COMBATER OU CONVIVER? ANÁLISE
BENEFÍCIO - CUSTO DE PROGRAMAS DE
COMBATE A PRAGAS QUARENTENÁRIAS
Sílvia Helena G. de MirandaProfa. ESALQ-USP
Pesquisadora CEPEA/ESALQ
Contato: [email protected]
Workshop Ameaças Fitossanitárias Fortaleza – CE
25/09/14
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Roteiro da apresentação
1 – Introdução
2 – Análise Benefício-Custo
3 –Ilustrações da Aplicação da ABC
4 – Considerações Finais
Referências Bibliográficas
1 -INTRODUÇÃO
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Contextualização
Os impactos econômicos das pragas podem ser de grande magnitude, inviabilizar culturas, causar seu deslocamento, impedir exportações etc
Greening – São Paulo
Helicoverpa armigera
Ácaro vermelho das palmeiras – Raoiella indica no Caribe
A International Standards for Phytosanitary Measures (ISPM) 11 (FAO, 2006) estabelece que a ARP deve conter uma avaliação também dos impactos econômicos, sociais e ambientais
Importância da quantificação dos impactos das pragas para setor privado e público
Impactos econômicos de pragas: alguns
exemplos de estimativas
• MMA (2008): estudos realizados nos Estados Unidos, Reino Unido,
Austrália, África do Sul, Índia e Brasil => prejuízos anuais das pragas
introduzidas em torno de US$ 250 bilhões.
• Oliveira et al (2012): insetos considerados pragas causam perdas
anuais de US$12 bilhões para a economia brasileira, sendo US$1,6
bilhão devido a pragas exóticas
• Desde o final do século XIX: 24 espécies de pragas foram introduzidas no
Brasil e causaram prejuízos econômicos significativos
Defesa sanitária e questões econômicas
1 – Subsidiar decisões de intervenção dos governos, comunicação –
transparência, definição de medidas compensatórias
• Restrição orçamentária: A quantificação de impactos ajuda a amparar as escolhas
em termos de alocação de recursos
• Ações preventivas x ações curativas
2- Análise prévia de potenciais impactos econômicos, sociais e
ambientais; planejamento para atenuar impactos na infra-estrutura e
no ambiente institucional
3 – Interface com o âmbito regulatório internacional
• Potencial impacto sobre comércio internacional
• Análise de Risco de Praga: associar uma análise de impactos potenciais
econômicos e socio-ambientais (ISPM n. 11 – IPPC) – importação de materiais
vegetais
• Notificações de políticas e regulamentos fitossanitários e sanitários informadas à
OMC
Avaliação de impactos de políticas
• Com ampla abrangência, já é realidade nos países da
OCDE – através da RIA (Regulatory Impact
Assessment) ou AIR (Avaliação de Impacto
Regulatório)
• Pode ser ex-post ou ex-ante
• No Brasil: ANVISA, INMETRO e iniciativa do PRO-
REG pela Casa Civil (2007) – envolvendo diversas
agências regulatórias
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Metodologias adotadas por diversos países para AIR
Países Metodologia (AIR)
Áustria, Dinamarca,
Reino Unido Análise Benefício-custo (ABC)
Filândia ABC não completa/comparação entre os custos e benefícios
Alemanha Técnicas de monetização dos custos e benefícios
Hungria
Técnicas de monetização dos custos e benefícios/ABC se
possível
Itália Análise Benefício-custo e Análise multicritério
Holanda, Irlanda,
Espanha, Suíça Aplicação de checklists
Polônia Análise Benefício-custo ou análise de custos
Suécia Análise Benefício-custo ou análise de custos
Fonte: OECD (2004); APEC-OECD (2008)
Tipos de impactos (casos envolvendo pragas e
políticas fitossanitárias)• Impactos econômicos:
- Redução da produtividade e produção ou de plantel- Elevação dos custos de produção (manejo, inspeção)- Redução nas exportações ou proibição de comércio- Choques sobre preços domésticos ou internacionais
- Impactos sociais- Choques sobre mercado de empregos- Realocação regional de culturas e desarticulação de suas estruturas produtivas- Concentração industrial: inviabilização da pequena produção
- Impactos ambientais
- Intensificação no uso de agrotóxicos- Impactos sobre a biodiversidade- Contaminação de água e solo
- Impactos institucionais• Redução de arrecadação tributária• Alterações em orçamento ou necessidade de recursos emergenciais• Aumento da demanda sobre serviços de sanidade ofertados pelos governos
Métodos de quantificação econômica de
impactos • Estimativas com base em perdas de produtividade (e produção): Bento (2000),
Oliveira et al (2012)
• Análise Custo-Efetividade: usada quando não se tem dados para medir os benefícios
• Análise Benefício-Custo: • Possibilidade de sofisticação utilizando elasticidades e flexibilidades para estudar os efeitos das
crises fitossanitárias sobre preços; e simulações de Monte-Carlo para construir intervalos de confiança para os resultados
• Uso de instrumentos de análise econômica mais sofisticados: • Análise de Insumo-Produto (Costa e Guilhoto, 2012)
• Modelos de Equilíbrio Parcial e de Equilíbrio Geral (trabalhos internacionais e sobre Gripe Aviária - Fachinello, 2008)
• Soliman et al (2010): Avaliam o uso de técnicas para avaliação quantitativa de impacto econômico – orçamento parcial, equilíbrio parcial, insumo-produto, modelos computáveis de equilíbrio geral.
