Discusses em torno da reconstruo do significado da lepra no perodo ps-sulfnico, Minas Gerais, na dcada de 1950
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Keila Auxiliadora CarvalhoProfessora, Universidade Federal dos
Vales do Jequitinhonha e Mucuri.Rodovia MGT 367, km 583, n.5000
39100-000 Diamantina MG Brasil
Discusses em torno da reconstruo do
significado da lepra no perodo ps-sulfnico,
Minas Gerais, na dcada de 1950*
Discussions regarding the reconstruction of the significance of leprosy in the post-sulfone period,
Minas Gerais, in the 1950s
Recebido para publicao em junho de 2012.Aprovado para publicao em setembro de 2013.
http://dx.doi.org/10.1590/S0104-59702014005000026
CARVALHO, Keila Auxiliadora. Discusses em torno da reconstruo do significado da lepra no perodo ps-sulfnico, Minas Gerais, na dcada de 1950. Histria, Cincias, Sade Manguinhos, Rio de Janeiro. Disponvel em: http://www.scielo.br/hcsm.
Resumo
Da perspectiva histrica, todos os elementos que envolvem uma doena, desde sua nomeao at a carga de significado que lhe atribuda, resultam de negociaes elaboradas por mltiplos atores sociais. No caso da lepra, a descoberta das sulfonas, em 1941, contribuiu de forma significativa para a transformao do entendimento dessa enfermidade, gerando um questionamento acerca das aes utilizadas para o seu controle/combate, sobretudo o isolamento compulsrio dos doentes. Com base nesses pressupostos, este artigo analisa o debate que se constituiu acerca do processo de substituio das antigas prticas profilticas para o controle da lepra, em um importante peridico de circulao nacional, Arquivos Mineiros de Leprologia, na dcada de 1950.
Palavras-chave: lepra; sulfonas; profilaxia anti-isolacionista.
Abstract
From a historical viewpoint, all the elements surrounding a disease, from its name to the weight of meaning attached to it, are the result of negotiations in which many sections of society are participants. In the case of leprosy, the discovery of sulfones in 1941 made a significant contribution towards transforming our understanding of this disease, leading to questions being raised as to the measures adopted for its prevention and control, particularly the compulsory isolation of sufferers. On the basis of these assumptions, this article examines the debate which took place regarding the process whereby the old prophylactic procedures for the control of leprosy were replaced, in an important national journal, Arquivos Mineiros de Leprologia, in the 1950s.
Keywords: leprosy; sulfones; anti-isolationist prophylaxis.
Keila Auxiliadora Carvalho
2 Histria, Cincias, Sade Manguinhos, Rio de Janeiro2 Histria, Cincias, Sade Manguinhos, Rio de Janeiro
Embora a lepra se tenha tornado referncia universal das enfermidades mais temidas no mundo ou, como prope Susan Sontag (2007), metfora1 do que havia de mais perigoso em termos de doena, sua histria no se restringe a essa perspectiva metafrica do estigma e da periculosidade. Ao contrrio, a histria da lepra marcada por continuidades, mas tambm por rupturas, sendo que a mais significativa se refere maneira como essa doena ou a compreenso acerca da mesma passou por uma reestruturao a partir de meados da dcada de 1940. Se de fato, por um lado, temos uma trajetria milenar que considera a lepra uma doena temvel e, por isso, ela se torna metfora para referir-se a uma situao de perigo, de outro lado, essa trajetria passa por um processo de inflexo a partir do final da primeira metade do sculo XX. Esse processo deriva de um maior conhecimento sobre a doena, o qual resultou em uma atenuao da perspectiva metafrica do perigo, pois, como observou Susan Sontag (p.56-58), quanto mais misteriosa parea ser uma doena, mais metafrica se torna. Conhecer a lepra implicou, ento, recriar seu significado, isto , reconstruir socialmente os conceitos sobre a doena, a fim de extinguir algumas prticas profilticas e impor novas. Entretanto, esse processo no se referia apenas ao universo da medicina. Na verdade, era muito mais amplo, envolvendo o portador da doena e tambm a sociedade.
O mdico norte-americano Guy Faget, em 1941, descobriu o poder teraputico das sulfonas atravs de experincias desenvolvidas no Leprosrio de Carville, no estado de Louisiana, EUA. Essa descoberta marcaria uma nova fase no tratamento da lepra, uma vez que, como explicou Vivian Cunha (2005, p.117), responsvel por acabar com a contagiosidade do doente logo no incio do tratamento, a sulfona revolucionou os quadros medicamentosos e imps uma nova realidade para a profilaxia baseada no isolamento dos doentes entre os muros do leprosrio. Desse modo, se o doente deixava de contaminar as pessoas ao seu redor ainda no incio do tratamento no se justificava mais a sua segregao nas colnias. Assim, como afirma a autora, deu-se incio a um processo de questionamentos que durou mais de vinte anos do modelo de isolamento compulsrio dos doentes de lepra (p.117).2
A profilaxia da lepra no Brasil
No Brasil, a segregao dos portadores de lepra foi uma medida de controle da doena implementada pelo Estado e legitimada pela sociedade ao longo de aproximadamente quatro dcadas, entre os anos de 1920 e 1960. A justificativa do isolamento se dava em fun- o do fato de a doena carregar consigo um forte estigma e historicamente estar relacionada com as noes de pecado e corrupo (Curi, 2002, p.57). A lepra era vinculada s ideias de sujeira, promiscuidade e misria humana. O leproso era aquele indivduo com o qual ningum desejava se relacionar, era um genuno indesejvel na sociedade. Alm dessa marca, a pouca preciso dos conhecimentos mdicos sobre a doena por exemplo, se era hereditria ou no, como se dava a transmissibilidade e a dificuldade em isolar o bacilo causador da lepra tambm contribua para que a poltica de isolamento se sustentasse.
A historiadora Laurinda Maciel (2007) destaca que a perspectiva mdico-sanitria ao ado-tar o isolamento como medida profiltica era, antes de tudo, a de preservar a integridade dos sos. Nos diversos congressos nacionais e internacionais sobre a lepra, discutiam-se mtodos de tratamento da doena e novas experincias e, embora no houvesse consenso a esse respeito,
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a discusso acabava apontando para o isolamento como a soluo mais vivel. Ainda con-forme a autora, o Brasil participava ativamente dos congressos nacionais e internacionais sobre lepra e, como a maioria dos pases participantes, acatava as deliberaes finais dos mesmos como balizas para implementar suas aes de combate e controle da doena (p.207). A partir da dcada de 1920 as polticas pblicas de controle da doena se intensifi-caram, por um lado, pela relevncia que o combate lepra ganhara no cenrio internacional e, por outro, pela enorme incidncia no pas, bem como pelo empenho dos leprlogos em descrev-la estatstica e geograficamente (Costa, 2007, p.226). Ainda de acordo com Dilma Costa (p.245), materializar o problema da lepra no Brasil significava conferir-lhe visibilidade para alm do discurso mdico, o que deu diferentes nuanas trajetria da doena em se estabelecer como uma endemia nacional. Uma forma de materializar o problema era por meio dos censos, que identificavam estatisticamente o nmero de leprosos e, consequen-temente, criavam condies de convencimento sobre a urgncia em solucionar a questo.
