“Pão e Rosas", de Ken Loach(2000)
Análise do FilmeVersão 1.0
(76 Slides)
Projeto “Cinema Como Experiência Crítica”www.telacritica.org
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Estrutura Narrativa
As irmãs Maya e Rosa são trabalhadoras imigrantes, de origem mexicana, em situação ilegal, empregadas da Angel, a companhia prestadora de serviço de limpeza de um prédio comercial
no centro da cidade de Los Angeles (EUA). O destinou colocou Sam Shapiro (Adrien Brody), jovem ativista sindical do Service Employees International Union (SEIU), no caminho de Maya.
Ele convence a jovem de Tijuana a apoiar e participar da campanha de organização sindical dos faxineiros contra a exploração dos patrões. Os trabalhadores faxineiros recebem salários
miseráveis, não têm assistência médica, nenhuma proteção trabalhista e ainda suportam um patrão abusivo.
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Eixo Temático
Imigração - terciário precário - organização sindical
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Luta (e consciência) de Classe
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A Globalização e suas Contradições
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Temas conexos sugeridos pelo filme “Pão e Rosas”, de Ken Loach, que expõe hoje uma realidade candente do
mundo do trabalho sob o capitalismo global:Migração de trabalho vivo, precariedade extrema e
sindicalização da força de trabalho.
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Imigração proletária (clandestina ou legal)Pode-se dizer que hoje, mais do que nunca, o
capitalismo global é o capitalismo das migrações de imensos contingentes da população proletária de
regiões pobres para áreas de acumulação de capital (no caso do filme de Loach, migrações ilegais do
México e América Central para os Estados Unidos). Várias regiões do globo são marcadas por correntes
migratórias que buscam trabalho em áreas de acumulação capitalista
A ocupação em serviços subcontratados no terciário precárioO filme de Loach explicita a presença do setor terciário precárioque, nas metrópoles capitalistas, absorve ondas migratórias do trabalho vivo. Na última metade do século XX, expandiu-se nas economias capitalistas mais desenvolvidas , o setor de serviços
ou setor terciário que tende a absorver hoje mais proletários do que a indústria ou agricultura. O terciário precário é um setor da
economia do trabalho intensivo que tende a empregar proletários assalariados de baixa qualificação e pouca
produtividade
O problema da organização sindicalO problema da organização sindical dos
trabalhadores assalariados do terciário precário, além da formação de sua consciência de classe. é um tema candente no filme, tendo em vista que ele o trata como eixo narrativo – a passagem de
uma mera condição de proletariedade para o processo de formação da classe em si, no tocante a organização sindical e reivindicaçãoi de direitos
e justiça social (cosnciencia de classe contingente). O filme expõe o desenvolvimento
desta organização até o movimento grevista.
Migrabilidade
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Uma das características da nova precariedade salarial que emerge sob o capitalismo global é a intensa migrabilidade
da força de trabalho que exige constante desterritorialização do trabalho vivo tendo em vista a
instabilidade da relação empregatícia e o cerco ampliado da sociabilidade mercantil.
Um dos traços existenciais da condição de proletariedade é a migrabilidade, isto é, a
necessidade de deslocar-se com freqüência para buscar melhores condições de trabalho e
vida em outras regiões. A migrabilidade é intrínseca à própria condição dos proletários
como “trabalhadores livres” (em contraste, por exemplo, com o trabalhador escravo, incapaz
de migrar). Na medida em que o ser proletário é um ser desenraizado, ou desterritorializado,
tendo em vista que perdeu os meios de produção de sua própria vida, adquire uma
capacidade inédita de circular pelos espaços do capital. Sob o capitalismo global exacerba-se a
condição de proletariedade e portanto, explicita-se a situação de migrabilidade da força
de trabalho como mercadoria.
Migração originária
Migração sistêmica
Terciário Precário
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Antes a indústria absorvia a maior parte das ondas migratórias de proletários sedentos de inserção no mercado de trabalho, embora ainda não deixe de absorvê-las, mas em proporção menor e dividindo com o setor terciário. O terciário de serviços prestados para as atividades (e empreendimentos) industriais e financeiros tendeu a crescer bastante
nas últimas décadas. Primeiro, por conta da terceirização da indústria e segundo, em virtude da própria complexificação das atividades de
produção de mercadorias que exige cada vez mais, instancias de apoio e preparação. Assim, muitas atividades estão ligadas direto ou
indiretamente à produção de mercadoria, sem que apareçam como elementos da atividade secundária ou industrial. Por exemplo, a
atividade de limpeza e faxina cresceu com a ampliação de condomínios de escritórios ligados aos negócios industriais e financeiros. São
atividades imprescindíveis, embora não ligadas diretamente ao core do negocio capitalista. O serviço de limpeza do espaço de produção de
mercadorias imateriais é atividade essencial tendo em vista que sem elas, o desempenho das atividades produtivas fica prejudicado. Embora não agreguem valor, torna-se essencial à própria atividade de produção
do capital.
Fronteiras
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Na abertura do filme “Pão e Rosas”, de Ken Louch, temos cenas dafronteira entre o México e os EUA. O filme trata de trabalhadores
imigrantes que cruzam a fronteira entre o México e os EUA de forma ilegal, visando usufruir de oportunidades de emprego e perspectivas de vida digna. Deste modo, a ultrapassagem da
fronteira é o principio de novas perspectivas de vida numa terra estrangeira. O ato de ultrapassar a fronteira de forma ilegal é carregado de intensa dramaticidade. A abertura do filme com
imagens da paisagem fronteiriça, com suas montanhas e arbustosoculta a verdadeira natureza que irá desafiar homens e mulheres
proletários que almejam serem explorados no centro rgânico e núcleo dinâmico do capitalismo global (os EUA) – natureza do
capital.
Novo (Velho) Mundo do Capital
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Pela janela, Maya observa circunspecta os arranha-céus do centrocomercial e financeiro de L.A.. Essa paisagem se constrasta, é
claro, com a cena de abertura onde a ultrapassagem da fronteiraocorria no meio da natureza agreste e inóspita. O seio da
civilização do capital é prenhe de promessas e sonhos de uma vidadigna na perspectiva de trabalhadores assalariados que almejam,
em si e para si, vender com vantagens a única mercadoria quepossuem: a força de trabalho. A meta de proletários imigrantes é o
emprego assalariado digno, o que têm dificuldades de encontrarno seu país de origem. É a expectativa (e utopia) contingente darealização salarial que move muitos dos imigrantes proletários.
A personagem heróica da narrativa do filme “Pão e Rosas” é Maya, jovem proletária imigrante mexicana que olha pela
janela da van a paisagem urbana de Los Angeles, metrópole
capitalista. Com certeza, ela divaga, com seu olhar distante,
sobre as oportunidades, riscos e desafios contidos na suanova etapa de vida pessoal e profissional.
Parasitas do Capital
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O controle rígido da imigração de proletários pelasfronteiras dos EUA contribui para o surgimento de negócio escuso da imigração ilegal transfronteira. Verdadeiras máfias facilitam a ultrapassagem da
fronteira em troca de dinheiro. Os empreendimentosmafiosos, como verdadeiros parasitas do capital,
vivem às custas da miseria proletária e irracionalidadecapitalista, que prega a livre circulação de
mercadorias, menos para a mercadoria força de trabalho. A jovem Maya chega em L.A. num comboiode pequenos mafiosos da imigração ilegal. Eles visam
apenas fazer dinheiro e incorporam em si, a truculência, desrespeito e preconceito para com
homens e mulheres proletários imigrados.
