UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
CENTRO TECNOLÓGICO – ESCOLA DE ENGENHARIA
APLICAÇÃO DA LOGÍSTICA REVERSA NO DESTINO FINAL DE BATERIAS
USADAS - CRIAÇÃO DE UMA CULTURA AMBIENTAL EM EMPRESAS DO
SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES
ROBERTA DA SILVA FERREIRA – [email protected]
VANESSA DE ALMEIDA BOTTICELLI DUPRAT – [email protected]
Niterói
2004
Resumo
Este trabalho apresenta os resultados obtidos com base na utilização de conceitos e
metodologias de Logística Reversa na busca de um diferencial competitivo em empresas do
setor de telecomunicações no Brasil. Esse artigo baseia no Projeto Final de Graduação em
Engenharia de Produção (Universidade Federal Fluminense – RJ, 2004), A Logística Reversa
Como Equacionamento da Problemática Ambiental no Setor de Telefonia Celular do Brasil -
Estudo De Caso: Claro. Um dos objetivos iniciais do trabalho que originou esse artigo é
realizar um diagnóstico da atual situação dos passivos de baterias celulares gerados pelas
operações de empresas prestadoras de serviços de Telefonia Celular, propor o fortalecimento
de sua marca e a formação de uma cultura ambiental através do uso da logística reversa como
forma de eliminação desse passivo. A partir do estudo foi possível evidenciar o papel
fundamental do planejamento logístico reverso para a solução desta problemática, trazendo
com isso, para as empresas, valores de diversas naturezas: econômico, ecológico, legal e de
imagem corporativa.
Palavras chave: Baterias de celular - diferencial competitivo - logística reversa.
Abstract
This work presents the results based on the use of concepts and methodologies of
Logistic Reverse to achieve a competitive differential in companies of the sector of
telecommunications in Brazil. This article is based on the Final Graduation Project of
Production Enginering (Universidade Federal Fluminense – RJ, 2004), Reverse Logistic as na
environmental solution for the Brazil Cellular Telephone sector. One of the initial objectives
of the work, that originated this article, was to carry through a diagnosis of the current
situation of the environmental liability of cellular batteries generated by the operations of
rendering companies of services of Cellular Telephony and to consider the improve of its
mark and the formation of an ambient culture through the use of logistic reverse as a
environmental liability elimination. Based on this study, was possible to evidence the basic
paper of the logistic planning, incorporating values of diverse natures: economic, ecological,
legal and of corporative image to the companies who implement it.
Key words: Cell Phone Batteries – Competitive Advantage –– Reverse Logistic
1. Introdução
Atualmente, as organizações estão enfrentando uma dura realidade, a “era” do
mercado globalmente competitivo onde a concorrência pode estar a pouquíssimos metros ou
do outro lado do mundo. Nesta era, para que uma empresa desenvolva seu potencial
competitivo e obtenha margens de lucro satisfatórias, é imprescindível que ela tenha a
capacidade de estabelecer estratégias de negócios de forma rápida e eficiente, e de difundir
uma cultura organizacional voltada para a adaptação às rápidas mudanças (ZENOME, 2003).
O cenário de hoje em dia, onde buscamos os meios e opções disponíveis que
satisfaçam os nossos desejos, definidos por Philip Kotler como produtos, tem exigido que as
organizações ofereçam certos benefícios aos seus clientes - os serviços agregados - que
passam a ser o diferencial mais perceptível na hora de decidir pela aquisição de um produto
ou serviço, uma vez que determinam o valor que atribuímos ao mesmo e que influenciam
diretamente na possibilidade do mesmo suprir e atender, em maior ou menor grau, às nossas
necessidades.
Além de fornecer serviços em conjunto com seus produtos, as companhias precisam
se preocupar com a identificação dos mesmos, que constitui um dos passos fundamentais para
se estabelecer a relação de procura espontânea. Esse passo requer uma atenção muito especial
a nomes, símbolos e desenhos e ao peso que a combinação desses elementos tem no mercado,
já que uma marca conhecida e bem aceita é uma garantia de influência positiva na tomada de
decisão de compra do consumidor.
Partindo deste princípio, algumas empresas têm procurado associar suas marcas a
uma postura ambientalmente responsável, no intuito de melhorar sua imagem perante a
sociedade e de atender às novas exigências da população (ZENONE, 2003).
Muitas empresas que já adquiriram essa consciência preservacionista mudaram
radicalmente sua postura, pois perceberam que qualquer ação desenvolvida hoje que preserve
os recursos escassos, trará no futuro, benefícios à natureza e à sociedade, além de vantagens à
própria organização, tais como a redução dos custos de produção através da utilização de
materiais reciclados e a redução dos custos incorridos em multas pelo não cumprimento de
algumas normas ambientais.
O processo de industrialização percorrido pelas nações ao longo dos últimos séculos
trouxe, de um lado, diversos benefícios econômicos e, de outro, sérias conseqüências
ambientais. Se é permitido à humanidade usufruir, nesta era virtual, do conforto
proporcionado por uma vasta gama de produtos e serviços, não se pode esquecer que muitos
destes benefícios tiveram um custo ambiental bastante elevado.
Nos últimos anos, os governos de diversos países, em parceria com a iniciativa
privada, tem se mobilizado em busca de soluções para o conflito desenvolvimento econômico
& preservação ambiental. O chamado Desenvolvimento Sustentável, ainda não foi, contudo,
efetivamente atingido pelos países e suas organizações, tendo em vista os crescentes
problemas ambientais decorrentes das atividades produtivas tais como: efeito estufa, chuva
ácida, lixo nuclear, poluição atmosférica e aquática, entre outros.
Algumas empresas, baseadas no conceito de marketing ambiental, já estão
conscientes de que associar suas marcas a uma postura ambientalmente responsável é
vantajoso. No entanto isto ainda é feito de forma periférica. Vários setores da economia já
vêm sendo fortemente pressionados para assumirem posicionamentos mais socialmente
responsáveis, principalmente àqueles que acarretam um impacto facilmente verificável pela
atividade de transformação desenvolvida e pelo tipo de bem produzido, numa atitude que
soma conscientização e obrigação, já que leis mais rigorosas impulsionam esse novo perfil de
gestão empresarial.
