INTEGRAÇÃO ENTRE EDUCAÇÃO E TRABALHO: UMA REFLEXÃO SOBRE A PRÁTICA DOCENTE NOS CURSOS DE ENSINO MÉDIO INTEGRADO A
EDUCAÇÃO PROFISSIONAL
Francisca do Carmo Barbosa da Silveira Venzel1
Resumo: O artigo trata da integração entre educação e trabalho a partir de
uma reflexão sobre a prática docente nos cursos de ensino médio integrado a
educação profissional. Consideramos o trabalho como a mola propulsora que move
o homem para o alcance da vida plena. Assim, é através dele que se propicia o
sustento material e se constrói a própria história. Todavia, este mesmo trabalho
serve também como um instrumento para exploração e expropriação dos
trabalhadores. Por isso, o objetivo é subsidiar o início de uma reflexão de como os
professores se encontram inseridos no processo de planejamento dos
conhecimentos que envolvem o mundo do trabalho e suas relações sociais. Durante
esta pesquisa, convivemos diretamente com os professores que atuam neste
segmento, o que nos possibilitou realizar alguns encontros coletivos e individuais
para conhecer como os professores entendem o trabalho como principio pedagógico
e suas conseqüências para o mundo do trabalho. Com o intuito de localizar tal
princípio, também analisamos os planos de ensino apresentados pelos professores
à coordenação do curso durante o ano de 2008. Após este período de pesquisa,
concluímos que os professores, em sua grande maioria, não perceberam a
importância do trabalho como principio educativo para a formação do aluno e a sua
inserção no mundo do trabalho. Assim, para a consolidação desta proposta será
necessário ainda muito estudo e formação que possa subsidiar o professor em suas
práticas pedagógicas a fim de que a compreenda como sendo uma preocupação
coletiva e cotidiana de seu trabalho pedagógico.
Palavras-chave: Educação e Trabalho. Educação Profissional. Ação docente.
Summary: The article is about the interaction between education and work
commandeering a reflection about the teacher’s practical at high school courses 1 Professora PDE sob a orientação do Prof. Dr. João Jorge Correa da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Centro de Educação e Letras, Campus de Foz do Iguaçu.
integrated to the professional education. We consider the work like a propelling
spring that moves men to reach full life, so, it is through work that the material
support is provided our own history is built. However, this same work also serves as
an instrument for exploration and expropriation of the workers. The objective here is
to analyse and to subsidize the beginning of a reflection on how teachers are
inserted in the processes of planning the knowledge that involves the world of the
work and its social relations. During this research we co-lived straightly with the
teachers who act in this segment. This experience made possible for us to carry out
some collective and individual meetings to know how the teachers understand the
work as a pedagogical principle and its consequences for the world of the work. With
the intention of locating the work as a pedagogical principle, we also analysed
teaching plans presented by the teachers to the co-ordination of the course during
the year 2008. After this inquiry period we concluded that great majority of teachers
did not realize the importance of the work as an educative principle for the formation
of the students and their insertion in the world of the work. So, for the consolidation of
this proposal it will be still necessary great study and formation that can subsidize the
teachers in their pedagogical practice so that they understand it as being a collective
and daily preoccupation of their pedagogical work.
Key-words: Education and work. Professional education. Teacher’s action.
INTRODUÇÃO
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Este texto busca analisar a proposta curricular do Curso Técnico em
Administração Integrado ao ensino Médio para compreender como esta vem se
consolidando durante o processo de retomada da Educação Profissional em um
Colégio Público do Estado do Paraná, a partir da implantação do Decreto número
5154/2004.
Diante desta preocupação, o objeto de estudo foi a formação profissional em
nível médio e o questionamento que permeia a pesquisa pode ser posto nos
seguintes termos: Os professores que atuam no Ensino Médio integrado à Educação
Profissional estão conseguindo desenvolver, durante suas aulas, uma educação que
prima pela formação politécnica que supera a relação entre ensino, formação e
mercado de trabalho? Como a educação está contribuindo para mudar este quadro?
Ela está servindo para realização da vida plena ou para ampliar as formas de
exploração e desvalorização do homem?!
Assim sendo, este artigo tem o objetivo de possibilitar a reflexão de como
estamos integrando a Educação e a formação para o mundo do trabalho, bem como
analisar nossa prática na relação escola e trabalho humano.
Temos também como finalidade, analisar as dificuldades encontradas pelos
professores que atuam no Ensino Médio integrado à Educação Profissional,
visando cumprir a realização da última etapa que compõe o PDE – Programa de
Desenvolvimento Educacional na qual estou inserida.
Neste sentido, o principal objetivo é analisar a dicotomia entre o plano
curricular do Curso de Ensino Médio Integrado a Educação Profissional – Técnico
em Administração, organizado pelos professores durante os encontros de
capacitação para a implantação do Ensino Médio integrado à Educação Profissional,
e analisar o plano curricular do Curso de Ensino Médio Integrado a Educação
Profissional – Técnico em Administração em um Colégio Estadual, no município de
Toledo.
O elemento integrador nas discussões e estudos junto aos colegas da rede
estadual de ensino paranaense pautou-se sobre uma formação que tenha como
perspectiva a formação educacional politécnica. Para tanto, serão oportunizadas aos
docentes em nível médio integrado a educação profissional – Técnico em
Administração, leituras pertinentes e selecionadas dos estudos ofertados durante o
PDE.
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Este artigo foi desenvolvido em duas partes: uma que apresenta o trabalho
como princípio pedagógico fundamentado nos escritos de Marx e Engels que
analisam a Educação, Formação e Trabalho.
Textos estes que permitiram que pudéssemos compreender com mais
propriedade e eficiência porque Demerval Saviani, Gaudêncio Frigoto, Acácia
Kuenzer, Paollo Nosella, Miguel Arroyo e o próprio grupo de professores do DET-
Departamento de Educação e Trabalho da Secretaria Estadual de Educação do
Estado do Paraná escreve com tanto domínio e nos deixa tão incomodados ou
preocupados com a forma que a escola está desenvolvendo o trabalho como
princípio pedagógico. A outra parte relata como os professores estão desenvolvendo
suas práticas pedagógicas voltadas para o trabalho como princípio pedagógico na
escola.
É importante ressaltar que uma escola que tem a compreensão do trabalho
como princípio pedagógico e concebe o trabalho nesta perspectiva teórica que
veremos mais a frente, está dando o primeiro passo para se tornar uma escola
unitária, ou seja, uma escola que compreende que todos devem ter acesso aos
conhecimentos histórico-culturais/sociais/científicos/tecnológicos, e que estes
conhecimentos levem os estudantes a sua emancipação sócio-econômica.
