I N S P I R A Ç Ã O , R E F L E X Ã O E É T I C A
C O N H E C I M E N T O E D I N A M I S M O
03ED
IÇ
ÃO
NÚ
ME
RO JANEIRO/
FEVEREIRO 2018
É possível trazer a inspiração para as
decisões do dia a dia?
ANO
1
20 Recantos para inspiraçãoMainá Santana
26Uma dose salutar de pessimismo
Andrei Venturini Martins
0406
14
10
18
Editorial
RarefeitoMainá Santana
Inspirar para crescer
Respirar outros ares: inspiração e processos
coletivos nas práticas da mediação cultural
Stella Ramos
Voz e Inspiração: Daúde
sumáriosumário
Janeiro/Fevereiro 2018 • Revista Inspire-c | 3
Amigas e amigos leitores!hegamos à nossa terceira edição. Mas antes de falar sobre
ela, quero me desculpar pelo atraso da publicação e conse-
quente descumprimento da periodicidade bimestral. Talvez
as justificativas não deem conta do ocorrido, mas sinto-me
na obrigação de explicá-las para você que nos acompanha.
O ano de 2017 foi bem intenso, com muitas novidades e mudanças no
Espaço Ética e na INSPIRE-C. A primeira delas foi o lançamento do 1º En-
contro Espaço Ética, com o tema Ética nos Negócios. Esses encontros vie-
ram para ficar, de modo a proporcionarmos um espaço para reflexões sobre
ética. Acreditamos que esta é uma contribuição importante que podemos
dar à sociedade para nos inspirarmos rumo às mudanças positivas.
Outra novidade do Espaço Ética são os cursos em EAD que estão num
formato padronizado após experiências realizadas em 2016. Assim, lan-
çamos no ano passado o curso Ética em Tempos de Crise, ministrado pelo
professor doutor Andrei Martins. O curso conta com sete aulas distribuídas
entre tópicos como o conceito de ética, identidade, crise no contemporâ-
neo e cultura de massa. E ao longo de 2018 surgirão novos cursos.
Quanto à INSPIRE-C, mudanças significativas também aconteceram.
Criamos um espaço destinado aos jovens — em especial para os estu-
dantes do ensino médio da rede pública — que pretende incentivar a es-
crita e a leitura. Principalmente a escrita, pois com muita razão fala-se da
importância da leitura. Porém, percebemos que são poucos os espaços que
estimulam a escrita e quem escreve sabe que muitas vezes (no meu caso
é sempre) embates incríveis acontecem entre o que se pensa e o que de
fato se quer dizer. Como acreditamos que a prática, o exercício é o melhor
aprendizado, abrimos este espaço para que os jovens pratiquem e criem
entrosamento com as letras.
Que venham sem medo! Para aqueles mais receosos, gosto de citar uma
definição simples do que é uma boa escrita. É mais ou menos assim: “Toda
boa escrita é aquela em que o autor não precisa ir junto com o texto, ou
Cseja, o texto por si só basta”. O autor escreve e lança para o mundo (hoje
literalmente para o mundo mesmo) suas ideias, pensamentos, teses, refle-
xões etc. em condição autossuficiente de inteligibilidade. Dessa maneira,
este espaço permitirá que exercitem a escrita estimulados pela leitura de
artigos, textos, poemas e tudo mais que puder ajudar a se libertarem de
qualquer trava ou receio.
Também criamos um espaço com perguntas e respostas curtas para
uma interação mais sucinta com os entrevistados. Nesta edição, inauguram
este espaço a cantora Daúde, que fez uma performance impecável no 1º
Encontro Espaço Ética, e o presidente da FMC Indústria Química, meu xará,
Ronaldo. Ambos contam um pouco como a inspiração está presente em
seu trabalho, como lidam com ela em sua vida e concluem as entrevistas
com exemplos.
Sei que uma coisa não justifica a outra, mas tive de escolher entre as
novidades e mudanças que mencionei acima ou o cumprimento do prazo
da terceira edição. Optei pelas mudanças, pois apesar de termos apenas
duas edições publicadas, achei que era o momento de trazer novidades
para a consolidação da INSPIRE-C em 2018, quando a revista completará
um ano de existência.
Para assumir o desafio de incentivar os jovens a escreverem mais, con-
videi Mainá Santana dos Santos, que é graduada em Psicologia pela Uni-
versidade Federal de São Carlos, com especialização em Arte-Educação
pela Universidade de São Paulo e formada em Balé Clássico pela Escola de
Bailados Municipal de Santos. Além desse currículo extraordinário, o que
nela impressiona é a sensibilidade da escrita. Mainá tem por hábito escre-
ver poesias, artigos, crônicas e textos, e em todos eles é possível encontrar
uma delicadeza com as palavras e ao mesmo tempo muita força. Mainá,
seja muito bem-vinda e sucesso no seu novo desafio!
Após esta longa justificativa e o pedido de desculpa pelo atraso da ter-
ceira edição, finalmente chegamos a ela. O tema escolhido é inspiração e
para falar sobre ela, entrevistamos o head de marketing da 3M, Luiz Se-
rafim, o filósofo Luiz Pondé e as cantoras do grupo As Bahias e a Cozinha
Mineira. Também temos uma poesia da Mainá Santana, e Daúde e Ronaldo
Pereira respondem a quatro perguntas que fizemos a eles. Quanto aos dois
artigos, um deles é da educadora e pesquisadora Stella Ramos e o outro é
do professor doutor Andrei Martins.
No diagrama de constituição do homem, o escritor francês Antoine
Fabre d’Olivet coloca a inspiração no espírito, que é, segundo ele, o cen-
tro intelectual de todos nós. Na alma está a paixão e no corpo, o desejo.
Portanto, percebam que não é tão fácil falar da inspiração quando saímos
do senso comum. Quando alguém diz que tal coisa ou pessoa o inspira,
está falando muito pouco da verdadeira inspiração. Pois inspiração é muito
mais que qualquer cópia modificada e adaptada. Inspiração também não
é uma ideia! Ah, “vi algo que me inspirou”, ou seja, tive uma ideia. Não!
Inspiração é o centro intelectual e é superior à alma e ao corpo.
