1
Das Jóias Negras do Império às Jóias da Terra
Iluminismo, Economia e Reforma em Angola (1780 – 1810)
Edgar Alexandre Pinto Teles
Dissertação de Mestrado em História
Especialidade História Moderna e dos Descobrimentos
Outubro, 2015
2
“O mesmo Sistema económico, que em geral fica discorrido a respeito do Brasil, convém aos
domínios de África Ocidental: porém com a Diferença de que, estes não são próprios para a
agricultura, como o Brasil; constituindo a sua principal utilidade, em darem escravos negros
para os trabalhos necessários, e mais símplices das colónias da América.1”
Carta reduzida da parte Meridional do Oceano Atlântico, B.N CC- 915-R
1 M.J.R, Economia Politica, Lisboa, Banco de Portugal, 1992, p. 69.
i
Agradecimentos:
Maria Rosa dos Santos Pinto Teles de Sousa
(Minha Mãe que nunca me deixou desistir)
Jaime dos Santos Pinto
(Meu tio e amigo)
Maria Lucia Torcato
(minha amiga, mana)
Mauro Costa
(Meu Bro, Camarada, e Amigo!)
ii
Uma dissertação, embora um exercício singular, nunca o é na sua totalidade. É –
na verdade – um exercício onde a interacção com, quer colegas, quer com
investigadores, permite que se abram horizontes de reflexão e de investigação.
Em primeiro devo uma palavra de grande apreço ao meu Orientador, Professor
Doutor Diogo Ramada Curto, cujas orientações e correcções, não só foram cruciais para
me levar a bom porto; assim como os seus conhecimentos, directrizes metodológicas, e
doutas aulas que nos levaram a desafiarmos o que nós próprios achamos. Agradeço
ainda todo o ânimo que me deu para poder navegar este trabalho na sua plenitude
Académica.
À Maria Guedes – minha colega, que se dedica também ao estudo de Angola –
cujas recomendações bibliográficas e debates sobre as diferentes questões, me
permitiram muitas vezes redimensionar e repensar várias questões académicas.
Ao Filipe Soares, e à Mariana Castro por todos os momentos de galhofa, e
conversas frutuosas para o meu trabalho, na mesma linha agradeço à Rute Mendes.
Dada a dimensão estatística, não poderia deixar de mencionar, quer a Rita
Morte, quer a Cláudia Cardoso, as quais me deram preciosas informações, sobre como
trabalhar a dimensão estatística do Excel.
À Ana Filipa Caldeira, que muito amavelmente fez a correcção do Português, e
da ortografia para garantir a qualidade que se espera que tenha uma dissertação de
mestrado. Assim como a Rui Pepe, que me deu uma grande e preciosa ajuda com o
texto, e a já cidade Maria Lúcia Torcato.
De igual modo a João Duque, Paula Salgado, Emanuel Pina, Carlota Tomé,
Teresa Santos que, além de alguns dos nomes citados, estiveram presente na defesa da
mesma dissertação no momento, ou no rescaldo.
iii
A todos os funcionários do A.H.U, sem os quais, pelo seu auxílio, sua prestabilidade,
suas recomendações, sua paciência, fui crucial para a realização deste trabalho
académico. Inclusive, que segundo as regras do Arquivo, me deixaram fotografar
imensos documentos, cuja recolha facilitou imenso o meu trabal Aos funcionários da
Biblioteca da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, por todo o seu auxílio e
préstimos.
Igualmente aos funcionários da Biblioteca do I.S.C.S.P, por toda a ajuda e
disponibilidade demonstrada, citando em particular Manuel Rodrigues.
À UITI (Universidade Internacional da Terceira Idade) onde faço voluntariado,
pela compreensão, quer do reitor, quer dos meus alunos, face a minha actividade
académica, e suas responsabilidades.
A todos os meus colegas, de História e de outras áreas académicas, pelos
momentos de alegria que me concretizaram, essenciais para recarregar ânimo e estímulo
para as minhas tarefas académicas.
iv
Das Jóias Negras do Império às Jóias da Terra
Iluminismo, Economia e Reforma em Angola (1780 – 1810)
Edgar Alexandre Pinto Teles
Resumo
PALAVRAS-CHAVE: Angola, Séc. XVIII, Pensamento Económico, Iluminismo,
Projectos Coloniais, Atlântico Séc. XVIII, História Económica, Economia Colonial.
Esta dissertação tem como principal objectivo – dentro dos projectos coloniais
do século XVIII – equacionar o papel de Angola nos mesmos percursos, no que toca ao
económico no final do século XVIII.
A produção académica sobre este assunto – seja no campo do pensamento
económico, ou no da História Económica – ainda que se debruce algumas vezes sobre
São Tomé e Príncipe – centra-se, maioritariamente sobre o Brasil e a Índia;
negligenciando com isto Angola, que era a principal região exportadora de escravos do
Portugal ultramarino deste período, aspecto que é da maior importância.
De igual modo, este trabalho pretende ainda reflectir sobre possíveis reformas e
projectos no campo económico, integrando-os com a economia-base no eixo português
no Atlântico; equacionando de que forma poderia ser um complemento, ou uma forma
de ruptura com as bases económicas daquela colónia, em conexão com a economia
internacional.
v
From the Black Jewels of the Empire to the Earth Jewelry -
Enlightenment, Economy and Reform in Angola (1780 - 1810)
Edgar Alexandre Pinto Teles
Abstract
KEY WORDS: Angola, XVIII Century, Economical Thought, Enlightenment, Colonial
Projects, XVIII Century Atlantic, Economical History, Colonial Economy.
This Thesis aims – as within the colonial projects of the late the eighteenth
century – to study Angola’s role in slave trade from an Economic point of view.
The academic literature on this subject - whether in the field of economic
thought, or of economic history - even if sometimes lean on São Tomé and Principe -
focuses mainly on Brazil and India; therefore neglecting Angola, which was the main
exporting region of slaves to overseas Portugal in this period; an event that is of utmost
importance.
Similarly, this work intends to reflect on possible reforms and projects in the
economic field, integrating them with the economy, based on the Portuguese Atlantic
axis; equating on which way that could be a complement or a way to break with the
economic bases of that colony, in connection with the international economy.
vi
Índice
Introdução …………………………………………………………….…………….… 1
Contexto Historiográfico ……………………………………………………………... 3
Fontes e Problemas …………………………………………………………………… 5
Capítulo 1: Exportação de Angola e Benguela para o Reino ………………………. 7
1. As ideias económicas e sua aplicação a Angola …………………………………... 7
1.2 O Projecto, Mercantilismo, Agrarismo na Prática ………………………… 21
1.2.1 Os Bens das Fábricas e as tendências de exportação ……………... 21
1.2.2 A Alfândega de Luanda, os mapas de Benguela e a
Tendência de exportação ……………………………………………………..
23
1.2.3 Indústria ……………………………………………………………….. 26
1.2.4 Produtos Agrícolas …………………………………………………….. 31
Capítulo 2: Escravos, Fazendas, Permuta, e o Projecto ………………..…………. 39
2.1 O projecto na vertente escravocrata e a permuta no sertão..………………... 39
2.1.1 Bebidas …………………………………………………………………. 40
2.1.2 As Armas ……………………………………………………………….. 46
2.2 As Fazendas da Índia e a Historiografia Recente ……………………………... 51
2.2.1 A Exportação das Fazendas e o Comércio da Ásia ………………….. 52
2.2.2 As redes mercantis e o tráfego numa dimensão atlântica …………... 55
2.2.3 As Fazendas e o peso no tráfego negreiro ……………………………. 61
2.3 O tráfego Negreiro ………………………………………………………………. 67
2.3.1 O tráfego atlântico e a dimensão atlântica do Projecto ……………... 67
2.3.2 O Tráfego Negreiro a escala regional e a questão da produção
no Brasil ……………………………………………………………………… 72
2.3.3 A exportação para o Brasil: Nordeste e Bahia ………………………. 78
2.3.4 O Comércio Intra-Africano …………………………………………... 83
vii
2.3.4 Os Escravos o Pilar do Império ………………………………………. 84
Capítulo 3: Terra, Sertão Projectos e Entraves …………………………………… 89
3.1 A aclimatação de produtos em Africa, e a relação com as fábricas e a
reexportação do reino ……………………………………………………………….. 89
3.1.1 A Aclimatação …………………………………………………………. 89
3.1.2 Obstáculos à Permuta ………………………………………………… 98
3.1.3 Soluções Possíveis …………………………………………………….. 101
3.1.4 As Viagens Filosóficas, Novos Projectos sobre novas directrizes …. 104
3.2 As Plantas Medicinais e o tráfego Negreiro …………………………………... 111
Conclusão …………………………………………………………………………… 123
Bibliografia …………………………………………………………………………. 135
Apêndices …………………………………………………………………………… 157
Anexos ………………………………………………………………………………. 209
viii
Índice de Tabelas:
Tabela 1 ……………………………………………………………………………. 157
Tabela 2 ……………………………………………………………………………. 158
Tabela 3 ……………………………………………………………………………. 158
Tabela 4 ……………………………………………………………………………. 159
Tabela 5 ……………………………………………………………………………. 160
Tabela 6 ……………………………………………………………………………. 161
Tabela 7 ……………………………………………………………………………. 161
Tabela 8 ……………………………………………………………………………. 162
Tabela 9 ……………………………………………………………………………. 163
Tabela 10 …………………………………………………………………………… 164
Tabela 11 …………………………………………………………………………… 167
Tabela 12 …………………………………………………………………………… 169
Tabela 13 …………………………………………………………………………… 170
Tabela 14 …………………………………………………………………………… 171
Tabela 15 …………………………………………………………………………… 172
Tabela 16 …………………………………………………………………………… 173
Tabela 17 …………………………………………………………………………… 174
Tabela 18 …………………………………………………………………………… 174
Tabela 19 …………………………………………………………………………… 175
Tabela 20 …………………………………………………………………………… 177
Tabela 21 …………………………………………………………………………… 185
ix
Índice de Gráficos:
Gráfico 1 ……………………………………………………………………………. 188
Gráfico 2 ……………………………………………………………………………. 189
Gráfico 3 ………………………………………………………………………….... 190
Gráfico 4 ……………………………………………………………………………. 191
Gráfico 5 ……………………………………………………………………………. 191
Gráfico 6 ……………………………………………………………………………. 192
Gráfico 7 …………………………………………………………………………… 193
Gráfico 8 ……………………………………………………………………………. 194
Gráfico 9 ……………………………………………………………………………. 195
Gráfico 10 …………………………………………………………………………... 196
Gráfico 11 …………………………………………………………………………... 197
Gráfico 12 ………………………………………………………………………….. 198
Gráfico 13 …………………………………………………………………………... 199
Gráfico 14 …………………………………………………………………………... 200
Gráfico 15 ………………………………………………………………………….. 201
Gráfico 16 ………………………………………………………………………….. 202
Gráfico 17 ………………………………………………………………………….. 203
Gráfico 18 ………………………………………………………………………….. 204
Gráfico 19 ………………………………………………………………………….. 205
Gráfico 20 ………………………………………………………………………….. 206
Índice de Mapas:
Mapa 1 ……………………………………………………………………………… 207
Mapa 2 ……………………………………………………………………………… 208
1
Introdução:
O trabalho por mim elaborado fruto de labuta, que nasceu da leitura de
um documento do Arquivo histórico ultramarino, que me instigou a reflexão sobre como
Angola se enquadraria em um mundo Atlântico em mudança. Ao pesquisar sobre o tem,
constatei que, neste âmbito, não há quase nenhuma bibliografia, ou um relevante
produção. O que, a nível pessoal, me deixou perplexo. A região em questão, ainda que
aparentemente periférica, era uma região importante devido ao tráfego negreiro.
O final de Setecentos, fruto quer do pensamento económico, quer da conjuntura
internacional, conhece uma transformação nas relações colonia – metrópole que, está
vinculado ao iluminismo. Esta conjuntura não é indiferente a Portugal – ainda que só a
partir da segunda metade do século XVIII – onde, dentro do paradigma da história
económica, e na Academia Real das Ciências, ou quer a nível dos órgãos políticos,
foram elaborados toda uma série de projectos que teriam como objectivo uma maior
interligação entre as partes do Império Português com a Metrópole.
Dada esta lacuna, e os exaustivos estudos já feitos sobre o Brasil, no que toca a
economia, resolvi que era altura de trabalhar a margem Africana do Atlântico. A
transformação no estudo da temática, não está só relacionada com a historiografia luso-
brasileira, mas também com a de história de África. Segundo J.D Fange, apesar de ainda
dominada pelo tráfego negreiro, começa a haver uma procura de outras temáticas
económicas estudando-se produtos como as madeiras exóticas. Os estudos feitos em
relação ao Brasil, tem sido no âmbito de economia pura. Neste campo, do lado
português destaco as obras de José Luís Cardoso, Jorge Pedreira (em economia pura
relativa ao Brasil) Valentim Alexandre (no mesmo âmbito), Enquanto os feitos em
Portugal, os poucos que ainda são, são feitos mais no âmbito das ideias económicas.
2
Mesmo do plano económico, para o período em estudo, há algumas referências;
no que toca à Economia, José Jobson de Arruda (1980) analisa África dentro da
importância na reexportação das diferentes colónias, onde o espaço geográfico em
estudo só corresponde a cerca de 5,3% das reexportações, ficando só acima das ilhas,
Pará, Paraíba, Santos, Ceará.
Para África – não especificando a que parte – António Alves Caetano indica que
o tráfego era excedentário, de Portugal para o mesmo continente, chegando a
corresponder o saldo a 96, 8% a quando comparado com o do Brasil. A temática em
questão, quer da parte da historiografia Brasileira, quer da Portuguesa, tem dado um
grande enfâse ao Brasil, passando por parte de África a São Tomé, numa abordagem
económica, como os estudos de caso preferências. Mas como está bem presente nesta
introdução, os estudos são dedicados mais ao Brasil, e para Angola de forma mais
modesta, e mais próxima ao tema que abordo, no contexto dos trabalhos dos
naturalistas.
Ao ler a documentação, e a bibliografia, não pude deixar de elaborar as seguintes
questões. Como já mencionei, Angola era mais conhecido devido ao tráfego negreiro,
mas dentro da conjuntura de transformação, teria o mesmo espaço ficado imune ou
arredado das transformações e dos projectos da coroa no que toca ao ultramar? E caso as
haja, sobre que parâmetros as mesmas questões foram elaboradas? Seguiriam as mesmas
tendências que as restantes praças ultramarinas, ou teriam algum toque de originalidade?
Ao abordar Angola, tenho como principal objectivo, ver como as reformas foram
pensadas, e como interagem com as actividades económicas tradicionais da mesma
praça. Como se conjugariam as reformas, com as práticas económicas.
3
Contexto Historiográfico
No que toca as reformas, no contexto do fim do século XVIII, já começa a haver
alguma produção historiográfica. Vejamos agora no plano da reforma, e sobre a
economia o que é que se tem escrito sobre Angola. Apesar de pouca, algo tem sido
escrito. De recente destaca-se a obra de Catarina Madeira Santos, sobre a actuação de D.
Rodrigo de Sousa Coutinho mas, apesar de focar alguns aspectos económicos, o cerne
da tese é mais o político. A par destas questões, em consonância com os planos
reformistas, já há algumas teorias elaboradas para Angola nesse sentido. Uma teoria
defendida por Maria Goreti Leal Soares é de que não houve nenhuma reforma, nem
tentativa da mesma em Angola no reinado de D. Maria I. Perspectiva que, na sua
generalidade, não reúne o consenso historiográfico. Já noutra linha, da exploração do
território, dados as condições materiais da presença europeia, Ronald Raminelli, refere
que, quer pela instabilidade da coroa, ou pouco interesse por Angola, os projectos de
criação de fortalezas não são concretizados; não se realizando um reconhecimento
efectivo do sertão africano quedando-se pelas viagens dos naturalistas. Apesar de
equacionar as viagens dos naturalistas, este reduz a aplicação de algum projecto apenas
a acção dos naturalistas. Isto obriga-nos a considerar, o conceito de projecto. Um
projecto, não implica a concretização do mesmo, implica sim a ideia de se querer
dimensionar toda uma série de intenções num determinado espaço, numa determinada
altura, com maior coerência ideológica ou não. Logo, o mesmo, não implica a sua
concretização, tem subjacente a ideia de estudo da sua teorização e objectivos.
Sobre essa questão André Mansuy - Diniz Silva, considera que a grande fonte
que D. Rodrigo de Sousa Coutinho teve para Angola, para a elaboração das reformas, os
escritos de seu pai. Posição que Catarina Madeira Santos, igualmente defende. Num
artigo não publicado, Diogo Ramada Curto, enfatiza a literatura que tinha ido com D.
Miguel de Mello, na qual – segundo o mesmo – está inserida numa vertente prática do
4
iluminismo. A problemática abordada por este historiador, a questão da transmissão dos
saberes, refere a existência de uma literatura que tinha como a enfase a aclimatação que,
tinha intrínseco, uma extensão de um projecto que pode ser enquadrada – numa leitura
de conjunto – para o ultramar português.
A questão da reforma, não fica só pela forma como era equacionada a sua
elaboração, mas também por um debate historiográfico sobre o tema. Todo o esforço
reformista foi aplicado – na óptica da historiografia – só no século XIX. Estas são fruto
da independência do Brasil, numa forma de - manter a relação entre esses dois polos - e
por outro lado enfortecer os laços da metrópole com as diferentes praças de África. O
principal objectivo destas reformas seria incentivar nos homens de negócios
investimentos naquela praça.
Esta questão entra na questão do fomento plano económico que, quer para a
historiografia sobre Portugal, quer sobre a historiografia das praças coloniais, nunca se
estudou foi abordada. Victor Pereira, diferenciando dos planos anteriores ao fim do
Estado Novo, considera que, dada a visão global, e interacção regional, se deve estudar
o processo económico em conjunto. Por outro lado, o mesmo, afirma que, dentro
projecto económico, havia objectivos de dar coesão as relações económicas entre
Portugal e seu Ultramar, o há também um politico de manter a soberania Portuguesa. O
estudo deste autor aponta a questão para o século XX, mas não será uma continuidade
de períodos anteriores?
5
Fontes e Problemas
Vistas as bases da mesma problemática, o que as fontes podem dizer e como
podem ser operadas. O universo documental por mim usado, nesta dissertação vai desde
as fontes estatísticas, das balanças comerciais do reino, até a documentação do Arquivo
Histórico Ultramarino, que é a base principal do trabalho aqui presente.
As primeiras permitem estabelecer um universo estatístico geral, para definir as
tendências das trocas comerciais entre Angola e Portugal. No segundo, permite uma
abordagem quer teórica, devidas as missivas e correspondência dos diferentes
governadores, com a coroa que permitem constituir um bom campo teórico.
As fontes para o período em estudo, no plano geral, permitem delinear duas
fases distintas para a economia em Angola. Fases estas que correspondem as seguintes
balizas cronológicas: a primeira de 1780 – 1796 onde a economia colonial –
especificamente no caso de Benguela - foi abordada dentro das transacções tradicionais
(Escravos, Marfim, Cera) discurso e prática que perdurou até aos primórdios de 90 do
século XVIII; uma segunda a partir de 1796 – mas formalizada para Angola em 1798 –
pode-se observar uma mudança no discurso sobre o aproveitamento económico para
Angola onde estava presente a diversificação da mesma.
Visto que há diferença do que se pretende perspectivar para Angola, no período
em questão convêm perceber as bases desse projecto em articulação, quer com projectos
anteriores, quer com o pensamento económico.
6
Um documento de instruções ao futuro governador de Luanda dá a estes
objectivos que ele deve concretizar a nível económico, além das metas tradicionais
temos:
A criação de um Jardim Botânico em Angola
Tomar em atenção as plantas de subsistência
Minas (que foram mencionadas após a escravatura, o que indicia uma particular
atenção)
Aumentar a exportação de escravos, Cera, e Marfim;
A criação de meios para incentivos as culturas que se pretenderiam incrementar,
quer de subsistência quer de outras.
Já no que toca ao caso de Benguela, as directrizes foram no âmbito de: aumentar a
introdução dos bens alimentares e industriais do reino naquelas paragens. Os objectivos
expressos para esta praça, não eram exclusivas a Benguela, mas eram extensíveis ao
mundo colonial português. Por outro lado, estavam subjacentes a esta frase, de aumentar
a exportação, e respectivo consumo, dos bens do reino, quer industriais, quer
alimentares, as bases do Mercantilismo Clássico. Agora como se conectam as questões
levantas por ele, com todo o contexto atlântico já mencionado.
7
Capítulo 1: Exportação de Angola e Benguela para o Reino
1. As ideias económicas e a sua aplicação em Angola: As ideias
Antes de começar, há que ter em atenção as dinâmicas económicas e comerciais
de Portugal no período em questão. Segundo António Manuel Hespanha, só no final do
século XVIII, é que há um projecto claro e definido abrangendo todo o Império
Português1. Já Gabriel Paquete teoriza que estava subjacente, às reformas, um projecto
politico que se pode enquadrar no que é designado por ilustração, mas que não se
resume a esta vertente. Nesta linha as reformas tinham como objectivos balizares:
fortalecer os laços das colónias com Portugal de modo a garantir a independência lusa;
contrariar a supremacia britânica; e garantir a inércia dos movimentos independentistas,
mantendo a coesão do Império2. Na prática económica deste período Gabriel Paquete,
refere a potencialização das regiões economicamente periféricas, mas baseada não em
igualdade mas em desigualdade e hierarquia.
Parte dessas transformações estão patentes no pensamento económico, onde
estão delineadas ideias teóricas mas com um objectivo concreto para o Ultramar. Mas
antes de passarmos a potencialidade da execução deste projecto vejamos em como se
coaduna com o pensamento económico em Portugal. A temática historiográfica em
questão, tem sido alvo de um debate, se a sua génese era mercantilismo ou antes
fisiocracia. É primordial definir este campo teórico, para se perceber, as medidas, os
objectivos, na prática, como também, para definir em que parâmetros em que as
reformas poderiam operar, e quais os objectivos que estas davam à economia.
Aqui, a historiografia mais antiga defende que o pensamento económico era
fisiocracia, o que tem sido questionado recentemente considerando-se estas tendências
1 António Manuel Hespanha, “A Constituição do Império Português. A revisão de alguns enviesamentos”,
in O Antigo Regime nos Trópicos A Dinâmica Imperial Portuguesa (séculos XVI – XVIII) Org. João
Fragoso, Maria Fernanda Bicalho e Maria Fátima Gouvêa, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2001, p.
168. 2 Gabriel Paquette, Imperial Portugal in the age of Atlantic Revolution. Cambridge, Cambridge University
Press, 2013, p. 21.
8
como múltiplas correntes de pensamento. Desde a recensão de nuvem de Juno, que
sintetizou o debate, começaram a delinear-se as principais linhas de abordagem sobre o
tema. O debate em torno desta questão, tem assumido os seguintes parâmetros:
fisiocracia, agrarismo, continuidade do mercantilismo, ou naturalismo económico. Outra
questão, que é uma das abordagens mais recentes, é a questão da continuidade do
mercantilismo.
Gabriel Paquette, para o período em questão, considera o discurso das MEARC,
que define como agrarista, como uma reacção ao Mercantilismo de Pombal11. Mas como
se consagra esta questão, quer com a prática quer com a dinâmica mercantil Portuguesa
no final do século XVIII. Antes de começarmos a análise propriamente dita, há questões
que devem ser consideradas, optei por ter como base o Mercantilismo, visto ser a
corrente – ainda dominante - no período em si. Para não fugir ao tema, vou começar por
introduzir as bases do mercantilismo no final de setecentos, remetendo para a fonte e
contrapondo com as restantes campos interpretativos sobre o pensamento económico
neste período. A partir dai, irei proceder a análise das teorias económicas para este
período.
Ao falarmos do Mercantilismo, aplicado ao ultramar, falamos da questão da
exportação de modelos. Na forma como esta questão foi trabalhada, por Jorge Borges de
Macedo, tem subjacente que há uma elaboração teórica – no contexto do seu trabalho –
politica, que serve de modelo e é exportado para o Atlântico2. A rede atlântica
portuguesa – na sua arquitectura dos poderes – é uma rede na qual há vários poderes, e
várias formas de poder local. Estas coexistem fazendo com que haja, uma diversidade
de poderes num único espaço13. O mesmo modelo caracteriza-se, na óptica do mesmo,
1 Gabriel Paquette, op cit, p. 38. 2 Jorge Borges de Macedo, “The Portuguese Model of State Exportation” in The Heritage of The Pre-
Industrial European State, Lisboa, Arquivos Nacionais/ Torre do Tombo Divisão de Publicações,
1996, pp. 25 – 39. 3 António Manuel Hespanha “ Os Poderes num Império oceânico” in História de Portugal, Dir. José
Mattoso. Vol. IV, Lisboa, 1993, p. 395.
9
por uma forte presença da religião e política, mas adaptando-se e, em determinados
casos, às realidades locais.
No caso das ideias económicas, questão bem presente, uma vez que estava
implícito um modelo a ser aplicado por uma autoridade dinástica, que a validava e
exportava para outras regiões do seu domínio. Este, neste contexto, passa por ser um
instrumento normificador, e instrumentalizador, que submete as intenções das colónias
aos objectivos da coroa. E, noutra leitura, um elemento de articulação entre a colónia em
si, e toda uma rede oceânica. Nesta perspectiva, podemos abordar – como paradigma –
os escritos de D. Rodrigo de Sousa Coutinho, que é um projecto para as Américas, mas
cujo modelo não se aplica só a mesma.
Já na óptica de José Luís Cardoso, usando como modelo o texto dos
melhoramentos da América, de autoria de D. Rodrigo de Sousa Coutinho, afirma que há
um projecto baseado em dependência politica e unidade económica1. No tópico da
economia, passa pelo desincentivar da ligação directa entre as colonias, privilegiando-se
a ligação directa a coroa3. Nas mesmas memórias, não houve, da parte do mesmo
estadista, uma rejeição do Mercantilismo Clássico embora houvessem reformas2. Pelo
contrário, este estava presente na noção de dependência, e de que a coroa era a cabeça
da Monarquia. No entanto, segundo Catarina Madeira Santos, apesar de ainda ser dentro
de um cariz tradicional, – no plano geral dos objectivos de D. Rodrigo de Sousa
Coutinho - estes projectos apresenta dois princípios inovadores, no contexto colonial
português, a serem aplicados: A primeira indica que as possessões ultramarinas não
eram só um meio de elevação económica da metrópole, sendo que deveriam ser vistas
sobre a óptica da unidade política do império, assim como na relação directa destas com
1 José Luís Cardoso, “Nas Malhas do Império: A Economia politica e a Politica Colonial de D. Rodrigo
de Sousa Coutinho” in A Economia Politica e os Dilemas do império luso – brasileiro (1790 – 1822),
coord. Luís Cardoso, Lisboa, Comissão Nacional para os Descobrimentos Portugueses, 2001, p. 79.
1 Idem, Ibidem, p. 80. 2José Luís Cardoso e Alexandre Cunha, Discurso Económico e Politica Colonial no Império Luso-
Brasileiro (1750 – 1810), Tempo, Julho – Dezembro, 2011, V. 16 nº 31, p. 83.
10
a metrópole1. Na prática, ao ver-se as datas do primeiro documento que, no contexto da
capitania de Benguela, esboça objectivos económicos para a mesma, tem inerente um
projecto colonial. O texto para Benguela, é de 1796, dois anos antes da data da redacção
e elaboração do texto de D. Rodrigo de Sousa Coutinho, onde – quer num, quer noutro –
está presente uma ideia de produção das colónias para a Metrópole, que está dentro de
uma linha política específica.
O Mercantilismo na sua génese, deveria reforçar o poder do estado pela
economia, e usar o poder do estado para fortalecer o poder da economia2. Sobre o
mercantilismo há um debate, se era uma prática económica ou uma teoria económica
mas sobre a qual não irei desenvolver. Mas independentemente se, estamos diante de
uma construção teórica, ou estamos diante de um campo de arbítrios que consagram os
comportamentos práticos da economia, havia denominadores comuns. Segundo Jorge
Borges de Macedo as características que eram um denominador comum eram: a
importância da moeda como principal fonte de riqueza; a população numerosa e activa
era um garante de força e produção de riqueza; o estado tem a obrigação de procurar e
obter bens metálicos e proteger os que o já possuíam; a indústria, na medida que produz
bens valiosos com matéria-prima barata, com mão-de-obra humana deve ser
incentivada; as condições do salário devem estar sujeitas as exigências da concorrência
e do rendimento3. Já Adérito das Neves divide o conceito, de forma operatória em
modelos correspondendo ao Estado-nação: inglês (baseado no acto de navegação e
protecção aduaneira); no francês (de cariz manufactureiro) e no espanhol (que visava a
acumulação de metais preciosos o Bulionismo4)1.
1 Catarina Madeira Santos, Um Governo Polido para Angola Reconfigurar dispositivos de Domínio, Tese
de Doutoramento apresentada da F.C.S.H de Doutoramento em História da Expansão e dos
Descobrimentos Portugueses, Lisboa, 2005, pp.92 – 93. 2 Rondo Cameron, História Económica do Mundo, 2ª edição, Mem Martins, Publicações Europa
América, 2000, p. 154. 3 Jorge Borges de Macedo, “Mercantilismo” in Dicionário de História de Portugal, dir. Joel Serrão,
Porto, Iniciativas Editoriais, 1962, p. 35.
4 Da palavra Bulion, ouro em pequenos lingotes termo usado para definir o tipo de mercantilismo em voga
em Espanha.
11
Mas estas não são as únicas – como sintetiza Lars G. Magnunson – eram,
tratando-se não de uma elaboração teórica mas um campo prático pelo espectro social
envolvido na sua conceptualização: protecção estatal e pela salvaguarda dos mercadores
e das manufacturas nacionais2. Numa primeira análise, e no contexto do trabalho, estas
directrizes estão vinculadas a relação clássica metrópole colónia, na qual a primeira
abastece a segunda de alimentos e manufacturas estando a segunda obrigada a ceder as
suas matérias-primas. A economia portuguesa, no seu funcionamento, apresenta fortes
traços desta corrente pois seus objectivos eram: recolher o maior número de divisas de
ouro; ter um saldo comercial positivo3. Mas que tipo, ou que mercantilismo, é que está
presente no pensamento dos autores e na prática de setecentos.
Para o final de setecentos há toda uma reconceptualização do mercantilismo,
sendo este definido como: Mercantilismo ilustrado4 - entre outros conceitos – onde,
dentro de uma matriz politica Absolutista, havia a intenção de se proceder a grandes
reformas visando a liberdade comercial, mas dentro do sistema político vigente5. Na
mesma questão, Luís Cardoso define três modelos específicos adoptados, quer pela
Espanha, França e Grã-Bretanha6: no caso da Grã-Bretanha, ele refere – da parte dos
pensadores – a independência das colónias, mas incrementando as relações comerciais;
no que se refere a França, por sua vez, ele indica projectos coloniais baseado uma
1 Adérito Sedas Nunes, História dos Factos e Doutrinas Sociais: da formação histórica do
Capitalismo ao Marxismo, Lisboa, Editorial Estampa, 1992, pp. 29 – 36. 2 Lars G. Magnunson, “ Mercantilism” in A Companion to the History of Economical Thought, dir.
Warren J. Samuels; Jeff E. Biddle; John B. Davis. Blackwell Publishing, 2003, p. 48. 3 Luís Otávio Pagano Tasso, Considerações Politicas e Económicas sobre Portugal 1808 – 1812, Tese
de Mestrado em História Económica apresentado ao Departamento de História da Faculdade de Filosofia,
Letras e Ciências Humanas da U.SP, São Paulo, 2010, p. 34.
4 Esta literatura – ora conceptualizada como mercantilismo tardio (Venturi 1969), ora como
Mercantilismo Liberal (Grampp 1960) ou Mercantilismo Ilustrado (definição mais usual) – tem como
características a redefinição das funções da Colónia face a Metrópole. Estas transformações – como
aponta – não são indiferentes a Portugal; onde se há uma tentativa de, mantendo o sistema político,
realizar a transformação pela abolição do monopólio. Luís Cardoso, op cit, p. 69.
5 José Jobson de Arruda, “A Produção Económica” in Nova História da Expansão Portuguesa dir. Joel
Serrão e A.H. de Oliveira. Vol. VIII, Lisboa, Editorial Presença, 1986, p. 91.
6 No caso da Grã-Bretanha, ele refere – da parte dos pensadores – a independência das colónias, mas
incrementando as relações comerciais; no que se refere a França, por sua vez, ele indica projectos
coloniais baseado numa autonomia, face à metrópole, mas fortalecido pelas relações comerciais entre
todos; já no caso espanhol este defende que estava baseado na eliminação dos monopólios, e no
incremento das produções indígenas para reexportação na Europa. Vd. Luís Cardoso, “Nas Malhas do
Império: A Economia politica e a Politica Colonial de D. Rodrigo de Sousa Coutinho”, pp.69 – 72.
12
autonomia, face a metrópole, mas fortalecido pelas relações comerciais entre todos; já
no caso espanhol este defende que estava baseado na eliminação dos monopólios, e
incremento das produções indígenas para reexportação na Europa. No caso do ultramar
Português, uma leitura geral, pode-se dizer a reforma tem presentes elementos, quer de
França, quer do Império Espanhol.
Vejamos agora como estes princípios, se aplicam em Angola. No contexto
Angolano, está presente a ideia de reforço da interacção entre as diferentes colónias mas
que está inserida na noção de Balança comercial:
“No caso do contexto os objectivos da produção em Angola, não poderiam ser
mais claros nos ofícios. De oito de Abril, de que são abundantíssimas as terras dessa
capitania as muitas Madeiras juntas, de que também abunda o país, e todas as outras
produções que podem entrar na circulação, procurando finamente os meios de manter a
regular balança de Comércio, que felizmente existe entre os meus domínios, e ligados
por laços e princípios indissolúveis a grandeza”2.
Em primeiro lugar estamos diante da exportação e na presença de elementos do
Mercantilismo ilustrado Francês, que consagrava a relação entre as colónias. E o qual o
texto, ao afirmar a regularidade desta situação, atesta. Havia de facto, neste prisma uma
regularidade, uma vez que, na prática, se Portugal teve percas na relação directa com o
Brasil recuperava na sua relação com Angola constituindo-se, na prática uma relação de
interdependência económica. Na teoria, esta ligação deveria ser mais afecta a coroa,
estando ambas em divida com as mesmas, mas – dado o alto défice que Portugal tinha
com as praças da Europa – esta relação permitia que na prática não aumentasse a
reexportação dos produtos europeus para o Ultramar. A prática em questão, ajudaria a
que as balanças comerciais do reino ficassem equilibradas.
No caso das influências, e pela questão da Balança comercial, está presente a
ideia de reforço dos laços comerciais entre as diferentes colónias. Neste âmbito, deve-se
equacionar a relação que Angola tinha, quer com Portugal, quer com o Brasil, assim
13
como Benguela tinha com as mesmas praças. No plano geral – segundo As Balanças
Comerciais do Reino de Portugal - a diferença entre a exportação de Portugal e
exportação de Angola era de 9522160$392 cruzados, sendo este saldo positivo para
Portugal1; com Benguela, o Superavit com Portugal, é de 100% uma vez que esta praça
não exporta nada para Portugal1.
Já com o Brasil o cenário era bem diferente do que com o Reino, estando
presente – no geral – um saldo positivo para Angola com uma diferença de 5204968509
cruzados, correspondente a diferença entre os 70645215145 cruzados resultantes das
exportações de Angola para o Brasil, contra os 1859556636 cruzados da exportação
desta para Angola2. O equilíbrio, está bem presente, estando nós presentes por um
fenómeno de interdependência entre as diferentes regiões atlânticas do ultramar
português.
No entanto, na interpretação do Mercantilismo, queria-se uma balança comercial
positiva. O que, outros documentos, dão-nos a conhecer melhor esta dimensão:
“hi porque também hindo aquelles vender os referidos géneros nos diversos
Portos de seus destinos pelo três do bom que dão naqueles, a onde nós os conduzimos,
lhes podiam dar por eles ao menos a desplicada quantidade de Fazendas, que nós lhes
podíamos dar, e oferecer, fazendo assim pender a Balança do Comercio toda em seu
favor, e utilidade: factos repetidos e actualmente observados provão decisivamente,
esta constante verdade.”3.
A obtenção de fazendas levaria a que houvesse uma maior procura dos portos de
Luanda e Benguela, que não pode ser desvinculada da prática do mercantilismo. Neste
caso, o tráfego e o reverter das tendências do tráfego, estava associada a ideias de um
saldo económico positivo, levando a que Portugal fosse o único parceiro comercial
daqueles povos. Este, por sua vez associado às práticas do mercantilismo, pela obtenção
1 Tabela 1, p. 157
2 Tabela 2, p. 158, Gráfico 3, p. 190. 3 A.H.U, Angola, Conselho Ultramarino, Caixa 95, doc. nº 9, 10 – 03 – 1800.
14
de recursos, neste caso humanos, tentando ter acesso a moeda de procura fazendo com
que o movimento comercial se inflacionasse para as praças portuguesas. O que, numa
perspectiva aquisitiva, representaria uma possibilidade e de vedar o acesso a mão-de-
obra por parte das nações Europeias, e a um aumento do mão-de-obra a trabalhar as
terras do Brasil, com – na teoria o aumento da produção agrícola.
Mas a questão da balança comercial, por si, não faz da prática e das ideias de
facto em Angola como Mercantilismo. Vejamos agora o que, na teoria, nos dizem as
fontes no plano concreto, sobre esta questão, nomeadamente aos objetivos da mesma
exportação:
“O sistema de um regular licenciamento das tropas por alguns meses do ano, que
deveis introduzir nessa capitania em tempo de paz, he outro artigo, em que igualmente vos
deveis ocupar, e que depende da preparação, que houver entre a tropa, que deve existir
necessariamente no quartel, e aquela que pode dispensar-se do serviço cuja providencia tem
por objecto três diversos fins: 1º melhor quando for possível a condição do soldado, 2º da Real
Fazenda, 3º Favorecer a Agricultura fornecendo-lhe mais esses braços, para cujo o efeito até
vos recomendo, que procureis, que os soldados cultivem, se possível fôr,alguns terrenos por sua
conta.”1.
Comecemos por tem em conta, a relação de Benguela, neste caso, com o Reino e
com as praças do Brasil. No geral as relações comerciais saldavam-se por um
predomínio da exportação em cruzados por parte do reino para Benguela entre 1796 –
1806. No entanto, este mesmo fenómeno não se salda pela regularidade havendo um
crescimento de 1798 a 1801 passando de cerca de 40000 cruzados a mais de 90000.
Após este aumento assite-se a um decréscimo para os 40000 em 1806 até não haver
registo em 18082. No caso do Rio de Janeiro podemos observar ligeiras quebras e
subidas, começando com cerca de 40000 em 1798, até haver uma nova ligeira descida
em 1806 dos 39000 até perto dos 1000000 cruzados. Após esse período é acompanhado
1 A.H.U, Conselho Ultramarino Angola 1798, caixa 96, doc. nº 28, 01 – 08 – 1800. 2 Gráfico 6, p. 192
15
de descida1. Os números aqui apresentados, indicam que – no contexto de Benguela – de
facto a relação comercial com o reino era hegemónica, mas (na mesma linha de
pensamento) Portugal não retirava nenhum proveito directo dela. No entanto, façamos a
análise dentro das correntes económicas em Portugal. A vermos por este excerto,
poderíamos deduzir, que estava inerente – dado o esforço em questão – um projecto
agrarista. O apoio cedido, mais do que para a subsistência, tinha como principal
objectivo a exportação, e uma eventual reexportação dos mesmos produtos para a
Europa. Quer a corrente da fisiocracia, quer a corrente do agrarismo, tem como pontos
comuns a defesa da terra como fonte de riqueza, mas a fisiocracia defende que esse
valor, mais do que a produção em si, é pelo imposto único auferido sobre o produit né,
que tinha como principal objectivo ser uma fonte de riqueza e rendimentos ao Monarca2,
o qual – além desta dimensão agrária – tinha intrínseca uma noção de ordem natural.
No que diz respeito à corrente agrarista, foram apresentados os seguintes
argumentos. Segundo Jorge Pedreira, a questão é que há discurso agrário, que se vai
moldando aos vários sistemas políticos e económicos3. Outra questão abordada pelo
mesmo investigador, era a falta do refinamento pela pobreza dos elementos filosóficos
próprios a fisiocracia. Porém o debate ainda não é consensual, havendo quem defenda a
fisiocracia.
Na óptica de Esteves se não há uma aparência fisiocrática, poderia haver
influências, dado que a questão do imposto único dentro do sistema político português
era inviável, se bem que, na teoria, poderia não estar ausente4. A par dos produtos
1 Gráfico 6, p. 192 2 Adérito Sedas Neves, op cit, pp. 124, 128. 3 No aspecto institucional este salienta que, o debate em questão, passa por um processo de grande
mutação dos princípios económicos, que passa pela transformação institucional, mutação da junta do
comércio para as actividades da agricultura, e para a actividade da indústria, e no plano das instituições
de saber, pela criação da Academia Real das Ciências, tendo como elemento impulsionador a economia
colonial. Jorge Miguel Pereira, “Agrarismo, Industrialismo, Liberalismo, Algumas notas sobre o
pensamento económico português (1780-1820) ”, in Contribuições para a História do Pensamento
Económico em Portugal org José Luís Cardoso, Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1988, p. 67.
4 Segundo José Pereira onde, como ponto de partida, indica uma estrutura de formação de pensamento
fisiocrático, mesmo com a reforma de Verney, onde o económico não encontra voz, estando antes ligada
a questão do pensamento religioso sobre a usura, na qual se encontra a questão do juro. Na óptica deste
16
agrícolas, nos excertos em questão não está só presente a ideia dos produtos da terra,
mas antes foi estendida a todas as produções naturais. Para ser, ou ter um laivo de
fisiocracia, deveria haver algum elemento mais complexo que sugerisse o imposto
único, o qual não é o objectivo destas medidas. Por outro lado, este mesmo imposto era
impraticável no contexto angolano.
Nesta questão, não há definitivamente, para a região em estudo, nenhum traço de
fisiocracia, uma vez do que não há projectos, nem sugestão dos mesmos, para um
imposto único.
De facto havia uma série de direitos reais pagos, pelo tráfego negreiro, cera,
marfim, pela vinda das bebidas, pelo tabaco, as quais também serviam para subsidiar
diferentes gastos. Os direitos cobrados pelas bebidas, e pelo tabaco, serviam para o
subsídio literário, que por sua vez, servia para pagar um mestre-escola em língua latina.
E nem havia nenhuma referência nos documentos, a que se crie um imposto único sobre
os produtos. Era, na prática inconcebível que se sugerisse um imposto único sobre a
terra, seria danoso para as fiscalidades e as riquezas do estado de Angola. A cobrança
destes direitos quer pelas necessidades fiscais, ou inexistência quer de directriz,
implicam que na prática não há um fisiocratismo aplicado a este espaço.
Por outro lado, se não o havia no reino, como poderia o modelo ser exportado e
aplicado em Angola? Claro que a haver deveria partir de Lisboa para o ultramar, e não o
contrário mas a não existência desses elementos a nível discursivo inibe qualquer
interpretação de intenção fisiocrática para este espaço. Noutro registo tenhamos em
atenção à produção, que se pedia da mesma capitania para o Reino.
autor cientificarão do pensamento económico português, vai partir das considerações morais sobre esta
questão, desenvolvendo-se simpatias fisiocráticas na Academia a partir desta base. Dentro desta questão –
no que diz respeito a memória de Tomás António – José Pereira, a partir desta questão, do juro, é que
entra a ideia de uma renda sobre a produção agrícola. Noutro ponto este autor defende que, a ausência da
ideia de imposto único, e produto líquido – na grande maioria dos textos – deve-se ao facto de não se
puder aplicar esses conceitos na economia portuguesa de setecentos Vide: José Esteves, “O Pensamento
Económico Português no século XVIII”, in História do Pensamento Filosófico Português dir. Pedro
Lains, Vol. III, Lisboa, Caminho, 2001, p. 97.
17
As directrizes em questão não limitam a produtos da terra, o que – no caso de ser
fisiocracia – seria o objectivo primordial, mas a todas as produções naturais. Na
ausência da primazia de produtos agrícolas aproxima-a discurso do naturalismo
económico, no qual o objectivo é promover o conhecimento de todos os recursos
naturais existentes num determinado ponto1. Já na óptica de Armando Castro, o qual
defende que, mais do que uma corrente só, estamos diante um projecto híbrido que
continha a marca do naturalismo económico2. A base de argumentação, é a ampla
descrição dos diferentes produtos e de sua potencialização económica.
Há, no documento em questão, uma dimensão naturalista sim, mas a mesma está
ligada a ideia de se proceder a exportação dos mesmos produtos para Portugal. O que,
na prática, consagra objectivos mercantis para a mesma produção. Ora, apesar de haver
uma preocupação com o cultivo da terra, este está subordinado a prática mercantil, o que
lhe dava uma áurea mais mercantilista do que propriamente das correntes em questão.
Mas, vejamos o que outros excertos nos dizem. No contexto de Benguela, está
expresso que se deveria aumentar a produção de todos os géneros e produções de
Benguela – naturais neste caso- visando a sua exportação para o reino e aumentando as
trocas entre os dois pontos:
“Igualmente procurará vossa Excelência promover para o reino a maior
exportação possível de todos os géneros, e produções dessa capitania, a fim de da muita
troca dos géneros, e produções, resulte a maior Riqueza, e felicidade de todos os
ditosos vassalos de Sua Magestade que deseja atender sem diferença alguma as suas
benéficas e paternais vistos a todos os seus Vassalos, pelos quais tem o mesmo igual
interesse”3.
1 Francisco António Lourenço Vaz, Instrução e Economia as ideias Económicas no Discurso da
Ilustração Portuguesa (1746 – 1820, Lisboa, Colibri, 2002, p. 383. 2 De facto – como a matriz discursiva apresentada, na discursividade está mais relacionada com o método
de Lineu, e seu sistema de classificação, do que com um discurso de cariz fisiocrata António Almodôvar,
A Institucionalização da Economia Política Clássica em Portugal, Porto, Edições Afrontamento, 1995,
pp. 33 – 36. 3 A.H.U, Conselho Ultramarino, Angola, Caixa 89, doc. nº 7, 7 – 10 – 1798, missiva 3.
18
Este excerto levanta muitas questões, sobre como na prática se deveria
desenrolar as trocas comerciais, mas façamos uma integração no contexto económico.
Sobre esta questão Valentim Alexandre – no contexto do comércio do Brasil –
indica que 64,4% das reexportações de Portugal eram dos Produtos Brasileiros, os quais
apresentavam uma taxa de crescimento de 5,8% ao ano. Por outro lado – ao ver que
produtos eram exportados, tendo em conta os mercados europeus – este denota que os
produtos Brasileiros (pelo algodão e o açúcar), assim como a reexportação dos produtos
da Ásia, são a grande base da riqueza portuguesa. O mesmo historiador enfatiza, o papel
de sete produtos com base nessa mesma prosperidade (mas com primazia do açúcar e
algodão)1.
Já no plano dos objectivos, está presente para Angola, uma estratégia de
produção e reexportação, que a coloca na proximidade do mercantilismo comercial, e
em consonância com a estratégia régia para as praças do ultramar. Em primeira mão, o
estava subjacente a ideia de que se deveria exportar os bens por permuta com os do
reino, o que dá a ideia de estabelecer e refortalecer de um laço directo que não existia.
Mas, dada a conjuntura económica portuguesa, o que garantiria que não se tentaria
reexportar esses produtos para as restantes praças Europeias?
Nesta lógica estes objectivos seriam consagrados ao Mercantilismo Comercial,
em cujos fins seriam a reexportação para os mercados europeus. Num primeiro plano,
como indicam as fontes, a ideia era aumentar a permuta de Portugal com estas paragens
que, numa dimensão politica aumentaria os laços com a mesma possessão. No entanto,
nada impede que, no contexto da reexportação dos produtos destas paragens, tivessem
uma dimensão de reexportação para as praças europeias.
Dentro deste quadro o incentivo que se pretendia a novas culturas, estava
inserido numa tendência de reexportação para a Europa, onde, apesar de haverem dois
1 Valentim Alexandre, Os Sentidos do Império, Porto, Edições Afrontamento, 1992 p. 32.
19
produtos hegemónicos, havia outros cinco de grande importância. Aqui, o aumento de
produtos a serem exportados está dentro da noção de enriquecimento do Mercantilismo,
onde o aumento de produtos no mercado implica automaticamente um aumento de
vendas. Mesmo que, na teoria os produtos que fossem auferidos por Angola, não
tivessem muitos ganhos, poderiam resultar no aumento de lucro para a Balança
Comercial Portuguesa, mesmo que tangencial.
Outra dimensão, onde os objectivos mercantis estão bem presentes é nos apoios
que se pretendia dar as novas culturas:
“Em quarto usareis os métodos de crédito para aumentar as Culturas,
produçoens e o Comércio de exportação dessa capitania, examinando-se, por esse
meio, e fazendo também acionista a Minha Real Fazenda, podeis procurar auxiliar
caixas de crédito, e Circulação as quais tem por Objectivo 1º avançar dinheiro sobre
hipotecas seguras aos cultivadores, 2º Descontar letras de Cambio de duas boas firmas,
endoçadas por duas boas diferentes casas de comercio, 3º Avançar fundos sobre
géneros, que se exportem, 4º Emitir para tal fim Bilhetes logo que a situação prosperar,
e veluz da Capitania assim o exigir”1.
No entanto, uma das características apontadas para o mercantilismo, era o apoio
e protecção do estado às actividades productivas2. Por outro lado, dado que as
produções tradicionais eram os escravos, cera, e marfim, era uma forma de apoiar quem
quisesse a procurar outras formas de produção. Este apoio ofereceria, na teoria, um
incentivo e uma segurança, levando a que se promovesse – no contexto da capitania de
Luanda, e sertões adjacentes, para que se iniciasse o cultivo das mesmas.
Ora, ao promover-se esta medida, é uma forma de incentivo a que haja uma
diversificação de cultivo. Claro que não houve, no documento em si, uma definição do
que produzir, mas abria espaço a que se pudesse procurar o que se pudesse promover.
1 A.H.U, Conselho Ultramarino, Angola, Caixa 96, doc. º 28, 01 – 08 – 1800.
2 Supra, p. 10.
20
Mas que, os objectivos presentes, dentro deste prisma, não seriam na produção em si só
(para consumo interno), mas antes uma produção que levasse os mesmos produtos aos
mercados europeus. Logo, havia, nesta medida da corte, uma dimensão mercantil. Mas
mais do que uma possibilidade se criar uma taxa única, o principal ganho da coroa seria,
pelo incentivo as mesmas culturas, as quais não podem ser desvinculadas das tendências
económicas do final de Setecentos.
Numa leitura geral, no caso de Angola, encontramos um pouco destes
pressupostos teóricos, nos objectivos (a semelhança do Espanhol), incrementar a
exportação de produções locais, para Portugal; do Francês o reforço dos laços com o
Brasil, pela continuidade do tráfego negreiro.
No outro caso, do modelo espanhol, o incremento relacionado as plantas nativas,
pode ser visto à luz do mercantilismo clássico, na qual deveria a colónia auferir as
matérias-primas, e os seus produtos para ou manufactura ou reexportação. Porém, em
questões específicas – tal como na prática da balança comercial, nos objectivos, e no
discurso, temos já a elaboração para a Angola de um modelo teórico, como base o
Mercantilismo ilustrado.
O grande objectivo dessas reformas não era – como no caso da fisiocracia – o
imposto único, mas sim o aumento do comercial colonial e a redução da reexportação
para as colónias. Mesmo a produção agrária (a qual teria como grande objectivo a terra)
está vinculada ao comércio internacional, onde está associada ao naturalismo
económico, que permite abranger uma gama mais variada de produtos, tendo como fim
último o mercado internacional.
21
1.2 O Projecto, agrarismo, mercantilismo, na prática.
1.2.1 Os Bens das Fábricas e as tendências de exportação
Mas a questão teórica, não é a única que permite uma leitura mercantilista.
Passemos a considerar, a forma como se organizava e dava as trocas, que dará a
conhecer como na prática a economia em Angola funcionava. Segundo Carlos Couto, no
final do século XVIII, não havia uma relação de exclusivo comercial do reino com
Angola dada a forte presença dos mercadores Brasileiros1. Mas dada a configuração, do
ultramar português, e das redes múltiplas de consignação e consignados, poder-se-á
considerar que estes sejam uma influência externa? Já observou-se nas considerações
gerais, que na teoria e no pensamento, as reformas delineadas, estavam mais na óptica
do mercantilismo ilustrado – mas com fortes traços do mercantilismo clássico - do que
em outras correntes. Para se perceber o que é de inovador, deste projecto deve ser
comparado com as tendências de exportação que Angola tinha. Um aspecto a considerar
porém, no caso de Angola, é se o projecto estaria dentro de uma cariz agrária, ou antes
mercantilista, e se mercantilista de que tipo de mercantilismo?
Antes de ter em atenção qual o tipo de reexportação, vejamos a crítica as fontes
em questão. No entanto há que ter em atenção a critica feita por Valentim Alexandre, a
estas categorias. Sobre os mantimentos, estes no seu conjunto englobam, não só
produções nacionais, como também estrangeiras. Nos tecidos, quer lanifícios, e os
linifícios, não agrupam somente os tecidos manufacturados, como também como em
matérias-primas2. É indiscutível esta questão, mas estes números, mais do que
estabelecerem dados particulares, estabelecem as tendências gerais de exportação e de
reexportação, das quais só podemos dar como dado adquirido os das fábricas do reino.
A qual porem, segundo o mesmo autor, poderia ser subdividida em: Algodão,
1 Carlos Couto, “O Pacto Colonial e a Interferência Brasileira no Domínio das relações económicas entre
Angola e o Reino no século XVIII” in Estudos Históricos, nº 10, Marília, 1971, p. 27. 2 Valentim Alexandre, op cit, p. 28.
22
Lanifícios, Linifícios, Sedas, Ouro e Prata, e vários géneros. No entanto, estes, mesmo
com estas questões envolventes, apresentam uma primeira leitura sobre os bens que
eram exportados para esta praça. Na teoria esta situação seria um benefício para
Portugal, mas na prática dado os projectos de incremento de relações comerciais seria-o
verdadeiramente?
O discurso não deve ser só visto, na sua matriz mas também na conjuntura
económica em que Portugal se encontrava no mesmo período histórico. Nas instruções
em questão, está presente sempre a ideia de que se deveria aumentar o consumo de bens
do reino, assim como a exportação de bens das mesmas praças para Portugal. Já vimos
que, no plano económico, quer por uma influência do naturalismo económico, quer do
mercantilismo, havia uma ideia de diversificação de produção, assim como do
incremento entre os produtos do reino com as diferentes partes do ultramar. Ora a falta
de trocas comerciais, as quais iriam ser reexportadas para a Europa, perigavam os
objectivos e concretização do mesmo projecto.
Vejamos agora qual era a orgânica, da exportação dos produtos de Portugal para
ambas as praças. A primazia da exportação de produtos de Portugal para África, não é
de exportação mas da reexportação dos produtos asiáticos que é de 53% (250723267)1.
O cenário que se segue – segundo as balanças comerciais portuguesas – é o seguinte:
Lanifícios 15% (676876608); Linifícios 10% (405380868); Vários Géneros 8%
(299832780); Fábricas Nacionais 7%; Mantimentos 2%; seguem-se outros três géneros,
Ouro e Prata, Sedas, e Drogas2, havendo uma hegemonias nas reexportações3.
No caso de Benguela, o cenário apresentado é de 90% de peso dos Produtos da
Ásia, seguido dos mantimentos que equivalem a 3%, e os restantes géneros a 1%4. Estes
1 Gráfico 1 p. 188, Tabela 5, p. 160 2 O conceito de drogas – a luz da época – deve-se entender como, não narcotráfico, mas como todas as
plantas úteis com efeitos curativos, tintureiros, ou para tempero. Sheila Siqueira de Castro Faria, Drogas,
in Dicionário do Brasil Colonial 1500 – 1800 dir. Ronaldo Vainfas, Rio de Janeiro, Editora Objectiva,
2000, p. 190. 3 Gráfico 1, p. 188, Tabela 5, p. 160 4 Gráfico 2, p. 189.
23
números indicam que o principal comércio feito em Angola era a de reexportação dos
bens, como os da Ásia, e os lanifícios e os linifícios que, são provenientes das diferentes
praças da Europa. Estes dados, como tendência, indicam uma predominância dos
produtos da Índia, sobre os demais quer em Angola, quer em Benguela.
1.2.2 A Alfândega de Luanda, os Mapas de Benguela e as
tendências de exportação
A par das fontes do reino, encontramos várias fontes da própria de Angola que
nos dão uma perspectiva do tráfego daquela praça. No entanto os dados que são
auferidos pela Balança Comercial do Reino, não são os únicos que encontrei no decorrer
da minha investigação. Dos dados da Alfândega de Luanda, já temos por sua vez toda
uma diferença, na medida em que os dados são referentes há relação desta com os
diferentes pontos continentais, o mesmo critério que os mapas da cidade de Benguela.
Estas permitem uma análise, não por tipo de produtos, mas em perspectiva aos
diferentes espaços continentais do império.
Das mesmas fontes podemos determinar a seguinte tendência, da relação das
exportações de Portugal para Angola. Para os períodos onde encontramos os dados da
Alfândega, o cenário é o seguinte: de 1798 a 1799, houve um crescimento passando de
cerca de 71461$593 para cerca de 133737$215 cruzados; seguindo-se um aumento entre
1799 e 1802, alcançando nesse último ano 271771$070 cruzados; entre esse ano e 1803
e 1804 houve uma subida para os 289655020 cruzados; a partir de 1805 assiste-se a um
decréscimo para os 225003550 que vai aumentado para 1809 registando-se 96328270
cruzados não se registando nenhuma exportação em 18101. Estes valores por sua vez,
1 Tabela 6 p. 161.
24
sempre foram negativos na relação entre Portugal e Angola: em 1796 uma diferença de
61701113 cruzados, 1802 (264296810), 1804 (282519910), 1805 (225003550)1.
Desta tendência, a exportação de Portugal é a 2ª/3ª posição no compito do
comercio de Angola, tudo bem que, quer produtos da Ásia, quer da Europa eram
reexportados por ela, mas não eram produtos nem das fábricas, nem alimentos
portugueses. No geral do total da reexportação de Portugal para Angola cerca de 31%
era de produtos nacionais, enquanto cerca de 69% era de reexportação2. A reexportação
dos produtos portugueses correspondeu, no seu total a cerca de 31% (com cerca de
1359929529 cruzados) dos produtos do reino, contra de reexportações 68% com cerca
de 2909594862, dos produtos da Ásia3. Destas destacam-se os produtos da Ásia (dos
quais irei abranger mais no capitulo respectivo), face aos produtos europeus.
Diferenciando os produtos que, segundo esta fonte vêm em diversos géneros (a
semelhança das balanças comercais do reino) podemos ver a segunte tendência. A
primazia da exportação vai para os alimentos os quai variam em cerca de 5000000 em
cerca de 1799 para cerca de próximo dos 1500000 em 1802, assistindo-se a um ligeriro
decréscimo a partir de 1803. Os alimentos eram seguido pelos produtos das fábricas do
reino, que apresentam a mesma tendência até 1809 onde superam ligeiramente os
alimentos4. No plano estatístico encontramos a seguinte tendência: Alimentos (43%),
Fábricas do Reino (20%), Linificios (13%), Algodão (12%), Vários Géneros (10%)
Ceramica e Vidros (1%), Drogas (1%)5.
