Comitê de Desarmamento e Segurança Internacional:
Militarização de Recursos Naturais
Eduardo Tomankievicz Secchi
Lucas Colombo
Rodrigo Fuhr1
1 INTRODUÇÃO
Um dos tópicos mais discutidos na Agenda Internacional, os recursos naturais ocupam
uma grande parte da atenção dos Estados no Século XXI. Somado à campanha dos Objetivos
de Desenvolvimento Sustentável, um novo leque de debates tomaram forma distantes das
questões originais de exploração do meio ambiente. Geralmente dissociada dessa discussão, a
militarização de recursos naturais – ou seja, o papel militar, estratégico e geopolítico de
recursos tanto renováveis quanto não renováveis – ainda encontra-se como um tema pouco
abordado, principalmente pela visão de que a Defesa e a Segurança Nacional tomam primazia
da preservação ambiental. Entretanto, devido às mudanças climáticas, à escassez de recursos
naturais e à dependência crescente da sociedade às matrizes energética e industrial, ambas
intensivamente baseadas em recursos naturais, esses recursos apresentam-se cada vez mais
interseccionadas com as discussões de segurança. O Meio Ambiente não mais aparece como
uma pauta de discussão em momentos de paz ou em discussões técnicas, mas como um fator
propagador de uma grande partes dos conflitos e também como um meio pelo qual a guerra se
propaga, sendo utilizado ou como armamento ou como um alvo estratégico para ataques. Dessa
forma, ter acesso, controlar e obter tais recursos apresentam-se como prioridades de todos os
Estados.
O presente trabalho, tendo em vista a importância do tema, procura compilar e organizar
o debate sobre a militarização dos recursos naturais. Para tal, primeiramente será apresentado
um breve contexto histórico que visa demonstrar como os recursos naturais foram motivos para
o surgimento de alguns conflitos e também como esses foram utilizados estrategicamente em
outros momentos. A seguir, será abordado o debate atual sobre como os recursos naturais são
utilizados em conflitos tanto domésticos quanto interestatais, evidenciando sua importância
para as discussões de Segurança Internacional. Por fim, serão elencados alguns dos
mecanismos internacionais existentes que tratam sobre o assunto, tanto em uma esfera
1 Graduandos do curso de Relações Internacionais na Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
específica de governança de recursos naturais quanto os mais gerais que versam sobre a atuação
dos Estados em situações de conflito.
2 CONTEXTO HISTÓRICO
A história dos Estados-Nações e, de uma forma mais geral, da espécie humana, está
completamente interligada com a disputa por recursos. Todas as ações bélicas e de exploração
já ocorridas, mesmo que com diferentes ideologias, podem ser resumidas a uma constante luta
por obtenção de recursos. Como exemplo, a exploração europeia de novos continentes, em
especial a África, a América e a Ásia, por mais que fossem justificadas por uma ideologia de
supremacia étnica e racial, era financiada e motivada pela busca de novos mercados e também
de novos e melhores recursos (Vaughn 2007).
Com a institucionalização crescente das Instituições Internacionais, o surgimento de
Organizações Internacionais e o novo regime internacional que versa sobre a Segurança
Internacional, o papel dos recursos em conflitos também foi tornando-se mais complexo. Não
mais os recursos naturais apresentam-se somente como causa de conflitos, mas também servem
para financiar os atores beligerantes, além de servir como um importante fator de negociação,
um elemento vital na reconstrução de Estados nos períodos do pós-guerra, uma potencial arma
com poder de destruição inequiparável, um cenário onde a guerra poderia se desenvolver com
proporções ameaçadoras e uma preocupação na própria formação dos Estados nacionais
(Bavinck; Pellegrini; Mostert 2014, Billion 2001, Billion 2004, Brown; Crawford 2008,
Vaughn 2007).
Segundo o “Barômetro de Conflitos” do Instituto Heidelberg para Pesquisa de Conflitos
Internacionais, dentre todos os conflitos internacionais de 2016, pelo menos 25% ocorreram
diretamente por questões de disputa de recursos naturais. Além disso, o Instituto também
afirma que todos os conflitos tiveram relação com o Meio Ambiente e com recursos naturais
de alguma forma, sendo impossível de discernir a sua importância nas diversas fases do conflito
e, portanto, estando presente no complexo nexo de motivações para a existência de conflitos
entre Estados (HIIK 2017). Na história humana recente, entretanto, em alguns conflitos os
recursos naturais foram especialmente importantes para a propagação de conflito ou no seu
desenrolar.
Com o fim da Guerra Fria, uma grande parcela de atores beligerantes, em especial na
África e na Ásia, perderam o seu financiamento. Não sendo mais do interesse dos Estados
Unidos, da China ou da então existente União Soviética continuar propagando esses conflitos
proxy ou “por procuração”, antigas guerrilhas, forças armadas independentes e grupos rebeldes
começaram a tomar controle da produção e da extração de recursos naturais nacionais (Billion
2001). Obter o controle da extração de petróleo foi uma das táticas usadas pelo Estado Islâmico
do Iraque e do Levante (atualmente conhecido como ISIS ou Daesh) no início de suas
operações; de forma indireta, o comércio diamantífero da Libéria financiou as ações da Frente
Revolucionária Unida (FRU) na sua ação de guerrilha na Serra Leoa.
Parecido com o caso Liberiano, o Movimento Popular pela Libertação da Angola
(MPLA) e a União Nacional para a Independência da Angola (UNITA) conseguiram atuar
militarmente na região a partir dos recursos financeiros obtidos com o comércio de recursos
naturais. Entretanto, não só entidades não-estatais utilizam-se de recursos naturais para
financiar seus conflitos; para conter o avanço da UNITA, o governo angolano utilizou-se
ativamente das divisas recebidas com o comércio de petróleo para financiar seu exército,
enquanto que o financiamento da UNITA vinha quase que totalmente do comércio de
diamantes. O conflito apaziguou não com a vitória bélica e militar de um dos lados, mas sim
com as sanções econômicas feitas aos diamantes comercializados pela UNITA, quais
reduziram as receitas do grupo rebelde e diminuíram seu número de operações. Segundo o
Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, a Guerra Civil da Angola foi um caso de
uma “guerra exemplar de recursos naturais” (PNUMA 2009, 12), onde os resultados
dependiam mais do valor econômico dos recursos comercializados do que da ação militar per
se.
De forma parecida aconteceu no conflito entre Camboja e Vietnã (1975-1989). Por mais
que os recursos naturais tenham influenciado diretamente no financiamento dos dois atores, o
conflito entre os dois Estados apresenta duas peculiaridades. A primeira dessas seria o fato de
que elites econômicas extrativistas dos dois Estados perceberam que um conflito aumentaria
suas receitas e diminuiria a regulamentação na sua exploração mineral e madeireira. A partir
disso, seus recursos não só foram utilizados para o financiamento dos atores como para dar
suporte e incentivar o escalonamento das tensões, acreditando que a guerra traria mais lucros
do que um momento de paz (PNUMA 2009). O violento conflito que se desenvolveu, então,
teve relacionamento não só com os recursos naturais, mas com a relação da população com
esses – ou seja, o monopólio da elite sobre os recursos, a exclusão da sociedade civil da política,
a corrupção e a crise civil interna tornaram a exploração dos recursos naturais ainda mais
violenta e insustentável (UNFT 2012). A segunda peculiaridade diz respeito não à guerra em
si, mas aos seus resultados: somando as consequência da exploração desenfreada com os danos
causados pela guerra, hoje mais de 70% da cobertura florestal cambojanas está desflorestada,
sem nenhuma perspectiva de recuperação (PNUMA 2009).