Maya vem para L.A. para morarcom a irmã Rosa que está há anosnos EUA trabalhando e enviandoalgum dinheiro para parentes no
México. A remessa de dólares porimigrantes mexicanos nos EUA é uma importante fonte de receita
da economia do México e de muitos países que “exportam”
força de trabalho pobre.
A Indústria da Migração Laboral
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Nas últimas décadas, o México (e paísesda América Central) têm como uma das
mais importante “indústria” a exportação de força de trabalho pobrepara os EUA. É uma das indústrias mais
prósperas do capitalismo global. Os trabalhadores imigrantes – em suamaior parte, ilegais – servem como
exército industrial de reserva de baixaqualificação e baixo custo para a
exploração dos negócios capitalistas no país central. Por outro lado, os
proletários imigrantes enviam todo ano, para seus paises de origens, milhões de
dólares, sendo portanto importantefonte de renda para as familias daquele
país.
A Astúcia da Mulher Proletária
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Rosa não pagou o serviço prestado pela máfia da imigração ilegal quetrouxe sua irmã, Maya. Revoltados, eles não a entregam para a irmã
que pede que eles não a levem embora. Maya é levada à força por eles. Um dos mafiosos captura Maya para seduzi-la. Mas com a astúcia damulher jovem proletária, Maya consegue fugir das garras do mafioso.
Ora, no mundo do capital, onde a palavra do mafioso ou dono do Poderé a lei, onde ele faz sempre o que quer, a jovem mulher proletária é obrigada a usar seus dotes naturais para contornar as artimanhas do
capital que aparecem, nese caso, na figura do macho predador.
Imigração, Familia e Memória
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Em terras estrangeiras, os proletários imigrantes cultivam saudades daterra de origem. Maya leva várias fotografias de familia para mostrar
para a irmã. As fotografias como imagens de referência afetivacontribuem para uma aproximação virtual entre os parentes distantes.
Rosa e sua familia comentam as fotos trazidas por Maya: “Olhe elacom seu vestido de festas”. E diz: “Este é o vestido que lhe
mandamos”. E revêem pelas fotografias, Valéria com seu vestido de festas e o tio Quique. O capitalismo global ao desenvolver novas
tecnologias de comunicação, como Internet, aproximou mais aindaimigrantes rpoletários que estão em terras estrangeiras, contribuindo
para ativar memórias de familia e saudades da tera natal.
Terciário Precário
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Ao chegar em L.A., Maya quer conseguir um emprego. A irmã Rosa diz: “Conheço alguém que tem um bar. Arrumo emprego pra você lá”. Mas Maya observa:
“Quero trabalhar com você limpando escritórios.” O setor de serviços das metropóles capitalistas tende a
absorver o imenso contingentes de imigrantesproletários dispostos a trabalhar a qualquer custo. De
serviços em bares à atividades de faxinas, as metropoles capitalistas oferecem muitas oportunidades
de empregos precários para trabalhadores imigrantesilegais. Maya vai trabalhar num barzinho, mas reage
contra o assédio de clientes – também imigranteslatinos. Ela abandona o emprego (ou é despedida) e vaitrabalhar com a irmã Rosa como faxineira de escritóriosde prédios de condominios no centro comercial de L.A.
O papel social
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Maya procura emprego de faxineira no prédio de condominios de negócios
onde trabalha sua irmã. Não pode entrarno prédio, nem permanecer no hall de entrada. Ela está ocupando um espaço
privado que está sob a vigilância de agentes de segurança particular do
condominio capitalista. Um vigilante negro diz: “Ela não pode ficar aqui”.
Maya conversa com algunstrabalhadores terceirizados do prédio. O
trabalhador vigilante – que é negro -apenas cumpre ordens. Um dos
faxineiros que conversa com Maya observa para o amigo: “Ele tá no papel
dele. É um cara legal”. Ora, no mundo do capital, cada trabalhador assalariado
cumpre tão-somente um papel que nãose confunde com sua personalidade: na
verdade, o vigilante negro é um caralegal, embora, enquanto empregado (ou
persona) do capital , tanto quanto o capitalista, apenas exerce um papelsocial: executar as ordens do patrão.
A realização salarial
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Maya é contrada como trabalhadora assalariada terceirizada daAngels, empresa de subcontratação de faxineiros de predios de
condominios comerciais do centro de L.A. Demonstra estarsatisfeita por conseguir um emprego. “Vou trabalhar duro”, diz
ela. Agradece ao gerente da Angels naquele prédio: “Obrigado porme dar esta chance, Sr. Perez”. De fato, a proletária Maya, isto é,
mulher que almeja, para sobreviver, vender sua força de trabalho, se realiza, nese sentido, enquanto individualidade de classe. A
venda da força de trabalho permite a ela, sob as condições de vidanuma sociedade monetária, ter acesso a bens e serviços comomercadorias capazes de satisfazer necessidades e carecimentos
humanos dela enquanto individualidade pessoal.
Aparência abstrata
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Ao inserir-se no espaço do trabalho assalariado, sob a vigilância (e controle) do capital, Maya deve adequar-se às normas prescritas. Aos poucos, a
realização salarial irá interverter-se em desrealização pessoal. A aparênciapessoal de Maya naquele ambiente de trabalho deve ser moldada de acordocom as prescrições do processo de trabalho. Deve-se educar o modo de ser e aparecer da individualidade pessoal como individualidade de classe. “Pode se virar para eu ver?”, diz o gerente Perez. E observa: “Sei lá, o seu cabelo, achoque não é…Devia ser mais apertado.” E prescreve que ela prenda o cabelo,
supostamente para evitar acidentes de trabalho. “É muito perigoso, porcausa das máquinas.” Intervém também no uso do uniforme da empregada: “O uniforme é grande demais. Pode aperta-lo, pra eu ver?”. Enfim, a chefia
exerce seu papel de agente do capital ao moldar o corpo fisico (e mental) dos empregados para adequa-los (ou equaliza-los) de acordo com a natureza
abstrata do trabalho alienado.
Preconceito e desrespeito
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As relações sociais instrumentais que permeiam o metabolismo social do capital são caracterizadas pelo desrespeito (e preconceito) cotidiano para
com a classe subalterna. Em vários momentos do filme, os proletáriosimigrantes são tratados de forma desrespeitosa e preconceituosa. Primeiro,
o preconceito decorre da xenofobia que crassa na sociedade do capital contra estrangeiros pobres, fracassados sociais que buscam um lugar na
suposta “sociedade afluente”. Em época de crise, acirra-se a xenofobia social e com ela, o preconceito contra imigrantes proletários. Segundo, o
desrespeito é atitude intrinseca à sociedade alienada, onde a “classe” proletária, os despossuidos da terra, são meras coisas descartáveis, não
reconhecidos como pessoa humana. Na medida em que, sob o capitalismo, o homem é apenas meio para a realização de fins egoístas (a valorização do capital), instaura-se a ordem do desrespeito à pessoa humana. Na verdade, preconceito e desrespeito são traços do metabolismo social que envolvem
não apenas dirigentes da ordem burguesa, mas inclusive homens e mulheres proletários que incorporam o espírito animal da ordem da
concorrencia alienada. Sob a ordem do capital, as relações sociais humans se intervertem em relações sociais instrumentais manipulatórias marcadas
no cotidiano, pelo preconceito e desrespeito à pessoa humana.
