DANIELA ELiZABETE REZINI
AFETIVIDADE NA EDUCAGAO INFANTIL
CURITIBA
2003
DANIELA ELiZABETE REZINI
AFETIVIDADE NA EDUCAGAO INFANTIL
Monografia apresentada como requisitoparcial para obtenC;030 do titulo deespecialista no Curso de P6s·Graduacyao em Educacyao Infantil daUniversidade Tuiutl do Parana - UTP.
(}, lo~"'- Prof. Neyre Correia da Silva
CURITIBA
2003
SUMARIO
RESUMO.
1 INTRODUCAO ..
........ iii
2 REVISAO DE LlTERATURA ..
. 1
. 3
2.1 CONTRIBUICOES DE PIAGET, VYGOTSKY E WALLON PARA 0 TEMA
AFETIVIDADE .
2.2 AFETIVIDADE X EMOCAO ..
.3
. 62.30 PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO INFANTIL . .. 7
2.4 0 PAPEL DA AFETIVIDADE NA EDUCACAO INFANTIL 9
2.5 RELACAO PROFESSOR X ALUNO 10
2.5.1 Trabalho do Professor com as Crianc;as
3.1 PROCEDIMENTOS METODOLOGICOS ......................•..
................. 13
.. 14
.. 14
.. 15
3 DESENVOLVIMENTO .
3.2 INVESTIGACAO NA ESCOLA PUBLICA ..
3.2.1 Observa,ao em Sala de Aula 15
3.2.2 Conversando com a Professor da Escola Publica 17
3.2.3 Netas Sabre as Observac;6es . . 20
3.3 INVESTIGACAO NA ESCOLA PARTICULAR 22
3.3.1 Observando a Aluno na Escola Particular 22
3.3.2 Conversando com a Professor da Escola Particular 24
3.3.3 Notas Sabre as Observac;oes . .. 26
.. 26
........... 30
4 CONCLUsAo ..
REFERENCIAS
RESUMO
Este trabalho objetiva compreender a papel da afetividade na educa.yao
infantil. Para caracterizar 0 lugar da afetividade na educac;ao infantil, como
metodologia optou-se par uma abordagem qualitativa, critica e reflexiva.
Desta Forma realizou-se, a principia, uma pesquisa bibliografica,
buscando na literatura atinente ao assunto em desate documentos que
ajudassem a responder as quest6es levantadas na problematica do tema em
estudo. Na seqUencia, realizou-se observa<;:6es participantes em duas escolas
que atendiam crian9as na faixa etaria que corresponde a educaC;80 infantil, de
tres a cinco anos, na cidade de Brusque. Concentrou-se a atenc;:ao em duas
crian9as em particular, urn meninc de cinco anos e uma menina de quatro anos
de turmas e escolas diferentes, ja que os mesmos protagonizavam quest6es
em relaC;80 ao tern a deste trabatho. E para enriquecimento da eompreens8o
da afetividade, tambem procedeu-se entrevistas com as professoras das
crianc;as que foram observadas, com a finalidade de compreendermos como
coneeituavam a afetividade e como observavam-na no processo edueaeional.
Como procedimento de analise e diseuss80 dos dados ernpregou-se 0
recurso da Analise do Discurso. Sugere-se urna reflexao rna is aprofundada do
papel da afetividade na edueaC;8o infantil, enfatizando a relaC;8o professor e
aluno. Aponta-se para a necessidade do professor questionar-se sabre seu
discurso e pratiea em relaC;8o a afetividade e educac;80.
in
1 INTRODUCAO
A afetividade tern sido objeto de estudo em inumeros trabalhos. Cada
vez mais destaca-se a sua influencia na vida do individuo. Diversos sao as
trabalhos sabre 0 tern a em questao, 0 que abre espa'Yo para a prodUy80 e
aprofundamento de muitas teorias.I
Pergunta-se qual a razaa de tantas duvidas relacionadas a afetividade?
Par que tantos estudos e curiosidade voltados ao tema? Enfim, busea-se
compreender de varias formas como a afetividade exerce tanta influencia na
vida do ind;vfduo? Urna das maiores quest6es da psicologia e desmistificar a
influencia que a afetividade exerce na vida de cada pessoa, e compreender a
sua presenC;8 no meio escolar. Mas apesar de tantos estudos e pesquisas,
persistem importantes quest6es: qual eo papel da afetividade na educac;ao?
Oiante de tantas discuss6es e interesses voltados a afetividade busca-
se, atraves deste trabalho, realizar e acrescentar estudos que aprimorem 0
conhecimento sobre 0 tema, principal mente nas relac;6es no meio escolar,
entre professor e aluno e entre os pr6prios educandos.
Este trabalho tern como objetivo principal estudar 0 papel da afetividade
na Educayao Infantil e, em decorrencia, tern os seguintes objetivos
especificos:
a) Conhecer a realidade dos individuos que serao investigados;
b} Revisar bibliografia existente sobre 0 tema em questao;
c) Confrontar as referencias te6ricas com a realidade alvo; e
d) Analisar a realidade, apontando e desvelando as contradiyoes
inerentes ao fenomeno estudo.
Estudando alguns autores, entre eles WaBan, compreende-se 0 quanto e
importante realizar um trabalho comprometido com 0 bern estar dos alunos,
pais a emoy8:o, a afetividade, assume urn papel fundamental na aprendizagem
e na vida de cada crianya.
Apresenta~se como pressuposto que atraves de urn reiacionamento
afetivo agradavel, pautado por carinho, afeto e respeito entre as dois
elementos fundamentais no cenario da educay8.o infantil - professor e aluno,
contribuir-se-a para 0 desenvolvimento de individuos mais integrados consigo
mesmo e com os demais.
Neste trabalho a afetividade esta sendo entendida como urn alicerce
para 0 desenvolvimento da crianc;a, como conceito chave de uma relac;ao
consistente entre professor e atuno, veiculo que favorece a investigac;ao das
dificuldades que podem existir entre os mesmos.
Com a finalidade de atender 0 objetivo proposto, na sequencia,
apresentar-se-a breve revisao de literatura sobre a questao da afetividade,
procurando focar a contribuic;ao de eminentes autores na area da Psicologia
do Desenvolvimento e da Aprendizagem, e discorrendo sobre a relac;ao
professor atuno. No desenvolvimento do trabalho relatar-se-a a investigac;ao
realizada em campo, em duas escolas de EducaC;ao Infantil, uma da rede
publica e outra da rede particular da cidade de Brusque, estado de Santa
Catarina (SC) atraves de observac;6es da dinamica da relaC;8o professor-aluno
e entrevistas com os docentes. Em itens subsequentes apresentar-se-a analise
qualitativa e reflexiva das informac;6es. E p~r fim, apresentar-se-a a conclusao
do trabalho, nao com sugestoes do tipo "f6rmulas magicas", mas no sentido de
refletir sobre a realidade investigada e desvendar possiveis caminhos a
explorar.
2 REVISAO DE LlTERATURA
2.1 CONTRIBUICOES DE PIAGET, VYGOTSKY E WALLON PARACOMPREENSAO DA AFETIVIDADE
Muitos sao as estudos e, consequentemente, as teorias desenvolvidas
sabre afetividade. Tema que vern, desde a antigGldade, incentivando estudos e
experiemcias, pais desencacteia urna diversidade de quest5es e curiosidades.
Em busea de subsidios que nos auxillem na compreensao deste
fenomeno, afetividade, na construc;ao deste trabalho, abordaremos tres
te6ricos: Piaget, Vygotsky e Wallon, que versarn sabre 0 tema em foco.
Piaget, apud LA TAILLE (1992, p.11) analisa a aletividade associada ao
julgamento moral, onde a desenvolvimento afetivo esta estritamente
relacionado com a elaborac;ao deste tipo de julgamento. Defende urna teo ria
que contempla a ac;ao moral, pois para ele, e nesta, que se confrontam razao e
afetividade.
Neste ponto Souza (2002, p.22), defende que na teoria piagetiana, a
desenvolvimento intelectual e considerado como tendo dois componentes: urn
cognitiv~ e outr~ afetivo. Paralelo ao desenvolvimento cognitiv~ esta 0
desenvolvimento afetivo. Afeto inclui sentimentos, interesses, desejos,
tendencias, valores e em090es em gera!.
Souza (2002, p.34), ressalta ainda que em varios livros Piaget
descreveu cuidadosamente 0 desenvolvimento afetivo e cognitiv~ do
nascimento ate a vida adulta, centrando-se na inffmcia: "com suas
capacidades afetivas e cognitivas expandidas atraves da continua construc;:ao,
as crian9as tornam-se capazes de investir afeto e ter sentimentos validados
nelas mesmas.·
Ja Vygotsky, citado por La Taille (1992, p.11) destaca que a separal'ao
intelecto e afeto, enquanto objeto de estudo, e urna das principals deficiencias
da psicologia tradicional, pais e com afetol mas nao so com afeto, e sim com
desejos, interesses, motiva90es que 0 cognitivo: memoria, pensamento,
imaginac;;ao, vontade, e estimulado.
