel em

httpjotauolcombrnovo-cpc-o-lado-b-da-justica-gratuita publicado em 13 de abril de

2015 Acesso em 27032016

GALESKI JUNIOR Irineu RIBEIRO Marcia Carla Pereira Direito e economia

uma abordagem sobre a assistecircncia judiciaacuteria gratuita In Publica Direito (recurso eletrocircnico

on-line) Fortaleza CONPEDI 2010

GALVAtildeO Maacutercio Pirocircpo Abuso de direito agrave gratuidade da Justiccedila Revista Jus

Navigandi Teresina ano 17 n 3339 22 ago 2012 Disponiacutevel em

lthttpsjuscombrartigos22466gt Acesso em 27032016

MARCACINI Augusto Tavares Rosa Assistecircncia Juriacutedica Assistecircncia Judiciaacuteria e

Justiccedila Gratuita Satildeo Paulo Editora Forense 2009 (ediccedilatildeo eletrocircnica)

MEDINA Joseacute Miguel Garcia Novo Coacutedigo de Processo Civil Comentado Satildeo

Paulo Editora RT 2015

NERY JUNIOR Nelson e NERY Rosa Maria de Andrade Comentaacuterios ao Coacutedigo

de Processo Civil Satildeo Paulo Editora RT 2015

NETO Emeteacuterio Silva de Oliveira VIANA Juvecircncio Vasconcelos Acesso agrave justiccedila

e o novo Coacutedigo de Processo Civil um olhar criacutetico Em Acesso agrave justiccedila (recurso eletrocircnico

on-line) Florianoacutepolis CONPEDIUFSC 2015

175

OLIVEIRA Rafael Alexandria de Da Gratuidade da Justiccedila Em Breves

Comentaacuterios ao Novo Coacutedigo de Processo Civil Tereza Arruda Alvim Wambier et

al[coord] Satildeo Paulo Editora RT 2015

SANTOS Boaventura de Souza Pela matildeo de Alice o social e o poliacutetico

na poacutes-modernidade Satildeo Paulo Cortez 2003

TARTURE Flaacutevia DELLORE Luiz Gratuidade da justiccedila no novo CPC Em

Revista de Processo Satildeo Paulo v 39 n 236 p 305-323 out 2014

176

INTRODUCcedilAtildeO

O presente artigo tem o desiderato de fazer uma reflexatildeo acerca do instituto da

Gratuidade da Justiccedila e as alteraccedilotildees promovidas pela Lei nordm 131052015 no atual Coacutedigo de

Processo Civil partindo da premissa de que eacute um importante instrumento de efetivaccedilatildeo dos

direitos fundamentais notadamente o direito ao acesso agrave justiccedila

O regramento sobre a Gratuidade da Justiccedila sofreu mudanccedilas significativas no

Coacutedigo de Processo Civil corrigindo vaacuterias distorccedilotildees e lacunas da decreacutepita Lei nordm 106050

que tratava sobre o assunto e que haacute tempos estava sendo plasmada pela jurisprudecircncia

A correccedilatildeo terminoloacutegica (gratuidade da justiccedila) a expressa previsatildeo de que a

pessoa juriacutedica tambeacutem pode figurar como beneficiaacuteria a extensatildeo da benesse agraves custas e aos

emolumentos dos notaacuterios e registradores satildeo algumas das vaacuterias alteraccedilotildees a respeito do

instituto preconizadas no Coacutedigo de Processo Civil

De outro lado malgrado o Coacutedigo de Processo Civil tenha inovado um pouco a

nominaccedilatildeo do requisito para a concessatildeo do benefiacutecio passando a simplesmente exigir a

alegaccedilatildeo da insuficiecircncia de recursos manteve a sua natureza subjetiva natildeo revelando

qualquer criteacuterio objetivo para elucidaacute-lo

Sobre esse aspecto o presente trabalho engendra um debate para saber se o

legislador caminhou ou natildeo bem expondo os pontos positivos e negativos quanto ao

indeterminismo do pressuposto insuficiecircncia de recursos e refletindo a respeito de suas

consequecircncias no mundo juriacutedico ndash principalmente a reaccedilatildeo da jurisprudecircncia ndash e tambeacutem na

sociedade tendo como metodologia acolhida a bibliograacutefica

1 O ACESSO Agrave JUSTICcedilA OS DIREITOS FUNDAMENTAIS E A

GRATUIDADE DE JUSTICcedilA ndash PRELIMINAR E INDISSOCIAacuteVEL

COMPREENSAtildeO

O direito agrave gratuidade da justiccedila eacute um direito fundamental do jurisdicionado (e natildeo

um simples benefiacutecio) A Constituiccedilatildeo Federal em seu artigo 5ordm LXXIV prevecirc que ldquoo Estado

prestaraacute assistecircncia juriacutedica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiecircncia de

recursosrdquo Ele tem o desiderato de evitar que a insuficiecircncia de recursos financeiros

represente um obstaacuteculo insuperaacutevel ao acesso agrave justiccedila1

1 Art 5ordm XXXV CF A lei natildeo excluiraacute da apreciaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio lesatildeo ou ameaccedila a direito

157

A justiccedila deve estar ao alcance de todos2 ricos e pobres competindo ao Estado ndash na

sua atuaccedilatildeo positiva ndash como seu gestor3 garantir que a pessoa de parcos recursos financeiros

tenha condiccedilotildees de acionar o Poder Judiciaacuterio da mesma forma que o afortunado

Como afirma Boaventura de Souza Santos ldquoo tema do acesso agrave justiccedila eacute aquele que

mais diretamente equaciona as relaccedilotildees entre o processo civil e a justiccedila social entre

igualdade juriacutedico-formal e desigualdade socioeconocircmicardquo (2003 p167)

Para Cappelletti e Garth uma das finalidades do termo acesso agrave justiccedila eacute determinar

que o sistema juriacutedico fosse igualmente acessiacutevel a todos e reafirmam a importacircncia de sua

efetividade

De fato o direito ao acesso efetivo tem sido progressivamente reconhecido como sendo de importacircncia capital entre os novos individuais sociais uma vez que a titularidade de direitos eacute destituiacuteda de sentidos na ausecircncia de mecanismos para sua efetiva reivindicaccedilatildeo O acesso agrave Justiccedila pode portanto ser encarado como requisito fundamental ndash o mais baacutesico dos direitos humanos ndash de um sistema juriacutedico moderno e igualitaacuterio que pretenda garantir e natildeo apenas proclamar os direitos de todos (2002 p 4)

Os referidos autores identificam vaacuterios oacutebices ao acesso agrave justiccedila ndash entre elas as

desigualdades socioeconocircmicas ndash e sequencialmente propotildeem soluccedilotildees praacuteticas ao

problema emergindo como primeira a assistecircncia judiciaacuteria ao que eles denominaram de

ldquoprimeira ondardquo (CAPPELLETI GARTH 2002 p 6-12)

Nesse vieacutes a gratuidade da justiccedila ndash natildeo tecendo nesse primeiro momento qualquer

consideraccedilatildeo acerca das distinccedilotildees terminoloacutegicas ndash eclode com um importante mecanismo

viabilizador do acesso agrave justiccedila e tem a preciacutepua finalidade de dar efetividade a outros direitos

fundamentais constitucionalmente previstos como a igualdade (art 5 caput CF) a cidadania

(art 1ordm inciso II CF) e a proacutepria dignidade da pessoa humana (art 1ordm inciso III CF)

2 Eacute o que Emeteacuterio Silva e Juvecircncio Vasconcelos chamam de universalizaccedilatildeo ou horizontalizaccedilatildeo do acesso agrave justiccedila ensinando que ldquoHorizontalizar eacute fazer com que agrave todas as pessoas (pobres ou ricas) sejam assegurados os mesmos meios de acesso agrave justiccedila Eacute promover a isonomia ou seja a igualdade na e perante a lei pois esta lsquonatildeo deve ser fonte de privileacutegios ou perseguiccedilotildees mas instrumento regulador da vida social que necessita tratar equitativamente todos os cidadatildeosrsquo (BANDEIRA DE MELLO 2013 p 10) Com efeito o acesso agrave justiccedila nos termos do artigo 60 sect 4ordm inciso IV da Carta de 88 eacute claacuteusula peacutetrea e por estaacute alccedilado agrave categoria hieraacuterquica superior natildeo pode sofrer menoscabos o que exclui possiacuteveis discriminaccedilotildees arbitraacuterias entre as pessoas quando da execuccedilatildeo desta garantia fundamental Assim considerando a forccedila normativa da constituiccedilatildeo23 portanto das normas de direitos e garantias nela previstas a universalizaccedilatildeo do acesso agrave justiccedila aliada a efetividade da tutela jurisdicional ou dos meios assecuratoacuterios de direitos fomentadores da justiccedila social avultam imprescindiacuteveis (NETO Emeteacuterio Silva de Oliveira VIANA Juvecircncio Vasconcelos Acesso agrave justiccedila e o novo Coacutedigo de Processo Civil um olhar criacutetico In Acesso agrave justiccedila (recurso eletrocircnico on-line) Florianoacutepolis CONPEDIUFSC 2015 p 186 3 A jurisdiccedilatildeo eacute monopoacutelio do Estado proibindo a lei que as pessoas faccedilam justiccedila com as proacuteprias matildeos salvo raras exceccedilotildees como por exemplo as hipoacuteteses de autotutela ndash arts 1210 e 1219 do Coacutedigo Civil

158

Agrave medida que se busca a efetividade dos direitos fundamentais o direito processual

passa a ter um importante papel nessa missatildeo4 pois eacute ele quem indica qual eacute o (melhor)

caminho para se alcanccedilar o direito material sob essa perspectiva vecirc-se a necessidade de

atualizaccedilatildeo da lei processual a fim de se adequar as exigecircncias da sociedade moderna

A uacutenica lei que regulamentava o benefiacutecio da justiccedila gratuita data de 1950 eacute uma lei

natildeo soacute defasada do ponto de vista material e processual como tambeacutem dotada de

imperfeiccedilotildees teacutecnicas e entraves agrave concessatildeo do benefiacutecio Era preciso simplificar e

desmistificar para entatildeo avanccedilar ndash pelo menos um degrau ndash na universalizaccedilatildeo do acesso agrave

justiccedila e a Lei nordm 131052015 que alterou o Coacutedigo de Processo Civil (CPC) o fez

O autor Luiz Dellore (2015) ao tecer elogios ao legislador diz que ldquoas inovaccedilotildees do

CPC simplificam o procedimento buscam evitar abuso dos requentes da gratuidade e

especialmente pretendem obstar debates laterais e incidentes para que se possa focar na

discussatildeo do meacuteritordquo

2 O COacuteDIGO DE PROCESSO CIVIL EM VIGOR E AS INOVACcedilOtildeES

RELATIVAS Agrave GRATUIDADE DE JUSTICcedilA

A atualmente (e corretamente) nominada gratuidade da justiccedila foi profundamente

reformulada pelo Coacutedigo de Processo Civil As mudanccedilas satildeo muito significativas o Coacutedigo

consolidou o assunto em seis dispositivos do artigo 98 ao artigo 102 aleacutem do que revogou

expressamente vaacuterios artigos da Lei nordm 106050 (arts 2ordm 3ordm 4ordm 6ordm 7ordm 11 12 e 17)

Considerando isso o artigo pontuaraacute as alteraccedilotildees legitimadas

21Terminologia

O Coacutedigo corrigiu os equiacutevocos praticados quanto agrave terminologia que redundavam

em incompreensotildees acerca do tema Natildeo se pode confundir assistecircncia judiciaacuteria gratuita

gratuidade da justiccedila (justiccedila gratuita) e assistecircncia juriacutedica integral e gratuita

A assistecircncia judiciaacuteria gratuita consiste no patrociacutenio gratuito da causa seja por

advogado do Estado entidades conveniadas com o Estado escritoacuterios de praacutetica juriacutedica das

faculdades de Direito ou mesmo advogados particulares nomeados como dativos Jaacute a

gratuidade da justiccedila traduz-se na isenccedilatildeo para o adiantamento das custas do processo Por

4 O processo natildeo deveria ser colocado no vaacutecuo Os juiacutezes precisam agora reconhecer que as teacutecnicas processuais servem a questotildees sociais [] o lsquoacessorsquo natildeo eacute apenas um direito social fundamental crescentemente reconhecido ele eacute tambeacutem necessariamente o ponto central da moderna processualiacutestica CAPPELLETTI Mauro GARTH Bryant Acesso agrave justiccedila Trad Ellen Gracie Northfleet Porto Alegre Seacutergio Fabris Editor 2002 p 5

159

sua vez a assistecircncia juriacutedica integral e gratuita engloba aleacutem da representaccedilatildeo do

hipossuficiente em juiacutezo a orientaccedilatildeo juriacutedica dele em questotildees extrajudiciais (TARTUCE

DELLORE 2014 p 308 e 309)

Preconiza Rafael Alexandria de Oliveira

Eacute comum a confusatildeo quanto aos conceitos de benefiacutecio da justiccedila gratuita (ou da gratuidade da justiccedila ou ainda da gratuidade judiciaacuteria) de assistecircncia judiciaacuteria e de assistecircncia juriacutedica Todos eles decorrem do direito fundamental agrave assistecircncia juriacutedica integral e gratuita de que trata o art 5ordm LXXIV da CF1988 mas natildeo se confundem Pontes de Miranda (a) benefiacutecio da justiccedila gratuita eacute como jaacute dito a dispensa do adiantamento de despesas processuais para o qual se exige a tramitaccedilatildeo de um processo judicial o requerimento da parte interessada e o deferimento do juiacutezo perante o qual o processo tramita (b) assistecircncia judiciaacuteria consiste no direito de a parte ser assistida gratuitamente por um profissional do Direito normalmente membro da Defensoria Puacuteblica da Uniatildeo do Estados ou do Distrito Federal e que natildeo depende do deferimento do juiacutezo nem mesmo da existecircncia de um processo judicial (c) assistecircncia juriacutedica eacute um conceito mais amplo que abrange o benefiacutecio da justiccedila gratuita e a assistecircncia judiciaacuteria mas vai aleacutem deles englobando todas as iniciativas do Estado (em sentido amplo) que tecircm por objetivo promover uma aproximaccedilatildeo entre a sociedade e os serviccedilos juriacutedicos ndash como por exemplo as campanhas de conscientizaccedilatildeo de direitos do consumidor promovidas por oacutergatildeos administrativos e os serviccedilos juriacutedicos itinerantes prestados agrave populaccedilatildeo carente (2015 p 355)

Semelhantemente Augusto Tavares Rosa Marcacini desenvolve um conceito

distinguindo os institutos da assistecircncia judiciaacuteria justiccedila gratuita e a assistecircncia juriacutedica

integral e gratuita

A Constituiccedilatildeo Federal de 1988 em seu artigo 5ordm inciso LXXIV inclui entre os direitos e garantias individuais a assistecircncia juriacutedica integral e gratuita Utiliza a Lei Maior um terceiro conceito que tambeacutem natildeo deve ser confundido como sinocircnimo de assistecircncia judiciaacuteria ou justiccedila gratuita Por justiccedila gratuita deve ser entendida a gratuidade de todas as causas e despesas judiciais ou natildeo relativas a atos necessaacuterios ao desenvolvimento do processo e agrave defesa dos direitos do beneficiaacuterio em juiacutezo O benefiacutecio da justiccedila gratuita compreende a isenccedilatildeo de toda e qualquer despesa necessaacuteria ao pleno exerciacutecio dos direitos e das faculdades processuais sejam tais despesas judiciais ou natildeo Abrange assim natildeo somente as custas relativas aos atos processuais a serem praticados como tambeacutem todas as despesas decorrentes de efetiva participaccedilatildeo na relaccedilatildeo processual A assistecircncia judiciaacuteria envolve o patrociacutenio gratuito da causa por advogado A assistecircncia judiciaacuteria eacute pois um serviccedilo puacuteblico organizado consistente na defesa em juiacutezo do assistido que deve ser oferecido pelo Estado mas que pode ser desempenhado por entidades natildeo-estatais conveniadas ou natildeo com o Poder Puacuteblico [] Por sua vez a assistecircncia juriacutedica engloba a assistecircncia judiciaacuteria sendo ainda mais ampla que esta por envolver tambeacutem serviccedilos juriacutedicos natildeo relacionados ao processo tais como orientaccedilotildees individuais ou coletivas o esclarecimento de duacutevidas e mesmo um programa de informaccedilatildeo a toda a comunidade (2009 p 40-43)

O Coacutedigo de Processo Civil ao usar o termo teacutecnico gratuidade da justiccedila

acertadamente corrigiu as distorccedilotildees terminoloacutegicas afastando qualquer possibilidade de

160

confusatildeo que se possa fazer com a assistecircncia judiciaacuteria gratuita e a assistecircncia juriacutedica

integral e gratuita

22 Beneficiaacuterios

De acordo com a legislaccedilatildeo processual em vigor podem ser beneficiaacuterios da justiccedila

gratuita a pessoa natural ou juriacutedica brasileira ou estrangeira

A redaccedilatildeo do Coacutedigo de Processo Civil encerrou uma discussatildeo histoacuterica pontuada

jurisprudencialmente pelo STJ e agora reconhecida legislativamente ao prever (art 98

caput) que a pessoa juriacutedica tem direito ao benefiacutecio da gratuidade da justiccedila

Para que a pessoa juriacutedica seja beneficiada com a gratuidade da justiccedila natildeo basta a

mera declaraccedilatildeo devendo demonstrar que efetivamente necessita do benefiacutecio

independentemente de ter ou natildeo finalidade lucrativa (MEDINA 2015 p 190)

Natildeo obstante a utilizaccedilatildeo do termo ldquopessoardquo entende-se que o benefiacutecio pode ser

gozado pelos entes despersonalizados como por exemplo o condomiacutenio a massa falida etc

(OLIVEIRA 2015 p 357-358)

Aleacutem disso o art 98 estende o benefiacutecio da justiccedila gratuita aos estrangeiros sejam

eles residentes ou natildeo no paiacutes diferentemente do que traz o caput do art 5ordm da CF88 que em

relaccedilatildeo agrave generalidade dos direitos fundamentais engloba apenas os estrangeiros residentes no

paiacutes (NERY JUNIOR NERY 2015 p 472)

23 Pressupostos

A letra do Coacutedigo de Processo Civil alterou o aspecto objetivo para a concessatildeo do

benefiacutecio passando a constar apenas a ldquoinsuficiecircncia de recursos financeirosrdquo para o

adiantamento das custas natildeo mais se exige a situaccedilatildeo de miserabilidade da parte requerente

como tambeacutem se aboliu o uso da expressatildeo ldquoa parte natildeo pode arcar com as custas sem

prejuiacutezo do sustento proacuteprio ou da famiacuteliardquo

Para que se conceda o benefiacutecio haacute uma presunccedilatildeo iuris tantum de veracidade da

declaraccedilatildeo feita pela parte pessoa natural mas soacute com relaccedilatildeo agrave pessoa natural a pessoa

juriacutedica deve comprovar a impossibilidade de adiantar as custas

Apesar desta mudanccedila de paradigma a lei natildeo dispocircs de forma suficientemente clara

o que significa ldquoinsuficiecircncia de recursosrdquo e quais seriam os seus paracircmetros miacutenimos

deixando mais uma vez ao encargo do inteacuterprete a funccedilatildeo de aquilatar se o requerente faz jus

ou natildeo agrave benesse o que certamente continuaraacute acarretando distorccedilotildees e inseguranccedila juriacutedica

161

O subjetivismo da expressatildeo seraacute mais bem aprofundado no toacutepico seguinte mesmo

porque a sua discussatildeo constituiu um dos pilares do presente artigo

24 Abrangecircncia

A Lei da Assistecircncia Judiciaacuteria previa em seu artigo 3ordm quais seriam as despesas

processuais compreendidas pelo benefiacutecio da justiccedila gratuita e nesse aspecto a norma era

satisfatoacuteria entatildeo o Coacutedigo de Processo Civil manteve o que tinha na Lei nordm 106050 e

avanccedilou como por exemplo no tocante agrave previsatildeo da remuneraccedilatildeo do inteacuterprete e do

tradutor bem como na realizaccedilatildeo de memoacuteria de caacutelculo pelo contador para fins de execuccedilatildeo

entre outros

O art 98 sect1ordm do Coacutedigo em vigecircncia tratou de exemplificativamente discriminar as

despesas processuais que podem ser compreendidas pela gratuidade da justiccedila algumas delas

jaacute previstas no art 3ordm da Lei nordm 106050 agora expressamente revogado

O beneficiaacuterio estaacute dispensado de adiantar o pagamento de taxas ou custas judiciaacuterias

(inciso I) O CPC foi redundante ao prever taxas e custas mormente porque tais despesas tem

o mesmo significado elas ldquodesignam o valor que se deve pagar ao Estado pela prestaccedilatildeo do

serviccedilo judiciaacuterio Tecircm natureza juriacutedica tributaacuteria constituindo-se numa taxa [] a

concessatildeo do beneficio natildeo constitui isenccedilatildeo tributaacuteria visto que natildeo dispensa o pagamento

em si mas sim o adiantamento da verbardquo (OLIVEIRA 2015 p 359)

As despesas com postagens de qualquer natureza e com publicaccedilatildeo na imprensa

oficial tambeacutem satildeo abrangidas pelo benefiacutecio da justiccedila gratuita (incisos II e III)

O benefiacutecio engloba tambeacutem as indenizaccedilotildees de testemunhas (inciso IV) tanto os

custos com a viagem para depor em juiacutezo quanto agraves relativas ao dia de trabalho ganho e natildeo

trabalhado que deve ser paga ao empregador (NERY JUNIOR NERY 2015 p 472)

As despesas com realizaccedilatildeo do exame de DNA (inciso V) tambeacutem satildeo albergadas

pelo benefiacutecio da gratuidade da justiccedila Aliaacutes o Coacutedigo de Processo Civil inovou em relaccedilatildeo agrave

Lei da Assistecircncia Judiciaacuteria Gratuita incluindo neste inciso outros exames periciais

considerados essenciais

Os honoraacuterios do advogado e do perito a remuneraccedilatildeo do inteacuterprete tradutor e

contador e todos os terceiros que de alguma forma contribuem para o Poder Judiciaacuterio

(inciso VI e VII) estatildeo cobertos pela benesse da gratuidade

Importante destacar que o afastamento da responsabilidade pelo adiantamento das

custas dos honoraacuterios advocatiacutecios natildeo se refere aos honoraacuterios de sucumbecircncia devidos pelo

162

beneficiaacuterio ao advogado da parte contraacuteria nos termos do sect2ordm do artigo 98 mas tatildeo somente

os honoraacuterios devidos ao seu proacuteprio advogado quando este eacute nomeado pelo juiz ou seja o

defensor dativo (OLIVEIRA 2015 p 361)

O art 95 sect3ordm do Coacutedigo Processual Civil normatiza a respeito do custeio da periacutecia

(inclusive honoraacuterios) na hipoacutetese de o responsaacutevel pelo pagamento de tal despesa ser

beneficiaacuterio da justiccedila gratuita Dispotildee o paraacutegrafo que nessa hipoacutetese a periacutecia seraacute

realizada preferencialmente por um servidor do Poder Judiciaacuterio ou por oacutergatildeo conveniado e

subsidiariamente por particular Em ambos os casos os honoraacuterios seratildeo custeados com

recursos do orccedilamento do ente puacuteblico respectivo ndash Uniatildeo e Estado ou Distrito Federal

Ainda possibilita a legislaccedilatildeo processual civil que a Fazenda Puacuteblica recobre o

valor despendido a tiacutetulo de honoraacuterios periciais daquele que for condenado ao pagamento de

tais verbas (art 95 sect4ordm CPC) no caso de ser a parte vencida beneficiaacuteria da gratuidade da

justiccedila o ente puacuteblico deve observar as regras pertinentes agrave sucumbecircncia e a exigibilidade sob

condiccedilatildeo suspensiva previstas nos paraacutegrafos sectsect2ordm e 3ordm do art 98 Mas em nenhuma hipoacutetese

transferir tal ocircnus a outra parte natildeo beneficiaacuteria

Tambeacutem estatildeo incluiacutedos no conceito de gratuidade da justiccedila os depoacutesitos devidos

para interposiccedilatildeo de recurso propositura de accedilatildeo e para a praacutetica de outros atos processuais

inerentes ao exerciacutecio da ampla defesa e do contraditoacuterio (inciso VIII) esse dispositivo acaba

por servir como uma claacuteusula geral incluindo todas aquelas despesas natildeo arroladas nos

incisos anteriores e que por estarem intrinsicamente relacionadas ao exerciacutecio do

contraditoacuterio e da ampla devem ser afastadas

Por fim e natildeo menos importante trouxe uma importante inovaccedilatildeo incluindo os

emolumentos dos registradores e notaacuterios relativos a atos de averbaccedilatildeo e registro decorrentes

de processo judicial em que houve a concessatildeo do benefiacutecio da gratuidade (inciso IX)

O Coacutedigo de Processo Civil estendeu para o acircmbito extrajudicial o benefiacutecio da

gratuidade da justiccedila concedido judicialmente garantindo-se assim a prestaccedilatildeo jurisdicional

em sua inteireza

Outrossim o sect 8ordm do artigo 98 preconiza que se o tabeliatildeo ou registrador no

momento da realizaccedilatildeo do ato cartorial tiver duacutevida fundada quanto ao preenchimento dos

pressupostos para a concessatildeo da justiccedila gratuita ndash ou seja insuficiecircncia de recursos ndash pode

requerer ao juiacutezo competente para decidir questotildees notariais ou registrais (competecircncia do

juiz corregedor dos cartoacuterios extrajudiciais) que revogue a gratuidade ou permita o

parcelamento dos valores devido (DELLORE 2015)

163

Esse paraacutegrafo deu ensejo a algumas criacuteticas para Luiz Dellore o questionamento

judicial acerca da capacidade financeira da parte para arcar com as despesas notariais e

registrais

[] natildeo parece ser uma atividade jurisdicional mas administrativa em analogia agrave lsquosuscitaccedilatildeo de duacutevidarsquo hoje existente Trata-se de uma esdruacutexula inovaccedilatildeo que traz ainda mais temas para decisatildeo do Poder Judiciaacuterio Assim aleacutem de todas as questotildees que o juiz deve decidir teraacute ainda de apreciar se uma parte de um processo jaacute findo ainda tem ou natildeo dificuldades financeiras para fins de pagamento de taxas de cartoacuterio (2015)

Ainda no que tange a abrangecircncia do benefiacutecio impende destacar que as multas

processuais de qualquer natureza ndash como por exemplo as multas por litigacircncia de maacute-feacute e por

ato atentatoacuterio a dignidade da justiccedila ndash natildeo estatildeo abarcadas pela gratuidade da justiccedila pois

elas satildeo puniccedilotildees a comportamentos iliacutecitos ldquoE natildeo poderia ser diferente a gratuidade da

justiccedila natildeo pode servir como escudo para a procrastinaccedilatildeo e a litigacircncia de maacute-feacute Daiacute a razatildeo

pela qual o beneficiaacuterio da justiccedila gratuita deve ser executado normalmente em relaccedilatildeo a

elesrdquo (NERY JUNIOR NERY 2015 p 474)

25 Modulaccedilatildeo do benefiacutecio

Outra importante novidade trazida pela Lei nordm 1310515 foi a possibilidade do juiz

modular os efeitos do benefiacutecio abrangendo apenas alguns dos custos do processo ou mesmo

parcelar as despesas processuais (art 98 sectsect5ordm e 6ordm CPC)

Tal medida eacute interessante ao passo que o postulante pode ter condiccedilotildees financeiras

de arcar apenas com algumas despesas processuais como por exemplo as custas e taxas

todavia natildeo dispor de recursos para pagar os honoraacuterios periciais por exemplo Ainda ao

longo do processo pode sobrevir mudanccedila na condiccedilatildeo financeira da parte e ela passar por

dificuldades para custear as despesas processuais nesse ponto o juiz poderaacute conceder-lhe os

benefiacutecios a partir de tal momento

A possibilidade de parcelamento das despesas processuais sugere que o legislador

quis dizer que a concessatildeo da gratuidade da justiccedila eacute a uacuteltima opccedilatildeo sendo possiacutevel agrave parte

arcar com as despesas de forma parcelada o juiz deve optar pelo seu seccionamento e natildeo a

sua dispensa (NERY JUNIOR NERY 2015 p 474)

26 Responsabilidade do beneficiaacuterio

A gratuidade da justiccedila como jaacute dito eacute um instrumento do acesso agrave justiccedila daqueles

que se declaram financeiramente desprovidos de condiccedilotildees de custear o processo Isso

164

significa que se o beneficiaacuterio for perdedor em uma demanda ele seraacute igualmente responsaacutevel

pelo pagamento do ocircnus inerente a sua derrota a diferenccedila reside no fato de poder exigir ou

natildeo a sua cobranccedila

Se o beneficiaacuterio for vencido ele teraacute responsabilidade pelas despesas processuais

ele deveraacute reembolsar os gastos realizados pela outra parte seraacute condenado agraves verbas

sucumbenciais ficando todavia sob condiccedilatildeo suspensiva de exigibilidade podendo ser

cobradas pelo credor no prazo de 5 (cinco) anos contados do tracircnsito em julgado da decisatildeo

que fixou a sucumbecircncia desde que demonstre a ocorrecircncia um fato superveniente que

alterou a condiccedilatildeo financeira do beneficiaacuterio (MEDINA 2015 p 188-189)

Repisa-se a gratuidade natildeo isenta o seu beneficiaacuterio do pagamento das despesas

processuais tatildeo somente as coloca sob condiccedilatildeo suspensiva de exigibilidade

27 Requerimento e impugnaccedilatildeo

O benefiacutecio da gratuidade natildeo pode ser concedido de ofiacutecio pelo juiz devendo a

parte interessada requerecirc-lo no primeiro momento em que ela ingressa no feito ndash peticcedilatildeo

inicial contestaccedilatildeo ou na peccedila de ingresso do terceiro interveniente ndash ou em um momento

posterior ndash por meio de peticcedilatildeo simples ou mesmo no bojo de outra manifestaccedilatildeo ndash inclusive

na m grau recursal (art 99 caput e sect1ordm do CPC)

Nesse aspecto natildeo haacute um momento processual preacute-estabelecido e uacutenico para o

requerimento da gratuidade da justiccedila todavia o tempo do pedido eacute importante para delimitar

quais satildeo as despesas processuais que se dispensa o adiantamento isto porque a concessatildeo do

benefiacutecio tem efeito prospectivo natildeo alcanccedilando os atos processuais jaacute praticados

(OLIVEIRA 2015 p 371-372)

O requerimento natildeo demanda maiores formalidades devendo a parte apenas declarar

a insuficiecircncia de recursos se pessoa natural no caso de pessoa juriacutedica deveraacute ainda

comprovar a necessidade do benefiacutecio

O juiz ao analisar o pedido de gratuidade formulado apenas o indeferiraacute se nos autos

existiram elementos que demonstrem que o postulante natildeo preenche o pressuposto da

insuficiecircncia de recursos Todavia antes de indeferi-lo deve oportunizar a parte que

comprove a alegada carecircncia financeira para custear o processo (art 99 sect2ordm CPC)

A oportunidade de ser ouvido antes do indeferimento do pedido de gratuidade da

justiccedila somente se aplica a pessoa natural uma vez que em seu favor haacute presunccedilatildeo de

veracidade da alegaccedilatildeo de hipossuficiecircncia natildeo necessitando juntar qual prova nesse sentido

165

no momento da realizaccedilatildeo do pedido diferentemente do que acontece com a pessoa juriacutedica

que ao postular o benefiacutecio jaacute deve comprovar a sua necessidade (OLIVEIRA 2015 p 373)

Importante destacar que o Coacutedigo de Processo Civil encerrando discussotildees

expressamente previu que a assistecircncia do requerente por advogado particular por si soacute natildeo

constitui oacutebice para a concessatildeo do benefiacutecio (art 99 sect4ordm)

Na hipoacutetese de natildeo concessatildeo do pedido o requerente poderaacute interpor agravo de

instrumento nos termos do art 101 caput do CPC salvo se a questatildeo for solvida na

sentenccedila hipoacutetese em que caberaacute apelaccedilatildeo De outro lado se concedido poderaacute a parte

contraacuteria impugnaacute-lo

A impugnaccedilatildeo agrave gratuidade da justiccedila sofreu importantes alteraccedilotildees com o Coacutedigo de

Processo Civil a primeira delas eacute que ela natildeo mais se processa em autos apartados devendo

ser formulada nos proacuteprios autos Sem maiores formalidades a impugnaccedilatildeo deve ser

oferecida pela parte no primeiro momento posterior agrave concessatildeo que lhe couber falar nos

autos ou seja se o benefiacutecio for deferido por ocasiatildeo da peticcedilatildeo inicial deve o reacuteu impugnaacute-

la jaacute na contestaccedilatildeo se concedido ao reacuteu por ocasiatildeo da contestaccedilatildeo deve o autor impugnaacute-la

na reacuteplica se deferido no momento da interposiccedilatildeo do recurso a impugnaccedilatildeo deve ser

oferecida nas contrarrazotildees recursais e se o pedido for superveniente deve a parte contraacuteria

impugnaacute-lo no prazo de 15 (quinze) dias contados de sua concessatildeo

Haacute todavia algumas questotildees que natildeo restaram suficientemente esclarecidas pelo

Coacutedigo de Processo Civil no que concerne a impugnaccedilatildeo agrave gratuidade da Justiccedila Entre elas

o autor Luiz Dellore (2015) aponta o termo inicial do prazo para a impugnaccedilatildeo defendendo o

autor que este deveria se dar a partir do momento que a parte contraacuteria tomasse conhecimento

da situaccedilatildeo de natildeo hipossuficiecircncia da parte sob pena de se limitar o instituto

Outro ponto diz respeito ao ocircnus da prova na impugnaccedilatildeo pois o legislador

manteve-se silente nesse aspecto

A doutrina se inclina a defender que o ocircnus de comprovar que o beneficiaacuterio natildeo faz

jus agrave gratuidade eacute do impugnante ante a existecircncia de presunccedilatildeo relativa da necessidade com

a mera alegaccedilatildeo de insuficiecircncia de recursos (NERY JUNIOR NERY 2015 p 479)

28 Revogaccedilatildeo do benefiacutecio

A revogaccedilatildeo do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila implica na obrigaccedilatildeo da parte ex-

beneficiaacuteria de recolher todas as despesas de deixou de adiantar inclusive as despesas que

foram eventualmente adiantadas pelo ente puacuteblico (periacutecia por exemplo) e as vindouras (art

166

100 paraacutegrafo uacutenico do CPC) isso no caso de a parte natildeo fazer jus ao benefiacutecio desde o

momento em que a requereu (OLIVEIRA 2015 p 377)

No entanto a revogaccedilatildeo pode se dar pelo fato de ter cessado a situaccedilatildeo de

hipossuficiecircncia econocircmica que ensejou o benefiacutecio hipoacutetese em que ela apenas teraacute que

arcar com as despesas processuais a partir do momento que passou a dispor da boa condiccedilatildeo

financeira

Ainda evidenciada a maacute-feacute do ex-beneficiaacuterio o Coacutedigo de Processo Civil prevecirc a

aplicaccedilatildeo de multa de ateacute o deacutecuplo das despesas que tiver deixado de adiantar ndash nesse caso

natildeo basta a mera revogaccedilatildeo do benefiacutecio

Decidiu-se antes da entrada em vigor do Coacutedigo que ldquodeve ser cabalmente

demonstrada a intenccedilatildeo da parte em induzir o Poder Judiciaacuterio a erro se aproveitando

indevidamente do benefiacuteciordquo (MEDINA 2015 p 191)

Em linhas gerais essas satildeo algumas das alteraccedilotildees consubstanciadas pelo Coacutedigo de

Processo Civil em relaccedilatildeo ao benefiacutecio da gratuidade da justiccedila malgrado a lei processual natildeo

tenha esgotado o tema esclareceu vaacuterios pontos que antes era debatido pela jurisprudecircncia

Aleacutem do mais importante pontuar que o legislador reformador repensou o processo

civil atento aos anseios da sociedade moderna e preocupado com a efetividade dos direitos

constitucionais ndash acesso agrave justiccedila por exemplo ndash prevendo expressamente no artigo 1ordm do

CPC que ldquoo processo civil seraacute ordenado disciplinado e interpretado conforme os valores e

normas fundamentais estabelecidas na Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasilrdquo

Ocorre entretanto que mesmo diante de significativas alteraccedilotildees o legislador ainda

natildeo preencheu ou objetivou o pressuposto de concessatildeo dos benefiacutecios anteriormente citados

sendo remanescente o subjetivismo da anaacutelise do termo ldquoinsuficiecircncia de recursosrdquo o que

passaraacute a ser refletido no presente artigo

3 O SUBJETIVISMO DO PRESSUPOSTO INSUFICIEcircNCIA DE RECURSOS

Conforme jaacute visto o Coacutedigo de Processo Civil alterou o requisito para a concessatildeo

do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila bastando a declaraccedilatildeo de insuficiecircncia de recursos pela

pessoa natural e a sua comprovaccedilatildeo no caso de pessoa juriacutedica

Todavia eacute inegaacutevel a carga de subjetividade que haacute no conceito de insuficiecircncia de

recursos e como todo conceito juriacutedico vago traz certa inseguranccedila juriacutedica notadamente

porque pode acarretar decisotildees extremamente diacutespares no cotidiano forense uma vez que tal

anaacutelise (o que eacute insuficiecircncia de recursos) fica a criteacuterio do entendimento de cada

167

magistrado aleacutem do que pode gerar inuacutemeros abusos por parte dos seus requerentes ndash ainda

mais quando a mera alegaccedilatildeo eacute bastante agrave concessatildeo do benefiacutecio ndash que diferentemente do

que alegam gozam de boa sauacutede financeira para arcar com as despesas processuais

(TARTUCE DELLORE 2015 p 314-315)

Mesmo antes da alteraccedilatildeo do CPC ainda na Lei nordm 106050 jaacute discutia a doutrina e

a jurisprudecircncia acerca dos pressupostos para a concessatildeo do benefiacutecio ante a vagueza dos

conceitos de hipossuficiente necessitado carente de recursos financeiros para arcar com as

custas do processo sem prejuiacutezo do sustento proacuteprio e de sua famiacutelia e a falta de um criteacuterio

objetivo miacutenimo para a concessatildeo do benefiacutecio5

Nada obstante o progresso vivenciado com o Coacutedigo de Processo Civil de 2015 no

que tange a gratuidade da justiccedila vecirc-se que no ponto concernente agrave triagem dos

hipossuficientes de recursos o legislador conservou um conceito juriacutedico indeterminado

Segundo Frederico do Valle Abreu (2005) o conceito juriacutedico indeterminado eacute

caracterizado pela ldquovaguidade semacircntica existente em certa norma com a finalidade de que

ela a norma permaneccedila ao ser aplicada sempre atual e correspondente aos anseios da

sociedade nos vaacuterios momentos histoacutericos em que a lei eacute interpretada e aplicadardquo

Assim o conteuacutedo abstrato do pressuposto insuficiecircncia de recursos tenha sido

propositadamente pensado pelo legislador por entender que o inteacuterprete na anaacutelise casuiacutestica

goza de melhores condiccedilotildees para valoraacute-lo refletindo pois uma decisatildeo mais justa

O autor Augusto Tavares Rosa Marcacini defende que a insuficiecircncia de recursos eacute

um conceito indeterminado e natildeo segue um padratildeo rigoroso por isso a melhor soluccedilatildeo eacute a

anaacutelise caso a caso

O conceito de necessitado natildeo eacute determinado mediante regras riacutegidas matemaacuteticas natildeo se utilizando limites numeacutericos determinados Tecircm direito ao benefiacutecio aqueles que natildeo podem arcar com os gastos necessaacuterios agrave participaccedilatildeo no processo na medida em que contabilizados os seus ganhos e os seus gastos com o proacuteprio sustento e da famiacutelia natildeo lhe reste numeraacuterio suficiente para tanto O direito ao benefiacutecio decorre da indisponibilidade financeira do sujeito Em face da notoacuteria insuficiecircncia do salaacuterio miacutenimo vigente em nosso paiacutes pode ser possiacutevel presumir que aquele que aufere ateacute cinco salaacuterios miacutenimos por exemplo eacute quase que certamente merecedor de usufruir dos benefiacutecios Mas como dissemos natildeo se deve utilizar nuacutemeros fechados como criteacuterio Um chefe de uma famiacutelia numerosa que pague aluguel e que tenha filhos em idade escolar por exemplo mesmo percebendo o equivalente a dez salaacuterios miacutenimos pode natildeo ter condiccedilotildees de arcar com as despesas de um processo De outro lado um jovem que viva com os pais os quais

5 Fernanda Tartuce e Luiz Dellore por exemplo no artigo escrito em coautoria Gratuidade da Justiccedila no novo CPC divergem sobre o assunto enquanto ela acredita ser acertada a opccedilatildeo do legislador em trazer um conceito dotado de subjetividade por outro lado ele discorda defendendo que ainda que a norma deixasse uma margem para a decisatildeo do juiz de acordo com a casuiacutestica deveria ao menos estabelecer um criteacuterio objetivo miacutenimo de modo a evitar disparidades nas decisotildees (2015 314-315)

168

provecircm o seu sustento moradia e estudo e que ganhe uns dois ou trecircs salaacuterios miacutenimos que natildeo satildeo empregados em qualquer despesa essencial para sua mantenccedila pode natildeo ser considerado beneficiaacuterio (2009 p 90-91)

Nesse espectro o aplicador da norma juriacutedica eacute quem tem o poder-dever de

materializar no caso concreto o conceito juriacutedico indeterminado do que eacute ser necessitado

economicamente para arcar com as despesas processuais dando assim maior efetividade ao

preceito constitucional do acesso agrave justiccedila

Atento agraves alteraccedilotildees do Coacutedigo de Processo Civil quanto ao tema leciona Rafael

Alexandria de Oliveira

Insuficiecircncia de recursos Faz jus ao benefiacutecio da gratuidade aquela pessoa com lsquoinsuficiecircncia de recursos para pagar as custas despesas processuais e honoraacuterios advocatiacuteciosrsquo Natildeo se exige a miserabilidade nem estado de necessidade nem tampouco se fala em renda familiar ou faturamento maacuteximos Eacute possiacutevel que uma pessoa natural mesmo com boa renda mensal seja merecedora do benefiacutecio e que tambeacutem o seja aquele sujeito que eacute proprietaacuterio de bens imoacuteveis mas natildeo dispotildee de liquidez A gratuidade judiciaacuteria eacute um dos mecanismos de viabilizaccedilatildeo do acesso agrave justiccedila natildeo se pode exigir que para ter acesso agrave justiccedila o sujeito tenha que comprometer significativamente a sua renda ou tenha que se desfazer de seus bens liquidando-os para angariar recursos e custear o processo A lei natildeo fala em nuacutemeros natildeo estabelece paracircmetros O sujeito que ganha boa renda mensal pode ser tatildeo merecedor do benefiacutecio quanto aquele que sobrevive agrave custa de programas de complementaccedilatildeo de renda O que pode diferenciaacute-los eacute a maior ou menor dificuldade com que o pedido de concessatildeo do benefiacutecio eacute tratado o de melhor renda pode ser chamado a justificar o seu requerimento provando a insuficiecircncia de recursos Por isso mesmo nem sempre o beneficiaacuterio seraacute algueacutem em situaccedilatildeo de necessidade de vulnerabilidade de miseacuteria de penuacuteria Eacute preciso atentar para isso (2015 p 359)

Eacute compreensiacutevel a carga de subjetividade impregnada ao termo insuficiecircncia de

recursos notadamente porque o legislador adotando a teoria do direito processual

constitucional (art 1ordm do CPC) quis que a normativa do benefiacutecio atendesse realmente agraves

exigecircncias da sociedade hodierna deixando ao encargo do juiz o dever juriacutedico de buscar

identificar e adotar a soluccedilatildeo apta a no caso concreto alcanccedilar satisfatoriamente a finalidade6

da norma ndash de que garantir a todos o acesso agrave justiccedila

Todavia eacute cediccedilo que a valoraccedilatildeo de um conceito subjetivo pelo magistrado (assim

como para qualquer pessoa) transcende a sua formaccedilatildeo juriacutedica e mesmo que inconsciente

revela suas convicccedilotildees pessoais (crenccedilas valores referecircncias sociais) deste modo o que no

sentir de um julgador eacute pessoa hipossuficiente aos olhos do outro natildeo o eacute eacute aiacute que repousam

as ldquoinjusticcedilasrdquo

6 Interpretaccedilatildeo teleoloacutegica

169

A falta de a lei definir um criteacuterio objetivo miacutenimo para se determinar o que eacute a

insuficiecircncia de recursos demandou trabalho da doutrina e especialmente da jurisprudecircncia

que mesmo timidamente adotou os mais diversos paracircmetros

Nesse sentido uma das primeiras orientaccedilotildees que surge na jurisprudecircncia eacute a

necessidade de prova cabal da insuficiecircncia de recursos para a concessatildeo do benefiacutecio da

gratuidade agraves pessoas juriacutedicas7 Depois de muita discussatildeo o entendimento sedimentado na

jurisprudecircncia8 foi consagrado pelo legislador no Coacutedigo de Processo Civil de 2015 em seu

artigo 98 caput

Tambeacutem se firmou o entendimento de que o requerente que se dedica a emprestar

dinheiro natildeo faz jus ao benefiacutecio uma vez que tal circunstacircncia eacute incompatiacutevel com a alegada

necessidade (NERY JUNIOR NERY 2015 p 475)

Os Tribunais tambeacutem jaacute fixaram como criteacuterio objetivo para se determinar se o

requerente eacute realmente hipossuficiente a renda mensal inferior a dez salaacuterios miacutenimos9

todavia o Superior Tribunal de Justiccedila jaacute refutou a utilizaccedilatildeo desse criteacuterio sob o fundamento

de que a desconstituiccedilatildeo da presunccedilatildeo estabelecida pela lei de gratuidade de justiccedila exige

perquirir in concreto a atual situaccedilatildeo financeira do requerenterdquo10

Outro paracircmetro que tem sido utilizado pelos juristas para aferir a condiccedilatildeo de

miserabilidade do requerente eacute a faixa de isenccedilatildeo do Imposto de Renda extraiacutedo da tabela

progressiva do tributo devidamente atualizada11

O criteacuterio do patrociacutenio da causa por advogado particular para afastar a benesse jaacute

era rechaccedilado pela jurisprudecircncia12 e foi recepcionado pelo atual Coacutedigo de Processo Civil em

seu artigo 99 sect4ordm 7 Assistecircncia judiciaacuteria Pessoa juriacutedica Demonstraccedilatildeo cabal da insuficiecircncia de recursos 1 Ademais de fundamentado exclusivamente na interpretaccedilatildeo do art 5ordm LXXIV da Constituiccedilatildeo Federal o certo eacute que a Corte jaacute assentou a necessidade de demonstraccedilatildeo cabal da insuficiecircncia de recursos para que a empresa possa desfrutar dos benefiacutecios da assistecircncia judiciaacuteria 2 Recurso especial natildeo conhecido (STJ - REsp 182557 RJ 19980053550-0 Relator Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO Data de Julgamento 02091999 T3 - TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJ 25101999 p 79) 8 Suacutemula 481 STJ Faz jus ao benefiacutecio da justiccedila gratuita a pessoa juriacutedica com ou sem fins lucrativos que demonstrar sua impossibilidade de arcar com os encargos processuais 9 ADMINISTRATIVO AGRAVO DE INSTRUMENTO ASSISTEcircNCIA JUDICIAacuteRIA GRATUITA - AJG PARAcircMETRO DEZ SALAacuteRIOS MIacuteNIMOS 1 A Segunda Seccedilatildeo desta Corte vem consolidando entendimento no sentido de fixar patamar objetivo para a concessatildeo do benefiacutecio da AJG qual seja dez salaacuterios miacutenimo 2 Hipoacutetese em que a agravante comprovou renda mensal bem inferior ao limite paradigmaacutetico destacado inexistindo qualquer razatildeo para o indeferimento do pleito em prestiacutegio agrave norma de regecircncia (Lei n 10601950) e ao princiacutepio da acessibilidade (artigo 5ordm XXXV Constituiccedilatildeo Federal) (TRF-4 - AG 50101513420134040000 5010151-3420134040000 Relator NICOLAU KONKEL JUacuteNIOR Data de Julgamento 14082013 TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DE 16082013) 10 STJ - AgRg no AREsp 626487 MG 20140315675-3 Relator Ministro RICARDO VILLAS BOcircAS CUEVA Data de Julgamento 28042015 T3 - TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJe 07052015 11 TJ-PR - AI 14520235 PR 1452023-5 (Decisatildeo Monocraacutetica) Relator Paulo Cezar Bellio Data de Julgamento 27102015 16ordf Cacircmara Ciacutevel Data de Publicaccedilatildeo DJ 1683 05112015

170

O Superior Tribunal de Justiccedila preconiza que o inteacuterprete deve conjugar o binocircmio

necessidade-possibilidade assim para se conceder o benefiacutecio da gratuidade da justiccedila deve-

se considerar natildeo apenas os rendimentos mensais do requerente mas tambeacutem o

comprometimento de suas despesas13

A anaacutelise da condiccedilatildeo financeira do postulante deve ficar restrita a sua situaccedilatildeo

presente e natildeo ao seu histoacuterico de riquezas o simples fato de o requerente jaacute ter sido rico

empresaacuterio ou pessoa de posses natildeo significa que natildeo possa ser hoje pessoa pobre na

acepccedilatildeo juriacutedica do termo e necessitar da assistecircncia judiciaacuteria Da mesma forma a reciacuteproca

eacute verdadeira o pobre que eacute beneficiaacuterio da gratuidade pode por fatores supervenientes

tornar-se pessoa abastada financeiramente o que certamente lhe cassaraacute o benefiacutecio (NERY

JUNIOR NERY 2015 p 477)

Destarte a adoccedilatildeo pelo juiz de um paracircmetro como ponto de partida para verificar o

preenchimento dos requisitos para a concessatildeo da justiccedila gratuita natildeo deve ser visto como

violador da norma Bem da verdade a gratuidade da justiccedila eacute uma das portas de acesso ao

Poder Judiciaacuterio entretanto natildeo pode ser utilizada pelo beneficiaacuterio tatildeo-somente para se

furtar das obrigaccedilotildees oriundas do processo

A Lei nordm 106050 exigia em sua redaccedilatildeo original que o requerente comprovasse o

estado de pobreza alegado hoje ndash a partir da nova redaccedilatildeo dada ao art 4ordm sect1ordm da referida lei

pela Lei Federal nordm 751086 ndash basta a simples afirmaccedilatildeo de necessidade do benefiacutecio o que

inclusive eacute referendado pela jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila14 Nesse sentir o

12 Assistecircncia judiciaacuteria Defensoria Puacuteblica Advogado particular Interpretaccedilatildeo da Lei nordm 106050 1 Natildeo eacute suficiente para afastar a assistecircncia judiciaacuteria a existecircncia de advogado contratado O que a lei especial de regecircncia exige eacute a presenccedila do estado de pobreza ou seja da necessidade da assistecircncia judiciaacuteria por impossibilidade de responder pelas custas que poderaacute ser enfrentada com prova que a desfaccedila Natildeo serve para medir isso a qualidade do defensor se puacuteblico ou particular 2 Recurso especial conhecido e provido (STJ - REsp 679198 PR 20040103656-9 Relator Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO Data de Julgamento 21112006 T3 - TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJ 16042007 p 184) 13 STJ - REsp 263781 SP 20000060786-0 Relator Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO Data de Julgamento 22052001 T3 - TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo lt-- DTPB 20010813ltbrgt --gt DJ 13082001 p 150ltbrgt JBCC vol 193 p 249 14PROCESSUAL CIVIL RECONHECIMENTO DE CONCUBINATO E PARTILHA DE BENS PEDIDO ALTERNATIVO DE INDENIZACcedilAtildeO POR SERVICcedilOS PRESTADOS INDEFERIMENTO DE PLANO DA INICIAL IMPOSSIBILIDADE CERCEAMENTO DE DEFESA ASSISTEcircNCIA JUDICIAacuteRIA E GRATUIDADE DA JUSTICcedilA ALEGACcedilAtildeO DA PARTE DESNECESSIDADE DE DEMONSTRACcedilAtildeO DE O ADVOGADO NAtildeO ESTAR SENDO REMUNERADO PRESUNCcedilAtildeO RECURSO PROVIDO Pelo sistema legal vigente faz jus a parte aos benefiacutecios da assistecircncia judiciaacuteria mediante simples afirmaccedilatildeo na proacutepria peticcedilatildeo de que natildeo estaacute em condiccedilotildees de pagar as custas do processo e os honoraacuterios de advogado sem prejuiacutezo proacuteprio ou de sua famiacutelia O deferimento da gratuidade garantia assegurada constitucionalmente aos economicamente hipossuficientes (Constituiccedilatildeo art 5ordm LXXIV) natildeo exige que a parte demonstre que o advogado natildeo estaacute sendo por ela remunerado Enquanto a Justiccedila gratuita isenta de despesas processuais e condenaccedilatildeo em honoraacuterios advocatiacutecios a assistecircncia judiciaacuteria mais ampla enseja tambeacutem o patrociacutenio por profissional habilitado Caracteriza cerceamento de defesa o indeferimento de plano da inicial de accedilatildeo que pretendeu o reconhecimento de concubinato e partilha de bens com pedido alternativo de indenizaccedilatildeo de

171

aplicador do direito exerce um fundamental papel para que o processo natildeo seja um fim em si

mesmo mas sim um instrumento para a materializaccedilatildeo de um direito

Nota-se que o indeterminismo do termo insuficiecircncia de recursos aliado a mera

alegaccedilatildeo da necessidade poderia transviar o sentido da norma devendo o magistrado ficar

atento para que os privilegiados de fortuna natildeo ingressem gratuitamente no feito

Assim havendo elementos no processo que infirmem a alegaccedilatildeo do postulante ndash que

goza de presunccedilatildeo iuris tantum ndash a hipossuficiecircncia deve ser comprovada

Duacutevida fundada quanto agrave pobreza O juiz da causa valendo-se de criteacuterios

objetivos pode entender que a natureza da accedilatildeo movida pelo interessado demonstra que ele possui porte econocircmico para suportar as despesas do processo A declaraccedilatildeo pura e simples do interessado conquanto seja o uacutenico entrave burocraacutetico que se exige para liberar o magistrado para decidir em favor do peticionaacuterio natildeo eacute prova inequiacutevoca daquilo que ele afirma nem obriga o juiz a se curvar aos seus dizeres se de outras provas e circunstacircncias ficar evidenciado que o conceito de pobreza que a parte invoca natildeo eacute aquele que justifica a concessatildeo do privileacutegio Cabe ao magistrado livremente fazer juiacutezo de valor acerca do termo pobreza deferindo ou natildeo o benefiacutecio (NERY JUNIOR NERY 2015 p 477)

Infelizmente a finalidade do benefiacutecio natildeo raras vezes eacute distorcida seja pela

abstraccedilatildeo do conceito ou mesmo pela lisura do ser humano e isso contribui para o aumento de

demandas desqualificadas respaldadas na ausecircncia de riscos no caso de improcedecircncia

Para Maacutercio Pirocircpo Galvatildeo (2010) os mecanismos de acesso agrave justiccedila fomentam

accedilotildees despretensiosas ndash e cita como exemplos as accedilotildees trabalhistas e aquelas do acircmbito dos

Juizados Especiais ndash exclusivamente pela ausecircncia de custo econocircmico defende inclusive

que o acesso ao Judiciaacuterio de forma gratuita virou uma ldquoloteria onde todos querem tentar a

sorterdquo

E continua o autor citando a decisatildeo do Juiz de Direito da 2ordf Vara Ciacutevel da Comarca

de Dourados Dr Joseacute Carlos de Souza que as demandas desnecessaacuterias ldquoabarrotam o Poder

Judiciaacuterio e dificultam o acesso agrave Justiccedila de jurisdicionados com pretensotildees mais nobres

Incentivam o aumento da inadimplecircncia e sedimentam a cultura do natildeo-cumprimento dos

contratos [] Configuram provocaccedilatildeo abusiva da maacutequina judiciaacuteria e maacute-feacute do devedorrdquo

(GALVAtildeO 2010)

Como visto a utilizaccedilatildeo abusiva da gratuidade da justiccedila pode representar o

congestionamento da maacutequina judicial comprometendo a razoaacutevel duraccedilatildeo do processo e ao

serviccedilos prestados sem possibilitar agrave parte a produccedilatildeo de qualquer prova notadamente em se tratando de alegado relacionamento de mais de trinta anos (Recurso Especial nordm 91609SP 4ordf Turma do STJ Rel Min Saacutelvio de Figueiredo Teixeira Recorrente A P M R Recorrida V G F B j 160498 un DJU 080698 p 113)

172

reveacutes de seu proposito servir como oacutebice ao efetivo acesso agrave justiccedila daqueles que tem

realmente tem urgecircncia na prestaccedilatildeo jurisdicional

Talvez uma boa alternativa para se evitar decisotildees diacutespares e a banalizaccedilatildeo do

benefiacutecio ante a carga de subjetividade do seu pressuposto fosse exigir uma comprovaccedilatildeo

miacutenima da insuficiecircncia de recursos Afinal quem realmente necessita do benefiacutecio natildeo teria

dificuldade alguma em demonstrar a sua impossibilidade financeira para arcar com as

despesas processuais

Eacute certo que a Lei nordm 106050 e agora o Coacutedigo de Processo Civil estabelecem ocircnus

ao litigante que de maacute-feacute requereu o benefiacutecio da gratuidade todavia a prova nesse sentido

deve ser contundente o que estimula de certa forma pedidos indiscriminados de gratuidade

uma vez que sopesando os riscos os ganhos prevalecem

Destarte o que se percebe eacute que nesse ponto o legislador civil natildeo conseguiu

encerrar as discussotildees deixando a soluccedilatildeo para a doutrina e a jurisprudecircncia agora basta

saber como as discussotildees seratildeo encaminhadas de modo que natildeo se instale ndash ou aumente ndash um

estado de desconfianccedila em torno do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila em decorrecircncia dos

abusos praticados mas que tambeacutem natildeo se deixe de cumprir a sua preciacutepua finalidade

constitucional de ser um instrumento de acesso ao Judiciaacuterio daqueles que natildeo desfrutam de

plenas condiccedilotildees financeiras

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O atual Coacutedigo de Processo Civil atuou muito positivamente no que pertine ao

instituto da Gratuidade da Justiccedila ele alvoreceu pontos que a Lei nordm 106050 era retroacutegrada e

mesmo silente bem como normatizou questotildees jaacute consolidadas pela jurisprudecircncia

Em contrapartida a legislaccedilatildeo processual civil natildeo se fez clara quanto ao pressuposto

para a concessatildeo do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila mormente porque se limitou a prever

que a simples afirmaccedilatildeo de insuficiecircncia de recursos para pagar as despesas processuais eacute

suficiente ao seu deferimento

Afinal o que insuficiecircncia de recursos Qual o criteacuterio objetivo para se definir quem

se enquadra ou natildeo nesse perfil Mais uma vez a lei que trata sobre a gratuidade da justiccedila

silenciou nesse pormenor reservando ao aplicador do direito a missatildeo de examinar

casuisticamente quem eacute merecedor ou natildeo da benesse partindo de uma interpretaccedilatildeo

alicerccedilada na finalidade da lei ndash promover o acesso agrave justiccedila

173

Assim duas questotildees surgem A primeira eacute se o legislador foi relapso ou se ele

propositadamente preferiu a um conceito indeterminado para a concessatildeo do benefiacutecio E a

segunda eacute se ele agiu bem

E ao que se conclui eacute que a preferecircncia por um termo dotado de subjetivismo tem

um propoacutesito qual seja permitir que a lei seja adaptaacutevel as mais diversas situaccedilotildees do

cotidiano forense de modo a tornar o acesso agrave justiccedila um direito fundamental mais efetivo

Conquanto agrave segunda questatildeo (se ele agiu bem) apenas a experiecircncia praacutetica poderaacute dizer

notadamente porque vai depender e muito da consciecircncia do postulante (e seu advogado) o

qual eacute o real sabedor de sua condiccedilatildeo financeira

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ABREU Frederico do Valle Conceito juriacutedico indeterminado interpretaccedilatildeo da lei

processo e suposto poder discricionaacuterio do magistrado Jus Navigandi Teresina ano 9 n

674 10 maio 2005 Disponiacutevel em lthttpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=6674gt

Acesso em 27032016

ANGHER Anne Joyce (Org) Vade mecum acadecircmico de direito Rideel 21ed

atual e ampl Satildeo Paulo Rideel 2015

BRASIL Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Recurso Especial nordm

19980053550-0 Relator Ministro Carlos Alberto Menezes Data de Julgamento 02091999

Data de Publicaccedilatildeo DJ 25101999 p 79

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Agravo Regimental no Recurso

Especial nordm 20140315675-3 Relator Ministro Ricardo Villas Bocircas Cueva Data de

Julgamento 28042015 Data de Publicaccedilatildeo DJe 07052015

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Recurso Especial nordm

20040103656-9 Relator Ministro Carlos Alberto Menezes Direito Data de Julgamento

21112006 Data de Publicaccedilatildeo DJ 16042007 p 184

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Recurso Especial

20000060786-0 Relator Ministro Carlos Alberto Menezes Direito Data de Julgamento

22052001 Data de Publicaccedilatildeo 13082001 p 150

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Quarta Turma Recurso Especial 91609SP

Relator Ministro Saacutelvio de Figueiredo Teixeira Data de Publicaccedilatildeo 08061998 p 113

174

_____ Tribunal Regional Federal (4ordf Regiatildeo) Terceira Turma Agravo nordm

50101513420134040000 5010151-3420134040000 Relator Nicolau Konkel Juacutenior Data

de Julgamento 14082013Data de Publicaccedilatildeo 16082013

_____ Tribunal de Justiccedila do Estado do Paranaacute 16ordf Cacircmara Ciacutevel Agravo de

Instrumento nordm 14520235 PR 1452023-5 (Decisatildeo Monocraacutetica) Relator Paulo Cezar Bellio

Data de Julgamento 27102015 Data de Publicaccedilatildeo 05112015

CAPPELLETTI Mauro GARTH Bryant Acesso agrave justiccedila Trad Ellen Gracie

Northfleet Porto Alegre Seacutergio Fabris Editor 2002

CARNEIRO Paulo Cezar Pinheiro Normas Fundamentais do Processo Civil Em

Breves Comentaacuterios ao Novo Coacutedigo de Processo Civil Tereza Arruda Alvim Wambier et

al[coord] Satildeo Paulo Editora RT 2015

DELLORE Luiz Novo CPC o lado A da justiccedila gratuita Disponiacutevel em http

httpjotauolcombrjustica-gratuita-novo-cpc-lado publicado em 09 de marccedilo de 2015

Acesso em 27032016

______ Novo CPC o lado B da justiccedila gratuita Disponiacutevel em

httpjotauolcombrnovo-cpc-o-lado-b-da-justica-gratuita publicado em 13 de abril de

2015 Acesso em 27032016

GALESKI JUNIOR Irineu RIBEIRO Marcia Carla Pereira Direito e economia

uma abordagem sobre a assistecircncia judiciaacuteria gratuita In Publica Direito (recurso eletrocircnico

on-line) Fortaleza CONPEDI 2010

GALVAtildeO Maacutercio Pirocircpo Abuso de direito agrave gratuidade da Justiccedila Revista Jus

Navigandi Teresina ano 17 n 3339 22 ago 2012 Disponiacutevel em

lthttpsjuscombrartigos22466gt Acesso em 27032016

MARCACINI Augusto Tavares Rosa Assistecircncia Juriacutedica Assistecircncia Judiciaacuteria e

Justiccedila Gratuita Satildeo Paulo Editora Forense 2009 (ediccedilatildeo eletrocircnica)

MEDINA Joseacute Miguel Garcia Novo Coacutedigo de Processo Civil Comentado Satildeo

Paulo Editora RT 2015

NERY JUNIOR Nelson e NERY Rosa Maria de Andrade Comentaacuterios ao Coacutedigo

de Processo Civil Satildeo Paulo Editora RT 2015

NETO Emeteacuterio Silva de Oliveira VIANA Juvecircncio Vasconcelos Acesso agrave justiccedila

e o novo Coacutedigo de Processo Civil um olhar criacutetico Em Acesso agrave justiccedila (recurso eletrocircnico

on-line) Florianoacutepolis CONPEDIUFSC 2015

175

OLIVEIRA Rafael Alexandria de Da Gratuidade da Justiccedila Em Breves

Comentaacuterios ao Novo Coacutedigo de Processo Civil Tereza Arruda Alvim Wambier et

al[coord] Satildeo Paulo Editora RT 2015

SANTOS Boaventura de Souza Pela matildeo de Alice o social e o poliacutetico

na poacutes-modernidade Satildeo Paulo Cortez 2003

TARTURE Flaacutevia DELLORE Luiz Gratuidade da justiccedila no novo CPC Em

Revista de Processo Satildeo Paulo v 39 n 236 p 305-323 out 2014

176

A justiccedila deve estar ao alcance de todos2 ricos e pobres competindo ao Estado ndash na

sua atuaccedilatildeo positiva ndash como seu gestor3 garantir que a pessoa de parcos recursos financeiros

tenha condiccedilotildees de acionar o Poder Judiciaacuterio da mesma forma que o afortunado

Como afirma Boaventura de Souza Santos ldquoo tema do acesso agrave justiccedila eacute aquele que

mais diretamente equaciona as relaccedilotildees entre o processo civil e a justiccedila social entre

igualdade juriacutedico-formal e desigualdade socioeconocircmicardquo (2003 p167)

Para Cappelletti e Garth uma das finalidades do termo acesso agrave justiccedila eacute determinar

que o sistema juriacutedico fosse igualmente acessiacutevel a todos e reafirmam a importacircncia de sua

efetividade

De fato o direito ao acesso efetivo tem sido progressivamente reconhecido como sendo de importacircncia capital entre os novos individuais sociais uma vez que a titularidade de direitos eacute destituiacuteda de sentidos na ausecircncia de mecanismos para sua efetiva reivindicaccedilatildeo O acesso agrave Justiccedila pode portanto ser encarado como requisito fundamental ndash o mais baacutesico dos direitos humanos ndash de um sistema juriacutedico moderno e igualitaacuterio que pretenda garantir e natildeo apenas proclamar os direitos de todos (2002 p 4)

Os referidos autores identificam vaacuterios oacutebices ao acesso agrave justiccedila ndash entre elas as

desigualdades socioeconocircmicas ndash e sequencialmente propotildeem soluccedilotildees praacuteticas ao

problema emergindo como primeira a assistecircncia judiciaacuteria ao que eles denominaram de

ldquoprimeira ondardquo (CAPPELLETI GARTH 2002 p 6-12)

Nesse vieacutes a gratuidade da justiccedila ndash natildeo tecendo nesse primeiro momento qualquer

consideraccedilatildeo acerca das distinccedilotildees terminoloacutegicas ndash eclode com um importante mecanismo

viabilizador do acesso agrave justiccedila e tem a preciacutepua finalidade de dar efetividade a outros direitos

fundamentais constitucionalmente previstos como a igualdade (art 5 caput CF) a cidadania

(art 1ordm inciso II CF) e a proacutepria dignidade da pessoa humana (art 1ordm inciso III CF)

2 Eacute o que Emeteacuterio Silva e Juvecircncio Vasconcelos chamam de universalizaccedilatildeo ou horizontalizaccedilatildeo do acesso agrave justiccedila ensinando que ldquoHorizontalizar eacute fazer com que agrave todas as pessoas (pobres ou ricas) sejam assegurados os mesmos meios de acesso agrave justiccedila Eacute promover a isonomia ou seja a igualdade na e perante a lei pois esta lsquonatildeo deve ser fonte de privileacutegios ou perseguiccedilotildees mas instrumento regulador da vida social que necessita tratar equitativamente todos os cidadatildeosrsquo (BANDEIRA DE MELLO 2013 p 10) Com efeito o acesso agrave justiccedila nos termos do artigo 60 sect 4ordm inciso IV da Carta de 88 eacute claacuteusula peacutetrea e por estaacute alccedilado agrave categoria hieraacuterquica superior natildeo pode sofrer menoscabos o que exclui possiacuteveis discriminaccedilotildees arbitraacuterias entre as pessoas quando da execuccedilatildeo desta garantia fundamental Assim considerando a forccedila normativa da constituiccedilatildeo23 portanto das normas de direitos e garantias nela previstas a universalizaccedilatildeo do acesso agrave justiccedila aliada a efetividade da tutela jurisdicional ou dos meios assecuratoacuterios de direitos fomentadores da justiccedila social avultam imprescindiacuteveis (NETO Emeteacuterio Silva de Oliveira VIANA Juvecircncio Vasconcelos Acesso agrave justiccedila e o novo Coacutedigo de Processo Civil um olhar criacutetico In Acesso agrave justiccedila (recurso eletrocircnico on-line) Florianoacutepolis CONPEDIUFSC 2015 p 186 3 A jurisdiccedilatildeo eacute monopoacutelio do Estado proibindo a lei que as pessoas faccedilam justiccedila com as proacuteprias matildeos salvo raras exceccedilotildees como por exemplo as hipoacuteteses de autotutela ndash arts 1210 e 1219 do Coacutedigo Civil

158

Agrave medida que se busca a efetividade dos direitos fundamentais o direito processual

passa a ter um importante papel nessa missatildeo4 pois eacute ele quem indica qual eacute o (melhor)

caminho para se alcanccedilar o direito material sob essa perspectiva vecirc-se a necessidade de

atualizaccedilatildeo da lei processual a fim de se adequar as exigecircncias da sociedade moderna

A uacutenica lei que regulamentava o benefiacutecio da justiccedila gratuita data de 1950 eacute uma lei

natildeo soacute defasada do ponto de vista material e processual como tambeacutem dotada de

imperfeiccedilotildees teacutecnicas e entraves agrave concessatildeo do benefiacutecio Era preciso simplificar e

desmistificar para entatildeo avanccedilar ndash pelo menos um degrau ndash na universalizaccedilatildeo do acesso agrave

justiccedila e a Lei nordm 131052015 que alterou o Coacutedigo de Processo Civil (CPC) o fez

O autor Luiz Dellore (2015) ao tecer elogios ao legislador diz que ldquoas inovaccedilotildees do

CPC simplificam o procedimento buscam evitar abuso dos requentes da gratuidade e

especialmente pretendem obstar debates laterais e incidentes para que se possa focar na

discussatildeo do meacuteritordquo

2 O COacuteDIGO DE PROCESSO CIVIL EM VIGOR E AS INOVACcedilOtildeES

RELATIVAS Agrave GRATUIDADE DE JUSTICcedilA

A atualmente (e corretamente) nominada gratuidade da justiccedila foi profundamente

reformulada pelo Coacutedigo de Processo Civil As mudanccedilas satildeo muito significativas o Coacutedigo

consolidou o assunto em seis dispositivos do artigo 98 ao artigo 102 aleacutem do que revogou

expressamente vaacuterios artigos da Lei nordm 106050 (arts 2ordm 3ordm 4ordm 6ordm 7ordm 11 12 e 17)

Considerando isso o artigo pontuaraacute as alteraccedilotildees legitimadas

21Terminologia

O Coacutedigo corrigiu os equiacutevocos praticados quanto agrave terminologia que redundavam

em incompreensotildees acerca do tema Natildeo se pode confundir assistecircncia judiciaacuteria gratuita

gratuidade da justiccedila (justiccedila gratuita) e assistecircncia juriacutedica integral e gratuita

A assistecircncia judiciaacuteria gratuita consiste no patrociacutenio gratuito da causa seja por

advogado do Estado entidades conveniadas com o Estado escritoacuterios de praacutetica juriacutedica das

faculdades de Direito ou mesmo advogados particulares nomeados como dativos Jaacute a

gratuidade da justiccedila traduz-se na isenccedilatildeo para o adiantamento das custas do processo Por

4 O processo natildeo deveria ser colocado no vaacutecuo Os juiacutezes precisam agora reconhecer que as teacutecnicas processuais servem a questotildees sociais [] o lsquoacessorsquo natildeo eacute apenas um direito social fundamental crescentemente reconhecido ele eacute tambeacutem necessariamente o ponto central da moderna processualiacutestica CAPPELLETTI Mauro GARTH Bryant Acesso agrave justiccedila Trad Ellen Gracie Northfleet Porto Alegre Seacutergio Fabris Editor 2002 p 5

159

sua vez a assistecircncia juriacutedica integral e gratuita engloba aleacutem da representaccedilatildeo do

hipossuficiente em juiacutezo a orientaccedilatildeo juriacutedica dele em questotildees extrajudiciais (TARTUCE

DELLORE 2014 p 308 e 309)

Preconiza Rafael Alexandria de Oliveira

Eacute comum a confusatildeo quanto aos conceitos de benefiacutecio da justiccedila gratuita (ou da gratuidade da justiccedila ou ainda da gratuidade judiciaacuteria) de assistecircncia judiciaacuteria e de assistecircncia juriacutedica Todos eles decorrem do direito fundamental agrave assistecircncia juriacutedica integral e gratuita de que trata o art 5ordm LXXIV da CF1988 mas natildeo se confundem Pontes de Miranda (a) benefiacutecio da justiccedila gratuita eacute como jaacute dito a dispensa do adiantamento de despesas processuais para o qual se exige a tramitaccedilatildeo de um processo judicial o requerimento da parte interessada e o deferimento do juiacutezo perante o qual o processo tramita (b) assistecircncia judiciaacuteria consiste no direito de a parte ser assistida gratuitamente por um profissional do Direito normalmente membro da Defensoria Puacuteblica da Uniatildeo do Estados ou do Distrito Federal e que natildeo depende do deferimento do juiacutezo nem mesmo da existecircncia de um processo judicial (c) assistecircncia juriacutedica eacute um conceito mais amplo que abrange o benefiacutecio da justiccedila gratuita e a assistecircncia judiciaacuteria mas vai aleacutem deles englobando todas as iniciativas do Estado (em sentido amplo) que tecircm por objetivo promover uma aproximaccedilatildeo entre a sociedade e os serviccedilos juriacutedicos ndash como por exemplo as campanhas de conscientizaccedilatildeo de direitos do consumidor promovidas por oacutergatildeos administrativos e os serviccedilos juriacutedicos itinerantes prestados agrave populaccedilatildeo carente (2015 p 355)

Semelhantemente Augusto Tavares Rosa Marcacini desenvolve um conceito

distinguindo os institutos da assistecircncia judiciaacuteria justiccedila gratuita e a assistecircncia juriacutedica

integral e gratuita

A Constituiccedilatildeo Federal de 1988 em seu artigo 5ordm inciso LXXIV inclui entre os direitos e garantias individuais a assistecircncia juriacutedica integral e gratuita Utiliza a Lei Maior um terceiro conceito que tambeacutem natildeo deve ser confundido como sinocircnimo de assistecircncia judiciaacuteria ou justiccedila gratuita Por justiccedila gratuita deve ser entendida a gratuidade de todas as causas e despesas judiciais ou natildeo relativas a atos necessaacuterios ao desenvolvimento do processo e agrave defesa dos direitos do beneficiaacuterio em juiacutezo O benefiacutecio da justiccedila gratuita compreende a isenccedilatildeo de toda e qualquer despesa necessaacuteria ao pleno exerciacutecio dos direitos e das faculdades processuais sejam tais despesas judiciais ou natildeo Abrange assim natildeo somente as custas relativas aos atos processuais a serem praticados como tambeacutem todas as despesas decorrentes de efetiva participaccedilatildeo na relaccedilatildeo processual A assistecircncia judiciaacuteria envolve o patrociacutenio gratuito da causa por advogado A assistecircncia judiciaacuteria eacute pois um serviccedilo puacuteblico organizado consistente na defesa em juiacutezo do assistido que deve ser oferecido pelo Estado mas que pode ser desempenhado por entidades natildeo-estatais conveniadas ou natildeo com o Poder Puacuteblico [] Por sua vez a assistecircncia juriacutedica engloba a assistecircncia judiciaacuteria sendo ainda mais ampla que esta por envolver tambeacutem serviccedilos juriacutedicos natildeo relacionados ao processo tais como orientaccedilotildees individuais ou coletivas o esclarecimento de duacutevidas e mesmo um programa de informaccedilatildeo a toda a comunidade (2009 p 40-43)

O Coacutedigo de Processo Civil ao usar o termo teacutecnico gratuidade da justiccedila

acertadamente corrigiu as distorccedilotildees terminoloacutegicas afastando qualquer possibilidade de

160

confusatildeo que se possa fazer com a assistecircncia judiciaacuteria gratuita e a assistecircncia juriacutedica

integral e gratuita

22 Beneficiaacuterios

De acordo com a legislaccedilatildeo processual em vigor podem ser beneficiaacuterios da justiccedila

gratuita a pessoa natural ou juriacutedica brasileira ou estrangeira

A redaccedilatildeo do Coacutedigo de Processo Civil encerrou uma discussatildeo histoacuterica pontuada

jurisprudencialmente pelo STJ e agora reconhecida legislativamente ao prever (art 98

caput) que a pessoa juriacutedica tem direito ao benefiacutecio da gratuidade da justiccedila

Para que a pessoa juriacutedica seja beneficiada com a gratuidade da justiccedila natildeo basta a

mera declaraccedilatildeo devendo demonstrar que efetivamente necessita do benefiacutecio

independentemente de ter ou natildeo finalidade lucrativa (MEDINA 2015 p 190)

Natildeo obstante a utilizaccedilatildeo do termo ldquopessoardquo entende-se que o benefiacutecio pode ser

gozado pelos entes despersonalizados como por exemplo o condomiacutenio a massa falida etc

(OLIVEIRA 2015 p 357-358)

Aleacutem disso o art 98 estende o benefiacutecio da justiccedila gratuita aos estrangeiros sejam

eles residentes ou natildeo no paiacutes diferentemente do que traz o caput do art 5ordm da CF88 que em

relaccedilatildeo agrave generalidade dos direitos fundamentais engloba apenas os estrangeiros residentes no

paiacutes (NERY JUNIOR NERY 2015 p 472)