2. Situação Problema
2.1. A evolução do setor de Telecomunicações no Brasil
A história das telecomunicações no Brasil começou a mudar em 1995, três anos
antes do processo de privatizações, quando o Congresso Nacional aprovou a quebra do
monopólio estatal das telecomunicações, garantido pela Constituição de 1988. Naquele ano,
sob a coordenação do então ministro das Comunicações, Sérgio Motta, se deu início a
transferência dos serviços de telefonia para a iniciativa privada. As portas para o futuro
começavam a se abrir.
As 26 operadoras estaduais que formavam o sistema Telebrás foram agrupadas em
três holdings para o leilão, sendo uma equivalente ao Estado de São Paulo, outra abrangendo
os demais Estados do Sudeste, Nordeste e parte do Norte do País e a última cobrindo o Sul e o
Centro-Oeste. A Embratel manteve sua área de cobertura, e foi arrematada pela empresa
americana MCI por R$ 2,65 bilhões. Os leilões renderam mais de R$ 30 bilhões aos cofres do
Governo Federal.
A grande transformação do setor acabou sendo a popularização dos aparelhos de
telefonia celular. Junto com as áreas para exploração de telefonia fixa, foram leiloadas regiões
para operação de telefonia móvel celular, serviço inaugurado no Brasil em 1990. Naquele ano,
a Telerj lançou o Sistema Móvel Celular (SMC), com capacidade para operar apenas 10 mil
linhas.
Os preços, no entanto, eram altos demais e os modelos não acompanhavam a
evolução do setor no resto do mundo, segundo o professor do Departamento de Engenharia de
Telecomunicações da Universidade Federal Fluminense (UFF) Carlos Alberto Malcher
Bastos. De acordo com ele, alguns dos aparelhos vendidos pela Telerj chegavam a custar o
equivalente a R$ 3 mil.
Para fiscalizar e regular o setor, foi criada em 1997, a Agência Nacional de
Telecomunicações (ANATEL). A primeira medida do órgão foi estabelecer metas de
qualidade e universalização dos serviços de telefonia, incluídas nos contratos de concessão,
para garantir o acesso da população e a melhoria no atendimento.
O resultado foi um salto no número de linhas instaladas no País. O número de
usuários de telefonia móvel teve crescimento mais expressivo, dobrando dos 7,4 milhões de
usuários, em 1998, para 15 milhões no ano seguinte.
Além da expansão da oferta de telefones, as metas garantiram melhorias na
qualidade do serviço e reduziram as dificuldades para se obter uma linha telefônica, como o
custo para a compra de uma linha e o tempo de espera.
Figura 01: Evolução dos Acessos a Telefonia Celular
Fonte: Dados fornecidos pela ANATEL (In: www.anatel.gov.br)
A preocupação inicial dos autores está voltada para o fato de que o setor de
telecomunicações no Brasil tem sido um dos setores mais promissores dos últimos anos. De
acordo com dados fornecidos pela ANATEL em 16 de janeiro de 2003, 45 milhões de
celulares foram habilitados em todo o país, o que implica na utilização de, no mínimo, 45
milhões de baterias. No mínimo, porque cerca de 70% dos usuários faz uso de uma segunda
bateria. Teremos assim, em curto prazo, uma utilização anual de 76,5 milhões de baterias de
celulares. Para onde estão indo essas baterias?
Para onde irá todo esse resíduo gerado pela humanidade? Os aterros
sanitários em sua grande maioria já estão esgotados, o que faz da
dificuldade de disposição do lixo urbano um dos maiores problemas
da atualidade (LEITE, 2003, p. 35).
A principal questão que motiva a realização do estudo é a inexistência de
procedimentos claros e executáveis para a realização de um descarte de baterias consciente e
ambientalmente correto, e que seja financeiramente viável. Essa questão torna-se ainda mais
grave ao se considerar a significativa evolução do setor de telecomunicações nos últimos
anos.
2.2. A Questão Ambiental no setor de Telecomunicações
Conforme exposto no item anterior, foi constatado que existe uma lacuna grande
entre a postura e estratégias adotadas pelas empresas de Telefonia Celular e as reais
necessidades do mercado e determinações da legislação local vigente. Para empresas como as
de petróleo, por exemplo, que pela natureza do negócio precisam ter claramente definidas
suas políticas e ações ambientais, essas necessidades e preocupações com o meio ambiente
ficam mais visíveis e se consegue observar de maneira mais palpável a influência direta de
ações para prevenção de acidentes ambientais no fortalecimento da marca da companhia.
No caso específico das empresas de Telefonia Celular, investir em projetos
relacionados ao meio ambiente parece, à primeira vista, totalmente utópico, o que não é
verdade. As novas leis e resoluções definidas pelos diversos órgãos reguladores, como o
Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), provam que essa preocupação com o
meio ambiente deve e tem que ser interesse de todos.
A Resolução CONAMA número 257, de 30 de junho de 1999, que estabelece a
necessidade de disciplinar o descarte e o gerenciamento ambiental adequado de pilhas e
baterias usadas no que tange à coleta, reutilização, reciclagem, tratamento ou disposição final,
representa um grande e definitivo marco da formação de uma legislação ambiental brasileira
engajada em compatibilizar o desenvolvimento tecnológico e a atividade industrial com uma
política responsável e ambientalmente sustentável (OLIVEIRA, 2001).
A lei determina que os fabricantes de alguns produtos deverão ser os responsáveis
pela sua correta destinação e determina também que empresas que comercializam estes
produtos devem apenas intermediar este processo logístico reverso, captando, estocando e
devolvendo-os à sua origem, ou seja, aos próprios fabricantes.
Por conter metais tóxicos e poluentes como níquel, lítio e, principalmente o cádmio,
que é carcionogênico, as baterias de celulares se enquadram como objetos-alvo desta
resolução. Nenhum dos tipos de baterias de telefones celulares existentes no mercado deixa de
ser nocivo, entretanto as de cádmio são as piores. De acordo com o professor da Escola
Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), Wilson Komatsu, “jogadas no lixão, as
baterias são corroídas: o cádmio é arrastado para os lençóis freáticos e captado de volta para
consumo”(GITSIO, 1997). Assim, o perigo de lançar esses produtos na cesta de lixo é grande.
