AS COMPETÊNCIAS INVESTIGATIVAS NA ESCOLA E AS IMPLICAÇÕES NO
APRENDER DOS ALUNOS
Adriane Cecchin Cristiane Kieling
Luisa da Rosa Viviane Maria Osmarin1
Lisandra Pacheco da Silva e Nilda Stecanela - orientadoras
Resumo
Este artigo tem como objetivo refletir sobre quais são as competências investigativas na escola e quais as implicações de uma prática pedagógica pautada no uso da pesquisa em sala de aula na aprendizagem dos alunos. Além disso, intenciona mapear quais são as percepções dos alunos relativamente à presença da pesquisa em sua formação na Educação Básica. O texto é resultado de projeto de pesquisa desenvolvido no âmbito do Curso de Extensão denominado Escola e Pesquisa: um encontro possível, realizado no primeiro semestre de 2016 nas dependências da Universidade de Caxias do Sul. Os dados empíricos foram construídos com base nas orientações da Pesquisa de Opinião, através da aplicação de questionário estruturado com 18 questões, sendo algumas abertas e outras fechadas, de múltipla escolha, cujo modo de participação foi autoaplicável com a presença do pesquisador. O instrumento de pesquisa levou em consideração os seguintes aspectos: (a) o perfil do entrevistado; (b) as representações que têm sobre o tema investigado; (c) as expectativas em relação a garantia e efetivação do uso da pesquisa na escola, procurando os aspectos que indicam as potências e as lacunas nos atuais modos de fazer da escola. Com os questionários respondidos os dados foram tabulados e categorizados. Através do processo de análise foi possível identificar um desejo dos alunos em aprender pela pesquisa e, de forma indireta, dizem que desejam o aprofundamento, de modo a sair da superficialidade ou do conhecimento fragmentado. Levando-se em consideração esse aspecto, fica evidente a necessidade da atuação do professor como um mediador, um orientador, um facilitador entre o conhecimento e o educando.
Palavras-chave: Atuação docente. Educar pela pesquisa. Desafios da Educação. Construção do Conhecimento.
INTRODUÇÃO E CONTEXTUALIZAÇÃO DO TEMA
O aprendizado é mais do que a aquisição da capacidade para pensar; é a
aquisição de muitas capacidades especializadas sobre várias coisas para pensar.
(VYGOTSKY)
As frequentes mudanças na realidade da sala de aula e o aprofundamento nas
concepções de ensino e de aprendizagem são motivadores de constantes
1Adriane Cecchin: Bióloga graduada pela Universidade Luterana do Brasil – Canoas, RS. Atua com professora
nas disciplinas de Ciências, Química e Seminário Integrado da E.E.E.M. Prof. Apolinário Alves dos Santos de
Caxias do Sul; Cristiane Kieling: Pedagoga - SMECD de Nova Petrópolis; Luisa da Rosa: Discente do curso de
Ciências Biológicas do Centro Universitário La Salle – Canoas, RS; Viviane Maria Osmarin: Enfermeira
graduada pela Universidade de Caxias do Sul. Atua no atendimento domiciliar do Hospital do Círculo em Caxias
do Sul.
atualizações no que se referem às competências investigativas na escola.
O desenvolvimento da humanidade traz evoluções que afetam a atuação dos
diferentes profissionais que passam pela área da educação.
Podemos afirmar que os novos paradigmas educacionais compreendem o que
envolve as mudanças na política pública de educação e as demandas oriundas da
sociedade contemporânea que é plural, heterogênea, com novos atores, espaços e
dinâmicas que coexistem com o tradicional. Dentro destas atualizações, deve-se levar
em conta a discussão sobre este tema – o uso da pesquisa em sala de aula - de modo
a compreender o aluno como um sujeito ativo, singular, que aprende quando em
interação com o outro ou outros sujeitos, que faz relações, que constrói significados
provisórios sobre o objeto de estudo e os refaz em novas relações.
Observamos que o ser humano está sempre em desenvolvimento tanto
individual, quanto social e profissional. Na área da educação, vem sendo observada
a dificuldade do professor em sua formação continuada, os fatores desestimulantes e
o despreparo dos profissionais com dificuldades em lidar com novos problemas da
sociedade, os quais se refletem no ambiente escolar. Em contrapartida temos
profissionais comprometidos com seu trabalho escolar. Assim, vem o questionamento
sobre quais são as competências que este professor necessita para promover o
processo de ensino e aprendizagem.
