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Curso de Extensão: Governança Metropolitana Colaborativa. PUC-Minas; Universidade de British Columbia CHS/UBC – Canadá Arranjos Institucionais na Região Metropolitana de Belo Horizonte José Moreira de Souza
Reflexões de trajeto
Estava a caminho quando me lembrei da referência que Henri Lefebvre faz à
obra Bouvard e Pecouchet – dois patetas iluminados, de Gustave Flaubert.
Nessa obra, Flaubert narra as peripécias de dois personagens que vivem na
França no século XIX e que assistem a momentos cruciais da vida sem se dar
conta de sua importância. Diria que são consumidores de ideologias em conflito.
Revoltas e revoluções, inovações técnicas, padrões de consumo, cientificismo e
espiritismo kardecista, tudo isso perpassa a vida desses dois patetas. Pensando a
questão metropolitana, me dei conta de eu ter sido um desses patetas.
Introdução
Começo minha exposição fixando os seguintes momentos.
1970 – Governo do estado – Israel Pinheiro - contrata estudo técnico para delimitação
da Região Metropolitana de Belo Horizonte.
1971 – 14 municípios assinam um convênio que dá origem ao PLAMBEL – Plano
Metropolitano de Belo Horizonte. A instituição que vinha sendo pensada desde os
movimentos pela Reforma Urbana no período pré-sessenta e quatro e que encontrou
acolhida na Secretaria de Estado do Trabalho e Cultura Popular – Governo Magalhães
Pinto – torna-se uma diretoria na Fundação João Pinheiro.
1993 – Em obediência à criação da Assembléia Metropolitana – AMBEL - reúnem-se
os conselheiros no auditório Idamar Siqueira da Cruz Gouveia, no PLAMBEL O
Diretor de Planejamento submete à apreciação do novo colegiado uma proposta de
elaboração do Plano Diretor da RMBH como previa a Constituição do Estado de Minas
Gerais. Um conselheiro, vereador pelo município de Belo Horizonte, declara a
intempestividade da proposta proveniente “de um órgão autoritário” que serviu à
ditadura.
1995 – O governo Azeredo decide extinguir o PLAMBEL. A mesa diretora da AMBEL
solicita a essa autarquia a elaboração do Plano Diretor Metropolitano e argui o
representante do Governo do Estado sobre o sentido dessa medida, tendo em vista a
importância do PLAMBEL para os municípios metropolitanos.
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1999 (?) – Um grupo de técnicos cria o Instituto Horizontes que batalha pela criação de
um Plano Estratégico para a RMBH.
2007 – 20 e 21 de agosto. Realiza-se a 1ª Conferência Metropolitana da Região
Metropolitana de Belo Horizonte. O encontro se encerra com Lançamento da Frente
Parlamentar Mineira em prol da RMBH; Posse do Conselho Deliberativo de
Desenvolvimento Metropolitano; Assinatura do decreto de regulamentação do Fundo
Metropolitano; e entrega do projeto de lei de criação da Agência Metropolitana.
Divido o trabalho em três partes. Na primeira, abordo rapidamente a formação das elites
mineiras e a instituição de Belo Horizonte como cidade síntese das Minas Gerais. Nesta
parte, argumento que, em Belo Horizonte, a ação do governo do estado se faz sempre
presente, como município metropolitano desde a sua concepção. O poder local deverá
sempre interpretar essa intenção.
Na segunda parte, chamo a atenção para os momentos da conurbação e os conflitos que
enseja na coordenação da ordem local. Argumento em favor da discussão pela
necessidade do planejamento e gestão metropolitana e insisto no privilégio de inclusão
no diálogo de alguns agentes, em detrimento de outros. Esta é a parte central deste
trabalho.
A terceira e última parte, discorre sobre os pressupostos de fundação de uma
“Consciência Metropolitana”. Aqui a atenção principal é dedicada à questão dos
discursos que institucionalizam ou validam o exercício do poder. Para tornar
operacional esta exposição examino a formação da Região Metropolitana legal sob o
aspecto das formas de comprometimento com o processo de metropolização.
Pretendo concluir argumentando que os arranjos de gestão metropolitana falham quando
enfatizam uma ou mais esferas do poder político sem atenção para os conflitos
institucionais latentes na ordem normativa e quando não incluem os segmentos da
sociedade civil. Fundamento minha exposição baseado na hipótese de que uma gestão
não conjuntural de uma região metropolitana exige a presença de uma “Consciência
Metropolitana”.
1. Belo Horizonte: cidade síntese das Minas Gerais.
No ano de 1956, a, então, Universidade de Minas Gerais promoveu o Segundo
Seminário de Estudos Mineiros. Três aspectos abordados nesse seminário chamam a
atenção para nosso tema. O primeiro é a fala do ex-governador do Estado, Milton
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Soares Campos que discorreu sobre o “Papel de Minas no Brasil”; o segundo é o
discurso de Washington Peluso Albino de Souza, que tratou das “Perspectivas atuais da
Economia Mineira”; e o terceiro é a palestra de Cid Rebelo Horta, sobre “Famílias
governamentais de Minas Gerais”.
Fico apenas com essa última palestra. Esse autor examina as famílias dominantes em
Minas Gerais e enfatiza:
Os principais hoje em Minas são, via de regra, descendentes dos
“homens bons” da Colônia. A persistência da estrutura econômica de
uma mesma classe dominante, apenas acrescida no tempo pela
contribuição reduzida de elementos novos que nela se absorveram pelos
laços de parentesco, decorre da continuidade da estrutura econômica,
toda ela ligada ao senhorio da terra, seja no tempo da mineração, seja
no ciclo de nossa economia rural.
A essa persistência na estrutura econômica deve acrescentar-se o
sistema eleitoral e político que vigorou desde a Independência, todo ele
feito para garantir a concentração do poder local nas mãos do senhorio
rural. P. 59.
Adentramos o século XXI e já quase vencemos a primeira década. Cabe a pergunta, o
que mudou?
Minas Gerais se tornou mais urbanizada. Quando Cid proferiu sua palestra, a população
de toda a RMBH atual registrada pelo Censo de 1950 não havia alcançado 500 mil
habitantes. O segundo município mais populoso era o de Nova Lima, com 22.000
habitantes, Contagem tinha pouco mais de 6 mil moradores e Betim algo como 11.500.
Isso quer dizer que os efeitos das levas migratórias com exceção de Belo Horizonte,
ainda não haviam afetado em nada a composição das elites locais.
À parte a elevada taxa de crescimento da capital na década de quarenta – 6% ao ano,
que se manterá quase constante até os anos setenta, como capital, Belo Horizonte teria
que ser dirigida por elites que interpretassem essa cidade como síntese das Minas. O
compromisso com a cidade planejada, sempre em atualização deveria compor a agenda
dos dirigentes, encomendando estudos pautados pelos resultados das “Reuniões
Regionais das Classes Produtoras Mineiras1”, no bojo do Plano de Recuperação
Econômica do Estado de Minas Gerais. Nada de Novo. Os anos 40 repetem o
1 ALBINO DE SOUZA, Washington Peluso. “Perspectivas atuais da Economia Mineira” in Segundo Seminário de estudos Mineiros. P.96.
4
Congresso Agrícola, Industrial e Comercial, coordenado por João Pinheiro em 1903, os
congressos das municipalidades mineiras, concebidos por esse mesmo personagem
quando presidente do estado. Ouvir ou obter a aprovação das classes produtoras é um
expediente velho conhecido das elites.
A força do poder local, já se mostrara nos anos iniciais da república oportunidade em
que os municípios deliberaram Constituições Municipais, criaram conselhos distritais
com orçamento próprio e determinaram uma reunião anual da Assembléia Municipal, a
qual deveria aprovar as contas do chefe do executivo2.
Retomando o discurso de Cid Horta, vale fixar que o padrão “Coronelismo, enxada e
voto”3 que orienta o palestrante e explicita o que se chamou também de “mandonismo
local na vida política brasileira4”tem sua expressão nos arranjos políticos de Minas
Gerais. Desses trabalhos há que fixar um ponto que se mostra no discurso recente da
Reforma do Estado – a Gramática Política do Brasil – o patrimonialismo e seu poder de
estruturação da ordem política. Como se formam as elites políticas, que programas
defendem, a quem representam, a quem se reportam diretamente e a que estão dispostas
a transigir deparadas com situações que exigem mudança? São questões fundamentais
para se entender as ondas modernizantes atentas a núcleos programáticos
conservadores5.
Desse rápido percurso, vale fixar: em primeiro lugar, as elites dirigentes que vêm ter à
capital sabem interpretar a “Voz de Minas”; zelam para que a capital seja um
laboratório de avaliação constante dos destinos de Minas; dialogam frequentemente com
seus pares e com as correntes diversas cuidando de traduzir os discursos e reduzi-los aos
interesses que incorporam. Disso resulta que os arranjos institucionais característicos de
determinados momentos são apenas epifenômeno das interpretações possíveis à
manutenção dessa forma de exercício do poder.
Uma decorrência do que se afirma está no fato de que as elites dirigentes do município
de Belo Horizonte não podem estar em desacordo com os planos do governo do estado.
2 Conferir Souza, José Moreira de. Cidade momentos e processos. Serro e Diamantina na formação do Norte Mineiro no século XIX. São Paulo: ANPOCS/Marco Zero, 1993, p. 192 e também. RESENDE, Maria Efigênia Lage. Formação da estrutura de dominação em Minas Gerais: o novo PRM – 1889-1906. Belo Horizonte: UFMG, 1982, p. 85. 3 A obra de Victor Nunes Leal, também mineiro, havia sido publicada em 1949 e ainda não empolgara os meios acadêmicos. 4 Refiro à obra de uma paulista Maria Isaura Pereira Queiroz que estuda a amplitude do mandonismo local como uma vigência de fazer política no Brasil. Os “Donos do Poder” de Raimundo Faoro exploram essa mesma senda. 5 Uma obra importante que sintetiza o percurso das elites mineiras é a de Otávio Soares Dulci, Política e recuperação econômica em Minas Gerais. Belo Horizonte: UFMG, 1999.
5
Sob esse ponto de vista, Belo Horizonte contraria o modelo de gestão da Grande
Londres, segundo interpretação de Edésio Fernandes6. As elites entendem corretamente,
diferentemente de Brasília e do Rio de Janeiro que Belo Horizonte é uma “metrópole
estadual”. Essa compreensão traz como segunda decorrência que as funções da
metrópole podem ou devem se reproduzir em outras áreas próximas ou distantes.
Assim se pode entender que a Penitenciária Agrícola de Neves concebida na década de
vinte do século passado, a Cidade Industrial de Contagem, ensaiada no final dos anos
trinta, implantada nos anos 40 e consolidada nos 50, a CEASA localizada em
Contagem, o Sistema Bela Fama construído nos anos 60, o aeroporto internacional de
Confins, inaugurado nos anos 80, são projeções da metrópole estadual, muito mais do
que expansão do município.
Outra é a questão quando se trata da conurbação entendida apenas como extensão dos
assentamentos residenciais para além dos limites municipais. Essa expansão, tanto pode
acontecer diante das projeções das funções metropolitanas, quanto da interpretação dos
agentes imobiliários do espaço possível para reproduzir especificamente esse capital.
No primeiro caso, a expansão é decorrência natural e suas conseqüências podem ser
antecipadas pelos próprios decisores. É o caso da necessidade de uma cidade operária
como apoio às atividades da indústria, no caso da implantação da Cidade Industrial7.
No segundo caso, exibe-se o conflito entre expansão da sede da metrópole e o
despreparo das elites locais para zelarem pelo seu peculiar interesse, ou a existência de
interesses subalternos contrariados. O modelo de expansão periférica que se inaugura
nos anos cinqüenta, e atinge Contagem, Betim, Ibirité, Ribeirão das Neves, Santa Luzia,
Vespasiano, Sabará e Nova Lima são exemplos conspícuos.
A expansão metropolitana aparece como um problema somente quando a expansão das
funções da metrópole é também acompanhada pelos assentamentos com fins
residenciais. Isso acontece porque os agentes do mercado imobiliário desconhecem a
face da demanda, ou a dimensionam segundo os interesses de reprodução do capital
investido e não da reprodução da força de trabalho8.
6 Ver desse autor “Gestão Metropolitana” in Caderno Escola do Legislativo. Belo Horizonte, v. 7, n. 12. p.75. 7 Benedito Valadares, em suas memórias, insiste nesse ponto. Ver Tempos idos e vividos. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966. 8 Sobre esse assunto consultar PLAMBEL. Plano de uso e ocupação do solo do Aglomerado Metropolitano de Belo Horizonte. Belo Horizonte, 1976.
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Do ponto de vista do imigrante, seu propósito é vir morar em Belo Horizonte e o
resultado é assentar-se em Contagem, Ibirité, Ribeirão das Neves, Sabará, ou Santa
Luzia e até mesmo em Juatuba ou Esmeraldas9.
Aparentemente essa realidade deveria reforçar o que insisto em chamar Consciência
Metropolitana, entretanto o resultado é a afirmação de um modo de existência frustrado.
O morador de Neves ou de Ibirité enquanto migrante não fez essa opção. A duras penas
dirige-se à prefeitura local para cumprir seus deveres cívicos. No caso de Contagem, o
morador da Cidade Industrial, até os anos 70, apenas se identificava com a sede do
município pela existência do cemitério. Ir para Contagem significava encontrar o
destino final do ser humano, os sete palmos.
A conurbação, sob esse aspecto é sinônimo de perda de interlocução com a ordem local.
2. Área Metropolitana: Planejamento e Gestão.
Como foi lembrado na introdução a este artigo, o ano de 1970 e o de 1971 são pontos
importantes de um momento da discussão do espaço metropolitano como um problema.
Entretanto, o ápice dos momentos sempre tem precedentes. No caso da RMBH devem-
se ressaltar os estudos feitos pela SAGMACS para o plano municipal no final da década
de 50 por encomenda do prefeito Celso Melo Azevedo; os que formaram a consciência
de urbanistas a partir do Seminário da Quitandinha que pautou a luta pela Reforma
Urbana; o estabelecimento de pesquisas e linhas de estudo sobre a habitação popular,
realizados no interior da Secretaria de Estado do Trabalho e da Cultura Popular –
Governo Magalhães Pinto -; os efeitos da reforma fiscal e do SEFHAU pelo regime
militar de que resultou a criação do Escritório de Planejamento Urbano de Contagem –
EPUC –; o consórcio Betim-Contagem que deu origem à represa Vargem das Flores, a
necessidade de um diagnóstico para obter financiamento para instalação da CEASA.
A presença do movimento Economia e Humanismo do padre Lebret no Brasil se mostra
presente na SAGMACS que realizou estudos em São Paulo, no Nordeste, no Rio de
Janeiro e na Bacia Paraná Uruguai. Quanto a Belo Horizonte, o efeito duradouro do
estudo, se mostrou na distinção entre a área metropolitana de Belo Horizonte – great
9 Sobre esse assunto, ver: MORENO, Bruno et. al. Os limites de Belo Horizonte e os limites da luz. Belo Horizonte, 2008.
7
Belo Horizonte – ou a Grande BH como se firmou na consciência coletiva e a região
metropolitana de Belo Horizonte – greatter Belo Horizonte10.
O Seminário da Quitandinha assume importância por pautar a luta nacional pela
Reforma Urbana, da qual os arquitetos entendendo-se como urbanistas se propuseram a
explicitar a necessidade de ordenamento territorial, com destaque para a questão do
déficit habitacional e da expansão descontrolada das metrópoles11.