A inspiração é mística, é um dom divino que nos atende sem chamado
— ela simplesmente vem e vai. Não a controlamos, talvez porque não
nos pertença. Mas temos acesso a ela sem comando ou vontade, basta
estar sensível à vida. Como centro intelectual humano, ela leva energia à
imaginação e à criação, ao discernimento e à compreensão, à memória, à
reflexão, ao aprendizado, ou seja, é da vida espiritual que nasce a alma que
alimenta o corpo. Portanto, a inspiração nos mantém conectados com o
Divino, com nossas almas, corpos e toda e qualquer vida do Universo.
Desejo que curtam esta edição, que tenham um excelente 2018 e que,
conectados pela inspiração, possamos
construir uma sociedade melhor.
Um forte abraço!
Ronaldo Campos
editorial
Janeiro/Fevereiro 2018 • Revista Inspire-c | 54 | Revista Inspire-c • Janeiro/Fevereiro 2018
expediente
Revista INSPIRE-CRevista Institucional do Espaço Ética – Serviços de Palestras, Ensino, Capacitação e Assessoria Sociedade Empresária Limita-da. (www.espacoetica.com.br)
INSPIRE-C é uma publicação bimestral da empresa Espaço Ética direcionada ao mundo corporativo articulando conhecimentos acadêmicos e empresariais, ligados principalmente à ética.
A INSPIRE-C não se responsabiliza pelos conceitos emitidos nos artigos assinados.
Editor responsávelRonaldo Assais Ribeiro Campos – [email protected]
Sub-editoria de culturaMainá Santana dos Santos – [email protected]
Diretores InstitucionaisKarina de Andrade MacieiraClóvis de Barros Filho
Design, Diagramação e Projeto GráficoAna Carolina Ermel de Araujo
Fotos: DepositPhotos.com
RevisãoHebe Ester Lucas
ColaboradoresMaria Cristina PoliSula VlashosRodrigo Leitão
Assinatura, sugestões e reclamaçõ[email protected](11) 3661 7532
Comercializaçã[email protected](11) 3661 7532
Rua Maranhão, 620 – Cj.141 – HigienópolisCidade: São Paulo, SPCEP: 01240-000Telefone: (11) 3661-7532
Foto
:Div
ulga
ção
R a r e f e i t o Mainá Santana
nspirar. Trazer o ar para dentro, inalar. Preencher
espaços internos com ar. Fornecer oxigênio para o
trabalho das células. Inspirar é prover matéria-prima
para a manutenção da vida.
Esses dias li nas mídias sociais que “brasileiro não precisa
de ar te, precisa de concreto e infraestrutura”, que “não precisa
de ar tistas, mas de engenheiros e técnicos”. Ao ler essas frases
imaginei um desenho animado em escala de cinza, homens sé-
rios de terno desfilando de cabeça baixa, ora com chuva, ora sob
o sol. Não há música, dança ou cinema. Não há teatro ou circo,
nem pinturas, esculturas, per formances ou exposições. Aper-
tando um pouco o pensamento, criei um cenário sem ourives,
alfaiates, sem pessoas que pensassem cor e forma, perspecti-
va, equilíbrio ou desequilíbrio e, sem esses elementos, também
não existiam engenheiros ou técnicos, tendo em vista que esses
também usam a estética como par te de sua prática. Os homens
sérios estavam nus, mas sem corpo, porque o corpo denuncia a
existência da pessoa; caminhavam sem pés para tocar o chão ou
cabeça para abaixar.
Há uma terrível confusão instaurada. Por não acreditarem na
potência da arte como linguagem e prática de trabalho, pessoas
discursam sobre o seu fim. A confusão, a mim curiosa e incômoda,
vem de pensamentos e posições filosóficas que separam, cate-
gorizam e hierarquizam o mundo para torná-lo mais digerível. A
arte está lá, longe, e pertence aos artistas, pessoas que produzem
algo imaterial, muitas vezes incompreensível e/ou contestador,
instável; o técnico e o engenheiro estão próximos do que é prag-
mático, direto e concreto, do que eu posso ver.
Eu não vejo o ar, mas sei que ele está lá. O vento é o ar em mo-
vimento, disse a professora da escola. O ar, 78% nitrogênio, 21%
oxigênio, menos por cento de água e outros gases, tanta vida se-
parada em invisíveis parcelas de respiração. Confesso que não te-
nho conhecimento profundo dos gases, dos números, do invisível
e, talvez, de nada. Sou uma generalista em assuntos da natureza
Independente do gosto do freguês, a arte traz elementos para a reflexão e experiências com mundos conhecidos e desconhecidos, muito similar à infância. Neste momento da vida, a criança descobre seu entorno por meio do corpo – sensações e percepções –, o mundo é material de inspiração para fazer algo novo, trazendo outros sentidos para as relações preestabelecidas do planeta adulto. Se toda a experiência tem o potencial de formar e transformar, variá-las é vital para ser sensível ao outro e a si mesmo.
I
inspiraçãoarte
corpoinfância
experiência
coluna coluna
Janeiro/Fevereiro 2018 • Revista Inspire-c | 76 | Revista Inspire-c • Janeiro/Fevereiro 2018
ou à faculdade, ou ao mercado de trabalho, ou à aposentadoria.
Talvez a idade adulta nos devesse trazer a realidade de que não
se é para nada. Ser médica para descobrir a cura, ser astro-
nauta para descobrir outros planetas. Se nos preocupássemos
também em ser, poderíamos entender que o mundo não está
apenas para, está entre.
A arte e a brincadeira são motores de inspiração; o adulto que
se deixa levar apenas pelo pragmatismo do “para”, de suas tarefas
diárias, diminui sua capacidade de perceber o mundo, deixando
de ressignificar aquilo que apreende, ou seja, deixa de criar. A
experiência de sentir cheiros, gostos, toques diferentes nos retira
do maçante do dia a dia de trânsito, trabalho, rotina, academia. O
corpo percebe cor e forma, perspectiva, equilíbrio ou desequilí-
brio, seja em alimentos, danças ou prédios. Assim como a criança
pequena aprende de maneira sensorial, as pessoas, fazendo ou
fruindo arte, colocam o corpo entre experimentações e criações.
Isso tem a potência de construir um médico, um engenheiro, um
artista, mas sem essa necessidade ou finalidade: é consequência.
Se a arte e a brincadeira são os motores, o corpo, para além do
humana, expresso o que sinto
pelo meu corpo, narinas, pele
e olhos, e isso possivelmen-
te me torna uma falaciosa da
vida alheia. Do que me inspira,
gente estuda e descobre o que
está lá, por menos que eu veja
ou compreenda. Do que eu
estudo, gente se inspira e se
sente tocada, por menos que
vejam ou compreendam, o que
quer que eu ou “eles” estudem.
