Poacutes-Graduaccedilatildeo Online em Direito Constitucional
Disciplina Teoria Geral da Constituiccedilatildeo I
LEITURA OBRIGATOacuteRIA ndash AULA 2
LEITURA OBRIGATOacuteRIA ndash AULA 1
NARLON GUTIERRE NOGUEIRA
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O NEOCONSTITUCIONALISMO NO BRASIL RISCOS E POSSIBILIDADES
Sumaacuterio 1 Introduccedilatildeo - 2 O que eacute o neoconstitucionalismo - 3 A recepccedilatildeo do neoconstituciona-
lismo no Brasil - 4 Trecircs objeccedilotildees ao neoconstitucionalismo - 5 Conclusatildeo
1 Introduccedilatildeo
O Direito brasileiro vem sofrendo mudanccedilas profundas nos uacuteltimos tempos relacionadas agrave e-
mergecircncia de um novo paradigma tanto na teoria juriacutedica quanto na praacutetica dos tribunais que
tem sido designado como neoconstitucionalismo Estas mudanccedilas que se desenvolvem sob a
eacutegide da Constituiccedilatildeo de 88 envolvem vaacuterios fenocircmenos diferentes mas reciprocamente im-
plicados que podem ser assim sintetizados (a) reconhecimento da forccedila normativa dos princiacute-
pios juriacutedicos e valorizaccedilatildeo da sua importacircncia no processo de aplicaccedilatildeo do Direito1 (b) rejei-
ccedilatildeo ao formalismo e recurso mais frequumlente a meacutetodos ou estilos mais abertos de raciociacutenio
juriacutedico ponderaccedilatildeo toacutepica teorias da argumentaccedilatildeo etc2 (c) constitucionalizaccedilatildeo do Direi-
to com a irradiaccedilatildeo das normas e valores constitucionais sobretudo os relacionados aos direi-
tos fundamentais para todos os ramos do ordenamento3 (d) reaproximaccedilatildeo entre o Direito e a
Moral com a penetraccedilatildeo cada vez maior da Filosofia nos debates juriacutedicos4 e (e) judicializaccedilatildeo
da poliacutetica e das relaccedilotildees sociais com um significativo deslocamento de poder da esfera do
Legislativo e do Executivo para o Poder Judiciaacuterio5
Haacute quem aplauda entusiasticamente estas mudanccedilas e quem as critique com veemecircncia Con-
tudo natildeo haacute como negar a magnitude das alteraccedilotildees que vecircm se desenrolando por debaixo dos
nossos olhos No presente estudo tenho duas intenccedilotildees em primeiro lugar pretendo descrever
o que se entende por neoconstitucionalismo abordando a sua recepccedilatildeo no pensamento juriacutedico
brasileiro Aleacutem disso tenciono discutir trecircs questotildees que o paradigma neoconstitucionalista
suscita especialmente no cenaacuterio brasileiro os riscos para a democracia de uma judicializaccedilatildeo
excessiva da vida social os perigos de uma jurisprudecircncia calcada numa metodologia muito
aberta sobretudo no contexto de uma civilizaccedilatildeo que tem no jeitinho uma das suas marcas
distintivas e os problemas que podem advir de um possiacutevel excesso na constitucionalizaccedilatildeo do
Direito para a autonomia puacuteblica do cidadatildeo e para a autonomia privada do indiviacuteduo
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2 O que eacute o neoconstitucionalismo
A palavra neoconstitucionalismo natildeo eacute empregada no debate constitucional norte-americano
nem tampouco no que eacute travado na Alemanha Trata-se de um conceito formulado sobretudo
na Espanha e na Itaacutelia mas que tem reverberado bastante na doutrina brasileira nos uacuteltimos
anos sobretudo depois da ampla divulgaccedilatildeo que teve aqui a importante coletacircnea intitulada
Neoconstitucionalismo (s) organizada pelo jurista mexicano Miguel Carbonell e publicada na
Espanha em 20036
Os adeptos do neoconstitucionalismo buscam embasamento no pensamento de juristas que se
filiam a linhas bastante heterogecircneas como Ronald Dorkin Robert Alexy Peter Haumlberle Gus-
tavo Zagrebelsky Luigi Ferrajoli e Carlos Santiago Nino e nenhum destes se define hoje ou jaacute
se definiu no passado como neoconstitucionalista7 Tanto dentre os referidos autores como
entre aqueles que se apresentam como neoconstitucionalistas constata-se uma ampla diversi-
dade de posiccedilotildees jusfilosoacuteficas e de filosofia poliacutetica haacute positivistas e natildeo-positivistas defen-
sores da necessidade do uso do meacutetodo na aplicaccedilatildeo do Direito8 e ferrenhos opositores do em-
prego de qualquer metodologia na hermenecircutica juriacutedica9adeptos do liberalismo poliacuteti-
co10comunitaristas11 e procedimentalistas12 Neste quadro natildeo eacute tarefa singela definir o neo-
constitucionalismo talvez porque como jaacute revela o bem escolhido tiacutetulo da obra organizada
por Carbonell natildeo exista um uacutenico neoconstitucionalismo que corresponda a uma concepccedilatildeo
teoacuterica clara e coesa mas diversas visotildees sobre o fenocircmeno juriacutedico na contemporaneidade
que guardam entre si alguns denominadores comuns relevantes o que justifica que sejam a-
grupadas sob um mesmo roacutetulo mas compromete a possibilidade de uma conceituaccedilatildeo mais
precisa13
Para compreender melhor o neoconstitucionalismo vale percorrer de forma sinteacutetica e pano-
racircmica o processo histoacuterico que ensejou o seu advento Esta trajetoacuteria corresponde a fenocircme-
nos que ocorreram na Europa Ocidental a partir do segundo poacutes-guerra14 e que se reproduzi-
ram mais tarde com nuances proacuteprias em paiacuteses do Terceiro Mundo como Colocircmbia15 Argen-
tina16 Meacutexico17 Aacutefrica do Sul18 Iacutendia 19 e o proacuteprio Brasil
Ateacute a Segunda Guerra Mundial prevalecia no velho continente uma cultura juriacutedica essencial-
mente legicecircntrica que tratava a lei editada pelo parlamento como a fonte principal - quase
como a fonte exclusiva - do Direito e natildeo atribuiacutea forccedila normativa agraves constituiccedilotildees20 Estas
eram vistas basicamente como programas poliacuteticos que deveriam inspirar a atuaccedilatildeo do legisla-
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dor mas que natildeo podiam ser invocados perante o Judiciaacuterio na defesa de direitos21 Os direi-
tos fundamentais valiam apenas na medida em que fossem protegidos pelas leis e natildeo envolvi-
am em geral garantias contra o arbiacutetrio ou descaso das maiorias poliacuteticas instaladas nos par-
lamentos Aliaacutes durante a maior parte do tempo as maiorias parlamentares nem mesmo re-
presentavam todo o povo jaacute que o sufraacutegio universal soacute foi conquistado no curso do seacuteculo XX
Depois da Segunda Guerra na Alemanha22e na Itaacutelia23 e algumas deacutecadas mais tarde apoacutes o
fim de ditaduras de direita na Espanha e em Portugal assistiu-se a uma mudanccedila significativa
deste quadro A percepccedilatildeo de que as maiorias poliacuteticas podem perpetrar ou acumpliciar-se com
a barbaacuterie como ocorrera no nazismo alematildeo levou as novas constituiccedilotildees a criarem ou forta-
lecerem a jurisdiccedilatildeo constitucional instituindo mecanismos potentes de proteccedilatildeo dos direitos
fundamentais mesmo em face do legislador Sob esta perspectiva a concepccedilatildeo de Constituiccedilatildeo
na Europa aproximou-se daquela existente nos Estados Unidosonde desde os primoacuterdios do
constitucionalismo entende-se que a Constituiccedilatildeo eacute autecircntica norma juriacutedica que limita o
exerciacutecio do Poder Legislativo e pode justificar a invalidaccedilatildeo de leis24 Soacute que com uma dife-
renccedila importante enquanto a Constituiccedilatildeo norte-americana eacute sinteacutetica e se limita a definir os
traccedilos baacutesicos de organizaccedilatildeo do Estado e a prever alguns poucos direitos individuais as cartas
europeacuteias foram em geral muito aleacutem disso
As constituiccedilotildees europeacuteias do 2ordm poacutes-guerra natildeo satildeo cartas procedimentais que quase tudo dei-
xam para as decisotildees das maiorias legislativas mas sim documentos repletos de normas im-
pregnadas de elevado teor axioloacutegico que contecircm importantes decisotildees substantivas e se de-
bruccedilam sobre uma ampla variedade de temas que outrora natildeo eram tratados pelas constitui-
ccedilotildees como a economia as relaccedilotildees de trabalho e a famiacutelia25 Muitas delas ao lado dos tradi-
cionais direitos individuais e poliacuteticos incluem tambeacutem direitos sociais de natureza prestacio-
nal Uma interpretaccedilatildeo extensiva e abrangente das normas constitucionais pelo Poder Judiciaacute-
rio deu origem ao fenocircmeno de constitucionalizaccedilatildeo da ordem juriacutedica que ampliou a influecircn-
cia das constituiccedilotildees sobre todo o ordenamento levando agrave adoccedilatildeo de novas leituras de normas
e institutos nos mais variados ramos do Direito26
Como boa parcela das normas mais relevantes destas constituiccedilotildees caracteriza-se pela abertura
e indeterminaccedilatildeo semacircnticas - satildeo em grande parte princiacutepios e natildeo regras - a sua aplicaccedilatildeo
direta pelo Poder Judiciaacuterio importou na adoccedilatildeo de novas teacutecnicas e estilos hermenecircuticos ao
lado da tradicional subsunccedilatildeo27 A necessidade de resolver tensotildees entre princiacutepios constitucio-
nais colidentes - frequumlente em constituiccedilotildees compromissoacuterias marcadas pela riqueza e pelo
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pluralismo axioloacutegico - deu espaccedilo ao desenvolvimento da teacutecnica da ponderaccedilatildeo28 e tornou
frequumlente o recurso ao princiacutepio da proporcionalidade na esfera judicial29 E a busca de legiti-
midade para estas decisotildees no marco de sociedades plurais e complexas impulsionou o desen-
volvimento de diversas teorias da argumentaccedilatildeo juriacutedica30 que incorporaram ao Direito ele-
mentos que o positivismo claacutessico costumava desprezar como consideraccedilotildees de natureza mo-
ral ou relacionadas ao campo empiacuterico subjacente agraves normas
Neste contexto cresceu muito a importacircncia poliacutetica do Poder Judiciaacuterio Com frequumlecircncia cada
vez maior questotildees polecircmicas e relevantes para a sociedade passaram a ser decididas por ma-
gistrados e sobretudo por cortes constitucionais muitas vezes em razatildeo de accedilotildees propostas
pelo grupo poliacutetico ou social que fora perdedor na arena legislativa31 De poder quase nulo
mera boca que pronuncia as palavras da lei como lhe chamara Montesquieu o Poder Judiciaacute-
rio se viu alccedilado a uma posiccedilatildeo muito mais importante no desenho institucional do Estado con-
temporacircneo
A principal mateacuteria-prima dos estudos que se identificam com o neoconstitucionalismo relacio-
na-se agraves mutaccedilotildees da cultura juriacutedica acima descritas Em que pese a heterogeneidade dos po-
sicionamentos jusfilosoacuteficos dos autores que se filiam a esta linha natildeo me parece uma simplifi-
caccedilatildeo exagerada dizer que os seus principais pontos de convergecircncia satildeo o reconhecimento
destas mudanccedilas e a sua defesa32
As teorias neoconstitucionalistas buscam construir novas grades teoacutericas que se compatibilizem
com os fenocircmenos acima referidos em substituiccedilatildeo agravequelas do positivismo tradicional consi-
deradas incompatiacuteveis com a nova realidade Assim por exemplo ao inveacutes da insistecircncia na
subsunccedilatildeo e no silogismo do positivismo formalista ou no mero reconhecimento da discriciona-
riedade poliacutetica do inteacuterprete nos casos difiacuteceis na linha do positivismo mais moderno de Kel-
sen e Hart o neoconstitucionalismo se dedica agrave discussatildeo de meacutetodos ou de teorias da argu-
mentaccedilatildeo que permitam a procura racional e intersubjetivamente controlaacutevel da melhor res-
posta para os casos difiacuteceis do Direito33 Haacute portanto uma valorizaccedilatildeo da razatildeo praacutetica no
acircmbito juriacutedico Para o neoconstitucionalismo natildeo eacute racional apenas aquilo que possa ser
comprovado de forma experimental ou deduzido more geometrico de premissas gerais como
postulavam algumas correntes do positivismo Tambeacutem pode ser racional a argumentaccedilatildeo em-
pregada na resoluccedilatildeo das questotildees praacuteticas que o Direito tem de equacionar34 A ideacuteia de ra-
cionalidade juriacutedica aproxima-se da ideacuteia do razoaacutevel e deixa de se identificar agrave loacutegica formal
das ciecircncias exatas
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No neoconstitucionalismo a leitura claacutessica do princiacutepio da separaccedilatildeo de poderes que impu-
nha limites riacutegidos agrave atuaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio cede espaccedilo a outras visotildees mais favoraacuteveis
ao ativismo judicial em defesa dos valores constitucionais35 No lugar de concepccedilotildees estrita-
mente majoritaacuterias do princiacutepio democraacutetico satildeo endossadas teorias de democracia mais subs-
tantivas36 que legitimam amplas restriccedilotildees aos poderes do legislador em nome dos direitos
fundamentais e da proteccedilatildeo das minorias e possibilitem a sua fiscalizaccedilatildeo por juiacutezes natildeo elei-
tos E ao inveacutes de uma teoria das fontes do Direito focada no coacutedigo e na lei formal enfatiza-se
a centralidade da Constituiccedilatildeo no ordenamento a ubiquumlidade da sua influecircncia na ordem juriacute-
dica e o papel criativo da jurisprudecircncia
Ao reconhecer a forccedila normativa de princiacutepios revestidos de elevada carga axioloacutegica como
dignidade da pessoa humana igualdade Estado Democraacutetico de Direito e solidariedade social
o neoconstitucionalismo abre as portas do Direito para o debate moral37 Eacute certo que aqui resi-
de uma das maiores divergecircncias internas nas fileiras do neoconstitucionalismo
De um lado figuram os positivistas como Luigi Ferrajoli38 Luiz Prietro Sanchiacutes39 Ricardo
Guastini 40e Suzana Pozzolo41 que natildeo aceitam a existecircncia de uma conexatildeo necessaacuteria entre
Direito e Moral mas reconhecem que pode haver uma ligaccedilatildeo contingente entre estas esferas
sempre que as autoridades competentes dentre as quais se inclui o poder constituinte originaacute-
rio positivem valores morais conferindo-lhes forccedila juriacutedica Do outro alinham-se os natildeo-
positivistas como Ronald Dworkin42 Robert Alexy43 Carlos Santiago Nino44 e seus seguidores
que afirmam que Moral e Direito tecircm uma conexatildeo necessaacuteria e aderem agrave famosa tese de Gus-
tav Radbruch de que normas terrivelmente injustas natildeo tecircm validade juriacutedica independente-
mente do que digam as fontes autorizadas do ordenamento45 Dentre estes autores haacute quem
insista na ideacuteia de que o Direito possui uma pretensatildeo de correccedilatildeo pois de alguma maneira eacute
da sua essecircncia aspirar agrave realizaccedilatildeo da justiccedila46 Contudo na medida em que as constituiccedilotildees
contemporacircneas entronizam com prodigalidade os valores morais este debate teoacuterico perde
bastante em importacircncia pois mesmo os neoconstitucionalistas que se afirmam positivistas
reconhecem a penetraccedilatildeo da Moral no tecido juriacutedico sobretudo pela via dos princiacutepios consti-
tucionais47 Trata-se do chamado positivismo inclusivo48
Neste quadro embora me pareccedila exagerado falar em superaccedilatildeo da eterna querela entre jusna-
turalistas e positivistas pela via do neoconstitucionalismo natildeo haacute duacutevida de que a relevacircncia
praacutetica da desavenccedila eacute consideravelmente diminuiacuteda Eacute verdade que para os positivistas inclu-
sivos o fundamento das normas revestidas de conteuacutedo moral seraacute sempre um ato de autorida-
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de validado por uma regra de reconhecimento aceita pela praacutetica da comunidade poliacutetica No
final das contas eles natildeo se afastam do brocardo hobbesiano de que autoritas non veritas facit
legem Jaacute para os natildeo-positivistas a vigecircncia dos princiacutepios morais natildeo decorreraacute de um teste
de pedigree mas de exigecircncias da proacutepria Moral acessiacuteveis agrave razatildeo humana Poreacutem para am-
bas as linhas os valores morais incluiacutedos nas constituiccedilotildees satildeo juriacutedicos e devem produzir efei-
tos no mundo concreto
No paradigma neoconstitucionalista a argumentaccedilatildeo juriacutedica apesar de natildeo se fundir com a
Moral abre um significativo espaccedilo para ela Por isso se atenua a distinccedilatildeo da teoria juriacutedica
claacutessica entre a descriccedilatildeo do Direito como ele eacute e prescriccedilatildeo sobre como ele deveria ser49 Os
juiacutezos descritivo e prescritivo de alguma maneira se sobrepotildeem pela influecircncia dos princiacutepios
e valores constitucionais impregnados de forte conteuacutedo moral que conferem poder ao inteacuter-
prete para buscar em cada caso difiacutecil a soluccedilatildeo mais justa no proacuteprio marco da ordem juriacute-
dica Em outras palavras as fronteiras entre Direito e Moral natildeo satildeo abolidas e a diferenciaccedilatildeo
entre eles essencial nas sociedades complexas permanece em vigor mas as fronteiras entre
os dois domiacutenios tornam-se muito mais porosas na medida em que o proacuteprio ordenamento in-
corpora no seu patamar mais elevado princiacutepios de justiccedila e a cultura juriacutedica comeccedila a le-
vaacute-los a seacuterio
Poreacutem natildeo haacute uma posiccedilatildeo clara nas fileiras neoconstitucionalistas sobre a forma como devem
ser compreendidos e aplicados os valores morais incorporados pela ordem constitucional que
pela sua vagueza e indeterminaccedilatildeo abrem-se a leituras muito diversificadas No contexto das
sociedades plurais e desencantadas que existem no mundo contemporacircneo este debate tor-
na-se crucial uma vez que natildeo haacute mais consensos axioloacutegicos em torno das questotildees difiacuteceis
que o Direito eacute chamado a resolver Este pluralismo mundivisivo torna inviaacutevel pela falta de
legitimidade o uso da argumentaccedilatildeo de cunho jusnaturalista que apele agrave religiatildeo agrave natureza
ou agrave metafiacutesica para equacionar as mais complexas controveacutersias juriacutedicas50
Neste cenaacuterio haacute espaccedilo tanto para visotildees comunitaristas51 que buscam na moralidade positi-
va e nas preacute-compreensotildees socialmente vigentes o norte para a hermenecircutica constitucional
endossando na seara interpretativa os valores e cosmovisotildees hegemocircnicos na sociedade como
para teorias mais proacuteximas ao construtivismo eacutetico52 que se orientam para uma moralidade
criacutetica cujo conteuacutedo seja definido atraveacutes de um debate racional de ideacuteias fundado em cer-
tos pressupostos normativos como os de igualdade e liberdade de todos os seus participantes
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Natildeo haacute como identificar o neoconstitucionalismo com nenhuma destas posiccedilotildees que marcam o
importante debate entre comunitarismo e liberalismo na filosofia poliacutetica contemporacircnea
Outro traccedilo caracteriacutestico do neoconstitucionalismo eacute o seu foco no Poder Judiciaacuterio O grande
protagonista das teorias neoconstitucionalistas eacute o juiz O Direito eacute analisado sobretudo a partir
de uma perspectiva interna daquele que participa dos processos que envolvem a sua interpre-
taccedilatildeo e aplicaccedilatildeo relegando-se a um segundo plano a perspectiva externa do observador Esta
obsessatildeo pelo Poder Judiciaacuterio leva a uma certa desconsideraccedilatildeo do papel desempenhado por
outras instituiccedilotildees como o Poder Legislativo na interpretaccedilatildeo constitucional53 O juiz eacute con-
cebido como o guardiatildeo das promessas54 civilizatoacuterias dos textos constitucionais o que expotildee o
neoconstitucionalismo a vaacuterias criacuteticas - que seratildeo analisadas mais agrave frente - como de que se-
ria elitista e refrataacuterio ao autogoverno popular
Por outro lado o neoconstitucionalismo alenta um ideaacuterio humanista que aposta na possibili-
dade de emancipaccedilatildeo humana pela via juriacutedica atraveacutes de um uso engajado da moderna dog-
maacutetica constitucional55 Neste sentido ele se afasta de algumas linhas teoacutericas da esquerda
como o marxismo56a Critical Legal Studies norte-americana57 e o movimento do Direito Alter-
nativo no Brasil58 que denunciavam o Direito como um instrumento de opressatildeo e dominaccedilatildeo a
serviccedilo dos interesses das classes favorecidas mesmo quando apresentado sob o manto de uma
retoacuterica legitimadora de legalidade e de direitos individuais universais
Trata-se portanto de uma teoria otimista - ou naive diriam os seus criacuteticos - que tambeacutem
natildeo se compadece com o desencanto poacutes-moderno59 profundamente descrente em relaccedilatildeo agrave
razatildeo Enquanto os poacutes-modernos criticam as metanarrativas60 e buscam descontruir as ela-
boraccedilotildees abstratas sobre as quais se fundou o Direito moderno - direitos humanos liberdade
igualdade etc - os neoconstitucionalistas insistem no aprofundamento do projeto poliacutetico da
Modernidade de emancipaccedilatildeo pelo uso da razatildeo atraveacutes dos instrumentos do Direito Constitu-
cional sobretudo os direitos fundamentais
Vejamos agora como estas ideacuteias foram recebidas no Brasil
3 A recepccedilatildeo do neoconstitucionalismo no Brasil
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O processo histoacuterico que se desenrolou na Europa Ocidental a partir do final da Segunda Guer-
ra no Brasil soacute teve iniacutecio apoacutes a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 88 Eacute verdade que jaacute tiacutenha-
mos controle de constitucionalidade desde a proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Poreacutem na cultura ju-
riacutedica brasileira de ateacute entatildeo as constituiccedilotildees natildeo eram vistas como autecircnticas normas juriacutedi-
cas natildeo passando muitas vezes de meras fachadas Exemplos disso natildeo faltam a Constituiccedilatildeo
de 1824 falava em igualdade e a principal instituiccedilatildeo do paiacutes era a escravidatildeo negra a de 1891
instituiacutera o sufraacutegio universal mas todas as eleiccedilotildees eram fraudadas a de 1937 disciplinava o
processo legislativo mas enquanto ela vigorou o Congresso esteve fechado e o Presidente legis-
lava por decretos a de 1969 garantia os direitos agrave liberdade agrave integridade fiacutesica e agrave vida mas
as prisotildees ilegais o desaparecimento forccedilado de pessoas e a tortura campeavam nos porotildees do
regime militar Nesta uacuteltima quadra histoacuterica conviveu-se ainda com o constrangedor paradoxo
da existecircncia de duas ordens juriacutedicas paralelas a das constituiccedilotildees e a dos atos institucionais
que natildeo buscavam nas primeiras o seu fundamento de validade mas num suposto poder revolu-
cionaacuterio em que estariam investidas as Forccedilas Armadas
Ateacute 1988 a lei valia muito mais do que a Constituiccedilatildeo no traacutefico juriacutedico e no Direito Puacuteblico
o decreto e a portaria ainda valiam mais do que a lei O Poder Judiciaacuterio natildeo desempenhava
um papel poliacutetico tatildeo importante e natildeo tinha o mesmo niacutevel de independecircncia de que passou a
gozar posteriormente As constituiccedilotildees eram proacutedigas na consagraccedilatildeo de direitos mas estes
dependiam quase exclusivamente da boa vontade dos governantes de plantatildeo para saiacuterem do
papel - o que normalmente natildeo ocorria Em contextos de crise as foacutermulas constitucionais natildeo
eram seguidas e os quarteacuteis arbitravam boa parte dos conflitos poliacuteticos ou institucionais que
eclodiam no paiacutes
A Assembleacuteia Constituinte de 19871988 que coroou o processo de redemocratizaccedilatildeo do paiacutes
quis romper com este estado de coisas e promulgou uma Constituiccedilatildeo contendo um amplo e
generoso elenco de direitos fundamentais de diversas dimensotildees - direitos individuais poliacuteti-
cos sociais e difusos - aos quais conferiu aplicabilidade imediata (art 5ordm Paraacutegrafo 1ordm) e pro-
tegeu diante do proacuteprio poder de reforma (art 60 Paraacutegrafo 4ordm IV) Aleacutem disso reforccedilou o
papel do Judiciaacuterio consagrando a inafastabilidade da tutela judicial (art 5ordm XXXV) criando
diversos novos remeacutedios constitucionais fortalecendo a independecircncia da instituiccedilatildeo bem co-
mo do Ministeacuterio Puacuteblico e ampliando e robustecendo os mecanismos de controle de constitu-
cionalidade Neste uacuteltimo toacutepico ela democratizou o acesso ao controle abstrato de constitu-
cionalidade ao adotar um vasto elenco de legitimados ativos para a propositura de accedilatildeo direta
de inconstitucionalidade (art 103) e ampliou o escopo da jurisdiccedilatildeo constitucional ao instituir
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no Brasil o controle da inconstitucionalidade por omissatildeo tanto atraveacutes de accedilatildeo direta como do
mandado de injunccedilatildeo
Esta sistemaacutetica de jurisdiccedilatildeo constitucional adotada pelo constituinte favoreceu em larga
medida o processo de judicializaccedilatildeo da poliacutetica na medida em que conferiu a qualquer parti-
do poliacutetico com representaccedilatildeo no Congresso agraves representaccedilotildees nacionais da sociedade civil
organizada e agraves principais instituiccedilotildees dos Estados-membros dentre outras entidades o poder
de provocar o STF61 Assim eacute praticamente impossiacutevel que alguma questatildeo relevante seja re-
solvida no acircmbito parlamentar sem que os perdedores no processo poliacutetico recorram agrave nossa
Corte Suprema para que decirc a palavra final agrave controveacutersia com base na sua interpretaccedilatildeo da
Constituiccedilatildeo E tal modelo vem se aprofundando desde 88 com a criaccedilatildeo da Accedilatildeo Declaratoacuteria
de Constitucionalidade e a regulamentaccedilatildeo da Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fun-
damental
Aleacutem disso a Constituiccedilatildeo de 88 regulou uma grande quantidade de assuntos - muitos deles de
duvidosa dignidade constitucional - subtraindo um vasto nuacutemero de questotildees do alcance do
legislador Ademais ela hospedou em seu texto inuacutemeros princiacutepios vagos mas dotados de for-
te carga axioloacutegica e poder de irradiaccedilatildeo Estas caracteriacutesticas favoreceram o processo de
constitucionalizaccedilatildeo do Direito que envolve natildeo soacute a inclusatildeo no texto constitucional de temas
outrora ignorados ou regulados em sede ordinaacuteria como tambeacutem a releitura de toda a ordem
juriacutedica a partir de uma oacutetica pautada pelos valores constitucionais - a chamada filtragem
constitucional do Direito62
Deve-se tambeacutem destacar o papel importante da doutrina brasileira na mudanccedila de paradigma
do Direito Constitucional brasileiro Na minha opiniatildeo haacute dois momentos distintos nesta evolu-
ccedilatildeo o constitucionalismo brasileiro da efetividade 63e o poacutes-positivismo constitucional
O primeiro momento vem logo apoacutes a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 88 Alguns autores como
Luis Roberto Barroso64 e Clegravemerson Merlin Clegraveve65 passam a advogar a tese de que a Constitui-
ccedilatildeo sendo norma juriacutedica deveria ser rotineiramente aplicada pelos juiacutezes o que ateacute entatildeo
natildeo ocorria O que hoje parece uma obviedade era quase revolucionaacuterio numa eacutepoca em que a
nossa cultura juriacutedica hegemocircnica natildeo tratava a Constituiccedilatildeo como norma mas como pouco
mais do que um repositoacuterio de promessas grandiloquumlentes cuja efetivaccedilatildeo dependeria quase
sempre da boa vontade do legislador e dos governantes de plantatildeo66 Para o constitucionalismo
da efetividade a incidecircncia direta da Constituiccedilatildeo sobre a realidade social independentemen-
te de qualquer mediaccedilatildeo legislativa contribuiria para tirar do papel as proclamaccedilotildees generosas
de direitos contidas na Carta de 88 promovendo justiccedila igualdade e liberdade Se ateacute entatildeo
o discurso da esquerda era de desconstruccedilatildeo da dogmaacutetica juriacutedica a doutrina da efetividade
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vai defender a possibilidade de um uso emancipatoacuterio da dogmaacutetica tendo como eixo a con-
cretizaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo67
Na verdade tratava-se de uma modalidade de positivismo de combate68 A doutrina constitu-
cional da efetividade natildeo se caracterizava pela abertura do debate juriacutedico agrave argumentaccedilatildeo
moral O seu foco principal centrava-se nas normas e era do caraacuteter mais ou menos denso do
seu texto que o inteacuterprete deveria extrair os respectivos efeitos Por outro lado concebia-se a
jurisdiccedilatildeo como o espaccedilo privilegiado para a realizaccedilatildeo da vontade constitucional Um dos mo-
tes do movimento era afastar o estudo do Direito Constitucional da Teoria do Estado para apro-
ximaacute-lo do Direito Processual Por isso pode-se afirmar que o protagonista desta teoria consti-
tucional era o juiz
Em que pese a falta de efetividade de diversas normas da Constituiccedilatildeo e da eficaacutecia social
seletiva de outras tantas - que protegem muito bem o incluiacutedo mas continuam deixando de
fora os paacuterias de sempre (veja-se a diferenccedila da incidecircncia da inviolabilidade do domiciacutelio nas
residecircncias burguesas e nas favelas) - pode-se dizer que a doutrina constitucional da efetivida-
de teve ecircxito no Brasil no sentido de instalar no senso-comum dos operadores do Direito a i-
deacuteia de que a Constituiccedilatildeo eacute norma que pode e deve ser aplicada independentemente de re-
gulamentaccedilatildeo dos seus dispositivos pelo legislador ordinaacuterio Tal doutrina ainda natildeo correspon-
de ao neoconstitucionalismo mas a conquista que dela resultou para a dogmaacutetica constitucio-
nal brasileira foi um pressuposto para o surgimento deste outro movimento no nosso cenaacuterio
O segundo momento importante eacute o da chegada ao Brasil das teorias juriacutedicas ditas poacutes-
positivistas Foram marcos relevantes a publicaccedilatildeo da 5ordf ediccedilatildeo do Curso de Direito Constitu-
cional de Paulo Bonavides 69bem como do livro A Ordem Econocircmica na Constituiccedilatildeo de 1988
de Eros Roberto Grau70 que divulgaram entre noacutes a teoria dos princiacutepios de autores como Ro-
nald Dworkin e Robert Alexy e fomentaram as discussotildees sobre temas importantes como a
ponderaccedilatildeo de interesses o princiacutepio da proporcionalidade e eficaacutecia dos direitos fundamen-
tais Tambeacutem deve ser salientada a ampla penetraccedilatildeo no acircmbito de algumas poacutes-graduaccedilotildees
em Direito a partir de meados dos anos 90 do pensamento de filoacutesofos que se voltaram para o
estudo da relaccedilatildeo entre Direito Moral e Poliacutetica a partir de uma perspectiva poacutes-metafiacutesica
como John Rawls e Juumlrgen Habermas71 E ainda merece destaque o aprofundamento no paiacutes dos
estudos de hermenecircutica juriacutedica a partir de uma nova matriz teoacuterica inspirada pelo giro lin-
guumliacutestico na Filosofia que denunciou os equiacutevocos do modelo positivista de interpretaccedilatildeo ateacute
entatildeo dominante assentado na separaccedilatildeo cartesiana entre sujeito (o inteacuterprete) e objeto (o
texto da norma)72
12
Nesta nova fase a doutrina brasileira passa a enfatizar o caraacuteter normativo e a importacircncia dos
princiacutepios constitucionais e a estudar as peculiaridades da sua aplicaccedilatildeo Neste contexto haacute
uma verdadeira febre de trabalhos sobre teoria dos princiacutepios ponderaccedilatildeo de interesses teori-
as da argumentaccedilatildeo proporcionalidade e razoabilidade etc Tambeacutem cresce muito o interesse
doutrinaacuterio pelos direitos fundamentais sobretudo os direitos sociais Se antes estes eram vis-
tos preponderantemente como normas programaacuteticas passa-se a discutir a sua eficaacutecia juriacutedica
a partir de novas bases que incorporam ao debate a argumentaccedilatildeo moral Neste campo a ecircn-
fase na anaacutelise dos enunciados normativos que caracterizava a doutrina da efetividade eacute
substituiacuteda por uma discussatildeo marcada pela preocupaccedilatildeo com valores e democracia repleta de
novas categorias importadas sobretudo do Direito germacircnico como o miacutenimo existencial a
reserva do possiacutevel e a proibiccedilatildeo do retrocesso73
E esta nova racionalidade se espraia para diversos ramos do Direito No Direito Civil74 Penal75
Administrativo 76por exemplo cada vez mais a doutrina emprega normas e valores constitu-
cionais para reler os institutos tradicionais colorindo-os com novas tintas E trata-se natildeo ape-
nas de aplicar diretamente as normas constitucionais especificamente voltadas para cada uma
destas aacutereas como tambeacutem de projetar sobre estes campos a influecircncia dos direitos funda-
mentais e dos princiacutepios mais gerais do nosso constitucionalismo muitas vezes superando anti-
gos dogmas e definindo novos paradigmas
Neste segundo momento ocorre ainda uma significativa mudanccedila no enfoque dos estudos sobre
jurisdiccedilatildeo constitucional no Brasil Antes os trabalhos nacionais sobre o tema se limitavam
basicamente a discutir questotildees processuais mas a partir do final dos anos 90 diversos estu-
dos incorporam outras perspectivas agrave anaacutelise da questatildeo dedicando atenccedilatildeo agrave complexa pro-
blemaacutetica da legitimidade democraacutetica do controle de constitucionalidade77 tendo em vista a
chamada dificuldade contra-majoritaacuteria do Judiciaacuterio78 Num contexto como o nosso em que
a jurisdiccedilatildeo constitucional estaacute prevista pelo proacuteprio texto magno o debate relevante do ponto
de vista praacutetico natildeo eacute o de tecirc-la ou natildeo mas sim a forma como deve ser exercida Dependendo
do posicionamento adotado pode-se preconizar um maior ou menor grau de ativismo judicial
ou defender o ativismo em algumas aacutereas mas recusaacute-lo em outras Nesta nova agenda de dis-
cussotildees sobre a jurisdiccedilatildeo constitucional a argumentaccedilatildeo juriacutedica se entrelaccedila inevitavelmen-
te com o debate de Filosofia Poliacutetica abrindo espaccedilo para posiccedilotildees variadas como os vaacuterios
matizes de procedimentalismo e de substancialismo que vecircm florescendo na doutrina brasilei-
ra79 Dentre estas posiccedilotildees natildeo haacute duacutevida de que a mais identificada ao neoconstitucionalismo
eacute a substancialista que compartilha com ele a crenccedila numa ampla legitimidade do ativismo
judicial em favor dos valores constitucionais
13
Apesar destas mudanccedilas importantes que podem ser associadas ao neoconstitucionalismo o uso
da expressatildeo no Brasil eacute mais recente seguindo-se agrave ampla difusatildeo que recebeu na academia
brasileira a jaacute citada obra Neoconstitucionalismo(s) organizada por Miguel Carbonell e publi-
cada em 2003 De laacute para caacute muito se tem escrito sobre o toacutepico e vaacuterios autores nacionais
aderiram explicitamente agrave corrente como Luis Roberto Barroso80 Lecircnio Luiz Streck 81Antonio
Cavalcanti Maia82 Ana Paula de Barcellos83 Diogo de Figueiredo Moreira Neto84 Paulo Ricardo
Schier85 Eduardo Moreira86 Eacutecio Otto Ramos Duarte87 e Thomas Rosa de Bustamante88 Outros
adotaram postura criacutetica sobre a nova perspectiva como Joseacute Ribas Vieira Dimitri Dimoulis89 e
Humberto Aacutevila90 E pode-se notar pela leitura dos trabalhos destes e de outros autores brasi-
leiros que haacute um relativo consenso na definiccedilatildeo das caracteriacutesticas centrais do novo paradig-
ma valorizaccedilatildeo dos princiacutepios adoccedilatildeo de meacutetodos ou estilos mais abertos e flexiacuteveis na her-
menecircutica juriacutedica com destaque para a ponderaccedilatildeo abertura da argumentaccedilatildeo juriacutedica agrave
Moral mas sem recair nas categorias metafiacutesicas do jusnaturalismo reconhecimento e defesa
da constitucionalizaccedilatildeo do Direito e do papel de destaque do Judiciaacuterio na agenda de imple-
mentaccedilatildeo dos valores da Constituiccedilatildeo
Estas novas ideacuteias jaacute reverberam fortemente na jurisprudecircncia nacional sobretudo do Supremo
Tribunal Federal que nos uacuteltimos tempos tem cada vez mais invocado princiacutepios abertos nos
seus julgamentos recorrido agrave ponderaccedilatildeo de interesses e ao princiacutepio da proporcionalidade
com frequumlecircncia e ateacute se valido de referecircncias filosoacuteficas na fundamentaccedilatildeo de decisotildees Aliaacutes
eacute digna de nota a influecircncia da doutrina constitucional na atuaccedilatildeo do Supremo Tribunal Fede-
ral O fenocircmeno eacute relativamente recente uma vez que logo apoacutes a promulgaccedilatildeo da Constitui-
ccedilatildeo de 88 havia um profundo hiato entre o campo doutrinaacuterio que cobrava a efetivaccedilatildeo da
Constituiccedilatildeo pela via judicial e a jurisprudecircncia do STF tiacutemida e reticente diante dos valores
e das inovaccedilotildees da nova Carta - vg orientaccedilatildeo entatildeo adotada pela Corte em relaccedilatildeo ao man-
dado de injunccedilatildeo e ao controle judicial das medidas provisoacuterias Aquele quadro podia em parte
ser debitado agrave duvidosa opccedilatildeo do constituinte originaacuterio de manter no STF os ministros nomea-
dos durante o governo militar que natildeo tinham sintonia poliacutetico-ideoloacutegica nem boa vontade
diante do novo sistema constitucional e que por isso se apegavam a visotildees e interpretaccedilotildees
assentadas durante o regime preteacuterito muitas delas francamente incompatiacuteveis com a nova
ordem Mas hoje apoacutes a completa renovaccedilatildeo do STF constata-se um quadro radicalmente di-
ferente a maioria dos ministros do STF eacute composta por professores de Direito Constitucional
de grande reputaccedilatildeo acadecircmica que ateacute pela origem tecircm mais contato com a produccedilatildeo inte-
lectual de ponta na aacuterea e satildeo mais suscetiacuteveis agrave influecircncia das novas correntes de pensamen-
to
14
Como ressaltado esta mudanccedila de paradigma se reflete vivamente na jurisprudecircncia do STF
Satildeo exemplos eloquumlentes a alteraccedilatildeo da posiccedilatildeo da Corte em relaccedilatildeo aos direitos sociais antes
tratados como normas programaacuteticas e hoje submetidos a uma intensa proteccedilatildeo judicial 91o
reconhecimento da eficaacutecia horizontal dos direitos fundamentais92 a mutaccedilatildeo do entendimen-
to do Tribunal em relaccedilatildeo agraves potencialidades do mandado de injunccedilatildeo 93e a progressiva supe-
raccedilatildeo da visatildeo claacutessica kelseniana da jurisdiccedilatildeo constitucional que a equiparava ao legislador
negativo com a admissatildeo de teacutecnicas decisoacuterias mais heterodoxas94 como as declaraccedilotildees de
inconstitucionalidade sem pronuacutencia de nulidade e as sentenccedilas aditivas E para completar o
quadro deve-se acrescentar as mudanccedilas acarretadas por algumas inovaccedilotildees processuais re-
centes na nossa jurisdiccedilatildeo constitucional que permitiram a participaccedilatildeo dos amici curiae bem
como a realizaccedilatildeo de audiecircncias puacuteblicas no acircmbito do processo constitucional ampliando a
possibilidade de atuaccedilatildeo da sociedade civil organizada no STF95
Naturalmente a nova postura de ativismo judicial do STF estimula as forccedilas sociais a procuraacute-
lo com mais frequumlecircncia e contribui para uma significativa alteraccedilatildeo na agenda da Corte Atu-
almente ao lado das questotildees mais tradicionais de Direito Puacuteblico o STF tem se defrontado
com novos temas fortemente impregnados de conteuacutedo moral como as discussotildees sobre a vali-
dade de pesquisa em ceacutelulas-tronco embrionaacuterias96 aborto de feto anenceacutefalo97 e uniatildeo entre
pessoas do mesmo sexo98 Ademais o Tribunal passou a intervir de forma muito mais ativa no
processo poliacutetico adotando decisotildees que se refletem de forma direta e profunda sobre a atua-
ccedilatildeo dos demais poderes do Estado Para citar apenas alguns casos pode-se falar da decisatildeo que
assentou que a mudanccedila de partido implica salvo determinadas exceccedilotildees perda de mandato
parlamentar99 da que estabeleceu criteacuterios riacutegidos para a fixaccedilatildeo do nuacutemero de vereadores de
acordo com a respectiva populaccedilatildeo100 e da intensificaccedilatildeo do controle jurisdicional dos atos das
CPIs bem como dos pressupostos de ediccedilatildeo das medidas provisoacuterias
Poreacutem haacute um componente curioso na recepccedilatildeo deste novo paradigma juriacutedico pelo Judiciaacuterio
brasileiro Embora ainda natildeo existam estudos empiacutericos a este respeito tenho a forte intuiccedilatildeo
de que a penetraccedilatildeo destas novas ideacuteias associadas ao neoconstitucionalismo eacute forte na cuacutepula
e na base da hierarquia judicial mas ainda tiacutemida nos seus escalotildees intermediaacuterios E as causas
natildeo satildeo de difiacutecil compreensatildeo Em relaccedilatildeo agrave cuacutepula - os ministros do STF - as razotildees jaacute foram
explicadas acima Jaacute no que tange agrave base do Judiciaacuterio boa parte dos juiacutezes de 1ordm grau teve a
sua formaccedilatildeo num ambiente acadecircmico que jaacute valorizava o Direito Constitucional e reconhecia
a forccedila normativa dos direitos fundamentais e dos princiacutepios constitucionais Assim eles ten-
dem a levar para a sua praacutetica profissional esta visatildeo do Direito Poreacutem sobretudo na 2ordf ins-
tacircncia composta majoritariamente por magistrados que se formaram e foram socializados no
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seu meio institucional sob a eacutegide do paradigma juriacutedico anterior muito mais voltado para os
coacutedigos e para a letra da lei do que para a Constituiccedilatildeo e seus princiacutepios haacute maior resistecircncia agrave
incorporaccedilatildeo dos novos vetores constitucionais Contudo este fenocircmeno tende a diminuir com
o tempo seja pela consolidaccedilatildeo do paradigma constitucional emergente seja pela promoccedilatildeo
de magistrados mais antenados com o novo constitucionalismo seja ateacute pela influecircncia do pen-
samento e das orientaccedilotildees da cuacutepula do Judiciaacuterio sobre todas as suas instacircncias
No cenaacuterio brasileiro o neoconstitucionalismo eacute tambeacutem impulsionado por outro fenocircmeno a
descrenccedila geral da populaccedilatildeo em relaccedilatildeo agrave poliacutetica majoritaacuteria e em especial o descreacutedito
no Poder Legislativo e nos partidos poliacuteticos101 A percepccedilatildeo geral alimentada por sucessivos
escacircndalos e pelo discurso de alguns meios de comunicaccedilatildeo social de que a poliacutetica parlamen-
tar e partidaacuteria satildeo esferas essencialmente corrompidas que se movem exclusivamente em
torno de interesses e natildeo de valores gera em alguns setores a expectativa de que a soluccedilatildeo
para os problemas nacionais possa vir do Judiciaacuterio102 E este sentimento eacute fortalecido quando
a Justiccedila adota decisotildees em consonacircncia com a opiniatildeo puacuteblica - como ocorreu no recebimento
da denuacutencia criminal no caso do mensalatildeo na definiccedilatildeo de perda do mandato por infidelidade
partidaacuteria e na proibiccedilatildeo do nepotismo na Administraccedilatildeo Puacuteblica
Por outro lado a ascensatildeo institucional do Judiciaacuterio e a riqueza e importacircncia praacutetica ou sim-
boacutelica dos temas que ele vem julgando tem provocado um grande aumento no interesse da so-
ciedade pelo Direito Constitucional e pela atuaccedilatildeo do Supremo Tribunal Federal Eacute difiacutecil um
dia em que os principais meios de comunicaccedilatildeo natildeo discutam alguma decisatildeo da Corte ou mani-
festaccedilatildeo de qualquer dos seus membros E este fenocircmeno eacute potencializado tanto pela extro-
versatildeo midiaacutetica de alguns ministros como tambeacutem pelo fato - sem precedentes em outros
paiacuteses - do televisionamento das sessotildees do STF Com tudo isso as questotildees constitucionais
que antes eram apenas discutidas dentro de um ciacuterculo muito restrito de iniciados hoje satildeo
amplamente debatidas no espaccedilo puacuteblico
Neste quadro em que pesem as muacuteltiplas resistecircncias que sofre eacute possiacutevel apontar a emergecircn-
cia de uma nova forma de conceber o Direito e o Estado na sociedade brasileira contemporacirc-
nea que se quisermos adotar a terminologia hoje em voga pode ser chamada de neoconstitu-
cionalismo
4 Trecircs objeccedilotildees ao neoconstitucionalismo
16
Nas proacuteximas linhas abordarei de maneira breve trecircs criacuteticas que podem ser levantadas con-
tra o neoconstitucionalismo (a) a de que o seu pendor judicialista eacute anti-democraacutetico (b) a de
que a sua preferecircncia por princiacutepios e ponderaccedilatildeo em detrimento de regras e subsunccedilatildeo eacute
perigosa sobretudo no Brasil em razatildeo de singularidades da nossa cultura e (c) a de que ele
pode gerar uma panconstitucionalizaccedilatildeo do Direito em detrimento da autonomia puacuteblica do
cidadatildeo e da autonomia privada do indiviacuteduo Outras criacuteticas importantes existem103 mas por
limites de tempo e espaccedilo preferi priorizar aqui estas trecircs que satildeo as que geram maior apre-
ensatildeo no cenaacuterio brasileiro
a) Neoconstitucionalismo e judiciocracia
Como salientado acima o neoconstitucionalismo tem um foco muito centrado no Poder Judici-
aacuterio no qual deposita enormes expectativas no sentido de concretizaccedilatildeo dos ideais emancipa-
toacuterios presentes nas constituiccedilotildees contemporacircneas Contudo este vieacutes judicialista sofre con-
testaccedilotildees pelo seu suposto caraacuteter antidemocraacutetico na medida em que os juiacutezes diferente-
mente dos parlamentares e chefes do Executivo natildeo satildeo eleitos e natildeo respondem diretamente
perante o povo104
Esta criacutetica democraacutetica se assenta na ideacuteia de que numa democracia eacute essencial que as deci-
sotildees poliacuteticas mais importantes sejam tomadas pelo proacuteprio povo ou por seus representantes
eleitos e natildeo por saacutebios ou tecnocratas de toga Eacute verdade que a maior parte dos teoacutericos con-
temporacircneos da democracia reconhece que ela natildeo se esgota no respeito ao princiacutepio majoritaacute-
rio pressupondo antes o acatamento das regras do jogo democraacutetico que incluem a garantia
de direitos baacutesicos visando a viabilizar a participaccedilatildeo igualitaacuteria do cidadatildeo na esfera puacuteblica
bem como alguma proteccedilatildeo agraves minorias105 Poreacutem temos aqui uma questatildeo de dosagem pois
se a imposiccedilatildeo de alguns limites para a decisatildeo das maiorias pode ser justificada em nome da
democracia o exagero tende a revelar-se antidemocraacutetico por cercear em demasia a possibi-
lidade do povo de se autogovernar106
E a questatildeo natildeo eacute apenas de divisatildeo de poder ao longo do tempo A dificuldade democraacutetica
natildeo estaacute tatildeo-somente no fato de as constituiccedilotildees subtraiacuterem do legislador futuro a possibilida-
de de tomar algumas decisotildees107 O cerne do debate estaacute no reconhecimento de que diante da
vagueza e abertura de boa parte das normas constitucionais mais importantes quem as inter-
preta tambeacutem participa do seu processo de criaccedilatildeo108 Daiacute a criacutetica de que o vieacutes judicialista
subjacente ao neoconstitucionalismo acaba por conferir aos juiacutezes uma espeacutecie de poder cons-
tituinte permanente pois lhes permite moldar a Constituiccedilatildeo de acordo com as suas preferecircn-
cias poliacuteticas e valorativas em detrimento daquelas do legislador eleito Esta visatildeo levou inuacute-
17
meras correntes de pensamento ao longo da histoacuteria a rejeitarem a jurisdiccedilatildeo constitucional
ou pelo menos o ativismo judicial no seu exerciacutecio dos revolucionaacuterios franceses do seacuteculo XVI-
II109 passando por Carl Schmitt110 na Repuacuteblica de Weimar ateacute os adeptos do constituciona-
lismo popular nos Estados Unidos de hoje111
No Brasil eacute muito comum traccedilar-se um paralelo entre a defesa do ativismo judicial e posiccedilotildees
sociais progressistas Talvez isso se deva ao fato de que na nossa histoacuteria o Judiciaacuterio brasilei-
ro tem pecado muito mais por omissatildeo acumpliciando-se diante dos desmandos dos poderes
poliacutetico e econocircmico do que por excesso de ativismo Neste quadro quem ousa questionar
possiacuteveis exageros na judicializaccedilatildeo da poliacutetica e da vida social no Brasil de hoje eacute logo tachado
de conservador Poreacutem o paralelismo em questatildeo natildeo existe Muitas vezes o Poder Judiciaacuterio
pode atuar bloqueando mudanccedilas importantes promovidas pelos outros poderes em favor dos
excluiacutedos defendendo o statu quo E esta defesa pode ocorrer inclusive atraveacutes do uso da retoacute-
rica dos direitos fundamentais
Isso se deu por exemplo nos Estados Unidos nas primeiras deacutecadas do seacuteculo passado em pe-
riacuteodo que ficou conhecido como Era de Lochner112 quando a Suprema Corte impediu sistemati-
camente a ediccedilatildeo de legislaccedilatildeo trabalhista e de outras medidas que implicavam em interferecircn-
cia na esfera econocircmica em proveito das classes desfavorecidas com base numa leitura subs-
tantiva da claacuteusula do devido processo legal No cenaacuterio contemporacircneo Ran Hirshl113 sustenta
que o processo de judicializaccedilatildeo da poliacutetica que vem ocorrendo nos uacuteltimos anos em diversos
paiacuteses do mundo - ele fez um atento ainda que controvertido estudo dos casos do Canadaacute
Israel Aacutefrica do Sul e Nova Zelacircndia - teria como pano de fundo uma tentativa das elites eco-
nocircmicas e culturais que perderam espaccedilo na poliacutetica majoritaacuteria de manterem o seu poder
reforccedilando no arranjo institucional do Estado o peso do Judiciaacuterio no qual elas ainda tecircm he-
gemonia E aqui no Brasil seraacute que a proteccedilatildeo absoluta que vem sendo conferida ao direito
adquirido - inclusive o de furar teto salarial do funcionalismo fixado por emenda agrave Constituiccedilatildeo
114 - e o ultra-garantismo penal nos crimes do colarinho branco natildeo seriam exemplos deste
mesmo fenocircmeno
Por outro lado uma ecircnfase excessiva no espaccedilo judicial pode levar ao esquecimento de outras
arenas importantes para a concretizaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo e realizaccedilatildeo de direitos gerando um
resfriamento da mobilizaccedilatildeo ciacutevica do cidadatildeo Eacute verdade que o ativismo judicial pode em
certos contextos atuar em sinergia com a mobilizaccedilatildeo social na esfera puacuteblica Isto ocorreu
por exemplo no movimento dos direitos civis nos Estados Unidos dos anos 50 e 60 que foi a-
quecido pelas respostas positivas obtidos na Suprema Corte no periacuteodo da Corte de Warren115
Mas nem sempre eacute assim A ecircnfase judicialista pode afastar do cenaacuterio de disputa por direitos
18
as pessoas e movimentos que natildeo pertenccedilam nem tenham proximidade com as corporaccedilotildees
juriacutedicas
Ademais esta obsessatildeo com a interpretaccedilatildeo judicial da Constituiccedilatildeo tende a obscurecer o pa-
pel central de outras instacircncias na definiccedilatildeo do sentido da Constituiccedilatildeo - como o Legislativo o
Executivo e a proacutepria esfera puacuteblica informal Trata-se de um desvio que gera consequumlecircncias
negativas tanto no plano descritivo como na esfera normativa Sob o prisma descritivo trans-
mite-se uma imagem muito parcial do fenocircmeno constitucional que natildeo eacute captado com todas
as suas nuances e riquezas jaacute que o foco se concentra apenas sobre a accedilatildeo de um dentre os
vaacuterios agentes importantes que povoam a seara da hermenecircutica constitucional116 Sob o acircngu-
lo normativo favorece-se um governo agrave moda platocircnica de saacutebios de toga117 que satildeo convida-
dos a assumir uma posiccedilatildeo paternalista diante de uma sociedade infantilizada118 Justifica-se o
ativismo judicial a partir de uma visatildeo muito criacutetica do processo poliacutetico majoritaacuterio mas que
ignora as inuacutemeras mazelas que tambeacutem afligem o Poder Judiciaacuterio construindo-se teorias a
partir de visotildees romacircnticas e idealizadas do juiz119 Soacute que se eacute verdade que o processo poliacuteti-
co majoritaacuterio tem seus viacutecios - e eles satildeo muito graves no cenaacuterio brasileiro - tambeacutem eacute certo
que os juiacutezes natildeo satildeo semi-deuses e que a esfera em que atuam tampouco eacute imune agrave poliacutetica
com p menor
Esta idealizaccedilatildeo da figura do juiz natildeo se compadece com algumas notoacuterias deficiecircncias que o
Judiciaacuterio brasileiro enfrenta Dentre elas pode-se destacar a sobrecarga de trabalho que
compromete a capacidade dos magistrados de dedicarem a cada processo o tempo e a energia
necessaacuterias para que faccedilam tudo que o que demandam as principais teorias da argumentaccedilatildeo
defendidas pelo neoconstitucionalismo E cabe referir tambeacutem agraves lacunas na formaccedilatildeo do ma-
gistrado brasileiro decorrentes sobretudo das falhas de um ensino juriacutedico formalista e nada
interdisciplinar que ainda viceja no paiacutes que natildeo satildeo corrigidas nos procedimentos de seleccedilatildeo
e treinamento dos juiacutezes
Outra consequumlecircncia da obsessatildeo judicialista do constitucionalismo brasileiro contemporacircneo
estaacute refletida na nossa produccedilatildeo acadecircmica Enquanto somos inundados por livros e artigos
muitas vezes repetitivos sobre assuntos como princiacutepios e regras interpretaccedilatildeo constitucional
e tutela judicial de direitos fundamentais outros temas absolutamente essenciais para a vida
do paiacutes passam ao largo da preocupaccedilatildeo dos juristas Eacute o caso da reforma poliacutetica Em que pese
o caraacuteter essencialmente constitucional do assunto quase nenhum constitucionalista se inte-
ressou por ele 120e praticamente toda a literatura de qualidade produzida sobre o toacutepico tem
vindo da Ciecircncia Poliacutetica
19
Estou convencido de que o Poder Judiciaacuterio tem um papel essencial na concretizaccedilatildeo da Consti-
tuiccedilatildeo brasileira Em face do quadro de sistemaacutetica violaccedilatildeo de direitos de certos segmentos da
populaccedilatildeo do arranjo institucional desenhado pela Carta de 88 e da seacuteria crise de representa-
tividade do Poder Legislativo entendo que o ativismo judicial se justifica no Brasil pelo menos
em certas searas como a tutela de direitos fundamentais a proteccedilatildeo das minorias e a garantia
do funcionamento da proacutepria democracia O maior insulamento judicial diante da pressatildeo das
maiorias bem como um certo ethos profissional de valorizaccedilatildeo dos direitos humanos que co-
meccedila a se instalar na nossa magistratura 121 conferem ao Judiciaacuterio uma capacidade institu-
cional privilegiada para atuar nestas aacutereas122
Mas em outros campos pode ser mais recomendaacutevel uma postura de autocontenccedilatildeo judicial
seja por respeito agraves deliberaccedilotildees majoritaacuterias adotadas no espaccedilo poliacutetico123 seja pelo reco-
nhecimento da falta de expertise do Judiciaacuterio para tomar decisotildees que promovam eficiente-
mente os valores constitucionais em jogo em aacutereas que demandem profundos conhecimentos
teacutecnicos fora do Direito - como Economia poliacuteticas puacuteblicas e regulaccedilatildeo124 Nestes casos deve-
se reconhecer que outros oacutergatildeos do Estado estatildeo mais habilitados para assumirem uma posiccedilatildeo
de protagonismo na implementaccedilatildeo da vontade constitucional
Nesta linha vejo com reticecircncias a sedimentaccedilatildeo na nossa cultura juriacutedica da visatildeo de que o
grande - senatildeo o uacutenico - inteacuterprete da Constituiccedilatildeo seria o Poder Judiciaacuterio125 Esta leitura des-
carta a autocontenccedilatildeo judicial bem como tende a desprezar a possibilidade de que sejam tra-
vados construtivos diaacutelogos interinstitucionais entre diversos oacutergatildeos estatais para a definiccedilatildeo da
melhor interpretaccedilatildeo dos ditames constitucionais126 Um bom exemplo127 deste desvio ocorreu
no julgamento da constitucionalidade das pesquisas em ceacutelulas-tronco embrionaacuterias realizada
pelo STF em que pese o resultado final do julgamento ter sido substancialmente correto Na-
quela ocasiatildeo o importante argumento deduzido na tribuna e em memoriais por Luis Roberto
Barroso - que advogava para um dos amici curiae favoraacuteveis agraves pesquisas - de que o Judiciaacuterio
deveria adotar posiccedilatildeo cautelosa no julgamento da constitucionalidade da lei impugnada ten-
do em vista o amplo consenso em torno dela obtido durante o processo legislativo tanto no
Senado como na Cacircmara foi explicitamente rechaccedilado por alguns ministros que consideraram
o ponto irrelevante E outros ministros em votos vencidos se sentiram confortaacuteveis ateacute para
defender a imposiccedilatildeo de novas normas pelo STF na aacuterea do Biodireito arvorando-se agrave condiccedilatildeo
de legisladores num campo para o qual evidentemente lhes faltava qualquer expertise
Enfim o neoconstitucionalismo brasileiro tem pecado por excesso depositando no Judiciaacuterio
expectativas que ele nem sempre teraacute como atender de forma satisfatoacuteria Um dos efeitos co-
laterais deste fenocircmeno eacute a disseminaccedilatildeo de um discurso muito perigoso de que voto e poliacuteti-
20
ca natildeo satildeo tatildeo importantes pois relevante mesmo eacute a interpretaccedilatildeo dos princiacutepios constitucio-
nais realizada pelo STF Daiacute a dizer que o povo natildeo sabe votar eacute um pulo e a ditadura de toga
pode natildeo ser muito melhor do que a ditadura de farda
b) Neoconstitucionalismo oba-oba constitucional e Estado Democraacutetico de Direito
Seria uma profunda injusticcedila com a teoria neoconstitucionalista acusaacute-la de promover o decisi-
onismo ou de defender a tomada de decisotildees judiciais puramente emotivas sem lastro em ar-
gumentaccedilatildeo racional soacutelida Pelo contraacuterio como foi destacado acima um dos eixos centrais
do pensamento neoconstitucional eacute a reabilitaccedilatildeo da racionalidade praacutetica no acircmbito juriacutedico
com a articulaccedilatildeo de complexas teorias da argumentaccedilatildeo que demandam muito dos inteacuterpre-
tes e sobretudo dos juiacutezes em mateacuteria de fundamentaccedilatildeo das suas decisotildees Poreacutem a praacutetica
judiciaacuteria brasileira recepcionou apenas parcialmente as teorias juriacutedicas de corte poacutes-
positivista e aqui a valorizaccedilatildeo dos princiacutepios e da ponderaccedilatildeo natildeo tem sido muitas vezes
acompanhada do necessaacuterio cuidado com a justificaccedilatildeo das decisotildees
Se ateacute natildeo muito tempo atraacutes os princiacutepios natildeo eram tratados como autecircnticas normas por
aqui - soacute tinha bom direito quem podia invocar uma regra legal clara e precisa em favor da sua
pretensatildeo - com a chegada do poacutes-positivismo e do neoconstitucionalismo passou-se em pou-
cos anos da aacutegua para o vinho Hoje instalou-se um ambiente intelectual no Brasil que aplaude
e valoriza as decisotildees principioloacutegicas e natildeo aprecia tanto aquelas calcadas em regras legais
que satildeo vistas como burocraacuteticas ou positivistas - e positivismo hoje no paiacutes eacute quase um pala-
vratildeo128 Neste contexto os operadores do Direito satildeo estimulados a invocar sempre princiacutepios
muito vagos nas suas decisotildees mesmo quando isso seja absolutamente desnecessaacuterio pela e-
xistecircncia de regra clara e vaacutelida a reger a hipoacutetese Os campeotildees tecircm sido os princiacutepios da dig-
nidade da pessoa humana e da razoabilidade O primeiro eacute empregado para dar imponecircncia ao
decisionismo judicial vestindo com linguagem pomposa qualquer decisatildeo tida como politica-
mente correta e o segundo para permitir que os juiacutezes substituam livremente as valoraccedilotildees de
outros agentes puacuteblicos pelas suas proacuteprias
Este cenaacuterio eacute problemaacutetico porque um sistema juriacutedico funcional estaacutevel e harmocircnico com os
valores do Estado Democraacutetico de Direito precisa tanto da aplicaccedilatildeo de regras como de princiacute-
pios129 As regras satildeo indispensaacuteveis dentre outras razotildees130 porque geram maior previsibili-
dade e seguranccedila juriacutedica para os seus destinataacuterios diminuem os riscos de erro na sua inci-
decircncia jaacute que natildeo dependem tanto das valoraccedilotildees do inteacuterprete em cada caso concreto en-
volvem um menor custo no seu processo de aplicaccedilatildeo pois podem incidir de forma mais mecacirc-
nica sem demandarem tanto esforccedilo do inteacuterprete e natildeo implicam na mesma medida que os
21
princiacutepios em uma transferecircncia de poder decisoacuterio do Legislativo que eacute eleito para o Judici-
aacuterio que natildeo eacute
Natildeo pretendo sustentar com isso que se deva retroceder ao tempo em que os princiacutepios natildeo
eram aplicados pelos juiacutezes brasileiros Tambeacutem os princiacutepios satildeo essenciais na ordem juriacutedica
pois conferem mais plasticidade ao Direito - o que eacute essencial numa sociedade hiper-complexa
como a nossa - e permitem uma maior abertura da argumentaccedilatildeo juriacutedica agrave Moral e ao mundo
empiacuterico subjacente O importante eacute encontrar uma justa medida que natildeo torne o processo de
aplicaccedilatildeo do Direito amarrado demais como ocorreria num sistema baseado exclusivamente
em regras nem solto demais como sucederia com um que se fundasse apenas em princiacutepios
Penso que eacute chegada a hora de um retorno do pecircndulo no Direito brasileiro131 que sem des-
cartar a importacircncia dos princiacutepios e da ponderaccedilatildeo volte a levar a seacuterio tambeacutem as regras e a
subsunccedilatildeo
Ademais naquelas hipoacuteteses em que a aplicaccedilatildeo de princiacutepios for realmente apropriada ela
deve dar-se de forma mais racional e fundamentada Deve-se adotar a premissa de que quanto
mais vaga for a norma a ser aplicada e mais intenso o componente volitivo envolvido no pro-
cesso decisoacuterio maior deve ser o ocircnus argumentativo do inteacuterprete no sentido de mostrar que
a soluccedilatildeo por ele adotada eacute a que melhor realiza os valores do ordenamento naquele caso con-
creto132 A tendecircncia atual de invocaccedilatildeo frouxa e natildeo fundamentada de princiacutepios colide com a
loacutegica do Estado Democraacutetico de Direito pois amplia as chances de arbiacutetrio judicial gera inse-
guranccedila juriacutedica e atropela a divisatildeo funcional de poderes que tem no ideaacuterio democraacutetico um
dos seus fundamentos - a noccedilatildeo baacutesica de que as decisotildees sobre o que os cidadatildeos e o Estado
podem e natildeo podem fazer devem ser tomadas preferencialmente por quem represente o povo
e seja por ele escolhido
E haacute na sociedade brasileira traccedilos que tornam ainda mais perigosa esta tendecircncia agrave frouxidatildeo
e emotividade na metodologia juriacutedica Nossa cultura caracteriza-se muito mais pelo jeiti-
nho133 e pelo patrimonialismo134 do que pela valorizaccedilatildeo do cumprimento impessoal de regras
O brasileiro - jaacute dizia Seacutergio Buarque de Holanda135 - eacute o homem cordial que tende a antepor
a loacutegica privada do compadrio e da simpatia agrave racionalidade objetiva das leis Esta singularida-
de das nossas relaccedilotildees sociais natildeo atua de forma neutra em relaccedilatildeo a todos os cidadatildeos Ela
implica na adoccedilatildeo de posturas estatais em geral muito benevolentes em relaccedilatildeo aos donos do
poder e seus apaniguumlados e de posiccedilotildees muito mais duras dirigidas aos grupos excluiacutedos e mar-
ginalizados136 Uns poucos acabam pairando acima das leis que natildeo os alcanccedilam para limitar a
sua conduta ou sancionar os seus desvios enquanto outros permanecem abaixo dela sendo
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atingidos apenas pelo braccedilo punitivo do Estado pois a violaccedilatildeo rotineira dos seus direitos eacute
naturalizada tornando-se invisiacutevel
Neste quadro cabe indagar sob a perspectiva de uma sociologia da interpretaccedilatildeo constitucio-
nal ateacute que ponto a introduccedilatildeo entre noacutes de uma dogmaacutetica fluida - a expressatildeo eacute de Gusta-
vo Zagrebelsky137 um dos iacutecones do neoconstitucionalismo - natildeo pode ter como efeito colateral
o agravamento de patologias que marcam as nossas relaccedilotildees sociais Seraacute que o nosso Direito
precisa de mais rigidez ou de maior maleabilidade Ao fim e ao cabo quem tende a se benefi-
ciar com a adoccedilatildeo de uma hermenecircutica juriacutedica mais flexiacutevel
Uma reflexatildeo importante sobre tema correlato foi empreendida por Marcelo Neves138 a partir
das categorias da teoria sistecircmica de Niklas Luhman Para Luhman139 em apertada siacutentese o
Direito nas hipercomplexas sociedades modernas seria autopoieacutetico140 pois consistiria num
subsistema social estruturalmente fechado em relaccedilatildeo ao meio envolvente que operaria de
acordo com um coacutedigo binaacuterio proacuteprio - o liacutecito iliacutecito As influecircncias do meio envolvente so-
bre o Direito seriam filtradas atraveacutes deste coacutedigo assegurando a autonomia da esfera juriacutedica
diante dos outros subsistemas sociais como a Economia a Poliacutetica a Religiatildeo etc Contudo
Marcelo Neves sustenta que em sociedades perifeacutericas como o Brasil natildeo se desenvolveu ple-
namente este fechamento estrutural do Direito Por aqui fatores como a nossa constituciona-
lizaccedilatildeo simboacutelica geraram uma insuficiente diferenciaccedilatildeo do Direito em relaccedilatildeo a outros sub-
sistemas sociais permitindo que elementos a princiacutepio estranhos ao coacutedigo binaacuterio do juriacutedico -
como a questatildeo do poder poliacutetico e do poder econocircmico - se infiltrem sistematicamente nos
processos de aplicaccedilatildeo das normas condicionando o seu resultado A teoria dos sistemas de
Luhman natildeo funcionaria bem entre noacutes pois teriacuteamos um Direito em boa parte alopoieacuteti-
coPara tal perspectiva esta maior abertura do Direito ao meio envolvente natildeo assume o po-
tencial emancipatoacuterio preconizado pela teoria neoconstitucionalista Ela funciona muito mais
como um mecanismo de cristalizaccedilatildeo de diferenccedilas sociais mantendo a hiper-inclusatildeo de uns
ao preccedilo da exclusatildeo de outros
Esta reflexatildeo de Marcelo Neves natildeo se dirigiu ao debate metodoloacutegico contemporacircneo envol-
vendo princiacutepios e regras ponderaccedilatildeo e subsunccedilatildeo etc Poreacutem entendo que ela pode ter algu-
ma pertinecircncia tambeacutem aqui pelo menos para nos advertir sobre o perigo de que o neoconsti-
tucionalismo com a fluidez metodoloacutegica e abertura do Direito a outros domiacutenios que preconi-
za possa acabar tornando-se um belo roacutetulo para justificar mais do mesmo patrimonialismo
desigualdade jeitinho Nesta perspectiva a novidade do neoconstitucionalismo poderia pare-
cer com aquela advogada pelo Priacutencipe de Salinas em famosa passagem do romance O Leopar-
do de Giuseppe Lampedusa quando defendia no contexto da crise da aristocracia italiana do
23
final do seacuteculo XIX a necessidade de mudanccedilas urgentes no governo para que ao final as
coisas pudessem permanecer exatamente do jeito que sempre foram
Natildeo penso que esta seja uma consequumlecircncia necessaacuteria da adoccedilatildeo de uma perspectiva juriacutedica
mais principialista no Brasil O maior cuidado metodoloacutegico adicionado agrave adoccedilatildeo de uma dire-
triz hermenecircutica substantiva que afirme a missatildeo essencial do Direito de assegurar justiccedila e
seguranccedila agraves pessoas tratando-as como livres e iguais pode minimizar as possibilidades de um
uso enviesado da teoria neoconstitucional que acabe favorecendo aos mesmos de sempre
Mas diante das nossas tradiccedilotildees natildeo haacute como negar que os riscos satildeo elevados
c) Neoconstitucionalismo e panconstitucionalizaccedilatildeo
Uma das caracteriacutesticas do neoconstitucionalismo eacute a defesa da constitucionalizaccedilatildeo do Direi-
to Sustenta-se que a irradiaccedilatildeo das normas constitucionais por todo o ordenamento contribui
para aproximaacute-lo dos valores emancipatoacuterios contidos nas constituiccedilotildees contemporacircneas 141A
Constituiccedilatildeo natildeo eacute vista mais como uma simples norma normarum - cuja finalidade principal eacute
disciplinar o processo de produccedilatildeo de outras normas142 Ela passa a ser enxergada como a en-
carnaccedilatildeo dos valores superiores da comunidade poliacutetica que devem fecundar todo o sistema
juriacutedico Neste modelo cabe ao inteacuterprete natildeo soacute aplicar diretamente os ditames constitucio-
nais agraves relaccedilotildees sociais como tambeacutem reler todas as normas e institutos dos mais variados ra-
mos do Direito agrave luz da Constituiccedilatildeo emprestando-lhes o sentido que mais promova os objeti-
vos e a axiologia da Carta
A constitucionalizaccedilatildeo do Direito de que cogita o neoconstitucionalismo natildeo eacute aquela que resul-
ta do caraacuteter excessivamente analiacutetico da Constituiccedilatildeo e leva ao entricheiramento de meras
opccedilotildees conjunturais do constituinte originaacuterio ou derivado despidas de maior importacircncia ou
dignidade Este eacute um fenocircmeno caracteriacutestico da Carta de 88 que se excedeu no casuiacutesmo e
nos detalhes elevando ao seu texto meros interesses corporativos ou decisotildees de momento
sem focirclego para perdurarem no tempo A constitucionalizaccedilatildeo louvada e defendida pelo neo-
constitucionalismo eacute aquela que parte de uma interpretaccedilatildeo extensiva e irradiante dos direitos
fundamentais e dos princiacutepios mais importantes da ordem constitucional Aqui contudo pode-
se discutir ateacute que ponto o fenocircmeno eacute legiacutetimo Poucos discordaratildeo pelo menos no Brasil de
que alguma constitucionalizaccedilatildeo do Direito eacute positiva e bem-vinda por semear o ordenamento
com os valores humanitaacuterios da Constituiccedilatildeo Poreacutem pode-se objetar contra as teses extrema-
das sobre este processo que acabam amputando em demasia o espaccedilo de liberdade do legisla-
dor em detrimento da democracia 143
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Com efeito quem defende que tudo ou quase tudo jaacute estaacute decidido pela Constituiccedilatildeo e que o
legislador eacute um mero executor das medidas jaacute impostas pelo constituinte nega por conse-
quumlecircncia a autonomia poliacutetica ao povo para em cada momento da sua histoacuteria realizar as suas
proacuteprias escolhas O excesso de constitucionalizaccedilatildeo do Direito reveste-se portanto de um
vieacutes antidemocraacutetico Esta ordem de preocupaccedilotildees levou Ersnt Forsthof na Alemanha a criti-
car as teorias que viam a Constituiccedilatildeo como uma espeacutecie de genoma juriacutedico () do qual tudo
deriva do Coacutedigo Penal ateacute a lei sobre a fabricaccedilatildeo de termocircmetros144 E a questatildeo torna-se
ainda mais delicada diante da constataccedilatildeo de que pela abertura semacircntica dos direitos fun-
damentais e dos princiacutepios - principal mateacuteria-prima da constitucionalizaccedilatildeo do Direito - o seu
principal agente acaba sendo o Poder Judiciaacuterio ao dar a uacuteltima palavra sobre a interpretaccedilatildeo
daquelas claacuteusulas Daiacute porque o debate sobre a constitucionalizaccedilatildeo do Direito se imbrica
inexoravelmente com as discussotildees a propoacutesito da judicializaccedilatildeo da poliacutetica e do decisionismo
referidas acima
Ademais a constitucionalizaccedilatildeo do Direito tambeacutem suscita outra linha de preocupaccedilotildees rela-
cionada ao perfeccionismo moral145 na esfera privada No Brasil assim como em muitos outros
paiacuteses jaacute se assentou a ideacuteia de que os direitos fundamentais natildeo se dirigem apenas contra o
Estado vinculando tambeacutem os particulares Entre noacutes tem prevalecido na doutrina a ideacuteia que
eu mesmo defendi em outro estudo146 que a eficaacutecia dos direitos fundamentais nas relaccedilotildees
privadas eacute direta e imediata Em outras palavras entende-se que a proacutepria Constituiccedilatildeo jaacute inci-
de nas relaccedilotildees privadas independentemente de mediaccedilotildees legislativas e que pode gerar o-
brigaccedilotildees positivas ou negativas para os indiviacuteduos e natildeo soacute para os poderes puacuteblicos sempre
no afatilde de proporcionar uma proteccedilatildeo mais completa agrave dignidade humana Ateacute aqui nada a
contestar
Poreacutem o reconhecimento da vinculaccedilatildeo dos particulares agrave Constituiccedilatildeo suscita um risco que
natildeo pode ser ignorado o de imposiccedilatildeo agraves pessoas supostamente em nome de valores constitu-
cionais de comportamentos e estilos de vida que elas proacuteprias rejeitam em detrimento da sua
liberdade existencial Para dar um exemplo bem tosco seria terriacutevel se o Direito em nome do
princiacutepio da solidariedade social pudesse impor agraves pessoas que demonstrassem afetos e senti-
mentos que elas natildeo possuem genuinamente Ou se em nome da isonomia pretendesse inter-
ferir nas escolhas subjetivas e emocionais que os indiviacuteduos fazem nas suas vidas privadas A
constitucionalizaccedilatildeo neste sentido poderia converter-se num pretexto para o exerciacutecio de um
paternalismo anti-liberal em que as pessoas seriam forccediladas a conformarem-se agraves expectativas
sociais forjadas a partir de pautas de accedilatildeo politicamente corretas com apoio na Constitui-
ccedilatildeo147
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Nenhuma destas duas questotildees eacute insuperaacutevel Eacute possiacutevel aceitar e aplaudir a constitucionaliza-
ccedilatildeo do Direito - fenocircmeno em geral positivo por aproximar a racionalidade emancipatoacuteria da
Constituiccedilatildeo do dia-a-dia das pessoas - mas defender que ela seja temperada por outras preo-
cupaccedilotildees igualmente essenciais no Estado Democraacutetico de Direito com a autonomia puacuteblica e
privada dos cidadatildeos Pode-se reconhecer a legitimidade da constitucionalizaccedilatildeo do Direito
mas numa medida em que natildeo sacrifique em excesso agrave liberdade de conformaccedilatildeo que numa
democracia deve caber ao legislador para realizar opccedilotildees poliacuteticas em nome do povo148 Pode-
se da mesma forma afirmar a incidecircncia direta da Constituiccedilatildeo nas relaccedilotildees privadas mas
sem invadir a esfera das opccedilotildees existenciais da pessoa - que de resto eacute protegida pela proacutepria
Constituiccedilatildeo das ingerecircncias perfeccionistas do Estado e da sociedade149
5 Conclusatildeo Ao fim da leitura destas paacuteginas o leitor pode estar se indagando se eu me alinho ou natildeo ao
neoconstitucionalismo A minha resposta eacute depende da compreensatildeo que se tenha sobre o ne-
oconstitucionalismo Se entendermos o neoconstitucionalismo de acordo com a conhecida defi-
niccedilatildeo de Luis Prietro Sanchiacutes como uma teoria do Direito que se orienta pelas maacuteximas demaacutes
princiacutepios que reglas maacutes ponderacioacuten que subsuncioacuten omnipotencia de la Constitucioacuten en
todas las aacutereas juriacutedicas y en todos conflictos miacutenimamente relevantes en lugar de espacios
exentos en favor de la opcioacuten legislativa o reglamentaria omnipotencia judicial en lugar de
autonomia del legislador ordinaacuterio y por ultimo coexistecircncia de una constelacioacuten plural de
valores a veces tendencialmente contradictorios en lugar de homogeneidad ideoloacutegica150
certamente eu natildeo me considero um neoconstitucionalista De todas as afirmaccedilotildees do professor
espanhol a uacutenica de que natildeo discordo eacute aquela relacionada ao pluralismo de valores cujo re-
conhecimento aliaacutes estaacute longe de ser privileacutegio dos neoconstitucionalistas
Contudo eu assumo o roacutetulo sem constrangimentos se o neoconstitucionalismo for pensado
como uma teoria constitucional que sem descartar a importacircncia das regras e da subsunccedilatildeo
abra tambeacutem espaccedilo para os princiacutepios e para a ponderaccedilatildeo tentando racionalizar o seu uso
Se for visto como uma concepccedilatildeo que sem desprezar o papel protagonista das instacircncias de-
mocraacuteticas na definiccedilatildeo do Direito reconheccedila e valorize a irradiaccedilatildeo dos valores constitucio-
nais pelo ordenamento bem como a atuaccedilatildeo firme e construtiva do Judiciaacuterio para proteccedilatildeo e
promoccedilatildeo dos direitos fundamentais e dos pressupostos da democracia E acima de tudo se
for concebido como uma visatildeo que conecte o Direito com exigecircncias de justiccedila e moralidade
criacutetica151 sem enveredar pelas categorias metafiacutesicas do jusnaturalismo
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Certamente uma visatildeo equilibrada da Teoria do Direito com tais caracteriacutesticas pode contribu-
ir para o aperfeiccediloamento do Estado Democraacutetico de Direito no Brasil O mesmo jaacute natildeo digo de
concepccedilotildees mais radicais do neoconstitucionalismo que podem ser muito boas para arrancar
aplausos entusiasmados das plateacuteias nos seminaacuterios estudantis mas que natildeo se conciliam com
exigecircncias fundamentais de seguranccedila juriacutedica democracia e liberdade que satildeo alicerces de
qualquer bom constitucionalismo - novo ou velho
Curriacuteculo Resumido
Daniel Sarmento
Poacutes-Doutor pela Universidade de Yale (EUA) Procurador Regional da Repuacuteblica
Como citar este artigo
SARMENTO Daniel O neoconstitucionalismo no Brasil riscos e possibilidades Disponiacutevel em httpwwweditoraforumcombrsistconteudolista_conteudoaspFIDT_CONTEUDO=56993 acesso em 09032011 httpdireitoesubjetividadefileswordpresscom201008daniel-sarmento-o-neoconstitucionalismo-no-brasil1doc acesso em 30062012 Material da 1ordf aula da Disciplina Teoria Geral da Constituiccedilatildeo (I) ministrada no Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo Online em Direito Constitucional ndash Anhanguera-UNIDERP | REDE LFG
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1Sobre a teoria de princiacutepios no Brasil veja-se dentre outros Ana Paula de Barcellos A eficaacutecia juriacutedica dos princiacutepios constitu-
cionais o princiacutepio da dignidade da pessoa humana Rio de Janeiro Renovar 2002 Humberto Bergman Aacutevila Teoria dos princiacute-
pios da definiccedilatildeo agrave aplicaccedilatildeo dos princiacutepios juriacutedicos 2 ed Satildeo Paulo RT 2005 Jane Reis Gonccedilalves Pereira Interpretaccedilatildeo
constitucional e direitos fundamentais uma contribuiccedilatildeo ao estudo das restriccedilotildees aos direitos fundamentais na perspectiva da
teoria dos princiacutepios Rio de Janeiro Renovar 2006 Virgiacutelio Afonso da Silva O conteuacutedo essencial dos direitos fundamentais e a
eficaacutecia das normas constitucionais Satildeo Paulo Tese (concurso de Professor Titular de Direito Constitucional da USP)
2Veja-se em tons variados Lecircnio Luiz Streck Hermenecircutica juriacutedica e(m) crise uma exploraccedilatildeo hermenecircutica da construccedilatildeo do
direito Porto Alegre Livraria do Advogado 1999 Luiacutes Roberto Barroso (Org) A nova interpretaccedilatildeo constitucional ponderaccedilatildeo
direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas Rio de Janeiro Renovar 2003 Margarida Maria Lacombe Camargo Hermenecircutica e
argumentaccedilatildeo uma contribuiccedilatildeo ao estudo do direito Rio de Janeiro Renovar 2003 Inocecircncio Maacutertires Coelho Interpretaccedilatildeo
constitucional 2 ed Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2003 Ana Paula de Barcellos Ponderaccedilatildeo racionalidade e atividade
jurisdicional Rio de Janeiro Renovar 2005
3Sobre o fenocircmeno da constitucionalizaccedilatildeo do Direito confira-se os inuacutemeros artigos que compotildeem a coletacircnea organizada por
Claacuteudio Pereira de Souza Neto e por mim A constitucionalizaccedilatildeo do direito fundamentos teoacutericos e aplicaccedilotildees especiacuteficas Rio de
Janeiro Lumen Juris 2007
4Cfr na literatura constitucional brasileira Gisele Guimaratildees Cittadino Pluralismo direito e justiccedila distributiva elementos de
filosofia constitucional contemporacircnea Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 Oscar Vilhena Vieira A Constituiccedilatildeo e sua reserva de
justiccedila um ensaio sobre os limites materiais do poder de reforma Satildeo Paulo Malheiros 1999 Ricardo Lobo Torres (Org) A legi-
timaccedilatildeo dos direitos humanos Rio de Janeiro Renovar 2002 Claacuteudio Pereira de Souza Neto Teoria constitucional e democracia
deliberativa Rio de Janeiro Renovar 2006 Lecircnio Luiz Streck Verdade e consenso Constituiccedilatildeo hermenecircutica e teorias discursi-
vas Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 Samantha Chantal Dobrowolski A construccedilatildeo social do sentido da Constituiccedilatildeo na demo-
cracia contemporacircnea entre soberania popular e direitos humanos Rio de Janeiro Lumen Juris 2007 Aacutelvaro Ricardo de Souza
Cruz Hermenecircutica juriacutedica e(m) debate o constitucionalismo brasileiro entre a teoria do discurso e a ontologia existencial Belo
Horizonte Foacuterum 2007
5Sobre a judicializaccedilatildeo da poliacutetica no Brasil veja-se Luiz Werneck Vianna et al A judicializaccedilatildeo da poliacutetica e das relaccedilotildees sociais
no Brasil Rio de Janeiro Revan 1999 Giselle Cittadino Judicializaccedilatildeo da poliacutetica constitucionalismo democraacutetico e separaccedilatildeo de
poderes In Luiz Werneck Vianna (Org) A democracia e os trecircs poderes no Brasil Belo Horizonte UFMG 2002 p 17-42 Rogeacuterio
B Arantes Constitucionalism the expansion of Justice and the Judicialization of Poltics in Brazil In Rachel Sieder Line Schjol-
den Alan Angell The Judicialization of Politics in Latin America New York Palgrave Macmillan 2005 p 232-262 Luis Roberto
Barroso Judicializaccedilatildeo ativismo judicial e legitimidade democraacutetica Texto ineacutedito gentilmente cedido pelo autor
Para uma perspectiva comparativa veja-se Neal C Tate Tobjorn Vallinder (Ed) The Global Expansion of Judicial Power New
York New York University Press 1995 Alec Stone Sweet Governing with Judges Constitutional Politics in Europe Oxford Oxford
Univesity Press 2000 e em tom profundamente criacutetico Ran Hirschl Towards Juristocracy the Origins and Consequences of the
New Constitucionalism Cambridge Harvard University Press 2004
6Miguel Carbonell et al Neoconstitucionalismo(s) Madrid Trotta 2003 Mais recentemente o autor publicou nova coletacircnea
tambeacutem dedicada ao estudo do neoconstitucionalismo intitulada Teoria del Neoconstitucionalismo Ensayos escogidos Madrid
Trotta 2007
7O jurista argentino Carlos Santiago Nino por exemplo faleceu em 1993 quando ainda nem se empregava esta denominaccedilatildeo
8Cf Robert Alexy Teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica a teoria do discurso racional como teoria da fundamentaccedilatildeo juriacutedica Tradu-
ccedilatildeo de Zilda Hutchinson Schild Silva revisatildeo teacutecnica da traduccedilatildeo e introduccedilatildeo agrave ediccedilatildeo brasileira Claudia Toledo 2 ed Satildeo Paulo
Landy 2005 Luis Roberto Barroso Curso de direito constitucional contemporacircneo os conceitos fundamentais e a construccedilatildeo do
novo modelo Rio de Janeiro Saraiva 2008 p 306-350
9Cf Lecircnio Luiz Streck Verdade e consenso Op cit p 197-246
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10Ronald Dworkin e Carlos Santiago Nino satildeo sem sombra de duacutevida autores liberais natildeo no sentido que se atribui ao termo no
Brasil - de adeptos de doutrina econocircmica favoraacutevel ao Estado miacutenimo e ao mercado - mas sim no sentido corrente na Filosofia
Poliacutetica que associa o liberalismo agrave defesa dos direitos individuais e da neutralidade do Estado em relaccedilatildeo agraves diversas concepccedilotildees
sobre a vida boa existentes na sociedade Veja-se neste sentido Ronald Dworkin A Matter of Principle Cambridge Harvard
University Press 1985 p 181-236 Carlos Santiago Nino La constitucioacuten de la Democracia Deliberativa Barcelona Gedisa 1997
p 70-100
11Lecircnio Luiz Streck que se alinha ao neoconstitucionalismo defende posturas tipicamente comunitaristas como o papel da Consti-
tuiccedilatildeo na definiccedilatildeo de modelos de vida boa para orientaccedilatildeo da vida social e da accedilatildeo individual Cf Jurisdiccedilatildeo constitucional e
hermenecircutica uma nova criacutetica do direito 2 ed Rio de Janeiro Forense 2004 p 95-288
12Antonio Cavalcanti Maia um dos mais ardorosos defensores do neoconstitucionalismo no paiacutes eacute tambeacutem procedimentalista e
adepto das teorias juriacutedicas de Juumlrgen Habermas Veja-se neste sentido o seu denso texto Nos vintes anos da carta cidadatilde do
poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm (Coord) Vinte
anos da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 p 117-168 em que esta sua dupla filiaccedilatildeo intelectual eacute
explicitada
13Segundo Miguel Carbonell o neoconstitucionalismo desdobra-se em trecircs planos de anaacutelise que se conjugam o dos textos consti-
tucionais que se tornaram mais substantivos e incorporaram amplos elencos de direitos fundamentais o das praacuteticas judiciais que
passaram a recorrer a princiacutepios constitucionais agrave ponderaccedilatildeo e a meacutetodos mais flexiacuteveis de interpretaccedilatildeo sobretudo na aacuterea de
direitos fundamentais e o dos desenvolvimentos teoacutericos de autores que com as suas ideacuteias ajudaram natildeo soacute a compreender os
novos modelos constitucionais mas tambeacutem participaram da sua proacutepria criaccedilatildeo Cf Miguel Carbonell Neoconstitucionalismo
elementos para una definicioacuten In Eduardo Ribeiro Moreira Mauricio Pugliesi 20 anos da Constituiccedilatildeo brasileira Satildeo Paulo Sarai-
va 2009 p 197-208
14No mesmo sentido Luis Roberto Barroso Neoconstitucionalismo e Constitucionalizaccedilatildeo do direito o triunfo tardio do direito
constitucional do Brasil In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento A constitucionalizaccedilatildeo do direito fundamentos teoacuteri-
cos e aplicaccedilotildees especiacuteficas Rio de Janeiro Lumen Juris 2007 p 203-250
15Cf Carlos Bernal Pulido El Derecho de los Derechos Bogotaacute Universidad Externado de Colocircmbia 2006 Manoel Jose Cepeda
Espinosa Judicialization of Politics in Colombia the old and the new In Rachel Sieder Line Schonjen Alan Angell The Judiciali-
zation of Politics in Latin America Op cit p 67-104 Rodrigo Uprimmy Mauriacutecio Garcia-Villegas Tribunal Constitucional e eman-
cipaccedilatildeo social na Colocircmbia In Boaventura de Souza Santos Democratizar a democracia os caminhos da democracia participativa
Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2002 p 297-339
16Cf Catalina Smulovitz Petitioning and Creating Rights Judicialization in Argentina In Rachel Sieder Line Scjolden Alan Angell
The Judicialization of Politics in Latin America Op cit p 161-185
17Cf Miguel Carbonell Los Derechos Fundamentales en Meacutexico 2 ed Meacutexico Porruacutea 2006 Pilar Domingo The Changing Political
Role of the Judiciary in Meacutexico In Rachel Sieder Line Scjolden Alan Angell The Judicialization of Politics in Latin Ameacuterica Op
cit p 21-46
18Cf Heinz Klug South Aacutefrica From Constitucional Promise to Social Transformation In Jeffrey Goldsworthy Interpreting Consti-
tutions A Comparative Study Oxford Oxford University Press 2006 p 266-320
19Cf S P Sathe Iacutendia From Positivism to Structuralism In Jeffrey Goldsworthy Op cit p 215-265
20Veja-se a propoacutesito Gustavo Zagrebelsky Il Diritto Mite Torino Einaudi 1992 p 57-96
21Cf Eduardo Garciacutea de Enterriacutea La Constitucioacuten como Norma y el Tribunal Constitucional 3 ed Madrid Civitas 1985 p 41
22Na Alemanha a mudanccedila ocorreu sob a vigecircncia da Lei Fundamental adotada em 1949 e foi fortemente impulsionada pela
jurisprudecircncia do Tribunal Constitucional do paiacutes que construiu teorias importantes como a da Constituiccedilatildeo como uma ordem de
valores em cujo centro situa-se o princiacutepio da dignidade humana que se irradia por todo o ordenamento Veja-se a propoacutesito
Dieter Grimm Human Rights and Judicial Review in Germany In David M Beatty (Org) Human Rights and Judicial Review A
Comparative Perspective Dodrecht Martin Urjhoff 1994 p 267-295
23Na Itaacutelia as mudanccedilas se deram sob a eacutegide da atual Constituiccedilatildeo editada em 1947 mas soacute apoacutes o funcionamento da Corte
Constitucional que se deu em 1956 Ateacute entatildeo a Corte de Cassaccedilatildeo composta por juiacutezes recrutados ainda no periacuteodo do fascismo
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era provisoriamente encarregada da guarda da Constituiccedilatildeo o que fazia de forma muito tiacutemida no mais das vezes negando eficaacute-
cia juriacutedica agraves normas constitucionais sob o argumento de que seriam programaacuteticas Veja-se a propoacutesito Ricardo Guastini A
constitucionalizaccedilatildeo do ordenamento juriacutedico e a experiecircncia italiana In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento A
constitucionalizaccedilatildeo do direito fundamentos teoacutericos e aplicaccedilotildees especiacuteficas Op cit p 271-294
24Cf No modelo do constitucionalismo norte-americano entende-se desde os primoacuterdios que a Constituiccedilatildeo eacute autecircntica lei e que
o Judiciaacuterio pode invalidar as decisotildees legislativas que a contrariem apesar do controle de constitucionalidade natildeo estar expres-
samente previsto no texto constitucional daquele paiacutes Esta ideacuteia que jaacute estava assentada no Federalista n 78 escrito por Ale-
xander Hamilton antes da aprovaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo foi posta em praacutetica pela primeira vez contra lei federal no ceacutelebre caso
Marbury v Madison julgado em 1803 pelo juiz Marshall Veja-se a propoacutesito Paul Brest Sanford Levinson Jack Balkin Akhil Reed
Amar Processes of Constitutional Decisionmaking Cases and Materials New York Aspen Publishers 2000 p 79-103
A versatildeo mais convencional do modelo constitucional norte-americano enfatiza a importacircncia central do Judiciaacuterio na atualizaccedilatildeo
do sentido da Constituiccedilatildeo do paiacutes Contudo esta leitura histoacuterica eacute hoje objeto de intensa disputa Em sentido contraacuterio a tal
posiccedilatildeo sustentando uma menor relevacircncia do Judiciaacuterio no desenvolvimento histoacuterico do constitucionalismo americano veja-se
por exemplo Stephen M Griffin American Constitutionalism From Theory to Politics New Jersey Princeton University Press
1996 p 88-139
25Cf Luis Prietro Sanchiacutes Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales Madrid Trotta 2003 p 107-117
26Cf Daniel Sarmento Ubiquumlidade constitucional Os dois lados da moeda In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento
(Coord) A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 113-148
27Na verdade a reaccedilatildeo contra o formalismo juriacutedico na Europa eacute bem anterior ao advento do constitucionalismo do 2ordm poacutes-guerra
remontando ao final do seacuteculo XIX Veja-se a propoacutesito Constantin M Stamatis Argumenter en Droit Une theacuteorie critique de
largumentation juridique Paris Publisud 1995 p 34-50 Antonio Manoel Hespanha Panorama histoacuterico da cultura juriacutedica euro-
peacuteia Lisboa Publicaccedilotildees Europa-Ameacuterica 1997 p 196-235
28Haacute vasta literatura sobre a ponderaccedilatildeo mas a obra mais influente sobre o tema eacute certamente o livro de Robert Alexy Teoria dos
direitos fundamentais Traduccedilatildeo de Virgiacutelio Afonso da Silva Satildeo Paulo Malheiros 2008 No cenaacuterio norte-americano veja-se a
anaacutelise densa e criacutetica de T Alexander Aleinikoff Constitucional Law in the Age of Balancing Yale Law Journal n 96 p 943-
1005 1987 No Brasil cfr Daniel Sarmento A ponderaccedilatildeo de interesses na Constituiccedilatildeo Federal Rio de Janeiro Lumen Juris
2000 Ana Paula de Barcellos Ponderaccedilatildeo racionalidade e atividade jurisdicional Op cit
29A bibliografia sobre o princiacutepio da proporcionalidade eacute vastiacutessima Veja-se a propoacutesito as densas anaacutelises de Carlos Bernal Puli-
do El Principio de Proporcionalidad y los Derechos Fundamentales Madrid Centro de Estuacutedios Constitucionales 2003 e no Brasil
de Jane Reis Gonccedilalves Pereira Interpretaccedilatildeo constitucional e direitos fundamentais Rio de Janeiro Renovar 2006 p 297-382
30Cf Chaiumlm Perelman Eacutetica e direito Traduccedilatildeo de Maria Ermantina Galvatildeo G Perira Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 p 361-684
Robert Alexy Teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica Op cit Friedrich Muller Discours de la Meacutethode Juridique Traduccedilatildeo de Olivier
Jouanjan Paris PUF 1993 Manuel Atienza Traacutes la Justicia Una Introduccioacuten al Derecho y al Razonamiento Juriacutedico Barcelona
Ariel 1995 Neil MacCormick Argumentaccedilatildeo juriacutedica e teoria do direito Traduccedilatildeo de Waldeacutea Barcellos Satildeo Paulo Martins Fontes
2006 Klaus Guumlnther Teoria da argumentaccedilatildeo no direito e na moral justificaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Claacuteudio Molz Satildeo Pau-
lo Landy 2004
31Cf Martin Shapiro Alec Stone Sweet On Law Politics and Judicialization New York Oxford University Press p 136-208
32Contudo deve-se admitir na linha de Paolo Comanducci que eacute possiacutevel reconhecer as mudanccedilas em questatildeo e propor novas
teorias que sejam adequadas a elas sem defendecirc-las Esta seria nas palavras do autor italiano a diferenccedila entre o neoconstitu-
cionalismo teoacuterico e o neoconstitucionalismo ideoloacutegico que natildeo apenas constroacutei teorias mais compatiacuteveis com os novos fenocirc-
menos mas vai aleacutem sustentando a sua legitimidade e propugnando pelo seu aprofundamento e expansatildeo Veja-se a propoacutesito
Paulo Comanducci Formas de neoconstitucionalismo Un anaacutelisis metateoacuterico In Miguel Carbonell (Ed) Neoconstitucionalis-
mo(s) Op cit p 75-98 Como reconhece o proacuteprio autor tal distinccedilatildeo baseia-se em uma semelhante acerca do positivismo
30
formulada por Norberto Bobbio que fala em positivismo teoacuterico ideoloacutegico e metodoloacutegico Cf Norberto Bobbio O positivismo
juriacutedico liccedilotildees de filosofia do direito Traduccedilatildeo e notas de Marcio Pugliesi et al Satildeo Paulo Iacutecone 1995 p 233-239
33Cf Ronald Dworkin Is Law a Sistem of Rules In Ronald Dworkin (Ed) Philosophy of Law Oxford Oxford University Press 1971
Robert Alexy Constitucionalismo discursivo Traduccedilatildeo de Luiz Afonso Heck Porto Alegre Livraria do Advogado 2007
34Cf Robert Alexy Derecho y Razoacuten Praacutectica Meacutexico Distribuiciones Fontamara 1993 Aulis Aarnio Lo Racional como Razonable
Traduccedilatildeo de Ernesto Garzoacuten Valdeacutes Madrid Centro de Estuacutedios Constitucionales 1991
35Cf Aharon Barak The Judge in a Democracy New Jersey Princeton University Press 2006 p 213-260 Gustavo Zagrebelsky Il
Diritto Mite Op cit p 179-217
36Confronte-se com perspectivas diferentes Luigi Ferrajoli O Estado de direito entre passado e futuro In Pietro Costa Danilo
Zolo (Org) Estado de direito histoacuteria teoria criacutetica Traduccedilatildeo de Carlo Alberto Dastoli Satildeo Paulo Martins Fontes 2006 p 419-
464 Elias Dias Estado de Derecho y Sociedad Democraacutetica Madrid Taurus 1998 Ronald Dworkin Introduction The Moral Reading
and the Majoritarian Premise In Freedoms Law The moral reading of the American Constitution Cambridge Harvard University
Press 1996 p 01-38 Gustavo Zagrebelsky La Crucifixioacuten y la Democracia Barcelona Ariel 1996 Claacuteudio Pereira de Souza Neto
Teoria constitucional da democracia deliberativa Op cit
37Cf Ronald Dworkin Introduction The Moral Reading and the Majoritarian Premise Op cit
38Cf Luigi Ferrajoli El Garantismo y la Filosofia del Derecho Bogotaacute Universidad Externado de Colocircmbia 2000
39Cf Luis Pietro Sanchis Sobre el Neoconstitucionalismo y sus Implicaciones In Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales
Op cit p 101-135
40Cf Ricardo Guastini Sur la Validiteacute de la Constitution du Point de Vue du Positivisme Juridique In Michel Troper Lucien Jaume
(Dir) 1789 et LInvention de la Constitution Paris LGDJ 1994 p 216-225
41Cf Suzana Pozzolo Neoconstituzionalismo e Positivismo Giuridico Torino Giapppicheli 2001
42Cf Ronald Dworkin Law and Morals In Justice in Robes Cambridge Harvard University Press 2006 p 01-35
43Cf Robert Alexy Derecho y Moral In La Institucionalizacioacuten de la Justicia Op cit p 17-30
44Cf Carlos Santiago Nino Eacutetica y Derechos Humanos 2 ed Buenos Aires Astrea 1989 p 11-48
45Cf Gustav Radbruch Cinco minutos de filosofia do direito In Filosofia do direito Traduccedilatildeo de L Cabral de Moncada 6 ed
Coimbra Armecircnio Amado 1979 p 414-418 Para uma densa problematizaccedilatildeo da foacutermula de Radbruch veja-se Thomas da Rosa
Bustamante Poacutes-Positivismo o argumento da injusticcedila aleacutem da Foacutermula de Radbruch In Teoria do direito e decisatildeo racional
temas de teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica Rio de Janeiro Renovar 2008
46Cf Robert Alexy La Institucionalizacioacuten de la Justicia Traduccedilatildeo de Joseacute Antonio Seone et al Granada Comares 2005 p 31-
54
47Sobre o tema cfr Alfonso Garcia Figueroa Princiacutepios e direitos fundamentais In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmen-
to A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 03-34
48O texto mais importante do positivismo inclusivo eacute o poacutes-escrito de Herbert LA Hart agrave sua obra magna The Concept of Law em
que ele responde agraves criacuteticas ao seu pensamento que Ronald Dworkin lhe endereccedilara O autor inglecircs faleceu antes de terminar o
texto mas ele foi publicado postumemente depois de ser editado por Joseph Raz Peneacutelope Bulloch Veja-se Herbert LA Hart
Poacutes-escrito In O conceito de direito Traduccedilatildeo de A Ribeiro Mendes 2 ed 1994 p 299-339 Tambeacutem na linha do positivismo
inclusivo veja-se Gregorio Peces- Barba Derechos Sociales y Positivismo Juriacutedico Escritos de Filosofia Poliacutetica y Juriacutedica Madrid
Dykinson 1999 p 83-90 Jules Coleman The Practice of Principle In defense of a pragmatist approach do legal theory Oxford
Oxford University Press p 103-120 Para uma resenha dos tipos de positivismo no debate contemporacircneo confira-se Dimitri Di-
moulis Positivismo juriacutedico introduccedilatildeo a uma teoria do direito e defesa do pragmatismo juriacutedico-politico Satildeo Paulo Meacutetodo
2006 p 65-166
49Cf Antonio Cavalcanti Maia Nos vinte anos da Constituiccedilatildeo do poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo Op cit Claacuteudio Perei-
ra de Souza Neto A teoria constitucional e seus lugares especiacuteficos notas sobre o aporte reconstrutivo Revista de Direito do
Estado n 1 p 89-104 jan mar 2006 Daniel Sarmento Interpretaccedilatildeo constitucional preacute-compreensatildeo e capacidades institu-
cionais do inteacuterprete In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binebojm Vinte anos da Constituiccedilatildeo de 1988
Op cit p 311-322
31
50Cf Juumlrgen Habermas Escritos sobre Moralidad y Eticidad Traduccedilatildeo de Manuel Jimenez Redondo Barcelona Paidoacutes 1991 p
131-172
51Sobre o comunitarismo haacute extensa literatura Dois textos claacutessicos deste linha de pensamento satildeo Michael Walzer The Communi-
tarian Critique of Liberalism In Politics and Passion New Haven Yale University Press 2004 p 141-163 Charles Taylor The
Procedural Republic and the Unencumbered Self In Robert Goodin Philip Pettit (Ed) Contemporary Political Philosophy 2 ed
Oxford Oxford University Press 2002 p 2462-256 Sobre a penetraccedilatildeo ainda que muitas vezes natildeo consciente das posiccedilotildees do
comunitarismo no constitucionalismo brasileiro veja-se Gisele Cittadino Pluralismo direito e justiccedila distributiva Op cit p
43-74
52Sobre o construtivismo eacutetico corrente filosoacutefica que sustenta a existecircncia de posiccedilotildees certas e erradas na Moral bem como a
possibilidade de encontraacute-las e fundamentaacute-las racionalmente veja-se Carlos Santiago Nino El Constructivismo Eacutetico Madrid
Centro de Estudios Constitucionales 1989
53O fenocircmeno tambeacutem se reproduz na teoria constitucional norte-americana hegemocircnica cf Keith Wittington Constitutional Con-
struction Divided Powers and Constitutional Meaning Cambridge Harvard University Press 1999 p 01-03
54A imagem do Poder Judiciaacuterio como um guardiatildeo de promessas eacute explorada e criticada numa obra importante da teoria juriacutedica
francesa contemporacircnea Antoine Garapon Le Gardien de Promesses Le juge et la democratie Paris Odile Jacob 1996
55Neste sentido o eloquumlente encerramento do Curso de Direito Constitucional Contemporacircneo de Luis Roberto Barroso o consti-
tucionalismo democraacutetico eacute a utopia que nos restou Uma feacute racional que ajuda a acreditar no bem e na justiccedila ainda quando natildeo
estejam ao alcance dos olhos (Op cit p 400)
56Cf Nico Poulantzas State Power Socialism London new Left Books 1978 Alan Hunt Marxist Theory of Law In Dennis Patter-
son (Ed) A Companion to Philosophy of Law and Legal Theory Malden Blackwell Publishers 1996 p 355-367
57Cf David Kairys (Ed) The Politics of Law A Progressive Critique New York Pantheon Books 1982 Roberto Mangabeira Unger
The Critical Legal Studies Movement Cambridge Harvard University Press 1986
58Cf Plauto Faraco Azevedo Criacutetica agrave dogmaacutetica e hermenecircutica juriacutedica Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1989 Luiz Fernando
Coelho Teoria criacutetica do direito 2 ed Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1991
59Natildeo haacute como abordar aqui as relaccedilotildees entre as inuacutemeras correntes do poacutes-modernismo e o Direito Constitucional Veja-se a
propoacutesito Niklas Luhman La Constituzione como Acquisizione Evolutiva In Gustavo Zagrebelsky Piacuteer Paolo Portinaro Joumlrg Lu-
ther Il Futuro della Costituzione Torino Einaudi 1996 p 83-128 Joseacute Joaquim Gomes Canotilho Civilizaccedilatildeo do direito constitu-
cional ou constitucionalizaccedilatildeo do direito civil a eficaacutecia dos direitos fundamentais na ordem juriacutedico-civil no contexto do direito
poacutes-moderno Cadernos de Direito Constitucional e Ciecircncia Poliacutetica n 15 p 07-16 1996 Eduardo Capellari A crise da moderni-
dade e a Constituiccedilatildeo Rio de janeiro Ameacuterica Juriacutedica 2004 Daniel Sarmento Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas 2 ed
Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 p 36-45
60Para Jean-Franccedilois Lyotard uma das caracteriacutesticas centrais do pensamento poacutes-moderno de que eacute expoente eacute a desconfianccedila
em relaccedilatildeo agraves metanarrativas - construccedilotildees abstratas grandiosas e totalizadoras tiacutepicas da Filosofia Moderna como direitos
humanos luta de classes e emancipaccedilatildeo pelo uso da razatildeo Cf Lyotard A condiccedilatildeo poacutes-moderna Traduccedilatildeo de Ricardo Correcirca
Barbosa 5 ed 1998 p16
61Cf Luiz Werneck Viana O terceiro poder na carta de 1988 e a tradiccedilatildeo republicana mudanccedila e conservaccedilatildeo In Ruben George
Oliven Marcelo Gildo Marccedilal Branda A Constituiccedilatildeo de 1988 na vida brasileira Satildeo Paulo Aderaldo e Rotshild 2008 p 91-109
62Cf Paulo Ricardo Schier Filtragem constitucional Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1999
63A expressatildeo foi cunhada por Claacuteudio Pereira de Souza Neto Fundamento e normatividade dos direitos fundamentais uma recons-
truccedilatildeo teoacuterica agrave luz do princiacutepio democraacutetico Arquivos de Direitos Humanos n 4 p 17-61 2003
64Cf Luis Roberto Barroso O direito constitucional e a efetividade de suas normas 3 ed Rio de Janeiro Renovar 1996
65Cf Clegravemerson Merlin Clegraveve A teoria constitucional e o direito alternativo para uma dogmaacutetica constitucional emancipatoacuteria In
Uma vida dedicada ao direito homenagem a Carlos Henrique de Carvalho Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1995 p 34-53
66Ressalte-se poreacutem que antes de 88 alguns juristas jaacute defendiam a forccedila normativa da Constituiccedilatildeo como o Prof Joseacute Afonso da
Silva Eacute de 1968 a primeira ediccedilatildeo da sua obra claacutessica A aplicabilidade das normas constitucionais que adotava claramente esta
32
perspectiva Todavia pelo clima nada propiacutecio ao constitucionalismo que reinava por aqui ateacute a nossa redemocratizaccedilatildeo a louvaacute-
vel pregaccedilatildeo dele e de outros juristas em prol da efetivaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo natildeo chegou a render maiores frutos
67Deve-se assinalar ainda a influecircncia marcante do novo constitucionalismo ibeacuterico neste movimento que tambeacutem pugnava pela
atribuiccedilatildeo de forccedila normativa agraves ambiciosas constituiccedilotildees de Portugal e Espanha entatildeo recentemente elaboradas apoacutes o fim de
experiecircncias autoritaacuterias naqueles paiacuteses A tiacutetulo de exemplo mencione-se a penetraccedilatildeo no paiacutes do pensamento do Professor de
Coimbra Joseacute Joaquim Gomes Canotilho especialmente da sua teoria sobre a Constituiccedilatildeo dirigente que ele posteriormente reviu
(cf J J Gomes Canotilho Constituiccedilatildeo dirigente e vinculaccedilatildeo ao legislador contributo para a compreensatildeo das normas constitu-
cionais programaacuteticas 2 ed Coimbra Coimbra 2001 - especialmente o prefaacutecio desta segunda ediccedilatildeo que daacute conta da mudanccedila
de posicionamento) bem como a difusatildeo das liccedilotildees do Professor Eduardo Garciacutea de Enterriacutea (cf La Constitucioacuten como Norma y el
Tribunal Constitucional Madrid Civitas 1981)
68Segundo a avaliaccedilatildeo atual de Luis Roberto Barroso personagem central do movimento o positivismo constitucional que deu
impulso ao movimento natildeo importava em reduzir o direito agrave norma mas sim em elevaacute-la a esta condiccedilatildeo pois ateacute entatildeo ele
havia sido menos do que norma (Curso de direito constitucional contemporacircneo Op cit p 224)
69Paulo Bonavides Curso de direito constitucional 5 ed Satildeo Paulo Malheiros 1994
70Eros Roberto Grau A ordem econocircmica na Constituiccedilatildeo de 88 interpretaccedilatildeo e criacutetica Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1996
71No acircmbito da Poacutes-Graduccedilatildeo em Direito da UERJ em que estou inserido desde 1997 primeiro como aluno e a partir de 2003 como
professor o Ricardo Lobo Torres teve papel central na difusatildeo do pensamento destes e de outros filoacutesofos entre os estudantes e o
proacuteprio corpo docente
72Cf Lecircnio Luiz Streck Hermenecircutica juriacutedica e(m) crise Op cit Eros Roberto Grau Ensaio e discurso sobre a interpreta-
ccedilatildeoaplicaccedilatildeo do direito Satildeo Paulo Malheiros 2002
73Nesta linha veja-se as obras que compotildeem a coletacircnea Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Direitos sociais funda-
mentos judicializaccedilatildeo e direitos sociais em espeacutecie Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 Ricardo Lobo Torres O miacutenimo existencial
e os direitos fundamentais Revista de Direito Administrativo n 177 p 20-49 1989 Ingo Wolfgang Sarlet A eficaacutecia dos direitos
fundamentais 9 ed Porto Alegre Livraria do Advogado 2008 Ana Paula de Barcellos A eficaacutecia juriacutedica dos princiacutepios o princiacute-
pio da dignidade da pessoa humana Op cit Marco Mazzeli Gouveia O controle judicial das omissotildees administrativas Rio de
Janeiro Forense 2003 Andreacuteas Krell Direitos sociais e controle judicial no Brasil e Alemanha os (des)caminhos de um direito
constitucional comparado Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2002
74Cf Gustavo Tepedino Temas de direito civil Rio de Janeiro Renovar 1999 Luiz Edson Fachin Estatuto juriacutedico do patrimocircnio
miacutenimo Rio de Janeiro Renovar 2001 Maria Celina Bodin de Moraes Danos agrave pessoa humana uma leitura civil-constitucional dos
danos morais Rio de Janeiro Renovar 2003 Teresa Negreiros Fundamentos para uma interpretaccedilatildeo constitucional do princiacutepio
da boa-feacute Rio de Janeiro Renovar 1998 Anderson Schreiber A proibiccedilatildeo do comportamento contraditoacuterio Rio de Janeiro Reno-
var 2005
75Cf Luciano Feldens A Constituiccedilatildeo penal a dupla face da proporcionalidade no controle das lei penais Porto Alegre Livraria do
Advogado 2005 Luis Carlos dos Santos Gonccedilalves Mandados expressos de criminalizaccedilatildeo e a proteccedilatildeo de direitos fundamentais na
Constituiccedilatildeo Brasileira de 1988 Belo Horizonte Foacuterum 2007
76Cf Gustavo Binenbojm Uma teoria do direito administrativo direitos fundamentais democracia e constitucionalizaccedilatildeo Rio de
Janeiro Renovar 2006 Alexandre dos Santos Aragatildeo Floriano de Azevedo Marques (Coord) Direito administrativo e seus novos
paradigmas Belo Horizonte Foacuterum 2008
77Cf Gustavo Binenbojm A nova jurisdiccedilatildeo constitucional brasileira legitimidade democraacutetica e instumentos de realizaccedilatildeo Rio de
Janeiro Renovar 2001 Claacuteudio Pereira de Souza Neto Jurisdiccedilatildeo constitucional democracia e racionalidade praacutetica Rio de
Janeiro Renovar 2002 Joseacute Adeacutercio Leite Sampaio A Constituiccedilatildeo reinventada pela jurisdiccedilatildeo constitucional Belo Horizonte Del
Rey 2002 Lecircnio Luiz Streck Jurisdiccedilatildeo constitucional e hermenecircutica Porto Alegre Livraria do Advogado 2002 Aacutelvaro Ricardo
de Souza Cruz Jurisdiccedilatildeo constitucional democraacutetica Belo Horizonte Del Rey 2004
78A expressatildeo dificuldade contramajoritaacuteria eacute de um claacutessico da teoria constitucional norte-americana Alexander Bickel La Cons-
titucioacuten como Norma y el Tribunal Constitucional 2 ed New Haven Yale University Press 1986
33
79Em siacutentese apertada o procedimentalismo sustenta que natildeo eacute papel da jurisdiccedilatildeo constitucional tutelar valores substantivos mas
apenas proteger os pressupostos necessaacuterios ao bom funcionamento da democracia Jaacute o substancialismo reconhece a legitimidade
da atuaccedilatildeo jurisdicional em favor da garantia e promoccedilatildeo de valores substantivos presentes na Constituiccedilatildeo O debate entre o
procedimentalismo identificado com as ideacuteias de autores como John Hart Ely e Juumlrgen Habermas e o substancialismo defendido
por teoacutericos como Ronald Dworkin e Laurence Tribe eacute reproduzido em praticamente toda a literatura contemporacircnea que trata de
Teoria ou Filosofia Constitucional Veja-se a propoacutesito a densa obra de Claacuteudio Ari Mello Democracia constitucional e direitos
fundamentais Porto Alegre Livraria do Advogado 2004
80Neoconstitucionalismo e constitucionalizaccedilatildeo do direito o triunfo tardio do direito constitucional no Brasil Op cit
81A crise paradigmaacutetica do direito no contexto da resistecircncia positivista ao (neo)constitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza
Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm Vinte anos da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Op cit p 203-228
82Nos vinte anos da carta cidadatilde do poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo Op cit
83Neoconstitucionalismo direitos fundamentais e controle de poliacuteticas puacuteblicas In Daniel Sarmento Flaacutevio Galdino (Org) Direitos
fundamentais estudos em homenagem ao prof Ricardo Lobo Torres Rio de Janeiro Renovar 2006 p 31-60
84Direitos humanos legitimidade e constitucionalismo In Daniel Sarmento Flaacutevio Galdino (Org) Direitos fundamentais estudos
em homenagem ao Prof Ricardo Lobo Torres Op cit p325-350
85Novos desafios agrave filtragem constitucional no momento do neoconstitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sar-
mento A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 251-270
86Neoconstitucionalismo a invasatildeo da Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Meacutetodo 2008
87Neoconstitucionalismo e positivismo juriacutedico Satildeo Paulo Landy 2006
88Teoria do direito e argumentaccedilatildeo racional temas de teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica op cit p 141-240
89Uma visatildeo criacutetica do neoconstitucionalismo In George Salomatildeo Leite Glauco Salomatildeo Leite Constituiccedilatildeo e efetividade constitu-
cional Salvador JusPodium 2008 p 43-60
90Neoconstitucionalismo entre a Ciecircncia do direito e o direito da ciecircncia In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento
Gustavo Binenbojm Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 p 187-202
91Cf Peticcedilatildeo 1246 MSSC julgada em 31011997 (obrigaccedilatildeo do Estado de realizar transplante de ceacutelulas mioblaacutesticas para salvar
a vida de crianccedila) Agravo de Instrumento no Recurso Extraordinaacuterio 271286RS DJU 24 nov 2000 (entrega de medicamentos
para portadores de HIV) e Agravo de Instrumento do Recurso Extraordinaacuterio nordm 410715-5 julgado em 22112005 (obrigaccedilatildeo de
fornecimento de vagas para educaccedilatildeo infantil pelo municiacutepio com atendimento em creches e preacute-escola)
92Recursos Extraordinaacuterios nordms 158215-4RS 161243-6DF 201819RJ
93Cf Mandado de Injunccedilatildeo 670ES Rel Min Gilmar Mendes julgado em 25102007 em que o STF revendo orientaccedilatildeo anterior
deu eficaacutecia normativa agrave sentenccedila proferida no mandado de injunccedilatildeo No caso decidiuse que ateacute o advento de lei regulamentado-
ra sobre a greve no serviccedilo puacuteblico o direito de greve poderia ser exercido obedecendo-se os limites impostos pela Lei 778389
que trata dos movimentos paredistas em serviccedilos essenciais no setor privado
94Sobre a tendecircncia agrave superaccedilatildeo da ideacuteia do Judiciaacuterio como legislador negativo na jurisdiccedilatildeo constitucional veja-se Joseacute Adeacutercio
Leite Sampaio A Constituiccedilatildeo reinventada pela jurisdiccedilatildeo constitucional Belo Horizonte Del Rey 2002 p 203-248
95Eacute lugar-comum dentre os autores que tratam da questatildeo associar tais mudanccedilas agrave pluralizaccedilatildeo das vozes na interpretaccedilatildeo consti-
tucional tema em que a referecircncia essencial no cenaacuterio germacircnico eacute Peter Haumlberle Veja-se a propoacutesito Peter Haumlberle Herme-
necircutica constitucional A sociedade aberta dos inteacuterpretes da Constituiccedilatildeo contribuiccedilatildeo para a interpretaccedilatildeo pluralista e procedi-
mental da Constituiccedilatildeo Traduccedilatildeo de Gilmar Ferreira Mendes Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1997 Veja-se ainda na doutrina
brasileira Gustavo Binenbojm A dimensatildeo do Amicus Curiae no processo constitucional brasileiro In Temas de direito constitu-
cional e administrativo Rio de Janeiro Renovar 2008 p 165-190
96ADIN 3510DF Relator Ministro Carlos Ayres Britto A accedilatildeo proposta contra o art 5ordm da Lei de Biosseguranccedila impugnava a auto-
rizaccedilatildeo de pesquisas com embriotildees humanos resultantes de fertilizaccedilatildeo in vitro que fossem inviaacuteveis ou estivessem congelados haacute
mais de trecircs anos A accedilatildeo foi julgada totalmente improcedente por 6 votos a 5
97ADPF nordm 54 A accedilatildeo que tem como relator o Ministro Marco Aureacutelio ainda natildeo foi julgada mas em seu bojo jaacute ocorreram diversas
audiecircncias puacuteblicas que provocaram intensa participaccedilatildeo da sociedade civil e grande interesse na miacutedia
34
98ADPF nordm 132 Relator Ministro Carlos Ayres Britto A accedilatildeo ainda foi julgada
99Mandados de Seguranccedila 26602DF 26603DF e 26604DF Informativo STF n 482
100Recurso Extraordinaacuterio 197917SP Rel p acoacuterdatildeo Min Ceacutesar Peluso DJU 18 fev 2005
101O livro de Alberto Carlos Almeida A cabeccedila do brasileiro lanccedilado em 2007 conteacutem pesquisas feitas sobre uma acuteseacuterie de temas
com pessoas de todas as classes sociais e regiotildees do paiacutes Uma das pesquisas eacute relativa agrave avaliaccedilatildeo das instituiccedilotildees Dentre as treze
avaliadas as duas que obtiveram menor aprovaccedilatildeo foram os partidos poliacuteticos (avaliaccedilatildeo positiva de 28 dos entrevistados) e o
Congresso (avaliaccedilatildeo positiva de 36 dos entrevistados) Cf Antonio Carlos Almeida A cabeccedila do brasileiro Rio de Janeiro Re-
cord 2007 p 187
102Cf Luis Roberto Barroso Judicializaccedilatildeo ativismo judicial e legitimidade democraacutetica Texto ainda ineacutedito gentilmente cedido
pelo autor
103Humberto Aacutevila por exemplo formula outra criacutetica importante de que o neoconstitucionalismo seria inadequado agrave realidade
constitucional brasileira jaacute que privilegia os princiacutepios e a Carta de 88 seria muito mais regulatoacuteria do que principioloacutegica (Neo-
constitucionalismo entre a ciecircncia do direito e o direito da ciecircncia Op cit p 188-192)
104Contudo natildeo eacute razoaacutevel estender esta criacutetica ao ponto de negar o caraacuteter democraacutetico da atuaccedilatildeo judicial Como ressaltou
Eugenio Rauacutel Zaffaroni uma instituiccedilatildeo natildeo eacute democraacutetica unicamente porque natildeo provenha de eleiccedilatildeo popular porque nem tudo
o que proveacutem desta origem eacute necessariamente aristocraacutetico Uma instituiccedilatildeo eacute democraacutetica quando seja funcional para o sistema
democraacutetico quer dizer quando seja necessaacuteria para a sua continuidade como ocorre com o judiciaacuterio (Poder judiciaacuterio crise
acertos e desacertos Traduccedilatildeo de Juarez Tavares Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1995 p 43)
105Cf Robert A Dahl Sobre a democracia Traduccedilatildeo de Beatriz Sidou Brasiacutelia UNB 2001 p 97-113 Juumlrgen Habermas Popular
Sovereignity as Procedure In James Bonham William Rehg Deliberative Democracy Cambridge The MIT Press 1997 p 35-66
106A questatildeo da tensatildeo e sinergia simultacircneas entre constitucionalismo e democracia eacute um dos debates mais fecundos da Teoria
Poliacutetica e da Filosofia Constitucional que tem atravessado o tempo desde o advento do constitucionalismo moderno no seacuteculo
XVIII Veja-se no debate contemporacircneo Jeremy Waldron Preocommitment and Disagreement In Larry Alexander Constitu-
cionalism Philosophical Foundations Cambridge Cambridge University Press 1998 p 271-299 Juumlrgen Habermas O Estado demo-
craacutetico de direito uma amarraccedilatildeo paradoxal de princiacutepios contraditoacuterios In Era das transiccedilotildees Traduccedilatildeo de Flaacutevio Beno Siebe-
neichler Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 2003 p 153-173 Carlos Santiago Nino La Constitucioacuten de la Democracia Deliberativa
Op cit Frank Michelman Brennan and Democracy Princeton Princeton University Press 1999 p 03-62 Stephen Holmes El
Precompromiso y la Paradoja de la Democracia In Jon Elster Rune Slagstad Constitucionalismo y Democracia Traduccedilatildeo de Mocircni-
ca Utrilla de Neira Mexico Fondo de Cultura Econocircmica 1999 p 217-262
107O problema da limitaccedilatildeo do legislador atual pelas decisotildees do constituinte adotadas no passado envolve a problemaacutetica da
partilha intergeracional de poder bem explicitada na fala de Jefferson que defendia que a cada 19 anos deveria ser elaborada
uma nova Constituiccedilatildeo nos Estados Unidos para que a Lei Maior daquele paiacutes natildeo se tornasse um mecanismo de governo dos mor-
tos sobre os vivos Em siacutentese apertada haacute na teoria poliacutetica contemporacircnea duas linhas principais de justificativa para a legiti-
midade destas restriccedilotildees
Uma eacute a teoria da democracia dualista defendida por Bruce Ackerman que sustenta que as decisotildees adotadas pelo proacuteprio povo
em contextos de grande mobilizaccedilatildeo ciacutevica devem ser protegidas do alcance da vontade dos representantes do povo formada em
momentos em que a cidadania natildeo esteja intensamente envolvida Esta teoria distingue a poliacutetica extraordinaacuteria correspondente
agravequeles momentos constitucionais da poliacutetica ordinaacuteria que se realiza atraveacutes das deliberaccedilotildees do dia a dia dos oacutergatildeos represen-
tativos Para a perspectiva ackermaniana a poliacutetica extraordinaacuteria - que natildeo exige necessariamente formalizaccedilatildeo procedimental
atraveacutes de assembleacuteia constituinte ou de emenda constitucional - se situa em patamar superior agrave poliacutetica ordinaacuteria e pode legiti-
mamente impor limites a esta (cf Bruce Ackerman We the people Foundations Cambridge The Belknap Press 1991 p 03-33)
Outra teoria eacute a do preacute-compromisso que jaacute foi advogada por Jon Elster Segundo ela eacute legiacutetimo subtrair do alcance das maiorias
determinadas questotildees fundamentais que expressam princiacutepios fundamentais de justiccedila poliacutetica ou garantam os pressupostos da
proacutepria democracia tendo em vista o risco de que no processo poliacutetico majoritaacuterio em momentos de irracionalidade o povo
35
possa ser viacutetima de suas proacuteprias fraquezas ou paixotildees momentacircneas atentando contra tais princiacutepios (cf Ulisses and Sirens
Cambridge Cambridge University Press 1979)
Ambas as concepccedilotildees - a primeira mais proacutexima ao republicanismo e a segunda de vieacutes mais liberal - tecircm a sua dose de procedecircn-
cia mas ensejam criacuteticas importantes Todavia foge a escopo do presente trabalho analisar esta questatildeo que eacute uma das mais
complexas da Filosofia Poliacutetica moderna e contemporacircnea Para uma visatildeo geral sobre o tema na literatura em liacutengua portuguesa
veja-se Oscar Vilhena Vieira A Constituiccedilatildeo e sua reserva de justiccedila Op cit Miguel Nogueira de Brito A Constituiccedilatildeo constituin-
te ensaio sobre o poder de revisatildeo da Constituiccedilatildeo Coimbra Coimbra 2000 Samantha Chantal Dobrowolski Op cit p 265-312
Rodrigo Brandatildeo Direitos fundamentais democracia e claacuteusulas peacutetreas Rio de Janeiro Renovar 2008 p 59-112
108Cf Michel Troper Justice Constitutionelle et Deacutemocratie In Pour une Theorie Juridique de LEacutetat Paris PUF 1994 p 317-328
Claacuteudio Pereira de Souza Neto Jurisdiccedilatildeo constitucional democracia e racionalidade praacutetica Op cit p 106-130 Gustavo Binen-
bojm A nova jurisdiccedilatildeo constitucional brasileira Op cit p 55-74
109Sobre o modelo revolucionaacuterio francecircs de constitucionalismo completamente avesso agrave ideacuteia de jurisdiccedilatildeo constitucional cf
Maurizio Fioravanti Constitucioacuten de la antiguumledad a nuestros dias Traduccedilatildeo de Manuel Martinez Neira Madrid Trotta 2001 p
120-132
110Cf Carl Schmitt La Defesa de la Constitucioacuten Madrid Tecnos 1983
111O constitucionalismo popular ou populismo constitucional eacute uma importante corrente no debate constitucional norte-americano
contemporacircneo que nega a legitimidade democraacutetica do controle de constitucionalidade advogando que deve caber ao proacuteprio
povo e natildeo a uma elite de juiacutezes natildeo eleitos com assento na Suprema Corte o poder de definir o sentido das claacuteusulas vagas que
abundam no texto constitucional daquele paiacutes Na defesa desta tese satildeo empregados tanto argumentos de teoria e filosofia poliacuteti-
ca de caraacuteter mais universal como razotildees histoacutericas relacionadas agrave evoluccedilatildeo do constitucionalismo estadunidense Veja-se nesta
linha Mark Tushnet Taking the Constitution Away from the Courts Princeton Princeton University Press 1999 Jeremy Waldron
Precommitment and Disagreement Op cit Larry D Kramer The People Themselves Popular constitutionalism and judicial re-
view New York Oxford University Press 1994
Ateacute algumas deacutecadas atraacutes a oposiccedilatildeo agrave jurisdiccedilatildeo constitucional nos Estados Unidos partia em regra da Direita que natildeo se con-
formava com a jurisprudecircncia extremamente liberal em mateacuteria de direitos fundamentais estabelecida pela Corte entre os anos
50 e 70 Atualmente uma boa parte dos opositores agrave judicial review situa-se agrave esquerda do espectro poliacutetico e talvez a nova linha
profundamente conservadora daquele Tribunal ajude a explicar esta mudanccedila
112Sobre a Era de Lochner veja-se Laurence H Tribe American Constitutional Law 2 ed Mineola The Foundation Press 1988 p
567-581 Paul Brest et al Processes of Constitucional Decisionmaking 4 ed New York Aspen Publishers 2000 p 337-354
113Towards Juristocracy hellip Op cit
114Tratei do tema no artigo Direito adquirido emenda constitucional democracia e justiccedila social In Livres e iguais Op cit p
03-32
115Cf Charles R Epp The Rights Revolution Chicago The University of Chicago Press 1998 p 26-70 Owen Fiss The Law as It
Could Be New York New York University Press 2003 p 244-249
116A importacircncia e as peculiaridades da interpretaccedilatildeo legislativa da Constituiccedilatildeo satildeo exploradas em importante obra coletiva
Richard W Bauman Tsvi Kahana The Least Examined Branch The Role of Legislatures in the Constitutional State Cambridge
Cambridge University Press 2006
117Cf em tom ainda mais ceacutetico do que o adotado neste estudo Martonio MontAlverne Barreto Lima Jurisdiccedilatildeo Constitucional
um problema da teoria da democracia poliacutetica In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Gilberto Bercovici Joseacute Filomeno de Moraes
Filho Martonio MontAlverne Teoria da Constituiccedilatildeo estudos sobre o lugar da poliacutetica no direito constitucional Rio de Janeiro
Lumen Juris 2003 p 199-261 Conrado Huumlbner Mendes Controle de constitucionalidade e democracia Rio de Janeiro Elsevier
2008
36
118Para criacutetica semelhante no contexto germacircnico veja-se Ingeborg Maus O judiciaacuterio como superego da sociedade sobre o papel
da atividade jurisprudencial na sociedade oacuterfatilde Traduccedilatildeo de Martonio MontAlverne Barreto Lima Paulo Antonio Menezes de Albu-
querque Anuaacuterio dos Cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito da Faculdade de Direito de Recife n 11 2000
119Eu aprofundo a anaacutelise deste ponto no meu artigo Interpretaccedilatildeo constitucional preacute-compreensatildeo e capacidades institucionais do
inteacuterprete In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm (Coord) Vinte anos da Constituiccedilatildeo Federal
de 1988 Op cit p 311-322 E a necessidade de optar por teoria de interpretaccedilatildeo que leve em consideraccedilatildeo as capacidades
institucionais reais dos juiacutezes comparando-as com as dos agentes de outras instituiccedilotildees eacute explorada no importante estudo de Cass
Sunstein Adrian Vermeulle Interpretations and Institutions Chicago Working Papers in Law amp Economics 2002 p 01-55 bem
como no livro de Adrian Vermeulle Judging under Uncertainty An Institutional Theory for Legal Interpretation Cambridge Har-
vard University Press 2006
120Dentre as honrosas exceccedilotildees mencione-se Luiacutes Roberto Barroso autor de importante artigo com sugestotildees para a reforma poliacuteti-
ca no paiacutes Reforma poliacutetica uma proposta de sistema de governo eleitoral e partidaacuterio para o Brasil Revista de Direito do Esta-
do n 3 p 287-360 jul set 2006
121Sobre o ethos judicial no Brasil veja-se a pesquisa de Maria Tereza Sadek Magistrados uma imagem em movimento Rio de
Janeiro FGV 2006
122Em sentido semelhante veja-se Michael J Perry The Constitution the Courts and Human Rights New Haven Yale University
Press 1982 p 91-145
123Neste ponto entendo que um standard importante que deveria ser adotado para controle de constitucionalidade eacute o de que
quanto maiores forem as credencias democraacuteticas de um ato normativo mais autocontido deve ser o Poder Judiciaacuterio ao avaliar a
sua constitucionalidade Na minha opiniatildeo estas credencias democraacuteticas devem ser aferidas tanto por criteacuterios qualitativos - eg
grau de participaccedilatildeo social no processo legislativo qualidade do processo deliberativo que a antecedeu - como por criteacuterios quanti-
tativos - percentual de votos favoraacuteveis agrave medida Em sentido semelhante veja-se Claacuteudio Ari Mello Democracia e direitos funda-
mentais Op cit p 298
124Em sentido proacuteximo apontam as liccedilotildees de Gustavo Binenbojm e Humberto Aacutevila O primeiro tratando do controle judicial dos
atos administrativos averbou que quanto maior for o grau de tecnicidade da mateacuteria objeto de decisatildeo por oacutergatildeos dotados de
expertise e experiecircncia menos intenso deve ser o grau de controle judicial (Uma teoria do direito administrativo Op cit p
236) Jaacute o segundo salientou que o acircmbito de controle pelo Judiciaacuterio deveraacute ser tanto menor quanto mais difiacutecil e teacutecnico for
o juiacutezo exigido para o tratamento da mateacuteria (Teoria dos princiacutepios Op cit p 126)
125Um exemplo extremado deste posicionamento estaacute na argumentaccedilatildeo adotada pelo STF no julgamento da ADIN 2797 Rel Min
Sepuacutelveda Pertence em que se reconheceu a inconstitucionalidade formal de lei que pretendia interpretar a Constituiccedilatildeo Para o
STF natildeo pode a lei ordinaacuteria pretender impor como seu objeto imediato uma interpretaccedilatildeo a Constituiccedilatildeo a questatildeo eacute de in-
constitucionalidade formal iacutensita a toda norma da gradaccedilatildeo inferior que se proponha a ditar interpretaccedilatildeo de norma superior
Na questatildeo de fundo abordada naquele caso entendo que o STF estava certo Tratava-se de invalidar uma norma legal que esten-
dera o foro de prerrogativa de funccedilatildeo a ex-ocupantes de cargos puacuteblicos visando a restaurar antiga jurisprudecircncia do STF sedi-
mentada na Suacutemula 394 do Tribunal que acabara de ser cancelada O princiacutepio republicano natildeo era compatiacutevel com tal medida
que configurava niacutetido privileacutegio O que me parece inaceitaacutevel e profundamente anti-democraacutetico com a devida vecircnia natildeo eacute o
resultado alcanccedilado pela Corte - com o qual concordo - mas o argumento empregado de que o legislador natildeo pode interpretar a
Constituiccedilatildeo
126Existe hoje uma fecunda produccedilatildeo acadecircmica no cenaacuterio anglo-saxatildeo sobre as vantagens de modelos teoacutericos que favoreccedilam
diaacutelogos entre diversos oacutergatildeos e instituiccedilotildees na interpretaccedilatildeo constitucional ao inveacutes de afirmarem a exclusividade ou mesmo a
supremacia do Judiciaacuterio nesta seara Veja-se a propoacutesito Laurence G Sager Justice in Plainclothes A Theory of American Con-
stitutional Practice New haven Yale University Press 2004 Mark Tushnet Weak Courts Strong Rights Judicial Review and Social
Welfare Rights in Comparative Constitutional Law Princeton Princeton University Press 2008 Mark C Miller Jeb Barnes (Ed)
Making Police Making Law An Interbranch Perspective Washington DC Georgetown University Press 2004
37
127Colhi o exemplo no estudo de Oscar Vilhena Vieira Supremocracia In Daniel Sarmento (Org) Filosofia e teoria constitucional
contemporacircnea Rio de Janeiro Lumen Juris 2009
128Como um natildeo-positivista tenho a necessaacuteria imparcialidade para criticar os equiacutevocos da doutrina brasileira nas suas invectivas
contra o positivismo que muitas vezes caracterizam verdadeira falaacutecia do espantalho ataca-se natildeo a proacutepria teoria positivista
mas uma distorcida caricatura dela Duas afirmaccedilotildees erradas que eu mesmo jaacute fiz em textos anteriores satildeo muito frequumlentes a
de que o positivismo recusa a aplicaccedilatildeo dos princiacutepios juriacutedicos e a de que ele teria sido a Filosofia do Direito cultivada na Alema-
nha nazista
Quanto ao primeiro ponto natildeo haacute nenhuma incompatibilidade loacutegica entre positivismo e princiacutepios desde que os princiacutepios este-
jam devidamente incorporados na ordem juriacutedico-positiva Vaacuterios autores positivistas contemporacircneos jaacute citados neste estudo
como Luis Prietro Sanchiacutes Luigi Ferrajoli e Gregorio Peces-Barba atribuiacuteram espaccedilo importante para princiacutepios nas suas teorias
Mesmo no Direito Puacuteblico brasileiro juristas de inspiraccedilatildeo positivista kelseniana construiacuteram suas teorias com apoio em argumen-
taccedilatildeo principioloacutegica como o falecido Geraldo Ataliba e Celso Antonio Bandeira de Mello
No que tange ao segundo ponto - a chamada redutio ad hitlerum - os estudos mais autorizados de Histoacuteria do Direito comprovam
que natildeo foi o positivismo a teoria juriacutedica dominante no nazismo mas uma espeacutecie de jusnaturalismo de inspiraccedilatildeo hegeliana que
se insurgia contra o formalismo e recorria com frequumlecircncia a conceitos muito vagos para justificar a barbaacuterie como os de comuni-
dade popular (Volksgemeinschaft) Veja-se a propoacutesito Michael Stolleis The Law under the Swastika Studies on Legal History in
Nazi Germany Traduccedilatildeo de Thomas Dunlap Chicago The University of Chicago Press 1998
129Cf Joseacute Joaquim Gomes Canotilho Direito constitucional e Teoria da Constituiccedilatildeo Coimbra Almedina 1998 p 1036
130Sobre a importacircncia das regras veja-se Frederick Schauer Playing by the Rules A Philosophical Exaxamination of Rule-Bases
Decision-Making in Law and Life Oxford Oxford University Press 1998 Humberto Aacutevila Neoconstitucionalismo entre a ciecircncia do
direito e o direito da ciecircncia Op cit Noel Struchiner Posturas institucionais e modelagem institucional a dignidade (contingente)
do formalismo juriacutedico In Daniel Sarmento Filosofia e teoria constitucional contemporacircnea Op cit
131Esta eacute expressatildeo empregada por Ana Paula de Barcellos O direito constitucional em 2006 Revista de Direito do Estado n 5 p
03-23 janmar 2007
132Cf Chaiumlm Perelman P Fories La Motivation des Deacutecisions de Justice Bruxelas Eacutemile Bruylant 1978
133Sobra a influecircncia do jeitinho no Direito brasileiro cf Keith Rosen O jeito na cultura juriacutedica brasileira Rio de Janeiro Reno-
var 1997
134Sobre o patrimonialismo no Brasil veja-se Raimundo Faoro Os donos do poder 8 ed Rio de Janeiro Globo 1989 v 2 p 729-
750
135Raiacutezes do Brasil 26 ed Satildeo Paulo Companhia das Letras 1995
136Cf Joseacute Murilo de Carvalho Brasileiro Cidadatildeo In Pontos e bordados escritos de histoacuteria e poliacutetica Belo Horizonte Ed
UFMG 2005 p 275-288
137Cf Gustavo Zagrebelsky Il Diritto Mite Op cit p 15-19
138Cf Marcelo Neves A constitucionalizaccedilatildeo simboacutelica Satildeo Paulo Acadecircmica 1994
139A obra de Niklas Luhman eacute vasta e complexa e seus textos satildeo de difiacutecil compreensatildeo para os natildeo iniciados Veja-se do proacuteprio
autor Sociologia do direito I e II Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 1983 e 1985 Sistema Jurididico y Dogmaacutetica Juriacutedica Madrid
Centro de Estuacutedios Constitucionales 1983 Confira-se tambeacutem a coletacircnea organizada por Andreacute-Jean Arnaud Dalmir Lopes Jr Do
sistema social agrave sociologia juriacutedica Rio de Janeiro Lumen Juris 2004
140Sobre a autopoieses do Direito veja-se tambeacutem a obra importante de Guumlnther Teubner O direito como sistema autopoieacutetico
Traduccedilatildeo de Joseacute Engracia Nunes Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1993
141Cf Luis Roberto Barroso Neoconstitucionalismo e a constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit
142Esta era basicamente a visatildeo de Hans Kelsen (Cf Hans Kelsen Jurisdiccedilatildeo constitucional Traduccedilatildeo de Alexandre Krug et al Satildeo
Paulo Martins Fontes 2003 p 153) Para uma anaacutelise criacutetica desta posiccedilatildeo veja-se Luis Prietro Sanchiacutes Presupuestos ideoloacutegicos
y doctrinales de la jurisdicioacuten constitucional In Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales Op cit p 21-100
38
143Cf Christian Starck La suprematie La Suprematie de la Constitution et la Justice Constitutionnelle In La Constitution Cadre et
Mesure du Droit Traduccedilatildeo de Freacutederic Weill Paris Econocircmica 1994 p 26-30 Ernst- Wolfgang Boumlckenfoumlrde Les meacutethodes
dinterpretation de la Constitution Un bilan critique In Le Droit lEacutetat et la Constitution Democratique Traduccedilatildeo de Olivier
Jouanjan Paris LGDJ 2000 p 249-250 Virgiacutelio Afonso da Silva Constitucionalizaccedilatildeo do direito os direitos fundamentais nas
relaccedilotildees entre particulares Satildeo Paulo Malheiros 2005 p 107-131 Daniel Sarmento Ubiquumlidade constitucional os dois lados da
moeda Op cit Luis Roberto Barroso Curso de Direito Constitucional Contemporacircneo Op cit p 391-394 Alceu Mauriacutecio Jr
Judicializaccedilatildeo da poliacutetica e a crise do direito constitucional a Constituiccedilatildeo entre ordem marco e ordem fundamenta Revista de
Direito do Estado n 10 p 125-142 abrjun 2008
144Der Staat der Industriegesellshaft 2 ed Muumlnchen Beck 1971 p 144 Apud Robert Alexy Posfaacutecio In Teoria dos direitos
fundamentais Op cit p 578
145De acordo com Carlos Santiago Nino o perfeccionaismo eacute la concepcioacuten seguacuten la cual es una misioacuten legiacutetima del Estado hacer
que los individuos acepten y materializen ideales vaacutelidos de virtud personal Seguacuten este enfoque el Estado no puede permanecer
neutral respecto de concepciones de lo bueno en la vida y debe adoptar las medidas educativas punitorias etc que sean necesa-
rias para que los indiviacuteduos ajusten su vida a los verdaderos ideales de virtud y del bien (Eacutetica y Derechos Humanos Un ensayo de
fundamentacioacuten 2 ed Buenos Aires Astrea 1989 p 413)
146Daniel Sarmento Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas 2 ed Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 Sobre o tema na literatura
nacional veja-se tambeacutem Wilson Antocircnio Steinmetz A vinculaccedilatildeo dos particulares aos direitos fundamentais Satildeo Paulo Malheiros
2004 Virgiacutelio Afonso da Silva Constitucionalizaccedilatildeo do direito os direitos fundamentais nas relaccedilotildees entre particulares Op cit
Ingo Wolfgang Sarlet Direitos fundamentais e direito privado algumas consideraccedilotildees em torno da vinculaccedilatildeo dos particulares aos
direitos fundamentais In Ingo Wolfgang Sarlet (Org) A Constituiccedilatildeo concretizada Porto Alegre Livraria do Advogado 1999 p
129-173 Jane Reis Gonccedilalves Pereira Apontamentos sobre a aplicaccedilatildeo das normas de direito fundamental nas relaccedilotildees juriacutedicas
entre particulares In Luis Roberto Barroso (Org) A nova interpretaccedilatildeo constitucional ponderaccedilatildeo direitos fundamentais e
relaccedilotildees privadas Rio de Janeiro Renovar 2003 p 119-192
147Sobre a questatildeo da (i)legitimidade do perfeccionismo no Direito veja-se Joel Feinberg Rights Justice and the Bounds of Liber-
ty Princeton Princeton University Press 1980 Carlos Santiago Nino Eacutetica y Derechos Humanos Op cit p 413-446 Rainer Forst
Contexts of Justice Political Philosophy beyond Liberalism and Communitarianism Traduccedilatildeo de John M M Farrel Berkeley Uni-
versity of Califoacuternia Press 2001 p 30-87 Macaacuterio Alemany El Paternalismo Juriacutedico Madrid Iustel 2006
148Um sofisticado modelo que busca conciliar a constitucionalizaccedilatildeo do Direito com a democracia estaacute exposto no Poacutesfaacutecio agrave Teo-
ria dos Direitos Fundamentais de Robert Alexy acima citado Veja-se ainda Konrad Hesse Concepto y Cualidad de la Constitu-
cion In Escritos de Derecho Constitucional Traduccedilatildeo de Pedro Cruz Villaloacuten 2 ed 1992 p 03-29
149Tentei articular a minha teoria sobre eficaacutecia horizontal dos direitos fundamentais com este objetivo Cf Daniel Sarmento
Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas Op cit p 141-182 259-272
150Sobre el Neoconstitucionalismo y sus Implicaciones Op cit p 117
151Aqui entendo que o simples reconhecimento da penetraccedilatildeo da Moral no Direito preconizada pelos neoconstitucionalistas brasi-
leiros natildeo eacute suficiente jaacute que certas concepccedilotildees morais podem tornar o ordenamento ainda mais opressivo do que jaacute eacute Afinal
nem sempre a moralizaccedilatildeo do Direito se daacute na direccedilatildeo da emancipaccedilatildeo dos excluiacutedos Veja-se por exemplo a famosa polecircmica
jusfilosoacutefica entre Lord Patrick Devlin e Herbert Hart nos anos 60 na Inglaterra a propoacutesito do uso do Direito Penal para promoccedilatildeo
de Moral em que o primeiro a partir de uma posiccedilatildeo proacute-moral sustentava a legitimidade da criminalizaccedilatildeo da conduta homos-
sexual que o segundo contestava (Cf Lord Patrick Devlin Morals and Criminal Law In Ronald Dworkin (Ed) The Philosophy of
Law Op cit p 66-82 Herbert Hart Immorality and Treason In Idem ibidem)
Eacute preciso assentar as bases criacuteticas desta Moral que deve penetrar o Direito para evitar que o moralismo conservador seja expulso
do ordenamento pela porta da frente superado pela legislaccedilatildeo moderna em razatildeo da progressiva liberalizaccedilatildeo da sociedade mas
volte pela porta dos fundos atraveacutes da argumentaccedilatildeo juriacutedica dos juiacutezes lastreada em conceitos vagos como ordem puacuteblica e
bons constumes ou em standards como o comportamento do bom pai de famiacutelia
39
2
O NEOCONSTITUCIONALISMO NO BRASIL RISCOS E POSSIBILIDADES
Sumaacuterio 1 Introduccedilatildeo - 2 O que eacute o neoconstitucionalismo - 3 A recepccedilatildeo do neoconstituciona-
lismo no Brasil - 4 Trecircs objeccedilotildees ao neoconstitucionalismo - 5 Conclusatildeo
1 Introduccedilatildeo
O Direito brasileiro vem sofrendo mudanccedilas profundas nos uacuteltimos tempos relacionadas agrave e-
mergecircncia de um novo paradigma tanto na teoria juriacutedica quanto na praacutetica dos tribunais que
tem sido designado como neoconstitucionalismo Estas mudanccedilas que se desenvolvem sob a
eacutegide da Constituiccedilatildeo de 88 envolvem vaacuterios fenocircmenos diferentes mas reciprocamente im-
plicados que podem ser assim sintetizados (a) reconhecimento da forccedila normativa dos princiacute-
pios juriacutedicos e valorizaccedilatildeo da sua importacircncia no processo de aplicaccedilatildeo do Direito1 (b) rejei-
ccedilatildeo ao formalismo e recurso mais frequumlente a meacutetodos ou estilos mais abertos de raciociacutenio
juriacutedico ponderaccedilatildeo toacutepica teorias da argumentaccedilatildeo etc2 (c) constitucionalizaccedilatildeo do Direi-
to com a irradiaccedilatildeo das normas e valores constitucionais sobretudo os relacionados aos direi-
tos fundamentais para todos os ramos do ordenamento3 (d) reaproximaccedilatildeo entre o Direito e a
Moral com a penetraccedilatildeo cada vez maior da Filosofia nos debates juriacutedicos4 e (e) judicializaccedilatildeo
da poliacutetica e das relaccedilotildees sociais com um significativo deslocamento de poder da esfera do
Legislativo e do Executivo para o Poder Judiciaacuterio5
Haacute quem aplauda entusiasticamente estas mudanccedilas e quem as critique com veemecircncia Con-
tudo natildeo haacute como negar a magnitude das alteraccedilotildees que vecircm se desenrolando por debaixo dos
nossos olhos No presente estudo tenho duas intenccedilotildees em primeiro lugar pretendo descrever
o que se entende por neoconstitucionalismo abordando a sua recepccedilatildeo no pensamento juriacutedico
brasileiro Aleacutem disso tenciono discutir trecircs questotildees que o paradigma neoconstitucionalista
