JEAN PIAGET: FATORESDO DESENVOLVIMENTO MENTAL
Na didática fundamentada na teoria de Piaget, individualização
constitui palavra-chave, ou seja, a educação é centrada no indivíduo,
adequada às características intelectuais, maturacionais e emocionais
de cada criança. Outra noção fundamental é o conceito de “sala de aula
aberta”, sem carteiras enfileiradas, onde os alunos são libertados para
as múltiplas atividades de pesquisa e investigação, em grupos ou
individualmente, dentro e fora da escola, num desenvolvimento integral.
O mestre deve estimular aquilo que é considerado a forma mais
significativa de aprender: o modo espontâneo da criança aprender
através do jogo e das experiências que por si busca.
A metodologia de ensino piagetiana está relacionada a uma
estrutura flexível de arranjo de sala de aula e às relações entre
professor e criança e entre elas mesmas. O papel do professor é propor
questões e examinar com as crianças as respostas, em permanente
feed-back, que não condiciona, mas demonstra em que nível estão as
“estratégias de comportamento intelectual”, com que o aluno reage aos
estímulos. Os professores deveriam ser treinados na técnica do feed-
back.
Pergunta-se ao professor: Que tipo de homem você deseja formar?
Uma cabeça bem cheia ou uma cabeça bem feita, como queria
Montaigne? Se a opção for pela segunda, isto é, pela formação de um
pensamento autônomo, crítico e criativo, a didática derivada da
psicologia de Jean Piaget ajuda muito. Currículos, programas, lições,
horários, organização escolar devem sofrer fortes alterações, num
sistema flexível de organização.
Falamos em ensino individualizado, sabendo de antemão que a me-
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lhor forma de individualizar é trabalhar em grupo, em que cada aluno
tem a oportunidade de comportar-se de acordo com seu nível e, o mais
interessante, de receber auxílio do companheiro. Jean Piaget coloca o
fator social como um dos elementos básicos do desenvolvimento
mental (dinâmica de grupo), sobretudo como instrumento de
provocação de reversibilidade de pensamento e de reciprocidade no
tratamento mútuo.
O professor deve dispor de inúmeras opções sobre a abordagem
dos problemas, atender às particularidades e aos níveis do
desenvolvimento de cada criança, num processo dialogal, que varia
com cada interlocutor.
Piaget mostra-nos como se desenvolvem estruturas do raciocínio
lógico e o julgamento crítico e como a criança passa do egocentrismo
em que se considera o centro do universo, a um equilíbrio com o
mundo exterior. São fatores do desenvolvimento mental: a) A
maturação do sistema nervoso: b) O ambiente físico, no sentido da
qualidade de contato que a criança tem com seu meio. Este deve
oferecer-lhe abundante material concreto, estimulando-a à
manipulação, seu melhor instrumento de compreensão; c) O ambiente
social, proporcionando à criança oportunidades para interações com
outros indivíduos, interações que levem à cooperação, à colaboração e
não à concorrência. Esses intercâmbios devem ser incentivados entre
crianças do mesmo nível, de níveis diferentes e entre a criança e o
adulto. A equilibração progressiva, fator que não pode ser considerado
separadamente dos anteriores, é funcionamento de mecanismo mental,
que leva ao desenvolvimento das estruturas lógicas. É processo
semelhante à adaptação biológica, que consiste em uma assimilação
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dos dados do mundo exterior às estruturas mentais do indivíduo e de
uma acomodação de suas estruturas a esses dados. Trata-se de
assimilações mentais e não ma-
teriais. Através de um processo de assimilações e acomodações cada
vez mais equilibradas, o indivíduo constrói suas noções de mundo.
O Ambiente físico é o elemento que a escola deve manter na
melhor qualidade possível. Deve conhecer a seqüência de estruturas
que constituem o desenvolvimento, pois, a cada nível, a criança se
beneficiará do material apresentado.
Piaget distingue diversos períodos no desenvolvimento, cada um
caracterizado por uma estrutura de conjunto, que determina a conduta
passível nesse período.
No primeiro período – o sensório motor – que se estende do
nascimento aos dois anos, a criança, carecendo de representação
mental, desenvolve a lógica da ação física, através de seus
movimentos e percepção. Depois dos dois anos, com o advento da
função semiótica – período pré-operatório – surge o aparecimento da
representação mental, que, de início egocêntrico, pré-lógico e
sincrética, vai se organizando para formar agrupamento de ações
interiorizadas, coordenadas entre si e reversíveis.
Chega-se, assim, ao chamado período de operações concretas, em
que a criança raciocina a partir de experiências concretas e reais.
Organiza o mundo exterior através de ações físicas, elaborando ao
mesmo tempo suas estruturas mentais. Essa fase, que se inicia,
aproximadamente, aos 5 anos, vai gradualmente atingindo o
pensamento formal, ultrapassando as experiências concretas, quando a
criança passa a raciocinar a partir de hipóteses. Chega-se ao período
operatório -- formal ou hipotético-dedutivo. Aos quatorze anos completa
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o processo intelectual da criança. Está madura para raciocinar
hipoteticamente, já é adulta.
Durante o período sensório-motor, a criança constrói seus esque-
mas de ações, de pegar, puxar, bater, etc. e quanto mais material tiver
ao seu redor mais será ela estimulada a elaborar esses esquemas e a
coordena-los para descobrir novas condutas.
O fator social vai proporcionar a interação social, processo em que
a criança é levada a se descontrair de seu egoísmo, para ter uma visão
mais objetiva dos acontecimentos, considerar vários pontos de vista.
Essa descontração ajuda a criança a construir suas estruturas
operatórias. Uma operação para Piaget é um conjunto de ações
mentais coordenadas em sistema e essa coordenação só é possível se
há uma conservação que as une. Todo o desenvolvimento é
caracterizado por um contínuo processo de descontração de um estado
de egocentrismo inicial para uma objetividade sempre crescente,
assinalada por coordenações cada vez mais numerosas.
Conhecimentos transmitidos verbalmente acabam deformados e
mal compreendidos e não têm a preocupação de considerar o nível de
desenvolvimento das estruturas assimiladoras das crianças. Se a
escola vai atender ao desenvolvimento do pensamento operatório, deve
propiciar a formação de um raciocínio móvel e flexível e não cansar as
crianças com memorizações rígidas e estáticas. Hoje, em países do
primeiro mundo, a tendência geral é eliminar o ensino da gramática na
escola primária e a ortografia só é ensinada dentro de um contexto
mais amplo. Sua aprendizagem se faz na composição livre da própria
criança.
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