Entre os estudos desenvolvidos na Secretaria de Estado do Trabalho e da Cultura
Popular, merece destaque o Levantamento da População Favelada de Belo Horizonte,
obra publicada em 1966, apesar das resistências do momento e os artigos WERNECK,
Nei Pereira Furquim; WATABABE, Hiroshi; CASTELO BRANCO, Alípio Pires; e
NOGUEIRA, Haroldo Alves. Expansão Urbana na estrutura subdesenvolvida. Belo
Horizonte: Departamento da Habitação Popular – Secretaria de Estado do Trabalho,
novembro de 1965. Contribuições para análise do problema habitacional e da
organização territorial. Belo Horizonte: Departamento da Habitação Popular –
Secretaria de Estado do Trabalho, novembro de 1965. Esses estudos são oportunidade
de aprofundamento do problema metropolitano e de formação de técnicos que terão
substantiva importância na formação do PLAMBEL.
A criação do EPUC em Contagem no ano de 1967 é o novo componente desse
momento. Naquele município, as elites se conscientizam do isolamento da sede
municipal em relação a duas áreas polarizadas por Belo Horizonte. A Cidade Industrial
de um lado e a Ressaca, de outro. As elites também se dão conta de que, como
município industrial por vontade do governo do estado, sua tendência de crescimento
superaria em muito os modestos seis mil habitantes aferidos pelo Censo Demográfico
de 1950. Entre 1950 e 1960, Contagem já acusava uma taxa geométrica de crescimento
de 6% ao ano, e na década seguinte saltaria para 17%. Decisões como criar fontes de
abastecimento de água, pela construção da represa Vargem das Flores e assumir como
iniciativa municipal a vocação industrial foram duas iniciativas que, de um lado,
inauguram um consórcio entre municípios, no caso Betim e Contagem, e, de outro,
convocam o estado para incentivar o desenvolvimento local. Nesse segundo caso, a
10 Ver LEME, Maria Cristina da Silva (coord.) Urbanismo no Brasil – 1895-1965. São Paulo: Studio Nobel, 1999. e também DIAS, Fernando Correia. Imagem de Minas. Belo Horizonte: imprensa Oficial, 1971. 11 PLAMBEL – Ano 15: O resultado de um convênio. Belo Horizonte, jul. 1986
8
prefeitura desenvolveu estudos técnicos juntamente com agências de fomento do estado
visando ao financiamento das instalações do CINCO – Centro Industrial de Contagem12.
Outro aspecto desse momento é o da decisão pela localização da CEASA – Central de
Abastecimento da área metropolitana. Segundo depoimento do arquiteto Nei Pereira
Furquim Werneck, a equipe de planejamento conseguiu, desta vez com sucesso,
convencer o governador Israel Pinheiro da necessidade de um estudo sobre a Área
Metropolitana para fundamentar a decisão. Argumentou-se ser exigência das fontes de
financiamento do Governo Federal. Dessa decisão resultou também a criação de uma
equipe do estado, pondo de lado os estudos terceirizados. Surgia o PLAMBEL. O
grande desafio, a partir desse momento seria convencer o Estado de que diagnóstico e
diretrizes devem ser examinados, discutidos e viabilizados em sua implantação.
Desse modo, o órgão de planejamento que surge na RMBH em 1971 – o PLAMBEL – é
resultado de um convênio entre as prefeituras e o governo do estado. Para tanto,
convergiram forças importantes que conseguiram convencer o governador Israel
Pinheiro da importância da coordenação das ações na área metropolitana que se
configurava como expansão de Belo Horizonte.
Na elaboração da agenda metropolitana priorizou-se a necessidade de um diagnóstico
amplo da região com destaque para a área conurbada. Mesmo priorizando a síntese de
ordenação territorial os estudos favoreceram pesquisas como Origem e Destino, Uso do
Solo, Sócio-econômica e contrariando os modelos clássicos de diagnóstico para um
plano duas pesquisas articuladas: a de Vida Associativa e a de Lideranças comunitárias,
reunidas num conjunto de Pesquisas sócio-políticas.
Fico aqui com as Pesquisas Sócio Políticas. Se o PLAMBEL tivesse surgido por efeito
da Lei Complementar 14/73, talvez uma pesquisa desse tipo não tivesse sido realizada.
Como resultado de um Convênio, sua duração dependia não apenas de anuência;
12 Este autor conta com a vantagem de ter participado das pesquisas para o Plano de Desenvolvimento Integrado de Contagem no ano de 1968. O papel do governador Israel Pinheiro foi de fundamental importância para a aprovação do financiamento do CINCO. O Estudo de Viabilidade entregue ao prefeito concluía no Sumário Executivo. O CINCO é inviável, considerando-se que as áreas dinâmicas do estado eram o Sul de Minas devido à desconcentração industrial de São Paulo e a zona mineira da Sudene com destaque para Montes Claros. O CINCO se consolidaria principalmente como espaço de transferência de indústrias localizadas em Belo Horizonte, prejudicando o desenvolvimento da Capital. Inconformado com a conclusão, o prefeito, Francisco Firmo de Matos Filho, correu até o governador, o qual convocou o chefe da equipe que elaborou o diagnóstico de viabilidade, no caso, de inviabilidade, e perguntou: “O que é que vocês concluíram?” O Técnico ponderou, “o CINCO é inviável por tais e tais razões...” Israel: “Volta e conclui que é viável”. Essa é uma das lições mais importantes para nosso assunto. A competência técnica quase nunca se dá conta de todas as razões. Pode-se perguntar a METROBEL foi extinta e substituída pela TRANSMETRO por inviabilidade técnica? Brasília foi construída em ração de sua racionalidade técnica?
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necessitava de aprovação. Para isso se fez a pesquisa de vida associativa, onde se
mapearam as lideranças locais, municipais, supramunicipais com as respectivas
representações e interesses. Pretendia-se, com isso, fazer com que os estudos e diretrizes
técnicas chegassem a toda a população, condição essencial para que os termos do
convênio se tornassem efetivos e necessários para as lideranças em suas diferentes
instâncias.
O pequeno aproveitamento dos resultados desses estudos resulta da criação da autarquia
em 1974, em decorrência da Lei Complementar que instituiu no nível federal a RMBH,
juntamente com as demais. Entretanto, a necessidade de não apenas estudar o cotidiano
dos moradores, mas de estudar as propostas com eles, mesmo que fosse para cooptá-los,
esteve presente na cultura do órgão de planejamento e se mostrou quando da
apresentação da Lei de Uso e Ocupação do Solo do município de Belo Horizonte –
1975. A necessidade de compreender o cotidiano dos moradores ainda teve
continuidade com a Pesquisa dos Processos de Morar, realizada no ano de 1977, a do
Mercado da Terra na RMBH publicada nesse mesmo ano, a de Alocação dos Recursos
Públicos, entre outras.
O próprio modelo de criação da METROBEL é obediente à compreensão de que o
interesse dos municípios deve se manifestar no empreendimento, suprindo as
deficiências do modelo autoritário presente na composição dos Conselhos Deliberativo
e Consultivo.
Em avaliação do desempenho do PLAMBEL no início dos anos 80 perguntou-se aos
prefeitos sobre a importância desse órgão. O de Pedro Leopoldo afirmou que se o
PLAMBEL acabasse não faria a menor diferença para o município, já o de Contagem
registrou que sua ausência seria muito sentida. Nesse mesmo Seminário de Avaliação,
um dos técnicos chamou a atenção para os problemas de legitimidade do órgão pela
ausência de um diálogo mais constante, não apenas com os prefeitos, mas
principalmente com a sociedade civil organizada. Os efeitos dessa falta de diálogo se
apresentaram com nitidez quando da implantação do PACE – Projeto da Área Central –
as obras dos corredores Paraná e Santos Dumont foram logo questionadas pelos
usuários conduzidos pela insatisfação dos empresários localizados nessas vias.
Se há algo a destacar dessas considerações é que o diálogo estado municípios teve três
momentos, no primeiro deles – 1971 a 1974 – era dado como absolutamente necessário
para a existência do planejamento, tornando-se muito importante alcançar a sociedade
civil organizada formal ou informalmente; no segundo, o diálogo torna-se apenas
10
ocasional, posto que a Lei garantia a participação coercitiva; e no terceiro, com a
abertura política, o diálogo passa a se fazer apenas com os titulares dos municípios –
prefeitos – obediente ao acordo de que o Conselho Consultivo era de fato a referência
para o que seria apreciado e deliberado no Conselho Deliberativo.
Há, contudo, que sublinhar que, ao longo de todo o período de existência da agência
metropolitana, onde se reuniam os conselhos, em nenhuma oportunidade se presenciou
qualquer manifestação dos movimentos da sociedade civil organizada ou não. Esse é o
grande desafio que gerou um seminário com o nome de “Consciência Metropolitana”.
Reduzido a diagnósticos e propostas técnicas, o planejamento pairava numa esfera tão
abstrata que nenhum movimento social se interessava em contrariá-lo ou tomá-lo como
aliado de seus interesses.
A criação da Assembléia Metropolitana aponta para um outro momento, aquele em que
o PLAMBEL se mostra como persona non grata, na fala de um vereador. Seguramente,
o referido vereador, do mesmo modo que os quase setenta membros que passaram a
compor a referida Assembléia, desconhecia que o desenho institucional estabelecido na
Constituição do Estado de Minas Gerais, havia sido longamente examinado e proposto
pelo PLAMBEL diante do impasse – Municipão; mini-estado ou federação de
municípios – o condutor desses debates foi o jurista professor Paulo Neves de Carvalho.
Na data da primeira sessão ordinária da referida Assembléia a convite da GRANBEL,
um outro estudioso do direito urbano, discorreu sobre o vazio jurídico em que se
instalava o colegiado. Havia somente três instâncias, segundo a Constituição de 1988.
União, Estados e Municípios. O município era finalmente uma entidade da Federação.
Onde ficava essa entidade chamada de Região Metropolitana? Instituída como instância
de poder, concluía, era inconstitucional.
O palestrante cuidava de interpretar o que determinava a Lei Complementar nº 026 de
14 de janeiro de 1993. O silêncio que se seguiu à exposição encomendada pela
GRANBEL, foi finalmente interrompido por um dos membros da mesa diretora.
“Enfim, a Assembléia está criada. Vamos trabalhar.” Não se falou mais em
constitucionalidade nem no lugar adequado desse modelo de planejamento e gestão.
No entanto, quando da apresentação da proposta de Plano Diretor, uma exigência da
Constituição Mineira, como já se viu, um vereador aparteou não pela
inconstitucionalidade do PLAMBEL, mas pela sua herança do período autoritário.
Contudo, a mesma Lei Complementar dispõe na Seção V “Da Autarquia Estadual de
Planejamento Metropolitano”:
11
Art. 19 – A autarquia estadual de planejamento metropolitano tem por
finalidade o assessoramento para o planejamento, a organização, a
coordenação e o controle das atividades setoriais a cargo do Estado, relativas
às funções públicas de interesse comum da região metropolitana.
Art. 20 – Para a consecução de seus objetivos, compete à autarquia
Planejamento da Região Metropolitana de Belo Horizonte – PLAMBEL – no
que concerne ao Estado: (...)
Como se vê, são duas dificuldades, uma depende da leitura da Lei e de sua interpretação
e a outra da vontade de zerar a história, acusando a agência de planejamento como
herdeira do período autoritário.
Nessa oportunidade, não posso me furtar à lembrança da obra de Arthur Shopenhauer:
Como vencer um debate sem precisar ter razão13. Quero com essa lembrança,
argumentar que no campo do poder não é a racionalidade orientada pela idéia
reguladora de verdade que conta é a Vontade de Poder.
Há ainda um trecho pouco lido e menos ainda comentado dos parágrafos citados. A
autarquia de planejamento é estadual e suas atribuições dizem respeito ao que concerne
ao Estado. Se interpreto corretamente o que determina a Lei, mesmo sem os
municípios, o Estado tem ações na Região Metropolitana e essas atividades são
“setoriais”. Agir setorialmente pode ter como efeito a falta de controle e coordenação
das atividades. Desse modo, há que interpretar o sentido do momento que se configura
no ano de 1995, oportunidade em que o Governo Azeredo decide pela extinção do
PLAMBEL, inicialmente de maneira equivocada por uma lei ordinária, até que, após a
extinção de fato, sanciona a Lei Complementar Nº 53/96 que decreta “fica revogado o
artigo 20 da Lei Complementar 26, de 14 de janeiro de 1993.”
Esse momento me traz inúmeras perguntas: a primeira diz respeito à extinção de uma
agência, exatamente quando os membros da Assembléia Metropolitana explicitam sua
importância e estão dispostos a delegar-lhe a incumbência de realizar os estudos
preceituados pela Constituição do Estado de Minas; a segunda, é por que a Assembléia
Legislativa do Estado representando “o povo do Estado de Minas Gerais” aprovou sem
reparos a minuta encaminhada pelo Executivo, sem audiência pública, sem nada. A
terceira é a de que a revogação expressa do artigo 20 leva ao reconhecimento de que as
13 Rio de Janeiro: Topbooks, 1997. Shopenhauer sabia muito bem do que dizia, por sua tese fora O mundo como vontade e como representação e sua indignação pelo modo como os alunos adoravam Hegel sem examinar suas propostas – dele Shopenhauer – o deixava profundamente incomodado.
12
ações setoriais do estado na região metropolitana não necessitam de coordenação nem
controle. E a última é da fragilidade de uma Lei. As leis servem apenas para serem
mudadas conforme os interesses de um determinado governo, ou as leis devem ser
mudadas quando a sociedade organizada manifesta a necessidade dessa mudança?
Nesse momento, retorno ao artigo de Edésio Fernandes, onde esse autor, após lembrar
o desafio de encontrar um modelo jurídico institucional que reflita a natureza dos
processos socioeconômicos e urbano-territorias criadores das RM, afirma: “É um
modelo que, de maneira perfeita, ainda não foi criado em lugar nenhum do mundo. (...)
É importante frisar que esse modelo não pode ser criado por lei ou decreto, tem que ser
construído nas práticas sociopolíticas de gestão” p. 73
O vazio institucional criado pela extinção do PLAMBEL não foi preenchido em
nenhum momento, apesar de a referida Lei distribuir suas funções pela Secretaria de
Estado do Planejamento e da Fundação João Pinheiro.
Em entrevista realizada com o Diretor do CEME e também com o técnico da SEPLAN
incumbidos para preencher as funções, essas questões vieram à baila. Perguntado sobre
o novo papel da SEPLAN, o diretor do CEME respondeu sobre o da Fundação:
Não. Ela assume muito em cima de quem? De uma pessoa. Assim como a
Fundação assume na hora que ela é provocada, ela não nega fogo, ela assiste,
ajuda, apóia, mas em nome de pessoas. A instituição Fundação não sabe o que é
planejamento metropolitano. Não fala; em discurso nenhum da casa você ouve
essa palavra14.
Do ponto de vista da SEPLAN um (único) assessor ficou responsável pelas funções de
coordenação e controle. Aqui se destaca apenas uma ponderação:
Do ponto de vista legal a SEPLAN ficou com a competência da coordenação do
planejamento e a secretaria executiva da AMBEL. São as duas funções mais
importantes. Teria ainda aquele apêndice da anuência prévia que a gente vê
como um negócio instrumental. Aquilo não faz sentido senão dentro de uma
política mais ampla de ordenação do espaço da Região Metropolitana. Atuar
naquilo como se atua hoje, quer dizer, como uma superprefeitura, sem uma
política urbana por trás, sem uma política metropolitana por trás, fica muito
difícil. Mas, de qualquer forma, resumindo, nós temos estas três competências
aí: coordenação do planejamento, secretaria executiva da AMBEL e este
14 Entrevista concedida em 29/10/98 a Virgínia Reno dos Mares Guia e José Moreira de Souza
13
instrumento de intervenção no parcelamento... não de intervenção, mas de
orientação do processo de parcelamento do solo15.