Diante dessas ideias, sabe-se que alguns procedimentos devem acontecer
dentro desse processo. São procedimentos fundamentais que permitem a
investigação, a comunicação, o debate de concepções, a experimentação, a
comparação, a organização e o tratamento da informação por meio de gráficos, textos,
desafiando o diálogo entre diferentes posições. Um ambiente problematizador, que
promova reflexões do seu saber, conforme nos ensina Paulo Freire ao afirmar que
Quanto mais criticamente se exerça a capacidade de aprender, tanto mais se constrói
e desenvolve o que venho chamando ”curiosidade epistemológica”, sem a qual não
alcançamos o conhecimento cabal do objeto. (FREIRE,2002, p.27).
Com vistas às transformações da sociedade como um todo, é necessária ao
professor a formação permanente, assegurando-o uma metodologia que venha ao
encontro dos desafios e a transformação do sistema educativo (SANTOS e
MARQUES, 2010).
A presente pesquisa aspira refletir sobre quais são as competências
investigativas na escola e quais as implicações de uma prática pedagógica pautada
no uso da pesquisa em sala de aula na aprendizagem dos alunos. Além disso,
intenciona mapear quais são as percepções dos alunos relativamente à presença da
pesquisa em sua formação na Educação Básica.
Considera-se que tais competências investigativas podem desenvolver
aspectos relacionados à autonomia, à responsabilidade, à busca do saber através da
interpretação de informações, ampliação de saberes prévios e hipóteses, bem como
requer posicionamentos para expressão dos diferentes pontos de vista. Para tanto
espera-se que haja questionamentos, orientação e direcionamento, a fim de objetivar
o trabalho a ser desenvolvido.
Deste modo, queremos saber como a pesquisa pode ser utilizada na escola e
quais as consequências na forma de ensinar e de aprender. Além disso, interessa
saber como o aluno recebe isso e se aprenderá mais e melhor, pois intuímos que a
pesquisa é pouco utilizada como forma de ensino, mas quando o fazem os resultados
geralmente são positivos.
A grande dúvida é como inserir as competências investigativas em práticas
diárias, como um processo de construção de saber cooperativo gerado em
comunidades de aprendizagem, sem transformá-las em práticas distantes ou
aleatórias do que estamos acostumados ou, ainda, separá-las dos conteúdos
escolares, em projetos especiais e paralelos à organização curricular. É necessária a
busca por referências aprofundadas sobre o assunto, pressupondo que possam ser
adaptadas às peculiaridades de cada realidade.
A metodologia de pesquisa em sala de aula, como um método de ensino,
aproxima o aluno do objeto de estudo de uma forma envolvente, onde ele se torna,
conforme formulação de Demo (2007), um “parceiro de trabalho” do professor, pois
promove a constituição de uma relação horizontal que busca novas problematizações
e respostas das dúvidas e curiosidades, onde o educador, assumindo o papel de
mediador, se propõe a ensinar aquilo que ele mesmo ainda não sabe. A pesquisa,
muitas vezes, é utilizada somente como forma de consulta ou, então, é determinada
pelo professor, e isso acaba limitando a construção do significado da aprendizagem
por parte do aluno. Quando o tema é pensado pelo professor, nem sempre, a pesquisa
não carrega os conhecimentos prévios dos educandos, suas indagações e desejos,
voltando novamente para uma prática indesejada, não pensada no coletivo, sem
sentido.
Por isso, este estudo pretende compreender as competências envolvidas nas
capacidades investigativas e revelar o quanto as mesmas auxiliam no processo de
sistematização do conhecimento, além de conhecer quais os benefícios obtidos
através delas visto que, às vezes, esse trabalho é descrito como difícil, demanda
investimento do professor ou é realizado apenas para ocupar o tempo. É
compreensível que, muitas vezes, os educandos não gostem de realizar trabalhos
dessa natureza, pois não são bem orientados e também porque os educadores não
possuem interesse em tal prática.
A escola deve ser um ambiente que proporciona e estimula o aluno ao
desenvolvimento da criticidade. Passar de uma atitude passiva uma atitude crítica,
elaborando suas próprias interpretações e opiniões (DEMO, 1997).
