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..
.. .
,,.
O Poema de Lisboa
D O \1 E S )! O A l' T O R
1912 - Árias, Rezas, Canções e Cantares I Série*
1916 - Árias, Reias, Canções e Cantares TI Série*, musicadas por D. Luls de la Cruz Quesada
191G - Praias do Mistério - Poemas•
1917 - A Rosa de Papel - Poema lírico• mttsicado por R11,i Coelho e represe11tado no teatro de S. Carlos•
1920 - O Mundo dos meus Bonitos - Poemas Pri-111eira. Edição, com ilustrações de C0Íi11elli Telmo*
O Mundo dos meus Bonitos - Segunda Ediçâo com '"" Estudo-critico do Professor Dr. l'ieira de Almeida
192J - Auto da Vida Eterna - Poema lirico, com o retrt1to do ,ltttor e vinhetas de Eduardo .lfalta
1927 - A Vida de Jesus - (Para as crianças) com ilustrações de Eduardo .1/alta
1928- PÁ-TÁ-PÁ - Poesit,s i11ftmtis, com ilitstrações de Edttardo .lia/ta•
1928 - Có-Có-Ró-Có - Contos it1fa11tis, com ilustrações de Eduardo .lia/ta•
1980 - De Marçano a Milionário - Novela i11/a11til, com ilustrações de Raquel Roque Gameiro
1030 - O Poema de Fátima, com desenhos de O/avo de Eça Leal
Jf/32 - A Bolinha Mágica - Novela infa11til, com desenhos de ;!reindo .!ladeira
194G - A Cartilha Visual - .llétodo de Ensino Pré-primário, com ,tesenhos de Fem,mdo Alves de Sousa
J!/:)1 - A Princesa Estrelinha - Novel« i11Jantil, com desenhos de Otelo A=i11hais
• Edição esgotada
lfJ.;,t - A História do Nosso Amor - (O livro deoiro dos noivos e bencasados) - ilustrações de Raquel Roque Gameiro
19JC - O Poema de Lisboa - (Ediç<io dtt Cd11wra .lf,micipal de Lisboa).
TBATRO
Forri do .1/ercado:
Lobos no Povoado - Drama rzí,st·ico nu.111, acto, representado no Teatro da Trindade em 1916
O Auto da Tentação - Três actos em colaboração co111 Luls de Oliveirn G1'i111arães, representado "º Teatro do Povo do S. P. N. 110s <t>ios de J!J.31!-39
A Cabrinha Mé-mé, o B.urro e o Papagaio - Teatr6, illftmtil, ·represeutado por fantoches no Teatro de .1/estre Gil, nos anos de 1948-44-45
Nossa Senhora da Agret.. - Teatro infantil, 1'eprese11tado "º Teatro de Jlestre Gil, em 1944-45-46
Pio-Pio-Sabichão - Teatro infantil, represe11tado no Tet1lro de .llestre Gil, em 194ó
A Venda dos Bois - Tettlro infantil, represe11tado 110 Teatro de .lfestre Gil, em 1945
Santo António em Procissão - Teatro infantil, representado 110 Teatro de .lfestre Gil, em 1945-_4,;.J, •. ;5.J{j
Eternidade - Poema teall'al, representado 110 Teatro-Estúdio do Salitre, em 195Q
O Zagalote - Drama rti.stico, represe11tado 110 Teatro-Estúdio do Salitre, em 1950
O Capuchinho Vermelho - Teatro infantil, ·representado no Teatro de .llestre Gil, em 1955·56
A Cinderela - Teatro i11/a11til, representado ,w Teatro de .llestre Gil, em 19.,6
AUGUSTO DE SANTA-RITA
o
DE
.
....
o.
p
237
o
LISBOA
LISBOA
1 9 5 7
-.-
...
Esta obra, que a Câmara Mimicipal de Lisboa
acolheu carinhosamente, é lançada a público pou
cas semanas depois do falecimento inesperado do
seu Autor. Augusto de Santa-Rita pôde ainda acon
selhar pormenores da edição, rever as P:uYúas tipo
gráficas, dar, aqui e além, alguns retoques a certos
versos de composições escritas já há alguns anos.
Das suas mãos, que em breve se enregelariam para sempre, O Poema de Lisboa saiu, no entanto, aca
bado e perfeito, pois até a dedicatória em memória
do grande e ilustre amigo António Ferro - que
devia ser o seu prefaciador, mas que o antecedeu
de mês e meio apenas no caminho da Eterni
dade - ele nos deixou escrita ao sopro inspirador
das derradeiras horas da sua existência. Assim,
sobre este livro, dum tão terno, fragrante e sen
tido lirismo citadino, fica pairando duplamente a sombra melancólica da Morte.
Recordando o cantor delicado e sensível duma
Lisboa, que o contínuo trabalho dos homens e a
marcha inexorável dos tempos vai transformando
sem lhe apagar, contudo, a resplandecente chama
espiritual, a que poderão aquecer-se sempre os
corações eleitos que a souberem encontrar e amar,
a Câmara Municipal, reconhecida ao Poeta que da
capital fez rico motivo dos seus sonhos, aqui lhe
consigna o seu justo e merecido louvor.
Janeiro de 1957.
'•
EM MEMÓRIA
do saúdoso Camarada e Amigo
,
ANTON/0 FERRO
que, por seu prematuro e inesperado falecimento, não pôde, conforme dese;o manifestado por várias
vezes, escrever algumas palavras sobre este Poema, cu;os versos ele estimava mais do que o próprio Autor, dada a natureza da Obra, pura e simplesmente ob;ectiva.
«D. Jayme».
Quem não viu Lisboa,
Não viu coisa boa!. ..
Adágio pop11lar.
De Lisboa os monumentos
quem vos pudera pintar! · as igrejas, os conventos,
o Tejo, as Torres, o mar
bordado de naus aos centos,de mil diversas bandeiras!
Essas praças galho/eiras,esses largos, esses cais,o vozear da Cidade,e a solene majestade
dos velhos paços reais.
8oma:z &ibeiro.
9
ó terra de luz boa .. .Lisboa ... !
Lisboa, boa Lisboa! .. .
Brinquedo da minha Infância que a Distância colocou em meu regaço mal nasci; à tua sombra cresci! Enfim, já posso abraçar-te, já cabes em meu abraço! Brinquedo que se não parte, sempre novo, com que o povo, - ( essa ingénua criança,) -jamais se cansade brincar!
Brinquedo lindo, que contra o peito minh' alma aperta;Sempre a tentar-me na montrada minha janela aberta.
De «O Mundo dos meus Bonitos».
c:Augusto de ôanta-aua.
10
Rua Gomes Freire
Numa casa lisboeta,
muito franca e prazenteira,
foi que nasceu o Poeta
que é senhor desta «maneira» ...
A maneira como trato,
neste livro, isto e aquilo ...
O verdadeiro retrato
de um poeta é o seu estilo.
Cada qual tem o seu modo,
cada qual sabe de si .. .
Aqui, pois, eu me dou todo
na Lisboa em que nasci.
Cada ser, cada pessoa
traz consigo a terra. . . Assim,
eu cá nasci em Lisboa,
Lisboa nasceu em mim !