Chumbo, cádmio e mercúrio, metais presentes no interior de algumas
baterias, podem contaminar o solo, lagos e rios, chegando finalmente
ao homem. Se ingeridos em grande quantidade, os elementos tóxicos
podem causar males que vão da perda do olfato, da audição e da visão,
até o enfraquecimento ósseo. “Os materiais não são biodegradáveis e,
mesmo que tenham baixa quantidade de elementos tóxicos, podem
fazer mal ao meio ambiente”, adverte o físico Délcio Rodrigues,
diretor da entidade ambientalista Greenpeace (FRUET, 2002).
Nos dias atuais, as empresas estão cada vez mais sendo responsabilizadas pelo
completo ciclo de vida de seus produtos. Uma vez que se pode garantir que os fabricantes
estão comprometidos com a política de destinação dos produtos, assim como rege a
legislação, esta responsabilidade não recairá sobre a empresa, bem como o ônus decorrente
desta atividade.
O que chamou atenção dos autores desse projeto para esse setor industrial foi a
grande geração de passivo de aparelhos celulares e baterias. O mais alarmante é que esse
passivo gerado encontra-se sem destino concreto tanto em empresas, quanto nas casas dos
próprios compradores desses tipos de produto, que por não saberem ao certo qual é a forma
correta de descarte desses materiais, acabam acumulando baterias e telefones velhos em seus
lares.
Somado a isso, apesar do CONAMA atribuir aos fabricantes a responsabilidade da
correta destinação final de pilhas e baterias, através da Resolução 257/99, falhas de
comunicação, atrasos no cumprimento de solicitações e falta de comprometimento no
cumprimento de suas políticas de coleta são alguns dos obstáculos enfrentados pelas
operadoras para garantir um correto gerenciamento desses produtos por elas comercializados.
Sendo assim, com base no que foi exposto acima, definiu-se o objetivo principal do
presente trabalho é estudar as possibilidades de inserção dos conceitos e técnicas relacionados
à logística reversa na indústria de Telefonia Celular, a fim de buscar soluções viáveis para a
correta eliminação do passivo ambiental gerado pelas baterias e buscar novas formas de
planejamentos e estratégias que se enquadrem nos novos padrões de competitividade
empresarial atuais para esse tipo de mercado.
Qualquer tipo de antecipação de cenários futuros baseada num estudo do ambiente
industrial atual propicia uma enorme vantagem competitiva sobre as demais empresas que
concorrem entre si em um determinado setor, levando-se em conta que o rigor da legislação
ambiental vem crescendo a olhos vistos e que as multas referentes a qualquer desacato dessas
normas são cada vez maiores. Assim, em estratégias competitivas globais, torna-se
imprescindível estudar e analisar o papel da logística reversa, o que requer visão sistêmica
para planejar a utilização dos recursos logísticos de forma a contemplar todas as etapas do
ciclo de vida dos produtos.
Paralelo a toda essa evolução do setor de telecomunicações surgiu o crescente
interesse da sociedade, ou melhor, dos consumidores em entenderem mais a fundo os
produtos e serviços consumidos e adquiridos no que diz respeito aos seus processos de
fabricação e formas de descarte desse material.
Algo aconteceu no fim dos anos 80. Em muitos países as pessoas começaram a se sentir infelizes por como a raça humana estava tratando seu planeta. Passaram a reclamar mais contra a sujeira do ar e da água, a destruição da floresta úmida, o desaparecimento das espécies, o buraco na camada de ozônio e o efeito-estufa (LEITE, 2003).
Para avaliar o grau de conhecimento de consumidores sobre o correto descarte de
baterias, foi formulada, com o auxílio do site Conhecer para Conservar (In:
www.conhecerparaconservar.org), uma pesquisa de opinião para verificar o grau de
consciência ambiental e esclarecimento dos consumidores, com relação aos corretos
procedimentos de descarte de baterias usadas. Esta enquete foi veiculada durante os meses
janeiro e fevereiro de 2004 e, conforme apresentado na figura abaixo, a maioria (38%) revela
que não possui informações suficientes para realizar o correto descarte, porém sabe da
necessidade de cuidados especiais no manuseio desse tipo de material.
Figura 02: Pesquisa de opinião sobre nível de cultura ambiental
Fonte: Site Conhecer para Conservar (In: www.conhecerparaconservar.org)
Considerando o grau de obsolescência de artigos de telefonia celular e o fato das
baterias serem compostas por elementos tóxicos à saúde humana é fundamental que um
correto procedimento de descarte seja adotado por parte das empresas varejistas e prestadoras
de serviço que as comercializam.
3. Metodologia
A metodologia utilizada partiu de uma intensa pesquisa bibliográfica a fim de definir
com clareza todas as dúvidas dos autores e os problemas do mercado de telecomunicações
que estavam relacionados ao descarte de baterias de celular, como a evolução da legislação
ambiental, a evolução do setor de telecomunicações no Brasil, os planos de coleta de baterias
dos fabricantes de celular, os problemas causados pelo descarte incorreto, entre outros. Enfim,
um mapeamento do problema evidenciado.
Definido o cenário do estudo, partiu-se então para a delimitação do escopo e das
áreas de abrangência do estudo baseada nos principais autores envolvidos com essa
problemática, como foi o caso das literaturas do Paulo Roberto Leite acerca do tema Logística
Reversa, do Michael E. Porter sobre Vantagem Competitiva, do Ronald H. Ballou sobre
Gerenciamento da Cadeia Logística, Margarete Braz de Oliveira sobre A Problemática do
Descarte de Baterias Usadas no Lixo Urbano dentre outras fontes importantes como, o site da
ANATEL (Agência Nacional de Telecomunicações), a Legislação Ambiental vigente no país,
o site da CETESB (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental) e da FEEMA
(Fundação Estadual do Meio Ambiente) e os sites do principais fabricantes de baterias de
celular do país dentre outras inúmeras fontes consultadas.