Por fim, outro conflito válido de ser citado é o da Guerra do Golfo (1990).
Diferentemente das supracitadas, os recursos naturais não tiveram um papel tão somente para
financiar o conflito ou foram os motivos propagadores, como foram um dos cenários no qual o
conflito se desenvolveu. Dentre as diversas táticas utilizadas, a queima de campos de petróleo
do Kuwait feito pelo governo iraquiano tiveram impactos ambientais, morais e econômicos no
conflito. Os mesmos feitos de Saddam Hussein se repetem nos dias atuais na atuação do Estado
Islâmico, qual continuamente queima campos de petróleo ou interfere com outros recursos
naturais para impedir o progresso dos seus adversários ou para postergar o conflito (HIIK 2017,
PNUMA 2009).
3 APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA
O uso de recursos naturais como ferramenta nos conflitos entre Estados e dentro dos
mesmos ganha importância conforme a escala e velocidade da produção econômica e militar
cresce. Recursos naturais que outrora eram supridos em mercados domésticos passam a ser
escassos e são obtidos no mercado internacional. Zonas ribeirinhas inexploradas ganham
importância estratégica no controle climático e na segurança hídrica (Reuveny e Barbieri
2014).
Os recursos naturais são entendidos, no presente trabalho, conforme a definição
presente em Bavinck, Pellegrini e Mostert, ao citarem Dietz:
A natureza se torna um recurso natural quando as pessoas se relacionam com a
mesma, então um recurso é uma definição social. Não é a disponibilidade e o potencial
de uso que transformam elementos da natureza em recursos, mas o real uso dos
mesmos e seus impactos na humanidade (Bavinck, Pellegrini e Mostert 2014, apud
Dietz 1996, p.33).
3.1 Os conflitos internacionais gerados pelos Recursos Naturais
Os recursos naturais são fundamentais para a construção do Estado-Nação. Servem de
matérias-primas para a produção econômica, alimentam a população e geram lucros aos seus
proprietários na medida em que podem ser vendidos e transformados, gerando produção
econômica e recursos financeiros para os Estados (Billion 2001)
O controle sobre tais recursos deriva de uma série de fatores, como capacidade das
instituições estatais, marginalidade dos recursos, proximidade das fronteiras e disputa pela sua
posse. Os recursos naturais, e os financeiros oriundos dos mesmos, são, portanto, o objetivo do
Estado, na medida em que este tenta assegurá-los, e também meio pelo qual o Estado obtém
suas capacidades.
A capacidade das instituições do Estado deriva da estabilidade das mesmas. Forças
armadas bem treinadas e submetidas ao controle social, evitando golpes e ameaças externas.
Poderes políticos (executivo, legislativo e judiciário) com autonomia para atuar e se fiscalizar,
permitindo uma maior transparência dentro do Estado. Tais instituições garantem que os
governos mantenham presença nas mais diversas porções do território, não permitindo, ou
dificultando, a possível tomada de uma parte destes recursos por potências externas.
Tal fato nos leva ao segundo ponto, a marginalidade dos recursos. Quando estes
encontram-se mais próximo à centros urbanos e capitais, torna-se mais fácil sua proteção.
Como descrito por Billion:
Um recurso próximo à uma capital tem menos chances de ser capturado por rebeldes
do que um recurso próximo à fronteiras. Os recursos podem ser classificados, então,
como próximos e distântes... rebanhos próximos à capitais administrativas e quartéis
do exército evitam o confronto entre pastores e ladrões de gado (ex. Uganda); minas
de pedras preciosas e florestas em regiões remotas ou de fronteira tendem a ser
capturadas por grupos rebeldes e serem integradas à economia do conflito armado
(ex. Camboja) (Billion 2001, p.10).
Eis que a marginalidade dos recursos se mistura com a proximidade das fronteiras.
Recursos próximos à fronteiras tendem a ser marginais, mas tem outro fator preocupante, estão
próximos de outros Estados sendo vulneráveis não só a agentes internos como externos
também. Conflitos armados entre Estados são mais propensos a ocorrer conforme recursos
importantes como terras agricultáveis, rios e nascentes, jazidas minerais e de petróleo, são mais
próximos à fronteira. A disputa pelos recursos impacta diretamente a economia de ambos os
Estados. A disputa pelo controle da nascente dos rios da Palestina levou à Invasão Israelense
das Colinas Golã, na Síria, as terras agricultáveis na fronteira da Etiópia-Somália levaram à
Guerra de Ogaden (1977-1978) entre ambos os países (Reuveny and Barbieri 2014).
Por fim, as motivações que levam à contestação de posse de recursos naturais. Nem
todos os países com recursos naturais próximo às suas fronteiras possuem atores externos
dispostos à iniciarem um conflito para sua obtenção. Diversos são os motivos, sejam eles, a
presença de tais recursos em ambos os territórios e em abundância, o baixo impacto gerado em
um país pela utilização dos recursos por outro país, ou os custos elevados de se iniciar um
conflito visando obter tais recursos, custo acima dos possíveis ganhos de seu controle.
A realidade é muito mais cinza do que a aparente dicotomia entre conflito e coexistência
pacífica. Entre presença estatal e abandono. Países desenvolvidos em geral possuem
capacidade de proteger sua integridade territorial, preservar seus recursos e, principalmente, de
usufruir dos mesmos, países pouco desenvolvidos não. A propriedade sobre recursos naturais
não necessariamente implica um bom uso dos mesmos, o que reverteria em desenvolvimento
local. Diversos são os casos em que os recursos naturais existem em abundância no território
de um país, mas são explorados por empresas estrangeiras, como em boa parte da África,
notadamente com ex-metrópoles como exploradoras (Billion 2001)
3.2 Os Conflitos Domésticos com Origem Econômica Ambiental
A baixa diversidade econômica gerada por uma economia primário exportadora, isto é,
uma economia cujos principais bens são obtidos no setor primário (agricultura, extração
mineral e vegetal, pecuária), e que os vende ao mercado internacional, torna o país menos
estável tanto em termos econômicos e políticos, como em termos sociais.(Ross 2004) A baixa
diversidade da economia torna o país mais suscetível às crises econômicas, já que o preço das
commodities2 tende a ser mais volátil do que o de bens industrializados. Petróleo se valoriza e
desvaloriza muito mais rápido que automóveis por exemplo. Soma-se à baixa diversidade a
dependência do mercado internacional. Países pouco industrializados não demandam matéria
bruta (commodities) em grande quantidade, portanto, a maior parte destes bens vai ser
demandado por outros países, em geral desenvolvidos e industrializados.