Em minhas artérias ferve,
palpita, vibra, cachôa,
o mesmo sangue que serve
as artérias de Lisboa.
11
É o mesmo o ar que respira a sua e minha garganta ... Por isso, na minha lira, o fado seu chora e canta !
Foi numa das tuas ruas, das mais pertinhas do Céu, que, ao fim de umas tantas luas, mais um Poeta nasceu.
Eram dez horas e vinte nos relógios da Cidade, toda a sorrir, num requinte de graça e de claridade.
A Primavera floria, amadurecendo o trigo, e o sonho que eu já trazia embrionário comigo;
O sonho, doirada gema do ovo: - a Vida, no qual a graça deste Poema chocou-a o meu Ideal.
'
12
_,.. ...
,, -
..
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----
--
Lisboa
.. .
Lisboa, -
cidade boa,
capital
de Portugal,
sobre a qual,
às revoadas e tombos,
esvoaça, paira, voa
Vereis "'" 11mudo 111<ma só cidade.
A q11em de prata e d'ouro, o Tejo 1.ja110,
Banha em sinal de eterna majestade.
Ulissei«-Século XVI. G. P. DE c,,sTRo .
um lindo bando de pombos,
às voltas,
revira voltas,
em lindo salamaleque, de níveos, sedosos lombos
e airosas reaudas em leque !
Quem não teve a Dita,
ainda,
de haver posto os olhos nela,
venha vê-la, venha vê-la,
tão bonita! Ai não há outra tão linda
nem tão bela !
13
Lisboa,
boa
cidade,
em cujo agasalho brando,
perpassa tal suavidade
como a saudade
que invade
uma velhinha evocando
seus tempos de mocidade !
Quem não teve inda a ventura,
sumo bem,
de ver sua formosura,
lêsse embora a Ulisseia,
não pode fazer ideia
da ternura,
singeleza
e beleza
que ,ela tem!
Lisboa - ( sete colinas
de mármore e de granito -
ninho de águias pequeninas
desafiando o Infinito !
Lisboa - esbelta moirinha -
moira
loira
que o sol doira,
toda luz!
Moirinha em pedra encantada,
não sei se por uma Fada
ou se por Nossa Madrinha:
- a Vírgem Nossa Senhora !
14
Quem afirmar ou disser, - (como quem diz e não pensa,) -que a viu mas não a achou l;:>ela,- coitadinho ! -não teve olhos para a ver,é mais cego que um ceguinhode nascença.
Estrangeiros, vinde vê-la, se puderdes !. .. Baixai, baixai, bem podeis, lá dos nortes, lá dos lestes, dos sudoestes ou súis de todo o Mundo ! Vereis · poentes rubros, céus azuis, uma luz viva, amarela, campos verdes, muito verdes!. . . g; a mais bela aguarela que Deus pintou.. . Vinde vê-la !
Zimbórios, torres, estandes, pontes, ameias, ruínas, e chaminés, muito grandes, em suas mil oficinas. Feérica, linda Cidade, sob faróis e luzinhas, luar, electricidade, e um chuveiro de estrelinhas.
Lisboa de antigos monges, de conventos e de frades ... de formosíssimos longes e estranhas imensidades !. ..
Barcos sonhando nos cais: - (Africas, fndias, Brasís ... ) -Barra. . . Outra Banda. . . Cascais ...Serra de Sintra ... Estorís !. ..
15
Lisboa dos mangericos
e era veiros nos telhados ! ...
Lisboa dos namoricos
loucamente apaixonados,
da rua para janelas,
das janelas para a rua,
sob uma bênção de estrelas
e ao doce clarão da lua!
Da cotovia a cantar,
do chorar do rouxinol,
das serenatas ao luar,
dos regimentos ao sol !
Bandeiras, foguetes, salvas,
de luminárias, lanternas ...
Fadistas e marialvas
cantando pelas tabernas !
De enguiços, superstições,
dos bons e dos maus prenúncios ...
cartazes, vivas, pregões
e luminosos anúncios !
De procissões e touradas,
mil promessas ao Senhor. ..
de juras apaixonadas,
loucos ciúmes de Amor !
Varinas de pé descalço ...
olhos garços, tranças loiras ...
E de estudantes no encalço
das meninas casadoiras.
De pitorescos marujos
de aspecto desempenado,
ardinas, gaiatos sujos,
ceguinhos cantando o Fado !
16
,,.
Cocheiros e carroceiros, com o chicote aos estalos, e sotas ágeis, ligeiros, em dianteira aos cavalos.
Dos asilados velhinhos pela Avenida adiante,
evocando os soldadinhos com que eu brinquei quando infante !
Das frescas, moças acácias, e verdes musgos, tão velhos ! Das madrugadas rosáceas e dos poentes vermelhos !
Lisboa, cidade boa; capital
-· de Portugal !
. -
17
o
Cidade lírica
lírica Lisboa o teu ar tão poético,
umas vezes realista, outras vezes romântico,
beijada pelo Tejo e a dois passos do Atlântico,
à luz dum sol radioso ou dum luar magnético,
merece bem que exalte o estro meu, num Cântico,
o teu perfil bizarro e o teu sentido estético.
ó lírica Lisboa, o teu doce lirismo
de claro céu de anil e estranha luz radiosa,
trepadeiras em flor e casas cor-de-rosa,
com esse ar que há em mim sempre que sonho ou cismo,
vive em Deus, para Deus, nestes meus versos, diz-mo
não sei que ancestral voz, estranha, misteriosa !
ó lírica Lisboa o teu sorriso ledo,
com que a todo o momento a nossa visão topa,
gatos dormindo ao sol, ao sol corando a roupa,
à janela, a secar, de manhãzinha cedo,
é como um mangerico à janela da Europa,
é como, em linda montra, um ingénuo brinquedo !
18
.. .
,,
Tua infinita graça, encanto que enternece,
teu estranho, condão de singular magia,
tem o ingénuo ar de alegre romaria
lembra fogo de vista, à noite na quermesse,
girândola em verbena e lembra, em pleno dia,
uma feira, arraial, vitral num templo em prece!
Panorama irreal, belo pano de fundo
do cenário, sem par, do rio Tejo, aos pés
do qual o sonho em flor de cada português,
com orgulho, revive o seu labor fecundo
na conquista do Mar ! Sem dúvida tu és,
Lisboa, a capital mais lírica do Mundo !
-�-
19
Céu ltZltl •••
éu azul de Lisboa com miríades
e de estrelinhas e sóis, formoso céu; da cor do manto lindo que envolveu
a Virgem Mãe, Madrinha dos lusíadas.
Céu azul de Lisboa, céu aberto, cheio de sol de cor, de alacridade, murmurando aos ouvidos da cidade: - «olhai, vizinha, tendes Deus tão perto» !
Céu azul de Lisboa, céu dos céus, luz metálica, intensa, cristalina, quinta-essência do sonho, onda divina, abraço espiritual, bênção de Deus !
Céu azul de Lisboa que apesar de ser o mesmo céu de toda a parte, não sei porque motivo tem a arte, o bizarro condão de não ter par !