Ser capaz de inspirar, de criar
e de respirar é inerente ao ser
humano.
Criança, queria ser médica
para descobrir a “cura do cân-
cer”. Depois, astronauta para
visitar planetas novos. Reno-
mear passarinhos, ser muito
famosa pelas minhas teses sobre o mundo. Demoro-me a
entender sobre as fontes da minha inspiração infantil;
coabitavam a curiosidade e um desejo de grandeza
contrastante com a condição social que me cabia
e, por não ser esta condição a miséria, que este-
riliza as terras da imaginação,
ainda era possível brincar. As
crianças descobrem o mundo
pelos sentidos, têm um lindo
potencial de transformação
de realidades, ampliado por
suas experiências e pelo am-
biente no qual se desenvol-
vem. Um tecido vira mar, uma
caixa vira um barco, a terra
é uma boa tinta; brinquedos
desestruturados (sem formas
definidas) permitem que a
imaginação flua de acordo
com as interações.
No meu ambiente infantil,
como no de muitas crianças,
os valores eram cravejados
de funcionalidades e a ins-
piração trazia gostos não da
experiência em si — ser médica —, mas daquilo que
viria depois de ser — descobrir a cura do câncer.
Um pouco como ir para a pré-escola para che-
gar ao ensino fundamental ou ir para o ensino
fundamental para chegar ao ensino médio,
Assim como a criança pequena
aprende de maneira sensorial,
as pessoas, fazendo ou fruindo
arte, colocam o corpo entre
experimentações e criações.
erótico, é onde a inspiração pode se transformar em energia e isso
é o mote de interesse do artista.
O adulto pragmático deixa a inspiração encurtar na busca ex-
clusiva das porcentagens de nitrogênio e oxigênio presentes no
ar. O corpo desfalece, sem material suficiente para a produção
de energia, adormecendo-se em um vazio de percepções. Resis-
te: procura um horizonte ao alcance dos olhos, uma textura que
distraia as mãos e, na cadeira da resolução de tarefas, os pés des-
pretensiosamente escapam ao chão. Ao se perceber voar longe da
rotina rumo ao imaterial, o adulto prende-se à sua própria mesa,
se enterra na sala onde reside. O importante é ter âncora para
evitar procrastinação. Nada deixa fluir o que há em seu próprio
peito, mal sabe por que o peito sobe e desce, talvez seja como o
elevador, para cima e para baixo, feito para isso. O mundo precisa
apenas de engenheiros e técnicos.
Para crescer, a criança deixa o mar feito de tecido, o violão si-
lencioso no quarto, telas inacabadas, textos fragmentados, torna
o mundo uma janela fechada. Pouco ar no pulmão, pouco oxigê-
nio nas células, o corpo se esvai em escala de cinza.
coluna coluna
Janeiro/Fevereiro 2018 • Revista Inspire-c | 98 | Revista Inspire-c • Janeiro/Fevereiro 2018
Respirar outros ares: inspiração e processos
coletivos nas práticas da mediação cultural
Stella Ramos
ohan Huizinga, nos
idos de 1938, refletiu
sobre o jogo como
parte formadora da
cultura. Em seu Homo ludens, bus-
ca encontrar indícios do que pode-
ria ser reunido como prática lúdi-
ca. Entre outras coisas, aponta que
para que se estabeleça uma espé-
cie de ‘estado de jogo’ é fundamen-
tal traçar um território, delimitar,
dar forma. O que antes existia de
modo um tanto disforme passa a
ser um lugar, mas não um lugar
qualquer. Um lugar diferente da luz
do dia, o lugar do poeta e do louco, espaço em que se podem sobrepor
existências, viver de modo cumulativo uma realidade concreta e uma
simbólica, ser outro sem deixar de
ser você. Essa linha tênue, ampli-
ficada pela sua potência, só pode
se estabelecer, curiosamente, gra-
ças à existência e consciência do
território delimitado. John Dewey,
uma das referências fundamentais
para o desenvolvimento de uma
série de linhas de pesquisa em
educação no Brasil, em seu Arte
como experiência, chama a aten-
ção para a necessidade deste con-
torno de uma linha temporal, para
que se possa identificar o que ele
chama de experiência significati-
va. Se o tempo não pudesse ser destacado pelo início e fim dessas
experiências, teríamos uma percepção difusa, colada à passagem do
J
Num jogo, as formas, regras e os limites são definidos com a especificidade de ser uma realidade outra, diferente da cotidiana. A linha que separa o que é e o que não é se estabelece justamente pela consciência do território do jogo e de suas qualidades temporais diferenciadas e previamente definidas. O mesmo ocorre no campo da representação simbólica, por exemplo, em Cezanne e Gormley. Quando estamos todos em um território de jogo, os repertórios, experiências, reflexões e dúvidas presentes em cada um passam a habitar este novo lugar construído dentro de fronteiras de tempo e espaço definidos, aéreos, circulantes: respiramos o mesmo ar, preenchido de expirações e ideias diversas.
Só percebemos o diverso pela identificação
de que não somos nós, em
sobreposição ao que somos.
jogo
arte
educação
experiências
mediação
artigo artigo
Janeiro/Fevereiro 2018 • Revista Inspire-c | 1110 | Revista Inspire-c • Janeiro/Fevereiro 2018
tempo cotidiana, com todas as
suas nuanças. Só percebemos o
diverso pela identificação de que
não somos nós, em sobreposição
ao que somos.
No campo da representação
simbólica, vale olhar para como o
contorno na pintura, uma das be-
las revoluções pictóricas de Cézan-
ne [clique aqui para ver as obras e
ler sobre o artista na Wikipedia],
traz um indício metafórico da ten-
tativa herdada do Romantismo
de compreender o mundo como
denominação, desenhar as bordas
do que pode se definir como indi-
víduo. Isto é isto, isto não é aquilo,
isto não sou eu. Do mesmo modo,
c a m i n h a n d o
pelas fronteiras que nos definem,
Antony Gormley apresenta, no iní-
cio dos anos 80, um conjunto de
três esculturas de chumbo cons-
truídas com base no molde de seu
próprio corpo, um vestígio ressig-
nificado em que as figuras, ocas,
concentram sua comunicação com
o exterior a partir apenas de di-
ferentes orifícios, destacados um
em cada uma delas. Three Ways:
Mould, Hole and Passage [clique
aqui para ver a foto e a descrição
da obra no site da Tate Britain - em
inglês] também traça seu território
de reflexão sobre as remotas pos-
sibilidades de troca entre o mun-
do interior e o mundo exterior de
cada unidade humana existencial,
tendo o corpo como metáfora do que é indivisível.
