tribunalde justiçaik>«y.auw de sjoiôs
PODER JUDICIÁRIOComarca de Silvânia
PROTOCOLO: 201403722387REQUERENTE: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁSREQUERIDO: MUNICÍPIO DE SILVÁNIA-GONATUREZA: AÇÃO CIVIL PÚBUCA
- SENTENÇA -
I- RELATÓRIO
Trata-se de Ação Civil Pública proposta pelo MINISTÉRIO
PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS em desfavor do MUNICÍPIO DE
SILVÂNIA-GOIÁS, ambos devidamente qualificados nos autos.
Aduz o Ministério Público, inicialmente, que em 02 de setembro
de 2014 foi registrada na Promotoria de Justiça notícia de fato - Procedimento
Administrativo (PA) - para apurar falta de vagas nas creches do município.
Aponta que requisitou ao Poder Público Municipal que
disponibJlizasse vagas na educação infantil (creches) para algumas crianças
elencadas no relatório do Conselho Tutelar de fl. 34.
Sustenta que a Secretaria Municipal de Educação reconheceu
a oferta irregular de vagas na educação infantil, admitindo a existência de
registro com lista de espera.
Requereu a antecipação dos efeitos da tutela para que o
Município disponibilizasse, imediatamente, vagas na educação infantil para as
crianças indicadas no relatório do CTS e, ao final, postulou pela procedência
do pedido para que o Município de Silvânia garanta p acesso à educação
infantil a todas as crianças de 0 (zero) a 5 (cinco) anos residentes no
município, promovendo, para tanto, a ampliaçãoe/ou construção de aeches e
pré escolas necessárias.
Foi indeferido o pedido de tutela antecipada (fls. 66/70). O
requerido foi citado (fl. 79-v) e apresentou contestação, fora do prazo (fls.
94/108), arguindo preliminarmente^ ausência de interesse de agir do autor.[píeSTO/22, Pah^qe Residencial Anchieta, Silvânia, Goiásjl80-000 - Fone: (62) 3332-1226
DireK°
dso
tribunalde justiçado estado de gotas
•Sí-V
PODER JUDICIÁRIOComarca de Silvânia
No mérito, sustenta que nunca deixou de priorizar a educação,
nem desviou recursos prioritários da educação para atender outros interesses
municipais. Salienta ter tomado as providências administrativas cabíveis para
a construção de CMEI no bairro residencial Anhanguera.
Ressalta, ainda, que a pretensão ministerial se esbarra na
teoria da "reserva do possível", não tendo a administaçao pública condições
orçamentárias de garantir o direito à educação infantil a toda a população,
além de afirmar que não pode o Poder Judiciário intervir na esfera
adminsitrativa do Poder Executivo, em vista da separação dos poderes.
Requer, ao final, a extinção do processo sem resolução do
mérito ou a total improcedêcia dos pedidos.
Em sede de impugnação à contestação, o Ministério Público
postulou pelo julgamento antecipado da lide, tendo em vista o processo já se
encontrar devidamente instruído, juntado aos autos documento indicando lista
de espera por vagas em creches com 75 (setenta e cinco) crianças.
O município requerido também pugnou pelo julgamento
imediato da Jide, ante a ausência de outras provas a serem produzidas.
Em seguida, o autor da ação peticionou requerendo novamente
a antecipação dos efeitos da tutela para que o requerido disponibilize
imediatamente vagas na educação infantil para as crianças Bryan Henrique
Marques Simões e Emilily Maria Marques Simões dos Santos.
Após, vieram-me os autos conclusos para sentença.
•-..-•• É o breve relatório. Passo as razões de decidir.
II -FUNDAMENTAÇÃO
Conheço diretamente do pedido, conforme requerido pelas
partes, nos moldes do artigo 330, inciso I, do Código de Processo Civil,
tratando-se de questão de direito e de fato que não necessita de dilação
probatória.
