Governo Federal
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Apoio
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Instituto Data Popular
Colaboradores
Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC)
Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE)
Editores
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Coordenação e produção
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Redação
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Revisão e edição
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Projeto gráfico / diagramação
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Empresa Estação Gráfica
Divulgação
Assessoria de Comunicação (SAE/PR)
Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 5
SumárioApresentação .........................................................................................................................
Introdução .................................................................................................................................. 17
1. Os pequenos empreendedores no mercado de trabalho ............ 27
2. A distribuição de renda dos pequenos empreendedores:O futuro da classe média nesse grupo ocupacional .......................... 53
3. Faces: Pequenos empreendedores e seus empregados .............. 67
4. Opinião: O que atrapalha e o que ajudariaos empreendedores brasileiros .......................................................................... 79
5. Visão de futuro: Como o Estado brasileiro pode contribuir à prosperidade dos pequenos empreendedores .................................... 89
Colaborador permanente: Renato Meirelles Empreendedorismo, otimismo e a classe média brasileira .......... 95
Colaborador desta edição: Luiz Barretto Empreendedores impulsionam a nova classe média ........................ 99
Ensaio: Marcelo Neri Prosperidade, Equidade e Oportunidade Empresarial .................... 105
7
Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 7
Menos Empresas,Melhores NegóciosHá um largo espectro de atividades empresariais distintas, que vão desde
aquela do trabalhador por conta própria, cujo principal objetivo é prover
o sustento básico de sua família, até aquela com potencial de acumulação
de capital e crescimento. A primeira é tipicamente uma atividade decor-
rente da necessidade, enquanto a segunda se caracteriza pela convicção e
percepção de oportunidade de quem a empreende.
Pode parecer contraditório abordar pequenos e grandes empresários
num mesmo quadro, mas eles têm uma relação de parentesco entre si,
pois ambos são sócios de capital de risco. O primeiro é uma espécie de
primo pobre, sem capital e sem empregados, mas com risco. Essa relação
arriscada com o seu provento é partilhada pelos seus primos ricos. Há
ainda o caso híbrido do empresário da nova classe média brasileira, que
habita o meio da distribuição. Porém nenhuma posição, na ocupação ou
na desocupação, explica mais a pobreza do que famílias chefiadas por tra-
balhadores por conta própria. Pessoas que trabalham, mas, muitas vezes,
não ganham o suficiente para sustentar os seus.
O terceiro caderno da série Vozes da Nova Classe Média se propõe a
jogar um canhão de luz sobre esses atores econômicos que, em geral,
vêm atuando mais nas coxias do que na ribalta do cenário tupiniquim –
desempenhando papel central na mobilidade social e na sustentabilidade
da classe média brasileira.
As mudanças recentes de enfoque em relação ao tema têm sido exempla-
res. A CAIXA, ao se colocar como o banco da nova classe média brasilei-
ra, revela rara sensibilidade de identificar oportunidades onde antes só se
8 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média
percebia pobreza – desenvolvendo, ao mesmo tempo, sua função de banco público. O
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) não nos deixa esquecer
a importância do trabalho e do empreendedorismo, em particular, como elementos cen-
trais do desenvolvimento humano.
O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), por sua vez,
revela a capacidade de se deslocar do mundo das maiores empresas, incubando dentro de
si uma nova secretaria com status de ministério, destinada ao apoio às menores empresas.
Na iniciativa do microempreendedor individual, o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas
Empresas (Sebrae) demonstra por que seu nome começa com “S” maiúsculo. Finalmen-
te, o Banco do Nordeste, com seus programas “Crediamigo” e “Agroamigo”, mostra o
potencial da região antes mais pobre e agora mais dinâmica do País, de descobrir suas
riquezas e exportar suas tecnologias para o resto do território nacional.
A SAE cumpre aqui a sua missão de apontar o norte estratégico das ações do Estado.
Este relatório demonstra que os pequenos negócios têm crescido e gerado melhores
empregos, com menor desigualdade, tanto dentro do grupo de microempreendedores
quanto na relação de seus lucros com os salários de seus empregados. Também ficaram
menos desiguais os retornos obtidos pela massa de pequenos negócios em operação no
País, com crescimento mais acelerado a partir da base da pirâmide produtiva. Há menor
quantidade relativa de negócios de subsistência trocados por empregos com carteira. Há
também aumento da qualidade social dos empreendimentos, seja pela geração de em-
pregos emanada, seja pela redução da desigualdade de renda entre empresários e seus
empregados e entre os próprios empreendedores.
Além disso, os dados reportados pelas pessoas na Pesquisa Mensal do Emprego (PME), pro-
duzida pelo Instituto Brasileiro de Estatística e Geografia (IBGE), mostram, assim como já
tínhamos constatado com os salários, que o lucro dos pequenos empreendedores das princi-
pais regiões metropolitanas também cresceu bem mais que o Produto Interno Bruto (PIB) em
2012, ao ritmo de 4% ao ano acima da inflação, acelerado nos dois primeiros meses de 2013.
Assim, constatamos que a imagem que passa na novela, da doceira da periferia que mul-
tiplica o tamanho de sua confeitaria, contratando as vizinhas para atender a demanda
crescente de outras vizinhas que ocupam postos de trabalho e não têm tempo para pro-
duzir suas festas, é representativa da nossa realidade. Agora, a empresária batalhadora da
periferia tem se desenvolvido mais que seus pares masculinos da capital?
Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 9
O bolo de renda cresce com mais ou menos fermento na base dos negócios e das famílias?
Quais são os ingredientes da receita do crescimento empresarial inclusivo e sustentável
no Brasil? Mais educação, formalização e cooperativação, nenhuma delas, ou todas as al-
ternativas acima? Como a receita do sucesso empresarial muda se caminharmos da base
ao topo, passando pelo meio da distribuição de lucros empresariais?
As análises apresentadas neste caderno apontam direções interessantes e, em alguns ca-
sos, supreendentes, para todas essas questões. No ensaio final, revelamos inicialmente a
operação de externalidades positivas emanadas na geração de emprego e da desigualdade
entre empresários e empregados. O estudo também demonstra como negócios e famílias
têm se beneficiado da atividade empresarial.
Basicamente, buscamos responder qual é o impacto do novo contexto, com relativamen-
te menos empresas, geradoras de mais e melhores empregos, sobre o retorno que os
empresários levam para casa, aí incluindo o lucro do negócio e a renda da família.
Tomando como pano de fundo o período de ascensão da chamada nova classe média
brasileira, desde o fim da recessão de 2003 até os dias de hoje, testamos se o sonho de
subir na vida por meio de um negócio próprio foi, e continua sendo, operativo no mundo
empresarial pós-crise europeia.
Exploramos a face humana dessa revolução empresarial vinda de baixo, revelando um
espetáculo de crescimento a preços populares, estrelado por empresários de grupos tra-
dicionalmente excluídos como negros, mulheres e analfabetos. Estudamos os determi-
nantes da maior prosperidade, equidade e oportunidade entre microempresários, assim
como os menores riscos de retrocesso que eles têm experimentado como elemento
fundamental para a sustentabilidade da nova classe média brasileira.
Esperamos que este terceiro número da série Vozes da Nova Classe Média possa contri-
buir para transformações efetivas na maneira como encaramos e tratamos os protagonis-
tas do empreendedorismo no Brasil.
Marcelo Côrtes Neri
Ministro Chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República
10 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média
Empreendedorismo, classe média eum projeto para odesenvolvimentonacionalEmpreendedorismo pode ser definido como processo pelo qual as pessoas
identificam, iniciam e desenvolvem seus negócios. É, portanto, um compo-
nente crucial na geração de emprego e renda, desenvolvimento tecnológi-
co, e consequentemente uma economia globalmente competitiva.
De acordo com pesquisa do Global Entrepreneurship Monitor (GEM),
27 milhões de brasileiros possuem um negócio ou estão envolvidos na
criação de um, o que coloca o Brasil no terceiro lugar de uma lista de 54
países. Estamos atrás da China, que lidera o ranking com 370 milhões de
empreendedores, e dos Estados Unidos, que contabilizam 40 milhões.
Este dinamismo e vivacidade da prática empreendedora são resultado dos
avanços nas áreas econômica e social. Do ponto de vista da infraestrutura
econômica, a conjunção de responsabilidade fiscal e regime de metas de
inflação criaram condições para a melhoria do ambiente de negócios. Uma
das iniciativas foi a redução da taxa de juros de patamares superiores a
20% em 2002 para 7,25% em 2012.
Outros exemplos: a elevação do crédito público de 25% para 50% do
PIB; a redução da dívida líquida do setor público de 60% para 35% do PIB;
Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 11
e a redução da dívida cambial que, acompanhada por acúmulos significativos de reservas
internacionais, alçou o Brasil à condição de credor internacional.
No que se refere à promoção de um ambiente econômico mais amigável, avanços obtidos
com a Lei de Falências, a Lei de Microempresas e Empresas de Pequeno Porte e a criação
e implantação da Rede Nacional para a Simplificação do Registro Mercantil e Legalização
de Empresa (REDESIM), foram determinantes para facilitar as relações de negócios e a
prática empresarial.
Demonstrando o vigor deste novo ambiente empresarial brasileiro, o Simples Nacional
e o Programa de Formalização de Microempreendedores Individuais (MEI) – iniciativas
estruturantes da Lei Geral da Micro e Pequena Empresa – contabilizam juntos mais de 7,3
milhões de negócios formalizados.
Na abordagem social, mudanças decorrentes da política de valorização do salário mínimo
e de fortalecimento dos programas de transferência de renda conduziram a um incremen-
to substancial da renda real domiciliar brasileira, elevando-se em termos per capita de R$
637 em 2003 para R$ 932 em 2011.
Este cenário tem criado condições para elevação do poder de compra das famílias, for-
mando uma pujante classe de consumo que cresce cerca de 4% ao ano e que hoje cor-
responde a mais de 100 milhões de pessoas. Daí a ampliação na base produtiva nacional,
e, por consequência, da capacidade de empreender e gerar novos negócios.
Ciente da importância deste momento, o governo federal, sob a coordenação do Minis-
tério do Desenvolvimento, Indústria e Comercio Exterior e em parceria com diversos
setores da sociedade civil, desenvolve uma série de iniciativas para o estabelecimento da
Política Nacional do Empreendedorismo (PNE).
Tendo por base as diretrizes para o desenvolvimento econômico, preconizadas pelo Pla-
no Brasil Maior, a PNE tem como desafio principal atuar na coordenação dos esforços
governamentais para a promoção do empreendedorismo em suas diversas faces: empre-
endedorismo por porte empresarial; empreendedorismo inovador; empresas emergen-
tes; start-ups; segmentos estratégicos; e empreendedorismo social, só para citar alguns
exemplos.
12 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média
Como resultados principais desta iniciativa vemos um maior entusiasmo e motivação do
cidadão em relação à iniciativa empreendedora responsável. A partir daí, verifica-se a cria-
ção de condições igualitárias para o estímulo ao crescimento das empresas e valorização
do empresário.
O carro chefe da PNE será a promoção do empreendedorismo nos pequenos negócios.
Por meio da Agenda de Desenvolvimento e Competitividade das Micro e Pequenas Em-
presas 2013-2022, serão apresentadas à sociedade brasileira uma série de medidas de
incentivo aos pequenos, com efeitos de curto, médio e longo prazo.
Estes fatos, somados à crescente capacidade do estado em planejar e melhor gerir políti-
cas públicas, nos mostram um círculo de desenvolvimento econômico, com estabilidade
e inclusão social.
Como características essenciais deste modelo, a melhoria do ambiente de negócios e a am-
pliação da capacidade de consumo, em especial da nova classe média, são elementos fun-
damentais para a consolidação da prática empreendedora, pilar para a construção de um
País economicamente competitivo, socialmente equitativo e ambientalmente sustentável.
Fernando Pimentel
Ministro de Estado do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior
Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 13
Atender a NovaClasse Média é anossa vocaçãoA Nova Classe Média, por apresentar uma demanda crescente de pro-
dutos e serviços, amplia significativamente o mercado nacional, potencia-
lizando o crescimento da economia brasileira e, consequentemente, um
novo patamar de desenvolvimento econômico e social, ou seja, fortalece
um ciclo virtuoso de mais crescimento e maior distribuição de renda.
Dentre os diversos produtos e serviços demandados, a Nova Classe Média
procura por serviços bancários e financeiros. A CAIXA assume o desafio
de promover a inclusão financeira de milhões de famílias que, beneficiadas
pelo crescimento econômico e o aumento da renda observados nos últi-
mos anos, ascenderam ao mercado de consumo. A inclusão financeira é
um dos eixos fundamentais da estratégia da Caixa.
Conhecer em profundidade esses novos atores econômicos é condição
necessária para a melhor atuação dos diversos atores sociais. Por essa ra-
zão, a Caixa participa do Projeto Vozes da Nova Classe Média desde seu
lançamento. Os dados e informações aqui apresentados têm se mostrado
valiosos na compreensão das necessidades, aspirações e comportamentos
das famílias da Nova Classe Média e do público ascendente, orientando
ações qualificadas junto a essa expressiva parcela da população brasileira.
Jorge Fontes Hereda
Presidente da Caixa Econômica Federal
14 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média
Empreendedorismo e Nova Classe MédiaA série de estudos Vozes da Nova Classe Média vem mostrando dados
impressionantes sobre a incorporação de quase 40 milhões de pessoas na
classe média brasileira, acompanhada de considerável queda na desigual-
dade de renda entre os brasileiros.
Estes resultados são fruto de esforços empreendidos pela sociedade bra-
sileira em diversas frentes: os programas de transferência de renda imple-
mentados nas últimas décadas no País, o incremento do salário mínimo, a
promoção da formalização no trabalho, os investimentos no incentivo ao
microempreendedorismo e a desburocratização do crédito.
O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento apoia esta ini-
ciativa, pois entende que a compreensão das novas dinâmicas socioeconô-
micas brasileiras não só é fundamental para a reflexão sobre a formulação
de políticas públicas adequadas ao novo contexto do país, como também
pode inspirar outros países que enfrentam dinâmicas semelhantes.
O presente caderno coloca luz na importante contribuição dos pequenos
empreendedores – com o aumento dos postos de trabalho e o crescimento
das remunerações do trabalhador brasileiro - neste fenômeno sem prece-
dentes que ocorre no Brasil. Além disso, o estudo aponta para o início de
uma tendência de significativa redução no hiato dos rendimentos dos em-
pregados em pequenos empreendimentos respectivamente aos seus em-
pregadores, indícios importantes de que também neste grupo econômico
está sendo trilhado o caminho certo rumo à consolidação de uma sociedade
mais equitativa. O estudo realça ainda que os pequenos empreendedores
contribuem para o aumento da formalização da economia brasileira.
Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 15
O microempreendedorismo brasileiro parece assim trilhar um caminho de sucesso no
desenvolvimento do País. É importante ressaltar que os benefícios e contribuições para a
redução das desigualdades sociais e aumento da qualidade do desenvolvimento brasileiro
podem ser ainda incrementados se o pequeno empreendedor puder integrar em suas
dinâmicas de mercado “ganhos triplos”, onde existam sinergias entre o crescimento de
seu negócio e o compromisso com uma sociedade mais socialmente justa e sustentável.
Jorge Chediek
Representante Residente do PNUD no Brasil
Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 17
IntroduçãoInclusão. Esta é a palavra-síntese para o processo de crescimento econômico
dos últimos dez anos no Brasil. Neste caderno, tratamos da relação entre os
pequenos empreendedores e esse processo de crescimento inclusivo. Explora-
mos meios pelos quais o empreendedorismo contribuiu para forte redução das
desigualdades de renda e para formação de uma vasta classe média no País. E
apresentamos, ainda, os perfis socioeconômicos predominantes entre diversos
tipos de ocupação ligados à atividade de empreender, os principais entraves que
empreendedores enxergam, e políticas que mais desejam. É preciso destacar
que a importância dos pequenos empreendedores para a economia brasileira
vem sendo finalmente reconhecida e estimulada por meio de novos marcos e
mecanismos oficiais, tais como o Simples Nacional (2006), a figura do Microem-
preendedor Individual (2008) e, mais recentemente, com a criação da Secretaria
da Micro e Pequena Empresa (2013).
Foi em vista de mudanças tão recentes, que certamente ampliaram e ainda am-
pliarão o peso desses importantes atores do cenário socioeconômico nacional,
que demos a este caderno um caráter não apenas retrospectivo, mas também
propositivo. Buscamos, portanto, identificar condições para que a atividade em-
preendedora continue prosperando, contribuindo assim para o desenvolvimen-
to brasileiro em geral – e para a sustentabilidade e a ascensão da nova classe
média, em particular.
18 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média
Quem são os pequenos empreendedores neste caderno?
O conceito de empreendedor admite múltiplas interpretações. Neste caderno, procura-mos utilizá-lo da forma mais ampla possível. Por ser extremamente rica e ter periodici-dade anual, a base que usamos na maior parte de nossa análise é a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD, produzida pelo IBGE. Dos diversos conceitos utilizados nessa pesquisa, cinco merecem particular atenção: empreendimento, conta própria, em-pregador, empreendedor e empregado. Em concordância com a PNAD, entendemos tais conceitos da seguinte forma:
Empreendimento: Empresa, instituição, entidade, firma, negócio etc., ou, ainda, traba-lho sem estabelecimento, desenvolvido individualmente ou com ajuda de outras pessoas (empregados, sócios ou trabalhadores não remunerados).
Conta própria: Pessoa que trabalha explorando o seu próprio empreendimento, sozinha ou com sócio, sem ter empregado e contando, ou não, com a ajuda de trabalhador não remunerado.
Empregador: Pessoa que trabalha explorando o seu próprio empreendimento, com pelo menos um empregado remunerado.
Empreendedor: Pessoa que trabalha por conta própria ou como empregador.
Empregado: Pessoa que trabalha para um empregador (pessoa física ou jurídica), geral-mente obrigando-se ao cumprimento de uma jornada de trabalho e recebendo por esta uma remuneração.
Contudo, ainda precisamos determinar quem são os pequenos empreendedores. As ca-tegorias encontradas na PNAD não são coincidentes com as estabelecidas na Lei Comple-mentar nº 123/2006, que criou o Simples Nacional. O Simples classifica as micro e peque-nas empresas de acordo com o faturamento bruto anual. As categorias utilizadas na PNAD, como vimos, derivam do tipo de ocupação no mercado de trabalho: empreendedor = conta própria + empregador.
Mas, como mesmo entre os empregadores há aqueles de maior ou menor porte, é pre-ciso definir quem destes pode ser considerado um pequeno empreendedor. A PNAD diferencia os empregadores pelo número de empregados que possuem, de acordo com as seguintes faixas:
• 1 empregado;• 2 empregados;
Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 19
• 3 a 5 empregados;• 6 a 10 empregados;• Acima de 10 empregados.
Para ajudar na determinação do pequeno empreendedor, usamos como referência a ta-bela de classificação do Sebrae, que define as micro e pequenas empresas de acordo o
número de empregados.
Tabela 1: Classificação das MPEs segundo o número de empregados
Porte Empregados
MicroempresaNo comércio e serviços: até 9 empregados
Na indústria: até 19 empregados
Empresa de pequeno porteNo comércio e serviços: de 10 a 49 empregados
Na indústria: de 20 a 99 empregados
Fonte: SEBRAE.
Optamos por não fazer distinções entre micro e pequenos empreendedores, uma vez que, pela PNAD, só aparecem desagregados os empregadores que possuem até 10 em-pregados. Assim, consideramos pequenos empreendedores aqueles que, na PNAD, ocu-pam as posições de conta própria e de empregador com até 10 empregados. Além disso, propomos também uma distinção entre o segmento formal e o informal. Chegamos, final-mente, aos seguintes conceitos:
Pequeno empreendedor: Pessoa que trabalha por conta própria ou como empregador com até 10 empregados.
Empreendedor formal: Empregador ou conta própria que contribui para a previdência.
Empreendedor informal: Empregador ou conta própria que não contribui para a pre-vidência.
Empregado formal: Empregado que possui carteira de trabalho assinada.
Empregado informal: Empregado que não possui carteira de trabalho assinada.
Esclarecemos, finalmente, que não contabilizamos – entre os empregados de pequenos empreendimentos – aqueles que trabalham em atividades agropecuárias. A razão para isso é que a PNAD não identifica o número total de empregados nos estabelecimentos que exercem atividade agropecuária, não nos sendo permitido saber se são empregados em pequenos ou em grandes empreendimentos.
20 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média
Cinco etapas para sua leitura
O terceiro Caderno Vozes da Nova Classe Média está dividido em cinco seções.
A Seção 1 - Os pequenos empreendedores no mercado de trabalho - responde a perguntas
como: Quantos pequenos empreendedores existem no Brasil? Isso é pouco, é muito? Por
quantos postos de trabalho os pequenos empreendedores respondem hoje? Quantos foram
gerados por eles na última década? Qual o rendimento gerado nestes postos? Como o rendi-
mento variou nos últimos 10 anos? Quais os reflexos disso na distribuição de renda no Brasil?
Na Seção 2 - A distribuição de renda dos pequenos empreendedores: o futuro da classe média nes-
se grupo ocupacional - tratamos mais detalhadamente da movimentação dos pequenos em-
preendedores e seus empregados entre as classes de renda baixa, média e alta. Quem ocupa
as melhores posições em termos do pertencimento às classes de renda mais elevadas? Em
que casos a classe média cresceu? Em que casos retraiu? A retração foi negativa ou positiva?
Já a Seção 3 - Faces: pequenos empreendedores e seus empregados - revela quais são os perfis
predominantes entre os pequenos empreendedores. São mais jovens? Mais velhos? O nível
educacional importa? Há mais homens ou mulheres? Mais brancos ou negros? Quem pre-
domina na informalidade, homens ou mulheres, brancos ou negros? E na área rural, quem
predomina? Como o perfil homem/mulher, branco/negro varia conforme se caminha da
classe baixa à classe alta?
A Seção 4 - Opinião: o que atrapalha e o que ajudaria os empreendedores brasileiros - trata
dos fatores que limitam o progresso do empreendedorismo no País, segundo os próprios
empreendedores. Como esses fatores variam por classe de renda? O que preocupa um
empreendedor na classe baixa é o mesmo que preocupa um empreendedor na classe
média ou alta?
Finalmente, a Seção 5 - Visão de futuro: Como o Estado brasileiro pode contribuir à prospe-
ridade dos pequenos empreendedores - busca identificar os fatores necessários para que os
empreendedores prosperem de forma crescente e contínua. Contrastamos a importante
contribuição do segmento para o desenvolvimento brasileiro com as suas dificuldades e
carências mais prementes. Qual o papel do setor público no suprimento de suas neces-
sidades? Que tipo de políticas públicas lhes são mais adequadas? Quais as diferenças nas
necessidades decorrentes da posição do empreendedor nas diferentes classes de renda?
Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 21
Nota Sobre a Definição de Classe Média
Para alguns críticos, uma “classe média” formada por pessoas com renda per capita entre
R$291 e R$1.019 estaria empobrecida em demasiado. A percepção é que estaria incluído
nessa categoria um grupo com renda muito reduzida, que na realidade pertence à classe
baixa. Da mesma forma, a classe alta misturaria uma parcela da população de renda inter-
mediária à outra detentora de níveis mais elevados.
O eventual desconforto com a definição técnica das três classes de renda se deve basica-
mente a três fatores muito importantes, que serão tratados sequencialmente nessa nota.
a) Parte da classe alta deseja ser percebida como classe média
A discussão sobre classes baixa, média ou alta traz sempre embutida significados para
além da definição técnica, que apenas reparte a população em três grupos. Valores, pre-
conceitos e auto percepção pautam a crítica que se faz à definição técnica das classes de
renda. Boa parte da classe alta se recusa a ser percebida enquanto tal e se declara perten-
cente à classe média, por mais incoerente que isso possa parecer.
No Brasil, fazem parte dos 5% mais ricos todos aqueles em famílias com renda per capita
acima de R$2.400 ao mês e muitos membros desse grupo se consideram parte da classe
média. Seria impossível conceber qualquer divisão da população em três classes de renda
(baixa, média e alta) em que os 5% mais ricos estivessem fora da classe alta. Para todos
aqueles com essa opinião, qualquer definição coerente para a classe média sempre os
excluiria e, por essa razão, seria percebida como empobrecida.
b) Uso da renda declarada e sua subestimação
Os cortes de renda que definem quem pertence a que classe e a própria análise da dis-
tribuição de renda tomam como base informações declaradas em pesquisas domiciliares.
Embora pesquisas como o Censo Demográfico e a Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios – PNAD coletem informações confidenciais de qualidade e abrangência in-
ternacionalmente reconhecidas1, não há dúvidas que subestimam a verdadeira renda das
famílias, tal como ocorre com qualquer pesquisa dessa natureza. Portanto, há de se reco-
nhecer que os pontos de corte sugeridos não retratam a “verdadeira” renda de cada um,
1 As três grandes compilações de informações sobre distribuição de renda no mundo (Deininger and Squire, 1996; Banco Mundial, 2005 e Pnud, 2005) reconhecem a Pnad como a principal fonte para o Brasil e classificam essa informação como de excelente qualidade, mesmo quando comparada com a dos países desenvolvidos.
22 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média
mas sim a renda declarada. Esse é um fato que, em hipótese alguma, retira a importância
das análises da distribuição de renda baseadas em pesquisas domiciliares.