suscita especialmente no cenaacuterio brasileiro os riscos para a democracia de uma judicializaccedilatildeo
excessiva da vida social os perigos de uma jurisprudecircncia calcada numa metodologia muito
aberta sobretudo no contexto de uma civilizaccedilatildeo que tem no jeitinho uma das suas marcas
distintivas e os problemas que podem advir de um possiacutevel excesso na constitucionalizaccedilatildeo do
Direito para a autonomia puacuteblica do cidadatildeo e para a autonomia privada do indiviacuteduo
3
2 O que eacute o neoconstitucionalismo
A palavra neoconstitucionalismo natildeo eacute empregada no debate constitucional norte-americano
nem tampouco no que eacute travado na Alemanha Trata-se de um conceito formulado sobretudo
na Espanha e na Itaacutelia mas que tem reverberado bastante na doutrina brasileira nos uacuteltimos
anos sobretudo depois da ampla divulgaccedilatildeo que teve aqui a importante coletacircnea intitulada
Neoconstitucionalismo (s) organizada pelo jurista mexicano Miguel Carbonell e publicada na
Espanha em 20036
Os adeptos do neoconstitucionalismo buscam embasamento no pensamento de juristas que se
filiam a linhas bastante heterogecircneas como Ronald Dorkin Robert Alexy Peter Haumlberle Gus-
tavo Zagrebelsky Luigi Ferrajoli e Carlos Santiago Nino e nenhum destes se define hoje ou jaacute
se definiu no passado como neoconstitucionalista7 Tanto dentre os referidos autores como
entre aqueles que se apresentam como neoconstitucionalistas constata-se uma ampla diversi-
dade de posiccedilotildees jusfilosoacuteficas e de filosofia poliacutetica haacute positivistas e natildeo-positivistas defen-
sores da necessidade do uso do meacutetodo na aplicaccedilatildeo do Direito8 e ferrenhos opositores do em-
prego de qualquer metodologia na hermenecircutica juriacutedica9adeptos do liberalismo poliacuteti-
co10comunitaristas11 e procedimentalistas12 Neste quadro natildeo eacute tarefa singela definir o neo-
constitucionalismo talvez porque como jaacute revela o bem escolhido tiacutetulo da obra organizada
por Carbonell natildeo exista um uacutenico neoconstitucionalismo que corresponda a uma concepccedilatildeo
teoacuterica clara e coesa mas diversas visotildees sobre o fenocircmeno juriacutedico na contemporaneidade
que guardam entre si alguns denominadores comuns relevantes o que justifica que sejam a-
grupadas sob um mesmo roacutetulo mas compromete a possibilidade de uma conceituaccedilatildeo mais
precisa13
Para compreender melhor o neoconstitucionalismo vale percorrer de forma sinteacutetica e pano-
racircmica o processo histoacuterico que ensejou o seu advento Esta trajetoacuteria corresponde a fenocircme-
nos que ocorreram na Europa Ocidental a partir do segundo poacutes-guerra14 e que se reproduzi-
ram mais tarde com nuances proacuteprias em paiacuteses do Terceiro Mundo como Colocircmbia15 Argen-
tina16 Meacutexico17 Aacutefrica do Sul18 Iacutendia 19 e o proacuteprio Brasil
Ateacute a Segunda Guerra Mundial prevalecia no velho continente uma cultura juriacutedica essencial-
mente legicecircntrica que tratava a lei editada pelo parlamento como a fonte principal - quase
como a fonte exclusiva - do Direito e natildeo atribuiacutea forccedila normativa agraves constituiccedilotildees20 Estas
eram vistas basicamente como programas poliacuteticos que deveriam inspirar a atuaccedilatildeo do legisla-
4
dor mas que natildeo podiam ser invocados perante o Judiciaacuterio na defesa de direitos21 Os direi-
tos fundamentais valiam apenas na medida em que fossem protegidos pelas leis e natildeo envolvi-
am em geral garantias contra o arbiacutetrio ou descaso das maiorias poliacuteticas instaladas nos par-
lamentos Aliaacutes durante a maior parte do tempo as maiorias parlamentares nem mesmo re-
presentavam todo o povo jaacute que o sufraacutegio universal soacute foi conquistado no curso do seacuteculo XX
Depois da Segunda Guerra na Alemanha22e na Itaacutelia23 e algumas deacutecadas mais tarde apoacutes o
fim de ditaduras de direita na Espanha e em Portugal assistiu-se a uma mudanccedila significativa
deste quadro A percepccedilatildeo de que as maiorias poliacuteticas podem perpetrar ou acumpliciar-se com
a barbaacuterie como ocorrera no nazismo alematildeo levou as novas constituiccedilotildees a criarem ou forta-
lecerem a jurisdiccedilatildeo constitucional instituindo mecanismos potentes de proteccedilatildeo dos direitos
fundamentais mesmo em face do legislador Sob esta perspectiva a concepccedilatildeo de Constituiccedilatildeo
na Europa aproximou-se daquela existente nos Estados Unidosonde desde os primoacuterdios do
constitucionalismo entende-se que a Constituiccedilatildeo eacute autecircntica norma juriacutedica que limita o
exerciacutecio do Poder Legislativo e pode justificar a invalidaccedilatildeo de leis24 Soacute que com uma dife-
renccedila importante enquanto a Constituiccedilatildeo norte-americana eacute sinteacutetica e se limita a definir os
traccedilos baacutesicos de organizaccedilatildeo do Estado e a prever alguns poucos direitos individuais as cartas
europeacuteias foram em geral muito aleacutem disso
As constituiccedilotildees europeacuteias do 2ordm poacutes-guerra natildeo satildeo cartas procedimentais que quase tudo dei-
xam para as decisotildees das maiorias legislativas mas sim documentos repletos de normas im-
pregnadas de elevado teor axioloacutegico que contecircm importantes decisotildees substantivas e se de-
bruccedilam sobre uma ampla variedade de temas que outrora natildeo eram tratados pelas constitui-
ccedilotildees como a economia as relaccedilotildees de trabalho e a famiacutelia25 Muitas delas ao lado dos tradi-
cionais direitos individuais e poliacuteticos incluem tambeacutem direitos sociais de natureza prestacio-
nal Uma interpretaccedilatildeo extensiva e abrangente das normas constitucionais pelo Poder Judiciaacute-
rio deu origem ao fenocircmeno de constitucionalizaccedilatildeo da ordem juriacutedica que ampliou a influecircn-
cia das constituiccedilotildees sobre todo o ordenamento levando agrave adoccedilatildeo de novas leituras de normas
e institutos nos mais variados ramos do Direito26
Como boa parcela das normas mais relevantes destas constituiccedilotildees caracteriza-se pela abertura
e indeterminaccedilatildeo semacircnticas - satildeo em grande parte princiacutepios e natildeo regras - a sua aplicaccedilatildeo
direta pelo Poder Judiciaacuterio importou na adoccedilatildeo de novas teacutecnicas e estilos hermenecircuticos ao
lado da tradicional subsunccedilatildeo27 A necessidade de resolver tensotildees entre princiacutepios constitucio-
nais colidentes - frequumlente em constituiccedilotildees compromissoacuterias marcadas pela riqueza e pelo
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pluralismo axioloacutegico - deu espaccedilo ao desenvolvimento da teacutecnica da ponderaccedilatildeo28 e tornou
frequumlente o recurso ao princiacutepio da proporcionalidade na esfera judicial29 E a busca de legiti-
midade para estas decisotildees no marco de sociedades plurais e complexas impulsionou o desen-
volvimento de diversas teorias da argumentaccedilatildeo juriacutedica30 que incorporaram ao Direito ele-
mentos que o positivismo claacutessico costumava desprezar como consideraccedilotildees de natureza mo-
ral ou relacionadas ao campo empiacuterico subjacente agraves normas
Neste contexto cresceu muito a importacircncia poliacutetica do Poder Judiciaacuterio Com frequumlecircncia cada
vez maior questotildees polecircmicas e relevantes para a sociedade passaram a ser decididas por ma-
gistrados e sobretudo por cortes constitucionais muitas vezes em razatildeo de accedilotildees propostas
pelo grupo poliacutetico ou social que fora perdedor na arena legislativa31 De poder quase nulo
mera boca que pronuncia as palavras da lei como lhe chamara Montesquieu o Poder Judiciaacute-
rio se viu alccedilado a uma posiccedilatildeo muito mais importante no desenho institucional do Estado con-
temporacircneo
A principal mateacuteria-prima dos estudos que se identificam com o neoconstitucionalismo relacio-
na-se agraves mutaccedilotildees da cultura juriacutedica acima descritas Em que pese a heterogeneidade dos po-
sicionamentos jusfilosoacuteficos dos autores que se filiam a esta linha natildeo me parece uma simplifi-
caccedilatildeo exagerada dizer que os seus principais pontos de convergecircncia satildeo o reconhecimento
destas mudanccedilas e a sua defesa32
As teorias neoconstitucionalistas buscam construir novas grades teoacutericas que se compatibilizem
com os fenocircmenos acima referidos em substituiccedilatildeo agravequelas do positivismo tradicional consi-
deradas incompatiacuteveis com a nova realidade Assim por exemplo ao inveacutes da insistecircncia na
subsunccedilatildeo e no silogismo do positivismo formalista ou no mero reconhecimento da discriciona-
riedade poliacutetica do inteacuterprete nos casos difiacuteceis na linha do positivismo mais moderno de Kel-
sen e Hart o neoconstitucionalismo se dedica agrave discussatildeo de meacutetodos ou de teorias da argu-
mentaccedilatildeo que permitam a procura racional e intersubjetivamente controlaacutevel da melhor res-
posta para os casos difiacuteceis do Direito33 Haacute portanto uma valorizaccedilatildeo da razatildeo praacutetica no
acircmbito juriacutedico Para o neoconstitucionalismo natildeo eacute racional apenas aquilo que possa ser
comprovado de forma experimental ou deduzido more geometrico de premissas gerais como
postulavam algumas correntes do positivismo Tambeacutem pode ser racional a argumentaccedilatildeo em-
pregada na resoluccedilatildeo das questotildees praacuteticas que o Direito tem de equacionar34 A ideacuteia de ra-
cionalidade juriacutedica aproxima-se da ideacuteia do razoaacutevel e deixa de se identificar agrave loacutegica formal
das ciecircncias exatas
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No neoconstitucionalismo a leitura claacutessica do princiacutepio da separaccedilatildeo de poderes que impu-
nha limites riacutegidos agrave atuaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio cede espaccedilo a outras visotildees mais favoraacuteveis
ao ativismo judicial em defesa dos valores constitucionais35 No lugar de concepccedilotildees estrita-
mente majoritaacuterias do princiacutepio democraacutetico satildeo endossadas teorias de democracia mais subs-
tantivas36 que legitimam amplas restriccedilotildees aos poderes do legislador em nome dos direitos
fundamentais e da proteccedilatildeo das minorias e possibilitem a sua fiscalizaccedilatildeo por juiacutezes natildeo elei-
tos E ao inveacutes de uma teoria das fontes do Direito focada no coacutedigo e na lei formal enfatiza-se
a centralidade da Constituiccedilatildeo no ordenamento a ubiquumlidade da sua influecircncia na ordem juriacute-
dica e o papel criativo da jurisprudecircncia
Ao reconhecer a forccedila normativa de princiacutepios revestidos de elevada carga axioloacutegica como
dignidade da pessoa humana igualdade Estado Democraacutetico de Direito e solidariedade social
o neoconstitucionalismo abre as portas do Direito para o debate moral37 Eacute certo que aqui resi-
de uma das maiores divergecircncias internas nas fileiras do neoconstitucionalismo
De um lado figuram os positivistas como Luigi Ferrajoli38 Luiz Prietro Sanchiacutes39 Ricardo
Guastini 40e Suzana Pozzolo41 que natildeo aceitam a existecircncia de uma conexatildeo necessaacuteria entre
Direito e Moral mas reconhecem que pode haver uma ligaccedilatildeo contingente entre estas esferas
sempre que as autoridades competentes dentre as quais se inclui o poder constituinte originaacute-
rio positivem valores morais conferindo-lhes forccedila juriacutedica Do outro alinham-se os natildeo-
positivistas como Ronald Dworkin42 Robert Alexy43 Carlos Santiago Nino44 e seus seguidores
que afirmam que Moral e Direito tecircm uma conexatildeo necessaacuteria e aderem agrave famosa tese de Gus-
tav Radbruch de que normas terrivelmente injustas natildeo tecircm validade juriacutedica independente-
mente do que digam as fontes autorizadas do ordenamento45 Dentre estes autores haacute quem
insista na ideacuteia de que o Direito possui uma pretensatildeo de correccedilatildeo pois de alguma maneira eacute
da sua essecircncia aspirar agrave realizaccedilatildeo da justiccedila46 Contudo na medida em que as constituiccedilotildees
contemporacircneas entronizam com prodigalidade os valores morais este debate teoacuterico perde
bastante em importacircncia pois mesmo os neoconstitucionalistas que se afirmam positivistas
reconhecem a penetraccedilatildeo da Moral no tecido juriacutedico sobretudo pela via dos princiacutepios consti-
tucionais47 Trata-se do chamado positivismo inclusivo48
Neste quadro embora me pareccedila exagerado falar em superaccedilatildeo da eterna querela entre jusna-
turalistas e positivistas pela via do neoconstitucionalismo natildeo haacute duacutevida de que a relevacircncia
praacutetica da desavenccedila eacute consideravelmente diminuiacuteda Eacute verdade que para os positivistas inclu-
sivos o fundamento das normas revestidas de conteuacutedo moral seraacute sempre um ato de autorida-
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de validado por uma regra de reconhecimento aceita pela praacutetica da comunidade poliacutetica No
final das contas eles natildeo se afastam do brocardo hobbesiano de que autoritas non veritas facit
legem Jaacute para os natildeo-positivistas a vigecircncia dos princiacutepios morais natildeo decorreraacute de um teste
de pedigree mas de exigecircncias da proacutepria Moral acessiacuteveis agrave razatildeo humana Poreacutem para am-
bas as linhas os valores morais incluiacutedos nas constituiccedilotildees satildeo juriacutedicos e devem produzir efei-
tos no mundo concreto
No paradigma neoconstitucionalista a argumentaccedilatildeo juriacutedica apesar de natildeo se fundir com a
Moral abre um significativo espaccedilo para ela Por isso se atenua a distinccedilatildeo da teoria juriacutedica
claacutessica entre a descriccedilatildeo do Direito como ele eacute e prescriccedilatildeo sobre como ele deveria ser49 Os
juiacutezos descritivo e prescritivo de alguma maneira se sobrepotildeem pela influecircncia dos princiacutepios
e valores constitucionais impregnados de forte conteuacutedo moral que conferem poder ao inteacuter-
prete para buscar em cada caso difiacutecil a soluccedilatildeo mais justa no proacuteprio marco da ordem juriacute-
dica Em outras palavras as fronteiras entre Direito e Moral natildeo satildeo abolidas e a diferenciaccedilatildeo
entre eles essencial nas sociedades complexas permanece em vigor mas as fronteiras entre
os dois domiacutenios tornam-se muito mais porosas na medida em que o proacuteprio ordenamento in-
corpora no seu patamar mais elevado princiacutepios de justiccedila e a cultura juriacutedica comeccedila a le-
vaacute-los a seacuterio
Poreacutem natildeo haacute uma posiccedilatildeo clara nas fileiras neoconstitucionalistas sobre a forma como devem
ser compreendidos e aplicados os valores morais incorporados pela ordem constitucional que
pela sua vagueza e indeterminaccedilatildeo abrem-se a leituras muito diversificadas No contexto das
sociedades plurais e desencantadas que existem no mundo contemporacircneo este debate tor-
na-se crucial uma vez que natildeo haacute mais consensos axioloacutegicos em torno das questotildees difiacuteceis
que o Direito eacute chamado a resolver Este pluralismo mundivisivo torna inviaacutevel pela falta de
legitimidade o uso da argumentaccedilatildeo de cunho jusnaturalista que apele agrave religiatildeo agrave natureza
ou agrave metafiacutesica para equacionar as mais complexas controveacutersias juriacutedicas50
Neste cenaacuterio haacute espaccedilo tanto para visotildees comunitaristas51 que buscam na moralidade positi-
va e nas preacute-compreensotildees socialmente vigentes o norte para a hermenecircutica constitucional
endossando na seara interpretativa os valores e cosmovisotildees hegemocircnicos na sociedade como
para teorias mais proacuteximas ao construtivismo eacutetico52 que se orientam para uma moralidade
criacutetica cujo conteuacutedo seja definido atraveacutes de um debate racional de ideacuteias fundado em cer-
tos pressupostos normativos como os de igualdade e liberdade de todos os seus participantes
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Natildeo haacute como identificar o neoconstitucionalismo com nenhuma destas posiccedilotildees que marcam o
importante debate entre comunitarismo e liberalismo na filosofia poliacutetica contemporacircnea
Outro traccedilo caracteriacutestico do neoconstitucionalismo eacute o seu foco no Poder Judiciaacuterio O grande
protagonista das teorias neoconstitucionalistas eacute o juiz O Direito eacute analisado sobretudo a partir
de uma perspectiva interna daquele que participa dos processos que envolvem a sua interpre-
taccedilatildeo e aplicaccedilatildeo relegando-se a um segundo plano a perspectiva externa do observador Esta
obsessatildeo pelo Poder Judiciaacuterio leva a uma certa desconsideraccedilatildeo do papel desempenhado por
outras instituiccedilotildees como o Poder Legislativo na interpretaccedilatildeo constitucional53 O juiz eacute con-
cebido como o guardiatildeo das promessas54 civilizatoacuterias dos textos constitucionais o que expotildee o
neoconstitucionalismo a vaacuterias criacuteticas - que seratildeo analisadas mais agrave frente - como de que se-
ria elitista e refrataacuterio ao autogoverno popular
Por outro lado o neoconstitucionalismo alenta um ideaacuterio humanista que aposta na possibili-
dade de emancipaccedilatildeo humana pela via juriacutedica atraveacutes de um uso engajado da moderna dog-
maacutetica constitucional55 Neste sentido ele se afasta de algumas linhas teoacutericas da esquerda
como o marxismo56a Critical Legal Studies norte-americana57 e o movimento do Direito Alter-
nativo no Brasil58 que denunciavam o Direito como um instrumento de opressatildeo e dominaccedilatildeo a
serviccedilo dos interesses das classes favorecidas mesmo quando apresentado sob o manto de uma
retoacuterica legitimadora de legalidade e de direitos individuais universais
Trata-se portanto de uma teoria otimista - ou naive diriam os seus criacuteticos - que tambeacutem
natildeo se compadece com o desencanto poacutes-moderno59 profundamente descrente em relaccedilatildeo agrave
razatildeo Enquanto os poacutes-modernos criticam as metanarrativas60 e buscam descontruir as ela-
boraccedilotildees abstratas sobre as quais se fundou o Direito moderno - direitos humanos liberdade
igualdade etc - os neoconstitucionalistas insistem no aprofundamento do projeto poliacutetico da
Modernidade de emancipaccedilatildeo pelo uso da razatildeo atraveacutes dos instrumentos do Direito Constitu-
cional sobretudo os direitos fundamentais
Vejamos agora como estas ideacuteias foram recebidas no Brasil
3 A recepccedilatildeo do neoconstitucionalismo no Brasil
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O processo histoacuterico que se desenrolou na Europa Ocidental a partir do final da Segunda Guer-
ra no Brasil soacute teve iniacutecio apoacutes a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 88 Eacute verdade que jaacute tiacutenha-
mos controle de constitucionalidade desde a proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Poreacutem na cultura ju-
riacutedica brasileira de ateacute entatildeo as constituiccedilotildees natildeo eram vistas como autecircnticas normas juriacutedi-
cas natildeo passando muitas vezes de meras fachadas Exemplos disso natildeo faltam a Constituiccedilatildeo
de 1824 falava em igualdade e a principal instituiccedilatildeo do paiacutes era a escravidatildeo negra a de 1891
instituiacutera o sufraacutegio universal mas todas as eleiccedilotildees eram fraudadas a de 1937 disciplinava o
processo legislativo mas enquanto ela vigorou o Congresso esteve fechado e o Presidente legis-
lava por decretos a de 1969 garantia os direitos agrave liberdade agrave integridade fiacutesica e agrave vida mas
as prisotildees ilegais o desaparecimento forccedilado de pessoas e a tortura campeavam nos porotildees do
regime militar Nesta uacuteltima quadra histoacuterica conviveu-se ainda com o constrangedor paradoxo
da existecircncia de duas ordens juriacutedicas paralelas a das constituiccedilotildees e a dos atos institucionais
que natildeo buscavam nas primeiras o seu fundamento de validade mas num suposto poder revolu-
cionaacuterio em que estariam investidas as Forccedilas Armadas
Ateacute 1988 a lei valia muito mais do que a Constituiccedilatildeo no traacutefico juriacutedico e no Direito Puacuteblico
o decreto e a portaria ainda valiam mais do que a lei O Poder Judiciaacuterio natildeo desempenhava
um papel poliacutetico tatildeo importante e natildeo tinha o mesmo niacutevel de independecircncia de que passou a
gozar posteriormente As constituiccedilotildees eram proacutedigas na consagraccedilatildeo de direitos mas estes
dependiam quase exclusivamente da boa vontade dos governantes de plantatildeo para saiacuterem do
papel - o que normalmente natildeo ocorria Em contextos de crise as foacutermulas constitucionais natildeo
eram seguidas e os quarteacuteis arbitravam boa parte dos conflitos poliacuteticos ou institucionais que
eclodiam no paiacutes
A Assembleacuteia Constituinte de 19871988 que coroou o processo de redemocratizaccedilatildeo do paiacutes
quis romper com este estado de coisas e promulgou uma Constituiccedilatildeo contendo um amplo e
generoso elenco de direitos fundamentais de diversas dimensotildees - direitos individuais poliacuteti-
cos sociais e difusos - aos quais conferiu aplicabilidade imediata (art 5ordm Paraacutegrafo 1ordm) e pro-
tegeu diante do proacuteprio poder de reforma (art 60 Paraacutegrafo 4ordm IV) Aleacutem disso reforccedilou o
papel do Judiciaacuterio consagrando a inafastabilidade da tutela judicial (art 5ordm XXXV) criando
diversos novos remeacutedios constitucionais fortalecendo a independecircncia da instituiccedilatildeo bem co-
mo do Ministeacuterio Puacuteblico e ampliando e robustecendo os mecanismos de controle de constitu-
cionalidade Neste uacuteltimo toacutepico ela democratizou o acesso ao controle abstrato de constitu-
cionalidade ao adotar um vasto elenco de legitimados ativos para a propositura de accedilatildeo direta
de inconstitucionalidade (art 103) e ampliou o escopo da jurisdiccedilatildeo constitucional ao instituir
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no Brasil o controle da inconstitucionalidade por omissatildeo tanto atraveacutes de accedilatildeo direta como do
mandado de injunccedilatildeo
Esta sistemaacutetica de jurisdiccedilatildeo constitucional adotada pelo constituinte favoreceu em larga
medida o processo de judicializaccedilatildeo da poliacutetica na medida em que conferiu a qualquer parti-
do poliacutetico com representaccedilatildeo no Congresso agraves representaccedilotildees nacionais da sociedade civil
organizada e agraves principais instituiccedilotildees dos Estados-membros dentre outras entidades o poder
de provocar o STF61 Assim eacute praticamente impossiacutevel que alguma questatildeo relevante seja re-
solvida no acircmbito parlamentar sem que os perdedores no processo poliacutetico recorram agrave nossa
Corte Suprema para que decirc a palavra final agrave controveacutersia com base na sua interpretaccedilatildeo da
Constituiccedilatildeo E tal modelo vem se aprofundando desde 88 com a criaccedilatildeo da Accedilatildeo Declaratoacuteria
de Constitucionalidade e a regulamentaccedilatildeo da Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fun-
damental
Aleacutem disso a Constituiccedilatildeo de 88 regulou uma grande quantidade de assuntos - muitos deles de
duvidosa dignidade constitucional - subtraindo um vasto nuacutemero de questotildees do alcance do
legislador Ademais ela hospedou em seu texto inuacutemeros princiacutepios vagos mas dotados de for-
te carga axioloacutegica e poder de irradiaccedilatildeo Estas caracteriacutesticas favoreceram o processo de
constitucionalizaccedilatildeo do Direito que envolve natildeo soacute a inclusatildeo no texto constitucional de temas
outrora ignorados ou regulados em sede ordinaacuteria como tambeacutem a releitura de toda a ordem
juriacutedica a partir de uma oacutetica pautada pelos valores constitucionais - a chamada filtragem
constitucional do Direito62
Deve-se tambeacutem destacar o papel importante da doutrina brasileira na mudanccedila de paradigma
do Direito Constitucional brasileiro Na minha opiniatildeo haacute dois momentos distintos nesta evolu-
ccedilatildeo o constitucionalismo brasileiro da efetividade 63e o poacutes-positivismo constitucional
O primeiro momento vem logo apoacutes a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 88 Alguns autores como
Luis Roberto Barroso64 e Clegravemerson Merlin Clegraveve65 passam a advogar a tese de que a Constitui-
ccedilatildeo sendo norma juriacutedica deveria ser rotineiramente aplicada pelos juiacutezes o que ateacute entatildeo
natildeo ocorria O que hoje parece uma obviedade era quase revolucionaacuterio numa eacutepoca em que a
nossa cultura juriacutedica hegemocircnica natildeo tratava a Constituiccedilatildeo como norma mas como pouco
mais do que um repositoacuterio de promessas grandiloquumlentes cuja efetivaccedilatildeo dependeria quase
sempre da boa vontade do legislador e dos governantes de plantatildeo66 Para o constitucionalismo
da efetividade a incidecircncia direta da Constituiccedilatildeo sobre a realidade social independentemen-
te de qualquer mediaccedilatildeo legislativa contribuiria para tirar do papel as proclamaccedilotildees generosas
de direitos contidas na Carta de 88 promovendo justiccedila igualdade e liberdade Se ateacute entatildeo
o discurso da esquerda era de desconstruccedilatildeo da dogmaacutetica juriacutedica a doutrina da efetividade
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vai defender a possibilidade de um uso emancipatoacuterio da dogmaacutetica tendo como eixo a con-
cretizaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo67
Na verdade tratava-se de uma modalidade de positivismo de combate68 A doutrina constitu-
cional da efetividade natildeo se caracterizava pela abertura do debate juriacutedico agrave argumentaccedilatildeo
moral O seu foco principal centrava-se nas normas e era do caraacuteter mais ou menos denso do
seu texto que o inteacuterprete deveria extrair os respectivos efeitos Por outro lado concebia-se a
jurisdiccedilatildeo como o espaccedilo privilegiado para a realizaccedilatildeo da vontade constitucional Um dos mo-
tes do movimento era afastar o estudo do Direito Constitucional da Teoria do Estado para apro-
ximaacute-lo do Direito Processual Por isso pode-se afirmar que o protagonista desta teoria consti-
tucional era o juiz
Em que pese a falta de efetividade de diversas normas da Constituiccedilatildeo e da eficaacutecia social
seletiva de outras tantas - que protegem muito bem o incluiacutedo mas continuam deixando de
fora os paacuterias de sempre (veja-se a diferenccedila da incidecircncia da inviolabilidade do domiciacutelio nas
residecircncias burguesas e nas favelas) - pode-se dizer que a doutrina constitucional da efetivida-
de teve ecircxito no Brasil no sentido de instalar no senso-comum dos operadores do Direito a i-
deacuteia de que a Constituiccedilatildeo eacute norma que pode e deve ser aplicada independentemente de re-
gulamentaccedilatildeo dos seus dispositivos pelo legislador ordinaacuterio Tal doutrina ainda natildeo correspon-
de ao neoconstitucionalismo mas a conquista que dela resultou para a dogmaacutetica constitucio-
nal brasileira foi um pressuposto para o surgimento deste outro movimento no nosso cenaacuterio
O segundo momento importante eacute o da chegada ao Brasil das teorias juriacutedicas ditas poacutes-
positivistas Foram marcos relevantes a publicaccedilatildeo da 5ordf ediccedilatildeo do Curso de Direito Constitu-
cional de Paulo Bonavides 69bem como do livro A Ordem Econocircmica na Constituiccedilatildeo de 1988
de Eros Roberto Grau70 que divulgaram entre noacutes a teoria dos princiacutepios de autores como Ro-
nald Dworkin e Robert Alexy e fomentaram as discussotildees sobre temas importantes como a
ponderaccedilatildeo de interesses o princiacutepio da proporcionalidade e eficaacutecia dos direitos fundamen-
tais Tambeacutem deve ser salientada a ampla penetraccedilatildeo no acircmbito de algumas poacutes-graduaccedilotildees
em Direito a partir de meados dos anos 90 do pensamento de filoacutesofos que se voltaram para o
estudo da relaccedilatildeo entre Direito Moral e Poliacutetica a partir de uma perspectiva poacutes-metafiacutesica
como John Rawls e Juumlrgen Habermas71 E ainda merece destaque o aprofundamento no paiacutes dos
estudos de hermenecircutica juriacutedica a partir de uma nova matriz teoacuterica inspirada pelo giro lin-
guumliacutestico na Filosofia que denunciou os equiacutevocos do modelo positivista de interpretaccedilatildeo ateacute
entatildeo dominante assentado na separaccedilatildeo cartesiana entre sujeito (o inteacuterprete) e objeto (o
texto da norma)72
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Nesta nova fase a doutrina brasileira passa a enfatizar o caraacuteter normativo e a importacircncia dos
princiacutepios constitucionais e a estudar as peculiaridades da sua aplicaccedilatildeo Neste contexto haacute
uma verdadeira febre de trabalhos sobre teoria dos princiacutepios ponderaccedilatildeo de interesses teori-
as da argumentaccedilatildeo proporcionalidade e razoabilidade etc Tambeacutem cresce muito o interesse
doutrinaacuterio pelos direitos fundamentais sobretudo os direitos sociais Se antes estes eram vis-
tos preponderantemente como normas programaacuteticas passa-se a discutir a sua eficaacutecia juriacutedica
a partir de novas bases que incorporam ao debate a argumentaccedilatildeo moral Neste campo a ecircn-
fase na anaacutelise dos enunciados normativos que caracterizava a doutrina da efetividade eacute
substituiacuteda por uma discussatildeo marcada pela preocupaccedilatildeo com valores e democracia repleta de
novas categorias importadas sobretudo do Direito germacircnico como o miacutenimo existencial a
reserva do possiacutevel e a proibiccedilatildeo do retrocesso73
E esta nova racionalidade se espraia para diversos ramos do Direito No Direito Civil74 Penal75
Administrativo 76por exemplo cada vez mais a doutrina emprega normas e valores constitu-
cionais para reler os institutos tradicionais colorindo-os com novas tintas E trata-se natildeo ape-
nas de aplicar diretamente as normas constitucionais especificamente voltadas para cada uma
destas aacutereas como tambeacutem de projetar sobre estes campos a influecircncia dos direitos funda-
mentais e dos princiacutepios mais gerais do nosso constitucionalismo muitas vezes superando anti-
gos dogmas e definindo novos paradigmas
Neste segundo momento ocorre ainda uma significativa mudanccedila no enfoque dos estudos sobre
jurisdiccedilatildeo constitucional no Brasil Antes os trabalhos nacionais sobre o tema se limitavam
basicamente a discutir questotildees processuais mas a partir do final dos anos 90 diversos estu-
dos incorporam outras perspectivas agrave anaacutelise da questatildeo dedicando atenccedilatildeo agrave complexa pro-
blemaacutetica da legitimidade democraacutetica do controle de constitucionalidade77 tendo em vista a
chamada dificuldade contra-majoritaacuteria do Judiciaacuterio78 Num contexto como o nosso em que
a jurisdiccedilatildeo constitucional estaacute prevista pelo proacuteprio texto magno o debate relevante do ponto
de vista praacutetico natildeo eacute o de tecirc-la ou natildeo mas sim a forma como deve ser exercida Dependendo
do posicionamento adotado pode-se preconizar um maior ou menor grau de ativismo judicial
ou defender o ativismo em algumas aacutereas mas recusaacute-lo em outras Nesta nova agenda de dis-
cussotildees sobre a jurisdiccedilatildeo constitucional a argumentaccedilatildeo juriacutedica se entrelaccedila inevitavelmen-
te com o debate de Filosofia Poliacutetica abrindo espaccedilo para posiccedilotildees variadas como os vaacuterios
matizes de procedimentalismo e de substancialismo que vecircm florescendo na doutrina brasilei-
ra79 Dentre estas posiccedilotildees natildeo haacute duacutevida de que a mais identificada ao neoconstitucionalismo
eacute a substancialista que compartilha com ele a crenccedila numa ampla legitimidade do ativismo
judicial em favor dos valores constitucionais
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Apesar destas mudanccedilas importantes que podem ser associadas ao neoconstitucionalismo o uso
da expressatildeo no Brasil eacute mais recente seguindo-se agrave ampla difusatildeo que recebeu na academia
brasileira a jaacute citada obra Neoconstitucionalismo(s) organizada por Miguel Carbonell e publi-
cada em 2003 De laacute para caacute muito se tem escrito sobre o toacutepico e vaacuterios autores nacionais
aderiram explicitamente agrave corrente como Luis Roberto Barroso80 Lecircnio Luiz Streck 81Antonio
Cavalcanti Maia82 Ana Paula de Barcellos83 Diogo de Figueiredo Moreira Neto84 Paulo Ricardo
Schier85 Eduardo Moreira86 Eacutecio Otto Ramos Duarte87 e Thomas Rosa de Bustamante88 Outros
adotaram postura criacutetica sobre a nova perspectiva como Joseacute Ribas Vieira Dimitri Dimoulis89 e
Humberto Aacutevila90 E pode-se notar pela leitura dos trabalhos destes e de outros autores brasi-
leiros que haacute um relativo consenso na definiccedilatildeo das caracteriacutesticas centrais do novo paradig-
ma valorizaccedilatildeo dos princiacutepios adoccedilatildeo de meacutetodos ou estilos mais abertos e flexiacuteveis na her-
menecircutica juriacutedica com destaque para a ponderaccedilatildeo abertura da argumentaccedilatildeo juriacutedica agrave
Moral mas sem recair nas categorias metafiacutesicas do jusnaturalismo reconhecimento e defesa
da constitucionalizaccedilatildeo do Direito e do papel de destaque do Judiciaacuterio na agenda de imple-
mentaccedilatildeo dos valores da Constituiccedilatildeo
Estas novas ideacuteias jaacute reverberam fortemente na jurisprudecircncia nacional sobretudo do Supremo
Tribunal Federal que nos uacuteltimos tempos tem cada vez mais invocado princiacutepios abertos nos
seus julgamentos recorrido agrave ponderaccedilatildeo de interesses e ao princiacutepio da proporcionalidade
com frequumlecircncia e ateacute se valido de referecircncias filosoacuteficas na fundamentaccedilatildeo de decisotildees Aliaacutes
eacute digna de nota a influecircncia da doutrina constitucional na atuaccedilatildeo do Supremo Tribunal Fede-
ral O fenocircmeno eacute relativamente recente uma vez que logo apoacutes a promulgaccedilatildeo da Constitui-
ccedilatildeo de 88 havia um profundo hiato entre o campo doutrinaacuterio que cobrava a efetivaccedilatildeo da
Constituiccedilatildeo pela via judicial e a jurisprudecircncia do STF tiacutemida e reticente diante dos valores
e das inovaccedilotildees da nova Carta - vg orientaccedilatildeo entatildeo adotada pela Corte em relaccedilatildeo ao man-
dado de injunccedilatildeo e ao controle judicial das medidas provisoacuterias Aquele quadro podia em parte
ser debitado agrave duvidosa opccedilatildeo do constituinte originaacuterio de manter no STF os ministros nomea-
dos durante o governo militar que natildeo tinham sintonia poliacutetico-ideoloacutegica nem boa vontade
diante do novo sistema constitucional e que por isso se apegavam a visotildees e interpretaccedilotildees
assentadas durante o regime preteacuterito muitas delas francamente incompatiacuteveis com a nova
ordem Mas hoje apoacutes a completa renovaccedilatildeo do STF constata-se um quadro radicalmente di-
ferente a maioria dos ministros do STF eacute composta por professores de Direito Constitucional
de grande reputaccedilatildeo acadecircmica que ateacute pela origem tecircm mais contato com a produccedilatildeo inte-
lectual de ponta na aacuterea e satildeo mais suscetiacuteveis agrave influecircncia das novas correntes de pensamen-
to
14
Como ressaltado esta mudanccedila de paradigma se reflete vivamente na jurisprudecircncia do STF
Satildeo exemplos eloquumlentes a alteraccedilatildeo da posiccedilatildeo da Corte em relaccedilatildeo aos direitos sociais antes
tratados como normas programaacuteticas e hoje submetidos a uma intensa proteccedilatildeo judicial 91o
reconhecimento da eficaacutecia horizontal dos direitos fundamentais92 a mutaccedilatildeo do entendimen-
to do Tribunal em relaccedilatildeo agraves potencialidades do mandado de injunccedilatildeo 93e a progressiva supe-
raccedilatildeo da visatildeo claacutessica kelseniana da jurisdiccedilatildeo constitucional que a equiparava ao legislador
negativo com a admissatildeo de teacutecnicas decisoacuterias mais heterodoxas94 como as declaraccedilotildees de
inconstitucionalidade sem pronuacutencia de nulidade e as sentenccedilas aditivas E para completar o
quadro deve-se acrescentar as mudanccedilas acarretadas por algumas inovaccedilotildees processuais re-
centes na nossa jurisdiccedilatildeo constitucional que permitiram a participaccedilatildeo dos amici curiae bem
como a realizaccedilatildeo de audiecircncias puacuteblicas no acircmbito do processo constitucional ampliando a
possibilidade de atuaccedilatildeo da sociedade civil organizada no STF95
Naturalmente a nova postura de ativismo judicial do STF estimula as forccedilas sociais a procuraacute-
lo com mais frequumlecircncia e contribui para uma significativa alteraccedilatildeo na agenda da Corte Atu-
almente ao lado das questotildees mais tradicionais de Direito Puacuteblico o STF tem se defrontado
com novos temas fortemente impregnados de conteuacutedo moral como as discussotildees sobre a vali-
dade de pesquisa em ceacutelulas-tronco embrionaacuterias96 aborto de feto anenceacutefalo97 e uniatildeo entre
pessoas do mesmo sexo98 Ademais o Tribunal passou a intervir de forma muito mais ativa no
processo poliacutetico adotando decisotildees que se refletem de forma direta e profunda sobre a atua-
ccedilatildeo dos demais poderes do Estado Para citar apenas alguns casos pode-se falar da decisatildeo que
assentou que a mudanccedila de partido implica salvo determinadas exceccedilotildees perda de mandato
parlamentar99 da que estabeleceu criteacuterios riacutegidos para a fixaccedilatildeo do nuacutemero de vereadores de
acordo com a respectiva populaccedilatildeo100 e da intensificaccedilatildeo do controle jurisdicional dos atos das
CPIs bem como dos pressupostos de ediccedilatildeo das medidas provisoacuterias
Poreacutem haacute um componente curioso na recepccedilatildeo deste novo paradigma juriacutedico pelo Judiciaacuterio
brasileiro Embora ainda natildeo existam estudos empiacutericos a este respeito tenho a forte intuiccedilatildeo
de que a penetraccedilatildeo destas novas ideacuteias associadas ao neoconstitucionalismo eacute forte na cuacutepula
e na base da hierarquia judicial mas ainda tiacutemida nos seus escalotildees intermediaacuterios E as causas
natildeo satildeo de difiacutecil compreensatildeo Em relaccedilatildeo agrave cuacutepula - os ministros do STF - as razotildees jaacute foram
explicadas acima Jaacute no que tange agrave base do Judiciaacuterio boa parte dos juiacutezes de 1ordm grau teve a
sua formaccedilatildeo num ambiente acadecircmico que jaacute valorizava o Direito Constitucional e reconhecia
a forccedila normativa dos direitos fundamentais e dos princiacutepios constitucionais Assim eles ten-
dem a levar para a sua praacutetica profissional esta visatildeo do Direito Poreacutem sobretudo na 2ordf ins-
tacircncia composta majoritariamente por magistrados que se formaram e foram socializados no
15
seu meio institucional sob a eacutegide do paradigma juriacutedico anterior muito mais voltado para os
coacutedigos e para a letra da lei do que para a Constituiccedilatildeo e seus princiacutepios haacute maior resistecircncia agrave
incorporaccedilatildeo dos novos vetores constitucionais Contudo este fenocircmeno tende a diminuir com
o tempo seja pela consolidaccedilatildeo do paradigma constitucional emergente seja pela promoccedilatildeo
de magistrados mais antenados com o novo constitucionalismo seja ateacute pela influecircncia do pen-
samento e das orientaccedilotildees da cuacutepula do Judiciaacuterio sobre todas as suas instacircncias
No cenaacuterio brasileiro o neoconstitucionalismo eacute tambeacutem impulsionado por outro fenocircmeno a
descrenccedila geral da populaccedilatildeo em relaccedilatildeo agrave poliacutetica majoritaacuteria e em especial o descreacutedito
no Poder Legislativo e nos partidos poliacuteticos101 A percepccedilatildeo geral alimentada por sucessivos
escacircndalos e pelo discurso de alguns meios de comunicaccedilatildeo social de que a poliacutetica parlamen-
tar e partidaacuteria satildeo esferas essencialmente corrompidas que se movem exclusivamente em
torno de interesses e natildeo de valores gera em alguns setores a expectativa de que a soluccedilatildeo
para os problemas nacionais possa vir do Judiciaacuterio102 E este sentimento eacute fortalecido quando
a Justiccedila adota decisotildees em consonacircncia com a opiniatildeo puacuteblica - como ocorreu no recebimento
da denuacutencia criminal no caso do mensalatildeo na definiccedilatildeo de perda do mandato por infidelidade
partidaacuteria e na proibiccedilatildeo do nepotismo na Administraccedilatildeo Puacuteblica
Por outro lado a ascensatildeo institucional do Judiciaacuterio e a riqueza e importacircncia praacutetica ou sim-
boacutelica dos temas que ele vem julgando tem provocado um grande aumento no interesse da so-
ciedade pelo Direito Constitucional e pela atuaccedilatildeo do Supremo Tribunal Federal Eacute difiacutecil um
dia em que os principais meios de comunicaccedilatildeo natildeo discutam alguma decisatildeo da Corte ou mani-
festaccedilatildeo de qualquer dos seus membros E este fenocircmeno eacute potencializado tanto pela extro-
versatildeo midiaacutetica de alguns ministros como tambeacutem pelo fato - sem precedentes em outros
paiacuteses - do televisionamento das sessotildees do STF Com tudo isso as questotildees constitucionais
que antes eram apenas discutidas dentro de um ciacuterculo muito restrito de iniciados hoje satildeo
amplamente debatidas no espaccedilo puacuteblico
Neste quadro em que pesem as muacuteltiplas resistecircncias que sofre eacute possiacutevel apontar a emergecircn-
cia de uma nova forma de conceber o Direito e o Estado na sociedade brasileira contemporacirc-
nea que se quisermos adotar a terminologia hoje em voga pode ser chamada de neoconstitu-
cionalismo
4 Trecircs objeccedilotildees ao neoconstitucionalismo
16
Nas proacuteximas linhas abordarei de maneira breve trecircs criacuteticas que podem ser levantadas con-
tra o neoconstitucionalismo (a) a de que o seu pendor judicialista eacute anti-democraacutetico (b) a de
que a sua preferecircncia por princiacutepios e ponderaccedilatildeo em detrimento de regras e subsunccedilatildeo eacute
perigosa sobretudo no Brasil em razatildeo de singularidades da nossa cultura e (c) a de que ele
pode gerar uma panconstitucionalizaccedilatildeo do Direito em detrimento da autonomia puacuteblica do
cidadatildeo e da autonomia privada do indiviacuteduo Outras criacuteticas importantes existem103 mas por
limites de tempo e espaccedilo preferi priorizar aqui estas trecircs que satildeo as que geram maior apre-
ensatildeo no cenaacuterio brasileiro
a) Neoconstitucionalismo e judiciocracia
Como salientado acima o neoconstitucionalismo tem um foco muito centrado no Poder Judici-
aacuterio no qual deposita enormes expectativas no sentido de concretizaccedilatildeo dos ideais emancipa-
toacuterios presentes nas constituiccedilotildees contemporacircneas Contudo este vieacutes judicialista sofre con-
testaccedilotildees pelo seu suposto caraacuteter antidemocraacutetico na medida em que os juiacutezes diferente-
mente dos parlamentares e chefes do Executivo natildeo satildeo eleitos e natildeo respondem diretamente
perante o povo104
Esta criacutetica democraacutetica se assenta na ideacuteia de que numa democracia eacute essencial que as deci-
sotildees poliacuteticas mais importantes sejam tomadas pelo proacuteprio povo ou por seus representantes
eleitos e natildeo por saacutebios ou tecnocratas de toga Eacute verdade que a maior parte dos teoacutericos con-
temporacircneos da democracia reconhece que ela natildeo se esgota no respeito ao princiacutepio majoritaacute-
rio pressupondo antes o acatamento das regras do jogo democraacutetico que incluem a garantia
de direitos baacutesicos visando a viabilizar a participaccedilatildeo igualitaacuteria do cidadatildeo na esfera puacuteblica
bem como alguma proteccedilatildeo agraves minorias105 Poreacutem temos aqui uma questatildeo de dosagem pois
se a imposiccedilatildeo de alguns limites para a decisatildeo das maiorias pode ser justificada em nome da
democracia o exagero tende a revelar-se antidemocraacutetico por cercear em demasia a possibi-
lidade do povo de se autogovernar106
E a questatildeo natildeo eacute apenas de divisatildeo de poder ao longo do tempo A dificuldade democraacutetica
natildeo estaacute tatildeo-somente no fato de as constituiccedilotildees subtraiacuterem do legislador futuro a possibilida-
de de tomar algumas decisotildees107 O cerne do debate estaacute no reconhecimento de que diante da
vagueza e abertura de boa parte das normas constitucionais mais importantes quem as inter-
preta tambeacutem participa do seu processo de criaccedilatildeo108 Daiacute a criacutetica de que o vieacutes judicialista
subjacente ao neoconstitucionalismo acaba por conferir aos juiacutezes uma espeacutecie de poder cons-
tituinte permanente pois lhes permite moldar a Constituiccedilatildeo de acordo com as suas preferecircn-
cias poliacuteticas e valorativas em detrimento daquelas do legislador eleito Esta visatildeo levou inuacute-
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meras correntes de pensamento ao longo da histoacuteria a rejeitarem a jurisdiccedilatildeo constitucional
ou pelo menos o ativismo judicial no seu exerciacutecio dos revolucionaacuterios franceses do seacuteculo XVI-
II109 passando por Carl Schmitt110 na Repuacuteblica de Weimar ateacute os adeptos do constituciona-
lismo popular nos Estados Unidos de hoje111
No Brasil eacute muito comum traccedilar-se um paralelo entre a defesa do ativismo judicial e posiccedilotildees
sociais progressistas Talvez isso se deva ao fato de que na nossa histoacuteria o Judiciaacuterio brasilei-
ro tem pecado muito mais por omissatildeo acumpliciando-se diante dos desmandos dos poderes
poliacutetico e econocircmico do que por excesso de ativismo Neste quadro quem ousa questionar
possiacuteveis exageros na judicializaccedilatildeo da poliacutetica e da vida social no Brasil de hoje eacute logo tachado
de conservador Poreacutem o paralelismo em questatildeo natildeo existe Muitas vezes o Poder Judiciaacuterio
pode atuar bloqueando mudanccedilas importantes promovidas pelos outros poderes em favor dos
excluiacutedos defendendo o statu quo E esta defesa pode ocorrer inclusive atraveacutes do uso da retoacute-
rica dos direitos fundamentais
Isso se deu por exemplo nos Estados Unidos nas primeiras deacutecadas do seacuteculo passado em pe-
riacuteodo que ficou conhecido como Era de Lochner112 quando a Suprema Corte impediu sistemati-
camente a ediccedilatildeo de legislaccedilatildeo trabalhista e de outras medidas que implicavam em interferecircn-
cia na esfera econocircmica em proveito das classes desfavorecidas com base numa leitura subs-
tantiva da claacuteusula do devido processo legal No cenaacuterio contemporacircneo Ran Hirshl113 sustenta
que o processo de judicializaccedilatildeo da poliacutetica que vem ocorrendo nos uacuteltimos anos em diversos
paiacuteses do mundo - ele fez um atento ainda que controvertido estudo dos casos do Canadaacute
Israel Aacutefrica do Sul e Nova Zelacircndia - teria como pano de fundo uma tentativa das elites eco-
nocircmicas e culturais que perderam espaccedilo na poliacutetica majoritaacuteria de manterem o seu poder
reforccedilando no arranjo institucional do Estado o peso do Judiciaacuterio no qual elas ainda tecircm he-
gemonia E aqui no Brasil seraacute que a proteccedilatildeo absoluta que vem sendo conferida ao direito
adquirido - inclusive o de furar teto salarial do funcionalismo fixado por emenda agrave Constituiccedilatildeo
114 - e o ultra-garantismo penal nos crimes do colarinho branco natildeo seriam exemplos deste
mesmo fenocircmeno
Por outro lado uma ecircnfase excessiva no espaccedilo judicial pode levar ao esquecimento de outras
arenas importantes para a concretizaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo e realizaccedilatildeo de direitos gerando um
resfriamento da mobilizaccedilatildeo ciacutevica do cidadatildeo Eacute verdade que o ativismo judicial pode em
certos contextos atuar em sinergia com a mobilizaccedilatildeo social na esfera puacuteblica Isto ocorreu
por exemplo no movimento dos direitos civis nos Estados Unidos dos anos 50 e 60 que foi a-
quecido pelas respostas positivas obtidos na Suprema Corte no periacuteodo da Corte de Warren115
Mas nem sempre eacute assim A ecircnfase judicialista pode afastar do cenaacuterio de disputa por direitos
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as pessoas e movimentos que natildeo pertenccedilam nem tenham proximidade com as corporaccedilotildees
juriacutedicas
Ademais esta obsessatildeo com a interpretaccedilatildeo judicial da Constituiccedilatildeo tende a obscurecer o pa-
pel central de outras instacircncias na definiccedilatildeo do sentido da Constituiccedilatildeo - como o Legislativo o
Executivo e a proacutepria esfera puacuteblica informal Trata-se de um desvio que gera consequumlecircncias
negativas tanto no plano descritivo como na esfera normativa Sob o prisma descritivo trans-
mite-se uma imagem muito parcial do fenocircmeno constitucional que natildeo eacute captado com todas
as suas nuances e riquezas jaacute que o foco se concentra apenas sobre a accedilatildeo de um dentre os
vaacuterios agentes importantes que povoam a seara da hermenecircutica constitucional116 Sob o acircngu-
lo normativo favorece-se um governo agrave moda platocircnica de saacutebios de toga117 que satildeo convida-
dos a assumir uma posiccedilatildeo paternalista diante de uma sociedade infantilizada118 Justifica-se o
ativismo judicial a partir de uma visatildeo muito criacutetica do processo poliacutetico majoritaacuterio mas que
ignora as inuacutemeras mazelas que tambeacutem afligem o Poder Judiciaacuterio construindo-se teorias a
partir de visotildees romacircnticas e idealizadas do juiz119 Soacute que se eacute verdade que o processo poliacuteti-
co majoritaacuterio tem seus viacutecios - e eles satildeo muito graves no cenaacuterio brasileiro - tambeacutem eacute certo
que os juiacutezes natildeo satildeo semi-deuses e que a esfera em que atuam tampouco eacute imune agrave poliacutetica
com p menor
Esta idealizaccedilatildeo da figura do juiz natildeo se compadece com algumas notoacuterias deficiecircncias que o
Judiciaacuterio brasileiro enfrenta Dentre elas pode-se destacar a sobrecarga de trabalho que
compromete a capacidade dos magistrados de dedicarem a cada processo o tempo e a energia
necessaacuterias para que faccedilam tudo que o que demandam as principais teorias da argumentaccedilatildeo
defendidas pelo neoconstitucionalismo E cabe referir tambeacutem agraves lacunas na formaccedilatildeo do ma-
gistrado brasileiro decorrentes sobretudo das falhas de um ensino juriacutedico formalista e nada
interdisciplinar que ainda viceja no paiacutes que natildeo satildeo corrigidas nos procedimentos de seleccedilatildeo
e treinamento dos juiacutezes
Outra consequumlecircncia da obsessatildeo judicialista do constitucionalismo brasileiro contemporacircneo
estaacute refletida na nossa produccedilatildeo acadecircmica Enquanto somos inundados por livros e artigos
muitas vezes repetitivos sobre assuntos como princiacutepios e regras interpretaccedilatildeo constitucional
e tutela judicial de direitos fundamentais outros temas absolutamente essenciais para a vida
do paiacutes passam ao largo da preocupaccedilatildeo dos juristas Eacute o caso da reforma poliacutetica Em que pese
o caraacuteter essencialmente constitucional do assunto quase nenhum constitucionalista se inte-
ressou por ele 120e praticamente toda a literatura de qualidade produzida sobre o toacutepico tem
vindo da Ciecircncia Poliacutetica
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Estou convencido de que o Poder Judiciaacuterio tem um papel essencial na concretizaccedilatildeo da Consti-
tuiccedilatildeo brasileira Em face do quadro de sistemaacutetica violaccedilatildeo de direitos de certos segmentos da
populaccedilatildeo do arranjo institucional desenhado pela Carta de 88 e da seacuteria crise de representa-
tividade do Poder Legislativo entendo que o ativismo judicial se justifica no Brasil pelo menos
em certas searas como a tutela de direitos fundamentais a proteccedilatildeo das minorias e a garantia
do funcionamento da proacutepria democracia O maior insulamento judicial diante da pressatildeo das
maiorias bem como um certo ethos profissional de valorizaccedilatildeo dos direitos humanos que co-
meccedila a se instalar na nossa magistratura 121 conferem ao Judiciaacuterio uma capacidade institu-
cional privilegiada para atuar nestas aacutereas122
Mas em outros campos pode ser mais recomendaacutevel uma postura de autocontenccedilatildeo judicial
seja por respeito agraves deliberaccedilotildees majoritaacuterias adotadas no espaccedilo poliacutetico123 seja pelo reco-
nhecimento da falta de expertise do Judiciaacuterio para tomar decisotildees que promovam eficiente-
mente os valores constitucionais em jogo em aacutereas que demandem profundos conhecimentos
teacutecnicos fora do Direito - como Economia poliacuteticas puacuteblicas e regulaccedilatildeo124 Nestes casos deve-
se reconhecer que outros oacutergatildeos do Estado estatildeo mais habilitados para assumirem uma posiccedilatildeo
de protagonismo na implementaccedilatildeo da vontade constitucional
Nesta linha vejo com reticecircncias a sedimentaccedilatildeo na nossa cultura juriacutedica da visatildeo de que o
grande - senatildeo o uacutenico - inteacuterprete da Constituiccedilatildeo seria o Poder Judiciaacuterio125 Esta leitura des-
carta a autocontenccedilatildeo judicial bem como tende a desprezar a possibilidade de que sejam tra-
vados construtivos diaacutelogos interinstitucionais entre diversos oacutergatildeos estatais para a definiccedilatildeo da
melhor interpretaccedilatildeo dos ditames constitucionais126 Um bom exemplo127 deste desvio ocorreu
no julgamento da constitucionalidade das pesquisas em ceacutelulas-tronco embrionaacuterias realizada
pelo STF em que pese o resultado final do julgamento ter sido substancialmente correto Na-
quela ocasiatildeo o importante argumento deduzido na tribuna e em memoriais por Luis Roberto
Barroso - que advogava para um dos amici curiae favoraacuteveis agraves pesquisas - de que o Judiciaacuterio
deveria adotar posiccedilatildeo cautelosa no julgamento da constitucionalidade da lei impugnada ten-
do em vista o amplo consenso em torno dela obtido durante o processo legislativo tanto no
Senado como na Cacircmara foi explicitamente rechaccedilado por alguns ministros que consideraram
o ponto irrelevante E outros ministros em votos vencidos se sentiram confortaacuteveis ateacute para
defender a imposiccedilatildeo de novas normas pelo STF na aacuterea do Biodireito arvorando-se agrave condiccedilatildeo
de legisladores num campo para o qual evidentemente lhes faltava qualquer expertise
Enfim o neoconstitucionalismo brasileiro tem pecado por excesso depositando no Judiciaacuterio
expectativas que ele nem sempre teraacute como atender de forma satisfatoacuteria Um dos efeitos co-
laterais deste fenocircmeno eacute a disseminaccedilatildeo de um discurso muito perigoso de que voto e poliacuteti-
20
ca natildeo satildeo tatildeo importantes pois relevante mesmo eacute a interpretaccedilatildeo dos princiacutepios constitucio-
nais realizada pelo STF Daiacute a dizer que o povo natildeo sabe votar eacute um pulo e a ditadura de toga
pode natildeo ser muito melhor do que a ditadura de farda
b) Neoconstitucionalismo oba-oba constitucional e Estado Democraacutetico de Direito
Seria uma profunda injusticcedila com a teoria neoconstitucionalista acusaacute-la de promover o decisi-
onismo ou de defender a tomada de decisotildees judiciais puramente emotivas sem lastro em ar-
gumentaccedilatildeo racional soacutelida Pelo contraacuterio como foi destacado acima um dos eixos centrais
do pensamento neoconstitucional eacute a reabilitaccedilatildeo da racionalidade praacutetica no acircmbito juriacutedico
com a articulaccedilatildeo de complexas teorias da argumentaccedilatildeo que demandam muito dos inteacuterpre-
tes e sobretudo dos juiacutezes em mateacuteria de fundamentaccedilatildeo das suas decisotildees Poreacutem a praacutetica
judiciaacuteria brasileira recepcionou apenas parcialmente as teorias juriacutedicas de corte poacutes-
positivista e aqui a valorizaccedilatildeo dos princiacutepios e da ponderaccedilatildeo natildeo tem sido muitas vezes
acompanhada do necessaacuterio cuidado com a justificaccedilatildeo das decisotildees
Se ateacute natildeo muito tempo atraacutes os princiacutepios natildeo eram tratados como autecircnticas normas por
aqui - soacute tinha bom direito quem podia invocar uma regra legal clara e precisa em favor da sua
pretensatildeo - com a chegada do poacutes-positivismo e do neoconstitucionalismo passou-se em pou-
cos anos da aacutegua para o vinho Hoje instalou-se um ambiente intelectual no Brasil que aplaude
e valoriza as decisotildees principioloacutegicas e natildeo aprecia tanto aquelas calcadas em regras legais
que satildeo vistas como burocraacuteticas ou positivistas - e positivismo hoje no paiacutes eacute quase um pala-
vratildeo128 Neste contexto os operadores do Direito satildeo estimulados a invocar sempre princiacutepios
muito vagos nas suas decisotildees mesmo quando isso seja absolutamente desnecessaacuterio pela e-
xistecircncia de regra clara e vaacutelida a reger a hipoacutetese Os campeotildees tecircm sido os princiacutepios da dig-
nidade da pessoa humana e da razoabilidade O primeiro eacute empregado para dar imponecircncia ao
decisionismo judicial vestindo com linguagem pomposa qualquer decisatildeo tida como politica-
mente correta e o segundo para permitir que os juiacutezes substituam livremente as valoraccedilotildees de
outros agentes puacuteblicos pelas suas proacuteprias
Este cenaacuterio eacute problemaacutetico porque um sistema juriacutedico funcional estaacutevel e harmocircnico com os
valores do Estado Democraacutetico de Direito precisa tanto da aplicaccedilatildeo de regras como de princiacute-
pios129 As regras satildeo indispensaacuteveis dentre outras razotildees130 porque geram maior previsibili-
dade e seguranccedila juriacutedica para os seus destinataacuterios diminuem os riscos de erro na sua inci-
decircncia jaacute que natildeo dependem tanto das valoraccedilotildees do inteacuterprete em cada caso concreto en-
volvem um menor custo no seu processo de aplicaccedilatildeo pois podem incidir de forma mais mecacirc-
nica sem demandarem tanto esforccedilo do inteacuterprete e natildeo implicam na mesma medida que os
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princiacutepios em uma transferecircncia de poder decisoacuterio do Legislativo que eacute eleito para o Judici-
aacuterio que natildeo eacute
Natildeo pretendo sustentar com isso que se deva retroceder ao tempo em que os princiacutepios natildeo
eram aplicados pelos juiacutezes brasileiros Tambeacutem os princiacutepios satildeo essenciais na ordem juriacutedica
pois conferem mais plasticidade ao Direito - o que eacute essencial numa sociedade hiper-complexa
como a nossa - e permitem uma maior abertura da argumentaccedilatildeo juriacutedica agrave Moral e ao mundo
empiacuterico subjacente O importante eacute encontrar uma justa medida que natildeo torne o processo de
aplicaccedilatildeo do Direito amarrado demais como ocorreria num sistema baseado exclusivamente
em regras nem solto demais como sucederia com um que se fundasse apenas em princiacutepios
Penso que eacute chegada a hora de um retorno do pecircndulo no Direito brasileiro131 que sem des-
cartar a importacircncia dos princiacutepios e da ponderaccedilatildeo volte a levar a seacuterio tambeacutem as regras e a
subsunccedilatildeo
Ademais naquelas hipoacuteteses em que a aplicaccedilatildeo de princiacutepios for realmente apropriada ela
deve dar-se de forma mais racional e fundamentada Deve-se adotar a premissa de que quanto
mais vaga for a norma a ser aplicada e mais intenso o componente volitivo envolvido no pro-
cesso decisoacuterio maior deve ser o ocircnus argumentativo do inteacuterprete no sentido de mostrar que
a soluccedilatildeo por ele adotada eacute a que melhor realiza os valores do ordenamento naquele caso con-
creto132 A tendecircncia atual de invocaccedilatildeo frouxa e natildeo fundamentada de princiacutepios colide com a
loacutegica do Estado Democraacutetico de Direito pois amplia as chances de arbiacutetrio judicial gera inse-
guranccedila juriacutedica e atropela a divisatildeo funcional de poderes que tem no ideaacuterio democraacutetico um
dos seus fundamentos - a noccedilatildeo baacutesica de que as decisotildees sobre o que os cidadatildeos e o Estado
podem e natildeo podem fazer devem ser tomadas preferencialmente por quem represente o povo
e seja por ele escolhido
E haacute na sociedade brasileira traccedilos que tornam ainda mais perigosa esta tendecircncia agrave frouxidatildeo
e emotividade na metodologia juriacutedica Nossa cultura caracteriza-se muito mais pelo jeiti-
nho133 e pelo patrimonialismo134 do que pela valorizaccedilatildeo do cumprimento impessoal de regras
O brasileiro - jaacute dizia Seacutergio Buarque de Holanda135 - eacute o homem cordial que tende a antepor
a loacutegica privada do compadrio e da simpatia agrave racionalidade objetiva das leis Esta singularida-
de das nossas relaccedilotildees sociais natildeo atua de forma neutra em relaccedilatildeo a todos os cidadatildeos Ela
implica na adoccedilatildeo de posturas estatais em geral muito benevolentes em relaccedilatildeo aos donos do
poder e seus apaniguumlados e de posiccedilotildees muito mais duras dirigidas aos grupos excluiacutedos e mar-
ginalizados136 Uns poucos acabam pairando acima das leis que natildeo os alcanccedilam para limitar a
sua conduta ou sancionar os seus desvios enquanto outros permanecem abaixo dela sendo
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atingidos apenas pelo braccedilo punitivo do Estado pois a violaccedilatildeo rotineira dos seus direitos eacute
naturalizada tornando-se invisiacutevel
Neste quadro cabe indagar sob a perspectiva de uma sociologia da interpretaccedilatildeo constitucio-
nal ateacute que ponto a introduccedilatildeo entre noacutes de uma dogmaacutetica fluida - a expressatildeo eacute de Gusta-
vo Zagrebelsky137 um dos iacutecones do neoconstitucionalismo - natildeo pode ter como efeito colateral
o agravamento de patologias que marcam as nossas relaccedilotildees sociais Seraacute que o nosso Direito
precisa de mais rigidez ou de maior maleabilidade Ao fim e ao cabo quem tende a se benefi-
ciar com a adoccedilatildeo de uma hermenecircutica juriacutedica mais flexiacutevel
Uma reflexatildeo importante sobre tema correlato foi empreendida por Marcelo Neves138 a partir
das categorias da teoria sistecircmica de Niklas Luhman Para Luhman139 em apertada siacutentese o
Direito nas hipercomplexas sociedades modernas seria autopoieacutetico140 pois consistiria num
subsistema social estruturalmente fechado em relaccedilatildeo ao meio envolvente que operaria de
acordo com um coacutedigo binaacuterio proacuteprio - o liacutecito iliacutecito As influecircncias do meio envolvente so-
bre o Direito seriam filtradas atraveacutes deste coacutedigo assegurando a autonomia da esfera juriacutedica
diante dos outros subsistemas sociais como a Economia a Poliacutetica a Religiatildeo etc Contudo
Marcelo Neves sustenta que em sociedades perifeacutericas como o Brasil natildeo se desenvolveu ple-
namente este fechamento estrutural do Direito Por aqui fatores como a nossa constituciona-
lizaccedilatildeo simboacutelica geraram uma insuficiente diferenciaccedilatildeo do Direito em relaccedilatildeo a outros sub-
sistemas sociais permitindo que elementos a princiacutepio estranhos ao coacutedigo binaacuterio do juriacutedico -
como a questatildeo do poder poliacutetico e do poder econocircmico - se infiltrem sistematicamente nos
processos de aplicaccedilatildeo das normas condicionando o seu resultado A teoria dos sistemas de
Luhman natildeo funcionaria bem entre noacutes pois teriacuteamos um Direito em boa parte alopoieacuteti-
coPara tal perspectiva esta maior abertura do Direito ao meio envolvente natildeo assume o po-
tencial emancipatoacuterio preconizado pela teoria neoconstitucionalista Ela funciona muito mais
como um mecanismo de cristalizaccedilatildeo de diferenccedilas sociais mantendo a hiper-inclusatildeo de uns
ao preccedilo da exclusatildeo de outros
Esta reflexatildeo de Marcelo Neves natildeo se dirigiu ao debate metodoloacutegico contemporacircneo envol-
vendo princiacutepios e regras ponderaccedilatildeo e subsunccedilatildeo etc Poreacutem entendo que ela pode ter algu-
ma pertinecircncia tambeacutem aqui pelo menos para nos advertir sobre o perigo de que o neoconsti-
tucionalismo com a fluidez metodoloacutegica e abertura do Direito a outros domiacutenios que preconi-
za possa acabar tornando-se um belo roacutetulo para justificar mais do mesmo patrimonialismo
desigualdade jeitinho Nesta perspectiva a novidade do neoconstitucionalismo poderia pare-
cer com aquela advogada pelo Priacutencipe de Salinas em famosa passagem do romance O Leopar-
do de Giuseppe Lampedusa quando defendia no contexto da crise da aristocracia italiana do
23
final do seacuteculo XIX a necessidade de mudanccedilas urgentes no governo para que ao final as
coisas pudessem permanecer exatamente do jeito que sempre foram
Natildeo penso que esta seja uma consequumlecircncia necessaacuteria da adoccedilatildeo de uma perspectiva juriacutedica
mais principialista no Brasil O maior cuidado metodoloacutegico adicionado agrave adoccedilatildeo de uma dire-
triz hermenecircutica substantiva que afirme a missatildeo essencial do Direito de assegurar justiccedila e
seguranccedila agraves pessoas tratando-as como livres e iguais pode minimizar as possibilidades de um
uso enviesado da teoria neoconstitucional que acabe favorecendo aos mesmos de sempre
Mas diante das nossas tradiccedilotildees natildeo haacute como negar que os riscos satildeo elevados
c) Neoconstitucionalismo e panconstitucionalizaccedilatildeo
Uma das caracteriacutesticas do neoconstitucionalismo eacute a defesa da constitucionalizaccedilatildeo do Direi-
to Sustenta-se que a irradiaccedilatildeo das normas constitucionais por todo o ordenamento contribui
para aproximaacute-lo dos valores emancipatoacuterios contidos nas constituiccedilotildees contemporacircneas 141A
Constituiccedilatildeo natildeo eacute vista mais como uma simples norma normarum - cuja finalidade principal eacute
disciplinar o processo de produccedilatildeo de outras normas142 Ela passa a ser enxergada como a en-
carnaccedilatildeo dos valores superiores da comunidade poliacutetica que devem fecundar todo o sistema
juriacutedico Neste modelo cabe ao inteacuterprete natildeo soacute aplicar diretamente os ditames constitucio-
nais agraves relaccedilotildees sociais como tambeacutem reler todas as normas e institutos dos mais variados ra-
mos do Direito agrave luz da Constituiccedilatildeo emprestando-lhes o sentido que mais promova os objeti-
vos e a axiologia da Carta
A constitucionalizaccedilatildeo do Direito de que cogita o neoconstitucionalismo natildeo eacute aquela que resul-
ta do caraacuteter excessivamente analiacutetico da Constituiccedilatildeo e leva ao entricheiramento de meras
opccedilotildees conjunturais do constituinte originaacuterio ou derivado despidas de maior importacircncia ou
dignidade Este eacute um fenocircmeno caracteriacutestico da Carta de 88 que se excedeu no casuiacutesmo e
nos detalhes elevando ao seu texto meros interesses corporativos ou decisotildees de momento
sem focirclego para perdurarem no tempo A constitucionalizaccedilatildeo louvada e defendida pelo neo-
constitucionalismo eacute aquela que parte de uma interpretaccedilatildeo extensiva e irradiante dos direitos
fundamentais e dos princiacutepios mais importantes da ordem constitucional Aqui contudo pode-
se discutir ateacute que ponto o fenocircmeno eacute legiacutetimo Poucos discordaratildeo pelo menos no Brasil de
que alguma constitucionalizaccedilatildeo do Direito eacute positiva e bem-vinda por semear o ordenamento
com os valores humanitaacuterios da Constituiccedilatildeo Poreacutem pode-se objetar contra as teses extrema-
das sobre este processo que acabam amputando em demasia o espaccedilo de liberdade do legisla-
dor em detrimento da democracia 143
24
Com efeito quem defende que tudo ou quase tudo jaacute estaacute decidido pela Constituiccedilatildeo e que o
legislador eacute um mero executor das medidas jaacute impostas pelo constituinte nega por conse-
quumlecircncia a autonomia poliacutetica ao povo para em cada momento da sua histoacuteria realizar as suas
proacuteprias escolhas O excesso de constitucionalizaccedilatildeo do Direito reveste-se portanto de um
vieacutes antidemocraacutetico Esta ordem de preocupaccedilotildees levou Ersnt Forsthof na Alemanha a criti-
car as teorias que viam a Constituiccedilatildeo como uma espeacutecie de genoma juriacutedico () do qual tudo
deriva do Coacutedigo Penal ateacute a lei sobre a fabricaccedilatildeo de termocircmetros144 E a questatildeo torna-se
ainda mais delicada diante da constataccedilatildeo de que pela abertura semacircntica dos direitos fun-
damentais e dos princiacutepios - principal mateacuteria-prima da constitucionalizaccedilatildeo do Direito - o seu
principal agente acaba sendo o Poder Judiciaacuterio ao dar a uacuteltima palavra sobre a interpretaccedilatildeo
daquelas claacuteusulas Daiacute porque o debate sobre a constitucionalizaccedilatildeo do Direito se imbrica
inexoravelmente com as discussotildees a propoacutesito da judicializaccedilatildeo da poliacutetica e do decisionismo
referidas acima
Ademais a constitucionalizaccedilatildeo do Direito tambeacutem suscita outra linha de preocupaccedilotildees rela-
cionada ao perfeccionismo moral145 na esfera privada No Brasil assim como em muitos outros
paiacuteses jaacute se assentou a ideacuteia de que os direitos fundamentais natildeo se dirigem apenas contra o
Estado vinculando tambeacutem os particulares Entre noacutes tem prevalecido na doutrina a ideacuteia que
eu mesmo defendi em outro estudo146 que a eficaacutecia dos direitos fundamentais nas relaccedilotildees
privadas eacute direta e imediata Em outras palavras entende-se que a proacutepria Constituiccedilatildeo jaacute inci-
de nas relaccedilotildees privadas independentemente de mediaccedilotildees legislativas e que pode gerar o-
brigaccedilotildees positivas ou negativas para os indiviacuteduos e natildeo soacute para os poderes puacuteblicos sempre
no afatilde de proporcionar uma proteccedilatildeo mais completa agrave dignidade humana Ateacute aqui nada a
contestar
Poreacutem o reconhecimento da vinculaccedilatildeo dos particulares agrave Constituiccedilatildeo suscita um risco que
natildeo pode ser ignorado o de imposiccedilatildeo agraves pessoas supostamente em nome de valores constitu-
cionais de comportamentos e estilos de vida que elas proacuteprias rejeitam em detrimento da sua
liberdade existencial Para dar um exemplo bem tosco seria terriacutevel se o Direito em nome do
princiacutepio da solidariedade social pudesse impor agraves pessoas que demonstrassem afetos e senti-
mentos que elas natildeo possuem genuinamente Ou se em nome da isonomia pretendesse inter-
ferir nas escolhas subjetivas e emocionais que os indiviacuteduos fazem nas suas vidas privadas A
constitucionalizaccedilatildeo neste sentido poderia converter-se num pretexto para o exerciacutecio de um
paternalismo anti-liberal em que as pessoas seriam forccediladas a conformarem-se agraves expectativas
sociais forjadas a partir de pautas de accedilatildeo politicamente corretas com apoio na Constitui-
ccedilatildeo147
25
Nenhuma destas duas questotildees eacute insuperaacutevel Eacute possiacutevel aceitar e aplaudir a constitucionaliza-
ccedilatildeo do Direito - fenocircmeno em geral positivo por aproximar a racionalidade emancipatoacuteria da
Constituiccedilatildeo do dia-a-dia das pessoas - mas defender que ela seja temperada por outras preo-
cupaccedilotildees igualmente essenciais no Estado Democraacutetico de Direito com a autonomia puacuteblica e
privada dos cidadatildeos Pode-se reconhecer a legitimidade da constitucionalizaccedilatildeo do Direito
mas numa medida em que natildeo sacrifique em excesso agrave liberdade de conformaccedilatildeo que numa
democracia deve caber ao legislador para realizar opccedilotildees poliacuteticas em nome do povo148 Pode-
se da mesma forma afirmar a incidecircncia direta da Constituiccedilatildeo nas relaccedilotildees privadas mas
sem invadir a esfera das opccedilotildees existenciais da pessoa - que de resto eacute protegida pela proacutepria
Constituiccedilatildeo das ingerecircncias perfeccionistas do Estado e da sociedade149
5 Conclusatildeo Ao fim da leitura destas paacuteginas o leitor pode estar se indagando se eu me alinho ou natildeo ao
neoconstitucionalismo A minha resposta eacute depende da compreensatildeo que se tenha sobre o ne-
oconstitucionalismo Se entendermos o neoconstitucionalismo de acordo com a conhecida defi-
niccedilatildeo de Luis Prietro Sanchiacutes como uma teoria do Direito que se orienta pelas maacuteximas demaacutes
princiacutepios que reglas maacutes ponderacioacuten que subsuncioacuten omnipotencia de la Constitucioacuten en
todas las aacutereas juriacutedicas y en todos conflictos miacutenimamente relevantes en lugar de espacios
exentos en favor de la opcioacuten legislativa o reglamentaria omnipotencia judicial en lugar de
autonomia del legislador ordinaacuterio y por ultimo coexistecircncia de una constelacioacuten plural de
valores a veces tendencialmente contradictorios en lugar de homogeneidad ideoloacutegica150
certamente eu natildeo me considero um neoconstitucionalista De todas as afirmaccedilotildees do professor
espanhol a uacutenica de que natildeo discordo eacute aquela relacionada ao pluralismo de valores cujo re-
conhecimento aliaacutes estaacute longe de ser privileacutegio dos neoconstitucionalistas
Contudo eu assumo o roacutetulo sem constrangimentos se o neoconstitucionalismo for pensado
como uma teoria constitucional que sem descartar a importacircncia das regras e da subsunccedilatildeo
abra tambeacutem espaccedilo para os princiacutepios e para a ponderaccedilatildeo tentando racionalizar o seu uso
Se for visto como uma concepccedilatildeo que sem desprezar o papel protagonista das instacircncias de-
mocraacuteticas na definiccedilatildeo do Direito reconheccedila e valorize a irradiaccedilatildeo dos valores constitucio-
nais pelo ordenamento bem como a atuaccedilatildeo firme e construtiva do Judiciaacuterio para proteccedilatildeo e
promoccedilatildeo dos direitos fundamentais e dos pressupostos da democracia E acima de tudo se
for concebido como uma visatildeo que conecte o Direito com exigecircncias de justiccedila e moralidade
criacutetica151 sem enveredar pelas categorias metafiacutesicas do jusnaturalismo
26
Certamente uma visatildeo equilibrada da Teoria do Direito com tais caracteriacutesticas pode contribu-
ir para o aperfeiccediloamento do Estado Democraacutetico de Direito no Brasil O mesmo jaacute natildeo digo de
concepccedilotildees mais radicais do neoconstitucionalismo que podem ser muito boas para arrancar
aplausos entusiasmados das plateacuteias nos seminaacuterios estudantis mas que natildeo se conciliam com
exigecircncias fundamentais de seguranccedila juriacutedica democracia e liberdade que satildeo alicerces de
qualquer bom constitucionalismo - novo ou velho
Curriacuteculo Resumido
Daniel Sarmento
Poacutes-Doutor pela Universidade de Yale (EUA) Procurador Regional da Repuacuteblica
Como citar este artigo
SARMENTO Daniel O neoconstitucionalismo no Brasil riscos e possibilidades Disponiacutevel em httpwwweditoraforumcombrsistconteudolista_conteudoaspFIDT_CONTEUDO=56993 acesso em 09032011 httpdireitoesubjetividadefileswordpresscom201008daniel-sarmento-o-neoconstitucionalismo-no-brasil1doc acesso em 30062012 Material da 1ordf aula da Disciplina Teoria Geral da Constituiccedilatildeo (I) ministrada no Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo Online em Direito Constitucional ndash Anhanguera-UNIDERP | REDE LFG
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1Sobre a teoria de princiacutepios no Brasil veja-se dentre outros Ana Paula de Barcellos A eficaacutecia juriacutedica dos princiacutepios constitu-
cionais o princiacutepio da dignidade da pessoa humana Rio de Janeiro Renovar 2002 Humberto Bergman Aacutevila Teoria dos princiacute-
pios da definiccedilatildeo agrave aplicaccedilatildeo dos princiacutepios juriacutedicos 2 ed Satildeo Paulo RT 2005 Jane Reis Gonccedilalves Pereira Interpretaccedilatildeo
constitucional e direitos fundamentais uma contribuiccedilatildeo ao estudo das restriccedilotildees aos direitos fundamentais na perspectiva da
teoria dos princiacutepios Rio de Janeiro Renovar 2006 Virgiacutelio Afonso da Silva O conteuacutedo essencial dos direitos fundamentais e a
eficaacutecia das normas constitucionais Satildeo Paulo Tese (concurso de Professor Titular de Direito Constitucional da USP)
2Veja-se em tons variados Lecircnio Luiz Streck Hermenecircutica juriacutedica e(m) crise uma exploraccedilatildeo hermenecircutica da construccedilatildeo do
direito Porto Alegre Livraria do Advogado 1999 Luiacutes Roberto Barroso (Org) A nova interpretaccedilatildeo constitucional ponderaccedilatildeo
direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas Rio de Janeiro Renovar 2003 Margarida Maria Lacombe Camargo Hermenecircutica e
argumentaccedilatildeo uma contribuiccedilatildeo ao estudo do direito Rio de Janeiro Renovar 2003 Inocecircncio Maacutertires Coelho Interpretaccedilatildeo
constitucional 2 ed Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2003 Ana Paula de Barcellos Ponderaccedilatildeo racionalidade e atividade
jurisdicional Rio de Janeiro Renovar 2005
3Sobre o fenocircmeno da constitucionalizaccedilatildeo do Direito confira-se os inuacutemeros artigos que compotildeem a coletacircnea organizada por
Claacuteudio Pereira de Souza Neto e por mim A constitucionalizaccedilatildeo do direito fundamentos teoacutericos e aplicaccedilotildees especiacuteficas Rio de
Janeiro Lumen Juris 2007
4Cfr na literatura constitucional brasileira Gisele Guimaratildees Cittadino Pluralismo direito e justiccedila distributiva elementos de
filosofia constitucional contemporacircnea Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 Oscar Vilhena Vieira A Constituiccedilatildeo e sua reserva de
justiccedila um ensaio sobre os limites materiais do poder de reforma Satildeo Paulo Malheiros 1999 Ricardo Lobo Torres (Org) A legi-
timaccedilatildeo dos direitos humanos Rio de Janeiro Renovar 2002 Claacuteudio Pereira de Souza Neto Teoria constitucional e democracia
deliberativa Rio de Janeiro Renovar 2006 Lecircnio Luiz Streck Verdade e consenso Constituiccedilatildeo hermenecircutica e teorias discursi-
vas Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 Samantha Chantal Dobrowolski A construccedilatildeo social do sentido da Constituiccedilatildeo na demo-
cracia contemporacircnea entre soberania popular e direitos humanos Rio de Janeiro Lumen Juris 2007 Aacutelvaro Ricardo de Souza
Cruz Hermenecircutica juriacutedica e(m) debate o constitucionalismo brasileiro entre a teoria do discurso e a ontologia existencial Belo
Horizonte Foacuterum 2007
5Sobre a judicializaccedilatildeo da poliacutetica no Brasil veja-se Luiz Werneck Vianna et al A judicializaccedilatildeo da poliacutetica e das relaccedilotildees sociais
no Brasil Rio de Janeiro Revan 1999 Giselle Cittadino Judicializaccedilatildeo da poliacutetica constitucionalismo democraacutetico e separaccedilatildeo de
poderes In Luiz Werneck Vianna (Org) A democracia e os trecircs poderes no Brasil Belo Horizonte UFMG 2002 p 17-42 Rogeacuterio
B Arantes Constitucionalism the expansion of Justice and the Judicialization of Poltics in Brazil In Rachel Sieder Line Schjol-
den Alan Angell The Judicialization of Politics in Latin America New York Palgrave Macmillan 2005 p 232-262 Luis Roberto
Barroso Judicializaccedilatildeo ativismo judicial e legitimidade democraacutetica Texto ineacutedito gentilmente cedido pelo autor
Para uma perspectiva comparativa veja-se Neal C Tate Tobjorn Vallinder (Ed) The Global Expansion of Judicial Power New
York New York University Press 1995 Alec Stone Sweet Governing with Judges Constitutional Politics in Europe Oxford Oxford
Univesity Press 2000 e em tom profundamente criacutetico Ran Hirschl Towards Juristocracy the Origins and Consequences of the
New Constitucionalism Cambridge Harvard University Press 2004
6Miguel Carbonell et al Neoconstitucionalismo(s) Madrid Trotta 2003 Mais recentemente o autor publicou nova coletacircnea
tambeacutem dedicada ao estudo do neoconstitucionalismo intitulada Teoria del Neoconstitucionalismo Ensayos escogidos Madrid
Trotta 2007
7O jurista argentino Carlos Santiago Nino por exemplo faleceu em 1993 quando ainda nem se empregava esta denominaccedilatildeo
8Cf Robert Alexy Teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica a teoria do discurso racional como teoria da fundamentaccedilatildeo juriacutedica Tradu-
ccedilatildeo de Zilda Hutchinson Schild Silva revisatildeo teacutecnica da traduccedilatildeo e introduccedilatildeo agrave ediccedilatildeo brasileira Claudia Toledo 2 ed Satildeo Paulo
Landy 2005 Luis Roberto Barroso Curso de direito constitucional contemporacircneo os conceitos fundamentais e a construccedilatildeo do
novo modelo Rio de Janeiro Saraiva 2008 p 306-350
9Cf Lecircnio Luiz Streck Verdade e consenso Op cit p 197-246
28
10Ronald Dworkin e Carlos Santiago Nino satildeo sem sombra de duacutevida autores liberais natildeo no sentido que se atribui ao termo no
Brasil - de adeptos de doutrina econocircmica favoraacutevel ao Estado miacutenimo e ao mercado - mas sim no sentido corrente na Filosofia
Poliacutetica que associa o liberalismo agrave defesa dos direitos individuais e da neutralidade do Estado em relaccedilatildeo agraves diversas concepccedilotildees
sobre a vida boa existentes na sociedade Veja-se neste sentido Ronald Dworkin A Matter of Principle Cambridge Harvard
University Press 1985 p 181-236 Carlos Santiago Nino La constitucioacuten de la Democracia Deliberativa Barcelona Gedisa 1997
p 70-100
11Lecircnio Luiz Streck que se alinha ao neoconstitucionalismo defende posturas tipicamente comunitaristas como o papel da Consti-
tuiccedilatildeo na definiccedilatildeo de modelos de vida boa para orientaccedilatildeo da vida social e da accedilatildeo individual Cf Jurisdiccedilatildeo constitucional e
hermenecircutica uma nova criacutetica do direito 2 ed Rio de Janeiro Forense 2004 p 95-288
12Antonio Cavalcanti Maia um dos mais ardorosos defensores do neoconstitucionalismo no paiacutes eacute tambeacutem procedimentalista e
adepto das teorias juriacutedicas de Juumlrgen Habermas Veja-se neste sentido o seu denso texto Nos vintes anos da carta cidadatilde do
poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm (Coord) Vinte
anos da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 p 117-168 em que esta sua dupla filiaccedilatildeo intelectual eacute
explicitada
13Segundo Miguel Carbonell o neoconstitucionalismo desdobra-se em trecircs planos de anaacutelise que se conjugam o dos textos consti-
tucionais que se tornaram mais substantivos e incorporaram amplos elencos de direitos fundamentais o das praacuteticas judiciais que
passaram a recorrer a princiacutepios constitucionais agrave ponderaccedilatildeo e a meacutetodos mais flexiacuteveis de interpretaccedilatildeo sobretudo na aacuterea de
direitos fundamentais e o dos desenvolvimentos teoacutericos de autores que com as suas ideacuteias ajudaram natildeo soacute a compreender os
novos modelos constitucionais mas tambeacutem participaram da sua proacutepria criaccedilatildeo Cf Miguel Carbonell Neoconstitucionalismo
elementos para una definicioacuten In Eduardo Ribeiro Moreira Mauricio Pugliesi 20 anos da Constituiccedilatildeo brasileira Satildeo Paulo Sarai-
va 2009 p 197-208
14No mesmo sentido Luis Roberto Barroso Neoconstitucionalismo e Constitucionalizaccedilatildeo do direito o triunfo tardio do direito
constitucional do Brasil In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento A constitucionalizaccedilatildeo do direito fundamentos teoacuteri-
cos e aplicaccedilotildees especiacuteficas Rio de Janeiro Lumen Juris 2007 p 203-250
15Cf Carlos Bernal Pulido El Derecho de los Derechos Bogotaacute Universidad Externado de Colocircmbia 2006 Manoel Jose Cepeda
Espinosa Judicialization of Politics in Colombia the old and the new In Rachel Sieder Line Schonjen Alan Angell The Judiciali-
zation of Politics in Latin America Op cit p 67-104 Rodrigo Uprimmy Mauriacutecio Garcia-Villegas Tribunal Constitucional e eman-
cipaccedilatildeo social na Colocircmbia In Boaventura de Souza Santos Democratizar a democracia os caminhos da democracia participativa
Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2002 p 297-339
16Cf Catalina Smulovitz Petitioning and Creating Rights Judicialization in Argentina In Rachel Sieder Line Scjolden Alan Angell
The Judicialization of Politics in Latin America Op cit p 161-185
17Cf Miguel Carbonell Los Derechos Fundamentales en Meacutexico 2 ed Meacutexico Porruacutea 2006 Pilar Domingo The Changing Political
Role of the Judiciary in Meacutexico In Rachel Sieder Line Scjolden Alan Angell The Judicialization of Politics in Latin Ameacuterica Op
cit p 21-46
18Cf Heinz Klug South Aacutefrica From Constitucional Promise to Social Transformation In Jeffrey Goldsworthy Interpreting Consti-
tutions A Comparative Study Oxford Oxford University Press 2006 p 266-320
19Cf S P Sathe Iacutendia From Positivism to Structuralism In Jeffrey Goldsworthy Op cit p 215-265
20Veja-se a propoacutesito Gustavo Zagrebelsky Il Diritto Mite Torino Einaudi 1992 p 57-96
21Cf Eduardo Garciacutea de Enterriacutea La Constitucioacuten como Norma y el Tribunal Constitucional 3 ed Madrid Civitas 1985 p 41
22Na Alemanha a mudanccedila ocorreu sob a vigecircncia da Lei Fundamental adotada em 1949 e foi fortemente impulsionada pela
jurisprudecircncia do Tribunal Constitucional do paiacutes que construiu teorias importantes como a da Constituiccedilatildeo como uma ordem de
valores em cujo centro situa-se o princiacutepio da dignidade humana que se irradia por todo o ordenamento Veja-se a propoacutesito
Dieter Grimm Human Rights and Judicial Review in Germany In David M Beatty (Org) Human Rights and Judicial Review A
Comparative Perspective Dodrecht Martin Urjhoff 1994 p 267-295
23Na Itaacutelia as mudanccedilas se deram sob a eacutegide da atual Constituiccedilatildeo editada em 1947 mas soacute apoacutes o funcionamento da Corte
Constitucional que se deu em 1956 Ateacute entatildeo a Corte de Cassaccedilatildeo composta por juiacutezes recrutados ainda no periacuteodo do fascismo
29
era provisoriamente encarregada da guarda da Constituiccedilatildeo o que fazia de forma muito tiacutemida no mais das vezes negando eficaacute-
cia juriacutedica agraves normas constitucionais sob o argumento de que seriam programaacuteticas Veja-se a propoacutesito Ricardo Guastini A
constitucionalizaccedilatildeo do ordenamento juriacutedico e a experiecircncia italiana In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento A
constitucionalizaccedilatildeo do direito fundamentos teoacutericos e aplicaccedilotildees especiacuteficas Op cit p 271-294
24Cf No modelo do constitucionalismo norte-americano entende-se desde os primoacuterdios que a Constituiccedilatildeo eacute autecircntica lei e que
o Judiciaacuterio pode invalidar as decisotildees legislativas que a contrariem apesar do controle de constitucionalidade natildeo estar expres-
samente previsto no texto constitucional daquele paiacutes Esta ideacuteia que jaacute estava assentada no Federalista n 78 escrito por Ale-
xander Hamilton antes da aprovaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo foi posta em praacutetica pela primeira vez contra lei federal no ceacutelebre caso
Marbury v Madison julgado em 1803 pelo juiz Marshall Veja-se a propoacutesito Paul Brest Sanford Levinson Jack Balkin Akhil Reed
Amar Processes of Constitutional Decisionmaking Cases and Materials New York Aspen Publishers 2000 p 79-103
A versatildeo mais convencional do modelo constitucional norte-americano enfatiza a importacircncia central do Judiciaacuterio na atualizaccedilatildeo
do sentido da Constituiccedilatildeo do paiacutes Contudo esta leitura histoacuterica eacute hoje objeto de intensa disputa Em sentido contraacuterio a tal
posiccedilatildeo sustentando uma menor relevacircncia do Judiciaacuterio no desenvolvimento histoacuterico do constitucionalismo americano veja-se
por exemplo Stephen M Griffin American Constitutionalism From Theory to Politics New Jersey Princeton University Press
1996 p 88-139
25Cf Luis Prietro Sanchiacutes Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales Madrid Trotta 2003 p 107-117
26Cf Daniel Sarmento Ubiquumlidade constitucional Os dois lados da moeda In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento
(Coord) A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 113-148
27Na verdade a reaccedilatildeo contra o formalismo juriacutedico na Europa eacute bem anterior ao advento do constitucionalismo do 2ordm poacutes-guerra
remontando ao final do seacuteculo XIX Veja-se a propoacutesito Constantin M Stamatis Argumenter en Droit Une theacuteorie critique de
largumentation juridique Paris Publisud 1995 p 34-50 Antonio Manoel Hespanha Panorama histoacuterico da cultura juriacutedica euro-
peacuteia Lisboa Publicaccedilotildees Europa-Ameacuterica 1997 p 196-235
28Haacute vasta literatura sobre a ponderaccedilatildeo mas a obra mais influente sobre o tema eacute certamente o livro de Robert Alexy Teoria dos
direitos fundamentais Traduccedilatildeo de Virgiacutelio Afonso da Silva Satildeo Paulo Malheiros 2008 No cenaacuterio norte-americano veja-se a
anaacutelise densa e criacutetica de T Alexander Aleinikoff Constitucional Law in the Age of Balancing Yale Law Journal n 96 p 943-
1005 1987 No Brasil cfr Daniel Sarmento A ponderaccedilatildeo de interesses na Constituiccedilatildeo Federal Rio de Janeiro Lumen Juris
2000 Ana Paula de Barcellos Ponderaccedilatildeo racionalidade e atividade jurisdicional Op cit
29A bibliografia sobre o princiacutepio da proporcionalidade eacute vastiacutessima Veja-se a propoacutesito as densas anaacutelises de Carlos Bernal Puli-
do El Principio de Proporcionalidad y los Derechos Fundamentales Madrid Centro de Estuacutedios Constitucionales 2003 e no Brasil
de Jane Reis Gonccedilalves Pereira Interpretaccedilatildeo constitucional e direitos fundamentais Rio de Janeiro Renovar 2006 p 297-382
30Cf Chaiumlm Perelman Eacutetica e direito Traduccedilatildeo de Maria Ermantina Galvatildeo G Perira Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 p 361-684
Robert Alexy Teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica Op cit Friedrich Muller Discours de la Meacutethode Juridique Traduccedilatildeo de Olivier
Jouanjan Paris PUF 1993 Manuel Atienza Traacutes la Justicia Una Introduccioacuten al Derecho y al Razonamiento Juriacutedico Barcelona
Ariel 1995 Neil MacCormick Argumentaccedilatildeo juriacutedica e teoria do direito Traduccedilatildeo de Waldeacutea Barcellos Satildeo Paulo Martins Fontes
2006 Klaus Guumlnther Teoria da argumentaccedilatildeo no direito e na moral justificaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Claacuteudio Molz Satildeo Pau-
lo Landy 2004
31Cf Martin Shapiro Alec Stone Sweet On Law Politics and Judicialization New York Oxford University Press p 136-208
32Contudo deve-se admitir na linha de Paolo Comanducci que eacute possiacutevel reconhecer as mudanccedilas em questatildeo e propor novas
teorias que sejam adequadas a elas sem defendecirc-las Esta seria nas palavras do autor italiano a diferenccedila entre o neoconstitu-
cionalismo teoacuterico e o neoconstitucionalismo ideoloacutegico que natildeo apenas constroacutei teorias mais compatiacuteveis com os novos fenocirc-
menos mas vai aleacutem sustentando a sua legitimidade e propugnando pelo seu aprofundamento e expansatildeo Veja-se a propoacutesito
Paulo Comanducci Formas de neoconstitucionalismo Un anaacutelisis metateoacuterico In Miguel Carbonell (Ed) Neoconstitucionalis-
mo(s) Op cit p 75-98 Como reconhece o proacuteprio autor tal distinccedilatildeo baseia-se em uma semelhante acerca do positivismo
30
formulada por Norberto Bobbio que fala em positivismo teoacuterico ideoloacutegico e metodoloacutegico Cf Norberto Bobbio O positivismo
juriacutedico liccedilotildees de filosofia do direito Traduccedilatildeo e notas de Marcio Pugliesi et al Satildeo Paulo Iacutecone 1995 p 233-239
33Cf Ronald Dworkin Is Law a Sistem of Rules In Ronald Dworkin (Ed) Philosophy of Law Oxford Oxford University Press 1971
Robert Alexy Constitucionalismo discursivo Traduccedilatildeo de Luiz Afonso Heck Porto Alegre Livraria do Advogado 2007
34Cf Robert Alexy Derecho y Razoacuten Praacutectica Meacutexico Distribuiciones Fontamara 1993 Aulis Aarnio Lo Racional como Razonable
Traduccedilatildeo de Ernesto Garzoacuten Valdeacutes Madrid Centro de Estuacutedios Constitucionales 1991
35Cf Aharon Barak The Judge in a Democracy New Jersey Princeton University Press 2006 p 213-260 Gustavo Zagrebelsky Il
Diritto Mite Op cit p 179-217
36Confronte-se com perspectivas diferentes Luigi Ferrajoli O Estado de direito entre passado e futuro In Pietro Costa Danilo
Zolo (Org) Estado de direito histoacuteria teoria criacutetica Traduccedilatildeo de Carlo Alberto Dastoli Satildeo Paulo Martins Fontes 2006 p 419-
464 Elias Dias Estado de Derecho y Sociedad Democraacutetica Madrid Taurus 1998 Ronald Dworkin Introduction The Moral Reading
and the Majoritarian Premise In Freedoms Law The moral reading of the American Constitution Cambridge Harvard University
Press 1996 p 01-38 Gustavo Zagrebelsky La Crucifixioacuten y la Democracia Barcelona Ariel 1996 Claacuteudio Pereira de Souza Neto
Teoria constitucional da democracia deliberativa Op cit
37Cf Ronald Dworkin Introduction The Moral Reading and the Majoritarian Premise Op cit
38Cf Luigi Ferrajoli El Garantismo y la Filosofia del Derecho Bogotaacute Universidad Externado de Colocircmbia 2000
39Cf Luis Pietro Sanchis Sobre el Neoconstitucionalismo y sus Implicaciones In Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales
Op cit p 101-135
40Cf Ricardo Guastini Sur la Validiteacute de la Constitution du Point de Vue du Positivisme Juridique In Michel Troper Lucien Jaume
(Dir) 1789 et LInvention de la Constitution Paris LGDJ 1994 p 216-225
41Cf Suzana Pozzolo Neoconstituzionalismo e Positivismo Giuridico Torino Giapppicheli 2001
42Cf Ronald Dworkin Law and Morals In Justice in Robes Cambridge Harvard University Press 2006 p 01-35
43Cf Robert Alexy Derecho y Moral In La Institucionalizacioacuten de la Justicia Op cit p 17-30
44Cf Carlos Santiago Nino Eacutetica y Derechos Humanos 2 ed Buenos Aires Astrea 1989 p 11-48
45Cf Gustav Radbruch Cinco minutos de filosofia do direito In Filosofia do direito Traduccedilatildeo de L Cabral de Moncada 6 ed
Coimbra Armecircnio Amado 1979 p 414-418 Para uma densa problematizaccedilatildeo da foacutermula de Radbruch veja-se Thomas da Rosa
Bustamante Poacutes-Positivismo o argumento da injusticcedila aleacutem da Foacutermula de Radbruch In Teoria do direito e decisatildeo racional
temas de teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica Rio de Janeiro Renovar 2008
46Cf Robert Alexy La Institucionalizacioacuten de la Justicia Traduccedilatildeo de Joseacute Antonio Seone et al Granada Comares 2005 p 31-
54
47Sobre o tema cfr Alfonso Garcia Figueroa Princiacutepios e direitos fundamentais In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmen-
to A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 03-34
48O texto mais importante do positivismo inclusivo eacute o poacutes-escrito de Herbert LA Hart agrave sua obra magna The Concept of Law em
que ele responde agraves criacuteticas ao seu pensamento que Ronald Dworkin lhe endereccedilara O autor inglecircs faleceu antes de terminar o
texto mas ele foi publicado postumemente depois de ser editado por Joseph Raz Peneacutelope Bulloch Veja-se Herbert LA Hart
Poacutes-escrito In O conceito de direito Traduccedilatildeo de A Ribeiro Mendes 2 ed 1994 p 299-339 Tambeacutem na linha do positivismo
inclusivo veja-se Gregorio Peces- Barba Derechos Sociales y Positivismo Juriacutedico Escritos de Filosofia Poliacutetica y Juriacutedica Madrid
Dykinson 1999 p 83-90 Jules Coleman The Practice of Principle In defense of a pragmatist approach do legal theory Oxford
Oxford University Press p 103-120 Para uma resenha dos tipos de positivismo no debate contemporacircneo confira-se Dimitri Di-
moulis Positivismo juriacutedico introduccedilatildeo a uma teoria do direito e defesa do pragmatismo juriacutedico-politico Satildeo Paulo Meacutetodo
2006 p 65-166
49Cf Antonio Cavalcanti Maia Nos vinte anos da Constituiccedilatildeo do poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo Op cit Claacuteudio Perei-
ra de Souza Neto A teoria constitucional e seus lugares especiacuteficos notas sobre o aporte reconstrutivo Revista de Direito do
Estado n 1 p 89-104 jan mar 2006 Daniel Sarmento Interpretaccedilatildeo constitucional preacute-compreensatildeo e capacidades institu-
cionais do inteacuterprete In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binebojm Vinte anos da Constituiccedilatildeo de 1988
Op cit p 311-322
31
50Cf Juumlrgen Habermas Escritos sobre Moralidad y Eticidad Traduccedilatildeo de Manuel Jimenez Redondo Barcelona Paidoacutes 1991 p
131-172
51Sobre o comunitarismo haacute extensa literatura Dois textos claacutessicos deste linha de pensamento satildeo Michael Walzer The Communi-
tarian Critique of Liberalism In Politics and Passion New Haven Yale University Press 2004 p 141-163 Charles Taylor The
Procedural Republic and the Unencumbered Self In Robert Goodin Philip Pettit (Ed) Contemporary Political Philosophy 2 ed
Oxford Oxford University Press 2002 p 2462-256 Sobre a penetraccedilatildeo ainda que muitas vezes natildeo consciente das posiccedilotildees do
comunitarismo no constitucionalismo brasileiro veja-se Gisele Cittadino Pluralismo direito e justiccedila distributiva Op cit p
43-74
52Sobre o construtivismo eacutetico corrente filosoacutefica que sustenta a existecircncia de posiccedilotildees certas e erradas na Moral bem como a
possibilidade de encontraacute-las e fundamentaacute-las racionalmente veja-se Carlos Santiago Nino El Constructivismo Eacutetico Madrid
Centro de Estudios Constitucionales 1989
53O fenocircmeno tambeacutem se reproduz na teoria constitucional norte-americana hegemocircnica cf Keith Wittington Constitutional Con-
struction Divided Powers and Constitutional Meaning Cambridge Harvard University Press 1999 p 01-03
54A imagem do Poder Judiciaacuterio como um guardiatildeo de promessas eacute explorada e criticada numa obra importante da teoria juriacutedica
francesa contemporacircnea Antoine Garapon Le Gardien de Promesses Le juge et la democratie Paris Odile Jacob 1996
55Neste sentido o eloquumlente encerramento do Curso de Direito Constitucional Contemporacircneo de Luis Roberto Barroso o consti-
tucionalismo democraacutetico eacute a utopia que nos restou Uma feacute racional que ajuda a acreditar no bem e na justiccedila ainda quando natildeo
estejam ao alcance dos olhos (Op cit p 400)
56Cf Nico Poulantzas State Power Socialism London new Left Books 1978 Alan Hunt Marxist Theory of Law In Dennis Patter-
son (Ed) A Companion to Philosophy of Law and Legal Theory Malden Blackwell Publishers 1996 p 355-367
57Cf David Kairys (Ed) The Politics of Law A Progressive Critique New York Pantheon Books 1982 Roberto Mangabeira Unger
The Critical Legal Studies Movement Cambridge Harvard University Press 1986
58Cf Plauto Faraco Azevedo Criacutetica agrave dogmaacutetica e hermenecircutica juriacutedica Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1989 Luiz Fernando
Coelho Teoria criacutetica do direito 2 ed Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1991
59Natildeo haacute como abordar aqui as relaccedilotildees entre as inuacutemeras correntes do poacutes-modernismo e o Direito Constitucional Veja-se a
propoacutesito Niklas Luhman La Constituzione como Acquisizione Evolutiva In Gustavo Zagrebelsky Piacuteer Paolo Portinaro Joumlrg Lu-
ther Il Futuro della Costituzione Torino Einaudi 1996 p 83-128 Joseacute Joaquim Gomes Canotilho Civilizaccedilatildeo do direito constitu-
cional ou constitucionalizaccedilatildeo do direito civil a eficaacutecia dos direitos fundamentais na ordem juriacutedico-civil no contexto do direito
poacutes-moderno Cadernos de Direito Constitucional e Ciecircncia Poliacutetica n 15 p 07-16 1996 Eduardo Capellari A crise da moderni-
dade e a Constituiccedilatildeo Rio de janeiro Ameacuterica Juriacutedica 2004 Daniel Sarmento Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas 2 ed
Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 p 36-45
60Para Jean-Franccedilois Lyotard uma das caracteriacutesticas centrais do pensamento poacutes-moderno de que eacute expoente eacute a desconfianccedila
em relaccedilatildeo agraves metanarrativas - construccedilotildees abstratas grandiosas e totalizadoras tiacutepicas da Filosofia Moderna como direitos
humanos luta de classes e emancipaccedilatildeo pelo uso da razatildeo Cf Lyotard A condiccedilatildeo poacutes-moderna Traduccedilatildeo de Ricardo Correcirca
Barbosa 5 ed 1998 p16
61Cf Luiz Werneck Viana O terceiro poder na carta de 1988 e a tradiccedilatildeo republicana mudanccedila e conservaccedilatildeo In Ruben George
Oliven Marcelo Gildo Marccedilal Branda A Constituiccedilatildeo de 1988 na vida brasileira Satildeo Paulo Aderaldo e Rotshild 2008 p 91-109
62Cf Paulo Ricardo Schier Filtragem constitucional Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1999
63A expressatildeo foi cunhada por Claacuteudio Pereira de Souza Neto Fundamento e normatividade dos direitos fundamentais uma recons-
truccedilatildeo teoacuterica agrave luz do princiacutepio democraacutetico Arquivos de Direitos Humanos n 4 p 17-61 2003
64Cf Luis Roberto Barroso O direito constitucional e a efetividade de suas normas 3 ed Rio de Janeiro Renovar 1996
65Cf Clegravemerson Merlin Clegraveve A teoria constitucional e o direito alternativo para uma dogmaacutetica constitucional emancipatoacuteria In
Uma vida dedicada ao direito homenagem a Carlos Henrique de Carvalho Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1995 p 34-53
66Ressalte-se poreacutem que antes de 88 alguns juristas jaacute defendiam a forccedila normativa da Constituiccedilatildeo como o Prof Joseacute Afonso da
Silva Eacute de 1968 a primeira ediccedilatildeo da sua obra claacutessica A aplicabilidade das normas constitucionais que adotava claramente esta
32
perspectiva Todavia pelo clima nada propiacutecio ao constitucionalismo que reinava por aqui ateacute a nossa redemocratizaccedilatildeo a louvaacute-
vel pregaccedilatildeo dele e de outros juristas em prol da efetivaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo natildeo chegou a render maiores frutos
67Deve-se assinalar ainda a influecircncia marcante do novo constitucionalismo ibeacuterico neste movimento que tambeacutem pugnava pela
atribuiccedilatildeo de forccedila normativa agraves ambiciosas constituiccedilotildees de Portugal e Espanha entatildeo recentemente elaboradas apoacutes o fim de
experiecircncias autoritaacuterias naqueles paiacuteses A tiacutetulo de exemplo mencione-se a penetraccedilatildeo no paiacutes do pensamento do Professor de
Coimbra Joseacute Joaquim Gomes Canotilho especialmente da sua teoria sobre a Constituiccedilatildeo dirigente que ele posteriormente reviu
(cf J J Gomes Canotilho Constituiccedilatildeo dirigente e vinculaccedilatildeo ao legislador contributo para a compreensatildeo das normas constitu-
cionais programaacuteticas 2 ed Coimbra Coimbra 2001 - especialmente o prefaacutecio desta segunda ediccedilatildeo que daacute conta da mudanccedila
de posicionamento) bem como a difusatildeo das liccedilotildees do Professor Eduardo Garciacutea de Enterriacutea (cf La Constitucioacuten como Norma y el
Tribunal Constitucional Madrid Civitas 1981)
68Segundo a avaliaccedilatildeo atual de Luis Roberto Barroso personagem central do movimento o positivismo constitucional que deu
impulso ao movimento natildeo importava em reduzir o direito agrave norma mas sim em elevaacute-la a esta condiccedilatildeo pois ateacute entatildeo ele
havia sido menos do que norma (Curso de direito constitucional contemporacircneo Op cit p 224)
69Paulo Bonavides Curso de direito constitucional 5 ed Satildeo Paulo Malheiros 1994
70Eros Roberto Grau A ordem econocircmica na Constituiccedilatildeo de 88 interpretaccedilatildeo e criacutetica Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1996
71No acircmbito da Poacutes-Graduccedilatildeo em Direito da UERJ em que estou inserido desde 1997 primeiro como aluno e a partir de 2003 como
professor o Ricardo Lobo Torres teve papel central na difusatildeo do pensamento destes e de outros filoacutesofos entre os estudantes e o
proacuteprio corpo docente
72Cf Lecircnio Luiz Streck Hermenecircutica juriacutedica e(m) crise Op cit Eros Roberto Grau Ensaio e discurso sobre a interpreta-
ccedilatildeoaplicaccedilatildeo do direito Satildeo Paulo Malheiros 2002
73Nesta linha veja-se as obras que compotildeem a coletacircnea Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Direitos sociais funda-
mentos judicializaccedilatildeo e direitos sociais em espeacutecie Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 Ricardo Lobo Torres O miacutenimo existencial
e os direitos fundamentais Revista de Direito Administrativo n 177 p 20-49 1989 Ingo Wolfgang Sarlet A eficaacutecia dos direitos
fundamentais 9 ed Porto Alegre Livraria do Advogado 2008 Ana Paula de Barcellos A eficaacutecia juriacutedica dos princiacutepios o princiacute-
pio da dignidade da pessoa humana Op cit Marco Mazzeli Gouveia O controle judicial das omissotildees administrativas Rio de
Janeiro Forense 2003 Andreacuteas Krell Direitos sociais e controle judicial no Brasil e Alemanha os (des)caminhos de um direito
constitucional comparado Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2002
74Cf Gustavo Tepedino Temas de direito civil Rio de Janeiro Renovar 1999 Luiz Edson Fachin Estatuto juriacutedico do patrimocircnio
miacutenimo Rio de Janeiro Renovar 2001 Maria Celina Bodin de Moraes Danos agrave pessoa humana uma leitura civil-constitucional dos
danos morais Rio de Janeiro Renovar 2003 Teresa Negreiros Fundamentos para uma interpretaccedilatildeo constitucional do princiacutepio
da boa-feacute Rio de Janeiro Renovar 1998 Anderson Schreiber A proibiccedilatildeo do comportamento contraditoacuterio Rio de Janeiro Reno-
var 2005
75Cf Luciano Feldens A Constituiccedilatildeo penal a dupla face da proporcionalidade no controle das lei penais Porto Alegre Livraria do
Advogado 2005 Luis Carlos dos Santos Gonccedilalves Mandados expressos de criminalizaccedilatildeo e a proteccedilatildeo de direitos fundamentais na
Constituiccedilatildeo Brasileira de 1988 Belo Horizonte Foacuterum 2007
76Cf Gustavo Binenbojm Uma teoria do direito administrativo direitos fundamentais democracia e constitucionalizaccedilatildeo Rio de
Janeiro Renovar 2006 Alexandre dos Santos Aragatildeo Floriano de Azevedo Marques (Coord) Direito administrativo e seus novos
paradigmas Belo Horizonte Foacuterum 2008
77Cf Gustavo Binenbojm A nova jurisdiccedilatildeo constitucional brasileira legitimidade democraacutetica e instumentos de realizaccedilatildeo Rio de
Janeiro Renovar 2001 Claacuteudio Pereira de Souza Neto Jurisdiccedilatildeo constitucional democracia e racionalidade praacutetica Rio de
Janeiro Renovar 2002 Joseacute Adeacutercio Leite Sampaio A Constituiccedilatildeo reinventada pela jurisdiccedilatildeo constitucional Belo Horizonte Del
Rey 2002 Lecircnio Luiz Streck Jurisdiccedilatildeo constitucional e hermenecircutica Porto Alegre Livraria do Advogado 2002 Aacutelvaro Ricardo
de Souza Cruz Jurisdiccedilatildeo constitucional democraacutetica Belo Horizonte Del Rey 2004
78A expressatildeo dificuldade contramajoritaacuteria eacute de um claacutessico da teoria constitucional norte-americana Alexander Bickel La Cons-
titucioacuten como Norma y el Tribunal Constitucional 2 ed New Haven Yale University Press 1986
33
79Em siacutentese apertada o procedimentalismo sustenta que natildeo eacute papel da jurisdiccedilatildeo constitucional tutelar valores substantivos mas
apenas proteger os pressupostos necessaacuterios ao bom funcionamento da democracia Jaacute o substancialismo reconhece a legitimidade
da atuaccedilatildeo jurisdicional em favor da garantia e promoccedilatildeo de valores substantivos presentes na Constituiccedilatildeo O debate entre o
procedimentalismo identificado com as ideacuteias de autores como John Hart Ely e Juumlrgen Habermas e o substancialismo defendido
por teoacutericos como Ronald Dworkin e Laurence Tribe eacute reproduzido em praticamente toda a literatura contemporacircnea que trata de
Teoria ou Filosofia Constitucional Veja-se a propoacutesito a densa obra de Claacuteudio Ari Mello Democracia constitucional e direitos
fundamentais Porto Alegre Livraria do Advogado 2004
80Neoconstitucionalismo e constitucionalizaccedilatildeo do direito o triunfo tardio do direito constitucional no Brasil Op cit
81A crise paradigmaacutetica do direito no contexto da resistecircncia positivista ao (neo)constitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza
Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm Vinte anos da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Op cit p 203-228
82Nos vinte anos da carta cidadatilde do poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo Op cit
83Neoconstitucionalismo direitos fundamentais e controle de poliacuteticas puacuteblicas In Daniel Sarmento Flaacutevio Galdino (Org) Direitos
fundamentais estudos em homenagem ao prof Ricardo Lobo Torres Rio de Janeiro Renovar 2006 p 31-60
84Direitos humanos legitimidade e constitucionalismo In Daniel Sarmento Flaacutevio Galdino (Org) Direitos fundamentais estudos
em homenagem ao Prof Ricardo Lobo Torres Op cit p325-350
85Novos desafios agrave filtragem constitucional no momento do neoconstitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sar-
mento A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 251-270
86Neoconstitucionalismo a invasatildeo da Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Meacutetodo 2008
87Neoconstitucionalismo e positivismo juriacutedico Satildeo Paulo Landy 2006
88Teoria do direito e argumentaccedilatildeo racional temas de teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica op cit p 141-240
89Uma visatildeo criacutetica do neoconstitucionalismo In George Salomatildeo Leite Glauco Salomatildeo Leite Constituiccedilatildeo e efetividade constitu-
cional Salvador JusPodium 2008 p 43-60
90Neoconstitucionalismo entre a Ciecircncia do direito e o direito da ciecircncia In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento
Gustavo Binenbojm Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 p 187-202
91Cf Peticcedilatildeo 1246 MSSC julgada em 31011997 (obrigaccedilatildeo do Estado de realizar transplante de ceacutelulas mioblaacutesticas para salvar
a vida de crianccedila) Agravo de Instrumento no Recurso Extraordinaacuterio 271286RS DJU 24 nov 2000 (entrega de medicamentos
para portadores de HIV) e Agravo de Instrumento do Recurso Extraordinaacuterio nordm 410715-5 julgado em 22112005 (obrigaccedilatildeo de
fornecimento de vagas para educaccedilatildeo infantil pelo municiacutepio com atendimento em creches e preacute-escola)
92Recursos Extraordinaacuterios nordms 158215-4RS 161243-6DF 201819RJ
93Cf Mandado de Injunccedilatildeo 670ES Rel Min Gilmar Mendes julgado em 25102007 em que o STF revendo orientaccedilatildeo anterior
deu eficaacutecia normativa agrave sentenccedila proferida no mandado de injunccedilatildeo No caso decidiuse que ateacute o advento de lei regulamentado-
ra sobre a greve no serviccedilo puacuteblico o direito de greve poderia ser exercido obedecendo-se os limites impostos pela Lei 778389
que trata dos movimentos paredistas em serviccedilos essenciais no setor privado
94Sobre a tendecircncia agrave superaccedilatildeo da ideacuteia do Judiciaacuterio como legislador negativo na jurisdiccedilatildeo constitucional veja-se Joseacute Adeacutercio
Leite Sampaio A Constituiccedilatildeo reinventada pela jurisdiccedilatildeo constitucional Belo Horizonte Del Rey 2002 p 203-248
95Eacute lugar-comum dentre os autores que tratam da questatildeo associar tais mudanccedilas agrave pluralizaccedilatildeo das vozes na interpretaccedilatildeo consti-
tucional tema em que a referecircncia essencial no cenaacuterio germacircnico eacute Peter Haumlberle Veja-se a propoacutesito Peter Haumlberle Herme-
necircutica constitucional A sociedade aberta dos inteacuterpretes da Constituiccedilatildeo contribuiccedilatildeo para a interpretaccedilatildeo pluralista e procedi-
mental da Constituiccedilatildeo Traduccedilatildeo de Gilmar Ferreira Mendes Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1997 Veja-se ainda na doutrina
brasileira Gustavo Binenbojm A dimensatildeo do Amicus Curiae no processo constitucional brasileiro In Temas de direito constitu-
cional e administrativo Rio de Janeiro Renovar 2008 p 165-190
96ADIN 3510DF Relator Ministro Carlos Ayres Britto A accedilatildeo proposta contra o art 5ordm da Lei de Biosseguranccedila impugnava a auto-
rizaccedilatildeo de pesquisas com embriotildees humanos resultantes de fertilizaccedilatildeo in vitro que fossem inviaacuteveis ou estivessem congelados haacute
mais de trecircs anos A accedilatildeo foi julgada totalmente improcedente por 6 votos a 5
97ADPF nordm 54 A accedilatildeo que tem como relator o Ministro Marco Aureacutelio ainda natildeo foi julgada mas em seu bojo jaacute ocorreram diversas
audiecircncias puacuteblicas que provocaram intensa participaccedilatildeo da sociedade civil e grande interesse na miacutedia
34
98ADPF nordm 132 Relator Ministro Carlos Ayres Britto A accedilatildeo ainda foi julgada
99Mandados de Seguranccedila 26602DF 26603DF e 26604DF Informativo STF n 482
100Recurso Extraordinaacuterio 197917SP Rel p acoacuterdatildeo Min Ceacutesar Peluso DJU 18 fev 2005
101O livro de Alberto Carlos Almeida A cabeccedila do brasileiro lanccedilado em 2007 conteacutem pesquisas feitas sobre uma acuteseacuterie de temas
com pessoas de todas as classes sociais e regiotildees do paiacutes Uma das pesquisas eacute relativa agrave avaliaccedilatildeo das instituiccedilotildees Dentre as treze
avaliadas as duas que obtiveram menor aprovaccedilatildeo foram os partidos poliacuteticos (avaliaccedilatildeo positiva de 28 dos entrevistados) e o
Congresso (avaliaccedilatildeo positiva de 36 dos entrevistados) Cf Antonio Carlos Almeida A cabeccedila do brasileiro Rio de Janeiro Re-
cord 2007 p 187
102Cf Luis Roberto Barroso Judicializaccedilatildeo ativismo judicial e legitimidade democraacutetica Texto ainda ineacutedito gentilmente cedido
pelo autor
103Humberto Aacutevila por exemplo formula outra criacutetica importante de que o neoconstitucionalismo seria inadequado agrave realidade
constitucional brasileira jaacute que privilegia os princiacutepios e a Carta de 88 seria muito mais regulatoacuteria do que principioloacutegica (Neo-
constitucionalismo entre a ciecircncia do direito e o direito da ciecircncia Op cit p 188-192)
104Contudo natildeo eacute razoaacutevel estender esta criacutetica ao ponto de negar o caraacuteter democraacutetico da atuaccedilatildeo judicial Como ressaltou
Eugenio Rauacutel Zaffaroni uma instituiccedilatildeo natildeo eacute democraacutetica unicamente porque natildeo provenha de eleiccedilatildeo popular porque nem tudo
o que proveacutem desta origem eacute necessariamente aristocraacutetico Uma instituiccedilatildeo eacute democraacutetica quando seja funcional para o sistema
democraacutetico quer dizer quando seja necessaacuteria para a sua continuidade como ocorre com o judiciaacuterio (Poder judiciaacuterio crise
acertos e desacertos Traduccedilatildeo de Juarez Tavares Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1995 p 43)
105Cf Robert A Dahl Sobre a democracia Traduccedilatildeo de Beatriz Sidou Brasiacutelia UNB 2001 p 97-113 Juumlrgen Habermas Popular
Sovereignity as Procedure In James Bonham William Rehg Deliberative Democracy Cambridge The MIT Press 1997 p 35-66
106A questatildeo da tensatildeo e sinergia simultacircneas entre constitucionalismo e democracia eacute um dos debates mais fecundos da Teoria
Poliacutetica e da Filosofia Constitucional que tem atravessado o tempo desde o advento do constitucionalismo moderno no seacuteculo
XVIII Veja-se no debate contemporacircneo Jeremy Waldron Preocommitment and Disagreement In Larry Alexander Constitu-
cionalism Philosophical Foundations Cambridge Cambridge University Press 1998 p 271-299 Juumlrgen Habermas O Estado demo-
craacutetico de direito uma amarraccedilatildeo paradoxal de princiacutepios contraditoacuterios In Era das transiccedilotildees Traduccedilatildeo de Flaacutevio Beno Siebe-
neichler Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 2003 p 153-173 Carlos Santiago Nino La Constitucioacuten de la Democracia Deliberativa
Op cit Frank Michelman Brennan and Democracy Princeton Princeton University Press 1999 p 03-62 Stephen Holmes El
Precompromiso y la Paradoja de la Democracia In Jon Elster Rune Slagstad Constitucionalismo y Democracia Traduccedilatildeo de Mocircni-
ca Utrilla de Neira Mexico Fondo de Cultura Econocircmica 1999 p 217-262
107O problema da limitaccedilatildeo do legislador atual pelas decisotildees do constituinte adotadas no passado envolve a problemaacutetica da
partilha intergeracional de poder bem explicitada na fala de Jefferson que defendia que a cada 19 anos deveria ser elaborada
uma nova Constituiccedilatildeo nos Estados Unidos para que a Lei Maior daquele paiacutes natildeo se tornasse um mecanismo de governo dos mor-
tos sobre os vivos Em siacutentese apertada haacute na teoria poliacutetica contemporacircnea duas linhas principais de justificativa para a legiti-
midade destas restriccedilotildees
Uma eacute a teoria da democracia dualista defendida por Bruce Ackerman que sustenta que as decisotildees adotadas pelo proacuteprio povo
em contextos de grande mobilizaccedilatildeo ciacutevica devem ser protegidas do alcance da vontade dos representantes do povo formada em
momentos em que a cidadania natildeo esteja intensamente envolvida Esta teoria distingue a poliacutetica extraordinaacuteria correspondente
agravequeles momentos constitucionais da poliacutetica ordinaacuteria que se realiza atraveacutes das deliberaccedilotildees do dia a dia dos oacutergatildeos represen-
tativos Para a perspectiva ackermaniana a poliacutetica extraordinaacuteria - que natildeo exige necessariamente formalizaccedilatildeo procedimental
atraveacutes de assembleacuteia constituinte ou de emenda constitucional - se situa em patamar superior agrave poliacutetica ordinaacuteria e pode legiti-
mamente impor limites a esta (cf Bruce Ackerman We the people Foundations Cambridge The Belknap Press 1991 p 03-33)
Outra teoria eacute a do preacute-compromisso que jaacute foi advogada por Jon Elster Segundo ela eacute legiacutetimo subtrair do alcance das maiorias
determinadas questotildees fundamentais que expressam princiacutepios fundamentais de justiccedila poliacutetica ou garantam os pressupostos da
proacutepria democracia tendo em vista o risco de que no processo poliacutetico majoritaacuterio em momentos de irracionalidade o povo
35
possa ser viacutetima de suas proacuteprias fraquezas ou paixotildees momentacircneas atentando contra tais princiacutepios (cf Ulisses and Sirens
Cambridge Cambridge University Press 1979)
Ambas as concepccedilotildees - a primeira mais proacutexima ao republicanismo e a segunda de vieacutes mais liberal - tecircm a sua dose de procedecircn-
cia mas ensejam criacuteticas importantes Todavia foge a escopo do presente trabalho analisar esta questatildeo que eacute uma das mais
complexas da Filosofia Poliacutetica moderna e contemporacircnea Para uma visatildeo geral sobre o tema na literatura em liacutengua portuguesa
veja-se Oscar Vilhena Vieira A Constituiccedilatildeo e sua reserva de justiccedila Op cit Miguel Nogueira de Brito A Constituiccedilatildeo constituin-
te ensaio sobre o poder de revisatildeo da Constituiccedilatildeo Coimbra Coimbra 2000 Samantha Chantal Dobrowolski Op cit p 265-312
Rodrigo Brandatildeo Direitos fundamentais democracia e claacuteusulas peacutetreas Rio de Janeiro Renovar 2008 p 59-112
108Cf Michel Troper Justice Constitutionelle et Deacutemocratie In Pour une Theorie Juridique de LEacutetat Paris PUF 1994 p 317-328
Claacuteudio Pereira de Souza Neto Jurisdiccedilatildeo constitucional democracia e racionalidade praacutetica Op cit p 106-130 Gustavo Binen-
bojm A nova jurisdiccedilatildeo constitucional brasileira Op cit p 55-74
109Sobre o modelo revolucionaacuterio francecircs de constitucionalismo completamente avesso agrave ideacuteia de jurisdiccedilatildeo constitucional cf
Maurizio Fioravanti Constitucioacuten de la antiguumledad a nuestros dias Traduccedilatildeo de Manuel Martinez Neira Madrid Trotta 2001 p
120-132
110Cf Carl Schmitt La Defesa de la Constitucioacuten Madrid Tecnos 1983
111O constitucionalismo popular ou populismo constitucional eacute uma importante corrente no debate constitucional norte-americano
contemporacircneo que nega a legitimidade democraacutetica do controle de constitucionalidade advogando que deve caber ao proacuteprio
povo e natildeo a uma elite de juiacutezes natildeo eleitos com assento na Suprema Corte o poder de definir o sentido das claacuteusulas vagas que
abundam no texto constitucional daquele paiacutes Na defesa desta tese satildeo empregados tanto argumentos de teoria e filosofia poliacuteti-
ca de caraacuteter mais universal como razotildees histoacutericas relacionadas agrave evoluccedilatildeo do constitucionalismo estadunidense Veja-se nesta
linha Mark Tushnet Taking the Constitution Away from the Courts Princeton Princeton University Press 1999 Jeremy Waldron
Precommitment and Disagreement Op cit Larry D Kramer The People Themselves Popular constitutionalism and judicial re-
view New York Oxford University Press 1994
Ateacute algumas deacutecadas atraacutes a oposiccedilatildeo agrave jurisdiccedilatildeo constitucional nos Estados Unidos partia em regra da Direita que natildeo se con-
formava com a jurisprudecircncia extremamente liberal em mateacuteria de direitos fundamentais estabelecida pela Corte entre os anos
50 e 70 Atualmente uma boa parte dos opositores agrave judicial review situa-se agrave esquerda do espectro poliacutetico e talvez a nova linha
profundamente conservadora daquele Tribunal ajude a explicar esta mudanccedila
112Sobre a Era de Lochner veja-se Laurence H Tribe American Constitutional Law 2 ed Mineola The Foundation Press 1988 p
567-581 Paul Brest et al Processes of Constitucional Decisionmaking 4 ed New York Aspen Publishers 2000 p 337-354
113Towards Juristocracy hellip Op cit
114Tratei do tema no artigo Direito adquirido emenda constitucional democracia e justiccedila social In Livres e iguais Op cit p
03-32
115Cf Charles R Epp The Rights Revolution Chicago The University of Chicago Press 1998 p 26-70 Owen Fiss The Law as It
Could Be New York New York University Press 2003 p 244-249
116A importacircncia e as peculiaridades da interpretaccedilatildeo legislativa da Constituiccedilatildeo satildeo exploradas em importante obra coletiva
Richard W Bauman Tsvi Kahana The Least Examined Branch The Role of Legislatures in the Constitutional State Cambridge
Cambridge University Press 2006
117Cf em tom ainda mais ceacutetico do que o adotado neste estudo Martonio MontAlverne Barreto Lima Jurisdiccedilatildeo Constitucional
um problema da teoria da democracia poliacutetica In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Gilberto Bercovici Joseacute Filomeno de Moraes
Filho Martonio MontAlverne Teoria da Constituiccedilatildeo estudos sobre o lugar da poliacutetica no direito constitucional Rio de Janeiro
Lumen Juris 2003 p 199-261 Conrado Huumlbner Mendes Controle de constitucionalidade e democracia Rio de Janeiro Elsevier
2008
36
118Para criacutetica semelhante no contexto germacircnico veja-se Ingeborg Maus O judiciaacuterio como superego da sociedade sobre o papel
da atividade jurisprudencial na sociedade oacuterfatilde Traduccedilatildeo de Martonio MontAlverne Barreto Lima Paulo Antonio Menezes de Albu-
querque Anuaacuterio dos Cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito da Faculdade de Direito de Recife n 11 2000
119Eu aprofundo a anaacutelise deste ponto no meu artigo Interpretaccedilatildeo constitucional preacute-compreensatildeo e capacidades institucionais do
inteacuterprete In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm (Coord) Vinte anos da Constituiccedilatildeo Federal
de 1988 Op cit p 311-322 E a necessidade de optar por teoria de interpretaccedilatildeo que leve em consideraccedilatildeo as capacidades
institucionais reais dos juiacutezes comparando-as com as dos agentes de outras instituiccedilotildees eacute explorada no importante estudo de Cass
Sunstein Adrian Vermeulle Interpretations and Institutions Chicago Working Papers in Law amp Economics 2002 p 01-55 bem
como no livro de Adrian Vermeulle Judging under Uncertainty An Institutional Theory for Legal Interpretation Cambridge Har-
vard University Press 2006
120Dentre as honrosas exceccedilotildees mencione-se Luiacutes Roberto Barroso autor de importante artigo com sugestotildees para a reforma poliacuteti-
ca no paiacutes Reforma poliacutetica uma proposta de sistema de governo eleitoral e partidaacuterio para o Brasil Revista de Direito do Esta-
do n 3 p 287-360 jul set 2006
121Sobre o ethos judicial no Brasil veja-se a pesquisa de Maria Tereza Sadek Magistrados uma imagem em movimento Rio de
Janeiro FGV 2006
122Em sentido semelhante veja-se Michael J Perry The Constitution the Courts and Human Rights New Haven Yale University
Press 1982 p 91-145
123Neste ponto entendo que um standard importante que deveria ser adotado para controle de constitucionalidade eacute o de que
quanto maiores forem as credencias democraacuteticas de um ato normativo mais autocontido deve ser o Poder Judiciaacuterio ao avaliar a
sua constitucionalidade Na minha opiniatildeo estas credencias democraacuteticas devem ser aferidas tanto por criteacuterios qualitativos - eg
grau de participaccedilatildeo social no processo legislativo qualidade do processo deliberativo que a antecedeu - como por criteacuterios quanti-
tativos - percentual de votos favoraacuteveis agrave medida Em sentido semelhante veja-se Claacuteudio Ari Mello Democracia e direitos funda-
mentais Op cit p 298
124Em sentido proacuteximo apontam as liccedilotildees de Gustavo Binenbojm e Humberto Aacutevila O primeiro tratando do controle judicial dos
atos administrativos averbou que quanto maior for o grau de tecnicidade da mateacuteria objeto de decisatildeo por oacutergatildeos dotados de
expertise e experiecircncia menos intenso deve ser o grau de controle judicial (Uma teoria do direito administrativo Op cit p
236) Jaacute o segundo salientou que o acircmbito de controle pelo Judiciaacuterio deveraacute ser tanto menor quanto mais difiacutecil e teacutecnico for
o juiacutezo exigido para o tratamento da mateacuteria (Teoria dos princiacutepios Op cit p 126)
125Um exemplo extremado deste posicionamento estaacute na argumentaccedilatildeo adotada pelo STF no julgamento da ADIN 2797 Rel Min
Sepuacutelveda Pertence em que se reconheceu a inconstitucionalidade formal de lei que pretendia interpretar a Constituiccedilatildeo Para o
STF natildeo pode a lei ordinaacuteria pretender impor como seu objeto imediato uma interpretaccedilatildeo a Constituiccedilatildeo a questatildeo eacute de in-
constitucionalidade formal iacutensita a toda norma da gradaccedilatildeo inferior que se proponha a ditar interpretaccedilatildeo de norma superior
Na questatildeo de fundo abordada naquele caso entendo que o STF estava certo Tratava-se de invalidar uma norma legal que esten-
dera o foro de prerrogativa de funccedilatildeo a ex-ocupantes de cargos puacuteblicos visando a restaurar antiga jurisprudecircncia do STF sedi-
mentada na Suacutemula 394 do Tribunal que acabara de ser cancelada O princiacutepio republicano natildeo era compatiacutevel com tal medida
que configurava niacutetido privileacutegio O que me parece inaceitaacutevel e profundamente anti-democraacutetico com a devida vecircnia natildeo eacute o
resultado alcanccedilado pela Corte - com o qual concordo - mas o argumento empregado de que o legislador natildeo pode interpretar a
Constituiccedilatildeo
126Existe hoje uma fecunda produccedilatildeo acadecircmica no cenaacuterio anglo-saxatildeo sobre as vantagens de modelos teoacutericos que favoreccedilam
diaacutelogos entre diversos oacutergatildeos e instituiccedilotildees na interpretaccedilatildeo constitucional ao inveacutes de afirmarem a exclusividade ou mesmo a
supremacia do Judiciaacuterio nesta seara Veja-se a propoacutesito Laurence G Sager Justice in Plainclothes A Theory of American Con-
stitutional Practice New haven Yale University Press 2004 Mark Tushnet Weak Courts Strong Rights Judicial Review and Social
Welfare Rights in Comparative Constitutional Law Princeton Princeton University Press 2008 Mark C Miller Jeb Barnes (Ed)
Making Police Making Law An Interbranch Perspective Washington DC Georgetown University Press 2004
37
127Colhi o exemplo no estudo de Oscar Vilhena Vieira Supremocracia In Daniel Sarmento (Org) Filosofia e teoria constitucional
contemporacircnea Rio de Janeiro Lumen Juris 2009
128Como um natildeo-positivista tenho a necessaacuteria imparcialidade para criticar os equiacutevocos da doutrina brasileira nas suas invectivas
contra o positivismo que muitas vezes caracterizam verdadeira falaacutecia do espantalho ataca-se natildeo a proacutepria teoria positivista
mas uma distorcida caricatura dela Duas afirmaccedilotildees erradas que eu mesmo jaacute fiz em textos anteriores satildeo muito frequumlentes a
de que o positivismo recusa a aplicaccedilatildeo dos princiacutepios juriacutedicos e a de que ele teria sido a Filosofia do Direito cultivada na Alema-
nha nazista
Quanto ao primeiro ponto natildeo haacute nenhuma incompatibilidade loacutegica entre positivismo e princiacutepios desde que os princiacutepios este-
jam devidamente incorporados na ordem juriacutedico-positiva Vaacuterios autores positivistas contemporacircneos jaacute citados neste estudo
como Luis Prietro Sanchiacutes Luigi Ferrajoli e Gregorio Peces-Barba atribuiacuteram espaccedilo importante para princiacutepios nas suas teorias
Mesmo no Direito Puacuteblico brasileiro juristas de inspiraccedilatildeo positivista kelseniana construiacuteram suas teorias com apoio em argumen-
taccedilatildeo principioloacutegica como o falecido Geraldo Ataliba e Celso Antonio Bandeira de Mello
No que tange ao segundo ponto - a chamada redutio ad hitlerum - os estudos mais autorizados de Histoacuteria do Direito comprovam
que natildeo foi o positivismo a teoria juriacutedica dominante no nazismo mas uma espeacutecie de jusnaturalismo de inspiraccedilatildeo hegeliana que
se insurgia contra o formalismo e recorria com frequumlecircncia a conceitos muito vagos para justificar a barbaacuterie como os de comuni-
dade popular (Volksgemeinschaft) Veja-se a propoacutesito Michael Stolleis The Law under the Swastika Studies on Legal History in
Nazi Germany Traduccedilatildeo de Thomas Dunlap Chicago The University of Chicago Press 1998
129Cf Joseacute Joaquim Gomes Canotilho Direito constitucional e Teoria da Constituiccedilatildeo Coimbra Almedina 1998 p 1036
130Sobre a importacircncia das regras veja-se Frederick Schauer Playing by the Rules A Philosophical Exaxamination of Rule-Bases
Decision-Making in Law and Life Oxford Oxford University Press 1998 Humberto Aacutevila Neoconstitucionalismo entre a ciecircncia do
direito e o direito da ciecircncia Op cit Noel Struchiner Posturas institucionais e modelagem institucional a dignidade (contingente)
do formalismo juriacutedico In Daniel Sarmento Filosofia e teoria constitucional contemporacircnea Op cit
131Esta eacute expressatildeo empregada por Ana Paula de Barcellos O direito constitucional em 2006 Revista de Direito do Estado n 5 p
03-23 janmar 2007
132Cf Chaiumlm Perelman P Fories La Motivation des Deacutecisions de Justice Bruxelas Eacutemile Bruylant 1978
133Sobra a influecircncia do jeitinho no Direito brasileiro cf Keith Rosen O jeito na cultura juriacutedica brasileira Rio de Janeiro Reno-
var 1997
134Sobre o patrimonialismo no Brasil veja-se Raimundo Faoro Os donos do poder 8 ed Rio de Janeiro Globo 1989 v 2 p 729-
750
135Raiacutezes do Brasil 26 ed Satildeo Paulo Companhia das Letras 1995
136Cf Joseacute Murilo de Carvalho Brasileiro Cidadatildeo In Pontos e bordados escritos de histoacuteria e poliacutetica Belo Horizonte Ed
UFMG 2005 p 275-288
137Cf Gustavo Zagrebelsky Il Diritto Mite Op cit p 15-19
138Cf Marcelo Neves A constitucionalizaccedilatildeo simboacutelica Satildeo Paulo Acadecircmica 1994
139A obra de Niklas Luhman eacute vasta e complexa e seus textos satildeo de difiacutecil compreensatildeo para os natildeo iniciados Veja-se do proacuteprio
autor Sociologia do direito I e II Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 1983 e 1985 Sistema Jurididico y Dogmaacutetica Juriacutedica Madrid
Centro de Estuacutedios Constitucionales 1983 Confira-se tambeacutem a coletacircnea organizada por Andreacute-Jean Arnaud Dalmir Lopes Jr Do
sistema social agrave sociologia juriacutedica Rio de Janeiro Lumen Juris 2004
140Sobre a autopoieses do Direito veja-se tambeacutem a obra importante de Guumlnther Teubner O direito como sistema autopoieacutetico
Traduccedilatildeo de Joseacute Engracia Nunes Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1993
141Cf Luis Roberto Barroso Neoconstitucionalismo e a constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit
142Esta era basicamente a visatildeo de Hans Kelsen (Cf Hans Kelsen Jurisdiccedilatildeo constitucional Traduccedilatildeo de Alexandre Krug et al Satildeo
Paulo Martins Fontes 2003 p 153) Para uma anaacutelise criacutetica desta posiccedilatildeo veja-se Luis Prietro Sanchiacutes Presupuestos ideoloacutegicos
y doctrinales de la jurisdicioacuten constitucional In Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales Op cit p 21-100
38
143Cf Christian Starck La suprematie La Suprematie de la Constitution et la Justice Constitutionnelle In La Constitution Cadre et
Mesure du Droit Traduccedilatildeo de Freacutederic Weill Paris Econocircmica 1994 p 26-30 Ernst- Wolfgang Boumlckenfoumlrde Les meacutethodes
dinterpretation de la Constitution Un bilan critique In Le Droit lEacutetat et la Constitution Democratique Traduccedilatildeo de Olivier
Jouanjan Paris LGDJ 2000 p 249-250 Virgiacutelio Afonso da Silva Constitucionalizaccedilatildeo do direito os direitos fundamentais nas
relaccedilotildees entre particulares Satildeo Paulo Malheiros 2005 p 107-131 Daniel Sarmento Ubiquumlidade constitucional os dois lados da
moeda Op cit Luis Roberto Barroso Curso de Direito Constitucional Contemporacircneo Op cit p 391-394 Alceu Mauriacutecio Jr
Judicializaccedilatildeo da poliacutetica e a crise do direito constitucional a Constituiccedilatildeo entre ordem marco e ordem fundamenta Revista de
Direito do Estado n 10 p 125-142 abrjun 2008
144Der Staat der Industriegesellshaft 2 ed Muumlnchen Beck 1971 p 144 Apud Robert Alexy Posfaacutecio In Teoria dos direitos
fundamentais Op cit p 578
145De acordo com Carlos Santiago Nino o perfeccionaismo eacute la concepcioacuten seguacuten la cual es una misioacuten legiacutetima del Estado hacer
que los individuos acepten y materializen ideales vaacutelidos de virtud personal Seguacuten este enfoque el Estado no puede permanecer
neutral respecto de concepciones de lo bueno en la vida y debe adoptar las medidas educativas punitorias etc que sean necesa-
rias para que los indiviacuteduos ajusten su vida a los verdaderos ideales de virtud y del bien (Eacutetica y Derechos Humanos Un ensayo de
fundamentacioacuten 2 ed Buenos Aires Astrea 1989 p 413)
146Daniel Sarmento Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas 2 ed Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 Sobre o tema na literatura
nacional veja-se tambeacutem Wilson Antocircnio Steinmetz A vinculaccedilatildeo dos particulares aos direitos fundamentais Satildeo Paulo Malheiros
2004 Virgiacutelio Afonso da Silva Constitucionalizaccedilatildeo do direito os direitos fundamentais nas relaccedilotildees entre particulares Op cit
Ingo Wolfgang Sarlet Direitos fundamentais e direito privado algumas consideraccedilotildees em torno da vinculaccedilatildeo dos particulares aos
direitos fundamentais In Ingo Wolfgang Sarlet (Org) A Constituiccedilatildeo concretizada Porto Alegre Livraria do Advogado 1999 p
129-173 Jane Reis Gonccedilalves Pereira Apontamentos sobre a aplicaccedilatildeo das normas de direito fundamental nas relaccedilotildees juriacutedicas
entre particulares In Luis Roberto Barroso (Org) A nova interpretaccedilatildeo constitucional ponderaccedilatildeo direitos fundamentais e
relaccedilotildees privadas Rio de Janeiro Renovar 2003 p 119-192
147Sobre a questatildeo da (i)legitimidade do perfeccionismo no Direito veja-se Joel Feinberg Rights Justice and the Bounds of Liber-
ty Princeton Princeton University Press 1980 Carlos Santiago Nino Eacutetica y Derechos Humanos Op cit p 413-446 Rainer Forst
Contexts of Justice Political Philosophy beyond Liberalism and Communitarianism Traduccedilatildeo de John M M Farrel Berkeley Uni-
versity of Califoacuternia Press 2001 p 30-87 Macaacuterio Alemany El Paternalismo Juriacutedico Madrid Iustel 2006
148Um sofisticado modelo que busca conciliar a constitucionalizaccedilatildeo do Direito com a democracia estaacute exposto no Poacutesfaacutecio agrave Teo-
ria dos Direitos Fundamentais de Robert Alexy acima citado Veja-se ainda Konrad Hesse Concepto y Cualidad de la Constitu-
cion In Escritos de Derecho Constitucional Traduccedilatildeo de Pedro Cruz Villaloacuten 2 ed 1992 p 03-29
149Tentei articular a minha teoria sobre eficaacutecia horizontal dos direitos fundamentais com este objetivo Cf Daniel Sarmento
Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas Op cit p 141-182 259-272
150Sobre el Neoconstitucionalismo y sus Implicaciones Op cit p 117
151Aqui entendo que o simples reconhecimento da penetraccedilatildeo da Moral no Direito preconizada pelos neoconstitucionalistas brasi-
leiros natildeo eacute suficiente jaacute que certas concepccedilotildees morais podem tornar o ordenamento ainda mais opressivo do que jaacute eacute Afinal
nem sempre a moralizaccedilatildeo do Direito se daacute na direccedilatildeo da emancipaccedilatildeo dos excluiacutedos Veja-se por exemplo a famosa polecircmica
jusfilosoacutefica entre Lord Patrick Devlin e Herbert Hart nos anos 60 na Inglaterra a propoacutesito do uso do Direito Penal para promoccedilatildeo
de Moral em que o primeiro a partir de uma posiccedilatildeo proacute-moral sustentava a legitimidade da criminalizaccedilatildeo da conduta homos-
sexual que o segundo contestava (Cf Lord Patrick Devlin Morals and Criminal Law In Ronald Dworkin (Ed) The Philosophy of
Law Op cit p 66-82 Herbert Hart Immorality and Treason In Idem ibidem)
Eacute preciso assentar as bases criacuteticas desta Moral que deve penetrar o Direito para evitar que o moralismo conservador seja expulso
do ordenamento pela porta da frente superado pela legislaccedilatildeo moderna em razatildeo da progressiva liberalizaccedilatildeo da sociedade mas
volte pela porta dos fundos atraveacutes da argumentaccedilatildeo juriacutedica dos juiacutezes lastreada em conceitos vagos como ordem puacuteblica e
bons constumes ou em standards como o comportamento do bom pai de famiacutelia
39
3
2 O que eacute o neoconstitucionalismo
A palavra neoconstitucionalismo natildeo eacute empregada no debate constitucional norte-americano
nem tampouco no que eacute travado na Alemanha Trata-se de um conceito formulado sobretudo
na Espanha e na Itaacutelia mas que tem reverberado bastante na doutrina brasileira nos uacuteltimos
anos sobretudo depois da ampla divulgaccedilatildeo que teve aqui a importante coletacircnea intitulada
Neoconstitucionalismo (s) organizada pelo jurista mexicano Miguel Carbonell e publicada na
Espanha em 20036
Os adeptos do neoconstitucionalismo buscam embasamento no pensamento de juristas que se
filiam a linhas bastante heterogecircneas como Ronald Dorkin Robert Alexy Peter Haumlberle Gus-
tavo Zagrebelsky Luigi Ferrajoli e Carlos Santiago Nino e nenhum destes se define hoje ou jaacute
se definiu no passado como neoconstitucionalista7 Tanto dentre os referidos autores como
entre aqueles que se apresentam como neoconstitucionalistas constata-se uma ampla diversi-
dade de posiccedilotildees jusfilosoacuteficas e de filosofia poliacutetica haacute positivistas e natildeo-positivistas defen-
sores da necessidade do uso do meacutetodo na aplicaccedilatildeo do Direito8 e ferrenhos opositores do em-
prego de qualquer metodologia na hermenecircutica juriacutedica9adeptos do liberalismo poliacuteti-
co10comunitaristas11 e procedimentalistas12 Neste quadro natildeo eacute tarefa singela definir o neo-
constitucionalismo talvez porque como jaacute revela o bem escolhido tiacutetulo da obra organizada
por Carbonell natildeo exista um uacutenico neoconstitucionalismo que corresponda a uma concepccedilatildeo
teoacuterica clara e coesa mas diversas visotildees sobre o fenocircmeno juriacutedico na contemporaneidade
que guardam entre si alguns denominadores comuns relevantes o que justifica que sejam a-
grupadas sob um mesmo roacutetulo mas compromete a possibilidade de uma conceituaccedilatildeo mais
precisa13
Para compreender melhor o neoconstitucionalismo vale percorrer de forma sinteacutetica e pano-
racircmica o processo histoacuterico que ensejou o seu advento Esta trajetoacuteria corresponde a fenocircme-
nos que ocorreram na Europa Ocidental a partir do segundo poacutes-guerra14 e que se reproduzi-
ram mais tarde com nuances proacuteprias em paiacuteses do Terceiro Mundo como Colocircmbia15 Argen-
tina16 Meacutexico17 Aacutefrica do Sul18 Iacutendia 19 e o proacuteprio Brasil
Ateacute a Segunda Guerra Mundial prevalecia no velho continente uma cultura juriacutedica essencial-
mente legicecircntrica que tratava a lei editada pelo parlamento como a fonte principal - quase
como a fonte exclusiva - do Direito e natildeo atribuiacutea forccedila normativa agraves constituiccedilotildees20 Estas
eram vistas basicamente como programas poliacuteticos que deveriam inspirar a atuaccedilatildeo do legisla-
4
dor mas que natildeo podiam ser invocados perante o Judiciaacuterio na defesa de direitos21 Os direi-
tos fundamentais valiam apenas na medida em que fossem protegidos pelas leis e natildeo envolvi-
am em geral garantias contra o arbiacutetrio ou descaso das maiorias poliacuteticas instaladas nos par-
lamentos Aliaacutes durante a maior parte do tempo as maiorias parlamentares nem mesmo re-
presentavam todo o povo jaacute que o sufraacutegio universal soacute foi conquistado no curso do seacuteculo XX
Depois da Segunda Guerra na Alemanha22e na Itaacutelia23 e algumas deacutecadas mais tarde apoacutes o
fim de ditaduras de direita na Espanha e em Portugal assistiu-se a uma mudanccedila significativa
deste quadro A percepccedilatildeo de que as maiorias poliacuteticas podem perpetrar ou acumpliciar-se com
a barbaacuterie como ocorrera no nazismo alematildeo levou as novas constituiccedilotildees a criarem ou forta-
lecerem a jurisdiccedilatildeo constitucional instituindo mecanismos potentes de proteccedilatildeo dos direitos
fundamentais mesmo em face do legislador Sob esta perspectiva a concepccedilatildeo de Constituiccedilatildeo
na Europa aproximou-se daquela existente nos Estados Unidosonde desde os primoacuterdios do
constitucionalismo entende-se que a Constituiccedilatildeo eacute autecircntica norma juriacutedica que limita o
exerciacutecio do Poder Legislativo e pode justificar a invalidaccedilatildeo de leis24 Soacute que com uma dife-
renccedila importante enquanto a Constituiccedilatildeo norte-americana eacute sinteacutetica e se limita a definir os
traccedilos baacutesicos de organizaccedilatildeo do Estado e a prever alguns poucos direitos individuais as cartas
europeacuteias foram em geral muito aleacutem disso
As constituiccedilotildees europeacuteias do 2ordm poacutes-guerra natildeo satildeo cartas procedimentais que quase tudo dei-