Ao findar o século XX, um grupo de técnicos afeitos à área de planejamento urbano,
visualizou a oportunidade de propor ao estado a necessidade de um Plano Estratégico
para a RMBH. Criou-se o Instituto Horizontes, com apoio de ONGS, grandes empresas
e outros segmentos da sociedade civil. Esse empreendimento sinalizava para o vazio
existente no estado no cumprimento de suas atribuições e denunciava que o assim
chamado Mercado não se orienta apenas pela “mão invisível”. Necessita de diretrizes
que favoreçam a diminuição dos riscos. Cria-se novo âmbito de interlocutores.
Esse é momento importante por sinalizar o salto das burocracias do Estado, as quais são
obrigadas a fazer apenas o que a Lei determina. O surgimento do Instituto desperta para
os inúmeros estudos acadêmicos desenvolvidos como teses, dissertações, diagnósticos e
propostas para planos diretores municipais e orientação para ações de empresas de
grande porte necessitadas de análise de informações para construírem seus cenários.
Apesar disso, ficou ainda a dificuldade de uma construção ampla de uma consciência
metropolitana que ampliasse as práticas sociopolíticas de gestão desejadas por Edésio e
estudas nas Pesquisas Sociopolíticas do PLAMBEL. Como reconhecem diferentes
autores – essa é uma questão que precisa merecer nossa atenção, uma das características
dos movimentos urbanos é a busca por resultado que respondam às necessidades do
cotidiano. Dessa forma, mobilizam-se e se desmobilizam rapidamente. Há até mesmo
que se perguntar como um movimento que reuniu milhões de pessoas por todo o Brasil
– o das Diretas Já – pôde ser desmobilizado tão rapidamente, sem deixar qualquer rastro
no dia seguinte, como se fosse apenas naufrágio de uma embarcação em alto mar.
No caso dos arranjos metropolitanos, a reunião e mobilização de grupos de elite embora
necessária não é suficiente. Contudo, uma nova realidade se configura com a maior
freqüência dos Fóruns e Conferências Urbanas, principalmente a partir da aprovação da
Lei 10.257 /2001 mais conhecida como Estatuto da Cidade.
Desse modo, o momento que se inaugura solenemente em 20 e 21 de agosto de 2007 é a
culminância de um conjunto de conferências municipais, metropolitanas e estaduais
para se consolidar o Sistema de Gestão Metropolitana.
15 Entrevista concedida no dia 12 de novembro de 1997 a Virgínia Reno dos Mares Guia e José Moreira de Souza.
14
3. Agentes, Participação e comprometimento com o processo de
metropolização.
Um dos maiores feitos, senão o maior do atual governo estadual, foi o de criar o grupo
de Governança Metropolitano para articular as ações das diversas secretarias. Com
efeito, o desafio maior é exatamente a falta de coordenação e controle das agências
setoriais. Quando o PLAMBEL tinha maior reconhecimento, foi criada uma Comissão
de Compatibilização de Obras na RMBH, entretanto, apesar de todos os esforços isso
nunca se realizou plenamente. Apenas um exemplo: assistiu-se, logo no início dos anos
80, à implantação do PACOTT – Projeto de Ampliação da Capacidade Operacional do
Transporte e do Trânsito - Amazonas, seguido do da Pedro II, Silviano Brandão, entre
outros. Tão logo a avenida Amazonas recebeu novo capeamento asfáltico, escavadeiras
romperam os asfalto para enterrarem os tubos de encanamento do Sistema Serra Azul da
COPASA, os passeios foram novamente escavados para receberem a rede subterrânea
da TELEMIG. Na Área Central, o PACE foi atropelado por tudo isso e mais a rede
subterrânea da CEMIG.
Esse descompasso era devido à dificuldade de acerto de cronogramas de obras. Todas
elas com financiamento internacional atrelados a diferentes contratos e multas
vinculadas ao cumprimento de prazos. Isso determinava um regime do “salve-se quem
puder”. O desperdício de gastos públicos decorrente da falta de articulação entre os
órgãos setoriais do próprio estado traz efeitos perversíssimos na alocação de recursos
públicos.
Considerando-se que o maior investidor numa região metropolitana é o próprio estado, a
desarticulação entre os seus órgãos setoriais implica desperdícios prejudicando não
apenas a população metropolitana, mas todo o território. Não seria, portanto, apenas
uma Comissão de Compatibilização que daria conta de normalizar essa situação. Exige
vontade política de governo. A constituição do grupo de governança é um grande feito.
Já disse que se, de acordo com a Lei complementar 026/93, o PLAMBEL tivesse
cumprido apenas essa função ele teria garantido também a articulação com os
municípios. Há que lembrar, porém, que a constituição de um grupo, embora difícil, é
mais fácil do que fazê-lo funcionar. Note-se que a dificuldade começa na elaboração do
orçamento e termina no cumprimento de acordos políticos necessários à assim chamada
“governabilidade”, podendo inverter-se a ordem. Há ainda outra dificuldade: a
existência do grupo de governança tem que ser levada ao conhecimento de outros
15
agentes interessados em seus efeitos benéficos. No caso, os poderes municipais, os
órgãos de representação de classe, os movimentos sociais. Suas atribuições precisam ser
levadas ao conhecimento de todos e constantemente avaliadas com Fóruns,
Conferências e Conselhos, ou seja, promover e garantir comprometimentos..
Esse é um dos pontos importantes dos arranjos institucionais, a dificuldade de torná-los
efetivos, práticos, não deve fazer-nos recuar. Pode exigir muitos anos para tal, mas não
se pode desistir. Esse é um dos grandes desafios na execução de políticas públicas. Os
modelos priorizam a gestão e desprezam o planejamento. Uma boa gestão pode ser
muito eficiente, mas muito pouco eficaz ou efetiva. É eficiente ao cumprir metas.
Cumpre à gestão fazer as coisas certas do que lhe é atribuído. Quanto ao planejamento,
seus objetivos são mais ambiciosos, ele persegue metas de longo prazo. Para tal, não é
suficiente fazer bem feito o que tem que ser feito, é preciso auscultar no presente, as
fontes de conflito, levar a sério todas as críticas, procurá-las insistentemente,
aprofundar-se nelas. O planejamento não pode ser feito por um grupo iluminado de
tecnocratas, ele tem que ser feito com a sociedade civil e para a sociedade civil.
Recordo um pensamento do padre Antônio Vieira cujo quarto centenário de nascimento
se comemorou em fevereiro de 2008. Sua afirmação mereceria estar em todos os órgãos
que se propõem a trabalhar com planos. Eis o pensamento:
Se quereis profetizar os futuros, consultai as entranhas dos homens
sacrificados; consultem-se as entranhas dos que se sacrificaram e dos que se
sacrificam; e o que elas disserem, isto se tenha por profecia. Porém, consultar
de quem não se sacrificou nem se sacrifica, nem se há de sacrificar é não querer
profecias verdadeiras; é querer cegar o presente, e não acertar o futuro.
Vamos por parte. Planejamento não visa ao hoje, mas ao depois de amanhã. Entretanto
o planejamento não é um exercício de adivinhação, é a decifração das carências,
defeitos, falhas, lacunas, insuficiências e injustiças que insistem em se manter no
cotidiano. Essas carências, insuficiências, defeitos e injustiças insistem em se perpetuar
se não forem examinadas em suas entranhas. Não são as soluções de hoje que as
eliminam, mas a atenção para as causas profundas que as fazem se reproduzir.
Planejar exige ações ousadas que contrariem o presente. A ousadia não significa dar
soluções apressadas, mas em auscultar profundamente as maiorias silenciosas, os
sacrificados, aqueles que a Lei condena agindo na contra-mão dos imperativos da
Justiça, os mortos em suas entranhas, fazer necropsias. Inverter as perguntas comumente
aceitas. Diferentemente de perguntar: Por que as pessoas roubam, por que a violência
16
aumenta, por que cresceu a taxa de mortalidade por causas externas – acidentes,
assassínios, suicídio -, interrogar: por que as pessoas com as mesmas características não
roubam, contêm o impulso à violência; se controlam evitando acidentes, agressões
violentas? A pergunta por que as pessoas infringem as leis do trânsito, deve ser
invertida, por que as pessoas obedecem a essas leis; a que pergunta por que as crianças e
adolescentes de baixa renda abandonam a escola a partir dos dez anos, deve ser feita de
outra maneira: por que 60% delas ainda permanecem concluindo os oito – agora nove–
anos do antigo primeiro grau? Não é, portanto a transgressão que importa como foco de
atenção para o planejamento, mas a submissão a uma ordem que aponta exatamente em
direção à transgressão. Quem transgride responde apressadamente ao hoje e quem
obedece se sacrifica fazendo acreditar que uma ordem injusta é a mais adequada ao
amanhã.
As entranhas dos homens sacrificados devem ser o objeto principal da prática de
planejamento. Remeto-me a um Relatório da Comissão Mundial de Cultura e
Desenvolvimento intitulado Nossa diversidade criadora. Nele o coordenador, Javier
Perez de Cuéllar – que já foi Secretário Geral da ONU – insiste no conceito de
desenvolvimento humano, sublinhando que Desenvolvimento Humano é “O processo
de ampliação de opções oferecidas a um povo”16.
Entendo que planejar é estar atento às limitações que dificultam o acesso a essas opções.
Edésio nos lembra que a cidade real é ilegal. Disso há de decorrer que as leis que
regulam a ocupação e uso do solo são injustas. Há que se perguntar com vista ao
planejamento orientado por uma concepção de Justiça: o que seria um programa de
regularização fundiária? Como esse programa foi proposto? Como ele auscultou as
entranhas dos homens sacrificados que favelaram a cidade? O que ouviu?
Neste instante o governo federal anunciou um amplo programa visando à diminuição do
déficit habitacional. Com 1 milhão de casas entende-se que se diminui o déficit em
14%. No programa da TV Minas “Brasil das Gerais” esse assunto foi debatido no dia 28
de abril. Um dos participantes, perguntou: essas casas, no caso, apartamentos que serão
construídos, levam em consideração a ascensão social das famílias moradoras? Pensa
que se elas progredirem buscarão outro abrigo com maiores comodidades e, no final,
essas áreas criarão espaços deteriorados na cidade? (Não sei se foi bem assim que a
pergunta foi formulada.) O senhor secretário municipal da Habitação de Belo Horizonte,
16 CUÉLLAR, Javier Pérez de (org). Nossa diversidade criadora. Campinas: Papirus; Brasília: UNESCO, 1997.
17
respondeu com o exemplo das unidades já construídas pelo OPH – Orçamento
Participativo da Habitação –; o representante da CEF – Caixa Econômica Federal -
recordou que quase nada se fez no país para as famílias com renda até 3 salários até
então. As respostas são cabíveis e procedentes; mas a pergunta necessária ao
planejamento não foi compreendida. Uma resposta para o hoje precisa pensar no
amanhã.
Essa prática de planejamento calcada em estudo de carências sem atenção para as forças
que as reproduzem tem sido verificada nas avaliações após percurso. Exemplo é a
concepção do PACE no Esquema Metropolitano de Estruturas em 1974 e sua avaliação
dez anos depois.
Transcrevo aqui considerações apresentadas em outra oportunidade17:
Ao avaliar a região metropolitana num percurso de 10 anos após a implantação
do PACE, estudo realizado pelo PLAMBEL detecta que o Núcleo Central
continuou perdendo população. Tão ou mais importante, constata também que a
Lei de Uso e Ocupação do Solo, “ao estabelecer um Zoneamento concebido
segundo as tendências observadas à época de sua elaboração, consagra e
reforça a organização territorial vigente. A segregação e a estratificação dos
espaços residenciais são amplamente estimuladas pelo Zoneamento, ao
estabelecer zonas residenciais diferenciadas18”.
O citado estudo “denuncia” um ponto da maior importância na estruturação da
metrópole belohorizontina, que consiste na promulgação de leis obedientes a
tendências verificadas quando de sua formulação e proposição. Além disso,
para o que importa à temática do artigo, a Lei de Uso do Solo é denunciada por
não contrariar minimamente a situação vigente, colocando a centralidade
metropolitana como um problema não apenas de deseconomia, mas de
interesses de classes em conflito.
A avaliação do PACE mostra que as modificações introduzidas pelo poder
público não surtiram os efeitos esperados. Os conflitos gerados pela
inadequação do centro metropolitano transbordaram para seu entorno, com a
saturação dos corredores de trânsito, “induzindo altos investimentos para
remanejamentos ou mesmo exigindo a abertura de vias complementares de 17 CARNEIRO, Ricardo e SOUZA, José Moreira de. Sustentabilidade das periferias nas metrópoles brasileiras. Caxambu, 32º Encontro Anual da ANPOCS, 2008. 18 PLAMBEL, Processos gerais de formação da aglomeração metropolitana. Belo Horizonte, 1985 [texto para discussão interna ]
18
maior capacidade (...), os quais virão realimentar a mesma estrutura, sem lhe
corrigir as distorções” (PLAMBEL, ibid).
São conhecidos os programas voltados para o mímimo. Mínimo de conforto, mínimo de
educação, mínimo de saúde, mínimo de condições de deslocamento. Mínimo de renda.
O programa Bolsa Família tem recebido críticas, não pelo mínimo que assegura, mas,
alegam alguns grupos, por ser um desestímulo ao trabalho. Uma questão cabível para os
que planejam precisaria perguntar pela imposição de sacrifício vinculada a esse mínimo.
Voltarei a esse assunto mais à frente para tratar melhor dos índices de desenvolvimento
humano. Passo agora a um outro aspecto dos arranjos institucionais.
Quando da extinção do PLAMBEL, a assessoria para assuntos metropolitanos,
posicionada na SEPLAN, logo se deparou com a impossibilidade de se contar com uma
gestão metropolitana efetiva, uma vez mantido o modelo de representação vigente na
Assembléia Metropolitana. A presença de apenas um representante do Estado, de um da
Assembléia Legislativa e de prefeitos e vereadores de todos os municípios sem levar em
consideração o peso metropolitano, trazia distorções muito sérias. As câmaras setoriais
existentes eram formadas por esse grupo que se atribuía a exclusividade na análise e
apreciação das propostas. Fez-se, então, esforço para que as câmaras técnicas incluíssem
representantes de órgãos setoriais do Estado com direito a voz e poder de
convencimento. Com efeito, prefeitos e vereadores poderiam perfeitamente externar
com conhecimento de causa as demandas da população de seus respectivos municípios
nas áreas “de interesse comum”, mas faltava-lhes a convivência com informações
técnicas e estudos que fundamentassem diagnósticos. Essa tentativa não vingou. Apesar
disso, a Assembléia Metropolitana adquiriu a triste fama de ser um órgão que aprovava
anualmente as tarifas dos transportes públicos. Como essas tarifas eram aprovadas? Os
técnicos apresentavam as planilhas de custo, argumentavam e a câmara setorial não
tinha como refutar. Dizia sempre “sim”.
Esse é um dos maiores desafios às caricaturas de planejamento. Não há como planejar
se não houver diversidade, se o discurso não for construído pelo diálogo. Esse é também
o desafio à moda do Planejamento Participativo. Na França se tornou comum a glosa à
participação: “Eu participo, tu participa, nós participamos e eles decidem”. Podemos
chamar a isso de Planejamento Cooptativo.
Em certo momento de empolgação pela Reforma do Estado, juntamente com a
introdução de um neologismo quase arcaico na língua portuguesa – governança –
19
travestido de tradução do inglês, circulou também, sem tradução o termo accountability.
Dizia que o termo não tinha correspondência em português, ou seja nossas práticas
políticas desconheciam absolutamente algo que se introduzia por essa prática.
Estranhamente, os tradutores para o espanhol não encontraram qualquer dificuldade em
fazer o termo inglês ser equivalente a “transparência na prestação de contas”. Eu
pergunto: será que nós desconhecemos o que é ser transparente? Ou a introdução do
termo visa exatamente à não transparência das intenções?