Já no caso dos mapas da capitania de Benguela, o cenário apresentado é o
seguinte: 100% negativo nas transacções para a coroa estando deficitária em relação à
mesma. A flutuação indica, dos dados presentes, 17% do total das exportações de
Lisboa em 1798 subindo, para 1801, um total de 22% aos 39%. A partir desta subida
1 Tabela 3, p. 158. 2 Gráfico 4, p. 191 3 Gráfico 5, p. 19 e Tabela 8, p. 162.
4 Gráfico 8, p. 194. 5 Gráficos 9, p. 195 e Tabela 9, p. 164 (para ver os dados por cada tipo de produto).
25
observa-se nestes dados uma descida contínua, descendo cerca de 15% para 1802,
verificando-se uma descida na ordem dos 6%, até que o valor da exportação em 1808
não é relevante estatisticamente1. Em 1808 há uma carta a dizer que Angola contribui
com 80 contos para a despesa régia, dado o comércio ter estado parado2, que pode estar
relacionada com a ida da corte para o Brasil.
Numa abordagem económica clássica, esta relação seria considerada como se
fosse um certo sucesso, da exportação de Portugal mas no plano do real não é isto
significa. Estas tendências, apesar do superavit indicam, que nos moldes tradicionais
Portugal não tem meios para realizar o comércio, e implementar o projecto desejado. A
subida que se regista, não é apenas das exportações portuguesas mas também as
asiáticas e europeias, que são reexportadas por Portugal para aquelas paragens
implicando o aumento das reexportações, não das exportações.
Numa análise geral se há – como os números aqui em cima presentes –
exportação de Angola para Portugal, a mesma não há de Benguela para a Metrópole.
Desta perspectiva a metrópole não retirava directamente benefícios da colónia, por não
obter bens para reexportar para a Europa. E mesmo no plano das exportações, a
tendência presente era a reexportação, quer segundo as Balanças do Reino, quer
segundo a Alfândega de Lisboa, quer segundo os mapas de Benguela, o que tornava
difícil haver as permutas por bens que haviam sido consignados, para a troca com por
produtos da terra. No caso isso implicaria que No plano do mercantilismo, não há uma
aplicação em pleno das regras clássicas dessa prática económica.
1 Gráfico 2, p. 189.
2 AHU, Conselho Ultramarino, Angola, Caixa 121, Doc nº 2, 21 – 01 – 1809.
26
1.2.3 A Indústria
Vistas as tendências gerais, vejamos agora o peso dos produtos fabris
portugueses, assim como os objectivos dos mesmos. A questão do peso minoritário
levanta a questão de como se procedia esse mesmo comércio, e como essa relação se
coaduna com Angola? No caso de Angola, dos géneros que se pedem incremento, os das
fábricas, representam cerca de 7%1, que no caso de Benguela era 1%2. Em comparação
o mercado das manufacturas tinha como mercado dominante o Brasil, para onde – entre
1796 e 1806 – corresponde a cerca de 34,9% do total das reexportações; enquanto os
mantimentos corresponderiam a 13%3. Então a que se deveria essa ideia de promover o
consumo dos bens, em prole dos do reino?
O objectivo das trocas mercantis era, a par de criar mercados exclusivos, a
permuta de bens para a exportação para o mercado colonial, para se obter os produtos
fornecidos pelo ultramar, visando a sua reexportação para a Europa. Na prática traduzia-
se por uma maior remessa de bens indústrias para o Brasil, para serem permutados por
açúcar, algodão, couros, entre outros produtos. No entanto não há unanimidade, sobre as
industrias que eram as de maior interesse remeter para o Ultramar. Outras questões
pertinentes prendiam-se com o peso, a dimensão desses mesmos produtos, e a que tipo
de consumo e uso que teriam estes mesmos em África.
No caso de Angola, temos os bens das fábricas, segundo os dados da Alfândega
de Luanda, com 20%, em seguida os Linifícios com 13%, O Algodão com 10%4. Já
segundo os mapas de benguela, após a primazia das exportações dos produtos da Ásia, é
as armas – dos produtos das fábricas – que tem a primazia com 61%. No que diz
respeito aos mesmos os documentos indicam os seguintes como prioritários: peças
1 Gráfico 1, p. 188.
2 Gráfico 2, p. 189.
3 Jorge Pedreira, Estrutura Industrial e Mercado Colonial Portugal e Brasil (1780 – 1830), p. 272.
4 Gráfico 9, p. 195.
27
cangas pintadas; côvados de chita, cortes de seda para veste; fitas; lenços de seda;
lenços de algodão; marroquim; sarja de seda; seda de matis; côvados de saveta; seda
militar; cobertas; justão, entre outras1. Entre estes tecidos destacam-se, no que diz
respeito as fazendas da índia: calamanhas; coromandeis; chitas; borralhos; tafaciras;
entre outros. Após as fazendas da Índia seguiam-se quer os lanifícios15%, quer os
linifícios 10%, que eram importantes moedas de troca para com o sertão, para se obter
jóias negras do império.
Já nas fazendas do norte, cobertas, ou simples ou de papa, as fazendas da
Bretanha ou de Hamburgo, assim como os da Grã-Bretanha2. Estas categorias de tecidos
eram reexportadas como lanifícios nos quais se contam: os capotes, panos ou cobertores.
Ou nos linifícios onde constam: as fazendas da bretanha, de Hamburgo; entre muitas
outras.
Esta questão demonstra que há uma tendência, na qual produtos da Ásia,
lanifícios, linifícios, como os principais bens de exportação. Os quais não eram
provenientes das fábricas do reino, mas antes eram de outras partes do Ultramar. O que
coloca a questão, porque não procurar o mercado Angolano para segundo mercado
colonial mais importante?
Estes tecidos, por sua vez, não eram exportações das fábricas do reino, mas antes
tratavam-se de reexportações. Nesta perspectiva creio que um dos objectivos do projecto
seria a substituição destes tecidos, pelas produções das fábricas do reino para a prática
do mesmo comércio.
Numa primeira análise, essa redução implicaria uma redução das exportações de
tecidos, quer da Ásia, quer da Europa, e sua reexportação para estas paragens. Mas antes
1 A.H.U, Angola, Conselho Ultramarino, Caixa 95, doc. nº 9, 10 – 03 – 1800.
2 A.H.U, Angola, Conselho Ultramarino, Caixa 95, doc. nº 9, 10 – 03 – 1800.
28
de se prosseguir este raciocínio, deve-se colocar a questão qual o interesse em Angola
pelos tecidos quer da Ásia, quer da Europa. A importância da questão de permuta, como
forma de ser obtido os bens coloniais, está bem presente nas tendências de exportação
da coroa Portuguesa no período em estudo.
No cômputo do Ultramar, o mercado preferencial que a coroa tinha para estas
produções era o Brasil, para onde iam cerca de 90%1 Ou cerca de 93,7%, da
reexportação de bens industriais. Apesar das diferenças percentuais, é clara a
preferência do Brasil para este comércio2, Lisboa e – em menor escala – no Porto,
visando conseguir dividendos, de modo a os reexportar para as outras praças do
Império3. Os quais eram enviados para se permutar por bens das colonias (matérias
primas, e outros produtos), para serem reexportados para as praças europeias.
Dentro desta prática, as fábricas portuguesas, além das trocas comerciais,
auferiam benefícios deste comercio ao abrigo do exclusivo colonial, tinha um mercado
permanente. Neste destaca-se o papel das Fábricas de Lanifícios da Covilhã e de
Portalegre, gozavam de relativa prosperidade enviando sua produção para o Brasil4.
Sobre esta questão, mas do ponto de vista das manufacturas em si, Pedrosa
refere que as Indústrias que mais beneficiavam com o exclusivo colonial eram as de
Linho, apesar de salientar a forte exportação de outras praças europeias dos mesmos, os
Lanifícios, mas com maior peso a Indústria Algodoeira5. Já Nuno Luís Madeira, sobre
esta questão, dentro da teoria dos limites do crescimento do Brasil, refere: linhos, sedas,
1 Jorge Pedreira, “A Indústria” in História Económica de Portugal Pedro Lains e Álvaro Ferreira da
Silva, Vol. I, Lisboa, ICS, 2004, p. 202.
2 Rio de Janeiro (Produtos das Fabricas entre 1796 - 1798) 29,4%, 33,7%, 42,4%; lanifícios 11,7%,
17,4%, 13,4%; linifícios 20,4%, 10,4%, 8,7%; Na Bahia – seguindo a mesma ordem – produtos das
fábricas (para o mesmo período) 21,8%, 31,3%, 32,2%; lanifícios 6,3%, 5,8%, 8,9%; linifícios, 25,8%,
12,5%, 13,5% José Jobson de Arruda, op cit, pp. 171,198. 3 Jorge Pedreira, op cit, p. 271.
4 Jorge Pedreira, “A Industria”, pp. 201 – 202.
5 Jorge Pedreira, Estrutura Industrial e Mercado Colonial Portugal e Brasil (1780 – 1830), pp. 65 – 98 e
Jorge Pedreira, “ A Industria”, pp. 202 – 203.
29
chapéus, algodões, lanifícios, chapéus1, como os produtos mais exportados para as
colónias. Já sobre estes bens, da parte de Portugal, Valentim Alexandre, salienta o papel
dos Linifícios do Porto e seu peso na exportação para o Brasil, assim como do Algodão
estampado no qual a exportação asiática havia sido anulada.
Em relação ao Algodão, aponta a primazia que Lisboa tinha na exportação
desses tecidos para o Brasil2. Sobre esta questão, segundo Marcílio Marques Ferreira, a
reexportação dos tecidos de algodão, e dos de linho, estavam na base de uma relação
deficitária do Brasil com Portugal3. Dentro destes destaca-se os tecidos, que eram os
bens essenciais para a permuta de escravos, como as chitas, e outros, nesta perspectiva
os bens que eram mais arremessados para o Brasil visavam não o abastecimento, mas
antes o tráfego. Desta troca, Portugal beneficiava de sete produtos, os quais têm peso na
reexportação para a Europa.
Vejamos em que base se davam as transacções, e como eram feitas as trocas
comerciais. Sobre a primeira, para a Ásia, como Rita Martins indica, não era a moeda de
prata portuguesa que tinha valor, mas antes a Pataca espanhola4; as quais – segundo a
mesma autora – obrigava os negociantes portugueses, a irem à Ásia para as adquirir para
o mesmo comércio. No funcionamento das transacções, o que não era pago em permuta
deveria então ser pago em ouro5. Este tipo de trocas, e a lógica pela qual é feita, é dentro
da ideia de uma balança comercial positiva, onde o deficit nas transacções comerciais
deveria ser pago no metal em questão. O grande objectivo deste tipo de comércio era
conseguir o saldo positivo, as tendências indicadas pela dita historiadora indicam que
essa era a preocupação.
1 Nuno Luís Madureira, A Indústria Portuguesa entre 1750 e 1834, Lisboa, Editorial Estampa, 1997, p.
336.
2 Valentim Alexandre, op cit, pp. 44, 48.
3 Marcílo Marques Ferreira, “Teoria e Realidade Económica na Época de D. João VI” in D. João VI e o
Oitocentismo org. Tania Maria Bessone, Gilda Santos, Ida Alves, Madalena Vaz Pinto, Sheila Hue, Rio
de Janeiro, Contra Capa, 2011, p. 35.
4 Rita Martins de Sousa, Moeda e Metais Preciosos no Portugal Setecentista 1688 – 1797, Lisboa,
Imprensa Nacional Casa da Moeda, 2006, p. 218.
5 Idem, Ibidem, p. 206.
30
Na relação directa com Portugal, Angola auferia poucos bens os quais poderiam
ser reexportados para a Europa. Destes, segundo a Alfandega de Luanda, vinha o
Marfim, já das Balanças Comerciais do Reino, vinham além do marfim prata e ouro. No
caso do Marfim, que era a maior extracção depois do tráfego negreiro, e este era
reenviado, ou originário de Angola ou de Benguela, pelo Brasil e para o Reino,
tratando-se do produto relacionado mais directamente com a Metrópole.
No entanto, dentro da economia portuguesa de final de setecentos, qual era o
peso deste bem no tráfego negreiro? O marfim correspondia a um quantidade mínima,
do que era exportado por parte de Inglaterra e de outras nações. O facto de ser o único
produto, que era reexportado e que, por sua vez esse mesmo não era regular, não
motivava os Homens de Negócios Portugueses a exportar para aquelas paragens. Ora
dado o peso reduzido, se não mesmo nulo, deste bem não havia uma margem de lucros
que torna-se atractivo este comércio, mais do que o que era feito.
Por outro lado, um dos grandes objectivos do comércio de permuta era a
realização de trocas de bens manufacturados por matérias-primas, ou por produtos para
exportação. Apesar desta situação, creio que, segundo o que interpreto desta fonte, o
objectivo não era restringir, dentro dos objectivos já mencionados, este bem ao consumo
do Brasil. Esta seguiria a logica que houve com a produção e Chapéus, que se permitiu a
sua importação até a produção nacional ser auto-suficiente.
Ora com este peso na balança comercial, isto implica que o Brasil tinha o peso
maior no comércio colonial. Este peso deve ser visto também à luz dos objectivos
económicos, delineados por D. Rodrigo de Sousa Coutinho. Para este, o propósito
primordial era manter o Brasil como o centro agrário para a reexportação; enquanto, por
sua vez, este seria um dos grandes mercados receptores dos produtos manufacturados1.
Logo dentro desta lógica o este mercado seria, o mais importante. No que toca a Angola,
1 Gabriel Paquette, op cit,, p. 20.
31
dentro desta directriz os produtos indústrias visavam o incremento e o aumento do peso
das fábricas portuguesas no tráfego negreiro.
Por um lado, ao lado dos tecidos da Ásia, o aumento da importância destes,
como acontecia com as fazendas Britânicas, poderiam redundar em mais escravos. Por
outro lado, seria um mercador permanente onde as indústrias portuguesas poderiam
enviar as suas manufacturas. A ideia de aumento, dentro da lógica acima dita dos
chapéus, está, a meu ver, dentro de uma lógica poderia significar a substituição do peso
das fazendas, quer da Ásia, quer da europa naquela região.
Por outro lado, numa perspectiva do mercantilismo clássico, implicava um
funcionamento da norma, agindo estas paragens como receptoras e mercado de
fornecimento das produções da metrópole, abrindo um mercado alternativo ao qual
obrigaria um aumento de produção para corresponder à procura.
1.2.4 Os Produtos Agrícolas
No entanto as exportações, não se limitavam aos bens das fábricas mas também
as produções agrícolas. Na sua obra conjunta, no que diz respeito a agricultura, Eugénia
Mata e Nuno Valério, indicam uma agricultura florescente, com boas exportações para o
mercado externo1. No entanto, a nível do mercado colonial, este bem começa a ter uma
quebra na balança de exportação para as nações estrangeiras, em favor das produções do
Brasil.
Em determinados campos da Historiografia, além dos bens industriais, começa-
se a dar relevância a exportação de alimentos neste caso para as colonias. No seu estudo
da alimentação no Belize, Richard Wilk, para o século XIX que continham, peixe,
1 Eugénia Mata e Nuno Valério, História Económica de Portugal uma perspectiva global, Lisboa,
Editorial Presença, 1994, pp. 125 – 126.
32
farinha, cerveja, ou seja produtos quer transformados, por actividade industrial, quer
naturais, quer de outras partes do mundo para esta paragem1.
No entanto o original deste trabalho é a questão da procura destes bens, que
implica, na interpretação deste autor, por uma identificação cultural. Ora neste campo, a
quando a menção da escrita do dicionário de Quibundo Português, é dito pelo mesmo
governador, que uma percentagem dos brancos presentes em Angola fala mais quibundo
que Português, tecendo várias considerações sobre o processo educativo e de criação
dos mesmos. De facto a integração nesse meio cultural, que leva a que haja a maior
propensão a adquirir os costumes, e hábitos da terra em detrimento da metrópole. Mas a
par desta a questão, qual a utilidade e procura destes bens no sertão e nas cidades?
Neste contexto havia que procurar, um mercado alternativo para escoar essas
produções. As produções agrícolas, ao contrário da importação dos tecidos, não tinham
no Brasil um grande mercado de escoamento ao qual correspondiam só em cerca de
20%2.
Por sua vez, segundo Valentim Alexandre, os alimentos corresponderiam a cerca
de 17% do total das exportações3. À falta do Brasil, como mercado de escoamento,
coloca-se a questão Angola? Na falta de absorção por parte do Brasil destes bens, as
directrizes abriam a hipótese de que Angola fosse um mercado de escoamento. No caso
de Benguela, os alimentos, com a distância de 87% do segundo género, são o terceiro
género de exportação de Portugal para aquela praça. Já no contexto de Angola, esse
género ocupa a 7ª posição do total das importações do reino com 2%4. Os bens
alimentares não ocupavam uma posição relevante, no panorama das praças africanas
igualmente.
1 Richard Wilk, “A Taste Of Home The Cultural and Economics Significance of European Food and
exports to the Colonies”, in Food and Globalization, Edit. Alexandre Nützenadel e Frank
Trentnman, Oxford/Nova Yorque, Berg, 2008, p. 96.
2 Jorge Miguel Viana Pedreira, op cit, p. 277. 3 Valentim Alexandre, op cit, p. 33.
4 Gráfico 2, p. 189.
33
Consideremos igualmente quais os alimentos de maior importância para o
consumo em África:
“Os frutos são Milho, Feijão, e mandioca, que a maior parte comem no campo
antes de o colherem, sendo os desta cidade tão poucos os negociantes os mandão vir da
America e ainda alguns de Angola para seu sustento, e pelos mapas do hospital que
também tenho remetido a V. Excelencia se ve diminuindo os dízimos que dos referidos
frutos resulta”1.
A própria fonte faz enfase a estes bens, que vinham do Brasil, em momentos de
carestia, para abastecer a metrópole.
Vejamos alguns dos bens que eram reexportados para as praças de Africa, por
parte do Brasil. Deste para Angola iam principalmente, segundo alguns historiadores,
produtos alimentares, onde se incluía a mandioca, produtos de construção civil, tijolos
de Pernambuco, e madeiras, vindas do Rio de Janeiro; como também animais de carga
além do tabaco e jeribita usado no tráfego negreiro2. Segundo Manuel Rebelo, para o
período posterior, destaca os seguintes alimentos: Café, Carne Seca, Manteiga,
Toucinho, Vinagre, Doce, Mandioca, Açúcar, segundo a lista de exportações de Angola
em 1823.
Acrescente-se a essas produções a recolha do zimbro, da Bahia, assim como
também do milho e da Mandioca, essenciais na dieta dos jagas3. No período de 1799 –
1810, há referência a pelo menos 14 bens de alimentos exportados do Brasil, para a
Angola somente. Estes: açúcar, arroz, banha, chouriços, café, carne seca, doce, mel,
queijos de minas, toucinho, goma, salsa, queijos londrinos e queijos de pinha, além dos
vinhos e bebidas. Mas estes correspondiam a uma percentagem irrisória das
exportações. No entanto seriam estes bens, essenciais ao consumo da população?
1 A.H.U, Conselho Ultramarino Angola 1798, caixa 88 doc nº 10, 16 – 10 – 1798.
2 Luís de Oliveira Ramos, op cit, p. 187.
3 Luís Felipe de Alencastro, op cit, p. 128.
34
No entanto – após uma observação mais cautelosa dos registos de Alfandega –
pode-se constatar que o escambo do Brasil para Angola não se limitava a esses
produtos. Entre as várias colheitas, milho-miúdo, batata-doce, a amendoim (jingunba), o
tabaco, o algodão, o arroz, destaca-se a produção de mandioca1. A qual, segundo Elias
Correia era a base de uma massa chamada Quiconga de grande consumo no sertão2.
Estas produções apresentadas eram apenas de consumo local, com excepção da
mandioca, importante para a alimentação não só da população, como também é a base
da alimentação dos escravos. Esta planta, vinda das Américas, adapta-se bem ao clima
de Angola, dada a sua resistência aos períodos de secas sazonais, que há a sul de Luanda
sendo um forte complemento, pela sua farinha, com propriedades alimentar3.
Sobre a mesma – além da importância no comércio internacional – denota a
importância deste bem, dada a falta de farinha de trigo cujo acesso, por importação, não
era frequente4. Este, a vermos as questões da fome, eram cruciais para a sobrevivência,
quer dos habitantes, quer de escravos.
De 1786 – 1788, houve uma seca, com a consequente fome em Angola5. Por
outro lado, para o fim de 1793, houve uma diminuição da fome, mas ressaltou-se a falta
das farinhas6. Em 1794 Benguela passou pela mesma carestia, vitimando os seus
habitantes, assim como os escravos, havendo o governador pedindo mandioca para o
Brasil, sem sucesso7. Esta falta deveu-se a redução dos espaços de cultivo da mandioca,
em prole da cultura sacarina8.
A par das fomes havia também as pragas, gafanhotos, ratos, e os perigos do
sertão, dificultavam o projecto agrícola, atacando as poucas colheitas que havia de
1 Jill R. Dias, “Angola” in Nova História da Expansão Portuguesa dir. De Joel Serrão e A.H.
Oliveira Marques. Vol., 10, Lisboa, Editorial Presença, 1998, p. 325.
2 Elias Correia, História de Angola, Vol. I, Lisboa, Sociedade de Geografia, 1937, p. 139.
3 Idem, Ibidem, p. 325.
4 José Carlos Venâncio, A economia de Luanda e Hinterland no século XVIII, Lisboa, Editorial Estampa,
1996, p. 58.
5 A.H.U, Angola, Conselho Ultramarino, Caixa 73, doc. nº 16, 15 – 03 – 1788.
6 A.H.U, Angola, Conselho Ultramarino, Caixa 79, 17 – 08 – 1793.
7 A.H.U, Angola, Conselho Ultramarino, Caixa 80, doc. nº 8, 19 – 01 – 1794.
8 Keneth Maxwell e Maria Beatriz Nizza da Silva, in Nova História da Expansão Portuguesa dir. Joel
Serrão e A.H. de Oliveira. Vol. VIII, Lisboa, Editorial Presença, 1986, p. 367.
35
subsistência1. Ora, a farinha em questão, de mandioca, é trazida não do Brasil, mas antes
de Cabo Verde2. Para tal tenhamos em atenção, quais as percentagens de exportação de
alimentos para Angola. Segundo os dados da Alfandega de Luanda, posso estabelecer 6
produtos com valores percentuais: Vinho 51%, Vinagre, 23%, Farinha de Trigo 18%;
Aguardente e Licores 1% cada3. Do Brasil, a ordem era a seguinte: Jeribitas 81%;
Aguardente 7%; Açúcar 5%; Arroz 2%; e um série de 5 produtos que juntos são 1%
cada um4.
Assim sendo, quer de Portugal, quer do Brasil, o maior peso eram os das bebidas
alcoólicas cuja utilização, era usada no tráfego negreiro. Destes os vinhos tinham um
papel preponderante em relação aos restantes alimentos enviando por Lisboa. Cenários
que se aplicam também, a Benguela, onde tinha um papel predominante, ocupando –
nos alimentos – a primeira posição.
Ora, bens como o Vinho (o qual por si tem a maioria das exportações) era um
dos meios com o qual se fazia permuta pelos escravos enquanto a Farinha de Trigo –
que era essencial à subsistência – ocupa ao 3º posto com valores muito baixos. Quanto
às bebidas a questão mais problemática é a das jeribitas, cujo valor não corresponde aos
de José C. Curto. O autor em questão dá uma ideia do peso, das diferentes bebidas na
exportação africana. Neste período verificou-se uma diferença entre a aguardente,
jeribita, e os licores europeus trazidos para Angola.
As jeribitas tinham um valor médio das importações que chegaram entre 1782 –
1784 as 4.021 pipas, mas valor médio que viria a baixar5. No período de 1785 – 1794 a
cachaça começava a ganhar primazia, nas bebidas a circular pelo sertão chegando a uma
média anual de 1486 pipas. As jeribitas nesse período ficaram num papel secundário,
1 A.H.U, Angola, Conselho Ultramarino, Caixa 78, doc. nº 59, 25 – 04 – 1793 & Vide: Vide: A.H.U,
Angola, Conselho Ultramarino, Caixa 79, doc. nº1, 23 – 01 – 1793 Vide: Vide: A.H.U, Angola,
Conselho Ultramarino, Caixa 79, doc. 4, 25 – 04 – 1793 & Vide: A.H.U, Angola, Conselho Ultramarino,
Caixa 79, 17 – 08 - 1793, A.H.U, Angola, Conselho Ultramarino, Caixa 80, doc. nº 21, 03 – 03 – 1794.
2 A.H.U, Angola, Conselho Ultramarino, Caixa 79, doc. nº 26, 24 – 08 – 1793.
3 Gráfico 10, p. 196.
4 Gráfico 11, p. 197.
5 José C. Curto, Álcool e Escravos, Lisboa, Vulgata, 2000, p. 166.
36
quedando-se em 1796, vindas do Rio de Janeiro, para cerca de 2272 pipas ano1. Esta
predominância continuou no período de 1795 – 1797, chegando a média a 2538 pipas
ano2.
Para o período de 1797 – 1800 é assinalada uma queda das bebidas, como moeda
de troca para o tráfego negreiro. A guerra na Europa, e suas consequentes ramificações
no mar oceano, levam a que o tráfego negreiro cai cerca 15%. Como consequência cai
também a média anual de jeribitas vindas para o Brasil, para a uma média anual de cerca
de 1511 pipas ano. Com o início do século XIX, e uma estabilização na Europa, este
indica que o tráfego negreiro cresce até aos 18,5% em relação a década de 90. Com esta
cresce também a importação brasílica quer de jeribita quer de cachaça.
Por seu lado, a cachaça mantêm ainda a primazia, alcançando o seu zénite em
1805 com cerca de 3041,5 pipas. A questão é que, segundo os dados da Alfandega de
Luanda, para o período posterior a 1800 não se registou a remessa deste bem. Todavia,
das bebidas que vêm do Brasil, tem indiscutivelmente o segundo lugar. No caso de
Benguela, em relação aos alimentos, a situação em nada mudou.
Sobre este ponto – além de uma predominância das bebidas do Brasil face às do
Reino – regista-se também uma supremacia das Jeribitas, que correspondia a 81% das
bebidas exportadas do Brasil para Angola3. Havia uma predominância indiscutível das
bebidas com destaque para as do Brasil, face às do reino as quais serviam para a
permutação de escravos, o que por si só inviabiliza o consumo e o provimento das
mesmas, visando o consumo de subsistência.
Esta questão, dentro das directrizes do Reino para esta região, tem duas leituras
possíveis. Os alimentos, dado o que é pedido para incrementar, é uma forma de
substituir na permuta os bens em vogas por bens do reino, ganhando estes
predominância e consumo em detrimento dos do Brasil, aumento sua exportação.
1 Idem, Ibidem, p. 172.
2 Idem, Ibidem,p.169.
3 Gráfico 11, p. 197.
37
Outra hipótese, dado o tipo de alimentos que foram exportados, seria aumentar o
peso das bebidas e produtos do reino, na permuta de escravos. A estratégia, a meu ver,
seria então que o aumento da exportação, e da circulação deste bem, levasse a que
houvesse um aumento de sua procura no sertão. Vejamos como tal, o que a fonte dizia
sobre as bebidas.
As trocas e os incrementos visavam, numa lógica de moeda de troca, o aumento
de peso da Portugal nas relações com a dita metrópole. Nesta lógica, o aumento da
presença dos produtos, poderia corresponder a uma estratégia de substituição do peso
das bebidas do Brasil pelas do Reino. Desta forma estava, seguindo as intenções da
coroa, associada a uma dimensão mercantil com objectivo último o mercado
internacional, onde as suas produções serviam como bens de permuta.
Por outro lado ao suceder isto, estava subjacente uma redução das exportações
quer dos produtos da Ásia, quer da Europa, pelas Portuguesas. Apesar da roupagem
nova, pelo discurso assumido, os objectivos comerciais dão-lhe um caracter mais de
mercantilismo mas, sobre uma carga discursiva nova. Os alimentos, e aumento de seu
consumo, desta forma, estariam associados a objectivos que não o consumo, mas antes a
permuta.
No plano geral dentro do discurso, há de facto um projecto para Angola, no que
toca a questão económica. No plano discursivo, há uma forte componente de
naturalismo económico, com uma vertente agrária na qual o cerne é o discurso sobre a
terra, visando aumentar a relações comerciais do reino com Angola, o qual se integra,
num discurso do Mercantilismo Ilustrado.
Nestes planos pretende-se tornar efectivos a prática desse sistema, na relação
directa com a metrópole visando a reexportação desses bens para a Europa – o que o
insere num objectivo do mercantilismo clássico, visando a reexportação dos mesmos.
Neste contexto há uma relação em que, no que toca a Angola, a exportação
portuguesa é dominante, mas a percentagem maior é a da reexportação de produtos
38
Europeus. Ora apesar de haver de facto um peso predominante do que vinha do reino,
este não o era directamente do reino. Para se conseguir criar uma relação plena, era
necessário aumentar o consumo de produtos do reino. Estes, além do que num objectivo
de reduzir a reexportação, tinham duas finalidades:
1) aumentar o peso dos bens do reino como produtos de permuta pela escravatura;
2) os quais, por sua vez, apostam em produtos, pelos quais se pode adquirir mão-
de-obra negreira, estando relacionada com o comércio com o sertão.
39
Capítulo 2: Escravos, Fazendas, Permuta e o Projecto
2.1 O projecto na vertente escravocrata e a permuta no sertão
Determinados os objectivos primários inerentes à introdução dos produtos
agrícolas e das fábricas, façamos uma observação sobre o peso que os diferentes bens
tinham no tráfego negreiro. Como visto, quer da parte dos produtos agrícolas, quer dos
bens das fábricas portuguesas, estes eram bens que poderiam ser aplicados na permuta
na rapina humana. A própria questão dos mesmos bens é controversa, não havendo um
produto definido como o que era o de consumo hegemónico para esse fim.
Esta questão está relacionada com as teorias de Isabel Castro Henriques,
relativamente a comercialização do sertão. Esta teoria tem vários contornos, tendo como
base de reflexão o século XIX. Para períodos anteriores, a autora dá uma ideia na sua
obra conjunta com João Medina, sobre a comercialização do sertão como um processo
em que se passa das acções de pilhagem e rapina humana para um comércio designado
como legítimo, na perspectiva africana, onde as rapinas humanas eram integradas numa
dinâmica comercial própria Africana sobre regras africanas. E, em relação aos interesses
europeus, processo relacionado com a actividade produtiva ultramarina, quer agrícola,
quer mineira, quer no reino, quer nas ilhas atlânticas, quer no Brasil, sendo destacada a
exploração deste último1.
No entanto a teoria em si, refere-se a Lunda do século XIX, tem como base o
papel mercantil e as influencias exercidas no sertão africano na qual, da parte dos
portugueses, era uma forma de estabelecer o controlo estabelecendo toda uma lógica
europeia no sertão desestruturando as relações normais, quer sociais, quer politicas,
quer económicas, normais das sociedades em questão. Mas a teoria, não se resume só as
1 João Medina e Isabel Castro Henriques, A Rota dos Escravos Angola e a Rede do Comércio Negreiro,
Lisboa, Céguia, 1996, pp. 107 – 115.
40
acções portuguesas. Por outro lado – da parte dos Africanos - que pretendiam manter o
controlo que tinham tido – e tirar proveito da nova dinâmica comercial.
Neste âmbito, torna-se pertinente, para o período em estudo, equacionar o papel
das armas, e de outros bens, na permuta por escravos e seu impacto. Para os séculos
XVI– XVIII há uma panóplia de produtos, como os têxteis, armas (que eram objectos
de permuta), bebidas, pelas quais os escravos eram permutados. Segundo John
Thornton, no caso dos bens de permuta, a fraca capacidade da indústria africana de
suprir a procura, era a causa da procura desses mesmos, o que tornava o papel dos bens
industrias europeus tão relevantes1.
Já para Miller, o mercado africano, desde o século XV, parecia ser um mercado
propício para escoar produtos quer da Europa ou da Ásia, sendo a vantagem para os
têxteis, álcool, e Armas2. Mas quais as que eram usadas, e qual o peso real no tráfego do
Sertão? E como esta questão, se equaciona com o cerne do projecto da coroa? A questão
das fazendas por sua vez é de igual modo problemático, uma vez que o peso das
diferentes moedas de permuta mudam na importância para o tráfego.
2.1.1 As Bebidas
A historiografia Luso-Brasileira tem tido como grande campo de estudo em
relação as moedas de escambo, as bebidas, e as armas. Comecemos pelas bebidas, as
jeribitas, que eram de grande agrado dos africanos e de consumo dos mesmos. Já foi
referido, no capítulo anterior, a questão da concorrência das bebidas do brasil e do
reino, e a vantagem que tinham as primeiras. Vejamos agora o peso das mesmas, no
tráfego do sertão.
1 John Thornton, A África e os Africanos na formação do Mundo Moderno, São Paulo, Editora
Campus, 2004, p. 89.
2 Joseph Calder Miller, Ways of Death Merchant Capitalism and The Angolan Slave Trade, Murray,
Wisconsin University Press, 1988 , p. 71.
41
Sobre este meio de permutação, para este período, José C. Curto, dá uma ideia
das bebidas que eram usadas, e da sua importância ao longo deste período. No qual,
como foi visto no capitulo anterior, podemos constatar uma variação entre as cachaças e
aguardentes. Mais especificamente sobre o seu peso no sertão, segundo Gustavo Acioli
e Maximiliano M. Menz, o autor em questão teria atribuído o peso de 25% do total do
tráfego negreiro a esta bebida, leitura inflacionada por Luís Filipe de Alencastro1. Mas
qual seria o peso real da mesma? A historiografia Brasileira tem enfatizando este
produto – a par do tabaco – numa perspectiva do peso e importância das redes mercantis
brasileiras no tráfego negreiro.
Segundo os dados da alfândega de Luanda, o tipo de bebida mais exportada para
esta praça era a jeribita (conhecida também como aguardente de cana) a qual cabia
cerca de 81%, das exportações das bebidas para o Brasil. Mas, apesar deste valor, teria
de facto uma utilização no sertão? A documentação sugere que logo após as fazendas da
Índia as bebidas, jeribitas, aguarentes, seriam os bens de maior procura, logo com maior
validade como produto de permuta, mas as bebidas apresentadas em papel secundário2.
Esta apresentação, pela ordem que nos foi apresentada, indica que – neste período –
havia uma hierarquia desses bens no tráfego negreiro. A documentação, para o período
em estudo, fala sobre a tributação das bebidas, principalmente as do Brasil. Esta
questão, obriga-nos a perceber a correlação entre fisco e preço no período em estudo.
Para José Subtil, havia uma diversidade de meios de receita fiscal para a coroa
do antigo regime, como: dos próprios (reguengos, e outras propriedades) dos tributos
(sobre propriedades e produtos)3. O mesmo processo muitas vezes implicava o aumento
dos preços, a quando de dificuldades de aprovisionamento das gentes4. Já no que toca
1 Gustavo Acioli e Maximiliano M. Menz, Resgate e Mercadorias uma análise comparada do tráfego
de Escravos em Angola e na Costa da Mina (séculos XVIII) in Afro Asia, nº 37, 2008, p. 54.
2 A.H.U, Angola, Concelho Ultramarino, Caixa 95, doc. nº 9, 10 – 03 – 1800.
3 José Subtíl, “Os Poderes do Centro”, in História de Portugal, dir. José Mattoso, Lisboa, Circulo de
Leitores, 1992, pp. 212 – 215.
4 Avelino de Freitas Meneses, “As Finanças”, in Nova História de Portugal, dir. Joel Serrão e A.H. de
Oliveira Marques. Vol. VII, Lisboa, Editorial Presença, 2001, pp. 350 – 351.
42
ao contexto em questão, segundo Álvaro Ferreira da Silva, refere que o imposto sobre o
comércio e as manufacturas (colecta indirecta) eram uma forma mais fácil de colecta.
Tantas que, no século XVIII, parte dos rendimentos eram auferidos pela coroa vinham
da Alfandega de Lisboa, as quais davam um forte contributo para as finanças públicas.
Ora, a crise do final do século, leva a que se tenha de mexer nos dois impostos
principais do reino (a décima e as sisas), para que fosse alargada a base fiscal1. O qual,
visava o aumento da receita, pelo maior número de pessoas abrangidas pela mesma
colecta. O alargamento, visava a arrecadação de divisas, para fazer face a situação mas
para o contexto africano a questão é bem diferente. A questão da colecta fiscal, estava
dentro dos padrões de cobrança sobre os bens de maior consumo, neste caso as bebidas
alcoólicas – particularmente as brasileiras. No seu estudo, José Venâncio, chama a
atenção para a maior importância da tributação sobre o tráfego negreiro do que a colecta
do dizimo sobre os sobas2. No entanto, não era só sobre estas que a carga fiscal caia.
A importância da carga fiscal, estava relacionada - a par da colecta para Lisboa –
com o financiamento das próprias instituições locais. Uma questão que poderá ter
contribuído para a secundarização das bebidas como moeda de troca é a tributação sobre
as mesmas que teria aumentado o seu custo a par da contribuição destas para o Subsidio
Literário. É sugerido pela coroa, que dos mesmos bens, fosse retirado 6600 reis, não se
tendo procedido ao mesmo aumento até 1794, devido a utilidade dos mesmos para o
tráfego negreiro; procedendo-se ao mesmo a partir de 17993.
No entanto – alegando a mesma importância para o giro no sertão – o
governador sugere 3000 reis por pipa de vinho e a aguardente a cerca de 4000 reis4. Esta
contra medida do Governador visava que – na inevitabilidade desta taxa – que os
1 Álvaro Ferreira, “Finanças” in História Económica de Portugal, Dir. Pedro Lains e Álvaro Ferreira da
Silva, Lisboa, ICS, p. 237.
2 José Venâncio, A Economia de Luanda e Hinterland no século XVIII, Lisboa, Editorial Estampa, 1996,
pp. 90 – 92.
3 A.H.U, Conselho Ultramarino, Angola, Caixa 100, doc. º 31, 27 – 05 – 1801.
4 A.H.U, Angola, Conselho Ultramarino, Caixa 96, doc. nº 42, 20 – 08 – 1800.
43
mesmos produtos não perdessem importância no tráfego negreiro, pela redução da sua
exportação.
Outra sugestão que foi dada pelo governador, em substituição das bebidas, dado
que significaria uma quebra na sua procura, e respectiva redução no tráfego negreiro,
que seja cobrada o mesmo sobre o tabaco sobre o qual não se pagava direito algum.
Mais: o facto de que de o subsídio literário para o pagamento do ordenado dos
professores de língua latina, dependendo de uma taxa sobre as bebidas era discutível. A
questão da tributação em si levanta a questão, se estes bens ainda tivessem uma
relevância para o escambo negreiro, não ter-se-ia optado por manter a isenção?
Outro factor a equacionar – além do arbítrio do governador – é a posição dos
Negociantes face a mesma tributação. Em resposta a esta questão os mesmos – como
condição para pagarem o subsídio - sugerem a redução do preço por pipa, para $450
reis, dos 1600 reis pagos até então. Alegavam ainda, que caso se falta-se o mesmo valor
para pagar o dito subsídio, pagariam de seu bolso.
Por outro lado, havia ainda que proceder a distinção entre as bebidas com
destino ao sertão, os quais estariam isentos, e os que ficassem para consumo nos
subúrbios, e na cidade as quais seriam taxadas. Esta proposta visava, antes de tudo
manter o preço da pipa acessível, de modo a que, este bem essencial não deixa-se de
circular. O que se pretenderia, nesta linha de pensamento, seria que, dada a taxa, que
lentamente houvesse um aumento de consumo dos vinhos nacionais.
Noutra perspectiva poderia implicar a tentativa de substituição das bebidas
espirituosas do Brasil, no peso de permuta por escravos, pelos vinhos portugueses. O
aumento do custo das bebidas, por um lado poderia levar a redução de sua exportação,
com o consequente aumento da exportação das bebidas do reino. Isto porque o imposto
do subsídio literário, ao contrário das jeribitas, não se aplicava aos vinhos portugueses,
pois distingue-se entre o consumo e a permuta, havendo no consumo na cidade um
projecto mercantilista, e no seu destino para o sertão um papel de escambo. Em teoria,
44
isto implicaria que as bebidas não encareceriam não perdendo a validade como bem de
permuta, assim como se mantendo a exportação das mesmas para Angola.
Mas a par dos objectivos aqui expressos, há também os resultados do mesmo.
No entanto, segundo a informação oficial, estas medidas pouca diferença fizeram no
sertão. Em 1798 houve um pedido, para que haja isenção de direitos sobre os molhados,
devido a ordem de haver um imposto sobre as bebidas1. Nesse mesmo ano, contrariando
o ofício acima escrito, o governador refere, que não havia sinal de danos feito ao
comércio pela introdução desta taxa nas bebidas2. Este efeito nulo numa possível quebra
do tráfego negreiro implica o sucesso da aplicação da taxa nos moldes pretendidos, sem
ter efeito negativo no tráfego negreiro.
Vejamos a questão da circulação do mesmo bem, e que luzes pode trazer sobre a
questão. Nesse mesmo período, segundo um documento do Rio de Janeiro, constatava-
se uma quebra deste bem, devido a maior venda dentro da capitania, reduzindo o
número de unidades que estariam disponíveis para o tráfego negreiro3.
Em Angola, encontramos uma situação idêntica. O documento indica um padrão
de aumento no consumo desse bem nas cidades, em detrimento da sua circulação no
sertão. Nesta perspectiva a taxa a ser cobrada especificamente aos de consumo,
implicava uma redução – ou uma tentativa de reduzir o seu consumo nas cidades. Uma
das causas que este documento indicava, além da mortandade, era a de quebra das
vendas no sertão. Mais do que os impactos na exportação, eram – nesta perspectiva –
nas de consumo que reduziam a circulação dos mesmos bens no sertão.
Ora, a par da quebra da circulação das mesmas no sertão, encontramos outra
questão que explica a quebra de circulação do mesmo bem no sertão. Outra questão,
além da circulação, seria a produção de bebidas no próprio sertão. Segundo Isabel
1 A.H.U, Conselho Ultramarino, Angola, Caixa 88, doc. nº 34, 22 – 07 – 1798.
2 A.H.U, Conselho Ultramarino, Angola, Caixa 88, doc. nº 35, 22 – 07 – 1798.
3 A.H.U, Conselho Ultramarino, Brasil, Rio de Janeiro, Caixa 164, doc. nº 12265, 02 – 04 – 1798.
45
Castro Henriques, esse fenómeno seria próprio do século XIX1, mas – dada a
informação neste documento – pode-se adiantar esse mesmo processo para o final do
século XVIII onde já haveria esta prática. Não era só o peso fiscal que impedia o
recurso as bebidas, em particular a jeribita, como bem de escambo negreiro, havia sinais
que – no sertão próximo estavam a tentar criar alambiques o que implicava uma
desvalorização do mesmo bem de troca. Tudo bem que a crítica feita, não foi no sentido
da quebra da bebida, mas pela quebra de mão-de-obra em outras actividades
económicas.
Esta prática, segundo o governador, fazia com que muitos braços se dedicassem
aos engenhos, de modo a produzir, mais do que açúcar, bebidas para consumo próprio
como também no sertão2. Ora essa mesma mão-de-obra poderia ser usada, ou para a
agricultura, ou para a extracção mineira, o que revela que esta prática ia contra os
objectivos, ou parte deles, que a coroa tinha estipulado para esta região3.
Um outro tópico subjacente era a mortandade dos escravos no plano africano, às
portas destes vendedores reduzindo também o número de escravos negociáveis. A
proliferação de bebidas produzidas localmente poderiam implicar a redução do
consumo no sertão das bebidas exportadas do reino, a par da preocupação com a perca
de vida de escravos.
Por outro lado, ao produzir-se localmente, perigava a ideia de se incrementar os
produtos do reino naquela paragem, podendo provocar uma quebra no mesmo. Neste
sentido, as bebidas do reino não teriam espaço para substituir a importância das do
Brasil, não se efectivando o seu consumo no mesmo, nem o papel delas como bem de
permuta. Estes, não tanto pela redução da exportação, nem pelos objectivos de
substituição, mas pela quebra do consumo do sertão.
1 Isabel Castro Henriques, Percursos da Modernidade em Angola Dinâmicas Comerciais
e Transformações no Século XIX, p. 640.
2 A. H. U, Conselho Ultramarino, Angola, Caixa 66, doc. nº 67, 2 – 07 - 1783
3 A.H.U, Conselho Ultramarino, Angola, Caixa 66, doc. nº 67, de 2 – 07 – 1783.
46
2.1.2 As Armas
Outro dos meios de pagamento de grande procura por parte dos africanos, para a
permuta em relação aos diferentes produtos, são as armas de fogo. Consideremos o
papel que estas tinham, no comércio de Angola.
Neste processo é destacado por Isabel Castro Henriques, quer o papel das armas
de fogo, quer o papel do transporte dos produtos para a costa, como factores
desestruturantes que levaram à mutação das sociedades segundo as regras europeias1.
O mesmo produto seria – além de o principal produto responsável pela
destruturação – produto de permuta. A destruturação efectuada, no plano mercantil,
porque na transição do tráfego negreiro para o comércio normal, os africanos, quer a
níveis institucionais, quer a nível politico, não desenvolvem os mecanismos de conhecer
e gerir as relações no mercado internacional2. O que lhes leva a não poderem furtar-se,
quer a regulação, quer ao jogo europeu.
Por outro lado a banalização das armas de fogo no sertão, mesmo que não tenha
abrangendo todos os povos em simultâneo, alteraram quer as regras de combate e caça.
O primeiro leva a que, para poder estar englobada nas redes comerciais, tenha de
adoptar, quer as técnicas, quer os hábitos, dos europeus em detrimento dos próprios,
levando a uma europeização.
Não querendo enveredar por uma teoria de longa duração, tenhamos em atenção
como esses produtos, e que utilidade social teriam nas próprias sociedades das
diferentes nações africanas. No plano interno as armas de fogo além de não teriam tido
uma aceitação hegemónica, estavam sujeitas a um controlo ao seu acesso por parte das
próprias autoridades africanas3. No entanto, como Isabel Castro Henriques refere, numa
1 Segundo a mesma, produtos como os alimentos, e os tecidos, eram mais como ofertas na óptica
europeia, como tributos nas Africanas. Isabel Castro Henriques, Percursos da Modernidade em Angola
Dinâmicas Comerciais e Transformações no Século XIX, Lisboa, Instituto de Investigação Cientifico
Tropical, 1997, pp. 539 – 540.
2 Idem, Ibidem, p. 640.
3 Isabel Castro Henriques, Os Pilares da Diferença Relações Portugal-África séculos XV-XX, Lisboa,
Caleidoscópio, 2004, p. 371.
47
leitura de geopolítica, a introdução das mesmas alterou os equilíbrios no mesmo
continente.
Para percebermos a importância da mesma a procura deste bem, devemos
compreender a sua utilidade no quadro das sociedades africanas, permitindo, às facções
ou aos sobas africanos que a tivesse, a construção de uma unidade politica mais
centralizada1. Deste modo, Roquinaldo Ferreira analisa, dentro do processo de
centralização dos reinos africanos, Matamba, em luta contra os pumbeiros. A questão
aqui presente, estava relacionada, com a posse dos elementos de coacção que, no plano
da Europa, foi uma forma de estabelecer estados centrais. Mas, a par destas questões, a
que ter em conta o valor que tinham estes bens no seio das sociedades africanas.
Outro ponto fulcral é o da relação bélica entre os diferentes estados africanos, a
qual tem uma identificação com o divino pelos mesmos. Quer as armas quer os cavalos,
assumiam uma grande importância devido ao estado de guerra contínuo entre os vários
estados, e povos africanos, no qual o acesso a este bem representava uma vantagem face
aos seus rivais. Por outro lado, no caso do estado africano em questão, deu um auxílio a
centralização do poder. Ora, mesmo que não tivesse-se assistido a uma generalização,
dado as acções belicistas entre os mesmos, e as rivalidades, obrigava a que as nações
africanas com os contactos mais próximos dos portugueses e demais europeus
recorressem a este bem com frequência; de modo a que não perdessem a vantagem.
Apesar de, como disse Isabel Castro Henriques, não abranger todas, as que
comerciavam este bem com os europeus tinham, no quadro da economia africana, bens
de prestígio, além do aspecto pragmático, que as dava vantagem sobre suas rivais. Neste
plano, uma arma de fogo poderia equivaler a cerca de 1000 guerreiros, o que é
demonstrativo do seu valor.
1 Roquinaldo Ferreira, Cross Cultural Studies in The Atlantic World, Cambridge, Cambridge University
Press, 2014, p.48.
48
Outra leitura de Roquinaldo Ferreira faz uma interpretação baseada no sucesso
da substituição destes bens, pelos que eram vendidos pelos ingleses no norte1. No caso
das nações que se dedicavam a actividade negreira, o acesso as melhores armas, além de
um meio para deterem hegemonia, eram um meio também de obterem mais escravos e
logo terem acesso a mais armas.
Outra questão que o este autor foca, era o saber se havia interesse por parte das
autoridades portuguesas que esse bem não circule no sertão, no entanto convinha
restringir o acesso ao mesmo por parte das restantes potencias europeias a pactuarem
naquela zona.
No período em estudo havia uma de venda dos mesmos, quer pelos ingleses e
franceses, ao sertão. Neste contexto, a coroa pretendia que as mesmas não fossem
vendidas, via-se na obrigação de continuar a vende-las, com a discordância dos
governadores. Está presente, no A.H.U, toda uma série de cartas entre o governador e a
coroa, relativa a essa questão. A coroa, em resposta às várias directrizes dos
governadores, visando a exportação desse mesmo bem, respondeu que as armas eram de
fraca qualidade e que só servem para a caça, não representando perigo para os interesses
lusitanos2. Porém não deixa o governador de advertir, que o envio de armas e sua
comercialização no sertão, ia contra os objectivos portugueses naquela região3. Dada a
concorrência estrangeira teria sido necessário a proceder a este comércio, as armas que
eram enviadas de Portugal eram de qualidade inferior. A remessa dessas armas, em tão
desvantagem com as que as nações, quer francesa, quer inglesa usavam no trato, deve-
se aos objectivos militares portugueses de domínio da mesma região.
1 Idem, Ibidem, p. 47.
2 A.H.U, Angola, Conselho Ultramarino, Caixa 63, doc nº 7, 22 – 02 – 1780 Vide: A.H.U, Conselho
Ultramarino, Angola, Caixa 69, Doc nº 71.
3 A.H.U, Angola, Conselho Ultramarino, Caixa 64, doc nº 59, 08 – 12 – 1781 Vide: A.H.U, Angola,
Conselho Ultramarino, Caixa 65, doc nº 60, 07 – 08 – 1782.
49
Num documento, após a campanha do Dande, há a referencia a armas de
calibragem nessas paragens1. Estas, não obtidas através de Portugal, tinham sido
adquiridas aos Ingleses e aos Franceses na qual estavam presentes armas de grande
calibre.
Para este período, Herbert S. Klein, usando fontes francesas, denota que os
Africanos, com as mercadorias europeias e de outras partes eram muito exigentes sendo
a qualidade desta crucial para o tráfego Negreiro2. O Concelho Ultramarino em resposta
indica que – apesar das intenções face a Angola – tal comércio não é contraditório. Em
primeiro lugar as armas adquiridas pelos africanos, seriam usadas nas suas caçadas. Por
outro lado as armas que Portugal enviava para o Sertão, eram de qualidade inferior o
que não lhes dava hipóteses de as usar em esforços bélicos contra os Portugueses. Eram
importantes quer para a caça, como para a guerra, que era um dos meios de se obter
mão-de-obra escrava3. Logo, os objectivos da coroa, para a exportação deste produto
sairiam gorados. A estratégia portuguesa, para não comprometer as operações militares,
era dar de facto esse mesmo produto, mas sem que a sua utilização comprometesse a
posição portuguesa.
Uma outra questão, era a violência no sertão; de facto, uma preocupação
contínua. Algumas destas armas, caso das facas flamengas, eram mesmo proibidas de se
vender, alegando o uso delas nas rixas, quer no sertão, quer em Luanda. As armas,
espingardas, facas flamengas, balas de chumbo, traçados, faziam parte da permuta
sendo usadas com as fazendas da Índia4. No entanto como este governador bem afirma,
estas vendem-se livremente em Luanda, os negros usavam-nas para fins lícitos também,
e não a havia forma de controlar o acesso a elas5; o que, como consequência, impedia
1 A.H.U, Angola, Conselho Ultramarino, Caixa 77, Doc nº 47, 04 – 06 – 1792.
2 Hebert S. Klein, “Economic Aspects of the Eighteen Century Slave trade” in The Rise of Merchant
Empires editor James D. Tracy. Cambridge, Cambridge University Press, 1993, p. 291.
3 A.H.U, Angola, Conselho Ultramarino, Caixa 95, doc. nº 9, 10 – 03 – 1800.
4 A.H.U, Angola, Conselho Ultramarino, Caixa 95, doc. nº 9, 10 – 03 – 1800.
5 A.H.U, Conselho Ultramarino, Angola, Caixa 101, doc. nº 38, 25 – 08 – 1801.
50
que os portugueses controlassem essa região1. Parte da correspondência indica que os
governadores, assim como muitos dos sertanejos não estavam de acordo com o envio
deste produto para o sertão2. O acesso as armas implicava – devido a beligerância entre
os estados africanos – quebra de mão-de-obra que poderia ser negociada no sertão.
Desta forma, ao contrário do exemplo dado na Lunda, no sertão anexo a
presença portuguesa, havia de facto uma proliferação de armas que atesta a banalização
de seu uso. Mas, que nesta óptica, para este período, não esteve relacionado com a
desestruturação dos estados do que hoje é Angola, mas antes ao reforço de alguns, que
inclusive foram usadas contra os portugueses. A lógica, aqui presente, é substituir o
acesso as armas francesas e inglesas, de modo que não se perder esta moeda, mas
fornecendo material que não teria a mesma qualidade. Esta, nesta lógica, faria com que
o mercado em questão fosse um motor para o desenvolvimento das armas portuguesas.
Ora o fraco peso deste como moeda de permuta, é também uma prova da superlotação
(que não significa uma generalização do seu uso a todos os grupos) do sertão deste bem,
o que resultava em quebra da mesma, seja pela proveniência francesa ou inglesa, ou
pela presença de armas portuguesas.
Se estas, por um lado, parecem ser opostas as intenções militares portuguesas
para as mesmas paragens, por outro lado estão relacionadas com as intenções
económicas. Nas directrizes formuladas, para o sertão de Benguela, está expresso a
ideai de se aumentar o consumo de produtos do reino nessas paragens.
No entanto há, até para evitar um acesso as armas inglesas e francesas, uma
preferência pela venda deste produto por parte de Portugal, que pode ser visto numa
dimensão politico/económica. Estas porém sem sucesso, o que indicia a abundancia
deste bem no sertão angolano, assim como a preferência pelas armas das potências
mencionadas. Logo no plano económico, a utilização deste bem como forma de permuta
não é, no período em estudo, a moeda mais valiosa de troca. No plano interno, mais do
1 A.H.U, Angola, Conselho Ultramarino, Caixa 71, doc. nº 60, 15 – 11 – 1786.
2 A.H.U, Angola, Conselho Ultramarino, Caixa 71, doc. nº 60, 15 – 11 – 1786.
51
que proceder a desestruturação das sociedades, antes é um meio – para as que
negoceiam com os europeus – reforçarem o seu poder no plano local.
2.2 As Fazendas e a Historiografia recente
No entanto, não eram só os bens produzidos em territórios sobre domínio
português que eram usados na permuta por escravos. O termo fazenda, para o período
em questão, abrange uma ampla realidade conceptual. Do ponto de vista da circulação
de bens, o termo fazenda era usado para designar bens que pudessem ser usados no
comércio1. No contexto desta dissertação, irei usar este termo apenas para designar os
tecidos vindos da Índia, que serviam para realizar o tráfego negreiro.
Ora, no que a este produto diz respeito, no entender de Herbert S. Klein ele
apresenta-se como um dos problemas das exportações portuguesas, que consistiam em
armas e bebidas, visto que não seriam usadas no escambo2. Já Miller, além dos produtos
referidos por Klein, sublinha o peso assumido pela reexportação dos produtos têxteis da
Europa3.
A este debate têm-se juntado os historiadores da Índia segundo os quais, a África
teve um papel periférico no estudo das redes de comércio indianas4. A questão das
fazendas da Índia tem sido estudada para as zonas mais a norte da África subsaariana,
tendo um peso importante para a região do Dhaomé e para a região do Biafra5. A
questão que se levanta é, e no tráfego comercial português? Qual o peso que este
mesmo bem teria? Mas esta não é a única questão pela qual este assunto é abordado.
1 Sheila Siqueira de Castro Faria, “ Fazendas” in Dicionário do Brasil Colonial (1500 – 1808) dir.
Ronaldo Vainfas, Rio de Janeiro, Objectiva, 2000, p. 220.
2 Herbert S. Klein, op cit, p.292.
3 Joseph Calder Miller, op cit, p. 77.
4 Pedro Machado, “Cloths of a New Fashion: Indian Ocean Networks of Exchange and Cloth Zones of
Contact in Africa in India in the Eighteen Century and Nineteenth Century” in in How India Clothed
The World edit. Giorgio Riello e Tirthankar, Leiden/Boston, Brill, 2009, p. 55.
5 Lembrando que a análise feita pelo historiador em questão, está dentro da questão se teve um impacto, e
como o teve dentro da indústria têxtil Africana. Mas sobre esta questão em estudo, vide Joseph. E.
Inikori, “English versus Indian Cotton Textiles: The Impact of Imports on Cotton textile productions in
West Africas” in How India Clothed The World edit. Giorgio Riello e Tirthankar, Leiden/Boston, Brill,
2009, p. 105.
52
Alguns historiadores tratam esta questão, não no impacto no tráfego negreiro, mas antes
no impacto que tiveram ou não no desenvolvimento, analisando o crescimento, na
rivalidade entre os algodões ingleses e têxteis indianos. Essa todavia é uma questão que
diz respeito, ao tráfego entre a Grã-Bretanha e a Índia e não infere no comércio com
África.
Uma boa questão é aquela levantada por Jobson de Arruda, a respeito aos
benefícios destes negócios para a Coroa portuguesa na relação da balança comercial. A
reexportação dos produtos da Ásia diminuía a reexportação, assim como a importação
para Portugal, das fazendas brancas de Hamburgo e da Holanda para as Américas e
Ásia1, a qual, por sua vez, levaria a uma diminuição dos bens da Europa, e um maior
equilíbrio das divisas de ouro nos cofres nacionais. Mas esta, apesar da vantagem que
aufere ao reduzir o peso das exportações da europa, representa também um handicap,
uma vez que esse ouro e prata iam para a Ásia para obter as mesmas fazendas.
Ora, como visto no primeiro capítulo, houve um aumento da exportação dos
produtos da Ásia, cuja sua reexportação para Angola valeria cerca de 68%. Mas como
se terá reflectido essa mesmo em Portugal na sua relação com o tráfego negreiro, e
como se relaciona com o projecto português?