Céu azul de Lisboa, céu que encerra tanta magia como o céu do Céu ! se Deus tem um, eu também tenho um meu, pois sois, céu de Lisboa, o Céu na Terra!
20
Tejo
Tejo ...
Desejo ..
Beijo .. .
Vaga
'• que alaga
as rochas,
roxas
à luz vermelha
dos faróis!
Tejo:
-lanterna
verde,
centelha
de estranhos sóis !
Rio
de graça eterna,
lembrança que jamais perde
quem uma vez o viu!
21
Rio de sonho e lenda,
oferenda de Deus;
prenda
dada às meninas,
ladinas,
dos olhos meus !
Estranho caleidoscópio
olhado por um artista
que tenha os olhos e a vista
embriagados com ópio.
Alabastros ...
Astros .. .
Mastros .. .
Dormentes
cais,
ais
dolentes! ...
•Alvas areias ...
Sereias ...
Ocultos
vultos
nas margens .. .
Aragens ...
Hálitos de Anjo !. ..
Chalupas em desarranjo ...
Vapores
e palhabotes,
botes,
canoas, galeotas,
rolas do mar e gaivotas:
22
...
,,
- adeuses de pescadores !. ..
Cântico
de sereia,
em búzio sobre a areia
eternizado.
Tejo:
-beijo
do Atlântico!
Romântico
troveiro enamorado.
23
•
Os cais
á nos cais uma funda turvação que é semelhante à dor do Pensamento, como se os cais tivessem coração,
como se houvesse neles sentimento!
Há nos cais expressão suave e triste, plena de graça incógnita, secreta, e essa expressão mais acentuada existe nos lindos cais do Tejo lisboeta!
Maresia de sonho manhã cedo e maré cheia de Mistério à tarde, tomam os cais ora um aspecto ledo ora um soturno ar, no inqui�to alarde da vaga ao dar· na areia e no rochedo !
Mas ai, além deste ar, comum a todos os 'Cais da Europa, os cais de todo o Mundo, os lindos cais do Tejo têm, por modos outro aspecto mais belo e mais profundo !
Pois, a par dos aspectos que regista nossa visão, há outro, espiritual: -Foi deles que partiu pàrn a Conquista,- ( entre louros e cânticos, na pistados mundos ignorados) -Portugal!
24
.. .
,,.
Ponibos
Pombos lisboetas,
citadinos pombos,
saltitando
aos tombos
por sobre as valetas,
,. alvos, cor de neve !. .. ...
Bando
esvoaçando,
deslizando
brando,
leve,
levemente,
sem nenhuns embargos,
sobre a gente,
os largos,
postos, fios, linhas
da electricidade !. ..
Pombos lisboetas ...
Pombos da cidade !. . .
Bando que esvoaça
que saltita e voa,
pestaneja graça ...
Pombos de Lisboa !
25
Encantado
bando,
descuidado
e franco;
príncipes noivando
suas princezinhas:
- grandes andorinhas
vestidas de branco !
Pombos alfacinhas !
Pombos lisboetas !
Citadinos pombos
saltitando,
aos tombos,
por sobre as valetas,
em perpétuo bando
que esvoaça e voa !. ..
Cândido sorriso .. .
-Riso
de Lisboa!
26
�
,,.
Outra-Bcinda
e acilhas, Seixal, Alfeite,
Barreiro, Palmela, Almada !. ..
Luz-bruma.. . champanhe e leite!
Estranho cenário ! Enfeite,
deleite
da «Lísbia» amada.
27
Gaivotas
Gaivotas, gaivotas, gaivotas em bando !. ..
Lenços de cambraia, dos cais e da praia
acenando!
Lindíssima imagem do Adeus!
Gaivotas, gaivotas.. . gaivotas voando,
em camaradagem tão franca,
a nuvem mais branca dos Céus!. ..
Gaivotas, gaivotas, gaivotas em bando !. .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Espuma da aragem ... Sorriso de Deus !. ..
.,.,< -
. _,.er-_
28
, ,,.
S. Pedro <le Alcâ11tl1,ra
,
São Pedro de Alcântara, largo
cimeiro sobre a cidade,
miradoiro
todo de oiro
·•· e cheio de claridade
que, sem o mínimo embargo
à nossa visão sedenta
de altura
e de liberdade,
lembra o albornoz dum moiro,
em sua leitosa alvura,
que, por mil cento e quarenta,
guardasse ali seu tesoiro.
Um lago, com seu repuxo,
tem por luxo
este recanto feliz,
onde, dum gradeamento
com alguns renques de buxo,
resguardadinho do vento,
29
se divisa
uma petiza,
um petiz,
quais passarinhos
em derredor dos seus ninhos,
à sombra dum pavilhão
a adejar sobre o seu mastro,
um dos parques infantis,
criação
da Poetisa
Dona Fernanda de Castro.
30
. ..
-··
Chiado
e oração da cidade, palpitante
de agitação, de movimento e vida,
muito emôora, por vezes, de inconstante,
frívola, ingénua e inconsciente lida.
<cRendez-vous» de janotas,
de elegâncias preciosas, antipáticas,
pseudo aristocráticas,
supinamente idiotas.
Chá das cinco.. . Garrett, a Marques, a Bernard,
onde o chá é apenas um pretexto
para se dizer mal;
intrigar,
cochichar,
namorar,
fora o resto
que se não diz mas que é o principal !
31
Café da Brazileira.. . café novo,
com políticos sempre em berraria,
discutindo, - (conversas que não louvo) -
aquilo que primeiro existiria:
se a galinha, se o ovo
ou a Democracia.
Defensores acérrimos do Povo
que, sem eles, talvez, bem melhor viveria !
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32
' -··
Rua Augusta
Rua Augusta de augusta majestade,
que um Arco de Triunfo adorna e coroa:
- o mais belo ornamento da cidade ...
Porta aberta do Porto de Lisboa !
A Glória coroando com seu louro
Valor e Génio em mármore esculpidos,
encima uma inscrição que, em letras d'ouro,
atesta o alto esplendor dos tempos idos.
As figuras do Gama, de Pombal,
de Viriato e Nuno Alvares Pereira,
ladeiam este arco triunfal,
a cuja beira
figuram, inda, o rio Tejo e o Douro.
Rua comercial de franco acesso,
de instituições bancárias, lojas, montras,
modas, malas de coiro,
peles, lontras,
raposas e carteiras de alto preço.
33
Automóveis em fila, buzinando,
num andamento
lento,
cauteloso,
à margem dos eléctricos seguindo,
dos eléctricos carros tilintando,
num alarme ruidoso
mas tão lindo !
Rua através da qual o Tejo envia
o seu rócio ao Rossio da cidade,
' feito nuvem, tornado maresia !
Rua Augusta de augusta majestade !
34,
A ,iúncios luminosos
Anúncios luminosos.. . Resplendor
de Quermesse, fantástica Verbena !. .. gargalhadas de luz, berros da cor!. ..
Metamorfose ... Mutação de cena ... Em plena apoteose!
Cartilha luminosa do Reclame, onde dos nossos olhos as meninas preparando se vão para um exame do Curso espiritual, cujas propinas são de graça; mas graça de quem ame não só as coisa·s grandes, pequeninas!