O dinheiro obtido pela venda de recursos naturais em abundância permite que governos
se descolem da sociedade, não mais necessitando de impostos provenientes da população, mas
sim de recursos advindos de empresas que extraem estes recursos. Uma parceria se forma com
tais empresas, que sustentam governos de seus interesses ao redor do planeta, geralmente
empresas de antigas potências coloniais, principalmente na África. O povo torna-se então um
empecilho às atividades do governo, que não necessita de seu apoio efetivo, apenas de sua
alienação do processo político para se sustentar no poder, o que resulta em uma ditadura
repressora que impede a população de pleitear o processo político e que se sustenta em dinheiro
obtido com recursos naturais exportados ao estrangeiro (Norman 2012)
2 Produtos brutos, extraídos da natureza e que não possuem diversificação em relação à outras regiões que
produzem o mesmo produto, isto é, são iguais no mundo inteiro. Ex: Soja, carne, carvão, petróleo, etc.
Grupos marginalizados, excluídos do processo político, tendem a disputar o poder por
meio da violência, tornando-se grupos armados, paramilitares, que buscam derrubar o governo
por meio das armas. Os recursos naturais tornam-se alvos fáceis de tais grupos armados. O
conceito de marginalidade dos recursos naturais já foi trabalhado e se aplica à grupos internos
também. Quanto mais longe um recurso está de um centro urbano ou de um quartel com
presença estatal, mais fácil a sua captura por grupos adversários. Tais recursos tornam-se fonte
de renda para grupos guerrilheiros. Como são, em geral, commodities, tais recursos possuem
baixa capacidade de detecção. É muito difícil identificar se uma tonelada de carvão, ou um
caminhão de petróleo veio de uma área controlada por rebeldes ou se veio de instalações legais
de extração nos países. Tal tática foi muito empregada pelo Estado Islâmico na guerra Civil na
Síria e no Iraque. Com um controle sobre diversos campos petrolíferos e demanda internacional
por petróleo, o grupo conseguiu se financiar para manter suas atividades primárias, ou seja, de
construir um Califado no Oriente Médio (Billion 2001; Norman 2012)
3.3 O Controle de Recursos Naturais como Arma de Guerra
Os recursos naturais podem servir não só como matéria prima para a guerra, mas como
armas para a mesma. Diversos são os casos em que combatentes utilizaram de recursos naturais
para retardar, confrontar ou exterminar os adversários.
Desde que Saddam Hussein assumiu o poder no Iraque, em 1979, o presidente iraquiano
tentou arabizar a população e marginalizar minorias étnicas. A minoria dos “Árabes do
Pântano” (Madan ou Marsh Arabs), foi perseguida pelo governo Iraquiano durante a maior
parte do século XX. O povo, com uma cultura de mais de 5000 anos de existência, vive, como
o próprio nome diz, nos pântanos alimentados pelos rios Tigre e Eufrates, na parte sudeste do
Iraque, região úmida que garantia o controle climático da maior parte do país árabe. Desde a
década de 50 os rios que outrora alimentaram tais pântanos começaram a ser drenados e
irrigados, visando melhorar a agricultura (Askari 2003)
Com a ascensão de Hussein, o processo se intensificou e a perseguição política também.
Diversos grupos foram perseguidos, mas o impacto da perseguição aos Árabes do Pântano foi
provavelmente o mais grave. A desertificação dos pântanos prejudicou o controle climático do
país. As chuvas tornaram-se mais irregulares, a agricultura foi prejudicada, os rios começaram
a assorear. O processo levou à migração de milhares de pessoas3 que antes viviam nos pântanos,
gerando uma crise humanitária (Askari 2003).
Os impactos indiretos do uso de recursos naturais como armas de guerra são graves.
Em 1938, o governo nacionalista da China, liderado por Chiang Kai Shek, temendo o avanço
japonês, decidiu explodir diversos diques e represas no Rio Amarelo. A tática já fora utilizada
ao longo da história da China, alagando grandes porções de terra, dado que é um dos maiores
rios do planeta, e foi utilizada após o rápido avanço japonês que em poucos meses havia tomado
conta da porção norte da China. O resultado final, segundo comissão do próprio Partido
Nacionalista Chinês (Kuomintang) , foi a morte, estimada, de 800 mil pessoas e a migração
forçada de quase 10 milhões de pessoas. Estimativas recentes ponderam os números para algo
em torno de 3-5 milhões de atingidos e 500 mil mortos. O resultado militar da tática foi a
desaceleração do avanço japonês por 4 meses (Dutch 2009)
Os impactos indiretos, tanto em populações civis, quanto na agricultura e no
ecossistema são os maiores resultados da utilização de recursos naturais como armas. Hussein
despejou milhões de barris de petróleo no golfo pérsico, prejudicando a pesca da população
sem retardar o avanço da OTAN. O agente Laranja lançado pelos EUA, um químico que
matava as folhas das árvores, não ajudou a vencer a Guerra do Vietnã e resultou em milhões
de pessoas com problemas genéticos, também destruindo a agricultura e desregulando o
ecossistema do país inteiro. O controle sobre os rios do Tibet, que são afluentes da maior parte
dos rios Indianos, garante à China enorme poder sobre a segurança alimentar e hídrica dos
Indianos, mas não garante supremacia militar (Bavinck, Maarten, Lorenzo Pellegrini e Erik
Mostert 2014)
A utilização de recursos naturais como água é fortemente influenciada pela geografia
da região. Destruição ou abertura das comportas de represas não tendem a ser efetivas por
dependerem muito do relevo, por exemplo. A contaminação de recursos hídricos e do solo é
uma medida que tem certo impacto no curto prazo para o resultado da guerra, mas que atinge
a população civil de maneira desproporcional em relação aos combatentes, tendo os últimos
prioridades no acesso de recursos. A Convenção de Genebra de 1977 proíbe o uso de recursos
hídricos na guerra, seja como arma ou como alvo de ações, o que não impediu a sua utilização
na Guerra Irã-Iraque e nas Guerras do Golfo (Mutter 2014)
3 Entre 300-500 mil árabes dos pântanos ocupava as regiões centrais do Iraque. Estima-se que hoje existam cerca de 1600 árabes vivendo em seus territórios tradicionais (Cole 2005)
A água é o recurso mais acessível, tanto como arma quanto como alvo de ataques,
minando o acesso à água para os adversários. Mesmo sendo o mais utilizado em conflitos, os
seus impactos são baixos em relação aos danos colaterais. Os diques na Holanda foram
utilizados contra os nazistas no seu avanço, mas também contra os aliados quando estes vinham
retomando o terreno, não impedindo em nenhum dos casos a vitória dos adversários (Mutter
2014).