• Propõem que o orçamento parcial seja conduzido em qualquer avaliação de risco e os demais, apenas quando seus ganhos superarem os custos e incertezas.
2 –ANÁLISE BENEFÍCIO-CUSTO
Análise Benefício-Custo (ABC)
• ABC: ex-ante ou ex-post• Consiste no cálculo do Valor Presente dos Benefícios e dos Custos (tangíveis
e intangíveis) da implementação do projeto, programa ou regulamento, ao longo de um dado horizonte temporal relevante.
• Definir os cenários que serão comparados (modelo epidemiológico e impactos/segmentos a serem analisados)*
• Identificar os benefícios do controle ou erradicação da praga em cada cenário (“perdas evitadas”)
• Identificar os custos para cada cenário
• Valorar/Monetizar os benefícios e custos
• Projetar esses valores para um horizonte temporal relevante
• Comparar o Valor presente líquido (VPL) de cada cenário
Vantagens e desvantagens da ABC
• Vantagens
• Facilidade de execução
• Dados necessários
• Fácil interpretação
• Pode ser associada a outros instrumentos
• Desvantagens
• Restrita para avaliar médio e longo prazos
• Não permite analisar as relações com outras variáveis que podem
ser impactadas em decorrência dos impactos por ela medidos
Soliman et al (2010): técnicas de maior alcance requerem UM
MAIOR esforço e MAIS dados e agravam incertezas
3 – ILUSTRAÇÕES DA APLICAÇÃO DA
ABC
Exemplos de estudos no exterior
• Rautapaa (1984) examinou os benefícios e custos de manter a Finlândia
livre da mosca-minadora (Liriomyza trifolii), que ataca folhas de crisântemo;
• Pemberton (1988): estudou os benefícios e custos da erradicação da
bactéria Clavibacter michiganensis ssp. sependonicus, causadora da
mancha–anelar-da-batata.
• Vo e Miller (1995): avaliaram a possível entrada e dispersão da Bactrocera
no Caribe, América do Sul e EUA (para 12 anos de projeção)
• Calvin e Krissoff (1998): ABC + modelo de equilíbrio parcial aplicados pelos
EUA para subsidiar as decisões do USDA sobre o comércio de maçãs com o
Japão.