2.2.1 A Exportação das Fazendas e o Comércio da Ásia
Vejamos, por outro lado, o peso do acesso das mesmas fazendas, e todo o
processo que o envolve. Antes de avaliarmos, dada a proveniência geográfica do mesmo
produto, é necessário fazer algumas considerações sobre o comércio que Portugal tinha
com a mesma praça. Segundo A.R Disney, os últimos anos do século XVIII assistem a
um revivalismo do comércio indiano. De 1780 ao fim da guerra, baseado quer no
tráfego de chá e tecidos, devido a neutralidade, Portugal consegue ter uma recuperação
1 José Jobson de A. Arruda, op cit, pp. 281 – 282.
53
no comércio na Ásia – chegando a níveis que havia tido no reinado de D. Manuel I1.
Isto, por um lado, ter-se-ia ficado a dever à redução das taxas sobre os produtos da Ásia;
bem como à crescente procura na Europa de bens coloniais devido à industrialização e
às exigências de guerra2.
Por outro lado, quer devido à conjuntura, nos períodos de neutralidade, esse
avivamento – citando Acúrsio das Neves – deveu-se ao fretamento de embarcações
portuguesas por parte de Ingleses para irem para a Índia e para a China3. Esta
conjuntura, tornava propícia o acesso, além dos bens mencionados, às mesmas fazendas.
No entanto, o acesso ao mesmo bem, não significa por si facilidade na sua
utilização. As leis de 1789 estipulavam, para as fazendas vindas de Goa, um abatimento
de 12%, enquanto para que para outras partes da mesma costa de 10%4. Estes, no meu
entender, indicam a importância, uma vez que baixando-se os direitos reais, era um
incentivo a que fossem adquiridos pelos mercadores de Lisboa, servindo como estímulo
a que fossem obtidas.
No entanto, o facto de haver necessariamente acesso ao mesmo produto, não
implica que houvesse intenção de obter e de se usar para o comércio colonial. Outro
aspecto a salientar é que a Ásia começou a ganhar protagonismo, tornando-se o segundo
ponto de maior importância nas trocas comerciais nos domínios e, em termos de
importância, superando a de praças europeias como a França, Holanda, Rússia.
Dos produtos vindos da Ásia, cerca de 87%, no que diz respeito as produções os
tecidos, os quais tinham como palco preferencial, quer as praças do Brasil, quer as de
África5. No entanto estes números não reúnem o consenso, uma vez que Jorge Pedreira
afirma que a aguardente daria grande vantagem aos mercadores brasileiros, tratando-se
1 M.N Person, “Goa Based Seaborne Trade, 17th – 18th centuries” in Goa Throught the Ages
an economic History, ed. Teotónio R. de Sousa, Nova Deli, Goa University, 1990, p. 171.
2 A.R Disney, História de Portugal e do Império Português, Vol. II, Lisboa, Editora Guerra e Paz,
2011, p. 463.
3 Carlos Guimarães da Cunha, op cit, p. 147.
4 A.H.U, Angola, Concelho Ultramarino, Caixa 91, doc. 18, 16 – 03 – 1799.
5 António Alves Caetano, A Economia Portuguesa no Tempo de Napoleão, Lisboa, Tribuna da História,
2008, p.55 – 56, 60.
54
de um subproduto do açúcar, os produtos da Índia corresponderiam a cerca de 40% das
importações da Alfândega de Luanda quedando-se os tecidos na ordem dos 20%1. Os
números apresentados, por sua vez, vinda em uma obra de investigação/divulgação, não
apresentam notas de onde foram elaborados esses mesmos cálculos.
Sobre as exportações dos diferentes pontos para Angola, neste caso dos da Ásia,
em contraste com os meus dados, Gustavo Acioli e Maximiliano M. Menz, apresentam
o seguinte cenário: de 1785 – 1794, usando os dados de Corcino Medeiros, os produtos
da Ásia representariam 34%; já para 1795 – 1797, documentos da B.N (Rio de Janeiro),
onde apresenta 28%; de 1798 – 1799, onde representa 42% e 1802 – 1803 onde
apresentava cerca de 35%, segundo os dados do A.H.U; já para 1808 – 1809 cerca de
39%, baseando-se nos números do Arquivo Nacional2.
Os dados aqui presentes, sínteses de várias fontes, apresentam números
interessantes, mas questionáveis. Em primeiro lugar, as diferentes fontes apresentam
uma estrutura própria, o que torna difícil integrar num único quadro. Estes tipos de
dados são mais eficientemente trabalhados, quando servem para estabelecer uma
comparação entre eles. Os mesmos – baseados em várias fontes – dão uma ideia do peso
da exportação da Ásia, mas não dão uma dimensão comparativa face ao peso em relação
aos diferentes bens de permuta.
Os dados por mim auferidos (que provêm da Alfândega de Luanda) vão noutro
sentido, dando dados diferentes, dos valores que estes historiadores defendem. Segundo
os dados da Alfandega de Lisboa, a comercialização dos produtos corresponde a cerca
de 53%3 das reexportações para Angola, e a cerca de 68%4, segundo os dados das
tabelas da Alfândega de Luanda. Já no caso de Benguela, segundo os dados colectados
das balanças do Reino, a reexportação dos produtos da Ásia aos quais cabiam cerca de
1 Jorge Pedreira, “O Processo Económico” in O Colapso do Império e a Revolução Liberal dir. António
Costa Pinto e Nuno Gonçalo Monteiro, Vol. I, Carnaxide, Editora Objetiva, 2013, p. 145.
2 Gustavo Acioli e Maximiliano M. Menz, op cit, p. 54.
3 Gráfico 1, p. 188.
4 Gráfico 5, p. 191.
55
90% das exportações, ficando os do reino cerca de 10%,segundo as balanças comerciais
do Reino1. No entanto esse mesmo comércio conhece irregularidades.
De 1798 – 1803 conhece a primazia no comércio com Angola registando-se a
seguinte tendência: de 1798 corresponde a 38% tendo uma subida de 6% de 1798 para
44% 1799, e de 1799 a 1802 há uma quebra na ordem dos 12% fazendo 32%; regista-se
de 1802 a 1803 uma subida de 1% chegando aos 33%, para no ano posterior uma
quebra na ordem dos 9%, nesse mesmo ano dá-se uma perca da primazia para os
produtos do reino registando cerca de 24%; deste ano para 1805 há uma subida na
ordem dos 25% para 49% das trocas comerciais, voltando a posição cimeira das trocas
comerciais; para 1809 há uma quebra de 7% fazendo 42% das trocas comerciais,
descendo para os 11% uma quebra de 31%2. Em parte – a menos em 1810 – grande
perca das quebras do peso dos produtos da Ásia derivam, não da quebra das
exportações, uma vez que a nível anual a quebra ronda o um por cento, mas pelo
aumento da exportação dos produtos, quer de Portugal, quer do Brasil.
2.2.2 As Redes Mercantis o tráfego numa dimensão atlântica
A partir do momento, que o foco de exportação destes mesmos bens é extra
europeu, há que se definir redes mercantis ao qual estava sujeito o acesso e transporte
para os mesmos. Desde 2001 que se começou a dar mais enfase, no contexto de um
seminário, organizado em homenagem a Ferdinand Braudel, e a sua monumental obra
do mediterrâneo, sobre as redes mercantis transcontinentais3. Como Herbert S. Klein
1 Gráfico 1, p. 188.
2 Gráfico 12, p. 198.
3 Estas abordagens, apesar de Braudel frisar a importância das redes indirectas (arménios, Judeus,
Cristãos-Novos Portugueses, no comércio ultramarino) visavam mais as redes imperiais. Estudos que
desde os trabalhos de o trabalho de Hancock sobre as redes atlânticas, em que se opta por uma abordagem
mais de interconecção da sociedade com as redes mercantis. Mais concretamente no caso português, -
segundo Daviken Studnicki-Gizert – as redes mercantis portuguesas funcionavam numa óptica de
descentralização quer na configuração assim como na função, além de diferirem das companhias
monopolistas em grande medida ou das corporações modernas. Esta directiva tem de ser obviamente
contextualizada, se há de facto um padrão singular e familiar nas redes mercantis, até que ponto porém
essas mesmas redes não tiveram um auxílio das companhias mercantilistas na sua organização? Por outro
56
bem indica, o sistema de permuta não está restrito só ao espaço atlantico. Antes está
ligado a uma complexa rede internacional, de onde da Índia à Europa circulam esses
bens para serem comercializados em África1.
Esta rede comercial, não pode ser, por sua vez, desvinculada, da procura do
mercado africano, quer da oferta do mercado indiano dos finais do século XVIII. Neste
período há uma mudança dos padrões de consumo dos produtos indianos, não
exportando só a pimenta mas também os tecidos; gerando uma diversificação de oferta
para os mercados internacionais2. A mutação da oferta indiana tem impacto também na
exportação portuguesa, já que cerca de 90% dos tecidos de algodão exportados para o
Brasil, eram provenientes da Índia3. Esta exportação acontece numa conjuntura
comercial, de recuperação da rota do cabo portuguesa.
Há da parte da historiografia Brasileira, alguns estudos que enfatizam a
articulação com as redes moçambicanas e com a Índia a partir deste ponto. No seu texto,
Luís Frederico Antunes, dá enfase a relação directa entre Goa/Rio, de 1808 – 1820, e do
peso do trafego negreiro de Moçambique para o Brasil4. Mas poder-se-á reduzir esta
interacção só a este ponto? Neste caso é ampla a historiografia, que estuda essa questão
na perspectiva do Brasil, um dos casos José Honório Rodrigues, aponta a subordinação
do comércio de Angola, aos interesses da procura Brasileira5.
lado este autor afirma que estes – na sua individualidade – constituíam uma rede de interdependência e
mutualismo. Outro estudo é o de Fredrik Barth, Francesca Trivellato, no qual pega no exemplo das redes
mercantis criadas entre os judeus de Livorno, italianos em Lisboa, e Hindus de Goa, para tentar criar uma
definição da rede atlântica portuguesa. No seu estudo ela procura estudar a longa duração, ou como ela
mesmo define as relações duradoiras. Esta abordagem pretende – na óptica da autora de reduzir a
abordagem feita nas normas éticas, ou nos laços sociais, assim como uma abordagem mais económica
colocando a racionalidade a base das actividades económicas. As grandes linhas delineadas por estre
trabalho foram: a necessidade de haver um forte factor de coesão entre redes multiculturais religiosas; O
factor mais importante deste tipo de redes era a reputação como acontecia nos historiadores anteriormente
estudado. Diogo Ramada Curto, As Múltiplas Faces da História, Lisboa, Livros Horizontes, 2007, pp.
118 – 123. 1 Herbert S. Klein, op cit, p. 289.
2 James Foreman Peck, op cit , p. 365.
3 Jorge Pedreira, “A Industria” Historia Económica de Portugal, p. 202.
4 Luís Frederico Dia Antunes, “ A Influência Africana e Indiana no Brasil, Na Virada do Século
XVIII: Escravos e Têxteis” in Nas Rotas do Império Org. João Fragoso, Manolo Florentino et all,
Vitória, EDUFES, 2006, p. 139 – 169.
5 José Honório Rodrigues, Brasil e África, outro horizonte, 3ª edição ampliada, Rio de Janeiro, Editora
Nova Fronteira, 1982, p. 46.
57
Sobre esse tema Roquinaldo Ferreira faz uma leitura – no período anterior ao
meu estudo onde indica – que, por uma tentativa dos mercadores de Lisboa de
ganharem mais peso no tráfego negreiro, se notam mudanças no acesso aos bens de
comércio e ao envio dos mesmos1. Nesta lógica assistir-se-ia a uma tentativa de
substituição do peso das jeribitas, pelas fazendas da índia. No que toca a importância
dos bens o mesmo autor já não subescreve a mesma tese, começando a considerar as
fazendas da Índia como o principal bem de permuta2.
Para o dito período o mesmo historiador enfatiza o papel das redes
metropolitanas, no palco da dita capitania quer coincide, com a já para 1747, a
importância para o escambo era de bens da Europa, assim como de fazendas da
Índia3.Importância que, para as redes mercantis em de Benguela, a partir de 1760,
começa a ser hegemónica das redes mercantis do Rio de Janeiro4. Mas como se
consagra a lógica de substituição, das redes mercantis com o envio dos diferentes
produtos.
Comecemos por definir, a estrutura dessas mesmas redes para perceber se – num
primeiro plano há oposição das redes mercantis, ou antes estas funcionam em sincronia.
Sobre a questão da posição do tráfego negreiro nas redes mercantis, Manolo Florentino,
na óptica de Maximiliano M. Menz, foca o exemplo, a par da relação colonial, numa
perspectiva do Brasil em si, uma vez que este estaria dominado pelo capital brasílico
logo deveria ser entendido em função de uma dinâmica económica e social colonial, e
não em prol da industrialização da Europa5.
1 Roquinaldo Ferreira, “Dinâmicas de Comércio Intercolonial: Jeribitas, panos Asiáticos e guerra no
tráfego angolano de escravos (século XVIII) ” in O Antigo Regime nos Trópicos A Dinâmica
Imperial Portuguesa (séculos XVI – XVIII) Org. João Fragoso, Maria Fernanda Bicalho, Maria de
Fátima Gouveia, Rio de Janeiro, Editora Civilização Brasileira, 2001, pp. 339 – 378.
2 Idem, Cross Cultural Exchange in the Atlantic World, p. 5.
3 Roquinaldo Ferreira, Transforming Atlantic Slaving: Trade, Warfare, and Territorial Control in Angola,
1650 – 1800, Tese de Doutoramento apresentada na University of California, Los Angeles, 2003, p. 115.
4 Idem, Ibidem, p. 103.
5 Gustavo Acioli e Maxmiliano M. Menz, op cit, p. 44.
58
No entanto – numa perspectiva brasílica – segundo a leitura historiográfica de
Gustavo Acioli e Maximiliano M. Menz – a historiografia brasileira, contrariando a
ideia de triângulo comercial, aborda a questão do tráfego negreiro do prisma brasílico,
apoiando os seus estudos entre o tabaco e as bebidas como meio de permuta. Estes
criticam essa posição em dois pontos:
1) Esta abordagem sobrevaloriza a aguardente e o tabaco mantendo a relação em
circuito fechado;
2) Esta abordagem – ao colocar a relação de bipolaridade Brasil/África – acaba por
excluir a interacção com outros pólos1.
Vejamos, então, a interligação das redes coloniais, a fim de podermos
determinar – dentro do campo de estudo – o que implicaria estas questões.
Sobre a orgânica das redes mercantis portuguesas, temos os trabalhos quer de
Jorge Pedreira, quer de João Fragoso, os quais dão uma ideia de interconexão das redes
atlânticas. Com a excepção dos produtos próprios do Brasil, a maioria dos bens que
vinham para o Brasil vinham consignados pelos mercadores portugueses aos seus
correspondentes no terreno, para depois serem exportados para África para servirem de
permuta. Estes, segundo Carlos Guimarães, não corresponderiam aos grandes
mercadores, mas uma série de pequenos e médios mercadores que, em sociedade, ou em
cotas – segundo o exemplo do porto – realizariam esse comércio2.
No estudo que faz, tendo como exemplo os Beirões e os Transmontanos, ou dos
minhotos, Jorge Pedreira, atesta que uma percentagem dos que iam para Lisboa
passavam ao Brasil fazendo fortuna por lá. E dessa cerca de 1/5, dos provenientes de
Lisboa, não se limitava as praças do Brasil, indo operar pelo ultramar português3. No
1 Gustavo Acioli e Maxmiliano M. Menz, op cit, p. 47.
2 Carlos Guimarães da Cunha, Negociantes, Mercadores, e Traficantes, no final da Monarquia
Absoluta, Lisboa, Edições Colibri, 2014, pp. 144 – 145.
3 Jorge Pedreira, Os Homens de Negócios na Praça de Lisboa, Tese de Doutoramento em
Sociologia apresentada à Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, 1995, p. 220.
59
entanto esta teia poderia alcançar uma composição mais complexa, albergando não só
familiares como conhecidos.
Por sua vez, Fragoso, indica que apenas 55, que correspondiam a 9%, dos
mercadores envolvidos no comércio internacional os quais constituíam uma situação de
monopólio1. Destas cerca de 29 famílias detinham, cerca de 60% do tráfego negreiro.
Ora só alguns, em número reduzido, é que estão ligados ao comércio internacional,
estando ligados aos interesses das casas mercantis do reino. Neste cenário, não se pode
considerar que haja uma oposição, mas antes uma integração de interesses dada a
dependência mútua.
Vejamos o fornecimento destes bens, e como os mesmos se efectuavam no
mesmo contexto. Já sobre esta questão Luís Federico Dias, sobre a proveniência das
fazendas de comércio, refere a posição da Família Camotim Mhamai a qual, além das
relações com firmas inglesas e francesas, tem uma série de relações com Homens de
Negócios Brasileiros2.Omesmo ainda não foi feito, sobre as ligações das casas
comerciais Indianas com as casas do Reino. Os mercadores Hindus (canarins), para
evitarem a sofreguidão fiscal dos governadores portugueses, tinham o grosso dos seus
interesses no interior do continente3, o que lhes dava acesso ao mercado têxtil do
continente, de onde poderiam obter os ditos produtos para exportá-los para Lisboa.
Há toda uma série de mercadores que se dedicavam, na Índia a este tipo de
tráfego4. Mas além dos agentes é crucial identificar as regiões de onde provinham as
fazendas da Índia. Já no que diz respeito às proveniências das mercadorias a norte, este
1 João Fragoso, Homens de Grossa Ventura: A acumulação e Hierarquia na Praça Mercantil do Rio de
Janeiro (1790 – 1830), Rio de Janeiro, Arquivo Nacional Orgão do Ministério da Justiça, 1992, p. 180.
2 Luís Federico Dias Antunes, “Têxteis metais preciosos: novos vínculos do Comércio Indo-Brasileiro
(1808 – 1820) ” in O Antigo Regime nos Trópicos A Dinâmica Imperial Portuguesa (séculos XVI – XVIII)
Org. João Fragoso, Maria Fernanda Bicalho, Maria de Fátima Gouveia, Rio de Janeiro, Editora
Civilização Brasileira, 2001, pp. 403, 409 – 410. 3 João Manuel Teles da Cunha, “Economia e Finanças” in Nova História da Expansão Portuguesa dir.
Joel Serrão e A.H de Oliveira Marques, Tomo I, Vol. V, Lisboa, Editorial Estampa, 2006, p. 356.
4 Como mercadores destacam-se várias famílias mercantis brâmanes, que, além da exportação dos
têxteis, lucram com o comércio internacional como: os Mahamais; os Dhempes; os Sinairis; os
Navelcars; Naiks e Dhumes Idem, Ibidem, p. 356.
60
refere a importância de Surrate nesse processo, assim como de Balagate1. A leitura deste
investigador, vai na questão do acesso as fazendas da Índia por parte dos mercadores
das Américas Portuguesas. Os tecidos, adquiridos pelos portugueses, vinham de, no
Coromandel: Damão, Diu, Balagarte; e de Bengala: Madastra e Pulicut2. Esta
informação é confirmada, pelos nomes e designação geográficas dos tecidos indianos
vindos da Ásia presentes nos registos da Alfândega de Lisboa. Se as fazendas eram
expedidas, da parte de Lisboa, para o Brasil e dai para Angola, o aceso a elas estava na
dependência destas famílias mercantis.
Dentro desta dinâmica onde, para ser realizar o tráfego negreiro, estão
envolvidas diferentes partes do Ultramar Português, pode-se questionar o conceito de
triângulo comercial. A noção clássica indica uma forte interacção dos produtos do
Reino, usados como meio de permutar os bens em África para o Brasil e os destes para
o reino. Sobre esta questão Fernando Novais afirma que, com a industrialização na Grã-
Bretanha e o escoamento de sua produção para as colonias portuguesas, inicia-se o que
se chama a crise no sistema colonial clássico.
Por outro lado, este assunto entra dentro da questão da fractura epistemológica,
conforme teorizada por Thomas Kuhn. Segundo as teorias deste investigador, a ruptura
epistemológica potencializa-se quando, dentro de um quadro de um sistema de saber,
não é possível dar soluções para um determinado problema que surge no seio do
próprio. Indiscutível que a industrialização Inglesa, e sua exportação para outros
circuitos comerciais coloniais que não os seus possa ter contribuído. Mas e as lacunas já
existentes no próprio funcionamento do sistema colonial português?
A dependência das redes comerciais indianas e a sua capacidade, quer das
regiões sob domínio português, quer das restantes, é um sinal de fraqueza desse mesmo
sistema colonial? A lógica deste triângulo seria o uso dos produtos do reino como
1 Roquinaldo Ferreira, Transforming Atlantic Slaving: Trade, Warfare, and Territorial Control in
Angola, 1650 – 1800, p. 119.
2 João Manuel Teles da Cunha, op cit, p. 353.
61
permuta pelos escravos, que por sua vez eram empregues na produção agrícola para a
sua reexportação, o que Portugal, no caso de Angola, não consegue fazer. A existência
de um bem, cujo emprego era essencial para o comércio negreiro, e que para ser
adquirido, estava dependente de redes mercantis estrangeiras, é por si indicio que, no
aspecto do comércio colonial, o triângulo era inoperante. Desta forma, mais importante
ainda que a influência britânica, é a falta de capacidade de Portugal, por seus próprios
meios, de abastecer o seu mercado colonial mesmo nas relações normais.
Tendo as redes mercantis em perspectiva, posso deduzir que, mais do que a rede
mercantil portuguesa, ou a rede mercantil brasileira, é a rede mercantil internacional,
que abastece Angola das fazendas da Índia – processo que, do ponto de vista da
construção histórica, infere e refuta a noção de triângulo mercantil como o conhecemos.
Revela neste caso a fraqueza de Portugal, cumprir com as bases do triângulo
mercantil. Mais do que sujeitar os estados africanos a sua procura, Portugal está sujeito
a procurar o que serve de oferta, o que o liga a uma rede internacional mais vasta para
aceder aos mesmos produtos.
2.2.3 As Fazendas e o Peso no tráfego Negreiro
Vista a questão das redes internacionais, e seu papel na distribuição das
fazendas, assim como o contexto mercantil, vejamos agora o peso mesmas na
exportação de escravos para Angola. Na sua obra Cross Cultural Exchange,
Roquinaldo, refere o peso deste bem de permuta, sem porém lhe dar um grande
enfoque. Este já havia sido dado na sua tese de doutoramento onde, fazendo uma
avaliação do preço, refere a importância dos coromandeis, e dos zuartes. A par da
preferência destes tecidos, este atesta a importância dos mesmos, ligada ao prestígio
62
social de seu uso1. No entanto em uma outra fonte, há outra ordem de importância
indicada. Um documento destinado à corte reforça esta posição, mencionando que eram
as fazendas da Índia que eram as mais procuradas e delas destacam-se: Calamanhas,
Coromandeis, Borralhos, Tafeciras, Linhas (a que dizem ser inglesas), Cobertas de
Damasco e Balagarte, Lenços Sotomomales, e outros tecidos mais baratos, mas eles de
países quentes2. Outras fazendas mencionadas eram os Zuartes de Milhor.
Mas as fazendas da Índia, não eram as únicas mencionadas conta-se também:
Fazendas do Norte da Europa; Bretanhas de Hamburgo, Cobertores de Papa, Baetas, e
outros géneros como; contas de loiça de várias cores; chamas missangas; coral,
missanga, cassungo, zimbro3.Os motivos para a importância atribuída a estes bens de
permuta, varia consoante os diferentes historiadores.
Uma questão colocada por Joseph Miller é que a procura dos tecidos da Ásia, e
da Europa, serviam para colmatar as fracas técnicas e indústria de curtumes africanas.
Por outro lado a posse desses tecidos, segundo o mesmo autor, era símbolo de status
social4. Segundo o mesmo, em comparação aos tecidos lusos e europeus, a vantagem
aferidas por estes tecidos estava, ou no seu requinte a ouro e prata dos tecidos de
Algodão, ou na diversidade das cores5. Por sua vez, John Thornton, para o século XVII,
associa essa aquisição a questão da vaidade6. A mesma vaidade, dentro desta linha de
pensamento, seria socialmente, mostra a sua posição social pela posse de produtos
exóticos.
Porém serão as únicas questões, que levariam ao sucesso do mesmo produto?
Uma das questões que se levanta para o sucesso do mesmo era serem tecidos resistentes
mas frescos, que permitia que, quando usados o calor sentido não fosse insuportável.
1 Roquinaldo Ferreira, Transforming Atlantic Slaving: Trade, Warfare, and Territorial Control in
Angola, 1650 – 1800, p. 116.
2 A.H.U, Angola, Conselho Ultramarino, Caixa 95, doc. nº 9, 10 – 03 – 1800.
3 A.H.U, Angola, Conselho Ultramarino, Caixa 95, doc. nº 9, 10 – 03 – 1800.
4 Joseph Calderon Miller, op cit, p. 80.
5 Idem, op cit, p. 74.
6 John Thorton, op cit, p.98.
63
Além do calor estas fazendas tinham outras particularidades: resistência,
durabilidade, as cores, e a permanência das cores nas lavagens1. As quais, segundo o
mesmo oficio, variam segundo a estação, assim como o gosto dos negros. Logo, a par
de um certo símbolo de status, havia uma grande utilidade na sua utilização.
Outra questão, dentro da dimensão estatística, é a comparação do peso da
exportação destes bens, com os restantes bens de permuta do reino e das Américas. O
peso da reexportação deste género, só por si corresponde a 58% quedando-se em
segundo com 27% as bebidas do Brasil, os produtos do reino, das quais se destaca o
Vinho, corresponderia a 10% do que era exportado para esta permuta2. Desta forma, só
este bem tinha a maioria nos produtos de reexportação.
No plano da substituição, destes bens pelos das Fábricas do Reino, tenhamos em
atenção as diferenças percentuais entre eles. Do total a exportação dos produtos da Ásia,
corresponderia cerca de 70%, quedando-se os produtos das Fábricas, lanifícios,
algodoaria, linifícios, sedas, entre outros, cerca de 30%3. No plano de lógica de
exportação, isto indica a maior estima por parte destes produtos, do que o das praças
portuguesas o que torna difícil a sua implementação. Ora inquestionavelmente o peso da
exportação e reexportação, pende para as fazendas da India mas será esse o único factor
que indica a sua importância.
A par dessa dimensão, há que ter em conta o que os diferentes governadores
dizem sobre o peso desse bem na permutação propriamente dita. Ao ler a
documentação, verifiquei um pedido constante, principalmente de Benguela, das
fazendas da Índia. No caso desta capitania, cerca de 90% da reexportação dos produtos
do reino, eram as fazendas da Índia4. Sobre os bens de permuta, as fazendas da Índia, a
primeira referência, é de 1781, onde se diz em ofício que saíram cerca de 1000
1 Herbert S. Klein, op cit, p. 292.
2 Gráfico 15, p. 201.
3 Gráfico 17, p. 203, e Gráfico 16, p. 202.
4 Gráfico 2, p. 189
64
escravos, por falta de fazendas1. Os restantes documentos advertem que a falta das ditas
fazendas causa malefício no comércio e quebra no tráfego negreiro2. Sobre a primeira
referência é trazida de Lisboa, uma grande carregação de fazendas para Honorato Abreu
e companhia3.
Dentro desta conjuntura, é pedido que venham as fazendas da Índia, que estejam
na Bahia de modo a poder-se comerciar os escravos4. Os africanos nativos vêm aos
presídios com as suas carregações, trocando as suas mercadorias, escravos inclusive,
por fazendas e 19 outros géneros que não são identificados. Aos africanos trocam as
suas mercadorias, por quem tem as fazendas desejadas mais a mão e no momento. Estas
por si segundo o dito governador, correspondem a cerca de 25% a 50% das moedas de
troca das fazendas.
Ao analisar detalhadamente as tendências destes bens, encontro a seguinte
tendência de exportação por parte de Portugal destes tecidos: Zuartes 27%; Cádeas
22%; Coromandeis 10%; Panos de Cafre 6%; Lenços 6%5. Ora o que era reexportado
por Portugal, não corresponde ao de maior procura por parte do Sertão, com excepção
dos coromandeis, o que por sua vez explique a questão do chamado contrabando. Não
tendo números para fazer uma comparação, creio que os ingleses/franceses, teriam em
condições de fornecer ao sertão as fazendas na ordem de importância exposta.
Mas o acesso, o peso atribuído por si, não é suficiente para determinar se este
bem tinha uma importância real. Outro ponto, além no do acesso, é o papel das
mercadorias em questão na actividade comercial propriamente dita. A quando uma
embarcação, a Galera Santo António Sertório, que, na sua ida a Cabinda, não consegue
1 A.H.U, Angola, Conselho Ultramarino, Caixa 64, doc. nº 37, 22 – 07 – 1781.
2 A.H.U, Conselho Ultramarino, Angola, Caixa 76, doc. nº 43, 21 -06 – 1791 A.H.U, Conselho
Ultramarino, Angola, Caixa 81, doc. nº 5, 20 – 01 – 1795 & A.H.U, Angola, Conselho Ultramarino,
Caixa 82,doc nº 28, 21 – 09 – 1795 & Vide: A.H.U, Conselho Ultramarino, Angola, Caixa 84 doc. nº 10,
27 – 07.
– 1796 & A.H.U, Conselho Ultramarino, Angola, Caixa 85, nº 17, 29 – 01 – 1797. 3 A.H.U, Angola, Conselho Ultramarino, Caixa 76, doc. nº 56, 28 – 06 – 1791.
4 A.H.U, Angola, Conselho Ultramarino, Caixa 82,doc nº 28, 21 – 09 – 1795.
5 Gráfico 14, p. 200. E Gráfico 13, p. 199.
65
negociar escravos por não terem as fazendas próprias1. Esta embarcação partiu com
Brins para África para negociar, o que não são as fazendas corretas para a permuta por
escravos2. Por tal é pedido que, do porto no Brasil, possam ir buscar as fazendas
próprias para realizar a negociação.
No fim deste período, esta questão – no que respeita a Benguela – parece estar
regularizada, uma vez que é enviada uma consignação a Manuel Joaquim de Azevedo
para a realização do tráfego negreiro3. Ora a bordo, apesar de levar bebidas, e outros
elementos, foi a falta das fazendas da Índia, que fez com que se gorasse esse mesmo
negócio. Ora na prática do comércio, esta questão atesta que a falta das moedas corretas,
para a permuta, poderiam gorar a prática do comércio. Este caso, dado o que gorou as
trocas comerciais foi a falta das fazendas devidas, indica que era crucial ter este bem
para a realização das trocas no sertão.
Em súmula, quer estatisticamente, quer em termos de procura, quer pelo
reconhecimento dessa mesma importância, dá a ideia do peso hegemónico deste bem no
sertão. Os quais, numa leitura de conjunto, atestam a fragilidade do triangulo comercial
português, se não são mesmo um resultado da sua crise pela incapacidade de terem um
maior acesso ou maior expressão territorial que lhes permita maior acesso as fazendas
da Índia. Estas assumem a primazia, ligadas a uma rede comercial mais densa, que a
torna depende não dos circuitos comerciais europeus, mas antes dos circuitos
comerciais indianos.
Numa visão geral estas, não tem, assim como no armamento, um efeito
desestruturante como é apontado, mas integram-se na própria simbologia social de
estatuto social nas sociedades africanas aos quais são permutadas. Nesse mesmo
aspecto, há uma predominância impressionante das fazendas da India sobre todos os
outros produtos. Estas, mais do que causarem desestruturação social - no máximo –
1 A.H.U, Angola, Conselho Ultramarino, Caixa 96, doc. nº 43, 20 – 07 – 1800.
2 A.H.U, Angola, Conselho Ultramarino, Caixa 91, doc. 17, 12 – 03 – 1799.
3 A.H.U, Angola, Conselho Ultramarino, Caixa 121-A, doc. nº 11, 16 – 11 – 1810.
66
poderiam causar um reforço das distinções sociais já existente. Por outro lado – no caso
das armas, apesar do papel reduzido na exportação – eram um meio de ajudar a reforçar
o poder pelas linhagens já existentes, que é o mesmo que dizer pelos estados africanos.
Estas em si, as quais eram exportadas apesar da relutância dos governadores, serviam na
estratégia portuguesa como uma forma de tentar evitar o acesso aos estados africanos
das que eram fornecidas por Ingleses e Franceses.
Já as bebidas, apesar da importância das jeribitas, também apresentam um peso
irrisório no consumo do sertão – consumo cuja quebra está relacionada com a
proliferação dos alambiques e dos meios de produção local. Apesar da oposição dos
governadores, a venda de armas no sertão, que chocava com os objectivos portugueses
para o sertão, estes estavam dentro das intenções mercantis portuguesas.
Assim, quer as armas, quer as bebidas, no plano da exportação, tinham valores
residuais a quando comparadas com as fazendas da Índia. Estas, no aspecto
mencionado, eram sinal de status social, quer aos sobas, mucotas, ou qualquer outro
dignatário africano, assim como aos membros mais ricos das sociedades em questão.
Correspondem a uma rede, na qual não só estão presentes os portugueses, mas depende
de uma rede internacional mais vasta, sendo o ponto africano, um dos pilares dessa
mesma rede, pelo fornecimento de mão-de-obra; as quais, apesar dos esforço e intenção
do reforço do consumo dos produtos reinóis, quer nas possessões, quer nos sertões – o
qual não é acompanhado, pelos hábitos de consumo das populações africanas.
No plano de interacção com o projecto apresentado, a procura do sertão
dificultava a aplicação da substituição do peso das fazendas coloniais e estrangeiras,
pelos produtos do reino. Os quais chocam, com a utilidade e estima que estes últimos,
principalmente as fazendas, encontram no sertão africano.
67
2.3 O Tráfego Negreiro
2.3.1 O Tráfego Atlântico a dimensão atlântica do Projecto
Tendo perspectivado a questão das fazendas, cuja lógica da utilização no
projecto de incrementar a procura de bens portugueses indicia a sua substituição como
moeda de troca. Mas para um melhor entendimento destes objectivos, temos de
perspectivar o tráfego negreiro no período em estudo. Outra dimensão do projecto era a,
a par da maior interacção com o reino, manutenção da relação com o Brasil. “ E como a
exportação de Benguela consiste em Negros, Cera e Marfim, deve ter um particular
interesse em promover esses artigos”1. Desta forma, mais do que mudar, só, as relações
económicas seculares, visava também em dinamizar as mesmas.
Os números mais antigos – elaborados por estimativa – por Adrien Balbi,
indicam em média a ida de 22 mil a 25 mil escravos/ano2. Esta dimensão, como indica
Carreira, resultou na falta de series concretas sobre o tráfego negreiro gerando
dificuldades em estabelecer-se a dimensão demográfica do tráfego negreiro. O que abre
a reflexão, sobre o método usado de quantificação da mesma actividade. No entanto, o
mesmo autor faz a estimativa que, somente pelo comércio legítimo, teriam saído cerca
de 1.100.000 escravos no século XVIII por um período de 50 anos só de Luanda e
Benguela3.
Porém desde a obra de Curtis, que se tem tentando, com enormes progressos,
definir o número exacto da rapina humana. O trabalho de senso dele, e a crítica feita a
ele, foi uma forma de obter resultados mais eficazes levando a que – ou para confirmar,
1 A.H.U, Conselho Ultramarino, Angola, Caixa 89, doc. nº 7, 7 – 10 – 1798, missiva 1.
2 Adrien Balbi, Essai Statistique sur Le Royaume de Portugal et D’Algarve, Tomo I, Paris, Chez Rey
et Gravier Libraires, 1822, p. 426.
3 António Carreira, Angola: da Escravatura ao Trabalho Livre, Lisboa, Arcádia, 1977, p. 24.
68
ou desmistificar – tenha de se recorrer aos arquivos buscando dados relativos ao tema1.
No entanto os dados recolhidos por Curtis, no que diz respeito ao Ultramar Português,
são amplamente contestados pela historiografia que trata o tema.
José C. Curto considera que os números apresentados por Curtis são mais
americanos do que propriamente africanos, sendo referentes mais à partida do que
necessariamente à chegada. E mesmo no que diz respeito a América os dados auferidos
pelo dito historiador, referem-se ao tráfego em direcção a América do Norte e não para
a globalidade da América. Esta posição é subscrita por Isabel Castro Henriques que
indica que, apesar de algum pioneirismo, os números apresentados por ele nada valem
para Angola2. Apesar desta discrepância dos dados, o seu trabalho está na génese de
duas escolas metodológicas que trabalham sobre o tráfego negreiro.
As duas escolas, a minimalistas e maximalista, as quais tendem; ou de reduzir,
ou de aumentar, o volume de escravos rapinados da sua terra. Ambas estas escolas
apesentam argumentos válidos, assim como métodos que valem a pena considerar. O
método destas escolas tenta de certa forma, complementar as ausências estatísticas por
parte das fontes.
Sobre esta questão – Castro Henriques - há várias razões que impedem que haja
uma avaliação correta do tráfego negreiro, uma vez que quer a retro história – que
implica pegar nos dados dos últimos anos e partir os cálculos desse mesmo para
estabelecer o padrão - e a tentativa de completar os silêncios documentais apresentam
falhas3.
Em primeiro para estes dados baterem certo, era necessário que as quebras e
subidas fosse regulares para dar coerência aos dados, o que não sucede. Em segundo
1 Destaco o trabalho de Lovejoy, o qual critica amplamente uma vez que as series com que este baseia os
seus dados se cancelam uma a outra. Mas as de Lovejoy também apresentam serias dúvidas, uma vez que
alguns dos dados, que ele apresenta, no que diz respeito a distribuição do tráfego negreiro. Vd. David,
“Slave Exports from West and West - Central Africa, 1700-1810: New Estimates of Volume and
Distribution”, The Journal of African History, Vol. 30, No. 1 (1989), p. 2.
2 João Medina e Isabel Castro Henriques, op cit, p. 167.
3 João Medina e Isabel Castro Henriques, op cit, p. 166.
69
haver dados regulares indica que haverá filões demográficos, capazes de suportar esse
mesmo tráfego de forma regular. Esta questão entra dentro das críticas que os
historiadores africanos, do ponto de vista demográfico, fazem sobre o impacto da
escravatura nos sertões africanos. Um dos caminhos trilhados nessa perspectiva, é sobre
o impacto da actividade em questão no esvaziamento do sertão. Segundo Joseph Ki-
Zerbo o número de escravos provenientes de Angola para o Brasil, aumenta com D.
Francisco Inocêncio Coutinho chegando a uma média de 30.0001.
No entanto após este período, há uma quebra nesses números em comparação
com os do referido historiador. Ora o período em questão, é de difícil acesso, tema que
irei explorar mais adiante, ao sertão. Já Joseph Miller por sua vez dá uma indicação,
baseada na longa duração, onde indica, num gráfico elaborado por ele, entre 1780 –
1790 como um período onde há uma média de 40.000 homens anos, vinda em
crescimento havendo uma queda abrupta nessa década numa média anual. Já nos
quadros de Klein, em comparação com as de Curtis indica que, entre 1780 – 1800, para
Angola cerca de 208045 mil escravos forma enviados por Luanda.
No que toca a Benguela, este indica no mesmo espaço de tempo, teriam ido
cerca de 139014 mil escravos. Ora Isabel Castro Henriques pega nos números
mostrados por José C. Curto, em comparação, para estes 30 anos em estudo, dá um
número de 201068, só para Benguela. Por sua vez Joseph Miller, para 1791-1800,
aponta um total de 168000 escravos, e cerca de 188000 para a década seguinte. Apesar
de ser difícil estabelecer os números globais do tráfego, é possível criar-se uma
estimativa dos números oficiais.
As fontes por mim auferidas dão uma dimensão estatística completamente
diferente, acerca do número de almas rapinadas para as Américas. Para tal a toda uma
série de fontes, de onde nos é possível auferir esses mesmos dados. Um dos elementos
que passa a ser obrigatório é, a existência de certidões onde estão presentes tudo o que o
1 Joseph Ki-Zerbo, op cit, p. 427.
70
suplicante afiançou, assim como os direitos reais a pagarem, assim como os portos da
América para que partem1. Para as diferenças do saldo comercial, entre Angola e as
diferentes praças do Brasil (devido ao tráfego negreiro) encontramos o seguinte cenário:
1798 (319103827) 6% do total das transacções, 1799 (246777290) 9%, 1802 (164986545)
15%, 1803 (3169178) 15%, 1804 (2934070) 15%, 1805 (12744) 16%, 1809
(202654027) 9%, 1810 (7065112) 14%2. Na prática o aumento da percentagem
acompanha, não a subida da diferença mas antes o aumento e consequente regularização
entre as praças em questão. Os valores aqui presente, referem-se ao tráfego negreiro o
qual passaremos a considerar.
A par desse, temos os dados da Alfândega de Luanda, que referem o número de
escravos exportados, inicialmente valores gerais, a partir da terceira já contendo a
descrição por Capitania. No caso de Benguela, temos os dados dos mapas da cidade,
que dão uma dimensão geral, assim como especifica desses mesmos dados. Por outro,
no caso de Angola, temos um documento em 1798 com registo completo do número de
escravos exportados entre 1782 – 1797, o que permite – numa leitura geral –
complementar os registos já existentes. Estes documentos fornecem dados concretos
para se poder calcular esses valores.
Aqui, optou-se por não tentar, nos poucos anos em que não temos expressão
quantitativa dos escravos, não estabelecer projecções nem estabelecer estimativas, mas
antes, mas trabalhar só com os dados auferidos pelas fontes. Numa leitura de conjunto o
auge da do tráfego negreiro em Benguela tem como auge 1780 – 1790, descendo a
partir de 1790 mas mantendo-se elevado até 1830.
Os dados que recolhi, revelam que – não se tratando de séries completas – faltam
dados para os anos como de: 1780 – 1782, 1784, 1800 – 1801, 1807 – 18083, o que não
inviabiliza estabelecer-se um universo estatístico sobre o tráfego negreiro. Segundo
1 A.H.U, Angola, Conselho Ultramarino, Caixa 116, doc. nº 62, 31 – 10 – 1806, oficio nº 4. 2 Tabela 7, p. 161. 3 Mera estimativa, devido a ausência de dados estatísticos, referentes aos anos em causa.
71
estes números de Angola e Benguela teriam partido, neste período, 39648 mil escravos;
cerca de 242214 de Angola, e cerca de 154254 de Benguela, registando-se uma média
anual de 14158,611.
Se de 1783 a 1785 há um crescimento na ordem dos 1% anos, para 1785 – 1792,
há uma estabilização na ordem dos 4%; que há nesse ano um aumento de 1% para os
5%, o que se mantem até 1795; a partir dessa data regista-se um decréscimo na ordem
do 1% voltando aos 4% ano até 1802, onde a partir desse ano há um decréscimo na
ordem do 1% voltando ao 4% que se registam até ao fim do período em estudo2. Logo,
para os anos que estou a estudar, há uma estabilização relativa da actividade não se
registando grandes descidas nem subidas.
No geral pode-se falar de uma estabilização do tráfego negreiro, com subidas e
descidas relativamente estável rondado um 1%. Numa primeira leitura a uma
estabilidade da exportação do tráfego negreiro, que não interessava a coroa. Os dados
auferidos por mim, para o total deste período dão uma média ano que rondavam os
28317,21, só no caso de Angola.
No caso de Benguela muito menores, de que os dados auferidos por Isabel
Castro Henriques, referentes à dita capitania. Uma dimensão bem maior do que a dada
por Klein, uma vez que nos números por si apresentados, muitos dos anos que eu
encontrei não estavam presentes. Já em relação aos de Miller, há uma diferença ténue.
Este não demonstra dados relativos à década de 80, no artigo citado, para os anos 80, na
sua obra Ways’s of death; ele apresenta para esse período, uma média de 40.000
homens/ano. Em comparação aos números apresentados por José Curto, estão patentes
os seguintes resultados, o qual aponta, em comparação com 1760, um crescimento
brutal mas no qual não apresenta valores concretos3.
1 Tabela 14, p. 171.
2 Tabela 15, p. 172, Gráfico 18, p. 204.
3 José C. Curto, “A Quantitative Reassessment Of The Legal Portuguese Slave Trade From Luanda 1710
– 1830”, in African Economic History, Nº 20 (1992), p. 7.
72
A nível metodológico, é impraticável fazer-se estimativas uma vez que, no que
diz respeito ao tráfego, não havia uma regularidade anual. No plano geral, os números
apresentados falam de uma realidade estatística completamente diferente dos dados aqui
presentes, onde se destaca uma estagnação do tráfego negreiro. O que por sua vez nos
obriga a ter de redimensionar a dimensão do tráfego negreiro, e ter sempre em atenção a
dimensão real.
2.3.1 O Tráfego Negreiro e a escala regional, e a questão da Produção
no Brasil
Mas se no geral, encontramos as tendências já estudadas, vejamos na prática
como estas se conjugam a uma escala local. Por um lado, dada a abrangência das
interconecções com a produção para o mercado internacional, a questão da escala local
deve ser perspectivada consoante a estratégia portuguesa para o Ultramar. Esta questão
remete para as concepções de trabalho, e de produtividade do período em questão, que –
como visto no primeiro capitulo – era o mercantilismo.
Um do primeiros a lançar essa questão, dentro do contexto africano, foi Adelino
Torres que, o coloca para o século XIX no espaço africano, ligado a um processo
colonial mais tardio1. Esta perspectiva está relacionada, na toada que este autor lhe dá, a
introdução de uma lógica europeia de introdução de produção numa lógica europeia nos
terrenos de Angola. A questão passa pelos africanos, como força motriz nas Américas.
É defendido por Isabel Castro Henriques que os africanos e África tiveram uma
mão activa na formação do atlântico: quer pela sua utilização como mão-de-obra, quer
pelas plantas aclimatadas nas Américas que corresponde a uma africanização do
espaço2. Uma questão pertinente levantada por John Thornton foi o do papel dos
1 Adelino Torres, O Império Português Entre o Real e o Imaginário, Lisboa, Escher, [S.D], pp. 33 – 50.
2 Isabel Castro Henriques, Os pilares da diferença, p. 103 – 128.
73
africanos, no mundo moderno considerando, em resposta as teorias que defendem que o
subdesenvolvimento africano foi gerado pela escravatura, que o tráfego negreiro era
uma actividade marginal na economia Africana1. No entanto refere a introdução de uma
lógica em Africa, e não do Africano numa dimensão atlântica.
Mas a questão da instrumentalização dos escravos, para as diferentes zonas –
consoante os objectivos de exploração económicas – não está só presente na
importação. No plano da mobilidade interna dos escravos Stuart Schwartz, dá a ideia da
deslocação dos focos da escravatura, conforme os diferentes ciclos da história
económica do Brasil, das plantações para as minas, e destas para as plantações2.
Segundo Corcino Medeiros uma das razões que levou a Bahia ter como mercado
principal abastecedor a região da mina, no princípio do século XVIII, foi a perícia dos
mesmos na mineração3. No entanto se esta dá uma ideia da utilização do escravo a nível
interno, não o dá se há consonância entre essa reutilização interna e a procura de
escravos de outras partes.
.A historiografia Brasileira tem tido um papel importante nesta questão.
Segundo Robert Simenson, este processo está relacionado com as dificuldade da própria
metrópole, conseguir abastecer as colonias de mão-de-obra. Já Celso Furtado indica
que, dentro do sistema económico vigente, seria pouco rentável a existência de mão-de-
obra Branca a operar nas produções. Já Caio Prado Júnior aborda dentro da necessidade
de emprego na monocultura o qual, com Fernando Novais, associa a questão a
acumulação primitiva de capitais4. A historiografia Brasileira, ao integrar a questão da
escravatura, dentro de um sistema económico mais lato, já dá um laivo da sua
correlação com o mercantilismo.
1 John Thorton, A África e os Africanos na formação do Mundo Moderno, São Paulo, Editora Campus,
2004, p. 88.
2 Stuart Schwartz,” Escravatura e Comercio de Escravos no Brasil do Século XVIII”, p. 110 – 111.
3 Corcino Medeiros, “A Bahia no comércio Português na Costa da Mina”, in Brasil Colonização e
Escravidão, org. Maria Beatriz Nizza da Silva, Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999, p. 224.
4 Gustavo Acioli e Maximiliano M. Menz, op cit, p. 43.
74
Mas, apesar desse importante passo, não o enquadra dentro dos padrões do
pensamento dessa mesma prática económica. Há alguma historiografia, que começa a
fazer essa mesma correlação, não falando da actividade prática mas ligando aos
aspectos teórico/práticos da mesma corrente. Segundo James A. Ralway, há uma forte
componente do mercantilismo no tráfego negreiro ligada à estruturação económica1.
Nesta linha de pensamento o tráfego negreiro potencializa estes factores, pois
com as produções agrícolas permitiam a situação de supremacia levando as restantes
actividades por arrasto. Outra óptica é a de Robin Blackburn o qual aborda a questão, na
perspectiva das Antilhas francesas do século XVII, enquadrando os escravos no seu
sistema de produção. No qual, na sua organização, por um breve período de tempo, teve
sujeito a um monopólio da Companhia das Índias Ocidentais francesas2. Se por um lado
este modelo estabelece a lógica com que era produzida, não o faz todavia a integração e
sobre que pressupostos se regia o escravo africano integrado.
Vejamos então esta questão dentro do discurso trabalho/produção do
mercantilismo. Segundo Phillipe Steiner esta directriz estaria ligada ao discurso da
demografia, onde o ultimo faria com houvesse mais pessoas que pudessem ser
absorvidas pelas manufacturas, o que levaria ao consequente aumento da produção3. Ao
analisar a questão dos artesãos, é indicado por Roger Dehem que quanto maior numero
de trabalhadores, mais aumenta o trabalho, com consequente aumento das peças
produzidas4.
1 Esta noção está relacionada com a própria dinâmica deste conjunto de normas, ligadas aos
seguintes princípios: intervenção estatal na economia; assegurar a vantagem comercial sobre os
rivais; desenvolvimento das embarcações e poder Náutico; balança de trocas favoráveis; adquirir
ouro; supremacia da metrópole sobre as colónias; recolha de matérias-primas das colonias e
expedição de produtos manufacturados; manutenção na própria metrópole de artesãos qualificados,
enviando para as colónias os in qualificados. James A. Ralway, Steven B. Berhentd, The
Transatlantic Slave Trade a History Reviewed, University of Nebraska Press, Lincoln/London, 2005,
p. 212 – 243.
2 Robin Blackburn, The Making of New World Slavery From the Baroque to the Modern,
Londres/Nova Iorque, Verso, 1997, p. 281 – 287.
3 Philippe Steiner, “ Il Marchand et Princes” in Nouvelle Histoire de la pensée Economique dir. Alain
Béradau et Gilbert Faccarello, Paris, Editions La Decovert, 1992, p. 127.
4 Roger Dehem, Histoire de La pensée économique, Québec, Presse Universitaire Laval, 1984, p. 56.
75
A escravatura dentro desta lógica levaria a que houvesse um maior número de
mãos a cultivar a terra com o objectivo de aumentar a produção e consequente
enriquecimento do estado e dos proprietários1. Já no plano das teorias económicas, o
discurso estaria eventualmente ligado a uma prática de aumento de mão-de-obra, a
custo de produção reduzido. Mas a questão que se coloca, é de que o que é que os
números existentes nos dizem sobre a exportação de mão-de-obra negreira para as
Américas.
Estas indicam dentro da tendência geral exportação, as tendências particulares e
sua articulação com as estratégias da coroa na distribuição de mão-de-obra para o
ultramar. As quais por si, dentro desse campo indicam para onde iam os esforços
laborais. Nesta dimensão Klein, para o período entre 1723 – 1771, aufere-nos os
seguintes valores: Rio de Janeiro (51%); Bahia (27,3%); Pernambuco (18%); Maranhão
(1,2%); Pará (1%) e Sacramento e Santos sem expressão estatística2.
No entanto estes dados são referentes à primeira metade do século XVIII, não
exprimindo a realidade para o período em estudo. Por outro lado, não exprimem a
realidade de Benguela limitando-se só a Angola. Nos dados por mim auferidos, no caso
de Angola o cenário apresenta os seguintes números: Rio de Janeiro 49% (36026);
Pernambuco 26% (19109); Bahia13% (9331); Maranhão 6% (4598); Pará 6% (4082); e
São Tomé 0% (8)3. Já em relação a Benguela, o cenário apresentado é o seguinte: Rio
de Janeiro 76% (65760); Bahia 10% (8401); Angola 6% (5367); Pernambuco 5%
(4346); Pará 1% (1051): Maranhão 1% (695); Santos 1% (495).4
Se em primeiro lugar está o rio para ambas as capitanias, na primeira com um a
diferença de 23% e no caso de Benguela com uma diferença de 66%. Nos lugares
posteriores há uma diferença ligeira do peso das diferentes capitanias. No caso de
1 Stuart Schwartz, “O Brasil no Sistema Colonial”, in História da Expansão Portuguesa dir.
Francisco Bethencourt e Kirti Chaudhuri, vol. 3, Lisboa, Circulo de Leitores, 1998 p. 142.
2 Herbert S. Klein, “Slave Trade from Angola in the XVIII Century”, in The Journal of Economic
History, Vol 32, Nº 4, (Dec., 1972) p. 901.
3 Gráfico 20, p. 206. 4 Tabelas 16 e 17, pp. 173 – 174, e Gráfico 19, p. 205.
76
Angola, esta posição é ocupada por Pernambuco, enquanto em Benguela é pela Bahia.
Para o terceiro lugar é que as contas já começam a divergir, sendo em Angola a Bahia e
em Benguela a praça de Angola. Na quarta posição, para Angola é ocupado pela
capitania do Maranhão enquanto em Benguela é por Pernambuco. Já quinta em Angola
destaca-se a capitania do Pará, posição que ocupa também em Benguela. Na sexta
posição em Angola, encontramos São Tomé, onde está presente uma percentagem
irrisória, posição que em Benguela é ocupada pelo Maranhão.
Visto a tendência da exportação de escravos quer de Angola, quer de Benguela,
vejamos agora como correspondem as tendências das capitanias para onde eram
exportadas. De Angola as tendências de exportação ano, por cada capitania variam. Do
Rio de Janeiro destaca-se o ultimo ano do período em estudo ao qual corresponde 25%
do total do tráfego para a mesma. De resto os resultados são equilibrados e regulares,
estando na ordem dos 13% - 20%1.
No caso da Bahia, a primazia foi no período entre 1802 – 1805 onde as
exportações estão na ordem dos 25% - 20%, registando-se uma quebra entre 1809 –
1810 em que se regista entre o 1% e os 10%2. No caso de Pernambuco, a maior
irregularidade nos valores com uma tendência ao decréscimo (1802–19%, 1803 – 21%,
1804 – 17%, 1805 – 23%, 1809 – 13%, 1810 – 7%)3. No caso do Maranhão o caso é
semelhante: 1803 – 33%, 1804 – 34%, 1805 – 23%, 1810 –10%)4. No caso do Pará, a
situação apresenta os mesmos contornos, forte subida entre 1802 – 1805 (1803 – 21%,
1804 – 37%, 1805 – 35%), havendo uma quebra a posterior (1810 – 8%)5. Para São
Tomé, nas suas únicas exportações, tem o seu zénite entre 1804 (37%) e 1805 (63%)6.
As exportações de Benguela para os diferentes portos do Brasil, apresentam
tendências semelhantes. O Rio de Janeiro todavia apresenta maiores flutuações, do que
1 Tabela 19, p. 175.
2 Tabela 19, p. 175.
3 Tabela 19, p. 175.
4 Tabela 19, p. 175.
5 Tabela 19, p. 175.
6 Tabela 19, p. 175.
77
no caso de Angola. No caso desta capitania o peso no total de sua distribuição de
escravos apresenta as seguintes tendências: de 1791 a 1793 uma subida na ordem dos
4% para os 12%, registando-se de 1796 a 1798 uma quebra inicialmente dos 10% mas
para 1798 na ordem dos 3% ficando pelos 7%. Para o período final, no que toca as
exportações, a primazia continua a ser do Rio de Janeiro que, apesar das flutações,
continua a apresntar valores numa média de 600000 a 10000000 de cruzados, seguindo-
se toda uma série de capitanias: Bahia, Luanda, Pará, Maranhão, Novo Redondo cujo
valor nunca passa os 200000 cruzados1.
Por outro lado, já no século XIX (em 1801) regista-se um aumento de 2% para
os 9%, e em 1802 de 1% chegando aos 10%; em 1806 há uma quebra de 4% chegando
aos 6% valor que se mantem em 1808 que sobe 1809 para os 8% estabilizando nesse
valor em 18102. Já a Bahia apresenta o seguinte cenário: De 1791 a 1792 apresenta um
crescimento na ordem dos 8% chegando aos 24% de sua exportação, quedando uns 4%
no ano a seguir; em 1798 há uma quebra na ordem dos 9% chegando aos 11%. De 1801
a 1802 há uma descida de 1%, para haver uma subida de 2%; em 1808 regista-se uma
quebra na ordem de 6%3. Para Pernambuco os registos só os há para 1791 – 1798,
apresentando a seguinte tendência: De 1792 a 1793 há uma subida na ordem dos 23%
para os 44%, sendo acompanhada de uma quebra na ordem dos 17% para os 27% para
1796, seguida por uma da ordem dos 22% para os 9%4. No caso do Maranhão é mais
fácil, porque 100% das suas exportações são de 18025. E do Pará temos apenas
exportações do final do período em estudo, 1806 a qual correspondem 51% e em 1808
de 48%6. E para finalizar as capitanias do Brasil a de Santos, cujo único registo é o de
1 Gráfico 7, p. 193 2 Tabela 20, p. 177.
3 Tabela 20, p. 178.
4 Tabela 20, p. 179.
5 Tabela 20, p. 179.
6 Tabela 20, p. 181.
78
1791 ao qual corresponde 100%1. Após os do Brasil, há os da Africa, Angola, e Novo
Redondo.
Numa primeira leitura, a par do Rio de Janeiro, onde a exportação em que ambas
as capitanias eram regular, o tráfego não apresentava grandes oscilações. Já no caso da
Bahia e Pernambuco, a situação muda de capitania para capitania. Em Angola,
permanece – a primeira – em segundo mas conhecendo uma quebra brutal, enquanto em
Benguela conhece oscilações quebra na segunda metade da primeira década de XIX. Já
Pernambuco, conhece uma enorme regularidade em Angola, mas em Benguela já não se
encontra registos de exportação para o XIX.
Nas capitanias do nordeste, apesar dos baixos valores, apresenta grande
regularidade em Angola, em Benguela apresentam pontualidade. Há vários aspectos que
valem a pena serem destacados destes números aqui expostos, como as causas de tão
fraco tráfego para a Bahia, a exportação para as capitanias do Noroeste, e as tendências
na própria África.
2.3.2 A Exportação para o Brasil: Nordeste e Bahia
No entanto o caso mais problemático era o das capitanias do Nordeste que,
começam a ter um maior interesse, com Pombal o qual, a partir das companhias, quer a
partir da cultura do Algodão, promoveu o desenvolvimento da produção naquelas
regiões. No plano económico, a partir de 1770, houve o grande boom daquela região,
devido a produção de cacau, algodão, arroz, tabaco, e café2.
No entanto devido ao parco desenvolvimento do Algodão, assim como a fraca
presença no litoral dos escravos, que iam para as minas do Mato Grosso, revelava uma
1 Tabela 20, p. 184.
2 Ernani Silva Bruno, História do Brasil Geral e Regional, Vol. I, São Paulo, Editora Cultrix, 1966, p. 77.
79
fraca fixação dos mesmos1. No caso dos documentos referentes para o princípio do
século XVIII, não encontrei registo que partisse nenhum escravo para as mesma,
começando a haver referência ao mesmo a partir da segunda metade do século XVIII.