Outro alvo preferencial é o abrigo e os alimentos dos soldados. O uso de armas
químicas, incendiárias e biológicas para atingi-los é a maneira mais eficiente e indiscriminada
para tal. Depois de utilizadas, estas armadas se propagam sem controle, atingindo, em grande
parte, a população civil presa no conflito. Seu uso é restrito ou proibido segundo os protocolos
da convenção de Genebra específicos para cada uma. Fósforo branco, arma química e
incendiária, é utilizado hoje contra alvos urbanos na Guerra Civil Iraquiana. Sarin na Guerra
Civil Síria. O fósforo Branco entra em combustão quando em contato com oxigênio, sendo
usado como arma incendiária e como cortina de fumaça. As pedras do composto, no entanto
podem não queimar por completo, envolvendo-se em uma crosta permitindo sua permanência
por longos períodos de tempo no solo e nas reserva de água. O composto exala um gás tóxico
chamado Fosfina, poluindo solo, água e ar, sendo também extremamente volátil e perigoso seu
manuseio. O uso de Fósforo Branco em larga escala em perímetros urbanos compromete a
segurança respiratória e dos recursos hídricos por vários anos após a sua utilização (ATSDR
1997).
4 AÇÕES INTERNACIONAIS PRÉVIAS
Tratando-se da militarização dos recursos naturais, podem-se destacar dois regimes de
ações e organismos internacionais: o primeiro, ambiental, diz respeito à utilização correta dos
recursos naturais e ao conceito de sustentabilidade. O segundo, de origem securitária, trata de
conflitos, guerras e como o Estado deve se portar no cenário internacional. Em seguida, serão
apresentados respectivamente esses dois regimes.
4.1 Regime Internacional do Meio Ambiente
Quando tratamos de meio ambiente, é difícil identificar como uma questão surge na
pauta de discussões; diferentemente do que ocorre em outros tópicos da política mundial, não
há um organizado grupo tomador de decisões, e sim um complexo regime (Keohane; Victor
2010), composto por comunidade civil (Organizações Não Governamentais), comunidade
científica (cientistas, congressos, professores) e comunidade política (Organizações
Internacionais, governos).
A comunidade científica, entretanto, foi a primeira a trazer a discussão ambiental à
pauta. As ondas de contestação na década de 1960, dentre as quais se destaca o Movimento de
Maio de 68, fizeram com que a classe média das grandes cidades, desgostosa com a crescente
poluição, tivesse respaldo para criticar o método produtivo. Portanto, as primeiras contestações
em relação ao Meio Ambiente surgiram da população, em uma relação participativa e
democrática (Duverger 1975). O envolvimento civil e científico teve seu ápice no denominado
“Clube de Roma”, grupo de intelectuais, empresários e acadêmicos que elaborou, em 1972,
relatório intitulado “Os Limites para o Crescimento”, a primeira tentativa mundial de controlar
o crescimento econômico em prol da preservação ambiental. Sua abordagem assumiu tamanha
proporção que assuntos que antes eram tidos como problemas locais conquistaram atenção no
plano nacional (Lago 2007). Essa nova dimensão torna-se mais clara quando é dada atenção à
Conferência de Estocolmo, ocorrida em março de 1972.
O que antes era tratado como pauta do movimento ambientalista, após Estocolmo
ganhou legitimidade internacional e se tornou majoritariamente assunto político e econômico,
estando ao alcance de toda a população mundial. Onde previamente se procurava um culpado
específico, passou-se a procurar uma causa sistêmica. Em plena guerra cultural e com o legado
deixado pelo Clube de Roma, o tema que primeiro recebeu atenção da comunidade política
internacional era que havia de se controlar e diminuir o crescimento de países em
desenvolvimento (Lago 2007) para impedir o aumento da escala da destruição (argumentava-
se que a matriz energética dos países em desenvolvimento era mais poluente e que o
crescimento da produção era exponencial).
O conceito de desenvolvimento sustentável, assim como vários outros, veio à vida nas
acaloradas discussões que sucederam Estocolmo. Seu fluido significado não foi definido com
precisão até que a diplomata e política norueguesa Gro Harlem Brundtland assumiu a direção
da Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento e publicou em 1987 “Nosso
Futuro Comum”, também conhecido como “Relatório Brundtland”, um marco nas discussões.
A sua definição para desenvolvimento sustentável, ratificada pela Assembleia Geral, é a
seguinte: “desenvolvimento que alcança as necessidades da geração atual sem comprometer a
habilidade das futuras gerações de satisfazer suas próprias necessidades” (Drexhage; Murphy
2010).
Em especial, o conceito de desenvolvimento sustentável vale a pena ser investigado.
Extrapolando em muito o seu significado ambiental, a sustentabilidade abrange muitas outras
formas de interações políticas, como a social, a econômica e afins (Lago 2007). Desenvolvendo
a questão, Leroy et al. (2002) afirma que o desenvolvimento sustentável dialoga com a
sustentabilidade política de um Estado, e esse somente é atingido com a democratização da
sociedade e do Estado, com participação civil constante nas decisões e discussões. Portanto,
um Estado com pouca sustentabilidade política se distanciará da exploração sustentável de
recursos naturais e fortalecerá uma elite extrativista no poder, como no caso Liberiano citada
na seção 2.
4.2 Regime Internacional Securitário
Os principais mecanismos de proteção e manutenção do meio ambiente em caso de
conflito armado são as Convenções de Genebra. Tais convenções visam a proteção da
população civil durante o período de hostilidades. A Primeira Convenção, de 1864, visa a
proteção de hospitais e médicos em períodos de guerra, criando também a Cruz Vermelha e o
Crescente Vermelho, organização internacional para assistência humanitária. A Segunda
Convenção estende os compromissos da Primeira às Marinhas. A Terceira Convenção
estabelece o direito humanitário para prisioneiros de guerra, evitando abusos e violações
graves, como homicídios em massa. A Quarta Convenção é a que protege de facto os
perímetros urbanos e o meio ambiente. É a convenção que trabalha o direito dos civis em
tempos de guerra, realizada em 1949 (Convenções de Genebra 1864, 1907, 1929 e 1949).
A Quarta Convenção de Genebra possui ainda 3 protocolos adicionais que
complementam seu texto original visando: (i) Proteção de civis em conflitos anti-coloniais,
contra segregação racial e ocupação estrangeira; (ii) - Proteção humanitária em Guerras Civis;
e (iii) - Acrescenta o distintivo do Cristal vermelho como identificador de assistência
Humanitária. As Convenções são ainda complementadas pela Convenção de Genebra sobre o
Uso de Certas Armas Convencionais (CCAC), de 1980 (CCAC 1980)
A CCAC serve como Convenção-Quadro, tendo vários protocolos que compõem o
grosso da matéria da convenção. Os protocolos restringem o uso de fragmentos não-detectáveis
como armas (I), o uso de minas e outros explosivos (II), uso de armas incendiárias (III), armas
cegantes (IV) e restos de explosivos de guerra (V). Esta convenção tem grande papel na
proteção do ecossistema, ao impedir o uso de material incendiário, que muitas vezes é tóxico e
penetra no solo e na mata, impedindo o cultivo e o reflorestamento, por exemplo. Também
restringe o uso de minas terrestres, que comprometem vastas zonas geográficas, tornando-as
muito perigosas para o cultivo e destruindo o solo, destruindo junto a fauna e a flora, caso
emblemático de países em guerras recentes como Iraque e Afeganistão, com diversos campos
minados ativos4 (BBC 2002, CCAC 1980).