Estudantes estes que passam a escolher a sua profissão pelo prazer e conseguir
que este trabalho traga para a sociedade uma vida mais digna para os que dele se
apropriarem e não somente pelo resultado financeiro ou pelas condições sociais que
ele se encontra, ou seja, que se criem mecanismos para que o pobre e o rico
possam ter acesso a todas as profissões sem esta divisão de trabalho que agora
está estabelecida, que o pobre só tem acesso a profissões que não são ocupadas
pelas classes sociais mais abastadas.
1. REFLEXÕES SOBRE O TRABALHO COMO PRINCIPIO EDUCATIVO
1.1 – Educação do trabalho e o trabalho da educação
Pensar o trabalho como princípio educativo nos leva a refletir primeiramente
na nossa condição de trabalhador da educação, pois nesta perspectiva de trabalho
como instrumento ou meio de realização social e pessoal na qual estamos
pesquisando, discorrendo, sonhando bem como a realidade que estamos inseridos
nos trazem algumas incongruências, as quais entenderemos mais adiante.
Para Franco (1998, p.9), os educadores têm ficado perplexos com a questão
da preparação para o trabalho. E não é à toa. O trabalho é dimensão fundamental
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da vida humana e se faz presente em todas as ações e atividades do homem. Como
então trazer o trabalho para a escola se este sempre esteve e estará presente na
atividade escolar? O que se quer, afinal, com a preparação para o trabalho?”
De fato, a escola e os educadores têm se preocupado com o trabalho nos
discursos e documentos oficiais. De um lado, o trabalho tem uma importância
fundamental na existência humana, ou seja, o homem não existe sem trabalho. De
outro lado, aumentar as críticas e discussões às políticas educacionais pela maneira
abstrata e discreta com que têm tratado o trabalho nos seus significados e
conseqüências na vida do trabalhador e na vida em sociedade.
Se não existe sociedade sem homem e homem sem trabalho é porque o
trabalho se constitui parte inseparável da existência humana. É pelo trabalho que os
homens estabeleceram suas relações sociais e produzem tanto as condições
materiais quanto as condições expeditivas de sua existência.
O trabalho é base e mediação entre o homem e a natureza, na qual ele
transforma o mundo que o rodeia, tornando-o mais humano. É pelo trabalho que o
homem adapta-se à natureza, transformando-a e constrói o espaço ou vive sempre
em processo de transformação sem parar, conforme assevera Savianni (2003).
Nesta busca constante de transformação tanto nas condições materiais
como na maneira de pensar e agir, o trabalho dinamiza e liberta o homem. No
entanto, historicamente, o trabalho vem sendo utilizado como instrumento de
alienação. O homem, segundo Saviani, constrói objetos e conhecimentos, que
muitas vezes são utilizados para dominação do próprio homem que o construiu.
Assim, o trabalho deve ser entendido como parte inseparável da existência humana
e compreendido dialeticamente como libertação ou alienação do homem.
O trabalho é um mecanismo de alienação e o que caracteriza é a sua
fragmentação e mecanização das tarefas. No início, quando o trabalhador dominava
e controlava todo o processo de produção do material e produto, o homem era mais
realizado e liberto. Hoje, o trabalho qualificado foi reservado para poucos,
principalmente para os que dominam a ciência e a tecnologia e aos demais foi
reservada a desqualificação, pois estes não dominam a técnica e a ciência, não
conhecem todo o processo de produção e foi renegado a executar tarefas simples e
repetitivas. Neste tipo de organização, o trabalho foi automatizado, destruiu o
trabalho qualificado, o trabalho intelectual do operário, a iniciativa do trabalhador, a
liberdade de expressão que é controlada por um gerente que distribui as funções da
mais complexa para a mais simples.
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Ao trabalhador baniu-se seu prazer em alcançar o processo de produção em
conjunto e sua capacidade criadora do ato de trabalho, acabando com as
possibilidades de iniciativa, de reflexão, de decisão e de realização profissional. Isto
aconteceu porque agora ele não decide o que produzir, porque produzir, quando e
como produzir, porque os instrumentos e o produto não mais lhe pertencem, cabe a
ele simplesmente executar tarefas. (Ianni, Octavio. 2003)
Isto posto, perguntamos ao educador: O que significa a preparação para o
mundo do trabalho no Ensino Médio integrado a Educação Profissional? Será que
estamos preparando nossos jovens para compreender as relações que se dão no
mundo do trabalho, ou para as tarefas repetitivas que não possibilitam as
transformações homem-natureza? Por que na teoria se valoriza tanto o trabalho e na
prática ele está organizado desta forma que não traz satisfação para quem executa?
Certamente, se os educadores se preocuparem com estas questões,
poderemos melhorar o processo ensino-aprendizagem, possibilitando aos
educandos a compreensão de como se dão as relações entre o trabalhador e a
sociedade capitalista que vivemos.
1.2 – Situando o trabalho na escola
A questão preparação para o mundo do trabalho deve ser vista a partir do
conceito já apresentado no texto sobre o trabalho e não pode ser pensada destoada
dos problemas sociais enfrentados pelos cidadãos que fazem parte dela.
É preciso lembrar que todos que fazem parte da escola estão “em situação
de” trabalho, ou seja, ensinar é trabalhar, estudar é trabalhar, manter a ordem do
espaço físico é trabalhar, o trabalho se faz presente na escola.
Entendemos também que no seio da escola se reproduz a sociedade
vigente, ou seja, a escola ainda reforça a divisão fundamental entre o trabalhador
manual e o intelectual. E escola é a essência do trabalho intelectual, o processo de
transmissão e assimilação de conhecimentos é uma forma de trabalho, pois exige
esforço muscular-nervoso, dedicação, cansaço e disciplina. Neste sentido, os
professores trabalham e os pedagogos também, pois o planejamento dos
conteúdos, métodos e os objetivos do ensino são implementados por estes. E, por
fim, o maior trabalhador da escola, que é o aluno, que trabalha na escola quando
este se apropria dos conteúdos ensinados e, muitas vezes, também fora da escola,
quando eles continuam aprendendo.
Segundo Savianni em “Sobre a Natureza e Especificidade da Educação”
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O trabalho educativo é o ato de produzir, direta e intencionalmente, em
cada individuo singular, a humanidade que é produzida historicamente
pelo conjunto de homens. Assim, o objeto da educação diz respeito, de
um lado, à identificação dos elementos culturais que precisam ser
assimilados pelos indivíduos da espécie humana para que se tornem
humanos e, de outro lado e concomitantemente, à descoberta das formas
mais adequadas para atingir esse objetivo. (SAVIANI, 2003, p.1)
Ressaltamos que o momento em que o trabalho se consolida na escola é
quando a transmissão dos conhecimentos acumulados historicamente pelo homem
e a produção de um novo conhecimento se dá a partir destes saberes. Este é o
ápice do trabalho intelectual se realizando na escola.