Prestar contas não nos é estranho, contudo, exigir transparência nessa prestação é algo
pouco comum. A bandeira por uma contabilidade pública transparente pede uma
reflexão sobre as formas de comunicação.
Não posso resistir a comentar a impressão que me ficou quando li a Mandrágora de
Maquiavel. Essa peça teatral, como é sabido, é uma comédia do século XVI. Nela o
autor mostra como as fraudes são bem sucedidas na ordem do cotidiano no espaço
doméstico. Na minha interpretação, o tema pode coincidir com um mito que se
construía nessa mesma época, o do Doutor Fausto. Fazer passar-se por douto e grande
sábio é dominar língua estranha abordando assuntos triviais. Calímaco que partiu jovem
da Itália e viveu vinte anos em Paris, quer ter argumento para responder a uma disputa
sobre a beleza das italianas em comparação com a das francesas. A migração em tenra
idade não lhe permite avaliar, posto que só conhece as francesas. Seu retorno à Itália é
oportunidade para se lembrar e por à prova a disputa acontecida em Paris. Segundo o
propositor da disputatio , concedendo que todas as francesas fossem belas e todas as
italianas bruxas horrendas, seria suficiente a beleza de uma única, a esposa de Messer
Nícia. Para chegar até a esposa e sua beleza, Calímaco tem que se fazer passar por
médico. Seu saber é comprovado quando prescreve um exame de urina. O diálogo entre
Calímaco e Messer Nícia é saboroso.
Calímaco – Da cá. Oh! Esta urina denota fraqueza dos rins.
Messer Nícia – Realmente, parece-me um pouco turva. Contudo, é fresquíssima:
fê-la agora.
Calímaco – Não há de que admirar-se. Nam mulieris urinae sunt semper
maiores grossitie et albedinis, et minoris puchritudinis, quam virorum. Huius
autem, in caetera, causa est amplitudo canalium, mixtio eorum quae ex matrice
exeunt cum urina.
20
Messer Nícia – Oh! Uh! Cona de São Púcio! Encheu-me as medidas, sim,
senhor! Como raciocina bem destas coisas!19
Eis, o charlatão impõe seu saber ao dizer trivialidades do senso comum em latim e
conquista de uma vez por todas a confiança do cuidadoso e possessivo marido. “Fale
livremente, pois estou pronto para obedecer-vos em tudo e acreditar mais em vós do que
no meu próprio confessor”. Alcança-se neste instante a confiança no que Giddens
chama de sistemas peritos. – obedecer e acreditar.
Um planejamento participativo que queira de fato defrontar-se com esses recursos de
charlatanismo tem, necessariamente, de usar a prestação de contas como oportunidade
de avaliação. Para isso um dos pontos fundamentais é a constituição do sistema de
contabilidade pública.
O núcleo estratégico de um sistema de planejamento, - talvez o nome mais adequado
seja rede de planejamento – tem a concepção de contabilidade pública como a mais
importante. Orientado pelo conceito de Desenvolvimento Humano essa contabilidade
deve considerar as redes das relações sociais e sua expressão nas relações espaciais. É a
elas que se deve referir.
Numa certa reunião da AMBEL argüido sobre a importância que o governo do estado
dava à RMBH o governador enumerou inúmeras ações vinculadas a programas e
projetos. Os conselheiros se calaram. Minha tradução foi semelhante à de Maquiavel.
Desde a inauguração da Capital, nenhum governo deixou de alocar expressivos recursos
visando ao seu desenvolvimento, o que se exigia era que a alocação desses recursos se
desse de forma planejada, e mais, que esse planejamento comprometesse os
interlocutores que legalmente representavam o interesse da RMBH. Alcançar a
obediência pronta é tudo que não interessa ao processo de planejar.
A facilidade de burlar os representantes aponta para uma dificuldade que se pretende
ocultar. Os representantes não têm consciência do que representam. Falta-lhes
“consciência metropolitana”.
Essa dificuldade foi percebida desde o Convênio de 1971, como já foi lembrado, e foi
objeto de um seminário com esse nome em 1989. Atualmente a SEDRU vem traduzindo
esse esforço com a criação de um termo muito feliz cidadão metropolitano. Esse
cidadão tem demandas que não se resolvem no nível do poder local, na instância do
município. Pelo contrário, constrange-o. O morador de baixa renda de Belo Horizonte,
19 MAQUIAVEL, Niccolo. A mandrágora. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1959.
21
quando cobra oportunidade de uma política habitacional, constrange a prefeitura a se
articular metropolitanamente em favor de uma política de habitação metropolitana. O
morador de Ribeirão das Neves, ao pressionar a prefeitura por um melhor atendimento
na rede de saúde, coage o município a se articular por um programa metropolitano de
saúde. E assim por diante, emprego, educação.
Essa consciência para ser efetiva deve permear todos os agentes. Eu tenho dito para os
prefeitos que a solução local de um problema metropolitano traz como conseqüência a
criação de um outro problema maior ou de igual magnitude. Alguns se resolvem para
amanhã com o expediente de consórcios, outros para hoje ou amanhã com parcerias,
mas um olhar para depois de amanhã pede que consórcios e parcerias sejam avaliados
com o rigor da consciência metropolitana.
Aprofundando um pouco mais a questão da contabilidade pública quero defender a
importância da disseminação do IDH, dos IQVU e todas as medidas que têm o objetivo
de favorecer uma participação dialogada.
Regra geral, os indicadores e índices produzidos têm servido mais para justificar
negações do que possibilidades. O orçamento participativo não foge à regra. Produzir
índices e indicadores é mais do que empregar um conjunto de técnicos para exibir como
dizia Ortega e Gasset “o bíceps de seu tecnicismo como Hércules de feira”. É
comunicar situações e resultados como pauta para o diálogo.
Pensando nessas dificuldades, o PLAMBEL, no início dos anos 80 percorreu toda a
região metropolitana de então, com 14 municípios, examinou cada área e conversou
com os moradores, sem privilegiar lideranças. Desse esforço, resultou a construção de
um Sistema de Unidades Espaciais que considera pelo menos três realidades. Existe a
Região Metropolitana no contexto da divisão nacional e internacional do trabalho. A
compreensão dessa realidade exige suprir os representantes do estado, dos trabalhadores
e dos capitalistas de informações agregadas que lhes favoreçam discutir políticas,
estratégias, programas de alocação de recursos, de atendimento às necessidades dos
cidadãos e de investimentos de capital. A comunicação desse nível de agregação
interessa às federações e confederações, assembléias legislativas, ministérios, órgãos
estaduais, nacionais e internacionais de fomento.
Um outro nível da realidade é o estado e os municípios como entes da federação. Nesse
caso a RMBH é vista como um conjunto de municípios. Cumpre frisar aqui duas coisas,
em primeiro lugar o município é uma unidade territorial. Em segundo, o município é
uma instância de poder. Como unidade territorial os municípios se distinguem uns dos
22
outros, como unidades de poder reivindicam isonomia no tratamento do estado. Em
terceiro, há uma Região Metropolitana Legal e uma Área Metropolitana Real. Edésio se
refere a isso com muita propriedade no artigo que já citei no início. Mas, a configuração
espacial da Área Metropolitana não é homogênea. Como já disse, alguns espaços se
caracterizaram como metropolitanos pela presença de equipamentos de porte
metropolitano, outros pela expansão dos assentamentos humanos que não encontraram
oportunidade de se localizarem no território do município metropolitano. O resultado
dessa terceira realidade é que os municípios, - o poder municipal -, se depara com uma
nova realidade; as forças metropolitanas penetram em seu território e desfiguram a sua
marca de unidade de poder. Algumas coisas podem ser resolvidas em nível local, outras
apenas na visão “na mesa de negócios” e confrontações do que é metropolitano. A
forma de comprometimento com o metropolitano precisa assumir o centro da
elaboração das contabilidades públicas.
O Sistema de Unidades Espaciais elaborado ao longo de três anos e revisto a cada
década tem como objetivo expor essas três realidades. Uma metrópole só o é no
contexto de uma rede de cidades, estadual, regional, nacional e internacional. No estudo
dessas redes explicitam-se as forças de metropolização característica da RMBH.
É uma Metrópole Global? Então onde estão as sedes, sucursais, ou filiais dos bancos,
onde as sedes das grandes empresas globalizadas; quais decisões de porte nacional e
internacionais são examinadas e discutidas nessa metrópole; com que freqüência
acontecem encontros – fóruns, congressos – nacionais e internacionais nessa metrópole.
Como seu espaço está configurado para esses acontecimentos?
É uma metrópole regional? Como compete com as metrópoles que polarizam seu
território? São Paulo, Brasília, Rio de Janeiro, Vitória e Salvador? Como o porto de
Vitória, as sedes de empresas localizadas em São Paulo e no Rio determinam programas
de expansão ou retração de investimentos? Qual o grau de autonomia na condução de
programas de formação e reprodução da força de trabalho?
Cada resposta se mostra na configuração espacial. Um exemplo. Porque o aeroporto
metropolitano se localizou em Lagoa Santa próximo ao povoado de Confins e não em
Betim, no Eixo Industrial já consolidado?
A materialização dessas forças no espaço se mostra presente no território do município
sem atenção à realidade do poder local. O caso mais trivial é o do sistema viário.
Quando as ferrovias se estenderam por Minas Gerais, Betim, Contagem, Brumadinho,
Vespasiano, Pedro Leopoldo, Matozinhos eram apenas pequenos povoados. Do mesmo
23
modo as rodovias. O território dos municípios são lugares de passagem, com efeitos
benéficos ou maléficos. O poder do município de interferir nessas redes é mínimo, pode
indicar os trajetos com efeitos menos desestruturantes, mas não podem impedir a
passagem. Desse modo, o Sistema de Unidades ao retratar o maior ou menor
comprometimento com a metropolização tem o objetivo de diagnosticar a realidade do
município como território e unidade de poder, de um lado, e as coações sofridas pela
sua inserção no espaço metropolitano.
Convencer da importância desse sistema de contabilidade social tem sido um grande
desafio. Para os prefeitos traz o incômodo de desnudar a fragilidade do município como
unidade de poder, para o estado surge o inconveniente de ter suas ações e omissões
expostas a debate mais amplo; para a academia, a obrigação de romper com inércia de
trabalhar com os relatórios estatísticos que exibem desagregações por municípios,
distritos e sub-distritos. Tem também o inconveniente de exigir levantamentos
complementares com amostras que retratem as formas de comprometimento e
favoreçam a análise de processos.
São dificuldades. Quando da elaboração do primeiro IDH metropolitano, a Fundação
João Pinheiro se convenceu da importância de apresentar os índices por macro-
unidades, aquelas em que os grandes processos de metropolização configuram espaços
específicos de acordo com a divisão social do trabalho; as unidades chamadas de
Complexos Diferenciados de Campos, nas quais as forças da metropolização podem ser
examinadas segundo a sua forma de configurar espaços específicos e um terceiro nível
de agregação denominado Sub-complexos Diferenciados de Campos, onde se visualiza
melhor a relação entre forças da metropolização e o cotidiano dos moradores.
Na segunda edição, essas distinções não obedeceram mais ao mesmo critério. Alegou-se
que a atenção para o município não podia ser abandonada. Dá-se, porém o caso de que
já existe um IDH por município, a novidade está em tornar os autores presentes no
diálogo mais conscientes da diversidade dos processos que atravessam o município
enquanto unidade de poder.
Antes de concluir quero chamar a atenção para uma obra que pode pautar o diálogo
sobre os arranjos metropolitanos, a partir dos esforços do município de Belo Horizonte
para institucionalizar a gestão participativa. Trata-se da obra recentemente publicada
com o título Democracia Participativa, a experiência de Belo Horizonte20.
20 AZEVEDO, Sérgio de e NABUCO, Ana Luiza. Democracia Participativa. Belo Horizonte: Leitura: Prefeitura de Belo Horizonte, 2009.
24
A leitura de toda a obra deve ser feita em grupos de discussão e, para nosso caso,
especialmente o capítulo final “O papel de Belo Horizonte na construção das novas
bases para a gestão metropolitana” no qual Sérgio de Azevedo, Virgínia Rennó dos
Mares Guia e Gustavo Gomes Machado dão o melhor de si para incluírem o leitor nessa
roda de conversação.
Minha conclusão pode se resumir numa única afirmação. Uma gestão metropolitana
deve ser orientada pela intenção de planejamento. O arranjo de gestão aponta para o
campo de visão do hoje, do amanhã e do depois de amanhã. A atenção para os silêncios
e os silenciados permite avaliar esse alcance.
Após a Constituição de 1988, os estados ficaram incumbidos de criar regiões
metropolitanas. Ser componente de região metropolitana deixou de ser algo que tenha a
ver com planejamento e gestão compartilhada para se tornar título de nobreza. Em
Minas proliferaram na Assembléia Legislativa projetos de regiões metropolitanas por
todo o estado. Em Santa Catarina, multiplicaram-se regiões metropolitanas.
Essa festa não é exclusiva, outros exemplos podem ser encontrados, por exemplo, com a
questão de políticas culturais, como a que se dedica à questão étnica. Quilombos se
multiplicaram forçando interpretações dos preceitos da Constituição.
No caso da RMBH, há sérias dificuldades em entender como metropolitanos os
municípios de Itaguara, Itatiaiuçu, Florestal,Nova União, Taquaraçu de Minas, Baldim
ou Jaboticatubas. Seu baixíssimo comprometimento com a metropolização exige o
exercício de obedecer à lei mais do que aos processos que os configuram. Só isso já
deixa evidente como se podem gerar conflitos com arranjos institucionais. Se a lei inclui
territórios de baixo comprometimento, como esses municípios participarão das
deliberações? Lembre-se da unidade de poder.
Em certa oportunidade tivemos que buscar informações da malha censitária do IBGE de
municípios metropolitanos nas cidades de Itauna, Pará de Minas, Sete Lagoas e Itabira e
ouvimos das pessoas desses municípios a pergunta: Por que eles e não nós?
Essa forma de configuração legal teve claros reflexos na Assembléia Metropolitana e no
fracasso dos arranjos institucionais. Os municípios com maior comprometimento com a
metropolização sempre foram derrotados em suas propostas e o estado se recusou, ao
longo de anos, a implantar o Fundo Metropolitano determinado pela Constituição de
1989.
25
Há ainda o desafio de comparecimento da sociedade civil. Sua representação somente
tem sentido quando se dedica ao debate de uma questão metropolitana. Os movimentos
sociais, regra geral têm marcas locais, excetuados os das “classes produtoras”, parceiras
históricas das burocracias públicas. Entretanto, com a freqüência maior de conferências
estaduais e regionais de saúde, assistência social, educação, cultura e de cidades, as
reivindicações dos movimentos sociais têm apontado para soluções que ultrapassam o
nível local. Tome-se como exemplo a Primeira Conferência da RMBH. Dois problemas
ocuparam lugar de destaque: Transportes e Habitação. A presença de representantes
desses movimentos nas mesas de deliberação não pode ser esquecida.
Exercitar o diálogo e lutar por ele é, no meu entender, o maior objetivo para
consolidação de arranjos institucionais duradouros. Isso pede uma base de acordo: estar
pronto para conviver com situações de conflito, sem interpretá-las como fonte do
fracasso.
Termino com um pensamento de Castoriadis que me tocou profundamente em minha
prática:
Minha liberdade começa onde começa a liberdade dos outros.
Estamos tão acostumados a defender apenas a nossa liberdade que parece um erro de
transcrição. Todas as vezes que me aproprio desse pensamento, logo alguém me corrige:
“não é começa, não, professor, é termina”.
Um abraço para todos.
