Balano da EJA: o que mudou nos
modos de vida dos jovens-adultos populares?
Miguel Arroyo
Resumo: Este artigo uma reflexo
acerca das especificidades da educao de jovens e adultos e de seus sujeitos, apresentada na comemorao dos nove anos
do Frum Mineiro de Educao de Jovens e Adultos.
Trata-se de um balano desse perodo, abordando o campo da formao, das polticas pblicas e a prpria histria do
Frum Mineiro. Considerando que qualquer uma dessas abordagens, ainda que
imprescindveis, deixam escapar algumas marcas da EJA, essa reflexo nos convida a
direcionar nosso olhar sobre quem so os sujeitos que vm demandando a educao de jovens e adultos. Desenvolve o argumento de
que a juventude, os adolescentes e os adultos populares esto, hoje, mais
demarcados pela concretude de suas histrias de vida, de seus trabalhos, de suas
maneiras de sobreviver em um presente que mais importante que o futuro. Qualquer tentativa educacional que proponha
enquadrar esses sujeitos em categorias muito amplas os desfigura, do mesmo modo que
qualquer forma de educao generalista, os distancia. Logo, reconstruir essa trajetria
nos leva a questionar em que medida foi possvel partir da vida humana para pensar os currculos, os tempos, os saberes e,
sobretudo, as imagens que vm sendo construdas sobre o que ser jovem e adulto
da EJA. Educadores, educandos, pesquisadores e gestores devem buscar os caminhos que articulem a vida concreta dos
sujeitos da EJA e suas especificidades, para a partir da construir um currculo e uma escola
que possam atender as suas necessidades.
De Hamburgo a Bancoc: a V CONFINTEA revisitada
Timothy D. Ireland
Resumo: Neste artigo, traamos uma
breve retrospectiva da V Conferncia Internacional de Educao de Adultos CONFINTEA, realizada em Hamburgo (Alemanha) em julho de 1997, luz da
Reunio de Balano Internacional da V CONFINTEA (CONFINTEA V Midterm Review Meeting), ocorrida em Bancoc (Tailndia) em
setembro de 2003. Tentamos constatar se houve avanos em relao s metas e
objetivos estabelecidos em Hamburgo j na iminncia da prxima Confintea a ser
realizada no Brasil em 2009. Caracterizamos as duas conferncias (Hamburgo e Bancoc) como sendo, em parte, atos de resistncia
em defesa da educao de adultos.
Sugerimos que a VI CONFINTEA, em
2009, representar uma oportunidade de renovar a agenda para a prxima dcada,
imprimindo nela perspectivas e demandas atuais das naes em desenvolvimento.
Educao de Jovens e Adultos e
Juventude: o desafio de compreender os sentidos da presena dos jovens na
escola da segunda chance
Paulo Carrano
Resumo: O artigo chama a ateno
para a expressiva presena dos jovens na EJA e discute o desafio que os educadores
enfrentam para a compreenso dos sentidos culturais da presena destes sujeitos na escola. E indaga sobre como podemos
trabalhar para construir espaos escolares culturalmente significativos para jovens e
adultos. Aponta para o estabelecimento de uma relao compreensiva como porta de acesso aos jovens, principalmente atravs da recuperao de trajetrias de vida. Parte do pressuposto de que muitos dos problemas
que explodem na sala de aula tm origem em incompreenses sobre os espaos no
escolares. Analisa a necessidade de compreender os processos mais amplos de socializao do jovem. Problematiza as
representaes da juventude na sociedade,
refletindo sobre as muitas maneiras de ser
jovem na atualidade. Apresenta as questes de identidade pessoal e coletiva como
processos de interao e conflito. Faz uma crtica aos currculos rgidos e uniformizados
das escolas, pontuando que estas ainda no reconhecem as culturas juvenis como possibilidade de incluso e transformao.
Educao de Jovens e Adultos:
movimentos pela consolidao de direitos
Jane Paiva
Resumo: O presente artigo discute o papel fundamental da constituio dos
Fruns de EJA em todo o pas, nos ltimos 11 anos, para o estabelecimento de uma grande rede de articulao na luta pelo direito
educao de jovens e adultos. Tais Fruns tm como principal objetivo inverter o rumo
histrico das agendas pblicas dos governos federal, estaduais e municipais, quando a EJA
tinha lugar quase invisvel, defendendo a implantao e a consolidao de importantes conquistas legais. Reconhecer a educao
como um direito para todos os segmentos populacionais (independente de classe, raa,
gnero, idade) ainda faz parte da luta pela construo de uma sociedade cidad e plural.