Neste sentido, o currículo escolar é que motiva o trabalho humano na
escola, isto porque o conhecimento é produzido para dar respostas concretas aos
problemas enfrentados pelo homem no seu dia-a-dia. Isto só é possível porque o
homem construiu sua história ou conhecimentos acumulados a partir do próprio
trabalho humano e a partir da produção e do domínio do conhecimento que foi
possível não só a compreensão, mas a aceleração da transformação das suas
condições sociais de existência.
Isto posto, então, o principal desafio para a consolidação da proposta
curricular do Ensino Médio Integrado à Educação Profissional será a formação dos
alunos para compreensão do mundo do trabalho, o que deve ser pensado levando
em conta a realidade concreta das escolas públicas que ofertam o Ensino Médio
integrado à educação profissional e os desafios a serem enfrentados neste período
de transição que é a passagem de um currículo do Ensino Médio, desvinculado do
mundo do trabalho para um currículo que oferte a Educação Básica de qualidade.
Isso significa que se deve integrar os conhecimentos historicamente acumulados
pelas gerações anteriores acrescidos das inovações tecnológicas e da produção de
novos conhecimentos científicos. Somando-se a isto, a compreensão de como se dá
as relações no mundo do trabalho e suas influências no modo de viver homem e
semelhante, homem e natureza e homem e novos conhecimentos.
Fundamentada no resultado de um longo período de leitura, palestras,
observação, discussão e atuação nesta modalidade de ensino, enunciarei alguns
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desafios a serem enfrentados para a realização pedagógica do currículo de Ensino
médio integrado à Educação Profissional:
• Melhorar ou preparar os professores para um domínio sólido dos
conteúdos que transmitem, bem como o uso de metodologia ou didáticas
que facilitem a compreensão e assimilação dos conteúdos trabalhados
em cada disciplina;
Todavia, a escola e os professores sempre lutaram pela qualidade do ensino
e da aprendizagem, por isso, segundo Savianni,
“Trata-se aqui da produção de idéias, conceitos, valores, símbolos,
hábitos, atitudes, habilidades, numa palavra trata-se da produção do
saber, seja do saber sobre a natureza, seja sobre a cultura, isto é, o
conjunto da produção humana. Obviamente, a educação situa-se
nessa categoria do trabalho não material...” (SAVIANI. 2003, p. 02)
Para entender os conhecimentos histórico-sociais/sociais/culturais/
tecnológicos e as relações de forças que se dão no seio da sociedade, é preciso ter
muito investimento em capacitação nos profissionais de educação para que estes
conhecimentos sejam bem assimilados e assim possam realizar práticas
pedagógicas com muito mais propriedade obtendo um melhor aproveitamento
escolar com seus alunos.
• Possibilitar o acesso aos professores de literaturas que representem,
com uma linguagem acessível, como se dão as relações de forças no
mundo de trabalho e nesta sociedade que vivemos;
Segundo Savianni (2003, p.2) “A escola existe, pois, para propiciar a
aquisição dos conhecimentos que possibilitam o acesso ao saber elaborado
(ciência), bem como o próprio acesso aos rudimentos deste próprio saber...”
Ao observar os colegas em seus relatos das práticas pedagógicas,
percebemos que uma minoria leu ou está preocupada com o trabalho como princípio
pedagógico, e parte disso é culpa dos que trabalham na produção escrita deste
tema, É necessário, então, que se coloquem nas prateleiras das bibliotecas das
escolas mais literaturas que retratem esse tema e que esses livros estejam numa
linguagem para principiante. É preciso despertar o gosto e a necessidade por estes
conhecimentos e, depois,chega-se ao aprofundamento.
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• Formação continuada a todos os professores que atuam neste
segmento. Ao mesmo tempo temos que atingir o grupo todo e não um
pequeno grupo que acaba se dessorando no grupo maior e as mudanças
demoram a acontecer;
Quando falo em formação continuada, é continuada mesmo, ou seja,
planejada para um determinado tempo e espaço, mas que possibilite aos
professores um retorno a prática em sala de aula e o mesmo tenha a perspectiva
que em determinado momento ele voltará a se reunir com este grupo para discutir os
acertos e dificuldades encontrados na realização desta prática.
• Oportunizar encontros em que os professores possa trocar experiências
e que estas sejam analisadas por um grupo de professores com maior
formação ou experiências;
Talvez seja uma realidade do meu grupo de professores, já participamos de
capacitações em que estudávamos um texto somente com o grupo de colegas
professores sem que tivéssemos contato com o especialista que escreveu ou
pesquisou o assunto. Ou seja, as dúvidas que apareciam durante as discussões não
foram esclarecidas, pois todos estavam no mesmo nível de conhecimento. Não
houve avanços, porque muitas vezes não tínhamos acesso aos professores
pesquisadores que nos abririam os horizontes dos conhecimentos produzidos. Para
esclarecer melhor, estamos nos referindo aos tais “grupos de estudos” que
engrossam os números de cursos ofertados para os professores da Rede. Textos
muito bons, porém fica no superficial devido a forma como é apresentada aos
professores, que é ler, discutir e fazer uma síntese e enviar ao departamento
responsável.
• Concentrar a carga horária do professor no mesmo estabelecimento
de ensino e garantir sua continuidade nos próximos anos;
Esta realidade divido a culpa em duas partes, uma ao professor que às
vezes insatisfeito com a escola, pede remoção para outra e o trabalho que foi
realizado precisa ser reiniciado com o professor que ocupou seu lugar. A outra parte
e a maior, é da mantenedora que não realiza concursos com número de vagas
suficiente para cobrir a demanda necessária e a escola se sujeita aos professores
com contratos temporários que estão quase sempre, a cada ano letivo, em uma
escola diferente.
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• Apropriação dos conteúdos por parte dos alunos de forma sólida e
duradoura, que realmente tenha significado para a vida;
Desta forma, Savianni (2003, p. 3) esclarece:
Tendo claro que é o fim a atingir que determina os métodos e processos de
ensino aprendizagem, compreende-se o equivoco da escola nova em
relação ao problema da atividade e da criatividade. Com efeito, a critica ao
ensino tradicional era justa, na medida em que esse perdeu de vista os fins,
tornando mecânicos e vazios de sentido os conteúdos que transmitia. A
partir daí, a escola nova tendeu a classificar toda transmissão de conteúdo
como mecânica e todo mecanismo como ontocriativo, assim todo
automatismo como negação da liberdade.
Muitas vezes o professor se utiliza de metodologias que não permitem
que o aluno se aproprie dos conhecimentos de forma significativa ou o próprio aluno,
que ainda não percebeu o significado destes conhecimentos, acaba memorizando
somente para responder nas provas e quando passa o momento da avaliação, não
se lembra mais deste conteúdo trabalhado e, ao ser questionado sobre este
conhecimento, diz sem culpa, que nunca viu este conteúdo.