23 Pressupostos

A letra do Coacutedigo de Processo Civil alterou o aspecto objetivo para a concessatildeo do

benefiacutecio passando a constar apenas a ldquoinsuficiecircncia de recursos financeirosrdquo para o

adiantamento das custas natildeo mais se exige a situaccedilatildeo de miserabilidade da parte requerente

como tambeacutem se aboliu o uso da expressatildeo ldquoa parte natildeo pode arcar com as custas sem

prejuiacutezo do sustento proacuteprio ou da famiacuteliardquo

Para que se conceda o benefiacutecio haacute uma presunccedilatildeo iuris tantum de veracidade da

declaraccedilatildeo feita pela parte pessoa natural mas soacute com relaccedilatildeo agrave pessoa natural a pessoa

juriacutedica deve comprovar a impossibilidade de adiantar as custas

Apesar desta mudanccedila de paradigma a lei natildeo dispocircs de forma suficientemente clara

o que significa ldquoinsuficiecircncia de recursosrdquo e quais seriam os seus paracircmetros miacutenimos

deixando mais uma vez ao encargo do inteacuterprete a funccedilatildeo de aquilatar se o requerente faz jus

ou natildeo agrave benesse o que certamente continuaraacute acarretando distorccedilotildees e inseguranccedila juriacutedica

161

O subjetivismo da expressatildeo seraacute mais bem aprofundado no toacutepico seguinte mesmo

porque a sua discussatildeo constituiu um dos pilares do presente artigo

24 Abrangecircncia

A Lei da Assistecircncia Judiciaacuteria previa em seu artigo 3ordm quais seriam as despesas

processuais compreendidas pelo benefiacutecio da justiccedila gratuita e nesse aspecto a norma era

satisfatoacuteria entatildeo o Coacutedigo de Processo Civil manteve o que tinha na Lei nordm 106050 e

avanccedilou como por exemplo no tocante agrave previsatildeo da remuneraccedilatildeo do inteacuterprete e do

tradutor bem como na realizaccedilatildeo de memoacuteria de caacutelculo pelo contador para fins de execuccedilatildeo

entre outros

O art 98 sect1ordm do Coacutedigo em vigecircncia tratou de exemplificativamente discriminar as

despesas processuais que podem ser compreendidas pela gratuidade da justiccedila algumas delas

jaacute previstas no art 3ordm da Lei nordm 106050 agora expressamente revogado

O beneficiaacuterio estaacute dispensado de adiantar o pagamento de taxas ou custas judiciaacuterias

(inciso I) O CPC foi redundante ao prever taxas e custas mormente porque tais despesas tem

o mesmo significado elas ldquodesignam o valor que se deve pagar ao Estado pela prestaccedilatildeo do

serviccedilo judiciaacuterio Tecircm natureza juriacutedica tributaacuteria constituindo-se numa taxa [] a

concessatildeo do beneficio natildeo constitui isenccedilatildeo tributaacuteria visto que natildeo dispensa o pagamento

em si mas sim o adiantamento da verbardquo (OLIVEIRA 2015 p 359)

As despesas com postagens de qualquer natureza e com publicaccedilatildeo na imprensa

oficial tambeacutem satildeo abrangidas pelo benefiacutecio da justiccedila gratuita (incisos II e III)

O benefiacutecio engloba tambeacutem as indenizaccedilotildees de testemunhas (inciso IV) tanto os

custos com a viagem para depor em juiacutezo quanto agraves relativas ao dia de trabalho ganho e natildeo

trabalhado que deve ser paga ao empregador (NERY JUNIOR NERY 2015 p 472)

As despesas com realizaccedilatildeo do exame de DNA (inciso V) tambeacutem satildeo albergadas

pelo benefiacutecio da gratuidade da justiccedila Aliaacutes o Coacutedigo de Processo Civil inovou em relaccedilatildeo agrave

Lei da Assistecircncia Judiciaacuteria Gratuita incluindo neste inciso outros exames periciais

considerados essenciais

Os honoraacuterios do advogado e do perito a remuneraccedilatildeo do inteacuterprete tradutor e

contador e todos os terceiros que de alguma forma contribuem para o Poder Judiciaacuterio

(inciso VI e VII) estatildeo cobertos pela benesse da gratuidade

Importante destacar que o afastamento da responsabilidade pelo adiantamento das

custas dos honoraacuterios advocatiacutecios natildeo se refere aos honoraacuterios de sucumbecircncia devidos pelo

162

beneficiaacuterio ao advogado da parte contraacuteria nos termos do sect2ordm do artigo 98 mas tatildeo somente

os honoraacuterios devidos ao seu proacuteprio advogado quando este eacute nomeado pelo juiz ou seja o

defensor dativo (OLIVEIRA 2015 p 361)

O art 95 sect3ordm do Coacutedigo Processual Civil normatiza a respeito do custeio da periacutecia

(inclusive honoraacuterios) na hipoacutetese de o responsaacutevel pelo pagamento de tal despesa ser

beneficiaacuterio da justiccedila gratuita Dispotildee o paraacutegrafo que nessa hipoacutetese a periacutecia seraacute

realizada preferencialmente por um servidor do Poder Judiciaacuterio ou por oacutergatildeo conveniado e

subsidiariamente por particular Em ambos os casos os honoraacuterios seratildeo custeados com

recursos do orccedilamento do ente puacuteblico respectivo ndash Uniatildeo e Estado ou Distrito Federal

Ainda possibilita a legislaccedilatildeo processual civil que a Fazenda Puacuteblica recobre o

valor despendido a tiacutetulo de honoraacuterios periciais daquele que for condenado ao pagamento de

tais verbas (art 95 sect4ordm CPC) no caso de ser a parte vencida beneficiaacuteria da gratuidade da

justiccedila o ente puacuteblico deve observar as regras pertinentes agrave sucumbecircncia e a exigibilidade sob

condiccedilatildeo suspensiva previstas nos paraacutegrafos sectsect2ordm e 3ordm do art 98 Mas em nenhuma hipoacutetese

transferir tal ocircnus a outra parte natildeo beneficiaacuteria

Tambeacutem estatildeo incluiacutedos no conceito de gratuidade da justiccedila os depoacutesitos devidos

para interposiccedilatildeo de recurso propositura de accedilatildeo e para a praacutetica de outros atos processuais

inerentes ao exerciacutecio da ampla defesa e do contraditoacuterio (inciso VIII) esse dispositivo acaba

por servir como uma claacuteusula geral incluindo todas aquelas despesas natildeo arroladas nos

incisos anteriores e que por estarem intrinsicamente relacionadas ao exerciacutecio do

contraditoacuterio e da ampla devem ser afastadas

Por fim e natildeo menos importante trouxe uma importante inovaccedilatildeo incluindo os

emolumentos dos registradores e notaacuterios relativos a atos de averbaccedilatildeo e registro decorrentes

de processo judicial em que houve a concessatildeo do benefiacutecio da gratuidade (inciso IX)

O Coacutedigo de Processo Civil estendeu para o acircmbito extrajudicial o benefiacutecio da

gratuidade da justiccedila concedido judicialmente garantindo-se assim a prestaccedilatildeo jurisdicional

em sua inteireza

Outrossim o sect 8ordm do artigo 98 preconiza que se o tabeliatildeo ou registrador no

momento da realizaccedilatildeo do ato cartorial tiver duacutevida fundada quanto ao preenchimento dos

pressupostos para a concessatildeo da justiccedila gratuita ndash ou seja insuficiecircncia de recursos ndash pode

requerer ao juiacutezo competente para decidir questotildees notariais ou registrais (competecircncia do

juiz corregedor dos cartoacuterios extrajudiciais) que revogue a gratuidade ou permita o

parcelamento dos valores devido (DELLORE 2015)

163

Esse paraacutegrafo deu ensejo a algumas criacuteticas para Luiz Dellore o questionamento

judicial acerca da capacidade financeira da parte para arcar com as despesas notariais e

registrais

[] natildeo parece ser uma atividade jurisdicional mas administrativa em analogia agrave lsquosuscitaccedilatildeo de duacutevidarsquo hoje existente Trata-se de uma esdruacutexula inovaccedilatildeo que traz ainda mais temas para decisatildeo do Poder Judiciaacuterio Assim aleacutem de todas as questotildees que o juiz deve decidir teraacute ainda de apreciar se uma parte de um processo jaacute findo ainda tem ou natildeo dificuldades financeiras para fins de pagamento de taxas de cartoacuterio (2015)

Ainda no que tange a abrangecircncia do benefiacutecio impende destacar que as multas

processuais de qualquer natureza ndash como por exemplo as multas por litigacircncia de maacute-feacute e por

ato atentatoacuterio a dignidade da justiccedila ndash natildeo estatildeo abarcadas pela gratuidade da justiccedila pois

elas satildeo puniccedilotildees a comportamentos iliacutecitos ldquoE natildeo poderia ser diferente a gratuidade da

justiccedila natildeo pode servir como escudo para a procrastinaccedilatildeo e a litigacircncia de maacute-feacute Daiacute a razatildeo

pela qual o beneficiaacuterio da justiccedila gratuita deve ser executado normalmente em relaccedilatildeo a

elesrdquo (NERY JUNIOR NERY 2015 p 474)

25 Modulaccedilatildeo do benefiacutecio

Outra importante novidade trazida pela Lei nordm 1310515 foi a possibilidade do juiz

modular os efeitos do benefiacutecio abrangendo apenas alguns dos custos do processo ou mesmo

parcelar as despesas processuais (art 98 sectsect5ordm e 6ordm CPC)

Tal medida eacute interessante ao passo que o postulante pode ter condiccedilotildees financeiras

de arcar apenas com algumas despesas processuais como por exemplo as custas e taxas

todavia natildeo dispor de recursos para pagar os honoraacuterios periciais por exemplo Ainda ao

longo do processo pode sobrevir mudanccedila na condiccedilatildeo financeira da parte e ela passar por

dificuldades para custear as despesas processuais nesse ponto o juiz poderaacute conceder-lhe os

benefiacutecios a partir de tal momento

A possibilidade de parcelamento das despesas processuais sugere que o legislador

quis dizer que a concessatildeo da gratuidade da justiccedila eacute a uacuteltima opccedilatildeo sendo possiacutevel agrave parte

arcar com as despesas de forma parcelada o juiz deve optar pelo seu seccionamento e natildeo a

sua dispensa (NERY JUNIOR NERY 2015 p 474)

26 Responsabilidade do beneficiaacuterio

A gratuidade da justiccedila como jaacute dito eacute um instrumento do acesso agrave justiccedila daqueles

que se declaram financeiramente desprovidos de condiccedilotildees de custear o processo Isso

164

significa que se o beneficiaacuterio for perdedor em uma demanda ele seraacute igualmente responsaacutevel

pelo pagamento do ocircnus inerente a sua derrota a diferenccedila reside no fato de poder exigir ou

natildeo a sua cobranccedila

Se o beneficiaacuterio for vencido ele teraacute responsabilidade pelas despesas processuais

ele deveraacute reembolsar os gastos realizados pela outra parte seraacute condenado agraves verbas

sucumbenciais ficando todavia sob condiccedilatildeo suspensiva de exigibilidade podendo ser

cobradas pelo credor no prazo de 5 (cinco) anos contados do tracircnsito em julgado da decisatildeo

que fixou a sucumbecircncia desde que demonstre a ocorrecircncia um fato superveniente que

alterou a condiccedilatildeo financeira do beneficiaacuterio (MEDINA 2015 p 188-189)

Repisa-se a gratuidade natildeo isenta o seu beneficiaacuterio do pagamento das despesas

processuais tatildeo somente as coloca sob condiccedilatildeo suspensiva de exigibilidade

27 Requerimento e impugnaccedilatildeo

O benefiacutecio da gratuidade natildeo pode ser concedido de ofiacutecio pelo juiz devendo a

parte interessada requerecirc-lo no primeiro momento em que ela ingressa no feito ndash peticcedilatildeo

inicial contestaccedilatildeo ou na peccedila de ingresso do terceiro interveniente ndash ou em um momento

posterior ndash por meio de peticcedilatildeo simples ou mesmo no bojo de outra manifestaccedilatildeo ndash inclusive

na m grau recursal (art 99 caput e sect1ordm do CPC)

Nesse aspecto natildeo haacute um momento processual preacute-estabelecido e uacutenico para o

requerimento da gratuidade da justiccedila todavia o tempo do pedido eacute importante para delimitar

quais satildeo as despesas processuais que se dispensa o adiantamento isto porque a concessatildeo do

benefiacutecio tem efeito prospectivo natildeo alcanccedilando os atos processuais jaacute praticados

(OLIVEIRA 2015 p 371-372)

O requerimento natildeo demanda maiores formalidades devendo a parte apenas declarar

a insuficiecircncia de recursos se pessoa natural no caso de pessoa juriacutedica deveraacute ainda

comprovar a necessidade do benefiacutecio

O juiz ao analisar o pedido de gratuidade formulado apenas o indeferiraacute se nos autos

existiram elementos que demonstrem que o postulante natildeo preenche o pressuposto da

insuficiecircncia de recursos Todavia antes de indeferi-lo deve oportunizar a parte que

comprove a alegada carecircncia financeira para custear o processo (art 99 sect2ordm CPC)

A oportunidade de ser ouvido antes do indeferimento do pedido de gratuidade da

justiccedila somente se aplica a pessoa natural uma vez que em seu favor haacute presunccedilatildeo de

veracidade da alegaccedilatildeo de hipossuficiecircncia natildeo necessitando juntar qual prova nesse sentido

165

no momento da realizaccedilatildeo do pedido diferentemente do que acontece com a pessoa juriacutedica

que ao postular o benefiacutecio jaacute deve comprovar a sua necessidade (OLIVEIRA 2015 p 373)

Importante destacar que o Coacutedigo de Processo Civil encerrando discussotildees

expressamente previu que a assistecircncia do requerente por advogado particular por si soacute natildeo

constitui oacutebice para a concessatildeo do benefiacutecio (art 99 sect4ordm)

Na hipoacutetese de natildeo concessatildeo do pedido o requerente poderaacute interpor agravo de

instrumento nos termos do art 101 caput do CPC salvo se a questatildeo for solvida na

sentenccedila hipoacutetese em que caberaacute apelaccedilatildeo De outro lado se concedido poderaacute a parte

contraacuteria impugnaacute-lo

A impugnaccedilatildeo agrave gratuidade da justiccedila sofreu importantes alteraccedilotildees com o Coacutedigo de

Processo Civil a primeira delas eacute que ela natildeo mais se processa em autos apartados devendo

ser formulada nos proacuteprios autos Sem maiores formalidades a impugnaccedilatildeo deve ser

oferecida pela parte no primeiro momento posterior agrave concessatildeo que lhe couber falar nos

autos ou seja se o benefiacutecio for deferido por ocasiatildeo da peticcedilatildeo inicial deve o reacuteu impugnaacute-

la jaacute na contestaccedilatildeo se concedido ao reacuteu por ocasiatildeo da contestaccedilatildeo deve o autor impugnaacute-la

na reacuteplica se deferido no momento da interposiccedilatildeo do recurso a impugnaccedilatildeo deve ser

oferecida nas contrarrazotildees recursais e se o pedido for superveniente deve a parte contraacuteria

impugnaacute-lo no prazo de 15 (quinze) dias contados de sua concessatildeo

Haacute todavia algumas questotildees que natildeo restaram suficientemente esclarecidas pelo

Coacutedigo de Processo Civil no que concerne a impugnaccedilatildeo agrave gratuidade da Justiccedila Entre elas

o autor Luiz Dellore (2015) aponta o termo inicial do prazo para a impugnaccedilatildeo defendendo o

autor que este deveria se dar a partir do momento que a parte contraacuteria tomasse conhecimento

da situaccedilatildeo de natildeo hipossuficiecircncia da parte sob pena de se limitar o instituto

Outro ponto diz respeito ao ocircnus da prova na impugnaccedilatildeo pois o legislador

manteve-se silente nesse aspecto

A doutrina se inclina a defender que o ocircnus de comprovar que o beneficiaacuterio natildeo faz

jus agrave gratuidade eacute do impugnante ante a existecircncia de presunccedilatildeo relativa da necessidade com

a mera alegaccedilatildeo de insuficiecircncia de recursos (NERY JUNIOR NERY 2015 p 479)

28 Revogaccedilatildeo do benefiacutecio

A revogaccedilatildeo do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila implica na obrigaccedilatildeo da parte ex-

beneficiaacuteria de recolher todas as despesas de deixou de adiantar inclusive as despesas que

foram eventualmente adiantadas pelo ente puacuteblico (periacutecia por exemplo) e as vindouras (art

166

100 paraacutegrafo uacutenico do CPC) isso no caso de a parte natildeo fazer jus ao benefiacutecio desde o

momento em que a requereu (OLIVEIRA 2015 p 377)

No entanto a revogaccedilatildeo pode se dar pelo fato de ter cessado a situaccedilatildeo de

hipossuficiecircncia econocircmica que ensejou o benefiacutecio hipoacutetese em que ela apenas teraacute que

arcar com as despesas processuais a partir do momento que passou a dispor da boa condiccedilatildeo

financeira

Ainda evidenciada a maacute-feacute do ex-beneficiaacuterio o Coacutedigo de Processo Civil prevecirc a

aplicaccedilatildeo de multa de ateacute o deacutecuplo das despesas que tiver deixado de adiantar ndash nesse caso

natildeo basta a mera revogaccedilatildeo do benefiacutecio

Decidiu-se antes da entrada em vigor do Coacutedigo que ldquodeve ser cabalmente

demonstrada a intenccedilatildeo da parte em induzir o Poder Judiciaacuterio a erro se aproveitando

indevidamente do benefiacuteciordquo (MEDINA 2015 p 191)

Em linhas gerais essas satildeo algumas das alteraccedilotildees consubstanciadas pelo Coacutedigo de

Processo Civil em relaccedilatildeo ao benefiacutecio da gratuidade da justiccedila malgrado a lei processual natildeo

tenha esgotado o tema esclareceu vaacuterios pontos que antes era debatido pela jurisprudecircncia

Aleacutem do mais importante pontuar que o legislador reformador repensou o processo

civil atento aos anseios da sociedade moderna e preocupado com a efetividade dos direitos

constitucionais ndash acesso agrave justiccedila por exemplo ndash prevendo expressamente no artigo 1ordm do

CPC que ldquoo processo civil seraacute ordenado disciplinado e interpretado conforme os valores e

normas fundamentais estabelecidas na Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasilrdquo

Ocorre entretanto que mesmo diante de significativas alteraccedilotildees o legislador ainda

natildeo preencheu ou objetivou o pressuposto de concessatildeo dos benefiacutecios anteriormente citados

sendo remanescente o subjetivismo da anaacutelise do termo ldquoinsuficiecircncia de recursosrdquo o que

passaraacute a ser refletido no presente artigo

3 O SUBJETIVISMO DO PRESSUPOSTO INSUFICIEcircNCIA DE RECURSOS

Conforme jaacute visto o Coacutedigo de Processo Civil alterou o requisito para a concessatildeo

do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila bastando a declaraccedilatildeo de insuficiecircncia de recursos pela

pessoa natural e a sua comprovaccedilatildeo no caso de pessoa juriacutedica

Todavia eacute inegaacutevel a carga de subjetividade que haacute no conceito de insuficiecircncia de

recursos e como todo conceito juriacutedico vago traz certa inseguranccedila juriacutedica notadamente

porque pode acarretar decisotildees extremamente diacutespares no cotidiano forense uma vez que tal

anaacutelise (o que eacute insuficiecircncia de recursos) fica a criteacuterio do entendimento de cada

167

magistrado aleacutem do que pode gerar inuacutemeros abusos por parte dos seus requerentes ndash ainda

mais quando a mera alegaccedilatildeo eacute bastante agrave concessatildeo do benefiacutecio ndash que diferentemente do

que alegam gozam de boa sauacutede financeira para arcar com as despesas processuais

(TARTUCE DELLORE 2015 p 314-315)

Mesmo antes da alteraccedilatildeo do CPC ainda na Lei nordm 106050 jaacute discutia a doutrina e

a jurisprudecircncia acerca dos pressupostos para a concessatildeo do benefiacutecio ante a vagueza dos

conceitos de hipossuficiente necessitado carente de recursos financeiros para arcar com as

custas do processo sem prejuiacutezo do sustento proacuteprio e de sua famiacutelia e a falta de um criteacuterio

objetivo miacutenimo para a concessatildeo do benefiacutecio5

Nada obstante o progresso vivenciado com o Coacutedigo de Processo Civil de 2015 no

que tange a gratuidade da justiccedila vecirc-se que no ponto concernente agrave triagem dos

hipossuficientes de recursos o legislador conservou um conceito juriacutedico indeterminado

Segundo Frederico do Valle Abreu (2005) o conceito juriacutedico indeterminado eacute

caracterizado pela ldquovaguidade semacircntica existente em certa norma com a finalidade de que

ela a norma permaneccedila ao ser aplicada sempre atual e correspondente aos anseios da

sociedade nos vaacuterios momentos histoacutericos em que a lei eacute interpretada e aplicadardquo

Assim o conteuacutedo abstrato do pressuposto insuficiecircncia de recursos tenha sido

propositadamente pensado pelo legislador por entender que o inteacuterprete na anaacutelise casuiacutestica

goza de melhores condiccedilotildees para valoraacute-lo refletindo pois uma decisatildeo mais justa

O autor Augusto Tavares Rosa Marcacini defende que a insuficiecircncia de recursos eacute

um conceito indeterminado e natildeo segue um padratildeo rigoroso por isso a melhor soluccedilatildeo eacute a

anaacutelise caso a caso

O conceito de necessitado natildeo eacute determinado mediante regras riacutegidas matemaacuteticas natildeo se utilizando limites numeacutericos determinados Tecircm direito ao benefiacutecio aqueles que natildeo podem arcar com os gastos necessaacuterios agrave participaccedilatildeo no processo na medida em que contabilizados os seus ganhos e os seus gastos com o proacuteprio sustento e da famiacutelia natildeo lhe reste numeraacuterio suficiente para tanto O direito ao benefiacutecio decorre da indisponibilidade financeira do sujeito Em face da notoacuteria insuficiecircncia do salaacuterio miacutenimo vigente em nosso paiacutes pode ser possiacutevel presumir que aquele que aufere ateacute cinco salaacuterios miacutenimos por exemplo eacute quase que certamente merecedor de usufruir dos benefiacutecios Mas como dissemos natildeo se deve utilizar nuacutemeros fechados como criteacuterio Um chefe de uma famiacutelia numerosa que pague aluguel e que tenha filhos em idade escolar por exemplo mesmo percebendo o equivalente a dez salaacuterios miacutenimos pode natildeo ter condiccedilotildees de arcar com as despesas de um processo De outro lado um jovem que viva com os pais os quais

5 Fernanda Tartuce e Luiz Dellore por exemplo no artigo escrito em coautoria Gratuidade da Justiccedila no novo CPC divergem sobre o assunto enquanto ela acredita ser acertada a opccedilatildeo do legislador em trazer um conceito dotado de subjetividade por outro lado ele discorda defendendo que ainda que a norma deixasse uma margem para a decisatildeo do juiz de acordo com a casuiacutestica deveria ao menos estabelecer um criteacuterio objetivo miacutenimo de modo a evitar disparidades nas decisotildees (2015 314-315)

168

provecircm o seu sustento moradia e estudo e que ganhe uns dois ou trecircs salaacuterios miacutenimos que natildeo satildeo empregados em qualquer despesa essencial para sua mantenccedila pode natildeo ser considerado beneficiaacuterio (2009 p 90-91)

Nesse espectro o aplicador da norma juriacutedica eacute quem tem o poder-dever de

materializar no caso concreto o conceito juriacutedico indeterminado do que eacute ser necessitado

economicamente para arcar com as despesas processuais dando assim maior efetividade ao

preceito constitucional do acesso agrave justiccedila

Atento agraves alteraccedilotildees do Coacutedigo de Processo Civil quanto ao tema leciona Rafael

Alexandria de Oliveira

Insuficiecircncia de recursos Faz jus ao benefiacutecio da gratuidade aquela pessoa com lsquoinsuficiecircncia de recursos para pagar as custas despesas processuais e honoraacuterios advocatiacuteciosrsquo Natildeo se exige a miserabilidade nem estado de necessidade nem tampouco se fala em renda familiar ou faturamento maacuteximos Eacute possiacutevel que uma pessoa natural mesmo com boa renda mensal seja merecedora do benefiacutecio e que tambeacutem o seja aquele sujeito que eacute proprietaacuterio de bens imoacuteveis mas natildeo dispotildee de liquidez A gratuidade judiciaacuteria eacute um dos mecanismos de viabilizaccedilatildeo do acesso agrave justiccedila natildeo se pode exigir que para ter acesso agrave justiccedila o sujeito tenha que comprometer significativamente a sua renda ou tenha que se desfazer de seus bens liquidando-os para angariar recursos e custear o processo A lei natildeo fala em nuacutemeros natildeo estabelece paracircmetros O sujeito que ganha boa renda mensal pode ser tatildeo merecedor do benefiacutecio quanto aquele que sobrevive agrave custa de programas de complementaccedilatildeo de renda O que pode diferenciaacute-los eacute a maior ou menor dificuldade com que o pedido de concessatildeo do benefiacutecio eacute tratado o de melhor renda pode ser chamado a justificar o seu requerimento provando a insuficiecircncia de recursos Por isso mesmo nem sempre o beneficiaacuterio seraacute algueacutem em situaccedilatildeo de necessidade de vulnerabilidade de miseacuteria de penuacuteria Eacute preciso atentar para isso (2015 p 359)

Eacute compreensiacutevel a carga de subjetividade impregnada ao termo insuficiecircncia de

recursos notadamente porque o legislador adotando a teoria do direito processual

constitucional (art 1ordm do CPC) quis que a normativa do benefiacutecio atendesse realmente agraves

exigecircncias da sociedade hodierna deixando ao encargo do juiz o dever juriacutedico de buscar

identificar e adotar a soluccedilatildeo apta a no caso concreto alcanccedilar satisfatoriamente a finalidade6

da norma ndash de que garantir a todos o acesso agrave justiccedila

Todavia eacute cediccedilo que a valoraccedilatildeo de um conceito subjetivo pelo magistrado (assim

como para qualquer pessoa) transcende a sua formaccedilatildeo juriacutedica e mesmo que inconsciente

revela suas convicccedilotildees pessoais (crenccedilas valores referecircncias sociais) deste modo o que no

sentir de um julgador eacute pessoa hipossuficiente aos olhos do outro natildeo o eacute eacute aiacute que repousam

as ldquoinjusticcedilasrdquo

6 Interpretaccedilatildeo teleoloacutegica

169

A falta de a lei definir um criteacuterio objetivo miacutenimo para se determinar o que eacute a

insuficiecircncia de recursos demandou trabalho da doutrina e especialmente da jurisprudecircncia

que mesmo timidamente adotou os mais diversos paracircmetros

Nesse sentido uma das primeiras orientaccedilotildees que surge na jurisprudecircncia eacute a

necessidade de prova cabal da insuficiecircncia de recursos para a concessatildeo do benefiacutecio da

gratuidade agraves pessoas juriacutedicas7 Depois de muita discussatildeo o entendimento sedimentado na

jurisprudecircncia8 foi consagrado pelo legislador no Coacutedigo de Processo Civil de 2015 em seu

artigo 98 caput

Tambeacutem se firmou o entendimento de que o requerente que se dedica a emprestar

dinheiro natildeo faz jus ao benefiacutecio uma vez que tal circunstacircncia eacute incompatiacutevel com a alegada

necessidade (NERY JUNIOR NERY 2015 p 475)

Os Tribunais tambeacutem jaacute fixaram como criteacuterio objetivo para se determinar se o

requerente eacute realmente hipossuficiente a renda mensal inferior a dez salaacuterios miacutenimos9

todavia o Superior Tribunal de Justiccedila jaacute refutou a utilizaccedilatildeo desse criteacuterio sob o fundamento

de que a desconstituiccedilatildeo da presunccedilatildeo estabelecida pela lei de gratuidade de justiccedila exige

perquirir in concreto a atual situaccedilatildeo financeira do requerenterdquo10

Outro paracircmetro que tem sido utilizado pelos juristas para aferir a condiccedilatildeo de

miserabilidade do requerente eacute a faixa de isenccedilatildeo do Imposto de Renda extraiacutedo da tabela

progressiva do tributo devidamente atualizada11

O criteacuterio do patrociacutenio da causa por advogado particular para afastar a benesse jaacute

era rechaccedilado pela jurisprudecircncia12 e foi recepcionado pelo atual Coacutedigo de Processo Civil em

seu artigo 99 sect4ordm 7 Assistecircncia judiciaacuteria Pessoa juriacutedica Demonstraccedilatildeo cabal da insuficiecircncia de recursos 1 Ademais de fundamentado exclusivamente na interpretaccedilatildeo do art 5ordm LXXIV da Constituiccedilatildeo Federal o certo eacute que a Corte jaacute assentou a necessidade de demonstraccedilatildeo cabal da insuficiecircncia de recursos para que a empresa possa desfrutar dos benefiacutecios da assistecircncia judiciaacuteria 2 Recurso especial natildeo conhecido (STJ - REsp 182557 RJ 19980053550-0 Relator Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO Data de Julgamento 02091999 T3 - TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJ 25101999 p 79) 8 Suacutemula 481 STJ Faz jus ao benefiacutecio da justiccedila gratuita a pessoa juriacutedica com ou sem fins lucrativos que demonstrar sua impossibilidade de arcar com os encargos processuais 9 ADMINISTRATIVO AGRAVO DE INSTRUMENTO ASSISTEcircNCIA JUDICIAacuteRIA GRATUITA - AJG PARAcircMETRO DEZ SALAacuteRIOS MIacuteNIMOS 1 A Segunda Seccedilatildeo desta Corte vem consolidando entendimento no sentido de fixar patamar objetivo para a concessatildeo do benefiacutecio da AJG qual seja dez salaacuterios miacutenimo 2 Hipoacutetese em que a agravante comprovou renda mensal bem inferior ao limite paradigmaacutetico destacado inexistindo qualquer razatildeo para o indeferimento do pleito em prestiacutegio agrave norma de regecircncia (Lei n 10601950) e ao princiacutepio da acessibilidade (artigo 5ordm XXXV Constituiccedilatildeo Federal) (TRF-4 - AG 50101513420134040000 5010151-3420134040000 Relator NICOLAU KONKEL JUacuteNIOR Data de Julgamento 14082013 TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DE 16082013) 10 STJ - AgRg no AREsp 626487 MG 20140315675-3 Relator Ministro RICARDO VILLAS BOcircAS CUEVA Data de Julgamento 28042015 T3 - TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJe 07052015 11 TJ-PR - AI 14520235 PR 1452023-5 (Decisatildeo Monocraacutetica) Relator Paulo Cezar Bellio Data de Julgamento 27102015 16ordf Cacircmara Ciacutevel Data de Publicaccedilatildeo DJ 1683 05112015

170

O Superior Tribunal de Justiccedila preconiza que o inteacuterprete deve conjugar o binocircmio

necessidade-possibilidade assim para se conceder o benefiacutecio da gratuidade da justiccedila deve-

se considerar natildeo apenas os rendimentos mensais do requerente mas tambeacutem o

comprometimento de suas despesas13

A anaacutelise da condiccedilatildeo financeira do postulante deve ficar restrita a sua situaccedilatildeo

presente e natildeo ao seu histoacuterico de riquezas o simples fato de o requerente jaacute ter sido rico

empresaacuterio ou pessoa de posses natildeo significa que natildeo possa ser hoje pessoa pobre na

acepccedilatildeo juriacutedica do termo e necessitar da assistecircncia judiciaacuteria Da mesma forma a reciacuteproca

eacute verdadeira o pobre que eacute beneficiaacuterio da gratuidade pode por fatores supervenientes

tornar-se pessoa abastada financeiramente o que certamente lhe cassaraacute o benefiacutecio (NERY

JUNIOR NERY 2015 p 477)

Destarte a adoccedilatildeo pelo juiz de um paracircmetro como ponto de partida para verificar o

preenchimento dos requisitos para a concessatildeo da justiccedila gratuita natildeo deve ser visto como

violador da norma Bem da verdade a gratuidade da justiccedila eacute uma das portas de acesso ao

Poder Judiciaacuterio entretanto natildeo pode ser utilizada pelo beneficiaacuterio tatildeo-somente para se

furtar das obrigaccedilotildees oriundas do processo

A Lei nordm 106050 exigia em sua redaccedilatildeo original que o requerente comprovasse o

estado de pobreza alegado hoje ndash a partir da nova redaccedilatildeo dada ao art 4ordm sect1ordm da referida lei

pela Lei Federal nordm 751086 ndash basta a simples afirmaccedilatildeo de necessidade do benefiacutecio o que

inclusive eacute referendado pela jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila14 Nesse sentir o

12 Assistecircncia judiciaacuteria Defensoria Puacuteblica Advogado particular Interpretaccedilatildeo da Lei nordm 106050 1 Natildeo eacute suficiente para afastar a assistecircncia judiciaacuteria a existecircncia de advogado contratado O que a lei especial de regecircncia exige eacute a presenccedila do estado de pobreza ou seja da necessidade da assistecircncia judiciaacuteria por impossibilidade de responder pelas custas que poderaacute ser enfrentada com prova que a desfaccedila Natildeo serve para medir isso a qualidade do defensor se puacuteblico ou particular 2 Recurso especial conhecido e provido (STJ - REsp 679198 PR 20040103656-9 Relator Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO Data de Julgamento 21112006 T3 - TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJ 16042007 p 184) 13 STJ - REsp 263781 SP 20000060786-0 Relator Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO Data de Julgamento 22052001 T3 - TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo lt-- DTPB 20010813ltbrgt --gt DJ 13082001 p 150ltbrgt JBCC vol 193 p 249 14PROCESSUAL CIVIL RECONHECIMENTO DE CONCUBINATO E PARTILHA DE BENS PEDIDO ALTERNATIVO DE INDENIZACcedilAtildeO POR SERVICcedilOS PRESTADOS INDEFERIMENTO DE PLANO DA INICIAL IMPOSSIBILIDADE CERCEAMENTO DE DEFESA ASSISTEcircNCIA JUDICIAacuteRIA E GRATUIDADE DA JUSTICcedilA ALEGACcedilAtildeO DA PARTE DESNECESSIDADE DE DEMONSTRACcedilAtildeO DE O ADVOGADO NAtildeO ESTAR SENDO REMUNERADO PRESUNCcedilAtildeO RECURSO PROVIDO Pelo sistema legal vigente faz jus a parte aos benefiacutecios da assistecircncia judiciaacuteria mediante simples afirmaccedilatildeo na proacutepria peticcedilatildeo de que natildeo estaacute em condiccedilotildees de pagar as custas do processo e os honoraacuterios de advogado sem prejuiacutezo proacuteprio ou de sua famiacutelia O deferimento da gratuidade garantia assegurada constitucionalmente aos economicamente hipossuficientes (Constituiccedilatildeo art 5ordm LXXIV) natildeo exige que a parte demonstre que o advogado natildeo estaacute sendo por ela remunerado Enquanto a Justiccedila gratuita isenta de despesas processuais e condenaccedilatildeo em honoraacuterios advocatiacutecios a assistecircncia judiciaacuteria mais ampla enseja tambeacutem o patrociacutenio por profissional habilitado Caracteriza cerceamento de defesa o indeferimento de plano da inicial de accedilatildeo que pretendeu o reconhecimento de concubinato e partilha de bens com pedido alternativo de indenizaccedilatildeo de

171

aplicador do direito exerce um fundamental papel para que o processo natildeo seja um fim em si

mesmo mas sim um instrumento para a materializaccedilatildeo de um direito

Nota-se que o indeterminismo do termo insuficiecircncia de recursos aliado a mera

alegaccedilatildeo da necessidade poderia transviar o sentido da norma devendo o magistrado ficar

atento para que os privilegiados de fortuna natildeo ingressem gratuitamente no feito

Assim havendo elementos no processo que infirmem a alegaccedilatildeo do postulante ndash que

goza de presunccedilatildeo iuris tantum ndash a hipossuficiecircncia deve ser comprovada

Duacutevida fundada quanto agrave pobreza O juiz da causa valendo-se de criteacuterios

objetivos pode entender que a natureza da accedilatildeo movida pelo interessado demonstra que ele possui porte econocircmico para suportar as despesas do processo A declaraccedilatildeo pura e simples do interessado conquanto seja o uacutenico entrave burocraacutetico que se exige para liberar o magistrado para decidir em favor do peticionaacuterio natildeo eacute prova inequiacutevoca daquilo que ele afirma nem obriga o juiz a se curvar aos seus dizeres se de outras provas e circunstacircncias ficar evidenciado que o conceito de pobreza que a parte invoca natildeo eacute aquele que justifica a concessatildeo do privileacutegio Cabe ao magistrado livremente fazer juiacutezo de valor acerca do termo pobreza deferindo ou natildeo o benefiacutecio (NERY JUNIOR NERY 2015 p 477)

Infelizmente a finalidade do benefiacutecio natildeo raras vezes eacute distorcida seja pela

abstraccedilatildeo do conceito ou mesmo pela lisura do ser humano e isso contribui para o aumento de

demandas desqualificadas respaldadas na ausecircncia de riscos no caso de improcedecircncia

Para Maacutercio Pirocircpo Galvatildeo (2010) os mecanismos de acesso agrave justiccedila fomentam

accedilotildees despretensiosas ndash e cita como exemplos as accedilotildees trabalhistas e aquelas do acircmbito dos

Juizados Especiais ndash exclusivamente pela ausecircncia de custo econocircmico defende inclusive

que o acesso ao Judiciaacuterio de forma gratuita virou uma ldquoloteria onde todos querem tentar a

sorterdquo

E continua o autor citando a decisatildeo do Juiz de Direito da 2ordf Vara Ciacutevel da Comarca

de Dourados Dr Joseacute Carlos de Souza que as demandas desnecessaacuterias ldquoabarrotam o Poder

Judiciaacuterio e dificultam o acesso agrave Justiccedila de jurisdicionados com pretensotildees mais nobres

Incentivam o aumento da inadimplecircncia e sedimentam a cultura do natildeo-cumprimento dos

contratos [] Configuram provocaccedilatildeo abusiva da maacutequina judiciaacuteria e maacute-feacute do devedorrdquo

(GALVAtildeO 2010)

Como visto a utilizaccedilatildeo abusiva da gratuidade da justiccedila pode representar o

congestionamento da maacutequina judicial comprometendo a razoaacutevel duraccedilatildeo do processo e ao

serviccedilos prestados sem possibilitar agrave parte a produccedilatildeo de qualquer prova notadamente em se tratando de alegado relacionamento de mais de trinta anos (Recurso Especial nordm 91609SP 4ordf Turma do STJ Rel Min Saacutelvio de Figueiredo Teixeira Recorrente A P M R Recorrida V G F B j 160498 un DJU 080698 p 113)

172

reveacutes de seu proposito servir como oacutebice ao efetivo acesso agrave justiccedila daqueles que tem

realmente tem urgecircncia na prestaccedilatildeo jurisdicional

Talvez uma boa alternativa para se evitar decisotildees diacutespares e a banalizaccedilatildeo do

benefiacutecio ante a carga de subjetividade do seu pressuposto fosse exigir uma comprovaccedilatildeo

miacutenima da insuficiecircncia de recursos Afinal quem realmente necessita do benefiacutecio natildeo teria

dificuldade alguma em demonstrar a sua impossibilidade financeira para arcar com as

despesas processuais

Eacute certo que a Lei nordm 106050 e agora o Coacutedigo de Processo Civil estabelecem ocircnus

ao litigante que de maacute-feacute requereu o benefiacutecio da gratuidade todavia a prova nesse sentido

deve ser contundente o que estimula de certa forma pedidos indiscriminados de gratuidade

uma vez que sopesando os riscos os ganhos prevalecem

Destarte o que se percebe eacute que nesse ponto o legislador civil natildeo conseguiu

encerrar as discussotildees deixando a soluccedilatildeo para a doutrina e a jurisprudecircncia agora basta

saber como as discussotildees seratildeo encaminhadas de modo que natildeo se instale ndash ou aumente ndash um

estado de desconfianccedila em torno do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila em decorrecircncia dos

abusos praticados mas que tambeacutem natildeo se deixe de cumprir a sua preciacutepua finalidade

constitucional de ser um instrumento de acesso ao Judiciaacuterio daqueles que natildeo desfrutam de

plenas condiccedilotildees financeiras

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O atual Coacutedigo de Processo Civil atuou muito positivamente no que pertine ao

instituto da Gratuidade da Justiccedila ele alvoreceu pontos que a Lei nordm 106050 era retroacutegrada e

mesmo silente bem como normatizou questotildees jaacute consolidadas pela jurisprudecircncia

Em contrapartida a legislaccedilatildeo processual civil natildeo se fez clara quanto ao pressuposto

para a concessatildeo do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila mormente porque se limitou a prever

que a simples afirmaccedilatildeo de insuficiecircncia de recursos para pagar as despesas processuais eacute

suficiente ao seu deferimento

Afinal o que insuficiecircncia de recursos Qual o criteacuterio objetivo para se definir quem

se enquadra ou natildeo nesse perfil Mais uma vez a lei que trata sobre a gratuidade da justiccedila

silenciou nesse pormenor reservando ao aplicador do direito a missatildeo de examinar

casuisticamente quem eacute merecedor ou natildeo da benesse partindo de uma interpretaccedilatildeo

alicerccedilada na finalidade da lei ndash promover o acesso agrave justiccedila

173

Assim duas questotildees surgem A primeira eacute se o legislador foi relapso ou se ele

propositadamente preferiu a um conceito indeterminado para a concessatildeo do benefiacutecio E a

segunda eacute se ele agiu bem

E ao que se conclui eacute que a preferecircncia por um termo dotado de subjetivismo tem

um propoacutesito qual seja permitir que a lei seja adaptaacutevel as mais diversas situaccedilotildees do

cotidiano forense de modo a tornar o acesso agrave justiccedila um direito fundamental mais efetivo

Conquanto agrave segunda questatildeo (se ele agiu bem) apenas a experiecircncia praacutetica poderaacute dizer

notadamente porque vai depender e muito da consciecircncia do postulante (e seu advogado) o

qual eacute o real sabedor de sua condiccedilatildeo financeira

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ABREU Frederico do Valle Conceito juriacutedico indeterminado interpretaccedilatildeo da lei

processo e suposto poder discricionaacuterio do magistrado Jus Navigandi Teresina ano 9 n

674 10 maio 2005 Disponiacutevel em lthttpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=6674gt

Acesso em 27032016

ANGHER Anne Joyce (Org) Vade mecum acadecircmico de direito Rideel 21ed

atual e ampl Satildeo Paulo Rideel 2015

BRASIL Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Recurso Especial nordm

19980053550-0 Relator Ministro Carlos Alberto Menezes Data de Julgamento 02091999

Data de Publicaccedilatildeo DJ 25101999 p 79

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Agravo Regimental no Recurso

Especial nordm 20140315675-3 Relator Ministro Ricardo Villas Bocircas Cueva Data de

Julgamento 28042015 Data de Publicaccedilatildeo DJe 07052015

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Recurso Especial nordm

20040103656-9 Relator Ministro Carlos Alberto Menezes Direito Data de Julgamento

21112006 Data de Publicaccedilatildeo DJ 16042007 p 184

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Recurso Especial

20000060786-0 Relator Ministro Carlos Alberto Menezes Direito Data de Julgamento

22052001 Data de Publicaccedilatildeo 13082001 p 150

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Quarta Turma Recurso Especial 91609SP

Relator Ministro Saacutelvio de Figueiredo Teixeira Data de Publicaccedilatildeo 08061998 p 113

174

_____ Tribunal Regional Federal (4ordf Regiatildeo) Terceira Turma Agravo nordm

50101513420134040000 5010151-3420134040000 Relator Nicolau Konkel Juacutenior Data

de Julgamento 14082013Data de Publicaccedilatildeo 16082013

_____ Tribunal de Justiccedila do Estado do Paranaacute 16ordf Cacircmara Ciacutevel Agravo de

Instrumento nordm 14520235 PR 1452023-5 (Decisatildeo Monocraacutetica) Relator Paulo Cezar Bellio

Data de Julgamento 27102015 Data de Publicaccedilatildeo 05112015

CAPPELLETTI Mauro GARTH Bryant Acesso agrave justiccedila Trad Ellen Gracie

Northfleet Porto Alegre Seacutergio Fabris Editor 2002

CARNEIRO Paulo Cezar Pinheiro Normas Fundamentais do Processo Civil Em

Breves Comentaacuterios ao Novo Coacutedigo de Processo Civil Tereza Arruda Alvim Wambier et

al[coord] Satildeo Paulo Editora RT 2015

DELLORE Luiz Novo CPC o lado A da justiccedila gratuita Disponiacutevel em http

httpjotauolcombrjustica-gratuita-novo-cpc-lado publicado em 09 de marccedilo de 2015

Acesso em 27032016

______ Novo CPC o lado B da justiccedila gratuita Disponiacutevel em

httpjotauolcombrnovo-cpc-o-lado-b-da-justica-gratuita publicado em 13 de abril de

2015 Acesso em 27032016

GALESKI JUNIOR Irineu RIBEIRO Marcia Carla Pereira Direito e economia

uma abordagem sobre a assistecircncia judiciaacuteria gratuita In Publica Direito (recurso eletrocircnico

on-line) Fortaleza CONPEDI 2010

GALVAtildeO Maacutercio Pirocircpo Abuso de direito agrave gratuidade da Justiccedila Revista Jus

Navigandi Teresina ano 17 n 3339 22 ago 2012 Disponiacutevel em

lthttpsjuscombrartigos22466gt Acesso em 27032016

MARCACINI Augusto Tavares Rosa Assistecircncia Juriacutedica Assistecircncia Judiciaacuteria e

Justiccedila Gratuita Satildeo Paulo Editora Forense 2009 (ediccedilatildeo eletrocircnica)

MEDINA Joseacute Miguel Garcia Novo Coacutedigo de Processo Civil Comentado Satildeo

Paulo Editora RT 2015

NERY JUNIOR Nelson e NERY Rosa Maria de Andrade Comentaacuterios ao Coacutedigo

de Processo Civil Satildeo Paulo Editora RT 2015

NETO Emeteacuterio Silva de Oliveira VIANA Juvecircncio Vasconcelos Acesso agrave justiccedila

e o novo Coacutedigo de Processo Civil um olhar criacutetico Em Acesso agrave justiccedila (recurso eletrocircnico

on-line) Florianoacutepolis CONPEDIUFSC 2015

175

OLIVEIRA Rafael Alexandria de Da Gratuidade da Justiccedila Em Breves

Comentaacuterios ao Novo Coacutedigo de Processo Civil Tereza Arruda Alvim Wambier et

al[coord] Satildeo Paulo Editora RT 2015

SANTOS Boaventura de Souza Pela matildeo de Alice o social e o poliacutetico

na poacutes-modernidade Satildeo Paulo Cortez 2003

TARTURE Flaacutevia DELLORE Luiz Gratuidade da justiccedila no novo CPC Em

Revista de Processo Satildeo Paulo v 39 n 236 p 305-323 out 2014

176

Agrave medida que se busca a efetividade dos direitos fundamentais o direito processual

passa a ter um importante papel nessa missatildeo4 pois eacute ele quem indica qual eacute o (melhor)

caminho para se alcanccedilar o direito material sob essa perspectiva vecirc-se a necessidade de

atualizaccedilatildeo da lei processual a fim de se adequar as exigecircncias da sociedade moderna

A uacutenica lei que regulamentava o benefiacutecio da justiccedila gratuita data de 1950 eacute uma lei

natildeo soacute defasada do ponto de vista material e processual como tambeacutem dotada de

imperfeiccedilotildees teacutecnicas e entraves agrave concessatildeo do benefiacutecio Era preciso simplificar e

desmistificar para entatildeo avanccedilar ndash pelo menos um degrau ndash na universalizaccedilatildeo do acesso agrave

justiccedila e a Lei nordm 131052015 que alterou o Coacutedigo de Processo Civil (CPC) o fez

O autor Luiz Dellore (2015) ao tecer elogios ao legislador diz que ldquoas inovaccedilotildees do

CPC simplificam o procedimento buscam evitar abuso dos requentes da gratuidade e

especialmente pretendem obstar debates laterais e incidentes para que se possa focar na

discussatildeo do meacuteritordquo

2 O COacuteDIGO DE PROCESSO CIVIL EM VIGOR E AS INOVACcedilOtildeES

RELATIVAS Agrave GRATUIDADE DE JUSTICcedilA

A atualmente (e corretamente) nominada gratuidade da justiccedila foi profundamente

reformulada pelo Coacutedigo de Processo Civil As mudanccedilas satildeo muito significativas o Coacutedigo

consolidou o assunto em seis dispositivos do artigo 98 ao artigo 102 aleacutem do que revogou

expressamente vaacuterios artigos da Lei nordm 106050 (arts 2ordm 3ordm 4ordm 6ordm 7ordm 11 12 e 17)

Considerando isso o artigo pontuaraacute as alteraccedilotildees legitimadas

21Terminologia

O Coacutedigo corrigiu os equiacutevocos praticados quanto agrave terminologia que redundavam

em incompreensotildees acerca do tema Natildeo se pode confundir assistecircncia judiciaacuteria gratuita

gratuidade da justiccedila (justiccedila gratuita) e assistecircncia juriacutedica integral e gratuita

A assistecircncia judiciaacuteria gratuita consiste no patrociacutenio gratuito da causa seja por

advogado do Estado entidades conveniadas com o Estado escritoacuterios de praacutetica juriacutedica das

faculdades de Direito ou mesmo advogados particulares nomeados como dativos Jaacute a

gratuidade da justiccedila traduz-se na isenccedilatildeo para o adiantamento das custas do processo Por

4 O processo natildeo deveria ser colocado no vaacutecuo Os juiacutezes precisam agora reconhecer que as teacutecnicas processuais servem a questotildees sociais [] o lsquoacessorsquo natildeo eacute apenas um direito social fundamental crescentemente reconhecido ele eacute tambeacutem necessariamente o ponto central da moderna processualiacutestica CAPPELLETTI Mauro GARTH Bryant Acesso agrave justiccedila Trad Ellen Gracie Northfleet Porto Alegre Seacutergio Fabris Editor 2002 p 5

159

sua vez a assistecircncia juriacutedica integral e gratuita engloba aleacutem da representaccedilatildeo do

hipossuficiente em juiacutezo a orientaccedilatildeo juriacutedica dele em questotildees extrajudiciais (TARTUCE

DELLORE 2014 p 308 e 309)

Preconiza Rafael Alexandria de Oliveira

Eacute comum a confusatildeo quanto aos conceitos de benefiacutecio da justiccedila gratuita (ou da gratuidade da justiccedila ou ainda da gratuidade judiciaacuteria) de assistecircncia judiciaacuteria e de assistecircncia juriacutedica Todos eles decorrem do direito fundamental agrave assistecircncia juriacutedica integral e gratuita de que trata o art 5ordm LXXIV da CF1988 mas natildeo se confundem Pontes de Miranda (a) benefiacutecio da justiccedila gratuita eacute como jaacute dito a dispensa do adiantamento de despesas processuais para o qual se exige a tramitaccedilatildeo de um processo judicial o requerimento da parte interessada e o deferimento do juiacutezo perante o qual o processo tramita (b) assistecircncia judiciaacuteria consiste no direito de a parte ser assistida gratuitamente por um profissional do Direito normalmente membro da Defensoria Puacuteblica da Uniatildeo do Estados ou do Distrito Federal e que natildeo depende do deferimento do juiacutezo nem mesmo da existecircncia de um processo judicial (c) assistecircncia juriacutedica eacute um conceito mais amplo que abrange o benefiacutecio da justiccedila gratuita e a assistecircncia judiciaacuteria mas vai aleacutem deles englobando todas as iniciativas do Estado (em sentido amplo) que tecircm por objetivo promover uma aproximaccedilatildeo entre a sociedade e os serviccedilos juriacutedicos ndash como por exemplo as campanhas de conscientizaccedilatildeo de direitos do consumidor promovidas por oacutergatildeos administrativos e os serviccedilos juriacutedicos itinerantes prestados agrave populaccedilatildeo carente (2015 p 355)

Semelhantemente Augusto Tavares Rosa Marcacini desenvolve um conceito

distinguindo os institutos da assistecircncia judiciaacuteria justiccedila gratuita e a assistecircncia juriacutedica

integral e gratuita

A Constituiccedilatildeo Federal de 1988 em seu artigo 5ordm inciso LXXIV inclui entre os direitos e garantias individuais a assistecircncia juriacutedica integral e gratuita Utiliza a Lei Maior um terceiro conceito que tambeacutem natildeo deve ser confundido como sinocircnimo de assistecircncia judiciaacuteria ou justiccedila gratuita Por justiccedila gratuita deve ser entendida a gratuidade de todas as causas e despesas judiciais ou natildeo relativas a atos necessaacuterios ao desenvolvimento do processo e agrave defesa dos direitos do beneficiaacuterio em juiacutezo O benefiacutecio da justiccedila gratuita compreende a isenccedilatildeo de toda e qualquer despesa necessaacuteria ao pleno exerciacutecio dos direitos e das faculdades processuais sejam tais despesas judiciais ou natildeo Abrange assim natildeo somente as custas relativas aos atos processuais a serem praticados como tambeacutem todas as despesas decorrentes de efetiva participaccedilatildeo na relaccedilatildeo processual A assistecircncia judiciaacuteria envolve o patrociacutenio gratuito da causa por advogado A assistecircncia judiciaacuteria eacute pois um serviccedilo puacuteblico organizado consistente na defesa em juiacutezo do assistido que deve ser oferecido pelo Estado mas que pode ser desempenhado por entidades natildeo-estatais conveniadas ou natildeo com o Poder Puacuteblico [] Por sua vez a assistecircncia juriacutedica engloba a assistecircncia judiciaacuteria sendo ainda mais ampla que esta por envolver tambeacutem serviccedilos juriacutedicos natildeo relacionados ao processo tais como orientaccedilotildees individuais ou coletivas o esclarecimento de duacutevidas e mesmo um programa de informaccedilatildeo a toda a comunidade (2009 p 40-43)

O Coacutedigo de Processo Civil ao usar o termo teacutecnico gratuidade da justiccedila

acertadamente corrigiu as distorccedilotildees terminoloacutegicas afastando qualquer possibilidade de

160

confusatildeo que se possa fazer com a assistecircncia judiciaacuteria gratuita e a assistecircncia juriacutedica

integral e gratuita

22 Beneficiaacuterios

De acordo com a legislaccedilatildeo processual em vigor podem ser beneficiaacuterios da justiccedila

gratuita a pessoa natural ou juriacutedica brasileira ou estrangeira

A redaccedilatildeo do Coacutedigo de Processo Civil encerrou uma discussatildeo histoacuterica pontuada

jurisprudencialmente pelo STJ e agora reconhecida legislativamente ao prever (art 98

caput) que a pessoa juriacutedica tem direito ao benefiacutecio da gratuidade da justiccedila

Para que a pessoa juriacutedica seja beneficiada com a gratuidade da justiccedila natildeo basta a

mera declaraccedilatildeo devendo demonstrar que efetivamente necessita do benefiacutecio

independentemente de ter ou natildeo finalidade lucrativa (MEDINA 2015 p 190)

Natildeo obstante a utilizaccedilatildeo do termo ldquopessoardquo entende-se que o benefiacutecio pode ser

gozado pelos entes despersonalizados como por exemplo o condomiacutenio a massa falida etc

(OLIVEIRA 2015 p 357-358)

Aleacutem disso o art 98 estende o benefiacutecio da justiccedila gratuita aos estrangeiros sejam

eles residentes ou natildeo no paiacutes diferentemente do que traz o caput do art 5ordm da CF88 que em

relaccedilatildeo agrave generalidade dos direitos fundamentais engloba apenas os estrangeiros residentes no

paiacutes (NERY JUNIOR NERY 2015 p 472)

23 Pressupostos

A letra do Coacutedigo de Processo Civil alterou o aspecto objetivo para a concessatildeo do

benefiacutecio passando a constar apenas a ldquoinsuficiecircncia de recursos financeirosrdquo para o

adiantamento das custas natildeo mais se exige a situaccedilatildeo de miserabilidade da parte requerente

como tambeacutem se aboliu o uso da expressatildeo ldquoa parte natildeo pode arcar com as custas sem

prejuiacutezo do sustento proacuteprio ou da famiacuteliardquo

Para que se conceda o benefiacutecio haacute uma presunccedilatildeo iuris tantum de veracidade da

declaraccedilatildeo feita pela parte pessoa natural mas soacute com relaccedilatildeo agrave pessoa natural a pessoa

juriacutedica deve comprovar a impossibilidade de adiantar as custas

Apesar desta mudanccedila de paradigma a lei natildeo dispocircs de forma suficientemente clara

o que significa ldquoinsuficiecircncia de recursosrdquo e quais seriam os seus paracircmetros miacutenimos

deixando mais uma vez ao encargo do inteacuterprete a funccedilatildeo de aquilatar se o requerente faz jus

ou natildeo agrave benesse o que certamente continuaraacute acarretando distorccedilotildees e inseguranccedila juriacutedica

161

O subjetivismo da expressatildeo seraacute mais bem aprofundado no toacutepico seguinte mesmo

porque a sua discussatildeo constituiu um dos pilares do presente artigo

24 Abrangecircncia

A Lei da Assistecircncia Judiciaacuteria previa em seu artigo 3ordm quais seriam as despesas

processuais compreendidas pelo benefiacutecio da justiccedila gratuita e nesse aspecto a norma era

satisfatoacuteria entatildeo o Coacutedigo de Processo Civil manteve o que tinha na Lei nordm 106050 e

avanccedilou como por exemplo no tocante agrave previsatildeo da remuneraccedilatildeo do inteacuterprete e do

tradutor bem como na realizaccedilatildeo de memoacuteria de caacutelculo pelo contador para fins de execuccedilatildeo

entre outros

O art 98 sect1ordm do Coacutedigo em vigecircncia tratou de exemplificativamente discriminar as

despesas processuais que podem ser compreendidas pela gratuidade da justiccedila algumas delas

jaacute previstas no art 3ordm da Lei nordm 106050 agora expressamente revogado

O beneficiaacuterio estaacute dispensado de adiantar o pagamento de taxas ou custas judiciaacuterias

(inciso I) O CPC foi redundante ao prever taxas e custas mormente porque tais despesas tem

o mesmo significado elas ldquodesignam o valor que se deve pagar ao Estado pela prestaccedilatildeo do

serviccedilo judiciaacuterio Tecircm natureza juriacutedica tributaacuteria constituindo-se numa taxa [] a

concessatildeo do beneficio natildeo constitui isenccedilatildeo tributaacuteria visto que natildeo dispensa o pagamento

em si mas sim o adiantamento da verbardquo (OLIVEIRA 2015 p 359)

As despesas com postagens de qualquer natureza e com publicaccedilatildeo na imprensa

oficial tambeacutem satildeo abrangidas pelo benefiacutecio da justiccedila gratuita (incisos II e III)

O benefiacutecio engloba tambeacutem as indenizaccedilotildees de testemunhas (inciso IV) tanto os

custos com a viagem para depor em juiacutezo quanto agraves relativas ao dia de trabalho ganho e natildeo

trabalhado que deve ser paga ao empregador (NERY JUNIOR NERY 2015 p 472)

As despesas com realizaccedilatildeo do exame de DNA (inciso V) tambeacutem satildeo albergadas

pelo benefiacutecio da gratuidade da justiccedila Aliaacutes o Coacutedigo de Processo Civil inovou em relaccedilatildeo agrave

Lei da Assistecircncia Judiciaacuteria Gratuita incluindo neste inciso outros exames periciais

considerados essenciais

Os honoraacuterios do advogado e do perito a remuneraccedilatildeo do inteacuterprete tradutor e

contador e todos os terceiros que de alguma forma contribuem para o Poder Judiciaacuterio

(inciso VI e VII) estatildeo cobertos pela benesse da gratuidade

Importante destacar que o afastamento da responsabilidade pelo adiantamento das

custas dos honoraacuterios advocatiacutecios natildeo se refere aos honoraacuterios de sucumbecircncia devidos pelo

162

beneficiaacuterio ao advogado da parte contraacuteria nos termos do sect2ordm do artigo 98 mas tatildeo somente

os honoraacuterios devidos ao seu proacuteprio advogado quando este eacute nomeado pelo juiz ou seja o

defensor dativo (OLIVEIRA 2015 p 361)

O art 95 sect3ordm do Coacutedigo Processual Civil normatiza a respeito do custeio da periacutecia

(inclusive honoraacuterios) na hipoacutetese de o responsaacutevel pelo pagamento de tal despesa ser

beneficiaacuterio da justiccedila gratuita Dispotildee o paraacutegrafo que nessa hipoacutetese a periacutecia seraacute

realizada preferencialmente por um servidor do Poder Judiciaacuterio ou por oacutergatildeo conveniado e

subsidiariamente por particular Em ambos os casos os honoraacuterios seratildeo custeados com

recursos do orccedilamento do ente puacuteblico respectivo ndash Uniatildeo e Estado ou Distrito Federal

Ainda possibilita a legislaccedilatildeo processual civil que a Fazenda Puacuteblica recobre o

valor despendido a tiacutetulo de honoraacuterios periciais daquele que for condenado ao pagamento de

tais verbas (art 95 sect4ordm CPC) no caso de ser a parte vencida beneficiaacuteria da gratuidade da

justiccedila o ente puacuteblico deve observar as regras pertinentes agrave sucumbecircncia e a exigibilidade sob

condiccedilatildeo suspensiva previstas nos paraacutegrafos sectsect2ordm e 3ordm do art 98 Mas em nenhuma hipoacutetese

transferir tal ocircnus a outra parte natildeo beneficiaacuteria

Tambeacutem estatildeo incluiacutedos no conceito de gratuidade da justiccedila os depoacutesitos devidos

para interposiccedilatildeo de recurso propositura de accedilatildeo e para a praacutetica de outros atos processuais

inerentes ao exerciacutecio da ampla defesa e do contraditoacuterio (inciso VIII) esse dispositivo acaba

por servir como uma claacuteusula geral incluindo todas aquelas despesas natildeo arroladas nos

incisos anteriores e que por estarem intrinsicamente relacionadas ao exerciacutecio do

contraditoacuterio e da ampla devem ser afastadas

Por fim e natildeo menos importante trouxe uma importante inovaccedilatildeo incluindo os

emolumentos dos registradores e notaacuterios relativos a atos de averbaccedilatildeo e registro decorrentes

de processo judicial em que houve a concessatildeo do benefiacutecio da gratuidade (inciso IX)

O Coacutedigo de Processo Civil estendeu para o acircmbito extrajudicial o benefiacutecio da

gratuidade da justiccedila concedido judicialmente garantindo-se assim a prestaccedilatildeo jurisdicional

em sua inteireza

Outrossim o sect 8ordm do artigo 98 preconiza que se o tabeliatildeo ou registrador no

momento da realizaccedilatildeo do ato cartorial tiver duacutevida fundada quanto ao preenchimento dos

pressupostos para a concessatildeo da justiccedila gratuita ndash ou seja insuficiecircncia de recursos ndash pode

requerer ao juiacutezo competente para decidir questotildees notariais ou registrais (competecircncia do

juiz corregedor dos cartoacuterios extrajudiciais) que revogue a gratuidade ou permita o

parcelamento dos valores devido (DELLORE 2015)

163

Esse paraacutegrafo deu ensejo a algumas criacuteticas para Luiz Dellore o questionamento

judicial acerca da capacidade financeira da parte para arcar com as despesas notariais e

registrais

[] natildeo parece ser uma atividade jurisdicional mas administrativa em analogia agrave lsquosuscitaccedilatildeo de duacutevidarsquo hoje existente Trata-se de uma esdruacutexula inovaccedilatildeo que traz ainda mais temas para decisatildeo do Poder Judiciaacuterio Assim aleacutem de todas as questotildees que o juiz deve decidir teraacute ainda de apreciar se uma parte de um processo jaacute findo ainda tem ou natildeo dificuldades financeiras para fins de pagamento de taxas de cartoacuterio (2015)

Ainda no que tange a abrangecircncia do benefiacutecio impende destacar que as multas

processuais de qualquer natureza ndash como por exemplo as multas por litigacircncia de maacute-feacute e por

ato atentatoacuterio a dignidade da justiccedila ndash natildeo estatildeo abarcadas pela gratuidade da justiccedila pois

elas satildeo puniccedilotildees a comportamentos iliacutecitos ldquoE natildeo poderia ser diferente a gratuidade da

justiccedila natildeo pode servir como escudo para a procrastinaccedilatildeo e a litigacircncia de maacute-feacute Daiacute a razatildeo

pela qual o beneficiaacuterio da justiccedila gratuita deve ser executado normalmente em relaccedilatildeo a

elesrdquo (NERY JUNIOR NERY 2015 p 474)

25 Modulaccedilatildeo do benefiacutecio

Outra importante novidade trazida pela Lei nordm 1310515 foi a possibilidade do juiz

modular os efeitos do benefiacutecio abrangendo apenas alguns dos custos do processo ou mesmo

parcelar as despesas processuais (art 98 sectsect5ordm e 6ordm CPC)

Tal medida eacute interessante ao passo que o postulante pode ter condiccedilotildees financeiras

de arcar apenas com algumas despesas processuais como por exemplo as custas e taxas

todavia natildeo dispor de recursos para pagar os honoraacuterios periciais por exemplo Ainda ao

longo do processo pode sobrevir mudanccedila na condiccedilatildeo financeira da parte e ela passar por

dificuldades para custear as despesas processuais nesse ponto o juiz poderaacute conceder-lhe os

benefiacutecios a partir de tal momento

A possibilidade de parcelamento das despesas processuais sugere que o legislador

quis dizer que a concessatildeo da gratuidade da justiccedila eacute a uacuteltima opccedilatildeo sendo possiacutevel agrave parte

arcar com as despesas de forma parcelada o juiz deve optar pelo seu seccionamento e natildeo a

sua dispensa (NERY JUNIOR NERY 2015 p 474)

26 Responsabilidade do beneficiaacuterio

A gratuidade da justiccedila como jaacute dito eacute um instrumento do acesso agrave justiccedila daqueles

que se declaram financeiramente desprovidos de condiccedilotildees de custear o processo Isso

164

significa que se o beneficiaacuterio for perdedor em uma demanda ele seraacute igualmente responsaacutevel

pelo pagamento do ocircnus inerente a sua derrota a diferenccedila reside no fato de poder exigir ou

natildeo a sua cobranccedila

Se o beneficiaacuterio for vencido ele teraacute responsabilidade pelas despesas processuais

ele deveraacute reembolsar os gastos realizados pela outra parte seraacute condenado agraves verbas

sucumbenciais ficando todavia sob condiccedilatildeo suspensiva de exigibilidade podendo ser

cobradas pelo credor no prazo de 5 (cinco) anos contados do tracircnsito em julgado da decisatildeo

que fixou a sucumbecircncia desde que demonstre a ocorrecircncia um fato superveniente que

alterou a condiccedilatildeo financeira do beneficiaacuterio (MEDINA 2015 p 188-189)

Repisa-se a gratuidade natildeo isenta o seu beneficiaacuterio do pagamento das despesas

processuais tatildeo somente as coloca sob condiccedilatildeo suspensiva de exigibilidade

27 Requerimento e impugnaccedilatildeo

O benefiacutecio da gratuidade natildeo pode ser concedido de ofiacutecio pelo juiz devendo a

parte interessada requerecirc-lo no primeiro momento em que ela ingressa no feito ndash peticcedilatildeo

inicial contestaccedilatildeo ou na peccedila de ingresso do terceiro interveniente ndash ou em um momento

posterior ndash por meio de peticcedilatildeo simples ou mesmo no bojo de outra manifestaccedilatildeo ndash inclusive

na m grau recursal (art 99 caput e sect1ordm do CPC)

Nesse aspecto natildeo haacute um momento processual preacute-estabelecido e uacutenico para o

requerimento da gratuidade da justiccedila todavia o tempo do pedido eacute importante para delimitar

quais satildeo as despesas processuais que se dispensa o adiantamento isto porque a concessatildeo do

benefiacutecio tem efeito prospectivo natildeo alcanccedilando os atos processuais jaacute praticados

(OLIVEIRA 2015 p 371-372)

O requerimento natildeo demanda maiores formalidades devendo a parte apenas declarar

a insuficiecircncia de recursos se pessoa natural no caso de pessoa juriacutedica deveraacute ainda

comprovar a necessidade do benefiacutecio

O juiz ao analisar o pedido de gratuidade formulado apenas o indeferiraacute se nos autos

existiram elementos que demonstrem que o postulante natildeo preenche o pressuposto da

insuficiecircncia de recursos Todavia antes de indeferi-lo deve oportunizar a parte que

comprove a alegada carecircncia financeira para custear o processo (art 99 sect2ordm CPC)

A oportunidade de ser ouvido antes do indeferimento do pedido de gratuidade da

justiccedila somente se aplica a pessoa natural uma vez que em seu favor haacute presunccedilatildeo de

veracidade da alegaccedilatildeo de hipossuficiecircncia natildeo necessitando juntar qual prova nesse sentido

165

no momento da realizaccedilatildeo do pedido diferentemente do que acontece com a pessoa juriacutedica

que ao postular o benefiacutecio jaacute deve comprovar a sua necessidade (OLIVEIRA 2015 p 373)

Importante destacar que o Coacutedigo de Processo Civil encerrando discussotildees

expressamente previu que a assistecircncia do requerente por advogado particular por si soacute natildeo

constitui oacutebice para a concessatildeo do benefiacutecio (art 99 sect4ordm)

Na hipoacutetese de natildeo concessatildeo do pedido o requerente poderaacute interpor agravo de

instrumento nos termos do art 101 caput do CPC salvo se a questatildeo for solvida na

sentenccedila hipoacutetese em que caberaacute apelaccedilatildeo De outro lado se concedido poderaacute a parte

contraacuteria impugnaacute-lo

A impugnaccedilatildeo agrave gratuidade da justiccedila sofreu importantes alteraccedilotildees com o Coacutedigo de

Processo Civil a primeira delas eacute que ela natildeo mais se processa em autos apartados devendo

ser formulada nos proacuteprios autos Sem maiores formalidades a impugnaccedilatildeo deve ser

oferecida pela parte no primeiro momento posterior agrave concessatildeo que lhe couber falar nos

autos ou seja se o benefiacutecio for deferido por ocasiatildeo da peticcedilatildeo inicial deve o reacuteu impugnaacute-

la jaacute na contestaccedilatildeo se concedido ao reacuteu por ocasiatildeo da contestaccedilatildeo deve o autor impugnaacute-la

na reacuteplica se deferido no momento da interposiccedilatildeo do recurso a impugnaccedilatildeo deve ser

oferecida nas contrarrazotildees recursais e se o pedido for superveniente deve a parte contraacuteria

impugnaacute-lo no prazo de 15 (quinze) dias contados de sua concessatildeo

Haacute todavia algumas questotildees que natildeo restaram suficientemente esclarecidas pelo

Coacutedigo de Processo Civil no que concerne a impugnaccedilatildeo agrave gratuidade da Justiccedila Entre elas

o autor Luiz Dellore (2015) aponta o termo inicial do prazo para a impugnaccedilatildeo defendendo o

autor que este deveria se dar a partir do momento que a parte contraacuteria tomasse conhecimento

da situaccedilatildeo de natildeo hipossuficiecircncia da parte sob pena de se limitar o instituto

Outro ponto diz respeito ao ocircnus da prova na impugnaccedilatildeo pois o legislador

manteve-se silente nesse aspecto

A doutrina se inclina a defender que o ocircnus de comprovar que o beneficiaacuterio natildeo faz

jus agrave gratuidade eacute do impugnante ante a existecircncia de presunccedilatildeo relativa da necessidade com

a mera alegaccedilatildeo de insuficiecircncia de recursos (NERY JUNIOR NERY 2015 p 479)

28 Revogaccedilatildeo do benefiacutecio

A revogaccedilatildeo do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila implica na obrigaccedilatildeo da parte ex-

beneficiaacuteria de recolher todas as despesas de deixou de adiantar inclusive as despesas que

foram eventualmente adiantadas pelo ente puacuteblico (periacutecia por exemplo) e as vindouras (art

166

100 paraacutegrafo uacutenico do CPC) isso no caso de a parte natildeo fazer jus ao benefiacutecio desde o

momento em que a requereu (OLIVEIRA 2015 p 377)

No entanto a revogaccedilatildeo pode se dar pelo fato de ter cessado a situaccedilatildeo de

hipossuficiecircncia econocircmica que ensejou o benefiacutecio hipoacutetese em que ela apenas teraacute que

arcar com as despesas processuais a partir do momento que passou a dispor da boa condiccedilatildeo

financeira

Ainda evidenciada a maacute-feacute do ex-beneficiaacuterio o Coacutedigo de Processo Civil prevecirc a

aplicaccedilatildeo de multa de ateacute o deacutecuplo das despesas que tiver deixado de adiantar ndash nesse caso

natildeo basta a mera revogaccedilatildeo do benefiacutecio

Decidiu-se antes da entrada em vigor do Coacutedigo que ldquodeve ser cabalmente

demonstrada a intenccedilatildeo da parte em induzir o Poder Judiciaacuterio a erro se aproveitando

indevidamente do benefiacuteciordquo (MEDINA 2015 p 191)

Em linhas gerais essas satildeo algumas das alteraccedilotildees consubstanciadas pelo Coacutedigo de

Processo Civil em relaccedilatildeo ao benefiacutecio da gratuidade da justiccedila malgrado a lei processual natildeo

tenha esgotado o tema esclareceu vaacuterios pontos que antes era debatido pela jurisprudecircncia

Aleacutem do mais importante pontuar que o legislador reformador repensou o processo

civil atento aos anseios da sociedade moderna e preocupado com a efetividade dos direitos

constitucionais ndash acesso agrave justiccedila por exemplo ndash prevendo expressamente no artigo 1ordm do

CPC que ldquoo processo civil seraacute ordenado disciplinado e interpretado conforme os valores e

normas fundamentais estabelecidas na Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasilrdquo

Ocorre entretanto que mesmo diante de significativas alteraccedilotildees o legislador ainda

natildeo preencheu ou objetivou o pressuposto de concessatildeo dos benefiacutecios anteriormente citados

sendo remanescente o subjetivismo da anaacutelise do termo ldquoinsuficiecircncia de recursosrdquo o que

passaraacute a ser refletido no presente artigo

3 O SUBJETIVISMO DO PRESSUPOSTO INSUFICIEcircNCIA DE RECURSOS

Conforme jaacute visto o Coacutedigo de Processo Civil alterou o requisito para a concessatildeo

do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila bastando a declaraccedilatildeo de insuficiecircncia de recursos pela

pessoa natural e a sua comprovaccedilatildeo no caso de pessoa juriacutedica

Todavia eacute inegaacutevel a carga de subjetividade que haacute no conceito de insuficiecircncia de

recursos e como todo conceito juriacutedico vago traz certa inseguranccedila juriacutedica notadamente

porque pode acarretar decisotildees extremamente diacutespares no cotidiano forense uma vez que tal

anaacutelise (o que eacute insuficiecircncia de recursos) fica a criteacuterio do entendimento de cada

167

magistrado aleacutem do que pode gerar inuacutemeros abusos por parte dos seus requerentes ndash ainda

mais quando a mera alegaccedilatildeo eacute bastante agrave concessatildeo do benefiacutecio ndash que diferentemente do

que alegam gozam de boa sauacutede financeira para arcar com as despesas processuais

(TARTUCE DELLORE 2015 p 314-315)

Mesmo antes da alteraccedilatildeo do CPC ainda na Lei nordm 106050 jaacute discutia a doutrina e

a jurisprudecircncia acerca dos pressupostos para a concessatildeo do benefiacutecio ante a vagueza dos

conceitos de hipossuficiente necessitado carente de recursos financeiros para arcar com as

custas do processo sem prejuiacutezo do sustento proacuteprio e de sua famiacutelia e a falta de um criteacuterio

objetivo miacutenimo para a concessatildeo do benefiacutecio5

Nada obstante o progresso vivenciado com o Coacutedigo de Processo Civil de 2015 no

que tange a gratuidade da justiccedila vecirc-se que no ponto concernente agrave triagem dos

hipossuficientes de recursos o legislador conservou um conceito juriacutedico indeterminado

Segundo Frederico do Valle Abreu (2005) o conceito juriacutedico indeterminado eacute

caracterizado pela ldquovaguidade semacircntica existente em certa norma com a finalidade de que

ela a norma permaneccedila ao ser aplicada sempre atual e correspondente aos anseios da

sociedade nos vaacuterios momentos histoacutericos em que a lei eacute interpretada e aplicadardquo

Assim o conteuacutedo abstrato do pressuposto insuficiecircncia de recursos tenha sido

propositadamente pensado pelo legislador por entender que o inteacuterprete na anaacutelise casuiacutestica

goza de melhores condiccedilotildees para valoraacute-lo refletindo pois uma decisatildeo mais justa

O autor Augusto Tavares Rosa Marcacini defende que a insuficiecircncia de recursos eacute

um conceito indeterminado e natildeo segue um padratildeo rigoroso por isso a melhor soluccedilatildeo eacute a

anaacutelise caso a caso

O conceito de necessitado natildeo eacute determinado mediante regras riacutegidas matemaacuteticas natildeo se utilizando limites numeacutericos determinados Tecircm direito ao benefiacutecio aqueles que natildeo podem arcar com os gastos necessaacuterios agrave participaccedilatildeo no processo na medida em que contabilizados os seus ganhos e os seus gastos com o proacuteprio sustento e da famiacutelia natildeo lhe reste numeraacuterio suficiente para tanto O direito ao benefiacutecio decorre da indisponibilidade financeira do sujeito Em face da notoacuteria insuficiecircncia do salaacuterio miacutenimo vigente em nosso paiacutes pode ser possiacutevel presumir que aquele que aufere ateacute cinco salaacuterios miacutenimos por exemplo eacute quase que certamente merecedor de usufruir dos benefiacutecios Mas como dissemos natildeo se deve utilizar nuacutemeros fechados como criteacuterio Um chefe de uma famiacutelia numerosa que pague aluguel e que tenha filhos em idade escolar por exemplo mesmo percebendo o equivalente a dez salaacuterios miacutenimos pode natildeo ter condiccedilotildees de arcar com as despesas de um processo De outro lado um jovem que viva com os pais os quais

5 Fernanda Tartuce e Luiz Dellore por exemplo no artigo escrito em coautoria Gratuidade da Justiccedila no novo CPC divergem sobre o assunto enquanto ela acredita ser acertada a opccedilatildeo do legislador em trazer um conceito dotado de subjetividade por outro lado ele discorda defendendo que ainda que a norma deixasse uma margem para a decisatildeo do juiz de acordo com a casuiacutestica deveria ao menos estabelecer um criteacuterio objetivo miacutenimo de modo a evitar disparidades nas decisotildees (2015 314-315)

168

provecircm o seu sustento moradia e estudo e que ganhe uns dois ou trecircs salaacuterios miacutenimos que natildeo satildeo empregados em qualquer despesa essencial para sua mantenccedila pode natildeo ser considerado beneficiaacuterio (2009 p 90-91)

