DANIEL NAZARENO DE ANDRADE
A INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA COMO MEIO DE PROVA NO ÂMBITO DA POLÍCIA MILITAR DO PARANÁ, SEUS PARADIGMAS LEGAIS E ESTRUTURAIS E OS DESAFIOS DA POLÍCIA JUDICIÁRIA MILITAR PARA SUA IMPLEMENTAÇÃO
CURITIBA 2014
DANIEL NAZARENO DE ANDRADE
A INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA COMO MEIO DE PROVA NO ÂMBITO DA POLÍCIA MILITAR DO PARANÁ, SEUS PARADIGMAS LEGAIS E ESTRUTURAIS E OS DESAFIOS DA POLÍCIA JUDICIÁRIA MILITAR PARA SUA IMPLEMENTAÇÃO
Artigo científico apresentado à disciplina de Metodologia da Pesquisa Científica como requisito parcial para a conclusão do Curso de Pós-Graduação Lato Sensu – Especialização em Direito Militar Contemporâneo do Núcleo de Pesquisa em Segurança Pública e Privada da Universidade Tuiuti do Paraná.
Orientador: Prof. Esp. João Carlos Toledo Junior.
CURITIBA 2014
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A INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA COMO MEIO DE PROVA NO ÂMBITO DA POLÍCIA MILITAR DO PARANÁ, SEUS PARADIGMAS LEGAIS E ESTRUTURAIS
E OS DESAFIOS DA POLÍCIA JUDICIÁRIA MILITAR PARA SUA IMPLEMENTAÇÃO
Daniel Nazareno de Andrade1
RESUMO
A interceptação telefônica tem sido muito usada nas investigações atuais, com isso, cogita-se o uso dessa ferramenta perante à justiça militar estadual, o que apresenta muitos conflitos e dúvidas quanto à sua aplicação, tendo em vista que a Lei 9.296/96 não prevê expressamente o seu uso na justiça castrense. Outro ponto importante também são os requisitos legais e doutrinários, além das dúvidas práticas quanto à formulação do pedido ao judiciário, especialmente em casos de transgressão disciplinar e a impossibilidade de utilização de interceptação telefônica para esse tipo de investigação. Por último, levantam-se dados importantes que podem ser conseguidos em conjunto com os pedidos de interceptação telefônica, podendo inclusive localizar o aparelho e cruzar informações importantes para a investigação.
Palavras-chave: Interceptação telefônica. Direito Militar. Transgressão disciplinar. Intimidade.
1 Terceiro Sargento da Polícia Militar do Paraná, Bacharel em Direito pelas Faculdades Integradas do Brasil – UniBrasil, 2005-2009. Especialista em Gestão Pública pela UFPR, 2012-2014.
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TRAPPING TELEPHONE AS EVIDENCE MEDIA UNDER THE MILITARY POLICE OF PARANA, ITS PARADIGMS LEGAL AND STRUCTURAL AND JUDICIAL
POLICE MILITARY CHALLENGES FOR ITS IMPLEMENTATION
ABSTRACT
The phone tapping has been widely used in the current investigation, with so if considering using this tool in the state military justice system, which features many conflicts and doubts about its appropriateness, given that the Law 9,296 / 96 does not expressly provide your application. Another important point also are the legal and doctrinal requirements, in addition to practical questions regarding the completion of the application to the judiciary, especially in cases of disciplinary transgression and the impossibility of use of telephone interception for such research. Finally, get up important data that can be achieved together with the applications for telephone interception, and may even find your phone and cross important information for research.
Key-words: Telephone interception. Military Law. Disciplinary transgression. intimacy.
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 6 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................................ 9
2.1 REQUISITOS LEGAIS E DOUTRINÁRIOS ................................................... 9 2.2 CABIMENTO DO PEDIDO DE INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA NA JUSTIÇA MILITAR ESTADUAL ............................................................................. 11 2.3 PEDIDO AO JUDICIÁRIO ............................................................................ 16 2.4 ALGO ALÉM DA INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA .................................... 21
3 METODOLOGIA ................................................................................................. 25 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 27 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 28
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1 INTRODUÇÃO
A intimidade e a vida pessoal, e muitas vezes secreta das pessoas, são
temas de muitas discussões, chegando ao ponto de serem questionadas até que
limite essa intimidade pode interferir na vida da sociedade em geral, tal ponderação
entre os direitos à privacidade, intimidade e o direito à segurança e liberdade de
imprensa sempre são temas atuais.
É perceptível a sensação de insegurança e a total falta de resposta
adequada do Estado para garantir a paz social, muitas críticas e apontamentos são
dirigidos à polícia como única causadora da falta de segurança, em especial, à
Policia Militar são apontados os principais motivos de tanta insegurança, entretanto,
a criminalidade está cada vez maior e a legislação brasileira não dá conta dos
desafios criados pela falta de segurança, e a principal causadora de todos os
problemas ainda continua sendo apontada pela imprensa e diversos estudiosos e
entendidos de segurança pública como a PM. Portanto, é interessante apontar que a
PM é responsável pela manutenção da ordem pública e pelo policiamento preventivo
e ostensivo, não cabendo a ela a investigação de crimes e muito menos o
julgamento, custódia e ressocialização de presos, estes que na maioria das vezes
retornam para a sociedade em condições piores das que quando entraram no
sistema carcerário.
Ainda no tema sobre a PM e sua responsabilidade quanto à segurança
pública, essa responsabilidade passa a ser, além do seu papel constitucional de
manutenção da ordem pública e patrulhamento preventivo e ostensivo, de repressão
imediata da criminalidade que se dá quando o crime está acontecendo, mas não se
pode imputar a uma Instituição apenas todos os problemas de uma nação. São
diversos os pontos a serem questionados, tais como legislação inadequada e
atrasada, deficiência na ressocialização de detentos, má distribuição de renda,
cultura popular de vida desregrada e inversão de valores, comportamento violento
de uma sociedade que costuma resolver seus conflitos usando como primeira opção
a violência, justiça lenta e de alto custo que afasta o cidadão comum da prestação
jurisdicional não relacionada ao crime, excesso de consumismo, entre diversos
outros temas ligados à segurança pública que não dizem respeito à Polícia Militar
que é tratada como único algoz da paz social.
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Não é correto então apontar essa instituição centenária como única culpada
pelos problemas com a paz social, mas é justo aceitar a parcela que cabe a ela, em
seus pontos de maior vulnerabilidade, seus integrantes, deles é possível esperar
condutas ilibadas e escorreitas, quando isso não acontece é perceptível o choque
com os valores morais e éticos que são quebrados imediatamente. É ainda mais
gritante quando essas condutas chegam à sociedade de uma forma ampla e latente,
despojando toda uma Corporação de seus pilares maiores, trazendo à baila os seus
problemas e suas barreiras para manter a ordem e a paz social, com isso, a
autonomia de diretores em conduzirem investigações para manter os corretos em
suas fileiras e extirpar os que escolhem os caminhos tortuosos do mundo do crime,
é muito abrangente, todavia, quando se deparam com direitos e garantias
fundamentais, sendo, conforme Lenza (2011), os direitos prescritos em lei, enquanto
as garantias são as ferramentas para se consertar os direitos violados, essa
autonomia enfrenta desafios.