Foi, ento, entre 1930 e 1941, quando a lepra j consolidara sua fama de flagelo nacional, que o isolamento ganhou vigor. Mas no se pode atribuir o fortalecimento dessa poltica de sade pblica apenas a um suposto convencimento dos governos de que a doena poderia trazer danos irreparveis nao. Outros fatores devem ser considerados, entre eles o aumento do poder do Estado ao longo dos anos 1930, que permitiu que o governo federal interviesse em vrias reas das polticas pblicas. No caso especfico da sade, houve a criao do Ministrio da Educao e Sade Pblica, que gradativamente passou a centralizar as deci-ses. Esse centralismo tornou-se mais explcito na gesto do ministro Gustavo Capanema, que teve incio em 1934 e s se encerrou em 1945. Como destacam Gilberto Hochman e Cristina Fonseca (2000, p.176), Capanema assumiu o ministrio tendo conscincia de que precisava reorganizar os servios nessas reas. Desse modo, Capanema deu incio a uma reforma administrativa nos servios federais de sade, tendo em vista a perspectiva da poltica varguista de consolidar a unidade nacional. Isso ocorria porque o governo Vargas desejava ampliar a atuao federal no territrio brasileiro e usava a sade pblica como um instrumento propcio para tal fim. Outro fator importante refere-se prtica mdica: no ps-1930, formou-se uma burocracia fortemente profissionalizada em contraste com os mdicos sanitaristas das dcadas de 1910 e 1920, que tinham uma perspectiva mais campanhista. Alm disso, como ressaltou Andr Campos (2006, p.25), no processo de construo das estruturas estatais, os sanitaristas foram incorporados por meio da profissionalizao, como um dos elementos constituintes do processo de burocratizao do Estado. Assim, aproximaram-se do poder pblico para expor suas necessidades e demandar solues para os problemas. Dessa forma, tanto a centralizao das decises no campo da sade pblica quanto a incorporao de muitos sanitaristas burocracia estatal podem ser pensadas como fatores que contriburam para o avano das polticas de controle da lepra e, particularmente, do isolamento compulsrio.
A dcada de 1930 foi o auge da poltica isolacionista, com a consolidao do modelo trip: dispensrio, leprosrio, preventrio. Seguindo esse modelo, vrias instituies foram erguidas pelos quatro cantos do pas. Diversos estudos historiogrficos3 se ocuparam em analisar a montagem desse sistema profiltico, que Luciano Curi (2002, p.191) definiu como uma verdadeira indstria da lepra. Entretanto, poucos trabalhos se ocuparam em estudar a desmontagem do sistema, bem como os aspectos que envolveram a transformao do
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4 Histria, Cincias, Sade Manguinhos, Rio de Janeiro4 Histria, Cincias, Sade Manguinhos, Rio de Janeiro
significado da doena que, de incurvel e flagelo, passara a uma enfermidade como qualquer outra, passvel de tratamento e cura. Neste artigo, o objetivo , justamente, analisar algumas questes importantes do longo processo que resultou em um novo significado para a lepra, por meio de matrias publicadas no peridico Arquivos Mineiros de Leprologia, durante a dcada de 1950.
O isolamento e as sulfonas
Em 1954, foi publicada uma matria na revista Arquivos Mineiros de Leprologia, cujo objetivo era fazer um retrospecto do desenvolvimento da campanha de profilaxia da lepra desde tempos remotos e, com isso, chamar a ateno para as novas prticas, consideradas mais humanas e racionais. De acordo com os mdicos Josefino Aleixo, Jos Stancioli e Nagib Saliba (1954, p.90), autores da matria, embora a doena fosse conhecida desde antes de Cristo, a dificuldade em controlar a endemia devia-se a fatores como: o longo tempo de incubao, a impossibilidade de inoculao, o desconhecimento dos meios de contgio e o fracasso para o cultivo de seu germe causador. Contextualizando as aes para controlar a doena, os autores explicavam que o isolamento fora adotado como medida para evitar a disseminao do mal desde o princpio, de forma intuitiva, por leigos, j que eles nada sabiam sobre a enfermidade. Mas, com o incio dos certames cientficos da especialidade (leprologia), e j na Primeira Conferncia Internacional, realizada em Berlim, em 1897, o isolamento continuou sendo recomendado para todos os hansenianos (p.90). Os mdicos procuravam chamar ateno para o fato de que, no contexto de medicalizao da lepra, a etiologia da doena permanecia uma incgnita.
Continuando o retrospecto sobre o controle da endemia leprosa, os autores do artigo afirmavam que na Segunda Conferncia Internacional, realizada em Bergen, em 1909, a necessidade do isolamento foi reafirmada; entretanto, pela primeira vez, suscitou-se a possibilidade de o isolamento ser domiciliar. J na Terceira Conferncia Internacional, em Estrasburgo, em 1929, ficou definido que nos pases onde a incidncia fosse elevada, como na Noruega, recomendado o isolamento em hospital ou domiclio, desde que tais mtodos sejam possveis (Aleixo, Stancioli, Saliba, 1954, p.91). Sem dvida, para o Brasil, essa foi a conferncia que orientou a estruturao do seu sistema profiltico, calcado na construo de instituies de isolamento. Ao longo dos nove anos que se passaram at a realizao da Quarta Conferncia Internacional, no Cairo, em 1938, a prtica de segregar os portadores da lepra permaneceu inalterada, nesse evento, sendo novamente estabelecida como orientao bsica: o ponto de vista atual que os casos abertos constituem o maior perigo sade do pblico e, portanto, tais casos devem ser impedidos de contatos com pessoas sadias, especialmente crianas (p.91). Finalmente, o Quinto Congresso Internacional de Lepra, realizado em Havana, em 1948, trouxe algumas novidades no campo da profilaxia, pois, embora os especialistas continuassem a afirmar a necessidade de isolar os casos con-tagiantes, naquele encontro fez-se a seguinte ressalva: a forma e durao do isolamento devero variar de acordo com as condies clnicas e sociais do enfermo e das localidades (p.91). Portanto, s no final da dcada de 1940 os congressos internacionais comearam a sinalizar a possibilidade de teraputicas alternativas ao isolamento.
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Os leprlogos brasileiros, participantes ativos dos congressos internacionais, trouxeram
para o pas a discusso envolvendo a substituio da segregao do doente de lepra por outras
prticas profilticas. Como possvel observar na matria analisada, esse processo de adequar-
se s novas perspectivas mdico-cientficas acontecia de maneira bastante entusistica; tanto
que, em 1954, alguns mdicos j adotavam um discurso muito diferente daquele dos anos 1930,
perodo inicial da campanha contra a lepra no Brasil. Sendo assim, o esforo empenhado na
luta contra a doena foi definido pelos autores da matria nos seguintes termos: praticamente
at dez anos atrs, o hanseniano era submetido a toda uma srie de sacrifcios e restries, e,
em troca, nenhuma recompensa lhe poderia ser dada (Aleixo, Stancioli, Saliba, 1954, p.91).
Um detalhe importante a forma pela qual os mdicos se referem ao doente, substituindo
o termo leproso por hanseniano. Embora nesse momento a nomenclatura ainda estivesse
longe de ser transformada, o que s ocorreria em 1995,4 importante destacar que essa
mudana do nome da enfermidade, bem como a maneira de referir-se a seu portador foi
questo fundamental no processo de atribuir novos significados doena, reconstruindo seu
framing.5 Este artigo no tem por objetivo analisar a questo da nomenclatura especificamente,
mas acompanhar a mudana do discurso medicalizador sobre a lepra, que passou a adotar
uma perspectiva progressista em relao teraputica de base isolacionista anteriormente
praticada. Tal perspectiva foi claramente definida no artigo publicado no peridico Arquivos
Mineiros de Leprologia, cujos autores afirmam:
Em resumo, a profilaxia antiga se baseava quase sempre na supresso do contgio pelo isolamento, dando margem, entretanto, ao aparecimento de novos casos contaminados anteriormente.
Ela no dispunha de recursos para impedir a ecloso desta srie de contgios em cadeia ininterrupta.
A profilaxia moderna ser orientada no sentido de evitar o aparecimento desses casos em potencial, utilizando os progressos da teraputica e da imunologia (Aleixo, Stancioli, Saliba, 1954, p.92)
De acordo com os mdicos autores da matria, havia-se chegado concluso de que isolar o portador de lepra no resolvia o problema do aumento de contgio da doena, pois o bacilo podia permanecer anos no organismo humano sem se manifestar e, ento, o contgio poderia j ter ocorrido quando da retirada de um doente do convvio familiar. Na verdade, essa era uma prtica muito comum e acarretava, por vezes, o isolamento de mais de uma pessoa da mesma famlia, em momentos diferentes. Assim, o que animava os leprlogos era o fato de a imunologia ser capaz de romper com esse ciclo de contgio e, embora naquele momento a eficcia das sulfonas ainda no tivesse sido completamente comprovada para essa finali- dade, as expectativas eram positivas. Segundo os mdicos, proceder comprovao da eficcia era tarefa que poderia ocorrer com a observao sistemtica dos resultados da sulfonoterapia: parece-nos fcil, depois de um quinqunio, verificar os resultados desta profilaxia se o nmero de doentes novos declinar em zonas cuja incidncia tem se mantido uniforme no Estado (Minas Gerais), apesar das medidas de isolamento em vigor (Aleixo, Stancioli, Saliba, 1954, p.92).
Os argumentos utilizados para convencer o poder pblico a investir na nova teraputica as sulfonas, inicialmente, foram importadas, o que tornava muito dispendioso o tratamento
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6 Histria, Cincias, Sade Manguinhos, Rio de Janeiro6 Histria, Cincias, Sade Manguinhos, Rio de Janeiro
eram tambm de base econmica: a diminuio dos custos para tratar o portador da
doena. Conforme afirmavam os mdicos, isso se faria com grande economia para os gover-
nos interessados na erradicao do mal, sem o sacrifcio imposto ao doente pelo isolamento
(Aleixo, Stancioli, Saliba, 1954, p.92). A preocupao comeava, pois, a deslocar-se do
doente de fato aquele que j possua o bacilo para o doente em potencial o chamado
comunicante; de acordo com o autores (p.93), sobre esses futuros doentes que precisamos
aplicar, de maneira mais completa possvel, o aparelhamento atual da profilaxia antileprtica
como sejam a calmetizao dos comunicantes e a sulfonoterapia atravs de uma rede cada vez
maior de dispensrios. Essa perspectiva de mudar o foco da campanha do leprosrio para o
dispensrio ganhou vigor, embora naquele momento o isolamento ainda permanecesse como
ao profiltica necessria, tendo em vista que os leprologistas partiam da seguinte premissa:
reconhecemos que o isolamento nosocomial tem sido um fator pondervel para diminuir a
disseminao da molstia e, por isso, precisa continuar como til medida profiltica (p.93).
O artigo analisado permite que se compreenda, em primeiro lugar, como a mudana
no entendimento de uma enfermidade e, de forma mais ampla, a mudana nas prticas
utilizadas para control-la, so processadas de forma lenta e criteriosa. A sulfonoterapia
comeou a ser empregada no Brasil em 1946, gerando resultados muito positivos, conforme
podemos constatar nos relatrios e trabalhos publicados a partir desse perodo. Entretanto,
em 1954, quase uma dcada depois, a maioria dos mdicos ainda estava processando as novas
informaes e se por um lado procurava difundi-las, por outro continuava reticente em relao
extino da antiga prtica teraputica. Nesse ponto, podemos entender suas mltiplas razes:
no se podia desconsiderar um sistema que fora todo montado sobre o princpio isolacionista,
tanto por questes mdico-cientfica quanto por interesses profissionais e materiais.
A experincia com as sulfonas em Minas Gerais
A sulfonoterapia tornou-se foco de debate entre os leprlogos do pas e, em 1952, foi o
tema principal da Segunda Reunio de Leprlogos Brasileiros, ocorrida em Minas Gerais.
O evento foi conduzido pelo mdico Eduardo Rabelo, que enumerou pelo menos nove
temas relativos teraputica com as sulfonas para ser debatidos, entre os quais, dose e via de
administrao, nmero de doentes tratados e resultados quanto forma clnica, medicamentos
associa-dos, reaes teraputicas, tempo de negativao, recidivas e observaes de modo
geral. Os estados de Minas Gerais e So Paulo estiveram representados com o maior nmero
de leprlogos e tambm apresentaram as maiores contribuies ao debate. Na reunio, os
profissionais da sade expuseram os resultados obtidos com o tratamento sulfnico em seus
respectivos estados.
O mdico Lauro de Souza Lima relatou que, em So Paulo, a anemia um dos incidentes
mais frequentes no tratamento sulfnico, por isso, administravam feno aos pacientes, a fim de
minimizar o problema (Anais..., 1952, p.290). Apesar disso, a esse respeito, o mdico afirmou
que, de modo geral, o medicamento foi bem tolerado, mesmo por crianas e doentes com
mais de 70 anos (p.290). O leprlogo ressaltou como ponto positivo o fato de que, o nmero
de doentes falecidos diminuiu sensivelmente aps a introduo da sulfonoterapia (p.292).