Espoliação
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Ao contratar Maya, Perez não fez nenhum ato de generosidade humana. A atitude amigável oculta o merointeresse mesquinho auferir vantagens monetárias. Diz
ele que ao contratá-la fez um favor para Rosa. Além disso, ela é uma mulher de sorte – conseguiu um emprego. E
promete conseguir documentos legais para Maya, cobrando apenas uma comissão: “O seu primeiro salário.” Mas não deixa de expressar sua hipócrita generosidade,
comum ao homem burguês: “Podemos dividi-lo em 2 meses”. Na verdade, Perez comete um ato de espoliação
– ele é o empregado gerente espoliando empregadossubalternos a si. Perez enquanto gerente explicita com plenitude ser uma persona do capital. Naquele papel
social, ele aliena-se de si como empregado asalariado, incorporamdo com efetividade a figura do Outro
capitalista. A alienação do gerente é a alienação do trabalho na sua forma transversa ou transformista. O
empregado é capitalista, tanto na medida em queorganiza a exploração e a espoliação
O trabalho da faxina
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Maya é uma aprendiz de faxineira. O trabalho da faxina exigehabilidade no uso dos equipamentos (ou tecnologia) de
limpeza. Logo aparece uma colega de trabalho mais experienteno trabalho de faxina para ensina-la. A mais experiente treina a
menos experiente no próprio local (e ato) do trabalho. O processo de trabalho de faxina é composto pelo sujeito que
trabalha (Maya), o objeto de trabalho (o ambiente que deve ser limpo – o piso e móveis, por exemplo) e como meio (ou
instrumentos) de trabalho, os equipamentos tecnológicos(aspiradores de pó, por exemplo). É um trabalho que exige
alguma habilidade no manejo do instrumento de trabalho, o que significa que a máquina de limpeza por si só, pode não
executar um bom serviço. O trabalho vivo ainda é requerido no trabalho de faxina. O sujeito do trabalho de faxina é compostoem sua maioria por mulheres. Temos uma clivagem de genero.
Talvez a utilização predominantemente de mulheres tenha a ver com práticas culturais domésticas –a mulher historicamentesempre foi trabalhadora doméstica, executando a faxina do lar. O capital incorpora tradições culturais do passado e as utiliza
no metabolismo social de sua modernidade alienada.
“Ele é seu homem!”
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Ao dar dicas para o manejo do aspirador de pó, a colega de trabalho de Maya, resignifica o
instrumento de trabalho. Como artesã da limpeza, a empregada da faxina o “transforma” – aos olhosde Maya – num parceira de uma dança imaginária. É um claro exemplo que, mesmo sob condições de
alienação, o trabalhador assalariado é capaz de ressignificar aquele meio de trabalho estranhado. Projeta nele imagens do mundo da vida. Diz ela:
“Dê passada largas, rebole o bumbum, e depois pro lado. Faça de conta que está dançando.” E
arremata: “Esse é o seu homem. Trate-o bem e elea recompensará.” Maya se intriga que um aspirador
possa ser o homem dela. Outros empregados daAngel orientam Maya sobre procedimentos de
limpeza. Nesse tipo de atividade menos qualificada(mas que exige habilidades específicas), o
treinamento tende a se dar pelos próprios colegasde trabalho e no próprio local de trabvalho.
A invisibilidade proletária
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Na sociedade do preconceito e desrespeito humano, osproletários subalternos são homens e mulheres invisiveis no
sentido que não são vistos como individualidades pessoais, massim como meras coisas. Alias, a invisibilidade é um traço
existencial da condição de proletariedade. Na medida em queestão alienados do produto de sua atividade e do processo de
trabalho, além de alienados de si e dos outros, os proletários se invisibilizam – são invisveis para os outros e inclusive para si.
Não se vêem como pessoas humanas, mas como merasprojeções fetichizadas do capital – imagens- fetiches de força
viva de trabalho como mercadoria. Num cena do filme, um colega de trabalho de Maya observa: “Já lhe contei minha teoria
sobre uniformes? Ele nos tornam invisiveis.”. Na verdade, osuniformes não produzem a invisibilidade; eles apenas
sacramentam, no sentido de compor um ritual, da invisibilidadeproletária em si e para si.
Travessuras
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Ao tornar-se empregada da Angel, a jovem Maya preserva o espirito irreverente e trangressor. Em seuíntimo, ela quer provocar o outro mundo social – o
mundo dos burgueses. Numa cena do filme, ela apertoutodos os botões do elevador para fazer aqueles
executivos dos escritórios que estavam saindo de um reunião de negócio, descerem lentamente andar por
andar. Como uma menina travessa, neste pequeno atomal-criado, ela quer quebrar a pseudo-concreticidade da
vida cotidiana daqueles empregados burgueses. É curioso um trecho de conversa daqueles executivos”. Um diz: “Se não funcionar, você vai ficar com as açõespodres até o pescoço.” Ora, a miséria do capital atinge,
de outro modo, empregados burgueses obrigados a aceitarem como forma de pagamento salarial, ações da
empresa em que trabalham. É o lado perverso do capitalismo global, que implica as vítimas com os
interesses de seus carrascos. Foi o que aconteceu com a crise da globalização: ela não funcionou, a bolha
financeira estourou, e muitos executivos ficaram com as ações podres – sem nenhum valor – até o pescoço.
Organizador profissional
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Sam Shapiro é um organizador profissional do Sindicato dos Faxineiros, cujacampanha nacional “Justiça para os Faxineiros”, visa organizar os
empregados na luta por melhores salários e beneficios sociais, como o plano de saúde. Ele consegue acessar o prédio, driblando os vigilantes. A
luta pela organização sindical é uma luta árdua na medida em que algumasempresas nos EUA adotam politicas anti-sindicais. Além disso, a sociedade
burguesa tardia constitui seu metabolismo social através do espírito do individualismo, obstáculo insanável do sindicalismo. Como organizadorprofissional, Sam Shapiro busca conhecer o terreno da luta, buscandoconhecer cada empregado e empregada, acompanhando sua rotina e
coletando informações sobre a categoria. Por isso, Maya se surpreende queele saiba o nome dela: Maya. Embora venha de fora da categoria de
trabalhadores (Sam é um organizador profissional), ele busca identificar-se com os faxineiros e faxineiras.