Ao analisar 0 desenvolvirnento infantil, Vygotsky desmistifica 0 papel da
ernoc;:ao cornu mente atribuido as crianc;:as pequenas, assim como sinaliza para
a fato de que as emoyoes infantis diferenciam-se qualitativamente das dos
adultos. A emOy030nao e vista como algo Mnatural", que nasee com a crianya
ou que faz parte da sua natureza. Vygotsky, fala que a manifestay030 inieial da
emOy030faz parte da heranc;a biologica. Sendo assim, a emoc;ao, junto com as
demais funy6es psicol6gicas, nas interay6es sociais, perde seu carater
instintivo para dar lugar a urn nivel mais complexo de atuayao do ser humano,
consciente e autodeterminado.
Para confirmar suas afirmay6es, Vygotsky menciona uma serie de
pesquisas que enfoeam a relayao da emoyao com as respectivas
manifestac;6es orgfmicas. Relata que e possivel observar alterac;oes no estado
Fisico dos individuos quando estes se encontram sob forte pressao emocional.
Vygotsky afirma ainda, que s6 e possivel compreender a papel da
emoyao no contexte dinamico da vida. Os processos emotivos sao pie nos de
significados e sentido, nao determinados exclusivamente pelo principia do
prazer, mas sabre tudo pelo fato de que a proprio prazer, na infancia, muda de
posic;ao.
Outro autor muito importante e que trouxe grandes contribuiy6es sabre a
tema, foi Wall on.
Ao estudar as relay6es do ser humano com 0 ambiente, Wallon concebe
a emoyao como a primeira manifestayao social que possibilita a comunicayao
da crianya com seu meio. Para ele, as emoy6es estao na origem da
linguagem, precedem tad a a formayao sens6rio-motora e mental, contribuem
para a desenvolvimento ;ntelectual. As formas do pensamento assim, sao
fortemente influenciadas pelas experiencias afetivas do sujeito.
Na psicogenetica de Henry Wallon, "a dimensao afetiva ocupa lugar
central tanto do ponto de vista da construyao da pessoa quanto do
conhecimento' (LA TAILLE et aI., 1992, p.85). Enquanto que para Vygostky, 0
sistema de signos e simbolos ocupa a papel de mediador, para Wallon a
emoc;ao ocupa tal papel. 0 processo de desenvolvimento infantil se realiza nas
interay6es, que objetivam nao 56 a satisfaC;80 das necessidades basicas, como
tambem a construc;c3o de novas relayoes sociais, com 0 predominio da emoyao
sobre as demais atividades. As interac;6es emocionais devem ser pautadas
pela qualidade, a fim de ampliar a horizonte da crianc;a e leva-Ia a transcender
sua subjetividade e se inserir no social.
Na concepc;;ao walloniana, tanto a emoc;:ao quanto a inteligemcia sao
importantes no processo de desenvolvimento da crianc;:a, de forma que 0
professor deve aprender a lidar com 0 estado emotivo da crianc;:a para melhor
poder estimular seu crescimento individual. A partir da convicc;:ao de que
educar e desenvolver a inteligemcia conjuntamente com a emoc;;ao, a escola
nao pode ignorar a vida afetiva da crianc;:a. Em func;:ao do exposto, e relevante
demonstrar 0 papel que 0 professor tern no desenvolvimento emocional da
crianc;:a.
Cada etapa do desenvolvimento define urn tipo de relac;ao particular da crian93 comseu ambienle. 0 Que implica dizer que cada idade e diferente 0 meio da criam;a,Transpondo esta reflex80 para a escola percebemos a necessidade de se planejar aestrulura<;:ao do ambiente escolar. Se for estrulurado adequadamente, podedesenvolver um decisivo papel na promo<;:ao de desenvolvimento infantil. Paraplanejar essa estruturac;ao somos, mais uma vez, obrigados a ampJiar 0 raio deabrangencia da reflexao pedag6gica (GAlVAO, 1999, p.101).
Apes esta breve e concisa exposiC;;ao de tres grandes estudiosos que
contribuiram significativamente para 0 estudo da afetividade, analisaremos 0
quanto e importante a questao emocional no ambiente da educac;:ao infantil.
Nao podemos deixar de lado 0 desenvolvimento afetivo, preocupando-
nos exaustivamente com 0 desenvolvimento cognitiv~ da nossa crianc;:a. Afeto
e cognic;:ao constituem aspectos inseparaveis, presentes em qualquer
atividade.
Os aspectos emocionais da crianc;:a estao implicitamente ligados ao seu
desenvolvimento cognitiv~ e perceptual:
Ao falarmos da inleligencia e da aprendizagem, precisamos nos referir tambem, esempre, a emo<;:ao, as Iiga<;:Oese inter-rela<;:oes afelivas. Seria impossivel entender 0desenvolvirnento da inteHgencia sem um desenvolvimento integrada e convergentecada vez maior de nossos interesses e amores p~r aquila Que olhamos, to camas eQue nas alimenta a curiosidade (SAlTINI,1997. p.52).
A afetividade e a inteligemcia se estruturam nas ac;:oese pelas ac;:oesdos
individuos. 0 afeto pode, assim, ser entendido como a energia necessaria para
que a estrutura cognitiva passe a operar. 0 afeto influencia a velocidade com
que se constrei 0 conhecimento, pOis quando as pessoas se sentem seguras,
aprendem com mais facilidade.
A importancia da funr;ao afeliva esla no fato de que permite 0 desenvolvimento deuma instancia de compreensao da realidade, ultrapassando a emoryao e anlecedendoa atividade intelectual que tern como tarefa analisar, conhecer, explicar. Entre emor;aoe a atividade inteleclual emerge uma intuiryAo pratica Que precede de lange 0 poder dediscriminar;ao e de compararyaa, tarefas da inlelig~ncia (KROCK, 1994, p.39).
2.2 AFETIVIDADE X EMO<;AO
A afetividade e definida segundo descri((80 encontrada na Enciclopedia
BARSA (1999, v.1, p.108) como: "0 canjunta de lenomenas psiquicas que
compreendem sobretudo 0 prazer, a dar e as emo((oes". A afetividade e a base
do psiQuismo. E a elemento mais fundamental na estrutura((80 da conduta e
das rea((oes de cada individuo e domina desde a esfera instintiva, Que esta
vinculada as emo~oes primarias, as inclina~6es e as paixoes, ate a
sensibilidade corporal, Que se originam as sensa((oes de prazer e de dar, com
seus correspondentes estados afetivos sensoriais (agradaveis ou
desagradaveis).
A afetividade "abrange urn vasto dominio da atividade pessoal, indo ate
raizes da instintividade biologica e estendendo-se ao proprio soma, de onde
partem estimulos aferentes Que levarn a certas disposi~oes de humor e em Que
se pratejam as ema~oes e sentimentas· (BARSA, 1999, v.1, p.109). Ela
exerce, portanto um papel fundamental nas correlac;:6es psicossomaticas
basicas, alern de influenciar decisivamente a percepc;:ao, a memoria, 0
pensamento, a vontade e as a~6es, e ser assim urn componente essencial da
harmonia e do equilibria da personalidade.
o ser humano, tal como os anima is, sao dotados de 6rgaos do sentido,
que transmitem sensa((6es ao receberem estirnulos e, muitas vezes, urn
estimulo, no mesmo tempo em que e percebido, desperta afetividade. De certa
forma, maafetividade e urn sistema perceptivo, que reage de maneira propria a
certos sinais ou situac;:6es e 13insensivel a outros, sendo capaz de deformar,
mais ou menos, as significac;:6es intelectuals de qualquer informac;:ao·
(BARSA,1999, p.1 09).
Existe grande confusao terminologica em rela~ao a afetividade e ao
grande numero de vocabularios associ ados ao seu conceito. Os estados
afetivos fundamentais sao as emoc;:6es, as sentimentos, as inclinac;oes e as
paixoes. A palavra emQ(;:ao vem do latim movere, significando mover-se para
fora, externallzar-se. Podemos afirmar que a emoc;ao e a intensidade maxima
do afeto. A emoc;:ao de acordo com a BARSA (1999, p.109), "e uma forte
alterac;ao ou perturbayao de estado psiquico acompanhada de determinadas
modificac;oes somaticas, corporais de carater transit6rio, como: temor, suor au
palidez~ Seguindo outros autores, destacamos: wemoc;:ao sao poderosas
rea90es que exercem efettos motivadores sobre 0 comportamento. As
emoc;oes sao rea90es psicologicas e fisiologicas que influem na percepC;8o,
aprendizagem e desempenho· (MURRAY, 1964, p.80).