A palavra inspiração traz já na sua formulação etimo-
lógica a ideia de circulação invisível entre este território
mapeado do corpo e o mundo exterior. Apresenta-se in-
dissociável do processo de troca entre corpo e mundo,
associado com o ar que insufla os pulmões trazendo vida
ao corpo. Historicamente foi vinculado a um sopro trans-
cendente, que de modo místico internaliza aspirações
divinas no indivíduo, tornando-o um veículo de algo
maior, mais leve que o ar. Embora as construções so-
ciais e religiosas tenham se transformado, a ideia de
que encontrar inspiração é ser tomado por algo maior
que nós mesmos ainda está bastante presente. Por ou-
tro viés, se dizemos que alguém nos inspira, reconhecemos
que algo que tal pessoa exala, por suas palavras, pensamentos ou
Stella Ramos é licenciada, bacharel e mestre em Artes Plásticas pela Unicamp. Atua
desde 1999 com educação e pesquisa em diversos museus, centros culturais e ongs.
Trabalha com formação de educadores e com o desenvolvimento de materiais educa-
tivos para instituições culturais, especialmente na produção de conteúdo e texto. Tem
especial apreço por trabalhar com equipes e com o desenvolvimento de propostas
que conjuguem e expandam os campos do jogo e da arte, como estratégia para
transformação. Acredita na potência do afeto e da delicadeza. É Pós Graduada em
Educação Lúdica pelo ISE - Vera Cruz (SP). Além do jogo tem interesse por literatura e
cinema. É integrante do coletivo Zebra5.
realizações, nos preenche com um material diverso do que somos,
trazendo novas perspectivas e possibilidades.
Tenho estado envolvida há quase duas décadas com mediação cultu-
ral, uma prática de educação não formal que está baseada nas conexões
que se estabelecem entre arte ou cultura e processos artísticos; no seu
diálogo com públicos diversos e nas proposições artísticas e seus es-
paços de circulação pública. Dentro dessa prática, encontramos lugares
híbridos, delimitações móveis e territórios em constante movimentação.
Conjugar encontros, criação e escuta, ser capaz de compreender que as
paisagens mobilizadas no outro a partir da convergência com arte são
em sua maioria inacessíveis aos olhos alheios são parte dos desafios e
delícias que compõem nossa pesquisa. É bastante comum, nas conver-
sas que estabelecem nosso trabalho, que algumas pessoas tragam a
demarcação deste lugar da criação artística a partir de um momento ins-
pirado, algo que torne o artista maior do que ele mesmo ao realizar uma
obra. Do mesmo modo, é comum a expectativa de que o educador de
arte traga explicações e revelações definitivas, vindas de seu repertório e
pesquisa sobre determinado artista ou período histórico. É possível esta-
belecer, entretanto, que a ideia da inspiração, presente frequentemente
em conversas sobre o universo da arte, se conecta de modo orgânico
com as intermitências propostas por Huizinga, muito mais baseadas na
ideia de troca entre os dois ambientes sugeridos pelo traçado da frontei-
ra. A circulação entre dentro e fora é mais interessante do que o foco no
sopro, unilateral e unívoco. O acesso ao transcendente, dentro dessa prá-
tica, tem uma via rica que trata da construção coletiva. Quando estamos
todos dentro de um mesmo território de jogo, os repertórios, experiên-
cias, reflexões e dúvidas presentes em cada um passam a habitar este
novo lugar construído dentro de fronteiras de tempo e espaço definidos,
aéreos, circulantes: respiramos o mesmo ar, preenchido de expirações
e ideias diversas. Tratar de inspiração é habitar esta área em constante
transformação, mas que só existe como tal enquanto os corpos ali pre-
sentes podem dispor de suas aspirações em conjunto.
A palavra inspiração traz já
na sua formulação etimológica a
ideia de circulação invisível entre este território mapeado
do corpo e o mundo exterior.
artigo artigo
Janeiro/Fevereiro 2018 • Revista Inspire-c | 1312 | Revista Inspire-c • Janeiro/Fevereiro 2018
Entrevistamos o Vice-Presidente da FMC América Latina, Ronaldo Pereira, que conta como a empresa lida com a inspiração e quais são algumas das ações que tornaram a FMC a quinta maior empresa mundial do setor agroquímico.
Foto
:Div
ulga
ção
A diferença entre criar e inspirar é, segundo definições
do dicionário Houaiss:
“Criar: fazer existir, dar origem, a partir do nada”. As-
sim, criação é um ato, um processo ou efeito de criar algo.
“Inspirar: introduzir ar nos pulmões; exercer ou sofrer in-
fluência animadora; entusiasmar-se”. Então, pergunto:
como é o processo de criação e inspiração no desenvolvi-
mento de novos produtos da FMC?
Nossa inspiração é o campo. O negócio agrícola é amplo e se
apoia em uma missão nobre por si só: produção de alimentos,
f ibras e energia sustentáveis. Ser um elo dessa cadeia e, por-
tanto, dessa missão, equivale a ser constantemente desafiado
a concil iar formas de aumentar a produção sem causar dese -
quilíbrios. Dessa missão vem nossa inspiração para criar novos
produtos: sabemos que o agricultor precisa produzir mais, na
mesma área plantada, controlando ao máximo os danos causa-
dos por pragas e doenças, contudo util izando tecnologias que
sejam cada vez menos agressivas ao ambiente, aos aplicadores
e aos consumidores. Enfrentar esse desafio é uma tremenda
fonte de inspiração que orienta e movimenta todo o nosso pro-
cesso de inovação.
No mundo atual, com todas as dificuldades econômicas,
sociais e ambientais, você acredita que existam matérias-
-primas (no sentido de entusiasmo) para inspiração?
