2. rOBert greeNe 3 3 e s t r at g i a s D e g U e r r a Aprenda
com as batalhas da histria e vena os desafios cotidianos PrODU O De
JOOst eLFFers traduo Talita M. Rodrigues
3. ttulo original tHe 33 strategies OF War Copyright robert
greene e Joost elffers, 2006 todos os direitos reservados. Direitos
para a lngua portuguesa reservados com exclusividade para o Brasil
eDitOra rOCCO LtDa. av. Presidente Wilson, 231 8o andar 20030-021
rio de Janeiro rJ tel.: (21) 3525-2000 Fax: (21) 3525-2001
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Brasil preparao de originais Danielle Vidigal diagramao Fatima agra
Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmi- tida por
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informao, sem a permisso escrita do editor. CiP-Brasil. Catalogao
na fonte. sindicato Nacional dos editores de Livros, rJ. g831t
greene, robert 33 estratgias de guerra: aprenda com as batalhas da
histria e vena os desafios cotidianos/robert greene; tradu- o de
talita M. rodrigues; produo de Joost elffers. rio de Janeiro:
rocco, 2011. 17 x 24 cm traduo de: the 33 strategies of war isBN
978-85-325-2655-7 978-85-325-2607-6 1. Conduta. 2. tcnicas de
autoajuda. i. elffers, Joost. ii. ttulo: 33 estratgias de guerra.
11-2138 CDD 170 CDU 17
4. A Napoleo, Sun Tzu, a deusa Atena e meu gato, BRUTUS
5. sUMriO 7 s U M r i O PreFCiO pgina 15 Parte i gUerra
aUtODirigiDapgina 23 1 pgina 25 DeCLare gUerra a seUs iNiMigOs: a
estratgia Da POLariDaDe A vida um sem-fim de batalhas e conflitos,
e voc no pode lutar com eficincia se no puder identificar seus
inimigos. Aprenda a desmascar-los, a localiz-los pelos sinais e
padres que revelam sua hostilidade. E, ento, com eles vista,
declare interiormente guerra. Seus inimigos podem encher voc de
propsito e direo. 2 pgina 37 NO COMBata a gUerra QUe J PassOU: a
estratgia Da gUerriLHa MeNtaL Aquilo que com mais frequncia o
desanima e o deixa infeliz o passado. Voc deve travar
conscientemente uma guerra contra o passado e fazer um esforo para
reagir ao momento presente. Seja implacvel com voc mesmo; no repita
os mesmos mtodos esgotados. Trave uma guerrilha mentalmente, no
aceitando linhas estticas de defesa torne tudo fluido e mvel. 3
pgina 50 eM MeiO aO tUrBiLHO De aCONteCiMeNtOs, NO PerCa a PreseNa
De esPritO: a estratgia DO CONtraPesO No calor da batalha, a mente
tende a perder o equilbrio. vital conservar a presena de esprito,
mantendo seus poderes mentais, sejam quais forem as circunstncias.
Fortalea sua mente ainda mais, expondo-a a adversidades. Aprenda a
se desprender do caos do campo de batalha. 4 pgina 65 Crie UMa
seNsaO De UrgNCia e DesesPerO: a estratgia Da ZONa De MOrte Voc seu
pior inimigo. Voc perde um tempo precioso sonhando com o futuro em
vez de se envolver com o presente. Corte seus laos com o passado;
entre no territrio desconhecido. Coloque-se na zona de morte, na
qual suas costas esto contra a parede e voc tem de lutar como um
louco para sair vivo dali.
6. sUMriO8 Parte ii gUerra OrgaNiZaCiONaL (De eQUiPe) pgina 79
5 pgina 81 eVite as arMaDiLHas DO PeNsaMeNtO eM grUPO: a estratgia
De COMaNDO-e-CONtrOLe O problema da liderana de qualquer grupo que
as pessoas inevitavelmente tm as prprias prioridades. Voc precisa
criar uma cadeia de comando na qual elas no se sintam constrangidas
por sua influncia, mas sigam sua liderana. Crie um sentido de
participao, mas no caia no pensamento de grupo a irracionalidade da
tomada de deciso coletiva. 6 pgina 95 segMeNte sUas FOras: a
estratgia DO CaOs CONtrOLaDO Os elementos crticos na guerra so
rapidez e capacidade de adaptao o talento para se mover e tomar
decises mais depressa do que o inimigo. Divida suas foras em grupos
independentes que possam operar por si prprios. Torne suas foras
difceis de capturar e mais soltas infundindo nelas o esprito de
campanha, dando-lhes uma misso e, a, deixando-as funcionar. 7 pgina
105 traNsFOrMe sUa gUerra eM UMa CrUZaDa: estratgias Para LeVaNtar
O MOraL O segredo de motivar as pessoas e manter seu bom astral
fazer com que pensem menos nelas mesmas e mais no grupo. Envolva-as
em uma causa, uma cruzada contra um inimigo odiado. Faa com que
vejam a prpria sobrevivncia como associada ao sucesso do exrcito
como um todo. Parte iii gUerra DeFeNsiVa pgina 123 8 pgina 125
esCOLHa sUas BataLHas COM CUiDaDO: a estratgia Da eCONOMia PerFeita
Todos ns temos limitaes nossas energias e habilidades nos levam
somente at certo ponto. Voc precisa conhecer seus limites e
escolher suas batalhas com muito cuidado. Considere os riscos
ocultos de uma guerra: perda de tempo, desperdcio da boa vontade
poltica, um inimigo irritado querendo vingana. s vezes melhor
esperar, minar as bases de seus inimigos veladamente, em vez de
agredi-los de frente.
7. sUMriO 9 9 pgina 139 Vire a Mesa: a estratgia DO
CONtra-ataQUe Fazer o primeiro movimento iniciando o ataque com
frequncia o colocar em desvantagem: voc est expondo sua estratgia e
limitando suas opes. Em vez disso, descubra o poder de se conter e
deixar que o outro lado mova-se primeiro, dando a voc a
flexibilidade para contra-atacar de qualquer ngulo. Se seus
adversrios so agressivos, atraia-os para um ataque surpresa que os
deixar em uma posio fraca. 10 pgina 153 Crie UMa PreseNa aMeaaDOra:
estratgias De DissUasO A melhor maneira de combater agressores
impedi-los de atacar voc primeiro. Construa uma reputao: voc meio
maluco. Combat-lo no vale a pena. Incerteza s vezes melhor do que
ameaa declarada: se seus adversrios nunca tm certeza do que vai
lhes custar meter-se com voc, no vo querer descobrir. 11 pgina 167
trOQUe esPaO POr teMPO: a estratgia DO NO COMPrOMissO Recuar diante
de um inimigo forte no sinal de fraqueza, mas de fora. Ao resistir
tentao de reagir a um agressor, voc arruma um tempo precioso para
si mesmo tempo para se recuperar, pensar e ganhar perspectiva. s
vezes voc consegue mais se no fizer nada. Parte iV gUerra OFeNsiVa
pgina 175 12 pgina 177 PerCa BataLHas, Mas gaNHe a gUerra: a graNDe
estratgia A grande estratgia a arte de ver o que vai acontecer
depois da batalha e calcular com antecedncia. Ela requer que voc se
concentre em seu objetivo principal e planeje como alcan-lo. Deixe
que os outros fiquem presos nas voltas e reviravoltas da batalha
curtindo suas pequenas vitrias. A grande estratgia lhe dar o maior
prmio: rir por ltimo. 13 pgina 197 CONHea seU iNiMigO: a estratgia
Da iNteLigNCia O alvo de sua estratgia deve ser no tanto o inimigo
que voc enfrenta, mas a mente da pessoa que o co- manda. Se voc
compreende como essa mente funciona, voc tem a chave para iludi-la
e control-la. Apren- da a entender as pessoas, captando os sinais
que elas inconscientemente enviam sobre seus pensamentos e intenes
mais ntimos.
8. sUMriO10 14 pgina 212 VeNa a resistNCia COM MOViMeNtOs
VeLOZes e iMPreVisVeis: a estratgia Da BLITZKRIEG Em um mundo onde
muitas pessoas so indecisas e cautelosas em excesso, o uso da
velocidade vai lhe dar um poder extraordinrio. Atacar primeiro,
antes que seus adversrios tenham tempo para pensar ou se preparar,
os deixar emotivos, desequilibrados e propensos ao erro. 15 pgina
220 CONtrOLe a DiNMiCa: FOraNDO estratgias As pessoas esto
constantemente lutando para controlar voc. A nica maneira de se
impor tornar seu jogo pelo controle mais inteligente e insidioso.
Em vez de tentar dominar todos os movimentos do adversrio, tra-
balhe para definir a natureza do relacionamento em si. Manobre para
controlar a mente de seus adversrios, mexendo com suas emoes e
forando-os a cometer erros. 16 pgina 237 atiNJa-Os ONDe Di: a
estratgia DO CeNtrO De graViDaDe Todo mundo tem uma fonte de poder
da qual depende. Ao olhar para seus rivais, procure sob a superfcie
essa fonte, o centro de gravidade que mantm unida toda a estrutura.
Atingi-los ali causar uma dor imen- sa. Descubra aquilo que o
adversrio trata com mais carinho e protege ali que voc deve atacar.
17 pgina 247 DerrOte-Os eM DetaLHes: a estratgia DO
DiViDir-e-CONQUistar Nunca se intimide com a aparncia de seu
inimigo. Em vez disso, examine as partes que compem o todo. Ao
separ-las, semeando divergncia e diviso, voc pode derrubar at o
inimigo mais formidvel. Ao enfrentar aborrecimentos ou inimigos,
divida um grande problema em partes pequenas, eminentemente
derrotveis. 18 pgina 263 eXPONHa e ataQUe O LaDO FrgiL De seUs
aDVersriOs: a estratgia CrUCiaL Quando voc ataca as pessoas
diretamente, enrijece a resistncia delas e dificulta muito sua
tarefa. H um jeito melhor: distrair a ateno de seus adversrios para
a frente de batalha, em seguida atac-los pela lateral, por onde
menos esperam. Atraia as pessoas para uma situao difcil, expondo
seus pontos fracos, em seguida atire pela lateral. 19 pgina 276
CerQUe O iNiMigO: a estratgia Da aNiQUiLaO As pessoas usaro
qualquer tipo de brecha em suas defesas para atacar voc. Ento no as
oferea. O segredo cercar seus adversrios criar implacvel presso
sobre eles de todos os lados e fechar o acesso ao mundo exterior.
Ao sentir que esto ficando indecisos, esmague sua fora de vontade
apertando o lao.
9. sUMriO 11 20 pgina 287 MaNOBre-Os eM DireO FraQUeZa: a
estratgia DO aMaDUreCiMeNtO-Para-a-FOiCe Por mais forte que voc
seja, travar batalhas interminveis com as pessoas exaustivo, caro e
sem imagina- o. Estrategistas hbeis preferem a arte de manobrar:
antes mesmo de comear a batalha, eles encontram meios de colocar
seus adversrios em posio de tamanha fragilidade que a vitria fcil e
rpida. Crie dilemas: imagine manobras que lhes deem uma variedade
de modos para reagir todos ruins. 21 pgina 306 NegOCie eNQUaNtO
aVaNa: a estratgia Da gUerra DiPLOMtiCa Antes e durante as
negociaes, voc precisa continuar avanando, criando implacvel presso
e forando o outro lado a aceitar seus termos. Quanto mais voc tira,
mais voc pode devolver em concesses inexpres- sivas. Crie fama de
ser firme e intransigente, para que as pessoas fiquem perplexas
antes mesmo de conhecer voc. 22 pgina 319 saiBa COMO terMiNar as
COisas: a estratgia Da saDa Neste mundo voc julgado pelo modo como
termina as coisas. Uma concluso confusa ou incompleta pode
reverberar por muitos anos no futuro. A arte de terminar as coisas
bem saber quando parar. A suprema sabe- doria estratgica evitar
todos os conflitos e emaranhamentos para os quais no h sadas reais.
