FORMAÇÃO E IDENTIDADE DO PROFESSOR TUTOR: UMA
ARTICULAÇÃO NECESSÁRIA
PALERMO, Roberta Rossi Oliveira – [email protected]
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Brasil
Financiamento: CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior
Resumo
Esta pesquisa tem por objetivo apresentar uma análise sobre a temática formação e
identidade do professor tutor no ensino superior na modalidade a distância. Trata-se de
pesquisa bibliográfica (teses e dissertações brasileiras na área da educação – 2001 a
2010) realizada com o apoio teórico de autores como C. Dubar, C. Marcelo Garcia, D.
Vaillant, M. Tardif e D. Raymond. Os resultados indicam que das relações estabelecidas
entre formação e identidade do professor tutor, destacam-se: a não existência, no início
da carreira docente na modalidade a distância, uma preparação para seu exercício, uma
vez que a função de tutor não compõe a carreira de professor; a falta de reconhecimento
do trabalho do professor tutor com impacto direto na valoração de sua atuação,
resultando em frustração e desmotivação e em perda da qualidade do processo ensino e
aprendizagem nessa modalidade de educação; a configuração de uma nova faceta da
profissão docente na modalidade a distância, com a identificação de saberes docentes
distintos, próprios da atuação do professor tutor; a natureza do trabalho docente
realizado pelo professor no ensino presencial, ou pelo professor tutor no ensino a
distância é a mesma, diferenciando-se apenas na forma de tratar a mediação do
conhecimento e a relação professor-aluno que, na educação a distância, serão
intermediadas pela tecnologia. Tais resultados permitem a compreensão da construção
da identidade profissional docente e dos fatores que nela interferem como um processo
dinâmico, ao mesmo tempo individual e coletivo, resultado de contextos e percursos
sociais, relacionais e profissionais, bem como das relações de poder nos espaços
institucionais em que se insere o professor tutor, que atuam como elementos limitadores
de sua construção identitária.
Palavras-chave: Educação a Distância; Formação e Identidade do Professor Tutor,
Pesquisa bibliográfica.
Problema de Estudo
Atualmente as discussões, por vezes acaloradas, tratam com distinção e
hierarquia as modalidades de educação, sendo a presencial considerada superior, em
detrimento da modalidade a distância. Se assim for, como compreender o papel do
professor tutor, por vezes, considerado como um profissional de segunda classe, quando
intitulado apenas, tutor?
A chamada “tutoria” envolve à docência. Professor tutor também é mediador de
conhecimentos e saberes. Muitas vezes, nesta modalidade há uma confusão para
identificar o professor – em geral a referência a este, aparece relacionada ao autor de
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materiais, como por exemplo, o livro texto ou a apostila da disciplina e o tutor é o
profissional que irá operacionalizar o material elaborado pelo professor autor.
Assim coloca-se o problema de estudo – formação e identidade do professor
tutor.
Metodologia de pesquisa
Em relação à metodologia específica da pesquisa – pesquisa bibliográfica – vale
lembrar aqui a orientação de textos como o de Strehl (2011), que apresenta a pesquisa
bibliográfica como instrumento de investigação e o de Traina & Traina Jr. (2011), que
se volta especificamente para a operacionalização da pesquisa bibliográfica. São
autores segundo os quais a pesquisa bibliográfica é a atividade de localização e
consulta de fontes diversas de informações escritas, para coletar dados gerais ou
específicos a respeito de um tema.
A pesquisa foi realizada por meio de mapeamento da produção acadêmica no
Banco de Teses e Dissertações da CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal do Ensino Superior, no período de 2001 a 2010 – produção disponível no site:
http://www.capes.gov.br/servicos/banco-de-teses, utilizando-se os seguintes
descritores: formação professor tutor educação à distância. As pesquisas localizadas e
selecionadas foram analisadas com o auxílio de Roteiro de Análise, previamente
construído e testado. Os dados obtidos foram organizados em quadros-síntese, gráficos
e tabelas.