No caso específico da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD – existem
duas grandes razões para que ocorra subestimação da renda. Primeiro, há certos com-
ponentes da renda familiar que a pesquisa não captura. É o caso da renda não monetária,
das rendas voláteis ou eventuais que incluem, por exemplo, seguro desemprego, décimo
terceiro salário, horas extras não sistemáticas, indenizações e ganhos com loterias e ou-
tros prêmios. Afinal, uma pesquisa com essa amplitude, que avalia características demo-
gráficas, condições habitacionais, situação no mercado de trabalho, escolaridade etc. não
pode mesmo cobrir todos os itens necessários para a mensuração da renda das famílias
em alto grau de detalhe.
A segunda razão para que a PNAD subestime a renda das famílias é que mesmo os quesi-
tos da renda medidos por ela são subdeclarados. Esse é particularmente o caso dos ren-
dimentos normalmente recebidos de ativos financeiros e decorrentes de transferências
entre famílias.
Uma vez que os pontos de corte propostos no caderno Vozes se originam de análises
baseadas na distribuição de renda capturada pela PNAD, é natural uma percepção geral
de que esses pontos estejam abaixo do que deveriam. Uma forma de avaliar o ajuste ne-
cessário consiste em verificar como os pontos de corte se alterariam caso pudéssemos
contar com melhores medidas de renda. Tal oportunidade é oferecida pela Pesquisa de
Orçamentos Familiares – POF. A cada cinco anos, o Instituto Brasileiro de Geografia e Es-
tatística – IBGE – conduz essa pesquisa domiciliar especialmente dedicada a avaliar o nível
de consumo e renda das famílias brasileiras.
Em 2009 foram coletadas tanto a PNAD como a POF e, portanto, para esse ano, existem
dois retratos da distribuição de renda das famílias. De fato, os pontos de corte definidores
da classe média são sensíveis à qualidade da informação disponível e quanto mais comple-
ta a informação, mais altos deverão ser os pontos recomendados. A renda estimada pela
POF tende a ser aproximadamente 30% maior, o que faria da classe média um grupo com
renda entre R$357 e R$1.376.
Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 23
Tabela 2: Limites que definem a classe média utilizando a renda familiar per capita e a renda familiar total, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) e a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF)
Limites que definem a classe média
Renda familiar per capita Renda familiar total
PNAD POF PNAD POF
Início da classe média 291 357 1.125 1.313
Final da classe média 1.019 1.376 2.712 3.667
Fonte: Estimativas produzidas pela SAE/PR com base na PNAD 2009 e POF 2008/2009.Nota: Todos os valores encontram-se expressos em R$ de abril de 2012.
Sem dúvida, as informações sobre renda da POF são mais fidedignas do que as da PNAD
e, portanto, preferíveis para definir as classes de renda. Entretanto, a PNAD é realizada
anualmente, enquanto a POF é coletada a cada cinco anos. Para acompanhar movimentos
de expansão ou contração das diversas classes de renda com periodicidade anual, é neces-
sário basear a análise na PNAD.
c) Renda familiar total versus renda familiar per capita
A renda de uma família é repartida entre seus membros e, por essa razão, o bem-estar
de cada pessoa depende não só da renda total, mas também do tamanho da família. É
evidente que dois casais que disponham do mesmo nível de renda familiar total não terão
o mesmo nível de bem-estar se um deles tiver dois filhos e o outro, cinco. Em princípio,
o nível de bem-estar do casal com dois filhos será maior. A renda familiar per capita é um
indicador de bem-estar que leva em consideração tanto a renda familiar total como o ta-
manho da família. Assim sendo, os pontos de corte que delimitam a classe média são, em
geral, expressos em valores per capita.
A família brasileira tem, em média, cerca de três membros, o que faz com que a renda per
capita tenda a ser 1/3 da renda familiar total. Aqueles que inadvertidamente acham que
os pontos de corte propostos são valores para a renda familiar total terão a sensação que
eles estão muito abaixo do que deveriam. As estimativas baseadas na POF revelam que se
utilizarmos a renda familiar total como referência, então a classe média incluiria pessoas
com renda familiar total variando de R$1.300 a R$3.700 por mês.
24 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média
Deve-se atentar para o fato de que os pontos de corte que definem a classe média são
sensíveis tanto à qualidade da fonte de informação (POF versus PNAD) como ao conceito
de renda utilizado (total versus per capita). Definir a classe média como o grupo de pessoas
com renda familiar total entre R$1.300 a R$3.700 por mês (segundo a POF) é “equivalen-
te” a considerar como classe média, o grupo com renda familiar per capita entre R$291 e
R$1.019 por mês (segundo a PNAD).
Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 27
1. Os pequenosempreendedores nomercado de trabalhoA despeito das generosas transferências de renda que o Estado brasileiro
garante a seus cidadãos, as evidências disponíveis não deixam dúvidas de
que o fator preponderante para a contração da classe baixa e a conco-
mitante expansão da classe média foi o trabalho. Não somente a renda
do trabalho cresceu, como também cresceu o número de postos. Este
crescimento, por sua vez, decorreu sobretudo da expansão da oferta de
trabalho formal, evidenciada pela acentuada queda nas taxas de desem-
prego e informalidade.
Nesta seção, debruçamo-nos sobre os meios pelos quais os pequenos
empreendedores contribuíram e beneficiaram desse processo de aumen-
to tanto do número de postos quanto da renda do trabalho, observado na
última década. E verificamos qual foi precisamente o papel deste segmen-
to na expansão da classe média e na redução das desigualdades de renda.
Hoje os pequenos empreendedores respondem, diretamente, por 40%
dos postos de trabalho disponíveis e por quase 40% da massa de remu-
nerações da força de trabalho brasileira. Respondem também por quase
40% da geração líquida de novos postos de trabalho e por 32%, ou seja,
quase um terço (1/3), do crescimento do montante de remunerações do
trabalho.
Há duas formas com que o pequeno empreendedorismo pode afetar di-
retamente o número de postos de trabalho. A primeira delas é pelas vagas
que são ocupadas pelos próprios pequenos empreendedores, ou seja, as
28 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média
vagas que as suas atividades geram para si mesmos. Nesta contagem entram o número de
postos de trabalho ocupados pelos empregadores com até 10 empregados e o número de
postos ocupados pelos trabalhadores por conta própria. A segunda ocorre na medida em
que os pequenos empreendedores empregam trabalhadores em seus empreendimentos.
Nesta contagem entra, portanto, o número de postos de trabalho ocupados pelos empre-
gados de pequenos empreendedores.
Na última década, o aumento no número de postos de trabalho decorrente do pequeno
empreendedorismo se deu muito mais em função da expansão no número de empregados
do que no número de pequenos empreendedores. Se o número de trabalhadores por con-
ta própria cresceu relativamente pouco, o número de pequenos empregadores diminuiu.
Há que se ressaltar, porém, que a retração no número de pequenos empregadores não é
necessariamente um fato preocupante. Primeiro, porque a proporção de empregadores
sobre o total da força de trabalho no Brasil é maior do que a proporção mundial, sendo
também superior àquela observada em países desenvolvidos. Segundo, porque o número
médio de empregados por estabelecimento aumentou. Ou seja, aumentou o porte dos
estabelecimentos existentes. Por sua vez, a tímida expansão no número de trabalhadores
por conta própria também não precisa ser motivo de preocupação; a proporção destes
trabalhadores sobre a força de trabalho brasileira é superior à mundial e à dos países mais
desenvolvidos.
A grande transformação por que o segmento vem passando nos últimos anos definiti-
vamente não se refere à expansão, mas sim à sua expressiva formalização – resposta às
crescentes iniciativas de desburocratização e simplificação tributária estabelecidas desde
a criação do Simples Nacional.
Aliás, sobre o processo de formalização da economia brasileira, os pequenos empreendedo-
res tiveram papel central. Dos 6 milhões de novos postos de trabalho que os pequenos em-
preendedores geraram ao longo da última década, 95% eram formais. São, portanto, mais
trabalhadores que contam com o sistema público de proteção tanto em sua fase ativa (se-
guro desemprego, auxílio doença, auxílio maternidade etc) como na inativa (aposentadoria).
Mas os avanços sociais não se limitaram à expansão do acesso ao amplo sistema de prote-
ção ao trabalhador brasileiro. Na última década, todos os trabalhadores viram crescer as
suas remunerações. Contudo, aqueles que detinham inicialmente as remunerações mais
Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 29
baixas foram justamente aqueles que observaram maior aumento (nas suas remunera-
ções). Em outras palavras: a renda dos trabalhadores mais pobres cresceu mais do que a
renda dos trabalhadores mais ricos.
E nesse sentido, a categoria dos pequenos empreendedores contribuiu para a redução nas
desigualdades de renda. A remuneração dos empregadores – que se encontravam mais
bem posicionados em termos de renda – teve um crescimento anual de 0,6% ao ano, en-
quanto a remuneração de seus empregados e a dos trabalhadores conta própria cresceu
a uma taxa superior a 2% ao ano.
Não por acaso a porcentagem de empregados dos pequenos empreendedores que per-
tencia à classe baixa foi reduzida à metade de sua posição inicial, passando de 36% em
2001 para 17% em 2011. O resultado disso é que, hoje, quase dois terços (2/3) dos em-
pregados dos pequenos empreendedores já integram a classe média.
O conjunto de pequenos empreendedores (empregadores e conta própria) também se
beneficiou, praticamente na mesma medida, pois a porcentagem destes empreendedores
que pertenciam à classe baixa também foi praticamente reduzida à metade de sua posição
inicial, passando de 39% em 2001 para 21% em 2011.
Embora a contração da classe baixa entre os pequenos empreendedores tenha sido se-
melhante àquela observada entre os seus empregados, a contribuição do pequeno em-
preendedorismo para a atual composição da classe média no Brasil veio mais pelo lado de
seus empregados.
Há basicamente duas razões para isso. A primeira é que o pequeno empreendedorismo
gerou, nos últimos dez anos, dois novos empregados para cada novo empreendedor,
quando historicamente a relação era precisamente oposta: de dois empreendedores para
cada empregado. A segunda é que foi justamente entre os empregados dos pequenos em-
preendedores que a classe média mais cresceu. Entre os empreendedores, a contração
da classe baixa foi contrabalanceada por uma expressiva expansão da classe alta. Isto é,
ao mesmo tempo que muitos empreendedores saíram da classe baixa em direção à classe
média, muitos outros saíram da classe média em direção à classe alta – consequentemen-
te, a classe média não cresceu tanto neste grupo.
30 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média
Podemos dizer, portanto, que no tocante à classe média, o pequeno empreendedorismo
presta um duplo papel: i) atua como mecanismo de expansão e sustentabilidade, ao puxar
pessoas que estavam na classe baixa para a classe média; ii) atua como mecanismo de
ascensão à classe alta para aqueles que já se encontram na classe média.
As subseções seguintes trazem informações adicionais e expõem os detalhes do processo
descrito nesta introdução.
1.1 O papel dos pequenos empreendedores na força de trabalho brasileira
Como podemos ver na Tabela 1, o Brasil conta com uma força de trabalho composta por
92 milhões de trabalhadores. Deste total, 22 milhões são pequenos empreendedores: 19
milhões de trabalhadores por conta própria e 3 milhões de empregadores com até 10
empregados. Como já referido, os pequenos empreendedores, além de prover trabalho
para si próprios, também são responsáveis por empregar em seus empreendimentos con-
siderável parcela da força de trabalho brasileira. De fato, somente em atividades fora do
setor agropecuário, este segmento emprega 15 milhões de trabalhadores.
Ainda na Tabela 1 vemos que, mesmo excluindo os empregos que geram na atividade
agropecuária, ao todo, os pequenos empreendedores são diretamente responsáveis pela
geração de 37 milhões de postos de trabalho (somando os postos que geram para si mes-
mos e para aqueles que empregam). Por conseguinte, este grupo responde por 40% dos
postos de trabalho no País.
Tabela 1: Contribuição dos pequenos empreendedores para a absorção da força de trabalho no Brasil, 2011
Tipo de ocupação Postos de trabalho(milhões)
Contribuição(%)
Todos os trabalhadores 92 100
Pequenos empreendedores e seus empregados 37 40
Pequenos empreendedores* 22 24
Trabalhadores por conta própria 19 21
Pequenos empregadores** 3 3
Empregados em pequenos empreendimentos*** 15 16
Fonte: Estimativas produzidas pela SAE/PR com base na PNAD 2011.* Consideram-se pequenos empreendedores os trabalhadores por conta própria e os empregadores aqueles com até 10 empregados.** Consideram-se pequenos empregadores aqueles com até 10 empregados.***Devido a limitações na fonte de informação utilizada, não foram incluídos os empregados em estabelecimentos agropecuários.
Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 31
Entre as classes de renda, os postos de trabalho gerados pelos pequenos empreendedo-
res encontram-se muito bem distribuídos. Na Tabela 2, observamos que o segmento é
responsável por cerca de 40% dos postos em cada uma das classes de renda (baixa, média
e alta). Isto é, do total de trabalhadores que pertencem à classe baixa, 40% deles ocupam
postos gerados pelos pequenos empreendedores – ocorrendo o mesmo nas classes mé-
dia e alta.
Tabela 2: Participação dos postos de trabalho gerados pelos pequenos empreendedores no total da força de trabalho, por classe de renda, Brasil, 2011
Tipo de ocupaçãoClasse
Todas*** Baixa Média Alta
Todos os trabalhadores (milhões) 86,0 16,6 46,7 22,6
Pequenos empreendedores* e seus emprega-dos** (milhões) 34,2 6,7 18,7 8,8
Pequenos empreendedores e seus empregados como porcentagem do total de trabalhadores (%) 40 40 40 39
Fonte: Estimativas produzidas pela SAE/PR com base na PNAD 2011.* Consideram-se pequenos empreendedores todos os trabalhadores por conta própria e os empregadores com até 10 empregados. ** Devido a limitações na fonte de informação utilizada, não foram incluídos os empregados em estabelecimentos agropecuários. *** Exclui os trabalhadores em domicílios sem renda domiciliar declarada.
Mas embora os pequenos empreendedores contribuam com a mesma parcela (40%) de
postos de trabalho em todas as classes de renda, a parcela que é preenchida pelos traba-
lhadores empregados varia de forma sistemática entre as classes. Conforme é possível ve-
rificar na Tabela 3, na classe alta, menos de 1/3 (31%) dos postos de trabalho gerados por
empreendedores são ocupados pelos empregados. Dos postos de trabalho gerados pe-
los pequenos empreendedores para trabalhadores na classe média, quase metade (48%)
são ocupados pelos empregados em seus empreendimentos. Ou seja, a contribuição do
segmento de pequenos empreendedores para a ocupação na classe média decorre forte-
mente dos empregados em seus empreendimentos.
32 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média
Tabela 3: Participação dos empregados no total de postos de trabalho ge-rados pelos pequenos empreendedores, por classe de renda, Brasil, 2011
Tipo de ocupaçãoClasse
Todas*** Baixa Média Alta
Pequenos empreendedores e seus empregados (milhões)* 34,2 6,7 18,7 8,8
Empregados em pequenos empreendimentos (milhões)** 14,2 2,5 8,9 2,8
Empregados como porcentagem do total de postos de trabalho gerados pelos pequenos empreendedores (%)
41 37 48 31
Fonte: Estimativas produzidas pela SAE/PR com base na PNAD 2011.* Consideram-se pequenos empreendedores todos os trabalhadores por conta própria e os empregadores com até 10 empregados.** Devido a limitações na fonte de informação utilizada, não foram incluídos os empregados em estabelecimentos agropecuários.*** Exclui os trabalhadores em domicílios sem renda domiciliar declarada.
1.2 O empreendedorismo no Brasil e no mundo
Em relação aos diversos países do mundo, temos poucos empreendedores? Segundo as
últimas estatísticas divulgadas pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), estamos na
média ou acima, tanto em relação à média mundial com em relação à média de países desen-
volvidos (Europa, Canadá, Austrália e Nova Zelândia). Isto se verifica tanto em relação aos
empreendedores que são empregadores quanto àqueles que trabalham por conta própria.
Segundo tais estatísticas, enquanto 4,3% da força de trabalho brasileira é formada por
empregadores, a média mundial é de 3,9%. No que se refere aos trabalhadores por conta
própria, a média mundial é de 19,5%, enquanto – segundo esta mesma fonte – no Brasil
20,5% da força de trabalho seria formada desse tipo de trabalhador.
Em relação à América Latina, nossa proporção de empregadores sobre o total da popu-
lação ocupada é ligeiramente inferior (4,3% no Brasil, contra 4,4% na região). Em res-
peito aos trabalhadores por conta própria, as diferenças são maiores: na América Latina
a proporção dos conta própria sobre o total dos trabalhadores ocupados é de 24,6%, no
Brasil, de 20,5%. Consideramos, no entanto, que estar abaixo da América Latina em rela-
ção ao conta própria não deve ser um fato preocupante. Há muitos destes trabalhadores
que exercem a atividade de empreender por falta de opção, falta de emprego. Para eles,
empreender é mais uma estratégia de sobrevivência do que uma opção de vida.
Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 33
O Gráfico 1, a seguir, mostra a proporção de empregadores sobre o total da força de
trabalho ocupada no Brasil e noutras regiões.
Gráfico 1: Proporção de empregadores sobre o total da população ocupada,
2009 a 2010
Fonte: Estimativas produzidas pela SAE /PR com base em informações da OIT, ILOSTAT, 2009 e 2010.
Já o Gráfico 2, mostra a proporção de trabalhadores por conta própria sobre o total da
força de trabalho ocupada no Brasil e noutras regiões.
Gráfico 2: Proporção de trabalhadores por conta própria sobre o total da
população ocupada, 2009 a 2010
Fonte: Estimativas produzidas pela SAE /PR com base em informações da OIT, ILOSTAT, 2009 e 2010.
34 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média
1.3 O papel dos pequenos empreendedores na geração de novos postos de trabalho
Ao longo da última década, foram criados 15 milhões de novos postos de trabalho no País. Des-
te total, no entanto, pouco menos de 2 milhões devem-se à expansão do número de pequenos
empreendedores. Embora os pequenos empreendedores (empregadores e conta própria) re-
presentem 24% da força de trabalho brasileira, a expansão de 2 milhões respondeu por apenas
12% dos novos postos de trabalho gerados. Por este motivo, a participação dos pequenos
empreendedores na força de trabalho brasileira declinou de 26% para os atuais 24%.
Essa expansão mais lenta do pequeno empreendedorismo no País ocorreu particularmen-
te entre os empregadores. Enquanto o número de empregadores no País declinou em
120 mil nos últimos dez anos, passando de 2,8 (em 2001) para 2,7 milhões (em 2011), o
número de trabalhadores por conta própria cresceu em 2 milhões, passando de 17 para
19 milhões no mesmo período. Mas embora significativa, esta expansão dos trabalhadores
por conta própria foi inferior à média nacional, levando a que sua participação no total da
força de trabalho brasileira declinasse ligeiramente de 22% para 21%.
Temos que ressaltar, porém, que a contração no número de pequenos empregadores
limitou-se às atividades agropecuárias. Nas demais atividades, não só o número de peque-
nos empregadores cresceu ligeiramente (em 50 mil), como – e de maior importância –
cresceu em 33% o tamanho dos estabelecimentos, que passaram de empregar em média
4,8 trabalhadores para empregar 6,4 como mostra o Gráfico 3.
Gráfico 3: Evolução do tamanho médio dos pequenos empreendimentos
não agropecuários, Brasil 2001 a 2011
Fonte: Estimativas produzidas pela SAE/PR com base nas PNADs 2001 a 2011.Nota: Consideram-se pequenos empreendimentos aqueles com até 10 empregados.
Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 35
Graças fundamentalmente ao aumento no porte dos pequenos empreendimentos não
agropecuários, 4 milhões de novos postos de trabalho foram gerados no período de 10
anos. Este crescimento acentuado representou 27% de toda a expansão de postos de
trabalho no País no período (15 milhões). A expansão no número de empregados em
pequenos empreendimentos não agropecuários foi mais acelerada que a média nacional
(considerando toda a força de trabalho brasileira), levando a que este segmento aumen-
tasse a sua participação na ocupação de 14% (em 2001) para 16% (em 2011).
Em conjunto, a expansão no número de pequenos empreendedores e nos empregos que
geram resultou em acréscimo de 6 milhões ao total de postos de trabalho disponíveis no
País. Como a expansão total no período foi de 15 milhões, a contribuição do pequeno
empreendedor foi de 39% e, portanto, apenas ligeiramente inferior à sua contribuição
para o estoque de postos de trabalho, equivalente a 40%.
A Tabela 4, seguinte, mostra como os pequenos empreendedores contribuíram para a
geração de novos postos de trabalho no Brasil, detalhando também a contribuição por
tipo de ocupação analisado. Na coluna “Postos de trabalho”, estão indicados o número de
postos em 2001 e em 2011. A coluna “Participação” refere-se à proporção dos diferentes
tipos de ocupação sobre o total da força de trabalho ocupada, também para cada um dos
anos mencionados. A coluna “Variação absoluta” refere-se ao crescimento no número de
postos de 2001 a 2011 por tipo de ocupação. A coluna “Contribuição para a variação”
mostra o quanto – em termos proporcionais – cada tipo de ocupação contribuiu para a
expansão no número total de postos de trabalho no Brasil (no período de 2001 a 2011).
Tabela 4: Contribuição dos pequenos empreendedores para o crescimento do número de postos de trabalho no Brasil, 2001 a 2011
Tipo de ocupação
Postos de trabalho (milhões)
Participação(%) Variação
absoluta (milhões)
Contribuição para a
variação(%)2001 2011 2001 2011
Todos os trabalhadores 76 92 100 100 15 100
Pequenos empreendedorese seus empregados 31 37 40 40 6 39
Pequenos empreendedores 20 22 26 24 2 12
Trabalhadores por conta própria 17 19 22 21 2 13
Pequenos empregadores* 2,8 2,7 4 3 -0,12 -1
36 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média
Tipo de ocupação
Postos de trabalho (milhões)
Participação(%) Variação
absoluta (milhões)
Contribuição para a
variação(%)2001 2011 2001 2011
Setor agropecuário 0,5 0,3 1 0 -0,17 -1
Demais ramos de atividade 2,3 2,4 3 3 0,05 0
Empregados em pequenosempreendimentos** 11 15 14 16 4 27
Fonte: Estimativas produzidas pela SAE/PR com base nas PNADs 2001 e 2011.* Consideram-se pequenos empregadores aqueles com até 10 empregados.** Devido a limitações na fonte de informação utilizada, não foram incluídos os empregados em estabelecimentos agropecuários.
Com relação à contribuição dos pequenos empreendedores para a expansão dos postos
de trabalho nas classes média e alta, esta foi similar àquela verificada no estoque. Na clas-
se média, contribuíram com 5,4 milhões dos 14,6 milhões de novos postos de trabalhos
gerados (37%); na classe alta, contribuíram com 3,8 milhões dos 9,8 milhões de novos
postos de trabalhos gerados (38%), como podemos ver na Tabela 5.
Tabela 5: Expansão do número de postos de trabalho gerados pelos pe-quenos empreendedores como porcentagem do número total de novos postos de trabalho, por classe de renda, Brasil, 2001 a 2011
Tipo de ocupaçãoClasse
Média Alta
Novos postos de trabalho - todos os tipos de relação de trabalho (milhões) 14,6 9,8
Expansão do número de pequenos empreendedores* e seus empregados** (milhões) 5,4 3,8
Novos postos de trabalho gerados pelos pequenos empreendedores como porcentagem do total de postos de trabalho gerados (%) 37 38
Fonte: Estimativas produzidas pela SAE/PR com base nas PNADs 2001 e 2011.* Consideram-se pequenos empreendedores os trabalhadores por conta própria e os empregadores aqueles com até 10 empregados.** Devido a limitações na fonte de informação utilizada, não foram incluídos os empregados em estabelecimentos agropecuários.
No que se refere à expansão dos postos, a parcela correspondente ao número de peque-
nos empreendedores e de empregados também varia por classe de renda, como no caso
do estoque. Dos postos de trabalho diretamente gerados pelo pequeno empreendedoris-
mo na classe média, quase 2/3 (63%) foram preenchidos por empregados; enquanto que
na classe alta pouco mais de 1/3 (39%) dos novos postos foram dirigidos a empregados,
como vemos na Tabela 6.
Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 37
Tabela 6: Expansão do número de postos de trabalho gerados pelos pe-quenos empreendedores, por classe de renda, Brasil 2001 a 2011
Tipo de relação de trabalhoClasse
Média Alta
Expansão do número de pequenos empreendedores e seus empregados (milhões)* 5,4 3,8
Expansão do número de empregados em pequenos empreendimentos (mi-lhões)** 3,4 1,5
Novos empregados em pequenos empreendimentos como porcentagem do total de novos postos de trabalho gerados pelos pequenos empreendedores (%) 63 39
Fonte: Estimativas produzidas pela SAE/PR com base nas PNADs 2001 e 2011.* Consideram-se pequenos empreendedores os trabalhadores por conta própria e os empregadores aqueles com até 10 empregados.** Devido a limitações na fonte de informação utilizada, não foram incluídos os empregados em estabelecimentos agropecuários.
Em suma, para o conjunto das classes de renda, os pequenos empreendedores – que são
responsáveis por gerar 40% dos 92 milhões de postos de trabalho existentes no País –
foram também responsáveis por quase 40% dos novos 15 milhões gerados ao longo da
última década. Esta contribuição, no entanto, deveu-se muito mais ao aumento (33%) no
número de empregados por estabelecimento do que propriamente à expansão no núme-
ro de estabelecimentos.