A Convenção sobre Armas Químicas entrou em vigor em 1997 e também é outro
importante mecanismo de proteção dos ecossistemas. Armas químicas provocam danos
colaterais em demasia, tendo baixo grau de precisão, atingindo áreas indesejadas inicialmente.
Casos emblemáticos como uso de Gás Sarin na Guerra Irã-Iraque (1980-1988), Fósforo Branco
na Guerra civil Síria e Iraquiana e Agente Laranja na Guerra do Vietnã. Todos muito tóxicos e
com extensivos danos ao solo, prejudicando a agricultura e liberando toxinas, algumas
cancerígenas, no ar durante décadas após o fim do conflito (ATSDR 1997, CAQ 1997).
A Convenção de Modificação Ambiental entrou em vigor na segunda metade do Século
XX, em 1978, proibindo modificações ambientais e controle climático para fins militares. A
convenção é ampla e teve pouco efeito na história, não abrangendo a modificação de cursos de
água ou de poluição do solo, por exemplo (ENMOD 1976).
A Responsabilidade de Proteger (R2P) é um compromisso global assumido no Encontro
de Verão da ONU em 2005, buscando prevenir e combater crimes contra a humanidade,
genocídios, graves violações de direitos humanos, crimes de guerra e limpeza étnica. A R2P
compromete os Estados-Membros da ONU, que assumiram o compromisso, à agirem
preventivamente e peremptoriamente, por meio de intervenções diretas e indiretas, visando
impedir que tais crimes se concretizem, justificando intervenções inclusive militares (GCR2P
2017) .
A proteção deriva do fato de que certos crimes e violações ferem não só o direito
nacional como o direito internacional, lesando a humanidade como um todo, como é o caso do
genocídio, visando extinguir uma determinada população do planeta. Não há consenso sobre
como mensurar a gravidade de um crime para que este justifique uma intervenção internacional
em determinado país ou não. A definição do R2P também não é imutável, não somente
trabalhando com crimes de guerra e genocídios. O compromisso é criticado pelo seu caráter
político e relativo. A intervenção se justifica mais pela força do ator que tenta justificar do que
pelo argumento jurídico. Danos ambientais poderiam, portanto, facilmente serem enquadrados
4 Estima-se que pelo menos 500 mil minas estavam ativas no país antes da invasão americana em 2001) (BBC
2002).
como crimes contra a humanidade, dependendo da sua dimensão, justificando, com o R2P, uma
intervenção armada por exemplo (Evans 2009).
5 QUESTÕES PARA PONDERAR
6 BLOCOS DE POSICIONAMENTO
A República Islâmica do Afeganistão situa-se no sul do continente asiático. Ainda
que receba chuvas habituais e neve que se junta às vertentes fluviais quando do derretimento,
dois terços da água do país escorrem para os vizinhos Irã, Paquistão e Turcomenistão, sendo
este um aspecto-chave a ser remediado pelas autoridades do país, cuja predominância
econômica reside na agricultura (Jones 1992). A deposição do governo Talibã no Afeganistão
deu início a conflitos armados na fronteira com o Paquistão, atribulando a histórica relação
diplomática entre esses países, aspecto esse a ser levado em conta pelos afegãos quando
decidirem por estabelecer ou não um controle sobre a quantidade de água que é escoada ao país
vizinho. O Afeganistão conta com o apoio financeiro e a aliança econômica para sua
reconstrução de países como os Estados Unidos da América, a Arábia Saudita e a Rússia.
A República da África do Sul é cofundadora da União Africana e a segunda maior
economia do bloco. A África do Sul é a 142ª dentre 179 países no ranking de disponibilidade
de fontes renováveis de água per capita (FAO), atrás de dezenas de outros países, inclusive
africanos, com economias ainda a se desenvolverem. Portanto, é de fundamental importância
para o país que medidas ambientais tais quais o controle do consumo de água, a conservação
dos escassos rios e lagos e a atenção ao aquecimento global sejam criadas e seguidas, de
maneira a preservar o já semiárido clima da região (CIA 2017f).
A República de Angola está localizada na costa ocidental da África, com litoral no
Oceano Atlântico. A economia angolana é a maior produtora de petróleo na África, sendo o
petróleo bruto responsável por 97% das exportações do país (Queiroz 2017). Boa parte dos
recursos petrolíferos angolanos encontram-se na província de Cabinda, cujo movimento
separatista perdura por décadas, sendo de fundamental importância para Angola que a região
situada ao norte, em fronteira com o Congo e a RD Congo, seja mantida em sua posse.
O Reino da Arábia Saudita está localizado no Golfo Pérsico, com uma economia
baseada fundamentalmente na exploração e exportação de petróleo. A produção saudita é a
maior do mundo, sendo, inclusive, capaz de influenciar diretamente nas políticas adotadas pela
OPEP e por demais países membros. Ainda que haja a abundância natural desse recurso, por
outro lado a água é extremamente escassa no Reino. Um total de 98% da água saudita é oriunda
de aqüíferos subterrâneos, cuja existência, segundo estimativas nacionais, não ultrapassará 15
anos caso o uso se mantenha inalterado (CIA 2017). O Iraque, fronteira com o norte saudita,
possui disponibilidade de água per capita acima da média global, entretanto a conflituosa
relação diplomática entre os países e a barreira artificial erguida pelos sauditas contra a entrada
de iraquianos são empecilhos a serem contornados. Do mesmo modo, ambos os países são
rivais no fornecimento de petróleo aos EUA, o que deve fazer do petróleo um elemento-chave
na busca do Reino Saudita pela água.
A República da Armênia está totalmente localizada na Ásia, porém é com a Europa
que mantém a maioria de seus laços políticos e sociais. A geração de energia para a indústria
de base e para o consumo da população depende diretamente da importação de combustíveis,
carvão e gás natural, cujo transporte exige a melhora na relação diplomática com a Turquia e
o abrandamento das regras aduaneiras. O conflito histórico com o Azerbaijão na região de
Nagorno-Karabakh - região autodeclarada autônoma, porém não reconhecida
internacionalmente – configura instabilidade na fronteira oriental armena, sendo de
fundamental importância que essa área montanhosa e de floresta densa seja controlada
militarmente de forma a assegurar a hegemonia fronteiriça da República da Armênia em
relação ao território azeri.