Formação e Identidade do Professor Tutor – Uma articulação necessária
Em razão de não poder dissociar as implicações da formação (inicial ou em
serviço) em relação à identidade do professor tutor é possível considerar duas
premissas:
A formação ocorre também na prática, necessitando de uma articulação entre
formação e identidade;
A identidade profissional se constitui em função da natureza da atividade
profissional desenvolvida.
Uma vez que a singularidade do professor tutor encontra-se na forma como
desenvolve à docência, a ferramenta tecnológica torna-se condição primordial para o
exercício de sua atuação, com vistas a sua mediação e mediatização no processo de
ensino e aprendizagem.
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Vale lembrar que o uso que se pode fazer dessa ferramenta tecnológica irá
revelar o contexto no qual o professor tutor está inserido, irá revelar também o modelo
de educação a distância da instituição na qual se desenvolve os cursos que ora ministra e
que dará contornos a sua docência, limitando-a ou não e caracterizando, assim, a sua
atuação como professor tutor.
Além disso, há que se considerar que a sua identidade profissional precisa ser
considerada com base nos dois processos identitários básicos de que fala Dubar (1997):
o biográfico e o relacional.
O objetivo da análise é desenvolver ideias e conceitos acerca da formação e
identidade do professor tutor, com base nos apoios teóricos identificados para esta
pesquisa. Sobretudo busca-se ampliar a compreensão acerca da articulação entre
formação e identidade do professor tutor.
Apoios teóricos
1. Compreendendo inserção profissional docente
Vaillant (2009), em artigo no qual apresenta algumas conceitualizações para
compreender a inserção profissional docente, põe em destaque o conceito de identidade
profissional docente:
La construcción de la identidad profesional se inicia em las etapas previas
como estudiante, continua em la formácion inicial del docente y se prolonga
durante todo su ejercicio profesional. Esa identidad no surge
automáticamente como resultado de um título profesional, por el contrario, es
preciso constrirla. Y esto requiere de um proceso individual y colectivo de
natureza compleja y dinâmica lo que lleva a la configuración de
representaciones subjetivas acerca de la profesión docente. (VAILLANT,
2009, p. 31)
Parte-se da suposição de que o êxito das aprendizagens dos estudantes se amplia
por meio da preparação que os docentes recebem ao longo da vida profissional e
fundamentalmente nos primeiros anos do exercício profissional.
Vaillant (2009) considera que a construção de uma identidade docente é também
impactada pela valoração da profissão na sociedade na qual o docente esteja inserido.
Suas reflexões retomam as etapas de formação docente, iniciada ainda como estudante
nos anos de formação inicial, desenvolvendo-se até o início de sua carreira docente e
prolongando-se por todo tempo de atuação profissional – o que revela um percurso
dinâmico e contínuo da formação, no qual a prática e a formação são articuladas
simultânea e cotidianamente com vistas à construção da identidade docente.
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Notadamente, a formação se dá como processo e não em etapas estanques ou períodos
de tempo separados e conclusivos.
Vaillant (2009) explicita a perspectiva de continuidade e ciclo de aprendizagens
para a formação e construção da identidade profissional docente, destacando dois pontos
fundamentais: a identidade profissional e a valorização da docência.
Quanto ao primeiro – a identidade profissional, as representações que o professor
constrói sobre a profissão vão determinar a construção dessa identidade e, por
decorrência, a forma de inserir-se no campo, na profissão. Para a autora, existe aqui a
subjetividade como questão central de análise na busca de respostas do profissional no
intuito de diferenciar-se e, ao mesmo tempo, de identificar-se com os outros
profissionais docentes – o que Vaillant (2009, p. 31) chama de definir uma identidade
comum e coletiva, influenciando diretamente na prática da docência.
Em relação ao segundo ponto fundamental destacado por Vaillant (2009) –
valorização social da docência – a autora indica a importância que o meio social no qual
estes docentes estão inseridos têm sobre a construção da identidade profissional, uma
vez que, o papel e o valor que a sociedade atribui ao professor, impactam enormemente
na construção de sua identidade.
Da mesma forma, segundo a autora, a gestão institucional também se torna um
fator preponderante em relação à construção dessa identidade, visto que o estilo de
gestão e o clima da instituição definem os contornos e a valorização ou não da atuação
profissional docente.