-SANGUINAL
-GRAHAM!. ..
CABINAS PúBL ICAS
ºººººººººººº 0000000
CAFÉ DO GELO
-LUNA PARQUE-
-NICOLA-
35
e um mundo de cartazes luminosos
a esmo, a eito,
à toa;
com desenhos curiosos
de incandescente efeito !
Luminosos anúncios de Lisboa!. ..
36
Rossio
Ros
.sio: -Praça d'oiro .. . Pombos, pombas ...El-Rei D. Pedro IV numa estátua, em atitude um tanto ou quanto fátua;
- (Poeta, cessa a ironia; porque zombas? !. .. ) .
É que El-Rei está tão alto, ao topo, ao fim duma coluna tão estreita, em suma, que a uma grande distância, lembra uma tocha num candelabro de marfim.
Obra de artistas estrangeiros, tem, contudo, em baixo, quatro maravilhas; quatro figuras belas, nobres, filhas da Arte clássica, a abençoada Mãe.
Dois grandes tanques, laternis, aos quais os pombinhos, às vezes, vão beber; tanques monumentais que é um gosto ver.
Vendedeiras de flores, cujas cores, em roda, sob este sol, -made in Lusitania -enchem a praça toda, da sua linda e momentânea graça.
37
Praça rectangular; Rossio, rico tesoiro,
que em doce e furtivo olhar, por entre uma rua de oiro, espreita, a distância, o mar!
Formigueiro de gente num vai-vem, poalha de oiro, faúlhando em nosso olhar;
eléctricos, «coupés» e «autos» em permanente buzinar. ..
Ao fundo, em peristilo, o Teatro Nacionale, um pouco mais além,a Centraldo Rossio - a linda gare -com seu formoso, manuelino estilo !
38
,
...
Rua do Ouro
Rua do Ouro: -corredor sombrio,
entre espaçosas salas de visitas,
arejadas e claras - tão bonitas:
Praça de D. José e a do Rossio.
Rua·•do Ouro verdadeiro e falso;
do maltrapilho e da que sedas usa,
onde o sapato de verniz se cruza
com o roto chinelo e o pé descalço.
Das vitrinas de fulva incandes-cência,
dos pregões: - O Diário!. . . Hoje anda a roda! ...
Dos grandes armazéns da grande moda;
da miséria doirada e da opulência !
Rua do Ouro: - palco de revistas ...
Ecran-Pathé-J ornai onde eu deparo
pretos passan.do com monóc'lo d'aro,
e um coco todo gris a dar nas vistas.
Correctores da Bolsa e burocratas,
em trágico ou grotesco redopio,
e os que vão empenhar ao Monte-Pio
a última bandeja e últimas pratas.
39
Rua do Ouro: - principal artéria
da linda capital
de Portugal,
ora truanesca, ora tão grave e séria !
Rua do Ouro e de ouropéis.. . feéria
de luz e cor.. . Olhai !. . . Cómica e trágica
projecção da existência temporal,
com seu aspecto caricatural,
vista através de uma lanterna mágica !
40
Terreiro do Paço
erreiro do Paço, berço de gaivotas em bando, quando em quando
disperso na aragem branda: -adeuses de níveas asas
•• às casasda Outra-Banda.
Radiosa praça, - (graça luminosa,luz de mil primaveras,condensada,) -com seus arcosem pedra rendilhada,evocando o esplendor de antigas eras ...Doca imponente, principesca entradade barcose galeras!
41
Campo Grande
e ampo Grande. . . Recreio de Lisboa ...
vasto jardim onde qualquer pessoa,
mesmo adulta,
depara sempr.e a sua própria infância;
e, como outrora, novamente exulta,
ao mirar-se no espelho da Distância.
Campo Grande. . . Paisagem florestal
de eucaliptos, plátanos, cedros, tílias ...
Retiro dominical
de paJcatas famílias.
Chalé das canas, chalézinho airoso,
onde o meu coração, pleno de gozo,
entrava, quando infante, em lufa-lufa;
museu miniatural,
- (entre avencas, begónias, fetos, cólios
e outras plantas de estufa,) -
com seu aquário e uns pequeninos óleos
reproduzindo ingénuos mas discretos
aspectos
da capital.
42
,,.
.
" \ 111
\ 1
\ t 1 t
•
Lago enorme com chatas de recreio,·
entre lindos canteiros perfumados
por amores perfeitos e violetas,
o qual dir-se-ia feito expressamente
para o êxtase, encanto e doce enleio,
ai não de toda a gente
mas, sim, de namorados
e poetas!
.. .
43
Cafés
I
e afé Martinho,
onde eu poeta
lá num cantinho
meu predilecto ...
Compuz ali,
um pouco à tonta
e em desatino,
versos sem conta,
- (Senhor, Senhor,• 1 A 1 )
nem sei p ra que .. . . -
entre um contínuo
charivari
que p'ra mim é
embalador!
Amplo café
com alto tecto
e galeria
segundo alçado
dum arquitecto
de alta valia;
44
.,.
mas decorado,
por mau artista
bom posto à prova,
em pobre estilo,
que fere a vista
e faz franzir
a sobrancelha,
lembrando aquilo
que um baluarte
da Critiquelha
quis definir.
por Arte-nova;
mas não é arte
nova nem velha.
,,
II
Brazileira do Chiado .. .
Café de bem poucas vistas,
acanhado.
Contudo, bem decorado
por artistas
modernistas
que dão brado.
Por Viana, por Almada,
Soares, José Pacheco,
artistas de nomeada.
José Pacheco ? ! Assim não !
José Pacheko com kapa ...
Quem tem capa sempre escapa ...
lá diz o velho rifão.
45
Carvalhais, Bernardo Marques e Barradas ...
todos ases,
bons rapazes
e com talento às carradas.
Excelentes camaradas
que de vez enquando mangam
uns dos outros por loquazes;
mas tão depressa se zangam
como fazem logo as pazes.
46
As varinas
Varinas de Lisboa.. . Eis as peixeiras
de estirpe oriunda, regional, de Ovar,
Olhos garços, trigueiras,
de boca em coração e vivo olhar.
Ei-las enchendo as ruas de harmonia,
com seus trajos garridos, arrecadas,
os cordões d'oiro; a cinta estreita, esguia
e amplas saias rodadas,
repuxadas
e enroladas
ao cimo dos quadrís,
meias verdes, chinelas de verniz
e um ar feliz
cheio de mocidade.
Dir-se-ia que vão cantando,
o peixe apregoando
pelos becos e ruas da cidade;
47
A mão na cintura posta
a tamancarem no asfalto:
- <eMerca a pescada do á-á-á-alto !. ..
olha a vi vinha da có-6-osta ! ... i>
Varinas.. . Ovarinas de encantar !
Bonequinhas na montra citadina,
com que dos olhos meus cada menina
passa horas e horas a brincar !
48
Hospital de Rilhafoles
Rilhafoles: - Hospício de alienados,
aos Mártires da Pátria, asilo pátrio,
instituto dos mártires da Ideia,
cujo átrio
se vê, de ambos os lados,
entre muros, caiados,
pintados de amarelo:
- o desespero, a luz em seu declínio
e onde as vagas da vida, em maré cheia,
vão bater, em ,cachão, quebrando o elo
que liga o Pensamento ao Raciocínio.