xam para as decisotildees das maiorias legislativas mas sim documentos repletos de normas im-
pregnadas de elevado teor axioloacutegico que contecircm importantes decisotildees substantivas e se de-
bruccedilam sobre uma ampla variedade de temas que outrora natildeo eram tratados pelas constitui-
ccedilotildees como a economia as relaccedilotildees de trabalho e a famiacutelia25 Muitas delas ao lado dos tradi-
cionais direitos individuais e poliacuteticos incluem tambeacutem direitos sociais de natureza prestacio-
nal Uma interpretaccedilatildeo extensiva e abrangente das normas constitucionais pelo Poder Judiciaacute-
rio deu origem ao fenocircmeno de constitucionalizaccedilatildeo da ordem juriacutedica que ampliou a influecircn-
cia das constituiccedilotildees sobre todo o ordenamento levando agrave adoccedilatildeo de novas leituras de normas
e institutos nos mais variados ramos do Direito26
Como boa parcela das normas mais relevantes destas constituiccedilotildees caracteriza-se pela abertura
e indeterminaccedilatildeo semacircnticas - satildeo em grande parte princiacutepios e natildeo regras - a sua aplicaccedilatildeo
direta pelo Poder Judiciaacuterio importou na adoccedilatildeo de novas teacutecnicas e estilos hermenecircuticos ao
lado da tradicional subsunccedilatildeo27 A necessidade de resolver tensotildees entre princiacutepios constitucio-
nais colidentes - frequumlente em constituiccedilotildees compromissoacuterias marcadas pela riqueza e pelo
5
pluralismo axioloacutegico - deu espaccedilo ao desenvolvimento da teacutecnica da ponderaccedilatildeo28 e tornou
frequumlente o recurso ao princiacutepio da proporcionalidade na esfera judicial29 E a busca de legiti-
midade para estas decisotildees no marco de sociedades plurais e complexas impulsionou o desen-
volvimento de diversas teorias da argumentaccedilatildeo juriacutedica30 que incorporaram ao Direito ele-
mentos que o positivismo claacutessico costumava desprezar como consideraccedilotildees de natureza mo-
ral ou relacionadas ao campo empiacuterico subjacente agraves normas
Neste contexto cresceu muito a importacircncia poliacutetica do Poder Judiciaacuterio Com frequumlecircncia cada
vez maior questotildees polecircmicas e relevantes para a sociedade passaram a ser decididas por ma-
gistrados e sobretudo por cortes constitucionais muitas vezes em razatildeo de accedilotildees propostas
pelo grupo poliacutetico ou social que fora perdedor na arena legislativa31 De poder quase nulo
mera boca que pronuncia as palavras da lei como lhe chamara Montesquieu o Poder Judiciaacute-
rio se viu alccedilado a uma posiccedilatildeo muito mais importante no desenho institucional do Estado con-
temporacircneo
A principal mateacuteria-prima dos estudos que se identificam com o neoconstitucionalismo relacio-
na-se agraves mutaccedilotildees da cultura juriacutedica acima descritas Em que pese a heterogeneidade dos po-
sicionamentos jusfilosoacuteficos dos autores que se filiam a esta linha natildeo me parece uma simplifi-
caccedilatildeo exagerada dizer que os seus principais pontos de convergecircncia satildeo o reconhecimento
destas mudanccedilas e a sua defesa32
As teorias neoconstitucionalistas buscam construir novas grades teoacutericas que se compatibilizem
com os fenocircmenos acima referidos em substituiccedilatildeo agravequelas do positivismo tradicional consi-
deradas incompatiacuteveis com a nova realidade Assim por exemplo ao inveacutes da insistecircncia na
subsunccedilatildeo e no silogismo do positivismo formalista ou no mero reconhecimento da discriciona-
riedade poliacutetica do inteacuterprete nos casos difiacuteceis na linha do positivismo mais moderno de Kel-
sen e Hart o neoconstitucionalismo se dedica agrave discussatildeo de meacutetodos ou de teorias da argu-
mentaccedilatildeo que permitam a procura racional e intersubjetivamente controlaacutevel da melhor res-
posta para os casos difiacuteceis do Direito33 Haacute portanto uma valorizaccedilatildeo da razatildeo praacutetica no
acircmbito juriacutedico Para o neoconstitucionalismo natildeo eacute racional apenas aquilo que possa ser
comprovado de forma experimental ou deduzido more geometrico de premissas gerais como
postulavam algumas correntes do positivismo Tambeacutem pode ser racional a argumentaccedilatildeo em-
pregada na resoluccedilatildeo das questotildees praacuteticas que o Direito tem de equacionar34 A ideacuteia de ra-
cionalidade juriacutedica aproxima-se da ideacuteia do razoaacutevel e deixa de se identificar agrave loacutegica formal
das ciecircncias exatas
6
No neoconstitucionalismo a leitura claacutessica do princiacutepio da separaccedilatildeo de poderes que impu-
nha limites riacutegidos agrave atuaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio cede espaccedilo a outras visotildees mais favoraacuteveis
ao ativismo judicial em defesa dos valores constitucionais35 No lugar de concepccedilotildees estrita-
mente majoritaacuterias do princiacutepio democraacutetico satildeo endossadas teorias de democracia mais subs-
tantivas36 que legitimam amplas restriccedilotildees aos poderes do legislador em nome dos direitos
fundamentais e da proteccedilatildeo das minorias e possibilitem a sua fiscalizaccedilatildeo por juiacutezes natildeo elei-
tos E ao inveacutes de uma teoria das fontes do Direito focada no coacutedigo e na lei formal enfatiza-se
a centralidade da Constituiccedilatildeo no ordenamento a ubiquumlidade da sua influecircncia na ordem juriacute-
dica e o papel criativo da jurisprudecircncia
Ao reconhecer a forccedila normativa de princiacutepios revestidos de elevada carga axioloacutegica como
dignidade da pessoa humana igualdade Estado Democraacutetico de Direito e solidariedade social
o neoconstitucionalismo abre as portas do Direito para o debate moral37 Eacute certo que aqui resi-
de uma das maiores divergecircncias internas nas fileiras do neoconstitucionalismo
De um lado figuram os positivistas como Luigi Ferrajoli38 Luiz Prietro Sanchiacutes39 Ricardo
Guastini 40e Suzana Pozzolo41 que natildeo aceitam a existecircncia de uma conexatildeo necessaacuteria entre
Direito e Moral mas reconhecem que pode haver uma ligaccedilatildeo contingente entre estas esferas
sempre que as autoridades competentes dentre as quais se inclui o poder constituinte originaacute-
rio positivem valores morais conferindo-lhes forccedila juriacutedica Do outro alinham-se os natildeo-
positivistas como Ronald Dworkin42 Robert Alexy43 Carlos Santiago Nino44 e seus seguidores
que afirmam que Moral e Direito tecircm uma conexatildeo necessaacuteria e aderem agrave famosa tese de Gus-
tav Radbruch de que normas terrivelmente injustas natildeo tecircm validade juriacutedica independente-
mente do que digam as fontes autorizadas do ordenamento45 Dentre estes autores haacute quem
insista na ideacuteia de que o Direito possui uma pretensatildeo de correccedilatildeo pois de alguma maneira eacute
da sua essecircncia aspirar agrave realizaccedilatildeo da justiccedila46 Contudo na medida em que as constituiccedilotildees
contemporacircneas entronizam com prodigalidade os valores morais este debate teoacuterico perde
bastante em importacircncia pois mesmo os neoconstitucionalistas que se afirmam positivistas
reconhecem a penetraccedilatildeo da Moral no tecido juriacutedico sobretudo pela via dos princiacutepios consti-
tucionais47 Trata-se do chamado positivismo inclusivo48
Neste quadro embora me pareccedila exagerado falar em superaccedilatildeo da eterna querela entre jusna-
turalistas e positivistas pela via do neoconstitucionalismo natildeo haacute duacutevida de que a relevacircncia
praacutetica da desavenccedila eacute consideravelmente diminuiacuteda Eacute verdade que para os positivistas inclu-
sivos o fundamento das normas revestidas de conteuacutedo moral seraacute sempre um ato de autorida-
7
de validado por uma regra de reconhecimento aceita pela praacutetica da comunidade poliacutetica No
final das contas eles natildeo se afastam do brocardo hobbesiano de que autoritas non veritas facit
legem Jaacute para os natildeo-positivistas a vigecircncia dos princiacutepios morais natildeo decorreraacute de um teste
de pedigree mas de exigecircncias da proacutepria Moral acessiacuteveis agrave razatildeo humana Poreacutem para am-
bas as linhas os valores morais incluiacutedos nas constituiccedilotildees satildeo juriacutedicos e devem produzir efei-
tos no mundo concreto
No paradigma neoconstitucionalista a argumentaccedilatildeo juriacutedica apesar de natildeo se fundir com a
Moral abre um significativo espaccedilo para ela Por isso se atenua a distinccedilatildeo da teoria juriacutedica
claacutessica entre a descriccedilatildeo do Direito como ele eacute e prescriccedilatildeo sobre como ele deveria ser49 Os
juiacutezos descritivo e prescritivo de alguma maneira se sobrepotildeem pela influecircncia dos princiacutepios
e valores constitucionais impregnados de forte conteuacutedo moral que conferem poder ao inteacuter-
prete para buscar em cada caso difiacutecil a soluccedilatildeo mais justa no proacuteprio marco da ordem juriacute-
dica Em outras palavras as fronteiras entre Direito e Moral natildeo satildeo abolidas e a diferenciaccedilatildeo
entre eles essencial nas sociedades complexas permanece em vigor mas as fronteiras entre
os dois domiacutenios tornam-se muito mais porosas na medida em que o proacuteprio ordenamento in-
corpora no seu patamar mais elevado princiacutepios de justiccedila e a cultura juriacutedica comeccedila a le-
vaacute-los a seacuterio
Poreacutem natildeo haacute uma posiccedilatildeo clara nas fileiras neoconstitucionalistas sobre a forma como devem
ser compreendidos e aplicados os valores morais incorporados pela ordem constitucional que
pela sua vagueza e indeterminaccedilatildeo abrem-se a leituras muito diversificadas No contexto das
sociedades plurais e desencantadas que existem no mundo contemporacircneo este debate tor-
na-se crucial uma vez que natildeo haacute mais consensos axioloacutegicos em torno das questotildees difiacuteceis
que o Direito eacute chamado a resolver Este pluralismo mundivisivo torna inviaacutevel pela falta de
legitimidade o uso da argumentaccedilatildeo de cunho jusnaturalista que apele agrave religiatildeo agrave natureza
ou agrave metafiacutesica para equacionar as mais complexas controveacutersias juriacutedicas50
Neste cenaacuterio haacute espaccedilo tanto para visotildees comunitaristas51 que buscam na moralidade positi-
va e nas preacute-compreensotildees socialmente vigentes o norte para a hermenecircutica constitucional
endossando na seara interpretativa os valores e cosmovisotildees hegemocircnicos na sociedade como
para teorias mais proacuteximas ao construtivismo eacutetico52 que se orientam para uma moralidade
criacutetica cujo conteuacutedo seja definido atraveacutes de um debate racional de ideacuteias fundado em cer-
tos pressupostos normativos como os de igualdade e liberdade de todos os seus participantes
8
Natildeo haacute como identificar o neoconstitucionalismo com nenhuma destas posiccedilotildees que marcam o
importante debate entre comunitarismo e liberalismo na filosofia poliacutetica contemporacircnea
Outro traccedilo caracteriacutestico do neoconstitucionalismo eacute o seu foco no Poder Judiciaacuterio O grande
protagonista das teorias neoconstitucionalistas eacute o juiz O Direito eacute analisado sobretudo a partir
de uma perspectiva interna daquele que participa dos processos que envolvem a sua interpre-
taccedilatildeo e aplicaccedilatildeo relegando-se a um segundo plano a perspectiva externa do observador Esta
obsessatildeo pelo Poder Judiciaacuterio leva a uma certa desconsideraccedilatildeo do papel desempenhado por
outras instituiccedilotildees como o Poder Legislativo na interpretaccedilatildeo constitucional53 O juiz eacute con-
cebido como o guardiatildeo das promessas54 civilizatoacuterias dos textos constitucionais o que expotildee o
neoconstitucionalismo a vaacuterias criacuteticas - que seratildeo analisadas mais agrave frente - como de que se-
ria elitista e refrataacuterio ao autogoverno popular
Por outro lado o neoconstitucionalismo alenta um ideaacuterio humanista que aposta na possibili-
dade de emancipaccedilatildeo humana pela via juriacutedica atraveacutes de um uso engajado da moderna dog-
maacutetica constitucional55 Neste sentido ele se afasta de algumas linhas teoacutericas da esquerda
como o marxismo56a Critical Legal Studies norte-americana57 e o movimento do Direito Alter-
nativo no Brasil58 que denunciavam o Direito como um instrumento de opressatildeo e dominaccedilatildeo a
serviccedilo dos interesses das classes favorecidas mesmo quando apresentado sob o manto de uma
retoacuterica legitimadora de legalidade e de direitos individuais universais
Trata-se portanto de uma teoria otimista - ou naive diriam os seus criacuteticos - que tambeacutem
natildeo se compadece com o desencanto poacutes-moderno59 profundamente descrente em relaccedilatildeo agrave
razatildeo Enquanto os poacutes-modernos criticam as metanarrativas60 e buscam descontruir as ela-
boraccedilotildees abstratas sobre as quais se fundou o Direito moderno - direitos humanos liberdade
igualdade etc - os neoconstitucionalistas insistem no aprofundamento do projeto poliacutetico da
Modernidade de emancipaccedilatildeo pelo uso da razatildeo atraveacutes dos instrumentos do Direito Constitu-
cional sobretudo os direitos fundamentais
Vejamos agora como estas ideacuteias foram recebidas no Brasil
3 A recepccedilatildeo do neoconstitucionalismo no Brasil
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O processo histoacuterico que se desenrolou na Europa Ocidental a partir do final da Segunda Guer-
ra no Brasil soacute teve iniacutecio apoacutes a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 88 Eacute verdade que jaacute tiacutenha-
mos controle de constitucionalidade desde a proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Poreacutem na cultura ju-
riacutedica brasileira de ateacute entatildeo as constituiccedilotildees natildeo eram vistas como autecircnticas normas juriacutedi-
cas natildeo passando muitas vezes de meras fachadas Exemplos disso natildeo faltam a Constituiccedilatildeo
de 1824 falava em igualdade e a principal instituiccedilatildeo do paiacutes era a escravidatildeo negra a de 1891
instituiacutera o sufraacutegio universal mas todas as eleiccedilotildees eram fraudadas a de 1937 disciplinava o
processo legislativo mas enquanto ela vigorou o Congresso esteve fechado e o Presidente legis-
lava por decretos a de 1969 garantia os direitos agrave liberdade agrave integridade fiacutesica e agrave vida mas
as prisotildees ilegais o desaparecimento forccedilado de pessoas e a tortura campeavam nos porotildees do
regime militar Nesta uacuteltima quadra histoacuterica conviveu-se ainda com o constrangedor paradoxo
da existecircncia de duas ordens juriacutedicas paralelas a das constituiccedilotildees e a dos atos institucionais
que natildeo buscavam nas primeiras o seu fundamento de validade mas num suposto poder revolu-
cionaacuterio em que estariam investidas as Forccedilas Armadas
Ateacute 1988 a lei valia muito mais do que a Constituiccedilatildeo no traacutefico juriacutedico e no Direito Puacuteblico
o decreto e a portaria ainda valiam mais do que a lei O Poder Judiciaacuterio natildeo desempenhava
um papel poliacutetico tatildeo importante e natildeo tinha o mesmo niacutevel de independecircncia de que passou a
gozar posteriormente As constituiccedilotildees eram proacutedigas na consagraccedilatildeo de direitos mas estes
dependiam quase exclusivamente da boa vontade dos governantes de plantatildeo para saiacuterem do
papel - o que normalmente natildeo ocorria Em contextos de crise as foacutermulas constitucionais natildeo
eram seguidas e os quarteacuteis arbitravam boa parte dos conflitos poliacuteticos ou institucionais que
eclodiam no paiacutes
A Assembleacuteia Constituinte de 19871988 que coroou o processo de redemocratizaccedilatildeo do paiacutes
quis romper com este estado de coisas e promulgou uma Constituiccedilatildeo contendo um amplo e
generoso elenco de direitos fundamentais de diversas dimensotildees - direitos individuais poliacuteti-
cos sociais e difusos - aos quais conferiu aplicabilidade imediata (art 5ordm Paraacutegrafo 1ordm) e pro-
tegeu diante do proacuteprio poder de reforma (art 60 Paraacutegrafo 4ordm IV) Aleacutem disso reforccedilou o
papel do Judiciaacuterio consagrando a inafastabilidade da tutela judicial (art 5ordm XXXV) criando
diversos novos remeacutedios constitucionais fortalecendo a independecircncia da instituiccedilatildeo bem co-
mo do Ministeacuterio Puacuteblico e ampliando e robustecendo os mecanismos de controle de constitu-
cionalidade Neste uacuteltimo toacutepico ela democratizou o acesso ao controle abstrato de constitu-
cionalidade ao adotar um vasto elenco de legitimados ativos para a propositura de accedilatildeo direta
de inconstitucionalidade (art 103) e ampliou o escopo da jurisdiccedilatildeo constitucional ao instituir
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no Brasil o controle da inconstitucionalidade por omissatildeo tanto atraveacutes de accedilatildeo direta como do
mandado de injunccedilatildeo
Esta sistemaacutetica de jurisdiccedilatildeo constitucional adotada pelo constituinte favoreceu em larga
medida o processo de judicializaccedilatildeo da poliacutetica na medida em que conferiu a qualquer parti-
do poliacutetico com representaccedilatildeo no Congresso agraves representaccedilotildees nacionais da sociedade civil
organizada e agraves principais instituiccedilotildees dos Estados-membros dentre outras entidades o poder
de provocar o STF61 Assim eacute praticamente impossiacutevel que alguma questatildeo relevante seja re-
solvida no acircmbito parlamentar sem que os perdedores no processo poliacutetico recorram agrave nossa
Corte Suprema para que decirc a palavra final agrave controveacutersia com base na sua interpretaccedilatildeo da
Constituiccedilatildeo E tal modelo vem se aprofundando desde 88 com a criaccedilatildeo da Accedilatildeo Declaratoacuteria
de Constitucionalidade e a regulamentaccedilatildeo da Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fun-
damental
Aleacutem disso a Constituiccedilatildeo de 88 regulou uma grande quantidade de assuntos - muitos deles de
duvidosa dignidade constitucional - subtraindo um vasto nuacutemero de questotildees do alcance do
legislador Ademais ela hospedou em seu texto inuacutemeros princiacutepios vagos mas dotados de for-
te carga axioloacutegica e poder de irradiaccedilatildeo Estas caracteriacutesticas favoreceram o processo de
constitucionalizaccedilatildeo do Direito que envolve natildeo soacute a inclusatildeo no texto constitucional de temas
outrora ignorados ou regulados em sede ordinaacuteria como tambeacutem a releitura de toda a ordem
juriacutedica a partir de uma oacutetica pautada pelos valores constitucionais - a chamada filtragem
constitucional do Direito62
Deve-se tambeacutem destacar o papel importante da doutrina brasileira na mudanccedila de paradigma
do Direito Constitucional brasileiro Na minha opiniatildeo haacute dois momentos distintos nesta evolu-
ccedilatildeo o constitucionalismo brasileiro da efetividade 63e o poacutes-positivismo constitucional
O primeiro momento vem logo apoacutes a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 88 Alguns autores como
Luis Roberto Barroso64 e Clegravemerson Merlin Clegraveve65 passam a advogar a tese de que a Constitui-
ccedilatildeo sendo norma juriacutedica deveria ser rotineiramente aplicada pelos juiacutezes o que ateacute entatildeo
natildeo ocorria O que hoje parece uma obviedade era quase revolucionaacuterio numa eacutepoca em que a
nossa cultura juriacutedica hegemocircnica natildeo tratava a Constituiccedilatildeo como norma mas como pouco
mais do que um repositoacuterio de promessas grandiloquumlentes cuja efetivaccedilatildeo dependeria quase
sempre da boa vontade do legislador e dos governantes de plantatildeo66 Para o constitucionalismo
da efetividade a incidecircncia direta da Constituiccedilatildeo sobre a realidade social independentemen-
te de qualquer mediaccedilatildeo legislativa contribuiria para tirar do papel as proclamaccedilotildees generosas
de direitos contidas na Carta de 88 promovendo justiccedila igualdade e liberdade Se ateacute entatildeo
o discurso da esquerda era de desconstruccedilatildeo da dogmaacutetica juriacutedica a doutrina da efetividade
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vai defender a possibilidade de um uso emancipatoacuterio da dogmaacutetica tendo como eixo a con-
cretizaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo67
Na verdade tratava-se de uma modalidade de positivismo de combate68 A doutrina constitu-
cional da efetividade natildeo se caracterizava pela abertura do debate juriacutedico agrave argumentaccedilatildeo
moral O seu foco principal centrava-se nas normas e era do caraacuteter mais ou menos denso do
seu texto que o inteacuterprete deveria extrair os respectivos efeitos Por outro lado concebia-se a
jurisdiccedilatildeo como o espaccedilo privilegiado para a realizaccedilatildeo da vontade constitucional Um dos mo-
tes do movimento era afastar o estudo do Direito Constitucional da Teoria do Estado para apro-
ximaacute-lo do Direito Processual Por isso pode-se afirmar que o protagonista desta teoria consti-
tucional era o juiz
Em que pese a falta de efetividade de diversas normas da Constituiccedilatildeo e da eficaacutecia social
seletiva de outras tantas - que protegem muito bem o incluiacutedo mas continuam deixando de
fora os paacuterias de sempre (veja-se a diferenccedila da incidecircncia da inviolabilidade do domiciacutelio nas
residecircncias burguesas e nas favelas) - pode-se dizer que a doutrina constitucional da efetivida-
de teve ecircxito no Brasil no sentido de instalar no senso-comum dos operadores do Direito a i-
deacuteia de que a Constituiccedilatildeo eacute norma que pode e deve ser aplicada independentemente de re-
gulamentaccedilatildeo dos seus dispositivos pelo legislador ordinaacuterio Tal doutrina ainda natildeo correspon-
de ao neoconstitucionalismo mas a conquista que dela resultou para a dogmaacutetica constitucio-
nal brasileira foi um pressuposto para o surgimento deste outro movimento no nosso cenaacuterio
O segundo momento importante eacute o da chegada ao Brasil das teorias juriacutedicas ditas poacutes-
positivistas Foram marcos relevantes a publicaccedilatildeo da 5ordf ediccedilatildeo do Curso de Direito Constitu-
cional de Paulo Bonavides 69bem como do livro A Ordem Econocircmica na Constituiccedilatildeo de 1988
de Eros Roberto Grau70 que divulgaram entre noacutes a teoria dos princiacutepios de autores como Ro-
nald Dworkin e Robert Alexy e fomentaram as discussotildees sobre temas importantes como a
ponderaccedilatildeo de interesses o princiacutepio da proporcionalidade e eficaacutecia dos direitos fundamen-
tais Tambeacutem deve ser salientada a ampla penetraccedilatildeo no acircmbito de algumas poacutes-graduaccedilotildees
em Direito a partir de meados dos anos 90 do pensamento de filoacutesofos que se voltaram para o
estudo da relaccedilatildeo entre Direito Moral e Poliacutetica a partir de uma perspectiva poacutes-metafiacutesica
como John Rawls e Juumlrgen Habermas71 E ainda merece destaque o aprofundamento no paiacutes dos
estudos de hermenecircutica juriacutedica a partir de uma nova matriz teoacuterica inspirada pelo giro lin-
guumliacutestico na Filosofia que denunciou os equiacutevocos do modelo positivista de interpretaccedilatildeo ateacute
entatildeo dominante assentado na separaccedilatildeo cartesiana entre sujeito (o inteacuterprete) e objeto (o
texto da norma)72
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Nesta nova fase a doutrina brasileira passa a enfatizar o caraacuteter normativo e a importacircncia dos
princiacutepios constitucionais e a estudar as peculiaridades da sua aplicaccedilatildeo Neste contexto haacute
uma verdadeira febre de trabalhos sobre teoria dos princiacutepios ponderaccedilatildeo de interesses teori-
as da argumentaccedilatildeo proporcionalidade e razoabilidade etc Tambeacutem cresce muito o interesse
doutrinaacuterio pelos direitos fundamentais sobretudo os direitos sociais Se antes estes eram vis-
tos preponderantemente como normas programaacuteticas passa-se a discutir a sua eficaacutecia juriacutedica
a partir de novas bases que incorporam ao debate a argumentaccedilatildeo moral Neste campo a ecircn-
fase na anaacutelise dos enunciados normativos que caracterizava a doutrina da efetividade eacute
substituiacuteda por uma discussatildeo marcada pela preocupaccedilatildeo com valores e democracia repleta de
novas categorias importadas sobretudo do Direito germacircnico como o miacutenimo existencial a
reserva do possiacutevel e a proibiccedilatildeo do retrocesso73
E esta nova racionalidade se espraia para diversos ramos do Direito No Direito Civil74 Penal75
Administrativo 76por exemplo cada vez mais a doutrina emprega normas e valores constitu-
cionais para reler os institutos tradicionais colorindo-os com novas tintas E trata-se natildeo ape-
nas de aplicar diretamente as normas constitucionais especificamente voltadas para cada uma
destas aacutereas como tambeacutem de projetar sobre estes campos a influecircncia dos direitos funda-
mentais e dos princiacutepios mais gerais do nosso constitucionalismo muitas vezes superando anti-
gos dogmas e definindo novos paradigmas
Neste segundo momento ocorre ainda uma significativa mudanccedila no enfoque dos estudos sobre
jurisdiccedilatildeo constitucional no Brasil Antes os trabalhos nacionais sobre o tema se limitavam
basicamente a discutir questotildees processuais mas a partir do final dos anos 90 diversos estu-
dos incorporam outras perspectivas agrave anaacutelise da questatildeo dedicando atenccedilatildeo agrave complexa pro-
blemaacutetica da legitimidade democraacutetica do controle de constitucionalidade77 tendo em vista a
chamada dificuldade contra-majoritaacuteria do Judiciaacuterio78 Num contexto como o nosso em que
a jurisdiccedilatildeo constitucional estaacute prevista pelo proacuteprio texto magno o debate relevante do ponto
de vista praacutetico natildeo eacute o de tecirc-la ou natildeo mas sim a forma como deve ser exercida Dependendo
do posicionamento adotado pode-se preconizar um maior ou menor grau de ativismo judicial
ou defender o ativismo em algumas aacutereas mas recusaacute-lo em outras Nesta nova agenda de dis-
cussotildees sobre a jurisdiccedilatildeo constitucional a argumentaccedilatildeo juriacutedica se entrelaccedila inevitavelmen-
te com o debate de Filosofia Poliacutetica abrindo espaccedilo para posiccedilotildees variadas como os vaacuterios
matizes de procedimentalismo e de substancialismo que vecircm florescendo na doutrina brasilei-
ra79 Dentre estas posiccedilotildees natildeo haacute duacutevida de que a mais identificada ao neoconstitucionalismo
eacute a substancialista que compartilha com ele a crenccedila numa ampla legitimidade do ativismo
judicial em favor dos valores constitucionais
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Apesar destas mudanccedilas importantes que podem ser associadas ao neoconstitucionalismo o uso
da expressatildeo no Brasil eacute mais recente seguindo-se agrave ampla difusatildeo que recebeu na academia
brasileira a jaacute citada obra Neoconstitucionalismo(s) organizada por Miguel Carbonell e publi-
cada em 2003 De laacute para caacute muito se tem escrito sobre o toacutepico e vaacuterios autores nacionais
aderiram explicitamente agrave corrente como Luis Roberto Barroso80 Lecircnio Luiz Streck 81Antonio
Cavalcanti Maia82 Ana Paula de Barcellos83 Diogo de Figueiredo Moreira Neto84 Paulo Ricardo
Schier85 Eduardo Moreira86 Eacutecio Otto Ramos Duarte87 e Thomas Rosa de Bustamante88 Outros
adotaram postura criacutetica sobre a nova perspectiva como Joseacute Ribas Vieira Dimitri Dimoulis89 e
Humberto Aacutevila90 E pode-se notar pela leitura dos trabalhos destes e de outros autores brasi-
leiros que haacute um relativo consenso na definiccedilatildeo das caracteriacutesticas centrais do novo paradig-
ma valorizaccedilatildeo dos princiacutepios adoccedilatildeo de meacutetodos ou estilos mais abertos e flexiacuteveis na her-
menecircutica juriacutedica com destaque para a ponderaccedilatildeo abertura da argumentaccedilatildeo juriacutedica agrave
Moral mas sem recair nas categorias metafiacutesicas do jusnaturalismo reconhecimento e defesa
da constitucionalizaccedilatildeo do Direito e do papel de destaque do Judiciaacuterio na agenda de imple-
mentaccedilatildeo dos valores da Constituiccedilatildeo
Estas novas ideacuteias jaacute reverberam fortemente na jurisprudecircncia nacional sobretudo do Supremo
Tribunal Federal que nos uacuteltimos tempos tem cada vez mais invocado princiacutepios abertos nos
seus julgamentos recorrido agrave ponderaccedilatildeo de interesses e ao princiacutepio da proporcionalidade
com frequumlecircncia e ateacute se valido de referecircncias filosoacuteficas na fundamentaccedilatildeo de decisotildees Aliaacutes
eacute digna de nota a influecircncia da doutrina constitucional na atuaccedilatildeo do Supremo Tribunal Fede-
ral O fenocircmeno eacute relativamente recente uma vez que logo apoacutes a promulgaccedilatildeo da Constitui-
ccedilatildeo de 88 havia um profundo hiato entre o campo doutrinaacuterio que cobrava a efetivaccedilatildeo da
Constituiccedilatildeo pela via judicial e a jurisprudecircncia do STF tiacutemida e reticente diante dos valores
e das inovaccedilotildees da nova Carta - vg orientaccedilatildeo entatildeo adotada pela Corte em relaccedilatildeo ao man-
dado de injunccedilatildeo e ao controle judicial das medidas provisoacuterias Aquele quadro podia em parte
ser debitado agrave duvidosa opccedilatildeo do constituinte originaacuterio de manter no STF os ministros nomea-
dos durante o governo militar que natildeo tinham sintonia poliacutetico-ideoloacutegica nem boa vontade
diante do novo sistema constitucional e que por isso se apegavam a visotildees e interpretaccedilotildees
assentadas durante o regime preteacuterito muitas delas francamente incompatiacuteveis com a nova
ordem Mas hoje apoacutes a completa renovaccedilatildeo do STF constata-se um quadro radicalmente di-
ferente a maioria dos ministros do STF eacute composta por professores de Direito Constitucional
de grande reputaccedilatildeo acadecircmica que ateacute pela origem tecircm mais contato com a produccedilatildeo inte-
lectual de ponta na aacuterea e satildeo mais suscetiacuteveis agrave influecircncia das novas correntes de pensamen-
to
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Como ressaltado esta mudanccedila de paradigma se reflete vivamente na jurisprudecircncia do STF
Satildeo exemplos eloquumlentes a alteraccedilatildeo da posiccedilatildeo da Corte em relaccedilatildeo aos direitos sociais antes
tratados como normas programaacuteticas e hoje submetidos a uma intensa proteccedilatildeo judicial 91o
reconhecimento da eficaacutecia horizontal dos direitos fundamentais92 a mutaccedilatildeo do entendimen-
to do Tribunal em relaccedilatildeo agraves potencialidades do mandado de injunccedilatildeo 93e a progressiva supe-
raccedilatildeo da visatildeo claacutessica kelseniana da jurisdiccedilatildeo constitucional que a equiparava ao legislador
negativo com a admissatildeo de teacutecnicas decisoacuterias mais heterodoxas94 como as declaraccedilotildees de
inconstitucionalidade sem pronuacutencia de nulidade e as sentenccedilas aditivas E para completar o
quadro deve-se acrescentar as mudanccedilas acarretadas por algumas inovaccedilotildees processuais re-
centes na nossa jurisdiccedilatildeo constitucional que permitiram a participaccedilatildeo dos amici curiae bem
como a realizaccedilatildeo de audiecircncias puacuteblicas no acircmbito do processo constitucional ampliando a
possibilidade de atuaccedilatildeo da sociedade civil organizada no STF95
Naturalmente a nova postura de ativismo judicial do STF estimula as forccedilas sociais a procuraacute-
lo com mais frequumlecircncia e contribui para uma significativa alteraccedilatildeo na agenda da Corte Atu-
almente ao lado das questotildees mais tradicionais de Direito Puacuteblico o STF tem se defrontado
com novos temas fortemente impregnados de conteuacutedo moral como as discussotildees sobre a vali-
dade de pesquisa em ceacutelulas-tronco embrionaacuterias96 aborto de feto anenceacutefalo97 e uniatildeo entre
pessoas do mesmo sexo98 Ademais o Tribunal passou a intervir de forma muito mais ativa no
processo poliacutetico adotando decisotildees que se refletem de forma direta e profunda sobre a atua-
ccedilatildeo dos demais poderes do Estado Para citar apenas alguns casos pode-se falar da decisatildeo que
assentou que a mudanccedila de partido implica salvo determinadas exceccedilotildees perda de mandato
parlamentar99 da que estabeleceu criteacuterios riacutegidos para a fixaccedilatildeo do nuacutemero de vereadores de
acordo com a respectiva populaccedilatildeo100 e da intensificaccedilatildeo do controle jurisdicional dos atos das
CPIs bem como dos pressupostos de ediccedilatildeo das medidas provisoacuterias
Poreacutem haacute um componente curioso na recepccedilatildeo deste novo paradigma juriacutedico pelo Judiciaacuterio
brasileiro Embora ainda natildeo existam estudos empiacutericos a este respeito tenho a forte intuiccedilatildeo
de que a penetraccedilatildeo destas novas ideacuteias associadas ao neoconstitucionalismo eacute forte na cuacutepula
e na base da hierarquia judicial mas ainda tiacutemida nos seus escalotildees intermediaacuterios E as causas
natildeo satildeo de difiacutecil compreensatildeo Em relaccedilatildeo agrave cuacutepula - os ministros do STF - as razotildees jaacute foram
explicadas acima Jaacute no que tange agrave base do Judiciaacuterio boa parte dos juiacutezes de 1ordm grau teve a
sua formaccedilatildeo num ambiente acadecircmico que jaacute valorizava o Direito Constitucional e reconhecia
a forccedila normativa dos direitos fundamentais e dos princiacutepios constitucionais Assim eles ten-
dem a levar para a sua praacutetica profissional esta visatildeo do Direito Poreacutem sobretudo na 2ordf ins-
tacircncia composta majoritariamente por magistrados que se formaram e foram socializados no
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seu meio institucional sob a eacutegide do paradigma juriacutedico anterior muito mais voltado para os
coacutedigos e para a letra da lei do que para a Constituiccedilatildeo e seus princiacutepios haacute maior resistecircncia agrave
incorporaccedilatildeo dos novos vetores constitucionais Contudo este fenocircmeno tende a diminuir com
o tempo seja pela consolidaccedilatildeo do paradigma constitucional emergente seja pela promoccedilatildeo
de magistrados mais antenados com o novo constitucionalismo seja ateacute pela influecircncia do pen-
samento e das orientaccedilotildees da cuacutepula do Judiciaacuterio sobre todas as suas instacircncias
No cenaacuterio brasileiro o neoconstitucionalismo eacute tambeacutem impulsionado por outro fenocircmeno a
descrenccedila geral da populaccedilatildeo em relaccedilatildeo agrave poliacutetica majoritaacuteria e em especial o descreacutedito
no Poder Legislativo e nos partidos poliacuteticos101 A percepccedilatildeo geral alimentada por sucessivos
escacircndalos e pelo discurso de alguns meios de comunicaccedilatildeo social de que a poliacutetica parlamen-
tar e partidaacuteria satildeo esferas essencialmente corrompidas que se movem exclusivamente em
torno de interesses e natildeo de valores gera em alguns setores a expectativa de que a soluccedilatildeo
para os problemas nacionais possa vir do Judiciaacuterio102 E este sentimento eacute fortalecido quando
a Justiccedila adota decisotildees em consonacircncia com a opiniatildeo puacuteblica - como ocorreu no recebimento
da denuacutencia criminal no caso do mensalatildeo na definiccedilatildeo de perda do mandato por infidelidade
partidaacuteria e na proibiccedilatildeo do nepotismo na Administraccedilatildeo Puacuteblica
Por outro lado a ascensatildeo institucional do Judiciaacuterio e a riqueza e importacircncia praacutetica ou sim-
boacutelica dos temas que ele vem julgando tem provocado um grande aumento no interesse da so-
ciedade pelo Direito Constitucional e pela atuaccedilatildeo do Supremo Tribunal Federal Eacute difiacutecil um
dia em que os principais meios de comunicaccedilatildeo natildeo discutam alguma decisatildeo da Corte ou mani-
festaccedilatildeo de qualquer dos seus membros E este fenocircmeno eacute potencializado tanto pela extro-
versatildeo midiaacutetica de alguns ministros como tambeacutem pelo fato - sem precedentes em outros
paiacuteses - do televisionamento das sessotildees do STF Com tudo isso as questotildees constitucionais
que antes eram apenas discutidas dentro de um ciacuterculo muito restrito de iniciados hoje satildeo
amplamente debatidas no espaccedilo puacuteblico
Neste quadro em que pesem as muacuteltiplas resistecircncias que sofre eacute possiacutevel apontar a emergecircn-
cia de uma nova forma de conceber o Direito e o Estado na sociedade brasileira contemporacirc-
nea que se quisermos adotar a terminologia hoje em voga pode ser chamada de neoconstitu-
cionalismo
4 Trecircs objeccedilotildees ao neoconstitucionalismo
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Nas proacuteximas linhas abordarei de maneira breve trecircs criacuteticas que podem ser levantadas con-
tra o neoconstitucionalismo (a) a de que o seu pendor judicialista eacute anti-democraacutetico (b) a de
que a sua preferecircncia por princiacutepios e ponderaccedilatildeo em detrimento de regras e subsunccedilatildeo eacute
perigosa sobretudo no Brasil em razatildeo de singularidades da nossa cultura e (c) a de que ele
pode gerar uma panconstitucionalizaccedilatildeo do Direito em detrimento da autonomia puacuteblica do
cidadatildeo e da autonomia privada do indiviacuteduo Outras criacuteticas importantes existem103 mas por
limites de tempo e espaccedilo preferi priorizar aqui estas trecircs que satildeo as que geram maior apre-
ensatildeo no cenaacuterio brasileiro
a) Neoconstitucionalismo e judiciocracia
Como salientado acima o neoconstitucionalismo tem um foco muito centrado no Poder Judici-
aacuterio no qual deposita enormes expectativas no sentido de concretizaccedilatildeo dos ideais emancipa-
toacuterios presentes nas constituiccedilotildees contemporacircneas Contudo este vieacutes judicialista sofre con-
testaccedilotildees pelo seu suposto caraacuteter antidemocraacutetico na medida em que os juiacutezes diferente-
mente dos parlamentares e chefes do Executivo natildeo satildeo eleitos e natildeo respondem diretamente
perante o povo104
Esta criacutetica democraacutetica se assenta na ideacuteia de que numa democracia eacute essencial que as deci-
sotildees poliacuteticas mais importantes sejam tomadas pelo proacuteprio povo ou por seus representantes
eleitos e natildeo por saacutebios ou tecnocratas de toga Eacute verdade que a maior parte dos teoacutericos con-
temporacircneos da democracia reconhece que ela natildeo se esgota no respeito ao princiacutepio majoritaacute-
rio pressupondo antes o acatamento das regras do jogo democraacutetico que incluem a garantia
de direitos baacutesicos visando a viabilizar a participaccedilatildeo igualitaacuteria do cidadatildeo na esfera puacuteblica
bem como alguma proteccedilatildeo agraves minorias105 Poreacutem temos aqui uma questatildeo de dosagem pois
se a imposiccedilatildeo de alguns limites para a decisatildeo das maiorias pode ser justificada em nome da
democracia o exagero tende a revelar-se antidemocraacutetico por cercear em demasia a possibi-
lidade do povo de se autogovernar106
E a questatildeo natildeo eacute apenas de divisatildeo de poder ao longo do tempo A dificuldade democraacutetica
natildeo estaacute tatildeo-somente no fato de as constituiccedilotildees subtraiacuterem do legislador futuro a possibilida-
de de tomar algumas decisotildees107 O cerne do debate estaacute no reconhecimento de que diante da
vagueza e abertura de boa parte das normas constitucionais mais importantes quem as inter-
preta tambeacutem participa do seu processo de criaccedilatildeo108 Daiacute a criacutetica de que o vieacutes judicialista
subjacente ao neoconstitucionalismo acaba por conferir aos juiacutezes uma espeacutecie de poder cons-
tituinte permanente pois lhes permite moldar a Constituiccedilatildeo de acordo com as suas preferecircn-
cias poliacuteticas e valorativas em detrimento daquelas do legislador eleito Esta visatildeo levou inuacute-
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meras correntes de pensamento ao longo da histoacuteria a rejeitarem a jurisdiccedilatildeo constitucional
ou pelo menos o ativismo judicial no seu exerciacutecio dos revolucionaacuterios franceses do seacuteculo XVI-
II109 passando por Carl Schmitt110 na Repuacuteblica de Weimar ateacute os adeptos do constituciona-
lismo popular nos Estados Unidos de hoje111
No Brasil eacute muito comum traccedilar-se um paralelo entre a defesa do ativismo judicial e posiccedilotildees
sociais progressistas Talvez isso se deva ao fato de que na nossa histoacuteria o Judiciaacuterio brasilei-
ro tem pecado muito mais por omissatildeo acumpliciando-se diante dos desmandos dos poderes
poliacutetico e econocircmico do que por excesso de ativismo Neste quadro quem ousa questionar
possiacuteveis exageros na judicializaccedilatildeo da poliacutetica e da vida social no Brasil de hoje eacute logo tachado
de conservador Poreacutem o paralelismo em questatildeo natildeo existe Muitas vezes o Poder Judiciaacuterio
pode atuar bloqueando mudanccedilas importantes promovidas pelos outros poderes em favor dos
excluiacutedos defendendo o statu quo E esta defesa pode ocorrer inclusive atraveacutes do uso da retoacute-
rica dos direitos fundamentais
Isso se deu por exemplo nos Estados Unidos nas primeiras deacutecadas do seacuteculo passado em pe-
riacuteodo que ficou conhecido como Era de Lochner112 quando a Suprema Corte impediu sistemati-
camente a ediccedilatildeo de legislaccedilatildeo trabalhista e de outras medidas que implicavam em interferecircn-
cia na esfera econocircmica em proveito das classes desfavorecidas com base numa leitura subs-
tantiva da claacuteusula do devido processo legal No cenaacuterio contemporacircneo Ran Hirshl113 sustenta
que o processo de judicializaccedilatildeo da poliacutetica que vem ocorrendo nos uacuteltimos anos em diversos
paiacuteses do mundo - ele fez um atento ainda que controvertido estudo dos casos do Canadaacute
Israel Aacutefrica do Sul e Nova Zelacircndia - teria como pano de fundo uma tentativa das elites eco-
nocircmicas e culturais que perderam espaccedilo na poliacutetica majoritaacuteria de manterem o seu poder
reforccedilando no arranjo institucional do Estado o peso do Judiciaacuterio no qual elas ainda tecircm he-
gemonia E aqui no Brasil seraacute que a proteccedilatildeo absoluta que vem sendo conferida ao direito
adquirido - inclusive o de furar teto salarial do funcionalismo fixado por emenda agrave Constituiccedilatildeo
114 - e o ultra-garantismo penal nos crimes do colarinho branco natildeo seriam exemplos deste
mesmo fenocircmeno
Por outro lado uma ecircnfase excessiva no espaccedilo judicial pode levar ao esquecimento de outras
arenas importantes para a concretizaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo e realizaccedilatildeo de direitos gerando um
resfriamento da mobilizaccedilatildeo ciacutevica do cidadatildeo Eacute verdade que o ativismo judicial pode em
certos contextos atuar em sinergia com a mobilizaccedilatildeo social na esfera puacuteblica Isto ocorreu
por exemplo no movimento dos direitos civis nos Estados Unidos dos anos 50 e 60 que foi a-
quecido pelas respostas positivas obtidos na Suprema Corte no periacuteodo da Corte de Warren115
Mas nem sempre eacute assim A ecircnfase judicialista pode afastar do cenaacuterio de disputa por direitos
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as pessoas e movimentos que natildeo pertenccedilam nem tenham proximidade com as corporaccedilotildees
juriacutedicas
Ademais esta obsessatildeo com a interpretaccedilatildeo judicial da Constituiccedilatildeo tende a obscurecer o pa-
pel central de outras instacircncias na definiccedilatildeo do sentido da Constituiccedilatildeo - como o Legislativo o
Executivo e a proacutepria esfera puacuteblica informal Trata-se de um desvio que gera consequumlecircncias
negativas tanto no plano descritivo como na esfera normativa Sob o prisma descritivo trans-
mite-se uma imagem muito parcial do fenocircmeno constitucional que natildeo eacute captado com todas
as suas nuances e riquezas jaacute que o foco se concentra apenas sobre a accedilatildeo de um dentre os
vaacuterios agentes importantes que povoam a seara da hermenecircutica constitucional116 Sob o acircngu-
lo normativo favorece-se um governo agrave moda platocircnica de saacutebios de toga117 que satildeo convida-
dos a assumir uma posiccedilatildeo paternalista diante de uma sociedade infantilizada118 Justifica-se o
ativismo judicial a partir de uma visatildeo muito criacutetica do processo poliacutetico majoritaacuterio mas que
ignora as inuacutemeras mazelas que tambeacutem afligem o Poder Judiciaacuterio construindo-se teorias a
partir de visotildees romacircnticas e idealizadas do juiz119 Soacute que se eacute verdade que o processo poliacuteti-
co majoritaacuterio tem seus viacutecios - e eles satildeo muito graves no cenaacuterio brasileiro - tambeacutem eacute certo
que os juiacutezes natildeo satildeo semi-deuses e que a esfera em que atuam tampouco eacute imune agrave poliacutetica
com p menor
Esta idealizaccedilatildeo da figura do juiz natildeo se compadece com algumas notoacuterias deficiecircncias que o
Judiciaacuterio brasileiro enfrenta Dentre elas pode-se destacar a sobrecarga de trabalho que
compromete a capacidade dos magistrados de dedicarem a cada processo o tempo e a energia
necessaacuterias para que faccedilam tudo que o que demandam as principais teorias da argumentaccedilatildeo
defendidas pelo neoconstitucionalismo E cabe referir tambeacutem agraves lacunas na formaccedilatildeo do ma-
gistrado brasileiro decorrentes sobretudo das falhas de um ensino juriacutedico formalista e nada
interdisciplinar que ainda viceja no paiacutes que natildeo satildeo corrigidas nos procedimentos de seleccedilatildeo
e treinamento dos juiacutezes
Outra consequumlecircncia da obsessatildeo judicialista do constitucionalismo brasileiro contemporacircneo
estaacute refletida na nossa produccedilatildeo acadecircmica Enquanto somos inundados por livros e artigos
muitas vezes repetitivos sobre assuntos como princiacutepios e regras interpretaccedilatildeo constitucional
e tutela judicial de direitos fundamentais outros temas absolutamente essenciais para a vida
do paiacutes passam ao largo da preocupaccedilatildeo dos juristas Eacute o caso da reforma poliacutetica Em que pese
o caraacuteter essencialmente constitucional do assunto quase nenhum constitucionalista se inte-
ressou por ele 120e praticamente toda a literatura de qualidade produzida sobre o toacutepico tem
vindo da Ciecircncia Poliacutetica
19
Estou convencido de que o Poder Judiciaacuterio tem um papel essencial na concretizaccedilatildeo da Consti-
tuiccedilatildeo brasileira Em face do quadro de sistemaacutetica violaccedilatildeo de direitos de certos segmentos da
populaccedilatildeo do arranjo institucional desenhado pela Carta de 88 e da seacuteria crise de representa-
tividade do Poder Legislativo entendo que o ativismo judicial se justifica no Brasil pelo menos
em certas searas como a tutela de direitos fundamentais a proteccedilatildeo das minorias e a garantia
do funcionamento da proacutepria democracia O maior insulamento judicial diante da pressatildeo das
maiorias bem como um certo ethos profissional de valorizaccedilatildeo dos direitos humanos que co-
meccedila a se instalar na nossa magistratura 121 conferem ao Judiciaacuterio uma capacidade institu-
cional privilegiada para atuar nestas aacutereas122
Mas em outros campos pode ser mais recomendaacutevel uma postura de autocontenccedilatildeo judicial
seja por respeito agraves deliberaccedilotildees majoritaacuterias adotadas no espaccedilo poliacutetico123 seja pelo reco-
nhecimento da falta de expertise do Judiciaacuterio para tomar decisotildees que promovam eficiente-
mente os valores constitucionais em jogo em aacutereas que demandem profundos conhecimentos
teacutecnicos fora do Direito - como Economia poliacuteticas puacuteblicas e regulaccedilatildeo124 Nestes casos deve-
se reconhecer que outros oacutergatildeos do Estado estatildeo mais habilitados para assumirem uma posiccedilatildeo
de protagonismo na implementaccedilatildeo da vontade constitucional
Nesta linha vejo com reticecircncias a sedimentaccedilatildeo na nossa cultura juriacutedica da visatildeo de que o
grande - senatildeo o uacutenico - inteacuterprete da Constituiccedilatildeo seria o Poder Judiciaacuterio125 Esta leitura des-
carta a autocontenccedilatildeo judicial bem como tende a desprezar a possibilidade de que sejam tra-
vados construtivos diaacutelogos interinstitucionais entre diversos oacutergatildeos estatais para a definiccedilatildeo da
melhor interpretaccedilatildeo dos ditames constitucionais126 Um bom exemplo127 deste desvio ocorreu
no julgamento da constitucionalidade das pesquisas em ceacutelulas-tronco embrionaacuterias realizada
pelo STF em que pese o resultado final do julgamento ter sido substancialmente correto Na-
quela ocasiatildeo o importante argumento deduzido na tribuna e em memoriais por Luis Roberto
Barroso - que advogava para um dos amici curiae favoraacuteveis agraves pesquisas - de que o Judiciaacuterio
deveria adotar posiccedilatildeo cautelosa no julgamento da constitucionalidade da lei impugnada ten-
do em vista o amplo consenso em torno dela obtido durante o processo legislativo tanto no
Senado como na Cacircmara foi explicitamente rechaccedilado por alguns ministros que consideraram
o ponto irrelevante E outros ministros em votos vencidos se sentiram confortaacuteveis ateacute para
defender a imposiccedilatildeo de novas normas pelo STF na aacuterea do Biodireito arvorando-se agrave condiccedilatildeo
de legisladores num campo para o qual evidentemente lhes faltava qualquer expertise
Enfim o neoconstitucionalismo brasileiro tem pecado por excesso depositando no Judiciaacuterio
expectativas que ele nem sempre teraacute como atender de forma satisfatoacuteria Um dos efeitos co-
laterais deste fenocircmeno eacute a disseminaccedilatildeo de um discurso muito perigoso de que voto e poliacuteti-
20
ca natildeo satildeo tatildeo importantes pois relevante mesmo eacute a interpretaccedilatildeo dos princiacutepios constitucio-
nais realizada pelo STF Daiacute a dizer que o povo natildeo sabe votar eacute um pulo e a ditadura de toga
pode natildeo ser muito melhor do que a ditadura de farda
b) Neoconstitucionalismo oba-oba constitucional e Estado Democraacutetico de Direito
Seria uma profunda injusticcedila com a teoria neoconstitucionalista acusaacute-la de promover o decisi-
onismo ou de defender a tomada de decisotildees judiciais puramente emotivas sem lastro em ar-
gumentaccedilatildeo racional soacutelida Pelo contraacuterio como foi destacado acima um dos eixos centrais
do pensamento neoconstitucional eacute a reabilitaccedilatildeo da racionalidade praacutetica no acircmbito juriacutedico
com a articulaccedilatildeo de complexas teorias da argumentaccedilatildeo que demandam muito dos inteacuterpre-
tes e sobretudo dos juiacutezes em mateacuteria de fundamentaccedilatildeo das suas decisotildees Poreacutem a praacutetica
judiciaacuteria brasileira recepcionou apenas parcialmente as teorias juriacutedicas de corte poacutes-
positivista e aqui a valorizaccedilatildeo dos princiacutepios e da ponderaccedilatildeo natildeo tem sido muitas vezes
acompanhada do necessaacuterio cuidado com a justificaccedilatildeo das decisotildees
Se ateacute natildeo muito tempo atraacutes os princiacutepios natildeo eram tratados como autecircnticas normas por
aqui - soacute tinha bom direito quem podia invocar uma regra legal clara e precisa em favor da sua
pretensatildeo - com a chegada do poacutes-positivismo e do neoconstitucionalismo passou-se em pou-
cos anos da aacutegua para o vinho Hoje instalou-se um ambiente intelectual no Brasil que aplaude
e valoriza as decisotildees principioloacutegicas e natildeo aprecia tanto aquelas calcadas em regras legais
que satildeo vistas como burocraacuteticas ou positivistas - e positivismo hoje no paiacutes eacute quase um pala-
vratildeo128 Neste contexto os operadores do Direito satildeo estimulados a invocar sempre princiacutepios
muito vagos nas suas decisotildees mesmo quando isso seja absolutamente desnecessaacuterio pela e-
xistecircncia de regra clara e vaacutelida a reger a hipoacutetese Os campeotildees tecircm sido os princiacutepios da dig-
nidade da pessoa humana e da razoabilidade O primeiro eacute empregado para dar imponecircncia ao
decisionismo judicial vestindo com linguagem pomposa qualquer decisatildeo tida como politica-
mente correta e o segundo para permitir que os juiacutezes substituam livremente as valoraccedilotildees de
outros agentes puacuteblicos pelas suas proacuteprias
Este cenaacuterio eacute problemaacutetico porque um sistema juriacutedico funcional estaacutevel e harmocircnico com os
valores do Estado Democraacutetico de Direito precisa tanto da aplicaccedilatildeo de regras como de princiacute-
pios129 As regras satildeo indispensaacuteveis dentre outras razotildees130 porque geram maior previsibili-
dade e seguranccedila juriacutedica para os seus destinataacuterios diminuem os riscos de erro na sua inci-
decircncia jaacute que natildeo dependem tanto das valoraccedilotildees do inteacuterprete em cada caso concreto en-
volvem um menor custo no seu processo de aplicaccedilatildeo pois podem incidir de forma mais mecacirc-
nica sem demandarem tanto esforccedilo do inteacuterprete e natildeo implicam na mesma medida que os
21
princiacutepios em uma transferecircncia de poder decisoacuterio do Legislativo que eacute eleito para o Judici-
aacuterio que natildeo eacute
Natildeo pretendo sustentar com isso que se deva retroceder ao tempo em que os princiacutepios natildeo
eram aplicados pelos juiacutezes brasileiros Tambeacutem os princiacutepios satildeo essenciais na ordem juriacutedica
pois conferem mais plasticidade ao Direito - o que eacute essencial numa sociedade hiper-complexa
como a nossa - e permitem uma maior abertura da argumentaccedilatildeo juriacutedica agrave Moral e ao mundo
empiacuterico subjacente O importante eacute encontrar uma justa medida que natildeo torne o processo de
aplicaccedilatildeo do Direito amarrado demais como ocorreria num sistema baseado exclusivamente
em regras nem solto demais como sucederia com um que se fundasse apenas em princiacutepios
Penso que eacute chegada a hora de um retorno do pecircndulo no Direito brasileiro131 que sem des-
cartar a importacircncia dos princiacutepios e da ponderaccedilatildeo volte a levar a seacuterio tambeacutem as regras e a
subsunccedilatildeo
Ademais naquelas hipoacuteteses em que a aplicaccedilatildeo de princiacutepios for realmente apropriada ela
deve dar-se de forma mais racional e fundamentada Deve-se adotar a premissa de que quanto
mais vaga for a norma a ser aplicada e mais intenso o componente volitivo envolvido no pro-
cesso decisoacuterio maior deve ser o ocircnus argumentativo do inteacuterprete no sentido de mostrar que
a soluccedilatildeo por ele adotada eacute a que melhor realiza os valores do ordenamento naquele caso con-
creto132 A tendecircncia atual de invocaccedilatildeo frouxa e natildeo fundamentada de princiacutepios colide com a
loacutegica do Estado Democraacutetico de Direito pois amplia as chances de arbiacutetrio judicial gera inse-
guranccedila juriacutedica e atropela a divisatildeo funcional de poderes que tem no ideaacuterio democraacutetico um
dos seus fundamentos - a noccedilatildeo baacutesica de que as decisotildees sobre o que os cidadatildeos e o Estado
podem e natildeo podem fazer devem ser tomadas preferencialmente por quem represente o povo
e seja por ele escolhido
E haacute na sociedade brasileira traccedilos que tornam ainda mais perigosa esta tendecircncia agrave frouxidatildeo
e emotividade na metodologia juriacutedica Nossa cultura caracteriza-se muito mais pelo jeiti-
nho133 e pelo patrimonialismo134 do que pela valorizaccedilatildeo do cumprimento impessoal de regras
O brasileiro - jaacute dizia Seacutergio Buarque de Holanda135 - eacute o homem cordial que tende a antepor
a loacutegica privada do compadrio e da simpatia agrave racionalidade objetiva das leis Esta singularida-
de das nossas relaccedilotildees sociais natildeo atua de forma neutra em relaccedilatildeo a todos os cidadatildeos Ela
implica na adoccedilatildeo de posturas estatais em geral muito benevolentes em relaccedilatildeo aos donos do
poder e seus apaniguumlados e de posiccedilotildees muito mais duras dirigidas aos grupos excluiacutedos e mar-
ginalizados136 Uns poucos acabam pairando acima das leis que natildeo os alcanccedilam para limitar a
sua conduta ou sancionar os seus desvios enquanto outros permanecem abaixo dela sendo
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atingidos apenas pelo braccedilo punitivo do Estado pois a violaccedilatildeo rotineira dos seus direitos eacute
naturalizada tornando-se invisiacutevel
Neste quadro cabe indagar sob a perspectiva de uma sociologia da interpretaccedilatildeo constitucio-
nal ateacute que ponto a introduccedilatildeo entre noacutes de uma dogmaacutetica fluida - a expressatildeo eacute de Gusta-
vo Zagrebelsky137 um dos iacutecones do neoconstitucionalismo - natildeo pode ter como efeito colateral
o agravamento de patologias que marcam as nossas relaccedilotildees sociais Seraacute que o nosso Direito
precisa de mais rigidez ou de maior maleabilidade Ao fim e ao cabo quem tende a se benefi-
ciar com a adoccedilatildeo de uma hermenecircutica juriacutedica mais flexiacutevel
Uma reflexatildeo importante sobre tema correlato foi empreendida por Marcelo Neves138 a partir
das categorias da teoria sistecircmica de Niklas Luhman Para Luhman139 em apertada siacutentese o
Direito nas hipercomplexas sociedades modernas seria autopoieacutetico140 pois consistiria num
subsistema social estruturalmente fechado em relaccedilatildeo ao meio envolvente que operaria de
acordo com um coacutedigo binaacuterio proacuteprio - o liacutecito iliacutecito As influecircncias do meio envolvente so-
bre o Direito seriam filtradas atraveacutes deste coacutedigo assegurando a autonomia da esfera juriacutedica
diante dos outros subsistemas sociais como a Economia a Poliacutetica a Religiatildeo etc Contudo
Marcelo Neves sustenta que em sociedades perifeacutericas como o Brasil natildeo se desenvolveu ple-
namente este fechamento estrutural do Direito Por aqui fatores como a nossa constituciona-
lizaccedilatildeo simboacutelica geraram uma insuficiente diferenciaccedilatildeo do Direito em relaccedilatildeo a outros sub-
sistemas sociais permitindo que elementos a princiacutepio estranhos ao coacutedigo binaacuterio do juriacutedico -
como a questatildeo do poder poliacutetico e do poder econocircmico - se infiltrem sistematicamente nos
processos de aplicaccedilatildeo das normas condicionando o seu resultado A teoria dos sistemas de
Luhman natildeo funcionaria bem entre noacutes pois teriacuteamos um Direito em boa parte alopoieacuteti-
coPara tal perspectiva esta maior abertura do Direito ao meio envolvente natildeo assume o po-
tencial emancipatoacuterio preconizado pela teoria neoconstitucionalista Ela funciona muito mais
como um mecanismo de cristalizaccedilatildeo de diferenccedilas sociais mantendo a hiper-inclusatildeo de uns
ao preccedilo da exclusatildeo de outros
Esta reflexatildeo de Marcelo Neves natildeo se dirigiu ao debate metodoloacutegico contemporacircneo envol-
vendo princiacutepios e regras ponderaccedilatildeo e subsunccedilatildeo etc Poreacutem entendo que ela pode ter algu-
ma pertinecircncia tambeacutem aqui pelo menos para nos advertir sobre o perigo de que o neoconsti-
tucionalismo com a fluidez metodoloacutegica e abertura do Direito a outros domiacutenios que preconi-
za possa acabar tornando-se um belo roacutetulo para justificar mais do mesmo patrimonialismo
desigualdade jeitinho Nesta perspectiva a novidade do neoconstitucionalismo poderia pare-
cer com aquela advogada pelo Priacutencipe de Salinas em famosa passagem do romance O Leopar-
do de Giuseppe Lampedusa quando defendia no contexto da crise da aristocracia italiana do
23
final do seacuteculo XIX a necessidade de mudanccedilas urgentes no governo para que ao final as
coisas pudessem permanecer exatamente do jeito que sempre foram
Natildeo penso que esta seja uma consequumlecircncia necessaacuteria da adoccedilatildeo de uma perspectiva juriacutedica
mais principialista no Brasil O maior cuidado metodoloacutegico adicionado agrave adoccedilatildeo de uma dire-
triz hermenecircutica substantiva que afirme a missatildeo essencial do Direito de assegurar justiccedila e
seguranccedila agraves pessoas tratando-as como livres e iguais pode minimizar as possibilidades de um
uso enviesado da teoria neoconstitucional que acabe favorecendo aos mesmos de sempre
Mas diante das nossas tradiccedilotildees natildeo haacute como negar que os riscos satildeo elevados
c) Neoconstitucionalismo e panconstitucionalizaccedilatildeo
Uma das caracteriacutesticas do neoconstitucionalismo eacute a defesa da constitucionalizaccedilatildeo do Direi-
to Sustenta-se que a irradiaccedilatildeo das normas constitucionais por todo o ordenamento contribui
para aproximaacute-lo dos valores emancipatoacuterios contidos nas constituiccedilotildees contemporacircneas 141A
Constituiccedilatildeo natildeo eacute vista mais como uma simples norma normarum - cuja finalidade principal eacute
disciplinar o processo de produccedilatildeo de outras normas142 Ela passa a ser enxergada como a en-
carnaccedilatildeo dos valores superiores da comunidade poliacutetica que devem fecundar todo o sistema
juriacutedico Neste modelo cabe ao inteacuterprete natildeo soacute aplicar diretamente os ditames constitucio-
nais agraves relaccedilotildees sociais como tambeacutem reler todas as normas e institutos dos mais variados ra-
mos do Direito agrave luz da Constituiccedilatildeo emprestando-lhes o sentido que mais promova os objeti-
vos e a axiologia da Carta
A constitucionalizaccedilatildeo do Direito de que cogita o neoconstitucionalismo natildeo eacute aquela que resul-
ta do caraacuteter excessivamente analiacutetico da Constituiccedilatildeo e leva ao entricheiramento de meras
opccedilotildees conjunturais do constituinte originaacuterio ou derivado despidas de maior importacircncia ou
dignidade Este eacute um fenocircmeno caracteriacutestico da Carta de 88 que se excedeu no casuiacutesmo e
nos detalhes elevando ao seu texto meros interesses corporativos ou decisotildees de momento
sem focirclego para perdurarem no tempo A constitucionalizaccedilatildeo louvada e defendida pelo neo-
constitucionalismo eacute aquela que parte de uma interpretaccedilatildeo extensiva e irradiante dos direitos
fundamentais e dos princiacutepios mais importantes da ordem constitucional Aqui contudo pode-
se discutir ateacute que ponto o fenocircmeno eacute legiacutetimo Poucos discordaratildeo pelo menos no Brasil de
que alguma constitucionalizaccedilatildeo do Direito eacute positiva e bem-vinda por semear o ordenamento
com os valores humanitaacuterios da Constituiccedilatildeo Poreacutem pode-se objetar contra as teses extrema-
das sobre este processo que acabam amputando em demasia o espaccedilo de liberdade do legisla-
dor em detrimento da democracia 143
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Com efeito quem defende que tudo ou quase tudo jaacute estaacute decidido pela Constituiccedilatildeo e que o
legislador eacute um mero executor das medidas jaacute impostas pelo constituinte nega por conse-
quumlecircncia a autonomia poliacutetica ao povo para em cada momento da sua histoacuteria realizar as suas
proacuteprias escolhas O excesso de constitucionalizaccedilatildeo do Direito reveste-se portanto de um
vieacutes antidemocraacutetico Esta ordem de preocupaccedilotildees levou Ersnt Forsthof na Alemanha a criti-
car as teorias que viam a Constituiccedilatildeo como uma espeacutecie de genoma juriacutedico () do qual tudo
deriva do Coacutedigo Penal ateacute a lei sobre a fabricaccedilatildeo de termocircmetros144 E a questatildeo torna-se
ainda mais delicada diante da constataccedilatildeo de que pela abertura semacircntica dos direitos fun-
damentais e dos princiacutepios - principal mateacuteria-prima da constitucionalizaccedilatildeo do Direito - o seu
principal agente acaba sendo o Poder Judiciaacuterio ao dar a uacuteltima palavra sobre a interpretaccedilatildeo
daquelas claacuteusulas Daiacute porque o debate sobre a constitucionalizaccedilatildeo do Direito se imbrica
inexoravelmente com as discussotildees a propoacutesito da judicializaccedilatildeo da poliacutetica e do decisionismo
referidas acima
Ademais a constitucionalizaccedilatildeo do Direito tambeacutem suscita outra linha de preocupaccedilotildees rela-
cionada ao perfeccionismo moral145 na esfera privada No Brasil assim como em muitos outros
paiacuteses jaacute se assentou a ideacuteia de que os direitos fundamentais natildeo se dirigem apenas contra o
Estado vinculando tambeacutem os particulares Entre noacutes tem prevalecido na doutrina a ideacuteia que
eu mesmo defendi em outro estudo146 que a eficaacutecia dos direitos fundamentais nas relaccedilotildees
privadas eacute direta e imediata Em outras palavras entende-se que a proacutepria Constituiccedilatildeo jaacute inci-
de nas relaccedilotildees privadas independentemente de mediaccedilotildees legislativas e que pode gerar o-
brigaccedilotildees positivas ou negativas para os indiviacuteduos e natildeo soacute para os poderes puacuteblicos sempre
no afatilde de proporcionar uma proteccedilatildeo mais completa agrave dignidade humana Ateacute aqui nada a
contestar
Poreacutem o reconhecimento da vinculaccedilatildeo dos particulares agrave Constituiccedilatildeo suscita um risco que
natildeo pode ser ignorado o de imposiccedilatildeo agraves pessoas supostamente em nome de valores constitu-
cionais de comportamentos e estilos de vida que elas proacuteprias rejeitam em detrimento da sua
liberdade existencial Para dar um exemplo bem tosco seria terriacutevel se o Direito em nome do
princiacutepio da solidariedade social pudesse impor agraves pessoas que demonstrassem afetos e senti-
mentos que elas natildeo possuem genuinamente Ou se em nome da isonomia pretendesse inter-
ferir nas escolhas subjetivas e emocionais que os indiviacuteduos fazem nas suas vidas privadas A
constitucionalizaccedilatildeo neste sentido poderia converter-se num pretexto para o exerciacutecio de um
paternalismo anti-liberal em que as pessoas seriam forccediladas a conformarem-se agraves expectativas
sociais forjadas a partir de pautas de accedilatildeo politicamente corretas com apoio na Constitui-
ccedilatildeo147
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Nenhuma destas duas questotildees eacute insuperaacutevel Eacute possiacutevel aceitar e aplaudir a constitucionaliza-
ccedilatildeo do Direito - fenocircmeno em geral positivo por aproximar a racionalidade emancipatoacuteria da
Constituiccedilatildeo do dia-a-dia das pessoas - mas defender que ela seja temperada por outras preo-
cupaccedilotildees igualmente essenciais no Estado Democraacutetico de Direito com a autonomia puacuteblica e
privada dos cidadatildeos Pode-se reconhecer a legitimidade da constitucionalizaccedilatildeo do Direito
mas numa medida em que natildeo sacrifique em excesso agrave liberdade de conformaccedilatildeo que numa
democracia deve caber ao legislador para realizar opccedilotildees poliacuteticas em nome do povo148 Pode-
se da mesma forma afirmar a incidecircncia direta da Constituiccedilatildeo nas relaccedilotildees privadas mas
sem invadir a esfera das opccedilotildees existenciais da pessoa - que de resto eacute protegida pela proacutepria
Constituiccedilatildeo das ingerecircncias perfeccionistas do Estado e da sociedade149
5 Conclusatildeo Ao fim da leitura destas paacuteginas o leitor pode estar se indagando se eu me alinho ou natildeo ao
neoconstitucionalismo A minha resposta eacute depende da compreensatildeo que se tenha sobre o ne-
oconstitucionalismo Se entendermos o neoconstitucionalismo de acordo com a conhecida defi-
niccedilatildeo de Luis Prietro Sanchiacutes como uma teoria do Direito que se orienta pelas maacuteximas demaacutes
princiacutepios que reglas maacutes ponderacioacuten que subsuncioacuten omnipotencia de la Constitucioacuten en
todas las aacutereas juriacutedicas y en todos conflictos miacutenimamente relevantes en lugar de espacios
exentos en favor de la opcioacuten legislativa o reglamentaria omnipotencia judicial en lugar de
autonomia del legislador ordinaacuterio y por ultimo coexistecircncia de una constelacioacuten plural de
valores a veces tendencialmente contradictorios en lugar de homogeneidad ideoloacutegica150
certamente eu natildeo me considero um neoconstitucionalista De todas as afirmaccedilotildees do professor
espanhol a uacutenica de que natildeo discordo eacute aquela relacionada ao pluralismo de valores cujo re-
conhecimento aliaacutes estaacute longe de ser privileacutegio dos neoconstitucionalistas
Contudo eu assumo o roacutetulo sem constrangimentos se o neoconstitucionalismo for pensado
como uma teoria constitucional que sem descartar a importacircncia das regras e da subsunccedilatildeo
abra tambeacutem espaccedilo para os princiacutepios e para a ponderaccedilatildeo tentando racionalizar o seu uso
Se for visto como uma concepccedilatildeo que sem desprezar o papel protagonista das instacircncias de-
mocraacuteticas na definiccedilatildeo do Direito reconheccedila e valorize a irradiaccedilatildeo dos valores constitucio-
nais pelo ordenamento bem como a atuaccedilatildeo firme e construtiva do Judiciaacuterio para proteccedilatildeo e
promoccedilatildeo dos direitos fundamentais e dos pressupostos da democracia E acima de tudo se
for concebido como uma visatildeo que conecte o Direito com exigecircncias de justiccedila e moralidade
criacutetica151 sem enveredar pelas categorias metafiacutesicas do jusnaturalismo
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Certamente uma visatildeo equilibrada da Teoria do Direito com tais caracteriacutesticas pode contribu-
ir para o aperfeiccediloamento do Estado Democraacutetico de Direito no Brasil O mesmo jaacute natildeo digo de
concepccedilotildees mais radicais do neoconstitucionalismo que podem ser muito boas para arrancar
aplausos entusiasmados das plateacuteias nos seminaacuterios estudantis mas que natildeo se conciliam com
exigecircncias fundamentais de seguranccedila juriacutedica democracia e liberdade que satildeo alicerces de
qualquer bom constitucionalismo - novo ou velho
Curriacuteculo Resumido
Daniel Sarmento
Poacutes-Doutor pela Universidade de Yale (EUA) Procurador Regional da Repuacuteblica
Como citar este artigo
SARMENTO Daniel O neoconstitucionalismo no Brasil riscos e possibilidades Disponiacutevel em httpwwweditoraforumcombrsistconteudolista_conteudoaspFIDT_CONTEUDO=56993 acesso em 09032011 httpdireitoesubjetividadefileswordpresscom201008daniel-sarmento-o-neoconstitucionalismo-no-brasil1doc acesso em 30062012 Material da 1ordf aula da Disciplina Teoria Geral da Constituiccedilatildeo (I) ministrada no Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo Online em Direito Constitucional ndash Anhanguera-UNIDERP | REDE LFG
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___________________
1Sobre a teoria de princiacutepios no Brasil veja-se dentre outros Ana Paula de Barcellos A eficaacutecia juriacutedica dos princiacutepios constitu-
cionais o princiacutepio da dignidade da pessoa humana Rio de Janeiro Renovar 2002 Humberto Bergman Aacutevila Teoria dos princiacute-
pios da definiccedilatildeo agrave aplicaccedilatildeo dos princiacutepios juriacutedicos 2 ed Satildeo Paulo RT 2005 Jane Reis Gonccedilalves Pereira Interpretaccedilatildeo
constitucional e direitos fundamentais uma contribuiccedilatildeo ao estudo das restriccedilotildees aos direitos fundamentais na perspectiva da
teoria dos princiacutepios Rio de Janeiro Renovar 2006 Virgiacutelio Afonso da Silva O conteuacutedo essencial dos direitos fundamentais e a
eficaacutecia das normas constitucionais Satildeo Paulo Tese (concurso de Professor Titular de Direito Constitucional da USP)
2Veja-se em tons variados Lecircnio Luiz Streck Hermenecircutica juriacutedica e(m) crise uma exploraccedilatildeo hermenecircutica da construccedilatildeo do
direito Porto Alegre Livraria do Advogado 1999 Luiacutes Roberto Barroso (Org) A nova interpretaccedilatildeo constitucional ponderaccedilatildeo
direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas Rio de Janeiro Renovar 2003 Margarida Maria Lacombe Camargo Hermenecircutica e
argumentaccedilatildeo uma contribuiccedilatildeo ao estudo do direito Rio de Janeiro Renovar 2003 Inocecircncio Maacutertires Coelho Interpretaccedilatildeo
constitucional 2 ed Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2003 Ana Paula de Barcellos Ponderaccedilatildeo racionalidade e atividade
jurisdicional Rio de Janeiro Renovar 2005
3Sobre o fenocircmeno da constitucionalizaccedilatildeo do Direito confira-se os inuacutemeros artigos que compotildeem a coletacircnea organizada por
Claacuteudio Pereira de Souza Neto e por mim A constitucionalizaccedilatildeo do direito fundamentos teoacutericos e aplicaccedilotildees especiacuteficas Rio de
Janeiro Lumen Juris 2007
4Cfr na literatura constitucional brasileira Gisele Guimaratildees Cittadino Pluralismo direito e justiccedila distributiva elementos de
filosofia constitucional contemporacircnea Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 Oscar Vilhena Vieira A Constituiccedilatildeo e sua reserva de
justiccedila um ensaio sobre os limites materiais do poder de reforma Satildeo Paulo Malheiros 1999 Ricardo Lobo Torres (Org) A legi-
timaccedilatildeo dos direitos humanos Rio de Janeiro Renovar 2002 Claacuteudio Pereira de Souza Neto Teoria constitucional e democracia
deliberativa Rio de Janeiro Renovar 2006 Lecircnio Luiz Streck Verdade e consenso Constituiccedilatildeo hermenecircutica e teorias discursi-
vas Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 Samantha Chantal Dobrowolski A construccedilatildeo social do sentido da Constituiccedilatildeo na demo-
cracia contemporacircnea entre soberania popular e direitos humanos Rio de Janeiro Lumen Juris 2007 Aacutelvaro Ricardo de Souza
Cruz Hermenecircutica juriacutedica e(m) debate o constitucionalismo brasileiro entre a teoria do discurso e a ontologia existencial Belo
Horizonte Foacuterum 2007
5Sobre a judicializaccedilatildeo da poliacutetica no Brasil veja-se Luiz Werneck Vianna et al A judicializaccedilatildeo da poliacutetica e das relaccedilotildees sociais
no Brasil Rio de Janeiro Revan 1999 Giselle Cittadino Judicializaccedilatildeo da poliacutetica constitucionalismo democraacutetico e separaccedilatildeo de
poderes In Luiz Werneck Vianna (Org) A democracia e os trecircs poderes no Brasil Belo Horizonte UFMG 2002 p 17-42 Rogeacuterio
B Arantes Constitucionalism the expansion of Justice and the Judicialization of Poltics in Brazil In Rachel Sieder Line Schjol-
den Alan Angell The Judicialization of Politics in Latin America New York Palgrave Macmillan 2005 p 232-262 Luis Roberto
Barroso Judicializaccedilatildeo ativismo judicial e legitimidade democraacutetica Texto ineacutedito gentilmente cedido pelo autor
Para uma perspectiva comparativa veja-se Neal C Tate Tobjorn Vallinder (Ed) The Global Expansion of Judicial Power New
York New York University Press 1995 Alec Stone Sweet Governing with Judges Constitutional Politics in Europe Oxford Oxford
Univesity Press 2000 e em tom profundamente criacutetico Ran Hirschl Towards Juristocracy the Origins and Consequences of the
New Constitucionalism Cambridge Harvard University Press 2004
6Miguel Carbonell et al Neoconstitucionalismo(s) Madrid Trotta 2003 Mais recentemente o autor publicou nova coletacircnea
tambeacutem dedicada ao estudo do neoconstitucionalismo intitulada Teoria del Neoconstitucionalismo Ensayos escogidos Madrid
Trotta 2007
7O jurista argentino Carlos Santiago Nino por exemplo faleceu em 1993 quando ainda nem se empregava esta denominaccedilatildeo
8Cf Robert Alexy Teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica a teoria do discurso racional como teoria da fundamentaccedilatildeo juriacutedica Tradu-
ccedilatildeo de Zilda Hutchinson Schild Silva revisatildeo teacutecnica da traduccedilatildeo e introduccedilatildeo agrave ediccedilatildeo brasileira Claudia Toledo 2 ed Satildeo Paulo
Landy 2005 Luis Roberto Barroso Curso de direito constitucional contemporacircneo os conceitos fundamentais e a construccedilatildeo do
novo modelo Rio de Janeiro Saraiva 2008 p 306-350
9Cf Lecircnio Luiz Streck Verdade e consenso Op cit p 197-246
28
10Ronald Dworkin e Carlos Santiago Nino satildeo sem sombra de duacutevida autores liberais natildeo no sentido que se atribui ao termo no
Brasil - de adeptos de doutrina econocircmica favoraacutevel ao Estado miacutenimo e ao mercado - mas sim no sentido corrente na Filosofia
Poliacutetica que associa o liberalismo agrave defesa dos direitos individuais e da neutralidade do Estado em relaccedilatildeo agraves diversas concepccedilotildees
sobre a vida boa existentes na sociedade Veja-se neste sentido Ronald Dworkin A Matter of Principle Cambridge Harvard
University Press 1985 p 181-236 Carlos Santiago Nino La constitucioacuten de la Democracia Deliberativa Barcelona Gedisa 1997
p 70-100
11Lecircnio Luiz Streck que se alinha ao neoconstitucionalismo defende posturas tipicamente comunitaristas como o papel da Consti-
tuiccedilatildeo na definiccedilatildeo de modelos de vida boa para orientaccedilatildeo da vida social e da accedilatildeo individual Cf Jurisdiccedilatildeo constitucional e
hermenecircutica uma nova criacutetica do direito 2 ed Rio de Janeiro Forense 2004 p 95-288
12Antonio Cavalcanti Maia um dos mais ardorosos defensores do neoconstitucionalismo no paiacutes eacute tambeacutem procedimentalista e
adepto das teorias juriacutedicas de Juumlrgen Habermas Veja-se neste sentido o seu denso texto Nos vintes anos da carta cidadatilde do
poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm (Coord) Vinte
anos da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 p 117-168 em que esta sua dupla filiaccedilatildeo intelectual eacute
explicitada
13Segundo Miguel Carbonell o neoconstitucionalismo desdobra-se em trecircs planos de anaacutelise que se conjugam o dos textos consti-
tucionais que se tornaram mais substantivos e incorporaram amplos elencos de direitos fundamentais o das praacuteticas judiciais que
passaram a recorrer a princiacutepios constitucionais agrave ponderaccedilatildeo e a meacutetodos mais flexiacuteveis de interpretaccedilatildeo sobretudo na aacuterea de
direitos fundamentais e o dos desenvolvimentos teoacutericos de autores que com as suas ideacuteias ajudaram natildeo soacute a compreender os
novos modelos constitucionais mas tambeacutem participaram da sua proacutepria criaccedilatildeo Cf Miguel Carbonell Neoconstitucionalismo
elementos para una definicioacuten In Eduardo Ribeiro Moreira Mauricio Pugliesi 20 anos da Constituiccedilatildeo brasileira Satildeo Paulo Sarai-
va 2009 p 197-208
14No mesmo sentido Luis Roberto Barroso Neoconstitucionalismo e Constitucionalizaccedilatildeo do direito o triunfo tardio do direito
constitucional do Brasil In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento A constitucionalizaccedilatildeo do direito fundamentos teoacuteri-
cos e aplicaccedilotildees especiacuteficas Rio de Janeiro Lumen Juris 2007 p 203-250
15Cf Carlos Bernal Pulido El Derecho de los Derechos Bogotaacute Universidad Externado de Colocircmbia 2006 Manoel Jose Cepeda
Espinosa Judicialization of Politics in Colombia the old and the new In Rachel Sieder Line Schonjen Alan Angell The Judiciali-
zation of Politics in Latin America Op cit p 67-104 Rodrigo Uprimmy Mauriacutecio Garcia-Villegas Tribunal Constitucional e eman-
cipaccedilatildeo social na Colocircmbia In Boaventura de Souza Santos Democratizar a democracia os caminhos da democracia participativa
Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2002 p 297-339
16Cf Catalina Smulovitz Petitioning and Creating Rights Judicialization in Argentina In Rachel Sieder Line Scjolden Alan Angell
The Judicialization of Politics in Latin America Op cit p 161-185
17Cf Miguel Carbonell Los Derechos Fundamentales en Meacutexico 2 ed Meacutexico Porruacutea 2006 Pilar Domingo The Changing Political
Role of the Judiciary in Meacutexico In Rachel Sieder Line Scjolden Alan Angell The Judicialization of Politics in Latin Ameacuterica Op
cit p 21-46
18Cf Heinz Klug South Aacutefrica From Constitucional Promise to Social Transformation In Jeffrey Goldsworthy Interpreting Consti-
tutions A Comparative Study Oxford Oxford University Press 2006 p 266-320
19Cf S P Sathe Iacutendia From Positivism to Structuralism In Jeffrey Goldsworthy Op cit p 215-265
20Veja-se a propoacutesito Gustavo Zagrebelsky Il Diritto Mite Torino Einaudi 1992 p 57-96
21Cf Eduardo Garciacutea de Enterriacutea La Constitucioacuten como Norma y el Tribunal Constitucional 3 ed Madrid Civitas 1985 p 41
22Na Alemanha a mudanccedila ocorreu sob a vigecircncia da Lei Fundamental adotada em 1949 e foi fortemente impulsionada pela
jurisprudecircncia do Tribunal Constitucional do paiacutes que construiu teorias importantes como a da Constituiccedilatildeo como uma ordem de
valores em cujo centro situa-se o princiacutepio da dignidade humana que se irradia por todo o ordenamento Veja-se a propoacutesito
Dieter Grimm Human Rights and Judicial Review in Germany In David M Beatty (Org) Human Rights and Judicial Review A
Comparative Perspective Dodrecht Martin Urjhoff 1994 p 267-295
23Na Itaacutelia as mudanccedilas se deram sob a eacutegide da atual Constituiccedilatildeo editada em 1947 mas soacute apoacutes o funcionamento da Corte
Constitucional que se deu em 1956 Ateacute entatildeo a Corte de Cassaccedilatildeo composta por juiacutezes recrutados ainda no periacuteodo do fascismo
29
era provisoriamente encarregada da guarda da Constituiccedilatildeo o que fazia de forma muito tiacutemida no mais das vezes negando eficaacute-
cia juriacutedica agraves normas constitucionais sob o argumento de que seriam programaacuteticas Veja-se a propoacutesito Ricardo Guastini A
constitucionalizaccedilatildeo do ordenamento juriacutedico e a experiecircncia italiana In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento A
constitucionalizaccedilatildeo do direito fundamentos teoacutericos e aplicaccedilotildees especiacuteficas Op cit p 271-294
24Cf No modelo do constitucionalismo norte-americano entende-se desde os primoacuterdios que a Constituiccedilatildeo eacute autecircntica lei e que
o Judiciaacuterio pode invalidar as decisotildees legislativas que a contrariem apesar do controle de constitucionalidade natildeo estar expres-
samente previsto no texto constitucional daquele paiacutes Esta ideacuteia que jaacute estava assentada no Federalista n 78 escrito por Ale-
xander Hamilton antes da aprovaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo foi posta em praacutetica pela primeira vez contra lei federal no ceacutelebre caso
Marbury v Madison julgado em 1803 pelo juiz Marshall Veja-se a propoacutesito Paul Brest Sanford Levinson Jack Balkin Akhil Reed
Amar Processes of Constitutional Decisionmaking Cases and Materials New York Aspen Publishers 2000 p 79-103
A versatildeo mais convencional do modelo constitucional norte-americano enfatiza a importacircncia central do Judiciaacuterio na atualizaccedilatildeo
do sentido da Constituiccedilatildeo do paiacutes Contudo esta leitura histoacuterica eacute hoje objeto de intensa disputa Em sentido contraacuterio a tal
posiccedilatildeo sustentando uma menor relevacircncia do Judiciaacuterio no desenvolvimento histoacuterico do constitucionalismo americano veja-se
por exemplo Stephen M Griffin American Constitutionalism From Theory to Politics New Jersey Princeton University Press
1996 p 88-139
25Cf Luis Prietro Sanchiacutes Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales Madrid Trotta 2003 p 107-117
26Cf Daniel Sarmento Ubiquumlidade constitucional Os dois lados da moeda In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento
(Coord) A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 113-148
27Na verdade a reaccedilatildeo contra o formalismo juriacutedico na Europa eacute bem anterior ao advento do constitucionalismo do 2ordm poacutes-guerra
remontando ao final do seacuteculo XIX Veja-se a propoacutesito Constantin M Stamatis Argumenter en Droit Une theacuteorie critique de
largumentation juridique Paris Publisud 1995 p 34-50 Antonio Manoel Hespanha Panorama histoacuterico da cultura juriacutedica euro-
peacuteia Lisboa Publicaccedilotildees Europa-Ameacuterica 1997 p 196-235
28Haacute vasta literatura sobre a ponderaccedilatildeo mas a obra mais influente sobre o tema eacute certamente o livro de Robert Alexy Teoria dos
direitos fundamentais Traduccedilatildeo de Virgiacutelio Afonso da Silva Satildeo Paulo Malheiros 2008 No cenaacuterio norte-americano veja-se a
anaacutelise densa e criacutetica de T Alexander Aleinikoff Constitucional Law in the Age of Balancing Yale Law Journal n 96 p 943-
1005 1987 No Brasil cfr Daniel Sarmento A ponderaccedilatildeo de interesses na Constituiccedilatildeo Federal Rio de Janeiro Lumen Juris
2000 Ana Paula de Barcellos Ponderaccedilatildeo racionalidade e atividade jurisdicional Op cit
29A bibliografia sobre o princiacutepio da proporcionalidade eacute vastiacutessima Veja-se a propoacutesito as densas anaacutelises de Carlos Bernal Puli-
do El Principio de Proporcionalidad y los Derechos Fundamentales Madrid Centro de Estuacutedios Constitucionales 2003 e no Brasil
de Jane Reis Gonccedilalves Pereira Interpretaccedilatildeo constitucional e direitos fundamentais Rio de Janeiro Renovar 2006 p 297-382
30Cf Chaiumlm Perelman Eacutetica e direito Traduccedilatildeo de Maria Ermantina Galvatildeo G Perira Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 p 361-684
Robert Alexy Teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica Op cit Friedrich Muller Discours de la Meacutethode Juridique Traduccedilatildeo de Olivier
Jouanjan Paris PUF 1993 Manuel Atienza Traacutes la Justicia Una Introduccioacuten al Derecho y al Razonamiento Juriacutedico Barcelona
Ariel 1995 Neil MacCormick Argumentaccedilatildeo juriacutedica e teoria do direito Traduccedilatildeo de Waldeacutea Barcellos Satildeo Paulo Martins Fontes
2006 Klaus Guumlnther Teoria da argumentaccedilatildeo no direito e na moral justificaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Claacuteudio Molz Satildeo Pau-
lo Landy 2004
31Cf Martin Shapiro Alec Stone Sweet On Law Politics and Judicialization New York Oxford University Press p 136-208
32Contudo deve-se admitir na linha de Paolo Comanducci que eacute possiacutevel reconhecer as mudanccedilas em questatildeo e propor novas
teorias que sejam adequadas a elas sem defendecirc-las Esta seria nas palavras do autor italiano a diferenccedila entre o neoconstitu-
cionalismo teoacuterico e o neoconstitucionalismo ideoloacutegico que natildeo apenas constroacutei teorias mais compatiacuteveis com os novos fenocirc-
menos mas vai aleacutem sustentando a sua legitimidade e propugnando pelo seu aprofundamento e expansatildeo Veja-se a propoacutesito
Paulo Comanducci Formas de neoconstitucionalismo Un anaacutelisis metateoacuterico In Miguel Carbonell (Ed) Neoconstitucionalis-
mo(s) Op cit p 75-98 Como reconhece o proacuteprio autor tal distinccedilatildeo baseia-se em uma semelhante acerca do positivismo
30
formulada por Norberto Bobbio que fala em positivismo teoacuterico ideoloacutegico e metodoloacutegico Cf Norberto Bobbio O positivismo
juriacutedico liccedilotildees de filosofia do direito Traduccedilatildeo e notas de Marcio Pugliesi et al Satildeo Paulo Iacutecone 1995 p 233-239
33Cf Ronald Dworkin Is Law a Sistem of Rules In Ronald Dworkin (Ed) Philosophy of Law Oxford Oxford University Press 1971
Robert Alexy Constitucionalismo discursivo Traduccedilatildeo de Luiz Afonso Heck Porto Alegre Livraria do Advogado 2007
34Cf Robert Alexy Derecho y Razoacuten Praacutectica Meacutexico Distribuiciones Fontamara 1993 Aulis Aarnio Lo Racional como Razonable
Traduccedilatildeo de Ernesto Garzoacuten Valdeacutes Madrid Centro de Estuacutedios Constitucionales 1991
35Cf Aharon Barak The Judge in a Democracy New Jersey Princeton University Press 2006 p 213-260 Gustavo Zagrebelsky Il
Diritto Mite Op cit p 179-217
36Confronte-se com perspectivas diferentes Luigi Ferrajoli O Estado de direito entre passado e futuro In Pietro Costa Danilo
Zolo (Org) Estado de direito histoacuteria teoria criacutetica Traduccedilatildeo de Carlo Alberto Dastoli Satildeo Paulo Martins Fontes 2006 p 419-
464 Elias Dias Estado de Derecho y Sociedad Democraacutetica Madrid Taurus 1998 Ronald Dworkin Introduction The Moral Reading
and the Majoritarian Premise In Freedoms Law The moral reading of the American Constitution Cambridge Harvard University
Press 1996 p 01-38 Gustavo Zagrebelsky La Crucifixioacuten y la Democracia Barcelona Ariel 1996 Claacuteudio Pereira de Souza Neto
Teoria constitucional da democracia deliberativa Op cit
37Cf Ronald Dworkin Introduction The Moral Reading and the Majoritarian Premise Op cit
38Cf Luigi Ferrajoli El Garantismo y la Filosofia del Derecho Bogotaacute Universidad Externado de Colocircmbia 2000
39Cf Luis Pietro Sanchis Sobre el Neoconstitucionalismo y sus Implicaciones In Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales
Op cit p 101-135
40Cf Ricardo Guastini Sur la Validiteacute de la Constitution du Point de Vue du Positivisme Juridique In Michel Troper Lucien Jaume
(Dir) 1789 et LInvention de la Constitution Paris LGDJ 1994 p 216-225
41Cf Suzana Pozzolo Neoconstituzionalismo e Positivismo Giuridico Torino Giapppicheli 2001
42Cf Ronald Dworkin Law and Morals In Justice in Robes Cambridge Harvard University Press 2006 p 01-35
43Cf Robert Alexy Derecho y Moral In La Institucionalizacioacuten de la Justicia Op cit p 17-30
44Cf Carlos Santiago Nino Eacutetica y Derechos Humanos 2 ed Buenos Aires Astrea 1989 p 11-48
45Cf Gustav Radbruch Cinco minutos de filosofia do direito In Filosofia do direito Traduccedilatildeo de L Cabral de Moncada 6 ed
Coimbra Armecircnio Amado 1979 p 414-418 Para uma densa problematizaccedilatildeo da foacutermula de Radbruch veja-se Thomas da Rosa
Bustamante Poacutes-Positivismo o argumento da injusticcedila aleacutem da Foacutermula de Radbruch In Teoria do direito e decisatildeo racional
temas de teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica Rio de Janeiro Renovar 2008
46Cf Robert Alexy La Institucionalizacioacuten de la Justicia Traduccedilatildeo de Joseacute Antonio Seone et al Granada Comares 2005 p 31-
54
47Sobre o tema cfr Alfonso Garcia Figueroa Princiacutepios e direitos fundamentais In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmen-
to A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 03-34
48O texto mais importante do positivismo inclusivo eacute o poacutes-escrito de Herbert LA Hart agrave sua obra magna The Concept of Law em
que ele responde agraves criacuteticas ao seu pensamento que Ronald Dworkin lhe endereccedilara O autor inglecircs faleceu antes de terminar o
texto mas ele foi publicado postumemente depois de ser editado por Joseph Raz Peneacutelope Bulloch Veja-se Herbert LA Hart
Poacutes-escrito In O conceito de direito Traduccedilatildeo de A Ribeiro Mendes 2 ed 1994 p 299-339 Tambeacutem na linha do positivismo
inclusivo veja-se Gregorio Peces- Barba Derechos Sociales y Positivismo Juriacutedico Escritos de Filosofia Poliacutetica y Juriacutedica Madrid
Dykinson 1999 p 83-90 Jules Coleman The Practice of Principle In defense of a pragmatist approach do legal theory Oxford
Oxford University Press p 103-120 Para uma resenha dos tipos de positivismo no debate contemporacircneo confira-se Dimitri Di-
moulis Positivismo juriacutedico introduccedilatildeo a uma teoria do direito e defesa do pragmatismo juriacutedico-politico Satildeo Paulo Meacutetodo
2006 p 65-166
49Cf Antonio Cavalcanti Maia Nos vinte anos da Constituiccedilatildeo do poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo Op cit Claacuteudio Perei-
ra de Souza Neto A teoria constitucional e seus lugares especiacuteficos notas sobre o aporte reconstrutivo Revista de Direito do
Estado n 1 p 89-104 jan mar 2006 Daniel Sarmento Interpretaccedilatildeo constitucional preacute-compreensatildeo e capacidades institu-
cionais do inteacuterprete In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binebojm Vinte anos da Constituiccedilatildeo de 1988
Op cit p 311-322
31
50Cf Juumlrgen Habermas Escritos sobre Moralidad y Eticidad Traduccedilatildeo de Manuel Jimenez Redondo Barcelona Paidoacutes 1991 p
131-172
51Sobre o comunitarismo haacute extensa literatura Dois textos claacutessicos deste linha de pensamento satildeo Michael Walzer The Communi-
tarian Critique of Liberalism In Politics and Passion New Haven Yale University Press 2004 p 141-163 Charles Taylor The
Procedural Republic and the Unencumbered Self In Robert Goodin Philip Pettit (Ed) Contemporary Political Philosophy 2 ed
Oxford Oxford University Press 2002 p 2462-256 Sobre a penetraccedilatildeo ainda que muitas vezes natildeo consciente das posiccedilotildees do
comunitarismo no constitucionalismo brasileiro veja-se Gisele Cittadino Pluralismo direito e justiccedila distributiva Op cit p
43-74
52Sobre o construtivismo eacutetico corrente filosoacutefica que sustenta a existecircncia de posiccedilotildees certas e erradas na Moral bem como a
possibilidade de encontraacute-las e fundamentaacute-las racionalmente veja-se Carlos Santiago Nino El Constructivismo Eacutetico Madrid
Centro de Estudios Constitucionales 1989
53O fenocircmeno tambeacutem se reproduz na teoria constitucional norte-americana hegemocircnica cf Keith Wittington Constitutional Con-
struction Divided Powers and Constitutional Meaning Cambridge Harvard University Press 1999 p 01-03
54A imagem do Poder Judiciaacuterio como um guardiatildeo de promessas eacute explorada e criticada numa obra importante da teoria juriacutedica
francesa contemporacircnea Antoine Garapon Le Gardien de Promesses Le juge et la democratie Paris Odile Jacob 1996
55Neste sentido o eloquumlente encerramento do Curso de Direito Constitucional Contemporacircneo de Luis Roberto Barroso o consti-
tucionalismo democraacutetico eacute a utopia que nos restou Uma feacute racional que ajuda a acreditar no bem e na justiccedila ainda quando natildeo
estejam ao alcance dos olhos (Op cit p 400)
56Cf Nico Poulantzas State Power Socialism London new Left Books 1978 Alan Hunt Marxist Theory of Law In Dennis Patter-
son (Ed) A Companion to Philosophy of Law and Legal Theory Malden Blackwell Publishers 1996 p 355-367
57Cf David Kairys (Ed) The Politics of Law A Progressive Critique New York Pantheon Books 1982 Roberto Mangabeira Unger
The Critical Legal Studies Movement Cambridge Harvard University Press 1986
58Cf Plauto Faraco Azevedo Criacutetica agrave dogmaacutetica e hermenecircutica juriacutedica Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1989 Luiz Fernando
Coelho Teoria criacutetica do direito 2 ed Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1991
59Natildeo haacute como abordar aqui as relaccedilotildees entre as inuacutemeras correntes do poacutes-modernismo e o Direito Constitucional Veja-se a
propoacutesito Niklas Luhman La Constituzione como Acquisizione Evolutiva In Gustavo Zagrebelsky Piacuteer Paolo Portinaro Joumlrg Lu-
ther Il Futuro della Costituzione Torino Einaudi 1996 p 83-128 Joseacute Joaquim Gomes Canotilho Civilizaccedilatildeo do direito constitu-
cional ou constitucionalizaccedilatildeo do direito civil a eficaacutecia dos direitos fundamentais na ordem juriacutedico-civil no contexto do direito
poacutes-moderno Cadernos de Direito Constitucional e Ciecircncia Poliacutetica n 15 p 07-16 1996 Eduardo Capellari A crise da moderni-
dade e a Constituiccedilatildeo Rio de janeiro Ameacuterica Juriacutedica 2004 Daniel Sarmento Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas 2 ed
Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 p 36-45
60Para Jean-Franccedilois Lyotard uma das caracteriacutesticas centrais do pensamento poacutes-moderno de que eacute expoente eacute a desconfianccedila
em relaccedilatildeo agraves metanarrativas - construccedilotildees abstratas grandiosas e totalizadoras tiacutepicas da Filosofia Moderna como direitos
humanos luta de classes e emancipaccedilatildeo pelo uso da razatildeo Cf Lyotard A condiccedilatildeo poacutes-moderna Traduccedilatildeo de Ricardo Correcirca
Barbosa 5 ed 1998 p16
61Cf Luiz Werneck Viana O terceiro poder na carta de 1988 e a tradiccedilatildeo republicana mudanccedila e conservaccedilatildeo In Ruben George
Oliven Marcelo Gildo Marccedilal Branda A Constituiccedilatildeo de 1988 na vida brasileira Satildeo Paulo Aderaldo e Rotshild 2008 p 91-109
62Cf Paulo Ricardo Schier Filtragem constitucional Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1999
63A expressatildeo foi cunhada por Claacuteudio Pereira de Souza Neto Fundamento e normatividade dos direitos fundamentais uma recons-
truccedilatildeo teoacuterica agrave luz do princiacutepio democraacutetico Arquivos de Direitos Humanos n 4 p 17-61 2003
64Cf Luis Roberto Barroso O direito constitucional e a efetividade de suas normas 3 ed Rio de Janeiro Renovar 1996
65Cf Clegravemerson Merlin Clegraveve A teoria constitucional e o direito alternativo para uma dogmaacutetica constitucional emancipatoacuteria In
Uma vida dedicada ao direito homenagem a Carlos Henrique de Carvalho Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1995 p 34-53
66Ressalte-se poreacutem que antes de 88 alguns juristas jaacute defendiam a forccedila normativa da Constituiccedilatildeo como o Prof Joseacute Afonso da
Silva Eacute de 1968 a primeira ediccedilatildeo da sua obra claacutessica A aplicabilidade das normas constitucionais que adotava claramente esta
32
perspectiva Todavia pelo clima nada propiacutecio ao constitucionalismo que reinava por aqui ateacute a nossa redemocratizaccedilatildeo a louvaacute-
vel pregaccedilatildeo dele e de outros juristas em prol da efetivaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo natildeo chegou a render maiores frutos
67Deve-se assinalar ainda a influecircncia marcante do novo constitucionalismo ibeacuterico neste movimento que tambeacutem pugnava pela
atribuiccedilatildeo de forccedila normativa agraves ambiciosas constituiccedilotildees de Portugal e Espanha entatildeo recentemente elaboradas apoacutes o fim de
experiecircncias autoritaacuterias naqueles paiacuteses A tiacutetulo de exemplo mencione-se a penetraccedilatildeo no paiacutes do pensamento do Professor de
Coimbra Joseacute Joaquim Gomes Canotilho especialmente da sua teoria sobre a Constituiccedilatildeo dirigente que ele posteriormente reviu
(cf J J Gomes Canotilho Constituiccedilatildeo dirigente e vinculaccedilatildeo ao legislador contributo para a compreensatildeo das normas constitu-
cionais programaacuteticas 2 ed Coimbra Coimbra 2001 - especialmente o prefaacutecio desta segunda ediccedilatildeo que daacute conta da mudanccedila
de posicionamento) bem como a difusatildeo das liccedilotildees do Professor Eduardo Garciacutea de Enterriacutea (cf La Constitucioacuten como Norma y el
Tribunal Constitucional Madrid Civitas 1981)
68Segundo a avaliaccedilatildeo atual de Luis Roberto Barroso personagem central do movimento o positivismo constitucional que deu
impulso ao movimento natildeo importava em reduzir o direito agrave norma mas sim em elevaacute-la a esta condiccedilatildeo pois ateacute entatildeo ele
havia sido menos do que norma (Curso de direito constitucional contemporacircneo Op cit p 224)
69Paulo Bonavides Curso de direito constitucional 5 ed Satildeo Paulo Malheiros 1994
70Eros Roberto Grau A ordem econocircmica na Constituiccedilatildeo de 88 interpretaccedilatildeo e criacutetica Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1996
71No acircmbito da Poacutes-Graduccedilatildeo em Direito da UERJ em que estou inserido desde 1997 primeiro como aluno e a partir de 2003 como
professor o Ricardo Lobo Torres teve papel central na difusatildeo do pensamento destes e de outros filoacutesofos entre os estudantes e o
proacuteprio corpo docente
72Cf Lecircnio Luiz Streck Hermenecircutica juriacutedica e(m) crise Op cit Eros Roberto Grau Ensaio e discurso sobre a interpreta-
ccedilatildeoaplicaccedilatildeo do direito Satildeo Paulo Malheiros 2002
73Nesta linha veja-se as obras que compotildeem a coletacircnea Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Direitos sociais funda-
mentos judicializaccedilatildeo e direitos sociais em espeacutecie Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 Ricardo Lobo Torres O miacutenimo existencial
e os direitos fundamentais Revista de Direito Administrativo n 177 p 20-49 1989 Ingo Wolfgang Sarlet A eficaacutecia dos direitos
fundamentais 9 ed Porto Alegre Livraria do Advogado 2008 Ana Paula de Barcellos A eficaacutecia juriacutedica dos princiacutepios o princiacute-
pio da dignidade da pessoa humana Op cit Marco Mazzeli Gouveia O controle judicial das omissotildees administrativas Rio de
Janeiro Forense 2003 Andreacuteas Krell Direitos sociais e controle judicial no Brasil e Alemanha os (des)caminhos de um direito
constitucional comparado Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2002
74Cf Gustavo Tepedino Temas de direito civil Rio de Janeiro Renovar 1999 Luiz Edson Fachin Estatuto juriacutedico do patrimocircnio
miacutenimo Rio de Janeiro Renovar 2001 Maria Celina Bodin de Moraes Danos agrave pessoa humana uma leitura civil-constitucional dos
danos morais Rio de Janeiro Renovar 2003 Teresa Negreiros Fundamentos para uma interpretaccedilatildeo constitucional do princiacutepio
da boa-feacute Rio de Janeiro Renovar 1998 Anderson Schreiber A proibiccedilatildeo do comportamento contraditoacuterio Rio de Janeiro Reno-
var 2005
75Cf Luciano Feldens A Constituiccedilatildeo penal a dupla face da proporcionalidade no controle das lei penais Porto Alegre Livraria do
Advogado 2005 Luis Carlos dos Santos Gonccedilalves Mandados expressos de criminalizaccedilatildeo e a proteccedilatildeo de direitos fundamentais na
Constituiccedilatildeo Brasileira de 1988 Belo Horizonte Foacuterum 2007
76Cf Gustavo Binenbojm Uma teoria do direito administrativo direitos fundamentais democracia e constitucionalizaccedilatildeo Rio de
Janeiro Renovar 2006 Alexandre dos Santos Aragatildeo Floriano de Azevedo Marques (Coord) Direito administrativo e seus novos
paradigmas Belo Horizonte Foacuterum 2008
77Cf Gustavo Binenbojm A nova jurisdiccedilatildeo constitucional brasileira legitimidade democraacutetica e instumentos de realizaccedilatildeo Rio de
Janeiro Renovar 2001 Claacuteudio Pereira de Souza Neto Jurisdiccedilatildeo constitucional democracia e racionalidade praacutetica Rio de
Janeiro Renovar 2002 Joseacute Adeacutercio Leite Sampaio A Constituiccedilatildeo reinventada pela jurisdiccedilatildeo constitucional Belo Horizonte Del
Rey 2002 Lecircnio Luiz Streck Jurisdiccedilatildeo constitucional e hermenecircutica Porto Alegre Livraria do Advogado 2002 Aacutelvaro Ricardo
de Souza Cruz Jurisdiccedilatildeo constitucional democraacutetica Belo Horizonte Del Rey 2004
78A expressatildeo dificuldade contramajoritaacuteria eacute de um claacutessico da teoria constitucional norte-americana Alexander Bickel La Cons-
titucioacuten como Norma y el Tribunal Constitucional 2 ed New Haven Yale University Press 1986
33
79Em siacutentese apertada o procedimentalismo sustenta que natildeo eacute papel da jurisdiccedilatildeo constitucional tutelar valores substantivos mas
apenas proteger os pressupostos necessaacuterios ao bom funcionamento da democracia Jaacute o substancialismo reconhece a legitimidade
da atuaccedilatildeo jurisdicional em favor da garantia e promoccedilatildeo de valores substantivos presentes na Constituiccedilatildeo O debate entre o
procedimentalismo identificado com as ideacuteias de autores como John Hart Ely e Juumlrgen Habermas e o substancialismo defendido
por teoacutericos como Ronald Dworkin e Laurence Tribe eacute reproduzido em praticamente toda a literatura contemporacircnea que trata de
Teoria ou Filosofia Constitucional Veja-se a propoacutesito a densa obra de Claacuteudio Ari Mello Democracia constitucional e direitos
fundamentais Porto Alegre Livraria do Advogado 2004
80Neoconstitucionalismo e constitucionalizaccedilatildeo do direito o triunfo tardio do direito constitucional no Brasil Op cit
81A crise paradigmaacutetica do direito no contexto da resistecircncia positivista ao (neo)constitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza
Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm Vinte anos da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Op cit p 203-228
82Nos vinte anos da carta cidadatilde do poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo Op cit
83Neoconstitucionalismo direitos fundamentais e controle de poliacuteticas puacuteblicas In Daniel Sarmento Flaacutevio Galdino (Org) Direitos
fundamentais estudos em homenagem ao prof Ricardo Lobo Torres Rio de Janeiro Renovar 2006 p 31-60
84Direitos humanos legitimidade e constitucionalismo In Daniel Sarmento Flaacutevio Galdino (Org) Direitos fundamentais estudos
em homenagem ao Prof Ricardo Lobo Torres Op cit p325-350
85Novos desafios agrave filtragem constitucional no momento do neoconstitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sar-
mento A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 251-270
86Neoconstitucionalismo a invasatildeo da Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Meacutetodo 2008
87Neoconstitucionalismo e positivismo juriacutedico Satildeo Paulo Landy 2006
88Teoria do direito e argumentaccedilatildeo racional temas de teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica op cit p 141-240
89Uma visatildeo criacutetica do neoconstitucionalismo In George Salomatildeo Leite Glauco Salomatildeo Leite Constituiccedilatildeo e efetividade constitu-
cional Salvador JusPodium 2008 p 43-60
90Neoconstitucionalismo entre a Ciecircncia do direito e o direito da ciecircncia In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento
Gustavo Binenbojm Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 p 187-202
91Cf Peticcedilatildeo 1246 MSSC julgada em 31011997 (obrigaccedilatildeo do Estado de realizar transplante de ceacutelulas mioblaacutesticas para salvar
a vida de crianccedila) Agravo de Instrumento no Recurso Extraordinaacuterio 271286RS DJU 24 nov 2000 (entrega de medicamentos
para portadores de HIV) e Agravo de Instrumento do Recurso Extraordinaacuterio nordm 410715-5 julgado em 22112005 (obrigaccedilatildeo de
fornecimento de vagas para educaccedilatildeo infantil pelo municiacutepio com atendimento em creches e preacute-escola)
92Recursos Extraordinaacuterios nordms 158215-4RS 161243-6DF 201819RJ
93Cf Mandado de Injunccedilatildeo 670ES Rel Min Gilmar Mendes julgado em 25102007 em que o STF revendo orientaccedilatildeo anterior
deu eficaacutecia normativa agrave sentenccedila proferida no mandado de injunccedilatildeo No caso decidiuse que ateacute o advento de lei regulamentado-
ra sobre a greve no serviccedilo puacuteblico o direito de greve poderia ser exercido obedecendo-se os limites impostos pela Lei 778389
que trata dos movimentos paredistas em serviccedilos essenciais no setor privado
94Sobre a tendecircncia agrave superaccedilatildeo da ideacuteia do Judiciaacuterio como legislador negativo na jurisdiccedilatildeo constitucional veja-se Joseacute Adeacutercio
Leite Sampaio A Constituiccedilatildeo reinventada pela jurisdiccedilatildeo constitucional Belo Horizonte Del Rey 2002 p 203-248
95Eacute lugar-comum dentre os autores que tratam da questatildeo associar tais mudanccedilas agrave pluralizaccedilatildeo das vozes na interpretaccedilatildeo consti-
tucional tema em que a referecircncia essencial no cenaacuterio germacircnico eacute Peter Haumlberle Veja-se a propoacutesito Peter Haumlberle Herme-
necircutica constitucional A sociedade aberta dos inteacuterpretes da Constituiccedilatildeo contribuiccedilatildeo para a interpretaccedilatildeo pluralista e procedi-
mental da Constituiccedilatildeo Traduccedilatildeo de Gilmar Ferreira Mendes Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1997 Veja-se ainda na doutrina
brasileira Gustavo Binenbojm A dimensatildeo do Amicus Curiae no processo constitucional brasileiro In Temas de direito constitu-
cional e administrativo Rio de Janeiro Renovar 2008 p 165-190
96ADIN 3510DF Relator Ministro Carlos Ayres Britto A accedilatildeo proposta contra o art 5ordm da Lei de Biosseguranccedila impugnava a auto-
rizaccedilatildeo de pesquisas com embriotildees humanos resultantes de fertilizaccedilatildeo in vitro que fossem inviaacuteveis ou estivessem congelados haacute
mais de trecircs anos A accedilatildeo foi julgada totalmente improcedente por 6 votos a 5
97ADPF nordm 54 A accedilatildeo que tem como relator o Ministro Marco Aureacutelio ainda natildeo foi julgada mas em seu bojo jaacute ocorreram diversas
audiecircncias puacuteblicas que provocaram intensa participaccedilatildeo da sociedade civil e grande interesse na miacutedia
34
98ADPF nordm 132 Relator Ministro Carlos Ayres Britto A accedilatildeo ainda foi julgada
99Mandados de Seguranccedila 26602DF 26603DF e 26604DF Informativo STF n 482
100Recurso Extraordinaacuterio 197917SP Rel p acoacuterdatildeo Min Ceacutesar Peluso DJU 18 fev 2005
101O livro de Alberto Carlos Almeida A cabeccedila do brasileiro lanccedilado em 2007 conteacutem pesquisas feitas sobre uma acuteseacuterie de temas
com pessoas de todas as classes sociais e regiotildees do paiacutes Uma das pesquisas eacute relativa agrave avaliaccedilatildeo das instituiccedilotildees Dentre as treze
avaliadas as duas que obtiveram menor aprovaccedilatildeo foram os partidos poliacuteticos (avaliaccedilatildeo positiva de 28 dos entrevistados) e o
Congresso (avaliaccedilatildeo positiva de 36 dos entrevistados) Cf Antonio Carlos Almeida A cabeccedila do brasileiro Rio de Janeiro Re-
cord 2007 p 187
102Cf Luis Roberto Barroso Judicializaccedilatildeo ativismo judicial e legitimidade democraacutetica Texto ainda ineacutedito gentilmente cedido
pelo autor
103Humberto Aacutevila por exemplo formula outra criacutetica importante de que o neoconstitucionalismo seria inadequado agrave realidade
constitucional brasileira jaacute que privilegia os princiacutepios e a Carta de 88 seria muito mais regulatoacuteria do que principioloacutegica (Neo-
constitucionalismo entre a ciecircncia do direito e o direito da ciecircncia Op cit p 188-192)
104Contudo natildeo eacute razoaacutevel estender esta criacutetica ao ponto de negar o caraacuteter democraacutetico da atuaccedilatildeo judicial Como ressaltou
Eugenio Rauacutel Zaffaroni uma instituiccedilatildeo natildeo eacute democraacutetica unicamente porque natildeo provenha de eleiccedilatildeo popular porque nem tudo
o que proveacutem desta origem eacute necessariamente aristocraacutetico Uma instituiccedilatildeo eacute democraacutetica quando seja funcional para o sistema
democraacutetico quer dizer quando seja necessaacuteria para a sua continuidade como ocorre com o judiciaacuterio (Poder judiciaacuterio crise
acertos e desacertos Traduccedilatildeo de Juarez Tavares Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1995 p 43)
105Cf Robert A Dahl Sobre a democracia Traduccedilatildeo de Beatriz Sidou Brasiacutelia UNB 2001 p 97-113 Juumlrgen Habermas Popular
Sovereignity as Procedure In James Bonham William Rehg Deliberative Democracy Cambridge The MIT Press 1997 p 35-66
106A questatildeo da tensatildeo e sinergia simultacircneas entre constitucionalismo e democracia eacute um dos debates mais fecundos da Teoria
Poliacutetica e da Filosofia Constitucional que tem atravessado o tempo desde o advento do constitucionalismo moderno no seacuteculo
XVIII Veja-se no debate contemporacircneo Jeremy Waldron Preocommitment and Disagreement In Larry Alexander Constitu-
cionalism Philosophical Foundations Cambridge Cambridge University Press 1998 p 271-299 Juumlrgen Habermas O Estado demo-
craacutetico de direito uma amarraccedilatildeo paradoxal de princiacutepios contraditoacuterios In Era das transiccedilotildees Traduccedilatildeo de Flaacutevio Beno Siebe-
neichler Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 2003 p 153-173 Carlos Santiago Nino La Constitucioacuten de la Democracia Deliberativa
Op cit Frank Michelman Brennan and Democracy Princeton Princeton University Press 1999 p 03-62 Stephen Holmes El
Precompromiso y la Paradoja de la Democracia In Jon Elster Rune Slagstad Constitucionalismo y Democracia Traduccedilatildeo de Mocircni-
ca Utrilla de Neira Mexico Fondo de Cultura Econocircmica 1999 p 217-262
107O problema da limitaccedilatildeo do legislador atual pelas decisotildees do constituinte adotadas no passado envolve a problemaacutetica da
partilha intergeracional de poder bem explicitada na fala de Jefferson que defendia que a cada 19 anos deveria ser elaborada
uma nova Constituiccedilatildeo nos Estados Unidos para que a Lei Maior daquele paiacutes natildeo se tornasse um mecanismo de governo dos mor-
tos sobre os vivos Em siacutentese apertada haacute na teoria poliacutetica contemporacircnea duas linhas principais de justificativa para a legiti-
midade destas restriccedilotildees
Uma eacute a teoria da democracia dualista defendida por Bruce Ackerman que sustenta que as decisotildees adotadas pelo proacuteprio povo
em contextos de grande mobilizaccedilatildeo ciacutevica devem ser protegidas do alcance da vontade dos representantes do povo formada em
momentos em que a cidadania natildeo esteja intensamente envolvida Esta teoria distingue a poliacutetica extraordinaacuteria correspondente
agravequeles momentos constitucionais da poliacutetica ordinaacuteria que se realiza atraveacutes das deliberaccedilotildees do dia a dia dos oacutergatildeos represen-
tativos Para a perspectiva ackermaniana a poliacutetica extraordinaacuteria - que natildeo exige necessariamente formalizaccedilatildeo procedimental
atraveacutes de assembleacuteia constituinte ou de emenda constitucional - se situa em patamar superior agrave poliacutetica ordinaacuteria e pode legiti-
mamente impor limites a esta (cf Bruce Ackerman We the people Foundations Cambridge The Belknap Press 1991 p 03-33)
Outra teoria eacute a do preacute-compromisso que jaacute foi advogada por Jon Elster Segundo ela eacute legiacutetimo subtrair do alcance das maiorias
determinadas questotildees fundamentais que expressam princiacutepios fundamentais de justiccedila poliacutetica ou garantam os pressupostos da
proacutepria democracia tendo em vista o risco de que no processo poliacutetico majoritaacuterio em momentos de irracionalidade o povo
35
possa ser viacutetima de suas proacuteprias fraquezas ou paixotildees momentacircneas atentando contra tais princiacutepios (cf Ulisses and Sirens
Cambridge Cambridge University Press 1979)
Ambas as concepccedilotildees - a primeira mais proacutexima ao republicanismo e a segunda de vieacutes mais liberal - tecircm a sua dose de procedecircn-
cia mas ensejam criacuteticas importantes Todavia foge a escopo do presente trabalho analisar esta questatildeo que eacute uma das mais
complexas da Filosofia Poliacutetica moderna e contemporacircnea Para uma visatildeo geral sobre o tema na literatura em liacutengua portuguesa
veja-se Oscar Vilhena Vieira A Constituiccedilatildeo e sua reserva de justiccedila Op cit Miguel Nogueira de Brito A Constituiccedilatildeo constituin-
te ensaio sobre o poder de revisatildeo da Constituiccedilatildeo Coimbra Coimbra 2000 Samantha Chantal Dobrowolski Op cit p 265-312
Rodrigo Brandatildeo Direitos fundamentais democracia e claacuteusulas peacutetreas Rio de Janeiro Renovar 2008 p 59-112
108Cf Michel Troper Justice Constitutionelle et Deacutemocratie In Pour une Theorie Juridique de LEacutetat Paris PUF 1994 p 317-328
Claacuteudio Pereira de Souza Neto Jurisdiccedilatildeo constitucional democracia e racionalidade praacutetica Op cit p 106-130 Gustavo Binen-
bojm A nova jurisdiccedilatildeo constitucional brasileira Op cit p 55-74
109Sobre o modelo revolucionaacuterio francecircs de constitucionalismo completamente avesso agrave ideacuteia de jurisdiccedilatildeo constitucional cf
Maurizio Fioravanti Constitucioacuten de la antiguumledad a nuestros dias Traduccedilatildeo de Manuel Martinez Neira Madrid Trotta 2001 p
120-132
110Cf Carl Schmitt La Defesa de la Constitucioacuten Madrid Tecnos 1983
111O constitucionalismo popular ou populismo constitucional eacute uma importante corrente no debate constitucional norte-americano
contemporacircneo que nega a legitimidade democraacutetica do controle de constitucionalidade advogando que deve caber ao proacuteprio
povo e natildeo a uma elite de juiacutezes natildeo eleitos com assento na Suprema Corte o poder de definir o sentido das claacuteusulas vagas que
abundam no texto constitucional daquele paiacutes Na defesa desta tese satildeo empregados tanto argumentos de teoria e filosofia poliacuteti-
ca de caraacuteter mais universal como razotildees histoacutericas relacionadas agrave evoluccedilatildeo do constitucionalismo estadunidense Veja-se nesta
linha Mark Tushnet Taking the Constitution Away from the Courts Princeton Princeton University Press 1999 Jeremy Waldron
Precommitment and Disagreement Op cit Larry D Kramer The People Themselves Popular constitutionalism and judicial re-
view New York Oxford University Press 1994
Ateacute algumas deacutecadas atraacutes a oposiccedilatildeo agrave jurisdiccedilatildeo constitucional nos Estados Unidos partia em regra da Direita que natildeo se con-
formava com a jurisprudecircncia extremamente liberal em mateacuteria de direitos fundamentais estabelecida pela Corte entre os anos
50 e 70 Atualmente uma boa parte dos opositores agrave judicial review situa-se agrave esquerda do espectro poliacutetico e talvez a nova linha
profundamente conservadora daquele Tribunal ajude a explicar esta mudanccedila
112Sobre a Era de Lochner veja-se Laurence H Tribe American Constitutional Law 2 ed Mineola The Foundation Press 1988 p
567-581 Paul Brest et al Processes of Constitucional Decisionmaking 4 ed New York Aspen Publishers 2000 p 337-354
113Towards Juristocracy hellip Op cit
114Tratei do tema no artigo Direito adquirido emenda constitucional democracia e justiccedila social In Livres e iguais Op cit p
03-32
115Cf Charles R Epp The Rights Revolution Chicago The University of Chicago Press 1998 p 26-70 Owen Fiss The Law as It
Could Be New York New York University Press 2003 p 244-249
116A importacircncia e as peculiaridades da interpretaccedilatildeo legislativa da Constituiccedilatildeo satildeo exploradas em importante obra coletiva
Richard W Bauman Tsvi Kahana The Least Examined Branch The Role of Legislatures in the Constitutional State Cambridge
Cambridge University Press 2006
117Cf em tom ainda mais ceacutetico do que o adotado neste estudo Martonio MontAlverne Barreto Lima Jurisdiccedilatildeo Constitucional
um problema da teoria da democracia poliacutetica In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Gilberto Bercovici Joseacute Filomeno de Moraes
Filho Martonio MontAlverne Teoria da Constituiccedilatildeo estudos sobre o lugar da poliacutetica no direito constitucional Rio de Janeiro
Lumen Juris 2003 p 199-261 Conrado Huumlbner Mendes Controle de constitucionalidade e democracia Rio de Janeiro Elsevier
2008
36
118Para criacutetica semelhante no contexto germacircnico veja-se Ingeborg Maus O judiciaacuterio como superego da sociedade sobre o papel
da atividade jurisprudencial na sociedade oacuterfatilde Traduccedilatildeo de Martonio MontAlverne Barreto Lima Paulo Antonio Menezes de Albu-
querque Anuaacuterio dos Cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito da Faculdade de Direito de Recife n 11 2000
119Eu aprofundo a anaacutelise deste ponto no meu artigo Interpretaccedilatildeo constitucional preacute-compreensatildeo e capacidades institucionais do
inteacuterprete In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm (Coord) Vinte anos da Constituiccedilatildeo Federal
de 1988 Op cit p 311-322 E a necessidade de optar por teoria de interpretaccedilatildeo que leve em consideraccedilatildeo as capacidades
institucionais reais dos juiacutezes comparando-as com as dos agentes de outras instituiccedilotildees eacute explorada no importante estudo de Cass
Sunstein Adrian Vermeulle Interpretations and Institutions Chicago Working Papers in Law amp Economics 2002 p 01-55 bem
como no livro de Adrian Vermeulle Judging under Uncertainty An Institutional Theory for Legal Interpretation Cambridge Har-
vard University Press 2006
120Dentre as honrosas exceccedilotildees mencione-se Luiacutes Roberto Barroso autor de importante artigo com sugestotildees para a reforma poliacuteti-
ca no paiacutes Reforma poliacutetica uma proposta de sistema de governo eleitoral e partidaacuterio para o Brasil Revista de Direito do Esta-
do n 3 p 287-360 jul set 2006
121Sobre o ethos judicial no Brasil veja-se a pesquisa de Maria Tereza Sadek Magistrados uma imagem em movimento Rio de
Janeiro FGV 2006
122Em sentido semelhante veja-se Michael J Perry The Constitution the Courts and Human Rights New Haven Yale University
Press 1982 p 91-145
123Neste ponto entendo que um standard importante que deveria ser adotado para controle de constitucionalidade eacute o de que
quanto maiores forem as credencias democraacuteticas de um ato normativo mais autocontido deve ser o Poder Judiciaacuterio ao avaliar a
sua constitucionalidade Na minha opiniatildeo estas credencias democraacuteticas devem ser aferidas tanto por criteacuterios qualitativos - eg
grau de participaccedilatildeo social no processo legislativo qualidade do processo deliberativo que a antecedeu - como por criteacuterios quanti-
tativos - percentual de votos favoraacuteveis agrave medida Em sentido semelhante veja-se Claacuteudio Ari Mello Democracia e direitos funda-
mentais Op cit p 298
124Em sentido proacuteximo apontam as liccedilotildees de Gustavo Binenbojm e Humberto Aacutevila O primeiro tratando do controle judicial dos
atos administrativos averbou que quanto maior for o grau de tecnicidade da mateacuteria objeto de decisatildeo por oacutergatildeos dotados de
expertise e experiecircncia menos intenso deve ser o grau de controle judicial (Uma teoria do direito administrativo Op cit p
236) Jaacute o segundo salientou que o acircmbito de controle pelo Judiciaacuterio deveraacute ser tanto menor quanto mais difiacutecil e teacutecnico for
o juiacutezo exigido para o tratamento da mateacuteria (Teoria dos princiacutepios Op cit p 126)
125Um exemplo extremado deste posicionamento estaacute na argumentaccedilatildeo adotada pelo STF no julgamento da ADIN 2797 Rel Min
Sepuacutelveda Pertence em que se reconheceu a inconstitucionalidade formal de lei que pretendia interpretar a Constituiccedilatildeo Para o
STF natildeo pode a lei ordinaacuteria pretender impor como seu objeto imediato uma interpretaccedilatildeo a Constituiccedilatildeo a questatildeo eacute de in-
constitucionalidade formal iacutensita a toda norma da gradaccedilatildeo inferior que se proponha a ditar interpretaccedilatildeo de norma superior
Na questatildeo de fundo abordada naquele caso entendo que o STF estava certo Tratava-se de invalidar uma norma legal que esten-
dera o foro de prerrogativa de funccedilatildeo a ex-ocupantes de cargos puacuteblicos visando a restaurar antiga jurisprudecircncia do STF sedi-
mentada na Suacutemula 394 do Tribunal que acabara de ser cancelada O princiacutepio republicano natildeo era compatiacutevel com tal medida
que configurava niacutetido privileacutegio O que me parece inaceitaacutevel e profundamente anti-democraacutetico com a devida vecircnia natildeo eacute o
resultado alcanccedilado pela Corte - com o qual concordo - mas o argumento empregado de que o legislador natildeo pode interpretar a
Constituiccedilatildeo
126Existe hoje uma fecunda produccedilatildeo acadecircmica no cenaacuterio anglo-saxatildeo sobre as vantagens de modelos teoacutericos que favoreccedilam
diaacutelogos entre diversos oacutergatildeos e instituiccedilotildees na interpretaccedilatildeo constitucional ao inveacutes de afirmarem a exclusividade ou mesmo a
supremacia do Judiciaacuterio nesta seara Veja-se a propoacutesito Laurence G Sager Justice in Plainclothes A Theory of American Con-
stitutional Practice New haven Yale University Press 2004 Mark Tushnet Weak Courts Strong Rights Judicial Review and Social
Welfare Rights in Comparative Constitutional Law Princeton Princeton University Press 2008 Mark C Miller Jeb Barnes (Ed)
Making Police Making Law An Interbranch Perspective Washington DC Georgetown University Press 2004
37
127Colhi o exemplo no estudo de Oscar Vilhena Vieira Supremocracia In Daniel Sarmento (Org) Filosofia e teoria constitucional
contemporacircnea Rio de Janeiro Lumen Juris 2009
128Como um natildeo-positivista tenho a necessaacuteria imparcialidade para criticar os equiacutevocos da doutrina brasileira nas suas invectivas
contra o positivismo que muitas vezes caracterizam verdadeira falaacutecia do espantalho ataca-se natildeo a proacutepria teoria positivista
mas uma distorcida caricatura dela Duas afirmaccedilotildees erradas que eu mesmo jaacute fiz em textos anteriores satildeo muito frequumlentes a
de que o positivismo recusa a aplicaccedilatildeo dos princiacutepios juriacutedicos e a de que ele teria sido a Filosofia do Direito cultivada na Alema-
nha nazista
Quanto ao primeiro ponto natildeo haacute nenhuma incompatibilidade loacutegica entre positivismo e princiacutepios desde que os princiacutepios este-
jam devidamente incorporados na ordem juriacutedico-positiva Vaacuterios autores positivistas contemporacircneos jaacute citados neste estudo
como Luis Prietro Sanchiacutes Luigi Ferrajoli e Gregorio Peces-Barba atribuiacuteram espaccedilo importante para princiacutepios nas suas teorias
Mesmo no Direito Puacuteblico brasileiro juristas de inspiraccedilatildeo positivista kelseniana construiacuteram suas teorias com apoio em argumen-
taccedilatildeo principioloacutegica como o falecido Geraldo Ataliba e Celso Antonio Bandeira de Mello
No que tange ao segundo ponto - a chamada redutio ad hitlerum - os estudos mais autorizados de Histoacuteria do Direito comprovam
que natildeo foi o positivismo a teoria juriacutedica dominante no nazismo mas uma espeacutecie de jusnaturalismo de inspiraccedilatildeo hegeliana que
se insurgia contra o formalismo e recorria com frequumlecircncia a conceitos muito vagos para justificar a barbaacuterie como os de comuni-
dade popular (Volksgemeinschaft) Veja-se a propoacutesito Michael Stolleis The Law under the Swastika Studies on Legal History in
Nazi Germany Traduccedilatildeo de Thomas Dunlap Chicago The University of Chicago Press 1998
129Cf Joseacute Joaquim Gomes Canotilho Direito constitucional e Teoria da Constituiccedilatildeo Coimbra Almedina 1998 p 1036
130Sobre a importacircncia das regras veja-se Frederick Schauer Playing by the Rules A Philosophical Exaxamination of Rule-Bases
Decision-Making in Law and Life Oxford Oxford University Press 1998 Humberto Aacutevila Neoconstitucionalismo entre a ciecircncia do
direito e o direito da ciecircncia Op cit Noel Struchiner Posturas institucionais e modelagem institucional a dignidade (contingente)
do formalismo juriacutedico In Daniel Sarmento Filosofia e teoria constitucional contemporacircnea Op cit
131Esta eacute expressatildeo empregada por Ana Paula de Barcellos O direito constitucional em 2006 Revista de Direito do Estado n 5 p
03-23 janmar 2007
132Cf Chaiumlm Perelman P Fories La Motivation des Deacutecisions de Justice Bruxelas Eacutemile Bruylant 1978
133Sobra a influecircncia do jeitinho no Direito brasileiro cf Keith Rosen O jeito na cultura juriacutedica brasileira Rio de Janeiro Reno-
var 1997
134Sobre o patrimonialismo no Brasil veja-se Raimundo Faoro Os donos do poder 8 ed Rio de Janeiro Globo 1989 v 2 p 729-
750
135Raiacutezes do Brasil 26 ed Satildeo Paulo Companhia das Letras 1995
136Cf Joseacute Murilo de Carvalho Brasileiro Cidadatildeo In Pontos e bordados escritos de histoacuteria e poliacutetica Belo Horizonte Ed
UFMG 2005 p 275-288
137Cf Gustavo Zagrebelsky Il Diritto Mite Op cit p 15-19
138Cf Marcelo Neves A constitucionalizaccedilatildeo simboacutelica Satildeo Paulo Acadecircmica 1994
139A obra de Niklas Luhman eacute vasta e complexa e seus textos satildeo de difiacutecil compreensatildeo para os natildeo iniciados Veja-se do proacuteprio
autor Sociologia do direito I e II Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 1983 e 1985 Sistema Jurididico y Dogmaacutetica Juriacutedica Madrid
Centro de Estuacutedios Constitucionales 1983 Confira-se tambeacutem a coletacircnea organizada por Andreacute-Jean Arnaud Dalmir Lopes Jr Do
sistema social agrave sociologia juriacutedica Rio de Janeiro Lumen Juris 2004
140Sobre a autopoieses do Direito veja-se tambeacutem a obra importante de Guumlnther Teubner O direito como sistema autopoieacutetico
Traduccedilatildeo de Joseacute Engracia Nunes Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1993
141Cf Luis Roberto Barroso Neoconstitucionalismo e a constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit
142Esta era basicamente a visatildeo de Hans Kelsen (Cf Hans Kelsen Jurisdiccedilatildeo constitucional Traduccedilatildeo de Alexandre Krug et al Satildeo
Paulo Martins Fontes 2003 p 153) Para uma anaacutelise criacutetica desta posiccedilatildeo veja-se Luis Prietro Sanchiacutes Presupuestos ideoloacutegicos
y doctrinales de la jurisdicioacuten constitucional In Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales Op cit p 21-100
38
143Cf Christian Starck La suprematie La Suprematie de la Constitution et la Justice Constitutionnelle In La Constitution Cadre et
Mesure du Droit Traduccedilatildeo de Freacutederic Weill Paris Econocircmica 1994 p 26-30 Ernst- Wolfgang Boumlckenfoumlrde Les meacutethodes
dinterpretation de la Constitution Un bilan critique In Le Droit lEacutetat et la Constitution Democratique Traduccedilatildeo de Olivier
Jouanjan Paris LGDJ 2000 p 249-250 Virgiacutelio Afonso da Silva Constitucionalizaccedilatildeo do direito os direitos fundamentais nas
relaccedilotildees entre particulares Satildeo Paulo Malheiros 2005 p 107-131 Daniel Sarmento Ubiquumlidade constitucional os dois lados da
moeda Op cit Luis Roberto Barroso Curso de Direito Constitucional Contemporacircneo Op cit p 391-394 Alceu Mauriacutecio Jr
Judicializaccedilatildeo da poliacutetica e a crise do direito constitucional a Constituiccedilatildeo entre ordem marco e ordem fundamenta Revista de
Direito do Estado n 10 p 125-142 abrjun 2008
144Der Staat der Industriegesellshaft 2 ed Muumlnchen Beck 1971 p 144 Apud Robert Alexy Posfaacutecio In Teoria dos direitos
fundamentais Op cit p 578
145De acordo com Carlos Santiago Nino o perfeccionaismo eacute la concepcioacuten seguacuten la cual es una misioacuten legiacutetima del Estado hacer
que los individuos acepten y materializen ideales vaacutelidos de virtud personal Seguacuten este enfoque el Estado no puede permanecer
neutral respecto de concepciones de lo bueno en la vida y debe adoptar las medidas educativas punitorias etc que sean necesa-
rias para que los indiviacuteduos ajusten su vida a los verdaderos ideales de virtud y del bien (Eacutetica y Derechos Humanos Un ensayo de
fundamentacioacuten 2 ed Buenos Aires Astrea 1989 p 413)
146Daniel Sarmento Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas 2 ed Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 Sobre o tema na literatura
nacional veja-se tambeacutem Wilson Antocircnio Steinmetz A vinculaccedilatildeo dos particulares aos direitos fundamentais Satildeo Paulo Malheiros
2004 Virgiacutelio Afonso da Silva Constitucionalizaccedilatildeo do direito os direitos fundamentais nas relaccedilotildees entre particulares Op cit
Ingo Wolfgang Sarlet Direitos fundamentais e direito privado algumas consideraccedilotildees em torno da vinculaccedilatildeo dos particulares aos
direitos fundamentais In Ingo Wolfgang Sarlet (Org) A Constituiccedilatildeo concretizada Porto Alegre Livraria do Advogado 1999 p
129-173 Jane Reis Gonccedilalves Pereira Apontamentos sobre a aplicaccedilatildeo das normas de direito fundamental nas relaccedilotildees juriacutedicas
entre particulares In Luis Roberto Barroso (Org) A nova interpretaccedilatildeo constitucional ponderaccedilatildeo direitos fundamentais e
relaccedilotildees privadas Rio de Janeiro Renovar 2003 p 119-192
147Sobre a questatildeo da (i)legitimidade do perfeccionismo no Direito veja-se Joel Feinberg Rights Justice and the Bounds of Liber-
ty Princeton Princeton University Press 1980 Carlos Santiago Nino Eacutetica y Derechos Humanos Op cit p 413-446 Rainer Forst
Contexts of Justice Political Philosophy beyond Liberalism and Communitarianism Traduccedilatildeo de John M M Farrel Berkeley Uni-
versity of Califoacuternia Press 2001 p 30-87 Macaacuterio Alemany El Paternalismo Juriacutedico Madrid Iustel 2006
148Um sofisticado modelo que busca conciliar a constitucionalizaccedilatildeo do Direito com a democracia estaacute exposto no Poacutesfaacutecio agrave Teo-
ria dos Direitos Fundamentais de Robert Alexy acima citado Veja-se ainda Konrad Hesse Concepto y Cualidad de la Constitu-
cion In Escritos de Derecho Constitucional Traduccedilatildeo de Pedro Cruz Villaloacuten 2 ed 1992 p 03-29
149Tentei articular a minha teoria sobre eficaacutecia horizontal dos direitos fundamentais com este objetivo Cf Daniel Sarmento
Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas Op cit p 141-182 259-272
150Sobre el Neoconstitucionalismo y sus Implicaciones Op cit p 117
151Aqui entendo que o simples reconhecimento da penetraccedilatildeo da Moral no Direito preconizada pelos neoconstitucionalistas brasi-
leiros natildeo eacute suficiente jaacute que certas concepccedilotildees morais podem tornar o ordenamento ainda mais opressivo do que jaacute eacute Afinal
nem sempre a moralizaccedilatildeo do Direito se daacute na direccedilatildeo da emancipaccedilatildeo dos excluiacutedos Veja-se por exemplo a famosa polecircmica
jusfilosoacutefica entre Lord Patrick Devlin e Herbert Hart nos anos 60 na Inglaterra a propoacutesito do uso do Direito Penal para promoccedilatildeo
de Moral em que o primeiro a partir de uma posiccedilatildeo proacute-moral sustentava a legitimidade da criminalizaccedilatildeo da conduta homos-
sexual que o segundo contestava (Cf Lord Patrick Devlin Morals and Criminal Law In Ronald Dworkin (Ed) The Philosophy of
Law Op cit p 66-82 Herbert Hart Immorality and Treason In Idem ibidem)
Eacute preciso assentar as bases criacuteticas desta Moral que deve penetrar o Direito para evitar que o moralismo conservador seja expulso
do ordenamento pela porta da frente superado pela legislaccedilatildeo moderna em razatildeo da progressiva liberalizaccedilatildeo da sociedade mas
volte pela porta dos fundos atraveacutes da argumentaccedilatildeo juriacutedica dos juiacutezes lastreada em conceitos vagos como ordem puacuteblica e
bons constumes ou em standards como o comportamento do bom pai de famiacutelia
39
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dor mas que natildeo podiam ser invocados perante o Judiciaacuterio na defesa de direitos21 Os direi-
tos fundamentais valiam apenas na medida em que fossem protegidos pelas leis e natildeo envolvi-
am em geral garantias contra o arbiacutetrio ou descaso das maiorias poliacuteticas instaladas nos par-
lamentos Aliaacutes durante a maior parte do tempo as maiorias parlamentares nem mesmo re-
presentavam todo o povo jaacute que o sufraacutegio universal soacute foi conquistado no curso do seacuteculo XX
Depois da Segunda Guerra na Alemanha22e na Itaacutelia23 e algumas deacutecadas mais tarde apoacutes o
fim de ditaduras de direita na Espanha e em Portugal assistiu-se a uma mudanccedila significativa
deste quadro A percepccedilatildeo de que as maiorias poliacuteticas podem perpetrar ou acumpliciar-se com
a barbaacuterie como ocorrera no nazismo alematildeo levou as novas constituiccedilotildees a criarem ou forta-
lecerem a jurisdiccedilatildeo constitucional instituindo mecanismos potentes de proteccedilatildeo dos direitos
fundamentais mesmo em face do legislador Sob esta perspectiva a concepccedilatildeo de Constituiccedilatildeo
na Europa aproximou-se daquela existente nos Estados Unidosonde desde os primoacuterdios do
constitucionalismo entende-se que a Constituiccedilatildeo eacute autecircntica norma juriacutedica que limita o
exerciacutecio do Poder Legislativo e pode justificar a invalidaccedilatildeo de leis24 Soacute que com uma dife-
renccedila importante enquanto a Constituiccedilatildeo norte-americana eacute sinteacutetica e se limita a definir os
traccedilos baacutesicos de organizaccedilatildeo do Estado e a prever alguns poucos direitos individuais as cartas
europeacuteias foram em geral muito aleacutem disso
As constituiccedilotildees europeacuteias do 2ordm poacutes-guerra natildeo satildeo cartas procedimentais que quase tudo dei-
xam para as decisotildees das maiorias legislativas mas sim documentos repletos de normas im-
pregnadas de elevado teor axioloacutegico que contecircm importantes decisotildees substantivas e se de-
bruccedilam sobre uma ampla variedade de temas que outrora natildeo eram tratados pelas constitui-
ccedilotildees como a economia as relaccedilotildees de trabalho e a famiacutelia25 Muitas delas ao lado dos tradi-
cionais direitos individuais e poliacuteticos incluem tambeacutem direitos sociais de natureza prestacio-
nal Uma interpretaccedilatildeo extensiva e abrangente das normas constitucionais pelo Poder Judiciaacute-
rio deu origem ao fenocircmeno de constitucionalizaccedilatildeo da ordem juriacutedica que ampliou a influecircn-
cia das constituiccedilotildees sobre todo o ordenamento levando agrave adoccedilatildeo de novas leituras de normas
e institutos nos mais variados ramos do Direito26
Como boa parcela das normas mais relevantes destas constituiccedilotildees caracteriza-se pela abertura
e indeterminaccedilatildeo semacircnticas - satildeo em grande parte princiacutepios e natildeo regras - a sua aplicaccedilatildeo
direta pelo Poder Judiciaacuterio importou na adoccedilatildeo de novas teacutecnicas e estilos hermenecircuticos ao
lado da tradicional subsunccedilatildeo27 A necessidade de resolver tensotildees entre princiacutepios constitucio-
nais colidentes - frequumlente em constituiccedilotildees compromissoacuterias marcadas pela riqueza e pelo
5
pluralismo axioloacutegico - deu espaccedilo ao desenvolvimento da teacutecnica da ponderaccedilatildeo28 e tornou
frequumlente o recurso ao princiacutepio da proporcionalidade na esfera judicial29 E a busca de legiti-
midade para estas decisotildees no marco de sociedades plurais e complexas impulsionou o desen-
volvimento de diversas teorias da argumentaccedilatildeo juriacutedica30 que incorporaram ao Direito ele-
mentos que o positivismo claacutessico costumava desprezar como consideraccedilotildees de natureza mo-
ral ou relacionadas ao campo empiacuterico subjacente agraves normas
Neste contexto cresceu muito a importacircncia poliacutetica do Poder Judiciaacuterio Com frequumlecircncia cada
vez maior questotildees polecircmicas e relevantes para a sociedade passaram a ser decididas por ma-
gistrados e sobretudo por cortes constitucionais muitas vezes em razatildeo de accedilotildees propostas
pelo grupo poliacutetico ou social que fora perdedor na arena legislativa31 De poder quase nulo
mera boca que pronuncia as palavras da lei como lhe chamara Montesquieu o Poder Judiciaacute-
rio se viu alccedilado a uma posiccedilatildeo muito mais importante no desenho institucional do Estado con-
temporacircneo
A principal mateacuteria-prima dos estudos que se identificam com o neoconstitucionalismo relacio-
na-se agraves mutaccedilotildees da cultura juriacutedica acima descritas Em que pese a heterogeneidade dos po-
sicionamentos jusfilosoacuteficos dos autores que se filiam a esta linha natildeo me parece uma simplifi-
caccedilatildeo exagerada dizer que os seus principais pontos de convergecircncia satildeo o reconhecimento
destas mudanccedilas e a sua defesa32
As teorias neoconstitucionalistas buscam construir novas grades teoacutericas que se compatibilizem
com os fenocircmenos acima referidos em substituiccedilatildeo agravequelas do positivismo tradicional consi-
deradas incompatiacuteveis com a nova realidade Assim por exemplo ao inveacutes da insistecircncia na
subsunccedilatildeo e no silogismo do positivismo formalista ou no mero reconhecimento da discriciona-
riedade poliacutetica do inteacuterprete nos casos difiacuteceis na linha do positivismo mais moderno de Kel-
sen e Hart o neoconstitucionalismo se dedica agrave discussatildeo de meacutetodos ou de teorias da argu-
mentaccedilatildeo que permitam a procura racional e intersubjetivamente controlaacutevel da melhor res-
posta para os casos difiacuteceis do Direito33 Haacute portanto uma valorizaccedilatildeo da razatildeo praacutetica no
acircmbito juriacutedico Para o neoconstitucionalismo natildeo eacute racional apenas aquilo que possa ser
comprovado de forma experimental ou deduzido more geometrico de premissas gerais como
postulavam algumas correntes do positivismo Tambeacutem pode ser racional a argumentaccedilatildeo em-
pregada na resoluccedilatildeo das questotildees praacuteticas que o Direito tem de equacionar34 A ideacuteia de ra-
cionalidade juriacutedica aproxima-se da ideacuteia do razoaacutevel e deixa de se identificar agrave loacutegica formal
das ciecircncias exatas
6
No neoconstitucionalismo a leitura claacutessica do princiacutepio da separaccedilatildeo de poderes que impu-
nha limites riacutegidos agrave atuaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio cede espaccedilo a outras visotildees mais favoraacuteveis
ao ativismo judicial em defesa dos valores constitucionais35 No lugar de concepccedilotildees estrita-
mente majoritaacuterias do princiacutepio democraacutetico satildeo endossadas teorias de democracia mais subs-
tantivas36 que legitimam amplas restriccedilotildees aos poderes do legislador em nome dos direitos
fundamentais e da proteccedilatildeo das minorias e possibilitem a sua fiscalizaccedilatildeo por juiacutezes natildeo elei-
tos E ao inveacutes de uma teoria das fontes do Direito focada no coacutedigo e na lei formal enfatiza-se
a centralidade da Constituiccedilatildeo no ordenamento a ubiquumlidade da sua influecircncia na ordem juriacute-
dica e o papel criativo da jurisprudecircncia
Ao reconhecer a forccedila normativa de princiacutepios revestidos de elevada carga axioloacutegica como
dignidade da pessoa humana igualdade Estado Democraacutetico de Direito e solidariedade social
o neoconstitucionalismo abre as portas do Direito para o debate moral37 Eacute certo que aqui resi-
de uma das maiores divergecircncias internas nas fileiras do neoconstitucionalismo
De um lado figuram os positivistas como Luigi Ferrajoli38 Luiz Prietro Sanchiacutes39 Ricardo
Guastini 40e Suzana Pozzolo41 que natildeo aceitam a existecircncia de uma conexatildeo necessaacuteria entre
Direito e Moral mas reconhecem que pode haver uma ligaccedilatildeo contingente entre estas esferas
sempre que as autoridades competentes dentre as quais se inclui o poder constituinte originaacute-
rio positivem valores morais conferindo-lhes forccedila juriacutedica Do outro alinham-se os natildeo-
positivistas como Ronald Dworkin42 Robert Alexy43 Carlos Santiago Nino44 e seus seguidores
que afirmam que Moral e Direito tecircm uma conexatildeo necessaacuteria e aderem agrave famosa tese de Gus-
tav Radbruch de que normas terrivelmente injustas natildeo tecircm validade juriacutedica independente-
mente do que digam as fontes autorizadas do ordenamento45 Dentre estes autores haacute quem
insista na ideacuteia de que o Direito possui uma pretensatildeo de correccedilatildeo pois de alguma maneira eacute
da sua essecircncia aspirar agrave realizaccedilatildeo da justiccedila46 Contudo na medida em que as constituiccedilotildees
contemporacircneas entronizam com prodigalidade os valores morais este debate teoacuterico perde
bastante em importacircncia pois mesmo os neoconstitucionalistas que se afirmam positivistas
reconhecem a penetraccedilatildeo da Moral no tecido juriacutedico sobretudo pela via dos princiacutepios consti-
tucionais47 Trata-se do chamado positivismo inclusivo48
Neste quadro embora me pareccedila exagerado falar em superaccedilatildeo da eterna querela entre jusna-
turalistas e positivistas pela via do neoconstitucionalismo natildeo haacute duacutevida de que a relevacircncia
praacutetica da desavenccedila eacute consideravelmente diminuiacuteda Eacute verdade que para os positivistas inclu-
sivos o fundamento das normas revestidas de conteuacutedo moral seraacute sempre um ato de autorida-
7
de validado por uma regra de reconhecimento aceita pela praacutetica da comunidade poliacutetica No
final das contas eles natildeo se afastam do brocardo hobbesiano de que autoritas non veritas facit