A República do Azerbaijão localiza-se entre o sudoeste asiático e o leste europeu,
sendo costeira ao Mar Cáspio. É objetivo primordial da diplomacia azeri reassumir as regiões
do Nagorno-Karabakh – por direito pertencentes ao país, porém hoje autorreguladas ou
controladas pelas forças armadas da Armênia. Dois terços do território do Azerbaijão estão
sobre reservas de petróleo ou gás natural, o que dá uma importância econômica considerável a
essas áreas em disputa. Em paralelo a isso, o oleoduto Baku-Tbilisi-Ceyhan (BTC) atravessa o
território azeri em direção à Turquia, o que garante um fornecimento de petróleo constante e
financiador da economia do país. Assim, a segurança das fronteiras disputadas ao norte com
Geórgia e Armênia, trajeto do oleoduto, devem ser mantidas em prioridade.
A República Popular do Bangladesh situa-se na Ásia central, compondo uma das
maiores linhas de fronteira do mundo com a Índia. A maior parte da água doce do país está
contaminada devido ao baixo saneamento básico ou à contaminação por arsênio, dando uma
relevância maior aos rios localizados na fronteira com a Índia (Rashid 2010). Uma vez que
esses rios são a maior fonte de água bengalesa, diversos tratados com o governo indiano foram
assinados ou estão em tratativas, seja para a preservação bilateral das nascentes ou para que o
comércio marítimo realizado através deles tenha controle, sem comprometer seus potenciais de
abastecimento.
A República Federativa do Brasil é o maior país da América do Sul, fazendo com
fronteira com um total de 10 países. Tanto a boa relação entre os países do MERCOSUL quanto
a extensão das terras fronteiriças fez com que os limites brasileiros não fossem tão protegidos
quanto deveriam. A questão mais preocupante é a da região Amazônica, onde a abundância de
madeira nativa, água doce, ouro, reservas fósseis, diamantes e outros recursos naturais de
extremo valor no mercado só podem ser preservados caso haja a fiscalização intensa de ambos
os lados da fronteira. A zona mais crítica é o ponto congruente entre Brasil, Colômbia e
Venezuela, onde o tráfico biológico, de minerais e de drogas é intenso via afluentes do Rio
Amazonas e por mata fechada (Pieranti 2007). O Brasil tem se esforçado para dedicar recursos
à preservação e fiscalização da Amazônia, mas preza pela cooperação dos demais países
amazônicos em prol do fornecimento multilateral de segurança ao território.
O Reino do Camboja dispõe de recursos naturais economicamente exploráveis tanto
em mar quanto em terra, porém o belicoso período histórico do Khmer Rouge reduziu
significativamente suas reservas terrestres - a cobertura florestal cambojana diminuiu pela
metade de 1969 até 1995 (Mydans 2017). Atualmente, cabe ao país a exportação de
commodities para sustentar a economia. Recentes descobertas de petróleo e gás natural no
Golfo da Tailândia e no Mar do Sul da China devem tornar o litoral cambojano foco de
exploração petrolífera para companhias internacionais. Com 443 km de litoral, a costa
cambojana já é um ponto de interesse para a extração petrolífera, ao passo que sua soberania
marítima fica posta em xeque a leste pelo Vietnã e a oeste pela Tailândia, cujo interesse pelos
recursos naturais da área pode gerar conflitos na região do Golfo.
A República do Chade é um país localizado no centro do continente africano, sem
litoral e com boa parte do território no coração do deserto do Saara. As fronteiras do Chade,
bem como da maioria dos países africanos, não está limitada por estruturas naturais, devido ao
legado colonial africano. O fundamento da economia chadiana é a exportação de petróleo
extraído no sul do território, próximo à fronteira com a Nigéria, onde encontra-se a segunda
maior reserva de água da África, o Lago Chade (CIA 2017a). Uma vez que a água e o petróleo
oferecidos pelo lago são fundamentais para a subsistência do país, mantê-lo sob tutela do Chade
é prioridade para o governo.
A República Popular da China é o país mais populoso do mundo, com a economia
mais industrializada do planeta e o maior expoente diplomático da porção oriental do globo. A
maior preocupação chinesa divide-se em duas frentes: a escassez de água para sua população
de 1,3 bilhão e a necessidade constante de aumentar a produção de energia. Com isso em vista,
diversas represas têm sido construídas pelo governo chinês, como a hidrelétrica das Três
Gargantas e as barragens no rio Mekong, que cruza seis países do leste asiático. Essas
iniciativas colaboram pontualmente para o desenvolvimento econômico chinês, porém alteram
significativamente o fluxo fluvial da região e comprometem a disponibilidade hídrica dos
países aos quais os rios modificados abastecem, como o Vietnã, a Tailândia, o Camboja e a
Índia. A China preza pela manutenção da soberania histórica de seu governo sobre ilhas e
regiões ao longo do Mar do Sul da China, área militarmente estratégica e ponto-chave mundial
para a exploração petrolífera, bem como para o transporte marítimo de produtos chineses para
o resto do mundo. A China faz parte da Declaração de Conduta do Mar do Sul da China (DOC-
ASEAN), porém demais países membros tais quais Indonésia e Vietnã não reconhecem a
soberania chinesa nos arquipélagos da região.
A República da Colômbia é o segundo país mais populoso da América do Sul. O
tráfico de cocaína colombiana é freqüente na região amazônica, ao passo que vários dos rios
colombianos deságuam no Amazonas, esta rota facilita o acesso ao mercado brasileiro e do sul
da América. Deste modo, a cooperação entre Brasil e Colômbia na fiscalização e controle do
transporte fluvial na região é indispensável e precisa ser incrementada, bem como a preservação
das áreas florestais na fronteira entre os países e os recursos naturais nelas contidos. Noutro
contexto, a fronteira ao norte com a Venezuela ainda é palco de disputa territorial. O impasse
se dá no Golfo da Venezuela, onde a soberania marítima de ambos os países não está clara e
por onde passam boa parte dos cargueiros transportadores de petróleo venezuelano.
A República Democrática do Congo e a República de Ruanda estão localizados na
porção central da África. Esses países sofrem desde o início do século XXI com conflitos
armados na região do Kivu, incluindo-se aí o Lago Kivu, região da fronteira. Ainda que os
conflitos tenham fundo étnico e cultural, a abundância de ouro, cobalto e metano na região é
um motivador a mais – estima-se que 500 milhões de dólares em pepitas de ouro são
contrabandeados na região todos os anos (Turner 2015). É indispensável para a economia e
para a soberania congolesa que essa área seja controlada, de maneira a preservar os recursos
naturais do país e frear a exploração ilegal. Para isso, o país preza pela colaboração dos vizinhos
ruandeses na manutenção do Lago Kivu e das áreas fronteiriças entre os países, ricas em
minérios. Do mesmo modo, a disponibilidade de metano e dióxido de carbono no Lago Kivu
são uma esperança para Ruanda, onde até 2009 apenas 6% da população tinha acesso à
eletricidade.
A República da Costa do Marfim é um país localizado na costa atlântica do continente
africano. A economia marfinense se resume à exportação de produtos primários como café,
cacau e marfim, e commodities como o ouro, a bauxita e o petróleo (CIA 2017c).