Belo Horizonte, 1 de maio de 2009 – dia do trabalhador
26
Anexo – Sistema de Unidades Espaciais da RMBH
Núcleo CentralÁrea PericentralPampulhaEixo IndustrialPeriferiasFranjaÁrea de Expansão Metrop.Área de Compromet. Mínimo
MACROUNIDADES 2002 RMBH
Fonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João Pinheiro
21
1514
168
22
9
1310
12 20
24
23
18
5 17
3
4 671
211
25
19
Vespasiano
Santa Luzia
São José da Lapa
Ribeirão das Neves
Belo HorizonteContagem
Ibirité
Lagoa Santa
Nova Lima
Betim
Sabará
Brumadinho
COMPLEXOS DE CAMPOS 2002 RMBH (1)COMPLEXOS DE CAMPOS 2002 RMBH (1)COMPLEXOS DE CAMPOS 2002 RMBH (1)COMPLEXOS DE CAMPOS 2002 RMBH (1)COMPLEXOS DE CAMPOS 2002 RMBH (1)COMPLEXOS DE CAMPOS 2002 RMBH (1)COMPLEXOS DE CAMPOS 2002 RMBH (1)COMPLEXOS DE CAMPOS 2002 RMBH (1)COMPLEXOS DE CAMPOS 2002 RMBH (1)
Fonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João Pinheiro
Classificação por MacrounidadesNúcleo Central
Área Pericentral
Pampulha
Eixo Industrial
Periferias
Franja
Área de Expansão Metrop.
19
20
20
9
18 21
2121
14 - Venda Nova/ Justinópolis/ Norte14 - Venda Nova/ Justinópolis/ Norte14 - Venda Nova/ Justinópolis/ Norte14 - Venda Nova/ Justinópolis/ Norte14 - Venda Nova/ Justinópolis/ Norte14 - Venda Nova/ Justinópolis/ Norte14 - Venda Nova/ Justinópolis/ Norte14 - Venda Nova/ Justinópolis/ Norte14 - Venda Nova/ Justinópolis/ Norte15 - São Benedito15 - São Benedito15 - São Benedito15 - São Benedito15 - São Benedito15 - São Benedito15 - São Benedito15 - São Benedito15 - São Benedito16 - Aarão Reis16 - Aarão Reis16 - Aarão Reis16 - Aarão Reis16 - Aarão Reis16 - Aarão Reis16 - Aarão Reis16 - Aarão Reis16 - Aarão Reis17 - General Carneiro17 - General Carneiro17 - General Carneiro17 - General Carneiro17 - General Carneiro17 - General Carneiro17 - General Carneiro17 - General Carneiro17 - General Carneiro18 - Ribeirão das Neves18 - Ribeirão das Neves18 - Ribeirão das Neves18 - Ribeirão das Neves18 - Ribeirão das Neves18 - Ribeirão das Neves18 - Ribeirão das Neves18 - Ribeirão das Neves18 - Ribeirão das Neves19 - Franja Sul19 - Franja Sul19 - Franja Sul19 - Franja Sul19 - Franja Sul19 - Franja Sul19 - Franja Sul19 - Franja Sul19 - Franja Sul20 - Franja Oeste20 - Franja Oeste20 - Franja Oeste20 - Franja Oeste20 - Franja Oeste20 - Franja Oeste20 - Franja Oeste20 - Franja Oeste20 - Franja Oeste21 - Entorno Periferia21 - Entorno Periferia21 - Entorno Periferia21 - Entorno Periferia21 - Entorno Periferia21 - Entorno Periferia21 - Entorno Periferia21 - Entorno Periferia21 - Entorno Periferia22 - Vespasiano 22 - Vespasiano 22 - Vespasiano 22 - Vespasiano 22 - Vespasiano 22 - Vespasiano 22 - Vespasiano 22 - Vespasiano 22 - Vespasiano 23 - Lagoa Santa23 - Lagoa Santa23 - Lagoa Santa23 - Lagoa Santa23 - Lagoa Santa23 - Lagoa Santa23 - Lagoa Santa23 - Lagoa Santa23 - Lagoa Santa24 - Santa Luzia24 - Santa Luzia24 - Santa Luzia24 - Santa Luzia24 - Santa Luzia24 - Santa Luzia24 - Santa Luzia24 - Santa Luzia24 - Santa Luzia25 - Ravena25 - Ravena25 - Ravena25 - Ravena25 - Ravena25 - Ravena25 - Ravena25 - Ravena25 - Ravena
1 - Área Central1 - Área Central1 - Área Central1 - Área Central1 - Área Central1 - Área Central1 - Área Central1 - Área Central1 - Área Central2 - Zona Sul2 - Zona Sul2 - Zona Sul2 - Zona Sul2 - Zona Sul2 - Zona Sul2 - Zona Sul2 - Zona Sul2 - Zona Sul3 - Calafate/ Gameleira3 - Calafate/ Gameleira3 - Calafate/ Gameleira3 - Calafate/ Gameleira3 - Calafate/ Gameleira3 - Calafate/ Gameleira3 - Calafate/ Gameleira3 - Calafate/ Gameleira3 - Calafate/ Gameleira4 - Carlos Prates/ Padre Eustáquio4 - Carlos Prates/ Padre Eustáquio4 - Carlos Prates/ Padre Eustáquio4 - Carlos Prates/ Padre Eustáquio4 - Carlos Prates/ Padre Eustáquio4 - Carlos Prates/ Padre Eustáquio4 - Carlos Prates/ Padre Eustáquio4 - Carlos Prates/ Padre Eustáquio4 - Carlos Prates/ Padre Eustáquio5 - Lagoinha/ Cachoeirinha5 - Lagoinha/ Cachoeirinha5 - Lagoinha/ Cachoeirinha5 - Lagoinha/ Cachoeirinha5 - Lagoinha/ Cachoeirinha5 - Lagoinha/ Cachoeirinha5 - Lagoinha/ Cachoeirinha5 - Lagoinha/ Cachoeirinha5 - Lagoinha/ Cachoeirinha6 - Floresta/ Horto/ Renascença6 - Floresta/ Horto/ Renascença6 - Floresta/ Horto/ Renascença6 - Floresta/ Horto/ Renascença6 - Floresta/ Horto/ Renascença6 - Floresta/ Horto/ Renascença6 - Floresta/ Horto/ Renascença6 - Floresta/ Horto/ Renascença6 - Floresta/ Horto/ Renascença7 - Sta. Efigênia7 - Sta. Efigênia7 - Sta. Efigênia7 - Sta. Efigênia7 - Sta. Efigênia7 - Sta. Efigênia7 - Sta. Efigênia7 - Sta. Efigênia7 - Sta. Efigênia8 - Pampulha8 - Pampulha8 - Pampulha8 - Pampulha8 - Pampulha8 - Pampulha8 - Pampulha8 - Pampulha8 - Pampulha9 - Cidade Industrial9 - Cidade Industrial9 - Cidade Industrial9 - Cidade Industrial9 - Cidade Industrial9 - Cidade Industrial9 - Cidade Industrial9 - Cidade Industrial9 - Cidade Industrial10 - Contagem10 - Contagem10 - Contagem10 - Contagem10 - Contagem10 - Contagem10 - Contagem10 - Contagem10 - Contagem11 - Betim11 - Betim11 - Betim11 - Betim11 - Betim11 - Betim11 - Betim11 - Betim11 - Betim12 - Ibirité12 - Ibirité12 - Ibirité12 - Ibirité12 - Ibirité12 - Ibirité12 - Ibirité12 - Ibirité12 - Ibirité13 - Ressaca13 - Ressaca13 - Ressaca13 - Ressaca13 - Ressaca13 - Ressaca13 - Ressaca13 - Ressaca13 - Ressaca
27
4745
4446
37
43 30
34
29
41
42
26
27
31
36
3249
35 52
28
53
39
5033
51
38
48
Brumadinho
Betim
Mateus Leme
Nova Lima
Sabará
Raposos
EsmeraldasPedro Leopoldo
Capim Branco
Lagoa Santa
Confins
Taquaraçu de Minas
Rio Acima
Rio Manso
Itatiaiuçu
Florestal
Matozinhos
Caeté
Itaguara
Nova União
Baldim
Jabuticatubas
40
Complexos de Campos 2002 RMBH (2)Complexos de Campos 2002 RMBH (2)Complexos de Campos 2002 RMBH (2)Complexos de Campos 2002 RMBH (2)Complexos de Campos 2002 RMBH (2)Complexos de Campos 2002 RMBH (2)Complexos de Campos 2002 RMBH (2)Complexos de Campos 2002 RMBH (2)Complexos de Campos 2002 RMBH (2)
Fonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João Pinheiro
Classificação por MacrounidadesNúcleo Central
Área PericentralPampulha
Eixo IndustrialPeriferias
FranjaÁrea de Expansão Metrop.
Área de Compromet. Mínimo
40 - Esmeraldas/ BR-04041 - Mateus Leme42 - Serra Azul43 - Juatuba44 - Citrolândia45 - Igarapé/ Bicas46 - Rural de Igarapé47 - Rural de Bicas48 - Vetor da Serra do Cipó49 - Matozinhos/ Capim Branco50 - Florestal51 - Itaguara/ Itatiaiuçu
26 - Sabará27 - Nova Lima/ Raposos28 - Rio Acima29 - Sarzedo30 - Vianópolis31 - Vera Cruz32 - Urubu33 - Fidalgo34 - Caeté35 - Vargem das Flores36 - Aeroporto Internacional37 - Brumadinho38 - Leste de Brumadinho39 - Esmeraldas
52 - Nova União/ Taquaraçu de Minas52 - Nova União/ Taquaraçu de Minas52 - Nova União/ Taquaraçu de Minas52 - Nova União/ Taquaraçu de Minas52 - Nova União/ Taquaraçu de Minas52 - Nova União/ Taquaraçu de Minas52 - Nova União/ Taquaraçu de Minas52 - Nova União/ Taquaraçu de Minas52 - Nova União/ Taquaraçu de Minas53 - Rio Manso53 - Rio Manso53 - Rio Manso53 - Rio Manso53 - Rio Manso53 - Rio Manso53 - Rio Manso53 - Rio Manso53 - Rio Manso
49
27
52
48
51
29
12
4
6 15
3
2
22
15
16
17
14
23
18
13
10
11
9
87
20
19
21
Ibirité
Contagem
Belo Horizonte
Betim
Classificação por MacrounidadesNúcleo Central
Área Pericentral
Pampulha
Eixo Industrial
Periferias
Sub-complexos de campos 2002 RMBH (1)Sub-complexos de campos 2002 RMBH (1)Sub-complexos de campos 2002 RMBH (1)Sub-complexos de campos 2002 RMBH (1)Sub-complexos de campos 2002 RMBH (1)Sub-complexos de campos 2002 RMBH (1)Sub-complexos de campos 2002 RMBH (1)Sub-complexos de campos 2002 RMBH (1)Sub-complexos de campos 2002 RMBH (1)
1 - Área Central1 - Área Central1 - Área Central1 - Área Central1 - Área Central1 - Área Central1 - Área Central1 - Área Central1 - Área Central2 - Mangabeiras2 - Mangabeiras2 - Mangabeiras2 - Mangabeiras2 - Mangabeiras2 - Mangabeiras2 - Mangabeiras2 - Mangabeiras2 - Mangabeiras3 - Santo Antônio/ São Bento3 - Santo Antônio/ São Bento3 - Santo Antônio/ São Bento3 - Santo Antônio/ São Bento3 - Santo Antônio/ São Bento3 - Santo Antônio/ São Bento3 - Santo Antônio/ São Bento3 - Santo Antônio/ São Bento3 - Santo Antônio/ São Bento4 - Betânia4 - Betânia4 - Betânia4 - Betânia4 - Betânia4 - Betânia4 - Betânia4 - Betânia4 - Betânia5 - Calafate/ Barroca5 - Calafate/ Barroca5 - Calafate/ Barroca5 - Calafate/ Barroca5 - Calafate/ Barroca5 - Calafate/ Barroca5 - Calafate/ Barroca5 - Calafate/ Barroca5 - Calafate/ Barroca6 - Gameleira6 - Gameleira6 - Gameleira6 - Gameleira6 - Gameleira6 - Gameleira6 - Gameleira6 - Gameleira6 - Gameleira7 - Carlos Prates/ Padre Eustáquio7 - Carlos Prates/ Padre Eustáquio7 - Carlos Prates/ Padre Eustáquio7 - Carlos Prates/ Padre Eustáquio7 - Carlos Prates/ Padre Eustáquio7 - Carlos Prates/ Padre Eustáquio7 - Carlos Prates/ Padre Eustáquio7 - Carlos Prates/ Padre Eustáquio7 - Carlos Prates/ Padre Eustáquio8 - Lagoinha8 - Lagoinha8 - Lagoinha8 - Lagoinha8 - Lagoinha8 - Lagoinha8 - Lagoinha8 - Lagoinha8 - Lagoinha9 - Cachoeirinha9 - Cachoeirinha9 - Cachoeirinha9 - Cachoeirinha9 - Cachoeirinha9 - Cachoeirinha9 - Cachoeirinha9 - Cachoeirinha9 - Cachoeirinha10 - Renascença10 - Renascença10 - Renascença10 - Renascença10 - Renascença10 - Renascença10 - Renascença10 - Renascença10 - Renascença11 - Floresta/ Horto11 - Floresta/ Horto11 - Floresta/ Horto11 - Floresta/ Horto11 - Floresta/ Horto11 - Floresta/ Horto11 - Floresta/ Horto11 - Floresta/ Horto11 - Floresta/ Horto12 - Santa Efigênia12 - Santa Efigênia12 - Santa Efigênia12 - Santa Efigênia12 - Santa Efigênia12 - Santa Efigênia12 - Santa Efigênia12 - Santa Efigênia12 - Santa Efigênia13 - Pampulha13 - Pampulha13 - Pampulha13 - Pampulha13 - Pampulha13 - Pampulha13 - Pampulha13 - Pampulha13 - Pampulha
14 - Barreiro14 - Barreiro14 - Barreiro14 - Barreiro14 - Barreiro14 - Barreiro14 - Barreiro14 - Barreiro14 - Barreiro15 - Cidade Industrial15 - Cidade Industrial15 - Cidade Industrial15 - Cidade Industrial15 - Cidade Industrial15 - Cidade Industrial15 - Cidade Industrial15 - Cidade Industrial15 - Cidade Industrial16 - Durval de Barros16 - Durval de Barros16 - Durval de Barros16 - Durval de Barros16 - Durval de Barros16 - Durval de Barros16 - Durval de Barros16 - Durval de Barros16 - Durval de Barros17 - Riacho17 - Riacho17 - Riacho17 - Riacho17 - Riacho17 - Riacho17 - Riacho17 - Riacho17 - Riacho18 - Eldorado18 - Eldorado18 - Eldorado18 - Eldorado18 - Eldorado18 - Eldorado18 - Eldorado18 - Eldorado18 - Eldorado19 - Contagem19 - Contagem19 - Contagem19 - Contagem19 - Contagem19 - Contagem19 - Contagem19 - Contagem19 - Contagem20 - Imbiruçu20 - Imbiruçu20 - Imbiruçu20 - Imbiruçu20 - Imbiruçu20 - Imbiruçu20 - Imbiruçu20 - Imbiruçu20 - Imbiruçu21 - Betim21 - Betim21 - Betim21 - Betim21 - Betim21 - Betim21 - Betim21 - Betim21 - Betim22 - Ibirité22 - Ibirité22 - Ibirité22 - Ibirité22 - Ibirité22 - Ibirité22 - Ibirité22 - Ibirité22 - Ibirité23 - Ressaca23 - Ressaca23 - Ressaca23 - Ressaca23 - Ressaca23 - Ressaca23 - Ressaca23 - Ressaca23 - Ressaca
Fonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João Pinheiro
2320
20
15
28
3635
37
30
44
27
41
2826
25
45
32
46
31
40
34
33
24
4229
43
39Betim
Belo Horizonte
Ibirité
Contagem
VespasianoSão José da Lapa
Santa Luzia
Ribeirão das Neves
Sabará
Nova Lima
35
31
Classificaçao por MacrounidadesNúcleo Central
Área Pericentral
Pampulha
Eixo Industrial
PeriferiasFranja
Área de Expansão Metrop.