Não tenho nenhuma dúvida disso. A maneira como vemos o
mundo é uma escolha, não um fato. Em outras palavras, podemos
ver o mundo atual como uma série crescente de dificuldades. Mas
também podemos pensar que, em vários aspectos, vivemos um
momento maravilhoso. Nunca tanta gente foi tirada do nível de
pobreza extrema, e a agricultura e o alimento barato têm muito a
ver com isso. A concentração excessiva de riqueza continua sendo
algo a ser combatido, mas a evolução da educação, o acesso ao
alimento e à informação e a conectividade têm nivelado as pes-
soas, ao menos nos aspectos mais básicos. O progresso tecnológi-
co tem sido mais rápido do que podemos acompanhar, ao mesmo
tempo que os desafios também crescem de maneira exponencial.
Veja o caso da agricultura: enquanto as demandas por qualida-
Inspirar para crescer
entrevista entrevista
Janeiro/Fevereiro 2018 • Revista Inspire-c | 1514 | Revista Inspire-c • Janeiro/Fevereiro 2018
de, quantidade e sustentabilidade na produção agrícola cres-
cem a todo momento, também as tecnologias
não param de trazer novas ferramentas,
incluindo sementes modificadas, pro-
dutos biológicos para controle de pra-
gas e doenças, novas plataformas de
produtos químicos menos agressivos,
máquinas inovadoras de alto rendimento
e, mais recentemente, toda uma onda de
tecnologias e produtos relacionados com o
ambiente digital, causando um novo salto na
gestão das propriedades rurais. Essa dinâmi-
ca toda é altamente inspiradora e sempre há
aqueles que se propõem a abraçar esses tempos
e esses desafios.
A inovação é um dos valores da FMC e ino-
var é tornar novo, ou seja, renovar algo que
já existe. Então, entendo que antes de ino-
var é preciso que haja primeiro uma inspiração (no sen-
tido de influência animadora), depois uma criação e por
último a inovação. Você concorda? Poderia dar um exem-
plo em que a inspiração, a criação e a inovação acontece-
ram ou acontecem na FMC?
Concordo. As inovações são essenciais para que possamos evo-
luir e é um princípio básico de todo negócio. Buscamos a inspi-
ração em todos os níveis da corporação e sempre com a ótica no
que é foco para o nosso cliente. Em todo processo de inovação o
cliente deve estar no centro da discussão para que ele perceba o
valor de tudo o que estamos fazendo. Inovar é mandatório desde
o processo mais complexo, como da criação de uma nova molé-
cula ou formulação, ao mais simples, como em ajustes de siste-
mas e formas de atendimento. São inúmeros exem-
plos que desenvolvemos e continuaremos a
buscar ao longo da nossa vida. Temos
diversos casos para compartilhar —
vou me ater ao mercado de algodão,
um cultivo que tem uma longa história
com a FMC, e em relação ao qual nossa
estratégia sempre foi evidentemente ins-
pirada em nosso cliente: o cotonicultor.
Há 18 anos, num evento da FMC e com
um trabalho de apoio na estruturação,
nasceu a Abrapa (Associação Brasileira
dos Produtores de Algodão). A necessi-
dade naquele momento era unir o setor
para construir bases fortes e diálogo de
evolução conjunta. Há alguns anos, a produ-
tividade do algodão estava num crescente acele-
rado e chegou o momento de buscar mercados inter-
nacionais. Realizamos, então, o evento Brazilian Cotton
Lint, que trouxe os 20 maiores compradores de fibra
do algodão para o Brasil. Fomos, com essa comitiva, a
diversas fazendas para que esse intercâmbio não apenas criasse
uma relação comercial, mas que eles pudessem indicar os cami-
nhos de melhoria dos processos das fazendas que fortalecessem
nossos clientes e assim montassem um modelo sustentável de
exportação do algodão brasileiro. Passados alguns anos, vemos as
exportações crescendo com base em certificações como Better Co-
tton Iniciative, e nossos clientes nos olham e agradecem até hoje
por termos estado ao seu lado e percebido do que eles realmente
precisavam. Atualmente, o foco dos cotonicultores está voltado
à valorização do algodão no mercado nacional, unindo todos os
elos participantes da cadeia produtiva da fibra, desde o produtor,
passando pela fiação, tecelagem, malharia, confecção e varejo,
chegando ao consumidor. E a FMC novamente está lá apoiando,
participando ativamente do comitê estratégico do movimento
Sou de Algodão (www.soudealgodao.com.br), cuja ideia central
é ressaltar os atributos positivos de valor e sustentabilidade desta
matéria-prima entre os que produzem e consomem moda. Acre-
ditamos muito que semeando e cultivando, construiremos uma
história de vida única e importante para os nossos clientes e toda
a sociedade nacional.
O escritor nor te-americano Mark Twain (1835-1910)
dizia que a inspiração é fruto de um relâmpago e
que uma boa ideia é uma lâmpada acesa. Você con-
corda com essa ideia de inspiração como um momento
repentino?
Nunca pensei nisso sob esta luz e não sei se me qualifico
para discutir este assunto... Talvez a inspiração seja realmente
um momento repentino, mas há uma alimentação prévia que se
dá dia a dia, na obser vação da realidade e no mapeamento dos
problemas. Explicando: penso que são a vivência e o conheci-
mento do nosso setor que nos tornam aptos a ter um flash, um
instante de inspiração que resulte na criação de algo de valor
prático. Para resolver um problema é preciso conhecê-lo com
cer ta profundidade. Por isso, a proximidade com o cliente e o
conhecimento profundo de vários aspectos de sua atividade
são valores impor tantes para nós. É a vivência desses valores
que nos possibilita e nos habilita a continuar criando soluções
inovadoras que permitam a agricultores do mundo todo seguir
adiante na tarefa de alimentar o mundo com quantidade e qua-
lidade em todos os aspectos.
Em todo processo de inovação o
cliente deve estar no centro da
discussão para que ele perceba o valor
de tudo o que estamos fazendo.
entrevista entrevista
Janeiro/Fevereiro 2018 • Revista Inspire-c | 1716 | Revista Inspire-c • Janeiro/Fevereiro 2018
Voz e Inspiração: Daúde
Fotos: Divulgação e Pantera Filmes
O escritor norte-americano Mark Twain (1835-1910) dizia que a
inspiração é como se fosse um relâmpago e que uma boa ideia é
como se fosse uma lâmpada acesa. Você sente isso no seu traba-
lho? Quais são os relâmpagos e lâmpadas acesas em todos esses
anos como cantora?