2. Tempo, saberes e identidade na constituição do profissional docente
Maurice Tardif e Danielle Raymond (2000) se reportam a Dubar quando
afirmam que “(...) trabalhar não é exclusivamente transformar um objeto ou situação em
outra coisa, é também transformar a si mesmo em e pelo trabalho” (p.209).
Assim, ao abordarem as relações entre o tempo, o trabalho e a aprendizagem no
magistério, eles permitem o entendimento de como o tempo determina a construção dos
saberes profissionais e a identidade dos professores.
O aspecto temporal é evidenciado nessa análise porque os saberes relacionados
ao trabalho são construídos gradativamente durante um período de aprendizagem que
pode variar conforme as particularidades de cada profissão. Isto ocorre porque as
situações de trabalho requerem especificidades que só podem ser adquiridas ao serem
experienciadas.
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A abordagem dos saberes dos professores realizada por Tardif e Raymond
(2000) indica que esses saberes não são somente aqueles produzidos pelos professores,
mas incluem também os saberes adquiridos fora do trabalho docente e em lugares
sociais que precedem a carreira.
3. Compreendendo as relações entre formação e desenvolvimento profissional docente
A profissão docente tem ocupado vasto espaço nas pesquisas desenvolvidas nas
universidades e centros de pesquisa nos últimos anos, pesquisas essas que têm se
intensificado à medida que as mudanças na sociedade também se intensificam e as
cobranças aos docentes passam a ir além de cumprir suas atividades em sala de aula, e a
incluir um posicionamento seguro e eficiente frente às mudanças que deverão, em
rápido espaço de tempo, ser transmitidas aos alunos sob suas tutelas. Essas mudanças
exigem do professor novas estratégias quanto à sua formação, desde o momento que
ingressa na universidade e por toda sua vida docente, elaborando e reelaborando
estratégias de “sobrevivência” para lidar com as demandas da sociedade.
Marcelo Garcia (2009) em seu artigo intitulado “Desenvolvimento Profissional
Docente: passado e futuro”, considera:
Deve entender-se o desenvolvimento profissional dos professores
enquadrando-o na procura da identidade profissional, na forma como os
professores se definem a si mesmos e aos outros. É uma construção do eu
profissional, que evolui ao longo das suas carreiras. Que pode ser
influenciado pela escola, pelas reformas e contextos políticos, e que integra o
compromisso pessoal, a disponibilidade para aprender a ensinar, as crenças,
os valores, o conhecimento sobre as matérias que ensinam e como as
ensinam, as experiências passadas, assim como a própria vulnerabilidade
profissional. As identidades profissionais configuram um complexo
emaranhado de histórias, conhecimentos, processos e rituais. (MARCELO
GARCIA, 2009, p. 7)
Com base em estudos realizados na Espanha e outros países europeus, Marcelo
Garcia (2009), identifica alguns pontos importantes acerca do desenvolvimento docente,
quando questiona:
Sobre o que versa o desenvolvimento profissional docente? Quais são as suas
matérias e conteúdos? Esta é uma pergunta incontornável quando abordamos
a temática do desenvolvimento profissional docente. E, basicamente, esta
pergunta leva a que coloquemos outras: o que é que os professores conhecem
e o que é que devem conhecer? Quais os conhecimentos relevantes para a
docência e para o seu desenvolvimento profissional? Como é que este
conhecimento se adquire? (MARCELO GARCIA, 2009, p. 17)
É verdade que existem várias questões a serem levantadas quando se trata de
abordar a formação docente. Várias pesquisas apresentam dados e iniciativas de
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implantação de políticas verdadeiramente comprometidas com essa demanda de
formação e desenvolvimento profissional docente.
A esse respeito, Marcelo Garcia (2009) destaca, por exemplo, a relação entre
formação docente e a qualidade da aprendizagem dos alunos:
O desenvolvimento profissional docente é um campo de conhecimento muito
amplo e diverso, do qual tentámos mostrar algumas das suas ideias gerais.