• Macleod et al. (2003) e Breukers et al. (2008): usaram Orçamento Parcial
para avaliar consequencias econômicas de invasão de praga quarentenária
(nível nacional)
• Peterson e Orden (2006): caso do abacate entre EUA e México
• APHIS (2010): Estudo de impactos econômicos da Lobesia botrana (traça da
videira) na California – utilizou uma ABC simplificada e enfatizou análise
qualitativa dos benefícios
Exemplos de estudos no Brasil
• Bento (2000) – avaliação geral
• Miranda et al (2010) – Mosca da carambola, Greening (ex-post) e Gripe aviária (ex-ante)
• Miranda, Adami e Bassanezi (2011) – Greening São Paulo
• Barreto et al (2011) – mosca da carambola
• Oliveira et al (2012) – avaliação geral impactos de pragas
• Oliveira (2012) – ABC do Greening (ex-ante) para a Bahia
• Adami e Miranda (2013) – seguro fitossanitário Greening
• Sanches e Miranda (2014) – cancro cítrico
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Caso 1 – Mosca-da-carambola
VPLA e relação Benefício-Custo do Programa de Erradicação da Mosca-da-
Carambola para manga, goiaba e laranja. Projeção: 10 anos (taxa de desconto-
TJLP). Em R$ de 2008
Caso 2 - Resumo dos cenários e sub cenários
simulados para o cancro cítrico (Sanches et al, 2014)
PREVENÇÃO CONTROLE DOENÇA EM EXPANSÃO SEM
CONTROLE
Cen. 1 Cen. 2 Cen. 3A Cen. 3B Cen. 3C Cen. 3D Cen. 3E Cen. 3F Cen. 4
Quantidade
de
varreduras
0 6 0 6 6 6 6 6 0
Talhões que
recebem
varreduras
0%
2x o número
de talhões
infectados
0%
2x o
número
de talhões
infectados
2x o
número
de talhões
infectados
2x o
número
de talhões
infectados
2x o
número
de talhões
infectados
2x o
número
de talhões
infectados
0%
Quantidade
de inspeções 1 1 0 1 1 1 1 1 0
Plantas
erradicadas 0
100% dos
talhões
infectados
0
20% dos
talhões
infectados
40% dos
talhões
infectados
60% dos
talhões
infectados
90% dos
talhões
infectados
95% dos
talhões
infectados
0
Taxa de
disseminação
da doença
0 Controle Expansão 80%
Expansão
60%
Expansão
40%
Expansão
10%
Expansão
5%
Expansão Expansão
Quantidade
de 0 0 5 jovens 5 jovens 5 jovens 5 jovens 5 jovens 5 jovens
0 aplicações
cúpricas
3,5
formados
3,5
formados
3,5
formados
3,5
formados
3,5
formados
3,5
formados
% de talhões
que recebem
aplicações
cúpricas
0 0
100% dos
talhões
infectados
80% dos
talhões
infectados
60% dos
talhões
infectados
40% dos
talhões
infectados
10% dos
talhões
infectados
10% dos
talhões
infectados
0
Relação Benefício-Custo calculada pela diferença entre o valor presente da
produção e o custo total de produção com diferentes níveis de preço pago pela
caixa de laranja. São Paulo, 2011 a 2030 (Sanches et al, 2014)
Acumulado
(anos)
Preço
da cx de
40,8 Kg
(R$)
Cen.
1
Cen.
2
Cen.
3A
Cen.
3B
Cen.
3C
Cen.
3D
Cen.
3E
Cen
3F
3,3 0,48 0,25 1,18 0,00 -0,07 -0,09 -0,11 -0,11
5 anos 10,5 1,54 0,80 3,76 0,00 -0,21 -0,27 -0,36 -0,34
21,1 3,09 1,62 7,56 0,01 -0,42 -0,55 -0,71 -0,68
3,3 1,54 1,22 1,16 -0,09 -0,19 -0,08 0,35 0,45
10 anos 10,5 4,90 3,89 3,68 -0,28 -0,59 -0,24 1,13 1,45
21,1 9,84 7,81 7,40 -0,55 -1,19 -0,49 2,26 2,91
3,3 2,81 2,43 1,18 -0,18 -0,26 0,03 1,18 1,36
15 anos 10,5 8,94 7,74 3,76 -0,56 -0,84 0,09 3,74 4,34
21,1 17,96 15,55 7,56 -1,12 -1,69 0,19 7,51 8,72
3,3 3,84 3,34 1,19 -0,21 -0,24 0,16 1,78 2,02
20 anos 10,5 12,23 10,63 3,79 -0,66 -0,78 0,50 5,66 6,43
21,1 24,58 21,37 7,62 -1,33 -1,56 1,01 11,38 12,92
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Caso 3 – Greening (HuangLongBing)
• Estudos realizados em colaboração com o pesquisador Renato Bassanezi – Fundecitrus
• Bactéria (Candidatus) transmitida pela Diaphorina citri (psilìdeo que se hospeda nos citros e na murta) ou por enxertia/mudas infectadas
• Comentários importantes
• Modelo epidemiológico
• Projeções e dados do Fundecitrus
• Já se observam mudanças relevantes na estrutura produtiva –desde adensamento dos plantios à concentração na produção de laranja
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Incidência de HLB em plantas por tamanho de propriedades em
SP. Fonte: dados do Fundecitrus
Fonte: extraído de Bassanezi (2012), elaborado com dados do Fundecitrus.