Destes, dos quais se destaca Luanda como principal fornecedor da mesma, apesar de só
corresponder a 1% do total do tráfego da mesma praça, mas crescendo (quer para o Pará
e quer para o Maranhão) na volta dos 5% -6%, do total de escravos exportados para as
mesmas praças. Para o período em estudo, outro mercado começa a entrar em cena que
é o de Benguela onde (apesar de incipiente e irregular como visto), começa a ceder
escravos a essa região.
A questão do Pará merece destaque pelo facto de ser pedido pela coroa que os
escravos pudessem ir para estas paragens sem pagar direitos reais. Em 1796 há um
ofício do governador que, na impossibilidade de haver metropolitanos a laborarem
nessas paragens, se deveria proceder ao aumento do número de escravos para levar a
cabo esse mesmo efeito2.
Ao consultar, sobre esta questão, os mercadores opuseram-se a esta medida
alegando que do Pará nem havia nem fazendas nem géneros do giro nesta praça, que
serviriam para permutar por escravos. E pela proximidade da Cayena Francesa, havia
riscos de que esses mesmos se extraviem3. O Pará, apesar de não ser das regiões de
maior produtividade, até 1808 onde alcança o terceiro lugar nas capitanias Brasileiras,
voltando (no entanto) a quedar-se para o Quinto no ano posterior4.
Neste contexto, dentro da lógica que correlaciona o maior número de mão-de-
obra, com o aumento da produtividade a ideia seria com o aumento de tráfego negreiro
– e o consequente aumento de homens a trabalhar as mesmas terras – aumentaria
automaticamente a produção no dito espaço. Esta isenção visava aumentar a exportação,
1 Stuart Schwartz, “Escravatura e o Comércio de Escravos no Brasil do século XVIII”, in História da
Expansão Portuguesa, Dir. Francisco Bethencourt e Kirti Chaudhuri, Vol. 3, Lisboa, Circulo de Leitores,
2001, p. 114.
2 A.H.U, Brasil, Conselho Ultramarino, Avulsos, Pará, Caixa nº 92, doc. nº 7623, 25 – 11 – 1796.
3 A.H.U, Angola, Conselho Ultramarino, Caixa 90, doc. nº 12, 03 – 01 – 1799. 4 José Jobson de Arruda, op cit, p. 134.
80
tornando mais aliciante a o tráfego negreiro para as mesmas paragens não sendo tão
custoso como para o resto do Brasil.
Outro caso interessante é a Bahia, de onde a exportação fica aquém do que se
esperaria. Segundo Cristina Ximenes cerca de 60% do tráfego para a Bahia era
proveniente – entre 1750 e 1800 – segundo os dados do Transatlantic Slave Trade Data
Base, de Angola1. Já Valentim Alexandre defende que a redução do tráfego negreiro
para Bahia (vinda de Angola) é consequência da intervenção Britânica, devido a
abolição da escravatura. No entanto, segundo essa mesma teoria, essa mesma quebra
registar-se-ia a partir de 18172.
Ora se verificarmos os dados do tráfego para a Bahia, quer de Angola, quer de
Benguela, estes são quase inexistentes, o que me leva a considerar, se será que esta
tendência não seria anterior a essa data. Esta questão, dado o tráfego de açúcar, a qual a
Bahia era uma das regiões exportadoras, parece ser paradigmática, na medida em que o
principal produtor do ouro Branco, não ter no principal fornecedor de mão-de-obra
negreira, a sua principal procura.
Aqui, uma das interrogações que se colocam era, se os produtos que provinham
da Bahia teriam validade como bem de permuta, no espaço de Angola. Segundo
Corcino Medeiros, o tabaco foi a grande válvula que contribui para o trafego negreiro,
entre a Bahia e a região da mina, assistindo-se a uma regularidade no tráfego de homens
rapinados de sua terra3.
Apesar das vicissitudes, nas relações com as Províncias Unidas da Holanda, é
obtido por D. João V um acordo no qual permite-se que se estabeleça naquela região o
tráfego negreiro, vindo desta região nos anos 80 de setecentos cerca de 70% do tráfego
1 Cristiana Ferreira Lyrio Ximenes, Bahia e Angola: redes comerciais e o Tráfego de Escravos; Tese de
Pós-graduação da Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2012. p. 104.
2 Valentim Alexandre, Velho Brasil Novas Africas Portugal e o Império (1808 – 1975), Porto, Edições
Afrontamento, 2000, p. 68.
3 Corcino Medeiros, “A Bahia no Comercio Português na Costa da Mina”, in Brasil Colonização e
Escravidão org Maria Beatriz Nizza da Silva, Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999 p. 225.
81
negreiro da Bahia1. Para a região da Mina, em contraposição as fazendas, e aos objectos
metálicos, a Bahia poderiam ofertar tabaco para o tráfego negreiro produto de grande
procura naquela região2.
No entanto, além deste iam para aquela região, produtos como: aguardente,
açúcar, ouro, fazendas brancas, entre outros3. As quais, dada a dificuldades que os
portugueses tinham em suprir aquela região, tendo igualmente – para complementar a
carga – terem de recorrer as feitorias estrangeiras para adquirirem fazendas4. Porém
coloco a questão, seria este um meio de permuta eficaz na zona de Angola?
Vejamos a o que os dados relativos aos bens de permuta, tem a dizer a relação a
esta questão. A citada autora, faz citação directa de um texto de Caldas (Mercador da
Bahia), que dá enfase, em 1759, da primazia das fazendas da Índia reexportadas desta
praça. No entanto quase três décadas depois, em 1781, José Da Silva Lisboa, em uma
carta, indica a primazia do tabaco5.
Como já foi abordado, as moedas de escambo para se obterem mão-de-obra não
eram homogéneas em toda a costa de África, se bem que no final do século XVIII há
uma preponderância dos tecidos da Ásia. Mas se este apresentava uma componente
importante para a costa da mina, por sua vez teria significado em Angola? No caso de
Angola o tabaco, por diversos motivos, não parece ser um meio de permuta eficaz. Este,
vindo das Américas, não é só vendido, como é cultivado no sertão6, o que leva a que
não tenha um peso por ai além para o tráfego negreiro. A comercialização desta
produção autóctone, o século XVIII, é comum no Kazembe e no Tete.
Outro ponto que gera este mesma desvalorização é a taxação do mesmo. Este, à
semelhança das bebidas, tem um aumento de cerca de 50 reis, a 100 reis a arroba, o que
1 Idem, Ibidem, p. 234.
2 Gustavo Acioli e Maximiliano M. Menz, op cit, p. 59.
3 “Informação Geral da Capitania de Pernambuco, 1749”, Annaes da Bibliotheca Nacional do Rio
de Janeiro, vol. 28, 1908, pp. 482-83.
4 Gustavo Acioli e Maximiliano M. Menz, op cit, p. 59 – 60.
5 Idem, Ibidem, p. 103.
6 Elias Correia, História de Angola, Vol. I, Lisboa, Sociedade de Geografia de Lisboa, 1935, p. 158.
82
significaria um aumento no seu custo, o qual – a semelhança das bebidas – sem o
acordo dos mercadores1. Prova disso que segue na mesma carta um pedido, para que se
anule esta consulta feita aos homens de negócios, para que prestem fiança na alfândega,
e não paguem direitos a entrada.
Além do mais, a razão expressa nessa carta, a dificuldade que há em se taxar este
mesmo produto, uma vez que este era transportado por volantes, sem fiança, por não
terem estabilidade, o que seria um risco para a fazenda real2. É sugerido por este
governador, que paguem a fiança os mestres do Navio, e os emolumentos, os que
transportam o tabaco3. Esta taxa visava, assim como ao ser 4. Esta taxação, pode por um
lado ser responsável pela quebra na procura do mesmo bem. Esta levava ao aumento do
custo sobre este bem, não o tornando vantajoso para a exportação.
A quebra da Bahia, no tráfego negreiro – que não ocupa uma posição relevante
no palco de Angola – não se deve ao ataque ao tráfego negreiro. É mais plausível, dada
a questão dos produtos escambo, que a introdução destes no sertão, assim como a
taxação tenham levado à mesma quebra, e com esta à quebra do tráfego de Angola.
1 A.H.U, Angola, Conselho Ultramarino, Caixa 96, doc. nº 42, 20 – 08 – 1800.
2 A.H.U, Angola, Conselho Ultramarino, Caixa 96, doc. nº 42, 20 – 08 – 1800.
3 A.H.U, Angola, Conselho Ultramarino, Caixa 96, doc. nº 42, 20 – 08 – 1800.
4 A.H.U, Angola Conselho Ultramarino, Caixa 109, doc. nº 25, 03 – 03 – 1804.
83
2.3.3 O Comércio Intra-Africano:
Um aspecto interessante é o da remessa de escravos para outras partes de Africa,
num circuito intra-angolano, e num circuito extra Angolano. No circuito intra-africano,
temos o caso da remessa de Escravos de Benguela, para Luanda, e desta para S. Tomé e
Príncipe. Para o século XIX é conhecido o tráfego de mão-de-obra, de Angola para esta
praça com vista a trabalhar nas roças de cacau1.
Mas será o processo do tráfego, uma realidade só desse período histórico? Nos
documentos da Alfândega de Luanda, encontrei registos sobre o transporte de escravos
da mesma praça para a ilha de São Tomé. Estes – dentro do tráfego total de Angola –
representavam apenas uma percentagem reduzida, três foram enviados em 1804, e 5 em
1805, sendo residual dentro do tráfego Angolano. Dado o escasso número, deduzo que
não visariam a exportação para o Brasil, mas antes o trabalho na própria ilha.
No caso de Benguela, os escravos que iam para Luanda não o era para trabalhar
nas terras, mas antes para a exportação para o Brasil. Desta forma o seu objectivo, não
eram serem empregues na própria conquista mas antes nos circuitos comerciais
tradicionais. Este tráfego implica que Angola, para este período não está a conseguir
fazer face a procura, tendo que em determinados momentos procurar esses esses
números residuais em Benguela.
De igual modo, as tendências desse tráfego, são caracterizadas por uma forte
irregularidade quer de tempo (realiza-se em dez anos não sequenciais entre 1792 -
1797), quer no número de cabeças exportadas (só em 1792 e 1797 é que o número de
escravos exportados superam as mil cabeças quedando-se no restante por uma média de
300 – 600 cabeças). Em 1792 Angola exporta 11569 escravos, superando a média dos
8000 até então. Neste caso permitiu aumentar o número de escravos exportados,
1 Augusto Nascimento, “Relações entre Angola e São Tomé e Príncipe na época Contemporânea” in
Actas do II Seminário de Internacional sobre a História de Angola Construído o passado pela Angolano: As fontes e a sua interpretação, dir. Jill R. Dias e Rosa Cruz e Silva, Lisboa, Comissão Nacional para os Descobrimentos Portugueses, 2000, p. 683.
84
enquanto em 1797 (dos 1005 exportados) foram para aumentar os 8311 escravos
enviados de Angola. Claro que numa leitura de conjunto se pode afirmar que a pobreza
deste tráfego se devia a preferência pela remessa dos mesmos para o Brasil.
Por outro lado, dado que, só para o século XIX, com a abolição da escravatura e
a mudança de estatuto deste, que não implica que na prática não seja trabalho escravo, é
que há uma maior aplicação dessa mesma mão- de-obra na própria África. Neste ultimo
caso, estas remessas permitiram não haver uma quebra na exportação mantendo-se a
média nos 8000 escravos. Estes números indicam que a reexportação de Benguela, em
determinados momentos era crucial para não haver uma quebra da reexportação de
Angola para os diferentes portos do Brasil.
De igual maneira, pegando nas teorias demográficas sobre o tráfego negreiro,
indica que as regiões de Angola costumava negociar poderiam estar a passar por uma
quebra demográfica não conseguindo satisfazer a procura da mesma. As teorias em
questão indicam que, devido a procura de escravos, levou a quebras demográficas nas
sociedades africanas. O facto de haver esta procura em Benguela, indicia que não
venham a Luanda os números esperados o que indica que, dos sertões próximos já não
havia possibilidade de os obter. Esta possibilidade leva a que – para satisfazer a procura
– tenha de se buscar esses mesmos escravos noutras paragens para satisfazer a procura.
2.3.4 Os Escravos, o Pilar do Império
Estes dados estão relacionados sim com a tendência, da exploração terra-tenente do
Brasil. Como vistas as teorias do mercantilismo, de modo a obter lucro, preferia uma
massa de trabalhadores especializados, a preços baixos. Como visto nos pontos
anteriores há uma percentagem dominante do Rio, secundado pela Bahia ou
Pernambuco, com uma expressão do nordeste forte. Vejamos agora no concreto, onde, e
como, o escravo se integra como força motriz no plano prático. Uma questão onde o
85
papel do escravo como força motriz está bem patente é na sua aplicação nas diferentes
fases da exploração económica do Brasil. Um exemplo disso é no Pará onde entre 1756
e 1788 de 70% da escravatura vinda, era proveniente da região de Guiné1.
Na história do Trabalho, ao referir-se às Américas, Fréderic Mauro atesta o
trabalho de escravo, no que diz respeito a cana-de-açúcar2, papel que é enfatizado por
Fragoso3 e Isabel Castro Henriques4 como uma lavoura de alguma complexidade o qual
não poderia ser levado a cabo por nómadas5. Sobre esta questão há alguma
historiografia que começa a salientar a sua perícia na Agricultura, o que lhe permite ser
incluída na mão-de-obra especializada6.
Ora, como já mencionado, a prosperidade do Império Português, para este
período histórico, era baseada na diversificação da produção agrícola, visando o
mercado internacional. Os escravos provenientes de Angola, nesta lógica forneciam
essa mesma mão-de-obra, realizando a faina agrícola visando o mercado em questão.
Dentro das correntes do mercantilismo, a potencialidade indicada, remete o escravo
como o típico trabalhador do mercantilismo: pago só com o sustento; e especializado.
No entanto esta questão estava também relacionada, com a rentabilidade do
tráfego e com a rentabilização da produção. Sobre a rentabilidade do tráfego negreiro, a
tendência corrente tem sido o minimizar da mesma fazendo a reduzir – de mais de
1 Stuart Schwartz, “Escravatura e o Comércio de Escravos no Brasil do século XVIII”, in História da
Expansão Portuguesa, Dir. Francisco Bethencourt e Kirti Chaudhuri, Vol. 3, Lisboa, Circulo de
Leitores, 2001, p. 113. 2 Não farei aqui uma extensa observação sobre o papel do tráfego negreiro nas plantações da América,
mas deixo alguma bibliografia sobre o tema, que convém consultar. Vide: Herbert S. Klein, O comércio
Atlântico de Escravos, Lisboa, Replicação, 2002. Arlindo Manuel Caldeira, Escravos e Traficantes no
Império Português, Lisboa, Esfera do Livro, 2013. Herbert S. Kleine e Francisco Vidal, Slavery in
Brasil, Cambridge, Cambridge University Press, 2009; Maria do Rosário Pimentel, Chão das Sombras
estudos sobre a Escravatura, Lisboa, Edições Colibri, 2010; Joseph Calder Miller, Way of Death:
Merchant Capitalism And The Angolan Slave Trade 1730 – 1830, Wisconsin, University of Wisconsin
Press, 1988, Maria Beatriz Nizza da Silva, Brasil Colonização e Escravidão, Rio de Janeiro, Nova
Fronteira, 1999. Herbert S. Klein & Ben Vinson III, African Slavery in Latin America and the
Caribbean, 2ª Ed., Oxford/Nova Iorque, Oxford University Press, 2007.
3 João Fragoso, op cit, p. 103.
4 João Medina e Isabel Castro Henriques, op cit, p. 172.
5 Fréderic Mauro, “ La pré révolution du Travail” in Histoire General du Travail dir. Phillipe Wolf e
Frédéric Mauro, Vol II, Paris, Nouvelle Libraire de France, [S.D] p. 287.
6 Joaquim Romero Magalhães, “As Incursões no Espaço Africano” in História da Expansão Portuguesa.
dir. Francisco Bethencourt e Kirti Chaudhuri, Vol. 2, Lisboa, Circulo de Leitores, 1998, p. 79.
86
100% - para 30% para o século XVIII. Rentabilidade baixa que não se resume a
Portugal, mas igualmente a França e a Inglaterra onde estas ficariam pelos 7%1. Nesta
ordem o ganho que estas representavam, no tráfego directo, era indiscutivelmente
irrisório. Mas a rentabilidade não é só visível pelos ganhos directos da actividade em si,
mas também em como o trabalho do escravo contribui para as restantes acções.
Dados os parcos rendimentos directos de quem está envolvido na actividade,
convido a perspectivarmos como a mão-de-obra negreira influenciaria os rendimentos
dos fazendeiros do Brasil. Não envergando por um estudo aritmético, dado que as fontes
por mim encontradas não me permitem o fazer, tenha-mos como ponto de partida o que
vários historiadores dizem sobre o tema. Se os lucros – como indica Valentim
Alexandre – redistribuídos pela totalidade da actividade - eram nulos, quanto mais os
dos proprietários.
A maior margem de lucros, só seria alcançada se a troca – por permuta – entre
Portugal e o Brasil, fosse favorável à Metrópole2. Já Jorge Pedreira contesta Valentim
Alexandre, apresenta-nos uma taxa de flutuação de lucros que – de produto a produto –
onde patenteia os seguintes valores: no geral 10 – 20%; do açúcar cerca de 41,7 e
58,7%; para os Couros; 43,3 e 58, 7%; para o Algodão cerca de 64,6%; já sobre o café;
84,7%, do cacau 99,7%; para o arroz 101,3%; sobre o pau-brasil 778,7%3.
Esta taxa de lucro, todavia era redistribuída por toda uma série de pessoas
ligadas a rede mercantil, pouco chegando aos fazendeiros. No entanto, como já foi
mencionado, os escravos, vindos de Angola, representavam uma população laboral
especializada nas artes agrícolas, que que poderiam significar o evitar de remessa de
trabalhadores do reino para essas paragens. No entanto, o aumento de número de
trabalhadores, dentro desta perspectiva, implicaria um aumento de produção, e com a
mesma, o aumento do lucro potencial com que os fazendeiros poderiam lucrar.
1 Olivier Pétre – Grenouilleau, Les Traitres Négrièrs, Paris, Editions Gallimard, 2004, p. 385.
2 Valentin Alexandre, op cit, p. 38.
3 Jorge Pedreira, Estrutura Industrial e Mercado Colonial Portugal e Brasil, p. 273.
87
Este ponto de vista está relacionado, no plano teórico, com as práticas do
mercantilismo que definem, que uma das formas de se aumentar a riqueza, era manter
os maior número de trabalhadores especializados dentro das fronteiras do reino, e
conseguir atrair o maior número possível de trabalhadores especializados fora de portas.
Logo, a ida das jóias negras do império, era uma forma de evitar a mão-de-obra agrícola
para fora do Reino.
Nesta questão, pode-se incluir a geografia do tráfego negreiro para nos dar uma
visão clara da estratégia económica portuguesa, de aumentar a produção das diferentes
regiões do Brasil. No caso do Rio de Janeiro temos a questão das redes mercantis, além
da redistribuição destes pelas capitanias anexas. No caso das capitanias do nordeste,
apesar dos valores residuais, a ideia era aumentar a exportação de modo a incrementar a
actividade agrícola, com a consequente reexportação para os mercados internacionais.
Apesar de, mesmo com os inconvenientes destas serem periféricas, traduz uma
aposta na tentativa de ceder mão-de-obra a novas capitanias para aumentar o espectro de
produção. No plano material, o papel de Angola, na mesma estratégia, deveria prover as
mesmas capitanias para onde não exportava. A especialidade do escravo angolano,
dentro dos padrões do mercantilismo, explica a opção deste servindo como mão-de-obra
especializada, para o cultivo e consequente aumento de produção das mesmas capitanias
e aumento de lucro dos mercadores.
As fazendas de troca tradicionais, quer as armas (por motivos de saturação), ou
as bebidas por motivo de produção interna encontram-se em estagnação. No plano geral
o projecto de permutação, encontra como handicap, a forte presença das fazendas da
India quer no entanto – apesar do forte impacto – não são suficientes para realizar o
aumento do tráfego negreiro. Mas que, coloca Portugal em forte dependência das redes
mercantis da Índia. O mesmo que, nas concepções mercantilistas, visava aumentar a
mão-de-obra no Brasil, mas principalmente nas capitanias do nordeste, visando o
aumento da produção.
88
Desta forma, apesar de na prática apresentar um valor nulo, a questão da
diversificação dos bens de permuta era, além de substituição, uma forma de aumentar
os números do tráfego. O tráfego negreiro, cuja sua função era proceder ao aumento da
produção no Brasil, e encontra uma mão-de-obra especializada, encontra-se em
estagnação, nem decresce nem aumenta, o que – nas perspectivas da época, implica um
não aumento da produção do Brasil.
Assim, as tendências regionais da exportação negreira, indicam um esforço de
enviar escravos para as diferentes lavouras. A questão da permuta, assim como da
exportação, indica que as fazendas e a exportação tinha como objectivos aumentar a
permuta por escravos.
89
Capítulo 3: Terra, Sertão
3.1 A aclimatação de produtos em Africa, e a relação com as fábricas e
a reexportação do reino
Vistos os objectivos, e as relações normativas de Angola com o Brasil, passemos
à problematização do projecto da coroa e suas implicações. No plano da permuta, já foi
visto que os projectos de incremento não tinham bases de sustentabilidade, diante das
exportações tradicionais da mesma praça.
Este capítulo – dado o não haver concretização dos mesmos – tem com função
de ver, dentro do quadro como estes produtos poderiam ser potencializados e esse
mesmo projecto aplicado na permuta de outros produtos. Dadas as tendências agrárias
do discurso económico, que consagrava objectivos específicos para a produção agrícola,
a procura e incremento de produtos desta natureza – ligados ao Mercantilismo
Comercial – era incontornável.
3.1.1 A Aclimatação
Um dos pontos de partida, é a questão da aclimatação que foi uma das práticas
correntes feitas pela coroa portuguesa, tentando – com o fim de redução de gastos –
tornar a produção dos bens de cultivo tropical mais próximos da Europa. Vejamos como
ponto de partida, o que a historiografia, tem a dizer sobre a questão das plantas em
África. Por outro lado, vejamos o que a historiografia que trata mais esta questão do
lado africano, tem a dizer. Segundo Judith Carney a exportação de plantas é um tráfego
tão antigo e tão importante, embora tenha sido sempre ofuscado (historiograficamente)
pelo tráfego negreiro1.
1 Esta autora menciona que quer na margem do indico, quer na margem do Atlântico, havia um
comércio de plantas tão importante quanto o tráfego negreiro; Judith Carney, In The Shadows of Slavery
(Africa’s Botanical Legacy in the Atlantic World), Berkeley/ Los Angeles/ London, University of
California Press, pp. 25 – 29.
90
Já Elikia M’Bokolo afirma que a importância desta actividade - citando o caso
do Milho e da Mandioca, fazendo a distinção entre este comércio, e o do tráfego
negreiro, mas salientando a interligação entre ambos1.
Um dos problemas apontados para a história económica, principalmente história
agrária, para o contexto geral de África, é a falta de fontes escritas. Apesar desta lacuna
o mesmo autor, enfatiza um pioneirismo da presença de uma produção agrícola (com
fontes principalmente no século XIX), com moldes europeus, em Angola2. No entanto é
referido por ele, na ausência de escritos dos próprios africanos, é enfatizado os escritos
legais, como forma de fonte para esta questão3. Mas, poderá se reduzir à documentação
legal, todas as fontes disponíveis ou só a um determinado tipo de escrito?
A par destes escritos legais, ou seja de direito, no período em estudo podemos
contar com ao textos como os arbítrios dos Governadores que, no que toca a questão da
produção, assim como das instruções da coroa. Estes dotam-nos de informações, sobre
os objectivos da coroa, acerca dessa questão, assim como a real possibilidade de os
executar.
Vista a problemática das fontes, vejamos o que a historiografia tem debatido
sobre a aclimatação. Sobre esta problemática, Luís Ferrand de Almeida, faz uma sumula
do intercâmbio agrário entre o Brasil e África para o século XVI – XVII, mas com mais
enfase em São Tomé4. Para o século XVIII este aborda, dentro da aclimatação das
plantas do Oriente no Brasil, o que é subscrito (no caso das plantas agrícolas, para
comercializar, ou de subsistência) por A.J.R Russel5.
No entanto, para este período, encontramos referências a uma intenção de se
realizar o mesmo processo em Angola. Desta forma o processo de introdução dos
1 Elikia M’Bokolo, África Negra História e Civilização, Tomo I, Lisboa, Vulgata, 2003, p. 389.
2 Masao Yoshida, “African Economic History: Approaches in Research”, in Writing African History,
editada John Edward Philips, Rochester, University of Rochester Press, 2005, p. 324.
3 Masao Yoshida, op cit, p. 319.
4 Luís Ferrand de Almeida, A Aclimatação de Plantas do Oriente no Brasil durante os Séculos XVI
e XVIII, separata da Revista de História, T. XV, Coimbra, 1976, pp. 339 – 346.
5 Idem, Ibidem, pp. 395 – 400 & A.J.R Russell, The Portuguese Empire, 1415 – 1808 World on the Move,
Baltimore and London, Johns Hopkins University Press, 1998, pp. 146 – 183.
91
princípios iluministas, no que diz respeito a economia, não seria uma manifestação de
uma versão mais pragmática do iluminismo? Sobre essa questão Diogo Ramada Curto,
indica o tipo de livros que vieram com D. Miguel António de Melo, e os objectivos que
estes teriam dentro da aplicação de um modelo: a aclimatação de produtos1. Esta
questão – inserida na dimensão mais pragmática do iluminismo – está relacionada com
a História natural e seus métodos2.
Os produtos sugeridos nas instruções pelos mesmos autores, os quais D. Miguel
António de Melo levou, eram produtos que não eram nativos as mesmas paragens
colocando-se a questão, até que ponto poderia este projecto ser aplicado. A questão não
pode ser mencionada, sem termos em atenção a questão das redes oficiais. A função do
governador – no que toca ao mundo ultramarino – não se limita só as acções acima
descritas. Este deveria reportar a coroa toda a informação disponível e útil, para que se
pudesse proceder da parte da coroa as reformas devidas.
Sobre os representantes régios, segundo Frédéric Mauro, a única distinção entre
a actuação destes, face a dos membros das companhias comerciais era a ligação directa
à coroa. A seu cargo estavam as funções militares, como as da organização das frotas,
estando inerente o económico nas suas acções3.
Já os governadores – para Ângela Domingues – teriam um papel secundário,
tendo as funções reservadas de organizar e preparar os elementos para os naturalistas,
indicar-lhes os locais onde deveriam ir e procurar a cooperação das restantes
autoridades e providenciar-lhes todos os meios necessários4.
Passemos então agora a analisar o papel dos governadores – ou, pelo menos, o
que era esperado deles – nos quadros do Antigo Regime. Segundo a opinião de Maria
Bicalho, o governador enquadra-se num quadro de antigo regime onde os funcionários
1 Diogo Ramada Curto, Iluminismo e Projectos Coloniais, pp. 4 – 13.
2 Abordarei esta questão mais adiante.
3 Frédéric Mauro, L’Expansion Européenne 1600 – 1870, 4ª edição, Paris, Puff, 1996, p. 188.
4 Ângela Domingues, Monarcas, Ministros, e Cientistas. Mecanismos de Poder, Governação
e informação no Brasil Colonial, Lisboa, CHAM, 2012, p. 140.
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régios, remetendo-as para a corte, deliberavam sobre os aspectos estruturais da vida na
corte. Essas deliberações passavam pelo económico, social, como também o religioso1.
Ora – apesar do estudo de caso desta autora ser o Brasil – não se poderia aplicar a outras
partes do império como África? Esta fonte indica que, as medidas a serem aplicadas só
o seriam conforme a possibilidade de se poder promover a mesma reforma.
Vejamos um exemplo mais concreto. Um dos aspectos que mais me chamou a
atenção no discurso sobre Cabo Verde – Segundo Maria Manuela Ferraz Torrão – é o
facto de na apreciação feita a este arquipélago por parte de João da Silva Feijó as
produções por ele defendidas não serem aplicável dado o clima da dita região2. O
governador, pelo que conhecimento que em teoria teria das regiões onde estava
presente.
No plano concreto da documentação oficial, apesar na teoria se equacionar a
aclimatação – a semelhança do que se fazia no Brasil [de plantas da Índia] – a
documentação oficial refere a retoma do projecto da aclimatação de produtos não
nativos a Angola, entre os quais se destacam o açúcar, o algodão (não constituíam aqui
uma novidade, já que se tentava proceder à sua aclimatação desde o século XVII);
cacau, arroz, couros, e anil. Mas as mesmas tentativas – ao contrário do período em
questão – não passavam de directrizes que diziam que se deveria proceder ao cultivo
das mesmas, sem se o dizer como, nem onde.
Por outro lado, no que concerne aos produtos agrícolas, além dos mencionados,
arroz, couro, que as directivas indicavam; eram os produtos mais procurados na Europa
de final de setecentos. Instrui-se que se promova as culturas de, cacau, café, e anil,
produções que (segundo a fonte), são de fácil cultivo e de grande lucro3.
1 Maria Bicalho, A Cidade e o Império O Rio de Janeiro no século XVII, Rio de Janeiro,
Civilização Brasileira, 2003, p. 340.
2 Maria Manuela Ferraz Torrão, “Circulação de Conhecimentos Científicos no Atlântico de Cabo
Verde para Lisboa: Memórias Escritas, solos e minerais, plantas e animais. Os envios científicos de
João da Silva Feijó”, in O Atlântico Revolucionário circulação de ideias e de elites no final do
Antigo Regime coord. José Damião Rodrigues. Lisboa, CHAM, 2012, p. 147. 3 A.H.U, Conselho Ultramarino, Angola, Caixa 86, doc. nº 11, 12 – 08 – 1797.
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No entanto, a produção, não é exclusiva a produtos para serem usados na
Industria, como também aos de consumo. Sobre o Cacau – produto nativo da Amazónia
– era o sexto produto da tabela de reexportações, da região quer do Maranhão quer do
Pará, e o sétimo da tabela geral1. No entanto – mais tardiamente – no século XIX, esta
cultura terá mais sucesso, o cacau, nas regiões de Cabinda, Abroim, e no Cazengo2.
Por seu lado, o café – introduzido do oriente no Brasil - conhece uma lenta
expansão, primeiro no nordeste onde é introduzido, depois na região do Rio de Janeiro3.
Sobre estes produtos Valentim Alexandre indica que tem uma taxa de crescimento
elevada, rondando os 500 a 550 contos ano4. E por sua vez Jorge Pedreira indica um
lucro obtido da reexportação destes produtos na ordem: café; 84,7%, do cacau 99,7%5.
Aqui, apesar de serem o sexto e o sétimo produto na reexportação, o qual
conheceriam o ciclo no século XIX, apresentam quer uma taxa de lucro e de
crescimento favorável, que torna a sua produção aos olhos da coroa compensatórios.
Desta forma, e dentro da ideia de complementaridade da produção, estes
produtos e sua reexportação implicam a complementaridade da produção, com o que se
fazia do Brasil.
Mas os produtos mencionados nas directrizes, não se resumem aos que foram
mencionados. A coroa, segundo os projectos e escritos dos governadores, em 1799,
propõem a aclimatação destes o açúcar, o algodão e o Anil6. Sobre o açúcar é dito que
há no território, mas cuja qualidade é inferior a do Brasil, não sendo útil se não a fazer
umas poucas jeribitas7.
1 Maria Beatriz Nizza da Silva, “Cacau” in Dicionário da História d Colonização Do Brasil, coord. Maria
Beatriz Nizza da Silva, Lisboa, Verbo, 1994, p. 120. 2 Manuel Nunes Dias, “Cacau”, in Dicionário de História de Portugal dir. Joel Serrão, Vol. I, Porto,
Figueirinhas, 1963, p. 442.
3 Ana Maria dos Santos, “Café”, in Dicionário da História d Colonização Do Brasil, coord. Maria Beatriz
Nizza da Silva, Lisboa, Verbo, 1994, p. 121 – 122.
4 Valentim Alexandre, Os Sentidos do Império, p. 34.
5 Jorge Pedreira, Estrutura industrial e Mercado Colonial, p. 273.
6 A.H.U, Conselho Ultramarino, Angola, Caixa 92, doc. nº 30, 06 – 06 – 1799.
7 A.H.U, Conselho Ultramarino, Angola, Caixa 92, doc. nº 30, 06 – 06 – 1799.
94
No entanto como Valentim Alexandre denota, apesar de este produto ser o ouro
branco da exportação portuguesa, há um deficit entre o açúcar que vêm do Brasil, e o
que há na Alfandega1. Esta situação, a longo prazo poderia comprometer a exportação
desse bem para as praças europeias. Numa primeira análise, os planos de introdução
deste bem, poderão estar relacionados com o aumento de arrobas de açúcar para
reexportação para a Europa. No entanto, a introdução desta, implicava a Cana-de-
açúcar, o que era usado nas aguardentes.
Neste prisma a própria produção de açúcar é vista não numa óptica atlântica,
mas antes em uma óptica local, como handicap, para a produção de bebidas que, acima
de tudo visavam o mercado negreiro. Já vimos que, segundo os dados expressos no
capítulo sobre as bebidas, ouve uma produção de aguardentes de menor qualidade no
sertão.
Mas dentro do plano de complementaridade, como se aplicaria a produção desta
cultura? A implementação desta cultura, por um lado, poderia permitir um aumento
residual na produção açucareira, mas poderia predicar nas remessas de direitos cobrados
sobre a entrada destes bem em Angola e na sua importação, uma vez que reduziria o
consumo e por consequente a importação do mesmo vindo do Brasil. Desta forma a
implementação da cultura sacarina, incorria no risco de se reduzir a venda de Jeribitas,
uma das principais fontes de receitas da dita capitania, o que não era equacionável.
Ora, um dos aspectos que caracteriza a cultura e o projecto de produção no ultramar é a
complementaridade de produção, visando em que – com e especificidade – que uma
região produzisse o que outra já estava a produzir. Desta forma, neste período, apesar
do esforço, e não por falta de vontade, neste plano a aplicação destas produções não era
aplicável devido a este factor.
1 Valentim Alexandre, Os Sentidos do Império, p. 42.
95
Destes produtos (no mesmo oficio) é dada particular atenção ao anil. No caso
desta planta – útil para a indústria da roupa, dada a cor azul que se lhe extraia – que
veio da índia, tentou-se aclimatá-la – sem grande êxito em Cabo Verde, mas com
sucesso no Brasil1. Pode-se observar, na aclimatação desta planta, uma aplicação prática
do que se tentou fazer com a conquilha no Brasil insecto com propriedades tintureiras
dando aos panos uma cor vermelha. A ideia de introdução do anil está relacionada com
o desenvolvimento industrial e manufactureiro, uma vez que se extraia dela esta tinta
azul. Mas antes de desenvolver este tópico, vejamos a capacidade de se produzir o
mesmo no solo de Angola.
De facto, segundo Elias Correia, há uma grande proeminência desta planta, que
não tem uma geografia específica brotando ao longo do país. Para a sua produção, este
indica que há uma fábrica na zona do Dande que trata dela (informação a qual não
encontrei eco em outras fontes)2. Sobre este é dito que irá – com o documento – uma
carta na qual se explica aos agricultores como se o deve produzir, devendo estes o
enviar para a cidade para o vender3. No plano geral, há uma questão que deve ser
abordada, dada a enfase nos produtos da terra, envolve a questão da tipologia de
colónias.
Retomando a temática, vejamos em, e em como poderia ser aplicado este
produto em Portugal. Sobre estes produtos – relativamente a Angola, há os seguintes
cenários: sobre o algodão há uma cultura que iguala a de Pernambuco, mas que por si é
insuficiente para lhe fazer concorrência, e a própria incerteza das chuvas não permite
que esta cultura tenha grande desenvolvimento. No entanto, Elias Correia afirma que a
cultura algodoeira se estende, por uma região mais ampla, sendo inclusive usada em
manufacturas de fraca dimensão na colónia4.
1 José Manuel Vargas, “Anil” in Dicionário da História dos Descobrimentos Portugueses, coord Luís de
Albuquerque e Francisco Contente Domingues, Vol. I, Lisboa, Caminho, 1994, p. 74.
2 Elias Correia, op cit, p. 157.
3 A.H.U, Conselho Ultramarino, Angola, Caixa 86, doc. nº 11, 12 – 08 – 1797.
4 Elias Correia, op cit, p. 157.
96
Ora ao abordar esta questão, não estaria a dar a ideia de exportação deste bem
para as fábricas do Reino? A própria industria algodoeira portuguesa, estava a passar
por um momento de prosperidade e, apesar de não ter o peso que tem a reexportação
dos tecidos de algodão estrangeiros é próspera servindo-se do mercado colonial. O
Algodão que ia do Brasil não visava as fábricas, mas na sua grande maioria era para ser
reexportado para a Grã-Bretanha1.
Noutra perspectiva, para Nuno Madureira, o problema do algodão para a
Indústria portuguesa, não estava no acesso, mas antes no trabalho e dificuldades
inerentes a sua actividade2. Já Jorge Pedreira – além da falta de tradição dessa produção
em Portugal – refere o peso da estamparia e a marginalidade da mesma produção face a
Inglesa e da Índia3.
A indústria portuguesa, sediada na região do vale do Tejo, apesar de beneficiar
desse mercado colonial, tinha como sua base apenas a indústria da estampagem da qual
era auto-suficiente. Mas no que toca a questão dos tecidos, e da indumentária de
Algodão, a sua produção é rara. Mas no entanto coloca-se em questão, o tipo de algodão
de que se fala. Há uma espécie de algodão nativo africano, o Gossypium herbaceum que
no entanto não era a melhor espécie para ser usada para a transformação a quando
comparada com o da Índia.
No entanto, apesar deste handicap, qual seria a intenção da coroa portuguesa.
Uma vez que o grosso da produção ia para a Grã-Bretanha, a exploração deste produto
nestas paragens abria a hipótese de ser um mercado fornecedor para as Fábricas do
Reino, abrindo o espectro do que se poderia permutar com a coroa. Como já foi por
mim citado, as fábricas portuguesas, mesmo com o Algodão vindo do Nordeste
Brasileiro, que era reexportado para a Europa, não era suficiente para cobrir as carências
que as fábricas tinham.
1 Valentim Alexandre, Os Sentidos do Império, p. 35.
2 Nuno Madureira, op cit, p. 150.
3 Jorge Pedreira, Estrutura industrial e Mercado Colonial, pp. 96 – 97.
97
Assim, apesar da falta de qualidade, a ideia (que não chega a ser aplicada) do
Jardim Botânico, abria a hipótese de se introduzir o tipo de algodão da Índia em Angola
que, dado o clima húmido tropical, permitia a adaptação desta planta a este terreno. Ao
produzir-se nestas praças esta cultura, estar-se-ia então, dentro das funções tradicionais
do mercantilismo, em transformar essa matéria-prima em manufactura, para a
reexportar para as diferentes praças coloniais, e possivelmente dada a fraca aderência,
para esta para aumentar o consumo.
Ora esta questão abre, no plano das ideias económicas, uma hipótese, de se
produzir e reexportar este bem para as Fábricas do Reino, permitindo aumentar desta
forma a sua reexportação, este aumento significaria – numa primeira leitura – um
contacto mais directo entre Portugal e Benguela e Angola, cobrindo quer a
reexportação, quer a indústria. Na dificuldade do Brasil – dada a internacionalização de
sua economia – caberia a Africa abastecer, exclusivamente o mercado português,
permitindo a sustentabilidade da indústria portuguesa.
Numa leitura historiográfica, no que toca a aclimatação, não pode ser
desvinculado, da questão colocada por Valentim Alexandre, novos Brasis em África.
Esta problemática, à semelhança do que se havia feito no Brasil, passa pela introdução
de um sistema de produção e de plantas visando o mercado internacional em regiões
onde não eram originárias. O que, segundo a maior parte dos historiadores, só iria se
operar após a década de 30 do século XIX1.
Decorrente desta vertente, Jorge Pedreira afirma que, no século XIX, o esforço
foi no sentido de promover o cultivo, como forma de atrair homens de negócio que
quisessem investir nesses produtos. Mas para haver esse investimento, é necessário
saber no que se vai investir, que é uma das linhas de actuação – visto no plano das
plantas medicinais e couros – e que passa pela implementação de novos produtos nessas
1 Valentim Alexandre “ A questão colonial no Portugal de Oitocentos” in Nova História da Expansão
Portuguesa: O Império Africano 1825 – 1890 dir. Joel Serrão e A.H de Oliveira Marques, Vol. IX,
Lisboa, Editorial Estampa, 1998, pp. 41 – 42.
98
regiões. No entanto, dentro da leitura no pensamento económico, estas produções não
passam só pela defesa da terra, mas passam também pela sua reexportação para as
praças Europeias, estando ligados – não a novas correntes – mas a uma prática já em
voga.
O modelo em questão passa pela implementação e adaptação a outras partes do
ultramar de modo a fortalecer a posição económica portuguesa, de plantas que possam
auferir lucro. Noutro ponto, pegando no trabalho de D. Miguel António de Melo, indica
a necessidade de se apostar na agricultura para aumentar a receita fiscal reduzindo a
dependência desta do Brasil1.
3.1.2 Obstáculos à Permuta
Outra questão era a capacidade de a Coroa portuguesa, implementar esse mesmo
modelo de produção. Para António Carreira, além de envolver uma extensão da
autoridade portuguesa (de facto) a estas paragens, implica a necessidade de alinhamento
das autoridades africanas ao mesmo2. Vejamos a questão, do ponto de vista dos
circuitos comerciais, que eram correntes naquela região.
Em primeiro devo salientar, que a presença portuguesa era mais no litoral
aguardando que viesse do sertão os produtos para a troca3. Por outro lado há uma falta
de meios – uma vez os canhões tem de vir de Luanda, que servem para intimidar os
africanos em “rebelião” a autoridade portuguesa4. Nesta perspectiva os portugueses, não
tem meios de coacção eficazes para imporem a sua voz no sertão a qual, impede a
aplicação de um projecto europeu no sertão africano.
1 Manuel dos Anjos da Silva Rebelo, Relações entre Angola e o Brasil (1808-1830), Lisboa,
Agência Geral do Ultramar, 1970, p.131.
2 António Carreira, op cit, p. 96.
3 O mapa em questão mostra uma maior expressão portuguesa pelo litoral. Vd. Mapa, p. 174.
4 A.H.U, Conselho Ultramarino, Angola, Caixa 85, doc. nº 24, 28 – 02 – 1797 oficio 2.
99
Deve-se colocar a questão, sobre os motivos que impediam esse mesmo sucesso,
mas antes de o fazer-se consideremos a acção portuguesa no mesmo espaço. Num
documento de 1797 é referido um apaziguamento do sertão pela acção das forças
portuguesas, de modo a garantir que haja uma continuidade das actividades mercantis1.
No entanto o mesmo apaziguamento realiza-se, nos sertões próximos impróprios para o
funcionamento agrícola, tendo apenas como principal objectivo, a normalização e
segurança dos agentes comerciais ao mesmo, não implicando um controlo sobre o
sertão.
Outro texto mostra-nos como a falta de forças militares, no mesmo terreno pode
ser nocivo aos planos da coroa, e das necessidades quer de soldados e de povoamento
para efectivar esse controlo2. “Esta desobediência está visível – nas palavras do
governador – ao afirmar que nada que se lhe digam, nem meio algum de os fixar a terra,
para fazerem o seu cultivo3.
Esta questão indica que a acção portuguesa dava-se num espaço muito restrito,
mas qual a dimensão real do domínio português. Em documento do A.H.U o
governador de Benguela afirma que o domínio de facto do poder português em Angola
(e África) corresponderia a mais pequena comarca de Portugal4. Obviamente que a
imagem é exagerada, sendo o espaço de controlo real bem maior que esse, mas indica
que – face a extensão do território – é muito pouco o domínio concreto português. A
falta, ou poder de intervenção limitado da coroa portuguesa, leva a que a coroa não
tenha os meios de impor no espaço africano as directrizes a que se propunha.
1 A.H.U, Conselho Ultramarino, Angola, Caixa 85, doc. nº 16, 29 – 01 – 1797.
2 A.H.U, Conselho Ultramarino, Angola, Caixa 86, doc. nº 60, 29 – 11 – 1797 “Das províncias desta
capitania se não pode saber concerteza os seus particulares; porque por falta de forças e liberdade,
fora dos suborbios desta cidade, não hé o Governador obedecido pelos gentios, e ainda dos moradores,
e só poderá ser fazendo alguns presídios em alguas principais das ditas províncias, como hem Angola,
hum regimento de Artilharia ou Infantaria nesta cidade, e vir do Brasil vários casais de gente parda,
não só para o aumento da População mas também para servir na dita tropa, para que de hua vez se
pudessem evitar as mortes roubos e hostilidades, que os gentios fazem como os ditos documentos nº 3, 4,
serve.
3 A.H.U, Conselho Ultramarino, Angola, Caixa 86, doc. nº 60, 29 – 11 – 1797.
4 A.H.U, Conselho Ultramarino, Angola, Caixa 89, doc. nº 70, 24 – 12 – 1798. & Mapa, p. 192.
100
Uma outra questão prende-se com as condições de fertilidade para que, no espaço onde
se tem uma ténue autoridade, se possa implementar o mesmo. É Sabido que as regiões
próximas no sertão de Benguela, não são conhecidas pela sua fertilidade1. Esta questão
é atestada documentalmente em 1783 – dada a falta de salubridade e de fertilidade – é
sugerido que a cidade fosse mudada para uma parte mais a norte com melhores
condições, quer de salubridade, quer de fertilidade2. Esta situação não seria exclusiva,
no que toca a salubridade, a Benguela, havendo queixas no mesmo sentido para
Angola3. Num ofício já citado a agricultura dos sertões próximos as áreas de influência
portuguesa, eram caracterizados por uma agricultura mais de subsistência4.
A par desta questão, nas zonas próximas a cidade Benguela, ao contrário de
Luanda, não há os meios para a produção, como em Angola, onde há os arimos e as
zonas de Mosseques5. Isto implica que – nas zonas próximas aos domínios efectivos da
coroa – não eram próprias nem para a produção (que não fosse para a produção de
subsistência) nem para a aclimatação.
Outro documento mais tardio, indica que não há árvores próprias naquele
sertão6. Esta situação não era só de conhecimento dos círculos oficiais, mas também dos
círculos intelectuais de Lisboa. Segundo M.J.R as terras desta região, não eram próprias
à agricultura7. O que, dado o tipo de produção, denota sua pobreza para a cultura
extensiva. Nesta óptica, as condições para se aplicar o projecto – na vertente agrícola –
encontrava sérios entraves do solo.
Noutro ponto de vista, os Africanos – apesar das diligências do governador –
que associa numa perspectiva a preguiça – não os parece fazer demover zombando da
1 A.H.U, Conselho Ultramarino, Angola, Caixa 89, doc. nº 90.
2 A.H.U, Conselho Ultramarino, Angola, Caixa 66, doc. nº 17, 01 – 03 – 1783.
3 A.H.U, Conselho Ultramarino, Angola, caixa 109, doc. nº 1, 01 – 01 – 1804.
4 A.H.U, Conselho Ultramarino Angola 1798, caixa 88 doc. nº 10, 16 – 10 – 1798 “Os frutos são
Milho, Feijão, e mandioca, que a maior parte comem no campo antes de o colherem, sendo os desta
cidade tão poucos os negociantes os mandão vir da América e ainda alguns de Angola para seu
sustento, e pelos mapas do hospital que também tenho remetido a V. Excelência se vê diminuindo os
dízimos que dos referidos frutos resulta”.
5 José Venâncio Carlos, op cit, pp. 78 – 79.
6 A.H.U, Conselho Ultramarino Angola 1798, caixa 89 doc. nº 55, 29 – 11 – 1798.
7 M.J.R, op cit, p. 69.
101
utilidade que possa advir dessas culturas1. Isto conduz-me a considerar os produtos, na
óptica dos Africanos. A falta de salubridade, e as más condições agrícolas, levam a que
tenha de optar num cultivo no sertão mais voltado para a subsistência. Esta questão leva
a que, quer por falta de condições, quer por necessidades mais imediatas, não seja
possível aplicar-se o mesmo projecto. Os bens de exportação, devem ser
secundarizados, a dada a primazia da subsistência.
3.1.3 Soluções Possíveis
Apesar destes handicaps na produção, desenvolvem-se medidas de modo a
incentivar a mesma. Já vimos que as condições geográficas, e o domínio sobre o sertão
tornavam difícil essa mesma concretização. Porém na ausência dos meios para impor
essa mesma presença, quanto mais para impor um meio de produção cujos objectivos
estavam ligados a um plano europeu, implicaria a inércia na criação de meios para que
se pudesse levar adiante esse mesmo projecto?
Outra directriz presente no mesmo documento era o de promover a agricultura o
mais possível, ampliando as culturas produzidas no solo ao máximo, com a finalidade –
no futuro – de se estabelecer um Jardim Botânico em Angola2. A criação, ou o projecto
de criação de um Jardim Botânico, implicava a criação de um espaço sobre lógica
europeia, num território ultramarino, onde se poderiam aclimatar essas mesmas
produções. No entanto este projecto não se limitava, apesar de ter sido implementado
com maior sucesso nestas paragens, às terras de Vera Cruz.
Façamos uma leitura dentro dos objectivos mais vastos, dos jardins botânicos
para perceber qual seria a sua função. Os Jardins Botânicos eram meios onde se
pretendiam aclimatar produtos, de outras partes continentais, de modo a facilitar a sua
1 A.H.U, Conselho Ultramarino, Angola, Caixa 92, doc. nº 30, 06 – 06 – 1799.
2 A.H.U, Angola, Conselho Ultramarino, Caixa 96, doc. nº 21, 01 – 07 – 1800.
102
exportação e era uma prática – quer no ultramar (Pará) – quer em Portugal (Ajuda),
visava receber plantas das diferentes partes do ultramar (no caso da Índia).
Houve planos que, os quais não foram concretizados, visavam a criação desses jardins
quer em Moçambique quer em Goa. Estes, além de algumas plantas nativas, tinham
como propósito aclimatar plantas vindas da Ásia em solo Brasileiro1.
No entanto este tráfego, não pode ser reduzido ao da Ásia. No caso de Angola,
para o Brasil, foi enviada canela para ser mais aclimatada, da zona de Quicongo, ao qual
é reputado tinturaria e ser usado para as dores de cabeça2. O envio desta planta
possibilita-nos pensar numa interacção mais lata, a qual não passa só pelo mundo
asiático em conexão com o Atlântico mas entre as próprias margens do mesmo oceano.
Na ausência, em Angola, deste Jardim Botânico, a opção mais próxima seria
levar essas sementes para o Brasil. Para Portugal também seria possível, mas dado
serem plantas de climas quentes, qual seria a real possibilidade de se adaptarem a um
clima mais frio?
No plano da história natural, no século XVIII – através dos jardins botânicos –
esperava-se que se pudesse retomar um projecto, de aclimatar plantas vindas da Índia,
no solo Brasileiro, principalmente no Nordeste (Maranhão, Pará)3. Este, além da área
das sensibilidades, tinha uma dimensão mais pragmática, pensando-se auferir benefícios
que para o comércio, agricultura, e medicina4.
Em todo o caso, o objectivo dos jardins botânicos era terem no seu interior
plantas das mais diversas partes do Império, visando dessa forma garantir o seu cultivo
– num prisma económico – mais do que numa mera perspectiva de subsistência (embora
começando com ela) visando a reexportação para os mercados internacionais.
Isto leva-me a perguntar se não seria este um ponto para se colocar e iniciar o
cultivo quer de açúcar, algodão, café, cacau nos mesmos. Claro que as directrizes 1 Luís Ferrand de Almeida, op cit, pp. 403 – 404.
2 A.H.U, Angola, Concelho Ultramarino, Caixa 79, 20 – 07 – 1793.
3 A.J.R Russell Wood, op cit, pp. 148 – 183.
4 Rómulo de Carvalho, A História Natural em Portugal no século XVIII, Lisboa, ICALPA, 1987, p. 66.
103
indicam como prioridade, os bens de consumo na capitania, frutos, feijão, mandioca, e
outros bens de primeira necessidade mas seria restrita somente a esta? 1. Há um projecto
concreto, a par das produções tradicionais, que visava – criando meios onde pudessem
ser cultivados caso do Jardim Botânico – que visava a implementação, de plantas
produzidas para uma economia europeia.
Este a ser implementado, poderia ser um ponto, apesar da falta de meios para
implementar no sertão os projectos de aclimatação, a serem retomados, assim como das
produções nativas. Teríamos um espaço onde as autoridades portuguesas poderiam, sem
a necessidade de coagir ou depender as autoridades africanas, incrementar a produção
das mesmas plantas.
Esta, do ponto de vista, da aclimatação, poderia garantir um espaço onde, as
autoridades portuguesas pudessem aclimatar, e expandir as mesmas culturas de modo a
torna-las lucrativas e pensando numa dimensão europeia, o qual poderia ser a longo
prazo um espaço de interacção com os Africanos, criando uma familiarização dos
mesmos produtos, o que por sua vez, permitiria introduzir o uso e cultivo dessas
mesmas plantas no sertão e nas terras de África sem o uso de coacção.
Abria-se com esse plano, teoricamente, uma brecha pela qual se poderia
implementar os projectos europeus. Sobre esta, não há referencia que tenha sido
aplicada neste período, (a primeira que é criada é na década de 40 do século XX) mas
mesmo assim abre uma ferramenta para que se posso potencializar este
empreendimento.
Aqui, outra questão se pode levantar; onde seria uma vez que as plantas em
questão não se davam nem no mesmo clima, nem no mesmo tipo de solos. E no plano
geral, ao contrário das directrizes do século XVII, este período vê formulada uma ideia
mais concreta, sobre onde, e como, se deveria produzir.
1 A.H.U, Angola, Conselho Ultramarino, Caixa 96, doc. nº 21, 01 – 07 – 1800.
104
3.2 As Viagens Filosóficas, Novos Projectos sobre novas directrizes
A par dos propósitos de aclimatação, há também a busca de produtos do sertão
visando essas mesmas metas. Os interesses económicos, por sua vez, não podem ser
desassociados da própria conjuntura económica portuguesa, e da procura no mercado
internacional. A par da parte científica, há objectivos latentes mais pragmáticos, de se
fornecer esses mesmos produtos a metrópole, procedendo-se a reexportação dos
mesmos para as nações europeias, visando o enriquecimento da Metrópole1.
Todavia, se esta é a procura da metrópole, é porque esta corresponde a um
mercado mais vasto onde estes produtos encontram escoamento. Se por um lado, do
plano da documentação oficial, foram as redes oficiais de poder a inferir sobre o cultivo
e aclimatação de plantas, por outro – no caso das viagens filosóficas – temos a questão
das redes informais.
Como já vimos anteriormente, as directrizes implicam, também a produção e
exportação dos bens da capitania que – como visto – não o era possível. Esta lacuna
obriga a que se tenha de explorar o sertão, em busca de produtos, quer de lugares onde
se possa implementar produtos de grande procura no mercado Europeu.
O século XVIII – a par da institucionalização da economia – vê, quer a nível
institucional e político, um grande apoio da coroa a estudos sobre as potencialidades das
diferentes possessões2. No Reinado de D. Maria I este apoio é expresso – com o intuito
de se proceder ao reconhecimento dos produtos nas colónias – pela expedição de várias
viagens filosóficas3. Na sua tese de mestrado, Carla Ventura menciona a influência de
Lineu – da qual Vandelli é seu discípulo – e a necessidade de se fazer viagens ao
1 Francisco Contente Domingues, Ilustração e o Catolicismo Teodoro de Almeida, Lisboa, Colibri, 1994,
p. 128.
2 Carla Ventura, Os Portugueses e a Travessia do Continente Africano: projectos e viagens, Tese de
Mestrado apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Vol. I, Lisboa, 2006, pp. 46 –
47.
3 Isabel Ferreira da Mota, D. Maria I, Lisboa, Quidnova, 2011, p. 76.
105
interior dos domínios das diferentes potenciais colónias, de modo a conhecer e a fazer
um melhor aproveitamento dos seus recursos1.
Segundo José Luís Cardoso, estas dividem-se em políticas e em filosóficas. Na
primeira – na óptica deste autor – seguindo as linhas de Lineu – a primeira tinha-lhe
associado a descrição e potencialização dos recursos, a qual este considera ligada a
segunda questão cujo interesse é potencializar os recursos económicos2.
Neste ponto, dentro do campo do reconhecimento de seus recursos, tem
subjacente uma dimensão económica3; dimensão que, na própria obra de Lineu, já
estaria presente, com a noção de que o meio influenciaria a distribuição de animais e
plantas4. Nas mesmas – patrocinadas pela coroa – são enviados vários formados em
história natural, às mais diferentes e remotas partes dos domínios ultramarinos para
melhor se conhecer os seus recursos5.
Todavia esta acção não se resumia, somente aos naturalistas como também aos
governadores que, nas suas memórias, davam conta das suas actividades reformistas no
Império6. Mas a dimensão económica, não estava circunscrita a este tópico apenas.
Numa leitura geral Maria Fernanda Bicalho considera – a par do patrocínio da
coroa – que a busca do saber estava associada a esta empresa7. Ligados, dado o
patrocínio, a objectivos mais concretos que não só o saber mas potencialização
económica. Enquanto na questão anterior temos presente o papel das redes oficiais,
nesta questão temos o papel das redes informais.
Por seu lado, Ângela Domingues dá uma ideia mais lata da composição das
redes de circulação de informação. A rede em questão – formada por investigadores e
académicos - com - o financiamento da coroa - muitos formados na Academia das
1 Carla Ventura, op cit, pp. 46 – 47.
2 José Luís Cardoso, Pensar a Economia em Portugal Digressões Históricas, Lisboa, Difel, 1997, p. 105.
3 Francisco António Lourenço Vaz, op cit, p. 383.
4 Francisco António Lourenço Vaz, op cit, p.378.
5 Ângela Domingues, op cit, p. 135.
6 Ângela Domingues, op cit, p. 107.
7 Maria Fernanda Bicalho, A cidade e o Império o Rio de Janeiro no século XVIII, Rio de
Janeiro, Civilização Brasileira, 2000, pp. 105 – 107.
106
Ciências, assim como do curso de História Natural, partiram as regiões mais remotas do
império: cartografando-o, indo aos sertões deles, recolhendo todos os produtos que
pudessem de interesse, quer científico, quer económico1.
Os governadores – na óptica desta mesma autora – teriam um papel secundário,
tendo como função organizar e preparar os elementos para os naturalistas, indicar-lhes
os locais onde deveriam ir, procurar a cooperação das restantes autoridades, e
providenciar-lhes todos os meios necessários2.
Ao contrário de Benguela, cujas directrizes eram de aumentar a troca de
produtos com a coroa, que leva a que se busque conhecer o que pode ser potencializado,
em Angola já passa – não só pela busca de um maior conhecimento do que pode ser
comercializado – como por medidas de incentivo ao mesmo.