Aprofundar requer uma análise mais pormenorizada dos diferentes processos
e conteúdos que levam os docentes a aprender a ensinar. E não existe apenas
uma resposta a esta questão. Mas, seja qual for à orientação que se adopte, é
necessário que se compreenda que a profissão docente e o seu
desenvolvimento constituem um elemento fundamental e crucial para
assegurar a qualidade da aprendizagem dos alunos. (MARCELO GARCIA,
2009, p. 19)
A natureza do trabalho docente parece ser ameaçada quando, no trabalho dos
professores se enfraquecem o contato com os alunos e o papel de mediação em relação
ao conhecimento que compete ao professor. Ou seja, essa é uma nova faceta da
profissão docente que precisa ser analisada, especialmente em tempos de educação a
distância.
4. A construção da identidade profissional docente
A teoria sociológica apresentada por Dubar (1997) tem como ponto central a
articulação entre dois processos identitários heterogêneos. Primeiramente aquele que
trata da atribuição da identidade e decorre da interação das instituições e agentes com o
indivíduo, deve ser analisado dentro dos “sistemas de ação” onde o indivíduo está
inserido, neles são legitimadas categorias impostas coletivamente. Assim, empresta-se
uma identidade social “virtual” a uma pessoa.
O outro processo refere-se à incorporação da identidade pelos próprios
indivíduos, sua análise deve ser feita considerando-se as “trajetórias sociais” por meio
das quais os indivíduos constroem a “identidade para si”, também chamadas de
identidades sociais “reais”. Neste caso a legitimidade irá depender daquilo que tem
“subjetivamente” importância para o indivíduo.
Desse modo, a identidade social é marcada pela dualidade; ela resulta da
articulação entre a identidade virtual e identidade real, numa configuração identitária
estável, mas sempre evolutiva.
Apesar da heterogeneidade desses dois processos, biográfico (identidade para si)
e relacional (identidade para outro), ambos utilizam “esquemas de tipificação” que
pressupõe a existência “(...) de um número limitado de modelos socialmente
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significativos para realizar combinações coerentes de identificações fragmentárias”
(Dubar, 1997, p.110). Tem-se, portanto, categorias que servem, tanto para identificar os
outros, quanto para identificar a nós mesmos. Elas variam em relação aos espaços
sociais e ao tempo histórico e biográfico onde se desenvolveram as trajetórias sociais.
Convém destacar que, antes de ocorrer à identificação nas relações profissionais
ou nas escolares, Dubar (1997) atribui primordial importância à primeira identidade – a
socialização primária – adquirida na infância, na relação da criança com a família ou
quem a substitui. Mas a primeira identidade social é experimentada na escola por meio
das categorizações dos outros, que no caso são os colegas e professores.
Como explica Dubar (1997) o processo identitário biográfico, ou seja, o
aprendizado que nos leva a sermos quem somos é marcado pela dualidade.
[...] entre a nossa identidade para o outro conferida e a nossa identidade para
si construída, mas também entre nossa identidade social herdada e a nossa
identidade escolar visada, nasce um campo de possibilidades, onde se
desenrolam desde a infância à adolescência e ao longo de toda vida, todas as
nossas estratégias identitárias. (DUBAR, 1997, p. 113)
A construção da identidade autônoma, que ocorre quando o indivíduo sai do
sistema escolar e se depara com o mercado de trabalho é, atualmente, um momento
crucial, pois a realidade é marcada por fatores como desemprego, mudanças
organizacionais, aceleração da modernização tecnológica e falta de estabilidade no
emprego. No confronto com esta realidade a primeira “identidade profissional para si”
é construída, mas ela não é definitiva e será frequentemente confrontada com outras
transformações do mercado de trabalho e terá que sofrer ajustes constantes, por isso é
marcada pela incerteza.
Ainda com apoio nos estudos apresentados por Dubar (1997) é possível observar
que, por meio das relações de trabalho ou da participação nas associações profissionais,
se realiza nos indivíduos a construção biográfica de uma identidade profissional, num
movimento denominado processo identitário relacional. A esse respeito, o autor
apresenta a seguinte hipótese: “(...) o investimento privilegiado num espaço de
reconhecimento identitário está intimamente dependente da natureza das relações de
poder neste espaço, do lugar que o indivíduo ocupa e do seu grupo de pertença” (p.117).