Tendo esse material em mãos foi possível analisar com clareza o problema e
determinar um plano de ação coerente com as tendências do mercado atual, buscando integrar
setores industriais que ainda não estão integralmente engajados com as questões ambientais,
como é o caso do setor de telecomunicações no Brasil, com os conceitos e benefícios gerados
por uma gestão ambiental sustentável.
4. Critérios para Análise do Problema
Os resultados encontrados com base na pesquisa bibliográfica para mapeamento dos
problemas do setor de telecomunicações foram:
Figura 03: Análise SWOT do setor de telecomunicações.
Seguindo a metodologia de análise de problemas as principais questões evidenciadas
foram:
Política com Fabricantes: Os fornecedores não possuem uma política de
descarte de baterias eficiente e que realmente funcione. Não se adequam aos
novos padrões e normas vigentes, o que naturalmente tende a melhorar devido
às pressões governamentais. Outro ponto relevante que foi considerado na
matriz GUT foi o fato de que, atualmente, se nada for feito com relação à
logística reversa e ao controle de passivos ambientais, fica praticamente
inviável o ajuste dessa sugestão à cultura da empresa, visto que há uma gestão
de negócio extremamente direcionada para os resultados financeiros.
Sistema de Informação: Sistema de informação ineficiente com relação aos
dados referentes aos gastos com a logística reversa de baterias. É uma
problemática bastante razoável, uma vez que, sem conhecer a dimensão de seu
problema, não há maneira de controlá-lo.
Marketing Verde: Não existe atualmente um plano de comunicação nas lojas
próprias que proporcionem uma conscientização dos consumidores sobre o
correto descarte de baterias. A tendência do mercado é aumentar
progressivamente os acessos a telefones móveis, o que irá agravar o problema.
Estrutura Interna: Não existe uma estrutura interna voltada para a área de
logística reversa e poucas pessoas da empresa querem lidar com essa
problemática, por entenderem que isso não reflete nos lucros da empresa e
também por esses conceitos não serem difundidos.
Logística Reversa: Não existem procedimentos específicos para cada tipo de
bateria coletada e seu correto descarte. Não foi realizado, até o momento,
nenhum estudo de logística reversa e, como já foi mencionado anteriormente,
não se pode solucionar um problema que aparentemente não existe. Esse item é
considerado muito urgente por se tratar de um ponto crucial para a elucidação
de qualquer outro problema pois com ele a empresa conseguirá iniciar um
controle de dados logísticos reversos.
Figura 04: Matriz de Priorização GUT dos problemas evidenciados no setor de telecomunicações.
5. Geração de Propostas de Melhoria
Partindo dessa conclusão os autores iniciaram a descrição de 3 tipos de soluções
para o controle do passivo ambiental gerado pelo negócio.
5.1. Política de Negociação com fornecedores
As decisões estratégicas de uma empresa dependem de diversos fatores, como por
exemplo, do mercado que a mesma está inserida, do seu público-alvo, do produto ou serviço
oferecido etc. Seguindo os conceitos descritos pelo autor Michael E. Porter, em 1986,
referentes às estratégias competitivas das empresas, para a correta definição de uma estratégia
que seja coerente com os cenários competitivos atuais, uma empresa necessita entender
melhor as cinco forças que regem seus negócios: Entrantes Potenciais, Poder de Negociação
de Compradores e Fornecedores, Produtos Substitutos e Concorrentes na Indústria. Sendo os
fornecedores de crucial importância para o processo de logística reversa de baterias de
celular, torna-se evidente a necessidade de restringir os mesmos com objetivo de minimizar
custos ambientais das operadoras de celular. Uma forma eficiente para minimização desse
problema seria a implementação de uma política de restrição dos fornecedores, selecionando
aqueles com os programas de coleta de baterias mais bem estruturados e eficazes. A partir de
uma tomada de consciência diante da problemática ambiental, somada a experiência adquirida
ao longo dos anos de parceria com os principais fornecedores, a empresa, através da ação em
conjunto dos departamentos Jurídico, de Suprimentos e Logística, possuiria condições de
determinar as condições primordiais de fornecimento a fim de garantir o atendimento ao fluxo
reverso de produtos.
Para realizar a seleção dos fornecedores aptos a atingir as expectativas da empresa
em questão, seria necessário definir, internamente, o custo total de fornecimento e coleta da
matéria-prima. Uma vez conhecido esse valor, a operadora poderia propor seu repasse aos
fabricantes – responsáveis legais pela situação problema – de modo a diluí-lo no custo
unitário final do produto permitindo assim, que essa atividade continue se mantendo lucrativa.
Novamente, através uma pesquisa de opinião veiculada no site Conhecer para
Conservar (In.: http://www.conhecerparaconservar.org), entre os meses de novembro de 2003
a janeiro de 2004, foi possível identificar a opinião dos consumidores no que se refere a
custos ambientais agregados ao preço final de produtos e serviços. De acordo com a figura 05
observa-se que a maioria dos consumidores (41%) estaria disposta a pagar até 15% a mais por
um produto ou serviço ecologicamente correto, o que fundamenta a abordagem supracitada.
Figura 05: Tolerância dos consumidores aos custos ambientais agregados a produtos/serviços.
Fonte: www.conhecerparaconservar.org
5.2. Planejamento Logístico Reverso
As iniciativas relacionadas à logística reversa têm trazido consideráveis retornos
para as empresas. Economias com a utilização de embalagens retornáveis ou com o
reaproveitamento de materiais para produção têm trazido ganhos que estimulam cada vez
mais novas iniciativas. Além disso, os esforços em desenvolvimento e melhorias nos
processos de logística reversa podem produzir também retornos consideráveis, que justificam
os investimentos realizados.
Para quantificar essa oportunidade, foi realizada uma pesquisa de mercado a fim de
identificar as empresas que fariam reciclagem de lixo tecnológico. O que pode-se constatar é
que, no Brasil, existe apenas uma empresa localizada em São Paulo, a Suzaquim. A Suzaquim
é uma empresa brasileira recicladora de pilhas e baterias, que já atua há dez anos no mercado.