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O representante de Minas Gerais, Orestes Diniz, iniciou sua exposio com a seguinte ressalva: nossa experincia, por motivos alheios vontade dos leprlogos, no teve no princpio o volume de emprego que se fazia necessrio, nem a largueza de recursos que o momento preconizava (Anais..., 1952, p.294). Isso se explica porque, como j assinalado, a medicao possua, inicialmente, custo muito elevado, j que era importada. So Paulo logo tratou de produzir os medicamentos a fim de baratear o custo do tratamento, mas em Minas Gerais, no obstante os esforos dos leprlogos, que pleiteavam recursos junto ao governo estadual para implantao de uma fbrica de sulfonas desde 1947, s foi possvel coloc-la em funcionamento em 1950. A inaugurao do empreendimento contou com a presena de vrias autoridades, entre elas o governador do estado, cujos discursos ressaltavam os avanos que a produo de sulfonas representaria para a luta contra a lepra em Minas Gerais. O diretor do Instituto de Tecnologia, no qual fora instalada a fbrica, doutor Jos Moreira dos Santos Pena, afirmou que a instalao que ora se inaugurava produziria 450 drgeas por ms, o que traria considervel ajuda no tratamento da lepra, mas a produo poderia chegar a um milho e meio, e s no chegava a esse resultado naquele momento porque dependiam da entrega de determinados aparelhos que permitiriam um rendimento de 100% (Inaugurao..., 1951, p.48). Com isso, a inteno era fazer com que Minas Gerais se tornasse autossuficiente em relao produo da medicao, haja vista o nmero significativo de doentes que possua a regio. Para o secretrio de sade do estado, doutor Jos Baeta Viana, o problema da lepra exigia dos governos solues racionais, baseadas nos modernos conceitos epidemiolgicos e inspiradas nos recentes progressos teraputicos, e, para o caso especfico de Minas Gerais, a situao era alarmante, pois achavam-se consignados nos arquivos da Diviso de Lepra 20 mil casos confirmados do mal de Hansen, que na mais otimista das estimativas poderia considerar o nmero atual de enfermos (p.49). Considerando esses 20 mil casos em Minas contra 60 mil, avaliados pelo censo federal da lepra em todo territrio nacional, conclui-se que, com 1/7 da populao, o estado possua 1/3 do total dos leprosos do pas (p.49). A expectativa dos mdicos era de que a produo de sul- fonas em Minas Gerais contribusse para reverter esse quadro, j que, com a profilaxia de base isolacionista, as estatsticas sobre o nmero de leprosos s aumentavam.
A experincia com a sulfonoterapia em Minas Gerais, embora incipiente, havia-se mostrado eficaz no tratamento da lepra, conforme deixou claro Orestes Diniz no relatrio apresentado Segunda Reunio de Leprlogos Brasileiros:
As drogas usadas, a princpio, PROMIM, DIZONE e DIAMIDIN, derivados sulfnicos de larga aceitao, ensejaram os mais promissores resultados, sendo-nos mesmo permitido dizer resultados, s vezes, espetaculares.
Dos 387 enfermos que se submeteram medicao conforme norma prescrita, foi seguinte o resultado:
223 negativaram = 57,6%160 melhoraram = 41,3%4 no melhoraram = 0,1% (Anais..., 1952, p.294).
Diante desses resultados, a necessidade de investimento na produo de sulfonas tornava-
se, pois, fundamental, como destacou o doutor Jos Baeta Viana: como condio de xito da
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8 Histria, Cincias, Sade Manguinhos, Rio de Janeiro8 Histria, Cincias, Sade Manguinhos, Rio de Janeiro
campanha antileprtica entre outas condies igualmente indispensveis, urgia criar o
laboratrio para a fabricao da droga heroica (Inaugurao..., 1951, p.51). Entretanto,
interessante notar que os discursos sobre a eficcia da medicao, embora trouxessem
novos elementos para compor o cenrio de luta contra a doena, ainda no eram capazes de
romper com o sistema de isolamento. Exemplo disso o fato de que, na mesma revista em
que eram publicados os resultados da sulfonoterapia, apontando-a como droga heroica,
e as congratulaes pela implantao da fbrica de sulfonas em Minas Gerais, tambm era
noticiada a inaugurao de mais dois preventrios para abrigar filhos de leprosos isolados
no estado Educandrio Carlos Chagas e Pupileira Ernani Agrcola; juntos, esses eventos
constituam-se como resultados da ampliao das instalaes da Diviso de Lepra do Estado.
O investimento no sistema profiltico montado para combater a lepra a partir da dcada
de 1930 no desaparecera com o advento das sulfonas: a princpio houve uma orientao
no sentido de mudar o foco do processo, utilizando-se a base j formada. Foi assim que
o dispensrio comeou a ganhar importncia na luta contra a lepra, ao menos no plano
discursivo. O mdico Jos Baeta Viana descreve muito bem essa mudana.
H um decnio a profilaxia da lepra consistia unicamente na descoberta dos casos e no isolamento compulsrio dos doentes em leprocmios, onde o hanseniano aguardava a consumao dos seus dias, sem nenhuma esperana de salvar-se.
Eis que no armamentrio teraputico surgiram agentes quimioterpicos que anun-ciaram a cura de uma doena considerada at ento irremedivel.
A descoberta da ao antileprtica das sulfonas abriu uma nova era para o combate endemia. A curabilidade dos casos incipientes permitiu o tratamento a domiclio, sob a vigilncia dispensarial. Os casos de hansenianos contagiantes continuaro a ser recolhidos em leprocmios para o tratamento intensivo pela nova droga, donde muito frequentemente regressaro aos seus lares para uma vida normal aps cura clnica confirmada por repetidas provas de negatividade e exames bacterioscpicos.
Com a nova teraputica revolucionria pelas sulfonas o problema da lepra se desloca em grande parte dos leprocmios para os dispensrios (Inaugurao..., 1951, p.50).
Como se observa, ainda que parte significativa da comunidade cientfica6 reconhecesse a
sulfonoterapia como um tratamento revolucionrio, capaz de transformar um doente perene
em paciente, ou seja, em portador de uma doena curvel, o isolamento ainda era reconhecido
como medida necessria. Entretanto, nesse novo contexto, o leprosrio destinava-se ao
cuidado de casos especficos dos doentes contagiantes7 mas, mesmo assim, a estada desses
indivduos na instituio poderia ser passageira, j que, ao obter a negativao, poderiam voltar
a suas casas. Na configurao desse novo modelo profiltico, ganhava destaque o dispensrio,
pois seria ele o rgo responsvel pela observao dos pacientes de alta; alm disso, outras
funes, consideradas elementares na luta contra a lepra, foram-lhe atribudas. No obstante,
medida que avanava o desenvolvimento das terapias de cura da enfermidade, assim como
o leprosrio, o dispensrio tambm teve sua funcionalidade questionada.