Sub-complexos de campos 2002 RMBH (2)Sub-complexos de campos 2002 RMBH (2)Sub-complexos de campos 2002 RMBH (2)Sub-complexos de campos 2002 RMBH (2)Sub-complexos de campos 2002 RMBH (2)Sub-complexos de campos 2002 RMBH (2)Sub-complexos de campos 2002 RMBH (2)Sub-complexos de campos 2002 RMBH (2)Sub-complexos de campos 2002 RMBH (2)
24 - Nacional24 - Nacional24 - Nacional24 - Nacional24 - Nacional24 - Nacional24 - Nacional24 - Nacional24 - Nacional25 - Justinópolis25 - Justinópolis25 - Justinópolis25 - Justinópolis25 - Justinópolis25 - Justinópolis25 - Justinópolis25 - Justinópolis25 - Justinópolis26 - Venda Nova26 - Venda Nova26 - Venda Nova26 - Venda Nova26 - Venda Nova26 - Venda Nova26 - Venda Nova26 - Venda Nova26 - Venda Nova27 - Boleira/ Via Norte27 - Boleira/ Via Norte27 - Boleira/ Via Norte27 - Boleira/ Via Norte27 - Boleira/ Via Norte27 - Boleira/ Via Norte27 - Boleira/ Via Norte27 - Boleira/ Via Norte27 - Boleira/ Via Norte28 - São Benedito28 - São Benedito28 - São Benedito28 - São Benedito28 - São Benedito28 - São Benedito28 - São Benedito28 - São Benedito28 - São Benedito29 - Aarão Reis 29 - Aarão Reis 29 - Aarão Reis 29 - Aarão Reis 29 - Aarão Reis 29 - Aarão Reis 29 - Aarão Reis 29 - Aarão Reis 29 - Aarão Reis 30 - General Carneiro30 - General Carneiro30 - General Carneiro30 - General Carneiro30 - General Carneiro30 - General Carneiro30 - General Carneiro30 - General Carneiro30 - General Carneiro31 - Vetor 04031 - Vetor 04031 - Vetor 04031 - Vetor 04031 - Vetor 04031 - Vetor 04031 - Vetor 04031 - Vetor 04031 - Vetor 04032 - Ribeirão das Neves32 - Ribeirão das Neves32 - Ribeirão das Neves32 - Ribeirão das Neves32 - Ribeirão das Neves32 - Ribeirão das Neves32 - Ribeirão das Neves32 - Ribeirão das Neves32 - Ribeirão das Neves33 - S. Seb. Águas Claras33 - S. Seb. Águas Claras33 - S. Seb. Águas Claras33 - S. Seb. Águas Claras33 - S. Seb. Águas Claras33 - S. Seb. Águas Claras33 - S. Seb. Águas Claras33 - S. Seb. Águas Claras33 - S. Seb. Águas Claras34 - BR 040/ Sul34 - BR 040/ Sul34 - BR 040/ Sul34 - BR 040/ Sul34 - BR 040/ Sul34 - BR 040/ Sul34 - BR 040/ Sul34 - BR 040/ Sul34 - BR 040/ Sul35 - Sul do Barreiro35 - Sul do Barreiro35 - Sul do Barreiro35 - Sul do Barreiro35 - Sul do Barreiro35 - Sul do Barreiro35 - Sul do Barreiro35 - Sul do Barreiro35 - Sul do Barreiro36 -Fundos da REGAP36 -Fundos da REGAP36 -Fundos da REGAP36 -Fundos da REGAP36 -Fundos da REGAP36 -Fundos da REGAP36 -Fundos da REGAP36 -Fundos da REGAP36 -Fundos da REGAP
37 - Citrolândia37 - Citrolândia37 - Citrolândia37 - Citrolândia37 - Citrolândia37 - Citrolândia37 - Citrolândia37 - Citrolândia37 - Citrolândia39 - Vianópolis39 - Vianópolis39 - Vianópolis39 - Vianópolis39 - Vianópolis39 - Vianópolis39 - Vianópolis39 - Vianópolis39 - Vianópolis40 - Noroeste Aglomerado40 - Noroeste Aglomerado40 - Noroeste Aglomerado40 - Noroeste Aglomerado40 - Noroeste Aglomerado40 - Noroeste Aglomerado40 - Noroeste Aglomerado40 - Noroeste Aglomerado40 - Noroeste Aglomerado41 - Norte Aglomerado41 - Norte Aglomerado41 - Norte Aglomerado41 - Norte Aglomerado41 - Norte Aglomerado41 - Norte Aglomerado41 - Norte Aglomerado41 - Norte Aglomerado41 - Norte Aglomerado42 - Nordeste Aglomerado42 - Nordeste Aglomerado42 - Nordeste Aglomerado42 - Nordeste Aglomerado42 - Nordeste Aglomerado42 - Nordeste Aglomerado42 - Nordeste Aglomerado42 - Nordeste Aglomerado42 - Nordeste Aglomerado43 - Leste Aglomerado43 - Leste Aglomerado43 - Leste Aglomerado43 - Leste Aglomerado43 - Leste Aglomerado43 - Leste Aglomerado43 - Leste Aglomerado43 - Leste Aglomerado43 - Leste Aglomerado44 - Vespasiano44 - Vespasiano44 - Vespasiano44 - Vespasiano44 - Vespasiano44 - Vespasiano44 - Vespasiano44 - Vespasiano44 - Vespasiano45 - São José da Lapa45 - São José da Lapa45 - São José da Lapa45 - São José da Lapa45 - São José da Lapa45 - São José da Lapa45 - São José da Lapa45 - São José da Lapa45 - São José da Lapa46 - Inácia de Carvalho46 - Inácia de Carvalho46 - Inácia de Carvalho46 - Inácia de Carvalho46 - Inácia de Carvalho46 - Inácia de Carvalho46 - Inácia de Carvalho46 - Inácia de Carvalho46 - Inácia de Carvalho
Fonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João Pinheiro
88 - Itaguara89 - Nova União 90 - Rio Manso91 - Taquaraçu de Minas92 - Itatiaiuçu
53
5250
51
63
6465
62
67
66
56
54
70
55
49
48
696861
47
7980 6058
59
81
57
Sabará
Santa Luzia
Brumadinho
Pedro Leopoldo
Confins
Caeté
Lagoa Santa
Raposos
Betim
Nova LimaSarzedoIgarapéSão Joaquim de Bicas
Mario CamposRio Acima
47 - Lagoa Santa47 - Lagoa Santa47 - Lagoa Santa47 - Lagoa Santa47 - Lagoa Santa47 - Lagoa Santa47 - Lagoa Santa47 - Lagoa Santa47 - Lagoa Santa48 - Rio das Velhas48 - Rio das Velhas48 - Rio das Velhas48 - Rio das Velhas48 - Rio das Velhas48 - Rio das Velhas48 - Rio das Velhas48 - Rio das Velhas48 - Rio das Velhas49 - Pinhões49 - Pinhões49 - Pinhões49 - Pinhões49 - Pinhões49 - Pinhões49 - Pinhões49 - Pinhões49 - Pinhões50 - Santa Luzia50 - Santa Luzia50 - Santa Luzia50 - Santa Luzia50 - Santa Luzia50 - Santa Luzia50 - Santa Luzia50 - Santa Luzia50 - Santa Luzia51 - BR-26251 - BR-26251 - BR-26251 - BR-26251 - BR-26251 - BR-26251 - BR-26251 - BR-26251 - BR-26252 - Ravena52 - Ravena52 - Ravena52 - Ravena52 - Ravena52 - Ravena52 - Ravena52 - Ravena52 - Ravena53 - Sabará53 - Sabará53 - Sabará53 - Sabará53 - Sabará53 - Sabará53 - Sabará53 - Sabará53 - Sabará54 - Sabará Sul54 - Sabará Sul54 - Sabará Sul54 - Sabará Sul54 - Sabará Sul54 - Sabará Sul54 - Sabará Sul54 - Sabará Sul54 - Sabará Sul55 - Nova Lima55 - Nova Lima55 - Nova Lima55 - Nova Lima55 - Nova Lima55 - Nova Lima55 - Nova Lima55 - Nova Lima55 - Nova Lima56 - Raposos56 - Raposos56 - Raposos56 - Raposos56 - Raposos56 - Raposos56 - Raposos56 - Raposos56 - Raposos57 - Brumadinho57 - Brumadinho57 - Brumadinho57 - Brumadinho57 - Brumadinho57 - Brumadinho57 - Brumadinho57 - Brumadinho57 - Brumadinho58 - Rio Acima58 - Rio Acima58 - Rio Acima58 - Rio Acima58 - Rio Acima58 - Rio Acima58 - Rio Acima58 - Rio Acima58 - Rio Acima59 - Piedade Paraopeba./ C. Branca59 - Piedade Paraopeba./ C. Branca59 - Piedade Paraopeba./ C. Branca59 - Piedade Paraopeba./ C. Branca59 - Piedade Paraopeba./ C. Branca59 - Piedade Paraopeba./ C. Branca59 - Piedade Paraopeba./ C. Branca59 - Piedade Paraopeba./ C. Branca59 - Piedade Paraopeba./ C. Branca60 - Sarzedo60 - Sarzedo60 - Sarzedo60 - Sarzedo60 - Sarzedo60 - Sarzedo60 - Sarzedo60 - Sarzedo60 - Sarzedo61 - Vargem das Flores61 - Vargem das Flores61 - Vargem das Flores61 - Vargem das Flores61 - Vargem das Flores61 - Vargem das Flores61 - Vargem das Flores61 - Vargem das Flores61 - Vargem das Flores
Classificação por MacrounidadesNúcleo Central
Área Pericentral
Pampulha
Eixo Industrial
Periferias
Franja
Área de Expansão Metrop.
Área de Compromet. Mínimo
Sub-complexos de campos 2002 RMBH (3)Sub-complexos de campos 2002 RMBH (3)Sub-complexos de campos 2002 RMBH (3)Sub-complexos de campos 2002 RMBH (3)Sub-complexos de campos 2002 RMBH (3)Sub-complexos de campos 2002 RMBH (3)Sub-complexos de campos 2002 RMBH (3)Sub-complexos de campos 2002 RMBH (3)Sub-complexos de campos 2002 RMBH (3)
62 - Vera Cruz62 - Vera Cruz62 - Vera Cruz62 - Vera Cruz62 - Vera Cruz62 - Vera Cruz62 - Vera Cruz62 - Vera Cruz62 - Vera Cruz63 - Aranha/ S. José do Paraopeba63 - Aranha/ S. José do Paraopeba63 - Aranha/ S. José do Paraopeba63 - Aranha/ S. José do Paraopeba63 - Aranha/ S. José do Paraopeba63 - Aranha/ S. José do Paraopeba63 - Aranha/ S. José do Paraopeba63 - Aranha/ S. José do Paraopeba63 - Aranha/ S. José do Paraopeba64 - Pedro Leopoldo64 - Pedro Leopoldo64 - Pedro Leopoldo64 - Pedro Leopoldo64 - Pedro Leopoldo64 - Pedro Leopoldo64 - Pedro Leopoldo64 - Pedro Leopoldo64 - Pedro Leopoldo65 - Confins65 - Confins65 - Confins65 - Confins65 - Confins65 - Confins65 - Confins65 - Confins65 - Confins66 - Fidalgo66 - Fidalgo66 - Fidalgo66 - Fidalgo66 - Fidalgo66 - Fidalgo66 - Fidalgo66 - Fidalgo66 - Fidalgo67 - Roças Novas67 - Roças Novas67 - Roças Novas67 - Roças Novas67 - Roças Novas67 - Roças Novas67 - Roças Novas67 - Roças Novas67 - Roças Novas68 - Antônio dos Santos68 - Antônio dos Santos68 - Antônio dos Santos68 - Antônio dos Santos68 - Antônio dos Santos68 - Antônio dos Santos68 - Antônio dos Santos68 - Antônio dos Santos68 - Antônio dos Santos69 - Caeté69 - Caeté69 - Caeté69 - Caeté69 - Caeté69 - Caeté69 - Caeté69 - Caeté69 - Caeté70 - Morro Vermelho70 - Morro Vermelho70 - Morro Vermelho70 - Morro Vermelho70 - Morro Vermelho70 - Morro Vermelho70 - Morro Vermelho70 - Morro Vermelho70 - Morro Vermelho79 - Igarapé/ Bicas79 - Igarapé/ Bicas79 - Igarapé/ Bicas79 - Igarapé/ Bicas79 - Igarapé/ Bicas79 - Igarapé/ Bicas79 - Igarapé/ Bicas79 - Igarapé/ Bicas79 - Igarapé/ Bicas80 - Rural de Igarapé80 - Rural de Igarapé80 - Rural de Igarapé80 - Rural de Igarapé80 - Rural de Igarapé80 - Rural de Igarapé80 - Rural de Igarapé80 - Rural de Igarapé80 - Rural de Igarapé81 - Rural de Bicas81 - Rural de Bicas81 - Rural de Bicas81 - Rural de Bicas81 - Rural de Bicas81 - Rural de Bicas81 - Rural de Bicas81 - Rural de Bicas81 - Rural de BicasFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João Pinheiro
6079
29
90
77
92
8991
85
82
84
78
72
87
76
88
74
8673
83
Rio Manso
Itatiaiuçu
Nova União
Taquaraçu de Minas
Baldim
Matozinhos Jabuticatubas
Juatuba
Florestal
Mateus Leme
Itaguara
Esmeraldas
Capim Branco
71 - Esmeraldas- Sede71 - Esmeraldas- Sede71 - Esmeraldas- Sede71 - Esmeraldas- Sede71 - Esmeraldas- Sede71 - Esmeraldas- Sede71 - Esmeraldas- Sede71 - Esmeraldas- Sede71 - Esmeraldas- Sede72 - Rural de Esmeraldas72 - Rural de Esmeraldas72 - Rural de Esmeraldas72 - Rural de Esmeraldas72 - Rural de Esmeraldas72 - Rural de Esmeraldas72 - Rural de Esmeraldas72 - Rural de Esmeraldas72 - Rural de Esmeraldas73 - Andiroba73 - Andiroba73 - Andiroba73 - Andiroba73 - Andiroba73 - Andiroba73 - Andiroba73 - Andiroba73 - Andiroba74 - Melô Viana/ Ipê Amarelo74 - Melô Viana/ Ipê Amarelo74 - Melô Viana/ Ipê Amarelo74 - Melô Viana/ Ipê Amarelo74 - Melô Viana/ Ipê Amarelo74 - Melô Viana/ Ipê Amarelo74 - Melô Viana/ Ipê Amarelo74 - Melô Viana/ Ipê Amarelo74 - Melô Viana/ Ipê Amarelo75 - Mateus Leme75 - Mateus Leme75 - Mateus Leme75 - Mateus Leme75 - Mateus Leme75 - Mateus Leme75 - Mateus Leme75 - Mateus Leme75 - Mateus Leme76 - Serra Azul/ Azurita76 - Serra Azul/ Azurita76 - Serra Azul/ Azurita76 - Serra Azul/ Azurita76 - Serra Azul/ Azurita76 - Serra Azul/ Azurita76 - Serra Azul/ Azurita76 - Serra Azul/ Azurita76 - Serra Azul/ Azurita77 - Juatuba77 - Juatuba77 - Juatuba77 - Juatuba77 - Juatuba77 - Juatuba77 - Juatuba77 - Juatuba77 - Juatuba82 - Jaboticatubas82 - Jaboticatubas82 - Jaboticatubas82 - Jaboticatubas82 - Jaboticatubas82 - Jaboticatubas82 - Jaboticatubas82 - Jaboticatubas82 - Jaboticatubas83 - Matozinhos83 - Matozinhos83 - Matozinhos83 - Matozinhos83 - Matozinhos83 - Matozinhos83 - Matozinhos83 - Matozinhos83 - Matozinhos84 - Baldim84 - Baldim84 - Baldim84 - Baldim84 - Baldim84 - Baldim84 - Baldim84 - Baldim84 - Baldim85 - Vila Amanda85 - Vila Amanda85 - Vila Amanda85 - Vila Amanda85 - Vila Amanda85 - Vila Amanda85 - Vila Amanda85 - Vila Amanda85 - Vila Amanda86 - Capim Branco86 - Capim Branco86 - Capim Branco86 - Capim Branco86 - Capim Branco86 - Capim Branco86 - Capim Branco86 - Capim Branco86 - Capim Branco87 - Florestal87 - Florestal87 - Florestal87 - Florestal87 - Florestal87 - Florestal87 - Florestal87 - Florestal87 - Florestal
Classificação por MacrounidadesNúcleo Central
Área Pericentral
Pampulha
Eixo Industrial
Periferias
Franja
Área de Expansão Metrop.