legem Jaacute para os natildeo-positivistas a vigecircncia dos princiacutepios morais natildeo decorreraacute de um teste
de pedigree mas de exigecircncias da proacutepria Moral acessiacuteveis agrave razatildeo humana Poreacutem para am-
bas as linhas os valores morais incluiacutedos nas constituiccedilotildees satildeo juriacutedicos e devem produzir efei-
tos no mundo concreto
No paradigma neoconstitucionalista a argumentaccedilatildeo juriacutedica apesar de natildeo se fundir com a
Moral abre um significativo espaccedilo para ela Por isso se atenua a distinccedilatildeo da teoria juriacutedica
claacutessica entre a descriccedilatildeo do Direito como ele eacute e prescriccedilatildeo sobre como ele deveria ser49 Os
juiacutezos descritivo e prescritivo de alguma maneira se sobrepotildeem pela influecircncia dos princiacutepios
e valores constitucionais impregnados de forte conteuacutedo moral que conferem poder ao inteacuter-
prete para buscar em cada caso difiacutecil a soluccedilatildeo mais justa no proacuteprio marco da ordem juriacute-
dica Em outras palavras as fronteiras entre Direito e Moral natildeo satildeo abolidas e a diferenciaccedilatildeo
entre eles essencial nas sociedades complexas permanece em vigor mas as fronteiras entre
os dois domiacutenios tornam-se muito mais porosas na medida em que o proacuteprio ordenamento in-
corpora no seu patamar mais elevado princiacutepios de justiccedila e a cultura juriacutedica comeccedila a le-
vaacute-los a seacuterio
Poreacutem natildeo haacute uma posiccedilatildeo clara nas fileiras neoconstitucionalistas sobre a forma como devem
ser compreendidos e aplicados os valores morais incorporados pela ordem constitucional que
pela sua vagueza e indeterminaccedilatildeo abrem-se a leituras muito diversificadas No contexto das
sociedades plurais e desencantadas que existem no mundo contemporacircneo este debate tor-
na-se crucial uma vez que natildeo haacute mais consensos axioloacutegicos em torno das questotildees difiacuteceis
que o Direito eacute chamado a resolver Este pluralismo mundivisivo torna inviaacutevel pela falta de
legitimidade o uso da argumentaccedilatildeo de cunho jusnaturalista que apele agrave religiatildeo agrave natureza
ou agrave metafiacutesica para equacionar as mais complexas controveacutersias juriacutedicas50
Neste cenaacuterio haacute espaccedilo tanto para visotildees comunitaristas51 que buscam na moralidade positi-
va e nas preacute-compreensotildees socialmente vigentes o norte para a hermenecircutica constitucional
endossando na seara interpretativa os valores e cosmovisotildees hegemocircnicos na sociedade como
para teorias mais proacuteximas ao construtivismo eacutetico52 que se orientam para uma moralidade
criacutetica cujo conteuacutedo seja definido atraveacutes de um debate racional de ideacuteias fundado em cer-
tos pressupostos normativos como os de igualdade e liberdade de todos os seus participantes
8
Natildeo haacute como identificar o neoconstitucionalismo com nenhuma destas posiccedilotildees que marcam o
importante debate entre comunitarismo e liberalismo na filosofia poliacutetica contemporacircnea
Outro traccedilo caracteriacutestico do neoconstitucionalismo eacute o seu foco no Poder Judiciaacuterio O grande
protagonista das teorias neoconstitucionalistas eacute o juiz O Direito eacute analisado sobretudo a partir
de uma perspectiva interna daquele que participa dos processos que envolvem a sua interpre-
taccedilatildeo e aplicaccedilatildeo relegando-se a um segundo plano a perspectiva externa do observador Esta
obsessatildeo pelo Poder Judiciaacuterio leva a uma certa desconsideraccedilatildeo do papel desempenhado por
outras instituiccedilotildees como o Poder Legislativo na interpretaccedilatildeo constitucional53 O juiz eacute con-
cebido como o guardiatildeo das promessas54 civilizatoacuterias dos textos constitucionais o que expotildee o
neoconstitucionalismo a vaacuterias criacuteticas - que seratildeo analisadas mais agrave frente - como de que se-
ria elitista e refrataacuterio ao autogoverno popular
Por outro lado o neoconstitucionalismo alenta um ideaacuterio humanista que aposta na possibili-
dade de emancipaccedilatildeo humana pela via juriacutedica atraveacutes de um uso engajado da moderna dog-
maacutetica constitucional55 Neste sentido ele se afasta de algumas linhas teoacutericas da esquerda
como o marxismo56a Critical Legal Studies norte-americana57 e o movimento do Direito Alter-
nativo no Brasil58 que denunciavam o Direito como um instrumento de opressatildeo e dominaccedilatildeo a
serviccedilo dos interesses das classes favorecidas mesmo quando apresentado sob o manto de uma
retoacuterica legitimadora de legalidade e de direitos individuais universais
Trata-se portanto de uma teoria otimista - ou naive diriam os seus criacuteticos - que tambeacutem
natildeo se compadece com o desencanto poacutes-moderno59 profundamente descrente em relaccedilatildeo agrave
razatildeo Enquanto os poacutes-modernos criticam as metanarrativas60 e buscam descontruir as ela-
boraccedilotildees abstratas sobre as quais se fundou o Direito moderno - direitos humanos liberdade
igualdade etc - os neoconstitucionalistas insistem no aprofundamento do projeto poliacutetico da
Modernidade de emancipaccedilatildeo pelo uso da razatildeo atraveacutes dos instrumentos do Direito Constitu-
cional sobretudo os direitos fundamentais
Vejamos agora como estas ideacuteias foram recebidas no Brasil
3 A recepccedilatildeo do neoconstitucionalismo no Brasil
9
O processo histoacuterico que se desenrolou na Europa Ocidental a partir do final da Segunda Guer-
ra no Brasil soacute teve iniacutecio apoacutes a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 88 Eacute verdade que jaacute tiacutenha-
mos controle de constitucionalidade desde a proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Poreacutem na cultura ju-
riacutedica brasileira de ateacute entatildeo as constituiccedilotildees natildeo eram vistas como autecircnticas normas juriacutedi-
cas natildeo passando muitas vezes de meras fachadas Exemplos disso natildeo faltam a Constituiccedilatildeo
de 1824 falava em igualdade e a principal instituiccedilatildeo do paiacutes era a escravidatildeo negra a de 1891
instituiacutera o sufraacutegio universal mas todas as eleiccedilotildees eram fraudadas a de 1937 disciplinava o
processo legislativo mas enquanto ela vigorou o Congresso esteve fechado e o Presidente legis-
lava por decretos a de 1969 garantia os direitos agrave liberdade agrave integridade fiacutesica e agrave vida mas
as prisotildees ilegais o desaparecimento forccedilado de pessoas e a tortura campeavam nos porotildees do
regime militar Nesta uacuteltima quadra histoacuterica conviveu-se ainda com o constrangedor paradoxo
da existecircncia de duas ordens juriacutedicas paralelas a das constituiccedilotildees e a dos atos institucionais
que natildeo buscavam nas primeiras o seu fundamento de validade mas num suposto poder revolu-
cionaacuterio em que estariam investidas as Forccedilas Armadas
Ateacute 1988 a lei valia muito mais do que a Constituiccedilatildeo no traacutefico juriacutedico e no Direito Puacuteblico
o decreto e a portaria ainda valiam mais do que a lei O Poder Judiciaacuterio natildeo desempenhava
um papel poliacutetico tatildeo importante e natildeo tinha o mesmo niacutevel de independecircncia de que passou a
gozar posteriormente As constituiccedilotildees eram proacutedigas na consagraccedilatildeo de direitos mas estes
dependiam quase exclusivamente da boa vontade dos governantes de plantatildeo para saiacuterem do
papel - o que normalmente natildeo ocorria Em contextos de crise as foacutermulas constitucionais natildeo
eram seguidas e os quarteacuteis arbitravam boa parte dos conflitos poliacuteticos ou institucionais que
eclodiam no paiacutes
A Assembleacuteia Constituinte de 19871988 que coroou o processo de redemocratizaccedilatildeo do paiacutes
quis romper com este estado de coisas e promulgou uma Constituiccedilatildeo contendo um amplo e
generoso elenco de direitos fundamentais de diversas dimensotildees - direitos individuais poliacuteti-
cos sociais e difusos - aos quais conferiu aplicabilidade imediata (art 5ordm Paraacutegrafo 1ordm) e pro-
tegeu diante do proacuteprio poder de reforma (art 60 Paraacutegrafo 4ordm IV) Aleacutem disso reforccedilou o
papel do Judiciaacuterio consagrando a inafastabilidade da tutela judicial (art 5ordm XXXV) criando
diversos novos remeacutedios constitucionais fortalecendo a independecircncia da instituiccedilatildeo bem co-
mo do Ministeacuterio Puacuteblico e ampliando e robustecendo os mecanismos de controle de constitu-
cionalidade Neste uacuteltimo toacutepico ela democratizou o acesso ao controle abstrato de constitu-
cionalidade ao adotar um vasto elenco de legitimados ativos para a propositura de accedilatildeo direta
de inconstitucionalidade (art 103) e ampliou o escopo da jurisdiccedilatildeo constitucional ao instituir
10
no Brasil o controle da inconstitucionalidade por omissatildeo tanto atraveacutes de accedilatildeo direta como do
mandado de injunccedilatildeo
Esta sistemaacutetica de jurisdiccedilatildeo constitucional adotada pelo constituinte favoreceu em larga
medida o processo de judicializaccedilatildeo da poliacutetica na medida em que conferiu a qualquer parti-
do poliacutetico com representaccedilatildeo no Congresso agraves representaccedilotildees nacionais da sociedade civil
organizada e agraves principais instituiccedilotildees dos Estados-membros dentre outras entidades o poder
de provocar o STF61 Assim eacute praticamente impossiacutevel que alguma questatildeo relevante seja re-
solvida no acircmbito parlamentar sem que os perdedores no processo poliacutetico recorram agrave nossa
Corte Suprema para que decirc a palavra final agrave controveacutersia com base na sua interpretaccedilatildeo da
Constituiccedilatildeo E tal modelo vem se aprofundando desde 88 com a criaccedilatildeo da Accedilatildeo Declaratoacuteria
de Constitucionalidade e a regulamentaccedilatildeo da Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fun-
damental
Aleacutem disso a Constituiccedilatildeo de 88 regulou uma grande quantidade de assuntos - muitos deles de
duvidosa dignidade constitucional - subtraindo um vasto nuacutemero de questotildees do alcance do
legislador Ademais ela hospedou em seu texto inuacutemeros princiacutepios vagos mas dotados de for-
te carga axioloacutegica e poder de irradiaccedilatildeo Estas caracteriacutesticas favoreceram o processo de
constitucionalizaccedilatildeo do Direito que envolve natildeo soacute a inclusatildeo no texto constitucional de temas
outrora ignorados ou regulados em sede ordinaacuteria como tambeacutem a releitura de toda a ordem
juriacutedica a partir de uma oacutetica pautada pelos valores constitucionais - a chamada filtragem
constitucional do Direito62
Deve-se tambeacutem destacar o papel importante da doutrina brasileira na mudanccedila de paradigma
do Direito Constitucional brasileiro Na minha opiniatildeo haacute dois momentos distintos nesta evolu-
ccedilatildeo o constitucionalismo brasileiro da efetividade 63e o poacutes-positivismo constitucional
O primeiro momento vem logo apoacutes a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 88 Alguns autores como
Luis Roberto Barroso64 e Clegravemerson Merlin Clegraveve65 passam a advogar a tese de que a Constitui-
ccedilatildeo sendo norma juriacutedica deveria ser rotineiramente aplicada pelos juiacutezes o que ateacute entatildeo
natildeo ocorria O que hoje parece uma obviedade era quase revolucionaacuterio numa eacutepoca em que a
nossa cultura juriacutedica hegemocircnica natildeo tratava a Constituiccedilatildeo como norma mas como pouco
mais do que um repositoacuterio de promessas grandiloquumlentes cuja efetivaccedilatildeo dependeria quase
sempre da boa vontade do legislador e dos governantes de plantatildeo66 Para o constitucionalismo
da efetividade a incidecircncia direta da Constituiccedilatildeo sobre a realidade social independentemen-
te de qualquer mediaccedilatildeo legislativa contribuiria para tirar do papel as proclamaccedilotildees generosas
de direitos contidas na Carta de 88 promovendo justiccedila igualdade e liberdade Se ateacute entatildeo
o discurso da esquerda era de desconstruccedilatildeo da dogmaacutetica juriacutedica a doutrina da efetividade
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vai defender a possibilidade de um uso emancipatoacuterio da dogmaacutetica tendo como eixo a con-
cretizaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo67
Na verdade tratava-se de uma modalidade de positivismo de combate68 A doutrina constitu-
cional da efetividade natildeo se caracterizava pela abertura do debate juriacutedico agrave argumentaccedilatildeo
moral O seu foco principal centrava-se nas normas e era do caraacuteter mais ou menos denso do
seu texto que o inteacuterprete deveria extrair os respectivos efeitos Por outro lado concebia-se a
jurisdiccedilatildeo como o espaccedilo privilegiado para a realizaccedilatildeo da vontade constitucional Um dos mo-
tes do movimento era afastar o estudo do Direito Constitucional da Teoria do Estado para apro-
ximaacute-lo do Direito Processual Por isso pode-se afirmar que o protagonista desta teoria consti-
tucional era o juiz
Em que pese a falta de efetividade de diversas normas da Constituiccedilatildeo e da eficaacutecia social
seletiva de outras tantas - que protegem muito bem o incluiacutedo mas continuam deixando de
fora os paacuterias de sempre (veja-se a diferenccedila da incidecircncia da inviolabilidade do domiciacutelio nas
residecircncias burguesas e nas favelas) - pode-se dizer que a doutrina constitucional da efetivida-
de teve ecircxito no Brasil no sentido de instalar no senso-comum dos operadores do Direito a i-
deacuteia de que a Constituiccedilatildeo eacute norma que pode e deve ser aplicada independentemente de re-
gulamentaccedilatildeo dos seus dispositivos pelo legislador ordinaacuterio Tal doutrina ainda natildeo correspon-
de ao neoconstitucionalismo mas a conquista que dela resultou para a dogmaacutetica constitucio-
nal brasileira foi um pressuposto para o surgimento deste outro movimento no nosso cenaacuterio
O segundo momento importante eacute o da chegada ao Brasil das teorias juriacutedicas ditas poacutes-
positivistas Foram marcos relevantes a publicaccedilatildeo da 5ordf ediccedilatildeo do Curso de Direito Constitu-
cional de Paulo Bonavides 69bem como do livro A Ordem Econocircmica na Constituiccedilatildeo de 1988
de Eros Roberto Grau70 que divulgaram entre noacutes a teoria dos princiacutepios de autores como Ro-
nald Dworkin e Robert Alexy e fomentaram as discussotildees sobre temas importantes como a
ponderaccedilatildeo de interesses o princiacutepio da proporcionalidade e eficaacutecia dos direitos fundamen-
tais Tambeacutem deve ser salientada a ampla penetraccedilatildeo no acircmbito de algumas poacutes-graduaccedilotildees
em Direito a partir de meados dos anos 90 do pensamento de filoacutesofos que se voltaram para o
estudo da relaccedilatildeo entre Direito Moral e Poliacutetica a partir de uma perspectiva poacutes-metafiacutesica
como John Rawls e Juumlrgen Habermas71 E ainda merece destaque o aprofundamento no paiacutes dos
estudos de hermenecircutica juriacutedica a partir de uma nova matriz teoacuterica inspirada pelo giro lin-
guumliacutestico na Filosofia que denunciou os equiacutevocos do modelo positivista de interpretaccedilatildeo ateacute
entatildeo dominante assentado na separaccedilatildeo cartesiana entre sujeito (o inteacuterprete) e objeto (o
texto da norma)72
12
Nesta nova fase a doutrina brasileira passa a enfatizar o caraacuteter normativo e a importacircncia dos
princiacutepios constitucionais e a estudar as peculiaridades da sua aplicaccedilatildeo Neste contexto haacute
uma verdadeira febre de trabalhos sobre teoria dos princiacutepios ponderaccedilatildeo de interesses teori-
as da argumentaccedilatildeo proporcionalidade e razoabilidade etc Tambeacutem cresce muito o interesse
doutrinaacuterio pelos direitos fundamentais sobretudo os direitos sociais Se antes estes eram vis-
tos preponderantemente como normas programaacuteticas passa-se a discutir a sua eficaacutecia juriacutedica
a partir de novas bases que incorporam ao debate a argumentaccedilatildeo moral Neste campo a ecircn-
fase na anaacutelise dos enunciados normativos que caracterizava a doutrina da efetividade eacute
substituiacuteda por uma discussatildeo marcada pela preocupaccedilatildeo com valores e democracia repleta de
novas categorias importadas sobretudo do Direito germacircnico como o miacutenimo existencial a
reserva do possiacutevel e a proibiccedilatildeo do retrocesso73
E esta nova racionalidade se espraia para diversos ramos do Direito No Direito Civil74 Penal75
Administrativo 76por exemplo cada vez mais a doutrina emprega normas e valores constitu-
cionais para reler os institutos tradicionais colorindo-os com novas tintas E trata-se natildeo ape-
nas de aplicar diretamente as normas constitucionais especificamente voltadas para cada uma
destas aacutereas como tambeacutem de projetar sobre estes campos a influecircncia dos direitos funda-
mentais e dos princiacutepios mais gerais do nosso constitucionalismo muitas vezes superando anti-
gos dogmas e definindo novos paradigmas
Neste segundo momento ocorre ainda uma significativa mudanccedila no enfoque dos estudos sobre
jurisdiccedilatildeo constitucional no Brasil Antes os trabalhos nacionais sobre o tema se limitavam
basicamente a discutir questotildees processuais mas a partir do final dos anos 90 diversos estu-
dos incorporam outras perspectivas agrave anaacutelise da questatildeo dedicando atenccedilatildeo agrave complexa pro-
blemaacutetica da legitimidade democraacutetica do controle de constitucionalidade77 tendo em vista a
chamada dificuldade contra-majoritaacuteria do Judiciaacuterio78 Num contexto como o nosso em que
a jurisdiccedilatildeo constitucional estaacute prevista pelo proacuteprio texto magno o debate relevante do ponto
de vista praacutetico natildeo eacute o de tecirc-la ou natildeo mas sim a forma como deve ser exercida Dependendo
do posicionamento adotado pode-se preconizar um maior ou menor grau de ativismo judicial
ou defender o ativismo em algumas aacutereas mas recusaacute-lo em outras Nesta nova agenda de dis-
cussotildees sobre a jurisdiccedilatildeo constitucional a argumentaccedilatildeo juriacutedica se entrelaccedila inevitavelmen-
te com o debate de Filosofia Poliacutetica abrindo espaccedilo para posiccedilotildees variadas como os vaacuterios
matizes de procedimentalismo e de substancialismo que vecircm florescendo na doutrina brasilei-
ra79 Dentre estas posiccedilotildees natildeo haacute duacutevida de que a mais identificada ao neoconstitucionalismo
eacute a substancialista que compartilha com ele a crenccedila numa ampla legitimidade do ativismo
judicial em favor dos valores constitucionais
13
Apesar destas mudanccedilas importantes que podem ser associadas ao neoconstitucionalismo o uso
da expressatildeo no Brasil eacute mais recente seguindo-se agrave ampla difusatildeo que recebeu na academia
brasileira a jaacute citada obra Neoconstitucionalismo(s) organizada por Miguel Carbonell e publi-
cada em 2003 De laacute para caacute muito se tem escrito sobre o toacutepico e vaacuterios autores nacionais
aderiram explicitamente agrave corrente como Luis Roberto Barroso80 Lecircnio Luiz Streck 81Antonio
Cavalcanti Maia82 Ana Paula de Barcellos83 Diogo de Figueiredo Moreira Neto84 Paulo Ricardo
Schier85 Eduardo Moreira86 Eacutecio Otto Ramos Duarte87 e Thomas Rosa de Bustamante88 Outros
adotaram postura criacutetica sobre a nova perspectiva como Joseacute Ribas Vieira Dimitri Dimoulis89 e
Humberto Aacutevila90 E pode-se notar pela leitura dos trabalhos destes e de outros autores brasi-
leiros que haacute um relativo consenso na definiccedilatildeo das caracteriacutesticas centrais do novo paradig-
ma valorizaccedilatildeo dos princiacutepios adoccedilatildeo de meacutetodos ou estilos mais abertos e flexiacuteveis na her-
menecircutica juriacutedica com destaque para a ponderaccedilatildeo abertura da argumentaccedilatildeo juriacutedica agrave
Moral mas sem recair nas categorias metafiacutesicas do jusnaturalismo reconhecimento e defesa
da constitucionalizaccedilatildeo do Direito e do papel de destaque do Judiciaacuterio na agenda de imple-
mentaccedilatildeo dos valores da Constituiccedilatildeo
Estas novas ideacuteias jaacute reverberam fortemente na jurisprudecircncia nacional sobretudo do Supremo
Tribunal Federal que nos uacuteltimos tempos tem cada vez mais invocado princiacutepios abertos nos
seus julgamentos recorrido agrave ponderaccedilatildeo de interesses e ao princiacutepio da proporcionalidade
com frequumlecircncia e ateacute se valido de referecircncias filosoacuteficas na fundamentaccedilatildeo de decisotildees Aliaacutes
eacute digna de nota a influecircncia da doutrina constitucional na atuaccedilatildeo do Supremo Tribunal Fede-
ral O fenocircmeno eacute relativamente recente uma vez que logo apoacutes a promulgaccedilatildeo da Constitui-
ccedilatildeo de 88 havia um profundo hiato entre o campo doutrinaacuterio que cobrava a efetivaccedilatildeo da
Constituiccedilatildeo pela via judicial e a jurisprudecircncia do STF tiacutemida e reticente diante dos valores
e das inovaccedilotildees da nova Carta - vg orientaccedilatildeo entatildeo adotada pela Corte em relaccedilatildeo ao man-
dado de injunccedilatildeo e ao controle judicial das medidas provisoacuterias Aquele quadro podia em parte
ser debitado agrave duvidosa opccedilatildeo do constituinte originaacuterio de manter no STF os ministros nomea-
dos durante o governo militar que natildeo tinham sintonia poliacutetico-ideoloacutegica nem boa vontade
diante do novo sistema constitucional e que por isso se apegavam a visotildees e interpretaccedilotildees
assentadas durante o regime preteacuterito muitas delas francamente incompatiacuteveis com a nova
ordem Mas hoje apoacutes a completa renovaccedilatildeo do STF constata-se um quadro radicalmente di-
ferente a maioria dos ministros do STF eacute composta por professores de Direito Constitucional
de grande reputaccedilatildeo acadecircmica que ateacute pela origem tecircm mais contato com a produccedilatildeo inte-
lectual de ponta na aacuterea e satildeo mais suscetiacuteveis agrave influecircncia das novas correntes de pensamen-
to
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Como ressaltado esta mudanccedila de paradigma se reflete vivamente na jurisprudecircncia do STF
Satildeo exemplos eloquumlentes a alteraccedilatildeo da posiccedilatildeo da Corte em relaccedilatildeo aos direitos sociais antes
tratados como normas programaacuteticas e hoje submetidos a uma intensa proteccedilatildeo judicial 91o
reconhecimento da eficaacutecia horizontal dos direitos fundamentais92 a mutaccedilatildeo do entendimen-
to do Tribunal em relaccedilatildeo agraves potencialidades do mandado de injunccedilatildeo 93e a progressiva supe-
raccedilatildeo da visatildeo claacutessica kelseniana da jurisdiccedilatildeo constitucional que a equiparava ao legislador
negativo com a admissatildeo de teacutecnicas decisoacuterias mais heterodoxas94 como as declaraccedilotildees de
inconstitucionalidade sem pronuacutencia de nulidade e as sentenccedilas aditivas E para completar o
quadro deve-se acrescentar as mudanccedilas acarretadas por algumas inovaccedilotildees processuais re-
centes na nossa jurisdiccedilatildeo constitucional que permitiram a participaccedilatildeo dos amici curiae bem
como a realizaccedilatildeo de audiecircncias puacuteblicas no acircmbito do processo constitucional ampliando a
possibilidade de atuaccedilatildeo da sociedade civil organizada no STF95
Naturalmente a nova postura de ativismo judicial do STF estimula as forccedilas sociais a procuraacute-
lo com mais frequumlecircncia e contribui para uma significativa alteraccedilatildeo na agenda da Corte Atu-
almente ao lado das questotildees mais tradicionais de Direito Puacuteblico o STF tem se defrontado
com novos temas fortemente impregnados de conteuacutedo moral como as discussotildees sobre a vali-
dade de pesquisa em ceacutelulas-tronco embrionaacuterias96 aborto de feto anenceacutefalo97 e uniatildeo entre
pessoas do mesmo sexo98 Ademais o Tribunal passou a intervir de forma muito mais ativa no
processo poliacutetico adotando decisotildees que se refletem de forma direta e profunda sobre a atua-
ccedilatildeo dos demais poderes do Estado Para citar apenas alguns casos pode-se falar da decisatildeo que
assentou que a mudanccedila de partido implica salvo determinadas exceccedilotildees perda de mandato
parlamentar99 da que estabeleceu criteacuterios riacutegidos para a fixaccedilatildeo do nuacutemero de vereadores de
acordo com a respectiva populaccedilatildeo100 e da intensificaccedilatildeo do controle jurisdicional dos atos das
CPIs bem como dos pressupostos de ediccedilatildeo das medidas provisoacuterias
Poreacutem haacute um componente curioso na recepccedilatildeo deste novo paradigma juriacutedico pelo Judiciaacuterio
brasileiro Embora ainda natildeo existam estudos empiacutericos a este respeito tenho a forte intuiccedilatildeo
de que a penetraccedilatildeo destas novas ideacuteias associadas ao neoconstitucionalismo eacute forte na cuacutepula
e na base da hierarquia judicial mas ainda tiacutemida nos seus escalotildees intermediaacuterios E as causas
natildeo satildeo de difiacutecil compreensatildeo Em relaccedilatildeo agrave cuacutepula - os ministros do STF - as razotildees jaacute foram
explicadas acima Jaacute no que tange agrave base do Judiciaacuterio boa parte dos juiacutezes de 1ordm grau teve a
sua formaccedilatildeo num ambiente acadecircmico que jaacute valorizava o Direito Constitucional e reconhecia
a forccedila normativa dos direitos fundamentais e dos princiacutepios constitucionais Assim eles ten-
dem a levar para a sua praacutetica profissional esta visatildeo do Direito Poreacutem sobretudo na 2ordf ins-
tacircncia composta majoritariamente por magistrados que se formaram e foram socializados no
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seu meio institucional sob a eacutegide do paradigma juriacutedico anterior muito mais voltado para os
coacutedigos e para a letra da lei do que para a Constituiccedilatildeo e seus princiacutepios haacute maior resistecircncia agrave
incorporaccedilatildeo dos novos vetores constitucionais Contudo este fenocircmeno tende a diminuir com
o tempo seja pela consolidaccedilatildeo do paradigma constitucional emergente seja pela promoccedilatildeo
de magistrados mais antenados com o novo constitucionalismo seja ateacute pela influecircncia do pen-
samento e das orientaccedilotildees da cuacutepula do Judiciaacuterio sobre todas as suas instacircncias
No cenaacuterio brasileiro o neoconstitucionalismo eacute tambeacutem impulsionado por outro fenocircmeno a
descrenccedila geral da populaccedilatildeo em relaccedilatildeo agrave poliacutetica majoritaacuteria e em especial o descreacutedito
no Poder Legislativo e nos partidos poliacuteticos101 A percepccedilatildeo geral alimentada por sucessivos
escacircndalos e pelo discurso de alguns meios de comunicaccedilatildeo social de que a poliacutetica parlamen-
tar e partidaacuteria satildeo esferas essencialmente corrompidas que se movem exclusivamente em
torno de interesses e natildeo de valores gera em alguns setores a expectativa de que a soluccedilatildeo
para os problemas nacionais possa vir do Judiciaacuterio102 E este sentimento eacute fortalecido quando
a Justiccedila adota decisotildees em consonacircncia com a opiniatildeo puacuteblica - como ocorreu no recebimento
da denuacutencia criminal no caso do mensalatildeo na definiccedilatildeo de perda do mandato por infidelidade
partidaacuteria e na proibiccedilatildeo do nepotismo na Administraccedilatildeo Puacuteblica
Por outro lado a ascensatildeo institucional do Judiciaacuterio e a riqueza e importacircncia praacutetica ou sim-
boacutelica dos temas que ele vem julgando tem provocado um grande aumento no interesse da so-
ciedade pelo Direito Constitucional e pela atuaccedilatildeo do Supremo Tribunal Federal Eacute difiacutecil um
dia em que os principais meios de comunicaccedilatildeo natildeo discutam alguma decisatildeo da Corte ou mani-
festaccedilatildeo de qualquer dos seus membros E este fenocircmeno eacute potencializado tanto pela extro-
versatildeo midiaacutetica de alguns ministros como tambeacutem pelo fato - sem precedentes em outros
paiacuteses - do televisionamento das sessotildees do STF Com tudo isso as questotildees constitucionais
que antes eram apenas discutidas dentro de um ciacuterculo muito restrito de iniciados hoje satildeo
amplamente debatidas no espaccedilo puacuteblico
Neste quadro em que pesem as muacuteltiplas resistecircncias que sofre eacute possiacutevel apontar a emergecircn-
cia de uma nova forma de conceber o Direito e o Estado na sociedade brasileira contemporacirc-
nea que se quisermos adotar a terminologia hoje em voga pode ser chamada de neoconstitu-
cionalismo
4 Trecircs objeccedilotildees ao neoconstitucionalismo
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Nas proacuteximas linhas abordarei de maneira breve trecircs criacuteticas que podem ser levantadas con-
tra o neoconstitucionalismo (a) a de que o seu pendor judicialista eacute anti-democraacutetico (b) a de
que a sua preferecircncia por princiacutepios e ponderaccedilatildeo em detrimento de regras e subsunccedilatildeo eacute
perigosa sobretudo no Brasil em razatildeo de singularidades da nossa cultura e (c) a de que ele
pode gerar uma panconstitucionalizaccedilatildeo do Direito em detrimento da autonomia puacuteblica do
cidadatildeo e da autonomia privada do indiviacuteduo Outras criacuteticas importantes existem103 mas por
limites de tempo e espaccedilo preferi priorizar aqui estas trecircs que satildeo as que geram maior apre-
ensatildeo no cenaacuterio brasileiro
a) Neoconstitucionalismo e judiciocracia
Como salientado acima o neoconstitucionalismo tem um foco muito centrado no Poder Judici-
aacuterio no qual deposita enormes expectativas no sentido de concretizaccedilatildeo dos ideais emancipa-
toacuterios presentes nas constituiccedilotildees contemporacircneas Contudo este vieacutes judicialista sofre con-
testaccedilotildees pelo seu suposto caraacuteter antidemocraacutetico na medida em que os juiacutezes diferente-
mente dos parlamentares e chefes do Executivo natildeo satildeo eleitos e natildeo respondem diretamente
perante o povo104
Esta criacutetica democraacutetica se assenta na ideacuteia de que numa democracia eacute essencial que as deci-
sotildees poliacuteticas mais importantes sejam tomadas pelo proacuteprio povo ou por seus representantes
eleitos e natildeo por saacutebios ou tecnocratas de toga Eacute verdade que a maior parte dos teoacutericos con-
temporacircneos da democracia reconhece que ela natildeo se esgota no respeito ao princiacutepio majoritaacute-
rio pressupondo antes o acatamento das regras do jogo democraacutetico que incluem a garantia
de direitos baacutesicos visando a viabilizar a participaccedilatildeo igualitaacuteria do cidadatildeo na esfera puacuteblica
bem como alguma proteccedilatildeo agraves minorias105 Poreacutem temos aqui uma questatildeo de dosagem pois
se a imposiccedilatildeo de alguns limites para a decisatildeo das maiorias pode ser justificada em nome da
democracia o exagero tende a revelar-se antidemocraacutetico por cercear em demasia a possibi-
lidade do povo de se autogovernar106
E a questatildeo natildeo eacute apenas de divisatildeo de poder ao longo do tempo A dificuldade democraacutetica
natildeo estaacute tatildeo-somente no fato de as constituiccedilotildees subtraiacuterem do legislador futuro a possibilida-
de de tomar algumas decisotildees107 O cerne do debate estaacute no reconhecimento de que diante da
vagueza e abertura de boa parte das normas constitucionais mais importantes quem as inter-
preta tambeacutem participa do seu processo de criaccedilatildeo108 Daiacute a criacutetica de que o vieacutes judicialista
subjacente ao neoconstitucionalismo acaba por conferir aos juiacutezes uma espeacutecie de poder cons-
tituinte permanente pois lhes permite moldar a Constituiccedilatildeo de acordo com as suas preferecircn-
cias poliacuteticas e valorativas em detrimento daquelas do legislador eleito Esta visatildeo levou inuacute-
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meras correntes de pensamento ao longo da histoacuteria a rejeitarem a jurisdiccedilatildeo constitucional
ou pelo menos o ativismo judicial no seu exerciacutecio dos revolucionaacuterios franceses do seacuteculo XVI-
II109 passando por Carl Schmitt110 na Repuacuteblica de Weimar ateacute os adeptos do constituciona-
lismo popular nos Estados Unidos de hoje111
No Brasil eacute muito comum traccedilar-se um paralelo entre a defesa do ativismo judicial e posiccedilotildees
sociais progressistas Talvez isso se deva ao fato de que na nossa histoacuteria o Judiciaacuterio brasilei-
ro tem pecado muito mais por omissatildeo acumpliciando-se diante dos desmandos dos poderes
poliacutetico e econocircmico do que por excesso de ativismo Neste quadro quem ousa questionar
possiacuteveis exageros na judicializaccedilatildeo da poliacutetica e da vida social no Brasil de hoje eacute logo tachado
de conservador Poreacutem o paralelismo em questatildeo natildeo existe Muitas vezes o Poder Judiciaacuterio
pode atuar bloqueando mudanccedilas importantes promovidas pelos outros poderes em favor dos
excluiacutedos defendendo o statu quo E esta defesa pode ocorrer inclusive atraveacutes do uso da retoacute-
rica dos direitos fundamentais
Isso se deu por exemplo nos Estados Unidos nas primeiras deacutecadas do seacuteculo passado em pe-
riacuteodo que ficou conhecido como Era de Lochner112 quando a Suprema Corte impediu sistemati-
camente a ediccedilatildeo de legislaccedilatildeo trabalhista e de outras medidas que implicavam em interferecircn-
cia na esfera econocircmica em proveito das classes desfavorecidas com base numa leitura subs-
tantiva da claacuteusula do devido processo legal No cenaacuterio contemporacircneo Ran Hirshl113 sustenta
que o processo de judicializaccedilatildeo da poliacutetica que vem ocorrendo nos uacuteltimos anos em diversos
paiacuteses do mundo - ele fez um atento ainda que controvertido estudo dos casos do Canadaacute
Israel Aacutefrica do Sul e Nova Zelacircndia - teria como pano de fundo uma tentativa das elites eco-
nocircmicas e culturais que perderam espaccedilo na poliacutetica majoritaacuteria de manterem o seu poder
reforccedilando no arranjo institucional do Estado o peso do Judiciaacuterio no qual elas ainda tecircm he-
gemonia E aqui no Brasil seraacute que a proteccedilatildeo absoluta que vem sendo conferida ao direito
adquirido - inclusive o de furar teto salarial do funcionalismo fixado por emenda agrave Constituiccedilatildeo
114 - e o ultra-garantismo penal nos crimes do colarinho branco natildeo seriam exemplos deste
mesmo fenocircmeno
Por outro lado uma ecircnfase excessiva no espaccedilo judicial pode levar ao esquecimento de outras
arenas importantes para a concretizaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo e realizaccedilatildeo de direitos gerando um
resfriamento da mobilizaccedilatildeo ciacutevica do cidadatildeo Eacute verdade que o ativismo judicial pode em
certos contextos atuar em sinergia com a mobilizaccedilatildeo social na esfera puacuteblica Isto ocorreu
por exemplo no movimento dos direitos civis nos Estados Unidos dos anos 50 e 60 que foi a-
quecido pelas respostas positivas obtidos na Suprema Corte no periacuteodo da Corte de Warren115
Mas nem sempre eacute assim A ecircnfase judicialista pode afastar do cenaacuterio de disputa por direitos
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as pessoas e movimentos que natildeo pertenccedilam nem tenham proximidade com as corporaccedilotildees
juriacutedicas
Ademais esta obsessatildeo com a interpretaccedilatildeo judicial da Constituiccedilatildeo tende a obscurecer o pa-
pel central de outras instacircncias na definiccedilatildeo do sentido da Constituiccedilatildeo - como o Legislativo o
Executivo e a proacutepria esfera puacuteblica informal Trata-se de um desvio que gera consequumlecircncias
negativas tanto no plano descritivo como na esfera normativa Sob o prisma descritivo trans-
mite-se uma imagem muito parcial do fenocircmeno constitucional que natildeo eacute captado com todas
as suas nuances e riquezas jaacute que o foco se concentra apenas sobre a accedilatildeo de um dentre os
vaacuterios agentes importantes que povoam a seara da hermenecircutica constitucional116 Sob o acircngu-
lo normativo favorece-se um governo agrave moda platocircnica de saacutebios de toga117 que satildeo convida-
dos a assumir uma posiccedilatildeo paternalista diante de uma sociedade infantilizada118 Justifica-se o
ativismo judicial a partir de uma visatildeo muito criacutetica do processo poliacutetico majoritaacuterio mas que
ignora as inuacutemeras mazelas que tambeacutem afligem o Poder Judiciaacuterio construindo-se teorias a
partir de visotildees romacircnticas e idealizadas do juiz119 Soacute que se eacute verdade que o processo poliacuteti-
co majoritaacuterio tem seus viacutecios - e eles satildeo muito graves no cenaacuterio brasileiro - tambeacutem eacute certo
que os juiacutezes natildeo satildeo semi-deuses e que a esfera em que atuam tampouco eacute imune agrave poliacutetica
com p menor
Esta idealizaccedilatildeo da figura do juiz natildeo se compadece com algumas notoacuterias deficiecircncias que o
Judiciaacuterio brasileiro enfrenta Dentre elas pode-se destacar a sobrecarga de trabalho que
compromete a capacidade dos magistrados de dedicarem a cada processo o tempo e a energia
necessaacuterias para que faccedilam tudo que o que demandam as principais teorias da argumentaccedilatildeo
defendidas pelo neoconstitucionalismo E cabe referir tambeacutem agraves lacunas na formaccedilatildeo do ma-
gistrado brasileiro decorrentes sobretudo das falhas de um ensino juriacutedico formalista e nada
interdisciplinar que ainda viceja no paiacutes que natildeo satildeo corrigidas nos procedimentos de seleccedilatildeo
e treinamento dos juiacutezes
Outra consequumlecircncia da obsessatildeo judicialista do constitucionalismo brasileiro contemporacircneo
estaacute refletida na nossa produccedilatildeo acadecircmica Enquanto somos inundados por livros e artigos
muitas vezes repetitivos sobre assuntos como princiacutepios e regras interpretaccedilatildeo constitucional
e tutela judicial de direitos fundamentais outros temas absolutamente essenciais para a vida
do paiacutes passam ao largo da preocupaccedilatildeo dos juristas Eacute o caso da reforma poliacutetica Em que pese
o caraacuteter essencialmente constitucional do assunto quase nenhum constitucionalista se inte-
ressou por ele 120e praticamente toda a literatura de qualidade produzida sobre o toacutepico tem
vindo da Ciecircncia Poliacutetica
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Estou convencido de que o Poder Judiciaacuterio tem um papel essencial na concretizaccedilatildeo da Consti-
tuiccedilatildeo brasileira Em face do quadro de sistemaacutetica violaccedilatildeo de direitos de certos segmentos da
populaccedilatildeo do arranjo institucional desenhado pela Carta de 88 e da seacuteria crise de representa-
tividade do Poder Legislativo entendo que o ativismo judicial se justifica no Brasil pelo menos
em certas searas como a tutela de direitos fundamentais a proteccedilatildeo das minorias e a garantia
do funcionamento da proacutepria democracia O maior insulamento judicial diante da pressatildeo das
maiorias bem como um certo ethos profissional de valorizaccedilatildeo dos direitos humanos que co-
meccedila a se instalar na nossa magistratura 121 conferem ao Judiciaacuterio uma capacidade institu-
cional privilegiada para atuar nestas aacutereas122
Mas em outros campos pode ser mais recomendaacutevel uma postura de autocontenccedilatildeo judicial
seja por respeito agraves deliberaccedilotildees majoritaacuterias adotadas no espaccedilo poliacutetico123 seja pelo reco-
nhecimento da falta de expertise do Judiciaacuterio para tomar decisotildees que promovam eficiente-
mente os valores constitucionais em jogo em aacutereas que demandem profundos conhecimentos
teacutecnicos fora do Direito - como Economia poliacuteticas puacuteblicas e regulaccedilatildeo124 Nestes casos deve-
se reconhecer que outros oacutergatildeos do Estado estatildeo mais habilitados para assumirem uma posiccedilatildeo
de protagonismo na implementaccedilatildeo da vontade constitucional
Nesta linha vejo com reticecircncias a sedimentaccedilatildeo na nossa cultura juriacutedica da visatildeo de que o
grande - senatildeo o uacutenico - inteacuterprete da Constituiccedilatildeo seria o Poder Judiciaacuterio125 Esta leitura des-
carta a autocontenccedilatildeo judicial bem como tende a desprezar a possibilidade de que sejam tra-
vados construtivos diaacutelogos interinstitucionais entre diversos oacutergatildeos estatais para a definiccedilatildeo da
melhor interpretaccedilatildeo dos ditames constitucionais126 Um bom exemplo127 deste desvio ocorreu
no julgamento da constitucionalidade das pesquisas em ceacutelulas-tronco embrionaacuterias realizada
pelo STF em que pese o resultado final do julgamento ter sido substancialmente correto Na-
quela ocasiatildeo o importante argumento deduzido na tribuna e em memoriais por Luis Roberto
Barroso - que advogava para um dos amici curiae favoraacuteveis agraves pesquisas - de que o Judiciaacuterio
deveria adotar posiccedilatildeo cautelosa no julgamento da constitucionalidade da lei impugnada ten-
do em vista o amplo consenso em torno dela obtido durante o processo legislativo tanto no
Senado como na Cacircmara foi explicitamente rechaccedilado por alguns ministros que consideraram
o ponto irrelevante E outros ministros em votos vencidos se sentiram confortaacuteveis ateacute para
defender a imposiccedilatildeo de novas normas pelo STF na aacuterea do Biodireito arvorando-se agrave condiccedilatildeo
de legisladores num campo para o qual evidentemente lhes faltava qualquer expertise
Enfim o neoconstitucionalismo brasileiro tem pecado por excesso depositando no Judiciaacuterio
expectativas que ele nem sempre teraacute como atender de forma satisfatoacuteria Um dos efeitos co-
laterais deste fenocircmeno eacute a disseminaccedilatildeo de um discurso muito perigoso de que voto e poliacuteti-
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ca natildeo satildeo tatildeo importantes pois relevante mesmo eacute a interpretaccedilatildeo dos princiacutepios constitucio-
nais realizada pelo STF Daiacute a dizer que o povo natildeo sabe votar eacute um pulo e a ditadura de toga
pode natildeo ser muito melhor do que a ditadura de farda
b) Neoconstitucionalismo oba-oba constitucional e Estado Democraacutetico de Direito
Seria uma profunda injusticcedila com a teoria neoconstitucionalista acusaacute-la de promover o decisi-
onismo ou de defender a tomada de decisotildees judiciais puramente emotivas sem lastro em ar-
gumentaccedilatildeo racional soacutelida Pelo contraacuterio como foi destacado acima um dos eixos centrais
do pensamento neoconstitucional eacute a reabilitaccedilatildeo da racionalidade praacutetica no acircmbito juriacutedico
com a articulaccedilatildeo de complexas teorias da argumentaccedilatildeo que demandam muito dos inteacuterpre-
tes e sobretudo dos juiacutezes em mateacuteria de fundamentaccedilatildeo das suas decisotildees Poreacutem a praacutetica
judiciaacuteria brasileira recepcionou apenas parcialmente as teorias juriacutedicas de corte poacutes-
positivista e aqui a valorizaccedilatildeo dos princiacutepios e da ponderaccedilatildeo natildeo tem sido muitas vezes
acompanhada do necessaacuterio cuidado com a justificaccedilatildeo das decisotildees
Se ateacute natildeo muito tempo atraacutes os princiacutepios natildeo eram tratados como autecircnticas normas por
aqui - soacute tinha bom direito quem podia invocar uma regra legal clara e precisa em favor da sua
pretensatildeo - com a chegada do poacutes-positivismo e do neoconstitucionalismo passou-se em pou-
cos anos da aacutegua para o vinho Hoje instalou-se um ambiente intelectual no Brasil que aplaude
e valoriza as decisotildees principioloacutegicas e natildeo aprecia tanto aquelas calcadas em regras legais
que satildeo vistas como burocraacuteticas ou positivistas - e positivismo hoje no paiacutes eacute quase um pala-
vratildeo128 Neste contexto os operadores do Direito satildeo estimulados a invocar sempre princiacutepios
muito vagos nas suas decisotildees mesmo quando isso seja absolutamente desnecessaacuterio pela e-
xistecircncia de regra clara e vaacutelida a reger a hipoacutetese Os campeotildees tecircm sido os princiacutepios da dig-
nidade da pessoa humana e da razoabilidade O primeiro eacute empregado para dar imponecircncia ao
decisionismo judicial vestindo com linguagem pomposa qualquer decisatildeo tida como politica-
mente correta e o segundo para permitir que os juiacutezes substituam livremente as valoraccedilotildees de
outros agentes puacuteblicos pelas suas proacuteprias
Este cenaacuterio eacute problemaacutetico porque um sistema juriacutedico funcional estaacutevel e harmocircnico com os
valores do Estado Democraacutetico de Direito precisa tanto da aplicaccedilatildeo de regras como de princiacute-
pios129 As regras satildeo indispensaacuteveis dentre outras razotildees130 porque geram maior previsibili-
dade e seguranccedila juriacutedica para os seus destinataacuterios diminuem os riscos de erro na sua inci-
decircncia jaacute que natildeo dependem tanto das valoraccedilotildees do inteacuterprete em cada caso concreto en-
volvem um menor custo no seu processo de aplicaccedilatildeo pois podem incidir de forma mais mecacirc-
nica sem demandarem tanto esforccedilo do inteacuterprete e natildeo implicam na mesma medida que os
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princiacutepios em uma transferecircncia de poder decisoacuterio do Legislativo que eacute eleito para o Judici-
aacuterio que natildeo eacute
Natildeo pretendo sustentar com isso que se deva retroceder ao tempo em que os princiacutepios natildeo
eram aplicados pelos juiacutezes brasileiros Tambeacutem os princiacutepios satildeo essenciais na ordem juriacutedica
pois conferem mais plasticidade ao Direito - o que eacute essencial numa sociedade hiper-complexa
como a nossa - e permitem uma maior abertura da argumentaccedilatildeo juriacutedica agrave Moral e ao mundo
empiacuterico subjacente O importante eacute encontrar uma justa medida que natildeo torne o processo de
aplicaccedilatildeo do Direito amarrado demais como ocorreria num sistema baseado exclusivamente
em regras nem solto demais como sucederia com um que se fundasse apenas em princiacutepios
Penso que eacute chegada a hora de um retorno do pecircndulo no Direito brasileiro131 que sem des-
cartar a importacircncia dos princiacutepios e da ponderaccedilatildeo volte a levar a seacuterio tambeacutem as regras e a
subsunccedilatildeo
Ademais naquelas hipoacuteteses em que a aplicaccedilatildeo de princiacutepios for realmente apropriada ela
deve dar-se de forma mais racional e fundamentada Deve-se adotar a premissa de que quanto
mais vaga for a norma a ser aplicada e mais intenso o componente volitivo envolvido no pro-
cesso decisoacuterio maior deve ser o ocircnus argumentativo do inteacuterprete no sentido de mostrar que
a soluccedilatildeo por ele adotada eacute a que melhor realiza os valores do ordenamento naquele caso con-
creto132 A tendecircncia atual de invocaccedilatildeo frouxa e natildeo fundamentada de princiacutepios colide com a
loacutegica do Estado Democraacutetico de Direito pois amplia as chances de arbiacutetrio judicial gera inse-
guranccedila juriacutedica e atropela a divisatildeo funcional de poderes que tem no ideaacuterio democraacutetico um
dos seus fundamentos - a noccedilatildeo baacutesica de que as decisotildees sobre o que os cidadatildeos e o Estado
podem e natildeo podem fazer devem ser tomadas preferencialmente por quem represente o povo
e seja por ele escolhido
E haacute na sociedade brasileira traccedilos que tornam ainda mais perigosa esta tendecircncia agrave frouxidatildeo
e emotividade na metodologia juriacutedica Nossa cultura caracteriza-se muito mais pelo jeiti-
nho133 e pelo patrimonialismo134 do que pela valorizaccedilatildeo do cumprimento impessoal de regras
O brasileiro - jaacute dizia Seacutergio Buarque de Holanda135 - eacute o homem cordial que tende a antepor
a loacutegica privada do compadrio e da simpatia agrave racionalidade objetiva das leis Esta singularida-
de das nossas relaccedilotildees sociais natildeo atua de forma neutra em relaccedilatildeo a todos os cidadatildeos Ela
implica na adoccedilatildeo de posturas estatais em geral muito benevolentes em relaccedilatildeo aos donos do
poder e seus apaniguumlados e de posiccedilotildees muito mais duras dirigidas aos grupos excluiacutedos e mar-
ginalizados136 Uns poucos acabam pairando acima das leis que natildeo os alcanccedilam para limitar a
sua conduta ou sancionar os seus desvios enquanto outros permanecem abaixo dela sendo
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atingidos apenas pelo braccedilo punitivo do Estado pois a violaccedilatildeo rotineira dos seus direitos eacute
naturalizada tornando-se invisiacutevel
Neste quadro cabe indagar sob a perspectiva de uma sociologia da interpretaccedilatildeo constitucio-
nal ateacute que ponto a introduccedilatildeo entre noacutes de uma dogmaacutetica fluida - a expressatildeo eacute de Gusta-
vo Zagrebelsky137 um dos iacutecones do neoconstitucionalismo - natildeo pode ter como efeito colateral
o agravamento de patologias que marcam as nossas relaccedilotildees sociais Seraacute que o nosso Direito
precisa de mais rigidez ou de maior maleabilidade Ao fim e ao cabo quem tende a se benefi-
ciar com a adoccedilatildeo de uma hermenecircutica juriacutedica mais flexiacutevel
Uma reflexatildeo importante sobre tema correlato foi empreendida por Marcelo Neves138 a partir
das categorias da teoria sistecircmica de Niklas Luhman Para Luhman139 em apertada siacutentese o
Direito nas hipercomplexas sociedades modernas seria autopoieacutetico140 pois consistiria num
subsistema social estruturalmente fechado em relaccedilatildeo ao meio envolvente que operaria de
acordo com um coacutedigo binaacuterio proacuteprio - o liacutecito iliacutecito As influecircncias do meio envolvente so-
bre o Direito seriam filtradas atraveacutes deste coacutedigo assegurando a autonomia da esfera juriacutedica
diante dos outros subsistemas sociais como a Economia a Poliacutetica a Religiatildeo etc Contudo
Marcelo Neves sustenta que em sociedades perifeacutericas como o Brasil natildeo se desenvolveu ple-
namente este fechamento estrutural do Direito Por aqui fatores como a nossa constituciona-
lizaccedilatildeo simboacutelica geraram uma insuficiente diferenciaccedilatildeo do Direito em relaccedilatildeo a outros sub-
sistemas sociais permitindo que elementos a princiacutepio estranhos ao coacutedigo binaacuterio do juriacutedico -
como a questatildeo do poder poliacutetico e do poder econocircmico - se infiltrem sistematicamente nos
processos de aplicaccedilatildeo das normas condicionando o seu resultado A teoria dos sistemas de
Luhman natildeo funcionaria bem entre noacutes pois teriacuteamos um Direito em boa parte alopoieacuteti-
coPara tal perspectiva esta maior abertura do Direito ao meio envolvente natildeo assume o po-
tencial emancipatoacuterio preconizado pela teoria neoconstitucionalista Ela funciona muito mais
como um mecanismo de cristalizaccedilatildeo de diferenccedilas sociais mantendo a hiper-inclusatildeo de uns
ao preccedilo da exclusatildeo de outros
Esta reflexatildeo de Marcelo Neves natildeo se dirigiu ao debate metodoloacutegico contemporacircneo envol-
vendo princiacutepios e regras ponderaccedilatildeo e subsunccedilatildeo etc Poreacutem entendo que ela pode ter algu-
ma pertinecircncia tambeacutem aqui pelo menos para nos advertir sobre o perigo de que o neoconsti-
tucionalismo com a fluidez metodoloacutegica e abertura do Direito a outros domiacutenios que preconi-
za possa acabar tornando-se um belo roacutetulo para justificar mais do mesmo patrimonialismo
desigualdade jeitinho Nesta perspectiva a novidade do neoconstitucionalismo poderia pare-
cer com aquela advogada pelo Priacutencipe de Salinas em famosa passagem do romance O Leopar-
do de Giuseppe Lampedusa quando defendia no contexto da crise da aristocracia italiana do
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final do seacuteculo XIX a necessidade de mudanccedilas urgentes no governo para que ao final as
coisas pudessem permanecer exatamente do jeito que sempre foram
Natildeo penso que esta seja uma consequumlecircncia necessaacuteria da adoccedilatildeo de uma perspectiva juriacutedica
mais principialista no Brasil O maior cuidado metodoloacutegico adicionado agrave adoccedilatildeo de uma dire-
triz hermenecircutica substantiva que afirme a missatildeo essencial do Direito de assegurar justiccedila e
seguranccedila agraves pessoas tratando-as como livres e iguais pode minimizar as possibilidades de um
uso enviesado da teoria neoconstitucional que acabe favorecendo aos mesmos de sempre
Mas diante das nossas tradiccedilotildees natildeo haacute como negar que os riscos satildeo elevados
c) Neoconstitucionalismo e panconstitucionalizaccedilatildeo
Uma das caracteriacutesticas do neoconstitucionalismo eacute a defesa da constitucionalizaccedilatildeo do Direi-
to Sustenta-se que a irradiaccedilatildeo das normas constitucionais por todo o ordenamento contribui
para aproximaacute-lo dos valores emancipatoacuterios contidos nas constituiccedilotildees contemporacircneas 141A
Constituiccedilatildeo natildeo eacute vista mais como uma simples norma normarum - cuja finalidade principal eacute
disciplinar o processo de produccedilatildeo de outras normas142 Ela passa a ser enxergada como a en-
carnaccedilatildeo dos valores superiores da comunidade poliacutetica que devem fecundar todo o sistema
juriacutedico Neste modelo cabe ao inteacuterprete natildeo soacute aplicar diretamente os ditames constitucio-
nais agraves relaccedilotildees sociais como tambeacutem reler todas as normas e institutos dos mais variados ra-
mos do Direito agrave luz da Constituiccedilatildeo emprestando-lhes o sentido que mais promova os objeti-
vos e a axiologia da Carta
A constitucionalizaccedilatildeo do Direito de que cogita o neoconstitucionalismo natildeo eacute aquela que resul-
ta do caraacuteter excessivamente analiacutetico da Constituiccedilatildeo e leva ao entricheiramento de meras
opccedilotildees conjunturais do constituinte originaacuterio ou derivado despidas de maior importacircncia ou
dignidade Este eacute um fenocircmeno caracteriacutestico da Carta de 88 que se excedeu no casuiacutesmo e
nos detalhes elevando ao seu texto meros interesses corporativos ou decisotildees de momento
sem focirclego para perdurarem no tempo A constitucionalizaccedilatildeo louvada e defendida pelo neo-
constitucionalismo eacute aquela que parte de uma interpretaccedilatildeo extensiva e irradiante dos direitos
fundamentais e dos princiacutepios mais importantes da ordem constitucional Aqui contudo pode-
se discutir ateacute que ponto o fenocircmeno eacute legiacutetimo Poucos discordaratildeo pelo menos no Brasil de
que alguma constitucionalizaccedilatildeo do Direito eacute positiva e bem-vinda por semear o ordenamento
com os valores humanitaacuterios da Constituiccedilatildeo Poreacutem pode-se objetar contra as teses extrema-
das sobre este processo que acabam amputando em demasia o espaccedilo de liberdade do legisla-
dor em detrimento da democracia 143
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Com efeito quem defende que tudo ou quase tudo jaacute estaacute decidido pela Constituiccedilatildeo e que o
legislador eacute um mero executor das medidas jaacute impostas pelo constituinte nega por conse-
quumlecircncia a autonomia poliacutetica ao povo para em cada momento da sua histoacuteria realizar as suas
proacuteprias escolhas O excesso de constitucionalizaccedilatildeo do Direito reveste-se portanto de um
vieacutes antidemocraacutetico Esta ordem de preocupaccedilotildees levou Ersnt Forsthof na Alemanha a criti-
car as teorias que viam a Constituiccedilatildeo como uma espeacutecie de genoma juriacutedico () do qual tudo
deriva do Coacutedigo Penal ateacute a lei sobre a fabricaccedilatildeo de termocircmetros144 E a questatildeo torna-se
ainda mais delicada diante da constataccedilatildeo de que pela abertura semacircntica dos direitos fun-
damentais e dos princiacutepios - principal mateacuteria-prima da constitucionalizaccedilatildeo do Direito - o seu
principal agente acaba sendo o Poder Judiciaacuterio ao dar a uacuteltima palavra sobre a interpretaccedilatildeo
daquelas claacuteusulas Daiacute porque o debate sobre a constitucionalizaccedilatildeo do Direito se imbrica
inexoravelmente com as discussotildees a propoacutesito da judicializaccedilatildeo da poliacutetica e do decisionismo
referidas acima
Ademais a constitucionalizaccedilatildeo do Direito tambeacutem suscita outra linha de preocupaccedilotildees rela-
cionada ao perfeccionismo moral145 na esfera privada No Brasil assim como em muitos outros
paiacuteses jaacute se assentou a ideacuteia de que os direitos fundamentais natildeo se dirigem apenas contra o
Estado vinculando tambeacutem os particulares Entre noacutes tem prevalecido na doutrina a ideacuteia que
eu mesmo defendi em outro estudo146 que a eficaacutecia dos direitos fundamentais nas relaccedilotildees
privadas eacute direta e imediata Em outras palavras entende-se que a proacutepria Constituiccedilatildeo jaacute inci-
de nas relaccedilotildees privadas independentemente de mediaccedilotildees legislativas e que pode gerar o-
brigaccedilotildees positivas ou negativas para os indiviacuteduos e natildeo soacute para os poderes puacuteblicos sempre
no afatilde de proporcionar uma proteccedilatildeo mais completa agrave dignidade humana Ateacute aqui nada a
contestar
Poreacutem o reconhecimento da vinculaccedilatildeo dos particulares agrave Constituiccedilatildeo suscita um risco que
natildeo pode ser ignorado o de imposiccedilatildeo agraves pessoas supostamente em nome de valores constitu-
cionais de comportamentos e estilos de vida que elas proacuteprias rejeitam em detrimento da sua
liberdade existencial Para dar um exemplo bem tosco seria terriacutevel se o Direito em nome do
princiacutepio da solidariedade social pudesse impor agraves pessoas que demonstrassem afetos e senti-
mentos que elas natildeo possuem genuinamente Ou se em nome da isonomia pretendesse inter-
ferir nas escolhas subjetivas e emocionais que os indiviacuteduos fazem nas suas vidas privadas A
constitucionalizaccedilatildeo neste sentido poderia converter-se num pretexto para o exerciacutecio de um
paternalismo anti-liberal em que as pessoas seriam forccediladas a conformarem-se agraves expectativas
sociais forjadas a partir de pautas de accedilatildeo politicamente corretas com apoio na Constitui-
ccedilatildeo147
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Nenhuma destas duas questotildees eacute insuperaacutevel Eacute possiacutevel aceitar e aplaudir a constitucionaliza-
ccedilatildeo do Direito - fenocircmeno em geral positivo por aproximar a racionalidade emancipatoacuteria da
Constituiccedilatildeo do dia-a-dia das pessoas - mas defender que ela seja temperada por outras preo-
cupaccedilotildees igualmente essenciais no Estado Democraacutetico de Direito com a autonomia puacuteblica e
privada dos cidadatildeos Pode-se reconhecer a legitimidade da constitucionalizaccedilatildeo do Direito
mas numa medida em que natildeo sacrifique em excesso agrave liberdade de conformaccedilatildeo que numa
democracia deve caber ao legislador para realizar opccedilotildees poliacuteticas em nome do povo148 Pode-
se da mesma forma afirmar a incidecircncia direta da Constituiccedilatildeo nas relaccedilotildees privadas mas
sem invadir a esfera das opccedilotildees existenciais da pessoa - que de resto eacute protegida pela proacutepria
Constituiccedilatildeo das ingerecircncias perfeccionistas do Estado e da sociedade149
5 Conclusatildeo Ao fim da leitura destas paacuteginas o leitor pode estar se indagando se eu me alinho ou natildeo ao
neoconstitucionalismo A minha resposta eacute depende da compreensatildeo que se tenha sobre o ne-
oconstitucionalismo Se entendermos o neoconstitucionalismo de acordo com a conhecida defi-
niccedilatildeo de Luis Prietro Sanchiacutes como uma teoria do Direito que se orienta pelas maacuteximas demaacutes
princiacutepios que reglas maacutes ponderacioacuten que subsuncioacuten omnipotencia de la Constitucioacuten en
todas las aacutereas juriacutedicas y en todos conflictos miacutenimamente relevantes en lugar de espacios
exentos en favor de la opcioacuten legislativa o reglamentaria omnipotencia judicial en lugar de
autonomia del legislador ordinaacuterio y por ultimo coexistecircncia de una constelacioacuten plural de
valores a veces tendencialmente contradictorios en lugar de homogeneidad ideoloacutegica150
certamente eu natildeo me considero um neoconstitucionalista De todas as afirmaccedilotildees do professor
espanhol a uacutenica de que natildeo discordo eacute aquela relacionada ao pluralismo de valores cujo re-
conhecimento aliaacutes estaacute longe de ser privileacutegio dos neoconstitucionalistas
Contudo eu assumo o roacutetulo sem constrangimentos se o neoconstitucionalismo for pensado
como uma teoria constitucional que sem descartar a importacircncia das regras e da subsunccedilatildeo
abra tambeacutem espaccedilo para os princiacutepios e para a ponderaccedilatildeo tentando racionalizar o seu uso
Se for visto como uma concepccedilatildeo que sem desprezar o papel protagonista das instacircncias de-
mocraacuteticas na definiccedilatildeo do Direito reconheccedila e valorize a irradiaccedilatildeo dos valores constitucio-
nais pelo ordenamento bem como a atuaccedilatildeo firme e construtiva do Judiciaacuterio para proteccedilatildeo e
promoccedilatildeo dos direitos fundamentais e dos pressupostos da democracia E acima de tudo se
for concebido como uma visatildeo que conecte o Direito com exigecircncias de justiccedila e moralidade
criacutetica151 sem enveredar pelas categorias metafiacutesicas do jusnaturalismo
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Certamente uma visatildeo equilibrada da Teoria do Direito com tais caracteriacutesticas pode contribu-
ir para o aperfeiccediloamento do Estado Democraacutetico de Direito no Brasil O mesmo jaacute natildeo digo de
concepccedilotildees mais radicais do neoconstitucionalismo que podem ser muito boas para arrancar
aplausos entusiasmados das plateacuteias nos seminaacuterios estudantis mas que natildeo se conciliam com
exigecircncias fundamentais de seguranccedila juriacutedica democracia e liberdade que satildeo alicerces de
qualquer bom constitucionalismo - novo ou velho
Curriacuteculo Resumido
Daniel Sarmento
Poacutes-Doutor pela Universidade de Yale (EUA) Procurador Regional da Repuacuteblica
Como citar este artigo
SARMENTO Daniel O neoconstitucionalismo no Brasil riscos e possibilidades Disponiacutevel em httpwwweditoraforumcombrsistconteudolista_conteudoaspFIDT_CONTEUDO=56993 acesso em 09032011 httpdireitoesubjetividadefileswordpresscom201008daniel-sarmento-o-neoconstitucionalismo-no-brasil1doc acesso em 30062012 Material da 1ordf aula da Disciplina Teoria Geral da Constituiccedilatildeo (I) ministrada no Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo Online em Direito Constitucional ndash Anhanguera-UNIDERP | REDE LFG
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1Sobre a teoria de princiacutepios no Brasil veja-se dentre outros Ana Paula de Barcellos A eficaacutecia juriacutedica dos princiacutepios constitu-
cionais o princiacutepio da dignidade da pessoa humana Rio de Janeiro Renovar 2002 Humberto Bergman Aacutevila Teoria dos princiacute-
pios da definiccedilatildeo agrave aplicaccedilatildeo dos princiacutepios juriacutedicos 2 ed Satildeo Paulo RT 2005 Jane Reis Gonccedilalves Pereira Interpretaccedilatildeo
constitucional e direitos fundamentais uma contribuiccedilatildeo ao estudo das restriccedilotildees aos direitos fundamentais na perspectiva da
teoria dos princiacutepios Rio de Janeiro Renovar 2006 Virgiacutelio Afonso da Silva O conteuacutedo essencial dos direitos fundamentais e a
eficaacutecia das normas constitucionais Satildeo Paulo Tese (concurso de Professor Titular de Direito Constitucional da USP)
2Veja-se em tons variados Lecircnio Luiz Streck Hermenecircutica juriacutedica e(m) crise uma exploraccedilatildeo hermenecircutica da construccedilatildeo do
direito Porto Alegre Livraria do Advogado 1999 Luiacutes Roberto Barroso (Org) A nova interpretaccedilatildeo constitucional ponderaccedilatildeo
direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas Rio de Janeiro Renovar 2003 Margarida Maria Lacombe Camargo Hermenecircutica e
argumentaccedilatildeo uma contribuiccedilatildeo ao estudo do direito Rio de Janeiro Renovar 2003 Inocecircncio Maacutertires Coelho Interpretaccedilatildeo
constitucional 2 ed Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2003 Ana Paula de Barcellos Ponderaccedilatildeo racionalidade e atividade
jurisdicional Rio de Janeiro Renovar 2005
3Sobre o fenocircmeno da constitucionalizaccedilatildeo do Direito confira-se os inuacutemeros artigos que compotildeem a coletacircnea organizada por
Claacuteudio Pereira de Souza Neto e por mim A constitucionalizaccedilatildeo do direito fundamentos teoacutericos e aplicaccedilotildees especiacuteficas Rio de
Janeiro Lumen Juris 2007
4Cfr na literatura constitucional brasileira Gisele Guimaratildees Cittadino Pluralismo direito e justiccedila distributiva elementos de
filosofia constitucional contemporacircnea Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 Oscar Vilhena Vieira A Constituiccedilatildeo e sua reserva de
justiccedila um ensaio sobre os limites materiais do poder de reforma Satildeo Paulo Malheiros 1999 Ricardo Lobo Torres (Org) A legi-
timaccedilatildeo dos direitos humanos Rio de Janeiro Renovar 2002 Claacuteudio Pereira de Souza Neto Teoria constitucional e democracia
deliberativa Rio de Janeiro Renovar 2006 Lecircnio Luiz Streck Verdade e consenso Constituiccedilatildeo hermenecircutica e teorias discursi-
vas Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 Samantha Chantal Dobrowolski A construccedilatildeo social do sentido da Constituiccedilatildeo na demo-
cracia contemporacircnea entre soberania popular e direitos humanos Rio de Janeiro Lumen Juris 2007 Aacutelvaro Ricardo de Souza
Cruz Hermenecircutica juriacutedica e(m) debate o constitucionalismo brasileiro entre a teoria do discurso e a ontologia existencial Belo
Horizonte Foacuterum 2007
5Sobre a judicializaccedilatildeo da poliacutetica no Brasil veja-se Luiz Werneck Vianna et al A judicializaccedilatildeo da poliacutetica e das relaccedilotildees sociais
no Brasil Rio de Janeiro Revan 1999 Giselle Cittadino Judicializaccedilatildeo da poliacutetica constitucionalismo democraacutetico e separaccedilatildeo de
poderes In Luiz Werneck Vianna (Org) A democracia e os trecircs poderes no Brasil Belo Horizonte UFMG 2002 p 17-42 Rogeacuterio
B Arantes Constitucionalism the expansion of Justice and the Judicialization of Poltics in Brazil In Rachel Sieder Line Schjol-
den Alan Angell The Judicialization of Politics in Latin America New York Palgrave Macmillan 2005 p 232-262 Luis Roberto
Barroso Judicializaccedilatildeo ativismo judicial e legitimidade democraacutetica Texto ineacutedito gentilmente cedido pelo autor
Para uma perspectiva comparativa veja-se Neal C Tate Tobjorn Vallinder (Ed) The Global Expansion of Judicial Power New
York New York University Press 1995 Alec Stone Sweet Governing with Judges Constitutional Politics in Europe Oxford Oxford
Univesity Press 2000 e em tom profundamente criacutetico Ran Hirschl Towards Juristocracy the Origins and Consequences of the
New Constitucionalism Cambridge Harvard University Press 2004
6Miguel Carbonell et al Neoconstitucionalismo(s) Madrid Trotta 2003 Mais recentemente o autor publicou nova coletacircnea
tambeacutem dedicada ao estudo do neoconstitucionalismo intitulada Teoria del Neoconstitucionalismo Ensayos escogidos Madrid
Trotta 2007
7O jurista argentino Carlos Santiago Nino por exemplo faleceu em 1993 quando ainda nem se empregava esta denominaccedilatildeo
8Cf Robert Alexy Teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica a teoria do discurso racional como teoria da fundamentaccedilatildeo juriacutedica Tradu-
ccedilatildeo de Zilda Hutchinson Schild Silva revisatildeo teacutecnica da traduccedilatildeo e introduccedilatildeo agrave ediccedilatildeo brasileira Claudia Toledo 2 ed Satildeo Paulo
Landy 2005 Luis Roberto Barroso Curso de direito constitucional contemporacircneo os conceitos fundamentais e a construccedilatildeo do
novo modelo Rio de Janeiro Saraiva 2008 p 306-350
9Cf Lecircnio Luiz Streck Verdade e consenso Op cit p 197-246
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10Ronald Dworkin e Carlos Santiago Nino satildeo sem sombra de duacutevida autores liberais natildeo no sentido que se atribui ao termo no
Brasil - de adeptos de doutrina econocircmica favoraacutevel ao Estado miacutenimo e ao mercado - mas sim no sentido corrente na Filosofia
Poliacutetica que associa o liberalismo agrave defesa dos direitos individuais e da neutralidade do Estado em relaccedilatildeo agraves diversas concepccedilotildees
sobre a vida boa existentes na sociedade Veja-se neste sentido Ronald Dworkin A Matter of Principle Cambridge Harvard
University Press 1985 p 181-236 Carlos Santiago Nino La constitucioacuten de la Democracia Deliberativa Barcelona Gedisa 1997
p 70-100
11Lecircnio Luiz Streck que se alinha ao neoconstitucionalismo defende posturas tipicamente comunitaristas como o papel da Consti-
tuiccedilatildeo na definiccedilatildeo de modelos de vida boa para orientaccedilatildeo da vida social e da accedilatildeo individual Cf Jurisdiccedilatildeo constitucional e
hermenecircutica uma nova criacutetica do direito 2 ed Rio de Janeiro Forense 2004 p 95-288
12Antonio Cavalcanti Maia um dos mais ardorosos defensores do neoconstitucionalismo no paiacutes eacute tambeacutem procedimentalista e
adepto das teorias juriacutedicas de Juumlrgen Habermas Veja-se neste sentido o seu denso texto Nos vintes anos da carta cidadatilde do
poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm (Coord) Vinte
anos da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 p 117-168 em que esta sua dupla filiaccedilatildeo intelectual eacute
explicitada
13Segundo Miguel Carbonell o neoconstitucionalismo desdobra-se em trecircs planos de anaacutelise que se conjugam o dos textos consti-
tucionais que se tornaram mais substantivos e incorporaram amplos elencos de direitos fundamentais o das praacuteticas judiciais que
passaram a recorrer a princiacutepios constitucionais agrave ponderaccedilatildeo e a meacutetodos mais flexiacuteveis de interpretaccedilatildeo sobretudo na aacuterea de
direitos fundamentais e o dos desenvolvimentos teoacutericos de autores que com as suas ideacuteias ajudaram natildeo soacute a compreender os
novos modelos constitucionais mas tambeacutem participaram da sua proacutepria criaccedilatildeo Cf Miguel Carbonell Neoconstitucionalismo
elementos para una definicioacuten In Eduardo Ribeiro Moreira Mauricio Pugliesi 20 anos da Constituiccedilatildeo brasileira Satildeo Paulo Sarai-
va 2009 p 197-208
14No mesmo sentido Luis Roberto Barroso Neoconstitucionalismo e Constitucionalizaccedilatildeo do direito o triunfo tardio do direito
constitucional do Brasil In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento A constitucionalizaccedilatildeo do direito fundamentos teoacuteri-
cos e aplicaccedilotildees especiacuteficas Rio de Janeiro Lumen Juris 2007 p 203-250
15Cf Carlos Bernal Pulido El Derecho de los Derechos Bogotaacute Universidad Externado de Colocircmbia 2006 Manoel Jose Cepeda
Espinosa Judicialization of Politics in Colombia the old and the new In Rachel Sieder Line Schonjen Alan Angell The Judiciali-
zation of Politics in Latin America Op cit p 67-104 Rodrigo Uprimmy Mauriacutecio Garcia-Villegas Tribunal Constitucional e eman-
cipaccedilatildeo social na Colocircmbia In Boaventura de Souza Santos Democratizar a democracia os caminhos da democracia participativa
Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2002 p 297-339
16Cf Catalina Smulovitz Petitioning and Creating Rights Judicialization in Argentina In Rachel Sieder Line Scjolden Alan Angell
The Judicialization of Politics in Latin America Op cit p 161-185
17Cf Miguel Carbonell Los Derechos Fundamentales en Meacutexico 2 ed Meacutexico Porruacutea 2006 Pilar Domingo The Changing Political
Role of the Judiciary in Meacutexico In Rachel Sieder Line Scjolden Alan Angell The Judicialization of Politics in Latin Ameacuterica Op
cit p 21-46
18Cf Heinz Klug South Aacutefrica From Constitucional Promise to Social Transformation In Jeffrey Goldsworthy Interpreting Consti-
tutions A Comparative Study Oxford Oxford University Press 2006 p 266-320
19Cf S P Sathe Iacutendia From Positivism to Structuralism In Jeffrey Goldsworthy Op cit p 215-265
20Veja-se a propoacutesito Gustavo Zagrebelsky Il Diritto Mite Torino Einaudi 1992 p 57-96
21Cf Eduardo Garciacutea de Enterriacutea La Constitucioacuten como Norma y el Tribunal Constitucional 3 ed Madrid Civitas 1985 p 41
22Na Alemanha a mudanccedila ocorreu sob a vigecircncia da Lei Fundamental adotada em 1949 e foi fortemente impulsionada pela
jurisprudecircncia do Tribunal Constitucional do paiacutes que construiu teorias importantes como a da Constituiccedilatildeo como uma ordem de
valores em cujo centro situa-se o princiacutepio da dignidade humana que se irradia por todo o ordenamento Veja-se a propoacutesito
Dieter Grimm Human Rights and Judicial Review in Germany In David M Beatty (Org) Human Rights and Judicial Review A
Comparative Perspective Dodrecht Martin Urjhoff 1994 p 267-295
23Na Itaacutelia as mudanccedilas se deram sob a eacutegide da atual Constituiccedilatildeo editada em 1947 mas soacute apoacutes o funcionamento da Corte
Constitucional que se deu em 1956 Ateacute entatildeo a Corte de Cassaccedilatildeo composta por juiacutezes recrutados ainda no periacuteodo do fascismo
29
era provisoriamente encarregada da guarda da Constituiccedilatildeo o que fazia de forma muito tiacutemida no mais das vezes negando eficaacute-
cia juriacutedica agraves normas constitucionais sob o argumento de que seriam programaacuteticas Veja-se a propoacutesito Ricardo Guastini A
constitucionalizaccedilatildeo do ordenamento juriacutedico e a experiecircncia italiana In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento A
constitucionalizaccedilatildeo do direito fundamentos teoacutericos e aplicaccedilotildees especiacuteficas Op cit p 271-294
24Cf No modelo do constitucionalismo norte-americano entende-se desde os primoacuterdios que a Constituiccedilatildeo eacute autecircntica lei e que
o Judiciaacuterio pode invalidar as decisotildees legislativas que a contrariem apesar do controle de constitucionalidade natildeo estar expres-
samente previsto no texto constitucional daquele paiacutes Esta ideacuteia que jaacute estava assentada no Federalista n 78 escrito por Ale-
xander Hamilton antes da aprovaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo foi posta em praacutetica pela primeira vez contra lei federal no ceacutelebre caso
Marbury v Madison julgado em 1803 pelo juiz Marshall Veja-se a propoacutesito Paul Brest Sanford Levinson Jack Balkin Akhil Reed
Amar Processes of Constitutional Decisionmaking Cases and Materials New York Aspen Publishers 2000 p 79-103
A versatildeo mais convencional do modelo constitucional norte-americano enfatiza a importacircncia central do Judiciaacuterio na atualizaccedilatildeo
do sentido da Constituiccedilatildeo do paiacutes Contudo esta leitura histoacuterica eacute hoje objeto de intensa disputa Em sentido contraacuterio a tal
posiccedilatildeo sustentando uma menor relevacircncia do Judiciaacuterio no desenvolvimento histoacuterico do constitucionalismo americano veja-se
por exemplo Stephen M Griffin American Constitutionalism From Theory to Politics New Jersey Princeton University Press
1996 p 88-139
25Cf Luis Prietro Sanchiacutes Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales Madrid Trotta 2003 p 107-117
26Cf Daniel Sarmento Ubiquumlidade constitucional Os dois lados da moeda In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento
(Coord) A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 113-148
27Na verdade a reaccedilatildeo contra o formalismo juriacutedico na Europa eacute bem anterior ao advento do constitucionalismo do 2ordm poacutes-guerra
remontando ao final do seacuteculo XIX Veja-se a propoacutesito Constantin M Stamatis Argumenter en Droit Une theacuteorie critique de
largumentation juridique Paris Publisud 1995 p 34-50 Antonio Manoel Hespanha Panorama histoacuterico da cultura juriacutedica euro-
peacuteia Lisboa Publicaccedilotildees Europa-Ameacuterica 1997 p 196-235
28Haacute vasta literatura sobre a ponderaccedilatildeo mas a obra mais influente sobre o tema eacute certamente o livro de Robert Alexy Teoria dos
direitos fundamentais Traduccedilatildeo de Virgiacutelio Afonso da Silva Satildeo Paulo Malheiros 2008 No cenaacuterio norte-americano veja-se a
anaacutelise densa e criacutetica de T Alexander Aleinikoff Constitucional Law in the Age of Balancing Yale Law Journal n 96 p 943-
1005 1987 No Brasil cfr Daniel Sarmento A ponderaccedilatildeo de interesses na Constituiccedilatildeo Federal Rio de Janeiro Lumen Juris
2000 Ana Paula de Barcellos Ponderaccedilatildeo racionalidade e atividade jurisdicional Op cit
29A bibliografia sobre o princiacutepio da proporcionalidade eacute vastiacutessima Veja-se a propoacutesito as densas anaacutelises de Carlos Bernal Puli-
do El Principio de Proporcionalidad y los Derechos Fundamentales Madrid Centro de Estuacutedios Constitucionales 2003 e no Brasil
de Jane Reis Gonccedilalves Pereira Interpretaccedilatildeo constitucional e direitos fundamentais Rio de Janeiro Renovar 2006 p 297-382
30Cf Chaiumlm Perelman Eacutetica e direito Traduccedilatildeo de Maria Ermantina Galvatildeo G Perira Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 p 361-684
Robert Alexy Teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica Op cit Friedrich Muller Discours de la Meacutethode Juridique Traduccedilatildeo de Olivier
Jouanjan Paris PUF 1993 Manuel Atienza Traacutes la Justicia Una Introduccioacuten al Derecho y al Razonamiento Juriacutedico Barcelona
Ariel 1995 Neil MacCormick Argumentaccedilatildeo juriacutedica e teoria do direito Traduccedilatildeo de Waldeacutea Barcellos Satildeo Paulo Martins Fontes
2006 Klaus Guumlnther Teoria da argumentaccedilatildeo no direito e na moral justificaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Claacuteudio Molz Satildeo Pau-
lo Landy 2004
31Cf Martin Shapiro Alec Stone Sweet On Law Politics and Judicialization New York Oxford University Press p 136-208
32Contudo deve-se admitir na linha de Paolo Comanducci que eacute possiacutevel reconhecer as mudanccedilas em questatildeo e propor novas
teorias que sejam adequadas a elas sem defendecirc-las Esta seria nas palavras do autor italiano a diferenccedila entre o neoconstitu-
cionalismo teoacuterico e o neoconstitucionalismo ideoloacutegico que natildeo apenas constroacutei teorias mais compatiacuteveis com os novos fenocirc-
menos mas vai aleacutem sustentando a sua legitimidade e propugnando pelo seu aprofundamento e expansatildeo Veja-se a propoacutesito
Paulo Comanducci Formas de neoconstitucionalismo Un anaacutelisis metateoacuterico In Miguel Carbonell (Ed) Neoconstitucionalis-
mo(s) Op cit p 75-98 Como reconhece o proacuteprio autor tal distinccedilatildeo baseia-se em uma semelhante acerca do positivismo
30
formulada por Norberto Bobbio que fala em positivismo teoacuterico ideoloacutegico e metodoloacutegico Cf Norberto Bobbio O positivismo
juriacutedico liccedilotildees de filosofia do direito Traduccedilatildeo e notas de Marcio Pugliesi et al Satildeo Paulo Iacutecone 1995 p 233-239
33Cf Ronald Dworkin Is Law a Sistem of Rules In Ronald Dworkin (Ed) Philosophy of Law Oxford Oxford University Press 1971
Robert Alexy Constitucionalismo discursivo Traduccedilatildeo de Luiz Afonso Heck Porto Alegre Livraria do Advogado 2007
34Cf Robert Alexy Derecho y Razoacuten Praacutectica Meacutexico Distribuiciones Fontamara 1993 Aulis Aarnio Lo Racional como Razonable
Traduccedilatildeo de Ernesto Garzoacuten Valdeacutes Madrid Centro de Estuacutedios Constitucionales 1991
35Cf Aharon Barak The Judge in a Democracy New Jersey Princeton University Press 2006 p 213-260 Gustavo Zagrebelsky Il
Diritto Mite Op cit p 179-217
36Confronte-se com perspectivas diferentes Luigi Ferrajoli O Estado de direito entre passado e futuro In Pietro Costa Danilo
Zolo (Org) Estado de direito histoacuteria teoria criacutetica Traduccedilatildeo de Carlo Alberto Dastoli Satildeo Paulo Martins Fontes 2006 p 419-
464 Elias Dias Estado de Derecho y Sociedad Democraacutetica Madrid Taurus 1998 Ronald Dworkin Introduction The Moral Reading
and the Majoritarian Premise In Freedoms Law The moral reading of the American Constitution Cambridge Harvard University
Press 1996 p 01-38 Gustavo Zagrebelsky La Crucifixioacuten y la Democracia Barcelona Ariel 1996 Claacuteudio Pereira de Souza Neto
Teoria constitucional da democracia deliberativa Op cit
37Cf Ronald Dworkin Introduction The Moral Reading and the Majoritarian Premise Op cit
38Cf Luigi Ferrajoli El Garantismo y la Filosofia del Derecho Bogotaacute Universidad Externado de Colocircmbia 2000
39Cf Luis Pietro Sanchis Sobre el Neoconstitucionalismo y sus Implicaciones In Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales
Op cit p 101-135
40Cf Ricardo Guastini Sur la Validiteacute de la Constitution du Point de Vue du Positivisme Juridique In Michel Troper Lucien Jaume
(Dir) 1789 et LInvention de la Constitution Paris LGDJ 1994 p 216-225
41Cf Suzana Pozzolo Neoconstituzionalismo e Positivismo Giuridico Torino Giapppicheli 2001
42Cf Ronald Dworkin Law and Morals In Justice in Robes Cambridge Harvard University Press 2006 p 01-35
43Cf Robert Alexy Derecho y Moral In La Institucionalizacioacuten de la Justicia Op cit p 17-30
44Cf Carlos Santiago Nino Eacutetica y Derechos Humanos 2 ed Buenos Aires Astrea 1989 p 11-48
45Cf Gustav Radbruch Cinco minutos de filosofia do direito In Filosofia do direito Traduccedilatildeo de L Cabral de Moncada 6 ed
Coimbra Armecircnio Amado 1979 p 414-418 Para uma densa problematizaccedilatildeo da foacutermula de Radbruch veja-se Thomas da Rosa
Bustamante Poacutes-Positivismo o argumento da injusticcedila aleacutem da Foacutermula de Radbruch In Teoria do direito e decisatildeo racional
temas de teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica Rio de Janeiro Renovar 2008
46Cf Robert Alexy La Institucionalizacioacuten de la Justicia Traduccedilatildeo de Joseacute Antonio Seone et al Granada Comares 2005 p 31-
54
47Sobre o tema cfr Alfonso Garcia Figueroa Princiacutepios e direitos fundamentais In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmen-
to A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 03-34
48O texto mais importante do positivismo inclusivo eacute o poacutes-escrito de Herbert LA Hart agrave sua obra magna The Concept of Law em
que ele responde agraves criacuteticas ao seu pensamento que Ronald Dworkin lhe endereccedilara O autor inglecircs faleceu antes de terminar o
texto mas ele foi publicado postumemente depois de ser editado por Joseph Raz Peneacutelope Bulloch Veja-se Herbert LA Hart
Poacutes-escrito In O conceito de direito Traduccedilatildeo de A Ribeiro Mendes 2 ed 1994 p 299-339 Tambeacutem na linha do positivismo
inclusivo veja-se Gregorio Peces- Barba Derechos Sociales y Positivismo Juriacutedico Escritos de Filosofia Poliacutetica y Juriacutedica Madrid
Dykinson 1999 p 83-90 Jules Coleman The Practice of Principle In defense of a pragmatist approach do legal theory Oxford
Oxford University Press p 103-120 Para uma resenha dos tipos de positivismo no debate contemporacircneo confira-se Dimitri Di-
moulis Positivismo juriacutedico introduccedilatildeo a uma teoria do direito e defesa do pragmatismo juriacutedico-politico Satildeo Paulo Meacutetodo
2006 p 65-166
49Cf Antonio Cavalcanti Maia Nos vinte anos da Constituiccedilatildeo do poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo Op cit Claacuteudio Perei-
ra de Souza Neto A teoria constitucional e seus lugares especiacuteficos notas sobre o aporte reconstrutivo Revista de Direito do
Estado n 1 p 89-104 jan mar 2006 Daniel Sarmento Interpretaccedilatildeo constitucional preacute-compreensatildeo e capacidades institu-
cionais do inteacuterprete In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binebojm Vinte anos da Constituiccedilatildeo de 1988
Op cit p 311-322
31
50Cf Juumlrgen Habermas Escritos sobre Moralidad y Eticidad Traduccedilatildeo de Manuel Jimenez Redondo Barcelona Paidoacutes 1991 p
131-172
51Sobre o comunitarismo haacute extensa literatura Dois textos claacutessicos deste linha de pensamento satildeo Michael Walzer The Communi-
tarian Critique of Liberalism In Politics and Passion New Haven Yale University Press 2004 p 141-163 Charles Taylor The
Procedural Republic and the Unencumbered Self In Robert Goodin Philip Pettit (Ed) Contemporary Political Philosophy 2 ed
Oxford Oxford University Press 2002 p 2462-256 Sobre a penetraccedilatildeo ainda que muitas vezes natildeo consciente das posiccedilotildees do
comunitarismo no constitucionalismo brasileiro veja-se Gisele Cittadino Pluralismo direito e justiccedila distributiva Op cit p
43-74
52Sobre o construtivismo eacutetico corrente filosoacutefica que sustenta a existecircncia de posiccedilotildees certas e erradas na Moral bem como a
possibilidade de encontraacute-las e fundamentaacute-las racionalmente veja-se Carlos Santiago Nino El Constructivismo Eacutetico Madrid
Centro de Estudios Constitucionales 1989
53O fenocircmeno tambeacutem se reproduz na teoria constitucional norte-americana hegemocircnica cf Keith Wittington Constitutional Con-
struction Divided Powers and Constitutional Meaning Cambridge Harvard University Press 1999 p 01-03
54A imagem do Poder Judiciaacuterio como um guardiatildeo de promessas eacute explorada e criticada numa obra importante da teoria juriacutedica
francesa contemporacircnea Antoine Garapon Le Gardien de Promesses Le juge et la democratie Paris Odile Jacob 1996
55Neste sentido o eloquumlente encerramento do Curso de Direito Constitucional Contemporacircneo de Luis Roberto Barroso o consti-
tucionalismo democraacutetico eacute a utopia que nos restou Uma feacute racional que ajuda a acreditar no bem e na justiccedila ainda quando natildeo
estejam ao alcance dos olhos (Op cit p 400)
56Cf Nico Poulantzas State Power Socialism London new Left Books 1978 Alan Hunt Marxist Theory of Law In Dennis Patter-
son (Ed) A Companion to Philosophy of Law and Legal Theory Malden Blackwell Publishers 1996 p 355-367
57Cf David Kairys (Ed) The Politics of Law A Progressive Critique New York Pantheon Books 1982 Roberto Mangabeira Unger
The Critical Legal Studies Movement Cambridge Harvard University Press 1986
58Cf Plauto Faraco Azevedo Criacutetica agrave dogmaacutetica e hermenecircutica juriacutedica Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1989 Luiz Fernando
Coelho Teoria criacutetica do direito 2 ed Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1991
59Natildeo haacute como abordar aqui as relaccedilotildees entre as inuacutemeras correntes do poacutes-modernismo e o Direito Constitucional Veja-se a
propoacutesito Niklas Luhman La Constituzione como Acquisizione Evolutiva In Gustavo Zagrebelsky Piacuteer Paolo Portinaro Joumlrg Lu-
ther Il Futuro della Costituzione Torino Einaudi 1996 p 83-128 Joseacute Joaquim Gomes Canotilho Civilizaccedilatildeo do direito constitu-
cional ou constitucionalizaccedilatildeo do direito civil a eficaacutecia dos direitos fundamentais na ordem juriacutedico-civil no contexto do direito
poacutes-moderno Cadernos de Direito Constitucional e Ciecircncia Poliacutetica n 15 p 07-16 1996 Eduardo Capellari A crise da moderni-
dade e a Constituiccedilatildeo Rio de janeiro Ameacuterica Juriacutedica 2004 Daniel Sarmento Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas 2 ed
Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 p 36-45
60Para Jean-Franccedilois Lyotard uma das caracteriacutesticas centrais do pensamento poacutes-moderno de que eacute expoente eacute a desconfianccedila
em relaccedilatildeo agraves metanarrativas - construccedilotildees abstratas grandiosas e totalizadoras tiacutepicas da Filosofia Moderna como direitos
humanos luta de classes e emancipaccedilatildeo pelo uso da razatildeo Cf Lyotard A condiccedilatildeo poacutes-moderna Traduccedilatildeo de Ricardo Correcirca
Barbosa 5 ed 1998 p16
61Cf Luiz Werneck Viana O terceiro poder na carta de 1988 e a tradiccedilatildeo republicana mudanccedila e conservaccedilatildeo In Ruben George
Oliven Marcelo Gildo Marccedilal Branda A Constituiccedilatildeo de 1988 na vida brasileira Satildeo Paulo Aderaldo e Rotshild 2008 p 91-109
62Cf Paulo Ricardo Schier Filtragem constitucional Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1999
63A expressatildeo foi cunhada por Claacuteudio Pereira de Souza Neto Fundamento e normatividade dos direitos fundamentais uma recons-
truccedilatildeo teoacuterica agrave luz do princiacutepio democraacutetico Arquivos de Direitos Humanos n 4 p 17-61 2003
64Cf Luis Roberto Barroso O direito constitucional e a efetividade de suas normas 3 ed Rio de Janeiro Renovar 1996
65Cf Clegravemerson Merlin Clegraveve A teoria constitucional e o direito alternativo para uma dogmaacutetica constitucional emancipatoacuteria In
Uma vida dedicada ao direito homenagem a Carlos Henrique de Carvalho Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1995 p 34-53
66Ressalte-se poreacutem que antes de 88 alguns juristas jaacute defendiam a forccedila normativa da Constituiccedilatildeo como o Prof Joseacute Afonso da
Silva Eacute de 1968 a primeira ediccedilatildeo da sua obra claacutessica A aplicabilidade das normas constitucionais que adotava claramente esta
32
perspectiva Todavia pelo clima nada propiacutecio ao constitucionalismo que reinava por aqui ateacute a nossa redemocratizaccedilatildeo a louvaacute-
vel pregaccedilatildeo dele e de outros juristas em prol da efetivaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo natildeo chegou a render maiores frutos
67Deve-se assinalar ainda a influecircncia marcante do novo constitucionalismo ibeacuterico neste movimento que tambeacutem pugnava pela
atribuiccedilatildeo de forccedila normativa agraves ambiciosas constituiccedilotildees de Portugal e Espanha entatildeo recentemente elaboradas apoacutes o fim de
experiecircncias autoritaacuterias naqueles paiacuteses A tiacutetulo de exemplo mencione-se a penetraccedilatildeo no paiacutes do pensamento do Professor de
Coimbra Joseacute Joaquim Gomes Canotilho especialmente da sua teoria sobre a Constituiccedilatildeo dirigente que ele posteriormente reviu
(cf J J Gomes Canotilho Constituiccedilatildeo dirigente e vinculaccedilatildeo ao legislador contributo para a compreensatildeo das normas constitu-
cionais programaacuteticas 2 ed Coimbra Coimbra 2001 - especialmente o prefaacutecio desta segunda ediccedilatildeo que daacute conta da mudanccedila
de posicionamento) bem como a difusatildeo das liccedilotildees do Professor Eduardo Garciacutea de Enterriacutea (cf La Constitucioacuten como Norma y el
Tribunal Constitucional Madrid Civitas 1981)
68Segundo a avaliaccedilatildeo atual de Luis Roberto Barroso personagem central do movimento o positivismo constitucional que deu
impulso ao movimento natildeo importava em reduzir o direito agrave norma mas sim em elevaacute-la a esta condiccedilatildeo pois ateacute entatildeo ele
havia sido menos do que norma (Curso de direito constitucional contemporacircneo Op cit p 224)
69Paulo Bonavides Curso de direito constitucional 5 ed Satildeo Paulo Malheiros 1994
70Eros Roberto Grau A ordem econocircmica na Constituiccedilatildeo de 88 interpretaccedilatildeo e criacutetica Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1996
71No acircmbito da Poacutes-Graduccedilatildeo em Direito da UERJ em que estou inserido desde 1997 primeiro como aluno e a partir de 2003 como
professor o Ricardo Lobo Torres teve papel central na difusatildeo do pensamento destes e de outros filoacutesofos entre os estudantes e o
proacuteprio corpo docente
72Cf Lecircnio Luiz Streck Hermenecircutica juriacutedica e(m) crise Op cit Eros Roberto Grau Ensaio e discurso sobre a interpreta-
ccedilatildeoaplicaccedilatildeo do direito Satildeo Paulo Malheiros 2002
73Nesta linha veja-se as obras que compotildeem a coletacircnea Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Direitos sociais funda-
mentos judicializaccedilatildeo e direitos sociais em espeacutecie Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 Ricardo Lobo Torres O miacutenimo existencial
e os direitos fundamentais Revista de Direito Administrativo n 177 p 20-49 1989 Ingo Wolfgang Sarlet A eficaacutecia dos direitos
fundamentais 9 ed Porto Alegre Livraria do Advogado 2008 Ana Paula de Barcellos A eficaacutecia juriacutedica dos princiacutepios o princiacute-
pio da dignidade da pessoa humana Op cit Marco Mazzeli Gouveia O controle judicial das omissotildees administrativas Rio de
Janeiro Forense 2003 Andreacuteas Krell Direitos sociais e controle judicial no Brasil e Alemanha os (des)caminhos de um direito
constitucional comparado Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2002
74Cf Gustavo Tepedino Temas de direito civil Rio de Janeiro Renovar 1999 Luiz Edson Fachin Estatuto juriacutedico do patrimocircnio
miacutenimo Rio de Janeiro Renovar 2001 Maria Celina Bodin de Moraes Danos agrave pessoa humana uma leitura civil-constitucional dos
danos morais Rio de Janeiro Renovar 2003 Teresa Negreiros Fundamentos para uma interpretaccedilatildeo constitucional do princiacutepio
da boa-feacute Rio de Janeiro Renovar 1998 Anderson Schreiber A proibiccedilatildeo do comportamento contraditoacuterio Rio de Janeiro Reno-
var 2005
75Cf Luciano Feldens A Constituiccedilatildeo penal a dupla face da proporcionalidade no controle das lei penais Porto Alegre Livraria do
Advogado 2005 Luis Carlos dos Santos Gonccedilalves Mandados expressos de criminalizaccedilatildeo e a proteccedilatildeo de direitos fundamentais na
Constituiccedilatildeo Brasileira de 1988 Belo Horizonte Foacuterum 2007
76Cf Gustavo Binenbojm Uma teoria do direito administrativo direitos fundamentais democracia e constitucionalizaccedilatildeo Rio de
Janeiro Renovar 2006 Alexandre dos Santos Aragatildeo Floriano de Azevedo Marques (Coord) Direito administrativo e seus novos
paradigmas Belo Horizonte Foacuterum 2008
77Cf Gustavo Binenbojm A nova jurisdiccedilatildeo constitucional brasileira legitimidade democraacutetica e instumentos de realizaccedilatildeo Rio de
Janeiro Renovar 2001 Claacuteudio Pereira de Souza Neto Jurisdiccedilatildeo constitucional democracia e racionalidade praacutetica Rio de
Janeiro Renovar 2002 Joseacute Adeacutercio Leite Sampaio A Constituiccedilatildeo reinventada pela jurisdiccedilatildeo constitucional Belo Horizonte Del
Rey 2002 Lecircnio Luiz Streck Jurisdiccedilatildeo constitucional e hermenecircutica Porto Alegre Livraria do Advogado 2002 Aacutelvaro Ricardo
de Souza Cruz Jurisdiccedilatildeo constitucional democraacutetica Belo Horizonte Del Rey 2004
78A expressatildeo dificuldade contramajoritaacuteria eacute de um claacutessico da teoria constitucional norte-americana Alexander Bickel La Cons-
titucioacuten como Norma y el Tribunal Constitucional 2 ed New Haven Yale University Press 1986
33
79Em siacutentese apertada o procedimentalismo sustenta que natildeo eacute papel da jurisdiccedilatildeo constitucional tutelar valores substantivos mas
apenas proteger os pressupostos necessaacuterios ao bom funcionamento da democracia Jaacute o substancialismo reconhece a legitimidade
da atuaccedilatildeo jurisdicional em favor da garantia e promoccedilatildeo de valores substantivos presentes na Constituiccedilatildeo O debate entre o
procedimentalismo identificado com as ideacuteias de autores como John Hart Ely e Juumlrgen Habermas e o substancialismo defendido
por teoacutericos como Ronald Dworkin e Laurence Tribe eacute reproduzido em praticamente toda a literatura contemporacircnea que trata de
Teoria ou Filosofia Constitucional Veja-se a propoacutesito a densa obra de Claacuteudio Ari Mello Democracia constitucional e direitos
fundamentais Porto Alegre Livraria do Advogado 2004
80Neoconstitucionalismo e constitucionalizaccedilatildeo do direito o triunfo tardio do direito constitucional no Brasil Op cit
81A crise paradigmaacutetica do direito no contexto da resistecircncia positivista ao (neo)constitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza
Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm Vinte anos da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Op cit p 203-228
82Nos vinte anos da carta cidadatilde do poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo Op cit
83Neoconstitucionalismo direitos fundamentais e controle de poliacuteticas puacuteblicas In Daniel Sarmento Flaacutevio Galdino (Org) Direitos
fundamentais estudos em homenagem ao prof Ricardo Lobo Torres Rio de Janeiro Renovar 2006 p 31-60
84Direitos humanos legitimidade e constitucionalismo In Daniel Sarmento Flaacutevio Galdino (Org) Direitos fundamentais estudos
em homenagem ao Prof Ricardo Lobo Torres Op cit p325-350
85Novos desafios agrave filtragem constitucional no momento do neoconstitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sar-
mento A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 251-270
86Neoconstitucionalismo a invasatildeo da Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Meacutetodo 2008
87Neoconstitucionalismo e positivismo juriacutedico Satildeo Paulo Landy 2006
88Teoria do direito e argumentaccedilatildeo racional temas de teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica op cit p 141-240
89Uma visatildeo criacutetica do neoconstitucionalismo In George Salomatildeo Leite Glauco Salomatildeo Leite Constituiccedilatildeo e efetividade constitu-
cional Salvador JusPodium 2008 p 43-60
90Neoconstitucionalismo entre a Ciecircncia do direito e o direito da ciecircncia In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento
Gustavo Binenbojm Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 p 187-202
91Cf Peticcedilatildeo 1246 MSSC julgada em 31011997 (obrigaccedilatildeo do Estado de realizar transplante de ceacutelulas mioblaacutesticas para salvar
a vida de crianccedila) Agravo de Instrumento no Recurso Extraordinaacuterio 271286RS DJU 24 nov 2000 (entrega de medicamentos
para portadores de HIV) e Agravo de Instrumento do Recurso Extraordinaacuterio nordm 410715-5 julgado em 22112005 (obrigaccedilatildeo de
fornecimento de vagas para educaccedilatildeo infantil pelo municiacutepio com atendimento em creches e preacute-escola)
92Recursos Extraordinaacuterios nordms 158215-4RS 161243-6DF 201819RJ
93Cf Mandado de Injunccedilatildeo 670ES Rel Min Gilmar Mendes julgado em 25102007 em que o STF revendo orientaccedilatildeo anterior
deu eficaacutecia normativa agrave sentenccedila proferida no mandado de injunccedilatildeo No caso decidiuse que ateacute o advento de lei regulamentado-
ra sobre a greve no serviccedilo puacuteblico o direito de greve poderia ser exercido obedecendo-se os limites impostos pela Lei 778389
que trata dos movimentos paredistas em serviccedilos essenciais no setor privado
94Sobre a tendecircncia agrave superaccedilatildeo da ideacuteia do Judiciaacuterio como legislador negativo na jurisdiccedilatildeo constitucional veja-se Joseacute Adeacutercio
Leite Sampaio A Constituiccedilatildeo reinventada pela jurisdiccedilatildeo constitucional Belo Horizonte Del Rey 2002 p 203-248
95Eacute lugar-comum dentre os autores que tratam da questatildeo associar tais mudanccedilas agrave pluralizaccedilatildeo das vozes na interpretaccedilatildeo consti-
tucional tema em que a referecircncia essencial no cenaacuterio germacircnico eacute Peter Haumlberle Veja-se a propoacutesito Peter Haumlberle Herme-
necircutica constitucional A sociedade aberta dos inteacuterpretes da Constituiccedilatildeo contribuiccedilatildeo para a interpretaccedilatildeo pluralista e procedi-
mental da Constituiccedilatildeo Traduccedilatildeo de Gilmar Ferreira Mendes Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1997 Veja-se ainda na doutrina
brasileira Gustavo Binenbojm A dimensatildeo do Amicus Curiae no processo constitucional brasileiro In Temas de direito constitu-
cional e administrativo Rio de Janeiro Renovar 2008 p 165-190
96ADIN 3510DF Relator Ministro Carlos Ayres Britto A accedilatildeo proposta contra o art 5ordm da Lei de Biosseguranccedila impugnava a auto-
rizaccedilatildeo de pesquisas com embriotildees humanos resultantes de fertilizaccedilatildeo in vitro que fossem inviaacuteveis ou estivessem congelados haacute
mais de trecircs anos A accedilatildeo foi julgada totalmente improcedente por 6 votos a 5
97ADPF nordm 54 A accedilatildeo que tem como relator o Ministro Marco Aureacutelio ainda natildeo foi julgada mas em seu bojo jaacute ocorreram diversas
audiecircncias puacuteblicas que provocaram intensa participaccedilatildeo da sociedade civil e grande interesse na miacutedia
34
98ADPF nordm 132 Relator Ministro Carlos Ayres Britto A accedilatildeo ainda foi julgada
99Mandados de Seguranccedila 26602DF 26603DF e 26604DF Informativo STF n 482
100Recurso Extraordinaacuterio 197917SP Rel p acoacuterdatildeo Min Ceacutesar Peluso DJU 18 fev 2005
101O livro de Alberto Carlos Almeida A cabeccedila do brasileiro lanccedilado em 2007 conteacutem pesquisas feitas sobre uma acuteseacuterie de temas
com pessoas de todas as classes sociais e regiotildees do paiacutes Uma das pesquisas eacute relativa agrave avaliaccedilatildeo das instituiccedilotildees Dentre as treze
avaliadas as duas que obtiveram menor aprovaccedilatildeo foram os partidos poliacuteticos (avaliaccedilatildeo positiva de 28 dos entrevistados) e o
Congresso (avaliaccedilatildeo positiva de 36 dos entrevistados) Cf Antonio Carlos Almeida A cabeccedila do brasileiro Rio de Janeiro Re-
cord 2007 p 187
102Cf Luis Roberto Barroso Judicializaccedilatildeo ativismo judicial e legitimidade democraacutetica Texto ainda ineacutedito gentilmente cedido
pelo autor
103Humberto Aacutevila por exemplo formula outra criacutetica importante de que o neoconstitucionalismo seria inadequado agrave realidade
constitucional brasileira jaacute que privilegia os princiacutepios e a Carta de 88 seria muito mais regulatoacuteria do que principioloacutegica (Neo-
constitucionalismo entre a ciecircncia do direito e o direito da ciecircncia Op cit p 188-192)
104Contudo natildeo eacute razoaacutevel estender esta criacutetica ao ponto de negar o caraacuteter democraacutetico da atuaccedilatildeo judicial Como ressaltou
Eugenio Rauacutel Zaffaroni uma instituiccedilatildeo natildeo eacute democraacutetica unicamente porque natildeo provenha de eleiccedilatildeo popular porque nem tudo
o que proveacutem desta origem eacute necessariamente aristocraacutetico Uma instituiccedilatildeo eacute democraacutetica quando seja funcional para o sistema
democraacutetico quer dizer quando seja necessaacuteria para a sua continuidade como ocorre com o judiciaacuterio (Poder judiciaacuterio crise
acertos e desacertos Traduccedilatildeo de Juarez Tavares Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1995 p 43)
105Cf Robert A Dahl Sobre a democracia Traduccedilatildeo de Beatriz Sidou Brasiacutelia UNB 2001 p 97-113 Juumlrgen Habermas Popular
Sovereignity as Procedure In James Bonham William Rehg Deliberative Democracy Cambridge The MIT Press 1997 p 35-66
106A questatildeo da tensatildeo e sinergia simultacircneas entre constitucionalismo e democracia eacute um dos debates mais fecundos da Teoria
Poliacutetica e da Filosofia Constitucional que tem atravessado o tempo desde o advento do constitucionalismo moderno no seacuteculo
XVIII Veja-se no debate contemporacircneo Jeremy Waldron Preocommitment and Disagreement In Larry Alexander Constitu-
cionalism Philosophical Foundations Cambridge Cambridge University Press 1998 p 271-299 Juumlrgen Habermas O Estado demo-
craacutetico de direito uma amarraccedilatildeo paradoxal de princiacutepios contraditoacuterios In Era das transiccedilotildees Traduccedilatildeo de Flaacutevio Beno Siebe-
neichler Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 2003 p 153-173 Carlos Santiago Nino La Constitucioacuten de la Democracia Deliberativa
Op cit Frank Michelman Brennan and Democracy Princeton Princeton University Press 1999 p 03-62 Stephen Holmes El
Precompromiso y la Paradoja de la Democracia In Jon Elster Rune Slagstad Constitucionalismo y Democracia Traduccedilatildeo de Mocircni-
ca Utrilla de Neira Mexico Fondo de Cultura Econocircmica 1999 p 217-262
107O problema da limitaccedilatildeo do legislador atual pelas decisotildees do constituinte adotadas no passado envolve a problemaacutetica da
partilha intergeracional de poder bem explicitada na fala de Jefferson que defendia que a cada 19 anos deveria ser elaborada
uma nova Constituiccedilatildeo nos Estados Unidos para que a Lei Maior daquele paiacutes natildeo se tornasse um mecanismo de governo dos mor-
tos sobre os vivos Em siacutentese apertada haacute na teoria poliacutetica contemporacircnea duas linhas principais de justificativa para a legiti-
midade destas restriccedilotildees
Uma eacute a teoria da democracia dualista defendida por Bruce Ackerman que sustenta que as decisotildees adotadas pelo proacuteprio povo
em contextos de grande mobilizaccedilatildeo ciacutevica devem ser protegidas do alcance da vontade dos representantes do povo formada em
momentos em que a cidadania natildeo esteja intensamente envolvida Esta teoria distingue a poliacutetica extraordinaacuteria correspondente
agravequeles momentos constitucionais da poliacutetica ordinaacuteria que se realiza atraveacutes das deliberaccedilotildees do dia a dia dos oacutergatildeos represen-
tativos Para a perspectiva ackermaniana a poliacutetica extraordinaacuteria - que natildeo exige necessariamente formalizaccedilatildeo procedimental
atraveacutes de assembleacuteia constituinte ou de emenda constitucional - se situa em patamar superior agrave poliacutetica ordinaacuteria e pode legiti-
mamente impor limites a esta (cf Bruce Ackerman We the people Foundations Cambridge The Belknap Press 1991 p 03-33)
Outra teoria eacute a do preacute-compromisso que jaacute foi advogada por Jon Elster Segundo ela eacute legiacutetimo subtrair do alcance das maiorias
determinadas questotildees fundamentais que expressam princiacutepios fundamentais de justiccedila poliacutetica ou garantam os pressupostos da
proacutepria democracia tendo em vista o risco de que no processo poliacutetico majoritaacuterio em momentos de irracionalidade o povo
35
possa ser viacutetima de suas proacuteprias fraquezas ou paixotildees momentacircneas atentando contra tais princiacutepios (cf Ulisses and Sirens
Cambridge Cambridge University Press 1979)
Ambas as concepccedilotildees - a primeira mais proacutexima ao republicanismo e a segunda de vieacutes mais liberal - tecircm a sua dose de procedecircn-
cia mas ensejam criacuteticas importantes Todavia foge a escopo do presente trabalho analisar esta questatildeo que eacute uma das mais
complexas da Filosofia Poliacutetica moderna e contemporacircnea Para uma visatildeo geral sobre o tema na literatura em liacutengua portuguesa
veja-se Oscar Vilhena Vieira A Constituiccedilatildeo e sua reserva de justiccedila Op cit Miguel Nogueira de Brito A Constituiccedilatildeo constituin-
te ensaio sobre o poder de revisatildeo da Constituiccedilatildeo Coimbra Coimbra 2000 Samantha Chantal Dobrowolski Op cit p 265-312
Rodrigo Brandatildeo Direitos fundamentais democracia e claacuteusulas peacutetreas Rio de Janeiro Renovar 2008 p 59-112
108Cf Michel Troper Justice Constitutionelle et Deacutemocratie In Pour une Theorie Juridique de LEacutetat Paris PUF 1994 p 317-328
Claacuteudio Pereira de Souza Neto Jurisdiccedilatildeo constitucional democracia e racionalidade praacutetica Op cit p 106-130 Gustavo Binen-
bojm A nova jurisdiccedilatildeo constitucional brasileira Op cit p 55-74
109Sobre o modelo revolucionaacuterio francecircs de constitucionalismo completamente avesso agrave ideacuteia de jurisdiccedilatildeo constitucional cf
Maurizio Fioravanti Constitucioacuten de la antiguumledad a nuestros dias Traduccedilatildeo de Manuel Martinez Neira Madrid Trotta 2001 p
120-132
110Cf Carl Schmitt La Defesa de la Constitucioacuten Madrid Tecnos 1983
111O constitucionalismo popular ou populismo constitucional eacute uma importante corrente no debate constitucional norte-americano
contemporacircneo que nega a legitimidade democraacutetica do controle de constitucionalidade advogando que deve caber ao proacuteprio
povo e natildeo a uma elite de juiacutezes natildeo eleitos com assento na Suprema Corte o poder de definir o sentido das claacuteusulas vagas que
abundam no texto constitucional daquele paiacutes Na defesa desta tese satildeo empregados tanto argumentos de teoria e filosofia poliacuteti-
ca de caraacuteter mais universal como razotildees histoacutericas relacionadas agrave evoluccedilatildeo do constitucionalismo estadunidense Veja-se nesta
linha Mark Tushnet Taking the Constitution Away from the Courts Princeton Princeton University Press 1999 Jeremy Waldron
Precommitment and Disagreement Op cit Larry D Kramer The People Themselves Popular constitutionalism and judicial re-
view New York Oxford University Press 1994
Ateacute algumas deacutecadas atraacutes a oposiccedilatildeo agrave jurisdiccedilatildeo constitucional nos Estados Unidos partia em regra da Direita que natildeo se con-
formava com a jurisprudecircncia extremamente liberal em mateacuteria de direitos fundamentais estabelecida pela Corte entre os anos
50 e 70 Atualmente uma boa parte dos opositores agrave judicial review situa-se agrave esquerda do espectro poliacutetico e talvez a nova linha
profundamente conservadora daquele Tribunal ajude a explicar esta mudanccedila
112Sobre a Era de Lochner veja-se Laurence H Tribe American Constitutional Law 2 ed Mineola The Foundation Press 1988 p
567-581 Paul Brest et al Processes of Constitucional Decisionmaking 4 ed New York Aspen Publishers 2000 p 337-354
113Towards Juristocracy hellip Op cit
114Tratei do tema no artigo Direito adquirido emenda constitucional democracia e justiccedila social In Livres e iguais Op cit p
03-32
115Cf Charles R Epp The Rights Revolution Chicago The University of Chicago Press 1998 p 26-70 Owen Fiss The Law as It
Could Be New York New York University Press 2003 p 244-249
116A importacircncia e as peculiaridades da interpretaccedilatildeo legislativa da Constituiccedilatildeo satildeo exploradas em importante obra coletiva
Richard W Bauman Tsvi Kahana The Least Examined Branch The Role of Legislatures in the Constitutional State Cambridge
Cambridge University Press 2006
117Cf em tom ainda mais ceacutetico do que o adotado neste estudo Martonio MontAlverne Barreto Lima Jurisdiccedilatildeo Constitucional
um problema da teoria da democracia poliacutetica In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Gilberto Bercovici Joseacute Filomeno de Moraes
Filho Martonio MontAlverne Teoria da Constituiccedilatildeo estudos sobre o lugar da poliacutetica no direito constitucional Rio de Janeiro
Lumen Juris 2003 p 199-261 Conrado Huumlbner Mendes Controle de constitucionalidade e democracia Rio de Janeiro Elsevier
2008
36
118Para criacutetica semelhante no contexto germacircnico veja-se Ingeborg Maus O judiciaacuterio como superego da sociedade sobre o papel
da atividade jurisprudencial na sociedade oacuterfatilde Traduccedilatildeo de Martonio MontAlverne Barreto Lima Paulo Antonio Menezes de Albu-
querque Anuaacuterio dos Cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito da Faculdade de Direito de Recife n 11 2000
119Eu aprofundo a anaacutelise deste ponto no meu artigo Interpretaccedilatildeo constitucional preacute-compreensatildeo e capacidades institucionais do
inteacuterprete In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm (Coord) Vinte anos da Constituiccedilatildeo Federal
de 1988 Op cit p 311-322 E a necessidade de optar por teoria de interpretaccedilatildeo que leve em consideraccedilatildeo as capacidades
institucionais reais dos juiacutezes comparando-as com as dos agentes de outras instituiccedilotildees eacute explorada no importante estudo de Cass
Sunstein Adrian Vermeulle Interpretations and Institutions Chicago Working Papers in Law amp Economics 2002 p 01-55 bem
como no livro de Adrian Vermeulle Judging under Uncertainty An Institutional Theory for Legal Interpretation Cambridge Har-
vard University Press 2006
120Dentre as honrosas exceccedilotildees mencione-se Luiacutes Roberto Barroso autor de importante artigo com sugestotildees para a reforma poliacuteti-
ca no paiacutes Reforma poliacutetica uma proposta de sistema de governo eleitoral e partidaacuterio para o Brasil Revista de Direito do Esta-
do n 3 p 287-360 jul set 2006
121Sobre o ethos judicial no Brasil veja-se a pesquisa de Maria Tereza Sadek Magistrados uma imagem em movimento Rio de
Janeiro FGV 2006
122Em sentido semelhante veja-se Michael J Perry The Constitution the Courts and Human Rights New Haven Yale University
Press 1982 p 91-145
123Neste ponto entendo que um standard importante que deveria ser adotado para controle de constitucionalidade eacute o de que
quanto maiores forem as credencias democraacuteticas de um ato normativo mais autocontido deve ser o Poder Judiciaacuterio ao avaliar a
sua constitucionalidade Na minha opiniatildeo estas credencias democraacuteticas devem ser aferidas tanto por criteacuterios qualitativos - eg
grau de participaccedilatildeo social no processo legislativo qualidade do processo deliberativo que a antecedeu - como por criteacuterios quanti-
tativos - percentual de votos favoraacuteveis agrave medida Em sentido semelhante veja-se Claacuteudio Ari Mello Democracia e direitos funda-
mentais Op cit p 298
124Em sentido proacuteximo apontam as liccedilotildees de Gustavo Binenbojm e Humberto Aacutevila O primeiro tratando do controle judicial dos
atos administrativos averbou que quanto maior for o grau de tecnicidade da mateacuteria objeto de decisatildeo por oacutergatildeos dotados de
expertise e experiecircncia menos intenso deve ser o grau de controle judicial (Uma teoria do direito administrativo Op cit p
236) Jaacute o segundo salientou que o acircmbito de controle pelo Judiciaacuterio deveraacute ser tanto menor quanto mais difiacutecil e teacutecnico for
o juiacutezo exigido para o tratamento da mateacuteria (Teoria dos princiacutepios Op cit p 126)
125Um exemplo extremado deste posicionamento estaacute na argumentaccedilatildeo adotada pelo STF no julgamento da ADIN 2797 Rel Min
Sepuacutelveda Pertence em que se reconheceu a inconstitucionalidade formal de lei que pretendia interpretar a Constituiccedilatildeo Para o
STF natildeo pode a lei ordinaacuteria pretender impor como seu objeto imediato uma interpretaccedilatildeo a Constituiccedilatildeo a questatildeo eacute de in-
constitucionalidade formal iacutensita a toda norma da gradaccedilatildeo inferior que se proponha a ditar interpretaccedilatildeo de norma superior
Na questatildeo de fundo abordada naquele caso entendo que o STF estava certo Tratava-se de invalidar uma norma legal que esten-
dera o foro de prerrogativa de funccedilatildeo a ex-ocupantes de cargos puacuteblicos visando a restaurar antiga jurisprudecircncia do STF sedi-
mentada na Suacutemula 394 do Tribunal que acabara de ser cancelada O princiacutepio republicano natildeo era compatiacutevel com tal medida
que configurava niacutetido privileacutegio O que me parece inaceitaacutevel e profundamente anti-democraacutetico com a devida vecircnia natildeo eacute o
resultado alcanccedilado pela Corte - com o qual concordo - mas o argumento empregado de que o legislador natildeo pode interpretar a
Constituiccedilatildeo
126Existe hoje uma fecunda produccedilatildeo acadecircmica no cenaacuterio anglo-saxatildeo sobre as vantagens de modelos teoacutericos que favoreccedilam
diaacutelogos entre diversos oacutergatildeos e instituiccedilotildees na interpretaccedilatildeo constitucional ao inveacutes de afirmarem a exclusividade ou mesmo a
supremacia do Judiciaacuterio nesta seara Veja-se a propoacutesito Laurence G Sager Justice in Plainclothes A Theory of American Con-
stitutional Practice New haven Yale University Press 2004 Mark Tushnet Weak Courts Strong Rights Judicial Review and Social
Welfare Rights in Comparative Constitutional Law Princeton Princeton University Press 2008 Mark C Miller Jeb Barnes (Ed)
Making Police Making Law An Interbranch Perspective Washington DC Georgetown University Press 2004
37
127Colhi o exemplo no estudo de Oscar Vilhena Vieira Supremocracia In Daniel Sarmento (Org) Filosofia e teoria constitucional
contemporacircnea Rio de Janeiro Lumen Juris 2009
128Como um natildeo-positivista tenho a necessaacuteria imparcialidade para criticar os equiacutevocos da doutrina brasileira nas suas invectivas
contra o positivismo que muitas vezes caracterizam verdadeira falaacutecia do espantalho ataca-se natildeo a proacutepria teoria positivista
mas uma distorcida caricatura dela Duas afirmaccedilotildees erradas que eu mesmo jaacute fiz em textos anteriores satildeo muito frequumlentes a
de que o positivismo recusa a aplicaccedilatildeo dos princiacutepios juriacutedicos e a de que ele teria sido a Filosofia do Direito cultivada na Alema-
nha nazista
Quanto ao primeiro ponto natildeo haacute nenhuma incompatibilidade loacutegica entre positivismo e princiacutepios desde que os princiacutepios este-
jam devidamente incorporados na ordem juriacutedico-positiva Vaacuterios autores positivistas contemporacircneos jaacute citados neste estudo
como Luis Prietro Sanchiacutes Luigi Ferrajoli e Gregorio Peces-Barba atribuiacuteram espaccedilo importante para princiacutepios nas suas teorias
Mesmo no Direito Puacuteblico brasileiro juristas de inspiraccedilatildeo positivista kelseniana construiacuteram suas teorias com apoio em argumen-
taccedilatildeo principioloacutegica como o falecido Geraldo Ataliba e Celso Antonio Bandeira de Mello
No que tange ao segundo ponto - a chamada redutio ad hitlerum - os estudos mais autorizados de Histoacuteria do Direito comprovam
que natildeo foi o positivismo a teoria juriacutedica dominante no nazismo mas uma espeacutecie de jusnaturalismo de inspiraccedilatildeo hegeliana que
se insurgia contra o formalismo e recorria com frequumlecircncia a conceitos muito vagos para justificar a barbaacuterie como os de comuni-
dade popular (Volksgemeinschaft) Veja-se a propoacutesito Michael Stolleis The Law under the Swastika Studies on Legal History in
Nazi Germany Traduccedilatildeo de Thomas Dunlap Chicago The University of Chicago Press 1998
129Cf Joseacute Joaquim Gomes Canotilho Direito constitucional e Teoria da Constituiccedilatildeo Coimbra Almedina 1998 p 1036
130Sobre a importacircncia das regras veja-se Frederick Schauer Playing by the Rules A Philosophical Exaxamination of Rule-Bases
Decision-Making in Law and Life Oxford Oxford University Press 1998 Humberto Aacutevila Neoconstitucionalismo entre a ciecircncia do
direito e o direito da ciecircncia Op cit Noel Struchiner Posturas institucionais e modelagem institucional a dignidade (contingente)
do formalismo juriacutedico In Daniel Sarmento Filosofia e teoria constitucional contemporacircnea Op cit
131Esta eacute expressatildeo empregada por Ana Paula de Barcellos O direito constitucional em 2006 Revista de Direito do Estado n 5 p
03-23 janmar 2007
132Cf Chaiumlm Perelman P Fories La Motivation des Deacutecisions de Justice Bruxelas Eacutemile Bruylant 1978
133Sobra a influecircncia do jeitinho no Direito brasileiro cf Keith Rosen O jeito na cultura juriacutedica brasileira Rio de Janeiro Reno-
var 1997
134Sobre o patrimonialismo no Brasil veja-se Raimundo Faoro Os donos do poder 8 ed Rio de Janeiro Globo 1989 v 2 p 729-
750
135Raiacutezes do Brasil 26 ed Satildeo Paulo Companhia das Letras 1995
136Cf Joseacute Murilo de Carvalho Brasileiro Cidadatildeo In Pontos e bordados escritos de histoacuteria e poliacutetica Belo Horizonte Ed
UFMG 2005 p 275-288
137Cf Gustavo Zagrebelsky Il Diritto Mite Op cit p 15-19
138Cf Marcelo Neves A constitucionalizaccedilatildeo simboacutelica Satildeo Paulo Acadecircmica 1994
139A obra de Niklas Luhman eacute vasta e complexa e seus textos satildeo de difiacutecil compreensatildeo para os natildeo iniciados Veja-se do proacuteprio
autor Sociologia do direito I e II Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 1983 e 1985 Sistema Jurididico y Dogmaacutetica Juriacutedica Madrid
Centro de Estuacutedios Constitucionales 1983 Confira-se tambeacutem a coletacircnea organizada por Andreacute-Jean Arnaud Dalmir Lopes Jr Do
sistema social agrave sociologia juriacutedica Rio de Janeiro Lumen Juris 2004
140Sobre a autopoieses do Direito veja-se tambeacutem a obra importante de Guumlnther Teubner O direito como sistema autopoieacutetico
Traduccedilatildeo de Joseacute Engracia Nunes Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1993
141Cf Luis Roberto Barroso Neoconstitucionalismo e a constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit
142Esta era basicamente a visatildeo de Hans Kelsen (Cf Hans Kelsen Jurisdiccedilatildeo constitucional Traduccedilatildeo de Alexandre Krug et al Satildeo
Paulo Martins Fontes 2003 p 153) Para uma anaacutelise criacutetica desta posiccedilatildeo veja-se Luis Prietro Sanchiacutes Presupuestos ideoloacutegicos
y doctrinales de la jurisdicioacuten constitucional In Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales Op cit p 21-100
38
143Cf Christian Starck La suprematie La Suprematie de la Constitution et la Justice Constitutionnelle In La Constitution Cadre et
Mesure du Droit Traduccedilatildeo de Freacutederic Weill Paris Econocircmica 1994 p 26-30 Ernst- Wolfgang Boumlckenfoumlrde Les meacutethodes
dinterpretation de la Constitution Un bilan critique In Le Droit lEacutetat et la Constitution Democratique Traduccedilatildeo de Olivier
Jouanjan Paris LGDJ 2000 p 249-250 Virgiacutelio Afonso da Silva Constitucionalizaccedilatildeo do direito os direitos fundamentais nas
relaccedilotildees entre particulares Satildeo Paulo Malheiros 2005 p 107-131 Daniel Sarmento Ubiquumlidade constitucional os dois lados da
moeda Op cit Luis Roberto Barroso Curso de Direito Constitucional Contemporacircneo Op cit p 391-394 Alceu Mauriacutecio Jr
Judicializaccedilatildeo da poliacutetica e a crise do direito constitucional a Constituiccedilatildeo entre ordem marco e ordem fundamenta Revista de
Direito do Estado n 10 p 125-142 abrjun 2008
144Der Staat der Industriegesellshaft 2 ed Muumlnchen Beck 1971 p 144 Apud Robert Alexy Posfaacutecio In Teoria dos direitos
fundamentais Op cit p 578
145De acordo com Carlos Santiago Nino o perfeccionaismo eacute la concepcioacuten seguacuten la cual es una misioacuten legiacutetima del Estado hacer
que los individuos acepten y materializen ideales vaacutelidos de virtud personal Seguacuten este enfoque el Estado no puede permanecer
neutral respecto de concepciones de lo bueno en la vida y debe adoptar las medidas educativas punitorias etc que sean necesa-
rias para que los indiviacuteduos ajusten su vida a los verdaderos ideales de virtud y del bien (Eacutetica y Derechos Humanos Un ensayo de
fundamentacioacuten 2 ed Buenos Aires Astrea 1989 p 413)
146Daniel Sarmento Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas 2 ed Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 Sobre o tema na literatura
nacional veja-se tambeacutem Wilson Antocircnio Steinmetz A vinculaccedilatildeo dos particulares aos direitos fundamentais Satildeo Paulo Malheiros
2004 Virgiacutelio Afonso da Silva Constitucionalizaccedilatildeo do direito os direitos fundamentais nas relaccedilotildees entre particulares Op cit
Ingo Wolfgang Sarlet Direitos fundamentais e direito privado algumas consideraccedilotildees em torno da vinculaccedilatildeo dos particulares aos
direitos fundamentais In Ingo Wolfgang Sarlet (Org) A Constituiccedilatildeo concretizada Porto Alegre Livraria do Advogado 1999 p
129-173 Jane Reis Gonccedilalves Pereira Apontamentos sobre a aplicaccedilatildeo das normas de direito fundamental nas relaccedilotildees juriacutedicas
entre particulares In Luis Roberto Barroso (Org) A nova interpretaccedilatildeo constitucional ponderaccedilatildeo direitos fundamentais e
relaccedilotildees privadas Rio de Janeiro Renovar 2003 p 119-192
147Sobre a questatildeo da (i)legitimidade do perfeccionismo no Direito veja-se Joel Feinberg Rights Justice and the Bounds of Liber-
ty Princeton Princeton University Press 1980 Carlos Santiago Nino Eacutetica y Derechos Humanos Op cit p 413-446 Rainer Forst
Contexts of Justice Political Philosophy beyond Liberalism and Communitarianism Traduccedilatildeo de John M M Farrel Berkeley Uni-
versity of Califoacuternia Press 2001 p 30-87 Macaacuterio Alemany El Paternalismo Juriacutedico Madrid Iustel 2006
148Um sofisticado modelo que busca conciliar a constitucionalizaccedilatildeo do Direito com a democracia estaacute exposto no Poacutesfaacutecio agrave Teo-
ria dos Direitos Fundamentais de Robert Alexy acima citado Veja-se ainda Konrad Hesse Concepto y Cualidad de la Constitu-
cion In Escritos de Derecho Constitucional Traduccedilatildeo de Pedro Cruz Villaloacuten 2 ed 1992 p 03-29
149Tentei articular a minha teoria sobre eficaacutecia horizontal dos direitos fundamentais com este objetivo Cf Daniel Sarmento
Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas Op cit p 141-182 259-272
150Sobre el Neoconstitucionalismo y sus Implicaciones Op cit p 117
151Aqui entendo que o simples reconhecimento da penetraccedilatildeo da Moral no Direito preconizada pelos neoconstitucionalistas brasi-
leiros natildeo eacute suficiente jaacute que certas concepccedilotildees morais podem tornar o ordenamento ainda mais opressivo do que jaacute eacute Afinal
nem sempre a moralizaccedilatildeo do Direito se daacute na direccedilatildeo da emancipaccedilatildeo dos excluiacutedos Veja-se por exemplo a famosa polecircmica
jusfilosoacutefica entre Lord Patrick Devlin e Herbert Hart nos anos 60 na Inglaterra a propoacutesito do uso do Direito Penal para promoccedilatildeo
de Moral em que o primeiro a partir de uma posiccedilatildeo proacute-moral sustentava a legitimidade da criminalizaccedilatildeo da conduta homos-
sexual que o segundo contestava (Cf Lord Patrick Devlin Morals and Criminal Law In Ronald Dworkin (Ed) The Philosophy of
Law Op cit p 66-82 Herbert Hart Immorality and Treason In Idem ibidem)
Eacute preciso assentar as bases criacuteticas desta Moral que deve penetrar o Direito para evitar que o moralismo conservador seja expulso
do ordenamento pela porta da frente superado pela legislaccedilatildeo moderna em razatildeo da progressiva liberalizaccedilatildeo da sociedade mas
volte pela porta dos fundos atraveacutes da argumentaccedilatildeo juriacutedica dos juiacutezes lastreada em conceitos vagos como ordem puacuteblica e
bons constumes ou em standards como o comportamento do bom pai de famiacutelia
39
5
pluralismo axioloacutegico - deu espaccedilo ao desenvolvimento da teacutecnica da ponderaccedilatildeo28 e tornou
frequumlente o recurso ao princiacutepio da proporcionalidade na esfera judicial29 E a busca de legiti-
midade para estas decisotildees no marco de sociedades plurais e complexas impulsionou o desen-
volvimento de diversas teorias da argumentaccedilatildeo juriacutedica30 que incorporaram ao Direito ele-
mentos que o positivismo claacutessico costumava desprezar como consideraccedilotildees de natureza mo-
ral ou relacionadas ao campo empiacuterico subjacente agraves normas
Neste contexto cresceu muito a importacircncia poliacutetica do Poder Judiciaacuterio Com frequumlecircncia cada
vez maior questotildees polecircmicas e relevantes para a sociedade passaram a ser decididas por ma-
gistrados e sobretudo por cortes constitucionais muitas vezes em razatildeo de accedilotildees propostas
pelo grupo poliacutetico ou social que fora perdedor na arena legislativa31 De poder quase nulo
mera boca que pronuncia as palavras da lei como lhe chamara Montesquieu o Poder Judiciaacute-
rio se viu alccedilado a uma posiccedilatildeo muito mais importante no desenho institucional do Estado con-
temporacircneo
A principal mateacuteria-prima dos estudos que se identificam com o neoconstitucionalismo relacio-
na-se agraves mutaccedilotildees da cultura juriacutedica acima descritas Em que pese a heterogeneidade dos po-
sicionamentos jusfilosoacuteficos dos autores que se filiam a esta linha natildeo me parece uma simplifi-
caccedilatildeo exagerada dizer que os seus principais pontos de convergecircncia satildeo o reconhecimento
destas mudanccedilas e a sua defesa32
As teorias neoconstitucionalistas buscam construir novas grades teoacutericas que se compatibilizem
com os fenocircmenos acima referidos em substituiccedilatildeo agravequelas do positivismo tradicional consi-
deradas incompatiacuteveis com a nova realidade Assim por exemplo ao inveacutes da insistecircncia na
subsunccedilatildeo e no silogismo do positivismo formalista ou no mero reconhecimento da discriciona-
riedade poliacutetica do inteacuterprete nos casos difiacuteceis na linha do positivismo mais moderno de Kel-
sen e Hart o neoconstitucionalismo se dedica agrave discussatildeo de meacutetodos ou de teorias da argu-
mentaccedilatildeo que permitam a procura racional e intersubjetivamente controlaacutevel da melhor res-
posta para os casos difiacuteceis do Direito33 Haacute portanto uma valorizaccedilatildeo da razatildeo praacutetica no
acircmbito juriacutedico Para o neoconstitucionalismo natildeo eacute racional apenas aquilo que possa ser
comprovado de forma experimental ou deduzido more geometrico de premissas gerais como
postulavam algumas correntes do positivismo Tambeacutem pode ser racional a argumentaccedilatildeo em-
pregada na resoluccedilatildeo das questotildees praacuteticas que o Direito tem de equacionar34 A ideacuteia de ra-
cionalidade juriacutedica aproxima-se da ideacuteia do razoaacutevel e deixa de se identificar agrave loacutegica formal
das ciecircncias exatas
6
No neoconstitucionalismo a leitura claacutessica do princiacutepio da separaccedilatildeo de poderes que impu-
nha limites riacutegidos agrave atuaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio cede espaccedilo a outras visotildees mais favoraacuteveis
ao ativismo judicial em defesa dos valores constitucionais35 No lugar de concepccedilotildees estrita-
mente majoritaacuterias do princiacutepio democraacutetico satildeo endossadas teorias de democracia mais subs-
tantivas36 que legitimam amplas restriccedilotildees aos poderes do legislador em nome dos direitos
fundamentais e da proteccedilatildeo das minorias e possibilitem a sua fiscalizaccedilatildeo por juiacutezes natildeo elei-
tos E ao inveacutes de uma teoria das fontes do Direito focada no coacutedigo e na lei formal enfatiza-se
a centralidade da Constituiccedilatildeo no ordenamento a ubiquumlidade da sua influecircncia na ordem juriacute-
dica e o papel criativo da jurisprudecircncia
Ao reconhecer a forccedila normativa de princiacutepios revestidos de elevada carga axioloacutegica como
dignidade da pessoa humana igualdade Estado Democraacutetico de Direito e solidariedade social
o neoconstitucionalismo abre as portas do Direito para o debate moral37 Eacute certo que aqui resi-
de uma das maiores divergecircncias internas nas fileiras do neoconstitucionalismo
De um lado figuram os positivistas como Luigi Ferrajoli38 Luiz Prietro Sanchiacutes39 Ricardo
Guastini 40e Suzana Pozzolo41 que natildeo aceitam a existecircncia de uma conexatildeo necessaacuteria entre
Direito e Moral mas reconhecem que pode haver uma ligaccedilatildeo contingente entre estas esferas
sempre que as autoridades competentes dentre as quais se inclui o poder constituinte originaacute-
rio positivem valores morais conferindo-lhes forccedila juriacutedica Do outro alinham-se os natildeo-
positivistas como Ronald Dworkin42 Robert Alexy43 Carlos Santiago Nino44 e seus seguidores
que afirmam que Moral e Direito tecircm uma conexatildeo necessaacuteria e aderem agrave famosa tese de Gus-
tav Radbruch de que normas terrivelmente injustas natildeo tecircm validade juriacutedica independente-
mente do que digam as fontes autorizadas do ordenamento45 Dentre estes autores haacute quem
insista na ideacuteia de que o Direito possui uma pretensatildeo de correccedilatildeo pois de alguma maneira eacute
da sua essecircncia aspirar agrave realizaccedilatildeo da justiccedila46 Contudo na medida em que as constituiccedilotildees
contemporacircneas entronizam com prodigalidade os valores morais este debate teoacuterico perde
bastante em importacircncia pois mesmo os neoconstitucionalistas que se afirmam positivistas
reconhecem a penetraccedilatildeo da Moral no tecido juriacutedico sobretudo pela via dos princiacutepios consti-
tucionais47 Trata-se do chamado positivismo inclusivo48
Neste quadro embora me pareccedila exagerado falar em superaccedilatildeo da eterna querela entre jusna-
turalistas e positivistas pela via do neoconstitucionalismo natildeo haacute duacutevida de que a relevacircncia
praacutetica da desavenccedila eacute consideravelmente diminuiacuteda Eacute verdade que para os positivistas inclu-
sivos o fundamento das normas revestidas de conteuacutedo moral seraacute sempre um ato de autorida-
7
de validado por uma regra de reconhecimento aceita pela praacutetica da comunidade poliacutetica No
final das contas eles natildeo se afastam do brocardo hobbesiano de que autoritas non veritas facit
legem Jaacute para os natildeo-positivistas a vigecircncia dos princiacutepios morais natildeo decorreraacute de um teste
de pedigree mas de exigecircncias da proacutepria Moral acessiacuteveis agrave razatildeo humana Poreacutem para am-
bas as linhas os valores morais incluiacutedos nas constituiccedilotildees satildeo juriacutedicos e devem produzir efei-
tos no mundo concreto
No paradigma neoconstitucionalista a argumentaccedilatildeo juriacutedica apesar de natildeo se fundir com a
Moral abre um significativo espaccedilo para ela Por isso se atenua a distinccedilatildeo da teoria juriacutedica
claacutessica entre a descriccedilatildeo do Direito como ele eacute e prescriccedilatildeo sobre como ele deveria ser49 Os
juiacutezos descritivo e prescritivo de alguma maneira se sobrepotildeem pela influecircncia dos princiacutepios
e valores constitucionais impregnados de forte conteuacutedo moral que conferem poder ao inteacuter-
prete para buscar em cada caso difiacutecil a soluccedilatildeo mais justa no proacuteprio marco da ordem juriacute-
dica Em outras palavras as fronteiras entre Direito e Moral natildeo satildeo abolidas e a diferenciaccedilatildeo
entre eles essencial nas sociedades complexas permanece em vigor mas as fronteiras entre
os dois domiacutenios tornam-se muito mais porosas na medida em que o proacuteprio ordenamento in-
corpora no seu patamar mais elevado princiacutepios de justiccedila e a cultura juriacutedica comeccedila a le-
vaacute-los a seacuterio
Poreacutem natildeo haacute uma posiccedilatildeo clara nas fileiras neoconstitucionalistas sobre a forma como devem
ser compreendidos e aplicados os valores morais incorporados pela ordem constitucional que
pela sua vagueza e indeterminaccedilatildeo abrem-se a leituras muito diversificadas No contexto das
sociedades plurais e desencantadas que existem no mundo contemporacircneo este debate tor-
na-se crucial uma vez que natildeo haacute mais consensos axioloacutegicos em torno das questotildees difiacuteceis
que o Direito eacute chamado a resolver Este pluralismo mundivisivo torna inviaacutevel pela falta de
legitimidade o uso da argumentaccedilatildeo de cunho jusnaturalista que apele agrave religiatildeo agrave natureza
ou agrave metafiacutesica para equacionar as mais complexas controveacutersias juriacutedicas50
Neste cenaacuterio haacute espaccedilo tanto para visotildees comunitaristas51 que buscam na moralidade positi-
va e nas preacute-compreensotildees socialmente vigentes o norte para a hermenecircutica constitucional
endossando na seara interpretativa os valores e cosmovisotildees hegemocircnicos na sociedade como
para teorias mais proacuteximas ao construtivismo eacutetico52 que se orientam para uma moralidade
criacutetica cujo conteuacutedo seja definido atraveacutes de um debate racional de ideacuteias fundado em cer-
tos pressupostos normativos como os de igualdade e liberdade de todos os seus participantes
8
Natildeo haacute como identificar o neoconstitucionalismo com nenhuma destas posiccedilotildees que marcam o
importante debate entre comunitarismo e liberalismo na filosofia poliacutetica contemporacircnea
Outro traccedilo caracteriacutestico do neoconstitucionalismo eacute o seu foco no Poder Judiciaacuterio O grande
protagonista das teorias neoconstitucionalistas eacute o juiz O Direito eacute analisado sobretudo a partir
de uma perspectiva interna daquele que participa dos processos que envolvem a sua interpre-
taccedilatildeo e aplicaccedilatildeo relegando-se a um segundo plano a perspectiva externa do observador Esta
obsessatildeo pelo Poder Judiciaacuterio leva a uma certa desconsideraccedilatildeo do papel desempenhado por
outras instituiccedilotildees como o Poder Legislativo na interpretaccedilatildeo constitucional53 O juiz eacute con-
cebido como o guardiatildeo das promessas54 civilizatoacuterias dos textos constitucionais o que expotildee o
neoconstitucionalismo a vaacuterias criacuteticas - que seratildeo analisadas mais agrave frente - como de que se-
ria elitista e refrataacuterio ao autogoverno popular
Por outro lado o neoconstitucionalismo alenta um ideaacuterio humanista que aposta na possibili-
dade de emancipaccedilatildeo humana pela via juriacutedica atraveacutes de um uso engajado da moderna dog-
maacutetica constitucional55 Neste sentido ele se afasta de algumas linhas teoacutericas da esquerda
como o marxismo56a Critical Legal Studies norte-americana57 e o movimento do Direito Alter-
nativo no Brasil58 que denunciavam o Direito como um instrumento de opressatildeo e dominaccedilatildeo a
serviccedilo dos interesses das classes favorecidas mesmo quando apresentado sob o manto de uma
retoacuterica legitimadora de legalidade e de direitos individuais universais
Trata-se portanto de uma teoria otimista - ou naive diriam os seus criacuteticos - que tambeacutem
natildeo se compadece com o desencanto poacutes-moderno59 profundamente descrente em relaccedilatildeo agrave
razatildeo Enquanto os poacutes-modernos criticam as metanarrativas60 e buscam descontruir as ela-
boraccedilotildees abstratas sobre as quais se fundou o Direito moderno - direitos humanos liberdade
igualdade etc - os neoconstitucionalistas insistem no aprofundamento do projeto poliacutetico da
Modernidade de emancipaccedilatildeo pelo uso da razatildeo atraveacutes dos instrumentos do Direito Constitu-
cional sobretudo os direitos fundamentais
Vejamos agora como estas ideacuteias foram recebidas no Brasil
3 A recepccedilatildeo do neoconstitucionalismo no Brasil
9
O processo histoacuterico que se desenrolou na Europa Ocidental a partir do final da Segunda Guer-
ra no Brasil soacute teve iniacutecio apoacutes a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 88 Eacute verdade que jaacute tiacutenha-
mos controle de constitucionalidade desde a proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Poreacutem na cultura ju-
riacutedica brasileira de ateacute entatildeo as constituiccedilotildees natildeo eram vistas como autecircnticas normas juriacutedi-
cas natildeo passando muitas vezes de meras fachadas Exemplos disso natildeo faltam a Constituiccedilatildeo
de 1824 falava em igualdade e a principal instituiccedilatildeo do paiacutes era a escravidatildeo negra a de 1891
instituiacutera o sufraacutegio universal mas todas as eleiccedilotildees eram fraudadas a de 1937 disciplinava o
processo legislativo mas enquanto ela vigorou o Congresso esteve fechado e o Presidente legis-
lava por decretos a de 1969 garantia os direitos agrave liberdade agrave integridade fiacutesica e agrave vida mas
as prisotildees ilegais o desaparecimento forccedilado de pessoas e a tortura campeavam nos porotildees do
regime militar Nesta uacuteltima quadra histoacuterica conviveu-se ainda com o constrangedor paradoxo
da existecircncia de duas ordens juriacutedicas paralelas a das constituiccedilotildees e a dos atos institucionais
que natildeo buscavam nas primeiras o seu fundamento de validade mas num suposto poder revolu-
cionaacuterio em que estariam investidas as Forccedilas Armadas
Ateacute 1988 a lei valia muito mais do que a Constituiccedilatildeo no traacutefico juriacutedico e no Direito Puacuteblico
o decreto e a portaria ainda valiam mais do que a lei O Poder Judiciaacuterio natildeo desempenhava
um papel poliacutetico tatildeo importante e natildeo tinha o mesmo niacutevel de independecircncia de que passou a
gozar posteriormente As constituiccedilotildees eram proacutedigas na consagraccedilatildeo de direitos mas estes
dependiam quase exclusivamente da boa vontade dos governantes de plantatildeo para saiacuterem do
papel - o que normalmente natildeo ocorria Em contextos de crise as foacutermulas constitucionais natildeo
eram seguidas e os quarteacuteis arbitravam boa parte dos conflitos poliacuteticos ou institucionais que
eclodiam no paiacutes
A Assembleacuteia Constituinte de 19871988 que coroou o processo de redemocratizaccedilatildeo do paiacutes
quis romper com este estado de coisas e promulgou uma Constituiccedilatildeo contendo um amplo e
generoso elenco de direitos fundamentais de diversas dimensotildees - direitos individuais poliacuteti-
cos sociais e difusos - aos quais conferiu aplicabilidade imediata (art 5ordm Paraacutegrafo 1ordm) e pro-
tegeu diante do proacuteprio poder de reforma (art 60 Paraacutegrafo 4ordm IV) Aleacutem disso reforccedilou o
papel do Judiciaacuterio consagrando a inafastabilidade da tutela judicial (art 5ordm XXXV) criando
diversos novos remeacutedios constitucionais fortalecendo a independecircncia da instituiccedilatildeo bem co-
mo do Ministeacuterio Puacuteblico e ampliando e robustecendo os mecanismos de controle de constitu-
cionalidade Neste uacuteltimo toacutepico ela democratizou o acesso ao controle abstrato de constitu-
cionalidade ao adotar um vasto elenco de legitimados ativos para a propositura de accedilatildeo direta
de inconstitucionalidade (art 103) e ampliou o escopo da jurisdiccedilatildeo constitucional ao instituir
10
no Brasil o controle da inconstitucionalidade por omissatildeo tanto atraveacutes de accedilatildeo direta como do
mandado de injunccedilatildeo
Esta sistemaacutetica de jurisdiccedilatildeo constitucional adotada pelo constituinte favoreceu em larga
medida o processo de judicializaccedilatildeo da poliacutetica na medida em que conferiu a qualquer parti-
do poliacutetico com representaccedilatildeo no Congresso agraves representaccedilotildees nacionais da sociedade civil
organizada e agraves principais instituiccedilotildees dos Estados-membros dentre outras entidades o poder
de provocar o STF61 Assim eacute praticamente impossiacutevel que alguma questatildeo relevante seja re-
solvida no acircmbito parlamentar sem que os perdedores no processo poliacutetico recorram agrave nossa
Corte Suprema para que decirc a palavra final agrave controveacutersia com base na sua interpretaccedilatildeo da
Constituiccedilatildeo E tal modelo vem se aprofundando desde 88 com a criaccedilatildeo da Accedilatildeo Declaratoacuteria
de Constitucionalidade e a regulamentaccedilatildeo da Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fun-
damental
Aleacutem disso a Constituiccedilatildeo de 88 regulou uma grande quantidade de assuntos - muitos deles de
duvidosa dignidade constitucional - subtraindo um vasto nuacutemero de questotildees do alcance do
legislador Ademais ela hospedou em seu texto inuacutemeros princiacutepios vagos mas dotados de for-
te carga axioloacutegica e poder de irradiaccedilatildeo Estas caracteriacutesticas favoreceram o processo de
constitucionalizaccedilatildeo do Direito que envolve natildeo soacute a inclusatildeo no texto constitucional de temas
outrora ignorados ou regulados em sede ordinaacuteria como tambeacutem a releitura de toda a ordem
juriacutedica a partir de uma oacutetica pautada pelos valores constitucionais - a chamada filtragem
constitucional do Direito62
Deve-se tambeacutem destacar o papel importante da doutrina brasileira na mudanccedila de paradigma
do Direito Constitucional brasileiro Na minha opiniatildeo haacute dois momentos distintos nesta evolu-
ccedilatildeo o constitucionalismo brasileiro da efetividade 63e o poacutes-positivismo constitucional
O primeiro momento vem logo apoacutes a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 88 Alguns autores como
Luis Roberto Barroso64 e Clegravemerson Merlin Clegraveve65 passam a advogar a tese de que a Constitui-