Parte V gUerra (sUJa) NO CONVeNCiONaL pgina 333 23 pgina 335 tea
UMa MesCLa iMPerCePtVeL De FatO e FiCO: estratgias De PerCePes
erraDas Visto que nenhuma criatura sobrevive se no puder ver ou
sentir o que est acontecendo ao redor, dificulte para seus inimigos
saber o que est em volta deles, inclusive o que voc est fazendo.
Alimente suas expec- tativas, produza uma realidade que combine com
os desejos delas, e elas se iludiro. Controle as percepes que as
pessoas tm da realidade e voc as controlar. 24 pgina 349 aDOte a
LiNHa DO MNiMO De eXPeCtatiVas: a estratgia DO
OrDiNriO-eXtraOrDiNriO As pessoas esperam que seu comportamento se
encaixe em padres e convenes conhecidos. Sua tarefa como
estrategista abalar as expectativas delas. Primeiro, faa qualquer
coisa comum e convencional para fixar a imagem que elas tm de voc,
depois atinja-as com o extraordinrio. O terror maior por ser to
sbito. s vezes, o ordinrio extraordinrio por ser inesperado.
10. sUMriO12 25 pgina 369 OCUPe O terreNO eLeVaDO Da MOraL: a
estratgia JUsta Em um mundo poltico, a causa pela qual voc est
lutando deve parecer mais justa do que a do inimigo. Ao questionar
os motivos de seus adversrios e faz-los parecer perversos, voc pode
estreitar suas bases de apoio e espao de manobra. Quando voc mesmo
sofrer ataques morais de um inimigo esperto, no se lamente ou se
zangue; combata fogo com fogo. 26 pgina 381 NegUe-LHes aLVOs: a
estratgia DO VaZiO A sensao de vazio ou vcuo silncio, isolamento,
no comprometimento com os outros intolervel para a maioria das
pessoas. No d a seus inimigos um alvo para atacar, seja perigoso
mas esquivo, em seguida observe como eles o caam no vazio. Em vez
de batalhas frontais, desfeche ataques laterais irritantes, mas
prejudiciais, e alfinetadas. 27 pgina 394 Faa De CONta QUe est
traBaLHaNDO PeLOs iNteresses aLHeiOs eNQUaNtO PrOMOVe Os seUs: a
estratgia Da aLiaNa A melhor maneira de promover sua causa com o
mnimo de esforo e derramamento de sangue criando uma rede de
alianas que mudam constantemente, conseguindo que os outros
compensem suas deficincias, faam o trabalho sujo, combatam suas
guerras. Ao mesmo tempo, trabalhe para semear dissidncias nas
alianas dos outros, enfraquecendo seus inimigos ao isol-los. 28
pgina 409 D a seUs iNiMigOs COrDa Para se eNFOrCareM: a estratgia
De MaNOBra Para gaNHar VaNtageM O maior perigo na vida no costuma
ser o inimigo externo, mas nossos supostos colegas e amigos que
preten- dem trabalhar pela causa comum enquanto se esforam para nos
sabotar. Trabalhe para instilar dvidas e inseguranas nesses rivais,
fazendo-os pensar demais e agir na defensiva. Faa com que se
enforquem com suas prprias tendncias autodestrutivas, deixando voc
sem culpa e limpo. 29 pgina 424 MOrDa aOs BOCaDiNHOs: a estratgia
DO FAIT ACCOMPLI Tomadas de poder excessivas ou ascenses agudas ao
topo so perigosas, gerando inveja, desconfiana e sus- peita. Muitas
vezes a melhor soluo morder aos poucos, engolir pequenos
territrios, jogar com a ateno relativamente curta das pessoas.
Antes que percebam, voc acumulou um imprio. 30 pgina 433 PeNetre eM
sUas MeNtes: estratgias De COMUNiCaO A comunicao um tipo de guerra;
seu campo de batalha, as mentes resistentes e defensivas das
pessoas a quem voc quer influenciar. O objetivo penetrar em suas
defesas e ocupar suas mentes. Aprenda a infiltrar suas ideias por
trs das linhas inimigas, enviando mensagens por meio de pequenos
detalhes, seduzindo as pessoas para que cheguem s concluses que voc
deseja e pensem que fizeram isso sozinhas.
11. sUMriO 13 31 pgina 447 DestrUa De DeNtrO Para FOra: a
estratgia DO FrONte-iNteriOr Ao se infiltrar nas fileiras de seus
adversrios, trabalhando de dentro para fora para derrub-los, voc no
lhes d nada para ver ou a que reagir a suprema vantagem. Para pegar
aquilo que voc quer, no lute contra quem o tem, mas junte-se a eles
depois, lentamente, tome posse dessa coisa ou espere pelo momento
de encenar um coup dtat. 32 pgina 460 DOMiNe eNQUaNtO PareCe se
sUBMeter: a estratgia Da agressO PassiVa Em um mundo onde as
consideraes polticas so soberanas, a forma mais eficaz de agresso a
que me- lhor se oculta: agresso por trs de uma aparncia
complacente, at amorosa. Para seguir esta estratgia
passivo-agressiva, voc deve parecer estar de acordo com as pessoas
sem oferecer resistncia. Mas na verdade voc domina a situao. Apenas
certifique-se de disfarar bem sua agresso para poder negar que ela
existe. 33 pgina 476 seMeie iNCerteZa e PNiCO COM atOs De terrOr: a
estratgia Da reaO eM CaDeia O terror a melhor maneira de paralisar
a vontade de resistir e tornar a pessoa incapaz de planejar uma
reao estratgica. O objetivo em uma campanha de terror no sair
vencedor no campo de batalha, mas causar o mximo de caos e provocar
o outro lado para uma reao exagerada de desespero. Para tramarem a
contraestratgia mais eficaz, as vtimas do terror devem permanecer
equilibradas. A racionalidade de uma pessoa a ltima linha de
defesa. BiBLiOgraFia pgina 491
12. PreFCiO 15 Vivemos em uma cultura que promove valores
democrticos de justia para com todos, a importncia de se encaixar
em um grupo e saber coo- perar com outras pessoas. aprendemos cedo
na vida que aqueles que so visivelmente combativos e agressivos
pagam um preo social: impopula- ridade e isolamento. estes valores
de harmonia e cooperao so perpe- tuados de modo sutil e no to sutil
por meio de livros sobre como ter sucesso na vida; com as aparncias
agradveis e pacficas que aqueles que avanaram no mundo apresentam
aos outros em geral; com noes de correo que saturam o espao pblico.
O nosso problema que fomos treinados e preparados para a paz, e no
estamos nem um pouco prontos para o que nos confronta no mundo real
guerra. esta guerra existe em vrios nveis. Mais obviamente, temos
nossos rivais do outro lado. O mundo se torna cada vez mais
competitivo e desa- gradvel. Na poltica, nos negcios, at nas artes,
enfrentamos adversrios que faro quase de tudo para ganhar uma
vantagem. Mais perturbadoras e complexas, entretanto, so as
batalhas que enfrentamos com aqueles que supostamente esto do nosso
lado. H aqueles que, visivelmente, fa- zem o trabalho em equipe,
que agem de forma muito amistosa e agrad- vel, mas que nos sabotam
nos bastidores, que usam o grupo para promo- ver as prprias
prioridades. Outros, mais difceis de se identificar, fazem o jogo
sutil da agresso passiva, oferecendo ajuda que no vem nunca,
instilando culpa como uma arma secreta. superficialmente tudo
parece bastante pacfico, mas, por baixo, cada homem e mulher por si
prprio, esta dinmica infectando at famlias e relacionamentos. a
cultura pode negar esta realidade e promover um quadro mais gentil,
mas sabemos e sentimos isto em nossas cicatrizes de batalha. No que
ns e nossos colegas sejamos criaturas ignbeis que no esto altura
dos ideais de paz e altrusmo, mas que no podemos dei- xar de ser
como somos. temos impulsos agressivos que so impossveis de ignorar
ou reprimir. No passado, indivduos podiam esperar que um grupo o
estado, uma famlia ampliada, uma empresa cuidassem deles, mas isto
no acontece mais, e nesse mundo desamparado temos que pen- sar,
antes de tudo, em ns mesmos e em nossos interesses. O que precisa-
mos no de ideais impossveis e desumanos de paz e cooperao para
realizar, e da confuso que eles nos causam, mas sim de conhecimento
prtico sobre como lidar com os conflitos e as batalhas dirias que
en- frentamos. e este conhecimento no sobre como ser mais enrgico
para P r e F C i O A vida do homem na terra uma guerra. J 7:1 Qui
desiderat pacem, praeparet bellum (se queres a paz, prepara-te para
a guerra) Vegetius, sculo iV d.C. .
13. PreFCiO16 conseguir o que queremos ou para nos defender,
mas sim sobre como ser mais racional e estratgico na hora do
conflito, canalizando nossos impulsos agressivos em vez de negar ou
reprimi-los. se existe um ideal a ser alcanado, deve ser o do
guerreiro estratgico, o homem ou a mulher que administra situaes
difceis e pessoas por meio de manobras hbeis e inteligentes. Muitos
psiclogos e socilogos tm argumentado que atravs do conflito que
problemas so, com frequncia, solucionados e diferenas reais,
reconciliadas. Nossos sucessos e fracassos na vida podem ter suas
origens na boa ou m forma de lidar com os conflitos inevitveis com
quais nos deparamos na sociedade. as maneiras como as pessoas
costu- mam lidar com eles tentando evitar todos os conflitos,
emocionando-se e vociferando, com dissimulaes e manipulao so todas
contrapro- ducentes no longo prazo, porque no esto sob controle
consciente ou racional e, muitas vezes, pioram a situao. guerreiros
estratgicos ope- ram de forma bem diferente. eles pensam com
antecedncia em suas metas de longo prazo, decidem que lutas evitar
e quais so as inevitveis, sabem como controlar e canalizar suas
emoes. Quando obrigados a lu- tar, eles o fazem com manobras
indiretas e sutis, tornando difcil perceber suas manipulaes. Deste
modo, eles podem manter o exterior pacfico to acalentado nestes
tempos polticos. este ideal de combate racional nos vem da guerra
organizada, em que a arte da estratgia foi inventada e refinada. No
incio, a guerra no era nada estratgica. Batalhas entre tribos eram
travadas de um modo brutal, uma espcie de ritual de violncia no
qual indivduos podiam exi- bir seu herosmo. Mas conforme as tribos
se expandiram e evoluram para estados, tornou-se bem evidente que a
guerra tinha muitos custos ocultos, que trav-la s cegas muitas
vezes levava exausto e autodestruio, mes- mo para o vencedor. De
algum modo as guerras precisavam ser combati- das de uma forma mais
racional. a palavra estratgia vem do grego antigo strategos,
significando lite- ralmente o lder do exrcito. estratgia neste
sentido era a arte de ser general, de comandar todo o esforo de
guerra, decidir que formaes utilizar, em que terreno lutar, que
manobras usar para ganhar uma van- tagem. e conforme progredia este
conhecimento, lderes militares desco- briam que quanto mais
pensassem e planejassem com antecedncia, mais possibilidades tinham
de sucesso. Novas estratgias podiam lhes permitir derrotar exrcitos
muito maiores, como alexandre, o grande fez em suas vitrias sobre
os persas. ao enfrentar adversrios astutos que tambm es- tavam
usando estratgia, desenvolvia-se uma presso de baixo para cima:
para ganhar vantagem, um general tinha de ser ainda mais
estratgico, mais indireto e esperto do que o outro lado. Com o
tempo, as artes do co- mando foram ficando cada vez mais
sofisticadas, conforme se inventavam mais estratgias. embora a
palavra estratgia em si seja de origem grega, o conceito aparece em
todas as culturas, em todos os perodos. Princpios slidos
[Estratgia] mais do que uma cincia: a aplicao de conhecimentos vida
prtica, o desenvolvimento de pensamentos capazes de modificar a
ideia original e orientadora luz de situaes sempre em mudana; a
arte de agir sob a presso das mais difceis condies. Helmuth von
Moltke, 1800-1891
14. PreFCiO 17 sobre como lidar com os acidentes inevitveis da
guerra, como traar o melhor plano, como melhor organizar o exrcito
tudo isto pode ser encontrado em manuais de guerra desde a China
antiga at a europa moderna. O contra-ataque, a manobra de atacar
pelo flanco ou cercar e as artes da dissimulao so comuns aos
exrcitos de genghis Khan, Napoleo e o shaka Zulu. Como um todo,
estes princpios e estratgias indicam uma espcie de sabedoria
militar universal, um conjunto de pa- dres adaptveis que podem
aumentar as chances de vitria. talvez o maior estrategista de todos
tenha sido sun tzu, autor do antigo clssico chins A arte da guerra.