Tem-se uma verdadeira barreira ao se deparar com alguns diretos e
garantias fundamentais quando se está investigando o comportamento
possivelmente criminoso de um indivíduo, e mesmo sendo o suspeito militar, no
trabalho em tela, mais especificamente estadual, seus direitos e garantias
permanecem, portanto, o direito à intimidade previsto na Constituição Federal em
seu art. 5º inciso X, sendo ele: “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra
e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou
moral decorrente de sua violação”, e das comunicações, como se prevê o inciso XII
do mesmo artigo da Carta Magna:
“é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal. (BRASIL, 1988)
Esses direitos fundamentais são instrumentos que mantém a privacidade
dos indivíduos, mas não podem eles serem usados como cobertura intransponível
para o cometimento de crimes que colocam a sociedade em perigo, então, é o caso
de ponderação de direitos e garantias fundamentais que está em jogo. Quando
esses direitos e garantias podem ser colocados de lado a fim de se prestar
segurança pública adequada ao cidadão de bem que espera do Estado tal serviço?
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Buscando essa ponderação e quais as ferramentas corretas para uma
obtenção da prestação jurisdicional e a superação dos melindres existentes entre o
que se pedir e como pedir é que este estudo pretende indicar apontamentos,
caminhos e temas relevantes ao profissional de segurança pública atuante como
autoridade policial militar delegada. Trata-se de um estudo exploratório realizado por
um levantamento bibliográfico, sendo trazidos como espeque também, a prática
profissional e a pesquisa em jurisprudências dominantes sobre o tema pesquisado,
com a singela pretensão de aprofundamento no assunto que é de tão importância e
relevância nos dias atuais, pois qual pessoa, profissional de segurança pública ou
não, que não possui um aparelho de telefone celular?
Toda e qualquer investigação de grande peso nos dias atuais acaba tendo
grande importância a interceptação telefônica, pois, mesmo sabendo que podem
estar sendo monitorados, criminosos tendem a relaxarem com o tempo e acabam
entregando situações preciosas para eles, que no final das contas ajudam a
desmantelar toda a organização criminosa.
Hoje em dia, é muito comum que grande parte das investigações seja levada a efeito através da chamada interceptação de comunicações telefônicas. A necessidade de se comunicar leva o criminoso a contar fatos que, de uma forma ou de outra, ajudarão nas conclusões das investigações, pois, como diz o ditado popular, o “peixe morre pela boca”.(GRECO, 2012, p. 73)
Na investigação, quando está atrelada a crime militar, pode ser conduzida a
interceptação telefônica pela polícia militar, quando for o caso de crime comum será
incompetente o juízo da Justiça Militar Estadual para deferir a interceptação
telefônica de civil ou mesmo sendo militar estadual, cabendo neste caso à polícia
civil a investigação e consequente monitoramento telefônico, como ressalta
Andreucci (2011).
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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 REQUISITOS LEGAIS E DOUTRINÁRIOS
O direito à intimidade que tem sua viga constitucional prevista no art. 5º,
inciso X na CF/88, neste sentido não se está ainda se referindo ao sigilo telefônico,
neste ponto sim, está a quebra de sigilo bancário segundo o entendimento de Lenza
(2011). Tendo em vista que o sigilo bancário é albergado por tal inciso, não se pode
simplesmente através de um pedido administrativo solicitar dados bancários, pois
isso afeta diretamente a intimidade das pessoas físicas e jurídicas, já nesse ponto é
necessária a prestação jurisdicional, diferentemente dos dados cadastrais apenas,
que segundo entendimento da jurisprudência dominante pode ser requisitado
diretamente pela autoridade policial às empresas e órgãos que detém tais dados e
ainda é possível a autoridade policial obter os dados diretamente de computadores e
aparelhos celulares e eletrônicos apreendidos como se vê na decisão a seguir:
HABEAS CORPUS. NULIDADES: (1) INÉPCIA DA DENÚNCIA; (2) ILICITUDE DA PROVA PRODUZIDA DURANTE O INQUÉRITO POLICIAL; VIOLAÇÃO DE REGISTROS TELEFÔNICOS DO CORRÉU, EXECUTOR DO CRIME, SEM AUTORIZAÇÃO JUDICIAL; (3) ILICITUDE DA PROVA DAS INTERCEPTAÇÕES TELEFÔNICAS DE CONVERSAS DOS ACUSADOS COM ADVOGADOS, PORQUANTO ESSAS GRAVAÇÕES OFENDERIAM O DISPOSTO NO ART. 7º, II, DA LEI 8.906/96, QUE GARANTE O SIGILO DESSAS CONVERSAS. VÍCIOS NÃO CARACTERIZADOS. ORDEM DENEGADA. 1. Inépcia da denúncia. Improcedência. Preenchimento dos requisitos do art. 41 do CPP. A denúncia narra, de forma pormenorizada, os fatos e as circunstâncias. Pretensas omissões – nomes completos de outras vítimas, relacionadas a fatos que não constituem objeto da imputação –- não importam em prejuízo à defesa. 2. Ilicitude da prova produzida durante o inquérito policial - violação de registros telefônicos de corréu, executor do crime, sem autorização judicial. 2.1 Suposta ilegalidade decorrente do fato de os policiais, após a prisão em flagrante do corréu, terem realizado a análise dos últimos registros telefônicos dos dois aparelhos celulares apreendidos. Não ocorrência. 2.2 Não se confundem comunicação telefônica e registros telefônicos, que recebem, inclusive, proteção jurídica distinta. Não se pode interpretar a cláusula do artigo 5º, XII, da CF, no sentido de proteção aos dados enquanto registro, depósito registral. A proteção constitucional é da comunicação de dados e não dos dados. 2.3 Art. 6º do CPP: dever da
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autoridade policial de proceder à coleta do material comprobatório da prática da infração penal. Ao proceder à pesquisa na agenda eletrônica dos aparelhos devidamente apreendidos, meio material indireto de prova, a autoridade policial, cumprindo o seu mister, buscou, unicamente, colher elementos de informação hábeis a esclarecer a autoria e a materialidade do delito (dessa análise logrou encontrar ligações entre o executor do homicídio e o ora paciente). Verificação que permitiu a orientação inicial da linha investigatória a ser adotada, bem como possibilitou concluir que os aparelhos seriam relevantes para a investigação. 2.4 À guisa de mera argumentação, mesmo que se pudesse reputar a prova produzida como ilícita e as demais, ilícitas por derivação, nos termos da teoria dos frutos da árvore venenosa (fruit of the poisonous tree), é certo que, ainda assim, melhor sorte não assistiria à defesa. É que, na hipótese, não há que se falar em prova ilícita por derivação. Nos termos da teoria da descoberta inevitável, construída pela Suprema Corte norte-americana no caso Nix x Williams (1984), o curso normal das investigações conduziria a elementos informativos que vinculariam os pacientes ao fato investigado. Bases desse entendimento que parecem ter encontrado guarida no ordenamento jurídico pátrio com o advento da Lei 11.690/2008, que deu nova redação ao art. 157 do CPP, em especial o seu § 2º. 3. Ilicitude da prova das interceptações telefônicas de conversas dos acusados com advogados, ao argumento de que essas gravações ofenderiam o disposto no art. 7º, II, da Lei n. 8.906/96, que garante o sigilo dessas conversas. 3.1 Nos termos do art. 7º, II, da Lei 8.906/94, o Estatuto da Advocacia garante ao advogado a inviolabilidade de seu escritório ou local de trabalho, bem como de seus instrumentos de trabalho, de sua correspondência escrita, eletrônica, telefônica e telemática, desde que relativas ao exercício da advocacia. 3.2 Na hipótese, o magistrado de primeiro grau, por reputar necessária a realização da prova, determinou, de forma fundamentada, a interceptação telefônica direcionada às pessoas investigadas, não tendo, em momento algum, ordenado a devassa das linhas telefônicas dos advogados dos pacientes. Mitigação que pode, eventualmente, burlar a proteção jurídica. 3.3 Sucede que, no curso da execução da medida, os diálogos travados entre o paciente e o advogado do corréu acabaram, de maneira automática, interceptados, aliás, como qualquer outra conversa direcionada ao ramal do paciente. Inexistência, no caso, de relação jurídica cliente-advogado. 3.4 Não cabe aos policiais executores da medida proceder a uma espécie de filtragem das escutas interceptadas. A impossibilidade desse filtro atua, inclusive, como verdadeira garantia ao cidadão, porquanto retira da esfera de arbítrio da polícia escolher o que é ou não conveniente ser interceptado e gravado. Valoração, e eventual exclusão, que cabe ao magistrado a quem a prova é dirigida. 4. Ordem denegada. (HC 91867, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Segunda Turma, julgado em 24/04/2012, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-185 DIVULG 19-09-2012 PUBLIC 20-09-2012).