Pode-se destacar alguns sentimentos e reac;oes que incluem-se no
termo emoc;ao: medo, ira, furor, horror, angustia, ansiedade, tedio, desflnimo,
vergonha, ciume. Essas sao algumas emoc;oes negativas, no sentido de
suscitar estados desagradaveis no organismo, e, tambem, e possivel elencar
outras, consideradas positivas ou agradaveis: alegria, amor, felicidade. E claro
que essa lista pode alongar-se infinitamente, dependendo de cada situaC;ao e
individuo.
Enfim, as emoc;oes sao sentimentos que brotam nas pessoas de maneira
inesperada, nao temos controle sobre a sua origem, mas podemos controlar 0
seu efeito.
Diante de todo 0 estudo feito venho compreendendo que a afetividade
esta ligada a uma relayao entre dais ou mais indivfduo e que esses
estabeleyam entre si uma relac;ao afetiva pautada em carinho, respeito
chamando assim de uma relac;ao "afetiva positiva~ ou tambem pode existir
entre dois individuos uma relaC;ao baseada em desprezo, antipatia refletindo
em uma relaC;ao que podemos chamar de "relac;ao afetiva negativa". Ja a
emoC;80 reflete sentimentos que brotam nas pessoas de maneira inesperada,
nao temos controle sobre a sua origem, mas podemos controlar 0 seu efeito.
2.30 PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO INFANTIL
Os estudos da psicologia do desenvalvimento veem contribuinda de
forma bastante relevante para a conhecimento do desenvolvimento infantil nas
diferentes areas (sensoria-motara, socio-afetiva, simbolica e cognitiva) enos
permitem, tambem, compreender de que forma as crianyas constroem 0 seu
conhecimento. Essas informayoes sao especialmente importantes, pois delas
derivam subsidios fundamentais para a pratica pedagogica nos diferentes
niveis da escolaridade, a medida em que pod em orientar os professores sobre
o que as crianyas sao capazes de descobrir e aprender a cada momento, e
sobre como aprendem.
Assim, da mesma forma que 0 mundo social atua sobre as crianyas de
rnaneira dina mica, contradit6ria e ativa, tambem 0 organismo tern um
dinamismo proprio que vai favorecendo sua interayao ativa com 0 meio
exterior. Isso quer dizer que as Criany8S participam da construyao de seu
conhecimento como sujeitos ativos, fazendo uso dos esquemas mentals
proprios a cada etapa de seu desenvolvimento.
Nesse sentido, e a fim de favorecer 0 plena desenvolvimento psico16gico
infantil, alguns aspectos, segundo Kramer merecem destaque por serem muito
importantes para 0 desenvolvimento da crianc;a:
a) do ponto de vista s6cio-afelivo, enfatizamos a importancia de que a crian9a tenhauma auto-imagem posiliva, percebendo-se, cada qual, na sua identidade propria esendo valorizada nas suas possibilidades de ac;ao e crescimento a medida quedesenvolve seu processo de sociaJizar;:ao e interage com 0 grupo, ah~m dis so, enecessario trabalhar junto com as crianc;as para que ace item e convivamconstrutivamenle com as diferenr;:as existentes no grupo, seja em relac;ao a etnia,classe social ou sexo;
b) do ponto de vista cognitiv~, destaca-se a necessidade de levar sempre emconsiderac;ao 0 fato de que a crianc;a conhece e constr6i as noc;oes e os conceitosa medida que age, observa e relaciona os objetos do mundo fisico, e no decorrerdas alividades que realizam que as crian9as incorporam dados e reJac;6es, e eenfrentando desafios e trocando informar;:Oes umas com as outras e com osadultos que elas desenvolvem seu pensamento:
c) do ponto de vista motor, enlendemos que as crianyas precisam expandir seusmovimentos, explorando seu corpo e 0 espac;o fisico, de forma a terem umcrescimento sadio. (KRAMER, 1999, p.21)
Todos esses aspectos estao presentes simultaneamente na atividade
infantil. Par isso, e necessaria leva-los em conta ao se elaborar uma pro pasta
pedagogica e preocupar-se em oferecer as crianc;as urn ambiente que propicie
a cad a uma e aa grupo como urn todo, a manifestac;ao e ampliac;ao de seus
interesses e canhecimentos.
2.4 0 PAPEL DA AFET1V1DADE NA EDUCACAo lNFANT1L
Na fase da educaC;;8o inrantil a afetividade exerce urn papel fundamental
no desenvolvimento de cada crianc;a, pois tude e influenciado pelos aspectos
emocionais: desde 0 desenvolvimento pSicomotor, ate 0 inteiectual, 0 social e
o cultural.
Na educa980 infantti, na primeira infancia, as sentimentos imperam em
todos as aspectos da vida da crianc;;a, dando cor e expressividade a e5sa vida.
A crianc;;a naD sa be dominar suas paix6es. A exteriorizac;;ao dos sentimentos na
crianc;;a e muito mais impetuQsa, mais sincera e involuntaria do que no adulto,
como coloca MUKH1NA (1995, p.209): ·05 senlimenlos da crianc;a brolam com
forc;;a e brilho, para se apagarem em seguida: a alegria impetuosa e muitas
vezes sucedida pelo chorc. ~
A criam;a extra; suas vivencias principalmente do contato com outras
pessoas, adultos au crianc;:as. Se os que a rodeiam a tratam com carinho,
reconhecem seus direitos e se demonstram atenciosos, a crianc;:a experimenta
um bem estar emocional, um sentimento de seguranc;:a, de estar protegida.
A atitude dos que a rodeiam desperta na crianc;:a sentimentos multo
varlados. Neste ponto nos referimos a dina mica das relac;:6es interpessoais.
Trata-se de urn processo ativo, onde ao entrar em cantato com 0 professor, a
crianc;:a podera gostar dele ou nao. Se a reac;:ao ao comportamento do
professor for agradavel, a crianc;:a passara a admira-Io; se, ao contrario, 0
professor tiver urn comportarnento inibidor, punitiv~ e repressor, a crianc;:a
reagira, afastando ou rebelando-se.
o professor desempenha dentro da sala de aula uma grande func;:ao,
pais ele e a responsavel peto clima pSicologico, onde Orouet (1990, p.128)
aponta tres tipos de lideranc;:a:
a) democratico: 0 professor se apresenta como um dos elementos do
grupo, interagindo com os alunos de forma que estes entendam os
abjetivos das atividades e das varias fases necessarias a sua
realizac;:ao;
b) autoritario: a lider autoritario au autocratico e aquele que imp6e suas
ideias e exige que as atividades sejam realizadas a seu modo;
10
c) permissiva au laissez-faire: 0 professor do tipo permissivo
simplesmente se omite de suas obrigayoes, naD coordenando nem
orientando seus.
Os professores devem renetir sabre seu comportamento em sal a de
aula, pais a crianC;8 percebe-se at raves das interac;oes com tude 0 que a
rodeia, principalmente com a professor. A aprendizagem faz-se atraves destas
relac;oes. Notamos desta forma a valor educativo das relac;oes da crianC;8 com
seus educadores.
Para algumas crianC;8s 0 espac;o da educay80 infantil e uma das
primeiras experiencias sociais, a sua primeira saida do meio familiar. Desta
forma a relaC;8o com 0 professor aparece particularmente rica de
conseqOencias educativas, beneficas ou perturbadoras, conforme a sua
relayao com 0 ambiente e com 0 professor.
A educayao infantil tem como grande objetivo oferecer a crian9a
momentos de troca, de conhecimentos, de amadurecimento .. assim nesse
espa90 esta contemplando todos os aspectos: cognitiv~, social, motor e
afetivo. Todos esses aspectos mostram-se fundamental para 0 born
desenvolvimento da crian9a.
2.5 RELACiiO PROFESSOR X ALUNO
Fazendo algumas leituras, percorrendo e observando algumas escolas,
salas de aula, professores e alunos, pude perceber influencias positivas e
negativas que acontecem na relayao professor e atuno.
Piaget, Vygostky e Wallon tentaram mostrar que a capacidade de
conhecer e aprender se constr6i a partir das trocas estabelecidas entre 0
sujeito e 0 meio.
A Educa9c3o InfantH vern atuando na vida da crianya cada vez mais cedo.
Este tipo de educayc3o, que ha alguns anos atras era procurado por pessoas
carentes, que nao tinham onde deixar seus filhos, vern tomando proporyoes
maiores, com urna alta demanda na atualidade. Assim, destaca-se a
preocupa9ao com 0 papel da escota e das rela90es que ali se estabelecem.