A atividade principal da empresa é a reciclagem de resíduos químicos industriais, contendo
metais, subprodutos de processo metal-mecânico e de tratamento de superfície metálica. Com
o surgimento da preocupação sobre os impactos ambientais da disposição inadequada de
pilhas e baterias, a Suzaquim começou a reciclar pilhas e baterias, utilizando a mesma planta
industrial e o mesmo pessoal operacional.
A Suzaquim passou a reciclar pilhas e baterias, por causa da demanda por esse
serviço, que foi criada a partir da Resolução Conama 257/99 e de legislações mais rigorosas
nos Estados da Região Sul, que exigem que as prefeituras também dêem destinação adequada
a esses resíduos. As empresas produtoras de aparelhos celulares foram obrigadas pela
Resolução Conama 257/99 a dar uma destinação adequada às baterias usadas, que as
empresas, também, foram obrigadas a recolher. A Suzaquim, então, recicla pilhas e baterias
recebidas de empresas e de municípios que fazem uma triagem nos seus sistemas de
gerenciamento de resíduos sólidos, como Joinville (WORKSHOP SOBRE CONSUMO
SUSTENTÁVEL NO BRASIL, 2002).
A empresa, certificada pelas normas ISO 9.000 e ISO 14.000, tem todas as licenças
necessárias, como a do Ibama, do Ministério da Agricultura, da Cetesb e do Ministério do
Exército (pois se utiliza ácido no processo).
A Suzaquim possui uma capacidade instalada de 1.100 toneladas/mês, mas está
operando com um terço desse valor.
Hoje, na Suzaquim, cobra-se R$ 981,00 por tonelada de pilhas e baterias recicladas. Para dar uma idéia do que é uma tonelada, a Embraer, quando ela tinha 1800 funcionários, fez um programa de coleta seletiva durante o período de um ano com a expectativa de coletar cinco toneladas, mas não conseguiu coletar uma tonelada durante o ano todo.
Fátima Santos, Gerente Comercial da Suzaquim. Fonte: WORKSHOP SOBRE CONSUMO SUSTENTÁVEL NO BRASIL, 2002.
Dividindo-se o custo pelo peso das pilhas e das baterias, o custo da reciclagem não
passa de 1% do valor final do produto. Descontando do preço da tonelada reciclada, o custo
do tratamento no aterro, o custo real é de R$ 500,00 por tonelada reciclada.
O custo da incineração está em torno de R$ 1.500, 00 por tonelada, o que torna essa
alternativa totalmente inviável, sem falar na polêmica sobre o custo ambiental dessa
alternativa de tratamento.
Segundo a Suzaquim, a reciclagem de pilhas e baterias no Brasil, além de aumentar
a vida útil dos recursos não renováveis; emprega mão de obra nacional; é uma tecnologia
nacional; libera os aterros para outros resíduos e é economicamente viável, comparando com
as outras alternativas de tratamento.
Foram traçados dois tipos de ações acerca desse tema: uma, de curto prazo, que
eliminaria o passivo ambiental da empresa e a outra, de longo prazo, que traçaria um plano de
ação para que a operadora de celular juntamente com uma empresa recicladora de lixos
tecnológicos, para eliminação desse passivo de maneira ecologicamente correta, sem agredir o
meio ambiente.
Abaixo seguem algumas estimativas e cálculos realizados pelos autores a fim de
evidenciar a potencial redução de custo com a aplicação dessa proposta. Os valore utilizados
como base para a realização dos cálculos foram oriundos de um estudo de caso realizado
numa das operadoras de celular do Rio de Janeiro.
De acordo com a proposta formulada pela Suzaquim, a remessa e o transporte dos
resíduos até a unidade de reprocessamento é de inteira responsabilidade da remetente,
correndo por conta deste todas as despesas e encargos. Os resíduos deverão estar
acondicionados em tambores ou bombonas revestidos com sacos plásticos, sendo que todos
deverão ser enviados em pallets, em estrita observância às normas vigentes, principalmente as
relativas ao meio-ambiente. As embalagens e pallets não serão devolvidos a operadora de
celulra e deverão estar identificados com rótulos específicos que serão fornecidos pelo
departamento de acompanhamento de transportes da Suzaquim.
Com relação aos custos, existem, basicamente, três origens de despesas envolvidas
neste processo. São elas:
Custo de reprocessamento;
Custo de frete;
Custo de obtenção do certificado de liberação do material de seu Estado de origem.
Custo de reprocessamento
Tipo de Produto R$ por tonelada
Pilhas e baterias alcalinas R$ 990,00
Lixo tecnológico (acessórios p/celular) R$ 450,00
Nestes valores estão incluídos todos os custos do reprocessamento e também os
tributos, contribuições e encargos sociais e os previdenciários devidos.
O valor mínimo para faturamento é de R$ 450,00 (quatrocentos e cinqüenta reais) o
que equivale, somente para o caso das baterias – alvo do presente estudo – a
aproximadamente a 450 Kg do material, sendo proporcional a 4.286 unidades de baterias,
considerando-se um peso médio estimado por bateria de 105 gramas.
Observe a memória de cálculo considerando a utilização dessa sugestão como
solução imediata para eliminação do passivo atual:
Proposta: R$990,00 reais / tonelada (A)
Peso médio de uma bateria: 105 g (B)
Total de baterias estocadas: 12.000 unid. (C)
Dessa forma, (A) x (B) x (C) fica:
105 g X 12.000 unid X R$990,00 = 1,26 ton X R$990,00 = R$1.247,40
Pode-se concluir que, essa atividade acarretará num custo estimado para a empresa
de R$1.247,40 referente apenas ao reprocessamento dos resíduos atuais para eliminação desse
passivo.
Se este número for comparado às perdas financeiras estimadas e ao desgaste das
negociações mal sucedidas junto aos fornecedores, conclui-se que, esta é uma sugestão rápida,
barata e eficaz, capaz de acabar de imediato com o problema.