O espírito do individualismo
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O sindicalismo tem como arqui-inimigo o espirito do individualismo. A culturaneoliberal é intrinsecamente anti-sindical, disseminando nas últimas décadas, valores do individualismo que corroeram o espirito do coletivo do trabalho. Aovisitar a residência de Rosa e Maya, Sam Shapiro, o organizador profissional do
Sindicato dos Faxineiros, apresenta-se como “Sam Shapiro, da campanha“Justiça para os Faxineiros”. Rosa, irmã mais velha de Maya, diz: “Eu sou Rosa, da campanha ‘Justiça para Rosa’.” A tarefa primordial do organizador sindical é
erradicar do espírito de empregadas e empregados, o impulso individualistaque reduz cada individualidade pessoal de classe aos seus interesses
particularistas. Esta é a dimensão crucial do estranhamento: a constituição de personalidades cada vez mais particularistas, que renegam em si e para si,
quaisquer laços sociais no sentido de vinculos com o coletivo do trabalho. Na verdade, a campanha “Justiça para Rosa” é uma mera abstração alienada
produzida pelo capital que se reproduz a partir destas atitudes particularistas. Enquanto relação social estranhada, o capital como fetiche, oculta sua origem
no poder social que não se reconhece como coletividade humano-genérica organizada a partir do trabalho. Na medida em que homens e mulheres
proletárias não se reconhecem como partes orgânicas do coletivo humanoque se faz homem através do trabalho, instauram, sem o saber, o capital que
os constrange como poder social estranhado.
“Não acredito em nada”
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Rosa, irmã mais velha de Maya, é uma mulher trabalhadora castigadapela vida dura da proletariedade extrema. Tornou-se uma pessoaamarga, imersa em si própria. Diz ela: “Não confio em ninguém”.
Observa para Sam Shapiro: “Nunca diga nós. Não acredito em nada, emninguém.” Eis um traço da singularidade do homem singular: Rosa tem uma história de vida que a tornou assim. É claro que outras mulheres (e homens) proletários podem ter uma trajetória pessoal de vida dura, não
se tornando apática à sociabilidade coletiva. Na medida em que o homem é um ser que dá resposta, a resposta de Rosa – resposta única -
constitui a sua singularidade pessoal que, na medida em que adere a valores sistêmicos (como o espírito do individualismo com seus
derivados – desconfiança e descrença política), vincula-se à ideologia daclasse dominnate: a ideologia neoliberal. Na medida em que não
acredita em nada e em ninguém, Rosa possui uma atitude pessoaladequada à temporalidade neoliberal totalmente recalcitrante à lutacoletiva ou luta sindical . O neoliberalismo é também um sistema de
valores. Ele se baseia na desconfiança social, descrença politica e corrosão da solidariedade humana. A prática sindical pressupõe que
tenhamos a capacidade pessoal em acreditar (e ser solidário) aos outrose, pelo menos, acreditar que é possivel mudar a condição salarial.
Estamos diante de atitudes morais indispensáveis à formação do sujeitohumano-genérico capaz de constituir a classe social do proletariado.
Medo e insegurança social
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A atitude moral de Rosa não é uma falha de personalidade. Ela não apresenta um problema psicológico que possa ser explicado tão-somente pela sua historia de vida pessoal. Pelo contrário, a sua atitude moral possui um dimensão ideológica de natureza intrinsecamente social. Estamos diante de uma personalidade típica
da miséria burguesa. Podemos dizer que Rosa é uma mulher proletária normal. Ela vive imersa em medo construídos socialmente. Diz ela: “Faz idéia do que são esses
canalhas. Um erro e estou na lista negra.” Na medida em que faz parte de uma categoria assalariada sem representação sindical e coletivo organizado, Rosa está objetivamente presa no fetiche do capital. Sente em si, a impotência proletária. Ela só vislumbra a contingencia da proletariedade. Como pessoa humana, está
paralisada pela insegurança visceral que marca sua trajetória de vida. É interessante que a resposta humana dada pela sua irmã mais nova, Maya, é outra.
Talvez por não ter nada a perder, e ainda marcada pela coragem da juventude, Maya observa, replicando a irmã, diante de Sam Shapiro: “Nos despedem de qualquer jeito”. Rosa contesta ela: “3 meses aqui e ela já sabe tudo.”. Enfim,
existe entre Rosa e Maya, diferenças geracionais e experiências de vida diversas que constituem a mediação concreta que determina a resposta humana dada.
Precarização do trabalho
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Sam Shapiro visita Rosa e Maya para tentar convence-las a apoiar a campanha“Justiça para os Faxineiros”. Seu argumento é contundente: a categoria dos
faxineiros sofreu na década de 1980 um processo contudente de precarização de salários e direitos que apenas a luta (e organizacão sindical) pode reverter. Aliás, degradação salarial e perda de direitos trabalhsitas está intimamemnte
vinculado à perda da representação sindical. Por isso, reconstruir o sindicalismo dos faxineiros é condição sine qua non para conquistar a
dignidade salarial. Trata-se de uma demanda política de caráter meramentesindical, resgatando para aqueles trabalhadores assalariados a capacidade
mínima de vender melhor sua força de trabalho como mercadoria. Não lutamcontra a relação-capital, em si, mas sim, buscam resgatar um patamar de
dignidade coletiva capaz talvez de faze-los avançar em lutas futuras por umasociedade melhor. Sam leva um contracheque de uma faxineira datada de 22
de dezembro de 1982. Como diz ele: “Há 17 anos”. E ele prossegue observando que, naquela época, a faxineira ganhava 8,50 dólares a hora e
tinha seguro saúde, auxilio-doença, férias pagas, E Sam observa: “Nos últimos 20 anos, eles tiraram bilhões de dólares dos mais pobres.” E prossegue: “Hoje em Los Angeles, em 1999, sem um acordo salarial, a gente ganha 5,75”. Eis o
retrato da precarização do trabalho dos faxineiros que Sam Shapiro demonstra com acuidade. Ele precisa demonstrar com provas concretas a precarização
salarial dos faxineiros para mover a consciência contingente destes trabalhadores assalariados. Não bastam palavras, mas evidências
comparativas no tempo histórico.
O fetichismo da precarização do trabalho
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Presos na pseudo-concretividade da vida cotidiana, a consciência ingênua é incapaz de apreender o desenvolvimento histórico da coisa. Na sociedade do
fetichismo, o dado imediato (o salário, por exemplo) é quase um dado natural, pois não se consegue apreende-lo em termos de valor, no decorrer da
temporalidade histórica e nem apreender os vínculos concertos dele com as determinações histórico-sociais (como por exemplo, vincular a queda dos
salários e perda de direitos sociais com a perda da representação sindical). Aliás, esta é a textura do fetichismo: supressão da historicidade da coisa (que é coisa na medida em que perdeu sua dimensão histórica) e perda de vínculos da coisa com as determinações histórico sociais. A coisa, como por exemplo, meu salário ou minha condição salarial, ou então, minha vida, torna-se mera abstração. A individualidade pessoal se abstrai de si e dos outros no sentido de perder a capacidade de intervenção prático-sensível no mundo social. O fetichismo adere à coisa e absorve a pessoa humana, paralisando-a em seus interesses particularistas. O homem ou mulher torna-se uma individualidade
meramente particular, submersa em sua singularidade abstrata. Ao expor com dados concretos, a precarização do trabalho, Sam Shapiro busca resgatar a
consciência critica em seu patamar mínimo. Enfim, desfetichizar a precarização do trabalho, expondo-a como fato histórico e portanto, produto do mundo dos homens e não um destino terrível que se abate sobre homens
e mulheres proletários.