• Planejamento por parte dos professores para trabalhar com alunos reais
e não ideais, isto é, pensar no aluno com todas as interferências
culturais, sociais e econômicas que o mesmo apresentar na escola;
O professor insiste que os alunos devem ser como eles querem ou sonham
e que estes não podem trazer para a sala de aula todas as interveniências ou
dificuldades que sofreram durante todo o dia, as quais podem gerar violência
abstrata na escola. Violência esta que não se percebe em hematomas ou
sangramentos, mas que agride o sujeito no seu interior.
• Todos os profissionais que atuam na escola devem sentir-se
responsáveis pelo sucesso do processo ensino-aprendizagem, ou seja, a
escola deve zelar para que todos os trabalhadores desta criem condições
que facilitem a apropriação dos conhecimentos dos alunos;
Este é um entendimento o qual se precisa discutir e entender melhor, em
outro momento, pois há colegas professores que estão preocupados com esta
tendência em que todos na escola são educadores. É claro que os outros
profissionais que atuam na escola não tomarão o lugar do professor, somente
estaremos ampliando os espaços de formação do aluno na escola.
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• Os conhecimentos transmitidos pela escola devem levar a compreensão
dos conhecimentos acumulados, seguidos de uma nova produção de
conhecimentos;
Os conhecimentos são, na maioria das vezes, trabalhados na escola como
prontos e acabados, sem oportunizar aos alunos o espaço para que eles possam, a
partir destes conhecimentos, produzirem novos conhecimentos ou conceitos
científicos ou ainda, uma nova solução para o problema apresentado.
• Investimento de recursos financeiros nas condições materiais e
pedagógicas destas escolas;
Os recursos financeiros investidos nas escolas não são suficientes, o pouco
que chega às escolas vem engessado, ou seja, determinado com o que pode gastar,
principalmente no que diz respeito à literatura e às condições de trabalho do
professor. Nunca soube de um professor que planejou uma viagem de estudos com
os alunos ou mesmo com os colegas e a mantenedora providenciou para que se
realizasse este estudo, ou seja, não conheço os mecanismos financeiros que
permitam que o professor possa planejar outras formas de estudos com seus alunos
que não seja entre quatro paredes, convivendo com todas as diversidades
climáticas, que dificultam a concentração dos alunos, ambientes muito frio , ora
muito calor, muito barulho e assim por diante.
• Melhoria do salário dos professores que atuam neste segmento;
Este é um ponto que todos nós, professores, sabemos justificar porque o
nosso salário precisa ser melhorado, pois fazemos parte de uma sociedade
capitalista em que tudo o que necessitamos precisa ser comprado com o salário que
recebemos. Como podemos estar bem preparados se o nosso salário não dá para
aquisição dos bens de consumo de primeira necessidade? Como ter acesso aos
bens e serviço que nos prepara intelectualmente, fisicamente e emocionalmente
para enfrentar o nosso cotidiano escolar com o salário que recebemos?
Esses são alguns dos desafios a ser enfrentados pelos professores das
escolas públicas de ensino médio integrado à educação profissional.
Assim, insistir na oferta do ensino médio integrado à educação profissional
sem a superação destes desafios apresentados, só contribui para uma maior
defasagem no ensino médio, isto é, aumenta o fracasso escolar que se apresenta
nesse nível de ensino, principalmente entre os alunos que trabalham durante o dia e
estudam à noite.
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Objetivando contribuir para a compreensão desta proposta curricular do
ensino médio integrado à educação profissional, considerando as minhas
experiências como aluna, depois como professora neste segmento e agora as
leituras e cursos que realizamos, escrevemos o que podemos chamar de
compreensão teórica do trabalho que se dá no âmbito da escola.
1.3 – Problematizando o trabalho como função primordial da educação
Neste contexto, é fácil perceber que discussão sobre trabalho como princípio
pedagógico está em ebulição, pois vimos todas as falácias que o sistema capitalista
nos impõe no sistema escolar, dificultando para que o professor perceba e análise
com seus pares e também com seus alunos como o trabalho é utilizado como
instrumento de dominação e massificação e, ainda, o quanto é possível inserir nas
praticas pedagógicas nesta perspectiva que apresentamos.
“Sabemos que a Educação é um fenômeno próprio dos seres humanos.
Fundamentado nesta afirmação, concluímos que a compreensão da natureza da
educação passa pela compreensão da natureza humana e isto é o que o diferencia
dos outros seres vivos. Os animais vivem do que a natureza ou o homem lhes
propicia. Já o homem precisa produzir continuamente sua existência, portanto ele
não aceita a natureza como está, isto é, transforma-a. E isto só acontece pelo
trabalho, por isso o que diferencia o homem dos outros animais é o trabalho. E o
trabalho instaura-se a partir do momento que se planeja a ação. Conseqüentemente
o trabalho não é qualquer tipo de atividade, mas uma ação intencional”. (Savianni.
2003, p.1)
Para sobreviver o homem necessita extrair os meios de subsistência e,
fazendo isso, ele transforma a natureza, humanizando o mundo. A educação é um
fenômeno próprio do ser humano e é uma exigência para o processo de trabalho.
Então, o trabalho educativo é o ato de produzir, direta e intencionalmente, em cada
indivíduo singular e a humanidade que é produzida historicamente e coletivamente
pelos homens. Assim sendo, a função da educação é a identificação dos elementos
culturais que precisam ser assimilados pelos indivíduos da espécie humana para
que eles se tornem mais humanos e ao mesmo tempo descubram as formas mais
adequadas para atingir este objetivo, aponta Savianni, 2003.
Quanto à identificação dos elementos culturais que precisam ser
assimilados, trata-se de decidir o que é mais importante e o que pode ficar em
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segundo plano. Cabe aqui entender a noção de clássico: é o que se firmou como
mais importante, é a necessidade de se desenvolver como ser humano, este pode
ser um critério para a seleção de conteúdo.
Quanto à descoberta de formas adequadas de desenvolvimento do trabalho
pedagógico, trata-se da organização dos meios de ensino, instrumentos de ensino
ou caminhos pelos quais cada indivíduo chegará aos conteúdos historicamente
produzidos pela humanidade.
Assim, a existência humana implica na garantia de sua subsistência material
e a produção de seus materiais e isto traduzimos em “trabalho material”. Entretanto,
para produzir materialmente, o homem precisa planejar antecipadamente os
objetivos reais. Este planejamento exige que o homem tenha conhecimentos do
mundo real (ciência), de valorização (ética) e de simbolização (arte). Estes aspectos,
na medida em que são planejados, remetem-nos a outra categoria de trabalho não
material: a produção de idéias, conceitos, valores, símbolos, habilidades, ou, nas
palavras de Saviani, “produção do saber”. (Saviani, 2003).