Nesse espectro o aplicador da norma juriacutedica eacute quem tem o poder-dever de

materializar no caso concreto o conceito juriacutedico indeterminado do que eacute ser necessitado

economicamente para arcar com as despesas processuais dando assim maior efetividade ao

preceito constitucional do acesso agrave justiccedila

Atento agraves alteraccedilotildees do Coacutedigo de Processo Civil quanto ao tema leciona Rafael

Alexandria de Oliveira

Insuficiecircncia de recursos Faz jus ao benefiacutecio da gratuidade aquela pessoa com lsquoinsuficiecircncia de recursos para pagar as custas despesas processuais e honoraacuterios advocatiacuteciosrsquo Natildeo se exige a miserabilidade nem estado de necessidade nem tampouco se fala em renda familiar ou faturamento maacuteximos Eacute possiacutevel que uma pessoa natural mesmo com boa renda mensal seja merecedora do benefiacutecio e que tambeacutem o seja aquele sujeito que eacute proprietaacuterio de bens imoacuteveis mas natildeo dispotildee de liquidez A gratuidade judiciaacuteria eacute um dos mecanismos de viabilizaccedilatildeo do acesso agrave justiccedila natildeo se pode exigir que para ter acesso agrave justiccedila o sujeito tenha que comprometer significativamente a sua renda ou tenha que se desfazer de seus bens liquidando-os para angariar recursos e custear o processo A lei natildeo fala em nuacutemeros natildeo estabelece paracircmetros O sujeito que ganha boa renda mensal pode ser tatildeo merecedor do benefiacutecio quanto aquele que sobrevive agrave custa de programas de complementaccedilatildeo de renda O que pode diferenciaacute-los eacute a maior ou menor dificuldade com que o pedido de concessatildeo do benefiacutecio eacute tratado o de melhor renda pode ser chamado a justificar o seu requerimento provando a insuficiecircncia de recursos Por isso mesmo nem sempre o beneficiaacuterio seraacute algueacutem em situaccedilatildeo de necessidade de vulnerabilidade de miseacuteria de penuacuteria Eacute preciso atentar para isso (2015 p 359)

Eacute compreensiacutevel a carga de subjetividade impregnada ao termo insuficiecircncia de

recursos notadamente porque o legislador adotando a teoria do direito processual

constitucional (art 1ordm do CPC) quis que a normativa do benefiacutecio atendesse realmente agraves

exigecircncias da sociedade hodierna deixando ao encargo do juiz o dever juriacutedico de buscar

identificar e adotar a soluccedilatildeo apta a no caso concreto alcanccedilar satisfatoriamente a finalidade6

da norma ndash de que garantir a todos o acesso agrave justiccedila

Todavia eacute cediccedilo que a valoraccedilatildeo de um conceito subjetivo pelo magistrado (assim

como para qualquer pessoa) transcende a sua formaccedilatildeo juriacutedica e mesmo que inconsciente

revela suas convicccedilotildees pessoais (crenccedilas valores referecircncias sociais) deste modo o que no

sentir de um julgador eacute pessoa hipossuficiente aos olhos do outro natildeo o eacute eacute aiacute que repousam

as ldquoinjusticcedilasrdquo

6 Interpretaccedilatildeo teleoloacutegica

169

A falta de a lei definir um criteacuterio objetivo miacutenimo para se determinar o que eacute a

insuficiecircncia de recursos demandou trabalho da doutrina e especialmente da jurisprudecircncia

que mesmo timidamente adotou os mais diversos paracircmetros

Nesse sentido uma das primeiras orientaccedilotildees que surge na jurisprudecircncia eacute a

necessidade de prova cabal da insuficiecircncia de recursos para a concessatildeo do benefiacutecio da

gratuidade agraves pessoas juriacutedicas7 Depois de muita discussatildeo o entendimento sedimentado na

jurisprudecircncia8 foi consagrado pelo legislador no Coacutedigo de Processo Civil de 2015 em seu

artigo 98 caput

Tambeacutem se firmou o entendimento de que o requerente que se dedica a emprestar

dinheiro natildeo faz jus ao benefiacutecio uma vez que tal circunstacircncia eacute incompatiacutevel com a alegada

necessidade (NERY JUNIOR NERY 2015 p 475)

Os Tribunais tambeacutem jaacute fixaram como criteacuterio objetivo para se determinar se o

requerente eacute realmente hipossuficiente a renda mensal inferior a dez salaacuterios miacutenimos9

todavia o Superior Tribunal de Justiccedila jaacute refutou a utilizaccedilatildeo desse criteacuterio sob o fundamento

de que a desconstituiccedilatildeo da presunccedilatildeo estabelecida pela lei de gratuidade de justiccedila exige

perquirir in concreto a atual situaccedilatildeo financeira do requerenterdquo10

Outro paracircmetro que tem sido utilizado pelos juristas para aferir a condiccedilatildeo de

miserabilidade do requerente eacute a faixa de isenccedilatildeo do Imposto de Renda extraiacutedo da tabela

progressiva do tributo devidamente atualizada11

O criteacuterio do patrociacutenio da causa por advogado particular para afastar a benesse jaacute

era rechaccedilado pela jurisprudecircncia12 e foi recepcionado pelo atual Coacutedigo de Processo Civil em

seu artigo 99 sect4ordm 7 Assistecircncia judiciaacuteria Pessoa juriacutedica Demonstraccedilatildeo cabal da insuficiecircncia de recursos 1 Ademais de fundamentado exclusivamente na interpretaccedilatildeo do art 5ordm LXXIV da Constituiccedilatildeo Federal o certo eacute que a Corte jaacute assentou a necessidade de demonstraccedilatildeo cabal da insuficiecircncia de recursos para que a empresa possa desfrutar dos benefiacutecios da assistecircncia judiciaacuteria 2 Recurso especial natildeo conhecido (STJ - REsp 182557 RJ 19980053550-0 Relator Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO Data de Julgamento 02091999 T3 - TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJ 25101999 p 79) 8 Suacutemula 481 STJ Faz jus ao benefiacutecio da justiccedila gratuita a pessoa juriacutedica com ou sem fins lucrativos que demonstrar sua impossibilidade de arcar com os encargos processuais 9 ADMINISTRATIVO AGRAVO DE INSTRUMENTO ASSISTEcircNCIA JUDICIAacuteRIA GRATUITA - AJG PARAcircMETRO DEZ SALAacuteRIOS MIacuteNIMOS 1 A Segunda Seccedilatildeo desta Corte vem consolidando entendimento no sentido de fixar patamar objetivo para a concessatildeo do benefiacutecio da AJG qual seja dez salaacuterios miacutenimo 2 Hipoacutetese em que a agravante comprovou renda mensal bem inferior ao limite paradigmaacutetico destacado inexistindo qualquer razatildeo para o indeferimento do pleito em prestiacutegio agrave norma de regecircncia (Lei n 10601950) e ao princiacutepio da acessibilidade (artigo 5ordm XXXV Constituiccedilatildeo Federal) (TRF-4 - AG 50101513420134040000 5010151-3420134040000 Relator NICOLAU KONKEL JUacuteNIOR Data de Julgamento 14082013 TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DE 16082013) 10 STJ - AgRg no AREsp 626487 MG 20140315675-3 Relator Ministro RICARDO VILLAS BOcircAS CUEVA Data de Julgamento 28042015 T3 - TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJe 07052015 11 TJ-PR - AI 14520235 PR 1452023-5 (Decisatildeo Monocraacutetica) Relator Paulo Cezar Bellio Data de Julgamento 27102015 16ordf Cacircmara Ciacutevel Data de Publicaccedilatildeo DJ 1683 05112015

170

O Superior Tribunal de Justiccedila preconiza que o inteacuterprete deve conjugar o binocircmio

necessidade-possibilidade assim para se conceder o benefiacutecio da gratuidade da justiccedila deve-

se considerar natildeo apenas os rendimentos mensais do requerente mas tambeacutem o

comprometimento de suas despesas13

A anaacutelise da condiccedilatildeo financeira do postulante deve ficar restrita a sua situaccedilatildeo

presente e natildeo ao seu histoacuterico de riquezas o simples fato de o requerente jaacute ter sido rico

empresaacuterio ou pessoa de posses natildeo significa que natildeo possa ser hoje pessoa pobre na

acepccedilatildeo juriacutedica do termo e necessitar da assistecircncia judiciaacuteria Da mesma forma a reciacuteproca

eacute verdadeira o pobre que eacute beneficiaacuterio da gratuidade pode por fatores supervenientes

tornar-se pessoa abastada financeiramente o que certamente lhe cassaraacute o benefiacutecio (NERY

JUNIOR NERY 2015 p 477)

Destarte a adoccedilatildeo pelo juiz de um paracircmetro como ponto de partida para verificar o

preenchimento dos requisitos para a concessatildeo da justiccedila gratuita natildeo deve ser visto como

violador da norma Bem da verdade a gratuidade da justiccedila eacute uma das portas de acesso ao

Poder Judiciaacuterio entretanto natildeo pode ser utilizada pelo beneficiaacuterio tatildeo-somente para se

furtar das obrigaccedilotildees oriundas do processo

A Lei nordm 106050 exigia em sua redaccedilatildeo original que o requerente comprovasse o

estado de pobreza alegado hoje ndash a partir da nova redaccedilatildeo dada ao art 4ordm sect1ordm da referida lei

pela Lei Federal nordm 751086 ndash basta a simples afirmaccedilatildeo de necessidade do benefiacutecio o que

inclusive eacute referendado pela jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila14 Nesse sentir o

12 Assistecircncia judiciaacuteria Defensoria Puacuteblica Advogado particular Interpretaccedilatildeo da Lei nordm 106050 1 Natildeo eacute suficiente para afastar a assistecircncia judiciaacuteria a existecircncia de advogado contratado O que a lei especial de regecircncia exige eacute a presenccedila do estado de pobreza ou seja da necessidade da assistecircncia judiciaacuteria por impossibilidade de responder pelas custas que poderaacute ser enfrentada com prova que a desfaccedila Natildeo serve para medir isso a qualidade do defensor se puacuteblico ou particular 2 Recurso especial conhecido e provido (STJ - REsp 679198 PR 20040103656-9 Relator Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO Data de Julgamento 21112006 T3 - TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJ 16042007 p 184) 13 STJ - REsp 263781 SP 20000060786-0 Relator Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO Data de Julgamento 22052001 T3 - TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo lt-- DTPB 20010813ltbrgt --gt DJ 13082001 p 150ltbrgt JBCC vol 193 p 249 14PROCESSUAL CIVIL RECONHECIMENTO DE CONCUBINATO E PARTILHA DE BENS PEDIDO ALTERNATIVO DE INDENIZACcedilAtildeO POR SERVICcedilOS PRESTADOS INDEFERIMENTO DE PLANO DA INICIAL IMPOSSIBILIDADE CERCEAMENTO DE DEFESA ASSISTEcircNCIA JUDICIAacuteRIA E GRATUIDADE DA JUSTICcedilA ALEGACcedilAtildeO DA PARTE DESNECESSIDADE DE DEMONSTRACcedilAtildeO DE O ADVOGADO NAtildeO ESTAR SENDO REMUNERADO PRESUNCcedilAtildeO RECURSO PROVIDO Pelo sistema legal vigente faz jus a parte aos benefiacutecios da assistecircncia judiciaacuteria mediante simples afirmaccedilatildeo na proacutepria peticcedilatildeo de que natildeo estaacute em condiccedilotildees de pagar as custas do processo e os honoraacuterios de advogado sem prejuiacutezo proacuteprio ou de sua famiacutelia O deferimento da gratuidade garantia assegurada constitucionalmente aos economicamente hipossuficientes (Constituiccedilatildeo art 5ordm LXXIV) natildeo exige que a parte demonstre que o advogado natildeo estaacute sendo por ela remunerado Enquanto a Justiccedila gratuita isenta de despesas processuais e condenaccedilatildeo em honoraacuterios advocatiacutecios a assistecircncia judiciaacuteria mais ampla enseja tambeacutem o patrociacutenio por profissional habilitado Caracteriza cerceamento de defesa o indeferimento de plano da inicial de accedilatildeo que pretendeu o reconhecimento de concubinato e partilha de bens com pedido alternativo de indenizaccedilatildeo de

171

aplicador do direito exerce um fundamental papel para que o processo natildeo seja um fim em si

mesmo mas sim um instrumento para a materializaccedilatildeo de um direito

Nota-se que o indeterminismo do termo insuficiecircncia de recursos aliado a mera

alegaccedilatildeo da necessidade poderia transviar o sentido da norma devendo o magistrado ficar

atento para que os privilegiados de fortuna natildeo ingressem gratuitamente no feito

Assim havendo elementos no processo que infirmem a alegaccedilatildeo do postulante ndash que

goza de presunccedilatildeo iuris tantum ndash a hipossuficiecircncia deve ser comprovada

Duacutevida fundada quanto agrave pobreza O juiz da causa valendo-se de criteacuterios

objetivos pode entender que a natureza da accedilatildeo movida pelo interessado demonstra que ele possui porte econocircmico para suportar as despesas do processo A declaraccedilatildeo pura e simples do interessado conquanto seja o uacutenico entrave burocraacutetico que se exige para liberar o magistrado para decidir em favor do peticionaacuterio natildeo eacute prova inequiacutevoca daquilo que ele afirma nem obriga o juiz a se curvar aos seus dizeres se de outras provas e circunstacircncias ficar evidenciado que o conceito de pobreza que a parte invoca natildeo eacute aquele que justifica a concessatildeo do privileacutegio Cabe ao magistrado livremente fazer juiacutezo de valor acerca do termo pobreza deferindo ou natildeo o benefiacutecio (NERY JUNIOR NERY 2015 p 477)

Infelizmente a finalidade do benefiacutecio natildeo raras vezes eacute distorcida seja pela

abstraccedilatildeo do conceito ou mesmo pela lisura do ser humano e isso contribui para o aumento de

demandas desqualificadas respaldadas na ausecircncia de riscos no caso de improcedecircncia

Para Maacutercio Pirocircpo Galvatildeo (2010) os mecanismos de acesso agrave justiccedila fomentam

accedilotildees despretensiosas ndash e cita como exemplos as accedilotildees trabalhistas e aquelas do acircmbito dos

Juizados Especiais ndash exclusivamente pela ausecircncia de custo econocircmico defende inclusive

que o acesso ao Judiciaacuterio de forma gratuita virou uma ldquoloteria onde todos querem tentar a

sorterdquo

E continua o autor citando a decisatildeo do Juiz de Direito da 2ordf Vara Ciacutevel da Comarca

de Dourados Dr Joseacute Carlos de Souza que as demandas desnecessaacuterias ldquoabarrotam o Poder

Judiciaacuterio e dificultam o acesso agrave Justiccedila de jurisdicionados com pretensotildees mais nobres

Incentivam o aumento da inadimplecircncia e sedimentam a cultura do natildeo-cumprimento dos

contratos [] Configuram provocaccedilatildeo abusiva da maacutequina judiciaacuteria e maacute-feacute do devedorrdquo

(GALVAtildeO 2010)

Como visto a utilizaccedilatildeo abusiva da gratuidade da justiccedila pode representar o

congestionamento da maacutequina judicial comprometendo a razoaacutevel duraccedilatildeo do processo e ao

serviccedilos prestados sem possibilitar agrave parte a produccedilatildeo de qualquer prova notadamente em se tratando de alegado relacionamento de mais de trinta anos (Recurso Especial nordm 91609SP 4ordf Turma do STJ Rel Min Saacutelvio de Figueiredo Teixeira Recorrente A P M R Recorrida V G F B j 160498 un DJU 080698 p 113)

172

reveacutes de seu proposito servir como oacutebice ao efetivo acesso agrave justiccedila daqueles que tem

realmente tem urgecircncia na prestaccedilatildeo jurisdicional

Talvez uma boa alternativa para se evitar decisotildees diacutespares e a banalizaccedilatildeo do

benefiacutecio ante a carga de subjetividade do seu pressuposto fosse exigir uma comprovaccedilatildeo

miacutenima da insuficiecircncia de recursos Afinal quem realmente necessita do benefiacutecio natildeo teria

dificuldade alguma em demonstrar a sua impossibilidade financeira para arcar com as

despesas processuais

Eacute certo que a Lei nordm 106050 e agora o Coacutedigo de Processo Civil estabelecem ocircnus

ao litigante que de maacute-feacute requereu o benefiacutecio da gratuidade todavia a prova nesse sentido

deve ser contundente o que estimula de certa forma pedidos indiscriminados de gratuidade

uma vez que sopesando os riscos os ganhos prevalecem

Destarte o que se percebe eacute que nesse ponto o legislador civil natildeo conseguiu

encerrar as discussotildees deixando a soluccedilatildeo para a doutrina e a jurisprudecircncia agora basta

saber como as discussotildees seratildeo encaminhadas de modo que natildeo se instale ndash ou aumente ndash um

estado de desconfianccedila em torno do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila em decorrecircncia dos

abusos praticados mas que tambeacutem natildeo se deixe de cumprir a sua preciacutepua finalidade

constitucional de ser um instrumento de acesso ao Judiciaacuterio daqueles que natildeo desfrutam de

plenas condiccedilotildees financeiras

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O atual Coacutedigo de Processo Civil atuou muito positivamente no que pertine ao

instituto da Gratuidade da Justiccedila ele alvoreceu pontos que a Lei nordm 106050 era retroacutegrada e

mesmo silente bem como normatizou questotildees jaacute consolidadas pela jurisprudecircncia

Em contrapartida a legislaccedilatildeo processual civil natildeo se fez clara quanto ao pressuposto

para a concessatildeo do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila mormente porque se limitou a prever

que a simples afirmaccedilatildeo de insuficiecircncia de recursos para pagar as despesas processuais eacute

suficiente ao seu deferimento

Afinal o que insuficiecircncia de recursos Qual o criteacuterio objetivo para se definir quem

se enquadra ou natildeo nesse perfil Mais uma vez a lei que trata sobre a gratuidade da justiccedila

silenciou nesse pormenor reservando ao aplicador do direito a missatildeo de examinar

casuisticamente quem eacute merecedor ou natildeo da benesse partindo de uma interpretaccedilatildeo

alicerccedilada na finalidade da lei ndash promover o acesso agrave justiccedila

173

Assim duas questotildees surgem A primeira eacute se o legislador foi relapso ou se ele

propositadamente preferiu a um conceito indeterminado para a concessatildeo do benefiacutecio E a

segunda eacute se ele agiu bem

E ao que se conclui eacute que a preferecircncia por um termo dotado de subjetivismo tem

um propoacutesito qual seja permitir que a lei seja adaptaacutevel as mais diversas situaccedilotildees do

cotidiano forense de modo a tornar o acesso agrave justiccedila um direito fundamental mais efetivo

Conquanto agrave segunda questatildeo (se ele agiu bem) apenas a experiecircncia praacutetica poderaacute dizer

notadamente porque vai depender e muito da consciecircncia do postulante (e seu advogado) o

qual eacute o real sabedor de sua condiccedilatildeo financeira

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ABREU Frederico do Valle Conceito juriacutedico indeterminado interpretaccedilatildeo da lei

processo e suposto poder discricionaacuterio do magistrado Jus Navigandi Teresina ano 9 n

674 10 maio 2005 Disponiacutevel em lthttpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=6674gt

Acesso em 27032016

ANGHER Anne Joyce (Org) Vade mecum acadecircmico de direito Rideel 21ed

atual e ampl Satildeo Paulo Rideel 2015

BRASIL Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Recurso Especial nordm

19980053550-0 Relator Ministro Carlos Alberto Menezes Data de Julgamento 02091999

Data de Publicaccedilatildeo DJ 25101999 p 79

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Agravo Regimental no Recurso

Especial nordm 20140315675-3 Relator Ministro Ricardo Villas Bocircas Cueva Data de

Julgamento 28042015 Data de Publicaccedilatildeo DJe 07052015

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Recurso Especial nordm

20040103656-9 Relator Ministro Carlos Alberto Menezes Direito Data de Julgamento

21112006 Data de Publicaccedilatildeo DJ 16042007 p 184

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Recurso Especial

20000060786-0 Relator Ministro Carlos Alberto Menezes Direito Data de Julgamento

22052001 Data de Publicaccedilatildeo 13082001 p 150

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Quarta Turma Recurso Especial 91609SP

Relator Ministro Saacutelvio de Figueiredo Teixeira Data de Publicaccedilatildeo 08061998 p 113

174

_____ Tribunal Regional Federal (4ordf Regiatildeo) Terceira Turma Agravo nordm

50101513420134040000 5010151-3420134040000 Relator Nicolau Konkel Juacutenior Data

de Julgamento 14082013Data de Publicaccedilatildeo 16082013

_____ Tribunal de Justiccedila do Estado do Paranaacute 16ordf Cacircmara Ciacutevel Agravo de

Instrumento nordm 14520235 PR 1452023-5 (Decisatildeo Monocraacutetica) Relator Paulo Cezar Bellio

Data de Julgamento 27102015 Data de Publicaccedilatildeo 05112015

CAPPELLETTI Mauro GARTH Bryant Acesso agrave justiccedila Trad Ellen Gracie

Northfleet Porto Alegre Seacutergio Fabris Editor 2002

CARNEIRO Paulo Cezar Pinheiro Normas Fundamentais do Processo Civil Em

Breves Comentaacuterios ao Novo Coacutedigo de Processo Civil Tereza Arruda Alvim Wambier et

al[coord] Satildeo Paulo Editora RT 2015

DELLORE Luiz Novo CPC o lado A da justiccedila gratuita Disponiacutevel em http

httpjotauolcombrjustica-gratuita-novo-cpc-lado publicado em 09 de marccedilo de 2015

Acesso em 27032016

______ Novo CPC o lado B da justiccedila gratuita Disponiacutevel em

httpjotauolcombrnovo-cpc-o-lado-b-da-justica-gratuita publicado em 13 de abril de

2015 Acesso em 27032016

GALESKI JUNIOR Irineu RIBEIRO Marcia Carla Pereira Direito e economia

uma abordagem sobre a assistecircncia judiciaacuteria gratuita In Publica Direito (recurso eletrocircnico

on-line) Fortaleza CONPEDI 2010

GALVAtildeO Maacutercio Pirocircpo Abuso de direito agrave gratuidade da Justiccedila Revista Jus

Navigandi Teresina ano 17 n 3339 22 ago 2012 Disponiacutevel em

lthttpsjuscombrartigos22466gt Acesso em 27032016

MARCACINI Augusto Tavares Rosa Assistecircncia Juriacutedica Assistecircncia Judiciaacuteria e

Justiccedila Gratuita Satildeo Paulo Editora Forense 2009 (ediccedilatildeo eletrocircnica)

MEDINA Joseacute Miguel Garcia Novo Coacutedigo de Processo Civil Comentado Satildeo

Paulo Editora RT 2015

NERY JUNIOR Nelson e NERY Rosa Maria de Andrade Comentaacuterios ao Coacutedigo

de Processo Civil Satildeo Paulo Editora RT 2015

NETO Emeteacuterio Silva de Oliveira VIANA Juvecircncio Vasconcelos Acesso agrave justiccedila

e o novo Coacutedigo de Processo Civil um olhar criacutetico Em Acesso agrave justiccedila (recurso eletrocircnico

on-line) Florianoacutepolis CONPEDIUFSC 2015

175

OLIVEIRA Rafael Alexandria de Da Gratuidade da Justiccedila Em Breves

Comentaacuterios ao Novo Coacutedigo de Processo Civil Tereza Arruda Alvim Wambier et

al[coord] Satildeo Paulo Editora RT 2015

SANTOS Boaventura de Souza Pela matildeo de Alice o social e o poliacutetico

na poacutes-modernidade Satildeo Paulo Cortez 2003

TARTURE Flaacutevia DELLORE Luiz Gratuidade da justiccedila no novo CPC Em

Revista de Processo Satildeo Paulo v 39 n 236 p 305-323 out 2014

176

sua vez a assistecircncia juriacutedica integral e gratuita engloba aleacutem da representaccedilatildeo do

hipossuficiente em juiacutezo a orientaccedilatildeo juriacutedica dele em questotildees extrajudiciais (TARTUCE

DELLORE 2014 p 308 e 309)

Preconiza Rafael Alexandria de Oliveira

Eacute comum a confusatildeo quanto aos conceitos de benefiacutecio da justiccedila gratuita (ou da gratuidade da justiccedila ou ainda da gratuidade judiciaacuteria) de assistecircncia judiciaacuteria e de assistecircncia juriacutedica Todos eles decorrem do direito fundamental agrave assistecircncia juriacutedica integral e gratuita de que trata o art 5ordm LXXIV da CF1988 mas natildeo se confundem Pontes de Miranda (a) benefiacutecio da justiccedila gratuita eacute como jaacute dito a dispensa do adiantamento de despesas processuais para o qual se exige a tramitaccedilatildeo de um processo judicial o requerimento da parte interessada e o deferimento do juiacutezo perante o qual o processo tramita (b) assistecircncia judiciaacuteria consiste no direito de a parte ser assistida gratuitamente por um profissional do Direito normalmente membro da Defensoria Puacuteblica da Uniatildeo do Estados ou do Distrito Federal e que natildeo depende do deferimento do juiacutezo nem mesmo da existecircncia de um processo judicial (c) assistecircncia juriacutedica eacute um conceito mais amplo que abrange o benefiacutecio da justiccedila gratuita e a assistecircncia judiciaacuteria mas vai aleacutem deles englobando todas as iniciativas do Estado (em sentido amplo) que tecircm por objetivo promover uma aproximaccedilatildeo entre a sociedade e os serviccedilos juriacutedicos ndash como por exemplo as campanhas de conscientizaccedilatildeo de direitos do consumidor promovidas por oacutergatildeos administrativos e os serviccedilos juriacutedicos itinerantes prestados agrave populaccedilatildeo carente (2015 p 355)

Semelhantemente Augusto Tavares Rosa Marcacini desenvolve um conceito

distinguindo os institutos da assistecircncia judiciaacuteria justiccedila gratuita e a assistecircncia juriacutedica

integral e gratuita

A Constituiccedilatildeo Federal de 1988 em seu artigo 5ordm inciso LXXIV inclui entre os direitos e garantias individuais a assistecircncia juriacutedica integral e gratuita Utiliza a Lei Maior um terceiro conceito que tambeacutem natildeo deve ser confundido como sinocircnimo de assistecircncia judiciaacuteria ou justiccedila gratuita Por justiccedila gratuita deve ser entendida a gratuidade de todas as causas e despesas judiciais ou natildeo relativas a atos necessaacuterios ao desenvolvimento do processo e agrave defesa dos direitos do beneficiaacuterio em juiacutezo O benefiacutecio da justiccedila gratuita compreende a isenccedilatildeo de toda e qualquer despesa necessaacuteria ao pleno exerciacutecio dos direitos e das faculdades processuais sejam tais despesas judiciais ou natildeo Abrange assim natildeo somente as custas relativas aos atos processuais a serem praticados como tambeacutem todas as despesas decorrentes de efetiva participaccedilatildeo na relaccedilatildeo processual A assistecircncia judiciaacuteria envolve o patrociacutenio gratuito da causa por advogado A assistecircncia judiciaacuteria eacute pois um serviccedilo puacuteblico organizado consistente na defesa em juiacutezo do assistido que deve ser oferecido pelo Estado mas que pode ser desempenhado por entidades natildeo-estatais conveniadas ou natildeo com o Poder Puacuteblico [] Por sua vez a assistecircncia juriacutedica engloba a assistecircncia judiciaacuteria sendo ainda mais ampla que esta por envolver tambeacutem serviccedilos juriacutedicos natildeo relacionados ao processo tais como orientaccedilotildees individuais ou coletivas o esclarecimento de duacutevidas e mesmo um programa de informaccedilatildeo a toda a comunidade (2009 p 40-43)

O Coacutedigo de Processo Civil ao usar o termo teacutecnico gratuidade da justiccedila

acertadamente corrigiu as distorccedilotildees terminoloacutegicas afastando qualquer possibilidade de

160

confusatildeo que se possa fazer com a assistecircncia judiciaacuteria gratuita e a assistecircncia juriacutedica

integral e gratuita

22 Beneficiaacuterios

De acordo com a legislaccedilatildeo processual em vigor podem ser beneficiaacuterios da justiccedila

gratuita a pessoa natural ou juriacutedica brasileira ou estrangeira

A redaccedilatildeo do Coacutedigo de Processo Civil encerrou uma discussatildeo histoacuterica pontuada

jurisprudencialmente pelo STJ e agora reconhecida legislativamente ao prever (art 98

caput) que a pessoa juriacutedica tem direito ao benefiacutecio da gratuidade da justiccedila

Para que a pessoa juriacutedica seja beneficiada com a gratuidade da justiccedila natildeo basta a

mera declaraccedilatildeo devendo demonstrar que efetivamente necessita do benefiacutecio

independentemente de ter ou natildeo finalidade lucrativa (MEDINA 2015 p 190)

Natildeo obstante a utilizaccedilatildeo do termo ldquopessoardquo entende-se que o benefiacutecio pode ser

gozado pelos entes despersonalizados como por exemplo o condomiacutenio a massa falida etc

(OLIVEIRA 2015 p 357-358)

Aleacutem disso o art 98 estende o benefiacutecio da justiccedila gratuita aos estrangeiros sejam

eles residentes ou natildeo no paiacutes diferentemente do que traz o caput do art 5ordm da CF88 que em

relaccedilatildeo agrave generalidade dos direitos fundamentais engloba apenas os estrangeiros residentes no

paiacutes (NERY JUNIOR NERY 2015 p 472)

23 Pressupostos

A letra do Coacutedigo de Processo Civil alterou o aspecto objetivo para a concessatildeo do

benefiacutecio passando a constar apenas a ldquoinsuficiecircncia de recursos financeirosrdquo para o

adiantamento das custas natildeo mais se exige a situaccedilatildeo de miserabilidade da parte requerente

como tambeacutem se aboliu o uso da expressatildeo ldquoa parte natildeo pode arcar com as custas sem

prejuiacutezo do sustento proacuteprio ou da famiacuteliardquo

Para que se conceda o benefiacutecio haacute uma presunccedilatildeo iuris tantum de veracidade da

declaraccedilatildeo feita pela parte pessoa natural mas soacute com relaccedilatildeo agrave pessoa natural a pessoa

juriacutedica deve comprovar a impossibilidade de adiantar as custas

Apesar desta mudanccedila de paradigma a lei natildeo dispocircs de forma suficientemente clara

o que significa ldquoinsuficiecircncia de recursosrdquo e quais seriam os seus paracircmetros miacutenimos

deixando mais uma vez ao encargo do inteacuterprete a funccedilatildeo de aquilatar se o requerente faz jus

ou natildeo agrave benesse o que certamente continuaraacute acarretando distorccedilotildees e inseguranccedila juriacutedica

161

O subjetivismo da expressatildeo seraacute mais bem aprofundado no toacutepico seguinte mesmo

porque a sua discussatildeo constituiu um dos pilares do presente artigo

24 Abrangecircncia

A Lei da Assistecircncia Judiciaacuteria previa em seu artigo 3ordm quais seriam as despesas

processuais compreendidas pelo benefiacutecio da justiccedila gratuita e nesse aspecto a norma era

satisfatoacuteria entatildeo o Coacutedigo de Processo Civil manteve o que tinha na Lei nordm 106050 e

avanccedilou como por exemplo no tocante agrave previsatildeo da remuneraccedilatildeo do inteacuterprete e do

tradutor bem como na realizaccedilatildeo de memoacuteria de caacutelculo pelo contador para fins de execuccedilatildeo

entre outros

O art 98 sect1ordm do Coacutedigo em vigecircncia tratou de exemplificativamente discriminar as

despesas processuais que podem ser compreendidas pela gratuidade da justiccedila algumas delas

jaacute previstas no art 3ordm da Lei nordm 106050 agora expressamente revogado

O beneficiaacuterio estaacute dispensado de adiantar o pagamento de taxas ou custas judiciaacuterias

(inciso I) O CPC foi redundante ao prever taxas e custas mormente porque tais despesas tem

o mesmo significado elas ldquodesignam o valor que se deve pagar ao Estado pela prestaccedilatildeo do

serviccedilo judiciaacuterio Tecircm natureza juriacutedica tributaacuteria constituindo-se numa taxa [] a

concessatildeo do beneficio natildeo constitui isenccedilatildeo tributaacuteria visto que natildeo dispensa o pagamento

em si mas sim o adiantamento da verbardquo (OLIVEIRA 2015 p 359)

As despesas com postagens de qualquer natureza e com publicaccedilatildeo na imprensa

oficial tambeacutem satildeo abrangidas pelo benefiacutecio da justiccedila gratuita (incisos II e III)

O benefiacutecio engloba tambeacutem as indenizaccedilotildees de testemunhas (inciso IV) tanto os

custos com a viagem para depor em juiacutezo quanto agraves relativas ao dia de trabalho ganho e natildeo

trabalhado que deve ser paga ao empregador (NERY JUNIOR NERY 2015 p 472)

As despesas com realizaccedilatildeo do exame de DNA (inciso V) tambeacutem satildeo albergadas

pelo benefiacutecio da gratuidade da justiccedila Aliaacutes o Coacutedigo de Processo Civil inovou em relaccedilatildeo agrave

Lei da Assistecircncia Judiciaacuteria Gratuita incluindo neste inciso outros exames periciais

considerados essenciais

Os honoraacuterios do advogado e do perito a remuneraccedilatildeo do inteacuterprete tradutor e

contador e todos os terceiros que de alguma forma contribuem para o Poder Judiciaacuterio

(inciso VI e VII) estatildeo cobertos pela benesse da gratuidade

Importante destacar que o afastamento da responsabilidade pelo adiantamento das

custas dos honoraacuterios advocatiacutecios natildeo se refere aos honoraacuterios de sucumbecircncia devidos pelo

162

beneficiaacuterio ao advogado da parte contraacuteria nos termos do sect2ordm do artigo 98 mas tatildeo somente

os honoraacuterios devidos ao seu proacuteprio advogado quando este eacute nomeado pelo juiz ou seja o

defensor dativo (OLIVEIRA 2015 p 361)

O art 95 sect3ordm do Coacutedigo Processual Civil normatiza a respeito do custeio da periacutecia

(inclusive honoraacuterios) na hipoacutetese de o responsaacutevel pelo pagamento de tal despesa ser

beneficiaacuterio da justiccedila gratuita Dispotildee o paraacutegrafo que nessa hipoacutetese a periacutecia seraacute

realizada preferencialmente por um servidor do Poder Judiciaacuterio ou por oacutergatildeo conveniado e

subsidiariamente por particular Em ambos os casos os honoraacuterios seratildeo custeados com

recursos do orccedilamento do ente puacuteblico respectivo ndash Uniatildeo e Estado ou Distrito Federal

Ainda possibilita a legislaccedilatildeo processual civil que a Fazenda Puacuteblica recobre o

valor despendido a tiacutetulo de honoraacuterios periciais daquele que for condenado ao pagamento de

tais verbas (art 95 sect4ordm CPC) no caso de ser a parte vencida beneficiaacuteria da gratuidade da

justiccedila o ente puacuteblico deve observar as regras pertinentes agrave sucumbecircncia e a exigibilidade sob

condiccedilatildeo suspensiva previstas nos paraacutegrafos sectsect2ordm e 3ordm do art 98 Mas em nenhuma hipoacutetese

transferir tal ocircnus a outra parte natildeo beneficiaacuteria

Tambeacutem estatildeo incluiacutedos no conceito de gratuidade da justiccedila os depoacutesitos devidos

para interposiccedilatildeo de recurso propositura de accedilatildeo e para a praacutetica de outros atos processuais

inerentes ao exerciacutecio da ampla defesa e do contraditoacuterio (inciso VIII) esse dispositivo acaba

por servir como uma claacuteusula geral incluindo todas aquelas despesas natildeo arroladas nos

incisos anteriores e que por estarem intrinsicamente relacionadas ao exerciacutecio do

contraditoacuterio e da ampla devem ser afastadas

Por fim e natildeo menos importante trouxe uma importante inovaccedilatildeo incluindo os

emolumentos dos registradores e notaacuterios relativos a atos de averbaccedilatildeo e registro decorrentes

de processo judicial em que houve a concessatildeo do benefiacutecio da gratuidade (inciso IX)

O Coacutedigo de Processo Civil estendeu para o acircmbito extrajudicial o benefiacutecio da

gratuidade da justiccedila concedido judicialmente garantindo-se assim a prestaccedilatildeo jurisdicional

em sua inteireza

Outrossim o sect 8ordm do artigo 98 preconiza que se o tabeliatildeo ou registrador no

momento da realizaccedilatildeo do ato cartorial tiver duacutevida fundada quanto ao preenchimento dos

pressupostos para a concessatildeo da justiccedila gratuita ndash ou seja insuficiecircncia de recursos ndash pode

requerer ao juiacutezo competente para decidir questotildees notariais ou registrais (competecircncia do

juiz corregedor dos cartoacuterios extrajudiciais) que revogue a gratuidade ou permita o

parcelamento dos valores devido (DELLORE 2015)

163

Esse paraacutegrafo deu ensejo a algumas criacuteticas para Luiz Dellore o questionamento

judicial acerca da capacidade financeira da parte para arcar com as despesas notariais e

registrais

[] natildeo parece ser uma atividade jurisdicional mas administrativa em analogia agrave lsquosuscitaccedilatildeo de duacutevidarsquo hoje existente Trata-se de uma esdruacutexula inovaccedilatildeo que traz ainda mais temas para decisatildeo do Poder Judiciaacuterio Assim aleacutem de todas as questotildees que o juiz deve decidir teraacute ainda de apreciar se uma parte de um processo jaacute findo ainda tem ou natildeo dificuldades financeiras para fins de pagamento de taxas de cartoacuterio (2015)

Ainda no que tange a abrangecircncia do benefiacutecio impende destacar que as multas

processuais de qualquer natureza ndash como por exemplo as multas por litigacircncia de maacute-feacute e por

ato atentatoacuterio a dignidade da justiccedila ndash natildeo estatildeo abarcadas pela gratuidade da justiccedila pois

elas satildeo puniccedilotildees a comportamentos iliacutecitos ldquoE natildeo poderia ser diferente a gratuidade da

justiccedila natildeo pode servir como escudo para a procrastinaccedilatildeo e a litigacircncia de maacute-feacute Daiacute a razatildeo

pela qual o beneficiaacuterio da justiccedila gratuita deve ser executado normalmente em relaccedilatildeo a

elesrdquo (NERY JUNIOR NERY 2015 p 474)

25 Modulaccedilatildeo do benefiacutecio

Outra importante novidade trazida pela Lei nordm 1310515 foi a possibilidade do juiz

modular os efeitos do benefiacutecio abrangendo apenas alguns dos custos do processo ou mesmo

parcelar as despesas processuais (art 98 sectsect5ordm e 6ordm CPC)

Tal medida eacute interessante ao passo que o postulante pode ter condiccedilotildees financeiras

de arcar apenas com algumas despesas processuais como por exemplo as custas e taxas

todavia natildeo dispor de recursos para pagar os honoraacuterios periciais por exemplo Ainda ao

longo do processo pode sobrevir mudanccedila na condiccedilatildeo financeira da parte e ela passar por

dificuldades para custear as despesas processuais nesse ponto o juiz poderaacute conceder-lhe os

benefiacutecios a partir de tal momento

A possibilidade de parcelamento das despesas processuais sugere que o legislador

quis dizer que a concessatildeo da gratuidade da justiccedila eacute a uacuteltima opccedilatildeo sendo possiacutevel agrave parte

arcar com as despesas de forma parcelada o juiz deve optar pelo seu seccionamento e natildeo a

sua dispensa (NERY JUNIOR NERY 2015 p 474)

26 Responsabilidade do beneficiaacuterio

A gratuidade da justiccedila como jaacute dito eacute um instrumento do acesso agrave justiccedila daqueles

que se declaram financeiramente desprovidos de condiccedilotildees de custear o processo Isso

164

significa que se o beneficiaacuterio for perdedor em uma demanda ele seraacute igualmente responsaacutevel

pelo pagamento do ocircnus inerente a sua derrota a diferenccedila reside no fato de poder exigir ou

natildeo a sua cobranccedila

Se o beneficiaacuterio for vencido ele teraacute responsabilidade pelas despesas processuais

ele deveraacute reembolsar os gastos realizados pela outra parte seraacute condenado agraves verbas

sucumbenciais ficando todavia sob condiccedilatildeo suspensiva de exigibilidade podendo ser

cobradas pelo credor no prazo de 5 (cinco) anos contados do tracircnsito em julgado da decisatildeo

que fixou a sucumbecircncia desde que demonstre a ocorrecircncia um fato superveniente que

alterou a condiccedilatildeo financeira do beneficiaacuterio (MEDINA 2015 p 188-189)

Repisa-se a gratuidade natildeo isenta o seu beneficiaacuterio do pagamento das despesas

processuais tatildeo somente as coloca sob condiccedilatildeo suspensiva de exigibilidade

27 Requerimento e impugnaccedilatildeo

O benefiacutecio da gratuidade natildeo pode ser concedido de ofiacutecio pelo juiz devendo a

parte interessada requerecirc-lo no primeiro momento em que ela ingressa no feito ndash peticcedilatildeo

inicial contestaccedilatildeo ou na peccedila de ingresso do terceiro interveniente ndash ou em um momento

posterior ndash por meio de peticcedilatildeo simples ou mesmo no bojo de outra manifestaccedilatildeo ndash inclusive

na m grau recursal (art 99 caput e sect1ordm do CPC)

Nesse aspecto natildeo haacute um momento processual preacute-estabelecido e uacutenico para o

requerimento da gratuidade da justiccedila todavia o tempo do pedido eacute importante para delimitar

quais satildeo as despesas processuais que se dispensa o adiantamento isto porque a concessatildeo do

benefiacutecio tem efeito prospectivo natildeo alcanccedilando os atos processuais jaacute praticados

(OLIVEIRA 2015 p 371-372)

O requerimento natildeo demanda maiores formalidades devendo a parte apenas declarar

a insuficiecircncia de recursos se pessoa natural no caso de pessoa juriacutedica deveraacute ainda

comprovar a necessidade do benefiacutecio

O juiz ao analisar o pedido de gratuidade formulado apenas o indeferiraacute se nos autos

existiram elementos que demonstrem que o postulante natildeo preenche o pressuposto da

insuficiecircncia de recursos Todavia antes de indeferi-lo deve oportunizar a parte que

comprove a alegada carecircncia financeira para custear o processo (art 99 sect2ordm CPC)

A oportunidade de ser ouvido antes do indeferimento do pedido de gratuidade da

justiccedila somente se aplica a pessoa natural uma vez que em seu favor haacute presunccedilatildeo de

veracidade da alegaccedilatildeo de hipossuficiecircncia natildeo necessitando juntar qual prova nesse sentido

165

no momento da realizaccedilatildeo do pedido diferentemente do que acontece com a pessoa juriacutedica

que ao postular o benefiacutecio jaacute deve comprovar a sua necessidade (OLIVEIRA 2015 p 373)

Importante destacar que o Coacutedigo de Processo Civil encerrando discussotildees

expressamente previu que a assistecircncia do requerente por advogado particular por si soacute natildeo

constitui oacutebice para a concessatildeo do benefiacutecio (art 99 sect4ordm)

Na hipoacutetese de natildeo concessatildeo do pedido o requerente poderaacute interpor agravo de

instrumento nos termos do art 101 caput do CPC salvo se a questatildeo for solvida na

sentenccedila hipoacutetese em que caberaacute apelaccedilatildeo De outro lado se concedido poderaacute a parte

contraacuteria impugnaacute-lo

A impugnaccedilatildeo agrave gratuidade da justiccedila sofreu importantes alteraccedilotildees com o Coacutedigo de

Processo Civil a primeira delas eacute que ela natildeo mais se processa em autos apartados devendo

ser formulada nos proacuteprios autos Sem maiores formalidades a impugnaccedilatildeo deve ser

oferecida pela parte no primeiro momento posterior agrave concessatildeo que lhe couber falar nos

autos ou seja se o benefiacutecio for deferido por ocasiatildeo da peticcedilatildeo inicial deve o reacuteu impugnaacute-

la jaacute na contestaccedilatildeo se concedido ao reacuteu por ocasiatildeo da contestaccedilatildeo deve o autor impugnaacute-la

na reacuteplica se deferido no momento da interposiccedilatildeo do recurso a impugnaccedilatildeo deve ser

oferecida nas contrarrazotildees recursais e se o pedido for superveniente deve a parte contraacuteria

impugnaacute-lo no prazo de 15 (quinze) dias contados de sua concessatildeo

Haacute todavia algumas questotildees que natildeo restaram suficientemente esclarecidas pelo

Coacutedigo de Processo Civil no que concerne a impugnaccedilatildeo agrave gratuidade da Justiccedila Entre elas

o autor Luiz Dellore (2015) aponta o termo inicial do prazo para a impugnaccedilatildeo defendendo o

autor que este deveria se dar a partir do momento que a parte contraacuteria tomasse conhecimento

da situaccedilatildeo de natildeo hipossuficiecircncia da parte sob pena de se limitar o instituto

Outro ponto diz respeito ao ocircnus da prova na impugnaccedilatildeo pois o legislador

manteve-se silente nesse aspecto

A doutrina se inclina a defender que o ocircnus de comprovar que o beneficiaacuterio natildeo faz

jus agrave gratuidade eacute do impugnante ante a existecircncia de presunccedilatildeo relativa da necessidade com

a mera alegaccedilatildeo de insuficiecircncia de recursos (NERY JUNIOR NERY 2015 p 479)

28 Revogaccedilatildeo do benefiacutecio

A revogaccedilatildeo do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila implica na obrigaccedilatildeo da parte ex-

beneficiaacuteria de recolher todas as despesas de deixou de adiantar inclusive as despesas que

foram eventualmente adiantadas pelo ente puacuteblico (periacutecia por exemplo) e as vindouras (art

166

100 paraacutegrafo uacutenico do CPC) isso no caso de a parte natildeo fazer jus ao benefiacutecio desde o

momento em que a requereu (OLIVEIRA 2015 p 377)

No entanto a revogaccedilatildeo pode se dar pelo fato de ter cessado a situaccedilatildeo de

hipossuficiecircncia econocircmica que ensejou o benefiacutecio hipoacutetese em que ela apenas teraacute que

arcar com as despesas processuais a partir do momento que passou a dispor da boa condiccedilatildeo

financeira

Ainda evidenciada a maacute-feacute do ex-beneficiaacuterio o Coacutedigo de Processo Civil prevecirc a

aplicaccedilatildeo de multa de ateacute o deacutecuplo das despesas que tiver deixado de adiantar ndash nesse caso

natildeo basta a mera revogaccedilatildeo do benefiacutecio

Decidiu-se antes da entrada em vigor do Coacutedigo que ldquodeve ser cabalmente

demonstrada a intenccedilatildeo da parte em induzir o Poder Judiciaacuterio a erro se aproveitando

indevidamente do benefiacuteciordquo (MEDINA 2015 p 191)

Em linhas gerais essas satildeo algumas das alteraccedilotildees consubstanciadas pelo Coacutedigo de

Processo Civil em relaccedilatildeo ao benefiacutecio da gratuidade da justiccedila malgrado a lei processual natildeo

tenha esgotado o tema esclareceu vaacuterios pontos que antes era debatido pela jurisprudecircncia

Aleacutem do mais importante pontuar que o legislador reformador repensou o processo

civil atento aos anseios da sociedade moderna e preocupado com a efetividade dos direitos

constitucionais ndash acesso agrave justiccedila por exemplo ndash prevendo expressamente no artigo 1ordm do

CPC que ldquoo processo civil seraacute ordenado disciplinado e interpretado conforme os valores e

normas fundamentais estabelecidas na Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasilrdquo

Ocorre entretanto que mesmo diante de significativas alteraccedilotildees o legislador ainda

natildeo preencheu ou objetivou o pressuposto de concessatildeo dos benefiacutecios anteriormente citados

sendo remanescente o subjetivismo da anaacutelise do termo ldquoinsuficiecircncia de recursosrdquo o que

passaraacute a ser refletido no presente artigo

3 O SUBJETIVISMO DO PRESSUPOSTO INSUFICIEcircNCIA DE RECURSOS

Conforme jaacute visto o Coacutedigo de Processo Civil alterou o requisito para a concessatildeo

do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila bastando a declaraccedilatildeo de insuficiecircncia de recursos pela

pessoa natural e a sua comprovaccedilatildeo no caso de pessoa juriacutedica

Todavia eacute inegaacutevel a carga de subjetividade que haacute no conceito de insuficiecircncia de

recursos e como todo conceito juriacutedico vago traz certa inseguranccedila juriacutedica notadamente

porque pode acarretar decisotildees extremamente diacutespares no cotidiano forense uma vez que tal

anaacutelise (o que eacute insuficiecircncia de recursos) fica a criteacuterio do entendimento de cada

167

magistrado aleacutem do que pode gerar inuacutemeros abusos por parte dos seus requerentes ndash ainda

mais quando a mera alegaccedilatildeo eacute bastante agrave concessatildeo do benefiacutecio ndash que diferentemente do

que alegam gozam de boa sauacutede financeira para arcar com as despesas processuais

(TARTUCE DELLORE 2015 p 314-315)

Mesmo antes da alteraccedilatildeo do CPC ainda na Lei nordm 106050 jaacute discutia a doutrina e

a jurisprudecircncia acerca dos pressupostos para a concessatildeo do benefiacutecio ante a vagueza dos

conceitos de hipossuficiente necessitado carente de recursos financeiros para arcar com as

custas do processo sem prejuiacutezo do sustento proacuteprio e de sua famiacutelia e a falta de um criteacuterio

objetivo miacutenimo para a concessatildeo do benefiacutecio5

Nada obstante o progresso vivenciado com o Coacutedigo de Processo Civil de 2015 no

que tange a gratuidade da justiccedila vecirc-se que no ponto concernente agrave triagem dos

hipossuficientes de recursos o legislador conservou um conceito juriacutedico indeterminado

Segundo Frederico do Valle Abreu (2005) o conceito juriacutedico indeterminado eacute

caracterizado pela ldquovaguidade semacircntica existente em certa norma com a finalidade de que

ela a norma permaneccedila ao ser aplicada sempre atual e correspondente aos anseios da

sociedade nos vaacuterios momentos histoacutericos em que a lei eacute interpretada e aplicadardquo

Assim o conteuacutedo abstrato do pressuposto insuficiecircncia de recursos tenha sido

propositadamente pensado pelo legislador por entender que o inteacuterprete na anaacutelise casuiacutestica

goza de melhores condiccedilotildees para valoraacute-lo refletindo pois uma decisatildeo mais justa

O autor Augusto Tavares Rosa Marcacini defende que a insuficiecircncia de recursos eacute

um conceito indeterminado e natildeo segue um padratildeo rigoroso por isso a melhor soluccedilatildeo eacute a

anaacutelise caso a caso

O conceito de necessitado natildeo eacute determinado mediante regras riacutegidas matemaacuteticas natildeo se utilizando limites numeacutericos determinados Tecircm direito ao benefiacutecio aqueles que natildeo podem arcar com os gastos necessaacuterios agrave participaccedilatildeo no processo na medida em que contabilizados os seus ganhos e os seus gastos com o proacuteprio sustento e da famiacutelia natildeo lhe reste numeraacuterio suficiente para tanto O direito ao benefiacutecio decorre da indisponibilidade financeira do sujeito Em face da notoacuteria insuficiecircncia do salaacuterio miacutenimo vigente em nosso paiacutes pode ser possiacutevel presumir que aquele que aufere ateacute cinco salaacuterios miacutenimos por exemplo eacute quase que certamente merecedor de usufruir dos benefiacutecios Mas como dissemos natildeo se deve utilizar nuacutemeros fechados como criteacuterio Um chefe de uma famiacutelia numerosa que pague aluguel e que tenha filhos em idade escolar por exemplo mesmo percebendo o equivalente a dez salaacuterios miacutenimos pode natildeo ter condiccedilotildees de arcar com as despesas de um processo De outro lado um jovem que viva com os pais os quais

5 Fernanda Tartuce e Luiz Dellore por exemplo no artigo escrito em coautoria Gratuidade da Justiccedila no novo CPC divergem sobre o assunto enquanto ela acredita ser acertada a opccedilatildeo do legislador em trazer um conceito dotado de subjetividade por outro lado ele discorda defendendo que ainda que a norma deixasse uma margem para a decisatildeo do juiz de acordo com a casuiacutestica deveria ao menos estabelecer um criteacuterio objetivo miacutenimo de modo a evitar disparidades nas decisotildees (2015 314-315)

168

provecircm o seu sustento moradia e estudo e que ganhe uns dois ou trecircs salaacuterios miacutenimos que natildeo satildeo empregados em qualquer despesa essencial para sua mantenccedila pode natildeo ser considerado beneficiaacuterio (2009 p 90-91)

Nesse espectro o aplicador da norma juriacutedica eacute quem tem o poder-dever de

materializar no caso concreto o conceito juriacutedico indeterminado do que eacute ser necessitado

economicamente para arcar com as despesas processuais dando assim maior efetividade ao

preceito constitucional do acesso agrave justiccedila

Atento agraves alteraccedilotildees do Coacutedigo de Processo Civil quanto ao tema leciona Rafael

Alexandria de Oliveira

Insuficiecircncia de recursos Faz jus ao benefiacutecio da gratuidade aquela pessoa com lsquoinsuficiecircncia de recursos para pagar as custas despesas processuais e honoraacuterios advocatiacuteciosrsquo Natildeo se exige a miserabilidade nem estado de necessidade nem tampouco se fala em renda familiar ou faturamento maacuteximos Eacute possiacutevel que uma pessoa natural mesmo com boa renda mensal seja merecedora do benefiacutecio e que tambeacutem o seja aquele sujeito que eacute proprietaacuterio de bens imoacuteveis mas natildeo dispotildee de liquidez A gratuidade judiciaacuteria eacute um dos mecanismos de viabilizaccedilatildeo do acesso agrave justiccedila natildeo se pode exigir que para ter acesso agrave justiccedila o sujeito tenha que comprometer significativamente a sua renda ou tenha que se desfazer de seus bens liquidando-os para angariar recursos e custear o processo A lei natildeo fala em nuacutemeros natildeo estabelece paracircmetros O sujeito que ganha boa renda mensal pode ser tatildeo merecedor do benefiacutecio quanto aquele que sobrevive agrave custa de programas de complementaccedilatildeo de renda O que pode diferenciaacute-los eacute a maior ou menor dificuldade com que o pedido de concessatildeo do benefiacutecio eacute tratado o de melhor renda pode ser chamado a justificar o seu requerimento provando a insuficiecircncia de recursos Por isso mesmo nem sempre o beneficiaacuterio seraacute algueacutem em situaccedilatildeo de necessidade de vulnerabilidade de miseacuteria de penuacuteria Eacute preciso atentar para isso (2015 p 359)

Eacute compreensiacutevel a carga de subjetividade impregnada ao termo insuficiecircncia de

recursos notadamente porque o legislador adotando a teoria do direito processual

constitucional (art 1ordm do CPC) quis que a normativa do benefiacutecio atendesse realmente agraves

exigecircncias da sociedade hodierna deixando ao encargo do juiz o dever juriacutedico de buscar

identificar e adotar a soluccedilatildeo apta a no caso concreto alcanccedilar satisfatoriamente a finalidade6

da norma ndash de que garantir a todos o acesso agrave justiccedila

Todavia eacute cediccedilo que a valoraccedilatildeo de um conceito subjetivo pelo magistrado (assim

como para qualquer pessoa) transcende a sua formaccedilatildeo juriacutedica e mesmo que inconsciente

revela suas convicccedilotildees pessoais (crenccedilas valores referecircncias sociais) deste modo o que no

sentir de um julgador eacute pessoa hipossuficiente aos olhos do outro natildeo o eacute eacute aiacute que repousam

as ldquoinjusticcedilasrdquo

6 Interpretaccedilatildeo teleoloacutegica

169

A falta de a lei definir um criteacuterio objetivo miacutenimo para se determinar o que eacute a

insuficiecircncia de recursos demandou trabalho da doutrina e especialmente da jurisprudecircncia

que mesmo timidamente adotou os mais diversos paracircmetros

Nesse sentido uma das primeiras orientaccedilotildees que surge na jurisprudecircncia eacute a

necessidade de prova cabal da insuficiecircncia de recursos para a concessatildeo do benefiacutecio da

gratuidade agraves pessoas juriacutedicas7 Depois de muita discussatildeo o entendimento sedimentado na

jurisprudecircncia8 foi consagrado pelo legislador no Coacutedigo de Processo Civil de 2015 em seu

artigo 98 caput

Tambeacutem se firmou o entendimento de que o requerente que se dedica a emprestar

dinheiro natildeo faz jus ao benefiacutecio uma vez que tal circunstacircncia eacute incompatiacutevel com a alegada

necessidade (NERY JUNIOR NERY 2015 p 475)

Os Tribunais tambeacutem jaacute fixaram como criteacuterio objetivo para se determinar se o

requerente eacute realmente hipossuficiente a renda mensal inferior a dez salaacuterios miacutenimos9

todavia o Superior Tribunal de Justiccedila jaacute refutou a utilizaccedilatildeo desse criteacuterio sob o fundamento

de que a desconstituiccedilatildeo da presunccedilatildeo estabelecida pela lei de gratuidade de justiccedila exige

perquirir in concreto a atual situaccedilatildeo financeira do requerenterdquo10

Outro paracircmetro que tem sido utilizado pelos juristas para aferir a condiccedilatildeo de

miserabilidade do requerente eacute a faixa de isenccedilatildeo do Imposto de Renda extraiacutedo da tabela

progressiva do tributo devidamente atualizada11

O criteacuterio do patrociacutenio da causa por advogado particular para afastar a benesse jaacute

era rechaccedilado pela jurisprudecircncia12 e foi recepcionado pelo atual Coacutedigo de Processo Civil em

seu artigo 99 sect4ordm 7 Assistecircncia judiciaacuteria Pessoa juriacutedica Demonstraccedilatildeo cabal da insuficiecircncia de recursos 1 Ademais de fundamentado exclusivamente na interpretaccedilatildeo do art 5ordm LXXIV da Constituiccedilatildeo Federal o certo eacute que a Corte jaacute assentou a necessidade de demonstraccedilatildeo cabal da insuficiecircncia de recursos para que a empresa possa desfrutar dos benefiacutecios da assistecircncia judiciaacuteria 2 Recurso especial natildeo conhecido (STJ - REsp 182557 RJ 19980053550-0 Relator Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO Data de Julgamento 02091999 T3 - TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJ 25101999 p 79) 8 Suacutemula 481 STJ Faz jus ao benefiacutecio da justiccedila gratuita a pessoa juriacutedica com ou sem fins lucrativos que demonstrar sua impossibilidade de arcar com os encargos processuais 9 ADMINISTRATIVO AGRAVO DE INSTRUMENTO ASSISTEcircNCIA JUDICIAacuteRIA GRATUITA - AJG PARAcircMETRO DEZ SALAacuteRIOS MIacuteNIMOS 1 A Segunda Seccedilatildeo desta Corte vem consolidando entendimento no sentido de fixar patamar objetivo para a concessatildeo do benefiacutecio da AJG qual seja dez salaacuterios miacutenimo 2 Hipoacutetese em que a agravante comprovou renda mensal bem inferior ao limite paradigmaacutetico destacado inexistindo qualquer razatildeo para o indeferimento do pleito em prestiacutegio agrave norma de regecircncia (Lei n 10601950) e ao princiacutepio da acessibilidade (artigo 5ordm XXXV Constituiccedilatildeo Federal) (TRF-4 - AG 50101513420134040000 5010151-3420134040000 Relator NICOLAU KONKEL JUacuteNIOR Data de Julgamento 14082013 TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DE 16082013) 10 STJ - AgRg no AREsp 626487 MG 20140315675-3 Relator Ministro RICARDO VILLAS BOcircAS CUEVA Data de Julgamento 28042015 T3 - TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJe 07052015 11 TJ-PR - AI 14520235 PR 1452023-5 (Decisatildeo Monocraacutetica) Relator Paulo Cezar Bellio Data de Julgamento 27102015 16ordf Cacircmara Ciacutevel Data de Publicaccedilatildeo DJ 1683 05112015

170

O Superior Tribunal de Justiccedila preconiza que o inteacuterprete deve conjugar o binocircmio

necessidade-possibilidade assim para se conceder o benefiacutecio da gratuidade da justiccedila deve-

se considerar natildeo apenas os rendimentos mensais do requerente mas tambeacutem o

comprometimento de suas despesas13

A anaacutelise da condiccedilatildeo financeira do postulante deve ficar restrita a sua situaccedilatildeo

presente e natildeo ao seu histoacuterico de riquezas o simples fato de o requerente jaacute ter sido rico

empresaacuterio ou pessoa de posses natildeo significa que natildeo possa ser hoje pessoa pobre na

acepccedilatildeo juriacutedica do termo e necessitar da assistecircncia judiciaacuteria Da mesma forma a reciacuteproca

eacute verdadeira o pobre que eacute beneficiaacuterio da gratuidade pode por fatores supervenientes

tornar-se pessoa abastada financeiramente o que certamente lhe cassaraacute o benefiacutecio (NERY

JUNIOR NERY 2015 p 477)

Destarte a adoccedilatildeo pelo juiz de um paracircmetro como ponto de partida para verificar o

preenchimento dos requisitos para a concessatildeo da justiccedila gratuita natildeo deve ser visto como

violador da norma Bem da verdade a gratuidade da justiccedila eacute uma das portas de acesso ao

Poder Judiciaacuterio entretanto natildeo pode ser utilizada pelo beneficiaacuterio tatildeo-somente para se

furtar das obrigaccedilotildees oriundas do processo

A Lei nordm 106050 exigia em sua redaccedilatildeo original que o requerente comprovasse o

estado de pobreza alegado hoje ndash a partir da nova redaccedilatildeo dada ao art 4ordm sect1ordm da referida lei

pela Lei Federal nordm 751086 ndash basta a simples afirmaccedilatildeo de necessidade do benefiacutecio o que

inclusive eacute referendado pela jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila14 Nesse sentir o

12 Assistecircncia judiciaacuteria Defensoria Puacuteblica Advogado particular Interpretaccedilatildeo da Lei nordm 106050 1 Natildeo eacute suficiente para afastar a assistecircncia judiciaacuteria a existecircncia de advogado contratado O que a lei especial de regecircncia exige eacute a presenccedila do estado de pobreza ou seja da necessidade da assistecircncia judiciaacuteria por impossibilidade de responder pelas custas que poderaacute ser enfrentada com prova que a desfaccedila Natildeo serve para medir isso a qualidade do defensor se puacuteblico ou particular 2 Recurso especial conhecido e provido (STJ - REsp 679198 PR 20040103656-9 Relator Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO Data de Julgamento 21112006 T3 - TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJ 16042007 p 184) 13 STJ - REsp 263781 SP 20000060786-0 Relator Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO Data de Julgamento 22052001 T3 - TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo lt-- DTPB 20010813ltbrgt --gt DJ 13082001 p 150ltbrgt JBCC vol 193 p 249 14PROCESSUAL CIVIL RECONHECIMENTO DE CONCUBINATO E PARTILHA DE BENS PEDIDO ALTERNATIVO DE INDENIZACcedilAtildeO POR SERVICcedilOS PRESTADOS INDEFERIMENTO DE PLANO DA INICIAL IMPOSSIBILIDADE CERCEAMENTO DE DEFESA ASSISTEcircNCIA JUDICIAacuteRIA E GRATUIDADE DA JUSTICcedilA ALEGACcedilAtildeO DA PARTE DESNECESSIDADE DE DEMONSTRACcedilAtildeO DE O ADVOGADO NAtildeO ESTAR SENDO REMUNERADO PRESUNCcedilAtildeO RECURSO PROVIDO Pelo sistema legal vigente faz jus a parte aos benefiacutecios da assistecircncia judiciaacuteria mediante simples afirmaccedilatildeo na proacutepria peticcedilatildeo de que natildeo estaacute em condiccedilotildees de pagar as custas do processo e os honoraacuterios de advogado sem prejuiacutezo proacuteprio ou de sua famiacutelia O deferimento da gratuidade garantia assegurada constitucionalmente aos economicamente hipossuficientes (Constituiccedilatildeo art 5ordm LXXIV) natildeo exige que a parte demonstre que o advogado natildeo estaacute sendo por ela remunerado Enquanto a Justiccedila gratuita isenta de despesas processuais e condenaccedilatildeo em honoraacuterios advocatiacutecios a assistecircncia judiciaacuteria mais ampla enseja tambeacutem o patrociacutenio por profissional habilitado Caracteriza cerceamento de defesa o indeferimento de plano da inicial de accedilatildeo que pretendeu o reconhecimento de concubinato e partilha de bens com pedido alternativo de indenizaccedilatildeo de

171

aplicador do direito exerce um fundamental papel para que o processo natildeo seja um fim em si

mesmo mas sim um instrumento para a materializaccedilatildeo de um direito

Nota-se que o indeterminismo do termo insuficiecircncia de recursos aliado a mera

alegaccedilatildeo da necessidade poderia transviar o sentido da norma devendo o magistrado ficar

atento para que os privilegiados de fortuna natildeo ingressem gratuitamente no feito

Assim havendo elementos no processo que infirmem a alegaccedilatildeo do postulante ndash que

goza de presunccedilatildeo iuris tantum ndash a hipossuficiecircncia deve ser comprovada

Duacutevida fundada quanto agrave pobreza O juiz da causa valendo-se de criteacuterios

objetivos pode entender que a natureza da accedilatildeo movida pelo interessado demonstra que ele possui porte econocircmico para suportar as despesas do processo A declaraccedilatildeo pura e simples do interessado conquanto seja o uacutenico entrave burocraacutetico que se exige para liberar o magistrado para decidir em favor do peticionaacuterio natildeo eacute prova inequiacutevoca daquilo que ele afirma nem obriga o juiz a se curvar aos seus dizeres se de outras provas e circunstacircncias ficar evidenciado que o conceito de pobreza que a parte invoca natildeo eacute aquele que justifica a concessatildeo do privileacutegio Cabe ao magistrado livremente fazer juiacutezo de valor acerca do termo pobreza deferindo ou natildeo o benefiacutecio (NERY JUNIOR NERY 2015 p 477)

Infelizmente a finalidade do benefiacutecio natildeo raras vezes eacute distorcida seja pela

abstraccedilatildeo do conceito ou mesmo pela lisura do ser humano e isso contribui para o aumento de

demandas desqualificadas respaldadas na ausecircncia de riscos no caso de improcedecircncia

Para Maacutercio Pirocircpo Galvatildeo (2010) os mecanismos de acesso agrave justiccedila fomentam

accedilotildees despretensiosas ndash e cita como exemplos as accedilotildees trabalhistas e aquelas do acircmbito dos

Juizados Especiais ndash exclusivamente pela ausecircncia de custo econocircmico defende inclusive

que o acesso ao Judiciaacuterio de forma gratuita virou uma ldquoloteria onde todos querem tentar a

sorterdquo

E continua o autor citando a decisatildeo do Juiz de Direito da 2ordf Vara Ciacutevel da Comarca

de Dourados Dr Joseacute Carlos de Souza que as demandas desnecessaacuterias ldquoabarrotam o Poder

Judiciaacuterio e dificultam o acesso agrave Justiccedila de jurisdicionados com pretensotildees mais nobres

Incentivam o aumento da inadimplecircncia e sedimentam a cultura do natildeo-cumprimento dos

contratos [] Configuram provocaccedilatildeo abusiva da maacutequina judiciaacuteria e maacute-feacute do devedorrdquo

(GALVAtildeO 2010)

Como visto a utilizaccedilatildeo abusiva da gratuidade da justiccedila pode representar o

congestionamento da maacutequina judicial comprometendo a razoaacutevel duraccedilatildeo do processo e ao

serviccedilos prestados sem possibilitar agrave parte a produccedilatildeo de qualquer prova notadamente em se tratando de alegado relacionamento de mais de trinta anos (Recurso Especial nordm 91609SP 4ordf Turma do STJ Rel Min Saacutelvio de Figueiredo Teixeira Recorrente A P M R Recorrida V G F B j 160498 un DJU 080698 p 113)

172

reveacutes de seu proposito servir como oacutebice ao efetivo acesso agrave justiccedila daqueles que tem

realmente tem urgecircncia na prestaccedilatildeo jurisdicional

Talvez uma boa alternativa para se evitar decisotildees diacutespares e a banalizaccedilatildeo do

benefiacutecio ante a carga de subjetividade do seu pressuposto fosse exigir uma comprovaccedilatildeo

miacutenima da insuficiecircncia de recursos Afinal quem realmente necessita do benefiacutecio natildeo teria

dificuldade alguma em demonstrar a sua impossibilidade financeira para arcar com as

despesas processuais

Eacute certo que a Lei nordm 106050 e agora o Coacutedigo de Processo Civil estabelecem ocircnus

ao litigante que de maacute-feacute requereu o benefiacutecio da gratuidade todavia a prova nesse sentido

deve ser contundente o que estimula de certa forma pedidos indiscriminados de gratuidade

uma vez que sopesando os riscos os ganhos prevalecem

Destarte o que se percebe eacute que nesse ponto o legislador civil natildeo conseguiu

encerrar as discussotildees deixando a soluccedilatildeo para a doutrina e a jurisprudecircncia agora basta

saber como as discussotildees seratildeo encaminhadas de modo que natildeo se instale ndash ou aumente ndash um

estado de desconfianccedila em torno do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila em decorrecircncia dos

abusos praticados mas que tambeacutem natildeo se deixe de cumprir a sua preciacutepua finalidade

constitucional de ser um instrumento de acesso ao Judiciaacuterio daqueles que natildeo desfrutam de

plenas condiccedilotildees financeiras

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O atual Coacutedigo de Processo Civil atuou muito positivamente no que pertine ao

instituto da Gratuidade da Justiccedila ele alvoreceu pontos que a Lei nordm 106050 era retroacutegrada e

mesmo silente bem como normatizou questotildees jaacute consolidadas pela jurisprudecircncia

Em contrapartida a legislaccedilatildeo processual civil natildeo se fez clara quanto ao pressuposto

para a concessatildeo do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila mormente porque se limitou a prever

que a simples afirmaccedilatildeo de insuficiecircncia de recursos para pagar as despesas processuais eacute

suficiente ao seu deferimento

Afinal o que insuficiecircncia de recursos Qual o criteacuterio objetivo para se definir quem

se enquadra ou natildeo nesse perfil Mais uma vez a lei que trata sobre a gratuidade da justiccedila

silenciou nesse pormenor reservando ao aplicador do direito a missatildeo de examinar

casuisticamente quem eacute merecedor ou natildeo da benesse partindo de uma interpretaccedilatildeo

alicerccedilada na finalidade da lei ndash promover o acesso agrave justiccedila

173

Assim duas questotildees surgem A primeira eacute se o legislador foi relapso ou se ele

propositadamente preferiu a um conceito indeterminado para a concessatildeo do benefiacutecio E a

segunda eacute se ele agiu bem

E ao que se conclui eacute que a preferecircncia por um termo dotado de subjetivismo tem

um propoacutesito qual seja permitir que a lei seja adaptaacutevel as mais diversas situaccedilotildees do

cotidiano forense de modo a tornar o acesso agrave justiccedila um direito fundamental mais efetivo

Conquanto agrave segunda questatildeo (se ele agiu bem) apenas a experiecircncia praacutetica poderaacute dizer

notadamente porque vai depender e muito da consciecircncia do postulante (e seu advogado) o

qual eacute o real sabedor de sua condiccedilatildeo financeira

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ABREU Frederico do Valle Conceito juriacutedico indeterminado interpretaccedilatildeo da lei

processo e suposto poder discricionaacuterio do magistrado Jus Navigandi Teresina ano 9 n

674 10 maio 2005 Disponiacutevel em lthttpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=6674gt

Acesso em 27032016

ANGHER Anne Joyce (Org) Vade mecum acadecircmico de direito Rideel 21ed

atual e ampl Satildeo Paulo Rideel 2015

BRASIL Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Recurso Especial nordm

19980053550-0 Relator Ministro Carlos Alberto Menezes Data de Julgamento 02091999

Data de Publicaccedilatildeo DJ 25101999 p 79

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Agravo Regimental no Recurso

Especial nordm 20140315675-3 Relator Ministro Ricardo Villas Bocircas Cueva Data de

Julgamento 28042015 Data de Publicaccedilatildeo DJe 07052015

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Recurso Especial nordm

20040103656-9 Relator Ministro Carlos Alberto Menezes Direito Data de Julgamento

21112006 Data de Publicaccedilatildeo DJ 16042007 p 184

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Recurso Especial

20000060786-0 Relator Ministro Carlos Alberto Menezes Direito Data de Julgamento

22052001 Data de Publicaccedilatildeo 13082001 p 150

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Quarta Turma Recurso Especial 91609SP

Relator Ministro Saacutelvio de Figueiredo Teixeira Data de Publicaccedilatildeo 08061998 p 113

174

_____ Tribunal Regional Federal (4ordf Regiatildeo) Terceira Turma Agravo nordm

50101513420134040000 5010151-3420134040000 Relator Nicolau Konkel Juacutenior Data

de Julgamento 14082013Data de Publicaccedilatildeo 16082013

_____ Tribunal de Justiccedila do Estado do Paranaacute 16ordf Cacircmara Ciacutevel Agravo de

Instrumento nordm 14520235 PR 1452023-5 (Decisatildeo Monocraacutetica) Relator Paulo Cezar Bellio

Data de Julgamento 27102015 Data de Publicaccedilatildeo 05112015

CAPPELLETTI Mauro GARTH Bryant Acesso agrave justiccedila Trad Ellen Gracie

Northfleet Porto Alegre Seacutergio Fabris Editor 2002

CARNEIRO Paulo Cezar Pinheiro Normas Fundamentais do Processo Civil Em

Breves Comentaacuterios ao Novo Coacutedigo de Processo Civil Tereza Arruda Alvim Wambier et

al[coord] Satildeo Paulo Editora RT 2015

DELLORE Luiz Novo CPC o lado A da justiccedila gratuita Disponiacutevel em http

httpjotauolcombrjustica-gratuita-novo-cpc-lado publicado em 09 de marccedilo de 2015

Acesso em 27032016

______ Novo CPC o lado B da justiccedila gratuita Disponiacutevel em

httpjotauolcombrnovo-cpc-o-lado-b-da-justica-gratuita publicado em 13 de abril de

2015 Acesso em 27032016

GALESKI JUNIOR Irineu RIBEIRO Marcia Carla Pereira Direito e economia

uma abordagem sobre a assistecircncia judiciaacuteria gratuita In Publica Direito (recurso eletrocircnico

on-line) Fortaleza CONPEDI 2010

GALVAtildeO Maacutercio Pirocircpo Abuso de direito agrave gratuidade da Justiccedila Revista Jus

Navigandi Teresina ano 17 n 3339 22 ago 2012 Disponiacutevel em

lthttpsjuscombrartigos22466gt Acesso em 27032016

MARCACINI Augusto Tavares Rosa Assistecircncia Juriacutedica Assistecircncia Judiciaacuteria e

Justiccedila Gratuita Satildeo Paulo Editora Forense 2009 (ediccedilatildeo eletrocircnica)

MEDINA Joseacute Miguel Garcia Novo Coacutedigo de Processo Civil Comentado Satildeo

Paulo Editora RT 2015

NERY JUNIOR Nelson e NERY Rosa Maria de Andrade Comentaacuterios ao Coacutedigo

de Processo Civil Satildeo Paulo Editora RT 2015

NETO Emeteacuterio Silva de Oliveira VIANA Juvecircncio Vasconcelos Acesso agrave justiccedila

e o novo Coacutedigo de Processo Civil um olhar criacutetico Em Acesso agrave justiccedila (recurso eletrocircnico

on-line) Florianoacutepolis CONPEDIUFSC 2015

175

OLIVEIRA Rafael Alexandria de Da Gratuidade da Justiccedila Em Breves

Comentaacuterios ao Novo Coacutedigo de Processo Civil Tereza Arruda Alvim Wambier et

al[coord] Satildeo Paulo Editora RT 2015

SANTOS Boaventura de Souza Pela matildeo de Alice o social e o poliacutetico

na poacutes-modernidade Satildeo Paulo Cortez 2003

TARTURE Flaacutevia DELLORE Luiz Gratuidade da justiccedila no novo CPC Em

Revista de Processo Satildeo Paulo v 39 n 236 p 305-323 out 2014

176

confusatildeo que se possa fazer com a assistecircncia judiciaacuteria gratuita e a assistecircncia juriacutedica

integral e gratuita

22 Beneficiaacuterios

De acordo com a legislaccedilatildeo processual em vigor podem ser beneficiaacuterios da justiccedila

gratuita a pessoa natural ou juriacutedica brasileira ou estrangeira

A redaccedilatildeo do Coacutedigo de Processo Civil encerrou uma discussatildeo histoacuterica pontuada

jurisprudencialmente pelo STJ e agora reconhecida legislativamente ao prever (art 98

caput) que a pessoa juriacutedica tem direito ao benefiacutecio da gratuidade da justiccedila

Para que a pessoa juriacutedica seja beneficiada com a gratuidade da justiccedila natildeo basta a

mera declaraccedilatildeo devendo demonstrar que efetivamente necessita do benefiacutecio

independentemente de ter ou natildeo finalidade lucrativa (MEDINA 2015 p 190)

Natildeo obstante a utilizaccedilatildeo do termo ldquopessoardquo entende-se que o benefiacutecio pode ser

gozado pelos entes despersonalizados como por exemplo o condomiacutenio a massa falida etc

(OLIVEIRA 2015 p 357-358)

Aleacutem disso o art 98 estende o benefiacutecio da justiccedila gratuita aos estrangeiros sejam

eles residentes ou natildeo no paiacutes diferentemente do que traz o caput do art 5ordm da CF88 que em

relaccedilatildeo agrave generalidade dos direitos fundamentais engloba apenas os estrangeiros residentes no

paiacutes (NERY JUNIOR NERY 2015 p 472)

23 Pressupostos

A letra do Coacutedigo de Processo Civil alterou o aspecto objetivo para a concessatildeo do

benefiacutecio passando a constar apenas a ldquoinsuficiecircncia de recursos financeirosrdquo para o

adiantamento das custas natildeo mais se exige a situaccedilatildeo de miserabilidade da parte requerente

como tambeacutem se aboliu o uso da expressatildeo ldquoa parte natildeo pode arcar com as custas sem

prejuiacutezo do sustento proacuteprio ou da famiacuteliardquo

Para que se conceda o benefiacutecio haacute uma presunccedilatildeo iuris tantum de veracidade da

declaraccedilatildeo feita pela parte pessoa natural mas soacute com relaccedilatildeo agrave pessoa natural a pessoa

juriacutedica deve comprovar a impossibilidade de adiantar as custas

Apesar desta mudanccedila de paradigma a lei natildeo dispocircs de forma suficientemente clara

o que significa ldquoinsuficiecircncia de recursosrdquo e quais seriam os seus paracircmetros miacutenimos

deixando mais uma vez ao encargo do inteacuterprete a funccedilatildeo de aquilatar se o requerente faz jus

ou natildeo agrave benesse o que certamente continuaraacute acarretando distorccedilotildees e inseguranccedila juriacutedica