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Novos moldes para a profilaxia da lepra
Na reunio da Comisso de Sade da Cmara dos Deputados, ocorrida em 22 de maio de 1957, o diretor do Servio Nacional de Lepra (SNL), doutor Orestes Diniz,8 exps aos par-lamentares o anteprojeto de lei que pretendia criar a Campanha Nacional contra a Lepra. Atendendo ao convite do presidente da Comisso Parlamentar, que desejava esclarecer aos seus pares a apreciao do anteprojeto apresentado pelo deputado Jandu Carneiro, o mdico fez longa exposio sobre os aspectos epidemiolgicos da lepra no Brasil e o programa traado para sua profilaxia em bases mais condizentes com a realidade nacional (Reunio..., 1958, p.4.)9
O objetivo da reunio era convencer os parlamentares da necessidade de investir em uma campanha contra a lepra, elaborada luz dos novos conhecimentos sobre a doena. Assim, a fim de justificar o projeto, era necessrio explicar minuciosamente as descobertas e os resultados obtidos com a profilaxia anterior, bem como os pontos de ruptura e continuidade que pretendiam estabelecer em relao a ela. Em resumo, era preciso viabilizar a compreenso acerca do novo significado que a doena assumira a partir da teraputica das sulfonas, bem como mostrar a gravidade da endemia no pas. Foi com esse objetivo que Orestes Diniz iniciou sua fala, afirmando que a lepra era um problema nacional, que comeava nos pampas rio-grandenses, para atingir o mximo de gravidade na Amaznia, no poupando nesse intervalo nenhuma regio da ptria (Reunio..., 1958, p.5). No obstante esse carter nacional da doena, o mdico observou que o sistema de combate vinha sendo feito, principalmente, pela ao dos estados, os quais gastavam importncias considerveis na realizao de um trabalho altamente meritrio, mas insuficiente para levar a efeito a queda do nmero de prevalncia e incidncia da lepra (p.5). Portanto, urgia realizar ao mais efetiva de combate doena, que envolvesse melhor os enfermos, sem que se sentissem intimidados a buscar ajuda, em funo de temer o estigma e o afastamento definitivo do seu meio social.
Assim, Orestes Diniz explicou que, naquele momento, a profilaxia da lepra no Brasil estava sendo realizada por meio do modelo institucional trplice:10 dispensrio, leprosrio, preventrio. Alm disso, embora houvesse 22.462 doentes internados nos leprosrios bra-sileiros, o nmero existente no Brasil, no momento, era de 80 mil (Reunio..., 1958, p.6). Desse modo, para ampliar o sistema de maneira a atender toda a demanda, seria necessrio fazer o levantamento de outros tantos leitos, que iriam custar cerca de 3 bilhes de cruzeiros e exigir uma manuteno que oraria, anualmente, em 44 milhes de cruzeiros, uma soma, sem dvida alguma, bastante elevada (p.6). Questionado sobre o nmero de leprosrios existentes no pas, o mdico respondeu que havia 36, mas logo advertiu que, no geral, eram mal instalados, velhos, precisando de rejuvenescimento (p.6).
Esse assunto foi tratado rapidamente pelo diretor do SNL, uma vez que o foco de sua exposio era outro, qual seja: apresentar o novo modelo profiltico. Nesse sentido, Orestes Diniz tratou de inserir na discusso a problemtica dos trabalhos de epidemiologia, os quais, materializados na instituio dispensarial, ainda se mostravam insuficientes no Brasil (Reunio..., 1958, p.6). E prosseguiu:
Oitenta e trs dispensrios para atender a um pas que tem dois mil trezentos e tantos municpios no podem absolutamente realizar esse trabalho em toda essa rea. E o resultado? que os doentes se apresentam, no geral, espontaneamente, j quando o mal se desenvolveu muito, j quando o clamor pblico se fez sentir em torno do doente.
Keila Auxiliadora Carvalho
10 Histria, Cincias, Sade Manguinhos, Rio de Janeiro10 Histria, Cincias, Sade Manguinhos, Rio de Janeiro
No so os doentes encontrados pelo leprlogo. o doente que vem at o leprlogo, muitas vezes, tocado pelo clamor pblico (Reunio..., 1958, p.7).
Notemos a maneira pela qual o mdico apresentou o modelo trip como deficiente, incapaz
de corresponder s necessidades reais do quadro endmico no pas, pois, de acordo com suas
estimativas, para cada doente havia, pelo menos, mais cinco comunicantes. Desse modo,
se o Brasil possua 80 mil leprosos, o nmero de comunicantes a ser examinados chegava a
400 mil, ou seja, apenas cerca de 10% desses comunicantes eram examinados, 90% estavam
totalmente desconhecidos de providncias de ordem sanitria (Reunio..., 1958, p.7). De
acordo com Orestes Diniz, quando o indivduo chegava a ser diagnosticado, at os leigos j
eram capazes de identificar a lepra, tal era o nvel de avano da doena. Nesse sentido, poder-
se-ia pensar que o mdico estava tentando sugerir a ampliao do nmero de dispensrios
para diagnstico precoce e tratamento de casos novos, mas no era essa a inteno, e ele
justificou, mais uma vez, sua posio em termos oramentrios: precisaramos, no pas,
para fazer um atendimento mnimo, portanto, para a construo e equipamento de 500 dis-
pensrios novos, de cerca de 500 milhes de cruzeiros. E, para a manuteno, anualmente,
340 milhes para os mesmos dispensrios (p.7). Sendo assim, ele mesmo conclua que a
proposta de construo de novos dispensrios tornava-se invivel, dado que no se dispunha
de oramento para realizar uma obra baseada neste costume antigo de luta contra a lepra
(p.7). Nota-se que o modelo trip caracterizado pelo mdico como antigo, isto , no se
adequava mais aos novos rumos assumidos pela profilaxia que, alis, considerava desnecessria
tambm a construo de qualquer leprosrio novo no pas. Sobre esse assunto, o diretor do
SNL observa que somos radicalmente, frontalmente contra essa providncia (p.7).
Diante desse quadro, qual seria, ento, a proposta do anteprojeto de lei defendido
naquele momento? Para chegar ao cerne da discusso, Orestes Diniz introduziu a questo
da teraputica das sulfonas, explicando que o mtodo fora inaugurado pelo norte-americano
Guy Faget que, em visita ao Rio de Janeiro em 1946, apresentou uma srie de doentes curados
por aquele tratamento. A partir de ento, as sulfonas passaram a ser empregadas de norte a
sul do Brasil e, com isso, os ndices de recuperao cresceram sensivelmente (Reunio...,
1958, p.8). Assim, tendo a cura como uma realidade, tornava-se dispensvel a providncia
do isolamento do doente. Como se pode observar, a justificativa da necessidade de reelaborar
o modelo profiltico baseava-se nas novas variveis que compunham o framing da doena.
A proposta da nova campanha contra a lepra consistia, pois, em procurar descobrir os
casos novos e cur-los, atravs do uso intensivo de sulfonas (Reunio..., 1958, p.8). Para
os idealizadores do projeto, com base nas novas descobertas sobre a lepra, no havia mais
sentido continuar implementando uma ao profiltica baseada na caa ao doente
para lev-lo ao isolamento, uma vez que a experincia havia demonstrado que tal prtica
pouco contribura para a diminuio dos ndices de incidncia da lepra, ao contrrio, eles
aumentavam a cada ano. Portanto, para modificar essa situao, o novo modelo da campanha
contra a doena apresentava orientaes bastante diferentes das anteriores, sobretudo ao
destacar os prejuzos causados pelo isolamento compulsrio dos leprosos.