Área de Compromet. Mínimo
Sub-complexos de campos 2002 RMBH (4)Sub-complexos de campos 2002 RMBH (4)Sub-complexos de campos 2002 RMBH (4)Sub-complexos de campos 2002 RMBH (4)Sub-complexos de campos 2002 RMBH (4)Sub-complexos de campos 2002 RMBH (4)Sub-complexos de campos 2002 RMBH (4)Sub-complexos de campos 2002 RMBH (4)Sub-complexos de campos 2002 RMBH (4)
escondidoescondidoescondidoescondidoescondidoescondidoescondidoescondidoescondido
Fonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João PinheiroFonte: Pesquisa Origem-Destino 2002 - Fundação João Pinheiro
88 - Itaguara89 - Nova União 90 - Rio Manso91 - Taquaraçu de Minas92 - Itatiaiuçu
71
Campos
São Vicente e entorno
Parque Nacional da Serra da Cipó
Vila Amanda
Almeida
Capim Branco Centro e EntornoMatozinhos Centro e Entorno
Distrito de Andiróba
São José da Serra
Rio Acima
Vetor Rio Acima
Morro Vermelho
Vetor 040/Vale do Sol/ SkolItatiaiuçu Centro e EntornoTejuco/Brumadinho
Rio Manso Centro e EntornoS.José Paraopeba
Florestal Centro e Entorno
Novo Retiro/Serra Negra
AzuritaCentro/Entorno
Serra Azul
Itaguara Centro e Entorno
Nova União/Centro e Entorno
Taquaraçu Centro e Entorno
Antônio dos Santos
Rural de Esmeraldas
Baldim Centro e Entorno
30
Áreas Homogêneas
RMBH – Municípios
44°30'
19°12' 19°12'
43°30'
20°12'43°30'
Ibirité
SarzedoIgarapé
São Joaquim de BicasMario Campos
Mateus Leme
Brumadinho
Betim
Pedro Leopoldo
Santa Luzia
São José da Lapa
Ribeirão das Neves
Vespasiano
Confins Taquaraçu de MinasLagoa Santa
Capim Branco
Matozinhos
Baldim
Esmeraldas
ContagemBelo Horizonte
Juatuba
Florestal
Rio Manso
Itatiaiuçu
Itaguara
Rio Acima
Nova Lima
Raposos
Sabará
Nova União
Caeté
Jabuticatubas
31
Curso de Extensão: Governança Metropolitana Colaborativa. PUC-Minas; Universidade de British Columbia CHS/UBC – Canadá Arranjos Institucionais na Região Metropolitana de Belo Horizonte Diálogo com os vereadores.
José Moreira de Souza
Entre todas as instituições que historicamente formam o quadro político brasileiro, as
câmaras municipais são as mais duradouras e, também, as mais antigas. São, portanto,
as que guardam as vantagens e os vícios de nossa vida política.
Desde que se formaram vilas e cidades no interior da colonização ibérica, as câmaras se
constituíram como o espaço de representação da elite dominante no termo da vila ou dos
municípios. Compostas pelos “homens bons”, as câmaras realizavam “vereança” por
todo o território, levando os moradores a tomarem consciência da presença de um poder
que se sobrepunha ao cotidiano da ordem local e cuidando, ao mesmo tempo, de afirmá-
la contra um Estado distante. A ação das vereanças, às vezes, causava indignação dos
moradores, outras exigia a censura dos poderes superiores dos governadores de
capitania ou até mesmo dos poderes reais.
Apesar dessa longevidade, as câmaras passaram por diversas mudanças sem, contudo,
alterar o seu papel de zelar pela ordem local, municipal. No início da República, a
câmara se resumia num triunvirato enfeixando o legislativo e o executivo. No Império,
um vereador era eleito pelos pares como chefe do executivo, cuidando das finanças. A
figura do prefeito municipal separado do legislativo é nova, data de 1930. A presença
das câmaras com as características atuais, excetuada a remuneração dos vereadores data
de 1945, com o fim da ditadura Vargas.
As câmaras de vereadores e o poder municipal
Em traços rápidos, este é o contexto geral das câmaras municipais no Brasil. Merece
fixar deste percursos algumas características herdadas da civilização ibérica:
• Os vereadores por tradição representam o poder local. Espera-se, portanto, que
sejam mediadores entre o que Henri Lefebvre chama de ordem distante e ordem
próxima. É seu dever interpretar a ordem normativa do Estado e traduzi-la para
os moradores locais. É seu dever, também, compreender o que há de específico
32
na ordem local e cumprir a missão de mediar conflitos entre uma ordem e outra.
Essa representação no âmbito do poder local gerou e pode gerar conflitos na
confrontação com a ordem do Estado. Isto é percebido em diferentes momentos
de nossa história. No nosso caso, ainda no período colonial, quando são criadas
as primeiras vilas em 1710, o Governo da Capitania se opõe à criação de outras,
ponderando ao rei: “Por nenhum modo convém ao real serviço de Vossa
Majestade o criar mais vilas de novo”21. Como lembrei, no início da República,
as câmaras propriamente ditas foram substituídas pelo Conselho da Intendência.
Ocorre, porém, uma descentralização da administração municipal, com a criação
dos Conselhos Distritais e a Assembléia Municipal. Desse modo, os distritos
passam a ter representantes que zelam pelo seu peculiar interesse, sem poder
legislativo e a Assembléia Municipal, reunida uma vez por ano, examina e
aprova as contas do Conselho da Intendência. O que se entende hoje como
vereador se dilui nos conselhos e na assembléia. Esse momento foi esquecido
pela bibliografia, mas antecipa os esforços de descentralização e de participação
característicos das disposições da Constituição de 1988 e dos movimentos em
favor do orçamento participativo. Antes disso, as câmaras passaram por
momentos de recessão e de expansão. A criação da figura do prefeito, até 1945
esmaeceu significativamente a representação local a encargo dos vereadores,
mas, após 1945, eles retornam à cena política, mesmo sem ter o seu cargo
remunerado. A remuneração universal dos vereadores passa a vigorar a partir de
1977. Independentemente do tamanho da cidade e da área do município todos os
vereadores têm seus cargos remunerados. Recentemente isso foi objeto de
discussão pelo jornal Estado de Minas. Remunerar ou não os vereadores é fonte
de debates. A tradição de não remuneração foi responsável pelo comparecimento
exclusivo na representação do povo pelos “homens bons” – nome dado aos
“gentis homens” no período colonial, os cidadãos ativos – designação do século
XIX – ou pelas elites privilegiadas como as entendemos nos dias atuais. A
introdução da remuneração universal trouxe uma outra distorção a perda da
“política como vocação” em favor do emprego. Além disso, para a maioria dos
municípios, os recursos próprios não cobrem nem mesmo os gastos com a
21 Tratei desse assunto em Cidade, momentos e processos p. 32 e seguintes. A fonte citada é uma carta de Dom Lourenço Almeida, publicada na Revista do Arquivo Público Mineiro. Vol XXXI p. 113-114.
33
máquina burocrática, havendo aqueles que arrecadam um décimo ou menos das
despesas correntes.
• Os vereadores como representantes do poder local herdaram e afirmam a
tradição de superar suas funções legislativas e competem com o executivo nas
negociações da ordem normativa. A migração do Palácio da Câmara em algumas
cidades é um dos indicadores materiais dessa competição. Vale começar com o
caso de Belo Horizonte. A Câmara migrou do edifício localizado na confluência
da avenida Augusto de Lima com rua da Bahia, para o que foi sede da
Assembléia Legislativa, localizado na rua dos Tamoios, próximo à igreja de São
José, até encontrar um local “definitivo” que era abrigo de bondes e
posteriormente sede administrativa da SMT – Superintendência Municipal de
Transportes, no Santa Efigênia. Em Contagem, nos anos 70 foi construído um
edifício especial para a Câmara, a qual migrou posteriormente para o que foi
sede da prefeitura, junto à igreja de São Gonçalo. A prefeitura abandonou o
centro histórico indo se refugiar nas instalações do seminário dos frades
carmelitas. Em Betim, recentemente, a câmara passou a ocupar o prédio da
prefeitura, a qual por sua vez, migrou para área tradicionalmente industrial.
Disse que se trata de indicador material da competição. Existem outros dos quais
a migração dos palácios é apenas decorrência. As câmaras são herdeiras do
velho coronelismo, ou das políticas clientelistas. Isso quer dizer que elas não
abandonaram a tradição dos “homens bons”. O clientelismo, ao contrário do que
afirma uma ampla bibliografia interessada em modernização político
administrativa22 detém também um amplo poder de mobilização social, sendo
até mesmo mais mobilizador do que os expedientes modernos de participação. A
censura maior que merece o clientelismo não está em seu poder de mobilização,
mas nos critérios de seleção dos favorecidos e nisso a bibliografia é enfática.
Dessa herança resulta que o papel do vereador se resume em obter do executivo
vantagens para a clientela. Cito dois exemplos divulgados pelos meios de
comunicação ou pelo que se convencionou chamar de “rádio pião”: Em
Contagem, nos anos 70, os vereadores chegaram a discutir a promulgação de 22 Consultar como exemplo NUNES, Edson. A gramática política do Brasil: clientelismo e insulamento burocrático. Rio de Janeiro: Jorge Zahar / Brasília: ENAP, 1997. GRAHAN, Richard. Clientelismo e política no Brasil do século XIX. Rio de Janeiro: UFRJ, 1997. Além dos clássicos Os donos do poder de Raimundo Faoro e Coronelismo, enxada e voto de Victor Nunes Leal.
34
uma lei que proibisse o prefeito de receber em audiência qualquer morador, ou
representante de associações de bairro sem estarem acompanhados de um
vereador. Em Betim, a prefeitura se deparou com o desafio de ter a câmara
municipal como prefeitura paralela, em razão do elevado orçamento do
legislativo. Os efeitos disso foram detectados em pesquisa que tive a
oportunidade de coordenar sobre Atenção às Pessoas com Deficiência. Alguns
vereadores mantinham uma frota de veículos para transporte de pessoas aos
postos de saúde e hospitais.
•
•
Se estas forem as marcas dos vereadores, o grande, o maior desafio, sem dúvida é de
ser um vereador num município metropolitano. O desafio torna-se maior ainda
quando os arranjos institucionais metropolitanos passam a incluir vereadores em
órgãos representativos da gestão metropolitana. Há que se perguntar, como despertar
os vereadores para participarem, discutirem e defenderem seus pontos de vista tendo
presente uma ordem distante?
É desse assunto que trato na próxima seção.
As Câmaras de Vereadores como componentes dos Arranjos Institucionais Metropolitanos. – A pesquisa de Vida Associativa e os movimentos sociais. Vou desdobrar esta seção em três subseções. Na primeira apresento rapidamente a
percepção dos agentes do planejamento metropolitano para as dificuldades de sua
institucionalização. Para tal, vou comentar sucintamente o relatório da Pesquisa Sócio
Política elaborada pelo PLAMBEL no ano de 1972 e que me parece ainda muito atual.
A segunda subseção é dedicada ao exame e discussão da relação entre os arranjos
institucionais nos municípios tais como determinados pelas Leis Orgânicas, os
Regimentos das Câmaras e a questão dos movimentos pelo que se chama de
Democracia Direta. Reservo a última subseção à apresentação das questões que
visualizo da participação dos vereadores na Assembléia Metropolitana.
Vida Associativa e lideranças municipais.
35
Conforme foi registrado na parte central deste artigo, a percepção de uma realidade
metropolitana como problema urbano surgiu em Minas Gerais na segunda metade dos
anos cincoenta do século passado e cresceu com os movimentos em favor da Reforma
Urbana acontecidos nos primeiros anos da década de sessenta. Esses movimentos
empolgaram especialmente o grupo de urbanistas e estudantes empenhados nas
Reformas de Base que tiveram seu ápice no governo João Goulart e justificaram o golpe
militar de 1964.
A criação do BNH e do SERFHAU pelo governo militar foi resposta a esses
movimentos sem, contudo, institucionalizar plenamente o encaminhamento das
questões urbanas. Será exatamente a falta de institucionalização que favorecerá a
presença de pautas dos movimentos no interior do regime autoritário.
Convém lembrar que o período de vigência do regime é permeado por inúmeras
contradições. O exemplo mais visível foi o programa de agrovilas implantado como um
de impactos do governo Médici, considerado os “anos de chumbo” da ditadura militar.
Pois bem, o programa de agrovilas teve sua origem no governo Kubitschek e era
inspirado em programas de colonização do tipo kibuts ou sovkhoses, nitidamente
socialistas. O governo deu ao programa a maior divulgação como se fosse uma grande
descoberta, até que alguém, no núcleo de comando se deu conta do equívoco e
transformou o sistema de parceria em empresa. Um dos efeitos visíveis até hoje foi a
transformação da SUVALE, Superintendência do Vale do São Francisco em
CODEVASF, Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco.
Essas contradições se mostrarão também presentes na luta pela reforma urbana. Reitero
o que mencionei anteriormente. A necessidade de planejamento da Região
Metropolitana de Belo Horizonte foi sentida, percebida e defendida por um grupo
herdeiro dos movimentos em favor da reforma urbana e, exatamente por isso, buscou
legitimidade junto aos movimentos sociais, antes de o governo militar editar a Lei
Complementar 14.
O Município que serviu de primeiro laboratório para os estudos de planejamento e de
elaboração de um sistema de informação para o planejamento foi o de Contagem, entre
os anos de 1967 e 1968. Criado o PLAMBEL, uma das primeiras iniciativas foi o de
prover o órgão de informações, tais como a Pesquisa Sócio-econômica, Pesquisa de Uso
do Solo, a Pesquisa Origem e Destino e, a que será objeto de comentário conhecida
como Pesquisas Sócio-políticas.
36
O problema central abordado pelas pesquisas sócio-políticas era o que possibilitava o
estudo da “Viabilidade política do plano”. Isso quer dizer que nesse momento o Plambel
não se acreditava institucionalizado e se percebia obrigado a obter aprovação junto às
diferentes instâncias envolvidas no jogo do poder.
Os autores explicitavam com todas as letras a necessidade de aprovação do plano pelos
agentes políticos:
Um dos problemas mais complexos que qualquer processo de planejamento
enfrenta é o da factibilidade ou viabilidade dos planos. O aspecto mais óbvio do
problema é a viabilidade financeira (...). Outro aspecto consiste na
“factibilidade política”, com relação à qual, também, é de crer que os
planejadores de melhor quilate estejam alertados. Sua definição, porém, é mais
árdua e os meios de controlá-la, certamente, mais voláteis do que a econômica.
(...)
A viabilidade política depende da aceitação do plano e do comprometimento
diuturno com a execução do que nele se propõe, por parte de forças políticas
dominantes na estrutura de poder de uma dada coletividade23.