Celular cativeiro
que para quase todos jamais finda,
onde cada funesto prisioneiro
tem de cumprir a pena do berreiro,
pior que a pena do silêncio ainda !
Horror, horror !. ..
Que miseranda sorte !. ..
Senhor, Senhor,
Senhor Omnipotente,
porque não lhes valeis dando-lhes morte? !
Porque há-de o fraco sofrer
as culpas do que era forte
e honesto não soube ser? !
49
Ei-los que passam, expiando o Crime dos seus antepassados, tara horrível, que nenhum acto redime e cujo drama, horrendo, é indescritível.
Julga-se aquele o Rei da 'Conchinchina ... Traz o peito coberto de medalhas, grandes moedas, pequeninas malhas areadas, furadas, penduradas por fitinhas de seda em várias cores e, na cabeça, enorme barretina enfeitada com flores.
Triste sina ! .Megalómano, o Sonho, em maré cheia, em catadupas, Niagara ardente, avassalou-lhe as células da Ideia e varreu-lhe a memória brutalmente !
50
,,
Eléctricos
Eléctricos lisboetas, eis os carros
mais confortáveis, limpos e bizarros da Europa inteira.
Com seu vivaz aspecto e· graça prazenteira, doiradinhos ao sol, à clara luz do dia, completando a harmonia do seu «charme» com seu sinal de alarme
a tilintar assim : -Tim-tam.. . tim-tam.. . tim-tim-tim.. . tim-tam.. . tim.. . tim ...
Quase sempre repletos, apinhados de passageiros ... Ostentando, no topo, os seus letreiros tão típicos, tão nossos e engraçados:
-BENFICA- LUMIAR.-BRASIL-RIO DE JANEIRO--SANTO AMARO -BELÉM -CAMPO PEQUENO -ATERRO -
-CAMPO GRANDE -TOREL-POÇO DO BISPO-AREEIRO--ROSSIO -ARCO DO CEGO-AJUDA -ESTRELA -GRAÇA -e-S. BENTO -ALECRIM --CAMPOLIDE -DAFUNDO -ou-CAMINHO DE FERRO -
5I
com seu sinal de alarme a tilintar assim,
enchendo de harmonia a rua, o largo, a praça:
- Tim-tam.. . tim-tam.. . tim-tim-tim.. . tam.. . tim !
Eléctricos lisboetas. . . Eis os carros
mais alegres, mais limpos e bizarros
da Europa toda; até de todo o mundo !
52
Tarde de •
toiros
Domingo !. . . Céu azul, bandeiras, luz festiva,
música, um regimento !. . . Um sino a repicar,
um viva, mais um viva, outro viva, outro viva !. ..
salvas no Tejo: - Pum !. . . Foguetes pelo ar
e silvos: - o apitar,
como um forte assobio,
duma locomotiva
no Rossio!. . .
Eléctricos: - «Tim-tam.. . tim-tim-tim.. . tim-tam !. . . »
Buzinas: - «Pó-pó-pó !. .. »
Oh,
Que alegria pagã
anda a pairar
no a,r
desde manhã !
Céu de cristal, estranha ala:cridade !
Dia de sol ardente, sol a jorros,
a brilhar
a fulgir,
a nr,
a gargalhar
sobre os longínquos morros
da cidade!
53
---
Povoléu.. . Povoléu endomingado, de calçado engraxado e fato novo ... Formigueiro de povo num vai-vem, tanto ou quanto inconsciente e frívolo, porém, satisfeito, contente !
Ecôa no ar da tarde domingueira, pelos Restauradores, o apregoar de alguns contratadores:
- «Barreira, sombra-sol, contra-barreira !. .. »
Em derredor dos tanques do Rossio, pombas em redopio, voam, entontecidas, circundando o repuxo ...
Cavaleiros, peões, autos e carruagens, equipagens de luxo, sobem, em fila, as amplas avenidas.
Campo Pequeno: - ervinhas, margaridas, irrompendo por ,entre o encalcetado,
o empedradoda praça, em face e ao ladode alamedas, chalés e miradoiros !
Praça ... Praça dos Toiros,
linda praça, evocando, com seu árabe estilo, aquilo que, legado pelos moiros, ficou em nós, herança duma Raça !
54
,,.
Tourada à antiga portuguesa, reza o programa da festa, - linda festa ! -no cartaz que, ao portão,ora atrai ora chamaa multidãoque, em massa,logo corre,acoffelesta.
Toda em degraus- (alugam-se almofadas
,e vendem-se os retratos dos toureiros) -a barreira no ,extremo das escadas, em cima camarotes, galinheiros !
Em baixo, ao centro, a .arena, cor de chama, e céu, céu doiro e azul, por tecto, ao alto; adivinha-se um vago sobressalto no olhar sentimental de cada gentil dama, a dama portuguesa, a que mais preza e ama, mais vibra e sente a audácia, a valentia, a ousadia, a destreza!
Metade a:o sol, outra metade à sombra, uma parte da praça fica de oiro; perpassa em nós um não sei quê que assombra, memória vaga de áureo tempo moiro!
Irrompe a orquestra: - a Portuguesa!. . . Surge o Senhor Presidente da República .. .Ergue-se a praça, em peso, como públicaprova de apreço e de respeito. Urgedar começo à toirada.. . Alto, um clarimanuncia o espectáculo e na arenadesenrola-se, enfim,a linda cena,praxe prat:ocolar das cortezias.
55
À Luís XV trajados
plenos de pitoresco e galhardia,
dois airosos, garbosos
cavaleiros,
por entre perfilados
toureiros
e forcados
dando uma volta pela praça, em roda,
com gentileza, com aprumo e graça,
saúdam a praça
toda.
Cessam as cortezías. Principia
a luta
entre a destreza, a graça e a força bruta,
entre o feroz instinto e a valentia.
Agora, um cavaleiro, a sós, na praça,
aguarda o novo toque de clarim
que abre a porta do curro,
donde, enfim,
dando um urro,
e a espumar o seu ódio avança um toiro.
Sobe da arena uma poeira de oiro,
envolvendo corcel e cavaleiro;
no cachaço da rês
parte-se a farpa
cravada pela dextra
do toureiro,
junto à escarpa
da praça, isto é: - rés-vés
da trincheira e à rês se escapulindo!
Irrompem, novamente, a orquestra
e as palmas,
palmas de seis mil almas
aplaudindo.
56
'
'•
\
,,
'
Mais outras investidas, novos ferros
cravados no cachaço, a escorrer sangue,
da pobre rês que, aos berros,
uivos e urros, quase tomba, exangue !
Ao toque do clarim recolhe o toiro e logo,
a novo toque, outro aparece, altivo,
pelas narinas expelindo o fogo
do seu feroz instinto, ágil, vivo,
todo desembaraço.
Surge na arena, desenvolto, activo,
outro bandarilheiro e outro e um capinha
e inda outro mais. Ora fareja o espaço
a fera ora focinha
olhando as capas, escutando os berros
e as «piadas do sol» que a <�geral» solta,
raivosa, dolorida pelos ferros
,em volta
do cachaço!