Portanto, segundo Dubar (1997), a articulação dos dois processos identitários – o
biográfico e o relacional – revela a projeção do espaço-tempo identitário, pois uma
geração constrói sua identidade social a partir das categorias herdadas das gerações
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anteriores e também por meio das estratégias identitárias desenvolvidas nos espaços das
instituições em que os indivíduos percorrem em suas trajetórias sociais.
Tais reflexões permitem supor que a identidade do professor tutor também se
constrói a partir desses dois processos e, de forma peculiar, atrelada a esse espaço-
tempo identitário identificado, seja nas instituições percorridas pelos indivíduos
socialmente e em seu percurso de formação, seja na instituição em que os indivíduos
exercem sua profissão, com todas as singularidades que a cercam.
Resultados: o que dizem as pesquisas analisadas
A pesquisa desenvolvida teve por objetivo elaborar balanço da produção de teses
e dissertações brasileiras sobre a temática formação e identidade do professor tutor no
ensino superior na modalidade a distância, considerando o período de 2001 a 2010, pós-
promulgação da Lei 9394/96, que fixa as diretrizes da educação nacional e amplia a
concepção de formação inicial e continuada de professores, bem como cria a
possibilidade de cursos regulares via ensino a distância e, com eles, trazem a figura
central do professor tutor.
A hipótese investigada, de que as pesquisas “(...) investigam os diferentes
aspectos e elementos da realidade interna das universidades que desenvolvem cursos de
nível superior na modalidade a distância e da ação dos professores-tutores,
concentrando suas análises nos aspectos mais restritos dessa atuação, em detrimento dos
fatores sócio-políticos mais amplos e dos aspectos ligados à formação e identidade
desse profissional” – foi confirmada.
De fato, os resultados obtidos permitiram constatar que as pesquisas sobre essa
temática concentram suas análises nesses aspectos mais restritos, embora não deixem de
mencionar os fatores sócio-políticos mais amplos. Além disso, a formação é aspecto
posto em destaque muitas vezes, embora a identidade profissional do professor tutor
seja, de fato, discussão negligenciada nas pesquisas.
Quando se analisam os diferentes modelos de educação a distância é possível
compreender que há diversos tipos de tutoria, que podem ou não realizar a mediação de
conhecimento – o que leva ao reconhecimento do trabalho do professor tutor como mais
uma faceta do trabalho docente, mas neste caso, na modalidade a distância. Assim, a
articulação entre formação e identidade do professor tutor exige a identificação do
modelo de educação a distância, uma vez que ele tem influência direta na atuação do
professor tutor.
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A investigação foi realizada por meio de mapeamento da produção acadêmica no
Banco de Teses e Dissertações da CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal do Ensino Superior, no período de 2001 a 2010 – produção disponível no site:
http://www.capes.gov.br/servicos/banco-de-teses, utilizando-se os seguintes descritores:
identidade / formação / professor tutor / educação a distância.
As pesquisas localizadas e selecionadas foram analisadas com o auxílio de
Roteiro de Análise previamente construído e testado. Os dados obtidos foram
organizados em quadros-síntese, gráficos e tabelas e permitiram reunir elementos para
compreensão de aspectos como: a relação entre perfil pessoal/profissional e atuação do
tutor; a identidade com a profissão e valorização da função do tutor como docência
como fatores decisivos para qualidade de sua atuação; os modelos de EAD como
determinantes da identidade individual e coletiva do tutor; a formação docente não tem
sido condição para atuação do tutor, reduzindo-se sua formação a uma preparação em
serviço, calcada em regras e procedimentos que organizam seu fazer, ou a uma
autoformação; e, finalmente, a configuração de uma nova faceta da profissão docente na
modalidade a distância, com a identificação de saberes docentes distintos, próprios da
atuação do professor tutor.
A análise das pesquisas revelou que há saberes docentes distintos que
configuram a atuação do professor tutor e que indicam a legitimidade dessa nova faceta
da profissão docente, na modalidade de ensino a distância. A rotina de trabalho desse
profissional indica que ele adota uma “lógica” própria para exercício de sua função, a
partir de referenciais pessoais e de formação e das características do modelo de ensino
superior a distância em que atua.