11
A estrutura~ao do ambiente escolar, frulo do planejamento, deve, por fim, conter umareflex.ao sabre as oportunidades de intera¢es socials oferecidas, definindo porexemplo. se serao realizadas individualmente ou coletivamente e, neste case, comoserao composlos as grupos. E born lembrar Que a escola, ao possibilitar uma vivenciasocial diferenle do grupe familiar, desempenha urn importante papel na formayao dapersonalidade da crianca (GAlVAO, 1999, p.101).
A educac;ao Infantil e urn ambiente onde a crianc;a tern oportunidade de
desenvolver suas habilidades, assim como interagir com outras crianc;as e
ampliar sua relac;ao social.
Atraves do cantata com seu proprio carpo, com as coisas do seu
ambiente, bern como atraves da interac;ao com outras crianc;as e adultos, as
crianc;as van desenvolvendo a capacidade afetiva, a sensibilidade e a auto-
estima, 0 raciocinio, 0 pensamento e a linguagem. Por isso, reconhecemos a
grande influencia e importancia que a Educac;:ao Infantil e, sobretudo, 0
professor tern na vida da crianc;:a.
Neste trabalho, as estudos voltam-se para a papel da afetividade na
relac;:ao professor x atuno na educac;:ao infantll. Algumas reflexoes, discussoes,
tornam 0 tema de muito interesse pessoal.
Ao falar de afetividade, a primeira ideia que temos e carinho, amort
respeito, porem ao estudar sobre 0 tema, pode-se perceber que outros
aspectos existem. Assim, a afetividade pode ser compreendida, segundo
pressupostos cientificos, como uma gama de fenomenos, que podem ser
qualificados como:
a) relac;ao afetiva positiva (amor, carinho, alegria ..);
b) relac;:ao afetiva negativa (raiva, 6dio, temor ..).
Oesse modo, existem duas possibilidades de retac;ao: positiva e
negativa.
A positiva, trara para a crianc;a boas contribuic;oes para a seu
desenvolvimento, como tambem, possibilitara relac;oes agradaveis com 0 meio
em que ela esta inserida, facilitando sua convivencia com os demais. A
negativa, tende a desencadear uma relac;ao turbulenta e obscura, dificultando
o entrosamento com os individuos, podendo afetar 0 seu desenvolvimento.
Colocando tudo isso no contexto escolar, aponta-se para a necessidade
de que 0 professor estabelec;a uma relac;ao positiva com seu atuno, pois assim
ele pod era contribuir para 0 desenvolvimento de seu aluno.
12
o estabelecimento de urn clima de seguranya, confianc;a, afetividade, incentivQ,elogios e limites colocados de forma sincera, clara e afetiva dao 0 10m de qualidadeda interat;ao entre aduttos e crianc;a. 0 professor, consciente de que 0 vinculo e paraa crianc;a, fonte continua de significac;oes, reconhece e valoriza a rela930 interpessoal(REFERENCIAl CURRICULAR NACIONAL PARA A EDUCACAO INFANTIL, v.2,0.33).
Para que a rela~ao professor aluno, acontec;a de uma maneira positiva,
pode-se refletir sabre algumas coisas. Oeve-se dar grande importancia a
crianya com rela<;:ao aos seus sentimentos, suas emoc;:6es, sempre levando em
conta as vinculos estabelecidos.
Observa-se acentuada enfase nos processos cognitivos, como se ° que
fundamental mente caracterizasse 0 homem seria sua razao. Vygotsky, por exemplo,
segundo Veer e Valsiner (1996, p.265), por algum tempo, defendeu a ideia do
homem radonal que tinha aprendido a subjugar seus impulsos e em090es ao
controle do intelecto. Portanto, trabalha-se com ° individuo a partir de sua
racionalidade e se esquece suas emo90es. Trata-se da velha dicotomia entre a
racional e a emocional ou afetivo, estabelecendo, assim, uma relac;ao hierarquizada
e de dominac;ao: do radonal sob a emocional, desqualificando este ultimo. Enecessaria que se trabalhe com a sujeito que e razao e emoyao, com urn sistema
racional e emocional completamente interdependentes e implicados.
Em09aO nao quer dizer apenas sentimento. Biologicamente falando,
quando se trata de emoc;:ao, que dizer, disposic;:oes corpora is que definem as
diferentes dominios de a9ao em que 0 individuo se mova.
A fundamental emo98o que torna possivel a vivencia e a afeto. 0 amor e
a base estrutural para a emoc;:ao e socializac;:ao. 0 afeto e constitutivo da vida
humana, e 0 fundamento do social, e a que permeia a convivencia, sem ele
nao ha fen6meno social.
Os seres humanos se originaram do amor e ficam dependentes dele. Por
isso que mesmo se tratando de instituic;:ao escolar, 0 afeto, compreendido aqui
como expressao de amor, deve estar presente, para que seja possivel a
convivencia e parceria entre professor e aluno.
13
2.5.1 Trabalho do Professor com as CrianC;8s
A forma do trabalho do professor com a crianc;a, ira depender da relac;ao
estabelecida entre eles. Para que se construa urn ambiente de confian«;:a,
codperac;ao e autonomia, as formas de agir do professor precisam estar
pautadas par firmeza, seguranC;a e numa relac;ao afetiva forte com a crianya.
Sempre que passivel, 0 professor deve participar da atividade com seus
alunos, demonstrando prazer, pois tal atitude Ihe possibilitara maior intimidade,
fazendo com que seja encarado pelas crianC;8s urn companheiro. Per sua vez.
tera ele maior conhecimento das rea90es do grupo e estara aumentando seu
vinculo afetivo com todo 0 grupe.
Dada a diversidade de temperamentos infantis, e necessario que a
professor esteja preparado para intervir em algumas situa<;oes, porem tambem
e necessaria que a professor possibilite a crianc;:a a autonomia de se defender,
de se expressar e de se manifestar frente ao grupo.
Oeve-se existir momentos que a crianc;a expresse seus sentimentos,
suas ideias, possa dar opinioes (... ), mas tambem e preciso firmar a autoridade
nas coisas minimas, par exemplo: guardar brinquedos depois que usou,
organizar a sala antes de sair, apagar a luz, nao bater nos amigos (... ) Desde
pequenos precisam aprender seus deveres e seus direitos.
Percebe-se que trabalhando com grupos de crianc;:as algumas coisas
devem ser evitadas, como as castigos, as chantagens. Existem outras atitudes
que podem ser tomadas: a dialogo e urna boa oPC;ao.Atraves de urn dialogo, 0
professor consegue compreender algumas atitudes do seu aluno, consegue
proporcionar sotuc;oes mais adequadas e possibilita a crianc;a a modificac;ao
das suas atitudes.
Finalrnente, percebe-se que muitas sao as possibilidades de oferecer urn
ambiente agradavel tanto para a crian<;a quanta para a professor na sala de
aula, Para que issa acontec;a e necessaria existir a comprometirnenta, a
interesse, a dedicaC;8o por parte de todos as envolvidos, isso inclui desde a
pessoa que faz a faxina na escola, ate 0 professor que esta diretamente ligada
ao atuno.
3DESENVDLVIMENTO
3.1 PROCEDIMENTOS METODOLOGICOS
Como metodologia optou-se por uma abordagem qualitativa, objetivando
reduzir ao maximo a distancia entre a teoria e as dadas, entre a contexto e a
aryao. Na pesquisa qualitativa as experiemcias pessoais do pesquisador sao
elementos imprescindiveis a analise e compreensao dos fen6menos
estudados, diante disso, registros e observaryoes fcram realizadas no
transcorre'Cte toda pesquisa realizada.
A pesquisa qualitativa tern as seguintes caracteristicas:
o pesquisador observa as fatos sob a aptica de alguem interno aorganizaryao;
A pesquisa busca uma profunda compreensao do contexto da
situaryao;
A pesquisa enfatiza a sequencia dos fatos ao longo tempo;
A pesquisa pode empregar mais de uma fonte de dados.
Este trabalho foi desenvolvido, primeiramente e em paralelo, buscanda
referemcias sabre a lema e seus camplementares em varias fontes (livros,
internet, documentos oficiais). Para investigar mais profunda mente 0 tema, na
pratica, optou-se por realizar observa90es em salas de aulas, com crian9as
que se encontravam em idade de tres a cinco anos e que correspondem a
educac;:ao infanti!. No transcorrer de urn periodo de sessenta horas, foram
observadas duas turmas de Educac;:ao Infantil, em escolas diferentes, uma
escola publica e uma escola particular, ambas situadas no municipio de
Brusque - SC.