- «À unha, à unha!. .. » grita a praça, agora;
saltam à arena os moços de forcado;
um vai à frente, açula o toiro .. .
Ousado,
aguarda que ele avance ...
- (toma-se de oiro
a hora) -
e, num heróico lance.
num remoque,
de braço
e COll)O feito,
apara o golpe, o embate, o choque
em pleno peito;
e entre as armas da rês se ergue no espaço!
57
Correm os outros moços a auxiliar
o que, entre as armas da fogosa rês,se debate, se agita, ora no arora rés-vés
do solo, a estrebuchar
com a cabeça e os pés.
Agarram-se um à cauda, outros. ao lombo do novilho que espuma em ânsia viva,
tentando, assim, amenizar o tombo
do companheiro que da rês se esquiva.
Impotente, vencida, a fera ajoelha; irrompe a orquestra novamente e palmas,
palmas de seis mil almas,
c'roam, agora, a pega de oernelha.
Um novo toque de clarim rebôa;
abre-se o curro.
Um novo urro ecôa em toda a praça: - entram as chocas e os campin_os. gémeas
na idêntica aparência, cor de sêmeas
têm não sei bem que ar de ternura e graça;enternece-se o toiro olhando as fêmeas !. . .
Entretanto perpassa na geral um rumor de risadas e um sussurro,
enquanto, pela praça,
chora longo, rebôa
um novo urro .. .
Que lindas as toiradas em Lisboa ! Que belo é o Toureio em Portugal !
58
Corrido o oitavo toiro, eis finda a festa!
Numa estúrdia, em balbúrdia, ergue-se, lesta e em massa, ::t grande mole, a gente; esvazia-se a praça lentamente.
Já cá fora, no largo, a multidão, em burburinho, alarde e ,confusão, assalta os carros: - «autos» e «tipóias», eléctricos, «charrettes», brilham jóias ao rubro sol da tarde, que arde, lindo, fulgindo nas janelas, postigos, clarabóias dos <<chalés» e dos ricos palacetes ladeando a Avenida onde -um novo cortejo de equipagens, carros e carruagens, descem, já de regresso numa garrida fila festival.
Em tipóias abertas, os toureiros com seus típicos trajos de alto preço - (relembrando o encanto da corridae atraindo a atenção dos passageiros) -vão fazendo um sucesso !
59
Às olaias e acácias da Avenida, - ( corpinho tenro, débil e sem músculo,minúsculo,
a confundir-se com a própria folha ... ) -principia a recolhados pardais,em chilreios frenéticos,
quaisais.
Tomba do céu a cinza do crepúsculo!. ..
Entretanto, iluminam-se os «·eléctricos»; acendem-se os anúncios luminosos
e torna-se feérica a cidade !
Domingos de Lisboa, tão graciosos,
de tão suave e doce amenidade !
Tardinhas de Portugal, de inexcedível encanto e doce enleio profundo, pois que não têm rival
em nenhum canto
do mundo!
60
,
.,.
Avenidas novas
Avenidas novas, novas avenidas ...
planas, compridas,
razas;
abr,igando em suas casas
vidas novas, velhas vidas.
Vidas novas de senhores
rotineiros
mas finórios
que têm . seus escritórios
na rua dos Retrozeiros,
Nicolau ou Douradores.
Que ao fim duma vida inteira
de trabalho,
às vezes com maroteira,
outras com economias,
em padarias,
num talho,
em casas de comissões,
penhores, retrozarias
ou outras ocupações,
61
fartos
de quartos
estreitos,
entre paredes, saguôes,
com parapeitos
defronte,
sentiram, por fim, a ânsia
de começar vida nova,
com uns palmos de Distância
e uma nesga de Horizonte
antes de irem para a cova.
Avenidas novas, novas avenidas,
rasgadas, amplas, compridas !
Bebezinhos passeando com as aias,
entre olaias
floridas!. ..
62
Ferro velho
Ferro-velho!. .. Ferro-velho!. .. »
E o pregão sobe no espaço,
fanhoso, nasal, rouquenho;
�«Ferro-velho!. .. » Velho-relho,
com aspecto de judeu,
perfeito tipo de entrudo,
que faz lembrar um Faz-tudo,
palhaço
do Coliseu.
- <<Ferro-v·elho !. .. » pregão rouco ...
Leva, em grande reboliço,
chapéu de coco, ao toutiço,
chapéu alto sobre o coco,
tudo posto às três pancadas,
como um louco
fugido de Rilhafoles.
63
Quatro panelas furadas,
na mão esquerda dois foles;
um varão de ferro sobre
o ombro direito e, na dextra,
uma batuta de orquestra
e urna vazilha de cobre .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
- «Ferro-velho!. .. Ferro-velho!. .. »
E o pregão sobe no espaço
fanhoso, nasal, rouquenho ...
- «Ferro-vdho !. .. Ferro-velho!. .. »-
64
'•
O sota
e om destreza e com despacho
�is o sota a saltar: - upa ... !a garupa
<lo seu macho: -«Ta:c-tac-tac-tac ...
rua acima, rua abaixo, à procura de quem queira, na ladeira, o seu machoem dianteira!
Apesar de «massas>l falto, de ser um pobre diacho, o sota está sempre alto,olha de cima p'ra baixo!
-,Tac-tac-tac-tac ... pelas rampas e calçadas ...
O - " d 'f " :>I ·-«-uer uma a3u a, o regues .....As suas bestas, coitadas,vão-se-lhe abaixo <los pés !
-«Vá lá a ver!. . . Atrela, amarraa dianteira aos cavalos!»Põe-se o chicote aos estalose principia a algazarra:
65
- «Upa, upa, upa, arriba !
Anda macho
que te racho ...
que te escacho,
eh dia,cho;
upa, upa, arriba, upa !
ô-ô-ô-ô-ô-ô-ôh. ! ..
Arqueia, o macho o seu dorso,
f'rindo lume na calçada,
e, num titânico esforço,
galga a rampa a carroçada.
Já no cimo da ladeira,
desatrela a dianteira,
com ligeireza e despacho;
e eis, de novo, o sota: - upa ...
na garupa
do seu macho !
66
Padres inglezinhos
Oh, os padres inglezinhos !. ..
Ei-los, lá vão, sempre aos pares, com seus ares
de bizarros passarinhos.
A passo largo, mãos dadas, olhos claros como espelhos, faces imberbes, rosadas. Escapulários vermelhos, negras sotainas, pregueadas, mesmo rés-vés dos artelhos.
Nunca lançam seus olhares para os lados. Que engraçados, que airozinhos, com seus ares de bizarros passarinhos !
Oh, os padres inglezinhos, ei-los, lá vão, sempre aos pares !. ..
67
A florista
Exibindo o seu cestinho
polvilhadinho
de cores,
linda florista apregoa
pelas ruas de Lisboa:
- «Merca o raminho de flores !. ..
Perfuma-se a rua toda
e em sua roda
torna-se de oiro
o ar,
mais brilhante o seu olhar
e o seu cabelo mais loiro !