É nesta categoria que encontramos a escola, seja o saber sobre a natureza
ou sobre a cultura que é o conjunto de produção humana.
Na produção material, o produto se separa do produtor. Já, na produção não
material, o produto não se separa do ato de produção, ou seja, o ato de produção e
o ato de consumo imbricam-se. Desta forma, o ato de dar aula é inseparável da
produção desse ato e de seu consumo. A aula é produzida e consumida ao mesmo
tempo. (Saviani, 2003).
Quando falamos em conhecimentos sistematizados não se trata de qualquer
saber, estamos nos referindo ao conhecimento elaborado. E é a exigência de
apropriação do conhecimento sistematizado por parte dos alunos que torna
necessária a existência da escola.
A escola deve propiciar a aquisição dos instrumentos que possibilitem o
acesso a aprender, a ler e a escrever, a linguagem dos números, a linguagem da
natureza e da linguagem da sociedade. Aqui reforçamos o que já escrevemos que
conteúdo mais importante ou fundamental da escola é ler, escrever, contar, os
rudimentos das ciências naturais e das ciências sociais.
Assim sendo, não basta a existência do saber sistematizado na escola, é
necessário dar condições para que sua transmissão e assimilação aconteçam no
âmbito da escola. É preciso saber dosá-la ou dividir de tal forma que a criança passe
gradativamente do mais fácil para o mais complexo. O currículo deve traduzir a
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organização, descrevendo o tempo, os agentes e os instrumentos necessários que o
processo ensino aprendizagem aconteça com êxito.
Se a compreensão da natureza da Educação, enquanto trabalho não
material, cujo produto não se separa do ato de produção, permite nos situar a
especificidade da educação como referida aos conhecimentos, idéias, conceitos,
valores, atitudes, escritos, símbolos, sob o aspecto de elementos necessários à
formação da humanidade em cada indivíduo singular, na forma de uma segunda
natureza, que se produz, deliberada e intencionalmente através de relações
pedagógicas historicamente determinadas, que travavam entre os homens. Então,
perguntamos: o professor estará atendendo à proposta curricular que é a educação
básica integrada à educação profissional?
Uma escola que transmite os conhecimentos fundamentais, que consegue
mostrar o trabalho como significação humano-social as dimensões do conhecimento,
estaria fazendo até mais do que suas condições materiais, pedagógicas, intelectuais
e humanas podem permitir.
Durante minhas observações, percebi que a escola contribui para que o
aluno compreenda de maneira coerente e crítica o mundo e a sociedade,
possibilitando que o individuo possa entender a organização social em que vive,
como o trabalho pode ser mediado pelo conhecimento, ciência, técnica, tecnologia,
cultura e pelas relações sociais e em como este pode se tornar um mecanismo de
alienação e mutilação;
Portanto, para a realização de uma prática fundamentada no trabalho como
princípio pedagógico, será necessário:
• Reconhecer os conhecimentos científicos, tecnológicos e técnica como
parte crucial da disputa;
• Reconhecer que esses conhecimentos são a afirmação da possibilidade
de continuidade de uma sociedade,
• Reconhecer o papel revolucionário que esses conhecimentos podem
possibilitar as necessidades humanas.
Uma organização curricular que garanta o acesso aos conhecimentos
acumulados pela humanidade, os conhecimentos científicos, culturais, artísticos e o
trabalho como principio educativo, articulado à ciência, à cultura, tecnologia e ainda
buscando um equilíbrio entre a capacidade de atuar intelectualmente e
artesanalmente, deverá ser a principal função da escola pública neste momento
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existente. Assim, para que esta função escolar seja realmente desempenhada, será
necessário que a formação básica, seja a essência desta proposta.
Gramsci (1968) nos mostra que uma escola que unifica o trabalho, ciência e
cultura, e que articula a sua capacidade produtiva às capacidades de pensar, de
estudar, de dirigir ou exercer o controle social sobre os dirigentes terão homens
desenvolvidos multilateralmente. Desta forma, o jovem receberá orientação para as
atividades intelectuais e instrumentais, dentre as quais ele poderá definir mais tarde
qual será sua atividade profissional. E ainda estará melhor preparado e estimulado
para uma busca constante dos novos conhecimentos permitindo sua atualização
cultural e profissional.
Para que isto aconteça, a proposta curricular deverá contemplar:
• Os princípios científicos gerais sobre os quais se fundamentam as
relações sócias produtivas;
• Os conhecimentos relativos às formas tecnológicas que estão na raiz dos
processos sociais;
• As diferentes linguagens das diferentes atividades sociais e produtivas;
• Os conhecimentos sócio-históricos e as categorias de análise que
propiciem a compreensão crítica da sociedade capitalista e das formas
de atuação do homem, como cidadão e trabalhadores, sujeito e objeto
das histórias.
• Promover a integração entre conhecimento básico e aplicado;
Isto exige que o processo de trabalho e as relações sociais sejam definidos
nos conteúdos, não deixando de lado a informação que compõe as áreas do
conhecimento, o que significa tomar o trabalho como foco, como totalidade rica e de
complexas relações, conhecendo a relação entre produto e processo, enquanto um
conjunto de relações que revelam este movimento.
“O tratamento metodológico de idéias, das representações, da consciência
está entrelaçado com o trabalho humano. É na vida real, na atividade humana que
começa a ciência, e é compreendendo a relação entre homem e mundo ou entre
homem e natureza que se estabelece a atividade prática humana” fundamentos
políticos e pedagógicos da educação profissional no Paraná (2005 p.39)
Entretanto, a prática não fala por si mesma. Os fatos e os fenômenos têm
que ser analisados e interpretados para compreender as relações entre teoria e
prática, princípio este imprescindível em todos os momentos da práxis pedagógica.
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É neste processo que o aluno deixará de ser mero espectador para ser
protagonista capaz de transformar as relações sociais e produtivas a partir de sua
própria interpretação. A dimensão disciplinar e interdisciplinar deve permear os
conteúdos. Ou seja, compreender que é necessário um currículo que articule
projetos transdisciplinares e ações disciplinares, permitindo ao aluno a compreensão
da realidade e das conexões que articulam parte e totalidade.
Compreender as relações entre ciência, cultura e sociedade. O currículo
deverá contemplar os conteúdos culturais que expressam as formas de vida
compartilhadas por uma comunidade e os significados produzidos e utilizados
socialmente pelos grupos humanos que vivem tempos e espaços semelhantes.