Avenida Dom Bosco. quadra 13, lotes 10/22. Panjue Residencial Anchieta, Silvânia. Goiás
y \^^JÉS!M&^m:<62*3332_1226
tribunalde justiçado oituoo ao gotos
PODER JUDICIÁRIOComarca de Silvânia
- Da decretação da revelia
Verifico que o requerido apresentou sua contestação de forma
extemporânea.
A juntada do mandado de citação foi feita em 1o/12/2014 (fl.
78). Assim, o prazo de 60 dias para a apresentação da defesa, em atenção ao
artigo 188 do Código de Processo Civil, se iniciou em 02/12/2014.
Em decorrência do recesso forense (Resolução 24, de 08 de
outubro de 2014) os prazos processuais ficaram suspensos entre 20/12/2014
e 06/01/2015. Por isso, o prazo final para apresentação da defesa pelo
requerido seria 17/02/2015, prorrogado para 19/02/2015 em decorrência do
feriado de carnaval e quarta-feira de cinzas.
Contudo, a contestação apenas foi protocolada em 03/03/2015.
motivo pelo qual decreto de oficio a revelia do município requerido.
Todavia, por versar a causa sobre direito indisponível, bem
como por figurar no polo passivo Fazenda Pública Municipal, afasto os efeitos
da revelia ora decretada, em especial a presunção de veracidade dos fatos,
com base no artigo 320, inciso II, do Código de Processo Civil.
- Da preliminar de carência de ação pela ausência de
interesse de agir
Sustenta a defesa a falta de interesse de agir do autor, tendo
em vista já ter tomado todas as medidas cabíveis para o suprimento da falta
de vagas nas creches municipais, inexistindo decumprimento voluntário da
legislação.
Inicialmente, ressalto que conforme preconiza o Código de
Processo Civil e a doutrina majoritária, amparados pelos ensinamentos de
üebman, as condições para o exercício regular do direito de ação, a fim de
Avenida Oom Bosco, quadra 13. lotesCEP: 75,
Parqu&ftesidencial Anchieta. Silvânia, GoiásÍ62) 3332-1226
Jt5i
tribunalde justiçado <»vUtdo de goiôs
PODER JUDICIÁRIOComarca de Silvânia
limitar uma mínima pertinência a busca pelo Poder Judiciário, são a
possibilidade jurídica do pedido, o interesse de agir e a legitimidade das
partes.
Por seu turno, o pressuposto da ação "interesse de agir" se
desdobra no trinômio necessidade - utilidade - adequação, devendo o juiz
abstratamente averiguá-lo.
Neste contexto, ante as provas trazidas aos autos (fls.
227/237), verifico ser descabido o argumento da municipalidade, haja vista
que evidenciada a necessidade da presente ação como forma de garantir o
acesso à creche a dezenas de crianças que se encontram em lista para
espera por vagas.
Assim, afastada a preliminar suscitada, passo à análise do
mérito.
• Do mérito
Constato que a pretensão aqui aduzida deve ser
prodecedente.
Além da farta documentação acostada aos autos,
principalmente o ofício n. 122/15 da lavra dos Conselheiros Tutelares de
Silvânia-GO (fls. 227/237), verifico que realmente faltam vagas nas creches
municipais.
A Constituição Federal reconhece em seu artigo 6o o acesso à
educação como Direito Social.
O artigo 205 do mesmo diploma legal preceitua que a
educação é um direito de todos e dever do Estado e da família e será
promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e
qualificação para o trabalho.
É dever do Poder Público assegurar a crianças e adolescentes,
Avenida Dom Bosco. quadra 13. lotes 10V22£f%que Residencial Anchieta. Silvânia, GoiásCEP: 75.18O-OO0£Fbne: (Q2),3332-1226
.; u. * •• •. ... • •ív«5as* uíi«m'mmmmsmw^ ** a
'/^%
tribunalde justiçatio estado do goi&>
PODER JUDICIÁRIOComarca de Silvânia
com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde,
à alimentação, À EDUCAÇÃO, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, àcultura, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária, nos
termos da regra prevista no artigo 227, caput, também Constituição Federal.