Discusses em torno da reconstruo do significado da lepra no perodo ps-sulfnico, Minas Gerais, na dcada de 1950
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Isolamento compulsrio: de soluo a problema social
A conferncia proferida pela diretora do Servio de Lepra do Paraguai, doutora Amlia
Aguirre (1957), Sociedade Mineira de Leprologia, em novembro de 1957, evidenciou aspectos
sobre a lepra que corroboravam o argumento de que isolar o paciente era desnecessrio. Tal
como no Brasil, em outros pases da Amrica Latina onde a lepra era endmica o processo de
combate doena ocorria em consonncia com as orientaes dos Congressos Internacionais.
Desse modo, o Paraguai tambm passava por um processo de desmontagem do sistema
profiltico de base isolacionista. A conferencista iniciou sua palestra dizendo que a lepra era
um dos maiores problemas endmicos do Paraguai, e, se bem no seja grave do ponto de
vista de contagiosidade e mortalidade, o pela incapacidade que acarreta para o trabalho,
inabilitando o indivduo em pleno perodo de produo e convertendo-o em nus para os
meios assistenciais, o que representa constantes dficits econmico para o indivduo e para
a sociedade (p.335).
A doutora Amlia Aguirre (1957) abordou com bastante clareza os argumentos que se
tornariam fundamentais para convencer os governos a investir na reestruturao das aes
de combate doena. Inicialmente, ela afirmou que o objetivo das novas campanhas era
justamente atenuar o estigma de contgio vinculado lepra para que o leproso no sofresse o
repdio social, podendo mant-lo integrado sociedade. Alm disso, a mdica ressaltou que,
embora a enfermidade no fosse grave do ponto de vista do contgio, o grande problema da
doena era o nus econmico que causava, tanto para o indivduo que precisava deixar seu
trabalho, quanto para a sociedade e, destacadamente, para os cofres pblicos, que precisavam
despender vultosas somas para assistir ao doente. Conforme destacou o mdico Francisco
Eduardo Rabelo, para a nova profilaxia, a admisso de mais um caso avanado num leprosrio
antes uma dolorosa derrota, do que uma posio conquistada (Rabelo Filho, 1959, p.149).
Essa mxima servia para todos os pases que passavam pelo processo de readaptao do modelo
profiltico. Na Amrica do Sul, os ndices endmicos eram altssimos, e o Brasil, junto com
a Guiana Holandesa, ocupava o terceiro lugar em relao ao ndice de prevalncia por mil
habitantes, ficando atrs apenas da Guiana Francesa e da Guiana Inglesa, cujos nmeros
de doentes eram alarmantes. O Paraguai galgava o quarto lugar nesse ranking, mas mesmo
assim, conforme se observa na fala da diretora do Servio de Lepra daquele pas, o ndice era
preocupante e carecia de ateno. possvel visualizar com mais clareza a situao da lepra
na Amrica do Sul por meio do quadro reproduzido do relatrio apresentado pelo mdico
Lauro de Souza Lima (ver Tabela 1), na Oficina Sanitria Pan-americana, em 1958.
De acordo com Lauro de Souza Lima, se fossem comparados esses ndices de prevalncia
da lepra aos nmeros das dcadas anteriores, perceber-se-ia uma curva ascendente, apesar de
todos os esforos realizados no sentido de combater a doena. Se o quadro mostra que em 1957
o ndice de prevalncia era de 2,02, o mdico Joir Fonte (Reunio..., 1958, p.26) apresenta a
estatstica da dcada anterior, quando, no Brasil, o ndice de prevalncia da doena, em 1946,
era de 0,96. Para os mdicos envolvidos na implantao de prticas profilticas baseadas na
sulfonoterapia, a ascenso do nmero de casos demonstrava a ineficcia do isolamento como
medida profiltica. Joir Fonte ainda destacou que, no caso especfico do Brasil, a luta contra
a lepra, at aquele momento, baseava-se em um servio de rotina, sem as armas necessrias
Keila Auxiliadora Carvalho
12 Histria, Cincias, Sade Manguinhos, Rio de Janeiro12 Histria, Cincias, Sade Manguinhos, Rio de Janeiro
para combater de fato a endemia. Entretanto, essa situao estava sendo modificada graas nova campanha que se baseava na teoria moderna, consagrada pelos congressos e pela experincia (p.27).
Pas Ano N. de Casos
ndice de Prevalncia por
1.000 Habitantes
Argentina 1956 9.572 0,52
Bolvia 1956 951 0,31
Brasil 1957 121.314 2,02
Chile 1956 37 0,002
Colmbia 1956 9.155 0,75
Equador 1955 150 0,04
Guiana Francesa 1955 1.341 4,80
Guiana Holandesa 1956 2.197 2,02
Guiana Inglesa 1957 1.403 2,80
Paraguai 1957 2.014 1,22
Peru 1954 1.127 0,13
Uruguai 1954 62 0,024
Venezuela 1956 8.648 1,04
Tabela 1: Situao da lepra na Amrica do Sul
Fonte: Lima, 1959, p.26.
O isolamento, de fato, no trouxera os resultados esperados, tendo em vista que no conseguiu diminuir as estatsticas da lepra no pas. Conforme exposto pelo mdico Wandick Del Favero (Reunio..., 1958), do Servio de Lepra de Minas Gerais, a lepra era uma doena de baixa difuso, de contgio difcil, e no se justificava a adoo do isolamento compulsrio do doente, uma vez que no se aplicavam medidas dessa natureza para controlar outras doenas infectocontagiosas de maior difuso. Alm disso, destacou, precisamos obter, a todo custo, a colaborao do doente e dos seus comunicantes para o trabalho a realizar, e esta colaborao nunca poder ser obtida mediante a execuo de um trabalho de profilaxia baseado no isolamento compulsrio, indiscriminado (p.29). Para os mdicos favorveis sulfonoterapia, a nova estrutura profiltica permitiria um diagnstico precoce da doena, o que levaria mais rapidamente cura e, consequentemente, ruptura da cadeia de transmissibilidade. Toda a lgica das aes anteriores inverter-se-ia, visto que no seria mais o leprlogo que sairia em busca do doente, mas sim, este ltimo que buscaria ajuda nas unidades de sade bsicas.
Embora as estatsticas que apontavam o aumento e no a diminuio da endemia de lepra tenham sido utilizadas como argumento para legitimar o novo modelo profiltico, no foram esses altos ndices os nicos responsveis pela transformao nas orientaes em relao ao combate doena. Vrios outros fatores podem ser acrescidos s estatsticas, que, alis, talvez ocupem lugar secundrio nesse processo; o maior deles, como j foi citado, pode ser a descoberta da eficcia teraputica das sulfonas. Contudo, Wandick Del Favero (Reunio...,
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1958, p.29) fornece uma pista sobre outro fator importante, ao fazer a seguinte afirmao: no estamos em condies tcnicas e financeiras de dar assistncia aos descendentes do leproso e de solucionar problemas outros criados pelo isolamento compulsrio. A poltica isolacionista passou a onerar demasiadamente os cofres pblicos, pois, alm de o Estado ser o responsvel pela subsistncia do indivduo internado, ele tambm deveria assistir sua famlia, principalmente, os filhos indenes.