Nesse sentido, inserir a educao de jovens e adultos efetivamente no conjunto das polticas pblicas de direito se torna um
desafio para diferentes governos e para a sociedade como um todo.
Diante desse cenrio, o movimento dos Fruns ganha expresso, por meio da construo de uma agenda pela EJA, que
vem sendo sustentada pela mobilizao de amplos setores da sociedade organizada,
congregando movimentos sociais e sindicais, organizaes no-governamentais, entidades
de pesquisa, universidades e setores tcnicos.
As estatsticas da alfabetizao
Vera Masago Ribeiro
Resumo: O artigo analisa as diversas
metodologias de medio das habilidades e prticas de leitura junto a populaes,
abordando as estatsticas geradas pelo IBGE, pelas avaliaes dos sistemas educacionais e estudos amostrais realizados no Brasil e no
exterior. Descreve com maior detalhe a metodologia e os resultados do INAF Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional, estudo empreendido pela Ong Ao Educativa e pelo Instituto Paulo Montenegro,
que vem mensurando as habilidades e prticas de leitura e escrita da populao
brasileira de 15 a 64 anos desde 2001. Mostra-se a evoluo dos nveis de habilidade
da populao medidos por meio de suas escalas, uma relativa leitura e escrita e outra s habilidades matemticas. Descreve
tambm as diferentes prticas de leitura e escrita no ambiente de trabalho e ainda a
prtica de leitura de livros de diversos gneros.
Com base nesses indicadores, critica a insistncia das polticas pblicas em campanhas de alfabetizao embaladas pelo
af de baixar taxas de analfabetismo. Conclui afirmando que os estudos sobre a cultura
escrita, tanto com vis quantitativo quanto qualitativo, principalmente as avaliaes
independentes e criteriosas dos programas de alfabetizao e educao de adultos, so essenciais para que possamos estabelecer
planos mais realistas e eficazes para elevar os nveis educacionais da populao.
A Educao Continuada e as polticas
pblicas no Brasil
Srgio Haddad
Resumo: O artigo discute o conceito de Educao Continuada frente s mudanas e demandas do mundo atual. Se,
anteriormente, sob a influncia da UNESCO, tal conceito remetia principalmente idia de
formao e aprimoramento profissional
visando adaptao do cidado frente a um
mundo em mudanas, a Educao Continuada, em tempos atuais, abarca a
formao cidad para a participao democrtica e o desenvolvimento humano.
Neste ltimo sentido, na Amrica Latina, a Educao Continuada utiliza como campo de referncias idias produzidas pelo movimento
de Educao Popular, alm das teorias ligadas ao Desenvolvimento Humano e aos
Direitos Humanos. Tem, portanto, uma caracterstica menos de adaptao e mais de
conflitividade frente a um mundo cada vez mais desigual e injusto. A Educao Continuada, no entanto, em qualquer sentido
aqui pensado, no se dissocia da luta por uma boa escolarizao bsica que atinja a
todos. Remete ainda a um modelo de sociedade educativa na qual a Educao
Continuada parte integrante.
Expediente
REVEJ@ - Revista de Educao de Jovens e Adultos, v. 1, n. 0, p. 1-108, ago.
2007
NEJA-FaE-UFMG. Belo Horizonte. Agosto de 2007.
A educao e formao ao longo da vida como via para a incluso: assimilao
ou autonomia?
Alberto Melo
Resumo: O artigo inicia por anunciar
a diferena entre o saber do povo e o saber da escola. Contudo, chama ateno que a escolarizao uma conquista recente. Registra que na Inglaterra do sculo XIX a educao do povo era vista como algo
passvel de se transformar em subverso. Essa viso possui ecos em Portugal na poca
salazarista. Se de um lado existiam aqueles que acreditavam que a educao de massa
levaria a um caos, outros defendiam (mesmo na Inglaterra) que o acesso alargado educao evitaria uma revoluo social.