Já nos casos em que é necessária a interceptação da comunicação
telefônica e de dados, essa sim, é imprescindível que o pedido seja formulado ao
magistrado competente para o julgamento dos alvos a serem interceptados, em caso
de militar estadual, o magistrado atuante junto à Vara da Auditoria da Justiça Militar
Estadual.
Existem, portanto, várias formas de pedidos a serem apresentados à Vara
da Auditoria da Justiça Militar Estadual, tais como, para obtenção de dados
cadastrais, interceptação telefônica, quebra de sigilo de dados e/ou telefônicos, são
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portanto, informações e solicitações diferentes, e que se faz necessário explicar
cada uma delas, na lição de Andreucci (2011, p. 439):
Interceptação telefônica: pode ser conceituada como sendo a captação de conversas telefônicas por terceiros e ocorre quando, em momento algum, os interlocutores têm ciência da gravação da conversa. Escuta telefônica: ocorre quando um dos interlocutores tem ciência da gravação realizada por terceiro. Gravação telefônica: é realizada por um dos interlocutores, sem o conhecimento do outro. Gravação da conversa por um dos interlocutores: é considerada prova lícita. Neste sentido, STJ: RHT 19136/MG, Rel. Min Felix Fischer, j. 20-03-2007. Interceptação, escuta e gravação ambiental: seguem as mesmas regras da escuta telefônica, sendo entretanto pessoal e não por meio telefônico.
É importante esclarecer que são regidas pela Lei Federal 9.296/96 apenas
as regras para interceptação telefônica, não sendo disciplinada pela Lei citada
portanto, qualquer outra forma de violação das comunicações do investigado, tais
como correspondência, escuta ambiental, etc., visto que a referida Lei trata da parte
final do inciso XII do art. 5º da Constituição Federal, ou seja, apenas interceptação
das comunicações telefônicas, ressalvando que no parágrafo único do art. 1º da Lei
9.696/96, “O disposto nesta Lei aplica-se à interceptação do fluxo de comunicações
em sistemas de informática e telemática”, inovou quando trata do assunto de
comunicação por informática, tendo em vista que a Constituição Federal não aborda
esse tema explicitamente, sendo possível, portanto, a interceptação de
comunicações eletrônicas como e-mail, redes sociais, entre outros muito atuais
como o WhatsApp, porém, este não é o tema debruçado neste artigo, mas muito há
o que se abordar sobre este último, um aplicativo para celular, extremamente usado
nos dias atuais para o bem ou para o mal, será tratada aqui apenas a interceptação
telefônica.
2.2 CABIMENTO DO PEDIDO DE INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA NA JUSTIÇA MILITAR ESTADUAL
Se questiona a aplicação da Lei 9.296/96 na Justiça Militar, seja Federal ou
Estadual, em diversas pesquisas realizadas foi possível encontrar decisões que
indeferiram pedidos de interceptações telefônicas apresentados perante à Justiça
Militar Estadual, principalmente no Estado de Minas Gerais, entretanto, no ano de
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2013 foi editada súmula pelo Tribunal de Justiça Militar naquele Estado que pacifica
a dúvida quanto ao cabimento da Lei 9.296/96 na Justiça Militar Estadual lá, como
segue:
O Pleno do Tribunal de Justiça Militar de Minas Gerais, na sessão de 3 de abril de 2013, aprovou, visando a unificação do entendimento acerca da aplicação do instituto de interceptação telefônica no âmbito da Justiça Militar, o seguinte enunciado de súmula: SÚMULA 7 O instituto da interceptação telefônica, previsto na Lei n. 9.296/96, é aplicável no âmbito da Justiça Militar. Referência legislativa: Lei n. 9.296/96 e art. 5º, XII, da Constituição Federal de 1988. Precedente: Incidente de Uniformização de Jurisprudência – Processo n. 0000272-22-2013.9.13.00002
Além disso, após longas buscas por jurisprudências no Superior Tribunal de
Justiça, é possível estabelecer o entendimento de que é competente sim a Justiça
Militar para deferir interceptação telefônica para investigação de crimes militares, e a
decretação de interceptação telefônica por juízo comum, aí sim, invalida a produção
da prova, sendo portanto competente o juízo da Vara da Justiça Militar Estadual
para a o deferimento de pedido de quebra de sigilo telefônico para investigação de
crimes militares como se vê na jurisprudência a seguir:
HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. CRIMES MILITARES. INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA DECRETADA PELA JUSTIÇA COMUM ESTADUAL. INCOMPETÊNCIA. NULIDADE DA PROVA COLHIDA. 1. Somente o juiz natural da causa, a teor do disposto no art. 1.º, Lei n.º 9.296/96, pode, sob segredo de justiça, decretar a interceptação de comunicações telefônicas 2. Na hipótese, a diligência foi deferida pela justiça comum estadual, durante a realização do inquérito policial militar, que apurava a prática de crime propriamente militar (subtração de armas e munições da corporação, conservadas em estabelecimento militar). Deve-se, portanto, em razão da incompetência do juízo, declarar a nulidade da prova ilicitamente colhida. 3. Ordem concedida. (HC 49.179/RS, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 05/09/2006, DJ 30/10/2006, p. 341)
Bem como, se a decretação de interceptação telefônica for dada por juízo
que de início seria competente e no curso das investigações se verificou a sua
incompetência, é perfeitamente possível o declínio da competência para o juízo
2 Notícia veiculada no sítio do Tribunal de Justiça Militar do Estado de Minas Gerais. Disponível em: http://www.tjm.mg.gov.br/noticias-do-tjmmg/3728-publicada-sumula-que-autoriza-a-interceptacao-telefonica-na-jm. Acesso em: 09.12.14.
