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FRIEDRICHestrutura da lrica moderna:
Baudelaire, Rimbaud e Mallarm.
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O trio infernal teria transmitido lricacaractersticas altamente negativas que, por suavez, se consolidaram numa estrutura estilstica da
qual impossvel escapar. O agudo hermetismo, a
prtica da metaliteratura e a fuga da realidadeemprica constituiriam, para o crtico, os resultadosmais evidentes que legaram aqueles poetas. Esseconjunto teria ainda derivado para a
transcendncia vazia de muitos poemas, bemcomo para a ausncia de fins comunicativos e parao horror s relaes causais, entre outrasenfermidades modernas.
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[POESIA] UMA CARNIACHARLES BAUDELAIRE
Lembra-te, amor, do que nessa manh to bela,Vimos volta de uma estrada?- Uma horrenda carnia, oh que viso aquela!Aos pedregulhos atirada;
Com as pernas para o ar, qual mulher impudenteTressuando vcios e paixesAbria de maneira afrontosa e indolenteO ventre todo exalaes;
Radiante, cozinhava o sol essa impureza,A fim de tendo o ponto dado,
Cem vezes restituir grande naturezaQuando ela havia ali juntado.
E contemplava o cu a carcaa ostentosa,Como uma flor a se entreabrir!E o ftido era tal que estiveste, nauseosa,Quase em desmaios a cair.
Zumbiam moscas mil sobre esse ventre podreDe onde os exames vinham, grossos,De larvas, a escorrer como azeite de um odre.Ao longo de tantos destroos.
E tudo isso descia e subia em veemnciaou se lanava a fervilharDir-se-ia que esse corpo a uma vaga influnciaVivia a se multiplicar!
Era um mondo a vibrar sons de msica estranha,Bem como o vento e a gua em carreiraOu o som que faz o gro que o joeirador apanhaE agita e roda na joeira,
E tudo a se apagar mais que um sonho no era,- Esboo lento a aparecerSobre a tela esquecida, e que um artista esperaS, de memria, refazer,
De uns rochedos, por trs, uma cadela quieta,com desgostoso olhar nos via
espiando a ocasio de retomar, infectaossada, o que deixado havia,
E no entanto s de ser igual a essa imundcia,A essa horripilante infeco,Astro dos olhos meus, cu da minha delcia.Tu, meu anjo e minha paixo!
Assim tu hs de ser, oh rainha das Graas!Quando depois da extrema-unoFores apodrecer sob a erva e as flores baas,Entre as ossadas, pelo cho!
.. Diz ento, lindo amor, larva libertina.
Que h de beijar-te em lentos gostos,Que eu a forma guarde, mais a essncia divina,Dos meus amores decompostos!
Trad.:lvaro Reis
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EXEMPLIFICACAODEANLISEEESTRUTURAO
Eliot: A poesia pode comunicar-se, ainda antesde ser compreendida.
Baudelaire: Existe uma certa glria em no sercompreendido.
Incompreensibilidade e fascinao
tenso dissonantebeleza dissonante.
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Dissonncia
objetivo das artes modernas em geral
inmeras tenses
em termos formais
em relao aos contedos
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Pontos de dissonncia:
traos de origem arcaica, mstica e oculta
&
aguda intelectualidade
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a simplicidade da exposio&
a complexidadedos significados gerados
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significados imprecisos
&
gerados com preciso matemtica
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abstraes matemticas
&
curvas meldicas da msica
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criao auto-suficienteautnomatem um fim em si mesma
Pluriforme na Significao
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POESIA MODERNA
entrelaamento de tenses
agem sugestivamente as zonaspr-racionais da mente
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Baudelaire:
poesia moderna precisa captar o noturno e o anormalnico reduto da alma que escapa do progresso trivial (da
modernidade burguesa, do consumismo da sociedadecapitalista, etc.)
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Gosto pelo
bizarro
grotesco
fragmentrio
jocosoesttica do feio
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o poeta deve tirar novo encanto de tudo que horrvel
o absurdo uma forma do poeta se libertardas opresses do real
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Desfigurao e anormalidade
nunca faz descries
nem representao realista de seres e objetos
sempre os deforma, tornando-os estranhos
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poeta vai colocando em cena
estrategicamente
todos os elementos dissonantes
determinados efeitos sobre o leitor
busca sempre o choque, o estranhamento
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noes de tempo e espao
tambm so alteradas
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no se interessa em expressar experincias vividas busca libertar-se do eu pessoal do artista
eu lrico no se confunde mais com uma pessoaparticular inteligncia que poetiza
operador da lngua
artista que experimenta os atos detransformao
de sua fantasia imperiosa
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Despersonalizao
Fernando Pessoa: eu no sinto com o corao, sinto com
a imaginao
imaginao = pensamento criador
Baudelaire: a capacidade de sentir com o corao noconvm poesia
fantasia= elaborao guiada pelo intelecto
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Dramaticidade
O poeta assume personaspoticas.