Obviamente, esse no fora o argumento mais difundido no processo de deslegitimar a prtica isolacionista; afinal, a sociedade no se incomodava em arcar com esse nus, desde que os leprosos fossem mantidos bem longe. Assim, recorreu-se a um apelo mais social e menos econmico, qual seja, o de que o isolamento provocava danos irreparveis sagrada instituio famlia. Orestes Diniz, ao defender o anteprojeto de lei que criaria a Campanha Nacional contra a Lepra, em 1957, afirmou que a assistncia social ao doente e a sua famlia construa-se como um problema mais difcil de resolver do que a prpria lepra. Para o diretor do SNL, os problemas decorrentes do internamento so muito mais srios do que daqueles que permanecem junto ao seu lar (Reunio..., 1958, p.14), pois, aps o doente ter ido para o leprosrio, sair de l e voltar ao seio da famlia tornava-se quase impossvel, dado o clamor pblico que era desencadeado em torno da questo. Tal circunstncia gerava um impasse na hora de conceder as altas, j que, devido a ela, os pacientes no queriam mais sair do leprosrio. Esse fato levava a instituio a transformar-se em asilo, abrigando um grande nmero de pacientes no contagiosos, mas que, por falta de receptividade no meio social, acabavam permanecendo isolados. Na viso de Diniz (p.14), A proporo dos curados que se fixam fora dos leprosrios no satisfatria. Ora, exatamente essa classe de doentes que se internam e que precisam sair que vai onerar mais o poder pblico ou as entidades particulares, no atendimento do problema de assistncia social.
interessante notar a forma como se processa a mudana, no apenas sob o aspecto do entendimento da sociedade acerca da doena, como tambm dos prprios portadores, pois, se antes esses indivduos eram considerados perigosos, isol-los parecia ser a prtica mais sensata. Por isso, a ideia difundida era a de uma segregao definitiva, pois, assim, os doentes poderiam compreender o seu destino e afastar-se dos sadios, sobretudo dos familiares, a fim de proteg-los. No novo contexto, entretanto, o indivduo j precisava ser convencido do contrrio, ou seja, sair do isolamento, voltar para casa, uma vez que, ficando ali, ele estava causando um problema social e, principalmente, econmico. O prprio Orestes Diniz esclareceu que um doente que est na sua casa, muitas vezes, um lavrador, um indivduo que executa a profisso em condies compatveis com o seu estado de sade (Reunio..., 1958, p.14). Nessas condies, o leproso no constitua um problema social, entretanto, removido para o leprosrio, ele se transforma, na mesma hora ele e sua famlia em problema social (p.14). Como se observa, embora o mdico no se refira diretamente questo econmica, fica claro que, em seu entendimento, era justamente a despesa gerada por esses indivduos o principal fator constituinte do que ele chamava de problema social. Nesse momento, os argumentos vo sendo reelaborados para redefinir o framing da doena. E, no caso das prticas profilticas para combater a lepra, a necessidade de romper com o isolamento revisitou, at o exemplo da Noruega. Se, na dcada de 1930, a Noruega era constantemente citada como referncia em termos de combate doena devido prtica do
Keila Auxiliadora Carvalho
14 Histria, Cincias, Sade Manguinhos, Rio de Janeiro14 Histria, Cincias, Sade Manguinhos, Rio de Janeiro
isolamento, nos anos de 1950, novamente os mdicos brasileiros recorriam ao exemplo do
pas europeu, s que, dessa vez, sob outra perspectiva. O mdico Francisco Eduardo Rabelo foi
um dos que utilizou o caso da Noruega como argumento contra o isolamento dos leprosos.
De acordo com ele, a Noruega foi o pas em que, at certo momento, fez-se um isolamento
muito rgido. At quando Hansen, o descobridor do bacilo, disse: parem com isso; vamos
dar aos nossos pescadores (era justamente no litoral que havia mais doentes) gua e sabo
para eles se lavarem (p.20).
Em 1958, foi realizado em Belo Horizonte o Seminrio sobre Profilaxia da Lepra,
promovido pela Repartio Sanitria Pan-americana, sendo um dos temas debatidos no
evento justamente o valor do isolamento na profilaxia da lepra. Nesse evento, o filho de
Eduardo Rabelo, tambm mdico, retomou o argumento do pai, lembrando que aquele j
havia produzido um artigo no qual descrevera as condies medievais de promiscuidade e
imundcie em que viviam os pescadores da Noruega. Portanto, na acepo do mdico, a
profilaxia da doena s se tornara possvel quando Hansen atentou para o fato de que era
preciso melhorar as condies de saneamento e higiene em todo o pas (Rabelo Filho, 1959,
p.148). Assim, o exemplo da Noruega foi reelaborado a fim de compor o arsenal de motivos
que foram elencados para deslegitimar a prtica isolacionista. As concluses do conclave sobre
o assunto foram categricas: opinio do Seminrio que a determinao legal de isolamento
compulsrio em estabelecimentos especiais leprosrios acarreta srios inconvenientes que
prejudicam a execuo das medidas essenciais profilaxia (Concluses..., 1959, p.6). Entre
os inconvenientes, estavam:
a) O ocultamento de grande nmero de doentes, pelo temor do isolamento e consequente dificuldades no controle de seus comunicantes;
b) O elevado nus para o errio pblico, desviando-se sem proveito para a profilaxia recursos financeiros que podero ser melhor aplicados no desenvolvimento de mtodos racionais e mais eficazes na luta contra a lepra;
c) A desintegrao e estigmatizao da famlia, o que lhe torna mais difcil o reajustamento social;
d) A discriminao injusta e desumana de uma classe de enfermos, que passam a ser considerados como marginais, impossibilitando-lhes, assim, a posterior reintegrao na sociedade;
e) A perpetuao de preconceitos populares (Concluses..., 1959, p.7).
Como se pode observar, o isolamento passou de soluo a problema em pouco mais de duas
dcadas. Entretanto, um sistema muito bem estruturado havia sido montado para combater
a doena isolando o seu portador. Por isso, era necessrio difundir o mximo possvel esses
novos princpios que no apenas condenavam a antiga prtica profiltica, como tambm
a destituam de legitimidade cientfica. Nesse sentido, o conclave pan-americano concluiu
que o isolamento compulsrio deveria ser substitudo pelo controle efetivo dos focos, a ser
realizado pelo tratamento dos doentes e vigilncia de seus comunicantes.
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Consideraes finais
Neste artigo o objetivo foi analisar, ainda que de maneira sucinta, o debate que se constituiu, na dcada de 1950, sobre o processo de substituio das antigas prticas profilticas de combate/controle da lepra, destacadamente o isolamento compulsrio, por novas prticas baseadas na sulfonoterapia. A mudana em termos profilticos refletia uma transformao que se processava no prprio significado da doena, ocasionada pela descoberta das sulfonas na dcada de 1940. Essa medicao trouxera no apenas a possibilidade de curar a enfermidade, como tambm a necessidade de lhe dar novo significado, para, assim, legitimar novas prticas profilticas. Obviamente, a transformao foi um processo lento, marcado por continuidades em relao ao significado anterior. Exemplo desse aspecto continusta pode ser percebido pelo fato de que, mesmo sendo questionada e posteriormente confirmada a ineficcia do isolamento para conter o desenvolvimento da endemia, ele se manteve. O tr- mino oficial do isolamento compulsrio s ocorreu em maio de 1962, pelo decreto n.968, o qual revogou o decreto n.16.300, de dezembro de 1923. Entretanto, cabe destacar que a extino oficial da poltica no significou que o isolamento tenha deixado de ocorrer exatamente naquela data; h evidncias de que as pessoas continuaram a ser isoladas em alguns leprosrios at o final da dcada de 1970.