Dois pontos são apontados nas pesquisas analisadas como fundamentais em sua
atuação: a identidade com a profissão e a valorização da função do tutor como docência.
Há dificuldades a serem enfrentadas pelos professores tutores, seja para diferenciar-se
como profissional, seja para identificar-se com os outros profissionais docentes. Os
modelos de EAD determinam essa definição de identidades – a subjetiva ou “para si” e
comum e coletiva ou “para o outro” – de que fala Dubar (2007).
Os resultados das pesquisas analisadas revelam que os tutores valorizam o saber
da experiência, especialmente a experiência profissional, relacionando-a com as práticas
docentes presenciais já vividas. O saber-fazer dos tutores é resultante não só de suas
ações cotidianas ou de sua rotina de trabalho, mas está ligado a seus referenciais
pessoais e profissionais (subjetividade, personalidade, percurso profissional, formação,
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condições de trabalho, recursos e orientações disponíveis). Compreender os modelos
pelos quais as instituições desenvolvem seus cursos e sua respectiva estrutura na
modalidade a distância torna-se condição para a análise da formação e da identidade do
professor tutor, ou seja, a partir da identificação dos modelos pelos quais as instituições
se organizam é possível compreender o “lugar” do professor-tutor na respectiva
estrutura.
A figura do professor tutor pode ser considerada central no processo ensino
aprendizagem e, portanto, na qualidade dos cursos de educação a distância no ensino
superior no Brasil.
Por fim, vale destacar que se a análise das pesquisas revela que há saberes
docentes distintos que configuram a atuação do professor tutor que, por sua vez,
indicam a legitimidade dessa nova faceta da profissão docente na modalidade de ensino
superior a distância.
Conclusões
Ainda que se voltem, especificamente, para professores e docência no ensino
presencial e não tratem da formação e desenvolvimento profissional de tutores na
educação a distância, os autores aqui apresentados podem trazer pistas importantes para
compreender a necessidade de estudos e definições acerca da formação, identidade,
inserção no magistério e desenvolvimento profissional de professores tutores na
educação a distância, no ensino superior.
Por exemplo, buscando compreender inserção profissional segundo Vaillant
(2009) é possível considerar que, no que diz respeito ao professor tutor, não há, no
início da carreira docente na modalidade a distância, uma preparação para seu exercício,
uma vez que a função de tutor não compõe a carreira de professor. A falta de
reconhecimento do trabalho do professor tutor impacta diretamente a valoração de sua
atuação, resultando em frustração e desmotivação e em perda da qualidade do processo
ensino e aprendizagem nessa modalidade de educação.
Da mesma forma, os estudos de Tardif & Raymonds (2000) sobre os saberes
docentes, suas fontes e formas de integração à prática permitem, por exemplo, perceber
que a atuação como professor tutor é somente mais uma faceta da profissão docente,
pois a natureza do trabalho docente realizado pelo professor no ensino presencial, ou
pelo professor tutor no ensino a distância é a mesma, diferenciando-se apenas na forma
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de tratar a mediação do conhecimento e a relação professor-aluno que, na educação a
distância, serão intermediadas pela tecnologia.
Compreender a construção da identidade profissional docente e os fatores que
nela interferem, com auxílio dos estudos de Marcelo Garcia (1999) e Dubar (1997) –
como um processo dinâmico, ao mesmo tempo individual e coletivo, resultado de
contextos e percursos biológicos, sociais, relacionais e profissionais – foi importante e
esclarecedor no sentido de permitir perceber muitas das experiências de relações de
poder nos espaços institucionais em que se insere o professor tutor, como elementos
limitadores de sua construção identitária.
Além disso, todos esses autores concordam em relação à importância da
formação e à percepção de ela não se encerrar com o título, mas continua no processo
de inserção, atuação e desenvolvimento de toda a carreira docente, cuja busca pela
identidade implica considerar as relações com o contexto institucional e social no qual o
profissional esteja inserido.
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