Recentemente, a já escassa quantidade de água potável do país teve suas reservas ainda mais
reduzidas, uma vez que a indústria mineradora de investimento internacional no país aumentou
os índices de poluição nos rios, prejudicando o abastecimento de água aos principais centros
urbanos do país, como Abidjan e Tengrela. A Costa do Marfim precisa incrementar a
fiscalização e as políticas de controle em relação à extração mineral em seu território,
apresentando soluções que conciliam a saúde da população com o capital estrangeiro. Para tal,
o governo marfinense conta com a ajuda dos aliados africanos, dos EUA e da França.
A República da Coreia está situada no oriente asiático, ao sul da Península da Coreia.
O país tem uma das economias mais industrializadas do mundo e é membro fundador da
ASEAN. Entre suas preocupações de defesa nacional, está o conflito intermitente com a Coreia
do Norte. Ainda que a Zona Desmilitarizada tenha neutralizado as agressões, os dois países
ainda disputam áreas oceânicas e fluviais localizadas entre os dois territórios (Walker 2011).
Para a Coreia do Sul, interessa dificultar o acesso de barcos de transporte do vizinho ao norte
para prejudicar a atividade importadora e exportadora do país, de forma a reforçar a tendência
de embargos contra a Coreia do Norte.
A República Popular Democrática da Coreia é uma república socialista localizada
no sudeste asiático. A Coreia do Norte, tendo em vista os embargos econômicos aplicados a si
na esfera do comércio internacional, depende fortemente do auxílio de sua aliada política, a
China. À exemplo, o Rio Yalu, que divide os dois países, contém diversas usinas hidrelétricas
cuja geração de energia é dividida igualmente entre os países, o que dá ao rio uma importância
significativa aos norte-coreanos. Paralelamente, o Rio Tumen também se encontra na linha de
fronteira sino-coreana e deságua no Mar do Japão, o que dá ele um importante caráter de
transporte de importação e exportação coreanas. Dessa forma, é fundamental para a Coreia do
Norte que a boa relação de divisão dos recursos naturais com a China seja mantida, bem como
que as conversas com os vizinhos sul-coreanos se mantenham amistosas o suficiente para que
os rios que atravessam ambos os países sejam utilizados de maneira estratégica pelos nortistas.
A República Árabe do Egito é um país transcontinental, tendo grande influência
política e econômica no norte da África e no sudoeste da Ásia, principalmente entre demais
países árabes. O território egípcio é o quarto em termos de menor disponibilidade de água per
capita, tornando a população extremamente dependente do Rio Nilo para agricultura, geração
de energia e subsistência (Hamza 2003). O Egito tem em seus desertos a maior proteção natural
contra seus vizinhos, principalmente na fronteira com Israel e a Faixa de Gaza. O país é sede
da Liga Árabe, tendo boa relação com países como a Arábia Saudita e Irã, estando disposto a
auxiliá-los nas suas reivindicações por recursos naturais no Golfo Pérsico e de materiais
nucleares.
Os Estados Unidos da América são a maior economia nacional do planeta (CIA
2017i). Corriqueiramente, fazem uso de intervenções estrangeiras para assegurar sua condição
política e econômica favorável. Essas ações, verificadas no Afeganistão, Iraque e Vietnã
contaram com a utilização de armas químicas absolutamente prejudiciais ao meio ambiente e
à vida civil nesses países, à exemplo, o Agente Laranja, utilizado pelos americanos na Guerra
do Vietnã e responsável pela devastação de florestas e má formação genética na população
local. Ademais, o financiamento do país a grupos paramilitares em regiões de conflito no
Oriente Médio e na África fomenta o contrabando e a exploração ilegal de commodities, como
o ouro e o petróleo. Dessa forma, fica claro que os Estados Unidos da América têm um legado
histórico danoso ao ecossistema e às reservas naturais dos países nos quais se envolveu.
O Japão é um país totalmente insular do leste asiático. Sua economia industrial
desenvolvida e a autossuficiência agrícola dão ao país um caráter de potência global. O governo
japonês reivindica a posse de porções de terra nas Ilhas Kuril, ao norte do país, hoje sob
soberania russa (TWF-CIA). As ilhas são prósperas em ouro, prata, petróleo e são o maior
depósito de rênio do mundo – elemento fundamental para a elaboração de equipamento militar
de alta performance. A indisponibilidade de recursos naturais no Japão faz das Ilhas Kuril um
importante objeto de interesse para impulsionar o mercado de commodities local. Já ao sul, o
Japão faz coro às posições dos Estados Unidos e demais países do Golfo Pérsico, que não
reconhecem a possessão imposta pela China sobre águas e arquipélagos no Mar do Sul da
China.
A República da Índia é o segundo país mais populoso do mundo, situado ao sul da
Ásia e possuidor do maior litoral ao Oceano Índico do continente. A diplomacia indiana focou-
se nos anos recentes em aprimorar suas relações com os países do BRICS e com demais países
em desenvolvimento do oriente global. Todavia, o conflito na Caxemira vem atribulando as
relações entre Paquistão, Índia e China desde o princípio do século XX. A região contempla as
nascentes dos rios Ganges e Indo, de vital importância para o abastecimento hídrico do país,
sendo de extrema relevância para a Índia manter-se ativa na região. Ao mesmo tempo, represas
chinesas estabelecidas no território do Tibete têm potencial para cortar o fornecimento de água
para o norte indiano. Dessa forma, é imprescindível para a Índia que tratados e bons termos
com estes países sejam mantidos, de forma a preservar o abastecimento hídrico no país.
A República da Indonésia é o maior país do sudeste asiático, com significativa parcela
do seu território composto por ilhas e arquipélagos. A Indonésia tem quase 50% de sua
economia voltada para a indústria, sendo a exportação de manufatura e petróleo componentes
chave para sua ascensão. Ao mesmo tempo, a Malásia tem na exploração do petróleo em seu
litoral o carro-chefe da sua economia (CIA 2017e). Assim, o conflito do Mar do Sul da China
afeta diretamente esses países, que veem sua soberania marítima ameaçada pelas
reivindicações chinesas em arquipélagos ao norte dos países. Do mesmo modo, conflitos nessa
área ou a posse militar de rotas marítimas comprometeriam o transporte de entrada e saída de
bens. Indonésia e Malásia contam com o suporte e o objetivo comum de países da ASEAN
como Vietnã e Tailândia na busca pela defesa de seus domínios sobre o Mar.
A República Islâmica do Irã é o segundo maior país em área do Oriente Médio, tendo
na falta de disponibilidade de água doce o maior desafio de segurança humana em sua
responsabilidade atualmente. Ao governo iraniano, surgem como alternativas a disponibilidade
de água em abundância no vizinho Iraque, assim como as correntes de água oriundas do
Afeganistão que desaguam em terras do Irã (Jones 1992). Portanto, o país preza pela
manutenção das vertentes naturais dos rios da região, livres de barragens e represamentos
afegãos, bem como valorizam a cooperação entre os países da região no que tange à escassez
de recursos fundamentais para a subsistência humana.