Saúde do trabalhador
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O objetivo de Sam Shapiro é conquistar a adesão daquelas trabalhadoras faxineiras – Rosa e Maya – à Campanha “Justiça para os Faxineiros”. Faz uma vista domiciliar para buscar cativa-las para a causa sindical. Após desfetichizar a precarização do trabalho dos faxineiros avança em seu
argumento tratando de um tema crucial para os trabalhadores assalariados precários: o problema da saúde. No mundo estranhado do
capital, mundo social constituido pela desefetivação humano-genérica, o seguro-saúde e auxílio-doença é tão importante quanto o valor dos
salários. Enfim, ter um plano de saúde é ter a garantia da preservação da capacidade de venda da força de trabalho. Rosa tem um marido doente. A filha dela observa: “O papai está doente. Precisa de cirurgia senão vai
piorar.”. O marido de Rosa tem diabetes que está atacando sua visão. Como não tem seguro saúde, Rosa não pode comprar insulina para o
marido. Sam exclama: “Os safados lá da Angel que não querem pagar o seguro saúde...” E logo observa: “Nos prédios sindicalizados do centro todos têm seguro saúde e tratamento dentário.” Enfim, Sam Shapiro
procura ponderar com elas a vantagem de lutar pela sindicalização das faxineiras na medida em que elas passam a ter poder de barganha para
negociar não apenas melhores salários, mas direitos trabalhistas, como o seguro saúde e tratamento dentário, por exemplo.
Sindicalismo e direitos trabalhistas
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No filme “Pão e Rosas”, Ken Louch busca resgatar o valor do sindicalismo comobalurate na conquista e preservação dos direitos trabalhistas. A luta (e preservação) pelos direitos sociais do trabalho não significam, em si, abolir a relação-capital. Aliás,
o filme não trata da luta pelo socialismo, mas sim, do resgate de uma capacidadeprimordail (e originária) de homens e mulheres proletárias em se constituir como
clase social em si e para si, capaz de construir a dignidade salarial. Sam Shapiro salienta: “Nos prédios sindicalizados do centro todos têm seguro saúde”. A luta pelosocialismo é uma luta avançada da classe do proletariado que exige – como condição
pressuposta – uma dignidade moral de homens e mulheres proletárias. Por isso, deve-se salientar o valor moral do sindicalismo em constituir os elementos
pressupostos da luta para além do capital. É claro que não existe uma relaçãonecessária entre luta sindical e luta socialista. O sindicalismo tem uma dinâmica
social própria que pode mantê-lo no interior do círculo de ferro da relação-capital (como ocorreu, por exemplo, com o sindicalismo hegemonico no século XX, o
sindicalismo de negócios, que em sua maioria, buscou apenas negociar a dignidadesalarial de homens e mulheres proletários organizados em sua corporação
profissional, ou no limite, a conquista de direitos sociais para o trabalho, nãocolocando a necessidade da luta politica pelo socialismo). Mas apesar destes limites
estruturais, o sindicalismo – no sentido da luta pelo socialismo que implica a lutacontra a relação-capital – possui um valor moral: não se constrói uma sociedade
socialista com homens e mulheres degradados – moral, fisica e psicologicamente -pela exploração do capital. O sindicalismo em si e para si, é importante para resgatar
a dignidade humana.
Preconceitos de Rosa
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A personalidade de Rosa é marcada não apenas pelo medo e insegurançaexistencial, mas pelo preconceito disseminado pelo próprio metabolismo
social do capital. Estamos diante de verdadeiros ingredientes do metabolismosocial da relação-capital que contaminam as atitudes morais de homens e
mulheres proletários: mêdo, insegurança e preconceito. Num certo momento, Rosa se dirige a Sam Shapiro e exclama: “Você e seu sindicato, de carasbrancos e gordos, universitários.” É claro que, como toda ideologia, o preconceito social possui um lastro de verdade: o sindicalismo norte-
americano sempre foi historicamente um sindicalismo de homens brancos de “classe média”, que excluia proletários pobres como negros e imigrantes, alémde ter, é claro, um viés sexista que marcou o sindicalismo fordista: sindicatosde indústria que excluiam as mulheres trabalhadoras, geralmente inseridasem empregos de serviços precários não-organizados. Além disso, os jovens
universitários, brancos de “classe média”, historicamente sempre foram uma“elite intelectual” não inserida nos movimentos operários (a academia norte-americana sempre foi muito recalcitrante a vínculos com movimentos sociais
subalternos). Entretanto, o filme “Pão e Rosas”, de Ken Louch expõe umamudança política no moviment sindical norte-americano na década de 1990: primeiro, a sindicalização dos serviços, incluindo, deste modo, trabalhadores
imigrantes, negros e mulheres; e segundo, a presença de jovens universitáriosmilitantes de esquerda como ativistas sindicais organizadores, como é o caso
de Sam Shapiro.
Sam Shapiro é um jovem ativistasindical, organziador profissionaldo Sindicato das Faxineiras que
tem nítidas simpatias libertárias.
Frederick Douglass
Giovanni Alves - UNESP 32
Frederick Douglass (nascido Frederico Augustus Washington Bailey, (Nascido c.
1818 e falecido em 20 de fevereiro de 1895) foi um negro norte-americano ex-escravo,
militante abolicionista, sufragista das mulheres, editor, orador, autor, estadista e
reformador. Douglass é uma das figuras afro-descendentes mais proeminentes da
história social dos EUA.Ele acreditava firmemente na igualdade de todas as pessoas, independentemente de
cor, sexo e etnia, inclusive acreditando que norte-americanos natos e imigrantes deveriam ter os mesmos direitos. Ele
gostava de dizer, "eu não me uniria com qualquer um para fazer o certo, nem com
ninguém para fazer mal."
Sam Shapiro tem em seu apartamento, na sala de estar, um retrato de Frederick Douglass, intelectual negro, reformador social, que acreditava na igualdade de todas as pessoas. Os EUA se constituiram como nação capitalista sob o signo da
desigualdade de raça entre brancos e negros. É uma sociedade do capital marcadapela segregação racial e clivagem social entre norte-americano natos e imigrantes.
A luta pela igualdade de direitos, embora tendo um caráter reformista, aparececomo uma luta politica crucial na dinâmica da luta de classes.
Arregimentação sindical
Giovanni Alves - UNESP 33
Sam Shapiro é um organizador sindical profissional do Sindicato das Faxineiras, conduzindo naquele prédio comercial no centro de L.A. a
campanha “Justiça para os Faxineiros”. O sindicato atribui a ele a tarefa de conduzir a campanha naquele condominio. Ele busca informações para se aproximar dos empregadas de faxina, visita as familias, como a de Rosa,
buscando se aproximar para efetuar por dentro o trabalho de organização e luta. É um trabalho árduo que exige persistência e dedicação militante. A
chegada da jovem Maya abre-lhe uma porta para arregimentar para a causa da “Justice for Janitors”, trabalhadoras faxineiras daquele prédio.
Sam procura abrir um canal de confiança com a jovem imigrante, por issodá-lhe um cartão de apresentação, Diz ele: “Ligue para mim…”. A parte mais ativa do sindicalismo norte-americano hoje, apesar de seus limites
economicistas, é um sindicalismo militante que, mais do que nunca, exigeum ousado e criativo trabalho de arregimentação , principalmente em
setores de fraca sindicalização, como os de serviços. Na verdade, os EUA, a nação-mor do capital, o sindicalismo sempre teve historicamente
dificuldades em organizar o mundo do trabalho, mesmo em sua forma reformista. O que vigora é a ideologia (e a prática) individualista. E no casode trabalhadores assalariados dos serviços, constituidos em sua maioria,
por imigrantes – principalmente a partir da década de 1980 - os obstáculospolitico-ideológicos (e culturais) são imensos, exigindo deste sindicalismo,
uma militancia organizativa ousada e criativa.