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adequado, contudo, se for iniciada interceptação telefônica em juízo comum e for
verificada a prática de crime militar, é sim cabível o deslocamento do pedido ao juízo
castrense, como se vê no entendimento ocorrido no caso de crimes comuns
identificados em interceptação telefônica realizada perante à justiça militar em que
há declínio de competência e pode ser aproveitada nas investigações realizadas
pela justiça comum:
HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. TRÁFICO DE DROGAS. INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA AUTORIZADA PELA JUSTIÇA MILITAR. DECLINAÇÃO DE COMPETÊNCIA PARA O JUÍZO ESTADUAL. NÃO-INVALIDAÇÃO DA PROVA COLHIDA. ALEGADA AUSÊNCIA DE INDÍCIOS DE AUTORIA. CIRCUNSTÂNCIA NÃO EVIDENCIADA DE PLANO. TRANCAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL. IMPOSSIBILIDADE. ORDEM DENEGADA. 1. Posterior declinação de competência do Juízo Militar para o Juízo Estadual não tem o condão de, por si só, invalidar a prova colhida mediante interceptação telefônica, deferida por Autoridade Judicial competente até então, de maneira fundamentada e em observância às exigência(sic) legais. 2. O trancamento de inquérito policial pela via estreita do habeas corpus é medida de exceção, só admissível quando emerge dos autos, de forma inequívoca e sem a necessidade de valoração probatória, a inocência do acusado, a atipicidade da conduta ou a extinção da punibilidade, circunstâncias essas, na hipótese, não evidenciadas. 3. Precedentes do Supremo Tribunal Federal e desta Corte Superior. 4. Ordem denegada. (HC 148.908/MS, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 14/04/2011, DJe 04/05/2011)
Já em situação inversa, de início se a investigação apontava apenas para
civis, é possível que no curso das interceptações se for identificado policial militar no
cometimento de crimes militares, a justiça comum pode, e deve, se declarar
incompetente e remeter os autos de interceptação telefônica à justiça militar sob o
risco de que os trabalhos sejam perdidos e a interceptação possa ser decretada
nula, como se vê na jurisprudência a seguir:
INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA. COMPETÊNCIA DO JUÍZO. DESDOBRAMENTO DAS INVESTIGAÇÕES. IDENTIFICAÇÃO, NO CURSO DAS DILIGÊNCIAS, DE POLICIAL MILITAR COMO SUPOSTO AUTOR DO DELITO APURADO. DESLOCAMENTO DA PERSECUÇÃO PARA A JUSTIÇA MILITAR. VALIDADE DA INTERCEPTAÇÃO DEFERIDA PELO JUÍZO ESTADUAL COMUM. ORDEM DENEGADA. 1. Não é ilícita a prova obtida mediante interceptação telefônica autorizada por juízo competente. O posterior reconhecimento da incompetência do juízo que deferiu a diligência não implica, necessariamente, a invalidação da prova legalmente produzida. A não ser que "o motivo da incompetência declarada [fosse] contemporâneo da decisão judicial de que se cuida" (HC nº 81.260, da relatoria do Ministro Sepúlveda Pertence). 2. Não há por que impedir que
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o resultado das diligências encetadas por autoridade judiciária até então competente seja utilizado para auxiliar nas apurações que se destinam a cumprir um poder-dever que decola diretamente da Constituição Federal (incisos XXXIX, LIII e LIV do art. 5º, inciso I do art. 129 e art. 144 da CF). Isso, é claro, com as ressalvas da jurisprudência do STF quanto aos limites da chamada prova emprestada. 3. Os elementos informativos de uma investigação criminal, ou as provas colhidas no bojo de instrução processual penal, desde que obtidos mediante interceptação telefônica devidamente autorizada por juízo competente, admitem compartilhamento para fins de instruir procedimento criminal ou mesmo procedimento administrativo disciplinar contra os investigados. Possibilidade jurisprudencial que foi ampliada, na segunda questão de ordem no Inquérito nº 2.424 (da relatoria do Ministro Cezar Peluso), para também autorizar o uso dessas mesmas informações contra outros agentes. 4. Habeas corpus denegado. (STF; HC 102.293; RS; 2ª T.; Rel. Min. Ayres Britto; DJE 19/12/2011; p. 58)
Pelas apresentações das jurisprudências, não há o que se falar em
incompetência do juízo castrense estadual para o deferimento de interceptação
telefônica, muito menos da competência da justiça comum estadual para o
deferimento de interceptação telefônica em caso de crimes militares, como visto,
gera nulidade da prova obtida tendo em vista a incompetência do juízo. Desta
Forma, o órgão judicial competente para apreciação de pedido de quebra de sigilo
telefônico no Estado do Paraná para apuração de crimes militares é a Vara da
Justiça Militar Estadual, localizada na Capital Paranaense, para apurar crimes
militares ocorridos, ou a suspeita destes, em todo o Estado do Paraná, sejam
cometidos por Policiais ou Bombeiros Militares, conforme prevê a Constituição
Federal em seus artigos 124 e, mais especificamente, no art. 125, § 4º, como se vê:
Art. 124. à Justiça Militar compete processar e julgar os crimes militares definidos em lei. Parágrafo único. A lei disporá sobre a organização, o funcionamento e a competência da Justiça Militar. Art.125... § 4º Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares dos Estados, nos crimes militares definidos em lei e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a competência do júri quando a vítima for civil, cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças.
Cabendo ainda relembrar o art. 9º do Código Penal Militar, no qual carrega a
competência da Justiça Militar com a definição dos crimes militares em tempo de
paz, ou seja, se a competência da justiça militar estadual é a de julgar policiais e
bombeiros militares, e de forma alguma civis, este artigo do CPM apresenta, como
se verifica, se o crime é militar ou não, para o fim de delimitar a competência do juízo
castrense, como se vê:
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Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz: I - os crimes de que trata êste Código, quando definidos de modo diverso na lei penal comum, ou nela não previstos, qualquer que seja o agente, salvo disposição especial; II - os crimes previstos neste Código, embora também o sejam com igual definição na lei penal comum, quando praticados: a) por militar em situação de atividade ou assemelhado, contra militar na mesma situação ou assemelhado; b) por militar em situação de atividade ou assemelhado, em lugar sujeito à administração militar, contra militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil; c) por militar em serviço ou atuando em razão da função, em comissão de natureza militar, ou em formatura, ainda que fora do lugar sujeito à administração militar contra militar da reserva, ou reformado, ou civil; (Redação dada pela Lei nº 9.299, de 8.8.1996) d) por militar durante o período de manobras ou exercício, contra militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil; e) por militar em situação de atividade, ou assemelhado, contra o patrimônio sob a administração militar, ou a ordem administrativa militar; f) revogada. (Vide Lei nº 9.299, de 8.8.1996) III - os crimes praticados por militar da reserva, ou reformado, ou por civil, contra as instituições militares, considerando-se como tais não só os compreendidos no inciso I, como os do inciso II, nos seguintes casos: a) contra o patrimônio sob a administração militar, ou contra a ordem administrativa militar; b) em lugar sujeito à administração militar contra militar em situação de atividade ou assemelhado, ou contra funcionário de Ministério militar ou da Justiça Militar, no exercício de função inerente ao seu cargo; c) contra militar em formatura, ou durante o período de prontidão, vigilância, observação, exploração, exercício, acampamento, acantonamento ou manobras; d) ainda que fora do lugar sujeito à administração militar, contra militar em função de natureza militar, ou no desempenho de serviço de vigilância, garantia e preservação da ordem pública, administrativa ou judiciária, quando legalmente requisitado para aquêle fim, ou em obediência a determinação legal superior. Parágrafo único. Os crimes de que trata este artigo quando dolosos contra a vida e cometidos contra civil serão da competência da justiça comum, salvo quando praticados no contexto de ação militar realizada na forma do art. 303 da Lei no 7.565, de 19 de dezembro de 1986 - Código Brasileiro de Aeronáutica. (Redação dada pela Lei nº 12.432, de 2011)
Não se enquadrando em um dos incisos ou alíneas do art. 9º do CPPM,
portanto, não há competência da justiça militar para deferir pedido de quebra de
sigilo telefônico de militar estadual apontado como autor do crime, e cabe salientar
ainda que se o crime for comum e praticado por policial militar se houver
necessidade de pedido de quebra de sigilo telefônico, este deverá ser realizado
junto à Justiça Comum.