Nesse livro, escrito provavelmen- te no sculo iV antes de Cristo,
encontram-se traos de quase todos os padres e princpios estratgicos
desenvolvidos mais tarde ao longo dos sculos. Mas a conexo entre
eles, o que de fato constitui a arte da guerra em si aos olhos de
sun tzu, o ideal de vencer sem derramamento de sangue. ao jogar com
as fraquezas psicolgicas do adversrio, ao ma- nobrar para coloc-lo
em posies precrias, ao induzir sentimentos de frustrao e confuso,
um estrategista pode fazer com que o outro lado sucumba mentalmente
antes de se render fisicamente. Deste modo, a vitria pode ser
obtida por um custo bem menor. e o estado que ven- ce guerras com
poucas perdas de vida e desperdcio de recursos o que pode prosperar
por perodos mais longos de tempo. Certamente a maioria das guerras
no so travadas de forma to racional, mas aquelas campanhas na
histria que seguiram este princpio (Cipio, o africa- no, na
espanha; Napoleo em Ulm; t.e. Lawrence nas campanhas no deserto da
Primeira guerra Mundial) distinguem-se do resto e servem como o
ideal. guerra no um reino distinto divorciado do resto da
sociedade. uma arena eminentemente humana, repleta do que h de
melhor e pior de nossa natureza. guerra tambm reflete tendncias na
sociedade. a evoluo para estratgias menos convencionais, sujas
guerrilha, ter- rorismo , espelha uma evoluo similar na sociedade,
na qual vale quase tudo. as estratgias que tiveram sucesso na
guerra, sejam elas conven- cionais ou no, baseiam-se na psicologia
atemporal, e grandes fracassos militares tm muito a nos ensinar
sobre a estupidez humana e os limites da fora em qualquer arena. O
ideal estratgico na guerra ser extrema- mente racional e
emocionalmente equilibrado, esforando-se para ven- cer com o mnimo
de derramamento de sangue e perda de recursos tem infinitas
aplicaes e relevncia para nossas batalhas dirias. inculcados com os
valores de nossos tempos, muitos argumentaro que a guerra
organizada inerentemente brbara uma relquia do pas- sado violento
do homem e algo a ser superado de uma vez por todas. Promover as
artes da guerra em um ambiente social, essas pessoas diro, bloquear
o progresso e encorajar o conflito e a dissenso. J no existe o
suficiente disso no mundo? este argumento muito sedutor, mas nem um
pouco razovel. sempre haver, na sociedade e no mundo em geral, E,
ento, meu garoto, desenvolva a sua estratgia Para que prmios em
jogos no lhe escapem das mos. Estratgia mais til ao lenhador do que
fora. Estratgia mantm o navio do piloto em seu curso Quando ventos
contrrios sopram sobre o mar azul arroxeado. E a estratgia vence
corridas para os condutores de bigas. Um tipo de condutor confia em
seus cavalos e em seu carro E muda de direo para l e para c
despreocupado, Durante todo o curso, sem controlar seus cavalos.
Mas um homem que sabe como vencer com cavalos inferiores Mantm seus
olhos no poste E faz a curva fechada, E desde o incio conserva a
tenso das rdeas Com mo firme enquanto observa o lder. Ilada,
Homero, C. sculo iX a.C.
15. PreFCiO18 gente mais agressiva do que ns somos, que
encontra um jeito de conse- guir o que quer, por bem ou por mal.
temos de estar vigilantes e saber como nos defender desses tipos.
No se promovem valores civilizados se somos obrigados a nos render
aos ardilosos e fortes. Na verdade, o pacifis- mo diante desses
lobos fonte de interminveis tragdias. Mahatma gandhi, que elevou a
no violncia ao posto de grande arma para mudanas sociais, teve um
simples objetivo mais tarde em sua vida: livrar a ndia dos
suseranos britnicos que a haviam aleijado durante tantos sculos. Os
britnicos eram governantes espertos. gandhi compre- endeu que, para
a no violncia funcionar, ela precisava ser extremamen- te
estratgica, exigindo muito pensar e planejar. ele chegou ao ponto
de chamar a no violncia de um novo modo de fazer guerra. Para
promover qualquer valor, at a paz e o pacifismo, voc deve estar
disposto a lutar por ele e ter em mira resultados no simplesmente o
bom e confortvel sentimento que a expresso dessas ideias poderia
lhe trazer. No momento em que voc visar a resultados, voc est no
reino da estratgia. guerra e estratgia tm uma lgica inexorvel; se
voc quer ou deseja alguma coisa, deve estar pronto e capaz de lutar
por ela. Outros argumentaro que guerra e estratgia so basicamente
ques- tes que se referem a homens, particularmente queles que so
agressivos e pertencem elite de poder. O estudo de guerra e
estratgia, diro, uma busca masculina, elitista e repressora, um
meio para a perpetuao do poder. esse argumento um absurdo perigoso.
No incio, a estratgia realmente era domnio de uns poucos escolhidos
um general, sua equi- pe, o rei, um punhado de cortesos. soldados
no aprendiam estratgia, porque isso no lhes serviria de nada no
campo de batalha. alm disso, no era sensato armar os prprios
soldados com um tipo de conhecimen- to prtico que poderia ajud-los
a organizarem um motim ou rebelio. a era do colonialismo levou este
princpio ainda mais longe: os povos ind- genas das colnias
europeias eram recrutados para os exrcitos ocidentais e faziam
grande parte do trabalho de polcia, mas mesmo aqueles que subiam de
posto na hierarquia eram rigorosamente mantidos na igno- rncia da
cincia da estratgia, que se considerava perigosa demais para que
soubessem. Manter a estratgia e as artes da guerra como um ramo de
conhecimento especializado , na verdade, fazer o jogo das elites e
dos poderes repressores, que gostam de dividir e conquistar. se a
estratgia a arte de conseguir resultados, de colocar ideias em
prtica, ento ela deve ser divulgada amplamente, em especial entre
aqueles que tm sido tradicionalmente mantidos em sua ignorncia,
inclusive as mulheres. Nas mitologias de quase todas as culturas,
as grandes divindades eram femini- nas, entre elas atena, da grcia
antiga. a falta de interesse das mulheres por estratgia e guerra no
biolgica, mas social e talvez poltica. em vez de resistir atrao da
estratgia e s virtudes da guerra ra- cional ou imaginar que so
indignas de voc, bem melhor enfrentar sua necessidade. Dominar a
arte s tornar sua vida mais pacfica e produtiva O eu o amigo do
homem que se domina atravs do eu, mas para o homem sem autodomnio,
o eu como um inimigo em guerra. Bhagavad gIta, ndia, C. sculo i
d.C.
16. PreFCiO 19 a longo prazo, pois voc saber como fazer o jogo
e vencer sem violncia. ignor-la conduzir a uma vida de confuses e
derrotas sem fim. O que voc ver a seguir so seis ideais
fundamentais que voc deve ter como objetivo para se transformar em
guerreiro estratgico no dia a dia. Veja as coisas como elas so, e
no com o colorido que suas emoes lhes do. Na estratgia, voc deve
ver suas reaes emocionais ao que acontece como uma espcie de doena
que precisa ser curada. O medo o far supe- restimar o inimigo e
agir de uma forma muito defensiva. ira e impacin- cia o levaro a
atitudes precipitadas e que reduziro suas opes. excesso de
confiana, particularmente como resultado de um sucesso, far voc ir
longe demais. amor e afeto o deixaro cego para as traioeiras
manobras daqueles que aparentemente esto a seu lado. Mesmo as
gradaes mais sutis destas emoes podem colorir o modo como voc v os
aconteci- mentos. O nico remdio ter conscincia de que a atrao das
emoes inevitvel, notar quando ela est acontecendo e equilibr-la.
Quando voc tiver sucesso, esteja ainda mais atento. se estiver
zangado, no faa nada. Com medo, saiba que vai exagerar os perigos
que enfrenta. a guer- ra exige o mximo de realismo, ver as coisas
como elas so. Quanto mais voc puder limitar ou equilibrar suas
reaes emocionais, mais perto che- gar deste ideal. Julgue as
pessoas por suas aes. a genialidade da guerra que no h eloquncia ou
falatrio que possa explicar um fracasso no campo de ba- talha. Um
general levou suas tropas derrota, vidas foram desperdiadas e assim
que a histria o julgar. Voc deve se empenhar para aplicar este
padro cruel em sua vida diria, julgando as pessoas pelos resultados
de suas aes, pelos feitos que se podem ver e medir, pelas manobras
que elas usaram para ganhar o poder. O que as pessoas dizem sobre
si mesmas no importa; elas diro qualquer coisa. Veja o que elas
fizeram; feitos no mentem. Voc tambm deve aplicar esta lgica a si
mesmo. ao examinar uma derrota, voc deve identificar o que poderia
ter feito diferente. a culpa de seus fracassos de suas ms
estratgias, no do adversrio de- sonesto. Voc responsvel pelo que h
de bom e de ruim em sua vida. Como corolrio, olhe para tudo que as
outras pessoas fazem como uma manobra estratgica, uma tentativa de
vencer. as pessoas que o acusam de ser injusto, por exemplo, que
tentam fazer voc se sentir culpado, que falam de justia e moral,
esto tentando ganhar uma vantagem no tabu- leiro de xadrez. Dependa
das prprias armas. em busca de sucesso na vida, as pessoas tendem a
confiar em coisas que parecem simples e fceis ou que j funcio-
naram. isto poderia significar o acmulo de riqueza, recursos, um
grande nmero de aliados ou a tecnologia mais recente e a vantagem
que ela traz. isto ser materialista e mecnico. Mas a verdadeira
estratgia psi- Embora uma deusa da guerra, [Atena] no sente prazer
na batalha... mas na soluo de disputas, e na preservao das leis por
meios pacficos. Ela no porta armas em tempos de paz e, se precisa
delas, em geral as pede emprestadas a Zeus. Sua misericrdia
grande... No entanto, uma vez envolvida na batalha, ela jamais
perde seu dia, mesmo contra o prprio Ares, sendo mais fundamentada
em tticas e estratgias do que ele; e capites sensatos sempre
procuram os seus conselhos. the greek Myths vol. 1, robert graves,
1955
17. PreFCiO20 colgica uma questo de inteligncia, no de fora
material. tudo na vida pode ser tirado de voc e, geralmente, o ser
em algum momento. sua fortuna desaparece, a engenhoca mais recente
de uma hora para outra fica ultrapassada, seus aliados o desertam.