ccedilatildeo sendo norma juriacutedica deveria ser rotineiramente aplicada pelos juiacutezes o que ateacute entatildeo
natildeo ocorria O que hoje parece uma obviedade era quase revolucionaacuterio numa eacutepoca em que a
nossa cultura juriacutedica hegemocircnica natildeo tratava a Constituiccedilatildeo como norma mas como pouco
mais do que um repositoacuterio de promessas grandiloquumlentes cuja efetivaccedilatildeo dependeria quase
sempre da boa vontade do legislador e dos governantes de plantatildeo66 Para o constitucionalismo
da efetividade a incidecircncia direta da Constituiccedilatildeo sobre a realidade social independentemen-
te de qualquer mediaccedilatildeo legislativa contribuiria para tirar do papel as proclamaccedilotildees generosas
de direitos contidas na Carta de 88 promovendo justiccedila igualdade e liberdade Se ateacute entatildeo
o discurso da esquerda era de desconstruccedilatildeo da dogmaacutetica juriacutedica a doutrina da efetividade
11
vai defender a possibilidade de um uso emancipatoacuterio da dogmaacutetica tendo como eixo a con-
cretizaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo67
Na verdade tratava-se de uma modalidade de positivismo de combate68 A doutrina constitu-
cional da efetividade natildeo se caracterizava pela abertura do debate juriacutedico agrave argumentaccedilatildeo
moral O seu foco principal centrava-se nas normas e era do caraacuteter mais ou menos denso do
seu texto que o inteacuterprete deveria extrair os respectivos efeitos Por outro lado concebia-se a
jurisdiccedilatildeo como o espaccedilo privilegiado para a realizaccedilatildeo da vontade constitucional Um dos mo-
tes do movimento era afastar o estudo do Direito Constitucional da Teoria do Estado para apro-
ximaacute-lo do Direito Processual Por isso pode-se afirmar que o protagonista desta teoria consti-
tucional era o juiz
Em que pese a falta de efetividade de diversas normas da Constituiccedilatildeo e da eficaacutecia social
seletiva de outras tantas - que protegem muito bem o incluiacutedo mas continuam deixando de
fora os paacuterias de sempre (veja-se a diferenccedila da incidecircncia da inviolabilidade do domiciacutelio nas
residecircncias burguesas e nas favelas) - pode-se dizer que a doutrina constitucional da efetivida-
de teve ecircxito no Brasil no sentido de instalar no senso-comum dos operadores do Direito a i-
deacuteia de que a Constituiccedilatildeo eacute norma que pode e deve ser aplicada independentemente de re-
gulamentaccedilatildeo dos seus dispositivos pelo legislador ordinaacuterio Tal doutrina ainda natildeo correspon-
de ao neoconstitucionalismo mas a conquista que dela resultou para a dogmaacutetica constitucio-
nal brasileira foi um pressuposto para o surgimento deste outro movimento no nosso cenaacuterio
O segundo momento importante eacute o da chegada ao Brasil das teorias juriacutedicas ditas poacutes-
positivistas Foram marcos relevantes a publicaccedilatildeo da 5ordf ediccedilatildeo do Curso de Direito Constitu-
cional de Paulo Bonavides 69bem como do livro A Ordem Econocircmica na Constituiccedilatildeo de 1988
de Eros Roberto Grau70 que divulgaram entre noacutes a teoria dos princiacutepios de autores como Ro-
nald Dworkin e Robert Alexy e fomentaram as discussotildees sobre temas importantes como a
ponderaccedilatildeo de interesses o princiacutepio da proporcionalidade e eficaacutecia dos direitos fundamen-
tais Tambeacutem deve ser salientada a ampla penetraccedilatildeo no acircmbito de algumas poacutes-graduaccedilotildees
em Direito a partir de meados dos anos 90 do pensamento de filoacutesofos que se voltaram para o
estudo da relaccedilatildeo entre Direito Moral e Poliacutetica a partir de uma perspectiva poacutes-metafiacutesica
como John Rawls e Juumlrgen Habermas71 E ainda merece destaque o aprofundamento no paiacutes dos
estudos de hermenecircutica juriacutedica a partir de uma nova matriz teoacuterica inspirada pelo giro lin-
guumliacutestico na Filosofia que denunciou os equiacutevocos do modelo positivista de interpretaccedilatildeo ateacute
entatildeo dominante assentado na separaccedilatildeo cartesiana entre sujeito (o inteacuterprete) e objeto (o
texto da norma)72
12
Nesta nova fase a doutrina brasileira passa a enfatizar o caraacuteter normativo e a importacircncia dos
princiacutepios constitucionais e a estudar as peculiaridades da sua aplicaccedilatildeo Neste contexto haacute
uma verdadeira febre de trabalhos sobre teoria dos princiacutepios ponderaccedilatildeo de interesses teori-
as da argumentaccedilatildeo proporcionalidade e razoabilidade etc Tambeacutem cresce muito o interesse
doutrinaacuterio pelos direitos fundamentais sobretudo os direitos sociais Se antes estes eram vis-
tos preponderantemente como normas programaacuteticas passa-se a discutir a sua eficaacutecia juriacutedica
a partir de novas bases que incorporam ao debate a argumentaccedilatildeo moral Neste campo a ecircn-
fase na anaacutelise dos enunciados normativos que caracterizava a doutrina da efetividade eacute
substituiacuteda por uma discussatildeo marcada pela preocupaccedilatildeo com valores e democracia repleta de
novas categorias importadas sobretudo do Direito germacircnico como o miacutenimo existencial a
reserva do possiacutevel e a proibiccedilatildeo do retrocesso73
E esta nova racionalidade se espraia para diversos ramos do Direito No Direito Civil74 Penal75
Administrativo 76por exemplo cada vez mais a doutrina emprega normas e valores constitu-
cionais para reler os institutos tradicionais colorindo-os com novas tintas E trata-se natildeo ape-
nas de aplicar diretamente as normas constitucionais especificamente voltadas para cada uma
destas aacutereas como tambeacutem de projetar sobre estes campos a influecircncia dos direitos funda-
mentais e dos princiacutepios mais gerais do nosso constitucionalismo muitas vezes superando anti-
gos dogmas e definindo novos paradigmas
Neste segundo momento ocorre ainda uma significativa mudanccedila no enfoque dos estudos sobre
jurisdiccedilatildeo constitucional no Brasil Antes os trabalhos nacionais sobre o tema se limitavam
basicamente a discutir questotildees processuais mas a partir do final dos anos 90 diversos estu-
dos incorporam outras perspectivas agrave anaacutelise da questatildeo dedicando atenccedilatildeo agrave complexa pro-
blemaacutetica da legitimidade democraacutetica do controle de constitucionalidade77 tendo em vista a
chamada dificuldade contra-majoritaacuteria do Judiciaacuterio78 Num contexto como o nosso em que
a jurisdiccedilatildeo constitucional estaacute prevista pelo proacuteprio texto magno o debate relevante do ponto
de vista praacutetico natildeo eacute o de tecirc-la ou natildeo mas sim a forma como deve ser exercida Dependendo
do posicionamento adotado pode-se preconizar um maior ou menor grau de ativismo judicial
ou defender o ativismo em algumas aacutereas mas recusaacute-lo em outras Nesta nova agenda de dis-
cussotildees sobre a jurisdiccedilatildeo constitucional a argumentaccedilatildeo juriacutedica se entrelaccedila inevitavelmen-
te com o debate de Filosofia Poliacutetica abrindo espaccedilo para posiccedilotildees variadas como os vaacuterios
matizes de procedimentalismo e de substancialismo que vecircm florescendo na doutrina brasilei-
ra79 Dentre estas posiccedilotildees natildeo haacute duacutevida de que a mais identificada ao neoconstitucionalismo
eacute a substancialista que compartilha com ele a crenccedila numa ampla legitimidade do ativismo
judicial em favor dos valores constitucionais
13
Apesar destas mudanccedilas importantes que podem ser associadas ao neoconstitucionalismo o uso
da expressatildeo no Brasil eacute mais recente seguindo-se agrave ampla difusatildeo que recebeu na academia
brasileira a jaacute citada obra Neoconstitucionalismo(s) organizada por Miguel Carbonell e publi-
cada em 2003 De laacute para caacute muito se tem escrito sobre o toacutepico e vaacuterios autores nacionais
aderiram explicitamente agrave corrente como Luis Roberto Barroso80 Lecircnio Luiz Streck 81Antonio
Cavalcanti Maia82 Ana Paula de Barcellos83 Diogo de Figueiredo Moreira Neto84 Paulo Ricardo
Schier85 Eduardo Moreira86 Eacutecio Otto Ramos Duarte87 e Thomas Rosa de Bustamante88 Outros
adotaram postura criacutetica sobre a nova perspectiva como Joseacute Ribas Vieira Dimitri Dimoulis89 e
Humberto Aacutevila90 E pode-se notar pela leitura dos trabalhos destes e de outros autores brasi-
leiros que haacute um relativo consenso na definiccedilatildeo das caracteriacutesticas centrais do novo paradig-
ma valorizaccedilatildeo dos princiacutepios adoccedilatildeo de meacutetodos ou estilos mais abertos e flexiacuteveis na her-
menecircutica juriacutedica com destaque para a ponderaccedilatildeo abertura da argumentaccedilatildeo juriacutedica agrave
Moral mas sem recair nas categorias metafiacutesicas do jusnaturalismo reconhecimento e defesa
da constitucionalizaccedilatildeo do Direito e do papel de destaque do Judiciaacuterio na agenda de imple-
mentaccedilatildeo dos valores da Constituiccedilatildeo
Estas novas ideacuteias jaacute reverberam fortemente na jurisprudecircncia nacional sobretudo do Supremo
Tribunal Federal que nos uacuteltimos tempos tem cada vez mais invocado princiacutepios abertos nos
seus julgamentos recorrido agrave ponderaccedilatildeo de interesses e ao princiacutepio da proporcionalidade
com frequumlecircncia e ateacute se valido de referecircncias filosoacuteficas na fundamentaccedilatildeo de decisotildees Aliaacutes
eacute digna de nota a influecircncia da doutrina constitucional na atuaccedilatildeo do Supremo Tribunal Fede-
ral O fenocircmeno eacute relativamente recente uma vez que logo apoacutes a promulgaccedilatildeo da Constitui-
ccedilatildeo de 88 havia um profundo hiato entre o campo doutrinaacuterio que cobrava a efetivaccedilatildeo da
Constituiccedilatildeo pela via judicial e a jurisprudecircncia do STF tiacutemida e reticente diante dos valores
e das inovaccedilotildees da nova Carta - vg orientaccedilatildeo entatildeo adotada pela Corte em relaccedilatildeo ao man-
dado de injunccedilatildeo e ao controle judicial das medidas provisoacuterias Aquele quadro podia em parte
ser debitado agrave duvidosa opccedilatildeo do constituinte originaacuterio de manter no STF os ministros nomea-
dos durante o governo militar que natildeo tinham sintonia poliacutetico-ideoloacutegica nem boa vontade
diante do novo sistema constitucional e que por isso se apegavam a visotildees e interpretaccedilotildees
assentadas durante o regime preteacuterito muitas delas francamente incompatiacuteveis com a nova
ordem Mas hoje apoacutes a completa renovaccedilatildeo do STF constata-se um quadro radicalmente di-
ferente a maioria dos ministros do STF eacute composta por professores de Direito Constitucional
de grande reputaccedilatildeo acadecircmica que ateacute pela origem tecircm mais contato com a produccedilatildeo inte-
lectual de ponta na aacuterea e satildeo mais suscetiacuteveis agrave influecircncia das novas correntes de pensamen-
to
14
Como ressaltado esta mudanccedila de paradigma se reflete vivamente na jurisprudecircncia do STF
Satildeo exemplos eloquumlentes a alteraccedilatildeo da posiccedilatildeo da Corte em relaccedilatildeo aos direitos sociais antes
tratados como normas programaacuteticas e hoje submetidos a uma intensa proteccedilatildeo judicial 91o
reconhecimento da eficaacutecia horizontal dos direitos fundamentais92 a mutaccedilatildeo do entendimen-
to do Tribunal em relaccedilatildeo agraves potencialidades do mandado de injunccedilatildeo 93e a progressiva supe-
raccedilatildeo da visatildeo claacutessica kelseniana da jurisdiccedilatildeo constitucional que a equiparava ao legislador
negativo com a admissatildeo de teacutecnicas decisoacuterias mais heterodoxas94 como as declaraccedilotildees de
inconstitucionalidade sem pronuacutencia de nulidade e as sentenccedilas aditivas E para completar o
quadro deve-se acrescentar as mudanccedilas acarretadas por algumas inovaccedilotildees processuais re-
centes na nossa jurisdiccedilatildeo constitucional que permitiram a participaccedilatildeo dos amici curiae bem
como a realizaccedilatildeo de audiecircncias puacuteblicas no acircmbito do processo constitucional ampliando a
possibilidade de atuaccedilatildeo da sociedade civil organizada no STF95
Naturalmente a nova postura de ativismo judicial do STF estimula as forccedilas sociais a procuraacute-
lo com mais frequumlecircncia e contribui para uma significativa alteraccedilatildeo na agenda da Corte Atu-
almente ao lado das questotildees mais tradicionais de Direito Puacuteblico o STF tem se defrontado
com novos temas fortemente impregnados de conteuacutedo moral como as discussotildees sobre a vali-
dade de pesquisa em ceacutelulas-tronco embrionaacuterias96 aborto de feto anenceacutefalo97 e uniatildeo entre
pessoas do mesmo sexo98 Ademais o Tribunal passou a intervir de forma muito mais ativa no
processo poliacutetico adotando decisotildees que se refletem de forma direta e profunda sobre a atua-
ccedilatildeo dos demais poderes do Estado Para citar apenas alguns casos pode-se falar da decisatildeo que
assentou que a mudanccedila de partido implica salvo determinadas exceccedilotildees perda de mandato
parlamentar99 da que estabeleceu criteacuterios riacutegidos para a fixaccedilatildeo do nuacutemero de vereadores de
acordo com a respectiva populaccedilatildeo100 e da intensificaccedilatildeo do controle jurisdicional dos atos das
CPIs bem como dos pressupostos de ediccedilatildeo das medidas provisoacuterias
Poreacutem haacute um componente curioso na recepccedilatildeo deste novo paradigma juriacutedico pelo Judiciaacuterio
brasileiro Embora ainda natildeo existam estudos empiacutericos a este respeito tenho a forte intuiccedilatildeo
de que a penetraccedilatildeo destas novas ideacuteias associadas ao neoconstitucionalismo eacute forte na cuacutepula
e na base da hierarquia judicial mas ainda tiacutemida nos seus escalotildees intermediaacuterios E as causas
natildeo satildeo de difiacutecil compreensatildeo Em relaccedilatildeo agrave cuacutepula - os ministros do STF - as razotildees jaacute foram
explicadas acima Jaacute no que tange agrave base do Judiciaacuterio boa parte dos juiacutezes de 1ordm grau teve a
sua formaccedilatildeo num ambiente acadecircmico que jaacute valorizava o Direito Constitucional e reconhecia
a forccedila normativa dos direitos fundamentais e dos princiacutepios constitucionais Assim eles ten-
dem a levar para a sua praacutetica profissional esta visatildeo do Direito Poreacutem sobretudo na 2ordf ins-
tacircncia composta majoritariamente por magistrados que se formaram e foram socializados no
15
seu meio institucional sob a eacutegide do paradigma juriacutedico anterior muito mais voltado para os
coacutedigos e para a letra da lei do que para a Constituiccedilatildeo e seus princiacutepios haacute maior resistecircncia agrave
incorporaccedilatildeo dos novos vetores constitucionais Contudo este fenocircmeno tende a diminuir com
o tempo seja pela consolidaccedilatildeo do paradigma constitucional emergente seja pela promoccedilatildeo
de magistrados mais antenados com o novo constitucionalismo seja ateacute pela influecircncia do pen-
samento e das orientaccedilotildees da cuacutepula do Judiciaacuterio sobre todas as suas instacircncias
No cenaacuterio brasileiro o neoconstitucionalismo eacute tambeacutem impulsionado por outro fenocircmeno a
descrenccedila geral da populaccedilatildeo em relaccedilatildeo agrave poliacutetica majoritaacuteria e em especial o descreacutedito
no Poder Legislativo e nos partidos poliacuteticos101 A percepccedilatildeo geral alimentada por sucessivos
escacircndalos e pelo discurso de alguns meios de comunicaccedilatildeo social de que a poliacutetica parlamen-
tar e partidaacuteria satildeo esferas essencialmente corrompidas que se movem exclusivamente em
torno de interesses e natildeo de valores gera em alguns setores a expectativa de que a soluccedilatildeo
para os problemas nacionais possa vir do Judiciaacuterio102 E este sentimento eacute fortalecido quando
a Justiccedila adota decisotildees em consonacircncia com a opiniatildeo puacuteblica - como ocorreu no recebimento
da denuacutencia criminal no caso do mensalatildeo na definiccedilatildeo de perda do mandato por infidelidade
partidaacuteria e na proibiccedilatildeo do nepotismo na Administraccedilatildeo Puacuteblica
Por outro lado a ascensatildeo institucional do Judiciaacuterio e a riqueza e importacircncia praacutetica ou sim-
boacutelica dos temas que ele vem julgando tem provocado um grande aumento no interesse da so-
ciedade pelo Direito Constitucional e pela atuaccedilatildeo do Supremo Tribunal Federal Eacute difiacutecil um
dia em que os principais meios de comunicaccedilatildeo natildeo discutam alguma decisatildeo da Corte ou mani-
festaccedilatildeo de qualquer dos seus membros E este fenocircmeno eacute potencializado tanto pela extro-
versatildeo midiaacutetica de alguns ministros como tambeacutem pelo fato - sem precedentes em outros
paiacuteses - do televisionamento das sessotildees do STF Com tudo isso as questotildees constitucionais
que antes eram apenas discutidas dentro de um ciacuterculo muito restrito de iniciados hoje satildeo
amplamente debatidas no espaccedilo puacuteblico
Neste quadro em que pesem as muacuteltiplas resistecircncias que sofre eacute possiacutevel apontar a emergecircn-
cia de uma nova forma de conceber o Direito e o Estado na sociedade brasileira contemporacirc-
nea que se quisermos adotar a terminologia hoje em voga pode ser chamada de neoconstitu-
cionalismo
4 Trecircs objeccedilotildees ao neoconstitucionalismo
16
Nas proacuteximas linhas abordarei de maneira breve trecircs criacuteticas que podem ser levantadas con-
tra o neoconstitucionalismo (a) a de que o seu pendor judicialista eacute anti-democraacutetico (b) a de
que a sua preferecircncia por princiacutepios e ponderaccedilatildeo em detrimento de regras e subsunccedilatildeo eacute
perigosa sobretudo no Brasil em razatildeo de singularidades da nossa cultura e (c) a de que ele
pode gerar uma panconstitucionalizaccedilatildeo do Direito em detrimento da autonomia puacuteblica do
cidadatildeo e da autonomia privada do indiviacuteduo Outras criacuteticas importantes existem103 mas por
limites de tempo e espaccedilo preferi priorizar aqui estas trecircs que satildeo as que geram maior apre-
ensatildeo no cenaacuterio brasileiro
a) Neoconstitucionalismo e judiciocracia
Como salientado acima o neoconstitucionalismo tem um foco muito centrado no Poder Judici-
aacuterio no qual deposita enormes expectativas no sentido de concretizaccedilatildeo dos ideais emancipa-
toacuterios presentes nas constituiccedilotildees contemporacircneas Contudo este vieacutes judicialista sofre con-
testaccedilotildees pelo seu suposto caraacuteter antidemocraacutetico na medida em que os juiacutezes diferente-
mente dos parlamentares e chefes do Executivo natildeo satildeo eleitos e natildeo respondem diretamente
perante o povo104
Esta criacutetica democraacutetica se assenta na ideacuteia de que numa democracia eacute essencial que as deci-
sotildees poliacuteticas mais importantes sejam tomadas pelo proacuteprio povo ou por seus representantes
eleitos e natildeo por saacutebios ou tecnocratas de toga Eacute verdade que a maior parte dos teoacutericos con-
temporacircneos da democracia reconhece que ela natildeo se esgota no respeito ao princiacutepio majoritaacute-
rio pressupondo antes o acatamento das regras do jogo democraacutetico que incluem a garantia
de direitos baacutesicos visando a viabilizar a participaccedilatildeo igualitaacuteria do cidadatildeo na esfera puacuteblica
bem como alguma proteccedilatildeo agraves minorias105 Poreacutem temos aqui uma questatildeo de dosagem pois
se a imposiccedilatildeo de alguns limites para a decisatildeo das maiorias pode ser justificada em nome da
democracia o exagero tende a revelar-se antidemocraacutetico por cercear em demasia a possibi-
lidade do povo de se autogovernar106
E a questatildeo natildeo eacute apenas de divisatildeo de poder ao longo do tempo A dificuldade democraacutetica
natildeo estaacute tatildeo-somente no fato de as constituiccedilotildees subtraiacuterem do legislador futuro a possibilida-
de de tomar algumas decisotildees107 O cerne do debate estaacute no reconhecimento de que diante da
vagueza e abertura de boa parte das normas constitucionais mais importantes quem as inter-
preta tambeacutem participa do seu processo de criaccedilatildeo108 Daiacute a criacutetica de que o vieacutes judicialista
subjacente ao neoconstitucionalismo acaba por conferir aos juiacutezes uma espeacutecie de poder cons-
tituinte permanente pois lhes permite moldar a Constituiccedilatildeo de acordo com as suas preferecircn-
cias poliacuteticas e valorativas em detrimento daquelas do legislador eleito Esta visatildeo levou inuacute-
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meras correntes de pensamento ao longo da histoacuteria a rejeitarem a jurisdiccedilatildeo constitucional
ou pelo menos o ativismo judicial no seu exerciacutecio dos revolucionaacuterios franceses do seacuteculo XVI-
II109 passando por Carl Schmitt110 na Repuacuteblica de Weimar ateacute os adeptos do constituciona-
lismo popular nos Estados Unidos de hoje111
No Brasil eacute muito comum traccedilar-se um paralelo entre a defesa do ativismo judicial e posiccedilotildees
sociais progressistas Talvez isso se deva ao fato de que na nossa histoacuteria o Judiciaacuterio brasilei-
ro tem pecado muito mais por omissatildeo acumpliciando-se diante dos desmandos dos poderes
poliacutetico e econocircmico do que por excesso de ativismo Neste quadro quem ousa questionar
possiacuteveis exageros na judicializaccedilatildeo da poliacutetica e da vida social no Brasil de hoje eacute logo tachado
de conservador Poreacutem o paralelismo em questatildeo natildeo existe Muitas vezes o Poder Judiciaacuterio
pode atuar bloqueando mudanccedilas importantes promovidas pelos outros poderes em favor dos
excluiacutedos defendendo o statu quo E esta defesa pode ocorrer inclusive atraveacutes do uso da retoacute-
rica dos direitos fundamentais
Isso se deu por exemplo nos Estados Unidos nas primeiras deacutecadas do seacuteculo passado em pe-
riacuteodo que ficou conhecido como Era de Lochner112 quando a Suprema Corte impediu sistemati-
camente a ediccedilatildeo de legislaccedilatildeo trabalhista e de outras medidas que implicavam em interferecircn-
cia na esfera econocircmica em proveito das classes desfavorecidas com base numa leitura subs-
tantiva da claacuteusula do devido processo legal No cenaacuterio contemporacircneo Ran Hirshl113 sustenta
que o processo de judicializaccedilatildeo da poliacutetica que vem ocorrendo nos uacuteltimos anos em diversos
paiacuteses do mundo - ele fez um atento ainda que controvertido estudo dos casos do Canadaacute
Israel Aacutefrica do Sul e Nova Zelacircndia - teria como pano de fundo uma tentativa das elites eco-
nocircmicas e culturais que perderam espaccedilo na poliacutetica majoritaacuteria de manterem o seu poder
reforccedilando no arranjo institucional do Estado o peso do Judiciaacuterio no qual elas ainda tecircm he-
gemonia E aqui no Brasil seraacute que a proteccedilatildeo absoluta que vem sendo conferida ao direito
adquirido - inclusive o de furar teto salarial do funcionalismo fixado por emenda agrave Constituiccedilatildeo
114 - e o ultra-garantismo penal nos crimes do colarinho branco natildeo seriam exemplos deste
mesmo fenocircmeno
Por outro lado uma ecircnfase excessiva no espaccedilo judicial pode levar ao esquecimento de outras
arenas importantes para a concretizaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo e realizaccedilatildeo de direitos gerando um
resfriamento da mobilizaccedilatildeo ciacutevica do cidadatildeo Eacute verdade que o ativismo judicial pode em
certos contextos atuar em sinergia com a mobilizaccedilatildeo social na esfera puacuteblica Isto ocorreu
por exemplo no movimento dos direitos civis nos Estados Unidos dos anos 50 e 60 que foi a-
quecido pelas respostas positivas obtidos na Suprema Corte no periacuteodo da Corte de Warren115
Mas nem sempre eacute assim A ecircnfase judicialista pode afastar do cenaacuterio de disputa por direitos
18
as pessoas e movimentos que natildeo pertenccedilam nem tenham proximidade com as corporaccedilotildees
juriacutedicas
Ademais esta obsessatildeo com a interpretaccedilatildeo judicial da Constituiccedilatildeo tende a obscurecer o pa-
pel central de outras instacircncias na definiccedilatildeo do sentido da Constituiccedilatildeo - como o Legislativo o
Executivo e a proacutepria esfera puacuteblica informal Trata-se de um desvio que gera consequumlecircncias
negativas tanto no plano descritivo como na esfera normativa Sob o prisma descritivo trans-
mite-se uma imagem muito parcial do fenocircmeno constitucional que natildeo eacute captado com todas
as suas nuances e riquezas jaacute que o foco se concentra apenas sobre a accedilatildeo de um dentre os
vaacuterios agentes importantes que povoam a seara da hermenecircutica constitucional116 Sob o acircngu-
lo normativo favorece-se um governo agrave moda platocircnica de saacutebios de toga117 que satildeo convida-
dos a assumir uma posiccedilatildeo paternalista diante de uma sociedade infantilizada118 Justifica-se o
ativismo judicial a partir de uma visatildeo muito criacutetica do processo poliacutetico majoritaacuterio mas que
ignora as inuacutemeras mazelas que tambeacutem afligem o Poder Judiciaacuterio construindo-se teorias a
partir de visotildees romacircnticas e idealizadas do juiz119 Soacute que se eacute verdade que o processo poliacuteti-
co majoritaacuterio tem seus viacutecios - e eles satildeo muito graves no cenaacuterio brasileiro - tambeacutem eacute certo
que os juiacutezes natildeo satildeo semi-deuses e que a esfera em que atuam tampouco eacute imune agrave poliacutetica
com p menor
Esta idealizaccedilatildeo da figura do juiz natildeo se compadece com algumas notoacuterias deficiecircncias que o
Judiciaacuterio brasileiro enfrenta Dentre elas pode-se destacar a sobrecarga de trabalho que
compromete a capacidade dos magistrados de dedicarem a cada processo o tempo e a energia
necessaacuterias para que faccedilam tudo que o que demandam as principais teorias da argumentaccedilatildeo
defendidas pelo neoconstitucionalismo E cabe referir tambeacutem agraves lacunas na formaccedilatildeo do ma-
gistrado brasileiro decorrentes sobretudo das falhas de um ensino juriacutedico formalista e nada
interdisciplinar que ainda viceja no paiacutes que natildeo satildeo corrigidas nos procedimentos de seleccedilatildeo
e treinamento dos juiacutezes
Outra consequumlecircncia da obsessatildeo judicialista do constitucionalismo brasileiro contemporacircneo
estaacute refletida na nossa produccedilatildeo acadecircmica Enquanto somos inundados por livros e artigos
muitas vezes repetitivos sobre assuntos como princiacutepios e regras interpretaccedilatildeo constitucional
e tutela judicial de direitos fundamentais outros temas absolutamente essenciais para a vida
do paiacutes passam ao largo da preocupaccedilatildeo dos juristas Eacute o caso da reforma poliacutetica Em que pese
o caraacuteter essencialmente constitucional do assunto quase nenhum constitucionalista se inte-
ressou por ele 120e praticamente toda a literatura de qualidade produzida sobre o toacutepico tem
vindo da Ciecircncia Poliacutetica
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Estou convencido de que o Poder Judiciaacuterio tem um papel essencial na concretizaccedilatildeo da Consti-
tuiccedilatildeo brasileira Em face do quadro de sistemaacutetica violaccedilatildeo de direitos de certos segmentos da
populaccedilatildeo do arranjo institucional desenhado pela Carta de 88 e da seacuteria crise de representa-
tividade do Poder Legislativo entendo que o ativismo judicial se justifica no Brasil pelo menos
em certas searas como a tutela de direitos fundamentais a proteccedilatildeo das minorias e a garantia
do funcionamento da proacutepria democracia O maior insulamento judicial diante da pressatildeo das
maiorias bem como um certo ethos profissional de valorizaccedilatildeo dos direitos humanos que co-
meccedila a se instalar na nossa magistratura 121 conferem ao Judiciaacuterio uma capacidade institu-
cional privilegiada para atuar nestas aacutereas122
Mas em outros campos pode ser mais recomendaacutevel uma postura de autocontenccedilatildeo judicial
seja por respeito agraves deliberaccedilotildees majoritaacuterias adotadas no espaccedilo poliacutetico123 seja pelo reco-
nhecimento da falta de expertise do Judiciaacuterio para tomar decisotildees que promovam eficiente-
mente os valores constitucionais em jogo em aacutereas que demandem profundos conhecimentos
teacutecnicos fora do Direito - como Economia poliacuteticas puacuteblicas e regulaccedilatildeo124 Nestes casos deve-
se reconhecer que outros oacutergatildeos do Estado estatildeo mais habilitados para assumirem uma posiccedilatildeo
de protagonismo na implementaccedilatildeo da vontade constitucional
Nesta linha vejo com reticecircncias a sedimentaccedilatildeo na nossa cultura juriacutedica da visatildeo de que o
grande - senatildeo o uacutenico - inteacuterprete da Constituiccedilatildeo seria o Poder Judiciaacuterio125 Esta leitura des-
carta a autocontenccedilatildeo judicial bem como tende a desprezar a possibilidade de que sejam tra-
vados construtivos diaacutelogos interinstitucionais entre diversos oacutergatildeos estatais para a definiccedilatildeo da
melhor interpretaccedilatildeo dos ditames constitucionais126 Um bom exemplo127 deste desvio ocorreu
no julgamento da constitucionalidade das pesquisas em ceacutelulas-tronco embrionaacuterias realizada
pelo STF em que pese o resultado final do julgamento ter sido substancialmente correto Na-
quela ocasiatildeo o importante argumento deduzido na tribuna e em memoriais por Luis Roberto
Barroso - que advogava para um dos amici curiae favoraacuteveis agraves pesquisas - de que o Judiciaacuterio
deveria adotar posiccedilatildeo cautelosa no julgamento da constitucionalidade da lei impugnada ten-
do em vista o amplo consenso em torno dela obtido durante o processo legislativo tanto no
Senado como na Cacircmara foi explicitamente rechaccedilado por alguns ministros que consideraram
o ponto irrelevante E outros ministros em votos vencidos se sentiram confortaacuteveis ateacute para
defender a imposiccedilatildeo de novas normas pelo STF na aacuterea do Biodireito arvorando-se agrave condiccedilatildeo
de legisladores num campo para o qual evidentemente lhes faltava qualquer expertise
Enfim o neoconstitucionalismo brasileiro tem pecado por excesso depositando no Judiciaacuterio
expectativas que ele nem sempre teraacute como atender de forma satisfatoacuteria Um dos efeitos co-
laterais deste fenocircmeno eacute a disseminaccedilatildeo de um discurso muito perigoso de que voto e poliacuteti-
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ca natildeo satildeo tatildeo importantes pois relevante mesmo eacute a interpretaccedilatildeo dos princiacutepios constitucio-
nais realizada pelo STF Daiacute a dizer que o povo natildeo sabe votar eacute um pulo e a ditadura de toga
pode natildeo ser muito melhor do que a ditadura de farda
b) Neoconstitucionalismo oba-oba constitucional e Estado Democraacutetico de Direito
Seria uma profunda injusticcedila com a teoria neoconstitucionalista acusaacute-la de promover o decisi-
onismo ou de defender a tomada de decisotildees judiciais puramente emotivas sem lastro em ar-
gumentaccedilatildeo racional soacutelida Pelo contraacuterio como foi destacado acima um dos eixos centrais
do pensamento neoconstitucional eacute a reabilitaccedilatildeo da racionalidade praacutetica no acircmbito juriacutedico
com a articulaccedilatildeo de complexas teorias da argumentaccedilatildeo que demandam muito dos inteacuterpre-
tes e sobretudo dos juiacutezes em mateacuteria de fundamentaccedilatildeo das suas decisotildees Poreacutem a praacutetica
judiciaacuteria brasileira recepcionou apenas parcialmente as teorias juriacutedicas de corte poacutes-
positivista e aqui a valorizaccedilatildeo dos princiacutepios e da ponderaccedilatildeo natildeo tem sido muitas vezes
acompanhada do necessaacuterio cuidado com a justificaccedilatildeo das decisotildees
Se ateacute natildeo muito tempo atraacutes os princiacutepios natildeo eram tratados como autecircnticas normas por
aqui - soacute tinha bom direito quem podia invocar uma regra legal clara e precisa em favor da sua
pretensatildeo - com a chegada do poacutes-positivismo e do neoconstitucionalismo passou-se em pou-
cos anos da aacutegua para o vinho Hoje instalou-se um ambiente intelectual no Brasil que aplaude
e valoriza as decisotildees principioloacutegicas e natildeo aprecia tanto aquelas calcadas em regras legais
que satildeo vistas como burocraacuteticas ou positivistas - e positivismo hoje no paiacutes eacute quase um pala-
vratildeo128 Neste contexto os operadores do Direito satildeo estimulados a invocar sempre princiacutepios
muito vagos nas suas decisotildees mesmo quando isso seja absolutamente desnecessaacuterio pela e-
xistecircncia de regra clara e vaacutelida a reger a hipoacutetese Os campeotildees tecircm sido os princiacutepios da dig-
nidade da pessoa humana e da razoabilidade O primeiro eacute empregado para dar imponecircncia ao
decisionismo judicial vestindo com linguagem pomposa qualquer decisatildeo tida como politica-
mente correta e o segundo para permitir que os juiacutezes substituam livremente as valoraccedilotildees de
outros agentes puacuteblicos pelas suas proacuteprias
Este cenaacuterio eacute problemaacutetico porque um sistema juriacutedico funcional estaacutevel e harmocircnico com os
valores do Estado Democraacutetico de Direito precisa tanto da aplicaccedilatildeo de regras como de princiacute-
pios129 As regras satildeo indispensaacuteveis dentre outras razotildees130 porque geram maior previsibili-
dade e seguranccedila juriacutedica para os seus destinataacuterios diminuem os riscos de erro na sua inci-
decircncia jaacute que natildeo dependem tanto das valoraccedilotildees do inteacuterprete em cada caso concreto en-
volvem um menor custo no seu processo de aplicaccedilatildeo pois podem incidir de forma mais mecacirc-
nica sem demandarem tanto esforccedilo do inteacuterprete e natildeo implicam na mesma medida que os
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princiacutepios em uma transferecircncia de poder decisoacuterio do Legislativo que eacute eleito para o Judici-
aacuterio que natildeo eacute
Natildeo pretendo sustentar com isso que se deva retroceder ao tempo em que os princiacutepios natildeo
eram aplicados pelos juiacutezes brasileiros Tambeacutem os princiacutepios satildeo essenciais na ordem juriacutedica
pois conferem mais plasticidade ao Direito - o que eacute essencial numa sociedade hiper-complexa
como a nossa - e permitem uma maior abertura da argumentaccedilatildeo juriacutedica agrave Moral e ao mundo
empiacuterico subjacente O importante eacute encontrar uma justa medida que natildeo torne o processo de
aplicaccedilatildeo do Direito amarrado demais como ocorreria num sistema baseado exclusivamente
em regras nem solto demais como sucederia com um que se fundasse apenas em princiacutepios
Penso que eacute chegada a hora de um retorno do pecircndulo no Direito brasileiro131 que sem des-
cartar a importacircncia dos princiacutepios e da ponderaccedilatildeo volte a levar a seacuterio tambeacutem as regras e a
subsunccedilatildeo
Ademais naquelas hipoacuteteses em que a aplicaccedilatildeo de princiacutepios for realmente apropriada ela
deve dar-se de forma mais racional e fundamentada Deve-se adotar a premissa de que quanto
mais vaga for a norma a ser aplicada e mais intenso o componente volitivo envolvido no pro-
cesso decisoacuterio maior deve ser o ocircnus argumentativo do inteacuterprete no sentido de mostrar que
a soluccedilatildeo por ele adotada eacute a que melhor realiza os valores do ordenamento naquele caso con-
creto132 A tendecircncia atual de invocaccedilatildeo frouxa e natildeo fundamentada de princiacutepios colide com a
loacutegica do Estado Democraacutetico de Direito pois amplia as chances de arbiacutetrio judicial gera inse-
guranccedila juriacutedica e atropela a divisatildeo funcional de poderes que tem no ideaacuterio democraacutetico um
dos seus fundamentos - a noccedilatildeo baacutesica de que as decisotildees sobre o que os cidadatildeos e o Estado
podem e natildeo podem fazer devem ser tomadas preferencialmente por quem represente o povo
e seja por ele escolhido
E haacute na sociedade brasileira traccedilos que tornam ainda mais perigosa esta tendecircncia agrave frouxidatildeo
e emotividade na metodologia juriacutedica Nossa cultura caracteriza-se muito mais pelo jeiti-
nho133 e pelo patrimonialismo134 do que pela valorizaccedilatildeo do cumprimento impessoal de regras
O brasileiro - jaacute dizia Seacutergio Buarque de Holanda135 - eacute o homem cordial que tende a antepor
a loacutegica privada do compadrio e da simpatia agrave racionalidade objetiva das leis Esta singularida-
de das nossas relaccedilotildees sociais natildeo atua de forma neutra em relaccedilatildeo a todos os cidadatildeos Ela
implica na adoccedilatildeo de posturas estatais em geral muito benevolentes em relaccedilatildeo aos donos do
poder e seus apaniguumlados e de posiccedilotildees muito mais duras dirigidas aos grupos excluiacutedos e mar-
ginalizados136 Uns poucos acabam pairando acima das leis que natildeo os alcanccedilam para limitar a
sua conduta ou sancionar os seus desvios enquanto outros permanecem abaixo dela sendo
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atingidos apenas pelo braccedilo punitivo do Estado pois a violaccedilatildeo rotineira dos seus direitos eacute
naturalizada tornando-se invisiacutevel
Neste quadro cabe indagar sob a perspectiva de uma sociologia da interpretaccedilatildeo constitucio-
nal ateacute que ponto a introduccedilatildeo entre noacutes de uma dogmaacutetica fluida - a expressatildeo eacute de Gusta-
vo Zagrebelsky137 um dos iacutecones do neoconstitucionalismo - natildeo pode ter como efeito colateral
o agravamento de patologias que marcam as nossas relaccedilotildees sociais Seraacute que o nosso Direito
precisa de mais rigidez ou de maior maleabilidade Ao fim e ao cabo quem tende a se benefi-
ciar com a adoccedilatildeo de uma hermenecircutica juriacutedica mais flexiacutevel
Uma reflexatildeo importante sobre tema correlato foi empreendida por Marcelo Neves138 a partir
das categorias da teoria sistecircmica de Niklas Luhman Para Luhman139 em apertada siacutentese o
Direito nas hipercomplexas sociedades modernas seria autopoieacutetico140 pois consistiria num
subsistema social estruturalmente fechado em relaccedilatildeo ao meio envolvente que operaria de
acordo com um coacutedigo binaacuterio proacuteprio - o liacutecito iliacutecito As influecircncias do meio envolvente so-
bre o Direito seriam filtradas atraveacutes deste coacutedigo assegurando a autonomia da esfera juriacutedica
diante dos outros subsistemas sociais como a Economia a Poliacutetica a Religiatildeo etc Contudo
Marcelo Neves sustenta que em sociedades perifeacutericas como o Brasil natildeo se desenvolveu ple-
namente este fechamento estrutural do Direito Por aqui fatores como a nossa constituciona-
lizaccedilatildeo simboacutelica geraram uma insuficiente diferenciaccedilatildeo do Direito em relaccedilatildeo a outros sub-
sistemas sociais permitindo que elementos a princiacutepio estranhos ao coacutedigo binaacuterio do juriacutedico -
como a questatildeo do poder poliacutetico e do poder econocircmico - se infiltrem sistematicamente nos
processos de aplicaccedilatildeo das normas condicionando o seu resultado A teoria dos sistemas de
Luhman natildeo funcionaria bem entre noacutes pois teriacuteamos um Direito em boa parte alopoieacuteti-
coPara tal perspectiva esta maior abertura do Direito ao meio envolvente natildeo assume o po-
tencial emancipatoacuterio preconizado pela teoria neoconstitucionalista Ela funciona muito mais
como um mecanismo de cristalizaccedilatildeo de diferenccedilas sociais mantendo a hiper-inclusatildeo de uns
ao preccedilo da exclusatildeo de outros
Esta reflexatildeo de Marcelo Neves natildeo se dirigiu ao debate metodoloacutegico contemporacircneo envol-
vendo princiacutepios e regras ponderaccedilatildeo e subsunccedilatildeo etc Poreacutem entendo que ela pode ter algu-
ma pertinecircncia tambeacutem aqui pelo menos para nos advertir sobre o perigo de que o neoconsti-
tucionalismo com a fluidez metodoloacutegica e abertura do Direito a outros domiacutenios que preconi-
za possa acabar tornando-se um belo roacutetulo para justificar mais do mesmo patrimonialismo
desigualdade jeitinho Nesta perspectiva a novidade do neoconstitucionalismo poderia pare-
cer com aquela advogada pelo Priacutencipe de Salinas em famosa passagem do romance O Leopar-
do de Giuseppe Lampedusa quando defendia no contexto da crise da aristocracia italiana do
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final do seacuteculo XIX a necessidade de mudanccedilas urgentes no governo para que ao final as
coisas pudessem permanecer exatamente do jeito que sempre foram
Natildeo penso que esta seja uma consequumlecircncia necessaacuteria da adoccedilatildeo de uma perspectiva juriacutedica
mais principialista no Brasil O maior cuidado metodoloacutegico adicionado agrave adoccedilatildeo de uma dire-
triz hermenecircutica substantiva que afirme a missatildeo essencial do Direito de assegurar justiccedila e
seguranccedila agraves pessoas tratando-as como livres e iguais pode minimizar as possibilidades de um
uso enviesado da teoria neoconstitucional que acabe favorecendo aos mesmos de sempre
Mas diante das nossas tradiccedilotildees natildeo haacute como negar que os riscos satildeo elevados
c) Neoconstitucionalismo e panconstitucionalizaccedilatildeo
Uma das caracteriacutesticas do neoconstitucionalismo eacute a defesa da constitucionalizaccedilatildeo do Direi-
to Sustenta-se que a irradiaccedilatildeo das normas constitucionais por todo o ordenamento contribui
para aproximaacute-lo dos valores emancipatoacuterios contidos nas constituiccedilotildees contemporacircneas 141A
Constituiccedilatildeo natildeo eacute vista mais como uma simples norma normarum - cuja finalidade principal eacute
disciplinar o processo de produccedilatildeo de outras normas142 Ela passa a ser enxergada como a en-
carnaccedilatildeo dos valores superiores da comunidade poliacutetica que devem fecundar todo o sistema
juriacutedico Neste modelo cabe ao inteacuterprete natildeo soacute aplicar diretamente os ditames constitucio-
nais agraves relaccedilotildees sociais como tambeacutem reler todas as normas e institutos dos mais variados ra-
mos do Direito agrave luz da Constituiccedilatildeo emprestando-lhes o sentido que mais promova os objeti-
vos e a axiologia da Carta
A constitucionalizaccedilatildeo do Direito de que cogita o neoconstitucionalismo natildeo eacute aquela que resul-
ta do caraacuteter excessivamente analiacutetico da Constituiccedilatildeo e leva ao entricheiramento de meras
opccedilotildees conjunturais do constituinte originaacuterio ou derivado despidas de maior importacircncia ou
dignidade Este eacute um fenocircmeno caracteriacutestico da Carta de 88 que se excedeu no casuiacutesmo e
nos detalhes elevando ao seu texto meros interesses corporativos ou decisotildees de momento
sem focirclego para perdurarem no tempo A constitucionalizaccedilatildeo louvada e defendida pelo neo-
constitucionalismo eacute aquela que parte de uma interpretaccedilatildeo extensiva e irradiante dos direitos
fundamentais e dos princiacutepios mais importantes da ordem constitucional Aqui contudo pode-
se discutir ateacute que ponto o fenocircmeno eacute legiacutetimo Poucos discordaratildeo pelo menos no Brasil de
que alguma constitucionalizaccedilatildeo do Direito eacute positiva e bem-vinda por semear o ordenamento
com os valores humanitaacuterios da Constituiccedilatildeo Poreacutem pode-se objetar contra as teses extrema-
das sobre este processo que acabam amputando em demasia o espaccedilo de liberdade do legisla-
dor em detrimento da democracia 143
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Com efeito quem defende que tudo ou quase tudo jaacute estaacute decidido pela Constituiccedilatildeo e que o
legislador eacute um mero executor das medidas jaacute impostas pelo constituinte nega por conse-
quumlecircncia a autonomia poliacutetica ao povo para em cada momento da sua histoacuteria realizar as suas
proacuteprias escolhas O excesso de constitucionalizaccedilatildeo do Direito reveste-se portanto de um
vieacutes antidemocraacutetico Esta ordem de preocupaccedilotildees levou Ersnt Forsthof na Alemanha a criti-
car as teorias que viam a Constituiccedilatildeo como uma espeacutecie de genoma juriacutedico () do qual tudo
deriva do Coacutedigo Penal ateacute a lei sobre a fabricaccedilatildeo de termocircmetros144 E a questatildeo torna-se
ainda mais delicada diante da constataccedilatildeo de que pela abertura semacircntica dos direitos fun-
damentais e dos princiacutepios - principal mateacuteria-prima da constitucionalizaccedilatildeo do Direito - o seu
principal agente acaba sendo o Poder Judiciaacuterio ao dar a uacuteltima palavra sobre a interpretaccedilatildeo
daquelas claacuteusulas Daiacute porque o debate sobre a constitucionalizaccedilatildeo do Direito se imbrica
inexoravelmente com as discussotildees a propoacutesito da judicializaccedilatildeo da poliacutetica e do decisionismo
referidas acima
Ademais a constitucionalizaccedilatildeo do Direito tambeacutem suscita outra linha de preocupaccedilotildees rela-
cionada ao perfeccionismo moral145 na esfera privada No Brasil assim como em muitos outros
paiacuteses jaacute se assentou a ideacuteia de que os direitos fundamentais natildeo se dirigem apenas contra o
Estado vinculando tambeacutem os particulares Entre noacutes tem prevalecido na doutrina a ideacuteia que
eu mesmo defendi em outro estudo146 que a eficaacutecia dos direitos fundamentais nas relaccedilotildees
privadas eacute direta e imediata Em outras palavras entende-se que a proacutepria Constituiccedilatildeo jaacute inci-
de nas relaccedilotildees privadas independentemente de mediaccedilotildees legislativas e que pode gerar o-
brigaccedilotildees positivas ou negativas para os indiviacuteduos e natildeo soacute para os poderes puacuteblicos sempre
no afatilde de proporcionar uma proteccedilatildeo mais completa agrave dignidade humana Ateacute aqui nada a
contestar
Poreacutem o reconhecimento da vinculaccedilatildeo dos particulares agrave Constituiccedilatildeo suscita um risco que
natildeo pode ser ignorado o de imposiccedilatildeo agraves pessoas supostamente em nome de valores constitu-
cionais de comportamentos e estilos de vida que elas proacuteprias rejeitam em detrimento da sua
liberdade existencial Para dar um exemplo bem tosco seria terriacutevel se o Direito em nome do
princiacutepio da solidariedade social pudesse impor agraves pessoas que demonstrassem afetos e senti-
mentos que elas natildeo possuem genuinamente Ou se em nome da isonomia pretendesse inter-
ferir nas escolhas subjetivas e emocionais que os indiviacuteduos fazem nas suas vidas privadas A
constitucionalizaccedilatildeo neste sentido poderia converter-se num pretexto para o exerciacutecio de um
paternalismo anti-liberal em que as pessoas seriam forccediladas a conformarem-se agraves expectativas
sociais forjadas a partir de pautas de accedilatildeo politicamente corretas com apoio na Constitui-
ccedilatildeo147
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Nenhuma destas duas questotildees eacute insuperaacutevel Eacute possiacutevel aceitar e aplaudir a constitucionaliza-
ccedilatildeo do Direito - fenocircmeno em geral positivo por aproximar a racionalidade emancipatoacuteria da
Constituiccedilatildeo do dia-a-dia das pessoas - mas defender que ela seja temperada por outras preo-
cupaccedilotildees igualmente essenciais no Estado Democraacutetico de Direito com a autonomia puacuteblica e
privada dos cidadatildeos Pode-se reconhecer a legitimidade da constitucionalizaccedilatildeo do Direito
mas numa medida em que natildeo sacrifique em excesso agrave liberdade de conformaccedilatildeo que numa
democracia deve caber ao legislador para realizar opccedilotildees poliacuteticas em nome do povo148 Pode-
se da mesma forma afirmar a incidecircncia direta da Constituiccedilatildeo nas relaccedilotildees privadas mas
sem invadir a esfera das opccedilotildees existenciais da pessoa - que de resto eacute protegida pela proacutepria
Constituiccedilatildeo das ingerecircncias perfeccionistas do Estado e da sociedade149
5 Conclusatildeo Ao fim da leitura destas paacuteginas o leitor pode estar se indagando se eu me alinho ou natildeo ao
neoconstitucionalismo A minha resposta eacute depende da compreensatildeo que se tenha sobre o ne-
oconstitucionalismo Se entendermos o neoconstitucionalismo de acordo com a conhecida defi-
niccedilatildeo de Luis Prietro Sanchiacutes como uma teoria do Direito que se orienta pelas maacuteximas demaacutes
princiacutepios que reglas maacutes ponderacioacuten que subsuncioacuten omnipotencia de la Constitucioacuten en
todas las aacutereas juriacutedicas y en todos conflictos miacutenimamente relevantes en lugar de espacios
exentos en favor de la opcioacuten legislativa o reglamentaria omnipotencia judicial en lugar de
autonomia del legislador ordinaacuterio y por ultimo coexistecircncia de una constelacioacuten plural de
valores a veces tendencialmente contradictorios en lugar de homogeneidad ideoloacutegica150
certamente eu natildeo me considero um neoconstitucionalista De todas as afirmaccedilotildees do professor
espanhol a uacutenica de que natildeo discordo eacute aquela relacionada ao pluralismo de valores cujo re-
conhecimento aliaacutes estaacute longe de ser privileacutegio dos neoconstitucionalistas
Contudo eu assumo o roacutetulo sem constrangimentos se o neoconstitucionalismo for pensado
como uma teoria constitucional que sem descartar a importacircncia das regras e da subsunccedilatildeo
abra tambeacutem espaccedilo para os princiacutepios e para a ponderaccedilatildeo tentando racionalizar o seu uso
Se for visto como uma concepccedilatildeo que sem desprezar o papel protagonista das instacircncias de-
mocraacuteticas na definiccedilatildeo do Direito reconheccedila e valorize a irradiaccedilatildeo dos valores constitucio-
nais pelo ordenamento bem como a atuaccedilatildeo firme e construtiva do Judiciaacuterio para proteccedilatildeo e
promoccedilatildeo dos direitos fundamentais e dos pressupostos da democracia E acima de tudo se
for concebido como uma visatildeo que conecte o Direito com exigecircncias de justiccedila e moralidade
criacutetica151 sem enveredar pelas categorias metafiacutesicas do jusnaturalismo
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Certamente uma visatildeo equilibrada da Teoria do Direito com tais caracteriacutesticas pode contribu-
ir para o aperfeiccediloamento do Estado Democraacutetico de Direito no Brasil O mesmo jaacute natildeo digo de
concepccedilotildees mais radicais do neoconstitucionalismo que podem ser muito boas para arrancar
aplausos entusiasmados das plateacuteias nos seminaacuterios estudantis mas que natildeo se conciliam com
exigecircncias fundamentais de seguranccedila juriacutedica democracia e liberdade que satildeo alicerces de
qualquer bom constitucionalismo - novo ou velho
Curriacuteculo Resumido
Daniel Sarmento
Poacutes-Doutor pela Universidade de Yale (EUA) Procurador Regional da Repuacuteblica
Como citar este artigo
SARMENTO Daniel O neoconstitucionalismo no Brasil riscos e possibilidades Disponiacutevel em httpwwweditoraforumcombrsistconteudolista_conteudoaspFIDT_CONTEUDO=56993 acesso em 09032011 httpdireitoesubjetividadefileswordpresscom201008daniel-sarmento-o-neoconstitucionalismo-no-brasil1doc acesso em 30062012 Material da 1ordf aula da Disciplina Teoria Geral da Constituiccedilatildeo (I) ministrada no Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo Online em Direito Constitucional ndash Anhanguera-UNIDERP | REDE LFG
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1Sobre a teoria de princiacutepios no Brasil veja-se dentre outros Ana Paula de Barcellos A eficaacutecia juriacutedica dos princiacutepios constitu-
cionais o princiacutepio da dignidade da pessoa humana Rio de Janeiro Renovar 2002 Humberto Bergman Aacutevila Teoria dos princiacute-
pios da definiccedilatildeo agrave aplicaccedilatildeo dos princiacutepios juriacutedicos 2 ed Satildeo Paulo RT 2005 Jane Reis Gonccedilalves Pereira Interpretaccedilatildeo
constitucional e direitos fundamentais uma contribuiccedilatildeo ao estudo das restriccedilotildees aos direitos fundamentais na perspectiva da
teoria dos princiacutepios Rio de Janeiro Renovar 2006 Virgiacutelio Afonso da Silva O conteuacutedo essencial dos direitos fundamentais e a
eficaacutecia das normas constitucionais Satildeo Paulo Tese (concurso de Professor Titular de Direito Constitucional da USP)
2Veja-se em tons variados Lecircnio Luiz Streck Hermenecircutica juriacutedica e(m) crise uma exploraccedilatildeo hermenecircutica da construccedilatildeo do
direito Porto Alegre Livraria do Advogado 1999 Luiacutes Roberto Barroso (Org) A nova interpretaccedilatildeo constitucional ponderaccedilatildeo
direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas Rio de Janeiro Renovar 2003 Margarida Maria Lacombe Camargo Hermenecircutica e
argumentaccedilatildeo uma contribuiccedilatildeo ao estudo do direito Rio de Janeiro Renovar 2003 Inocecircncio Maacutertires Coelho Interpretaccedilatildeo
constitucional 2 ed Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2003 Ana Paula de Barcellos Ponderaccedilatildeo racionalidade e atividade
jurisdicional Rio de Janeiro Renovar 2005
3Sobre o fenocircmeno da constitucionalizaccedilatildeo do Direito confira-se os inuacutemeros artigos que compotildeem a coletacircnea organizada por
Claacuteudio Pereira de Souza Neto e por mim A constitucionalizaccedilatildeo do direito fundamentos teoacutericos e aplicaccedilotildees especiacuteficas Rio de
Janeiro Lumen Juris 2007
4Cfr na literatura constitucional brasileira Gisele Guimaratildees Cittadino Pluralismo direito e justiccedila distributiva elementos de
filosofia constitucional contemporacircnea Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 Oscar Vilhena Vieira A Constituiccedilatildeo e sua reserva de
justiccedila um ensaio sobre os limites materiais do poder de reforma Satildeo Paulo Malheiros 1999 Ricardo Lobo Torres (Org) A legi-
timaccedilatildeo dos direitos humanos Rio de Janeiro Renovar 2002 Claacuteudio Pereira de Souza Neto Teoria constitucional e democracia
deliberativa Rio de Janeiro Renovar 2006 Lecircnio Luiz Streck Verdade e consenso Constituiccedilatildeo hermenecircutica e teorias discursi-
vas Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 Samantha Chantal Dobrowolski A construccedilatildeo social do sentido da Constituiccedilatildeo na demo-
cracia contemporacircnea entre soberania popular e direitos humanos Rio de Janeiro Lumen Juris 2007 Aacutelvaro Ricardo de Souza
Cruz Hermenecircutica juriacutedica e(m) debate o constitucionalismo brasileiro entre a teoria do discurso e a ontologia existencial Belo
Horizonte Foacuterum 2007
5Sobre a judicializaccedilatildeo da poliacutetica no Brasil veja-se Luiz Werneck Vianna et al A judicializaccedilatildeo da poliacutetica e das relaccedilotildees sociais
no Brasil Rio de Janeiro Revan 1999 Giselle Cittadino Judicializaccedilatildeo da poliacutetica constitucionalismo democraacutetico e separaccedilatildeo de
poderes In Luiz Werneck Vianna (Org) A democracia e os trecircs poderes no Brasil Belo Horizonte UFMG 2002 p 17-42 Rogeacuterio
B Arantes Constitucionalism the expansion of Justice and the Judicialization of Poltics in Brazil In Rachel Sieder Line Schjol-
den Alan Angell The Judicialization of Politics in Latin America New York Palgrave Macmillan 2005 p 232-262 Luis Roberto
Barroso Judicializaccedilatildeo ativismo judicial e legitimidade democraacutetica Texto ineacutedito gentilmente cedido pelo autor
Para uma perspectiva comparativa veja-se Neal C Tate Tobjorn Vallinder (Ed) The Global Expansion of Judicial Power New
York New York University Press 1995 Alec Stone Sweet Governing with Judges Constitutional Politics in Europe Oxford Oxford
Univesity Press 2000 e em tom profundamente criacutetico Ran Hirschl Towards Juristocracy the Origins and Consequences of the
New Constitucionalism Cambridge Harvard University Press 2004
6Miguel Carbonell et al Neoconstitucionalismo(s) Madrid Trotta 2003 Mais recentemente o autor publicou nova coletacircnea
tambeacutem dedicada ao estudo do neoconstitucionalismo intitulada Teoria del Neoconstitucionalismo Ensayos escogidos Madrid
Trotta 2007
7O jurista argentino Carlos Santiago Nino por exemplo faleceu em 1993 quando ainda nem se empregava esta denominaccedilatildeo
8Cf Robert Alexy Teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica a teoria do discurso racional como teoria da fundamentaccedilatildeo juriacutedica Tradu-
ccedilatildeo de Zilda Hutchinson Schild Silva revisatildeo teacutecnica da traduccedilatildeo e introduccedilatildeo agrave ediccedilatildeo brasileira Claudia Toledo 2 ed Satildeo Paulo
Landy 2005 Luis Roberto Barroso Curso de direito constitucional contemporacircneo os conceitos fundamentais e a construccedilatildeo do
novo modelo Rio de Janeiro Saraiva 2008 p 306-350
9Cf Lecircnio Luiz Streck Verdade e consenso Op cit p 197-246
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10Ronald Dworkin e Carlos Santiago Nino satildeo sem sombra de duacutevida autores liberais natildeo no sentido que se atribui ao termo no
Brasil - de adeptos de doutrina econocircmica favoraacutevel ao Estado miacutenimo e ao mercado - mas sim no sentido corrente na Filosofia
Poliacutetica que associa o liberalismo agrave defesa dos direitos individuais e da neutralidade do Estado em relaccedilatildeo agraves diversas concepccedilotildees
sobre a vida boa existentes na sociedade Veja-se neste sentido Ronald Dworkin A Matter of Principle Cambridge Harvard
University Press 1985 p 181-236 Carlos Santiago Nino La constitucioacuten de la Democracia Deliberativa Barcelona Gedisa 1997
p 70-100
11Lecircnio Luiz Streck que se alinha ao neoconstitucionalismo defende posturas tipicamente comunitaristas como o papel da Consti-
tuiccedilatildeo na definiccedilatildeo de modelos de vida boa para orientaccedilatildeo da vida social e da accedilatildeo individual Cf Jurisdiccedilatildeo constitucional e
hermenecircutica uma nova criacutetica do direito 2 ed Rio de Janeiro Forense 2004 p 95-288
12Antonio Cavalcanti Maia um dos mais ardorosos defensores do neoconstitucionalismo no paiacutes eacute tambeacutem procedimentalista e
adepto das teorias juriacutedicas de Juumlrgen Habermas Veja-se neste sentido o seu denso texto Nos vintes anos da carta cidadatilde do
poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm (Coord) Vinte
anos da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 p 117-168 em que esta sua dupla filiaccedilatildeo intelectual eacute
explicitada
13Segundo Miguel Carbonell o neoconstitucionalismo desdobra-se em trecircs planos de anaacutelise que se conjugam o dos textos consti-
tucionais que se tornaram mais substantivos e incorporaram amplos elencos de direitos fundamentais o das praacuteticas judiciais que
passaram a recorrer a princiacutepios constitucionais agrave ponderaccedilatildeo e a meacutetodos mais flexiacuteveis de interpretaccedilatildeo sobretudo na aacuterea de
direitos fundamentais e o dos desenvolvimentos teoacutericos de autores que com as suas ideacuteias ajudaram natildeo soacute a compreender os
novos modelos constitucionais mas tambeacutem participaram da sua proacutepria criaccedilatildeo Cf Miguel Carbonell Neoconstitucionalismo
elementos para una definicioacuten In Eduardo Ribeiro Moreira Mauricio Pugliesi 20 anos da Constituiccedilatildeo brasileira Satildeo Paulo Sarai-
va 2009 p 197-208
14No mesmo sentido Luis Roberto Barroso Neoconstitucionalismo e Constitucionalizaccedilatildeo do direito o triunfo tardio do direito
constitucional do Brasil In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento A constitucionalizaccedilatildeo do direito fundamentos teoacuteri-
cos e aplicaccedilotildees especiacuteficas Rio de Janeiro Lumen Juris 2007 p 203-250
15Cf Carlos Bernal Pulido El Derecho de los Derechos Bogotaacute Universidad Externado de Colocircmbia 2006 Manoel Jose Cepeda
Espinosa Judicialization of Politics in Colombia the old and the new In Rachel Sieder Line Schonjen Alan Angell The Judiciali-
zation of Politics in Latin America Op cit p 67-104 Rodrigo Uprimmy Mauriacutecio Garcia-Villegas Tribunal Constitucional e eman-
cipaccedilatildeo social na Colocircmbia In Boaventura de Souza Santos Democratizar a democracia os caminhos da democracia participativa
Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2002 p 297-339
16Cf Catalina Smulovitz Petitioning and Creating Rights Judicialization in Argentina In Rachel Sieder Line Scjolden Alan Angell
The Judicialization of Politics in Latin America Op cit p 161-185
17Cf Miguel Carbonell Los Derechos Fundamentales en Meacutexico 2 ed Meacutexico Porruacutea 2006 Pilar Domingo The Changing Political
Role of the Judiciary in Meacutexico In Rachel Sieder Line Scjolden Alan Angell The Judicialization of Politics in Latin Ameacuterica Op
cit p 21-46
18Cf Heinz Klug South Aacutefrica From Constitucional Promise to Social Transformation In Jeffrey Goldsworthy Interpreting Consti-
tutions A Comparative Study Oxford Oxford University Press 2006 p 266-320
19Cf S P Sathe Iacutendia From Positivism to Structuralism In Jeffrey Goldsworthy Op cit p 215-265
20Veja-se a propoacutesito Gustavo Zagrebelsky Il Diritto Mite Torino Einaudi 1992 p 57-96
21Cf Eduardo Garciacutea de Enterriacutea La Constitucioacuten como Norma y el Tribunal Constitucional 3 ed Madrid Civitas 1985 p 41
22Na Alemanha a mudanccedila ocorreu sob a vigecircncia da Lei Fundamental adotada em 1949 e foi fortemente impulsionada pela
jurisprudecircncia do Tribunal Constitucional do paiacutes que construiu teorias importantes como a da Constituiccedilatildeo como uma ordem de
valores em cujo centro situa-se o princiacutepio da dignidade humana que se irradia por todo o ordenamento Veja-se a propoacutesito
Dieter Grimm Human Rights and Judicial Review in Germany In David M Beatty (Org) Human Rights and Judicial Review A
Comparative Perspective Dodrecht Martin Urjhoff 1994 p 267-295
23Na Itaacutelia as mudanccedilas se deram sob a eacutegide da atual Constituiccedilatildeo editada em 1947 mas soacute apoacutes o funcionamento da Corte
Constitucional que se deu em 1956 Ateacute entatildeo a Corte de Cassaccedilatildeo composta por juiacutezes recrutados ainda no periacuteodo do fascismo
29
era provisoriamente encarregada da guarda da Constituiccedilatildeo o que fazia de forma muito tiacutemida no mais das vezes negando eficaacute-
cia juriacutedica agraves normas constitucionais sob o argumento de que seriam programaacuteticas Veja-se a propoacutesito Ricardo Guastini A
constitucionalizaccedilatildeo do ordenamento juriacutedico e a experiecircncia italiana In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento A
constitucionalizaccedilatildeo do direito fundamentos teoacutericos e aplicaccedilotildees especiacuteficas Op cit p 271-294
24Cf No modelo do constitucionalismo norte-americano entende-se desde os primoacuterdios que a Constituiccedilatildeo eacute autecircntica lei e que
o Judiciaacuterio pode invalidar as decisotildees legislativas que a contrariem apesar do controle de constitucionalidade natildeo estar expres-
samente previsto no texto constitucional daquele paiacutes Esta ideacuteia que jaacute estava assentada no Federalista n 78 escrito por Ale-
xander Hamilton antes da aprovaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo foi posta em praacutetica pela primeira vez contra lei federal no ceacutelebre caso
Marbury v Madison julgado em 1803 pelo juiz Marshall Veja-se a propoacutesito Paul Brest Sanford Levinson Jack Balkin Akhil Reed
Amar Processes of Constitutional Decisionmaking Cases and Materials New York Aspen Publishers 2000 p 79-103
A versatildeo mais convencional do modelo constitucional norte-americano enfatiza a importacircncia central do Judiciaacuterio na atualizaccedilatildeo
do sentido da Constituiccedilatildeo do paiacutes Contudo esta leitura histoacuterica eacute hoje objeto de intensa disputa Em sentido contraacuterio a tal
posiccedilatildeo sustentando uma menor relevacircncia do Judiciaacuterio no desenvolvimento histoacuterico do constitucionalismo americano veja-se
por exemplo Stephen M Griffin American Constitutionalism From Theory to Politics New Jersey Princeton University Press
1996 p 88-139
25Cf Luis Prietro Sanchiacutes Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales Madrid Trotta 2003 p 107-117
26Cf Daniel Sarmento Ubiquumlidade constitucional Os dois lados da moeda In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento
(Coord) A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 113-148
27Na verdade a reaccedilatildeo contra o formalismo juriacutedico na Europa eacute bem anterior ao advento do constitucionalismo do 2ordm poacutes-guerra
remontando ao final do seacuteculo XIX Veja-se a propoacutesito Constantin M Stamatis Argumenter en Droit Une theacuteorie critique de
largumentation juridique Paris Publisud 1995 p 34-50 Antonio Manoel Hespanha Panorama histoacuterico da cultura juriacutedica euro-
peacuteia Lisboa Publicaccedilotildees Europa-Ameacuterica 1997 p 196-235
28Haacute vasta literatura sobre a ponderaccedilatildeo mas a obra mais influente sobre o tema eacute certamente o livro de Robert Alexy Teoria dos
direitos fundamentais Traduccedilatildeo de Virgiacutelio Afonso da Silva Satildeo Paulo Malheiros 2008 No cenaacuterio norte-americano veja-se a
anaacutelise densa e criacutetica de T Alexander Aleinikoff Constitucional Law in the Age of Balancing Yale Law Journal n 96 p 943-
1005 1987 No Brasil cfr Daniel Sarmento A ponderaccedilatildeo de interesses na Constituiccedilatildeo Federal Rio de Janeiro Lumen Juris
2000 Ana Paula de Barcellos Ponderaccedilatildeo racionalidade e atividade jurisdicional Op cit
29A bibliografia sobre o princiacutepio da proporcionalidade eacute vastiacutessima Veja-se a propoacutesito as densas anaacutelises de Carlos Bernal Puli-
do El Principio de Proporcionalidad y los Derechos Fundamentales Madrid Centro de Estuacutedios Constitucionales 2003 e no Brasil
de Jane Reis Gonccedilalves Pereira Interpretaccedilatildeo constitucional e direitos fundamentais Rio de Janeiro Renovar 2006 p 297-382
30Cf Chaiumlm Perelman Eacutetica e direito Traduccedilatildeo de Maria Ermantina Galvatildeo G Perira Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 p 361-684
Robert Alexy Teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica Op cit Friedrich Muller Discours de la Meacutethode Juridique Traduccedilatildeo de Olivier
Jouanjan Paris PUF 1993 Manuel Atienza Traacutes la Justicia Una Introduccioacuten al Derecho y al Razonamiento Juriacutedico Barcelona
Ariel 1995 Neil MacCormick Argumentaccedilatildeo juriacutedica e teoria do direito Traduccedilatildeo de Waldeacutea Barcellos Satildeo Paulo Martins Fontes
2006 Klaus Guumlnther Teoria da argumentaccedilatildeo no direito e na moral justificaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Claacuteudio Molz Satildeo Pau-
lo Landy 2004
31Cf Martin Shapiro Alec Stone Sweet On Law Politics and Judicialization New York Oxford University Press p 136-208
32Contudo deve-se admitir na linha de Paolo Comanducci que eacute possiacutevel reconhecer as mudanccedilas em questatildeo e propor novas
teorias que sejam adequadas a elas sem defendecirc-las Esta seria nas palavras do autor italiano a diferenccedila entre o neoconstitu-
cionalismo teoacuterico e o neoconstitucionalismo ideoloacutegico que natildeo apenas constroacutei teorias mais compatiacuteveis com os novos fenocirc-
menos mas vai aleacutem sustentando a sua legitimidade e propugnando pelo seu aprofundamento e expansatildeo Veja-se a propoacutesito
Paulo Comanducci Formas de neoconstitucionalismo Un anaacutelisis metateoacuterico In Miguel Carbonell (Ed) Neoconstitucionalis-
mo(s) Op cit p 75-98 Como reconhece o proacuteprio autor tal distinccedilatildeo baseia-se em uma semelhante acerca do positivismo
30
formulada por Norberto Bobbio que fala em positivismo teoacuterico ideoloacutegico e metodoloacutegico Cf Norberto Bobbio O positivismo
juriacutedico liccedilotildees de filosofia do direito Traduccedilatildeo e notas de Marcio Pugliesi et al Satildeo Paulo Iacutecone 1995 p 233-239
33Cf Ronald Dworkin Is Law a Sistem of Rules In Ronald Dworkin (Ed) Philosophy of Law Oxford Oxford University Press 1971
Robert Alexy Constitucionalismo discursivo Traduccedilatildeo de Luiz Afonso Heck Porto Alegre Livraria do Advogado 2007
34Cf Robert Alexy Derecho y Razoacuten Praacutectica Meacutexico Distribuiciones Fontamara 1993 Aulis Aarnio Lo Racional como Razonable
Traduccedilatildeo de Ernesto Garzoacuten Valdeacutes Madrid Centro de Estuacutedios Constitucionales 1991
35Cf Aharon Barak The Judge in a Democracy New Jersey Princeton University Press 2006 p 213-260 Gustavo Zagrebelsky Il
Diritto Mite Op cit p 179-217
36Confronte-se com perspectivas diferentes Luigi Ferrajoli O Estado de direito entre passado e futuro In Pietro Costa Danilo
Zolo (Org) Estado de direito histoacuteria teoria criacutetica Traduccedilatildeo de Carlo Alberto Dastoli Satildeo Paulo Martins Fontes 2006 p 419-
464 Elias Dias Estado de Derecho y Sociedad Democraacutetica Madrid Taurus 1998 Ronald Dworkin Introduction The Moral Reading
and the Majoritarian Premise In Freedoms Law The moral reading of the American Constitution Cambridge Harvard University
Press 1996 p 01-38 Gustavo Zagrebelsky La Crucifixioacuten y la Democracia Barcelona Ariel 1996 Claacuteudio Pereira de Souza Neto
Teoria constitucional da democracia deliberativa Op cit
37Cf Ronald Dworkin Introduction The Moral Reading and the Majoritarian Premise Op cit
38Cf Luigi Ferrajoli El Garantismo y la Filosofia del Derecho Bogotaacute Universidad Externado de Colocircmbia 2000
39Cf Luis Pietro Sanchis Sobre el Neoconstitucionalismo y sus Implicaciones In Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales
Op cit p 101-135
40Cf Ricardo Guastini Sur la Validiteacute de la Constitution du Point de Vue du Positivisme Juridique In Michel Troper Lucien Jaume
(Dir) 1789 et LInvention de la Constitution Paris LGDJ 1994 p 216-225
41Cf Suzana Pozzolo Neoconstituzionalismo e Positivismo Giuridico Torino Giapppicheli 2001
42Cf Ronald Dworkin Law and Morals In Justice in Robes Cambridge Harvard University Press 2006 p 01-35
43Cf Robert Alexy Derecho y Moral In La Institucionalizacioacuten de la Justicia Op cit p 17-30
44Cf Carlos Santiago Nino Eacutetica y Derechos Humanos 2 ed Buenos Aires Astrea 1989 p 11-48
45Cf Gustav Radbruch Cinco minutos de filosofia do direito In Filosofia do direito Traduccedilatildeo de L Cabral de Moncada 6 ed
Coimbra Armecircnio Amado 1979 p 414-418 Para uma densa problematizaccedilatildeo da foacutermula de Radbruch veja-se Thomas da Rosa
Bustamante Poacutes-Positivismo o argumento da injusticcedila aleacutem da Foacutermula de Radbruch In Teoria do direito e decisatildeo racional
temas de teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica Rio de Janeiro Renovar 2008
46Cf Robert Alexy La Institucionalizacioacuten de la Justicia Traduccedilatildeo de Joseacute Antonio Seone et al Granada Comares 2005 p 31-
54
47Sobre o tema cfr Alfonso Garcia Figueroa Princiacutepios e direitos fundamentais In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmen-
to A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 03-34
48O texto mais importante do positivismo inclusivo eacute o poacutes-escrito de Herbert LA Hart agrave sua obra magna The Concept of Law em
que ele responde agraves criacuteticas ao seu pensamento que Ronald Dworkin lhe endereccedilara O autor inglecircs faleceu antes de terminar o
texto mas ele foi publicado postumemente depois de ser editado por Joseph Raz Peneacutelope Bulloch Veja-se Herbert LA Hart
Poacutes-escrito In O conceito de direito Traduccedilatildeo de A Ribeiro Mendes 2 ed 1994 p 299-339 Tambeacutem na linha do positivismo
inclusivo veja-se Gregorio Peces- Barba Derechos Sociales y Positivismo Juriacutedico Escritos de Filosofia Poliacutetica y Juriacutedica Madrid
Dykinson 1999 p 83-90 Jules Coleman The Practice of Principle In defense of a pragmatist approach do legal theory Oxford
Oxford University Press p 103-120 Para uma resenha dos tipos de positivismo no debate contemporacircneo confira-se Dimitri Di-
moulis Positivismo juriacutedico introduccedilatildeo a uma teoria do direito e defesa do pragmatismo juriacutedico-politico Satildeo Paulo Meacutetodo
2006 p 65-166
49Cf Antonio Cavalcanti Maia Nos vinte anos da Constituiccedilatildeo do poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo Op cit Claacuteudio Perei-
ra de Souza Neto A teoria constitucional e seus lugares especiacuteficos notas sobre o aporte reconstrutivo Revista de Direito do
Estado n 1 p 89-104 jan mar 2006 Daniel Sarmento Interpretaccedilatildeo constitucional preacute-compreensatildeo e capacidades institu-
cionais do inteacuterprete In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binebojm Vinte anos da Constituiccedilatildeo de 1988
Op cit p 311-322
31
50Cf Juumlrgen Habermas Escritos sobre Moralidad y Eticidad Traduccedilatildeo de Manuel Jimenez Redondo Barcelona Paidoacutes 1991 p
131-172
51Sobre o comunitarismo haacute extensa literatura Dois textos claacutessicos deste linha de pensamento satildeo Michael Walzer The Communi-
tarian Critique of Liberalism In Politics and Passion New Haven Yale University Press 2004 p 141-163 Charles Taylor The
Procedural Republic and the Unencumbered Self In Robert Goodin Philip Pettit (Ed) Contemporary Political Philosophy 2 ed
Oxford Oxford University Press 2002 p 2462-256 Sobre a penetraccedilatildeo ainda que muitas vezes natildeo consciente das posiccedilotildees do
comunitarismo no constitucionalismo brasileiro veja-se Gisele Cittadino Pluralismo direito e justiccedila distributiva Op cit p
43-74
52Sobre o construtivismo eacutetico corrente filosoacutefica que sustenta a existecircncia de posiccedilotildees certas e erradas na Moral bem como a
possibilidade de encontraacute-las e fundamentaacute-las racionalmente veja-se Carlos Santiago Nino El Constructivismo Eacutetico Madrid
Centro de Estudios Constitucionales 1989
53O fenocircmeno tambeacutem se reproduz na teoria constitucional norte-americana hegemocircnica cf Keith Wittington Constitutional Con-
struction Divided Powers and Constitutional Meaning Cambridge Harvard University Press 1999 p 01-03
54A imagem do Poder Judiciaacuterio como um guardiatildeo de promessas eacute explorada e criticada numa obra importante da teoria juriacutedica
francesa contemporacircnea Antoine Garapon Le Gardien de Promesses Le juge et la democratie Paris Odile Jacob 1996
55Neste sentido o eloquumlente encerramento do Curso de Direito Constitucional Contemporacircneo de Luis Roberto Barroso o consti-
tucionalismo democraacutetico eacute a utopia que nos restou Uma feacute racional que ajuda a acreditar no bem e na justiccedila ainda quando natildeo
estejam ao alcance dos olhos (Op cit p 400)
56Cf Nico Poulantzas State Power Socialism London new Left Books 1978 Alan Hunt Marxist Theory of Law In Dennis Patter-
son (Ed) A Companion to Philosophy of Law and Legal Theory Malden Blackwell Publishers 1996 p 355-367
57Cf David Kairys (Ed) The Politics of Law A Progressive Critique New York Pantheon Books 1982 Roberto Mangabeira Unger
The Critical Legal Studies Movement Cambridge Harvard University Press 1986
58Cf Plauto Faraco Azevedo Criacutetica agrave dogmaacutetica e hermenecircutica juriacutedica Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1989 Luiz Fernando
Coelho Teoria criacutetica do direito 2 ed Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1991
59Natildeo haacute como abordar aqui as relaccedilotildees entre as inuacutemeras correntes do poacutes-modernismo e o Direito Constitucional Veja-se a
propoacutesito Niklas Luhman La Constituzione como Acquisizione Evolutiva In Gustavo Zagrebelsky Piacuteer Paolo Portinaro Joumlrg Lu-
ther Il Futuro della Costituzione Torino Einaudi 1996 p 83-128 Joseacute Joaquim Gomes Canotilho Civilizaccedilatildeo do direito constitu-
cional ou constitucionalizaccedilatildeo do direito civil a eficaacutecia dos direitos fundamentais na ordem juriacutedico-civil no contexto do direito
poacutes-moderno Cadernos de Direito Constitucional e Ciecircncia Poliacutetica n 15 p 07-16 1996 Eduardo Capellari A crise da moderni-
dade e a Constituiccedilatildeo Rio de janeiro Ameacuterica Juriacutedica 2004 Daniel Sarmento Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas 2 ed
Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 p 36-45
60Para Jean-Franccedilois Lyotard uma das caracteriacutesticas centrais do pensamento poacutes-moderno de que eacute expoente eacute a desconfianccedila
em relaccedilatildeo agraves metanarrativas - construccedilotildees abstratas grandiosas e totalizadoras tiacutepicas da Filosofia Moderna como direitos
humanos luta de classes e emancipaccedilatildeo pelo uso da razatildeo Cf Lyotard A condiccedilatildeo poacutes-moderna Traduccedilatildeo de Ricardo Correcirca
Barbosa 5 ed 1998 p16
61Cf Luiz Werneck Viana O terceiro poder na carta de 1988 e a tradiccedilatildeo republicana mudanccedila e conservaccedilatildeo In Ruben George
Oliven Marcelo Gildo Marccedilal Branda A Constituiccedilatildeo de 1988 na vida brasileira Satildeo Paulo Aderaldo e Rotshild 2008 p 91-109
62Cf Paulo Ricardo Schier Filtragem constitucional Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1999
63A expressatildeo foi cunhada por Claacuteudio Pereira de Souza Neto Fundamento e normatividade dos direitos fundamentais uma recons-
truccedilatildeo teoacuterica agrave luz do princiacutepio democraacutetico Arquivos de Direitos Humanos n 4 p 17-61 2003
64Cf Luis Roberto Barroso O direito constitucional e a efetividade de suas normas 3 ed Rio de Janeiro Renovar 1996
65Cf Clegravemerson Merlin Clegraveve A teoria constitucional e o direito alternativo para uma dogmaacutetica constitucional emancipatoacuteria In
Uma vida dedicada ao direito homenagem a Carlos Henrique de Carvalho Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1995 p 34-53
66Ressalte-se poreacutem que antes de 88 alguns juristas jaacute defendiam a forccedila normativa da Constituiccedilatildeo como o Prof Joseacute Afonso da
Silva Eacute de 1968 a primeira ediccedilatildeo da sua obra claacutessica A aplicabilidade das normas constitucionais que adotava claramente esta
32
perspectiva Todavia pelo clima nada propiacutecio ao constitucionalismo que reinava por aqui ateacute a nossa redemocratizaccedilatildeo a louvaacute-
vel pregaccedilatildeo dele e de outros juristas em prol da efetivaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo natildeo chegou a render maiores frutos
67Deve-se assinalar ainda a influecircncia marcante do novo constitucionalismo ibeacuterico neste movimento que tambeacutem pugnava pela
atribuiccedilatildeo de forccedila normativa agraves ambiciosas constituiccedilotildees de Portugal e Espanha entatildeo recentemente elaboradas apoacutes o fim de
experiecircncias autoritaacuterias naqueles paiacuteses A tiacutetulo de exemplo mencione-se a penetraccedilatildeo no paiacutes do pensamento do Professor de
Coimbra Joseacute Joaquim Gomes Canotilho especialmente da sua teoria sobre a Constituiccedilatildeo dirigente que ele posteriormente reviu
(cf J J Gomes Canotilho Constituiccedilatildeo dirigente e vinculaccedilatildeo ao legislador contributo para a compreensatildeo das normas constitu-
cionais programaacuteticas 2 ed Coimbra Coimbra 2001 - especialmente o prefaacutecio desta segunda ediccedilatildeo que daacute conta da mudanccedila
de posicionamento) bem como a difusatildeo das liccedilotildees do Professor Eduardo Garciacutea de Enterriacutea (cf La Constitucioacuten como Norma y el
Tribunal Constitucional Madrid Civitas 1981)
68Segundo a avaliaccedilatildeo atual de Luis Roberto Barroso personagem central do movimento o positivismo constitucional que deu
impulso ao movimento natildeo importava em reduzir o direito agrave norma mas sim em elevaacute-la a esta condiccedilatildeo pois ateacute entatildeo ele
havia sido menos do que norma (Curso de direito constitucional contemporacircneo Op cit p 224)
69Paulo Bonavides Curso de direito constitucional 5 ed Satildeo Paulo Malheiros 1994
70Eros Roberto Grau A ordem econocircmica na Constituiccedilatildeo de 88 interpretaccedilatildeo e criacutetica Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1996
71No acircmbito da Poacutes-Graduccedilatildeo em Direito da UERJ em que estou inserido desde 1997 primeiro como aluno e a partir de 2003 como
professor o Ricardo Lobo Torres teve papel central na difusatildeo do pensamento destes e de outros filoacutesofos entre os estudantes e o
proacuteprio corpo docente
72Cf Lecircnio Luiz Streck Hermenecircutica juriacutedica e(m) crise Op cit Eros Roberto Grau Ensaio e discurso sobre a interpreta-
ccedilatildeoaplicaccedilatildeo do direito Satildeo Paulo Malheiros 2002
73Nesta linha veja-se as obras que compotildeem a coletacircnea Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Direitos sociais funda-
mentos judicializaccedilatildeo e direitos sociais em espeacutecie Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 Ricardo Lobo Torres O miacutenimo existencial
e os direitos fundamentais Revista de Direito Administrativo n 177 p 20-49 1989 Ingo Wolfgang Sarlet A eficaacutecia dos direitos
fundamentais 9 ed Porto Alegre Livraria do Advogado 2008 Ana Paula de Barcellos A eficaacutecia juriacutedica dos princiacutepios o princiacute-
pio da dignidade da pessoa humana Op cit Marco Mazzeli Gouveia O controle judicial das omissotildees administrativas Rio de
Janeiro Forense 2003 Andreacuteas Krell Direitos sociais e controle judicial no Brasil e Alemanha os (des)caminhos de um direito
constitucional comparado Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2002
74Cf Gustavo Tepedino Temas de direito civil Rio de Janeiro Renovar 1999 Luiz Edson Fachin Estatuto juriacutedico do patrimocircnio
miacutenimo Rio de Janeiro Renovar 2001 Maria Celina Bodin de Moraes Danos agrave pessoa humana uma leitura civil-constitucional dos
danos morais Rio de Janeiro Renovar 2003 Teresa Negreiros Fundamentos para uma interpretaccedilatildeo constitucional do princiacutepio
da boa-feacute Rio de Janeiro Renovar 1998 Anderson Schreiber A proibiccedilatildeo do comportamento contraditoacuterio Rio de Janeiro Reno-
var 2005
75Cf Luciano Feldens A Constituiccedilatildeo penal a dupla face da proporcionalidade no controle das lei penais Porto Alegre Livraria do
Advogado 2005 Luis Carlos dos Santos Gonccedilalves Mandados expressos de criminalizaccedilatildeo e a proteccedilatildeo de direitos fundamentais na
Constituiccedilatildeo Brasileira de 1988 Belo Horizonte Foacuterum 2007
76Cf Gustavo Binenbojm Uma teoria do direito administrativo direitos fundamentais democracia e constitucionalizaccedilatildeo Rio de
Janeiro Renovar 2006 Alexandre dos Santos Aragatildeo Floriano de Azevedo Marques (Coord) Direito administrativo e seus novos
paradigmas Belo Horizonte Foacuterum 2008
77Cf Gustavo Binenbojm A nova jurisdiccedilatildeo constitucional brasileira legitimidade democraacutetica e instumentos de realizaccedilatildeo Rio de
Janeiro Renovar 2001 Claacuteudio Pereira de Souza Neto Jurisdiccedilatildeo constitucional democracia e racionalidade praacutetica Rio de
Janeiro Renovar 2002 Joseacute Adeacutercio Leite Sampaio A Constituiccedilatildeo reinventada pela jurisdiccedilatildeo constitucional Belo Horizonte Del
Rey 2002 Lecircnio Luiz Streck Jurisdiccedilatildeo constitucional e hermenecircutica Porto Alegre Livraria do Advogado 2002 Aacutelvaro Ricardo
de Souza Cruz Jurisdiccedilatildeo constitucional democraacutetica Belo Horizonte Del Rey 2004
78A expressatildeo dificuldade contramajoritaacuteria eacute de um claacutessico da teoria constitucional norte-americana Alexander Bickel La Cons-
titucioacuten como Norma y el Tribunal Constitucional 2 ed New Haven Yale University Press 1986
33
79Em siacutentese apertada o procedimentalismo sustenta que natildeo eacute papel da jurisdiccedilatildeo constitucional tutelar valores substantivos mas
apenas proteger os pressupostos necessaacuterios ao bom funcionamento da democracia Jaacute o substancialismo reconhece a legitimidade
da atuaccedilatildeo jurisdicional em favor da garantia e promoccedilatildeo de valores substantivos presentes na Constituiccedilatildeo O debate entre o
procedimentalismo identificado com as ideacuteias de autores como John Hart Ely e Juumlrgen Habermas e o substancialismo defendido
por teoacutericos como Ronald Dworkin e Laurence Tribe eacute reproduzido em praticamente toda a literatura contemporacircnea que trata de
Teoria ou Filosofia Constitucional Veja-se a propoacutesito a densa obra de Claacuteudio Ari Mello Democracia constitucional e direitos
fundamentais Porto Alegre Livraria do Advogado 2004
80Neoconstitucionalismo e constitucionalizaccedilatildeo do direito o triunfo tardio do direito constitucional no Brasil Op cit
81A crise paradigmaacutetica do direito no contexto da resistecircncia positivista ao (neo)constitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza
Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm Vinte anos da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Op cit p 203-228
82Nos vinte anos da carta cidadatilde do poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo Op cit
83Neoconstitucionalismo direitos fundamentais e controle de poliacuteticas puacuteblicas In Daniel Sarmento Flaacutevio Galdino (Org) Direitos
fundamentais estudos em homenagem ao prof Ricardo Lobo Torres Rio de Janeiro Renovar 2006 p 31-60
84Direitos humanos legitimidade e constitucionalismo In Daniel Sarmento Flaacutevio Galdino (Org) Direitos fundamentais estudos
em homenagem ao Prof Ricardo Lobo Torres Op cit p325-350
85Novos desafios agrave filtragem constitucional no momento do neoconstitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sar-
mento A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 251-270
86Neoconstitucionalismo a invasatildeo da Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Meacutetodo 2008
87Neoconstitucionalismo e positivismo juriacutedico Satildeo Paulo Landy 2006
88Teoria do direito e argumentaccedilatildeo racional temas de teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica op cit p 141-240
89Uma visatildeo criacutetica do neoconstitucionalismo In George Salomatildeo Leite Glauco Salomatildeo Leite Constituiccedilatildeo e efetividade constitu-
cional Salvador JusPodium 2008 p 43-60
90Neoconstitucionalismo entre a Ciecircncia do direito e o direito da ciecircncia In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento
Gustavo Binenbojm Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 p 187-202
91Cf Peticcedilatildeo 1246 MSSC julgada em 31011997 (obrigaccedilatildeo do Estado de realizar transplante de ceacutelulas mioblaacutesticas para salvar
a vida de crianccedila) Agravo de Instrumento no Recurso Extraordinaacuterio 271286RS DJU 24 nov 2000 (entrega de medicamentos
para portadores de HIV) e Agravo de Instrumento do Recurso Extraordinaacuterio nordm 410715-5 julgado em 22112005 (obrigaccedilatildeo de
fornecimento de vagas para educaccedilatildeo infantil pelo municiacutepio com atendimento em creches e preacute-escola)
92Recursos Extraordinaacuterios nordms 158215-4RS 161243-6DF 201819RJ
93Cf Mandado de Injunccedilatildeo 670ES Rel Min Gilmar Mendes julgado em 25102007 em que o STF revendo orientaccedilatildeo anterior
deu eficaacutecia normativa agrave sentenccedila proferida no mandado de injunccedilatildeo No caso decidiuse que ateacute o advento de lei regulamentado-
ra sobre a greve no serviccedilo puacuteblico o direito de greve poderia ser exercido obedecendo-se os limites impostos pela Lei 778389
que trata dos movimentos paredistas em serviccedilos essenciais no setor privado
94Sobre a tendecircncia agrave superaccedilatildeo da ideacuteia do Judiciaacuterio como legislador negativo na jurisdiccedilatildeo constitucional veja-se Joseacute Adeacutercio
Leite Sampaio A Constituiccedilatildeo reinventada pela jurisdiccedilatildeo constitucional Belo Horizonte Del Rey 2002 p 203-248
95Eacute lugar-comum dentre os autores que tratam da questatildeo associar tais mudanccedilas agrave pluralizaccedilatildeo das vozes na interpretaccedilatildeo consti-
tucional tema em que a referecircncia essencial no cenaacuterio germacircnico eacute Peter Haumlberle Veja-se a propoacutesito Peter Haumlberle Herme-
necircutica constitucional A sociedade aberta dos inteacuterpretes da Constituiccedilatildeo contribuiccedilatildeo para a interpretaccedilatildeo pluralista e procedi-
mental da Constituiccedilatildeo Traduccedilatildeo de Gilmar Ferreira Mendes Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1997 Veja-se ainda na doutrina
brasileira Gustavo Binenbojm A dimensatildeo do Amicus Curiae no processo constitucional brasileiro In Temas de direito constitu-
cional e administrativo Rio de Janeiro Renovar 2008 p 165-190
96ADIN 3510DF Relator Ministro Carlos Ayres Britto A accedilatildeo proposta contra o art 5ordm da Lei de Biosseguranccedila impugnava a auto-
rizaccedilatildeo de pesquisas com embriotildees humanos resultantes de fertilizaccedilatildeo in vitro que fossem inviaacuteveis ou estivessem congelados haacute
mais de trecircs anos A accedilatildeo foi julgada totalmente improcedente por 6 votos a 5
97ADPF nordm 54 A accedilatildeo que tem como relator o Ministro Marco Aureacutelio ainda natildeo foi julgada mas em seu bojo jaacute ocorreram diversas
audiecircncias puacuteblicas que provocaram intensa participaccedilatildeo da sociedade civil e grande interesse na miacutedia
34
98ADPF nordm 132 Relator Ministro Carlos Ayres Britto A accedilatildeo ainda foi julgada
99Mandados de Seguranccedila 26602DF 26603DF e 26604DF Informativo STF n 482
100Recurso Extraordinaacuterio 197917SP Rel p acoacuterdatildeo Min Ceacutesar Peluso DJU 18 fev 2005
101O livro de Alberto Carlos Almeida A cabeccedila do brasileiro lanccedilado em 2007 conteacutem pesquisas feitas sobre uma acuteseacuterie de temas
com pessoas de todas as classes sociais e regiotildees do paiacutes Uma das pesquisas eacute relativa agrave avaliaccedilatildeo das instituiccedilotildees Dentre as treze
avaliadas as duas que obtiveram menor aprovaccedilatildeo foram os partidos poliacuteticos (avaliaccedilatildeo positiva de 28 dos entrevistados) e o
Congresso (avaliaccedilatildeo positiva de 36 dos entrevistados) Cf Antonio Carlos Almeida A cabeccedila do brasileiro Rio de Janeiro Re-
cord 2007 p 187
102Cf Luis Roberto Barroso Judicializaccedilatildeo ativismo judicial e legitimidade democraacutetica Texto ainda ineacutedito gentilmente cedido
pelo autor
103Humberto Aacutevila por exemplo formula outra criacutetica importante de que o neoconstitucionalismo seria inadequado agrave realidade
constitucional brasileira jaacute que privilegia os princiacutepios e a Carta de 88 seria muito mais regulatoacuteria do que principioloacutegica (Neo-
constitucionalismo entre a ciecircncia do direito e o direito da ciecircncia Op cit p 188-192)
104Contudo natildeo eacute razoaacutevel estender esta criacutetica ao ponto de negar o caraacuteter democraacutetico da atuaccedilatildeo judicial Como ressaltou
Eugenio Rauacutel Zaffaroni uma instituiccedilatildeo natildeo eacute democraacutetica unicamente porque natildeo provenha de eleiccedilatildeo popular porque nem tudo
o que proveacutem desta origem eacute necessariamente aristocraacutetico Uma instituiccedilatildeo eacute democraacutetica quando seja funcional para o sistema
democraacutetico quer dizer quando seja necessaacuteria para a sua continuidade como ocorre com o judiciaacuterio (Poder judiciaacuterio crise
acertos e desacertos Traduccedilatildeo de Juarez Tavares Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1995 p 43)
105Cf Robert A Dahl Sobre a democracia Traduccedilatildeo de Beatriz Sidou Brasiacutelia UNB 2001 p 97-113 Juumlrgen Habermas Popular
Sovereignity as Procedure In James Bonham William Rehg Deliberative Democracy Cambridge The MIT Press 1997 p 35-66
106A questatildeo da tensatildeo e sinergia simultacircneas entre constitucionalismo e democracia eacute um dos debates mais fecundos da Teoria
Poliacutetica e da Filosofia Constitucional que tem atravessado o tempo desde o advento do constitucionalismo moderno no seacuteculo
XVIII Veja-se no debate contemporacircneo Jeremy Waldron Preocommitment and Disagreement In Larry Alexander Constitu-
cionalism Philosophical Foundations Cambridge Cambridge University Press 1998 p 271-299 Juumlrgen Habermas O Estado demo-
craacutetico de direito uma amarraccedilatildeo paradoxal de princiacutepios contraditoacuterios In Era das transiccedilotildees Traduccedilatildeo de Flaacutevio Beno Siebe-
neichler Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 2003 p 153-173 Carlos Santiago Nino La Constitucioacuten de la Democracia Deliberativa
Op cit Frank Michelman Brennan and Democracy Princeton Princeton University Press 1999 p 03-62 Stephen Holmes El
Precompromiso y la Paradoja de la Democracia In Jon Elster Rune Slagstad Constitucionalismo y Democracia Traduccedilatildeo de Mocircni-
ca Utrilla de Neira Mexico Fondo de Cultura Econocircmica 1999 p 217-262
107O problema da limitaccedilatildeo do legislador atual pelas decisotildees do constituinte adotadas no passado envolve a problemaacutetica da
partilha intergeracional de poder bem explicitada na fala de Jefferson que defendia que a cada 19 anos deveria ser elaborada
uma nova Constituiccedilatildeo nos Estados Unidos para que a Lei Maior daquele paiacutes natildeo se tornasse um mecanismo de governo dos mor-
tos sobre os vivos Em siacutentese apertada haacute na teoria poliacutetica contemporacircnea duas linhas principais de justificativa para a legiti-
midade destas restriccedilotildees
Uma eacute a teoria da democracia dualista defendida por Bruce Ackerman que sustenta que as decisotildees adotadas pelo proacuteprio povo
em contextos de grande mobilizaccedilatildeo ciacutevica devem ser protegidas do alcance da vontade dos representantes do povo formada em
momentos em que a cidadania natildeo esteja intensamente envolvida Esta teoria distingue a poliacutetica extraordinaacuteria correspondente
agravequeles momentos constitucionais da poliacutetica ordinaacuteria que se realiza atraveacutes das deliberaccedilotildees do dia a dia dos oacutergatildeos represen-
tativos Para a perspectiva ackermaniana a poliacutetica extraordinaacuteria - que natildeo exige necessariamente formalizaccedilatildeo procedimental
atraveacutes de assembleacuteia constituinte ou de emenda constitucional - se situa em patamar superior agrave poliacutetica ordinaacuteria e pode legiti-
mamente impor limites a esta (cf Bruce Ackerman We the people Foundations Cambridge The Belknap Press 1991 p 03-33)
Outra teoria eacute a do preacute-compromisso que jaacute foi advogada por Jon Elster Segundo ela eacute legiacutetimo subtrair do alcance das maiorias
determinadas questotildees fundamentais que expressam princiacutepios fundamentais de justiccedila poliacutetica ou garantam os pressupostos da
proacutepria democracia tendo em vista o risco de que no processo poliacutetico majoritaacuterio em momentos de irracionalidade o povo
35
possa ser viacutetima de suas proacuteprias fraquezas ou paixotildees momentacircneas atentando contra tais princiacutepios (cf Ulisses and Sirens
Cambridge Cambridge University Press 1979)
Ambas as concepccedilotildees - a primeira mais proacutexima ao republicanismo e a segunda de vieacutes mais liberal - tecircm a sua dose de procedecircn-
cia mas ensejam criacuteticas importantes Todavia foge a escopo do presente trabalho analisar esta questatildeo que eacute uma das mais
complexas da Filosofia Poliacutetica moderna e contemporacircnea Para uma visatildeo geral sobre o tema na literatura em liacutengua portuguesa
veja-se Oscar Vilhena Vieira A Constituiccedilatildeo e sua reserva de justiccedila Op cit Miguel Nogueira de Brito A Constituiccedilatildeo constituin-
te ensaio sobre o poder de revisatildeo da Constituiccedilatildeo Coimbra Coimbra 2000 Samantha Chantal Dobrowolski Op cit p 265-312
Rodrigo Brandatildeo Direitos fundamentais democracia e claacuteusulas peacutetreas Rio de Janeiro Renovar 2008 p 59-112
108Cf Michel Troper Justice Constitutionelle et Deacutemocratie In Pour une Theorie Juridique de LEacutetat Paris PUF 1994 p 317-328
Claacuteudio Pereira de Souza Neto Jurisdiccedilatildeo constitucional democracia e racionalidade praacutetica Op cit p 106-130 Gustavo Binen-
bojm A nova jurisdiccedilatildeo constitucional brasileira Op cit p 55-74
109Sobre o modelo revolucionaacuterio francecircs de constitucionalismo completamente avesso agrave ideacuteia de jurisdiccedilatildeo constitucional cf
Maurizio Fioravanti Constitucioacuten de la antiguumledad a nuestros dias Traduccedilatildeo de Manuel Martinez Neira Madrid Trotta 2001 p
120-132
110Cf Carl Schmitt La Defesa de la Constitucioacuten Madrid Tecnos 1983
111O constitucionalismo popular ou populismo constitucional eacute uma importante corrente no debate constitucional norte-americano
contemporacircneo que nega a legitimidade democraacutetica do controle de constitucionalidade advogando que deve caber ao proacuteprio
povo e natildeo a uma elite de juiacutezes natildeo eleitos com assento na Suprema Corte o poder de definir o sentido das claacuteusulas vagas que
abundam no texto constitucional daquele paiacutes Na defesa desta tese satildeo empregados tanto argumentos de teoria e filosofia poliacuteti-
ca de caraacuteter mais universal como razotildees histoacutericas relacionadas agrave evoluccedilatildeo do constitucionalismo estadunidense Veja-se nesta
linha Mark Tushnet Taking the Constitution Away from the Courts Princeton Princeton University Press 1999 Jeremy Waldron
Precommitment and Disagreement Op cit Larry D Kramer The People Themselves Popular constitutionalism and judicial re-
view New York Oxford University Press 1994
Ateacute algumas deacutecadas atraacutes a oposiccedilatildeo agrave jurisdiccedilatildeo constitucional nos Estados Unidos partia em regra da Direita que natildeo se con-
formava com a jurisprudecircncia extremamente liberal em mateacuteria de direitos fundamentais estabelecida pela Corte entre os anos
50 e 70 Atualmente uma boa parte dos opositores agrave judicial review situa-se agrave esquerda do espectro poliacutetico e talvez a nova linha
profundamente conservadora daquele Tribunal ajude a explicar esta mudanccedila
112Sobre a Era de Lochner veja-se Laurence H Tribe American Constitutional Law 2 ed Mineola The Foundation Press 1988 p
567-581 Paul Brest et al Processes of Constitucional Decisionmaking 4 ed New York Aspen Publishers 2000 p 337-354
113Towards Juristocracy hellip Op cit
114Tratei do tema no artigo Direito adquirido emenda constitucional democracia e justiccedila social In Livres e iguais Op cit p
03-32
115Cf Charles R Epp The Rights Revolution Chicago The University of Chicago Press 1998 p 26-70 Owen Fiss The Law as It
Could Be New York New York University Press 2003 p 244-249
116A importacircncia e as peculiaridades da interpretaccedilatildeo legislativa da Constituiccedilatildeo satildeo exploradas em importante obra coletiva
Richard W Bauman Tsvi Kahana The Least Examined Branch The Role of Legislatures in the Constitutional State Cambridge
Cambridge University Press 2006
117Cf em tom ainda mais ceacutetico do que o adotado neste estudo Martonio MontAlverne Barreto Lima Jurisdiccedilatildeo Constitucional
um problema da teoria da democracia poliacutetica In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Gilberto Bercovici Joseacute Filomeno de Moraes
Filho Martonio MontAlverne Teoria da Constituiccedilatildeo estudos sobre o lugar da poliacutetica no direito constitucional Rio de Janeiro
Lumen Juris 2003 p 199-261 Conrado Huumlbner Mendes Controle de constitucionalidade e democracia Rio de Janeiro Elsevier
2008
36
118Para criacutetica semelhante no contexto germacircnico veja-se Ingeborg Maus O judiciaacuterio como superego da sociedade sobre o papel
da atividade jurisprudencial na sociedade oacuterfatilde Traduccedilatildeo de Martonio MontAlverne Barreto Lima Paulo Antonio Menezes de Albu-
querque Anuaacuterio dos Cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito da Faculdade de Direito de Recife n 11 2000
119Eu aprofundo a anaacutelise deste ponto no meu artigo Interpretaccedilatildeo constitucional preacute-compreensatildeo e capacidades institucionais do
inteacuterprete In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm (Coord) Vinte anos da Constituiccedilatildeo Federal
de 1988 Op cit p 311-322 E a necessidade de optar por teoria de interpretaccedilatildeo que leve em consideraccedilatildeo as capacidades
institucionais reais dos juiacutezes comparando-as com as dos agentes de outras instituiccedilotildees eacute explorada no importante estudo de Cass
Sunstein Adrian Vermeulle Interpretations and Institutions Chicago Working Papers in Law amp Economics 2002 p 01-55 bem
como no livro de Adrian Vermeulle Judging under Uncertainty An Institutional Theory for Legal Interpretation Cambridge Har-
vard University Press 2006
120Dentre as honrosas exceccedilotildees mencione-se Luiacutes Roberto Barroso autor de importante artigo com sugestotildees para a reforma poliacuteti-
ca no paiacutes Reforma poliacutetica uma proposta de sistema de governo eleitoral e partidaacuterio para o Brasil Revista de Direito do Esta-
do n 3 p 287-360 jul set 2006
121Sobre o ethos judicial no Brasil veja-se a pesquisa de Maria Tereza Sadek Magistrados uma imagem em movimento Rio de
Janeiro FGV 2006
122Em sentido semelhante veja-se Michael J Perry The Constitution the Courts and Human Rights New Haven Yale University
Press 1982 p 91-145
123Neste ponto entendo que um standard importante que deveria ser adotado para controle de constitucionalidade eacute o de que
quanto maiores forem as credencias democraacuteticas de um ato normativo mais autocontido deve ser o Poder Judiciaacuterio ao avaliar a
sua constitucionalidade Na minha opiniatildeo estas credencias democraacuteticas devem ser aferidas tanto por criteacuterios qualitativos - eg
grau de participaccedilatildeo social no processo legislativo qualidade do processo deliberativo que a antecedeu - como por criteacuterios quanti-
tativos - percentual de votos favoraacuteveis agrave medida Em sentido semelhante veja-se Claacuteudio Ari Mello Democracia e direitos funda-
mentais Op cit p 298
124Em sentido proacuteximo apontam as liccedilotildees de Gustavo Binenbojm e Humberto Aacutevila O primeiro tratando do controle judicial dos
atos administrativos averbou que quanto maior for o grau de tecnicidade da mateacuteria objeto de decisatildeo por oacutergatildeos dotados de
expertise e experiecircncia menos intenso deve ser o grau de controle judicial (Uma teoria do direito administrativo Op cit p
236) Jaacute o segundo salientou que o acircmbito de controle pelo Judiciaacuterio deveraacute ser tanto menor quanto mais difiacutecil e teacutecnico for
o juiacutezo exigido para o tratamento da mateacuteria (Teoria dos princiacutepios Op cit p 126)
125Um exemplo extremado deste posicionamento estaacute na argumentaccedilatildeo adotada pelo STF no julgamento da ADIN 2797 Rel Min
Sepuacutelveda Pertence em que se reconheceu a inconstitucionalidade formal de lei que pretendia interpretar a Constituiccedilatildeo Para o
STF natildeo pode a lei ordinaacuteria pretender impor como seu objeto imediato uma interpretaccedilatildeo a Constituiccedilatildeo a questatildeo eacute de in-
constitucionalidade formal iacutensita a toda norma da gradaccedilatildeo inferior que se proponha a ditar interpretaccedilatildeo de norma superior
Na questatildeo de fundo abordada naquele caso entendo que o STF estava certo Tratava-se de invalidar uma norma legal que esten-
dera o foro de prerrogativa de funccedilatildeo a ex-ocupantes de cargos puacuteblicos visando a restaurar antiga jurisprudecircncia do STF sedi-
mentada na Suacutemula 394 do Tribunal que acabara de ser cancelada O princiacutepio republicano natildeo era compatiacutevel com tal medida
que configurava niacutetido privileacutegio O que me parece inaceitaacutevel e profundamente anti-democraacutetico com a devida vecircnia natildeo eacute o
resultado alcanccedilado pela Corte - com o qual concordo - mas o argumento empregado de que o legislador natildeo pode interpretar a
Constituiccedilatildeo
126Existe hoje uma fecunda produccedilatildeo acadecircmica no cenaacuterio anglo-saxatildeo sobre as vantagens de modelos teoacutericos que favoreccedilam
diaacutelogos entre diversos oacutergatildeos e instituiccedilotildees na interpretaccedilatildeo constitucional ao inveacutes de afirmarem a exclusividade ou mesmo a
supremacia do Judiciaacuterio nesta seara Veja-se a propoacutesito Laurence G Sager Justice in Plainclothes A Theory of American Con-
stitutional Practice New haven Yale University Press 2004 Mark Tushnet Weak Courts Strong Rights Judicial Review and Social
Welfare Rights in Comparative Constitutional Law Princeton Princeton University Press 2008 Mark C Miller Jeb Barnes (Ed)
Making Police Making Law An Interbranch Perspective Washington DC Georgetown University Press 2004
37
127Colhi o exemplo no estudo de Oscar Vilhena Vieira Supremocracia In Daniel Sarmento (Org) Filosofia e teoria constitucional
contemporacircnea Rio de Janeiro Lumen Juris 2009
128Como um natildeo-positivista tenho a necessaacuteria imparcialidade para criticar os equiacutevocos da doutrina brasileira nas suas invectivas
contra o positivismo que muitas vezes caracterizam verdadeira falaacutecia do espantalho ataca-se natildeo a proacutepria teoria positivista
mas uma distorcida caricatura dela Duas afirmaccedilotildees erradas que eu mesmo jaacute fiz em textos anteriores satildeo muito frequumlentes a
de que o positivismo recusa a aplicaccedilatildeo dos princiacutepios juriacutedicos e a de que ele teria sido a Filosofia do Direito cultivada na Alema-
nha nazista
Quanto ao primeiro ponto natildeo haacute nenhuma incompatibilidade loacutegica entre positivismo e princiacutepios desde que os princiacutepios este-
jam devidamente incorporados na ordem juriacutedico-positiva Vaacuterios autores positivistas contemporacircneos jaacute citados neste estudo
como Luis Prietro Sanchiacutes Luigi Ferrajoli e Gregorio Peces-Barba atribuiacuteram espaccedilo importante para princiacutepios nas suas teorias
Mesmo no Direito Puacuteblico brasileiro juristas de inspiraccedilatildeo positivista kelseniana construiacuteram suas teorias com apoio em argumen-
taccedilatildeo principioloacutegica como o falecido Geraldo Ataliba e Celso Antonio Bandeira de Mello
No que tange ao segundo ponto - a chamada redutio ad hitlerum - os estudos mais autorizados de Histoacuteria do Direito comprovam
que natildeo foi o positivismo a teoria juriacutedica dominante no nazismo mas uma espeacutecie de jusnaturalismo de inspiraccedilatildeo hegeliana que
se insurgia contra o formalismo e recorria com frequumlecircncia a conceitos muito vagos para justificar a barbaacuterie como os de comuni-
dade popular (Volksgemeinschaft) Veja-se a propoacutesito Michael Stolleis The Law under the Swastika Studies on Legal History in
Nazi Germany Traduccedilatildeo de Thomas Dunlap Chicago The University of Chicago Press 1998
129Cf Joseacute Joaquim Gomes Canotilho Direito constitucional e Teoria da Constituiccedilatildeo Coimbra Almedina 1998 p 1036
130Sobre a importacircncia das regras veja-se Frederick Schauer Playing by the Rules A Philosophical Exaxamination of Rule-Bases
Decision-Making in Law and Life Oxford Oxford University Press 1998 Humberto Aacutevila Neoconstitucionalismo entre a ciecircncia do
direito e o direito da ciecircncia Op cit Noel Struchiner Posturas institucionais e modelagem institucional a dignidade (contingente)
do formalismo juriacutedico In Daniel Sarmento Filosofia e teoria constitucional contemporacircnea Op cit
131Esta eacute expressatildeo empregada por Ana Paula de Barcellos O direito constitucional em 2006 Revista de Direito do Estado n 5 p
03-23 janmar 2007
132Cf Chaiumlm Perelman P Fories La Motivation des Deacutecisions de Justice Bruxelas Eacutemile Bruylant 1978
133Sobra a influecircncia do jeitinho no Direito brasileiro cf Keith Rosen O jeito na cultura juriacutedica brasileira Rio de Janeiro Reno-
var 1997
134Sobre o patrimonialismo no Brasil veja-se Raimundo Faoro Os donos do poder 8 ed Rio de Janeiro Globo 1989 v 2 p 729-
750
135Raiacutezes do Brasil 26 ed Satildeo Paulo Companhia das Letras 1995
136Cf Joseacute Murilo de Carvalho Brasileiro Cidadatildeo In Pontos e bordados escritos de histoacuteria e poliacutetica Belo Horizonte Ed
UFMG 2005 p 275-288
137Cf Gustavo Zagrebelsky Il Diritto Mite Op cit p 15-19
138Cf Marcelo Neves A constitucionalizaccedilatildeo simboacutelica Satildeo Paulo Acadecircmica 1994
139A obra de Niklas Luhman eacute vasta e complexa e seus textos satildeo de difiacutecil compreensatildeo para os natildeo iniciados Veja-se do proacuteprio
autor Sociologia do direito I e II Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 1983 e 1985 Sistema Jurididico y Dogmaacutetica Juriacutedica Madrid
Centro de Estuacutedios Constitucionales 1983 Confira-se tambeacutem a coletacircnea organizada por Andreacute-Jean Arnaud Dalmir Lopes Jr Do
sistema social agrave sociologia juriacutedica Rio de Janeiro Lumen Juris 2004
140Sobre a autopoieses do Direito veja-se tambeacutem a obra importante de Guumlnther Teubner O direito como sistema autopoieacutetico
Traduccedilatildeo de Joseacute Engracia Nunes Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1993
141Cf Luis Roberto Barroso Neoconstitucionalismo e a constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit
142Esta era basicamente a visatildeo de Hans Kelsen (Cf Hans Kelsen Jurisdiccedilatildeo constitucional Traduccedilatildeo de Alexandre Krug et al Satildeo
Paulo Martins Fontes 2003 p 153) Para uma anaacutelise criacutetica desta posiccedilatildeo veja-se Luis Prietro Sanchiacutes Presupuestos ideoloacutegicos
y doctrinales de la jurisdicioacuten constitucional In Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales Op cit p 21-100
38
143Cf Christian Starck La suprematie La Suprematie de la Constitution et la Justice Constitutionnelle In La Constitution Cadre et
Mesure du Droit Traduccedilatildeo de Freacutederic Weill Paris Econocircmica 1994 p 26-30 Ernst- Wolfgang Boumlckenfoumlrde Les meacutethodes
dinterpretation de la Constitution Un bilan critique In Le Droit lEacutetat et la Constitution Democratique Traduccedilatildeo de Olivier
Jouanjan Paris LGDJ 2000 p 249-250 Virgiacutelio Afonso da Silva Constitucionalizaccedilatildeo do direito os direitos fundamentais nas
relaccedilotildees entre particulares Satildeo Paulo Malheiros 2005 p 107-131 Daniel Sarmento Ubiquumlidade constitucional os dois lados da
moeda Op cit Luis Roberto Barroso Curso de Direito Constitucional Contemporacircneo Op cit p 391-394 Alceu Mauriacutecio Jr
Judicializaccedilatildeo da poliacutetica e a crise do direito constitucional a Constituiccedilatildeo entre ordem marco e ordem fundamenta Revista de
Direito do Estado n 10 p 125-142 abrjun 2008
144Der Staat der Industriegesellshaft 2 ed Muumlnchen Beck 1971 p 144 Apud Robert Alexy Posfaacutecio In Teoria dos direitos
fundamentais Op cit p 578
145De acordo com Carlos Santiago Nino o perfeccionaismo eacute la concepcioacuten seguacuten la cual es una misioacuten legiacutetima del Estado hacer
que los individuos acepten y materializen ideales vaacutelidos de virtud personal Seguacuten este enfoque el Estado no puede permanecer
neutral respecto de concepciones de lo bueno en la vida y debe adoptar las medidas educativas punitorias etc que sean necesa-
rias para que los indiviacuteduos ajusten su vida a los verdaderos ideales de virtud y del bien (Eacutetica y Derechos Humanos Un ensayo de
fundamentacioacuten 2 ed Buenos Aires Astrea 1989 p 413)
146Daniel Sarmento Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas 2 ed Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 Sobre o tema na literatura
nacional veja-se tambeacutem Wilson Antocircnio Steinmetz A vinculaccedilatildeo dos particulares aos direitos fundamentais Satildeo Paulo Malheiros
2004 Virgiacutelio Afonso da Silva Constitucionalizaccedilatildeo do direito os direitos fundamentais nas relaccedilotildees entre particulares Op cit
Ingo Wolfgang Sarlet Direitos fundamentais e direito privado algumas consideraccedilotildees em torno da vinculaccedilatildeo dos particulares aos
direitos fundamentais In Ingo Wolfgang Sarlet (Org) A Constituiccedilatildeo concretizada Porto Alegre Livraria do Advogado 1999 p
129-173 Jane Reis Gonccedilalves Pereira Apontamentos sobre a aplicaccedilatildeo das normas de direito fundamental nas relaccedilotildees juriacutedicas
entre particulares In Luis Roberto Barroso (Org) A nova interpretaccedilatildeo constitucional ponderaccedilatildeo direitos fundamentais e
relaccedilotildees privadas Rio de Janeiro Renovar 2003 p 119-192
147Sobre a questatildeo da (i)legitimidade do perfeccionismo no Direito veja-se Joel Feinberg Rights Justice and the Bounds of Liber-
ty Princeton Princeton University Press 1980 Carlos Santiago Nino Eacutetica y Derechos Humanos Op cit p 413-446 Rainer Forst
Contexts of Justice Political Philosophy beyond Liberalism and Communitarianism Traduccedilatildeo de John M M Farrel Berkeley Uni-
versity of Califoacuternia Press 2001 p 30-87 Macaacuterio Alemany El Paternalismo Juriacutedico Madrid Iustel 2006
148Um sofisticado modelo que busca conciliar a constitucionalizaccedilatildeo do Direito com a democracia estaacute exposto no Poacutesfaacutecio agrave Teo-
ria dos Direitos Fundamentais de Robert Alexy acima citado Veja-se ainda Konrad Hesse Concepto y Cualidad de la Constitu-
cion In Escritos de Derecho Constitucional Traduccedilatildeo de Pedro Cruz Villaloacuten 2 ed 1992 p 03-29
149Tentei articular a minha teoria sobre eficaacutecia horizontal dos direitos fundamentais com este objetivo Cf Daniel Sarmento
Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas Op cit p 141-182 259-272
150Sobre el Neoconstitucionalismo y sus Implicaciones Op cit p 117
151Aqui entendo que o simples reconhecimento da penetraccedilatildeo da Moral no Direito preconizada pelos neoconstitucionalistas brasi-
leiros natildeo eacute suficiente jaacute que certas concepccedilotildees morais podem tornar o ordenamento ainda mais opressivo do que jaacute eacute Afinal
nem sempre a moralizaccedilatildeo do Direito se daacute na direccedilatildeo da emancipaccedilatildeo dos excluiacutedos Veja-se por exemplo a famosa polecircmica
jusfilosoacutefica entre Lord Patrick Devlin e Herbert Hart nos anos 60 na Inglaterra a propoacutesito do uso do Direito Penal para promoccedilatildeo
de Moral em que o primeiro a partir de uma posiccedilatildeo proacute-moral sustentava a legitimidade da criminalizaccedilatildeo da conduta homos-
sexual que o segundo contestava (Cf Lord Patrick Devlin Morals and Criminal Law In Ronald Dworkin (Ed) The Philosophy of
Law Op cit p 66-82 Herbert Hart Immorality and Treason In Idem ibidem)
Eacute preciso assentar as bases criacuteticas desta Moral que deve penetrar o Direito para evitar que o moralismo conservador seja expulso
do ordenamento pela porta da frente superado pela legislaccedilatildeo moderna em razatildeo da progressiva liberalizaccedilatildeo da sociedade mas
volte pela porta dos fundos atraveacutes da argumentaccedilatildeo juriacutedica dos juiacutezes lastreada em conceitos vagos como ordem puacuteblica e
bons constumes ou em standards como o comportamento do bom pai de famiacutelia
39
6
No neoconstitucionalismo a leitura claacutessica do princiacutepio da separaccedilatildeo de poderes que impu-
nha limites riacutegidos agrave atuaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio cede espaccedilo a outras visotildees mais favoraacuteveis
ao ativismo judicial em defesa dos valores constitucionais35 No lugar de concepccedilotildees estrita-
mente majoritaacuterias do princiacutepio democraacutetico satildeo endossadas teorias de democracia mais subs-
tantivas36 que legitimam amplas restriccedilotildees aos poderes do legislador em nome dos direitos
fundamentais e da proteccedilatildeo das minorias e possibilitem a sua fiscalizaccedilatildeo por juiacutezes natildeo elei-
tos E ao inveacutes de uma teoria das fontes do Direito focada no coacutedigo e na lei formal enfatiza-se
a centralidade da Constituiccedilatildeo no ordenamento a ubiquumlidade da sua influecircncia na ordem juriacute-
dica e o papel criativo da jurisprudecircncia
Ao reconhecer a forccedila normativa de princiacutepios revestidos de elevada carga axioloacutegica como
dignidade da pessoa humana igualdade Estado Democraacutetico de Direito e solidariedade social
o neoconstitucionalismo abre as portas do Direito para o debate moral37 Eacute certo que aqui resi-
de uma das maiores divergecircncias internas nas fileiras do neoconstitucionalismo
De um lado figuram os positivistas como Luigi Ferrajoli38 Luiz Prietro Sanchiacutes39 Ricardo
Guastini 40e Suzana Pozzolo41 que natildeo aceitam a existecircncia de uma conexatildeo necessaacuteria entre
Direito e Moral mas reconhecem que pode haver uma ligaccedilatildeo contingente entre estas esferas
sempre que as autoridades competentes dentre as quais se inclui o poder constituinte originaacute-
rio positivem valores morais conferindo-lhes forccedila juriacutedica Do outro alinham-se os natildeo-
positivistas como Ronald Dworkin42 Robert Alexy43 Carlos Santiago Nino44 e seus seguidores
que afirmam que Moral e Direito tecircm uma conexatildeo necessaacuteria e aderem agrave famosa tese de Gus-
tav Radbruch de que normas terrivelmente injustas natildeo tecircm validade juriacutedica independente-
mente do que digam as fontes autorizadas do ordenamento45 Dentre estes autores haacute quem
insista na ideacuteia de que o Direito possui uma pretensatildeo de correccedilatildeo pois de alguma maneira eacute
da sua essecircncia aspirar agrave realizaccedilatildeo da justiccedila46 Contudo na medida em que as constituiccedilotildees
contemporacircneas entronizam com prodigalidade os valores morais este debate teoacuterico perde
bastante em importacircncia pois mesmo os neoconstitucionalistas que se afirmam positivistas
reconhecem a penetraccedilatildeo da Moral no tecido juriacutedico sobretudo pela via dos princiacutepios consti-
tucionais47 Trata-se do chamado positivismo inclusivo48
Neste quadro embora me pareccedila exagerado falar em superaccedilatildeo da eterna querela entre jusna-
turalistas e positivistas pela via do neoconstitucionalismo natildeo haacute duacutevida de que a relevacircncia
praacutetica da desavenccedila eacute consideravelmente diminuiacuteda Eacute verdade que para os positivistas inclu-
sivos o fundamento das normas revestidas de conteuacutedo moral seraacute sempre um ato de autorida-
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de validado por uma regra de reconhecimento aceita pela praacutetica da comunidade poliacutetica No
final das contas eles natildeo se afastam do brocardo hobbesiano de que autoritas non veritas facit
legem Jaacute para os natildeo-positivistas a vigecircncia dos princiacutepios morais natildeo decorreraacute de um teste
de pedigree mas de exigecircncias da proacutepria Moral acessiacuteveis agrave razatildeo humana Poreacutem para am-
bas as linhas os valores morais incluiacutedos nas constituiccedilotildees satildeo juriacutedicos e devem produzir efei-
tos no mundo concreto
No paradigma neoconstitucionalista a argumentaccedilatildeo juriacutedica apesar de natildeo se fundir com a
Moral abre um significativo espaccedilo para ela Por isso se atenua a distinccedilatildeo da teoria juriacutedica
claacutessica entre a descriccedilatildeo do Direito como ele eacute e prescriccedilatildeo sobre como ele deveria ser49 Os
juiacutezos descritivo e prescritivo de alguma maneira se sobrepotildeem pela influecircncia dos princiacutepios
e valores constitucionais impregnados de forte conteuacutedo moral que conferem poder ao inteacuter-
prete para buscar em cada caso difiacutecil a soluccedilatildeo mais justa no proacuteprio marco da ordem juriacute-
dica Em outras palavras as fronteiras entre Direito e Moral natildeo satildeo abolidas e a diferenciaccedilatildeo
entre eles essencial nas sociedades complexas permanece em vigor mas as fronteiras entre
os dois domiacutenios tornam-se muito mais porosas na medida em que o proacuteprio ordenamento in-
corpora no seu patamar mais elevado princiacutepios de justiccedila e a cultura juriacutedica comeccedila a le-
vaacute-los a seacuterio
Poreacutem natildeo haacute uma posiccedilatildeo clara nas fileiras neoconstitucionalistas sobre a forma como devem
ser compreendidos e aplicados os valores morais incorporados pela ordem constitucional que
pela sua vagueza e indeterminaccedilatildeo abrem-se a leituras muito diversificadas No contexto das
sociedades plurais e desencantadas que existem no mundo contemporacircneo este debate tor-
na-se crucial uma vez que natildeo haacute mais consensos axioloacutegicos em torno das questotildees difiacuteceis
que o Direito eacute chamado a resolver Este pluralismo mundivisivo torna inviaacutevel pela falta de
legitimidade o uso da argumentaccedilatildeo de cunho jusnaturalista que apele agrave religiatildeo agrave natureza
ou agrave metafiacutesica para equacionar as mais complexas controveacutersias juriacutedicas50
Neste cenaacuterio haacute espaccedilo tanto para visotildees comunitaristas51 que buscam na moralidade positi-
va e nas preacute-compreensotildees socialmente vigentes o norte para a hermenecircutica constitucional
endossando na seara interpretativa os valores e cosmovisotildees hegemocircnicos na sociedade como
para teorias mais proacuteximas ao construtivismo eacutetico52 que se orientam para uma moralidade
criacutetica cujo conteuacutedo seja definido atraveacutes de um debate racional de ideacuteias fundado em cer-
tos pressupostos normativos como os de igualdade e liberdade de todos os seus participantes
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Natildeo haacute como identificar o neoconstitucionalismo com nenhuma destas posiccedilotildees que marcam o
importante debate entre comunitarismo e liberalismo na filosofia poliacutetica contemporacircnea
Outro traccedilo caracteriacutestico do neoconstitucionalismo eacute o seu foco no Poder Judiciaacuterio O grande
protagonista das teorias neoconstitucionalistas eacute o juiz O Direito eacute analisado sobretudo a partir
de uma perspectiva interna daquele que participa dos processos que envolvem a sua interpre-
taccedilatildeo e aplicaccedilatildeo relegando-se a um segundo plano a perspectiva externa do observador Esta
obsessatildeo pelo Poder Judiciaacuterio leva a uma certa desconsideraccedilatildeo do papel desempenhado por
outras instituiccedilotildees como o Poder Legislativo na interpretaccedilatildeo constitucional53 O juiz eacute con-
cebido como o guardiatildeo das promessas54 civilizatoacuterias dos textos constitucionais o que expotildee o
neoconstitucionalismo a vaacuterias criacuteticas - que seratildeo analisadas mais agrave frente - como de que se-
ria elitista e refrataacuterio ao autogoverno popular
Por outro lado o neoconstitucionalismo alenta um ideaacuterio humanista que aposta na possibili-
dade de emancipaccedilatildeo humana pela via juriacutedica atraveacutes de um uso engajado da moderna dog-
maacutetica constitucional55 Neste sentido ele se afasta de algumas linhas teoacutericas da esquerda
como o marxismo56a Critical Legal Studies norte-americana57 e o movimento do Direito Alter-
nativo no Brasil58 que denunciavam o Direito como um instrumento de opressatildeo e dominaccedilatildeo a
serviccedilo dos interesses das classes favorecidas mesmo quando apresentado sob o manto de uma
retoacuterica legitimadora de legalidade e de direitos individuais universais
Trata-se portanto de uma teoria otimista - ou naive diriam os seus criacuteticos - que tambeacutem
natildeo se compadece com o desencanto poacutes-moderno59 profundamente descrente em relaccedilatildeo agrave
razatildeo Enquanto os poacutes-modernos criticam as metanarrativas60 e buscam descontruir as ela-
boraccedilotildees abstratas sobre as quais se fundou o Direito moderno - direitos humanos liberdade
igualdade etc - os neoconstitucionalistas insistem no aprofundamento do projeto poliacutetico da
Modernidade de emancipaccedilatildeo pelo uso da razatildeo atraveacutes dos instrumentos do Direito Constitu-
cional sobretudo os direitos fundamentais
Vejamos agora como estas ideacuteias foram recebidas no Brasil
3 A recepccedilatildeo do neoconstitucionalismo no Brasil
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O processo histoacuterico que se desenrolou na Europa Ocidental a partir do final da Segunda Guer-
ra no Brasil soacute teve iniacutecio apoacutes a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 88 Eacute verdade que jaacute tiacutenha-
mos controle de constitucionalidade desde a proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Poreacutem na cultura ju-
riacutedica brasileira de ateacute entatildeo as constituiccedilotildees natildeo eram vistas como autecircnticas normas juriacutedi-
cas natildeo passando muitas vezes de meras fachadas Exemplos disso natildeo faltam a Constituiccedilatildeo
de 1824 falava em igualdade e a principal instituiccedilatildeo do paiacutes era a escravidatildeo negra a de 1891
instituiacutera o sufraacutegio universal mas todas as eleiccedilotildees eram fraudadas a de 1937 disciplinava o
processo legislativo mas enquanto ela vigorou o Congresso esteve fechado e o Presidente legis-
lava por decretos a de 1969 garantia os direitos agrave liberdade agrave integridade fiacutesica e agrave vida mas
as prisotildees ilegais o desaparecimento forccedilado de pessoas e a tortura campeavam nos porotildees do
regime militar Nesta uacuteltima quadra histoacuterica conviveu-se ainda com o constrangedor paradoxo
da existecircncia de duas ordens juriacutedicas paralelas a das constituiccedilotildees e a dos atos institucionais
que natildeo buscavam nas primeiras o seu fundamento de validade mas num suposto poder revolu-
cionaacuterio em que estariam investidas as Forccedilas Armadas
Ateacute 1988 a lei valia muito mais do que a Constituiccedilatildeo no traacutefico juriacutedico e no Direito Puacuteblico
o decreto e a portaria ainda valiam mais do que a lei O Poder Judiciaacuterio natildeo desempenhava
um papel poliacutetico tatildeo importante e natildeo tinha o mesmo niacutevel de independecircncia de que passou a
gozar posteriormente As constituiccedilotildees eram proacutedigas na consagraccedilatildeo de direitos mas estes
dependiam quase exclusivamente da boa vontade dos governantes de plantatildeo para saiacuterem do
papel - o que normalmente natildeo ocorria Em contextos de crise as foacutermulas constitucionais natildeo
eram seguidas e os quarteacuteis arbitravam boa parte dos conflitos poliacuteticos ou institucionais que
eclodiam no paiacutes
A Assembleacuteia Constituinte de 19871988 que coroou o processo de redemocratizaccedilatildeo do paiacutes
quis romper com este estado de coisas e promulgou uma Constituiccedilatildeo contendo um amplo e
generoso elenco de direitos fundamentais de diversas dimensotildees - direitos individuais poliacuteti-
cos sociais e difusos - aos quais conferiu aplicabilidade imediata (art 5ordm Paraacutegrafo 1ordm) e pro-
tegeu diante do proacuteprio poder de reforma (art 60 Paraacutegrafo 4ordm IV) Aleacutem disso reforccedilou o
papel do Judiciaacuterio consagrando a inafastabilidade da tutela judicial (art 5ordm XXXV) criando
diversos novos remeacutedios constitucionais fortalecendo a independecircncia da instituiccedilatildeo bem co-
mo do Ministeacuterio Puacuteblico e ampliando e robustecendo os mecanismos de controle de constitu-
cionalidade Neste uacuteltimo toacutepico ela democratizou o acesso ao controle abstrato de constitu-
cionalidade ao adotar um vasto elenco de legitimados ativos para a propositura de accedilatildeo direta
de inconstitucionalidade (art 103) e ampliou o escopo da jurisdiccedilatildeo constitucional ao instituir
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no Brasil o controle da inconstitucionalidade por omissatildeo tanto atraveacutes de accedilatildeo direta como do
mandado de injunccedilatildeo
Esta sistemaacutetica de jurisdiccedilatildeo constitucional adotada pelo constituinte favoreceu em larga
medida o processo de judicializaccedilatildeo da poliacutetica na medida em que conferiu a qualquer parti-
do poliacutetico com representaccedilatildeo no Congresso agraves representaccedilotildees nacionais da sociedade civil
organizada e agraves principais instituiccedilotildees dos Estados-membros dentre outras entidades o poder
de provocar o STF61 Assim eacute praticamente impossiacutevel que alguma questatildeo relevante seja re-
solvida no acircmbito parlamentar sem que os perdedores no processo poliacutetico recorram agrave nossa
Corte Suprema para que decirc a palavra final agrave controveacutersia com base na sua interpretaccedilatildeo da
Constituiccedilatildeo E tal modelo vem se aprofundando desde 88 com a criaccedilatildeo da Accedilatildeo Declaratoacuteria
de Constitucionalidade e a regulamentaccedilatildeo da Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fun-
damental
Aleacutem disso a Constituiccedilatildeo de 88 regulou uma grande quantidade de assuntos - muitos deles de
duvidosa dignidade constitucional - subtraindo um vasto nuacutemero de questotildees do alcance do
legislador Ademais ela hospedou em seu texto inuacutemeros princiacutepios vagos mas dotados de for-
te carga axioloacutegica e poder de irradiaccedilatildeo Estas caracteriacutesticas favoreceram o processo de
constitucionalizaccedilatildeo do Direito que envolve natildeo soacute a inclusatildeo no texto constitucional de temas
outrora ignorados ou regulados em sede ordinaacuteria como tambeacutem a releitura de toda a ordem
juriacutedica a partir de uma oacutetica pautada pelos valores constitucionais - a chamada filtragem
constitucional do Direito62
Deve-se tambeacutem destacar o papel importante da doutrina brasileira na mudanccedila de paradigma
do Direito Constitucional brasileiro Na minha opiniatildeo haacute dois momentos distintos nesta evolu-
ccedilatildeo o constitucionalismo brasileiro da efetividade 63e o poacutes-positivismo constitucional
O primeiro momento vem logo apoacutes a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 88 Alguns autores como
Luis Roberto Barroso64 e Clegravemerson Merlin Clegraveve65 passam a advogar a tese de que a Constitui-
ccedilatildeo sendo norma juriacutedica deveria ser rotineiramente aplicada pelos juiacutezes o que ateacute entatildeo
natildeo ocorria O que hoje parece uma obviedade era quase revolucionaacuterio numa eacutepoca em que a
nossa cultura juriacutedica hegemocircnica natildeo tratava a Constituiccedilatildeo como norma mas como pouco
mais do que um repositoacuterio de promessas grandiloquumlentes cuja efetivaccedilatildeo dependeria quase
sempre da boa vontade do legislador e dos governantes de plantatildeo66 Para o constitucionalismo
da efetividade a incidecircncia direta da Constituiccedilatildeo sobre a realidade social independentemen-
te de qualquer mediaccedilatildeo legislativa contribuiria para tirar do papel as proclamaccedilotildees generosas
de direitos contidas na Carta de 88 promovendo justiccedila igualdade e liberdade Se ateacute entatildeo
o discurso da esquerda era de desconstruccedilatildeo da dogmaacutetica juriacutedica a doutrina da efetividade
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vai defender a possibilidade de um uso emancipatoacuterio da dogmaacutetica tendo como eixo a con-
cretizaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo67
Na verdade tratava-se de uma modalidade de positivismo de combate68 A doutrina constitu-
cional da efetividade natildeo se caracterizava pela abertura do debate juriacutedico agrave argumentaccedilatildeo
moral O seu foco principal centrava-se nas normas e era do caraacuteter mais ou menos denso do
seu texto que o inteacuterprete deveria extrair os respectivos efeitos Por outro lado concebia-se a
jurisdiccedilatildeo como o espaccedilo privilegiado para a realizaccedilatildeo da vontade constitucional Um dos mo-
tes do movimento era afastar o estudo do Direito Constitucional da Teoria do Estado para apro-
ximaacute-lo do Direito Processual Por isso pode-se afirmar que o protagonista desta teoria consti-
tucional era o juiz
Em que pese a falta de efetividade de diversas normas da Constituiccedilatildeo e da eficaacutecia social
seletiva de outras tantas - que protegem muito bem o incluiacutedo mas continuam deixando de
fora os paacuterias de sempre (veja-se a diferenccedila da incidecircncia da inviolabilidade do domiciacutelio nas
residecircncias burguesas e nas favelas) - pode-se dizer que a doutrina constitucional da efetivida-
de teve ecircxito no Brasil no sentido de instalar no senso-comum dos operadores do Direito a i-
deacuteia de que a Constituiccedilatildeo eacute norma que pode e deve ser aplicada independentemente de re-
gulamentaccedilatildeo dos seus dispositivos pelo legislador ordinaacuterio Tal doutrina ainda natildeo correspon-
de ao neoconstitucionalismo mas a conquista que dela resultou para a dogmaacutetica constitucio-
nal brasileira foi um pressuposto para o surgimento deste outro movimento no nosso cenaacuterio
O segundo momento importante eacute o da chegada ao Brasil das teorias juriacutedicas ditas poacutes-
positivistas Foram marcos relevantes a publicaccedilatildeo da 5ordf ediccedilatildeo do Curso de Direito Constitu-
cional de Paulo Bonavides 69bem como do livro A Ordem Econocircmica na Constituiccedilatildeo de 1988
de Eros Roberto Grau70 que divulgaram entre noacutes a teoria dos princiacutepios de autores como Ro-
nald Dworkin e Robert Alexy e fomentaram as discussotildees sobre temas importantes como a
ponderaccedilatildeo de interesses o princiacutepio da proporcionalidade e eficaacutecia dos direitos fundamen-
tais Tambeacutem deve ser salientada a ampla penetraccedilatildeo no acircmbito de algumas poacutes-graduaccedilotildees
em Direito a partir de meados dos anos 90 do pensamento de filoacutesofos que se voltaram para o
estudo da relaccedilatildeo entre Direito Moral e Poliacutetica a partir de uma perspectiva poacutes-metafiacutesica
como John Rawls e Juumlrgen Habermas71 E ainda merece destaque o aprofundamento no paiacutes dos
estudos de hermenecircutica juriacutedica a partir de uma nova matriz teoacuterica inspirada pelo giro lin-
guumliacutestico na Filosofia que denunciou os equiacutevocos do modelo positivista de interpretaccedilatildeo ateacute
entatildeo dominante assentado na separaccedilatildeo cartesiana entre sujeito (o inteacuterprete) e objeto (o
texto da norma)72
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Nesta nova fase a doutrina brasileira passa a enfatizar o caraacuteter normativo e a importacircncia dos
princiacutepios constitucionais e a estudar as peculiaridades da sua aplicaccedilatildeo Neste contexto haacute
uma verdadeira febre de trabalhos sobre teoria dos princiacutepios ponderaccedilatildeo de interesses teori-
as da argumentaccedilatildeo proporcionalidade e razoabilidade etc Tambeacutem cresce muito o interesse
doutrinaacuterio pelos direitos fundamentais sobretudo os direitos sociais Se antes estes eram vis-
tos preponderantemente como normas programaacuteticas passa-se a discutir a sua eficaacutecia juriacutedica
a partir de novas bases que incorporam ao debate a argumentaccedilatildeo moral Neste campo a ecircn-
fase na anaacutelise dos enunciados normativos que caracterizava a doutrina da efetividade eacute
substituiacuteda por uma discussatildeo marcada pela preocupaccedilatildeo com valores e democracia repleta de
novas categorias importadas sobretudo do Direito germacircnico como o miacutenimo existencial a
reserva do possiacutevel e a proibiccedilatildeo do retrocesso73
E esta nova racionalidade se espraia para diversos ramos do Direito No Direito Civil74 Penal75
Administrativo 76por exemplo cada vez mais a doutrina emprega normas e valores constitu-
cionais para reler os institutos tradicionais colorindo-os com novas tintas E trata-se natildeo ape-
nas de aplicar diretamente as normas constitucionais especificamente voltadas para cada uma
destas aacutereas como tambeacutem de projetar sobre estes campos a influecircncia dos direitos funda-
mentais e dos princiacutepios mais gerais do nosso constitucionalismo muitas vezes superando anti-
gos dogmas e definindo novos paradigmas
Neste segundo momento ocorre ainda uma significativa mudanccedila no enfoque dos estudos sobre
jurisdiccedilatildeo constitucional no Brasil Antes os trabalhos nacionais sobre o tema se limitavam
basicamente a discutir questotildees processuais mas a partir do final dos anos 90 diversos estu-
dos incorporam outras perspectivas agrave anaacutelise da questatildeo dedicando atenccedilatildeo agrave complexa pro-
blemaacutetica da legitimidade democraacutetica do controle de constitucionalidade77 tendo em vista a
chamada dificuldade contra-majoritaacuteria do Judiciaacuterio78 Num contexto como o nosso em que
a jurisdiccedilatildeo constitucional estaacute prevista pelo proacuteprio texto magno o debate relevante do ponto
de vista praacutetico natildeo eacute o de tecirc-la ou natildeo mas sim a forma como deve ser exercida Dependendo
do posicionamento adotado pode-se preconizar um maior ou menor grau de ativismo judicial
ou defender o ativismo em algumas aacutereas mas recusaacute-lo em outras Nesta nova agenda de dis-
cussotildees sobre a jurisdiccedilatildeo constitucional a argumentaccedilatildeo juriacutedica se entrelaccedila inevitavelmen-
te com o debate de Filosofia Poliacutetica abrindo espaccedilo para posiccedilotildees variadas como os vaacuterios
matizes de procedimentalismo e de substancialismo que vecircm florescendo na doutrina brasilei-
ra79 Dentre estas posiccedilotildees natildeo haacute duacutevida de que a mais identificada ao neoconstitucionalismo
eacute a substancialista que compartilha com ele a crenccedila numa ampla legitimidade do ativismo
judicial em favor dos valores constitucionais
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Apesar destas mudanccedilas importantes que podem ser associadas ao neoconstitucionalismo o uso
da expressatildeo no Brasil eacute mais recente seguindo-se agrave ampla difusatildeo que recebeu na academia
brasileira a jaacute citada obra Neoconstitucionalismo(s) organizada por Miguel Carbonell e publi-
cada em 2003 De laacute para caacute muito se tem escrito sobre o toacutepico e vaacuterios autores nacionais
aderiram explicitamente agrave corrente como Luis Roberto Barroso80 Lecircnio Luiz Streck 81Antonio
Cavalcanti Maia82 Ana Paula de Barcellos83 Diogo de Figueiredo Moreira Neto84 Paulo Ricardo
Schier85 Eduardo Moreira86 Eacutecio Otto Ramos Duarte87 e Thomas Rosa de Bustamante88 Outros
adotaram postura criacutetica sobre a nova perspectiva como Joseacute Ribas Vieira Dimitri Dimoulis89 e
Humberto Aacutevila90 E pode-se notar pela leitura dos trabalhos destes e de outros autores brasi-
leiros que haacute um relativo consenso na definiccedilatildeo das caracteriacutesticas centrais do novo paradig-
ma valorizaccedilatildeo dos princiacutepios adoccedilatildeo de meacutetodos ou estilos mais abertos e flexiacuteveis na her-
menecircutica juriacutedica com destaque para a ponderaccedilatildeo abertura da argumentaccedilatildeo juriacutedica agrave
Moral mas sem recair nas categorias metafiacutesicas do jusnaturalismo reconhecimento e defesa
da constitucionalizaccedilatildeo do Direito e do papel de destaque do Judiciaacuterio na agenda de imple-
mentaccedilatildeo dos valores da Constituiccedilatildeo
Estas novas ideacuteias jaacute reverberam fortemente na jurisprudecircncia nacional sobretudo do Supremo
Tribunal Federal que nos uacuteltimos tempos tem cada vez mais invocado princiacutepios abertos nos
seus julgamentos recorrido agrave ponderaccedilatildeo de interesses e ao princiacutepio da proporcionalidade
com frequumlecircncia e ateacute se valido de referecircncias filosoacuteficas na fundamentaccedilatildeo de decisotildees Aliaacutes
eacute digna de nota a influecircncia da doutrina constitucional na atuaccedilatildeo do Supremo Tribunal Fede-
ral O fenocircmeno eacute relativamente recente uma vez que logo apoacutes a promulgaccedilatildeo da Constitui-
ccedilatildeo de 88 havia um profundo hiato entre o campo doutrinaacuterio que cobrava a efetivaccedilatildeo da
Constituiccedilatildeo pela via judicial e a jurisprudecircncia do STF tiacutemida e reticente diante dos valores
e das inovaccedilotildees da nova Carta - vg orientaccedilatildeo entatildeo adotada pela Corte em relaccedilatildeo ao man-
dado de injunccedilatildeo e ao controle judicial das medidas provisoacuterias Aquele quadro podia em parte
ser debitado agrave duvidosa opccedilatildeo do constituinte originaacuterio de manter no STF os ministros nomea-
dos durante o governo militar que natildeo tinham sintonia poliacutetico-ideoloacutegica nem boa vontade
diante do novo sistema constitucional e que por isso se apegavam a visotildees e interpretaccedilotildees
assentadas durante o regime preteacuterito muitas delas francamente incompatiacuteveis com a nova
ordem Mas hoje apoacutes a completa renovaccedilatildeo do STF constata-se um quadro radicalmente di-
ferente a maioria dos ministros do STF eacute composta por professores de Direito Constitucional
de grande reputaccedilatildeo acadecircmica que ateacute pela origem tecircm mais contato com a produccedilatildeo inte-
lectual de ponta na aacuterea e satildeo mais suscetiacuteveis agrave influecircncia das novas correntes de pensamen-
to
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Como ressaltado esta mudanccedila de paradigma se reflete vivamente na jurisprudecircncia do STF
Satildeo exemplos eloquumlentes a alteraccedilatildeo da posiccedilatildeo da Corte em relaccedilatildeo aos direitos sociais antes
tratados como normas programaacuteticas e hoje submetidos a uma intensa proteccedilatildeo judicial 91o
reconhecimento da eficaacutecia horizontal dos direitos fundamentais92 a mutaccedilatildeo do entendimen-
to do Tribunal em relaccedilatildeo agraves potencialidades do mandado de injunccedilatildeo 93e a progressiva supe-
raccedilatildeo da visatildeo claacutessica kelseniana da jurisdiccedilatildeo constitucional que a equiparava ao legislador
negativo com a admissatildeo de teacutecnicas decisoacuterias mais heterodoxas94 como as declaraccedilotildees de
inconstitucionalidade sem pronuacutencia de nulidade e as sentenccedilas aditivas E para completar o
quadro deve-se acrescentar as mudanccedilas acarretadas por algumas inovaccedilotildees processuais re-
centes na nossa jurisdiccedilatildeo constitucional que permitiram a participaccedilatildeo dos amici curiae bem
como a realizaccedilatildeo de audiecircncias puacuteblicas no acircmbito do processo constitucional ampliando a
possibilidade de atuaccedilatildeo da sociedade civil organizada no STF95
Naturalmente a nova postura de ativismo judicial do STF estimula as forccedilas sociais a procuraacute-
lo com mais frequumlecircncia e contribui para uma significativa alteraccedilatildeo na agenda da Corte Atu-
almente ao lado das questotildees mais tradicionais de Direito Puacuteblico o STF tem se defrontado
com novos temas fortemente impregnados de conteuacutedo moral como as discussotildees sobre a vali-
dade de pesquisa em ceacutelulas-tronco embrionaacuterias96 aborto de feto anenceacutefalo97 e uniatildeo entre
pessoas do mesmo sexo98 Ademais o Tribunal passou a intervir de forma muito mais ativa no
processo poliacutetico adotando decisotildees que se refletem de forma direta e profunda sobre a atua-
ccedilatildeo dos demais poderes do Estado Para citar apenas alguns casos pode-se falar da decisatildeo que
assentou que a mudanccedila de partido implica salvo determinadas exceccedilotildees perda de mandato
parlamentar99 da que estabeleceu criteacuterios riacutegidos para a fixaccedilatildeo do nuacutemero de vereadores de
acordo com a respectiva populaccedilatildeo100 e da intensificaccedilatildeo do controle jurisdicional dos atos das
CPIs bem como dos pressupostos de ediccedilatildeo das medidas provisoacuterias
Poreacutem haacute um componente curioso na recepccedilatildeo deste novo paradigma juriacutedico pelo Judiciaacuterio
brasileiro Embora ainda natildeo existam estudos empiacutericos a este respeito tenho a forte intuiccedilatildeo
de que a penetraccedilatildeo destas novas ideacuteias associadas ao neoconstitucionalismo eacute forte na cuacutepula
e na base da hierarquia judicial mas ainda tiacutemida nos seus escalotildees intermediaacuterios E as causas
natildeo satildeo de difiacutecil compreensatildeo Em relaccedilatildeo agrave cuacutepula - os ministros do STF - as razotildees jaacute foram
explicadas acima Jaacute no que tange agrave base do Judiciaacuterio boa parte dos juiacutezes de 1ordm grau teve a