Com efeito, não sobeja dúvida quanto ao dever do requerido,
haja vista que respaldado na Constituição Federal, a qual proclama o
atendimento em creche e pré-escola às crianças de 0 (zero) a 5 (seis) anos
de idade (art. 208, inciso IV), competindo ao Município a atuação prioritária no
ensino fundamental e na educação infantil (art. 211, § 2°), disposição, aliás,
praticamente reproduzida no artigo 54, inciso IV, do Estatuto da Criança e do
^ Adolescente (Lei n° 8.069/90).Ainda, a Constituição Federal, ao disciplinar a organização da
educação nacional, no § 2° de seu artigo 211, prescreve a obrigação dos
Municípios atuarem prioritariamente no ensino fundamental e na educação
infantil e, em seu artigo 212, exige que os Municípios apliquem, anualmente,
25% (vinte e cinco por cento), no mínimo, da receita resultante de impostos,
compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e
desenvolvimento do ensino.
Nesse mesmo sentido, a Lei de Diretrizes e Base - LDB (Lei n°
9.394/96), nos dispositivos aplicáveis ao caso, dá também suporte aos
p pedidos do Ministério Público. Senão vejamos:
Art. 3o O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;[...J
Art 4° O dever do Estado com educação escolar pública seráefetivado mediante a garantia de:I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17(dezessete) anos de idade, organizadada seguinte forma:a) pré-escola;b) ensino fundamental;c) ensino médio;II - educação infantil gratuita às crianças de até 5 (cinco) anos deidade; [...]VIU - atendimento ao educando, em todas as etapas da educação
Avenida Dom Bosco, quadra 13. lotes 10/22<<P3rque KpaWencial Anchieta, Silvânia, GoiásCEP: 75.18í>0«Xl6brftrP)ífiSW82-1226
tribunalde justiçado o«iaoc etc (jóias
♦•f/l
PODER JUDICIÁRIOComarca de Silvânia
básica, por meio de programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde;IX - padrões mínimos de qualidade de ensino, definidos como avariedade e quantidade mínimas, por aluno, de insumosindispensáveis ao desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem.X - vaga na escola pública de educação infantil ou de ensinofundamental mais próxima de sua residência a toda criança a partirdo dia em que completar 4 (quatro) anos de idade [...].
Art 5o O acesso à educação básica obrigatória é direito públicosubjetivo, podendo qualquer cidadão, grupo de cidadãos,associação comunitária, organização sindicai, entidade de classe ououtra legalmente constituída e, ainda, o Ministério Público, acionar0 poder público para exigi-lo.§ 1o O poder público, na esfera de sua competência federativa,deverá:
1 - recensear anualmente as crianças e adolescentes em idadeescolar, bem como os jovens e adultos que não concluíram aeducação básica;II - fazer-ihes a chamada pública;
III - zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela freqüência à escola.§ 2o Em todas as esferas administrativas, o Poder Públicoassegurará em primeiro lugar o acesso ao ensino obrigatório, nostermos deste artigo, contemplando em seguida os demais níveis emodalidades de ensino, conforme as prioridades constitucionais elegais.§ 3° Qualquer das partes mencionadas no caput deste artigo temlegitimidade para peticionar no PoderJudiciário, na hipótese do § 2odo art. 208 da Constituição Federal, sendo gratuita e de rito sumárioa ação judicial correspondente.§ 4o Comprovada a negligência da autoridade competente paragarantir o oferecimento do ensino obrigatório, poderá ela serimputada por crime de responsabilidade.§ 5o Para garantir o cumprimento da obrigatoriedade de ensino, oPoder Público criará formas alternativas de acesso aos diferentesníveis de ensino, independentemente da escolarização anterior. [...]