Cheia de graça
passa ...
parece uma flor também!
68
Quem há que resista,
quem,
à graça desta florista,
com tal palminho de rosto? !
Ninguém, -aposto,
ninguém
que, embora não seja artista,
se preze de ter bom gosto !
69
Coliseu
e oliseu dos Recreios .. . Coliseu português,
com cadeiras, geral e camarotes cheios de avós, papás e «misses» com bebés. Espaçoso, amplo átrio, circundado por vivazes cartazes
cintilantes de cor:
verde, azul, amarelo.. . que sei eu !. .. Lance monumental de escadaria, ao fundo,
dando acesso a um enorme corredor abobadado. Coliseu dos Recreios, Coliseu dos maiores do mundo !
Enorme, vasta sala de espectáculos, em cuja arena,
saltando mil obstáculos, uma acrobata morena,
de «maillot» cor-de-rosa, sobre fogosa hiena domesticada, grita, pula, saltita, desembaraçada:
- «Allôh.. . Allôh.. . Allôh.. . Allôh ... »entre palmas e risos infantís.
70
.. .
'•
Um petiz, que gostou, ao avô diz: -«Avô,
peça mais bis, mais bis ! . . . »
E repete-se a cena da acrobata morena, de ccmaillot» cor-de-rosa, sobre a fogosa hiena.
Vem agora um Faz-tudo que, afinal, pouco faz; sobre a cabeça traz um chapéu amolgado; sobre o colo desnudo, decotado, colarinho engomado, deixando ver o peito cabeludo; as calças bambas, ambas as mãos caídas, e as ilhargas descidas, como um pinto calçudo, tal e qual, tal e qual um mascar.ado no Entrudo.
Outro palhaço, entanto, com seu trajo a luzir, cheio de lantejoulas, surge a:gora, a out_ro ·canto, fazendo, com mil ·graç'àlas, esgares e cabriolas, as criancinhas rir.
71
E outro bebé,
feliz,
às palmas, entusisamado,
diz
aos do lado:
-«Zé,
Chico, Juca, Mané,
peçam mais bis, mais bis!».
72
' ,,.
.. '
O barqttilheiro
Barquilheiro !. .. Barquilheiro ! ...
Veio de Espanha à aventura,
sonhando a grande ventura
de amealhar algum dinheiro !
Barquilheiro !. . . Barquilheiro !. ..
Boina basca, azul escura,
fatiota em bombazina,
rubra facha ...
Se não fora a linda caixa,
tinha o aspecto, a figura
dum pobre moço de esquina
ou mesmo até dum pedinte.
Olhos da cor do tabaco
e um sorrisito velhaco
sem requinte
mas, por vezes, com acinte,
sempre que os miúdos fregueses
dão no vinte.
73
•
Presa
por longos atilhos
de correia
traz a caixa dos barquilhos
que, apesar de muito cheia,
pouco pesa,
pois é bem leve o recheio
em lasquinhas sobrepostas;
parece que traz às costas
uma caixa de correio !
74
.. .
Os ardinas
I
Nove anos de idade.. . Eis o ardina,
vendedor de jornais, vivo como os pardais
e esperto como um rato !
Calça comprida já, cigarrito na boca e um ar pimpão, por entre a confusão
e os ruídos frenéticos
das carroças, tipóias, dos eléctricos,
num constante zum-zum e em fúria louca;
voz grossa já, apregoando rouca;
Nunca teve ama que lhe desse o leite,
beijos, carinhos, como os bebésitos
que usam fato à maruja e uns apitos a servirem de enfeite, tão bonitos !
Bebésitos que andando pela mão,
das mamãs ou avós que os estremecem, nem sabem por onde vão .. . pois nem as ruas conhecem !
75
o gaiato
Não ,os inveja - ( coitados !) -no fundo, são uns atados; se os desafia um mais velho, fogem ... Uns línguas de trapos!. .. Não sabem dar dois sopapos como ele, mesmo fedelho e embora vivendo à míngua; nem têm resposta pronta, como ele; à ponta da. língua!
Nunca teve um presente, um bonito qualquer, que se limita, unicamente, a ver nas montras dum bazar, ou na mão dos meninos - bebés finos -que veem de os comprar: - um cavalo, uma bola,soldadinhos de chumbo,uma pistola !. ..
Mas, apesar dist.o tudo, todo entregue à sua lida, nada lhe causa desgosto; pois, assim mesmo miúdo, já sabe ganhar a vida com o suor do seu rosto !
II
Ogaiato dos jornais já trabalha para os pais ...
Fronte erguida, corre, berra, corre, vôa !. . .
76
,,.
já batalha, já labuta, luta, lida nestia guerra que é a vida. Nervosos, ágeis, frenéticos, magrinhos, quase esqueléticos, aos estribos dos eléctricos, ei-los subindo, sorrindo sempre contentes, felizes. E ao verem, neles sentados, quanta vez outros petizes, das mesmas idades deles, bem trajados, - ( em suma: - ,crianças finas ... ) -daquelesque andam envoltos em peles,conduzindo,possívelmente, algum brinquedo lindonum grande embrulho,os ardinasnão os invejam jamais !
Cheios de orgulho, fazem inda mais barulho, apregoando os jornais !
77
Canção de Lisboa
Lisboa dos eléctricos passando
numa toada viva, tão louçã,
ruas, largos e praças alegrando:
- «Tim-tim-tan !. .. Tim-tan J Tim-tan J.. .»
Lisboa dos pregões tão prazenteiros ...
Canastrinhas com peixes, fruta ou frangos,
perus em bando, ardinas, cauteleiros ...
- «Merca o cabaz de morangos!. .. »
Lisboa de assobios e descantes,
das serenatas e do «fala só» !. ..
Lisboa das buzinas 11essonantes:
- «Pó-pó-pó !. .. Pó-Pó!. .. Pó-Pó !. .. »
Lisboa das gaivotas sobre o Tejo,
dos pombos no Rossio e pardalitos
na praça de Camões, em doce adejo,
chilreando, tão bonitos !
78
'
-.
-�·
,,
Lisboa dos gatinhos nos telhados,
dormindo ao sol doirado, ronronando !. ..
Regimentos passando, perfilados,
formosas marchas tocando !
Lisboa, capital de Portugal,
cidade que do céu Deus abençoa,
por seu condão bondoso e natural !. ..
'
..
Lisboa: - Cidade boa·!
79
Quentes e boas! ...
Quentes e boas !. . . Quem quer? !. ..
A escaldar, a escaldar !. ..
Pela tardinha,
a chover,
- (uma chuva miudinha) -
o pregão
sobe no ar:
- Quentes e boas ! Estão
a escaldar, a escaldar !
Na grande cesta vindima,
por entre sarapilheira,
deixando saír, por cima,
novelos de fumaceira,
a bela castanha assada,
é a maior tentação
da garotada
que, ouvindo
o lindo
pregão
subindo,
80
,,
pela tardinha a chov,er,
acorre, logo, a comprar. ..
- «Três um tostão !
Quem mais quer'? !
Quentes e boas ! Estão
a escaldar, a escaldar !
81
A mulher da fava rica
- «Fava rica ... fava rica!...