O ponto de partida é sincrético, pouco elaborado, senso comum. O ponto de
chegada é uma totalidade concreta, onde o pensamento compreende o conteúdo
separado e isolado do todo. Esta totalidade parcial será o novo ponto de partida para
outros conhecimentos. (fundamentos políticos e pedagógicos da educação
profissional no Paraná, 2005, p.42)
Os significados se constroem através do deslocamento de pensamento, das
abstrações, que é o senso comum; para um conhecimento elaborado através da
práxis que resulta na articulação entre teoria e prática, entre sujeito e objeto e entre
indivíduo e sociedade. (Fundamentos políticos e pedagógicos da educação
profissional no Paraná 2005, p. 43)
Construir o caminho metodológico é parte fundamental do processo de
elaboração do conhecimento, vai depender da caminhada ou leitura de cada
professor; se este buscará um caminho mais curto ou mais difícil importante é que
encontrou o caminho certo. (Fundamentos políticos e pedagógicos da educação
profissional no Paraná2005, p.43 )
Portanto, acredita-se que esta proposta permitirá ao aluno o acesso aos
fundamentos técnicos, tecnológicos e políticos, sociais e culturais presentes no
mundo do trabalho, através do compromisso dos professores com a articulação e
integração dos mesmos aos conhecimentos históricos e sociais. Esta é a condição
para uma sólida formação científico-tecnológica e identificada como indutora de um
processo de educação emancipatória que busca garantir o acesso e o direito de todo
cidadão brasileiro e paranaense ao conhecimento e ao trabalho.
Embasado nestes princípios, realizamos uma análise dos planejamentos dos
professores de cada disciplina ofertada no curso de técnico em administração
integrado ao ensino médio, tendo com base teórica os princípios contidos nos textos
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que orientam a proposta de implantação da Secretaria de Educação do Estado do
Paraná sob a responsabilidade do antigo Departamento de Educação –DEP. A partir
deste levantamento chegamos às seguintes conclusões:
• As disciplinas de arte e educação física que compõe o rol de disciplinas
do núcleo comum, ou seja, comum a todos os cursos, têm um olhar para
a profissionalização, contemplando a visão do dia-a-dia do trabalhador e
o entendimento do mundo do trabalho, porém quando descreve a
avaliação ela não sustenta a proposta curricular que as duas disciplinas
propõem;
• A disciplina de matemática objetiva atender às especificações do mundo
do trabalho em seus objetivos, mas na metodologia e avaliação não
possibilita o alcance destes objetivos durante a realização das aulas;
• A disciplina de física tem uma preocupação excessiva com o mercado de
trabalho, demonstrando que não compreende a proposta do curso, mas
querendo se adequar a esta proposta, porém sem base teórica;
• As disciplinas de química, biologia e história contemplam a proposta da
educação profissional dividindo em três eixos, deixando bem claro o
entendimento desta proposta e a formação para o mundo do trabalho em
seus objetivos, conhecimentos, metodologia e avaliação;
• Já na disciplina de geografia, que pela sua especificidade poderia
contemplar com mais ênfase as questões que orientam o mundo do
trabalho e suas relações com o homem, pudemos perceber um resíduo
de preocupação ainda com o mercado do trabalho e o treinamento para
este mercado, é bastante forte esta preocupação, pois até na
metodologia podemos notar;
• Na disciplina de língua portuguesa observamos de forma muito discreta
nos objetivos, uma tentativa de adequar-se a proposta do curso, mas a
língua inglesa pouco se preocupou com o trabalho com força produtiva e
de exploração. Sua preocupação é com a disciplina sem fazer nenhuma
relação com a especificidade do curso;
• Já as disciplinas que compõe o rol de disciplinas da formação específica
ficaram muito mais destoadas da proposta que tem como princípio a
compreensão do mundo do trabalho e suas relações com a sociedade.
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Cabe ressaltarmos que o plano curricular que avaliamos foi o primeiro
organizado pelo grupo de professores que na ocasião se reuniram em Curitiba para
o início dos estudos e análise da viabilidade do projeto de implantação da nova
proposta Educação Profissional nos Estabelecimentos de Ensino Estaduais do
Estado do Paraná.
Entretanto, estes educadores, com algumas exceções, foram formados e
também atuaram em escolas que em outros tempos passados e não muito longe
tinham uma proposta curricular que primava por uma educação que preparava o
jovem para a realização de tarefas sem o mínimo de entendimento de como se dava
a exploração do trabalhador e como se conserva esta pirâmide social em que uns
nascem para realizar as tarefas e outros para tirar proveito deste que realizam.
Neste momento da pesquisa, analisou-se como o processo está se
realizando após esta caminhada de quatro anos de capacitação e estudo pelos
coordenadores e professores que atuam no curso de Técnico em Administração em
nível Médio. Ressalto que o convívio ou conversa informal foi também uma forma de
conhecer e analisar como os planos curriculares atuais estão sendo trabalhados ou
aplicados.
2. A PROPOSTA TEÓRICA DO CURSO DE TÉCNICO EM ADMINISTRAÇÃO EM
NÍVEL MÉDIO E A SUA CONSOLIDAÇÃO NO ÂMBITO ESCOLAR
Esta pesquisa foi desenvolvida em uma escola que oferta os cursos de
Educação Profissional e Médio, localizada em um município que tem um bom índice
de desenvolvimento humano - IDH, no Estado do Paraná., É formada por um grupo
de alunos oriundos de todo o município, inclusive de outros municípios. Os
professores, em sua grande maioria, são habilitados e pertencem ao quadro próprio
do magistério e já atuam há mais de dez anos nessa profissão. A estrutura física é
uma das melhores do Estado, possui laboratórios de informática, de física, de
biologia, e ainda uma biblioteca com um acervo bibliográfico e espaço físico muito
bom, chegando a provocar espanto para os visitantes de tão completo.
Esta comunidade escolar recebe alunos da região agrícola, do centro da
cidade e bairros de classe média e também da periferia. É importante ressaltar que
os alunos que estudam neste colégio o fazem por opção, pois a maioria necessita de
alguma forma de transporte para chegar até aqui e que se quisessem poderiam
estudar mais próximos de suas residências. Lembramos que o curso e grupo de
professores na qual realizamos nossa pesquisa e implementação pedagógica é
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ofertado somente no período noturno. Reforçamos que nosso envolvimento se deu
apenas com a comunidade escolar do Curso Técnico em Administração Integrado ao
Ensino Médio - noturno, portanto nos isentando de qualquer outra realidade
constatada em outro turno ou curso.
Diante do exposto, questionamos: os formandos do Ensino Médio desta
escola obtiveram os melhores resultados de avaliação do Sistema de Ensino –
ENEM, entre os alunos de escola pública, então esta é uma escola de qualidade?
Estarão cumprindo o seu verdadeiro papel que é o acesso aos conhecimentos
acumulados pela humanidade, os conhecimentos científicos, culturais, artísticos e o
trabalho como principio educativo, articulado a ciência, a cultura, tecnologia e ainda
buscando um equilíbrio entre a capacidade de atuar intelectualmente e
artesanalmente?