No transcorrer do periodo de observa980, elegeu-se alguns indicadores
que deveriam orientar as observa96es e que, efetivamente, traduziriam
aspectos relacionados ao tema, a afetividade, e como esta vem sendo
abordada na educac;:ao infantiL Portanto, durante as observac;:6es, buscou-se
registrar, atraves de anotac;:6es de campo, ou seja, registrando in loco tadas as
situay6es observadas no transcorrer do trabalho desenvolvido. Observou-se 0
comportamento das crianyas, sentimentos, estados emocionais e afetivos
15
(chora, sarrisa, carinho, colaborac;;c3o, aproxima90es, entre Qutros), em
interac;ao com 0 professor e com seus colegas. Registrando, assim, tambem,
as tracas entre 0 observados.
Nas observ8c;;oes feitas em sala de aula, seleciona-se juntamente com
as professora uma crian98 a 5er observada. No colegio particular foi observada
uma crian9a e na escola publica observau-se Qutra crianc;;a.
Nas observac;;6es feitas em sala 0 pesquisador interagiu com as
crian98s, criando mementos de leituras de historias, de brincadeiras livres
(brincando com carrinhos, lego, fantoches), realizando a pesquisa de
observaeyao participante, de forma ativa.
Fai realizada, tambem, uma entrevista atraves de instrumento com
perguntas abertas, com as professores em foco em cada uma das escolas,
investigando suas percepyoes sobre 0 papel do professor em sala, e com
outras questoes, tais como: 0 que e importante na educayao? Como 0
professor percebe sua ayao dentro da sala?
Seguindo 0 trabalho sera possivel encontrar registros feitos em salas no
transcorrer das observayoes. Durante todo a trabalho foram realizadas
observayoes, entrevistas e nestas foram analisados e registrados todos os
pontos interessantes, importantes e necessarios para 0 desenvolvimento dos
trabalhos.
3.2 INVESTIGACAO NA ESCOLA PUBLICA
3.2.1 Observac;ao em Sala de Aula
Durante 0 periodo de observa9ao na escola publica municipal da cidade
de Brusque, que atende em torno de cento e cinqOenta crianr;as da educayao ,
infantil e mais quatrocentas crianr;as de primeira a quarta serie~;c~nt~·celdo·Cl:o
no mes de agosto a outubro do ano de 2002, em dias altern ados.
Foi observado durante trinta dias, duas horas par dia, com a total de
sessenta horas, uma turma com idade de quatro a cinco anos, com quinze
alunos, sendo oito meninas e sete meninos, optou-se em concentrar a atenr;ao
numa determinada crianr;a, que clara mente apresentava comportamentos que
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chamavam a atenltao e que protagonizavam aspectos relacionados ao tema
deste trabalho.
A crianC;8 observada foi urn menino de cinco anos, que completaria seis
anos em novembro de 2002. Filho unico, familia de cia sse media. Esta crianC;8
apresentava dificuldades para se relacionar com as colegas e com a
professora, dificuldades para se concentrar e para falar e aparente falta de
interesse pelas atividades propostas.
Durante as tardes no periodo das quatorze heras e dezesseis haras
presenciou-se algumas cenas em sala de aula. A crianC;8, com freqG€mcia,
brincava soz;nha, ficava sempre no canto da sala, brincando com seus
carrinhos. Quando era convidada pela professora para brincar com seus
co1ega5, permanecia pouco tempo, pois quase sempre causava brig as com as
demais: as outras erian9as nao aprovavam a presen9a dele. Quando eram
propostas atividades pel a professora, ele ficava poucos minutos partieipando.
Seu tempo de coneentra9ao era minimo: para ouvir historias era dificil, pois
quase nada atraia sua aten9ao.
oiante dessas observa90es, pereebemos a neeessidade de compreender
porque tais eomportamentos estavam aeontecendo. Conversando com a
professora e segundo a mesma, a situa9aO ocorria em fun9aO do ambiente
familiar. A professora falava (23/09/2002): "Essa crianc;a e deixada aqui 0 dia
todo, e 0 primeiro a chegar eo ultimo a sair, sendo que a mae nao trabalha atarde" A professora ainda relata{~empre que a mae vem busca-Io demonstra
pouca alegria em ve-Io, ela fala: "Vamos rapido estou com pressa". E sempre
assim, comenta a professora.
A professora levantou a hipotese, implieitamente, de que os pais
apresentavam certa despreocupa9ao em relac;ao aquela crianc;a, 0 que na sua
opiniao pareeia explicar as difieuldades apresentadas pela crianc;a observada.
A rotina do seu dia acontecia desta maneira: Uehegava na escola as 7
horas, permaneeendo em horario integral. De manha fieava com uma
professora, a tarde com outra. A1m098va na creche, as vezes descansava e
outras vezes nao. A tarde outra professora, outros colegas, outr~ ritmo. No
final do dia, no limite do horario da eseola a mae vinha busca-Io. Importante
salientar que a mae pedia, segundo informa90es, para a crianc;a nao dormir no
periodo da tarde, caso contrario ele iria dormir muito tarde a noite".
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Observancto esta crian9<! ern sala, que aqui chamaremos de crianc;a ~A",
buscou-se de alguma forma se aproximar da mesma, procurando entender 0
comportamento da crianc;a em questao, a qual, que de alguma forma, protagonizava
quest5es atinentes ao tema deste trabalho. Observando a crian98 ~A~,percebemos
que gostava de brincar com carrinhos. Entao, a pesquisadora ofereceu alguns
carrinhos ao grupo de crianc;as da turma, onde estava inserido "A" e logo conquistou-
se a aten¥8o de todas, principalmente da crianr;.a objeto da pesquisa. Assim, atraves
da brincadeira, observador e observado fcram se tomando pr6ximos. Em Qutros
momentos fcram propostos desenhos, brincadeiras com fantoches, brincadeiras com
lega, entre outras. A crianya ~A~se concentrava por muito tempo na sua brincadeira
preferida, com os carrinhos, e tambem passou a prestar mais atenyao nas historias
que eram lid as com a utilizar;ao dos fantoches. Durante essas brincadeiras 0
observador recebeu sorrisos, olhares carinhosos e ate urn abrac;o da crianc;a.
Levanta-se assim a hip6tese de que para conseguir progresso com esta crianc;a
precisaria existir muita dedicar;ao, paciemcia, disposi9ao e, sobretudo, muito carinho.
Percebemos que atraves do carinho e suporte afetivo, mediado por aceitac;ao, pode-
se obter grandes conquistas, porem, seria necessario mais tempo para analisarmos
a evoluc;ao do caso em questao. Contatou-se com essa crianc;a, atraves das
observac;6es participantes, durante trinta dias alternadas, e neste periada ja foi
passivel verificar que atraves de respeito e urn pauco de atenr;ao, importantes
mudanc;as puderam ser observadas.
3.2.2 Conversando com a Professora da Escola Publica
Realizou-se no dia 05/10/02 uma entrevista com a professara da crianc;a
"'A~, que aqui chamaremos de professara MA"
Durante as observac;6es feitas em sala percebemas que a professora
realizava seu trabalho com respansabilidade, demonstrando interesse pelo
bem estar e aprendizada de seus alunas. A professora "A" realizava prajetas
que chamava a atenc;ao de seus alunos, of ere cia materiais diversas como:
Cds, fitas, livros e muito material letrado. Fai nessa preocupac;ao excessiva
com os materiais letrados que percebi a sua ansiedade e interesse pela
aprendizagem prematura de letras e numeros de seus alunos que tinham
apenas quatro e cinco anos.
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Como foi citado na revisao de literatura a educ8980 infantil, e urn
ambiente cnde a crianc;a tern a oportunidade de desenvolver suas habilidades,
assim como interagir com Qutras crianc;as e amptiar sua relaC;8o social e nao
apenas aprender a ler au esc rever.
Iniciando a entrevista indagou-se a professora sabre 0 papel do
professor em sala de aula, ela relatau: gse tern urn papel de fundamental
importancia na escola e 0 de professor. Muitos pensam que 0 professor eapenas alguem que deve ensinar. Entretanto, 0 professor ensina e aprende.
Quantas eoisas aprendi com rneus alunos, e como eles sabem explicar, sem
ao menos terem sido academicos. Essa ideia de que a sala de aula 56 existe
para muitos Quvirem e captarem a que urn fala, jil era".