Para captar a viabilidade política do planejamento metropolitano, os estudiosos
abordaram cinco grandes categorias: as lideranças municipais, as funções dos
municípios na região metropolitana, as alternativas de consolidação de uma rede de
centros, o comprometimento dos agentes econômicos – empresários – com os processos
de desenvolvimento metropolitano e, por último, as associações de defesa dos interesses
dos moradores.
Fundavam-se, nesse momento, pelo menos, duas linhas importantes de pesquisa; a do
estudo das lideranças municipais e a da vida associativa. Para estudar as lideranças,
foram entrevistados os presidentes das câmaras municipais e os presidentes locais dos
dois partidos existentes Arena e MDB. Cada um desses entrevistados indicava dez
outros líderes locais que seriam também entrevistados. Acreditava-se, com isso,
apreender as redes locais de poder e suas marcas formais e informais.
A pesquisa de Vida Associativa foi realizada apenas em Belo Horizonte, porém
inaugurou os estudos sobre movimentos sociais que se tornaram mais freqüentes no
23 PLAMBEL, Relatório do Estudo de Lideranças Municipais na Região Metropolitana de Belo Horizonte. (Pesquisa de Opinião) Vol. I. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, SD {1972] p. 1. Embora os estudos de liderança parecessem originais, uma outra pesquisa realizada entre 1966 e 1968 sob o título de Projeto Difusão empregava as mesmas técnicas de entrevista dos líderes formais para chegar até os líderes informais.
37
final dos anos 70, prolongando-se pela década seguinte. Segundo os autores: “Sua
função foi a de levantar, numa primeira exploração, a existência e a possível vitalidade
de associações de defesa de interesse, dentro da cidade. Uma das idéias recorrentes
entre os planejadores urbanos, de inspiração mais democrática, é o papel das
associações como canalizadoras de demandas e fulcro de participação popular na
implementação do plano24”. Vale mencionar que, já no ano de 1967, os técnicos do
EPUC – Escritório de Planejamento Urbano de Contagem se preocupavam com a escuta
e atenção às associações de bairro que se multiplicaram pela cidade. Ciente de sua
importância no processo eleitoral, a prefeitura se propôs a consolidar uma federação de
associações. A primeira reunião desse conjunto de associações foi realizada no Colégio
Dom Bosco no Bairro Industrial.
Visualisava-se nesse momento a estreita relação entre associações de bairro e
representação política. O que importa, quanto ao que vem sendo exposto, é que, nesse
momento, a busca por legitimação do planejamento é feita junto às representações
políticas formais e aos movimentos sociais. Levar em consideração as lideranças
municipais, além do prefeito, ter presentes os vereadores e líderes locais de movimentos
sociais era um expediente importante para um plano alcançar legitimidade25. Como direi
mais à frente, a retomada do planejamento metropolitano não pode prescindir da
atuação dos vereadores. Sua participação deverá inserir as demandas locais atentas ao
cotidiano num plano superior das estruturações metropolitanas.
As câmaras de vereadores e os arranjos institucionais no município – Democracia direta e democracia representativa. Afirmei a ligação constitutiva do vereador com a comunidade de vizinhança. Esse
vínculo conferido pela tradição não é o mesmo para municípios como Contagem
(625.396 habitantes, segundo o IBGE em 1 de junho de 2009), Betim (441.748),
Ribeirão das Neves (349.307), ou Belo Horizonte (2.452.617) de um lado ou Confins
(6.072), Baldim (8.582), Taquaraçu de Minas (3.950), Capim Branco (9.276), Florestal
(6.199) ou Nova União (5.653). Nos municípios maiores, o vereador não pode se 24 Ibidem p. 4. 25 A preocupação com estudos nessa área é retomada nos anos 90 quando a Frente Popular assume o governo municipal em Belo Horizonte., mas como se pode ver alguns autores t~em suas raízes fincadas em estudos iniciados nos anos 70. Consultar DULCI, Otavio Soares (org.) Belo Horizonte: poder, política e movimentos sociais. Belo Horizonte: C/Arte; FAFICH, 1996. As Pesquisas Sócio-políticas do Plambel foram coordenadas pelo Departamento de Ciência Política da FAFICH. Autores de alguns artigos inseridos nessa publicação participaram ou tiveram conhecimento dessa pesquisa, coordenada pelo professor Antônio Otávio Cintra.
38
encontrar com toda a população que lhe dá sustentação, o expediente é de apoiar
associações de bairro, associações de classe, associações beneficientes, clubes
recreativos, times de futebol, centros sociais. Já, nos municípios menores, o vereador é
reconhecido pessoalmente pelos eleitores e percebe a demanda de cada um deles. A
diferença de porte do município define também o processo de recrutamento dos
vereadores. Na região metropolitana de Belo Horizonte, dois municípios sofreram
precocemente a influência do crescimento com efeitos sobre a representação local. O
primeiro deles foi Sabará, ligado estreitamente a Belo Horizonte desde a construção da
Capital. O aumento da população no distrito de Carvalho de Brito – General Carneiro –
a partir dos bairros Alvorada, Nova Vista, trouxeram uma população nada identificada
com a vida política de Sabará. O mesmo aconteceu com Contagem de uma forma muito
mais intensa com a criação da Cidade Industrial Juventino Dias e a expansão do efeito
Pampulha na região da Ressaca. No caso da Cidade Industrial, a demanda da população
por melhorias desconhecia completamente a existência do núcleo histórico do
município, ensejando a eleição de cabos eleitorais improvisados. Trabalhadores em
indústrias, donos de armazéns e professores de ginásio, como já foi lembrado. Uma das
conseqüências disso é que muitas vezes os vereadores não sabiam o que representavam,
tinham apenas consciência de terem sido eleitos pelo “povo”.
Cito um exemplo. Certa vez fui visitar um vereador, residente na região da Cidade
Industrial. Havia chovido intensamente. O vereador vestido de calção, descalço, com
uma enxada, tentava desviar a enxurrada que invadia o quintal dos vizinhos.
- Que está fazendo? Perguntei.
- Não posso suportar que a enxurrada invada as casas do bairro. Agora sou
vereador e tenho obrigação de zelar pelo povo.
- Ora, essa!. Vereador não é para isso. Você tem que lutar na câmara para definir
no orçamento anual a pauta de obras necessárias que evitem danos aos
moradores. De que lhe vale cercar a enxurrada nesta rua? - Disse eu.
O papel do vereador é determinado pela Constituição da República e do Estado. Para
favorecer a interpretação das atribuições, o Senado Federal editou um Manual do
vereador pelo qual se podem entender os pontos comuns dos arranjos institucionais no
âmbito do município e o papel das câmaras municipais. Mas, se existem aspectos
comuns, a diferença de porte e território dos municípios bem como sua formação
histórica definem características específicas para cada um.
39
Nova Lima ou Raposos, como cidades totalmente submissas à indústria extrativa,
Sabará, Caeté ou Santa Luzia, vinculadas às mais antigas tradições da formação das
Minas Gerais, diferem muito de Vespasiano, Lagoa Santa ou Pedro Leopoldo, que
atraíram novas elites com profunda repercussão na política local.
Tomo o exemplo de Vespasiano. Município emancipado no ano de 1948, Vespasiano
tinha sua elite local enraizada na agricultura. O Alface Futebol Clube é apenas um nome
para recordar esse tipo de vínculo. Em dado momento da história, chegam migrantes
que empolgam o comércio local. Estabelecem salas de cinema, depósito de material de
construção, lojas de eletrodoméstico, central telefônica local, hospital, colégio. Enfim,
modernizam a cidade. Cria-se uma nova rua da Direita e outra da Esquerda. A
radicalização se materializa em dois clubes: O Vespasiano e o Funil. Nem é preciso
interpretar a escolha dos nomes. O primeiro se destinava às elites “estabelecidas”, o
segundo aos “outsiders”, também das elites. Havia ainda um terceiro clube que era do
povão. Todos três localizados no centro comercial, Rua Doutor Ari Teixeira. O Funil,
como o nome indica, se declara altamente seletivo. O clube do povão funcionava
praticamente apenas no carnaval. A festa de absoluto congraçamento. Esses clubes
retratavam os arranjos políticos locais. A nova elite, dona dos serviços urbanos, se
tornou também dona da política local para exasperação da elite histórica.
As mudanças mais significativas foram acontecer com a invasão das periferias
metropolitanas no território do município. Ao abrigar os flagelados das enchentes no
Conjunto Morro Alto, as elites históricas buscaram aliados externos que favoreceram
nova composição. A conseqüência foi a mudança no quadro de representação.
Com as devidas marcas específicas, algo semelhante aconteceu no município de Betim.
A Frente Popular venceu em Betim empolgada pelas forças das periferias
metropolitanas. Nos arranjos locais, se notava uma nítida divisão entre os moradores do
Centro Histórico e sua área de expansão – Filadélfia, Brasiléia, Angola – e as periferias
metropolitanas – Imbiruçu, Teresópolis, Laranjeiras, Nova Badem. Enquanto as elites
tradicionais não passaram a prestar atenção – leia-se fenômeno Pinduca – à necessidade
de atenção das periferias, a Frente Popular não foi derrotada.
À parte essas peculiaridades que dão cor e sabor aos arranjos locais, cada município é
regido pela Lei Orgânica votada pela câmara municipal. Essa Lei determina as
atribuições do poder municipal bem como a conduta do legislativo. Entretanto, fico com
a pergunta: os vereadores conhecem e estudam a Lei Orgânica? Internalizam como
componente da cultura legislativa o Regimento Interno?
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Suspeito que a resposta é “talvez não”. Em todas as leis orgânicas, há Títulos ou
Capítulos dedicados à política urbana. Neles a elaboração de Planos Diretores é
determinada. Entretanto, com muita freqüência, a política urbana é deixada em último
plano e as câmaras se dedicam a votar leis que dão nome de rua a chefes de clientelas,
ou determinar dias de comemoração desse ou daquele grupo profissional, ou dessa ou
daquela crença.
Os arranjos institucionais se mostram também característicos pelo exame dos
orçamentos do legislativo. Pode-se criar um índice de despesas municipais com base no
que se destina aos gastos com o legislativo. Esse índice aponta para o peso do
legislativo na administração municipal e o tipo de negociação que será imposto ao
executivo na administração de conflitos.
Se o índice de participação do legislativo na despesa municipal é um indicador, ele pode
desvendar uma outra frente de conflito. Talvez, a maior delas seja a que diz respeito à
representação e à democracia direta. As diretrizes atuais valorizam a participação da
sociedade civil organizada em conferências e fóruns. O Orçamento Participativo foi o
primeiro programa de ensaio desse expediente. As câmaras nem sempre viram com
bons olhos esse recurso, até que, vencidas pelo cansaço resolveram aderir. Tal adesão
não é propriamente da Câmara enquanto instituição, mas dos vereadores enquanto
representantes. O crescimento e diversificação dos movimentos sociais e dos grupos
organizados da sociedade civil convocaram as câmaras a se depararem com uma nova
realidade: as audiências públicas de vários tipos. As comissões específicas determinadas
pelas Leis Orgânicas e Regimentos Internos também são recursos para avaliação da
forma de as Câmaras fixarem o âmbito das opções de acolherem as reclamações da
sociedade civil.
Cumpre lembrar finalmente que a questão democracia direta e representação diz
respeito à forma como o executivo busca legitimidade de suas ações junto á sociedade
civil. A querela de considerar ou não considerar legítimas as demandas e deliberações
das câmaras é um dos aspectos importantes do processo.
As câmaras de vereadores na Assembléia Metropolitana
No meu entender, as Câmaras Municipais foram contempladas em três momentos dos
processos de planejamento metropolitano. O primeiro deles, quando seus presidentes
foram consultados em 1972, como parceiros necessários da legitimação da gestão
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metropolitana. Foi um instante meteórico. O Plano Metropolitano se encontrava em
elaboração e não havia ainda propostas concretas para incluí-las no debate. Sem dúvida
as câmaras ainda tiveram alguma participação, ajudadas pela Coordenação de
Assistência aos Municípios, vinculada à Diretoria de Planejamento ou de Operações do
PLAMBEL. No caso de Belo Horizonte, seu papel foi fundamental para a aprovação da
Lei de Uso do Solo de 1975-1976. Contudo, as câmaras não foram interlocutoras
privilegiadas até a Constituição Mineira de 1989.
O Segundo momento é, portanto, demarcado pela Constituição do Estado que criou a
Assembléia Metropolitana e determinou sua composição. A instalação da Assembléia
trouxe os vereadores para as reuniões plenárias e as Comissões Técnicas. O louvável da
iniciativa foi seguido pelo esvaziamento da Gestão Metropolitana. A AMBEL
transformou-se em órgão decorativo de representação da RMBH até sua transformação
recente.
O terceiro momento tem um instante bem determinado, embora venha sendo ensaiado
pelas Conferências Metropolitanas, a primeira delas, no ano de 2004 na cidade de Rio
Acima. Sua data inaugural se deu no dia 21 de agosto de 2007, no encerramento do que
se intitulou “Primeira Conferência Metropolitana da Região Metropolitana de Belo
Horizonte” – de fato era a segunda – em nome do senhor governador a Assembléia
Legislativa do Estado de Minas Gerais deu posse ao novo Conselho Deliberativo da
RMBH. Esse arranjo institucional tinha uma característica importante, excluía os
vereadores da participação nessa instância maior propiciando a emergência de um
quarto momento.
A marca desse quarto momento é a instituição do“fórum permanente da RMBH e do
Colar Metropolitano” por iniciativa da Câmara Municipal de Belo Horizonte.
Aparentemente, a Câmara se antecipa à medida governamental, pois com data de 8 de
agosto de 2007 a presidência da Câmara informou:
“O Fórum Metropolitano é um espaço permanente, que sob, a coordenação da
Câmara Municipal de Belo Horizonte, objetiva fomentar o diálogo a respeito
das questões metropolitanas e possibilitar a criação de alternativas para a
resolução dos problemas existentes na Região”.
A proposta do Fórum é promover encontros entre os municípios da Região
Metropolitana de BH e do Colar Metropolitano de BH e implementar uma rede
permanente de comunicação intermunicipal.”
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Entretanto, o Seminário de Abertura ocorreu em outubro do mesmo ano, oportunidade
em que se aprovou a Carta do Fórum Permanente. A partir dessa data o Fórum realizou
diversas reuniões temáticas em diferentes municípios da RMBH; o primeiro deles, em
fevereiro de 2008 na cidade de Itaguara, seguido pelo de Santa Luzia, Ribeirão das
Neves e Betim.
Esse movimento das Câmaras configura uma nova realidade aos arranjos
metropolitanos, posto que os vereadores convocam a si mesmos e aos movimentos
sociais, par imporem sua presença não mais na ordem local, mas na visão metropolitana
que coage o cotidiano dos moradores. A pauta dos Encontros Temáticos se torna um
bom indicador dos pontos que as câmaras definem como importantes para o debate em
nível metropolitano. Transporte, Saneamento, Meio Ambiente, Saúde, Habitação.
Por este rápido percurso, vemos que as câmaras municipais da RMBH vêm passando
por mudança que vão além da representação local em pedaços. O processo, porém, está
apenas iniciado. A iniciativa do Fórum Permanente foi da Câmara de Belo Horizonte, e
a realização de Encontros Temáticos em diferentes municípios pouco tem contribuído
para que os vereadores se expressem. Com freqüência o discurso é dominado por
técnicos do estado ou dos municípios e dos movimentos sociais de porte metropolitano.
Os representantes da ordem local se percebem intimidados quando se trata de explicitar
suas demandas e avaliações. O passo, porém, está dado, mesmo que se interprete que a
criação do Fórum Permanente tenha apenas a marca de protesto..
Belo Horizonte, 1 de setembro de 2009
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É possível imaginar o que existe no buraco negro definido pelo limite?