Com o uso da pesquisa a ideia de ensino se altera em oposição ao imobilismo.
Decreta a busca da autonomia – o aluno é quem verdadeiramente conduz o processo
de conhecimento. (FAZENDA, 2006).
O Tema em estudo gera opiniões divergentes entre as pessoas num mesmo
espaço escolar. Tanto entre os docentes, quanto entre os discentes. Há aqueles que
defendem tal método, pois já presenciaram experiências positivas, assim como há
outros, que não acreditam em seus resultados ou não estão dispostos a mudar suas
práticas, inclusive porque trabalhar com a pesquisa é, também, lidar com a incerteza
ou com verdades temporárias. É notório que em um grupo de pessoas as opiniões se
divergem e o diálogo se faz essencial. Tais fatores evidenciam a proeminência dessas
discussões, ainda que para mostrar e praticar o respeito à diversidade de opiniões e
a individualidade, a importância da colaboração na execução de tarefas e o respeito
à coletividade. Elementos esses, que devem ter lugar e relevância no processo de
ensino e aprendizagem, tornando o ambiente escolar mais rico, agradável e
transformador.
Parafraseando Thiago de Mello, “não, não tenho caminho novo, o que tenho de
novo é o jeito de caminhar”. É nessa ideia que pensamos construir uma nova maneira
de refletir e reconstruir nossa prática, trazendo tanto quanto mais pessoas para esse
campo de reflexão e mudanças.
1 Percurso metodológico
O projeto orientou-se pela pesquisa de opinião, através da aplicação de um
questionário estruturado com dezoito questões contendo perguntas abertas e
fechadas, de múltipla escolha.
Os dados empíricos foram construídos com base nas orientações da Pesquisa
de Opinião, através da aplicação de questionário estruturado com 18 questões, sendo
algumas abertas e outras fechadas, com possibilidade de múltipla escolha. Os dados
foram construídos no período dia 27 a 30 de junho de 2016, cujo modo de participação
foi através de questionários autoaplicáveis com a presença do pesquisador. O
instrumento de pesquisa levou em consideração a busca dos aspectos que indicam
as potências e as lacunas nos atuais modos de fazer da escola. Os resultados
referem-se à análise de 201 questionários. Participaram do estudo alunos do sexo
masculino e feminino, com idades compreendidas entre 12 e os 18 anos, matriculados
entre o 6º e 9º anos. Com os questionários respondidos os dados foram tabulados e
categorizados.
Para a validação do instrumento de pesquisa (questionário) foi aplicado um
pré-teste com uma amostra de 10 participantes, validando-os a partir de algumas
alterações nas questões para melhor compreensão do pesquisado.
Os instrumentos de pesquisa levaram em consideração os seguintes aspectos:
(a) o perfil do entrevistado; (b) as representações que têm sobre o tema investigado;
(c) as expectativas em relação à garantia e efetivação do tema de pesquisa na escola,
procurando os aspectos que indicam as potências e as lacunas do atual formato de
escola.
Os dados foram construídos no período dia 27 a 30 de junho de 2016, os
questionários foram autoaplicáveis com a presença dos entrevistadores. Observou-
se que os alunos levaram em torno de 20 minutos para responderem as questões.
Com os questionários respondidos os dados foram tabulados permitindo a
realização de agrupamentos e a quantificação dos mesmos. Sendo possível a
elaboração de gráficos com analises qualitativas/quantitativas, interpretação das
variáveis e análise dos resultados.
2 Compreendendo e interpretando os dados construídos
A pesquisa desenvolve o ensinar a pensar. Renova a prática e a teoria.
O desenvolvimento das competências tem um caráter formador. Ser
competente implica o domínio da totalidade do objeto ou fenômeno pesquisado e não
apenas algumas de suas partes. Ter uma visão do todo para poder compreender as
partes que o compõem.
O estudo procura indagar qual é o lugar da pesquisa na escola e quais as
competências investigativas que desenvolve no aluno. A pesquisa de opinião
proporcionou o levantamento das representações que os entrevistados constroem
e/ou emitem sobre o fenômeno analisado.