Os objectivos da coroa, sua patrocinadora, eram amplos, procurando – dada a
prosperidade do império Português, dentro de uma dimensão mais prática - encontrar
novos produtos de reexportação. Consideramos então o mercado para os produtos
coloniais, no final do século XVIII para integrar a procura da coroa numa dinâmica
mais lata. Mas para tal vejamos o peso do mercado exótico, dentro do seu peso nas
reexportações para a Europa.
Nesta lógica e crescimento, o objectivo que estaria presente, no qual se insere a
noção de diversificação da produção de D. Rodrigo de Sousa Coutinho, que passa pela
aclimatação e a remessa de produtos raros, se possível só existente naquelas paragens,
de modo a exportar para as praças europeias.
Para se equacionar o sucesso dessa política, é necessário perceber o mercado
internacional no final do século XVIII. Como Henri Denis bem refere, o que importa –
dentro da corrente mercantilista – é a existência de um mercado de escoamento para os
produtos, quer da terra, quer da indústria, começando por mercados locais expandindo
1 Ângela Domingues, op cit, p. 136.
2 Idem, Ibidem, p. 140.
107
para mercados internacionais1. O século XVIII é caracterizado pela busca de bens
exóticos entre os quais das diferentes partes do Ultramar2. Sobre esta procura Maxine
Berg e Elizabeth Eger referem a procura pelos produtos da Ásia, principalmente das
sedas e porcelanas chinesas3.
No entanto esta procura e gosto pelo exótico, não se restringe a estes produtos. Aos bens
de consumo industriais, e agrícolas tradicionais, juntam-se também novos produtos
provenientes do restante Ultramar4, dos quais se destacam os bens de consumo vindos
das Américas5. A expansão desse consumo, que leva que figurem novos produtos no
consumo quotidiano, o que atesta que houvesse mercado para se escoar quaisquer novas
produções.
A par desta procura junta-se o aparecimento e o alargamento do espectro social
de consumo dos mesmos, nos cafés, nos restaurantes, que não era um hábito restrito só
as elites6. A procura dos produtos nativos de Angola, está – na minha interpretação –
ligado a este mesmo exótico.
Ora a procura e a taxa de lucro dos produtos exóticos, era por si um incentivo a
que se procura-se novas produções para o mercado europeu. Um exemplo disso, está
nos lucros da reexportação que, não advém nem de açúcar, nem de algodão, mas de
produtos designados como drogas, como o óleo de Copaiba (144,08%), Gengibre
(216,07%), e o Pau-brasil (778, 71%)7. O grau de lucro destes bens era um incentivo há
busca e incremento dos produtos exóticos, para estimular a sua produção uma vez o
altíssimo lucro que se poderia auferir dos mesmos.
1 Henri Denis, op cit, p. 106.
2 Paul Butel, Histoire de L’Atlantique de L’Antiquité à nos jours, Paris, Perrin, 1997, p. 151.
3 Idem, Ibidem, p. 205.
4 Idem, Ibidem, p. 61.
5 James Foreman Peck, “Long Distance Trade: Long Distance trade between 1750 – 1914”, in The
Oxford Encyclopedia of Economic History, editor Joel Mokyr, Nova Yorque, Oxford University Press,
2003, p. 365.
6 Peter Musgrave, The Early Modern European Economy, London McMillian, 1999, p. 62.
7 Jobson Arruda, “A Economia Brasileira no fim da Época Colonial: a diversificação de produção o
ganho de monopólio e euforia do Maranhão” Revista de História da U.S.P, 1988, p. 8.
108
Sobre estas viagens, a historiografia refere, dentro dos objectivos pretendidos,
que os resultados foram ténues e pouco relevantes, a não ser a representação espacial do
mesmo. Segundo Carla Ventura que aborda a questão sobre a exploração geográfica, e
as habilitações dos diferentes enviados da junta, e pouco a recolha que é feita pelos
mesmos, dando mais enfase a Moçambique que Angola. No pouco que dá no caso de
Angola faz uma pequena referencia as deficientes condições, que os naturalistas tinham
para fazer o seu trabalho1.
Nesta dimensão socio-económica há pouco conhecimento do sertão, ao contrário
do Brasil onde, devido à acção dos Bandeirantes, há um conhecimento relativo o qual
não o há em Angola. Estas expedições permitem uma primeira observação, sobre o que
pode ser comercializado no sertão abrindo caminho a sua potencialização. Nessa
perspectiva é um sucesso, não nos quadros dos objectivos da coroa, por permitirem uma
descompartimentação do sertão, permitiria uma futura – no caso do sertão próximo –
ocupação e aproveitamento dos recursos que de lá se poderia auferir.
É, segundo esta visão, diante do mercado quer colonial, quer europeu, que a
acção e objectivos dos naturalistas se desenvolvem, segundo os parâmetros indicados
pela Academia Real das Ciências.2
Estes, nas suas viagens, deveriam recolher todos os elementos necessários à
História Natural, assim como realizar as suas observações viagens, e enviando quer
produtos, quer memórias, respectivamente para Lisboa. As viagens filosóficas estão
inseridas neste esforço, no qual dentro de um reconhecimento científico há também uma
dimensão económica.
Vejamos agora qual os objectivos, e os sucessos das mesmas viagens mediante
os interesses económicos. J.B Teixeira, que salienta a formação de botânica de Joaquim
José da Silva, destaca como seu objectivo descobrir plantas, que visassem a
1 Idem, Ibidem, p. 53.
2 A.H.U, Conselho Ultramarino, Angola, Caixa 66, doc. nº 40, 16 – 12 – 1783 e Isabel Ferreira Mota, op
cit, p. 77.
109
reexportação para as diferentes praças da Europa1. A acção deste naturalista todavia,
não se limitou a botânica mas delineou-se em dois pontos específicos: a avaliação que
faz dos terrenos de Benguela, e também inventariação dos produtos (mas não de acordo
com a quantidade com que se esperava que fizesse).
No entanto o mesmo J.B Teixeira omite (seja por desconhecimento, ou o não
aceso as fontes oficiais) que no período de chegada do naturalista estudado por ele, em
Benguela, foram vistas várias plantas de interesse que foram anotadas, afirmando que
estes poderiam preencher o Gabinete de História Natural de produtos curiosos e úteis2.
Já do sertão estima-se que tenha remetido para Lisboa: um herbário, vários minerais,
um frasquinho de petróleo, uma caixinha de pau com insectos, uma ponta de cabra
montesa, oito dentes de cavalo-marinho, sete costelas de mulher peixe3 entre outros
elementos.
Estes elementos, por mais díspares que pareceram, poderiam ter utilidade, nos
insectos, não identificados, poderiam – a semelhança da conquilha, terem propriedades
tintureiras. Logo, apesar de, não numa quantidade industrial, ele de facto envia e remete
produtos para a coroa para se proceder a sua avaliação.
Mas a sua acção não se limitou a mera proximidade das zonas limiformes da
autoridade portuguesa. Na sua demanda do sertão, os produtos que foram alvo de
recolha por parte deste naturalista foram: plantas de cariz medicinal, a aptidão das
mesmas regiões limiformes de Caconda, para as regiões que já começam a ficar fora da
alçada da autoridade portuguesa, para a prática da pecuária e para a produção de gado4.
1 J.B. Teixeira, Le Naturaliste Joaquim José da Silva Et les itinéraires Des Expéditions qu’il A Effectué
en Angola, de 1783 – 1804. Lisboa, Junta de Investigação do Ultramar, 1961, p. 103. 2 A.H.U, Conselho Ultramarino, Angola, Caixa 67, doc. nº 22, 7 – 10 – 1783.
3 http://static.publico.pt/files/revista2/2013-08-18/saotome/viagens_filosoficas.pdf 11 - 12 - 2013 00:00. 4 José Joaquim da Silva, “Extracto da viagem, que fez ao sertão de Benguella no ano de 1785 por ordem
do governador e capitão general do Reino de angola, o bacharel Joaquim José da Silva, enviado aquelle
reino como naturalista, e depois secretário do governo” O Patriota, nº2, p. 88.
110
Havia no interior do país, dadas as condições de pastorícia, mesmo que esta seja
preterida face a lã, gado quer caprino, quer bovino1.
Este papel é corroborado por alguma historiografia que enfatiza o papel do rio
cuanza no comércio da região, assim como da fertilidade a utilidade da agro-pecuária,
assim como de alguns elementos naturais2. A riqueza da actividade agro-pecuária é
também salientada por António José da Costa, capitão de infantaria que, na companhia
do sertanejo Gregório José Neves, vai ao sertão de Benguela fazer o reconhecimento
das potencialidades económicas3.
A avaliação feita, mais do que numa óptica de economia internacional, prende-se
com o abastecimento de carnes que eram escassas nesta praça, mas poderia ser a única
perspectiva? Apesar da documentação, não fazer uma avaliação numa óptica de tráfego
internacional, a mesma dimensão não deixa de estar presente.
Ao falar-se de Gado, fala-se de couros, um dos seus derivados, e a possibilidade
de se o trabalhar. Os couros eram o sexto produto, mais reexportado para por parte do
Brasil para Portugal e deste para a Europa, tendo como principais mercados a Itália e a
Inglaterra4. Segundo José Jobson de Arruda os couros (quer secos, quer salgados),
apresentavam as seguintes tendências: Hamburgo 8º e 9º produto mais procurado;
Inglaterra 6º e 7º; França 9º e 10º; Itália 17º e 18º; Holanda 4º e 5º; Castela 5º e 6º;
Rússia 6º; Estados Unidos 3º.5
Em Portugal havia um problema de comunicação com o interior de seu espaço
geográfico, o que fazia com que o couro que vinha do Brasil chegasse mais
frequentemente e fosse ai trabalhado. Se chegava mais facilmente os do Brasil, poderia
chegar também os couros de Benguela podendo desta forma serem trabalhados nas
manufacturas do Reino.
1 Jorge Pedreira, Estrutura Industrial e Mercado Colonial Portugal e Brasil, pp. 103 – 105.
2 Carla Ventura, op cit, p. 55.
3 A.H.U, Conselho Ultramarino, Angola, Caixa 117, doc. nº 24, 03 – 03 – 1807.
4 Jorge Pedreira, Estrutura Industrial e Mercado Colonial Portugal e Brasil, p. 106.
5 José Jobson de Arruda, op cit, pp. 308 – 310.
111
Esta conjuntura torna possível, dada a questão da utilidade e das novas culturas
(neste caso a África), que a potencialização das terras para a criação de gado, fosse um
meio de indicar a possibilidade de se aprimorar esta cultura nestas terras. Ora isto
implicava o aumento de unidades, que o mundo ultramarino poderia produzir,
permitindo (na teoria) o aumento da reexportação do mesmo produto.
A viagem não se salda a meu ver, num desastre porque há a remessa de produtos
dessa ordem, não há é a problematização das mesmas no plano económico. No entanto
dão a conhecer o sertão próximo de Benguela, realizando uma primeira potencialização
dos géneros que o mesmo poderia auferir. O que permitia a potencialização na prática
do se, e de como os projectos presentes na literatura poderiam, ou não, serem aplicados.
3.2 As Plantas Medicinais e o tráfego Negreiro
No entanto os achados no sertão não se limitam aos couros, mas englobam
também as plantas medicinais. As plantas em questão, ligadas à história da medicina
colonial, têm sido grande reflexão e inovação epistemológica cortando com o discurso
tradicional.
Presentemente esse campo do saber valoriza toda uma nova serie de interacções,
no qual um dos aspectos metodológicos mais focado é a interacção entre as diferentes
histórias médicas das diferentes nações1. Esta renovação, segundo David Arnold, leva
rejeição do discurso quase hagiográfico do papel da medicina europeia, começando a
integra-la em campos analíticos mais latos como com a política, economia e cultura2.
1 Anne Digby, Waltraud Ernest, & Projict B. Mukhari, “Crossing Historiographies, connecting
histories and their Historians”, in Crossing Colonial Historiographies Histories of Colonial and
Indigenous Medicine in Transnational Perspective editors Anne Digby, Waltraud Ernest, & Projict B.
Mukhari, Cambridge, Cambridge Scholars Publishing, 2010, p. ix.
2 David Arnold, “Medicine And Colonialism” in Companion Encyclopedia of The History of Medicine
editado W.F. Bynumand Roy Poter, vol 2, Londres/Nova Yorque, Routledge, 2004, p. 1393.
112
Neste ponto, dado o tema da minha tese, a minha abordagem a este tema será
dentro do aproveitamento económico e em que medida poderia se operar, que não
poderá ser desvinculada da História Natural. Esta corrente visava, além da
problematização sobre as plantas alimentares, o reconhecimento dos elementos naturais
- reino vegetal, animal e mineral - e todos os produtos que pudesse ser de utilidade
pública1.
Por outro lado, o século XVIII – no campo do naturalismo conhece enormes progressos,
principalmente encabeçados pelos naturalistas franceses que iram não se limitar
somente à observação, como também a classificar, nomear e definir as principais
classes, onde as espécies animais, vegetais, e elementos mineralógicos, se enquadram2.
No plano da Medicina este processo, resultante da obra de Lineu, dota a
medicina e as farmácias, de um sistema taxiológico que lhe permite classificar as
plantas e animais que tivessem efeitos terapêuticos. O qual, segundo Louis Nager, está
relacionada com a criação de novos sistemas racionais, assim como de prevenção de
doenças3. Isto permitia que os médicos tivessem acesso a um sistema de classificação
universal de acesso a informação, mais rápido do que até então estavam em vigor4.
Este processo – além de facilitar a categorização – permite que se tenha uma
noção da possível utilização dos mesmos elementos naturais. No pleno económico, isto
entra em contacto com as directrizes que indicavam que se buscassem todos os produtos
aos quais tivessem interesse5. O sistema mencionado, ao permitir um melhor e mais
rápido acesso a informação sobre as propriedades das mesmas – além de permitir um
mais fácil tratamento – permitia uma comercialização dos mesmos.
1 Pascal Duris, “Histoire Naturelle”, in Dictionnaire européen des Lumières direc. Michel Delon, Paris,
Puf, 1997, p. 544.
2 Idem, Ibidem, p. 546.
3 Lois N. Magner, A History of Medicine, 2ª Edição, Londres/Nova Yorque Taylor& Francis, 2005, p.
345.
4 João Rui Pita, História da Farmácia, Coimbra, Minerva, 2000, p. 167.
5 A.H.U, Conselho Ultramarino, Angola, Caixa 89, doc. nº 7, 7 – 10 – 1798, missiva 3.
113
Diga-se de passagem que, curiosamente, as primeiras referências, a produtos e
ervas medicinais de Angola, estão presentes – não em fontes oficiais – mas no terceiro
volume da História das Guerras de Angola de Cadornega. Esta – apesar da relativa
pouca historiografia – terá, nos Impérios Ibéricos, maior procura no século XVIII. Na
Espanha do século XVIII – com as reformas dos Bourbon – quer pelos interesses quer
dos Catedráticos de Medicina, quer pelos Grémios dos farmacêuticos, delineia-se como
um dos objectivos a recolha de plantas medicinais no Império Espanhol1. No caso
português, segundo M. Ferreira de Mira, no final do século XVIII há um grande
interesse na medicina natural, com enfase aos produtos do Brasil como a Cinchonina2.
No plano concreto, no Pará – a mando do Conde de Arcos ou do Bispo da Bahia
– eram recolhidos produtos medicinais índios, de forma a serem levados para o hospital
real militar de Lisboa e serem empregues e experimentados nos enfermos3. Mas e no
contexto de África, teria havido procura dessas plantas?
Sobre as plantas medicinais, Domingos Vandelli, faz algum numeramento das
plantas que se podem usar provenientes de África4. Nesta caso ele destaca a Sene, a
contra erva, a ipecacuanha, a salsaparrilha, jalapa, a Cascarrilha, a arapabaca ou
spigelia, tamarindos, canafistula, parreira, gengibre, quajaco, sassafraz, estoraque, e as
três novas cascas de quinaquina de Pernambuco. De São Tomé e Príncipe, este
menciona os bálsamos: o copaíba, cabureía, a cabureuta, omijiri5. Em Angola – a
semelhança deste exemplo no Pará – estas plantas são alvo de procura, por parte dos
naturalistas.
1 Jaime Vilchis, Victoria Arias, Ciencia y Técnica entre viejo y nuevo mundo siglos XV – XVIII,
Barcelona, Sociedad Estatal Quinto Centenario, 1992, p. 142.
2 M. Ferreira da Mira, História da Medicina Portuguesa, Lisboa, Imprensa Nacional de Publicidade,
1947, pp. 309 – 321.
3 A.H.U, Conselho Ultramarino, Angola, Caixa 68, doc. nº 65, 24 – 03 – 1784 Vide: A.H.U, Conselho
Ultramarino, Angola, Caixa 69, doc. nº 33, 04 – 10 – 1784.
4 Domingos Vandelli, “Memória sobre as produções deste reino, e das conquistas, primeiras matérias de
diferentes fábricas ou manufaturas.” In Memórias Económicas da Academia Real das Ciências dir. Luís
Cardoso, Tomo I, Lisboa, Banco de Portugal, 1992, p. 173.
5 Idem, Ibidem, p. 173.
114
Vistas as plantas ditas, consideremos o que a historiografia tem contemplado
acerca desta área. Na Medicina Africana, segundo John M. Zazhen e Edward. C Green,
observa-se uma rejeição aos médicos/curandeiros africanos1 mas, poder-se-á estender às
plantas? Os mesmos autores atestam, dando vários exemplos, do papel central das
plantas medicinais em África2. Segundo Pierre Louis Moreau de Maupertuis, a Europa
lucrava muito, não só, com a recolha de plantas medicinais do ultramar, como com o
trabalho que os físicos realizavam sobre os mesmos3.
Neste artigo, o autor em questão, faz enfase a transmissão de conhecimentos de
plantas, entre os africanos, povos das caraíbas, e os europeus. O mesmo refere que, no
passado se deu muita enfase a medicina colonial europeia, mas que, no presente –
prefere a hibridização, colecta, e troca de informações – como os novos campos de
análise historiográfica. Sobre essa questão, nos documentos, só há referência aos
sertanejos os quais trouxeram – não só as plantas – como a informação de sua utilidade.
Outro dos aspectos que é focado nas novas abordagens é a grande procura, quer
de plantas, quer médicos negros nas caraíbas, as quais tem inerente uma procura e troca
de conhecimentos médicos4. Neste ponto esta questão esta subjacente, uma vez que
tendo sido recolhida a informação do sertão, poderiam tê-la recolhido das autoridades
religiosas africanas.
1 John M. Zazhen e Edward C. Green, “Continuity, Challenge, and Change, in African Medicine” in
´Medicine Across Cultures History and the practice of Medicine in non-Western Cultures, Editor Helaine
Selin, Londres, Nova Yorque, Kluwer Academic Publishers, 2003, p. 3. 2 John M. Zazhen e Edward C. Green, op cit, p. 7. 3 Londa Shiberg “Scientific Exchange in the Eighteen – Century Atlantic World” in Soundings in Atlantic
History, edit. Bernard Bailyn & Patricia L. Denault, Cambridge (Massachusetts), Harvard University
Press, 2009, p. 294. 4 Londa Shibenger, op. cit, p.300 – 302.
115
Estas plantas não podem ser desvinculadas da questão do tráfego negreiro, um
dos pontos sobre o qual a medicina tropical tem começado a investigar. Segundo
Betania G. Figueiredo é que, a história do tráfego negreiro, tem sido abordada dentro da
Economic History, assim como nos campos da Cultural History. No caso do Brasil,
como indica Betânia G. Figueiredo, este assunto historiograficamente é mais abordado
numa óptica brasileira do que propriamente numa africana1.
A abordagem feita por esta investigadora, e nesta corrente, é feito dentro da
temática da escravatura. Este último tema, abre portas de investigação a diferentes
questões, como: organização de saúde por parte dos senhores de engenho; forma como a
população escrava lidava com esta questão; e medidas que eram usadas para
salvaguardar a saúde no século XVIII. De facto, a mortandade nas viagens de África
para o Brasil, era uma preocupação crescente. Na referência à lei de 1784, relacionada
com questões de saúde, impedindo que o número de escravos superasse a capacidade
dos navios de os transportar2.
Segundo Isabel Castro Henriques – apesar de o cuidado prestado aos escravos ser
melhor do que o dado pelos holandeses, que os portugueses não eram melhores que os
restantes – havia muitos meios e formas de arranjar espaço para os escravos, mas pondo
em perigo a saúde dos mesmos3. Segundo a mesma historiadora as estratégias usadas
passavam por: espaço para aguada ligeira, camarotes, oratório, eram eliminados com
vista a que houvesse mais espaço para as jóias negras do império. Foi com o intento de
evitar que a mortandade a bordo aumenta-se, no século XVII, a qual a lei de 1784
retoma, foram instituídas as arqueações para limitar o número de escravos a serem
levados nas embarcações.
1 Betania G. Figueiredo e Evandro C.G de Castro, “Os cuidados com os escravos no fim de setecentos” in
A Circulação de Conhecimentos Medicina, Redes, e Impérios, Cristiana Bastos e Renilda Barreto, Lisboa,
ICS, 2011, p. 104.
2 A.H.U, Angola, Conselho Ultramarino, Caixa 91, doc. 17, 12 – 03 – 1800.
3 Isabel Castro Henriques, A Rota dos Escravos Angola e a Rede do Comercio Negreiro, p. 175.
116
O não comprimento destas directrizes implicava condições propicias a má
alimentação e falta de higiene, que estavam na base das doenças a bordo e consequente
mortalidade. Já a continuidade destas mesmas directrizes revela a ineficácia das ordens
da coroa, e a necessidade de encontrar alternativas para permitir que não haja muita
mortandade de escravos pela degradação das condições a bordo1.
Segundo Klein grande parte da questão, está no discurso dos abolicionistas
Britânicos, que atacavam o tráfego, usavam como argumento o tratamento a bordo. No
entanto, como este reconhece, o número de escravos mortos durante o percurso rondava
os 18%, o qual – segundo o mesmo autor – não seria diferente da dos marinheiros2. No
entanto, na mesma obra, o mesmo historiador, indica que as percas que significavam a
morte de escravos para quem os traficava, e perca de rendimentos e investimento.
A falta de comprimento, das medidas das arqueações, obrigava a que se
pensasse em alternativas, dada a sua importância na cultura sacarina e outros produtos.
Para se perceber a associação desta corrente, de forma indirecta a que perceber o seu
papel no tratamento dos escravos.
Como já mencionei, a ideia de produtividade do Mercantilismo, englobava o
maior número de mãos a trabalhar sobre um produto é o que garantiria o aumento de
produção. O que implica que, para que esse tráfego possa ser regular, tenha de haver
saúde.
Postas estas questões torna-se crucial ver a questão da saúde do escravo começa
com uma dupla perspectiva, as condições de higiene, e o tratamento das patologias
enquanto na viagem. A preocupação com o escravo era crucial para o senhor de
1 Estes, quando colocados num barco focariam nos espaços quase até ao bico da proa, e até perto do
Castelo da embarcação, onde ficavam os camarotes e a enfermaria A questão que é abordada, no caso
das embarcações, é de que muitas vezes o espaço que deveria ser para os escravos segue para outras
pessoas, e no caso das sumacas é que o espaço dos camarotes, que durante as arqueações é mudado, para
poder albergar mais escravos A.H.U, Angola, Concelho Ultramarino, Caixa 91, doc. 17, 12 – 03 – 1800.
2 Herbert S. Klein, O Comércio Atlântico de Escravos, pp. 129, 133.
117
engenho, uma vez que o escravo em boa saúde teria um valor de mercado superior ao
mais combalido1.
Uma das vertentes do Iluminismo estava relacionada com a saúde pública e a
prevenção de doenças2. O tratamento da mão-de-obra negreira, os capitais empatados na
sua captura e exportação, exigia cuidados médicos para não se perder muito do que
havia sido investido3. Parte desse processo, passa pela recolha de plantas, das diferentes
partes do ultramar, para serem analisadas as suas propriedades.
No artigo em causa, no caso do tráfego negreiro britânico o autor considera a Malária a
causa predominante de mortandade4. As consequências de haver esta superlotação na
saúde eram, bexigas, sarna, escoborto, que vitimavam muitos escravos5. A par destas
doenças, outras eram associadas, em outras fontes, eram: as febres; bicho de luanda,
constipações, bexigas, sarampo6.
Na sua obra sobre os conhecimentos empíricos dos fármacos, Maria Benedita
Araújo – além de todo o aspecto místico associado a sua recolha e preparação – dá uma
ideia da importância dos mesmos produtos vindos do ultramar na Europa. A mesma dá
enfase há: a raiz de mututu, utilizada como anti-séptico, analgésico e anafrodisíaco; o
pau quiseco e o quicongo, que entre outras aplicações, servia como analgésico; o pau
angrariari e suas sementes, com fortes propriedades anti diuréticas e anti inflamatória
das vias urinárias, entre muitas outras7. Mas esta não é a única referencia, as doenças
que vitimavam a bordo os africanos.
Uma das memórias da Academia, a de Luís António de Oliveira Mendes, fala
sobre as doenças que vitimavam os africanos. O texto por si é interessante, mas no
1 Betania G. Figueiredo e Evandro C.G de Castro, op cit, p. 94.
2 João Rui Pita, op cit, p. 171.
3 Betania G. Figueiredo e Evandro C.G de Castro, op cit, p. 105.
4 Richard H. Steckel & Richard A. Jesen, “New Evidences on the cause of Slave and Crew Mortality
in the Atlantic Slave Trade”, in The Journal of Economic History Vol 46, Nº 1 (Mar., 1986), pp 65 –
67.
5 A.H.U, Angola, Conselho Ultramarino, Caixa 91, doc. 17, 12 – 03 – 1800.
6 Luís António de Oliveira Mendes, Memórias a Respeito de dos Escravos e Trafego da Escravatura
entre a Costa d’Africa e o Brasil, Porto, Publicações Escorpião, 1977, pp. 61 – 67.
7 Maria Benedita Araújo, O Conhecimento Empírico dos Fármacos nos Séculos XVII e XVIII, Lisboa,
Edições Cosmos, 1992, pp. 43 – 47.
118
contexto deste trabalho irei ficar exclusivamente a questão das doenças as quais ele
contabiliza como: febre, do bicho (lombriga), constipações, bexigas, sarampo1. A par
destas temos as que são enviadas pelos naturalistas para Lisboa em 1784, às quais é
acrescentado uma relação de como eram usadas e deveriam ser preparadas2.
Das que são encontradas no sertão, são destacadas pela correspondência: a
Murinhoca, que é usada para a Gonorreia; a Muhundogol que era útil para o tratamento
de lombrigas; a Muxaxacia que é usada para as febres; a Chatalango que é descrita
como útil para as dores de cabeça; O Pau Luisam ou Quiceco que serve para equizemas,
a Makangasuesue que é usada para barrigas inchadas e lombrigas.
Noutro documento, em 1804, há uma lista das plantas enviadas para Lisboa por
parte do governador, sendo febres, cicatrizes e ulceras, os principais sintomas sobre as
quais estas agem3. Entre estas, outras doenças como, febre, diarreia4, perigavam os
escravos, e onde estas plantas agiam. As condições geradas pelo não-cumprimento das
arqueações, fazia com que o sistema imunitário dos escravos ficasse mais fraco
tornando-os receptivos a estas doenças dadas as condições das viagens.
Uma outra questão prende-se com a familiaridade destas plantas para as próprias
jóias negras. Uma das questões que levava, a que os escravos não tomassem os produtos
que lhes eram dados era a falta de familiaridade com eles. Tratando-se de boticas feitas
com produtos africanos, tornava mais fácil a sua aplicação, uma vez que o público-alvo,
os escravos, estariam familiarizados com esta medicação o que aumentaria a
probabilidade de consumo e redução das enfermidades. Desta forma, estar-se-ia a
1 Luís António de Oliveira Mendes, “ Discurso Académico ao Programa: Determinar com todos os seus
sintomas as Doenças agudas, e crónicas, que mais frequentemente acometem os pretos recém-tirados da
África: examinando as causas da sua mortandade depois da chegada ao Brasil: se talvez a mudança do
clima, se a vida laboriosa, ou se algum outro motivo ocorrem para tanto estrago: e finalmente indicar os
métodos mais apropriados para evitá-lo, prevenindo-o, e curando-o. Tudo isto deduzido da experiencia
mais sisuda e fiel” in Memórias Económicas da Academia Real das Ciências dir. Luís Cardoso, Tomo
IV, Lisboa, Banco de Portugal, 1992, pp. 27 – 29.
2 A.H.U, Conselho Ultramarino, Angola, Caixa 68, doc. nº 65, 24 – 03 – 1784.
3 A.H.U, Conselho Ultramarino, Angola, Caixa 107, doc. nº 8, 18 – 07 – 1803.
4 Richard H. Steckel & Richard A. Jesen, op cit, p. 59.
119
pensar em potencializar este produto, numa dinâmica, não só, mas numa vertente da
economia atlântica.
Ora se atendermos bem as características das plantas medicinais, acima adscritas
elas tinham, segundo os governadores, as funções que elas tinham era de curar estes
malefícios. A lógica seria então a reexportação para o Brasil ou para as Embarcações de
modo a terem os meios de combater os flagelos que perigavam as vidas dos escravos.
Dentro destes objectivos, desenvolvi duas teorias uma em como estas plantas seriam
aplicadas de forma directa, outra de forma indirecta dentro da ideia de um circuito
económico.
A forma de acção indirecta neste caso, equaciona-se, ai permitirem a
sobrevivência de mão-de-obra escrava, permitia que mais mãos houvessem para o
cultivo, e dessa formas e pudesse aumentar a produção no Brasil, estando ligada a uma
prática de complementaridade da economia do ultramar.
Na indirecta o tratamento deste assunto seria na venda e reexportação, dos
mesmos no circuito comercial (ligada ao mercantilismo). Mas para tal, devemos
primeiramente considerar a circulação das plantas medicinais no mundo atlântico. As
plantas medicinais referidas, não eram consumidas na própria cidade. Os dados da
exportação deste bem não indicam uma correlação entre os medicamentos exportados e
importados diferem1.
A par desta questão - estes produtos por si levantam um problema, em Benguela
há – neste período – falta de médicos e de medicamentos, tendo que vir a sua grande
maioria do reino, assim como no Brasil. Por outro lado ele fala da dificuldade em
arranjar as plantas medicinais: dado a falta de submissão, como também de autoridade2.
Faça-se primeiro uma consideração, sobre o acesso das praças de África (Benguela de
onde há mais informação), aos produtos de Botica. A própria reexportação deste bem
1 Tabela 21, pp. 185 – 187.
2 A.H.U, Conselho Ultramarino, Angola, Caixa 69, doc. nº 33, 04 – 10 – 1784.
120
correspondia a uma percentagem mínima para Angola (cerca de 1%)1. Mas a constatar
pelas tendências de exportação, numa comparação, esta não seria o principal objectivo,
o que a tornava um negócio nem por ai além.
Esta tendência mantem-se em 1802, uma vez que a grande maioria dos produtos
de botica, ou das chamadas drogas, eram provenientes do reino ou do Brasil, apenas
algumas eram autóctones2. Há uma dupla leitura que se pode fazer sobre o transporte, e
valorização destes produtos. Segundo José Pinto de Azevedo, dada as fracas chuvas,
quer em Angola, quer em Benguela, não haveria plantas nem balsamos de grande
qualidade, mesmo, segundo ele, nos sertões de Benguela3.
Este autor, ao falar sobre a produção das mesmas, contraditoriamente, afirma
que, o seu trato quer nos arredores, quer nas proximidades rivaliza com os dos
Europeus. Estas por sua vez, apresentam dificuldades na aclimatação, sendo ordenado
ao governador de Benguela que remeta uma série de sementes para a metrópole, mais
especificamente para o Jardim da Ajuda4.
A ideia de as remeter a Lisboa, está dentro da prática experimentalista do
iluminismo, onde estas seguiriam para a o Jardim Botânico, e depois para o Hospital.
Nos mesmos espaços visavam a aprimorar-se e experimentar-se, se de facto estas
tinham as propriedades que lhes eram associadas.
Dentro da directriz de ligação directa mais sólida, a meu ver estas plantas,
seriam exportadas para Portugal, e, caso resultassem, experimentadas nos hospitais de
Lisboa e do Reino, ou no Jardim Botânico da Ajuda, seria reexportada para o Brasil, de
modo a combater esse flagelo. No entanto há um pequeno senão; tratando-se de plantas
tropicais, não teriam hipótese de se darem no clima a norte do equador. A questão da
1 Gráfico 1, p. 188.
2 A.H.U, Conselho Ultramarino, Angola, Caixa 103, doc. nº 21, 08 – 02 – 1802.
3 José Pinto de Azevedo, Ensaios sobre Algumas enfermidades de Angola, Lisboa, Colibri, 2013, p. 40.
4 AHU, Conselho Ultramarino, Angola, Caixa 102, doc. nº 26, 21 – 10 – 1801.
121
aclimatação de produtos tem sido amplamente debatido dentro dos bens de consumo
alimentar – assim como os proveitos económicos que se poderia auferir das mesmas1.
Uma outra questão relativa aos jardins botânicos é que os mais antigos seriam dedicados
a plantas medicinais associados a universidades2. Desta forma, e tendo em conta a
história dos Jardins botânicos, e as próprias instruções - que afirmam que não só seriam
as plantas de sustento objecto de cultivo - abre a hipótese de serem este tipo de plantas a
serem cultivadas no projecto embrionário.
Assim, está aberta a possibilidade, assim como dos produtos para a
reexportação, sendo estas plantas cultivadas propriamente dita em Angola. Isto implica
a criação de uma rede comercial, na qual as plantas eram produzidas em Angola para
serem reexportadas para Lisboa (visando averiguar-se as suas propriedades) e dai para o
Brasil. Neste caso não haveria uma relação directa, mas sim indirecta, no qual passava
que este bem em vez de ser exportado directamente entre as duas colónias passaria
primeiro por Lisboa.
Por outro lado, ao operar sobre as enfermidades do escravo, esperava-se que
reduzisse a mortandade, permitindo o tratamento do maior número de escravos à
chegada, e que, dessa forma, houvesse o maior número de mão-de-obra a lavrar as
terras.
Para a aplicação do projecto busca-se, quer na aclimatação, quer na procura de
bens do sertão, produções com as quais se posso permutar. Procura que enfatiza o
exótico, como forma de procurar maximizar esse mesmo lucro. Nesta óptica, para se
aplicar o projecto, é necessário tomar um maior conhecimento do sertão, que passa pela
elaboração de espaços onde se possa produzir essa mesma aclimatação.
Nesta procura, no plano da aclimatação, procura-se incrementar produtos visando o
mercado internacional assim como manufacturas. No plano das plantas exóticas, apesar
1 James Mclalen III “Scientific Institutions and the Organization of Science” in The Cambridge History
of Sciences dir. Roy Porter. Vol. 4, Cambridge, Cambridge University Press, 2008, p. 102.
2 Idem, Ibidem, p. 101.
122
de com os mesmos objectivos da aclimatação, os produtos dai auferidos tinham maior
impacto no mercado interno do mundo ultramarino português. Nesta vertente – apesar
de não serem inovadores – há a inovação, ao equacionar-se como, e onde, poderiam ser
produzidas.
Ressalva-se também – além dos projectos e da literatura – a acção das redes
formais e informais, que permitiram avaliar a viabilidade dos projectos e o
reconhecimento das potencialidades do mesmo.
123
Conclusão
No plano geral, (ao contrário do que tem sido dito pela historiografia) posso
constatar que há um projecto económico elaborado para a Angola no segmento
cronológico em questão, que se integra no leque de reformas para o ultramar. Este,
segundo a documentação existente no A.H.U era anterior ao século XIX, já estando
presente nele todas as bases – em moldes diferentes – do que serão aplicadas no findar
de oitocentos. O que o torna, numa leitura conjuntural, um projecto que se integra numa
média/longa duração.
Numa dimensão política, as reformas pretendiam integrar e interligar o ultramar
dentro de uma óptica corporativista, tendo em conta a “hidra revolucionária” do fim de
setecentos. Um dos vectores de unidade era a economia, com a qual pretendia-se criar
laços entre as diferentes partes do ultramar e a metrópole; projecto que, por sua vez, se
integra numa problemática da matriz do pensamento e discurso económico no Portugal
do período em estudo, neste caso se estamos diante fisiocracia, mercantilismo, ou
naturalismo económico. Nesta questão, dados os objectivos últimos onde, na última
vertente, a potencialização dos bens agrícolas, está relacionada com a comercialização
dos mesmos, dá uma filiação a prática do mercantilismo.
Por esta passa – dentro da vertente prática do iluminismo – a exploração e
potencialização do sertão, (que tem inerente a avaliação dos seus recursos naturais), dos
elementos quer vegetais, animais, e mineralógicos, visando a sua exploração
económica.
Já no plano mercantilista, está presente um aumento da exportação portuguesa
na colónia em questão, o reforçar das relações directas entre Portugal e as praças que
são hoje Angola. As ideias em questão, e sua institucionalização, dentro do pendor
reformista, estão relacionadas com os arbítrios das M.E.A.R.C, assim como as suas
redes sociais articuladas com o poder, no qual está subjacente a ideia de se conglomerar
as diferentes partes do Império pelas trocas mercantis.
124
Por outro lado, um dos objectivos era o incremento do consumo dos produtos do
reino, nas praças de Angola o que obriga a que se passa a proceder ao estudo da relação
económica entre as praças de Angola e o reino. O mesmo traduz-se por um saldo
positivo entre Portugal, e a mesmas possessões mas que – no contexto do comércio
colonial – não seria o objectivo primordial. As colónias, no que diz respeito as
transacções, não tinham como principal prioridade o saldo positivo, mas a permuta por
matérias-primas de modo a sua transformação e comercialização, as quais – por sua vez
– deveriam estar na base do saldo positivo (quer pela manufactura, quer pelo comércio)
com outras partes do mundo.
Apesar de haver um superavit de Portugal – como assim era esperado, este era
fruto da reexportação dos produtos da Ásia, do que do consumo de produtos do reino. É
neste âmbito, que se deve problematizar os produtos transaccionados, de Portugal para
Angola.
Ao observar os produtos que eram exportados, a sua tendência e sua utilidade,
por um lado estes mesmos produtos e o incremento dos bens agrícolas, e industriais do
Reino, dada a tendência de exportação, mais do que o mero consumo, estava
relacionado com a permuta do sertão visto serem usados para o escambo negreiro.
Logo, a diretriz de incrementar os produtos, mais do que mero consumo, tem subjacente
uma dimensão comercial, visando o aumento do peso dos produtos do reino no mesmo
processo. Mas, mesmo o incremento desses mesmos bens, tinha subjacente a ideia de
serem permutados por diferentes bens.
No caso das manufacturas, e sua introdução, estas tinham como principal
circuito o Brasil, para trocar por açúcar, algodão, couros, e outros produtos; enquanto os
alimentos, dada a fraca absorção pelo mercado brasílico, encontrava uma oportunidade
de permuta em Angola. De facto, dados os principais produtos alimentares, quer das
manufacturas, não fazerem parte dos hábitos alimentares em Angola, dá-lhes utilidade
não no consumo, mas antes na questão da permuta que era o destino dos vinhos,
125
principal exportação alimentar. Dentro do plano da economia, e do pensamento
económico, há um funcionamento que se pauta pelo mercantilismo uma vez que, mais
do que consumo, os bens eram elementos de permuta. Dentro da dimensão da história
das ideias, na prática, apesar de todo o discurso, estamos diante de objectivos, e o
funcionamento da economia de Angola, mais na óptica de um mercantilismo no qual se
insere o projecto, numa óptica, diante os dados presentes de aumentar os meios de
permuta disponíveis no sertão, mas com enfase nos produtos do Reino para o mesmo
efeito.
Este, no entanto visava três objectivos claros: a continuação das actividades
económicas tradicionais; o incremento de novas exportações para o reino – e
consequente reexportação para o mercado internacional; e aumento do consumo dos
bens do reino nas praças de Angola.
Esta questão relaciona-se com os bens de permuta, por escravos e logo o ponto
de partida, para se proceder a mutação das tendências de consumo no próprio sertão.
Há, para este período uma ordem de procura no sertão, o qual não passa pelos produtos
portugueses de maior exportação, nem os que se queriam que aumenta-se o consumo.
Neste caso as produções portuguesas, quer as armas, quer as bebidas, encontram
uma conjuntura negativa. No caso das armas, estas apesar de serem de enorme
importância, no reforço da centralidade dos altos dignatários africanos, Ngolas, Sovas, e
demais titularias, e não causar nenhuma ruptura social, antes o reforço das mesmas, não
sendo elemento de fractura, mas antes de reforço, o que lhes dava, em teoria, uma
grande procura no sertão.
Estas – por um lado – por irem contra os objectivos portugueses na região, por
outro por não serem da mesma qualidade que eram apresentadas pelos ingleses e
franceses. Estes factores, quer por parte das autoridades locais, quer por parte das
autoridades africanas condicionava a validade deste bem como bem de permuta. Por
126
outro, a própria superlotação do próprio sertão, no acesso a estes bens, no qual – dada a
qualidade reduzida – das mesmas.
No plano do álcool, vindo do Brasil, temos questões fiscais que, se por um lado
são perceptíveis para aumentar a exportação de bebidas do reino, em detrimento das do
Brasil, mas que reduzem o consumo, mas curiosamente não são eficazes em reduzir a
exportação. Se por um lado é pela perca de validade, no tráfego negreiro, por outro
poderá ser pela presença de alambiques no sertão que, apesar de haver uma referência
documental, poder-se-ia prolongar no tempo sendo um dos factores.
Estas questões levam à desvalorização dos bens, que seriam os de maior procura
no sertão. No plano da permuta, quer para as armas portuguesas, quer para as bebidas,
as exportações tradicionais estão em perca de poder e influência no sertão.
Por um lado, no caso das jeribitas, estamos diante de uma estratégia de tentativa
de redução do peso da mesma face aos vinhos, no caso das armas houve por motivos
militares, ou por motivos de qualidade, uma quebra do mesmo bem que ia contra os
objectivos da coroa portuguesa. Ora se do lado das jeribitas a sua desvalorização, dentro
deste projecto, agradava a coroa, mas esta por si também não implicava o aumento da
exportação do vinho para estas paragens, e que, mesmo com a redução a sua
importância aumentasse como moeda de troca.
No plano da introdução dos bens, na dimensão escravocrata, nota-se uma grande
inviabilidade conjuntural sobre a introdução dos mesmos bens, o que nos leva a ter em
atenção, devido a reexportação dos bens da Índia onde se destacam as fazendas da
mesma predominância.
No século XVIII, na costa do Biafra, e em outras paragens, começa-se a
perceber que, em vez dos meios tradicionais, as fazendas da Índia começam a ganhar
peso. Ao contrário do que toda uma historiografia diz, havia, da parte dos mercadores
portugueses, acesso a este bem, que está relacionado com um aumento da exportação da
Ásia em Portugal.
127
Aqui entra a questão das fazendas da Índia, que são o principal produto de
reexportação dos portugueses para as mesmas paragens, com a dita finalidade de
permuta. No plano geral a sua reexportação, é fruto do aumento do comércio de
Portugal com aquelas praças, independentemente se a serviço de outra nação europeia
ou pelo próprio tráfego. Mas a par da abordagem económica, há também uma
abordagem sociológica sobre a mesma temática. Estas, no momento em que se tratam
de fazendas vindas da Europa, e não provenientes de Portugal apresentavam um grande
obstáculo aos objectivos portugueses, uma vez que não favorecem a manufactura lusa.
Mas não é só no plano da rede de circulação, mas nas redes mercantis que esta questão é
laudível.
Num plano sociológico a sua obtenção questiona seriamente a noção de
triângulo comercial, mas – dado que muitas delas devem ser pagas em prata e não por
permuta- coloca as redes portuguesas sobre dependência das redes intra-índianas para se
obter os mesmos bens. Isto leva a que, nesta lógica, da coroa, em vez de se proceder a
acumulação de metais preciosos se denote a perca dos mesmos.
Esta questão obriga a que se estude seriamente, Sobre a interligação do das redes
mercantis, já se começa a estudar no caso da articulação do Brasil com a Índia, mas
agiriam estas autonomamente ou sobre ordens das casas comerciais portuguesas, uma
vez que grande parte dos mercadores no ultramar agiam em articulação com as casas
mercantis do reino.
No plano económico, na relação directa para Portugal, está subjacente uma
relação deficitária com a Ásia, mas necessária – numa óptica atlântica - para obter as
joias negras do império força motora da economia portuguesa. Outra questão, a par do
acesso as mesmas, Já das fazendas em si, que poderão ser contabilizadas para o período
em questão, mas não – enquanto comparando as fazendas exportadas com as fazendas
de procura assistimos a uma diferença entre a procura e o que era usado como permuta.
128
Mas, se há um grande nível de exportação das mesmas fazendas, este índice,
nem o que atesta a documentação oficial é a própria prática da actividade mercantil que
atesta a importância do mesmo bem – no período em estudo – como moeda de permuta.
Se por um lado a um consumo, pressupõem-se que haja um motivo para tal no
mesmo sertão. Os quais tem a sua hegemonia no comércio, por tráfego negreiro, a meu
ver, dado – pelas suas cores – o apreço e o símbolo de status social nas sociedades
africanas. No entanto, apesar de ser um dos produtos de maior exportação, ao
verificarmos as fazendas que eram reexportadas na Ásia, não eram as de maior procura
no sertão Africano.
Desta forma as trocas estavam sujeitas, não ao que os portugueses queriam
implementar, mas a procura e valorização que estas tinham no seio das sociedades
africanas. O papel do peso das fazendas da Índia, se bem que com um peso
diversificado, se por um lado tem uma dimensão comercial mais lata da relação
Portugal–Ásia, e uma dimensão sociológica, tem o seu peso devido a questões do
mercado Africano, assim como a da relação com as restantes moedas de escambo.
Em comparação com as moedas de escambo – que por vários motivos passam
por retracção – as fazendas da índia passam por um período de crescimento da sua
importância relacionada com a própria procura do sertão. No plano da permuta, e do
projecto colonial, a procura destes bens inviabiliza a substituição destes bens como
parte da dimensão mercantil do mesmo projecto.
Dada a dimensão da permuta, e o peso dos bens, deve-se equacionar o comércio
negreiro. É nesta situação, que se pode contemplar o tráfego negreiro, e todo o processo
inerente. Ao verificar toda a problemática dos números, das fontes estatísticas que nos
chegaram até aqui, que, o número do tráfego passa por uma estabilização a qual, nas
regras da época, era apontada como estagnação onde o tráfego negreiro não aumenta.
Nestes destaca-se São Paulo de Assunção de Luanda, da qual parte a grande
maioria dos escravos, excepto em uma situação conjuntural onde em um ano Benguela
129
supera Luanda. Mas, mesmo com o acesso a estes bens, não há o crescimento do tráfego
negreiro, que me leva a equacionar – que mesmo com a não procura no sertão – se não
seria uma forma de aumentar, nem que fosse residualmente, o mesmo escambo
negreiro. No entanto o mesmo não seria suficiente para aumentar, aos níveis
pretendidos inviabilizando a dimensão do tráfego tradicional.
Numa escala regional, está presente a seguinte tendência. Destaca-se o papel do
Rio de Janeiro, como a capitania para onde provinham a grande maioria dos escravos,
seguindo de perto por Pernambuco e por uma Bahia que vai perdendo peso até ao fim
do período em estudo. No caso desta última, ao contrário do que diz toda uma
historiografia, não é um dos principais actores económicos naquela região, mais pela
falta de peso da sua mais forte moeda de permuta na permuta.
Destaca-se por outro lado, as capitanias do Noroeste onde o tráfego passa por
um crescimento, que deve-se a isenção de direitos reais que visavam o aumento do
fornecimento de mão-de-obra para a indústria algodoeira. O fenómeno, porém, não se
resume ao tráfego Angola-Brasil, estando presente uma dimensão cis-continental. No
caso de Benguela o fenómeno é semelhante, acrescentando-se apenas a terceira posição
do tráfego para Angola, para onde foi um considerável número de escravos, cujo seu
destino mais certo seria o circuito atlântico.
Se do plano da permuta as bases, pela falta de projecção do projecto no plano de
Angola, tinha pouca margem de manobra obriga a que Portugal tenha de optar pela
procura de novos produtos, nos quais esta permutação poderia ter resultados mais
imediatos. Nesta procura, incluem-se uma dimensão múltipla de procura: plantas
cultivo, aclimatação, e plantas medicinais.
As primeiras, hipoteticamente, numa óptica de mercado interno, caso do açúcar
e algodão, as restantes (caso das plantas medicinais), numa óptica atlântica. Ora a falta
de meios dentro das práticas mercantis normais, leva-me a ponderar até que ponto a
exploração de outros produtos do sertão, não possibilitariam a mesma operação. Esta
130
procura no sertão ligada a um exótico, pretendia tirar partido desse gosto do século
XVIII, para melhor lucrar pela raridade, pela novidade, dessas plantas no mercado
europeu.
Este, que, na sua concepção, passa por um crescente reconhecimento do sertão,
que é feito quer pelas redes oficiais assim como as oficiosas. Estes, do ponto de vista
das redes oficiosas, executadas pelos naturalistas, tinham como objectivo proceder ao
reconhecimento, o que de facto é por eles procedido. Nestes eles avaliam produtos,
além dos animais exóticos, que poderiam ser explorados numa dimensão económico
onde, quer pela acção dos naturalistas, quer das ditas redes oficiosas, se destacam quer
os couros, produtos medicinais.
A promoção destes produtos, dentro da problemática da natureza do projecto
para Angola, só os do ferro correspondem a continuidade dos projectos de Sousa
Coutinho. Mesmo, como indica Ralph Delgado, que já houvesse sido equacionado –
desde o século XVII – o cultivo de açúcar, e algodão, não há uma ideia tão definida
onde, e como deveria ser implementada. No projecto para o período em questão, já há
uma dimensão espacial que que se integra quer num discurso económico, quer numa
prática económica, de forma estruturada e não ambígua. Se em parte passa pelos
projectos de D. Rodrigo de Sousa Coutinho, por outro lado, é redutor considerar o único
pendor reformista havendo um espectro mais alargado englobando os debates da
história do pensamento económico.
Os produtos em questão, apesar de não poderem serem eficazes para o tráfego
internacional podiam ser uteis no comércio com a metrópole, e quer numa dinâmica
mais Atlântica. No caso dos primeiros, com uso para uma das indústrias de – apesar de
não ser de tecidos – de maior projecção permitindo o aumento da exportação de Couros
para Portugal. A segunda, quer pelo tratamento a ser dado em Lisboa, ou como produto
de reexportação, pela acção de preservar ou curar os escravos que vinham das Áfricas,
permitindo uma redução da taxa de mortalidade, e logo mais mão-de-obra a trabalhar no
131
nas plantações. Os quais, quer na utilização potencial, quer no circuito de circulação,
tem inerente uma prática, e um pensamento económico.
No plano da permuta, a introdução dos novos produtos seria um meio de – na
prática do comércio – promover a troca dos produtos do reino por estes bens. Mas,
implicitamente, essa não é a única questão levantada, pelo projecto em questão. No
mesmo, quer nas trocas, quer nos objectivos das mesmas, há uma dimensão
internacional, quer nacional, como destino do coeficiente da mesma permuta. Na
questão da internacionalização, temos de ter em atenção a questão da aclimatação de
produtos, os quais visavam principalmente o mercado europeu. O que, nesta
perspectiva, está relacionado quer com o contexto industrial português quer mercantil,
estando nas entrelinhas das intenções.
Apesar de esta problemática ser mais enfatizada as vindas da Índia para as
Américas, há planos para se realizar o mesmo procedimento em África: no que toca a
aclimatação de açúcar, algodão e anil, cacau, e café. Produtos que, eram de grande
procura nos hábitos de consumo de finais de setecentos. No que toca a historiografia, a
questão – da aclimatação – está relacionada com a questão dos novos brasis em África
não foi restrita ao século XIX, mas já se equacionava no fim do século XVIII numa
conjuntura de aumento das exportações de Portugal para a Europa.
Na óptica, e na lógica, desta teoria está subjacente a expansão e cultivo das
mesmas plantas para os solos de Angola. Produtos, que, neste caso (açúcar e algodão)
ligado o primeiro a exportação, e o segundo ao surto manufactureiro assim como o anil.
Ao, na teoria, poderem produzir estes produtos, seriam no plano do comércio, um
complemento ao que já era exportado e, no plano do algodão, e demais plantas, um
meio para suprir as carências das manufacturas do reino.
Mas uma dimensão que não se restringe a mera produção, estando ligada as
redes de informação. Desta forma, hipoteticamente a produção de África, abria uma
alternativa que poderia ser articulada com as manufacturas do Reino, oque, mais do que
132
fisiocracia, ou economia clássica, está dentro da relação normal entre colónia
metrópole, em que a primeira, não só pelo consumo das matérias-primas, mas também
pela cedência das mesmas, quer para exportação, quer para as manufacturas. No plano
sociológico, no caso destas plantas, estamos diante da acção das redes oficiais do
governador e autoridades portuguesas em Angola. Esta é que, diante das directrizes da
coroa, dá a percepção de se podem ser aplicadas, e se as mesmas podem ser aplicadas
do sertão, e tornam viável os projectos da coroa ou não.
No concreto, apesar de todo o campo interpretativo das ideias económicas,
estamos diante um projecto Mercantilista que visa a exploração e cultivo de produtos
para a reexportação para os mercados, quer nacionais, quer internacionais. Este na
prática não tem uma base fisiocrática, mas antes de naturalismo económico
instrumentalizado numa prática do mercantilismo comercial, mas já sobre os parâmetros
de despotismo iluminado. Contexto das ideias económicas, onde se formula, através
quer da Academia Real das Ciências, quer das redes oficiais de poder, são a base da
reforma económica no ultramar.
No contexto de Angola esta reforma, no incremento das produções do reino, está
relacionada com uma actividade de permuta, mais do que na prática de consumo. No
qual, dada a incapacidade de se aplicar a introdução dos bens pelas trocas tradicionais,
obriga a que se proceda a diversificação da produção. No qual o projecto em si, numa
dimensão prática, visava a substituição das fazendas da Índia, assim como dos bens do
Brasil por bens do reino com o aumento do consumo e remessa dos mesmos. O que,
consequentemente, aumentaria a interacção de Angola – não só com o Brasil – mas com
a metrópole, integrando este espaço africano numa dinâmica mais lata principalmente
nos circuitos internacionais da época.
Assim, pela economia, cumprir-se-ia um dos objectivos gerais da coroa que está
em consonância com as linhas elaborados pelo mercantilismo francês, sobre a
interacção múltiplas das colonias. Que por sua vez, tem influência no projecto
133
elaborado D. Rodrigo de Sousa Coutinho, cujo uma das interacções pretendidas era a
articulação da coroa e da metrópole. A qual, nesta linha, constituiria, a linha geral, seria
um dos pilares dessa unidade aglutinando as regiões que seriam, apesar do peso
económico, periféricas no plano politico.
Estamos então diante de um projecto, que apesar da componente política é pela
economia, onde pretende implementar reformas iluministas em Angola pela vertente
prática complementando e diversificando as actividades na mesma região.
134
135
Bibliografia
Fontes Manuscritas:
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Biblioteca Nacional
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Apêndices:
Tabelas: Tabela1
Diferença entre as importações e exportações entre Portugal – Angola e Benguela Diferença em Reis da Exportação de Portugal com Benguela e Angola
Ano Lisboa Angola Diferença Lisboa Benguela Diferença
1796 147576210 16408250 131167960 57220078 0 57220078
1797 126063212 0 126063212 77898608 0 77898608
1798 0 0 0 0 0 0
1799 427829486 7155000 420674486 0 0 0
1800 444749540 4228000 440521540 0 0 0
1801 665781400 27364800 638416600 0 0 0
1802 501301667 10942125 490359542 0 0 0
1803 480789012 2336000 478453012 0 0 0
1804 577243120 4779000 5772464120 0 0 0
1805 0 0 0 0 0 0
1806 566239620 16940200 549299420 0 0 0
1807 477082500 2342000 474740500 0 0 0
1808 0 0 0 0 0 0
1809 0 0 0 0 0 0
1810 0 0 0 0 0 0
Total 3783573241 92495375 9522160392 135118686 0 135118686
Fonte: Balanças Comerciais do Reino, Domínios, I.N.E, 1796 – 1810
158
Tabela 2:
Saldo Comercial Brasil/Angola
Diferença da exportação para o Brasil
Ano Exportação de Angola para o Brasil Exportação do Brasil para Angola Diferença Percentag
1798 664909100 82495805 582413295 11%
1799 828057880 88726370 739331510 14%
1802 826341020 162759360 663581660 13%
1803 992383500 161093020 831290480 16%
1804 985587950 213480200 772107750 15%
1805 1076159045 183132200 893026845 17%
1809 791645780 184522423 607123357 12%
1810 899440870 783347258 116093612 2%
Total 7064525145 1859556636 5204968509
A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, Caixa 93-A, 22 – 10 – 1799; A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, doc º 79, cx 89 1798, Doc nº 48, cx 93 – A, 1799, Doc nº 5, cx 106, 1803, Doc nº 54, cx 109, 1804, Doc nº 45, cx 112, 1805, Doc nº 6, Caixa 121, 1810.
Tabela 3:
Exportação e Reexportação de Portugal para Angola:
Diferença entre a exportação de Portugal Para Angola
Ano Exportação de Angol Exportação de Portugal para Ang Diferença
1798 9760480 71461593 61701113
1799 0 133737215 13373215
1802 7474260 271771070 264296810
1803 0 271972811 271972811
1804 7135110 289655020 282519910
1805 0 225003550 225003550
1809 0 96328270 96328270
1810 0 0 0
Total 24369850 1359929529 1215195679
Fontes: A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, Caixa 93-A, 22 – 10 – 1799; A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, doc º 79, cx 89 1798, Doc nº 48, cx 93 – A, 1799, Doc nº 5, cx 106, 1803, Doc nº 54, cx 109, 1804, Doc nº 45, cx 112, 1805, Doc nº 6, Caixa 121, 1810.
159
Tabela 4:
Relação de Benguela segundo os Mapas da Cidade com as Diferentes partes do Ultramar. Importação:
Valores Importados em Cruzados das várias praças em Benguela
Ano Rio de Jane Bahia Lisboa Angola Total
1798 375842,5 6913,5 376001,5 42534 801291,5
1801 186188,5 57278,5 876962 7447,5 1127876,5
1802 402993,5 21760 533636,5 13015 971405
1806 357594,64 25619,3 409249,8 2884 795347,69
1808 977163,13 82 7571 3633 988449,125
1809 802953 0 0 6380 809333
1810 687762,16 3100 0 3860 694722,16
Total 3790497,4 114753,3 2203421 79753,5 6188424,98 A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, Caixa 93-A, 22 – 10 – 1799; A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, doc º 79, cx 89 1798, Doc nº 48, cx 93 – A, 1799, Doc nº 5, cx 106, 1803, Doc nº 54, cx 109, 1804, Doc nº 45, cx 112, 1805, Doc nº 6, Caixa 121, 1810.