Art 11. Os Municípios lncumbir«se-ão de: [...]V - oferecer a educação infantil em creches e pró-escolas, e, comprioridade, o ensino fundamental, permitida a atuação em outrosníveis de ensino somente quando estiverem atendidas plenamenteas necessidades de sua área.de competência e com recursos acimados percentuais mínimos vinculados pela Constituição Federal àmanutenção e desenvolvimento do ensino. [...]
Art 29. A educação infantil, primeira etapa da educação básica,tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança deaté 5 (cinco) anos, em seus aspectos físico, psicológico,intelectual e social, complementando a ação da família e dacomunidade.
Art 30. A educação infantil será oferecida em:
Avenida Dom Bosco, quadra 13. totós 10/22. Parque Residencial Anchieta. Silvânia, GoiásCEP: ZMÔWH» - Fone: (62) 3332-1226
Direito
j#£v
tribunalde justiçatío estaca de c;o>íis
PODER JUDICIÁRIOComarca de Silvânia
I - creches, ou entidades equivalentes, para crianças de até trêsanos de idade;II - prô-escolas, para as crianças de 4 (quatro) a 5 (cinco) anosde idade. [...]
Ainda, a Lei Orgânica do Município de Silvânia, prevê que:
Art. 109 - O Município prestará assistência social e psicológica aquem delas necessitar, com o objetivo de promover a integração aomercado de trabalho, reconhecendo a maternidade e a paternidadecomo relevantes funções sociais, assegurando aos pais os meiosnecessários à educação, assistência em creches e pré-escolas,saúde, alimentação e segurança de seus filhos.
Art 115-0 dever do Município com a educação seráefetivamente mediante a garantia de: [...]VI - atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero aseis (06) anos de idade [...].
Diante de todo esse conjunto de normas, é evidente o dever do
Município de organizar e disponibilizar a educação infantil, garantindo vaga
em creche ou pré-escola para os munícipes.
Acrescente-se que o Supremo Tribunal Federal adota posição
firme contra a inércia do Poder Público no seu dever de prestar educação à
população:
[...] A educação infantil representa prerrogativa constitucionalIndisponível, que, deferida às crianças, a estas assegura, paraefeito de seu desenvolvimento Integral, e como primeira etapado processo de educação básica, o atendimento em creche e oacesso à pró-escola (CF, art 208, IV).• Essa prerrogativa jurídica, em conseqüência, impõe, ao Estado, porefeito da alta significação social de que se reveste a educaçãoinfantil, a obrigação constitucional de criar condições objetivasque possibilitem, de maneira concreta, em favor das "criançasaté 5 (cinco) anos de Idade" (CF, art 208, IV), o efetivo acesso eatendimento em creches e unidades de pré-escola, sob pena deconfigurar-se inaceitável omissão governamental, apta afrustrar, Injustamente, por inércia, o Integral adimplemento, peloPoder Público, de prestação estatal que lhe impôs o própriotexto da Constituição Federal.- A educação infantil, por qualificar-se como direito fundamental detoda criança, não se expõe, em seu processo de concretização, aavaliações meramente discricionárias da Administração Pública, nemse subordina a razões de puro pragmatismo governamental.- Os Municípios - que atuarão, prioritariamente, no ensino
Avenida Dom Bosco.quadra 13. lotes 10/22. Parque Residencial Anchieta, Silvânia. GoiásCEP:75.180-000 v^Jpen52^a232-1226
tribunalde justiçado oiU-Kio de gotas
wW
PODER JUDICIÁRIOComarca de Silvânia
fundamental e na educação infantil (CF, art. 211, § 2o) - não poderãodemitir-se do mandato constitucional, juridicamente vinculante, quelhes foi outorgado pelo art. 208, IV, da Lei Fundamental daRepública, e que representa fator de limitação da discricionariedadepolítico-administrativa dos entes municipais, cujas opções, tratando-se do atendimento das crianças em creche (CF, art 208, IV), nãopodem ser exercidas de modo a comprometer, com apoio em juízode simples conveniência ou de mera oportunidade, a eficácia dessedireito básico de índole social.- Embora inquestionável que resida, primariamente, nos PoderesLegislativo e Executivo, a prerrogativa de formular e executarpolíticas públicas, revela-se possível, no entanto, ao PoderJudiciário, ainda que em bases excepcionais, determinar,especialmente nas hipóteses de políticas públicas definidas pelaprópria Constituição, sejam estas implementadas, sempre queos órgãos estatais competentes, por descumprlrem os encargospolítico-jurídicos que sobre eles incidem em caráter mandatório,vierem a comprometer, com a sua omissão, a eficácia e aintegridade de direitos sociais e culturais impregnados deestatura constitucional [...] (informativo n. 632/2011 STF, ARE639337/SP, Relator: Min. Celso de Mello).