Mas se sua mente estiver armada com a arte da guerra, no h poder
que possa tir-la. em meio a uma crise, sua mente encontrar o
caminho para a soluo correta. ter estratgias superiores nas pontas
dos dedos dar as suas manobras uma fora irresistvel. Como diz sun
tzu, Depende de voc ser imbatvel. adore atena, no ares. Na
mitologia da grcia antiga, o imortal mais es- perto de todos era a
deusa Metis. Para impedir que ela fosse mais astucio- sa do que ele
e o destrusse, Zeus casou-se com ela, em seguida engoliu-a inteira,
esperando absorver com isso a sua sabedoria. Metis, entretanto,
estava esperando um filho de Zeus, a deusa atena, que em seguida
nasceu de sua testa. Como condizia a sua linhagem, ela foi abenoada
com a es- perteza de Metis e a mentalidade guerreira de Zeus. ela
era considerada pelos gregos como a deusa da guerra estratgica. seu
mortal preferido e aclito era o engenhoso Ulisses. ares era o deus
da guerra em sua forma direta e brutal. Os gregos desprezavam ares
e adoravam atena, que sem- pre lutou com suprema inteligncia e
sutileza. seu interesse na guerra no a violncia, a brutalidade, o
desperdcio de vidas e de recursos, mas a racionalidade e o
pragmatismo que ela nos impe e o ideal de vencer sem derramamento
de sangue. Usando a sabedoria de atena, seu objetivo o de
transformar a violncia e a agresso desses tipos contra eles, fazen-
do com que sua brutalidade seja a causa de sua runa. Como atena,
voc est sempre um passo frente, fazendo com que seus passos sejam
mais indiretos. sua meta mesclar filosofia e guerra, sabedoria e
batalha, em uma mistura imbatvel. eleve-se acima do campo de
batalha. Na guerra, a estratgia a arte de comandar por inteiro a
operao militar. ttica, por outro lado, a ha- bilidade de compor o
exrcito para a batalha em si e lidar com as neces- sidades
imediatas do campo de batalha. Ns, na grande maioria, somos tticos
na vida, no estrategistas. Ficamos to envolvidos nos conflitos que
enfrentamos que s conseguimos pensar em como obter o que queremos
na batalha que temos pela frente no momento. Pensar
estrategicamente difcil e pouco natural. Voc talvez imagine que est
sendo estratgico, mas deve estar apenas sendo ttico. Para ter o
poder que s a estrat- gia confere, voc precisa ser capaz de estar
acima do campo de batalha, concentrar-se em seus objetivos de longo
prazo, armar uma campanha inteira, sair do modo reativo em que
tantas batalhas na vida o trancaram. Mantendo em mente todos os
seus objetivos, fica muito mais fcil decidir quando lutar e quando
se afastar. isso torna as decises tticas do cotidia- no bem mais
simples e mais racionais. Pessoas tticas so pesadas e presas no
cho; estrategistas tm os ps mais leves e so capazes de ver mais
lon- ge e de uma forma mais ampla. E Atena, de olhos cinza como os
da coruja: Diomedes, filho de Tideu... No precisas temer Ares ou
qualquer outro dos imortais. Veja o que est aqui a seu lado. Dirija
seus cavalos diretamente para Ares. E quando estiver no seu
alcance, ataque. No se aterrorize com Ares. Ele nada mais do que um
estpido matreiro... E quando Diomedes atacou em seguida, ela
dirigiu a lana dele para a boca do estmago de Ares, onde a tnica
plissada cobria... [Ares] rapidamente escalou as alturas do Olimpo,
sentou-se amuado ao lado de Zeus Cronion, mostrou- lhe o sangue
imortal escorrendo de sua ferida e queixou-se com estas palavras
aladas: Pai Zeus, isso no o enfurece, ver esta violncia? Ns,
deuses, recebemos o pior uns dos outros sempre que tentamos ajudar
os homens... E Zeus, por baixo de suas sobrancelhas trovejantes:
Estpido matreiro. No fique aqui sentado a meu lado se lamentando.
Voc o deus mais odioso no Olimpo. Voc realmente gosta de lutas e de
guerras. Puxou a sua me cabea-dura, Hera. Eu tambm mal consigo
control-la... Seja como for, eu no posso tolerar que esteja
sofrendo... E chamou Paieon para cuidar da ferida dele... Depois,
de volta ao palcio do grande Zeus, chegou a Argiva Hera e Atena a
protetora, tendo impedido o brutal Ares de cometer uma chacina
contra os homens. Ilada, Homero, C. sculo iX, a.C.
18. PreFCiO 21 espiritualize sua guerra. Voc enfrenta batalhas
todos os dias essa a realidade para todas as criaturas em sua luta
pela sobrevivncia. Mas a maior batalha de todas com voc mesmo suas
fraquezas, suas emo- es, sua falta de deciso em compreender as
coisas at o final. Voc deve declarar guerra incessante contra voc
mesmo. Como um guerreiro na vida, voc deve aceitar o combate e o
conflito como modos de provar quem voc , de melhorar suas
habilidades, de ganhar coragem, confian- a e experincia. em vez de
reprimir suas dvidas e temores, voc deve derrub-los de frente,
lutar contra eles. Voc precisa de mais desafios, e voc convida a
mais guerra. Voc est forjando o esprito do guerreiro, e somente a
prtica constante o levar at l. 33 estratgias de guerra uma destilao
da sabedoria eterna contida nas lies e nos princpios da guerra. O
livro projetado para armar voc com conhecimentos prticos que lhe
daro infinitas opes e vantagens ao lidar com os guerreiros
impalpveis que o atacam na batalha diria. Cada captulo uma
estratgia voltada para a soluo de um proble- ma em particular que
voc encontrar com frequncia. esses problemas incluem lutar com um
exrcito desmotivado atrs de voc; desperdiar energia combatendo em
muitas frentes; sentir-se massacrado por atritos, pela discrepncia
entre planos e realidade; entrar em situaes das quais no consegue
sair. Voc pode ler os captulos que se aplicam ao problema
particular atual. Melhor ainda, voc pode ler todas as estratgias,
assimi- lando-as, permitindo que se tornem parte de seu arsenal
mental. Mesmo quando voc est tentando evitar uma guerra, e no
combatendo uma, muitas destas estratgias merecem ser conhecidas por
propsitos defen- sivos e para voc ter conscincia do que o outro
lado pode estar apron- tando. De qualquer maneira, eles no foram
escritos como doutrina ou frmulas para serem repetidas, mas como
auxiliares do julgamento no ca- lor da batalha, sementes que se
enraizaro em voc e o ajudaro a pensar por si mesmo, desenvolvendo
seu estrategista interior latente. as prprias estratgias so
selecionadas dos escritos e das prticas dos maiores generais da
histria (alexandre, o grande; anbal; genghis Khan; Napoleo
Bonaparte; shaka Zulu; William techumseh sherman; erwin rommel, Vo
Nguyen giap) bem como dos maiores estrategistas (sun tzu; Miyamoto
Musashi; Carl von Clausewitz; ardant du Picq; t. e. Lawrence;
coronel John Boyd). elas variam desde as estratgias bsicas da
guerra clssica s estratgias sujas, no convencionais, dos tempos
moder- nos. O livro est dividido em cinco partes: guerra
autodirigida (como pre- parar sua mente e esprito para a batalha);
guerra organizacional (como estruturar e motivar seu exrcito);
guerra defensiva; guerra ofensiva; e guerra no convencional (suja).
Cada captulo ilustrado com exemplos histricos, no s da guerra em
si, mas da poltica (Margaret thatcher), da cultura (alfred
Hitchcock), dos esportes (Muhammad ali), dos neg- cios (John D.
rockefeller), que mostram a ntima conexo entre o militar e o
social. estas estratgias podem se aplicar a lutas em todas as
escalas: Contra a guerra pode-se dizer: faz do vitorioso um
estpido, do derrotado um malicioso. A favor da guerra: com a produo
desses dois efeitos ela barbariza e, portanto, torna mais natural;
o inverno ou o tempo de hibernao da cultura, a humanidade dela
emerge mais forte para o bem ou para o mal. Friedrich Nietzsche,
1844-1900 Sem guerra os seres humanos ficam estagnados no conforto
e na riqueza e perdem a capacidade de grandes ideias e sentimentos,
eles se tornam cnicos e caem no barbarismo. Fyodor Dostoivski,
1821-1881
19. PreFCiO22 guerra organizada, batalhas nos negcios, a
poltica de um grupo e at relacionamentos pessoais. Finalmente, a
estratgia uma arte que requer no s um modo di- verso de pensar, mas
uma abordagem totalmente diferente de ver a vida em si. Com muita
frequncia existe um abismo entre nossas ideias e co- nhecimentos de
um lado e nossa experincia real do outro. absorvemos trivialidades
e informaes que nos tomam espao mental, mas no nos levam a parte
alguma. Lemos livros que nos divertem, mas tm pouca relevncia para
nossas vidas dirias. temos ideias sublimes que no co- locamos em
prtica. temos experincias to ricas que no analisamos o suficiente,
que no nos inspiram ideias, cujas lies ignoramos. e estra- tgia
requer um contato constante entre os dois reinos. conhecimento
prtico em sua forma mais elevada. Os acontecimentos na vida nada
sig- nificam se voc no refletir a respeito deles profundamente, e
ideias ad- quiridas em livros so inteis se no tiverem aplicao na
vida como voc vive. Na estratgia, tudo na vida um jogo que voc est
jogando. este jogo excitante, mas tambm exige profunda e sria
ateno. as apostas so altas. O que voc sabe precisa ser traduzido em
ao, e ao precisa ser traduzida em conhecimento. Deste modo,
estratgia passa a ser um desafio para a vida inteira e fonte de
constante prazer na superao de dificuldades e soluo de problemas.
Neste mundo, onde se joga com dados chumbados, um homem precisa ter
um temperamento de ferro, com armadura prova dos golpes do destino,
e armas para enfrentar homens. A vida uma longa batalha; temos de
combat-la a cada passo; e Voltaire com toda a razo diz que, se
temos sucesso, ponta da espada, e que morremos com a arma na mo.
Arthur Schopenhauer, Conselhos e mximas, 1851 A natureza decidiu
que o que no pode se defender sozinho no ser defendido. ralph Waldo
emerson, 1803-1882
20. Pa r t e i gUerra aUtODirigiDa a guerra (ou qualquer tipo
de conflito) travada e vencida com estratgia. Pense em estratgia
como uma srie de linhas e setas direcionadas para um ob- jetivo:
levar voc a um certo ponto no mundo, ajud- lo a atacar um problema
em seu caminho, imaginar como cercar e destruir seu inimigo. antes
de direcio- nar estas setas para seus inimigos, entretanto, voc
deve primeiro apont-las para si mesmo. sua mente o ponto de partida
de todas as guer- ras e estratgias. Uma mente que seja dominada com
muita facilidade por emoes, que esteja enraizada no passado e no no
presente, que no possa ver o mundo com clareza e urgncia criar
estratgias que sempre erraro o alvo. Para se tornar um verdadeiro
estrategista, voc deve dar trs passos. Primeiro, tomar conscincia
das fraquezas e doenas que possam se apoderar da men- te,
deformando seus poderes estratgicos. segundo, declarar uma espcie
de guerra contra si mesmo para
21. se fazer andar para frente. terceiro, trave uma cruel e
contnua batalha contra os inimigos dentro de voc aplicando certas
estratgias. Os quatro captulos a seguir so projetados para chamar
sua ateno para os distrbios que esto pro- vavelmente se
desenvolvendo em sua mente agora mesmo e armar voc com estratgias
especficas para elimin-los. estes captulos so setas cujo alvo voc.
Uma vez tendo-as assimilado por meio de pensamen- tos e prtica,
elas serviro como um expediente auto- corretivo em todas as suas
futuras batalhas, liberando o grande estrategista que existe dentro
de voc.
22. 1 DeCLare gUerra a seUs iNiMigOs a estratgia Da POLariDaDe
A vida um sem-fim de batalhas e conflitos, e voc no pode lutar com
eficincia se no puder identificar seus inimigos. As pessoas so
sutis e evasivas, disfarando suas intenes, fin- gindo estar a seu
lado. Voc precisa de clareza. Aprenda a des- mascarar seus
inimigos, a localiz-los pelos sinais e padres que revelam sua
hostilidade. E, ento, com eles vista, declare interiormente guerra.
Como os polos opostos de um m criam movimento, seus inimigos seus
opostos podem encher voc de propsito e direo. Como pessoas que
ficam em seu cami- nho, que representam o que voc abomina, pessoas
s quais reagir so uma fonte de energia. No seja ingnuo: com alguns
inimigos no pode haver concesses, no existe meio-termo.