161

O subjetivismo da expressatildeo seraacute mais bem aprofundado no toacutepico seguinte mesmo

porque a sua discussatildeo constituiu um dos pilares do presente artigo

24 Abrangecircncia

A Lei da Assistecircncia Judiciaacuteria previa em seu artigo 3ordm quais seriam as despesas

processuais compreendidas pelo benefiacutecio da justiccedila gratuita e nesse aspecto a norma era

satisfatoacuteria entatildeo o Coacutedigo de Processo Civil manteve o que tinha na Lei nordm 106050 e

avanccedilou como por exemplo no tocante agrave previsatildeo da remuneraccedilatildeo do inteacuterprete e do

tradutor bem como na realizaccedilatildeo de memoacuteria de caacutelculo pelo contador para fins de execuccedilatildeo

entre outros

O art 98 sect1ordm do Coacutedigo em vigecircncia tratou de exemplificativamente discriminar as

despesas processuais que podem ser compreendidas pela gratuidade da justiccedila algumas delas

jaacute previstas no art 3ordm da Lei nordm 106050 agora expressamente revogado

O beneficiaacuterio estaacute dispensado de adiantar o pagamento de taxas ou custas judiciaacuterias

(inciso I) O CPC foi redundante ao prever taxas e custas mormente porque tais despesas tem

o mesmo significado elas ldquodesignam o valor que se deve pagar ao Estado pela prestaccedilatildeo do

serviccedilo judiciaacuterio Tecircm natureza juriacutedica tributaacuteria constituindo-se numa taxa [] a

concessatildeo do beneficio natildeo constitui isenccedilatildeo tributaacuteria visto que natildeo dispensa o pagamento

em si mas sim o adiantamento da verbardquo (OLIVEIRA 2015 p 359)

As despesas com postagens de qualquer natureza e com publicaccedilatildeo na imprensa

oficial tambeacutem satildeo abrangidas pelo benefiacutecio da justiccedila gratuita (incisos II e III)

O benefiacutecio engloba tambeacutem as indenizaccedilotildees de testemunhas (inciso IV) tanto os

custos com a viagem para depor em juiacutezo quanto agraves relativas ao dia de trabalho ganho e natildeo

trabalhado que deve ser paga ao empregador (NERY JUNIOR NERY 2015 p 472)

As despesas com realizaccedilatildeo do exame de DNA (inciso V) tambeacutem satildeo albergadas

pelo benefiacutecio da gratuidade da justiccedila Aliaacutes o Coacutedigo de Processo Civil inovou em relaccedilatildeo agrave

Lei da Assistecircncia Judiciaacuteria Gratuita incluindo neste inciso outros exames periciais

considerados essenciais

Os honoraacuterios do advogado e do perito a remuneraccedilatildeo do inteacuterprete tradutor e

contador e todos os terceiros que de alguma forma contribuem para o Poder Judiciaacuterio

(inciso VI e VII) estatildeo cobertos pela benesse da gratuidade

Importante destacar que o afastamento da responsabilidade pelo adiantamento das

custas dos honoraacuterios advocatiacutecios natildeo se refere aos honoraacuterios de sucumbecircncia devidos pelo

162

beneficiaacuterio ao advogado da parte contraacuteria nos termos do sect2ordm do artigo 98 mas tatildeo somente

os honoraacuterios devidos ao seu proacuteprio advogado quando este eacute nomeado pelo juiz ou seja o

defensor dativo (OLIVEIRA 2015 p 361)

O art 95 sect3ordm do Coacutedigo Processual Civil normatiza a respeito do custeio da periacutecia

(inclusive honoraacuterios) na hipoacutetese de o responsaacutevel pelo pagamento de tal despesa ser

beneficiaacuterio da justiccedila gratuita Dispotildee o paraacutegrafo que nessa hipoacutetese a periacutecia seraacute

realizada preferencialmente por um servidor do Poder Judiciaacuterio ou por oacutergatildeo conveniado e

subsidiariamente por particular Em ambos os casos os honoraacuterios seratildeo custeados com

recursos do orccedilamento do ente puacuteblico respectivo ndash Uniatildeo e Estado ou Distrito Federal

Ainda possibilita a legislaccedilatildeo processual civil que a Fazenda Puacuteblica recobre o

valor despendido a tiacutetulo de honoraacuterios periciais daquele que for condenado ao pagamento de

tais verbas (art 95 sect4ordm CPC) no caso de ser a parte vencida beneficiaacuteria da gratuidade da

justiccedila o ente puacuteblico deve observar as regras pertinentes agrave sucumbecircncia e a exigibilidade sob

condiccedilatildeo suspensiva previstas nos paraacutegrafos sectsect2ordm e 3ordm do art 98 Mas em nenhuma hipoacutetese

transferir tal ocircnus a outra parte natildeo beneficiaacuteria

Tambeacutem estatildeo incluiacutedos no conceito de gratuidade da justiccedila os depoacutesitos devidos

para interposiccedilatildeo de recurso propositura de accedilatildeo e para a praacutetica de outros atos processuais

inerentes ao exerciacutecio da ampla defesa e do contraditoacuterio (inciso VIII) esse dispositivo acaba

por servir como uma claacuteusula geral incluindo todas aquelas despesas natildeo arroladas nos

incisos anteriores e que por estarem intrinsicamente relacionadas ao exerciacutecio do

contraditoacuterio e da ampla devem ser afastadas

Por fim e natildeo menos importante trouxe uma importante inovaccedilatildeo incluindo os

emolumentos dos registradores e notaacuterios relativos a atos de averbaccedilatildeo e registro decorrentes

de processo judicial em que houve a concessatildeo do benefiacutecio da gratuidade (inciso IX)

O Coacutedigo de Processo Civil estendeu para o acircmbito extrajudicial o benefiacutecio da

gratuidade da justiccedila concedido judicialmente garantindo-se assim a prestaccedilatildeo jurisdicional

em sua inteireza

Outrossim o sect 8ordm do artigo 98 preconiza que se o tabeliatildeo ou registrador no

momento da realizaccedilatildeo do ato cartorial tiver duacutevida fundada quanto ao preenchimento dos

pressupostos para a concessatildeo da justiccedila gratuita ndash ou seja insuficiecircncia de recursos ndash pode

requerer ao juiacutezo competente para decidir questotildees notariais ou registrais (competecircncia do

juiz corregedor dos cartoacuterios extrajudiciais) que revogue a gratuidade ou permita o

parcelamento dos valores devido (DELLORE 2015)

163

Esse paraacutegrafo deu ensejo a algumas criacuteticas para Luiz Dellore o questionamento

judicial acerca da capacidade financeira da parte para arcar com as despesas notariais e

registrais

[] natildeo parece ser uma atividade jurisdicional mas administrativa em analogia agrave lsquosuscitaccedilatildeo de duacutevidarsquo hoje existente Trata-se de uma esdruacutexula inovaccedilatildeo que traz ainda mais temas para decisatildeo do Poder Judiciaacuterio Assim aleacutem de todas as questotildees que o juiz deve decidir teraacute ainda de apreciar se uma parte de um processo jaacute findo ainda tem ou natildeo dificuldades financeiras para fins de pagamento de taxas de cartoacuterio (2015)

Ainda no que tange a abrangecircncia do benefiacutecio impende destacar que as multas

processuais de qualquer natureza ndash como por exemplo as multas por litigacircncia de maacute-feacute e por

ato atentatoacuterio a dignidade da justiccedila ndash natildeo estatildeo abarcadas pela gratuidade da justiccedila pois

elas satildeo puniccedilotildees a comportamentos iliacutecitos ldquoE natildeo poderia ser diferente a gratuidade da

justiccedila natildeo pode servir como escudo para a procrastinaccedilatildeo e a litigacircncia de maacute-feacute Daiacute a razatildeo

pela qual o beneficiaacuterio da justiccedila gratuita deve ser executado normalmente em relaccedilatildeo a

elesrdquo (NERY JUNIOR NERY 2015 p 474)

25 Modulaccedilatildeo do benefiacutecio

Outra importante novidade trazida pela Lei nordm 1310515 foi a possibilidade do juiz

modular os efeitos do benefiacutecio abrangendo apenas alguns dos custos do processo ou mesmo

parcelar as despesas processuais (art 98 sectsect5ordm e 6ordm CPC)

Tal medida eacute interessante ao passo que o postulante pode ter condiccedilotildees financeiras

de arcar apenas com algumas despesas processuais como por exemplo as custas e taxas

todavia natildeo dispor de recursos para pagar os honoraacuterios periciais por exemplo Ainda ao

longo do processo pode sobrevir mudanccedila na condiccedilatildeo financeira da parte e ela passar por

dificuldades para custear as despesas processuais nesse ponto o juiz poderaacute conceder-lhe os

benefiacutecios a partir de tal momento

A possibilidade de parcelamento das despesas processuais sugere que o legislador

quis dizer que a concessatildeo da gratuidade da justiccedila eacute a uacuteltima opccedilatildeo sendo possiacutevel agrave parte

arcar com as despesas de forma parcelada o juiz deve optar pelo seu seccionamento e natildeo a

sua dispensa (NERY JUNIOR NERY 2015 p 474)

26 Responsabilidade do beneficiaacuterio

A gratuidade da justiccedila como jaacute dito eacute um instrumento do acesso agrave justiccedila daqueles

que se declaram financeiramente desprovidos de condiccedilotildees de custear o processo Isso

164

significa que se o beneficiaacuterio for perdedor em uma demanda ele seraacute igualmente responsaacutevel

pelo pagamento do ocircnus inerente a sua derrota a diferenccedila reside no fato de poder exigir ou

natildeo a sua cobranccedila

Se o beneficiaacuterio for vencido ele teraacute responsabilidade pelas despesas processuais

ele deveraacute reembolsar os gastos realizados pela outra parte seraacute condenado agraves verbas

sucumbenciais ficando todavia sob condiccedilatildeo suspensiva de exigibilidade podendo ser

cobradas pelo credor no prazo de 5 (cinco) anos contados do tracircnsito em julgado da decisatildeo

que fixou a sucumbecircncia desde que demonstre a ocorrecircncia um fato superveniente que

alterou a condiccedilatildeo financeira do beneficiaacuterio (MEDINA 2015 p 188-189)

Repisa-se a gratuidade natildeo isenta o seu beneficiaacuterio do pagamento das despesas

processuais tatildeo somente as coloca sob condiccedilatildeo suspensiva de exigibilidade

27 Requerimento e impugnaccedilatildeo

O benefiacutecio da gratuidade natildeo pode ser concedido de ofiacutecio pelo juiz devendo a

parte interessada requerecirc-lo no primeiro momento em que ela ingressa no feito ndash peticcedilatildeo

inicial contestaccedilatildeo ou na peccedila de ingresso do terceiro interveniente ndash ou em um momento

posterior ndash por meio de peticcedilatildeo simples ou mesmo no bojo de outra manifestaccedilatildeo ndash inclusive

na m grau recursal (art 99 caput e sect1ordm do CPC)

Nesse aspecto natildeo haacute um momento processual preacute-estabelecido e uacutenico para o

requerimento da gratuidade da justiccedila todavia o tempo do pedido eacute importante para delimitar

quais satildeo as despesas processuais que se dispensa o adiantamento isto porque a concessatildeo do

benefiacutecio tem efeito prospectivo natildeo alcanccedilando os atos processuais jaacute praticados

(OLIVEIRA 2015 p 371-372)

O requerimento natildeo demanda maiores formalidades devendo a parte apenas declarar

a insuficiecircncia de recursos se pessoa natural no caso de pessoa juriacutedica deveraacute ainda

comprovar a necessidade do benefiacutecio

O juiz ao analisar o pedido de gratuidade formulado apenas o indeferiraacute se nos autos

existiram elementos que demonstrem que o postulante natildeo preenche o pressuposto da

insuficiecircncia de recursos Todavia antes de indeferi-lo deve oportunizar a parte que

comprove a alegada carecircncia financeira para custear o processo (art 99 sect2ordm CPC)

A oportunidade de ser ouvido antes do indeferimento do pedido de gratuidade da

justiccedila somente se aplica a pessoa natural uma vez que em seu favor haacute presunccedilatildeo de

veracidade da alegaccedilatildeo de hipossuficiecircncia natildeo necessitando juntar qual prova nesse sentido

165

no momento da realizaccedilatildeo do pedido diferentemente do que acontece com a pessoa juriacutedica

que ao postular o benefiacutecio jaacute deve comprovar a sua necessidade (OLIVEIRA 2015 p 373)

Importante destacar que o Coacutedigo de Processo Civil encerrando discussotildees

expressamente previu que a assistecircncia do requerente por advogado particular por si soacute natildeo

constitui oacutebice para a concessatildeo do benefiacutecio (art 99 sect4ordm)

Na hipoacutetese de natildeo concessatildeo do pedido o requerente poderaacute interpor agravo de

instrumento nos termos do art 101 caput do CPC salvo se a questatildeo for solvida na

sentenccedila hipoacutetese em que caberaacute apelaccedilatildeo De outro lado se concedido poderaacute a parte

contraacuteria impugnaacute-lo

A impugnaccedilatildeo agrave gratuidade da justiccedila sofreu importantes alteraccedilotildees com o Coacutedigo de

Processo Civil a primeira delas eacute que ela natildeo mais se processa em autos apartados devendo

ser formulada nos proacuteprios autos Sem maiores formalidades a impugnaccedilatildeo deve ser

oferecida pela parte no primeiro momento posterior agrave concessatildeo que lhe couber falar nos

autos ou seja se o benefiacutecio for deferido por ocasiatildeo da peticcedilatildeo inicial deve o reacuteu impugnaacute-

la jaacute na contestaccedilatildeo se concedido ao reacuteu por ocasiatildeo da contestaccedilatildeo deve o autor impugnaacute-la

na reacuteplica se deferido no momento da interposiccedilatildeo do recurso a impugnaccedilatildeo deve ser

oferecida nas contrarrazotildees recursais e se o pedido for superveniente deve a parte contraacuteria

impugnaacute-lo no prazo de 15 (quinze) dias contados de sua concessatildeo

Haacute todavia algumas questotildees que natildeo restaram suficientemente esclarecidas pelo

Coacutedigo de Processo Civil no que concerne a impugnaccedilatildeo agrave gratuidade da Justiccedila Entre elas

o autor Luiz Dellore (2015) aponta o termo inicial do prazo para a impugnaccedilatildeo defendendo o

autor que este deveria se dar a partir do momento que a parte contraacuteria tomasse conhecimento

da situaccedilatildeo de natildeo hipossuficiecircncia da parte sob pena de se limitar o instituto

Outro ponto diz respeito ao ocircnus da prova na impugnaccedilatildeo pois o legislador

manteve-se silente nesse aspecto

A doutrina se inclina a defender que o ocircnus de comprovar que o beneficiaacuterio natildeo faz

jus agrave gratuidade eacute do impugnante ante a existecircncia de presunccedilatildeo relativa da necessidade com

a mera alegaccedilatildeo de insuficiecircncia de recursos (NERY JUNIOR NERY 2015 p 479)

28 Revogaccedilatildeo do benefiacutecio

A revogaccedilatildeo do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila implica na obrigaccedilatildeo da parte ex-

beneficiaacuteria de recolher todas as despesas de deixou de adiantar inclusive as despesas que

foram eventualmente adiantadas pelo ente puacuteblico (periacutecia por exemplo) e as vindouras (art

166

100 paraacutegrafo uacutenico do CPC) isso no caso de a parte natildeo fazer jus ao benefiacutecio desde o

momento em que a requereu (OLIVEIRA 2015 p 377)

No entanto a revogaccedilatildeo pode se dar pelo fato de ter cessado a situaccedilatildeo de

hipossuficiecircncia econocircmica que ensejou o benefiacutecio hipoacutetese em que ela apenas teraacute que

arcar com as despesas processuais a partir do momento que passou a dispor da boa condiccedilatildeo

financeira

Ainda evidenciada a maacute-feacute do ex-beneficiaacuterio o Coacutedigo de Processo Civil prevecirc a

aplicaccedilatildeo de multa de ateacute o deacutecuplo das despesas que tiver deixado de adiantar ndash nesse caso

natildeo basta a mera revogaccedilatildeo do benefiacutecio

Decidiu-se antes da entrada em vigor do Coacutedigo que ldquodeve ser cabalmente

demonstrada a intenccedilatildeo da parte em induzir o Poder Judiciaacuterio a erro se aproveitando

indevidamente do benefiacuteciordquo (MEDINA 2015 p 191)

Em linhas gerais essas satildeo algumas das alteraccedilotildees consubstanciadas pelo Coacutedigo de

Processo Civil em relaccedilatildeo ao benefiacutecio da gratuidade da justiccedila malgrado a lei processual natildeo

tenha esgotado o tema esclareceu vaacuterios pontos que antes era debatido pela jurisprudecircncia

Aleacutem do mais importante pontuar que o legislador reformador repensou o processo

civil atento aos anseios da sociedade moderna e preocupado com a efetividade dos direitos

constitucionais ndash acesso agrave justiccedila por exemplo ndash prevendo expressamente no artigo 1ordm do

CPC que ldquoo processo civil seraacute ordenado disciplinado e interpretado conforme os valores e

normas fundamentais estabelecidas na Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasilrdquo

Ocorre entretanto que mesmo diante de significativas alteraccedilotildees o legislador ainda

natildeo preencheu ou objetivou o pressuposto de concessatildeo dos benefiacutecios anteriormente citados

sendo remanescente o subjetivismo da anaacutelise do termo ldquoinsuficiecircncia de recursosrdquo o que

passaraacute a ser refletido no presente artigo

3 O SUBJETIVISMO DO PRESSUPOSTO INSUFICIEcircNCIA DE RECURSOS

Conforme jaacute visto o Coacutedigo de Processo Civil alterou o requisito para a concessatildeo

do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila bastando a declaraccedilatildeo de insuficiecircncia de recursos pela

pessoa natural e a sua comprovaccedilatildeo no caso de pessoa juriacutedica

Todavia eacute inegaacutevel a carga de subjetividade que haacute no conceito de insuficiecircncia de

recursos e como todo conceito juriacutedico vago traz certa inseguranccedila juriacutedica notadamente

porque pode acarretar decisotildees extremamente diacutespares no cotidiano forense uma vez que tal

anaacutelise (o que eacute insuficiecircncia de recursos) fica a criteacuterio do entendimento de cada

167

magistrado aleacutem do que pode gerar inuacutemeros abusos por parte dos seus requerentes ndash ainda

mais quando a mera alegaccedilatildeo eacute bastante agrave concessatildeo do benefiacutecio ndash que diferentemente do

que alegam gozam de boa sauacutede financeira para arcar com as despesas processuais

(TARTUCE DELLORE 2015 p 314-315)

Mesmo antes da alteraccedilatildeo do CPC ainda na Lei nordm 106050 jaacute discutia a doutrina e

a jurisprudecircncia acerca dos pressupostos para a concessatildeo do benefiacutecio ante a vagueza dos

conceitos de hipossuficiente necessitado carente de recursos financeiros para arcar com as

custas do processo sem prejuiacutezo do sustento proacuteprio e de sua famiacutelia e a falta de um criteacuterio

objetivo miacutenimo para a concessatildeo do benefiacutecio5

Nada obstante o progresso vivenciado com o Coacutedigo de Processo Civil de 2015 no

que tange a gratuidade da justiccedila vecirc-se que no ponto concernente agrave triagem dos

hipossuficientes de recursos o legislador conservou um conceito juriacutedico indeterminado

Segundo Frederico do Valle Abreu (2005) o conceito juriacutedico indeterminado eacute

caracterizado pela ldquovaguidade semacircntica existente em certa norma com a finalidade de que

ela a norma permaneccedila ao ser aplicada sempre atual e correspondente aos anseios da

sociedade nos vaacuterios momentos histoacutericos em que a lei eacute interpretada e aplicadardquo

Assim o conteuacutedo abstrato do pressuposto insuficiecircncia de recursos tenha sido

propositadamente pensado pelo legislador por entender que o inteacuterprete na anaacutelise casuiacutestica

goza de melhores condiccedilotildees para valoraacute-lo refletindo pois uma decisatildeo mais justa

O autor Augusto Tavares Rosa Marcacini defende que a insuficiecircncia de recursos eacute

um conceito indeterminado e natildeo segue um padratildeo rigoroso por isso a melhor soluccedilatildeo eacute a

anaacutelise caso a caso

O conceito de necessitado natildeo eacute determinado mediante regras riacutegidas matemaacuteticas natildeo se utilizando limites numeacutericos determinados Tecircm direito ao benefiacutecio aqueles que natildeo podem arcar com os gastos necessaacuterios agrave participaccedilatildeo no processo na medida em que contabilizados os seus ganhos e os seus gastos com o proacuteprio sustento e da famiacutelia natildeo lhe reste numeraacuterio suficiente para tanto O direito ao benefiacutecio decorre da indisponibilidade financeira do sujeito Em face da notoacuteria insuficiecircncia do salaacuterio miacutenimo vigente em nosso paiacutes pode ser possiacutevel presumir que aquele que aufere ateacute cinco salaacuterios miacutenimos por exemplo eacute quase que certamente merecedor de usufruir dos benefiacutecios Mas como dissemos natildeo se deve utilizar nuacutemeros fechados como criteacuterio Um chefe de uma famiacutelia numerosa que pague aluguel e que tenha filhos em idade escolar por exemplo mesmo percebendo o equivalente a dez salaacuterios miacutenimos pode natildeo ter condiccedilotildees de arcar com as despesas de um processo De outro lado um jovem que viva com os pais os quais

5 Fernanda Tartuce e Luiz Dellore por exemplo no artigo escrito em coautoria Gratuidade da Justiccedila no novo CPC divergem sobre o assunto enquanto ela acredita ser acertada a opccedilatildeo do legislador em trazer um conceito dotado de subjetividade por outro lado ele discorda defendendo que ainda que a norma deixasse uma margem para a decisatildeo do juiz de acordo com a casuiacutestica deveria ao menos estabelecer um criteacuterio objetivo miacutenimo de modo a evitar disparidades nas decisotildees (2015 314-315)

168

provecircm o seu sustento moradia e estudo e que ganhe uns dois ou trecircs salaacuterios miacutenimos que natildeo satildeo empregados em qualquer despesa essencial para sua mantenccedila pode natildeo ser considerado beneficiaacuterio (2009 p 90-91)

Nesse espectro o aplicador da norma juriacutedica eacute quem tem o poder-dever de

materializar no caso concreto o conceito juriacutedico indeterminado do que eacute ser necessitado

economicamente para arcar com as despesas processuais dando assim maior efetividade ao

preceito constitucional do acesso agrave justiccedila

Atento agraves alteraccedilotildees do Coacutedigo de Processo Civil quanto ao tema leciona Rafael

Alexandria de Oliveira

Insuficiecircncia de recursos Faz jus ao benefiacutecio da gratuidade aquela pessoa com lsquoinsuficiecircncia de recursos para pagar as custas despesas processuais e honoraacuterios advocatiacuteciosrsquo Natildeo se exige a miserabilidade nem estado de necessidade nem tampouco se fala em renda familiar ou faturamento maacuteximos Eacute possiacutevel que uma pessoa natural mesmo com boa renda mensal seja merecedora do benefiacutecio e que tambeacutem o seja aquele sujeito que eacute proprietaacuterio de bens imoacuteveis mas natildeo dispotildee de liquidez A gratuidade judiciaacuteria eacute um dos mecanismos de viabilizaccedilatildeo do acesso agrave justiccedila natildeo se pode exigir que para ter acesso agrave justiccedila o sujeito tenha que comprometer significativamente a sua renda ou tenha que se desfazer de seus bens liquidando-os para angariar recursos e custear o processo A lei natildeo fala em nuacutemeros natildeo estabelece paracircmetros O sujeito que ganha boa renda mensal pode ser tatildeo merecedor do benefiacutecio quanto aquele que sobrevive agrave custa de programas de complementaccedilatildeo de renda O que pode diferenciaacute-los eacute a maior ou menor dificuldade com que o pedido de concessatildeo do benefiacutecio eacute tratado o de melhor renda pode ser chamado a justificar o seu requerimento provando a insuficiecircncia de recursos Por isso mesmo nem sempre o beneficiaacuterio seraacute algueacutem em situaccedilatildeo de necessidade de vulnerabilidade de miseacuteria de penuacuteria Eacute preciso atentar para isso (2015 p 359)

Eacute compreensiacutevel a carga de subjetividade impregnada ao termo insuficiecircncia de

recursos notadamente porque o legislador adotando a teoria do direito processual

constitucional (art 1ordm do CPC) quis que a normativa do benefiacutecio atendesse realmente agraves

exigecircncias da sociedade hodierna deixando ao encargo do juiz o dever juriacutedico de buscar

identificar e adotar a soluccedilatildeo apta a no caso concreto alcanccedilar satisfatoriamente a finalidade6

da norma ndash de que garantir a todos o acesso agrave justiccedila

Todavia eacute cediccedilo que a valoraccedilatildeo de um conceito subjetivo pelo magistrado (assim

como para qualquer pessoa) transcende a sua formaccedilatildeo juriacutedica e mesmo que inconsciente

revela suas convicccedilotildees pessoais (crenccedilas valores referecircncias sociais) deste modo o que no

sentir de um julgador eacute pessoa hipossuficiente aos olhos do outro natildeo o eacute eacute aiacute que repousam

as ldquoinjusticcedilasrdquo

6 Interpretaccedilatildeo teleoloacutegica

169

A falta de a lei definir um criteacuterio objetivo miacutenimo para se determinar o que eacute a

insuficiecircncia de recursos demandou trabalho da doutrina e especialmente da jurisprudecircncia

que mesmo timidamente adotou os mais diversos paracircmetros

Nesse sentido uma das primeiras orientaccedilotildees que surge na jurisprudecircncia eacute a

necessidade de prova cabal da insuficiecircncia de recursos para a concessatildeo do benefiacutecio da

gratuidade agraves pessoas juriacutedicas7 Depois de muita discussatildeo o entendimento sedimentado na

jurisprudecircncia8 foi consagrado pelo legislador no Coacutedigo de Processo Civil de 2015 em seu

artigo 98 caput

Tambeacutem se firmou o entendimento de que o requerente que se dedica a emprestar

dinheiro natildeo faz jus ao benefiacutecio uma vez que tal circunstacircncia eacute incompatiacutevel com a alegada

necessidade (NERY JUNIOR NERY 2015 p 475)

Os Tribunais tambeacutem jaacute fixaram como criteacuterio objetivo para se determinar se o

requerente eacute realmente hipossuficiente a renda mensal inferior a dez salaacuterios miacutenimos9

todavia o Superior Tribunal de Justiccedila jaacute refutou a utilizaccedilatildeo desse criteacuterio sob o fundamento

de que a desconstituiccedilatildeo da presunccedilatildeo estabelecida pela lei de gratuidade de justiccedila exige

perquirir in concreto a atual situaccedilatildeo financeira do requerenterdquo10

Outro paracircmetro que tem sido utilizado pelos juristas para aferir a condiccedilatildeo de

miserabilidade do requerente eacute a faixa de isenccedilatildeo do Imposto de Renda extraiacutedo da tabela

progressiva do tributo devidamente atualizada11

O criteacuterio do patrociacutenio da causa por advogado particular para afastar a benesse jaacute

era rechaccedilado pela jurisprudecircncia12 e foi recepcionado pelo atual Coacutedigo de Processo Civil em

seu artigo 99 sect4ordm 7 Assistecircncia judiciaacuteria Pessoa juriacutedica Demonstraccedilatildeo cabal da insuficiecircncia de recursos 1 Ademais de fundamentado exclusivamente na interpretaccedilatildeo do art 5ordm LXXIV da Constituiccedilatildeo Federal o certo eacute que a Corte jaacute assentou a necessidade de demonstraccedilatildeo cabal da insuficiecircncia de recursos para que a empresa possa desfrutar dos benefiacutecios da assistecircncia judiciaacuteria 2 Recurso especial natildeo conhecido (STJ - REsp 182557 RJ 19980053550-0 Relator Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO Data de Julgamento 02091999 T3 - TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJ 25101999 p 79) 8 Suacutemula 481 STJ Faz jus ao benefiacutecio da justiccedila gratuita a pessoa juriacutedica com ou sem fins lucrativos que demonstrar sua impossibilidade de arcar com os encargos processuais 9 ADMINISTRATIVO AGRAVO DE INSTRUMENTO ASSISTEcircNCIA JUDICIAacuteRIA GRATUITA - AJG PARAcircMETRO DEZ SALAacuteRIOS MIacuteNIMOS 1 A Segunda Seccedilatildeo desta Corte vem consolidando entendimento no sentido de fixar patamar objetivo para a concessatildeo do benefiacutecio da AJG qual seja dez salaacuterios miacutenimo 2 Hipoacutetese em que a agravante comprovou renda mensal bem inferior ao limite paradigmaacutetico destacado inexistindo qualquer razatildeo para o indeferimento do pleito em prestiacutegio agrave norma de regecircncia (Lei n 10601950) e ao princiacutepio da acessibilidade (artigo 5ordm XXXV Constituiccedilatildeo Federal) (TRF-4 - AG 50101513420134040000 5010151-3420134040000 Relator NICOLAU KONKEL JUacuteNIOR Data de Julgamento 14082013 TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DE 16082013) 10 STJ - AgRg no AREsp 626487 MG 20140315675-3 Relator Ministro RICARDO VILLAS BOcircAS CUEVA Data de Julgamento 28042015 T3 - TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJe 07052015 11 TJ-PR - AI 14520235 PR 1452023-5 (Decisatildeo Monocraacutetica) Relator Paulo Cezar Bellio Data de Julgamento 27102015 16ordf Cacircmara Ciacutevel Data de Publicaccedilatildeo DJ 1683 05112015

170

O Superior Tribunal de Justiccedila preconiza que o inteacuterprete deve conjugar o binocircmio

necessidade-possibilidade assim para se conceder o benefiacutecio da gratuidade da justiccedila deve-

se considerar natildeo apenas os rendimentos mensais do requerente mas tambeacutem o

comprometimento de suas despesas13

A anaacutelise da condiccedilatildeo financeira do postulante deve ficar restrita a sua situaccedilatildeo

presente e natildeo ao seu histoacuterico de riquezas o simples fato de o requerente jaacute ter sido rico

empresaacuterio ou pessoa de posses natildeo significa que natildeo possa ser hoje pessoa pobre na

acepccedilatildeo juriacutedica do termo e necessitar da assistecircncia judiciaacuteria Da mesma forma a reciacuteproca

eacute verdadeira o pobre que eacute beneficiaacuterio da gratuidade pode por fatores supervenientes

tornar-se pessoa abastada financeiramente o que certamente lhe cassaraacute o benefiacutecio (NERY

JUNIOR NERY 2015 p 477)

Destarte a adoccedilatildeo pelo juiz de um paracircmetro como ponto de partida para verificar o

preenchimento dos requisitos para a concessatildeo da justiccedila gratuita natildeo deve ser visto como

violador da norma Bem da verdade a gratuidade da justiccedila eacute uma das portas de acesso ao

Poder Judiciaacuterio entretanto natildeo pode ser utilizada pelo beneficiaacuterio tatildeo-somente para se

furtar das obrigaccedilotildees oriundas do processo

A Lei nordm 106050 exigia em sua redaccedilatildeo original que o requerente comprovasse o

estado de pobreza alegado hoje ndash a partir da nova redaccedilatildeo dada ao art 4ordm sect1ordm da referida lei

pela Lei Federal nordm 751086 ndash basta a simples afirmaccedilatildeo de necessidade do benefiacutecio o que

inclusive eacute referendado pela jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila14 Nesse sentir o

12 Assistecircncia judiciaacuteria Defensoria Puacuteblica Advogado particular Interpretaccedilatildeo da Lei nordm 106050 1 Natildeo eacute suficiente para afastar a assistecircncia judiciaacuteria a existecircncia de advogado contratado O que a lei especial de regecircncia exige eacute a presenccedila do estado de pobreza ou seja da necessidade da assistecircncia judiciaacuteria por impossibilidade de responder pelas custas que poderaacute ser enfrentada com prova que a desfaccedila Natildeo serve para medir isso a qualidade do defensor se puacuteblico ou particular 2 Recurso especial conhecido e provido (STJ - REsp 679198 PR 20040103656-9 Relator Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO Data de Julgamento 21112006 T3 - TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJ 16042007 p 184) 13 STJ - REsp 263781 SP 20000060786-0 Relator Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO Data de Julgamento 22052001 T3 - TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo lt-- DTPB 20010813ltbrgt --gt DJ 13082001 p 150ltbrgt JBCC vol 193 p 249 14PROCESSUAL CIVIL RECONHECIMENTO DE CONCUBINATO E PARTILHA DE BENS PEDIDO ALTERNATIVO DE INDENIZACcedilAtildeO POR SERVICcedilOS PRESTADOS INDEFERIMENTO DE PLANO DA INICIAL IMPOSSIBILIDADE CERCEAMENTO DE DEFESA ASSISTEcircNCIA JUDICIAacuteRIA E GRATUIDADE DA JUSTICcedilA ALEGACcedilAtildeO DA PARTE DESNECESSIDADE DE DEMONSTRACcedilAtildeO DE O ADVOGADO NAtildeO ESTAR SENDO REMUNERADO PRESUNCcedilAtildeO RECURSO PROVIDO Pelo sistema legal vigente faz jus a parte aos benefiacutecios da assistecircncia judiciaacuteria mediante simples afirmaccedilatildeo na proacutepria peticcedilatildeo de que natildeo estaacute em condiccedilotildees de pagar as custas do processo e os honoraacuterios de advogado sem prejuiacutezo proacuteprio ou de sua famiacutelia O deferimento da gratuidade garantia assegurada constitucionalmente aos economicamente hipossuficientes (Constituiccedilatildeo art 5ordm LXXIV) natildeo exige que a parte demonstre que o advogado natildeo estaacute sendo por ela remunerado Enquanto a Justiccedila gratuita isenta de despesas processuais e condenaccedilatildeo em honoraacuterios advocatiacutecios a assistecircncia judiciaacuteria mais ampla enseja tambeacutem o patrociacutenio por profissional habilitado Caracteriza cerceamento de defesa o indeferimento de plano da inicial de accedilatildeo que pretendeu o reconhecimento de concubinato e partilha de bens com pedido alternativo de indenizaccedilatildeo de

171

aplicador do direito exerce um fundamental papel para que o processo natildeo seja um fim em si

mesmo mas sim um instrumento para a materializaccedilatildeo de um direito

Nota-se que o indeterminismo do termo insuficiecircncia de recursos aliado a mera

alegaccedilatildeo da necessidade poderia transviar o sentido da norma devendo o magistrado ficar

atento para que os privilegiados de fortuna natildeo ingressem gratuitamente no feito

Assim havendo elementos no processo que infirmem a alegaccedilatildeo do postulante ndash que

goza de presunccedilatildeo iuris tantum ndash a hipossuficiecircncia deve ser comprovada

Duacutevida fundada quanto agrave pobreza O juiz da causa valendo-se de criteacuterios

objetivos pode entender que a natureza da accedilatildeo movida pelo interessado demonstra que ele possui porte econocircmico para suportar as despesas do processo A declaraccedilatildeo pura e simples do interessado conquanto seja o uacutenico entrave burocraacutetico que se exige para liberar o magistrado para decidir em favor do peticionaacuterio natildeo eacute prova inequiacutevoca daquilo que ele afirma nem obriga o juiz a se curvar aos seus dizeres se de outras provas e circunstacircncias ficar evidenciado que o conceito de pobreza que a parte invoca natildeo eacute aquele que justifica a concessatildeo do privileacutegio Cabe ao magistrado livremente fazer juiacutezo de valor acerca do termo pobreza deferindo ou natildeo o benefiacutecio (NERY JUNIOR NERY 2015 p 477)

Infelizmente a finalidade do benefiacutecio natildeo raras vezes eacute distorcida seja pela

abstraccedilatildeo do conceito ou mesmo pela lisura do ser humano e isso contribui para o aumento de

demandas desqualificadas respaldadas na ausecircncia de riscos no caso de improcedecircncia

Para Maacutercio Pirocircpo Galvatildeo (2010) os mecanismos de acesso agrave justiccedila fomentam

accedilotildees despretensiosas ndash e cita como exemplos as accedilotildees trabalhistas e aquelas do acircmbito dos

Juizados Especiais ndash exclusivamente pela ausecircncia de custo econocircmico defende inclusive

que o acesso ao Judiciaacuterio de forma gratuita virou uma ldquoloteria onde todos querem tentar a

sorterdquo

E continua o autor citando a decisatildeo do Juiz de Direito da 2ordf Vara Ciacutevel da Comarca

de Dourados Dr Joseacute Carlos de Souza que as demandas desnecessaacuterias ldquoabarrotam o Poder

Judiciaacuterio e dificultam o acesso agrave Justiccedila de jurisdicionados com pretensotildees mais nobres

Incentivam o aumento da inadimplecircncia e sedimentam a cultura do natildeo-cumprimento dos

contratos [] Configuram provocaccedilatildeo abusiva da maacutequina judiciaacuteria e maacute-feacute do devedorrdquo

(GALVAtildeO 2010)

Como visto a utilizaccedilatildeo abusiva da gratuidade da justiccedila pode representar o

congestionamento da maacutequina judicial comprometendo a razoaacutevel duraccedilatildeo do processo e ao

serviccedilos prestados sem possibilitar agrave parte a produccedilatildeo de qualquer prova notadamente em se tratando de alegado relacionamento de mais de trinta anos (Recurso Especial nordm 91609SP 4ordf Turma do STJ Rel Min Saacutelvio de Figueiredo Teixeira Recorrente A P M R Recorrida V G F B j 160498 un DJU 080698 p 113)

172

reveacutes de seu proposito servir como oacutebice ao efetivo acesso agrave justiccedila daqueles que tem

realmente tem urgecircncia na prestaccedilatildeo jurisdicional

Talvez uma boa alternativa para se evitar decisotildees diacutespares e a banalizaccedilatildeo do

benefiacutecio ante a carga de subjetividade do seu pressuposto fosse exigir uma comprovaccedilatildeo

miacutenima da insuficiecircncia de recursos Afinal quem realmente necessita do benefiacutecio natildeo teria

dificuldade alguma em demonstrar a sua impossibilidade financeira para arcar com as

despesas processuais

Eacute certo que a Lei nordm 106050 e agora o Coacutedigo de Processo Civil estabelecem ocircnus

ao litigante que de maacute-feacute requereu o benefiacutecio da gratuidade todavia a prova nesse sentido

deve ser contundente o que estimula de certa forma pedidos indiscriminados de gratuidade

uma vez que sopesando os riscos os ganhos prevalecem

Destarte o que se percebe eacute que nesse ponto o legislador civil natildeo conseguiu

encerrar as discussotildees deixando a soluccedilatildeo para a doutrina e a jurisprudecircncia agora basta

saber como as discussotildees seratildeo encaminhadas de modo que natildeo se instale ndash ou aumente ndash um

estado de desconfianccedila em torno do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila em decorrecircncia dos

abusos praticados mas que tambeacutem natildeo se deixe de cumprir a sua preciacutepua finalidade

constitucional de ser um instrumento de acesso ao Judiciaacuterio daqueles que natildeo desfrutam de

plenas condiccedilotildees financeiras

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O atual Coacutedigo de Processo Civil atuou muito positivamente no que pertine ao

instituto da Gratuidade da Justiccedila ele alvoreceu pontos que a Lei nordm 106050 era retroacutegrada e

mesmo silente bem como normatizou questotildees jaacute consolidadas pela jurisprudecircncia

Em contrapartida a legislaccedilatildeo processual civil natildeo se fez clara quanto ao pressuposto

para a concessatildeo do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila mormente porque se limitou a prever

que a simples afirmaccedilatildeo de insuficiecircncia de recursos para pagar as despesas processuais eacute

suficiente ao seu deferimento

Afinal o que insuficiecircncia de recursos Qual o criteacuterio objetivo para se definir quem

se enquadra ou natildeo nesse perfil Mais uma vez a lei que trata sobre a gratuidade da justiccedila

silenciou nesse pormenor reservando ao aplicador do direito a missatildeo de examinar

casuisticamente quem eacute merecedor ou natildeo da benesse partindo de uma interpretaccedilatildeo

alicerccedilada na finalidade da lei ndash promover o acesso agrave justiccedila

173

Assim duas questotildees surgem A primeira eacute se o legislador foi relapso ou se ele

propositadamente preferiu a um conceito indeterminado para a concessatildeo do benefiacutecio E a

segunda eacute se ele agiu bem

E ao que se conclui eacute que a preferecircncia por um termo dotado de subjetivismo tem

um propoacutesito qual seja permitir que a lei seja adaptaacutevel as mais diversas situaccedilotildees do

cotidiano forense de modo a tornar o acesso agrave justiccedila um direito fundamental mais efetivo

Conquanto agrave segunda questatildeo (se ele agiu bem) apenas a experiecircncia praacutetica poderaacute dizer

notadamente porque vai depender e muito da consciecircncia do postulante (e seu advogado) o

qual eacute o real sabedor de sua condiccedilatildeo financeira

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ABREU Frederico do Valle Conceito juriacutedico indeterminado interpretaccedilatildeo da lei

processo e suposto poder discricionaacuterio do magistrado Jus Navigandi Teresina ano 9 n

674 10 maio 2005 Disponiacutevel em lthttpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=6674gt

Acesso em 27032016

ANGHER Anne Joyce (Org) Vade mecum acadecircmico de direito Rideel 21ed

atual e ampl Satildeo Paulo Rideel 2015

BRASIL Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Recurso Especial nordm

19980053550-0 Relator Ministro Carlos Alberto Menezes Data de Julgamento 02091999

Data de Publicaccedilatildeo DJ 25101999 p 79

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Agravo Regimental no Recurso

Especial nordm 20140315675-3 Relator Ministro Ricardo Villas Bocircas Cueva Data de

Julgamento 28042015 Data de Publicaccedilatildeo DJe 07052015

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Recurso Especial nordm

20040103656-9 Relator Ministro Carlos Alberto Menezes Direito Data de Julgamento

21112006 Data de Publicaccedilatildeo DJ 16042007 p 184

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Recurso Especial

20000060786-0 Relator Ministro Carlos Alberto Menezes Direito Data de Julgamento

22052001 Data de Publicaccedilatildeo 13082001 p 150

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Quarta Turma Recurso Especial 91609SP

Relator Ministro Saacutelvio de Figueiredo Teixeira Data de Publicaccedilatildeo 08061998 p 113

174

_____ Tribunal Regional Federal (4ordf Regiatildeo) Terceira Turma Agravo nordm

50101513420134040000 5010151-3420134040000 Relator Nicolau Konkel Juacutenior Data

de Julgamento 14082013Data de Publicaccedilatildeo 16082013

_____ Tribunal de Justiccedila do Estado do Paranaacute 16ordf Cacircmara Ciacutevel Agravo de

Instrumento nordm 14520235 PR 1452023-5 (Decisatildeo Monocraacutetica) Relator Paulo Cezar Bellio

Data de Julgamento 27102015 Data de Publicaccedilatildeo 05112015

CAPPELLETTI Mauro GARTH Bryant Acesso agrave justiccedila Trad Ellen Gracie

Northfleet Porto Alegre Seacutergio Fabris Editor 2002

CARNEIRO Paulo Cezar Pinheiro Normas Fundamentais do Processo Civil Em

Breves Comentaacuterios ao Novo Coacutedigo de Processo Civil Tereza Arruda Alvim Wambier et

al[coord] Satildeo Paulo Editora RT 2015

DELLORE Luiz Novo CPC o lado A da justiccedila gratuita Disponiacutevel em http

httpjotauolcombrjustica-gratuita-novo-cpc-lado publicado em 09 de marccedilo de 2015

Acesso em 27032016

______ Novo CPC o lado B da justiccedila gratuita Disponiacutevel em

httpjotauolcombrnovo-cpc-o-lado-b-da-justica-gratuita publicado em 13 de abril de

2015 Acesso em 27032016

GALESKI JUNIOR Irineu RIBEIRO Marcia Carla Pereira Direito e economia

uma abordagem sobre a assistecircncia judiciaacuteria gratuita In Publica Direito (recurso eletrocircnico

on-line) Fortaleza CONPEDI 2010

GALVAtildeO Maacutercio Pirocircpo Abuso de direito agrave gratuidade da Justiccedila Revista Jus

Navigandi Teresina ano 17 n 3339 22 ago 2012 Disponiacutevel em

lthttpsjuscombrartigos22466gt Acesso em 27032016

MARCACINI Augusto Tavares Rosa Assistecircncia Juriacutedica Assistecircncia Judiciaacuteria e

Justiccedila Gratuita Satildeo Paulo Editora Forense 2009 (ediccedilatildeo eletrocircnica)

MEDINA Joseacute Miguel Garcia Novo Coacutedigo de Processo Civil Comentado Satildeo

Paulo Editora RT 2015

NERY JUNIOR Nelson e NERY Rosa Maria de Andrade Comentaacuterios ao Coacutedigo

de Processo Civil Satildeo Paulo Editora RT 2015

NETO Emeteacuterio Silva de Oliveira VIANA Juvecircncio Vasconcelos Acesso agrave justiccedila

e o novo Coacutedigo de Processo Civil um olhar criacutetico Em Acesso agrave justiccedila (recurso eletrocircnico

on-line) Florianoacutepolis CONPEDIUFSC 2015

175

OLIVEIRA Rafael Alexandria de Da Gratuidade da Justiccedila Em Breves

Comentaacuterios ao Novo Coacutedigo de Processo Civil Tereza Arruda Alvim Wambier et

al[coord] Satildeo Paulo Editora RT 2015

SANTOS Boaventura de Souza Pela matildeo de Alice o social e o poliacutetico

na poacutes-modernidade Satildeo Paulo Cortez 2003

TARTURE Flaacutevia DELLORE Luiz Gratuidade da justiccedila no novo CPC Em

Revista de Processo Satildeo Paulo v 39 n 236 p 305-323 out 2014

176

O subjetivismo da expressatildeo seraacute mais bem aprofundado no toacutepico seguinte mesmo

porque a sua discussatildeo constituiu um dos pilares do presente artigo

24 Abrangecircncia

A Lei da Assistecircncia Judiciaacuteria previa em seu artigo 3ordm quais seriam as despesas

processuais compreendidas pelo benefiacutecio da justiccedila gratuita e nesse aspecto a norma era

satisfatoacuteria entatildeo o Coacutedigo de Processo Civil manteve o que tinha na Lei nordm 106050 e

avanccedilou como por exemplo no tocante agrave previsatildeo da remuneraccedilatildeo do inteacuterprete e do

tradutor bem como na realizaccedilatildeo de memoacuteria de caacutelculo pelo contador para fins de execuccedilatildeo

entre outros

O art 98 sect1ordm do Coacutedigo em vigecircncia tratou de exemplificativamente discriminar as

despesas processuais que podem ser compreendidas pela gratuidade da justiccedila algumas delas

jaacute previstas no art 3ordm da Lei nordm 106050 agora expressamente revogado

O beneficiaacuterio estaacute dispensado de adiantar o pagamento de taxas ou custas judiciaacuterias

(inciso I) O CPC foi redundante ao prever taxas e custas mormente porque tais despesas tem

o mesmo significado elas ldquodesignam o valor que se deve pagar ao Estado pela prestaccedilatildeo do

serviccedilo judiciaacuterio Tecircm natureza juriacutedica tributaacuteria constituindo-se numa taxa [] a

concessatildeo do beneficio natildeo constitui isenccedilatildeo tributaacuteria visto que natildeo dispensa o pagamento

em si mas sim o adiantamento da verbardquo (OLIVEIRA 2015 p 359)

As despesas com postagens de qualquer natureza e com publicaccedilatildeo na imprensa

oficial tambeacutem satildeo abrangidas pelo benefiacutecio da justiccedila gratuita (incisos II e III)

O benefiacutecio engloba tambeacutem as indenizaccedilotildees de testemunhas (inciso IV) tanto os

custos com a viagem para depor em juiacutezo quanto agraves relativas ao dia de trabalho ganho e natildeo

trabalhado que deve ser paga ao empregador (NERY JUNIOR NERY 2015 p 472)

As despesas com realizaccedilatildeo do exame de DNA (inciso V) tambeacutem satildeo albergadas

pelo benefiacutecio da gratuidade da justiccedila Aliaacutes o Coacutedigo de Processo Civil inovou em relaccedilatildeo agrave

Lei da Assistecircncia Judiciaacuteria Gratuita incluindo neste inciso outros exames periciais

considerados essenciais

Os honoraacuterios do advogado e do perito a remuneraccedilatildeo do inteacuterprete tradutor e

contador e todos os terceiros que de alguma forma contribuem para o Poder Judiciaacuterio

(inciso VI e VII) estatildeo cobertos pela benesse da gratuidade

Importante destacar que o afastamento da responsabilidade pelo adiantamento das

custas dos honoraacuterios advocatiacutecios natildeo se refere aos honoraacuterios de sucumbecircncia devidos pelo

162

beneficiaacuterio ao advogado da parte contraacuteria nos termos do sect2ordm do artigo 98 mas tatildeo somente

os honoraacuterios devidos ao seu proacuteprio advogado quando este eacute nomeado pelo juiz ou seja o

defensor dativo (OLIVEIRA 2015 p 361)

O art 95 sect3ordm do Coacutedigo Processual Civil normatiza a respeito do custeio da periacutecia

(inclusive honoraacuterios) na hipoacutetese de o responsaacutevel pelo pagamento de tal despesa ser

beneficiaacuterio da justiccedila gratuita Dispotildee o paraacutegrafo que nessa hipoacutetese a periacutecia seraacute

realizada preferencialmente por um servidor do Poder Judiciaacuterio ou por oacutergatildeo conveniado e

subsidiariamente por particular Em ambos os casos os honoraacuterios seratildeo custeados com

recursos do orccedilamento do ente puacuteblico respectivo ndash Uniatildeo e Estado ou Distrito Federal

Ainda possibilita a legislaccedilatildeo processual civil que a Fazenda Puacuteblica recobre o

valor despendido a tiacutetulo de honoraacuterios periciais daquele que for condenado ao pagamento de

tais verbas (art 95 sect4ordm CPC) no caso de ser a parte vencida beneficiaacuteria da gratuidade da

justiccedila o ente puacuteblico deve observar as regras pertinentes agrave sucumbecircncia e a exigibilidade sob

condiccedilatildeo suspensiva previstas nos paraacutegrafos sectsect2ordm e 3ordm do art 98 Mas em nenhuma hipoacutetese

transferir tal ocircnus a outra parte natildeo beneficiaacuteria

Tambeacutem estatildeo incluiacutedos no conceito de gratuidade da justiccedila os depoacutesitos devidos

para interposiccedilatildeo de recurso propositura de accedilatildeo e para a praacutetica de outros atos processuais

inerentes ao exerciacutecio da ampla defesa e do contraditoacuterio (inciso VIII) esse dispositivo acaba

por servir como uma claacuteusula geral incluindo todas aquelas despesas natildeo arroladas nos

incisos anteriores e que por estarem intrinsicamente relacionadas ao exerciacutecio do

contraditoacuterio e da ampla devem ser afastadas

Por fim e natildeo menos importante trouxe uma importante inovaccedilatildeo incluindo os

emolumentos dos registradores e notaacuterios relativos a atos de averbaccedilatildeo e registro decorrentes

de processo judicial em que houve a concessatildeo do benefiacutecio da gratuidade (inciso IX)

O Coacutedigo de Processo Civil estendeu para o acircmbito extrajudicial o benefiacutecio da

gratuidade da justiccedila concedido judicialmente garantindo-se assim a prestaccedilatildeo jurisdicional

em sua inteireza

Outrossim o sect 8ordm do artigo 98 preconiza que se o tabeliatildeo ou registrador no

momento da realizaccedilatildeo do ato cartorial tiver duacutevida fundada quanto ao preenchimento dos

pressupostos para a concessatildeo da justiccedila gratuita ndash ou seja insuficiecircncia de recursos ndash pode

requerer ao juiacutezo competente para decidir questotildees notariais ou registrais (competecircncia do

juiz corregedor dos cartoacuterios extrajudiciais) que revogue a gratuidade ou permita o

parcelamento dos valores devido (DELLORE 2015)

163

Esse paraacutegrafo deu ensejo a algumas criacuteticas para Luiz Dellore o questionamento

judicial acerca da capacidade financeira da parte para arcar com as despesas notariais e

registrais

[] natildeo parece ser uma atividade jurisdicional mas administrativa em analogia agrave lsquosuscitaccedilatildeo de duacutevidarsquo hoje existente Trata-se de uma esdruacutexula inovaccedilatildeo que traz ainda mais temas para decisatildeo do Poder Judiciaacuterio Assim aleacutem de todas as questotildees que o juiz deve decidir teraacute ainda de apreciar se uma parte de um processo jaacute findo ainda tem ou natildeo dificuldades financeiras para fins de pagamento de taxas de cartoacuterio (2015)

Ainda no que tange a abrangecircncia do benefiacutecio impende destacar que as multas

processuais de qualquer natureza ndash como por exemplo as multas por litigacircncia de maacute-feacute e por

ato atentatoacuterio a dignidade da justiccedila ndash natildeo estatildeo abarcadas pela gratuidade da justiccedila pois

elas satildeo puniccedilotildees a comportamentos iliacutecitos ldquoE natildeo poderia ser diferente a gratuidade da

justiccedila natildeo pode servir como escudo para a procrastinaccedilatildeo e a litigacircncia de maacute-feacute Daiacute a razatildeo

pela qual o beneficiaacuterio da justiccedila gratuita deve ser executado normalmente em relaccedilatildeo a

elesrdquo (NERY JUNIOR NERY 2015 p 474)

25 Modulaccedilatildeo do benefiacutecio

Outra importante novidade trazida pela Lei nordm 1310515 foi a possibilidade do juiz

modular os efeitos do benefiacutecio abrangendo apenas alguns dos custos do processo ou mesmo

parcelar as despesas processuais (art 98 sectsect5ordm e 6ordm CPC)

Tal medida eacute interessante ao passo que o postulante pode ter condiccedilotildees financeiras

de arcar apenas com algumas despesas processuais como por exemplo as custas e taxas

todavia natildeo dispor de recursos para pagar os honoraacuterios periciais por exemplo Ainda ao

longo do processo pode sobrevir mudanccedila na condiccedilatildeo financeira da parte e ela passar por

dificuldades para custear as despesas processuais nesse ponto o juiz poderaacute conceder-lhe os

benefiacutecios a partir de tal momento

A possibilidade de parcelamento das despesas processuais sugere que o legislador

quis dizer que a concessatildeo da gratuidade da justiccedila eacute a uacuteltima opccedilatildeo sendo possiacutevel agrave parte

arcar com as despesas de forma parcelada o juiz deve optar pelo seu seccionamento e natildeo a

sua dispensa (NERY JUNIOR NERY 2015 p 474)

26 Responsabilidade do beneficiaacuterio

A gratuidade da justiccedila como jaacute dito eacute um instrumento do acesso agrave justiccedila daqueles

que se declaram financeiramente desprovidos de condiccedilotildees de custear o processo Isso

164

significa que se o beneficiaacuterio for perdedor em uma demanda ele seraacute igualmente responsaacutevel

pelo pagamento do ocircnus inerente a sua derrota a diferenccedila reside no fato de poder exigir ou

natildeo a sua cobranccedila

Se o beneficiaacuterio for vencido ele teraacute responsabilidade pelas despesas processuais

ele deveraacute reembolsar os gastos realizados pela outra parte seraacute condenado agraves verbas

sucumbenciais ficando todavia sob condiccedilatildeo suspensiva de exigibilidade podendo ser

cobradas pelo credor no prazo de 5 (cinco) anos contados do tracircnsito em julgado da decisatildeo

que fixou a sucumbecircncia desde que demonstre a ocorrecircncia um fato superveniente que

alterou a condiccedilatildeo financeira do beneficiaacuterio (MEDINA 2015 p 188-189)

Repisa-se a gratuidade natildeo isenta o seu beneficiaacuterio do pagamento das despesas

processuais tatildeo somente as coloca sob condiccedilatildeo suspensiva de exigibilidade

27 Requerimento e impugnaccedilatildeo

O benefiacutecio da gratuidade natildeo pode ser concedido de ofiacutecio pelo juiz devendo a

parte interessada requerecirc-lo no primeiro momento em que ela ingressa no feito ndash peticcedilatildeo

inicial contestaccedilatildeo ou na peccedila de ingresso do terceiro interveniente ndash ou em um momento

posterior ndash por meio de peticcedilatildeo simples ou mesmo no bojo de outra manifestaccedilatildeo ndash inclusive

na m grau recursal (art 99 caput e sect1ordm do CPC)

Nesse aspecto natildeo haacute um momento processual preacute-estabelecido e uacutenico para o

requerimento da gratuidade da justiccedila todavia o tempo do pedido eacute importante para delimitar

quais satildeo as despesas processuais que se dispensa o adiantamento isto porque a concessatildeo do

benefiacutecio tem efeito prospectivo natildeo alcanccedilando os atos processuais jaacute praticados

(OLIVEIRA 2015 p 371-372)

O requerimento natildeo demanda maiores formalidades devendo a parte apenas declarar

a insuficiecircncia de recursos se pessoa natural no caso de pessoa juriacutedica deveraacute ainda

comprovar a necessidade do benefiacutecio

O juiz ao analisar o pedido de gratuidade formulado apenas o indeferiraacute se nos autos

existiram elementos que demonstrem que o postulante natildeo preenche o pressuposto da

insuficiecircncia de recursos Todavia antes de indeferi-lo deve oportunizar a parte que

comprove a alegada carecircncia financeira para custear o processo (art 99 sect2ordm CPC)

A oportunidade de ser ouvido antes do indeferimento do pedido de gratuidade da

justiccedila somente se aplica a pessoa natural uma vez que em seu favor haacute presunccedilatildeo de

veracidade da alegaccedilatildeo de hipossuficiecircncia natildeo necessitando juntar qual prova nesse sentido

165

no momento da realizaccedilatildeo do pedido diferentemente do que acontece com a pessoa juriacutedica

que ao postular o benefiacutecio jaacute deve comprovar a sua necessidade (OLIVEIRA 2015 p 373)

Importante destacar que o Coacutedigo de Processo Civil encerrando discussotildees

expressamente previu que a assistecircncia do requerente por advogado particular por si soacute natildeo

constitui oacutebice para a concessatildeo do benefiacutecio (art 99 sect4ordm)

Na hipoacutetese de natildeo concessatildeo do pedido o requerente poderaacute interpor agravo de

instrumento nos termos do art 101 caput do CPC salvo se a questatildeo for solvida na

sentenccedila hipoacutetese em que caberaacute apelaccedilatildeo De outro lado se concedido poderaacute a parte

contraacuteria impugnaacute-lo

A impugnaccedilatildeo agrave gratuidade da justiccedila sofreu importantes alteraccedilotildees com o Coacutedigo de

Processo Civil a primeira delas eacute que ela natildeo mais se processa em autos apartados devendo

ser formulada nos proacuteprios autos Sem maiores formalidades a impugnaccedilatildeo deve ser

oferecida pela parte no primeiro momento posterior agrave concessatildeo que lhe couber falar nos

autos ou seja se o benefiacutecio for deferido por ocasiatildeo da peticcedilatildeo inicial deve o reacuteu impugnaacute-

la jaacute na contestaccedilatildeo se concedido ao reacuteu por ocasiatildeo da contestaccedilatildeo deve o autor impugnaacute-la

na reacuteplica se deferido no momento da interposiccedilatildeo do recurso a impugnaccedilatildeo deve ser

oferecida nas contrarrazotildees recursais e se o pedido for superveniente deve a parte contraacuteria

impugnaacute-lo no prazo de 15 (quinze) dias contados de sua concessatildeo

Haacute todavia algumas questotildees que natildeo restaram suficientemente esclarecidas pelo

Coacutedigo de Processo Civil no que concerne a impugnaccedilatildeo agrave gratuidade da Justiccedila Entre elas

o autor Luiz Dellore (2015) aponta o termo inicial do prazo para a impugnaccedilatildeo defendendo o

autor que este deveria se dar a partir do momento que a parte contraacuteria tomasse conhecimento

da situaccedilatildeo de natildeo hipossuficiecircncia da parte sob pena de se limitar o instituto

Outro ponto diz respeito ao ocircnus da prova na impugnaccedilatildeo pois o legislador

manteve-se silente nesse aspecto

A doutrina se inclina a defender que o ocircnus de comprovar que o beneficiaacuterio natildeo faz

jus agrave gratuidade eacute do impugnante ante a existecircncia de presunccedilatildeo relativa da necessidade com

a mera alegaccedilatildeo de insuficiecircncia de recursos (NERY JUNIOR NERY 2015 p 479)

28 Revogaccedilatildeo do benefiacutecio

A revogaccedilatildeo do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila implica na obrigaccedilatildeo da parte ex-

beneficiaacuteria de recolher todas as despesas de deixou de adiantar inclusive as despesas que

foram eventualmente adiantadas pelo ente puacuteblico (periacutecia por exemplo) e as vindouras (art

166

100 paraacutegrafo uacutenico do CPC) isso no caso de a parte natildeo fazer jus ao benefiacutecio desde o

momento em que a requereu (OLIVEIRA 2015 p 377)

No entanto a revogaccedilatildeo pode se dar pelo fato de ter cessado a situaccedilatildeo de

hipossuficiecircncia econocircmica que ensejou o benefiacutecio hipoacutetese em que ela apenas teraacute que

arcar com as despesas processuais a partir do momento que passou a dispor da boa condiccedilatildeo

financeira

Ainda evidenciada a maacute-feacute do ex-beneficiaacuterio o Coacutedigo de Processo Civil prevecirc a

aplicaccedilatildeo de multa de ateacute o deacutecuplo das despesas que tiver deixado de adiantar ndash nesse caso

natildeo basta a mera revogaccedilatildeo do benefiacutecio

Decidiu-se antes da entrada em vigor do Coacutedigo que ldquodeve ser cabalmente

demonstrada a intenccedilatildeo da parte em induzir o Poder Judiciaacuterio a erro se aproveitando

indevidamente do benefiacuteciordquo (MEDINA 2015 p 191)

Em linhas gerais essas satildeo algumas das alteraccedilotildees consubstanciadas pelo Coacutedigo de

Processo Civil em relaccedilatildeo ao benefiacutecio da gratuidade da justiccedila malgrado a lei processual natildeo

tenha esgotado o tema esclareceu vaacuterios pontos que antes era debatido pela jurisprudecircncia

Aleacutem do mais importante pontuar que o legislador reformador repensou o processo

civil atento aos anseios da sociedade moderna e preocupado com a efetividade dos direitos

constitucionais ndash acesso agrave justiccedila por exemplo ndash prevendo expressamente no artigo 1ordm do

CPC que ldquoo processo civil seraacute ordenado disciplinado e interpretado conforme os valores e

normas fundamentais estabelecidas na Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasilrdquo

Ocorre entretanto que mesmo diante de significativas alteraccedilotildees o legislador ainda

natildeo preencheu ou objetivou o pressuposto de concessatildeo dos benefiacutecios anteriormente citados

sendo remanescente o subjetivismo da anaacutelise do termo ldquoinsuficiecircncia de recursosrdquo o que

passaraacute a ser refletido no presente artigo

3 O SUBJETIVISMO DO PRESSUPOSTO INSUFICIEcircNCIA DE RECURSOS

Conforme jaacute visto o Coacutedigo de Processo Civil alterou o requisito para a concessatildeo

do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila bastando a declaraccedilatildeo de insuficiecircncia de recursos pela

pessoa natural e a sua comprovaccedilatildeo no caso de pessoa juriacutedica

Todavia eacute inegaacutevel a carga de subjetividade que haacute no conceito de insuficiecircncia de

recursos e como todo conceito juriacutedico vago traz certa inseguranccedila juriacutedica notadamente

porque pode acarretar decisotildees extremamente diacutespares no cotidiano forense uma vez que tal

anaacutelise (o que eacute insuficiecircncia de recursos) fica a criteacuterio do entendimento de cada

167

magistrado aleacutem do que pode gerar inuacutemeros abusos por parte dos seus requerentes ndash ainda

mais quando a mera alegaccedilatildeo eacute bastante agrave concessatildeo do benefiacutecio ndash que diferentemente do

que alegam gozam de boa sauacutede financeira para arcar com as despesas processuais

(TARTUCE DELLORE 2015 p 314-315)

Mesmo antes da alteraccedilatildeo do CPC ainda na Lei nordm 106050 jaacute discutia a doutrina e

a jurisprudecircncia acerca dos pressupostos para a concessatildeo do benefiacutecio ante a vagueza dos

conceitos de hipossuficiente necessitado carente de recursos financeiros para arcar com as

custas do processo sem prejuiacutezo do sustento proacuteprio e de sua famiacutelia e a falta de um criteacuterio

objetivo miacutenimo para a concessatildeo do benefiacutecio5

Nada obstante o progresso vivenciado com o Coacutedigo de Processo Civil de 2015 no

que tange a gratuidade da justiccedila vecirc-se que no ponto concernente agrave triagem dos

hipossuficientes de recursos o legislador conservou um conceito juriacutedico indeterminado

Segundo Frederico do Valle Abreu (2005) o conceito juriacutedico indeterminado eacute

caracterizado pela ldquovaguidade semacircntica existente em certa norma com a finalidade de que

ela a norma permaneccedila ao ser aplicada sempre atual e correspondente aos anseios da

sociedade nos vaacuterios momentos histoacutericos em que a lei eacute interpretada e aplicadardquo

Assim o conteuacutedo abstrato do pressuposto insuficiecircncia de recursos tenha sido

propositadamente pensado pelo legislador por entender que o inteacuterprete na anaacutelise casuiacutestica

goza de melhores condiccedilotildees para valoraacute-lo refletindo pois uma decisatildeo mais justa

O autor Augusto Tavares Rosa Marcacini defende que a insuficiecircncia de recursos eacute

um conceito indeterminado e natildeo segue um padratildeo rigoroso por isso a melhor soluccedilatildeo eacute a

anaacutelise caso a caso

O conceito de necessitado natildeo eacute determinado mediante regras riacutegidas matemaacuteticas natildeo se utilizando limites numeacutericos determinados Tecircm direito ao benefiacutecio aqueles que natildeo podem arcar com os gastos necessaacuterios agrave participaccedilatildeo no processo na medida em que contabilizados os seus ganhos e os seus gastos com o proacuteprio sustento e da famiacutelia natildeo lhe reste numeraacuterio suficiente para tanto O direito ao benefiacutecio decorre da indisponibilidade financeira do sujeito Em face da notoacuteria insuficiecircncia do salaacuterio miacutenimo vigente em nosso paiacutes pode ser possiacutevel presumir que aquele que aufere ateacute cinco salaacuterios miacutenimos por exemplo eacute quase que certamente merecedor de usufruir dos benefiacutecios Mas como dissemos natildeo se deve utilizar nuacutemeros fechados como criteacuterio Um chefe de uma famiacutelia numerosa que pague aluguel e que tenha filhos em idade escolar por exemplo mesmo percebendo o equivalente a dez salaacuterios miacutenimos pode natildeo ter condiccedilotildees de arcar com as despesas de um processo De outro lado um jovem que viva com os pais os quais

5 Fernanda Tartuce e Luiz Dellore por exemplo no artigo escrito em coautoria Gratuidade da Justiccedila no novo CPC divergem sobre o assunto enquanto ela acredita ser acertada a opccedilatildeo do legislador em trazer um conceito dotado de subjetividade por outro lado ele discorda defendendo que ainda que a norma deixasse uma margem para a decisatildeo do juiz de acordo com a casuiacutestica deveria ao menos estabelecer um criteacuterio objetivo miacutenimo de modo a evitar disparidades nas decisotildees (2015 314-315)

168

provecircm o seu sustento moradia e estudo e que ganhe uns dois ou trecircs salaacuterios miacutenimos que natildeo satildeo empregados em qualquer despesa essencial para sua mantenccedila pode natildeo ser considerado beneficiaacuterio (2009 p 90-91)

Nesse espectro o aplicador da norma juriacutedica eacute quem tem o poder-dever de

materializar no caso concreto o conceito juriacutedico indeterminado do que eacute ser necessitado

economicamente para arcar com as despesas processuais dando assim maior efetividade ao

preceito constitucional do acesso agrave justiccedila

Atento agraves alteraccedilotildees do Coacutedigo de Processo Civil quanto ao tema leciona Rafael

Alexandria de Oliveira

Insuficiecircncia de recursos Faz jus ao benefiacutecio da gratuidade aquela pessoa com lsquoinsuficiecircncia de recursos para pagar as custas despesas processuais e honoraacuterios advocatiacuteciosrsquo Natildeo se exige a miserabilidade nem estado de necessidade nem tampouco se fala em renda familiar ou faturamento maacuteximos Eacute possiacutevel que uma pessoa natural mesmo com boa renda mensal seja merecedora do benefiacutecio e que tambeacutem o seja aquele sujeito que eacute proprietaacuterio de bens imoacuteveis mas natildeo dispotildee de liquidez A gratuidade judiciaacuteria eacute um dos mecanismos de viabilizaccedilatildeo do acesso agrave justiccedila natildeo se pode exigir que para ter acesso agrave justiccedila o sujeito tenha que comprometer significativamente a sua renda ou tenha que se desfazer de seus bens liquidando-os para angariar recursos e custear o processo A lei natildeo fala em nuacutemeros natildeo estabelece paracircmetros O sujeito que ganha boa renda mensal pode ser tatildeo merecedor do benefiacutecio quanto aquele que sobrevive agrave custa de programas de complementaccedilatildeo de renda O que pode diferenciaacute-los eacute a maior ou menor dificuldade com que o pedido de concessatildeo do benefiacutecio eacute tratado o de melhor renda pode ser chamado a justificar o seu requerimento provando a insuficiecircncia de recursos Por isso mesmo nem sempre o beneficiaacuterio seraacute algueacutem em situaccedilatildeo de necessidade de vulnerabilidade de miseacuteria de penuacuteria Eacute preciso atentar para isso (2015 p 359)

Eacute compreensiacutevel a carga de subjetividade impregnada ao termo insuficiecircncia de

recursos notadamente porque o legislador adotando a teoria do direito processual

constitucional (art 1ordm do CPC) quis que a normativa do benefiacutecio atendesse realmente agraves

exigecircncias da sociedade hodierna deixando ao encargo do juiz o dever juriacutedico de buscar

identificar e adotar a soluccedilatildeo apta a no caso concreto alcanccedilar satisfatoriamente a finalidade6

da norma ndash de que garantir a todos o acesso agrave justiccedila

Todavia eacute cediccedilo que a valoraccedilatildeo de um conceito subjetivo pelo magistrado (assim

como para qualquer pessoa) transcende a sua formaccedilatildeo juriacutedica e mesmo que inconsciente

revela suas convicccedilotildees pessoais (crenccedilas valores referecircncias sociais) deste modo o que no

sentir de um julgador eacute pessoa hipossuficiente aos olhos do outro natildeo o eacute eacute aiacute que repousam

as ldquoinjusticcedilasrdquo

6 Interpretaccedilatildeo teleoloacutegica

169

A falta de a lei definir um criteacuterio objetivo miacutenimo para se determinar o que eacute a

insuficiecircncia de recursos demandou trabalho da doutrina e especialmente da jurisprudecircncia

que mesmo timidamente adotou os mais diversos paracircmetros

Nesse sentido uma das primeiras orientaccedilotildees que surge na jurisprudecircncia eacute a

necessidade de prova cabal da insuficiecircncia de recursos para a concessatildeo do benefiacutecio da

gratuidade agraves pessoas juriacutedicas7 Depois de muita discussatildeo o entendimento sedimentado na

jurisprudecircncia8 foi consagrado pelo legislador no Coacutedigo de Processo Civil de 2015 em seu

artigo 98 caput

Tambeacutem se firmou o entendimento de que o requerente que se dedica a emprestar

dinheiro natildeo faz jus ao benefiacutecio uma vez que tal circunstacircncia eacute incompatiacutevel com a alegada

necessidade (NERY JUNIOR NERY 2015 p 475)

Os Tribunais tambeacutem jaacute fixaram como criteacuterio objetivo para se determinar se o

requerente eacute realmente hipossuficiente a renda mensal inferior a dez salaacuterios miacutenimos9

todavia o Superior Tribunal de Justiccedila jaacute refutou a utilizaccedilatildeo desse criteacuterio sob o fundamento

de que a desconstituiccedilatildeo da presunccedilatildeo estabelecida pela lei de gratuidade de justiccedila exige

perquirir in concreto a atual situaccedilatildeo financeira do requerenterdquo10

Outro paracircmetro que tem sido utilizado pelos juristas para aferir a condiccedilatildeo de

miserabilidade do requerente eacute a faixa de isenccedilatildeo do Imposto de Renda extraiacutedo da tabela

progressiva do tributo devidamente atualizada11

O criteacuterio do patrociacutenio da causa por advogado particular para afastar a benesse jaacute

era rechaccedilado pela jurisprudecircncia12 e foi recepcionado pelo atual Coacutedigo de Processo Civil em

seu artigo 99 sect4ordm 7 Assistecircncia judiciaacuteria Pessoa juriacutedica Demonstraccedilatildeo cabal da insuficiecircncia de recursos 1 Ademais de fundamentado exclusivamente na interpretaccedilatildeo do art 5ordm LXXIV da Constituiccedilatildeo Federal o certo eacute que a Corte jaacute assentou a necessidade de demonstraccedilatildeo cabal da insuficiecircncia de recursos para que a empresa possa desfrutar dos benefiacutecios da assistecircncia judiciaacuteria 2 Recurso especial natildeo conhecido (STJ - REsp 182557 RJ 19980053550-0 Relator Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO Data de Julgamento 02091999 T3 - TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJ 25101999 p 79) 8 Suacutemula 481 STJ Faz jus ao benefiacutecio da justiccedila gratuita a pessoa juriacutedica com ou sem fins lucrativos que demonstrar sua impossibilidade de arcar com os encargos processuais 9 ADMINISTRATIVO AGRAVO DE INSTRUMENTO ASSISTEcircNCIA JUDICIAacuteRIA GRATUITA - AJG PARAcircMETRO DEZ SALAacuteRIOS MIacuteNIMOS 1 A Segunda Seccedilatildeo desta Corte vem consolidando entendimento no sentido de fixar patamar objetivo para a concessatildeo do benefiacutecio da AJG qual seja dez salaacuterios miacutenimo 2 Hipoacutetese em que a agravante comprovou renda mensal bem inferior ao limite paradigmaacutetico destacado inexistindo qualquer razatildeo para o indeferimento do pleito em prestiacutegio agrave norma de regecircncia (Lei n 10601950) e ao princiacutepio da acessibilidade (artigo 5ordm XXXV Constituiccedilatildeo Federal) (TRF-4 - AG 50101513420134040000 5010151-3420134040000 Relator NICOLAU KONKEL JUacuteNIOR Data de Julgamento 14082013 TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DE 16082013) 10 STJ - AgRg no AREsp 626487 MG 20140315675-3 Relator Ministro RICARDO VILLAS BOcircAS CUEVA Data de Julgamento 28042015 T3 - TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJe 07052015 11 TJ-PR - AI 14520235 PR 1452023-5 (Decisatildeo Monocraacutetica) Relator Paulo Cezar Bellio Data de Julgamento 27102015 16ordf Cacircmara Ciacutevel Data de Publicaccedilatildeo DJ 1683 05112015

170

O Superior Tribunal de Justiccedila preconiza que o inteacuterprete deve conjugar o binocircmio

necessidade-possibilidade assim para se conceder o benefiacutecio da gratuidade da justiccedila deve-

se considerar natildeo apenas os rendimentos mensais do requerente mas tambeacutem o

comprometimento de suas despesas13

A anaacutelise da condiccedilatildeo financeira do postulante deve ficar restrita a sua situaccedilatildeo

presente e natildeo ao seu histoacuterico de riquezas o simples fato de o requerente jaacute ter sido rico

empresaacuterio ou pessoa de posses natildeo significa que natildeo possa ser hoje pessoa pobre na

acepccedilatildeo juriacutedica do termo e necessitar da assistecircncia judiciaacuteria Da mesma forma a reciacuteproca

eacute verdadeira o pobre que eacute beneficiaacuterio da gratuidade pode por fatores supervenientes

tornar-se pessoa abastada financeiramente o que certamente lhe cassaraacute o benefiacutecio (NERY

JUNIOR NERY 2015 p 477)

Destarte a adoccedilatildeo pelo juiz de um paracircmetro como ponto de partida para verificar o

preenchimento dos requisitos para a concessatildeo da justiccedila gratuita natildeo deve ser visto como

violador da norma Bem da verdade a gratuidade da justiccedila eacute uma das portas de acesso ao

Poder Judiciaacuterio entretanto natildeo pode ser utilizada pelo beneficiaacuterio tatildeo-somente para se

furtar das obrigaccedilotildees oriundas do processo

A Lei nordm 106050 exigia em sua redaccedilatildeo original que o requerente comprovasse o

estado de pobreza alegado hoje ndash a partir da nova redaccedilatildeo dada ao art 4ordm sect1ordm da referida lei

pela Lei Federal nordm 751086 ndash basta a simples afirmaccedilatildeo de necessidade do benefiacutecio o que

inclusive eacute referendado pela jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila14 Nesse sentir o

12 Assistecircncia judiciaacuteria Defensoria Puacuteblica Advogado particular Interpretaccedilatildeo da Lei nordm 106050 1 Natildeo eacute suficiente para afastar a assistecircncia judiciaacuteria a existecircncia de advogado contratado O que a lei especial de regecircncia exige eacute a presenccedila do estado de pobreza ou seja da necessidade da assistecircncia judiciaacuteria por impossibilidade de responder pelas custas que poderaacute ser enfrentada com prova que a desfaccedila Natildeo serve para medir isso a qualidade do defensor se puacuteblico ou particular 2 Recurso especial conhecido e provido (STJ - REsp 679198 PR 20040103656-9 Relator Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO Data de Julgamento 21112006 T3 - TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJ 16042007 p 184) 13 STJ - REsp 263781 SP 20000060786-0 Relator Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO Data de Julgamento 22052001 T3 - TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo lt-- DTPB 20010813ltbrgt --gt DJ 13082001 p 150ltbrgt JBCC vol 193 p 249 14PROCESSUAL CIVIL RECONHECIMENTO DE CONCUBINATO E PARTILHA DE BENS PEDIDO ALTERNATIVO DE INDENIZACcedilAtildeO POR SERVICcedilOS PRESTADOS INDEFERIMENTO DE PLANO DA INICIAL IMPOSSIBILIDADE CERCEAMENTO DE DEFESA ASSISTEcircNCIA JUDICIAacuteRIA E GRATUIDADE DA JUSTICcedilA ALEGACcedilAtildeO DA PARTE DESNECESSIDADE DE DEMONSTRACcedilAtildeO DE O ADVOGADO NAtildeO ESTAR SENDO REMUNERADO PRESUNCcedilAtildeO RECURSO PROVIDO Pelo sistema legal vigente faz jus a parte aos benefiacutecios da assistecircncia judiciaacuteria mediante simples afirmaccedilatildeo na proacutepria peticcedilatildeo de que natildeo estaacute em condiccedilotildees de pagar as custas do processo e os honoraacuterios de advogado sem prejuiacutezo proacuteprio ou de sua famiacutelia O deferimento da gratuidade garantia assegurada constitucionalmente aos economicamente hipossuficientes (Constituiccedilatildeo art 5ordm LXXIV) natildeo exige que a parte demonstre que o advogado natildeo estaacute sendo por ela remunerado Enquanto a Justiccedila gratuita isenta de despesas processuais e condenaccedilatildeo em honoraacuterios advocatiacutecios a assistecircncia judiciaacuteria mais ampla enseja tambeacutem o patrociacutenio por profissional habilitado Caracteriza cerceamento de defesa o indeferimento de plano da inicial de accedilatildeo que pretendeu o reconhecimento de concubinato e partilha de bens com pedido alternativo de indenizaccedilatildeo de

171

aplicador do direito exerce um fundamental papel para que o processo natildeo seja um fim em si

mesmo mas sim um instrumento para a materializaccedilatildeo de um direito

Nota-se que o indeterminismo do termo insuficiecircncia de recursos aliado a mera

alegaccedilatildeo da necessidade poderia transviar o sentido da norma devendo o magistrado ficar

atento para que os privilegiados de fortuna natildeo ingressem gratuitamente no feito

Assim havendo elementos no processo que infirmem a alegaccedilatildeo do postulante ndash que

goza de presunccedilatildeo iuris tantum ndash a hipossuficiecircncia deve ser comprovada

Duacutevida fundada quanto agrave pobreza O juiz da causa valendo-se de criteacuterios

objetivos pode entender que a natureza da accedilatildeo movida pelo interessado demonstra que ele possui porte econocircmico para suportar as despesas do processo A declaraccedilatildeo pura e simples do interessado conquanto seja o uacutenico entrave burocraacutetico que se exige para liberar o magistrado para decidir em favor do peticionaacuterio natildeo eacute prova inequiacutevoca daquilo que ele afirma nem obriga o juiz a se curvar aos seus dizeres se de outras provas e circunstacircncias ficar evidenciado que o conceito de pobreza que a parte invoca natildeo eacute aquele que justifica a concessatildeo do privileacutegio Cabe ao magistrado livremente fazer juiacutezo de valor acerca do termo pobreza deferindo ou natildeo o benefiacutecio (NERY JUNIOR NERY 2015 p 477)

Infelizmente a finalidade do benefiacutecio natildeo raras vezes eacute distorcida seja pela

abstraccedilatildeo do conceito ou mesmo pela lisura do ser humano e isso contribui para o aumento de

demandas desqualificadas respaldadas na ausecircncia de riscos no caso de improcedecircncia

Para Maacutercio Pirocircpo Galvatildeo (2010) os mecanismos de acesso agrave justiccedila fomentam

accedilotildees despretensiosas ndash e cita como exemplos as accedilotildees trabalhistas e aquelas do acircmbito dos

Juizados Especiais ndash exclusivamente pela ausecircncia de custo econocircmico defende inclusive

que o acesso ao Judiciaacuterio de forma gratuita virou uma ldquoloteria onde todos querem tentar a

sorterdquo

E continua o autor citando a decisatildeo do Juiz de Direito da 2ordf Vara Ciacutevel da Comarca

de Dourados Dr Joseacute Carlos de Souza que as demandas desnecessaacuterias ldquoabarrotam o Poder

Judiciaacuterio e dificultam o acesso agrave Justiccedila de jurisdicionados com pretensotildees mais nobres

Incentivam o aumento da inadimplecircncia e sedimentam a cultura do natildeo-cumprimento dos

contratos [] Configuram provocaccedilatildeo abusiva da maacutequina judiciaacuteria e maacute-feacute do devedorrdquo

(GALVAtildeO 2010)

Como visto a utilizaccedilatildeo abusiva da gratuidade da justiccedila pode representar o

congestionamento da maacutequina judicial comprometendo a razoaacutevel duraccedilatildeo do processo e ao

serviccedilos prestados sem possibilitar agrave parte a produccedilatildeo de qualquer prova notadamente em se tratando de alegado relacionamento de mais de trinta anos (Recurso Especial nordm 91609SP 4ordf Turma do STJ Rel Min Saacutelvio de Figueiredo Teixeira Recorrente A P M R Recorrida V G F B j 160498 un DJU 080698 p 113)

172

reveacutes de seu proposito servir como oacutebice ao efetivo acesso agrave justiccedila daqueles que tem

realmente tem urgecircncia na prestaccedilatildeo jurisdicional

Talvez uma boa alternativa para se evitar decisotildees diacutespares e a banalizaccedilatildeo do

benefiacutecio ante a carga de subjetividade do seu pressuposto fosse exigir uma comprovaccedilatildeo

miacutenima da insuficiecircncia de recursos Afinal quem realmente necessita do benefiacutecio natildeo teria

dificuldade alguma em demonstrar a sua impossibilidade financeira para arcar com as

despesas processuais

Eacute certo que a Lei nordm 106050 e agora o Coacutedigo de Processo Civil estabelecem ocircnus

ao litigante que de maacute-feacute requereu o benefiacutecio da gratuidade todavia a prova nesse sentido

deve ser contundente o que estimula de certa forma pedidos indiscriminados de gratuidade

uma vez que sopesando os riscos os ganhos prevalecem

Destarte o que se percebe eacute que nesse ponto o legislador civil natildeo conseguiu

encerrar as discussotildees deixando a soluccedilatildeo para a doutrina e a jurisprudecircncia agora basta

saber como as discussotildees seratildeo encaminhadas de modo que natildeo se instale ndash ou aumente ndash um

estado de desconfianccedila em torno do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila em decorrecircncia dos

abusos praticados mas que tambeacutem natildeo se deixe de cumprir a sua preciacutepua finalidade

constitucional de ser um instrumento de acesso ao Judiciaacuterio daqueles que natildeo desfrutam de

plenas condiccedilotildees financeiras

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O atual Coacutedigo de Processo Civil atuou muito positivamente no que pertine ao

instituto da Gratuidade da Justiccedila ele alvoreceu pontos que a Lei nordm 106050 era retroacutegrada e

mesmo silente bem como normatizou questotildees jaacute consolidadas pela jurisprudecircncia

Em contrapartida a legislaccedilatildeo processual civil natildeo se fez clara quanto ao pressuposto

para a concessatildeo do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila mormente porque se limitou a prever

que a simples afirmaccedilatildeo de insuficiecircncia de recursos para pagar as despesas processuais eacute

suficiente ao seu deferimento

Afinal o que insuficiecircncia de recursos Qual o criteacuterio objetivo para se definir quem

se enquadra ou natildeo nesse perfil Mais uma vez a lei que trata sobre a gratuidade da justiccedila

silenciou nesse pormenor reservando ao aplicador do direito a missatildeo de examinar

casuisticamente quem eacute merecedor ou natildeo da benesse partindo de uma interpretaccedilatildeo

alicerccedilada na finalidade da lei ndash promover o acesso agrave justiccedila

173

Assim duas questotildees surgem A primeira eacute se o legislador foi relapso ou se ele

propositadamente preferiu a um conceito indeterminado para a concessatildeo do benefiacutecio E a

segunda eacute se ele agiu bem

E ao que se conclui eacute que a preferecircncia por um termo dotado de subjetivismo tem

um propoacutesito qual seja permitir que a lei seja adaptaacutevel as mais diversas situaccedilotildees do

cotidiano forense de modo a tornar o acesso agrave justiccedila um direito fundamental mais efetivo

Conquanto agrave segunda questatildeo (se ele agiu bem) apenas a experiecircncia praacutetica poderaacute dizer

notadamente porque vai depender e muito da consciecircncia do postulante (e seu advogado) o

qual eacute o real sabedor de sua condiccedilatildeo financeira

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ABREU Frederico do Valle Conceito juriacutedico indeterminado interpretaccedilatildeo da lei

processo e suposto poder discricionaacuterio do magistrado Jus Navigandi Teresina ano 9 n

674 10 maio 2005 Disponiacutevel em lthttpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=6674gt

Acesso em 27032016

ANGHER Anne Joyce (Org) Vade mecum acadecircmico de direito Rideel 21ed

atual e ampl Satildeo Paulo Rideel 2015

BRASIL Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Recurso Especial nordm

19980053550-0 Relator Ministro Carlos Alberto Menezes Data de Julgamento 02091999

Data de Publicaccedilatildeo DJ 25101999 p 79

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Agravo Regimental no Recurso

Especial nordm 20140315675-3 Relator Ministro Ricardo Villas Bocircas Cueva Data de

Julgamento 28042015 Data de Publicaccedilatildeo DJe 07052015

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Recurso Especial nordm

20040103656-9 Relator Ministro Carlos Alberto Menezes Direito Data de Julgamento

21112006 Data de Publicaccedilatildeo DJ 16042007 p 184

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Recurso Especial

20000060786-0 Relator Ministro Carlos Alberto Menezes Direito Data de Julgamento

22052001 Data de Publicaccedilatildeo 13082001 p 150

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Quarta Turma Recurso Especial 91609SP

Relator Ministro Saacutelvio de Figueiredo Teixeira Data de Publicaccedilatildeo 08061998 p 113

174

_____ Tribunal Regional Federal (4ordf Regiatildeo) Terceira Turma Agravo nordm

50101513420134040000 5010151-3420134040000 Relator Nicolau Konkel Juacutenior Data

de Julgamento 14082013Data de Publicaccedilatildeo 16082013

_____ Tribunal de Justiccedila do Estado do Paranaacute 16ordf Cacircmara Ciacutevel Agravo de

Instrumento nordm 14520235 PR 1452023-5 (Decisatildeo Monocraacutetica) Relator Paulo Cezar Bellio

Data de Julgamento 27102015 Data de Publicaccedilatildeo 05112015

CAPPELLETTI Mauro GARTH Bryant Acesso agrave justiccedila Trad Ellen Gracie

Northfleet Porto Alegre Seacutergio Fabris Editor 2002

CARNEIRO Paulo Cezar Pinheiro Normas Fundamentais do Processo Civil Em

Breves Comentaacuterios ao Novo Coacutedigo de Processo Civil Tereza Arruda Alvim Wambier et

al[coord] Satildeo Paulo Editora RT 2015

DELLORE Luiz Novo CPC o lado A da justiccedila gratuita Disponiacutevel em http

httpjotauolcombrjustica-gratuita-novo-cpc-lado publicado em 09 de marccedilo de 2015

Acesso em 27032016

______ Novo CPC o lado B da justiccedila gratuita Disponiacutevel em

httpjotauolcombrnovo-cpc-o-lado-b-da-justica-gratuita publicado em 13 de abril de

2015 Acesso em 27032016

GALESKI JUNIOR Irineu RIBEIRO Marcia Carla Pereira Direito e economia

uma abordagem sobre a assistecircncia judiciaacuteria gratuita In Publica Direito (recurso eletrocircnico

on-line) Fortaleza CONPEDI 2010

GALVAtildeO Maacutercio Pirocircpo Abuso de direito agrave gratuidade da Justiccedila Revista Jus

Navigandi Teresina ano 17 n 3339 22 ago 2012 Disponiacutevel em

lthttpsjuscombrartigos22466gt Acesso em 27032016

MARCACINI Augusto Tavares Rosa Assistecircncia Juriacutedica Assistecircncia Judiciaacuteria e

Justiccedila Gratuita Satildeo Paulo Editora Forense 2009 (ediccedilatildeo eletrocircnica)

MEDINA Joseacute Miguel Garcia Novo Coacutedigo de Processo Civil Comentado Satildeo

Paulo Editora RT 2015

NERY JUNIOR Nelson e NERY Rosa Maria de Andrade Comentaacuterios ao Coacutedigo

de Processo Civil Satildeo Paulo Editora RT 2015

NETO Emeteacuterio Silva de Oliveira VIANA Juvecircncio Vasconcelos Acesso agrave justiccedila

e o novo Coacutedigo de Processo Civil um olhar criacutetico Em Acesso agrave justiccedila (recurso eletrocircnico

on-line) Florianoacutepolis CONPEDIUFSC 2015

175

OLIVEIRA Rafael Alexandria de Da Gratuidade da Justiccedila Em Breves

Comentaacuterios ao Novo Coacutedigo de Processo Civil Tereza Arruda Alvim Wambier et

al[coord] Satildeo Paulo Editora RT 2015

SANTOS Boaventura de Souza Pela matildeo de Alice o social e o poliacutetico

na poacutes-modernidade Satildeo Paulo Cortez 2003

TARTURE Flaacutevia DELLORE Luiz Gratuidade da justiccedila no novo CPC Em

Revista de Processo Satildeo Paulo v 39 n 236 p 305-323 out 2014

176

beneficiaacuterio ao advogado da parte contraacuteria nos termos do sect2ordm do artigo 98 mas tatildeo somente

os honoraacuterios devidos ao seu proacuteprio advogado quando este eacute nomeado pelo juiz ou seja o

defensor dativo (OLIVEIRA 2015 p 361)

O art 95 sect3ordm do Coacutedigo Processual Civil normatiza a respeito do custeio da periacutecia

(inclusive honoraacuterios) na hipoacutetese de o responsaacutevel pelo pagamento de tal despesa ser

beneficiaacuterio da justiccedila gratuita Dispotildee o paraacutegrafo que nessa hipoacutetese a periacutecia seraacute

realizada preferencialmente por um servidor do Poder Judiciaacuterio ou por oacutergatildeo conveniado e

subsidiariamente por particular Em ambos os casos os honoraacuterios seratildeo custeados com

recursos do orccedilamento do ente puacuteblico respectivo ndash Uniatildeo e Estado ou Distrito Federal

Ainda possibilita a legislaccedilatildeo processual civil que a Fazenda Puacuteblica recobre o

valor despendido a tiacutetulo de honoraacuterios periciais daquele que for condenado ao pagamento de

tais verbas (art 95 sect4ordm CPC) no caso de ser a parte vencida beneficiaacuteria da gratuidade da

justiccedila o ente puacuteblico deve observar as regras pertinentes agrave sucumbecircncia e a exigibilidade sob

condiccedilatildeo suspensiva previstas nos paraacutegrafos sectsect2ordm e 3ordm do art 98 Mas em nenhuma hipoacutetese

transferir tal ocircnus a outra parte natildeo beneficiaacuteria

Tambeacutem estatildeo incluiacutedos no conceito de gratuidade da justiccedila os depoacutesitos devidos

para interposiccedilatildeo de recurso propositura de accedilatildeo e para a praacutetica de outros atos processuais

inerentes ao exerciacutecio da ampla defesa e do contraditoacuterio (inciso VIII) esse dispositivo acaba

por servir como uma claacuteusula geral incluindo todas aquelas despesas natildeo arroladas nos

incisos anteriores e que por estarem intrinsicamente relacionadas ao exerciacutecio do

contraditoacuterio e da ampla devem ser afastadas

Por fim e natildeo menos importante trouxe uma importante inovaccedilatildeo incluindo os

emolumentos dos registradores e notaacuterios relativos a atos de averbaccedilatildeo e registro decorrentes

de processo judicial em que houve a concessatildeo do benefiacutecio da gratuidade (inciso IX)

O Coacutedigo de Processo Civil estendeu para o acircmbito extrajudicial o benefiacutecio da

gratuidade da justiccedila concedido judicialmente garantindo-se assim a prestaccedilatildeo jurisdicional

em sua inteireza

Outrossim o sect 8ordm do artigo 98 preconiza que se o tabeliatildeo ou registrador no

momento da realizaccedilatildeo do ato cartorial tiver duacutevida fundada quanto ao preenchimento dos

pressupostos para a concessatildeo da justiccedila gratuita ndash ou seja insuficiecircncia de recursos ndash pode

requerer ao juiacutezo competente para decidir questotildees notariais ou registrais (competecircncia do

juiz corregedor dos cartoacuterios extrajudiciais) que revogue a gratuidade ou permita o

parcelamento dos valores devido (DELLORE 2015)

163

Esse paraacutegrafo deu ensejo a algumas criacuteticas para Luiz Dellore o questionamento

judicial acerca da capacidade financeira da parte para arcar com as despesas notariais e

registrais

[] natildeo parece ser uma atividade jurisdicional mas administrativa em analogia agrave lsquosuscitaccedilatildeo de duacutevidarsquo hoje existente Trata-se de uma esdruacutexula inovaccedilatildeo que traz ainda mais temas para decisatildeo do Poder Judiciaacuterio Assim aleacutem de todas as questotildees que o juiz deve decidir teraacute ainda de apreciar se uma parte de um processo jaacute findo ainda tem ou natildeo dificuldades financeiras para fins de pagamento de taxas de cartoacuterio (2015)

Ainda no que tange a abrangecircncia do benefiacutecio impende destacar que as multas

processuais de qualquer natureza ndash como por exemplo as multas por litigacircncia de maacute-feacute e por

ato atentatoacuterio a dignidade da justiccedila ndash natildeo estatildeo abarcadas pela gratuidade da justiccedila pois

elas satildeo puniccedilotildees a comportamentos iliacutecitos ldquoE natildeo poderia ser diferente a gratuidade da

justiccedila natildeo pode servir como escudo para a procrastinaccedilatildeo e a litigacircncia de maacute-feacute Daiacute a razatildeo

pela qual o beneficiaacuterio da justiccedila gratuita deve ser executado normalmente em relaccedilatildeo a

elesrdquo (NERY JUNIOR NERY 2015 p 474)

25 Modulaccedilatildeo do benefiacutecio

Outra importante novidade trazida pela Lei nordm 1310515 foi a possibilidade do juiz

modular os efeitos do benefiacutecio abrangendo apenas alguns dos custos do processo ou mesmo

parcelar as despesas processuais (art 98 sectsect5ordm e 6ordm CPC)

Tal medida eacute interessante ao passo que o postulante pode ter condiccedilotildees financeiras

de arcar apenas com algumas despesas processuais como por exemplo as custas e taxas

todavia natildeo dispor de recursos para pagar os honoraacuterios periciais por exemplo Ainda ao

longo do processo pode sobrevir mudanccedila na condiccedilatildeo financeira da parte e ela passar por

dificuldades para custear as despesas processuais nesse ponto o juiz poderaacute conceder-lhe os

benefiacutecios a partir de tal momento

A possibilidade de parcelamento das despesas processuais sugere que o legislador

quis dizer que a concessatildeo da gratuidade da justiccedila eacute a uacuteltima opccedilatildeo sendo possiacutevel agrave parte

arcar com as despesas de forma parcelada o juiz deve optar pelo seu seccionamento e natildeo a

sua dispensa (NERY JUNIOR NERY 2015 p 474)

26 Responsabilidade do beneficiaacuterio

A gratuidade da justiccedila como jaacute dito eacute um instrumento do acesso agrave justiccedila daqueles

que se declaram financeiramente desprovidos de condiccedilotildees de custear o processo Isso

164

significa que se o beneficiaacuterio for perdedor em uma demanda ele seraacute igualmente responsaacutevel

pelo pagamento do ocircnus inerente a sua derrota a diferenccedila reside no fato de poder exigir ou

natildeo a sua cobranccedila

Se o beneficiaacuterio for vencido ele teraacute responsabilidade pelas despesas processuais

ele deveraacute reembolsar os gastos realizados pela outra parte seraacute condenado agraves verbas

sucumbenciais ficando todavia sob condiccedilatildeo suspensiva de exigibilidade podendo ser

cobradas pelo credor no prazo de 5 (cinco) anos contados do tracircnsito em julgado da decisatildeo

que fixou a sucumbecircncia desde que demonstre a ocorrecircncia um fato superveniente que

alterou a condiccedilatildeo financeira do beneficiaacuterio (MEDINA 2015 p 188-189)

Repisa-se a gratuidade natildeo isenta o seu beneficiaacuterio do pagamento das despesas

processuais tatildeo somente as coloca sob condiccedilatildeo suspensiva de exigibilidade

27 Requerimento e impugnaccedilatildeo

O benefiacutecio da gratuidade natildeo pode ser concedido de ofiacutecio pelo juiz devendo a

parte interessada requerecirc-lo no primeiro momento em que ela ingressa no feito ndash peticcedilatildeo

inicial contestaccedilatildeo ou na peccedila de ingresso do terceiro interveniente ndash ou em um momento

posterior ndash por meio de peticcedilatildeo simples ou mesmo no bojo de outra manifestaccedilatildeo ndash inclusive

na m grau recursal (art 99 caput e sect1ordm do CPC)

Nesse aspecto natildeo haacute um momento processual preacute-estabelecido e uacutenico para o

requerimento da gratuidade da justiccedila todavia o tempo do pedido eacute importante para delimitar

quais satildeo as despesas processuais que se dispensa o adiantamento isto porque a concessatildeo do

benefiacutecio tem efeito prospectivo natildeo alcanccedilando os atos processuais jaacute praticados

(OLIVEIRA 2015 p 371-372)

O requerimento natildeo demanda maiores formalidades devendo a parte apenas declarar

a insuficiecircncia de recursos se pessoa natural no caso de pessoa juriacutedica deveraacute ainda

comprovar a necessidade do benefiacutecio

O juiz ao analisar o pedido de gratuidade formulado apenas o indeferiraacute se nos autos

existiram elementos que demonstrem que o postulante natildeo preenche o pressuposto da

insuficiecircncia de recursos Todavia antes de indeferi-lo deve oportunizar a parte que

comprove a alegada carecircncia financeira para custear o processo (art 99 sect2ordm CPC)

A oportunidade de ser ouvido antes do indeferimento do pedido de gratuidade da

justiccedila somente se aplica a pessoa natural uma vez que em seu favor haacute presunccedilatildeo de

veracidade da alegaccedilatildeo de hipossuficiecircncia natildeo necessitando juntar qual prova nesse sentido

165

no momento da realizaccedilatildeo do pedido diferentemente do que acontece com a pessoa juriacutedica

que ao postular o benefiacutecio jaacute deve comprovar a sua necessidade (OLIVEIRA 2015 p 373)

Importante destacar que o Coacutedigo de Processo Civil encerrando discussotildees

expressamente previu que a assistecircncia do requerente por advogado particular por si soacute natildeo

constitui oacutebice para a concessatildeo do benefiacutecio (art 99 sect4ordm)

Na hipoacutetese de natildeo concessatildeo do pedido o requerente poderaacute interpor agravo de

instrumento nos termos do art 101 caput do CPC salvo se a questatildeo for solvida na

sentenccedila hipoacutetese em que caberaacute apelaccedilatildeo De outro lado se concedido poderaacute a parte

contraacuteria impugnaacute-lo

A impugnaccedilatildeo agrave gratuidade da justiccedila sofreu importantes alteraccedilotildees com o Coacutedigo de

Processo Civil a primeira delas eacute que ela natildeo mais se processa em autos apartados devendo

ser formulada nos proacuteprios autos Sem maiores formalidades a impugnaccedilatildeo deve ser

oferecida pela parte no primeiro momento posterior agrave concessatildeo que lhe couber falar nos

autos ou seja se o benefiacutecio for deferido por ocasiatildeo da peticcedilatildeo inicial deve o reacuteu impugnaacute-

la jaacute na contestaccedilatildeo se concedido ao reacuteu por ocasiatildeo da contestaccedilatildeo deve o autor impugnaacute-la

na reacuteplica se deferido no momento da interposiccedilatildeo do recurso a impugnaccedilatildeo deve ser

oferecida nas contrarrazotildees recursais e se o pedido for superveniente deve a parte contraacuteria

impugnaacute-lo no prazo de 15 (quinze) dias contados de sua concessatildeo

Haacute todavia algumas questotildees que natildeo restaram suficientemente esclarecidas pelo

Coacutedigo de Processo Civil no que concerne a impugnaccedilatildeo agrave gratuidade da Justiccedila Entre elas

o autor Luiz Dellore (2015) aponta o termo inicial do prazo para a impugnaccedilatildeo defendendo o

autor que este deveria se dar a partir do momento que a parte contraacuteria tomasse conhecimento

da situaccedilatildeo de natildeo hipossuficiecircncia da parte sob pena de se limitar o instituto

Outro ponto diz respeito ao ocircnus da prova na impugnaccedilatildeo pois o legislador

manteve-se silente nesse aspecto

A doutrina se inclina a defender que o ocircnus de comprovar que o beneficiaacuterio natildeo faz

jus agrave gratuidade eacute do impugnante ante a existecircncia de presunccedilatildeo relativa da necessidade com

a mera alegaccedilatildeo de insuficiecircncia de recursos (NERY JUNIOR NERY 2015 p 479)

28 Revogaccedilatildeo do benefiacutecio

A revogaccedilatildeo do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila implica na obrigaccedilatildeo da parte ex-

beneficiaacuteria de recolher todas as despesas de deixou de adiantar inclusive as despesas que

foram eventualmente adiantadas pelo ente puacuteblico (periacutecia por exemplo) e as vindouras (art

166

100 paraacutegrafo uacutenico do CPC) isso no caso de a parte natildeo fazer jus ao benefiacutecio desde o

momento em que a requereu (OLIVEIRA 2015 p 377)

No entanto a revogaccedilatildeo pode se dar pelo fato de ter cessado a situaccedilatildeo de

hipossuficiecircncia econocircmica que ensejou o benefiacutecio hipoacutetese em que ela apenas teraacute que

arcar com as despesas processuais a partir do momento que passou a dispor da boa condiccedilatildeo

financeira

Ainda evidenciada a maacute-feacute do ex-beneficiaacuterio o Coacutedigo de Processo Civil prevecirc a

aplicaccedilatildeo de multa de ateacute o deacutecuplo das despesas que tiver deixado de adiantar ndash nesse caso

natildeo basta a mera revogaccedilatildeo do benefiacutecio

Decidiu-se antes da entrada em vigor do Coacutedigo que ldquodeve ser cabalmente

demonstrada a intenccedilatildeo da parte em induzir o Poder Judiciaacuterio a erro se aproveitando

indevidamente do benefiacuteciordquo (MEDINA 2015 p 191)

Em linhas gerais essas satildeo algumas das alteraccedilotildees consubstanciadas pelo Coacutedigo de

Processo Civil em relaccedilatildeo ao benefiacutecio da gratuidade da justiccedila malgrado a lei processual natildeo

tenha esgotado o tema esclareceu vaacuterios pontos que antes era debatido pela jurisprudecircncia

Aleacutem do mais importante pontuar que o legislador reformador repensou o processo

civil atento aos anseios da sociedade moderna e preocupado com a efetividade dos direitos

constitucionais ndash acesso agrave justiccedila por exemplo ndash prevendo expressamente no artigo 1ordm do

CPC que ldquoo processo civil seraacute ordenado disciplinado e interpretado conforme os valores e

normas fundamentais estabelecidas na Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasilrdquo

Ocorre entretanto que mesmo diante de significativas alteraccedilotildees o legislador ainda

natildeo preencheu ou objetivou o pressuposto de concessatildeo dos benefiacutecios anteriormente citados

sendo remanescente o subjetivismo da anaacutelise do termo ldquoinsuficiecircncia de recursosrdquo o que

passaraacute a ser refletido no presente artigo

3 O SUBJETIVISMO DO PRESSUPOSTO INSUFICIEcircNCIA DE RECURSOS

Conforme jaacute visto o Coacutedigo de Processo Civil alterou o requisito para a concessatildeo

do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila bastando a declaraccedilatildeo de insuficiecircncia de recursos pela

pessoa natural e a sua comprovaccedilatildeo no caso de pessoa juriacutedica

Todavia eacute inegaacutevel a carga de subjetividade que haacute no conceito de insuficiecircncia de

recursos e como todo conceito juriacutedico vago traz certa inseguranccedila juriacutedica notadamente

porque pode acarretar decisotildees extremamente diacutespares no cotidiano forense uma vez que tal

anaacutelise (o que eacute insuficiecircncia de recursos) fica a criteacuterio do entendimento de cada

167

magistrado aleacutem do que pode gerar inuacutemeros abusos por parte dos seus requerentes ndash ainda

mais quando a mera alegaccedilatildeo eacute bastante agrave concessatildeo do benefiacutecio ndash que diferentemente do

que alegam gozam de boa sauacutede financeira para arcar com as despesas processuais

(TARTUCE DELLORE 2015 p 314-315)

Mesmo antes da alteraccedilatildeo do CPC ainda na Lei nordm 106050 jaacute discutia a doutrina e

a jurisprudecircncia acerca dos pressupostos para a concessatildeo do benefiacutecio ante a vagueza dos

conceitos de hipossuficiente necessitado carente de recursos financeiros para arcar com as

custas do processo sem prejuiacutezo do sustento proacuteprio e de sua famiacutelia e a falta de um criteacuterio

objetivo miacutenimo para a concessatildeo do benefiacutecio5

Nada obstante o progresso vivenciado com o Coacutedigo de Processo Civil de 2015 no

que tange a gratuidade da justiccedila vecirc-se que no ponto concernente agrave triagem dos

hipossuficientes de recursos o legislador conservou um conceito juriacutedico indeterminado

Segundo Frederico do Valle Abreu (2005) o conceito juriacutedico indeterminado eacute

caracterizado pela ldquovaguidade semacircntica existente em certa norma com a finalidade de que

ela a norma permaneccedila ao ser aplicada sempre atual e correspondente aos anseios da

sociedade nos vaacuterios momentos histoacutericos em que a lei eacute interpretada e aplicadardquo

Assim o conteuacutedo abstrato do pressuposto insuficiecircncia de recursos tenha sido

propositadamente pensado pelo legislador por entender que o inteacuterprete na anaacutelise casuiacutestica

goza de melhores condiccedilotildees para valoraacute-lo refletindo pois uma decisatildeo mais justa

O autor Augusto Tavares Rosa Marcacini defende que a insuficiecircncia de recursos eacute

um conceito indeterminado e natildeo segue um padratildeo rigoroso por isso a melhor soluccedilatildeo eacute a

anaacutelise caso a caso

O conceito de necessitado natildeo eacute determinado mediante regras riacutegidas matemaacuteticas natildeo se utilizando limites numeacutericos determinados Tecircm direito ao benefiacutecio aqueles que natildeo podem arcar com os gastos necessaacuterios agrave participaccedilatildeo no processo na medida em que contabilizados os seus ganhos e os seus gastos com o proacuteprio sustento e da famiacutelia natildeo lhe reste numeraacuterio suficiente para tanto O direito ao benefiacutecio decorre da indisponibilidade financeira do sujeito Em face da notoacuteria insuficiecircncia do salaacuterio miacutenimo vigente em nosso paiacutes pode ser possiacutevel presumir que aquele que aufere ateacute cinco salaacuterios miacutenimos por exemplo eacute quase que certamente merecedor de usufruir dos benefiacutecios Mas como dissemos natildeo se deve utilizar nuacutemeros fechados como criteacuterio Um chefe de uma famiacutelia numerosa que pague aluguel e que tenha filhos em idade escolar por exemplo mesmo percebendo o equivalente a dez salaacuterios miacutenimos pode natildeo ter condiccedilotildees de arcar com as despesas de um processo De outro lado um jovem que viva com os pais os quais

5 Fernanda Tartuce e Luiz Dellore por exemplo no artigo escrito em coautoria Gratuidade da Justiccedila no novo CPC divergem sobre o assunto enquanto ela acredita ser acertada a opccedilatildeo do legislador em trazer um conceito dotado de subjetividade por outro lado ele discorda defendendo que ainda que a norma deixasse uma margem para a decisatildeo do juiz de acordo com a casuiacutestica deveria ao menos estabelecer um criteacuterio objetivo miacutenimo de modo a evitar disparidades nas decisotildees (2015 314-315)

168

provecircm o seu sustento moradia e estudo e que ganhe uns dois ou trecircs salaacuterios miacutenimos que natildeo satildeo empregados em qualquer despesa essencial para sua mantenccedila pode natildeo ser considerado beneficiaacuterio (2009 p 90-91)

Nesse espectro o aplicador da norma juriacutedica eacute quem tem o poder-dever de

materializar no caso concreto o conceito juriacutedico indeterminado do que eacute ser necessitado

economicamente para arcar com as despesas processuais dando assim maior efetividade ao

preceito constitucional do acesso agrave justiccedila

Atento agraves alteraccedilotildees do Coacutedigo de Processo Civil quanto ao tema leciona Rafael

Alexandria de Oliveira

Insuficiecircncia de recursos Faz jus ao benefiacutecio da gratuidade aquela pessoa com lsquoinsuficiecircncia de recursos para pagar as custas despesas processuais e honoraacuterios advocatiacuteciosrsquo Natildeo se exige a miserabilidade nem estado de necessidade nem tampouco se fala em renda familiar ou faturamento maacuteximos Eacute possiacutevel que uma pessoa natural mesmo com boa renda mensal seja merecedora do benefiacutecio e que tambeacutem o seja aquele sujeito que eacute proprietaacuterio de bens imoacuteveis mas natildeo dispotildee de liquidez A gratuidade judiciaacuteria eacute um dos mecanismos de viabilizaccedilatildeo do acesso agrave justiccedila natildeo se pode exigir que para ter acesso agrave justiccedila o sujeito tenha que comprometer significativamente a sua renda ou tenha que se desfazer de seus bens liquidando-os para angariar recursos e custear o processo A lei natildeo fala em nuacutemeros natildeo estabelece paracircmetros O sujeito que ganha boa renda mensal pode ser tatildeo merecedor do benefiacutecio quanto aquele que sobrevive agrave custa de programas de complementaccedilatildeo de renda O que pode diferenciaacute-los eacute a maior ou menor dificuldade com que o pedido de concessatildeo do benefiacutecio eacute tratado o de melhor renda pode ser chamado a justificar o seu requerimento provando a insuficiecircncia de recursos Por isso mesmo nem sempre o beneficiaacuterio seraacute algueacutem em situaccedilatildeo de necessidade de vulnerabilidade de miseacuteria de penuacuteria Eacute preciso atentar para isso (2015 p 359)

Eacute compreensiacutevel a carga de subjetividade impregnada ao termo insuficiecircncia de

recursos notadamente porque o legislador adotando a teoria do direito processual

constitucional (art 1ordm do CPC) quis que a normativa do benefiacutecio atendesse realmente agraves

exigecircncias da sociedade hodierna deixando ao encargo do juiz o dever juriacutedico de buscar

identificar e adotar a soluccedilatildeo apta a no caso concreto alcanccedilar satisfatoriamente a finalidade6

da norma ndash de que garantir a todos o acesso agrave justiccedila

Todavia eacute cediccedilo que a valoraccedilatildeo de um conceito subjetivo pelo magistrado (assim

como para qualquer pessoa) transcende a sua formaccedilatildeo juriacutedica e mesmo que inconsciente

revela suas convicccedilotildees pessoais (crenccedilas valores referecircncias sociais) deste modo o que no

sentir de um julgador eacute pessoa hipossuficiente aos olhos do outro natildeo o eacute eacute aiacute que repousam

as ldquoinjusticcedilasrdquo

6 Interpretaccedilatildeo teleoloacutegica

169

A falta de a lei definir um criteacuterio objetivo miacutenimo para se determinar o que eacute a

insuficiecircncia de recursos demandou trabalho da doutrina e especialmente da jurisprudecircncia

que mesmo timidamente adotou os mais diversos paracircmetros

Nesse sentido uma das primeiras orientaccedilotildees que surge na jurisprudecircncia eacute a

necessidade de prova cabal da insuficiecircncia de recursos para a concessatildeo do benefiacutecio da

gratuidade agraves pessoas juriacutedicas7 Depois de muita discussatildeo o entendimento sedimentado na

jurisprudecircncia8 foi consagrado pelo legislador no Coacutedigo de Processo Civil de 2015 em seu

artigo 98 caput

Tambeacutem se firmou o entendimento de que o requerente que se dedica a emprestar

dinheiro natildeo faz jus ao benefiacutecio uma vez que tal circunstacircncia eacute incompatiacutevel com a alegada

necessidade (NERY JUNIOR NERY 2015 p 475)

Os Tribunais tambeacutem jaacute fixaram como criteacuterio objetivo para se determinar se o

requerente eacute realmente hipossuficiente a renda mensal inferior a dez salaacuterios miacutenimos9

todavia o Superior Tribunal de Justiccedila jaacute refutou a utilizaccedilatildeo desse criteacuterio sob o fundamento

de que a desconstituiccedilatildeo da presunccedilatildeo estabelecida pela lei de gratuidade de justiccedila exige

perquirir in concreto a atual situaccedilatildeo financeira do requerenterdquo10

Outro paracircmetro que tem sido utilizado pelos juristas para aferir a condiccedilatildeo de

miserabilidade do requerente eacute a faixa de isenccedilatildeo do Imposto de Renda extraiacutedo da tabela

progressiva do tributo devidamente atualizada11

O criteacuterio do patrociacutenio da causa por advogado particular para afastar a benesse jaacute

era rechaccedilado pela jurisprudecircncia12 e foi recepcionado pelo atual Coacutedigo de Processo Civil em

seu artigo 99 sect4ordm 7 Assistecircncia judiciaacuteria Pessoa juriacutedica Demonstraccedilatildeo cabal da insuficiecircncia de recursos 1 Ademais de fundamentado exclusivamente na interpretaccedilatildeo do art 5ordm LXXIV da Constituiccedilatildeo Federal o certo eacute que a Corte jaacute assentou a necessidade de demonstraccedilatildeo cabal da insuficiecircncia de recursos para que a empresa possa desfrutar dos benefiacutecios da assistecircncia judiciaacuteria 2 Recurso especial natildeo conhecido (STJ - REsp 182557 RJ 19980053550-0 Relator Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO Data de Julgamento 02091999 T3 - TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJ 25101999 p 79) 8 Suacutemula 481 STJ Faz jus ao benefiacutecio da justiccedila gratuita a pessoa juriacutedica com ou sem fins lucrativos que demonstrar sua impossibilidade de arcar com os encargos processuais 9 ADMINISTRATIVO AGRAVO DE INSTRUMENTO ASSISTEcircNCIA JUDICIAacuteRIA GRATUITA - AJG PARAcircMETRO DEZ SALAacuteRIOS MIacuteNIMOS 1 A Segunda Seccedilatildeo desta Corte vem consolidando entendimento no sentido de fixar patamar objetivo para a concessatildeo do benefiacutecio da AJG qual seja dez salaacuterios miacutenimo 2 Hipoacutetese em que a agravante comprovou renda mensal bem inferior ao limite paradigmaacutetico destacado inexistindo qualquer razatildeo para o indeferimento do pleito em prestiacutegio agrave norma de regecircncia (Lei n 10601950) e ao princiacutepio da acessibilidade (artigo 5ordm XXXV Constituiccedilatildeo Federal) (TRF-4 - AG 50101513420134040000 5010151-3420134040000 Relator NICOLAU KONKEL JUacuteNIOR Data de Julgamento 14082013 TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DE 16082013) 10 STJ - AgRg no AREsp 626487 MG 20140315675-3 Relator Ministro RICARDO VILLAS BOcircAS CUEVA Data de Julgamento 28042015 T3 - TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJe 07052015 11 TJ-PR - AI 14520235 PR 1452023-5 (Decisatildeo Monocraacutetica) Relator Paulo Cezar Bellio Data de Julgamento 27102015 16ordf Cacircmara Ciacutevel Data de Publicaccedilatildeo DJ 1683 05112015

170

O Superior Tribunal de Justiccedila preconiza que o inteacuterprete deve conjugar o binocircmio

necessidade-possibilidade assim para se conceder o benefiacutecio da gratuidade da justiccedila deve-

se considerar natildeo apenas os rendimentos mensais do requerente mas tambeacutem o

comprometimento de suas despesas13

A anaacutelise da condiccedilatildeo financeira do postulante deve ficar restrita a sua situaccedilatildeo

presente e natildeo ao seu histoacuterico de riquezas o simples fato de o requerente jaacute ter sido rico

empresaacuterio ou pessoa de posses natildeo significa que natildeo possa ser hoje pessoa pobre na

acepccedilatildeo juriacutedica do termo e necessitar da assistecircncia judiciaacuteria Da mesma forma a reciacuteproca

eacute verdadeira o pobre que eacute beneficiaacuterio da gratuidade pode por fatores supervenientes

tornar-se pessoa abastada financeiramente o que certamente lhe cassaraacute o benefiacutecio (NERY

JUNIOR NERY 2015 p 477)

Destarte a adoccedilatildeo pelo juiz de um paracircmetro como ponto de partida para verificar o

preenchimento dos requisitos para a concessatildeo da justiccedila gratuita natildeo deve ser visto como

violador da norma Bem da verdade a gratuidade da justiccedila eacute uma das portas de acesso ao

Poder Judiciaacuterio entretanto natildeo pode ser utilizada pelo beneficiaacuterio tatildeo-somente para se

furtar das obrigaccedilotildees oriundas do processo

A Lei nordm 106050 exigia em sua redaccedilatildeo original que o requerente comprovasse o

estado de pobreza alegado hoje ndash a partir da nova redaccedilatildeo dada ao art 4ordm sect1ordm da referida lei

pela Lei Federal nordm 751086 ndash basta a simples afirmaccedilatildeo de necessidade do benefiacutecio o que

inclusive eacute referendado pela jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila14 Nesse sentir o

12 Assistecircncia judiciaacuteria Defensoria Puacuteblica Advogado particular Interpretaccedilatildeo da Lei nordm 106050 1 Natildeo eacute suficiente para afastar a assistecircncia judiciaacuteria a existecircncia de advogado contratado O que a lei especial de regecircncia exige eacute a presenccedila do estado de pobreza ou seja da necessidade da assistecircncia judiciaacuteria por impossibilidade de responder pelas custas que poderaacute ser enfrentada com prova que a desfaccedila Natildeo serve para medir isso a qualidade do defensor se puacuteblico ou particular 2 Recurso especial conhecido e provido (STJ - REsp 679198 PR 20040103656-9 Relator Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO Data de Julgamento 21112006 T3 - TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJ 16042007 p 184) 13 STJ - REsp 263781 SP 20000060786-0 Relator Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO Data de Julgamento 22052001 T3 - TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo lt-- DTPB 20010813ltbrgt --gt DJ 13082001 p 150ltbrgt JBCC vol 193 p 249 14PROCESSUAL CIVIL RECONHECIMENTO DE CONCUBINATO E PARTILHA DE BENS PEDIDO ALTERNATIVO DE INDENIZACcedilAtildeO POR SERVICcedilOS PRESTADOS INDEFERIMENTO DE PLANO DA INICIAL IMPOSSIBILIDADE CERCEAMENTO DE DEFESA ASSISTEcircNCIA JUDICIAacuteRIA E GRATUIDADE DA JUSTICcedilA ALEGACcedilAtildeO DA PARTE DESNECESSIDADE DE DEMONSTRACcedilAtildeO DE O ADVOGADO NAtildeO ESTAR SENDO REMUNERADO PRESUNCcedilAtildeO RECURSO PROVIDO Pelo sistema legal vigente faz jus a parte aos benefiacutecios da assistecircncia judiciaacuteria mediante simples afirmaccedilatildeo na proacutepria peticcedilatildeo de que natildeo estaacute em condiccedilotildees de pagar as custas do processo e os honoraacuterios de advogado sem prejuiacutezo proacuteprio ou de sua famiacutelia O deferimento da gratuidade garantia assegurada constitucionalmente aos economicamente hipossuficientes (Constituiccedilatildeo art 5ordm LXXIV) natildeo exige que a parte demonstre que o advogado natildeo estaacute sendo por ela remunerado Enquanto a Justiccedila gratuita isenta de despesas processuais e condenaccedilatildeo em honoraacuterios advocatiacutecios a assistecircncia judiciaacuteria mais ampla enseja tambeacutem o patrociacutenio por profissional habilitado Caracteriza cerceamento de defesa o indeferimento de plano da inicial de accedilatildeo que pretendeu o reconhecimento de concubinato e partilha de bens com pedido alternativo de indenizaccedilatildeo de

171

aplicador do direito exerce um fundamental papel para que o processo natildeo seja um fim em si

mesmo mas sim um instrumento para a materializaccedilatildeo de um direito

Nota-se que o indeterminismo do termo insuficiecircncia de recursos aliado a mera

alegaccedilatildeo da necessidade poderia transviar o sentido da norma devendo o magistrado ficar

atento para que os privilegiados de fortuna natildeo ingressem gratuitamente no feito

Assim havendo elementos no processo que infirmem a alegaccedilatildeo do postulante ndash que

goza de presunccedilatildeo iuris tantum ndash a hipossuficiecircncia deve ser comprovada

Duacutevida fundada quanto agrave pobreza O juiz da causa valendo-se de criteacuterios

objetivos pode entender que a natureza da accedilatildeo movida pelo interessado demonstra que ele possui porte econocircmico para suportar as despesas do processo A declaraccedilatildeo pura e simples do interessado conquanto seja o uacutenico entrave burocraacutetico que se exige para liberar o magistrado para decidir em favor do peticionaacuterio natildeo eacute prova inequiacutevoca daquilo que ele afirma nem obriga o juiz a se curvar aos seus dizeres se de outras provas e circunstacircncias ficar evidenciado que o conceito de pobreza que a parte invoca natildeo eacute aquele que justifica a concessatildeo do privileacutegio Cabe ao magistrado livremente fazer juiacutezo de valor acerca do termo pobreza deferindo ou natildeo o benefiacutecio (NERY JUNIOR NERY 2015 p 477)

Infelizmente a finalidade do benefiacutecio natildeo raras vezes eacute distorcida seja pela

abstraccedilatildeo do conceito ou mesmo pela lisura do ser humano e isso contribui para o aumento de

demandas desqualificadas respaldadas na ausecircncia de riscos no caso de improcedecircncia

Para Maacutercio Pirocircpo Galvatildeo (2010) os mecanismos de acesso agrave justiccedila fomentam

accedilotildees despretensiosas ndash e cita como exemplos as accedilotildees trabalhistas e aquelas do acircmbito dos

Juizados Especiais ndash exclusivamente pela ausecircncia de custo econocircmico defende inclusive

que o acesso ao Judiciaacuterio de forma gratuita virou uma ldquoloteria onde todos querem tentar a

sorterdquo

E continua o autor citando a decisatildeo do Juiz de Direito da 2ordf Vara Ciacutevel da Comarca

de Dourados Dr Joseacute Carlos de Souza que as demandas desnecessaacuterias ldquoabarrotam o Poder

Judiciaacuterio e dificultam o acesso agrave Justiccedila de jurisdicionados com pretensotildees mais nobres

Incentivam o aumento da inadimplecircncia e sedimentam a cultura do natildeo-cumprimento dos

contratos [] Configuram provocaccedilatildeo abusiva da maacutequina judiciaacuteria e maacute-feacute do devedorrdquo

(GALVAtildeO 2010)

Como visto a utilizaccedilatildeo abusiva da gratuidade da justiccedila pode representar o

congestionamento da maacutequina judicial comprometendo a razoaacutevel duraccedilatildeo do processo e ao

serviccedilos prestados sem possibilitar agrave parte a produccedilatildeo de qualquer prova notadamente em se tratando de alegado relacionamento de mais de trinta anos (Recurso Especial nordm 91609SP 4ordf Turma do STJ Rel Min Saacutelvio de Figueiredo Teixeira Recorrente A P M R Recorrida V G F B j 160498 un DJU 080698 p 113)

172

reveacutes de seu proposito servir como oacutebice ao efetivo acesso agrave justiccedila daqueles que tem

realmente tem urgecircncia na prestaccedilatildeo jurisdicional

Talvez uma boa alternativa para se evitar decisotildees diacutespares e a banalizaccedilatildeo do

benefiacutecio ante a carga de subjetividade do seu pressuposto fosse exigir uma comprovaccedilatildeo

miacutenima da insuficiecircncia de recursos Afinal quem realmente necessita do benefiacutecio natildeo teria

dificuldade alguma em demonstrar a sua impossibilidade financeira para arcar com as

despesas processuais

Eacute certo que a Lei nordm 106050 e agora o Coacutedigo de Processo Civil estabelecem ocircnus

ao litigante que de maacute-feacute requereu o benefiacutecio da gratuidade todavia a prova nesse sentido

deve ser contundente o que estimula de certa forma pedidos indiscriminados de gratuidade

uma vez que sopesando os riscos os ganhos prevalecem

Destarte o que se percebe eacute que nesse ponto o legislador civil natildeo conseguiu

encerrar as discussotildees deixando a soluccedilatildeo para a doutrina e a jurisprudecircncia agora basta

saber como as discussotildees seratildeo encaminhadas de modo que natildeo se instale ndash ou aumente ndash um

estado de desconfianccedila em torno do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila em decorrecircncia dos

abusos praticados mas que tambeacutem natildeo se deixe de cumprir a sua preciacutepua finalidade

constitucional de ser um instrumento de acesso ao Judiciaacuterio daqueles que natildeo desfrutam de

plenas condiccedilotildees financeiras

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O atual Coacutedigo de Processo Civil atuou muito positivamente no que pertine ao

instituto da Gratuidade da Justiccedila ele alvoreceu pontos que a Lei nordm 106050 era retroacutegrada e

mesmo silente bem como normatizou questotildees jaacute consolidadas pela jurisprudecircncia

Em contrapartida a legislaccedilatildeo processual civil natildeo se fez clara quanto ao pressuposto

para a concessatildeo do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila mormente porque se limitou a prever

que a simples afirmaccedilatildeo de insuficiecircncia de recursos para pagar as despesas processuais eacute

suficiente ao seu deferimento

Afinal o que insuficiecircncia de recursos Qual o criteacuterio objetivo para se definir quem

se enquadra ou natildeo nesse perfil Mais uma vez a lei que trata sobre a gratuidade da justiccedila

silenciou nesse pormenor reservando ao aplicador do direito a missatildeo de examinar

casuisticamente quem eacute merecedor ou natildeo da benesse partindo de uma interpretaccedilatildeo

alicerccedilada na finalidade da lei ndash promover o acesso agrave justiccedila

173

Assim duas questotildees surgem A primeira eacute se o legislador foi relapso ou se ele

propositadamente preferiu a um conceito indeterminado para a concessatildeo do benefiacutecio E a

segunda eacute se ele agiu bem

E ao que se conclui eacute que a preferecircncia por um termo dotado de subjetivismo tem

um propoacutesito qual seja permitir que a lei seja adaptaacutevel as mais diversas situaccedilotildees do

cotidiano forense de modo a tornar o acesso agrave justiccedila um direito fundamental mais efetivo

Conquanto agrave segunda questatildeo (se ele agiu bem) apenas a experiecircncia praacutetica poderaacute dizer

notadamente porque vai depender e muito da consciecircncia do postulante (e seu advogado) o

qual eacute o real sabedor de sua condiccedilatildeo financeira

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ABREU Frederico do Valle Conceito juriacutedico indeterminado interpretaccedilatildeo da lei

processo e suposto poder discricionaacuterio do magistrado Jus Navigandi Teresina ano 9 n

674 10 maio 2005 Disponiacutevel em lthttpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=6674gt

Acesso em 27032016

ANGHER Anne Joyce (Org) Vade mecum acadecircmico de direito Rideel 21ed

atual e ampl Satildeo Paulo Rideel 2015

BRASIL Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Recurso Especial nordm

19980053550-0 Relator Ministro Carlos Alberto Menezes Data de Julgamento 02091999

Data de Publicaccedilatildeo DJ 25101999 p 79

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Agravo Regimental no Recurso

Especial nordm 20140315675-3 Relator Ministro Ricardo Villas Bocircas Cueva Data de

Julgamento 28042015 Data de Publicaccedilatildeo DJe 07052015

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Recurso Especial nordm

20040103656-9 Relator Ministro Carlos Alberto Menezes Direito Data de Julgamento

21112006 Data de Publicaccedilatildeo DJ 16042007 p 184

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Recurso Especial

20000060786-0 Relator Ministro Carlos Alberto Menezes Direito Data de Julgamento

22052001 Data de Publicaccedilatildeo 13082001 p 150

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Quarta Turma Recurso Especial 91609SP

Relator Ministro Saacutelvio de Figueiredo Teixeira Data de Publicaccedilatildeo 08061998 p 113

174

_____ Tribunal Regional Federal (4ordf Regiatildeo) Terceira Turma Agravo nordm

50101513420134040000 5010151-3420134040000 Relator Nicolau Konkel Juacutenior Data

de Julgamento 14082013Data de Publicaccedilatildeo 16082013

_____ Tribunal de Justiccedila do Estado do Paranaacute 16ordf Cacircmara Ciacutevel Agravo de

Instrumento nordm 14520235 PR 1452023-5 (Decisatildeo Monocraacutetica) Relator Paulo Cezar Bellio

Data de Julgamento 27102015 Data de Publicaccedilatildeo 05112015

CAPPELLETTI Mauro GARTH Bryant Acesso agrave justiccedila Trad Ellen Gracie

Northfleet Porto Alegre Seacutergio Fabris Editor 2002

CARNEIRO Paulo Cezar Pinheiro Normas Fundamentais do Processo Civil Em

Breves Comentaacuterios ao Novo Coacutedigo de Processo Civil Tereza Arruda Alvim Wambier et

al[coord] Satildeo Paulo Editora RT 2015

DELLORE Luiz Novo CPC o lado A da justiccedila gratuita Disponiacutevel em http

httpjotauolcombrjustica-gratuita-novo-cpc-lado publicado em 09 de marccedilo de 2015

Acesso em 27032016

______ Novo CPC o lado B da justiccedila gratuita Disponiacutevel em

httpjotauolcombrnovo-cpc-o-lado-b-da-justica-gratuita publicado em 13 de abril de

2015 Acesso em 27032016

GALESKI JUNIOR Irineu RIBEIRO Marcia Carla Pereira Direito e economia

uma abordagem sobre a assistecircncia judiciaacuteria gratuita In Publica Direito (recurso eletrocircnico

on-line) Fortaleza CONPEDI 2010

GALVAtildeO Maacutercio Pirocircpo Abuso de direito agrave gratuidade da Justiccedila Revista Jus

Navigandi Teresina ano 17 n 3339 22 ago 2012 Disponiacutevel em

lthttpsjuscombrartigos22466gt Acesso em 27032016

MARCACINI Augusto Tavares Rosa Assistecircncia Juriacutedica Assistecircncia Judiciaacuteria e

Justiccedila Gratuita Satildeo Paulo Editora Forense 2009 (ediccedilatildeo eletrocircnica)

MEDINA Joseacute Miguel Garcia Novo Coacutedigo de Processo Civil Comentado Satildeo

Paulo Editora RT 2015

NERY JUNIOR Nelson e NERY Rosa Maria de Andrade Comentaacuterios ao Coacutedigo

de Processo Civil Satildeo Paulo Editora RT 2015

NETO Emeteacuterio Silva de Oliveira VIANA Juvecircncio Vasconcelos Acesso agrave justiccedila

e o novo Coacutedigo de Processo Civil um olhar criacutetico Em Acesso agrave justiccedila (recurso eletrocircnico

on-line) Florianoacutepolis CONPEDIUFSC 2015

175

OLIVEIRA Rafael Alexandria de Da Gratuidade da Justiccedila Em Breves

Comentaacuterios ao Novo Coacutedigo de Processo Civil Tereza Arruda Alvim Wambier et

al[coord] Satildeo Paulo Editora RT 2015

SANTOS Boaventura de Souza Pela matildeo de Alice o social e o poliacutetico

na poacutes-modernidade Satildeo Paulo Cortez 2003

TARTURE Flaacutevia DELLORE Luiz Gratuidade da justiccedila no novo CPC Em

Revista de Processo Satildeo Paulo v 39 n 236 p 305-323 out 2014

176

Esse paraacutegrafo deu ensejo a algumas criacuteticas para Luiz Dellore o questionamento

judicial acerca da capacidade financeira da parte para arcar com as despesas notariais e

registrais

[] natildeo parece ser uma atividade jurisdicional mas administrativa em analogia agrave lsquosuscitaccedilatildeo de duacutevidarsquo hoje existente Trata-se de uma esdruacutexula inovaccedilatildeo que traz ainda mais temas para decisatildeo do Poder Judiciaacuterio Assim aleacutem de todas as questotildees que o juiz deve decidir teraacute ainda de apreciar se uma parte de um processo jaacute findo ainda tem ou natildeo dificuldades financeiras para fins de pagamento de taxas de cartoacuterio (2015)

Ainda no que tange a abrangecircncia do benefiacutecio impende destacar que as multas

processuais de qualquer natureza ndash como por exemplo as multas por litigacircncia de maacute-feacute e por

ato atentatoacuterio a dignidade da justiccedila ndash natildeo estatildeo abarcadas pela gratuidade da justiccedila pois

elas satildeo puniccedilotildees a comportamentos iliacutecitos ldquoE natildeo poderia ser diferente a gratuidade da

justiccedila natildeo pode servir como escudo para a procrastinaccedilatildeo e a litigacircncia de maacute-feacute Daiacute a razatildeo

pela qual o beneficiaacuterio da justiccedila gratuita deve ser executado normalmente em relaccedilatildeo a

elesrdquo (NERY JUNIOR NERY 2015 p 474)

25 Modulaccedilatildeo do benefiacutecio

Outra importante novidade trazida pela Lei nordm 1310515 foi a possibilidade do juiz

modular os efeitos do benefiacutecio abrangendo apenas alguns dos custos do processo ou mesmo

parcelar as despesas processuais (art 98 sectsect5ordm e 6ordm CPC)

Tal medida eacute interessante ao passo que o postulante pode ter condiccedilotildees financeiras

de arcar apenas com algumas despesas processuais como por exemplo as custas e taxas

todavia natildeo dispor de recursos para pagar os honoraacuterios periciais por exemplo Ainda ao

longo do processo pode sobrevir mudanccedila na condiccedilatildeo financeira da parte e ela passar por

dificuldades para custear as despesas processuais nesse ponto o juiz poderaacute conceder-lhe os

benefiacutecios a partir de tal momento

A possibilidade de parcelamento das despesas processuais sugere que o legislador

quis dizer que a concessatildeo da gratuidade da justiccedila eacute a uacuteltima opccedilatildeo sendo possiacutevel agrave parte

arcar com as despesas de forma parcelada o juiz deve optar pelo seu seccionamento e natildeo a

sua dispensa (NERY JUNIOR NERY 2015 p 474)

26 Responsabilidade do beneficiaacuterio

A gratuidade da justiccedila como jaacute dito eacute um instrumento do acesso agrave justiccedila daqueles

que se declaram financeiramente desprovidos de condiccedilotildees de custear o processo Isso

164

significa que se o beneficiaacuterio for perdedor em uma demanda ele seraacute igualmente responsaacutevel

pelo pagamento do ocircnus inerente a sua derrota a diferenccedila reside no fato de poder exigir ou

natildeo a sua cobranccedila

Se o beneficiaacuterio for vencido ele teraacute responsabilidade pelas despesas processuais

ele deveraacute reembolsar os gastos realizados pela outra parte seraacute condenado agraves verbas

sucumbenciais ficando todavia sob condiccedilatildeo suspensiva de exigibilidade podendo ser

cobradas pelo credor no prazo de 5 (cinco) anos contados do tracircnsito em julgado da decisatildeo

que fixou a sucumbecircncia desde que demonstre a ocorrecircncia um fato superveniente que

alterou a condiccedilatildeo financeira do beneficiaacuterio (MEDINA 2015 p 188-189)

Repisa-se a gratuidade natildeo isenta o seu beneficiaacuterio do pagamento das despesas

processuais tatildeo somente as coloca sob condiccedilatildeo suspensiva de exigibilidade

27 Requerimento e impugnaccedilatildeo

O benefiacutecio da gratuidade natildeo pode ser concedido de ofiacutecio pelo juiz devendo a

parte interessada requerecirc-lo no primeiro momento em que ela ingressa no feito ndash peticcedilatildeo

inicial contestaccedilatildeo ou na peccedila de ingresso do terceiro interveniente ndash ou em um momento

posterior ndash por meio de peticcedilatildeo simples ou mesmo no bojo de outra manifestaccedilatildeo ndash inclusive

na m grau recursal (art 99 caput e sect1ordm do CPC)

Nesse aspecto natildeo haacute um momento processual preacute-estabelecido e uacutenico para o

requerimento da gratuidade da justiccedila todavia o tempo do pedido eacute importante para delimitar

quais satildeo as despesas processuais que se dispensa o adiantamento isto porque a concessatildeo do

benefiacutecio tem efeito prospectivo natildeo alcanccedilando os atos processuais jaacute praticados

(OLIVEIRA 2015 p 371-372)

O requerimento natildeo demanda maiores formalidades devendo a parte apenas declarar

a insuficiecircncia de recursos se pessoa natural no caso de pessoa juriacutedica deveraacute ainda

comprovar a necessidade do benefiacutecio

O juiz ao analisar o pedido de gratuidade formulado apenas o indeferiraacute se nos autos

existiram elementos que demonstrem que o postulante natildeo preenche o pressuposto da

insuficiecircncia de recursos Todavia antes de indeferi-lo deve oportunizar a parte que

comprove a alegada carecircncia financeira para custear o processo (art 99 sect2ordm CPC)

A oportunidade de ser ouvido antes do indeferimento do pedido de gratuidade da

justiccedila somente se aplica a pessoa natural uma vez que em seu favor haacute presunccedilatildeo de

veracidade da alegaccedilatildeo de hipossuficiecircncia natildeo necessitando juntar qual prova nesse sentido

165

no momento da realizaccedilatildeo do pedido diferentemente do que acontece com a pessoa juriacutedica

que ao postular o benefiacutecio jaacute deve comprovar a sua necessidade (OLIVEIRA 2015 p 373)

Importante destacar que o Coacutedigo de Processo Civil encerrando discussotildees

expressamente previu que a assistecircncia do requerente por advogado particular por si soacute natildeo

constitui oacutebice para a concessatildeo do benefiacutecio (art 99 sect4ordm)

Na hipoacutetese de natildeo concessatildeo do pedido o requerente poderaacute interpor agravo de

instrumento nos termos do art 101 caput do CPC salvo se a questatildeo for solvida na

sentenccedila hipoacutetese em que caberaacute apelaccedilatildeo De outro lado se concedido poderaacute a parte

contraacuteria impugnaacute-lo

A impugnaccedilatildeo agrave gratuidade da justiccedila sofreu importantes alteraccedilotildees com o Coacutedigo de

Processo Civil a primeira delas eacute que ela natildeo mais se processa em autos apartados devendo

ser formulada nos proacuteprios autos Sem maiores formalidades a impugnaccedilatildeo deve ser

oferecida pela parte no primeiro momento posterior agrave concessatildeo que lhe couber falar nos

autos ou seja se o benefiacutecio for deferido por ocasiatildeo da peticcedilatildeo inicial deve o reacuteu impugnaacute-

la jaacute na contestaccedilatildeo se concedido ao reacuteu por ocasiatildeo da contestaccedilatildeo deve o autor impugnaacute-la

na reacuteplica se deferido no momento da interposiccedilatildeo do recurso a impugnaccedilatildeo deve ser

oferecida nas contrarrazotildees recursais e se o pedido for superveniente deve a parte contraacuteria

impugnaacute-lo no prazo de 15 (quinze) dias contados de sua concessatildeo

Haacute todavia algumas questotildees que natildeo restaram suficientemente esclarecidas pelo

Coacutedigo de Processo Civil no que concerne a impugnaccedilatildeo agrave gratuidade da Justiccedila Entre elas

o autor Luiz Dellore (2015) aponta o termo inicial do prazo para a impugnaccedilatildeo defendendo o

autor que este deveria se dar a partir do momento que a parte contraacuteria tomasse conhecimento

da situaccedilatildeo de natildeo hipossuficiecircncia da parte sob pena de se limitar o instituto

Outro ponto diz respeito ao ocircnus da prova na impugnaccedilatildeo pois o legislador

manteve-se silente nesse aspecto

A doutrina se inclina a defender que o ocircnus de comprovar que o beneficiaacuterio natildeo faz

jus agrave gratuidade eacute do impugnante ante a existecircncia de presunccedilatildeo relativa da necessidade com

a mera alegaccedilatildeo de insuficiecircncia de recursos (NERY JUNIOR NERY 2015 p 479)

28 Revogaccedilatildeo do benefiacutecio

A revogaccedilatildeo do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila implica na obrigaccedilatildeo da parte ex-

beneficiaacuteria de recolher todas as despesas de deixou de adiantar inclusive as despesas que

foram eventualmente adiantadas pelo ente puacuteblico (periacutecia por exemplo) e as vindouras (art

166

100 paraacutegrafo uacutenico do CPC) isso no caso de a parte natildeo fazer jus ao benefiacutecio desde o

momento em que a requereu (OLIVEIRA 2015 p 377)

No entanto a revogaccedilatildeo pode se dar pelo fato de ter cessado a situaccedilatildeo de

hipossuficiecircncia econocircmica que ensejou o benefiacutecio hipoacutetese em que ela apenas teraacute que

arcar com as despesas processuais a partir do momento que passou a dispor da boa condiccedilatildeo

financeira

Ainda evidenciada a maacute-feacute do ex-beneficiaacuterio o Coacutedigo de Processo Civil prevecirc a

aplicaccedilatildeo de multa de ateacute o deacutecuplo das despesas que tiver deixado de adiantar ndash nesse caso

natildeo basta a mera revogaccedilatildeo do benefiacutecio

Decidiu-se antes da entrada em vigor do Coacutedigo que ldquodeve ser cabalmente

demonstrada a intenccedilatildeo da parte em induzir o Poder Judiciaacuterio a erro se aproveitando

indevidamente do benefiacuteciordquo (MEDINA 2015 p 191)

Em linhas gerais essas satildeo algumas das alteraccedilotildees consubstanciadas pelo Coacutedigo de

Processo Civil em relaccedilatildeo ao benefiacutecio da gratuidade da justiccedila malgrado a lei processual natildeo

tenha esgotado o tema esclareceu vaacuterios pontos que antes era debatido pela jurisprudecircncia

Aleacutem do mais importante pontuar que o legislador reformador repensou o processo

civil atento aos anseios da sociedade moderna e preocupado com a efetividade dos direitos

constitucionais ndash acesso agrave justiccedila por exemplo ndash prevendo expressamente no artigo 1ordm do

CPC que ldquoo processo civil seraacute ordenado disciplinado e interpretado conforme os valores e

normas fundamentais estabelecidas na Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasilrdquo

Ocorre entretanto que mesmo diante de significativas alteraccedilotildees o legislador ainda

natildeo preencheu ou objetivou o pressuposto de concessatildeo dos benefiacutecios anteriormente citados

sendo remanescente o subjetivismo da anaacutelise do termo ldquoinsuficiecircncia de recursosrdquo o que

passaraacute a ser refletido no presente artigo

3 O SUBJETIVISMO DO PRESSUPOSTO INSUFICIEcircNCIA DE RECURSOS

Conforme jaacute visto o Coacutedigo de Processo Civil alterou o requisito para a concessatildeo

do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila bastando a declaraccedilatildeo de insuficiecircncia de recursos pela

pessoa natural e a sua comprovaccedilatildeo no caso de pessoa juriacutedica

Todavia eacute inegaacutevel a carga de subjetividade que haacute no conceito de insuficiecircncia de

recursos e como todo conceito juriacutedico vago traz certa inseguranccedila juriacutedica notadamente

porque pode acarretar decisotildees extremamente diacutespares no cotidiano forense uma vez que tal

anaacutelise (o que eacute insuficiecircncia de recursos) fica a criteacuterio do entendimento de cada

167

magistrado aleacutem do que pode gerar inuacutemeros abusos por parte dos seus requerentes ndash ainda

mais quando a mera alegaccedilatildeo eacute bastante agrave concessatildeo do benefiacutecio ndash que diferentemente do

que alegam gozam de boa sauacutede financeira para arcar com as despesas processuais

(TARTUCE DELLORE 2015 p 314-315)

Mesmo antes da alteraccedilatildeo do CPC ainda na Lei nordm 106050 jaacute discutia a doutrina e

a jurisprudecircncia acerca dos pressupostos para a concessatildeo do benefiacutecio ante a vagueza dos

conceitos de hipossuficiente necessitado carente de recursos financeiros para arcar com as

custas do processo sem prejuiacutezo do sustento proacuteprio e de sua famiacutelia e a falta de um criteacuterio

objetivo miacutenimo para a concessatildeo do benefiacutecio5

Nada obstante o progresso vivenciado com o Coacutedigo de Processo Civil de 2015 no

que tange a gratuidade da justiccedila vecirc-se que no ponto concernente agrave triagem dos

hipossuficientes de recursos o legislador conservou um conceito juriacutedico indeterminado

Segundo Frederico do Valle Abreu (2005) o conceito juriacutedico indeterminado eacute

caracterizado pela ldquovaguidade semacircntica existente em certa norma com a finalidade de que

ela a norma permaneccedila ao ser aplicada sempre atual e correspondente aos anseios da

sociedade nos vaacuterios momentos histoacutericos em que a lei eacute interpretada e aplicadardquo

Assim o conteuacutedo abstrato do pressuposto insuficiecircncia de recursos tenha sido

propositadamente pensado pelo legislador por entender que o inteacuterprete na anaacutelise casuiacutestica

goza de melhores condiccedilotildees para valoraacute-lo refletindo pois uma decisatildeo mais justa

O autor Augusto Tavares Rosa Marcacini defende que a insuficiecircncia de recursos eacute

um conceito indeterminado e natildeo segue um padratildeo rigoroso por isso a melhor soluccedilatildeo eacute a

anaacutelise caso a caso

O conceito de necessitado natildeo eacute determinado mediante regras riacutegidas matemaacuteticas natildeo se utilizando limites numeacutericos determinados Tecircm direito ao benefiacutecio aqueles que natildeo podem arcar com os gastos necessaacuterios agrave participaccedilatildeo no processo na medida em que contabilizados os seus ganhos e os seus gastos com o proacuteprio sustento e da famiacutelia natildeo lhe reste numeraacuterio suficiente para tanto O direito ao benefiacutecio decorre da indisponibilidade financeira do sujeito Em face da notoacuteria insuficiecircncia do salaacuterio miacutenimo vigente em nosso paiacutes pode ser possiacutevel presumir que aquele que aufere ateacute cinco salaacuterios miacutenimos por exemplo eacute quase que certamente merecedor de usufruir dos benefiacutecios Mas como dissemos natildeo se deve utilizar nuacutemeros fechados como criteacuterio Um chefe de uma famiacutelia numerosa que pague aluguel e que tenha filhos em idade escolar por exemplo mesmo percebendo o equivalente a dez salaacuterios miacutenimos pode natildeo ter condiccedilotildees de arcar com as despesas de um processo De outro lado um jovem que viva com os pais os quais

5 Fernanda Tartuce e Luiz Dellore por exemplo no artigo escrito em coautoria Gratuidade da Justiccedila no novo CPC divergem sobre o assunto enquanto ela acredita ser acertada a opccedilatildeo do legislador em trazer um conceito dotado de subjetividade por outro lado ele discorda defendendo que ainda que a norma deixasse uma margem para a decisatildeo do juiz de acordo com a casuiacutestica deveria ao menos estabelecer um criteacuterio objetivo miacutenimo de modo a evitar disparidades nas decisotildees (2015 314-315)

168

provecircm o seu sustento moradia e estudo e que ganhe uns dois ou trecircs salaacuterios miacutenimos que natildeo satildeo empregados em qualquer despesa essencial para sua mantenccedila pode natildeo ser considerado beneficiaacuterio (2009 p 90-91)

Nesse espectro o aplicador da norma juriacutedica eacute quem tem o poder-dever de

materializar no caso concreto o conceito juriacutedico indeterminado do que eacute ser necessitado

economicamente para arcar com as despesas processuais dando assim maior efetividade ao

preceito constitucional do acesso agrave justiccedila

Atento agraves alteraccedilotildees do Coacutedigo de Processo Civil quanto ao tema leciona Rafael

Alexandria de Oliveira

Insuficiecircncia de recursos Faz jus ao benefiacutecio da gratuidade aquela pessoa com lsquoinsuficiecircncia de recursos para pagar as custas despesas processuais e honoraacuterios advocatiacuteciosrsquo Natildeo se exige a miserabilidade nem estado de necessidade nem tampouco se fala em renda familiar ou faturamento maacuteximos Eacute possiacutevel que uma pessoa natural mesmo com boa renda mensal seja merecedora do benefiacutecio e que tambeacutem o seja aquele sujeito que eacute proprietaacuterio de bens imoacuteveis mas natildeo dispotildee de liquidez A gratuidade judiciaacuteria eacute um dos mecanismos de viabilizaccedilatildeo do acesso agrave justiccedila natildeo se pode exigir que para ter acesso agrave justiccedila o sujeito tenha que comprometer significativamente a sua renda ou tenha que se desfazer de seus bens liquidando-os para angariar recursos e custear o processo A lei natildeo fala em nuacutemeros natildeo estabelece paracircmetros O sujeito que ganha boa renda mensal pode ser tatildeo merecedor do benefiacutecio quanto aquele que sobrevive agrave custa de programas de complementaccedilatildeo de renda O que pode diferenciaacute-los eacute a maior ou menor dificuldade com que o pedido de concessatildeo do benefiacutecio eacute tratado o de melhor renda pode ser chamado a justificar o seu requerimento provando a insuficiecircncia de recursos Por isso mesmo nem sempre o beneficiaacuterio seraacute algueacutem em situaccedilatildeo de necessidade de vulnerabilidade de miseacuteria de penuacuteria Eacute preciso atentar para isso (2015 p 359)

Eacute compreensiacutevel a carga de subjetividade impregnada ao termo insuficiecircncia de

recursos notadamente porque o legislador adotando a teoria do direito processual

constitucional (art 1ordm do CPC) quis que a normativa do benefiacutecio atendesse realmente agraves

exigecircncias da sociedade hodierna deixando ao encargo do juiz o dever juriacutedico de buscar

identificar e adotar a soluccedilatildeo apta a no caso concreto alcanccedilar satisfatoriamente a finalidade6

da norma ndash de que garantir a todos o acesso agrave justiccedila

Todavia eacute cediccedilo que a valoraccedilatildeo de um conceito subjetivo pelo magistrado (assim

como para qualquer pessoa) transcende a sua formaccedilatildeo juriacutedica e mesmo que inconsciente

revela suas convicccedilotildees pessoais (crenccedilas valores referecircncias sociais) deste modo o que no

sentir de um julgador eacute pessoa hipossuficiente aos olhos do outro natildeo o eacute eacute aiacute que repousam

as ldquoinjusticcedilasrdquo

6 Interpretaccedilatildeo teleoloacutegica

169

A falta de a lei definir um criteacuterio objetivo miacutenimo para se determinar o que eacute a

insuficiecircncia de recursos demandou trabalho da doutrina e especialmente da jurisprudecircncia

que mesmo timidamente adotou os mais diversos paracircmetros

Nesse sentido uma das primeiras orientaccedilotildees que surge na jurisprudecircncia eacute a

necessidade de prova cabal da insuficiecircncia de recursos para a concessatildeo do benefiacutecio da

gratuidade agraves pessoas juriacutedicas7 Depois de muita discussatildeo o entendimento sedimentado na

jurisprudecircncia8 foi consagrado pelo legislador no Coacutedigo de Processo Civil de 2015 em seu

artigo 98 caput

Tambeacutem se firmou o entendimento de que o requerente que se dedica a emprestar

dinheiro natildeo faz jus ao benefiacutecio uma vez que tal circunstacircncia eacute incompatiacutevel com a alegada

necessidade (NERY JUNIOR NERY 2015 p 475)

Os Tribunais tambeacutem jaacute fixaram como criteacuterio objetivo para se determinar se o

requerente eacute realmente hipossuficiente a renda mensal inferior a dez salaacuterios miacutenimos9

todavia o Superior Tribunal de Justiccedila jaacute refutou a utilizaccedilatildeo desse criteacuterio sob o fundamento

de que a desconstituiccedilatildeo da presunccedilatildeo estabelecida pela lei de gratuidade de justiccedila exige

perquirir in concreto a atual situaccedilatildeo financeira do requerenterdquo10

Outro paracircmetro que tem sido utilizado pelos juristas para aferir a condiccedilatildeo de

miserabilidade do requerente eacute a faixa de isenccedilatildeo do Imposto de Renda extraiacutedo da tabela

progressiva do tributo devidamente atualizada11

O criteacuterio do patrociacutenio da causa por advogado particular para afastar a benesse jaacute

era rechaccedilado pela jurisprudecircncia12 e foi recepcionado pelo atual Coacutedigo de Processo Civil em

seu artigo 99 sect4ordm 7 Assistecircncia judiciaacuteria Pessoa juriacutedica Demonstraccedilatildeo cabal da insuficiecircncia de recursos 1 Ademais de fundamentado exclusivamente na interpretaccedilatildeo do art 5ordm LXXIV da Constituiccedilatildeo Federal o certo eacute que a Corte jaacute assentou a necessidade de demonstraccedilatildeo cabal da insuficiecircncia de recursos para que a empresa possa desfrutar dos benefiacutecios da assistecircncia judiciaacuteria 2 Recurso especial natildeo conhecido (STJ - REsp 182557 RJ 19980053550-0 Relator Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO Data de Julgamento 02091999 T3 - TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJ 25101999 p 79) 8 Suacutemula 481 STJ Faz jus ao benefiacutecio da justiccedila gratuita a pessoa juriacutedica com ou sem fins lucrativos que demonstrar sua impossibilidade de arcar com os encargos processuais 9 ADMINISTRATIVO AGRAVO DE INSTRUMENTO ASSISTEcircNCIA JUDICIAacuteRIA GRATUITA - AJG PARAcircMETRO DEZ SALAacuteRIOS MIacuteNIMOS 1 A Segunda Seccedilatildeo desta Corte vem consolidando entendimento no sentido de fixar patamar objetivo para a concessatildeo do benefiacutecio da AJG qual seja dez salaacuterios miacutenimo 2 Hipoacutetese em que a agravante comprovou renda mensal bem inferior ao limite paradigmaacutetico destacado inexistindo qualquer razatildeo para o indeferimento do pleito em prestiacutegio agrave norma de regecircncia (Lei n 10601950) e ao princiacutepio da acessibilidade (artigo 5ordm XXXV Constituiccedilatildeo Federal) (TRF-4 - AG 50101513420134040000 5010151-3420134040000 Relator NICOLAU KONKEL JUacuteNIOR Data de Julgamento 14082013 TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DE 16082013) 10 STJ - AgRg no AREsp 626487 MG 20140315675-3 Relator Ministro RICARDO VILLAS BOcircAS CUEVA Data de Julgamento 28042015 T3 - TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJe 07052015 11 TJ-PR - AI 14520235 PR 1452023-5 (Decisatildeo Monocraacutetica) Relator Paulo Cezar Bellio Data de Julgamento 27102015 16ordf Cacircmara Ciacutevel Data de Publicaccedilatildeo DJ 1683 05112015

170

O Superior Tribunal de Justiccedila preconiza que o inteacuterprete deve conjugar o binocircmio

necessidade-possibilidade assim para se conceder o benefiacutecio da gratuidade da justiccedila deve-

se considerar natildeo apenas os rendimentos mensais do requerente mas tambeacutem o

comprometimento de suas despesas13

A anaacutelise da condiccedilatildeo financeira do postulante deve ficar restrita a sua situaccedilatildeo

presente e natildeo ao seu histoacuterico de riquezas o simples fato de o requerente jaacute ter sido rico

empresaacuterio ou pessoa de posses natildeo significa que natildeo possa ser hoje pessoa pobre na

acepccedilatildeo juriacutedica do termo e necessitar da assistecircncia judiciaacuteria Da mesma forma a reciacuteproca

eacute verdadeira o pobre que eacute beneficiaacuterio da gratuidade pode por fatores supervenientes

tornar-se pessoa abastada financeiramente o que certamente lhe cassaraacute o benefiacutecio (NERY

JUNIOR NERY 2015 p 477)

Destarte a adoccedilatildeo pelo juiz de um paracircmetro como ponto de partida para verificar o

preenchimento dos requisitos para a concessatildeo da justiccedila gratuita natildeo deve ser visto como

violador da norma Bem da verdade a gratuidade da justiccedila eacute uma das portas de acesso ao

Poder Judiciaacuterio entretanto natildeo pode ser utilizada pelo beneficiaacuterio tatildeo-somente para se

furtar das obrigaccedilotildees oriundas do processo

A Lei nordm 106050 exigia em sua redaccedilatildeo original que o requerente comprovasse o

estado de pobreza alegado hoje ndash a partir da nova redaccedilatildeo dada ao art 4ordm sect1ordm da referida lei

pela Lei Federal nordm 751086 ndash basta a simples afirmaccedilatildeo de necessidade do benefiacutecio o que

inclusive eacute referendado pela jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila14 Nesse sentir o

12 Assistecircncia judiciaacuteria Defensoria Puacuteblica Advogado particular Interpretaccedilatildeo da Lei nordm 106050 1 Natildeo eacute suficiente para afastar a assistecircncia judiciaacuteria a existecircncia de advogado contratado O que a lei especial de regecircncia exige eacute a presenccedila do estado de pobreza ou seja da necessidade da assistecircncia judiciaacuteria por impossibilidade de responder pelas custas que poderaacute ser enfrentada com prova que a desfaccedila Natildeo serve para medir isso a qualidade do defensor se puacuteblico ou particular 2 Recurso especial conhecido e provido (STJ - REsp 679198 PR 20040103656-9 Relator Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO Data de Julgamento 21112006 T3 - TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJ 16042007 p 184) 13 STJ - REsp 263781 SP 20000060786-0 Relator Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO Data de Julgamento 22052001 T3 - TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo lt-- DTPB 20010813ltbrgt --gt DJ 13082001 p 150ltbrgt JBCC vol 193 p 249 14PROCESSUAL CIVIL RECONHECIMENTO DE CONCUBINATO E PARTILHA DE BENS PEDIDO ALTERNATIVO DE INDENIZACcedilAtildeO POR SERVICcedilOS PRESTADOS INDEFERIMENTO DE PLANO DA INICIAL IMPOSSIBILIDADE CERCEAMENTO DE DEFESA ASSISTEcircNCIA JUDICIAacuteRIA E GRATUIDADE DA JUSTICcedilA ALEGACcedilAtildeO DA PARTE DESNECESSIDADE DE DEMONSTRACcedilAtildeO DE O ADVOGADO NAtildeO ESTAR SENDO REMUNERADO PRESUNCcedilAtildeO RECURSO PROVIDO Pelo sistema legal vigente faz jus a parte aos benefiacutecios da assistecircncia judiciaacuteria mediante simples afirmaccedilatildeo na proacutepria peticcedilatildeo de que natildeo estaacute em condiccedilotildees de pagar as custas do processo e os honoraacuterios de advogado sem prejuiacutezo proacuteprio ou de sua famiacutelia O deferimento da gratuidade garantia assegurada constitucionalmente aos economicamente hipossuficientes (Constituiccedilatildeo art 5ordm LXXIV) natildeo exige que a parte demonstre que o advogado natildeo estaacute sendo por ela remunerado Enquanto a Justiccedila gratuita isenta de despesas processuais e condenaccedilatildeo em honoraacuterios advocatiacutecios a assistecircncia judiciaacuteria mais ampla enseja tambeacutem o patrociacutenio por profissional habilitado Caracteriza cerceamento de defesa o indeferimento de plano da inicial de accedilatildeo que pretendeu o reconhecimento de concubinato e partilha de bens com pedido alternativo de indenizaccedilatildeo de

171

aplicador do direito exerce um fundamental papel para que o processo natildeo seja um fim em si

mesmo mas sim um instrumento para a materializaccedilatildeo de um direito

Nota-se que o indeterminismo do termo insuficiecircncia de recursos aliado a mera

alegaccedilatildeo da necessidade poderia transviar o sentido da norma devendo o magistrado ficar

atento para que os privilegiados de fortuna natildeo ingressem gratuitamente no feito

Assim havendo elementos no processo que infirmem a alegaccedilatildeo do postulante ndash que

goza de presunccedilatildeo iuris tantum ndash a hipossuficiecircncia deve ser comprovada

Duacutevida fundada quanto agrave pobreza O juiz da causa valendo-se de criteacuterios

objetivos pode entender que a natureza da accedilatildeo movida pelo interessado demonstra que ele possui porte econocircmico para suportar as despesas do processo A declaraccedilatildeo pura e simples do interessado conquanto seja o uacutenico entrave burocraacutetico que se exige para liberar o magistrado para decidir em favor do peticionaacuterio natildeo eacute prova inequiacutevoca daquilo que ele afirma nem obriga o juiz a se curvar aos seus dizeres se de outras provas e circunstacircncias ficar evidenciado que o conceito de pobreza que a parte invoca natildeo eacute aquele que justifica a concessatildeo do privileacutegio Cabe ao magistrado livremente fazer juiacutezo de valor acerca do termo pobreza deferindo ou natildeo o benefiacutecio (NERY JUNIOR NERY 2015 p 477)

Infelizmente a finalidade do benefiacutecio natildeo raras vezes eacute distorcida seja pela

abstraccedilatildeo do conceito ou mesmo pela lisura do ser humano e isso contribui para o aumento de

demandas desqualificadas respaldadas na ausecircncia de riscos no caso de improcedecircncia

Para Maacutercio Pirocircpo Galvatildeo (2010) os mecanismos de acesso agrave justiccedila fomentam

accedilotildees despretensiosas ndash e cita como exemplos as accedilotildees trabalhistas e aquelas do acircmbito dos

Juizados Especiais ndash exclusivamente pela ausecircncia de custo econocircmico defende inclusive

que o acesso ao Judiciaacuterio de forma gratuita virou uma ldquoloteria onde todos querem tentar a

sorterdquo

E continua o autor citando a decisatildeo do Juiz de Direito da 2ordf Vara Ciacutevel da Comarca

de Dourados Dr Joseacute Carlos de Souza que as demandas desnecessaacuterias ldquoabarrotam o Poder

Judiciaacuterio e dificultam o acesso agrave Justiccedila de jurisdicionados com pretensotildees mais nobres

Incentivam o aumento da inadimplecircncia e sedimentam a cultura do natildeo-cumprimento dos

contratos [] Configuram provocaccedilatildeo abusiva da maacutequina judiciaacuteria e maacute-feacute do devedorrdquo

(GALVAtildeO 2010)

Como visto a utilizaccedilatildeo abusiva da gratuidade da justiccedila pode representar o

congestionamento da maacutequina judicial comprometendo a razoaacutevel duraccedilatildeo do processo e ao

serviccedilos prestados sem possibilitar agrave parte a produccedilatildeo de qualquer prova notadamente em se tratando de alegado relacionamento de mais de trinta anos (Recurso Especial nordm 91609SP 4ordf Turma do STJ Rel Min Saacutelvio de Figueiredo Teixeira Recorrente A P M R Recorrida V G F B j 160498 un DJU 080698 p 113)

172

reveacutes de seu proposito servir como oacutebice ao efetivo acesso agrave justiccedila daqueles que tem

realmente tem urgecircncia na prestaccedilatildeo jurisdicional

Talvez uma boa alternativa para se evitar decisotildees diacutespares e a banalizaccedilatildeo do

benefiacutecio ante a carga de subjetividade do seu pressuposto fosse exigir uma comprovaccedilatildeo

miacutenima da insuficiecircncia de recursos Afinal quem realmente necessita do benefiacutecio natildeo teria

dificuldade alguma em demonstrar a sua impossibilidade financeira para arcar com as

despesas processuais

Eacute certo que a Lei nordm 106050 e agora o Coacutedigo de Processo Civil estabelecem ocircnus

ao litigante que de maacute-feacute requereu o benefiacutecio da gratuidade todavia a prova nesse sentido

deve ser contundente o que estimula de certa forma pedidos indiscriminados de gratuidade

uma vez que sopesando os riscos os ganhos prevalecem

Destarte o que se percebe eacute que nesse ponto o legislador civil natildeo conseguiu

encerrar as discussotildees deixando a soluccedilatildeo para a doutrina e a jurisprudecircncia agora basta

saber como as discussotildees seratildeo encaminhadas de modo que natildeo se instale ndash ou aumente ndash um

estado de desconfianccedila em torno do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila em decorrecircncia dos

abusos praticados mas que tambeacutem natildeo se deixe de cumprir a sua preciacutepua finalidade

constitucional de ser um instrumento de acesso ao Judiciaacuterio daqueles que natildeo desfrutam de

plenas condiccedilotildees financeiras

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O atual Coacutedigo de Processo Civil atuou muito positivamente no que pertine ao

instituto da Gratuidade da Justiccedila ele alvoreceu pontos que a Lei nordm 106050 era retroacutegrada e

mesmo silente bem como normatizou questotildees jaacute consolidadas pela jurisprudecircncia

Em contrapartida a legislaccedilatildeo processual civil natildeo se fez clara quanto ao pressuposto

para a concessatildeo do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila mormente porque se limitou a prever

que a simples afirmaccedilatildeo de insuficiecircncia de recursos para pagar as despesas processuais eacute

suficiente ao seu deferimento

Afinal o que insuficiecircncia de recursos Qual o criteacuterio objetivo para se definir quem

se enquadra ou natildeo nesse perfil Mais uma vez a lei que trata sobre a gratuidade da justiccedila

silenciou nesse pormenor reservando ao aplicador do direito a missatildeo de examinar

casuisticamente quem eacute merecedor ou natildeo da benesse partindo de uma interpretaccedilatildeo

alicerccedilada na finalidade da lei ndash promover o acesso agrave justiccedila

173

Assim duas questotildees surgem A primeira eacute se o legislador foi relapso ou se ele

propositadamente preferiu a um conceito indeterminado para a concessatildeo do benefiacutecio E a

segunda eacute se ele agiu bem

E ao que se conclui eacute que a preferecircncia por um termo dotado de subjetivismo tem

um propoacutesito qual seja permitir que a lei seja adaptaacutevel as mais diversas situaccedilotildees do

cotidiano forense de modo a tornar o acesso agrave justiccedila um direito fundamental mais efetivo

Conquanto agrave segunda questatildeo (se ele agiu bem) apenas a experiecircncia praacutetica poderaacute dizer

notadamente porque vai depender e muito da consciecircncia do postulante (e seu advogado) o

qual eacute o real sabedor de sua condiccedilatildeo financeira

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ABREU Frederico do Valle Conceito juriacutedico indeterminado interpretaccedilatildeo da lei

processo e suposto poder discricionaacuterio do magistrado Jus Navigandi Teresina ano 9 n

674 10 maio 2005 Disponiacutevel em lthttpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=6674gt

Acesso em 27032016

ANGHER Anne Joyce (Org) Vade mecum acadecircmico de direito Rideel 21ed

atual e ampl Satildeo Paulo Rideel 2015

BRASIL Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Recurso Especial nordm

19980053550-0 Relator Ministro Carlos Alberto Menezes Data de Julgamento 02091999

Data de Publicaccedilatildeo DJ 25101999 p 79

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Agravo Regimental no Recurso

Especial nordm 20140315675-3 Relator Ministro Ricardo Villas Bocircas Cueva Data de

Julgamento 28042015 Data de Publicaccedilatildeo DJe 07052015

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Recurso Especial nordm

20040103656-9 Relator Ministro Carlos Alberto Menezes Direito Data de Julgamento

21112006 Data de Publicaccedilatildeo DJ 16042007 p 184

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Recurso Especial

20000060786-0 Relator Ministro Carlos Alberto Menezes Direito Data de Julgamento

22052001 Data de Publicaccedilatildeo 13082001 p 150

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Quarta Turma Recurso Especial 91609SP

Relator Ministro Saacutelvio de Figueiredo Teixeira Data de Publicaccedilatildeo 08061998 p 113

174

_____ Tribunal Regional Federal (4ordf Regiatildeo) Terceira Turma Agravo nordm

50101513420134040000 5010151-3420134040000 Relator Nicolau Konkel Juacutenior Data

de Julgamento 14082013Data de Publicaccedilatildeo 16082013

_____ Tribunal de Justiccedila do Estado do Paranaacute 16ordf Cacircmara Ciacutevel Agravo de

Instrumento nordm 14520235 PR 1452023-5 (Decisatildeo Monocraacutetica) Relator Paulo Cezar Bellio

Data de Julgamento 27102015 Data de Publicaccedilatildeo 05112015

CAPPELLETTI Mauro GARTH Bryant Acesso agrave justiccedila Trad Ellen Gracie

Northfleet Porto Alegre Seacutergio Fabris Editor 2002

CARNEIRO Paulo Cezar Pinheiro Normas Fundamentais do Processo Civil Em

Breves Comentaacuterios ao Novo Coacutedigo de Processo Civil Tereza Arruda Alvim Wambier et

al[coord] Satildeo Paulo Editora RT 2015

DELLORE Luiz Novo CPC o lado A da justiccedila gratuita Disponiacutevel em http

httpjotauolcombrjustica-gratuita-novo-cpc-lado publicado em 09 de marccedilo de 2015

Acesso em 27032016

______ Novo CPC o lado B da justiccedila gratuita Disponiacutevel em

httpjotauolcombrnovo-cpc-o-lado-b-da-justica-gratuita publicado em 13 de abril de

2015 Acesso em 27032016

GALESKI JUNIOR Irineu RIBEIRO Marcia Carla Pereira Direito e economia

uma abordagem sobre a assistecircncia judiciaacuteria gratuita In Publica Direito (recurso eletrocircnico

on-line) Fortaleza CONPEDI 2010

GALVAtildeO Maacutercio Pirocircpo Abuso de direito agrave gratuidade da Justiccedila Revista Jus

Navigandi Teresina ano 17 n 3339 22 ago 2012 Disponiacutevel em

lthttpsjuscombrartigos22466gt Acesso em 27032016

MARCACINI Augusto Tavares Rosa Assistecircncia Juriacutedica Assistecircncia Judiciaacuteria e

Justiccedila Gratuita Satildeo Paulo Editora Forense 2009 (ediccedilatildeo eletrocircnica)

MEDINA Joseacute Miguel Garcia Novo Coacutedigo de Processo Civil Comentado Satildeo

Paulo Editora RT 2015

NERY JUNIOR Nelson e NERY Rosa Maria de Andrade Comentaacuterios ao Coacutedigo

de Processo Civil Satildeo Paulo Editora RT 2015

NETO Emeteacuterio Silva de Oliveira VIANA Juvecircncio Vasconcelos Acesso agrave justiccedila

e o novo Coacutedigo de Processo Civil um olhar criacutetico Em Acesso agrave justiccedila (recurso eletrocircnico

on-line) Florianoacutepolis CONPEDIUFSC 2015

175

OLIVEIRA Rafael Alexandria de Da Gratuidade da Justiccedila Em Breves

Comentaacuterios ao Novo Coacutedigo de Processo Civil Tereza Arruda Alvim Wambier et

al[coord] Satildeo Paulo Editora RT 2015

SANTOS Boaventura de Souza Pela matildeo de Alice o social e o poliacutetico

na poacutes-modernidade Satildeo Paulo Cortez 2003

TARTURE Flaacutevia DELLORE Luiz Gratuidade da justiccedila no novo CPC Em

Revista de Processo Satildeo Paulo v 39 n 236 p 305-323 out 2014

176

significa que se o beneficiaacuterio for perdedor em uma demanda ele seraacute igualmente responsaacutevel

pelo pagamento do ocircnus inerente a sua derrota a diferenccedila reside no fato de poder exigir ou

natildeo a sua cobranccedila

Se o beneficiaacuterio for vencido ele teraacute responsabilidade pelas despesas processuais

ele deveraacute reembolsar os gastos realizados pela outra parte seraacute condenado agraves verbas

sucumbenciais ficando todavia sob condiccedilatildeo suspensiva de exigibilidade podendo ser

cobradas pelo credor no prazo de 5 (cinco) anos contados do tracircnsito em julgado da decisatildeo

que fixou a sucumbecircncia desde que demonstre a ocorrecircncia um fato superveniente que

alterou a condiccedilatildeo financeira do beneficiaacuterio (MEDINA 2015 p 188-189)

Repisa-se a gratuidade natildeo isenta o seu beneficiaacuterio do pagamento das despesas

processuais tatildeo somente as coloca sob condiccedilatildeo suspensiva de exigibilidade

27 Requerimento e impugnaccedilatildeo

O benefiacutecio da gratuidade natildeo pode ser concedido de ofiacutecio pelo juiz devendo a

parte interessada requerecirc-lo no primeiro momento em que ela ingressa no feito ndash peticcedilatildeo

inicial contestaccedilatildeo ou na peccedila de ingresso do terceiro interveniente ndash ou em um momento

posterior ndash por meio de peticcedilatildeo simples ou mesmo no bojo de outra manifestaccedilatildeo ndash inclusive

na m grau recursal (art 99 caput e sect1ordm do CPC)

Nesse aspecto natildeo haacute um momento processual preacute-estabelecido e uacutenico para o

requerimento da gratuidade da justiccedila todavia o tempo do pedido eacute importante para delimitar

quais satildeo as despesas processuais que se dispensa o adiantamento isto porque a concessatildeo do

benefiacutecio tem efeito prospectivo natildeo alcanccedilando os atos processuais jaacute praticados

(OLIVEIRA 2015 p 371-372)

O requerimento natildeo demanda maiores formalidades devendo a parte apenas declarar

a insuficiecircncia de recursos se pessoa natural no caso de pessoa juriacutedica deveraacute ainda

comprovar a necessidade do benefiacutecio

O juiz ao analisar o pedido de gratuidade formulado apenas o indeferiraacute se nos autos

existiram elementos que demonstrem que o postulante natildeo preenche o pressuposto da

insuficiecircncia de recursos Todavia antes de indeferi-lo deve oportunizar a parte que

comprove a alegada carecircncia financeira para custear o processo (art 99 sect2ordm CPC)

A oportunidade de ser ouvido antes do indeferimento do pedido de gratuidade da

justiccedila somente se aplica a pessoa natural uma vez que em seu favor haacute presunccedilatildeo de

veracidade da alegaccedilatildeo de hipossuficiecircncia natildeo necessitando juntar qual prova nesse sentido

165

no momento da realizaccedilatildeo do pedido diferentemente do que acontece com a pessoa juriacutedica

que ao postular o benefiacutecio jaacute deve comprovar a sua necessidade (OLIVEIRA 2015 p 373)

Importante destacar que o Coacutedigo de Processo Civil encerrando discussotildees

expressamente previu que a assistecircncia do requerente por advogado particular por si soacute natildeo

constitui oacutebice para a concessatildeo do benefiacutecio (art 99 sect4ordm)

Na hipoacutetese de natildeo concessatildeo do pedido o requerente poderaacute interpor agravo de

instrumento nos termos do art 101 caput do CPC salvo se a questatildeo for solvida na

sentenccedila hipoacutetese em que caberaacute apelaccedilatildeo De outro lado se concedido poderaacute a parte

contraacuteria impugnaacute-lo

A impugnaccedilatildeo agrave gratuidade da justiccedila sofreu importantes alteraccedilotildees com o Coacutedigo de

Processo Civil a primeira delas eacute que ela natildeo mais se processa em autos apartados devendo

ser formulada nos proacuteprios autos Sem maiores formalidades a impugnaccedilatildeo deve ser

oferecida pela parte no primeiro momento posterior agrave concessatildeo que lhe couber falar nos

autos ou seja se o benefiacutecio for deferido por ocasiatildeo da peticcedilatildeo inicial deve o reacuteu impugnaacute-

la jaacute na contestaccedilatildeo se concedido ao reacuteu por ocasiatildeo da contestaccedilatildeo deve o autor impugnaacute-la

na reacuteplica se deferido no momento da interposiccedilatildeo do recurso a impugnaccedilatildeo deve ser

oferecida nas contrarrazotildees recursais e se o pedido for superveniente deve a parte contraacuteria

impugnaacute-lo no prazo de 15 (quinze) dias contados de sua concessatildeo

Haacute todavia algumas questotildees que natildeo restaram suficientemente esclarecidas pelo

Coacutedigo de Processo Civil no que concerne a impugnaccedilatildeo agrave gratuidade da Justiccedila Entre elas

o autor Luiz Dellore (2015) aponta o termo inicial do prazo para a impugnaccedilatildeo defendendo o

autor que este deveria se dar a partir do momento que a parte contraacuteria tomasse conhecimento

da situaccedilatildeo de natildeo hipossuficiecircncia da parte sob pena de se limitar o instituto

Outro ponto diz respeito ao ocircnus da prova na impugnaccedilatildeo pois o legislador

manteve-se silente nesse aspecto

A doutrina se inclina a defender que o ocircnus de comprovar que o beneficiaacuterio natildeo faz

jus agrave gratuidade eacute do impugnante ante a existecircncia de presunccedilatildeo relativa da necessidade com

a mera alegaccedilatildeo de insuficiecircncia de recursos (NERY JUNIOR NERY 2015 p 479)

28 Revogaccedilatildeo do benefiacutecio

A revogaccedilatildeo do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila implica na obrigaccedilatildeo da parte ex-

beneficiaacuteria de recolher todas as despesas de deixou de adiantar inclusive as despesas que

foram eventualmente adiantadas pelo ente puacuteblico (periacutecia por exemplo) e as vindouras (art

166

100 paraacutegrafo uacutenico do CPC) isso no caso de a parte natildeo fazer jus ao benefiacutecio desde o

momento em que a requereu (OLIVEIRA 2015 p 377)

No entanto a revogaccedilatildeo pode se dar pelo fato de ter cessado a situaccedilatildeo de

hipossuficiecircncia econocircmica que ensejou o benefiacutecio hipoacutetese em que ela apenas teraacute que

arcar com as despesas processuais a partir do momento que passou a dispor da boa condiccedilatildeo

financeira

Ainda evidenciada a maacute-feacute do ex-beneficiaacuterio o Coacutedigo de Processo Civil prevecirc a

aplicaccedilatildeo de multa de ateacute o deacutecuplo das despesas que tiver deixado de adiantar ndash nesse caso

natildeo basta a mera revogaccedilatildeo do benefiacutecio

Decidiu-se antes da entrada em vigor do Coacutedigo que ldquodeve ser cabalmente

demonstrada a intenccedilatildeo da parte em induzir o Poder Judiciaacuterio a erro se aproveitando

indevidamente do benefiacuteciordquo (MEDINA 2015 p 191)

Em linhas gerais essas satildeo algumas das alteraccedilotildees consubstanciadas pelo Coacutedigo de

Processo Civil em relaccedilatildeo ao benefiacutecio da gratuidade da justiccedila malgrado a lei processual natildeo

tenha esgotado o tema esclareceu vaacuterios pontos que antes era debatido pela jurisprudecircncia

Aleacutem do mais importante pontuar que o legislador reformador repensou o processo

civil atento aos anseios da sociedade moderna e preocupado com a efetividade dos direitos

constitucionais ndash acesso agrave justiccedila por exemplo ndash prevendo expressamente no artigo 1ordm do

CPC que ldquoo processo civil seraacute ordenado disciplinado e interpretado conforme os valores e

normas fundamentais estabelecidas na Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasilrdquo

Ocorre entretanto que mesmo diante de significativas alteraccedilotildees o legislador ainda

natildeo preencheu ou objetivou o pressuposto de concessatildeo dos benefiacutecios anteriormente citados

sendo remanescente o subjetivismo da anaacutelise do termo ldquoinsuficiecircncia de recursosrdquo o que

passaraacute a ser refletido no presente artigo

3 O SUBJETIVISMO DO PRESSUPOSTO INSUFICIEcircNCIA DE RECURSOS

Conforme jaacute visto o Coacutedigo de Processo Civil alterou o requisito para a concessatildeo

do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila bastando a declaraccedilatildeo de insuficiecircncia de recursos pela

pessoa natural e a sua comprovaccedilatildeo no caso de pessoa juriacutedica

Todavia eacute inegaacutevel a carga de subjetividade que haacute no conceito de insuficiecircncia de

recursos e como todo conceito juriacutedico vago traz certa inseguranccedila juriacutedica notadamente

porque pode acarretar decisotildees extremamente diacutespares no cotidiano forense uma vez que tal

anaacutelise (o que eacute insuficiecircncia de recursos) fica a criteacuterio do entendimento de cada

167

magistrado aleacutem do que pode gerar inuacutemeros abusos por parte dos seus requerentes ndash ainda

mais quando a mera alegaccedilatildeo eacute bastante agrave concessatildeo do benefiacutecio ndash que diferentemente do

que alegam gozam de boa sauacutede financeira para arcar com as despesas processuais

(TARTUCE DELLORE 2015 p 314-315)

Mesmo antes da alteraccedilatildeo do CPC ainda na Lei nordm 106050 jaacute discutia a doutrina e

a jurisprudecircncia acerca dos pressupostos para a concessatildeo do benefiacutecio ante a vagueza dos

conceitos de hipossuficiente necessitado carente de recursos financeiros para arcar com as

custas do processo sem prejuiacutezo do sustento proacuteprio e de sua famiacutelia e a falta de um criteacuterio

objetivo miacutenimo para a concessatildeo do benefiacutecio5

Nada obstante o progresso vivenciado com o Coacutedigo de Processo Civil de 2015 no

que tange a gratuidade da justiccedila vecirc-se que no ponto concernente agrave triagem dos

hipossuficientes de recursos o legislador conservou um conceito juriacutedico indeterminado

Segundo Frederico do Valle Abreu (2005) o conceito juriacutedico indeterminado eacute

caracterizado pela ldquovaguidade semacircntica existente em certa norma com a finalidade de que

ela a norma permaneccedila ao ser aplicada sempre atual e correspondente aos anseios da

sociedade nos vaacuterios momentos histoacutericos em que a lei eacute interpretada e aplicadardquo

Assim o conteuacutedo abstrato do pressuposto insuficiecircncia de recursos tenha sido

propositadamente pensado pelo legislador por entender que o inteacuterprete na anaacutelise casuiacutestica

goza de melhores condiccedilotildees para valoraacute-lo refletindo pois uma decisatildeo mais justa

O autor Augusto Tavares Rosa Marcacini defende que a insuficiecircncia de recursos eacute

um conceito indeterminado e natildeo segue um padratildeo rigoroso por isso a melhor soluccedilatildeo eacute a

anaacutelise caso a caso

O conceito de necessitado natildeo eacute determinado mediante regras riacutegidas matemaacuteticas natildeo se utilizando limites numeacutericos determinados Tecircm direito ao benefiacutecio aqueles que natildeo podem arcar com os gastos necessaacuterios agrave participaccedilatildeo no processo na medida em que contabilizados os seus ganhos e os seus gastos com o proacuteprio sustento e da famiacutelia natildeo lhe reste numeraacuterio suficiente para tanto O direito ao benefiacutecio decorre da indisponibilidade financeira do sujeito Em face da notoacuteria insuficiecircncia do salaacuterio miacutenimo vigente em nosso paiacutes pode ser possiacutevel presumir que aquele que aufere ateacute cinco salaacuterios miacutenimos por exemplo eacute quase que certamente merecedor de usufruir dos benefiacutecios Mas como dissemos natildeo se deve utilizar nuacutemeros fechados como criteacuterio Um chefe de uma famiacutelia numerosa que pague aluguel e que tenha filhos em idade escolar por exemplo mesmo percebendo o equivalente a dez salaacuterios miacutenimos pode natildeo ter condiccedilotildees de arcar com as despesas de um processo De outro lado um jovem que viva com os pais os quais

5 Fernanda Tartuce e Luiz Dellore por exemplo no artigo escrito em coautoria Gratuidade da Justiccedila no novo CPC divergem sobre o assunto enquanto ela acredita ser acertada a opccedilatildeo do legislador em trazer um conceito dotado de subjetividade por outro lado ele discorda defendendo que ainda que a norma deixasse uma margem para a decisatildeo do juiz de acordo com a casuiacutestica deveria ao menos estabelecer um criteacuterio objetivo miacutenimo de modo a evitar disparidades nas decisotildees (2015 314-315)

168

provecircm o seu sustento moradia e estudo e que ganhe uns dois ou trecircs salaacuterios miacutenimos que natildeo satildeo empregados em qualquer despesa essencial para sua mantenccedila pode natildeo ser considerado beneficiaacuterio (2009 p 90-91)

Nesse espectro o aplicador da norma juriacutedica eacute quem tem o poder-dever de

materializar no caso concreto o conceito juriacutedico indeterminado do que eacute ser necessitado

economicamente para arcar com as despesas processuais dando assim maior efetividade ao

preceito constitucional do acesso agrave justiccedila

Atento agraves alteraccedilotildees do Coacutedigo de Processo Civil quanto ao tema leciona Rafael

Alexandria de Oliveira

Insuficiecircncia de recursos Faz jus ao benefiacutecio da gratuidade aquela pessoa com lsquoinsuficiecircncia de recursos para pagar as custas despesas processuais e honoraacuterios advocatiacuteciosrsquo Natildeo se exige a miserabilidade nem estado de necessidade nem tampouco se fala em renda familiar ou faturamento maacuteximos Eacute possiacutevel que uma pessoa natural mesmo com boa renda mensal seja merecedora do benefiacutecio e que tambeacutem o seja aquele sujeito que eacute proprietaacuterio de bens imoacuteveis mas natildeo dispotildee de liquidez A gratuidade judiciaacuteria eacute um dos mecanismos de viabilizaccedilatildeo do acesso agrave justiccedila natildeo se pode exigir que para ter acesso agrave justiccedila o sujeito tenha que comprometer significativamente a sua renda ou tenha que se desfazer de seus bens liquidando-os para angariar recursos e custear o processo A lei natildeo fala em nuacutemeros natildeo estabelece paracircmetros O sujeito que ganha boa renda mensal pode ser tatildeo merecedor do benefiacutecio quanto aquele que sobrevive agrave custa de programas de complementaccedilatildeo de renda O que pode diferenciaacute-los eacute a maior ou menor dificuldade com que o pedido de concessatildeo do benefiacutecio eacute tratado o de melhor renda pode ser chamado a justificar o seu requerimento provando a insuficiecircncia de recursos Por isso mesmo nem sempre o beneficiaacuterio seraacute algueacutem em situaccedilatildeo de necessidade de vulnerabilidade de miseacuteria de penuacuteria Eacute preciso atentar para isso (2015 p 359)

Eacute compreensiacutevel a carga de subjetividade impregnada ao termo insuficiecircncia de

recursos notadamente porque o legislador adotando a teoria do direito processual

constitucional (art 1ordm do CPC) quis que a normativa do benefiacutecio atendesse realmente agraves

exigecircncias da sociedade hodierna deixando ao encargo do juiz o dever juriacutedico de buscar

identificar e adotar a soluccedilatildeo apta a no caso concreto alcanccedilar satisfatoriamente a finalidade6

da norma ndash de que garantir a todos o acesso agrave justiccedila

Todavia eacute cediccedilo que a valoraccedilatildeo de um conceito subjetivo pelo magistrado (assim

como para qualquer pessoa) transcende a sua formaccedilatildeo juriacutedica e mesmo que inconsciente

revela suas convicccedilotildees pessoais (crenccedilas valores referecircncias sociais) deste modo o que no

sentir de um julgador eacute pessoa hipossuficiente aos olhos do outro natildeo o eacute eacute aiacute que repousam

as ldquoinjusticcedilasrdquo

6 Interpretaccedilatildeo teleoloacutegica

169

A falta de a lei definir um criteacuterio objetivo miacutenimo para se determinar o que eacute a

insuficiecircncia de recursos demandou trabalho da doutrina e especialmente da jurisprudecircncia

que mesmo timidamente adotou os mais diversos paracircmetros

Nesse sentido uma das primeiras orientaccedilotildees que surge na jurisprudecircncia eacute a

necessidade de prova cabal da insuficiecircncia de recursos para a concessatildeo do benefiacutecio da

gratuidade agraves pessoas juriacutedicas7 Depois de muita discussatildeo o entendimento sedimentado na

jurisprudecircncia8 foi consagrado pelo legislador no Coacutedigo de Processo Civil de 2015 em seu

artigo 98 caput

Tambeacutem se firmou o entendimento de que o requerente que se dedica a emprestar

dinheiro natildeo faz jus ao benefiacutecio uma vez que tal circunstacircncia eacute incompatiacutevel com a alegada

necessidade (NERY JUNIOR NERY 2015 p 475)

Os Tribunais tambeacutem jaacute fixaram como criteacuterio objetivo para se determinar se o

requerente eacute realmente hipossuficiente a renda mensal inferior a dez salaacuterios miacutenimos9

todavia o Superior Tribunal de Justiccedila jaacute refutou a utilizaccedilatildeo desse criteacuterio sob o fundamento

de que a desconstituiccedilatildeo da presunccedilatildeo estabelecida pela lei de gratuidade de justiccedila exige

perquirir in concreto a atual situaccedilatildeo financeira do requerenterdquo10

Outro paracircmetro que tem sido utilizado pelos juristas para aferir a condiccedilatildeo de

miserabilidade do requerente eacute a faixa de isenccedilatildeo do Imposto de Renda extraiacutedo da tabela

progressiva do tributo devidamente atualizada11

O criteacuterio do patrociacutenio da causa por advogado particular para afastar a benesse jaacute

era rechaccedilado pela jurisprudecircncia12 e foi recepcionado pelo atual Coacutedigo de Processo Civil em

seu artigo 99 sect4ordm 7 Assistecircncia judiciaacuteria Pessoa juriacutedica Demonstraccedilatildeo cabal da insuficiecircncia de recursos 1 Ademais de fundamentado exclusivamente na interpretaccedilatildeo do art 5ordm LXXIV da Constituiccedilatildeo Federal o certo eacute que a Corte jaacute assentou a necessidade de demonstraccedilatildeo cabal da insuficiecircncia de recursos para que a empresa possa desfrutar dos benefiacutecios da assistecircncia judiciaacuteria 2 Recurso especial natildeo conhecido (STJ - REsp 182557 RJ 19980053550-0 Relator Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO Data de Julgamento 02091999 T3 - TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJ 25101999 p 79) 8 Suacutemula 481 STJ Faz jus ao benefiacutecio da justiccedila gratuita a pessoa juriacutedica com ou sem fins lucrativos que demonstrar sua impossibilidade de arcar com os encargos processuais 9 ADMINISTRATIVO AGRAVO DE INSTRUMENTO ASSISTEcircNCIA JUDICIAacuteRIA GRATUITA - AJG PARAcircMETRO DEZ SALAacuteRIOS MIacuteNIMOS 1 A Segunda Seccedilatildeo desta Corte vem consolidando entendimento no sentido de fixar patamar objetivo para a concessatildeo do benefiacutecio da AJG qual seja dez salaacuterios miacutenimo 2 Hipoacutetese em que a agravante comprovou renda mensal bem inferior ao limite paradigmaacutetico destacado inexistindo qualquer razatildeo para o indeferimento do pleito em prestiacutegio agrave norma de regecircncia (Lei n 10601950) e ao princiacutepio da acessibilidade (artigo 5ordm XXXV Constituiccedilatildeo Federal) (TRF-4 - AG 50101513420134040000 5010151-3420134040000 Relator NICOLAU KONKEL JUacuteNIOR Data de Julgamento 14082013 TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DE 16082013) 10 STJ - AgRg no AREsp 626487 MG 20140315675-3 Relator Ministro RICARDO VILLAS BOcircAS CUEVA Data de Julgamento 28042015 T3 - TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJe 07052015 11 TJ-PR - AI 14520235 PR 1452023-5 (Decisatildeo Monocraacutetica) Relator Paulo Cezar Bellio Data de Julgamento 27102015 16ordf Cacircmara Ciacutevel Data de Publicaccedilatildeo DJ 1683 05112015

170

O Superior Tribunal de Justiccedila preconiza que o inteacuterprete deve conjugar o binocircmio

necessidade-possibilidade assim para se conceder o benefiacutecio da gratuidade da justiccedila deve-

se considerar natildeo apenas os rendimentos mensais do requerente mas tambeacutem o

comprometimento de suas despesas13

A anaacutelise da condiccedilatildeo financeira do postulante deve ficar restrita a sua situaccedilatildeo

presente e natildeo ao seu histoacuterico de riquezas o simples fato de o requerente jaacute ter sido rico

empresaacuterio ou pessoa de posses natildeo significa que natildeo possa ser hoje pessoa pobre na

acepccedilatildeo juriacutedica do termo e necessitar da assistecircncia judiciaacuteria Da mesma forma a reciacuteproca

eacute verdadeira o pobre que eacute beneficiaacuterio da gratuidade pode por fatores supervenientes

tornar-se pessoa abastada financeiramente o que certamente lhe cassaraacute o benefiacutecio (NERY

JUNIOR NERY 2015 p 477)

Destarte a adoccedilatildeo pelo juiz de um paracircmetro como ponto de partida para verificar o

preenchimento dos requisitos para a concessatildeo da justiccedila gratuita natildeo deve ser visto como

violador da norma Bem da verdade a gratuidade da justiccedila eacute uma das portas de acesso ao

Poder Judiciaacuterio entretanto natildeo pode ser utilizada pelo beneficiaacuterio tatildeo-somente para se

furtar das obrigaccedilotildees oriundas do processo

A Lei nordm 106050 exigia em sua redaccedilatildeo original que o requerente comprovasse o

estado de pobreza alegado hoje ndash a partir da nova redaccedilatildeo dada ao art 4ordm sect1ordm da referida lei

pela Lei Federal nordm 751086 ndash basta a simples afirmaccedilatildeo de necessidade do benefiacutecio o que

inclusive eacute referendado pela jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila14 Nesse sentir o

12 Assistecircncia judiciaacuteria Defensoria Puacuteblica Advogado particular Interpretaccedilatildeo da Lei nordm 106050 1 Natildeo eacute suficiente para afastar a assistecircncia judiciaacuteria a existecircncia de advogado contratado O que a lei especial de regecircncia exige eacute a presenccedila do estado de pobreza ou seja da necessidade da assistecircncia judiciaacuteria por impossibilidade de responder pelas custas que poderaacute ser enfrentada com prova que a desfaccedila Natildeo serve para medir isso a qualidade do defensor se puacuteblico ou particular 2 Recurso especial conhecido e provido (STJ - REsp 679198 PR 20040103656-9 Relator Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO Data de Julgamento 21112006 T3 - TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJ 16042007 p 184) 13 STJ - REsp 263781 SP 20000060786-0 Relator Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO Data de Julgamento 22052001 T3 - TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo lt-- DTPB 20010813ltbrgt --gt DJ 13082001 p 150ltbrgt JBCC vol 193 p 249 14PROCESSUAL CIVIL RECONHECIMENTO DE CONCUBINATO E PARTILHA DE BENS PEDIDO ALTERNATIVO DE INDENIZACcedilAtildeO POR SERVICcedilOS PRESTADOS INDEFERIMENTO DE PLANO DA INICIAL IMPOSSIBILIDADE CERCEAMENTO DE DEFESA ASSISTEcircNCIA JUDICIAacuteRIA E GRATUIDADE DA JUSTICcedilA ALEGACcedilAtildeO DA PARTE DESNECESSIDADE DE DEMONSTRACcedilAtildeO DE O ADVOGADO NAtildeO ESTAR SENDO REMUNERADO PRESUNCcedilAtildeO RECURSO PROVIDO Pelo sistema legal vigente faz jus a parte aos benefiacutecios da assistecircncia judiciaacuteria mediante simples afirmaccedilatildeo na proacutepria peticcedilatildeo de que natildeo estaacute em condiccedilotildees de pagar as custas do processo e os honoraacuterios de advogado sem prejuiacutezo proacuteprio ou de sua famiacutelia O deferimento da gratuidade garantia assegurada constitucionalmente aos economicamente hipossuficientes (Constituiccedilatildeo art 5ordm LXXIV) natildeo exige que a parte demonstre que o advogado natildeo estaacute sendo por ela remunerado Enquanto a Justiccedila gratuita isenta de despesas processuais e condenaccedilatildeo em honoraacuterios advocatiacutecios a assistecircncia judiciaacuteria mais ampla enseja tambeacutem o patrociacutenio por profissional habilitado Caracteriza cerceamento de defesa o indeferimento de plano da inicial de accedilatildeo que pretendeu o reconhecimento de concubinato e partilha de bens com pedido alternativo de indenizaccedilatildeo de

171

aplicador do direito exerce um fundamental papel para que o processo natildeo seja um fim em si

mesmo mas sim um instrumento para a materializaccedilatildeo de um direito

Nota-se que o indeterminismo do termo insuficiecircncia de recursos aliado a mera

alegaccedilatildeo da necessidade poderia transviar o sentido da norma devendo o magistrado ficar

atento para que os privilegiados de fortuna natildeo ingressem gratuitamente no feito

Assim havendo elementos no processo que infirmem a alegaccedilatildeo do postulante ndash que

goza de presunccedilatildeo iuris tantum ndash a hipossuficiecircncia deve ser comprovada

Duacutevida fundada quanto agrave pobreza O juiz da causa valendo-se de criteacuterios

objetivos pode entender que a natureza da accedilatildeo movida pelo interessado demonstra que ele possui porte econocircmico para suportar as despesas do processo A declaraccedilatildeo pura e simples do interessado conquanto seja o uacutenico entrave burocraacutetico que se exige para liberar o magistrado para decidir em favor do peticionaacuterio natildeo eacute prova inequiacutevoca daquilo que ele afirma nem obriga o juiz a se curvar aos seus dizeres se de outras provas e circunstacircncias ficar evidenciado que o conceito de pobreza que a parte invoca natildeo eacute aquele que justifica a concessatildeo do privileacutegio Cabe ao magistrado livremente fazer juiacutezo de valor acerca do termo pobreza deferindo ou natildeo o benefiacutecio (NERY JUNIOR NERY 2015 p 477)

Infelizmente a finalidade do benefiacutecio natildeo raras vezes eacute distorcida seja pela

abstraccedilatildeo do conceito ou mesmo pela lisura do ser humano e isso contribui para o aumento de

demandas desqualificadas respaldadas na ausecircncia de riscos no caso de improcedecircncia

Para Maacutercio Pirocircpo Galvatildeo (2010) os mecanismos de acesso agrave justiccedila fomentam

accedilotildees despretensiosas ndash e cita como exemplos as accedilotildees trabalhistas e aquelas do acircmbito dos

Juizados Especiais ndash exclusivamente pela ausecircncia de custo econocircmico defende inclusive

que o acesso ao Judiciaacuterio de forma gratuita virou uma ldquoloteria onde todos querem tentar a

sorterdquo

E continua o autor citando a decisatildeo do Juiz de Direito da 2ordf Vara Ciacutevel da Comarca

de Dourados Dr Joseacute Carlos de Souza que as demandas desnecessaacuterias ldquoabarrotam o Poder

Judiciaacuterio e dificultam o acesso agrave Justiccedila de jurisdicionados com pretensotildees mais nobres

Incentivam o aumento da inadimplecircncia e sedimentam a cultura do natildeo-cumprimento dos

contratos [] Configuram provocaccedilatildeo abusiva da maacutequina judiciaacuteria e maacute-feacute do devedorrdquo

(GALVAtildeO 2010)

Como visto a utilizaccedilatildeo abusiva da gratuidade da justiccedila pode representar o

congestionamento da maacutequina judicial comprometendo a razoaacutevel duraccedilatildeo do processo e ao

serviccedilos prestados sem possibilitar agrave parte a produccedilatildeo de qualquer prova notadamente em se tratando de alegado relacionamento de mais de trinta anos (Recurso Especial nordm 91609SP 4ordf Turma do STJ Rel Min Saacutelvio de Figueiredo Teixeira Recorrente A P M R Recorrida V G F B j 160498 un DJU 080698 p 113)

172

reveacutes de seu proposito servir como oacutebice ao efetivo acesso agrave justiccedila daqueles que tem

realmente tem urgecircncia na prestaccedilatildeo jurisdicional

Talvez uma boa alternativa para se evitar decisotildees diacutespares e a banalizaccedilatildeo do

benefiacutecio ante a carga de subjetividade do seu pressuposto fosse exigir uma comprovaccedilatildeo

miacutenima da insuficiecircncia de recursos Afinal quem realmente necessita do benefiacutecio natildeo teria

dificuldade alguma em demonstrar a sua impossibilidade financeira para arcar com as

despesas processuais

Eacute certo que a Lei nordm 106050 e agora o Coacutedigo de Processo Civil estabelecem ocircnus

ao litigante que de maacute-feacute requereu o benefiacutecio da gratuidade todavia a prova nesse sentido

deve ser contundente o que estimula de certa forma pedidos indiscriminados de gratuidade

uma vez que sopesando os riscos os ganhos prevalecem

Destarte o que se percebe eacute que nesse ponto o legislador civil natildeo conseguiu

encerrar as discussotildees deixando a soluccedilatildeo para a doutrina e a jurisprudecircncia agora basta

saber como as discussotildees seratildeo encaminhadas de modo que natildeo se instale ndash ou aumente ndash um

estado de desconfianccedila em torno do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila em decorrecircncia dos

abusos praticados mas que tambeacutem natildeo se deixe de cumprir a sua preciacutepua finalidade

constitucional de ser um instrumento de acesso ao Judiciaacuterio daqueles que natildeo desfrutam de

plenas condiccedilotildees financeiras

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O atual Coacutedigo de Processo Civil atuou muito positivamente no que pertine ao

instituto da Gratuidade da Justiccedila ele alvoreceu pontos que a Lei nordm 106050 era retroacutegrada e

mesmo silente bem como normatizou questotildees jaacute consolidadas pela jurisprudecircncia

Em contrapartida a legislaccedilatildeo processual civil natildeo se fez clara quanto ao pressuposto

para a concessatildeo do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila mormente porque se limitou a prever

que a simples afirmaccedilatildeo de insuficiecircncia de recursos para pagar as despesas processuais eacute

suficiente ao seu deferimento

Afinal o que insuficiecircncia de recursos Qual o criteacuterio objetivo para se definir quem

se enquadra ou natildeo nesse perfil Mais uma vez a lei que trata sobre a gratuidade da justiccedila

silenciou nesse pormenor reservando ao aplicador do direito a missatildeo de examinar

casuisticamente quem eacute merecedor ou natildeo da benesse partindo de uma interpretaccedilatildeo

alicerccedilada na finalidade da lei ndash promover o acesso agrave justiccedila

173

Assim duas questotildees surgem A primeira eacute se o legislador foi relapso ou se ele

propositadamente preferiu a um conceito indeterminado para a concessatildeo do benefiacutecio E a

segunda eacute se ele agiu bem

E ao que se conclui eacute que a preferecircncia por um termo dotado de subjetivismo tem

um propoacutesito qual seja permitir que a lei seja adaptaacutevel as mais diversas situaccedilotildees do

cotidiano forense de modo a tornar o acesso agrave justiccedila um direito fundamental mais efetivo

Conquanto agrave segunda questatildeo (se ele agiu bem) apenas a experiecircncia praacutetica poderaacute dizer

notadamente porque vai depender e muito da consciecircncia do postulante (e seu advogado) o

qual eacute o real sabedor de sua condiccedilatildeo financeira

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ABREU Frederico do Valle Conceito juriacutedico indeterminado interpretaccedilatildeo da lei

processo e suposto poder discricionaacuterio do magistrado Jus Navigandi Teresina ano 9 n

674 10 maio 2005 Disponiacutevel em lthttpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=6674gt

Acesso em 27032016

ANGHER Anne Joyce (Org) Vade mecum acadecircmico de direito Rideel 21ed

atual e ampl Satildeo Paulo Rideel 2015

BRASIL Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Recurso Especial nordm

19980053550-0 Relator Ministro Carlos Alberto Menezes Data de Julgamento 02091999

Data de Publicaccedilatildeo DJ 25101999 p 79

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Agravo Regimental no Recurso

Especial nordm 20140315675-3 Relator Ministro Ricardo Villas Bocircas Cueva Data de

Julgamento 28042015 Data de Publicaccedilatildeo DJe 07052015

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Recurso Especial nordm

20040103656-9 Relator Ministro Carlos Alberto Menezes Direito Data de Julgamento

21112006 Data de Publicaccedilatildeo DJ 16042007 p 184

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Recurso Especial

20000060786-0 Relator Ministro Carlos Alberto Menezes Direito Data de Julgamento

22052001 Data de Publicaccedilatildeo 13082001 p 150

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Quarta Turma Recurso Especial 91609SP

Relator Ministro Saacutelvio de Figueiredo Teixeira Data de Publicaccedilatildeo 08061998 p 113

174

_____ Tribunal Regional Federal (4ordf Regiatildeo) Terceira Turma Agravo nordm

50101513420134040000 5010151-3420134040000 Relator Nicolau Konkel Juacutenior Data

de Julgamento 14082013Data de Publicaccedilatildeo 16082013

_____ Tribunal de Justiccedila do Estado do Paranaacute 16ordf Cacircmara Ciacutevel Agravo de

Instrumento nordm 14520235 PR 1452023-5 (Decisatildeo Monocraacutetica) Relator Paulo Cezar Bellio

Data de Julgamento 27102015 Data de Publicaccedilatildeo 05112015

CAPPELLETTI Mauro GARTH Bryant Acesso agrave justiccedila Trad Ellen Gracie

Northfleet Porto Alegre Seacutergio Fabris Editor 2002

CARNEIRO Paulo Cezar Pinheiro Normas Fundamentais do Processo Civil Em

Breves Comentaacuterios ao Novo Coacutedigo de Processo Civil Tereza Arruda Alvim Wambier et

al[coord] Satildeo Paulo Editora RT 2015

DELLORE Luiz Novo CPC o lado A da justiccedila gratuita Disponiacutevel em http

httpjotauolcombrjustica-gratuita-novo-cpc-lado publicado em 09 de marccedilo de 2015

Acesso em 27032016

______ Novo CPC o lado B da justiccedila gratuita Disponiacutevel em

httpjotauolcombrnovo-cpc-o-lado-b-da-justica-gratuita publicado em 13 de abril de

2015 Acesso em 27032016

GALESKI JUNIOR Irineu RIBEIRO Marcia Carla Pereira Direito e economia

uma abordagem sobre a assistecircncia judiciaacuteria gratuita In Publica Direito (recurso eletrocircnico

on-line) Fortaleza CONPEDI 2010

GALVAtildeO Maacutercio Pirocircpo Abuso de direito agrave gratuidade da Justiccedila Revista Jus

Navigandi Teresina ano 17 n 3339 22 ago 2012 Disponiacutevel em

lthttpsjuscombrartigos22466gt Acesso em 27032016

MARCACINI Augusto Tavares Rosa Assistecircncia Juriacutedica Assistecircncia Judiciaacuteria e

Justiccedila Gratuita Satildeo Paulo Editora Forense 2009 (ediccedilatildeo eletrocircnica)

MEDINA Joseacute Miguel Garcia Novo Coacutedigo de Processo Civil Comentado Satildeo

Paulo Editora RT 2015

NERY JUNIOR Nelson e NERY Rosa Maria de Andrade Comentaacuterios ao Coacutedigo

de Processo Civil Satildeo Paulo Editora RT 2015

NETO Emeteacuterio Silva de Oliveira VIANA Juvecircncio Vasconcelos Acesso agrave justiccedila

e o novo Coacutedigo de Processo Civil um olhar criacutetico Em Acesso agrave justiccedila (recurso eletrocircnico

on-line) Florianoacutepolis CONPEDIUFSC 2015

175

OLIVEIRA Rafael Alexandria de Da Gratuidade da Justiccedila Em Breves

Comentaacuterios ao Novo Coacutedigo de Processo Civil Tereza Arruda Alvim Wambier et

al[coord] Satildeo Paulo Editora RT 2015

SANTOS Boaventura de Souza Pela matildeo de Alice o social e o poliacutetico

na poacutes-modernidade Satildeo Paulo Cortez 2003

TARTURE Flaacutevia DELLORE Luiz Gratuidade da justiccedila no novo CPC Em

Revista de Processo Satildeo Paulo v 39 n 236 p 305-323 out 2014

176

no momento da realizaccedilatildeo do pedido diferentemente do que acontece com a pessoa juriacutedica

que ao postular o benefiacutecio jaacute deve comprovar a sua necessidade (OLIVEIRA 2015 p 373)

Importante destacar que o Coacutedigo de Processo Civil encerrando discussotildees

expressamente previu que a assistecircncia do requerente por advogado particular por si soacute natildeo

constitui oacutebice para a concessatildeo do benefiacutecio (art 99 sect4ordm)

Na hipoacutetese de natildeo concessatildeo do pedido o requerente poderaacute interpor agravo de

instrumento nos termos do art 101 caput do CPC salvo se a questatildeo for solvida na

sentenccedila hipoacutetese em que caberaacute apelaccedilatildeo De outro lado se concedido poderaacute a parte

contraacuteria impugnaacute-lo

A impugnaccedilatildeo agrave gratuidade da justiccedila sofreu importantes alteraccedilotildees com o Coacutedigo de

Processo Civil a primeira delas eacute que ela natildeo mais se processa em autos apartados devendo

ser formulada nos proacuteprios autos Sem maiores formalidades a impugnaccedilatildeo deve ser

oferecida pela parte no primeiro momento posterior agrave concessatildeo que lhe couber falar nos

autos ou seja se o benefiacutecio for deferido por ocasiatildeo da peticcedilatildeo inicial deve o reacuteu impugnaacute-

la jaacute na contestaccedilatildeo se concedido ao reacuteu por ocasiatildeo da contestaccedilatildeo deve o autor impugnaacute-la

na reacuteplica se deferido no momento da interposiccedilatildeo do recurso a impugnaccedilatildeo deve ser

oferecida nas contrarrazotildees recursais e se o pedido for superveniente deve a parte contraacuteria

impugnaacute-lo no prazo de 15 (quinze) dias contados de sua concessatildeo

Haacute todavia algumas questotildees que natildeo restaram suficientemente esclarecidas pelo

Coacutedigo de Processo Civil no que concerne a impugnaccedilatildeo agrave gratuidade da Justiccedila Entre elas

o autor Luiz Dellore (2015) aponta o termo inicial do prazo para a impugnaccedilatildeo defendendo o

autor que este deveria se dar a partir do momento que a parte contraacuteria tomasse conhecimento

da situaccedilatildeo de natildeo hipossuficiecircncia da parte sob pena de se limitar o instituto

Outro ponto diz respeito ao ocircnus da prova na impugnaccedilatildeo pois o legislador

manteve-se silente nesse aspecto

A doutrina se inclina a defender que o ocircnus de comprovar que o beneficiaacuterio natildeo faz

jus agrave gratuidade eacute do impugnante ante a existecircncia de presunccedilatildeo relativa da necessidade com

a mera alegaccedilatildeo de insuficiecircncia de recursos (NERY JUNIOR NERY 2015 p 479)

28 Revogaccedilatildeo do benefiacutecio

A revogaccedilatildeo do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila implica na obrigaccedilatildeo da parte ex-

beneficiaacuteria de recolher todas as despesas de deixou de adiantar inclusive as despesas que

foram eventualmente adiantadas pelo ente puacuteblico (periacutecia por exemplo) e as vindouras (art

166

100 paraacutegrafo uacutenico do CPC) isso no caso de a parte natildeo fazer jus ao benefiacutecio desde o

momento em que a requereu (OLIVEIRA 2015 p 377)

No entanto a revogaccedilatildeo pode se dar pelo fato de ter cessado a situaccedilatildeo de

hipossuficiecircncia econocircmica que ensejou o benefiacutecio hipoacutetese em que ela apenas teraacute que

arcar com as despesas processuais a partir do momento que passou a dispor da boa condiccedilatildeo

financeira

Ainda evidenciada a maacute-feacute do ex-beneficiaacuterio o Coacutedigo de Processo Civil prevecirc a

aplicaccedilatildeo de multa de ateacute o deacutecuplo das despesas que tiver deixado de adiantar ndash nesse caso

natildeo basta a mera revogaccedilatildeo do benefiacutecio

Decidiu-se antes da entrada em vigor do Coacutedigo que ldquodeve ser cabalmente

demonstrada a intenccedilatildeo da parte em induzir o Poder Judiciaacuterio a erro se aproveitando

indevidamente do benefiacuteciordquo (MEDINA 2015 p 191)

Em linhas gerais essas satildeo algumas das alteraccedilotildees consubstanciadas pelo Coacutedigo de

Processo Civil em relaccedilatildeo ao benefiacutecio da gratuidade da justiccedila malgrado a lei processual natildeo

tenha esgotado o tema esclareceu vaacuterios pontos que antes era debatido pela jurisprudecircncia

Aleacutem do mais importante pontuar que o legislador reformador repensou o processo

civil atento aos anseios da sociedade moderna e preocupado com a efetividade dos direitos

constitucionais ndash acesso agrave justiccedila por exemplo ndash prevendo expressamente no artigo 1ordm do

CPC que ldquoo processo civil seraacute ordenado disciplinado e interpretado conforme os valores e

normas fundamentais estabelecidas na Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasilrdquo

Ocorre entretanto que mesmo diante de significativas alteraccedilotildees o legislador ainda

natildeo preencheu ou objetivou o pressuposto de concessatildeo dos benefiacutecios anteriormente citados

sendo remanescente o subjetivismo da anaacutelise do termo ldquoinsuficiecircncia de recursosrdquo o que

passaraacute a ser refletido no presente artigo

3 O SUBJETIVISMO DO PRESSUPOSTO INSUFICIEcircNCIA DE RECURSOS

Conforme jaacute visto o Coacutedigo de Processo Civil alterou o requisito para a concessatildeo

do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila bastando a declaraccedilatildeo de insuficiecircncia de recursos pela

pessoa natural e a sua comprovaccedilatildeo no caso de pessoa juriacutedica

Todavia eacute inegaacutevel a carga de subjetividade que haacute no conceito de insuficiecircncia de

recursos e como todo conceito juriacutedico vago traz certa inseguranccedila juriacutedica notadamente

porque pode acarretar decisotildees extremamente diacutespares no cotidiano forense uma vez que tal

anaacutelise (o que eacute insuficiecircncia de recursos) fica a criteacuterio do entendimento de cada

167

magistrado aleacutem do que pode gerar inuacutemeros abusos por parte dos seus requerentes ndash ainda

mais quando a mera alegaccedilatildeo eacute bastante agrave concessatildeo do benefiacutecio ndash que diferentemente do

que alegam gozam de boa sauacutede financeira para arcar com as despesas processuais

(TARTUCE DELLORE 2015 p 314-315)

Mesmo antes da alteraccedilatildeo do CPC ainda na Lei nordm 106050 jaacute discutia a doutrina e

a jurisprudecircncia acerca dos pressupostos para a concessatildeo do benefiacutecio ante a vagueza dos

conceitos de hipossuficiente necessitado carente de recursos financeiros para arcar com as

custas do processo sem prejuiacutezo do sustento proacuteprio e de sua famiacutelia e a falta de um criteacuterio

objetivo miacutenimo para a concessatildeo do benefiacutecio5

Nada obstante o progresso vivenciado com o Coacutedigo de Processo Civil de 2015 no

que tange a gratuidade da justiccedila vecirc-se que no ponto concernente agrave triagem dos

hipossuficientes de recursos o legislador conservou um conceito juriacutedico indeterminado

Segundo Frederico do Valle Abreu (2005) o conceito juriacutedico indeterminado eacute

caracterizado pela ldquovaguidade semacircntica existente em certa norma com a finalidade de que

ela a norma permaneccedila ao ser aplicada sempre atual e correspondente aos anseios da

sociedade nos vaacuterios momentos histoacutericos em que a lei eacute interpretada e aplicadardquo

Assim o conteuacutedo abstrato do pressuposto insuficiecircncia de recursos tenha sido

propositadamente pensado pelo legislador por entender que o inteacuterprete na anaacutelise casuiacutestica

goza de melhores condiccedilotildees para valoraacute-lo refletindo pois uma decisatildeo mais justa

O autor Augusto Tavares Rosa Marcacini defende que a insuficiecircncia de recursos eacute

um conceito indeterminado e natildeo segue um padratildeo rigoroso por isso a melhor soluccedilatildeo eacute a

anaacutelise caso a caso

O conceito de necessitado natildeo eacute determinado mediante regras riacutegidas matemaacuteticas natildeo se utilizando limites numeacutericos determinados Tecircm direito ao benefiacutecio aqueles que natildeo podem arcar com os gastos necessaacuterios agrave participaccedilatildeo no processo na medida em que contabilizados os seus ganhos e os seus gastos com o proacuteprio sustento e da famiacutelia natildeo lhe reste numeraacuterio suficiente para tanto O direito ao benefiacutecio decorre da indisponibilidade financeira do sujeito Em face da notoacuteria insuficiecircncia do salaacuterio miacutenimo vigente em nosso paiacutes pode ser possiacutevel presumir que aquele que aufere ateacute cinco salaacuterios miacutenimos por exemplo eacute quase que certamente merecedor de usufruir dos benefiacutecios Mas como dissemos natildeo se deve utilizar nuacutemeros fechados como criteacuterio Um chefe de uma famiacutelia numerosa que pague aluguel e que tenha filhos em idade escolar por exemplo mesmo percebendo o equivalente a dez salaacuterios miacutenimos pode natildeo ter condiccedilotildees de arcar com as despesas de um processo De outro lado um jovem que viva com os pais os quais

5 Fernanda Tartuce e Luiz Dellore por exemplo no artigo escrito em coautoria Gratuidade da Justiccedila no novo CPC divergem sobre o assunto enquanto ela acredita ser acertada a opccedilatildeo do legislador em trazer um conceito dotado de subjetividade por outro lado ele discorda defendendo que ainda que a norma deixasse uma margem para a decisatildeo do juiz de acordo com a casuiacutestica deveria ao menos estabelecer um criteacuterio objetivo miacutenimo de modo a evitar disparidades nas decisotildees (2015 314-315)

168

provecircm o seu sustento moradia e estudo e que ganhe uns dois ou trecircs salaacuterios miacutenimos que natildeo satildeo empregados em qualquer despesa essencial para sua mantenccedila pode natildeo ser considerado beneficiaacuterio (2009 p 90-91)

Nesse espectro o aplicador da norma juriacutedica eacute quem tem o poder-dever de

materializar no caso concreto o conceito juriacutedico indeterminado do que eacute ser necessitado

economicamente para arcar com as despesas processuais dando assim maior efetividade ao

preceito constitucional do acesso agrave justiccedila

Atento agraves alteraccedilotildees do Coacutedigo de Processo Civil quanto ao tema leciona Rafael

Alexandria de Oliveira

Insuficiecircncia de recursos Faz jus ao benefiacutecio da gratuidade aquela pessoa com lsquoinsuficiecircncia de recursos para pagar as custas despesas processuais e honoraacuterios advocatiacuteciosrsquo Natildeo se exige a miserabilidade nem estado de necessidade nem tampouco se fala em renda familiar ou faturamento maacuteximos Eacute possiacutevel que uma pessoa natural mesmo com boa renda mensal seja merecedora do benefiacutecio e que tambeacutem o seja aquele sujeito que eacute proprietaacuterio de bens imoacuteveis mas natildeo dispotildee de liquidez A gratuidade judiciaacuteria eacute um dos mecanismos de viabilizaccedilatildeo do acesso agrave justiccedila natildeo se pode exigir que para ter acesso agrave justiccedila o sujeito tenha que comprometer significativamente a sua renda ou tenha que se desfazer de seus bens liquidando-os para angariar recursos e custear o processo A lei natildeo fala em nuacutemeros natildeo estabelece paracircmetros O sujeito que ganha boa renda mensal pode ser tatildeo merecedor do benefiacutecio quanto aquele que sobrevive agrave custa de programas de complementaccedilatildeo de renda O que pode diferenciaacute-los eacute a maior ou menor dificuldade com que o pedido de concessatildeo do benefiacutecio eacute tratado o de melhor renda pode ser chamado a justificar o seu requerimento provando a insuficiecircncia de recursos Por isso mesmo nem sempre o beneficiaacuterio seraacute algueacutem em situaccedilatildeo de necessidade de vulnerabilidade de miseacuteria de penuacuteria Eacute preciso atentar para isso (2015 p 359)

Eacute compreensiacutevel a carga de subjetividade impregnada ao termo insuficiecircncia de

recursos notadamente porque o legislador adotando a teoria do direito processual

constitucional (art 1ordm do CPC) quis que a normativa do benefiacutecio atendesse realmente agraves

exigecircncias da sociedade hodierna deixando ao encargo do juiz o dever juriacutedico de buscar

identificar e adotar a soluccedilatildeo apta a no caso concreto alcanccedilar satisfatoriamente a finalidade6

da norma ndash de que garantir a todos o acesso agrave justiccedila

Todavia eacute cediccedilo que a valoraccedilatildeo de um conceito subjetivo pelo magistrado (assim

como para qualquer pessoa) transcende a sua formaccedilatildeo juriacutedica e mesmo que inconsciente

revela suas convicccedilotildees pessoais (crenccedilas valores referecircncias sociais) deste modo o que no

sentir de um julgador eacute pessoa hipossuficiente aos olhos do outro natildeo o eacute eacute aiacute que repousam

as ldquoinjusticcedilasrdquo

6 Interpretaccedilatildeo teleoloacutegica

169

A falta de a lei definir um criteacuterio objetivo miacutenimo para se determinar o que eacute a

insuficiecircncia de recursos demandou trabalho da doutrina e especialmente da jurisprudecircncia

que mesmo timidamente adotou os mais diversos paracircmetros

Nesse sentido uma das primeiras orientaccedilotildees que surge na jurisprudecircncia eacute a

necessidade de prova cabal da insuficiecircncia de recursos para a concessatildeo do benefiacutecio da

gratuidade agraves pessoas juriacutedicas7 Depois de muita discussatildeo o entendimento sedimentado na

jurisprudecircncia8 foi consagrado pelo legislador no Coacutedigo de Processo Civil de 2015 em seu

artigo 98 caput

Tambeacutem se firmou o entendimento de que o requerente que se dedica a emprestar

dinheiro natildeo faz jus ao benefiacutecio uma vez que tal circunstacircncia eacute incompatiacutevel com a alegada

necessidade (NERY JUNIOR NERY 2015 p 475)

Os Tribunais tambeacutem jaacute fixaram como criteacuterio objetivo para se determinar se o

requerente eacute realmente hipossuficiente a renda mensal inferior a dez salaacuterios miacutenimos9

todavia o Superior Tribunal de Justiccedila jaacute refutou a utilizaccedilatildeo desse criteacuterio sob o fundamento

de que a desconstituiccedilatildeo da presunccedilatildeo estabelecida pela lei de gratuidade de justiccedila exige

perquirir in concreto a atual situaccedilatildeo financeira do requerenterdquo10

Outro paracircmetro que tem sido utilizado pelos juristas para aferir a condiccedilatildeo de

miserabilidade do requerente eacute a faixa de isenccedilatildeo do Imposto de Renda extraiacutedo da tabela

progressiva do tributo devidamente atualizada11

O criteacuterio do patrociacutenio da causa por advogado particular para afastar a benesse jaacute

era rechaccedilado pela jurisprudecircncia12 e foi recepcionado pelo atual Coacutedigo de Processo Civil em

seu artigo 99 sect4ordm 7 Assistecircncia judiciaacuteria Pessoa juriacutedica Demonstraccedilatildeo cabal da insuficiecircncia de recursos 1 Ademais de fundamentado exclusivamente na interpretaccedilatildeo do art 5ordm LXXIV da Constituiccedilatildeo Federal o certo eacute que a Corte jaacute assentou a necessidade de demonstraccedilatildeo cabal da insuficiecircncia de recursos para que a empresa possa desfrutar dos benefiacutecios da assistecircncia judiciaacuteria 2 Recurso especial natildeo conhecido (STJ - REsp 182557 RJ 19980053550-0 Relator Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO Data de Julgamento 02091999 T3 - TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJ 25101999 p 79) 8 Suacutemula 481 STJ Faz jus ao benefiacutecio da justiccedila gratuita a pessoa juriacutedica com ou sem fins lucrativos que demonstrar sua impossibilidade de arcar com os encargos processuais 9 ADMINISTRATIVO AGRAVO DE INSTRUMENTO ASSISTEcircNCIA JUDICIAacuteRIA GRATUITA - AJG PARAcircMETRO DEZ SALAacuteRIOS MIacuteNIMOS 1 A Segunda Seccedilatildeo desta Corte vem consolidando entendimento no sentido de fixar patamar objetivo para a concessatildeo do benefiacutecio da AJG qual seja dez salaacuterios miacutenimo 2 Hipoacutetese em que a agravante comprovou renda mensal bem inferior ao limite paradigmaacutetico destacado inexistindo qualquer razatildeo para o indeferimento do pleito em prestiacutegio agrave norma de regecircncia (Lei n 10601950) e ao princiacutepio da acessibilidade (artigo 5ordm XXXV Constituiccedilatildeo Federal) (TRF-4 - AG 50101513420134040000 5010151-3420134040000 Relator NICOLAU KONKEL JUacuteNIOR Data de Julgamento 14082013 TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DE 16082013) 10 STJ - AgRg no AREsp 626487 MG 20140315675-3 Relator Ministro RICARDO VILLAS BOcircAS CUEVA Data de Julgamento 28042015 T3 - TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJe 07052015 11 TJ-PR - AI 14520235 PR 1452023-5 (Decisatildeo Monocraacutetica) Relator Paulo Cezar Bellio Data de Julgamento 27102015 16ordf Cacircmara Ciacutevel Data de Publicaccedilatildeo DJ 1683 05112015

170

O Superior Tribunal de Justiccedila preconiza que o inteacuterprete deve conjugar o binocircmio

necessidade-possibilidade assim para se conceder o benefiacutecio da gratuidade da justiccedila deve-

se considerar natildeo apenas os rendimentos mensais do requerente mas tambeacutem o

comprometimento de suas despesas13

A anaacutelise da condiccedilatildeo financeira do postulante deve ficar restrita a sua situaccedilatildeo

presente e natildeo ao seu histoacuterico de riquezas o simples fato de o requerente jaacute ter sido rico

empresaacuterio ou pessoa de posses natildeo significa que natildeo possa ser hoje pessoa pobre na

acepccedilatildeo juriacutedica do termo e necessitar da assistecircncia judiciaacuteria Da mesma forma a reciacuteproca

eacute verdadeira o pobre que eacute beneficiaacuterio da gratuidade pode por fatores supervenientes

tornar-se pessoa abastada financeiramente o que certamente lhe cassaraacute o benefiacutecio (NERY

JUNIOR NERY 2015 p 477)

Destarte a adoccedilatildeo pelo juiz de um paracircmetro como ponto de partida para verificar o

preenchimento dos requisitos para a concessatildeo da justiccedila gratuita natildeo deve ser visto como

violador da norma Bem da verdade a gratuidade da justiccedila eacute uma das portas de acesso ao

Poder Judiciaacuterio entretanto natildeo pode ser utilizada pelo beneficiaacuterio tatildeo-somente para se

furtar das obrigaccedilotildees oriundas do processo

A Lei nordm 106050 exigia em sua redaccedilatildeo original que o requerente comprovasse o

estado de pobreza alegado hoje ndash a partir da nova redaccedilatildeo dada ao art 4ordm sect1ordm da referida lei

pela Lei Federal nordm 751086 ndash basta a simples afirmaccedilatildeo de necessidade do benefiacutecio o que

inclusive eacute referendado pela jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila14 Nesse sentir o

12 Assistecircncia judiciaacuteria Defensoria Puacuteblica Advogado particular Interpretaccedilatildeo da Lei nordm 106050 1 Natildeo eacute suficiente para afastar a assistecircncia judiciaacuteria a existecircncia de advogado contratado O que a lei especial de regecircncia exige eacute a presenccedila do estado de pobreza ou seja da necessidade da assistecircncia judiciaacuteria por impossibilidade de responder pelas custas que poderaacute ser enfrentada com prova que a desfaccedila Natildeo serve para medir isso a qualidade do defensor se puacuteblico ou particular 2 Recurso especial conhecido e provido (STJ - REsp 679198 PR 20040103656-9 Relator Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO Data de Julgamento 21112006 T3 - TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJ 16042007 p 184) 13 STJ - REsp 263781 SP 20000060786-0 Relator Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO Data de Julgamento 22052001 T3 - TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo lt-- DTPB 20010813ltbrgt --gt DJ 13082001 p 150ltbrgt JBCC vol 193 p 249 14PROCESSUAL CIVIL RECONHECIMENTO DE CONCUBINATO E PARTILHA DE BENS PEDIDO ALTERNATIVO DE INDENIZACcedilAtildeO POR SERVICcedilOS PRESTADOS INDEFERIMENTO DE PLANO DA INICIAL IMPOSSIBILIDADE CERCEAMENTO DE DEFESA ASSISTEcircNCIA JUDICIAacuteRIA E GRATUIDADE DA JUSTICcedilA ALEGACcedilAtildeO DA PARTE DESNECESSIDADE DE DEMONSTRACcedilAtildeO DE O ADVOGADO NAtildeO ESTAR SENDO REMUNERADO PRESUNCcedilAtildeO RECURSO PROVIDO Pelo sistema legal vigente faz jus a parte aos benefiacutecios da assistecircncia judiciaacuteria mediante simples afirmaccedilatildeo na proacutepria peticcedilatildeo de que natildeo estaacute em condiccedilotildees de pagar as custas do processo e os honoraacuterios de advogado sem prejuiacutezo proacuteprio ou de sua famiacutelia O deferimento da gratuidade garantia assegurada constitucionalmente aos economicamente hipossuficientes (Constituiccedilatildeo art 5ordm LXXIV) natildeo exige que a parte demonstre que o advogado natildeo estaacute sendo por ela remunerado Enquanto a Justiccedila gratuita isenta de despesas processuais e condenaccedilatildeo em honoraacuterios advocatiacutecios a assistecircncia judiciaacuteria mais ampla enseja tambeacutem o patrociacutenio por profissional habilitado Caracteriza cerceamento de defesa o indeferimento de plano da inicial de accedilatildeo que pretendeu o reconhecimento de concubinato e partilha de bens com pedido alternativo de indenizaccedilatildeo de

171

aplicador do direito exerce um fundamental papel para que o processo natildeo seja um fim em si

mesmo mas sim um instrumento para a materializaccedilatildeo de um direito

Nota-se que o indeterminismo do termo insuficiecircncia de recursos aliado a mera

alegaccedilatildeo da necessidade poderia transviar o sentido da norma devendo o magistrado ficar

atento para que os privilegiados de fortuna natildeo ingressem gratuitamente no feito

Assim havendo elementos no processo que infirmem a alegaccedilatildeo do postulante ndash que

goza de presunccedilatildeo iuris tantum ndash a hipossuficiecircncia deve ser comprovada

Duacutevida fundada quanto agrave pobreza O juiz da causa valendo-se de criteacuterios

objetivos pode entender que a natureza da accedilatildeo movida pelo interessado demonstra que ele possui porte econocircmico para suportar as despesas do processo A declaraccedilatildeo pura e simples do interessado conquanto seja o uacutenico entrave burocraacutetico que se exige para liberar o magistrado para decidir em favor do peticionaacuterio natildeo eacute prova inequiacutevoca daquilo que ele afirma nem obriga o juiz a se curvar aos seus dizeres se de outras provas e circunstacircncias ficar evidenciado que o conceito de pobreza que a parte invoca natildeo eacute aquele que justifica a concessatildeo do privileacutegio Cabe ao magistrado livremente fazer juiacutezo de valor acerca do termo pobreza deferindo ou natildeo o benefiacutecio (NERY JUNIOR NERY 2015 p 477)

Infelizmente a finalidade do benefiacutecio natildeo raras vezes eacute distorcida seja pela

abstraccedilatildeo do conceito ou mesmo pela lisura do ser humano e isso contribui para o aumento de

demandas desqualificadas respaldadas na ausecircncia de riscos no caso de improcedecircncia

Para Maacutercio Pirocircpo Galvatildeo (2010) os mecanismos de acesso agrave justiccedila fomentam

accedilotildees despretensiosas ndash e cita como exemplos as accedilotildees trabalhistas e aquelas do acircmbito dos

Juizados Especiais ndash exclusivamente pela ausecircncia de custo econocircmico defende inclusive

que o acesso ao Judiciaacuterio de forma gratuita virou uma ldquoloteria onde todos querem tentar a

sorterdquo

E continua o autor citando a decisatildeo do Juiz de Direito da 2ordf Vara Ciacutevel da Comarca

de Dourados Dr Joseacute Carlos de Souza que as demandas desnecessaacuterias ldquoabarrotam o Poder

Judiciaacuterio e dificultam o acesso agrave Justiccedila de jurisdicionados com pretensotildees mais nobres

Incentivam o aumento da inadimplecircncia e sedimentam a cultura do natildeo-cumprimento dos

contratos [] Configuram provocaccedilatildeo abusiva da maacutequina judiciaacuteria e maacute-feacute do devedorrdquo

(GALVAtildeO 2010)

Como visto a utilizaccedilatildeo abusiva da gratuidade da justiccedila pode representar o

congestionamento da maacutequina judicial comprometendo a razoaacutevel duraccedilatildeo do processo e ao

serviccedilos prestados sem possibilitar agrave parte a produccedilatildeo de qualquer prova notadamente em se tratando de alegado relacionamento de mais de trinta anos (Recurso Especial nordm 91609SP 4ordf Turma do STJ Rel Min Saacutelvio de Figueiredo Teixeira Recorrente A P M R Recorrida V G F B j 160498 un DJU 080698 p 113)

172

reveacutes de seu proposito servir como oacutebice ao efetivo acesso agrave justiccedila daqueles que tem

realmente tem urgecircncia na prestaccedilatildeo jurisdicional

Talvez uma boa alternativa para se evitar decisotildees diacutespares e a banalizaccedilatildeo do

benefiacutecio ante a carga de subjetividade do seu pressuposto fosse exigir uma comprovaccedilatildeo

miacutenima da insuficiecircncia de recursos Afinal quem realmente necessita do benefiacutecio natildeo teria

dificuldade alguma em demonstrar a sua impossibilidade financeira para arcar com as

despesas processuais

Eacute certo que a Lei nordm 106050 e agora o Coacutedigo de Processo Civil estabelecem ocircnus

ao litigante que de maacute-feacute requereu o benefiacutecio da gratuidade todavia a prova nesse sentido

deve ser contundente o que estimula de certa forma pedidos indiscriminados de gratuidade

uma vez que sopesando os riscos os ganhos prevalecem

Destarte o que se percebe eacute que nesse ponto o legislador civil natildeo conseguiu

encerrar as discussotildees deixando a soluccedilatildeo para a doutrina e a jurisprudecircncia agora basta

saber como as discussotildees seratildeo encaminhadas de modo que natildeo se instale ndash ou aumente ndash um

estado de desconfianccedila em torno do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila em decorrecircncia dos

abusos praticados mas que tambeacutem natildeo se deixe de cumprir a sua preciacutepua finalidade

constitucional de ser um instrumento de acesso ao Judiciaacuterio daqueles que natildeo desfrutam de

plenas condiccedilotildees financeiras

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O atual Coacutedigo de Processo Civil atuou muito positivamente no que pertine ao

instituto da Gratuidade da Justiccedila ele alvoreceu pontos que a Lei nordm 106050 era retroacutegrada e

mesmo silente bem como normatizou questotildees jaacute consolidadas pela jurisprudecircncia

Em contrapartida a legislaccedilatildeo processual civil natildeo se fez clara quanto ao pressuposto

para a concessatildeo do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila mormente porque se limitou a prever

que a simples afirmaccedilatildeo de insuficiecircncia de recursos para pagar as despesas processuais eacute

suficiente ao seu deferimento

Afinal o que insuficiecircncia de recursos Qual o criteacuterio objetivo para se definir quem

se enquadra ou natildeo nesse perfil Mais uma vez a lei que trata sobre a gratuidade da justiccedila

silenciou nesse pormenor reservando ao aplicador do direito a missatildeo de examinar

casuisticamente quem eacute merecedor ou natildeo da benesse partindo de uma interpretaccedilatildeo

alicerccedilada na finalidade da lei ndash promover o acesso agrave justiccedila

173

Assim duas questotildees surgem A primeira eacute se o legislador foi relapso ou se ele

propositadamente preferiu a um conceito indeterminado para a concessatildeo do benefiacutecio E a

segunda eacute se ele agiu bem

E ao que se conclui eacute que a preferecircncia por um termo dotado de subjetivismo tem

um propoacutesito qual seja permitir que a lei seja adaptaacutevel as mais diversas situaccedilotildees do

cotidiano forense de modo a tornar o acesso agrave justiccedila um direito fundamental mais efetivo

Conquanto agrave segunda questatildeo (se ele agiu bem) apenas a experiecircncia praacutetica poderaacute dizer

notadamente porque vai depender e muito da consciecircncia do postulante (e seu advogado) o

qual eacute o real sabedor de sua condiccedilatildeo financeira

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ABREU Frederico do Valle Conceito juriacutedico indeterminado interpretaccedilatildeo da lei

processo e suposto poder discricionaacuterio do magistrado Jus Navigandi Teresina ano 9 n

674 10 maio 2005 Disponiacutevel em lthttpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=6674gt

Acesso em 27032016

ANGHER Anne Joyce (Org) Vade mecum acadecircmico de direito Rideel 21ed

atual e ampl Satildeo Paulo Rideel 2015

BRASIL Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Recurso Especial nordm

19980053550-0 Relator Ministro Carlos Alberto Menezes Data de Julgamento 02091999

Data de Publicaccedilatildeo DJ 25101999 p 79

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Agravo Regimental no Recurso

Especial nordm 20140315675-3 Relator Ministro Ricardo Villas Bocircas Cueva Data de

Julgamento 28042015 Data de Publicaccedilatildeo DJe 07052015

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Recurso Especial nordm

20040103656-9 Relator Ministro Carlos Alberto Menezes Direito Data de Julgamento

21112006 Data de Publicaccedilatildeo DJ 16042007 p 184

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Recurso Especial

20000060786-0 Relator Ministro Carlos Alberto Menezes Direito Data de Julgamento

22052001 Data de Publicaccedilatildeo 13082001 p 150

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Quarta Turma Recurso Especial 91609SP

Relator Ministro Saacutelvio de Figueiredo Teixeira Data de Publicaccedilatildeo 08061998 p 113

174

_____ Tribunal Regional Federal (4ordf Regiatildeo) Terceira Turma Agravo nordm

50101513420134040000 5010151-3420134040000 Relator Nicolau Konkel Juacutenior Data

de Julgamento 14082013Data de Publicaccedilatildeo 16082013

_____ Tribunal de Justiccedila do Estado do Paranaacute 16ordf Cacircmara Ciacutevel Agravo de

Instrumento nordm 14520235 PR 1452023-5 (Decisatildeo Monocraacutetica) Relator Paulo Cezar Bellio

Data de Julgamento 27102015 Data de Publicaccedilatildeo 05112015

CAPPELLETTI Mauro GARTH Bryant Acesso agrave justiccedila Trad Ellen Gracie

Northfleet Porto Alegre Seacutergio Fabris Editor 2002

CARNEIRO Paulo Cezar Pinheiro Normas Fundamentais do Processo Civil Em

Breves Comentaacuterios ao Novo Coacutedigo de Processo Civil Tereza Arruda Alvim Wambier et

al[coord] Satildeo Paulo Editora RT 2015

DELLORE Luiz Novo CPC o lado A da justiccedila gratuita Disponiacutevel em http

httpjotauolcombrjustica-gratuita-novo-cpc-lado publicado em 09 de marccedilo de 2015

Acesso em 27032016

______ Novo CPC o lado B da justiccedila gratuita Disponiacutevel em

httpjotauolcombrnovo-cpc-o-lado-b-da-justica-gratuita publicado em 13 de abril de

2015 Acesso em 27032016

GALESKI JUNIOR Irineu RIBEIRO Marcia Carla Pereira Direito e economia

uma abordagem sobre a assistecircncia judiciaacuteria gratuita In Publica Direito (recurso eletrocircnico

on-line) Fortaleza CONPEDI 2010

GALVAtildeO Maacutercio Pirocircpo Abuso de direito agrave gratuidade da Justiccedila Revista Jus

Navigandi Teresina ano 17 n 3339 22 ago 2012 Disponiacutevel em

lthttpsjuscombrartigos22466gt Acesso em 27032016

MARCACINI Augusto Tavares Rosa Assistecircncia Juriacutedica Assistecircncia Judiciaacuteria e

Justiccedila Gratuita Satildeo Paulo Editora Forense 2009 (ediccedilatildeo eletrocircnica)

MEDINA Joseacute Miguel Garcia Novo Coacutedigo de Processo Civil Comentado Satildeo

Paulo Editora RT 2015

NERY JUNIOR Nelson e NERY Rosa Maria de Andrade Comentaacuterios ao Coacutedigo

de Processo Civil Satildeo Paulo Editora RT 2015

NETO Emeteacuterio Silva de Oliveira VIANA Juvecircncio Vasconcelos Acesso agrave justiccedila

e o novo Coacutedigo de Processo Civil um olhar criacutetico Em Acesso agrave justiccedila (recurso eletrocircnico

on-line) Florianoacutepolis CONPEDIUFSC 2015

175

OLIVEIRA Rafael Alexandria de Da Gratuidade da Justiccedila Em Breves

Comentaacuterios ao Novo Coacutedigo de Processo Civil Tereza Arruda Alvim Wambier et

al[coord] Satildeo Paulo Editora RT 2015

SANTOS Boaventura de Souza Pela matildeo de Alice o social e o poliacutetico

na poacutes-modernidade Satildeo Paulo Cortez 2003

TARTURE Flaacutevia DELLORE Luiz Gratuidade da justiccedila no novo CPC Em

Revista de Processo Satildeo Paulo v 39 n 236 p 305-323 out 2014

176

100 paraacutegrafo uacutenico do CPC) isso no caso de a parte natildeo fazer jus ao benefiacutecio desde o

momento em que a requereu (OLIVEIRA 2015 p 377)

No entanto a revogaccedilatildeo pode se dar pelo fato de ter cessado a situaccedilatildeo de

hipossuficiecircncia econocircmica que ensejou o benefiacutecio hipoacutetese em que ela apenas teraacute que

arcar com as despesas processuais a partir do momento que passou a dispor da boa condiccedilatildeo

financeira

Ainda evidenciada a maacute-feacute do ex-beneficiaacuterio o Coacutedigo de Processo Civil prevecirc a

aplicaccedilatildeo de multa de ateacute o deacutecuplo das despesas que tiver deixado de adiantar ndash nesse caso

natildeo basta a mera revogaccedilatildeo do benefiacutecio

Decidiu-se antes da entrada em vigor do Coacutedigo que ldquodeve ser cabalmente

demonstrada a intenccedilatildeo da parte em induzir o Poder Judiciaacuterio a erro se aproveitando

indevidamente do benefiacuteciordquo (MEDINA 2015 p 191)

Em linhas gerais essas satildeo algumas das alteraccedilotildees consubstanciadas pelo Coacutedigo de

Processo Civil em relaccedilatildeo ao benefiacutecio da gratuidade da justiccedila malgrado a lei processual natildeo

tenha esgotado o tema esclareceu vaacuterios pontos que antes era debatido pela jurisprudecircncia

Aleacutem do mais importante pontuar que o legislador reformador repensou o processo

civil atento aos anseios da sociedade moderna e preocupado com a efetividade dos direitos

constitucionais ndash acesso agrave justiccedila por exemplo ndash prevendo expressamente no artigo 1ordm do

CPC que ldquoo processo civil seraacute ordenado disciplinado e interpretado conforme os valores e

normas fundamentais estabelecidas na Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasilrdquo

Ocorre entretanto que mesmo diante de significativas alteraccedilotildees o legislador ainda

natildeo preencheu ou objetivou o pressuposto de concessatildeo dos benefiacutecios anteriormente citados

sendo remanescente o subjetivismo da anaacutelise do termo ldquoinsuficiecircncia de recursosrdquo o que

passaraacute a ser refletido no presente artigo

3 O SUBJETIVISMO DO PRESSUPOSTO INSUFICIEcircNCIA DE RECURSOS

Conforme jaacute visto o Coacutedigo de Processo Civil alterou o requisito para a concessatildeo

do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila bastando a declaraccedilatildeo de insuficiecircncia de recursos pela

pessoa natural e a sua comprovaccedilatildeo no caso de pessoa juriacutedica

Todavia eacute inegaacutevel a carga de subjetividade que haacute no conceito de insuficiecircncia de

recursos e como todo conceito juriacutedico vago traz certa inseguranccedila juriacutedica notadamente

porque pode acarretar decisotildees extremamente diacutespares no cotidiano forense uma vez que tal

anaacutelise (o que eacute insuficiecircncia de recursos) fica a criteacuterio do entendimento de cada

167

magistrado aleacutem do que pode gerar inuacutemeros abusos por parte dos seus requerentes ndash ainda

mais quando a mera alegaccedilatildeo eacute bastante agrave concessatildeo do benefiacutecio ndash que diferentemente do

que alegam gozam de boa sauacutede financeira para arcar com as despesas processuais

(TARTUCE DELLORE 2015 p 314-315)

Mesmo antes da alteraccedilatildeo do CPC ainda na Lei nordm 106050 jaacute discutia a doutrina e

a jurisprudecircncia acerca dos pressupostos para a concessatildeo do benefiacutecio ante a vagueza dos

conceitos de hipossuficiente necessitado carente de recursos financeiros para arcar com as

custas do processo sem prejuiacutezo do sustento proacuteprio e de sua famiacutelia e a falta de um criteacuterio

objetivo miacutenimo para a concessatildeo do benefiacutecio5

Nada obstante o progresso vivenciado com o Coacutedigo de Processo Civil de 2015 no

que tange a gratuidade da justiccedila vecirc-se que no ponto concernente agrave triagem dos

hipossuficientes de recursos o legislador conservou um conceito juriacutedico indeterminado

Segundo Frederico do Valle Abreu (2005) o conceito juriacutedico indeterminado eacute

caracterizado pela ldquovaguidade semacircntica existente em certa norma com a finalidade de que

ela a norma permaneccedila ao ser aplicada sempre atual e correspondente aos anseios da

sociedade nos vaacuterios momentos histoacutericos em que a lei eacute interpretada e aplicadardquo

Assim o conteuacutedo abstrato do pressuposto insuficiecircncia de recursos tenha sido

propositadamente pensado pelo legislador por entender que o inteacuterprete na anaacutelise casuiacutestica

goza de melhores condiccedilotildees para valoraacute-lo refletindo pois uma decisatildeo mais justa

O autor Augusto Tavares Rosa Marcacini defende que a insuficiecircncia de recursos eacute

um conceito indeterminado e natildeo segue um padratildeo rigoroso por isso a melhor soluccedilatildeo eacute a

anaacutelise caso a caso

O conceito de necessitado natildeo eacute determinado mediante regras riacutegidas matemaacuteticas natildeo se utilizando limites numeacutericos determinados Tecircm direito ao benefiacutecio aqueles que natildeo podem arcar com os gastos necessaacuterios agrave participaccedilatildeo no processo na medida em que contabilizados os seus ganhos e os seus gastos com o proacuteprio sustento e da famiacutelia natildeo lhe reste numeraacuterio suficiente para tanto O direito ao benefiacutecio decorre da indisponibilidade financeira do sujeito Em face da notoacuteria insuficiecircncia do salaacuterio miacutenimo vigente em nosso paiacutes pode ser possiacutevel presumir que aquele que aufere ateacute cinco salaacuterios miacutenimos por exemplo eacute quase que certamente merecedor de usufruir dos benefiacutecios Mas como dissemos natildeo se deve utilizar nuacutemeros fechados como criteacuterio Um chefe de uma famiacutelia numerosa que pague aluguel e que tenha filhos em idade escolar por exemplo mesmo percebendo o equivalente a dez salaacuterios miacutenimos pode natildeo ter condiccedilotildees de arcar com as despesas de um processo De outro lado um jovem que viva com os pais os quais

5 Fernanda Tartuce e Luiz Dellore por exemplo no artigo escrito em coautoria Gratuidade da Justiccedila no novo CPC divergem sobre o assunto enquanto ela acredita ser acertada a opccedilatildeo do legislador em trazer um conceito dotado de subjetividade por outro lado ele discorda defendendo que ainda que a norma deixasse uma margem para a decisatildeo do juiz de acordo com a casuiacutestica deveria ao menos estabelecer um criteacuterio objetivo miacutenimo de modo a evitar disparidades nas decisotildees (2015 314-315)

168

provecircm o seu sustento moradia e estudo e que ganhe uns dois ou trecircs salaacuterios miacutenimos que natildeo satildeo empregados em qualquer despesa essencial para sua mantenccedila pode natildeo ser considerado beneficiaacuterio (2009 p 90-91)

Nesse espectro o aplicador da norma juriacutedica eacute quem tem o poder-dever de

materializar no caso concreto o conceito juriacutedico indeterminado do que eacute ser necessitado

economicamente para arcar com as despesas processuais dando assim maior efetividade ao

preceito constitucional do acesso agrave justiccedila

Atento agraves alteraccedilotildees do Coacutedigo de Processo Civil quanto ao tema leciona Rafael

Alexandria de Oliveira

Insuficiecircncia de recursos Faz jus ao benefiacutecio da gratuidade aquela pessoa com lsquoinsuficiecircncia de recursos para pagar as custas despesas processuais e honoraacuterios advocatiacuteciosrsquo Natildeo se exige a miserabilidade nem estado de necessidade nem tampouco se fala em renda familiar ou faturamento maacuteximos Eacute possiacutevel que uma pessoa natural mesmo com boa renda mensal seja merecedora do benefiacutecio e que tambeacutem o seja aquele sujeito que eacute proprietaacuterio de bens imoacuteveis mas natildeo dispotildee de liquidez A gratuidade judiciaacuteria eacute um dos mecanismos de viabilizaccedilatildeo do acesso agrave justiccedila natildeo se pode exigir que para ter acesso agrave justiccedila o sujeito tenha que comprometer significativamente a sua renda ou tenha que se desfazer de seus bens liquidando-os para angariar recursos e custear o processo A lei natildeo fala em nuacutemeros natildeo estabelece paracircmetros O sujeito que ganha boa renda mensal pode ser tatildeo merecedor do benefiacutecio quanto aquele que sobrevive agrave custa de programas de complementaccedilatildeo de renda O que pode diferenciaacute-los eacute a maior ou menor dificuldade com que o pedido de concessatildeo do benefiacutecio eacute tratado o de melhor renda pode ser chamado a justificar o seu requerimento provando a insuficiecircncia de recursos Por isso mesmo nem sempre o beneficiaacuterio seraacute algueacutem em situaccedilatildeo de necessidade de vulnerabilidade de miseacuteria de penuacuteria Eacute preciso atentar para isso (2015 p 359)

Eacute compreensiacutevel a carga de subjetividade impregnada ao termo insuficiecircncia de

recursos notadamente porque o legislador adotando a teoria do direito processual

constitucional (art 1ordm do CPC) quis que a normativa do benefiacutecio atendesse realmente agraves

exigecircncias da sociedade hodierna deixando ao encargo do juiz o dever juriacutedico de buscar

identificar e adotar a soluccedilatildeo apta a no caso concreto alcanccedilar satisfatoriamente a finalidade6

da norma ndash de que garantir a todos o acesso agrave justiccedila

Todavia eacute cediccedilo que a valoraccedilatildeo de um conceito subjetivo pelo magistrado (assim

como para qualquer pessoa) transcende a sua formaccedilatildeo juriacutedica e mesmo que inconsciente

revela suas convicccedilotildees pessoais (crenccedilas valores referecircncias sociais) deste modo o que no

sentir de um julgador eacute pessoa hipossuficiente aos olhos do outro natildeo o eacute eacute aiacute que repousam

as ldquoinjusticcedilasrdquo

6 Interpretaccedilatildeo teleoloacutegica

169

A falta de a lei definir um criteacuterio objetivo miacutenimo para se determinar o que eacute a

insuficiecircncia de recursos demandou trabalho da doutrina e especialmente da jurisprudecircncia

que mesmo timidamente adotou os mais diversos paracircmetros

Nesse sentido uma das primeiras orientaccedilotildees que surge na jurisprudecircncia eacute a

necessidade de prova cabal da insuficiecircncia de recursos para a concessatildeo do benefiacutecio da

gratuidade agraves pessoas juriacutedicas7 Depois de muita discussatildeo o entendimento sedimentado na

jurisprudecircncia8 foi consagrado pelo legislador no Coacutedigo de Processo Civil de 2015 em seu

artigo 98 caput

Tambeacutem se firmou o entendimento de que o requerente que se dedica a emprestar

dinheiro natildeo faz jus ao benefiacutecio uma vez que tal circunstacircncia eacute incompatiacutevel com a alegada

necessidade (NERY JUNIOR NERY 2015 p 475)

Os Tribunais tambeacutem jaacute fixaram como criteacuterio objetivo para se determinar se o

requerente eacute realmente hipossuficiente a renda mensal inferior a dez salaacuterios miacutenimos9

todavia o Superior Tribunal de Justiccedila jaacute refutou a utilizaccedilatildeo desse criteacuterio sob o fundamento

de que a desconstituiccedilatildeo da presunccedilatildeo estabelecida pela lei de gratuidade de justiccedila exige

perquirir in concreto a atual situaccedilatildeo financeira do requerenterdquo10

Outro paracircmetro que tem sido utilizado pelos juristas para aferir a condiccedilatildeo de

miserabilidade do requerente eacute a faixa de isenccedilatildeo do Imposto de Renda extraiacutedo da tabela

progressiva do tributo devidamente atualizada11

O criteacuterio do patrociacutenio da causa por advogado particular para afastar a benesse jaacute

era rechaccedilado pela jurisprudecircncia12 e foi recepcionado pelo atual Coacutedigo de Processo Civil em

seu artigo 99 sect4ordm 7 Assistecircncia judiciaacuteria Pessoa juriacutedica Demonstraccedilatildeo cabal da insuficiecircncia de recursos 1 Ademais de fundamentado exclusivamente na interpretaccedilatildeo do art 5ordm LXXIV da Constituiccedilatildeo Federal o certo eacute que a Corte jaacute assentou a necessidade de demonstraccedilatildeo cabal da insuficiecircncia de recursos para que a empresa possa desfrutar dos benefiacutecios da assistecircncia judiciaacuteria 2 Recurso especial natildeo conhecido (STJ - REsp 182557 RJ 19980053550-0 Relator Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO Data de Julgamento 02091999 T3 - TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJ 25101999 p 79) 8 Suacutemula 481 STJ Faz jus ao benefiacutecio da justiccedila gratuita a pessoa juriacutedica com ou sem fins lucrativos que demonstrar sua impossibilidade de arcar com os encargos processuais 9 ADMINISTRATIVO AGRAVO DE INSTRUMENTO ASSISTEcircNCIA JUDICIAacuteRIA GRATUITA - AJG PARAcircMETRO DEZ SALAacuteRIOS MIacuteNIMOS 1 A Segunda Seccedilatildeo desta Corte vem consolidando entendimento no sentido de fixar patamar objetivo para a concessatildeo do benefiacutecio da AJG qual seja dez salaacuterios miacutenimo 2 Hipoacutetese em que a agravante comprovou renda mensal bem inferior ao limite paradigmaacutetico destacado inexistindo qualquer razatildeo para o indeferimento do pleito em prestiacutegio agrave norma de regecircncia (Lei n 10601950) e ao princiacutepio da acessibilidade (artigo 5ordm XXXV Constituiccedilatildeo Federal) (TRF-4 - AG 50101513420134040000 5010151-3420134040000 Relator NICOLAU KONKEL JUacuteNIOR Data de Julgamento 14082013 TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DE 16082013) 10 STJ - AgRg no AREsp 626487 MG 20140315675-3 Relator Ministro RICARDO VILLAS BOcircAS CUEVA Data de Julgamento 28042015 T3 - TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJe 07052015 11 TJ-PR - AI 14520235 PR 1452023-5 (Decisatildeo Monocraacutetica) Relator Paulo Cezar Bellio Data de Julgamento 27102015 16ordf Cacircmara Ciacutevel Data de Publicaccedilatildeo DJ 1683 05112015

170

O Superior Tribunal de Justiccedila preconiza que o inteacuterprete deve conjugar o binocircmio

necessidade-possibilidade assim para se conceder o benefiacutecio da gratuidade da justiccedila deve-

se considerar natildeo apenas os rendimentos mensais do requerente mas tambeacutem o

comprometimento de suas despesas13

A anaacutelise da condiccedilatildeo financeira do postulante deve ficar restrita a sua situaccedilatildeo

presente e natildeo ao seu histoacuterico de riquezas o simples fato de o requerente jaacute ter sido rico

empresaacuterio ou pessoa de posses natildeo significa que natildeo possa ser hoje pessoa pobre na

acepccedilatildeo juriacutedica do termo e necessitar da assistecircncia judiciaacuteria Da mesma forma a reciacuteproca

eacute verdadeira o pobre que eacute beneficiaacuterio da gratuidade pode por fatores supervenientes

tornar-se pessoa abastada financeiramente o que certamente lhe cassaraacute o benefiacutecio (NERY

JUNIOR NERY 2015 p 477)

Destarte a adoccedilatildeo pelo juiz de um paracircmetro como ponto de partida para verificar o

preenchimento dos requisitos para a concessatildeo da justiccedila gratuita natildeo deve ser visto como

violador da norma Bem da verdade a gratuidade da justiccedila eacute uma das portas de acesso ao

Poder Judiciaacuterio entretanto natildeo pode ser utilizada pelo beneficiaacuterio tatildeo-somente para se

furtar das obrigaccedilotildees oriundas do processo

A Lei nordm 106050 exigia em sua redaccedilatildeo original que o requerente comprovasse o

estado de pobreza alegado hoje ndash a partir da nova redaccedilatildeo dada ao art 4ordm sect1ordm da referida lei

pela Lei Federal nordm 751086 ndash basta a simples afirmaccedilatildeo de necessidade do benefiacutecio o que

inclusive eacute referendado pela jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila14 Nesse sentir o

12 Assistecircncia judiciaacuteria Defensoria Puacuteblica Advogado particular Interpretaccedilatildeo da Lei nordm 106050 1 Natildeo eacute suficiente para afastar a assistecircncia judiciaacuteria a existecircncia de advogado contratado O que a lei especial de regecircncia exige eacute a presenccedila do estado de pobreza ou seja da necessidade da assistecircncia judiciaacuteria por impossibilidade de responder pelas custas que poderaacute ser enfrentada com prova que a desfaccedila Natildeo serve para medir isso a qualidade do defensor se puacuteblico ou particular 2 Recurso especial conhecido e provido (STJ - REsp 679198 PR 20040103656-9 Relator Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO Data de Julgamento 21112006 T3 - TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJ 16042007 p 184) 13 STJ - REsp 263781 SP 20000060786-0 Relator Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO Data de Julgamento 22052001 T3 - TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo lt-- DTPB 20010813ltbrgt --gt DJ 13082001 p 150ltbrgt JBCC vol 193 p 249 14PROCESSUAL CIVIL RECONHECIMENTO DE CONCUBINATO E PARTILHA DE BENS PEDIDO ALTERNATIVO DE INDENIZACcedilAtildeO POR SERVICcedilOS PRESTADOS INDEFERIMENTO DE PLANO DA INICIAL IMPOSSIBILIDADE CERCEAMENTO DE DEFESA ASSISTEcircNCIA JUDICIAacuteRIA E GRATUIDADE DA JUSTICcedilA ALEGACcedilAtildeO DA PARTE DESNECESSIDADE DE DEMONSTRACcedilAtildeO DE O ADVOGADO NAtildeO ESTAR SENDO REMUNERADO PRESUNCcedilAtildeO RECURSO PROVIDO Pelo sistema legal vigente faz jus a parte aos benefiacutecios da assistecircncia judiciaacuteria mediante simples afirmaccedilatildeo na proacutepria peticcedilatildeo de que natildeo estaacute em condiccedilotildees de pagar as custas do processo e os honoraacuterios de advogado sem prejuiacutezo proacuteprio ou de sua famiacutelia O deferimento da gratuidade garantia assegurada constitucionalmente aos economicamente hipossuficientes (Constituiccedilatildeo art 5ordm LXXIV) natildeo exige que a parte demonstre que o advogado natildeo estaacute sendo por ela remunerado Enquanto a Justiccedila gratuita isenta de despesas processuais e condenaccedilatildeo em honoraacuterios advocatiacutecios a assistecircncia judiciaacuteria mais ampla enseja tambeacutem o patrociacutenio por profissional habilitado Caracteriza cerceamento de defesa o indeferimento de plano da inicial de accedilatildeo que pretendeu o reconhecimento de concubinato e partilha de bens com pedido alternativo de indenizaccedilatildeo de

171

aplicador do direito exerce um fundamental papel para que o processo natildeo seja um fim em si

mesmo mas sim um instrumento para a materializaccedilatildeo de um direito

Nota-se que o indeterminismo do termo insuficiecircncia de recursos aliado a mera

alegaccedilatildeo da necessidade poderia transviar o sentido da norma devendo o magistrado ficar

atento para que os privilegiados de fortuna natildeo ingressem gratuitamente no feito

Assim havendo elementos no processo que infirmem a alegaccedilatildeo do postulante ndash que

goza de presunccedilatildeo iuris tantum ndash a hipossuficiecircncia deve ser comprovada

Duacutevida fundada quanto agrave pobreza O juiz da causa valendo-se de criteacuterios

objetivos pode entender que a natureza da accedilatildeo movida pelo interessado demonstra que ele possui porte econocircmico para suportar as despesas do processo A declaraccedilatildeo pura e simples do interessado conquanto seja o uacutenico entrave burocraacutetico que se exige para liberar o magistrado para decidir em favor do peticionaacuterio natildeo eacute prova inequiacutevoca daquilo que ele afirma nem obriga o juiz a se curvar aos seus dizeres se de outras provas e circunstacircncias ficar evidenciado que o conceito de pobreza que a parte invoca natildeo eacute aquele que justifica a concessatildeo do privileacutegio Cabe ao magistrado livremente fazer juiacutezo de valor acerca do termo pobreza deferindo ou natildeo o benefiacutecio (NERY JUNIOR NERY 2015 p 477)

Infelizmente a finalidade do benefiacutecio natildeo raras vezes eacute distorcida seja pela

abstraccedilatildeo do conceito ou mesmo pela lisura do ser humano e isso contribui para o aumento de

demandas desqualificadas respaldadas na ausecircncia de riscos no caso de improcedecircncia

Para Maacutercio Pirocircpo Galvatildeo (2010) os mecanismos de acesso agrave justiccedila fomentam

accedilotildees despretensiosas ndash e cita como exemplos as accedilotildees trabalhistas e aquelas do acircmbito dos

Juizados Especiais ndash exclusivamente pela ausecircncia de custo econocircmico defende inclusive

que o acesso ao Judiciaacuterio de forma gratuita virou uma ldquoloteria onde todos querem tentar a

sorterdquo

E continua o autor citando a decisatildeo do Juiz de Direito da 2ordf Vara Ciacutevel da Comarca

de Dourados Dr Joseacute Carlos de Souza que as demandas desnecessaacuterias ldquoabarrotam o Poder

Judiciaacuterio e dificultam o acesso agrave Justiccedila de jurisdicionados com pretensotildees mais nobres

Incentivam o aumento da inadimplecircncia e sedimentam a cultura do natildeo-cumprimento dos

contratos [] Configuram provocaccedilatildeo abusiva da maacutequina judiciaacuteria e maacute-feacute do devedorrdquo

(GALVAtildeO 2010)

Como visto a utilizaccedilatildeo abusiva da gratuidade da justiccedila pode representar o

congestionamento da maacutequina judicial comprometendo a razoaacutevel duraccedilatildeo do processo e ao

serviccedilos prestados sem possibilitar agrave parte a produccedilatildeo de qualquer prova notadamente em se tratando de alegado relacionamento de mais de trinta anos (Recurso Especial nordm 91609SP 4ordf Turma do STJ Rel Min Saacutelvio de Figueiredo Teixeira Recorrente A P M R Recorrida V G F B j 160498 un DJU 080698 p 113)

172

reveacutes de seu proposito servir como oacutebice ao efetivo acesso agrave justiccedila daqueles que tem

realmente tem urgecircncia na prestaccedilatildeo jurisdicional

Talvez uma boa alternativa para se evitar decisotildees diacutespares e a banalizaccedilatildeo do

benefiacutecio ante a carga de subjetividade do seu pressuposto fosse exigir uma comprovaccedilatildeo

miacutenima da insuficiecircncia de recursos Afinal quem realmente necessita do benefiacutecio natildeo teria

dificuldade alguma em demonstrar a sua impossibilidade financeira para arcar com as

despesas processuais

Eacute certo que a Lei nordm 106050 e agora o Coacutedigo de Processo Civil estabelecem ocircnus

ao litigante que de maacute-feacute requereu o benefiacutecio da gratuidade todavia a prova nesse sentido

deve ser contundente o que estimula de certa forma pedidos indiscriminados de gratuidade

uma vez que sopesando os riscos os ganhos prevalecem

Destarte o que se percebe eacute que nesse ponto o legislador civil natildeo conseguiu

encerrar as discussotildees deixando a soluccedilatildeo para a doutrina e a jurisprudecircncia agora basta

saber como as discussotildees seratildeo encaminhadas de modo que natildeo se instale ndash ou aumente ndash um

estado de desconfianccedila em torno do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila em decorrecircncia dos

abusos praticados mas que tambeacutem natildeo se deixe de cumprir a sua preciacutepua finalidade

constitucional de ser um instrumento de acesso ao Judiciaacuterio daqueles que natildeo desfrutam de

plenas condiccedilotildees financeiras

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O atual Coacutedigo de Processo Civil atuou muito positivamente no que pertine ao

instituto da Gratuidade da Justiccedila ele alvoreceu pontos que a Lei nordm 106050 era retroacutegrada e

mesmo silente bem como normatizou questotildees jaacute consolidadas pela jurisprudecircncia

Em contrapartida a legislaccedilatildeo processual civil natildeo se fez clara quanto ao pressuposto

para a concessatildeo do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila mormente porque se limitou a prever

que a simples afirmaccedilatildeo de insuficiecircncia de recursos para pagar as despesas processuais eacute

suficiente ao seu deferimento

Afinal o que insuficiecircncia de recursos Qual o criteacuterio objetivo para se definir quem

se enquadra ou natildeo nesse perfil Mais uma vez a lei que trata sobre a gratuidade da justiccedila

silenciou nesse pormenor reservando ao aplicador do direito a missatildeo de examinar

casuisticamente quem eacute merecedor ou natildeo da benesse partindo de uma interpretaccedilatildeo

alicerccedilada na finalidade da lei ndash promover o acesso agrave justiccedila

173

Assim duas questotildees surgem A primeira eacute se o legislador foi relapso ou se ele

propositadamente preferiu a um conceito indeterminado para a concessatildeo do benefiacutecio E a

segunda eacute se ele agiu bem

E ao que se conclui eacute que a preferecircncia por um termo dotado de subjetivismo tem

um propoacutesito qual seja permitir que a lei seja adaptaacutevel as mais diversas situaccedilotildees do

cotidiano forense de modo a tornar o acesso agrave justiccedila um direito fundamental mais efetivo

Conquanto agrave segunda questatildeo (se ele agiu bem) apenas a experiecircncia praacutetica poderaacute dizer

notadamente porque vai depender e muito da consciecircncia do postulante (e seu advogado) o

qual eacute o real sabedor de sua condiccedilatildeo financeira

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ABREU Frederico do Valle Conceito juriacutedico indeterminado interpretaccedilatildeo da lei

processo e suposto poder discricionaacuterio do magistrado Jus Navigandi Teresina ano 9 n

674 10 maio 2005 Disponiacutevel em lthttpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=6674gt

Acesso em 27032016

ANGHER Anne Joyce (Org) Vade mecum acadecircmico de direito Rideel 21ed

atual e ampl Satildeo Paulo Rideel 2015

BRASIL Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Recurso Especial nordm

19980053550-0 Relator Ministro Carlos Alberto Menezes Data de Julgamento 02091999

Data de Publicaccedilatildeo DJ 25101999 p 79

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Agravo Regimental no Recurso

Especial nordm 20140315675-3 Relator Ministro Ricardo Villas Bocircas Cueva Data de

Julgamento 28042015 Data de Publicaccedilatildeo DJe 07052015

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Recurso Especial nordm

20040103656-9 Relator Ministro Carlos Alberto Menezes Direito Data de Julgamento

21112006 Data de Publicaccedilatildeo DJ 16042007 p 184

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Recurso Especial

20000060786-0 Relator Ministro Carlos Alberto Menezes Direito Data de Julgamento

22052001 Data de Publicaccedilatildeo 13082001 p 150

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Quarta Turma Recurso Especial 91609SP

Relator Ministro Saacutelvio de Figueiredo Teixeira Data de Publicaccedilatildeo 08061998 p 113

174

_____ Tribunal Regional Federal (4ordf Regiatildeo) Terceira Turma Agravo nordm

50101513420134040000 5010151-3420134040000 Relator Nicolau Konkel Juacutenior Data

de Julgamento 14082013Data de Publicaccedilatildeo 16082013

_____ Tribunal de Justiccedila do Estado do Paranaacute 16ordf Cacircmara Ciacutevel Agravo de

Instrumento nordm 14520235 PR 1452023-5 (Decisatildeo Monocraacutetica) Relator Paulo Cezar Bellio

Data de Julgamento 27102015 Data de Publicaccedilatildeo 05112015

CAPPELLETTI Mauro GARTH Bryant Acesso agrave justiccedila Trad Ellen Gracie

Northfleet Porto Alegre Seacutergio Fabris Editor 2002

CARNEIRO Paulo Cezar Pinheiro Normas Fundamentais do Processo Civil Em

Breves Comentaacuterios ao Novo Coacutedigo de Processo Civil Tereza Arruda Alvim Wambier et

al[coord] Satildeo Paulo Editora RT 2015

DELLORE Luiz Novo CPC o lado A da justiccedila gratuita Disponiacutevel em http

httpjotauolcombrjustica-gratuita-novo-cpc-lado publicado em 09 de marccedilo de 2015

Acesso em 27032016

______ Novo CPC o lado B da justiccedila gratuita Disponiacutevel em

httpjotauolcombrnovo-cpc-o-lado-b-da-justica-gratuita publicado em 13 de abril de

2015 Acesso em 27032016

GALESKI JUNIOR Irineu RIBEIRO Marcia Carla Pereira Direito e economia

uma abordagem sobre a assistecircncia judiciaacuteria gratuita In Publica Direito (recurso eletrocircnico

on-line) Fortaleza CONPEDI 2010

GALVAtildeO Maacutercio Pirocircpo Abuso de direito agrave gratuidade da Justiccedila Revista Jus

Navigandi Teresina ano 17 n 3339 22 ago 2012 Disponiacutevel em

lthttpsjuscombrartigos22466gt Acesso em 27032016

MARCACINI Augusto Tavares Rosa Assistecircncia Juriacutedica Assistecircncia Judiciaacuteria e

Justiccedila Gratuita Satildeo Paulo Editora Forense 2009 (ediccedilatildeo eletrocircnica)

MEDINA Joseacute Miguel Garcia Novo Coacutedigo de Processo Civil Comentado Satildeo

Paulo Editora RT 2015

NERY JUNIOR Nelson e NERY Rosa Maria de Andrade Comentaacuterios ao Coacutedigo

de Processo Civil Satildeo Paulo Editora RT 2015

NETO Emeteacuterio Silva de Oliveira VIANA Juvecircncio Vasconcelos Acesso agrave justiccedila

e o novo Coacutedigo de Processo Civil um olhar criacutetico Em Acesso agrave justiccedila (recurso eletrocircnico

on-line) Florianoacutepolis CONPEDIUFSC 2015

175

OLIVEIRA Rafael Alexandria de Da Gratuidade da Justiccedila Em Breves

Comentaacuterios ao Novo Coacutedigo de Processo Civil Tereza Arruda Alvim Wambier et

al[coord] Satildeo Paulo Editora RT 2015

SANTOS Boaventura de Souza Pela matildeo de Alice o social e o poliacutetico

na poacutes-modernidade Satildeo Paulo Cortez 2003

TARTURE Flaacutevia DELLORE Luiz Gratuidade da justiccedila no novo CPC Em

Revista de Processo Satildeo Paulo v 39 n 236 p 305-323 out 2014

176

magistrado aleacutem do que pode gerar inuacutemeros abusos por parte dos seus requerentes ndash ainda

mais quando a mera alegaccedilatildeo eacute bastante agrave concessatildeo do benefiacutecio ndash que diferentemente do

que alegam gozam de boa sauacutede financeira para arcar com as despesas processuais

(TARTUCE DELLORE 2015 p 314-315)

Mesmo antes da alteraccedilatildeo do CPC ainda na Lei nordm 106050 jaacute discutia a doutrina e

a jurisprudecircncia acerca dos pressupostos para a concessatildeo do benefiacutecio ante a vagueza dos

conceitos de hipossuficiente necessitado carente de recursos financeiros para arcar com as

custas do processo sem prejuiacutezo do sustento proacuteprio e de sua famiacutelia e a falta de um criteacuterio

objetivo miacutenimo para a concessatildeo do benefiacutecio5

Nada obstante o progresso vivenciado com o Coacutedigo de Processo Civil de 2015 no

que tange a gratuidade da justiccedila vecirc-se que no ponto concernente agrave triagem dos

hipossuficientes de recursos o legislador conservou um conceito juriacutedico indeterminado

Segundo Frederico do Valle Abreu (2005) o conceito juriacutedico indeterminado eacute

caracterizado pela ldquovaguidade semacircntica existente em certa norma com a finalidade de que

ela a norma permaneccedila ao ser aplicada sempre atual e correspondente aos anseios da

sociedade nos vaacuterios momentos histoacutericos em que a lei eacute interpretada e aplicadardquo

Assim o conteuacutedo abstrato do pressuposto insuficiecircncia de recursos tenha sido

propositadamente pensado pelo legislador por entender que o inteacuterprete na anaacutelise casuiacutestica

goza de melhores condiccedilotildees para valoraacute-lo refletindo pois uma decisatildeo mais justa

O autor Augusto Tavares Rosa Marcacini defende que a insuficiecircncia de recursos eacute

um conceito indeterminado e natildeo segue um padratildeo rigoroso por isso a melhor soluccedilatildeo eacute a

anaacutelise caso a caso

O conceito de necessitado natildeo eacute determinado mediante regras riacutegidas matemaacuteticas natildeo se utilizando limites numeacutericos determinados Tecircm direito ao benefiacutecio aqueles que natildeo podem arcar com os gastos necessaacuterios agrave participaccedilatildeo no processo na medida em que contabilizados os seus ganhos e os seus gastos com o proacuteprio sustento e da famiacutelia natildeo lhe reste numeraacuterio suficiente para tanto O direito ao benefiacutecio decorre da indisponibilidade financeira do sujeito Em face da notoacuteria insuficiecircncia do salaacuterio miacutenimo vigente em nosso paiacutes pode ser possiacutevel presumir que aquele que aufere ateacute cinco salaacuterios miacutenimos por exemplo eacute quase que certamente merecedor de usufruir dos benefiacutecios Mas como dissemos natildeo se deve utilizar nuacutemeros fechados como criteacuterio Um chefe de uma famiacutelia numerosa que pague aluguel e que tenha filhos em idade escolar por exemplo mesmo percebendo o equivalente a dez salaacuterios miacutenimos pode natildeo ter condiccedilotildees de arcar com as despesas de um processo De outro lado um jovem que viva com os pais os quais

5 Fernanda Tartuce e Luiz Dellore por exemplo no artigo escrito em coautoria Gratuidade da Justiccedila no novo CPC divergem sobre o assunto enquanto ela acredita ser acertada a opccedilatildeo do legislador em trazer um conceito dotado de subjetividade por outro lado ele discorda defendendo que ainda que a norma deixasse uma margem para a decisatildeo do juiz de acordo com a casuiacutestica deveria ao menos estabelecer um criteacuterio objetivo miacutenimo de modo a evitar disparidades nas decisotildees (2015 314-315)

168

provecircm o seu sustento moradia e estudo e que ganhe uns dois ou trecircs salaacuterios miacutenimos que natildeo satildeo empregados em qualquer despesa essencial para sua mantenccedila pode natildeo ser considerado beneficiaacuterio (2009 p 90-91)

Nesse espectro o aplicador da norma juriacutedica eacute quem tem o poder-dever de

materializar no caso concreto o conceito juriacutedico indeterminado do que eacute ser necessitado

economicamente para arcar com as despesas processuais dando assim maior efetividade ao

preceito constitucional do acesso agrave justiccedila

Atento agraves alteraccedilotildees do Coacutedigo de Processo Civil quanto ao tema leciona Rafael

Alexandria de Oliveira

Insuficiecircncia de recursos Faz jus ao benefiacutecio da gratuidade aquela pessoa com lsquoinsuficiecircncia de recursos para pagar as custas despesas processuais e honoraacuterios advocatiacuteciosrsquo Natildeo se exige a miserabilidade nem estado de necessidade nem tampouco se fala em renda familiar ou faturamento maacuteximos Eacute possiacutevel que uma pessoa natural mesmo com boa renda mensal seja merecedora do benefiacutecio e que tambeacutem o seja aquele sujeito que eacute proprietaacuterio de bens imoacuteveis mas natildeo dispotildee de liquidez A gratuidade judiciaacuteria eacute um dos mecanismos de viabilizaccedilatildeo do acesso agrave justiccedila natildeo se pode exigir que para ter acesso agrave justiccedila o sujeito tenha que comprometer significativamente a sua renda ou tenha que se desfazer de seus bens liquidando-os para angariar recursos e custear o processo A lei natildeo fala em nuacutemeros natildeo estabelece paracircmetros O sujeito que ganha boa renda mensal pode ser tatildeo merecedor do benefiacutecio quanto aquele que sobrevive agrave custa de programas de complementaccedilatildeo de renda O que pode diferenciaacute-los eacute a maior ou menor dificuldade com que o pedido de concessatildeo do benefiacutecio eacute tratado o de melhor renda pode ser chamado a justificar o seu requerimento provando a insuficiecircncia de recursos Por isso mesmo nem sempre o beneficiaacuterio seraacute algueacutem em situaccedilatildeo de necessidade de vulnerabilidade de miseacuteria de penuacuteria Eacute preciso atentar para isso (2015 p 359)

Eacute compreensiacutevel a carga de subjetividade impregnada ao termo insuficiecircncia de

recursos notadamente porque o legislador adotando a teoria do direito processual

constitucional (art 1ordm do CPC) quis que a normativa do benefiacutecio atendesse realmente agraves

exigecircncias da sociedade hodierna deixando ao encargo do juiz o dever juriacutedico de buscar

identificar e adotar a soluccedilatildeo apta a no caso concreto alcanccedilar satisfatoriamente a finalidade6

da norma ndash de que garantir a todos o acesso agrave justiccedila

Todavia eacute cediccedilo que a valoraccedilatildeo de um conceito subjetivo pelo magistrado (assim

como para qualquer pessoa) transcende a sua formaccedilatildeo juriacutedica e mesmo que inconsciente

revela suas convicccedilotildees pessoais (crenccedilas valores referecircncias sociais) deste modo o que no

sentir de um julgador eacute pessoa hipossuficiente aos olhos do outro natildeo o eacute eacute aiacute que repousam

as ldquoinjusticcedilasrdquo

6 Interpretaccedilatildeo teleoloacutegica

169

A falta de a lei definir um criteacuterio objetivo miacutenimo para se determinar o que eacute a

insuficiecircncia de recursos demandou trabalho da doutrina e especialmente da jurisprudecircncia

que mesmo timidamente adotou os mais diversos paracircmetros

Nesse sentido uma das primeiras orientaccedilotildees que surge na jurisprudecircncia eacute a

necessidade de prova cabal da insuficiecircncia de recursos para a concessatildeo do benefiacutecio da

gratuidade agraves pessoas juriacutedicas7 Depois de muita discussatildeo o entendimento sedimentado na

jurisprudecircncia8 foi consagrado pelo legislador no Coacutedigo de Processo Civil de 2015 em seu

artigo 98 caput

Tambeacutem se firmou o entendimento de que o requerente que se dedica a emprestar

dinheiro natildeo faz jus ao benefiacutecio uma vez que tal circunstacircncia eacute incompatiacutevel com a alegada

necessidade (NERY JUNIOR NERY 2015 p 475)

Os Tribunais tambeacutem jaacute fixaram como criteacuterio objetivo para se determinar se o

requerente eacute realmente hipossuficiente a renda mensal inferior a dez salaacuterios miacutenimos9

todavia o Superior Tribunal de Justiccedila jaacute refutou a utilizaccedilatildeo desse criteacuterio sob o fundamento

de que a desconstituiccedilatildeo da presunccedilatildeo estabelecida pela lei de gratuidade de justiccedila exige

perquirir in concreto a atual situaccedilatildeo financeira do requerenterdquo10

Outro paracircmetro que tem sido utilizado pelos juristas para aferir a condiccedilatildeo de

miserabilidade do requerente eacute a faixa de isenccedilatildeo do Imposto de Renda extraiacutedo da tabela

progressiva do tributo devidamente atualizada11

O criteacuterio do patrociacutenio da causa por advogado particular para afastar a benesse jaacute

era rechaccedilado pela jurisprudecircncia12 e foi recepcionado pelo atual Coacutedigo de Processo Civil em

seu artigo 99 sect4ordm 7 Assistecircncia judiciaacuteria Pessoa juriacutedica Demonstraccedilatildeo cabal da insuficiecircncia de recursos 1 Ademais de fundamentado exclusivamente na interpretaccedilatildeo do art 5ordm LXXIV da Constituiccedilatildeo Federal o certo eacute que a Corte jaacute assentou a necessidade de demonstraccedilatildeo cabal da insuficiecircncia de recursos para que a empresa possa desfrutar dos benefiacutecios da assistecircncia judiciaacuteria 2 Recurso especial natildeo conhecido (STJ - REsp 182557 RJ 19980053550-0 Relator Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO Data de Julgamento 02091999 T3 - TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJ 25101999 p 79) 8 Suacutemula 481 STJ Faz jus ao benefiacutecio da justiccedila gratuita a pessoa juriacutedica com ou sem fins lucrativos que demonstrar sua impossibilidade de arcar com os encargos processuais 9 ADMINISTRATIVO AGRAVO DE INSTRUMENTO ASSISTEcircNCIA JUDICIAacuteRIA GRATUITA - AJG PARAcircMETRO DEZ SALAacuteRIOS MIacuteNIMOS 1 A Segunda Seccedilatildeo desta Corte vem consolidando entendimento no sentido de fixar patamar objetivo para a concessatildeo do benefiacutecio da AJG qual seja dez salaacuterios miacutenimo 2 Hipoacutetese em que a agravante comprovou renda mensal bem inferior ao limite paradigmaacutetico destacado inexistindo qualquer razatildeo para o indeferimento do pleito em prestiacutegio agrave norma de regecircncia (Lei n 10601950) e ao princiacutepio da acessibilidade (artigo 5ordm XXXV Constituiccedilatildeo Federal) (TRF-4 - AG 50101513420134040000 5010151-3420134040000 Relator NICOLAU KONKEL JUacuteNIOR Data de Julgamento 14082013 TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DE 16082013) 10 STJ - AgRg no AREsp 626487 MG 20140315675-3 Relator Ministro RICARDO VILLAS BOcircAS CUEVA Data de Julgamento 28042015 T3 - TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJe 07052015 11 TJ-PR - AI 14520235 PR 1452023-5 (Decisatildeo Monocraacutetica) Relator Paulo Cezar Bellio Data de Julgamento 27102015 16ordf Cacircmara Ciacutevel Data de Publicaccedilatildeo DJ 1683 05112015

170

O Superior Tribunal de Justiccedila preconiza que o inteacuterprete deve conjugar o binocircmio

necessidade-possibilidade assim para se conceder o benefiacutecio da gratuidade da justiccedila deve-

se considerar natildeo apenas os rendimentos mensais do requerente mas tambeacutem o

comprometimento de suas despesas13

A anaacutelise da condiccedilatildeo financeira do postulante deve ficar restrita a sua situaccedilatildeo

presente e natildeo ao seu histoacuterico de riquezas o simples fato de o requerente jaacute ter sido rico

empresaacuterio ou pessoa de posses natildeo significa que natildeo possa ser hoje pessoa pobre na

acepccedilatildeo juriacutedica do termo e necessitar da assistecircncia judiciaacuteria Da mesma forma a reciacuteproca

eacute verdadeira o pobre que eacute beneficiaacuterio da gratuidade pode por fatores supervenientes

tornar-se pessoa abastada financeiramente o que certamente lhe cassaraacute o benefiacutecio (NERY

JUNIOR NERY 2015 p 477)

Destarte a adoccedilatildeo pelo juiz de um paracircmetro como ponto de partida para verificar o

preenchimento dos requisitos para a concessatildeo da justiccedila gratuita natildeo deve ser visto como

violador da norma Bem da verdade a gratuidade da justiccedila eacute uma das portas de acesso ao

Poder Judiciaacuterio entretanto natildeo pode ser utilizada pelo beneficiaacuterio tatildeo-somente para se

furtar das obrigaccedilotildees oriundas do processo

A Lei nordm 106050 exigia em sua redaccedilatildeo original que o requerente comprovasse o

estado de pobreza alegado hoje ndash a partir da nova redaccedilatildeo dada ao art 4ordm sect1ordm da referida lei

pela Lei Federal nordm 751086 ndash basta a simples afirmaccedilatildeo de necessidade do benefiacutecio o que

inclusive eacute referendado pela jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila14 Nesse sentir o

12 Assistecircncia judiciaacuteria Defensoria Puacuteblica Advogado particular Interpretaccedilatildeo da Lei nordm 106050 1 Natildeo eacute suficiente para afastar a assistecircncia judiciaacuteria a existecircncia de advogado contratado O que a lei especial de regecircncia exige eacute a presenccedila do estado de pobreza ou seja da necessidade da assistecircncia judiciaacuteria por impossibilidade de responder pelas custas que poderaacute ser enfrentada com prova que a desfaccedila Natildeo serve para medir isso a qualidade do defensor se puacuteblico ou particular 2 Recurso especial conhecido e provido (STJ - REsp 679198 PR 20040103656-9 Relator Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO Data de Julgamento 21112006 T3 - TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJ 16042007 p 184) 13 STJ - REsp 263781 SP 20000060786-0 Relator Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO Data de Julgamento 22052001 T3 - TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo lt-- DTPB 20010813ltbrgt --gt DJ 13082001 p 150ltbrgt JBCC vol 193 p 249 14PROCESSUAL CIVIL RECONHECIMENTO DE CONCUBINATO E PARTILHA DE BENS PEDIDO ALTERNATIVO DE INDENIZACcedilAtildeO POR SERVICcedilOS PRESTADOS INDEFERIMENTO DE PLANO DA INICIAL IMPOSSIBILIDADE CERCEAMENTO DE DEFESA ASSISTEcircNCIA JUDICIAacuteRIA E GRATUIDADE DA JUSTICcedilA ALEGACcedilAtildeO DA PARTE DESNECESSIDADE DE DEMONSTRACcedilAtildeO DE O ADVOGADO NAtildeO ESTAR SENDO REMUNERADO PRESUNCcedilAtildeO RECURSO PROVIDO Pelo sistema legal vigente faz jus a parte aos benefiacutecios da assistecircncia judiciaacuteria mediante simples afirmaccedilatildeo na proacutepria peticcedilatildeo de que natildeo estaacute em condiccedilotildees de pagar as custas do processo e os honoraacuterios de advogado sem prejuiacutezo proacuteprio ou de sua famiacutelia O deferimento da gratuidade garantia assegurada constitucionalmente aos economicamente hipossuficientes (Constituiccedilatildeo art 5ordm LXXIV) natildeo exige que a parte demonstre que o advogado natildeo estaacute sendo por ela remunerado Enquanto a Justiccedila gratuita isenta de despesas processuais e condenaccedilatildeo em honoraacuterios advocatiacutecios a assistecircncia judiciaacuteria mais ampla enseja tambeacutem o patrociacutenio por profissional habilitado Caracteriza cerceamento de defesa o indeferimento de plano da inicial de accedilatildeo que pretendeu o reconhecimento de concubinato e partilha de bens com pedido alternativo de indenizaccedilatildeo de

171

aplicador do direito exerce um fundamental papel para que o processo natildeo seja um fim em si

mesmo mas sim um instrumento para a materializaccedilatildeo de um direito

Nota-se que o indeterminismo do termo insuficiecircncia de recursos aliado a mera

alegaccedilatildeo da necessidade poderia transviar o sentido da norma devendo o magistrado ficar

atento para que os privilegiados de fortuna natildeo ingressem gratuitamente no feito

Assim havendo elementos no processo que infirmem a alegaccedilatildeo do postulante ndash que

goza de presunccedilatildeo iuris tantum ndash a hipossuficiecircncia deve ser comprovada

Duacutevida fundada quanto agrave pobreza O juiz da causa valendo-se de criteacuterios

objetivos pode entender que a natureza da accedilatildeo movida pelo interessado demonstra que ele possui porte econocircmico para suportar as despesas do processo A declaraccedilatildeo pura e simples do interessado conquanto seja o uacutenico entrave burocraacutetico que se exige para liberar o magistrado para decidir em favor do peticionaacuterio natildeo eacute prova inequiacutevoca daquilo que ele afirma nem obriga o juiz a se curvar aos seus dizeres se de outras provas e circunstacircncias ficar evidenciado que o conceito de pobreza que a parte invoca natildeo eacute aquele que justifica a concessatildeo do privileacutegio Cabe ao magistrado livremente fazer juiacutezo de valor acerca do termo pobreza deferindo ou natildeo o benefiacutecio (NERY JUNIOR NERY 2015 p 477)

Infelizmente a finalidade do benefiacutecio natildeo raras vezes eacute distorcida seja pela

abstraccedilatildeo do conceito ou mesmo pela lisura do ser humano e isso contribui para o aumento de

demandas desqualificadas respaldadas na ausecircncia de riscos no caso de improcedecircncia

Para Maacutercio Pirocircpo Galvatildeo (2010) os mecanismos de acesso agrave justiccedila fomentam

accedilotildees despretensiosas ndash e cita como exemplos as accedilotildees trabalhistas e aquelas do acircmbito dos

Juizados Especiais ndash exclusivamente pela ausecircncia de custo econocircmico defende inclusive

que o acesso ao Judiciaacuterio de forma gratuita virou uma ldquoloteria onde todos querem tentar a

sorterdquo

E continua o autor citando a decisatildeo do Juiz de Direito da 2ordf Vara Ciacutevel da Comarca

de Dourados Dr Joseacute Carlos de Souza que as demandas desnecessaacuterias ldquoabarrotam o Poder

Judiciaacuterio e dificultam o acesso agrave Justiccedila de jurisdicionados com pretensotildees mais nobres

Incentivam o aumento da inadimplecircncia e sedimentam a cultura do natildeo-cumprimento dos

contratos [] Configuram provocaccedilatildeo abusiva da maacutequina judiciaacuteria e maacute-feacute do devedorrdquo

(GALVAtildeO 2010)

Como visto a utilizaccedilatildeo abusiva da gratuidade da justiccedila pode representar o

congestionamento da maacutequina judicial comprometendo a razoaacutevel duraccedilatildeo do processo e ao

serviccedilos prestados sem possibilitar agrave parte a produccedilatildeo de qualquer prova notadamente em se tratando de alegado relacionamento de mais de trinta anos (Recurso Especial nordm 91609SP 4ordf Turma do STJ Rel Min Saacutelvio de Figueiredo Teixeira Recorrente A P M R Recorrida V G F B j 160498 un DJU 080698 p 113)

172

reveacutes de seu proposito servir como oacutebice ao efetivo acesso agrave justiccedila daqueles que tem

realmente tem urgecircncia na prestaccedilatildeo jurisdicional

Talvez uma boa alternativa para se evitar decisotildees diacutespares e a banalizaccedilatildeo do

benefiacutecio ante a carga de subjetividade do seu pressuposto fosse exigir uma comprovaccedilatildeo

miacutenima da insuficiecircncia de recursos Afinal quem realmente necessita do benefiacutecio natildeo teria

dificuldade alguma em demonstrar a sua impossibilidade financeira para arcar com as

despesas processuais

Eacute certo que a Lei nordm 106050 e agora o Coacutedigo de Processo Civil estabelecem ocircnus

ao litigante que de maacute-feacute requereu o benefiacutecio da gratuidade todavia a prova nesse sentido

deve ser contundente o que estimula de certa forma pedidos indiscriminados de gratuidade

uma vez que sopesando os riscos os ganhos prevalecem

Destarte o que se percebe eacute que nesse ponto o legislador civil natildeo conseguiu

encerrar as discussotildees deixando a soluccedilatildeo para a doutrina e a jurisprudecircncia agora basta

saber como as discussotildees seratildeo encaminhadas de modo que natildeo se instale ndash ou aumente ndash um

estado de desconfianccedila em torno do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila em decorrecircncia dos

abusos praticados mas que tambeacutem natildeo se deixe de cumprir a sua preciacutepua finalidade

constitucional de ser um instrumento de acesso ao Judiciaacuterio daqueles que natildeo desfrutam de

plenas condiccedilotildees financeiras

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O atual Coacutedigo de Processo Civil atuou muito positivamente no que pertine ao

instituto da Gratuidade da Justiccedila ele alvoreceu pontos que a Lei nordm 106050 era retroacutegrada e

mesmo silente bem como normatizou questotildees jaacute consolidadas pela jurisprudecircncia

Em contrapartida a legislaccedilatildeo processual civil natildeo se fez clara quanto ao pressuposto

para a concessatildeo do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila mormente porque se limitou a prever

que a simples afirmaccedilatildeo de insuficiecircncia de recursos para pagar as despesas processuais eacute

suficiente ao seu deferimento

Afinal o que insuficiecircncia de recursos Qual o criteacuterio objetivo para se definir quem

se enquadra ou natildeo nesse perfil Mais uma vez a lei que trata sobre a gratuidade da justiccedila

silenciou nesse pormenor reservando ao aplicador do direito a missatildeo de examinar

casuisticamente quem eacute merecedor ou natildeo da benesse partindo de uma interpretaccedilatildeo

alicerccedilada na finalidade da lei ndash promover o acesso agrave justiccedila

173

Assim duas questotildees surgem A primeira eacute se o legislador foi relapso ou se ele

propositadamente preferiu a um conceito indeterminado para a concessatildeo do benefiacutecio E a

segunda eacute se ele agiu bem

E ao que se conclui eacute que a preferecircncia por um termo dotado de subjetivismo tem

um propoacutesito qual seja permitir que a lei seja adaptaacutevel as mais diversas situaccedilotildees do

cotidiano forense de modo a tornar o acesso agrave justiccedila um direito fundamental mais efetivo

Conquanto agrave segunda questatildeo (se ele agiu bem) apenas a experiecircncia praacutetica poderaacute dizer

notadamente porque vai depender e muito da consciecircncia do postulante (e seu advogado) o

qual eacute o real sabedor de sua condiccedilatildeo financeira

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ABREU Frederico do Valle Conceito juriacutedico indeterminado interpretaccedilatildeo da lei

processo e suposto poder discricionaacuterio do magistrado Jus Navigandi Teresina ano 9 n

674 10 maio 2005 Disponiacutevel em lthttpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=6674gt

Acesso em 27032016

ANGHER Anne Joyce (Org) Vade mecum acadecircmico de direito Rideel 21ed

atual e ampl Satildeo Paulo Rideel 2015

BRASIL Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Recurso Especial nordm

19980053550-0 Relator Ministro Carlos Alberto Menezes Data de Julgamento 02091999

Data de Publicaccedilatildeo DJ 25101999 p 79

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Agravo Regimental no Recurso

Especial nordm 20140315675-3 Relator Ministro Ricardo Villas Bocircas Cueva Data de

Julgamento 28042015 Data de Publicaccedilatildeo DJe 07052015

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Recurso Especial nordm

20040103656-9 Relator Ministro Carlos Alberto Menezes Direito Data de Julgamento

21112006 Data de Publicaccedilatildeo DJ 16042007 p 184

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Recurso Especial

20000060786-0 Relator Ministro Carlos Alberto Menezes Direito Data de Julgamento

22052001 Data de Publicaccedilatildeo 13082001 p 150

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Quarta Turma Recurso Especial 91609SP

Relator Ministro Saacutelvio de Figueiredo Teixeira Data de Publicaccedilatildeo 08061998 p 113

174

_____ Tribunal Regional Federal (4ordf Regiatildeo) Terceira Turma Agravo nordm

50101513420134040000 5010151-3420134040000 Relator Nicolau Konkel Juacutenior Data

de Julgamento 14082013Data de Publicaccedilatildeo 16082013

_____ Tribunal de Justiccedila do Estado do Paranaacute 16ordf Cacircmara Ciacutevel Agravo de

Instrumento nordm 14520235 PR 1452023-5 (Decisatildeo Monocraacutetica) Relator Paulo Cezar Bellio

Data de Julgamento 27102015 Data de Publicaccedilatildeo 05112015

CAPPELLETTI Mauro GARTH Bryant Acesso agrave justiccedila Trad Ellen Gracie

Northfleet Porto Alegre Seacutergio Fabris Editor 2002

CARNEIRO Paulo Cezar Pinheiro Normas Fundamentais do Processo Civil Em

Breves Comentaacuterios ao Novo Coacutedigo de Processo Civil Tereza Arruda Alvim Wambier et

al[coord] Satildeo Paulo Editora RT 2015

DELLORE Luiz Novo CPC o lado A da justiccedila gratuita Disponiacutevel em http

httpjotauolcombrjustica-gratuita-novo-cpc-lado publicado em 09 de marccedilo de 2015

Acesso em 27032016

______ Novo CPC o lado B da justiccedila gratuita Disponiacutevel em

httpjotauolcombrnovo-cpc-o-lado-b-da-justica-gratuita publicado em 13 de abril de

2015 Acesso em 27032016

GALESKI JUNIOR Irineu RIBEIRO Marcia Carla Pereira Direito e economia

uma abordagem sobre a assistecircncia judiciaacuteria gratuita In Publica Direito (recurso eletrocircnico

on-line) Fortaleza CONPEDI 2010

GALVAtildeO Maacutercio Pirocircpo Abuso de direito agrave gratuidade da Justiccedila Revista Jus

Navigandi Teresina ano 17 n 3339 22 ago 2012 Disponiacutevel em

lthttpsjuscombrartigos22466gt Acesso em 27032016

MARCACINI Augusto Tavares Rosa Assistecircncia Juriacutedica Assistecircncia Judiciaacuteria e

Justiccedila Gratuita Satildeo Paulo Editora Forense 2009 (ediccedilatildeo eletrocircnica)

MEDINA Joseacute Miguel Garcia Novo Coacutedigo de Processo Civil Comentado Satildeo

Paulo Editora RT 2015

NERY JUNIOR Nelson e NERY Rosa Maria de Andrade Comentaacuterios ao Coacutedigo

de Processo Civil Satildeo Paulo Editora RT 2015

NETO Emeteacuterio Silva de Oliveira VIANA Juvecircncio Vasconcelos Acesso agrave justiccedila

e o novo Coacutedigo de Processo Civil um olhar criacutetico Em Acesso agrave justiccedila (recurso eletrocircnico

on-line) Florianoacutepolis CONPEDIUFSC 2015

175

OLIVEIRA Rafael Alexandria de Da Gratuidade da Justiccedila Em Breves

Comentaacuterios ao Novo Coacutedigo de Processo Civil Tereza Arruda Alvim Wambier et

al[coord] Satildeo Paulo Editora RT 2015

SANTOS Boaventura de Souza Pela matildeo de Alice o social e o poliacutetico

na poacutes-modernidade Satildeo Paulo Cortez 2003

TARTURE Flaacutevia DELLORE Luiz Gratuidade da justiccedila no novo CPC Em

Revista de Processo Satildeo Paulo v 39 n 236 p 305-323 out 2014

176

provecircm o seu sustento moradia e estudo e que ganhe uns dois ou trecircs salaacuterios miacutenimos que natildeo satildeo empregados em qualquer despesa essencial para sua mantenccedila pode natildeo ser considerado beneficiaacuterio (2009 p 90-91)

Nesse espectro o aplicador da norma juriacutedica eacute quem tem o poder-dever de

materializar no caso concreto o conceito juriacutedico indeterminado do que eacute ser necessitado

economicamente para arcar com as despesas processuais dando assim maior efetividade ao

preceito constitucional do acesso agrave justiccedila

Atento agraves alteraccedilotildees do Coacutedigo de Processo Civil quanto ao tema leciona Rafael

Alexandria de Oliveira

Insuficiecircncia de recursos Faz jus ao benefiacutecio da gratuidade aquela pessoa com lsquoinsuficiecircncia de recursos para pagar as custas despesas processuais e honoraacuterios advocatiacuteciosrsquo Natildeo se exige a miserabilidade nem estado de necessidade nem tampouco se fala em renda familiar ou faturamento maacuteximos Eacute possiacutevel que uma pessoa natural mesmo com boa renda mensal seja merecedora do benefiacutecio e que tambeacutem o seja aquele sujeito que eacute proprietaacuterio de bens imoacuteveis mas natildeo dispotildee de liquidez A gratuidade judiciaacuteria eacute um dos mecanismos de viabilizaccedilatildeo do acesso agrave justiccedila natildeo se pode exigir que para ter acesso agrave justiccedila o sujeito tenha que comprometer significativamente a sua renda ou tenha que se desfazer de seus bens liquidando-os para angariar recursos e custear o processo A lei natildeo fala em nuacutemeros natildeo estabelece paracircmetros O sujeito que ganha boa renda mensal pode ser tatildeo merecedor do benefiacutecio quanto aquele que sobrevive agrave custa de programas de complementaccedilatildeo de renda O que pode diferenciaacute-los eacute a maior ou menor dificuldade com que o pedido de concessatildeo do benefiacutecio eacute tratado o de melhor renda pode ser chamado a justificar o seu requerimento provando a insuficiecircncia de recursos Por isso mesmo nem sempre o beneficiaacuterio seraacute algueacutem em situaccedilatildeo de necessidade de vulnerabilidade de miseacuteria de penuacuteria Eacute preciso atentar para isso (2015 p 359)

Eacute compreensiacutevel a carga de subjetividade impregnada ao termo insuficiecircncia de

recursos notadamente porque o legislador adotando a teoria do direito processual

constitucional (art 1ordm do CPC) quis que a normativa do benefiacutecio atendesse realmente agraves

exigecircncias da sociedade hodierna deixando ao encargo do juiz o dever juriacutedico de buscar

identificar e adotar a soluccedilatildeo apta a no caso concreto alcanccedilar satisfatoriamente a finalidade6

da norma ndash de que garantir a todos o acesso agrave justiccedila

Todavia eacute cediccedilo que a valoraccedilatildeo de um conceito subjetivo pelo magistrado (assim

como para qualquer pessoa) transcende a sua formaccedilatildeo juriacutedica e mesmo que inconsciente

revela suas convicccedilotildees pessoais (crenccedilas valores referecircncias sociais) deste modo o que no

sentir de um julgador eacute pessoa hipossuficiente aos olhos do outro natildeo o eacute eacute aiacute que repousam

as ldquoinjusticcedilasrdquo

6 Interpretaccedilatildeo teleoloacutegica

169

A falta de a lei definir um criteacuterio objetivo miacutenimo para se determinar o que eacute a

insuficiecircncia de recursos demandou trabalho da doutrina e especialmente da jurisprudecircncia

que mesmo timidamente adotou os mais diversos paracircmetros

Nesse sentido uma das primeiras orientaccedilotildees que surge na jurisprudecircncia eacute a

necessidade de prova cabal da insuficiecircncia de recursos para a concessatildeo do benefiacutecio da

gratuidade agraves pessoas juriacutedicas7 Depois de muita discussatildeo o entendimento sedimentado na

jurisprudecircncia8 foi consagrado pelo legislador no Coacutedigo de Processo Civil de 2015 em seu

artigo 98 caput

Tambeacutem se firmou o entendimento de que o requerente que se dedica a emprestar

dinheiro natildeo faz jus ao benefiacutecio uma vez que tal circunstacircncia eacute incompatiacutevel com a alegada

necessidade (NERY JUNIOR NERY 2015 p 475)

Os Tribunais tambeacutem jaacute fixaram como criteacuterio objetivo para se determinar se o

requerente eacute realmente hipossuficiente a renda mensal inferior a dez salaacuterios miacutenimos9

todavia o Superior Tribunal de Justiccedila jaacute refutou a utilizaccedilatildeo desse criteacuterio sob o fundamento

de que a desconstituiccedilatildeo da presunccedilatildeo estabelecida pela lei de gratuidade de justiccedila exige

perquirir in concreto a atual situaccedilatildeo financeira do requerenterdquo10

Outro paracircmetro que tem sido utilizado pelos juristas para aferir a condiccedilatildeo de

miserabilidade do requerente eacute a faixa de isenccedilatildeo do Imposto de Renda extraiacutedo da tabela

progressiva do tributo devidamente atualizada11

O criteacuterio do patrociacutenio da causa por advogado particular para afastar a benesse jaacute

era rechaccedilado pela jurisprudecircncia12 e foi recepcionado pelo atual Coacutedigo de Processo Civil em

seu artigo 99 sect4ordm 7 Assistecircncia judiciaacuteria Pessoa juriacutedica Demonstraccedilatildeo cabal da insuficiecircncia de recursos 1 Ademais de fundamentado exclusivamente na interpretaccedilatildeo do art 5ordm LXXIV da Constituiccedilatildeo Federal o certo eacute que a Corte jaacute assentou a necessidade de demonstraccedilatildeo cabal da insuficiecircncia de recursos para que a empresa possa desfrutar dos benefiacutecios da assistecircncia judiciaacuteria 2 Recurso especial natildeo conhecido (STJ - REsp 182557 RJ 19980053550-0 Relator Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO Data de Julgamento 02091999 T3 - TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJ 25101999 p 79) 8 Suacutemula 481 STJ Faz jus ao benefiacutecio da justiccedila gratuita a pessoa juriacutedica com ou sem fins lucrativos que demonstrar sua impossibilidade de arcar com os encargos processuais 9 ADMINISTRATIVO AGRAVO DE INSTRUMENTO ASSISTEcircNCIA JUDICIAacuteRIA GRATUITA - AJG PARAcircMETRO DEZ SALAacuteRIOS MIacuteNIMOS 1 A Segunda Seccedilatildeo desta Corte vem consolidando entendimento no sentido de fixar patamar objetivo para a concessatildeo do benefiacutecio da AJG qual seja dez salaacuterios miacutenimo 2 Hipoacutetese em que a agravante comprovou renda mensal bem inferior ao limite paradigmaacutetico destacado inexistindo qualquer razatildeo para o indeferimento do pleito em prestiacutegio agrave norma de regecircncia (Lei n 10601950) e ao princiacutepio da acessibilidade (artigo 5ordm XXXV Constituiccedilatildeo Federal) (TRF-4 - AG 50101513420134040000 5010151-3420134040000 Relator NICOLAU KONKEL JUacuteNIOR Data de Julgamento 14082013 TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DE 16082013) 10 STJ - AgRg no AREsp 626487 MG 20140315675-3 Relator Ministro RICARDO VILLAS BOcircAS CUEVA Data de Julgamento 28042015 T3 - TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJe 07052015 11 TJ-PR - AI 14520235 PR 1452023-5 (Decisatildeo Monocraacutetica) Relator Paulo Cezar Bellio Data de Julgamento 27102015 16ordf Cacircmara Ciacutevel Data de Publicaccedilatildeo DJ 1683 05112015

170

O Superior Tribunal de Justiccedila preconiza que o inteacuterprete deve conjugar o binocircmio

necessidade-possibilidade assim para se conceder o benefiacutecio da gratuidade da justiccedila deve-

se considerar natildeo apenas os rendimentos mensais do requerente mas tambeacutem o

comprometimento de suas despesas13

A anaacutelise da condiccedilatildeo financeira do postulante deve ficar restrita a sua situaccedilatildeo

presente e natildeo ao seu histoacuterico de riquezas o simples fato de o requerente jaacute ter sido rico

empresaacuterio ou pessoa de posses natildeo significa que natildeo possa ser hoje pessoa pobre na

acepccedilatildeo juriacutedica do termo e necessitar da assistecircncia judiciaacuteria Da mesma forma a reciacuteproca

eacute verdadeira o pobre que eacute beneficiaacuterio da gratuidade pode por fatores supervenientes

tornar-se pessoa abastada financeiramente o que certamente lhe cassaraacute o benefiacutecio (NERY

JUNIOR NERY 2015 p 477)

Destarte a adoccedilatildeo pelo juiz de um paracircmetro como ponto de partida para verificar o

preenchimento dos requisitos para a concessatildeo da justiccedila gratuita natildeo deve ser visto como

violador da norma Bem da verdade a gratuidade da justiccedila eacute uma das portas de acesso ao

Poder Judiciaacuterio entretanto natildeo pode ser utilizada pelo beneficiaacuterio tatildeo-somente para se

furtar das obrigaccedilotildees oriundas do processo

A Lei nordm 106050 exigia em sua redaccedilatildeo original que o requerente comprovasse o

estado de pobreza alegado hoje ndash a partir da nova redaccedilatildeo dada ao art 4ordm sect1ordm da referida lei

pela Lei Federal nordm 751086 ndash basta a simples afirmaccedilatildeo de necessidade do benefiacutecio o que

inclusive eacute referendado pela jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila14 Nesse sentir o

12 Assistecircncia judiciaacuteria Defensoria Puacuteblica Advogado particular Interpretaccedilatildeo da Lei nordm 106050 1 Natildeo eacute suficiente para afastar a assistecircncia judiciaacuteria a existecircncia de advogado contratado O que a lei especial de regecircncia exige eacute a presenccedila do estado de pobreza ou seja da necessidade da assistecircncia judiciaacuteria por impossibilidade de responder pelas custas que poderaacute ser enfrentada com prova que a desfaccedila Natildeo serve para medir isso a qualidade do defensor se puacuteblico ou particular 2 Recurso especial conhecido e provido (STJ - REsp 679198 PR 20040103656-9 Relator Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO Data de Julgamento 21112006 T3 - TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJ 16042007 p 184) 13 STJ - REsp 263781 SP 20000060786-0 Relator Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO Data de Julgamento 22052001 T3 - TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo lt-- DTPB 20010813ltbrgt --gt DJ 13082001 p 150ltbrgt JBCC vol 193 p 249 14PROCESSUAL CIVIL RECONHECIMENTO DE CONCUBINATO E PARTILHA DE BENS PEDIDO ALTERNATIVO DE INDENIZACcedilAtildeO POR SERVICcedilOS PRESTADOS INDEFERIMENTO DE PLANO DA INICIAL IMPOSSIBILIDADE CERCEAMENTO DE DEFESA ASSISTEcircNCIA JUDICIAacuteRIA E GRATUIDADE DA JUSTICcedilA ALEGACcedilAtildeO DA PARTE DESNECESSIDADE DE DEMONSTRACcedilAtildeO DE O ADVOGADO NAtildeO ESTAR SENDO REMUNERADO PRESUNCcedilAtildeO RECURSO PROVIDO Pelo sistema legal vigente faz jus a parte aos benefiacutecios da assistecircncia judiciaacuteria mediante simples afirmaccedilatildeo na proacutepria peticcedilatildeo de que natildeo estaacute em condiccedilotildees de pagar as custas do processo e os honoraacuterios de advogado sem prejuiacutezo proacuteprio ou de sua famiacutelia O deferimento da gratuidade garantia assegurada constitucionalmente aos economicamente hipossuficientes (Constituiccedilatildeo art 5ordm LXXIV) natildeo exige que a parte demonstre que o advogado natildeo estaacute sendo por ela remunerado Enquanto a Justiccedila gratuita isenta de despesas processuais e condenaccedilatildeo em honoraacuterios advocatiacutecios a assistecircncia judiciaacuteria mais ampla enseja tambeacutem o patrociacutenio por profissional habilitado Caracteriza cerceamento de defesa o indeferimento de plano da inicial de accedilatildeo que pretendeu o reconhecimento de concubinato e partilha de bens com pedido alternativo de indenizaccedilatildeo de