Os participantes da pesquisa, na sua maioria pertencem ao sexo masculino,
ou seja 105 alunos, correspondendo a 52%; por sua vez, 96 alunas compuseram a
amostra da pesquisa, perfazendo 48% dos participantes. No que se refere às idades,
a maioria situa-se entre os 12 e os 18 anos. Visualizando o gráfico apresentado na
Figura 1 é possível observar a proporção existente entre idade e número de
entrevistados.
Figura 1 – Gráfico quantidade total de respondentes por idade.
Fonte: Elaborado pelos autores
Após os dados de identificação, os respondentes interagiram com uma série de
perguntas referentes ao tema proposto em nossa pesquisa. Uma das perguntas do
Entre 6 e 12
ano
24%
Entre 12 e
18 anos
75%
NR
1%
questionário foi elaborada no sentido de avaliar o interesse pelos diversos tipos de
aulas que são ministradas. Em sua maioria 151 entrevistados (75%) apreciam a forma
como são ministradas as aulas, mas 79 alunos dos 151 alunos (52%) não sabem
justificar exatamente porque gostam. Os entrevistados que justificaram as respostas
a esta pergunta (34 entrevistados ou 22%), apontaram que as aulas são divertidas,
importantes, interessantes e produtivas.
Na questão seguinte, procuramos compreender o que o aluno entende sobre
“pesquisa”, sendo que 38 alunos (19%) não responderam, enquanto 47 alunos (23%)
relataram que pesquisar é buscar informações sobre um assunto e adquirir
conhecimentos. Esta informação vem ao encontro da pergunta seguinte, ou seja,
“Qual sua opinião sobre o uso da pesquisa em sala de aula?”. Como resultado, 76
entrevistados (38%) consideraram bom, legal, importante e fundamental o uso da
pesquisa em sala de aula.
Quando questionamos os 201 alunos sobre quais disciplinas utilizam pesquisa
em sala de aula, 167 (83%) informaram que os professores utilizam a pesquisa em
sala de aula. Na Figura 2 podemos analisar detalhadamente as disciplinas que os
entrevistados referem que trabalham com a pesquisa.
Figura 2 – Gráfico das disciplinas que utilizam pesquisa em sala de aula
Fonte: Elaborado pelos autores
Como mostra a Figura 2 podemos observar que as disciplinas que mais
utilizam a pesquisa como opção metodológica são Ciências (80%), História (72%),
0
20
40
60
80
100
120
140
75
121
92
44
133
126
215 15
Geografia (55%) e Língua Portuguesa (45%). Ao olhar para esta realidade, interpreta-
se que a pesquisa pode ser estimulada pelos professores que têm mais familiaridade
com a mesma. Aqui, cabe indagarmos a probabilidade de os professores que
possuem mais familiaridade com a pesquisa sejam os que em suas formações foram
incentivados a desenvolver e a aplicar a pesquisa como ferramenta metodológica.
Quando o professor consegue dar importância e significado ao uso da pesquisa em
sala de aula o aluno a vê como algo bom e positivo, conseguindo compreender a sua
importância.
Observamos também que os alunos possuem dificuldades de entender as
diferentes maneiras de pesquisar, pois 84 entrevistados observam que pesquisa deve
ser feita por meio da consulta em livros, com uso de Internet, busca em revistas e
entrevistas com pessoas, associando de forma simplificada os mecanismos de busca
e consulta com a realização de projetos de pesquisa.
A questão seguinte, após analisada, confirma nossa interpretação anterior,
pois perguntamos quais os recursos mais utilizados para pesquisar. Os alunos, em
sua maioria, utilizam livros e Internet como principais recursos para a busca de
informações e conhecimento. Destacamos a pesquisa bibliográfica como a mais
utilizada e conhecida pelos alunos pelo fácil acesso a livros, Internet e outros escritos
ofertados pelas próprias escolas, por ser tão mencionada, uma vez que as escolas
podem fornecer livros didáticos e de literatura para possíveis consultas em suas
bibliotecas.
A pesquisa pode ser mencionada como um conjunto de ações que visa a
descoberta de novos conhecimentos em uma determinada área. Pode surgir a partir
de um tema ou uma pergunta. Apropriando-se disso, questionamos os alunos sobre
como é realizado o processo de elaboração de uma pesquisa. Como vimos na figura
3, a maioria dos alunos sinalizam que a pesquisa pode partir tanto de um
questionamento do aluno, quanto de um questionamento do professor, como forma
de complementar um conteúdo e exemplificar uma curiosidade observada pelo
mesmo, pertinente a um assunto.