Observe a memória de cálculo considerando a utilização periódica dessa sugestão
como forma de definir uma plano de ação contínuo para o correto descarte de baterias:
Proposta: R$990,00 reais / tonelada
Peso médio de uma bateria: 105 g (A)
Taxa de recolhimento média por loja: 22/ mês . loja (B)
Total de lojas: 25 (C)
Dessa forma, (A) x (B) x (C) fica:
105 g X 22 unid / loja.mês X 25 lojas = 58 Kg / mês
O que significa que, num mês, a companhia tem a capacidade de recolher 58 Kg de
baterias. Como a coleta mínima é referente a um peso de 450 kg, podemos afirmar que a
empresa estará apta a solicitar uma nova coleta a cada 8 meses aproximadamente.
Pode-se concluir que, a cada 8 meses, a empresa estaria gerando um custo de
R$450,00, referente apenas ao reprocessamento dos resíduos.
Se este número for comparado às perdas financeiras estimadas, referente ao
manuseio e estocagem deste passivo ambiental, nota-se que o mesmo não é representativo
perante os gastos totais da empresa com esse processo.
Somado a isso há o fato de serem incomensuráveis para a empresa os ganhos
referentes à adoção de uma postura ambientalmente responsável, o que reflete no
fortalecimento de uma marca comprometida não só com a qualidade de seus produtos e
serviços mais sim com a qualidade de vida dessas e de futuras gerações.
Custo de frete
Foram feitas sondagens de preços com algumas transportadoras envolvidas na
logística de materiais perigosos, tais como resíduos tóxicos e inflamáveis, e chegou-se ao
valor médio de R$300,00 para o percurso Rio de Janeiro - São Paulo. Vale lembrar que a
variação do valor do frete será acertada diretamente com a transportadora, pois estes são
apenas valores referenciais.
Custo de obtenção do certificado de liberação do material de seu Estado de origem
De acordo com o Decreto 47.397 de 04/12/2002, deverá ser pago ao órgão ambiental
responsável, uma quantia para emissão de certificado que permite a movimentação externa
desse material.
Foi proposta pela Suzaquim a utilização da CETESB como órgão regulamentador,
no momento de protocolar a solicitação de CADRI - Certificado de Aprovação para
Destinação de Resíduos Industriais. Para tanto é necessário realizar um pagamento no valor
de 70 UFESPs (Unidade Fiscal do Estado de São Paulo), que dada a cotação atual da UFESP
em R$12,49, a geração dessa licença tem um custo de R$ 874,30 (Fonte: Site de finanças
Debit.com.br, In: www.calculos.com/consulta20.php?bd_tabela).
Para o caso específico do Rio de Janeiro deverá ser utilizado a FEEMA como órgão
regulamentador sendo seu certificado equivalente ao CADRI, chamado de Manifesto de
Resíduos. A taxa de emissão é da mesma ordem de grandeza.
Para a saída definitiva do material do depósito, deverá acompanhar o carregamento a
cópia do Certificado ou documento de liberação do Estado de Origem, a nota fiscal operação
"Outras Saídas", com observação de não incidência do ICMS, e outros documentos a serem
fornecidos pelo próprio departamento de acompanhamento de transportes da Suzaquim. Mais
uma vez, vale lembrar que não há tributação fiscal sobre este material, sendo apenas
recomendável atribuir um valor monetário simbólico "pro memorian".
Finalmente, o reprocesso dos resíduos dar-se-á em até sessenta dias após o envio dos
mesmos ao parque industrial da Suzaquim. Os materiais apurados no reprocesso passam a
pertencer a Suzaquim e, no prazo de até trinta dias após o término do reprocessamento, será
emitido para a Claro o Certificado de Reprocessamento e Destinação Final dos Resíduos
Industriais, em plena conformidade aos órgãos legais de gestão ambiental.
Custo Total para adoção imediata da medida:
Custo de Reprocessamento: R$ 1.247,40 (A)
Custo de Frete: R$ 300,00 / ton X 1,26 ton = R$ 378,00 (B)
Custo de Emissão de Certificado: R$ 874,30 (C)
Desta forma, (A) + (B) + (C) fica:
R$ 1.247,40 + R$ 378,00 + R$ 874,30 = R$2.500,00
Sabe-se que os investimentos em gestão ambiental são crescentes e que Sistemas de Gestão Ambiental são cada vez mais adotados por empresas nacionais e multinacionais. O número de empresas que já implantaram sistema de Gestão Ambiental no Brasil gira em torno de 140 empresas certificadas pela Norma ISO14000 até setembro de 1999. Existe então na realidade um macro investimento em gestão ambiental. Estes investimentos crescentes podem ser explicados por vários fatores, entre os quais podemos citar: maior conscientização da sociedade exigindo uma postura responsável do setor produtivo; legislação mais restritiva; competitividade; novas oportunidades com a abertura de “mercados verdes”. Na verdade o desenvolvimento da questão ambiental e da conscientização das pessoas a respeito da escassez de recursos naturais leva a uma maior preocupação com as questões ambientais (FARIA, 2001).
Sendo assim tal proposta se mostra não somente viável como também uma excelente
oportunidade de serem obtidos ganhos em relação ao mercado consumidor, à concorrência e à
sociedade como um todo.
5.3. Engajamento da Empresa numa campanha de conscientização com relação a coleta de
baterias
Considerando que a preocupação com questões ambientais tem sido cada vez mais
importante para sustentabilidade de uma organização em seu negócio, torna-se fundamental
que as empresas adotem um Programa de Marketing Ambiental, também chamado de
Marketing Verde ou Marketing Ecológico.
As razões para adotar um Programa de Marketing Ambiental são variadas. Em
primeiro lugar, para a satisfação dos acionistas e funcionários, é positivo estar associado a
uma empresa ambientalmente responsável, uma vez que pode levar até a um aumento de
produtividade da empresa. Uma outra razão é a redução de custos desnecessários identificados
com uma simples auditoria ambiental, visto que a maior parte da poluição resulta de processos
ineficientes que não aproveitam completamente os materiais utilizados.
O Marketing Verde não se limita à promoção de produtos que tenham alguns
atributos verdes, isto é, produtos recicláveis ou que não destruam a camada de ozônio. Isto
porque para uma empresa conseguir implantá-lo, ela deve, antes de mais nada, organizar-se
para ser uma empresa ambientalmente responsável em todas as suas atividades.