Resultados da ABC para o programa de defesa fitossanitária do HLB do
estado de São Paulo e do Sul do Triângulo Mineiro. Horizonte de projeção:
2009 a 2028 (Taxa de desconto TJLP)
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B/C para governo + Fundecitrus = 85,8
B/C (governo + Fundecitrus + produtores) = 6,1
Adami e Miranda (2013): Relação benefício-custo do controle
do HLB em função da produtividade média dos pomares. São
Paulo (Simulação Monte Carlo)
Atualmente:• Desenvolvimento de software para análise do HLB no âmbito de propriedades
citrícolas – parceria com Fundecitrus
• Estudo sobre potenciais impactos da Raoiella indica – parceria com Dra. Denise Navia
• Projeto CVC – Parceria Embrapa Fruticultura Tropical e Mandioca, ADAB, ESALQ
• Estudo “Avaliação do impacto econômico e socioambiental da política de defesa fitossanitária em cultivos de melão no Nordeste brasileiro: um estudo para a Área Livre de Anastrepha grandis” - pos-doutoranda Eliane Pinheiro
• Estudo “Uma proposta metodológica para a análise de impactos econômicos e sociais de diferentes tecnologias de controle de pragas na citricultura” – pos-doutoranda Andréia Adami
• Atualização do estudo para Mosca-da-Carambola – projeto TCC Breno Bícego –ESALQ/USP
4 –CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerações finais
Resultados dos estudos de avaliação de impactos econômicos podem se tornar instrumento importante de planejamento público e mesmo privado
• na regulamentação de pragas quarentenárias
• para o planejamento de investimentos em pesquisa de novos produtos, controle biológico e registro de defensivos
• para alocação de recursos para a defesa agropecuária
• negociação internacional no âmbito fitossanitário
Mesmo variando os cenários, os benefícios líquidos são significativos e a relação B/C das políticas de defesa é, em geral, alta para o Estado => PREVENIR é melhor do que CONVIVER
Do ponto de vista de adoção de instrumentos
econômicos de análise
• Definição de instrumento flexível e de aplicação viável• ARP, ou de modo mais amplo para AIR
• Importante levar em consideração estrutura administrativa e técnica existente para realizar os estudos: orçamento, equipe, objetivos das análises
• Esforços na integração de bancos de dados
• Ainda é preciso avançar na identificação, descrição e quantificação dos impactos sociais e ambientais (subestimados)
• Articulação, sensibilização e ações conjuntas público-privadas
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Algumas referênciasBENTO, J M S (2000). Comedores de Lucro. Cultivar 22: 18-21.
COSTA, C.C.; GUILHOTO, J.J. M. Impactos Econômicos do Sistema de Detecção e Eliminação Precoce de Citros com Huanglongbing. Revista de Economia e Agronegócio, v.09, n.03.
MIRANDA, S. H. G.; BARTHOLOMEU, D. B.; LIMA, L. M. Guia para Avaliação de Impacto Regulatório
com Sustentabilidade (AIR-S). FEALQ-INMETRO. 2009. (Relatório de pesquisa).
MIRANDA, S. H. G. ; BASSANEZI, R. B. ; ADAMI, A. C. O. . ABC das Ações de Defesa Fitossanitária
para o HLB em São Paulo: lições para a Citricultura do Nordeste. Bahia Agrícola, v. 9, p. 64-71, 2011.
MIRANDA, Sílvia H.G.; NASCIMENTO, A.M.; XIMENES, V.P.; BASSANEZI, R.B.. Uma Aplicação da Análise Benefício-Custo para Políticas de Defesa Sanitária: Alguns Estudos de Caso para o Brasil. Relatório de Pesquisa. 110p.2010
OLIVEIRA CM, Auad AM, Mendes SM, Frizzas MR (2012). Economic impact of exotic insect pests in
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OLIVEIRA, J.M.C. Diaphorina citri Kuwayama,1908 E Candidatus Liberibacter spp: ASSOCIAÇÃO QUE
COLOCA EM RISCO A CITRICULTURA BAIANA: uma estimativa do impacto econômico. (Dissertação
de mestrado em Defesa Agropecuária – Cruz das Almas) 2012.
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Relatório de pesquisa para Fundecitrus. Circulação restrita. Março/2012. 38p.
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assessment in pest risk analysis. Crop Protection, 29: 517–524, 2010.
VO, T.T.; MILLER, C.E. (Coord.) Viabilidade Econômica da Erradicação da Mosca-da-carambola
(Bactrocera carambolae) da América do Sul. APHIS/USDA(Relatório). Mimeo (Tradução de Regina
Sugayama).1995. 42p.