Apesar da diferena de opinies, os
defensores de uma educao para todos, inclusivamente em Portugal, terminaram por
vencer a empreitada. Contudo, essa abertura a todos era, de certo modo, relativa
e causava efeitos desiguais nas diferentes classes sociais. Ao longo de 150 anos de educao, tendencialmente universal,
geraram duas grandes tendncias na educao: uma institucional e hegemnica e
outra independente e marginal. A partir dessa reflexo fica a questo da real
universalizao da educao, principalmente aos jovens e adultos e concernente educao ao longo da vida. Para se atingir
realmente a propalada educao ao longo da vida, se faz necessrio repensar sua
finalidade para melhor adequ-la s necessidades. Destacam-se condies
necessrias para a insero de jovens e adultos de camadas menos favorecidas na educao. A natureza da educao nesse
caso deve ser fruto de uma deciso coletiva, entre educadores e educandos, contribuindo
para insero dos indivduos para alm da escolarizao e visando uma insero cidad.
A educao alternativa hoje
Aida Bezerra
Resumo: O artigo tenta enfatizar uma
prtica educativa vinculada ao dinamismo da sociedade, independentemente de estar atrelada aos sistemas oficiais de ensino ou s
iniciativas da sociedade civil. Nessa direo, tende a dar relevo ao acontecimento
educativo caracterizando-o como espao de socializao, valorizao e aperfeioamento do que a sociedade sente, produz e
descobre. No mais a exclusividade do legitimado, da nica fonte, do pensamento
nico. O sentido dado ao alternativo no , portanto, o de uma interveno paralela ao
que predominante, e que permaneceria em estado de experimentao. Mas se trata da construo de um outro olhar, e outras
prticas se impem hoje marcando a tendncia de uma outra qualidade do
educativo. Nessa perspectiva, o poder
matria de aprendizado enquanto esforo de compreenso e superao das dissonncias
nas quais fomos moldados. Nesse sentido, ns somos sujeitos e objetos de nossa
prpria edificao. Os confrontos e conflitos esto previstos, e o papel do educador o de torn-los produtivos, fazendo valer o que foi
coletivamente aprovado em termos de regras de convivncia. O consenso no um
objetivo pedaggico a obter a qualquer custo. Em lugar disso, a transparncia na
negociao de interesses, a elaborao de critrios, a aprendizagem cotidiana da justia. Enfim, o conflito desassombrado.
A atualidade do pensamento de Paulo
Freire e as polticas de Educao de Jovens e Adultos
"o saber de experincia feito" Cames e Paulo Freire!!!
Maria Margarida Machado
Introduo
Numa reflexo sobre a atualidade do
pensamento de Paulo Freire e as polticas de EJA, oportuno enfatizar inicialmente de que perspectiva de educao falamos, falamos da
Educao Libertadora e, portanto, falamos de uma pedagogia da libertao. Ou seja, o
conceito nos informa os meios e os fins. No possvel tratar da educao libertadora,
sem pensar que a pedagogia tambm precisa ser libertadora. Como Paulo Freire definia (...) aquela que tem que ser forjada com ele
(oprimido) e no para ele, enquanto homens e povos, na luta incessante de recuperao
de sua humanidade. Pedagogia que faa da opresso e de suas causas objeto de reflexo dos oprimidos, de que resultar o seu
engajamento necessrio na luta por sua libertao, em que esta pedagogia se far e
refar. O grande problema est em como podero os oprimidos, que hospedam o opressor em si, participar da elaborao, como seres duplos, inautnticos, da pedagogia de sua libertao. (FREIRE,1987
p.32)
Recuperando a origem desse conceito,
to conhecido, mas que vale mais uma vez contextualizar, pode-se recuper-lo de
Angelim (2006), quando trata do processo de constituio da pedagogia da libertao:
Aps a segunda guerra mundial, foram os(as) educadores(as) identificados com a luta anticolonial e anti-hegemnica e, mais
recentemente, anti-neoliberal, que propuseram a pedagogia da libertao,
inspirada principalmente em Karl Marx, cuja expresso de maior relevncia e de impacto
internacional a obra do educador brasileiro Paulo Freire (1921 Recife-Pernambuco 1997 So Paulo - So Paulo), destacando-se,
principalmente, o livro Pedagogia do Oprimido, escrito em 1968 no exlio, em
Santiago-Chile, publicado no Brasil somente em 1975, traduzido a partir de 1969 para o
espanhol, ingls, francs, alemo, italiano, sueco, noruegus, finlands, dinamarqus, flamengo, grego, rabe, chins e outros
idiomas. Pedagogia do Oprimido foi revisitada pelo autor no livro Pedagogia da Esperana,
publicado em 1992. (Angelim, 2006).