sua formaccedilatildeo num ambiente acadecircmico que jaacute valorizava o Direito Constitucional e reconhecia
a forccedila normativa dos direitos fundamentais e dos princiacutepios constitucionais Assim eles ten-
dem a levar para a sua praacutetica profissional esta visatildeo do Direito Poreacutem sobretudo na 2ordf ins-
tacircncia composta majoritariamente por magistrados que se formaram e foram socializados no
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seu meio institucional sob a eacutegide do paradigma juriacutedico anterior muito mais voltado para os
coacutedigos e para a letra da lei do que para a Constituiccedilatildeo e seus princiacutepios haacute maior resistecircncia agrave
incorporaccedilatildeo dos novos vetores constitucionais Contudo este fenocircmeno tende a diminuir com
o tempo seja pela consolidaccedilatildeo do paradigma constitucional emergente seja pela promoccedilatildeo
de magistrados mais antenados com o novo constitucionalismo seja ateacute pela influecircncia do pen-
samento e das orientaccedilotildees da cuacutepula do Judiciaacuterio sobre todas as suas instacircncias
No cenaacuterio brasileiro o neoconstitucionalismo eacute tambeacutem impulsionado por outro fenocircmeno a
descrenccedila geral da populaccedilatildeo em relaccedilatildeo agrave poliacutetica majoritaacuteria e em especial o descreacutedito
no Poder Legislativo e nos partidos poliacuteticos101 A percepccedilatildeo geral alimentada por sucessivos
escacircndalos e pelo discurso de alguns meios de comunicaccedilatildeo social de que a poliacutetica parlamen-
tar e partidaacuteria satildeo esferas essencialmente corrompidas que se movem exclusivamente em
torno de interesses e natildeo de valores gera em alguns setores a expectativa de que a soluccedilatildeo
para os problemas nacionais possa vir do Judiciaacuterio102 E este sentimento eacute fortalecido quando
a Justiccedila adota decisotildees em consonacircncia com a opiniatildeo puacuteblica - como ocorreu no recebimento
da denuacutencia criminal no caso do mensalatildeo na definiccedilatildeo de perda do mandato por infidelidade
partidaacuteria e na proibiccedilatildeo do nepotismo na Administraccedilatildeo Puacuteblica
Por outro lado a ascensatildeo institucional do Judiciaacuterio e a riqueza e importacircncia praacutetica ou sim-
boacutelica dos temas que ele vem julgando tem provocado um grande aumento no interesse da so-
ciedade pelo Direito Constitucional e pela atuaccedilatildeo do Supremo Tribunal Federal Eacute difiacutecil um
dia em que os principais meios de comunicaccedilatildeo natildeo discutam alguma decisatildeo da Corte ou mani-
festaccedilatildeo de qualquer dos seus membros E este fenocircmeno eacute potencializado tanto pela extro-
versatildeo midiaacutetica de alguns ministros como tambeacutem pelo fato - sem precedentes em outros
paiacuteses - do televisionamento das sessotildees do STF Com tudo isso as questotildees constitucionais
que antes eram apenas discutidas dentro de um ciacuterculo muito restrito de iniciados hoje satildeo
amplamente debatidas no espaccedilo puacuteblico
Neste quadro em que pesem as muacuteltiplas resistecircncias que sofre eacute possiacutevel apontar a emergecircn-
cia de uma nova forma de conceber o Direito e o Estado na sociedade brasileira contemporacirc-
nea que se quisermos adotar a terminologia hoje em voga pode ser chamada de neoconstitu-
cionalismo
4 Trecircs objeccedilotildees ao neoconstitucionalismo
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Nas proacuteximas linhas abordarei de maneira breve trecircs criacuteticas que podem ser levantadas con-
tra o neoconstitucionalismo (a) a de que o seu pendor judicialista eacute anti-democraacutetico (b) a de
que a sua preferecircncia por princiacutepios e ponderaccedilatildeo em detrimento de regras e subsunccedilatildeo eacute
perigosa sobretudo no Brasil em razatildeo de singularidades da nossa cultura e (c) a de que ele
pode gerar uma panconstitucionalizaccedilatildeo do Direito em detrimento da autonomia puacuteblica do
cidadatildeo e da autonomia privada do indiviacuteduo Outras criacuteticas importantes existem103 mas por
limites de tempo e espaccedilo preferi priorizar aqui estas trecircs que satildeo as que geram maior apre-
ensatildeo no cenaacuterio brasileiro
a) Neoconstitucionalismo e judiciocracia
Como salientado acima o neoconstitucionalismo tem um foco muito centrado no Poder Judici-
aacuterio no qual deposita enormes expectativas no sentido de concretizaccedilatildeo dos ideais emancipa-
toacuterios presentes nas constituiccedilotildees contemporacircneas Contudo este vieacutes judicialista sofre con-
testaccedilotildees pelo seu suposto caraacuteter antidemocraacutetico na medida em que os juiacutezes diferente-
mente dos parlamentares e chefes do Executivo natildeo satildeo eleitos e natildeo respondem diretamente
perante o povo104
Esta criacutetica democraacutetica se assenta na ideacuteia de que numa democracia eacute essencial que as deci-
sotildees poliacuteticas mais importantes sejam tomadas pelo proacuteprio povo ou por seus representantes
eleitos e natildeo por saacutebios ou tecnocratas de toga Eacute verdade que a maior parte dos teoacutericos con-
temporacircneos da democracia reconhece que ela natildeo se esgota no respeito ao princiacutepio majoritaacute-
rio pressupondo antes o acatamento das regras do jogo democraacutetico que incluem a garantia
de direitos baacutesicos visando a viabilizar a participaccedilatildeo igualitaacuteria do cidadatildeo na esfera puacuteblica
bem como alguma proteccedilatildeo agraves minorias105 Poreacutem temos aqui uma questatildeo de dosagem pois
se a imposiccedilatildeo de alguns limites para a decisatildeo das maiorias pode ser justificada em nome da
democracia o exagero tende a revelar-se antidemocraacutetico por cercear em demasia a possibi-
lidade do povo de se autogovernar106
E a questatildeo natildeo eacute apenas de divisatildeo de poder ao longo do tempo A dificuldade democraacutetica
natildeo estaacute tatildeo-somente no fato de as constituiccedilotildees subtraiacuterem do legislador futuro a possibilida-
de de tomar algumas decisotildees107 O cerne do debate estaacute no reconhecimento de que diante da
vagueza e abertura de boa parte das normas constitucionais mais importantes quem as inter-
preta tambeacutem participa do seu processo de criaccedilatildeo108 Daiacute a criacutetica de que o vieacutes judicialista
subjacente ao neoconstitucionalismo acaba por conferir aos juiacutezes uma espeacutecie de poder cons-
tituinte permanente pois lhes permite moldar a Constituiccedilatildeo de acordo com as suas preferecircn-
cias poliacuteticas e valorativas em detrimento daquelas do legislador eleito Esta visatildeo levou inuacute-
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meras correntes de pensamento ao longo da histoacuteria a rejeitarem a jurisdiccedilatildeo constitucional
ou pelo menos o ativismo judicial no seu exerciacutecio dos revolucionaacuterios franceses do seacuteculo XVI-
II109 passando por Carl Schmitt110 na Repuacuteblica de Weimar ateacute os adeptos do constituciona-
lismo popular nos Estados Unidos de hoje111
No Brasil eacute muito comum traccedilar-se um paralelo entre a defesa do ativismo judicial e posiccedilotildees
sociais progressistas Talvez isso se deva ao fato de que na nossa histoacuteria o Judiciaacuterio brasilei-
ro tem pecado muito mais por omissatildeo acumpliciando-se diante dos desmandos dos poderes
poliacutetico e econocircmico do que por excesso de ativismo Neste quadro quem ousa questionar
possiacuteveis exageros na judicializaccedilatildeo da poliacutetica e da vida social no Brasil de hoje eacute logo tachado
de conservador Poreacutem o paralelismo em questatildeo natildeo existe Muitas vezes o Poder Judiciaacuterio
pode atuar bloqueando mudanccedilas importantes promovidas pelos outros poderes em favor dos
excluiacutedos defendendo o statu quo E esta defesa pode ocorrer inclusive atraveacutes do uso da retoacute-
rica dos direitos fundamentais
Isso se deu por exemplo nos Estados Unidos nas primeiras deacutecadas do seacuteculo passado em pe-
riacuteodo que ficou conhecido como Era de Lochner112 quando a Suprema Corte impediu sistemati-
camente a ediccedilatildeo de legislaccedilatildeo trabalhista e de outras medidas que implicavam em interferecircn-
cia na esfera econocircmica em proveito das classes desfavorecidas com base numa leitura subs-
tantiva da claacuteusula do devido processo legal No cenaacuterio contemporacircneo Ran Hirshl113 sustenta
que o processo de judicializaccedilatildeo da poliacutetica que vem ocorrendo nos uacuteltimos anos em diversos
paiacuteses do mundo - ele fez um atento ainda que controvertido estudo dos casos do Canadaacute
Israel Aacutefrica do Sul e Nova Zelacircndia - teria como pano de fundo uma tentativa das elites eco-
nocircmicas e culturais que perderam espaccedilo na poliacutetica majoritaacuteria de manterem o seu poder
reforccedilando no arranjo institucional do Estado o peso do Judiciaacuterio no qual elas ainda tecircm he-
gemonia E aqui no Brasil seraacute que a proteccedilatildeo absoluta que vem sendo conferida ao direito
adquirido - inclusive o de furar teto salarial do funcionalismo fixado por emenda agrave Constituiccedilatildeo
114 - e o ultra-garantismo penal nos crimes do colarinho branco natildeo seriam exemplos deste
mesmo fenocircmeno
Por outro lado uma ecircnfase excessiva no espaccedilo judicial pode levar ao esquecimento de outras
arenas importantes para a concretizaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo e realizaccedilatildeo de direitos gerando um
resfriamento da mobilizaccedilatildeo ciacutevica do cidadatildeo Eacute verdade que o ativismo judicial pode em
certos contextos atuar em sinergia com a mobilizaccedilatildeo social na esfera puacuteblica Isto ocorreu
por exemplo no movimento dos direitos civis nos Estados Unidos dos anos 50 e 60 que foi a-
quecido pelas respostas positivas obtidos na Suprema Corte no periacuteodo da Corte de Warren115
Mas nem sempre eacute assim A ecircnfase judicialista pode afastar do cenaacuterio de disputa por direitos
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as pessoas e movimentos que natildeo pertenccedilam nem tenham proximidade com as corporaccedilotildees
juriacutedicas
Ademais esta obsessatildeo com a interpretaccedilatildeo judicial da Constituiccedilatildeo tende a obscurecer o pa-
pel central de outras instacircncias na definiccedilatildeo do sentido da Constituiccedilatildeo - como o Legislativo o
Executivo e a proacutepria esfera puacuteblica informal Trata-se de um desvio que gera consequumlecircncias
negativas tanto no plano descritivo como na esfera normativa Sob o prisma descritivo trans-
mite-se uma imagem muito parcial do fenocircmeno constitucional que natildeo eacute captado com todas
as suas nuances e riquezas jaacute que o foco se concentra apenas sobre a accedilatildeo de um dentre os
vaacuterios agentes importantes que povoam a seara da hermenecircutica constitucional116 Sob o acircngu-
lo normativo favorece-se um governo agrave moda platocircnica de saacutebios de toga117 que satildeo convida-
dos a assumir uma posiccedilatildeo paternalista diante de uma sociedade infantilizada118 Justifica-se o
ativismo judicial a partir de uma visatildeo muito criacutetica do processo poliacutetico majoritaacuterio mas que
ignora as inuacutemeras mazelas que tambeacutem afligem o Poder Judiciaacuterio construindo-se teorias a
partir de visotildees romacircnticas e idealizadas do juiz119 Soacute que se eacute verdade que o processo poliacuteti-
co majoritaacuterio tem seus viacutecios - e eles satildeo muito graves no cenaacuterio brasileiro - tambeacutem eacute certo
que os juiacutezes natildeo satildeo semi-deuses e que a esfera em que atuam tampouco eacute imune agrave poliacutetica
com p menor
Esta idealizaccedilatildeo da figura do juiz natildeo se compadece com algumas notoacuterias deficiecircncias que o
Judiciaacuterio brasileiro enfrenta Dentre elas pode-se destacar a sobrecarga de trabalho que
compromete a capacidade dos magistrados de dedicarem a cada processo o tempo e a energia
necessaacuterias para que faccedilam tudo que o que demandam as principais teorias da argumentaccedilatildeo
defendidas pelo neoconstitucionalismo E cabe referir tambeacutem agraves lacunas na formaccedilatildeo do ma-
gistrado brasileiro decorrentes sobretudo das falhas de um ensino juriacutedico formalista e nada
interdisciplinar que ainda viceja no paiacutes que natildeo satildeo corrigidas nos procedimentos de seleccedilatildeo
e treinamento dos juiacutezes
Outra consequumlecircncia da obsessatildeo judicialista do constitucionalismo brasileiro contemporacircneo
estaacute refletida na nossa produccedilatildeo acadecircmica Enquanto somos inundados por livros e artigos
muitas vezes repetitivos sobre assuntos como princiacutepios e regras interpretaccedilatildeo constitucional
e tutela judicial de direitos fundamentais outros temas absolutamente essenciais para a vida
do paiacutes passam ao largo da preocupaccedilatildeo dos juristas Eacute o caso da reforma poliacutetica Em que pese
o caraacuteter essencialmente constitucional do assunto quase nenhum constitucionalista se inte-
ressou por ele 120e praticamente toda a literatura de qualidade produzida sobre o toacutepico tem
vindo da Ciecircncia Poliacutetica
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Estou convencido de que o Poder Judiciaacuterio tem um papel essencial na concretizaccedilatildeo da Consti-
tuiccedilatildeo brasileira Em face do quadro de sistemaacutetica violaccedilatildeo de direitos de certos segmentos da
populaccedilatildeo do arranjo institucional desenhado pela Carta de 88 e da seacuteria crise de representa-
tividade do Poder Legislativo entendo que o ativismo judicial se justifica no Brasil pelo menos
em certas searas como a tutela de direitos fundamentais a proteccedilatildeo das minorias e a garantia
do funcionamento da proacutepria democracia O maior insulamento judicial diante da pressatildeo das
maiorias bem como um certo ethos profissional de valorizaccedilatildeo dos direitos humanos que co-
meccedila a se instalar na nossa magistratura 121 conferem ao Judiciaacuterio uma capacidade institu-
cional privilegiada para atuar nestas aacutereas122
Mas em outros campos pode ser mais recomendaacutevel uma postura de autocontenccedilatildeo judicial
seja por respeito agraves deliberaccedilotildees majoritaacuterias adotadas no espaccedilo poliacutetico123 seja pelo reco-
nhecimento da falta de expertise do Judiciaacuterio para tomar decisotildees que promovam eficiente-
mente os valores constitucionais em jogo em aacutereas que demandem profundos conhecimentos
teacutecnicos fora do Direito - como Economia poliacuteticas puacuteblicas e regulaccedilatildeo124 Nestes casos deve-
se reconhecer que outros oacutergatildeos do Estado estatildeo mais habilitados para assumirem uma posiccedilatildeo
de protagonismo na implementaccedilatildeo da vontade constitucional
Nesta linha vejo com reticecircncias a sedimentaccedilatildeo na nossa cultura juriacutedica da visatildeo de que o
grande - senatildeo o uacutenico - inteacuterprete da Constituiccedilatildeo seria o Poder Judiciaacuterio125 Esta leitura des-
carta a autocontenccedilatildeo judicial bem como tende a desprezar a possibilidade de que sejam tra-
vados construtivos diaacutelogos interinstitucionais entre diversos oacutergatildeos estatais para a definiccedilatildeo da
melhor interpretaccedilatildeo dos ditames constitucionais126 Um bom exemplo127 deste desvio ocorreu
no julgamento da constitucionalidade das pesquisas em ceacutelulas-tronco embrionaacuterias realizada
pelo STF em que pese o resultado final do julgamento ter sido substancialmente correto Na-
quela ocasiatildeo o importante argumento deduzido na tribuna e em memoriais por Luis Roberto
Barroso - que advogava para um dos amici curiae favoraacuteveis agraves pesquisas - de que o Judiciaacuterio
deveria adotar posiccedilatildeo cautelosa no julgamento da constitucionalidade da lei impugnada ten-
do em vista o amplo consenso em torno dela obtido durante o processo legislativo tanto no
Senado como na Cacircmara foi explicitamente rechaccedilado por alguns ministros que consideraram
o ponto irrelevante E outros ministros em votos vencidos se sentiram confortaacuteveis ateacute para
defender a imposiccedilatildeo de novas normas pelo STF na aacuterea do Biodireito arvorando-se agrave condiccedilatildeo
de legisladores num campo para o qual evidentemente lhes faltava qualquer expertise
Enfim o neoconstitucionalismo brasileiro tem pecado por excesso depositando no Judiciaacuterio
expectativas que ele nem sempre teraacute como atender de forma satisfatoacuteria Um dos efeitos co-
laterais deste fenocircmeno eacute a disseminaccedilatildeo de um discurso muito perigoso de que voto e poliacuteti-
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ca natildeo satildeo tatildeo importantes pois relevante mesmo eacute a interpretaccedilatildeo dos princiacutepios constitucio-
nais realizada pelo STF Daiacute a dizer que o povo natildeo sabe votar eacute um pulo e a ditadura de toga
pode natildeo ser muito melhor do que a ditadura de farda
b) Neoconstitucionalismo oba-oba constitucional e Estado Democraacutetico de Direito
Seria uma profunda injusticcedila com a teoria neoconstitucionalista acusaacute-la de promover o decisi-
onismo ou de defender a tomada de decisotildees judiciais puramente emotivas sem lastro em ar-
gumentaccedilatildeo racional soacutelida Pelo contraacuterio como foi destacado acima um dos eixos centrais
do pensamento neoconstitucional eacute a reabilitaccedilatildeo da racionalidade praacutetica no acircmbito juriacutedico
com a articulaccedilatildeo de complexas teorias da argumentaccedilatildeo que demandam muito dos inteacuterpre-
tes e sobretudo dos juiacutezes em mateacuteria de fundamentaccedilatildeo das suas decisotildees Poreacutem a praacutetica
judiciaacuteria brasileira recepcionou apenas parcialmente as teorias juriacutedicas de corte poacutes-
positivista e aqui a valorizaccedilatildeo dos princiacutepios e da ponderaccedilatildeo natildeo tem sido muitas vezes
acompanhada do necessaacuterio cuidado com a justificaccedilatildeo das decisotildees
Se ateacute natildeo muito tempo atraacutes os princiacutepios natildeo eram tratados como autecircnticas normas por
aqui - soacute tinha bom direito quem podia invocar uma regra legal clara e precisa em favor da sua
pretensatildeo - com a chegada do poacutes-positivismo e do neoconstitucionalismo passou-se em pou-
cos anos da aacutegua para o vinho Hoje instalou-se um ambiente intelectual no Brasil que aplaude
e valoriza as decisotildees principioloacutegicas e natildeo aprecia tanto aquelas calcadas em regras legais
que satildeo vistas como burocraacuteticas ou positivistas - e positivismo hoje no paiacutes eacute quase um pala-
vratildeo128 Neste contexto os operadores do Direito satildeo estimulados a invocar sempre princiacutepios
muito vagos nas suas decisotildees mesmo quando isso seja absolutamente desnecessaacuterio pela e-
xistecircncia de regra clara e vaacutelida a reger a hipoacutetese Os campeotildees tecircm sido os princiacutepios da dig-
nidade da pessoa humana e da razoabilidade O primeiro eacute empregado para dar imponecircncia ao
decisionismo judicial vestindo com linguagem pomposa qualquer decisatildeo tida como politica-
mente correta e o segundo para permitir que os juiacutezes substituam livremente as valoraccedilotildees de
outros agentes puacuteblicos pelas suas proacuteprias
Este cenaacuterio eacute problemaacutetico porque um sistema juriacutedico funcional estaacutevel e harmocircnico com os
valores do Estado Democraacutetico de Direito precisa tanto da aplicaccedilatildeo de regras como de princiacute-
pios129 As regras satildeo indispensaacuteveis dentre outras razotildees130 porque geram maior previsibili-
dade e seguranccedila juriacutedica para os seus destinataacuterios diminuem os riscos de erro na sua inci-
decircncia jaacute que natildeo dependem tanto das valoraccedilotildees do inteacuterprete em cada caso concreto en-
volvem um menor custo no seu processo de aplicaccedilatildeo pois podem incidir de forma mais mecacirc-
nica sem demandarem tanto esforccedilo do inteacuterprete e natildeo implicam na mesma medida que os
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princiacutepios em uma transferecircncia de poder decisoacuterio do Legislativo que eacute eleito para o Judici-
aacuterio que natildeo eacute
Natildeo pretendo sustentar com isso que se deva retroceder ao tempo em que os princiacutepios natildeo
eram aplicados pelos juiacutezes brasileiros Tambeacutem os princiacutepios satildeo essenciais na ordem juriacutedica
pois conferem mais plasticidade ao Direito - o que eacute essencial numa sociedade hiper-complexa
como a nossa - e permitem uma maior abertura da argumentaccedilatildeo juriacutedica agrave Moral e ao mundo
empiacuterico subjacente O importante eacute encontrar uma justa medida que natildeo torne o processo de
aplicaccedilatildeo do Direito amarrado demais como ocorreria num sistema baseado exclusivamente
em regras nem solto demais como sucederia com um que se fundasse apenas em princiacutepios
Penso que eacute chegada a hora de um retorno do pecircndulo no Direito brasileiro131 que sem des-
cartar a importacircncia dos princiacutepios e da ponderaccedilatildeo volte a levar a seacuterio tambeacutem as regras e a
subsunccedilatildeo
Ademais naquelas hipoacuteteses em que a aplicaccedilatildeo de princiacutepios for realmente apropriada ela
deve dar-se de forma mais racional e fundamentada Deve-se adotar a premissa de que quanto
mais vaga for a norma a ser aplicada e mais intenso o componente volitivo envolvido no pro-
cesso decisoacuterio maior deve ser o ocircnus argumentativo do inteacuterprete no sentido de mostrar que
a soluccedilatildeo por ele adotada eacute a que melhor realiza os valores do ordenamento naquele caso con-
creto132 A tendecircncia atual de invocaccedilatildeo frouxa e natildeo fundamentada de princiacutepios colide com a
loacutegica do Estado Democraacutetico de Direito pois amplia as chances de arbiacutetrio judicial gera inse-
guranccedila juriacutedica e atropela a divisatildeo funcional de poderes que tem no ideaacuterio democraacutetico um
dos seus fundamentos - a noccedilatildeo baacutesica de que as decisotildees sobre o que os cidadatildeos e o Estado
podem e natildeo podem fazer devem ser tomadas preferencialmente por quem represente o povo
e seja por ele escolhido
E haacute na sociedade brasileira traccedilos que tornam ainda mais perigosa esta tendecircncia agrave frouxidatildeo
e emotividade na metodologia juriacutedica Nossa cultura caracteriza-se muito mais pelo jeiti-
nho133 e pelo patrimonialismo134 do que pela valorizaccedilatildeo do cumprimento impessoal de regras
O brasileiro - jaacute dizia Seacutergio Buarque de Holanda135 - eacute o homem cordial que tende a antepor
a loacutegica privada do compadrio e da simpatia agrave racionalidade objetiva das leis Esta singularida-
de das nossas relaccedilotildees sociais natildeo atua de forma neutra em relaccedilatildeo a todos os cidadatildeos Ela
implica na adoccedilatildeo de posturas estatais em geral muito benevolentes em relaccedilatildeo aos donos do
poder e seus apaniguumlados e de posiccedilotildees muito mais duras dirigidas aos grupos excluiacutedos e mar-
ginalizados136 Uns poucos acabam pairando acima das leis que natildeo os alcanccedilam para limitar a
sua conduta ou sancionar os seus desvios enquanto outros permanecem abaixo dela sendo
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atingidos apenas pelo braccedilo punitivo do Estado pois a violaccedilatildeo rotineira dos seus direitos eacute
naturalizada tornando-se invisiacutevel
Neste quadro cabe indagar sob a perspectiva de uma sociologia da interpretaccedilatildeo constitucio-
nal ateacute que ponto a introduccedilatildeo entre noacutes de uma dogmaacutetica fluida - a expressatildeo eacute de Gusta-
vo Zagrebelsky137 um dos iacutecones do neoconstitucionalismo - natildeo pode ter como efeito colateral
o agravamento de patologias que marcam as nossas relaccedilotildees sociais Seraacute que o nosso Direito
precisa de mais rigidez ou de maior maleabilidade Ao fim e ao cabo quem tende a se benefi-
ciar com a adoccedilatildeo de uma hermenecircutica juriacutedica mais flexiacutevel
Uma reflexatildeo importante sobre tema correlato foi empreendida por Marcelo Neves138 a partir
das categorias da teoria sistecircmica de Niklas Luhman Para Luhman139 em apertada siacutentese o
Direito nas hipercomplexas sociedades modernas seria autopoieacutetico140 pois consistiria num
subsistema social estruturalmente fechado em relaccedilatildeo ao meio envolvente que operaria de
acordo com um coacutedigo binaacuterio proacuteprio - o liacutecito iliacutecito As influecircncias do meio envolvente so-
bre o Direito seriam filtradas atraveacutes deste coacutedigo assegurando a autonomia da esfera juriacutedica
diante dos outros subsistemas sociais como a Economia a Poliacutetica a Religiatildeo etc Contudo
Marcelo Neves sustenta que em sociedades perifeacutericas como o Brasil natildeo se desenvolveu ple-
namente este fechamento estrutural do Direito Por aqui fatores como a nossa constituciona-
lizaccedilatildeo simboacutelica geraram uma insuficiente diferenciaccedilatildeo do Direito em relaccedilatildeo a outros sub-
sistemas sociais permitindo que elementos a princiacutepio estranhos ao coacutedigo binaacuterio do juriacutedico -
como a questatildeo do poder poliacutetico e do poder econocircmico - se infiltrem sistematicamente nos
processos de aplicaccedilatildeo das normas condicionando o seu resultado A teoria dos sistemas de
Luhman natildeo funcionaria bem entre noacutes pois teriacuteamos um Direito em boa parte alopoieacuteti-
coPara tal perspectiva esta maior abertura do Direito ao meio envolvente natildeo assume o po-
tencial emancipatoacuterio preconizado pela teoria neoconstitucionalista Ela funciona muito mais
como um mecanismo de cristalizaccedilatildeo de diferenccedilas sociais mantendo a hiper-inclusatildeo de uns
ao preccedilo da exclusatildeo de outros
Esta reflexatildeo de Marcelo Neves natildeo se dirigiu ao debate metodoloacutegico contemporacircneo envol-
vendo princiacutepios e regras ponderaccedilatildeo e subsunccedilatildeo etc Poreacutem entendo que ela pode ter algu-
ma pertinecircncia tambeacutem aqui pelo menos para nos advertir sobre o perigo de que o neoconsti-
tucionalismo com a fluidez metodoloacutegica e abertura do Direito a outros domiacutenios que preconi-
za possa acabar tornando-se um belo roacutetulo para justificar mais do mesmo patrimonialismo
desigualdade jeitinho Nesta perspectiva a novidade do neoconstitucionalismo poderia pare-
cer com aquela advogada pelo Priacutencipe de Salinas em famosa passagem do romance O Leopar-
do de Giuseppe Lampedusa quando defendia no contexto da crise da aristocracia italiana do
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final do seacuteculo XIX a necessidade de mudanccedilas urgentes no governo para que ao final as
coisas pudessem permanecer exatamente do jeito que sempre foram
Natildeo penso que esta seja uma consequumlecircncia necessaacuteria da adoccedilatildeo de uma perspectiva juriacutedica
mais principialista no Brasil O maior cuidado metodoloacutegico adicionado agrave adoccedilatildeo de uma dire-
triz hermenecircutica substantiva que afirme a missatildeo essencial do Direito de assegurar justiccedila e
seguranccedila agraves pessoas tratando-as como livres e iguais pode minimizar as possibilidades de um
uso enviesado da teoria neoconstitucional que acabe favorecendo aos mesmos de sempre
Mas diante das nossas tradiccedilotildees natildeo haacute como negar que os riscos satildeo elevados
c) Neoconstitucionalismo e panconstitucionalizaccedilatildeo
Uma das caracteriacutesticas do neoconstitucionalismo eacute a defesa da constitucionalizaccedilatildeo do Direi-
to Sustenta-se que a irradiaccedilatildeo das normas constitucionais por todo o ordenamento contribui
para aproximaacute-lo dos valores emancipatoacuterios contidos nas constituiccedilotildees contemporacircneas 141A
Constituiccedilatildeo natildeo eacute vista mais como uma simples norma normarum - cuja finalidade principal eacute
disciplinar o processo de produccedilatildeo de outras normas142 Ela passa a ser enxergada como a en-
carnaccedilatildeo dos valores superiores da comunidade poliacutetica que devem fecundar todo o sistema
juriacutedico Neste modelo cabe ao inteacuterprete natildeo soacute aplicar diretamente os ditames constitucio-
nais agraves relaccedilotildees sociais como tambeacutem reler todas as normas e institutos dos mais variados ra-
mos do Direito agrave luz da Constituiccedilatildeo emprestando-lhes o sentido que mais promova os objeti-
vos e a axiologia da Carta
A constitucionalizaccedilatildeo do Direito de que cogita o neoconstitucionalismo natildeo eacute aquela que resul-
ta do caraacuteter excessivamente analiacutetico da Constituiccedilatildeo e leva ao entricheiramento de meras
opccedilotildees conjunturais do constituinte originaacuterio ou derivado despidas de maior importacircncia ou
dignidade Este eacute um fenocircmeno caracteriacutestico da Carta de 88 que se excedeu no casuiacutesmo e
nos detalhes elevando ao seu texto meros interesses corporativos ou decisotildees de momento
sem focirclego para perdurarem no tempo A constitucionalizaccedilatildeo louvada e defendida pelo neo-
constitucionalismo eacute aquela que parte de uma interpretaccedilatildeo extensiva e irradiante dos direitos
fundamentais e dos princiacutepios mais importantes da ordem constitucional Aqui contudo pode-
se discutir ateacute que ponto o fenocircmeno eacute legiacutetimo Poucos discordaratildeo pelo menos no Brasil de
que alguma constitucionalizaccedilatildeo do Direito eacute positiva e bem-vinda por semear o ordenamento
com os valores humanitaacuterios da Constituiccedilatildeo Poreacutem pode-se objetar contra as teses extrema-
das sobre este processo que acabam amputando em demasia o espaccedilo de liberdade do legisla-
dor em detrimento da democracia 143
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Com efeito quem defende que tudo ou quase tudo jaacute estaacute decidido pela Constituiccedilatildeo e que o
legislador eacute um mero executor das medidas jaacute impostas pelo constituinte nega por conse-
quumlecircncia a autonomia poliacutetica ao povo para em cada momento da sua histoacuteria realizar as suas
proacuteprias escolhas O excesso de constitucionalizaccedilatildeo do Direito reveste-se portanto de um
vieacutes antidemocraacutetico Esta ordem de preocupaccedilotildees levou Ersnt Forsthof na Alemanha a criti-
car as teorias que viam a Constituiccedilatildeo como uma espeacutecie de genoma juriacutedico () do qual tudo
deriva do Coacutedigo Penal ateacute a lei sobre a fabricaccedilatildeo de termocircmetros144 E a questatildeo torna-se
ainda mais delicada diante da constataccedilatildeo de que pela abertura semacircntica dos direitos fun-
damentais e dos princiacutepios - principal mateacuteria-prima da constitucionalizaccedilatildeo do Direito - o seu
principal agente acaba sendo o Poder Judiciaacuterio ao dar a uacuteltima palavra sobre a interpretaccedilatildeo
daquelas claacuteusulas Daiacute porque o debate sobre a constitucionalizaccedilatildeo do Direito se imbrica
inexoravelmente com as discussotildees a propoacutesito da judicializaccedilatildeo da poliacutetica e do decisionismo
referidas acima
Ademais a constitucionalizaccedilatildeo do Direito tambeacutem suscita outra linha de preocupaccedilotildees rela-
cionada ao perfeccionismo moral145 na esfera privada No Brasil assim como em muitos outros
paiacuteses jaacute se assentou a ideacuteia de que os direitos fundamentais natildeo se dirigem apenas contra o
Estado vinculando tambeacutem os particulares Entre noacutes tem prevalecido na doutrina a ideacuteia que
eu mesmo defendi em outro estudo146 que a eficaacutecia dos direitos fundamentais nas relaccedilotildees
privadas eacute direta e imediata Em outras palavras entende-se que a proacutepria Constituiccedilatildeo jaacute inci-
de nas relaccedilotildees privadas independentemente de mediaccedilotildees legislativas e que pode gerar o-
brigaccedilotildees positivas ou negativas para os indiviacuteduos e natildeo soacute para os poderes puacuteblicos sempre
no afatilde de proporcionar uma proteccedilatildeo mais completa agrave dignidade humana Ateacute aqui nada a
contestar
Poreacutem o reconhecimento da vinculaccedilatildeo dos particulares agrave Constituiccedilatildeo suscita um risco que
natildeo pode ser ignorado o de imposiccedilatildeo agraves pessoas supostamente em nome de valores constitu-
cionais de comportamentos e estilos de vida que elas proacuteprias rejeitam em detrimento da sua
liberdade existencial Para dar um exemplo bem tosco seria terriacutevel se o Direito em nome do
princiacutepio da solidariedade social pudesse impor agraves pessoas que demonstrassem afetos e senti-
mentos que elas natildeo possuem genuinamente Ou se em nome da isonomia pretendesse inter-
ferir nas escolhas subjetivas e emocionais que os indiviacuteduos fazem nas suas vidas privadas A
constitucionalizaccedilatildeo neste sentido poderia converter-se num pretexto para o exerciacutecio de um
paternalismo anti-liberal em que as pessoas seriam forccediladas a conformarem-se agraves expectativas
sociais forjadas a partir de pautas de accedilatildeo politicamente corretas com apoio na Constitui-
ccedilatildeo147
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Nenhuma destas duas questotildees eacute insuperaacutevel Eacute possiacutevel aceitar e aplaudir a constitucionaliza-
ccedilatildeo do Direito - fenocircmeno em geral positivo por aproximar a racionalidade emancipatoacuteria da
Constituiccedilatildeo do dia-a-dia das pessoas - mas defender que ela seja temperada por outras preo-
cupaccedilotildees igualmente essenciais no Estado Democraacutetico de Direito com a autonomia puacuteblica e
privada dos cidadatildeos Pode-se reconhecer a legitimidade da constitucionalizaccedilatildeo do Direito
mas numa medida em que natildeo sacrifique em excesso agrave liberdade de conformaccedilatildeo que numa
democracia deve caber ao legislador para realizar opccedilotildees poliacuteticas em nome do povo148 Pode-
se da mesma forma afirmar a incidecircncia direta da Constituiccedilatildeo nas relaccedilotildees privadas mas
sem invadir a esfera das opccedilotildees existenciais da pessoa - que de resto eacute protegida pela proacutepria
Constituiccedilatildeo das ingerecircncias perfeccionistas do Estado e da sociedade149
5 Conclusatildeo Ao fim da leitura destas paacuteginas o leitor pode estar se indagando se eu me alinho ou natildeo ao
neoconstitucionalismo A minha resposta eacute depende da compreensatildeo que se tenha sobre o ne-
oconstitucionalismo Se entendermos o neoconstitucionalismo de acordo com a conhecida defi-
niccedilatildeo de Luis Prietro Sanchiacutes como uma teoria do Direito que se orienta pelas maacuteximas demaacutes
princiacutepios que reglas maacutes ponderacioacuten que subsuncioacuten omnipotencia de la Constitucioacuten en
todas las aacutereas juriacutedicas y en todos conflictos miacutenimamente relevantes en lugar de espacios
exentos en favor de la opcioacuten legislativa o reglamentaria omnipotencia judicial en lugar de
autonomia del legislador ordinaacuterio y por ultimo coexistecircncia de una constelacioacuten plural de
valores a veces tendencialmente contradictorios en lugar de homogeneidad ideoloacutegica150
certamente eu natildeo me considero um neoconstitucionalista De todas as afirmaccedilotildees do professor
espanhol a uacutenica de que natildeo discordo eacute aquela relacionada ao pluralismo de valores cujo re-
conhecimento aliaacutes estaacute longe de ser privileacutegio dos neoconstitucionalistas
Contudo eu assumo o roacutetulo sem constrangimentos se o neoconstitucionalismo for pensado
como uma teoria constitucional que sem descartar a importacircncia das regras e da subsunccedilatildeo
abra tambeacutem espaccedilo para os princiacutepios e para a ponderaccedilatildeo tentando racionalizar o seu uso
Se for visto como uma concepccedilatildeo que sem desprezar o papel protagonista das instacircncias de-
mocraacuteticas na definiccedilatildeo do Direito reconheccedila e valorize a irradiaccedilatildeo dos valores constitucio-
nais pelo ordenamento bem como a atuaccedilatildeo firme e construtiva do Judiciaacuterio para proteccedilatildeo e
promoccedilatildeo dos direitos fundamentais e dos pressupostos da democracia E acima de tudo se
for concebido como uma visatildeo que conecte o Direito com exigecircncias de justiccedila e moralidade
criacutetica151 sem enveredar pelas categorias metafiacutesicas do jusnaturalismo
26
Certamente uma visatildeo equilibrada da Teoria do Direito com tais caracteriacutesticas pode contribu-
ir para o aperfeiccediloamento do Estado Democraacutetico de Direito no Brasil O mesmo jaacute natildeo digo de
concepccedilotildees mais radicais do neoconstitucionalismo que podem ser muito boas para arrancar
aplausos entusiasmados das plateacuteias nos seminaacuterios estudantis mas que natildeo se conciliam com
exigecircncias fundamentais de seguranccedila juriacutedica democracia e liberdade que satildeo alicerces de
qualquer bom constitucionalismo - novo ou velho
Curriacuteculo Resumido
Daniel Sarmento
Poacutes-Doutor pela Universidade de Yale (EUA) Procurador Regional da Repuacuteblica
Como citar este artigo
SARMENTO Daniel O neoconstitucionalismo no Brasil riscos e possibilidades Disponiacutevel em httpwwweditoraforumcombrsistconteudolista_conteudoaspFIDT_CONTEUDO=56993 acesso em 09032011 httpdireitoesubjetividadefileswordpresscom201008daniel-sarmento-o-neoconstitucionalismo-no-brasil1doc acesso em 30062012 Material da 1ordf aula da Disciplina Teoria Geral da Constituiccedilatildeo (I) ministrada no Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo Online em Direito Constitucional ndash Anhanguera-UNIDERP | REDE LFG
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1Sobre a teoria de princiacutepios no Brasil veja-se dentre outros Ana Paula de Barcellos A eficaacutecia juriacutedica dos princiacutepios constitu-
cionais o princiacutepio da dignidade da pessoa humana Rio de Janeiro Renovar 2002 Humberto Bergman Aacutevila Teoria dos princiacute-
pios da definiccedilatildeo agrave aplicaccedilatildeo dos princiacutepios juriacutedicos 2 ed Satildeo Paulo RT 2005 Jane Reis Gonccedilalves Pereira Interpretaccedilatildeo
constitucional e direitos fundamentais uma contribuiccedilatildeo ao estudo das restriccedilotildees aos direitos fundamentais na perspectiva da
teoria dos princiacutepios Rio de Janeiro Renovar 2006 Virgiacutelio Afonso da Silva O conteuacutedo essencial dos direitos fundamentais e a
eficaacutecia das normas constitucionais Satildeo Paulo Tese (concurso de Professor Titular de Direito Constitucional da USP)
2Veja-se em tons variados Lecircnio Luiz Streck Hermenecircutica juriacutedica e(m) crise uma exploraccedilatildeo hermenecircutica da construccedilatildeo do
direito Porto Alegre Livraria do Advogado 1999 Luiacutes Roberto Barroso (Org) A nova interpretaccedilatildeo constitucional ponderaccedilatildeo
direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas Rio de Janeiro Renovar 2003 Margarida Maria Lacombe Camargo Hermenecircutica e
argumentaccedilatildeo uma contribuiccedilatildeo ao estudo do direito Rio de Janeiro Renovar 2003 Inocecircncio Maacutertires Coelho Interpretaccedilatildeo
constitucional 2 ed Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2003 Ana Paula de Barcellos Ponderaccedilatildeo racionalidade e atividade
jurisdicional Rio de Janeiro Renovar 2005
3Sobre o fenocircmeno da constitucionalizaccedilatildeo do Direito confira-se os inuacutemeros artigos que compotildeem a coletacircnea organizada por
Claacuteudio Pereira de Souza Neto e por mim A constitucionalizaccedilatildeo do direito fundamentos teoacutericos e aplicaccedilotildees especiacuteficas Rio de
Janeiro Lumen Juris 2007
4Cfr na literatura constitucional brasileira Gisele Guimaratildees Cittadino Pluralismo direito e justiccedila distributiva elementos de
filosofia constitucional contemporacircnea Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 Oscar Vilhena Vieira A Constituiccedilatildeo e sua reserva de
justiccedila um ensaio sobre os limites materiais do poder de reforma Satildeo Paulo Malheiros 1999 Ricardo Lobo Torres (Org) A legi-
timaccedilatildeo dos direitos humanos Rio de Janeiro Renovar 2002 Claacuteudio Pereira de Souza Neto Teoria constitucional e democracia
deliberativa Rio de Janeiro Renovar 2006 Lecircnio Luiz Streck Verdade e consenso Constituiccedilatildeo hermenecircutica e teorias discursi-
vas Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 Samantha Chantal Dobrowolski A construccedilatildeo social do sentido da Constituiccedilatildeo na demo-
cracia contemporacircnea entre soberania popular e direitos humanos Rio de Janeiro Lumen Juris 2007 Aacutelvaro Ricardo de Souza
Cruz Hermenecircutica juriacutedica e(m) debate o constitucionalismo brasileiro entre a teoria do discurso e a ontologia existencial Belo
Horizonte Foacuterum 2007
5Sobre a judicializaccedilatildeo da poliacutetica no Brasil veja-se Luiz Werneck Vianna et al A judicializaccedilatildeo da poliacutetica e das relaccedilotildees sociais
no Brasil Rio de Janeiro Revan 1999 Giselle Cittadino Judicializaccedilatildeo da poliacutetica constitucionalismo democraacutetico e separaccedilatildeo de
poderes In Luiz Werneck Vianna (Org) A democracia e os trecircs poderes no Brasil Belo Horizonte UFMG 2002 p 17-42 Rogeacuterio
B Arantes Constitucionalism the expansion of Justice and the Judicialization of Poltics in Brazil In Rachel Sieder Line Schjol-
den Alan Angell The Judicialization of Politics in Latin America New York Palgrave Macmillan 2005 p 232-262 Luis Roberto
Barroso Judicializaccedilatildeo ativismo judicial e legitimidade democraacutetica Texto ineacutedito gentilmente cedido pelo autor
Para uma perspectiva comparativa veja-se Neal C Tate Tobjorn Vallinder (Ed) The Global Expansion of Judicial Power New
York New York University Press 1995 Alec Stone Sweet Governing with Judges Constitutional Politics in Europe Oxford Oxford
Univesity Press 2000 e em tom profundamente criacutetico Ran Hirschl Towards Juristocracy the Origins and Consequences of the
New Constitucionalism Cambridge Harvard University Press 2004
6Miguel Carbonell et al Neoconstitucionalismo(s) Madrid Trotta 2003 Mais recentemente o autor publicou nova coletacircnea
tambeacutem dedicada ao estudo do neoconstitucionalismo intitulada Teoria del Neoconstitucionalismo Ensayos escogidos Madrid
Trotta 2007
7O jurista argentino Carlos Santiago Nino por exemplo faleceu em 1993 quando ainda nem se empregava esta denominaccedilatildeo
8Cf Robert Alexy Teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica a teoria do discurso racional como teoria da fundamentaccedilatildeo juriacutedica Tradu-
ccedilatildeo de Zilda Hutchinson Schild Silva revisatildeo teacutecnica da traduccedilatildeo e introduccedilatildeo agrave ediccedilatildeo brasileira Claudia Toledo 2 ed Satildeo Paulo
Landy 2005 Luis Roberto Barroso Curso de direito constitucional contemporacircneo os conceitos fundamentais e a construccedilatildeo do
novo modelo Rio de Janeiro Saraiva 2008 p 306-350
9Cf Lecircnio Luiz Streck Verdade e consenso Op cit p 197-246
28
10Ronald Dworkin e Carlos Santiago Nino satildeo sem sombra de duacutevida autores liberais natildeo no sentido que se atribui ao termo no
Brasil - de adeptos de doutrina econocircmica favoraacutevel ao Estado miacutenimo e ao mercado - mas sim no sentido corrente na Filosofia
Poliacutetica que associa o liberalismo agrave defesa dos direitos individuais e da neutralidade do Estado em relaccedilatildeo agraves diversas concepccedilotildees
sobre a vida boa existentes na sociedade Veja-se neste sentido Ronald Dworkin A Matter of Principle Cambridge Harvard
University Press 1985 p 181-236 Carlos Santiago Nino La constitucioacuten de la Democracia Deliberativa Barcelona Gedisa 1997
p 70-100
11Lecircnio Luiz Streck que se alinha ao neoconstitucionalismo defende posturas tipicamente comunitaristas como o papel da Consti-
tuiccedilatildeo na definiccedilatildeo de modelos de vida boa para orientaccedilatildeo da vida social e da accedilatildeo individual Cf Jurisdiccedilatildeo constitucional e
hermenecircutica uma nova criacutetica do direito 2 ed Rio de Janeiro Forense 2004 p 95-288
12Antonio Cavalcanti Maia um dos mais ardorosos defensores do neoconstitucionalismo no paiacutes eacute tambeacutem procedimentalista e
adepto das teorias juriacutedicas de Juumlrgen Habermas Veja-se neste sentido o seu denso texto Nos vintes anos da carta cidadatilde do
poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm (Coord) Vinte
anos da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 p 117-168 em que esta sua dupla filiaccedilatildeo intelectual eacute
explicitada
13Segundo Miguel Carbonell o neoconstitucionalismo desdobra-se em trecircs planos de anaacutelise que se conjugam o dos textos consti-
tucionais que se tornaram mais substantivos e incorporaram amplos elencos de direitos fundamentais o das praacuteticas judiciais que
passaram a recorrer a princiacutepios constitucionais agrave ponderaccedilatildeo e a meacutetodos mais flexiacuteveis de interpretaccedilatildeo sobretudo na aacuterea de
direitos fundamentais e o dos desenvolvimentos teoacutericos de autores que com as suas ideacuteias ajudaram natildeo soacute a compreender os
novos modelos constitucionais mas tambeacutem participaram da sua proacutepria criaccedilatildeo Cf Miguel Carbonell Neoconstitucionalismo
elementos para una definicioacuten In Eduardo Ribeiro Moreira Mauricio Pugliesi 20 anos da Constituiccedilatildeo brasileira Satildeo Paulo Sarai-
va 2009 p 197-208
14No mesmo sentido Luis Roberto Barroso Neoconstitucionalismo e Constitucionalizaccedilatildeo do direito o triunfo tardio do direito
constitucional do Brasil In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento A constitucionalizaccedilatildeo do direito fundamentos teoacuteri-
cos e aplicaccedilotildees especiacuteficas Rio de Janeiro Lumen Juris 2007 p 203-250
15Cf Carlos Bernal Pulido El Derecho de los Derechos Bogotaacute Universidad Externado de Colocircmbia 2006 Manoel Jose Cepeda
Espinosa Judicialization of Politics in Colombia the old and the new In Rachel Sieder Line Schonjen Alan Angell The Judiciali-
zation of Politics in Latin America Op cit p 67-104 Rodrigo Uprimmy Mauriacutecio Garcia-Villegas Tribunal Constitucional e eman-
cipaccedilatildeo social na Colocircmbia In Boaventura de Souza Santos Democratizar a democracia os caminhos da democracia participativa
Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2002 p 297-339
16Cf Catalina Smulovitz Petitioning and Creating Rights Judicialization in Argentina In Rachel Sieder Line Scjolden Alan Angell
The Judicialization of Politics in Latin America Op cit p 161-185
17Cf Miguel Carbonell Los Derechos Fundamentales en Meacutexico 2 ed Meacutexico Porruacutea 2006 Pilar Domingo The Changing Political
Role of the Judiciary in Meacutexico In Rachel Sieder Line Scjolden Alan Angell The Judicialization of Politics in Latin Ameacuterica Op
cit p 21-46
18Cf Heinz Klug South Aacutefrica From Constitucional Promise to Social Transformation In Jeffrey Goldsworthy Interpreting Consti-
tutions A Comparative Study Oxford Oxford University Press 2006 p 266-320
19Cf S P Sathe Iacutendia From Positivism to Structuralism In Jeffrey Goldsworthy Op cit p 215-265
20Veja-se a propoacutesito Gustavo Zagrebelsky Il Diritto Mite Torino Einaudi 1992 p 57-96
21Cf Eduardo Garciacutea de Enterriacutea La Constitucioacuten como Norma y el Tribunal Constitucional 3 ed Madrid Civitas 1985 p 41
22Na Alemanha a mudanccedila ocorreu sob a vigecircncia da Lei Fundamental adotada em 1949 e foi fortemente impulsionada pela
jurisprudecircncia do Tribunal Constitucional do paiacutes que construiu teorias importantes como a da Constituiccedilatildeo como uma ordem de
valores em cujo centro situa-se o princiacutepio da dignidade humana que se irradia por todo o ordenamento Veja-se a propoacutesito
Dieter Grimm Human Rights and Judicial Review in Germany In David M Beatty (Org) Human Rights and Judicial Review A
Comparative Perspective Dodrecht Martin Urjhoff 1994 p 267-295
23Na Itaacutelia as mudanccedilas se deram sob a eacutegide da atual Constituiccedilatildeo editada em 1947 mas soacute apoacutes o funcionamento da Corte
Constitucional que se deu em 1956 Ateacute entatildeo a Corte de Cassaccedilatildeo composta por juiacutezes recrutados ainda no periacuteodo do fascismo
29
era provisoriamente encarregada da guarda da Constituiccedilatildeo o que fazia de forma muito tiacutemida no mais das vezes negando eficaacute-
cia juriacutedica agraves normas constitucionais sob o argumento de que seriam programaacuteticas Veja-se a propoacutesito Ricardo Guastini A
constitucionalizaccedilatildeo do ordenamento juriacutedico e a experiecircncia italiana In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento A
constitucionalizaccedilatildeo do direito fundamentos teoacutericos e aplicaccedilotildees especiacuteficas Op cit p 271-294
24Cf No modelo do constitucionalismo norte-americano entende-se desde os primoacuterdios que a Constituiccedilatildeo eacute autecircntica lei e que
o Judiciaacuterio pode invalidar as decisotildees legislativas que a contrariem apesar do controle de constitucionalidade natildeo estar expres-
samente previsto no texto constitucional daquele paiacutes Esta ideacuteia que jaacute estava assentada no Federalista n 78 escrito por Ale-
xander Hamilton antes da aprovaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo foi posta em praacutetica pela primeira vez contra lei federal no ceacutelebre caso
Marbury v Madison julgado em 1803 pelo juiz Marshall Veja-se a propoacutesito Paul Brest Sanford Levinson Jack Balkin Akhil Reed
Amar Processes of Constitutional Decisionmaking Cases and Materials New York Aspen Publishers 2000 p 79-103
A versatildeo mais convencional do modelo constitucional norte-americano enfatiza a importacircncia central do Judiciaacuterio na atualizaccedilatildeo
do sentido da Constituiccedilatildeo do paiacutes Contudo esta leitura histoacuterica eacute hoje objeto de intensa disputa Em sentido contraacuterio a tal
posiccedilatildeo sustentando uma menor relevacircncia do Judiciaacuterio no desenvolvimento histoacuterico do constitucionalismo americano veja-se
por exemplo Stephen M Griffin American Constitutionalism From Theory to Politics New Jersey Princeton University Press
1996 p 88-139
25Cf Luis Prietro Sanchiacutes Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales Madrid Trotta 2003 p 107-117
26Cf Daniel Sarmento Ubiquumlidade constitucional Os dois lados da moeda In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento
(Coord) A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 113-148
27Na verdade a reaccedilatildeo contra o formalismo juriacutedico na Europa eacute bem anterior ao advento do constitucionalismo do 2ordm poacutes-guerra
remontando ao final do seacuteculo XIX Veja-se a propoacutesito Constantin M Stamatis Argumenter en Droit Une theacuteorie critique de
largumentation juridique Paris Publisud 1995 p 34-50 Antonio Manoel Hespanha Panorama histoacuterico da cultura juriacutedica euro-
peacuteia Lisboa Publicaccedilotildees Europa-Ameacuterica 1997 p 196-235
28Haacute vasta literatura sobre a ponderaccedilatildeo mas a obra mais influente sobre o tema eacute certamente o livro de Robert Alexy Teoria dos
direitos fundamentais Traduccedilatildeo de Virgiacutelio Afonso da Silva Satildeo Paulo Malheiros 2008 No cenaacuterio norte-americano veja-se a
anaacutelise densa e criacutetica de T Alexander Aleinikoff Constitucional Law in the Age of Balancing Yale Law Journal n 96 p 943-
1005 1987 No Brasil cfr Daniel Sarmento A ponderaccedilatildeo de interesses na Constituiccedilatildeo Federal Rio de Janeiro Lumen Juris
2000 Ana Paula de Barcellos Ponderaccedilatildeo racionalidade e atividade jurisdicional Op cit
29A bibliografia sobre o princiacutepio da proporcionalidade eacute vastiacutessima Veja-se a propoacutesito as densas anaacutelises de Carlos Bernal Puli-
do El Principio de Proporcionalidad y los Derechos Fundamentales Madrid Centro de Estuacutedios Constitucionales 2003 e no Brasil
de Jane Reis Gonccedilalves Pereira Interpretaccedilatildeo constitucional e direitos fundamentais Rio de Janeiro Renovar 2006 p 297-382
30Cf Chaiumlm Perelman Eacutetica e direito Traduccedilatildeo de Maria Ermantina Galvatildeo G Perira Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 p 361-684
Robert Alexy Teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica Op cit Friedrich Muller Discours de la Meacutethode Juridique Traduccedilatildeo de Olivier
Jouanjan Paris PUF 1993 Manuel Atienza Traacutes la Justicia Una Introduccioacuten al Derecho y al Razonamiento Juriacutedico Barcelona
Ariel 1995 Neil MacCormick Argumentaccedilatildeo juriacutedica e teoria do direito Traduccedilatildeo de Waldeacutea Barcellos Satildeo Paulo Martins Fontes
2006 Klaus Guumlnther Teoria da argumentaccedilatildeo no direito e na moral justificaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Claacuteudio Molz Satildeo Pau-
lo Landy 2004
31Cf Martin Shapiro Alec Stone Sweet On Law Politics and Judicialization New York Oxford University Press p 136-208
32Contudo deve-se admitir na linha de Paolo Comanducci que eacute possiacutevel reconhecer as mudanccedilas em questatildeo e propor novas
teorias que sejam adequadas a elas sem defendecirc-las Esta seria nas palavras do autor italiano a diferenccedila entre o neoconstitu-
cionalismo teoacuterico e o neoconstitucionalismo ideoloacutegico que natildeo apenas constroacutei teorias mais compatiacuteveis com os novos fenocirc-
menos mas vai aleacutem sustentando a sua legitimidade e propugnando pelo seu aprofundamento e expansatildeo Veja-se a propoacutesito
Paulo Comanducci Formas de neoconstitucionalismo Un anaacutelisis metateoacuterico In Miguel Carbonell (Ed) Neoconstitucionalis-
mo(s) Op cit p 75-98 Como reconhece o proacuteprio autor tal distinccedilatildeo baseia-se em uma semelhante acerca do positivismo
30
formulada por Norberto Bobbio que fala em positivismo teoacuterico ideoloacutegico e metodoloacutegico Cf Norberto Bobbio O positivismo
juriacutedico liccedilotildees de filosofia do direito Traduccedilatildeo e notas de Marcio Pugliesi et al Satildeo Paulo Iacutecone 1995 p 233-239
33Cf Ronald Dworkin Is Law a Sistem of Rules In Ronald Dworkin (Ed) Philosophy of Law Oxford Oxford University Press 1971
Robert Alexy Constitucionalismo discursivo Traduccedilatildeo de Luiz Afonso Heck Porto Alegre Livraria do Advogado 2007
34Cf Robert Alexy Derecho y Razoacuten Praacutectica Meacutexico Distribuiciones Fontamara 1993 Aulis Aarnio Lo Racional como Razonable
Traduccedilatildeo de Ernesto Garzoacuten Valdeacutes Madrid Centro de Estuacutedios Constitucionales 1991
35Cf Aharon Barak The Judge in a Democracy New Jersey Princeton University Press 2006 p 213-260 Gustavo Zagrebelsky Il
Diritto Mite Op cit p 179-217
36Confronte-se com perspectivas diferentes Luigi Ferrajoli O Estado de direito entre passado e futuro In Pietro Costa Danilo
Zolo (Org) Estado de direito histoacuteria teoria criacutetica Traduccedilatildeo de Carlo Alberto Dastoli Satildeo Paulo Martins Fontes 2006 p 419-
464 Elias Dias Estado de Derecho y Sociedad Democraacutetica Madrid Taurus 1998 Ronald Dworkin Introduction The Moral Reading
and the Majoritarian Premise In Freedoms Law The moral reading of the American Constitution Cambridge Harvard University
Press 1996 p 01-38 Gustavo Zagrebelsky La Crucifixioacuten y la Democracia Barcelona Ariel 1996 Claacuteudio Pereira de Souza Neto
Teoria constitucional da democracia deliberativa Op cit
37Cf Ronald Dworkin Introduction The Moral Reading and the Majoritarian Premise Op cit
38Cf Luigi Ferrajoli El Garantismo y la Filosofia del Derecho Bogotaacute Universidad Externado de Colocircmbia 2000
39Cf Luis Pietro Sanchis Sobre el Neoconstitucionalismo y sus Implicaciones In Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales
Op cit p 101-135
40Cf Ricardo Guastini Sur la Validiteacute de la Constitution du Point de Vue du Positivisme Juridique In Michel Troper Lucien Jaume
(Dir) 1789 et LInvention de la Constitution Paris LGDJ 1994 p 216-225
41Cf Suzana Pozzolo Neoconstituzionalismo e Positivismo Giuridico Torino Giapppicheli 2001
42Cf Ronald Dworkin Law and Morals In Justice in Robes Cambridge Harvard University Press 2006 p 01-35
43Cf Robert Alexy Derecho y Moral In La Institucionalizacioacuten de la Justicia Op cit p 17-30
44Cf Carlos Santiago Nino Eacutetica y Derechos Humanos 2 ed Buenos Aires Astrea 1989 p 11-48
45Cf Gustav Radbruch Cinco minutos de filosofia do direito In Filosofia do direito Traduccedilatildeo de L Cabral de Moncada 6 ed
Coimbra Armecircnio Amado 1979 p 414-418 Para uma densa problematizaccedilatildeo da foacutermula de Radbruch veja-se Thomas da Rosa
Bustamante Poacutes-Positivismo o argumento da injusticcedila aleacutem da Foacutermula de Radbruch In Teoria do direito e decisatildeo racional
temas de teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica Rio de Janeiro Renovar 2008
46Cf Robert Alexy La Institucionalizacioacuten de la Justicia Traduccedilatildeo de Joseacute Antonio Seone et al Granada Comares 2005 p 31-
54
47Sobre o tema cfr Alfonso Garcia Figueroa Princiacutepios e direitos fundamentais In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmen-
to A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 03-34
48O texto mais importante do positivismo inclusivo eacute o poacutes-escrito de Herbert LA Hart agrave sua obra magna The Concept of Law em
que ele responde agraves criacuteticas ao seu pensamento que Ronald Dworkin lhe endereccedilara O autor inglecircs faleceu antes de terminar o
texto mas ele foi publicado postumemente depois de ser editado por Joseph Raz Peneacutelope Bulloch Veja-se Herbert LA Hart
Poacutes-escrito In O conceito de direito Traduccedilatildeo de A Ribeiro Mendes 2 ed 1994 p 299-339 Tambeacutem na linha do positivismo
inclusivo veja-se Gregorio Peces- Barba Derechos Sociales y Positivismo Juriacutedico Escritos de Filosofia Poliacutetica y Juriacutedica Madrid
Dykinson 1999 p 83-90 Jules Coleman The Practice of Principle In defense of a pragmatist approach do legal theory Oxford
Oxford University Press p 103-120 Para uma resenha dos tipos de positivismo no debate contemporacircneo confira-se Dimitri Di-
moulis Positivismo juriacutedico introduccedilatildeo a uma teoria do direito e defesa do pragmatismo juriacutedico-politico Satildeo Paulo Meacutetodo
2006 p 65-166
49Cf Antonio Cavalcanti Maia Nos vinte anos da Constituiccedilatildeo do poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo Op cit Claacuteudio Perei-
ra de Souza Neto A teoria constitucional e seus lugares especiacuteficos notas sobre o aporte reconstrutivo Revista de Direito do
Estado n 1 p 89-104 jan mar 2006 Daniel Sarmento Interpretaccedilatildeo constitucional preacute-compreensatildeo e capacidades institu-
cionais do inteacuterprete In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binebojm Vinte anos da Constituiccedilatildeo de 1988
Op cit p 311-322
31
50Cf Juumlrgen Habermas Escritos sobre Moralidad y Eticidad Traduccedilatildeo de Manuel Jimenez Redondo Barcelona Paidoacutes 1991 p
131-172
51Sobre o comunitarismo haacute extensa literatura Dois textos claacutessicos deste linha de pensamento satildeo Michael Walzer The Communi-
tarian Critique of Liberalism In Politics and Passion New Haven Yale University Press 2004 p 141-163 Charles Taylor The
Procedural Republic and the Unencumbered Self In Robert Goodin Philip Pettit (Ed) Contemporary Political Philosophy 2 ed
Oxford Oxford University Press 2002 p 2462-256 Sobre a penetraccedilatildeo ainda que muitas vezes natildeo consciente das posiccedilotildees do
comunitarismo no constitucionalismo brasileiro veja-se Gisele Cittadino Pluralismo direito e justiccedila distributiva Op cit p
43-74
52Sobre o construtivismo eacutetico corrente filosoacutefica que sustenta a existecircncia de posiccedilotildees certas e erradas na Moral bem como a
possibilidade de encontraacute-las e fundamentaacute-las racionalmente veja-se Carlos Santiago Nino El Constructivismo Eacutetico Madrid
Centro de Estudios Constitucionales 1989
53O fenocircmeno tambeacutem se reproduz na teoria constitucional norte-americana hegemocircnica cf Keith Wittington Constitutional Con-
struction Divided Powers and Constitutional Meaning Cambridge Harvard University Press 1999 p 01-03
54A imagem do Poder Judiciaacuterio como um guardiatildeo de promessas eacute explorada e criticada numa obra importante da teoria juriacutedica
francesa contemporacircnea Antoine Garapon Le Gardien de Promesses Le juge et la democratie Paris Odile Jacob 1996
55Neste sentido o eloquumlente encerramento do Curso de Direito Constitucional Contemporacircneo de Luis Roberto Barroso o consti-
tucionalismo democraacutetico eacute a utopia que nos restou Uma feacute racional que ajuda a acreditar no bem e na justiccedila ainda quando natildeo
estejam ao alcance dos olhos (Op cit p 400)
56Cf Nico Poulantzas State Power Socialism London new Left Books 1978 Alan Hunt Marxist Theory of Law In Dennis Patter-
son (Ed) A Companion to Philosophy of Law and Legal Theory Malden Blackwell Publishers 1996 p 355-367
57Cf David Kairys (Ed) The Politics of Law A Progressive Critique New York Pantheon Books 1982 Roberto Mangabeira Unger
The Critical Legal Studies Movement Cambridge Harvard University Press 1986
58Cf Plauto Faraco Azevedo Criacutetica agrave dogmaacutetica e hermenecircutica juriacutedica Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1989 Luiz Fernando
Coelho Teoria criacutetica do direito 2 ed Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1991
59Natildeo haacute como abordar aqui as relaccedilotildees entre as inuacutemeras correntes do poacutes-modernismo e o Direito Constitucional Veja-se a
propoacutesito Niklas Luhman La Constituzione como Acquisizione Evolutiva In Gustavo Zagrebelsky Piacuteer Paolo Portinaro Joumlrg Lu-
ther Il Futuro della Costituzione Torino Einaudi 1996 p 83-128 Joseacute Joaquim Gomes Canotilho Civilizaccedilatildeo do direito constitu-
cional ou constitucionalizaccedilatildeo do direito civil a eficaacutecia dos direitos fundamentais na ordem juriacutedico-civil no contexto do direito
poacutes-moderno Cadernos de Direito Constitucional e Ciecircncia Poliacutetica n 15 p 07-16 1996 Eduardo Capellari A crise da moderni-
dade e a Constituiccedilatildeo Rio de janeiro Ameacuterica Juriacutedica 2004 Daniel Sarmento Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas 2 ed
Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 p 36-45
60Para Jean-Franccedilois Lyotard uma das caracteriacutesticas centrais do pensamento poacutes-moderno de que eacute expoente eacute a desconfianccedila
em relaccedilatildeo agraves metanarrativas - construccedilotildees abstratas grandiosas e totalizadoras tiacutepicas da Filosofia Moderna como direitos
humanos luta de classes e emancipaccedilatildeo pelo uso da razatildeo Cf Lyotard A condiccedilatildeo poacutes-moderna Traduccedilatildeo de Ricardo Correcirca
Barbosa 5 ed 1998 p16
61Cf Luiz Werneck Viana O terceiro poder na carta de 1988 e a tradiccedilatildeo republicana mudanccedila e conservaccedilatildeo In Ruben George
Oliven Marcelo Gildo Marccedilal Branda A Constituiccedilatildeo de 1988 na vida brasileira Satildeo Paulo Aderaldo e Rotshild 2008 p 91-109
62Cf Paulo Ricardo Schier Filtragem constitucional Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1999
63A expressatildeo foi cunhada por Claacuteudio Pereira de Souza Neto Fundamento e normatividade dos direitos fundamentais uma recons-
truccedilatildeo teoacuterica agrave luz do princiacutepio democraacutetico Arquivos de Direitos Humanos n 4 p 17-61 2003
64Cf Luis Roberto Barroso O direito constitucional e a efetividade de suas normas 3 ed Rio de Janeiro Renovar 1996
65Cf Clegravemerson Merlin Clegraveve A teoria constitucional e o direito alternativo para uma dogmaacutetica constitucional emancipatoacuteria In
Uma vida dedicada ao direito homenagem a Carlos Henrique de Carvalho Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1995 p 34-53
66Ressalte-se poreacutem que antes de 88 alguns juristas jaacute defendiam a forccedila normativa da Constituiccedilatildeo como o Prof Joseacute Afonso da
Silva Eacute de 1968 a primeira ediccedilatildeo da sua obra claacutessica A aplicabilidade das normas constitucionais que adotava claramente esta
32
perspectiva Todavia pelo clima nada propiacutecio ao constitucionalismo que reinava por aqui ateacute a nossa redemocratizaccedilatildeo a louvaacute-
vel pregaccedilatildeo dele e de outros juristas em prol da efetivaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo natildeo chegou a render maiores frutos
67Deve-se assinalar ainda a influecircncia marcante do novo constitucionalismo ibeacuterico neste movimento que tambeacutem pugnava pela
atribuiccedilatildeo de forccedila normativa agraves ambiciosas constituiccedilotildees de Portugal e Espanha entatildeo recentemente elaboradas apoacutes o fim de
experiecircncias autoritaacuterias naqueles paiacuteses A tiacutetulo de exemplo mencione-se a penetraccedilatildeo no paiacutes do pensamento do Professor de
Coimbra Joseacute Joaquim Gomes Canotilho especialmente da sua teoria sobre a Constituiccedilatildeo dirigente que ele posteriormente reviu
(cf J J Gomes Canotilho Constituiccedilatildeo dirigente e vinculaccedilatildeo ao legislador contributo para a compreensatildeo das normas constitu-
cionais programaacuteticas 2 ed Coimbra Coimbra 2001 - especialmente o prefaacutecio desta segunda ediccedilatildeo que daacute conta da mudanccedila
de posicionamento) bem como a difusatildeo das liccedilotildees do Professor Eduardo Garciacutea de Enterriacutea (cf La Constitucioacuten como Norma y el
Tribunal Constitucional Madrid Civitas 1981)
68Segundo a avaliaccedilatildeo atual de Luis Roberto Barroso personagem central do movimento o positivismo constitucional que deu
impulso ao movimento natildeo importava em reduzir o direito agrave norma mas sim em elevaacute-la a esta condiccedilatildeo pois ateacute entatildeo ele
havia sido menos do que norma (Curso de direito constitucional contemporacircneo Op cit p 224)
69Paulo Bonavides Curso de direito constitucional 5 ed Satildeo Paulo Malheiros 1994
70Eros Roberto Grau A ordem econocircmica na Constituiccedilatildeo de 88 interpretaccedilatildeo e criacutetica Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1996
71No acircmbito da Poacutes-Graduccedilatildeo em Direito da UERJ em que estou inserido desde 1997 primeiro como aluno e a partir de 2003 como
professor o Ricardo Lobo Torres teve papel central na difusatildeo do pensamento destes e de outros filoacutesofos entre os estudantes e o
proacuteprio corpo docente
72Cf Lecircnio Luiz Streck Hermenecircutica juriacutedica e(m) crise Op cit Eros Roberto Grau Ensaio e discurso sobre a interpreta-
ccedilatildeoaplicaccedilatildeo do direito Satildeo Paulo Malheiros 2002
73Nesta linha veja-se as obras que compotildeem a coletacircnea Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Direitos sociais funda-
mentos judicializaccedilatildeo e direitos sociais em espeacutecie Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 Ricardo Lobo Torres O miacutenimo existencial
e os direitos fundamentais Revista de Direito Administrativo n 177 p 20-49 1989 Ingo Wolfgang Sarlet A eficaacutecia dos direitos
fundamentais 9 ed Porto Alegre Livraria do Advogado 2008 Ana Paula de Barcellos A eficaacutecia juriacutedica dos princiacutepios o princiacute-
pio da dignidade da pessoa humana Op cit Marco Mazzeli Gouveia O controle judicial das omissotildees administrativas Rio de
Janeiro Forense 2003 Andreacuteas Krell Direitos sociais e controle judicial no Brasil e Alemanha os (des)caminhos de um direito
constitucional comparado Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2002
74Cf Gustavo Tepedino Temas de direito civil Rio de Janeiro Renovar 1999 Luiz Edson Fachin Estatuto juriacutedico do patrimocircnio
miacutenimo Rio de Janeiro Renovar 2001 Maria Celina Bodin de Moraes Danos agrave pessoa humana uma leitura civil-constitucional dos
danos morais Rio de Janeiro Renovar 2003 Teresa Negreiros Fundamentos para uma interpretaccedilatildeo constitucional do princiacutepio
da boa-feacute Rio de Janeiro Renovar 1998 Anderson Schreiber A proibiccedilatildeo do comportamento contraditoacuterio Rio de Janeiro Reno-
var 2005
75Cf Luciano Feldens A Constituiccedilatildeo penal a dupla face da proporcionalidade no controle das lei penais Porto Alegre Livraria do
Advogado 2005 Luis Carlos dos Santos Gonccedilalves Mandados expressos de criminalizaccedilatildeo e a proteccedilatildeo de direitos fundamentais na
Constituiccedilatildeo Brasileira de 1988 Belo Horizonte Foacuterum 2007
76Cf Gustavo Binenbojm Uma teoria do direito administrativo direitos fundamentais democracia e constitucionalizaccedilatildeo Rio de
Janeiro Renovar 2006 Alexandre dos Santos Aragatildeo Floriano de Azevedo Marques (Coord) Direito administrativo e seus novos
paradigmas Belo Horizonte Foacuterum 2008
77Cf Gustavo Binenbojm A nova jurisdiccedilatildeo constitucional brasileira legitimidade democraacutetica e instumentos de realizaccedilatildeo Rio de
Janeiro Renovar 2001 Claacuteudio Pereira de Souza Neto Jurisdiccedilatildeo constitucional democracia e racionalidade praacutetica Rio de
Janeiro Renovar 2002 Joseacute Adeacutercio Leite Sampaio A Constituiccedilatildeo reinventada pela jurisdiccedilatildeo constitucional Belo Horizonte Del
Rey 2002 Lecircnio Luiz Streck Jurisdiccedilatildeo constitucional e hermenecircutica Porto Alegre Livraria do Advogado 2002 Aacutelvaro Ricardo
de Souza Cruz Jurisdiccedilatildeo constitucional democraacutetica Belo Horizonte Del Rey 2004
78A expressatildeo dificuldade contramajoritaacuteria eacute de um claacutessico da teoria constitucional norte-americana Alexander Bickel La Cons-
titucioacuten como Norma y el Tribunal Constitucional 2 ed New Haven Yale University Press 1986
33
79Em siacutentese apertada o procedimentalismo sustenta que natildeo eacute papel da jurisdiccedilatildeo constitucional tutelar valores substantivos mas
apenas proteger os pressupostos necessaacuterios ao bom funcionamento da democracia Jaacute o substancialismo reconhece a legitimidade
da atuaccedilatildeo jurisdicional em favor da garantia e promoccedilatildeo de valores substantivos presentes na Constituiccedilatildeo O debate entre o
procedimentalismo identificado com as ideacuteias de autores como John Hart Ely e Juumlrgen Habermas e o substancialismo defendido
por teoacutericos como Ronald Dworkin e Laurence Tribe eacute reproduzido em praticamente toda a literatura contemporacircnea que trata de
Teoria ou Filosofia Constitucional Veja-se a propoacutesito a densa obra de Claacuteudio Ari Mello Democracia constitucional e direitos
fundamentais Porto Alegre Livraria do Advogado 2004
80Neoconstitucionalismo e constitucionalizaccedilatildeo do direito o triunfo tardio do direito constitucional no Brasil Op cit
81A crise paradigmaacutetica do direito no contexto da resistecircncia positivista ao (neo)constitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza
Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm Vinte anos da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Op cit p 203-228
82Nos vinte anos da carta cidadatilde do poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo Op cit
83Neoconstitucionalismo direitos fundamentais e controle de poliacuteticas puacuteblicas In Daniel Sarmento Flaacutevio Galdino (Org) Direitos
fundamentais estudos em homenagem ao prof Ricardo Lobo Torres Rio de Janeiro Renovar 2006 p 31-60
84Direitos humanos legitimidade e constitucionalismo In Daniel Sarmento Flaacutevio Galdino (Org) Direitos fundamentais estudos
em homenagem ao Prof Ricardo Lobo Torres Op cit p325-350
85Novos desafios agrave filtragem constitucional no momento do neoconstitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sar-
mento A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 251-270
86Neoconstitucionalismo a invasatildeo da Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Meacutetodo 2008
87Neoconstitucionalismo e positivismo juriacutedico Satildeo Paulo Landy 2006
88Teoria do direito e argumentaccedilatildeo racional temas de teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica op cit p 141-240
89Uma visatildeo criacutetica do neoconstitucionalismo In George Salomatildeo Leite Glauco Salomatildeo Leite Constituiccedilatildeo e efetividade constitu-
cional Salvador JusPodium 2008 p 43-60
90Neoconstitucionalismo entre a Ciecircncia do direito e o direito da ciecircncia In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento
Gustavo Binenbojm Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 p 187-202
91Cf Peticcedilatildeo 1246 MSSC julgada em 31011997 (obrigaccedilatildeo do Estado de realizar transplante de ceacutelulas mioblaacutesticas para salvar
a vida de crianccedila) Agravo de Instrumento no Recurso Extraordinaacuterio 271286RS DJU 24 nov 2000 (entrega de medicamentos
para portadores de HIV) e Agravo de Instrumento do Recurso Extraordinaacuterio nordm 410715-5 julgado em 22112005 (obrigaccedilatildeo de
fornecimento de vagas para educaccedilatildeo infantil pelo municiacutepio com atendimento em creches e preacute-escola)
92Recursos Extraordinaacuterios nordms 158215-4RS 161243-6DF 201819RJ
93Cf Mandado de Injunccedilatildeo 670ES Rel Min Gilmar Mendes julgado em 25102007 em que o STF revendo orientaccedilatildeo anterior
deu eficaacutecia normativa agrave sentenccedila proferida no mandado de injunccedilatildeo No caso decidiuse que ateacute o advento de lei regulamentado-
ra sobre a greve no serviccedilo puacuteblico o direito de greve poderia ser exercido obedecendo-se os limites impostos pela Lei 778389
que trata dos movimentos paredistas em serviccedilos essenciais no setor privado
94Sobre a tendecircncia agrave superaccedilatildeo da ideacuteia do Judiciaacuterio como legislador negativo na jurisdiccedilatildeo constitucional veja-se Joseacute Adeacutercio
Leite Sampaio A Constituiccedilatildeo reinventada pela jurisdiccedilatildeo constitucional Belo Horizonte Del Rey 2002 p 203-248
95Eacute lugar-comum dentre os autores que tratam da questatildeo associar tais mudanccedilas agrave pluralizaccedilatildeo das vozes na interpretaccedilatildeo consti-
tucional tema em que a referecircncia essencial no cenaacuterio germacircnico eacute Peter Haumlberle Veja-se a propoacutesito Peter Haumlberle Herme-
necircutica constitucional A sociedade aberta dos inteacuterpretes da Constituiccedilatildeo contribuiccedilatildeo para a interpretaccedilatildeo pluralista e procedi-
mental da Constituiccedilatildeo Traduccedilatildeo de Gilmar Ferreira Mendes Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1997 Veja-se ainda na doutrina
brasileira Gustavo Binenbojm A dimensatildeo do Amicus Curiae no processo constitucional brasileiro In Temas de direito constitu-
cional e administrativo Rio de Janeiro Renovar 2008 p 165-190
96ADIN 3510DF Relator Ministro Carlos Ayres Britto A accedilatildeo proposta contra o art 5ordm da Lei de Biosseguranccedila impugnava a auto-
rizaccedilatildeo de pesquisas com embriotildees humanos resultantes de fertilizaccedilatildeo in vitro que fossem inviaacuteveis ou estivessem congelados haacute
mais de trecircs anos A accedilatildeo foi julgada totalmente improcedente por 6 votos a 5
97ADPF nordm 54 A accedilatildeo que tem como relator o Ministro Marco Aureacutelio ainda natildeo foi julgada mas em seu bojo jaacute ocorreram diversas
audiecircncias puacuteblicas que provocaram intensa participaccedilatildeo da sociedade civil e grande interesse na miacutedia
34
98ADPF nordm 132 Relator Ministro Carlos Ayres Britto A accedilatildeo ainda foi julgada
99Mandados de Seguranccedila 26602DF 26603DF e 26604DF Informativo STF n 482
100Recurso Extraordinaacuterio 197917SP Rel p acoacuterdatildeo Min Ceacutesar Peluso DJU 18 fev 2005
101O livro de Alberto Carlos Almeida A cabeccedila do brasileiro lanccedilado em 2007 conteacutem pesquisas feitas sobre uma acuteseacuterie de temas
com pessoas de todas as classes sociais e regiotildees do paiacutes Uma das pesquisas eacute relativa agrave avaliaccedilatildeo das instituiccedilotildees Dentre as treze
avaliadas as duas que obtiveram menor aprovaccedilatildeo foram os partidos poliacuteticos (avaliaccedilatildeo positiva de 28 dos entrevistados) e o
Congresso (avaliaccedilatildeo positiva de 36 dos entrevistados) Cf Antonio Carlos Almeida A cabeccedila do brasileiro Rio de Janeiro Re-
cord 2007 p 187
102Cf Luis Roberto Barroso Judicializaccedilatildeo ativismo judicial e legitimidade democraacutetica Texto ainda ineacutedito gentilmente cedido
pelo autor
103Humberto Aacutevila por exemplo formula outra criacutetica importante de que o neoconstitucionalismo seria inadequado agrave realidade
constitucional brasileira jaacute que privilegia os princiacutepios e a Carta de 88 seria muito mais regulatoacuteria do que principioloacutegica (Neo-
constitucionalismo entre a ciecircncia do direito e o direito da ciecircncia Op cit p 188-192)
104Contudo natildeo eacute razoaacutevel estender esta criacutetica ao ponto de negar o caraacuteter democraacutetico da atuaccedilatildeo judicial Como ressaltou
Eugenio Rauacutel Zaffaroni uma instituiccedilatildeo natildeo eacute democraacutetica unicamente porque natildeo provenha de eleiccedilatildeo popular porque nem tudo
o que proveacutem desta origem eacute necessariamente aristocraacutetico Uma instituiccedilatildeo eacute democraacutetica quando seja funcional para o sistema
democraacutetico quer dizer quando seja necessaacuteria para a sua continuidade como ocorre com o judiciaacuterio (Poder judiciaacuterio crise
acertos e desacertos Traduccedilatildeo de Juarez Tavares Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1995 p 43)
105Cf Robert A Dahl Sobre a democracia Traduccedilatildeo de Beatriz Sidou Brasiacutelia UNB 2001 p 97-113 Juumlrgen Habermas Popular
Sovereignity as Procedure In James Bonham William Rehg Deliberative Democracy Cambridge The MIT Press 1997 p 35-66
106A questatildeo da tensatildeo e sinergia simultacircneas entre constitucionalismo e democracia eacute um dos debates mais fecundos da Teoria
Poliacutetica e da Filosofia Constitucional que tem atravessado o tempo desde o advento do constitucionalismo moderno no seacuteculo
XVIII Veja-se no debate contemporacircneo Jeremy Waldron Preocommitment and Disagreement In Larry Alexander Constitu-
cionalism Philosophical Foundations Cambridge Cambridge University Press 1998 p 271-299 Juumlrgen Habermas O Estado demo-
craacutetico de direito uma amarraccedilatildeo paradoxal de princiacutepios contraditoacuterios In Era das transiccedilotildees Traduccedilatildeo de Flaacutevio Beno Siebe-
neichler Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 2003 p 153-173 Carlos Santiago Nino La Constitucioacuten de la Democracia Deliberativa
Op cit Frank Michelman Brennan and Democracy Princeton Princeton University Press 1999 p 03-62 Stephen Holmes El
Precompromiso y la Paradoja de la Democracia In Jon Elster Rune Slagstad Constitucionalismo y Democracia Traduccedilatildeo de Mocircni-
ca Utrilla de Neira Mexico Fondo de Cultura Econocircmica 1999 p 217-262
107O problema da limitaccedilatildeo do legislador atual pelas decisotildees do constituinte adotadas no passado envolve a problemaacutetica da
partilha intergeracional de poder bem explicitada na fala de Jefferson que defendia que a cada 19 anos deveria ser elaborada
uma nova Constituiccedilatildeo nos Estados Unidos para que a Lei Maior daquele paiacutes natildeo se tornasse um mecanismo de governo dos mor-
tos sobre os vivos Em siacutentese apertada haacute na teoria poliacutetica contemporacircnea duas linhas principais de justificativa para a legiti-
midade destas restriccedilotildees
Uma eacute a teoria da democracia dualista defendida por Bruce Ackerman que sustenta que as decisotildees adotadas pelo proacuteprio povo
em contextos de grande mobilizaccedilatildeo ciacutevica devem ser protegidas do alcance da vontade dos representantes do povo formada em
momentos em que a cidadania natildeo esteja intensamente envolvida Esta teoria distingue a poliacutetica extraordinaacuteria correspondente
agravequeles momentos constitucionais da poliacutetica ordinaacuteria que se realiza atraveacutes das deliberaccedilotildees do dia a dia dos oacutergatildeos represen-
tativos Para a perspectiva ackermaniana a poliacutetica extraordinaacuteria - que natildeo exige necessariamente formalizaccedilatildeo procedimental
atraveacutes de assembleacuteia constituinte ou de emenda constitucional - se situa em patamar superior agrave poliacutetica ordinaacuteria e pode legiti-
mamente impor limites a esta (cf Bruce Ackerman We the people Foundations Cambridge The Belknap Press 1991 p 03-33)
Outra teoria eacute a do preacute-compromisso que jaacute foi advogada por Jon Elster Segundo ela eacute legiacutetimo subtrair do alcance das maiorias
determinadas questotildees fundamentais que expressam princiacutepios fundamentais de justiccedila poliacutetica ou garantam os pressupostos da
proacutepria democracia tendo em vista o risco de que no processo poliacutetico majoritaacuterio em momentos de irracionalidade o povo
35
possa ser viacutetima de suas proacuteprias fraquezas ou paixotildees momentacircneas atentando contra tais princiacutepios (cf Ulisses and Sirens
Cambridge Cambridge University Press 1979)
Ambas as concepccedilotildees - a primeira mais proacutexima ao republicanismo e a segunda de vieacutes mais liberal - tecircm a sua dose de procedecircn-
cia mas ensejam criacuteticas importantes Todavia foge a escopo do presente trabalho analisar esta questatildeo que eacute uma das mais
complexas da Filosofia Poliacutetica moderna e contemporacircnea Para uma visatildeo geral sobre o tema na literatura em liacutengua portuguesa
veja-se Oscar Vilhena Vieira A Constituiccedilatildeo e sua reserva de justiccedila Op cit Miguel Nogueira de Brito A Constituiccedilatildeo constituin-
te ensaio sobre o poder de revisatildeo da Constituiccedilatildeo Coimbra Coimbra 2000 Samantha Chantal Dobrowolski Op cit p 265-312
Rodrigo Brandatildeo Direitos fundamentais democracia e claacuteusulas peacutetreas Rio de Janeiro Renovar 2008 p 59-112
108Cf Michel Troper Justice Constitutionelle et Deacutemocratie In Pour une Theorie Juridique de LEacutetat Paris PUF 1994 p 317-328
Claacuteudio Pereira de Souza Neto Jurisdiccedilatildeo constitucional democracia e racionalidade praacutetica Op cit p 106-130 Gustavo Binen-
bojm A nova jurisdiccedilatildeo constitucional brasileira Op cit p 55-74
109Sobre o modelo revolucionaacuterio francecircs de constitucionalismo completamente avesso agrave ideacuteia de jurisdiccedilatildeo constitucional cf
Maurizio Fioravanti Constitucioacuten de la antiguumledad a nuestros dias Traduccedilatildeo de Manuel Martinez Neira Madrid Trotta 2001 p
120-132
110Cf Carl Schmitt La Defesa de la Constitucioacuten Madrid Tecnos 1983
111O constitucionalismo popular ou populismo constitucional eacute uma importante corrente no debate constitucional norte-americano
contemporacircneo que nega a legitimidade democraacutetica do controle de constitucionalidade advogando que deve caber ao proacuteprio
povo e natildeo a uma elite de juiacutezes natildeo eleitos com assento na Suprema Corte o poder de definir o sentido das claacuteusulas vagas que
abundam no texto constitucional daquele paiacutes Na defesa desta tese satildeo empregados tanto argumentos de teoria e filosofia poliacuteti-
ca de caraacuteter mais universal como razotildees histoacutericas relacionadas agrave evoluccedilatildeo do constitucionalismo estadunidense Veja-se nesta
linha Mark Tushnet Taking the Constitution Away from the Courts Princeton Princeton University Press 1999 Jeremy Waldron
Precommitment and Disagreement Op cit Larry D Kramer The People Themselves Popular constitutionalism and judicial re-
view New York Oxford University Press 1994
Ateacute algumas deacutecadas atraacutes a oposiccedilatildeo agrave jurisdiccedilatildeo constitucional nos Estados Unidos partia em regra da Direita que natildeo se con-
formava com a jurisprudecircncia extremamente liberal em mateacuteria de direitos fundamentais estabelecida pela Corte entre os anos
50 e 70 Atualmente uma boa parte dos opositores agrave judicial review situa-se agrave esquerda do espectro poliacutetico e talvez a nova linha
profundamente conservadora daquele Tribunal ajude a explicar esta mudanccedila
112Sobre a Era de Lochner veja-se Laurence H Tribe American Constitutional Law 2 ed Mineola The Foundation Press 1988 p
567-581 Paul Brest et al Processes of Constitucional Decisionmaking 4 ed New York Aspen Publishers 2000 p 337-354
113Towards Juristocracy hellip Op cit
114Tratei do tema no artigo Direito adquirido emenda constitucional democracia e justiccedila social In Livres e iguais Op cit p
03-32
115Cf Charles R Epp The Rights Revolution Chicago The University of Chicago Press 1998 p 26-70 Owen Fiss The Law as It
Could Be New York New York University Press 2003 p 244-249
116A importacircncia e as peculiaridades da interpretaccedilatildeo legislativa da Constituiccedilatildeo satildeo exploradas em importante obra coletiva
Richard W Bauman Tsvi Kahana The Least Examined Branch The Role of Legislatures in the Constitutional State Cambridge
Cambridge University Press 2006
117Cf em tom ainda mais ceacutetico do que o adotado neste estudo Martonio MontAlverne Barreto Lima Jurisdiccedilatildeo Constitucional
um problema da teoria da democracia poliacutetica In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Gilberto Bercovici Joseacute Filomeno de Moraes
Filho Martonio MontAlverne Teoria da Constituiccedilatildeo estudos sobre o lugar da poliacutetica no direito constitucional Rio de Janeiro
Lumen Juris 2003 p 199-261 Conrado Huumlbner Mendes Controle de constitucionalidade e democracia Rio de Janeiro Elsevier
2008
36
118Para criacutetica semelhante no contexto germacircnico veja-se Ingeborg Maus O judiciaacuterio como superego da sociedade sobre o papel
da atividade jurisprudencial na sociedade oacuterfatilde Traduccedilatildeo de Martonio MontAlverne Barreto Lima Paulo Antonio Menezes de Albu-
querque Anuaacuterio dos Cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito da Faculdade de Direito de Recife n 11 2000
119Eu aprofundo a anaacutelise deste ponto no meu artigo Interpretaccedilatildeo constitucional preacute-compreensatildeo e capacidades institucionais do
inteacuterprete In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm (Coord) Vinte anos da Constituiccedilatildeo Federal
de 1988 Op cit p 311-322 E a necessidade de optar por teoria de interpretaccedilatildeo que leve em consideraccedilatildeo as capacidades
institucionais reais dos juiacutezes comparando-as com as dos agentes de outras instituiccedilotildees eacute explorada no importante estudo de Cass
Sunstein Adrian Vermeulle Interpretations and Institutions Chicago Working Papers in Law amp Economics 2002 p 01-55 bem
como no livro de Adrian Vermeulle Judging under Uncertainty An Institutional Theory for Legal Interpretation Cambridge Har-
vard University Press 2006
120Dentre as honrosas exceccedilotildees mencione-se Luiacutes Roberto Barroso autor de importante artigo com sugestotildees para a reforma poliacuteti-
ca no paiacutes Reforma poliacutetica uma proposta de sistema de governo eleitoral e partidaacuterio para o Brasil Revista de Direito do Esta-
do n 3 p 287-360 jul set 2006
121Sobre o ethos judicial no Brasil veja-se a pesquisa de Maria Tereza Sadek Magistrados uma imagem em movimento Rio de
Janeiro FGV 2006
122Em sentido semelhante veja-se Michael J Perry The Constitution the Courts and Human Rights New Haven Yale University
Press 1982 p 91-145
123Neste ponto entendo que um standard importante que deveria ser adotado para controle de constitucionalidade eacute o de que
quanto maiores forem as credencias democraacuteticas de um ato normativo mais autocontido deve ser o Poder Judiciaacuterio ao avaliar a
sua constitucionalidade Na minha opiniatildeo estas credencias democraacuteticas devem ser aferidas tanto por criteacuterios qualitativos - eg
grau de participaccedilatildeo social no processo legislativo qualidade do processo deliberativo que a antecedeu - como por criteacuterios quanti-
tativos - percentual de votos favoraacuteveis agrave medida Em sentido semelhante veja-se Claacuteudio Ari Mello Democracia e direitos funda-
mentais Op cit p 298
124Em sentido proacuteximo apontam as liccedilotildees de Gustavo Binenbojm e Humberto Aacutevila O primeiro tratando do controle judicial dos
atos administrativos averbou que quanto maior for o grau de tecnicidade da mateacuteria objeto de decisatildeo por oacutergatildeos dotados de
expertise e experiecircncia menos intenso deve ser o grau de controle judicial (Uma teoria do direito administrativo Op cit p
236) Jaacute o segundo salientou que o acircmbito de controle pelo Judiciaacuterio deveraacute ser tanto menor quanto mais difiacutecil e teacutecnico for
o juiacutezo exigido para o tratamento da mateacuteria (Teoria dos princiacutepios Op cit p 126)
125Um exemplo extremado deste posicionamento estaacute na argumentaccedilatildeo adotada pelo STF no julgamento da ADIN 2797 Rel Min
Sepuacutelveda Pertence em que se reconheceu a inconstitucionalidade formal de lei que pretendia interpretar a Constituiccedilatildeo Para o
STF natildeo pode a lei ordinaacuteria pretender impor como seu objeto imediato uma interpretaccedilatildeo a Constituiccedilatildeo a questatildeo eacute de in-
constitucionalidade formal iacutensita a toda norma da gradaccedilatildeo inferior que se proponha a ditar interpretaccedilatildeo de norma superior
Na questatildeo de fundo abordada naquele caso entendo que o STF estava certo Tratava-se de invalidar uma norma legal que esten-
dera o foro de prerrogativa de funccedilatildeo a ex-ocupantes de cargos puacuteblicos visando a restaurar antiga jurisprudecircncia do STF sedi-
mentada na Suacutemula 394 do Tribunal que acabara de ser cancelada O princiacutepio republicano natildeo era compatiacutevel com tal medida
que configurava niacutetido privileacutegio O que me parece inaceitaacutevel e profundamente anti-democraacutetico com a devida vecircnia natildeo eacute o
resultado alcanccedilado pela Corte - com o qual concordo - mas o argumento empregado de que o legislador natildeo pode interpretar a
Constituiccedilatildeo
126Existe hoje uma fecunda produccedilatildeo acadecircmica no cenaacuterio anglo-saxatildeo sobre as vantagens de modelos teoacutericos que favoreccedilam
diaacutelogos entre diversos oacutergatildeos e instituiccedilotildees na interpretaccedilatildeo constitucional ao inveacutes de afirmarem a exclusividade ou mesmo a
supremacia do Judiciaacuterio nesta seara Veja-se a propoacutesito Laurence G Sager Justice in Plainclothes A Theory of American Con-
stitutional Practice New haven Yale University Press 2004 Mark Tushnet Weak Courts Strong Rights Judicial Review and Social
Welfare Rights in Comparative Constitutional Law Princeton Princeton University Press 2008 Mark C Miller Jeb Barnes (Ed)
Making Police Making Law An Interbranch Perspective Washington DC Georgetown University Press 2004
37
127Colhi o exemplo no estudo de Oscar Vilhena Vieira Supremocracia In Daniel Sarmento (Org) Filosofia e teoria constitucional
contemporacircnea Rio de Janeiro Lumen Juris 2009
128Como um natildeo-positivista tenho a necessaacuteria imparcialidade para criticar os equiacutevocos da doutrina brasileira nas suas invectivas
contra o positivismo que muitas vezes caracterizam verdadeira falaacutecia do espantalho ataca-se natildeo a proacutepria teoria positivista
mas uma distorcida caricatura dela Duas afirmaccedilotildees erradas que eu mesmo jaacute fiz em textos anteriores satildeo muito frequumlentes a
de que o positivismo recusa a aplicaccedilatildeo dos princiacutepios juriacutedicos e a de que ele teria sido a Filosofia do Direito cultivada na Alema-
nha nazista
Quanto ao primeiro ponto natildeo haacute nenhuma incompatibilidade loacutegica entre positivismo e princiacutepios desde que os princiacutepios este-
jam devidamente incorporados na ordem juriacutedico-positiva Vaacuterios autores positivistas contemporacircneos jaacute citados neste estudo
como Luis Prietro Sanchiacutes Luigi Ferrajoli e Gregorio Peces-Barba atribuiacuteram espaccedilo importante para princiacutepios nas suas teorias
Mesmo no Direito Puacuteblico brasileiro juristas de inspiraccedilatildeo positivista kelseniana construiacuteram suas teorias com apoio em argumen-
taccedilatildeo principioloacutegica como o falecido Geraldo Ataliba e Celso Antonio Bandeira de Mello
No que tange ao segundo ponto - a chamada redutio ad hitlerum - os estudos mais autorizados de Histoacuteria do Direito comprovam
que natildeo foi o positivismo a teoria juriacutedica dominante no nazismo mas uma espeacutecie de jusnaturalismo de inspiraccedilatildeo hegeliana que
se insurgia contra o formalismo e recorria com frequumlecircncia a conceitos muito vagos para justificar a barbaacuterie como os de comuni-
dade popular (Volksgemeinschaft) Veja-se a propoacutesito Michael Stolleis The Law under the Swastika Studies on Legal History in
Nazi Germany Traduccedilatildeo de Thomas Dunlap Chicago The University of Chicago Press 1998
129Cf Joseacute Joaquim Gomes Canotilho Direito constitucional e Teoria da Constituiccedilatildeo Coimbra Almedina 1998 p 1036
130Sobre a importacircncia das regras veja-se Frederick Schauer Playing by the Rules A Philosophical Exaxamination of Rule-Bases
Decision-Making in Law and Life Oxford Oxford University Press 1998 Humberto Aacutevila Neoconstitucionalismo entre a ciecircncia do
direito e o direito da ciecircncia Op cit Noel Struchiner Posturas institucionais e modelagem institucional a dignidade (contingente)
do formalismo juriacutedico In Daniel Sarmento Filosofia e teoria constitucional contemporacircnea Op cit
131Esta eacute expressatildeo empregada por Ana Paula de Barcellos O direito constitucional em 2006 Revista de Direito do Estado n 5 p
03-23 janmar 2007
132Cf Chaiumlm Perelman P Fories La Motivation des Deacutecisions de Justice Bruxelas Eacutemile Bruylant 1978
133Sobra a influecircncia do jeitinho no Direito brasileiro cf Keith Rosen O jeito na cultura juriacutedica brasileira Rio de Janeiro Reno-
var 1997
134Sobre o patrimonialismo no Brasil veja-se Raimundo Faoro Os donos do poder 8 ed Rio de Janeiro Globo 1989 v 2 p 729-
750
135Raiacutezes do Brasil 26 ed Satildeo Paulo Companhia das Letras 1995
136Cf Joseacute Murilo de Carvalho Brasileiro Cidadatildeo In Pontos e bordados escritos de histoacuteria e poliacutetica Belo Horizonte Ed
UFMG 2005 p 275-288
137Cf Gustavo Zagrebelsky Il Diritto Mite Op cit p 15-19
138Cf Marcelo Neves A constitucionalizaccedilatildeo simboacutelica Satildeo Paulo Acadecircmica 1994
139A obra de Niklas Luhman eacute vasta e complexa e seus textos satildeo de difiacutecil compreensatildeo para os natildeo iniciados Veja-se do proacuteprio
autor Sociologia do direito I e II Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 1983 e 1985 Sistema Jurididico y Dogmaacutetica Juriacutedica Madrid
Centro de Estuacutedios Constitucionales 1983 Confira-se tambeacutem a coletacircnea organizada por Andreacute-Jean Arnaud Dalmir Lopes Jr Do
sistema social agrave sociologia juriacutedica Rio de Janeiro Lumen Juris 2004
140Sobre a autopoieses do Direito veja-se tambeacutem a obra importante de Guumlnther Teubner O direito como sistema autopoieacutetico
Traduccedilatildeo de Joseacute Engracia Nunes Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1993
141Cf Luis Roberto Barroso Neoconstitucionalismo e a constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit
142Esta era basicamente a visatildeo de Hans Kelsen (Cf Hans Kelsen Jurisdiccedilatildeo constitucional Traduccedilatildeo de Alexandre Krug et al Satildeo
Paulo Martins Fontes 2003 p 153) Para uma anaacutelise criacutetica desta posiccedilatildeo veja-se Luis Prietro Sanchiacutes Presupuestos ideoloacutegicos
y doctrinales de la jurisdicioacuten constitucional In Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales Op cit p 21-100
38
143Cf Christian Starck La suprematie La Suprematie de la Constitution et la Justice Constitutionnelle In La Constitution Cadre et
Mesure du Droit Traduccedilatildeo de Freacutederic Weill Paris Econocircmica 1994 p 26-30 Ernst- Wolfgang Boumlckenfoumlrde Les meacutethodes
dinterpretation de la Constitution Un bilan critique In Le Droit lEacutetat et la Constitution Democratique Traduccedilatildeo de Olivier
Jouanjan Paris LGDJ 2000 p 249-250 Virgiacutelio Afonso da Silva Constitucionalizaccedilatildeo do direito os direitos fundamentais nas
relaccedilotildees entre particulares Satildeo Paulo Malheiros 2005 p 107-131 Daniel Sarmento Ubiquumlidade constitucional os dois lados da
moeda Op cit Luis Roberto Barroso Curso de Direito Constitucional Contemporacircneo Op cit p 391-394 Alceu Mauriacutecio Jr
Judicializaccedilatildeo da poliacutetica e a crise do direito constitucional a Constituiccedilatildeo entre ordem marco e ordem fundamenta Revista de
Direito do Estado n 10 p 125-142 abrjun 2008
144Der Staat der Industriegesellshaft 2 ed Muumlnchen Beck 1971 p 144 Apud Robert Alexy Posfaacutecio In Teoria dos direitos
fundamentais Op cit p 578
145De acordo com Carlos Santiago Nino o perfeccionaismo eacute la concepcioacuten seguacuten la cual es una misioacuten legiacutetima del Estado hacer
que los individuos acepten y materializen ideales vaacutelidos de virtud personal Seguacuten este enfoque el Estado no puede permanecer
neutral respecto de concepciones de lo bueno en la vida y debe adoptar las medidas educativas punitorias etc que sean necesa-
rias para que los indiviacuteduos ajusten su vida a los verdaderos ideales de virtud y del bien (Eacutetica y Derechos Humanos Un ensayo de
fundamentacioacuten 2 ed Buenos Aires Astrea 1989 p 413)
146Daniel Sarmento Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas 2 ed Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 Sobre o tema na literatura
nacional veja-se tambeacutem Wilson Antocircnio Steinmetz A vinculaccedilatildeo dos particulares aos direitos fundamentais Satildeo Paulo Malheiros
2004 Virgiacutelio Afonso da Silva Constitucionalizaccedilatildeo do direito os direitos fundamentais nas relaccedilotildees entre particulares Op cit
Ingo Wolfgang Sarlet Direitos fundamentais e direito privado algumas consideraccedilotildees em torno da vinculaccedilatildeo dos particulares aos
direitos fundamentais In Ingo Wolfgang Sarlet (Org) A Constituiccedilatildeo concretizada Porto Alegre Livraria do Advogado 1999 p
129-173 Jane Reis Gonccedilalves Pereira Apontamentos sobre a aplicaccedilatildeo das normas de direito fundamental nas relaccedilotildees juriacutedicas
entre particulares In Luis Roberto Barroso (Org) A nova interpretaccedilatildeo constitucional ponderaccedilatildeo direitos fundamentais e
relaccedilotildees privadas Rio de Janeiro Renovar 2003 p 119-192
147Sobre a questatildeo da (i)legitimidade do perfeccionismo no Direito veja-se Joel Feinberg Rights Justice and the Bounds of Liber-
ty Princeton Princeton University Press 1980 Carlos Santiago Nino Eacutetica y Derechos Humanos Op cit p 413-446 Rainer Forst
Contexts of Justice Political Philosophy beyond Liberalism and Communitarianism Traduccedilatildeo de John M M Farrel Berkeley Uni-
versity of Califoacuternia Press 2001 p 30-87 Macaacuterio Alemany El Paternalismo Juriacutedico Madrid Iustel 2006
148Um sofisticado modelo que busca conciliar a constitucionalizaccedilatildeo do Direito com a democracia estaacute exposto no Poacutesfaacutecio agrave Teo-
ria dos Direitos Fundamentais de Robert Alexy acima citado Veja-se ainda Konrad Hesse Concepto y Cualidad de la Constitu-
cion In Escritos de Derecho Constitucional Traduccedilatildeo de Pedro Cruz Villaloacuten 2 ed 1992 p 03-29
149Tentei articular a minha teoria sobre eficaacutecia horizontal dos direitos fundamentais com este objetivo Cf Daniel Sarmento
Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas Op cit p 141-182 259-272
150Sobre el Neoconstitucionalismo y sus Implicaciones Op cit p 117
151Aqui entendo que o simples reconhecimento da penetraccedilatildeo da Moral no Direito preconizada pelos neoconstitucionalistas brasi-
leiros natildeo eacute suficiente jaacute que certas concepccedilotildees morais podem tornar o ordenamento ainda mais opressivo do que jaacute eacute Afinal
nem sempre a moralizaccedilatildeo do Direito se daacute na direccedilatildeo da emancipaccedilatildeo dos excluiacutedos Veja-se por exemplo a famosa polecircmica
jusfilosoacutefica entre Lord Patrick Devlin e Herbert Hart nos anos 60 na Inglaterra a propoacutesito do uso do Direito Penal para promoccedilatildeo
de Moral em que o primeiro a partir de uma posiccedilatildeo proacute-moral sustentava a legitimidade da criminalizaccedilatildeo da conduta homos-
sexual que o segundo contestava (Cf Lord Patrick Devlin Morals and Criminal Law In Ronald Dworkin (Ed) The Philosophy of
Law Op cit p 66-82 Herbert Hart Immorality and Treason In Idem ibidem)
Eacute preciso assentar as bases criacuteticas desta Moral que deve penetrar o Direito para evitar que o moralismo conservador seja expulso
do ordenamento pela porta da frente superado pela legislaccedilatildeo moderna em razatildeo da progressiva liberalizaccedilatildeo da sociedade mas
volte pela porta dos fundos atraveacutes da argumentaccedilatildeo juriacutedica dos juiacutezes lastreada em conceitos vagos como ordem puacuteblica e
bons constumes ou em standards como o comportamento do bom pai de famiacutelia
39
7
de validado por uma regra de reconhecimento aceita pela praacutetica da comunidade poliacutetica No
final das contas eles natildeo se afastam do brocardo hobbesiano de que autoritas non veritas facit
legem Jaacute para os natildeo-positivistas a vigecircncia dos princiacutepios morais natildeo decorreraacute de um teste
de pedigree mas de exigecircncias da proacutepria Moral acessiacuteveis agrave razatildeo humana Poreacutem para am-
bas as linhas os valores morais incluiacutedos nas constituiccedilotildees satildeo juriacutedicos e devem produzir efei-
tos no mundo concreto
No paradigma neoconstitucionalista a argumentaccedilatildeo juriacutedica apesar de natildeo se fundir com a
Moral abre um significativo espaccedilo para ela Por isso se atenua a distinccedilatildeo da teoria juriacutedica
claacutessica entre a descriccedilatildeo do Direito como ele eacute e prescriccedilatildeo sobre como ele deveria ser49 Os
juiacutezos descritivo e prescritivo de alguma maneira se sobrepotildeem pela influecircncia dos princiacutepios
e valores constitucionais impregnados de forte conteuacutedo moral que conferem poder ao inteacuter-
prete para buscar em cada caso difiacutecil a soluccedilatildeo mais justa no proacuteprio marco da ordem juriacute-
dica Em outras palavras as fronteiras entre Direito e Moral natildeo satildeo abolidas e a diferenciaccedilatildeo
entre eles essencial nas sociedades complexas permanece em vigor mas as fronteiras entre
os dois domiacutenios tornam-se muito mais porosas na medida em que o proacuteprio ordenamento in-
corpora no seu patamar mais elevado princiacutepios de justiccedila e a cultura juriacutedica comeccedila a le-
vaacute-los a seacuterio
Poreacutem natildeo haacute uma posiccedilatildeo clara nas fileiras neoconstitucionalistas sobre a forma como devem
ser compreendidos e aplicados os valores morais incorporados pela ordem constitucional que
pela sua vagueza e indeterminaccedilatildeo abrem-se a leituras muito diversificadas No contexto das
sociedades plurais e desencantadas que existem no mundo contemporacircneo este debate tor-
na-se crucial uma vez que natildeo haacute mais consensos axioloacutegicos em torno das questotildees difiacuteceis
que o Direito eacute chamado a resolver Este pluralismo mundivisivo torna inviaacutevel pela falta de
legitimidade o uso da argumentaccedilatildeo de cunho jusnaturalista que apele agrave religiatildeo agrave natureza
ou agrave metafiacutesica para equacionar as mais complexas controveacutersias juriacutedicas50
Neste cenaacuterio haacute espaccedilo tanto para visotildees comunitaristas51 que buscam na moralidade positi-
va e nas preacute-compreensotildees socialmente vigentes o norte para a hermenecircutica constitucional
endossando na seara interpretativa os valores e cosmovisotildees hegemocircnicos na sociedade como
para teorias mais proacuteximas ao construtivismo eacutetico52 que se orientam para uma moralidade
criacutetica cujo conteuacutedo seja definido atraveacutes de um debate racional de ideacuteias fundado em cer-
tos pressupostos normativos como os de igualdade e liberdade de todos os seus participantes
8
Natildeo haacute como identificar o neoconstitucionalismo com nenhuma destas posiccedilotildees que marcam o
importante debate entre comunitarismo e liberalismo na filosofia poliacutetica contemporacircnea
Outro traccedilo caracteriacutestico do neoconstitucionalismo eacute o seu foco no Poder Judiciaacuterio O grande
protagonista das teorias neoconstitucionalistas eacute o juiz O Direito eacute analisado sobretudo a partir
de uma perspectiva interna daquele que participa dos processos que envolvem a sua interpre-
taccedilatildeo e aplicaccedilatildeo relegando-se a um segundo plano a perspectiva externa do observador Esta
obsessatildeo pelo Poder Judiciaacuterio leva a uma certa desconsideraccedilatildeo do papel desempenhado por
outras instituiccedilotildees como o Poder Legislativo na interpretaccedilatildeo constitucional53 O juiz eacute con-
cebido como o guardiatildeo das promessas54 civilizatoacuterias dos textos constitucionais o que expotildee o
neoconstitucionalismo a vaacuterias criacuteticas - que seratildeo analisadas mais agrave frente - como de que se-
ria elitista e refrataacuterio ao autogoverno popular
Por outro lado o neoconstitucionalismo alenta um ideaacuterio humanista que aposta na possibili-
dade de emancipaccedilatildeo humana pela via juriacutedica atraveacutes de um uso engajado da moderna dog-
maacutetica constitucional55 Neste sentido ele se afasta de algumas linhas teoacutericas da esquerda
como o marxismo56a Critical Legal Studies norte-americana57 e o movimento do Direito Alter-
nativo no Brasil58 que denunciavam o Direito como um instrumento de opressatildeo e dominaccedilatildeo a
serviccedilo dos interesses das classes favorecidas mesmo quando apresentado sob o manto de uma
retoacuterica legitimadora de legalidade e de direitos individuais universais
Trata-se portanto de uma teoria otimista - ou naive diriam os seus criacuteticos - que tambeacutem
natildeo se compadece com o desencanto poacutes-moderno59 profundamente descrente em relaccedilatildeo agrave
razatildeo Enquanto os poacutes-modernos criticam as metanarrativas60 e buscam descontruir as ela-
boraccedilotildees abstratas sobre as quais se fundou o Direito moderno - direitos humanos liberdade
igualdade etc - os neoconstitucionalistas insistem no aprofundamento do projeto poliacutetico da
Modernidade de emancipaccedilatildeo pelo uso da razatildeo atraveacutes dos instrumentos do Direito Constitu-
cional sobretudo os direitos fundamentais
Vejamos agora como estas ideacuteias foram recebidas no Brasil
3 A recepccedilatildeo do neoconstitucionalismo no Brasil
9
O processo histoacuterico que se desenrolou na Europa Ocidental a partir do final da Segunda Guer-
ra no Brasil soacute teve iniacutecio apoacutes a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 88 Eacute verdade que jaacute tiacutenha-
mos controle de constitucionalidade desde a proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Poreacutem na cultura ju-
riacutedica brasileira de ateacute entatildeo as constituiccedilotildees natildeo eram vistas como autecircnticas normas juriacutedi-
cas natildeo passando muitas vezes de meras fachadas Exemplos disso natildeo faltam a Constituiccedilatildeo
de 1824 falava em igualdade e a principal instituiccedilatildeo do paiacutes era a escravidatildeo negra a de 1891
instituiacutera o sufraacutegio universal mas todas as eleiccedilotildees eram fraudadas a de 1937 disciplinava o
processo legislativo mas enquanto ela vigorou o Congresso esteve fechado e o Presidente legis-
lava por decretos a de 1969 garantia os direitos agrave liberdade agrave integridade fiacutesica e agrave vida mas
as prisotildees ilegais o desaparecimento forccedilado de pessoas e a tortura campeavam nos porotildees do
regime militar Nesta uacuteltima quadra histoacuterica conviveu-se ainda com o constrangedor paradoxo
da existecircncia de duas ordens juriacutedicas paralelas a das constituiccedilotildees e a dos atos institucionais
que natildeo buscavam nas primeiras o seu fundamento de validade mas num suposto poder revolu-
cionaacuterio em que estariam investidas as Forccedilas Armadas
Ateacute 1988 a lei valia muito mais do que a Constituiccedilatildeo no traacutefico juriacutedico e no Direito Puacuteblico
o decreto e a portaria ainda valiam mais do que a lei O Poder Judiciaacuterio natildeo desempenhava
um papel poliacutetico tatildeo importante e natildeo tinha o mesmo niacutevel de independecircncia de que passou a
gozar posteriormente As constituiccedilotildees eram proacutedigas na consagraccedilatildeo de direitos mas estes
dependiam quase exclusivamente da boa vontade dos governantes de plantatildeo para saiacuterem do
papel - o que normalmente natildeo ocorria Em contextos de crise as foacutermulas constitucionais natildeo
eram seguidas e os quarteacuteis arbitravam boa parte dos conflitos poliacuteticos ou institucionais que
eclodiam no paiacutes
A Assembleacuteia Constituinte de 19871988 que coroou o processo de redemocratizaccedilatildeo do paiacutes
quis romper com este estado de coisas e promulgou uma Constituiccedilatildeo contendo um amplo e
generoso elenco de direitos fundamentais de diversas dimensotildees - direitos individuais poliacuteti-
cos sociais e difusos - aos quais conferiu aplicabilidade imediata (art 5ordm Paraacutegrafo 1ordm) e pro-
tegeu diante do proacuteprio poder de reforma (art 60 Paraacutegrafo 4ordm IV) Aleacutem disso reforccedilou o
papel do Judiciaacuterio consagrando a inafastabilidade da tutela judicial (art 5ordm XXXV) criando
diversos novos remeacutedios constitucionais fortalecendo a independecircncia da instituiccedilatildeo bem co-
mo do Ministeacuterio Puacuteblico e ampliando e robustecendo os mecanismos de controle de constitu-
cionalidade Neste uacuteltimo toacutepico ela democratizou o acesso ao controle abstrato de constitu-
cionalidade ao adotar um vasto elenco de legitimados ativos para a propositura de accedilatildeo direta
de inconstitucionalidade (art 103) e ampliou o escopo da jurisdiccedilatildeo constitucional ao instituir
10
no Brasil o controle da inconstitucionalidade por omissatildeo tanto atraveacutes de accedilatildeo direta como do
mandado de injunccedilatildeo
Esta sistemaacutetica de jurisdiccedilatildeo constitucional adotada pelo constituinte favoreceu em larga
medida o processo de judicializaccedilatildeo da poliacutetica na medida em que conferiu a qualquer parti-
do poliacutetico com representaccedilatildeo no Congresso agraves representaccedilotildees nacionais da sociedade civil
organizada e agraves principais instituiccedilotildees dos Estados-membros dentre outras entidades o poder
de provocar o STF61 Assim eacute praticamente impossiacutevel que alguma questatildeo relevante seja re-
solvida no acircmbito parlamentar sem que os perdedores no processo poliacutetico recorram agrave nossa
Corte Suprema para que decirc a palavra final agrave controveacutersia com base na sua interpretaccedilatildeo da
Constituiccedilatildeo E tal modelo vem se aprofundando desde 88 com a criaccedilatildeo da Accedilatildeo Declaratoacuteria
de Constitucionalidade e a regulamentaccedilatildeo da Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fun-
damental
Aleacutem disso a Constituiccedilatildeo de 88 regulou uma grande quantidade de assuntos - muitos deles de
duvidosa dignidade constitucional - subtraindo um vasto nuacutemero de questotildees do alcance do
legislador Ademais ela hospedou em seu texto inuacutemeros princiacutepios vagos mas dotados de for-
te carga axioloacutegica e poder de irradiaccedilatildeo Estas caracteriacutesticas favoreceram o processo de
constitucionalizaccedilatildeo do Direito que envolve natildeo soacute a inclusatildeo no texto constitucional de temas
outrora ignorados ou regulados em sede ordinaacuteria como tambeacutem a releitura de toda a ordem
juriacutedica a partir de uma oacutetica pautada pelos valores constitucionais - a chamada filtragem
constitucional do Direito62
Deve-se tambeacutem destacar o papel importante da doutrina brasileira na mudanccedila de paradigma
do Direito Constitucional brasileiro Na minha opiniatildeo haacute dois momentos distintos nesta evolu-
ccedilatildeo o constitucionalismo brasileiro da efetividade 63e o poacutes-positivismo constitucional
O primeiro momento vem logo apoacutes a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 88 Alguns autores como
Luis Roberto Barroso64 e Clegravemerson Merlin Clegraveve65 passam a advogar a tese de que a Constitui-
ccedilatildeo sendo norma juriacutedica deveria ser rotineiramente aplicada pelos juiacutezes o que ateacute entatildeo
natildeo ocorria O que hoje parece uma obviedade era quase revolucionaacuterio numa eacutepoca em que a
nossa cultura juriacutedica hegemocircnica natildeo tratava a Constituiccedilatildeo como norma mas como pouco
mais do que um repositoacuterio de promessas grandiloquumlentes cuja efetivaccedilatildeo dependeria quase
sempre da boa vontade do legislador e dos governantes de plantatildeo66 Para o constitucionalismo
da efetividade a incidecircncia direta da Constituiccedilatildeo sobre a realidade social independentemen-
te de qualquer mediaccedilatildeo legislativa contribuiria para tirar do papel as proclamaccedilotildees generosas
de direitos contidas na Carta de 88 promovendo justiccedila igualdade e liberdade Se ateacute entatildeo
o discurso da esquerda era de desconstruccedilatildeo da dogmaacutetica juriacutedica a doutrina da efetividade
11
vai defender a possibilidade de um uso emancipatoacuterio da dogmaacutetica tendo como eixo a con-
cretizaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo67
Na verdade tratava-se de uma modalidade de positivismo de combate68 A doutrina constitu-
cional da efetividade natildeo se caracterizava pela abertura do debate juriacutedico agrave argumentaccedilatildeo
moral O seu foco principal centrava-se nas normas e era do caraacuteter mais ou menos denso do
seu texto que o inteacuterprete deveria extrair os respectivos efeitos Por outro lado concebia-se a
jurisdiccedilatildeo como o espaccedilo privilegiado para a realizaccedilatildeo da vontade constitucional Um dos mo-
tes do movimento era afastar o estudo do Direito Constitucional da Teoria do Estado para apro-
ximaacute-lo do Direito Processual Por isso pode-se afirmar que o protagonista desta teoria consti-
tucional era o juiz
Em que pese a falta de efetividade de diversas normas da Constituiccedilatildeo e da eficaacutecia social
seletiva de outras tantas - que protegem muito bem o incluiacutedo mas continuam deixando de
fora os paacuterias de sempre (veja-se a diferenccedila da incidecircncia da inviolabilidade do domiciacutelio nas
residecircncias burguesas e nas favelas) - pode-se dizer que a doutrina constitucional da efetivida-
de teve ecircxito no Brasil no sentido de instalar no senso-comum dos operadores do Direito a i-
deacuteia de que a Constituiccedilatildeo eacute norma que pode e deve ser aplicada independentemente de re-
gulamentaccedilatildeo dos seus dispositivos pelo legislador ordinaacuterio Tal doutrina ainda natildeo correspon-
de ao neoconstitucionalismo mas a conquista que dela resultou para a dogmaacutetica constitucio-
nal brasileira foi um pressuposto para o surgimento deste outro movimento no nosso cenaacuterio
O segundo momento importante eacute o da chegada ao Brasil das teorias juriacutedicas ditas poacutes-
positivistas Foram marcos relevantes a publicaccedilatildeo da 5ordf ediccedilatildeo do Curso de Direito Constitu-
cional de Paulo Bonavides 69bem como do livro A Ordem Econocircmica na Constituiccedilatildeo de 1988
de Eros Roberto Grau70 que divulgaram entre noacutes a teoria dos princiacutepios de autores como Ro-
nald Dworkin e Robert Alexy e fomentaram as discussotildees sobre temas importantes como a
ponderaccedilatildeo de interesses o princiacutepio da proporcionalidade e eficaacutecia dos direitos fundamen-
tais Tambeacutem deve ser salientada a ampla penetraccedilatildeo no acircmbito de algumas poacutes-graduaccedilotildees
em Direito a partir de meados dos anos 90 do pensamento de filoacutesofos que se voltaram para o
estudo da relaccedilatildeo entre Direito Moral e Poliacutetica a partir de uma perspectiva poacutes-metafiacutesica
como John Rawls e Juumlrgen Habermas71 E ainda merece destaque o aprofundamento no paiacutes dos
estudos de hermenecircutica juriacutedica a partir de uma nova matriz teoacuterica inspirada pelo giro lin-
guumliacutestico na Filosofia que denunciou os equiacutevocos do modelo positivista de interpretaccedilatildeo ateacute
entatildeo dominante assentado na separaccedilatildeo cartesiana entre sujeito (o inteacuterprete) e objeto (o
texto da norma)72
12
Nesta nova fase a doutrina brasileira passa a enfatizar o caraacuteter normativo e a importacircncia dos
princiacutepios constitucionais e a estudar as peculiaridades da sua aplicaccedilatildeo Neste contexto haacute
uma verdadeira febre de trabalhos sobre teoria dos princiacutepios ponderaccedilatildeo de interesses teori-
as da argumentaccedilatildeo proporcionalidade e razoabilidade etc Tambeacutem cresce muito o interesse
doutrinaacuterio pelos direitos fundamentais sobretudo os direitos sociais Se antes estes eram vis-
tos preponderantemente como normas programaacuteticas passa-se a discutir a sua eficaacutecia juriacutedica
a partir de novas bases que incorporam ao debate a argumentaccedilatildeo moral Neste campo a ecircn-
fase na anaacutelise dos enunciados normativos que caracterizava a doutrina da efetividade eacute
substituiacuteda por uma discussatildeo marcada pela preocupaccedilatildeo com valores e democracia repleta de
novas categorias importadas sobretudo do Direito germacircnico como o miacutenimo existencial a
reserva do possiacutevel e a proibiccedilatildeo do retrocesso73
E esta nova racionalidade se espraia para diversos ramos do Direito No Direito Civil74 Penal75
Administrativo 76por exemplo cada vez mais a doutrina emprega normas e valores constitu-
cionais para reler os institutos tradicionais colorindo-os com novas tintas E trata-se natildeo ape-
nas de aplicar diretamente as normas constitucionais especificamente voltadas para cada uma
destas aacutereas como tambeacutem de projetar sobre estes campos a influecircncia dos direitos funda-
mentais e dos princiacutepios mais gerais do nosso constitucionalismo muitas vezes superando anti-
gos dogmas e definindo novos paradigmas
Neste segundo momento ocorre ainda uma significativa mudanccedila no enfoque dos estudos sobre
jurisdiccedilatildeo constitucional no Brasil Antes os trabalhos nacionais sobre o tema se limitavam
basicamente a discutir questotildees processuais mas a partir do final dos anos 90 diversos estu-
dos incorporam outras perspectivas agrave anaacutelise da questatildeo dedicando atenccedilatildeo agrave complexa pro-
blemaacutetica da legitimidade democraacutetica do controle de constitucionalidade77 tendo em vista a
chamada dificuldade contra-majoritaacuteria do Judiciaacuterio78 Num contexto como o nosso em que
a jurisdiccedilatildeo constitucional estaacute prevista pelo proacuteprio texto magno o debate relevante do ponto
de vista praacutetico natildeo eacute o de tecirc-la ou natildeo mas sim a forma como deve ser exercida Dependendo
do posicionamento adotado pode-se preconizar um maior ou menor grau de ativismo judicial
ou defender o ativismo em algumas aacutereas mas recusaacute-lo em outras Nesta nova agenda de dis-
cussotildees sobre a jurisdiccedilatildeo constitucional a argumentaccedilatildeo juriacutedica se entrelaccedila inevitavelmen-
te com o debate de Filosofia Poliacutetica abrindo espaccedilo para posiccedilotildees variadas como os vaacuterios
matizes de procedimentalismo e de substancialismo que vecircm florescendo na doutrina brasilei-
ra79 Dentre estas posiccedilotildees natildeo haacute duacutevida de que a mais identificada ao neoconstitucionalismo
eacute a substancialista que compartilha com ele a crenccedila numa ampla legitimidade do ativismo
judicial em favor dos valores constitucionais
13
Apesar destas mudanccedilas importantes que podem ser associadas ao neoconstitucionalismo o uso
da expressatildeo no Brasil eacute mais recente seguindo-se agrave ampla difusatildeo que recebeu na academia
brasileira a jaacute citada obra Neoconstitucionalismo(s) organizada por Miguel Carbonell e publi-
cada em 2003 De laacute para caacute muito se tem escrito sobre o toacutepico e vaacuterios autores nacionais
aderiram explicitamente agrave corrente como Luis Roberto Barroso80 Lecircnio Luiz Streck 81Antonio
Cavalcanti Maia82 Ana Paula de Barcellos83 Diogo de Figueiredo Moreira Neto84 Paulo Ricardo
Schier85 Eduardo Moreira86 Eacutecio Otto Ramos Duarte87 e Thomas Rosa de Bustamante88 Outros
adotaram postura criacutetica sobre a nova perspectiva como Joseacute Ribas Vieira Dimitri Dimoulis89 e
Humberto Aacutevila90 E pode-se notar pela leitura dos trabalhos destes e de outros autores brasi-
leiros que haacute um relativo consenso na definiccedilatildeo das caracteriacutesticas centrais do novo paradig-
ma valorizaccedilatildeo dos princiacutepios adoccedilatildeo de meacutetodos ou estilos mais abertos e flexiacuteveis na her-
menecircutica juriacutedica com destaque para a ponderaccedilatildeo abertura da argumentaccedilatildeo juriacutedica agrave
Moral mas sem recair nas categorias metafiacutesicas do jusnaturalismo reconhecimento e defesa
da constitucionalizaccedilatildeo do Direito e do papel de destaque do Judiciaacuterio na agenda de imple-
mentaccedilatildeo dos valores da Constituiccedilatildeo
Estas novas ideacuteias jaacute reverberam fortemente na jurisprudecircncia nacional sobretudo do Supremo
Tribunal Federal que nos uacuteltimos tempos tem cada vez mais invocado princiacutepios abertos nos
seus julgamentos recorrido agrave ponderaccedilatildeo de interesses e ao princiacutepio da proporcionalidade
com frequumlecircncia e ateacute se valido de referecircncias filosoacuteficas na fundamentaccedilatildeo de decisotildees Aliaacutes
eacute digna de nota a influecircncia da doutrina constitucional na atuaccedilatildeo do Supremo Tribunal Fede-
ral O fenocircmeno eacute relativamente recente uma vez que logo apoacutes a promulgaccedilatildeo da Constitui-
ccedilatildeo de 88 havia um profundo hiato entre o campo doutrinaacuterio que cobrava a efetivaccedilatildeo da
Constituiccedilatildeo pela via judicial e a jurisprudecircncia do STF tiacutemida e reticente diante dos valores
e das inovaccedilotildees da nova Carta - vg orientaccedilatildeo entatildeo adotada pela Corte em relaccedilatildeo ao man-
dado de injunccedilatildeo e ao controle judicial das medidas provisoacuterias Aquele quadro podia em parte
ser debitado agrave duvidosa opccedilatildeo do constituinte originaacuterio de manter no STF os ministros nomea-
dos durante o governo militar que natildeo tinham sintonia poliacutetico-ideoloacutegica nem boa vontade
diante do novo sistema constitucional e que por isso se apegavam a visotildees e interpretaccedilotildees
assentadas durante o regime preteacuterito muitas delas francamente incompatiacuteveis com a nova
ordem Mas hoje apoacutes a completa renovaccedilatildeo do STF constata-se um quadro radicalmente di-
ferente a maioria dos ministros do STF eacute composta por professores de Direito Constitucional
de grande reputaccedilatildeo acadecircmica que ateacute pela origem tecircm mais contato com a produccedilatildeo inte-
lectual de ponta na aacuterea e satildeo mais suscetiacuteveis agrave influecircncia das novas correntes de pensamen-
to
14
Como ressaltado esta mudanccedila de paradigma se reflete vivamente na jurisprudecircncia do STF
Satildeo exemplos eloquumlentes a alteraccedilatildeo da posiccedilatildeo da Corte em relaccedilatildeo aos direitos sociais antes
tratados como normas programaacuteticas e hoje submetidos a uma intensa proteccedilatildeo judicial 91o
reconhecimento da eficaacutecia horizontal dos direitos fundamentais92 a mutaccedilatildeo do entendimen-
to do Tribunal em relaccedilatildeo agraves potencialidades do mandado de injunccedilatildeo 93e a progressiva supe-
raccedilatildeo da visatildeo claacutessica kelseniana da jurisdiccedilatildeo constitucional que a equiparava ao legislador
negativo com a admissatildeo de teacutecnicas decisoacuterias mais heterodoxas94 como as declaraccedilotildees de
inconstitucionalidade sem pronuacutencia de nulidade e as sentenccedilas aditivas E para completar o
quadro deve-se acrescentar as mudanccedilas acarretadas por algumas inovaccedilotildees processuais re-
centes na nossa jurisdiccedilatildeo constitucional que permitiram a participaccedilatildeo dos amici curiae bem
como a realizaccedilatildeo de audiecircncias puacuteblicas no acircmbito do processo constitucional ampliando a
possibilidade de atuaccedilatildeo da sociedade civil organizada no STF95
Naturalmente a nova postura de ativismo judicial do STF estimula as forccedilas sociais a procuraacute-
lo com mais frequumlecircncia e contribui para uma significativa alteraccedilatildeo na agenda da Corte Atu-
almente ao lado das questotildees mais tradicionais de Direito Puacuteblico o STF tem se defrontado
com novos temas fortemente impregnados de conteuacutedo moral como as discussotildees sobre a vali-
dade de pesquisa em ceacutelulas-tronco embrionaacuterias96 aborto de feto anenceacutefalo97 e uniatildeo entre
pessoas do mesmo sexo98 Ademais o Tribunal passou a intervir de forma muito mais ativa no
processo poliacutetico adotando decisotildees que se refletem de forma direta e profunda sobre a atua-
ccedilatildeo dos demais poderes do Estado Para citar apenas alguns casos pode-se falar da decisatildeo que
assentou que a mudanccedila de partido implica salvo determinadas exceccedilotildees perda de mandato
parlamentar99 da que estabeleceu criteacuterios riacutegidos para a fixaccedilatildeo do nuacutemero de vereadores de
acordo com a respectiva populaccedilatildeo100 e da intensificaccedilatildeo do controle jurisdicional dos atos das
CPIs bem como dos pressupostos de ediccedilatildeo das medidas provisoacuterias
Poreacutem haacute um componente curioso na recepccedilatildeo deste novo paradigma juriacutedico pelo Judiciaacuterio
brasileiro Embora ainda natildeo existam estudos empiacutericos a este respeito tenho a forte intuiccedilatildeo
de que a penetraccedilatildeo destas novas ideacuteias associadas ao neoconstitucionalismo eacute forte na cuacutepula
e na base da hierarquia judicial mas ainda tiacutemida nos seus escalotildees intermediaacuterios E as causas
natildeo satildeo de difiacutecil compreensatildeo Em relaccedilatildeo agrave cuacutepula - os ministros do STF - as razotildees jaacute foram
explicadas acima Jaacute no que tange agrave base do Judiciaacuterio boa parte dos juiacutezes de 1ordm grau teve a
sua formaccedilatildeo num ambiente acadecircmico que jaacute valorizava o Direito Constitucional e reconhecia
a forccedila normativa dos direitos fundamentais e dos princiacutepios constitucionais Assim eles ten-
dem a levar para a sua praacutetica profissional esta visatildeo do Direito Poreacutem sobretudo na 2ordf ins-
tacircncia composta majoritariamente por magistrados que se formaram e foram socializados no
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seu meio institucional sob a eacutegide do paradigma juriacutedico anterior muito mais voltado para os
coacutedigos e para a letra da lei do que para a Constituiccedilatildeo e seus princiacutepios haacute maior resistecircncia agrave
incorporaccedilatildeo dos novos vetores constitucionais Contudo este fenocircmeno tende a diminuir com
o tempo seja pela consolidaccedilatildeo do paradigma constitucional emergente seja pela promoccedilatildeo
de magistrados mais antenados com o novo constitucionalismo seja ateacute pela influecircncia do pen-
samento e das orientaccedilotildees da cuacutepula do Judiciaacuterio sobre todas as suas instacircncias
No cenaacuterio brasileiro o neoconstitucionalismo eacute tambeacutem impulsionado por outro fenocircmeno a
descrenccedila geral da populaccedilatildeo em relaccedilatildeo agrave poliacutetica majoritaacuteria e em especial o descreacutedito
no Poder Legislativo e nos partidos poliacuteticos101 A percepccedilatildeo geral alimentada por sucessivos
escacircndalos e pelo discurso de alguns meios de comunicaccedilatildeo social de que a poliacutetica parlamen-
tar e partidaacuteria satildeo esferas essencialmente corrompidas que se movem exclusivamente em
torno de interesses e natildeo de valores gera em alguns setores a expectativa de que a soluccedilatildeo
para os problemas nacionais possa vir do Judiciaacuterio102 E este sentimento eacute fortalecido quando
a Justiccedila adota decisotildees em consonacircncia com a opiniatildeo puacuteblica - como ocorreu no recebimento
da denuacutencia criminal no caso do mensalatildeo na definiccedilatildeo de perda do mandato por infidelidade
partidaacuteria e na proibiccedilatildeo do nepotismo na Administraccedilatildeo Puacuteblica
Por outro lado a ascensatildeo institucional do Judiciaacuterio e a riqueza e importacircncia praacutetica ou sim-
boacutelica dos temas que ele vem julgando tem provocado um grande aumento no interesse da so-
ciedade pelo Direito Constitucional e pela atuaccedilatildeo do Supremo Tribunal Federal Eacute difiacutecil um
dia em que os principais meios de comunicaccedilatildeo natildeo discutam alguma decisatildeo da Corte ou mani-
festaccedilatildeo de qualquer dos seus membros E este fenocircmeno eacute potencializado tanto pela extro-
versatildeo midiaacutetica de alguns ministros como tambeacutem pelo fato - sem precedentes em outros
paiacuteses - do televisionamento das sessotildees do STF Com tudo isso as questotildees constitucionais
que antes eram apenas discutidas dentro de um ciacuterculo muito restrito de iniciados hoje satildeo
amplamente debatidas no espaccedilo puacuteblico
Neste quadro em que pesem as muacuteltiplas resistecircncias que sofre eacute possiacutevel apontar a emergecircn-
cia de uma nova forma de conceber o Direito e o Estado na sociedade brasileira contemporacirc-
nea que se quisermos adotar a terminologia hoje em voga pode ser chamada de neoconstitu-
cionalismo
4 Trecircs objeccedilotildees ao neoconstitucionalismo
16
Nas proacuteximas linhas abordarei de maneira breve trecircs criacuteticas que podem ser levantadas con-
tra o neoconstitucionalismo (a) a de que o seu pendor judicialista eacute anti-democraacutetico (b) a de
que a sua preferecircncia por princiacutepios e ponderaccedilatildeo em detrimento de regras e subsunccedilatildeo eacute
perigosa sobretudo no Brasil em razatildeo de singularidades da nossa cultura e (c) a de que ele
pode gerar uma panconstitucionalizaccedilatildeo do Direito em detrimento da autonomia puacuteblica do
cidadatildeo e da autonomia privada do indiviacuteduo Outras criacuteticas importantes existem103 mas por
limites de tempo e espaccedilo preferi priorizar aqui estas trecircs que satildeo as que geram maior apre-
ensatildeo no cenaacuterio brasileiro
a) Neoconstitucionalismo e judiciocracia
Como salientado acima o neoconstitucionalismo tem um foco muito centrado no Poder Judici-
aacuterio no qual deposita enormes expectativas no sentido de concretizaccedilatildeo dos ideais emancipa-
toacuterios presentes nas constituiccedilotildees contemporacircneas Contudo este vieacutes judicialista sofre con-
testaccedilotildees pelo seu suposto caraacuteter antidemocraacutetico na medida em que os juiacutezes diferente-
mente dos parlamentares e chefes do Executivo natildeo satildeo eleitos e natildeo respondem diretamente
perante o povo104
Esta criacutetica democraacutetica se assenta na ideacuteia de que numa democracia eacute essencial que as deci-
sotildees poliacuteticas mais importantes sejam tomadas pelo proacuteprio povo ou por seus representantes
eleitos e natildeo por saacutebios ou tecnocratas de toga Eacute verdade que a maior parte dos teoacutericos con-
temporacircneos da democracia reconhece que ela natildeo se esgota no respeito ao princiacutepio majoritaacute-
rio pressupondo antes o acatamento das regras do jogo democraacutetico que incluem a garantia
de direitos baacutesicos visando a viabilizar a participaccedilatildeo igualitaacuteria do cidadatildeo na esfera puacuteblica
bem como alguma proteccedilatildeo agraves minorias105 Poreacutem temos aqui uma questatildeo de dosagem pois
se a imposiccedilatildeo de alguns limites para a decisatildeo das maiorias pode ser justificada em nome da
democracia o exagero tende a revelar-se antidemocraacutetico por cercear em demasia a possibi-
lidade do povo de se autogovernar106
E a questatildeo natildeo eacute apenas de divisatildeo de poder ao longo do tempo A dificuldade democraacutetica
natildeo estaacute tatildeo-somente no fato de as constituiccedilotildees subtraiacuterem do legislador futuro a possibilida-
de de tomar algumas decisotildees107 O cerne do debate estaacute no reconhecimento de que diante da
vagueza e abertura de boa parte das normas constitucionais mais importantes quem as inter-
preta tambeacutem participa do seu processo de criaccedilatildeo108 Daiacute a criacutetica de que o vieacutes judicialista
subjacente ao neoconstitucionalismo acaba por conferir aos juiacutezes uma espeacutecie de poder cons-
tituinte permanente pois lhes permite moldar a Constituiccedilatildeo de acordo com as suas preferecircn-
cias poliacuteticas e valorativas em detrimento daquelas do legislador eleito Esta visatildeo levou inuacute-
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meras correntes de pensamento ao longo da histoacuteria a rejeitarem a jurisdiccedilatildeo constitucional
ou pelo menos o ativismo judicial no seu exerciacutecio dos revolucionaacuterios franceses do seacuteculo XVI-
II109 passando por Carl Schmitt110 na Repuacuteblica de Weimar ateacute os adeptos do constituciona-
lismo popular nos Estados Unidos de hoje111
No Brasil eacute muito comum traccedilar-se um paralelo entre a defesa do ativismo judicial e posiccedilotildees
sociais progressistas Talvez isso se deva ao fato de que na nossa histoacuteria o Judiciaacuterio brasilei-
ro tem pecado muito mais por omissatildeo acumpliciando-se diante dos desmandos dos poderes
poliacutetico e econocircmico do que por excesso de ativismo Neste quadro quem ousa questionar
possiacuteveis exageros na judicializaccedilatildeo da poliacutetica e da vida social no Brasil de hoje eacute logo tachado
de conservador Poreacutem o paralelismo em questatildeo natildeo existe Muitas vezes o Poder Judiciaacuterio
pode atuar bloqueando mudanccedilas importantes promovidas pelos outros poderes em favor dos
excluiacutedos defendendo o statu quo E esta defesa pode ocorrer inclusive atraveacutes do uso da retoacute-
rica dos direitos fundamentais
Isso se deu por exemplo nos Estados Unidos nas primeiras deacutecadas do seacuteculo passado em pe-
riacuteodo que ficou conhecido como Era de Lochner112 quando a Suprema Corte impediu sistemati-
camente a ediccedilatildeo de legislaccedilatildeo trabalhista e de outras medidas que implicavam em interferecircn-
cia na esfera econocircmica em proveito das classes desfavorecidas com base numa leitura subs-
tantiva da claacuteusula do devido processo legal No cenaacuterio contemporacircneo Ran Hirshl113 sustenta
que o processo de judicializaccedilatildeo da poliacutetica que vem ocorrendo nos uacuteltimos anos em diversos
paiacuteses do mundo - ele fez um atento ainda que controvertido estudo dos casos do Canadaacute
Israel Aacutefrica do Sul e Nova Zelacircndia - teria como pano de fundo uma tentativa das elites eco-
nocircmicas e culturais que perderam espaccedilo na poliacutetica majoritaacuteria de manterem o seu poder
reforccedilando no arranjo institucional do Estado o peso do Judiciaacuterio no qual elas ainda tecircm he-
gemonia E aqui no Brasil seraacute que a proteccedilatildeo absoluta que vem sendo conferida ao direito
adquirido - inclusive o de furar teto salarial do funcionalismo fixado por emenda agrave Constituiccedilatildeo
114 - e o ultra-garantismo penal nos crimes do colarinho branco natildeo seriam exemplos deste
mesmo fenocircmeno
Por outro lado uma ecircnfase excessiva no espaccedilo judicial pode levar ao esquecimento de outras
arenas importantes para a concretizaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo e realizaccedilatildeo de direitos gerando um
resfriamento da mobilizaccedilatildeo ciacutevica do cidadatildeo Eacute verdade que o ativismo judicial pode em
certos contextos atuar em sinergia com a mobilizaccedilatildeo social na esfera puacuteblica Isto ocorreu
por exemplo no movimento dos direitos civis nos Estados Unidos dos anos 50 e 60 que foi a-
quecido pelas respostas positivas obtidos na Suprema Corte no periacuteodo da Corte de Warren115
Mas nem sempre eacute assim A ecircnfase judicialista pode afastar do cenaacuterio de disputa por direitos
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as pessoas e movimentos que natildeo pertenccedilam nem tenham proximidade com as corporaccedilotildees
juriacutedicas
Ademais esta obsessatildeo com a interpretaccedilatildeo judicial da Constituiccedilatildeo tende a obscurecer o pa-
pel central de outras instacircncias na definiccedilatildeo do sentido da Constituiccedilatildeo - como o Legislativo o
Executivo e a proacutepria esfera puacuteblica informal Trata-se de um desvio que gera consequumlecircncias
negativas tanto no plano descritivo como na esfera normativa Sob o prisma descritivo trans-
mite-se uma imagem muito parcial do fenocircmeno constitucional que natildeo eacute captado com todas
as suas nuances e riquezas jaacute que o foco se concentra apenas sobre a accedilatildeo de um dentre os
vaacuterios agentes importantes que povoam a seara da hermenecircutica constitucional116 Sob o acircngu-
lo normativo favorece-se um governo agrave moda platocircnica de saacutebios de toga117 que satildeo convida-
dos a assumir uma posiccedilatildeo paternalista diante de uma sociedade infantilizada118 Justifica-se o
ativismo judicial a partir de uma visatildeo muito criacutetica do processo poliacutetico majoritaacuterio mas que
ignora as inuacutemeras mazelas que tambeacutem afligem o Poder Judiciaacuterio construindo-se teorias a
partir de visotildees romacircnticas e idealizadas do juiz119 Soacute que se eacute verdade que o processo poliacuteti-
co majoritaacuterio tem seus viacutecios - e eles satildeo muito graves no cenaacuterio brasileiro - tambeacutem eacute certo
que os juiacutezes natildeo satildeo semi-deuses e que a esfera em que atuam tampouco eacute imune agrave poliacutetica
com p menor
Esta idealizaccedilatildeo da figura do juiz natildeo se compadece com algumas notoacuterias deficiecircncias que o
Judiciaacuterio brasileiro enfrenta Dentre elas pode-se destacar a sobrecarga de trabalho que
compromete a capacidade dos magistrados de dedicarem a cada processo o tempo e a energia
necessaacuterias para que faccedilam tudo que o que demandam as principais teorias da argumentaccedilatildeo
defendidas pelo neoconstitucionalismo E cabe referir tambeacutem agraves lacunas na formaccedilatildeo do ma-
gistrado brasileiro decorrentes sobretudo das falhas de um ensino juriacutedico formalista e nada
interdisciplinar que ainda viceja no paiacutes que natildeo satildeo corrigidas nos procedimentos de seleccedilatildeo
e treinamento dos juiacutezes
Outra consequumlecircncia da obsessatildeo judicialista do constitucionalismo brasileiro contemporacircneo
estaacute refletida na nossa produccedilatildeo acadecircmica Enquanto somos inundados por livros e artigos
muitas vezes repetitivos sobre assuntos como princiacutepios e regras interpretaccedilatildeo constitucional
e tutela judicial de direitos fundamentais outros temas absolutamente essenciais para a vida
do paiacutes passam ao largo da preocupaccedilatildeo dos juristas Eacute o caso da reforma poliacutetica Em que pese
o caraacuteter essencialmente constitucional do assunto quase nenhum constitucionalista se inte-
ressou por ele 120e praticamente toda a literatura de qualidade produzida sobre o toacutepico tem
vindo da Ciecircncia Poliacutetica
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Estou convencido de que o Poder Judiciaacuterio tem um papel essencial na concretizaccedilatildeo da Consti-
tuiccedilatildeo brasileira Em face do quadro de sistemaacutetica violaccedilatildeo de direitos de certos segmentos da
populaccedilatildeo do arranjo institucional desenhado pela Carta de 88 e da seacuteria crise de representa-
tividade do Poder Legislativo entendo que o ativismo judicial se justifica no Brasil pelo menos
em certas searas como a tutela de direitos fundamentais a proteccedilatildeo das minorias e a garantia
do funcionamento da proacutepria democracia O maior insulamento judicial diante da pressatildeo das
maiorias bem como um certo ethos profissional de valorizaccedilatildeo dos direitos humanos que co-
meccedila a se instalar na nossa magistratura 121 conferem ao Judiciaacuterio uma capacidade institu-
cional privilegiada para atuar nestas aacutereas122
Mas em outros campos pode ser mais recomendaacutevel uma postura de autocontenccedilatildeo judicial
seja por respeito agraves deliberaccedilotildees majoritaacuterias adotadas no espaccedilo poliacutetico123 seja pelo reco-
nhecimento da falta de expertise do Judiciaacuterio para tomar decisotildees que promovam eficiente-
mente os valores constitucionais em jogo em aacutereas que demandem profundos conhecimentos
teacutecnicos fora do Direito - como Economia poliacuteticas puacuteblicas e regulaccedilatildeo124 Nestes casos deve-
se reconhecer que outros oacutergatildeos do Estado estatildeo mais habilitados para assumirem uma posiccedilatildeo
de protagonismo na implementaccedilatildeo da vontade constitucional
Nesta linha vejo com reticecircncias a sedimentaccedilatildeo na nossa cultura juriacutedica da visatildeo de que o
grande - senatildeo o uacutenico - inteacuterprete da Constituiccedilatildeo seria o Poder Judiciaacuterio125 Esta leitura des-
carta a autocontenccedilatildeo judicial bem como tende a desprezar a possibilidade de que sejam tra-
vados construtivos diaacutelogos interinstitucionais entre diversos oacutergatildeos estatais para a definiccedilatildeo da
melhor interpretaccedilatildeo dos ditames constitucionais126 Um bom exemplo127 deste desvio ocorreu
no julgamento da constitucionalidade das pesquisas em ceacutelulas-tronco embrionaacuterias realizada
pelo STF em que pese o resultado final do julgamento ter sido substancialmente correto Na-
quela ocasiatildeo o importante argumento deduzido na tribuna e em memoriais por Luis Roberto
Barroso - que advogava para um dos amici curiae favoraacuteveis agraves pesquisas - de que o Judiciaacuterio
deveria adotar posiccedilatildeo cautelosa no julgamento da constitucionalidade da lei impugnada ten-
do em vista o amplo consenso em torno dela obtido durante o processo legislativo tanto no
Senado como na Cacircmara foi explicitamente rechaccedilado por alguns ministros que consideraram
o ponto irrelevante E outros ministros em votos vencidos se sentiram confortaacuteveis ateacute para
defender a imposiccedilatildeo de novas normas pelo STF na aacuterea do Biodireito arvorando-se agrave condiccedilatildeo
de legisladores num campo para o qual evidentemente lhes faltava qualquer expertise
Enfim o neoconstitucionalismo brasileiro tem pecado por excesso depositando no Judiciaacuterio
expectativas que ele nem sempre teraacute como atender de forma satisfatoacuteria Um dos efeitos co-
laterais deste fenocircmeno eacute a disseminaccedilatildeo de um discurso muito perigoso de que voto e poliacuteti-
20
ca natildeo satildeo tatildeo importantes pois relevante mesmo eacute a interpretaccedilatildeo dos princiacutepios constitucio-
nais realizada pelo STF Daiacute a dizer que o povo natildeo sabe votar eacute um pulo e a ditadura de toga
pode natildeo ser muito melhor do que a ditadura de farda
b) Neoconstitucionalismo oba-oba constitucional e Estado Democraacutetico de Direito
Seria uma profunda injusticcedila com a teoria neoconstitucionalista acusaacute-la de promover o decisi-
onismo ou de defender a tomada de decisotildees judiciais puramente emotivas sem lastro em ar-
gumentaccedilatildeo racional soacutelida Pelo contraacuterio como foi destacado acima um dos eixos centrais
do pensamento neoconstitucional eacute a reabilitaccedilatildeo da racionalidade praacutetica no acircmbito juriacutedico
com a articulaccedilatildeo de complexas teorias da argumentaccedilatildeo que demandam muito dos inteacuterpre-
tes e sobretudo dos juiacutezes em mateacuteria de fundamentaccedilatildeo das suas decisotildees Poreacutem a praacutetica