Adotar um Programa de Marketing Ambiental não é tão simples como parece,
devendo ser encarado com seriedade e não como uma declaração de “amor à natureza”. A
adoção de um programa destes, ao representar uma reação das empresas mais socialmente
responsáveis às expectativas da sociedade, por produtos e serviços que determinam menores
impactos ambientais, pode levá-las a uma melhor posição competitiva.
A primeira dúvida em relação à implantação deste programa diz respeito ao aspecto
econômico. A idéia que prevalece é de que qualquer providência que venha a ser tomada em
relação à variável ambiental traz consigo o aumento de despesas e acréscimo dos custos do
processo produtivo, o que não é verdade, já que muitas companhias têm demonstrado que,
com certa classe de criatividade e condições internas que possam transformar ameaças
ambientais em oportunidades de negócios, é possível ganhar dinheiro e proteger o meio
ambiente.
No nível interno das organizações, a questão ambiental está em evidência, pois
muitas empresas têm-se engajado nessa onda apenas no discurso e não através de ações
efetivas, uma vez que não conseguem nem mesmo sensibilizar seus próprios executivos de
que a preocupação com a proteção ao meio ambiente é realmente um objetivo empresarial
importante de ser alcançado.
No que se refere à capacitação de pessoal, estar comprometida com a preservação do
meio ambiente exige que a empresa enfrente eficientemente este desafio. A tecnologia
permite provocar mudanças nos processos e produtos, entretanto, é necessária também a
existência de um pessoal competente e bem treinado que seja capaz de transformar os planos
idealizados em ações efetivas e eficazes.
A adoção do Marketing Verde através da criação de um programa de coleta de
baterias usadas deve ser iniciada com uma campanha de informação ao público, enfatizando o
perigo da disposição sem controle de baterias usadas. Uma campanha bem sucedida deve
fornecer informações precisas e organizar programas de educação que encorajem os
consumidores (OLIVEIRA, 2001, p. 102).
Além disso, uma campanha informativa somente deve começar após a existência de
uma infra-estrutura adequada de disposição e reciclagem das baterias, isto é, já se devem
dispor dos recipientes de coleta, centros de coleta, locais para estocagem, aterro e recicladora,
senão se perdem a informação e a credibilidade (OLIVEIRA, 2001, p. 102).
Não obstante, outro fato a ser considerado no programa de coleta é que os
consumidores precisam ser alertados da existência de um sistema de identificação de baterias,
que diferencia as baterias que necessitam ser coletadas (tóxicas) daquelas que podem ser
dispostas juntamente com o lixo doméstico (baterias de zinco-carvão e alcalinas, isentas de
cádmio e mercúrio). Esse sistema de identificação aumenta a taxa de coleta e diminui o custo
do processo seletivo, visto que o consumidor se encarrega da segregação (Ibid., p. 103).
Como forma de contribuir para o aumento da taxa de coleta de baterias usadas sugere-
se duas medidas:
Taxa de Depósito: Trata-se de uma pequena quantia a ser paga pelo
consumidor ao varejista no ato da compra de uma bateria nova e este valor
deverá ser reembolsado quando a bateria for devolvida ao ponto de venda.
Este valor deve ser pequeno, de modo que, se o consumidor não se interessar
pela devolução do item, os catadores de lixo realizariam a coleta e todas as
baterias do lixão seriam recolhidas. Dessa maneira o consumidor estaria
“remunerando” os catadores, o que se revelaria uma contribuição social (Ibid.,
p. 109).
Desconto na compra de uma nova bateria: Refere-se a um pequeno percentual
de desconto a ser fornecido ao consumidor no ato da compra de uma nova
bateria, caso o mesmo se dirija ao ponto de venda tendo em mãos sua bateria
usada e energeticamente esgotada. O desconto não poderia ser cumulativo e
estaria limitado a uma bateria usada devolvida para cada bateria nova
adquirida.
A adoção dessas medidas aliada ao reprocessamento das baterias realizado pela
Suzaquim irá permitir à empresa iniciar a implantação de seu programa de marketing voltado
para as preocupações ambientais e para a conscientização ambiental do mercado consumidor.
Caso tenha boa receptividade pelo público-alvo, ele tornará possível o fortalecimento da
imagem corporativa da organização como uma empresa ambientalmente responsável,
estimulando (onde já exista) ou despertando (onde ainda não exista) o desejo por seus
produtos ou serviços, bem como a obtenção de recursos através dos bancos ou organizações
de desenvolvimento, que oferecem linhas de crédito específicas para projetos ligados ao meio
ambiente com melhores condições.
6. Conclusões e observações finais
A crescente exposição à concorrência, em função da abertura às importações ocorridas
desde os anos 90, tem exigido das empresas uma preocupação, cada vez maior, com a escolha
de suas estratégias, as quais deverão estar orientadas para obtenção de vantagens
competitivas.
Porter (1992, p. 23) apresenta como a empresa pode escolher e implementar uma
estratégia genérica, a fim de obter e sustentar uma vantagem competitiva. De acordo com ele,
"o instrumento básico para diagnosticar a vantagem competitiva e encontrar maneiras de
intensificá-la é a cadeia de valores". O autor esclarece que "o valor é medido pela receita
total, reflexo do preço que o produto de uma empresa impõe e as unidades que ela pode
vender". A empresa é rentável quando o valor que ela impõe ultrapassa os custos envolvidos
na criação do produto. A meta da estratégia genérica é criar valor para os compradores que
exceda o custo e o autor afirma que é o valor e não o custo que deve ser usado na análise da
posição competitiva. Na sua proposta, a cadeia de valores exibe o valor total que consiste em
margem e atividades de valor.
Dentro deste contexto, a competição por preço, principal diferencial vigente, tem dado
lugar à qualidade e à excelência pelo valor agregado dos produtos, uma vez que as atuais
perspectivas de mercado apontam para aquelas organizações que conseguirem diferenciais
competitivos baseados não somente em custo, mas em qualidade, manufaturabilidade e
atratividade para o consumidor.
Os produtos oferecidos pelas empresas de sucesso devem apresentar características
que englobem interação com o usuário, fatores ergonômicos, facilidade de manufatura e
montagem, além da preocupação constante com o meio ambiente, o que torna necessário o
desenvolvimento de frentes de trabalho que possam utilizar ferramentas que possibilitem essa
nova visão tecnológica, social e, principalmente, ambiental.