160
Tabela 5:
Total do valor dos diferentes géneros exportados de Lisboa para Angola entre 1796 – 1810 Mantimento Vários Produtos
Ano s Lanifícios Linifícios Géneros Metais da Ásia
1796 8844116 9139178 14055504 14118188 4628444 88885006
1797 2718321 13345338 9484842 5688692 4050006 55293631
1798 0 0 0 0 0 0
1799 17904100 45868600 16824140 9055280 5800030 298220000
1800 12175840 44901410 16768000 13450160 6071620 324258500
1801 25831360 39693190 27533060 30064470 18901135 496963100
11282237
1802 29206480 0 39150962 35534030 32690940 205701980
24747486
1803 18889760 87176602 0 45425690 23655115 240878320
10796000
1804 41191340 0 16340160 42548620 41347880 260041020
1805 0 0 0 0 0 0
12836380
1806 38338920 0 6360840 69001640 18557560 274110560
1807 29447245 87606120 11388500 34946010 17110725 262851150
1808 0 0 0 0 0 0
1809 0 0 0 0 0 0
1810 0 0 0 0 0 0
67687660 40538086 29983278 17281345 250720326
Total 67786165 8 8 0 5 7
Fonte: Balanças Comerciais do Reino, Domínios, I.N.E, 1796 – 1810
161
Tabela 6:
Alfândega de Luanda:
Exportação das Diferentes Praças para Angola
Exportações para Angola (em Cruzados)
Ano Portugal Asia Brasil Europa Total
1798 71461593 134953123 82495805 66655232 355565753
1799 133737215 256018715 88726370 102798290 581280590
1802 271771070 368555845 162759360 195715550 998801825
1803 271972811 323574100 161093020 238912747 995552678
1804 289655020 236879100 213480200 248507700 988522020
1805 225003550 521905300 183132200 133371700 1063412750
1809 96328270 244518200 184522423 63622860 588991753
1810 0 96606400 783347258 0 879953658
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Tabela 7:
Saldo Comercial de Angola com o total das Praças do Brasil
Diferença Exportações/Importações Angola Ano Exportaçãop Importação Saldo Percentag
1798 355565753 674669580 319103827 6%
1799 581280590 828057880 246777290 9%
1802 998801825 833815280 164986545 15%
1803 995552678 992383500 3169178 15%
1804 988522020 985587950 2934070 15%
1805 1063412750 1076159045 12744 16%
1809 588991753 791645780 202654027 9%
1810 879953658 899440870 7065112 14%
total 6452081027 7081759885 946702793 100%
Fonte: A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, Caixa 93-A, 22 – 10 – 1799; A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, doc º 79, cx 89 1798, Doc nº 48, cx 93 – A, 1799, Doc nº 5, cx 106, 1803, Doc nº 54, cx 109, 1804, Doc nº 45, cx 112, 1805, Doc nº 6, Caixa 121, 1810.
162
Tabela 8:
Exportação e Reexportação de Portugal para Angola:
Fonte: A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, Caixa 93-A, 22 – 10 – 1799; A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, doc º 79, cx 89 1798, Doc nº 48, cx 93 – A, 1799, Doc nº 5, cx 106, 1803, Doc nº 54, cx 109, 1804, Doc nº 45, cx 112, 1805, Doc nº 6, Caixa 121, 1810.
163
Tabela 9:
A Ali Dr Fá Algo M Co Se Lin Vá La O Cera C A Tot
n me og bri dão et ur da ific rio nif ur mic or de al
o nto as ca ais os s ios s ici o a e do re
s s Ge os e Vidr ari ço
do ner Pr aria a s
Re os at
in a
o
1 80 67 93 8738 33 15 11 728 28 71 66 147 23 11 55 7 76 53 15 994 58 22 13 849 18 12 70 232 35 40 64
9 05 25 26 98 3 65 1 94 80 50 0 48 38 83
8 9 7 8 20 5 0 90
1 35 16 23 8027 46 31 25 106 34 13 84 220 0 22 60 7 86 27 42 930 49 08 82 401 93 13 75 980 42 18
9 27 36 31 52 40 18 90 41 00 80 0 65 58
9 29 0 20 0 5 0 0 85
1 12 38 47 2181 16 40 48 947 11 37 15 368 42 53 25 8 54 65 30 1225 73 51 20 353 26 38 54 900 63 08 85
0 42 60 34 25 55 54 6 35 70 20 0 20 50 39
2 00 0 00 60 0 0 75 0 0 0 93
0 6
1 92 26 40 1768 16 20 33 175 29 23 74 419 19 17 22 8 79 45 48 7100 81 67 45 202 25 74 27 184 20 79 70
0 27 39 77 18 60 85 20 01 20 00 0 00 25 16
3 00 0 06 90 70 0 0 51
1
1 10 22 28 1652 23 79 12 227 24 46 26 682 26 16 25 8 82 78 99 5900 31 41 57 415 31 29 32 260 40 70 34
0 76 94 65 10 00 09 20 77 00 00 0 00 40 62
4 80 0 30 80 70 00 0 0 74
0 0
1 79 0 52 3491 88 0 55 581 42 52 0 0 0 0 27 8 77 85 5000 64 49 890 70 30 83
0 80 55 00 50 00 40 00 83
5 00 00 0 00 45
0
1 14 13 18 1254 11 19 61 220 20 26 40 162 0 47 66 8 48 49 99 7600 72 88 10 800 62 20 00 320 00 56
0 01 80 19 49 00 00 0 60 00 0 0 00 99
9 20 0 04 20 0 44
1 0 0 0 0 0 0 0 614 0 0 0 0 0 0 0 8 905
1 0
0
164
T 46 12 22 1202 85 57 35 134 11 12 41 197 49 78 12
ot 47 44 13 5374 45 14 62 210 59 36 14 117 52 33 44
al 08 24 73 9 29 27 20 007 10 94 73 60 74 53 66
40 15 42 58 3 15 40 80 0 8 0 99
8 7 0 00
A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, Caixa 93-A, 22 – 10 – 1799; A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, doc º 79, cx 89 1798, Doc nº 48, cx 93 – A, 1799, Doc nº 5, cx 106, 1803, Doc nº 54, cx 109, 1804, Doc nº 45, cx 112, 1805, Doc nº 6, Caixa 121, 1810.
165
Tabela 10:
166
167
Fonte: A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, Caixa 93-A, 22 – 10 – 1799; A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, doc º 79, cx 89 1798, Doc nº 48, cx 93 – A, 1799, Doc nº 5, cx 106, 1803, Doc nº 54, cx 109, 1804, Doc nº 45, cx 112, 1805, Doc nº 6, Caixa 121, 1810.
Tabela 11:
As Fazendas da India Vindas de Portugal para Angola
Ano Cádeas Chilas Chitas Coromandeis Panos Cassadiz Zuartes Cathariz Cobertas
1798 36652300 8267400 7941465 17164980 195375 0 29999025 0 1211000
1799 62749100 22976100 2980300 28220400 0 0 61959600 583700 3859000
1802 70776750 27612000 2012400 39721000 16184000 5942400 84690900 117500 24694900
1803 69753400 0 7531800 0 8010000 0 51532000 0 7383000
1804 7658600 15000000 13963200 2720000 7200000 0 53427200 6752000 10972000
1805 93406000 5034000 9535100 67325000 0 0 155504000 0 9194000
1809 35620000 20545000 0 21585000 10548000 0 40713000 0 1577400
1810 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Total 376616150 99434500 43964265 176736380 42137375 5942400 477825725 7453200 58891300
Linhas Cambaias Cassas Panos de Cafre Panos de Genti Lenços Gangas
3022874 523450 988650 2583581 0 7399825 1542750
6055200 465600 820575 24629400 0 6101420 903600
2506400 115500 2048000 27190800 1937200 11417600 6640600
1284100 160000 2160000 11967200 0 20014800 4076800
1818000 1280000 2200000 5400000 0 12283200 3028000
12862000 0 108000 31044000 3886000 29041000 1203800
11662000 0 1577400 9813000 2560000 14319600 21400
0 0 0 0 0 0 0
39210574 2544550 9902625 112627981 8383200 100577445 17416950
168
Longuins Toalhas Nanquima Cambraye Mantas Riscadinh Surrates
1126000 6300 4840160 0 0 0 0
2212100 16000 4263600 0 0 0 7427900
3322500 93000 3996000 0 0 0 17833100
1740800 145000 6112000 0 0 194600 11712000
1002000 230000 6000000 0 0 600000 4048000
13868000 64000 7285000 10000 160000 0 3100500
0 32000 6524000 0 0 0 0
2944000 0 0 0 0 0 0
26215400 586300 39020760 10000 160000 794600 44121500
Gingoens Patavar Panos de Bah Procoló Garrazes Carleguin
0 921840 1959375 621350 0 34560
254800 2067500 0 0 504000 0
354000 592000 16120000 0 4058000 15200
598400 1340000 8010000 4053000 1836800 0
600000 3027500 7200000 0 1990000 0
0 560000 0 0 5417000 0
0 125000 10548000 0 6180000 0
0 0 0 0 0 0
1807200 8633840 43837375 4674350 19985800 49760
169
Duraque Dorias Elefante Outros Te Guardana Tapetes Total
0 48000 38500 61300 0 0 127150060
0 18000 130500 5600 54000 0 239257995
80000 22400 0 222400 154760 0 370471310
10800 0 76800 211000 43000 0 219957300
48000 0 185000 408000 60000 0 169100700
0 0 80000 534000 16400 416000 449653800
0 0 0 507400 0 640000 195098200
0 0 0 0 0 0 2944000
138800 88400 510800 1949700 328160 1056000 1773633365
(Fontes: A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, Caixa 93-A, 22 – 10 – 1799; A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, doc º 79, cx 89 1798, Doc nº 48, cx 93 – A, 1799, Doc nº 5, cx 106, 1803, Doc nº 54, cx 109, 1804, Doc nº 45, cx 112, 1805, Doc nº 6, Caixa 121, 1810. )
Tabela 12:
Produtos de Escambo em África:
Prodtos da Asia Produtos do Brasil
Ano Fazendas da India Bebidas do Brasil Tabaco do Brasil
1798 127150060 56504900 3214400
1799 239257995 61287000 5902500
1802 370471310 125404000 5110400
1803 219957300 114342000 11020800
1804 169100700 140846000 16401000
1805 449653800 178659000 3734000
1809 195098200 154562164 6998629
1810 2944000 0 0
Total 1773633365 831605064 52381729 A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, Caixa 93-A, 22 – 10 – 1799; A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, doc º 79, cx 89 1798, Doc nº 48, cx 93 – A, 1799, Doc nº 5, cx 106, 1803, Doc nº 54, cx 109, 1804, Doc nº 45, cx 112, 1805, Doc nº 6, Caixa 121, 1810.
170
Produtos do Reino
Vinho Vinho Bra Licores Aguarden Armas Port Armas GraTotal
328776 0 541920 345600 848704 0 188934360
24083040 0 510000 266400 8450000 994000 340750935
62164500 0 1537400 1892000 4197000 178400 570955010
56328100 783400 760500 426000 25640000 5751000 435009100
60999200 0 748800 1608800 22400000 5400000 417504500
78088000 0 0 1690000 5304000 2160000 719288800
9750000 0 0 0 0 200000 366608993
0 0 0 0 0 0 2944000
291741616 783400 4098620 6228800 66839704 14683400 3041995698
Fontes: A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, Caixa 93-A, 22 – 10 – 1799; A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, doc º 79, cx 89 1798, Doc nº 48, cx 93 – A, 1799, Doc nº 5, cx 106, 1803, Doc nº 54, cx 109, 1804, Doc nº 45, cx 112, 1805, Doc nº 6, Caixa 121, 1810.
Tabela 13:
Diferença entre as Fazendas da India e os Produtos das Fábricas Portuguesas:
Ano fabricas portuguesas fazendas da India total
1798 46897006 127150060 174047066
1799 58558525 239257995 297816520
1802 129232336 370471310 499703646
1803 131578421 219957300 351535721
1804 142907000 169100700 312007700
1805 198605450 449653800 648259250
1809 50740024 195098200 245838224
1810 6149050 2944000 9093050
Total 764667812 1773633365 2538301177
Fontes: A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, Caixa 93-A, 22 – 10 – 1799; A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, doc º 79, cx 89 1798, Doc nº 48, cx 93 – A, 1799, Doc nº 5, cx 106, 1803, Doc nº 54, cx 109, 1804, Doc nº 45, cx 112, 1805, Doc nº 6, Caixa 121, 1810.
171
Tabela 14:
tal de Escravos enviados de Angola e Benguela para o Bra
Ano Escravos d Escravos d total Percentagem
1783 6286 6286 12572 3%
1784 0 7608 7608 0
1785 8601 6161 14762 4%
1786 9674 5484 15158 4%
1787 9919 7012 16931 4%
1788 11297 6126 17423 4%
1789 8547 6032 14579 4%
1790 9964 6135 16099 4%
1791 9072 6329 15401 4%
1792 11569 8910 20479 5%
1793 10094 11172 21266 5%
1794 11915 9481 21396 5%
1795 9951 10170 20121 5%
1796 9971 7885 17856 4%
1797 8311 7069 15380 4%
1798 10255 5424 15679 4%
1799 7750 0 7750 0
1800 0 0 0 0
1801 0 6835 6835 0
1802 11518 8687 20205 5%
1803 13830 0 13830 0
1804 13018 0 13018 0
1805 13711 0 13711 0
1806 15336 5842 21178 5%
1807 0 0 0 0
1808 0 4818 4818 0
1809 9889 5325 15214 4%
1810 11736 5463 17199 4%
Total 242214 154254 396468 0
Fontes: A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, Caixa 93-A, 22 – 10 – 1799; A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, doc º 79, cx 89 1798, Doc nº 48, cx 93 – A, 1799, Doc nº 5, cx 106, 1803, Doc nº 54, cx 109, 1804, Doc nº 45, cx 112, 1805, Doc nº 6, Caixa 121, 1810. A.H.U Benguela Doc nº 67, cx 79, 1793, Doc nº 28, cx 80, 1794, doc nº 13, cx 83, 1796, doc nº 28, cx 83, 1796 Doc nº 51 – B, cx 87, 1798, Doc nº 88, cx 89, 1798, Doc nº 12, Cx 90,1799, Doc nº 11, 103, 1803, Doc nº 21, cx 118, 1806, Doc nº 1, cx 120, 1808, Doc nº 1, cx 121, 1809, Doc nº 32 cx 121 – A, 1810.
172
Tabela 15:
Comparativa de escravos enviados por Luanda para os Diferentes Portos d
Rio de Jan Bahia Pernambu Maranhão Pará São Tomé
Ano Escravos Escravos Escravos Escravos Escravos Escravos
1799 0 0 0 0 0 0
1800 0 0 0 0 0 0
1801 0 0 0 0 0 0
1802 5160 1881 3622 0 0 0
1803 5440 2333 4013 1502 855 0
1804 4556 2063 3325 1578 1493 3
1805 4710 2100 4401 1068 1427 5
1806 0 0 0 0 0 0
1807 0 0 0 0 0 0
1808 0 0 0 0 0 0
1809 7323 72 2494 0 0 0
1810 8837 882 1254 450 307 0
Total 36026 9331 19109 4598 4082 8
Fontes: A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, Caixa 93-A, 22 – 10 – 1799; A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, doc º 79, cx 89 1798, Doc nº 48, cx 93 – A, 1799, Doc nº 5, cx 106, 1803, Doc nº 54, cx 109, 1804, Doc nº 45, cx 112, 1805, Doc nº 6, Caixa 121, 1810.
173
Tabela 16:
Escravos de Benguela para os Diferentes Portos do Brasil Rio de Novo
Janeiro Bahia Pernambuco Maranhão Pará Angola Redondo Santos
Ano Escravos Escravos Escravos Escravos Escravos Escravos Escravos Escravos Total
1791 4450 1450 0 0 0 0 0 429 6329
1792 5988 2029 893 0 0 1788 0 0 10698
1793 7573 1701 1897 0 0 350 0 0 11521
1794 0 0 0 0 0 0 0 0 0
1795 0 0 0 0 0 0 0 0 0
1796 6714 0 1171 0 0 164 0 0 8049
1797 5679 0 385 0 0 1005 0 0 7069
1798 4512 912 0 0 0 0 0 0 5424
1799 0 0 0 0 0 0 0 0 0
1800 0 0 0 0 0 0 0 0 0
1801 5693 821 0 0 0 321 0 0 6835
1802 6639 1021 0 695 0 332 0 0 8687
1803 0 0 0 0 0 0 0 0 0
1804 0 0 0 0 0 0 0 0 0
1805 0 0 0 0 0 0 0 0 0
1806 4228 467 0 0 541 606 0 0 5842
1807 0 0 0 0 0 0 0 0 0
1808 4040 0 0 0 510 268 0 0 4818
1809 5129 0 0 0 0 196 0 0 5325
1810 5115 0 0 0 0 337 11 0 5463
Total 65760 8401 4346 695 1051 5367 11 429 86060
Fontes: A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, Caixa 93-A, 22 – 10 – 1799; A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, doc º 79, cx 89 1798, Doc nº 48, cx 93 – A, 1799, Doc nº 5, cx 106, 1803, Doc nº 54, cx 109, 1804, Doc nº 45, cx 112, 1805, Doc nº 6, Caixa 121, 1810.
174
Tabela 17:
Percentagem de exportação de escravos vindos de Angola por parte das diferentes praças Atlânticas
Ano Rio Bahia Pernambuco Maranhão Pará São Tomé
1802 48% 18% 34% 0% 0% 0%
1803 38% 16% 28% 11% 6% 0%
1804 35% 16% 26% 12% 11% 0%
1805 34% 15% 32% 8% 10% 0%
1809 74% 1% 25% 0% 0% 0%
1810 75% 8% 11% 4% 3% 0%
Fontes: A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, Caixa 93-A, 22 – 10 – 1799; A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, doc º 79, cx 89 1798, Doc nº 48, cx 93 – A, 1799, Doc nº 5, cx 106, 1803, Doc nº 54, cx 109, 1804, Doc nº 45, cx 112, 1805, Doc nº 6, Caixa 121, 1810.
Tabela 18:
O Total Percentual do peso da exportação de escravos de Benguela para os diferentes destinos
Ano Rio de Janeiro Bahia Pernambuco Maranhão Pará Angola Novo Redondo Santos
1791 70% 23% 0% 0% 0% 0% 0% 7%
1792 56% 19% 8% 0% 0% 17% 0% 0%
1793 66% 15% 16% 0% 0% 3% 0% 0%
1794 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
1795 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
1796 83% 0% 15% 0% 0% 2% 0% 0%
1797 80% 0% 5% 0% 0% 14% 0% 0%
1798 83% 17% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
1799 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
1800 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
1801 83% 12% 0% 0% 0% 5% 0% 0%
1802 76% 12% 0% 8% 0% 4% 0% 0%
1803 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
1804 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
1805 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
1806 72% 8% 0% 0% 9% 10% 0% 0%
1807 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
1808 84% 0% 0% 0% 11% 5% 0% 0%
1809 96% 0% 0% 0% 0% 4% 0% 0%
1810 94% 0% 0% 0% 0% 6% 0% 0%
Fontes: A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, Caixa 93-A, 22 – 10 – 1799; A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, doc º 79, cx 89 1798, Doc nº 48, cx 93 – A, 1799, Doc nº 5, cx
106, 1803, Doc nº 54, cx 109, 1804, Doc nº 45, cx 112, 1805, Doc nº 6, Caixa 121, 1810. A.H.U
175
Benguela Doc nº 67, cx 79, 1793, Doc nº 28, cx 80, 1794, doc nº 13, cx 83, 1796, doc nº 28, cx 83, 1796 Doc nº 51 – B, cx 87, 1798, Doc nº 88, cx 89, 1798, Doc nº 12, Cx 90,1799, Doc nº 11, 103, 1803, Doc nº 21, cx 118, 1806, Doc nº 1, cx 120, 1808, Doc nº 1, cx 121, 1809, Doc nº 32 cx 121 – A, 1810.
Tabela 19:
Peso Percentual dos escravos por capitania:
Luanda – Ultramar
Rio de Janeiro
Ano Escravos Percentagem
1802 5160 14%
1803 5440 15%
1804 4556 13%
1805 4710 13%
1809 7323 20%
1810 8837 25%
Total 36026 100% Fontes: A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, Caixa 93-A, 22 – 10 – 1799; A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, doc º 79, cx 89 1798, Doc nº 48, cx 93 – A, 1799, Doc nº 5, cx 106, 1803, Doc nº 54, cx 109, 1804, Doc nº 45, cx 112, 1805, Doc nº 6, Caixa 121, 1810.
Pernambuco Ano Escravos Percentagens
1802 3622 19%
1803 4013 21%
1804 3325 17%
1805 4401 23%
1809 2494 13%
1810 1254 7%
Total 19109 100% Fontes: A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, Caixa 93-A, 22 – 10 – 1799; A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, doc º 79, cx 89 1798, Doc nº 48, cx 93 – A, 1799, Doc nº 5, cx 106, 1803, Doc nº 54, cx 109, 1804, Doc nº 45, cx 112, 1805, Doc nº 6, Caixa 121, 1810.
Bahia
Ano Escravos Percentagem
1802 1881 20%
1803 2333 25%
1804 2063 22%
1805 2100 23%
1809 72 1%
1810 882 9%
Total 9331 100%
176
Fontes: A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, Caixa 93-A, 22 – 10 – 1799; A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, doc º 79, cx 89 1798, Doc nº 48, cx 93 – A, 1799, Doc nº 5, cx 106, 1803, Doc nº 54, cx 109, 1804, Doc nº 45, cx 112, 1805, Doc nº 6, Caixa 121, 1810.
Maranhão Ano Escravos Percentagem
1803 1502 33%
1804 1578 34%
1805 1068 23%
1810 450 10%
Total 4598 100%
Fontes: A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, Caixa 93-A, 22 – 10 – 1799; A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, doc º 79, cx 89 1798, Doc nº 48, cx 93 – A, 1799, Doc nº 5, cx 106, 1803, Doc nº 54, cx 109, 1804, Doc nº 45, cx 112, 1805, Doc nº 6, Caixa 121, 1810.
Pará Ano Escravos Percentagem
1803 855 21%
1804 1493 37%
1805 1427 35%
1810 307 8%
Total 4082 100%
Fontes: A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, Caixa 93-A, 22 – 10 – 1799; A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, doc º 79, cx 89 1798, Doc nº 48, cx 93 – A, 1799, Doc nº 5, cx 106, 1803, Doc nº 54, cx 109, 1804, Doc nº 45, cx 112, 1805, Doc nº 6, Caixa 121, 1810.
São Tomé Ano Escravos Percentagem
1804 3 37%
1805 5 63%
Total 8 100%
Fontes: A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, Caixa 93-A, 22 – 10 – 1799; A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, doc º 79, cx 89 1798, Doc nº 48, cx 93 – A, 1799, Doc nº 5, cx 106, 1803, Doc nº 54, cx 109, 1804, Doc nº 45, cx 112, 1805, Doc nº 6, Caixa 121, 1810.
177
Tabela 20:
Benguela – Ultramar
Rio de Janeiro
Ano Escravos Percentagem
1791 4450 7%
1792 5988 9%
1793 7573 12%
1794 0 0%
1795 0 0%
1796 6714 10%
1797 5679 8%
1798 4512 7%
1799 0 0%
1800 0 0%
1801 5693 9%
1802 6639 10%
1803 0 0%
1804 0 0%
1805 0 0%
1806 4228 6%
1807 0 0%
1808 4040 6%
1809 5129 8%
1810 5115 8%
Total 65760 100%
178
Bahia
Ano Escravos Percentagem
1791 1450 17%
1792 2029 24%
1793 1701 20%
1794 0 0%
1795 0 0%
1796 0 0%
1797 0 0%
1798 912 11%
1799 0 0%
1800 0 0%
1801 821 10%
1802 1021 12%
1803 0 0%
1804 0 0%
1805 0 0%
1806 467 6%
1807 0 0%
1808 0 0%
1809 0 0%
1810 0 0%
Total 8401 100%
179
Maranhão
Ano Escravos Percentagem
1791 0 0%
1792 0 0%
1793 0 0%
1794 0 0%
1795 0 0%
1796 0 0%
1797 0 0%
1798 0 0%
1799 0 0%
1800 0 0%
1801 0 0%
1802 695 100%
1803 0 0%
1804 0 0%
1805 0 0%
1806 0 0%
1807 0 0%
1808 0 0%
1809 0 0%
1810 0 0%
Total 695 100%
180
Pernambuco
Ano Escravos Percentagem
1791 0 0%
1792 893 21%
1793 1897 44%
1794 0 0%
1795 0 0%
1796 1171 27%
1797 385 9%
1798 0 0%
1799 0 0%
1800 0 0%
1801 0 0%
1802 0 0%
1803 0 0%
1804 0 0%
1805 0 0%
1806 0 0%
1807 0 0%
1808 0 0%
1809 0 0%
1810 0 0%
Total 4346 100%
181
Pará
Ano Escravos Percentagem
1791 0 0%
1792 0 0%
1793 0 0%
1794 0 0%
1795 0 0%
1796 0 0%
1797 0 0%
1798 0 0%
1799 0 0%
1800 0 0%
1801 0 0%
1802 0 0%
1803 0 0%
1804 0 0%
1805 0 0%
1806 541 51%
1807 0 0%
1808 510 48%
1809 0 0%
1810 0 0%
Total 1051 100%
182
Angola
Ano Escravos Percentagem
1791 0 0%
1792 1788 33%
1793 350 7%
1794 0 0%
1795 0 0%
1796 164 3%
1797 1005 19%
1798 0 0%
1799 0 0%
1800 0 0%
1801 321 6%
1802 332 6%
1803 0 0%
1804 0 0%
1805 0 0%
1806 606 11%
1807 0 0%
1808 268 5%
1809 196 4%
1810 337 6%
Total 5367 100%
183
Novo Redondo
Ano Escravos Percentagem
1791 0 0%
1792 0 0%
1793 0 0%
1794 0 0%
1795 0 0%
1796 0 0%
1797 0 0%
1798 0 0%
1799 0 0%
1800 0 0%
1801 0 0%
1802 0 0%
1803 0 0%
1804 0 0%
1805 0 0%
1806 0 0%
1807 0 0%
1808 0 0%
1809 0 0%
1810 11 100%
Total 11 100%
184
Santos
Ano Escravos Percentagem
1791 429 100%
1792 0 0%
1793 0 0%
1794 0 0%
1795 0 0%
1796 0 0%
1797 0 0%
1798 0 0%
1799 0 0%
1800 0 0%
1801 0 0%
1802 0 0%
1803 0 0%
1804 0 0%
1805 0 0%
1806 0 0%
1807 0 0%
1808 0 0%
1809 0 0%
1810 0 0%
Total 429 100%
Fontes: A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, Caixa 93-A, 22 – 10 – 1799; A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, doc º 79, cx 89 1798, Doc nº 48, cx 93 – A, 1799, Doc nº 5, cx 106, 1803, Doc nº 54, cx 109, 1804, Doc nº 45, cx 112, 1805, Doc nº 6, Caixa 121, 1810. A.H.U Benguela Doc nº 67, cx 79, 1793, Doc nº 28, cx 80, 1794, doc nº 13, cx 83, 1796, doc nº 28, cx 83, 1796 Doc nº 51 – B, cx 87, 1798, Doc nº 88, cx 89, 1798, Doc nº 12, Cx 90,1799, Doc nº 11, 103, 1803, Doc nº 21, cx 118, 1806, Doc nº 1, cx 120, 1808, Doc nº 1, cx 121, 1809, Doc nº 32 cx 121 – A, 1810.
185
Tabela 21:
Quadros Comparativos das Drogas idas para o Sertão e as que
Portugal queria comercializar
Drogas Enviadas para Angola e Drogas enviadas para
Benguela Lisboa
Manna Murianhoca
Senne Muhondugol
Sal Cartatico MuxaxaKixi
Sal Tartaro Cathalango
Sal Puro em Pó Pau Luisam ou Quicoco
Amoniaco Makangas Suesse
Terra Fudiada de tartavo Zimbo
Jalapa Raiz de Pau Trinde Zelado
Rhabarbavo Abutua
Escamoneia em Pó Raiz de encasse
Cypo Lobongos
Quintilio
Resina de Jalapa
Calamalenos
Opio
Verdette em pó
Tamarindos
Cana Justuba
Conserva Persica
Alcanfas
Goma Amorieo
186
Goma Assasfatida
Goma Hedra
Goma Minha
Goma Arabica
Azogue
Pos de Joanne
Vitrido Branco
Pedra Lipas
Pedra Huma Crua
Salsa Parrilha
Pao Sassafras
Avanca
Escabioza
Hizopo
Violas
Masselas Galegas
Centouria Menor
Agua de Canella Espirituosa
Amobe de Sabugo
Amobe de Amoras
Agua de Inglaterra
Estitica Donzela
Ungento de Zopoletivo
Popilião
Quina Optima
Flores de Sabugo
187
Flores de Rosa
Flores de Papoila
Alkahil Volatil
Liquor Andonono mineral
Espirito de Coquelaria
Balssamo Catolico
Oleo de Amendoas doces
Oleo de Farmentina
Oleo Rosado
Aparrilho Composto
Aparrilho de Alambre
Bezina de Pinho
Pesloivo
Oreto
Cantaridas
Roy de Pireto
Raiz de Almeirão
Raiz de Malva
Raiz de Gessiana
Raiz de Aletria
Fontes: A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, Caixa 66, Doc nº 37, 05 – 04 – 1783 A.H.U, Angola, Concelho Ultramarino, Caixa 75, doc nº 65, 04 - 10 – 1790 & Vide: A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, Caixa 84, doc nº 89, 13 – 10 – 1796 & Vide: A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, Caixa 86, doc nº 30, 08 – 10 – 1797 & Vide: Concelho Ultramarino Angola 1798, caixa 89 doc nº 56, 4 – 12 – 1798
188
Gráficos:
Gráfico1:
Fonte: Balanças Comerciais do Reino, Dominios, I.N.E, 1796 – 1810
189
Gráfico2:
Fonte: Balanças Comerciais do Reino, Domínios, I.N.E, 1796 – 1810
190
Gráfico 3:
Fontes: A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, Caixa 93-A, 22 – 10 – 1799; A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, doc º 79, cx 89 1798, Doc nº 48, cx 93 – A, 1799, Doc nº 5, cx 106, 1803, Doc nº 54, cx 109, 1804, Doc nº 45, cx 112, 1805, Doc nº 6, Caixa 121, 1810.
191
Gráfico 4:
Fontes: A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, Caixa 93-A, 22 – 10 – 1799; A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, doc º 79, cx 89 1798, Doc nº 48, cx 93 – A, 1799, Doc nº 5, cx 106, 1803, Doc nº 54, cx 109, 1804, Doc nº 45, cx 112, 1805, Doc nº 6, Caixa 121, 1810.
Gráfico 5:
Fontes: A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, Caixa 93-A, 22 – 10 – 1799; A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, doc º 79, cx 89 1798, Doc nº 48, cx 93 – A, 1799, Doc nº 5, cx 106, 1803, Doc nº 54, cx 109, 1804, Doc nº 45, cx 112, 1805, Doc nº 6, Caixa 121, 1810.
192
Gráfico 6:
Fontes: A.H.U Benguela Doc nº 67, cx 79, 1793, Doc nº 28, cx 80, 1794, doc nº 13, cx 83,
1796, doc nº 28, cx 83, 1796 Doc nº 51 – B, cx 87, 1798, Doc nº 88, cx 89, 1798, Doc nº 12, Cx 90,1799, Doc nº 11, 103, 1803, Doc nº 21, cx 118, 1806, Doc nº 1, cx 120, 1808, Doc nº 1, cx 121, 1809, Doc nº 32 cx 121 – A, 1810.
193
Gráfico 7:
A.H.U Benguela Doc nº 67, cx 79, 1793, Doc nº 28, cx 80, 1794, doc nº 13, cx 83, 1796, doc nº 28, cx 83, 1796 Doc nº 51 – B, cx 87, 1798, Doc nº 88, cx 89, 1798, Doc nº 12, Cx 90,1799, Doc nº 11, 103, 1803, Doc nº 21, cx 118, 1806, Doc nº 1, cx 120, 1808, Doc nº 1, cx 121, 1809, Doc nº 32 cx 121 – A, 1810.
194
Gráfico 8:
Fontes: A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, Caixa 93-A, 22 – 10 – 1799; A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, doc º 79, cx 89 1798, Doc nº 48, cx 93 – A, 1799, Doc nº 5, cx 106, 1803, Doc nº 54, cx 109, 1804, Doc nº 45, cx 112, 1805, Doc nº 6, Caixa 121, 1810.
195
Gráfico 9:
Fontes: A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, Caixa 93-A, 22 – 10 – 1799; A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, doc º 79, cx 89 1798, Doc nº 48, cx 93 – A, 1799, Doc nº 5, cx 106, 1803, Doc nº 54, cx 109, 1804, Doc nº 45, cx 112, 1805, Doc nº 6, Caixa 121, 1810.
196
Gráfico 10:
Percentagem dos Alimentos enviados para Angola de Lisboa segundo A Alfândega de
Luanda 1798 - 1810
6%1%
18%
51%
23%
Vinho Vinagre Farinha de Trigo Azeite Aguardente Licores
Fontes: A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, Caixa 93-A, 22 – 10 – 1799; A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, doc º 79, cx 89 1798, Doc nº 48, cx 93 – A, 1799, Doc nº 5, cx 106, 1803, Doc nº 54, cx 109, 1804, Doc nº 45, cx 112, 1805, Doc nº 6, Caixa 121, 1810.
197
Gráfico 11:
Precentagens dos Alimentos Vindos do Brasil para Angola 1798 - 1810
1%1% 7%
Aguardente
5%2%
Geribitas
Açucar
Arroz
Queijo de Minas
Toucinho
Café
Carne Seca
81% Tijolos de Doce
Fontes: A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, Caixa 93-A, 22 – 10 – 1799; A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, doc º 79, cx 89 1798, Doc nº 48, cx 93 – A, 1799, Doc nº 5, cx 106, 1803, Doc nº 54, cx 109, 1804, Doc nº 45, cx 112, 1805, Doc nº 6, Caixa 121, 1810.
198
Gráfico 12:
Exportações para Angola (em Cruzados) 1798 - 1810
900000000
800000000
700000000
600000000
500000000
400000000
300000000
200000000
100000000
0
1798 1799
1802
1803
1804
1805 1809 1810
Portugal 71461593 133737215 271771070 271972811 289655020 225003550 96328270 0
Asia 134953123 256018715 368555845 323574100 236879100 521905300 244518200 96606400
Brasil 82495805 88726370 162759360 161093020 213480200 183132200 184522423 783347258
Europa 66655232 102798290 195715550 238912747 248507700 133371700 63622860 0
Portugal
Asia
Brasil
Europa
Fontes: A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, Caixa 93-A, 22 – 10 – 1799; A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, doc º 79, cx 89 1798, Doc nº 48, cx 93 – A, 1799, Doc nº 5, cx 106, 1803, Doc nº 54, cx 109, 1804, Doc nº 45, cx 112, 1805, Doc nº 6, Caixa 121, 1810.
199
Gráfico 13:
As Fazendas da Índia enviadas para Angola 1798 - 1810
180000000
160000000
140000000
120000000
100000000
80000000
60000000
40000000
20000000
0
1798 1799 1802 1803 1804 1805 1809 1810
Cádeas
Chilas
Chitas
Coromandeis
Panos
Cassadiz
Zuartes
Cathariz
Cobertas
Linhas
Cambaias
Cassas
Panos de Cafre
Panos de Gentio
Panos de Gentio
Lenços
Gangas
Longuins
Toalhas
Nanquimas
Cambrayetas
Mantas
Riscadinhos
Surrates
Gingoens
Patavar
Procoló
Carleguin
Duraque
Dorias
Elefante
Outros Tecidos
Guardanapos
Tapetes
Fontes: A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, Caixa 93-A, 22 – 10 – 1799; A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, doc º 79, cx 89 1798, Doc nº 48, cx 93 – A, 1799, Doc nº 5, cx 106, 1803, Doc nº 54, cx 109, 1804, Doc nº 45, cx 112, 1805, Doc nº 6, Caixa 121, 1810.
200
Gráfico 14:
Percentagem dos Vários Tecidos da Índia
Exportados para Angola entre 1798 - 1810
Cádeas
Chilas
Chitas
Coromandeis
Panos
1%1%1%
Zuartes
1%
1%
1%
2%
2% 22%
Cobertas 2%
2% Linhas
2%
6%
Panos de Cafre
Lenços
6%
5%
Loguins
2%
2%
Nanquimas
Surrates 3%
10%
Panos de Bahé
2%
Garrazes
27%
Gangas
Patavar
Tapetes
Cassadiz
Cassas
Cathariz
Fontes: A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, Caixa 93-A, 22 – 10 – 1799; A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, doc º 79, cx 89 1798, Doc nº 48, cx 93 – A, 1799, Doc nº 5, cx 106, 1803, Doc nº 54, cx 109, 1804, Doc nº 45, cx 112, 1805, Doc nº 6, Caixa 121, 1810.
201
Gráfico 15:
O peso na exportação e reexportação dos
Diferentes bens de Permuta por tráfego
Negreiro em Angola 1798 - 1810
2%2%1%
10%
Fazendas da India
Bebidas do Brasil
Vinho Português
27% 58%
Tabaco do Brasil
Armas Portuguesas
Armas Granadeiras
Fontes: A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, Caixa 93-A, 22 – 10 – 1799; A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, doc º 79, cx 89 1798, Doc nº 48, cx 93 – A, 1799, Doc nº 5, cx 106, 1803, Doc nº 54, cx 109, 1804, Doc nº 45, cx 112, 1805, Doc nº 6, Caixa 121, 1810.
202
Gráfico 16:
EXPORTAÇÃO DAS FÁBRICAS DO
REINO E REEXPORTAÇÃO DOS PRODUTOS DA ÁSIA ENTRE 1798
- 1810
fabricas portuguesas
fazendas da India
37
047
131
0
44
965
380
0
46
897
006
1271
500
60
5855
852
5
2392
579
95
1292
323
36
1315
784
21
2199
573
00
1429
070
00
1691
007
00
1986
054
50
50
740
024
1950
982
00
6149
050
29
440
00
1 7 9 8 1 7 9 9 1 8 0 2 1 8 0 3 1 8 0 4 1 8 0 5 1 8 0 9 1 8 1 0
Fontes: A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, Caixa 93-A, 22 – 10 – 1799; A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, doc º 79, cx 89 1798, Doc nº 48, cx 93 – A, 1799, Doc nº 5, cx 106, 1803, Doc nº 54, cx 109, 1804, Doc nº 45, cx 112, 1805, Doc nº 6, Caixa 121, 1810.
203
Gráfico 17:
Percentagem das Fazendas da Índia reexportadas e produtos das
fábricas Portuguesas exportados para Angola 1798 - 1810
30%
Fazendas da India
70%
Fábricas do Reino
Fontes: A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, Caixa 93-A, 22 – 10 – 1799; A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, doc º 79, cx 89 1798, Doc nº 48, cx 93 – A, 1799, Doc nº 5, cx 106, 1803, Doc nº 54, cx 109, 1804, Doc nº 45, cx 112, 1805, Doc nº 6, Caixa 121, 1810.
204
Gráfico 18:
Escravos vindos de Angola e de Benguela para o Brasil entre 1783 - 1810
18000
16000
14000
12000
10000
8000
6000
4000
2000
0
17
83
17
84
17
85
17
86
17
87
17
88
17
89
17
90
17
91
17
92
17
93
17
94
17
95
1796
17
97
17
98
17
99
18
00
18
01
18
02
18
03
18
04
18
05
18
06
18
07
18
08
18
09
18
10
Escravos de Angola
Escravos de Benguela
Fontes: A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, Caixa 93-A, 22 – 10 – 1799; A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, doc º 79, cx 89 1798, Doc nº 48, cx 93 – A, 1799, Doc nº 5, cx 106, 1803, Doc nº 54, cx 109, 1804, Doc nº 45, cx 112, 1805, Doc nº 6, Caixa 121, 1810. A.H.U Benguela Doc nº 67, cx 79, 1793, Doc nº 28, cx 80, 1794, doc nº 13, cx 83, 1796, doc nº 28, cx 83, 1796 Doc nº 51 – B, cx 87, 1798, Doc nº 88, cx 89, 1798, Doc nº 12, Cx 90,1799, Doc nº 11, 103, 1803, Doc nº 21, cx 118, 1806, Doc nº 1, cx 120, 1808, Doc nº 1, cx 121, 1809, Doc nº 32 cx 121 – A, 1810.
205
Gráfico 19:
Percentagem dos Escravos vindos de Benguela para as diferentes praças do
Brasil entre 1791 - 1810
5%1%1%1%
6%
Rio de Janeiro
10
%
Bahia
Angola
Pernambuco
Pará
76%
Maranhão
Santos
Fontes: A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, Caixa 93-A, 22 – 10 – 1799; A.H.U, Concelho Ultramarino, Angola, doc º 79, cx 89 1798, Doc nº 48, cx 93 – A, 1799, Doc nº 5, cx 106, 1803, Doc nº 54, cx 109, 1804, Doc nº 45, cx 112, 1805, Doc nº 6, Caixa 121, 1810. A.H.U Benguela Doc nº 67, cx 79, 1793, Doc nº 28, cx 80, 1794, doc nº 13, cx 83, 1796, doc nº 28, cx 83, 1796 Doc nº 51 – B, cx 87, 1798, Doc nº 88, cx 89, 1798, Doc nº 12, Cx 90,1799, Doc nº 11, 103, 1803, Doc nº 21, cx 118, 1806, Doc nº 1, cx 120, 1808, Doc nº 1, cx 121, 1809, Doc nº 32 cx 121 – A, 1810.
206
Gráfico 20:
PERCENTAGEM DE ESCRAVOS ENVIADOS DE
ANGOLA (LUANDA) PARA AS DIFERENTES
PRAÇAS DO BRASIL ENTRE 1799 - 1810
Rio de Janeiro Pernambuco Bahia Maranhão Pará
6% 6%
13%
49%
26%
A.H.U Angola, Concelho Ultramarino Caixa 66, Doc nº 67
207
Mapas:
Mapa 1:
1Carta das Costas de Angola e Banguela e de C. Segundo a C. Negro (cota CC-37-V)
208
Mapa 2: [Mapa de Angola ] : Distrito de Benguela 1 B.N Cota D - 283 – A
209
Anexos:
Documentos sobre História e Teoria Económica
para Angola
Concelho Ultramarino Angola 1798, caixa 89 doc nº 7, 7 de Outubro
Sua Magestade foi servida nomear a vossa merçe para Governador de Benguela, e
ainda que na secretaria daquele governo achara vossa merçe as instruções e Ordens que por
esta Secretaria de Estado se tém pedido aos seus predecessores, e que alem disso o seu
antecessor lhe deverá entregar por escrito huma informação do estado actual daquela
capitania, acrescentarei contudo aqui um resumo das principais ordens a que vossameçe
deve dar huma prompta execução na forma das ordens circulares, o que lhe remeto incluzas
as copias a saber A cópia nº 1 da ordem expedida em quatorze de Setembro de mil
setecentos e noventa e seis para informar o estado da capitania com todas as individuações
que na mesma se recomendão: A Cópia Nº 2, da Carta de dois de Novembro de mil
setecentos e noventa e oito para que se obrem todas as cautelas para segurança e muito
particularmente defesa da Capitania. A cópia nº 3 da carta 24 de Junho de 1797 sobre a
introdução de produções naturais e manufacturas do Reino nessa colónia, e extracção dos
produtos da mesma para o Reino: Como importações de Benguela consiste principalmente
em Negros, Cera, e marfim deve Vossamerçe ter um aprticular cuidado em promover estes
artigos: A copia nº 4 de vinte dois de Setembro de 1798, para que informe do rendimento do
subsidio literário, e das suas aplicações: A copia nº 5 da Carta de 4 de Outubro de 1798,
para que as câmaras dem anualmente conta de todos as rendas que cobra, e dos artigos de
suas despesas: As duas copias no 6 e 7, das cartas de 21 e 27 de Outubro de 1798 para que
as câmaras mandem aqui aprender os moços que depois vão exercitar na sua pátria os
empregos médicos tipógrafos, e contadores, hidráulicos e cirugiões= Devo recomendar a
vossa merçe que muito particularmente a maior obediência as instruções e ordens do
governador e Capitão General de Angola quem esse governo he subordinado, e a quem
vossameçe deve dar parte de tudoo que ahi acontecer, dando igualmente conta por esta
secretaria de estado, dos negócios mais importantes que ocurreram: Todos os ofícios, cartas,
devem vir numeradas, e acompanhadas de huma relação que indique o objectivo de que
cada huma trata. Recomendo a Vossa Merçe que veja se pode ir reconhecendo com todas as
economia o certão desta conquista e estendendo as povoações de Chicova e Jeste, de
maneira a procurar reunião das duas costas oriental e ocidental de Africa, o que também se
acha recomendado aos governadores de Moçambique e dos rios de cena: Devendo sempre
merecer a maior atenção da parte do Governo tudo o que pode mostrar o verdadeiro estado
de propriedade dos Paises que se governão para assim se reconhecer, ou o bom effeito dar
providencias dadas, ou necessárias de outras novas que se devão considerar, estabelecer:
Por este motivo que Sua Magestade tem dado diferentes ordens para que se conheção
regularmente o estado da povoação, produção, comercio, e exportação e importação dos
diferentes domínios da sua coroa, para esse mesmo efeito remet a vossa
210
merçe tabolas que anualmente devem vir cheias das competentes informações e
remetidas a esta secretaria de estado= O mesmo digo a vossa mercê sobre as contas de
receitas e despesa da fazenda real, estado da divida activas e parcial que todos devem
ser dirigidas a esta mesma secretaria, igualmente como ao erário régio, para que a sua
magestade seja também bem informado por este modo, do estado em que se acha a Real
Fazenda nessa capitania. E sobre este objecto assim como sobre todos os outros de
utilidade publica, manda a mesma senhora recomendar a vossa mercê, que não só de
todas as informações que possam se vir a se conhecer o estado das cousas, mas também
proponha tudo o que julgar conveniente para o aumento da riqueza, e prosperidade da
Capitania que vai governar. Deos Guarde Vossa mercê. Palacio de Queluz em trinta de
Janeiro de 1799= Dom Rodrigo de Sousa Coutinho Snr Felix Xavier Pinheiro Lacerda.
Nº 1
Copia carta circular para todos os governadores dos Dominios de sua Magestade he
Servida ordenar a Vossa Senhoria, que para fim de que haja nesta secretaria de estado
melhor informações do estado físico e politico dos Dominios Ultramarinos, e para que as
providencias necessárias a promover o bem dos seus vassalos sejão dadas com todo o
conhecimento de causa, Vossa Senhoria proceda logo a exame circunstancial de todos os
objectos aqui anunciados, e dos mesmos remeta todas as informações que pode haver, seja
me relações circunstanciadas, seja em mapas individuados de cada hum dos mesmos
objectos. Em primeiro lugar a descrição geografica e Tipografica do seu governo com
inidividualização de seu limite, e confins com outras capitanias vizinhas assim como das
entradas de comunicação actualmente estabelecidas para as outras colónias, e noticias dos
mapas geográficos, que existem desse governo: Em segundo lugar o estado da sua povoação
em Brancos, Negros, e pardos em cada huma das serras, cidades, ou lugares do mesmo
governo, unindo-se-lhe a nota dos nascidos, mortos, cazados, que vossa senhora ficará
obrigado a mandar depois do ofício todos os anos a esta Secretaria: Em terceiro lugar a
relação a mais exacta que foi possível haver da qualidade e quantidade dos productos desse
estado, juntamente com mais informações do que se exporta dos mesmos produtos, seja
para o reino seja os outros domínios ultramarinos juntamente com a individuação dos
géneros que do reino se importão para essa capitania; notando-se em particular os que são
produções próprias de Portugal: Em quarto lugar uma relação muito circunstanciada de tudo
o que os povos pagão nessa capitania, seja ao soberano, seja a Igreja, e Culto publico da
mesma seja para as despesas administrativas de cada lugar, ajuntando-lhe as tabelas ou
mapas das rendas reais nos três últimos anos, havendo cuidado de expecificar o que
produzirão em bruto e depois valores líquidos, entrando para os cofres reais, e se estão
arrematadas , ou só administradas: Em quinto lugar os mapas e relações muito
circunstanciadas do que montou a Despesa Geral dessa Capitania com a miúda individuação
dos artigos e despesas, quaes exercito, Marinha Administração da Fazenda Real: Em sexto
lugar huma relação, muito circunstanciada do estado da tropa regular, e auxiliar da colónia
da qualidade e da quantidade dos Oficiais Soldados, e do estado das fortificações, e praças,
e dos petrechos, e munições militares, ajuntando-se com a observação o aviso de quen
Capitania necessita para a sua defesa: Em ultimo Lugar, todos os anos deve vossa senhoria
mandar a esta secretaria a renovação das propostas
188
211
para promoções militares que não haverem sido despachadas, e nas mesmas suprir as
faltas que, ou por morte, ou por demissão, poderem haver ocurrido: Em Oitavo lugar
terá vossa senhoria a obrigação de remeter a esta secretaria huma vez ao menos todos os
anos as observações que pode fazer seja sobre novas culturas que se possão intoduzir
nesse estado, seja sobre o melhoramento da fazenda real que possão procurar-se seja
sobre dar ao comércio uma maior atenção. Estas relações que porão debaixo dos olhos
de sua magestade, e chegarão assim a sua real presença, poderão fazer julgar do
merecimento, zelo, e luzes de vossa senhoria, que assim merecerá, que sua magestade
considere antender a seus serviços. He também sua Magestade Servida, que vossa
senhoria ponha no alto da primeira página cada um dos seus ofícios, o número que
corresponder principiando do nº 1 até ultimo em que anuncia entrega de seu governo ao
seus sucessor; e igualmente manda sua magestade lembrar-lhe a fiel execução da ordem
que daqui se expediu a esse governo para mandar juntamente com seus ofícios um
resumo dos mesmos que indique a matéria de que trata cada paragrafo. Lizongeio-me
que Vossa Senhoria executará com o seu zelo conhecido pelo real serviço, e com a
promptidão devidaao meso estas ordens, o que será muito do agrado de Sua Magestade.
Deos Guarde a Vossa Senhoria Palacio de Queluz em 14 de Setembro de 1796 Dom
Rodrigo de Sousa Coutinho / João Filipe da Fonseca.
Nº3
Copia= Carta circular para o Governador dos domínios Ultramarinos = Ilustrissimo e
Excelentissimo Snr// Desejando Sua Magestade ligar com nexos indisuluveis todas as mais
separadas partes dos seus vastos domínios e Estados de maneira, que cada uma em
particular, e todas as em geral concorrão para a geral felicidade dos Povos, e para a
grandeza da Monarquia: He a mesma senhora servida ordena que vossa excelência procure
aumentar nessa Capitania quanto puder, o uso e consumo de todas as produções naturais, e
manufacturas deste Reino, e que Vossa Excelencia use de todos os meios/ excepto de
violência/ para conseguir-se tão útil, como desejado fim, distinguido, e favorecendo mui
particularmente os que introduzirem, ou consumirem maior quantidade dos nossos vinhos,
quais os do Porto de Carcavelos, Barra a Barra, Figueira, Azeitona, Azeite, Sal, Vinagre,
Manufacturas de pano, e de sedas deste reino, trajes de luxo trabalhados em Lisboa, ou no
porto, e recomenda-os na Real Presença de Sua Magestade, a fim de que os mesmos
recebam graças e favores. Igualmente procurará vossa Excelencia promover para o reino a
maior exportação possível de todos os géneros, e produções dessa capitania, a fim de da
muita troca dos géneros, e produções, resulte a maior Riqueza, e felicidade de todos os
ditosos vassalos de Sua Magestade que deseja atender sem diferença alguma as suas
benéficas e paternais vistos a todos os seus Vassalos, pelos quais tem o mesmo igual
interesse. Sua Magestade ordena que Vossa Excelencia, e os seus sucessores nessa
Capitania fiquem encarregados de darem todos os anos conta do que houverem praticado,
para executar esta real ordem que a mesma Senhora lhe manda muito recomendar, e que ao
mesmo tempo informe do fruto que tiverem as providencias que for dando. Deus Guarde
Vossa Excelencia Palacio de Queluz vinte e quatro de Julho de mil setecentos noventa e
sete// D. Rodrigo de Sousa Coutinho// João Filipe da Fonseca.
189
212
Concelho Ultramarino Angola 1798, caixa 96, doc nº 28, 01 – 08 – 1800
Instrucções Para o Novo Governador de Angola:
D. Fernando António de Noronha Futuro Governador e Capitão Geral do Reino
de Angola, A Vossa Excelencia Tomando essa Capitania huma parte Interessante de
meus Dominios Ultramarinos, não só pelo que é em si mas também pelas grandes
vantagens que della resultam ao estado do Brazil ministrando braços para as culturas e
escavação das ricas minas daquele país; e fazendo-se por isso digna da minha particular
atenção fui servida nomear-vos para suceder no seu governo a D. Miguel de António e
Mello, confiando da vossa prudência, inteireza, rectidão, que haveis de administrar uma
justiça imparcial, e com o vosso zelo, préstimo, e actividade, haveis de promover o
interesse da minha real fazenda, e conseguir a felicidade desses povos, principal fim a
que se dirigem as minhas paternais vistas. E para que mais facilmente possais conseguir
no Vosso Governo uma feliz administração, me parece dar-vos as seguintes instruções
com o extracto das ordens expedidas aos vossos antecessores sobre os objectos mais
interessantes dessa capitania, todas as quais deveis cumprir com o maior escrúpulo e
maior escrúpulo e escação persuadindo-vos, que he naquela execução das leis e ordens
superiores que consiste o principal dever do homem encarregado do Regimem Politico
dos povos que fica responsável ao seu soberano e estado pela mais leve omissão nesta
parte.
Principiando pela Religião que sendo dada por Deos aos Homens para sua
consolação, he também o melhor meio para conservar a tranquilidade e sobordinação dos
povos, vos recomendo por tão justos motivos, assim como pela qualidade e pela qualidade
de defensor e protector da igreja que não só a façais respeitar, mas que, mostrando a maior
deferência para os prelados da Igreja os auxilieis com aquelas providencias que justamente
solicitarem de vossa parte para conservar o respeito devido ao altar, e aos seus ministro, e
para se zelar sem violência a conservação dos bons costumes, de que não depende menos,
de que de boas leis, a prosperidade e felicidades dos estados. E não só espero que conduzeis
tão concluiveis dois a tão principais princípios o mais sólido fundamento, mas por outro
lado também vos recomendo que zeleis pela minha autoridade e que não consenteis que
debaixo do pretexto de serviço de Deos, e das Igrejas se violem os meus direitos, de que em
ultimo lugar não só resultão graves inconvenientes ao meu real serviço, mas ainda se
suscitam muitas perturbações e escândalos nocivos ao serviço de Deos, e bens da Igreja
Igualmente vos Recomendo muito, que de acordo com o Prelado da Diocese dessa
Capitania ponhaes em execução e observância as repetidas ordens e
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providencias que se tem dado aos vossos antecessores, para a propagação do
Cristianismo entre os Negros, que também deve servir para civilização destes povos
bárbaros, no que fareis não só grande serviço a Igreja mas ainda a minha real coroa, e ao
estado, pois aumentareis o número de meus vassalos uteis, e com eles a Agricultura e
Produções desse Reino. Esta extensão do Cristianismo e a Civilização dos Negros o
deveis procurar por meio de Missionários Instruídos e que Intendão a ligua desses povos
para qual efeito animareis o seu estudo servindo-vos de algum conhecedor das suas
línguas assim como dos dicionários que vos remeto vos, fazendo que os Missionário
lhes ganhem afeição, levando-lhes alguns presentes, como instrumentos uteis a
Agricultura, e nunca usareis dos meios de força reservando-as só para aquele a quem
não houver meios de domesticar esse conservem as ditas horrorosas práticas dos
Antropofagos tão comuns entre os povos bárbaros, que vivem no ceio das trevas da
mais trope ignorância, e sem as luzes das santas leis do Cristianismo.
A Educação da Mocidade que não só consiste na sua instrucção, mas na sua
formação dos seus bons costumes, merce também todo o cuidado, como um dos
princípios, que concorre mais para a felicidade dos povos. Sobre este Objecto sendo-lhe
presente o triste e deplorável estado em que se acham as escolas menores em todos os
meus Domínios Ultramarinos pela falta de sistema que se achavão estabelecidas as
cadeiras necessária para a Instrucção Publica; pela qualidade das mesmas, em que
pouco se atendeu ao que mais era necessário no local, onde se erguerão pela falta de
uma norma física, e arrazoada, para a Escolha e nomeação de Professores, e para a
permanente Inspecção e sobre cuidado, actividade, e zelo, com que estes cumpririam a
sua obrigação e finalmente pela falta de preposição entre as referidas cadeiras, e as
rendas e produtos, do subsidio literário, que deve servir o pagamento de seus
honorários: Foi Servido regular todos estes objectos pela carta régia de 12 de Agosto de
1799 dirigida ao vosso antecessor, e ampliada depois por aviso de 3 de Setembro do
mesmo ano, cuja prompta e fiel execução muito vos recomendo, assim como de outra
carte regia de 4 de Novembro de 1799 que regula e dá uma nova forma a arrecadação do
subsidio destinado a este importante objecto, confiando a vossa actividade, que tereis
toda a vigilância, sobre os Mestres, fazendo-os cumprir exactamente as suas obrigações;
e procurando que os alunos consigão o seu desejado fructo, dos quais me remetereis
anualmente uma circunstanciada lista com as informações de seu progresso.
A boa e Imparcial administração da Justiça pelo meio da mais exacta execução das
Leis, e a mais particular atenção a conduta, e independencia dos Magistrados, he outro
objecto que vos mando recomendar, procurando, que os Povos reconheçam a fiel
imparcialidade, com que a Justiça lhes he administrada, he respeitem os executores da Lei,
não só porque assim he necessário para a conservação da tranquilidade publica, mas até
porque a convicção he o melhor meio de procurar ao Governo toda a estabilidade, e
segurança. Será pois vosso cuidado, vigiardes no Conducta dos Magistrados, advertir-lhes
primeiramente o que se Publicar Contra Mês, e depois representar-me o que neles virdes de
repreensível, e irremdendavel a fim de que eu dê as conveniente providencias ao mesmo
Respeito pela minha Real Resolução de 10 de Fevereiro de 1798 em Consulta do Concelho
Ultramarino vos Consultará a Autoridade que vos dou, para poderes
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proceder nos casos de extrema urgência contra todos os Magistrados, que pela sua
conduta comprometerem a conservação da tranquilidade publica, e no mesmo vereis
não só os limites, que em tais casos vos mando preservar, mas ainda a responsabilidade,
a que ficais sujeito, pois que, devendo sempre conservar sobre tudo a independência dos
julgados, esta cessaria de existir, se por qualquer leve e aparente pretexto, se devesse
proceder contra o Magistrado, e com este terror ainda que pancio, se obrigasse o Juiz a
julgar as vontades e caprichos do Governador. Debaixo destes principio igualmente
austeros vos Recomendo, que procedeis rigorosamente contra todos aqueles que por
Palavras ou por convientalos secretos, e pela demonstração de faltas desastrosos
princípios, que tem infestado toda a Europa,poder4em de qualquer modo inquietar o
governo, e fazer temer que para o futuro dar-lhes qualquer género de inquietação; sendo
evidente que é muito melhor previnr tão graves e eminentes ruinas, afastando da
Sociedade aquelles que podem produzir, do que, tolerando ao principio expor-se depois,
proceder contra eles com os mais rigorosos e severos castigos, não devereis usar destes
meios extraordinários se não com pleno e exacto conhecimento de causa, e com a maior
moderação,o que muito confio na vossa prudencia e anterior conduta.