Acredito que a inspiração caminha lado a lado com a
intuição e tem como complemento o inconsciente coleti-
vo. Várias vezes pensei em projetos que foram realizados
por outras pessoas, e isso nunca significou perda de reali-
zação, mas sim que eu estava no caminho certo. A inspira-
ção pode chegar, mas o trabalho focado para torná-la real
é a chave de tudo, e para mim a lâmpada ou o relâmpago
aparecem quando a inspiração se materializa.
Inspiração é uma palavra que remete à entrada de ar nos pul-
mões e também à capacidade criativa. Considerando essas duas
acepções, como ela está presente no seu trabalho?
A inspiração não está todo tempo em mim. Por vezes
me alimento do trabalho de outros artistas, admirando sua
força, coragem, beleza e assertividade. O outro também
será sempre uma fonte de inspiração para o meu caminho.
O Espaço Ética realizou em 24 de novembro de 2017, em São Paulo/SP, o 1º Encontro sobre Ética, cujo tema foi Ética nos Negócios.
Renomados palestrantes, executivos e acadêmicos deram vida à programação, e para abrilhantar e descontrair o evento, a cantora Daúde marcou presença com sua sonoridade ritmada e dançante.
Com 25 anos de carreira e muito sucesso, ela respondeu a três perguntas sobre inspiração, que você confere abaixo.
Vivemos um momento atual bem complicado. Você tem encontrado
inspiração para o seu trabalho? Como é esse processo?
Sim, por meio da constatação de que estamos todos no mesmo
barco, e o espírito de tribo é importante nesses momentos. Tenho en-
contrado muito meus colegas para discutir, questionar e criar... Tudo
isso nos fortalece!
... pong
Janeiro/Fevereiro 2018 • Revista Inspire-c | 19
ping...
18 | Revista Inspire-c • Janeiro/Fevereiro 2018
Recantos para
inspiraçãoMainá Santana
ESPAÇO MULTIARTÍSTICO CAPITAL 35
Capital 35 é um espaço bastan-
te múltiplo. A casa, situada em
Perdizes, tem uma diversidade de
ambientes que contempla a gama
de ações artístico-culturais propostas pelos re-
sidentes e convidados. De espaço de coworking
artístico à Airbnb, a Capital 35 existe desde 2012
e é sede da Jorge Garcia Companhia de Dança,
dirigida pelo coreógrafo Jorge Garcia, e do Prego
Batido, escola de música e estúdio do percussio-
nista Eder “O” Rocha. Além das atividades realiza-
das por esses dois núcleos independentes, a casa
recebe regularmente outros colaboradores nacionais e internacio-
nais que ministram oficinas, workshops, realizam apresentações e
exposições temporárias.
Programas de formação em artes, exibições de vídeo, exposições tem-
porárias, programas de residência artística, bazares, festas e, às sextas e
sábados, espetáculos de dança, teatro, música e performance. O coletivo
Instituições são feitas por pessoas. Seus defeitos, qualidades, inseguranças, conceitos, preconceitos, aspirações, desejos, inspirações. Começando 2018 com o pé direito, a seção Culture-C vem dialogar com você, leitor, buscando trazer lugares novos e multiplicar experiências — as nossas e as suas.São Paulo é uma imensidão. Ao prezar pela nossa rotina, muito da cidade nos escapa e locais, espetáculos, livros, conversas e filmes escondidos podem trazer experiências novas e diferentes com o mundo. Aqui, neste Recanto, compartilharei com vocês um pouco daquilo que encontro pela cidade.Nesta edição, selecionei dois espaços multiartísticos, a Capital 35 e o Kasulo Espaço de Cultura e Arte.
A
Foto
: May
ra A
zzi
Culture-C
Janeiro/Fevereiro 2018 • Revista Inspire-c | 21
Culture-C
20 | Revista Inspire-c • Janeiro/Fevereiro 2018
de artistas que gere a casa desenvolve uma série de ações públicas com
pensamentos ressonantes na economia criativa e na gestão colaborativa
de espaços autogeridos. E o lugar é agradável, aconchegante e intimista.
Para a equipe, a Capital 35 é um local de confluência de ideias e
desejos em relação à arte contemporânea. Um espaço afetivo que
abriga artistas com trajetórias diversas, uma profusão de pessoas que
compartilham o entendimento de que é na lida cotidiana, na prática
ao longo do tempo e nas trocas com o trabalho dos outros que novos
modos de produzir arte, fruir experiências e viver podem surgir. Ou
seja, um novo contexto de produção em arte contemporânea.
Além de atividades públicas com curadoria dos artistas residentes
da Capital 35, a casa possui um espaço cênico, salas de trabalho, espa-
ços de convivência internos e ao ar livre e uma cozinha compartilhada
que podem ser alugados, sendo alguns desses espaços acessíveis ape-
nas por escada. A casa ainda oferece Wi-Fi livre e cardápio com sopas,
petiscos, cervejas e vinhos nos dias de espetáculo.
SERVIÇO
Rua Capital Federal n° 35 – Perdizes, São Paulo. Próximo ao metrô
Sumaré e Av. Professor Alfonso Bovero.
Horário de funcionamento | De segunda a sexta, das 15h às 19h
E-mail | [email protected]
Telefone | (11) 3467-3524
facebook.com/capitalc35/
Aceita dinheiro e cartão de débito | $
KASULO ESPAÇO DE CULTURA E ARTE
Kasulo Espaço de Cultura e Arte é um interessante espa-
ço cênico situado na Barra Funda. Foi fundado em 2008
pelo coreógrafo Sandro Borelli inicialmente para ser a
sede de duas companhias, a Cia Carne Agonizante (da
qual é diretor e coreógrafo) e a Cia Fragmento de Dança. Ao longo
dos anos, o Kasulo passou a abrigar e desenvolver atividades artísticas
permanentes, como oficinas de dança clássica e contemporânea, ofi-
cinas de teatro e iluminação cênica, preparação corporal para atores,
discussões de políticas culturais, rodas de conversa com escolas públi-
cas e espetáculos de diversos grupos culturais da cidade.
Um bonito projeto realizado no Kasulo é a Terça Aberta. Uma ter-
ça-feira por mês a Cia Fragmento de Dança, dirigida por Vanessa
Macedo, abre as portas do local para novos e renomados criadores
apresentarem seus espetáculos em processo, sempre com uma roda
de conversa para ouvir a devolutiva do público.