Figura 3: Gráfico correspondente à fonte de elaboração das pesquisas
Fonte: Elaborado pelos autores
A palavra curiosidade, de origem latina, significa o desejo de conhecer algo
novo, desvendar, experimentar algo diferente. Observamos que os alunos buscam e
gostam dessas experiências e que esse modo de aprender é mais significativo, visto
que a curiosidade pertence a todo ser humano, ainda que em níveis diferentes.
Aguçar esse desejo pode se tornar interessante e proveitoso, como mostra o gráfico
da figura 4, onde perguntamos aos alunos: “Como vocês consideram a pesquisa
quando a mesma é construída a partir da curiosidade de vocês?”. Os resultados
apontam que a grande maioria dos alunos percebe que a aprendizagem se torna mais
eficaz e produtiva e que se tornam capazes de desenvolver habilidades e
competências anteriormente não desenvolvidas, evidenciando aprenderem melhor.
Figura 4 – Gráfico com significado da pesquisa pelo entrevistado
Fonte: Elaborado pelos autores
39 - A partir da
curiosidade e
dúvidas dos alunos
69 - Professor que
decide o tema da
pesquisa
102 - Às vezes a
partir da curiosidade
dos alunos; às vezes o professor decide o
tema da pesquisa
6 - Nr
0 20 40 60 80 100 120
21
140
26
5
0
20
40
60
80
100
120
140
160
Não aprende muito Aprendo muito mais Não faz diferença no
que aprendo
Nunca participei de
pesquisa em sala de
aula
NR
Quando questionados quanto ao uso da pesquisa como forma de entender
melhor os conteúdos desenvolvidos na sala de aula, a maioria dos alunos sublinha
essa importância e descrevem como um ato motivador para construir e ampliar o
conhecimento, auxiliando nas dúvidas e tornando as aulas motivadoras e
interessantes.
Sobre o que aprendem ao fazer pesquisa, as opiniões dos entrevistados se
dividiram entre (a) os que não responderam e os que (b) responderam aprender
coisas novas, (c) muitas coisas e (d) descobrir mais sobre um tema específico.
No quesito auxiliar com sugestões para o desenvolvimento da pesquisa na
escola, a maioria não contribuiu com sugestões aos professores em relação a
fornecer dicas ou ideias.
Dos 201 alunos entrevistados, 160 manifestaram satisfação em participar da
entrevista, por pensarem ser importante expressar suas opiniões. Declararam que
gostam de serem ouvidos.
Ao perguntar aos alunos se gostam da forma como as aulas são ministradas,
a maioria respondeu que sim. Podemos supor que o sim representa gostar da escola,
porém, pelas respostas ao instrumento de pesquisa utilizado nesse estudo, há um
indicativo que não ocorre a mesma sintonia com o que ocorre dentro da sala de aula.
Existe um respeito à forma como as coisas são dentro da escola. Existe uma rotina
estabelecida como regramento em relação ao funcionamento da escola e das aulas.
Sabedores disso, o respeitam e o cumprem, ou seja, acreditam que a escola é assim
e não conseguem expressar exatamente o que mudariam nela, apenas que aulas
mais dinâmicas e divertidas são boas. A dificuldade para justificarem suas opiniões
pode estar associada à tradição da escola, no trabalho pedagógico sem muita
reflexão ou argumentação, competências desenvolvidas quando trabalhamos com a
pesquisa, e que, na aula tradicional não aparecem.
A pesquisa em sala de aula, na maioria das vezes, como proposta pedagógica,
é utilizada para complementar um determinado assunto, sendo a bibliográfica a que
mais perpassa por este espaço. Talvez porque seja essa a forma mais comum e mais
usada na formação do próprio professor. As respostas sobre o tema ou a pergunta
que desencadeia a pesquisa em sala de aula nos remetem ao assunto que está sendo
desenvolvido pelo professor. Quando os alunos podem escolher o tema aprendem
mais, conseguem perceber isso, mas ainda não conseguem relacionar com os
conteúdos desenvolvidos em aula. Segundo Demo (2011, p. 31), “A reconstrução do
conhecimento implica processo complexo e sempre recorrente, que começa
naturalmente pelo uso do senso comum. Conhecemos a partir do conhecido”.