É certo que não se inclui, primordialmente, no âmbito das
funções institucionais do Poder Judiciário a atribuição de formular e de
implementar políticas públicas, pois este encargo reside, especialmente, nos
Poderes Legislativo e Executivo.
Impende assinalar, contudo, que tal incumbência poderá
atribuir-se, embora excepcionalmente, ao Poder Judiciário, se e quando os
órgãos estatais competentes, por descumprirem os encargos político-jurídicos
que sobre eles incidem em caráter mandatório, vierem a comprometer a
eficácia e a integridade de direitos individuais e/ou coletivos impregnados de
estatura constitucional, como sucede na espécie ora em exame.
Nessa conjuntura, uma vez constatada a permanência da falta
de vagas em número suficente nas creches municipais (cerca de 75). mesmo
após a juntada nos autos da documentação referente ao processo licitatório
para; a construção de nova creche, não há que se falar em ingerência e
intromissão do Poder Judiciário nos atos privativos do Poder Executivo, vez
que o Judiciário não pode demitir-se do gravíssimo encargo de tomar efetivos
os direitos econômicos, sociais e culturais, que se identificam - enquanto
Avenida Dom Bosco,quadra 13. lote»^t]72Í. ParouftJResidenáal Anchieta, Silvânia, GoiásCEP:1l&áfi^?fWfl^W 3332-1226
'-% •?•;!• ;•;.; #r. 4í5£ £* *** fcfc 'S8* B^jIft^PW^ * *£ $.4 *:% •• fc : • ,•• . •? • • - •
tribunalde justiçalio estado da ijoiàs
PODER JUDICIÁRIOComarca de Silvânia
direitos de segunda geração (como o direito à educação, p. ex.) - com as
liberdades positivas, reais ou concretas, ante a inércia ou omissão do
Executivo.