A República do Iraque está localizada no Golfo Pérsico, tendo a segunda maior
reserva de petróleo comprovada do mundo e maior disponibilidade de água per capita do
Oriente Médio (CIA 2017b). Estas características fazem do país um importante membro da
OPEP, atraindo o interesse das grandes potências mundiais para suas reservas fósseis e a
atenção dos países da região cuja disponibilidade de água doce é escassa, como o Reino da
Arábia Saudita e Irã. Sendo assim, é interessante para o Iraque que os recursos naturais da
região sejam utilizados exclusivamente pelos países de direito, ao passo que sua
autossuficiência em água e petróleo o colocam como potência exportadora e economia
emergente na porção ocidental da Ásia.
O Estado de Israel tem uma das economias mais desenvolvidas do sudoeste asiático,
sendo o principal aliado dos Estados Unidos da América na região. O país ocupa a posição 172
entre 179 países no que tange à disponibilidade de água per capita, fazendo da conservação e
obtenção de novos recursos hídricos de fundamental importância ao país. Em matéria de
armamento nuclear, Israel é amplamente considerado possuidor de materiais nucleares, mas
não é signatário do Tratado de Não-Proliferação Nuclear. Ainda que tenha apoio de potências
da América e da Europa, o governo israelense considera-se inimigo de diversas nações com as
quais faz fronteira, como Síria e Arábia Saudita – de maioria islâmica -, fazendo dos objetivos
envolvendo recursos naturais de obtenção complicada quando consideramos os desafios
diplomáticos do país (Miller 2005).
A República Federal da Nigéria está localizada na África ocidental, apresentando a
maior população e a maior economia do continente. O país é membro da OPEP e um dos
maiores exportadores de petróleo do mundo, possuindo as 10 maiores reservas comprovadas
do material (OEC 2017a). Ao nordeste do país, o extremismo islâmico vem se alastrando e
passa a controlar cada vez mais cidades da região pela ação do Boko Haram. Já ao sul, no Delta
do Rio Níger, governo nigeriano, multinacionais produtoras de petróleo e grupos étnicos locais
estão em conflito desde a década de 90. Dessa forma, a Nigéria vê-se inserida em uma contenda
interna em cerca do petróleo, sendo imprescindível que se busque auxílio dos países vizinhos
africanos ou da comunidade internacional para resolução desses conflitos.
A Federação Russa é o maior país em área do planeta, ocupando territórios da Europa
e da Ásia. O petróleo e o gás natural russos são os principais componentes da economia
nacional, tendo a Europa como principal consumidor, cuja dependência das reservas, oleodutos
e gasodutos russos é enorme (Kosachev 2004) A União Europeia busca fontes alternativas em
países como a Ucrânia, por onde passam boa parte dos gasodutos da Rússia. Dessa forma, é
primordial para a Rússia que seus dutos sejam mantidos em funcionamento pelos países
vizinhos. Em termos territoriais, reservas minerais e fósseis são abundantes nas Ilhas Kuril, ao
sul do território (CIA 2017d). Esse arquipélago é controlado pela Rússia, mas é reivindicado
pelo Japão e coloca em risco a soberania russa sobre os recursos naturais nas ilhas em disputa.
A República Árabe da Síria é um país em guerra civil localizado no Oriente Médio,
com litoral para o Mar Mediterrâneo. A Síria depende economicamente da agricultura e do
petróleo, visto que as reservas fósseis do Mediterrâneo e as terras férteis próximas do Eufrates
dão ao país privilégios naturais (CIA 2017g). Ao mesmo tempo, as linhas de crédito oferecidas
pelos parceiros Irã, China e Rússia são indispensáveis para a Síria se sustentar no período
instável atual. Em 2017, outro caso envolvendo armas químicas ocorreu no país, havendo até
hoje um impasse acerca de quem foi o real responsável pelas mais de 50 mortes ocasionadas.
A República do Tajiquistão é o menor país em termos de área da Ásia Central e não
tem nenhum contato com o mar. O país é um dos mais pobres do continente, com uma
economia dependente da exportação de bens agrícolas e com preocupante déficit energético
(CIA 2017h). Do mesmo modo, a República do Uzbequistão tem uma economia
extremamente ligada à agricultura. O país é um dos maiores exportadores de algodão do
planeta, dependendo para isso da manutenção dos rios que abastecem o país (OEC 2017b). A
relação atribulada entre os países envolve, dentre outros assuntos, a disputa pela água na região.
Ao passo que o Tajiquistão tem projetos para construir represas e hidrelétricas nos rios que
cruzam os dois países, o represamento secaria rios no território uzbeque e prejudicaria a
agricultura da região. Dessa forma, cabe ao governo tajique encontrar soluções para a falta de
energia e conciliá-las com as necessidades de seus vizinhos do Uzbequistão, que prezam pela
manutenção das correntes fluviais naturais.
A Ucrânia é um país do sudeste europeu, com limites estrategicamente importantes
com a Federação Russa e o Mar Negro. A tomada da Crimeia pela Rússia, em 2014, tornou
instável a situação ucraniana, que tinha boas relações tanto com a Europa Ocidental quanto
com os vizinhos russos. A energia ucraniana é dependente de recursos nucleares e dos
combustíveis fósseis russos - uma interrupção provocada pela Rússia no fornecimento de
petróleo e gás para a Ucrânia geraria um colapso energético no país -, portanto o país deve
prezar não só pela retomada do território perdido, mas também pela manutenção das relações
econômicas com o país vizinho.
A República Bolivariana da Venezuela tem as maiores reservas mundiais de petróleo
e gás natural, bem como a maior reserva de ouro do continente americano. Todavia, a crise
social e econômica do país o coloca em situação sensível em relação a sua soberania. Há uma
intensa crise migratória em direção à Colômbia, via travessia do Rio Arauca, ponto a ser
solucionado de forma conjunta por ambos os países. A porção amazônica da Venezuela é rica
em recursos naturais, como água doce e minérios, o que faz da região alvo do contrabando e
da exploração ilegal. Dessa forma, em conjunto com os demais países da Organização do
Tratado de Cooperação Amazônica, o governo venezuelano deve atentar às atividades ilícitas
realizadas na sua região fronteiriça e deve responder às cobranças exercidas pelos países
limítrofes.
A República Socialista do Vietnã está localizada no leste da península da Indochina,
sendo um dos carros-chefe da ASEAN. A economia vietnamita é consolidada e está em rápido
crescimento, com significativas exportações de produtos agrícolas e de petróleo bruto. Ainda
que a relação sino-vietnamita tenha sido positiva desde o fim da União Soviética, recentemente
as disputas no Mar do Sul da China atribularam as conversas. Ao passo que a China reivindica
ilhas e recifes distantes de seu território através de justificativa histórica, o Vietnã não abre
mão de sua soberania marítima e ocupa militarmente as regiões disputadas. Do mesmo modo,
diversas correntes fluviais que deságuam no Vietnã foram alteradas por barragens e represas
chinesas em suas nascentes, o que torna o abastecimento hídrico do país submisso ao controle
da China sobre a corrente desses rios.
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