O Estabelecimento de um bom e bem discutido sistema de defesa exterior da
dicta capitania, e a conservação da tropas no melhor possível fazendo manter a mais
possível disciplina militar, e procurando introduzir a mais rigorosa economia tanto a
favor da Real Fazenda, como ao Beneficio dos soldados he outro objectivo que muito
vos mando recomendar. A criação de uma Junta Militar para discutitr os planos de
defesa da capitania, e para a conservação e erecção das Fortalezas, ou para demolição
das que só originarem uma inútil defesa, he hum artigo que deve ocupar a vossa
atenção, pois só por este modo, e pela introdução das consultas, que a Mesma junta
deve fazer subir á minha real presença, com o orçamento das despesas que quiser
empreender, he que poderá introduzir-se toda a conformidade na fixação de melhores
sistema de defesa, e que poderão também evitar-se as muitas despesas inúteis, que
engordei-vos, ou mal intencionados, ou pouco inteligentes, tem feito debaixo de tais
pretextos. O sistema de um regular licenciamento das tropas por alguns meses do ano,
que deveis introduzir nessa capitania em tempo de paz, he outro artigo, em que
igualmente vos deveis ocupar, e que depende da preparação, que houver entre a tropa,
que deve existir necessariamente no quartel, e aquela que pode dispensar-se do serviço
cuja providencia tem por objecto três diversos fins: 1º melhor quando for possível a
condição do soldado, 2º da Real Fazenda, 3º Favorecer a Agricultura fornecendo-lhe
mais esses braços, para cujo o efeito até vos recomendo, que procureis, que os soldados
cultivem, se possível fôr, alguns terrenos por sua conta.
A Fazenda dessa capitania he outro ponto, que deve merecer toda a vossa atenção, e
ainda que pela competente repartição recebereis as convenientes e mais circunstanciadas
instrucções, com tudo, devendo vós subir anualmente, a minha Real Presença pela
repartição dos Negócios Ultramarinos as mais circunstanciadas contas dos rendimentos
totais, e pareceres dessa capitania mostrando o melhoramento ou a deterioração que possa
ter sofrido, e igualmente a carta da despesa circunstanciada com todas as suas partes
integrantes, em que subdivide acompanhando todo das dividas activas e passivas da
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capitania, he por tal motivo que vos recomendo em primeiro lugar a fiel execução das
minhas Reais Ordens a respeito da remessa real destes Balanços, em segundo lugar que vos
ocupeis do modo mais exactos e produtivos as cobranças de minhas reais rendas excepção
pela concurrencia daqueles que as houverem de arrendar: Em Terceiro Lugar que
conserveis ileso e intacto o crédito que fica nessa capitania, e que o zeleis muito
particularmente, fazendo pagar com a maior exacção e nas expressas competentes todas as
dividas da Fazenda Real de que resultará em casos de Urgencia achareis sempre para o meu
real serviço, os Fundos de que houver necessidade. Em quarto usareis os métodos de crédito
para aumentar as Culturas, produçoens e o Comércio de exportação dessa capitania,
examinando-se, por esse meio, e fazendo também acionista a Minha Real Fazenda, podeis
procurar auxiliar caixas de crédito, e Circulação as quais tem por Objectivo 1º avançar
dinheiro sobre hipotecas seguras aos cultivadores, 2º Descontar letras de Cambio de duas
boas firmas, endoçadas por duas boas diferentes casas de comercio, 3º Avançar fundos
sobre géneros, que se exportem, 4º Emitir para tal fim Bilhetes logo que a situação
prosperar, e veluz da Capitania assim o exigir. E s e na realidade poderes, fundar, e
organizar, hum semelhante estabelecimento fareis ao bem publico e ao meu Real Serviço, a
maior vantagem. Em Quinto lugar vos recomendo que me procureis informar-me
anualmente de qual é a porpoção que a Contribuição Geral da Capitania tem com a massa
geral de sua produção, e a maneira que quer as veixações quer tanto directas quer territorias,
como indirectas, isto he, as que recalhem sobre as reconsumações, afectam aqueles que
pagam, pois que só deste conhecimento se consegue aproximação, he se pode chegar ao
conhecimento da facilidade ou da impossibilidade que há de aumentar as minhas reais
rendas: Em sexto lugar procurareis ter sempre diante dos olhos, e assim o representareis na
junta da Fazenda que a vossa obrigação he procurar sempre o aumento das minhas reais
rendas, as diminuições da despesa geral do Estado, e reoresentar sempre toda a útil
aplicação que se pode fazer das mesmas Rendas, seja para o seu aumento, seja para
beneficiar os meus Povos, cujos interesses são por Natureza Inseparaveis dos da minha Real
Coroa, logo que uns e outros, são bem entendidos.
Depois de vos haver assim ordenado o que pode haver de mais essencial na
administração da Real Fazenda, segue também recomendar-vos as Rendas Publicas , a
respeito das quais deveis dar a mais fiel execução ao Aviso de 21 de Outubro de 1798,
informando-vos todos os anos dos Rendimentos das Camaras, e de todos os outros
fundos comunitativos, que possão existir nessa capitania, e do modo como os mesmos
são empregados, e fazendo subir a minha Real Presença, essas contas mui
circunstanciadas mas providenciado sempre que a sua Adiminstração seja a mais exacta
e a sua aplicação sejam as mais louváveis, tendo por único e principal objecto a
Utilidade Publica dos Habitantes dos Districtos, onde tais rendas existem, e fazendo
onde for possível se apliquem os Fundos conforme está recomendado no citado aviso
para se manderem aprender os Médicos Cirurgiões, contadores, e Hidráulicos, que
possa Rebenificiar com as suas Luzes, e conhecimentos, os districtos que os houverem
escolhido, que lhes houverem procurado, huma tão útil carreira até para eles mesmos.
Com a Mesma Actividade, e Inteligência procurareis promover a Agricultura, cujo
objecto he de tanta importância, que já no regimento dos Governadores de Angola dado
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a Tristão da Cunha em 10 de Abril de 1666 se lhes Ordena 12 examinem-se as terras
que se derão a particulares que efectivamente estão cultivadas, o nosso tem passado o
tempo, em que devião estar, para se haverem por devolutas, como Também se Re
determina, a repartição das que não tiveram dono, por pessoas abonadas por obrigação,
de as cultivar, e aproveitar dentro de cinco anos pedidndo confirmação Régia, e não as
aproveitando dentro do dito tempo, ou não pedidndo confirmação, haverem-se por
vagas, e poderem-se dar a outras pessoas com as mesmas condições. Debaixo destes
princípios deveis aperfeiçoar, e ampliar as Culturas já existentes nessa capitania, e
animar todas as Novas Culturas para cujo louvável fim pode contribuir a erecção de um
Jardim Botânico á maneira do que mandei estabelecer no Pará, e de que para o futuro
resultarão a essa Capitania muitas vantagens; podendo no mesmo Jardim Botânico
praticarem-se primeiro em pequeno as Culturas, para depois se extenderem a toda a
Capitania: entre estas tem em primeiro lugar, e devem merecer uma particular atenção
as que dizem respeito a subsistência do Homem quais o Milho, Feijão, toda a qualidade
de legumes, Hortaliças e Frutos, e Principalmente a Farinha de Pao, ou Mandioca,
planta preciosa, e que cada dia o será mais, logo que a sua cultura se faça debaixo de
principio, e com Inteligencia, como os Ingleses e Franceses a praticam nas Antilhas, e
também presentemente no Pará, desterrando-se o prejuízo de que ela só pode cultivar-se
em Capoeiras, e depois de cruéis derribadas de Árvores preciosas, a que se dá ao fogo.
Depois da Agricultura segue-se o comercio e a Navegação, que mutuamente se
auxiliam, e cuja protecção vos Recomendo muito particularmente, aplicando-se com os
meios e energia em promover e animar, todos os diferentes Ramos, que lhes podem servir
de objecto, de que os principais são 1º a Escravatura de que ao diante se trata nestas
instruções, 2º o Marfim que se compra todo e navega, por conta da Real Fazenda para este
Reino donde sahe Manufacturado para os Países Estrangeiros; e sendo consideração e
aumento deste género dependentes de sua maior quantidade, deveis fazer logo que possível
as diligencias, e expeculações, para que ele se consiga em grande abundancia; pois que não
sé he muito profícuo a Real Fazenda, mas aos meus Vassalos pelas muitas famílias uteis
que sustenta, e pode sustentar, aumentando-se a sua exportação: 3º a Cera, de que também
se deve procurar a maior exportação possível como hum dos Generos de grande consumo
neste Reino, sendo necessário extrai-lo de países estrangeiros, o que não sucederia, se este
artigo se tivesse animado em Angola com a devida Inteligencia e energia. São estes os três
géneros capitais, que fazem presentemente o Comércio da exportação da capitania, a eles
também se podem juntar muitos outros que não são menos uteis dos quais o Termoço, o
Algodão recomendados no 16 do já citado Regimento café também recomendado no dito
…. De oito de Abril, de que são abundantíssimas as terras dessa capitania as muitas
Madeiras juntas, de que também abunda o país, e todas as outras produções que podem
entrar na circulação, procurando finamente os meios de manter a regular balança de
Comércio, que felizmente existe entre os meus domínios, e ligados por laços e princípios
indissolúveis a grandeza, e extensão dessa capitania, e o consumo dela dos produtos e
Manufacturas do Reino.
Já no principio destas instrucções vos expus que o Reino de Angola não é só
interessante por si mesmo, mas pelas vantagens que dele resultam ao Estado do Brasil,
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cuja subsitencia depende absolutamente dos Braços que ele lhe fornece e sem os quais se
tornaria inútil aquele rico país, que forma a parte mais interessante dos meus Domínios
Ultramarinos: Em consequência é um dos principais objectos, e o mais importante dessa
capitania a Exportação da Escravatura, que presentemente se acha em grande decadência
por causa do contrabando das nações estrangeiras, e principalmente pela concessão, por
cujo efeito se mandou destruir a Fortaleza, que defendia o interior do País e a comunicação
com o Porto de Ambriz tão frequentemente frequentado pelos Ingleses, que no ano próximo
passado tiraram mais de 6 mil Escravos, os quais haveria de fazer huma considerável falta
ao nosso Comercio. Deveis portanto fazer rtodos os possíveis esforços para promover e
animar a referida exportação, e por mais vigilância he cuidado a evitar todo e qualquer
contrabando neste artigo as ordens de 13 de Abril e 4 de Junho do ano próximo passado, as
de 5 de Fevereiro, 8 de Março, 29 de Maio do Presente ano vos darão os necessários
conhecimentos de meios que se devem empregar para conseguir este fim, mas como entre
eles o mais interessante é o estabelecimento de Registos no Interior do País para o Porto de
Ambriz, o que necessariamente hade encontrar alguma forte oposição da parte dos Ingleses
se faz necessário, que vos com a maior actividade, e consultando os oficiais que foram ao
sertão, e fizeram a guerra ao Mussol, procurareis estabelecer presídios para os referidos
Registos, mas de tal maneira, em tal distancia das Costas , que os Ingleses venham a sentir a
falta de Escravatura, mas não tenham pretexto para se queixarem, que ela procede desta
providencia, a fim de não se comprometer a minha Real Coroa com a de Inglaterra, e evitar-
lhe as reclamações que sobre este artigo pode fazer, as quais paralizariaõ as minhas Reais
Vistas. Nam deveis também perder de vista, como hum meio muito conducente para evitar
o contrabando, e promover o comércio da escravatura e inquietar com os presídios acima
recomendados todos os sovas de Ambriz ao Zaire commerceao com as nações da Europa, o
que igualmente praticareis com o Mussol, que se faz temível pela correspondência que tem
em Inglaterra, e deveis considerar como o maior inimigo desta capitania, esforçando-vos
com toda a energia para fazer percário o Comercio destas Nações, a fim que todo ele se
dirija aos portos de Luanda e Benguela, de onde se tem desviado com tão considerável
prejuízo dos Meus Fieis Vassalos, não só por causa do expressado Contrabando, mas pela
falta de actividade, com que se tem promovido os Pombeiros e as Feiras no Certão, objectos
estes já recomendados ao Vosso Antecessor em Avisos de 17 de Novembro do ano Passado,
de 24 de Fevereiro do Presente ano, e que sendo tão interessantes se tem desprezado pela
ideia que me fica do pouco o que vale o país; por cujo motivo vos recomendo, que procureis
anima-los, e evitar os muitos roubos, que se praticão no certão, e que são outra não menor
causa da decadência do comercio daqueles portos.
Depois da Escravatura merecem uma particular atenção as Minas de Ferro, de que
podem resultar grandes interesses a esse Reino; e Principalmente ao estado do Brasil, onde
se exprimenta a maior falta deste metal, o mais útil de todos, e indispensável em hum país,
cuja riqueza depende das Culturas, da escavação, e das Minas. Foram Aquelas Descobertas
neste Reino no tempo em que o Governou D. Francisco Inocencio de Sousa Coutinho, o
qual vencendo com sua grande actividade as maiores dificuldades erigiu uma Fábrica no
Lugar da Mina a que pôs o nome de Nova Oeiras. Este Estabelecimento porem
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não produziu o desejado efeito, talvez pela inactividade dos seus sucessores, pretextado
com a Natureza do Sitio, que representaram doentio ao ponto de não poderem subsistir nelle
Europeus alguns, e nesta Inteligência, mas sem que perdesse de vista aquele útil
Estabelecimento fui servido expedir ao Vosso Antecessor a Ordem de 11 de Outubro de
1798, para que debaixo da inspecção do Degredado José Alvares Maciel, que visitou a
referida Mina, estabelecesse lá alguns Fornos grandes em Colombo, onde se mostrasse aos
Negros o modo de Trabalhar em Grande, para depois se hirem estabelecer na Nova Oeiras.
Esta tentativa poderá sem duvida produzir hum feliz efeito, e por isso vos recomendo muito
particularmente a sua prompta execução, animando-a com toda a a actividade e energia;
mas ao mesmo tempo tentareis todos os outros meios, que vos dictar a vossa inteligência, e
o conhecimento, que adquirirdes do País para o perfeito restabelecimento da antiga Fábrica,
operando a maior constância, e os maiores esforços de Luzes, e zelo, á ignorância dos
Habitantes, á falta de cabedais, e meios, sobretudo ao clima, que enerva, e afrouxa, o que
deixa muitas vezes crer, que he impossível, o que depois se vêm a efectuar, como se
verificou no tempo do Governador acima mencionado [ cuja actividade, e zelo no Real
Serviço são tão dignos de servir de modelo a seus sucessores] o qual dizia com muita
discrição, que o maior serviço que tinha feito nessa Colonia á Coroa de Portuga, fora ter
desvanecido a vulgar resposta = He Impossivel = que já em reservio, e se dava ao novo
projecto, que se propunha: E na verdade he lamentável que a bus dando aos meus Domínios
de Tão Ricas Minas de Ferro, seja necessário ir Mendigá-lo aos Países Estrangeiros; o que
espero não suceda para o futuro; por confiar de vós; que conseguireis este grande objecto,
em que vos devereis interessar com os maiores esforços, ainda mesmo pela glória pessoal,
que daqui vos pode resultar.
Merece huma igual consideração o projecto de comunicar as duas Costas Oriental, e
Ocidental de África, já recomendado ao vosso Antecessor em diferentes ordens, e
principalmente na de 14 de Maio do presente Ano, com o qual lhe mandei remeter o Plano
de Viagens, em que o falecido Francisco José de Lacerda Governador dos rios de Sena, se
propunha atravessar o interior de África, formado em correspondência das informações, que
ali alcançou dos Cafres sobre a comunicação, que eles tinham com os meus Dominios da
Costa Ocidental, ordenando ao dicto vosso Antecessor na referida Ordem, que tenha-se para
esse fim alguma expedição, prelongando presídios pelas margens mais distantes do Kuanza,
ou se pelo menos visse se podia descobrir vestígios da Comunicação dos Negros com os
Cafres. A Importância desta Tentativa que verificada produzira incalculáveis vantagens de
Comercio aos meus Fieis Vassalos Residentes do Reino, e em todos os meus Domínios,
exige da vossa parte os maiores esforços para a sua execução, os quais vos recomendo, e
que não vos deixeis desanimar com as dificuldades, e continuados trabalhos, lembrando-
vos, que nada julgo impossível aos meus Vassalos, quando os considero descentes daqueles
que ligaram as mais remotas partes do Mundo.
Depois destes três objectos, que são sem duvida os mais interessantes do Reino de
Angola, e aqueles que podem tornar uma das mais florescentes Conqusitas de Portugal , vos
Recomendo Igualmente todas as outras tentativas, que possão concorrer directa, ou
indirectamente para a melhor prosperidade, e grandeza dessa capitania, procurando animar,
promovendo ordenar, e promover os Estabelecimentos ordenados a vosso
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Antecessor, entre os quais tem em primeiro lugar o dos Correios Maritimos para o fim
de conseguir uma correspondência mutua e regular entre essa Capitania e este Reino, e a
meus domínios Ultramarinos, na conformidade do que fui servido determinar no alavará
de 20 de Janeiro de 1798, e respectivas intenções que executareis dentro dos limites,
que julgardes necessários e Convenientes a essa Capitania pois que Suposto no citado
Alvará se não fizesse Menção desse Reino, assim como do Estado da India e Capitania
de Moçambique, deveis estar na inteligência, que as minhas leis são gerais para todos os
meus Dominios, quando são neles aplicáveis, como no caso presente sobre este
Estabelecimento já principiado pelos vossos Antecessores vos regulareis pelo S.S do
Oficio que Fui Servido expedir-lhe em 31 de Outubro do ano próximo passado tendo
sempre em vista; que o Correio de Angola não deve ser nem o do Rio de Janeiro, nem o
do Reino, mas hum Officio Publico donde sahiao todas as cartas desse Reino, tanto para
Benguela, como para os mais Dominios Ultramarinos, e que principiando sem mais
gastos, que os que fossem indispensavelmente necessários para a sua primeira
subsistência, se vá aumentando segundo o seu Rendimento, o qual procurareis promover
em beneficio da Minha Real Fazenda, e não se deve julgar indiferente esse rendimento,
por modo que seja para a mesma Real Fazenda; podendo vir depois a crescer,
promovendo-se em tempo de paz a erecção de hum Estabelecimento de correios
marítimos, que vão todos os meses para os Portos do Brasil em meia carga, ou três
quartas partes, que bastem a pagar as despesas, e deixem livre o porte de Cartas, o que
desde já vos Hei por recomendado, para assim executardes em tempo competente, e na
conformidade das Ulteriores Ordens, que vos forem expedidas a este respeito tendo
presentemente toda a vigilância, e cuidado para que não sahia embarcação alguma dos
portos dessa capitania, seja para este Reino, seja para o Estado do Brasil, sem que
receba as Malas de Correio; e para que não se extraviem as Cartas; e a este fim poderia
dar aqueles castigos de Policia, que julgardes necessários, e que não podem deixar de
ser arbitrários dentro de certos limites; pois que alias o Codigo Penal veria graves danos
dos Povos viria a ser maior do que os maiores Codiciveis e Criminais, e dahi resultarião
os graves inconvenientes, de que o delito ficariam imprimidos por não se resolverem tão
enormes Mossas.
Alem das Ordens já recomendadas fui também servido mandar expedir ao Vosso
Antecessor outras muitas, segundo o tem exigido a circunstância do Tempo, entre as quais
são as mais interessantes seguindo a ordem Cronológica a de 26 de Outubro de 1796 sobre a
introdução nessa Capitania de todos os Animais que seguem a grandes conduções, e
principalmente dos Camelos que deve produzir as melhores consequências; A 22 de Agosto
do mesmo ano sobre Remessas de Produções Naturais para o Real Museu: a 16 de Abril de
1798 para se promover a exportação de Escravatura para as Capitanias do Pará
empregando-se as sobras das metades dessa capitania, e da de Benguela em Negros que se
Remetam para a referida Capitania na conformidade de meu Real Decreto de 17 de Abril do
dicto ano. A de 28 de Fevereiro de 1799, para que não seja isentos de pagar Dizimos os
Sovas e Potentados que estão sujeitos a Minha Real Coroa, e ainda se acham reputados nas
trevas do Paganismo: a 28 de Abril do mesmo ano, para que os Degredados não voltem ao
Reino sem cumprir os seus Degredos: A de 8 de Junho do referido Ano
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sobre o particular cuidado e vigilância, que deve haver para evitar qualquer supresa da
parte dos Hespanhois por causa da União com os Franceses, a respeito dos quais deve
haver ainda a mais particular vigilância como está recomendado na Ordem de 24 de
Dezembro do anno próximo passado, e na de 3 e 6 de Fevereiro do presente: A de 29 de
Julho de 1799 sobre a proliferação das Bexigas, que a experiencia tem mostrado ser o
único meio, e verdadeiro preservativo contra este terrivel flagelo, que faz diminuir tão
consideravelmente a População a de 26 de Agosto do mesmo anno para se numerarem
todas as cartas de ofícios com diferença de cada hum dos anos: a de 8 de Novembro do
dito ano para que pessoa alguma empregada no Meu Real Serviço, não possa mandar
presentes aos Ministros do Concelho Ultramarino, e aos oficiais do S. E. dos N. da M. e
D.M: a de 19 de Fevereiro do Presente anno, para que se não consita a venda de água de
Inglaterra, á excepção da que foi remetida pela R.J da F. da M.E: e a de 29 de Março
também do Presente ano, em que se modifica a proibição de nomear oficiais para
postos, quando sejam tais os casos, e as circunstacias tão apertadas, que se façam as
propostas regulares. Todas estas ordens aqui apontadas devem considerar como parte
destas Instrucções, e em consequência dar-lhe a mais fiel e prompta execução.
Documentos sobre Produtos particulares:
Produção de Álcool no Sertão Africano
Com Mais Profundo Respeito Chegamos a Real Presença de Vossa Magestade que
a causa dos povos deste Continente comprarem os mantimentos por maiores preços
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tem sido o maior numero de engenhos de agoardente de cana, em que se empregão
algumas fábricas deste Paiz, deixando de fazerem os serviços minerais, e da
agricultura, de que resultaria tanto aumento ao bem publico e ao erário régio, e porque
com as Fabricas das Canas se tem feito tão sertil pelo paiz, que pelo diminuto preço a
que tem chegado esta bebida, dela usão não só os senhores das mesmas fabricas, como
também os seus escravos, e todos aqueles de que se compõem este Continente, que por
muitas vezes por cause deste negócio fogem aos seus senhores, aparecem mortos pelas
portas dos vendeiros: e assentão os professores de Medicina proceder da muita
abundancia daquela Bebida.
Não tem sido, Augustíssima Senhora, bastantes as providencias, que os
Soberanos Monarcas, que Deus haja em Glória, tem dado para se evitar este grande
dano, porque como estas Fábricas se compõem dos Vassalos de maior respeito, estes
continuamente não cessam de aos Ministros dos Respetivos distritos, e governadores
da capital que se não deem a executar as respetivas ordens que os mesmos
augustíssimos Monarcas baixaram a favor dos povos desta capital a fim de com elas
desterrar estas muitas demasiadas fabricas, e os prejuízos que delas se seguem
A preciosíssima Via de Vossa Magestade Guarde Deus para amparo dos
seus fieis Vassalos.
Vila Nova da Rainha em Camara, vereação de dois de Julho de mil settecentos e
oitenta e três
Os Oficiais da Camara
Bernardo Pereira de Castro
Alexandre Ferreira da Costa
João Alvares de Carvalho
Arminio Novais de Campos
Concelho Ultramarino Angola 1798, caixa 88 doc nº 10, 16 de Junho
Sobre o tipo de comércio e produções se fazem em Benguela
No 13 de Maio Passado por hum bergantim da Bahia tive a honra de receber o oficio de
V. Exª de 21 de Outubro de 1797, com a instrucção a mapas sobre vários objectos, que
anualmente devo enviar a V. Exª desta capitania de Benguela, em cujo Contheudo certo
e Prompto pêra sua execução, o que me for possível e este paiz forneceu, pelas
diferenças dos amis nas suas produçoens, pois que sua exportação conciste só em
Escravos, Marfim, e cera, como em 27 de Julho de 1796, em 28 de Fevereiro de 1797,
em 28 de Março no corrente ano puz na presença de V. Exª
Os frutos são Milho, Feijão, e mandioca, que a maior parte comem no campo antes
de o colherem, sendo os desta cidade tão poucos os negociantes os mandão vir da America
e ainda alguns de Angola para seu sustento, e pelos mapas do hospital que também tenho
remetido a V. Excelencia se ve diminuindo os dízimos que dos referidos frutos resulta.
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Emquanto a Importação, sendo o Porto desta cidade hoje tão considerável, como o
de Angola, não tem Alfandega para se poder saber o quão vrerdadeiramente aqui entra, nem
hua junta para melhor administração da Real Fazenda, e aumento desta população, quando
me parece se fazia digna de hum e outro tribunal , e hera mais conveniente ao Real Serviço
pela grande restrição de jurisdição que vive este governo encerrados cada vez mais pelos
excelentíssimos Snr Generais, e junta real da fazenda de Angola, em forma tal que não pode
o governador, nem ainda a providencia, mandar fazer qualquer obra útil a real fazenda, sem
muitas vezes poucas vezes atendem porque esta opulenta capitania nunca floresça, nem lhes
saia apertado jugo, quando estaria mais aumentada, se tivessse governada sobre si, per hum
capitão General que certamente o não desmereceu, e só assim se terminarão os conflitos de
Jurisdição, e as calunias dos Subditos.
A secretaria que aqui arranjei, necessita de hum secretario, dois oficais para a dita ao
menos com seu salários competentes, e o mais necessário para a mesma pois que até
agora tudo tem recaído no meu limitado soldo, assim como a terça parte dos aluguers da
casa da minha residência, sendo o único governo em que as não tem próprias da Real
Fazenda, e a este respeito e a não ter quem me ajude para poder cumprir com as ordens
e obrigações de que cada vez me vejo mais pencionado tenho solicitado varias
providencias do Ex Senhor General de Angola, como se ve dos documentos nº 1, 2,3,4,
sem que me defira em coisa alguma.
Das províncias desta capitania se não pode saber concerteza os seus particulares;
porque por falta de forças e liberdade, fora dos suborbios desta cidade, não hé o
Governador obedecido pelos gentios, e ainda dos moradores, e só poderá ser fazendo
alguns presídios em alguas principais das ditas províncias, como hem Angola, hum
regimento de Artilharia ou Infantaria nesta cidade, e vir do Brasil vários casais de gente
parda, não só para o aumento da da População mas também para servir na dita tropa,
para que de hua vez se pudessem evitar as mortes roubos e hostilidades, que os gentios
fazem como os ditos documentos nº 3, 4, serve.
Espero por tanto que vossa excelência se digne a atender todo o acima exposto,
que tenhon a honra de por na Sua Respeitavel Presença, movido unicamente pelo zelo
do Real Serviço, em que a 37 anos me emprego sem nota algua. A pessoa de V.
Excelencia guarde Deos muitos anos Benguela 16 de Junho de 1798.
Ilustrissimo Senhor Dom Rodrigo de Sousa Coutinho Ministro Secretario do
Estado dos negócios da Marinha e Dominios Ultramarinos.
Alexandre de Sousa Botelho.
Concelho Ultramarino Angola 1798, caixa 89 doc nº 17, 18 de Outubro
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Sobre o trajecto de uma embarcação referindo os produtos que vai trocar na costa de
Angola e nas ilhas ( transcrever)
Ilustrissimo e Excelentissimo Senhor Hoje segue viagem para o Porto desta capital para
esse de S. Antonio Arecife a Fragata de Sua Magestade por invocação Nossa Senhora do
Carmo denominda Loanda, com os destinos de ahi deixar a carga de marfim da Real
Fazenda, e de escravos que por conta dos negociantes deste Reino para essa cpitania
transporta para hir depois carregar Farinhas de Mandioca as ilhas de São Tomé e Principe,
pela grande carestia que aqui de tão indispensável mantimento se vai exprimentando, visto
que neste paiz quando acontece haver chuvas morrem os homens de doenças, e quando elas
faltam de fome. Com mandante da dita fragata José Pereira de Mello leva a ordem para ter o
menor demora possível nesse porto, e eu lhe dei por escripto mui apertada para em tudo
obdedecer as que vossa excelência mandar distribuir. O mesmo comandante será a Vossa
Excelencia responsável por dois sugeitos, que a bem da Justiça por meu mandado conduz,
hum por nome de Manuel António Viana, o qual com a carta incluza vossa excelência se
servirá enviar preso para Lisboa a ordem do Intendente Geral da Policia: Outro António
Ribeiro Noia que não havendo mudado de costumes com a mudança de terra e clima,
faltando-me aqui Arsenais e Fortificações, e obras publicas, a onde faça trabalhar e punir
tão maus sujeitos como ele hé vendo alem disto este estado ameçado de uma inevitável
ruína, e perdição,com a continua remessa que para ele se faz de viciosos, sem se atender,
nem ainda procurar certa informação dos incovenientes que tal procedimento encerra, e não
tendo finalmente vindo o dito António Ribeiro Noya degredado por sentença que houvesse
passado em julgado, mas sim por hum titulo, e modo posto que competente, ao que creio
com tudo extraordinário não posso deixar de rogar a Vossa Excelencia por serviço de Sua
Magestade lhe dé o destino que mais lhe convier ao socego dos povos que vossa excelência
sabiamente governa, sem contudo ser pertubado a dos deste reino que desejo como sou
obrigado manter, o que não posso alcançar sendo tão contínuos e tão poderosos os estorvos
que me opõem tantos vícios, e de tantos mal feitores que de continuo me cercão e me
afligem. Também nomeado nomeado José de Pereira de Melo entregará a Vossa Excelencia
dois sacos com cartas que dirigo a secretaria de estado dos negócios da marinha e domínios
ultramarinos e a real junta do comercio, agricultura, navegação e fabricas, as quais peço a
vossa excelência ordene sejam remetidas para Lisboa no primeiro paquete correio marítimo
que dahi partir ou por qualquer outra via, que como ele seja tão segura, e breve, dignando-
se também vossa excelência enviar com maior brevidade possível a outra inclusa carta do
Senhor Governador e Capitão General do Pará, ou quem por nela participo Negocio do
Serviço de sua magestade que a mesma ordenou tratássemos entre ambos interessando
grandemente o seu real serviço na prompta execução de seus régios mandados.
Deos Guarde Vossa Excelencia São Paulo de Assunção de Luanda dezoito de Outubro
de mil setecentos e noventa e oito. Ilustrissimo Senhor Dom Thomás José de Melo =
Dom Miguel António de Melo.
José da Silva Costa
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Concelho Ultramarino Angola 1798, caixa 89 doc nº 49, 12 de Novembro
A copia inclusa da Carta que com data de seis do corrente dirijo ao tribunal da junta do
comercio, e os documentos juntos em tudo iguais aos que com ela envio instruirão a V.
Excelencia do que obrei acerca das Fazendas que dessa corte a esta capital conduziu o
Navio denominado = Anna de Lisboa = havendo-as tornado no porto franco dessa mesma
corte para serem negociadas por conta de Manuel José de Sousa Freire e Companhia nos
portos de Cabinda, Moembo, e Loango. Peço a V. Excelencia queira fazer também presente
a Sua Magestade o que obrei participando-me depois que a Mesma Senhora ajuizar sobre as
minhas direcção e governo quanto a outros semelhantes futuros.
Deus Guarde V. Excelencia muitos anos. São Paulo de Assumpção de Luanda 12 de
Novembro de 1798.
Ilustrissimo e Excelentissimo Senhor Dom Rodrigo de Sousa Coutinho
Dom Miguel de Antonio de Melo.
No porto desta cidade entrou a 30 de Outubro do ano próximo passado hum navio
denominado = Anna de Lisboa vindo em direitura da dessa capital, trazendo setenta e seus
dias de viagem, e mostrnado seu capitão Paulino Pinto da Motta pertencer o caso e seus
efeitos que a seu bordo se Acharão a Manuel Joseph de Sousa Freire e Companhia de
Negociantes de Lisboa que o fez carregar de Fazendas tomadas no porto Franco dessa corte
para vir comprar escravos a Cabinda, Molembo, Loango, e mais portos do Norte dessa costa
para os domínios de Vossa Magestade, e como logo que aqui fundiou se manifestasse o
grande dano que na viagem o sobredito navio exprimenta-ra, e ao mesmo tempo ser
impossível remediado neste porto para passar depois ao de seu destino, me requereu o
acima nomeado Capitão e Caixa Paulino Pinto da Motta o que consta da copia autentica do
requerimento que me fez a vinte sete de Novembro, sobre o qual ouvindo como da dita
copia se prova o Desembargador Ouvidor Geral deste reino na qualidade de Juiz de feitos
da coroa e fazenda de Vossa Magestade, e dando ao depois vista ao doutor Juiz de Fora
desta capital como procurador da mesma real coroa acordei/ atendendo ao que ambos os
ditos Magistrados informarão, e responderão, a utilidade Geral do Comercio deste estado,
as circunstancias em que ele se achava, e acha em certo modo ainda presentemente, e por
ultimo a segurança dos reais direitos de Vossa Magestade, e dos cabedais daquele
Negociante que procedendo na boa fé se via por um caso frutuito próximo a perder quando
não toda uma grande parte de seu cabedal/ em lhe deferir na forma que me requere-o e se
mostra a folha sete do documento junto subnumero primeiro esperando que Vossa
Magestade aprove meu procedimento que quanto foi possível consiliei com as leis reais
ordens de vossa magestade se contudo desatender aquilo que me pareceu conformar-se em
tais circunstancias com os inalteráveis princípios de Sua Augusta e mui Real clemência. Os
documentos números 2ª, 3º, 4º, e 5º servirão para por eles Vossa Magestade mandar se
arrecade a quantia que pelas fazendas a que permiti entrada, o Negociante dono delas dever
ao Real património, certificando-me a Vossa Magestade que do documento nº 1 ficão os
originais na secretaria deste governo, e dos
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mais outros tantos em tudo conforme aos que remeto; para que a todo o tempo conste a
natureza e termos do negocio, e o que acerca dele obrei, assim como por meio da
Resposta em que vossa Magestade for servida Mandar-me honrar, ficarei eu, e ficaram
meus sucessores na inteligência do que vossa magestade resolver, noticia que desejo ate
sobre as mínimas coisas que me estão ancarregues alcançar, para minhas acções em
tudo e por tudo dirigir segundo a Real Vontade de Vossa Magestade única, e segura
guia, para os bons acertos de seus humildes e fieis vassalos = Deus Senhor Nosso a vida
e real estado de vossa magestade guarde e acrescente por muitos e dilatados anos como
seus vassalos lhe pedimos e havemos mister. São Paulo de Assumpção de Luanda seis
de Novembro de mil setecentos noventa e oito = D. Miguel António de Melo =
Factura de Diversas Fazendas que nos Manuel de Sousa Freire e Companhia,
remetemos desta cidade a bordo do Navio Anna de Lisboa Capitão Paulino Pinto da
Mota, por nossa conta e risco, e de quem mais pertencer, entregues ao mesmo Capitão
Mota e ao senhor Thomas Pedro Moller, e Snr Manuel Joaquim dos Santos, Capitão do
Navio Anjo do Senhor a Saber
1 – 79 160 panos de zuartes finos de Cova 6400 102$000
2 – 80
3 – 58 420 panos de Zuartes sumenos de 24 a 25 conv. 5400 2268$000
4 – 60
5- 60
7 – 60
8 – 60
9 – 60
10 – 59 1140 de Zuarte de sumenos 1º 24 com 4800 472$000
11 – 60
12 – 60
13 – 60
14 – 60
15 – 60
17 – 59
18 – 60
19 – 60
20 – 60
21 – 60
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22 – 60
23 – 60
24 – 60
25 – 60
26 – 60
27 – 60
28 – 60
29 – 59 180 de Zuartes Sta 22 a 24 4200 756$000
30 – 60 31 – 60
32 – 50 540 de Zuartes 2º Sº 22246 4500 2430$000
33 – 60 34 – 60 35 – 60 36 – 60 37 – 60 38 – 60 39
– 60 40 – 60
41 – 99 700 fardos Chitas Azuis 1ª Sorte 246 a 4500 3150$000 42 – 100
45 – 100 44 – 100 45 – 100 46 – 100 47 – 100
48 – 59 780 parte de Coromandel Azul de 24 Cnt 4500 3510$000 49
– 60 50 – 60
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51 – 60
52 – 60
53 – 60
54 – 60
56 – 60
57 – 60
59 – 60
60 – 60
61 – 60
62 – 64 345 dos ditos Matins 1ª Sorte 24 Cont 4500 1552$500
63 – 60 64 – 60 65 – 60 66 – 60 67 – 60
68 – 60 175 partes de ditos ditos 2 Sorte 23 a 24 Conta 4500 787$500
69 – 60 70 – 55
71 – 59 240 de Nanguins de 24 a 25 Cont 5200
1248$000 72 – 60 73 – 60 74 – 60
75 – 59 240 de Ditas de 24 cont a 5200 1248$000
76 – 60 77 – 60 78 – 60
79 – 79 642 parte s Cardeas Inglez 19 Cont 4200 2699$400
80 – 80 81 – 80
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82 – 80
83 – 80
84 – 82
85 – 80
86 – 80
87 – 79 240 de ditos ditos 17 cont 3600 864$000
88 – 80
89 – 90
90 – 79 400 de ditos ditos de 19 cont a 4200 1680$000
91 – 80
92 – 80
93 – 80
94 – 80
95 – 79 600 parte de ditos Matizados de 19 conta de 5000 3000$000
96 – 80
97 – 80
98 – 80
99 – 40
100 – 80
101 – 80
102 – 80
103 – 199 600 partes de Longuins de 5 consta 1000 1186$000
104 – 199
105 – 199
106 – 199
107 – 185
108 – 199
109 – 95 de Chitas de Surrate de 19 cont a 3600 342$000 360$000
5 do dito de Amostra dito 18$000
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110 – 110 – de Chitas de Surrate de 19 const a 4000 400$000
111 – 72 de ditqas ditas diverças de 24 const 4000 288$000
308$000 5 de ditas idem po amostragem dito 20$000 112 – 98 353 parte de Lenços Sutoram de 15 a 3000
1059$000 113 – 99 114 – 99 115 – 54
116 – 159 478 de ditos ditos maus foss de 15 4000 1912$000
117 – 60 118 – 158
119 – 157 238 partes de ditos azuis de 15 a 2700 642$600
120 – 80 121 com amostras da fazenda já incluídas nos fardos 15 barris Nº 1 de Chumbo
Munição 5 Barris Nº 1 a 3 gg 15 5 ditos nº 2 ditos 15
5 ditos nº 3 ditos 9
15 Barris com 39 ggg 6000 234$000
122 - 60 Armas Guarnecidas de Latão , alias de Ferro
123 – 60
124 – 40
125 – 64 Ditas guarnecidas de Latão
255 armas de Fogo 3000 699$000
126 – 60 Armas Granadeiras 2200 1320$000 custo de caixote e embalagem 16$000
127 – 60
128 – 60
129 – 60
130 – 60
131 – 60
132 – 60
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133 – 60
134 – 60
135 – 60
Barris
136 – 130 1040 duzias de facas de cabo de pezo a 660 686$400
137 – 129 138 – 132 139 – 127 140 – 129 141 – 126 142 – 155
143 – 152
144 – 244 530 Massas de Mizangas B 400 fos 520 169$600
145 – 286 146 – 340 Massas de Mizanga Preta de 400f 300 102$000
147 – 363 ditos de ditos verde de 500 f 560 131$400 Caixote 148 – 246 Duzias de Barretes encarnados 2000 492$000 494$220
6 filas de Cachanmaso a 210 a v e corda 960 2$200 149 2 P de Bactas azuis ferretes de nº 74, 105 55 178$200
5 6 37$800
105 partes de cadeas azuis de 9 cons 1300 136$500
3 de Ditas de ditos para amostrar a dita 5$900 250 cobertas de 2 panos a 1950 487$500
1 coberta Dom para Amostra 1$950 2 Pan de Cres a 5200 6 vi calho 1365 400 4$965
150 2 panos de beatas Azuis 360$405 Nº 79 104 55 110 1046 37$440
298 de Chitas de Damão a 8 const a 1060 315$880
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2 de ditas Idem por amostra a dita 2$120
2 de Cres 3$200 6 dit de coalhim de 1365 a 400 4$965
151 16 de beatas de cores a ser 360$200 Ferretes nº 29 1 111 – 60 55;5 955 900 ½ c a 400 360$200
99 – 111 60 57, 5 145 115 60 61, 5 95 – 110 60 57 141 114
60 61 172 – 112, 5 60 60
Encarnadas 158 113 60
60,5 152 113,5 60 60 2nd parte Cres 3200 ditos 81 de Calhamento 1680 de 600 5$480
152 16 partes de Beatas de Cores a saber 358$000 Ferretes nº 94 110 60 56 951 895 conts 400 358$000
175 107 ½ 60 91 111 58 142 114 ½ 62
92 113 ½ 60 60
95 111 ½ 60 58
Meia cor 166 113 ½ 60 61
Encarnada 155 113 ½ 60 61
2 partes de cres 1600 5$200 7 ½ volumes de calhamasso idem,
1$575 Corda 1600 363$375 155 14 p de Beatas de Cores a Saber 321$600
Ferretes a nº 96 112 ½ 60 60 829 ½ p 781 cont 400
512$600 164 112 59 60 100 114 60 61 98 112 60 59
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178 112 60 59 ½
Encarnadas 159 109 60 55
2 partes de Cres 3200$ 7 ½ verd Calhamasso 15756$ 600
5$375 154 14 partes de Beatas de Cores Ser 315$400 Ferretes Nº 165 111 ½ 60
59 97 111 ½ 60 58 ½ 60 144
115 59 ½ 60 161 111 58 60
175 112 ½ 60 59 ½
Meia Cor 177 118 60 66
Encarnadas 153 111 60 58 ½
2 partes Cres 5200 7 ½ volumes de calhamasso e cordas 5$375 320$775
155 14 partes de Beatas de Cores a Saber Ferretes nº 143 112 59 ½ 60 850 partes 800 cost 400 320$000
171 111 60 58 174 113 ½ 61 60 86 127 65 70
Encarnados 160 112 ½ 60 59 ½
154 110 ½ 60 56 2 partes de Cres 3200, 7 ½ volumes de Calhamassos e cordas 5$375 325$375
__________________________________
Cap 156 garrfas de licores com 82 cand a 360 29$520 39$625
157 custo das garrafas 6$400 ex 3705 10$105
________________
158 120 p de Cres de Hamburgo Largas a 1900 228$000 233$050
2 de ditas ditas per em volta Calhamassos e Cordas 5$050
________________________________________
30 prezuntos com 6@ 4400 28$050
5 ½ Deuzia de Payos 2000 11$000
210
233
6 camadas de Azeite 560 2$160
Custo de barril e pimenta 1$600 42$810
160 2500 Pederneiras 1600 4$000 4$160
Custo de caixa $160
Para Minas o Seguinte
6 Fardos de Zuartes pintados de fabricas a
Ser 25 ,, 25 ,, 24 ½ ,, 149 Cont a 270 40$230 25 ,, 25 ,, 24 ½ ,,
9,, de Lenços Azuis Finos de 10 a 3450 31$050
15 de Ditos de dados azuis e encarnados a 3020 58$800
3 p a 8 24 31 lenços 850 26$350
1 7
1 p com 4 Lenços Brancos a 800 3$200
2p de Setins de Algodão e seda a Ser
Nº 9087 25 ½ a 540 13$635
11985 57 ¾ a 560 32$340
1 de Setim arrochada nº 4227 com 75 Cont 500 37$500
2 de ditos Matizados da Fabrica a Ser
Nº 4065 64 cont 600 38$400
Nº 4129 63 Cont 800 50$400
1 de Setim roza Lizo Nº 5114 com 50 ½ Con 800 40$400
3 de Damascos Carmezim de Seda a Ser
Nº 11639 com 61 Cons a 1260 76$860
Nº 572 com 59 ¼ 1370 81$172
Nº 1226 com 57 ½ 1320 75$900
1 chapeu fino com galão de ouro 9$215
1 camiza guarnecida 6$400
1 Vestido Bordado 13$950
1 casaco fino Vestia e Calsão de Pano Escarlate Guarnecido de Oiro Fino e capote segte
142$100
1 Capote de Pano Escarlate de Bandas brancas com Oiro fino emcluido em farda
211
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5capotes de Pano Escarlate mais ordinário com Galãos Falços
75$900 2panos de Coromandeis Avariados a 400 8$000 1bacha de 6 palmos em cabelo 7$640
4Varas de Cachamassiso a 210 $240
6 duzias de garrafas de Vinho Branco p 11$440
5 ditas de dito Tinto 2$600
950telhas de Barro para aguardente 100 95$0000
4frasqueiras vazias para licores de
8 frascos de meio quartilho 2640 9$840 18$720
2 frasqueiras de 6 ditos 2460 4$920
1 frasqueira de 12 dito 3$960
1 Espingarda de Feichos a Inglesa para o rey na caixa da guarnição 9$600
4 barris de vinho do porto a 6 Alm 9120 36$480
22 barris de pólvora grossa 14800 325$600 937$020
5 ditos de ditos fina 16 f 80$000 12 ditos de ditos fina 19200 230$400
12 ditos ditos fina 22400 268$800 2
ditos de ditos finos de 1 @ 8000 16$000
Termo tirada da mesma e condução 16$220 Para
Receber a Bordo do Navio Anjo do Senhor
7barris de pólvora grossa 14$800 103$600
3 ditos de ditos fina 16000 48$000
12 ditos de ditos fina 22400 268$800
Termo da mesma tirada em condução 16$220
Fardo 55 60 de Coromandel Azul 246 a 4500 270$000
1 de Coromandel Matiz de segunda sorte de 23 a 24 Conv
Amostra de Fardo nº 70 por Amostra de fardo nº 70 o qual não lançamos por
esquecimento
No seu lugar, e o fazemos aqui 4$500 total 47:432$187
Desepesas em Lisboa
Direitos de Consulado 160$556
212
235
Medir e tezar as mesmas beatas 8$580
Condução para o Cais e Embarque 21$600 190$736
Nossa Comissão de compras remessas a 3% 1428$687
Nº 3 As Amostras pertencentes ao Fardo Nº 121 vão declaradas nesta factura, e aos
volumes a que pertencem como nelles se vem em nº 1, 79, 1 p amostra e os mais na
mesma Forma.
Tudo o que se achar a bordo com marca C fora desta factura he para o consumo da Galera
Manoel de Souza Freire e Companhia Reconhecemos a Letra de Assignatura de
Carregação Supra ser do próprio Manoel de Souza Freire e Cª Negociante de Lisboa por
termos della bom conhecimento.
Loanda 11 de Dezembro de 1797 Manoel da Cruz = Manoel Joaquim do Santos Copiada
per mihm Segundo Caixa desta Negoçiação = Loanda em 11 de Dezembro 1797
Thomas Pedro Moller
Moller cuja letra Assignatura conheço ser do próprio com quem conferi e Por Ceter e
achêz estar conforme eu Tabelião do Judicial e Nottar nesta cidade esta copia
Sobescrevi e assignei em publico e Razo aos oito de Outubro do Anno do Nscimento de
Nosso Senhor Jezus Christo a 1798
Copia nº 1
Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor Paulino Pinto de Motta, capitão e caixa da negociação
dos navios Ana e anjo, vindo no primeiro de Lisboa com destino de fazer resgate de
escravos nos portos que correm ao norte desta capital: recorre humildemente a vossa
excelência para que se digne proteger a mesma negociação, dando-lhe a benéfica licença de
vender neste porto os géneros que possa dispor daquela conduzio. Ameaçado o seu capital
de inevitável ruína no seguimento do primeiro hoje difícil projecto, não resta ao suplicante
mais recurso, e beneficio, que aquele que aquele que vossa excelência pode facilitar-lhe, por
ser compatível com a Justiça e Equidade. E para o conseguir dignamente passa a referir os
factos, e circunstancias que compreende a negociação de suzindos-os de sua viagem com a
escrupolosa verdade que hé própria do suplicante, e devida a Respeitavel presença de Vossa
Excelencia, pelo seu nascimento ilustre pelas suas virtudes sublime, e pelo seu honorifico
corpo: Digne-se pois Vossa Excelencia a atender. Os negociantes Manuel de Sousa Freire e
Companhia havendo itentado neste ano de mil setecentos e noventa e sete a negociação em
que estou, e vendo que a falta de fazendas da Asia em Lisboa não só motivava o imcomple
por mento das Receitas que pedem, e admitem anualmente as sugeridas dos povos deste
reino e sertões, que não havendo esperança de ser supridas a mesma falta em tempo breve
por Navios Portugueses seria frustado o intento dele freire, e limitado seu comercio na
restrição desta costa, a nam procurar meio próprio de prefazer-se das fazendas de que havia
necessidade . Nestes
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termos e interesse que hé deliberado procurar-se recursos contra os obstáculos e postos a
sua industria subministrou-lhes a lembrança de mandar comprar em Londres o secrimento
que julgou convinha ao seu consumo do gentio destas partes de Africa, e com efeito a
lembrança seguiu-se a determinada prompta e execução da compra, e o transporte imediato
a Lisboa dessas mesas fazendas que trago. Ao passo que chegarão a Lisboa tiveram lugar de
porto franco, e a mesma se equipou o Navio Anna a bordo da qual passou por baldeação, e
ordenou-se a viagem compoz-se a carregação, das diversas qualidades, e quantidades das
fazendas que constão da factura presente a vossa excelência importando quarenta e nove
contos cinquenta e hum mil seiscentos e dez totalmente porém só trinta e sete contos
setecentos e oitenta e oito mil reis as que gozarão Porto Franco, era a sua boa qualidade, o
seu bom sentimento, e justa porpoção: A conhecida Velocidade do Navio útil para safar-se,
a ataques , e por lhagem: O destino da negociação isenta de pagar direitos e finalmente a
certeza do menor numero de navios que ocorrem desde o principio da guerra a fazer o
resgate de escravos desde o Mussol até Loange, tudo esperançava uma feliz viagem, e
avultados lucros dela, quando o suplicante saio do Porto de Lisboa a sete de Agosto do
mesmo ano: O navio sem brevidade se alongou da Costa de Portugal, e não deixou cousa
alguma a temer, contudo aos vinte e um dias de viagem fez-se conhecer com muita agua,
que não pode vedar-se Ela continou-se de mais a mais, e foi necessário trocar-se as bombas
incessamentemente, por chegar a ponto tão incalculável, que não permitia descansar dois
minutos. A equipagem cansada precisava de alivio, e hora-lhes preciso sem arribada, e esta
hera só fácil e útil para este porto: Assim foi que entrou a transtonar-se o projecto da
negociação, e boa esperança dos seus lucros e assim que infelizmente chegarão o Suplicante
e toda a Equipagem no Navio Anna. Louvado Deus com a arribada a este porto porem
dificultou-se ao suplicante a continuação da viagem para este porto do Nortem e aos
armadores da negociação, o meio de utilizarem-se, e não lhes resta para salvar o seu capital
ate huma considerável perda outro recurso mais que o do Patrocineo de Vossa Excelencia.
Esta o Navio incapaz de seguir viagem pela costa abaixo por senam achar nos termos de
estar sobre amarras forjando sem a devida concerta: Este nam podem a qui fazer-se mais
que a suprir; e amparado nos dias que possa gastar para Pernambuco, e só para Pernambuco
por ser o Porto mais próximo, e próprio a huma breve viagem. Tanto hé a que dizem os
Mestres da Ribeira, e de Navios que assistirão ao enorme e Vestoria que se lhe fez em
prezença do Desembargador Ouvidor Geral conforme verá Vossa Excellencia o Instrumento
junto: Ora emtaes temores, sendo indubitavel que deva passar o Navio Anna ao Porto do
Brazil mais próximo, será indispensavelmente precizo que o Suplicante o mande carregado
pelo produto dos effeitos que trouxe de Lisboa para esse fim, e de outra sorte que meio
haverá sem huma considerval perda de Capital ao Carregador de effeitos da Praça tendo os
próprios:
Fazendas que para a complementar d’Armação:
Espero que vá a Pernambuco, e volte para entam seguir o primeiro plano de
negociaçam, e em meio de tempo que assim passar ter retidos, e eminaçam trinta e sete
contra setecentos outenta e outo mil reis: Sam as caminhadas mais patentes ao prejuízo da
negociaçam a quelles em que se vé o Suppliciante concentrado, e os de que deve fugir sem
lhe haver, digo lhe valer o Navio Anjo que mais tem a sua ordem; porque. Inda que fosse
adminvel das condiçoens do Seguro com que forão escripturados os dous Navios,
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separa-se hum do outro hindo só o denominado Anjo fazer o negocio projectado aos Portos
do Norte; assim mesmo so frerião os consttituintes do Supplicante o empateo empate da
maior parte do Capital parado nesta Cidade, e sobre isto as mais consequências damnosas
de despedir o Supplicante huma parte da Negociação sem a poder acompanhar como deve
por obrigado a espera os Navios Anna, que talvez viria a incontrar motivos de mais perda
alem dos expressados: Por tanto o Ilusstrissimo e Excellentissimo Senhor, parece ser de
Equidade e de Justiça que Vossa Excellencia se digne attender na pessoa do Supplicante a
dos Constituintes desse, que se empregão louvavelmente ao Commercio, permitindo que
possão evitar-se as consideradas perdas, fazendo vender nesta Cidade os pequenos cento
vinte e hum volumes da fazenda que gozou de Porto Franco própria do consumo deste
Reino. Toda ella nam fará a sufficiencia, e menos a abundância, que segundo o calculo do
consumo annual precizarem, e sofrem os resgastes, e vem por esta mesma razom a ser util a
vender-se: Obra-lhe só a incontro o haver vindo de Porto Franco; porem este obstáculo
Senhor Excellentissimo pode ser removido: Dará o Supplicante fiança a todos os quaes quer
Direitos que Sua Magestade haja de Determinar que page sem attenção a cauza que
concorro para a vender, e outilidade que desta os Povos tirem em razom da falta de
fazendas da Asia, e motivos de que procede. Espera o Supplicante avista do porto que
Vossa Excellencia se digne facultar-lhe a Licença pedida na qual = Receberá Mercé =
Paulino Pinto da Motta = Informe o Desembargador Ouvidor Geral como Juiz dos Feitos da
Coroa e Fazenda interpomos o seu parecer, e com respeito as circunstancias com que o
Supplicante requer, e as actuaes do estado do Commercio deste Reino combinando a Justiça
com a Equidade a vista da Carta da ley de treze de Maio de mil setecentos noventa e seis
que estabeleceo hum Porto Franco na cidade de Lisboa. Sam
Paulo d’Assunçãode Loanda vinte e sete de Novembro de mil setecentos noventa e sete = Estava a Rubrica de Sua Excellencia = Ilustrissimo e Excellentissimo Senhor = Paulino
Pinto de Motta Caixa de negociação dos Navios Anna e Anjo = pertende pelos fundamentos
que expoem no requerimento incluza que Vossa Excellencia lhe conceda Licença para
dispór nesta Cidade de cento e vinte hum volumes de fazendas que conduzio de Lisboa no
dito Navio Anna com destino de fazer negocio nos Portos que ficão ao Norte desta Capital;
confessando as ditas fazendas forão mandadas vir de Inglaterra, e Tomadas no Porto Franco
que se acha estabalecido em Lisboa pela ley de treze de Maio de Mil setecentos noventa e
seis: E sobre o dito requerimento foi Vossa Excellencia servido mandar que Cér informasse
interpondo a meu parecer, e com respeito as circunstancias que Vossa Excellencia se dignou
declarar no Respeitavel Despacho com que o mesmo Requerimento Despacho com que o
mesmo requerimento foi deferido. Cumprindo esta determinação vou ainformar a Vossa
Excellencia em quanto ao facto: Que hé certo ter chegado a este Porto o dito Navio, ou
Galera Anna de que o Supplicante hé Capitão com agoa aberta, e esta em muita quantidade:
Que por isso requerendo-me o Supplicante que lhe permitisse fazer a sua descarga com toda
a brevidade, e que os fardos ou Volumes das fazendas fossem de positados na Alfandega
para se acudir promptamente ao perigo que a dita Galera ameaçava, assim lhe deferi, dando
as necessárias providencias, para que na Alfandega se recebesse a Carga da quelle Navio, a
fim de setratar, sem de mora, do reparo, que possível fosse: Que ao depois a requerimento
do mesmo supplicante procedi a Vestoria no referido Navio para se averiguar formalmente
o seu estado; e que nesta
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deligencia concordarão os Louvados que a fizerão no que consta do Auto que o
Supplicante ofereceo no Instrumento incluzo; sendo todos de parecer que o dito Navio
nam se achava em termos de estar fundiado nos Portos da Costa, e consequentemmente
de continuar na viagem do seu destino, e que fazendo neste Porto o possível concerto
que no dito Auto foi de talhado, devia passar a Pernambuco em tempo de Verão,
considerando-se que não estava capaz de seguir outra derrota. Hé também certo que por
cauza de pertubaçoens que prezentemmente agitão a Europa e fazem difícil, e ameaçada
a navegação em todos os mares se tem exprimentado nesta Conquista grande falta de
fazendas de negocio, de que procede ter consideravlemente diminuído a exportação de
Escravos; senos por isso hua notória e vizivel utilidade, que nas actuaes circunstancias
de auxilio e promova toda a possível importação de negemeros e mercadorias que
pousão animar, e pór em movimento mais activo o giro do Commercio deste Reino.
Enquanto porem ao Direito que se deve applicar ao requerimento do Supplicante, hé
para mim este este ponto digno de maior podenderação: por que nam monstrando o
mesmo Supplicante documento algum que prove que as fazendas da questão com effeito
tivessem entrado no Porto Franco, e se delle sahido, pagando o Direito que a Ley lhe
impõem: e que ainda que assim o mostrasse, nam tendo ellas entrada permitida no
Reino por serem da Asia e terem vindo em Navios Estrangeiros, enm podendo ser
Navegadas do dito Porto Franco para o desta cidade a quem do cabo que a dita Ley
designa, hé sem duvida que em regra nam podemos ter introdução nesta Conquista
huma fazenda que vem sem despacho, sem pagamento de Direitos, e sem Titulo de
algum que as possa distinguir daquellas que vem por Contrabando. Por outra parte as
convenientes razoens que o Supplicante expoem no seu requerimento, a protecção que
hé devida a hum Negociante que vé transtornado os seus projectos mercantiz, por hum
acazo, em que nam teve culpa; aconsiderval perda a que fica exposto, nam sendo
diferido no que pertende; e sobre tudo a falta de fazendas que actualmente experimenta
esta Conquista, e a utilidade que tem o publico, em que as fazendas de que se tracta
sejão vendidas nesta Cidade, e como Contestemente depuzerão as trez idóneas
testemunhas que inquiri no Summario incluzo para melhor fundamento desta
informaçam tudo concorre a persuadir que a pertenção do Supplicante merece olhada e
attendida com a possível e quidade.
Neste incontro de razoens Eú nam posso deixar de seguir o que hé mais
conforme com as Leys, que de modo ordinário somente Sua Magestade pode dispençar.
E por tanto o meu parecer hé que as fazendas da questão de devem respeitar ilegítimas,
e inadmissíveis neste Reino.