Partindo desta perspectiva da educao libertadora, aquela que entende a
educao de jovens e adultos como um direito, no consuetudinrio, mas
conquistado na luta diria dos que atuam no campo da EJA, h muito o que dizer sobre a
atualidade do pensamento de Paulo Freire e as polticas de EJA.
Educao de Jovens e Adultos:
preparando a VI CONFINTEA e pensando o Brasil
Lencio Soares
Fernanda Rodrigues Silva
Resumo: Pela primeira vez na
histria, um pas localizado no hemisfrio sul sediar o mais importante evento mundial sobre a educao de adultos. Desde os anos
40 do sculo passado que a UNESCO vem realizando, a cada dcada, uma Conferncia
Internacional. Neste artigo abordamos o que
foram as CONFINTEAs trilhando, paralelamente, a histria da EJA no Brasil, no intuito de perceber que relaes podemos
estabelecer entre a trajetria dessas Conferncias Internacionais e o que se
passou no Brasil ao longo dos ltimos sessenta anos, apontando elementos que revestem de significado o fato da prxima
Conferncia se realizar em nosso pas.
Educao de Jovens e Adultos em situao de privao de liberdade:
desafios para a poltica de reinsero social
Elionaldo Fernandes Julio
Resumo: A Educao para jovens e adultos privados de liberdade nos ltimos
anos, principalmente no sistema penitencirio, vem conseguindo, em mbito internacional, uma maior visibilidade. O
poder pblico no Brasil, por exemplo, passa a considerar como estratgico para a poltica
de execuo penal a implementao de aes educativas, assim como laborativas, dentro
de uma proposta de tratamento penitencirio. Neste sentido, este artigo tem como proposta provocar a discusso
(reflexo), levando em considerao: as questes polticas, econmicas, sociais e
jurdicas que envolvem a educao no sistema penitencirio; o papel dos Ministrios
da Educao e da Justia e das Secretarias Estaduais de Educao e de Justia (e ou de Segurana Pblica e Administrao
Penitenciria) na implementao de programas educativos para o sistema
penitencirio; e, entre outros, a educao como direito humano e ao longo da vida.
A formao dos professores: saberes e
prticas de letramento na educao de jovens e adultos
Ioneli da Silva Bessa Ferreira
Resumo: Este artigo resultado da pesquisa de Mestrado em Educao, na linha
de formao de professores da Universidade
do Estado do Par- UEPA, ocasio em que analisamos quais saberes de letramento
apresentam os professores da Educao de Jovens e Adultos- EJA e como desenvolvem
prticas letradas. Averiguamos tambm as competncias e habilidades que estes professores so portadores, tendo em vista a
formao de um professor letrador.
Este artigo visa divulgar o resultado da
pesquisa que realizamos acerca dos saberes que os professores atuantes na Educao de
Jovens e Adultos - EJA tm sobre as prticas de letramento3, bem como problematizar se os processos formativos, aos quais estes se
submeteram, contriburam para a (re)construo de tais saberes.
A motivao para este estudo decorreu a partir da nossa trajetria como
professoras de disciplinas da rea da linguagem, nos Cursos de Licenciatura em Matemtica, Educao Fsica, Educao
Artstica Habilitao em Msica, Cincias Naturais e no Curso de Formao de
Professores para Pr-Escolar e 1 a 4 srie do Ensino Fundamental (tanto na capital como em vrios municpios do Estado do
Par), desenvolvidos no Centro de Cincias Sociais e Educao - CCSE, da Universidade
do Estado do Par UEPA. Trabalhamos tambm com as disciplinas Fundamentos
Tericos e Metodolgicos do Ensino do Portugus, para os alunos do Curso de Pedagogia e de Metodologia do Ensino de
Portugus e Prtica de Ensino com os alunos do Curso de Letras, ambos na Universidade
Federal do Par.