A propósito, em caso análogo, também já decidiu o Superior
Tribunal de Justiça que:
ADMINISTRATIVO E CONSTITUCIONAL - ACESSO À CRECHEAOS MENORES DE ZERO A SEIS ANOS - DIREITO SUBJETIVO -RESERVA DO POSSÍVEL - TEORIZAÇÃO E CABIMENTO -IMPOSSIBILIDADE DE ARGUIÇÃO COMO TESE ABSTRATA DEDEFESA- ESCASSEZ DE RECURSOS COMO O RESULTADO DEUMA DECISÃO POLÍTICA - PRIORIDADE DOS DIREITOSFUNDAMENTAIS - CONTEÚDO DO MÍNIMO EXISTENCIAL -ESSENCIALIDADE DO DIREITO A EDUCAÇÃO - PRECEDENTESDO STF E STJ.1. A tese da reserva do possível assenta-se em idéiaque, desde os romanos, está incorporada na tradição ocidental, nosentido de que a obrigação impossível não pode ser exigida(Impossibilium nulla obligatio est - Celso, D. 50, 17, 185). Por talmotivo, a insuficiência de recursos orçamentários não pode serconsiderada uma mera falácia. 2. Todavia, observa-se que adimensão fática da reserva do possível é questão intrinsecamentevinculada ao problema da escassez. Esta pode ser compreendidacomo "sinônimo" de desigualdade. Bens escassos são bens que nãopodem ser usufruídos por todos e, justamente por isso, devem serdistribuídos segundo regras que pressupõe o direito igualao bem e aimpossibilidade do uso igual e simultâneo. 3. Esse estado deescassez, muitas vezes, é resultado de um processo de escolha, deuma decisão. Quando não há recursos suficientes para prover todasas necessidades, a decisão do administrador de investir emdeterminada área implica escassez de recursos para outra que nãofoi contemplada. A titulo de exemplo, o gasto com festividades oupropagandas governamentais pode ser traduzido na ausência dedinheiro para a prestação de uma educação de qualidade. 4. Épor esse motivo que, em um primeiro momento a reserva dopossível não pode ser oposta à efetivação dos DireitosFundamentais, já que, quanto a estes, não cabe aoadministrador público preterMos em suas escolhas. Nemmesmoa vontade da maioria pode tratar tais direitos como secundários. Isso,porque á democracia não se restinge na vontade da maioria. Oprincípio do majoritário é apenas um instrumento no processodemocrático, mas este não se resume àquele. Democracia é, alémda vontade da maioria, a realização dos direitos fundamentais. [...] 5.Com isso, observa-se que a realização dos DireitosFundamentais não 6 opção do governante, não ó resultado deum juízo discricionário nem pode ser encarada como tema quedepende unicamente da vontade política. Aqueles direitos queestão intimamente ligados à dignidade humana não podem serlimitados em razão da escassez quando esta é fruto dasescolhas do administrador. Não é por outra razão que se afirma
Avenida Dom Bosco. quadra 13, lqto*Tu/22. Pafcmf Residencial Anchieta. Silvânia, GoiásCEP: 75dfiMjOO -Fone: (02) 3332-1226
Uç*T*.m!fe»W^mmfm^ti.Bwmfc.s**»b*: ;•*•• r
jírt
tribunalde justiçano estaao 4e gcás
PODER JUDICIÁRIOComarca de Silvânia
que a reserva do possível não 6 oponivel à realização do mínimoexistencial. 6. O mínimo existencial não se resume ao mfnimovital, ou seja, o mínimo para se viver. O conteúdo daquilo queseja o mínimo existencial abrange também as condiçõessocioculturais, que, para além da questão da merasobrevivência, asseguram ao indivíduo um mínimo de inserçãona "vida** social. 7. Sendo assim, não fica difícil perceber quedentre os direitos considerados prioritários encontra-se o direitoà educação. O que distingue o homem dos demais seres vivos não éa sua condição de animal social, mas sim de ser um animal político.É a sua capacidade de relacionar-se com os demais e, através daação e do discurso, programar a vida em sociedade. [...} 9. Eis arazão pela qual o art 227 da CF e o art 4o da Lei n. 8.069/90dispõem que a educação deve ser tratada pelo Estado com absolutaprioridade. No mesmo sentido, o art. 54 do Estatuto da Criança e doAdolescente prescreve queé dever do Estado assegurar às criançasde zero a seis anos de idade o atendimento em creche e pré-escola.{...] 10. Porém é preciso fazer uma ressalva no sentido de quemesmo com a alocação dos recursos no atendimento do mínimoexistencial persista a carência orçamentária para atender a todas asdemandas. Nesse caso, a escassez não seria fruto da escolha deatividades não prioritárias, mas sim da real insuficiênciaorçamentária. Em situações limítrofes como essa, não há como oPoder Judiciário imiscuir-se nos planos governamentais, pois estes,dentro do que é possível, estão de acordo com a Constituição, nâohavendo omissão injustificável. 11. Todavia, a real insuficiência derecursos deve ser demonstrada pelo Poder Público, não sendoadmitido aue a tese sela utilizada como uma desculpa genérica
para a omissão estatal no campo da efetivação dos direitosfundamentais, principalmente os de cunho social. No caso dosautos, não houve essa demonstração. Recurso especial improvido.(REsp 1185474 / SC, Min. Humberto Martins, Segunda Turma,Julgado em 20.04.2010).