1.4 Urbanização e formalização
Nos últimos dez anos, enquanto o pequeno empreendedorismo retraiu em atividades
agropecuárias, nas demais atividades ele expandiu. De fato, na agropecuária o número de
pequenos empreendedores (trabalhadores por conta própria e pequenos empregadores)
declinou em 500 mil, enquanto que nas atividades não agropecuárias ocorreu uma ex-
pansão de 2,4 milhão. Como resultado deste descompasso, a porcentagem de pequenos
empreendedores agropecuários declinou de 23% em 2001 para 19% do total de pe-
quenos empreendedores. A mudança foi particularmente acentuada entre os pequenos
empregadores: a porcentagem daqueles em atividades agropecuárias declinou de 17%
para 11%. Em suma, o pequeno empreendedorismo, tal como o restante da economia
brasileira, urbanizou-se.
A urbanização dos pequenos empreendimentos pode ser observada na Tabela 7, a seguir.
38 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média
Tabela 7: Expansão do pequeno empreendedorismo no Brasil, no setor agropecuário e demais setores, 2001 a 2011
Tipo e setor de atividadedo empreendedor
Postos de trabalho (milhões) Participação (%)
Variação absoluta (milhões)
2001 2011 2001 2011
Pequenos empreendedores (pequenos empregadores* e trabalhadores por conta própria)
19,7 21,6 100 100 1,9
Setor agropecuário 4,6 4,1 23 19 -0,5
Demais setores de atividade 15,1 17,5 77 81 2,4
Pequenos empregadores* 2,8 2,7 100 100 -0,1
Setor agropecuário 0,5 0,3 17 11 -0,2
Demais ramos de atividade 2,3 2,4 83 89 0,1
Fonte: Estimativas produzidas pela SAE/PR com base nas PNADs 2001 e 2011.* Consideram-se pequenos empregadores aqueles com até 10 empregados.
O processo de urbanização e saída do setor agropecuário foi também acompanhado por
um intenso avanço da formalização. Enquanto em 2001 apenas 20% dos pequenos em-
preendedores contribuíam para a previdência, dez anos depois (em 2011) esta porcen-
tagem já alcançava 28%, com a quase totalidade deste avanço tendo ocorrido a partir de
2008. Com efeito, podemos ver que, em 2008, o grau de formalização ainda era de 21%.
Gráfico 4: Evolução do grau de formalização entre pequenos empreendedo-
res, Brasil, 2001 a 2011
Fonte: Estimativas produzidas pela SAE/PR com base nas PNADs 2001 a 2011.Nota: Consideram-se pequenos empreendedores aqueles com até 10 empregados, e formais os que contribuem para a previ-dência social.
Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 39
O avanço da formalização ocorre tanto entre os trabalhadores por conta própria, onde o
grau de formalização passou de 15% para 23% entre 2008 e 2011, como entre os peque-
nos empregadores, onde passou de 52% para 63% no mesmo período.
Embora a urbanização tenha contribuído para o avanço da formalização, certamente que
este não foi o único fator. Mesmo entre os empreendedores não agropecuários, o grau
de formalização cresceu de forma acentuada, passando de 24% em 2008 para 31% em
2011. Junto com o crescimento no grau de formalização dos empreendedores não agro-
pecuários, cresceu também o grau de formalização dos seus empregados. Enquanto em
2008 apenas 47% destes empregados tinham carteira de trabalho assinada, três anos
depois (em 2011) a porcentagem com carteira assinada já era de 56%.
A Tabela 8, seguinte, mostra a evolução no grau de formalização entre os diversos tipos
de ocupação gerados pequeno empreendedor (empregador, conta própria e empregado),
tanto em respeito às atividades agropecuárias, como nas demais (não agropecuárias).
Tabela 8: Evolução do grau de formalização dos postos de trabalho gerados pequenos empreendedores brasileiros, 2001, 2008, 2011
Tipo de relação de trabalhoe setor de atividade
Grau de formalização*** (%)
2001 2008 2011
Pequenos empreendedores 20 21 28
Trabalhadores por conta própria 14 15 23
Pequenos empregadores* 54 52 63
Setor agropecuário 6 11 14
Demais setores de atividade 24 24 31
Empregados em pequenos empreendimentos** 44 47 56
Fonte: Estimativas produzidas pela SAE/PR com base nas PNADs 2001, 2008 e 2011.* Consideram-se pequenos empregadores aqueles com até 10 empregados.** Devido a limitações na fonte de informação utilizada, não foram incluídos os empregados em estabelecimentos agropecuários.*** São considerados formais os empreendedores que contribuem para a previdência e os empregados que têm carteira de trabalho assinada.
1.5 Evolução da remuneração dos pequenos empreendedores e seus empregados
a) Remuneração atual
A remuneração média (R$ 1,2 mil por mês) nos postos de trabalho que são gerados dire-
tamente pelos pequenos empreendedores (isto é, aqueles postos que são ocupados por
40 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média
eles mesmos somados aos ocupados pelos empregados que contratam) é muito similar à
média para o conjunto dos trabalhadores brasileiros (R$ 1,3 mil por mês).
Como os pequenos empreendedores são responsáveis pela geração de quase 40 milhões
de postos de trabalho e, em média, a remuneração em cada um destes postos é de R$
1,2 mil por mês, segue que, a cada ano, os pequenos empreendedores brasileiros res-
pondem diretamente por uma massa de remuneração que supera R$ 500 bilhões – o que
representa 39% do volume total de remunerações do País e é superior ao PIB de diversos
países, como o Chile.
* Estimativas produzidas pela SAE/PR com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD), a valores de 2011.** Estimativas produzidas pela SAE/PR com base no World Economic Outlook Database, FMI, Outubro 2012 a valores correntes de 2011.Nota: Valores expressos em US$ de 2011.
A participação dos pequenos empreendedores na geração de renda do trabalho (39%) é
muito próxima à sua participação na geração de postos de trabalho (40%). Isso resulta do
fato de que a remuneração média nos postos de trabalho que geram (R$ 1,2 mil por mês)
é próxima da média nacional (R$ 1,3 mil por mês).
A Tabela 9, a seguir, traz uma comparação entre a contribuição dos pequenos empre-
endedores para a geração de postos de trabalho e a sua contribuição para a massa de
remunerações no Brasil.
Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 41
Tabela 9: Contribuição dos pequenos empreendedores para o número de postos de trabalho para a geração de renda no Brasil, 2011
Indicador Todos ostrabalhadores
Pequenosempreendedores* eseus empregados**
Participação dospequenos
empreendedorese seus empregados (%)
Número de postos de trabalho (milhões) 92 37 40
Remuneração mensal média(R$/mês) 1.255 1.223 -.-
Volume anual de remunerações (R$ bilhões/ano) 1.379 539 39
Fonte: Estimativas produzidas pela SAE/PR com base nas PNADs 2001, 2008 e 2011.* Consideram-se pequenos empreendedores os trabalhadores por conta própria e os empregadores que contrataram até 10 empregados.** Devido a limitações na fonte de informação utilizada, não foram incluídos os empregados em estabelecimentos agropecuários.
1.6 Disparidades na remuneração
a) Pequenos empreendedores versus empregados
Como esperado, a remuneração média de R$ 1,2 mil por mês oculta grandes disparida-
des. Disparidades estas que se verificam particularmente entre os pequenos empreende-
dores e os empregados que contratam. Enquanto a remuneração média dos pequenos
empreendedores é de R$ 1,5 mil por mês, a dos empregados que contratam é de R$
900 por mês. Ou seja, os empregados recebem, em média, 60% do valor recebido pelos
empreendedores.
No entanto, dentre os pequenos empreendedores, alguns trabalham por conta própria
(e, logo, não empregam), outros são empregadores em empreendimentos agropecuários.
Restam neste grupo os empregadores em atividades não agropecuárias que possuem até
10 empregados em seus empreendimentos. E são justamente os empregados deste tipo
de empreendedor que percebem remuneração média de R$ 900 por mês3.1
Nesse sentido, mais importante que observar o diferencial geral de remuneração entre o
conjunto de pequenos empreendedores e empregados em pequenos empreendimentos
é verificar o diferencial na remuneração média dos empregados dos empreendedores que
efetivamente os empregam, os empregadores em pequenos empreendimentos não agro-
3 Por limitações da base utilizada, não pudemos contrastar a remuneração dos empregadores no setor agropecuário com a percebida pelos seus empregados (a PNAD não identifica, no caso dos empregados agropecuários, o número total de empregados nos estabelecimentos onde trabalham, não nos permitindo diferenciar empregados em pequenos ou grandes empreendimentos).
42 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média
pecuários. Neste caso, o diferencial é significativamente maior: os empregados recebem
pouco mais que 25% (R$ 900 por mês) da remuneração percebida pelos empreendedo-
res que os contratam (R$ 3,4 mil por mês).
A Tabela 10, seguinte, compara a remuneração dos empregados em pequenos empre-
endimentos com aquela percebida pelos empreendedores como um todo (incluindo os
conta própria e os pequenos empregadores do setor agropecuário) e também com a
remuneração daqueles empreendedores que efetivamente os contratam, que são os pe-
quenos empregadores não agropecuários.
Tabela 10: Diferenças de remuneração entre pequenos empreendedores e seus empregados, Brasil, 2011
Tipo de relação de trabalho e setorde atividade do empreendedor
Remuneração (R$/mês)
Remuneração dos empregados em pequenos empreendimentos não
agropoecuários como porcentagem da remuneração média do grupo
considerado (%)
Pequenos empreendedores (pequenos empre-gadores* e trabalhadores por conta própria) 1.465 60
Pequenos empregadores em atividades não agropecuárias 3.386 26
Empregados em pequenos empreendimentos não agropecuárias** 883 100
Fonte: Estimativas produzidas pela SAE/PR com base na PNAD 2011.* Consideram-se pequenos empregadores aqueles com até 10 empregados.** Devido a limitações na fonte de informação utilizada, não foram incluídos os empregados em estabelecimentos agropecuários.
b) Disparidades entre os pequenos empreendedores
Existe também grande heterogeneidade dentro do grupo dos empreendedores: (i) a re-
muneração nas atividades agropecuárias (R$ 900 por mês) é pouco mais da metade da
remuneração nas demais atividades (R$ 1,6 mil por mês); (ii) a remuneração nas atividades
informais (R$ 1,0 mil por mês) é pouco mais de 1/3 da remuneração nas atividades formais
(R$ 2,6 mil por mês); e (iii) a remuneração dos trabalhadores por conta própria (R$ 1,2
mil por mês) é próxima de ¼ da remuneração dos maiores dentre os pequenos empre-
gadores (R$ 4,7 mil por mês), que são aqueles que empregam de 6 a 10 trabalhadores.
Essas disparidades podem ser examinadas na Tabela 11, seguinte.
Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 43
Tabela 11: Diferenças de remuneração entre empreendedores, Brasil, 2011
Tipo e setor de atividade do empreendedor Remuneração (R$/mês)
Pequenos empreendedores (pequenos empregadores* e trabalhadores por conta própria) 1.465
Setor agropecuário 891
Demais setores de atividade 1.602
Informal (não contribui para a previdência social) 1.028
Formal (contribui para a previdência social) 2.615
Trabalhadores por conta própria 1.203
Maiores dentre os pequenos empregadores (empregam de 6 a 10 trabalhadores) 4.738
Fonte: Estimativas produzidas pela SAE/PR com base na PNAD 2011.* Consideram-se pequenos empregadores aqueles com até 10 empregados.
b) Disparidades entre empregados
Embora sejam de magnitudes muito inferiores às verificadas entre empreendedores, tam-
bém existem grandes diferenças de remuneração entre os empregados trabalhando em
pequenos empreendimentos. Por exemplo, a remuneração mensal dos empregados sem
carteira de trabalho assinada (R$ 700) é próxima a 2/3 da correspondente remuneração
dos empregados com carteira (R$ 1,0 mil). O hiato entre os segmentos formal e informal
dos empregados em pequenos empreendimentos é certamente bem inferior ao hiato for-
mal/informal verificado entre os pequenos empreendedores. No caso dos empreendedo-
res, a remuneração mensal dos informais (R$ 1,0 mil) é próxima a 1/3 da correspondente
remuneração mensal dos formais (R$ 2,6 mil).
Essas disparidades podem ser vistas na Tabela 12, a seguir.
Tabela 12: Diferenças de remuneração entre os segmentos formal e infor-mal, Brasil, 2011
Segmentos formal e informal Empregados em pequenos empreendimentos*
Pequenosempreendedores**
Todos (Remuneração em R$/mês) 883 1.465
Informal (Remuneração em R$/mês) 691 1.028
Formal*** (Remuneração em R$/mês) 1.035 2.615
Rendimento no setor informal como porcentagem do rendimento no segmento formal (%) 67 39
Fonte: Estimativas produzidas pela SAE/PR com base na PNAD 2011.* Consideram-se pequenos empreendimentos aqueles com até 10 empregados.** Consideram-se pequenos empreendedores todos os trabalhadores por conta própria e os empregadores com até 10 empregados.*** Consideram-se formais os empreendedores que contribuem para a previdência social e os seus empregados com carteira de trabalho.
44 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média
Assim, embora – tanto entre os pequenos empreendedores como entre seus empregados
– existam diferenças marcantes de remuneração nos segmentos formal e informal, estas
diferenças tendem a ser muito maiores no caso dos empreendedores que no caso dos
empregados. Este é apenas um aspecto do maior grau de desigualdade entre pequenos
empreendedores que entre empregados.
1.7 Crescimento das remunerações ao longo da década
De 2001 a 2011, a remuneração por trabalhador no País cresceu em média 2,2% ao ano.
Este crescimento, entretanto, não foi monotônico, isto é, sempre crescente ao longo do
período. Ao contrário, é o resultado líquido de dois subperíodos com tendências opostas.
A remuneração do trabalho declinou de forma acentuada (-5,0% ao ano) entre 2001 e
2003, para a partir daí passar a crescer de forma acelerada (4,0% ao ano), como mostra
o Gráfico 5, seguinte.
Gráfico 5: Evolução da remuneração dos trabalhadores, Brasil, 2001 a 2011
Fonte: Estimativas produzidas pela SAE/PR com base nas PNADs 2001 a 2011.
Da mesma forma que para o conjunto dos trabalhadores brasileiros, também dentre os
postos de trabalho de responsabilidade direta dos pequenos empreendedores (aqueles
ocupados por eles mesmos e aqueles ocupados pelos empregados em seus empreen-
dimentos) ocorreu crescimento significativo nas remunerações. A taxa de crescimento,
entretanto, embora significativa (1,4% ao ano) ficou abaixo da média para o conjunto dos
trabalhadores (2,2% ao ano), como mostra a Tabela 13.
Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 45
Devido a uma taxa de crescimento das remunerações abaixo da média, a contribuição
dos pequenos empreendedores para o aumento na massa de remunerações, de 32%,
foi inferior à sua contribuição para a massa total (estoque) de remunerações, de 39%.
Mesmo assim, a contribuição dos empreendedores foi bastante significativa, representan-
do um acréscimo próximo a R$ 150 bilhões ao ano no volume total de remunerações.
Novamente, veja Tabela 13.
Tabela 13: Contribuição dos pequenos empreendedores para o crescimento do volume anual de remunerações dos trabalhadores brasileiros, 2001 a 2011
Indicador Todos ostrabalhadores
Pequenosempreendedores*
e seusempregados**
Participação dos pequenos empreendedores e seus
empregados (%)
Número de postos de trabalho (milhões) 92 37 40
Crescimento, entre 2001 e 2011, no número de postos de trabalho (milhões)
15 6 39
Taxa média anual de crescimento, entre 2001 e 2011,na remuneração mensalpor trabalhador (% ao ano)
2,2 1,4 -.-
Volume anual de remunerações em 2011 (R$ bilhões/ano) 1.379 539 39
Crescimento, entre 2001 e 2011, do volume anual deremunerações (R$ bilhões/ano)
452 145 32
Fonte: Estimativas produzidas pela SAE/PR com base na PNAD 2011.* Consideram-se pequenos empreendedores os trabalhadores por conta própria e os empregadores com até 10 empregados.** Devido a limitações na fonte de informação utilizada, não foram incluídos os empregados em estabelecimentos agropecuários.
a) Crescimento das remunerações com redução nas desigualdades
Para que haja diminuição das desigualdades de renda, é necessário que a renda dos mais
pobres cresça mais rápido (a taxas maiores) que a renda dos mais ricos. Ou seja, para atin-
gir a igualdade de renda, é necessário um crescimento desigual entre as rendas (que seja
favorável àqueles com menores rendas). Uma das características marcantes do processo
de crescimento nas remunerações ao longo da última década tem sido a sua natureza
equitativa.
No que se refere ao pequeno empreendedorismo, o crescimento nas remunerações não
tem beneficiado de forma igual todos os tipos de postos de trabalho diretamente gerados
46 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média
por este segmento. Efetivamente, este crescimento não igualitário das remunerações tem
beneficiado muito mais aqueles com menor remuneração do que os grupos com remune-
ração bem acima da média. Ou seja, quem detinha inicialmente os menores rendimentos
foi quem mais viu sua remuneração crescer. Em outras palavras, nos postos gerados pelos
pequenos empreendedores, o crescimento da remuneração do trabalho foi acompanha-
do pela diminuição das desigualdades de renda.
b) Empreendedores versus empregados
Pelo caráter equitativo do crescimento na remuneração do trabalho observado nos últi-
mos dez anos, aqueles que trabalham como empregados em pequenos empreendimentos
(que recebem menores remunerações) têm se beneficiado muito mais que aqueles que
são, em última instância, os responsáveis por gerarem os postos de trabalho, os pequenos
empreendedores (que recebem maiores remunerações). De fato, enquanto a remunera-
ção dos empregados em pequenos empreendimentos não agropecuários cresceu 2,3%
ao ano (acima da média nacional), dentre os pequenos empreendedores, a taxa de cres-
cimento foi de 1,4% ao ano ao ano e, dentre os empreendedores não agropecuários, de
1,0% (abaixo da média nacional em ambos os casos), como mostra o Gráfico 6, a seguir.
Gráfico 6: Taxa anual média de crescimento da remuneração por trabalha-
dor entre 2001 e 2011, diferenciais entre pequenos empreendedores e seus
empregados no Brasil
Fonte: Estimativas produzidas pela SAE /PR com base nas PNADS 2001 e 2011.Nota: Consideram-se pequenos empreendedores os trabalhadores por conta própria e os empregadores com até 10 empregados.
Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 47
c) Disparidades em crescimento entre pequenos empreendedores
Dentre os pequenos empreendedores, também o processo de crescimento foi equitativo,
com a remuneração crescendo muito mais entre os trabalhadores por conta própria, que ti-
picamente percebem menores remunerações, que dentre os pequenos empregadores, que
recebem maiores remunerações. Enquanto a remuneração dos trabalhadores por conta
própria tem seguido a média para o conjunto dos trabalhadores (média de 2,2% ao ano ao
longo da última década), o crescimento da remuneração dos empregadores tem sido muito
mais lento (média de 0,6% ao ano ao longo da última década), como mostra o Gráfico 7.
Gráfico 7: Taxa anual média de crescimento da remuneração dos empre-
endedores entre 2001 e 2011, diferenciais entre conta própria e pequenos
empregadores no Brasil
Fonte: Estimativas produzidas pela SAE /PR com base nas PNADS 2001 e 2011.Nota: Consideram-se pequenos empreendedores os trabalhadores por conta própria e os empregadores com até 10 empregados.
A queda na desigualdade também levou a reduções nos diferenciais entre: i) atividades
agropecuárias e as demais atividades, e ii) entre trabalhadores formais e informais. No
caso das atividades agropecuárias e não agropecuárias, o histórico diferencial de remu-
neração declinou de forma acentuada, haja vista que a remuneração dos pequenos em-
preendedores agropecuários cresceu, em média, 2,3% ao ano e, portanto, bem acima
da média para todos os pequenos empreendedores (1,4% ao ano), ao passo que, entre
os (pequenos) empreendedores não agropecuários, a taxa de crescimento média anual
limitou-se a 1,0%, conforme mostra o Gráfico 8, a seguir.
48 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média
Gráfico 8: Taxa anual média de crescimento da remuneração dos empre-
endedores entre 2001 e 2011, diferenciais entre os setores agropecuário e
demais setores no Brasil
Fonte: Estimativas produzidas pela SAE /PR com base nas PNADS 2001 e 2011.Nota: Consideram-se pequenos empreendedores os trabalhadores por conta própria e os empregadores com até 10 empregados
d) Disparidades entre os segmentos formal e informal
Similarmente, também declinaram os diferenciais entre trabalhadores formais e informais,
tanto entre os pequenos empreendedores como entre seus empregados.
Entre os pequenos empreendedores a diferença foi extremamente marcante. Na última
década, enquanto a remuneração entre os informais crescia 1,7% ao ano, entre os for-
mais ocorria um declínio de 1,1% ao ano nas remunerações. Vale ressaltar, porém, que
esta diferença se deve muito mais à acelerada formalização que marcou o período do que
propriamente à adversidade de condições econômicas enfrentadas pelo segmento formal.
Como, no período analisado, muitos pequenos empreendedores com baixa remuneração
se formalizaram, a adesão destes novos formais levou a uma queda na remuneração média
do conjunto dos empreendedores formais. Em outras palavras, a queda na remuneração
média dos empreendedores formais se deveu muito mais a uma mudança na composição do
grupo (que abriu as portas para segmentos com remuneração mais baixa) que propriamente
por uma queda na remuneração daqueles que já pertenciam ao grupo. Uma evidência que
corrobora esta hipótese é o fato de que o volume total de remunerações cresceu em 35%
na década, enquanto a remuneração média declinou em 10% (ou em 1,0% ao ano).
Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 49
As disparidades entre pequenos empreendedores formais vs. informais podem ser vistas na
Tabela 14, seguinte.
Tabela 14: Crescimento da ocupação e remuneração dos empreendedores por segmento, Brasil, 2001 a 2011
Indicador 2001 2011 Taxa média anual de crescimento (%)
Pequenos empreendedores* (milhões) 19,8 21,6 0,9
Segmento formal (milhões) 3,9 6,0 4,2
Segmento informal (milhões) 15,8 15,7 -0,1
Remuneração média dos pequenos empreendimentos (R$/mês) 1.276 1.465 1,4
Segmento formal (milhões) 2.906 2.615 -1,0
Segmento informal (milhões) 872 1.028 1,7
Volume de remunerações dos pequenos empreendimentos (R$ bilhões/ano) 305 380 2,3
Segmento formal (milhões) 138 187 3,1
Segmento informal (milhões) 165 193 1,6
Fonte: Estimativas produzidas pela SAE/PR com base na PNAD 2011.* Consideram-se pequenos empreendedores os trabalhadores por conta própria e os empregadores que contratam até 10 empregados.
Também entre os empregados em pequenos empreendimentos não agropecuários o di-
ferencial entre formal e informal foi reduzido. Assim, embora a remuneração dos em-
pregados com carteira permaneça 50% superior à dos sem carteira, de 2001 a 2011, o
crescimento na remuneração dos empregados informais (2,0% ao ano em média) foi mais
acentuado que o dos formais (1,7% ao ano), como mostra o Gráfico 9, a seguir.
50 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média
Gráfico 9: Taxa anual média de crescimento da remuneração dos emprega-
dos em pequenos empreendimentos entre 2001 e 2011, diferenciais entre os
segmentos formal e informal no Brasil
Fonte: Estimativas produzidas pela SAE /PR com base nas PNADS 2001 e 2011.Notas:1- Condideram-se pequenos empreendimentos aqueles com até 10 empregados.2 - Consideram-se formais aqueles empregados que possuem carteira de trabalho assinada. 3 - Devido a limitação na fonte de informação utilizada, não foram incluídos os empregados em estabelecimentos agropecuários.
e) Crescimento na ocupação e na remuneração
A evidência dos últimos dez anos também revela – em todos os segmentos onde a geração
de postos de trabalho era responsabilidade dos empreendedores – uma significativa relação
inversa entre expansão na ocupação e aumento na remuneração.
Como mostra o Gráfico 10, foi nos segmentos que se retraíram, como o agropecuário e o
informal, que o crescimento na remuneração foi maior. Nos segmentos formais e não agro-
pecuários, o crescimento acentuado no número de pequenos empreendedores foi acompa-
nhado por um crescimento muito mais lento na remuneração, até com reduções em um dos
casos (empreendedor formal). Daí resulta evidência de que a expansão do empreendedo-
rismo em atividades não agropecuárias e formais resultou provavelmente muito mais de um
ambiente institucional facilitador do que propriamente de maior atratividade do ambiente
econômico nestes segmentos.
Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 51
Gráfico 10: Relação entre a taxa de crescimento da remuneração e a ex-
pansão do número de pequenos empreendedores por segmento e setor de
atividade, Brasil, 2001 a 2011
Fonte: Estimativas produzidas pela SAE /PR com base nas PNADS 2001 e 2011.Nota: Consideram-se pequenos empreendimentos aqueles com até 10 empregados, e formais os que contribuem para a previ-dência social.
Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 53
2. A distribuição de renda dos pequenos empreendedores: o futuro da classe média nesse grupo ocupacional
Crescimento econômico e mudanças na parcela da renda total apropriada
por cada pessoa são dois fenômenos que transformam a distribuição de
renda da sociedade. Uma boa estratégia para estudar tais transformações,
por sua simplicidade e transparência, consiste em dividir a população em
classes de renda e acompanhar o que aconteceu nos últimos dez anos com
o tamanho relativo desses grupos. Os cadernos Vozes da Nova Classe Média
vêm adotando tal estratégia de análise, desde sua primeira edição, e consi-
dera três classes de renda distintas entre a população brasileira:
a) Classe baixa: pessoas em domicílios com renda per capita inferior a
R$291 por mês;
b) Classe média: pessoas em domicílios com renda per capita entre R$291
e R$1.019 por mês;
c) Classe alta: pessoas em domicílios com renda per capita superior a
R$1.019 por mês
54 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média
Conceitualmente, o que aconteceria com o tamanho relativo das classes de renda durante
o processo de enriquecimento da sociedade? Imaginemos um país pobre (com renda total
baixa) em que a maioria da população pertence à classe baixa, algumas pessoas já fazem
parte de uma classe média emergente e pouquíssimos compõem a classe alta. Nesse
exemplo, suponhamos que o país deixe de ser pobre, ganhe o status de “em desenvolvi-
mento” (de renda mediana), e, com isso, passe a concentrar a maioria da população na
classe média. Poucas pessoas pertenceriam às classes baixa ou alta. Isto é, o enriqueci-
mento do país teria dado um empurrão com força suficiente para levar muita gente que
estava na classe baixa para a classe média, conforme ilustra o Gráfico 1.
Gráfico 1: Crescimento econômico e mobilidade da classe baixa para a média
Porcentagem
da população
Classe baixa Classe média Classe alta Níveis de renda da sociedade
Digamos que o país passe por um novo ciclo de enriquecimento e que agora o empurrão
leve a população concentrada na classe média para a classe alta. Poucos ficariam nas clas-
ses baixa ou média, conforme ilustra o Gráfico 2.
Gráfico 2: Crescimento econômico e mobilidade da classe média para a alta
Porcentagem
da população
Classe baixa Classe média Classe alta Níveis de renda da sociedade
Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 55
Portanto, não é verdade que o processo de crescimento e desenvolvimento de um país
sempre aumente o tamanho da classe média. Afinal, dependendo do estágio em que já
se encontra a sociedade, tais processos podem diminuir o tamanho da classe média, ao
empurrar pessoas para a classe alta!
Esse processo é válido tanto para transformações na distribuição de renda da sociedade,
como também para análises que envolvam grupos específicos da sociedade. Dado que
esta edição do caderno é dedicada aos pequenos empreendedores, apresentamos, na
presente seção, uma avaliação da distribuição de renda desse grupo. Em termos gerais, a
avaliação oferece ao leitor uma foto atual do percentual de pequenos empreendedores
em cada uma das três classes de renda (baixa, média e alta) e também uma descrição de
como o tamanho relativo das classes variou na última década.
O grupo dos pequenos empreendedores, por sua vez, pode ser subdividido em outras
categorias, tais como trabalhadores por conta própria e empregadores, contribuintes ou
não para a previdência (formais ou informais), ocupados em postos agropecuários ou não
agropecuários. A seção também apresenta informações relativas a tais subcategorias. Para
enriquecer a análise, ilustra, ao final, a situação do grupo dos empregados em pequenos
empreendimentos não agropecuários, de modo a oferecer ao leitor uma ideia das condi-
ções de vida do grupo contratado pelos empreendedores.
Antes de passarmos aos dados propriamente, vale, mais uma vez, enfatizar que as trans-
formações na distribuição de renda afetam o tamanho da classe média, dependendo do
estágio de desenvolvimento em que se encontra a sociedade ou o grupo analisado. Por
essa razão, iniciamos o capítulo aprofundando tal discussão conceitual. Dividimos o pro-
cesso de enriquecimento de uma sociedade ou grupo em oito etapas. A ideia é que pos-
samos identificar em que estágio (ou etapa) se encontra cada um dos grupos de pequenos
empreendedores analisados, o que permitirá tecer conjecturas sobre o tamanho futuro da
classe média e das demais classes.
2. 1. Etapas do processo de expansão do tamanho da classe média
Para avaliar as transformações ocorridas na distribuição de renda brasileira, completamos
com maior riqueza de detalhes a descrição das etapas do processo de expansão (e pos-
terior retração) do tamanho da classe média, levando em consideração dois fatores. Em
56 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média
primeiro lugar, em todo o processo de crescimento econômico, a classe baixa se contrai
e a alta se expande. Porém, o impacto sobre o tamanho da classe média não é óbvio,
uma vez que nela podem entrar ou sair pessoas. O efeito final dependerá se as entradas
superam ou não as saídas. Além disso, embora o crescimento econômico empurre cada
vez mais pessoas para uma classe mais alta, alternam-se momentos de concentração da
população em uma das classes e posterior espalhamento. Por exemplo, a cada rodada
de crescimento, mais pessoas movem-se para a classe média, fazendo com que a classe
baixa concentre cada vez menos gente. Também há mobilidade da classe média para a
classe alta. Dependendo da intensidade desses movimentos, a classe média pode passar a
concentrar a maioria da população. Até que ocorra o ápice de tamanho da classe média,
haverá dispersão das pessoas entre as classes.
As etapas descritas na sequência obedecem a essa lógica, que combina movimentos de
entrada e saída na classe média e concentração/desconcentração da população em uma das
classes. Conceitualmente, o processo de crescimento pode prosseguir por oito etapas:
i) Digamos que, em um primeiro momento, a sociedade seja muito pobre. A
maioria da população pertenceria à classe baixa, uma pequena parcela à clas-
se média e outra parcela, em geral, menor ainda, pertenceria à classe alta.
ii) Na medida em que a renda da sociedade cresce, a classe baixa fica menor e
a classe alta, maior. Já o tamanho da classe média dependerá de quantas pes-
soas entraram e saíram. Quando entram mais pessoas na classe média do que
saem, há redução no tamanho da classe baixa mais intensa do que expansão
da classe alta. Esse processo segue, então, com redução no tamanho da classe
baixa até que ela não concentre mais a grande maioria da população. De fato,
o ponto final da segunda etapa é aquele em que nenhuma das classes detém
a maioria da população (mais de 50%), mas a classe baixa continua a ser a
maior e a classe alta, a menor.
iii) Com mais uma rodada de crescimento econômico, prossegue a redução da
classe baixa e a expansão da classe média. Na terceira etapa, tantas pessoas
teriam migrado da classe baixa para a média, que o tamanho da classe média
ultrapassaria o da classe baixa. A classe baixa permaneceria maior do que a
alta e, embora a classe média tenha se transformado na maior entre as três,
ainda não concentraria a maioria da população.
Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 57
iv) A quarta etapa é aquela em que o processo de crescimento empurra novas
pessoas da classe baixa para a média até que a maioria da população final-
mente passe a pertencer à classe média. Como nas etapas anteriores, a classe
média continuaria a crescer, uma vez que a expansão da classe alta ainda é
menor que a contração da classe baixa.
v) Na quinta etapa, começam a ganhar destaque os movimentos na ponta su-
perior da distribuição de renda. Qualquer novo crescimento deste ponto em
diante traz um aumento da classe alta em extensão maior do que a redução
da classe baixa. Isso significa que haveria mais pessoas saindo do que entrando
na classe média, o que marca o início da contração da classe média.
vi) A sexta etapa engloba todas as contrações da classe média, até que ela deixe
de concentrar a maioria da população. Nesse momento, a menor das classes
é a baixa e a classe média possui tamanho intermediário.
vii) A penúltima etapa é aquela em que o declínio da classe média foi tal que a
classe alta se torna a maior entre as três.
viii) Por fim, com a continuidade do processo de crescimento, a maior parte da
população passaria a integrar a classe alta e a classe baixa manteria o status de
a menor entre as três.
Enfim, a classe média começa a reduzir de tamanho quando há mais gente saindo (para
a classe alta) do que entrando (vindo da classe baixa) e, a partir desse momento, a classe
alta vai se tornando maior do que a baixa. Portanto, em algum momento do processo de
crescimento, a classe média alcança um tamanho máximo.
O tamanho máximo atingido pela classe média dependerá, por sua vez, do tamanho das
classes baixa e alta nesse momento (o que equivale a dizer que dependerá do grau de
desigualdade de renda vigente na sociedade). Em uma sociedade com baixo grau de de-
sigualdade, há poucos ricos e pobres. Nesse caso, a classe alta começará a se expandir
apenas quando a classe baixa praticamente já não existir mais. Quando a desigualdade é
pequena, em sociedades com renda mediana, a classe média poderá concentrar até 2/3
da população.
58 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média
Já quando o grau de desigualdade é elevado, a classe alta começa a se expandir mesmo quan-
do a classe baixa ainda é significativa. Assim, em sociedades de renda mediana e alto grau
de desigualdade, o ápice da classe média pode concentrar menos da metade da população.
Em qual dessas oito etapas se encontra uma dada sociedade dependerá do nível de renda
da mesma e de seu grau de desigualdade. Maiores níveis de renda fazem com que a classe
baixa seja pequena e a classe alta, grande. Já quanto maior o grau de desigualdade, maiores
serão as classes baixa e alta e menor será a classe média.
Na próxima seção, ao invés de olhar para a distribuição de renda da sociedade brasileira
como um todo, vamos analisar a distribuição de renda de alguns grupos específicos de
ocupação, a saber, os pequenos empreendedores e seus empregados. Buscaremos iden-
tificar o tamanho relativo das três classes (baixa, média e alta) dentro de cada grupo de
ocupação, nos valendo desse marco conceitual do desenvolvimento em oito etapas.
2.2. A distribuição de renda entre os pequenos empreendedores
Atualmente quase metade (49%) dos pequenos empreendedores pertence à classe mé-
dia, 30% à classe alta e 21%, à classe baixa, o que faz o grupo bastante heterogêneo.
Ao longo da última década, houve expansão da classe média em 8 pontos percentuais
(passou de 41% para 49% dos pequenos empreendedores), embora a classe baixa tenha
se contraído 18 pontos percentuais (passou de 39% para 21% dos empreendedores).
Portanto, a expansão da classe média entre os pequenos empreendedores poderia ter
sido ainda mais acentuada. Só não o foi porque a classe alta também se expandiu signifi-
cativamente (10 pontos percentuais, passando de 20% dos empreendedores para 30%).
Tabela 1: Percentual de empreendedores por classe de renda
Classes de renda 2001 2011 Variação (p.p.)
Pequenos empreendedores*
Alta 20 30 10
Média 41 49 8
Baixa 39 21 -18
Fonte: Estimativas produzidas pela SAE/PR com base nas PNADs 2001 e 2011.* Consideram-se pequenos empreendedores os trabalhadores por conta própria e os empregadores que contratam até 10 empregados.
Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 59
Nesse período, a classe alta já se expandia mais do que a classe média. A classe média atu-
almente está estabilizada em seu ápice. Podemos dizer que a distribuição de renda entre
os empreendedores está iniciando a sexta das oito etapas descritas na seção anterior, eta-
pa esta marcada por duas características: (i) a classe média é a maior dentre as três sem,
no entanto, deter a maioria da população e (ii) a tendência é que a expansão das classes
fique restrita à classe alta.
2.3. Desagregando a distribuição de renda entre pequenos em-preendedores: conta própria versus empregadores
Boa parte da heterogeneidade que existe na distribuição de renda dos pequenos empreen-
dedores vem da convivência de trabalhadores por conta própria e pequenos empregadores.
Mais da metade dos trabalhadores por conta própria (51%) está na classe média e os
demais se dividem em grupos de praticamente igual tamanho: 23% pertencem à classe
baixa e 26% à classe alta. Já entre os pequenos empregadores, quase 2/3 dos trabalha-
dores (65%) estão na classe alta. A classe média responde por 32% dos empregadores e
está em declínio.
Tabela 2: Percentual de pequenos empreendedores por classe de renda
Classes de renda 2001 2011 Variação (p.p.)
Conta própria
Alta 15 26 11
Média 42 51 9
Baixa 44 23 -20
Pequenos empregadores*
Alta 52 65 13
Média 38 32 -6
Baixa 10 4 -4
Fonte: Estimativas produzidas pela SAE/PR com base nas PNADs 2001 e 2011.* Consideram-se pequenos empregadores aqueles com até 10 empregados.
Analisando historicamente a distribuição de renda dos trabalhadores por conta própria, a
classe média cresceu 9 pontos percentuais (de 42% para 51%). Resultado de uma con-
60 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média
tração de 20 pontos percentuais na classe baixa (reduziu seu tamanho à metade, passando
de 44% para 23%) mitigada por um aumento de 11 pontos percentuais na classe alta (que
passou de 15% para 26%). A expansão da classe alta na última década já foi mais acentuada
do que a da classe média e essa distribuição encontra-se no início da quinta dentre as oito
etapas descritas: o tamanho da classe média alcança seu ápice e a contração da classe baixa
será menor do que a expansão da classe alta, o que reduzirá o tamanho da classe média.
Já a distribuição de renda dos pequenos empregadores encontra-se em um estágio muito
mais avançado e experimenta o oitavo degrau do processo de desenvolvimento da distri-
buição de renda, em que a maioria dos trabalhadores pertence à classe alta e há sucessiva
retração da classe média. De fato, ela reduziu de tamanho em 6 pontos percentuais e hoje
abarca 32% dos empregadores. Há uma diminuta (4%) classe baixa remanescente. Vale
ressaltar que, devido à elevada heterogeneidade interna no grupo de pequenos empre-
gadores, a classe média nunca chegou a representar mais do que 40% dos trabalhadores,
nem mesmo em seu ápice, no ano de 2004.
2.4. Desagregando a distribuição de renda entre os pequenos em-preendedores: atividades agropecuárias versus não agropecuárias
Para os pequenos empreendedores envolvidos em atividades agropecuárias, a classe mé-
dia ainda responde por menos da metade (44%) dos ocupados e encontra-se em amplo
processo de expansão. De fato, em dez anos, cresceu 15 pontos percentuais (de 29%
para 44%), movimento este acompanhado de substancial contração da classe baixa (23
pontos percentuais) contrabalanceada por uma pequena expansão da classe alta (8 pontos
percentuais), o que os coloca na terceira etapa do processo descrito anteriormente. Nes-
sa etapa, a classe média, a despeito de ser o grupo mais numeroso, ainda não é maioria
(classe baixa detém 41% dos trabalhadores e alta, 15%) e continua a crescer, dado que a
velocidade de retração da classe baixa é superior à velocidade de expansão da classe alta.
Para os ocupados em atividades não agropecuárias, a classe média cresceu, em dez anos,
apenas 5 pontos percentuais, mas congrega metade dos pequenos empreendedores. Na
verdade, há indícios de que a expansão da classe média nesse grupo já tenha alcançado o
ápice. A contração da classe baixa, que ainda detém 16% do grupo, é um pouco inferior
à expansão da classe alta (com 34% dos trabalhadores), o que mantém razoavelmente
estagnado o tamanho da classe média (cresceu apenas 5 pontos percentuais). Essa é uma
Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 61
distribuição na quinta etapa do processo: a maioria da população ainda se encontra na
classe média, que começará a se retrair. A expansão da classe alta se tornará mais acele-
rada do que a redução da classe baixa.
Tabela 3: Percentual de pequenos empreendedores ocupados em ativida-des agropecuárias e não agropecuárias por classe de renda
Classes de renda 2001 2011 Variação (p.p.)
Agropecuário
Alta 7 15 8
Média 29 44 15
Baixa 64 41 -23
Não agropecuário
Alta 24 34 10
Média 45 50 5
Baixa 31 16 -15
Fonte: Estimativas produzidas pela SAE/PR com base nas PNADs 2001 e 2011.Nota: Consideram-se pequenos empreendedores os trabalhadores por conta própria e os empregadores que contratam até 10 empregados.
2.5. Desagregando a distribuição de renda entre pequenos empre-endedores: atividades formais versus informais
Talvez seja na questão da formalidade que a gigantesca heterogeneidade dos pequenos em-
preendedores melhor se revele. Os empreendedores formais são aqueles que contribuem
para a previdência e os informais, os que não contribuem.
Enquanto 53% dos pequenos empreendedores formais já pertencem à classe alta, para os
informais, a classe alta inclui somente 22% dos trabalhadores. No outro extremo, a classe
baixa engloba apenas 6% dos pequenos empreendedores formais e 26% dos informais.
Consequentemente, a classe média é maior entre os pequenos empreendedores informais
(52% informais versus 41% formais).
Ao longo da última década, a distribuição dos pequenos empreendedores formais nas três
classes de renda se alterou pouco. A classe baixa, que já era diminuta, declinou 3 pontos
percentuais adicionais, enquanto que a classe média, em lento declínio, passou de 42%
para 41% do total de trabalhadores no grupo. O resultado foi uma pequena expansão de
4 pontos percentuais na classe alta. Essa distribuição de renda encontra-se claramente no
62 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média
último dos oito estágios de desenvolvimento, quando a classe alta é maioria e somente ela
se expande graças a contrações nas demais classes.
Ao contrário da estabilidade entre os formais, nos últimos dez anos, a distribuição dos
pequenos empreendedores informais se alterou bruscamente. A classe baixa, que era qua-
se majoritária (46%), caiu 20 pontos percentuais e em 2011 tinha quase metade de seu
tamanho inicial. A classe alta se expandiu em 9 pontos percentuais (passou de 13% para
22%). Como resultado líquido de uma contração da classe baixa muito mais acentuada do
que a expansão da classe alta, vimos a classe média crescer significativamente. De fato, a
classe média em 2011 abarcava a maioria (52%) dos pequenos empreendedores informais,
resultado de uma substancial expansão de 11 pontos percentuais ao longo da década (de
41% em 2001 a 52% em 2011). Uma vez que o grau de desigualdade entre os pequenos
empreendedores informais não é muito alto (tanto a classe alta como a baixa detém cada
uma aproximadamente 25% dos trabalhadores), a classe baixa continuará a se contrair
mais rapidamente do que se expande a classe alta. Com isso, a tendência da classe média
nesse grupo é continuar crescendo. Trata-se de uma distribuição encerrando a quarta das
oito etapas que caracterizam o processo de desenvolvimento analisado. Essa etapa é mar-
cada por uma classe média que inclui a maioria dos trabalhadores e continua a se expandir.
Neste momento a classe baixa ainda é maior do que a classe alta.
Tabela 4: Percentual de pequenos empreendedores formais e informais por clas-se de renda
Classes de renda 2001 2011 Variação (p.p.)
Formais*
Alta 49 53 4
Média 42 41 -1
Baixa 9 6 -3
Informais
Alta 13 22 9
Média 41 52 11
Baixa 46 26 -20
Fonte: Estimativas produzidas pela SAE/PR com base nas PNADs 2001 e 2011.Nota: Consideram-se pequenos empreendedores os trabalhadores por conta própria e os empregadores que contratam até 10 empregados.* Consideram-se formais os empreendedores que contribuem para a previdência social.
Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 63
2.5. Empregados em pequenos empreendimentos não agropecuários
Ao contrário dos pequenos empreendedores – para os quais a classe média não chega a
representar a maioria (49%) – entre os empregados em pequenos empreendimentos não
agrícolas, a classe média engloba 63% dos trabalhadores.
Na última década, muitos desses empregados passaram a pertencer à classe média, que
cresceu 11 pontos percentuais (foi de 51% para 63%). Resultado este de uma substancial
contração da classe baixa em 19 pontos percentuais (que passou de 36% em 2001 a 17%
em 2011), contrabalanceada por expansão da classe alta em 8 pontos percentuais (que foi
de 12% dos trabalhadores para 20%).
Tabela 5: Percentual de empregados formais e informais e, pequenos em-preendimentos por classe de renda
Classes de renda 2001 2011 Variação (p.p.)
Empregados em pequenos empreendimentos*
Alta 12 20 8
Média 51 63 11
Baixa 36 17 -19
Formais**
Alta 16 24 8
Média 59 66 7
Baixa 25 10 -15
Informais
Alta 9 10 1
Média 46 59 14
Baixa 45 31 -14
Fonte: Estimativas produzidas pela SAE/PR com base nas PNADs 2001 e 2011.* Devido a limitações na fonte de informação utilizada, não foram incluídos os empregados em estabelecimentos agropecuários.**Consideram-se formais os empregados com carteira de trabalho.
Para o grupo dos empregados em pequenos empreendimentos não agropecuários, a ex-
pectativa para os próximos anos é que essas migrações entre as classes sigam o mesmo
padrão (classe baixa se contrai mais do que se expande a classe alta) e a classe média, que
já é extensa, continue a crescer. Essa é uma distribuição de renda passando pela quarta
das oito etapas descritas.
64 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média
O grupo dos empregados em pequenos empreendimentos analisado nessa seção pode
ainda ser desagregado em duas categorias: formais (aqueles trabalhadores com carteira
de trabalho assinada) e os informais (sem carteira de trabalho assinada). Embora a desi-
gualdade no grupo, de uma maneira geral, não seja muito alta, há diferenças significativas
entre as duas categorias.
A classe média é muito maior (7 pontos percentuais) entre os empregados formais (66%
contra 59%) e tal diferença deve-se à importância da classe baixa em cada categoria (10%
entre os formais e 31% entre os informais). Consequentemente, a classe alta é maior para
os empregados formais (24% contra 10%).
Conforme esperado, os empregados formais têm melhor distribuição de renda compara-
tivamente aos informais: menor participação da classe baixa e maiores participações das
classes média e alta.
Na última década, diminuíram as diferenças de tamanho da classe média entre emprega-
dos formais e informais em pequenos empreendimentos (em 2001, a diferença era de 14
pontos percentuais e em 2011, 7 pontos percentuais). Mas as diferenças de tamanho da
classe alta aumentaram (em 2001, a diferença era de 7 pontos percentuais e em 2011,
igual a 14 pontos percentuais).
Considerações finais
De uma maneira geral, vimos que, para os pequenos empreendedores, a classe média é a
maior de todas (comparada com as classes alta e baixa) e tende a reduzir seu tamanho nos
próximos anos, ao mesmo tempo em que a classe alta deverá experimentar uma expansão.
A análise apresentada nesta seção permitiu olhar no interior do grupo de pequenos empre-
endedores, reconhecendo as nuances e identificando subgrupos em posição de vantagem
e outros em desvantagem. Dois subgrupos, embora estejam em uma etapa do processo de
desenvolvimento anterior à média dos pequenos empreendedores, repetem a tendência
do grupo de retração da classe média nos próximos anos: os trabalhadores por conta pró-
pria e os ocupados em atividades não agropecuárias.
Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 65
Tabela 6: Síntese da etapa em que se encontra cada distribuição
Grupos Etapa Previsão para o futuro da classe média
Todos os pequenosempreendedores* 6a É a maior, mas não tem a maioria. Tendência é diminuir.
Conta própria 5a É a maior, tem a maioria. Tendência é diminuir.
Empregadores 8a Não é a maior. Classe alta é a maior. Tendência é classe média diminuir e alta aumentar.
Agropecuário 3a É a maior, mas não tem maioria. Tendência é aumentar.
Não agropecuário 5a É a maior, tem quase a maioria. Tendência é diminuir.
Formais 8a Não é a maior. Classe alta é a maior. Tendência é classe média diminuir e alta aumentar.
Informais 4a É a maior, tem a maioria. Tendência é aumentar.
Empregados em pequenosempreendimentos** 4a É a maior, tem a maioria. Tendência é aumentar.
Fonte: Previsões produzidas pela SAE/PR com base nas PNADs 2001 e 2011.* Consideram-se pequenos empreendedores os trabalhadores por conta própria e os empregadores que contratam até 10 empregados.**Devido a limitações na fonte de informação utilizada, não foram incluídos os empregados em estabelecimentos agropecuários.
Os demais subgrupos podem ser agrupados ou em posição de vantagem ou de desvan-
tagem quando comparados com a média dos pequenos empreendedores. Os pequenos
empregadores e empreendedores formais passam hoje pela última etapa do processo de
desenvolvimento e, neles, a classe média já não cresce mais, apenas a classe alta.
Já os ocupados em atividades agropecuárias e os pequenos empreendedores informais
se destacam negativamente, sendo que os agropecuários são o subgrupo no estágio mais
baixo do processo de desenvolvimento da distribuição de renda (3ª etapa). Para ambos,
a tendência nos próximos anos é de aumento da classe média. Vale notar que esses dois
grupos estão no mesmo estágio em que atualmente se encontram os empregados em
pequenos empreendimentos não agropecuários, que também devem passar por nova
expansão da classe média.
Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 67
3.Faces: pequenosempreendedores e seus empregados
Os pequenos empreendedores já pertencem majoritariamente à classe
média ou alta. A tendência para os próximos anos é que cada vez mais os
pequenos empreendedores deixem a classe média e ingressem na classe
alta. De fato, entre eles, a classe média deverá se retrair.
Contudo há grande heterogeneidade no grupo. Os formais e, principal-
mente, os pequenos empregadores são os mais privilegiados. Por outro
lado, para os pequenos empreendedores em atividades agropecuárias ain-
da há grande concentração de pessoas na classe baixa, situação mais precá-
ria do que a dos pequenos empreendedores informais e até mesmo que a
dos empregados em pequenos empreendimentos não agropecuários.
Mas quem são os pequenos empreendedores em melhor situação? E aque-
les menos privilegiados? Nesta seção, exploraremos as dicotomias clássicas
homens vs. mulheres e brancos vs. negros. Além disso, verificaremos como
se distribui a população segundo a idade e o nível educacional nas dife-
rentes ocupações. Foram consideradas três grandes categorias ocupacio-
nais: empregador com até 10 empregados (doravante chamado pequeno
empregador), trabalhadores por conta própria (que se incluem no grupo
dos pequenos empreendedores) e empregado em empresa com até 10
empregados (doravante chamados empregados em pequenos empreendi-
mentos). Cada uma delas, por sua vez, foi desagregada em subcategorias
que combinam a formalização e se a atividade é ou não agropecuária.
68 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média
Com isso, esperamos identificar se entre os grupos mais pobres há maior prevalência de
trabalhadores do sexo feminino ou de negros. É de se esperar que tais grupos, tipicamente
menos privilegiados, estejam sobrerrepresentados entre os mais pobres. Da mesma for-
ma, avaliamos, para cada categoria ocupacional, a distribuição dos trabalhadores segundo
a idade e o nível de escolaridade, o que nos permite saber, por exemplo, para quais grupos
há sobrerrepresentação dos mais jovens, idosos ou dos menos escolarizados. Como os
jovens e os menos escolarizados têm tradicionalmente ocupações mais precárias, é de se
esperar que estejam concentrados entre os ocupados em atividades agropecuárias ou até
mesmo entre os empregados.
Duas estratégias de investigação foram adotadas. A primeira considera para cada catego-
ria ocupacional uma espécie de “detector” de trabalhadores do sexo feminino (subseção
2) ou de trabalhadores negros (subseção 3) em cada uma das três classes de renda (baixa,
média e alta). A ideia é identificar se as mulheres e trabalhadores negros aparecem ou não
com maior frequência entre as classes mais baixas.
A segunda estratégia de investigação nos permite saber em que categorias ocupacionais há
maior prevalência de jovens e em quais há mais trabalhadores idosos (tema da subseção
3). Além disso, analisamos em quais categorias ocupacionais há mais trabalhadores com
baixa escolaridade e quais são as dominadas pelos altamente escolarizados (subseção 4).
Assim, caso as categorias ocupacionais menos privilegiadas ou as classes mais baixas te-
nham uma face bem definida, esperamos que esse capítulo ajude a revelá-la e, com isso,
contribua para o redesenho de ações especialmente voltadas para a melhoria das condi-
ções de trabalho e de vida dos grupos mais vulneráveis.
3.1. Homens versus Mulheres
Para analisar a dicotomia homens vs. mulheres com respeito às diferentes posições na
ocupação, produzimos a tabela 1, seguinte, que traz a proporção de homens e mulheres
por tipo de ocupação analisada, bem como a relação entre o número de homens e o de
mulheres por tipo de ocupação e classe de renda.
Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 69
Tabela 1: Proporção de homens e mulheres por tipo de ocupação e relação homem/mulher por ocupação e por classe de renda, Brasil, 2011
Tipo de ocupação% Razão entre homens e mulheres
Total Homens Mulheres Todas as classes
Classe baixa
Classe média
Classe alta
Total dos trabalhadores 100 58 42 1,4 1,7 1,3 1,2
Pequenos empregadores*
Formais, em atividade não agropecuária 100 68 32 2,1 3,6 2,8 1,9
Informais, em ativida-de não agropecuária 100 70 30 2,4 7,7 2,9 2,0
Formais, em atividade agropecuária 100 87 13 6,6 - 5,5 6,8
Informais, em ativida-de agropecuária 100 89 11 8,1 14,0 6,3 9,5
Empregados em pequenos empreendimentos**
Formais, em atividade não agropecuária 100 56 44 1,3 3,0 1,3 1,0
Informais, em ativida-de não agropecuária 100 67 33 2,0 3,2 1,9 1,3
Conta própria
Formais, em atividade não agropecuária 100 67 33 2,1 3,5 2,1 2,0
Informais, em ativida-de não agropecuária 100 64 36 1,8 2,0 1,8 1,6
Formais, em atividade agropecuária 100 85 15 5,8 6,3 5,3 6,6
Informais, em ativida-de agropecuária 100 82 18 4,7 4,7 4,8 4,2
Fonte: Estimativas produzidas pela SAE/PR com base na PNAD 2011.* Consideram-se pequenos empregadores aqueles com até 10 empregados.** Devido a limitações na fonte de informação utilizada, não foram incluídos os empregados em estabelecimentos agropecuários.
Como podemos ver pela Tabela 1, para o total dos trabalhadores ocupados em todas
as classes, a relação é de 1,4. Isso quer dizer que o número de trabalhadores homens
ocupados é 1,4 vezes o número de trabalhadores mulheres ocupadas, isto é, o número
de trabalhadores ocupados do sexo masculino é 40% superior ao do sexo feminino. Exa-
minando este mesmo universo pelas diversas classes de renda, verificamos que a relação
entre o número de homens e o número de mulheres é sempre maior do que 1 – o que
significa que o número de homens ocupados é sempre superior ao número de mulheres
ocupadas. Vale notar, porém, que a relação diminui conforme se caminha da classe baixa
para a classe alta (1,7; 1,3; 1,2). Ou seja, quanto mais alta a classe de renda, menor é o
predomínio de homens.
70 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média
Os pequenos empregadores (que ocupam a melhor posição em termos das chances de se
pertencer às classes de renda mais elevadas) são predominantemente do sexo masculino.
Nas atividades desenvolvidas por conta própria, ainda que com menor intensidade que
entre os empregadores, os homens também são predominantes. Passando aos emprega-
dos em pequenos empreendimentos, percebemos que neste segmento, o número de ho-
mens em relação ao de mulheres é bem mais equilibrado, especialmente no setor formal.
Fato que chama atenção é que nas atividades não agropecuárias – em qualquer tipo de
ocupação analisado – a relação homens/mulheres é monotônica e favorável às mulheres
com respeito à classe de renda, isto é, conforme se caminha da classe baixa, passando
pela classe média, em direção à classe alta, o predomínio de homens em relação ao de
mulheres sempre diminui. Enquanto nas atividades agropecuárias o mesmo não ocorre:
o predomínio de homens é maior na classe baixa, diminui na classe média, mas aumenta
novamente na classe alta.
Outro fato curioso é que, entre os pequenos empregadores e seus empregados, o predo-
mínio de homens é sempre maior no setor informal; ao passo que entre os trabalhadores
por conta própria ocorre exatamente o contrário, o predomínio de homens no setor
informal é menor.
3.2. Brancos versus Negros
Para analisar a dicotomia brancos vs. negros, construímos a Tabela 2, que mostra a pro-
porção de brancos e negros em cada tipo de ocupação analisado e também a relação en-
tre o número de trabalhadores brancos e o número de trabalhadores negros por tipo de
ocupação e classe de renda. Ao tomarmos o universo total de trabalhadores ocupados em
todas as classes, temos que a relação é igual a 1. Isso significa que o número de trabalhado-
res ocupados brancos é igual ao número de trabalhadores ocupados negros. Se houvesse
igualdade racial, esta relação deveria ser a mesma em qualquer ocupação e em qualquer
classe de renda analisada. Mas, como veremos, apesar de todo avanço social recente, a
igualdade racial ainda é um resultado a ser perseguido.
Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 71
Tabela 2: Proporção de brancos e negros por tipo de ocupação e relação brancos/negros por ocupação e por classe de renda, Brasil, 2011
Tipo de ocupação% Razão entre brancos e negros
Total Branco Negros Todas as classes
Classe baixa
Classe média
Classe alta
Total dos trabalhadores 100 50 50 1,0 0,4 0,9 2,2
Pequenos empregadores*
Formais, em atividade não agropecuária 100 75 25 3,0 1,3 2,0 3,7
Informais, em atividade não agropecuária 100 59 41 1,4 0,6 1,0 1,9
Formais, em atividade agropecuária 100 82 18 4,5 0,2 2,2 8,7
Informais, em atividade agropecuária 100 59 41 1,4 0,4 1,0 2,9
Empregados em pequenos empreendimentos**
Formais, em atividade não agropecuária 100 55 45 1,2 0,6 1,1 2,5
Informais, em atividade não agropecuária 100 42 58 0,7 0,4 0,7 1,7
Conta própria
Formais, em atividade não agropecuária 100 65 35 1,8 0,9 1,3 2,7
Informais, em atividade não agropecuária 100 45 55 0,8 0,4 0,7 1,7
Formais, em atividade agropecuária 100 67 33 2,1 0,6 2,6 3,9
Informais, em atividade agropecuária 100 42 58 0,7 0,4 1,0 2,7
Fonte: Estimativas produzidas pela SAE/PR com base na PNAD 2011.* Consideram-se pequenos empregadores aqueles com até 10 empregados.** Devido a limitações na fonte de informação utilizada, não foram incluídos os empregados em estabelecimentos agropecuários.
Se com respeito à dicotomia homens vs. mulheres, caminhar da classe baixa em direção à
classe alta produzia um contexto favorável às mulheres, o mesmo não ocorre em relação
a brancos e negros. Quando olhamos o universo de todos os trabalhadores, temos que,
na classe baixa, os negros são predominantes e, na classe alta, os brancos predominam.
Este mesmo caminho desfavorável aos negros ocorre em todos os tipos de ocupação
analisadas.
Os brancos são mais frequentes nas ocupações de renda tipicamente mais elevada: pe-
quenos empregadores e trabalhadores por conta própria formalizados. Os brancos tam-
bém parecem conseguir melhores postos de trabalho quando exercem a ocupação de
empregados em pequenos empreendimentos, pois são maioria naqueles formais e tam-
72 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média
bém nas classes de renda mais elevadas. Aliás, em qualquer tipo de ocupação analisado,
há uma clara presença maior de negros quando se passa do segmento formal ao informal
e que termina por refletir na posição que os negros tipicamente ocupam nas classes de
renda, porquanto as remunerações percebidas no setor formal são bastante superiores
àquelas percebidas no informal (conforme ilustrado na Seção 1).
3.3. Idade
Para vermos quais são as atividades tipicamente ocupadas por jovens (população que tem
entre 15 a 29 anos), aquelas predominantemente ocupadas por adultos (30 a 59 anos) e
por idosos (60 anos e mais), construímos a Tabela 3, que mostra a distribuição da popula-
ção por faixa de idade de acordo com os diferentes tipos de ocupação.
Tabela 3: Distribuição da população por faixa de idade de acordo com dife-rentes tipos de ocupação, Brasil, 2011
Tipo de ocupaçãoFaixa etária
Todas as idades 15 a 29 anos 30 a 59 anos 60 anos e mais
Total dos trabalhadores 100 31 62 7
Pequenos empregadores*
Formais, em atividade não agrope-cuária 100 11 81 8
Informais, em atividade não agrope-cuária 100 15 73 11
Formais, em atividade agropecuária 100 1 72 27
Informais, em atividade agropecuária 100 5 56 39
Empregados em pequenos empreendimentos**
Formais, em atividade não agrope-cuária 100 45 53 2
Informais, em atividade não agrope-cuária 100 53 44 3
Conta própria
Formais, em atividade não agrope-cuária 100 10 81 9
Informais, em atividade não agrope-cuária 100 19 68 12
Formais, em atividade agropecuária 100 7 80 13
Informais, em atividade agropecuária 100 12 64 24
Fonte: Estimativas produzidas pela SAE/PR com base na PNAD 2011.* Consideram-se pequenos empregadores aqueles com até 10 empregados.** Devido a limitações na fonte de informação utilizada, não foram incluídos os empregados em estabelecimentos agropecuários.
Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 73
Como podemos ver na linha referente ao conjunto de trabalhadores ocupados, a popula-
ção jovem corresponde a 31%, a adulta a 62% e a dos idosos a 7%. Podemos considerar
que há predomínio de uma faixa etária em um dado tipo de ocupação se a proporção
daquela faixa de idade naquele dado tipo de ocupação for superior à proporção daquela
determinada faixa entre os trabalhadores ocupados como um todo. Por exemplo: os adul-
tos correspondem a 62% do total da força de trabalho ocupada, contudo correspondem
a 81% do total de pequenos empregadores formais em atividades não agropecuárias.
Consideramos, portanto, que os adultos são predominantes neste tipo de atividade.
Aliás, ao analisarmos o universo dos pequenos empregadores, vemos que esta é uma
atividade tipicamente ocupada por adultos. Com exceção dos informais em atividades
agropecuárias, em que há forte peso da população idosa. Os jovens aparecem relativa-
mente pouco entre os pequenos empregadores, sendo especialmente raros nas atividades
agropecuárias.
Os adultos aparecem muito fortemente nas atividades por conta própria. Os idosos tam-
bém. A proporção de ambas as faixas nestas atividades é bastante superior àquela obser-
vada para as mesmas faixas entre os trabalhadores como um todo. Os jovens têm pouca
participação neste tipo de atividade e, quando participam, são mais relevantes no setor
informal.
A única atividade predominantemente ocupada pelos jovens refere-se aos empregados
em pequenos empreendimentos, quer sejam formais ou informais. Os adultos, embora
sejam relevantes neste segmento, estão em proporção muito inferior àquela que exibem
entre os trabalhadores ocupados com um todo. Os idosos têm participação extremamen-
te reduzida neste tipo de ocupação.
No que diz respeito à informalidade, enquanto os adultos predominam no setor formal,
os jovens e os idosos são mais predominantes no setor informal. Isso é verdade em qual-
quer tipo de ocupação analisado.
3.4. Nível educacional
Para vermos como a população com diferentes níveis de educação está distribuída
pelos tipos de ocupação analisados, construímos a Tabela 4, seguinte.
74 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média
Tabela 4: Distribuição da população por nível educacional de acordo com diferentes tipos de ocupação, Brasil, 2011
Tipo de ocupação
Nível Educacional
Todos os níveis
Ensinofundamental incompleto
Ensino fundamental
completo
Ensinomédio
incompleto
Ensino médio
completo
Alguma educação superior
Total dos trabalhadores 100 36 11 6 29 18
Pequenos empregadores*
Formais, em ativida-de não agropecuária 100 10 10 4 35 35
Informais, em ativida-de não agropecuária 100 13 13 6 32 21
Formais, em ativida-de agropecuária 100 15 15 3 24 21
Informais, em ativida-de agropecuária 100 9 9 4 18 8
Empregados em pequenos empreendimentos**
Formais, em ativida-de não agropecuária 100 20 12 8 43 17
Informais, em ativida-de não agropecuária 100 42 14 11 25 8
Conta própria
Formais, em ativida-de não agropecuária 100 27 12 5 32 24
Informais, em ativida-de não agropecuária 100 47 13 6 24 9
Formais, em ativida-de agropecuária 100 69 12 3 12 5
Informais, em ativida-de agropecuária 100 82 7 2 7 1
Fonte: Estimativas produzidas pela SAE/PR com base na PNAD 2011.* Consideram-se pequenos empregadores aqueles com até 10 empregados.** Devido a limitações na fonte de informação utilizada, não foram incluídos os empregados em estabelecimentos agropecuários.
Como podemos ver pela linha referente ao total de trabalhadores ocupados, ainda há
considerável proporção de trabalhadores com níveis educacionais muito baixos: 11%
com fundamental completo e 36% com fundamental incompleto. Em contraste com 29%
detendo ensino médio completo e 18% alguma educação superior. Seria de se esperar
que os níveis educacionais mais altos estivessem sempre predominantes nas melhores
ocupações, notadamente a de pequeno empregador. Mas veremos que isso nem sempre
ocorre.
Da mesma forma que fizemos com respeito à idade, iremos examinar se algum nível
educacional predomina em determinada atividade contrastando a proporção que aquele
nível de educação representa no total dos trabalhadores ocupados com a proporção que
Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 75
ele representa em um dado tipo de ocupação. Por exemplo, os trabalhadores com algu-
ma educação superior representam 18% da população de trabalhadores ocupados, mas
representam 35% dos pequenos empregadores. Consideramos, portanto, que este nível
educacional predomina neste tipo de atividade.
Ainda no âmbito dos pequenos empregadores, percebemos um forte contraste entre a
realidade agro e não agropecuária. Se nas atividades não agropecuárias são predominantes
os níveis de educação mais altos (médio e superior), nas agropecuárias são mais frequen-
tes os níveis mais baixos (fundamental).
Mas isso não significa que nas atividades agropecuárias a educação não seja importante.
Quer seja entre os empregadores, quer seja entre os trabalhadores por conta própria,
nos segmentos formais há prevalência de níveis de educação mais altos. E é justamente
o segmento formal que encontra as melhores posições com respeito à classe de renda.
Nas atividades não agropecuárias, há um forte contraste entre os trabalhadores por conta
própria formais e os informais. Entre os formais, predominam níveis de educação mais
elevados (ensino médio e superior), enquanto entre os informais notam-se mais os menos
elevados (fundamental). O mesmo ocorre com os empregados em pequenos empreendi-
mentos: no setor formal predominam os níveis educacionais mais elevados; no informal,
os mais baixos.
Síntese
Dentre os diversos tipos de ocupação analisados – pequenos empregadores, empregados
em pequenos empreendimentos e trabalhadores por conta própria –, o primeiro tipo é o
que se encontra mais bem posicionado em termos de classe de renda, com predomínio
de sua população na classe alta. Em seguida aparecem os trabalhadores por conta própria
formais em atividades não agropecuárias – na frente dos empregados formais.
No entanto, a ocupação de pequeno empregador ainda é fortemente marcada pelas di-
cotomias homens vs. mulheres, brancos vs. negros, sendo esta segunda mais marcante.
Também pudemos ver que a idade influencia muito a posição na ocupação, com predo-
mínio dos jovens entre os empregados em pequenos empreendimentos e dos adultos e
76 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média
idosos entre os pequenos empregadores e trabalhadores por conta própria. No entanto,
idosos e jovens estão mais próximos quando se toma em conta a (in)formalidade: enquan-
to jovens e idosos predominam no setor informal, adultos são mais predominantes no
formal.
Finalmente, com respeito a nível educacional, aqueles mais elevados são tipicamente pre-
dominantes nas atividades que se encontram em melhores posições em termos de renda.
Há que se ressaltar, porém, que no quesito educação a dicotomia atividades agropecuárias
vs. não agropecuárias é ainda bastante presente – com a predominância de níveis de edu-
cação mais baixos mesmo entre os pequenos empregadores.
Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 79
4.Opinião: O queatrapalha e o queajudaria osempreendedoresbrasileirosNesta seção buscamos conhecer os fatores que limitam o progresso do
empreendedorismo no País segundo os próprios empreendedores. Os fa-
tores examinados são velhos conhecidos: condições mercadológicas des-
favoráveis, elevada carga tributária, baixa formação profissional, pouca as-
sistência, medo da fiscalização etc. No entanto, o peso que cada um destes
fatores impõe ao desempenho do negócio varia substancialmente. Alguns
deles, inclusive, parecem não afligir tanto os empreendedores quanto ima-
ginaria o senso comum.
Além disso, também se esperaria que os fatores que angustiam os empre-
endedores na classe baixa não fossem os mesmos que angustiam os que
estão na classe alta. De fato, não são. E onde ficam os empreendedores
que fazem parte da classe média? Mais próximos daqueles que pertencem
à classe baixa ou dos que pertencem à alta? Quem considera mais árduo o
exercício de empreender?
Usamos bases de dados disponibilizadas pelo Instituto de Pesquisa Eco-
nômica Aplicada (IPEA), referentes ao Sistema de Indicadores de Percep-
ção Social (SIPS), nas análises a seguir. Por ausência de referência sobre
o número de empregados contratados, não foi possível fazer o recorte
80 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média
dos pequenos empreendedores nesta seção. Por conseguinte, todas as investigações aqui
apresentadas referem-se ao conjunto total de empreendedores no País.
4.1. Comercialização
Dentre todos os grupos de trabalhadores, sem sombra de dúvida, são os empreendedo-
res aqueles cuja remuneração guarda relação mais próxima com a situação dos mercados.
Em última instancia, a função dos empreendedores é comprar insumos, transformá-los
em produto e vender estes produtos. Assim, com vistas a tornar possível e lucrativa sua
função produtiva - de transformar insumos em produtos - os empreendedores operam
comprando insumos ao menor preço que conseguem encontrar e vendendo seus produ-
tos ao maior preço possível. Isto é, quanto mais baixo o preço de compra e maior o de
venda (termos de troca mais favoráveis), maior será a sua lucratividade.
Sobrevivência, solvência, lucratividade, remuneração e condições de vida dos empreen-
dedores dependem, portanto, das condições dos mercados em que operam e de seu
poder de barganha nestes mercados. Do ponto de vista do empreendedor, o ideal seria
poder contar com excesso de oferta no mercado de insumos (abundância de vendedores
e, daí, baixo preço de compra) e excesso de demanda no mercado de produto (abundân-
cia de compradores e, daí, alto preço de venda).
As informações disponíveis sobre a percepção dos empreendedores confirmam a centra-
lidade da sua preocupação com a sua inserção nos mercados e as condições nestes mer-
cados. Cerca de ¼ (23%) dos empreendedores entrevistados - ao serem questionados
sobre a situação de seu trabalho - ressaltam em primeiro lugar dificuldades relacionadas
aos mercados em que operam, incluindo: (i) falta de acesso, (ii) baixo de poder de barga-
nha, (iii) concorrência muito acirrada e (iv) instabilidade da demanda.
A vulnerabilidade, no entanto, não é homogênea ao longo das classes de renda. A vulnerabi-
lidade a situações adversas dos mercados de insumos e produtos tende a ser mais alta entre
os empreendedores nas classes baixa e média do que entre aqueles na classe alta. Nenhuma
diferença significativa existe entre os empreendedores nas classes baixa e média.
Essa diferença entre classes é evidente também quando se contrastam as percepções
dos empreendedores em diferentes classes quanto à sua capacidade de negociar preços
Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 81
com fornecedores, à adequação dos preços da produção, ao número maior de clientes
e menor concorrência como um fator importante para promover maior lucratividade e,
finalmente, quanto ao número e à diversidade da clientela.
Em todos os casos mencionados acima, a posição dos empreendedores na classe baixa é
bem mais sensível às condições do mercado do que a dos que estão na classe alta. A posi-
ção dos empreendedores da classe média é sempre intermediária. Por exemplo, enquan-
to que mais da metade (56%) dos empreendedores pertencentes à classe alta declara ter
capacidade de negociar preços com os fornecedores, 20% acreditam que conseguem
efetivamente estabelecer preços que lhes garantem boa margem de lucro e 35% decla-
ram que ter mais clientes e menos concorrentes seria importante para promover maior
lucratividade. Dentre os pertencentes à classe baixa pouco mais de 1/3 (38%) acreditam
que têm capacidade de negociar preços, apenas 11% acreditam que vendem seus produ-
tos a bons preços e mais da metade acredita que ter mais clientes e menos concorrentes
é o caminho para uma maior lucratividade.
A importância que os empreendedores dão ao acesso aos mercados pode também ser
vista pelo interesse por melhores condições para transporte, armazenagem e venda da
produção. 8% dos empreendedores declaram ser este o principal fator que permitiria
melhorar o desempenho de seu empreendimento. A preocupação com o acesso aos
mercados fica também evidente quando verificamos que 1/3 declaram que ou se associa-
ram ou gostariam de se associar a cooperativas e sindicatos com o objetivo de conseguir
melhores termos nas compras de insumos e vendas de produtos, conseguir mais clientes
e reduzir a concorrência desleal.
A Tabela 1, seguinte, resume as opiniões relatadas com respeito a fatores relacionados à
comercialização.
82 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média
Tabela 1: Percepção do empreendedor sobre a importância de sua inserção no mercado e das condições do mercado para o desempenho de seu em-preendimento, por classe de renda, Brasil, 2010
Indicador TotalClasse
Baixa Média Alta
Percebe a situação atual do trabalho como uma onde (i) falta aces-so a mercados, (ii) tem baixo de poder de barganha, (iii) encontra concorrência muito acirrada e (iv) enfrenta grande instabilidade na demanda por seu produto
23 25 24 19
Não tem poder discricionário sobre as principais decisões relacionadas a seu próprio negócio 5 5 5 4
Sente-se explorado por fornecedores e clientes 1 1 0 0
Tem muitos concorrentes e disputam poucos clientes 10 10 10 8
A demanda é sazonal e daí a renda é muito instável 8 8 8 6
Possuem grande capacidade de negociar preços com fornece-dores 47 38 45 56
Consideram que vendem suas mercadorias a um bom preço e daí conseguem uma boa margem de lucro 16 11 16 21
Consideram que menos concorrentes/mais clientes poderiam melhor sua lucratividade 43 53 42 35
Consideram que melhores condições para transporte e armaze-nagem ou local mais adequado para a venda poderiam melhorar seu desempenho
8 6 8 8
Consideram que vender produtos em melhores condições é motivo para se associar a sindicato, cooperativa ou associação 33 32 30 36
Comprar matérias-primas e/ou mercadorias em melhores condições 7 7 6 8
Vender produtos e/ou serviços em melhores condições 3 2 3 4
Conseguir mais clientes 9 9 7 9
Reduzir a concorrência desleal 2 2 3 2
Facilitar o acesso ao crédito 11 12 10 12
Fonte: Estimativas produzidas pela SAE/PR com base no Sistema de Indicadores de Percepção Social (SIPS/IPEA), Trabalho (1a edição), 2010.Nota: Consideram-se empreendedores todos os trabalhadores por conta própria e os empregadores.
4.2. Disponibilidade de instalações e equipamentos e acesso a crédito
A produtividade e a rentabilidade de um empreendimento estão relacionadas à disponi-
bilidade tanto de capital físico (máquinas, equipamentos e instalações) como de capital de
giro. Quanto mais fácil o acesso ao mercado de crédito e mais barato o crédito, menor
a possibilidade de limitações à lucratividade por falta de capital de giro ou pela falta de
máquinas, equipamentos e instalações adequadas.
Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 83
Por esse motivo, 12% dos empreendedores declaram ter interesse em se associar com
vistas a facilitar o acesso a crédito, 10% acreditam que o principal fator que prejudica o
desempenho de seu empreendimento em relação aos demais é não contar com os equi-
pamentos mais adequados e a pouca capacidade de obter crédito, e 14% veem numa
maior facilidade de obter crédito o principal fator que permitiria melhorar o desempenho
de seu empreendimento.
Dado que o acesso a crédito via de regra requer colateral (bens que são usados como
garantia), não é surpresa encontrar que os empreendedores na classe baixa têm menos
instalações e equipamentos do que aqueles nas classe média e alta. De fato, enquanto
35% dos empreendedores na classe alta têm equipamentos e instalações próprias com
valor superior a R$5 mil, na classe baixa, menos da metade desta porcentagem (16%)
encontram-se nesta situação. Por conseguinte, segue que a porcentagem dos empreende-
dores na classe baixa que acreditam que a falta de equipamentos adequados e de acesso
a crédito são os principais fatores que limitam o desempenho de seu empreendimento
é muito maior que entre os empreendedores na classe alta (12% na classe baixa contra
7% na alta).
A Tabela 2, seguinte, resume as opiniões relatadas com respeito a fatores relacionados à
disponibilidade de instalações e equipamentos e acesso a crédito.
Tabela 2: Percepção do empreendedor sobre a importância da disponibi-lidade de crédito e equipamentos adequados para o desempenho de seu negócio por classe de renda, Brasil, 2010
Indicador TotalClasse
Baixa Média Alta
Consideram que ter facilidade no acesso ao crédito é motivo para se associar a sindicato, cooperativa ou associação 11 12 10 12
Consideram que não ter acesso ao crédito ou equipamentos adequados é o principal motivo que prejudica seu desempenho 10 12 11 7
Consideram que ter maior facilidade para conseguir crédito é o principal fator para melhorar o desempenho do seu empreen-dimento
14 15 14 14
Utilizam, para desenvolver suas atividades, instalações ou equi-pamentos próprios com valor acima de R$ 5 mil 24 16 20 35
Fonte: Estimativas produzidas pela SAE/PR com base no Sistema de Indicadores de Percepção Social (SIPS/IPEA), Trabalho (1a edição), 2010.Nota: Consideram-se empreendedores todos os trabalhadores por conta própria e os empregadores.
84 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média
4.3. Formação profissional e assistência técnica e em gestão
Em princípio, a falta de formação profissional e em gestão e a falta de assistência técnica,
jurídica e contábil podem ser fatores que restringem de maneira importante a produtivi-
dade e a lucratividade dos empreendimentos. É surpreendente, porém, verificar que ape-
nas 2% dos empreendedores veem sua limitada formação profissional como o principal
fator que limita seu desempenho em relação aos concorrentes e que apenas 3% veem
na busca por melhor capacidade de gestão ou assistência técnica, jurídica ou contábil um
importante fator para melhorar seu desempenho.
Existem três possíveis interpretações para essa, ao menos aparente, falta de demanda por
formação profissional. Ou os empreendedores brasileiros já detêm toda formação pro-
fissional e assistência técnica que necessitam; ou, embora ainda não detenham, acreditam
que já detêm; ou, embora ainda precisem de formação e assistência técnica, não acredi-
tam que os serviços disponíveis são adequados às suas necessidades.
Dada a clara insuficiência na formação profissional dos empreendedores brasileiros face
ao enorme esforço de ampliar a oferta, melhorar a qualidade e a adequação dos serviços
de formação e assistência técnica, o mais provável é que a aparente baixa demanda por
estes serviços resulte da falta de informação dos empreendedores sobre a sua importân-
cia para a produtividade e a lucratividade de seus empreendimentos.
A Tabela 3, seguinte, resume as opiniões relatadas com respeito a fatores relacionados a
formação profissional e assistência técnica e em gestão.
Tabela 3: Percepção do empreendedor sobre a importância da formação profissional e assistência técnica para o desempenho de seu negócio, por classe de renda, Brasil, 2010
Indicador TotalClasse
Baixa Média Alta
Consideram que ter menor qualificação limita seu desempenho em relação aos demais concorrentes 2 2 2 1
Consideram que ter maior capacidade de gestão ou assistência técnica, jurídica ou contábil poderia melhorar o desempenho de seu empreendimento
3 3 3 3
Fonte: Estimativas produzidas pela SAE/PR com base no Sistema de Indicadores de Percepção Social (SIPS/IPEA), Trabalho (1a edição), 2010.Nota: Consideram-se empreendedores todos os trabalhadores por conta própria e os empregadores.
Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 85
4.4. Fiscalização, regulamentação e taxação
Impostos elevam os custos de produção e reduzem a receita líquida. Não surpreende,
portanto, que os empreendedores considerem reduções em impostos e taxas um fator
que melhoraria o desempenho de seus empreendimentos. Dos empreendedores entre-
vistados, 13% consideram este o principal fator.
A preocupação com impostos, no entanto, difere entre as classes de renda. É muito mais
acentuada entre os empreendedores na classe alta (22%) que entre aqueles na classe
baixa (6%). Uma provável razão é que sobre os empreendedores na classe baixa incidem
menores alíquotas efetivas, quer seja pelas desonerações e incentivos aos pequenos em-
preendedores, quer seja pelo maior grau de informalidade neste grupo.
Para os empreendedores, em particular para os micro e pequenos, os impostos e outras
taxações não são a única intervenção do Estado que preocupa e influencia a sua lucrati-
vidade. Em princípio, são também de relevância a burocracia necessária à formalização
do negócio e as exigências legais ao seu funcionamento. Embora exista a impressão de
que tais exigências possam estar sufocando os empreendedores nacionais, apenas uma
fração muito pequena vê nestes fatores um grande impedimento ao desempenho de seu
empreendimento. De fato, apenas 5% declaram que menos burocracia para formalizar o
negócio é o principal fator que impede uma maior lucratividade. Na mesma linha, temos
que apenas 7% dos empreendedores buscam o associativismo como forma de cumprir
exigências legais para o funcionamento do seu negócio.
O desempenho de um empreendimento, além de depender das exigências legais, depen-
de também do rigor com que estas regras serão fiscalizadas e exigidas. A despeito da im-
pressão geral de que existe grande incerteza jurídica no ambiente de negócios brasileiro,
esta incerteza parece afligir pouco os pequenos empreendedores. Apenas 4% declaram
que a principal característica de seu trabalho é ter que enfrentar cotidianamente proble-
mas com a fiscalização; apenas 2% buscam o associativismo como mecanismo para resol-
ver problemas com a fiscalização; e apenas 3% acham que problemas com a fiscalização
são o principal fator limitante ao desempenho de seu empreendimento.
Em suma, os empreendedores brasileiros se queixam muito mais dos impostos que têm
que pagar do que propriamente das exigências legais que têm que cumprir para abrir e
operar um negócio ou da forma como estas exigências são verificadas. É possível, contu-
86 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média
do, que a falta de preocupação com estas questões reflita muito mais a importância e a
influência das condições dos mercados do que propriamente a desnecessidade de melhor
adequação às exigências legais e a ausência de receios quanto à fiscalização.
A Tabela 4, seguinte, resume as opiniões relatadas com respeito a fatores relacionados a
fiscalização, regulamentação e taxação.
Tabela 4: Percepção do empreendedor sobre a importância da taxação, re-gulamentação e fiscalização sobre o desempenho de seu negócio, por classe de renda
Indicador TotalClasse
Baixa Média Alta
Consideram que reduções em impostos e taxas poderiam me-lhorar seu desempenho. 13 6 12 22
Consideram que menos burocracia poderia melhorar o desem-penho do seu negócio 5 6 5 4
Consideram que cumprir exigências legais para funcionamento é motivo para se associar a sindicato, cooperativa ou associação. 7 5 8 8
Consideram que ter que enfrentar cotidianamente problemas com a fiscalização é a principal característica de seu trabalho. 4 4 4 6
Consideram que resolver problemas com a fiscalização e/ou regularização do negócio é motivo para se associar a sindicato, cooperativa ou associação.
2 2 2 2
Consideram que menos problemas com a fiscalização poderiam melhorar sua lucratividade 3 2 3 3
Fonte: Estimativas produzidas pela SAE/PR com base no Sistema de Indicadores de Percepção Social (SIPS/IPEA), Trabalho (1a edição), 2010.Nota: Consideram-se empreendedores todos os trabalhadores por conta própria e os empregadores.
4.5. Meritocracia e esforço
O empreendedorismo tem duas características marcantes. Por um lado, é marcado pela
incerteza: seja devido a flutuações na disponibilidade de clientes e, daí, no volume de ven-
das e no preço de venda negociado; seja na própria produção, por influência de condições
ambientais favoráveis ou desfavoráveis ou pela variação de outros fatores que afetam a
produção (como falta de energia ou defeitos nos equipamentos utilizados).
Por outro lado, o empreendedorismo é marcado pelo trabalho árduo, com longas jorna-
das de trabalho e poucas oportunidades para férias e descanso semanal. Quase 1/3 (29%)
dos empreendedores veem o trabalho árduo (entendido como a falta de controle sobre
Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 87
a jornada de trabalho e a falta de oportunidade para descansar ou tirar férias) como a
principal característica do seu trabalho. Esta caracterização é significativamente mais im-
portante entre os empreendedores na classe alta (32%) que na classe baixa (26%).
Boa parte dos empreendedores, no entanto, não consideram que esse trabalho árduo es-
teja sendo devidamente recompensado. De fato, 11% consideram que trabalhar muito e
ganhar pouco é a principal característica de seu trabalho. Esta aparente falta de percepção
de uma ordem meritocrática, no entanto, é muito mais presente entre os empreendedo-
res na classe baixa (16%) que nos pertencentes à classe alta (6%).
Tabela 5: Percepção do empreendedor sobre a importância da meritocracia e do esforço para o desempenho de seu negócio, por classe de renda, Brasil, 2010
Indicador TotalClasse
Baixa Média Alta
Consideram que trabalho árduo com longas jornadas de trabalho e poucas oportunidades para férias e descanso é uma característica fundamental do empreendedorismo
30 26 30 32
Não tem poder discricionário sobre as principais decisões relacionadas a seu próprio negócio 15 14 16 16
Consideram que a falta de oportunidade parar descansar ou tirar férias é a principal característica de seu trabalho. 14 13 14 16
Consideram que trabalhar muito e ganhar pouco é a principal característica de seu trabalho. 11 16 12 6
Fonte: Estimativas produzidas pela SAE/PR com base no Sistema de Indicadores de Percepção Social (SIPS/IPEA), Trabalho (1a edição), 2010.Nota: Consideram-se empreendedores todos os trabalhadores por conta própria e os empregadores.
Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 89
5.Visão de futuro: Como o Estadobrasileiro podecontribuir àprosperidade dos empreendedoresVimos nas seções anteriores que o pequeno empreendedorismo vem pres-
tando valiosa contribuição para o crescimento inclusivo no País. Os peque-
nos empreendedores são responsáveis por grande parte dos postos de tra-
balho existentes e aumentaram o seu grau de formalização de forma muito
acentuada em um pequeno espaço de tempo, o que consequentemente
ampliou o acesso de milhões de brasileiros ao sistema público de proteção
ao trabalhador.
Além disso, contribuíram também para a redução das desigualdades de
renda, na medida em que aqueles que detinham as maiores remunerações
iniciais foram os que menos observaram crescimento em suas remunera-
ções. Ou seja, as suas atividades geraram mais crescimento na renda da-
queles que eram mais pobres.
Mas embora seja importante reconhecer e ressaltar a contribuição do pe-
queno empreendedor para o desenvolvimento, não devemos perder de
vista que não lhe cabe exclusivamente o papel de herói nacional. O empre-
endedor, como qualquer tipo de trabalhador, busca legitimamente obter
90 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média
prosperidade para si e para sua família. A sustentabilidade da atividade de empreender
requer a constante busca por rentabilidade, por retorno dos investimentos. Nesta seção
buscamos identificar as condições necessárias para que os pequenos empreendedores
prosperem e, assim, continuem prestando importante serviço à nação brasileira.
5.1. Dualismo interno do empreendedorismo
Os empreendedores formam um grupo dos mais heterogêneos. Apenas uma parcela des-
ta heterogeneidade se deve a disparidades entre grandes e pequenos empreendedores.
Mesmo dentre os pequenos empreendedores, o grau de heterogeneidade é extrema-
mente elevado. O grau de desigualdade na distribuição das remunerações (medido pelo
coeficiente de Gini), por exemplo, é maior entre os pequenos empreendedores que para
o conjunto de todos os trabalhadores. Além disso, o grau de desigualdade, segundo este
índice, é 60% maior entre os pequenos empreendedores que entre os empregados que
contratam.
A despeito dessa ampla variedade, para efeito do desenho de políticas públicas é desejável
organizar os empreendedores em dois grandes grupos, que seriam definidos em função
da motivação que tiveram para abraçar a atividade de empreender. De um lado, teríamos
os empreendedores com inquestionável capacidade empresarial, talento e habilidades ge-
renciais aguçadas e que por vezes detêm também conhecimento especializado profundo
das atividades específicas que empreendem. Os membros deste grupo buscam no empre-
endedorismo uma estratégia de vida ou para toda a vida. Esses querem ser empreendedo-
res, reconhecidos e tratados como tal.
De outro lado, teríamos muitos ou apenas alguns, dependendo do grau de aquecimento
da economia e das condições do mercado de trabalho, que optam por empreender de
forma improvisada, como uma estratégia de sobrevivência. Os membros deste grupo im-
provisam como empreendedores na falta de uma melhor oportunidade de trabalho como
empregado em algum empreendimento. Podemos considerar que os membros deste
grupo estão empreendedores e pretendem deixar de sê-lo assim que uma oportunidade
minimamente satisfatória de emprego surgir.
Em geral, quando nos referimos aos empreendedores tratamos exclusivamente do pri-
meiro grupo: aqueles que escolheram o empreendedorismo como estratégia de vida ou
Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 91
para toda a vida. Mas a importância da opção do empreendedorismo como estratégia de
sobrevivência em tempos difíceis não deve nunca ser subestimada. Nesses momentos, é
o trabalho improvisado, e muitas vezes precário, que garante a sobrevivência de muitos,
evitando níveis mais elevados de pobreza. Embora para a economia possa ser um sinal de
fragilidade recorrer a este expediente, do ponto de vista do empreendedorismo, trata-se
de serviço que ele presta ao combate à pobreza.
5.2. Políticas públicas de apoio ao empreendedorismo enquanto estratégia de sobrevivência
A dualidade do empreendedorismo deve refletir na política pública que lhe é dirigida.
Como ressaltado, o empreendedorismo contribui para a superação da pobreza durante
períodos com lento crescimento econômico, na medida em que serve como colchão,
abrigando, mesmo que de forma temporária e precária, segmentos sem outra opção de
trabalho. Segmentos da força de trabalho que, sem esta alternativa, permaneceriam de-
sempregados nesses períodos.
Essa capacidade de absorção de mão de obra em períodos de lento crescimento ou mes-
mo recessões deve não apenas ser exaltada como também apoiada por políticas públicas
específicas, em particular, aquelas de apoio e estímulo ao trabalho por conta própria.
Este expediente é parte de qualquer leque efetivo de políticas públicas anticíclicas. Não
é mera coincidência que o apoio ao empreendedorismo aparece como um importante
componente da inclusão produtiva no Programa Brasil Sem Miséria, por meio do aceso
subsidiado à qualificação profissional (Pronatec e Mulheres Mil) e ao crédito (Crescer), à
assistência técnica (ATER) e à comercialização (compras governamentais, via PAA e PNAE),
entre outros programas de apoio ao pequeno empreendedor com baixo faturamento e à
economia solidária.
5.3. Políticas públicas de apoio ao empreendedorismo
O pequeno empreendedor sistemático, talentoso e gerencialmente competente, aquele
que adota o empreendedorismo como uma verdadeira estratégia de vida, contribui de
forma significativa para o desenvolvimento econômico e social do País, merecendo tam-
bém atenção e apoio das políticas públicas.
92 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média
Poucos desses pequenos empreendedores, que escolheram esta atividade como estra-
tégia de vida, são pobres, muitos pertencem à classe média, e uma fração significativa e
crescente já se encontra na classe alta.
Poucos desses pequenos empreendedores, que escolherem esta atividade como estra-
tégia de vida, são pobres, muitos pertencem à classe média, e uma fração significativa e
crescente já se encontra na classe alta.
A oportunidade de explorar de forma plena e sistemática seus talentos empresariais é
– para cerca de ¼ da força de trabalho brasileira – o instrumento indispensável e eficaz
que lhes permite ingressar na classe média, ascender dentro da classe média e ter acesso
crescente à classe alta.
Conforme já mencionamos, além do benefício que obtêm para si com as suas atividades,
os pequenos empreendedores também contribuem de forma substancial e sistemática
para o desenvolvimento. Duas formas de contribuição merecem particular destaque e,
em ambos os casos, decorrem de seu impacto sobre o crescimento econômico.
De um lado, quem gera maior riqueza dentro da formalidade expande sua contribuição
tributária e, desta forma, permite que políticas sociais dirigidas às classes mais vulneráveis
e à classe média possam ser implantadas.
De outro, a demanda por trabalho deriva das necessidades de produção. Aumentos na
produção necessariamente levam à geração de novos postos de trabalho. Como já enfa-
tizado por diversas vezes neste caderno, é pela geração de postos de trabalho formais e
com remuneração típica da classe média que os pequenos empreendedores mais vêm
contribuindo para a expansão da classe média brasileira.
Por todas essas contribuições, é fundamental que o País conte com um amplo leque de
políticas públicas dirigidas especificamente à promoção do empreendedorismo como es-
tratégia de vida. As políticas públicas voltadas para estes empreendedores devem cobrir
ao menos quatro objetivos.
Em primeiro lugar, assegurar que todo talento empresarial do País se concretize, isto é,
que todos os potenciais empreendedores talentosos efetivamente se incorporem a esta
atividade. Em segundo, lhes garantir que encontrem uma legislação que facilite a abertura
de seu negócio e também que favoreça e estimule seu pleno funcionamento.
Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 93
Em terceiro, devem garantir de forma permanente os serviços produtivos que os empre-
endedores tanto necessitam. Os serviços devem ser adequados, isto é, devem refletir as
verdadeiras necessidades dos empreendedores. Também deve ser garantido efetivo aces-
so aos serviços e, se necessário, de forma subsidiada. Por fim, deve-se reconhecer que a
atividade empresarial é intrinsecamente incerta. Desta forma, a política pública deve, de
uma lado, buscar promover um ambiente mais estável e previsível e, de outro, buscar
que estejam disponíveis os mais variados tipos de seguros. Tal como no caso dos serviços
produtivos, estes seguros devem ser adequados às necessidades dos pequenos empreen-
dedores, sendo também necessário garantir o seu efetivo acesso a estes seguros, mesmo
que subsídios sejam necessários.
Observações finais
A dualidade do empreendedorismo tem sido amplamente reconhecida no desenho das
políticas públicas brasileiras. Não é por outro motivo que o empreendedorismo aparece
ao mesmo tempo como um importante componente da inclusão produtiva no Programa
Brasil Sem Miséria e como uma fonte de crescimento e de ganhos de produtividade no
Programa Brasil Maior. Não há dúvida de que o País conta com uma política variada para
promover os dois lados do empreendedorismo nacional.
Resta saber se a quantidade total de serviços é adequada, se o volume de recursos é su-
ficiente e se a distribuição destes recursos entre programas é a mais adequada. Tomando
a opinião declarada pelos pequenos empreendedores entrevistados, temos a impressão
de que os serviços disponíveis possam estar excessivamente centrados nas questões de
formação profissional e assistência técnica, quando, na verdade, os empreendedores pa-
recem muito mais preocupados com o acesso e com as condições dos mercados de insu-
mos e produtos.
Os pequenos empreendedores parecem carecer mais de serviços que os apoiem na co-
mercialização de seus produtos e lhes deem maior poder de barganha na compra de seus
insumos. As vozes dos pequenos empreendedores parecem dizer que precisam menos de
informação e conhecimento e muito mais de mercados atrativos e com acesso facilitado.
Ouvir com atenção e responder devidamente a este importante segmento certamente
permitirá que mais ganhos sociais e econômicos sejam alcançados nos próximos anos.
Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 95
6. Colaborador permanente
EMPREENDEDORISMO, OTIMISMOE A CLASSE MéDIA BRASILEIRA
Renato Meirelles
Presidente do Data Popular
Não é novidade afirmar que o aumento da classe média brasileira impacta
diretamente a estrutura social e econômica do país. O crescimento da ren-
da proporcionado pela ampliação do emprego formal alavancou 40 milhões
de pessoas para a classe média, isso, somado à estabilidade econômica,
provocou um efeito colateral interessante que pode gerar impactos em
futuro próximo: o aumento do otimismo.
A cada nova pesquisa que realizamos, fica claro que o otimismo traz uma
série de consequências no comportamento cotidiano e na relação da classe
média com o futuro. Se, por um lado, observamos entre os otimistas uma
predisposição maior para o consumo (o que pode levar a um endivida-
mento excessivo), percebemos também que os otimistas estudam mais,
procuram mais por concurso público, e o que mais nos interessa neste
artigo: empreendem mais. A vontade de empreender do brasileiro vem
crescendo junto com a estabilidade econômica.
Se a carteira assinada nos trouxe ao atual nível de desenvolvimento social
no Brasil, o empreendedorismo tem grande potencial de nos levar adiante.
A estabilidade proporcionada pelo emprego formal e, em maior grau, pelo
concurso público, é cada vez menos encarada como um objetivo com fim
em si mesmo. Hoje, para muitos brasileiros, essas atividades se tornaram
96 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média
um meio de juntar dinheiro enquanto começam a desenvolver alguma atividade empre-
endedora. Renda e estabilidade encorajam os brasileiros a sonhar mais alto, a acreditar no
seu potencial, a enxergar oportunidades que o medo e a falta de perspectiva do passado
não permitiam ser vistas.
No entanto, não é apenas o otimismo (quase como um exercício de fé) que tem alimenta-
do a vontade empreendedora da classe média. Ainda falta muito, é verdade, mas grandes
passos foram dados com a criação de um ambiente jurídico favorável para formalização
de empresas e recolhimento de impostos (MEI, EI, Super Simples etc.). A consequente
ampliação de crédito e das possibilidades comerciais decorrentes disso contribui para uma
atmosfera menos hostil às micro e pequenas empresas. Um dos desafios estratégicos do
Estado brasileiro, hoje, é colocar efetivamente a máquina púbica como parceira do em-
preendedor. Entre as inúmeras frentes de atuação possíveis, três objetivos se destacam:
NÃO ATRAPALHAR: É muito comum encontrarmos empreendimentos comerciais
que, assim que se formalizam, imediatamente recebem a visita de um fiscal municipal que
exige alvará disso ou daquilo. A legislação já garante que, mais do que punitiva, a fiscaliza-
ção destes estabelecimentos tenha caráter educativo. Infelizmente sabemos que essa não
é a realidade que encontramos.
INCENTIVAR COMPRAS GOVERNAMENTAIS DE MPEs: Os governos são gran-
des consumidores de produtos e serviços. O desenvolvimento de políticas públicas que
– respeitando sempre os critérios técnicos – privilegiem a compra de pequenas empresas
tem o potencial de contribuir para o sucesso do empreendedorismo. Isso pode significar,
por exemplo, sofisticar o cálculo da “busca pelo menor preço”, privilegiando comprar
de empresas que oferecem empregos no município, o que muitas vezes pode gerar uma
arrecadação indireta que compensa a falta de condições de competir com o poder de
compra das grandes corporações. Efetivamente, hoje, mesmo um fornecedor de uni-
forme escolar encontra dificuldade com o mar de papelada que tem que preencher para
vender para o governo.
FORTALECIMENTO DA ORIENTAÇÃO DE NEGÓCIOS E DO MICROCRÉDITO
PRODUTIVO: Estudos desenvolvidos para o SEBRAE apontam que a dificuldade de con-
seguir capital de giro e recurso para os investimentos iniciais do negócio aparecem junto
com a burocracia como o principal entrave para o desenvolvimento das empresas nos
dois primeiros anos de vida. A ação integrada dos projetos de microcrédito (que, por for-
Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 97
ça de lei, já está vinculado a um processo de orientação financeira) com os programas de
orientação de negócio (como os desenvolvidos pelo SEBRAE, por exemplo) tem o duplo
mérito de garantir com que as MPEs não caiam no risco de um otimismo exagerado e que
tenham fôlego para o “período de risco” natural ao início de qualquer negócio. A oportu-
nidade está em ter uma orientação que vá além do “arroz com feijão” do fluxo de caixa e
da orientação burocrática. O empreendedor quer aprender a fazer o seu negócio crescer.
O empreendedorismo e a classe média
Diferente do passado, hoje, pouco mais de metade dos empreendedores pertence à
classe média, número muito semelhante à distribuição da população. Mais escolarizados
(apenas 24% estão abaixo do ensino médio), os novos empreendedores enxergam suas
iniciativas como via para garantir um bom futuro para a família. Se antes o empreende-
dorismo se dava, sobretudo, como a última opção de geração de renda, cada vez mais a
iniciativa empreendedora se concretiza como uma opção consciente. Ser uma escolha e
não uma imposição do desemprego traz reflexo imediato na taxa de sucesso. Os resulta-
dos práticos estão aí, com a queda da mortalidade das MPEs para menos de 30% nos dois
primeiros anos. Na vida real, falamos do trabalhador que arriscou montar uma vendinha
na garagem de casa e se deu bem. Ou daquela mulher que trabalhava como manicure
para ganhar um dinheiro extra, especializou-se e acabou montando um pequeno salão em
um cômodo da residência, assim como na revendedora de cosméticos que abandonou o
emprego e vive apenas deste ofício, e por aí vai.
O empreendedor da classe média geralmente emprega parentes ou vizinhos e abre seu
negócio no bairro onde mora. Assumir uma posição de empreendedor dentro da própria
vizinhança contribui para que haja um reforço dos vínculos locais intrapessoais, expandin-
do as amizades e movimentando a economia local.
Precisamos reconhecer que, embora tenha recebido tantas mulheres nas últimas duas
décadas, o mercado de trabalho não estava preparado para isso. Os cuidados com a casa e
os filhos ainda são atribuições majoritariamente femininas. As mulheres empreendedoras
não abrem o próprio negócio para trabalhar menos. Muito pelo contrário, elas trabalham
até mais do que antes, quando eram funcionárias. A grande vantagem percebida no em-
preendedorismo é justamente a possibilidade de ter maior autonomia no dia a dia e não
ter mais responder para chefe nenhum.
98 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média
Imagine uma mulher que pegava três conduções todos os dias para chegar ao trabalho e
que para não perder a hora precisava acordar às 4h30 e sair de casa ainda antes do sol
raiar. Já chegava exausta no trabalho e ainda tinha que aguentar o mau humor do chefe.
Como os horários das creches não eram compatíveis com os seus, ela pagava uma quantia
à vizinha para que olhasse seus filhos.
Cansada da sua rotina puxada, essa mulher investiu em cursos de culinária e começou a
fazer bolos aos finais de semana para vender no trabalho e para vizinhança. Percebendo
o aumento da demanda, precisou de ajuda e contratou uma amiga. Em pouco tempo, já
estava ganhando a mesma quantia que ganhava em seu emprego. Impulsionada por essa
experiência, resolveu investir tudo no seu negócio. Hoje ela tem um pequeno Buffet na re-
gião. Trabalha mais, mas com horários flexíveis, consegue agora conciliar melhor a rotina
de mãe e trabalhadora. Essa história ainda representa uma pequena parcela das mulheres
brasileiras, mas se assemelha ao sonho das mais de 24 milhões de mulheres que preten-
dem abrir seu próprio negócio nos próximos três anos.
A geração atual – diferentemente da anterior, cujos integrantes sonhavam apenas em
ingressar numa boa empresa e construir carreira – pensa em ser dona do seu próprio
negócio ainda durante o curso de graduação. Mesmo iniciando uma carreira profissional
em alguma empresa, projetam para um futuro próximo a criação de um negócio próprio
que lhe dê liberdade para assumir sua vida.
O resgate da autoestima foi primordial para que este brasileiro pudesse tirar do papel as
suas metas e concretizar sonhos que pareciam inalcançáveis há anos. Agora é a hora e a
vez do empreendedorismo.
Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 99
A ascensão social de expressiva parcela da população é um dos indicativos
mais sólidos do desenvolvimento sustentável do Brasil. Mais de 40 milhões
de pessoas entraram na classe média na última década, em uma transição
estimulada por fatores como os programas de transferência de renda, a
geração de empregos formais, a política de aumento do salário mínimo
e a capacidade empreendedora dos brasileiros. É impossível falar de em-
preendedorismo sem ressaltar a importância dos pequenos negócios, que
reúne empresas que faturam até R$ 3,6 milhões por ano. Hoje, esse setor
representa 99% do total de empresas do Brasil e emprega mais de 15
milhões de pessoas, o que corresponde a 52% das vagas formais no País,
segundo o Anuário do Trabalho da Micro e Pequena Empresa, publicado
pelo Sebrae e Dieese.
Os pequenos negócios têm grande influência no fortalecimento da classe
média brasileira: do total de empreendedores, mais de 55% integra a clas-
se C, revelou uma pesquisa do Instituto Data Popular feita para o Sebrae.
No nosso País, empreendedorismo representa um fenômeno de inclusão
social e os pequenos negócios simbolizam a porta de entrada do mercado
para milhões de pessoas.
7. Colaborador desta edição
EMPREENDEDORES IMPULSIONAMA NOVA CLASSE MéDIA
Luiz Barretto
Presidente do Sebrae Nacional
100 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média
O marco legal do setor é a Lei Geral da Micro e Pequena Empresa, promulgada em
dezembro de 2006. Ela instituiu a categoria jurídica do Microempreendedor Individual
(MEI), em vigor desde 2009, destinada a quem possui receita bruta anual de até R$ 60
mil – em média, R$ 5 mil por mês. O valor pago de imposto para quem integra essa
categoria é inferior a R$ 40 por mês. Cerca de 2,8 milhões de pessoas já se registraram
como microempreendedores individuais, categoria de empresas que mais cresce no País.
A projeção do Sebrae é que, até 2014, eles serão 4 milhões e o Brasil terá mais microem-
preendedores individuais do que qualquer outro modelo de negócio no País.
Além da redução da carga tributária para micro e pequenas empresas, outro importante
incentivo para a formalização de negócios no País é a facilidade para a abertura de pe-
quenos negócios. No caso dos microempreendedores individuais, é possível abrir uma
empresa pela Internet, em poucos minutos.
A formalização é um cenário onde todos ganham: os governos ampliam a arrecadação
e mais pessoas conquistam a cidadania empresarial, com direito a benefícios como apo-
sentadoria, auxílio-doença e licença-maternidade e a oportunidades de melhoria de vida.
Após a formalização, mais da metade dos microempreendedores individuais afirma que
houve aumento no faturamento, melhoria do controle financeiro e ampliação dos investi-
mentos no próprio negócio.
A Lei Geral da Micro e Pequena Empresa criou o Simples Nacional, que entrou em vigor
em julho de 2007 e já foi adotado por mais de 7 milhões de empresas. Este regime tribu-
tário diferenciado viabilizou uma redução média de 40% dos impostos, além de diminuir
significativamente a burocracia, já que reúne seis impostos federais – IRPJ, IPI, PIS, Cofins,
CSLL e INSS patronal, mais o ICMS recolhido pelos estados e o ISS recolhido pelos mu-
nicípios.
Por meio do Simples, houve um salto de mais de 455% na arrecadação entre 2007 e
2012, favorecendo os governos dos municípios, dos estados e da União. Em 2007, a partir
de julho, quando o regime entrou em vigor, foram arrecadados R$ 8,38 bilhões. Em 2012,
a arrecadação decorrente do Simples passou para R$ 46,5 bilhões – uma comprovação de
que a minirreforma tributária promovida pelo Simples gerou ganhos para todos.
De posse de um Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ), o empreendedor pode
emitir nota fiscal e vender para outras empresas. Dependendo da atividade, pode até
Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 101
mesmo fornecer para governos. A Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas determina
exclusividade de participação dos pequenos negócios em licitações no valor de até R$ 80
mil. Acima desta quantia, a legislação garante uma reserva de pelo menos 25% destes
processos a esses negócios.
Há mais de 40 anos, o Sebrae atua nas cinco regiões do País com o objetivo de dinamizar
ainda mais esse segmento fundamental para a economia brasileira, visando ampliar as
oportunidades de melhoria de vida da população. A relevância dos pequenos negócios
se traduz em diversos números. Este segmento econômico, que atua principalmente em
comércio e serviços, oferece 70% das vagas de emprego criadas no País a cada mês. As
empresas que mais contratam são aquelas com até quatro funcionários.
As micro e pequenas empresas são responsáveis, atualmente, por aproximadamente 25%
do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil. Em países mais desenvolvidos, como Alemanha
e Itália, esse setor corresponde a cerca de metade do PIB. Países de economia sólida não
se fortaleceram apoiados somente em funcionários, mas também em empreendedores
- pessoas inovadoras que são imprescindíveis para o desenvolvimento de qualquer socie-
dade, pois geram empregos e aquecem o mercado.
Um contexto mais propício ao desenvolvimento dos pequenos negócios - que envolve fa-
tores como ambiente legal favorável, inovação e planejamento -, interessa não apenas aos
empreendedores, mas a todo o País. O segmento contribui para uma maior distribuição
da renda, com impactos perceptíveis especialmente nas pequenas cidades. O aumento de
salários nas micro e pequenas empresas é duas vezes superior ao de empresas de maior
porte. Do ano 2000 até 2011, os salários tiveram aumento real – descontada a inflação –
de 18% nas micro e pequenas empresas, enquanto nas médias e grandes o aumento foi
de cerca de 9%.
Um dado interessante, demonstrado por um censo do Sebrae a partir dos registros da
Receita Federal, indica que houve melhoria da qualidade dos pequenos negócios: mais de
70% dessas empresas superam os dois primeiros anos de atividade, período mais crítico
para consolidação do empreendimento. Há dez anos, essa taxa era de 50%. É relevante
destacar que, atualmente, a maioria dos empreendedores inicia um pequeno negócio não
mais por condições adversas, como ocasional desemprego ou falta de qualificação para
outra atividade, e sim porque detectou uma oportunidade de mercado. Outro indicador
positivo é a escolaridade do empreendedor de micro e pequenas empresas, maior que a
102 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média
média da população brasileira. Mais da metade dos micro e pequenos empreendedores
concluiu o ensino médio ou técnico.
Os avanços já conquistados para o setor das micro e pequenas empresas devem nos
motivar a avançar muito mais. Para nós, do Sebrae, tão importante quanto multiplicar o
número de pequenos e microempreendedores no País é capacitá-los para uma boa gestão
de seus negócios, atendendo à nossa missão institucional de promover a competitividade
e o desenvolvimento sustentável das micro e pequenas empresas, bem como fomentar
o empreendedorismo no País. É por meio da capacitação que tornaremos nossas micro
e pequenas empresas mais competitivas, contribuindo, assim, para a ascensão social de
muito mais famílias brasileiras e o desenvolvimento contínuo e mais justo do Brasil.
Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 105
8. Prosperidade,Equidade eOportunidadeEmpresarial*1
Marcelo Neri
Ministro interino da SAE e presidente do Ipea
* Agradeço a eficiente assistência de Luisa Carvalhaes, Marcos Hecksher, Samanta Sacramento e Fábio Vaz, do Ipea, e as interações proveitosas com a equipe de Ricardo Paes de Barros na SAE.
O combustível da ascensão social brasileira dos últimos anos é o trabalho,
e não o consumo, nem mesmo o crédito ao consumidor. Estes últimos
elementos fazem parte da ascensão da chamada Classe C, mas como co-
adjuvantes. O protagonismo pertence ao mundo do trabalho. Os motores
são a melhora da quantidade do ensino e a redução da desigualdade no
impacto da educação sobre as rendas do trabalho, partindo de níveis inde-
centes. A combinação de mais educação e trabalho é o que tem tornado
o movimento de ascensão sustentável. Este é o que pode ser chamado de
lado brilhante dos pobres (The bright side of the poor).
Entre os trabalhadores, o maior símbolo da nova classe média brasileira
tem sido a carteira de trabalho, e não os pequenos empreendimentos que
habitam as cenas dos filmes onde as imagens do sonho americano são pro-
jetadas. Pode parecer contraditório abordar pequenos e grandes empre-
sários num mesmo quadro mas eles tem uma relação de trabalho similar,
como sócios de capital de risco. O primeiro é uma espécie de primo pobre,
sem capital e sem empregados mas com risco. Esta relação arriscada com
o seu provento é partilhada pelos seus primos ricos.
106 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média
O brasileiro ocupado não tem aberto relativamente mais empresas, mas, cada vez mais,
tem se tornado um assalariado formal. A proporção dos empresários brasileiros em rela-
ção ao conjunto de ocupados tem caído: as chances de uma pessoa com as mesmas carac-
terísticas ter um empreendimento como ocupação estão 8,5% menores em 2013 do que
em 2006. Os mapas municipais a seguir também mostram entre os Censos demográficos
de 2000 e de 2010, queda visível da taxa de empreendedorismo, leia-se a proporção de
conta próprias e empregadores na população ocupada. Os mapas censitários também nos
mostram redução de esforço de trabalho de cada empresário pela redução de jornada
semanal de trabalho. Esta redução da quantidade de esforço empresarial é acompanhada
por aumento da qualidade do segmento medida pelo aumento do lucro e da escolaridade
média.
Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 107
Taxa de empreendedorismo, 2000
Fonte: Ipea/SAE a partir dos microdados do CENSO/IBGE
Taxa de empreendedorismo, 2010
Fonte: Ipea/SAE a partir dos microdados do CENSO/IBGE
108 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média
Rendimento médio do trabalho dos empreendedores, 2000
Fonte: Ipea/SAE a partir dos microdados do CENSO/IBGE
Rendimento médio do trabalho dos empreendedores, 2010
Fonte: Ipea/SAE a partir dos microdados do CENSO/IBGE
Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 109
Anos de estudo médio dos empreendedores, 2000
Fonte: Ipea/SAE a partir dos microdados do CENSO/IBGE
Anos de estudo médio dos empreendedores, 2010
Fonte: Ipea/SAE a partir dos microdados do CENSO/IBGE
110 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média
Horas trabalhadas pelos empreendedores no trabalho principal, 2000
Fonte: Ipea/SAE a partir dos microdados do CENSO/IBGE
Horas trabalhadas pelos empreendedores no trabalho principal, 2010
Fonte: Ipea/SAE a partir dos microdados do CENSO/IBGE
Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 111
Neste processo há menor quantidade relativa de negócios de subsistência, com aumento
da qualidade social dos empreendimentos, seja pela geração de empregos emanada, seja
pela redução da desigualdade de renda entre empresários e seus empregados. Indo além,
qual é o impacto deste contexto, com relativamente menos empresas, geradoras de mais
e melhores empregos, sobre o retorno que os empresários levam para casa, aí incluindo
o lucro do negócio e a renda da família? Essa é a pergunta-chave que buscamos responder
nesta nota, tomando como pano de fundo o período de ascensão da chamada nova classe
média brasileira, desde o fim da recessão de 2003 até os dias de hoje (com dados até fe-
vereiro de 2013). Implicitamente, testamos se o sonho de subir na vida por meio de um
negócio próprio foi – e se continua – operativo no mundo empresarial brasileiro pós-crise
europeia. Ou seja, perguntamos se o sonho acabou.
Questões - A imagem que passa na novela, da doceira da periferia que multiplica o tamanho
de sua confeitaria caseira contratando as vizinhas para atender a demanda crescente de
outras vizinhas, agora empregadas e sem tempo para produzir suas festas, é representativa
da realidade brasileira. Isso parece patente na análise do restante deste relatório. Agora,
essa doceira da periferia se desenvolve mais que seus pares masculinos da capital? Indo
além de externalidades positivas emanadas na geração de emprego e da desigualdade entre
empresários e empregados, como seu negócio e sua família têm se beneficiado da atividade
empreendedora exercida? Os proventos familiares crescem no tempo? O bolo de renda
empresarial cresce? Com mais ou menos fermento nos negócios nanicos? E como estão
as ameaças e as oportunidades percebidas individualmente pelos detentores do capital
de risco e suas famílias? Quais são os ingredientes da receita do crescimento empresarial
inclusivo e sustentável tupiniquim? Mais educação, formalização e cooperativação, nenhu-
ma delas, ou todas as alternativas acima? Como a receita do sucesso empresarial muda se
caminharmos da base ao topo passando pelo meio da distribuição de lucros empresariais?
O mergulho no microcosmo dos negócios nanicos nos ensina que o lucro médio cresce
mais na base da distribuição de lucros, espelhando o que acontece no restante do mer-
cado do trabalho brasileiro. Esse crescimento tem sido mais pujante na base pirâmide
produtiva. Da mesma forma que tem subido o preço e reduzido a quantidade de trabalho
em segmentos compostos por trabalhadores com baixa qualificação, empregadas domés-
ticas, peões de obra e agricultores braçais, há um movimento similar de esvaziamento de
oferta no mundo das empresas brasileiras abertas inicialmente por necessidade de sobre-
vivência. A nossa tese aqui é que atividades de subsistência de grupos tradicionalmente
excluídos têm sido trocadas não só por empregos com carteira mas também por negócios
melhores, tanto no sentido social como no privado, que é o nosso foco aqui.
112 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média
Transitamos de uma situação em que o setor empresarial gera baixos lucros e alta desi-
gualdade para outra, com maiores lucros, equidade e estabilidade. Neste novo equilíbrio,
em vez de empresários de subsistência competirem entre si de maneira predatória, parte
deles é atraída pelo setor de emprego formal, enquanto os demais conseguem dividir me-
lhor o acesso aos mercados de consumo. Sintomaticamente a pesquisa Economia Informal
Urbana (ECINF/IBGE) de 2003, os maiores problemas percebidos pelos pequenos em-
presários eram falta de clientes e excesso de concorrência, correspondendo a dois terços
dos negócios. Tudo se passa como num modelo de migração do campo à cidade, só que
dentro do contexto urbano, uma vez que os fluxos migratórios foram interrompidos. A
diferença básica é que práticas de subsistência não agrícolas das cidades são trocadas por
empregos formais ou por atividades empresariais com maior potencial de acumulação e
crescimento. Esta combinação de restrição de oferta de trabalho no segmento de subsis-
tência com expansão de demanda que se confunde com a ascensão da classe média dá
partida a prosperidade com equidade empresarial.
Em linha com essa interpretação, constatamos aumento de lucros e de renda nas famílias
dos microempresários brasileiros, redução nos riscos de redução de renda associados e
aumento das probabilidades de ascensão individual e familiar. Esse processo se mostra
mais forte na base da pirâmide produtiva, implicando queda de desigualdade e expansão
mais forte de grupos tradicionalmente excluídos – como empresários pretos, mulheres,
nordestinos, da periferia – assim como aqueles com menores atributos produtivos – anal-
fabetos, sem curso técnico, cooperativa ou formalidade, ou ainda de empresas menores
e recém-criadas. De maneira geral, todos os atributos associados a menores lucros estão
relacionados ao maior crescimento de renda no segmento entre 2003 e 2013. Além disso,
a desaceleração do Produto Interno Bruto (PIB) informada pelas Contas Nacionais a partir
de 2011 não é percebida no universo dos negócios na base produtiva.
Esta nota explora a dinâmica dos negócios brasileiros em termos de sua capacidade de
gerar renda para seus donos e suas famílias através da Pesquisa Mensal do Emprego (PME)
produzida pelo Instituto Brasileiro de Estatística e Geografia (IBGE). A PME possui uma
série de características úteis para captar a dinâmica empresarial. Em primeiro lugar, seu
período de vigência nos permite identificar a evolução dos empreendimentos brasileiros
até fevereiro de 2013, incluindo todo o período de ascensão da nova classe média bra-
sileira. Em segundo lugar, a característica de painel rotativo da PME nos permite acom-
panhar a trajetória dos mesmos negócios por curtos intervalos de tempo, identificando
elementos de risco e oportunidades idiossincráticos. Por ser também domiciliar, tal como
Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 113
a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), a PME permite acompanhar o
impacto desses negócios sobre a renda per capita das famílias. Analisamos, a seguir, os
grandes números da PME nos últimos dez anos.
Prosperidade – Há diversas medidas e conceitos envolvidos na medição do desempenho
privado dos negócios e seus impactos sobre a vida das famílias dos empresários. O primei-
ro conceito utilizado é o lucro resultado das receitas, deduzido das despesas associadas à
atividade produtiva. O lucro habitual dos empresários metropolitanos, nos últimos doze
meses, terminados em fevereiro de 2013, era de R$ 2.152 por mês, 15,5% maior que o
rendimento médio dos ocupados, variando bastante conforme o segmento em questão:
desde R$ 1.577 entre os negócios dos conta-própria, passando por R$ 3.165 entre em-
pregadores de até cinco empregados e chegando a R$ 6.408 entre aqueles com mais de
5 empregados. Ou seja, o lucro aproximadamente dobra entre cada faixa de tamanho em
questão. O lucro habitual médio de todo o segmento empresarial cresceu 28,2%, desde
período semelhante em 20031, contra 27,3% nos rendimentos do conjunto de ocupados.
A tabela fornece os detalhes dessa evolução individual
Tabela 1: Lucro dos Microempresários
Período Final
Lucro Médio R$*
Lucro Mediano
R$*
Desigualdade Theil-T
Desigualdade Gini
Subir (Acima da Mediana 1) Ano %**
Cair (Abaixo da Mediana 1)
Ano %***
2003 1710,05 795,51 0,8173 0,6412 27,27 26,65
2004 1620,85 774,18 0,7207 0,6121 28,41 19,19
2005 1716,18 760,45 0,6838 0,5975 26,81 15,77
2006 1750,23 863,48 0,6809 0,5869 25,59 13,51
2007 1831,84 948,97 0,6541 0,5791 31,66 11,02
2008 1787,53 1005,79 0,6169 0,5610 33,2 12,48
2009 1926,56 997,02 0,6271 0,5683 29,62 13,6
2010 1958,19 1066,72 0,6102 0,5623 34,43 11,01
2011 2068,58 1107,60 0,6293 0,5600 36,58 11,85
2012 2132,42 1145,18 0,5940 0,5510 37,4 12,83
2013 2172,34 1207,54 0,5787 0,5489 35,02 14,15
Fonte: Ipea/SAE a partir dos microdados da PME/IBGE* preços de 2013 – observações concatenadas no segundo período.** possuía inicialmente renda abaixo da mediana do período 2003 a 2013*** possuía inicialmente renda acima da mediana do período 2003 a 2013
1 O conceito de lucro efetivo apresenta em 2013 um valor 0,2% maior, mas uma variação de 29,9% no mesmo período. Optamos por trabalhar com o conceito habitual, pois é o mesmo usado na Pnad.
114 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média
O conceito per capita, por sua vez, é o mais relevante para as discussões sobre po-
breza e nova classe média. A renda familiar per capita do trabalho de pessoas entre
15 e 60 anos das famílias de conta próprias ou empregadores sobe 35,7% no perío-
do. A renda familiar per capita do trabalho de pessoas entre 15 e 60 anos das famílias
de conta-próprias ou empregadores corresponde a R$ 1.388 por membro adulto e
sobe 35,7% de 2003 a 2013. Note-se que, na PME, estamos excluindo os efeitos da
expansão de benefícios previdenciários e sociais e nos atendo somente à parcela tra-
balhista, que é a parte mais sustentável do processo de expansão. O lucro e a renda
familiar trabalhista mediana sobem 51,8% e 75,4%, bem acima da média, indicando
redução de desigualdade. A mediana no segmento microempresarial que é representa-
tivo da população trabalhadora brasileira é uma boa aproximação da nova classe mé-
dia brasileira. Em suma, houve maior prosperidade trabalhista no meio do que na mé-
dia dos microempresários metropolitanos e de suas famílias no período em questão.
Tabela 2: Renda do Trabalho per Capita dos Microempresários
Renda per Capita
Média R$*
Renda per Capita
Mediana R$*
Desigualdade Theil-T
Desigualdade Gini
Subir(Acima da Mediana 1) Ano %**
Cair(Abaixo da Mediana 1) Ano %***
2003 1023,00 454,55 0,7795 0,6303 21,88 23,62
2004 971,74 471,82 0,6948 0,6003 23,8 17,11
2005 1040,06 516,15 0,6455 0,5855 22,41 14,11
2006 1080,91 539,68 0,6619 0,5844 23,6 11,94
2007 1135,25 585,68 0,6380 0,5771 22,52 11,33
2008 1156,10 594,56 0,6918 0,5752 26,61 10,57
2009 1250,68 631,94 0,6461 0,5739 24,54 11,82
2010 1283,83 680,26 0,6135 0,5646 31,61 9,67
2011 1354,96 734,71 0,6101 0,5598 30,47 11,21
2012 1391,07 780,81 0,5906 0,5497 35,75 11,06
2013 1388,05 797,38 0,5410 0,5390 34,93 11,23
Fonte: Ipea/SAE a partir dos microdados da PME/IBGE* preços de 2013 – observações concatenadas no segundo período.** possuía inicialmente renda abaixo da mediana do período 2003 a 2013*** possuía inicialmente renda acima da mediana do período 2003 a 2013
Igualdade – A desigualdade de lucros, segundo a renda individual do trabalho dos em-
preendedores, embora alta, cai de forma consistente no período em questão. O índice
de Gini dos lucros cai quase 10 pontos percentuais, ou 14,6%, passando de 0,641 para
Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 115
0,549. O índice de Theil-T, que é uma medida de desigualdade mais sensível à cauda da
distribuição, cai 29,2%, passando de 0,817 para 0,579 no período.
Também cai de forma similar a desigualdade de renda familiar per capita do trabalho de
pessoas entre 15 e 60 anos nas famílias de conta-próprias ou empregadores. O respectivo
índice de Gini também cai quase 10 pontos de porcentagem, ou 14,5%, passando de
0,63 em 2003 para 0,539. Nesse ínterim, o índice de Theil-T trabalhista per capita do
segmento cai de 0,78 para 0,541. Ou seja, do ponto de vista da equidade, houve marcado
avanço no desempenho trabalhista dos microempreendedores metropolitanos.
Oportunidade - Uma possibilidade oferecida pela PME é acompanhar as trajetórias de
um mesmo empresário e sua família ao longo de curtos intervalos de tempo. A partir
disso, captamos os riscos de queda e as oportunidades de ascensão vividos por cada um
deles e pelos seus familiares. Dividindo na mediana a amostra de todo o período 2003
a 2013, temos que, daqueles que estavam abaixo dessa mediana 12 meses antes, 35%
a cruzaram de baixo para cima entre os dois meses iniciais de 2012 e 2013, enquanto
14,2% dos que estavam acima dela fizeram o trajeto oposto. Se analisarmos as transições
anuais ocorridas dez anos antes, entre 2002 e 2003, 27,3% cruzaram a mediana de baixo
para cima e 26,7% fizeram o caminho oposto. Ou seja, havia fluxo descendente similar
ao ascendente entre 2002 e 2003, mas ambos os fluxos melhoraram desde então. Em
suma, nesses dez anos, a parcela dos que cruzaram a mediana de baixo para cima subiu
de 26,7% para 35%, ao passo que a proporção daqueles que passaram pela mediana no
sentido descendente caiu de 26,7% para 14,2%.
Partindo do nível individual para o familiar em análise semelhante, vê-se que a probabilida-
de de queda cruzando a mediana cai de 23,6%, entre 2002 e 2003, para 11,2% entre 2012
e 2013, enquanto a possibilidade de alta cruzando a mediana sobe de 21,9% para 34,9%.
Diferenciais em queda - De maneira geral, os exercícios com “equações de lucro”
apresentados a seguir mostram potencial explicativo estatisticamente superior ao das tra-
dicionais equações de salário, confirmando entre os microempreendedores toda a gama
de desigualdades associadas a grupos desfavorecidos, como analfabetos, mulheres, negros
e pessoas sem curso técnico, cooperativa ou carnê da previdência. Por outro lado, regis-
tram queda desses diferenciais por atributos ao longo do tempo, gerando maior equidade
horizontal no meio empresarial.
116 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média
O restante desta nota empírica explora a face humana dessa revolução empresarial vinda
desde baixo. Estuda os determinantes da maior prosperidade e equidade entre empresá-
rios, assim como as maiores oportunidades de ascensão e os menores riscos de retroces-
so que eles têm experimentado.
Equações de Lucro
Provavelmente, o exercício empírico mais popular em economia do trabalho é a chamada
equação de salário, em que o logaritmo dos rendimentos do trabalho é regredido contra
uma série de variáveis explicativas sociodemográficas, como sexo, idade, região, educação.
Já se perde a conta do número de bancas de teses ou monografias nas quais a equação de
salários é a base utilizada. O instrumento é difundido pela sua aderência empírica e pela
simplicidade de interpretação direta de seus coeficientes como os retornos dos atributos
envolvidos. Por exemplo, um coeficiente de 0,15 na variável ‘anos completos de estudo’
nos informa que sobe em média 15% o rendimento do trabalho quando se passa de ano
na escola. Pelo artifício da regressão, isolamos o papel da educação do trabalhador vis-à-vis
outras características pessoais observáveis, como sexo, idade, localidade etc. Heuristica-
mente, analisamos a variação dos salários conforme os atributos de diferentes trabalha-
dores como se representasse as trajetórias típicas no rendimento médio de um mesmo
trabalhador que experimenta trocar cada uma de suas características ao longo do tempo.
Nesta nota, aplica-se exercício similar aos resultados reportados por empreendedores,
analisados em relações que podem ser apelidadas de equações de lucro. O primeiro resul-
tado da estimação a ser ressaltado é o coeficiente R2 da regressão básica, que, adequada-
mente interpretado, indica que 59,2% da desigualdade de desempenho entre empresas
são explicados pelo conjunto de atributos utilizados na regressão. Esse valor do R2 é
superior aos típicos 30% a 40% observados em regressões de salário tradicionais encon-
tradas na literatura.
Discute-se o papel de cada um dos determinantes observáveis do lucro dos pequenos
negócios, tomados um a um e isolados dos efeitos dos demais elementos considerados. É
conferida especial atenção às mudanças do impacto no lucro desses fatores observados ao
longo do tempo. Os determinantes incluem variáveis sociodemográficas como sexo, raça,
idade, posição na família e educação; características espaciais como a região metropolitana,
bem como a sua distribuição entre capital ou periferia; atributos dos negócios, como setor
Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 117
de atividade, tamanho em número de empregados e esforço empresarial, medido por
tempo de empresa e jornada de trabalho e outros mais, sujeitos às mudanças de política
pública, como ser membro de cooperativa, fazer curso técnico ou ainda ser ou não formal.
Mais Renda - Conferimos especial atenção à variável ‘tempo’, que permite avaliar a evo-
lução do lucro de empresas e empreendedores com as mesmas características ao longo
dos meses e anos. O retorno em 2013 é 32,9% superior àquele observado dez anos an-
tes, com avanço por empreendedor de cerca de 3% por ano. A flutuação ano a ano pode
ser captada pelo gráfico abaixo.
Cabe notar que o ano de 2013 só tem disponíveis dados de janeiro e fevereiro, até o mo-
mento. Em função disso, incluímos nas regressões variáveis dummies relativas aos meses,
de forma a permitir análise comparável entre anos. Apesar do menor tempo decorrido,
2013 já registra um salto semelhante ao de anos anteriores, indicando, na verdade, acele-
ração da tendência histórica. Em 2012, o pequeno crescimento apelidado “pibinho” não
se refletiu na renda dos trabalhadores, nem na performance dos pequenos empresários,
que se mantém no passo dos 4% ao ano.
Mais Iguais - A ênfase será analisar o retorno, em termos de incremento de lucro pro-
veniente de atributos do empresário e de suas empresas, aí incluindo o seu nível e como
ele muda ao longo dos anos. A fim de captar este último efeito temporal, usamos uma
estimativa de diferença-em-diferença onde cada variável é interagida com a variável ano.
O coeficiente desta interação nos indica diretamente o quanto estes retornos mudaram
ao longo do tempo.
De maneira geral, os exercícios mostram que, olhando o período como um todo, há
desigualdade em todos os atributos produtivos e demográficos associados a grupos tradi-
cionalmente excluídos, como analfabetos, mulheres, pretos ou aqueles sem curso técnico,
cooperativa ou carnê da previdência. Começando pelos atributos pessoais dos empreen-
dedores, o lucro das mulheres é 39,9% menor que o dos homens, o de pretos é 23,6%
menor que o de brancos, o de analfabetos é 74,9% inferior ao daqueles com pelo menos
nível superior de ensino incompleto. Por outro lado, há queda desses diferenciais por
atributos ao longo do tempo. No nosso exemplo, o lucro de mulheres cresce no período
(2003 a 2013) 7,7% mais que o dos homens, o dos pretos cresce 10,7% mais que o de
brancos e, finalmente, o de analfabetos cresce 29,7% mais que o daqueles que já ingres-
saram nos bancos universitários.
118 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média
A tabela indica que os retornos positivos são cadentes ao longo do tempo, ou vice-versa,
revelando uma compressão da desigualdade dos lucros entre os microempresários. Essa
maior equidade empresarial alcançada no período recente é o ponto a ser ressaltado
nesta seção.
Olhando a localização geográfica, os lucros dos negócios de Recife e Salvador, que são as
mais pobres entre as principais metrópoles brasileiras, sobem 20,9% e 19,4% mais que
os de São Paulo, que é a maior e tradicionalmente a mais rica metrópole brasileira. O
lucro nas periferias cresce 3% a mais do que nas capitais. Mesmo com essa melhora, as
conhecidas iniquidades territoriais brasileiras ainda se fazem presentes, sendo o lucro nas
metrópoles de Recife ou Salvador, respectivamente, 37,7% e 30,4% menor que o obser-
vado na Grande São Paulo. Ou ainda, o lucro dos negócios da periferia é 13,9% menor
que o das capitais.
O lucro dos informais cresce 25,3% mais que o dos formais. O de cooperativados, 14,2%
mais que o dos sem cooperativas. O daqueles que frequentam cursos técnicos sobe 17,4%
(36,1%) mais que o dos que não fizeram. Os que concluíram cursos técnicos não apresen-
tam resultados estatisticamente significativos em termos de evolução dos lucros. O lucro
de empresas maiores que 5 empregados cai 27,3% frente o de trabalhadores por conta
própria. E o daqueles com até 5 empregados cai 12,7%. Empresas abertas há menos de
30 dias têm seus lucros aumentados em 42,8% mais que os daqueles estabelecidos há
mais de dois anos. Note que este diferencial cai paulatinamente à medida que se caminha
para empresas há mais tempo estabelecidas: 18,8% e 11,6% para empresas com menos
de 1 ano (e mais de 30 dias) e para aquelas entre 1 e 2 anos, respectivamente.
Perfil - Embora crescentes entre os microempresários, as proporções de mulheres (de
39% para 40,4%), pretos (de 6,7% para 8,6%) e profissionais com curso técnico (de
20,3% para 33,5%) sobem menos que entre o conjunto total de ocupados. Ao passo que
sobem mais a dos que já sentaram nos bancos universitários (de 44,3% para 56,5%) e a
dos que contribuem para previdência (de 30% para 40,8%). Este aumento de formalida-
de cresce em particular a partir do advento do programa microempreendedor individual
em 2009 e se acelera depois da expansão dos critérios de elegibilidade em 2011.
A base, o meio e o topo – Até aqui, foram avaliados os impactos de cada variável so-
bre o desempenho médio dos negócios. Como diz o livro texto de estatística básica, “a
média esconde tanto quanto revela”. A heterogeneidade do desempenho empresarial é
Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 119
comparável à do conjunto do mercado de trabalho brasileiro e, portanto, tem de ser com-
preendida também. Há um largo espectro de atividades empresariais distintas, que vão
desde aquela do trabalhador por conta própria, cujo principal objetivo é prover o sustento
básico de sua família, até aquela com potencial de acumulação de capital e crescimento.
A primeira é tipicamente uma atividade decorrente da necessidade, enquanto a segunda
se caracteriza pela convicção e percepção de oportunidade de quem a empreende. Há
ainda o caso híbrido do empresário da nova classe média brasileira que habita o meio da
distribuição. Portanto, dado nosso objetivo central de caracterizar as diferentes classes de
empresários brasileiros, há de se acompanhar o efeito de cada variável sobre a performan-
ce dos negócios em diferentes pontos da distribuição.
Uma variante da equação de lucro que permite investigar essa heterogeneidade é a re-
gressão quantílica. Ela evidencia como mudam os efeitos estimados ao longo da distribui-
ção de lucros, aqui divididos a cada vintil (isto é, subgrupos de 5% do total de pequenos
empreendedores, ordenados do menor até o maior lucro). A análise enfatiza efeitos si-
milares aos apresentados anteriormente para a média, porém no limite inferior (sobre
os 5% com menores lucros), na mediana da distribuição (centrada entre os 50% menos
lucrativos e a metade mais lucrativa) e na parte superior (com lucros superiores a 95%
do conjunto total).
Primeiro e mais importante, o ‘efeito tempo’: tomando 2003 como base zero, o ganho de
lucro acumulado a partir de 2006 é significativo em todos os pontos da distribuição de lu-
cros, conforme destacado graficamente nos vintis 5%, 50% e 95%. O ganho de lucro au-
menta à medida que caminhamos para períodos mais recentes. A novidade apontada pelo
aparato quantílico é mostrar que esse ganho é decrescente à proporção que caminhamos
da base para o topo da distribuição de lucros. Se fixarmos a análise nos meses de 2013,
perceberemos que o efeito na ponta dos lucros mais baixos é quase duas vezes maior que
na ponta de cima, ficando a mediana num nível intermediário de crescimento: 46% no
vintil 5%; 32,7% no 50%; e 24,5% no 95%. Em suma, o aumento da prosperidade dos
pequenos negócios de subsistência foi bem maior que nos negócios mais lucrativos.
120 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média
Gráfico 1: Ganho de Lucro ao longo da Distribuição de Renda: efeito-ano
Fonte: Ipea/SAE a partir dos microdados da PME/IBGE
Gráficos similares para cada uma das dimensões contemplada no modelo são apresen-
tados ao final desta nota. Eles nos informam como se comportam diferenciais de lucro
diversos ao longo da própria distribuição de lucros em todo o período de 2003 a 2013,
que corresponde ao da ascensão da chamada nova classe média brasileira, aí incluindo
grupos sociodemográficos, espaciais e de atributos empresariais. Observa-se que alguns
tradicionalmente excluídos, como negócios menores, de empresários pretos, da periferia
e menos educados, têm diferenciais negativos, mas que se distribuem de formas variadas
da base ao topo da distribuição de lucros.
Em suma, características como raça, periferia, educação regular, cursos profissionalizan-
tes e tamanho de negócio são definidoras mais fortes dos lucros no topo, onde estão os
diferenciais mais expressivos, do que na base dos proventos das empresas. O oposto
acontece com diferenciais de gênero, tempo de negócio e entre a Grande São Paulo e
metrópoles nordestinas. Finalmente, os impactos de formalização e de cooperativismo
são relativamente constantes ao longo da distribuição de lucros.
Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 121
Conclusões – Os pequenos negócios têm crescido e gerado melhores empregos, com
menor desigualdade tanto dentro do grupo de microempreendedores quanto na relação
de seus lucros com os salários de seus empregados. As principais marcas da ascensão de
pessoas à nova classe média têm sido a escolarização e a conquista do emprego com car-
teira. Nesse contexto, as chances de um brasileiro com ocupação ser um empreendedor
caíram 8,5% de 2006 a 2013, mas o lucro dos que mantêm pequenos negócios cresceu
4% ao ano, segundo a PME. Esses microempreendedores passaram a contratar mais tra-
balhadores com carteira assinada e salários que crescem ainda mais do que seus próprios
lucros. Também ficaram menos desiguais os retornos obtidos pela massa de pequenos ne-
gócios em operação no País, com crescimento mais acelerado a partir da base da pirâmi-
de. Há menor quantidade relativa de negócios de subsistência, com aumento da qualidade
social dos empreendimentos, seja pela geração de empregos emanada, seja pela redução
da desigualdade de renda entre empresários e seus empregados. Além disso, os dados
reportados pelas pessoas na PME mostram que, assim como já tínhamos constatado com
os salários, o lucro dos pequenos empreendedores das principais regiões metropolitanas
também cresceu bem mais que o PIB em 2012, ao ritmo de 4% ao ano acima da inflação,
ritmo este acelerado nos dois primeiros meses de 2013.
A renda familiar per capita do trabalho de pessoas entre 15 e 60 anos das famílias de
conta próprias ou empregadores sobe 35,7% de 2003 a 2013. A mediana no segmento
microempresarial, que é representativo da população trabalhadora brasileira, é uma boa
aproximação da nova classe média brasileira. A renda familiar trabalhista mediana sobe
75,4%, bem acima da média, indicando redução de desigualdade. De fato, o índice de
Gini da renda per capita, assim como de lucro, cai quase 10 pontos de porcentagem entre
2003 e 2013.
De maneira geral, os exercícios controlados de “equações de lucro” apresentam potencial
explicativo estatisticamente superior ao das tradicionais equações de salário, confirmando
entre os microempreendedores toda a gama de desigualdades associadas a grupos desfa-
vorecidos, como analfabetos, mulheres, negros e pessoas sem curso técnico, cooperativa
ou carnê da previdência. Por outro lado, registram queda desses diferenciais por atributos
ao longo do tempo, gerando maior equidade horizontal no meio empresarial.
122 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média
O ganho de lucro aumenta à medida que caminhamos para períodos mais recentes. O
uso do aparato de regressão quantílica mostra que, quando comparamos pessoas iguais
nos mesmos trechos da distribuição de lucros, há ganho decrescente, à medida que ca-
minhamos da base para o topo da distribuição de lucros. Se fixarmos a análise nos meses
de 2013, o incremento controlado nos lucros mais baixos é quase duas vezes maior que
na ponta de cima, ficando a mediana num nível intermediário de crescimento: 46% nos
5% mais pobres; 32,7% na mediana; e 24,5% no 95%, demonstrando que o aumento da
prosperidade dos negócios nanicos de subsistência foi bem maior que nos mais lucrativos.
Uma última possibilidade oferecida pela PME é acompanhar as trajetórias de um mesmo
empresário e sua família ao longo de curtos intervalos de tempo. Entre 2003 e 2013, a
parcela dos que cruzaram a mediana de lucros de baixo para cima subiu de 26,7% para
35%, ao passo que a proporção daqueles que passaram pela mediana no sentido descen-
dente caiu de 26,7% para 14,2%. Demonstrando assim, a posteriori, queda das ameaças
de regressão e incremento das oportunidades de ascensão vividos por cada detentor po-
bre, remediado ou rico do chamado ‘capital de risco’
Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 123
Apêndice 1: Perfil do lucro dos microempresários
Diferencial de Lucro
Controlado
D em D (2013 / 2003) Diferencial de Lucro
Controlado
Diferencial de Lucro Bivariado
2013
Variação Relativa de
Lucro 2013 / 2003*
perfil dos microempresários
Estimativa sig Estimativa sig Mar03-Fev04
Mar12-Fev13
Mulher -0,3994578 # 0,0770307 ## -36,15% 19,58% 39,10% 40,40%
Homem --- --- --- -4,76% 60,90% 59,60%
Parda -0,1801359 # 0,1087857 # -49,67% 143,36% 27,89% 32,73%
Preta -0,2364519 # 0,1066075 ## -53,68% 131,81% 6,71% 8,63%
Branca --- --- --- -2,66% 63,97% 57,15%
Cônjuge -0,0496249 # 0,0315812 ## -29,91% 70,37% 25,59% 26,19%
Filho -0,1910567 # 0,0716151 ## -39,28% 93,00% 12,85% 12,48%
Principal Responsável --- --- --- -23,81% 59,80% 59,04%
Sem instrução e menos de 1 ano de estudo
-0,7488309 # 0,2972997 ## -72,20% -30,04% 2,57% 1,34%
De 1 a 3 anos de estudo -0,6417401 # 0,1685933 ## -65,24% 159,11% 6,33% 3,69%
De 4 a 7 anos de estudo -0,4915923 # 0,1708873 # -61,42% 99,61% 27,77% 20,53%
De 8 a 10 anos de estudo -0,3351901 # 0,152337 # -54,23% 6,94% 18,88% 17,92%
11 ou mais anos de estudo --- --- --- -89,34% 44,28%
IDADE 0,0412448 #
IDADE 2 -0,0004428 #
Total de Moradores -0,0155045 #
Jornada de Trabalho 0,0133423 #
Empregador até 5 empregados 0,4542054 # -0,1268896 ## 99,80% -17,87% 13,31% 12,42%
Empregador com mais de 5 empregados
0,7965032 # -0,2726767 # 315,30% -23,21% 8,94% 7,81%
Conta própria --- --- --- 63,84% 77,74% 79,76%
Comércio, reparação de veículos automotores e de objetos pessoais e domésticos e comércio a varejo de combustíveis
-0,4022483 # -0,0625099 -55,44% 77,11% 29,41% 27,50%
Construção -0,2829899 # 0,0103116 -63,98% 16,42% 13,07% 13,47%
Indústria extrativa e de transformação e prod. e dist. de eletricidade, gás e água
-0,4297366 # -0,1362071 # # -57,33% -14,99% 15,78% 13,85%
124 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média
Diferencial de Lucro
Controlado
D em D (2013 / 2003) Diferencial de Lucro
Controlado
Diferencial de Lucro Bivariado
2013
Variação Relativa de
Lucro 2013 / 2003*
perfil dos microempresários
Estimativa sig Estimativa sig Mar03-Fev04
Mar12-Fev13
Intermediação financeira e atividades imobiliárias, aluguéis e serviços prestados à empresa
0,101556 # -0,0953155 -5,25% -56,77% 12,31% 12,83%
Outras atividades -0,5229824 # -0,0588215 -68,39% -202,61% 0,97% 0,84%
Outros serviços -0,327573 # -0,0547737 -56,22% -34,35% 22,82% 25,99%
Administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde e serviços sociais
--- --- --- 105,76% 5,63% 5,53%
Não contribui -0,4293022 # 0,2531137 # -61,94% 87,67% 70,05% 59,22%
Contribui --- --- --- -123,18% 29,95% 40,78%
Frequentou qualificação profissional -0,0652862 ## 0,3611106 ## -39,72% 27,83% 0,39% 0,62%
Não frequentou qualificação profissional -0,0431687 # 0,0047903 -38,88% -58,39% 79,31% 65,91%
Concluiu qualificação profissional --- --- --- 33,46% 20,30% 33,47%
Cooperativado 0,1302188 # -0,1420984 ## 47,82% -65,03% 3,04% 2,90%
Não cooperativado --- --- --- 3,00% 96,96% 97,10%
Até 30 dias na empresa -0,4646725 # 0,4281447 ## -69,33% 127,76% 1,81% 0,56%
De 31 dias a menos 1 ano na empresa -0,2936383 # 0,1884789 # -47,79% 158,76% 12,17% 8,09%
De 1 ano a menos de 2 anos na empresa -0,1784848 # 0,1160405 # -38,69% 74,56% 7,33% 7,77%
2 anos ou mais na empresa --- --- --- -28,52% 78,69% 83,58%
Periferia -0,1407859 0,0303556 ## -38,68% 53,67% 43,17% 43,48%
Capital --- --- --- -20,66% 56,83% 56,52%
Belo Horizonte -0,0340571 # 0,0853964 ## -15,24% 81,32% 11,26% 11,87%
Porto Alegre -0,0853968 # 0,0576548 -16,20% 102,29% 9,46% 8,04%
Recife -0,3987672 # 0,2049346 # -52,13% 93,15% 6,98% 5,57%
Rio de Janeiro -0,1350309 # -0,0358857 -35,96% -28,08% 25,83% 33,18%
Salvador -0,3107227 # 0,194151 # -38,74% 147,48% 5,58% 5,00%
São Paulo --- --- --- -14,46% 40,90% 36,34%
** R$ a preços de marços de 2013* informação do ano 2012--- base de comparação# Estatisticamente significante ao nível de confiança de 99%## Estatisticamente significante ao nível de confiança de 90%
Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 125
Apêndice 2: regressões quantílicas
Regressões quantílicas nos permitem comparar a performance empresarial em diferentes
faixas de lucro. Os exercícios complementares ao do texto inicial demonstram que em
alguns casos aumenta o diferencial de lucro à medida que se caminha da base ao topo da
distribuição, como no caso de empresários pretos (-20,8% no vintil 5%; -19,9% no 50%;
e 29,4% no 95%) e os da periferia (-11,5% no vintil 5%; -12,4% no 50%; e -15,3% no
95%). Isso indica que os atributos cor negra e morar na periferia são relativamente mais
penalizados nos negócios mais lucrativos.
Efeito distinto se observa com negócios mais novos, criados há menos de 30 dias, que
possuem desempenho melhor no topo da distribuição, onde sua desvantagem no nível de
lucro é menor. Seu diferencial negativo em relação aos estabelecidos há mais de 2 anos é de
-76,3% no vintil 5%; -40,1% no 50%; e -31,8% no 95%. Por outro lado, negócios meno-
res têm pior desempenho, especialmente no topo. O diferencial positivo dos lucros em
negócio com mais de 5 empregados, comparado ao do trabalhador por conta própria, é de
68,6% no vintil 5%; 81,4% no 50%; e 91,8% no 95%. Portanto, no que tange às chama-
das start-ups, há no topo mais efeitos da escala e menos efeitos do tempo de negócio.
As empresárias mulheres e os empreendimentos nordestinos têm desempenhos mais
próximos de seus pares masculinos e paulistas entre os maiores lucros. À proporção que
se escala a pirâmide de lucros, cai o diferencial tanto para mulheres (-54,5% no vintil 5%;
-37,8% no 50%; e -34,6% no 95%) como para as metrópoles nordestinas, aqui exempli-
ficada com Recife (-56,5% no vintil 5%; -39% no 50%; e -30% no 95%).
O topo da distribuição oferece menor diferencial adverso de lucro aos novos negócios.
Por sua vez, o diferencial adverso da baixa escolaridade é menor no meio da distribuição
do que nos dois extremos. Tome-se como exemplo os empreendedores analfabetos, com
diferencial em relação a quem tem nível superior (completo ou incompleto) de 73,2% no
vintil 5%; -68,1% no 50%; e -83,9% no 95%. Já os impactos de formalidade previden-
ciária e de cooperativação não mudam muito ao longo da distribuição de lucros.
126 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média
Gráfico 2: Gênero
Fonte: Ipea/SAE a partir dos microdados da PME/IBGE.
Gráfico 3: Raça
Fonte: Ipea/SAE a partir dos microdados da PME/IBGE
Gráfico 4: Escolaridade
Fonte: Ipea/SAE a partir dos microdados da PME/IBGE.
Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 127
Gráfico 5: Tamanho do negócio
Fonte: Ipea/SAE a partir dos microdados da PME/IBGE.
Gráfico 6: Informalidade previdenciária
Fonte: Ipea/SAE a partir dos microdados da PME/IBGE
Gráfico 7: Cursos profissionalizantes
Fonte: Ipea/SAE a partir dos microdados da PME/IBGE.
128 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média
Gráfico 8: Pertence a cooperativas
Fonte: Ipea/SAE a partir dos microdados da PME/IBGE.
Gráfico 9: Tempo do negócio
Fonte: Ipea/SAE a partir dos microdados da PME/IBGE
Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média | 129
Gráfico 10: Setor de atividade
Fonte: Ipea/SAE a partir dos microdados da PME/IBGE.
Gráfico 11: Geografia - capital ou periferia
Fonte: Ipea/SAE a partir dos microdados da PME/IBGE
130 | Caderno 3 - Empreendedorismo & classe média
Gráfico 12: Geografia - região metropolitana
Fonte: Ipea/SAE a partir dos microdados da PME/IBGE.