Observando a resposta da professora A, percebe-se que na sua fala ela
nao consegue realmente definir qual e 0 papel do professor, ela apenas relata
que 0 professor assim como 0 aluno tambem aprende,
A professora A relatou como ela percebia 0 espac;:o de sua sala de aula:
Mvejo a sala de aula como um ambiente de troca, de ensino-aprendizagem, de
uma conversa sobre determinado assunto que muitas vezes surge da fala das
crianc;:as ja que assim, a aprendizagem passa a ser muito mais significativa
para quem ouve, e muito mais estimulante para quem se propoe a ensinar
(aprender)". Oiante deste relato, conseguimos perceber a preocupac;:ao
existente em levar 0 conhecimento para os alunos. No momento em que ela
relatava Mconversa sobre determinado assunto~, ficava claro a sua
preocupac;:ao com 0 conhecimento, em term os de informac;:ao ou conteudo.
Porem, torna-se fundamental esclarecer que para crianc;:as dessa faixa etaria,
outras preocupac;:oes sao necessarias. Argumenta-se aqui, que nao e apenas
importante desenvolver 0 lado cognitivo da crianc;:a, mas tambem os aspectos
afetivos, que irao muito auxiliar no futuro dessas crianc;:as.
Continuando a entrevista, a professora A relata: 0 professor que era
visto como mediador do processo de aprendizagem, dava oportunidade ao
aluno para expor suas ideias, dava oportunidade para 0 aluno errar, tendo em
vista que com a mesmo se aprendia bastante.
Continuando sua fala: logo, cabe a nos educadores proporcionar
momentos agradaveis e ao mesmo tempo educativos na sala de aula. Mais
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urna vez aqui ela demonstrava a preocupac;:ao com 0 desenvolvimento
cognitiv~ de seus alunos.
Encerrando a nossa entrevista, perguntou-se a professora 0 que ela
acreditava 5er importante na educ8ry8.0? Ao que ela respondeu: ~a escola tern
urna fun.;:c3o bern preocupante em 5e tratando de educ8ryao. Tenta entender
isso como a func;:ao de orientar: tentar levar 0 aluno a urna com preen sao de
cidadao da educac;:ao. E multo delicado salientar que a escola e responsavel
pela educaryao de seus alunos, jil que e minima 0 tempo do mesmo na escola.
Enquanto educadora, procuro orientar as meus alunos da melhor forma
passivel para caminhar no sentido de promover urna aprendizagem saudavel e
interessante para 0 grupo que eu trabalho. Se a escola orienta, e os pais
educam com a mesma finalidade, 0 processo de aprendizagem tera muito mais
sucesso. Procuro com 0 rneu trabatho nao apenas passar informac;oes, receber
informac;oes ... estamos lidando com gente, seres humanos, que sentem,
pensam, buscam e e muitas vezes nessa busca que 0 atuno encontra a sua
realizaC;ao pessoal .. por isso cabe ao professor suprir, 0 minimo que seja, 0
tado afetivo de seu atuno, ja que somos constituidos de corpo, mente e
espirito."
Ao analisar a entrevista, nota-se a grande preocupac;ao em transmitir
conhecimentos. Tendo como alunos crianc;as de quatro e cinco anos,
percebemos que a professora A vem desenvotvendo seus trabathos com
acentuada preocupaC;8o em relayao aos aspectos cognitivos e demonstra uma
pequena preocupaC;80 sobre os aspectos afetivos, esquecendo de que seus
alunos sao criany8s de uma dada faixa eta ria, e que, para eles existem outros
fatores importantes e que precisam serem trabalhados nesse periodo.
Oiante desse relato, procurou-se entender tambem, alguns
acontecimentos em sua sata com a crianc;a A. Pede-se compreender algumas
raz6es que provavelmente explicariam porque 8 crianya A demonstrava
desinteresse, baixa concentrayao ... , pais 0 que a professora tinha para Ihe
oferecer nao estava de acordo com as suas necessidades, refletindo assim
num "mau comportamento da crianya em questao", Se cuidadosamente
observassemos esse caso, poderiamos levantar a hipotese que a crianya A
estava apenas tentando de alguma maneira suprir suas necessidades, ja que
diante de situac;:oes que pareciam contemplar mais seus interesses ela
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comportou-se de forma diferente: aproximando-se mars, expressando carinho e
maior concentrac;:8o.
Acho interessante relatar aqui: Na fase da Educa<;:8o Infantil a
afetividade exerce urn papel fundamental, pois nesse perlodo tudo e
influenciado pelo aspecto emacional. Canfarme Wallon (1995,p.150): "A
educac;:ao deve ter par meta naD somente 0 desenvolvimento intelectual, mas a
pes so a como urn todo"
Concluindo 0 relata e analise da entrevista, enfatiza-se a quanta eimportante, ao tentar compreender urna crianC;:8, 0 conhecimento de todos as
centextos envolvidos (escolar, familiar, comunitario, cultural) para assim,
entender as manifestac;:oes da crianc;:a e contribuir para as soluc;:oes de suas
dificuldades.
3.2.3 Notas Sabre as Observ8c;:oes
Observando as aulas nesta escola foi possivel perceber varios
acontecimentos e situac;:oes que interessam.
Para Falar de afetividade em sala e necessaria observac;:ao, paciencia e
reflexao. Percebe-se que para conseguir urn resultado e preciso um certo
tempo, a que, muitas vezes, pode tamar a pratica cotidiana desestimulante e
cansativa, fazendo com que aparec;:a a desistencia.
Observando uma sala de crianc;:as da educac;:ao infantll de tres e quatro
anos, de classe baixa, em uma escola publica da cidade de Brusque-SC, foi
possivel notar algumas divergencias no contexto escolar em que a aluno
estava inserido.
Para que a escola, tivesse a possibilidade de oferecer aos alunos um
ambiente agradavel e qualificado seria necessaria a disponibilidade e
compromisso de todos as envolvidos com ambiente escolar (diretor,
professores, funcionarios em geral).
No entanto, a escola observada contava apenas com alguns
funcionarios, ° que, na nossa opiniao, dificultava 0 alcance de seus objetivos.
Foi passivel perceber que a relac;:ao entre funcionarias era conturbada,
havendo discuss6es entre eles, nao existindo divisao au ajuda nos trabalhos
em geral, como: organizar a sala, ajudar a servir as crianc;:as na hara do
21
lanche. TaJ comportamento afetava 0 trabalho de todos as envolvidos
(professores, aJunos, pais ... ), principalmente as alunos
Observando a sala de aula, as alunos e a professora, natou-5e 0 quanta
era importante existir uma reflexao sobre a rela«;:ao afetiva entre professor e
aluno. Era, sem duvida, fundamental a empatia entre eles. Com uma rela«;:ao
afetiva pautada de arnor e aceita«;:8o, 0 professor consegue compreender
melhor 0 atuno, entender algumas atitudes e reac;oes da crianya, e as
problemas existentes tendem a se diluirem com maior facilidade Porem,
quando essa rela«;:ao afetiva apresenta-se hostil, com a presenc;a de
precanceitos e neglig€mcias, tumultua-se a situac;ao, comprometendo assim 0
desenvolvimento da crianc;;a e dlficultando ao professor 0 alcance de seus
objetivos com toda a turma, principal mente com uma crianc;;a, como a que
estava em questao.
Para que sejam evitadas tais situayoes, torna-se necessaria que a
professor compreenda que cada crianya traz consigo uma bagagem, um
aprendizado, uma experiencia. Toda a hist6ria da crianya deve ser valorizada,
analisada e conhecida pelo professor, para que este possa conhecer e
compreender melhor 0 seu aluno.
a professor realiza um trabalho muito importante, pois e com ele que a
crianya passa a maior parte do seu tempo.
Observando a professora da turma em questao, notamos a importancia
e a necessidade de existir uma relayao afetlva carinhosa entre professor e seu
aluno. Percebemos 0 quanta e produtivo 0 trabalho, quando existe entre
professor e aluno urna relac;;ao agradave1. Falando em Educayao Infantil vale
ressaltar, que para 0 professor conseguir conquistar seus alunos, a sua
confianc;;a, e preciso existir multo carinho, paciencia e persistencia.
Observando as crianc;;as, fo; possivel comprovar tambem a dificuldade
que 0 professor encontra em ter a falta de interesse dos pais, quando parece
existir uma relac;;ao afetiva hostil entre eles.
Ao olhar para as crianc;;as dessa idade (tres anos), percebe-se quanta
ingenuidade, quanta dependencia, que transmitem, porem ao mesmo tempo
nota-se muita sabedoria, multa desconfianc;;a no desconhecido, muita
curiasidade.
22
Observando essa turma, percebeu-se como e fundamental existir a
confianc;:a, pOis, assim, as educandos sentem-se seguros e conseguem se
relacionar com tranquilidade e se expor, expressando claramente suas idsi8S e
desejos.
Percebeu-se tambem que 0 professor torna-se para a crianc;:a urna
importante fonte de afeto, conhecimento, desenvolvimento ..
Como ja foi citado, e necessaria muito tempo para alcan9armos
determinados resultados no grupo, pois sao crianC;:8S pequenas e nessa fase
tudo aconteee progressivamente. 0 ideal e analisar as resultados durante urn
longo periodo tempo.