Assim, também resta afastada a alegação de que deve ser
aplicada a teoria da "reserva do possível", por não ter restado comprovado
nos autos a efetiva insuficênda orçamentária para a construção de novas
creches, mesmo porque o próprio requerido afirma ter instaurado
procedimento licitatórío para a construção de uma creche no bairro
Residencial Anhanguera deste município.
Ademais, ressalta-se que a municipalidade nem mesmo
comprovou o início das obras mencionadas, bem como não juntou aos autos
cronograma com a data provável de entrega da nova creche, permanendo até
o momento a ausência das vagas, sem se saber até quando.
Destarte, considerando todo o sólido sistema de proteção doAvenida Dom Bosco, quadra 13. lotes4e/Z2. Páríjue ResidencialAnchieta.Silvânia, Goiás
CEP: 7jy$&Brfflt Fccfò3rj(62) 3332'1226Üí '& ií ü-1:> > >:S Lá.lÜ^lffi^Mm. i'i U v: •<; ;U: f-:,-.;. :.
*»*õr«í.ii v
tribunalde justiçado eseaoo do guias
PODER JUDICIÁRIOComarca de Silvânia
direito à educação, conforme acima exposto, não há qualquer condição de se
negar o pedido feito pelo Ministério Público.
Ressalta-se que o pleito de abertura de vagas foi embasado
em levantamentos oficiais, fornecidos pelo Conselho Tutelar de Silvânia-GO e
por secretaria pertencente ao próprio requerido (Secretaria Municipal de
Desenvolvimento Social, Habitação e Apoio à Mulher).
Nem mesmo o requerido, em sua contestação, refutou a
necessidade de criação de novas vagas.
Nâo se discute que o município tem se esforçado para atender
às demandas da população. Contudo, o direito guerreado pelo Ministério
- Público é premente, devendo ser atendido com prioridade absoluta.
Por todo o exposto, ficam afastadas as teses defensivas.
- Do pedido de tutela antecipada
Solicita o Ministério Público, novamente, a antecipação dos
efeitos da tutela para determinar que o requerido, com urgência, disponibilize
vagas na educação infantil para duas crianças em específico, quais sejam
Bryan Henrique Marques Simões e Emilly Maria Marques Simões dos Santos,
tendo em vista que a genitora dos menores necessita trabalhar e não possui
Ç^ pessoa apta a cuidar deles nesse período.
Pois bem.
Verifico que se trata de pedido idêntico ao formulado na inicial,
quando o órgão ministerial pleiteou a imediata disponibilização de vagas na
educação infantil para 07 (sete) crianças específicas, a despeito da lista de
espera existente.
Neste contexto, outra vez, entendo não ser possível o
deferimento do pleito na forma exata como requerida pelo autor, vez que,
conforme o documento de fls. 227/237, existe grande número de crianças que
necessitam igualmente das vagas na educação infantil (creche). Determinar
Avenida Dom Bosco. quadra 13. iotes-1tJ/22. HâTque ResidencialAnchieta,Silvânia,GoiásCEP: 7§)!á§0-0q0P£ojBBMÔfi2) 3332-1226
..'..*• .<.•....•
Í55
tribunalde justiçatioestatio de yciòs
PODER JUDICIÁRIOComarca de Silvânia
ao ente que proceda à imediata matrícula apenas das crianças indicadas
violaria frontalmente o principio da isonomia, já que desconsideraria o direito
das demais crianças que também se encontram na fila de espera, as quais
possuem semelhante garantia constitucional à educação.