O currculo no cotidiano de uma escola de educao de jovens e adultos
Benedito G. Eugenio
Resumo: Neste texto apresentamos
os dados referentes a uma pesquisa realizada numa escola pblica de ensino fundamental que oferece educao de jovens e adultos. O
objetivo tecer consideraes acerca do
currculo posto em prtica cotidianamente na
sala de aula e a relao de docentes e discentes com o conhecimento expresso e
corporificado no currculo.
Introduo
A educao de jovens e adultos, modalidade de ensino integrante da educao bsica, possui caractersticas
especficas reconhecidas pela LDB 9394/96. Sendo parte da educao bsica e seguindo a
proposta governamental que estabeleceu parmetros curriculares para nortear o
trabalho pedaggico das escolas, tambm possui um documento especfico editado pelo MEC e constitudo por 3 volumes, em que so
apresentados os princpios para sua organizao curricular e os contedos,
objetivos e competncias a serem trabalhados com os alunos.
Expediente
REVEJ@ - Revista de Educao de
Jovens e Adultos, v. 2, n. 1, p. 1-116, abr. 2008
NEJA-FaE-UFMG. Belo Horizonte. Abril de 2008.
Leitura crtica e propositiva sobre a
alfabetizao na Amrica Latina
Jos Rivero
I. Por que tantos programas e campanhas de alfabetizao tm
fracassado?
As inmeras iniciativas de programas e
campanhas de alfabetizao desenvolvidas na Amrica Latina no lograram xito maior do que as expectativas que geraram. Pode-se
afirmar que, se na Europa o grande impulso alfabetizador esteve ligado difuso da Bblia
como principal material de leitura, na Amrica Latina, mais que os prprios
programas de alfabetizao, tem sido a
escola fundamental pblica a grande
alfabetizadora.
A. Quais os fatores que poderiam
ter diminudo a possibilidade de xito de inmeras campanhas e programas
de alfabetizao desenvolvidas na Amrica Latina?
A. Relao de vontade poltica com xito poltico
Com freqncia a convocao de uma
campanha de alfabetizao acontece como parte de ofertas eleitoreiras e de promessas
de governo pensando nos excludos. Promessas estas nas quais se omite o significado da alfabetizao como processo,
as dificuldades de se apresentar resultados visveis em curto prazo e seus mecanismos
de acompanhamento. Nelas, tambm, prima-se por falsas premissas, tais como: ser fcil convocar os analfabetos ou qualquer um pode alfabetizar. A urgncia em apresentar resultados polticos faz com que, muitas vezes, seja confundido o nmero de inscritos com o de alfabetizados. No existe, ademais,
correspondncia entre o discurso de lanamento dos programas e os pressupostos ou recursos pra sua execuo.
Do MOVA-So Paulo ao MOVA-Brasil: uma trajetria de luta e de esperana
Moacir Gadotti
Dia 1 de janeiro de 1989, um partido popular assumia, pela primeira vez na
histria brasileira, a mais importante cidade do pas: So Paulo. A eleio de uma mulher
das classes populares, Luiza Erundina, para governar a maior metrpole da Amrica do Sul, com uma proposta clara de inverso de prioridades, possibilitou melhores perspectivas de implantao de instrumentos
da participao popular e de mudana social, tendo Paulo Freire como Secretrio de
Educao.
Fazendo parte deste esforo, e valorizando a educao de jovens e adultos,
o Municpio de So Paulo introduziu o ensino
noturno em todas as escolas de ensino fundamental e transferiu o Programa de
Educao de Adultos (EDA) da Secretaria de Bem-Estar Social para a Secretaria de
Educao. O EDA era um programa de alfabetizao e psalfabetizao em nvel de suplncia criado em So Paulo no incio da
dcada de setenta, em convnio com a Fundao Mobral. Luiza Erundina havia sido
uma das fundadoras do EDA como assistente social da Secretaria de Bem-Estar Social. A
partir de 1984, com o encerramento do convnio com o Mobral (Movimento Brasileiro de Alfabetizao) e com a autorizao do
Conselho Estadual de Educao, o programa passou a denominar-se Programa de
Educao de Adultos (EDA).