3.3 INVESTIGAC;AO NO COLEGIO PARTICULAR
3.3.1 Observando 0 Atuno no col89io Particular
Em urn colE~gio particular da cidade de Brusque-SC, durante 0 mes de
agosto a outubro de 2002, com a total de sessenta horas, realizado em trinta
dias durante duas horas por dia, realizou-se varias sess5es de observac;ao de
crianc;as que frequentavam uma turma de educac;ao infantil, classe media-alta,
em torn a de seis a oito mil reais.
Uma turma com onze crianyas de tres a quatro anos, sendo seis
meninas e cinco men ina. Com a ajuda da professora desta turma escolhemos
uma crianya para realizar a estudo.
A crianya escolhida, foi uma menina de quatro anos, filha (mica ate
pouco tempo, a qual chamaremos aqui de crian9a B. Esta crianya apresentava
comportamentos ~agressivos" diante da professora e da turma. Exigente,
critica, eta desafiava a autoridade da professora em varios momentos.
Tudo indicava que ela recebia carinho em casa, porem na escola
demonstrava atitudes agressivas, era "uma crian«;;a dificil de lidar", tinha
dificuldade para se reiacionar com 0 grupo, tudo tinha que ser para ela e do
jeito que ela desejava. Quando suas vontades nao eram realizadas ela
protestava, agredia, reclamava, fazia -escandalos",
23
Observando sua retina na escata, naD visualizou-se razoes que
pudessem justificar tais comportamentos. Eta chegava no horaria, sempre
trazida pela mae au pelo pai, as dais ~demonstravam muito carinho", mas
tambem autoridade, poiS as vezes, no momento de ser deixada na escala fazia
algumas exigencias, como: ~quero trazer 0 meu brinquedo", no dia que naD era
permitido brinquedo no escala, e 0 pai, mesma com ela chorando, canversava
e dizia que naD podia, ela cantinuava chorando, mas 0 pal mantinha a
resposta: nao.
Ela brincava com seus coregas, participava das atividades, mas se
alguma caisa naD acontecia como ela queria, tudo se complicava, ela ja naDqueria mais participar da atividade, empurrava as materiais, fica va emburrada
e sentava no canto da sala. A professora tentava conversar com ela, mas
quase sempre a professora desistia e deixava que ficasse sozinha.
No parque, ela brincava com todos quando estava bem e tudo
acontecendo como ela queria, mostrava-se carinhosa e divertida. Fazia
questionamentos interessantes, suas produ¥oes eram bem satisfatorias, tudo
realizava com autonomia, perfeic;:ao. ' \
Observando a sua sala de aula, p~r pouco tempo, encontramos
dificuldade para compreendermos seu comportamento, que evidentemente
prejudicavam sua convivencia com outras crian¥as.
Durante 0 tempo de observa¥ao compreendemos que nesse caso seria
necessario 0 auxilio de outro profissional, talvez um psicologo.
Utilizando como parametro os estudos feitos, ressaltamos que existem
dois tipos de rela¥ao afetiva: positiva e negativa. Percebe-se que a crian¥a B
demonstra comportamentos relacionados a rela¥ao afetiva negativa. Segundo
Kramer e importante que a crian¥a tenha uma auto-imagem positiva,
percebendo-se, cada qual, na sua identidade propria e sendo valorizada nas
suas possibilidades de ac;ao e crescimento a medida que desenvolve seu
processo de socializaQ80 e interage com 0 grupo, ah~m disso, e necessario
trabalhar junto com as crianc;as para que aceitem e convivam construtivamente
com as diferenc;as existentes no grupo, seja em relac;ao a etnia, classe social
ou sexo.
Assim, sera necessario existir por parte da professora muito dialogo,
paciencia, born sen so, para orientar a crianc;a B e ajuda-Ia a superar as suas
24
dificuldades de relacionamento, de controle da sua emoc;c3o, sendo que a
emoc;ao pode interferir no comportamento do individuo.
3.3.2 Conversando com a Professor do Colegio Particular
Ao realizar a entrevista, realizada no dia quinze de outubro de dais mil e
dais, indagou-se a professora (que aqui chamaremos de professora B), qual
era 0 papel do professor. Sua res posta fa;: "0 professor exerce urn papel
fundamental na vida da crianc;a. Ele e mediador, tern a func;ao de trabalhar 0
cognitiv~ da crian98, assim como desenvolver tambem todas as Qutras areas
(matara, afetiva), que nessa idade sao fundamentals. Portanto, 0 meu papel de
professor dentro de uma sala de aula trabalhando com crianc;as de tres e
quatro anos, posso dizer que e bem gratificante, pois esse grupo possui
grandes e diferentes necessidades, no qual temos que respeitar e tentar limitar
os mesmos sem invadir e atrapalhar suas potencialidades".
Entrevistando a professora e observando as suas aulas, percebemos
que ela mostrava gostar muito do seu trabalho e demonstrava grande
habilidade com as crianyas. Ela brincava com as crian9as no chao, participava
das brincadeiras das crian9as no parque, e chamava a aten980 quando
necessario.
Continuando a entrevista, questionamos como ela realizava 0 trabalho
dentro da sala de aula, entao ela explicou: "Acho que deve existir uma
preOCUpa9aO com a afetividade, carinho, porem nao e 56 isso, tambem me
preocupo com a educayao deles, transmitindo assim urn conhecimento amplo
para que futuramente sejam capazes de se tornarem um indivfduo com
diferentes capacidades. Trabalhando com crianyas dessa idade (tres e quatro
anos), noto que a minha atuac;ao de professora, vai alem da simples funC;ao de
"ser professor", pais ao trabalhar com esse grupo muttas sao as necessidades
deles, necessidades de muita atenyao, de carinho, de proteyao.
A professora B comenta que a sua atuac;:ao de professora vat alem da
simples func;ao de "ser professora~, diante dessa resposta pedimos que ela
explicasse. A professora B responde: "Na educac;ao infanti! 0 professor vat
alem do ensinar, aqui 0 professor precisa cuidar, esse cuidar exige mUlto,
exige carinho, exige responsabilidade, 0 professor precisa ser muito afetuoso,
25
precisa mostrar 0 que e certo e 0 que e errado. Born, 0 professor da educ8yao
infantil tern muita responsabilidade nas maos, pais e aqui que construimos as
futures adolescentes, jovens e aduUos",
Continuando a sua fala a professora relata:
"Ah~m de tude 0 que ja foi relatacto, e importante destacar que nessa
idade de tres e quatro anos, a coordenayao motora e urn aspecto fundamental
a ser trabalhado, no qual trabalhar com as crianC;8s necessita-se de diferentes
materiais: lapis, can eta e principalmente tesQura, issa e claro referindo-se as
atividades de papel e rotha, pois para desenvolver a coordena9ao motora,
pode-se utilizar Qutros meies que para as crian98s sao mars atraentes como:
bola, brincadeiras de corda, brincadeira com colchoes".
Pode-se observar que a professora demonstrava grande preocupaC;80
com os aspectos cognitivos, pOis em alguns momentos deixava isso claro,
colocando que devia transmitir conhecimentos. Mas, tambem percebemos que
ela conseguia compreender outras necessidades das crian<;as, como: os
aspectos motores e afetivos.
Nas observac;oes feltas em sala, notou-se que a professora B mantinha
uma relac;ao um pouco tumultuada com a crianc;a em questao, pais havia
momentos em que a professora nao conseguia fazer com que a crianc;a B
realizasse as atividades, trabalhos propostos, como: junta mente com toda a
turma organizar a sala, fazer ativ;dade,.. A crianc;a 8 quase sempre
tumultuava toda a turma. Assim a professora foi question ada. Qual a sua
reaC;80 diante dessa situaC;8o? 0 que voce faz esta de acordo com a sua
teoria? A professora 8 responde: A crianc;:a 8 muitas vezes consegue
tumultuar a turma, muitas vezes deixo, fazendo de conta que nada aconteceu,
porem outras vezes e multo dificil deixar como se nada tivesse acontecido.
Entao chama a crianc;a 8, converso falo que ela errou e as vezes altere a
minha voz e ate colo co-a de castigo. Muitas vezes, brigo multo com ela, e e al
que fico me questionando se estau certa ou nao. Tento sempre refletir sabre
as minhas ac;oes e assim percebo que muitas vezes eu dou muita atenc;:ao
para essas ac;:6es fazendo com que a crianc;:a B percebesse que tal
comportamento chama a minha atenc;:ao, mesmo que negativamente. Aqui
percebo que preciso mudar a minha postura, demonstrar mais paciencia,
conseguir distrair a atenC;:8oda crianc;:a B para outras coisas na hora da furia.