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2.3 PEDIDO AO JUDICIÁRIO
Importante ressaltar quais as autoridades competentes para a realização do
pedido de interceptação telefônica ao Poder Judiciário, tendo em vista que a Lei
9.296/96 apresenta que o próprio Juiz, de ofício, pode determinar a interceptação
telefônica, o representante do Ministério Público e a Autoridade Policial podem
requerer esta na investigação criminal e aquela, tanto na investigação criminal
quanto na instrução processual penal, conforme previsão do art. 3º da referida Lei.
Cabe, portanto, para o foco principal que se trata da interceptação telefônica
nos crimes militares, e especificamente, no âmbito da Justiça Militar Estadual, e
focando o Estado do Paraná, se questionar sobre a autoridade policial militar, quem
é e como se dá essa delegação?
Prevista no art. 7º do Código de Processo Penal Militar a Polícia Judiciária
Militar pode ser exercida por oficial que recebe a delegação de autoridade
competente: Art. 7º A polícia judiciária militar é exercida nos têrmos do art. 8º, pelas seguintes autoridades, conforme as respectivas jurisdições: a) pelos ministros da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, em todo o território nacional e fora dêle, em relação às fôrças e órgãos que constituem seus Ministérios, bem como a militares que, neste caráter, desempenhem missão oficial, permanente ou transitória, em país estrangeiro; b) pelo chefe do Estado-Maior das Fôrças Armadas, em relação a entidades que, por disposição legal, estejam sob sua jurisdição; c) pelos chefes de Estado-Maior e pelo secretário-geral da Marinha, nos órgãos, fôrças e unidades que lhes são subordinados; d) pelos comandantes de Exército e pelo comandante-chefe da Esquadra, nos órgãos, fôrças e unidades compreendidos no âmbito da respectiva ação de comando; e) pelos comandantes de Região Militar, Distrito Naval ou Zona Aérea, nos órgãos e unidades dos respectivos territórios; f) pelo secretário do Ministério do Exército e pelo chefe de Gabinete do Ministério da Aeronáutica, nos órgãos e serviços que lhes são subordinados; g) pelos diretores e chefes de órgãos, repartições, estabelecimentos ou serviços previstos nas leis de organização básica da Marinha, do Exército e da Aeronáutica; h) pelos comandantes de fôrças, unidades ou navios; Delegação do exercício 1º Obedecidas as normas regulamentares de jurisdição, hierarquia e comando, as atribuições enumeradas neste artigo poderão ser delegadas a oficiais da ativa, para fins especificados e por tempo limitado. 2º Em se tratando de delegação para instauração de inquérito policial militar, deverá aquela recair em oficial de pôsto superior ao do indiciado, seja êste oficial da ativa, da reserva, remunerada ou não, ou reformado. 3º Não sendo possível a designação de oficial de pôsto superior ao do indiciado, poderá ser feita a de oficial do mesmo pôsto, desde que mais antigo. 4º Se o indiciado é oficial da reserva ou reformado, não prevalece, para a delegação, a antiguidade de pôsto.
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Designação de delegado e avocamento de inquérito pelo ministro 5º Se o pôsto e a antiguidade de oficial da ativa excluírem, de modo absoluto, a existência de outro oficial da ativa nas condições do § 3º, caberá ao ministro competente a designação de oficial da reserva de pôsto mais elevado para a instauração do inquérito policial militar; e, se êste estiver iniciado, avocá-lo, para tomar essa providência.
Portanto, a autoridade de Polícia Judiciária Militar delega seu poder ao
Oficial Encarregado do IPM que, por tempo determinado, exerce todas as
prerrogativas daquela autoridade, podendo então este requerer ao juiz de direito
atuante na Vara da Justiça Militar Estadual o pedido de quebra de sigilo de dados e/
ou telefônico, nomenclatura esta usada pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ)
como classe processual com codificação específica, nº 310 da tabela de classes, em
que serão sempre autuados em apartado e em segredo de justiça. É possível
verificar na tabela de classes do CNJ que a aplicação de tal pedido é perfeitamente
cabível na Justiça Militar Estadual, além de outras competências que a própria Lei
9.296/96 não especifica, mas já é rotineira a sua aplicação em diversas
competências e graus de jurisdição, sendo importante apresentar a tabela abaixo
para uma melhor visualização do enquadramento do pedido no Poder Judiciário:
TABELA 1 – Tabela de Classes
Justiça Estadual
1º Grau 2º Grau Juizado Especial Turmas Recursais
Juizado Especial da Fazenda Pública
Turma Estadual de Uniformização
Competência Militar
1º Grau 2º Grau
Justiça Federal
1º Grau 2º Grau Juizado Especial Turmas Recursais
Turma regional de unifor. Turma nacional de unifor. CJF
Justiça da Trabalho
1º Grau 2º Grau TST CSJT
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Justiça Militar da União
1º Grau STM
Justiça Militar Estadual
1º Grau TJM
Justiça Eleitoral
Zonas Eleitorais TRE TSE
Outras Justiças
STF STJ CNJ
Natureza: Cautelar
Norma: Lei 9696/96
Artigo: 1º e SS.
QuebSigSigla:
Polo Ativo:
Requerente
Polo Passivo:
Acusado
Com numeração própria:
Glossário:
Pode ser antes de cadastrar inquérito ou ação penal. É dependente desses processos. Sempre autuado em apartado (art. 8º). Cadastrar como sigiloso Art. 1º A interceptação de comunicações telefônicas, de qualquer natureza, para prova em investigação criminal e em instrução processual penal, observará o disposto nesta Lei e dependerá de ordem do juiz competente da ação principal, sob segredo de justiça. Parágrafo único. O disposto nesta Lei aplica-se à interceptação do fluxo de comunicações em sistemas de informática e telemática.