Paulo Freire e a Conscientizao: entre a modernidade e a ps-
modernidade progressista
Afonso Celso Scocuglia
Resumo: O conceito de
conscientizao se destaca quando estudamos a obra e as prticas em torno da
educao de jovens e adultos pensada por Paulo Freire. O prprio autor j enfatizou o
desgaste do conceito, criticou sua utilizao mecnica e, muitas vezes, equivocada. No entanto, muitas prticas educativas
continuam a us-lo e a repeti-lo. Torna-se necessrio fazer um acompanhamento do
conceito ao longo dos escritos do autor para verificar sua elaborao e, tambm, suas modificaes. Podemos notar quatro
conceitos: conscincia da realidade nacional, estgios da conscincia (da ingenuidade criticidade) conscincia de classe e conscincia das mltiplas subjetividades. Esses conceitos fazem parte da construo do pensamento polticopedaggico de Freire ao longo da sua
trajetria intelectual marcada entre 1959 e
1997. Neste trabalho, vamos acompanh-los,
analisando-os na transio entre a modernidade e a ps-modernidade.
EJA: lutas e conquistas! - a luta continua: formao de professoras em
EJA
Laura Souza Fonseca
No presente artigo abordo a Educao
de Jovens e Adultos na histria brasileira, desde invaso colonizadora, passando pela Educao Popular como Alfabetizao e
Educao de Adultos, at as disputas atuais, no escopo do Encontro Nacional Preparatrio
a VI CONFINTEA29; historicidade marcada pela constituio da EJA como campo de
conhecimento e, conseqente, especificidade na formao de professoras30 e educadoras.
Constituo a argumentao vincando ao
processo de acumulao do capital s imposies para a relao trabalho-educao
que, na radicalizao do contraditrio, produziram a resistncia poltica e
epistemolgica, trazidas pela educao popular entre as dcadas de 1950 e 1980; passo seguinte, a luta promove a
institucionalizao da rea na educao bsica e superior, a partir do final da dcada
de 1980; e, na atualidade, as polticas de Estado e de governo que constituem o
universo de conquistas, rupturas e apontam continuidade da luta no campo da Educao de Jovens e Adultos.
A formao de professores no Programa
de Educao de Jovens e Adultos - PEJA
Luciana Santana Nbia Vergett Sandra Jardim
Resumo: Este trabalho um relato
de uma experincia de formao continuada de professores e est vinculado ao Programa de Educao de Jovens e Adultos da
Secretaria Municipal de Educao do Rio de Janeiro SME/RJ. Seu objetivo relacionar a
prtica cotidiana dos professores de
Matemtica da SME/RJ, do Programa de Educao de Jovens e Adultos PEJA - com os pilares que aliceram a pedagogia etnomatemtica, por acreditarmos que esta
oferece um caminho para a construo do conhecimento matemtico na educao de jovens e adultos.
Conferncia Regional da Amrica Latina e do Caribe sobre Alfabetizao e
Preparatria para a CONFINTEA VI Da alfabetizao aprendizagem ao longo
da vida: desafios do sculo XXI
Cidade do Mxico (Mxico), 10-13 de setembro de 2008
Documento Final:
COMPROMISSO RENOVADO PARA
A APRENDIZAGEM AO LONGO DA VIDA
Proposta da Amrica Latina e do Caribe
I. CONSIDERAES GERAIS
Da alfabetizao aprendizagem ao longo da vida o grande desafio ao qual nos convoca esta Conferncia Regional.
Em outras palavras, o desafio de
passar de uma alfabetizao inicial que como continua a ser entendida a alfabetizao de pessoas jovens e adult as em muitos pases da regio a uma viso e uma oferta educativa ampla que inclua o ensino, ao mesmo tempo em que reconhea e valide as aprendizagens realizadas pelas
pessoas, no some nte na idade adulta, mas ao longo da vida1: na famlia, na
comunidade, no trabalho, pelos meios de comunicao de massa, na participao
social, no exerccio da prpria cidadania.
A educao um direito fundamental, uma chave que permite o acesso aos direitos
humanos bsicos, tais como sade, habitao, trabalho e par ticipao, entre
outros, possibilitando assim o cumprimento das agendas globais, regionais e locais de
desenvolvimento. Isto implica em reconhecer
que estamos diante de um paradigma que concebe o ser humano como sujeito da
educao, portador de saberes singulares e fundamentais, criador de cultura,
protagonista da histria, capaz de produzir as mudanas urgentes e necessrias para a construo de uma sociedade mais justa.