Para que os alunos consigam fazer estas relações é preciso trabalhar as
competências investigativas, pois são elas que permitirão o movimento que parte do
senso comum, transita pela curiosidade crítica para se aproximar da epistemológica.
E a pesquisa só como complemento bibliográfico sobre um determinado não
consegue fazer esta amplitude.
A pesquisa sob a ótica dos alunos permite o trabalho em grupo, o diálogo entre
os pares. Pedro Demo (2011) aponta o desafio de construir um estilo de trabalho em
equipe realmente produtivo. Escreve sobre a competência coletiva, solidária.
A competência coletiva é um modo de trabalho que desenvolve a cidadania
coletiva e organizada, onde é preciso também saber trabalhar de forma individual,
mas este individual significa que a pesquisa está internalizada como uma atitude e
por isso solidária. Exige a participação ativa, crítica e criativa. Aqui entram as
dimensões que são citadas na série de vídeos Escola e Pesquisa: um encontro
possível, nos quais Stecanela (2015) evidencia a dimensão ética, a política e a
estética na organização e discussão dos dados de uma pesquisa.
Os alunos têm dificuldades em fazer sugestões para os professores porque
ainda têm pouco conhecimento teórico e sistematizado da pesquisa em sala de aula.
Não têm conhecimento suficiente para argumentarem sobre pesquisa. Foi possível,
pela análise dos dados, perceber que os alunos têm o desejo de fazer uso da
pesquisa, de conhecer outras formas de buscar conhecimento e acreditam que a
escola pode ofertar isso. Também analisamos que dar sugestões remete a
compromisso, gostar das aulas, estar na escola e, nem sempre, estar na escola é
necessariamente compromisso com o aprender de forma aprofundada e científica.
Quando a maioria dos alunos coloca que gostou de participar da entrevista,
mas não sabe dizer o porquê, analisamos como dificuldades em refletir e justificar
suas opiniões ou escolhas. Aqui pode estar presente uma lacuna no processo de
aprendizagem desenvolvido dentro das escolas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através de nossas análises identificamos um desejo dos alunos em aprender
pela pesquisa, de forma indireta nos dizem que desejam o aprofundamento. Sair da
superficialidade das aulas atuais ou do conhecimento apenas do senso comum e
desejam caminhar em direção do conhecimento epistemológico. Levando-se em
consideração esse aspecto, vemos o professor como um mediador, um orientador,
um facilitador entre o conhecimento e o educando.
Mas, no entanto, as dificuldades dos alunos em justificarem suas opiniões ou
apresentarem sugestões para os professores mostraram que há lacunas no processo
de aprendizagem e que algumas competências não foram desenvolvidas, como por
exemplo, a capacidade de argumentar, aprofundar, comparar, analisar, interpretar,
fazer suposições.
Transformar a sala de aula em um local de trabalho conjunto, é desafiador
porque significa movimento, comunicação, organização e participação. Sair de uma
posição individualista para uma posição coletiva. Aprender com o outro. O outro
aluno, colega e professor. Sendo o professor aquele que também aprende ao mediar.
Estas competências estão explícitas nos objetivos dos planos de trabalho
elaborados pela maioria dos professores, mas não implícitas no fazer pedagógico e
no cotidiano da sala de aula. Essas competências ou melhor, a falta delas, no
cotidiano da sala de aula, são dificuldades elencadas como próprias dos alunos e não
do processo de ensino.
O desafio de buscar compreender as competências investigativas no ensinar
e aprender do aluno através da pesquisa nos auxiliaram a ver que elas sempre
estiveram no cotidiano da sala de aula, mas que não conseguiam emergir como
ferramentas de mudança em função da metodologia.
Hoje compreendemos que a pesquisa ajuda o professor e o aluno a
desenvolverem competências como: observar, explorar, questionar, argumentar,
propor, contrapor, fundamentar, compreender, analisar, interpretar, ler, escrever,
reescrever, enfim o implícito no processo de aprender pela pesquisa é mais do que
podemos avaliar, pois, segundo Paulo Freire, “Não há ensino sem pesquisa e
pesquisa sem ensino”.
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