judiciaacuteria brasileira recepcionou apenas parcialmente as teorias juriacutedicas de corte poacutes-
positivista e aqui a valorizaccedilatildeo dos princiacutepios e da ponderaccedilatildeo natildeo tem sido muitas vezes
acompanhada do necessaacuterio cuidado com a justificaccedilatildeo das decisotildees
Se ateacute natildeo muito tempo atraacutes os princiacutepios natildeo eram tratados como autecircnticas normas por
aqui - soacute tinha bom direito quem podia invocar uma regra legal clara e precisa em favor da sua
pretensatildeo - com a chegada do poacutes-positivismo e do neoconstitucionalismo passou-se em pou-
cos anos da aacutegua para o vinho Hoje instalou-se um ambiente intelectual no Brasil que aplaude
e valoriza as decisotildees principioloacutegicas e natildeo aprecia tanto aquelas calcadas em regras legais
que satildeo vistas como burocraacuteticas ou positivistas - e positivismo hoje no paiacutes eacute quase um pala-
vratildeo128 Neste contexto os operadores do Direito satildeo estimulados a invocar sempre princiacutepios
muito vagos nas suas decisotildees mesmo quando isso seja absolutamente desnecessaacuterio pela e-
xistecircncia de regra clara e vaacutelida a reger a hipoacutetese Os campeotildees tecircm sido os princiacutepios da dig-
nidade da pessoa humana e da razoabilidade O primeiro eacute empregado para dar imponecircncia ao
decisionismo judicial vestindo com linguagem pomposa qualquer decisatildeo tida como politica-
mente correta e o segundo para permitir que os juiacutezes substituam livremente as valoraccedilotildees de
outros agentes puacuteblicos pelas suas proacuteprias
Este cenaacuterio eacute problemaacutetico porque um sistema juriacutedico funcional estaacutevel e harmocircnico com os
valores do Estado Democraacutetico de Direito precisa tanto da aplicaccedilatildeo de regras como de princiacute-
pios129 As regras satildeo indispensaacuteveis dentre outras razotildees130 porque geram maior previsibili-
dade e seguranccedila juriacutedica para os seus destinataacuterios diminuem os riscos de erro na sua inci-
decircncia jaacute que natildeo dependem tanto das valoraccedilotildees do inteacuterprete em cada caso concreto en-
volvem um menor custo no seu processo de aplicaccedilatildeo pois podem incidir de forma mais mecacirc-
nica sem demandarem tanto esforccedilo do inteacuterprete e natildeo implicam na mesma medida que os
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princiacutepios em uma transferecircncia de poder decisoacuterio do Legislativo que eacute eleito para o Judici-
aacuterio que natildeo eacute
Natildeo pretendo sustentar com isso que se deva retroceder ao tempo em que os princiacutepios natildeo
eram aplicados pelos juiacutezes brasileiros Tambeacutem os princiacutepios satildeo essenciais na ordem juriacutedica
pois conferem mais plasticidade ao Direito - o que eacute essencial numa sociedade hiper-complexa
como a nossa - e permitem uma maior abertura da argumentaccedilatildeo juriacutedica agrave Moral e ao mundo
empiacuterico subjacente O importante eacute encontrar uma justa medida que natildeo torne o processo de
aplicaccedilatildeo do Direito amarrado demais como ocorreria num sistema baseado exclusivamente
em regras nem solto demais como sucederia com um que se fundasse apenas em princiacutepios
Penso que eacute chegada a hora de um retorno do pecircndulo no Direito brasileiro131 que sem des-
cartar a importacircncia dos princiacutepios e da ponderaccedilatildeo volte a levar a seacuterio tambeacutem as regras e a
subsunccedilatildeo
Ademais naquelas hipoacuteteses em que a aplicaccedilatildeo de princiacutepios for realmente apropriada ela
deve dar-se de forma mais racional e fundamentada Deve-se adotar a premissa de que quanto
mais vaga for a norma a ser aplicada e mais intenso o componente volitivo envolvido no pro-
cesso decisoacuterio maior deve ser o ocircnus argumentativo do inteacuterprete no sentido de mostrar que
a soluccedilatildeo por ele adotada eacute a que melhor realiza os valores do ordenamento naquele caso con-
creto132 A tendecircncia atual de invocaccedilatildeo frouxa e natildeo fundamentada de princiacutepios colide com a
loacutegica do Estado Democraacutetico de Direito pois amplia as chances de arbiacutetrio judicial gera inse-
guranccedila juriacutedica e atropela a divisatildeo funcional de poderes que tem no ideaacuterio democraacutetico um
dos seus fundamentos - a noccedilatildeo baacutesica de que as decisotildees sobre o que os cidadatildeos e o Estado
podem e natildeo podem fazer devem ser tomadas preferencialmente por quem represente o povo
e seja por ele escolhido
E haacute na sociedade brasileira traccedilos que tornam ainda mais perigosa esta tendecircncia agrave frouxidatildeo
e emotividade na metodologia juriacutedica Nossa cultura caracteriza-se muito mais pelo jeiti-
nho133 e pelo patrimonialismo134 do que pela valorizaccedilatildeo do cumprimento impessoal de regras
O brasileiro - jaacute dizia Seacutergio Buarque de Holanda135 - eacute o homem cordial que tende a antepor
a loacutegica privada do compadrio e da simpatia agrave racionalidade objetiva das leis Esta singularida-
de das nossas relaccedilotildees sociais natildeo atua de forma neutra em relaccedilatildeo a todos os cidadatildeos Ela
implica na adoccedilatildeo de posturas estatais em geral muito benevolentes em relaccedilatildeo aos donos do
poder e seus apaniguumlados e de posiccedilotildees muito mais duras dirigidas aos grupos excluiacutedos e mar-
ginalizados136 Uns poucos acabam pairando acima das leis que natildeo os alcanccedilam para limitar a
sua conduta ou sancionar os seus desvios enquanto outros permanecem abaixo dela sendo
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atingidos apenas pelo braccedilo punitivo do Estado pois a violaccedilatildeo rotineira dos seus direitos eacute
naturalizada tornando-se invisiacutevel
Neste quadro cabe indagar sob a perspectiva de uma sociologia da interpretaccedilatildeo constitucio-
nal ateacute que ponto a introduccedilatildeo entre noacutes de uma dogmaacutetica fluida - a expressatildeo eacute de Gusta-
vo Zagrebelsky137 um dos iacutecones do neoconstitucionalismo - natildeo pode ter como efeito colateral
o agravamento de patologias que marcam as nossas relaccedilotildees sociais Seraacute que o nosso Direito
precisa de mais rigidez ou de maior maleabilidade Ao fim e ao cabo quem tende a se benefi-
ciar com a adoccedilatildeo de uma hermenecircutica juriacutedica mais flexiacutevel
Uma reflexatildeo importante sobre tema correlato foi empreendida por Marcelo Neves138 a partir
das categorias da teoria sistecircmica de Niklas Luhman Para Luhman139 em apertada siacutentese o
Direito nas hipercomplexas sociedades modernas seria autopoieacutetico140 pois consistiria num
subsistema social estruturalmente fechado em relaccedilatildeo ao meio envolvente que operaria de
acordo com um coacutedigo binaacuterio proacuteprio - o liacutecito iliacutecito As influecircncias do meio envolvente so-
bre o Direito seriam filtradas atraveacutes deste coacutedigo assegurando a autonomia da esfera juriacutedica
diante dos outros subsistemas sociais como a Economia a Poliacutetica a Religiatildeo etc Contudo
Marcelo Neves sustenta que em sociedades perifeacutericas como o Brasil natildeo se desenvolveu ple-
namente este fechamento estrutural do Direito Por aqui fatores como a nossa constituciona-
lizaccedilatildeo simboacutelica geraram uma insuficiente diferenciaccedilatildeo do Direito em relaccedilatildeo a outros sub-
sistemas sociais permitindo que elementos a princiacutepio estranhos ao coacutedigo binaacuterio do juriacutedico -
como a questatildeo do poder poliacutetico e do poder econocircmico - se infiltrem sistematicamente nos
processos de aplicaccedilatildeo das normas condicionando o seu resultado A teoria dos sistemas de
Luhman natildeo funcionaria bem entre noacutes pois teriacuteamos um Direito em boa parte alopoieacuteti-
coPara tal perspectiva esta maior abertura do Direito ao meio envolvente natildeo assume o po-
tencial emancipatoacuterio preconizado pela teoria neoconstitucionalista Ela funciona muito mais
como um mecanismo de cristalizaccedilatildeo de diferenccedilas sociais mantendo a hiper-inclusatildeo de uns
ao preccedilo da exclusatildeo de outros
Esta reflexatildeo de Marcelo Neves natildeo se dirigiu ao debate metodoloacutegico contemporacircneo envol-
vendo princiacutepios e regras ponderaccedilatildeo e subsunccedilatildeo etc Poreacutem entendo que ela pode ter algu-
ma pertinecircncia tambeacutem aqui pelo menos para nos advertir sobre o perigo de que o neoconsti-
tucionalismo com a fluidez metodoloacutegica e abertura do Direito a outros domiacutenios que preconi-
za possa acabar tornando-se um belo roacutetulo para justificar mais do mesmo patrimonialismo
desigualdade jeitinho Nesta perspectiva a novidade do neoconstitucionalismo poderia pare-
cer com aquela advogada pelo Priacutencipe de Salinas em famosa passagem do romance O Leopar-
do de Giuseppe Lampedusa quando defendia no contexto da crise da aristocracia italiana do
23
final do seacuteculo XIX a necessidade de mudanccedilas urgentes no governo para que ao final as
coisas pudessem permanecer exatamente do jeito que sempre foram
Natildeo penso que esta seja uma consequumlecircncia necessaacuteria da adoccedilatildeo de uma perspectiva juriacutedica
mais principialista no Brasil O maior cuidado metodoloacutegico adicionado agrave adoccedilatildeo de uma dire-
triz hermenecircutica substantiva que afirme a missatildeo essencial do Direito de assegurar justiccedila e
seguranccedila agraves pessoas tratando-as como livres e iguais pode minimizar as possibilidades de um
uso enviesado da teoria neoconstitucional que acabe favorecendo aos mesmos de sempre
Mas diante das nossas tradiccedilotildees natildeo haacute como negar que os riscos satildeo elevados
c) Neoconstitucionalismo e panconstitucionalizaccedilatildeo
Uma das caracteriacutesticas do neoconstitucionalismo eacute a defesa da constitucionalizaccedilatildeo do Direi-
to Sustenta-se que a irradiaccedilatildeo das normas constitucionais por todo o ordenamento contribui
para aproximaacute-lo dos valores emancipatoacuterios contidos nas constituiccedilotildees contemporacircneas 141A
Constituiccedilatildeo natildeo eacute vista mais como uma simples norma normarum - cuja finalidade principal eacute
disciplinar o processo de produccedilatildeo de outras normas142 Ela passa a ser enxergada como a en-
carnaccedilatildeo dos valores superiores da comunidade poliacutetica que devem fecundar todo o sistema
juriacutedico Neste modelo cabe ao inteacuterprete natildeo soacute aplicar diretamente os ditames constitucio-
nais agraves relaccedilotildees sociais como tambeacutem reler todas as normas e institutos dos mais variados ra-
mos do Direito agrave luz da Constituiccedilatildeo emprestando-lhes o sentido que mais promova os objeti-
vos e a axiologia da Carta
A constitucionalizaccedilatildeo do Direito de que cogita o neoconstitucionalismo natildeo eacute aquela que resul-
ta do caraacuteter excessivamente analiacutetico da Constituiccedilatildeo e leva ao entricheiramento de meras
opccedilotildees conjunturais do constituinte originaacuterio ou derivado despidas de maior importacircncia ou
dignidade Este eacute um fenocircmeno caracteriacutestico da Carta de 88 que se excedeu no casuiacutesmo e
nos detalhes elevando ao seu texto meros interesses corporativos ou decisotildees de momento
sem focirclego para perdurarem no tempo A constitucionalizaccedilatildeo louvada e defendida pelo neo-
constitucionalismo eacute aquela que parte de uma interpretaccedilatildeo extensiva e irradiante dos direitos
fundamentais e dos princiacutepios mais importantes da ordem constitucional Aqui contudo pode-
se discutir ateacute que ponto o fenocircmeno eacute legiacutetimo Poucos discordaratildeo pelo menos no Brasil de
que alguma constitucionalizaccedilatildeo do Direito eacute positiva e bem-vinda por semear o ordenamento
com os valores humanitaacuterios da Constituiccedilatildeo Poreacutem pode-se objetar contra as teses extrema-
das sobre este processo que acabam amputando em demasia o espaccedilo de liberdade do legisla-
dor em detrimento da democracia 143
24
Com efeito quem defende que tudo ou quase tudo jaacute estaacute decidido pela Constituiccedilatildeo e que o
legislador eacute um mero executor das medidas jaacute impostas pelo constituinte nega por conse-
quumlecircncia a autonomia poliacutetica ao povo para em cada momento da sua histoacuteria realizar as suas
proacuteprias escolhas O excesso de constitucionalizaccedilatildeo do Direito reveste-se portanto de um
vieacutes antidemocraacutetico Esta ordem de preocupaccedilotildees levou Ersnt Forsthof na Alemanha a criti-
car as teorias que viam a Constituiccedilatildeo como uma espeacutecie de genoma juriacutedico () do qual tudo
deriva do Coacutedigo Penal ateacute a lei sobre a fabricaccedilatildeo de termocircmetros144 E a questatildeo torna-se
ainda mais delicada diante da constataccedilatildeo de que pela abertura semacircntica dos direitos fun-
damentais e dos princiacutepios - principal mateacuteria-prima da constitucionalizaccedilatildeo do Direito - o seu
principal agente acaba sendo o Poder Judiciaacuterio ao dar a uacuteltima palavra sobre a interpretaccedilatildeo
daquelas claacuteusulas Daiacute porque o debate sobre a constitucionalizaccedilatildeo do Direito se imbrica
inexoravelmente com as discussotildees a propoacutesito da judicializaccedilatildeo da poliacutetica e do decisionismo
referidas acima
Ademais a constitucionalizaccedilatildeo do Direito tambeacutem suscita outra linha de preocupaccedilotildees rela-
cionada ao perfeccionismo moral145 na esfera privada No Brasil assim como em muitos outros
paiacuteses jaacute se assentou a ideacuteia de que os direitos fundamentais natildeo se dirigem apenas contra o
Estado vinculando tambeacutem os particulares Entre noacutes tem prevalecido na doutrina a ideacuteia que
eu mesmo defendi em outro estudo146 que a eficaacutecia dos direitos fundamentais nas relaccedilotildees
privadas eacute direta e imediata Em outras palavras entende-se que a proacutepria Constituiccedilatildeo jaacute inci-
de nas relaccedilotildees privadas independentemente de mediaccedilotildees legislativas e que pode gerar o-
brigaccedilotildees positivas ou negativas para os indiviacuteduos e natildeo soacute para os poderes puacuteblicos sempre
no afatilde de proporcionar uma proteccedilatildeo mais completa agrave dignidade humana Ateacute aqui nada a
contestar
Poreacutem o reconhecimento da vinculaccedilatildeo dos particulares agrave Constituiccedilatildeo suscita um risco que
natildeo pode ser ignorado o de imposiccedilatildeo agraves pessoas supostamente em nome de valores constitu-
cionais de comportamentos e estilos de vida que elas proacuteprias rejeitam em detrimento da sua
liberdade existencial Para dar um exemplo bem tosco seria terriacutevel se o Direito em nome do
princiacutepio da solidariedade social pudesse impor agraves pessoas que demonstrassem afetos e senti-
mentos que elas natildeo possuem genuinamente Ou se em nome da isonomia pretendesse inter-
ferir nas escolhas subjetivas e emocionais que os indiviacuteduos fazem nas suas vidas privadas A
constitucionalizaccedilatildeo neste sentido poderia converter-se num pretexto para o exerciacutecio de um
paternalismo anti-liberal em que as pessoas seriam forccediladas a conformarem-se agraves expectativas
sociais forjadas a partir de pautas de accedilatildeo politicamente corretas com apoio na Constitui-
ccedilatildeo147
25
Nenhuma destas duas questotildees eacute insuperaacutevel Eacute possiacutevel aceitar e aplaudir a constitucionaliza-
ccedilatildeo do Direito - fenocircmeno em geral positivo por aproximar a racionalidade emancipatoacuteria da
Constituiccedilatildeo do dia-a-dia das pessoas - mas defender que ela seja temperada por outras preo-
cupaccedilotildees igualmente essenciais no Estado Democraacutetico de Direito com a autonomia puacuteblica e
privada dos cidadatildeos Pode-se reconhecer a legitimidade da constitucionalizaccedilatildeo do Direito
mas numa medida em que natildeo sacrifique em excesso agrave liberdade de conformaccedilatildeo que numa
democracia deve caber ao legislador para realizar opccedilotildees poliacuteticas em nome do povo148 Pode-
se da mesma forma afirmar a incidecircncia direta da Constituiccedilatildeo nas relaccedilotildees privadas mas
sem invadir a esfera das opccedilotildees existenciais da pessoa - que de resto eacute protegida pela proacutepria
Constituiccedilatildeo das ingerecircncias perfeccionistas do Estado e da sociedade149
5 Conclusatildeo Ao fim da leitura destas paacuteginas o leitor pode estar se indagando se eu me alinho ou natildeo ao
neoconstitucionalismo A minha resposta eacute depende da compreensatildeo que se tenha sobre o ne-
oconstitucionalismo Se entendermos o neoconstitucionalismo de acordo com a conhecida defi-
niccedilatildeo de Luis Prietro Sanchiacutes como uma teoria do Direito que se orienta pelas maacuteximas demaacutes
princiacutepios que reglas maacutes ponderacioacuten que subsuncioacuten omnipotencia de la Constitucioacuten en
todas las aacutereas juriacutedicas y en todos conflictos miacutenimamente relevantes en lugar de espacios
exentos en favor de la opcioacuten legislativa o reglamentaria omnipotencia judicial en lugar de
autonomia del legislador ordinaacuterio y por ultimo coexistecircncia de una constelacioacuten plural de
valores a veces tendencialmente contradictorios en lugar de homogeneidad ideoloacutegica150
certamente eu natildeo me considero um neoconstitucionalista De todas as afirmaccedilotildees do professor
espanhol a uacutenica de que natildeo discordo eacute aquela relacionada ao pluralismo de valores cujo re-
conhecimento aliaacutes estaacute longe de ser privileacutegio dos neoconstitucionalistas
Contudo eu assumo o roacutetulo sem constrangimentos se o neoconstitucionalismo for pensado
como uma teoria constitucional que sem descartar a importacircncia das regras e da subsunccedilatildeo
abra tambeacutem espaccedilo para os princiacutepios e para a ponderaccedilatildeo tentando racionalizar o seu uso
Se for visto como uma concepccedilatildeo que sem desprezar o papel protagonista das instacircncias de-
mocraacuteticas na definiccedilatildeo do Direito reconheccedila e valorize a irradiaccedilatildeo dos valores constitucio-
nais pelo ordenamento bem como a atuaccedilatildeo firme e construtiva do Judiciaacuterio para proteccedilatildeo e
promoccedilatildeo dos direitos fundamentais e dos pressupostos da democracia E acima de tudo se
for concebido como uma visatildeo que conecte o Direito com exigecircncias de justiccedila e moralidade
criacutetica151 sem enveredar pelas categorias metafiacutesicas do jusnaturalismo
26
Certamente uma visatildeo equilibrada da Teoria do Direito com tais caracteriacutesticas pode contribu-
ir para o aperfeiccediloamento do Estado Democraacutetico de Direito no Brasil O mesmo jaacute natildeo digo de
concepccedilotildees mais radicais do neoconstitucionalismo que podem ser muito boas para arrancar
aplausos entusiasmados das plateacuteias nos seminaacuterios estudantis mas que natildeo se conciliam com
exigecircncias fundamentais de seguranccedila juriacutedica democracia e liberdade que satildeo alicerces de
qualquer bom constitucionalismo - novo ou velho
Curriacuteculo Resumido
Daniel Sarmento
Poacutes-Doutor pela Universidade de Yale (EUA) Procurador Regional da Repuacuteblica
Como citar este artigo
SARMENTO Daniel O neoconstitucionalismo no Brasil riscos e possibilidades Disponiacutevel em httpwwweditoraforumcombrsistconteudolista_conteudoaspFIDT_CONTEUDO=56993 acesso em 09032011 httpdireitoesubjetividadefileswordpresscom201008daniel-sarmento-o-neoconstitucionalismo-no-brasil1doc acesso em 30062012 Material da 1ordf aula da Disciplina Teoria Geral da Constituiccedilatildeo (I) ministrada no Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo Online em Direito Constitucional ndash Anhanguera-UNIDERP | REDE LFG
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1Sobre a teoria de princiacutepios no Brasil veja-se dentre outros Ana Paula de Barcellos A eficaacutecia juriacutedica dos princiacutepios constitu-
cionais o princiacutepio da dignidade da pessoa humana Rio de Janeiro Renovar 2002 Humberto Bergman Aacutevila Teoria dos princiacute-
pios da definiccedilatildeo agrave aplicaccedilatildeo dos princiacutepios juriacutedicos 2 ed Satildeo Paulo RT 2005 Jane Reis Gonccedilalves Pereira Interpretaccedilatildeo
constitucional e direitos fundamentais uma contribuiccedilatildeo ao estudo das restriccedilotildees aos direitos fundamentais na perspectiva da
teoria dos princiacutepios Rio de Janeiro Renovar 2006 Virgiacutelio Afonso da Silva O conteuacutedo essencial dos direitos fundamentais e a
eficaacutecia das normas constitucionais Satildeo Paulo Tese (concurso de Professor Titular de Direito Constitucional da USP)
2Veja-se em tons variados Lecircnio Luiz Streck Hermenecircutica juriacutedica e(m) crise uma exploraccedilatildeo hermenecircutica da construccedilatildeo do
direito Porto Alegre Livraria do Advogado 1999 Luiacutes Roberto Barroso (Org) A nova interpretaccedilatildeo constitucional ponderaccedilatildeo
direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas Rio de Janeiro Renovar 2003 Margarida Maria Lacombe Camargo Hermenecircutica e
argumentaccedilatildeo uma contribuiccedilatildeo ao estudo do direito Rio de Janeiro Renovar 2003 Inocecircncio Maacutertires Coelho Interpretaccedilatildeo
constitucional 2 ed Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2003 Ana Paula de Barcellos Ponderaccedilatildeo racionalidade e atividade
jurisdicional Rio de Janeiro Renovar 2005
3Sobre o fenocircmeno da constitucionalizaccedilatildeo do Direito confira-se os inuacutemeros artigos que compotildeem a coletacircnea organizada por
Claacuteudio Pereira de Souza Neto e por mim A constitucionalizaccedilatildeo do direito fundamentos teoacutericos e aplicaccedilotildees especiacuteficas Rio de
Janeiro Lumen Juris 2007
4Cfr na literatura constitucional brasileira Gisele Guimaratildees Cittadino Pluralismo direito e justiccedila distributiva elementos de
filosofia constitucional contemporacircnea Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 Oscar Vilhena Vieira A Constituiccedilatildeo e sua reserva de
justiccedila um ensaio sobre os limites materiais do poder de reforma Satildeo Paulo Malheiros 1999 Ricardo Lobo Torres (Org) A legi-
timaccedilatildeo dos direitos humanos Rio de Janeiro Renovar 2002 Claacuteudio Pereira de Souza Neto Teoria constitucional e democracia
deliberativa Rio de Janeiro Renovar 2006 Lecircnio Luiz Streck Verdade e consenso Constituiccedilatildeo hermenecircutica e teorias discursi-
vas Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 Samantha Chantal Dobrowolski A construccedilatildeo social do sentido da Constituiccedilatildeo na demo-
cracia contemporacircnea entre soberania popular e direitos humanos Rio de Janeiro Lumen Juris 2007 Aacutelvaro Ricardo de Souza
Cruz Hermenecircutica juriacutedica e(m) debate o constitucionalismo brasileiro entre a teoria do discurso e a ontologia existencial Belo
Horizonte Foacuterum 2007
5Sobre a judicializaccedilatildeo da poliacutetica no Brasil veja-se Luiz Werneck Vianna et al A judicializaccedilatildeo da poliacutetica e das relaccedilotildees sociais
no Brasil Rio de Janeiro Revan 1999 Giselle Cittadino Judicializaccedilatildeo da poliacutetica constitucionalismo democraacutetico e separaccedilatildeo de
poderes In Luiz Werneck Vianna (Org) A democracia e os trecircs poderes no Brasil Belo Horizonte UFMG 2002 p 17-42 Rogeacuterio
B Arantes Constitucionalism the expansion of Justice and the Judicialization of Poltics in Brazil In Rachel Sieder Line Schjol-
den Alan Angell The Judicialization of Politics in Latin America New York Palgrave Macmillan 2005 p 232-262 Luis Roberto
Barroso Judicializaccedilatildeo ativismo judicial e legitimidade democraacutetica Texto ineacutedito gentilmente cedido pelo autor
Para uma perspectiva comparativa veja-se Neal C Tate Tobjorn Vallinder (Ed) The Global Expansion of Judicial Power New
York New York University Press 1995 Alec Stone Sweet Governing with Judges Constitutional Politics in Europe Oxford Oxford
Univesity Press 2000 e em tom profundamente criacutetico Ran Hirschl Towards Juristocracy the Origins and Consequences of the
New Constitucionalism Cambridge Harvard University Press 2004
6Miguel Carbonell et al Neoconstitucionalismo(s) Madrid Trotta 2003 Mais recentemente o autor publicou nova coletacircnea
tambeacutem dedicada ao estudo do neoconstitucionalismo intitulada Teoria del Neoconstitucionalismo Ensayos escogidos Madrid
Trotta 2007
7O jurista argentino Carlos Santiago Nino por exemplo faleceu em 1993 quando ainda nem se empregava esta denominaccedilatildeo
8Cf Robert Alexy Teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica a teoria do discurso racional como teoria da fundamentaccedilatildeo juriacutedica Tradu-
ccedilatildeo de Zilda Hutchinson Schild Silva revisatildeo teacutecnica da traduccedilatildeo e introduccedilatildeo agrave ediccedilatildeo brasileira Claudia Toledo 2 ed Satildeo Paulo
Landy 2005 Luis Roberto Barroso Curso de direito constitucional contemporacircneo os conceitos fundamentais e a construccedilatildeo do
novo modelo Rio de Janeiro Saraiva 2008 p 306-350
9Cf Lecircnio Luiz Streck Verdade e consenso Op cit p 197-246
28
10Ronald Dworkin e Carlos Santiago Nino satildeo sem sombra de duacutevida autores liberais natildeo no sentido que se atribui ao termo no
Brasil - de adeptos de doutrina econocircmica favoraacutevel ao Estado miacutenimo e ao mercado - mas sim no sentido corrente na Filosofia
Poliacutetica que associa o liberalismo agrave defesa dos direitos individuais e da neutralidade do Estado em relaccedilatildeo agraves diversas concepccedilotildees
sobre a vida boa existentes na sociedade Veja-se neste sentido Ronald Dworkin A Matter of Principle Cambridge Harvard
University Press 1985 p 181-236 Carlos Santiago Nino La constitucioacuten de la Democracia Deliberativa Barcelona Gedisa 1997
p 70-100
11Lecircnio Luiz Streck que se alinha ao neoconstitucionalismo defende posturas tipicamente comunitaristas como o papel da Consti-
tuiccedilatildeo na definiccedilatildeo de modelos de vida boa para orientaccedilatildeo da vida social e da accedilatildeo individual Cf Jurisdiccedilatildeo constitucional e
hermenecircutica uma nova criacutetica do direito 2 ed Rio de Janeiro Forense 2004 p 95-288
12Antonio Cavalcanti Maia um dos mais ardorosos defensores do neoconstitucionalismo no paiacutes eacute tambeacutem procedimentalista e
adepto das teorias juriacutedicas de Juumlrgen Habermas Veja-se neste sentido o seu denso texto Nos vintes anos da carta cidadatilde do
poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm (Coord) Vinte
anos da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 p 117-168 em que esta sua dupla filiaccedilatildeo intelectual eacute
explicitada
13Segundo Miguel Carbonell o neoconstitucionalismo desdobra-se em trecircs planos de anaacutelise que se conjugam o dos textos consti-
tucionais que se tornaram mais substantivos e incorporaram amplos elencos de direitos fundamentais o das praacuteticas judiciais que
passaram a recorrer a princiacutepios constitucionais agrave ponderaccedilatildeo e a meacutetodos mais flexiacuteveis de interpretaccedilatildeo sobretudo na aacuterea de
direitos fundamentais e o dos desenvolvimentos teoacutericos de autores que com as suas ideacuteias ajudaram natildeo soacute a compreender os
novos modelos constitucionais mas tambeacutem participaram da sua proacutepria criaccedilatildeo Cf Miguel Carbonell Neoconstitucionalismo
elementos para una definicioacuten In Eduardo Ribeiro Moreira Mauricio Pugliesi 20 anos da Constituiccedilatildeo brasileira Satildeo Paulo Sarai-
va 2009 p 197-208
14No mesmo sentido Luis Roberto Barroso Neoconstitucionalismo e Constitucionalizaccedilatildeo do direito o triunfo tardio do direito
constitucional do Brasil In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento A constitucionalizaccedilatildeo do direito fundamentos teoacuteri-
cos e aplicaccedilotildees especiacuteficas Rio de Janeiro Lumen Juris 2007 p 203-250
15Cf Carlos Bernal Pulido El Derecho de los Derechos Bogotaacute Universidad Externado de Colocircmbia 2006 Manoel Jose Cepeda
Espinosa Judicialization of Politics in Colombia the old and the new In Rachel Sieder Line Schonjen Alan Angell The Judiciali-
zation of Politics in Latin America Op cit p 67-104 Rodrigo Uprimmy Mauriacutecio Garcia-Villegas Tribunal Constitucional e eman-
cipaccedilatildeo social na Colocircmbia In Boaventura de Souza Santos Democratizar a democracia os caminhos da democracia participativa
Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2002 p 297-339
16Cf Catalina Smulovitz Petitioning and Creating Rights Judicialization in Argentina In Rachel Sieder Line Scjolden Alan Angell
The Judicialization of Politics in Latin America Op cit p 161-185
17Cf Miguel Carbonell Los Derechos Fundamentales en Meacutexico 2 ed Meacutexico Porruacutea 2006 Pilar Domingo The Changing Political
Role of the Judiciary in Meacutexico In Rachel Sieder Line Scjolden Alan Angell The Judicialization of Politics in Latin Ameacuterica Op
cit p 21-46
18Cf Heinz Klug South Aacutefrica From Constitucional Promise to Social Transformation In Jeffrey Goldsworthy Interpreting Consti-
tutions A Comparative Study Oxford Oxford University Press 2006 p 266-320
19Cf S P Sathe Iacutendia From Positivism to Structuralism In Jeffrey Goldsworthy Op cit p 215-265
20Veja-se a propoacutesito Gustavo Zagrebelsky Il Diritto Mite Torino Einaudi 1992 p 57-96
21Cf Eduardo Garciacutea de Enterriacutea La Constitucioacuten como Norma y el Tribunal Constitucional 3 ed Madrid Civitas 1985 p 41
22Na Alemanha a mudanccedila ocorreu sob a vigecircncia da Lei Fundamental adotada em 1949 e foi fortemente impulsionada pela
jurisprudecircncia do Tribunal Constitucional do paiacutes que construiu teorias importantes como a da Constituiccedilatildeo como uma ordem de
valores em cujo centro situa-se o princiacutepio da dignidade humana que se irradia por todo o ordenamento Veja-se a propoacutesito
Dieter Grimm Human Rights and Judicial Review in Germany In David M Beatty (Org) Human Rights and Judicial Review A
Comparative Perspective Dodrecht Martin Urjhoff 1994 p 267-295
23Na Itaacutelia as mudanccedilas se deram sob a eacutegide da atual Constituiccedilatildeo editada em 1947 mas soacute apoacutes o funcionamento da Corte
Constitucional que se deu em 1956 Ateacute entatildeo a Corte de Cassaccedilatildeo composta por juiacutezes recrutados ainda no periacuteodo do fascismo
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era provisoriamente encarregada da guarda da Constituiccedilatildeo o que fazia de forma muito tiacutemida no mais das vezes negando eficaacute-
cia juriacutedica agraves normas constitucionais sob o argumento de que seriam programaacuteticas Veja-se a propoacutesito Ricardo Guastini A
constitucionalizaccedilatildeo do ordenamento juriacutedico e a experiecircncia italiana In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento A
constitucionalizaccedilatildeo do direito fundamentos teoacutericos e aplicaccedilotildees especiacuteficas Op cit p 271-294
24Cf No modelo do constitucionalismo norte-americano entende-se desde os primoacuterdios que a Constituiccedilatildeo eacute autecircntica lei e que
o Judiciaacuterio pode invalidar as decisotildees legislativas que a contrariem apesar do controle de constitucionalidade natildeo estar expres-
samente previsto no texto constitucional daquele paiacutes Esta ideacuteia que jaacute estava assentada no Federalista n 78 escrito por Ale-
xander Hamilton antes da aprovaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo foi posta em praacutetica pela primeira vez contra lei federal no ceacutelebre caso
Marbury v Madison julgado em 1803 pelo juiz Marshall Veja-se a propoacutesito Paul Brest Sanford Levinson Jack Balkin Akhil Reed
Amar Processes of Constitutional Decisionmaking Cases and Materials New York Aspen Publishers 2000 p 79-103
A versatildeo mais convencional do modelo constitucional norte-americano enfatiza a importacircncia central do Judiciaacuterio na atualizaccedilatildeo
do sentido da Constituiccedilatildeo do paiacutes Contudo esta leitura histoacuterica eacute hoje objeto de intensa disputa Em sentido contraacuterio a tal
posiccedilatildeo sustentando uma menor relevacircncia do Judiciaacuterio no desenvolvimento histoacuterico do constitucionalismo americano veja-se
por exemplo Stephen M Griffin American Constitutionalism From Theory to Politics New Jersey Princeton University Press
1996 p 88-139
25Cf Luis Prietro Sanchiacutes Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales Madrid Trotta 2003 p 107-117
26Cf Daniel Sarmento Ubiquumlidade constitucional Os dois lados da moeda In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento
(Coord) A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 113-148
27Na verdade a reaccedilatildeo contra o formalismo juriacutedico na Europa eacute bem anterior ao advento do constitucionalismo do 2ordm poacutes-guerra
remontando ao final do seacuteculo XIX Veja-se a propoacutesito Constantin M Stamatis Argumenter en Droit Une theacuteorie critique de
largumentation juridique Paris Publisud 1995 p 34-50 Antonio Manoel Hespanha Panorama histoacuterico da cultura juriacutedica euro-
peacuteia Lisboa Publicaccedilotildees Europa-Ameacuterica 1997 p 196-235
28Haacute vasta literatura sobre a ponderaccedilatildeo mas a obra mais influente sobre o tema eacute certamente o livro de Robert Alexy Teoria dos
direitos fundamentais Traduccedilatildeo de Virgiacutelio Afonso da Silva Satildeo Paulo Malheiros 2008 No cenaacuterio norte-americano veja-se a
anaacutelise densa e criacutetica de T Alexander Aleinikoff Constitucional Law in the Age of Balancing Yale Law Journal n 96 p 943-
1005 1987 No Brasil cfr Daniel Sarmento A ponderaccedilatildeo de interesses na Constituiccedilatildeo Federal Rio de Janeiro Lumen Juris
2000 Ana Paula de Barcellos Ponderaccedilatildeo racionalidade e atividade jurisdicional Op cit
29A bibliografia sobre o princiacutepio da proporcionalidade eacute vastiacutessima Veja-se a propoacutesito as densas anaacutelises de Carlos Bernal Puli-
do El Principio de Proporcionalidad y los Derechos Fundamentales Madrid Centro de Estuacutedios Constitucionales 2003 e no Brasil
de Jane Reis Gonccedilalves Pereira Interpretaccedilatildeo constitucional e direitos fundamentais Rio de Janeiro Renovar 2006 p 297-382
30Cf Chaiumlm Perelman Eacutetica e direito Traduccedilatildeo de Maria Ermantina Galvatildeo G Perira Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 p 361-684
Robert Alexy Teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica Op cit Friedrich Muller Discours de la Meacutethode Juridique Traduccedilatildeo de Olivier
Jouanjan Paris PUF 1993 Manuel Atienza Traacutes la Justicia Una Introduccioacuten al Derecho y al Razonamiento Juriacutedico Barcelona
Ariel 1995 Neil MacCormick Argumentaccedilatildeo juriacutedica e teoria do direito Traduccedilatildeo de Waldeacutea Barcellos Satildeo Paulo Martins Fontes
2006 Klaus Guumlnther Teoria da argumentaccedilatildeo no direito e na moral justificaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Claacuteudio Molz Satildeo Pau-
lo Landy 2004
31Cf Martin Shapiro Alec Stone Sweet On Law Politics and Judicialization New York Oxford University Press p 136-208
32Contudo deve-se admitir na linha de Paolo Comanducci que eacute possiacutevel reconhecer as mudanccedilas em questatildeo e propor novas
teorias que sejam adequadas a elas sem defendecirc-las Esta seria nas palavras do autor italiano a diferenccedila entre o neoconstitu-
cionalismo teoacuterico e o neoconstitucionalismo ideoloacutegico que natildeo apenas constroacutei teorias mais compatiacuteveis com os novos fenocirc-
menos mas vai aleacutem sustentando a sua legitimidade e propugnando pelo seu aprofundamento e expansatildeo Veja-se a propoacutesito
Paulo Comanducci Formas de neoconstitucionalismo Un anaacutelisis metateoacuterico In Miguel Carbonell (Ed) Neoconstitucionalis-
mo(s) Op cit p 75-98 Como reconhece o proacuteprio autor tal distinccedilatildeo baseia-se em uma semelhante acerca do positivismo
30
formulada por Norberto Bobbio que fala em positivismo teoacuterico ideoloacutegico e metodoloacutegico Cf Norberto Bobbio O positivismo
juriacutedico liccedilotildees de filosofia do direito Traduccedilatildeo e notas de Marcio Pugliesi et al Satildeo Paulo Iacutecone 1995 p 233-239
33Cf Ronald Dworkin Is Law a Sistem of Rules In Ronald Dworkin (Ed) Philosophy of Law Oxford Oxford University Press 1971
Robert Alexy Constitucionalismo discursivo Traduccedilatildeo de Luiz Afonso Heck Porto Alegre Livraria do Advogado 2007
34Cf Robert Alexy Derecho y Razoacuten Praacutectica Meacutexico Distribuiciones Fontamara 1993 Aulis Aarnio Lo Racional como Razonable
Traduccedilatildeo de Ernesto Garzoacuten Valdeacutes Madrid Centro de Estuacutedios Constitucionales 1991
35Cf Aharon Barak The Judge in a Democracy New Jersey Princeton University Press 2006 p 213-260 Gustavo Zagrebelsky Il
Diritto Mite Op cit p 179-217
36Confronte-se com perspectivas diferentes Luigi Ferrajoli O Estado de direito entre passado e futuro In Pietro Costa Danilo
Zolo (Org) Estado de direito histoacuteria teoria criacutetica Traduccedilatildeo de Carlo Alberto Dastoli Satildeo Paulo Martins Fontes 2006 p 419-
464 Elias Dias Estado de Derecho y Sociedad Democraacutetica Madrid Taurus 1998 Ronald Dworkin Introduction The Moral Reading
and the Majoritarian Premise In Freedoms Law The moral reading of the American Constitution Cambridge Harvard University
Press 1996 p 01-38 Gustavo Zagrebelsky La Crucifixioacuten y la Democracia Barcelona Ariel 1996 Claacuteudio Pereira de Souza Neto
Teoria constitucional da democracia deliberativa Op cit
37Cf Ronald Dworkin Introduction The Moral Reading and the Majoritarian Premise Op cit
38Cf Luigi Ferrajoli El Garantismo y la Filosofia del Derecho Bogotaacute Universidad Externado de Colocircmbia 2000
39Cf Luis Pietro Sanchis Sobre el Neoconstitucionalismo y sus Implicaciones In Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales
Op cit p 101-135
40Cf Ricardo Guastini Sur la Validiteacute de la Constitution du Point de Vue du Positivisme Juridique In Michel Troper Lucien Jaume
(Dir) 1789 et LInvention de la Constitution Paris LGDJ 1994 p 216-225
41Cf Suzana Pozzolo Neoconstituzionalismo e Positivismo Giuridico Torino Giapppicheli 2001
42Cf Ronald Dworkin Law and Morals In Justice in Robes Cambridge Harvard University Press 2006 p 01-35
43Cf Robert Alexy Derecho y Moral In La Institucionalizacioacuten de la Justicia Op cit p 17-30
44Cf Carlos Santiago Nino Eacutetica y Derechos Humanos 2 ed Buenos Aires Astrea 1989 p 11-48
45Cf Gustav Radbruch Cinco minutos de filosofia do direito In Filosofia do direito Traduccedilatildeo de L Cabral de Moncada 6 ed
Coimbra Armecircnio Amado 1979 p 414-418 Para uma densa problematizaccedilatildeo da foacutermula de Radbruch veja-se Thomas da Rosa
Bustamante Poacutes-Positivismo o argumento da injusticcedila aleacutem da Foacutermula de Radbruch In Teoria do direito e decisatildeo racional
temas de teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica Rio de Janeiro Renovar 2008
46Cf Robert Alexy La Institucionalizacioacuten de la Justicia Traduccedilatildeo de Joseacute Antonio Seone et al Granada Comares 2005 p 31-
54
47Sobre o tema cfr Alfonso Garcia Figueroa Princiacutepios e direitos fundamentais In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmen-
to A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 03-34
48O texto mais importante do positivismo inclusivo eacute o poacutes-escrito de Herbert LA Hart agrave sua obra magna The Concept of Law em
que ele responde agraves criacuteticas ao seu pensamento que Ronald Dworkin lhe endereccedilara O autor inglecircs faleceu antes de terminar o
texto mas ele foi publicado postumemente depois de ser editado por Joseph Raz Peneacutelope Bulloch Veja-se Herbert LA Hart
Poacutes-escrito In O conceito de direito Traduccedilatildeo de A Ribeiro Mendes 2 ed 1994 p 299-339 Tambeacutem na linha do positivismo
inclusivo veja-se Gregorio Peces- Barba Derechos Sociales y Positivismo Juriacutedico Escritos de Filosofia Poliacutetica y Juriacutedica Madrid
Dykinson 1999 p 83-90 Jules Coleman The Practice of Principle In defense of a pragmatist approach do legal theory Oxford
Oxford University Press p 103-120 Para uma resenha dos tipos de positivismo no debate contemporacircneo confira-se Dimitri Di-
moulis Positivismo juriacutedico introduccedilatildeo a uma teoria do direito e defesa do pragmatismo juriacutedico-politico Satildeo Paulo Meacutetodo
2006 p 65-166
49Cf Antonio Cavalcanti Maia Nos vinte anos da Constituiccedilatildeo do poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo Op cit Claacuteudio Perei-
ra de Souza Neto A teoria constitucional e seus lugares especiacuteficos notas sobre o aporte reconstrutivo Revista de Direito do
Estado n 1 p 89-104 jan mar 2006 Daniel Sarmento Interpretaccedilatildeo constitucional preacute-compreensatildeo e capacidades institu-
cionais do inteacuterprete In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binebojm Vinte anos da Constituiccedilatildeo de 1988
Op cit p 311-322
31
50Cf Juumlrgen Habermas Escritos sobre Moralidad y Eticidad Traduccedilatildeo de Manuel Jimenez Redondo Barcelona Paidoacutes 1991 p
131-172
51Sobre o comunitarismo haacute extensa literatura Dois textos claacutessicos deste linha de pensamento satildeo Michael Walzer The Communi-
tarian Critique of Liberalism In Politics and Passion New Haven Yale University Press 2004 p 141-163 Charles Taylor The
Procedural Republic and the Unencumbered Self In Robert Goodin Philip Pettit (Ed) Contemporary Political Philosophy 2 ed
Oxford Oxford University Press 2002 p 2462-256 Sobre a penetraccedilatildeo ainda que muitas vezes natildeo consciente das posiccedilotildees do
comunitarismo no constitucionalismo brasileiro veja-se Gisele Cittadino Pluralismo direito e justiccedila distributiva Op cit p
43-74
52Sobre o construtivismo eacutetico corrente filosoacutefica que sustenta a existecircncia de posiccedilotildees certas e erradas na Moral bem como a
possibilidade de encontraacute-las e fundamentaacute-las racionalmente veja-se Carlos Santiago Nino El Constructivismo Eacutetico Madrid
Centro de Estudios Constitucionales 1989
53O fenocircmeno tambeacutem se reproduz na teoria constitucional norte-americana hegemocircnica cf Keith Wittington Constitutional Con-
struction Divided Powers and Constitutional Meaning Cambridge Harvard University Press 1999 p 01-03
54A imagem do Poder Judiciaacuterio como um guardiatildeo de promessas eacute explorada e criticada numa obra importante da teoria juriacutedica
francesa contemporacircnea Antoine Garapon Le Gardien de Promesses Le juge et la democratie Paris Odile Jacob 1996
55Neste sentido o eloquumlente encerramento do Curso de Direito Constitucional Contemporacircneo de Luis Roberto Barroso o consti-
tucionalismo democraacutetico eacute a utopia que nos restou Uma feacute racional que ajuda a acreditar no bem e na justiccedila ainda quando natildeo
estejam ao alcance dos olhos (Op cit p 400)
56Cf Nico Poulantzas State Power Socialism London new Left Books 1978 Alan Hunt Marxist Theory of Law In Dennis Patter-
son (Ed) A Companion to Philosophy of Law and Legal Theory Malden Blackwell Publishers 1996 p 355-367
57Cf David Kairys (Ed) The Politics of Law A Progressive Critique New York Pantheon Books 1982 Roberto Mangabeira Unger
The Critical Legal Studies Movement Cambridge Harvard University Press 1986
58Cf Plauto Faraco Azevedo Criacutetica agrave dogmaacutetica e hermenecircutica juriacutedica Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1989 Luiz Fernando
Coelho Teoria criacutetica do direito 2 ed Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1991
59Natildeo haacute como abordar aqui as relaccedilotildees entre as inuacutemeras correntes do poacutes-modernismo e o Direito Constitucional Veja-se a
propoacutesito Niklas Luhman La Constituzione como Acquisizione Evolutiva In Gustavo Zagrebelsky Piacuteer Paolo Portinaro Joumlrg Lu-
ther Il Futuro della Costituzione Torino Einaudi 1996 p 83-128 Joseacute Joaquim Gomes Canotilho Civilizaccedilatildeo do direito constitu-
cional ou constitucionalizaccedilatildeo do direito civil a eficaacutecia dos direitos fundamentais na ordem juriacutedico-civil no contexto do direito
poacutes-moderno Cadernos de Direito Constitucional e Ciecircncia Poliacutetica n 15 p 07-16 1996 Eduardo Capellari A crise da moderni-
dade e a Constituiccedilatildeo Rio de janeiro Ameacuterica Juriacutedica 2004 Daniel Sarmento Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas 2 ed
Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 p 36-45
60Para Jean-Franccedilois Lyotard uma das caracteriacutesticas centrais do pensamento poacutes-moderno de que eacute expoente eacute a desconfianccedila
em relaccedilatildeo agraves metanarrativas - construccedilotildees abstratas grandiosas e totalizadoras tiacutepicas da Filosofia Moderna como direitos
humanos luta de classes e emancipaccedilatildeo pelo uso da razatildeo Cf Lyotard A condiccedilatildeo poacutes-moderna Traduccedilatildeo de Ricardo Correcirca
Barbosa 5 ed 1998 p16
61Cf Luiz Werneck Viana O terceiro poder na carta de 1988 e a tradiccedilatildeo republicana mudanccedila e conservaccedilatildeo In Ruben George
Oliven Marcelo Gildo Marccedilal Branda A Constituiccedilatildeo de 1988 na vida brasileira Satildeo Paulo Aderaldo e Rotshild 2008 p 91-109
62Cf Paulo Ricardo Schier Filtragem constitucional Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1999
63A expressatildeo foi cunhada por Claacuteudio Pereira de Souza Neto Fundamento e normatividade dos direitos fundamentais uma recons-
truccedilatildeo teoacuterica agrave luz do princiacutepio democraacutetico Arquivos de Direitos Humanos n 4 p 17-61 2003
64Cf Luis Roberto Barroso O direito constitucional e a efetividade de suas normas 3 ed Rio de Janeiro Renovar 1996
65Cf Clegravemerson Merlin Clegraveve A teoria constitucional e o direito alternativo para uma dogmaacutetica constitucional emancipatoacuteria In
Uma vida dedicada ao direito homenagem a Carlos Henrique de Carvalho Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1995 p 34-53
66Ressalte-se poreacutem que antes de 88 alguns juristas jaacute defendiam a forccedila normativa da Constituiccedilatildeo como o Prof Joseacute Afonso da
Silva Eacute de 1968 a primeira ediccedilatildeo da sua obra claacutessica A aplicabilidade das normas constitucionais que adotava claramente esta
32
perspectiva Todavia pelo clima nada propiacutecio ao constitucionalismo que reinava por aqui ateacute a nossa redemocratizaccedilatildeo a louvaacute-
vel pregaccedilatildeo dele e de outros juristas em prol da efetivaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo natildeo chegou a render maiores frutos
67Deve-se assinalar ainda a influecircncia marcante do novo constitucionalismo ibeacuterico neste movimento que tambeacutem pugnava pela
atribuiccedilatildeo de forccedila normativa agraves ambiciosas constituiccedilotildees de Portugal e Espanha entatildeo recentemente elaboradas apoacutes o fim de
experiecircncias autoritaacuterias naqueles paiacuteses A tiacutetulo de exemplo mencione-se a penetraccedilatildeo no paiacutes do pensamento do Professor de
Coimbra Joseacute Joaquim Gomes Canotilho especialmente da sua teoria sobre a Constituiccedilatildeo dirigente que ele posteriormente reviu
(cf J J Gomes Canotilho Constituiccedilatildeo dirigente e vinculaccedilatildeo ao legislador contributo para a compreensatildeo das normas constitu-
cionais programaacuteticas 2 ed Coimbra Coimbra 2001 - especialmente o prefaacutecio desta segunda ediccedilatildeo que daacute conta da mudanccedila
de posicionamento) bem como a difusatildeo das liccedilotildees do Professor Eduardo Garciacutea de Enterriacutea (cf La Constitucioacuten como Norma y el
Tribunal Constitucional Madrid Civitas 1981)
68Segundo a avaliaccedilatildeo atual de Luis Roberto Barroso personagem central do movimento o positivismo constitucional que deu
impulso ao movimento natildeo importava em reduzir o direito agrave norma mas sim em elevaacute-la a esta condiccedilatildeo pois ateacute entatildeo ele
havia sido menos do que norma (Curso de direito constitucional contemporacircneo Op cit p 224)
69Paulo Bonavides Curso de direito constitucional 5 ed Satildeo Paulo Malheiros 1994
70Eros Roberto Grau A ordem econocircmica na Constituiccedilatildeo de 88 interpretaccedilatildeo e criacutetica Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1996
71No acircmbito da Poacutes-Graduccedilatildeo em Direito da UERJ em que estou inserido desde 1997 primeiro como aluno e a partir de 2003 como
professor o Ricardo Lobo Torres teve papel central na difusatildeo do pensamento destes e de outros filoacutesofos entre os estudantes e o
proacuteprio corpo docente
72Cf Lecircnio Luiz Streck Hermenecircutica juriacutedica e(m) crise Op cit Eros Roberto Grau Ensaio e discurso sobre a interpreta-
ccedilatildeoaplicaccedilatildeo do direito Satildeo Paulo Malheiros 2002
73Nesta linha veja-se as obras que compotildeem a coletacircnea Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Direitos sociais funda-
mentos judicializaccedilatildeo e direitos sociais em espeacutecie Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 Ricardo Lobo Torres O miacutenimo existencial
e os direitos fundamentais Revista de Direito Administrativo n 177 p 20-49 1989 Ingo Wolfgang Sarlet A eficaacutecia dos direitos
fundamentais 9 ed Porto Alegre Livraria do Advogado 2008 Ana Paula de Barcellos A eficaacutecia juriacutedica dos princiacutepios o princiacute-
pio da dignidade da pessoa humana Op cit Marco Mazzeli Gouveia O controle judicial das omissotildees administrativas Rio de
Janeiro Forense 2003 Andreacuteas Krell Direitos sociais e controle judicial no Brasil e Alemanha os (des)caminhos de um direito
constitucional comparado Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2002
74Cf Gustavo Tepedino Temas de direito civil Rio de Janeiro Renovar 1999 Luiz Edson Fachin Estatuto juriacutedico do patrimocircnio
miacutenimo Rio de Janeiro Renovar 2001 Maria Celina Bodin de Moraes Danos agrave pessoa humana uma leitura civil-constitucional dos
danos morais Rio de Janeiro Renovar 2003 Teresa Negreiros Fundamentos para uma interpretaccedilatildeo constitucional do princiacutepio
da boa-feacute Rio de Janeiro Renovar 1998 Anderson Schreiber A proibiccedilatildeo do comportamento contraditoacuterio Rio de Janeiro Reno-
var 2005
75Cf Luciano Feldens A Constituiccedilatildeo penal a dupla face da proporcionalidade no controle das lei penais Porto Alegre Livraria do
Advogado 2005 Luis Carlos dos Santos Gonccedilalves Mandados expressos de criminalizaccedilatildeo e a proteccedilatildeo de direitos fundamentais na
Constituiccedilatildeo Brasileira de 1988 Belo Horizonte Foacuterum 2007
76Cf Gustavo Binenbojm Uma teoria do direito administrativo direitos fundamentais democracia e constitucionalizaccedilatildeo Rio de
Janeiro Renovar 2006 Alexandre dos Santos Aragatildeo Floriano de Azevedo Marques (Coord) Direito administrativo e seus novos
paradigmas Belo Horizonte Foacuterum 2008
77Cf Gustavo Binenbojm A nova jurisdiccedilatildeo constitucional brasileira legitimidade democraacutetica e instumentos de realizaccedilatildeo Rio de
Janeiro Renovar 2001 Claacuteudio Pereira de Souza Neto Jurisdiccedilatildeo constitucional democracia e racionalidade praacutetica Rio de
Janeiro Renovar 2002 Joseacute Adeacutercio Leite Sampaio A Constituiccedilatildeo reinventada pela jurisdiccedilatildeo constitucional Belo Horizonte Del
Rey 2002 Lecircnio Luiz Streck Jurisdiccedilatildeo constitucional e hermenecircutica Porto Alegre Livraria do Advogado 2002 Aacutelvaro Ricardo
de Souza Cruz Jurisdiccedilatildeo constitucional democraacutetica Belo Horizonte Del Rey 2004
78A expressatildeo dificuldade contramajoritaacuteria eacute de um claacutessico da teoria constitucional norte-americana Alexander Bickel La Cons-
titucioacuten como Norma y el Tribunal Constitucional 2 ed New Haven Yale University Press 1986
33
79Em siacutentese apertada o procedimentalismo sustenta que natildeo eacute papel da jurisdiccedilatildeo constitucional tutelar valores substantivos mas
apenas proteger os pressupostos necessaacuterios ao bom funcionamento da democracia Jaacute o substancialismo reconhece a legitimidade
da atuaccedilatildeo jurisdicional em favor da garantia e promoccedilatildeo de valores substantivos presentes na Constituiccedilatildeo O debate entre o
procedimentalismo identificado com as ideacuteias de autores como John Hart Ely e Juumlrgen Habermas e o substancialismo defendido
por teoacutericos como Ronald Dworkin e Laurence Tribe eacute reproduzido em praticamente toda a literatura contemporacircnea que trata de
Teoria ou Filosofia Constitucional Veja-se a propoacutesito a densa obra de Claacuteudio Ari Mello Democracia constitucional e direitos
fundamentais Porto Alegre Livraria do Advogado 2004
80Neoconstitucionalismo e constitucionalizaccedilatildeo do direito o triunfo tardio do direito constitucional no Brasil Op cit
81A crise paradigmaacutetica do direito no contexto da resistecircncia positivista ao (neo)constitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza
Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm Vinte anos da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Op cit p 203-228
82Nos vinte anos da carta cidadatilde do poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo Op cit
83Neoconstitucionalismo direitos fundamentais e controle de poliacuteticas puacuteblicas In Daniel Sarmento Flaacutevio Galdino (Org) Direitos
fundamentais estudos em homenagem ao prof Ricardo Lobo Torres Rio de Janeiro Renovar 2006 p 31-60
84Direitos humanos legitimidade e constitucionalismo In Daniel Sarmento Flaacutevio Galdino (Org) Direitos fundamentais estudos
em homenagem ao Prof Ricardo Lobo Torres Op cit p325-350
85Novos desafios agrave filtragem constitucional no momento do neoconstitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sar-
mento A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 251-270
86Neoconstitucionalismo a invasatildeo da Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Meacutetodo 2008
87Neoconstitucionalismo e positivismo juriacutedico Satildeo Paulo Landy 2006
88Teoria do direito e argumentaccedilatildeo racional temas de teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica op cit p 141-240
89Uma visatildeo criacutetica do neoconstitucionalismo In George Salomatildeo Leite Glauco Salomatildeo Leite Constituiccedilatildeo e efetividade constitu-
cional Salvador JusPodium 2008 p 43-60
90Neoconstitucionalismo entre a Ciecircncia do direito e o direito da ciecircncia In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento
Gustavo Binenbojm Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 p 187-202
91Cf Peticcedilatildeo 1246 MSSC julgada em 31011997 (obrigaccedilatildeo do Estado de realizar transplante de ceacutelulas mioblaacutesticas para salvar
a vida de crianccedila) Agravo de Instrumento no Recurso Extraordinaacuterio 271286RS DJU 24 nov 2000 (entrega de medicamentos
para portadores de HIV) e Agravo de Instrumento do Recurso Extraordinaacuterio nordm 410715-5 julgado em 22112005 (obrigaccedilatildeo de
fornecimento de vagas para educaccedilatildeo infantil pelo municiacutepio com atendimento em creches e preacute-escola)
92Recursos Extraordinaacuterios nordms 158215-4RS 161243-6DF 201819RJ
93Cf Mandado de Injunccedilatildeo 670ES Rel Min Gilmar Mendes julgado em 25102007 em que o STF revendo orientaccedilatildeo anterior
deu eficaacutecia normativa agrave sentenccedila proferida no mandado de injunccedilatildeo No caso decidiuse que ateacute o advento de lei regulamentado-
ra sobre a greve no serviccedilo puacuteblico o direito de greve poderia ser exercido obedecendo-se os limites impostos pela Lei 778389
que trata dos movimentos paredistas em serviccedilos essenciais no setor privado
94Sobre a tendecircncia agrave superaccedilatildeo da ideacuteia do Judiciaacuterio como legislador negativo na jurisdiccedilatildeo constitucional veja-se Joseacute Adeacutercio
Leite Sampaio A Constituiccedilatildeo reinventada pela jurisdiccedilatildeo constitucional Belo Horizonte Del Rey 2002 p 203-248
95Eacute lugar-comum dentre os autores que tratam da questatildeo associar tais mudanccedilas agrave pluralizaccedilatildeo das vozes na interpretaccedilatildeo consti-
tucional tema em que a referecircncia essencial no cenaacuterio germacircnico eacute Peter Haumlberle Veja-se a propoacutesito Peter Haumlberle Herme-
necircutica constitucional A sociedade aberta dos inteacuterpretes da Constituiccedilatildeo contribuiccedilatildeo para a interpretaccedilatildeo pluralista e procedi-
mental da Constituiccedilatildeo Traduccedilatildeo de Gilmar Ferreira Mendes Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1997 Veja-se ainda na doutrina
brasileira Gustavo Binenbojm A dimensatildeo do Amicus Curiae no processo constitucional brasileiro In Temas de direito constitu-
cional e administrativo Rio de Janeiro Renovar 2008 p 165-190
96ADIN 3510DF Relator Ministro Carlos Ayres Britto A accedilatildeo proposta contra o art 5ordm da Lei de Biosseguranccedila impugnava a auto-
rizaccedilatildeo de pesquisas com embriotildees humanos resultantes de fertilizaccedilatildeo in vitro que fossem inviaacuteveis ou estivessem congelados haacute
mais de trecircs anos A accedilatildeo foi julgada totalmente improcedente por 6 votos a 5
97ADPF nordm 54 A accedilatildeo que tem como relator o Ministro Marco Aureacutelio ainda natildeo foi julgada mas em seu bojo jaacute ocorreram diversas
audiecircncias puacuteblicas que provocaram intensa participaccedilatildeo da sociedade civil e grande interesse na miacutedia
34
98ADPF nordm 132 Relator Ministro Carlos Ayres Britto A accedilatildeo ainda foi julgada
99Mandados de Seguranccedila 26602DF 26603DF e 26604DF Informativo STF n 482
100Recurso Extraordinaacuterio 197917SP Rel p acoacuterdatildeo Min Ceacutesar Peluso DJU 18 fev 2005
101O livro de Alberto Carlos Almeida A cabeccedila do brasileiro lanccedilado em 2007 conteacutem pesquisas feitas sobre uma acuteseacuterie de temas
com pessoas de todas as classes sociais e regiotildees do paiacutes Uma das pesquisas eacute relativa agrave avaliaccedilatildeo das instituiccedilotildees Dentre as treze
avaliadas as duas que obtiveram menor aprovaccedilatildeo foram os partidos poliacuteticos (avaliaccedilatildeo positiva de 28 dos entrevistados) e o
Congresso (avaliaccedilatildeo positiva de 36 dos entrevistados) Cf Antonio Carlos Almeida A cabeccedila do brasileiro Rio de Janeiro Re-
cord 2007 p 187
102Cf Luis Roberto Barroso Judicializaccedilatildeo ativismo judicial e legitimidade democraacutetica Texto ainda ineacutedito gentilmente cedido
pelo autor
103Humberto Aacutevila por exemplo formula outra criacutetica importante de que o neoconstitucionalismo seria inadequado agrave realidade
constitucional brasileira jaacute que privilegia os princiacutepios e a Carta de 88 seria muito mais regulatoacuteria do que principioloacutegica (Neo-
constitucionalismo entre a ciecircncia do direito e o direito da ciecircncia Op cit p 188-192)
104Contudo natildeo eacute razoaacutevel estender esta criacutetica ao ponto de negar o caraacuteter democraacutetico da atuaccedilatildeo judicial Como ressaltou
Eugenio Rauacutel Zaffaroni uma instituiccedilatildeo natildeo eacute democraacutetica unicamente porque natildeo provenha de eleiccedilatildeo popular porque nem tudo
o que proveacutem desta origem eacute necessariamente aristocraacutetico Uma instituiccedilatildeo eacute democraacutetica quando seja funcional para o sistema
democraacutetico quer dizer quando seja necessaacuteria para a sua continuidade como ocorre com o judiciaacuterio (Poder judiciaacuterio crise
acertos e desacertos Traduccedilatildeo de Juarez Tavares Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1995 p 43)
105Cf Robert A Dahl Sobre a democracia Traduccedilatildeo de Beatriz Sidou Brasiacutelia UNB 2001 p 97-113 Juumlrgen Habermas Popular
Sovereignity as Procedure In James Bonham William Rehg Deliberative Democracy Cambridge The MIT Press 1997 p 35-66
106A questatildeo da tensatildeo e sinergia simultacircneas entre constitucionalismo e democracia eacute um dos debates mais fecundos da Teoria
Poliacutetica e da Filosofia Constitucional que tem atravessado o tempo desde o advento do constitucionalismo moderno no seacuteculo
XVIII Veja-se no debate contemporacircneo Jeremy Waldron Preocommitment and Disagreement In Larry Alexander Constitu-
cionalism Philosophical Foundations Cambridge Cambridge University Press 1998 p 271-299 Juumlrgen Habermas O Estado demo-
craacutetico de direito uma amarraccedilatildeo paradoxal de princiacutepios contraditoacuterios In Era das transiccedilotildees Traduccedilatildeo de Flaacutevio Beno Siebe-
neichler Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 2003 p 153-173 Carlos Santiago Nino La Constitucioacuten de la Democracia Deliberativa
Op cit Frank Michelman Brennan and Democracy Princeton Princeton University Press 1999 p 03-62 Stephen Holmes El
Precompromiso y la Paradoja de la Democracia In Jon Elster Rune Slagstad Constitucionalismo y Democracia Traduccedilatildeo de Mocircni-
ca Utrilla de Neira Mexico Fondo de Cultura Econocircmica 1999 p 217-262
107O problema da limitaccedilatildeo do legislador atual pelas decisotildees do constituinte adotadas no passado envolve a problemaacutetica da
partilha intergeracional de poder bem explicitada na fala de Jefferson que defendia que a cada 19 anos deveria ser elaborada
uma nova Constituiccedilatildeo nos Estados Unidos para que a Lei Maior daquele paiacutes natildeo se tornasse um mecanismo de governo dos mor-
tos sobre os vivos Em siacutentese apertada haacute na teoria poliacutetica contemporacircnea duas linhas principais de justificativa para a legiti-
midade destas restriccedilotildees
Uma eacute a teoria da democracia dualista defendida por Bruce Ackerman que sustenta que as decisotildees adotadas pelo proacuteprio povo
em contextos de grande mobilizaccedilatildeo ciacutevica devem ser protegidas do alcance da vontade dos representantes do povo formada em
momentos em que a cidadania natildeo esteja intensamente envolvida Esta teoria distingue a poliacutetica extraordinaacuteria correspondente
agravequeles momentos constitucionais da poliacutetica ordinaacuteria que se realiza atraveacutes das deliberaccedilotildees do dia a dia dos oacutergatildeos represen-
tativos Para a perspectiva ackermaniana a poliacutetica extraordinaacuteria - que natildeo exige necessariamente formalizaccedilatildeo procedimental
atraveacutes de assembleacuteia constituinte ou de emenda constitucional - se situa em patamar superior agrave poliacutetica ordinaacuteria e pode legiti-
mamente impor limites a esta (cf Bruce Ackerman We the people Foundations Cambridge The Belknap Press 1991 p 03-33)
Outra teoria eacute a do preacute-compromisso que jaacute foi advogada por Jon Elster Segundo ela eacute legiacutetimo subtrair do alcance das maiorias
determinadas questotildees fundamentais que expressam princiacutepios fundamentais de justiccedila poliacutetica ou garantam os pressupostos da
proacutepria democracia tendo em vista o risco de que no processo poliacutetico majoritaacuterio em momentos de irracionalidade o povo
35
possa ser viacutetima de suas proacuteprias fraquezas ou paixotildees momentacircneas atentando contra tais princiacutepios (cf Ulisses and Sirens
Cambridge Cambridge University Press 1979)
Ambas as concepccedilotildees - a primeira mais proacutexima ao republicanismo e a segunda de vieacutes mais liberal - tecircm a sua dose de procedecircn-
cia mas ensejam criacuteticas importantes Todavia foge a escopo do presente trabalho analisar esta questatildeo que eacute uma das mais
complexas da Filosofia Poliacutetica moderna e contemporacircnea Para uma visatildeo geral sobre o tema na literatura em liacutengua portuguesa
veja-se Oscar Vilhena Vieira A Constituiccedilatildeo e sua reserva de justiccedila Op cit Miguel Nogueira de Brito A Constituiccedilatildeo constituin-
te ensaio sobre o poder de revisatildeo da Constituiccedilatildeo Coimbra Coimbra 2000 Samantha Chantal Dobrowolski Op cit p 265-312
Rodrigo Brandatildeo Direitos fundamentais democracia e claacuteusulas peacutetreas Rio de Janeiro Renovar 2008 p 59-112
108Cf Michel Troper Justice Constitutionelle et Deacutemocratie In Pour une Theorie Juridique de LEacutetat Paris PUF 1994 p 317-328
Claacuteudio Pereira de Souza Neto Jurisdiccedilatildeo constitucional democracia e racionalidade praacutetica Op cit p 106-130 Gustavo Binen-
bojm A nova jurisdiccedilatildeo constitucional brasileira Op cit p 55-74
109Sobre o modelo revolucionaacuterio francecircs de constitucionalismo completamente avesso agrave ideacuteia de jurisdiccedilatildeo constitucional cf
Maurizio Fioravanti Constitucioacuten de la antiguumledad a nuestros dias Traduccedilatildeo de Manuel Martinez Neira Madrid Trotta 2001 p
120-132
110Cf Carl Schmitt La Defesa de la Constitucioacuten Madrid Tecnos 1983
111O constitucionalismo popular ou populismo constitucional eacute uma importante corrente no debate constitucional norte-americano
contemporacircneo que nega a legitimidade democraacutetica do controle de constitucionalidade advogando que deve caber ao proacuteprio
povo e natildeo a uma elite de juiacutezes natildeo eleitos com assento na Suprema Corte o poder de definir o sentido das claacuteusulas vagas que
abundam no texto constitucional daquele paiacutes Na defesa desta tese satildeo empregados tanto argumentos de teoria e filosofia poliacuteti-
ca de caraacuteter mais universal como razotildees histoacutericas relacionadas agrave evoluccedilatildeo do constitucionalismo estadunidense Veja-se nesta
linha Mark Tushnet Taking the Constitution Away from the Courts Princeton Princeton University Press 1999 Jeremy Waldron
Precommitment and Disagreement Op cit Larry D Kramer The People Themselves Popular constitutionalism and judicial re-
view New York Oxford University Press 1994
Ateacute algumas deacutecadas atraacutes a oposiccedilatildeo agrave jurisdiccedilatildeo constitucional nos Estados Unidos partia em regra da Direita que natildeo se con-
formava com a jurisprudecircncia extremamente liberal em mateacuteria de direitos fundamentais estabelecida pela Corte entre os anos
50 e 70 Atualmente uma boa parte dos opositores agrave judicial review situa-se agrave esquerda do espectro poliacutetico e talvez a nova linha
profundamente conservadora daquele Tribunal ajude a explicar esta mudanccedila
112Sobre a Era de Lochner veja-se Laurence H Tribe American Constitutional Law 2 ed Mineola The Foundation Press 1988 p
567-581 Paul Brest et al Processes of Constitucional Decisionmaking 4 ed New York Aspen Publishers 2000 p 337-354
113Towards Juristocracy hellip Op cit
114Tratei do tema no artigo Direito adquirido emenda constitucional democracia e justiccedila social In Livres e iguais Op cit p
03-32
115Cf Charles R Epp The Rights Revolution Chicago The University of Chicago Press 1998 p 26-70 Owen Fiss The Law as It
Could Be New York New York University Press 2003 p 244-249
116A importacircncia e as peculiaridades da interpretaccedilatildeo legislativa da Constituiccedilatildeo satildeo exploradas em importante obra coletiva
Richard W Bauman Tsvi Kahana The Least Examined Branch The Role of Legislatures in the Constitutional State Cambridge
Cambridge University Press 2006
117Cf em tom ainda mais ceacutetico do que o adotado neste estudo Martonio MontAlverne Barreto Lima Jurisdiccedilatildeo Constitucional
um problema da teoria da democracia poliacutetica In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Gilberto Bercovici Joseacute Filomeno de Moraes
Filho Martonio MontAlverne Teoria da Constituiccedilatildeo estudos sobre o lugar da poliacutetica no direito constitucional Rio de Janeiro
Lumen Juris 2003 p 199-261 Conrado Huumlbner Mendes Controle de constitucionalidade e democracia Rio de Janeiro Elsevier
2008
36
118Para criacutetica semelhante no contexto germacircnico veja-se Ingeborg Maus O judiciaacuterio como superego da sociedade sobre o papel
da atividade jurisprudencial na sociedade oacuterfatilde Traduccedilatildeo de Martonio MontAlverne Barreto Lima Paulo Antonio Menezes de Albu-
querque Anuaacuterio dos Cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito da Faculdade de Direito de Recife n 11 2000
119Eu aprofundo a anaacutelise deste ponto no meu artigo Interpretaccedilatildeo constitucional preacute-compreensatildeo e capacidades institucionais do
inteacuterprete In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm (Coord) Vinte anos da Constituiccedilatildeo Federal
de 1988 Op cit p 311-322 E a necessidade de optar por teoria de interpretaccedilatildeo que leve em consideraccedilatildeo as capacidades
institucionais reais dos juiacutezes comparando-as com as dos agentes de outras instituiccedilotildees eacute explorada no importante estudo de Cass
Sunstein Adrian Vermeulle Interpretations and Institutions Chicago Working Papers in Law amp Economics 2002 p 01-55 bem
como no livro de Adrian Vermeulle Judging under Uncertainty An Institutional Theory for Legal Interpretation Cambridge Har-
vard University Press 2006
120Dentre as honrosas exceccedilotildees mencione-se Luiacutes Roberto Barroso autor de importante artigo com sugestotildees para a reforma poliacuteti-
ca no paiacutes Reforma poliacutetica uma proposta de sistema de governo eleitoral e partidaacuterio para o Brasil Revista de Direito do Esta-
do n 3 p 287-360 jul set 2006
121Sobre o ethos judicial no Brasil veja-se a pesquisa de Maria Tereza Sadek Magistrados uma imagem em movimento Rio de
Janeiro FGV 2006
122Em sentido semelhante veja-se Michael J Perry The Constitution the Courts and Human Rights New Haven Yale University
Press 1982 p 91-145
123Neste ponto entendo que um standard importante que deveria ser adotado para controle de constitucionalidade eacute o de que
quanto maiores forem as credencias democraacuteticas de um ato normativo mais autocontido deve ser o Poder Judiciaacuterio ao avaliar a
sua constitucionalidade Na minha opiniatildeo estas credencias democraacuteticas devem ser aferidas tanto por criteacuterios qualitativos - eg
grau de participaccedilatildeo social no processo legislativo qualidade do processo deliberativo que a antecedeu - como por criteacuterios quanti-
tativos - percentual de votos favoraacuteveis agrave medida Em sentido semelhante veja-se Claacuteudio Ari Mello Democracia e direitos funda-
mentais Op cit p 298
124Em sentido proacuteximo apontam as liccedilotildees de Gustavo Binenbojm e Humberto Aacutevila O primeiro tratando do controle judicial dos
atos administrativos averbou que quanto maior for o grau de tecnicidade da mateacuteria objeto de decisatildeo por oacutergatildeos dotados de
expertise e experiecircncia menos intenso deve ser o grau de controle judicial (Uma teoria do direito administrativo Op cit p
236) Jaacute o segundo salientou que o acircmbito de controle pelo Judiciaacuterio deveraacute ser tanto menor quanto mais difiacutecil e teacutecnico for
o juiacutezo exigido para o tratamento da mateacuteria (Teoria dos princiacutepios Op cit p 126)
125Um exemplo extremado deste posicionamento estaacute na argumentaccedilatildeo adotada pelo STF no julgamento da ADIN 2797 Rel Min
Sepuacutelveda Pertence em que se reconheceu a inconstitucionalidade formal de lei que pretendia interpretar a Constituiccedilatildeo Para o
STF natildeo pode a lei ordinaacuteria pretender impor como seu objeto imediato uma interpretaccedilatildeo a Constituiccedilatildeo a questatildeo eacute de in-
constitucionalidade formal iacutensita a toda norma da gradaccedilatildeo inferior que se proponha a ditar interpretaccedilatildeo de norma superior
Na questatildeo de fundo abordada naquele caso entendo que o STF estava certo Tratava-se de invalidar uma norma legal que esten-
dera o foro de prerrogativa de funccedilatildeo a ex-ocupantes de cargos puacuteblicos visando a restaurar antiga jurisprudecircncia do STF sedi-
mentada na Suacutemula 394 do Tribunal que acabara de ser cancelada O princiacutepio republicano natildeo era compatiacutevel com tal medida
que configurava niacutetido privileacutegio O que me parece inaceitaacutevel e profundamente anti-democraacutetico com a devida vecircnia natildeo eacute o
resultado alcanccedilado pela Corte - com o qual concordo - mas o argumento empregado de que o legislador natildeo pode interpretar a
Constituiccedilatildeo
126Existe hoje uma fecunda produccedilatildeo acadecircmica no cenaacuterio anglo-saxatildeo sobre as vantagens de modelos teoacutericos que favoreccedilam
diaacutelogos entre diversos oacutergatildeos e instituiccedilotildees na interpretaccedilatildeo constitucional ao inveacutes de afirmarem a exclusividade ou mesmo a
supremacia do Judiciaacuterio nesta seara Veja-se a propoacutesito Laurence G Sager Justice in Plainclothes A Theory of American Con-
stitutional Practice New haven Yale University Press 2004 Mark Tushnet Weak Courts Strong Rights Judicial Review and Social
Welfare Rights in Comparative Constitutional Law Princeton Princeton University Press 2008 Mark C Miller Jeb Barnes (Ed)
Making Police Making Law An Interbranch Perspective Washington DC Georgetown University Press 2004
37
127Colhi o exemplo no estudo de Oscar Vilhena Vieira Supremocracia In Daniel Sarmento (Org) Filosofia e teoria constitucional
contemporacircnea Rio de Janeiro Lumen Juris 2009
128Como um natildeo-positivista tenho a necessaacuteria imparcialidade para criticar os equiacutevocos da doutrina brasileira nas suas invectivas
contra o positivismo que muitas vezes caracterizam verdadeira falaacutecia do espantalho ataca-se natildeo a proacutepria teoria positivista
mas uma distorcida caricatura dela Duas afirmaccedilotildees erradas que eu mesmo jaacute fiz em textos anteriores satildeo muito frequumlentes a
de que o positivismo recusa a aplicaccedilatildeo dos princiacutepios juriacutedicos e a de que ele teria sido a Filosofia do Direito cultivada na Alema-
nha nazista
Quanto ao primeiro ponto natildeo haacute nenhuma incompatibilidade loacutegica entre positivismo e princiacutepios desde que os princiacutepios este-
jam devidamente incorporados na ordem juriacutedico-positiva Vaacuterios autores positivistas contemporacircneos jaacute citados neste estudo
como Luis Prietro Sanchiacutes Luigi Ferrajoli e Gregorio Peces-Barba atribuiacuteram espaccedilo importante para princiacutepios nas suas teorias
Mesmo no Direito Puacuteblico brasileiro juristas de inspiraccedilatildeo positivista kelseniana construiacuteram suas teorias com apoio em argumen-
taccedilatildeo principioloacutegica como o falecido Geraldo Ataliba e Celso Antonio Bandeira de Mello
No que tange ao segundo ponto - a chamada redutio ad hitlerum - os estudos mais autorizados de Histoacuteria do Direito comprovam
que natildeo foi o positivismo a teoria juriacutedica dominante no nazismo mas uma espeacutecie de jusnaturalismo de inspiraccedilatildeo hegeliana que
se insurgia contra o formalismo e recorria com frequumlecircncia a conceitos muito vagos para justificar a barbaacuterie como os de comuni-
dade popular (Volksgemeinschaft) Veja-se a propoacutesito Michael Stolleis The Law under the Swastika Studies on Legal History in
Nazi Germany Traduccedilatildeo de Thomas Dunlap Chicago The University of Chicago Press 1998
129Cf Joseacute Joaquim Gomes Canotilho Direito constitucional e Teoria da Constituiccedilatildeo Coimbra Almedina 1998 p 1036
130Sobre a importacircncia das regras veja-se Frederick Schauer Playing by the Rules A Philosophical Exaxamination of Rule-Bases
Decision-Making in Law and Life Oxford Oxford University Press 1998 Humberto Aacutevila Neoconstitucionalismo entre a ciecircncia do
direito e o direito da ciecircncia Op cit Noel Struchiner Posturas institucionais e modelagem institucional a dignidade (contingente)
do formalismo juriacutedico In Daniel Sarmento Filosofia e teoria constitucional contemporacircnea Op cit
131Esta eacute expressatildeo empregada por Ana Paula de Barcellos O direito constitucional em 2006 Revista de Direito do Estado n 5 p
03-23 janmar 2007
132Cf Chaiumlm Perelman P Fories La Motivation des Deacutecisions de Justice Bruxelas Eacutemile Bruylant 1978
133Sobra a influecircncia do jeitinho no Direito brasileiro cf Keith Rosen O jeito na cultura juriacutedica brasileira Rio de Janeiro Reno-
var 1997
134Sobre o patrimonialismo no Brasil veja-se Raimundo Faoro Os donos do poder 8 ed Rio de Janeiro Globo 1989 v 2 p 729-
750
135Raiacutezes do Brasil 26 ed Satildeo Paulo Companhia das Letras 1995
136Cf Joseacute Murilo de Carvalho Brasileiro Cidadatildeo In Pontos e bordados escritos de histoacuteria e poliacutetica Belo Horizonte Ed
UFMG 2005 p 275-288
137Cf Gustavo Zagrebelsky Il Diritto Mite Op cit p 15-19
138Cf Marcelo Neves A constitucionalizaccedilatildeo simboacutelica Satildeo Paulo Acadecircmica 1994
139A obra de Niklas Luhman eacute vasta e complexa e seus textos satildeo de difiacutecil compreensatildeo para os natildeo iniciados Veja-se do proacuteprio
autor Sociologia do direito I e II Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 1983 e 1985 Sistema Jurididico y Dogmaacutetica Juriacutedica Madrid
Centro de Estuacutedios Constitucionales 1983 Confira-se tambeacutem a coletacircnea organizada por Andreacute-Jean Arnaud Dalmir Lopes Jr Do
sistema social agrave sociologia juriacutedica Rio de Janeiro Lumen Juris 2004
140Sobre a autopoieses do Direito veja-se tambeacutem a obra importante de Guumlnther Teubner O direito como sistema autopoieacutetico
Traduccedilatildeo de Joseacute Engracia Nunes Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1993
141Cf Luis Roberto Barroso Neoconstitucionalismo e a constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit
142Esta era basicamente a visatildeo de Hans Kelsen (Cf Hans Kelsen Jurisdiccedilatildeo constitucional Traduccedilatildeo de Alexandre Krug et al Satildeo
Paulo Martins Fontes 2003 p 153) Para uma anaacutelise criacutetica desta posiccedilatildeo veja-se Luis Prietro Sanchiacutes Presupuestos ideoloacutegicos
y doctrinales de la jurisdicioacuten constitucional In Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales Op cit p 21-100
38
143Cf Christian Starck La suprematie La Suprematie de la Constitution et la Justice Constitutionnelle In La Constitution Cadre et
Mesure du Droit Traduccedilatildeo de Freacutederic Weill Paris Econocircmica 1994 p 26-30 Ernst- Wolfgang Boumlckenfoumlrde Les meacutethodes
dinterpretation de la Constitution Un bilan critique In Le Droit lEacutetat et la Constitution Democratique Traduccedilatildeo de Olivier
Jouanjan Paris LGDJ 2000 p 249-250 Virgiacutelio Afonso da Silva Constitucionalizaccedilatildeo do direito os direitos fundamentais nas
relaccedilotildees entre particulares Satildeo Paulo Malheiros 2005 p 107-131 Daniel Sarmento Ubiquumlidade constitucional os dois lados da
moeda Op cit Luis Roberto Barroso Curso de Direito Constitucional Contemporacircneo Op cit p 391-394 Alceu Mauriacutecio Jr
Judicializaccedilatildeo da poliacutetica e a crise do direito constitucional a Constituiccedilatildeo entre ordem marco e ordem fundamenta Revista de
Direito do Estado n 10 p 125-142 abrjun 2008
144Der Staat der Industriegesellshaft 2 ed Muumlnchen Beck 1971 p 144 Apud Robert Alexy Posfaacutecio In Teoria dos direitos
fundamentais Op cit p 578
145De acordo com Carlos Santiago Nino o perfeccionaismo eacute la concepcioacuten seguacuten la cual es una misioacuten legiacutetima del Estado hacer
que los individuos acepten y materializen ideales vaacutelidos de virtud personal Seguacuten este enfoque el Estado no puede permanecer
neutral respecto de concepciones de lo bueno en la vida y debe adoptar las medidas educativas punitorias etc que sean necesa-
rias para que los indiviacuteduos ajusten su vida a los verdaderos ideales de virtud y del bien (Eacutetica y Derechos Humanos Un ensayo de
fundamentacioacuten 2 ed Buenos Aires Astrea 1989 p 413)
146Daniel Sarmento Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas 2 ed Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 Sobre o tema na literatura
nacional veja-se tambeacutem Wilson Antocircnio Steinmetz A vinculaccedilatildeo dos particulares aos direitos fundamentais Satildeo Paulo Malheiros
2004 Virgiacutelio Afonso da Silva Constitucionalizaccedilatildeo do direito os direitos fundamentais nas relaccedilotildees entre particulares Op cit
Ingo Wolfgang Sarlet Direitos fundamentais e direito privado algumas consideraccedilotildees em torno da vinculaccedilatildeo dos particulares aos
direitos fundamentais In Ingo Wolfgang Sarlet (Org) A Constituiccedilatildeo concretizada Porto Alegre Livraria do Advogado 1999 p
129-173 Jane Reis Gonccedilalves Pereira Apontamentos sobre a aplicaccedilatildeo das normas de direito fundamental nas relaccedilotildees juriacutedicas
entre particulares In Luis Roberto Barroso (Org) A nova interpretaccedilatildeo constitucional ponderaccedilatildeo direitos fundamentais e
relaccedilotildees privadas Rio de Janeiro Renovar 2003 p 119-192
147Sobre a questatildeo da (i)legitimidade do perfeccionismo no Direito veja-se Joel Feinberg Rights Justice and the Bounds of Liber-
ty Princeton Princeton University Press 1980 Carlos Santiago Nino Eacutetica y Derechos Humanos Op cit p 413-446 Rainer Forst
Contexts of Justice Political Philosophy beyond Liberalism and Communitarianism Traduccedilatildeo de John M M Farrel Berkeley Uni-
versity of Califoacuternia Press 2001 p 30-87 Macaacuterio Alemany El Paternalismo Juriacutedico Madrid Iustel 2006
148Um sofisticado modelo que busca conciliar a constitucionalizaccedilatildeo do Direito com a democracia estaacute exposto no Poacutesfaacutecio agrave Teo-
ria dos Direitos Fundamentais de Robert Alexy acima citado Veja-se ainda Konrad Hesse Concepto y Cualidad de la Constitu-
cion In Escritos de Derecho Constitucional Traduccedilatildeo de Pedro Cruz Villaloacuten 2 ed 1992 p 03-29
149Tentei articular a minha teoria sobre eficaacutecia horizontal dos direitos fundamentais com este objetivo Cf Daniel Sarmento
Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas Op cit p 141-182 259-272
150Sobre el Neoconstitucionalismo y sus Implicaciones Op cit p 117
151Aqui entendo que o simples reconhecimento da penetraccedilatildeo da Moral no Direito preconizada pelos neoconstitucionalistas brasi-
leiros natildeo eacute suficiente jaacute que certas concepccedilotildees morais podem tornar o ordenamento ainda mais opressivo do que jaacute eacute Afinal
nem sempre a moralizaccedilatildeo do Direito se daacute na direccedilatildeo da emancipaccedilatildeo dos excluiacutedos Veja-se por exemplo a famosa polecircmica
jusfilosoacutefica entre Lord Patrick Devlin e Herbert Hart nos anos 60 na Inglaterra a propoacutesito do uso do Direito Penal para promoccedilatildeo
de Moral em que o primeiro a partir de uma posiccedilatildeo proacute-moral sustentava a legitimidade da criminalizaccedilatildeo da conduta homos-
sexual que o segundo contestava (Cf Lord Patrick Devlin Morals and Criminal Law In Ronald Dworkin (Ed) The Philosophy of
Law Op cit p 66-82 Herbert Hart Immorality and Treason In Idem ibidem)
Eacute preciso assentar as bases criacuteticas desta Moral que deve penetrar o Direito para evitar que o moralismo conservador seja expulso
do ordenamento pela porta da frente superado pela legislaccedilatildeo moderna em razatildeo da progressiva liberalizaccedilatildeo da sociedade mas
volte pela porta dos fundos atraveacutes da argumentaccedilatildeo juriacutedica dos juiacutezes lastreada em conceitos vagos como ordem puacuteblica e
bons constumes ou em standards como o comportamento do bom pai de famiacutelia
39
8
Natildeo haacute como identificar o neoconstitucionalismo com nenhuma destas posiccedilotildees que marcam o
importante debate entre comunitarismo e liberalismo na filosofia poliacutetica contemporacircnea
Outro traccedilo caracteriacutestico do neoconstitucionalismo eacute o seu foco no Poder Judiciaacuterio O grande
protagonista das teorias neoconstitucionalistas eacute o juiz O Direito eacute analisado sobretudo a partir
de uma perspectiva interna daquele que participa dos processos que envolvem a sua interpre-
taccedilatildeo e aplicaccedilatildeo relegando-se a um segundo plano a perspectiva externa do observador Esta
obsessatildeo pelo Poder Judiciaacuterio leva a uma certa desconsideraccedilatildeo do papel desempenhado por
outras instituiccedilotildees como o Poder Legislativo na interpretaccedilatildeo constitucional53 O juiz eacute con-
cebido como o guardiatildeo das promessas54 civilizatoacuterias dos textos constitucionais o que expotildee o
neoconstitucionalismo a vaacuterias criacuteticas - que seratildeo analisadas mais agrave frente - como de que se-
ria elitista e refrataacuterio ao autogoverno popular
Por outro lado o neoconstitucionalismo alenta um ideaacuterio humanista que aposta na possibili-
dade de emancipaccedilatildeo humana pela via juriacutedica atraveacutes de um uso engajado da moderna dog-
maacutetica constitucional55 Neste sentido ele se afasta de algumas linhas teoacutericas da esquerda
como o marxismo56a Critical Legal Studies norte-americana57 e o movimento do Direito Alter-
nativo no Brasil58 que denunciavam o Direito como um instrumento de opressatildeo e dominaccedilatildeo a
serviccedilo dos interesses das classes favorecidas mesmo quando apresentado sob o manto de uma
retoacuterica legitimadora de legalidade e de direitos individuais universais
Trata-se portanto de uma teoria otimista - ou naive diriam os seus criacuteticos - que tambeacutem
natildeo se compadece com o desencanto poacutes-moderno59 profundamente descrente em relaccedilatildeo agrave
razatildeo Enquanto os poacutes-modernos criticam as metanarrativas60 e buscam descontruir as ela-
boraccedilotildees abstratas sobre as quais se fundou o Direito moderno - direitos humanos liberdade
igualdade etc - os neoconstitucionalistas insistem no aprofundamento do projeto poliacutetico da
Modernidade de emancipaccedilatildeo pelo uso da razatildeo atraveacutes dos instrumentos do Direito Constitu-
cional sobretudo os direitos fundamentais
Vejamos agora como estas ideacuteias foram recebidas no Brasil
3 A recepccedilatildeo do neoconstitucionalismo no Brasil
9
O processo histoacuterico que se desenrolou na Europa Ocidental a partir do final da Segunda Guer-
ra no Brasil soacute teve iniacutecio apoacutes a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 88 Eacute verdade que jaacute tiacutenha-
mos controle de constitucionalidade desde a proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Poreacutem na cultura ju-
riacutedica brasileira de ateacute entatildeo as constituiccedilotildees natildeo eram vistas como autecircnticas normas juriacutedi-
cas natildeo passando muitas vezes de meras fachadas Exemplos disso natildeo faltam a Constituiccedilatildeo
de 1824 falava em igualdade e a principal instituiccedilatildeo do paiacutes era a escravidatildeo negra a de 1891
instituiacutera o sufraacutegio universal mas todas as eleiccedilotildees eram fraudadas a de 1937 disciplinava o
processo legislativo mas enquanto ela vigorou o Congresso esteve fechado e o Presidente legis-
lava por decretos a de 1969 garantia os direitos agrave liberdade agrave integridade fiacutesica e agrave vida mas
as prisotildees ilegais o desaparecimento forccedilado de pessoas e a tortura campeavam nos porotildees do
regime militar Nesta uacuteltima quadra histoacuterica conviveu-se ainda com o constrangedor paradoxo
da existecircncia de duas ordens juriacutedicas paralelas a das constituiccedilotildees e a dos atos institucionais
que natildeo buscavam nas primeiras o seu fundamento de validade mas num suposto poder revolu-
cionaacuterio em que estariam investidas as Forccedilas Armadas
Ateacute 1988 a lei valia muito mais do que a Constituiccedilatildeo no traacutefico juriacutedico e no Direito Puacuteblico
o decreto e a portaria ainda valiam mais do que a lei O Poder Judiciaacuterio natildeo desempenhava
um papel poliacutetico tatildeo importante e natildeo tinha o mesmo niacutevel de independecircncia de que passou a
gozar posteriormente As constituiccedilotildees eram proacutedigas na consagraccedilatildeo de direitos mas estes
dependiam quase exclusivamente da boa vontade dos governantes de plantatildeo para saiacuterem do
papel - o que normalmente natildeo ocorria Em contextos de crise as foacutermulas constitucionais natildeo
eram seguidas e os quarteacuteis arbitravam boa parte dos conflitos poliacuteticos ou institucionais que
eclodiam no paiacutes
A Assembleacuteia Constituinte de 19871988 que coroou o processo de redemocratizaccedilatildeo do paiacutes
quis romper com este estado de coisas e promulgou uma Constituiccedilatildeo contendo um amplo e
generoso elenco de direitos fundamentais de diversas dimensotildees - direitos individuais poliacuteti-
cos sociais e difusos - aos quais conferiu aplicabilidade imediata (art 5ordm Paraacutegrafo 1ordm) e pro-
tegeu diante do proacuteprio poder de reforma (art 60 Paraacutegrafo 4ordm IV) Aleacutem disso reforccedilou o
papel do Judiciaacuterio consagrando a inafastabilidade da tutela judicial (art 5ordm XXXV) criando
diversos novos remeacutedios constitucionais fortalecendo a independecircncia da instituiccedilatildeo bem co-
mo do Ministeacuterio Puacuteblico e ampliando e robustecendo os mecanismos de controle de constitu-
cionalidade Neste uacuteltimo toacutepico ela democratizou o acesso ao controle abstrato de constitu-
cionalidade ao adotar um vasto elenco de legitimados ativos para a propositura de accedilatildeo direta
de inconstitucionalidade (art 103) e ampliou o escopo da jurisdiccedilatildeo constitucional ao instituir
10
no Brasil o controle da inconstitucionalidade por omissatildeo tanto atraveacutes de accedilatildeo direta como do
mandado de injunccedilatildeo
Esta sistemaacutetica de jurisdiccedilatildeo constitucional adotada pelo constituinte favoreceu em larga
medida o processo de judicializaccedilatildeo da poliacutetica na medida em que conferiu a qualquer parti-
do poliacutetico com representaccedilatildeo no Congresso agraves representaccedilotildees nacionais da sociedade civil
organizada e agraves principais instituiccedilotildees dos Estados-membros dentre outras entidades o poder
de provocar o STF61 Assim eacute praticamente impossiacutevel que alguma questatildeo relevante seja re-
solvida no acircmbito parlamentar sem que os perdedores no processo poliacutetico recorram agrave nossa
Corte Suprema para que decirc a palavra final agrave controveacutersia com base na sua interpretaccedilatildeo da
Constituiccedilatildeo E tal modelo vem se aprofundando desde 88 com a criaccedilatildeo da Accedilatildeo Declaratoacuteria
de Constitucionalidade e a regulamentaccedilatildeo da Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fun-
damental
Aleacutem disso a Constituiccedilatildeo de 88 regulou uma grande quantidade de assuntos - muitos deles de
duvidosa dignidade constitucional - subtraindo um vasto nuacutemero de questotildees do alcance do
legislador Ademais ela hospedou em seu texto inuacutemeros princiacutepios vagos mas dotados de for-
te carga axioloacutegica e poder de irradiaccedilatildeo Estas caracteriacutesticas favoreceram o processo de
constitucionalizaccedilatildeo do Direito que envolve natildeo soacute a inclusatildeo no texto constitucional de temas
outrora ignorados ou regulados em sede ordinaacuteria como tambeacutem a releitura de toda a ordem
juriacutedica a partir de uma oacutetica pautada pelos valores constitucionais - a chamada filtragem
constitucional do Direito62
Deve-se tambeacutem destacar o papel importante da doutrina brasileira na mudanccedila de paradigma
do Direito Constitucional brasileiro Na minha opiniatildeo haacute dois momentos distintos nesta evolu-
ccedilatildeo o constitucionalismo brasileiro da efetividade 63e o poacutes-positivismo constitucional
O primeiro momento vem logo apoacutes a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 88 Alguns autores como
Luis Roberto Barroso64 e Clegravemerson Merlin Clegraveve65 passam a advogar a tese de que a Constitui-
ccedilatildeo sendo norma juriacutedica deveria ser rotineiramente aplicada pelos juiacutezes o que ateacute entatildeo
natildeo ocorria O que hoje parece uma obviedade era quase revolucionaacuterio numa eacutepoca em que a
nossa cultura juriacutedica hegemocircnica natildeo tratava a Constituiccedilatildeo como norma mas como pouco
mais do que um repositoacuterio de promessas grandiloquumlentes cuja efetivaccedilatildeo dependeria quase
sempre da boa vontade do legislador e dos governantes de plantatildeo66 Para o constitucionalismo
da efetividade a incidecircncia direta da Constituiccedilatildeo sobre a realidade social independentemen-
te de qualquer mediaccedilatildeo legislativa contribuiria para tirar do papel as proclamaccedilotildees generosas
de direitos contidas na Carta de 88 promovendo justiccedila igualdade e liberdade Se ateacute entatildeo
o discurso da esquerda era de desconstruccedilatildeo da dogmaacutetica juriacutedica a doutrina da efetividade
11
vai defender a possibilidade de um uso emancipatoacuterio da dogmaacutetica tendo como eixo a con-
cretizaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo67
Na verdade tratava-se de uma modalidade de positivismo de combate68 A doutrina constitu-
cional da efetividade natildeo se caracterizava pela abertura do debate juriacutedico agrave argumentaccedilatildeo
moral O seu foco principal centrava-se nas normas e era do caraacuteter mais ou menos denso do
seu texto que o inteacuterprete deveria extrair os respectivos efeitos Por outro lado concebia-se a
jurisdiccedilatildeo como o espaccedilo privilegiado para a realizaccedilatildeo da vontade constitucional Um dos mo-
tes do movimento era afastar o estudo do Direito Constitucional da Teoria do Estado para apro-
ximaacute-lo do Direito Processual Por isso pode-se afirmar que o protagonista desta teoria consti-
tucional era o juiz
Em que pese a falta de efetividade de diversas normas da Constituiccedilatildeo e da eficaacutecia social
seletiva de outras tantas - que protegem muito bem o incluiacutedo mas continuam deixando de
fora os paacuterias de sempre (veja-se a diferenccedila da incidecircncia da inviolabilidade do domiciacutelio nas
residecircncias burguesas e nas favelas) - pode-se dizer que a doutrina constitucional da efetivida-
de teve ecircxito no Brasil no sentido de instalar no senso-comum dos operadores do Direito a i-
deacuteia de que a Constituiccedilatildeo eacute norma que pode e deve ser aplicada independentemente de re-
gulamentaccedilatildeo dos seus dispositivos pelo legislador ordinaacuterio Tal doutrina ainda natildeo correspon-
de ao neoconstitucionalismo mas a conquista que dela resultou para a dogmaacutetica constitucio-
nal brasileira foi um pressuposto para o surgimento deste outro movimento no nosso cenaacuterio
O segundo momento importante eacute o da chegada ao Brasil das teorias juriacutedicas ditas poacutes-
positivistas Foram marcos relevantes a publicaccedilatildeo da 5ordf ediccedilatildeo do Curso de Direito Constitu-
cional de Paulo Bonavides 69bem como do livro A Ordem Econocircmica na Constituiccedilatildeo de 1988
de Eros Roberto Grau70 que divulgaram entre noacutes a teoria dos princiacutepios de autores como Ro-
nald Dworkin e Robert Alexy e fomentaram as discussotildees sobre temas importantes como a
ponderaccedilatildeo de interesses o princiacutepio da proporcionalidade e eficaacutecia dos direitos fundamen-
tais Tambeacutem deve ser salientada a ampla penetraccedilatildeo no acircmbito de algumas poacutes-graduaccedilotildees
em Direito a partir de meados dos anos 90 do pensamento de filoacutesofos que se voltaram para o
estudo da relaccedilatildeo entre Direito Moral e Poliacutetica a partir de uma perspectiva poacutes-metafiacutesica
como John Rawls e Juumlrgen Habermas71 E ainda merece destaque o aprofundamento no paiacutes dos
estudos de hermenecircutica juriacutedica a partir de uma nova matriz teoacuterica inspirada pelo giro lin-
guumliacutestico na Filosofia que denunciou os equiacutevocos do modelo positivista de interpretaccedilatildeo ateacute
entatildeo dominante assentado na separaccedilatildeo cartesiana entre sujeito (o inteacuterprete) e objeto (o
texto da norma)72
12
Nesta nova fase a doutrina brasileira passa a enfatizar o caraacuteter normativo e a importacircncia dos
princiacutepios constitucionais e a estudar as peculiaridades da sua aplicaccedilatildeo Neste contexto haacute
uma verdadeira febre de trabalhos sobre teoria dos princiacutepios ponderaccedilatildeo de interesses teori-
as da argumentaccedilatildeo proporcionalidade e razoabilidade etc Tambeacutem cresce muito o interesse
doutrinaacuterio pelos direitos fundamentais sobretudo os direitos sociais Se antes estes eram vis-
tos preponderantemente como normas programaacuteticas passa-se a discutir a sua eficaacutecia juriacutedica
a partir de novas bases que incorporam ao debate a argumentaccedilatildeo moral Neste campo a ecircn-
fase na anaacutelise dos enunciados normativos que caracterizava a doutrina da efetividade eacute
substituiacuteda por uma discussatildeo marcada pela preocupaccedilatildeo com valores e democracia repleta de
novas categorias importadas sobretudo do Direito germacircnico como o miacutenimo existencial a
reserva do possiacutevel e a proibiccedilatildeo do retrocesso73
E esta nova racionalidade se espraia para diversos ramos do Direito No Direito Civil74 Penal75
Administrativo 76por exemplo cada vez mais a doutrina emprega normas e valores constitu-
cionais para reler os institutos tradicionais colorindo-os com novas tintas E trata-se natildeo ape-
nas de aplicar diretamente as normas constitucionais especificamente voltadas para cada uma
destas aacutereas como tambeacutem de projetar sobre estes campos a influecircncia dos direitos funda-
mentais e dos princiacutepios mais gerais do nosso constitucionalismo muitas vezes superando anti-
gos dogmas e definindo novos paradigmas
Neste segundo momento ocorre ainda uma significativa mudanccedila no enfoque dos estudos sobre
jurisdiccedilatildeo constitucional no Brasil Antes os trabalhos nacionais sobre o tema se limitavam
basicamente a discutir questotildees processuais mas a partir do final dos anos 90 diversos estu-
dos incorporam outras perspectivas agrave anaacutelise da questatildeo dedicando atenccedilatildeo agrave complexa pro-
blemaacutetica da legitimidade democraacutetica do controle de constitucionalidade77 tendo em vista a
chamada dificuldade contra-majoritaacuteria do Judiciaacuterio78 Num contexto como o nosso em que
a jurisdiccedilatildeo constitucional estaacute prevista pelo proacuteprio texto magno o debate relevante do ponto
de vista praacutetico natildeo eacute o de tecirc-la ou natildeo mas sim a forma como deve ser exercida Dependendo
do posicionamento adotado pode-se preconizar um maior ou menor grau de ativismo judicial
ou defender o ativismo em algumas aacutereas mas recusaacute-lo em outras Nesta nova agenda de dis-
cussotildees sobre a jurisdiccedilatildeo constitucional a argumentaccedilatildeo juriacutedica se entrelaccedila inevitavelmen-
te com o debate de Filosofia Poliacutetica abrindo espaccedilo para posiccedilotildees variadas como os vaacuterios
matizes de procedimentalismo e de substancialismo que vecircm florescendo na doutrina brasilei-
ra79 Dentre estas posiccedilotildees natildeo haacute duacutevida de que a mais identificada ao neoconstitucionalismo
eacute a substancialista que compartilha com ele a crenccedila numa ampla legitimidade do ativismo
judicial em favor dos valores constitucionais
13
Apesar destas mudanccedilas importantes que podem ser associadas ao neoconstitucionalismo o uso
da expressatildeo no Brasil eacute mais recente seguindo-se agrave ampla difusatildeo que recebeu na academia
brasileira a jaacute citada obra Neoconstitucionalismo(s) organizada por Miguel Carbonell e publi-
cada em 2003 De laacute para caacute muito se tem escrito sobre o toacutepico e vaacuterios autores nacionais
aderiram explicitamente agrave corrente como Luis Roberto Barroso80 Lecircnio Luiz Streck 81Antonio
Cavalcanti Maia82 Ana Paula de Barcellos83 Diogo de Figueiredo Moreira Neto84 Paulo Ricardo
Schier85 Eduardo Moreira86 Eacutecio Otto Ramos Duarte87 e Thomas Rosa de Bustamante88 Outros
adotaram postura criacutetica sobre a nova perspectiva como Joseacute Ribas Vieira Dimitri Dimoulis89 e
Humberto Aacutevila90 E pode-se notar pela leitura dos trabalhos destes e de outros autores brasi-
leiros que haacute um relativo consenso na definiccedilatildeo das caracteriacutesticas centrais do novo paradig-
ma valorizaccedilatildeo dos princiacutepios adoccedilatildeo de meacutetodos ou estilos mais abertos e flexiacuteveis na her-
menecircutica juriacutedica com destaque para a ponderaccedilatildeo abertura da argumentaccedilatildeo juriacutedica agrave
Moral mas sem recair nas categorias metafiacutesicas do jusnaturalismo reconhecimento e defesa
da constitucionalizaccedilatildeo do Direito e do papel de destaque do Judiciaacuterio na agenda de imple-
mentaccedilatildeo dos valores da Constituiccedilatildeo
Estas novas ideacuteias jaacute reverberam fortemente na jurisprudecircncia nacional sobretudo do Supremo
Tribunal Federal que nos uacuteltimos tempos tem cada vez mais invocado princiacutepios abertos nos
seus julgamentos recorrido agrave ponderaccedilatildeo de interesses e ao princiacutepio da proporcionalidade
com frequumlecircncia e ateacute se valido de referecircncias filosoacuteficas na fundamentaccedilatildeo de decisotildees Aliaacutes
eacute digna de nota a influecircncia da doutrina constitucional na atuaccedilatildeo do Supremo Tribunal Fede-
ral O fenocircmeno eacute relativamente recente uma vez que logo apoacutes a promulgaccedilatildeo da Constitui-
ccedilatildeo de 88 havia um profundo hiato entre o campo doutrinaacuterio que cobrava a efetivaccedilatildeo da
Constituiccedilatildeo pela via judicial e a jurisprudecircncia do STF tiacutemida e reticente diante dos valores
e das inovaccedilotildees da nova Carta - vg orientaccedilatildeo entatildeo adotada pela Corte em relaccedilatildeo ao man-
dado de injunccedilatildeo e ao controle judicial das medidas provisoacuterias Aquele quadro podia em parte
ser debitado agrave duvidosa opccedilatildeo do constituinte originaacuterio de manter no STF os ministros nomea-
dos durante o governo militar que natildeo tinham sintonia poliacutetico-ideoloacutegica nem boa vontade
diante do novo sistema constitucional e que por isso se apegavam a visotildees e interpretaccedilotildees
assentadas durante o regime preteacuterito muitas delas francamente incompatiacuteveis com a nova
ordem Mas hoje apoacutes a completa renovaccedilatildeo do STF constata-se um quadro radicalmente di-
ferente a maioria dos ministros do STF eacute composta por professores de Direito Constitucional
de grande reputaccedilatildeo acadecircmica que ateacute pela origem tecircm mais contato com a produccedilatildeo inte-
lectual de ponta na aacuterea e satildeo mais suscetiacuteveis agrave influecircncia das novas correntes de pensamen-
to
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Como ressaltado esta mudanccedila de paradigma se reflete vivamente na jurisprudecircncia do STF
Satildeo exemplos eloquumlentes a alteraccedilatildeo da posiccedilatildeo da Corte em relaccedilatildeo aos direitos sociais antes
tratados como normas programaacuteticas e hoje submetidos a uma intensa proteccedilatildeo judicial 91o
reconhecimento da eficaacutecia horizontal dos direitos fundamentais92 a mutaccedilatildeo do entendimen-
to do Tribunal em relaccedilatildeo agraves potencialidades do mandado de injunccedilatildeo 93e a progressiva supe-
raccedilatildeo da visatildeo claacutessica kelseniana da jurisdiccedilatildeo constitucional que a equiparava ao legislador
negativo com a admissatildeo de teacutecnicas decisoacuterias mais heterodoxas94 como as declaraccedilotildees de
inconstitucionalidade sem pronuacutencia de nulidade e as sentenccedilas aditivas E para completar o
quadro deve-se acrescentar as mudanccedilas acarretadas por algumas inovaccedilotildees processuais re-
centes na nossa jurisdiccedilatildeo constitucional que permitiram a participaccedilatildeo dos amici curiae bem
como a realizaccedilatildeo de audiecircncias puacuteblicas no acircmbito do processo constitucional ampliando a
possibilidade de atuaccedilatildeo da sociedade civil organizada no STF95
Naturalmente a nova postura de ativismo judicial do STF estimula as forccedilas sociais a procuraacute-
lo com mais frequumlecircncia e contribui para uma significativa alteraccedilatildeo na agenda da Corte Atu-
almente ao lado das questotildees mais tradicionais de Direito Puacuteblico o STF tem se defrontado
com novos temas fortemente impregnados de conteuacutedo moral como as discussotildees sobre a vali-
dade de pesquisa em ceacutelulas-tronco embrionaacuterias96 aborto de feto anenceacutefalo97 e uniatildeo entre
pessoas do mesmo sexo98 Ademais o Tribunal passou a intervir de forma muito mais ativa no
processo poliacutetico adotando decisotildees que se refletem de forma direta e profunda sobre a atua-
ccedilatildeo dos demais poderes do Estado Para citar apenas alguns casos pode-se falar da decisatildeo que
assentou que a mudanccedila de partido implica salvo determinadas exceccedilotildees perda de mandato
parlamentar99 da que estabeleceu criteacuterios riacutegidos para a fixaccedilatildeo do nuacutemero de vereadores de
acordo com a respectiva populaccedilatildeo100 e da intensificaccedilatildeo do controle jurisdicional dos atos das
CPIs bem como dos pressupostos de ediccedilatildeo das medidas provisoacuterias
Poreacutem haacute um componente curioso na recepccedilatildeo deste novo paradigma juriacutedico pelo Judiciaacuterio
brasileiro Embora ainda natildeo existam estudos empiacutericos a este respeito tenho a forte intuiccedilatildeo
de que a penetraccedilatildeo destas novas ideacuteias associadas ao neoconstitucionalismo eacute forte na cuacutepula
e na base da hierarquia judicial mas ainda tiacutemida nos seus escalotildees intermediaacuterios E as causas
natildeo satildeo de difiacutecil compreensatildeo Em relaccedilatildeo agrave cuacutepula - os ministros do STF - as razotildees jaacute foram
explicadas acima Jaacute no que tange agrave base do Judiciaacuterio boa parte dos juiacutezes de 1ordm grau teve a
sua formaccedilatildeo num ambiente acadecircmico que jaacute valorizava o Direito Constitucional e reconhecia
a forccedila normativa dos direitos fundamentais e dos princiacutepios constitucionais Assim eles ten-
dem a levar para a sua praacutetica profissional esta visatildeo do Direito Poreacutem sobretudo na 2ordf ins-
tacircncia composta majoritariamente por magistrados que se formaram e foram socializados no
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seu meio institucional sob a eacutegide do paradigma juriacutedico anterior muito mais voltado para os
coacutedigos e para a letra da lei do que para a Constituiccedilatildeo e seus princiacutepios haacute maior resistecircncia agrave
incorporaccedilatildeo dos novos vetores constitucionais Contudo este fenocircmeno tende a diminuir com
o tempo seja pela consolidaccedilatildeo do paradigma constitucional emergente seja pela promoccedilatildeo
de magistrados mais antenados com o novo constitucionalismo seja ateacute pela influecircncia do pen-
samento e das orientaccedilotildees da cuacutepula do Judiciaacuterio sobre todas as suas instacircncias
No cenaacuterio brasileiro o neoconstitucionalismo eacute tambeacutem impulsionado por outro fenocircmeno a
descrenccedila geral da populaccedilatildeo em relaccedilatildeo agrave poliacutetica majoritaacuteria e em especial o descreacutedito
no Poder Legislativo e nos partidos poliacuteticos101 A percepccedilatildeo geral alimentada por sucessivos
escacircndalos e pelo discurso de alguns meios de comunicaccedilatildeo social de que a poliacutetica parlamen-
tar e partidaacuteria satildeo esferas essencialmente corrompidas que se movem exclusivamente em
torno de interesses e natildeo de valores gera em alguns setores a expectativa de que a soluccedilatildeo
para os problemas nacionais possa vir do Judiciaacuterio102 E este sentimento eacute fortalecido quando
a Justiccedila adota decisotildees em consonacircncia com a opiniatildeo puacuteblica - como ocorreu no recebimento
da denuacutencia criminal no caso do mensalatildeo na definiccedilatildeo de perda do mandato por infidelidade
partidaacuteria e na proibiccedilatildeo do nepotismo na Administraccedilatildeo Puacuteblica
Por outro lado a ascensatildeo institucional do Judiciaacuterio e a riqueza e importacircncia praacutetica ou sim-
boacutelica dos temas que ele vem julgando tem provocado um grande aumento no interesse da so-
ciedade pelo Direito Constitucional e pela atuaccedilatildeo do Supremo Tribunal Federal Eacute difiacutecil um
dia em que os principais meios de comunicaccedilatildeo natildeo discutam alguma decisatildeo da Corte ou mani-
festaccedilatildeo de qualquer dos seus membros E este fenocircmeno eacute potencializado tanto pela extro-
versatildeo midiaacutetica de alguns ministros como tambeacutem pelo fato - sem precedentes em outros
paiacuteses - do televisionamento das sessotildees do STF Com tudo isso as questotildees constitucionais
que antes eram apenas discutidas dentro de um ciacuterculo muito restrito de iniciados hoje satildeo
amplamente debatidas no espaccedilo puacuteblico
Neste quadro em que pesem as muacuteltiplas resistecircncias que sofre eacute possiacutevel apontar a emergecircn-
cia de uma nova forma de conceber o Direito e o Estado na sociedade brasileira contemporacirc-
nea que se quisermos adotar a terminologia hoje em voga pode ser chamada de neoconstitu-
cionalismo
4 Trecircs objeccedilotildees ao neoconstitucionalismo
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Nas proacuteximas linhas abordarei de maneira breve trecircs criacuteticas que podem ser levantadas con-
tra o neoconstitucionalismo (a) a de que o seu pendor judicialista eacute anti-democraacutetico (b) a de
que a sua preferecircncia por princiacutepios e ponderaccedilatildeo em detrimento de regras e subsunccedilatildeo eacute
perigosa sobretudo no Brasil em razatildeo de singularidades da nossa cultura e (c) a de que ele
pode gerar uma panconstitucionalizaccedilatildeo do Direito em detrimento da autonomia puacuteblica do
cidadatildeo e da autonomia privada do indiviacuteduo Outras criacuteticas importantes existem103 mas por
limites de tempo e espaccedilo preferi priorizar aqui estas trecircs que satildeo as que geram maior apre-
ensatildeo no cenaacuterio brasileiro
a) Neoconstitucionalismo e judiciocracia
Como salientado acima o neoconstitucionalismo tem um foco muito centrado no Poder Judici-
aacuterio no qual deposita enormes expectativas no sentido de concretizaccedilatildeo dos ideais emancipa-
toacuterios presentes nas constituiccedilotildees contemporacircneas Contudo este vieacutes judicialista sofre con-
testaccedilotildees pelo seu suposto caraacuteter antidemocraacutetico na medida em que os juiacutezes diferente-
mente dos parlamentares e chefes do Executivo natildeo satildeo eleitos e natildeo respondem diretamente
perante o povo104
Esta criacutetica democraacutetica se assenta na ideacuteia de que numa democracia eacute essencial que as deci-
sotildees poliacuteticas mais importantes sejam tomadas pelo proacuteprio povo ou por seus representantes
eleitos e natildeo por saacutebios ou tecnocratas de toga Eacute verdade que a maior parte dos teoacutericos con-
temporacircneos da democracia reconhece que ela natildeo se esgota no respeito ao princiacutepio majoritaacute-
rio pressupondo antes o acatamento das regras do jogo democraacutetico que incluem a garantia
de direitos baacutesicos visando a viabilizar a participaccedilatildeo igualitaacuteria do cidadatildeo na esfera puacuteblica
bem como alguma proteccedilatildeo agraves minorias105 Poreacutem temos aqui uma questatildeo de dosagem pois
se a imposiccedilatildeo de alguns limites para a decisatildeo das maiorias pode ser justificada em nome da
democracia o exagero tende a revelar-se antidemocraacutetico por cercear em demasia a possibi-
lidade do povo de se autogovernar106
E a questatildeo natildeo eacute apenas de divisatildeo de poder ao longo do tempo A dificuldade democraacutetica
natildeo estaacute tatildeo-somente no fato de as constituiccedilotildees subtraiacuterem do legislador futuro a possibilida-
de de tomar algumas decisotildees107 O cerne do debate estaacute no reconhecimento de que diante da
vagueza e abertura de boa parte das normas constitucionais mais importantes quem as inter-
preta tambeacutem participa do seu processo de criaccedilatildeo108 Daiacute a criacutetica de que o vieacutes judicialista
subjacente ao neoconstitucionalismo acaba por conferir aos juiacutezes uma espeacutecie de poder cons-
tituinte permanente pois lhes permite moldar a Constituiccedilatildeo de acordo com as suas preferecircn-
cias poliacuteticas e valorativas em detrimento daquelas do legislador eleito Esta visatildeo levou inuacute-
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meras correntes de pensamento ao longo da histoacuteria a rejeitarem a jurisdiccedilatildeo constitucional
ou pelo menos o ativismo judicial no seu exerciacutecio dos revolucionaacuterios franceses do seacuteculo XVI-
II109 passando por Carl Schmitt110 na Repuacuteblica de Weimar ateacute os adeptos do constituciona-
lismo popular nos Estados Unidos de hoje111
No Brasil eacute muito comum traccedilar-se um paralelo entre a defesa do ativismo judicial e posiccedilotildees
sociais progressistas Talvez isso se deva ao fato de que na nossa histoacuteria o Judiciaacuterio brasilei-
ro tem pecado muito mais por omissatildeo acumpliciando-se diante dos desmandos dos poderes
poliacutetico e econocircmico do que por excesso de ativismo Neste quadro quem ousa questionar
possiacuteveis exageros na judicializaccedilatildeo da poliacutetica e da vida social no Brasil de hoje eacute logo tachado
de conservador Poreacutem o paralelismo em questatildeo natildeo existe Muitas vezes o Poder Judiciaacuterio
pode atuar bloqueando mudanccedilas importantes promovidas pelos outros poderes em favor dos
excluiacutedos defendendo o statu quo E esta defesa pode ocorrer inclusive atraveacutes do uso da retoacute-
rica dos direitos fundamentais
Isso se deu por exemplo nos Estados Unidos nas primeiras deacutecadas do seacuteculo passado em pe-
riacuteodo que ficou conhecido como Era de Lochner112 quando a Suprema Corte impediu sistemati-
camente a ediccedilatildeo de legislaccedilatildeo trabalhista e de outras medidas que implicavam em interferecircn-
cia na esfera econocircmica em proveito das classes desfavorecidas com base numa leitura subs-
tantiva da claacuteusula do devido processo legal No cenaacuterio contemporacircneo Ran Hirshl113 sustenta
que o processo de judicializaccedilatildeo da poliacutetica que vem ocorrendo nos uacuteltimos anos em diversos
paiacuteses do mundo - ele fez um atento ainda que controvertido estudo dos casos do Canadaacute
Israel Aacutefrica do Sul e Nova Zelacircndia - teria como pano de fundo uma tentativa das elites eco-
nocircmicas e culturais que perderam espaccedilo na poliacutetica majoritaacuteria de manterem o seu poder
reforccedilando no arranjo institucional do Estado o peso do Judiciaacuterio no qual elas ainda tecircm he-
gemonia E aqui no Brasil seraacute que a proteccedilatildeo absoluta que vem sendo conferida ao direito
adquirido - inclusive o de furar teto salarial do funcionalismo fixado por emenda agrave Constituiccedilatildeo
114 - e o ultra-garantismo penal nos crimes do colarinho branco natildeo seriam exemplos deste
mesmo fenocircmeno
Por outro lado uma ecircnfase excessiva no espaccedilo judicial pode levar ao esquecimento de outras
arenas importantes para a concretizaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo e realizaccedilatildeo de direitos gerando um
resfriamento da mobilizaccedilatildeo ciacutevica do cidadatildeo Eacute verdade que o ativismo judicial pode em
certos contextos atuar em sinergia com a mobilizaccedilatildeo social na esfera puacuteblica Isto ocorreu
por exemplo no movimento dos direitos civis nos Estados Unidos dos anos 50 e 60 que foi a-
quecido pelas respostas positivas obtidos na Suprema Corte no periacuteodo da Corte de Warren115
Mas nem sempre eacute assim A ecircnfase judicialista pode afastar do cenaacuterio de disputa por direitos
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as pessoas e movimentos que natildeo pertenccedilam nem tenham proximidade com as corporaccedilotildees
juriacutedicas
Ademais esta obsessatildeo com a interpretaccedilatildeo judicial da Constituiccedilatildeo tende a obscurecer o pa-
pel central de outras instacircncias na definiccedilatildeo do sentido da Constituiccedilatildeo - como o Legislativo o
Executivo e a proacutepria esfera puacuteblica informal Trata-se de um desvio que gera consequumlecircncias
negativas tanto no plano descritivo como na esfera normativa Sob o prisma descritivo trans-
mite-se uma imagem muito parcial do fenocircmeno constitucional que natildeo eacute captado com todas
as suas nuances e riquezas jaacute que o foco se concentra apenas sobre a accedilatildeo de um dentre os
vaacuterios agentes importantes que povoam a seara da hermenecircutica constitucional116 Sob o acircngu-
lo normativo favorece-se um governo agrave moda platocircnica de saacutebios de toga117 que satildeo convida-
dos a assumir uma posiccedilatildeo paternalista diante de uma sociedade infantilizada118 Justifica-se o
ativismo judicial a partir de uma visatildeo muito criacutetica do processo poliacutetico majoritaacuterio mas que
ignora as inuacutemeras mazelas que tambeacutem afligem o Poder Judiciaacuterio construindo-se teorias a
partir de visotildees romacircnticas e idealizadas do juiz119 Soacute que se eacute verdade que o processo poliacuteti-
co majoritaacuterio tem seus viacutecios - e eles satildeo muito graves no cenaacuterio brasileiro - tambeacutem eacute certo
que os juiacutezes natildeo satildeo semi-deuses e que a esfera em que atuam tampouco eacute imune agrave poliacutetica
com p menor
Esta idealizaccedilatildeo da figura do juiz natildeo se compadece com algumas notoacuterias deficiecircncias que o
Judiciaacuterio brasileiro enfrenta Dentre elas pode-se destacar a sobrecarga de trabalho que
compromete a capacidade dos magistrados de dedicarem a cada processo o tempo e a energia
necessaacuterias para que faccedilam tudo que o que demandam as principais teorias da argumentaccedilatildeo
defendidas pelo neoconstitucionalismo E cabe referir tambeacutem agraves lacunas na formaccedilatildeo do ma-
gistrado brasileiro decorrentes sobretudo das falhas de um ensino juriacutedico formalista e nada
interdisciplinar que ainda viceja no paiacutes que natildeo satildeo corrigidas nos procedimentos de seleccedilatildeo
e treinamento dos juiacutezes
Outra consequumlecircncia da obsessatildeo judicialista do constitucionalismo brasileiro contemporacircneo
estaacute refletida na nossa produccedilatildeo acadecircmica Enquanto somos inundados por livros e artigos
muitas vezes repetitivos sobre assuntos como princiacutepios e regras interpretaccedilatildeo constitucional
e tutela judicial de direitos fundamentais outros temas absolutamente essenciais para a vida
do paiacutes passam ao largo da preocupaccedilatildeo dos juristas Eacute o caso da reforma poliacutetica Em que pese
o caraacuteter essencialmente constitucional do assunto quase nenhum constitucionalista se inte-
ressou por ele 120e praticamente toda a literatura de qualidade produzida sobre o toacutepico tem
vindo da Ciecircncia Poliacutetica
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Estou convencido de que o Poder Judiciaacuterio tem um papel essencial na concretizaccedilatildeo da Consti-
tuiccedilatildeo brasileira Em face do quadro de sistemaacutetica violaccedilatildeo de direitos de certos segmentos da
populaccedilatildeo do arranjo institucional desenhado pela Carta de 88 e da seacuteria crise de representa-
tividade do Poder Legislativo entendo que o ativismo judicial se justifica no Brasil pelo menos
em certas searas como a tutela de direitos fundamentais a proteccedilatildeo das minorias e a garantia
do funcionamento da proacutepria democracia O maior insulamento judicial diante da pressatildeo das
maiorias bem como um certo ethos profissional de valorizaccedilatildeo dos direitos humanos que co-
meccedila a se instalar na nossa magistratura 121 conferem ao Judiciaacuterio uma capacidade institu-
cional privilegiada para atuar nestas aacutereas122
Mas em outros campos pode ser mais recomendaacutevel uma postura de autocontenccedilatildeo judicial
seja por respeito agraves deliberaccedilotildees majoritaacuterias adotadas no espaccedilo poliacutetico123 seja pelo reco-
nhecimento da falta de expertise do Judiciaacuterio para tomar decisotildees que promovam eficiente-
mente os valores constitucionais em jogo em aacutereas que demandem profundos conhecimentos
teacutecnicos fora do Direito - como Economia poliacuteticas puacuteblicas e regulaccedilatildeo124 Nestes casos deve-
se reconhecer que outros oacutergatildeos do Estado estatildeo mais habilitados para assumirem uma posiccedilatildeo
de protagonismo na implementaccedilatildeo da vontade constitucional
Nesta linha vejo com reticecircncias a sedimentaccedilatildeo na nossa cultura juriacutedica da visatildeo de que o
grande - senatildeo o uacutenico - inteacuterprete da Constituiccedilatildeo seria o Poder Judiciaacuterio125 Esta leitura des-
carta a autocontenccedilatildeo judicial bem como tende a desprezar a possibilidade de que sejam tra-
vados construtivos diaacutelogos interinstitucionais entre diversos oacutergatildeos estatais para a definiccedilatildeo da
melhor interpretaccedilatildeo dos ditames constitucionais126 Um bom exemplo127 deste desvio ocorreu
no julgamento da constitucionalidade das pesquisas em ceacutelulas-tronco embrionaacuterias realizada
pelo STF em que pese o resultado final do julgamento ter sido substancialmente correto Na-
quela ocasiatildeo o importante argumento deduzido na tribuna e em memoriais por Luis Roberto
Barroso - que advogava para um dos amici curiae favoraacuteveis agraves pesquisas - de que o Judiciaacuterio
deveria adotar posiccedilatildeo cautelosa no julgamento da constitucionalidade da lei impugnada ten-
do em vista o amplo consenso em torno dela obtido durante o processo legislativo tanto no
Senado como na Cacircmara foi explicitamente rechaccedilado por alguns ministros que consideraram
o ponto irrelevante E outros ministros em votos vencidos se sentiram confortaacuteveis ateacute para
defender a imposiccedilatildeo de novas normas pelo STF na aacuterea do Biodireito arvorando-se agrave condiccedilatildeo
de legisladores num campo para o qual evidentemente lhes faltava qualquer expertise
Enfim o neoconstitucionalismo brasileiro tem pecado por excesso depositando no Judiciaacuterio
expectativas que ele nem sempre teraacute como atender de forma satisfatoacuteria Um dos efeitos co-
laterais deste fenocircmeno eacute a disseminaccedilatildeo de um discurso muito perigoso de que voto e poliacuteti-
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ca natildeo satildeo tatildeo importantes pois relevante mesmo eacute a interpretaccedilatildeo dos princiacutepios constitucio-
nais realizada pelo STF Daiacute a dizer que o povo natildeo sabe votar eacute um pulo e a ditadura de toga
pode natildeo ser muito melhor do que a ditadura de farda
b) Neoconstitucionalismo oba-oba constitucional e Estado Democraacutetico de Direito
Seria uma profunda injusticcedila com a teoria neoconstitucionalista acusaacute-la de promover o decisi-
onismo ou de defender a tomada de decisotildees judiciais puramente emotivas sem lastro em ar-
gumentaccedilatildeo racional soacutelida Pelo contraacuterio como foi destacado acima um dos eixos centrais
do pensamento neoconstitucional eacute a reabilitaccedilatildeo da racionalidade praacutetica no acircmbito juriacutedico
com a articulaccedilatildeo de complexas teorias da argumentaccedilatildeo que demandam muito dos inteacuterpre-
tes e sobretudo dos juiacutezes em mateacuteria de fundamentaccedilatildeo das suas decisotildees Poreacutem a praacutetica
judiciaacuteria brasileira recepcionou apenas parcialmente as teorias juriacutedicas de corte poacutes-
positivista e aqui a valorizaccedilatildeo dos princiacutepios e da ponderaccedilatildeo natildeo tem sido muitas vezes
acompanhada do necessaacuterio cuidado com a justificaccedilatildeo das decisotildees
Se ateacute natildeo muito tempo atraacutes os princiacutepios natildeo eram tratados como autecircnticas normas por
aqui - soacute tinha bom direito quem podia invocar uma regra legal clara e precisa em favor da sua
pretensatildeo - com a chegada do poacutes-positivismo e do neoconstitucionalismo passou-se em pou-
cos anos da aacutegua para o vinho Hoje instalou-se um ambiente intelectual no Brasil que aplaude
e valoriza as decisotildees principioloacutegicas e natildeo aprecia tanto aquelas calcadas em regras legais
que satildeo vistas como burocraacuteticas ou positivistas - e positivismo hoje no paiacutes eacute quase um pala-
vratildeo128 Neste contexto os operadores do Direito satildeo estimulados a invocar sempre princiacutepios
muito vagos nas suas decisotildees mesmo quando isso seja absolutamente desnecessaacuterio pela e-
xistecircncia de regra clara e vaacutelida a reger a hipoacutetese Os campeotildees tecircm sido os princiacutepios da dig-
nidade da pessoa humana e da razoabilidade O primeiro eacute empregado para dar imponecircncia ao
decisionismo judicial vestindo com linguagem pomposa qualquer decisatildeo tida como politica-
mente correta e o segundo para permitir que os juiacutezes substituam livremente as valoraccedilotildees de
outros agentes puacuteblicos pelas suas proacuteprias
Este cenaacuterio eacute problemaacutetico porque um sistema juriacutedico funcional estaacutevel e harmocircnico com os
valores do Estado Democraacutetico de Direito precisa tanto da aplicaccedilatildeo de regras como de princiacute-
pios129 As regras satildeo indispensaacuteveis dentre outras razotildees130 porque geram maior previsibili-
dade e seguranccedila juriacutedica para os seus destinataacuterios diminuem os riscos de erro na sua inci-
decircncia jaacute que natildeo dependem tanto das valoraccedilotildees do inteacuterprete em cada caso concreto en-
volvem um menor custo no seu processo de aplicaccedilatildeo pois podem incidir de forma mais mecacirc-
nica sem demandarem tanto esforccedilo do inteacuterprete e natildeo implicam na mesma medida que os
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princiacutepios em uma transferecircncia de poder decisoacuterio do Legislativo que eacute eleito para o Judici-
aacuterio que natildeo eacute
Natildeo pretendo sustentar com isso que se deva retroceder ao tempo em que os princiacutepios natildeo
eram aplicados pelos juiacutezes brasileiros Tambeacutem os princiacutepios satildeo essenciais na ordem juriacutedica
pois conferem mais plasticidade ao Direito - o que eacute essencial numa sociedade hiper-complexa
como a nossa - e permitem uma maior abertura da argumentaccedilatildeo juriacutedica agrave Moral e ao mundo
empiacuterico subjacente O importante eacute encontrar uma justa medida que natildeo torne o processo de
aplicaccedilatildeo do Direito amarrado demais como ocorreria num sistema baseado exclusivamente
em regras nem solto demais como sucederia com um que se fundasse apenas em princiacutepios
Penso que eacute chegada a hora de um retorno do pecircndulo no Direito brasileiro131 que sem des-
cartar a importacircncia dos princiacutepios e da ponderaccedilatildeo volte a levar a seacuterio tambeacutem as regras e a
subsunccedilatildeo
Ademais naquelas hipoacuteteses em que a aplicaccedilatildeo de princiacutepios for realmente apropriada ela
deve dar-se de forma mais racional e fundamentada Deve-se adotar a premissa de que quanto
mais vaga for a norma a ser aplicada e mais intenso o componente volitivo envolvido no pro-
cesso decisoacuterio maior deve ser o ocircnus argumentativo do inteacuterprete no sentido de mostrar que
a soluccedilatildeo por ele adotada eacute a que melhor realiza os valores do ordenamento naquele caso con-
creto132 A tendecircncia atual de invocaccedilatildeo frouxa e natildeo fundamentada de princiacutepios colide com a
loacutegica do Estado Democraacutetico de Direito pois amplia as chances de arbiacutetrio judicial gera inse-
guranccedila juriacutedica e atropela a divisatildeo funcional de poderes que tem no ideaacuterio democraacutetico um
dos seus fundamentos - a noccedilatildeo baacutesica de que as decisotildees sobre o que os cidadatildeos e o Estado
podem e natildeo podem fazer devem ser tomadas preferencialmente por quem represente o povo
e seja por ele escolhido
E haacute na sociedade brasileira traccedilos que tornam ainda mais perigosa esta tendecircncia agrave frouxidatildeo
e emotividade na metodologia juriacutedica Nossa cultura caracteriza-se muito mais pelo jeiti-
nho133 e pelo patrimonialismo134 do que pela valorizaccedilatildeo do cumprimento impessoal de regras
O brasileiro - jaacute dizia Seacutergio Buarque de Holanda135 - eacute o homem cordial que tende a antepor
a loacutegica privada do compadrio e da simpatia agrave racionalidade objetiva das leis Esta singularida-
de das nossas relaccedilotildees sociais natildeo atua de forma neutra em relaccedilatildeo a todos os cidadatildeos Ela
implica na adoccedilatildeo de posturas estatais em geral muito benevolentes em relaccedilatildeo aos donos do
poder e seus apaniguumlados e de posiccedilotildees muito mais duras dirigidas aos grupos excluiacutedos e mar-
ginalizados136 Uns poucos acabam pairando acima das leis que natildeo os alcanccedilam para limitar a
sua conduta ou sancionar os seus desvios enquanto outros permanecem abaixo dela sendo
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atingidos apenas pelo braccedilo punitivo do Estado pois a violaccedilatildeo rotineira dos seus direitos eacute
naturalizada tornando-se invisiacutevel
Neste quadro cabe indagar sob a perspectiva de uma sociologia da interpretaccedilatildeo constitucio-
nal ateacute que ponto a introduccedilatildeo entre noacutes de uma dogmaacutetica fluida - a expressatildeo eacute de Gusta-
vo Zagrebelsky137 um dos iacutecones do neoconstitucionalismo - natildeo pode ter como efeito colateral
o agravamento de patologias que marcam as nossas relaccedilotildees sociais Seraacute que o nosso Direito
precisa de mais rigidez ou de maior maleabilidade Ao fim e ao cabo quem tende a se benefi-
ciar com a adoccedilatildeo de uma hermenecircutica juriacutedica mais flexiacutevel
Uma reflexatildeo importante sobre tema correlato foi empreendida por Marcelo Neves138 a partir
das categorias da teoria sistecircmica de Niklas Luhman Para Luhman139 em apertada siacutentese o
Direito nas hipercomplexas sociedades modernas seria autopoieacutetico140 pois consistiria num
subsistema social estruturalmente fechado em relaccedilatildeo ao meio envolvente que operaria de
acordo com um coacutedigo binaacuterio proacuteprio - o liacutecito iliacutecito As influecircncias do meio envolvente so-
bre o Direito seriam filtradas atraveacutes deste coacutedigo assegurando a autonomia da esfera juriacutedica
diante dos outros subsistemas sociais como a Economia a Poliacutetica a Religiatildeo etc Contudo
Marcelo Neves sustenta que em sociedades perifeacutericas como o Brasil natildeo se desenvolveu ple-
namente este fechamento estrutural do Direito Por aqui fatores como a nossa constituciona-
lizaccedilatildeo simboacutelica geraram uma insuficiente diferenciaccedilatildeo do Direito em relaccedilatildeo a outros sub-
sistemas sociais permitindo que elementos a princiacutepio estranhos ao coacutedigo binaacuterio do juriacutedico -
como a questatildeo do poder poliacutetico e do poder econocircmico - se infiltrem sistematicamente nos
processos de aplicaccedilatildeo das normas condicionando o seu resultado A teoria dos sistemas de
Luhman natildeo funcionaria bem entre noacutes pois teriacuteamos um Direito em boa parte alopoieacuteti-
coPara tal perspectiva esta maior abertura do Direito ao meio envolvente natildeo assume o po-
tencial emancipatoacuterio preconizado pela teoria neoconstitucionalista Ela funciona muito mais
como um mecanismo de cristalizaccedilatildeo de diferenccedilas sociais mantendo a hiper-inclusatildeo de uns
ao preccedilo da exclusatildeo de outros
Esta reflexatildeo de Marcelo Neves natildeo se dirigiu ao debate metodoloacutegico contemporacircneo envol-
vendo princiacutepios e regras ponderaccedilatildeo e subsunccedilatildeo etc Poreacutem entendo que ela pode ter algu-
ma pertinecircncia tambeacutem aqui pelo menos para nos advertir sobre o perigo de que o neoconsti-
tucionalismo com a fluidez metodoloacutegica e abertura do Direito a outros domiacutenios que preconi-
za possa acabar tornando-se um belo roacutetulo para justificar mais do mesmo patrimonialismo
desigualdade jeitinho Nesta perspectiva a novidade do neoconstitucionalismo poderia pare-
cer com aquela advogada pelo Priacutencipe de Salinas em famosa passagem do romance O Leopar-
do de Giuseppe Lampedusa quando defendia no contexto da crise da aristocracia italiana do
23
final do seacuteculo XIX a necessidade de mudanccedilas urgentes no governo para que ao final as
coisas pudessem permanecer exatamente do jeito que sempre foram
Natildeo penso que esta seja uma consequumlecircncia necessaacuteria da adoccedilatildeo de uma perspectiva juriacutedica
mais principialista no Brasil O maior cuidado metodoloacutegico adicionado agrave adoccedilatildeo de uma dire-
triz hermenecircutica substantiva que afirme a missatildeo essencial do Direito de assegurar justiccedila e
seguranccedila agraves pessoas tratando-as como livres e iguais pode minimizar as possibilidades de um
uso enviesado da teoria neoconstitucional que acabe favorecendo aos mesmos de sempre
Mas diante das nossas tradiccedilotildees natildeo haacute como negar que os riscos satildeo elevados
c) Neoconstitucionalismo e panconstitucionalizaccedilatildeo
Uma das caracteriacutesticas do neoconstitucionalismo eacute a defesa da constitucionalizaccedilatildeo do Direi-
to Sustenta-se que a irradiaccedilatildeo das normas constitucionais por todo o ordenamento contribui
para aproximaacute-lo dos valores emancipatoacuterios contidos nas constituiccedilotildees contemporacircneas 141A
Constituiccedilatildeo natildeo eacute vista mais como uma simples norma normarum - cuja finalidade principal eacute
disciplinar o processo de produccedilatildeo de outras normas142 Ela passa a ser enxergada como a en-
carnaccedilatildeo dos valores superiores da comunidade poliacutetica que devem fecundar todo o sistema
juriacutedico Neste modelo cabe ao inteacuterprete natildeo soacute aplicar diretamente os ditames constitucio-
nais agraves relaccedilotildees sociais como tambeacutem reler todas as normas e institutos dos mais variados ra-
mos do Direito agrave luz da Constituiccedilatildeo emprestando-lhes o sentido que mais promova os objeti-
vos e a axiologia da Carta
A constitucionalizaccedilatildeo do Direito de que cogita o neoconstitucionalismo natildeo eacute aquela que resul-
ta do caraacuteter excessivamente analiacutetico da Constituiccedilatildeo e leva ao entricheiramento de meras
opccedilotildees conjunturais do constituinte originaacuterio ou derivado despidas de maior importacircncia ou
dignidade Este eacute um fenocircmeno caracteriacutestico da Carta de 88 que se excedeu no casuiacutesmo e
nos detalhes elevando ao seu texto meros interesses corporativos ou decisotildees de momento
sem focirclego para perdurarem no tempo A constitucionalizaccedilatildeo louvada e defendida pelo neo-
constitucionalismo eacute aquela que parte de uma interpretaccedilatildeo extensiva e irradiante dos direitos
fundamentais e dos princiacutepios mais importantes da ordem constitucional Aqui contudo pode-
se discutir ateacute que ponto o fenocircmeno eacute legiacutetimo Poucos discordaratildeo pelo menos no Brasil de
que alguma constitucionalizaccedilatildeo do Direito eacute positiva e bem-vinda por semear o ordenamento
com os valores humanitaacuterios da Constituiccedilatildeo Poreacutem pode-se objetar contra as teses extrema-
das sobre este processo que acabam amputando em demasia o espaccedilo de liberdade do legisla-
dor em detrimento da democracia 143
24
Com efeito quem defende que tudo ou quase tudo jaacute estaacute decidido pela Constituiccedilatildeo e que o
legislador eacute um mero executor das medidas jaacute impostas pelo constituinte nega por conse-
quumlecircncia a autonomia poliacutetica ao povo para em cada momento da sua histoacuteria realizar as suas
proacuteprias escolhas O excesso de constitucionalizaccedilatildeo do Direito reveste-se portanto de um
vieacutes antidemocraacutetico Esta ordem de preocupaccedilotildees levou Ersnt Forsthof na Alemanha a criti-
car as teorias que viam a Constituiccedilatildeo como uma espeacutecie de genoma juriacutedico () do qual tudo
deriva do Coacutedigo Penal ateacute a lei sobre a fabricaccedilatildeo de termocircmetros144 E a questatildeo torna-se
ainda mais delicada diante da constataccedilatildeo de que pela abertura semacircntica dos direitos fun-
damentais e dos princiacutepios - principal mateacuteria-prima da constitucionalizaccedilatildeo do Direito - o seu
principal agente acaba sendo o Poder Judiciaacuterio ao dar a uacuteltima palavra sobre a interpretaccedilatildeo
daquelas claacuteusulas Daiacute porque o debate sobre a constitucionalizaccedilatildeo do Direito se imbrica
inexoravelmente com as discussotildees a propoacutesito da judicializaccedilatildeo da poliacutetica e do decisionismo
referidas acima
Ademais a constitucionalizaccedilatildeo do Direito tambeacutem suscita outra linha de preocupaccedilotildees rela-
cionada ao perfeccionismo moral145 na esfera privada No Brasil assim como em muitos outros
paiacuteses jaacute se assentou a ideacuteia de que os direitos fundamentais natildeo se dirigem apenas contra o
Estado vinculando tambeacutem os particulares Entre noacutes tem prevalecido na doutrina a ideacuteia que
eu mesmo defendi em outro estudo146 que a eficaacutecia dos direitos fundamentais nas relaccedilotildees
privadas eacute direta e imediata Em outras palavras entende-se que a proacutepria Constituiccedilatildeo jaacute inci-
de nas relaccedilotildees privadas independentemente de mediaccedilotildees legislativas e que pode gerar o-
brigaccedilotildees positivas ou negativas para os indiviacuteduos e natildeo soacute para os poderes puacuteblicos sempre
no afatilde de proporcionar uma proteccedilatildeo mais completa agrave dignidade humana Ateacute aqui nada a
contestar
Poreacutem o reconhecimento da vinculaccedilatildeo dos particulares agrave Constituiccedilatildeo suscita um risco que
natildeo pode ser ignorado o de imposiccedilatildeo agraves pessoas supostamente em nome de valores constitu-
cionais de comportamentos e estilos de vida que elas proacuteprias rejeitam em detrimento da sua
liberdade existencial Para dar um exemplo bem tosco seria terriacutevel se o Direito em nome do
princiacutepio da solidariedade social pudesse impor agraves pessoas que demonstrassem afetos e senti-
mentos que elas natildeo possuem genuinamente Ou se em nome da isonomia pretendesse inter-
ferir nas escolhas subjetivas e emocionais que os indiviacuteduos fazem nas suas vidas privadas A
constitucionalizaccedilatildeo neste sentido poderia converter-se num pretexto para o exerciacutecio de um
paternalismo anti-liberal em que as pessoas seriam forccediladas a conformarem-se agraves expectativas
sociais forjadas a partir de pautas de accedilatildeo politicamente corretas com apoio na Constitui-
ccedilatildeo147
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Nenhuma destas duas questotildees eacute insuperaacutevel Eacute possiacutevel aceitar e aplaudir a constitucionaliza-
ccedilatildeo do Direito - fenocircmeno em geral positivo por aproximar a racionalidade emancipatoacuteria da
Constituiccedilatildeo do dia-a-dia das pessoas - mas defender que ela seja temperada por outras preo-
cupaccedilotildees igualmente essenciais no Estado Democraacutetico de Direito com a autonomia puacuteblica e
privada dos cidadatildeos Pode-se reconhecer a legitimidade da constitucionalizaccedilatildeo do Direito
mas numa medida em que natildeo sacrifique em excesso agrave liberdade de conformaccedilatildeo que numa
democracia deve caber ao legislador para realizar opccedilotildees poliacuteticas em nome do povo148 Pode-
se da mesma forma afirmar a incidecircncia direta da Constituiccedilatildeo nas relaccedilotildees privadas mas
sem invadir a esfera das opccedilotildees existenciais da pessoa - que de resto eacute protegida pela proacutepria
Constituiccedilatildeo das ingerecircncias perfeccionistas do Estado e da sociedade149
5 Conclusatildeo Ao fim da leitura destas paacuteginas o leitor pode estar se indagando se eu me alinho ou natildeo ao
neoconstitucionalismo A minha resposta eacute depende da compreensatildeo que se tenha sobre o ne-
oconstitucionalismo Se entendermos o neoconstitucionalismo de acordo com a conhecida defi-
niccedilatildeo de Luis Prietro Sanchiacutes como uma teoria do Direito que se orienta pelas maacuteximas demaacutes
princiacutepios que reglas maacutes ponderacioacuten que subsuncioacuten omnipotencia de la Constitucioacuten en
todas las aacutereas juriacutedicas y en todos conflictos miacutenimamente relevantes en lugar de espacios
exentos en favor de la opcioacuten legislativa o reglamentaria omnipotencia judicial en lugar de
autonomia del legislador ordinaacuterio y por ultimo coexistecircncia de una constelacioacuten plural de
valores a veces tendencialmente contradictorios en lugar de homogeneidad ideoloacutegica150
certamente eu natildeo me considero um neoconstitucionalista De todas as afirmaccedilotildees do professor
espanhol a uacutenica de que natildeo discordo eacute aquela relacionada ao pluralismo de valores cujo re-
conhecimento aliaacutes estaacute longe de ser privileacutegio dos neoconstitucionalistas
Contudo eu assumo o roacutetulo sem constrangimentos se o neoconstitucionalismo for pensado
como uma teoria constitucional que sem descartar a importacircncia das regras e da subsunccedilatildeo
abra tambeacutem espaccedilo para os princiacutepios e para a ponderaccedilatildeo tentando racionalizar o seu uso
Se for visto como uma concepccedilatildeo que sem desprezar o papel protagonista das instacircncias de-
mocraacuteticas na definiccedilatildeo do Direito reconheccedila e valorize a irradiaccedilatildeo dos valores constitucio-
nais pelo ordenamento bem como a atuaccedilatildeo firme e construtiva do Judiciaacuterio para proteccedilatildeo e
promoccedilatildeo dos direitos fundamentais e dos pressupostos da democracia E acima de tudo se
for concebido como uma visatildeo que conecte o Direito com exigecircncias de justiccedila e moralidade
criacutetica151 sem enveredar pelas categorias metafiacutesicas do jusnaturalismo
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Certamente uma visatildeo equilibrada da Teoria do Direito com tais caracteriacutesticas pode contribu-
ir para o aperfeiccediloamento do Estado Democraacutetico de Direito no Brasil O mesmo jaacute natildeo digo de
concepccedilotildees mais radicais do neoconstitucionalismo que podem ser muito boas para arrancar
aplausos entusiasmados das plateacuteias nos seminaacuterios estudantis mas que natildeo se conciliam com
exigecircncias fundamentais de seguranccedila juriacutedica democracia e liberdade que satildeo alicerces de
qualquer bom constitucionalismo - novo ou velho
Curriacuteculo Resumido
Daniel Sarmento
Poacutes-Doutor pela Universidade de Yale (EUA) Procurador Regional da Repuacuteblica
Como citar este artigo
SARMENTO Daniel O neoconstitucionalismo no Brasil riscos e possibilidades Disponiacutevel em httpwwweditoraforumcombrsistconteudolista_conteudoaspFIDT_CONTEUDO=56993 acesso em 09032011 httpdireitoesubjetividadefileswordpresscom201008daniel-sarmento-o-neoconstitucionalismo-no-brasil1doc acesso em 30062012 Material da 1ordf aula da Disciplina Teoria Geral da Constituiccedilatildeo (I) ministrada no Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo Online em Direito Constitucional ndash Anhanguera-UNIDERP | REDE LFG
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1Sobre a teoria de princiacutepios no Brasil veja-se dentre outros Ana Paula de Barcellos A eficaacutecia juriacutedica dos princiacutepios constitu-
cionais o princiacutepio da dignidade da pessoa humana Rio de Janeiro Renovar 2002 Humberto Bergman Aacutevila Teoria dos princiacute-
pios da definiccedilatildeo agrave aplicaccedilatildeo dos princiacutepios juriacutedicos 2 ed Satildeo Paulo RT 2005 Jane Reis Gonccedilalves Pereira Interpretaccedilatildeo
constitucional e direitos fundamentais uma contribuiccedilatildeo ao estudo das restriccedilotildees aos direitos fundamentais na perspectiva da
teoria dos princiacutepios Rio de Janeiro Renovar 2006 Virgiacutelio Afonso da Silva O conteuacutedo essencial dos direitos fundamentais e a
eficaacutecia das normas constitucionais Satildeo Paulo Tese (concurso de Professor Titular de Direito Constitucional da USP)