O espaço é administrado pelos diretores das companhias e conta
com a colaboração dos artistas residentes para a produção e organi-
zação de suas atividades. Segundo Vanessa, o Kasulo atua como um
espaço de resistência diante da situação político-econômica enfren-
tada pela cultura na cidade, tendo seu sentido orientado à criação,
difusão e formação em dança, dialogando com diversos artistas e
suas produções.
A sala cênica fica no segundo andar e o acesso é feito apenas
por escadas. Apesar disso, o público encontra assentos agradáveis,
todos com boa visibilidade, e uma sala de espera, em geral, com
quitutes preparados pelos artistas.
SERVIÇO
Rua Souza Lima, 300 – Barra Funda, São Paulo. Próximo ao metrô
Marechal Deodoro, conta com estacionamento próximo.
Horário de funcionamento| segunda a sexta, das 9h às 22h. Aos fins
de semana, consultar programação
E-mail | [email protected]
Telefones| (11) 3666-7238 e (11) 96667-1312
facebook.com/Kasulo-Espaço-de-Cultura-e-Arte-267827213292082
Aceita apenas dinheiro | $
Aconteceu:
conteceu nos dias 16 e 17/12 no Centro Cultural Banco
do Brasil a Mostra de Primeiros Filmes na programação
Férias Para Todos. A proposta foi falar sobre as represen-
tações do corpo e reuniu curtas-metragens de jovens
artistas extremamente talentosos, alguns premiados e outros com in-
dicações a prêmios pelos seus trabalhos. Pude assistir e participar da
roda de conversa com os diretores e com o curador da Mostra, André
Fratti Costa, no primeiro dia do evento. Além da linha temática pro-
posta, o mediador Reinaldo Cardenuto agregou outras convergências,
como a relação entre espaço privado e espaço público e como os es-
paços modificam a nossa experiência com o mundo. No segundo dia
de Mostra, a mediação contou com a presença de Marta Nehring. Nem
todos os curtas estão disponíveis on-line porque ainda circulam em
festivais nacionais e internacionais, mas a lista é maravilhosa e vale a
pena ficar de olho!
O A
Foto
: May
ra A
zzi
Foto
: Dan
iela
Nor
onha
Foto
: Ale
x M
erin
o
Foto
: Ana
Cris
Med
ina
Culture-C Culture-C
Janeiro/Fevereiro 2018 • Revista Inspire-c | 2322 | Revista Inspire-c • Janeiro/Fevereiro 2018
Ainda não, 21’, dir. Julia Leite
Sinopse: Nos dias que precedem seu aniversário, Marina recebe a vi-
sita de sua mãe.
Diva, 17’57’’, dir. Clara Bastos [https://vimeo.com/167755722] - trailer
Sinopse: Camila se aproxima das drag queens que habitam a pen-
são de Bella.
Enquanto calam-me os agudos, 18’24’’, dir. Laís Perini, Laysa Elias
e Letícia Bina
Sinopse: Por meio da colagem de imagens captadas na cidade de São
Paulo, junto a relatos de mulheres contemporâneas e de outrora sobre
como é habitar e resistir no meio urbano, Enquanto calam-me os agudos
apresenta uma constelação de vozes que ecoam o espírito de luta da
mulher que perfura o tempo.
O chá do general, 22’, dir. Bob Yang [https://vimeo.com/230065422]
– trailer
Sinopse: Huang, um general aposentado chinês, mora sozinho no
centro da cidade. Tradicional e conservador, quase não sai de casa. Um
dia, recebe a inesperada visita de seu neto.
Ouroboros, 17’, dir. Beatriz Pessoa e Guilherme Andrade [https://vi-
meo.com/226241138] – trailer
Sinopse: Um pai se torna selvagem em busca de vingança, mas des-
conhece que, em seu próprio habitat, ele também é um animal.
Sam, 8’29’’, dir. Miguel Moura [https://vimeo.com/229632109] - trailer
Sinopse: Julia quer implodir.
Seria melhor se você tivesse morrido, 19’52’’, dir. Clara Ferrer e
Marcella de Finis [https://vimeo.com/224860761] – trailer
Sinopse: Em meio aos dourados dias da adolescência, Ciça e Beca se
desconstroem, perdem suas bases, desabam. Quando se levantam no-
vamente, não são mais quem costumavam ser. De certa forma, é como
se aquelas meninas do passado tivessem morrido.
Translúcidos, 14’20’’, dir. Coletivo Gleba do Pêssego [https://vimeo.
com/216108296]
Sinopse: Translúcidos narra a vida de pacientes presos em uma clínica de
tratamento de disforia de gênero. Ali, transgêneros vivem à base de medi-
camentos e técnicas de aversão, fazendo um claro comentário sobre a pre-
sença de transgeneridade na Classificação Internacional de Doenças (CID).
A programação do Férias Para Todos, com a curadoria do coletivo ZE-
BRA5 – Jogo e Arte, contou com diversas outras atividades, todas gratuitas
e para todas as idades, como oficinas, espetáculos de música, cinema e
performances.
alforriaé palavra, som, sentidotocando meu eu sustenidoinsiste me fazer escreverdançar pelo rir e sofrer
artista, em tanto que sobrada crise à última obra,o que sou entreato e agora
e dói sentir muito assimfogo longínquo ardendo em mimimprimo a mordida no peitomantenho o quedar do fardo rarefeito
forma de vida sem fôrmaou lugar onde aperte e transbordemeu corpo transparece a desforra
que o sapato do calo é a artea mesma que a alma retomaafirmação do que falo e reflitoinfinitude instável na qual acredito
Gosta de escrever poesia? E de dançar, atuar, pintar? A partir das próximas edições, esta seção será exclusiva para textos dos nossos leitores! Envie material com o seu nome (ou pseudônimo, fique à vontade!) para que a gente publique e compartilhe na revista e em nossas mídias sociais. Todos têm arte fluindo nas veias, que tal mostrá-la para o mundo? Estamos a um clique de distância :) [email protected] te encorajar, eu começo:
Culture-C
24 | Revista Inspire-c • Janeiro/Fevereiro 2018
Arte em vo-C
Janeiro/Fevereiro 2018 • Revista Inspire-c | 25
Atitudes equilibradas de pessimismo e otimismo são condições necessárias para atingimento das metas existentes no mercado. Porém, atitudes pessimistas parecem trazer mais resultados que atitudes otimistas.
economia de
pessimismoconfiança
Uma dose salutar de pessimismo
Andrei Venturini Martins
princípio mais importante em uma economia de
mercado é a confiança. A concessão de crédito de-
pende da estabilidade desse princípio: só há crédito
se o credor acredita que o
devedor tem responsabilidade finan-
ceira para saldar seu compromisso. Se
de um lado o devedor desfrutará de um
bem no presente com a promessa de
pagá-lo no futuro, de outro aquele que
custeia o crédito acredita que o tomador
irá produzir o bastante para saldar sua
dívida. Mas se formos prudentes nos
negócios a ponto de não nos esquecer
de que sem o homem não há economia
– e assim levarmos em consideração as
inúmeras contingências às quais o ho-
mem está sujeito, certamente os valores
morais que sustentam o mercado moderno – confiança e respon-
sabilidade – poderão dissolver-se no ar. Vejamos.