FONTE: Conselho Nacional de Justiça 3
Antes de se cogitar a possibilidade de se conseguir diversas informações
além do pedido de interceptação telefônica, é importante ressaltar uma das
situações mais recorrentes nos pedidos de quebra de sigilo telefônico apresentados
junta à Vara da Justiça Militar do Paraná, a primeira situação recorrente é quando o
3 Sistema de Gestão de Tabelas Processuais Unificadas, consulta pública de classes. Disponível em: http://www.cnj.jus.br/sgt/consulta_publica_classes.php. Acesso em 02.12.2014.
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pedido se encaixa em uma das previsões de proibição do art. 2º da Lei 9.296/96,
tendo em vista que essa medida é excepcional e requer uma atenção e esmero da
autoridade de polícia judiciária militar antes de recorrer à medida tão grave, ou seja,
não pode ser a primeira alternativa, sendo importante trazer as proibições legais
para a interceptação telefônica:
Art. 2° Não será admitida a interceptação de comunicações telefônicas quando ocorrer qualquer das seguintes hipóteses: I - não houver indícios razoáveis da autoria ou participação em infração penal; II - a prova puder ser feita por outros meios disponíveis; III - o fato investigado constituir infração penal punida, no máximo, com pena de detenção. Parágrafo único. Em qualquer hipótese deve ser descrita com clareza a situação objeto da investigação, inclusive com a indicação e qualificação dos investigados, salvo impossibilidade manifesta, devidamente justificada.
Deste modo, não há possibilidade, de se requerer interceptação telefônica
em caso de transgressão disciplinar, como prevê a proibição do inciso I do art. 2º,
entretanto, é recorrente os pedidos de quebra de sigilo telefônico com intuito de
apurar transgressões à disciplina militar, sendo estes fatalmente rejeitados por
imposição legal.
Outro ponto importante é a falta de demonstração de que não há outra forma
de se produzir a prova que não seja pela interceptação telefônica, quanto a este
quesito normalmente não se enquadram os indeferimentos de pedidos de quebras
de sigilo telefônicos, pois normalmente há um esforço por parte dos Encarregados
de se conseguir a prova de maneira diversa da interceptação telefônica.
Já quanto ao quesito de pena mínima de 2 (dois) anos de reclusão, em
certas investigações é normal que a infração apurada seja punida com detenção em
grau máximo, o que impossibilita o pedido de interceptação telefônica, como é o
caso do crime de difamação, que a pena é de detenção de três meses a um ano, o
que impossibilita legalmente o pedido.
Já outro empecilho legal que se esbarram os pedidos de quebra de sigilo
telefônico é a previsão do parágrafo único do art. 2º da Lei 9.296/96, como se vê
“Parágrafo único. Em qualquer hipótese deve ser descrita com clareza a situação
objeto da investigação, inclusive com a indicação e qualificação dos investigados,
salvo impossibilidade manifesta, devidamente justificada.” Nesse ponto, portanto,
está um enorme gargalo nas requisições apresentadas perante à Vara da Justiça
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Militar Estadual, em que muitos pedidos são apresentados sem a menor instrução
probatória, sem a comprovação e que há crime a ser investigado e quais os
suspeitos e suas qualificações, o que gera a intimação do requerente para que
proceda melhor instrução do pedido, normalmente com a portaria de instauração do
inquérito policial militar e as inquirições de testemunhas que apontam a prática do
crime investigado e os indícios que levam aos suspeitos.
Normalmente esse pedido de complementação vem do representante do
Ministério Público que, no caso da Vara da Justiça Militar Estadual do Paraná, é
ouvido sempre nos pedidos de quebra de sigilo telefônico, apesar de não ser
obrigatória a manifestação do parquet, se ele for ouvido o prazo de 24 (vinte quatro)
horas para decisão não é alterado, como se vê na manifestação de Fernando Capez
(2008, p. 525): Intervenção do Ministério Público: A Lei não exige a oitiva do Ministério Público antes do deferimento, ou não, da medida cautelar de interceptação telefônica; contudo, nada impede que o órgão ministerial seja ouvido, na medida em que é o titular da ação penal, bem como exerce a função de fiscal da lei. Obviamente que o juiz, ao optar em ouvir o Ministério Público, ainda assim não poderá ultrapassar o prazo máximo de 24 horas para decidir o pedido.
Capez(2008), relembra ainda que o controle da legalidade é realizado pelo
juiz da causa principal, e que o pedido é realizado perante o juízo provisório, mesmo
que fisicamente seja o mesmo juiz, como é o caso da Vara da Justiça Militar
Estadual do Paraná, que atuando como juízo principal fará analise da prova e de
seus requisitos para que seja utilizada sob a ampla defesa e o contraditório, sendo
que estas garantias não são verificadas no momento do requerimento inicial,
obviamente, pois frustraria a obtenção da prova pretendida.
É de grande importância e de indispensável estudo por parte da autoridade
de polícia judiciária militar, tendo em vista que os pedidos de interceptação
telefônica não fazem parte de suas rotinas de trabalho, se atentar para os preceitos
elencados na Resolução nº 59, de 09 de setembro de 2008, do Conselho Nacional
de Justiça, sendo a uniformização dos pedidos de interceptação telefônicas ao
Poder Judiciário o assunto dessa Resolução, que regula o procedimento desde o
pedido inicial ao pedido de prorrogação, com procedimentos de retirada dos autos
do Poder Judiciário e acessos de funcionários ao assunto principal. Um dos pontos
mais importantes é o pedido que não deve ser aberto e sim lacrado com envelope
duplo que só pode ser aberto pelo escrivão ou funcionário designado pelo juiz para o
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cadastro do pedido, além do pedido de prorrogação das interceptações telefônicas
que devem ser instruídos com CD/DVDs dos autos captados e relatório com
transcrições das principais conversas que serão protocolados da mesma forma que
o pedido inicial e abertos somente por funcionário autorizado ou pelo escrivão.
Lembrando ainda, que a Lei 9.2.96/96 prevê que a autoridade de polícia
judiciária deve apensar aos autos de IPM aos autos de interceptação telefônica
antes do relatório final, conforme ressalta Cabette (2009), há exigência legal que
muitas vezes é descumprida na prática.
2.4 ALGO ALÉM DA INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA
É possível requerer ao juiz competente, junto com o pedido de interceptação
telefônica, que sejam fornecidos dados das ERBs (Estações Rádio Base) nas quais
os terminais de telefonia celular alvos da investigação estão se conectando, essas
ERBs nada mais são do que as chamadas antenas de telefonia celular, que
funcionam como um elo entre o terminal de telefonia celular e as CCCs( Centrais de
Comutação e Controle), e estas fazem a comunicação com outras ERBs e/ou a rede
fixa de telefonia, o que possibilita a comunicação entre telefones celulares e entre
estes e telefones fixos.4
Mas para o que serve saber qual a ERB utilizada pelo alvo? É simples!
Muitas vezes os alvos evitam mencionar seus locais de encontro ou de cometimento
de crimes, com tal acesso é possível saber a localização aproximada da área
coberta pela ERB pela qual foi realizada a ligação telefônica e com isso sanar
eventual dúvida se o alvo estava no local do fato. Ainda é possível estabelecer se há
relações entre pessoas investigadas que afirmam não se conhecer, entre outros
inúmeros usos para tal informação que hoje em dia é primordial nas investigações.