26
Para encerrar a entrevista, perguntou-se 0 que era importante na
educa.;:ao? Sua resposta: "aprender, educar, educando, educac;ao, sao
palavras que constantemente estao presentes no nossa cotidiano, na nossa
pratica pedagogica. Entretanto, tern au passu; varias finalidades, varias
importancias, no qual e importante que temas urn conhecimento amplo de
educ8c;ao. Contudo, urna crianC;8 de tres e quatro an os e fundamental que
tenha urna grande afetividade, carinho do educador, mas e tambem
fundamental que tenha urna base de ~educa9ao~, de conhecimento para que
futuramente possa se relaCionar com as demais individuos de forma clara e
ampla. Temas que ter claro que a educac;:ao esta presente em diferentes
lugares, naD urn unico lugaL Portanto, a pratica pedagogica de um docente e
muito importante, tanto na sala de aula, quanta na educayao de seus alunos
pais e dependendo dela que as mesmos vao se tornar urn individuo com
diferentes potencialidades e com uma grande capacidade de ser formar urn
individuo critico e com ideia propria".
Na entrevista realizada e nas observac;:5es feitas em sala, a professora
procurou mostrar comprometimento em relac;:ao ao desenvDlvimento de seus
alunos e consci€mcia da importElincia de realizar urn trabalho serio, priorizando
a evoluc;:ao dos mesmos em todos as sentidos.
3.3.3 Notas Sabre as Observay6es
Ao observar uma turma de classe media-alta, numa escola particular, da
cidade de Brusque - SC, onde os profissionais procuram trabalhar em sintonia,
buscando oferecer para a crianc;:a um espayo tranqOilo, rnotivador, atraente,
percebe-se muitas contribuic;:6es para 0 bom desenvolvimento cognitiv~, motor,
afetivo da crian9a.
Trabalhando de maos dadas com as pais, 0 trabalho flui com mais
naturalidade. Dificuldades, angustias, medos, inseguranc;:as existem, pais
estamos trabalhando com seres humanos e esses sentimentos demonstram
que a ser humane e sem duvida urn ser que pensa, que se desenvolve,
cresce ..
Observando a grupo de urn colegio particular, e facil notarmos diversos
recursos que sao oferecidos para ajudar no desenvolvimento da crian9a. Na
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escota em questao sao oferecidos aos alunos: fonoaudi61ogo, psic61oga,
profissionais adequados e estes interagem diretamente com a crian9a e a
familia. Tambem sao disponibillzadas aos alunos aulas extracurriculares:
ingles, informatica, danya .. 0 professor recebe auxllio de outros profissionais
como: fonoaudi61ogo, pSicologo, visando 0 desenvolvimento do aluno.
Percebeu-se que as dificuldades relacionactas ao desenvolvimento cognitiv~
das crianc;as sao investigadas. Quando e identificada alguma dificuldade logo
a escota procura proceder um encaminhamento da methor forma passiveL
No casa em que foi observado com a crianc;:a B, a coh§gio mais
precisamente a professora B, a coordenadora e a psic6loga tentam realizar urn
trabalho para poder ajudar a crianc;a B e a professora B a superar as suas
dificuldades. Foi pensado em conjunto e proposto a professora B algumas
atividades. Inicialmente fa; sugerido que a professora B, iniciasse sua
atividades com urn momento de relaxamento, promovendo um inicio com
bastante tranqOilidade, tambem tai sugerido em realizar atividades em que a
crianC;8 B se sentia muito bern, concentrando a sua atenC;80 para tal atividade
e sempre agir com muita pac;encia. Depois de uma ou duas semanas essas
profissionais retomariam a se encantrar para realizar uma avaliaC;8o sobre
esse trabalho.
Muitos cuidados existem para que a crianc;a cresga e se desenvolva de
uma forma "natural~ Como a principal preocupag8o dos pais e em relagaa ao
desenvolvimento cognitiv~, evidenciado no grande interesse pela alfabetizayaa
das filhos, a escola entrenta algumas dificuldades, pais algumas vezes e
necessario argumentar que isso nao e 0 mais importante na educayao infanH!.
A eseola tem a cuidado de mostrar aos pais que nessa fase, nessa idade
outras conquistas sao mais importantes: criar autonomia, desenvolver urn born
relacionamento entre as cr;an<;as e entre os educandos e 0 professor, brincar
mUlto, cuidados com a corpo e com 0 meio em que vivem, respeito ... , pOis
assim, se tornaram adolescentes, jovens, e adultos de sucesso.
Tambem e importante relatar, que nesse colegio existe uma preocupac;ao em
tornar a ambiente escolar agradavel, oferecendo as crianc;as espa.yo de recreac;ao,
brinquedos atraentes e pedagogicos, atividades que possibilitem expressar seus
sentimentos e ideias, professores adequados para realizar os trabalhas com as
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Existe 0 interesse de unir ideias, em discutir assuntos voltados para 0
interesse das crianC;8s, de realizar estudos e estar buscando urn aperfeic;oamento
para todo a grupo. Tambem incentiva-se as professores a partidparem de palestras
e cursos, de momentos de reunlees. Tambem e oferecido aos pais momentos de
discuss6es sobre educ8c;ao, conversas com as professores para estabelecer urna
relac;ao agradavel entre ambos.
4 CONCLUsAo
Ao darmos por finalizada a pesquisa sabre a afetividade na Educa~ao
Intantil, realizamos algumas reflex6es.
As angustias que surgiram fizeram com que se investigasse,
percebendo a necessidade de refletirmos com mais profundidade sabre 0
papel da afetividade, das relac;:oes interpessoais como fatores determinantes
da educac;:ao infantil.
Percebeu-se ao realizar este trabalho que 0 grande pilar da educay80 esem duvida, a habilidade emocional. Nao e passivel desenvolver a habilidade
cognitiva e a social sem que a emQ(;ao seja trabalhada. Sendo assim, enecessaria e importante valorizar a relac;:ao professor-aluno, fazendo desta
relac;:ao urna estrategia positiva, que leve 0 aluno a aprendizagem. 0 professor
atraves de muito respeito, dialogo, sabedoria, deve transmitir ao aluno uma
rela980 de traca, amadurecimento, aprendizagem.
Na educa9ao lnfantil, os aspectos emocionais desempenham um papel
fundamental, pois atraves da emoc;:ao constitui-se a base ou a condi9aa
necessaria para qualquer progresso nos diferentes ambitos do
desenvolvimento infanti!. Tudo na Educa9ao lnfantil e influenciado pelos
aspectos emocionais: desde 0 desenvolvimento pSicomotor ate 0 intelectual, 0
social eo cultural.
Realizando esta pesquisa percebe-se que os prafissionais demonstrarn
uma certa atenc;:ao para os aspectos afetivos, porem quando questionados ou
abordados sobre esse assunto nota-se que existe pouca clareza e muitas
duvidas em torno desse tema: AFETIVIDADE.
Afetividade abrange muitos fatores, e urn tema complexo que exige
muitos estudos, muitas pesquisas. Desenvolvendo esse trabalho notou-se que
muito ainda pode-se explorar, pesquisar e para isso sera necessario um maior
tempo para realizar as pesquisas, entrevistas e assim aprofundar as estudos
sabre afetividade.
E importante destacar aqui que essa foi uma pesquisa explaratoria, pais
foram realizada~paucas horas de observa90es e entrevista~comparando com
que 0 seria necessaria para realizar tal pesquisa.
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Concluindo este trabalho, considero fundamental existir no ambiente
eseelar urna relaC;8o afetiva pautada por aceitac;ao. Mesma alguns professores
naD se sentindo a vontade com a questao de abrac;:ar e de sentir a proximidade
do aluno, devem compreender que a receptividade e tao importante quanta a
inteligencia. Se a pro posta e educar por inteiro a crianC;8, nao podemos ignorar
as afetes. Porque a emoc;:ao impulsiona a aten9ao, que por sua vez, impulsiona
o aprendizado e a memoria.
Concorda-se com ALMEIDA (1997, p.239) quando expoe:"a participal'ao
dos aspectos afetivos e cognitivos em todas as realizac;:6es humanas e
indiscutivel, pais nao devemos esquecer que 0 homem age como urn todon•
Finalizando todas essas reflexoes, deixamos aqui um importante relata.
Percebeu-se a quanta eo importante que a professor proporcione aos seus
educandos momentos de afeto; devem permitir que exista uma relaC;8o afetiva
espontanea entre eles, pois"o vinculo afetivo sentimental, entre a sujeito que
investiga e a objeto investigado sabidamente dinamizam, facilita e fortalecem a
desencadeamento da real'ao cognitiva" (AQUINO, 1997).
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