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FORMIGA I – Ah, é tão bom relaxar, depois de um dia de expediente puxado...

FORMIGA II – É mesmo. Esse show da cigarra Carla é dez!

FERNANDA – Tá tudo muito bom, tá tudo muito bem, mas realmente eu preferia fazer hora extra.

FORMIGA I – Cê tá maluca, Fernanda? A gente dá um duro danado o dia inteiro e você quer mais? Dá um tempo!

FORMIGA II – É mesmo, Fernanda, pega leve! Assim você acaba pifando. Olha o stress!

FERNANDA – Sabe o que eu acho? É por isso que esta fazenda não vai pra frente: formiga foi feita pra trabalhar, mais nada. Não dá futuro a ninguém fi car sentado em mesa de barzinho, escutando uma cigarra cantando roque. Prestem atenção ao que eu vou dizer: se continuarem pensando assim, vão acabar igual a ela.

FORMIGA I – E o que tem de mal nisso? Eu acho o maior barato ser cantora de roque!

FERNANDA – Ah, acha é, bebé? Queria ver como ia se arranjar no inverno, se não carregasse sua cota de folhas pro formigueiro.

FORMIGA II – Fernanda, formigueiro é comunidade. Se umas não dão conta do serviço, as outras ajudam. É assim que a coisa funciona: uma por todas...

FORMIGA I – ...e todas por uma!

FERNANDA – Todas por uma! Duvido que a rainha Frida II concorde com uma abobrinha dessas. É cada uma por si e sai de baixo!

BRUNA – Finalizando o show, depois da linda apresentação de nossa querida Carla, nós duas, conjuntamente juntas, declamaremos um poema para celebrar a beleza da vida. Chama-se O meu pomar, escrito por Cecília Meireles.

FERNANDA – Poesia numa hora dessas?! E eu com tanta coisa pra fazer em casa...

CARLA – “Se eu tivesse um pomar, um pequeno pomar que fosse, não lhe poria grades à roda, como os outros proprietários. Não poria, a guardá-lo, um desses cães enormes, rancorosos, que andam sempre rondando os pomares...”

BRUNA – “O meu pomar seria assim: todo aberto, para todos. E, quando o outono chegasse e as árvores fi cassem cheias de frutos amarelos e vermelhos, nenhum pobrezinho teria fome, nenhuma criança choraria de sede, passando pelo meu pomar...”

CARLA – “E, no inverno, ainda haveria lá onde alguém se abrigasse, quando chovesse muito ou fi zesse muito frio...”

BRUNA – “Se eu tivesse um pomar, ele estaria sempre em festa, cheio de borboletas e de pássaros...”

CARLA E BRUNA – “Como eu seria feliz, se tivesse um pomar!”

Aponta para Carla

As duas formigas olham para Fernanda, sacodem a cabeça e fazem som de desaprovação: tsk, tsk, tsk. O número de Carla termina e todos aplaudem, menos Fernanda. A cigarra continua no palco e sobe Bruna, a borboleta, que se veste com camiseta e calça super estampadas e coloridas

Abraçadas

CARLA – “Se eu tivesse um pomar, um pequeno pomar que fosse, CARLA – “Se eu tivesse um pomar, um pequeno pomar que fosse, CARLA

As outras formigas pedem silêncio