Ferro Junior (2007) alerta sobre a importância de se ter acesso imediato aos
dados cadastrais ERBs, e ao número de série eletrônico (Eletronic Serial Number -
ESN) que cada aparelho de telefonia celular possui, possibilitando assim, a
identificação imediata e possível localização de acusado de estar cometendo crimes,
como os tão conhecidos “saidinha de banco” e “golpe do sequestro”, sendo o
primeiro tipificado atualmente como extorsão qualificada pela restrição da liberdade
e o segundo, que na verdade é um estelionato, pois não há ninguém sequestrado e 4 Mapa de ERBs Brasil (antenas). Disponível em: http://www.telebrasil.org.br/panorama-do-setor/mapa-de-erbs-antenas. Acesso em: 12.12.2014.
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a vítima é levada ao engano por um interlocutor que simula a voz de um ente
próximo e lhe é exigido dinheiro para que não seja feito algum mal. O autor citado
revela profundo descaso das operadoras de telefonia que não fornecem o acesso
aos dados sem que haja ordem judicial, no entanto, as operadoras de telefonia
alegam que há uma severa invasão na intimidade dos seus clientes se esses dados
ficarem disponíveis, como se vê no caso concreto em que houve pedido de
autoridade policial para que fosse liberado acesso a todos os clientes de uma
operadora de telefonia, com a finalidade de localizar os suspeitos no momento em
que fosse preciso. Seria um sonho para qualquer investigador possuir um poder
desses, que muitas vezes é apresentado em filmes Norte-Americanos como se a
polícia detivesse tal poder instantâneo, o que acaba provocando o ideal de muitos
investigadores e autoridades policiais, como se vê, algo assim já foi tentado no
Estado do Paraná, entretanto, sem sucesso:
HABEAS CORPUS PREVENTIVO. DECISÃO JUDICIAL QUE ORDENA À CONCESSIONÁRIA DE TELEFONIA QUE FRANQUEIE A INVESTIGADORES POLICIAIS - SEM QUALQUER CONTROLE JUDICIAL PRÉVIO - O ACESSO IMEDIATO DE POSICIONAMENTOS DE ESTAÇÕES RÁDIO-BASE (ERB'S), BILHETAGEM E DADOS CADASTRAIS DE TELEFONES FIXOS E CELULARES. ORDEM GENÉRICA QUE ABRANGE, EM TESE, TODOS OS USUÁRIOS DA CONCESSIONÁRIA DE TELEFONIA. ART. 5º, INC. XII DA CF/88. DIREITO DE SIGILO GARANTIDO CONSTITUCIONALMENTE QUE NÃO ALCANÇA APENAS O CONTEÚDO DA LIGAÇÃO TELEFÔNICA, MAS TAMBÉM OS NÚMEROS E IDENTIFICAÇÃO DOS DESTINATÁRIOS, HORÁRIOS DAS CHAMADAS E DURAÇÃO DE CADA UMA DELAS. GARANTIA QUE NÃO É ABSOLUTA MAS QUE, PARA SER AFASTADA, REQUER FUNDAMENTAÇÃO E INDIVIDUALIZAÇÃO DO CIDADÃO CUJO SIGILO FOI AFASTADO. CONSTRANGIMENTO ILEGAL EVIDENTE. INTERESSE PROCESSUAL DA PACIENTE EM OBTER A ORDEM, PARA EVITAR EVENTUAL E FUTURA RESPONSABILIZAÇÃO POR CRIME DE DESOBEDIÊNCIA. ORDEM CONCEDIDA, COM EXTENSÃO AOS DEMAIS DESTINATÁRIOS DA MESMA DECISÃO DE INTERCEPTAÇÃO. 1. Há interesse processual de paciente em postular ordem de habeas corpus quando evidenciado o potencial perigo de, na hipótese de não atender de imediato à ordem judicial cuja legalidade questiona, possa ser responsabilizada criminalmente pelo crime de desobediência. 2. O acesso ao posicionamento das ERBs (Estações Rádio Base) permite ao detentor da senha e login concedidos pela concessionária de telefonia identificar a localização geográfica aproximada do usuário do telefone celular. 3. De posse da bilhetagem e dos dados cadastrais, o agente é informado: (a) para quem o usuário telefonou; (b) quem telefonou para o usuário; (c) a data, horário e duração de cada uma destas chamadas. 4. O direito de sigilo não se restringe ao teor das conversas telefônicas mas também aos números para os quais o usuário ligou, os horários e duração das chamadas. 5. O direito de sigilo não é absoluto. A própria Constituição Federal ressalva a possibilidade de ser afastado por ordem judicial para fins de investigação criminal ou instrução processual penal. O direito de sigilo não deve se prestar ao acobertamento de práticas delituosas que devem ser apuradas
23
pela autoridade competente. Contudo, tal situação, conveniência e necessidade devem ser demonstradas previamente. 6. A regra é a manutenção das garantias constitucionais do cidadão - dentre as quais o direito de sigilo - e o afastamento de tais garantias constitui-se na exceção. Por isso, o afastamento do sigilo de dados deve ser devidamente fundamentado no pronunciamento judicial que o defere. (TJPR - 2ª C.Criminal - HCC - 468639-9 - Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba - Rel.: Lilian Romero - Unânime - - J. 27.03.2008)
Respaldado por ordem judicial, aí sim esses recursos podem ser utilizados,
e juntamente com a interceptação telefônica podem ser ferramentas
importantíssimas para aliar os investigadores no combate diário ao crime que se
torna cada vez mais moderno e dinâmico, que cada dia evolui e essa evolução
normalmente é mais rápida e não tem as barreiras legais e burocráticas que os
agentes da lei têm que enfrentar.
Além das ERBs que são fontes preciosas de informações sobre a localidade
da chamada e posicionamento geográfico do alvo, outro dado importante a ser
lembrado além da interceptação telefônica, é o número de série do aparelho de
telefonia celular, IMEI:
IMEI é a sigla para International Mobile Equipment Identity, que em português significa “Identificação Internacional de Equipamento Móvel”. Em outras palavras, é um número único que identificada(sic) cada aparelho de telefone celular. O número IMEI é normalmente colado em um adesivo no compartimento da bateria. Outra forma de se obter o IMEI é digitar direto no aparelho o código: *#06# (funciona para celulares Nokia e em algumas outras marcas). Com a digitação deste código, não é necessário abrir ou desligar o celular para descobrir o IMEI.5
Para cada aparelho celular no mundo inteiro se tem um número de IMEI
diferente, portanto, esse número é importante para que a autoridade policial possa
pedir, também, a interceptação do número IMEI do celular ao invés de requisitar
apenas a interceptação do SIM CARD (Subscriber Identity Module), conhecidos
como chips, que carregam identificação de usuários e dados do cadastro e número
do terminal telefônico móvel, neste caso, quando a tecnologia usada é a GSM
(ABLESON; COLLINS; SEN, 2012). O pedido de quebra de sigilo telefônico que visa
a interceptação telefônica do IMEI, além do chip do celular, é mais abrangente, pois
a tecnologia GSM permite a troca de um chip para outro aparelho e do mesmo
5 O que é IMEI do celular. Disponível em: http://www.palpitedigital.com/o-que-e-o-imei-do-celular/. Acesso em: 13.12.2014.