Ascensão social pelo estudo
Giovanni Alves - UNESP 34
O filme “Pão e Rosas”, de Ken Louch mostra, por um lado, a luta pela organização coletiva dos
trabalhadores assalariados da faxina de um dos prédios do centro comercail de L.A.. É a tentativa
árdua de dar-lhes uma representação sindical capaz de melhorar salários e dar-lhes direitos trabalhistas, principalmente no tocante ao auxilio-doença. Por
outro lado, como subnarrativa do filme, temos o casodo jovem empregado, amigo de Maya, que, apesar de
ser imigrante mexicano nos EUA, empenha-se no estudo nas horas vagas, e almeja tornar-se bacharel
em direito e advogado. Por um lado, a luta pelaascensão coletiva enquanto trabalhadores
assalariados – no plano sindical-corporativo; por outrolado, os sonhos e expectayivas de ascensão social
individual através do estudo. Por um lado, a ideologiado sindicalismo e, por outro, a ideologia da educação.
Tanto num caso, como no outro, permanece-se no interior da relação-capital. Entretanto, tanto num caso,
como no outro, abrem-se espaços de realizaçãopessoal capazes de propiciar uma base moral para a
inserção daquela individualidade pessoal de classe emlutas emancipatorias.
No interior da categoriaassalariada, há uma
diversidade de sonhos, expectativas e ambiçõespessoais. Enquanto uns
buscam esforço no estudo(inclusive, por exemplo, copiando o livro todo), outros se acomodam e
vêem apenas o caminhomais fácil (se estivessem
no lugar do colega, tirariam a cópia do livro,
ao invés de transcreve-lo)
Ascensao social pelo estudo
Giovanni Alves - UNESP 35
O jovem Luiz tem como sonho e utopia pessoal irpara a universidade fazer Direito. Mais uma vez se
salienta no filme a preocupação crucial de imigrantes com o problema dos direitos sociais.
Aliás, o filme “Pão e Rosas” coloca no centro da lutade classes o problema da luta pelo reconhecimento
(dos imigrantes) como sujeitos de direitos. É um modo de ascensão social que ele colocou como
objetivo de vida. Luiz, jovem de talento, coloca o seu vinculo empregaticio como empregado
subcontratado da Angel como vinculo meramentetemporário. Talvez seja isto que o ajude a suportar
a miséria cotidiana do trabalho alienado. Para realizar seu sonho pessoal, Luiz poupa há anos.
Tenta uma bolsa de estudos, tendo em vista que a universidade é paga. Como é mexicano, tem
dificuldades de conseguir bolsa de estudos nosEUA. Apela para empresas e para uma fundação
particular “de dois irmãos mexicanos muito ricos”. Diz Luiz: “Eu pago 20% e eles, 80%”.
O controle disciplinar do trabalho vivo
Giovanni Alves - UNESP 36
O local de trabalho, enquanto for constituida pelo trabalho vivo, é um local de controle da força de trabalho pelo capital. Eis um dos principiosdo modo de produção capitalista. Na verdade, o trabalho vivo está sob o constante olhar disciplinador do capital. Não é a força de trabalho em si, que requer incisivamente o controle disciplinador do capataz capitalista,
mas sim o trabalho vivo, como expressão incontrolável do núcleo humanorecalcitrante à lógica abstrata do processo de trabalho como processo de
valorização. O homem que trabalha é um ser resistente à exploraçãoabstrata do capital. No caso da Angel, grande empresa de subcontratação
que organiza homens e mulheres (em sua grande maioria) na prestação de serviços de faxina em prédios comerciais nos EUA, o controle disciplinar é bastante intensivo, tendo em vista o processo de trabalho ser organizado
intensivamente em torno de trabalho vivo. O capataz capitalista de empresas de subcontratação é intolerante com o trabalho vivo indisciplinado. Nesse caso, o olhar disciplinador se mescla com
preconceitos arraigados com imigrantes e mulheres, no caso, mulheres de idade avançada que ainda trabalham, e o desrespeito para com o trabalho vivo reduzido à mera força de trabalho como mercadoria.
“Se não vê, não trabalha”
Giovanni Alves - UNESP 37
A arrogância do capataz capitalista expressa umamescla de sentimentos discriminatórios que o
envolvem como persona do capital – comosalientamos, preconceito para com imigrantes e
mulheres, principalmente as mais velhas e no caso, portadoras de deficiência visual. O espaço-tempo do capital, que é o espaço do trabalho estranhado, só há
lugar para homens e mulheres produtivos, disciplinadose eficientes. Ao chegar com atraso e explicitar sua
deficiência visual (Como diz o gerente, “se não vê, nãotrabalha), expõe-se a ser descartada daquele espaço-tempo salarial. A natureza do capital é intimamente
discriminatória. Talvez seja o arcabouço historicamenteconstituido de direitos trabalhistas, e inclusive direitos
humanos, coloquem obstáculos politicos à plenavigência da barbarie do capital. Caso não houvesse tais
obstáculos politico-legais, o trabalho vivo seriadegradado fisico e moralmente`até sua completa
exaustão e descartabilidade.
Desrespeito e humilhação
Giovanni Alves - UNESP 38
O espaço do capital como local do trabalhoestranhado, tende a ser marcado como campo de
controle disciplinar e discrimantório. No caso destaempresa de subcontratação, que trata, em sua
maioria, com mulheres (algumas delas de idadeavançada) e imigrantes pobres, prevalece, no tratoda chefia autocrática, o preconceito, desrespeito e humilhação (ou assédio moral). O gerente da Angel é quase um capitão da indústria dos velhos tempos ou capataz das senzalas de escravos. No filme “Pão
e Rosas”, Ken Louch caprichou na estilização dachefia autocrática, arrogante e boçal. Ao chamar a
empregada de mais idade de “velha e cega”, a chefia autocrática se coloca como figura típica do
déspota capitalista. Ele exclama: “Isto aqui é u negócio, não um asilo para paraliticos”.
Percepção, espanto e consciência social
Giovanni Alves - UNESP 39
O filme “Pão e Rosas” é marcado por inflexõessignificativas em sua narrativa. Por exemplo, o encontro casual entre Maya e Sam no local de trabalho da Angel. E a cena de humilhação daempregada idosa que chegou com atraso no trabalho e deixou os óculos em casa, sendo,
portanto, despedida. A atitude da chefia autocrática, causou comoção moral naqueles empregados que
assistiram a cena. Tornou-se perceptivel para eles a necessidade de uma resposta politica à truculênciagerencial. A expressão de cada empregado da Angel
que presenciou a cena é de notável espanto – um espanto criador que impulsiona atitudes de
“negação da negação”. Maya logo se dirige a um telefone público e busca contactar Sam Shapiro, do
Sindicato das Faxineiras.