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no quer ser entendida com base na realidade objetiva
anula distines entre
o belo e feio
o proximidade e distncia
o luz e sombrao dor e alegria
o terra e cu
o matria e esprito, etc.
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Sonho e fantasia
poesia se desliga de qualquer realismo
poeta vai buscar espaos infinitos e tempo mtico
por meio do sonho e da fantasia
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Valorizao dos
estados de conscincia anormaissentido de mistrio
gerados pelas foras mgicas
da linguagem e da fantasia absoluta
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Magia da linguagem vazia
criao de poemas
processo combinatrio de sons e ritmos da lngua comofrmulas mgicas
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MALLARMEM3 FASES
Angstia No vim domar teu corpo esta noite, cadela
Que encerras os pecados de um povo, ou cavarEm teus cabelos torpes a triste procelaNo incurvel fastio em meu beijo a vazar:
Busco em teu leito o sono atroz sem devaneiosPairando sob ignotas telas do remorso,E que possas gozar aps negros enleios,Tu que acima do nada sabes mais que os mortos:
Pois o Vcio, a roer minha nata nobreza,Tal como a ti marcou-me de esterilidade,Mas enquanto teu seio de pedra cidade.
De um corao que crime algum fere com presas,Plido, fujo, nulo, envolto em meu sudrio,Com medo de morrer pois durmo solitrio.
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BRISA MARINHA
Traduo: Augusto de Campos
A carne triste, sim, e eu li todos os livros.Fugir! Fugir! Sinto que os pssaros so livres,
brios de se entregar espuma e aos cus[ imensos.Nada, nem os jardins dentro do olhar suspensos,Impede o corao de submergir no mar noites! nem a luz deserta a iluminarEste papel vazio com seu branco anseio,Nem a jovem mulher que preme o filho ao seio.Eu partirei! Vapor a balouar nas vagas,Ergue a ncora em prol das mais estranhas
[ plagas!
Um Tdio, desolado por cruis silncios,Ainda cr no derradeiro adeus dos lenos!
E possvel que os mastros, entre ondas ms,Rompam-se ao vento sobre os nufragos, sem[ mas-Tros, sem mastros, nem ilhas frteis a vogar...Mas, meu peito, ouve a cano que vem do[ mar!
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UMLANCEDEDADOS
UM LANCE DE DADOS*
Stphane Mallarm
JAMAIS
MESMO ATIRADO EM CIRCUNSTNCIASETERNAS
DO FUNDO DUM NAUFRGIO
PORQUE
o Abismo
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Branco
se expe
furioso
sob
uma inclinao
desesperadamente plana
d
asa
a sua
recada prvia dum mal de se erguer no voo
cobrindo os impulsos
cortando rente os mpetos
no mago se resume
a sombra que se afunda nas profundas nessa alternativavela
para adaptar
a tal envergadura
as suas horrveis profundas como o arcaboio
duma construo
que balana dum lado
para o outro
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Diversidade radical entre:
linguagem potica
e
funo normal, de comunicao, da lngua
Lngua potica = experimento.
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O Elefante - Carlos Drummond de Andrade
Fabrico um elefantede meus poucos recursos.Um tanto de madeiratirado a velhos mveistalvez lhe d apoio.E o encho de algodo,de paina, de doura.A cola vai fixarsuas orelhas pensas.A tromba se enovela, a parte mais felizde sua arquitetura.
Mas h tambm as presas,dessa matria puraque no sei figurar.To alva essa riquezaa espojar-se nos circossem perda ou corrupo.E h por fim os olhos,onde se depositaa parte do elefante
mais fluida e permanente,alheia a toda fraude.
(...)
Vai o meu elefantepela rua povoada,mas no o querem vernem mesmo para rirda cauda que ameaadeix-lo ir sozinho.
todo graa, embora
as pernas no ajudeme seu ventre balofose arrisque a desabarao mais leve empurro.Mostra com elegnciasua mnima vida,e no h cidadealma que se disponhaa recolher em sidesse corpo sensvela fugitiva imagem,o passo desastradomas faminto e tocante.
Mas faminto de serese situaes patticas,de encontros ao luarno mais profundo oceano,
sob a raiz das rvoresou no seio das conchas,de luzes que no cegame brilham atravsdos troncos mais espessos.