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As modificações na figura do segurado
especialpela Lei n. 11.718/08
Roberto de Carvalho Santos
Posição do segurado especial no RGPS
Tratamento diferenciado – art. 195, §8º, CF – princípio da equidade.
Benefícios de um salário mínimo – art. 39 da Lei n. 8.213/91.
Basta comprovar o exercício da atividade rural – período de carência.
Empregado rural e contribuinte individual rural
Tratamento diferenciado no limite etário e regra de transição.
Aposentadoria por idade – art. 143 da Lei n. 8.213/91.
Benefício prorrogado até 31 de dezembro de 2010, independentemente da contribuição previdenciária.
Regra de transição para a carência
Será computado como carência:
I – até 31 de dezembro de 2010, a atividade comprovada na forma do 143 da Lei n. 8.213/91.
II – de janeiro de 2011 a dezembro de 2015, cada mês comprovado de emprego, multiplicado por 3 (três), limitado a 12 (doze) meses, dentro do respectivo ano civil.
III – de janeiro de 2016 a dezembro de 2020, cada mês comprovado de emprego, multiplicado por 2 (dois), limitado a 12 (doze) meses dentro do respectivo ano civil
Exemplo 1
• Segurado com 55 anos de idade em 2010 e tempo trabalhado de 20 anos.
• Não precisa recolher, pois já completou a carência.
• Precisa comprovar apenas que continuou como trabalhador rural até os 60 anos (art. 48, §2º, da Lei n. 8.213/91).
Exemplo 2
• Segurado com 55 anos de idade em 2010 e 10 anos de trabalho rural.
• Deve contribuir apenas mais cinco anos, porém recolhendo 4 contribuições por ano até atingir 60 anos.
Requisitos para a configuração do segurado especial
Localidade da moradia (Lei n. 11.718/08).
Mesmo município de situação do imóvel onde desenvolve a atividade rural, ou em município contíguo ao em que desenvolve a atividade rural.
Regime de economia familiar, podendo haver auxílio eventual de terceiros.
Possibilidade de contratar por prazo determinado empregados ou autônomos – 120 pessoas/dias no ano civil.
• Decreto 3.048/99 – tempo equivalente em horas de trabalho, porém em épocas de safra.
• Exemplo: um trabalhador exercendo 8 horas por dia.
• 120 dias = 2280 horas, ou seja, 8 horas corresponderia a 360 dias.
• Possibilidade de dois trabalhadores no período de safra, durante 6 meses por ano.
• Contrato por pequeno prazo não pode superar 2 meses no ano civil.
• Basta incluir o empregado na GFIP e ter um contrato de trabalho.
• Descontar a alíquota de 8% sobre o salário-de-contribuição.
Tipos de segurados especiais
1 - Produtor, parceiro ou possuidor, explorando atividade de agropecuária, em área não superior a 4 módulos fiscais.
Módulo rural
É definido para cada imóvel rural, refletindo o tipo de exploração predominante (hortigranjeira, permanente, temporária, pecuária ou florestal)
Módulo fiscal
• Definido pelo INCRA – Instrução Especial n. 20 de 1980
• Cada município tem um módulo fiscal e reflete a média dos módulos rurais do município
Exemplos
• Boca do Acre - AM – módulo fiscal: 100 hectares
• Capitao Eneas – MG – módulo fiscal: 50 hectares
• Belo Horizonte – MG – módulo fiscal: 5 hectares
Extrativista vegetal ou seringueiro
Não sujeição ao limite de 4 módulos fiscais.
O indígena é considerado segurado especial.
Coleta e extração, de modo sustentável, de recursos naturais.
• Pescador artesanal
• Cônjuge ou companheiro, bem como filho maior de dezesseis anos do segurado especial que comprovadamente atuem nas atividades rurais.
Não descaracteriza a figura do segurado
especial
Limitação a 120 dias por ano – independe o valor da remuneração
Exercer outra atividade remunerada no período de entressafra ou defeso. Deve recolher a contribuição previdenciária.
Exemplo: Os períodos do defeso da Sardinha são: de 01 de novembro a 01 de março e de 21 de julho a 20 de setembro
Exploração de atividade turística do imóvel rural, inclusive com hospedagem.
O valor apurado integra a base de cálculo da contribuição de 2,3%
Outra fonte de remuneração – limitação a um salário mínimo por
mês – sem prazo
• Produção de produtos de artesanato – A limitação de um salário não é aplicada se a matéria-prima foi obtida pelo grupo familiar.
• Integra a base de cálculo da contribuição de 2,3%
• Pensão por morte, auxílio-reclusão e auxílio-acidente
• Atividade artística
Sem limitação de prazo e remuneração
• Exercício de mandato eletivo de vereador (recolhimento regular da contribuição previdenciária)
• Dirigente sindical no Sindicato de Trabalhador Rural ou de cooperativa rural
• Benefício de previdência complementar
• Renda obtida por parceria ou meação (limitação a 50% do imóvel de no máximo 4 módulos fiscais) – integra a base de cálculo da contribuição de 2,3%
Renda obtida por processo de beneficiamento ou industrialização artesanal – não sujeição ao IPI. Integra a base de cálculo da contribuição de 2,3%
Cômputo do tempo para fins de carência
O exercício das atividades mencionadas é computado como tempo rural – art. 48, §2º, da Lei n. 8.213/91.
Jurisprudência prejudicial aos segurados antes do novo
regramento
• Impossibilidade de exercício de outra atividade remunerada – (STJ - RESP 521735 e 608190)
• Impossibilidade de contratação de empregado (TRF da 1ª Região - AC 2006.01.99.037457-2/MG)
Jurisprudência favorável ao segurado especial antes do novo
regramento
• O tamanho da propriedade não era relevante (STJ: RESP n. 232884-RS)
• O fato do cônjuge trabalhar em outra atividade não descaracteriza o regime de economia familiar (STJ - AGRg no RESP 728535 e RESP 638611)
• As modificações consideradas mais gravosas não podem retroagir para situações de fato já consolidadas (STJ – RESP 412415 e 262030).
• Aplica-se sempre, especialmente no meio rural, o postulado do in dubio pro misero. (STJ – AR 3402)
Admite-se, em casos excepcionais, e desde que não configure situação mais gravosa, a retroação dos efeitos da norma, mormente em caso de normas interpretativas (STF – ADIn 6053)