Conscientização de classe
Giovanni Alves - UNESP 40
A atitude autocrática do gerente da Angel, provocou o coletivode trabalho à assumir uma atitude auto-defensiva. Conduzidos
por Maya, eles marcaram uma reunião com Sam Shapiro visando saber como lutar contra a degradação salarial e a
autocracia gerencial. Abre-se um processo de conscientizaçãode classe no plano da “classe em si”, dimensão contingente
ineliminável da consciencia social em sua luta emancipatória. A reunião com Sam, da Campanha “Justiça para os Faxineiros” é o
primeiro passo do processo de conscientização sindical ouformação da classe em si em sua dimensão contingente.
Primeiro, Sam salienta, sob a presença atenta das faxineiras, a importância da luta delas pela dignidade salarial. Diz ele: “Este
prédio é dos edificios mais importantes de Los Angeles no momento.” Ao mesmo tempo, observa que a Angel “é uma das maiores fornecedoras de serviços de limpeza no País”. Mas portrás do sucesso e riqueza capitalista, existe a miséria proletária– a Angel cresceu desbancando as companhias sindicalizadas,
“cortando nossos salários, não pagam seguro saúde”. Eis as condições objetivas que colocam a necessidade histórica da
luta proletária contra o capital.
Totalidade concreta
Giovanni Alves - UNESP 41
Sam Shapiro, como organizador (e estrategista) da lutasindical esboça para as empregadas faxineiras comofunciona o sistema de produção do capital naquela“indústria de serviços de limpeza”. Diz ele: “Tem os
donos; depois vocês têm as contratadoras de serviços; e depois têm os inquilinos.” E prossegue: “Os inquilinostêm muitas coisas: corretoras, grandes bancos, alguns
dos maiores bancos do país operam neste edificio; essescaras têm tremenda reputação…”. Enfim, Sam sabe que, a luta de classes, como toda luta que se preza (e a luta
sindical é uma dimensão contingente da luta de classes), exige, acima de tudo, estratégia de ação que implica um
conhecimento claro e objetivo do terreno da luta (porexemplo, como se organiza o campo da produção do
capital). Enfim, os empregados faxineiros precisam teruma visão de totalidade concreta daquele terreno do capital, não apenas para saber como agir, mas ondeintervir visando fazer avançar a luta pela dignidadesalarial (nesse caso, trata-se de luta por melhores
salários e direitos trabalhistas). Enfim, não se coloca emquestão a relação-capital, mas apenas o modo de
regulação salarial.
A estratégia sindical
Giovanni Alves - UNESP 42
Após esboçar o sistema de produção do capital naquele determinadoprédio, local de trabalho das empregadas faxineiras subcontratdas pelaAngel, Sam Shapiro avança mais um pouco sugerindo uma estratégia de ação para dar inicio à campanha “Justiça para os Faxineiros”. Diz ele: “O
que temos de fazer é pressionar estes caras [ps inquilinos] a contratarem companhias sindicalizadas.” É interessante que, nesse
caso, a luta sindical deve incidir não contra a empresa contratadora de serviço – no caso, a Angel – mas, sim, sobre os inquilinos. Enfim, devepressiona-los a contratar apenas empresas sindicaliazads que possamgarantir dignidade salarial para seus empregados. Os inquilinos têm o poder de pressionar as companhias contratadas a se adequarem a um
novo modo de regulação salarial.
Pressão (e visibilidade) social
Giovanni Alves - UNESP 43
A questão é como pressionar os inquilinos do prédio comercial, constituidopor corretoras e importantes bancos norte-americanos (é interessante
que, naquele prédio, está o staff gerencial da burguesia financeirahegemînica sob o capitalismo global). Sam Shapiro já salientara que os
grandes bancos que operam naquele edificio “têm tremenda reputação”. Portanto, eles devem se sentir incomodados com a luta sindical entre a Angel, a companhia contratada, e seus empregados de faxina. Esta é a estratégia de luta de Sam Shapiro: dar visibilidade àqueles proletáriosassalariados da faxina daquele prédio. Na verdade, é através da luta
sindical que pode-se dar visibilidade plena ao mundo do trabalhoorganizado. É um momento de romper com a pseudo-concreticidade davida cotidiana que invisibiliza homens e mulheres proletárias. Enfim, a visibilidade proletária se constitui na medida em que aquela pequena
“interrupção” cotidiana abre um espaço para uma ação pedagógico-práticasobre as demandas proletárias e seus vinculos com as demandas humano-
genéricas universais, e não apenas corporativo-profissionais. A luta das faxineiras era por um salário decente (a imagem de que caras de reputação,
como banqueiros, contratam empresas que pagam salários indecentes é algo que incomodaria a opinião pública). Sam observa: “É só fechar algunssinais de trânsito na hora do rush. Imagine quantos advogados, secretarias, contadores, negociantes e banqueiros…quanta gente será afetada por isso
? Já imaginaram o efeito que isso terá nessa gente? Sai mais barato nospagarem um salário decente…”.
A união
Giovanni Alves - UNESP 44
A jovem Maya conseguiu apreender o principio fundamental da formação da classe. O primeiro
passo de explicitação da consciência de classe em sié a organização (e por conseguinte, a união) dos trabalhadores assalariados visando enfrentar a
exploração do capital. O primeiro passo de construção da classe social do trabalho exige um
esforço de cada empregado e empregada no sentido de romper com a
desunião/fragmentação/isolamento que perpassa o trabalhador coletivo. Aliás, é importante salientarque o trabalhador coletivo é trabalhador coletivodo capital. É a organização e união dos faxineiros
que irá interverter o sentido de trabalhadorcoletivo do capital para os interesses históricos do
trabalho. Maya conseguiu também perceber a importância de quebrar o isolamento que existe
entre os trabalhadores assalariados, submersos no trabalho estranhado. Diz ela: “Que tem de erradoconversar com os outros faxineiros? Só falar”. O
trabalho estranhado aliena o trabalhadorassalariado não apenas do processo/processo, mas
de si e dos outros. Portanto, é importanteconversar para desfetichizar o coletivo do capital,
transformando em coletivo do trabalho.
Cisão e acomodamento
Giovanni Alves - UNESP 45
No interior da “classe” do proletariado existe uma diversidade de situações pessoais que colocam obstáculos para o desenvolvimento daconsciência de classe. A categoria de faxineiros no filme “Pão e Rosas” é constituida em sua maioria por proletários imigrantes, não apenasdo México e América Central, mas de outros países que exportaram
força de trabalho tendo em vista a situação de catastrofe social (comoocorreu na ex-URSS na década de 1990). Organizar trabalhadores
imigrantes no setor de serviços que quase de forma heróicaconseguiram sair do país de origem onde estavam desempregados e, chegando nos EUA, conseguiram emprego, é bastante dificil. Devido a
própria experiencia vivida destes proletários imigrantes, eles estãopresos a uma perspectiva individualista (um tipo de individualismoheróico), além de, objetivamente, terem usufruido da mobilidade
social que embota a percepção de classe. A faxineira imigrante russaobserva: “Não tinha nada na Rússia. Mas agora tenho
emprego.Sustento meus filhos, pago o aluguel, posso fazer tudo”. Além disso, outros traços singulares contribuem para a atitude
individualista da faxineira que, insegura, tëm dificuldade de aderir aomovimento sindical dos faxineiros – é mulher mãe, chefe de familia
com um emprego instável, como são as ocupações nos serviços.