23. estratgia 126 O iNiMigO iNteriOr Na primavera de 401 a.C.,
Xenofonte, senhor rural de trinta anos e que vivia nos arredores de
atenas, recebeu um intrigante convite: um ami- go estava recrutando
soldados gregos para lutarem como mercenrios por Ciro, irmo do rei
persa, artaxerxes, e o chamava para ir junto. O pedido era um tanto
inusitado: havia muito tempo que gregos e persas eram inimigos
figadais. Por volta de oitenta anos antes, de fato, a Prsia havia
tentado conquistar a grcia. Mas os gregos, renomados guerreiros,
tinham comeado a oferecer seus servios a quem pagasse mais, e
dentro do imprio persa havia cidades rebeldes que Ciro queria
punir. Mercen- rios gregos seriam os reforos perfeitos em seu
grande exrcito. Xenofonte no era um soldado. Na verdade, ele levava
uma vida cal- ma, criando cachorros e cavalos, viajando para atenas
para conversar so- bre filosofia com seu bom amigo scrates, vivendo
de sua herana. Mas ele queria aventura, e esta era uma chance de
conhecer o grande Ciro, aprender sobre guerra, ver a Prsia. talvez
quando tudo tivesse termi- nado, ele escrevesse um livro. ele no
iria como mercenrio (era rico demais para isso) mas como filsofo e
historiador. Depois de consultar o orculo de Delfos, ele aceitou o
convite. Por volta de 10 mil soldados gregos uniram-se expedio
punitiva de Ciro. Os mercenrios eram um bando misto de toda a
grcia, que estavam ali pelo dinheiro e a aventura. eles se
divertiram por uns tempos, mas depois de alguns meses de atividade,
aps lider-los at o interior da Prsia, Ciro admitiu seu verdadeiro
propsito: estava marchando sobre a Babilnia, armando uma guerra
civil para derrubar seu irmo e se fazer rei. Descontentes por terem
sido enganados, os gregos argumentaram e se queixaram, mas Ciro
lhes ofereceu mais dinheiro, e isso os acalmou. Os exrcitos de Ciro
e artaxerxes encontraram-se nas plancies de Cunaxa, no muito longe
da Babilnia. Logo no incio da batalha, Ciro foi morto, colocando um
rpido ponto final guerra. agora a situao dos gregos de repente era
precria: tendo combatido do lado errado de uma guerra civil, eles
estavam longe de casa e cercados por persas hostis. Ficaram logo
sabendo, entretanto, que artaxerxes no estava zangado com eles. s
queria que sassem da Prsia o mais rpido possvel. ele at lhes enviou
um emissrio, o comandante tissaphernes, para lhes oferecer provises
e escolt-los de volta para a grcia. e, assim, guiados por tissa-
phernes e o exrcito persa, os mercenrios iniciaram a longa viagem
de volta para casa uns 2.400 quilmetros. Dias depois de iniciada a
marcha, os gregos tiveram novos temores: os suprimentos que tinham
recebido dos persas eram insuficientes, e o ca- minho escolhido por
tissaphernes para eles, problemtico. eles podiam confiar nos
persas? Comearam a discutir entre eles. O comandante grego
Clearchus expressou as preocupaes de seus soldados para
tissaphernes, que foi solidrio: Clearchus deveria levar seus
capites para um encontro em um local neutro, os gregos manifesta-
Ento [Xenofonte] levantou-se, e convocou primeiro os suboficiais de
Proxenus. Quando eles se reuniram, ele disse: Senhores, no posso
dormir e penso que os senhores tambm no; e no posso ficar parado
aqui quando vejo em que apuros nos encontramos. claro que o inimigo
no nos declarar guerra aberta at pensar que tem tudo bem preparado;
e nenhum de ns se esfora para fazer a melhor resistncia possvel.
Mas se cedermos e cairmos em poder do rei, que destino esperamos
que seja o nosso? Quando seu prprio irmo morreu, o homem cortou sua
cabea e cortou sua mo e as espetou em um mastro. No temos ningum
para nos defender, e marchamos at aqui para fazer do rei um escravo
ou mat-lo se pudssemos, e qual pensam que ser nosso destino? Ele no
chegar a todos os extremos da tortura para que o mundo inteiro tema
entrar em guerra contra ele? Ora, devemos fazer tudo para escapar
de seu poder! Enquanto durou a trgua, eu nunca deixei de sentir
pena de ns, nunca deixei de congratular o rei e seu Exrcito. Que
vasto pas eu via, to grande, que interminveis provises, que
multides de servos, quanto gado e ovelhas, quanto ouro, que roupas!
Mas quando pensei nestes nossos soldados no tivemos nenhuma parte
em todas estas coisas boas, a no
24. estratgia 1 27 riam suas tristezas e os dois lados
chegariam a um entendimento. Clear- chus concordou e apareceu no
dia seguinte com seus oficiais na hora e no lugar combinados onde,
entretanto, um grande contingente de persas os cercou e prendeu.
Foram decapitados no mesmo dia. Um homem conseguiu escapar e avisou
os gregos da traio persa. Naquela noite o acampamento grego era um
lugar desolado. alguns homens discutiam e acusavam, outros caam
bbados no cho. Uns pou- cos pensaram em fugir, mas com seus lderes
mortos eles se sentiram condenados. Naquela noite, Xenofonte, que
tinha permanecido a maior parte do tempo nos bastidores durante a
expedio, teve um sonho: um raio de Zeus incendiou a casa de seu
pai. ele acordou suando. De repente perce- beu: a morte estava
olhando na cara dos gregos, mas eles estavam ali cho- ramingando,
desesperados e discutindo. O problema estava sobre suas cabeas.
Lutando por dinheiro e no por um propsito ou causa, incapa- zes de
distinguir entre amigo e inimigo, eles haviam se perdido. a barrei-
ra entre eles e seu lar no eram rios e montanhas ou o exrcito
persa, mas o prprio estado de esprito confuso. Xenofonte no queria
morrer deste modo desgraado. No era um militar, mas conhecia
filosofia e como os homens pensam, e acreditava que se os gregos se
concentrassem nos ini- migos que queriam mat-los, ficariam alertas
e criativos. se focalizassem a vil traio dos persas, ficariam
zangados, e sua ira os motivaria. tinham de parar de ser mercenrios
confusos e voltar a ser gregos, o extremo oposto dos infiis persas.
O que eles precisavam era de clareza e direo. Xenofonte decidiu ser
o raio de Zeus, despertando os homens e ilu- minando seu caminho.
Convocou uma reunio com todos os oficiais sobreviventes e exps seu
plano: ns declararemos guerra sem nego- ciao aos persas nada mais
de ideias de barganhas ou debates. No vamos mais perder tempo com
argumentos ou acusaes entre ns mes- mos; cada grama de nossa
energia ser gasto com os persas. seremos to inventivos e inspirados
como nossos ancestrais em Maratona, que combateram vencendo um
exrcito persa bem maior. Vamos queimar nossas carroas, viver da
terra, mover rpido. Nem por um segundo va- mos baixar os braos ou
esquecer o perigo a nossa volta. somos ns ou eles, vida ou morte,
bem ou mal. se algum homem tentar nos confundir com conversa mole e
com vagas ideias de conciliao, vamos declar-lo idiota e covarde
demais para estar do nosso lado e vamos afast-lo. Que os persas nos
tornem impiedosos. Devemos estar consumidos por uma ideia: voltar
vivos para casa. Os oficiais sabiam que Xenofonte estava certo. No
dia seguinte um oficial persa veio v-los, oferecendo-se para atuar
como embaixador entre eles e ataxerxes; seguindo o conselho de
Xenofonte, ele foi rpida e ru- demente mandado embora. agora era
guerra e nada mais. incentivados a agir, os gregos elegeram lderes,
Xenofonte entre eles, e comearam a marcha para casa. Forados a
depender de seu bom-senso, ser comprando-as, e a poucos restava
alguma coisa com que compr- las; e obter alguma coisa sem comprar
estava proibido por nossos juramentos. Enquanto raciocinava assim,
eu s vezes temia a trgua mais do que a guerra agora. Entretanto,
agora eles quebraram a trgua, existe um fim tanto para a insolncia
deles como para nossas suspeitas. Ali esto todas estas coisas boas
diante de ns, prmios para o lado que provar ter os melhores homens;
os deuses so os juzes da prova, e estaro conosco, naturalmente...
Quando tiverem nomeado tantos comandantes quantos necessrios, renam
todos os outros soldados e os encorajem; isso ser exatamente o que
eles querem agora. Talvez tenham notado como estavam desanimados
quando entraram em campo, como estavam abatidos quando faziam
guarda; nesse estado no sei o que podero fazer com eles... Mas se
algum conseguir fazer com que parem de pensar no que vai lhes
acontecer, e pensem no que podem fazer, ficaro muito mais animados.
Os senhores sabem, tenho certeza, que no so nmeros ou fora que do
origem vitria na guerra; o exrcito que entrar na batalha com
esprito forte, seus inimigos em geral no lhes podem resistir.
anaBasIs: the March Up coUntry, Xenofonte, 430?-355? a.C.
25. estratgia 128 eles logo aprenderam a se adaptar ao terreno,
evitar a batalha, mover-se de noite. Conseguiram iludir os persas,
derrotando-os at uma passagem na montanha chave e atravessando-a
antes que pudessem ser apanhados. embora muitas tribos inimigas
ainda estivessem entre eles e a grcia, o temido exrcito persa agora
tinha ficado para trs. Levou muitos anos, mas quase todos voltaram
vivos para a grcia. interpretao a vida batalha e lutas, e voc se
ver constantemente diante de situa- es ruins, relacionamentos
destrutivos, compromissos perigosos. Como voc enfrenta estas
dificuldades vai determinar seu destino. Como disse Xenofonte, seus
obstculos no so rios ou montanhas ou outras pessoas; seu obstculo
voc mesmo. se voc se sente perdido e confuso, se voc perde seu
senso de direo, se voc no sabe a diferena entre amigo e inimigo,
voc s tem a si mesmo para culpar. Pense em voc mesmo como sempre
prestes a entrar em uma bata- lha. tudo depende de seu estado de
esprito e de como voc v o mundo. Uma mudana de perspectiva pode
transformar voc de um mercenrio passivo e confuso em um guerreiro
motivado e criativo. somos definidos por nosso relacionamento com
as outras pessoas. Quando crianas desenvolvemos uma identidade ao
nos diferenciarmos dos outros, at o ponto de empurr-los para longe,
rejeit-los, com rebel- dia. Quanto mais claramente voc reconhecer
quem voc no quer ser, ento, mais ntido o seu sentido de identidade
e propsito ser. sem uma noo dessa polaridade, sem um inimigo contra
o qual reagir, voc est to perdido quanto os mercenrios gregos.
Ludibriado pela traio dos outros, voc hesita no momento fatal e
passa a se lamentar e argumentar. Concentre-se no inimigo. Pode ser
algum que bloqueie seu caminho ou sabote voc, seja sutil ou
obviamente; pode ser algum que o magoou ou que combateu voc
injustamente; pode ser um valor ou uma ideia que voc abomina e que
voc v em um indivduo ou grupo. Pode ser uma abstrao: estupidez,
presuno, materialismo vulgar. No d ouvidos s pessoas que dizem que
a distino entre amigo e inimigo primitiva e antiquada. elas esto
apenas disfarando o medo que sentem de conflitos por trs de uma
fachada de falsa cordialidade. esto tentando for-lo a sair de seu
caminho, contamin-lo com a incerteza que os aflige. Uma vez
sentindo-se claro e motivado, voc ter espao para a verdadeira
amizade e o verdadeiro compromisso. seu inimigo a estrela polar que
o guia. Dada esta direo, voc pode entrar na batalha. Quem no est
comigo, est contra mim. Lucas 11.23 O pensamento poltico e o
instinto poltico se provam terica e praticamente na habilidade para
distinguir entre amigo e inimigo. Os pontos altos da poltica so
simultaneamente os momentos em que o inimigo , em concreta clareza,
reconhecido como inimigo. Carl schmitt, 1888-1985
26. estratgia 1 29 O iNiMigO eXterNO No incio da dcada de 1970,
o sistema poltico britnico havia se acomo- dado a um padro
confortvel: o Partido trabalhista venceria uma eleio e a, na eleio
seguinte, os Conservadores venceriam. De l para c o poder seguia,
tudo razoavelmente polido e civilizado. Na verdade, um partido j
estava se parecendo com o outro. Mas quando os Conservado- res
perderam em 1974, alguns deles deram um basta. Querendo sacudir as
coisas, eles sugeriram Margaret thatcher como sua lder. O partido
se dividiu naquele ano, thatcher tirou vantagem da diviso e venceu
a indicao. Ningum jamais tinha visto um poltico como thatcher. Uma
mu- lher em um mundo governado por homens, ela tambm se orgulhava
de ser de classe mdia filha de um dono de mercearia no tradicional
par- tido da aristocracia. suas roupas eram caretas, mais como as
de uma dona de casa do que uma poltica. ela no tinha sido uma
participante ativa no Partido Conservador; na verdade, ela estava
na periferia da ala de direita. O mais surpreendente de tudo era
seu estilo: enquanto os outros polticos eram afveis e
conciliadores, ela enfrentava seus adversrios atacando-os
diretamente. ela possua o apetite pela batalha. a maioria dos
polticos viram a eleio de thatcher como um feliz acaso e no
esperavam que ela durasse. e nos primeiros anos em que liderou o
partido, quando os trabalhistas estiveram no poder, ela pouco fez
para mudar a opinio deles. ela vociferava contra o sistema
socialis- ta, que em sua mente havia sufocado todas as iniciativas
e era em grande parte responsvel pelo declnio da economia britnica.
ela criticou a Unio sovitica em uma poca em que as tenses estavam
se relaxando. e a, no inverno de 1978-79, vrios sindicatos do setor
pblico resol- veram entrar em greve. thatcher partiu para a guerra,
associando as greves ao Partido trabalhista e ao primeiro-ministro
James Callaghan. este foi um discurso ousado, divisor, bom para os
noticirios do fim da tarde mas no para ganhar um eleio. Voc precisa
ser gentil com os eleitores, tranquiliz-los, no amedront-los. Pelo
menos, essa era a sabedoria convencional. em 1979, o Partido
trabalhista convocou uma eleio geral. tha- tcher continuou no
ataque, classificando a eleio como uma cruzada contra o socialismo
e a ltima chance de modernizao para a gr- Bretanha. Callaghan era a
sntese do poltico corts, mas thatcher o irritava. ele no sentia
outra coisa que no desdm por esta dona de casa arremedo de poltico
e devolveu fogo: ele concordava que a elei- o era um divisor de
guas, mas se thatcher vencesse colocaria em choque a economia. a
estratgia pareceu funcionar em parte; thatcher assustou muitos
eleitores, e as pesquisas que sondavam a popularida- de pessoal
mostravam que seus nmeros haviam cado bem abaixo dos de Callaghan.
ao mesmo tempo, entretanto, sua retrica e a reao de gallaghan a ela
polarizavam o eleitorado, que pde finalmente ver uma ntida diferena
entre os partidos. Dividindo o pblico em esquerda e Sou por
natureza belicoso. Atacar um de meus instintos. Ser capaz de ser um
inimigo, ser um inimigo isso pressupe uma natureza forte, em
qualquer situao uma condio de natureza muito forte. Ela precisa de
resistncias, consequentemente busca resistncias... A fora de quem
ataca tem na oposio de que necessita um tipo de medida; cada
crescimento revela-se na busca de um poderoso adversrio ou
problema: pois um filsofo que belicoso tambm desafia problemas para
um duelo. O empreendimento dominar, no qualquer resistncia que por
acaso se apresente, mas aquelas contra as quais a pessoa tem de
reunir todas as suas foras, flexibilidade e domnio de armas para
dominar adversrios iguais. Friedrich Nietzsche, 1844-1900
27. estratgia 130 direita, ela atacou na fenda, absorvendo as
atenes e atraindo os inde- cisos. ela teve uma vitria de bom
tamanho. thatcher havia convencido os eleitores, mas agora, como
primeira- ministra, ela teria de moderar seu tom, sarar as feridas
segundo as pes- quisas de opinio, de qualquer modo, era isso que o
pblico queria. Mas thatcher, como sempre, fez o contrrio,
decretando cortes de oramentos que iam ainda mais fundo do que ela
havia proposto durante a campanha. Conforme suas polticas foram
levadas a efeito, a economia realmente en- trou em choque, como
Callaghan dissera, e a taxa de desemprego subiu vertiginosamente.
Os homens de seu prprio partido, muitos dos quais na- quela altura
dos acontecimentos, havia anos, se ressentiam do tratamento que ela
lhes dava, comearam publicamente a questionar sua capacidade. estes
homens, a quem ela chamava de wets, eram os membros mais res-
peitados do Partido Conservador e estavam em pnico: ela estava
levando o pas a um desastre econmico que eles temiam ter de pagar
com suas carreiras. a reao de thatcher foi expuls-los de seu
gabinete. ela pare- cia inclinada a afastar todo mundo; sua legio
de inimigos crescia, seus nmeros nas pesquisas de opinio pblica
caam ainda mais. Certamente a prxima eleio seria a sua ltima. ento,
em 1982, do outro lado do atlntico, a junta militar que gover- nava
a argentina, precisando de uma causa para distrair o pas de seus
mui- tos problemas, invadiu as ilhas Falklands, uma possesso
britnica qual, entretanto, a argentina tinha um direito histrico.
Os oficiais da junta estavam certos de que os britnicos
abandonariam as ilhas, ridas e remo- tas. Mas thatcher no hesitou:
apesar da distncia 12.874 quilmetros ela enviou uma fora-tarefa
naval pra as Falklands. Lderes trabalhistas a atacaram por esta
guerra sem sentido e cara. Muitos de seu partido fi- caram
aterrorizados; se a tentativa de retomar as ilhas falhasse, o
partido estaria arruinado. thatcher estava mais sozinha do que
nunca. Mas uma boa parte do pblico agora via suas qualidades que
tinham parecido to irritantes sob uma nova luz: sua obstinao
tornou-se coragem, nobreza. Comparada com os homens confusos,
efeminados, carreiristas a sua volta, thatcher parecia resoluta e
confiante. Os ingleses recuperaram com sucesso as Falklands, e
thatcher er- gueu-se mais alta do que nunca. De repente, os
problemas econmicos e sociais do pas foram esquecidos. thatcher
agora dominava o cenrio, e nas duas eleies seguintes esmagou o
Partido trabalhista. interpretao Margareth thatcher chegou ao poder
como uma estranha no ninho; uma mulher de classe mdia, uma radical
de direita. O primeiro instin- to da maioria das pessoas de fora
que alcanam o poder o de se tornar ntimas a vida do lado de fora
dura mas com isso elas perdem sua identidade, sua diferena, a coisa
que as faz se distinguirem aos olhos do pblico. se thatcher tivesse
se tornado como os homens a sua volta, teria simplesmente sido
substituda por mais um homem. seu instinto [Salvador Dal] no tinha
tempo para aqueles que no concordavam com os seus princpios, e
levava a guerra para o campo inimigo ao escrever cartas ofensivas a
muitos dos amigos que havia feito na Residencia, chamando- os de
porcos. Ele gostava de se comparar a um touro esperto evitando os
vaqueiros e em geral se divertia muito atiando e escandalizando
quase todos os intelectuais catales merecedores do nome. Dal estava
comeando a queimar suas pontes com o zelo de um incendirio... Ns
[Dal e o cineasta Luis Buuel] tnhamos resolvido enviar uma carta
manuscrita venenosa a uma das grandes celebridades da Espanha, Dal
mais tarde contou a seu bigrafo Alain Bosquet. Nosso objetivo era
pura subverso... Os dois estvamos fortemente influenciados por
Nietzsche... Ns achamos dois nomes: Manuel de Falla, o compositor,
e Juan Ramn Jimnez, o poeta. Jogamos no palitinho e Jimnez
ganhou... Ento compomos uma carta frentica e desagradvel de
incomparvel violncia e a endereamos a Juan Ramn Jimnez. Ela dizia:
Nosso distinto amigo: acreditamos ser nosso dever inform-lo
desinteressadamente que seu trabalho nos profundamente repugnante
devido a sua imoralidade,
28. estratgia 1 31 foi o de continuar do lado de fora. De fato,
ela insistiu nisso o mais que pde: ela se colocou como uma mulher
contra um exrcito de homens. a cada etapa do caminho, para lhe dar
o contraste de que precisava, thatcher escolhia um adversrio como
alvo: os socialistas, os wets, os ar- gentinos. estes inimigos
ajudaram a definir sua imagem de pessoa deter- minada, poderosa,
capaz de sacrifcios pessoais. thatcher no se deixou seduzir pela
popularidade, que efmera e superficial. Os especialistas podem
ficar obcecados com os nmeros da popularidade, mas na mente do
eleitor que, para um poltico, o campo de batalha uma presena
dominante mais atraente do que a simpatia. Que uma parte do pblico
deteste voc; impossvel agradar a todos. seus inimigos, aqueles que
se colocam nitidamente contra voc, o ajudaro a forjar uma base de
apoio que no o desertar. No se aglomere no centro, onde est todo
mundo; no h espao para lutar em uma aglomerao. Polarize as pessoas,
afaste algumas delas e crie um espao para batalha. tudo na vida
conspira para empurrar voc para o centro, e no ape- nas
politicamente. O centro o reino do compromisso. Dar-se bem com
outras pessoas uma habilidade importante, mas tem riscos: ao buscar
sempre o caminho da menor resistncia, da conciliao, voc esquece
quem , voc mergulha no centro com todo mundo. em vez disso veja a
si mesmo como um combatente, um estranho cercado de inimigos. a
bata- lha constante o manter forte e alerta. ela ajudar voc a
definir em que acredita, tanto para si mesmo como para os outros.
No se preocupe por estar antagonizando as pessoas; sem antagonismo
no h batalha; e sem batalha, no h chances de vitria. No se deixe
seduzir pela necessidade de que gostem de voc: melhor ser
respeitado, temido at. a vitria sobre seus inimigos lhe dar uma
popularidade mais duradoura. No dependa do no aparecimento do
inimigo; dependa, sim, de estar pronto para ele. Sun Tzu, a arte da
guerra (sculo IV a.C.) CHaVes Para a gUerra Vivemos em uma era em
que raro as pessoas serem diretamente hostis. as regras das relaes
sociais, polticas, militares mudaram, e o mesmo deve acontecer com
sua noo de um inimigo. Um inimigo visvel raro hoje em dia e , na
verdade, uma bno. as pessoas dificilmente o ata- cam abertamente
como antes, mostrando suas intenes, seu desejo de destruir voc; em
vez disso elas so polticas e indiretas. embora o mundo esteja mais
competitivo do que nunca, a agresso aparente desencora- jada, de
modo que as pessoas aprenderam a agir em segredo, a atacar de forma
imprevisvel e ardilosa. Muitas usam a amizade como um meio de
mascarar desejos agressivos: elas se aproximam de voc para causar
um dano maior. (Um amigo sabe melhor como magoar voc.) Ou sem na
ver- dade serem amigas, elas oferecem assistncia e aliana: podem at
pare- sua histeria, sua qualidade arbitrria... Ela causou um grande
sofrimento a Jimnez ... the persIstence of MeMory: a BIography of
dal, Meredith etherington-smith, 1992 A oposio de um membro a um
associado no um fator social puramente negativo, no mnimo porque
essa oposio com frequncia o nico meio de tornar a vida com pessoas,
que na verdade so insuportveis, pelo menos possvel. Se no temos nem
mesmo o poder e o direito de nos rebelarmos contra tirania,
arbitrariedade, mau humor, falta de tato, no poderamos suportar ter
qualquer relao com pessoas cujos carteres nos fazem assim sofrer.
Nos sentiramos forados a dar passos desesperados e estes, na
verdade, terminariam a relao mas no, talvez, constituiriam um
conflito. No s pelo fato de que... a opresso em geral aumenta se
suportada com calma e sem protestos, mas tambm porque a oposio nos
d ntima satisfao, distrao, alvio... Nossa oposio nos faz sentir que
no somos totalmente vtimas das circunstncias. georg simmel,
1858-1918
29. estratgia 132 cer que o apoiam, mas no final esto
promovendo os prprios interesses s suas custas. e h aqueles que
dominam a guerra moral, colocando-se como vtimas, fazendo voc se
sentir culpado por algo inespecfico que voc fez. O campo de batalha
est repleto desses guerreiros, escorrega- dios, evasivos e
espertos. Compreenda: a palavra inimigo do latim inimicus, no amigo
tem sido demonizada e politizada. sua primeira tarefa como um es-
trategista ampliar seu conceito de inimigo, para incluir nesse
grupo aqueles que esto trabalhando contra voc, frustrando voc,
ainda que sutilmente. (s vezes a indiferena e a negligncia so armas
mais eficien- tes do que a agresso, porque voc no pode ver a
hostilidade que ocul- tam.) sem paranoia, voc precisa perceber que
existem pessoas que lhe desejam o mal e operam indiretamente.
identifique-as e de repente voc ter espao para manobrar. Voc pode
recuar e esperar para ver ou agir, seja de forma agressiva ou
apenas evasiva, para evitar o pior. Voc pode at trabalhar para
fazer deste inimigo um amigo. Mas seja l o que voc fizer, no seja a
vtima ingnua. No se veja constantemente recuando, reagindo s
manobras de seus inimigos. arme-se de prudncia, e jamais deponha
suas armas, nem mesmo para os amigos. as pessoas em geral escondem
muito bem sua hostilidade, mas com frequncia do inconscientemente
sinais de que nem tudo o que pare- ce. Um dos melhores amigos e
conselheiros do lder do Partido Comunis- ta Chins, Mao ts-tung, era
Lin Biao, um alto membro do Politburo e possvel sucessor do
presidente. No final da dcada de 1960 e incio dos anos 1970,
entretanto, Mao percebeu uma mudana em Lin: ele havia se tornado
efusivamente amistoso. todos elogiavam Mao, mas os elogios de Lin
eram constrangedoramente entusisticos. Para Mao isto significava
que alguma coisa estava errada. ele observou Lin atentamente e
decidiu que o homem estava tramando uma derrubada de poder ou, pelo
menos, se preparava para o posto mais alto. e Mao estava certo: Lin
estava tra- mando ativamente. a questo no desconfiar de todos os
gestos amigos, mas not-los. registrar qualquer mudana na
temperatura emocional: uma intimidade fora do comum, um novo desejo
de trocar confidncias, elogios excessivos a seu respeito para
terceiros, o desejo de uma aliana que talvez faa mais sentido para
a outra pessoa do que para voc. Confie em seus instintos: se o
comportamento de algum lhe parecer suspeito, provavelmente . Pode
se revelar benigno no final, mas enquanto isso melhor ficar atento.
Voc pode se recostar e ler os sinais ou trabalhar ativamente para
des- mascarar seus inimigos soque a grama para surpreender as
serpentes, como dizem os chineses. Na Bblia lemos sobre as
suspeitas de Davi de que seu sogro, o rei saul, secretamente o
queria morto. Como Davi podia descobrir? ele confessou sua
desconfiana ao filho de saul, Jonatas, seu melhor amigo. Jonatas
recusou-se a acreditar, ento Davi sugeriu um teste. ele era
esperado na corte para um banquete. No iria; Jonatas, sim, e
transmitiria as desculpas de Davi, que seriam adequadas mas no
Quando se sobe um dos grandes rios [de Bornu], encontram-se tribos
que so sucessivamente mais belicosas. Nas regies costeiras esto
comunidades pacficas que jamais lutam a no ser em autodefesa, e,
mesmo assim, com pouco xito; enquanto nas regies centrais, onde
nascem os rios, esto vrias tribos extremamente belicosas cujos
ataques tm sido uma constante fonte de terror para as comunidades
estabelecidas nas partes mais baixas...Pode-se supor que os povos
pacficos das costas seriam superiores em qualidades morais a seus
vizinhos guerreiros, mas o contrrio. Em quase todos os aspectos, a
vantagem est com as tribos guerreiras. Suas casas so mais bem
construdas, maiores, e mais limpas; sua moral domstica superior;
eles so fisicamente mais fortes, mais corajosos, fsica e
mentalmente mais ativos e, em geral, mais confiveis. Mas, acima de
tudo, sua organizao social mais firme e mais eficiente porque
respeitam e obedecem mais a seus chefes e so muito mais leais a sua
comunidade; cada homem se identifica com toda a comunidade, aceita
e fielmente cumpre os deveres sociais que lhe competem. William
Mcdougall, 1871-1938
30. estratgia 1 33 urgentes. sem dvida alguma, a desculpa
enraiveceu saul, que excla- mou, Mande busc-lo imediatamente e
traga-o at mim ele merece morrer! O teste de Davi funcionou porque
era ambguo. a sua desculpa para faltar ao banquete podia ser
entendida de mais de uma maneira: se saul estivesse com boas
intenes com relao a Davi, teria visto a ausncia do genro apenas
como uma atitude egosta, na pior das hipteses, mas porque
secretamente odiava Davi, ele a viu como uma afronta e se des-
controlou. siga o exemplo de Davi: diga ou faa alguma coisa que
possa ser entendida de mais de uma forma, que possa ser
suficientemente poli- da, mas que tambm um amigo possa ficar
intrigado mas deixar passar. O inimigo secreto, entretanto, vai
reagir com raiva. Qualquer emoo forte e voc saber que tem algo
fervendo sob a superfcie. Muitas vezes a melhor maneira de fazer
com que as pessoas se reve- lem provocando tenso e argumentos. O
produtor de Hollywood Harry Cohn, presidente da Universal Pictures,
usava com frequncia esta estra- tgia para deixar clara a verdadeira
posio das pessoas no estdio que se recusavam a mostrar de que lado
estavam: ele de repente atacava o trabalho delas ou assumia uma
posio extrema, at ofensiva, em uma dis- cusso. ele provocava
diretores e escritores que abandonavam suas usuais cautelas e
mostravam suas verdadeiras crenas. Compreenda: as pessoas tendem a
ser vagas e escorregadias porque mais seguro do que comprometer-se
com alguma coisa abertamente. se voc o chefe, elas imitaro suas
ideias. a concordncia delas muitas vezes pura bajulao. Faa-as ficar
emotivas; as pessoas em geral so since- ras quando discutem. se voc
escolher uma discusso com algum e essa pessoa continuar copiando
suas ideias, voc talvez esteja lidando com um camaleo, um tipo
particularmente perigoso. Cuidado com pessoas que se escondem por
trs de uma fachada de vaga abstrao e imparcialidade: ningum
imparcial. Uma pergunta expressa com rispidez, uma opinio destinada
a ofender, far com que reajam e tomem uma posio. s vezes melhor
adotar uma abordagem menos direta com seus inimigos em potencial
ser to sutil e conivente quanto eles. em 1519, Hernn Corts chegou
ao Mxico com seu bando de aventureiros. en- tre estes quinhentos
homens estavam alguns cuja lealdade era duvidosa. Durante toda a
expedio, sempre que um dos soldados de Corts fazia alguma coisa que
ele via como suspeita, ele jamais se zangava ou adotava uma atitude
acusadora. em vez disso, fingia concordar com ele, aceitando e
aprovando o que tinham feito. Pensando que Corts era fraco ou que
estava do lado deles, davam mais um passo. agora ele tinha o que
queria: um sinal claro, para si mesmo e os outros, de que eram
traidores. agora ele podia isol-los e destru-los. adote o mtodo de
Corts: se amigos ou seguidores de quem voc suspeita de ter outros
motivos sugerem algo su- tilmente hostil, ou contra seus
interesses, ou simplesmente estranho, fuja tentao de reagir, de
dizer no, de se zangar ou at de fazer perguntas. Concorde ou parea
fazer vista grossa: seus inimigos em breve se adianta- O homem
existe desde que lhe faam oposio. georg Hegel, 1770-1831
31. estratgia 134 ro mais um pouco, mostrando melhor suas
intenes. agora voc os tm vista e pode atacar. Um inimigo muitas
vezes grande e difcil de distinguir uma orga- nizao ou uma pessoa
oculta por trs de alguma rede complicada. O que voc precisa fazer
mirar uma parte do grupo um lder, um porta-voz, um membro
importante do crculo interno. era assim que o ativista saul alinsky
atacava corporaes e burocracias. em sua campanha da dcada de 1960,
para acabar com a segregao no sistema de escolas pblicas de
Chicago, ele se concentrou no superintendente das escolas, sabendo
muito bem que este homem tentaria transferir a culpa para os nveis
su- periores. ao golpear repetidas vezes o superintendente, ele
conseguiu tornar pblico seu esforo e ficou impossvel para o homem
esconder-se. No final, aqueles que estavam por trs dele tiveram de
vir em seu auxlio, expondo-se nesse processo. Como alinsky, jamais
mire um inimigo vago, abstrato. difcil convocar as emoes para
combater uma batalha to livre do derramamento de sangue, que de
qualquer forma deixa seu ini- migo invisvel. Personalize a luta,
olho no olho. O perigo est por toda a parte. H sempre pessoas
hostis e relaciona- mentos destrutivos. a nica maneira de sair de
uma dinmica negativa enfrent-la. reprimir sua raiva, evitar a
pessoa que o ameaa, sempre pro- curando conciliaes estas estratgias
comuns significam a runa. evitar conflitos se torna um hbito, e voc
perde o gosto pela batalha. sentir culpa no faz sentido; a culpa no
sua se voc tem inimigos. sentir-se enganado ou na posio de vtima
igualmente intil. em ambos os casos voc est olhando para dentro,
concentrando-se em si mesmo e em seus sentimentos. em vez de
internalizar uma situao ruim, externalize-a e enfrente seu inimigo.
a nica sada. O psiclogo infantil Jean Piaget via o conflito como
uma parte crtica do desenvolvimento mental. Por meio de batalhas
com colegas e depois pais, as crianas aprendem a se adaptar ao
mundo e desenvolver estrat- gias para lidar com problemas. as
crianas que buscam evitar conflitos a qualquer custo ou aquelas com
pais superprotetores acabam incapazes social e mentalmente. O mesmo
vale para os adultos: atravs de suas ba- talhas com os outros que
voc aprende o que funciona, o que no funcio- na e a se proteger. em
vez de se encolher diante da ideia de ter inimigos, ento,
aceite-os. Conflitos so teraputicos. inimigos trazem muitas ddivas.
Por exemplo, eles o motivam e colo- cam em foco as suas crenas. O
artista salvador Dal descobriu desde cedo que existiam muitas
qualidades que ele no podia suportar nas pessoas: conformidade,
romantismo, piedade. a cada estgio de sua vida, ele en- contrava
algum que achava personificar estes anti-ideais um inimigo nos
quais desabafar. Primeiro foi o poeta Federico garca Lorca, que es-
crevia poesias romnticas; depois foi andr Breton, o lder
abrutalhado do movimento surrealista. ter tais inimigos contra quem
se rebelar fez com que Dal se sentisse seguro e inspirado. inimigos
tambm lhe do um padro segundo o qual julgar a si mesmo, pessoal e
socialmente. O samurai do Japo no tinha como afe- Escutar com
frequncia minha senhora ler a Bblia pois ela costumava ler em voz
alta na ausncia do marido logo despertou minha curiosidade por este
mistrio da leitura e fez surgir em mim o desejo de aprender. No
sentindo nenhum temor por minha boa senhora diante de meus olhos,
(ela no me havia dado razo para temer) eu francamente lhe pedi para
me ensinar a ler; e, sem hesitar, a querida mulher iniciou a
tarefa, e no demorou muito, com sua ajuda, dominei o alfabeto e
pude pronunciar palavras de trs ou quatro letras... Mestre Hugh
ficou pasmo com a simplicidade de sua esposa e, provavelmente pela
primeira vez, revelou-lhe a verdadeira filosofia da escravatura, e
as regras peculiares que era necessrio que senhores e senhoras
observassem na administrao de seus escravos. O senhor Auld
prontamente proibiu o prosseguimento de sua instruo [de leitura],
dizendo-lhe, em primeiro lugar, que a coisa em si era ilegal; que
tambm no era seguro, e que s poderia levar a coisas ruins... A
senhora Auld evidentemente sentiu a fora de suas observaes; e, como
uma esposa obediente, comeou a moldar seu curso na direo indicada
pelo marido. O efeito das palavras dele, em mim, no foi nem leve
nem transitrio. Suas frases inflexveis frias e duras calaram
32. estratgia 1 35 rir sua excelncia a no ser combatendo os
melhores espadachins; foi preciso Joe Frazier para fazer de
Muhammad ali um verdadeiro grande lutador. Um adversrio difcil
extrair de voc o que h de melhor. e quanto maior o adversrio, maior
sua recompensa, mesmo na derrota. melhor perder para um adversrio
de valor do que esmagar um ini- migo inofensivo qualquer. Voc
conquistar simpatia e respeito, aumen- tando o apoio para sua
prxima luta. ser atacado um sinal de que voc importante o
suficiente para ser um alvo. Voc deveria sentir prazer na ateno e
na chance de provar quem . todos ns temos impulsos agressivos que
somos obrigados a reprimir; um inimigo lhe d uma vlvula de escape
para estes impulsos. Finalmente voc tem algum sobre quem liberar
sua agresso sem sentir culpa. Os lderes sempre acharam til ter um
inimigo s portas em pocas de agitao, distraindo o pblico de suas
dificuldades. ao usar seus ini- migos para organizar suas tropas,
polarize-os at onde for possvel: eles combatero com mais ferocidade
quando se sentirem um pouco odiados. Portanto exagere as diferenas
entre voc e o inimigo trace as linhas claramente. Xenofonte no fez
nenhum esforo para ser justo; ele no disse que os persas no eram
realmente um bando to ruim e que tinham feito muito pelo progresso
da civilizao. ele os chamava de brbaros, a anttese dos gregos. ele
descrevia sua recente traio e dizia que eram uma cultura nociva que
no tinha a simpatia dos deuses. e o mesmo acontece com voc: a
vitria sua meta, no a justia e o equilbrio. Use a retrica da guerra
para aumentar o interesse e estimular os nimos. O que voc precisa
na guerra espao de manobra. Cantos aperta- dos significam morte.
ter inimigos lhe d opes. Voc pode coloc-los uns contra os outros,
fazer um amigo como uma forma de atacar o outro, repetidas vezes.
sem inimigos, voc no saber como ou onde manobrar e perder a noo de
seus limites, de at onde pode ir. Desde o incio, Jlio Csar
identificou Pompeu como seu inimigo. Medindo suas aes e calculando
cuidadosamente, ele fazia s o que o colocasse em uma sli- da posio
em relao a Pompeu. Quando a guerra finalmente explodiu entre os
dois, Csar estava em sua melhor forma. Mas depois de derrotar
Pompeu e no ter mais rivais, ele perdeu toda a noo de medida na
verdade, ele se imaginava um deus. Derrotar Pompeu foi seu erro.
seus inimigos lhe impem uma noo de realismo e humildade. Lembre-se:
h sempre pessoas ali que so mais agressivas, mais trai- oeiras,
mais cruis do que voc, e inevitvel que algumas delas cruzem seu
caminho. Voc ter uma tendncia a querer conciliar e se compro- meter
com elas. a razo que esses tipos so com frequncia brilhantes
impostores que veem o valor estratgico do charme e da aparncia de
lhe permitirem bastante espao, mas na verdade os desejos deles no
tm limites, e eles esto simplesmente tentando desarm-lo. Com certas
pessoas voc tem de ser mais duro, reconhecer que no existe
meio-ter- mo, nenhuma esperana de conciliao. Para seu adversrio,
seu desejo de fazer concesses uma arma a ser usada contra voc.
Conhea estes fundo em meu corao, e atiaram no apenas meus
sentimentos em uma espcie de rebelio, mas despertaram dentro de mim
uma srie de ideias vitais adormecidas. Foi uma nova e especial
revelao, disseminando um mistrio doloroso, contra o qual minha
jovial compreenso havia lutado, e lutado em vo, para perceber: o
poder do homem branco de perpetuar a escravido do homem negro.
Muito bem, pensei; o conhecimento incapacita uma criana para ser
escrava. Instintivamente concordei com a proposio; e a partir
daquele momento compreendi o caminho direto da escravido para a
liberdade. Isso era exatamente o que eu precisava; e recebi a
tempo, e de uma fonte, de onde menos esperava... Sbio como era, o
senhor Auld evidentemente subestimou minha compreenso, e no teve
ideia do uso que eu era capaz de fazer da importante lio que estava
dando a sua mulher... Aquilo que ele mais amava eu mais odiava; e a
prpria determinao que ele expressava para me manter na ignorncia
apenas me tornava mais decidido a buscar a inteligncia. My Bondage
and My freedoM, Frederick Douglass, 1818-1895
33. estratgia 136 perigosos inimigos pelo passado deles:
procure achar rpidas tomadas de poder, sbitos aumentos de sorte,
atos prvios de traio. assim que desconfiar que est lidando com um
Napoleo, no deponha suas armas ou as confie a outra pessoa. Voc a
ltima linha de sua prpria defesa. Autoridade: se voc conta com a
segurana e no pensa no perigo, se voc no sabe o suficiente para
estar atento quando chegarem os inimigos, como o pardal fazendo
ninho em uma tenda, um peixe nadando em um caldeiro no duram um
dia. Chuko Liang (181-234 d.C.) iNVersO sempre mantenha a busca e o
uso de inimigos sob controle. de clareza que voc precisa, e no de
paranoia. a decadncia de muitos tiranos ver em todos um inimigo.
eles perdem a noo de realidade e se tornam irremediavelmente
envoltos nas emoes que a paranoia deles agitam. De olho nos
possveis inimigos, voc est simplesmente sendo prudente e cauteloso.
guarde suas suspeitas para si mesmo, de modo que, se estiver
errado, ningum fique sabendo. tambm, cuidado para no polarizar as
pessoas to completamente que no possa recuar. Margaret thatcher, em
geral brilhante no jogo de polarizao, acabou perdendo o controle:
ela fez inimigos demais e continuou repetindo a mesma ttica, at em
situaes que pediam recuo. Franklin Delano roosevelt foi um mestre
polarizador, sempre procurando traar um limite entre ele mesmo e
seus inimigos. Mas assim que deixava essa linha clara, ele recuava,
o que o fazia parecer um conciliador, um homem de paz que
ocasionalmente entrava em guerra. Mesmo que essa impresso fosse
falsa, cri-la foi o auge da sabedoria. Imagem: a terra. O inimigo o
cho sob seus ps. ele tem uma gravidade que o segura no lugar, uma
fora de resistncia. Lance razes profundas nesta terra para
conquistar firmeza e fora. sem um inimigo para pisar, sobre o qual
caminhar, voc se desorienta e perde todo o senso de proporo.
34. 2 NO COMBata a gUerra QUe J PassOU a estratgia Da gUerriLHa
MeNtaL Aquilo que com mais frequncia o desanima e o deixa in- feliz
o passado, na forma de apegos desnecessrios, repe- ties de frmulas
desgastadas e a lembrana de antigas vitrias e derrotas. Voc deve
travar conscientemente uma batalha contra o passado e fazer um
esforo para reagir ao momento presente. Seja implacvel com voc
mesmo; no repita os mesmos mtodos esgotados. s vezes voc precisa se
obrigar a partir em novas direes, mesmo se elas envolve- rem
riscos. O que voc talvez perca em conforto e segurana, ganhar em
surpresa, deixando seus inimigos sem saber o que voc vai fazer.
Trave uma guerrilha mentalmente, no aceitando linhas estticas de
defesa, nenhuma cidadela exposta torne tudo fluido e mvel.
35. estratgia 238 a LtiMa gUerra Ningum subiu ao poder mais
rpido do que Napoleo Bonaparte (1769- 1821). em 1793, ele foi de
capito no exrcito revolucionrio francs a general de brigada. em
1796, tornou-se lder da fora francesa na itlia combatendo os
austracos, a quem esmagou naquele ano e de novo trs anos depois.
ele foi o primeiro cnsul da Frana em 1801, imperador em 1804. em
1805, humilhou os exrcitos austraco e russo na Batalha de
austerlitz. Para muitos, Napoleo foi mais do que um grande general;
foi um gnio, um deus da guerra. Nem todos se impressionaram,
entretanto: houve generais prussianos que pensavam que ele tinha
tido sorte, apenas. Quando Napoleo era duro e agressivo, eles
acreditavam, seus adversrios tinham sido tmidos e fracos. se
tivesse enfrentado os prussianos, teria se revelado uma grande
fraude. entre estes generais prussianos, estava Friedrich Ludwig,
prncipe de Hohenlohe-ingelfingen (1746-1818). Hohenlohe era de uma
das famlias aristocratas mais antigas da alemanha, com um ilustre
registro militar. ele havia comeado sua carreira cedo, servindo sob
Frederico, o grande (1712-86), o homem que havia sozinho
transformado a Prssia em uma grande potncia. Hohenlohe subira na
hierarquia, tornando-se general aos cinquenta anos jovem pelos
padres prussianos. Para Hohenlohe, o sucesso na guerra dependia de
organizao, disciplina e do uso de estratgias superiores
desenvolvidas por mentes militares treinadas. Os prussianos eram
exemplo de todas estas virtudes. Os soldados prussianos
exercitavam-se incansavelmente at poderem executar manobras
complicadas com a preciso de uma mquina. Os generais prussianos
estudavam intensamente as vitrias de Frederico, o grande; guerra
para eles era uma questo matemtica, a aplicao de princpios eternos.
Para os generais, Napoleo era um corso de cabea quente liderando um
exrcito de cidados indisciplinados. superiores em conhecimento e
habilidade, eles o superariam em estratgia. Os fran- ceses
entrariam em pnico e se desmontariam diante dos disciplinados
prussianos; o mito napolenico estaria arruinado, e a europa
voltaria a seus velhos modos. em agosto de 1806, Hohenlohe e seus
companheiros generais final- mente tiveram o que queriam: o rei
Frederico guilherme iii, da Prssia, cansado das promessas no
cumpridas de Napoleo, decidiu declarar guerra em seis semanas.
Nesse meio-tempo, ele pediu que os generais armassem um plano para
esmagar os franceses. Hohenlohe ficou extasiado. esta campanha
seria o clmax de sua carreira. Havia anos que ele pensava em uma
forma de derrotar Napo- leo e apresentou seu plano na primeira
sesso de estratgia dos gene- rais: marchas precisas colocariam o
exrcito no ngulo perfeito de onde atacar os franceses quando
avanassem pelo sul da Prssia. Um ataque em formao oblqua a ttica
preferida de Frederico, o grande des- A teoria no pode equipar voc
com frmulas para solucionar problemas, nem pode marcar o estreito
caminho no qual a nica soluo deve ser mentir plantando uma barreira
de princpios dos dois lados. Mas ela pode dar mente uma percepo
para a grande quantidade de fenmenos e de seus relacionamentos,
ento deixe-a livre para alar- se s esferas superiores de ao. Ali a
mente pode usar seus talentos inatos ao mximo, combinando-os todos
de modo a compreender o que certo e verdadeiro como se esta fosse a
nica ideia formada por sua presso concentrada como se fosse uma
reao ao desafio imediato em vez de um produto do pensamento. da
gUerra, Carl von Clausewitz, 1780-1831
36. estratgia 2 39 carregaria um golpe devastador. Os outros
generais, todos com seus ses- senta e setenta anos, apresentaram
seus prprios planos, mas estes no passavam de variantes das tticas
de Frederico, o grande. a discusso virou debate; vrias semanas se
passaram. Finalmente o rei teve de in- tervir e criar uma estratgia
conciliadora que deixaria satisfeitos todos os seus generais. Uma
sensao de exuberncia tomou conta do pas, que em breve re- viveria
os anos gloriosos de Frederico, o grande. Os generais perceberam
que Napoleo sabia de seus planos ele tinha excelentes espies mas os
prussianos estavam em vantagem, e assim que sua mquina de guerra
comeasse a se mover, nada poderia par-la. em 5 de outubro, dias
antes de o rei declarar guerra, notcias per- turbadoras chegaram at
os generais. Uma misso de reconhecimento revelara que divises do
exrcito de Napoleo, que eles tinham acredi- tado estar disperso,
haviam marchado para o leste, fundindo-se