Ei-la que passa, com graça no Calhariz, pela Bica, Bairro Alto e pela Praça a apregoar muito alto mas num pregão muito lento:
- «Fava rica ... fava rica!. .. >>
A cabeça a grande cesta; e dentro desta a panela envolta em alva linhagem; dentro dela a fava rica para matar a larica de quem não poude almoçar na pressa de ir para a lida, porque a Vida os obriga a trabalhar ! Pouca gente em casa fica, pois é esta a sua sina !
82
E o pregão sobe no ar:
-«Fava rica ... fava rica! ... »
Panelinha a fumegar,entre a aragem,
na friagem
matutina !
- «Fava rica ... fava rica!. .. »
Ei-la que passa,com graça,a caminhar,
devagar,
no asfalto do pavimento; e a apregoar muito alto mas num pregão muito lento:
-«Fava rica ... fava rica! ... »
83
O burro leva as cascas
P el:;elas
becos, alforjas, pátios e calçadas,
entre rascas
tascas,
pobríssimos andares,
altas moradas,
o pregão sobe nos ares:
- «O burro leva as cascas !. ..
Lé-é-é-é-éva a-a-as cá-á-á-áscas ! ... »
*
Negócio que nada custa
e não assusta
ninguém,
pois não há que dar vintém
nem receber patavina;
dir-se-ia
um momento d' ócio !
84
,,
Mas depois de carregado
bem ajoujado
o jumento,
principia
o bom negócio
na primeira vacaria
duma esquina,
onde as cascas são deleite,
como alimento
e sustento
das vaquinhas que dão leite.
85
O. , «graxa» ....
Graxa!. .. ó Graxa !. ..
Voz que se eleva, se agacha
e sobe em pregão no ar:
- c<Graxa !. . . ó Graxa !. ..
ó freguês quer engraxar?!. .. »
De tão pequena estatura,
fica à altura
dos joelhos do freguês;
quanta vez
inda mais baixo !
Vida humílima rés-vés
dos pés
da vil criatura
que a toma por um capacho,
com seu ar
de quem rebaixa,
toda a impar
de impostura !
«Graxa !. . . ó Graxa !. . . ó Graxa, ó Graxa !. .. »
Ei-lo apregoando,
e fumando,
já por vício,
86
,,
nos breves momentos de ócio !
A tiracolo uma faixa
sustentando
a estreita caixa
dos utensílios do ofício,
que são todo o seu negócio !
Graxa ... ó Graxa!. .. ó Graxa, ó Graxa!. ..
Mora numa água-furtada
onde, através da sacada
do pequenino postigo,
uma estreitinha janela,
à noite, contempla os astros
e onde, às vezes, muito embora
cansado de trabalhar,
durante momentos vela,
pensando, a sós, lá consigo,
com vontade de chorar:
- «O meu corpo anda de rastros,
pobrezinho como Job,
mas, agora,
a minha
alminha
sobe, sobe, sobe, sobe!. ..
87
Moço de fretes
Moço de fretes. . . passa
- (que miserável sina!) -a vida toda à esq uína
duma rua, dum largo ou de uma praça !
É de raça galaica, dessa raça que é co-irmã da raça lusitana; não o embaraça a língua, toda graça, e que, por tão par' cida, nos irmana !
Sempre à espera de alguém que o chame, o mande a um recado, mudança, entrega de urna carta .. . Seja o frete pequeno ou seja grande, nunca, nunca se farta.
Sempre a suar em bica !. . . À sua lida entrega-se com gosto; ninguém melhor do que ele ganha a vida com o suor do rosto !
88
•
'
,,
Jerónimos
Mosteiro dos Jerónimos !. . . Poema
em pedra rendilhada,
cujo tema
é todo uma ,epopeia,
a epopeia dos :fieitos imor.tari.s
de uma raça de heróis, poetas e santos,
do mai.s puro quilate e bela gema,
expressa, assinalada
nas mil iluminuras dos vitrais,
em recantos
de excepcionais
encantos,
amálgama de sonho em maré-cheia !
Foi daqui que, num dia esplenderoso,
pleno de luz, de sol e alacridade,
no reinado de El-Rei. o Venturoso,
fez frente ao mar a indómita ansiedade
de D. Vasco da Gama.
89
Mosteiro dos Jerónimos.. . sacrário,
relicário
de notória
fama.
Padrão da História ...
Eterna chama ...
Liminar da Glória !
90
,,
..... :- . \ : . :.
..
1950
Lisboa, já não sois minha,
vós sois do meu filho agora.
Dentro de mim eu vos tinha;
hoje vejo-vos por fora.
Confesso que tenho pena
de vos ver desta maneira,
como quem ,está no Cinema,
sentado numa cadeira,
a ver um documentário.
O Cinema!. .. o Diabo a quatro,
sem o expoente literário
que imortaliza o Teatro,
pois que não passa, afinal
de estranho e hábil complexo;
dum fabrico industrial,
em que apenas, por reflexo,
a génese embrionária
do Teatro pontifica;
concepção parasitária,
embora, por vezes, nca.
Tivoli, Politeama,
o Eden, Condes, Royal,
S. Luiz.. . todos de fama,
S. Jorge, Monumental
91
e outros mais, por todo o lado, cujas telas
são janelas onde o povo, debruçado, vê o mundo através delas.
Lisboa do Aeroporto ...
aviões cruzando o espaço, com excessivo conforto que nos deixa o corpo lasso.
De autocarros, ascensores,
dos automóveis em bicha e o foco dos projectores
onde o meu sonho se anicha,
saudoso do tempo extinto!
Lisboa de encanto ausente!. .. Lisboa que eu já não sinto
apenas por ser Presente !
Memória dos meus afectos
que em mim ressurge inda agora mas que hão-de sentir meus netos como eu a senti outrora !
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lndice
Rua Gomes Freire .................................... .
Lisboa ............................................... .
Cidade lírica
Céu azul ............................................. .
Página
11
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18 20
Tejo .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
Os cais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
Pombos............................................... 25
Outra-Banda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
Gaivotas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
S. Pedro de Alcântara ................................ .
Chiado ............................................... .
Rua Angu�ta ......................................... .
Anúncios luminosos ................................... .
Rossio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .......... .
Rua do Ouro .. . . . . . . . . . . . . . . . . . ......... . Terreiro do Paço ..................................... .
Campo Grande . . . . . . . . . . . . . . ........................ .
Cafés .................................. ............. .
As varinas .. .
Hospital de Rilhafoles
Eléctricos ............................................ .
Tarde de toiros
29
31
33
35
37
39 41
42
44
47
49
51
53
Avenidas novas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
Ferro velho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63 O sota . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
Padres inglesinhos .................................... . 67
95
Página
A florista ............................................ . 68 Coliseu .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70 O barquilheiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
Os ardinas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 5
Canção de Lisboa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78 Quentes e boas ! . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80
A mulher da fava rica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82
O burro leva as cascas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84
ó «graxa» ! . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86
Moço de fretes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88 Jerónimos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89
1950 .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91
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COMPOSTO E IMPRESSO
NAS OFICINAS GRAFICAS
DA CAAIARA MUNICIPAL OE LISBOA
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