Durante a aplicação de nossa proposta de implementação pedagógica no
ambiente escolar constatamos uma realidade um pouco adversa do que havíamos
detectado no plano curricular analisado anteriormente, pois os professores, por falta
de orientação e, talvez, por não acreditar no plano de Ensino ou de trabalho como
um instrumento que norteia o trabalho pedagógico na sala de aula ou por falta de
condições de assessoramento pedagógico, em sua grande maioria não havia
entregado o seu plano de Ensino ou de trabalho para a coordenação até o início
desta investigação, ou seja, no início do segundo bimestre deste ano letivo.
Neste caso, mudamos o nosso foco que anteriormente era de analisar o
plano de Ensino ou trabalho, para perceber como eles inseririam o trabalho como o
princípio pedagógico. Em lugar desta análise, optamos por assessorar os
professores para a construção e organização do seu plano de trabalho levando em
conta a ementa apresentada pela Secretaria Estadual de Educação e o plano
curricular apresentado ao Conselho Estadual de Educação para a autorização de
funcionamento do curso que já foi analisado anteriormente no ano de 2005.
Diante dessa realidade, planejamos as estratégias descritas a seguir:
No primeiro momento, organizamos um encontro com os professores do
Curso Técnico em Administração Integrado ao Ensino Médio, para estudar e
apresentar algumas noções primárias de como podemos inserir ou trabalhar no
cotidiano escolar, o trabalho como princípio pedagógico; quais as conseqüências de
se pensar no ambiente escolar voltado para o trabalho como princípios pedagógicos
e com que formação poderá sair o aluno ao concluir o curso.
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Nesta atividade, tomamos como base o material - didático - pedagógico que
foi construído durante o PDE, pertinente ao objeto de estudo proposto por mim como
professor PDE; articulado aos projetos que vem sendo executados no âmbito da
SEED, neste caso, o trabalho como principio pedagógico no Curso Técnico em
Administração Integrado ao Ensino Médio,
Como este encontro foi proposto aos professores em forma de convite e não
convocação, o número de professores que participaram foi pequeno em relação à
quantidade atuante neste segmento, porém qualitativamente significante, pois foram
aqueles que estão preocupados como sua prática pedagógica e buscam soluções
para um aprimoramento desta prática escolar.
Este grupo participou ativamente do debate e se mostrou preocupado em
buscar mais informação sobre o tema. Porém, esperam que a equipe pedagógica
proporcione este espaço ou tempo para continuar este estudo.
Já em outro estabelecimento escolar, no qual fomos convidados para
trabalhar com o grupo de professores, percebemos uma resistência muito grande
em conceber o trabalho como princípio pedagógico dentro desta visão. A prática
imediatista e a solução dos problemas enfrentados no dia-a-dia em curto prazo, fala
mais alto do que preparar o jovem para viver numa sociedade capitalista de forma
digna e que eles possam enfrentar os problemas desta sociedade se utilizando dos
conhecimentos científicos adquiridos no ambiente escolar e não o treinamento da
realização de tarefas repetitivas. Alguns professores pensam que é a função da
escola é preparar para o mercado do trabalho, função que, em nosso ponto de vista,
deveria ser do empregador, pois nossa função é oferecer os conhecimentos
científicos acumulados historicamente pela sociedade onde o aluno está inserido.
No segundo momento, analisamos os documentos de todos no colégio onde
poderiam estar arquivados os planos de Ensino de todas as disciplinas, tanto do
ensino médio quanto do Curso Técnico em Administração Integrado ao Ensino
Médio, haja vista que as pessoas que deveriam informar diziam que não foram
entregues pelos professores que atuam neste segmento os planos de ensino do
Curso Técnico em Administração Integrado ao Ensino Médio.
Partimos do principio que se no início do ano os professores tiveram
dezesseis horas para o planejamento do ano letivo é praticamente impossível que
não tenham produzido algum documento com este intuito. Após muita insistência foi
que deduzimos que se os professores que atuam no Núcleo Comum do Ensino
Médio regular são os mesmos que atuam no Núcleo Comum do Curso Técnico em
20
Administração Integrado ao Ensino Médio, então estes planos poderiam estar com
os responsáveis pelo Ensino Médio Regular. Foi com grande surpresa que
encontramos todos os planos de ensino do Curso Técnico em Administração
Integrado ao Ensino Médio nos arquivos do Curso de Ensino Médio.
Ressaltamos neste contexto o principal problema:
Os planos de ensino foram organizados no grupo de professores de cada
disciplina sem levar em conta o perfil de cada curso e muito menos a carga horária
que a disciplina dispõe em cada curso, ou seja, o conteúdo elencado para o Ensino
Médio Regular é o mesmo para o de Curso Técnico em Administração Integrado ao
Ensino Médio. E nós sabemos que a Matriz Curricular determina uma carga horária
diferente para cada curso.
Os objetivos da disciplina são os mesmos para todos os cursos.
Encontramos Planos de Ensino que somente relacionavam quais são os
professores desta disciplina do colégio e não a qual curso pertencia este plano de
trabalho, só concluímos que este plano de trabalho é para o Curso Técnico em
Administração Integrado ao Ensino Médio porque consta o nome do professor que é
habilitado para esta disciplina no quadro de horário de aula dos professores do
Curso Técnico em Administração Integrado ao Ensino Médio.
Notamos que alguns professores do Núcleo Comum organizaram o seu
Plano de Ensino observando a proposta curricular do Curso Técnico em
Administração Integrado ao Ensino Médio. Inclusive com uma pequena preocupação
com o trabalho como princípio educativo.
Falamos até agora de Planos de Ensino ou Trabalho que compõe o Núcleo
Comum. Mas, o problema é ainda maior quando se trata dos planos de ensino dos
professores da formação específica do Curso Técnico em Administração Integrado
ao Ensino Médio, pois em sua maioria são professores que nunca passaram por
uma formação pedagógica, trabalham à noite como complemento de sua renda, tem
outro emprego durante o dia.
Quando a escola planeja um encontro com os professores do Curso Técnico
em Administração Integrado ao Ensino Médio não consegue atingir a maioria porque
eles têm aula em outro Estabelecimento neste dia. Chegou a situação de o professor
ter duas aulas em um estabelecimento e realizar sua hora atividade em trânsito, pois
terá que ministrar mais duas aulas no mesmo dia e período em outro colégio. Este
professor nem no intervalo interage como os colegas ou mesmo descansa, muito
menos parou para repensar sua prática pedagógica na sua hora atividade.
21
Diante da situação descrita, queremos registrar que para que pudéssemos
contatar com todos os professores foi preciso me deslocar para este Colégio durante
três semanas e quase todos os dias. Com alguns professores foi preciso agendar e
ficar esperando no portão, pois os mesmos chegavam e iam direto para a sala de
aula devido a sua condição de carga horária.