Sem embargo porem deste parecer, poderá Vossa Excellencia pela Superioridade do
seu Lugar, deferir extraordinariamente ao Supplicante como entender Sua Magestade lhe
defiriria se o mesmo Supplicante podese recorrer imediatamente ao Real Throno, visto ser
impossível que haja outro recurso senão a Vossa Excellencia em hum cazo que pela sua
natureza deve ser decidido sem demora. E sendo Vossa Excellencia servida tomar este
expediente serão entam necessário que o Supplicante preste o fiador a que se oferece, e que
Alfandega se proceda com toda a execuçam na abertura, e despacho dos Volumes, fazendo-
se as competentes Relaçoens das quantidades, e qualidades das fazendas a que se premitir
entrada, para segurança dos Reaes Direitos. Nesta forma tenho
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exposto o que me parece: Vossa Excellencia deferirá o que fór mais justo. Sam Paulo de
Loanda no primeiro de Dezembro de mil setecentos noventa e sete = O Ouvidor Geral =
João Alvares de Mello = Assentada = Aos vinte e nove dias do mez de Novembro de mil
setecentos noventa e sete annos nesta cidade de São Paulo da Assumpçam de Reino de
Angola e Cazas de rezidencia do Doutor João Alvares de Mello, do Desembargo de Sua
Magestade, do Desembargo de Sua Magestade, seu Desembargador honorário Ouvidor
Geral, e Corregedor deste Reino, aonde Eú Escrivam vim para effeito deserem perguntados
testemunhas pela matéria dos requerimentos que propóz Paulino Pinto da Mota aos
Ilustrissimo e Excelentissimo Governador e Capitam Geral deste Reino, a hi sendo as
mesmas testemunhas prezentes pelo dito ministro forão perguntadas por seus nomes,
naturalidades, e assistências, estados, officios, idade, costumes, e tudo he a que se segue:
Estiveram da Fonseca Negram, Escrivão o escrevi = O Coronel da Ordenança desta Cidade
José Abreu Castelbranco Pimentel; Negociante desta Praça, Cazado, natural de Vizeu, de
idade de quarenta annos, testimunha a quem o dito Ministro deferio ajuramento dos Santos
Envangelhos em hum Livro delles em que poz sua mão direita debaixo do qual encarregou
dizer-se a verdade do que soubesse, e lhe fosse perguntado; o que assim prometeo cumprir;
e do costume disse nada: E sendo perguntado pela matéria da Petiçam do Supplicante
Paulino Pinto da Motta, e factos que nella se expreção: Disse que sabia por ser publico
notorio e constante que o dito Supplicante veio de Lisboa a este Porto no Navio Anna de
Lisboa = que chegara com agoa aberta, e que tambem era constante e notorio que no dito
Navio se fizera huma Vestoria judicial, da qual constará o estado em que o ditto Navio foi
achado, tendo elle testimunha ouvido dizer que nam estava em termos de continuar sua
viagem para os Portos do Norte, e que devia passar ao Brazil a fazer hum maior concerto. E
disse mais que sabia com toda a certeza, e por propria experiencia que Nesta Conquista tem
havido falta de fazendas proprias do Commercio della, por cujos motivos, tinha hido a
menos exportaçam de Escravos, e mais effeitos do Paiz, e que prezentimos ainda a mesma
falta; por que prezentemente poucos Negociantes tinhão fazendas para vender, hera certo
em taes circunstancias que seria útil a terra, e ao Commercio, que as fazendas de que se
trata ficassem nesta Cidade entendem a elle testimunha que o publico interessaria em que ao
Supplicante de se concedese a Liicença que pode, e mais nam disse, e assignou o seu
juramento com o dito Ministro depois de lido que ratificou: Estevão da Fonseca Negram
Escrivam o escrevi = Mello = José de Abreu Castelbranco Pimentel = Manoel Jozé da
Rocha e Silva, Sargento mor do Regimento de Melicias desta Cidade, Thesoureiro Geral e
Deputado da Junta Real Fazenda, Negociante desta Praça, natural de Sam Vicente do
Pinheiro, solteiro de idade de cinquenta e trez annos, testiminha a quem o dito Ministro
deferio o juramento dos Santos Envangelhos, em hum Livro delles, em que póz sua mão
direita, debaixo do qual lhe encarregou dicesse a verdade do que sobesse, e lhe fosse
perguntado pela materia da Petiçam do Supplicante Paulino Pinto da Motta, e factos que
nella se expressam: Disse que era verdade ter ter dito o Supplicante chegado a este Porto
vindo de Lisboa na Galera denominada Anna, e esta com agoa a Berta e com grande
quantidade; o que tudo era publico e notorio; assim como tambem ser o mesmo Supplicante
Caixa de negociaçam da dita Galera, e de outro Navio chamado Anjo do Senhor, que
tambem já se acha neste Porto, vindo do Rio de Janeiro: E que tambem era verdade so que
elle testimunha sabia
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pelo que tem visto e observado, e por por propria exeperiencia em razoens de ser
Negociante que prezentemente há poucas fazendas de negocio nesta Cidade, falta esta
que já se experimenta há tempos, de que se tem procedido haver menor Escravos, e que
por estas razoens lhe parecia que nam hera desconveniente, antes sem util para o
Commercio em geral que as fazendas que o Supplicante pertende dispór se vendam com
effeito nesta Cidade na certeza de que podem dar mais alguma actividade, e extençam
ao negocio deste Reino, e Interesse aos Direitos de Sua Magestade que hão de pagar os
Escravos que a troca dellas forem resgatados, e mais nam disse, e assignou o seu
juramento deppois de lido que ratificou Estevam da Fonseca Negram Escrivam a
escrevi = Mello = Manoel Jozé da Rocha Silva = Manoel Francisco Regodas, Sargento
mor de Ordenança da Villa de Massangano, Negociante desta Cidade, natural de do
Lugar Regodas, Cazado de idade de quarenta e trez annos, testemunha a quem a dito,
digo annos pouco mais, ou menos, testimunha a quem a dito Ministro deferio o
juramento dos Santos Envangelhos em hum Livro delles, em que póz sua mão direita,
debaixo do qual lhe encarregou dissesse a verdade do que soubesse e lhe fosse
perguntado, o que assim prometeo cumprir e do costume disse nada. E sendo
perguntado pela materia da Petiçam do Supplicante Paulino Santo da Motta, e factos
que nella se expreção: Disse que sabia por ser publico, e constante que o Navio Anna de
Lisboa em que o Supplicante veio de próximo a este Porto do daquella Cidade
chegaracom agoa aberta, e em mãos estados, o que mellhor contraria do exame judicial
que seguindo ouvio dizer sefaz no mesmo Navio: E que por ser hum dos Negociantes
desta Praça sabia a introduçam das fazendas que se trata somente poderá cauzar a
alguns poucos Negociantes em particular que tem fazendas para vender ainda que hé
constante serem poucas; mas pelo que respeita ao geral era sem duvida util que as ditas
fazendas fossem vendidas nesta Cidade, atendendo a falta que há dellas, e nam haver
esperança de abundância por cauza das pertubaçoens da Europa, e reinos da navegação:
Assim como tambem hera certo que ao Supplicante, ao dono da negoçiaçam se
segue grande detrimento, e prejuízo nam se lhe permeimos a graça que pertende, e mais
nam disse, e assignou o seu juramento depois delido qur ratificou: Estevam da Fonseca
Negrão, Escrivam que ouviu = Mello = Manoel Francisco Regadas = Haja visto Doutor Juiz
de Fora como Procurador da corva Sam Paulo de Assumpção de Loanda primeiro de
Dezembro de mil setecentos noventa e sete = Estava a Rubrica de Sua Excellencia =
Ilustrissimo e Excellentissimo Senhor = O requerimento de Paulino Pinto da Motta, sobre o
qual informou já o Desembargador Ouvidor Geral, e que Vossa Excellencia mandou-me
haver vista, se acha em hum daquelles extraordinários cazos, que nam consideram as nossas
Leys Patrias; por que por huma parte pequena com a Literal disposiçam dellas, e pela outra
parece que a vista das circunstanciais particulares, e necessidade em que se acha este
especial cazo, pode Vossa Excellencia uzar de Superior Authoridade para deferir deferir da
mesma forma que o faria Vossa Magestade selhefossem prezentes as razoens e
circunstancias de que hé revestido o mesmo requerimento, como reconheceu o Juiz dos
Feitos da Coroa e Fazenda, ainda mesmo podendo de alguma forma de duzir-se do
espsperito de nossas Leys, se gundo as quaes apratica, e inteligência dellas muito ameroza
as Partes hé a lheia da Intençam do Principe; a ssim o diz o Alvará de quinze de Julho de
mil setecentos cincoenta e cinco: E sendo isto Assim certo, nam se pode entender
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que Sua Magestade houvesse de negar a Vossa Excellencia Authoridade para deferir a
huma Súplica que hia a decidir do entereçante ponto de hum Commercio vamtajaso aos
Reaes, digo aos Seus Reaes Direitos, e que hia o remever o prejuízo dos Negociantes
que procederão de boa fé sem dollo, e que sobre veio hum cazo que elles nam cogitarão;
por que ainda que a interesse pebraçam e modefificaçam seja prevativa dos Supremos
Imperantes; com tuas quando as circusntancias sam taes, e há perigo na mora, tenho de
mim para mim que pode Vossa Excellencia nam entender, mas julgar este cazo nam
comprehendido na prohibiçam das Leis, ou que se acha Vossa Exellencia nas
circunstancias de poder deferir o que se Deduz da Legislação geral, em quanto são
authorizados os Governadores Generaes, e todas a quellas Pessoas publicas tem
commmando de cedir provizionalmente a quellas matérias que tiverem perigo na mora;
por que os peritos das Leis consiste no complexo de todas as Determinaçoens
individencias de todas as circunstancias expecificas em que o Legislador conceber a
Ley, e quis que obrigasse ao fim da razam que o moveram a estabalelescella: Ora parece
que prohibindo geralmente Sua Magestade a admissam de semilhantes fazendas neste
Paiz, nam lhe veio em vista o expecialissimo cazo do Supplicante. Primeiro Que a
Europa está agitada com huma viva Guerra. Segundo Que Lisboa nam te4m vindo
Navios com fazendas proprias do resgate de Escravos. Terceiro Que esta terra se acha
quazi exausta della: Quarto Que a Exportaçam de Escravos tam interessante a Real
Fazenda que se pode contemplar quazi o acérrimo rendimento della se nam pode fazer
sem as fazendas, e nam se permitindo ao Supplicante despacahos as suas na Alfandega
com as cautelas indicadas pelo Ouvidor Geral, nam sahem Escravos, não percebe Sua
Magestade os interesses próximos dos Seus Direitos nesta, nem os remotos do Brazil, e
que de alguma forma se empata este sucessivo giro do Commercio.
Ora perguntará se neste cazo, supposto estes factos verdadeiros que prezentemente
ocorrem, e que nunca ocurrerão quem ocurrerão, quem faria maior serviço, se aquelle que
entendesse Literalmente a Lei, seguindo-se della prejuízo a Real Fazenda/ que hé o ponto
principal digno de attençam/ ou se aquelle que promovesse o seu Real Interesse. Aqui me
parece que tem lugar o que o Isto Modestino diz na L 25 de Leg, alem de que se olho para o
requerimento de Vossa Excellencia no Capitulo 27, vejo que prohibindo-se a Guerra, sem
Real Authoridade, se lhe permitte que a possa fazer havendo perigo na mora:
Nam deduzo este Capitulo Authoridade de interpertar Leys, que seria improprio
ao meu dever, e a lheo da minha conduta; mas só colho que nos cazos extremos em que
Sua Magestade defeniria, havendo perigo, ou damno na mora, pode Vossa Excellencia
fazello, e entender que lhe fáz Serviços nesta materia, protestando a Vossa Excellencia,
que neste meu parecer nasse unicamente do zello, que tenho em prover os Interesses da
Real Fazenda de Sua Magestade, já que o acazzo permetio que viesse semelhantes
Fazendas, posto que vedadas para esta Cidade, e estejão nos termos de serem a
proveitadas em utilidade publica. Isto hé o que meparece, segundo as scitas
circunstancias prezentes, Vossa Excellencia porem com o seu zello, e com as Superiores
Luzes, que já mais ninguém lhe contestará decidirá o que lhe parecer mais perto, e
conforme as Reas Intençoens de Sua Magestade. Loanda dous de Dezembro de mil
setecentos noventa e sete = O Juiz de Fora Procurador da Real Coroa e Fazenda = Felix
242
Correa de Araujo = Atendendo ao que o Supplicante allega, e as circunstancias que na
sua Cauza concorrem, as quaes fazem indispensável huma Providencia pronta, e
conforme se nam as Leis as Ditas Intençoens de Sua Magestade que não podia
considerar como ordinários os factos que derão lugar a prezente Súplica, que por isso
nam forão contemplados no geral Legislação da Carta de Lei de treze de Maio de mil
setecentos noventa e seis: Havendo respeito aos sobredito a Informação do
Dezembargador Ouvidor Geral, como Juiz de Fora. Procurador na mesma a quem dei
vista, e não teve duvida: Ordeno por Serviço de Sua Magestade, e bem commum do
Commercio, que pertendo o Supplicante em nome de Manoel Jozé de Souza Freire e
Companhia Negociante da Praça de Lisboa, fiança iconea a pagar em Portugal quaes
quer Direitos que pelos cento e hum volumes de fazendas que trouxe a Bordo do Navio
Anna tomadas no Porto franco de Lisboa para vir negociar a Cabinda, Molembo, e nos
Portos do Norte desta Capital nam comprehendidos nos Dominios de Sua Magestade a
Mesma Senhora julgar-lhe sam devidos para a que as sobreditas cento e hum volumes
darão entrada na Alfandega desta Cidade, e nella forão abertas, Selladas, e despachadas
as fazendas nelles contheudo, fazendo-se as competentes Relaçoens das quantidades, e
qualidades dellas para segurança dos Reaes Direitos, e inviando-se me das ditas
rellaçoens e Termo de fiança dos seus tratados authenticos. Sam Paulo de Assumpção
de Loanda seis de Dezembro de mil setecentos noventa e sete = Mello = Registado no
Livro de Registos a folhas setenta e quatro verso que serve nestas alfandega. Sam
Paulod eAssumpção a sete de Dezembro de mil setecentos noventa e sete = Pimentel
Jozé da Silva Costa
Ouvidor Geral
Instrumento de Carta testimunhavel com o theor de huns Autos de Vistoria feita
a Bordo da Galera Anna de Lisboa dado no Officio do Escrivão da Ouvidoria Geral e
Correição da Commarca como abaixo se declara.
Saibão quantos este publico instromento de Carta testimuhavel com o thero de huns
autos de Vestoria virem que sendo do anno do Nascimento de Nosso Senhor Jezus Christo
de mil setecentos noventa e outo annos, aos cinco dias do mez de Outubro do dito anno,
nesta cidade de Sam Paulo d’Assumpção Reino de Angola, no meu Escriptorio, a hi por
parte de Paulino Pinto da Motta, me fez dito, e requerido, que dos Autos Vestoria que tinha
produzido neste Juizo da Ouvidoria lhe desse, e passasse seu instromento de Carta
testimunhavel com o theor dos ditos Autos para com elles tratar no Juizo qye lhe enviei de
seu Direito, e sendo justo, e verdadeiro a que me requereo lhe dei, e passei a prezente
instromento com o theor dos mesmos Autos que deverbo Adverbum hé o seguinte = Autos
de Vistoria = Intendencia da Marinha = Autos de Vistoria feito a Bordo da Galera Anna de
Lisboa de que hé Capitam Paulino Pinto da Motta Escrivão Negrão = Anno do Nascimento
de Nosso Senhor Jezus Christo de mil setecentos noventa e sete, aos sete dias do mez de
Novembro do dito anno, nesta Cidade de São Paulo da Assumpção Reino de Angola, no
meu Escriptorio, a hi por parte de Paulino Pinto da Motta, Capitam da Galera Anna de
Lisboa, me foi entegue huma sua Petiçam, despechada
243
pelo Doutor João Alvares de Mello, do Dezembargo de Sua Magestade, seu Dezemabrgador
Honorario, Ouvidor Geral, e Corregedor deste Reino, Juiz dos Feitos das Fazendas, e
Intendente da Marinha para se proceder a vistoria no dito Navio, cuja Petiçam auticei, e hé a
que se segue, a que ajuntei o Auto de vistoria: Estevão da Fonseca Negrão, Escrivam o
escrevi = Diz Paulino Pinto Da Motta, Capitam da Galera denominada Anna de Lisboa que
vindo da mesma cidade de Lisboa no Porto desta carregada de fazendas de negocio desta
Costa para trocar os Escravos nos Portos de Cabinda, ou Loango arribou com agoa aberta, e
dado fundo requeroe deacarga por baldiaçam para examinar á cauza da dita agoa aberta que
tinha, a qual concendendo-lhe por Vossamerce se acha feita na Alfandega desta Cidade, e
como se them visto que a dita agoa continua, e que vem da Próa se fáz indispensável o
fazer-se vistoria com assitencia de Vossa mercê, e dos Officiaes competentes para se
conhecer, se pode, ou nam fazer-se concerto no dito Navio emforma que possa continuar a
sua viagem ais ditos Portos para neles fazer a sua negociaçam, e fazer-se de tudo auto legal
judicialmente para ser julgado por Sentença a possibilidade, ou impossibilidade em quie se
achar o dito Navio, hindo a dita vistoria, os Capitaens, ou Mestres que Vossa Merce fór
servido nomear E sendo-lhe deferido a todos o juramento dos Sanctos Envangelhos para
debaixo delle declararem a vista da vistoria que se fizer a Bordo, o que entenderem em suas
consciencias a respeito do estado do Navio = Pede Vossa Merce, seja servida ordenar se
proceda na dita vistoria requerida, dignando-se Vossa mercê authorizar este Auto com a sua
respeitavel assistencia, dignando-se assignar dia para ella se fazer, e nomeando os
Capitaens, Mestres, e Contramestres dos mais Navios que se acham no Porto que melhor
conhecimento diverem de Semilhantes susseços, para hirem a dito vistoria no dia
assignando, e sefazer o dito Auto com o Escrivam a quem esta for Distribuida. Proceda-se
na vistoria requerida, a que assistirão o Patrão mor de Porto, e dous Capitaens, dous
Contramestres, dous Mestres da Ribeira, e dous Calafates, sendo todos os mais práticos, e
intiligentes para se fazer a pertendida a virigoaçam, e exame a A examaçam que for
possível, e ao Escrivão direi o dia, assim como também as Pessoas hão deser notificadas
para assitirem ao dito exame. Sam Paulo de Loanda em dous de Dezembro de mil
setecentos noventa e sete = Mello = A Negram = Mello = Alvaro da Costa Guarda e Meirinho d’Alfandega e com exercício na
Ouvidoria Geral e Correiçam da Camaara e cetera. Certifico que notifiquei ao Capitam
Paulino Pinto de Motta Patram Mor, Luis Xavier Martins, Louvados, António Jozé
Rodrigues Chaves, e Aleixo de Araujo, Carpineteiros, Judas Tadeus, e Joze Caetano de
Mattos, Calafate, Jeronimo dos Reys e Bartholomeu Damido, a aos Contra Mestres Vitorino
Jozé, e Matheus Francisco de Assiz, para hirem assistir ao exame vistoria a Bordo da Galera
Anna de Lisboa, no dia sete do Corrente, de que passo a prezente. Sam Paulo de Assu
mpção quatro de Novembro de mil setecentos noventa e sete. Alvaro da Costa Auto da
Vistoria a que se procedeo na Galera de nomindada Anna de Lisboa = Anno do Nascimento
de Nosso Senhor Jezus Christo de mil setecentos noventa e sete,a os sete dias do mez de
Novembro do dito anno nesta cidade de Sam Paulo d’Assumpção Reino de Angola, a Bordo da Galera de nominada Anna de Lisboa de que hé Mestre
Paulino Pinto da Motta, a onde veio o Doutor João Alvares de Mello e Dezembargador de
Sua Magestade, seu Dezembargador de Sua Magestade, seu Dezembargador honorário,
Ouvidor Geral e Corregedor deste Reino, Juiz dos Feitos da Fazenda, que serve
244
o lugar de Intendente da Marinha commigo Escrivam se seu Cargo, que com o Patrom Mor
do Porto, Luiz Xavier Martins, e com os Louvados Antonio Jozé Rodrigues Chaves, e
Aleixo de Araujo Capitaens de Navios, Pilotos, e práticos, e com Judas Tadeu e Joze
Caetano de Mattos, Mestres da Ribeira e Jeronimo Reis, e Brtholomeu Domingos Calafate,
e os Contramestres Vitorino Jozé, e Mattheu Francisco de Assiz , para effeito de se
proceder a Vistoria no referido Navio na forma requerida pelo dito Capitam Paulino Pinto
da Motta, a hi deferido o dito Ministro aos ditos Patram mor, Louvados o juramento dos
Santos Envangelhos em hum livro delles em que fizeram cada hum se persi as suas maos
direitas, de baixo do qual lhes encarregou que fazendo hum exacto exame no Navio, a
respeito do que se expreça no requerimento do dito Capitam dissessem a que em suas
conscienciass entedessem sobre o estado do mencionado Navio, e se elle se achava, ou nam
emtermos de concerto para poder continuar a sua viagem aos Portos do Norte desse Reino,
e bem assim qual era o concerto, reparo, e beneficio, que neste Porto se lhe podia fazer, e
sendo por eles recebido o dito juramento assim o prometerão cumprir E logo passando
todos a fazer o determinado exame deppois de terem visto o que lhe foi possível, e feito
todas as averigoaçoens que lhes fazerem necessárias o niformente declaram que a dita
Galera estava com a goa a berra, a qual fazia na Próa pela Reda a baixo athe a escarva, e
que estando fundiado, e descarregado estava fazendo doze polegadas por hora, e que era
certo com a carga havia fazer muito mais, e que era certo que com a carga havia fazer muito
mais, e que por isso pelo que tinhão observado no casco pela dita parte da Próa, assentavão
que a dita Galerana nam estava capaz de seguir viagem pela costa a baixo por nam se achar
emtermos de estarsobre a marras, e que era precizo fazer-se-lhe o concerto que fosse
possivel neste Porto, Tam Sómente para seguir viagem para o de Pernambuco, por ser o
mais proximo, e isto no tempo de Verão, e que para se fazer o dito concerto seria necessário
chegar-se a mencionada Galera mais para a parte de terra, ficando sempre em nada o
carregar-se da Copa, o que possível fosse para levantar á Pobra, sendo ajudada esta
manobra com alguns tomey pela mesma parte da Próa, para melhor segurança do Casco, e
isto a fim de se segurar a dita Próa com dous prodígios, descozendo-se também o forro pela
parte de dentro para se argamassar, e tirando-se também parte do cobre athé o Lume d’ agoa
pela Voda a baixo para se calafetar, e fazer a mais obra que for precizo, tornando-se
finalmente a pregar o mesmo cobre que setiver tirado. E foi o que declararam, de que tudo
para constar mandou o dito Ministro fazer este Auto que a sig nou com migo E serviram, e
com os ditos Patram mor e Louvados, a cima nomeados, e com o Meirinho que serve nesta
Ouvidoria Alvaro da Costa, que a companhou o dito Ministro nesta deligencia: Estevam da
Fonseca Negrão Escrivam da Ouvidoria Geral e Intendencia da Marinha o escreve, e a
ssignei = Mello = Estevam da Fonseca Negrão = Jozé Francisco Martins = Antonio Jozé
Rodrigues Chaves = Aleixo de Araujo = Judas Tadeu = Cruz de Jozé Caetano de Mattos =
Jeronimo dos Reys = Matheus Francisco de Assiz = Vitorino Jozé = Cruz de Bartholomeu
Damião = Aos des ase Concluzão is digo do mez de Novembro de mil setecentos noventa e
sete annos nesta cidade de Sam Paulo d’ Assumpção Reino de Angola, no meu Escriptório,
a hi fiz conluzos estes Autos ai Doutor João Alvares de Mello do Dezembargador
Honorario, Ouvidor geral, e Corregedor deste Reino, para lhe deferir, de que fiz este termo:
Estevão da Fonseca Negrão, Escrivão a escrevi = Concluzos = Julgo por boa vitoria, e
Mando que
245
aos Supplicantes sejão dados os Instromentos que della pedir com o theor dos Autos
pagando os Custos excauza. Sam Paulo de Loanda em desaseis de Novembro de Mmil
setecentos e noventa e sete nesta cidade de Sam Paulo d’Assumpção Reino d’Angola, e Cozas de Residencia do Doutor João Alvares de Mello do Dezembargador de Sua
Magestade, seu Dezembargador honorário Ouvidor Geral, e Corregedor deste Reino, a onde
eu Escrivam estava a hi pelo dito Ministro meforão dados estes Autos com a sua Sentença
antecedente, que mandou secumprirsse como nella se contem, de que para contar fiz este
termo: Estevão da Fonseca Negrão Escrivão escrevi = Estevão da Fonseca Negrão, Escrivão
da Ouvidoria Geral, e Correição da Commarca e Cetra: Certifico que notifiquei ao Capitam
Paulino Pinto da Motta, pelo contheudos na Setença antecedente, a que bem entendeo, de
que possa o prezente. Sam Paulo d’Assumpçam desasete de
Novembro de mil Setecentos noventa e sete = Estevão da Fonseca Negrão = Auto
evocação quarenta reis = Raza trezentos outenta e nove reis = Auto folhas quatro, e
quarenta reis = Dito ao Ministro, quatro mil reis = Patrão mor dous mil reis = Louvados,
quatro mil reis = Carpinteiros, quatro mil reis = Calafates, quatro mil reis =
Contramestres, mil e duzentos reis = Meirinhos, dous mil reis = Das notificaçoens ao
dito, dous mil reis = Concluzam vinte e cinco reis = Notificação final, duzentos reis =
Somma vinte e sete mil outocentos e quatro reis = Distribuição folhas duas outenta reis
= Conta, outenta reis = Sommão estas custas salvo erro vinte e outo mil cincoenta e
quatro reis = Mello = E nam sem continha mais couza alguma em ditos Autos de
Vistoria, que eú Escrivam fiz passar por Instromento, a vi quaes mereporto, e vai na
verdade, sem couza que duvida faça por mim sobrescripto, e assignados, concertado, e
conferido com outro Oficial de Justiça, que a baixo o seu concerto põem. Sam Paulo da
Assumpção de Loanda dia eram imprecizo de supra: Estevam da Fonseca Negram
Escrivão o sobrescrevi e assignai.
Estevão da Fonc. Negrão
Concertado por mim dito Escrivam
Cesar da Fonseca Negrão
Comigo Escrivãso Ajudante
Joaquim da Fonseca Negrão
O Escrivão da Abertura desta Alfandega João Xavier Rodrigues passe Certidão
ao pé desta dos Despachos que na mesma Alfandega fez Paulino Pinto da Motta
Capitão, e Caixa da Negoçiação da Galera Anna Vinda de Lisboa de Cento e Vinte hum
Volumes de Fazendas que tinha Carregado no porto Franco da dita Cidade para
negociar em Cabinda e a que Sepermitio entrada neste Reijno naforma, e com as
Condiçoesn do despacho de 6 de Dezembro de 1797 do Ilustrissimo, e Excelentissimo
Governador e Capitão General deste Reyno, de clarando na dita Certidão as
quantidades, e qualidades dos pessoas e Fazendas Despachadas muito por menor e Com
toda a individuação e Clarexza. São Paulo de Assumpção 1º de Outubro de 1798.
João Xavier Rodrigues, Escrivão d’Abertura d’Alfandega desta Cidade de São Pulo de Assumpção Reino de Angola. Certifico que do Livro quarto dos Despachos das
246
Fazendas de folhas cento e vinte duas, até folhas cento e trinta e huma, comta o que fez
Pulino Pinto da Motta, Capitão da Galera Anna, vinda de Lisboa, de cento vinte e hum
vollumes de Fazenda transportadas para esta maldita Galera, do Porto Franco cujo teor,
e forma hé a Seguinte = Despachou Paulino Pinto da Motta de conta de quem pertencer
Zuartes de Surrate Ingléz de vinte e quatro côvados
Oitenta ditas de Cadéa Ingléz de desanove côvados
Sesenta dias de Coromandel azul vinte e quatro côvados
Cento e Noventa meias pessas de Chita de Surrates de dezanove
Covados Cem pessas de Chilla azul primeira sorte de vinte e quatro
côvados Cento noventa e nove ditas de longuim de cinco a seis côvados
Sessenta ditas de Nanquinas de vinte e quatro Covados
Noventa e nove ditos de lenços soturromales de quinze em pessa.
2 º Despesa 11 fardos Nºs 20, 36,58, 111, 107, 2, 82, 89, 88, 61, 63.
Em seis do dito = Despachou o dito Paulino Pinto da Motta = Cincoenta e sette
pessas de Zuarte Ingléz, segunda parte, de vinte e quatro côvados
Sessenta e duas do dito, segunda sorte de vinte e quatro Covados.
Sessenta ditas de Coromandel azul de vinte e quatro covadoz
Cento cincoenta e quatro covadoz digo, cento cincoenta e quatro pessoas de
chita de Surrate de vinte e quatro Covados
Cento e Noventa e nove ditas de Longuins de Cinco a seis
côvados Oitenta ditas de Zuarte fino, de vinte e sete covadoz
Oitenta ditas de Cadéa Ingléz de desanove covadoz primeira
sorte Oitenta ditas de dito segunda sorte de desesette Covados
Sessenta ditos de coromandel azul de vinte e quatro covadoz
Sessenta ditas do dito Matizado de Vinte e quatro Covadoz
3ª Despacho 16 fardos nºs 96, 51, 104, 120, 50, 87, 29, 30, 95, 35, 70, 84, 31, 53,
34, 121,
Em desenove de dito = Despachou o dito Oitenta pessas de Cadéa Ingléz de
desenove Covadoz
Sessenta ditaz decoromandel de vinte e quatro covadoz
Cento noventa e nove ditos de Longuins de cinco a seis
covadoz Oitenta ditas de Lenços focurromales azuis de quinze
me pessa Sessenta ditas de coromandel de vinte e quatro
covadoz Seccenta nove ditas de Cadéaz de des e sete covadoz
Cincoenta e nove ditas de Zuarte Ingléz segunda forte de vinte e quatro
covadoz Cincoenta e nove ditas deditom dito de vinte e quantro covadoz
Sessenta e nove ditas de Cadéa de des e nove covadoz
Sessenta e nove ditas Zuarte Ingléz segunda sorte de vinte e quatro covadoz
Cincoenta e cinco de ditas de Coromandel Matizado segunda sorte, de vinte e quatro covadoz
Oitenta e duas ditas de Cadéa Ingléz de des e nove covadoz
Cincoenta e nove ditas de Zuarte Ingléz segunda Sorte
Sessenta ditas de coromandel de vinte e quatro covadoz
Sessenta ditas de Zuarte Ingléz, primiera sorte vinte e quatro covadoz
247
Sette ditas de Zuarte da primeira, e segunda sorte = Trez ditas de Chilla de vinte
e quatro côvados = Huma dita de coromandel matizado de vinte e quatro covadoz =
Trez ditas de cadéa Ingléz azul de des e nove covadoz = Huma dita de de dito matizado
de vinte e quatro covadoz = Trez ditas de Chita de Surrate de des e nove covadoz =
Cinco ditas de Lençossotumales azuis de quinze empessa = Duas ditas de ditos
encarnados Soturromales de quinze empessa
4º Despacho Em vinte de Dezembro di dito anno
Despachou o dito Cincoenta e nove Pessoas de Zurate de vinte e quatro
covadoz Sessenta ditas do dito
Oitenta ditas de Cadéa de des e nove Covadoz
5º Despacho 5 Fardos 78, 105, 109, 113, 117.
Em des e sete de Janeiro de mil sette centos e noventa e oito = Despachou o dito
= Cincoenta e nove pessas de Nanguinas de vinte e quatro covadoz
Cento noventa e oito ditas de konguins de cinco a seis covadoz
Cento e noventa meias pessas de Chita de Surrate de des e nove covadoz
Noventa enove ditaz delenços vochoz rochoz Suturramales de quinze em
pessa Cento e sessenta ditas de dito encarnados de quinze me pessa.
6º Despachos 12 fardos nºs 25, 33, 37, 38, 39, 48, 52, 56, 69, 81, 90, 94
Em seis de Fevereiro = Despachou o dito sessenta pessas de Zuarte primceira
sorte, de vinte e quatro covadoz
Cincoenta e nove ditas deditom segunda sorte
Sessenta ditas do dito, Segunda Sorte de vinte e quatro
covadoz Cincoenta e oito ditas de dito
Cincoenta e oito ditas de coromandel de vinte e quatro
covadoz Sessenta ditas de dito, dito
Cincoenta e Oito ditas de coromandel de vinte e quatro covadoz 7º
Despacho 10 fardos, nºs 13, 10, 26, 55, 45, 65, 74, 91, 102, 108.
Em vinte e oito de Fevereiro = Despachou o dito = Sessenta pessas de Zuarte,
primeira Sorte de vinte e quatro covadoz
Cincoenta e nove ditas de dito
Cincoenta e nove ditas de dito
Sessenta ditas de coromandel de vinte e quatro
covadoz Com ditas de Chilla de vinte e quatro covadoz
Cincoenta e nove ditas de Coromandel Matizados de vinte e quatro
covadoz Cincoenta e nove ditas de Nanguinas de vinte e quatro covadoz
Ointenta e ditas de Cadéa azul,de des e nove covadoz Ingléz
Oitenta ditas de dito Matizados de des e nove covadoz
Cento noventa e sete ditas de Longuim de cinco a seis
covadoz 8º Despacho 7 fardos Nºs 12, 17, 75, 77, 47, 119, 62.
Em sete de Março Despachou o dito = Sessenta pessas de Zuarte Ingléz, primeira sorte
Cincoenta e Nove ditas de Nanguinaz de vinte e quatro covadoz
Cincoenta e nove ditas de Nanguinas de vinte e quatro covadoz
Cincoenta enove ditas de Nanguinaz de vinte e quatro covadoz
248
Noventa e sete ditas de Chila de vinte e quatro covadoz
Cento e quarenta e sete ditas de lenços Sotumrmales azuis de quinze em pessa
Quarenta e quatro ditas de coromandel matizado de vinte e quatro covadoz
9º despacho 10 fardos Nºs 19, 21, 22, 43, 49, 66, 93, 100, 106, 112 Em vinte e
oito de Abril = Despachou o dito = Sessenta para Zuarte de Sumatre primeira sortem de
vinte e quatro covadoz
Sessenta ditas de dito
Cincoenta ditas de
dito Cem ditas de dito
Cem ditas de Chila de vinte e quatro covadoz, primeira
sorte Sessenta ditas de coromandel azul de vinte e quatro
covadoz Sessenta ditas de dito Matizado
Oitenta ditas de Cadéa azul de des e nove
covadoz Oitenta ditas do dito Matizado
Cem Settenta e oito ditas de Longuins de cinco e seis covadoz. Noventa
e sete ditas de Lenços Somomales rochos de quinze em pessa
10 despacho 2 fardos nºs 11, 116, Em des e nove de Maio = Despachou o dito =
Setenta e nove pessas de Zuarte fino de vinte e sete côvados.
Cento Cincoenta e nove ditos de Lenços sossumales encarnados de quinze me pessa.
11 Despacho 11 fardos, nºs 11, 13, 24, 27, 28, 42, 57, 64, 92, 101, 98
Em vinte e trez de Julho = Despachou o dito Sessebta pessas de Zuarte de Vinte
e quatro covadoz
Sessenta ditos do dito
~Cincoenta e nove ditos do
dito Sessenta ditos do dito
Cincoenta e oito ditos do dito
Cem ditas de Chila Azul
Sessenta ditas de coromandel azul
Sessenta ditas de dito matizado de vinte e quatro
covadoz Settenta e oito ditas de Cadéa de des e nove
covadoz Quarenta ditas de dito de des e nove covadoz
12ª Despacho 11 fardos nºs 14, 15, 16, 8, 54, 67, 71, 79, 99, 115, 118. Em vinte
e oito de Julho = Despachou o dito = Cicoenta e nove pessas de Zuarte
Cinco enta e nove ditas de
dito Sessenta ditas de dito
Cincoenta e oito ditas do dito
Sessenta ditas de coromandel azul
Sessenta ditas de matizado Cincoenta
e nove ditas de Nanguimas
Settenta e nove ditas de Cadéa de des e nove
covadoz Oitenta duas do dito Matizado.
Cincoenta e quatro ditas de lenços rossos digo de lenços rochos Cento
e Cincoenta sete ditas de lenços encarnados e quinze em pessa
249
13º Despacho 2 fardos nºs 9, 41.
Em primeiro de Agosto = Despachou o dito Sessenta pessas de Zuarte Noventa e
nove ditas de Chilla
14 Despacho 13 fardos nºs 3,4,5,6,7,46,59,68,73,,76,83,85,97 Em onze do dito
despachou o dito
Cincoenta e oito pessas de
Zuarte Sessenta ditas do dito
Sessenta ditas do dito
Sessenta ditas do dito
Sessenta ditas do dito de vinte e quatro
covadoz Noventa e Nove ditas de Chila
Sesssenta ditas de coromandel azul
Cincoenta e Sete detas e dito
Matizado Cincoenta e nove ditas de
Nanguinas Sessenta ditas de ditas
Oitenta ditas de cadéa de des e nove
covadoz Settenta e nove ditas de dito
matizado Oitenta ditas de dito dito
Comprehendendo-se ao todo nos ditos volumes nove mil seis centos e treze
pessas de Zuarte de vinte e quatro covadoz
Cento e secenta ditas de de dito fins de vinte e sete
covadoz Dito centas, trinta e sete ditas de dito matizado
Seiscentas noventa e oito ditas de Chila Quatro
centos setenta e seis ditas de Nanguinas Mil
cento e noventa e oito ditas de Cadéa azul
Seis centas setenta e nove ditas de dito matizado.
Mil cento setenta e seis ditas de longuins
Trezentas noventa e cinco ditas de dito de vinte e quatro covadoz
Mil, cincoenta e nove ditas de lenços soturromales azuis, e encarnados, e rochos
de quinze em pessa
E não contem mais couza alguma em dito Livrom respeito aos sobreditos Cento
e vinte e hum volumes, ao qual me Reporto donde fiz passar a prezente em Observancia
da Portaria de Doutor João Alvares de Mello do Desembargo de Sua Magestade seu Desembargador Honorario, Ouvidor Gerál Corregedor, e Juiz d’Alfandega do dito Reyno,
onde esta principia, e vay na verdade a prezente Certidão sem couza de dúvida faça por
mim Sobreescripta, e Asignada, concertada, e conferida com outro Escrivão que abaixo
assina o seu concerto põem. São Paulo de Assumpção trinta e hum de Outubro de mil sete
centos, noventa e oito e Lei João Xavier Rodrigues, Escrivam d’Abertura d’Alfandega a
Sobrescreveu
Por parte de Abreu Castel Branco Pimentel, Coronel Juiz de Fora da Ordenaça
desta Cidade de São Paulo de Assumpção. Escrivão da meza Grande da Alfandega
250
Joseph de Abréu Castel Branco Pimentel, Coronel do Terço da Ordenaça desta
Cidade de São Paulo de Assumpção. Escrivão da Meza Grande da Alfandega da mesma
Cidade Certifico que o Livro Segundo das finanças Nelle Consta a p 47 a que deu Paulino
Pinto da Motta, Capitão da Galera Anna de Lisboa, do Theor e forma Seguinte = Termo de
Finança que dá Paulino Pipnto da Motta aos Direitos de Cento vinte e hum volumes de
Fazenda, que se lhe permitio Estrada, em conformidade do Despacho do Ilustrissimo e
Excelentissimo Governador e Capitão General deste Estado, em proferindo em Leis do
corrente mez como. Aos seis dias do mez de Dezembro de mil settecentos noventa e sette
annos nesta Cidade de São Paulo de Assumpção Reino de Angola, na Alfandega, e Caza do
Despacho damesma aonde estava o Doutor João Alvarez de Mello, do Dezembargo de Sua
Magestade Dezembargador Honorario, Ouvidor Geral, Corregedor deste Reyno, e Juiz da
mesma Alfandega, com osmais Oficios nofim deste termo assignado e a hy a aparuco
prezente Paulino Pinto da Motta, Capitão da Galera Anna de Lisboa, e Caixa da Negoçiação
della, e da outra Galera denominada Anjo do Senhor de que hé Senhorio Manuel de Souza
Freire, e Companhia Negoçiam-se da Praça de Lisboa, e por elle foi dito que Satisfazendoo
Respeitavel Despacho de juiz do Corrente mez e anno em que o Ilustrissimo, e
Exelentissimo Governador e Capitão General deste Reyno Dom Miguel António de Mello,
lhe teve a promptidão que nesta Alfandega teve sem Estrada, e se Despachou em Cento
vinte e hum volumes de Fazendas, que tenhão sido tomadas no Porto Franco de Lisboa, e
que elle dito Capitão tinha conduzido na dita Galera Anna, com a o destino de hir Negociar
em Cabinda, e Molembo, em Razão deseter tornado impraticável o prefeito da Referida
Negociação, pelas Razoens as pessoas na Cujo sua em que obteve o Sobre dito Respeitavel
Despacho, no qual se lhe empóz a condição deporestar Fiança em nome do dito Senhorio
Manuel de Souza Freire e Companhia, que Segura esse opagamento em Portugal, de quaes
quer Direitos que Sua Magestade julgasse Serem-lhe devidos, pelas Fazendas conthindas
nos referidos cento vinte e hum Volumez, por este motivo vinha elle dito Paulino Pinto da
Motta e declarar como Com effeito de clarava, que não só um nome dodito Manoel de
Souza Freira, e Companhia, mas ainda mesmo pela sua propria pessoa, e bem seo brigava a
pagar em Portugal ou aonde lhe for Determinado quaes quer Direitos , que pellos ditos
Cento Vinte e hum volumez de Fazendas a dita Senhora for servida de Clarar que lherão
devidos, e que ao dito pagamento obrigava, e especialemnte Hipotevava quaes quer bem
que pertenção, e os Cascos e mais referidos Navios Anna de Lisboa, e Anjo do Senhor, e
bem a fim os productos da Sua actual Negociação em qualquer parte aonde fossem achados,
e que para Ser maus composta a Segurança do mesmo pagamento, o ferecia, e o prezentava
por Seu Fiador, e principal pagador ao Sargento Mor Manoel Francisco Regoadas,
Negociante abonador, e ditto do o Credito, e Com êxito nesta, outras Praças e Sendo este
outro sim prezente, por elle foi dito, que de Sua Propria e livre vontade a o Susctiva ser
Fiador, e principal pagador dos Direitos das mencionadaz Fazendas na forma dita,
obrigando-se por Sua pessoas, e bem ao pagamento dos mesmos Direitos, na quantidade
elugar que lhe for dete4rminado, na dita qualidade de Fiador, e principal pagador.
E para de tudo Conter mandou o dito Minsitro fazer este Termo, que Asignou com
os Sobreditos Paulino Pinta da Motta, e ais Sargento Mor Manoel Francisco Regadoz,
presente os Officiais da Alfandega a Saber o Thesoureiro Francisco de Paula Lopez, e o
251
Goarda mor Antonio Jouseph Pereira Pinto, Os Goardas João da Costa Braga, e Luiz
Gomes Ribeiro que com migo tão bem assignão. João Xavier Rodrigues Escrivão da
Abertura de mesma Alfandega o Escrevi, e o foi que neste por empedimento so da Meza
Grande = Paulino Pinto da Motta = Manoel Francisco Regadoz = Francisco de Paula
Lopes = Antonio Joseph Pereira Pinto = João da Costa Braga = Luis Gomes Ribeiro
Mello, E não contem mais Couza alguma nos dito Termo, que foi extrahir fielmente no
dito Livro a que me Reporto, e Vay por mim Sobreposto e Asignado S. Paulo de
Assumpção 18 de Janeiro de 1798 e Eú Joze de Abreu Castel Branco Pimentel do da
Meza Grande daAlfandega e o Sobrescrevi e Asiignei
Jozé de Abreu Castel Pimentel.
A.H.U, Angola, Concelho Ultramarino, Caixa 95, doc nº 9, 10 – 03 – 1800
Relato sobre os Bens do Giro do Sertão:
Para satisfazer em deatalhe a curiosidade que tem em saber em que consiste, e como
gira o Commercio desta Conquista de Angola, seria necessário, que eu não só exposesse em
geral, a qualidade e objectos, daquele, mas especififca-se cada um dos diferentes ramos,e
repartições, que a alteram, segundo a diversidade do Certão, de que se compõem esta vasta
conquista. Não me parecendo porem huma individuação tão escrupulosa e miúda ser muito
necessária, eu não me estenderei demasiado além da sua generalidade tendo somente em
vista a mais útil e essencial. Sucessivamente a aquezição desta parte da Nossa Conquista de
África se estabeleceu nella um Commercio, que suposto não se afastasse ao princípio das
Praias, deixou contudo logo ver a sua grande importância e utilidade. Esta progressivamente
se veio a aumentar augmentar a porpoção que os Pretos Habitantes do Paiz, e naturalemente
se forem familiarizando com os Conqusitadores e decima em maior número as mesmas
praias a surtir se de algum géneros que estes lhes ofereciam e ministravam. A observação
local do mesmo País, a maior experiencia e conhecimento dos génios, inclinações e
necessidades dos Pretos seus Habitantes demonstraram logo, bem quais eram os géneros
mais próprios para o giro do Commercio desta conquista; e assim se conduziram, em breve,
para elas muitas Fazendas da India, e outras chamadas da Costa como Calamanhas,
Coromandeis, Borralhos, Tafacinas, Linhas a que dão o nome de Inglesas, Cobertas de
Damam, e Balagate, Lenços Sotomoles e de Surrate e outras Fazendas próprias de Países
Quentes de não muito valor na qualidade, e que com tudo, conforme os tempos mais ou
menos necessitam, e consumo, segundo os Pretos, variam de gostos e inclinações. Terão
estas contudo nelles sempre constantes, e cada vez mais vivas se pode a respeito do Tabaco
de pó, e fumo, e das Aguardentes que igualmente lhe foram introduzidas e são feitas de
certa Calda de Assucar do Brazil e conhecidas nesta Conquista pelo nome de Geribitas, e
Cachaças: He notável
252
a mesma afeição que se lhe conhece por este Genero que preferem á Aguardente do Reino e
ao Vinho, assim por gosto particular, como porque custando-lhe muito menos, se lhe ajusta
mais ser moderado preço e os seus poucos haveres, e possibilidades. Desconhecendo, e por
consequência desprezando o uso, e valor do Dinheiro particularmente particularmente nos
princípios deste Estabelecimento, eles havião de nós aquelles géneros, e os mais que lhes
Ministramos por meio de permutações, que com eles fazemos, por Marfim, Cera, e Pretos
que eles representavam Escravos, assim como ainda hoje praticão e os reduzem a
Escravidão por via de Mucamostanados, isto he demandas julgadas pelos seus Sovas, e
Dembos no concelho dos seus respectivos Macotas, ou por meio de injustas, e continuas
Guerras, em que ardentemente andão implicados. Com a Noticia dos lucros resultantes
deste importante negócio concorrem a esta Colónia maior número de pessoas tanto da nossa
parte, e como dos ditos pretos, que já com maior confiança de cima desta vizinhanças, a
esta cidade fazem as referidas permutações. Por meio desta concorrência, reconhecerão, e a
depitarão os mesmos Pretos algumas novas perizoens, e assim com este pretexto se lhes
introduzirão mais além de outros Géneros húa grande quantidade de fazendas brancas da
Índia pintadas,ou tinta deste Reino com a denominação de Zuartes de milhor, ou menor
sorte , e huma boa porção de Fazendas do Norte, como Bretanhas de Amburgo, Cobertores
de Papa, Baetas, Contas de Louça, e Vidros de diversas Cores, e qualidades designadas com
o nome de Coral, Missanga, Cassungo, Zimbo, e outras mais porem sobre este género que
no seu uso, e consumo tem padecido, como já expus a respeito dos muitos, e sua alteração
conforme os diversos tempos, e gostos dos Pretos, tem sempre sido constante, e decidida, e
paixão, e Emprego, que estes fazem nas Armas de Fogo, isto he em espingardas, somente
Traçados, Facas Flamnegas, e Polvora, Balas em Chumbo, para as fabricarem, e que
juntamente se lhes introduzem como sorteamento dos mais géneros e objectos
indispensáveis deste comercio; tanto assim que nas expostas permutações, não só entram
humas certas quantidades já estabelecidas das sobreditas fazendas mas também das mesmas
Armas, que lhes solicitam,e de que andam quase todos sempre munidos não só como
indispensáveis para as suas contínuas caças e defesa dos Bichos nas suas repetidas
digressões pelo Mato virgem, e expressos mais para as suas frequentes Guerras. Aquella
maior concurrencia de Pessoas a esta Capital com as vistas no interesse do Commercio,
augmentou também a ambição de Maiores Lucros e assim para satisfazerem a esta foram
muitas das dictas pessoas fazendo já algumas frequentes sortidas, já alguns pequenos
estabelecimentos ou Habitações para as partes do Certão, posto que no princípio ainda
receosos pouco das Praias se afastam: em Margem do Rio Bengo e Dande foram as
primeiras Habitações desta natureza; ali sahindo ao encontro, ou esperando os Pretos, que
de cima para esta Cidade, com as suas carregações de Marfim, Cera, ou Escravos, fazião
com eles as suas permutações a milhor mercado, tanto para não entrarem em conflicto com
os mais compradores; como por aqueles preferião fazer logo Contractos naquelas partes,
ainda com prejuízo só por evitarem a demora e pena de virem á Capital. Quando porem os
Negociantes não querião deixar o Estabelecimento, e correspondências que nellas tenhão,
por avançarem seus interesses, ou se não assinavam aos riscos do Certão, confiavam certas
porções das sobreditas Fazendas a Homens Ordinários pobres e considerados da Fortuna
que sujeitando por esta causa e os muitos perigos que nelle há,
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frequentavam o mesmo certão a onde fazendo por huma e outra parte, e com milhor partido
o seu Negocio, voltavam passado algum tempo, com os seus empregos e remessas, a esta
capital pagando com o seu produto as Fazendas aos seus Aviantes pelos preços
anteriormente ajustados, ou estabelecidos ficando em recompensa do seu trabalho, e em
indemenização dos gastos da condução, que por sua conta faziam a costa de Pretos e
excesso de preço, que os sobreditos remessas lhe davam e produziam. As Pessoas com
Fazendas suas, ou alheias se ocupavam neste género de Negócio para o Certão, e que he o
mesmo, que presentemente se pratica nesta conqusita, são denominados Pumbeiros,
Pumbos os diversos lugares a onde o vão fazer, e funar o acto de semelhantes ajustes ou
contractos, pelo decurso do tempo, foi-se aumentando tanto o numero destes Pumbeiros, e
crescendo tão desmedidamente a sua ambição, que por evitarem a competição uns dos
outros, e concluírem mais depressa o seu negócio a melhor mercador, se entranhavam
temerariamente cada vez mais no interior do certões, a onde humas vezes eram mortos, ou
ao menos roubados pelos Pretos e outros se ficavam nelles delapidando as mesmas
Fazendas já com desordens que praticavam, e já com remessas que dali dirigião,
ocultamente, a Pessoas diversas de seus Credores, ou Aviante, o que aqui se chama reviro, e
sem que estes de forma alguma, tivessem meios de virem no conhecimento destes factos,
para se indeminarem de semelhantes inconvenientes, e prejuízos. Para socorrer a estes, e
aos danos que dellles resultam, se mandaram construir por Ordem Régia, e pelo interior do
Certão, os Presidios de Muxima e Massangano, S. José de Enconge, Cambenbe e Pedras, e
Ambaca, e no Certão de Benguella o de Caconda, a fim de que servindo primeiro que tudo
de barreira as incursões e insultos dos Pretos contendo-os em respeito, e na devida
subordinação servirem em qualquer caso de asilo ou socorro aos ditos Pumbeiros nos seus
Pumbos ou Negociação. Mas verificando-se pela veria do tempo, e a experiencia, que
afastando-se aquelles para o dito efeito de negociarem, dos referidos Presidios,
continuavam a sentir dispersos pelo Mattos os mesmos insultos, e roubos, praticando
igualmente de sua parte as mesmas dilapidações e desordens, com intolerval prejuízo dos
seus Credores; se recorreu novamente a Sua Magestade, que por Carta Régia a este fim
expedida haverá se bem me engano quarenta anos. Determinou se estabelecessen em cada
hum dos mencionados Presidios, e onde mais conviesse, Feiras, e os mencionados
Pumbeiros, e que os mencionados Pumbeiros, sendo primeiramente habilitados para aquele
trafego, fossem compelidos, a fim de se terem debaixo da vista, e e vigiar a sua conduta, a
fazerem restrictamente as suas negociações, e empregos. Estabeleceram-se em
consequência daquela ordem, as ditas Feiras, não só nos expostos Presídios, mas também
em alguns lugares dos Certoens, que percerão para este efeito mais próprios, e
convenientes, como no Molo, Maio, Dondo, Beja, Lucamba, e Cassange, ficando debaixo
da Inspecção dos Directiores e dos Escrivães das mesmas feiras para este fim nomeados. As
legitimações dos Pumbeiros se praticarão segundo os tempos, com maior ou menor
exactidão, mas ultimamente se observão e fazem na maneira seguinte: o Sugeito que se
destina a semelhante Negócio, não sendo criminoso, nem tendo outra alguma razão que lhe
obste a subida aos Certoens, munidos com os documentos resepectivos da Policia, e com
uma atestação dos bens do Negociante que o pretende avisar, juntando também a Lista das
Fazendas, que este lhe confia, com Declaração das suas qualidades, e importância que não
deve exceder á taxa estabelecida, requer á Junta
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de Justiça e Comércio composta do Governador e Capitão Geral como Presidente, do
Ouvidor, do Juiz de Fora, Coronel, Tenente Coronel, e Sargento Mor, do regimento de
Infantaria dessa Guarnição, como Deputados, para que lhes concedam aquele felicidade e
licença, apresentando que he este requerimento na dicta Junta, observa se elle está
legalizado na forma devida, e logo a vista no Livro das Legitimações, a onde se acham
lançados methodicamente todas as Feiras, cada hum dos Pumbeiros, que a ella se tem
dirigido, o tempo em que forão aviados, por quem, e com que importância de Fazendas, se
examina também se o Suplicante foi já ao Certão aviado por outros Negociantes, porque em
tal caso não está nos termos de ser atentido, sem que primeiramente mostre, por atestação
deste, em como lhe satisfez as Fazendas com que o aviou, ou lhe permite e lhe consente que
vá de novo avido por outro Armador; estando porem o dito requerimento em tudo conforme,
se lhe concede por Despacho da referida Junta a mencionada licença, fazendo-se no
sobredito livro os Assentos Relativos ao dito Pumbeiro, e na forma acima expressa e
declarada. Deve contudo este, quando subir ao Certão hir acompanhado por huma guia, em
que se declare para que Feira se dirige, por quem vai aviado, e a quantidade e a importância
das Fazendas que leva, e tanto que chegar no lugar de seu destino, apresentada ao Director,
e não havendo ao Escrivão da Feira, para a registar que ali se deu entrada, e haver procedido
de boa fé, sem dilapidação alguma das fazendas e géneros que Conduziu. Semelhantemente
depois de ter feito todo ou parte de seu Emprego, querendo voltar a esta capital, ou mandar
com as remessas que já estiverem prontas, algum encarregado, vem estas vir acompanhadas
de outra guia, onde se declare o numero de Escravos, e quantidade de Cera, e Marfim, que
conduza quem se dirige a sua entrega, dando finalmente com aquela entrada na respectiva
secretaria, do Governo a onde se fazem a este respeito as Diligencias, e Assentos
competentes, e necessários. Estas Providencias que Observadas exactamente, são muito
próprias, e adequadas a manter a boa Ordem, e segurança do commercio, não são ainda
assim bastantes para occurrer, tanto nos prejuízos que os Pretos ocasionam aos ditos
Pumbeiros, pela vasta extenção, e distancia dos Certoens, e Feiras as que se Dirigem, como
a o que estes originam aproveitando-se daquelas circunstancias, para dilapidarem as
Fazendas, humas vezes afectando furtos, aque também sucedeo darem causa, pelo seu não
comportamento, e outros praticando reviros remetendo ocultamente a esta Capital, e a
Diversas Pessoas, que não são seus Aviantes, remessas que por debaixo da capa fumaram, e
houveram demorando assim, ou privando interiamente de seu devido embolso a seus
legititmos credores. Bem útil, por tanto, e bem de desejar, parecia o Estabelecimento de uma
provindencia tão eficaz, que pudesse decipar estes males: esta parece somente encontrar-se
na summa vigilância do Governador, e Capitão Geral do Estado, que atendendo aos diversos
factos, e circunstancias ocorrentes, achando-se ao mesmo tempo munido de maior poder,
pode aplicar aquelas decisões mais justas e próprias, de que aquelles factos de que aquelles
factos forem susceptiveis, castigando a liberdade, e excessos, das Transgressões, que se
afastarem da obediência, e cumprimento das ordens estabelecidas: alembranças pois, de
reduzirem os Pretos é necessidade de virem fazer o negócio a esta Capital, ou Beira-Mar, he
cheia de obstáculos insuperáveis, o conhecimento local do País e a observação e experiencia
deixam ver bem o quanto este abritio é inademissivel, logo que os Pretos se puseram no
costume de se lhes levarem aos Certões os géneros de sua
necessidade, eles sem duvida alguma antevendo o risco de huma longa jornada, e
receando virem a esta Capital, a onde de ordinário são mal recebidos, pelos outros
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Pretos, e desamaprdos nas moléstias que aqui são quasi sempre acomnetidos; querião
antes procedir dos géneros necessários para suprirem as suas poucas necessidades, do
que procuralos, passando por aquelle risco, e incómodos que ainda se lhes representam
maiores pela natural moleza, e indolências de que são dotados, alem de que o mesmo
abritio seria também hoje impraticável e nocivo ao Commercio desta Conquista porque
a primeira vista se deixa conhecer evidentemente, que sendo neutrais e abertos os Pretos
do Norte desta Capital, desde o Rio Dande, ate ao Zaire, e que os Estrangeiros, em
grande numero frequentam com o mesmo objecto do negocio de Escravos, Cera, e
Marfim absorveriam juntamente com este todo o Commercio dos nossos Certoens, pois
que os Pretos se resolvessem vir as Praias fazer as suas permutações, depois de
passarem por este incomodo, e risco, preferirão hir vender aquelles géneros aos
Estrangeiros do que a esta Cidade, tanto que estes lhes podiao dar as Fazendas próprias,
e que os mesmos Pretos por gosto preferem as nossas, mais baratas, hi porque também
hindo aquelles vender os referidos géneros nos diversos Portos de seus destinos pelo três
do bom que dão naqueles, a onde nós os conduzimos, lhes podiam dar por eles ao menos
a desplicada quantidade de Fazendas, que nós lhes podíamos dar, e oferecer,fazendo
assim pender a Balança do Comercio toda em seu favor, e utilidade: factos repetidos e
actualmente observados provão decisivamente, esta constante verdade.
E aqui as ideias, que eu sem falar em alguma diversidade, que se observa no
Commercio de Benguella, posso dar sobre o Commercio desta Capital de Angola, e seus
respectivos Certoens, e que he tão importante, quanto deixão ver os Mapas, que várias
pessoas daqui tem conduzido para diversas juntas e garante ser digno de atenção de
nosso sabio e Iluminado Ministro.
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