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Se por trás de um grande homem está sempre uma grande mulher, tambémse pode dizer que por trás de um grande relógio está sempre uma grandepersonalidade. Como acontece com o modelo KonTiki, da Eterna, e o grandeexplorador Thor Heyerdahl – que morreu no passado mês de Abril depois deter protagonizado uma saga inesquecível em 1947.
oi votado ‘Cidadão Norueguês do Século’ em 1999 e partiu para o Valhalla (o paraí-
so dos heróis e deuses vikings) no passado dia 18 de Abril, vítima de um tumor
cerebral. Thor Heyerdahl tinha 87 anos quando morreu no retiro de família em
Colla Michari (Itália); a sua terceira mulher, Jacqueline, revelou que o irrequieto
explorador nórdico efectuou mais de 70 voos ao longo do ano passado...
Nem a doença o espectro da morte o impediram de fazer o que mais gostava. Thor
Heyerdahl foi um dos mais famosos viajantes da história da humanidade, nunca des-
denhando um arrojado desafio e empenhando-se pessoalmente na confirmação das suas teorias. Não
conseguia estar parado: mesmo após a operação ao cancro prosseguiu com as suas pesquisas,
palestras e debates – gerindo da melhor maneira a fama alcançada na sequência de uma inesquecí-
vel aventura ocorrida na década de 40: a saga do KonTiki, perpetuada através de um livro traduzido
para 66 idiomas e uma linha de relógios que continua a fascinar os especialistas.
O curioso é que o homem que enfrentou a fúria dos mares numa embarcação propositadamente
rudimentar só deixou de ter medo da água aos 22 anos, quando caíu a um rio no Taiti e foi forçado
a nadar até ficar a salvo. O receio tinha fundamento; enquanto criança, o escandinavo quase se afo-
gou duas vezes na sua cidade natal de Larvik...
Isso não o impediu de se tornar mais tarde num reputado cientista e etnólogo. O ponto de partida
ocorreu quando Heyerdahl constatou que a figura de Tiki (‘filho do sol’), adorada pelas gentes da
Polinésia e evidente nas tradições locais, tinha grandes semelhanças mitológicas com as lendas
patentes em velhos manuscritos incas acerca de KonTiki (‘deus do sol’); na altura, acreditava-se que
os ancestrais dos polinésios eram oriundos da Ásia Central, pelo que a teoria que atribuia a sua
ascendência aos incas causou polémica na comunidade científica...
Para confirmar essa tese migratória, Heyerdahl fez questão de mostrar ao mundo que uma tão longa
viagem seria possível. Seguindo os princípios pouco sofisticados da época dos incas, construiu uma
balsa baptizada com leite de coco e com a imagem de KonTiki a adornar a vela. Rodeada de grande
alarido, a expedição saíu do porto de Collao (no Peru) em 26 de Abril de 1947 e atravessou mesmo
o Pacífico na tal simples jangada de madeira com apenas 14 metros... chegando ao destino 7.600
quilómetros e 101 dias depois!
Entre os poucos utensílios ‘modernos’ usados pela equipa estavam os relógios Eterna, especialmente
comissionados pelo norueguês e manufacturados segundo rigorosos parâmetros de estanquicidade
e fiabilidade. Heyerdahl não queria um cronómetro marítimo que precisasse de corda manual e
cujas volumosas dimensões poderiam fazê-lo cair da jangada; resolveu contactar com o dr. Rudolf
Schild-Contesse, então director da Eterna, e apresentou as especificações dos instrumentos deseja-
dos. Foi feita uma pequena série – projecto que nasceu com o adequado nome de KonTiki.
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KonTiki. Odisseia contra o tempo
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O curioso é que o homem que enfrentou a fúria dos mares numa
embarcação propositadamente rudimentar só deixou de ter medo
da água aos 22 anos, quando caíu a um rio no Taiti e foi forçado a
nadar até ficar a salvo. Thor Heyerdahl foi o norueguês do século
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AS CINCO ESFERAS
Desde que John Harrison resolveu o problema da longitude com o
recurso à relojoaria – criando os primeiros cronómetros marítimos no
século XVIII – que todas as viagens no mar assentam na fiabilidade de
relógios, fundamentais para a localização no espaço e no tempo em
condições adversas. Heyerdahl não queria um volumoso cronómetro
marinho e optou por robustos modelos de pulso. Com razão: a tripu-
lação do KonTiki enfrentou as mais duras provações, desde ondas de
mais de cinco metros a ataques de tubarões-baleia...
A opção pela manufactura suíça Eterna provou ser a ideal. Fundada em
1856 por Josef Girad e Urs Schild e actualmente pertença da família
Porsche (é a Eterna que concebe os relógios Porsche Design), a Eterna
começou por se especializar em relógios com alarme mas marcou
decisivamente a indústria relojoeira com a invenção do sistema de
rolamento de esferas que optimizou os relógios automáticos – facili-
tando a rotação da massa oscilante (rotor) que permite dar corda aos
relógios automáticos através do movimento do pulso do utilizador.
Essa simples solução possibilitava um melhor armazenamento da
corda, oferecia melhor resistência aos choques e proporcionava maior
longevidade ao mecanismo, sendo imediatamente adoptada pela ge-
neralidade da indústria. Para vincar bem as suas credenciais, a manu-
factura sediada em Grenchen passou a ostentar um logotipo com
cinco esferas, baptizando de Eterna-Matic a colecção que abrangia os
seus relógios automáticos. Foi precisamente a reputação da Eterna e a
excelência dos seus mecanismos que seduziram Thor Heyerdahl.
Após a concretização do feito, o norueguês não mais parou. Escreveu
um best-seller sobre a história da viagem que posteriormente foi a
base para um documentário galardoado com um Óscar. E, como não
podia deixar de ser, liderou outras expedições a bordo de balsas (Ra,
Ra II, Tigris). Nos intervalos das suas aventuras, também passava o
tempo a viajar – especialmente entre a sua villa romana comprada e
restaurada na década de 50 em Colla Michari e a sua outra casa na
ilha de Tenerife.
VALOR EXTRA DE COLECÇÃO
Mas foi a saga do KonTiki que capturou a imaginação do planeta. O
sucesso da expedição correu mundo e granjeou enorme fama ao aven-
tureiro nórdico e à manufactura Eterna, que desde então passou a
incluir na sua colecção uma linha naturalmente baptizada KonTiki de
notáveis características à prova de água.
Sempre com a silhueta do KonTiki no fundo?, os modelos foram vari-
ando ao longo das últimas décadas e surgiu mesmo uma série de mer-
gulho apelidada Super KonTiki. Houve também o KonTiki 10 e o
KonTiki 20, mas entre os exemplares mais conhecidos encontram-se
os originais de 1956 e a reedição 1956. A edição limitada de 2002 do
KonTiki é de apenas 250 exemplares, tendo o importador nacional
(Relógios & Companhia) assegurado cinco peças em aço para Portugal
com um preço unitário de 3.620 euros.
Face a uma concorrência feroz de marcas caras que apostam em
maciças campanhas de marketing, a Eterna mantém a sua discrição e
elevados parâmetros de qualidade a um preço muito razoável. E a
linha KonTiki torna-se especialmente atractiva pela sua conotação
histórica e acrescido valor de colecção – especialmente agora, a partir
da morte do destemido Thor Heyerdahl.
KonTiki.
Foi precisamente a boa fama
da manufactura Eterna e a
excelência dos seus relógios
que seduziram Thor Heyerdahl
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