1 Nota do tradutor: o original utiliza a expresso ao longo e ao largo da vida, para designar aprendizagens que se realizam ao longo do tempo e em todos os
mbitos da vida social. Optou-se por empregar a expresso ao longo da vida porque a traduo literal ao portugus no
agrega o significado pretendido.
2 Os Objetivos do Desenvolvimento do
Milnio (ODM) e da Educao para Todos (EPT), a Quinta Conferncia Internacional de
Educao de Adultos (C ONFINTEA V), a Dcada das Naes Unidas da Educao para o Desenvolvimento Sustentvel (DEDS), o
Projeto Regional de Educao para a Amrica Latina e o Caribe (PRELAC), o Plano Ibero-
americano de Alfabetizao e Educao Bsica de Pessoas Jovens a Adultas (PIA), entre outros.
Desejos e desafios de pessoas da terceira idade no processo de
escolarizao
Isamara Grazielle Martins Coura
Resumo: O artigo um recorte feito
em relao aos resultados de uma pesquisa de mestrado realizada no Programa de Ps-
graduao da Faculdade de Educao da UFMG, objetivando investigar que expectativas e motivaes que levam as
pessoas da terceira idade a retornar s salas de aula. Atravs dos relatos dos educandos
percebeu-se que estudar, na maioria das vezes, fazia parte de um sonho, mas que
concretizar este desejo, exigia contornar desafios. Percebeu-se ainda que o ato de escolarizar-se promove melhorias na
qualidade de vida destes sujeitos.
Formao de Educadores de Jovens
e Adultos: saberes na proposio curricular
Rosa Aparecida Pinheiro
Resumo: Este trabalho apresenta
a investigao realizada em nossa tese de doutoramento, em que nos reportamos aos elementos constituintes de uma
proposta curricular para formao de educadores de jovens e adultos, no que
concerne relao entre os saberes acadmicos e os saberes da experincia. Nossa atuao como formadores
educacionais se deu junto a um grupo de alfabetizadores egressos das
comunidades perifricas da cidade do Natal RN, onde se concentram migrantes que se estabelecem na zona urbana em busca de trabalho.
Um olhar sobre a postura do educador da Educao de Jovens e
Adultos numa perspectiva freiriana
Maria Teresinha Kaefer e Silva
No posso ser professor se no
percebo cada vez melhor que, por no poder ser neutra, minha prtica exige de
mim uma definio.
Uma tomada de posio. Deciso.
Ruptura. [...] no posso ser professor a favor de quem quer que seja e a favor de no importa o qu.
[...] Sou professor a favor da decncia contra o despudor, a favor da
liberdade contra o autoritarismo, da autoridade contra a licenciosidade, da
democracia contra a ditadura da direita ou da esquerda. Sou professor a favor da luta constante contra qualquer forma de
discriminao, contra a dominao econmica dos indivduos ou das classes
sociais.
[...] Sou professor a favor da esperana que me anima apesar de tudo.
[...]
(Freire1996, pg.115).
Resumo: Este artigo refere-se
postura do educador da Educao de Jovens e Adultos, do medo e da ousadia
que permeia suas aes. Traz para a reflexo possibilidades tericas e
concretas para mudanas da prtica educativa, a luz do legado de Paulo Freire. parte da sistematizao de
minha experincia como educadora popular da EJA no RS.
Educao de Jovens e Adultos
um desafio...
Ao longo da histria da EJA, pode-se considerar a idia de movimento desta
modalidade, articulado entre o saber acadmico e o construdo em sala de aula
de forma criativa, corajosa, cheia de ressignificaes. Assim, ao tecer ligaes
de coragem e destemor, relacionando os atos pedaggicos com a poltica, no s percebendo as relaes escola -
comunidade, mas tambm estabelecendo relaes entre o que se ensina e o
contedo ideolgico do que se ensina, os sujeitos educadores e educandos da EJA contemplam possibilidades diferentes de
aprender e ensinar, respeitando a diversidade e a pluralidade de idias.
Expediente
REVEJ@ - Revista de Educao de Jovens e Adultos, v. 2, n. 3, p. 1-100, dez. 2008
NEJA-FaE-UFMG. Belo Horizonte. Dezembro de 2008.