Em relao ao processo de deslegitimar o isolamento como prtica profiltica, no se pode deixar de assinalar que diversos fatores estiveram envolvidos: fatores de carter econmico, como o nus financeiro que o doente isolado passou a representar para os cofres pblicos; fatores profissionais, j que havia uma legio de pessoas envolvidas na indstria da lepra, e desmont-la causaria um grande transtorno; e tambm fatores sociais, esses, possivelmente, foram os que mais dificultaram a substituio da prtica isolacionista por outra que mantivesse o portador de lepra no meio social. possvel dimensionar o problema quando consideramos que se, para a comunidade mdico-cientfica, no fora fcil admitir que o isolamento no surtira os resultados esperados e que, portanto, deveria ser abolido das aes de combate enfermidade; para a sociedade, a questo tornara-se muito mais complexa. Temer o leproso passou a ser um componente da cultura popular que o associava imagem bblica do indivduo desfigurado pela doena, e transformar esse entendimento, tanto sobre a enfermidade, quanto sobre o enfermo, mostrou-se um desafio, em primeiro lugar assumido pelos agentes de sade pblica, particularmente, os mdicos envolvidos na luta contra a lepra. Em seguida, tornou-se tambm um desafio para entidades da sociedade civil, tais como o Movimento de Reintegrao de Pessoas Atingidas pela Hansenase (Morhan), que se envolveram com a causa social de reintegrao do portador da doena sociedade.
Um ponto importante no processo de ressignificar a enfermidade, procurando torn-la menos temvel, foi a mudana na nomenclatura e na forma de se referir a seu portador: de lepra para hansenase e de leproso para hanseniano. Embora a modificao oficial desses termos tenha extrapolado os limites cronolgicos e os objetivos deste artigo pois somente em 1995, com a lei federal n.9.010, o uso do termo lepra e suas variaes foi proibido nos documentos oficiais , importante mencion-lo, tendo em vista que as discusses que levaram a esse desfecho se iniciaram aps a comprovao da eficcia teraputica das sulfonas, no final da dcada de 1940. Com isso, pode-se compreender como as transformaes no campo da histria das doenas resultam de discusses e negociaes que se processam lentamente.
Keila Auxiliadora Carvalho
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NOTAS
* Este artigo baseia-se em algumas das questes abordadas em minha tese de doutorado, defendida em maro de 2012, no Programa de Ps-graduao em Histria da Universidade Federal Fluminense (UFF), sob o ttulo: Colnia Santa Izabel: a lepra e o isolamento em Minas Gerais (1920-1960) (Carvalho, 2012).1 Susan Sontag (2007, p.63-73) utiliza esse conceito para designar o processo no qual a doena se remete a coisas que esto alm do mundo biolgico, tais como as normas sociais e a forma como os indivduos so vistos em relao a essas normas. Sobre a compreenso da lepra como flagelo social, ver Carvalho (2012, principalmente captulo 1).2 H que ressaltar que o modelo isolacionista j vinha sofrendo crticas por parte de um grupo de leprlogos, entre eles Orestes Diniz, que afirmava que o modelo trip no havia cumprido seu objetivo principal, qual seja diminuir as estatsticas da lepra.3 Dentre os quais se destacam (ordenados pelo ano de produo): Monteiro (1995); Curi (2002); Cunha (2005); Costa (2007); Maciel (2007).4 O decreto n.968, de maio de 1962, extinguiu oficialmente no Brasil o isolamento obrigatrio aos portadores de lepra. Mas a dificuldade em modificar o entendimento que a sociedade possua da enfermidade persistia. E, com o intuito de atenuar o estigma causado pela perspectiva de ser leproso, o professor Abro Rotberg props a mudana da terminologia lepra para hansenase, a qual foi aprovada e passou a ser utilizada pela Secretaria de Sade do Estado de So Paulo na dcada de 1970. Da por diante a denominao lepra foi gradativamente sendo substituda por hansenase. O Ministrio da Sade adotou esse termo pelo decreto n.76.078, de 4 de agosto de 1975, at que, em 1995, a lei n.9.010, de 29 de maro, proibiu definitivamente o uso do termo lepra e suas derivaes na linguagem empregada nos documentos oficiais do pas. Sobre a mudana na terminologia da doena, ver Martelli, Opromolla (2005, p.293-294).5 Conceito formulado pelo historiador Charles Rosenberg (1992). De acordo ele, o framing envolve a ideia de que a doena emoldurada por certos esquemas interpretativos e classificatrios, condizentes com contextos histrico-sociais especficos. O autor explica que, ao mesmo tempo em que emoldurada, a doena tambm produz aes que a tornam um frame, isto , uma moldura para diversas situaes da vida social. Desse modo, para o historiador, o pensamento e a prtica mdica so capazes de construir socialmente as doenas, tanto por aplicar certos esquemas conceituais que as classificam como realidade biolgica, quanto tambm por formular seus prprios frames. Neste artigo, o conceito ser trabalhado a partir da ideia de construo e reconstruo de significados para lepra.6 preciso considerar que no havia consenso em torno do tema da profilaxia da lepra, visto que alguns profissionais da medicina continuavam a acreditar no isolamento como a prtica mais adequada.7 A lepra era classificada em trs tipos clnicos: lepromatosa, tuberculoide e indiferenciada; o tipo mais contagioso era o lepromatoso, seguido do tuberculoide, j o indiferenciado no provocava contgio. O tra-tamento sulfnico convergia os casos lepromatoso e tuberculoide para indiferenciado, assim, detectavam-se quais eram os doentes contagiantes e no contagiantes por meio da realizao de bipsias, que comprovavam a baciloscopia negativa para os no contagiantes, e positiva para os contagiantes.8 Para defender o anteprojeto diante dos parlamentares, Orestes Diniz contou com o auxlio dos chefes das sees de Organizao e Controle e de Epidemiologia do SNL, alm do catedrtico de dermatologia da Faculdade Nacional de Medicina, Francisco Eduardo Rabelo.9 A discusso em torno do anteprojeto foi publicada originalmente no Dirio do Congresso Nacional de 14 de junho de 1957 (p.3797-3803). Tambm foi transcrita no peridico Arquivos Mineiros de Leprologia, de janeiro de 1958.10 As medidas profilticas para combater a lepra foram estruturadas a partir da unio de trs instituies: os dispensrios, para diagnosticar os comunicantes; os leprosrios, para isolar os doentes; e os preventrios, para orfanar seus filhos indenes. Essa estrutura foi denominada modelo trip.
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