O homem é inconstante e inquieto, de modo que uma palavra
dada não é um testamento imutável. São inúmeras as fraquezas,
tentações, paixões, dissabores, reviravoltas e tendências imorais
que habitam o frágil coração humano,
levando-o, talvez, à irresponsabilida-
de perante seus compromissos. É certo
que a estrutura legislativa busca ofe-
recer algum amparo para que o crédi-
to confiado a um indivíduo, ou mesmo
a uma grande empresa, seja de algum
modo saldado; todavia, as leis que pa-
recem resguardar o credor são incapa-
zes de neutralizar todas as intempéries
a que o homem está sujeito – falência,
doenças, morte – as quais, por sua vez,
colocariam a certeza de pagamento em
xeque. É por este motivo que um pro-
fissional atento às tragédias que inviabilizariam um dado projeto
assume uma postura típica do pessimismo cuidadoso, que pode
mercado
O pessimismo é um modo de pensar permeado
pela prudência
O
... ponto
Janeiro/Fevereiro 2018 • Revista Inspire-c | 27
contra...
26 | Revista Inspire-c • Janeiro/Fevereiro 2018
ser um ingrediente importante para uma
reflexão econômica que pretende integrar
em seus gráficos e números as misérias da
condição humana.
O pessimismo é um modo de pensar
permeado pela prudência, interessado em
detectar os l imites dos empreendimentos
antes mesmo de projetar estratégias para
vencer os obstáculos. Ele desconfia das
esperanças utópicas que não consideram
os possíveis erros que obliterariam o ca-
minho previa-
mente traçado, zela pelos valores
da tradição que nor tearam a ação
do homem até o presente, e ao to-
mar uma decisão que lhe outorga-
ria alguma vantagem, não se es-
quece de entrever os revesses: um
pessimista não deixa de considerar
o pior dos cenários. Em sua obra
As vantagens do pessimismo (Edi-
tora É Realizações), Roger Scru-
ton nega-se a conceder o título
de pessimista àquele que procura
agir dessa maneira, considerando-
-o um otimista cuidadoso, pois é
“alguém que mede a extensão de
um problema e consulta o estoque existente de conhecimento
e autoridade a fim de resolvê-lo”. Conhecimento das soluções
já testadas e auxíl io das autoridades que a tradição consagrou
são fundamentais para ponderar as futuras decisões. A exis-
tência está sujeita a inúmeros solavancos, de modo que
nenhuma abstração econômica ou legislativa é capaz
de prever todos os incidentes que nos espreitam – a
vida pulsa a ponto de sair do nosso controle. De al-
gum modo, f icamos à mercê do caos.
Isso significa que tanto nos negócios quanto na exis-
tência, há limitações que podemos reconhecer, mas a
imper fectibilidade humana não nos permite desvendar
tudo. Se é verdade que “a sabedoria raramente está em
uma única cabeça”, então a situação fica ainda mais
crítica quando não se tem uma equipe de pensadores
capazes de prever as possíveis reviravoltas de um
cer to empreendimento. Diante disso, caberia
aos líderes compor grupos de trabalho
que estejam permeados pelas men-
talidades mais variadas, pois só
assim serão avaliados
os pontos e contrapontos, consideradas as teses e as antíteses,
para que, enfim, a decisão verdadeiramente refletida seja to-
mada, promovendo uma ação mais prudente pelo embate das
divergentes cabeças pensantes.
Em um trabalho de equipe, o otimista poderá imprudente-
mente proporcionar riscos. Por um lado, sabe-se que os ris-
cos podem trazer em grande escala os benefícios previamente
postulados, mas, por outro, podem colocar tudo a perder. Uma
equipe composta só de otimistas é um tiro no escuro. Já o pes-
simista, radicalizando sua visão de mundo, cria um ambiente de
extrema prudência que amplifica o confor to das decisões ao di-
minuir os riscos. Porém, uma equipe só de pessimistas torna-se
cega quanto à possibilidade de alavancar números, deixando
muitas vezes dinheiro na mesa. Percebe-se, pois, que tanto o
De algum modo,
ficamos à mercê do
caos.
posicionamento demasiado otimista quanto o pessimista têm
seus pontos de estrangulamento. Buscando uma medida mais
equilibrada, vejo no funcionário que consegue mesclar em si
o otimismo do progresso e o pessimismo da prudência maior
completude, otimizando os lucros quando possível e galgando
voos mais modestos quando necessário.
Otimismo e pessimismo são temperamentos que não se
aprendem nos bancos escolares ou universitários. As experiên-
cias da vida modelam o caráter de cada indivíduo, influencian-
do de algum modo suas ações. Caberá ao gestor detectar as
características de cada funcionário e compor grupos de trabalho
cujas diferenças são fatores relevantes para o sucesso.
Curiosamente, o profissional pessimista está em falta no
mercado. O otimismo irresponsável venceu.
Andrei Venturini Martins é doutor e docente em Filosofia. É autor das obras A verdade é Insuportável e Do reino nefasto do amor-próprio. Realizou o comentário e tradução da
obra Discurso da reforma do homem interior, de Cornelius Jansenius.
contra... ... ponto
Janeiro/Fevereiro 2018 • Revista Inspire-c | 2928 | Revista Inspire-c • Janeiro/Fevereiro 2018
Confira outros vídeos desta edição acessando o nosso
site:
www.revistainspirec.com.br/videos
Rua Maranhão, 620 – Cj.141 – HigienópolisSão Paulo, SPCEP: 01240-000Telefone: (11) 3661-7532
[email protected] Maranhão, 620 – Cj.141 – HigienópolisSão Paulo, SP – CEP: 01240-000Telefone: (11) 3661-7532
Realização: