64 Revista Linha Direta
intratexto
Fabíola Cardoso*
Engajada em fazer a diferença, saí do curso de Comunicação Social faltando apenas um
período para me formar. Tinha ur-gência em me lançar em uma nova área que me permitisse trabalhar diretamente para o outro e com o outro: a educação.
Na faculdade, foram longos semes-tres de estudos, pesquisas, está-gios supervisionados e, ao final do
Teoria e prática na formação pedagógica
© K
irill
Zdo
rov/
Phot
oXpr
ess
64 Revista Linha Direta 64 Revista Linha Direta
Somos nômades, vamos atrás do devir humano, a cada dia nós desdobramos uma nova estepe. O futuro antecipado não parali-sa, mas conduz à manutenção da mudança.
Pierre Lévy
Revista Linha Direta 65
último período, o tão esperado e temido Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Daí a necessidade de conversar com coordenadores, pro-fessores e especialistas sobre as práticas pedagógicas, mercado de trabalho e, principalmente, discutir conceitos, a fim de desenvolver no-vos conhecimentos a respeito das Tecnologias da Informação e da Co-municação, conhecidas como TICs.
Durante esse período de investiga-ção acadêmica, foi possível perce-ber que apenas a disciplina espe-cífica de tecnologias educacionais, na grade curricular do curso de Pe-dagogia, não é suficiente para in-serir o profissional da educação na atual sociedade do conhecimento. O currículo ainda não está pronto para habilitar os futuros profis-sionais para manipular ferramen-tas tecnológicas, para orientá-los quanto às novas possibilidades de ensinar e aprender, mediadas pelas tecnologias educacionais.
É preciso refletir sobre o “abismo” entre teoria docente e prática vi-venciada nos espaços escolares, questionando posições assumidas por diversos autores. A utilização da tecnologia com finalidade pe-dagógica ainda é distante da rea-lidade econômica, social e cultu-ral tanto de professores como de alunos, especialmente no ensino público.
Entretanto, venho comprovando, com minha experiência profissio-nal, que é possível aliar a teoria à prática e vice-versa. Nessa busca, tive a oportunidade de participar de uma formação em Tecnologia Educacional de profissionais da educação de uma rede municipal, e a partir desse momento descorti-naram-se novas perspectivas. Esse contato com a prática me fez des-pertar para as possibilidades dessa nova realidade comunicacional.
Pude verificar que existe a necessi-dade de mudar, de criar novas es-tratégias e de ter uma nova postu-ra, seja em relação ao aluno, seja em relação ao professor. Mas não basta aprender a utilizar os recur-sos tecnológicos: é preciso questio-nar o que fazer com eles, ou seja, se queremos apenas mais recursos pedagógicos no processo ensino--aprendizagem ou se queremos usá-los como ferramentas auxilia-res na formação de um cidadão crítico, criativo e construtor do seu conhecimento.
Hoje vivencio diversos casos de su-cesso escolar por todo o País, pro-movendo ações efetivas no cam-po da educação e inserindo cada vez mais educador e educando no mundo digital e social. Existe um desafio no horizonte: capacitar o professor, que é a base do ensino escolar. Devemos todos ter ple-na consciência de que a disciplina tecnologia educacional, inserida no curso de Pedagogia, vai muito além de apenas apresentar ferramentas tecnológicas: ela deve também possibilitar ao professor a visão de aonde o aluno pode chegar e ex-plorar ao máximo essas ferramen-tas para desenvolver habilidades e competências digitais.
Diante disto, só será possível en-xergar uma solução a partir do momento em que se investir mais na qualificação dos docentes, mos-trando a eles o caminho que po-dem percorrer com a nova forma de ensino e auxiliando-os, de ma-neira que a tecnologia na educação se fortaleça positivamente.
Segundo Márcia Leite e Valter Filé, em Subjetividade, tecnologias e es-colas, a aproximação entre subjeti-vidades, tecnologias e escolas pode nos ajudar a desfazer alguns nós da educação do nosso País. Precisa, todavia, acontecer, principalmente
costurando as experiências de pro-fessores, nas quais os sentidos são constituídos.
Quando penso que me formo daqui a um mês, sinto-me sinceramente motivada a fazer a diferença. Hoje, mesmo sabendo da dificuldade de se quebrarem paradigmas nas es-truturas do ensino dentro dos mu-ros acadêmicos, destaco a necessi-dade de transcender o processo de separação entre teoria e prática, a fim de melhorar a qualidade de en-sino dentro das universidades.
O ofício da educação é um tra-balho de formiguinha, minucioso e contínuo. Existe, sim, uma re-sistência muito grande quanto às inovações tecnológicas e meto-dológicas, abrindo ainda mais o “abismo” entre o saber e o fazer. Porém, bons profissionais estão ajudando a romper a dicotomia entre teoria e prática.
Nesse percurso, não apenas tive a sorte de me descobrir como profis-sional da educação, como também encontrei pessoas que me ajuda-ram a realizar minha missão de pensar junto, de educar e oportu-nizar novos conhecimentos. Passei a ser, a sentir e a viver a pedago-gia, empenhada na inserção do su-jeito reflexivo, autônomo e crítico, seja ele professor e/ou aluno, na era da sociedade do conhecimen-to. De acordo com Pierre Lévy, em As tecnologias da inteligência — o futuro do pensamento na era da in-formática, somos seres inacabados e estamos sempre sujeitos a mu-danças. É imprescindível que este-jamos abertos à mudança no fazer e no saber.
*Formanda em Pedagogia, inte-grante da equipe pedagógica do Sistema Microkids
Revista Linha Direta 65
Recommended