Os argumentos apresentados a seguir por Henrique Rattner ilustram a crescente
interpenetração da questão ambiental em diversos campos profissionais e científicos:
Os economistas defendem a análise de custo-benefício, taxa de desconto, preços reais (referentes aos custos de recuperação por danos ambientais), auditoria ambiental, eventualmente, uma nova metodologia para as contas nacionais. Os sociólogos insistem na necessidade de se consultar e pesquisar as opções sociais, questionando-se sobre a disposição da sociedade em pagar pela proteção e conservação de determinados recursos naturais ou pela instalação de depósitos de lixo que representam riscos à saúde. Cientistas e tecnólogos reivindicam maiores verbas para a pesquisa e desenvolvimento de ciências básicas e de tecnologias de ponta, tentando seguir os padrões e copiar ou repetir os projetos de cientistas dos países desenvolvido. Constituem juntamente com os homens de negócio, um lobby forte para a transferência de tecnologias (equipamentos, investimentos, etc.) dos países desenvolvidos para os países em desenvolvimento. Um número crescente de companhias e executivos começa a ver as questões ambientais como um campo novo e interessante de investimentos, ao menos por razões de marketing e de imagem perante o público. Os banqueiros e os conglomerados financeiros percebem oportunidades para lucros imensos advindos das preocupações ambientais e das transações internacionais, através da transferência de dotações de conversão das dívidas externas de proteção ao meio ambiente. (RATTNER, 1994.).
Essa interpenetração da questão ambiental também vem ocorrendo, aos poucos, no
setor de telefonia celular, devido às mudanças na legislação ambiental, que passou a ser bem
mais rigorosa com os responsáveis por danos ao meio ambiente e aos impactos ocasionados
pelo passivo ambiental decorrente da falta de procedimentos claros e executáveis para o
descarte adequado das baterias.
Com base no exposto acima, pode-se concluir que a logística reversa é imprescindível
para resolução dos problemas supracitados, podendo vir a contribuir de forma bastante
significativa, não só para o incremento da reutilização dos materiais recicláveis que compõem
as baterias, como para a diminuição desse enorme passivo, visto que, através dela, são
definidos planos eficientes para a captação e descarte, ecologicamente corretos, desses
produtos que podem poluir o meio ambiente. Além disso, a logística reversa também se
constitui uma vantagem competitiva ao agregar, às empresas do setor, valores de diversas
naturezas: econômico, ecológico, legal e de imagem corporativa, o que, indubitavelmente,
influencia na fidelização dos clientes e na sensibilidade dos mesmos aos preços cobrados por
produtos ou serviços que não agridam o meio ambiente.
7. Bibliografia
ABREU, Estela dos Santos; TEIXEIRA, José Carlos Abreu. Apresentação de trabalhos monográficos de conclusão de curso. 5ª. ed. Niterói: EdUFF, 2001.
AGÊNCIA NACIONAL DE TELECOMUNICAÇÕES - ANATEL. Evolução do Setor de Telecomunicações. Home Page. Disponível em: <http://www.anatel.gov.br>. Acessado entre dezembro de 2003 e fevereiro de 2004. CONHECER PARA CONSERVAR. Enquetes. Home Page. Disponível em: <http://www.conhecerparaconservar.org>. Acessado entre novembro de 2003 e fevereiro de 2004. CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE. Resolução nº 257, 30 de junho de 1999. Dispões sobre o descarte final de pilhas e baterias. CORRÊA, Fernanda A. Silveira; FERREIRA, Roberta da Silva; BOTTICELLI-DUPRAT, Vanessa de Almeida. A Logística Reversa Como Equacionamento da Problemática Ambiental no Setor de Telefonia Celular do Brasil - Estudo De Caso: Claro. Projeto Final de Graduação em Engenharia de Produção. Universidade Federal Fluminense – RJ, 2004. BALLOU, Ronald H. Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos: Planejamento Organização e Logística Empresarial. 4ª. ed. Porto Alegre: Bookman, 2001.
FARIA, Maria Helena de Mendonça. Uma Discussão a Respeito dos Benefícios Econômicos da Gestão Ambiental. Dissertação de Mestrado - Programa de Pós-graduação em Engenharia de Produção. Escola Federal de Engenharia de Itajubá – MG, 2001. FRUET, Henrique. Lixo Eletrônico - Empresas serão obrigadas a recolher e reciclar dejeto tecnológico. In: <http://www.rumonorte.com/empresa_ambiental_lixo.htm>. 2002. Acessado em: novembro de 2003.
GITSIO, Fabiana. População ignora riscos de bateria de celular. In: O Estado de São Paulo On Line, <http://www.estado.estadao.com.br/edicao/pano/97/07/19/cid420.html>, 1997. Acessado em: novembro de 2003.
LEITE, Paulo Roberto. Logística Reversa: Meio Ambiente e competitividade. São Paulo: Prentice Hall, 2003.
OLIVEIRA, Margarete Braz de; A Problemática do Descarte de Baterias Usadas no Lixo Urbano. 1ª ed. Brasília: Fundacentro, 2001.
PORTER, Michael E.; Estratégia Competitiva – Técnicas para Análise da Indústria e da Concorrência. 7ª. ed. Rio de Janeiro: Campus, 1986. ------. Vantagem Competitiva: criando e sustentando um desempenho superior. Rio de Janeiro: Campus, 1992.
RATTNER, Henrique. “Desenvolvimento Sustentátel- tendências e prerspectivas.” in:. A questão Ambiental . Magalhães , Luiz Edmundo de(Org).. São Paulo, Terragraph, 1994. WORKSHOP SOBRE CONSUMO SUSTENTÁVEL NO BRASIL. Brasília, 02 e 03 de julho de 2002. In: <http://www.idec.org.br/files/workshop_cs.doc>. Acessado em: janeiro de 2004. ZENONE, Luiz Cláudio. O Diferencial do Marketing de Serviços. In: <http://www.allameda.com.br/www/artigos/zenone8.asp>, 2003. Acessado em: junho de 2003