171

aplicador do direito exerce um fundamental papel para que o processo natildeo seja um fim em si

mesmo mas sim um instrumento para a materializaccedilatildeo de um direito

Nota-se que o indeterminismo do termo insuficiecircncia de recursos aliado a mera

alegaccedilatildeo da necessidade poderia transviar o sentido da norma devendo o magistrado ficar

atento para que os privilegiados de fortuna natildeo ingressem gratuitamente no feito

Assim havendo elementos no processo que infirmem a alegaccedilatildeo do postulante ndash que

goza de presunccedilatildeo iuris tantum ndash a hipossuficiecircncia deve ser comprovada

Duacutevida fundada quanto agrave pobreza O juiz da causa valendo-se de criteacuterios

objetivos pode entender que a natureza da accedilatildeo movida pelo interessado demonstra que ele possui porte econocircmico para suportar as despesas do processo A declaraccedilatildeo pura e simples do interessado conquanto seja o uacutenico entrave burocraacutetico que se exige para liberar o magistrado para decidir em favor do peticionaacuterio natildeo eacute prova inequiacutevoca daquilo que ele afirma nem obriga o juiz a se curvar aos seus dizeres se de outras provas e circunstacircncias ficar evidenciado que o conceito de pobreza que a parte invoca natildeo eacute aquele que justifica a concessatildeo do privileacutegio Cabe ao magistrado livremente fazer juiacutezo de valor acerca do termo pobreza deferindo ou natildeo o benefiacutecio (NERY JUNIOR NERY 2015 p 477)

Infelizmente a finalidade do benefiacutecio natildeo raras vezes eacute distorcida seja pela

abstraccedilatildeo do conceito ou mesmo pela lisura do ser humano e isso contribui para o aumento de

demandas desqualificadas respaldadas na ausecircncia de riscos no caso de improcedecircncia

Para Maacutercio Pirocircpo Galvatildeo (2010) os mecanismos de acesso agrave justiccedila fomentam

accedilotildees despretensiosas ndash e cita como exemplos as accedilotildees trabalhistas e aquelas do acircmbito dos

Juizados Especiais ndash exclusivamente pela ausecircncia de custo econocircmico defende inclusive

que o acesso ao Judiciaacuterio de forma gratuita virou uma ldquoloteria onde todos querem tentar a

sorterdquo

E continua o autor citando a decisatildeo do Juiz de Direito da 2ordf Vara Ciacutevel da Comarca

de Dourados Dr Joseacute Carlos de Souza que as demandas desnecessaacuterias ldquoabarrotam o Poder

Judiciaacuterio e dificultam o acesso agrave Justiccedila de jurisdicionados com pretensotildees mais nobres

Incentivam o aumento da inadimplecircncia e sedimentam a cultura do natildeo-cumprimento dos

contratos [] Configuram provocaccedilatildeo abusiva da maacutequina judiciaacuteria e maacute-feacute do devedorrdquo

(GALVAtildeO 2010)

Como visto a utilizaccedilatildeo abusiva da gratuidade da justiccedila pode representar o

congestionamento da maacutequina judicial comprometendo a razoaacutevel duraccedilatildeo do processo e ao

serviccedilos prestados sem possibilitar agrave parte a produccedilatildeo de qualquer prova notadamente em se tratando de alegado relacionamento de mais de trinta anos (Recurso Especial nordm 91609SP 4ordf Turma do STJ Rel Min Saacutelvio de Figueiredo Teixeira Recorrente A P M R Recorrida V G F B j 160498 un DJU 080698 p 113)

172

reveacutes de seu proposito servir como oacutebice ao efetivo acesso agrave justiccedila daqueles que tem

realmente tem urgecircncia na prestaccedilatildeo jurisdicional

Talvez uma boa alternativa para se evitar decisotildees diacutespares e a banalizaccedilatildeo do

benefiacutecio ante a carga de subjetividade do seu pressuposto fosse exigir uma comprovaccedilatildeo

miacutenima da insuficiecircncia de recursos Afinal quem realmente necessita do benefiacutecio natildeo teria

dificuldade alguma em demonstrar a sua impossibilidade financeira para arcar com as

despesas processuais

Eacute certo que a Lei nordm 106050 e agora o Coacutedigo de Processo Civil estabelecem ocircnus

ao litigante que de maacute-feacute requereu o benefiacutecio da gratuidade todavia a prova nesse sentido

deve ser contundente o que estimula de certa forma pedidos indiscriminados de gratuidade

uma vez que sopesando os riscos os ganhos prevalecem

Destarte o que se percebe eacute que nesse ponto o legislador civil natildeo conseguiu

encerrar as discussotildees deixando a soluccedilatildeo para a doutrina e a jurisprudecircncia agora basta

saber como as discussotildees seratildeo encaminhadas de modo que natildeo se instale ndash ou aumente ndash um

estado de desconfianccedila em torno do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila em decorrecircncia dos

abusos praticados mas que tambeacutem natildeo se deixe de cumprir a sua preciacutepua finalidade

constitucional de ser um instrumento de acesso ao Judiciaacuterio daqueles que natildeo desfrutam de

plenas condiccedilotildees financeiras

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O atual Coacutedigo de Processo Civil atuou muito positivamente no que pertine ao

instituto da Gratuidade da Justiccedila ele alvoreceu pontos que a Lei nordm 106050 era retroacutegrada e

mesmo silente bem como normatizou questotildees jaacute consolidadas pela jurisprudecircncia

Em contrapartida a legislaccedilatildeo processual civil natildeo se fez clara quanto ao pressuposto

para a concessatildeo do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila mormente porque se limitou a prever

que a simples afirmaccedilatildeo de insuficiecircncia de recursos para pagar as despesas processuais eacute

suficiente ao seu deferimento

Afinal o que insuficiecircncia de recursos Qual o criteacuterio objetivo para se definir quem

se enquadra ou natildeo nesse perfil Mais uma vez a lei que trata sobre a gratuidade da justiccedila

silenciou nesse pormenor reservando ao aplicador do direito a missatildeo de examinar

casuisticamente quem eacute merecedor ou natildeo da benesse partindo de uma interpretaccedilatildeo

alicerccedilada na finalidade da lei ndash promover o acesso agrave justiccedila

173

Assim duas questotildees surgem A primeira eacute se o legislador foi relapso ou se ele

propositadamente preferiu a um conceito indeterminado para a concessatildeo do benefiacutecio E a

segunda eacute se ele agiu bem

E ao que se conclui eacute que a preferecircncia por um termo dotado de subjetivismo tem

um propoacutesito qual seja permitir que a lei seja adaptaacutevel as mais diversas situaccedilotildees do

cotidiano forense de modo a tornar o acesso agrave justiccedila um direito fundamental mais efetivo

Conquanto agrave segunda questatildeo (se ele agiu bem) apenas a experiecircncia praacutetica poderaacute dizer

notadamente porque vai depender e muito da consciecircncia do postulante (e seu advogado) o

qual eacute o real sabedor de sua condiccedilatildeo financeira

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ABREU Frederico do Valle Conceito juriacutedico indeterminado interpretaccedilatildeo da lei

processo e suposto poder discricionaacuterio do magistrado Jus Navigandi Teresina ano 9 n

674 10 maio 2005 Disponiacutevel em lthttpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=6674gt

Acesso em 27032016

ANGHER Anne Joyce (Org) Vade mecum acadecircmico de direito Rideel 21ed

atual e ampl Satildeo Paulo Rideel 2015

BRASIL Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Recurso Especial nordm

19980053550-0 Relator Ministro Carlos Alberto Menezes Data de Julgamento 02091999

Data de Publicaccedilatildeo DJ 25101999 p 79

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Agravo Regimental no Recurso

Especial nordm 20140315675-3 Relator Ministro Ricardo Villas Bocircas Cueva Data de

Julgamento 28042015 Data de Publicaccedilatildeo DJe 07052015

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Recurso Especial nordm

20040103656-9 Relator Ministro Carlos Alberto Menezes Direito Data de Julgamento

21112006 Data de Publicaccedilatildeo DJ 16042007 p 184

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Recurso Especial

20000060786-0 Relator Ministro Carlos Alberto Menezes Direito Data de Julgamento

22052001 Data de Publicaccedilatildeo 13082001 p 150

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Quarta Turma Recurso Especial 91609SP

Relator Ministro Saacutelvio de Figueiredo Teixeira Data de Publicaccedilatildeo 08061998 p 113

174

_____ Tribunal Regional Federal (4ordf Regiatildeo) Terceira Turma Agravo nordm

50101513420134040000 5010151-3420134040000 Relator Nicolau Konkel Juacutenior Data

de Julgamento 14082013Data de Publicaccedilatildeo 16082013

_____ Tribunal de Justiccedila do Estado do Paranaacute 16ordf Cacircmara Ciacutevel Agravo de

Instrumento nordm 14520235 PR 1452023-5 (Decisatildeo Monocraacutetica) Relator Paulo Cezar Bellio

Data de Julgamento 27102015 Data de Publicaccedilatildeo 05112015

CAPPELLETTI Mauro GARTH Bryant Acesso agrave justiccedila Trad Ellen Gracie

Northfleet Porto Alegre Seacutergio Fabris Editor 2002

CARNEIRO Paulo Cezar Pinheiro Normas Fundamentais do Processo Civil Em

Breves Comentaacuterios ao Novo Coacutedigo de Processo Civil Tereza Arruda Alvim Wambier et

al[coord] Satildeo Paulo Editora RT 2015

DELLORE Luiz Novo CPC o lado A da justiccedila gratuita Disponiacutevel em http

httpjotauolcombrjustica-gratuita-novo-cpc-lado publicado em 09 de marccedilo de 2015

Acesso em 27032016

______ Novo CPC o lado B da justiccedila gratuita Disponiacutevel em

httpjotauolcombrnovo-cpc-o-lado-b-da-justica-gratuita publicado em 13 de abril de

2015 Acesso em 27032016

GALESKI JUNIOR Irineu RIBEIRO Marcia Carla Pereira Direito e economia

uma abordagem sobre a assistecircncia judiciaacuteria gratuita In Publica Direito (recurso eletrocircnico

on-line) Fortaleza CONPEDI 2010

GALVAtildeO Maacutercio Pirocircpo Abuso de direito agrave gratuidade da Justiccedila Revista Jus

Navigandi Teresina ano 17 n 3339 22 ago 2012 Disponiacutevel em

lthttpsjuscombrartigos22466gt Acesso em 27032016

MARCACINI Augusto Tavares Rosa Assistecircncia Juriacutedica Assistecircncia Judiciaacuteria e

Justiccedila Gratuita Satildeo Paulo Editora Forense 2009 (ediccedilatildeo eletrocircnica)

MEDINA Joseacute Miguel Garcia Novo Coacutedigo de Processo Civil Comentado Satildeo

Paulo Editora RT 2015

NERY JUNIOR Nelson e NERY Rosa Maria de Andrade Comentaacuterios ao Coacutedigo

de Processo Civil Satildeo Paulo Editora RT 2015

NETO Emeteacuterio Silva de Oliveira VIANA Juvecircncio Vasconcelos Acesso agrave justiccedila

e o novo Coacutedigo de Processo Civil um olhar criacutetico Em Acesso agrave justiccedila (recurso eletrocircnico

on-line) Florianoacutepolis CONPEDIUFSC 2015

175

OLIVEIRA Rafael Alexandria de Da Gratuidade da Justiccedila Em Breves

Comentaacuterios ao Novo Coacutedigo de Processo Civil Tereza Arruda Alvim Wambier et

al[coord] Satildeo Paulo Editora RT 2015

SANTOS Boaventura de Souza Pela matildeo de Alice o social e o poliacutetico

na poacutes-modernidade Satildeo Paulo Cortez 2003

TARTURE Flaacutevia DELLORE Luiz Gratuidade da justiccedila no novo CPC Em

Revista de Processo Satildeo Paulo v 39 n 236 p 305-323 out 2014

176

A falta de a lei definir um criteacuterio objetivo miacutenimo para se determinar o que eacute a

insuficiecircncia de recursos demandou trabalho da doutrina e especialmente da jurisprudecircncia

que mesmo timidamente adotou os mais diversos paracircmetros

Nesse sentido uma das primeiras orientaccedilotildees que surge na jurisprudecircncia eacute a

necessidade de prova cabal da insuficiecircncia de recursos para a concessatildeo do benefiacutecio da

gratuidade agraves pessoas juriacutedicas7 Depois de muita discussatildeo o entendimento sedimentado na

jurisprudecircncia8 foi consagrado pelo legislador no Coacutedigo de Processo Civil de 2015 em seu

artigo 98 caput

Tambeacutem se firmou o entendimento de que o requerente que se dedica a emprestar

dinheiro natildeo faz jus ao benefiacutecio uma vez que tal circunstacircncia eacute incompatiacutevel com a alegada

necessidade (NERY JUNIOR NERY 2015 p 475)

Os Tribunais tambeacutem jaacute fixaram como criteacuterio objetivo para se determinar se o

requerente eacute realmente hipossuficiente a renda mensal inferior a dez salaacuterios miacutenimos9

todavia o Superior Tribunal de Justiccedila jaacute refutou a utilizaccedilatildeo desse criteacuterio sob o fundamento

de que a desconstituiccedilatildeo da presunccedilatildeo estabelecida pela lei de gratuidade de justiccedila exige

perquirir in concreto a atual situaccedilatildeo financeira do requerenterdquo10

Outro paracircmetro que tem sido utilizado pelos juristas para aferir a condiccedilatildeo de

miserabilidade do requerente eacute a faixa de isenccedilatildeo do Imposto de Renda extraiacutedo da tabela

progressiva do tributo devidamente atualizada11

O criteacuterio do patrociacutenio da causa por advogado particular para afastar a benesse jaacute

era rechaccedilado pela jurisprudecircncia12 e foi recepcionado pelo atual Coacutedigo de Processo Civil em

seu artigo 99 sect4ordm 7 Assistecircncia judiciaacuteria Pessoa juriacutedica Demonstraccedilatildeo cabal da insuficiecircncia de recursos 1 Ademais de fundamentado exclusivamente na interpretaccedilatildeo do art 5ordm LXXIV da Constituiccedilatildeo Federal o certo eacute que a Corte jaacute assentou a necessidade de demonstraccedilatildeo cabal da insuficiecircncia de recursos para que a empresa possa desfrutar dos benefiacutecios da assistecircncia judiciaacuteria 2 Recurso especial natildeo conhecido (STJ - REsp 182557 RJ 19980053550-0 Relator Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO Data de Julgamento 02091999 T3 - TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJ 25101999 p 79) 8 Suacutemula 481 STJ Faz jus ao benefiacutecio da justiccedila gratuita a pessoa juriacutedica com ou sem fins lucrativos que demonstrar sua impossibilidade de arcar com os encargos processuais 9 ADMINISTRATIVO AGRAVO DE INSTRUMENTO ASSISTEcircNCIA JUDICIAacuteRIA GRATUITA - AJG PARAcircMETRO DEZ SALAacuteRIOS MIacuteNIMOS 1 A Segunda Seccedilatildeo desta Corte vem consolidando entendimento no sentido de fixar patamar objetivo para a concessatildeo do benefiacutecio da AJG qual seja dez salaacuterios miacutenimo 2 Hipoacutetese em que a agravante comprovou renda mensal bem inferior ao limite paradigmaacutetico destacado inexistindo qualquer razatildeo para o indeferimento do pleito em prestiacutegio agrave norma de regecircncia (Lei n 10601950) e ao princiacutepio da acessibilidade (artigo 5ordm XXXV Constituiccedilatildeo Federal) (TRF-4 - AG 50101513420134040000 5010151-3420134040000 Relator NICOLAU KONKEL JUacuteNIOR Data de Julgamento 14082013 TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DE 16082013) 10 STJ - AgRg no AREsp 626487 MG 20140315675-3 Relator Ministro RICARDO VILLAS BOcircAS CUEVA Data de Julgamento 28042015 T3 - TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJe 07052015 11 TJ-PR - AI 14520235 PR 1452023-5 (Decisatildeo Monocraacutetica) Relator Paulo Cezar Bellio Data de Julgamento 27102015 16ordf Cacircmara Ciacutevel Data de Publicaccedilatildeo DJ 1683 05112015

170

O Superior Tribunal de Justiccedila preconiza que o inteacuterprete deve conjugar o binocircmio

necessidade-possibilidade assim para se conceder o benefiacutecio da gratuidade da justiccedila deve-

se considerar natildeo apenas os rendimentos mensais do requerente mas tambeacutem o

comprometimento de suas despesas13

A anaacutelise da condiccedilatildeo financeira do postulante deve ficar restrita a sua situaccedilatildeo

presente e natildeo ao seu histoacuterico de riquezas o simples fato de o requerente jaacute ter sido rico

empresaacuterio ou pessoa de posses natildeo significa que natildeo possa ser hoje pessoa pobre na

acepccedilatildeo juriacutedica do termo e necessitar da assistecircncia judiciaacuteria Da mesma forma a reciacuteproca

eacute verdadeira o pobre que eacute beneficiaacuterio da gratuidade pode por fatores supervenientes

tornar-se pessoa abastada financeiramente o que certamente lhe cassaraacute o benefiacutecio (NERY

JUNIOR NERY 2015 p 477)

Destarte a adoccedilatildeo pelo juiz de um paracircmetro como ponto de partida para verificar o

preenchimento dos requisitos para a concessatildeo da justiccedila gratuita natildeo deve ser visto como

violador da norma Bem da verdade a gratuidade da justiccedila eacute uma das portas de acesso ao

Poder Judiciaacuterio entretanto natildeo pode ser utilizada pelo beneficiaacuterio tatildeo-somente para se

furtar das obrigaccedilotildees oriundas do processo

A Lei nordm 106050 exigia em sua redaccedilatildeo original que o requerente comprovasse o

estado de pobreza alegado hoje ndash a partir da nova redaccedilatildeo dada ao art 4ordm sect1ordm da referida lei

pela Lei Federal nordm 751086 ndash basta a simples afirmaccedilatildeo de necessidade do benefiacutecio o que

inclusive eacute referendado pela jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila14 Nesse sentir o

12 Assistecircncia judiciaacuteria Defensoria Puacuteblica Advogado particular Interpretaccedilatildeo da Lei nordm 106050 1 Natildeo eacute suficiente para afastar a assistecircncia judiciaacuteria a existecircncia de advogado contratado O que a lei especial de regecircncia exige eacute a presenccedila do estado de pobreza ou seja da necessidade da assistecircncia judiciaacuteria por impossibilidade de responder pelas custas que poderaacute ser enfrentada com prova que a desfaccedila Natildeo serve para medir isso a qualidade do defensor se puacuteblico ou particular 2 Recurso especial conhecido e provido (STJ - REsp 679198 PR 20040103656-9 Relator Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO Data de Julgamento 21112006 T3 - TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJ 16042007 p 184) 13 STJ - REsp 263781 SP 20000060786-0 Relator Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO Data de Julgamento 22052001 T3 - TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo lt-- DTPB 20010813ltbrgt --gt DJ 13082001 p 150ltbrgt JBCC vol 193 p 249 14PROCESSUAL CIVIL RECONHECIMENTO DE CONCUBINATO E PARTILHA DE BENS PEDIDO ALTERNATIVO DE INDENIZACcedilAtildeO POR SERVICcedilOS PRESTADOS INDEFERIMENTO DE PLANO DA INICIAL IMPOSSIBILIDADE CERCEAMENTO DE DEFESA ASSISTEcircNCIA JUDICIAacuteRIA E GRATUIDADE DA JUSTICcedilA ALEGACcedilAtildeO DA PARTE DESNECESSIDADE DE DEMONSTRACcedilAtildeO DE O ADVOGADO NAtildeO ESTAR SENDO REMUNERADO PRESUNCcedilAtildeO RECURSO PROVIDO Pelo sistema legal vigente faz jus a parte aos benefiacutecios da assistecircncia judiciaacuteria mediante simples afirmaccedilatildeo na proacutepria peticcedilatildeo de que natildeo estaacute em condiccedilotildees de pagar as custas do processo e os honoraacuterios de advogado sem prejuiacutezo proacuteprio ou de sua famiacutelia O deferimento da gratuidade garantia assegurada constitucionalmente aos economicamente hipossuficientes (Constituiccedilatildeo art 5ordm LXXIV) natildeo exige que a parte demonstre que o advogado natildeo estaacute sendo por ela remunerado Enquanto a Justiccedila gratuita isenta de despesas processuais e condenaccedilatildeo em honoraacuterios advocatiacutecios a assistecircncia judiciaacuteria mais ampla enseja tambeacutem o patrociacutenio por profissional habilitado Caracteriza cerceamento de defesa o indeferimento de plano da inicial de accedilatildeo que pretendeu o reconhecimento de concubinato e partilha de bens com pedido alternativo de indenizaccedilatildeo de

171

aplicador do direito exerce um fundamental papel para que o processo natildeo seja um fim em si

mesmo mas sim um instrumento para a materializaccedilatildeo de um direito

Nota-se que o indeterminismo do termo insuficiecircncia de recursos aliado a mera

alegaccedilatildeo da necessidade poderia transviar o sentido da norma devendo o magistrado ficar

atento para que os privilegiados de fortuna natildeo ingressem gratuitamente no feito

Assim havendo elementos no processo que infirmem a alegaccedilatildeo do postulante ndash que

goza de presunccedilatildeo iuris tantum ndash a hipossuficiecircncia deve ser comprovada

Duacutevida fundada quanto agrave pobreza O juiz da causa valendo-se de criteacuterios

objetivos pode entender que a natureza da accedilatildeo movida pelo interessado demonstra que ele possui porte econocircmico para suportar as despesas do processo A declaraccedilatildeo pura e simples do interessado conquanto seja o uacutenico entrave burocraacutetico que se exige para liberar o magistrado para decidir em favor do peticionaacuterio natildeo eacute prova inequiacutevoca daquilo que ele afirma nem obriga o juiz a se curvar aos seus dizeres se de outras provas e circunstacircncias ficar evidenciado que o conceito de pobreza que a parte invoca natildeo eacute aquele que justifica a concessatildeo do privileacutegio Cabe ao magistrado livremente fazer juiacutezo de valor acerca do termo pobreza deferindo ou natildeo o benefiacutecio (NERY JUNIOR NERY 2015 p 477)

Infelizmente a finalidade do benefiacutecio natildeo raras vezes eacute distorcida seja pela

abstraccedilatildeo do conceito ou mesmo pela lisura do ser humano e isso contribui para o aumento de

demandas desqualificadas respaldadas na ausecircncia de riscos no caso de improcedecircncia

Para Maacutercio Pirocircpo Galvatildeo (2010) os mecanismos de acesso agrave justiccedila fomentam

accedilotildees despretensiosas ndash e cita como exemplos as accedilotildees trabalhistas e aquelas do acircmbito dos

Juizados Especiais ndash exclusivamente pela ausecircncia de custo econocircmico defende inclusive

que o acesso ao Judiciaacuterio de forma gratuita virou uma ldquoloteria onde todos querem tentar a

sorterdquo

E continua o autor citando a decisatildeo do Juiz de Direito da 2ordf Vara Ciacutevel da Comarca

de Dourados Dr Joseacute Carlos de Souza que as demandas desnecessaacuterias ldquoabarrotam o Poder

Judiciaacuterio e dificultam o acesso agrave Justiccedila de jurisdicionados com pretensotildees mais nobres

Incentivam o aumento da inadimplecircncia e sedimentam a cultura do natildeo-cumprimento dos

contratos [] Configuram provocaccedilatildeo abusiva da maacutequina judiciaacuteria e maacute-feacute do devedorrdquo

(GALVAtildeO 2010)

Como visto a utilizaccedilatildeo abusiva da gratuidade da justiccedila pode representar o

congestionamento da maacutequina judicial comprometendo a razoaacutevel duraccedilatildeo do processo e ao

serviccedilos prestados sem possibilitar agrave parte a produccedilatildeo de qualquer prova notadamente em se tratando de alegado relacionamento de mais de trinta anos (Recurso Especial nordm 91609SP 4ordf Turma do STJ Rel Min Saacutelvio de Figueiredo Teixeira Recorrente A P M R Recorrida V G F B j 160498 un DJU 080698 p 113)

172

reveacutes de seu proposito servir como oacutebice ao efetivo acesso agrave justiccedila daqueles que tem

realmente tem urgecircncia na prestaccedilatildeo jurisdicional

Talvez uma boa alternativa para se evitar decisotildees diacutespares e a banalizaccedilatildeo do

benefiacutecio ante a carga de subjetividade do seu pressuposto fosse exigir uma comprovaccedilatildeo

miacutenima da insuficiecircncia de recursos Afinal quem realmente necessita do benefiacutecio natildeo teria

dificuldade alguma em demonstrar a sua impossibilidade financeira para arcar com as

despesas processuais

Eacute certo que a Lei nordm 106050 e agora o Coacutedigo de Processo Civil estabelecem ocircnus

ao litigante que de maacute-feacute requereu o benefiacutecio da gratuidade todavia a prova nesse sentido

deve ser contundente o que estimula de certa forma pedidos indiscriminados de gratuidade

uma vez que sopesando os riscos os ganhos prevalecem

Destarte o que se percebe eacute que nesse ponto o legislador civil natildeo conseguiu

encerrar as discussotildees deixando a soluccedilatildeo para a doutrina e a jurisprudecircncia agora basta

saber como as discussotildees seratildeo encaminhadas de modo que natildeo se instale ndash ou aumente ndash um

estado de desconfianccedila em torno do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila em decorrecircncia dos

abusos praticados mas que tambeacutem natildeo se deixe de cumprir a sua preciacutepua finalidade

constitucional de ser um instrumento de acesso ao Judiciaacuterio daqueles que natildeo desfrutam de

plenas condiccedilotildees financeiras

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O atual Coacutedigo de Processo Civil atuou muito positivamente no que pertine ao

instituto da Gratuidade da Justiccedila ele alvoreceu pontos que a Lei nordm 106050 era retroacutegrada e

mesmo silente bem como normatizou questotildees jaacute consolidadas pela jurisprudecircncia

Em contrapartida a legislaccedilatildeo processual civil natildeo se fez clara quanto ao pressuposto

para a concessatildeo do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila mormente porque se limitou a prever

que a simples afirmaccedilatildeo de insuficiecircncia de recursos para pagar as despesas processuais eacute

suficiente ao seu deferimento

Afinal o que insuficiecircncia de recursos Qual o criteacuterio objetivo para se definir quem

se enquadra ou natildeo nesse perfil Mais uma vez a lei que trata sobre a gratuidade da justiccedila

silenciou nesse pormenor reservando ao aplicador do direito a missatildeo de examinar

casuisticamente quem eacute merecedor ou natildeo da benesse partindo de uma interpretaccedilatildeo

alicerccedilada na finalidade da lei ndash promover o acesso agrave justiccedila

173

Assim duas questotildees surgem A primeira eacute se o legislador foi relapso ou se ele

propositadamente preferiu a um conceito indeterminado para a concessatildeo do benefiacutecio E a

segunda eacute se ele agiu bem

E ao que se conclui eacute que a preferecircncia por um termo dotado de subjetivismo tem

um propoacutesito qual seja permitir que a lei seja adaptaacutevel as mais diversas situaccedilotildees do

cotidiano forense de modo a tornar o acesso agrave justiccedila um direito fundamental mais efetivo

Conquanto agrave segunda questatildeo (se ele agiu bem) apenas a experiecircncia praacutetica poderaacute dizer

notadamente porque vai depender e muito da consciecircncia do postulante (e seu advogado) o

qual eacute o real sabedor de sua condiccedilatildeo financeira

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ABREU Frederico do Valle Conceito juriacutedico indeterminado interpretaccedilatildeo da lei

processo e suposto poder discricionaacuterio do magistrado Jus Navigandi Teresina ano 9 n

674 10 maio 2005 Disponiacutevel em lthttpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=6674gt

Acesso em 27032016

ANGHER Anne Joyce (Org) Vade mecum acadecircmico de direito Rideel 21ed

atual e ampl Satildeo Paulo Rideel 2015

BRASIL Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Recurso Especial nordm

19980053550-0 Relator Ministro Carlos Alberto Menezes Data de Julgamento 02091999

Data de Publicaccedilatildeo DJ 25101999 p 79

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Agravo Regimental no Recurso

Especial nordm 20140315675-3 Relator Ministro Ricardo Villas Bocircas Cueva Data de

Julgamento 28042015 Data de Publicaccedilatildeo DJe 07052015

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Recurso Especial nordm

20040103656-9 Relator Ministro Carlos Alberto Menezes Direito Data de Julgamento

21112006 Data de Publicaccedilatildeo DJ 16042007 p 184

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Recurso Especial

20000060786-0 Relator Ministro Carlos Alberto Menezes Direito Data de Julgamento

22052001 Data de Publicaccedilatildeo 13082001 p 150

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Quarta Turma Recurso Especial 91609SP

Relator Ministro Saacutelvio de Figueiredo Teixeira Data de Publicaccedilatildeo 08061998 p 113

174

_____ Tribunal Regional Federal (4ordf Regiatildeo) Terceira Turma Agravo nordm

50101513420134040000 5010151-3420134040000 Relator Nicolau Konkel Juacutenior Data

de Julgamento 14082013Data de Publicaccedilatildeo 16082013

_____ Tribunal de Justiccedila do Estado do Paranaacute 16ordf Cacircmara Ciacutevel Agravo de

Instrumento nordm 14520235 PR 1452023-5 (Decisatildeo Monocraacutetica) Relator Paulo Cezar Bellio

Data de Julgamento 27102015 Data de Publicaccedilatildeo 05112015

CAPPELLETTI Mauro GARTH Bryant Acesso agrave justiccedila Trad Ellen Gracie

Northfleet Porto Alegre Seacutergio Fabris Editor 2002

CARNEIRO Paulo Cezar Pinheiro Normas Fundamentais do Processo Civil Em

Breves Comentaacuterios ao Novo Coacutedigo de Processo Civil Tereza Arruda Alvim Wambier et

al[coord] Satildeo Paulo Editora RT 2015

DELLORE Luiz Novo CPC o lado A da justiccedila gratuita Disponiacutevel em http

httpjotauolcombrjustica-gratuita-novo-cpc-lado publicado em 09 de marccedilo de 2015

Acesso em 27032016

______ Novo CPC o lado B da justiccedila gratuita Disponiacutevel em

httpjotauolcombrnovo-cpc-o-lado-b-da-justica-gratuita publicado em 13 de abril de

2015 Acesso em 27032016

GALESKI JUNIOR Irineu RIBEIRO Marcia Carla Pereira Direito e economia

uma abordagem sobre a assistecircncia judiciaacuteria gratuita In Publica Direito (recurso eletrocircnico

on-line) Fortaleza CONPEDI 2010

GALVAtildeO Maacutercio Pirocircpo Abuso de direito agrave gratuidade da Justiccedila Revista Jus

Navigandi Teresina ano 17 n 3339 22 ago 2012 Disponiacutevel em

lthttpsjuscombrartigos22466gt Acesso em 27032016

MARCACINI Augusto Tavares Rosa Assistecircncia Juriacutedica Assistecircncia Judiciaacuteria e

Justiccedila Gratuita Satildeo Paulo Editora Forense 2009 (ediccedilatildeo eletrocircnica)

MEDINA Joseacute Miguel Garcia Novo Coacutedigo de Processo Civil Comentado Satildeo

Paulo Editora RT 2015

NERY JUNIOR Nelson e NERY Rosa Maria de Andrade Comentaacuterios ao Coacutedigo

de Processo Civil Satildeo Paulo Editora RT 2015

NETO Emeteacuterio Silva de Oliveira VIANA Juvecircncio Vasconcelos Acesso agrave justiccedila

e o novo Coacutedigo de Processo Civil um olhar criacutetico Em Acesso agrave justiccedila (recurso eletrocircnico

on-line) Florianoacutepolis CONPEDIUFSC 2015

175

OLIVEIRA Rafael Alexandria de Da Gratuidade da Justiccedila Em Breves

Comentaacuterios ao Novo Coacutedigo de Processo Civil Tereza Arruda Alvim Wambier et

al[coord] Satildeo Paulo Editora RT 2015

SANTOS Boaventura de Souza Pela matildeo de Alice o social e o poliacutetico

na poacutes-modernidade Satildeo Paulo Cortez 2003

TARTURE Flaacutevia DELLORE Luiz Gratuidade da justiccedila no novo CPC Em

Revista de Processo Satildeo Paulo v 39 n 236 p 305-323 out 2014

176

O Superior Tribunal de Justiccedila preconiza que o inteacuterprete deve conjugar o binocircmio

necessidade-possibilidade assim para se conceder o benefiacutecio da gratuidade da justiccedila deve-

se considerar natildeo apenas os rendimentos mensais do requerente mas tambeacutem o

comprometimento de suas despesas13

A anaacutelise da condiccedilatildeo financeira do postulante deve ficar restrita a sua situaccedilatildeo

presente e natildeo ao seu histoacuterico de riquezas o simples fato de o requerente jaacute ter sido rico

empresaacuterio ou pessoa de posses natildeo significa que natildeo possa ser hoje pessoa pobre na

acepccedilatildeo juriacutedica do termo e necessitar da assistecircncia judiciaacuteria Da mesma forma a reciacuteproca

eacute verdadeira o pobre que eacute beneficiaacuterio da gratuidade pode por fatores supervenientes

tornar-se pessoa abastada financeiramente o que certamente lhe cassaraacute o benefiacutecio (NERY

JUNIOR NERY 2015 p 477)

Destarte a adoccedilatildeo pelo juiz de um paracircmetro como ponto de partida para verificar o

preenchimento dos requisitos para a concessatildeo da justiccedila gratuita natildeo deve ser visto como

violador da norma Bem da verdade a gratuidade da justiccedila eacute uma das portas de acesso ao

Poder Judiciaacuterio entretanto natildeo pode ser utilizada pelo beneficiaacuterio tatildeo-somente para se

furtar das obrigaccedilotildees oriundas do processo

A Lei nordm 106050 exigia em sua redaccedilatildeo original que o requerente comprovasse o

estado de pobreza alegado hoje ndash a partir da nova redaccedilatildeo dada ao art 4ordm sect1ordm da referida lei

pela Lei Federal nordm 751086 ndash basta a simples afirmaccedilatildeo de necessidade do benefiacutecio o que

inclusive eacute referendado pela jurisprudecircncia do Superior Tribunal de Justiccedila14 Nesse sentir o

12 Assistecircncia judiciaacuteria Defensoria Puacuteblica Advogado particular Interpretaccedilatildeo da Lei nordm 106050 1 Natildeo eacute suficiente para afastar a assistecircncia judiciaacuteria a existecircncia de advogado contratado O que a lei especial de regecircncia exige eacute a presenccedila do estado de pobreza ou seja da necessidade da assistecircncia judiciaacuteria por impossibilidade de responder pelas custas que poderaacute ser enfrentada com prova que a desfaccedila Natildeo serve para medir isso a qualidade do defensor se puacuteblico ou particular 2 Recurso especial conhecido e provido (STJ - REsp 679198 PR 20040103656-9 Relator Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO Data de Julgamento 21112006 T3 - TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo DJ 16042007 p 184) 13 STJ - REsp 263781 SP 20000060786-0 Relator Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO Data de Julgamento 22052001 T3 - TERCEIRA TURMA Data de Publicaccedilatildeo lt-- DTPB 20010813ltbrgt --gt DJ 13082001 p 150ltbrgt JBCC vol 193 p 249 14PROCESSUAL CIVIL RECONHECIMENTO DE CONCUBINATO E PARTILHA DE BENS PEDIDO ALTERNATIVO DE INDENIZACcedilAtildeO POR SERVICcedilOS PRESTADOS INDEFERIMENTO DE PLANO DA INICIAL IMPOSSIBILIDADE CERCEAMENTO DE DEFESA ASSISTEcircNCIA JUDICIAacuteRIA E GRATUIDADE DA JUSTICcedilA ALEGACcedilAtildeO DA PARTE DESNECESSIDADE DE DEMONSTRACcedilAtildeO DE O ADVOGADO NAtildeO ESTAR SENDO REMUNERADO PRESUNCcedilAtildeO RECURSO PROVIDO Pelo sistema legal vigente faz jus a parte aos benefiacutecios da assistecircncia judiciaacuteria mediante simples afirmaccedilatildeo na proacutepria peticcedilatildeo de que natildeo estaacute em condiccedilotildees de pagar as custas do processo e os honoraacuterios de advogado sem prejuiacutezo proacuteprio ou de sua famiacutelia O deferimento da gratuidade garantia assegurada constitucionalmente aos economicamente hipossuficientes (Constituiccedilatildeo art 5ordm LXXIV) natildeo exige que a parte demonstre que o advogado natildeo estaacute sendo por ela remunerado Enquanto a Justiccedila gratuita isenta de despesas processuais e condenaccedilatildeo em honoraacuterios advocatiacutecios a assistecircncia judiciaacuteria mais ampla enseja tambeacutem o patrociacutenio por profissional habilitado Caracteriza cerceamento de defesa o indeferimento de plano da inicial de accedilatildeo que pretendeu o reconhecimento de concubinato e partilha de bens com pedido alternativo de indenizaccedilatildeo de

171

aplicador do direito exerce um fundamental papel para que o processo natildeo seja um fim em si

mesmo mas sim um instrumento para a materializaccedilatildeo de um direito

Nota-se que o indeterminismo do termo insuficiecircncia de recursos aliado a mera

alegaccedilatildeo da necessidade poderia transviar o sentido da norma devendo o magistrado ficar

atento para que os privilegiados de fortuna natildeo ingressem gratuitamente no feito

Assim havendo elementos no processo que infirmem a alegaccedilatildeo do postulante ndash que

goza de presunccedilatildeo iuris tantum ndash a hipossuficiecircncia deve ser comprovada

Duacutevida fundada quanto agrave pobreza O juiz da causa valendo-se de criteacuterios

objetivos pode entender que a natureza da accedilatildeo movida pelo interessado demonstra que ele possui porte econocircmico para suportar as despesas do processo A declaraccedilatildeo pura e simples do interessado conquanto seja o uacutenico entrave burocraacutetico que se exige para liberar o magistrado para decidir em favor do peticionaacuterio natildeo eacute prova inequiacutevoca daquilo que ele afirma nem obriga o juiz a se curvar aos seus dizeres se de outras provas e circunstacircncias ficar evidenciado que o conceito de pobreza que a parte invoca natildeo eacute aquele que justifica a concessatildeo do privileacutegio Cabe ao magistrado livremente fazer juiacutezo de valor acerca do termo pobreza deferindo ou natildeo o benefiacutecio (NERY JUNIOR NERY 2015 p 477)

Infelizmente a finalidade do benefiacutecio natildeo raras vezes eacute distorcida seja pela

abstraccedilatildeo do conceito ou mesmo pela lisura do ser humano e isso contribui para o aumento de

demandas desqualificadas respaldadas na ausecircncia de riscos no caso de improcedecircncia

Para Maacutercio Pirocircpo Galvatildeo (2010) os mecanismos de acesso agrave justiccedila fomentam

accedilotildees despretensiosas ndash e cita como exemplos as accedilotildees trabalhistas e aquelas do acircmbito dos

Juizados Especiais ndash exclusivamente pela ausecircncia de custo econocircmico defende inclusive

que o acesso ao Judiciaacuterio de forma gratuita virou uma ldquoloteria onde todos querem tentar a

sorterdquo

E continua o autor citando a decisatildeo do Juiz de Direito da 2ordf Vara Ciacutevel da Comarca

de Dourados Dr Joseacute Carlos de Souza que as demandas desnecessaacuterias ldquoabarrotam o Poder

Judiciaacuterio e dificultam o acesso agrave Justiccedila de jurisdicionados com pretensotildees mais nobres

Incentivam o aumento da inadimplecircncia e sedimentam a cultura do natildeo-cumprimento dos

contratos [] Configuram provocaccedilatildeo abusiva da maacutequina judiciaacuteria e maacute-feacute do devedorrdquo

(GALVAtildeO 2010)

Como visto a utilizaccedilatildeo abusiva da gratuidade da justiccedila pode representar o

congestionamento da maacutequina judicial comprometendo a razoaacutevel duraccedilatildeo do processo e ao

serviccedilos prestados sem possibilitar agrave parte a produccedilatildeo de qualquer prova notadamente em se tratando de alegado relacionamento de mais de trinta anos (Recurso Especial nordm 91609SP 4ordf Turma do STJ Rel Min Saacutelvio de Figueiredo Teixeira Recorrente A P M R Recorrida V G F B j 160498 un DJU 080698 p 113)

172

reveacutes de seu proposito servir como oacutebice ao efetivo acesso agrave justiccedila daqueles que tem

realmente tem urgecircncia na prestaccedilatildeo jurisdicional

Talvez uma boa alternativa para se evitar decisotildees diacutespares e a banalizaccedilatildeo do

benefiacutecio ante a carga de subjetividade do seu pressuposto fosse exigir uma comprovaccedilatildeo

miacutenima da insuficiecircncia de recursos Afinal quem realmente necessita do benefiacutecio natildeo teria

dificuldade alguma em demonstrar a sua impossibilidade financeira para arcar com as

despesas processuais

Eacute certo que a Lei nordm 106050 e agora o Coacutedigo de Processo Civil estabelecem ocircnus

ao litigante que de maacute-feacute requereu o benefiacutecio da gratuidade todavia a prova nesse sentido

deve ser contundente o que estimula de certa forma pedidos indiscriminados de gratuidade

uma vez que sopesando os riscos os ganhos prevalecem

Destarte o que se percebe eacute que nesse ponto o legislador civil natildeo conseguiu

encerrar as discussotildees deixando a soluccedilatildeo para a doutrina e a jurisprudecircncia agora basta

saber como as discussotildees seratildeo encaminhadas de modo que natildeo se instale ndash ou aumente ndash um

estado de desconfianccedila em torno do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila em decorrecircncia dos

abusos praticados mas que tambeacutem natildeo se deixe de cumprir a sua preciacutepua finalidade

constitucional de ser um instrumento de acesso ao Judiciaacuterio daqueles que natildeo desfrutam de

plenas condiccedilotildees financeiras

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O atual Coacutedigo de Processo Civil atuou muito positivamente no que pertine ao

instituto da Gratuidade da Justiccedila ele alvoreceu pontos que a Lei nordm 106050 era retroacutegrada e

mesmo silente bem como normatizou questotildees jaacute consolidadas pela jurisprudecircncia

Em contrapartida a legislaccedilatildeo processual civil natildeo se fez clara quanto ao pressuposto

para a concessatildeo do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila mormente porque se limitou a prever

que a simples afirmaccedilatildeo de insuficiecircncia de recursos para pagar as despesas processuais eacute

suficiente ao seu deferimento

Afinal o que insuficiecircncia de recursos Qual o criteacuterio objetivo para se definir quem

se enquadra ou natildeo nesse perfil Mais uma vez a lei que trata sobre a gratuidade da justiccedila

silenciou nesse pormenor reservando ao aplicador do direito a missatildeo de examinar

casuisticamente quem eacute merecedor ou natildeo da benesse partindo de uma interpretaccedilatildeo

alicerccedilada na finalidade da lei ndash promover o acesso agrave justiccedila

173

Assim duas questotildees surgem A primeira eacute se o legislador foi relapso ou se ele

propositadamente preferiu a um conceito indeterminado para a concessatildeo do benefiacutecio E a

segunda eacute se ele agiu bem

E ao que se conclui eacute que a preferecircncia por um termo dotado de subjetivismo tem

um propoacutesito qual seja permitir que a lei seja adaptaacutevel as mais diversas situaccedilotildees do

cotidiano forense de modo a tornar o acesso agrave justiccedila um direito fundamental mais efetivo

Conquanto agrave segunda questatildeo (se ele agiu bem) apenas a experiecircncia praacutetica poderaacute dizer

notadamente porque vai depender e muito da consciecircncia do postulante (e seu advogado) o

qual eacute o real sabedor de sua condiccedilatildeo financeira

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ABREU Frederico do Valle Conceito juriacutedico indeterminado interpretaccedilatildeo da lei

processo e suposto poder discricionaacuterio do magistrado Jus Navigandi Teresina ano 9 n

674 10 maio 2005 Disponiacutevel em lthttpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=6674gt

Acesso em 27032016

ANGHER Anne Joyce (Org) Vade mecum acadecircmico de direito Rideel 21ed

atual e ampl Satildeo Paulo Rideel 2015

BRASIL Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Recurso Especial nordm

19980053550-0 Relator Ministro Carlos Alberto Menezes Data de Julgamento 02091999

Data de Publicaccedilatildeo DJ 25101999 p 79

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Agravo Regimental no Recurso

Especial nordm 20140315675-3 Relator Ministro Ricardo Villas Bocircas Cueva Data de

Julgamento 28042015 Data de Publicaccedilatildeo DJe 07052015

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Recurso Especial nordm

20040103656-9 Relator Ministro Carlos Alberto Menezes Direito Data de Julgamento

21112006 Data de Publicaccedilatildeo DJ 16042007 p 184

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Recurso Especial

20000060786-0 Relator Ministro Carlos Alberto Menezes Direito Data de Julgamento

22052001 Data de Publicaccedilatildeo 13082001 p 150

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Quarta Turma Recurso Especial 91609SP

Relator Ministro Saacutelvio de Figueiredo Teixeira Data de Publicaccedilatildeo 08061998 p 113

174

_____ Tribunal Regional Federal (4ordf Regiatildeo) Terceira Turma Agravo nordm

50101513420134040000 5010151-3420134040000 Relator Nicolau Konkel Juacutenior Data

de Julgamento 14082013Data de Publicaccedilatildeo 16082013

_____ Tribunal de Justiccedila do Estado do Paranaacute 16ordf Cacircmara Ciacutevel Agravo de

Instrumento nordm 14520235 PR 1452023-5 (Decisatildeo Monocraacutetica) Relator Paulo Cezar Bellio

Data de Julgamento 27102015 Data de Publicaccedilatildeo 05112015

CAPPELLETTI Mauro GARTH Bryant Acesso agrave justiccedila Trad Ellen Gracie

Northfleet Porto Alegre Seacutergio Fabris Editor 2002

CARNEIRO Paulo Cezar Pinheiro Normas Fundamentais do Processo Civil Em

Breves Comentaacuterios ao Novo Coacutedigo de Processo Civil Tereza Arruda Alvim Wambier et

al[coord] Satildeo Paulo Editora RT 2015

DELLORE Luiz Novo CPC o lado A da justiccedila gratuita Disponiacutevel em http

httpjotauolcombrjustica-gratuita-novo-cpc-lado publicado em 09 de marccedilo de 2015

Acesso em 27032016

______ Novo CPC o lado B da justiccedila gratuita Disponiacutevel em

httpjotauolcombrnovo-cpc-o-lado-b-da-justica-gratuita publicado em 13 de abril de

2015 Acesso em 27032016

GALESKI JUNIOR Irineu RIBEIRO Marcia Carla Pereira Direito e economia

uma abordagem sobre a assistecircncia judiciaacuteria gratuita In Publica Direito (recurso eletrocircnico

on-line) Fortaleza CONPEDI 2010

GALVAtildeO Maacutercio Pirocircpo Abuso de direito agrave gratuidade da Justiccedila Revista Jus

Navigandi Teresina ano 17 n 3339 22 ago 2012 Disponiacutevel em

lthttpsjuscombrartigos22466gt Acesso em 27032016

MARCACINI Augusto Tavares Rosa Assistecircncia Juriacutedica Assistecircncia Judiciaacuteria e

Justiccedila Gratuita Satildeo Paulo Editora Forense 2009 (ediccedilatildeo eletrocircnica)

MEDINA Joseacute Miguel Garcia Novo Coacutedigo de Processo Civil Comentado Satildeo

Paulo Editora RT 2015

NERY JUNIOR Nelson e NERY Rosa Maria de Andrade Comentaacuterios ao Coacutedigo

de Processo Civil Satildeo Paulo Editora RT 2015

NETO Emeteacuterio Silva de Oliveira VIANA Juvecircncio Vasconcelos Acesso agrave justiccedila

e o novo Coacutedigo de Processo Civil um olhar criacutetico Em Acesso agrave justiccedila (recurso eletrocircnico

on-line) Florianoacutepolis CONPEDIUFSC 2015

175

OLIVEIRA Rafael Alexandria de Da Gratuidade da Justiccedila Em Breves

Comentaacuterios ao Novo Coacutedigo de Processo Civil Tereza Arruda Alvim Wambier et

al[coord] Satildeo Paulo Editora RT 2015

SANTOS Boaventura de Souza Pela matildeo de Alice o social e o poliacutetico

na poacutes-modernidade Satildeo Paulo Cortez 2003

TARTURE Flaacutevia DELLORE Luiz Gratuidade da justiccedila no novo CPC Em

Revista de Processo Satildeo Paulo v 39 n 236 p 305-323 out 2014

176

aplicador do direito exerce um fundamental papel para que o processo natildeo seja um fim em si

mesmo mas sim um instrumento para a materializaccedilatildeo de um direito

Nota-se que o indeterminismo do termo insuficiecircncia de recursos aliado a mera

alegaccedilatildeo da necessidade poderia transviar o sentido da norma devendo o magistrado ficar

atento para que os privilegiados de fortuna natildeo ingressem gratuitamente no feito

Assim havendo elementos no processo que infirmem a alegaccedilatildeo do postulante ndash que

goza de presunccedilatildeo iuris tantum ndash a hipossuficiecircncia deve ser comprovada

Duacutevida fundada quanto agrave pobreza O juiz da causa valendo-se de criteacuterios

objetivos pode entender que a natureza da accedilatildeo movida pelo interessado demonstra que ele possui porte econocircmico para suportar as despesas do processo A declaraccedilatildeo pura e simples do interessado conquanto seja o uacutenico entrave burocraacutetico que se exige para liberar o magistrado para decidir em favor do peticionaacuterio natildeo eacute prova inequiacutevoca daquilo que ele afirma nem obriga o juiz a se curvar aos seus dizeres se de outras provas e circunstacircncias ficar evidenciado que o conceito de pobreza que a parte invoca natildeo eacute aquele que justifica a concessatildeo do privileacutegio Cabe ao magistrado livremente fazer juiacutezo de valor acerca do termo pobreza deferindo ou natildeo o benefiacutecio (NERY JUNIOR NERY 2015 p 477)

Infelizmente a finalidade do benefiacutecio natildeo raras vezes eacute distorcida seja pela

abstraccedilatildeo do conceito ou mesmo pela lisura do ser humano e isso contribui para o aumento de

demandas desqualificadas respaldadas na ausecircncia de riscos no caso de improcedecircncia

Para Maacutercio Pirocircpo Galvatildeo (2010) os mecanismos de acesso agrave justiccedila fomentam

accedilotildees despretensiosas ndash e cita como exemplos as accedilotildees trabalhistas e aquelas do acircmbito dos

Juizados Especiais ndash exclusivamente pela ausecircncia de custo econocircmico defende inclusive

que o acesso ao Judiciaacuterio de forma gratuita virou uma ldquoloteria onde todos querem tentar a

sorterdquo

E continua o autor citando a decisatildeo do Juiz de Direito da 2ordf Vara Ciacutevel da Comarca

de Dourados Dr Joseacute Carlos de Souza que as demandas desnecessaacuterias ldquoabarrotam o Poder

Judiciaacuterio e dificultam o acesso agrave Justiccedila de jurisdicionados com pretensotildees mais nobres

Incentivam o aumento da inadimplecircncia e sedimentam a cultura do natildeo-cumprimento dos

contratos [] Configuram provocaccedilatildeo abusiva da maacutequina judiciaacuteria e maacute-feacute do devedorrdquo

(GALVAtildeO 2010)

Como visto a utilizaccedilatildeo abusiva da gratuidade da justiccedila pode representar o

congestionamento da maacutequina judicial comprometendo a razoaacutevel duraccedilatildeo do processo e ao

serviccedilos prestados sem possibilitar agrave parte a produccedilatildeo de qualquer prova notadamente em se tratando de alegado relacionamento de mais de trinta anos (Recurso Especial nordm 91609SP 4ordf Turma do STJ Rel Min Saacutelvio de Figueiredo Teixeira Recorrente A P M R Recorrida V G F B j 160498 un DJU 080698 p 113)

172

reveacutes de seu proposito servir como oacutebice ao efetivo acesso agrave justiccedila daqueles que tem

realmente tem urgecircncia na prestaccedilatildeo jurisdicional

Talvez uma boa alternativa para se evitar decisotildees diacutespares e a banalizaccedilatildeo do

benefiacutecio ante a carga de subjetividade do seu pressuposto fosse exigir uma comprovaccedilatildeo

miacutenima da insuficiecircncia de recursos Afinal quem realmente necessita do benefiacutecio natildeo teria

dificuldade alguma em demonstrar a sua impossibilidade financeira para arcar com as

despesas processuais

Eacute certo que a Lei nordm 106050 e agora o Coacutedigo de Processo Civil estabelecem ocircnus

ao litigante que de maacute-feacute requereu o benefiacutecio da gratuidade todavia a prova nesse sentido

deve ser contundente o que estimula de certa forma pedidos indiscriminados de gratuidade

uma vez que sopesando os riscos os ganhos prevalecem

Destarte o que se percebe eacute que nesse ponto o legislador civil natildeo conseguiu

encerrar as discussotildees deixando a soluccedilatildeo para a doutrina e a jurisprudecircncia agora basta

saber como as discussotildees seratildeo encaminhadas de modo que natildeo se instale ndash ou aumente ndash um

estado de desconfianccedila em torno do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila em decorrecircncia dos

abusos praticados mas que tambeacutem natildeo se deixe de cumprir a sua preciacutepua finalidade

constitucional de ser um instrumento de acesso ao Judiciaacuterio daqueles que natildeo desfrutam de

plenas condiccedilotildees financeiras

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O atual Coacutedigo de Processo Civil atuou muito positivamente no que pertine ao

instituto da Gratuidade da Justiccedila ele alvoreceu pontos que a Lei nordm 106050 era retroacutegrada e

mesmo silente bem como normatizou questotildees jaacute consolidadas pela jurisprudecircncia

Em contrapartida a legislaccedilatildeo processual civil natildeo se fez clara quanto ao pressuposto

para a concessatildeo do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila mormente porque se limitou a prever

que a simples afirmaccedilatildeo de insuficiecircncia de recursos para pagar as despesas processuais eacute

suficiente ao seu deferimento

Afinal o que insuficiecircncia de recursos Qual o criteacuterio objetivo para se definir quem

se enquadra ou natildeo nesse perfil Mais uma vez a lei que trata sobre a gratuidade da justiccedila

silenciou nesse pormenor reservando ao aplicador do direito a missatildeo de examinar

casuisticamente quem eacute merecedor ou natildeo da benesse partindo de uma interpretaccedilatildeo

alicerccedilada na finalidade da lei ndash promover o acesso agrave justiccedila

173

Assim duas questotildees surgem A primeira eacute se o legislador foi relapso ou se ele

propositadamente preferiu a um conceito indeterminado para a concessatildeo do benefiacutecio E a

segunda eacute se ele agiu bem

E ao que se conclui eacute que a preferecircncia por um termo dotado de subjetivismo tem

um propoacutesito qual seja permitir que a lei seja adaptaacutevel as mais diversas situaccedilotildees do

cotidiano forense de modo a tornar o acesso agrave justiccedila um direito fundamental mais efetivo

Conquanto agrave segunda questatildeo (se ele agiu bem) apenas a experiecircncia praacutetica poderaacute dizer

notadamente porque vai depender e muito da consciecircncia do postulante (e seu advogado) o

qual eacute o real sabedor de sua condiccedilatildeo financeira

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ABREU Frederico do Valle Conceito juriacutedico indeterminado interpretaccedilatildeo da lei

processo e suposto poder discricionaacuterio do magistrado Jus Navigandi Teresina ano 9 n

674 10 maio 2005 Disponiacutevel em lthttpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=6674gt

Acesso em 27032016

ANGHER Anne Joyce (Org) Vade mecum acadecircmico de direito Rideel 21ed

atual e ampl Satildeo Paulo Rideel 2015

BRASIL Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Recurso Especial nordm

19980053550-0 Relator Ministro Carlos Alberto Menezes Data de Julgamento 02091999

Data de Publicaccedilatildeo DJ 25101999 p 79

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Agravo Regimental no Recurso

Especial nordm 20140315675-3 Relator Ministro Ricardo Villas Bocircas Cueva Data de

Julgamento 28042015 Data de Publicaccedilatildeo DJe 07052015

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Recurso Especial nordm

20040103656-9 Relator Ministro Carlos Alberto Menezes Direito Data de Julgamento

21112006 Data de Publicaccedilatildeo DJ 16042007 p 184

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Recurso Especial

20000060786-0 Relator Ministro Carlos Alberto Menezes Direito Data de Julgamento

22052001 Data de Publicaccedilatildeo 13082001 p 150

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Quarta Turma Recurso Especial 91609SP

Relator Ministro Saacutelvio de Figueiredo Teixeira Data de Publicaccedilatildeo 08061998 p 113

174

_____ Tribunal Regional Federal (4ordf Regiatildeo) Terceira Turma Agravo nordm

50101513420134040000 5010151-3420134040000 Relator Nicolau Konkel Juacutenior Data

de Julgamento 14082013Data de Publicaccedilatildeo 16082013

_____ Tribunal de Justiccedila do Estado do Paranaacute 16ordf Cacircmara Ciacutevel Agravo de

Instrumento nordm 14520235 PR 1452023-5 (Decisatildeo Monocraacutetica) Relator Paulo Cezar Bellio

Data de Julgamento 27102015 Data de Publicaccedilatildeo 05112015

CAPPELLETTI Mauro GARTH Bryant Acesso agrave justiccedila Trad Ellen Gracie

Northfleet Porto Alegre Seacutergio Fabris Editor 2002

CARNEIRO Paulo Cezar Pinheiro Normas Fundamentais do Processo Civil Em

Breves Comentaacuterios ao Novo Coacutedigo de Processo Civil Tereza Arruda Alvim Wambier et

al[coord] Satildeo Paulo Editora RT 2015

DELLORE Luiz Novo CPC o lado A da justiccedila gratuita Disponiacutevel em http

httpjotauolcombrjustica-gratuita-novo-cpc-lado publicado em 09 de marccedilo de 2015

Acesso em 27032016

______ Novo CPC o lado B da justiccedila gratuita Disponiacutevel em

httpjotauolcombrnovo-cpc-o-lado-b-da-justica-gratuita publicado em 13 de abril de

2015 Acesso em 27032016

GALESKI JUNIOR Irineu RIBEIRO Marcia Carla Pereira Direito e economia

uma abordagem sobre a assistecircncia judiciaacuteria gratuita In Publica Direito (recurso eletrocircnico

on-line) Fortaleza CONPEDI 2010

GALVAtildeO Maacutercio Pirocircpo Abuso de direito agrave gratuidade da Justiccedila Revista Jus

Navigandi Teresina ano 17 n 3339 22 ago 2012 Disponiacutevel em

lthttpsjuscombrartigos22466gt Acesso em 27032016

MARCACINI Augusto Tavares Rosa Assistecircncia Juriacutedica Assistecircncia Judiciaacuteria e

Justiccedila Gratuita Satildeo Paulo Editora Forense 2009 (ediccedilatildeo eletrocircnica)

MEDINA Joseacute Miguel Garcia Novo Coacutedigo de Processo Civil Comentado Satildeo

Paulo Editora RT 2015

NERY JUNIOR Nelson e NERY Rosa Maria de Andrade Comentaacuterios ao Coacutedigo

de Processo Civil Satildeo Paulo Editora RT 2015

NETO Emeteacuterio Silva de Oliveira VIANA Juvecircncio Vasconcelos Acesso agrave justiccedila

e o novo Coacutedigo de Processo Civil um olhar criacutetico Em Acesso agrave justiccedila (recurso eletrocircnico

on-line) Florianoacutepolis CONPEDIUFSC 2015

175

OLIVEIRA Rafael Alexandria de Da Gratuidade da Justiccedila Em Breves

Comentaacuterios ao Novo Coacutedigo de Processo Civil Tereza Arruda Alvim Wambier et

al[coord] Satildeo Paulo Editora RT 2015

SANTOS Boaventura de Souza Pela matildeo de Alice o social e o poliacutetico

na poacutes-modernidade Satildeo Paulo Cortez 2003

TARTURE Flaacutevia DELLORE Luiz Gratuidade da justiccedila no novo CPC Em

Revista de Processo Satildeo Paulo v 39 n 236 p 305-323 out 2014

176

reveacutes de seu proposito servir como oacutebice ao efetivo acesso agrave justiccedila daqueles que tem

realmente tem urgecircncia na prestaccedilatildeo jurisdicional

Talvez uma boa alternativa para se evitar decisotildees diacutespares e a banalizaccedilatildeo do

benefiacutecio ante a carga de subjetividade do seu pressuposto fosse exigir uma comprovaccedilatildeo

miacutenima da insuficiecircncia de recursos Afinal quem realmente necessita do benefiacutecio natildeo teria

dificuldade alguma em demonstrar a sua impossibilidade financeira para arcar com as

despesas processuais

Eacute certo que a Lei nordm 106050 e agora o Coacutedigo de Processo Civil estabelecem ocircnus

ao litigante que de maacute-feacute requereu o benefiacutecio da gratuidade todavia a prova nesse sentido

deve ser contundente o que estimula de certa forma pedidos indiscriminados de gratuidade

uma vez que sopesando os riscos os ganhos prevalecem

Destarte o que se percebe eacute que nesse ponto o legislador civil natildeo conseguiu

encerrar as discussotildees deixando a soluccedilatildeo para a doutrina e a jurisprudecircncia agora basta

saber como as discussotildees seratildeo encaminhadas de modo que natildeo se instale ndash ou aumente ndash um

estado de desconfianccedila em torno do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila em decorrecircncia dos

abusos praticados mas que tambeacutem natildeo se deixe de cumprir a sua preciacutepua finalidade

constitucional de ser um instrumento de acesso ao Judiciaacuterio daqueles que natildeo desfrutam de

plenas condiccedilotildees financeiras

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O atual Coacutedigo de Processo Civil atuou muito positivamente no que pertine ao

instituto da Gratuidade da Justiccedila ele alvoreceu pontos que a Lei nordm 106050 era retroacutegrada e

mesmo silente bem como normatizou questotildees jaacute consolidadas pela jurisprudecircncia

Em contrapartida a legislaccedilatildeo processual civil natildeo se fez clara quanto ao pressuposto

para a concessatildeo do benefiacutecio da gratuidade da justiccedila mormente porque se limitou a prever

que a simples afirmaccedilatildeo de insuficiecircncia de recursos para pagar as despesas processuais eacute

suficiente ao seu deferimento

Afinal o que insuficiecircncia de recursos Qual o criteacuterio objetivo para se definir quem

se enquadra ou natildeo nesse perfil Mais uma vez a lei que trata sobre a gratuidade da justiccedila

silenciou nesse pormenor reservando ao aplicador do direito a missatildeo de examinar

casuisticamente quem eacute merecedor ou natildeo da benesse partindo de uma interpretaccedilatildeo

alicerccedilada na finalidade da lei ndash promover o acesso agrave justiccedila

173

Assim duas questotildees surgem A primeira eacute se o legislador foi relapso ou se ele

propositadamente preferiu a um conceito indeterminado para a concessatildeo do benefiacutecio E a

segunda eacute se ele agiu bem

E ao que se conclui eacute que a preferecircncia por um termo dotado de subjetivismo tem

um propoacutesito qual seja permitir que a lei seja adaptaacutevel as mais diversas situaccedilotildees do

cotidiano forense de modo a tornar o acesso agrave justiccedila um direito fundamental mais efetivo

Conquanto agrave segunda questatildeo (se ele agiu bem) apenas a experiecircncia praacutetica poderaacute dizer

notadamente porque vai depender e muito da consciecircncia do postulante (e seu advogado) o

qual eacute o real sabedor de sua condiccedilatildeo financeira

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ABREU Frederico do Valle Conceito juriacutedico indeterminado interpretaccedilatildeo da lei

processo e suposto poder discricionaacuterio do magistrado Jus Navigandi Teresina ano 9 n

674 10 maio 2005 Disponiacutevel em lthttpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=6674gt

Acesso em 27032016

ANGHER Anne Joyce (Org) Vade mecum acadecircmico de direito Rideel 21ed

atual e ampl Satildeo Paulo Rideel 2015

BRASIL Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Recurso Especial nordm

19980053550-0 Relator Ministro Carlos Alberto Menezes Data de Julgamento 02091999

Data de Publicaccedilatildeo DJ 25101999 p 79

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Agravo Regimental no Recurso

Especial nordm 20140315675-3 Relator Ministro Ricardo Villas Bocircas Cueva Data de

Julgamento 28042015 Data de Publicaccedilatildeo DJe 07052015

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Recurso Especial nordm

20040103656-9 Relator Ministro Carlos Alberto Menezes Direito Data de Julgamento

21112006 Data de Publicaccedilatildeo DJ 16042007 p 184

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Recurso Especial

20000060786-0 Relator Ministro Carlos Alberto Menezes Direito Data de Julgamento

22052001 Data de Publicaccedilatildeo 13082001 p 150

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Quarta Turma Recurso Especial 91609SP

Relator Ministro Saacutelvio de Figueiredo Teixeira Data de Publicaccedilatildeo 08061998 p 113

174

_____ Tribunal Regional Federal (4ordf Regiatildeo) Terceira Turma Agravo nordm

50101513420134040000 5010151-3420134040000 Relator Nicolau Konkel Juacutenior Data

de Julgamento 14082013Data de Publicaccedilatildeo 16082013

_____ Tribunal de Justiccedila do Estado do Paranaacute 16ordf Cacircmara Ciacutevel Agravo de

Instrumento nordm 14520235 PR 1452023-5 (Decisatildeo Monocraacutetica) Relator Paulo Cezar Bellio

Data de Julgamento 27102015 Data de Publicaccedilatildeo 05112015

CAPPELLETTI Mauro GARTH Bryant Acesso agrave justiccedila Trad Ellen Gracie

Northfleet Porto Alegre Seacutergio Fabris Editor 2002

CARNEIRO Paulo Cezar Pinheiro Normas Fundamentais do Processo Civil Em

Breves Comentaacuterios ao Novo Coacutedigo de Processo Civil Tereza Arruda Alvim Wambier et

al[coord] Satildeo Paulo Editora RT 2015

DELLORE Luiz Novo CPC o lado A da justiccedila gratuita Disponiacutevel em http

httpjotauolcombrjustica-gratuita-novo-cpc-lado publicado em 09 de marccedilo de 2015

Acesso em 27032016

______ Novo CPC o lado B da justiccedila gratuita Disponiacutevel em

httpjotauolcombrnovo-cpc-o-lado-b-da-justica-gratuita publicado em 13 de abril de

2015 Acesso em 27032016

GALESKI JUNIOR Irineu RIBEIRO Marcia Carla Pereira Direito e economia

uma abordagem sobre a assistecircncia judiciaacuteria gratuita In Publica Direito (recurso eletrocircnico

on-line) Fortaleza CONPEDI 2010

GALVAtildeO Maacutercio Pirocircpo Abuso de direito agrave gratuidade da Justiccedila Revista Jus

Navigandi Teresina ano 17 n 3339 22 ago 2012 Disponiacutevel em

lthttpsjuscombrartigos22466gt Acesso em 27032016

MARCACINI Augusto Tavares Rosa Assistecircncia Juriacutedica Assistecircncia Judiciaacuteria e

Justiccedila Gratuita Satildeo Paulo Editora Forense 2009 (ediccedilatildeo eletrocircnica)

MEDINA Joseacute Miguel Garcia Novo Coacutedigo de Processo Civil Comentado Satildeo

Paulo Editora RT 2015

NERY JUNIOR Nelson e NERY Rosa Maria de Andrade Comentaacuterios ao Coacutedigo

de Processo Civil Satildeo Paulo Editora RT 2015

NETO Emeteacuterio Silva de Oliveira VIANA Juvecircncio Vasconcelos Acesso agrave justiccedila

e o novo Coacutedigo de Processo Civil um olhar criacutetico Em Acesso agrave justiccedila (recurso eletrocircnico

on-line) Florianoacutepolis CONPEDIUFSC 2015

175

OLIVEIRA Rafael Alexandria de Da Gratuidade da Justiccedila Em Breves

Comentaacuterios ao Novo Coacutedigo de Processo Civil Tereza Arruda Alvim Wambier et

al[coord] Satildeo Paulo Editora RT 2015

SANTOS Boaventura de Souza Pela matildeo de Alice o social e o poliacutetico

na poacutes-modernidade Satildeo Paulo Cortez 2003

TARTURE Flaacutevia DELLORE Luiz Gratuidade da justiccedila no novo CPC Em

Revista de Processo Satildeo Paulo v 39 n 236 p 305-323 out 2014

176

Assim duas questotildees surgem A primeira eacute se o legislador foi relapso ou se ele

propositadamente preferiu a um conceito indeterminado para a concessatildeo do benefiacutecio E a

segunda eacute se ele agiu bem

E ao que se conclui eacute que a preferecircncia por um termo dotado de subjetivismo tem

um propoacutesito qual seja permitir que a lei seja adaptaacutevel as mais diversas situaccedilotildees do

cotidiano forense de modo a tornar o acesso agrave justiccedila um direito fundamental mais efetivo

Conquanto agrave segunda questatildeo (se ele agiu bem) apenas a experiecircncia praacutetica poderaacute dizer

notadamente porque vai depender e muito da consciecircncia do postulante (e seu advogado) o

qual eacute o real sabedor de sua condiccedilatildeo financeira

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ABREU Frederico do Valle Conceito juriacutedico indeterminado interpretaccedilatildeo da lei

processo e suposto poder discricionaacuterio do magistrado Jus Navigandi Teresina ano 9 n

674 10 maio 2005 Disponiacutevel em lthttpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=6674gt

Acesso em 27032016

ANGHER Anne Joyce (Org) Vade mecum acadecircmico de direito Rideel 21ed

atual e ampl Satildeo Paulo Rideel 2015

BRASIL Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Recurso Especial nordm

19980053550-0 Relator Ministro Carlos Alberto Menezes Data de Julgamento 02091999

Data de Publicaccedilatildeo DJ 25101999 p 79

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Agravo Regimental no Recurso

Especial nordm 20140315675-3 Relator Ministro Ricardo Villas Bocircas Cueva Data de

Julgamento 28042015 Data de Publicaccedilatildeo DJe 07052015

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Recurso Especial nordm

20040103656-9 Relator Ministro Carlos Alberto Menezes Direito Data de Julgamento

21112006 Data de Publicaccedilatildeo DJ 16042007 p 184

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Terceira Turma Recurso Especial

20000060786-0 Relator Ministro Carlos Alberto Menezes Direito Data de Julgamento

22052001 Data de Publicaccedilatildeo 13082001 p 150

_____ Superior Tribunal de Justiccedila Quarta Turma Recurso Especial 91609SP

Relator Ministro Saacutelvio de Figueiredo Teixeira Data de Publicaccedilatildeo 08061998 p 113

174

_____ Tribunal Regional Federal (4ordf Regiatildeo) Terceira Turma Agravo nordm

50101513420134040000 5010151-3420134040000 Relator Nicolau Konkel Juacutenior Data

de Julgamento 14082013Data de Publicaccedilatildeo 16082013

_____ Tribunal de Justiccedila do Estado do Paranaacute 16ordf Cacircmara Ciacutevel Agravo de

Instrumento nordm 14520235 PR 1452023-5 (Decisatildeo Monocraacutetica) Relator Paulo Cezar Bellio

Data de Julgamento 27102015 Data de Publicaccedilatildeo 05112015

CAPPELLETTI Mauro GARTH Bryant Acesso agrave justiccedila Trad Ellen Gracie

Northfleet Porto Alegre Seacutergio Fabris Editor 2002

CARNEIRO Paulo Cezar Pinheiro Normas Fundamentais do Processo Civil Em

Breves Comentaacuterios ao Novo Coacutedigo de Processo Civil Tereza Arruda Alvim Wambier et

al[coord] Satildeo Paulo Editora RT 2015

DELLORE Luiz Novo CPC o lado A da justiccedila gratuita Disponiacutevel em http

httpjotauolcombrjustica-gratuita-novo-cpc-lado publicado em 09 de marccedilo de 2015

Acesso em 27032016

______ Novo CPC o lado B da justiccedila gratuita Disponiacutevel em

httpjotauolcombrnovo-cpc-o-lado-b-da-justica-gratuita publicado em 13 de abril de

2015 Acesso em 27032016

GALESKI JUNIOR Irineu RIBEIRO Marcia Carla Pereira Direito e economia

uma abordagem sobre a assistecircncia judiciaacuteria gratuita In Publica Direito (recurso eletrocircnico

on-line) Fortaleza CONPEDI 2010

GALVAtildeO Maacutercio Pirocircpo Abuso de direito agrave gratuidade da Justiccedila Revista Jus

Navigandi Teresina ano 17 n 3339 22 ago 2012 Disponiacutevel em

lthttpsjuscombrartigos22466gt Acesso em 27032016

MARCACINI Augusto Tavares Rosa Assistecircncia Juriacutedica Assistecircncia Judiciaacuteria e

Justiccedila Gratuita Satildeo Paulo Editora Forense 2009 (ediccedilatildeo eletrocircnica)

MEDINA Joseacute Miguel Garcia Novo Coacutedigo de Processo Civil Comentado Satildeo

Paulo Editora RT 2015

NERY JUNIOR Nelson e NERY Rosa Maria de Andrade Comentaacuterios ao Coacutedigo

de Processo Civil Satildeo Paulo Editora RT 2015

NETO Emeteacuterio Silva de Oliveira VIANA Juvecircncio Vasconcelos Acesso agrave justiccedila

e o novo Coacutedigo de Processo Civil um olhar criacutetico Em Acesso agrave justiccedila (recurso eletrocircnico

on-line) Florianoacutepolis CONPEDIUFSC 2015

175

OLIVEIRA Rafael Alexandria de Da Gratuidade da Justiccedila Em Breves

Comentaacuterios ao Novo Coacutedigo de Processo Civil Tereza Arruda Alvim Wambier et

al[coord] Satildeo Paulo Editora RT 2015

SANTOS Boaventura de Souza Pela matildeo de Alice o social e o poliacutetico

na poacutes-modernidade Satildeo Paulo Cortez 2003

TARTURE Flaacutevia DELLORE Luiz Gratuidade da justiccedila no novo CPC Em

Revista de Processo Satildeo Paulo v 39 n 236 p 305-323 out 2014

176

_____ Tribunal Regional Federal (4ordf Regiatildeo) Terceira Turma Agravo nordm

50101513420134040000 5010151-3420134040000 Relator Nicolau Konkel Juacutenior Data

de Julgamento 14082013Data de Publicaccedilatildeo 16082013

_____ Tribunal de Justiccedila do Estado do Paranaacute 16ordf Cacircmara Ciacutevel Agravo de

Instrumento nordm 14520235 PR 1452023-5 (Decisatildeo Monocraacutetica) Relator Paulo Cezar Bellio

Data de Julgamento 27102015 Data de Publicaccedilatildeo 05112015

CAPPELLETTI Mauro GARTH Bryant Acesso agrave justiccedila Trad Ellen Gracie

Northfleet Porto Alegre Seacutergio Fabris Editor 2002

CARNEIRO Paulo Cezar Pinheiro Normas Fundamentais do Processo Civil Em

Breves Comentaacuterios ao Novo Coacutedigo de Processo Civil Tereza Arruda Alvim Wambier et

al[coord] Satildeo Paulo Editora RT 2015

DELLORE Luiz Novo CPC o lado A da justiccedila gratuita Disponiacutevel em http

httpjotauolcombrjustica-gratuita-novo-cpc-lado publicado em 09 de marccedilo de 2015

Acesso em 27032016

______ Novo CPC o lado B da justiccedila gratuita Disponiacutevel em

httpjotauolcombrnovo-cpc-o-lado-b-da-justica-gratuita publicado em 13 de abril de

2015 Acesso em 27032016

GALESKI JUNIOR Irineu RIBEIRO Marcia Carla Pereira Direito e economia

uma abordagem sobre a assistecircncia judiciaacuteria gratuita In Publica Direito (recurso eletrocircnico

on-line) Fortaleza CONPEDI 2010

GALVAtildeO Maacutercio Pirocircpo Abuso de direito agrave gratuidade da Justiccedila Revista Jus

Navigandi Teresina ano 17 n 3339 22 ago 2012 Disponiacutevel em

lthttpsjuscombrartigos22466gt Acesso em 27032016

MARCACINI Augusto Tavares Rosa Assistecircncia Juriacutedica Assistecircncia Judiciaacuteria e

Justiccedila Gratuita Satildeo Paulo Editora Forense 2009 (ediccedilatildeo eletrocircnica)

MEDINA Joseacute Miguel Garcia Novo Coacutedigo de Processo Civil Comentado Satildeo

Paulo Editora RT 2015

NERY JUNIOR Nelson e NERY Rosa Maria de Andrade Comentaacuterios ao Coacutedigo

de Processo Civil Satildeo Paulo Editora RT 2015

NETO Emeteacuterio Silva de Oliveira VIANA Juvecircncio Vasconcelos Acesso agrave justiccedila

e o novo Coacutedigo de Processo Civil um olhar criacutetico Em Acesso agrave justiccedila (recurso eletrocircnico

on-line) Florianoacutepolis CONPEDIUFSC 2015

175

OLIVEIRA Rafael Alexandria de Da Gratuidade da Justiccedila Em Breves

Comentaacuterios ao Novo Coacutedigo de Processo Civil Tereza Arruda Alvim Wambier et

al[coord] Satildeo Paulo Editora RT 2015

SANTOS Boaventura de Souza Pela matildeo de Alice o social e o poliacutetico

na poacutes-modernidade Satildeo Paulo Cortez 2003

TARTURE Flaacutevia DELLORE Luiz Gratuidade da justiccedila no novo CPC Em

Revista de Processo Satildeo Paulo v 39 n 236 p 305-323 out 2014

176

OLIVEIRA Rafael Alexandria de Da Gratuidade da Justiccedila Em Breves

Comentaacuterios ao Novo Coacutedigo de Processo Civil Tereza Arruda Alvim Wambier et

al[coord] Satildeo Paulo Editora RT 2015

SANTOS Boaventura de Souza Pela matildeo de Alice o social e o poliacutetico

na poacutes-modernidade Satildeo Paulo Cortez 2003

TARTURE Flaacutevia DELLORE Luiz Gratuidade da justiccedila no novo CPC Em

Revista de Processo Satildeo Paulo v 39 n 236 p 305-323 out 2014

176