Sonhos
Giovanni Alves - UNESP 46
A jovem faxineira Maya, ao fazer a faxina de um escritório de luxo do
prédio de condominios onde trabalha, subverte, através do sonho, o espaço do
capital. Senta na cadeira do patrão, redige carta para sua mãe, simulando
ser a patroa, que lamenta nãoencontrar hoje em dia boas
empregadas, muito menos boa cozinheiras. Diz que vai mandar o
motorista pegar sua mãe na cidade e que precisa de alguém para levar o
cachorro na rua. Enfim, ela descrevehábitos burgueses distantes de seu
mundo de proletária imigrante. Como toda proletária, Maya sonha com a inclusão social na ordem burguesa. Talvez seja um sonho ou então, uma
sátira do habitus da classe dominanteque se utiliza de serviçais.
No filme “Tempos Modernos”, de Charles
Chaplin, a jovemdesempregada adormece
num leito burguês, sonhando com a inclusão
na sociedade de consumo.
Repressão anti-sindical
Giovanni Alves - UNESP 47
O gerente da Angel descobre que as trabalhadoras faxineiras realizaram uma
reunião para tratar da organização sindicalda categoria. Para o capital, qualquer união
de trabalhadores proletários visandoconstituir a classe social do proletariado, mesmo em sua dimensão contingente,
precisa ser reprimida no seunascedouro.Diz o gerente: “Nada da porra
do sindicato, certo?”. Nos EUA o capital combateu vorazmente qualquer iniciativa
de organização sindical no interior das empresas. Atitudes anti-sindicais é um
traço comum na sociedade norte-americana. No país do capital, deve-se
reprimir o surgimento do em-si da classesocial do proletariado. Mesmo não
conseguindo impedir o nascimento do sindicato, busca-se desincentivar a filiação
à organização sindical. Diz o gerente: “Entrem para o sindicato e eles
descontarão 20% do seu maldito cheque.”
Cooptação
Giovanni Alves - UNESP 48
O exercicio da contra-ofensiva patronal é deveras complexo – desde a repressão
anti-sindical pura e simples, a intimidaçãotergiversatória e a tenativa de cooptar
trabalhadores assalariados visando obterinformações para desarticular a
organização da base. Na medida em queas trabalhadoras faxineiras se organizam,
o capital se movimenta para obstruir a organização e mobilização sindical. Perez,
o gerente da Angel, tenta cooptar a faxineira, instigando seu instinto salarial e
ambição de poder: “Não gostaria de umas férias? E recebendo 12,50 por
hora?” ou ainda: “Gostaria de ser supervisora?”. Perez diz: “Vamos precisar
de gente, pessoas em quem possamosconfiar.” E logo ele arremata: “Quem
organizou a reunião com o sindicato?”. Enfim, ele obriga Berta a “trair” as
colegas de trabalho. Ela está diante de um terrivel dilema moral.
O sacrificio de Berta
Giovanni Alves - UNESP 49
Berta resistiu ao assédio inescrupuloso de Perez. Não traiu as colegas de trabalho, informando
para o gerente da Angel quem organizou a reunião com o sindicato. Agiu de forma dignadando um exemplo de força moral diante da
cooptação do capital. Ao escolher Beta para a tentação suprema, Perez escolheu uma das
empregadas mais antigas da empresa. Destemodo, calculado, não acreditava que alguém de
maior antiguidade na Angel pudesse pôr emrisco seu emprego deixando de colaborar com
ele. Berta trabalhava há 17 anos como faxineirae, como observou Maya, estava poupando
dinheiro para o casamento da filha e mandavatodo o dinheiro que recebia para a sua familia
em El Salvador, seu país de origem. A lutasindical dos trabalhadores assalariados não é feita apenas de movimento coletivos contra o
capital, mas também de pequenos dramas humanos e tragédias pessoais, verdadeiras
baixas silenciosas das batalhas salariais.
O medo de Maya
Giovanni Alves - UNESP 50
O jovem Maya sente medo dos desafios colocados pela lutasindical, “luta cinzenta”, como diria V.I. Lênin. A luta econômica
propriamente dita põem em movimento séries causais de acontecimentos contingentes que abrem um campo de
imprevisibilidade, principalmente quando se trata de umacategoria de trabalhadores assalariados récem-organizados, que começam a construir, pela primeira vez, o movimento
contra o capital. O mundo do capital é um “mundo grande e terrível”, como diria Antonio Gramsci. O medo de Maya é um
medo objetivo, pois ela se defronta não apenas com osimpasses da luta sindical e as contingencias de sua organização,
mas enfrenta o temor da sua precariedade (e insegurança) salarial – como Berta, a qualquer momento, pode ser demitidae ser jogada no limbro do desempregoou ser re-patriada para o
país de origem.
Consciencia dos direitos
Giovanni Alves - UNESP 51
O primeiro patamar da consciência de classe “em si” do proletariado é o patamar da consciência dos direitos sociais
expressos em lei. O gerente Perez quer prender osempregados no local de trabalho na hora do almoço. Maya
o confronta com o texto da lei. Diz ela: “Não. É hora do almoço. Não pode nos prender ai dentro”. Perez retruca:
“Quem disse isso?”. Ela exclama: “Quem? É a lei. O tribunal”. Estamos diante dos direitos de cidadania
construidos pela própria luta histórica do proletariado quecoloca obstáculos à voracidade da exploração e espoliaçãodo capital. Na medida em que se organizam em sindicatos
e lutam os trabalhadores assalariados tomamconhecimento de seus direitos sociais e políticos. O
movimento de organização em-si da classe é um processode aprendizagem contínua tendo como contéudo tenso e
contraditório, e não irremediável, o movimento do “em-si” para o “para-si” da classe.
Sujeito de direito e organização da classe
Giovanni Alves - UNESP 52
Enquanto sujeito de direito, a classe do proletariado no seu processo de luta de classe, na medida em que se
constitui como classe “em-si”, toma consciêncianecessária, num primeiro momento, do direito de se
organizar enquanto categoria de trabalhadoresassalariados. É o movimento do “em-si” da classe que se
impõe, conduzindo à percepção de novos direitos do trabalho. Na verdade, é um processo cumulativo de percepção de novos direitos sociais - do direito de se
organizar ao direito de sair na hora do almoço…enfim, ostrabalhadores assalariados passam a ter uma nova percepção do mundo social. Pelo menos, emergem
como sujeitos de direito, momento contigente do “em-si” da classe, que os mantém ainda no horizonte
irremediável do capital. Entretanto, é o primeiro passopara a consciência de classe “para-si”, capaz de torná-los
não apenas sujeitos de direito, mas sujeito históricoscapazes de conceberem que outro mundo é possivel.
Sujeitode
direito
Sujeitohistóricode classe
Operadores do Direito
Giovanni Alves - UNESP 53
Enquanto sujeitos de direitos, os trabalhadorseassalariados requerem o apoio de operadores
de direito capazes de orientá-los peloscaminhos tortuosos da justiça burguesa. O
sindicato pode mobilizar advogadostrabalhsitas para dar apoio à luta pelos direitosdos trabalhadores assalariados. Como diz um
empregado: “Temos advogados. Para nosinformar nossos direitos”
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Giovanni Alves - UNESP
Versão 1.0
1ª. Edição: 2008
ATENÇÃO:
Por favor, ao reproduzir, preservar os créditos do autor.
Material exclusivamente pedagógico
vendido a preço de custo
sem finalidade lucrativa
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