Fomos muito bem recebidos pelos professores e todos abraçaram a
proposta e se dispuseram em apresentar o documento determinado. Agora dependo
da cobrança efusiva da Direção para que todos apresentem o plano de ensino ou de
trabalho do Curso Técnico em Administração Integrado ao Ensino Médio e que
posamos analisar se estes contemplam o princípio pedagógico em sua disciplina.
Para a organização do Plano de Ensino ou de Trabalho Docente foram
sugeridos alguns elementos que o deveriam compor: Nome da Disciplina;
Identificação; Ementa; Objetivos Gerais e Específicos; Conteúdo Programático;
Metodologia; Avaliação; e Bibliografia Básica.
Destacamos que embora quiséssemos professores efetivos que atuem nos
Estabelecimentos de Ensino pesquisado, a grande maioria são concursados e
atuam há mais de dez anos na função de professores. Mas quando indagamos
porque estão atuando neste segmento, a grande maioria diz que é para completar a
carga horária. Podemos prever que sua atuação não será a mesma de um professor
que escolheu atuar com este segmento.
Em relação à capacitação para atuar neste segmento, a maioria diz que
nunca participou de um curso que fosse específico de educação profissional e dizem
desconhecer como deve ser trabalhada esta proposta do Curso Técnico em
Administração Integrado ao Ensino Médio. Já um grupo menor diz que uma forma de
trabalhar esta proposta é integralizar as disciplinas do núcleo com as de técnicas,
priorizando as disciplinas da área de formação técnica, possibilitando ao aluno
conhecer, analisar e criar conexões com a realidade.
Um dos motivos que nos levou a insistir em encontrar os Planos de Ensino
ou Trabalho foi que a maioria disse que participou e ajudou a organizar os Planos de
Ensino do ano letivo e revelaram não conhecer o documento que orienta esta prática
pedagógica. Outro dado muito importante é a satisfação dos pais e dos alunos que
cursam o Curso Técnico em Administração Integrado ao Ensino Médio. Os alunos
revelaram, através de conversa informal, que este Curso os tornou diferentes dos
alunos que cursam o Ensino Médio Regular pela sua especificidade profissional. Ele
22
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerando a necessidade de mais fundamentação teórica sobre a
proposta e as condições de trabalho que professores enfrentam no seu cotidiano
escolar, encontramos uma comunidade escolar satisfeita com a educação que estão
recebendo nesta escola, pois ao nos envolver com os alunos, ficou claro o nível de
satisfação dos alunos em relação ao curso. Poderíamos dizer que esta sendo
realizado um trabalho em sala de aula que atende às expectativas dos alunos,
porém não encontramos registrado nos documentos que norteiam as práticas em
sala de aula. Talvez a informações que não encontramos para demonstrar que o
professor está preocupado com o trabalho como princípio educativo se realiza na
pratica de sala de aula, porém sem o devido registro da qual estamos procurando.
Isto serve para repensar e buscar mais informação sobre a nossa visão de mundo
que temos sobre determinados fenômenos.
Todavia, ao analisarmos o documento proposto em 2005 pelo Departamento
de Educação e Trabalho para ser estudado e discutido na semana pedagógica e
constatarmos que o mesmo não é do conhecimento da maioria dos professores e
ainda, que no nosso entendimento é um bom documento para iniciar as leituras e
discussões sobre a fundamentação teórica que permeia a proposta de implantação
dos curso técnicos integrados ao Ensino Médio no Estado do Paraná, sugerimos que
se retome este documento nas escolas em algum momento de capacitação.
Na verificação dos planos de ensino ou trabalho dos professores
reorganizados após a aplicação da minha proposta de intervenção e escritos com
um olhar para a especificidade que o curso exige, percebemos que é necessário
muito mais tempo de leitura e discussão para que os professores possam planejar
de forma mais completa e que atenda a proposta pedagógica, principalmente em
relação ao trabalho como princípio pedagógico.
Entretanto se atender aos anseios ou necessidades de uma comunidade
escolar deve ser o nosso principal objetivo, este estabelecimento está alcançado e o
próximo passo deverá ser a análise da seguinte questão: até que ponto estamos
reproduzindo as classes sociais trabalhando desta forma e como podemos caminhar
para intervir nesta sociedade que estamos inseridos que tantos problemas sócio-
econômicos, que sabendo que a escola não dá conta de oferecer o conhecimento
científico acumulado suficiente, que sirva como instrumento para a construção de
uma sociedade mais justa e igualitária?
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Entendemos que viver numa sociedade igualitária é ter acesso aos bens e
serviços de qualidade existentes nesta sociedade, independente de sua classe
social.
Portanto, uma escola que possibilita aos estudantes o acesso aos
conhecimentos técnico-tecnológicos/políticos/sociais e culturais presentes no mundo
do trabalho, estará preparando os jovens para enfrentar e encontrar soluções para
os problemas que possam encontrar no seu universo social.
Todavia, só faremos parte de uma sociedade justa e igualitária, quando
todos tiverem acesso a uma escola que propicie o acesso a todos os conhecimentos
historicamente acumulados, culturais/ científicos / sociais e tecnológicos e a partir
deste saber, os alunos possam produzir novos conhecimentos. Neste momento da
produção destes novos conhecimentos, os jovens poderão decidir em que setor ou
segmento profissional eles querem atuar, ou seja como eles poderão contribuir com
a sua formação e a habilidade desenvolvida na escola para uma sociedade mais
justa e igualitária.
Entretanto, sabemos que não depende da escolha da profissão somente,
mas de políticas públicas de desenvolvimento econômico que permitirão a atuação
dos alunos nesta ou naquela profissão. Então, como inserir numa sociedade de
classes uma escola unitária?
O processo, segundo Ricardo Antunes 2008, em sua palestra na Unioeste,
deveria ser o inverso do que estamos tentando, ou seja, a escola por si não
transformará a sociedade, mas a junção de todas as forças lutando para o mesmo
fim que é uma sociedade mais justa e igualitária.
Contudo, compreender o trabalho como princípio educativo e a necessidade
de nos inserirmos em movimentos sociais, deverá ser o principal objetivo da escola
e isto se alcançará principalmente na concepção de sociedade e metodologia que a
escola decide abranger ou desenvolver.
Neste contexto é que se justifica todo o nosso empenho em compreender o
trabalho como princípio educativo, pois se é através do trabalho que se dá todas as
formas de estratificação social, então a escola prepara o jovem para o
enfrentamento desta realidade posta e a sua transformação.
REFERÊNCIAS
24
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histórico crítica: primeiras aproximações – 8ª Ed. Revista e ampliada - Campinas
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edição- São Paulo - Centauro- 2004
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Pedagógicos da Educação Profissional do Paraná, Curitiba 2005
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KUENZER, Acácia Zeneida. Ensino Médio Construindo Uma Proposta Para Os Que
Vivem Do Trabalho. São Paulo, editora Cortez, 2005
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