Por outro lado, por verificar a alta gravidade da situação em
apreço e a urgência constatada em sua resolução, entendo que alguma
medida deve ser tomada, vez que a ausência de vagas poderá acarretar
outros problemas sociais, como a perda de emprego por parte das mães.
Desta forma, tendo ainda em vista o poder geral de cautela
conferido aos magistrados, bem como em atenção ao disposto no artigo 461
do Código de Processo Civil, que prevê, principalmente quando procedente o >
pedido, que o juiz deverá adotar providências que assegurem a efetiva
realização da obrigação ou de seu resultado prático equivalente, apuro ser
possível o deferimento de forma parcial do pleito antecipatório, a fim de
determinar que o municfpo dê cumprimento, desde já, a senteça, fornecendo
vagas em creches municipais em número suficiente para a demanda existente
(listade espera), abrangendo, inclusive, as crianças Bryane Emilfy.
III-DISPOSITIVO
Ante o exposto, julgo PROCEDENTE a pretensão inicial, nos
termos do artigo 269, inciso I, do Código de Processo Civil, para CONDENAR /*
o requerido no cumprimento da obrigação de fazer consistente em garantir o
acesso à educação infantil a todas as crianças de 0 (zero) a 5 (cinco) anos
residentes no Município de Silvânia-GO.
Com relação ao pedido de antecipação dos efeitos da tutela
pleiteada em fls. 244/245, o DEFIRO no sentido de determinar
DETERMINAR que o ente requerido dê cumprimento, no prazo máximo de
30 (trinta) dias, à sentença ora prolatada, fornecendo vagas em creches
municipais, a todas as crianças que se encontram na lista de espera.
Fixo multa coercitiva de Índole psicológica, em desproveito do
Avenida DomBosco, quadra 13, lotes 1Ô/52ParqueR&»idencialAnchieta.Silvânia,GoiásCEP: 75.180/»BvFone: (62) 3332-1226
há* &su mmm sbmmm^mu v?a a:? u .•: -:
•••'•»'••' •-'»-
/Ê$\
tribunalde justiçado estaco oe 0Ot&»
PODER JUDICIÁRIOComarca de Silvânia
requerido, na hipótese de descumprimento da obrigação aventada nos
presentes autos, no valor de R$ 500,00 (Quinhentos reais), por dia de
descumprimento, sem prejuízo de majoração, independentemente de
requerimento do autor, conforme artigo 461, §4°, do Código de Processo Civil,
a ser recolhida ao Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente.
Isenta a Fazenda Pública de custas, nos termos da lei.
Após o lapso temporal para interposiçâo de recurso voluntário,
certifique-se, e, com ou sem recurso, encaminhem-se os autos ao Egrégio
Tribunal de Justiça com meus cumprimentos, para fins de remessa
obrigatória.
Publique-se. Registre-se. Intimem-se.
Silvânia/GO, 03 de setembro de 2015.
Galdino Akra de Freias Neto
Juiz de/tíirejÈ© em Substituição
AvenidaDomBosco, quadra 13. lotes 10/22, Parque ResidencialAnchieta, Silvânia.GoiásCEP: 75.180-000 - Fone: (62) 3332-1226
?f?*S*í?íii^^r> :rgj;a-tfjg»í?s^í^&§ v^í;j-gi^.* y^^r-/a,.v -..
isé
tucninmtToErrfla/W/iS, às^ilO horiftrecebi esteCs).
JVN7 ABAtojSkâUètW ajunta* *
CERTIDÃO ^Certifico que publiquei registrei earquivei na forma legal a presentesentença^ J4.^So/^Çé)
O referido é verdade e dou fy
CSOnOD
Mate: 5021510
EWUfajíIHBADO PARA 9UB&&l8lr VU
UflDGbnçatesdbs&nínsEscrivão
Matr.: 5022510