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aparelho para outro chip, até mesmo de outra operadora de telefonia, sendo assim
se for pedido apenas a interceptação do número telefônico, corre-se o risco de se
perder conversas importantes se for usado outro SIM CARD no mesmo aparelho, e
se for pedida apenas a interceptação de um IMEI, corre-se o risco de ser usado
outro aparelho para conversas telefônicas realizadas pelo mesmo chip do alvo em
um terceiro equipamento.
Há também a possibilidade de interceptação de comunicações por rádio,
como o caso da tecnologia usada pela empresa Nextel, no entanto, o foco deste
trabalho está voltado mais para os entraves e digressões jurídicas em torno das
interceptações telefônicas, e o assunto tecnológico, apesar de muito interessante,
tomaria enorme espaço precioso neste, sendo então de suma importância que a
autoridade policial envolvida na investigação de cada caso concreto se atente para a
tecnologia usada e as ferramentas adequadas para o seu enfrentamento.
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3 METODOLOGIA
Como base para as pesquisas realizadas neste trabalho foi alvo a pesquisa
bibliográfica, que se deu com a leitura e pesquisa em livros de autores renomados
que trazem muita contribuição para o tema, além de teses, dissertações, artigos
científicos e matérias jornalísticas. Alia-se a isso, a experiência prática do autor que
exerce diariamente função cartorária na Secretaria Criminal da Vara da Justiça
Militar Estadual, VAJME, sendo esta a 70ª Vara Criminal do Foro Central da
Comarca de Curitiba-PR, situada na Rua Máximo João Kopp, nº 274, Bairro Santa
Cândida, Curitiba/PR.
Esta pesquisa foi realizada com abordagem qualitativa do assunto, sempre
buscando trazer questões atuais e presentes e os entraves legais e doutrinários
enfrentados pelas autoridades de polícia judiciária militar na apuração de crimes
militares e a ânsia que se tem de solucioná-los, e ainda com temas novos que estão
em pleno desenvolvimento no mundo acadêmico, que, por sinal, enfrentarão muitos
duelos judiciais, tendo em vista que a comunicação é dinâmica e suas formas se
modificam a cada dia.
Portanto, a pesquisa bibliográfica aqui usada pode ser exemplificada
conforme o entendimento de PADUA (2004, p. 55), dizendo que “A pesquisa
bibliográfica é fundamentada nos conhecimentos de biblioteconomia, documentação
e bibliografia; sua finalidade é colocar o pesquisador em contato com o que já se
produziu e registrou a respeito do seu tema de pesquisa.”
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Para ser realizada uma pesquisa em qualquer área se faz necessária ao
menos inicialmente um levantamento bibliográfico, como no caso em tela, pois os
livros são referências e caminhos que já foram traçados para alcançar objetivos:
Qualquer espécie de pesquisa, em qualquer área, supõe e exige uma pesquisa bibliográfica prévia, quer para o levantamento da situação da questão, quer para fundamentação teórica, ou ainda para justificar os limites e contribuições da própria pesquisa. (RAMPAZZO. 2005, p. 53)
Quanto à natureza da metodologia deste trabalho, buscou-se o
conhecimento científico, sempre tentando se afastar do conhecimento empírico que
tanto vêm à tona, especialmente quando se fala em tecnologia e atualidades em que
o conhecimento é algo virtual e latente que se modifica mais rápido do que a
impressão dos livros, mas o que move o conhecimento é a dúvida, é a conversa e a
curiosidade para solucionar os problemas atuais. O conhecimento científico vem,
como assevera CIRIBELLI (2003, p. 35), da necessidade que o homem tem de
buscar, de investigar, um tema a partir de conhecimentos vulgares.
Não se trouxe neste trabalho um conhecimento quantitativo mais específico,
em virtude da condição de segredo de justiça das interceptações telefônicas, e a
dúvida deste autor em poder ou não apresentar as quantidades de pedidos
formulados à Vara da Justiça Militar, pois são apresentados relatórios mensais sobre
a quantidade das interceptações em andamento, com as quantidades de telefones e
alvos monitorados, entretanto, por imposição da lei esses dados não podem ser
divulgados, por pura análise da legislação federal e da resolução do CNJ que tratam
do tema.
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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ainda haverá muito o que se dizer sobre o tema, nessas poucas palavras
não foi possível tratar nem perto da quantidade de digressões possíveis sobre
interceptações telefônicas, vale ressaltar que seria um dos objetivos do autor bater
na tecla de que a Justiça Militar Estadual é competente para julgar pedidos de
interceptações telefônicas que envolvem crimes militares, e um dos objetivos ainda
era a questão dos pedidos formulados constantemente perante à Justiça Militar
Estadual, buscando quebra de sigilo de dados /ou telefônicos para apurar
transgressões disciplinares, e nesses pontos ao menos foi possível realizar pesquisa
em legislação, jurisprudência e doutrina, entretanto, há dúvidas claras sobre a
renovação indefinida de interceptações telefônicas, se é possível que a autoridade
de polícia judiciária militar obtenha dados cadastrais apenas diretamente das
operadoras de telefonia, são temas que ficaram na curiosidade do autor desta
pesquisa mas que ainda estão latentes nas doutrinas e jurisprudências sobre sigilo
telefônico.
A tecnologia é algo muito dinâmico que muda a todo momento, as
discussões sobre interceptações telefônicas de hoje podem ser obsoletas amanhã,
com a alternância e modismos das tecnologias, dos equipamentos eletrônicos, como
o aplicativo para celular WhatsApp que já é um dos mais usados no mundo,
tornando até mesmo a interceptação de mensagens SMS obsoletas, mas a
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tecnologia para o monitoramento deste aplicativo ainda vai render muitos problemas
a serem resolvidos.
O crime organizado anda nesta mesma sintonia da rapidez da informação, o
que faz com que o poder público não possa parar no tempo e ficar com seus
entraves legais e burocráticos para poder dar a resposta adequada a essas
progressões tecnológicas, no entanto, o Estado não pode jamais se afastar dos
ditames legais, se assim não for, pode o agente transgredir disciplinar e
criminalmente, como prevê a Lei Federal nº 9.296/96 para os casos de interceptação
ilegal.
Apesar da lentidão da legislação em se atualizar e se equipar para lidar com
a dinâmica da criminalidade e dos equipamentos eletrônicos, os agentes da lei estão
sempre buscando se porem a par dos temas e apresentando problemas para que as
autoridades competentes e, principalmente, os legisladores possam adequar as leis,
que são as ferramentas de trabalho do Estado, para atuar contra o crime e poder
assim dar a reposta adequada e profissional a cada caso concreto.
REFERÊNCIAS
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29
GRECO, Rogério. Atividade policial: aspectos penais, processuais penais, administrativos e constitucionais. 4. ed. – Niterói, RJ: Impetus, 2012. LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. PÁDUA, Elisabete Matallo Marchesini de. Metodologia da pesquisa: Abordagem teórico-prática. 10. ed. rev. e atual. – Campinas, SP: Papirus, 2004. RAMPAZZO, Lino. Metodologia científica: para alunos dos cursos de graduação e pós-graduação. 3. ed. – São Paulo: Edições Loyola, 2005.