2Veja-se em tons variados Lecircnio Luiz Streck Hermenecircutica juriacutedica e(m) crise uma exploraccedilatildeo hermenecircutica da construccedilatildeo do
direito Porto Alegre Livraria do Advogado 1999 Luiacutes Roberto Barroso (Org) A nova interpretaccedilatildeo constitucional ponderaccedilatildeo
direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas Rio de Janeiro Renovar 2003 Margarida Maria Lacombe Camargo Hermenecircutica e
argumentaccedilatildeo uma contribuiccedilatildeo ao estudo do direito Rio de Janeiro Renovar 2003 Inocecircncio Maacutertires Coelho Interpretaccedilatildeo
constitucional 2 ed Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2003 Ana Paula de Barcellos Ponderaccedilatildeo racionalidade e atividade
jurisdicional Rio de Janeiro Renovar 2005
3Sobre o fenocircmeno da constitucionalizaccedilatildeo do Direito confira-se os inuacutemeros artigos que compotildeem a coletacircnea organizada por
Claacuteudio Pereira de Souza Neto e por mim A constitucionalizaccedilatildeo do direito fundamentos teoacutericos e aplicaccedilotildees especiacuteficas Rio de
Janeiro Lumen Juris 2007
4Cfr na literatura constitucional brasileira Gisele Guimaratildees Cittadino Pluralismo direito e justiccedila distributiva elementos de
filosofia constitucional contemporacircnea Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 Oscar Vilhena Vieira A Constituiccedilatildeo e sua reserva de
justiccedila um ensaio sobre os limites materiais do poder de reforma Satildeo Paulo Malheiros 1999 Ricardo Lobo Torres (Org) A legi-
timaccedilatildeo dos direitos humanos Rio de Janeiro Renovar 2002 Claacuteudio Pereira de Souza Neto Teoria constitucional e democracia
deliberativa Rio de Janeiro Renovar 2006 Lecircnio Luiz Streck Verdade e consenso Constituiccedilatildeo hermenecircutica e teorias discursi-
vas Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 Samantha Chantal Dobrowolski A construccedilatildeo social do sentido da Constituiccedilatildeo na demo-
cracia contemporacircnea entre soberania popular e direitos humanos Rio de Janeiro Lumen Juris 2007 Aacutelvaro Ricardo de Souza
Cruz Hermenecircutica juriacutedica e(m) debate o constitucionalismo brasileiro entre a teoria do discurso e a ontologia existencial Belo
Horizonte Foacuterum 2007
5Sobre a judicializaccedilatildeo da poliacutetica no Brasil veja-se Luiz Werneck Vianna et al A judicializaccedilatildeo da poliacutetica e das relaccedilotildees sociais
no Brasil Rio de Janeiro Revan 1999 Giselle Cittadino Judicializaccedilatildeo da poliacutetica constitucionalismo democraacutetico e separaccedilatildeo de
poderes In Luiz Werneck Vianna (Org) A democracia e os trecircs poderes no Brasil Belo Horizonte UFMG 2002 p 17-42 Rogeacuterio
B Arantes Constitucionalism the expansion of Justice and the Judicialization of Poltics in Brazil In Rachel Sieder Line Schjol-
den Alan Angell The Judicialization of Politics in Latin America New York Palgrave Macmillan 2005 p 232-262 Luis Roberto
Barroso Judicializaccedilatildeo ativismo judicial e legitimidade democraacutetica Texto ineacutedito gentilmente cedido pelo autor
Para uma perspectiva comparativa veja-se Neal C Tate Tobjorn Vallinder (Ed) The Global Expansion of Judicial Power New
York New York University Press 1995 Alec Stone Sweet Governing with Judges Constitutional Politics in Europe Oxford Oxford
Univesity Press 2000 e em tom profundamente criacutetico Ran Hirschl Towards Juristocracy the Origins and Consequences of the
New Constitucionalism Cambridge Harvard University Press 2004
6Miguel Carbonell et al Neoconstitucionalismo(s) Madrid Trotta 2003 Mais recentemente o autor publicou nova coletacircnea
tambeacutem dedicada ao estudo do neoconstitucionalismo intitulada Teoria del Neoconstitucionalismo Ensayos escogidos Madrid
Trotta 2007
7O jurista argentino Carlos Santiago Nino por exemplo faleceu em 1993 quando ainda nem se empregava esta denominaccedilatildeo
8Cf Robert Alexy Teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica a teoria do discurso racional como teoria da fundamentaccedilatildeo juriacutedica Tradu-
ccedilatildeo de Zilda Hutchinson Schild Silva revisatildeo teacutecnica da traduccedilatildeo e introduccedilatildeo agrave ediccedilatildeo brasileira Claudia Toledo 2 ed Satildeo Paulo
Landy 2005 Luis Roberto Barroso Curso de direito constitucional contemporacircneo os conceitos fundamentais e a construccedilatildeo do
novo modelo Rio de Janeiro Saraiva 2008 p 306-350
9Cf Lecircnio Luiz Streck Verdade e consenso Op cit p 197-246
28
10Ronald Dworkin e Carlos Santiago Nino satildeo sem sombra de duacutevida autores liberais natildeo no sentido que se atribui ao termo no
Brasil - de adeptos de doutrina econocircmica favoraacutevel ao Estado miacutenimo e ao mercado - mas sim no sentido corrente na Filosofia
Poliacutetica que associa o liberalismo agrave defesa dos direitos individuais e da neutralidade do Estado em relaccedilatildeo agraves diversas concepccedilotildees
sobre a vida boa existentes na sociedade Veja-se neste sentido Ronald Dworkin A Matter of Principle Cambridge Harvard
University Press 1985 p 181-236 Carlos Santiago Nino La constitucioacuten de la Democracia Deliberativa Barcelona Gedisa 1997
p 70-100
11Lecircnio Luiz Streck que se alinha ao neoconstitucionalismo defende posturas tipicamente comunitaristas como o papel da Consti-
tuiccedilatildeo na definiccedilatildeo de modelos de vida boa para orientaccedilatildeo da vida social e da accedilatildeo individual Cf Jurisdiccedilatildeo constitucional e
hermenecircutica uma nova criacutetica do direito 2 ed Rio de Janeiro Forense 2004 p 95-288
12Antonio Cavalcanti Maia um dos mais ardorosos defensores do neoconstitucionalismo no paiacutes eacute tambeacutem procedimentalista e
adepto das teorias juriacutedicas de Juumlrgen Habermas Veja-se neste sentido o seu denso texto Nos vintes anos da carta cidadatilde do
poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm (Coord) Vinte
anos da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 p 117-168 em que esta sua dupla filiaccedilatildeo intelectual eacute
explicitada
13Segundo Miguel Carbonell o neoconstitucionalismo desdobra-se em trecircs planos de anaacutelise que se conjugam o dos textos consti-
tucionais que se tornaram mais substantivos e incorporaram amplos elencos de direitos fundamentais o das praacuteticas judiciais que
passaram a recorrer a princiacutepios constitucionais agrave ponderaccedilatildeo e a meacutetodos mais flexiacuteveis de interpretaccedilatildeo sobretudo na aacuterea de
direitos fundamentais e o dos desenvolvimentos teoacutericos de autores que com as suas ideacuteias ajudaram natildeo soacute a compreender os
novos modelos constitucionais mas tambeacutem participaram da sua proacutepria criaccedilatildeo Cf Miguel Carbonell Neoconstitucionalismo
elementos para una definicioacuten In Eduardo Ribeiro Moreira Mauricio Pugliesi 20 anos da Constituiccedilatildeo brasileira Satildeo Paulo Sarai-
va 2009 p 197-208
14No mesmo sentido Luis Roberto Barroso Neoconstitucionalismo e Constitucionalizaccedilatildeo do direito o triunfo tardio do direito
constitucional do Brasil In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento A constitucionalizaccedilatildeo do direito fundamentos teoacuteri-
cos e aplicaccedilotildees especiacuteficas Rio de Janeiro Lumen Juris 2007 p 203-250
15Cf Carlos Bernal Pulido El Derecho de los Derechos Bogotaacute Universidad Externado de Colocircmbia 2006 Manoel Jose Cepeda
Espinosa Judicialization of Politics in Colombia the old and the new In Rachel Sieder Line Schonjen Alan Angell The Judiciali-
zation of Politics in Latin America Op cit p 67-104 Rodrigo Uprimmy Mauriacutecio Garcia-Villegas Tribunal Constitucional e eman-
cipaccedilatildeo social na Colocircmbia In Boaventura de Souza Santos Democratizar a democracia os caminhos da democracia participativa
Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2002 p 297-339
16Cf Catalina Smulovitz Petitioning and Creating Rights Judicialization in Argentina In Rachel Sieder Line Scjolden Alan Angell
The Judicialization of Politics in Latin America Op cit p 161-185
17Cf Miguel Carbonell Los Derechos Fundamentales en Meacutexico 2 ed Meacutexico Porruacutea 2006 Pilar Domingo The Changing Political
Role of the Judiciary in Meacutexico In Rachel Sieder Line Scjolden Alan Angell The Judicialization of Politics in Latin Ameacuterica Op
cit p 21-46
18Cf Heinz Klug South Aacutefrica From Constitucional Promise to Social Transformation In Jeffrey Goldsworthy Interpreting Consti-
tutions A Comparative Study Oxford Oxford University Press 2006 p 266-320
19Cf S P Sathe Iacutendia From Positivism to Structuralism In Jeffrey Goldsworthy Op cit p 215-265
20Veja-se a propoacutesito Gustavo Zagrebelsky Il Diritto Mite Torino Einaudi 1992 p 57-96
21Cf Eduardo Garciacutea de Enterriacutea La Constitucioacuten como Norma y el Tribunal Constitucional 3 ed Madrid Civitas 1985 p 41
22Na Alemanha a mudanccedila ocorreu sob a vigecircncia da Lei Fundamental adotada em 1949 e foi fortemente impulsionada pela
jurisprudecircncia do Tribunal Constitucional do paiacutes que construiu teorias importantes como a da Constituiccedilatildeo como uma ordem de
valores em cujo centro situa-se o princiacutepio da dignidade humana que se irradia por todo o ordenamento Veja-se a propoacutesito
Dieter Grimm Human Rights and Judicial Review in Germany In David M Beatty (Org) Human Rights and Judicial Review A
Comparative Perspective Dodrecht Martin Urjhoff 1994 p 267-295
23Na Itaacutelia as mudanccedilas se deram sob a eacutegide da atual Constituiccedilatildeo editada em 1947 mas soacute apoacutes o funcionamento da Corte
Constitucional que se deu em 1956 Ateacute entatildeo a Corte de Cassaccedilatildeo composta por juiacutezes recrutados ainda no periacuteodo do fascismo
29
era provisoriamente encarregada da guarda da Constituiccedilatildeo o que fazia de forma muito tiacutemida no mais das vezes negando eficaacute-
cia juriacutedica agraves normas constitucionais sob o argumento de que seriam programaacuteticas Veja-se a propoacutesito Ricardo Guastini A
constitucionalizaccedilatildeo do ordenamento juriacutedico e a experiecircncia italiana In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento A
constitucionalizaccedilatildeo do direito fundamentos teoacutericos e aplicaccedilotildees especiacuteficas Op cit p 271-294
24Cf No modelo do constitucionalismo norte-americano entende-se desde os primoacuterdios que a Constituiccedilatildeo eacute autecircntica lei e que
o Judiciaacuterio pode invalidar as decisotildees legislativas que a contrariem apesar do controle de constitucionalidade natildeo estar expres-
samente previsto no texto constitucional daquele paiacutes Esta ideacuteia que jaacute estava assentada no Federalista n 78 escrito por Ale-
xander Hamilton antes da aprovaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo foi posta em praacutetica pela primeira vez contra lei federal no ceacutelebre caso
Marbury v Madison julgado em 1803 pelo juiz Marshall Veja-se a propoacutesito Paul Brest Sanford Levinson Jack Balkin Akhil Reed
Amar Processes of Constitutional Decisionmaking Cases and Materials New York Aspen Publishers 2000 p 79-103
A versatildeo mais convencional do modelo constitucional norte-americano enfatiza a importacircncia central do Judiciaacuterio na atualizaccedilatildeo
do sentido da Constituiccedilatildeo do paiacutes Contudo esta leitura histoacuterica eacute hoje objeto de intensa disputa Em sentido contraacuterio a tal
posiccedilatildeo sustentando uma menor relevacircncia do Judiciaacuterio no desenvolvimento histoacuterico do constitucionalismo americano veja-se
por exemplo Stephen M Griffin American Constitutionalism From Theory to Politics New Jersey Princeton University Press
1996 p 88-139
25Cf Luis Prietro Sanchiacutes Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales Madrid Trotta 2003 p 107-117
26Cf Daniel Sarmento Ubiquumlidade constitucional Os dois lados da moeda In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento
(Coord) A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 113-148
27Na verdade a reaccedilatildeo contra o formalismo juriacutedico na Europa eacute bem anterior ao advento do constitucionalismo do 2ordm poacutes-guerra
remontando ao final do seacuteculo XIX Veja-se a propoacutesito Constantin M Stamatis Argumenter en Droit Une theacuteorie critique de
largumentation juridique Paris Publisud 1995 p 34-50 Antonio Manoel Hespanha Panorama histoacuterico da cultura juriacutedica euro-
peacuteia Lisboa Publicaccedilotildees Europa-Ameacuterica 1997 p 196-235
28Haacute vasta literatura sobre a ponderaccedilatildeo mas a obra mais influente sobre o tema eacute certamente o livro de Robert Alexy Teoria dos
direitos fundamentais Traduccedilatildeo de Virgiacutelio Afonso da Silva Satildeo Paulo Malheiros 2008 No cenaacuterio norte-americano veja-se a
anaacutelise densa e criacutetica de T Alexander Aleinikoff Constitucional Law in the Age of Balancing Yale Law Journal n 96 p 943-
1005 1987 No Brasil cfr Daniel Sarmento A ponderaccedilatildeo de interesses na Constituiccedilatildeo Federal Rio de Janeiro Lumen Juris
2000 Ana Paula de Barcellos Ponderaccedilatildeo racionalidade e atividade jurisdicional Op cit
29A bibliografia sobre o princiacutepio da proporcionalidade eacute vastiacutessima Veja-se a propoacutesito as densas anaacutelises de Carlos Bernal Puli-
do El Principio de Proporcionalidad y los Derechos Fundamentales Madrid Centro de Estuacutedios Constitucionales 2003 e no Brasil
de Jane Reis Gonccedilalves Pereira Interpretaccedilatildeo constitucional e direitos fundamentais Rio de Janeiro Renovar 2006 p 297-382
30Cf Chaiumlm Perelman Eacutetica e direito Traduccedilatildeo de Maria Ermantina Galvatildeo G Perira Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 p 361-684
Robert Alexy Teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica Op cit Friedrich Muller Discours de la Meacutethode Juridique Traduccedilatildeo de Olivier
Jouanjan Paris PUF 1993 Manuel Atienza Traacutes la Justicia Una Introduccioacuten al Derecho y al Razonamiento Juriacutedico Barcelona
Ariel 1995 Neil MacCormick Argumentaccedilatildeo juriacutedica e teoria do direito Traduccedilatildeo de Waldeacutea Barcellos Satildeo Paulo Martins Fontes
2006 Klaus Guumlnther Teoria da argumentaccedilatildeo no direito e na moral justificaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Claacuteudio Molz Satildeo Pau-
lo Landy 2004
31Cf Martin Shapiro Alec Stone Sweet On Law Politics and Judicialization New York Oxford University Press p 136-208
32Contudo deve-se admitir na linha de Paolo Comanducci que eacute possiacutevel reconhecer as mudanccedilas em questatildeo e propor novas
teorias que sejam adequadas a elas sem defendecirc-las Esta seria nas palavras do autor italiano a diferenccedila entre o neoconstitu-
cionalismo teoacuterico e o neoconstitucionalismo ideoloacutegico que natildeo apenas constroacutei teorias mais compatiacuteveis com os novos fenocirc-
menos mas vai aleacutem sustentando a sua legitimidade e propugnando pelo seu aprofundamento e expansatildeo Veja-se a propoacutesito
Paulo Comanducci Formas de neoconstitucionalismo Un anaacutelisis metateoacuterico In Miguel Carbonell (Ed) Neoconstitucionalis-
mo(s) Op cit p 75-98 Como reconhece o proacuteprio autor tal distinccedilatildeo baseia-se em uma semelhante acerca do positivismo
30
formulada por Norberto Bobbio que fala em positivismo teoacuterico ideoloacutegico e metodoloacutegico Cf Norberto Bobbio O positivismo
juriacutedico liccedilotildees de filosofia do direito Traduccedilatildeo e notas de Marcio Pugliesi et al Satildeo Paulo Iacutecone 1995 p 233-239
33Cf Ronald Dworkin Is Law a Sistem of Rules In Ronald Dworkin (Ed) Philosophy of Law Oxford Oxford University Press 1971
Robert Alexy Constitucionalismo discursivo Traduccedilatildeo de Luiz Afonso Heck Porto Alegre Livraria do Advogado 2007
34Cf Robert Alexy Derecho y Razoacuten Praacutectica Meacutexico Distribuiciones Fontamara 1993 Aulis Aarnio Lo Racional como Razonable
Traduccedilatildeo de Ernesto Garzoacuten Valdeacutes Madrid Centro de Estuacutedios Constitucionales 1991
35Cf Aharon Barak The Judge in a Democracy New Jersey Princeton University Press 2006 p 213-260 Gustavo Zagrebelsky Il
Diritto Mite Op cit p 179-217
36Confronte-se com perspectivas diferentes Luigi Ferrajoli O Estado de direito entre passado e futuro In Pietro Costa Danilo
Zolo (Org) Estado de direito histoacuteria teoria criacutetica Traduccedilatildeo de Carlo Alberto Dastoli Satildeo Paulo Martins Fontes 2006 p 419-
464 Elias Dias Estado de Derecho y Sociedad Democraacutetica Madrid Taurus 1998 Ronald Dworkin Introduction The Moral Reading
and the Majoritarian Premise In Freedoms Law The moral reading of the American Constitution Cambridge Harvard University
Press 1996 p 01-38 Gustavo Zagrebelsky La Crucifixioacuten y la Democracia Barcelona Ariel 1996 Claacuteudio Pereira de Souza Neto
Teoria constitucional da democracia deliberativa Op cit
37Cf Ronald Dworkin Introduction The Moral Reading and the Majoritarian Premise Op cit
38Cf Luigi Ferrajoli El Garantismo y la Filosofia del Derecho Bogotaacute Universidad Externado de Colocircmbia 2000
39Cf Luis Pietro Sanchis Sobre el Neoconstitucionalismo y sus Implicaciones In Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales
Op cit p 101-135
40Cf Ricardo Guastini Sur la Validiteacute de la Constitution du Point de Vue du Positivisme Juridique In Michel Troper Lucien Jaume
(Dir) 1789 et LInvention de la Constitution Paris LGDJ 1994 p 216-225
41Cf Suzana Pozzolo Neoconstituzionalismo e Positivismo Giuridico Torino Giapppicheli 2001
42Cf Ronald Dworkin Law and Morals In Justice in Robes Cambridge Harvard University Press 2006 p 01-35
43Cf Robert Alexy Derecho y Moral In La Institucionalizacioacuten de la Justicia Op cit p 17-30
44Cf Carlos Santiago Nino Eacutetica y Derechos Humanos 2 ed Buenos Aires Astrea 1989 p 11-48
45Cf Gustav Radbruch Cinco minutos de filosofia do direito In Filosofia do direito Traduccedilatildeo de L Cabral de Moncada 6 ed
Coimbra Armecircnio Amado 1979 p 414-418 Para uma densa problematizaccedilatildeo da foacutermula de Radbruch veja-se Thomas da Rosa
Bustamante Poacutes-Positivismo o argumento da injusticcedila aleacutem da Foacutermula de Radbruch In Teoria do direito e decisatildeo racional
temas de teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica Rio de Janeiro Renovar 2008
46Cf Robert Alexy La Institucionalizacioacuten de la Justicia Traduccedilatildeo de Joseacute Antonio Seone et al Granada Comares 2005 p 31-
54
47Sobre o tema cfr Alfonso Garcia Figueroa Princiacutepios e direitos fundamentais In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmen-
to A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 03-34
48O texto mais importante do positivismo inclusivo eacute o poacutes-escrito de Herbert LA Hart agrave sua obra magna The Concept of Law em
que ele responde agraves criacuteticas ao seu pensamento que Ronald Dworkin lhe endereccedilara O autor inglecircs faleceu antes de terminar o
texto mas ele foi publicado postumemente depois de ser editado por Joseph Raz Peneacutelope Bulloch Veja-se Herbert LA Hart
Poacutes-escrito In O conceito de direito Traduccedilatildeo de A Ribeiro Mendes 2 ed 1994 p 299-339 Tambeacutem na linha do positivismo
inclusivo veja-se Gregorio Peces- Barba Derechos Sociales y Positivismo Juriacutedico Escritos de Filosofia Poliacutetica y Juriacutedica Madrid
Dykinson 1999 p 83-90 Jules Coleman The Practice of Principle In defense of a pragmatist approach do legal theory Oxford
Oxford University Press p 103-120 Para uma resenha dos tipos de positivismo no debate contemporacircneo confira-se Dimitri Di-
moulis Positivismo juriacutedico introduccedilatildeo a uma teoria do direito e defesa do pragmatismo juriacutedico-politico Satildeo Paulo Meacutetodo
2006 p 65-166
49Cf Antonio Cavalcanti Maia Nos vinte anos da Constituiccedilatildeo do poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo Op cit Claacuteudio Perei-
ra de Souza Neto A teoria constitucional e seus lugares especiacuteficos notas sobre o aporte reconstrutivo Revista de Direito do
Estado n 1 p 89-104 jan mar 2006 Daniel Sarmento Interpretaccedilatildeo constitucional preacute-compreensatildeo e capacidades institu-
cionais do inteacuterprete In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binebojm Vinte anos da Constituiccedilatildeo de 1988
Op cit p 311-322
31
50Cf Juumlrgen Habermas Escritos sobre Moralidad y Eticidad Traduccedilatildeo de Manuel Jimenez Redondo Barcelona Paidoacutes 1991 p
131-172
51Sobre o comunitarismo haacute extensa literatura Dois textos claacutessicos deste linha de pensamento satildeo Michael Walzer The Communi-
tarian Critique of Liberalism In Politics and Passion New Haven Yale University Press 2004 p 141-163 Charles Taylor The
Procedural Republic and the Unencumbered Self In Robert Goodin Philip Pettit (Ed) Contemporary Political Philosophy 2 ed
Oxford Oxford University Press 2002 p 2462-256 Sobre a penetraccedilatildeo ainda que muitas vezes natildeo consciente das posiccedilotildees do
comunitarismo no constitucionalismo brasileiro veja-se Gisele Cittadino Pluralismo direito e justiccedila distributiva Op cit p
43-74
52Sobre o construtivismo eacutetico corrente filosoacutefica que sustenta a existecircncia de posiccedilotildees certas e erradas na Moral bem como a
possibilidade de encontraacute-las e fundamentaacute-las racionalmente veja-se Carlos Santiago Nino El Constructivismo Eacutetico Madrid
Centro de Estudios Constitucionales 1989
53O fenocircmeno tambeacutem se reproduz na teoria constitucional norte-americana hegemocircnica cf Keith Wittington Constitutional Con-
struction Divided Powers and Constitutional Meaning Cambridge Harvard University Press 1999 p 01-03
54A imagem do Poder Judiciaacuterio como um guardiatildeo de promessas eacute explorada e criticada numa obra importante da teoria juriacutedica
francesa contemporacircnea Antoine Garapon Le Gardien de Promesses Le juge et la democratie Paris Odile Jacob 1996
55Neste sentido o eloquumlente encerramento do Curso de Direito Constitucional Contemporacircneo de Luis Roberto Barroso o consti-
tucionalismo democraacutetico eacute a utopia que nos restou Uma feacute racional que ajuda a acreditar no bem e na justiccedila ainda quando natildeo
estejam ao alcance dos olhos (Op cit p 400)
56Cf Nico Poulantzas State Power Socialism London new Left Books 1978 Alan Hunt Marxist Theory of Law In Dennis Patter-
son (Ed) A Companion to Philosophy of Law and Legal Theory Malden Blackwell Publishers 1996 p 355-367
57Cf David Kairys (Ed) The Politics of Law A Progressive Critique New York Pantheon Books 1982 Roberto Mangabeira Unger
The Critical Legal Studies Movement Cambridge Harvard University Press 1986
58Cf Plauto Faraco Azevedo Criacutetica agrave dogmaacutetica e hermenecircutica juriacutedica Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1989 Luiz Fernando
Coelho Teoria criacutetica do direito 2 ed Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1991
59Natildeo haacute como abordar aqui as relaccedilotildees entre as inuacutemeras correntes do poacutes-modernismo e o Direito Constitucional Veja-se a
propoacutesito Niklas Luhman La Constituzione como Acquisizione Evolutiva In Gustavo Zagrebelsky Piacuteer Paolo Portinaro Joumlrg Lu-
ther Il Futuro della Costituzione Torino Einaudi 1996 p 83-128 Joseacute Joaquim Gomes Canotilho Civilizaccedilatildeo do direito constitu-
cional ou constitucionalizaccedilatildeo do direito civil a eficaacutecia dos direitos fundamentais na ordem juriacutedico-civil no contexto do direito
poacutes-moderno Cadernos de Direito Constitucional e Ciecircncia Poliacutetica n 15 p 07-16 1996 Eduardo Capellari A crise da moderni-
dade e a Constituiccedilatildeo Rio de janeiro Ameacuterica Juriacutedica 2004 Daniel Sarmento Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas 2 ed
Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 p 36-45
60Para Jean-Franccedilois Lyotard uma das caracteriacutesticas centrais do pensamento poacutes-moderno de que eacute expoente eacute a desconfianccedila
em relaccedilatildeo agraves metanarrativas - construccedilotildees abstratas grandiosas e totalizadoras tiacutepicas da Filosofia Moderna como direitos
humanos luta de classes e emancipaccedilatildeo pelo uso da razatildeo Cf Lyotard A condiccedilatildeo poacutes-moderna Traduccedilatildeo de Ricardo Correcirca
Barbosa 5 ed 1998 p16
61Cf Luiz Werneck Viana O terceiro poder na carta de 1988 e a tradiccedilatildeo republicana mudanccedila e conservaccedilatildeo In Ruben George
Oliven Marcelo Gildo Marccedilal Branda A Constituiccedilatildeo de 1988 na vida brasileira Satildeo Paulo Aderaldo e Rotshild 2008 p 91-109
62Cf Paulo Ricardo Schier Filtragem constitucional Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1999
63A expressatildeo foi cunhada por Claacuteudio Pereira de Souza Neto Fundamento e normatividade dos direitos fundamentais uma recons-
truccedilatildeo teoacuterica agrave luz do princiacutepio democraacutetico Arquivos de Direitos Humanos n 4 p 17-61 2003
64Cf Luis Roberto Barroso O direito constitucional e a efetividade de suas normas 3 ed Rio de Janeiro Renovar 1996
65Cf Clegravemerson Merlin Clegraveve A teoria constitucional e o direito alternativo para uma dogmaacutetica constitucional emancipatoacuteria In
Uma vida dedicada ao direito homenagem a Carlos Henrique de Carvalho Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1995 p 34-53
66Ressalte-se poreacutem que antes de 88 alguns juristas jaacute defendiam a forccedila normativa da Constituiccedilatildeo como o Prof Joseacute Afonso da
Silva Eacute de 1968 a primeira ediccedilatildeo da sua obra claacutessica A aplicabilidade das normas constitucionais que adotava claramente esta
32
perspectiva Todavia pelo clima nada propiacutecio ao constitucionalismo que reinava por aqui ateacute a nossa redemocratizaccedilatildeo a louvaacute-
vel pregaccedilatildeo dele e de outros juristas em prol da efetivaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo natildeo chegou a render maiores frutos
67Deve-se assinalar ainda a influecircncia marcante do novo constitucionalismo ibeacuterico neste movimento que tambeacutem pugnava pela
atribuiccedilatildeo de forccedila normativa agraves ambiciosas constituiccedilotildees de Portugal e Espanha entatildeo recentemente elaboradas apoacutes o fim de
experiecircncias autoritaacuterias naqueles paiacuteses A tiacutetulo de exemplo mencione-se a penetraccedilatildeo no paiacutes do pensamento do Professor de
Coimbra Joseacute Joaquim Gomes Canotilho especialmente da sua teoria sobre a Constituiccedilatildeo dirigente que ele posteriormente reviu
(cf J J Gomes Canotilho Constituiccedilatildeo dirigente e vinculaccedilatildeo ao legislador contributo para a compreensatildeo das normas constitu-
cionais programaacuteticas 2 ed Coimbra Coimbra 2001 - especialmente o prefaacutecio desta segunda ediccedilatildeo que daacute conta da mudanccedila
de posicionamento) bem como a difusatildeo das liccedilotildees do Professor Eduardo Garciacutea de Enterriacutea (cf La Constitucioacuten como Norma y el
Tribunal Constitucional Madrid Civitas 1981)
68Segundo a avaliaccedilatildeo atual de Luis Roberto Barroso personagem central do movimento o positivismo constitucional que deu
impulso ao movimento natildeo importava em reduzir o direito agrave norma mas sim em elevaacute-la a esta condiccedilatildeo pois ateacute entatildeo ele
havia sido menos do que norma (Curso de direito constitucional contemporacircneo Op cit p 224)
69Paulo Bonavides Curso de direito constitucional 5 ed Satildeo Paulo Malheiros 1994
70Eros Roberto Grau A ordem econocircmica na Constituiccedilatildeo de 88 interpretaccedilatildeo e criacutetica Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1996
71No acircmbito da Poacutes-Graduccedilatildeo em Direito da UERJ em que estou inserido desde 1997 primeiro como aluno e a partir de 2003 como
professor o Ricardo Lobo Torres teve papel central na difusatildeo do pensamento destes e de outros filoacutesofos entre os estudantes e o
proacuteprio corpo docente
72Cf Lecircnio Luiz Streck Hermenecircutica juriacutedica e(m) crise Op cit Eros Roberto Grau Ensaio e discurso sobre a interpreta-
ccedilatildeoaplicaccedilatildeo do direito Satildeo Paulo Malheiros 2002
73Nesta linha veja-se as obras que compotildeem a coletacircnea Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Direitos sociais funda-
mentos judicializaccedilatildeo e direitos sociais em espeacutecie Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 Ricardo Lobo Torres O miacutenimo existencial
e os direitos fundamentais Revista de Direito Administrativo n 177 p 20-49 1989 Ingo Wolfgang Sarlet A eficaacutecia dos direitos
fundamentais 9 ed Porto Alegre Livraria do Advogado 2008 Ana Paula de Barcellos A eficaacutecia juriacutedica dos princiacutepios o princiacute-
pio da dignidade da pessoa humana Op cit Marco Mazzeli Gouveia O controle judicial das omissotildees administrativas Rio de
Janeiro Forense 2003 Andreacuteas Krell Direitos sociais e controle judicial no Brasil e Alemanha os (des)caminhos de um direito
constitucional comparado Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2002
74Cf Gustavo Tepedino Temas de direito civil Rio de Janeiro Renovar 1999 Luiz Edson Fachin Estatuto juriacutedico do patrimocircnio
miacutenimo Rio de Janeiro Renovar 2001 Maria Celina Bodin de Moraes Danos agrave pessoa humana uma leitura civil-constitucional dos
danos morais Rio de Janeiro Renovar 2003 Teresa Negreiros Fundamentos para uma interpretaccedilatildeo constitucional do princiacutepio
da boa-feacute Rio de Janeiro Renovar 1998 Anderson Schreiber A proibiccedilatildeo do comportamento contraditoacuterio Rio de Janeiro Reno-
var 2005
75Cf Luciano Feldens A Constituiccedilatildeo penal a dupla face da proporcionalidade no controle das lei penais Porto Alegre Livraria do
Advogado 2005 Luis Carlos dos Santos Gonccedilalves Mandados expressos de criminalizaccedilatildeo e a proteccedilatildeo de direitos fundamentais na
Constituiccedilatildeo Brasileira de 1988 Belo Horizonte Foacuterum 2007
76Cf Gustavo Binenbojm Uma teoria do direito administrativo direitos fundamentais democracia e constitucionalizaccedilatildeo Rio de
Janeiro Renovar 2006 Alexandre dos Santos Aragatildeo Floriano de Azevedo Marques (Coord) Direito administrativo e seus novos
paradigmas Belo Horizonte Foacuterum 2008
77Cf Gustavo Binenbojm A nova jurisdiccedilatildeo constitucional brasileira legitimidade democraacutetica e instumentos de realizaccedilatildeo Rio de
Janeiro Renovar 2001 Claacuteudio Pereira de Souza Neto Jurisdiccedilatildeo constitucional democracia e racionalidade praacutetica Rio de
Janeiro Renovar 2002 Joseacute Adeacutercio Leite Sampaio A Constituiccedilatildeo reinventada pela jurisdiccedilatildeo constitucional Belo Horizonte Del
Rey 2002 Lecircnio Luiz Streck Jurisdiccedilatildeo constitucional e hermenecircutica Porto Alegre Livraria do Advogado 2002 Aacutelvaro Ricardo
de Souza Cruz Jurisdiccedilatildeo constitucional democraacutetica Belo Horizonte Del Rey 2004
78A expressatildeo dificuldade contramajoritaacuteria eacute de um claacutessico da teoria constitucional norte-americana Alexander Bickel La Cons-
titucioacuten como Norma y el Tribunal Constitucional 2 ed New Haven Yale University Press 1986
33
79Em siacutentese apertada o procedimentalismo sustenta que natildeo eacute papel da jurisdiccedilatildeo constitucional tutelar valores substantivos mas
apenas proteger os pressupostos necessaacuterios ao bom funcionamento da democracia Jaacute o substancialismo reconhece a legitimidade
da atuaccedilatildeo jurisdicional em favor da garantia e promoccedilatildeo de valores substantivos presentes na Constituiccedilatildeo O debate entre o
procedimentalismo identificado com as ideacuteias de autores como John Hart Ely e Juumlrgen Habermas e o substancialismo defendido
por teoacutericos como Ronald Dworkin e Laurence Tribe eacute reproduzido em praticamente toda a literatura contemporacircnea que trata de
Teoria ou Filosofia Constitucional Veja-se a propoacutesito a densa obra de Claacuteudio Ari Mello Democracia constitucional e direitos
fundamentais Porto Alegre Livraria do Advogado 2004
80Neoconstitucionalismo e constitucionalizaccedilatildeo do direito o triunfo tardio do direito constitucional no Brasil Op cit
81A crise paradigmaacutetica do direito no contexto da resistecircncia positivista ao (neo)constitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza
Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm Vinte anos da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Op cit p 203-228
82Nos vinte anos da carta cidadatilde do poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo Op cit
83Neoconstitucionalismo direitos fundamentais e controle de poliacuteticas puacuteblicas In Daniel Sarmento Flaacutevio Galdino (Org) Direitos
fundamentais estudos em homenagem ao prof Ricardo Lobo Torres Rio de Janeiro Renovar 2006 p 31-60
84Direitos humanos legitimidade e constitucionalismo In Daniel Sarmento Flaacutevio Galdino (Org) Direitos fundamentais estudos
em homenagem ao Prof Ricardo Lobo Torres Op cit p325-350
85Novos desafios agrave filtragem constitucional no momento do neoconstitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sar-
mento A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 251-270
86Neoconstitucionalismo a invasatildeo da Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Meacutetodo 2008
87Neoconstitucionalismo e positivismo juriacutedico Satildeo Paulo Landy 2006
88Teoria do direito e argumentaccedilatildeo racional temas de teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica op cit p 141-240
89Uma visatildeo criacutetica do neoconstitucionalismo In George Salomatildeo Leite Glauco Salomatildeo Leite Constituiccedilatildeo e efetividade constitu-
cional Salvador JusPodium 2008 p 43-60
90Neoconstitucionalismo entre a Ciecircncia do direito e o direito da ciecircncia In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento
Gustavo Binenbojm Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 p 187-202
91Cf Peticcedilatildeo 1246 MSSC julgada em 31011997 (obrigaccedilatildeo do Estado de realizar transplante de ceacutelulas mioblaacutesticas para salvar
a vida de crianccedila) Agravo de Instrumento no Recurso Extraordinaacuterio 271286RS DJU 24 nov 2000 (entrega de medicamentos
para portadores de HIV) e Agravo de Instrumento do Recurso Extraordinaacuterio nordm 410715-5 julgado em 22112005 (obrigaccedilatildeo de
fornecimento de vagas para educaccedilatildeo infantil pelo municiacutepio com atendimento em creches e preacute-escola)
92Recursos Extraordinaacuterios nordms 158215-4RS 161243-6DF 201819RJ
93Cf Mandado de Injunccedilatildeo 670ES Rel Min Gilmar Mendes julgado em 25102007 em que o STF revendo orientaccedilatildeo anterior
deu eficaacutecia normativa agrave sentenccedila proferida no mandado de injunccedilatildeo No caso decidiuse que ateacute o advento de lei regulamentado-
ra sobre a greve no serviccedilo puacuteblico o direito de greve poderia ser exercido obedecendo-se os limites impostos pela Lei 778389
que trata dos movimentos paredistas em serviccedilos essenciais no setor privado
94Sobre a tendecircncia agrave superaccedilatildeo da ideacuteia do Judiciaacuterio como legislador negativo na jurisdiccedilatildeo constitucional veja-se Joseacute Adeacutercio
Leite Sampaio A Constituiccedilatildeo reinventada pela jurisdiccedilatildeo constitucional Belo Horizonte Del Rey 2002 p 203-248
95Eacute lugar-comum dentre os autores que tratam da questatildeo associar tais mudanccedilas agrave pluralizaccedilatildeo das vozes na interpretaccedilatildeo consti-
tucional tema em que a referecircncia essencial no cenaacuterio germacircnico eacute Peter Haumlberle Veja-se a propoacutesito Peter Haumlberle Herme-
necircutica constitucional A sociedade aberta dos inteacuterpretes da Constituiccedilatildeo contribuiccedilatildeo para a interpretaccedilatildeo pluralista e procedi-
mental da Constituiccedilatildeo Traduccedilatildeo de Gilmar Ferreira Mendes Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1997 Veja-se ainda na doutrina
brasileira Gustavo Binenbojm A dimensatildeo do Amicus Curiae no processo constitucional brasileiro In Temas de direito constitu-
cional e administrativo Rio de Janeiro Renovar 2008 p 165-190
96ADIN 3510DF Relator Ministro Carlos Ayres Britto A accedilatildeo proposta contra o art 5ordm da Lei de Biosseguranccedila impugnava a auto-
rizaccedilatildeo de pesquisas com embriotildees humanos resultantes de fertilizaccedilatildeo in vitro que fossem inviaacuteveis ou estivessem congelados haacute
mais de trecircs anos A accedilatildeo foi julgada totalmente improcedente por 6 votos a 5
97ADPF nordm 54 A accedilatildeo que tem como relator o Ministro Marco Aureacutelio ainda natildeo foi julgada mas em seu bojo jaacute ocorreram diversas
audiecircncias puacuteblicas que provocaram intensa participaccedilatildeo da sociedade civil e grande interesse na miacutedia
34
98ADPF nordm 132 Relator Ministro Carlos Ayres Britto A accedilatildeo ainda foi julgada
99Mandados de Seguranccedila 26602DF 26603DF e 26604DF Informativo STF n 482
100Recurso Extraordinaacuterio 197917SP Rel p acoacuterdatildeo Min Ceacutesar Peluso DJU 18 fev 2005
101O livro de Alberto Carlos Almeida A cabeccedila do brasileiro lanccedilado em 2007 conteacutem pesquisas feitas sobre uma acuteseacuterie de temas
com pessoas de todas as classes sociais e regiotildees do paiacutes Uma das pesquisas eacute relativa agrave avaliaccedilatildeo das instituiccedilotildees Dentre as treze
avaliadas as duas que obtiveram menor aprovaccedilatildeo foram os partidos poliacuteticos (avaliaccedilatildeo positiva de 28 dos entrevistados) e o
Congresso (avaliaccedilatildeo positiva de 36 dos entrevistados) Cf Antonio Carlos Almeida A cabeccedila do brasileiro Rio de Janeiro Re-
cord 2007 p 187
102Cf Luis Roberto Barroso Judicializaccedilatildeo ativismo judicial e legitimidade democraacutetica Texto ainda ineacutedito gentilmente cedido
pelo autor
103Humberto Aacutevila por exemplo formula outra criacutetica importante de que o neoconstitucionalismo seria inadequado agrave realidade
constitucional brasileira jaacute que privilegia os princiacutepios e a Carta de 88 seria muito mais regulatoacuteria do que principioloacutegica (Neo-
constitucionalismo entre a ciecircncia do direito e o direito da ciecircncia Op cit p 188-192)
104Contudo natildeo eacute razoaacutevel estender esta criacutetica ao ponto de negar o caraacuteter democraacutetico da atuaccedilatildeo judicial Como ressaltou
Eugenio Rauacutel Zaffaroni uma instituiccedilatildeo natildeo eacute democraacutetica unicamente porque natildeo provenha de eleiccedilatildeo popular porque nem tudo
o que proveacutem desta origem eacute necessariamente aristocraacutetico Uma instituiccedilatildeo eacute democraacutetica quando seja funcional para o sistema
democraacutetico quer dizer quando seja necessaacuteria para a sua continuidade como ocorre com o judiciaacuterio (Poder judiciaacuterio crise
acertos e desacertos Traduccedilatildeo de Juarez Tavares Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1995 p 43)
105Cf Robert A Dahl Sobre a democracia Traduccedilatildeo de Beatriz Sidou Brasiacutelia UNB 2001 p 97-113 Juumlrgen Habermas Popular
Sovereignity as Procedure In James Bonham William Rehg Deliberative Democracy Cambridge The MIT Press 1997 p 35-66
106A questatildeo da tensatildeo e sinergia simultacircneas entre constitucionalismo e democracia eacute um dos debates mais fecundos da Teoria
Poliacutetica e da Filosofia Constitucional que tem atravessado o tempo desde o advento do constitucionalismo moderno no seacuteculo
XVIII Veja-se no debate contemporacircneo Jeremy Waldron Preocommitment and Disagreement In Larry Alexander Constitu-
cionalism Philosophical Foundations Cambridge Cambridge University Press 1998 p 271-299 Juumlrgen Habermas O Estado demo-
craacutetico de direito uma amarraccedilatildeo paradoxal de princiacutepios contraditoacuterios In Era das transiccedilotildees Traduccedilatildeo de Flaacutevio Beno Siebe-
neichler Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 2003 p 153-173 Carlos Santiago Nino La Constitucioacuten de la Democracia Deliberativa
Op cit Frank Michelman Brennan and Democracy Princeton Princeton University Press 1999 p 03-62 Stephen Holmes El
Precompromiso y la Paradoja de la Democracia In Jon Elster Rune Slagstad Constitucionalismo y Democracia Traduccedilatildeo de Mocircni-
ca Utrilla de Neira Mexico Fondo de Cultura Econocircmica 1999 p 217-262
107O problema da limitaccedilatildeo do legislador atual pelas decisotildees do constituinte adotadas no passado envolve a problemaacutetica da
partilha intergeracional de poder bem explicitada na fala de Jefferson que defendia que a cada 19 anos deveria ser elaborada
uma nova Constituiccedilatildeo nos Estados Unidos para que a Lei Maior daquele paiacutes natildeo se tornasse um mecanismo de governo dos mor-
tos sobre os vivos Em siacutentese apertada haacute na teoria poliacutetica contemporacircnea duas linhas principais de justificativa para a legiti-
midade destas restriccedilotildees
Uma eacute a teoria da democracia dualista defendida por Bruce Ackerman que sustenta que as decisotildees adotadas pelo proacuteprio povo
em contextos de grande mobilizaccedilatildeo ciacutevica devem ser protegidas do alcance da vontade dos representantes do povo formada em
momentos em que a cidadania natildeo esteja intensamente envolvida Esta teoria distingue a poliacutetica extraordinaacuteria correspondente
agravequeles momentos constitucionais da poliacutetica ordinaacuteria que se realiza atraveacutes das deliberaccedilotildees do dia a dia dos oacutergatildeos represen-
tativos Para a perspectiva ackermaniana a poliacutetica extraordinaacuteria - que natildeo exige necessariamente formalizaccedilatildeo procedimental
atraveacutes de assembleacuteia constituinte ou de emenda constitucional - se situa em patamar superior agrave poliacutetica ordinaacuteria e pode legiti-
mamente impor limites a esta (cf Bruce Ackerman We the people Foundations Cambridge The Belknap Press 1991 p 03-33)
Outra teoria eacute a do preacute-compromisso que jaacute foi advogada por Jon Elster Segundo ela eacute legiacutetimo subtrair do alcance das maiorias
determinadas questotildees fundamentais que expressam princiacutepios fundamentais de justiccedila poliacutetica ou garantam os pressupostos da
proacutepria democracia tendo em vista o risco de que no processo poliacutetico majoritaacuterio em momentos de irracionalidade o povo
35
possa ser viacutetima de suas proacuteprias fraquezas ou paixotildees momentacircneas atentando contra tais princiacutepios (cf Ulisses and Sirens
Cambridge Cambridge University Press 1979)
Ambas as concepccedilotildees - a primeira mais proacutexima ao republicanismo e a segunda de vieacutes mais liberal - tecircm a sua dose de procedecircn-
cia mas ensejam criacuteticas importantes Todavia foge a escopo do presente trabalho analisar esta questatildeo que eacute uma das mais
complexas da Filosofia Poliacutetica moderna e contemporacircnea Para uma visatildeo geral sobre o tema na literatura em liacutengua portuguesa
veja-se Oscar Vilhena Vieira A Constituiccedilatildeo e sua reserva de justiccedila Op cit Miguel Nogueira de Brito A Constituiccedilatildeo constituin-
te ensaio sobre o poder de revisatildeo da Constituiccedilatildeo Coimbra Coimbra 2000 Samantha Chantal Dobrowolski Op cit p 265-312
Rodrigo Brandatildeo Direitos fundamentais democracia e claacuteusulas peacutetreas Rio de Janeiro Renovar 2008 p 59-112
108Cf Michel Troper Justice Constitutionelle et Deacutemocratie In Pour une Theorie Juridique de LEacutetat Paris PUF 1994 p 317-328
Claacuteudio Pereira de Souza Neto Jurisdiccedilatildeo constitucional democracia e racionalidade praacutetica Op cit p 106-130 Gustavo Binen-
bojm A nova jurisdiccedilatildeo constitucional brasileira Op cit p 55-74
109Sobre o modelo revolucionaacuterio francecircs de constitucionalismo completamente avesso agrave ideacuteia de jurisdiccedilatildeo constitucional cf
Maurizio Fioravanti Constitucioacuten de la antiguumledad a nuestros dias Traduccedilatildeo de Manuel Martinez Neira Madrid Trotta 2001 p
120-132
110Cf Carl Schmitt La Defesa de la Constitucioacuten Madrid Tecnos 1983
111O constitucionalismo popular ou populismo constitucional eacute uma importante corrente no debate constitucional norte-americano
contemporacircneo que nega a legitimidade democraacutetica do controle de constitucionalidade advogando que deve caber ao proacuteprio
povo e natildeo a uma elite de juiacutezes natildeo eleitos com assento na Suprema Corte o poder de definir o sentido das claacuteusulas vagas que
abundam no texto constitucional daquele paiacutes Na defesa desta tese satildeo empregados tanto argumentos de teoria e filosofia poliacuteti-
ca de caraacuteter mais universal como razotildees histoacutericas relacionadas agrave evoluccedilatildeo do constitucionalismo estadunidense Veja-se nesta
linha Mark Tushnet Taking the Constitution Away from the Courts Princeton Princeton University Press 1999 Jeremy Waldron
Precommitment and Disagreement Op cit Larry D Kramer The People Themselves Popular constitutionalism and judicial re-
view New York Oxford University Press 1994
Ateacute algumas deacutecadas atraacutes a oposiccedilatildeo agrave jurisdiccedilatildeo constitucional nos Estados Unidos partia em regra da Direita que natildeo se con-
formava com a jurisprudecircncia extremamente liberal em mateacuteria de direitos fundamentais estabelecida pela Corte entre os anos
50 e 70 Atualmente uma boa parte dos opositores agrave judicial review situa-se agrave esquerda do espectro poliacutetico e talvez a nova linha
profundamente conservadora daquele Tribunal ajude a explicar esta mudanccedila
112Sobre a Era de Lochner veja-se Laurence H Tribe American Constitutional Law 2 ed Mineola The Foundation Press 1988 p
567-581 Paul Brest et al Processes of Constitucional Decisionmaking 4 ed New York Aspen Publishers 2000 p 337-354
113Towards Juristocracy hellip Op cit
114Tratei do tema no artigo Direito adquirido emenda constitucional democracia e justiccedila social In Livres e iguais Op cit p
03-32
115Cf Charles R Epp The Rights Revolution Chicago The University of Chicago Press 1998 p 26-70 Owen Fiss The Law as It
Could Be New York New York University Press 2003 p 244-249
116A importacircncia e as peculiaridades da interpretaccedilatildeo legislativa da Constituiccedilatildeo satildeo exploradas em importante obra coletiva
Richard W Bauman Tsvi Kahana The Least Examined Branch The Role of Legislatures in the Constitutional State Cambridge
Cambridge University Press 2006
117Cf em tom ainda mais ceacutetico do que o adotado neste estudo Martonio MontAlverne Barreto Lima Jurisdiccedilatildeo Constitucional
um problema da teoria da democracia poliacutetica In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Gilberto Bercovici Joseacute Filomeno de Moraes
Filho Martonio MontAlverne Teoria da Constituiccedilatildeo estudos sobre o lugar da poliacutetica no direito constitucional Rio de Janeiro
Lumen Juris 2003 p 199-261 Conrado Huumlbner Mendes Controle de constitucionalidade e democracia Rio de Janeiro Elsevier
2008
36
118Para criacutetica semelhante no contexto germacircnico veja-se Ingeborg Maus O judiciaacuterio como superego da sociedade sobre o papel
da atividade jurisprudencial na sociedade oacuterfatilde Traduccedilatildeo de Martonio MontAlverne Barreto Lima Paulo Antonio Menezes de Albu-
querque Anuaacuterio dos Cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito da Faculdade de Direito de Recife n 11 2000
119Eu aprofundo a anaacutelise deste ponto no meu artigo Interpretaccedilatildeo constitucional preacute-compreensatildeo e capacidades institucionais do
inteacuterprete In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm (Coord) Vinte anos da Constituiccedilatildeo Federal
de 1988 Op cit p 311-322 E a necessidade de optar por teoria de interpretaccedilatildeo que leve em consideraccedilatildeo as capacidades
institucionais reais dos juiacutezes comparando-as com as dos agentes de outras instituiccedilotildees eacute explorada no importante estudo de Cass
Sunstein Adrian Vermeulle Interpretations and Institutions Chicago Working Papers in Law amp Economics 2002 p 01-55 bem
como no livro de Adrian Vermeulle Judging under Uncertainty An Institutional Theory for Legal Interpretation Cambridge Har-
vard University Press 2006
120Dentre as honrosas exceccedilotildees mencione-se Luiacutes Roberto Barroso autor de importante artigo com sugestotildees para a reforma poliacuteti-
ca no paiacutes Reforma poliacutetica uma proposta de sistema de governo eleitoral e partidaacuterio para o Brasil Revista de Direito do Esta-
do n 3 p 287-360 jul set 2006
121Sobre o ethos judicial no Brasil veja-se a pesquisa de Maria Tereza Sadek Magistrados uma imagem em movimento Rio de
Janeiro FGV 2006
122Em sentido semelhante veja-se Michael J Perry The Constitution the Courts and Human Rights New Haven Yale University
Press 1982 p 91-145
123Neste ponto entendo que um standard importante que deveria ser adotado para controle de constitucionalidade eacute o de que
quanto maiores forem as credencias democraacuteticas de um ato normativo mais autocontido deve ser o Poder Judiciaacuterio ao avaliar a
sua constitucionalidade Na minha opiniatildeo estas credencias democraacuteticas devem ser aferidas tanto por criteacuterios qualitativos - eg
grau de participaccedilatildeo social no processo legislativo qualidade do processo deliberativo que a antecedeu - como por criteacuterios quanti-
tativos - percentual de votos favoraacuteveis agrave medida Em sentido semelhante veja-se Claacuteudio Ari Mello Democracia e direitos funda-
mentais Op cit p 298
124Em sentido proacuteximo apontam as liccedilotildees de Gustavo Binenbojm e Humberto Aacutevila O primeiro tratando do controle judicial dos
atos administrativos averbou que quanto maior for o grau de tecnicidade da mateacuteria objeto de decisatildeo por oacutergatildeos dotados de
expertise e experiecircncia menos intenso deve ser o grau de controle judicial (Uma teoria do direito administrativo Op cit p
236) Jaacute o segundo salientou que o acircmbito de controle pelo Judiciaacuterio deveraacute ser tanto menor quanto mais difiacutecil e teacutecnico for
o juiacutezo exigido para o tratamento da mateacuteria (Teoria dos princiacutepios Op cit p 126)
125Um exemplo extremado deste posicionamento estaacute na argumentaccedilatildeo adotada pelo STF no julgamento da ADIN 2797 Rel Min
Sepuacutelveda Pertence em que se reconheceu a inconstitucionalidade formal de lei que pretendia interpretar a Constituiccedilatildeo Para o
STF natildeo pode a lei ordinaacuteria pretender impor como seu objeto imediato uma interpretaccedilatildeo a Constituiccedilatildeo a questatildeo eacute de in-
constitucionalidade formal iacutensita a toda norma da gradaccedilatildeo inferior que se proponha a ditar interpretaccedilatildeo de norma superior
Na questatildeo de fundo abordada naquele caso entendo que o STF estava certo Tratava-se de invalidar uma norma legal que esten-
dera o foro de prerrogativa de funccedilatildeo a ex-ocupantes de cargos puacuteblicos visando a restaurar antiga jurisprudecircncia do STF sedi-
mentada na Suacutemula 394 do Tribunal que acabara de ser cancelada O princiacutepio republicano natildeo era compatiacutevel com tal medida
que configurava niacutetido privileacutegio O que me parece inaceitaacutevel e profundamente anti-democraacutetico com a devida vecircnia natildeo eacute o
resultado alcanccedilado pela Corte - com o qual concordo - mas o argumento empregado de que o legislador natildeo pode interpretar a
Constituiccedilatildeo
126Existe hoje uma fecunda produccedilatildeo acadecircmica no cenaacuterio anglo-saxatildeo sobre as vantagens de modelos teoacutericos que favoreccedilam
diaacutelogos entre diversos oacutergatildeos e instituiccedilotildees na interpretaccedilatildeo constitucional ao inveacutes de afirmarem a exclusividade ou mesmo a
supremacia do Judiciaacuterio nesta seara Veja-se a propoacutesito Laurence G Sager Justice in Plainclothes A Theory of American Con-
stitutional Practice New haven Yale University Press 2004 Mark Tushnet Weak Courts Strong Rights Judicial Review and Social
Welfare Rights in Comparative Constitutional Law Princeton Princeton University Press 2008 Mark C Miller Jeb Barnes (Ed)
Making Police Making Law An Interbranch Perspective Washington DC Georgetown University Press 2004
37
127Colhi o exemplo no estudo de Oscar Vilhena Vieira Supremocracia In Daniel Sarmento (Org) Filosofia e teoria constitucional
contemporacircnea Rio de Janeiro Lumen Juris 2009
128Como um natildeo-positivista tenho a necessaacuteria imparcialidade para criticar os equiacutevocos da doutrina brasileira nas suas invectivas
contra o positivismo que muitas vezes caracterizam verdadeira falaacutecia do espantalho ataca-se natildeo a proacutepria teoria positivista
mas uma distorcida caricatura dela Duas afirmaccedilotildees erradas que eu mesmo jaacute fiz em textos anteriores satildeo muito frequumlentes a
de que o positivismo recusa a aplicaccedilatildeo dos princiacutepios juriacutedicos e a de que ele teria sido a Filosofia do Direito cultivada na Alema-
nha nazista
Quanto ao primeiro ponto natildeo haacute nenhuma incompatibilidade loacutegica entre positivismo e princiacutepios desde que os princiacutepios este-
jam devidamente incorporados na ordem juriacutedico-positiva Vaacuterios autores positivistas contemporacircneos jaacute citados neste estudo
como Luis Prietro Sanchiacutes Luigi Ferrajoli e Gregorio Peces-Barba atribuiacuteram espaccedilo importante para princiacutepios nas suas teorias
Mesmo no Direito Puacuteblico brasileiro juristas de inspiraccedilatildeo positivista kelseniana construiacuteram suas teorias com apoio em argumen-
taccedilatildeo principioloacutegica como o falecido Geraldo Ataliba e Celso Antonio Bandeira de Mello
No que tange ao segundo ponto - a chamada redutio ad hitlerum - os estudos mais autorizados de Histoacuteria do Direito comprovam
que natildeo foi o positivismo a teoria juriacutedica dominante no nazismo mas uma espeacutecie de jusnaturalismo de inspiraccedilatildeo hegeliana que
se insurgia contra o formalismo e recorria com frequumlecircncia a conceitos muito vagos para justificar a barbaacuterie como os de comuni-
dade popular (Volksgemeinschaft) Veja-se a propoacutesito Michael Stolleis The Law under the Swastika Studies on Legal History in
Nazi Germany Traduccedilatildeo de Thomas Dunlap Chicago The University of Chicago Press 1998
129Cf Joseacute Joaquim Gomes Canotilho Direito constitucional e Teoria da Constituiccedilatildeo Coimbra Almedina 1998 p 1036
130Sobre a importacircncia das regras veja-se Frederick Schauer Playing by the Rules A Philosophical Exaxamination of Rule-Bases
Decision-Making in Law and Life Oxford Oxford University Press 1998 Humberto Aacutevila Neoconstitucionalismo entre a ciecircncia do
direito e o direito da ciecircncia Op cit Noel Struchiner Posturas institucionais e modelagem institucional a dignidade (contingente)
do formalismo juriacutedico In Daniel Sarmento Filosofia e teoria constitucional contemporacircnea Op cit
131Esta eacute expressatildeo empregada por Ana Paula de Barcellos O direito constitucional em 2006 Revista de Direito do Estado n 5 p
03-23 janmar 2007
132Cf Chaiumlm Perelman P Fories La Motivation des Deacutecisions de Justice Bruxelas Eacutemile Bruylant 1978
133Sobra a influecircncia do jeitinho no Direito brasileiro cf Keith Rosen O jeito na cultura juriacutedica brasileira Rio de Janeiro Reno-
var 1997
134Sobre o patrimonialismo no Brasil veja-se Raimundo Faoro Os donos do poder 8 ed Rio de Janeiro Globo 1989 v 2 p 729-
750
135Raiacutezes do Brasil 26 ed Satildeo Paulo Companhia das Letras 1995
136Cf Joseacute Murilo de Carvalho Brasileiro Cidadatildeo In Pontos e bordados escritos de histoacuteria e poliacutetica Belo Horizonte Ed
UFMG 2005 p 275-288
137Cf Gustavo Zagrebelsky Il Diritto Mite Op cit p 15-19
138Cf Marcelo Neves A constitucionalizaccedilatildeo simboacutelica Satildeo Paulo Acadecircmica 1994
139A obra de Niklas Luhman eacute vasta e complexa e seus textos satildeo de difiacutecil compreensatildeo para os natildeo iniciados Veja-se do proacuteprio
autor Sociologia do direito I e II Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 1983 e 1985 Sistema Jurididico y Dogmaacutetica Juriacutedica Madrid
Centro de Estuacutedios Constitucionales 1983 Confira-se tambeacutem a coletacircnea organizada por Andreacute-Jean Arnaud Dalmir Lopes Jr Do
sistema social agrave sociologia juriacutedica Rio de Janeiro Lumen Juris 2004
140Sobre a autopoieses do Direito veja-se tambeacutem a obra importante de Guumlnther Teubner O direito como sistema autopoieacutetico
Traduccedilatildeo de Joseacute Engracia Nunes Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1993
141Cf Luis Roberto Barroso Neoconstitucionalismo e a constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit
142Esta era basicamente a visatildeo de Hans Kelsen (Cf Hans Kelsen Jurisdiccedilatildeo constitucional Traduccedilatildeo de Alexandre Krug et al Satildeo
Paulo Martins Fontes 2003 p 153) Para uma anaacutelise criacutetica desta posiccedilatildeo veja-se Luis Prietro Sanchiacutes Presupuestos ideoloacutegicos
y doctrinales de la jurisdicioacuten constitucional In Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales Op cit p 21-100
38
143Cf Christian Starck La suprematie La Suprematie de la Constitution et la Justice Constitutionnelle In La Constitution Cadre et
Mesure du Droit Traduccedilatildeo de Freacutederic Weill Paris Econocircmica 1994 p 26-30 Ernst- Wolfgang Boumlckenfoumlrde Les meacutethodes
dinterpretation de la Constitution Un bilan critique In Le Droit lEacutetat et la Constitution Democratique Traduccedilatildeo de Olivier
Jouanjan Paris LGDJ 2000 p 249-250 Virgiacutelio Afonso da Silva Constitucionalizaccedilatildeo do direito os direitos fundamentais nas
relaccedilotildees entre particulares Satildeo Paulo Malheiros 2005 p 107-131 Daniel Sarmento Ubiquumlidade constitucional os dois lados da
moeda Op cit Luis Roberto Barroso Curso de Direito Constitucional Contemporacircneo Op cit p 391-394 Alceu Mauriacutecio Jr
Judicializaccedilatildeo da poliacutetica e a crise do direito constitucional a Constituiccedilatildeo entre ordem marco e ordem fundamenta Revista de
Direito do Estado n 10 p 125-142 abrjun 2008
144Der Staat der Industriegesellshaft 2 ed Muumlnchen Beck 1971 p 144 Apud Robert Alexy Posfaacutecio In Teoria dos direitos
fundamentais Op cit p 578
145De acordo com Carlos Santiago Nino o perfeccionaismo eacute la concepcioacuten seguacuten la cual es una misioacuten legiacutetima del Estado hacer
que los individuos acepten y materializen ideales vaacutelidos de virtud personal Seguacuten este enfoque el Estado no puede permanecer
neutral respecto de concepciones de lo bueno en la vida y debe adoptar las medidas educativas punitorias etc que sean necesa-
rias para que los indiviacuteduos ajusten su vida a los verdaderos ideales de virtud y del bien (Eacutetica y Derechos Humanos Un ensayo de
fundamentacioacuten 2 ed Buenos Aires Astrea 1989 p 413)
146Daniel Sarmento Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas 2 ed Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 Sobre o tema na literatura
nacional veja-se tambeacutem Wilson Antocircnio Steinmetz A vinculaccedilatildeo dos particulares aos direitos fundamentais Satildeo Paulo Malheiros
2004 Virgiacutelio Afonso da Silva Constitucionalizaccedilatildeo do direito os direitos fundamentais nas relaccedilotildees entre particulares Op cit
Ingo Wolfgang Sarlet Direitos fundamentais e direito privado algumas consideraccedilotildees em torno da vinculaccedilatildeo dos particulares aos
direitos fundamentais In Ingo Wolfgang Sarlet (Org) A Constituiccedilatildeo concretizada Porto Alegre Livraria do Advogado 1999 p
129-173 Jane Reis Gonccedilalves Pereira Apontamentos sobre a aplicaccedilatildeo das normas de direito fundamental nas relaccedilotildees juriacutedicas
entre particulares In Luis Roberto Barroso (Org) A nova interpretaccedilatildeo constitucional ponderaccedilatildeo direitos fundamentais e
relaccedilotildees privadas Rio de Janeiro Renovar 2003 p 119-192
147Sobre a questatildeo da (i)legitimidade do perfeccionismo no Direito veja-se Joel Feinberg Rights Justice and the Bounds of Liber-
ty Princeton Princeton University Press 1980 Carlos Santiago Nino Eacutetica y Derechos Humanos Op cit p 413-446 Rainer Forst
Contexts of Justice Political Philosophy beyond Liberalism and Communitarianism Traduccedilatildeo de John M M Farrel Berkeley Uni-
versity of Califoacuternia Press 2001 p 30-87 Macaacuterio Alemany El Paternalismo Juriacutedico Madrid Iustel 2006
148Um sofisticado modelo que busca conciliar a constitucionalizaccedilatildeo do Direito com a democracia estaacute exposto no Poacutesfaacutecio agrave Teo-
ria dos Direitos Fundamentais de Robert Alexy acima citado Veja-se ainda Konrad Hesse Concepto y Cualidad de la Constitu-
cion In Escritos de Derecho Constitucional Traduccedilatildeo de Pedro Cruz Villaloacuten 2 ed 1992 p 03-29
149Tentei articular a minha teoria sobre eficaacutecia horizontal dos direitos fundamentais com este objetivo Cf Daniel Sarmento
Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas Op cit p 141-182 259-272
150Sobre el Neoconstitucionalismo y sus Implicaciones Op cit p 117
151Aqui entendo que o simples reconhecimento da penetraccedilatildeo da Moral no Direito preconizada pelos neoconstitucionalistas brasi-
leiros natildeo eacute suficiente jaacute que certas concepccedilotildees morais podem tornar o ordenamento ainda mais opressivo do que jaacute eacute Afinal
nem sempre a moralizaccedilatildeo do Direito se daacute na direccedilatildeo da emancipaccedilatildeo dos excluiacutedos Veja-se por exemplo a famosa polecircmica
jusfilosoacutefica entre Lord Patrick Devlin e Herbert Hart nos anos 60 na Inglaterra a propoacutesito do uso do Direito Penal para promoccedilatildeo
de Moral em que o primeiro a partir de uma posiccedilatildeo proacute-moral sustentava a legitimidade da criminalizaccedilatildeo da conduta homos-
sexual que o segundo contestava (Cf Lord Patrick Devlin Morals and Criminal Law In Ronald Dworkin (Ed) The Philosophy of
Law Op cit p 66-82 Herbert Hart Immorality and Treason In Idem ibidem)
Eacute preciso assentar as bases criacuteticas desta Moral que deve penetrar o Direito para evitar que o moralismo conservador seja expulso
do ordenamento pela porta da frente superado pela legislaccedilatildeo moderna em razatildeo da progressiva liberalizaccedilatildeo da sociedade mas
volte pela porta dos fundos atraveacutes da argumentaccedilatildeo juriacutedica dos juiacutezes lastreada em conceitos vagos como ordem puacuteblica e
bons constumes ou em standards como o comportamento do bom pai de famiacutelia
39
9
O processo histoacuterico que se desenrolou na Europa Ocidental a partir do final da Segunda Guer-
ra no Brasil soacute teve iniacutecio apoacutes a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 88 Eacute verdade que jaacute tiacutenha-
mos controle de constitucionalidade desde a proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Poreacutem na cultura ju-
riacutedica brasileira de ateacute entatildeo as constituiccedilotildees natildeo eram vistas como autecircnticas normas juriacutedi-
cas natildeo passando muitas vezes de meras fachadas Exemplos disso natildeo faltam a Constituiccedilatildeo
de 1824 falava em igualdade e a principal instituiccedilatildeo do paiacutes era a escravidatildeo negra a de 1891
instituiacutera o sufraacutegio universal mas todas as eleiccedilotildees eram fraudadas a de 1937 disciplinava o
processo legislativo mas enquanto ela vigorou o Congresso esteve fechado e o Presidente legis-
lava por decretos a de 1969 garantia os direitos agrave liberdade agrave integridade fiacutesica e agrave vida mas
as prisotildees ilegais o desaparecimento forccedilado de pessoas e a tortura campeavam nos porotildees do
regime militar Nesta uacuteltima quadra histoacuterica conviveu-se ainda com o constrangedor paradoxo
da existecircncia de duas ordens juriacutedicas paralelas a das constituiccedilotildees e a dos atos institucionais
que natildeo buscavam nas primeiras o seu fundamento de validade mas num suposto poder revolu-
cionaacuterio em que estariam investidas as Forccedilas Armadas
Ateacute 1988 a lei valia muito mais do que a Constituiccedilatildeo no traacutefico juriacutedico e no Direito Puacuteblico
o decreto e a portaria ainda valiam mais do que a lei O Poder Judiciaacuterio natildeo desempenhava
um papel poliacutetico tatildeo importante e natildeo tinha o mesmo niacutevel de independecircncia de que passou a
gozar posteriormente As constituiccedilotildees eram proacutedigas na consagraccedilatildeo de direitos mas estes
dependiam quase exclusivamente da boa vontade dos governantes de plantatildeo para saiacuterem do
papel - o que normalmente natildeo ocorria Em contextos de crise as foacutermulas constitucionais natildeo
eram seguidas e os quarteacuteis arbitravam boa parte dos conflitos poliacuteticos ou institucionais que
eclodiam no paiacutes
A Assembleacuteia Constituinte de 19871988 que coroou o processo de redemocratizaccedilatildeo do paiacutes
quis romper com este estado de coisas e promulgou uma Constituiccedilatildeo contendo um amplo e
generoso elenco de direitos fundamentais de diversas dimensotildees - direitos individuais poliacuteti-
cos sociais e difusos - aos quais conferiu aplicabilidade imediata (art 5ordm Paraacutegrafo 1ordm) e pro-
tegeu diante do proacuteprio poder de reforma (art 60 Paraacutegrafo 4ordm IV) Aleacutem disso reforccedilou o
papel do Judiciaacuterio consagrando a inafastabilidade da tutela judicial (art 5ordm XXXV) criando
diversos novos remeacutedios constitucionais fortalecendo a independecircncia da instituiccedilatildeo bem co-
mo do Ministeacuterio Puacuteblico e ampliando e robustecendo os mecanismos de controle de constitu-
cionalidade Neste uacuteltimo toacutepico ela democratizou o acesso ao controle abstrato de constitu-
cionalidade ao adotar um vasto elenco de legitimados ativos para a propositura de accedilatildeo direta
de inconstitucionalidade (art 103) e ampliou o escopo da jurisdiccedilatildeo constitucional ao instituir
10
no Brasil o controle da inconstitucionalidade por omissatildeo tanto atraveacutes de accedilatildeo direta como do
mandado de injunccedilatildeo
Esta sistemaacutetica de jurisdiccedilatildeo constitucional adotada pelo constituinte favoreceu em larga
medida o processo de judicializaccedilatildeo da poliacutetica na medida em que conferiu a qualquer parti-
do poliacutetico com representaccedilatildeo no Congresso agraves representaccedilotildees nacionais da sociedade civil
organizada e agraves principais instituiccedilotildees dos Estados-membros dentre outras entidades o poder
de provocar o STF61 Assim eacute praticamente impossiacutevel que alguma questatildeo relevante seja re-
solvida no acircmbito parlamentar sem que os perdedores no processo poliacutetico recorram agrave nossa
Corte Suprema para que decirc a palavra final agrave controveacutersia com base na sua interpretaccedilatildeo da
Constituiccedilatildeo E tal modelo vem se aprofundando desde 88 com a criaccedilatildeo da Accedilatildeo Declaratoacuteria
de Constitucionalidade e a regulamentaccedilatildeo da Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fun-
damental
Aleacutem disso a Constituiccedilatildeo de 88 regulou uma grande quantidade de assuntos - muitos deles de
duvidosa dignidade constitucional - subtraindo um vasto nuacutemero de questotildees do alcance do
legislador Ademais ela hospedou em seu texto inuacutemeros princiacutepios vagos mas dotados de for-
te carga axioloacutegica e poder de irradiaccedilatildeo Estas caracteriacutesticas favoreceram o processo de
constitucionalizaccedilatildeo do Direito que envolve natildeo soacute a inclusatildeo no texto constitucional de temas
outrora ignorados ou regulados em sede ordinaacuteria como tambeacutem a releitura de toda a ordem
juriacutedica a partir de uma oacutetica pautada pelos valores constitucionais - a chamada filtragem
constitucional do Direito62
Deve-se tambeacutem destacar o papel importante da doutrina brasileira na mudanccedila de paradigma
do Direito Constitucional brasileiro Na minha opiniatildeo haacute dois momentos distintos nesta evolu-
ccedilatildeo o constitucionalismo brasileiro da efetividade 63e o poacutes-positivismo constitucional
O primeiro momento vem logo apoacutes a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 88 Alguns autores como
Luis Roberto Barroso64 e Clegravemerson Merlin Clegraveve65 passam a advogar a tese de que a Constitui-
ccedilatildeo sendo norma juriacutedica deveria ser rotineiramente aplicada pelos juiacutezes o que ateacute entatildeo
natildeo ocorria O que hoje parece uma obviedade era quase revolucionaacuterio numa eacutepoca em que a
nossa cultura juriacutedica hegemocircnica natildeo tratava a Constituiccedilatildeo como norma mas como pouco
mais do que um repositoacuterio de promessas grandiloquumlentes cuja efetivaccedilatildeo dependeria quase
sempre da boa vontade do legislador e dos governantes de plantatildeo66 Para o constitucionalismo
da efetividade a incidecircncia direta da Constituiccedilatildeo sobre a realidade social independentemen-
te de qualquer mediaccedilatildeo legislativa contribuiria para tirar do papel as proclamaccedilotildees generosas
de direitos contidas na Carta de 88 promovendo justiccedila igualdade e liberdade Se ateacute entatildeo
o discurso da esquerda era de desconstruccedilatildeo da dogmaacutetica juriacutedica a doutrina da efetividade
11
vai defender a possibilidade de um uso emancipatoacuterio da dogmaacutetica tendo como eixo a con-
cretizaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo67
Na verdade tratava-se de uma modalidade de positivismo de combate68 A doutrina constitu-
cional da efetividade natildeo se caracterizava pela abertura do debate juriacutedico agrave argumentaccedilatildeo
moral O seu foco principal centrava-se nas normas e era do caraacuteter mais ou menos denso do
seu texto que o inteacuterprete deveria extrair os respectivos efeitos Por outro lado concebia-se a
jurisdiccedilatildeo como o espaccedilo privilegiado para a realizaccedilatildeo da vontade constitucional Um dos mo-
tes do movimento era afastar o estudo do Direito Constitucional da Teoria do Estado para apro-
ximaacute-lo do Direito Processual Por isso pode-se afirmar que o protagonista desta teoria consti-
tucional era o juiz
Em que pese a falta de efetividade de diversas normas da Constituiccedilatildeo e da eficaacutecia social
seletiva de outras tantas - que protegem muito bem o incluiacutedo mas continuam deixando de
fora os paacuterias de sempre (veja-se a diferenccedila da incidecircncia da inviolabilidade do domiciacutelio nas
residecircncias burguesas e nas favelas) - pode-se dizer que a doutrina constitucional da efetivida-
de teve ecircxito no Brasil no sentido de instalar no senso-comum dos operadores do Direito a i-
deacuteia de que a Constituiccedilatildeo eacute norma que pode e deve ser aplicada independentemente de re-
gulamentaccedilatildeo dos seus dispositivos pelo legislador ordinaacuterio Tal doutrina ainda natildeo correspon-
de ao neoconstitucionalismo mas a conquista que dela resultou para a dogmaacutetica constitucio-
nal brasileira foi um pressuposto para o surgimento deste outro movimento no nosso cenaacuterio
O segundo momento importante eacute o da chegada ao Brasil das teorias juriacutedicas ditas poacutes-
positivistas Foram marcos relevantes a publicaccedilatildeo da 5ordf ediccedilatildeo do Curso de Direito Constitu-
cional de Paulo Bonavides 69bem como do livro A Ordem Econocircmica na Constituiccedilatildeo de 1988
de Eros Roberto Grau70 que divulgaram entre noacutes a teoria dos princiacutepios de autores como Ro-
nald Dworkin e Robert Alexy e fomentaram as discussotildees sobre temas importantes como a
ponderaccedilatildeo de interesses o princiacutepio da proporcionalidade e eficaacutecia dos direitos fundamen-
tais Tambeacutem deve ser salientada a ampla penetraccedilatildeo no acircmbito de algumas poacutes-graduaccedilotildees
em Direito a partir de meados dos anos 90 do pensamento de filoacutesofos que se voltaram para o
estudo da relaccedilatildeo entre Direito Moral e Poliacutetica a partir de uma perspectiva poacutes-metafiacutesica
como John Rawls e Juumlrgen Habermas71 E ainda merece destaque o aprofundamento no paiacutes dos
estudos de hermenecircutica juriacutedica a partir de uma nova matriz teoacuterica inspirada pelo giro lin-
guumliacutestico na Filosofia que denunciou os equiacutevocos do modelo positivista de interpretaccedilatildeo ateacute
entatildeo dominante assentado na separaccedilatildeo cartesiana entre sujeito (o inteacuterprete) e objeto (o
texto da norma)72
12
Nesta nova fase a doutrina brasileira passa a enfatizar o caraacuteter normativo e a importacircncia dos
princiacutepios constitucionais e a estudar as peculiaridades da sua aplicaccedilatildeo Neste contexto haacute
uma verdadeira febre de trabalhos sobre teoria dos princiacutepios ponderaccedilatildeo de interesses teori-
as da argumentaccedilatildeo proporcionalidade e razoabilidade etc Tambeacutem cresce muito o interesse
doutrinaacuterio pelos direitos fundamentais sobretudo os direitos sociais Se antes estes eram vis-
tos preponderantemente como normas programaacuteticas passa-se a discutir a sua eficaacutecia juriacutedica
a partir de novas bases que incorporam ao debate a argumentaccedilatildeo moral Neste campo a ecircn-
fase na anaacutelise dos enunciados normativos que caracterizava a doutrina da efetividade eacute
substituiacuteda por uma discussatildeo marcada pela preocupaccedilatildeo com valores e democracia repleta de
novas categorias importadas sobretudo do Direito germacircnico como o miacutenimo existencial a
reserva do possiacutevel e a proibiccedilatildeo do retrocesso73
E esta nova racionalidade se espraia para diversos ramos do Direito No Direito Civil74 Penal75
Administrativo 76por exemplo cada vez mais a doutrina emprega normas e valores constitu-
cionais para reler os institutos tradicionais colorindo-os com novas tintas E trata-se natildeo ape-
nas de aplicar diretamente as normas constitucionais especificamente voltadas para cada uma
destas aacutereas como tambeacutem de projetar sobre estes campos a influecircncia dos direitos funda-
mentais e dos princiacutepios mais gerais do nosso constitucionalismo muitas vezes superando anti-
gos dogmas e definindo novos paradigmas
Neste segundo momento ocorre ainda uma significativa mudanccedila no enfoque dos estudos sobre
jurisdiccedilatildeo constitucional no Brasil Antes os trabalhos nacionais sobre o tema se limitavam
basicamente a discutir questotildees processuais mas a partir do final dos anos 90 diversos estu-
dos incorporam outras perspectivas agrave anaacutelise da questatildeo dedicando atenccedilatildeo agrave complexa pro-
blemaacutetica da legitimidade democraacutetica do controle de constitucionalidade77 tendo em vista a
chamada dificuldade contra-majoritaacuteria do Judiciaacuterio78 Num contexto como o nosso em que
a jurisdiccedilatildeo constitucional estaacute prevista pelo proacuteprio texto magno o debate relevante do ponto
de vista praacutetico natildeo eacute o de tecirc-la ou natildeo mas sim a forma como deve ser exercida Dependendo
do posicionamento adotado pode-se preconizar um maior ou menor grau de ativismo judicial
ou defender o ativismo em algumas aacutereas mas recusaacute-lo em outras Nesta nova agenda de dis-
cussotildees sobre a jurisdiccedilatildeo constitucional a argumentaccedilatildeo juriacutedica se entrelaccedila inevitavelmen-
te com o debate de Filosofia Poliacutetica abrindo espaccedilo para posiccedilotildees variadas como os vaacuterios
matizes de procedimentalismo e de substancialismo que vecircm florescendo na doutrina brasilei-
ra79 Dentre estas posiccedilotildees natildeo haacute duacutevida de que a mais identificada ao neoconstitucionalismo
eacute a substancialista que compartilha com ele a crenccedila numa ampla legitimidade do ativismo
judicial em favor dos valores constitucionais
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Apesar destas mudanccedilas importantes que podem ser associadas ao neoconstitucionalismo o uso
da expressatildeo no Brasil eacute mais recente seguindo-se agrave ampla difusatildeo que recebeu na academia
brasileira a jaacute citada obra Neoconstitucionalismo(s) organizada por Miguel Carbonell e publi-
cada em 2003 De laacute para caacute muito se tem escrito sobre o toacutepico e vaacuterios autores nacionais
aderiram explicitamente agrave corrente como Luis Roberto Barroso80 Lecircnio Luiz Streck 81Antonio
Cavalcanti Maia82 Ana Paula de Barcellos83 Diogo de Figueiredo Moreira Neto84 Paulo Ricardo
Schier85 Eduardo Moreira86 Eacutecio Otto Ramos Duarte87 e Thomas Rosa de Bustamante88 Outros
adotaram postura criacutetica sobre a nova perspectiva como Joseacute Ribas Vieira Dimitri Dimoulis89 e
Humberto Aacutevila90 E pode-se notar pela leitura dos trabalhos destes e de outros autores brasi-
leiros que haacute um relativo consenso na definiccedilatildeo das caracteriacutesticas centrais do novo paradig-
ma valorizaccedilatildeo dos princiacutepios adoccedilatildeo de meacutetodos ou estilos mais abertos e flexiacuteveis na her-
menecircutica juriacutedica com destaque para a ponderaccedilatildeo abertura da argumentaccedilatildeo juriacutedica agrave
Moral mas sem recair nas categorias metafiacutesicas do jusnaturalismo reconhecimento e defesa
da constitucionalizaccedilatildeo do Direito e do papel de destaque do Judiciaacuterio na agenda de imple-
mentaccedilatildeo dos valores da Constituiccedilatildeo
Estas novas ideacuteias jaacute reverberam fortemente na jurisprudecircncia nacional sobretudo do Supremo
Tribunal Federal que nos uacuteltimos tempos tem cada vez mais invocado princiacutepios abertos nos
seus julgamentos recorrido agrave ponderaccedilatildeo de interesses e ao princiacutepio da proporcionalidade
com frequumlecircncia e ateacute se valido de referecircncias filosoacuteficas na fundamentaccedilatildeo de decisotildees Aliaacutes
eacute digna de nota a influecircncia da doutrina constitucional na atuaccedilatildeo do Supremo Tribunal Fede-
ral O fenocircmeno eacute relativamente recente uma vez que logo apoacutes a promulgaccedilatildeo da Constitui-
ccedilatildeo de 88 havia um profundo hiato entre o campo doutrinaacuterio que cobrava a efetivaccedilatildeo da
Constituiccedilatildeo pela via judicial e a jurisprudecircncia do STF tiacutemida e reticente diante dos valores
e das inovaccedilotildees da nova Carta - vg orientaccedilatildeo entatildeo adotada pela Corte em relaccedilatildeo ao man-
dado de injunccedilatildeo e ao controle judicial das medidas provisoacuterias Aquele quadro podia em parte
ser debitado agrave duvidosa opccedilatildeo do constituinte originaacuterio de manter no STF os ministros nomea-
dos durante o governo militar que natildeo tinham sintonia poliacutetico-ideoloacutegica nem boa vontade
diante do novo sistema constitucional e que por isso se apegavam a visotildees e interpretaccedilotildees
assentadas durante o regime preteacuterito muitas delas francamente incompatiacuteveis com a nova
ordem Mas hoje apoacutes a completa renovaccedilatildeo do STF constata-se um quadro radicalmente di-
ferente a maioria dos ministros do STF eacute composta por professores de Direito Constitucional
de grande reputaccedilatildeo acadecircmica que ateacute pela origem tecircm mais contato com a produccedilatildeo inte-
lectual de ponta na aacuterea e satildeo mais suscetiacuteveis agrave influecircncia das novas correntes de pensamen-
to
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Como ressaltado esta mudanccedila de paradigma se reflete vivamente na jurisprudecircncia do STF
Satildeo exemplos eloquumlentes a alteraccedilatildeo da posiccedilatildeo da Corte em relaccedilatildeo aos direitos sociais antes
tratados como normas programaacuteticas e hoje submetidos a uma intensa proteccedilatildeo judicial 91o
reconhecimento da eficaacutecia horizontal dos direitos fundamentais92 a mutaccedilatildeo do entendimen-
to do Tribunal em relaccedilatildeo agraves potencialidades do mandado de injunccedilatildeo 93e a progressiva supe-
raccedilatildeo da visatildeo claacutessica kelseniana da jurisdiccedilatildeo constitucional que a equiparava ao legislador
negativo com a admissatildeo de teacutecnicas decisoacuterias mais heterodoxas94 como as declaraccedilotildees de
inconstitucionalidade sem pronuacutencia de nulidade e as sentenccedilas aditivas E para completar o
quadro deve-se acrescentar as mudanccedilas acarretadas por algumas inovaccedilotildees processuais re-
centes na nossa jurisdiccedilatildeo constitucional que permitiram a participaccedilatildeo dos amici curiae bem
como a realizaccedilatildeo de audiecircncias puacuteblicas no acircmbito do processo constitucional ampliando a
possibilidade de atuaccedilatildeo da sociedade civil organizada no STF95
Naturalmente a nova postura de ativismo judicial do STF estimula as forccedilas sociais a procuraacute-
lo com mais frequumlecircncia e contribui para uma significativa alteraccedilatildeo na agenda da Corte Atu-
almente ao lado das questotildees mais tradicionais de Direito Puacuteblico o STF tem se defrontado
com novos temas fortemente impregnados de conteuacutedo moral como as discussotildees sobre a vali-
dade de pesquisa em ceacutelulas-tronco embrionaacuterias96 aborto de feto anenceacutefalo97 e uniatildeo entre
pessoas do mesmo sexo98 Ademais o Tribunal passou a intervir de forma muito mais ativa no
processo poliacutetico adotando decisotildees que se refletem de forma direta e profunda sobre a atua-
ccedilatildeo dos demais poderes do Estado Para citar apenas alguns casos pode-se falar da decisatildeo que
assentou que a mudanccedila de partido implica salvo determinadas exceccedilotildees perda de mandato
parlamentar99 da que estabeleceu criteacuterios riacutegidos para a fixaccedilatildeo do nuacutemero de vereadores de
acordo com a respectiva populaccedilatildeo100 e da intensificaccedilatildeo do controle jurisdicional dos atos das
CPIs bem como dos pressupostos de ediccedilatildeo das medidas provisoacuterias
Poreacutem haacute um componente curioso na recepccedilatildeo deste novo paradigma juriacutedico pelo Judiciaacuterio
brasileiro Embora ainda natildeo existam estudos empiacutericos a este respeito tenho a forte intuiccedilatildeo
de que a penetraccedilatildeo destas novas ideacuteias associadas ao neoconstitucionalismo eacute forte na cuacutepula
e na base da hierarquia judicial mas ainda tiacutemida nos seus escalotildees intermediaacuterios E as causas
natildeo satildeo de difiacutecil compreensatildeo Em relaccedilatildeo agrave cuacutepula - os ministros do STF - as razotildees jaacute foram
explicadas acima Jaacute no que tange agrave base do Judiciaacuterio boa parte dos juiacutezes de 1ordm grau teve a
sua formaccedilatildeo num ambiente acadecircmico que jaacute valorizava o Direito Constitucional e reconhecia
a forccedila normativa dos direitos fundamentais e dos princiacutepios constitucionais Assim eles ten-
dem a levar para a sua praacutetica profissional esta visatildeo do Direito Poreacutem sobretudo na 2ordf ins-
tacircncia composta majoritariamente por magistrados que se formaram e foram socializados no
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seu meio institucional sob a eacutegide do paradigma juriacutedico anterior muito mais voltado para os
coacutedigos e para a letra da lei do que para a Constituiccedilatildeo e seus princiacutepios haacute maior resistecircncia agrave
incorporaccedilatildeo dos novos vetores constitucionais Contudo este fenocircmeno tende a diminuir com
o tempo seja pela consolidaccedilatildeo do paradigma constitucional emergente seja pela promoccedilatildeo
de magistrados mais antenados com o novo constitucionalismo seja ateacute pela influecircncia do pen-
samento e das orientaccedilotildees da cuacutepula do Judiciaacuterio sobre todas as suas instacircncias
No cenaacuterio brasileiro o neoconstitucionalismo eacute tambeacutem impulsionado por outro fenocircmeno a
descrenccedila geral da populaccedilatildeo em relaccedilatildeo agrave poliacutetica majoritaacuteria e em especial o descreacutedito
no Poder Legislativo e nos partidos poliacuteticos101 A percepccedilatildeo geral alimentada por sucessivos
escacircndalos e pelo discurso de alguns meios de comunicaccedilatildeo social de que a poliacutetica parlamen-
tar e partidaacuteria satildeo esferas essencialmente corrompidas que se movem exclusivamente em
torno de interesses e natildeo de valores gera em alguns setores a expectativa de que a soluccedilatildeo
para os problemas nacionais possa vir do Judiciaacuterio102 E este sentimento eacute fortalecido quando
a Justiccedila adota decisotildees em consonacircncia com a opiniatildeo puacuteblica - como ocorreu no recebimento
da denuacutencia criminal no caso do mensalatildeo na definiccedilatildeo de perda do mandato por infidelidade
partidaacuteria e na proibiccedilatildeo do nepotismo na Administraccedilatildeo Puacuteblica
Por outro lado a ascensatildeo institucional do Judiciaacuterio e a riqueza e importacircncia praacutetica ou sim-
boacutelica dos temas que ele vem julgando tem provocado um grande aumento no interesse da so-
ciedade pelo Direito Constitucional e pela atuaccedilatildeo do Supremo Tribunal Federal Eacute difiacutecil um
dia em que os principais meios de comunicaccedilatildeo natildeo discutam alguma decisatildeo da Corte ou mani-
festaccedilatildeo de qualquer dos seus membros E este fenocircmeno eacute potencializado tanto pela extro-
versatildeo midiaacutetica de alguns ministros como tambeacutem pelo fato - sem precedentes em outros
paiacuteses - do televisionamento das sessotildees do STF Com tudo isso as questotildees constitucionais
que antes eram apenas discutidas dentro de um ciacuterculo muito restrito de iniciados hoje satildeo
amplamente debatidas no espaccedilo puacuteblico
Neste quadro em que pesem as muacuteltiplas resistecircncias que sofre eacute possiacutevel apontar a emergecircn-
cia de uma nova forma de conceber o Direito e o Estado na sociedade brasileira contemporacirc-
nea que se quisermos adotar a terminologia hoje em voga pode ser chamada de neoconstitu-
cionalismo
4 Trecircs objeccedilotildees ao neoconstitucionalismo
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Nas proacuteximas linhas abordarei de maneira breve trecircs criacuteticas que podem ser levantadas con-
tra o neoconstitucionalismo (a) a de que o seu pendor judicialista eacute anti-democraacutetico (b) a de
que a sua preferecircncia por princiacutepios e ponderaccedilatildeo em detrimento de regras e subsunccedilatildeo eacute
perigosa sobretudo no Brasil em razatildeo de singularidades da nossa cultura e (c) a de que ele
pode gerar uma panconstitucionalizaccedilatildeo do Direito em detrimento da autonomia puacuteblica do
cidadatildeo e da autonomia privada do indiviacuteduo Outras criacuteticas importantes existem103 mas por
limites de tempo e espaccedilo preferi priorizar aqui estas trecircs que satildeo as que geram maior apre-
ensatildeo no cenaacuterio brasileiro
a) Neoconstitucionalismo e judiciocracia
Como salientado acima o neoconstitucionalismo tem um foco muito centrado no Poder Judici-
aacuterio no qual deposita enormes expectativas no sentido de concretizaccedilatildeo dos ideais emancipa-
toacuterios presentes nas constituiccedilotildees contemporacircneas Contudo este vieacutes judicialista sofre con-
testaccedilotildees pelo seu suposto caraacuteter antidemocraacutetico na medida em que os juiacutezes diferente-
mente dos parlamentares e chefes do Executivo natildeo satildeo eleitos e natildeo respondem diretamente
perante o povo104
Esta criacutetica democraacutetica se assenta na ideacuteia de que numa democracia eacute essencial que as deci-
sotildees poliacuteticas mais importantes sejam tomadas pelo proacuteprio povo ou por seus representantes
eleitos e natildeo por saacutebios ou tecnocratas de toga Eacute verdade que a maior parte dos teoacutericos con-
temporacircneos da democracia reconhece que ela natildeo se esgota no respeito ao princiacutepio majoritaacute-
rio pressupondo antes o acatamento das regras do jogo democraacutetico que incluem a garantia
de direitos baacutesicos visando a viabilizar a participaccedilatildeo igualitaacuteria do cidadatildeo na esfera puacuteblica
bem como alguma proteccedilatildeo agraves minorias105 Poreacutem temos aqui uma questatildeo de dosagem pois
se a imposiccedilatildeo de alguns limites para a decisatildeo das maiorias pode ser justificada em nome da
democracia o exagero tende a revelar-se antidemocraacutetico por cercear em demasia a possibi-
lidade do povo de se autogovernar106
E a questatildeo natildeo eacute apenas de divisatildeo de poder ao longo do tempo A dificuldade democraacutetica
natildeo estaacute tatildeo-somente no fato de as constituiccedilotildees subtraiacuterem do legislador futuro a possibilida-
de de tomar algumas decisotildees107 O cerne do debate estaacute no reconhecimento de que diante da
vagueza e abertura de boa parte das normas constitucionais mais importantes quem as inter-
preta tambeacutem participa do seu processo de criaccedilatildeo108 Daiacute a criacutetica de que o vieacutes judicialista
subjacente ao neoconstitucionalismo acaba por conferir aos juiacutezes uma espeacutecie de poder cons-
tituinte permanente pois lhes permite moldar a Constituiccedilatildeo de acordo com as suas preferecircn-
cias poliacuteticas e valorativas em detrimento daquelas do legislador eleito Esta visatildeo levou inuacute-
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meras correntes de pensamento ao longo da histoacuteria a rejeitarem a jurisdiccedilatildeo constitucional
ou pelo menos o ativismo judicial no seu exerciacutecio dos revolucionaacuterios franceses do seacuteculo XVI-
II109 passando por Carl Schmitt110 na Repuacuteblica de Weimar ateacute os adeptos do constituciona-
lismo popular nos Estados Unidos de hoje111
No Brasil eacute muito comum traccedilar-se um paralelo entre a defesa do ativismo judicial e posiccedilotildees
sociais progressistas Talvez isso se deva ao fato de que na nossa histoacuteria o Judiciaacuterio brasilei-
ro tem pecado muito mais por omissatildeo acumpliciando-se diante dos desmandos dos poderes
poliacutetico e econocircmico do que por excesso de ativismo Neste quadro quem ousa questionar
possiacuteveis exageros na judicializaccedilatildeo da poliacutetica e da vida social no Brasil de hoje eacute logo tachado
de conservador Poreacutem o paralelismo em questatildeo natildeo existe Muitas vezes o Poder Judiciaacuterio
pode atuar bloqueando mudanccedilas importantes promovidas pelos outros poderes em favor dos
excluiacutedos defendendo o statu quo E esta defesa pode ocorrer inclusive atraveacutes do uso da retoacute-
rica dos direitos fundamentais
Isso se deu por exemplo nos Estados Unidos nas primeiras deacutecadas do seacuteculo passado em pe-
riacuteodo que ficou conhecido como Era de Lochner112 quando a Suprema Corte impediu sistemati-
camente a ediccedilatildeo de legislaccedilatildeo trabalhista e de outras medidas que implicavam em interferecircn-
cia na esfera econocircmica em proveito das classes desfavorecidas com base numa leitura subs-
tantiva da claacuteusula do devido processo legal No cenaacuterio contemporacircneo Ran Hirshl113 sustenta
que o processo de judicializaccedilatildeo da poliacutetica que vem ocorrendo nos uacuteltimos anos em diversos
paiacuteses do mundo - ele fez um atento ainda que controvertido estudo dos casos do Canadaacute
Israel Aacutefrica do Sul e Nova Zelacircndia - teria como pano de fundo uma tentativa das elites eco-
nocircmicas e culturais que perderam espaccedilo na poliacutetica majoritaacuteria de manterem o seu poder
reforccedilando no arranjo institucional do Estado o peso do Judiciaacuterio no qual elas ainda tecircm he-
gemonia E aqui no Brasil seraacute que a proteccedilatildeo absoluta que vem sendo conferida ao direito
adquirido - inclusive o de furar teto salarial do funcionalismo fixado por emenda agrave Constituiccedilatildeo
114 - e o ultra-garantismo penal nos crimes do colarinho branco natildeo seriam exemplos deste
mesmo fenocircmeno
Por outro lado uma ecircnfase excessiva no espaccedilo judicial pode levar ao esquecimento de outras
arenas importantes para a concretizaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo e realizaccedilatildeo de direitos gerando um
resfriamento da mobilizaccedilatildeo ciacutevica do cidadatildeo Eacute verdade que o ativismo judicial pode em
certos contextos atuar em sinergia com a mobilizaccedilatildeo social na esfera puacuteblica Isto ocorreu
por exemplo no movimento dos direitos civis nos Estados Unidos dos anos 50 e 60 que foi a-
quecido pelas respostas positivas obtidos na Suprema Corte no periacuteodo da Corte de Warren115
Mas nem sempre eacute assim A ecircnfase judicialista pode afastar do cenaacuterio de disputa por direitos
18
as pessoas e movimentos que natildeo pertenccedilam nem tenham proximidade com as corporaccedilotildees
juriacutedicas
Ademais esta obsessatildeo com a interpretaccedilatildeo judicial da Constituiccedilatildeo tende a obscurecer o pa-
pel central de outras instacircncias na definiccedilatildeo do sentido da Constituiccedilatildeo - como o Legislativo o
Executivo e a proacutepria esfera puacuteblica informal Trata-se de um desvio que gera consequumlecircncias
negativas tanto no plano descritivo como na esfera normativa Sob o prisma descritivo trans-
mite-se uma imagem muito parcial do fenocircmeno constitucional que natildeo eacute captado com todas
as suas nuances e riquezas jaacute que o foco se concentra apenas sobre a accedilatildeo de um dentre os
vaacuterios agentes importantes que povoam a seara da hermenecircutica constitucional116 Sob o acircngu-
lo normativo favorece-se um governo agrave moda platocircnica de saacutebios de toga117 que satildeo convida-
dos a assumir uma posiccedilatildeo paternalista diante de uma sociedade infantilizada118 Justifica-se o
ativismo judicial a partir de uma visatildeo muito criacutetica do processo poliacutetico majoritaacuterio mas que
ignora as inuacutemeras mazelas que tambeacutem afligem o Poder Judiciaacuterio construindo-se teorias a
partir de visotildees romacircnticas e idealizadas do juiz119 Soacute que se eacute verdade que o processo poliacuteti-
co majoritaacuterio tem seus viacutecios - e eles satildeo muito graves no cenaacuterio brasileiro - tambeacutem eacute certo
que os juiacutezes natildeo satildeo semi-deuses e que a esfera em que atuam tampouco eacute imune agrave poliacutetica
com p menor
Esta idealizaccedilatildeo da figura do juiz natildeo se compadece com algumas notoacuterias deficiecircncias que o
Judiciaacuterio brasileiro enfrenta Dentre elas pode-se destacar a sobrecarga de trabalho que
compromete a capacidade dos magistrados de dedicarem a cada processo o tempo e a energia
necessaacuterias para que faccedilam tudo que o que demandam as principais teorias da argumentaccedilatildeo
defendidas pelo neoconstitucionalismo E cabe referir tambeacutem agraves lacunas na formaccedilatildeo do ma-
gistrado brasileiro decorrentes sobretudo das falhas de um ensino juriacutedico formalista e nada
interdisciplinar que ainda viceja no paiacutes que natildeo satildeo corrigidas nos procedimentos de seleccedilatildeo
e treinamento dos juiacutezes
Outra consequumlecircncia da obsessatildeo judicialista do constitucionalismo brasileiro contemporacircneo
estaacute refletida na nossa produccedilatildeo acadecircmica Enquanto somos inundados por livros e artigos
muitas vezes repetitivos sobre assuntos como princiacutepios e regras interpretaccedilatildeo constitucional
e tutela judicial de direitos fundamentais outros temas absolutamente essenciais para a vida
do paiacutes passam ao largo da preocupaccedilatildeo dos juristas Eacute o caso da reforma poliacutetica Em que pese
o caraacuteter essencialmente constitucional do assunto quase nenhum constitucionalista se inte-
ressou por ele 120e praticamente toda a literatura de qualidade produzida sobre o toacutepico tem
vindo da Ciecircncia Poliacutetica
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Estou convencido de que o Poder Judiciaacuterio tem um papel essencial na concretizaccedilatildeo da Consti-
tuiccedilatildeo brasileira Em face do quadro de sistemaacutetica violaccedilatildeo de direitos de certos segmentos da
populaccedilatildeo do arranjo institucional desenhado pela Carta de 88 e da seacuteria crise de representa-
tividade do Poder Legislativo entendo que o ativismo judicial se justifica no Brasil pelo menos
em certas searas como a tutela de direitos fundamentais a proteccedilatildeo das minorias e a garantia
do funcionamento da proacutepria democracia O maior insulamento judicial diante da pressatildeo das
maiorias bem como um certo ethos profissional de valorizaccedilatildeo dos direitos humanos que co-
meccedila a se instalar na nossa magistratura 121 conferem ao Judiciaacuterio uma capacidade institu-
cional privilegiada para atuar nestas aacutereas122
Mas em outros campos pode ser mais recomendaacutevel uma postura de autocontenccedilatildeo judicial
seja por respeito agraves deliberaccedilotildees majoritaacuterias adotadas no espaccedilo poliacutetico123 seja pelo reco-
nhecimento da falta de expertise do Judiciaacuterio para tomar decisotildees que promovam eficiente-
mente os valores constitucionais em jogo em aacutereas que demandem profundos conhecimentos
teacutecnicos fora do Direito - como Economia poliacuteticas puacuteblicas e regulaccedilatildeo124 Nestes casos deve-
se reconhecer que outros oacutergatildeos do Estado estatildeo mais habilitados para assumirem uma posiccedilatildeo
de protagonismo na implementaccedilatildeo da vontade constitucional
Nesta linha vejo com reticecircncias a sedimentaccedilatildeo na nossa cultura juriacutedica da visatildeo de que o
grande - senatildeo o uacutenico - inteacuterprete da Constituiccedilatildeo seria o Poder Judiciaacuterio125 Esta leitura des-
carta a autocontenccedilatildeo judicial bem como tende a desprezar a possibilidade de que sejam tra-
vados construtivos diaacutelogos interinstitucionais entre diversos oacutergatildeos estatais para a definiccedilatildeo da
melhor interpretaccedilatildeo dos ditames constitucionais126 Um bom exemplo127 deste desvio ocorreu
no julgamento da constitucionalidade das pesquisas em ceacutelulas-tronco embrionaacuterias realizada
pelo STF em que pese o resultado final do julgamento ter sido substancialmente correto Na-
quela ocasiatildeo o importante argumento deduzido na tribuna e em memoriais por Luis Roberto
Barroso - que advogava para um dos amici curiae favoraacuteveis agraves pesquisas - de que o Judiciaacuterio
deveria adotar posiccedilatildeo cautelosa no julgamento da constitucionalidade da lei impugnada ten-
do em vista o amplo consenso em torno dela obtido durante o processo legislativo tanto no
Senado como na Cacircmara foi explicitamente rechaccedilado por alguns ministros que consideraram
o ponto irrelevante E outros ministros em votos vencidos se sentiram confortaacuteveis ateacute para
defender a imposiccedilatildeo de novas normas pelo STF na aacuterea do Biodireito arvorando-se agrave condiccedilatildeo
de legisladores num campo para o qual evidentemente lhes faltava qualquer expertise
Enfim o neoconstitucionalismo brasileiro tem pecado por excesso depositando no Judiciaacuterio
expectativas que ele nem sempre teraacute como atender de forma satisfatoacuteria Um dos efeitos co-
laterais deste fenocircmeno eacute a disseminaccedilatildeo de um discurso muito perigoso de que voto e poliacuteti-
20
ca natildeo satildeo tatildeo importantes pois relevante mesmo eacute a interpretaccedilatildeo dos princiacutepios constitucio-
nais realizada pelo STF Daiacute a dizer que o povo natildeo sabe votar eacute um pulo e a ditadura de toga
pode natildeo ser muito melhor do que a ditadura de farda
b) Neoconstitucionalismo oba-oba constitucional e Estado Democraacutetico de Direito
Seria uma profunda injusticcedila com a teoria neoconstitucionalista acusaacute-la de promover o decisi-
onismo ou de defender a tomada de decisotildees judiciais puramente emotivas sem lastro em ar-
gumentaccedilatildeo racional soacutelida Pelo contraacuterio como foi destacado acima um dos eixos centrais
do pensamento neoconstitucional eacute a reabilitaccedilatildeo da racionalidade praacutetica no acircmbito juriacutedico
com a articulaccedilatildeo de complexas teorias da argumentaccedilatildeo que demandam muito dos inteacuterpre-
tes e sobretudo dos juiacutezes em mateacuteria de fundamentaccedilatildeo das suas decisotildees Poreacutem a praacutetica
judiciaacuteria brasileira recepcionou apenas parcialmente as teorias juriacutedicas de corte poacutes-
positivista e aqui a valorizaccedilatildeo dos princiacutepios e da ponderaccedilatildeo natildeo tem sido muitas vezes
acompanhada do necessaacuterio cuidado com a justificaccedilatildeo das decisotildees
Se ateacute natildeo muito tempo atraacutes os princiacutepios natildeo eram tratados como autecircnticas normas por
aqui - soacute tinha bom direito quem podia invocar uma regra legal clara e precisa em favor da sua
pretensatildeo - com a chegada do poacutes-positivismo e do neoconstitucionalismo passou-se em pou-
cos anos da aacutegua para o vinho Hoje instalou-se um ambiente intelectual no Brasil que aplaude
e valoriza as decisotildees principioloacutegicas e natildeo aprecia tanto aquelas calcadas em regras legais
que satildeo vistas como burocraacuteticas ou positivistas - e positivismo hoje no paiacutes eacute quase um pala-
vratildeo128 Neste contexto os operadores do Direito satildeo estimulados a invocar sempre princiacutepios
muito vagos nas suas decisotildees mesmo quando isso seja absolutamente desnecessaacuterio pela e-
xistecircncia de regra clara e vaacutelida a reger a hipoacutetese Os campeotildees tecircm sido os princiacutepios da dig-
nidade da pessoa humana e da razoabilidade O primeiro eacute empregado para dar imponecircncia ao
decisionismo judicial vestindo com linguagem pomposa qualquer decisatildeo tida como politica-
mente correta e o segundo para permitir que os juiacutezes substituam livremente as valoraccedilotildees de
outros agentes puacuteblicos pelas suas proacuteprias
Este cenaacuterio eacute problemaacutetico porque um sistema juriacutedico funcional estaacutevel e harmocircnico com os
valores do Estado Democraacutetico de Direito precisa tanto da aplicaccedilatildeo de regras como de princiacute-
pios129 As regras satildeo indispensaacuteveis dentre outras razotildees130 porque geram maior previsibili-
dade e seguranccedila juriacutedica para os seus destinataacuterios diminuem os riscos de erro na sua inci-
decircncia jaacute que natildeo dependem tanto das valoraccedilotildees do inteacuterprete em cada caso concreto en-
volvem um menor custo no seu processo de aplicaccedilatildeo pois podem incidir de forma mais mecacirc-
nica sem demandarem tanto esforccedilo do inteacuterprete e natildeo implicam na mesma medida que os
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princiacutepios em uma transferecircncia de poder decisoacuterio do Legislativo que eacute eleito para o Judici-
aacuterio que natildeo eacute
Natildeo pretendo sustentar com isso que se deva retroceder ao tempo em que os princiacutepios natildeo
eram aplicados pelos juiacutezes brasileiros Tambeacutem os princiacutepios satildeo essenciais na ordem juriacutedica
pois conferem mais plasticidade ao Direito - o que eacute essencial numa sociedade hiper-complexa
como a nossa - e permitem uma maior abertura da argumentaccedilatildeo juriacutedica agrave Moral e ao mundo
empiacuterico subjacente O importante eacute encontrar uma justa medida que natildeo torne o processo de
aplicaccedilatildeo do Direito amarrado demais como ocorreria num sistema baseado exclusivamente
em regras nem solto demais como sucederia com um que se fundasse apenas em princiacutepios
Penso que eacute chegada a hora de um retorno do pecircndulo no Direito brasileiro131 que sem des-
cartar a importacircncia dos princiacutepios e da ponderaccedilatildeo volte a levar a seacuterio tambeacutem as regras e a
subsunccedilatildeo
Ademais naquelas hipoacuteteses em que a aplicaccedilatildeo de princiacutepios for realmente apropriada ela
deve dar-se de forma mais racional e fundamentada Deve-se adotar a premissa de que quanto
mais vaga for a norma a ser aplicada e mais intenso o componente volitivo envolvido no pro-
cesso decisoacuterio maior deve ser o ocircnus argumentativo do inteacuterprete no sentido de mostrar que
a soluccedilatildeo por ele adotada eacute a que melhor realiza os valores do ordenamento naquele caso con-
creto132 A tendecircncia atual de invocaccedilatildeo frouxa e natildeo fundamentada de princiacutepios colide com a
loacutegica do Estado Democraacutetico de Direito pois amplia as chances de arbiacutetrio judicial gera inse-
guranccedila juriacutedica e atropela a divisatildeo funcional de poderes que tem no ideaacuterio democraacutetico um
dos seus fundamentos - a noccedilatildeo baacutesica de que as decisotildees sobre o que os cidadatildeos e o Estado
podem e natildeo podem fazer devem ser tomadas preferencialmente por quem represente o povo
e seja por ele escolhido
E haacute na sociedade brasileira traccedilos que tornam ainda mais perigosa esta tendecircncia agrave frouxidatildeo
e emotividade na metodologia juriacutedica Nossa cultura caracteriza-se muito mais pelo jeiti-
nho133 e pelo patrimonialismo134 do que pela valorizaccedilatildeo do cumprimento impessoal de regras
O brasileiro - jaacute dizia Seacutergio Buarque de Holanda135 - eacute o homem cordial que tende a antepor
a loacutegica privada do compadrio e da simpatia agrave racionalidade objetiva das leis Esta singularida-
de das nossas relaccedilotildees sociais natildeo atua de forma neutra em relaccedilatildeo a todos os cidadatildeos Ela
implica na adoccedilatildeo de posturas estatais em geral muito benevolentes em relaccedilatildeo aos donos do
poder e seus apaniguumlados e de posiccedilotildees muito mais duras dirigidas aos grupos excluiacutedos e mar-
ginalizados136 Uns poucos acabam pairando acima das leis que natildeo os alcanccedilam para limitar a
sua conduta ou sancionar os seus desvios enquanto outros permanecem abaixo dela sendo
22
atingidos apenas pelo braccedilo punitivo do Estado pois a violaccedilatildeo rotineira dos seus direitos eacute
naturalizada tornando-se invisiacutevel
Neste quadro cabe indagar sob a perspectiva de uma sociologia da interpretaccedilatildeo constitucio-
nal ateacute que ponto a introduccedilatildeo entre noacutes de uma dogmaacutetica fluida - a expressatildeo eacute de Gusta-
vo Zagrebelsky137 um dos iacutecones do neoconstitucionalismo - natildeo pode ter como efeito colateral
o agravamento de patologias que marcam as nossas relaccedilotildees sociais Seraacute que o nosso Direito
precisa de mais rigidez ou de maior maleabilidade Ao fim e ao cabo quem tende a se benefi-
ciar com a adoccedilatildeo de uma hermenecircutica juriacutedica mais flexiacutevel
Uma reflexatildeo importante sobre tema correlato foi empreendida por Marcelo Neves138 a partir
das categorias da teoria sistecircmica de Niklas Luhman Para Luhman139 em apertada siacutentese o
Direito nas hipercomplexas sociedades modernas seria autopoieacutetico140 pois consistiria num
subsistema social estruturalmente fechado em relaccedilatildeo ao meio envolvente que operaria de
acordo com um coacutedigo binaacuterio proacuteprio - o liacutecito iliacutecito As influecircncias do meio envolvente so-
bre o Direito seriam filtradas atraveacutes deste coacutedigo assegurando a autonomia da esfera juriacutedica
diante dos outros subsistemas sociais como a Economia a Poliacutetica a Religiatildeo etc Contudo
Marcelo Neves sustenta que em sociedades perifeacutericas como o Brasil natildeo se desenvolveu ple-
namente este fechamento estrutural do Direito Por aqui fatores como a nossa constituciona-
lizaccedilatildeo simboacutelica geraram uma insuficiente diferenciaccedilatildeo do Direito em relaccedilatildeo a outros sub-
sistemas sociais permitindo que elementos a princiacutepio estranhos ao coacutedigo binaacuterio do juriacutedico -
como a questatildeo do poder poliacutetico e do poder econocircmico - se infiltrem sistematicamente nos
processos de aplicaccedilatildeo das normas condicionando o seu resultado A teoria dos sistemas de
Luhman natildeo funcionaria bem entre noacutes pois teriacuteamos um Direito em boa parte alopoieacuteti-
coPara tal perspectiva esta maior abertura do Direito ao meio envolvente natildeo assume o po-
tencial emancipatoacuterio preconizado pela teoria neoconstitucionalista Ela funciona muito mais
como um mecanismo de cristalizaccedilatildeo de diferenccedilas sociais mantendo a hiper-inclusatildeo de uns
ao preccedilo da exclusatildeo de outros
Esta reflexatildeo de Marcelo Neves natildeo se dirigiu ao debate metodoloacutegico contemporacircneo envol-
vendo princiacutepios e regras ponderaccedilatildeo e subsunccedilatildeo etc Poreacutem entendo que ela pode ter algu-
ma pertinecircncia tambeacutem aqui pelo menos para nos advertir sobre o perigo de que o neoconsti-
tucionalismo com a fluidez metodoloacutegica e abertura do Direito a outros domiacutenios que preconi-
za possa acabar tornando-se um belo roacutetulo para justificar mais do mesmo patrimonialismo
desigualdade jeitinho Nesta perspectiva a novidade do neoconstitucionalismo poderia pare-
cer com aquela advogada pelo Priacutencipe de Salinas em famosa passagem do romance O Leopar-
do de Giuseppe Lampedusa quando defendia no contexto da crise da aristocracia italiana do
23
final do seacuteculo XIX a necessidade de mudanccedilas urgentes no governo para que ao final as
coisas pudessem permanecer exatamente do jeito que sempre foram
Natildeo penso que esta seja uma consequumlecircncia necessaacuteria da adoccedilatildeo de uma perspectiva juriacutedica
mais principialista no Brasil O maior cuidado metodoloacutegico adicionado agrave adoccedilatildeo de uma dire-
triz hermenecircutica substantiva que afirme a missatildeo essencial do Direito de assegurar justiccedila e
seguranccedila agraves pessoas tratando-as como livres e iguais pode minimizar as possibilidades de um
uso enviesado da teoria neoconstitucional que acabe favorecendo aos mesmos de sempre
Mas diante das nossas tradiccedilotildees natildeo haacute como negar que os riscos satildeo elevados
c) Neoconstitucionalismo e panconstitucionalizaccedilatildeo
Uma das caracteriacutesticas do neoconstitucionalismo eacute a defesa da constitucionalizaccedilatildeo do Direi-
to Sustenta-se que a irradiaccedilatildeo das normas constitucionais por todo o ordenamento contribui
para aproximaacute-lo dos valores emancipatoacuterios contidos nas constituiccedilotildees contemporacircneas 141A
Constituiccedilatildeo natildeo eacute vista mais como uma simples norma normarum - cuja finalidade principal eacute
disciplinar o processo de produccedilatildeo de outras normas142 Ela passa a ser enxergada como a en-
carnaccedilatildeo dos valores superiores da comunidade poliacutetica que devem fecundar todo o sistema
juriacutedico Neste modelo cabe ao inteacuterprete natildeo soacute aplicar diretamente os ditames constitucio-
nais agraves relaccedilotildees sociais como tambeacutem reler todas as normas e institutos dos mais variados ra-
mos do Direito agrave luz da Constituiccedilatildeo emprestando-lhes o sentido que mais promova os objeti-
vos e a axiologia da Carta
A constitucionalizaccedilatildeo do Direito de que cogita o neoconstitucionalismo natildeo eacute aquela que resul-
ta do caraacuteter excessivamente analiacutetico da Constituiccedilatildeo e leva ao entricheiramento de meras
opccedilotildees conjunturais do constituinte originaacuterio ou derivado despidas de maior importacircncia ou
dignidade Este eacute um fenocircmeno caracteriacutestico da Carta de 88 que se excedeu no casuiacutesmo e
nos detalhes elevando ao seu texto meros interesses corporativos ou decisotildees de momento
sem focirclego para perdurarem no tempo A constitucionalizaccedilatildeo louvada e defendida pelo neo-
constitucionalismo eacute aquela que parte de uma interpretaccedilatildeo extensiva e irradiante dos direitos
fundamentais e dos princiacutepios mais importantes da ordem constitucional Aqui contudo pode-
se discutir ateacute que ponto o fenocircmeno eacute legiacutetimo Poucos discordaratildeo pelo menos no Brasil de
que alguma constitucionalizaccedilatildeo do Direito eacute positiva e bem-vinda por semear o ordenamento
com os valores humanitaacuterios da Constituiccedilatildeo Poreacutem pode-se objetar contra as teses extrema-
das sobre este processo que acabam amputando em demasia o espaccedilo de liberdade do legisla-
dor em detrimento da democracia 143
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Com efeito quem defende que tudo ou quase tudo jaacute estaacute decidido pela Constituiccedilatildeo e que o
legislador eacute um mero executor das medidas jaacute impostas pelo constituinte nega por conse-
quumlecircncia a autonomia poliacutetica ao povo para em cada momento da sua histoacuteria realizar as suas
proacuteprias escolhas O excesso de constitucionalizaccedilatildeo do Direito reveste-se portanto de um
vieacutes antidemocraacutetico Esta ordem de preocupaccedilotildees levou Ersnt Forsthof na Alemanha a criti-
car as teorias que viam a Constituiccedilatildeo como uma espeacutecie de genoma juriacutedico () do qual tudo
deriva do Coacutedigo Penal ateacute a lei sobre a fabricaccedilatildeo de termocircmetros144 E a questatildeo torna-se
ainda mais delicada diante da constataccedilatildeo de que pela abertura semacircntica dos direitos fun-
damentais e dos princiacutepios - principal mateacuteria-prima da constitucionalizaccedilatildeo do Direito - o seu
principal agente acaba sendo o Poder Judiciaacuterio ao dar a uacuteltima palavra sobre a interpretaccedilatildeo
daquelas claacuteusulas Daiacute porque o debate sobre a constitucionalizaccedilatildeo do Direito se imbrica
inexoravelmente com as discussotildees a propoacutesito da judicializaccedilatildeo da poliacutetica e do decisionismo
referidas acima
Ademais a constitucionalizaccedilatildeo do Direito tambeacutem suscita outra linha de preocupaccedilotildees rela-
cionada ao perfeccionismo moral145 na esfera privada No Brasil assim como em muitos outros
paiacuteses jaacute se assentou a ideacuteia de que os direitos fundamentais natildeo se dirigem apenas contra o
Estado vinculando tambeacutem os particulares Entre noacutes tem prevalecido na doutrina a ideacuteia que
eu mesmo defendi em outro estudo146 que a eficaacutecia dos direitos fundamentais nas relaccedilotildees
privadas eacute direta e imediata Em outras palavras entende-se que a proacutepria Constituiccedilatildeo jaacute inci-
de nas relaccedilotildees privadas independentemente de mediaccedilotildees legislativas e que pode gerar o-
brigaccedilotildees positivas ou negativas para os indiviacuteduos e natildeo soacute para os poderes puacuteblicos sempre
no afatilde de proporcionar uma proteccedilatildeo mais completa agrave dignidade humana Ateacute aqui nada a
contestar
Poreacutem o reconhecimento da vinculaccedilatildeo dos particulares agrave Constituiccedilatildeo suscita um risco que
natildeo pode ser ignorado o de imposiccedilatildeo agraves pessoas supostamente em nome de valores constitu-
cionais de comportamentos e estilos de vida que elas proacuteprias rejeitam em detrimento da sua
liberdade existencial Para dar um exemplo bem tosco seria terriacutevel se o Direito em nome do
princiacutepio da solidariedade social pudesse impor agraves pessoas que demonstrassem afetos e senti-
mentos que elas natildeo possuem genuinamente Ou se em nome da isonomia pretendesse inter-
ferir nas escolhas subjetivas e emocionais que os indiviacuteduos fazem nas suas vidas privadas A
constitucionalizaccedilatildeo neste sentido poderia converter-se num pretexto para o exerciacutecio de um
paternalismo anti-liberal em que as pessoas seriam forccediladas a conformarem-se agraves expectativas
sociais forjadas a partir de pautas de accedilatildeo politicamente corretas com apoio na Constitui-
ccedilatildeo147
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Nenhuma destas duas questotildees eacute insuperaacutevel Eacute possiacutevel aceitar e aplaudir a constitucionaliza-
ccedilatildeo do Direito - fenocircmeno em geral positivo por aproximar a racionalidade emancipatoacuteria da
Constituiccedilatildeo do dia-a-dia das pessoas - mas defender que ela seja temperada por outras preo-
cupaccedilotildees igualmente essenciais no Estado Democraacutetico de Direito com a autonomia puacuteblica e
privada dos cidadatildeos Pode-se reconhecer a legitimidade da constitucionalizaccedilatildeo do Direito
mas numa medida em que natildeo sacrifique em excesso agrave liberdade de conformaccedilatildeo que numa
democracia deve caber ao legislador para realizar opccedilotildees poliacuteticas em nome do povo148 Pode-
se da mesma forma afirmar a incidecircncia direta da Constituiccedilatildeo nas relaccedilotildees privadas mas
sem invadir a esfera das opccedilotildees existenciais da pessoa - que de resto eacute protegida pela proacutepria
Constituiccedilatildeo das ingerecircncias perfeccionistas do Estado e da sociedade149
5 Conclusatildeo Ao fim da leitura destas paacuteginas o leitor pode estar se indagando se eu me alinho ou natildeo ao
neoconstitucionalismo A minha resposta eacute depende da compreensatildeo que se tenha sobre o ne-
oconstitucionalismo Se entendermos o neoconstitucionalismo de acordo com a conhecida defi-
niccedilatildeo de Luis Prietro Sanchiacutes como uma teoria do Direito que se orienta pelas maacuteximas demaacutes
princiacutepios que reglas maacutes ponderacioacuten que subsuncioacuten omnipotencia de la Constitucioacuten en
todas las aacutereas juriacutedicas y en todos conflictos miacutenimamente relevantes en lugar de espacios
exentos en favor de la opcioacuten legislativa o reglamentaria omnipotencia judicial en lugar de
autonomia del legislador ordinaacuterio y por ultimo coexistecircncia de una constelacioacuten plural de
valores a veces tendencialmente contradictorios en lugar de homogeneidad ideoloacutegica150
certamente eu natildeo me considero um neoconstitucionalista De todas as afirmaccedilotildees do professor
espanhol a uacutenica de que natildeo discordo eacute aquela relacionada ao pluralismo de valores cujo re-
conhecimento aliaacutes estaacute longe de ser privileacutegio dos neoconstitucionalistas
Contudo eu assumo o roacutetulo sem constrangimentos se o neoconstitucionalismo for pensado
como uma teoria constitucional que sem descartar a importacircncia das regras e da subsunccedilatildeo
abra tambeacutem espaccedilo para os princiacutepios e para a ponderaccedilatildeo tentando racionalizar o seu uso
Se for visto como uma concepccedilatildeo que sem desprezar o papel protagonista das instacircncias de-
mocraacuteticas na definiccedilatildeo do Direito reconheccedila e valorize a irradiaccedilatildeo dos valores constitucio-
nais pelo ordenamento bem como a atuaccedilatildeo firme e construtiva do Judiciaacuterio para proteccedilatildeo e
promoccedilatildeo dos direitos fundamentais e dos pressupostos da democracia E acima de tudo se
for concebido como uma visatildeo que conecte o Direito com exigecircncias de justiccedila e moralidade
criacutetica151 sem enveredar pelas categorias metafiacutesicas do jusnaturalismo
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Certamente uma visatildeo equilibrada da Teoria do Direito com tais caracteriacutesticas pode contribu-
ir para o aperfeiccediloamento do Estado Democraacutetico de Direito no Brasil O mesmo jaacute natildeo digo de
concepccedilotildees mais radicais do neoconstitucionalismo que podem ser muito boas para arrancar
aplausos entusiasmados das plateacuteias nos seminaacuterios estudantis mas que natildeo se conciliam com
exigecircncias fundamentais de seguranccedila juriacutedica democracia e liberdade que satildeo alicerces de
qualquer bom constitucionalismo - novo ou velho
Curriacuteculo Resumido
Daniel Sarmento
Poacutes-Doutor pela Universidade de Yale (EUA) Procurador Regional da Repuacuteblica
Como citar este artigo
SARMENTO Daniel O neoconstitucionalismo no Brasil riscos e possibilidades Disponiacutevel em httpwwweditoraforumcombrsistconteudolista_conteudoaspFIDT_CONTEUDO=56993 acesso em 09032011 httpdireitoesubjetividadefileswordpresscom201008daniel-sarmento-o-neoconstitucionalismo-no-brasil1doc acesso em 30062012 Material da 1ordf aula da Disciplina Teoria Geral da Constituiccedilatildeo (I) ministrada no Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo Online em Direito Constitucional ndash Anhanguera-UNIDERP | REDE LFG
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1Sobre a teoria de princiacutepios no Brasil veja-se dentre outros Ana Paula de Barcellos A eficaacutecia juriacutedica dos princiacutepios constitu-
cionais o princiacutepio da dignidade da pessoa humana Rio de Janeiro Renovar 2002 Humberto Bergman Aacutevila Teoria dos princiacute-
pios da definiccedilatildeo agrave aplicaccedilatildeo dos princiacutepios juriacutedicos 2 ed Satildeo Paulo RT 2005 Jane Reis Gonccedilalves Pereira Interpretaccedilatildeo
constitucional e direitos fundamentais uma contribuiccedilatildeo ao estudo das restriccedilotildees aos direitos fundamentais na perspectiva da
teoria dos princiacutepios Rio de Janeiro Renovar 2006 Virgiacutelio Afonso da Silva O conteuacutedo essencial dos direitos fundamentais e a
eficaacutecia das normas constitucionais Satildeo Paulo Tese (concurso de Professor Titular de Direito Constitucional da USP)
2Veja-se em tons variados Lecircnio Luiz Streck Hermenecircutica juriacutedica e(m) crise uma exploraccedilatildeo hermenecircutica da construccedilatildeo do
direito Porto Alegre Livraria do Advogado 1999 Luiacutes Roberto Barroso (Org) A nova interpretaccedilatildeo constitucional ponderaccedilatildeo
direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas Rio de Janeiro Renovar 2003 Margarida Maria Lacombe Camargo Hermenecircutica e
argumentaccedilatildeo uma contribuiccedilatildeo ao estudo do direito Rio de Janeiro Renovar 2003 Inocecircncio Maacutertires Coelho Interpretaccedilatildeo
constitucional 2 ed Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2003 Ana Paula de Barcellos Ponderaccedilatildeo racionalidade e atividade
jurisdicional Rio de Janeiro Renovar 2005
3Sobre o fenocircmeno da constitucionalizaccedilatildeo do Direito confira-se os inuacutemeros artigos que compotildeem a coletacircnea organizada por
Claacuteudio Pereira de Souza Neto e por mim A constitucionalizaccedilatildeo do direito fundamentos teoacutericos e aplicaccedilotildees especiacuteficas Rio de
Janeiro Lumen Juris 2007
4Cfr na literatura constitucional brasileira Gisele Guimaratildees Cittadino Pluralismo direito e justiccedila distributiva elementos de
filosofia constitucional contemporacircnea Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 Oscar Vilhena Vieira A Constituiccedilatildeo e sua reserva de
justiccedila um ensaio sobre os limites materiais do poder de reforma Satildeo Paulo Malheiros 1999 Ricardo Lobo Torres (Org) A legi-
timaccedilatildeo dos direitos humanos Rio de Janeiro Renovar 2002 Claacuteudio Pereira de Souza Neto Teoria constitucional e democracia
deliberativa Rio de Janeiro Renovar 2006 Lecircnio Luiz Streck Verdade e consenso Constituiccedilatildeo hermenecircutica e teorias discursi-
vas Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 Samantha Chantal Dobrowolski A construccedilatildeo social do sentido da Constituiccedilatildeo na demo-
cracia contemporacircnea entre soberania popular e direitos humanos Rio de Janeiro Lumen Juris 2007 Aacutelvaro Ricardo de Souza
Cruz Hermenecircutica juriacutedica e(m) debate o constitucionalismo brasileiro entre a teoria do discurso e a ontologia existencial Belo
Horizonte Foacuterum 2007
5Sobre a judicializaccedilatildeo da poliacutetica no Brasil veja-se Luiz Werneck Vianna et al A judicializaccedilatildeo da poliacutetica e das relaccedilotildees sociais
no Brasil Rio de Janeiro Revan 1999 Giselle Cittadino Judicializaccedilatildeo da poliacutetica constitucionalismo democraacutetico e separaccedilatildeo de
poderes In Luiz Werneck Vianna (Org) A democracia e os trecircs poderes no Brasil Belo Horizonte UFMG 2002 p 17-42 Rogeacuterio
B Arantes Constitucionalism the expansion of Justice and the Judicialization of Poltics in Brazil In Rachel Sieder Line Schjol-
den Alan Angell The Judicialization of Politics in Latin America New York Palgrave Macmillan 2005 p 232-262 Luis Roberto
Barroso Judicializaccedilatildeo ativismo judicial e legitimidade democraacutetica Texto ineacutedito gentilmente cedido pelo autor
Para uma perspectiva comparativa veja-se Neal C Tate Tobjorn Vallinder (Ed) The Global Expansion of Judicial Power New
York New York University Press 1995 Alec Stone Sweet Governing with Judges Constitutional Politics in Europe Oxford Oxford
Univesity Press 2000 e em tom profundamente criacutetico Ran Hirschl Towards Juristocracy the Origins and Consequences of the
New Constitucionalism Cambridge Harvard University Press 2004
6Miguel Carbonell et al Neoconstitucionalismo(s) Madrid Trotta 2003 Mais recentemente o autor publicou nova coletacircnea
tambeacutem dedicada ao estudo do neoconstitucionalismo intitulada Teoria del Neoconstitucionalismo Ensayos escogidos Madrid
Trotta 2007
7O jurista argentino Carlos Santiago Nino por exemplo faleceu em 1993 quando ainda nem se empregava esta denominaccedilatildeo
8Cf Robert Alexy Teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica a teoria do discurso racional como teoria da fundamentaccedilatildeo juriacutedica Tradu-
ccedilatildeo de Zilda Hutchinson Schild Silva revisatildeo teacutecnica da traduccedilatildeo e introduccedilatildeo agrave ediccedilatildeo brasileira Claudia Toledo 2 ed Satildeo Paulo
Landy 2005 Luis Roberto Barroso Curso de direito constitucional contemporacircneo os conceitos fundamentais e a construccedilatildeo do
novo modelo Rio de Janeiro Saraiva 2008 p 306-350
9Cf Lecircnio Luiz Streck Verdade e consenso Op cit p 197-246
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10Ronald Dworkin e Carlos Santiago Nino satildeo sem sombra de duacutevida autores liberais natildeo no sentido que se atribui ao termo no
Brasil - de adeptos de doutrina econocircmica favoraacutevel ao Estado miacutenimo e ao mercado - mas sim no sentido corrente na Filosofia
Poliacutetica que associa o liberalismo agrave defesa dos direitos individuais e da neutralidade do Estado em relaccedilatildeo agraves diversas concepccedilotildees
sobre a vida boa existentes na sociedade Veja-se neste sentido Ronald Dworkin A Matter of Principle Cambridge Harvard
University Press 1985 p 181-236 Carlos Santiago Nino La constitucioacuten de la Democracia Deliberativa Barcelona Gedisa 1997
p 70-100
11Lecircnio Luiz Streck que se alinha ao neoconstitucionalismo defende posturas tipicamente comunitaristas como o papel da Consti-
tuiccedilatildeo na definiccedilatildeo de modelos de vida boa para orientaccedilatildeo da vida social e da accedilatildeo individual Cf Jurisdiccedilatildeo constitucional e
hermenecircutica uma nova criacutetica do direito 2 ed Rio de Janeiro Forense 2004 p 95-288
12Antonio Cavalcanti Maia um dos mais ardorosos defensores do neoconstitucionalismo no paiacutes eacute tambeacutem procedimentalista e
adepto das teorias juriacutedicas de Juumlrgen Habermas Veja-se neste sentido o seu denso texto Nos vintes anos da carta cidadatilde do
poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm (Coord) Vinte
anos da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 p 117-168 em que esta sua dupla filiaccedilatildeo intelectual eacute
explicitada
13Segundo Miguel Carbonell o neoconstitucionalismo desdobra-se em trecircs planos de anaacutelise que se conjugam o dos textos consti-
tucionais que se tornaram mais substantivos e incorporaram amplos elencos de direitos fundamentais o das praacuteticas judiciais que
passaram a recorrer a princiacutepios constitucionais agrave ponderaccedilatildeo e a meacutetodos mais flexiacuteveis de interpretaccedilatildeo sobretudo na aacuterea de
direitos fundamentais e o dos desenvolvimentos teoacutericos de autores que com as suas ideacuteias ajudaram natildeo soacute a compreender os
novos modelos constitucionais mas tambeacutem participaram da sua proacutepria criaccedilatildeo Cf Miguel Carbonell Neoconstitucionalismo
elementos para una definicioacuten In Eduardo Ribeiro Moreira Mauricio Pugliesi 20 anos da Constituiccedilatildeo brasileira Satildeo Paulo Sarai-
va 2009 p 197-208
14No mesmo sentido Luis Roberto Barroso Neoconstitucionalismo e Constitucionalizaccedilatildeo do direito o triunfo tardio do direito
constitucional do Brasil In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento A constitucionalizaccedilatildeo do direito fundamentos teoacuteri-
cos e aplicaccedilotildees especiacuteficas Rio de Janeiro Lumen Juris 2007 p 203-250
15Cf Carlos Bernal Pulido El Derecho de los Derechos Bogotaacute Universidad Externado de Colocircmbia 2006 Manoel Jose Cepeda
Espinosa Judicialization of Politics in Colombia the old and the new In Rachel Sieder Line Schonjen Alan Angell The Judiciali-
zation of Politics in Latin America Op cit p 67-104 Rodrigo Uprimmy Mauriacutecio Garcia-Villegas Tribunal Constitucional e eman-
cipaccedilatildeo social na Colocircmbia In Boaventura de Souza Santos Democratizar a democracia os caminhos da democracia participativa
Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2002 p 297-339
16Cf Catalina Smulovitz Petitioning and Creating Rights Judicialization in Argentina In Rachel Sieder Line Scjolden Alan Angell
The Judicialization of Politics in Latin America Op cit p 161-185
17Cf Miguel Carbonell Los Derechos Fundamentales en Meacutexico 2 ed Meacutexico Porruacutea 2006 Pilar Domingo The Changing Political
Role of the Judiciary in Meacutexico In Rachel Sieder Line Scjolden Alan Angell The Judicialization of Politics in Latin Ameacuterica Op
cit p 21-46
18Cf Heinz Klug South Aacutefrica From Constitucional Promise to Social Transformation In Jeffrey Goldsworthy Interpreting Consti-
tutions A Comparative Study Oxford Oxford University Press 2006 p 266-320
19Cf S P Sathe Iacutendia From Positivism to Structuralism In Jeffrey Goldsworthy Op cit p 215-265
20Veja-se a propoacutesito Gustavo Zagrebelsky Il Diritto Mite Torino Einaudi 1992 p 57-96
21Cf Eduardo Garciacutea de Enterriacutea La Constitucioacuten como Norma y el Tribunal Constitucional 3 ed Madrid Civitas 1985 p 41
22Na Alemanha a mudanccedila ocorreu sob a vigecircncia da Lei Fundamental adotada em 1949 e foi fortemente impulsionada pela
jurisprudecircncia do Tribunal Constitucional do paiacutes que construiu teorias importantes como a da Constituiccedilatildeo como uma ordem de
valores em cujo centro situa-se o princiacutepio da dignidade humana que se irradia por todo o ordenamento Veja-se a propoacutesito
Dieter Grimm Human Rights and Judicial Review in Germany In David M Beatty (Org) Human Rights and Judicial Review A
Comparative Perspective Dodrecht Martin Urjhoff 1994 p 267-295
23Na Itaacutelia as mudanccedilas se deram sob a eacutegide da atual Constituiccedilatildeo editada em 1947 mas soacute apoacutes o funcionamento da Corte
Constitucional que se deu em 1956 Ateacute entatildeo a Corte de Cassaccedilatildeo composta por juiacutezes recrutados ainda no periacuteodo do fascismo
29
era provisoriamente encarregada da guarda da Constituiccedilatildeo o que fazia de forma muito tiacutemida no mais das vezes negando eficaacute-
cia juriacutedica agraves normas constitucionais sob o argumento de que seriam programaacuteticas Veja-se a propoacutesito Ricardo Guastini A
constitucionalizaccedilatildeo do ordenamento juriacutedico e a experiecircncia italiana In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento A
constitucionalizaccedilatildeo do direito fundamentos teoacutericos e aplicaccedilotildees especiacuteficas Op cit p 271-294
24Cf No modelo do constitucionalismo norte-americano entende-se desde os primoacuterdios que a Constituiccedilatildeo eacute autecircntica lei e que
o Judiciaacuterio pode invalidar as decisotildees legislativas que a contrariem apesar do controle de constitucionalidade natildeo estar expres-
samente previsto no texto constitucional daquele paiacutes Esta ideacuteia que jaacute estava assentada no Federalista n 78 escrito por Ale-
xander Hamilton antes da aprovaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo foi posta em praacutetica pela primeira vez contra lei federal no ceacutelebre caso
Marbury v Madison julgado em 1803 pelo juiz Marshall Veja-se a propoacutesito Paul Brest Sanford Levinson Jack Balkin Akhil Reed
Amar Processes of Constitutional Decisionmaking Cases and Materials New York Aspen Publishers 2000 p 79-103
A versatildeo mais convencional do modelo constitucional norte-americano enfatiza a importacircncia central do Judiciaacuterio na atualizaccedilatildeo
do sentido da Constituiccedilatildeo do paiacutes Contudo esta leitura histoacuterica eacute hoje objeto de intensa disputa Em sentido contraacuterio a tal
posiccedilatildeo sustentando uma menor relevacircncia do Judiciaacuterio no desenvolvimento histoacuterico do constitucionalismo americano veja-se
por exemplo Stephen M Griffin American Constitutionalism From Theory to Politics New Jersey Princeton University Press
1996 p 88-139
25Cf Luis Prietro Sanchiacutes Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales Madrid Trotta 2003 p 107-117
26Cf Daniel Sarmento Ubiquumlidade constitucional Os dois lados da moeda In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento
(Coord) A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 113-148
27Na verdade a reaccedilatildeo contra o formalismo juriacutedico na Europa eacute bem anterior ao advento do constitucionalismo do 2ordm poacutes-guerra
remontando ao final do seacuteculo XIX Veja-se a propoacutesito Constantin M Stamatis Argumenter en Droit Une theacuteorie critique de
largumentation juridique Paris Publisud 1995 p 34-50 Antonio Manoel Hespanha Panorama histoacuterico da cultura juriacutedica euro-
peacuteia Lisboa Publicaccedilotildees Europa-Ameacuterica 1997 p 196-235
28Haacute vasta literatura sobre a ponderaccedilatildeo mas a obra mais influente sobre o tema eacute certamente o livro de Robert Alexy Teoria dos
direitos fundamentais Traduccedilatildeo de Virgiacutelio Afonso da Silva Satildeo Paulo Malheiros 2008 No cenaacuterio norte-americano veja-se a
anaacutelise densa e criacutetica de T Alexander Aleinikoff Constitucional Law in the Age of Balancing Yale Law Journal n 96 p 943-
1005 1987 No Brasil cfr Daniel Sarmento A ponderaccedilatildeo de interesses na Constituiccedilatildeo Federal Rio de Janeiro Lumen Juris
2000 Ana Paula de Barcellos Ponderaccedilatildeo racionalidade e atividade jurisdicional Op cit
29A bibliografia sobre o princiacutepio da proporcionalidade eacute vastiacutessima Veja-se a propoacutesito as densas anaacutelises de Carlos Bernal Puli-
do El Principio de Proporcionalidad y los Derechos Fundamentales Madrid Centro de Estuacutedios Constitucionales 2003 e no Brasil
de Jane Reis Gonccedilalves Pereira Interpretaccedilatildeo constitucional e direitos fundamentais Rio de Janeiro Renovar 2006 p 297-382
30Cf Chaiumlm Perelman Eacutetica e direito Traduccedilatildeo de Maria Ermantina Galvatildeo G Perira Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 p 361-684
Robert Alexy Teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica Op cit Friedrich Muller Discours de la Meacutethode Juridique Traduccedilatildeo de Olivier
Jouanjan Paris PUF 1993 Manuel Atienza Traacutes la Justicia Una Introduccioacuten al Derecho y al Razonamiento Juriacutedico Barcelona
Ariel 1995 Neil MacCormick Argumentaccedilatildeo juriacutedica e teoria do direito Traduccedilatildeo de Waldeacutea Barcellos Satildeo Paulo Martins Fontes
2006 Klaus Guumlnther Teoria da argumentaccedilatildeo no direito e na moral justificaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Claacuteudio Molz Satildeo Pau-
lo Landy 2004
31Cf Martin Shapiro Alec Stone Sweet On Law Politics and Judicialization New York Oxford University Press p 136-208
32Contudo deve-se admitir na linha de Paolo Comanducci que eacute possiacutevel reconhecer as mudanccedilas em questatildeo e propor novas
teorias que sejam adequadas a elas sem defendecirc-las Esta seria nas palavras do autor italiano a diferenccedila entre o neoconstitu-
cionalismo teoacuterico e o neoconstitucionalismo ideoloacutegico que natildeo apenas constroacutei teorias mais compatiacuteveis com os novos fenocirc-
menos mas vai aleacutem sustentando a sua legitimidade e propugnando pelo seu aprofundamento e expansatildeo Veja-se a propoacutesito
Paulo Comanducci Formas de neoconstitucionalismo Un anaacutelisis metateoacuterico In Miguel Carbonell (Ed) Neoconstitucionalis-
mo(s) Op cit p 75-98 Como reconhece o proacuteprio autor tal distinccedilatildeo baseia-se em uma semelhante acerca do positivismo
30
formulada por Norberto Bobbio que fala em positivismo teoacuterico ideoloacutegico e metodoloacutegico Cf Norberto Bobbio O positivismo
juriacutedico liccedilotildees de filosofia do direito Traduccedilatildeo e notas de Marcio Pugliesi et al Satildeo Paulo Iacutecone 1995 p 233-239
33Cf Ronald Dworkin Is Law a Sistem of Rules In Ronald Dworkin (Ed) Philosophy of Law Oxford Oxford University Press 1971
Robert Alexy Constitucionalismo discursivo Traduccedilatildeo de Luiz Afonso Heck Porto Alegre Livraria do Advogado 2007
34Cf Robert Alexy Derecho y Razoacuten Praacutectica Meacutexico Distribuiciones Fontamara 1993 Aulis Aarnio Lo Racional como Razonable
Traduccedilatildeo de Ernesto Garzoacuten Valdeacutes Madrid Centro de Estuacutedios Constitucionales 1991
35Cf Aharon Barak The Judge in a Democracy New Jersey Princeton University Press 2006 p 213-260 Gustavo Zagrebelsky Il
Diritto Mite Op cit p 179-217
36Confronte-se com perspectivas diferentes Luigi Ferrajoli O Estado de direito entre passado e futuro In Pietro Costa Danilo
Zolo (Org) Estado de direito histoacuteria teoria criacutetica Traduccedilatildeo de Carlo Alberto Dastoli Satildeo Paulo Martins Fontes 2006 p 419-
464 Elias Dias Estado de Derecho y Sociedad Democraacutetica Madrid Taurus 1998 Ronald Dworkin Introduction The Moral Reading
and the Majoritarian Premise In Freedoms Law The moral reading of the American Constitution Cambridge Harvard University
Press 1996 p 01-38 Gustavo Zagrebelsky La Crucifixioacuten y la Democracia Barcelona Ariel 1996 Claacuteudio Pereira de Souza Neto
Teoria constitucional da democracia deliberativa Op cit
37Cf Ronald Dworkin Introduction The Moral Reading and the Majoritarian Premise Op cit
38Cf Luigi Ferrajoli El Garantismo y la Filosofia del Derecho Bogotaacute Universidad Externado de Colocircmbia 2000
39Cf Luis Pietro Sanchis Sobre el Neoconstitucionalismo y sus Implicaciones In Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales
Op cit p 101-135
40Cf Ricardo Guastini Sur la Validiteacute de la Constitution du Point de Vue du Positivisme Juridique In Michel Troper Lucien Jaume
(Dir) 1789 et LInvention de la Constitution Paris LGDJ 1994 p 216-225
41Cf Suzana Pozzolo Neoconstituzionalismo e Positivismo Giuridico Torino Giapppicheli 2001
42Cf Ronald Dworkin Law and Morals In Justice in Robes Cambridge Harvard University Press 2006 p 01-35
43Cf Robert Alexy Derecho y Moral In La Institucionalizacioacuten de la Justicia Op cit p 17-30
44Cf Carlos Santiago Nino Eacutetica y Derechos Humanos 2 ed Buenos Aires Astrea 1989 p 11-48
45Cf Gustav Radbruch Cinco minutos de filosofia do direito In Filosofia do direito Traduccedilatildeo de L Cabral de Moncada 6 ed
Coimbra Armecircnio Amado 1979 p 414-418 Para uma densa problematizaccedilatildeo da foacutermula de Radbruch veja-se Thomas da Rosa
Bustamante Poacutes-Positivismo o argumento da injusticcedila aleacutem da Foacutermula de Radbruch In Teoria do direito e decisatildeo racional
temas de teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica Rio de Janeiro Renovar 2008
46Cf Robert Alexy La Institucionalizacioacuten de la Justicia Traduccedilatildeo de Joseacute Antonio Seone et al Granada Comares 2005 p 31-
54
47Sobre o tema cfr Alfonso Garcia Figueroa Princiacutepios e direitos fundamentais In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmen-
to A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 03-34
48O texto mais importante do positivismo inclusivo eacute o poacutes-escrito de Herbert LA Hart agrave sua obra magna The Concept of Law em
que ele responde agraves criacuteticas ao seu pensamento que Ronald Dworkin lhe endereccedilara O autor inglecircs faleceu antes de terminar o
texto mas ele foi publicado postumemente depois de ser editado por Joseph Raz Peneacutelope Bulloch Veja-se Herbert LA Hart
Poacutes-escrito In O conceito de direito Traduccedilatildeo de A Ribeiro Mendes 2 ed 1994 p 299-339 Tambeacutem na linha do positivismo
inclusivo veja-se Gregorio Peces- Barba Derechos Sociales y Positivismo Juriacutedico Escritos de Filosofia Poliacutetica y Juriacutedica Madrid
Dykinson 1999 p 83-90 Jules Coleman The Practice of Principle In defense of a pragmatist approach do legal theory Oxford
Oxford University Press p 103-120 Para uma resenha dos tipos de positivismo no debate contemporacircneo confira-se Dimitri Di-
moulis Positivismo juriacutedico introduccedilatildeo a uma teoria do direito e defesa do pragmatismo juriacutedico-politico Satildeo Paulo Meacutetodo
2006 p 65-166
49Cf Antonio Cavalcanti Maia Nos vinte anos da Constituiccedilatildeo do poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo Op cit Claacuteudio Perei-
ra de Souza Neto A teoria constitucional e seus lugares especiacuteficos notas sobre o aporte reconstrutivo Revista de Direito do
Estado n 1 p 89-104 jan mar 2006 Daniel Sarmento Interpretaccedilatildeo constitucional preacute-compreensatildeo e capacidades institu-
cionais do inteacuterprete In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binebojm Vinte anos da Constituiccedilatildeo de 1988
Op cit p 311-322
31
50Cf Juumlrgen Habermas Escritos sobre Moralidad y Eticidad Traduccedilatildeo de Manuel Jimenez Redondo Barcelona Paidoacutes 1991 p
131-172
51Sobre o comunitarismo haacute extensa literatura Dois textos claacutessicos deste linha de pensamento satildeo Michael Walzer The Communi-
tarian Critique of Liberalism In Politics and Passion New Haven Yale University Press 2004 p 141-163 Charles Taylor The
Procedural Republic and the Unencumbered Self In Robert Goodin Philip Pettit (Ed) Contemporary Political Philosophy 2 ed
Oxford Oxford University Press 2002 p 2462-256 Sobre a penetraccedilatildeo ainda que muitas vezes natildeo consciente das posiccedilotildees do
comunitarismo no constitucionalismo brasileiro veja-se Gisele Cittadino Pluralismo direito e justiccedila distributiva Op cit p
43-74
52Sobre o construtivismo eacutetico corrente filosoacutefica que sustenta a existecircncia de posiccedilotildees certas e erradas na Moral bem como a
possibilidade de encontraacute-las e fundamentaacute-las racionalmente veja-se Carlos Santiago Nino El Constructivismo Eacutetico Madrid
Centro de Estudios Constitucionales 1989
53O fenocircmeno tambeacutem se reproduz na teoria constitucional norte-americana hegemocircnica cf Keith Wittington Constitutional Con-
struction Divided Powers and Constitutional Meaning Cambridge Harvard University Press 1999 p 01-03
54A imagem do Poder Judiciaacuterio como um guardiatildeo de promessas eacute explorada e criticada numa obra importante da teoria juriacutedica
francesa contemporacircnea Antoine Garapon Le Gardien de Promesses Le juge et la democratie Paris Odile Jacob 1996
55Neste sentido o eloquumlente encerramento do Curso de Direito Constitucional Contemporacircneo de Luis Roberto Barroso o consti-
tucionalismo democraacutetico eacute a utopia que nos restou Uma feacute racional que ajuda a acreditar no bem e na justiccedila ainda quando natildeo
estejam ao alcance dos olhos (Op cit p 400)
56Cf Nico Poulantzas State Power Socialism London new Left Books 1978 Alan Hunt Marxist Theory of Law In Dennis Patter-
son (Ed) A Companion to Philosophy of Law and Legal Theory Malden Blackwell Publishers 1996 p 355-367
57Cf David Kairys (Ed) The Politics of Law A Progressive Critique New York Pantheon Books 1982 Roberto Mangabeira Unger
The Critical Legal Studies Movement Cambridge Harvard University Press 1986
58Cf Plauto Faraco Azevedo Criacutetica agrave dogmaacutetica e hermenecircutica juriacutedica Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1989 Luiz Fernando
Coelho Teoria criacutetica do direito 2 ed Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1991
59Natildeo haacute como abordar aqui as relaccedilotildees entre as inuacutemeras correntes do poacutes-modernismo e o Direito Constitucional Veja-se a
propoacutesito Niklas Luhman La Constituzione como Acquisizione Evolutiva In Gustavo Zagrebelsky Piacuteer Paolo Portinaro Joumlrg Lu-
ther Il Futuro della Costituzione Torino Einaudi 1996 p 83-128 Joseacute Joaquim Gomes Canotilho Civilizaccedilatildeo do direito constitu-
cional ou constitucionalizaccedilatildeo do direito civil a eficaacutecia dos direitos fundamentais na ordem juriacutedico-civil no contexto do direito
poacutes-moderno Cadernos de Direito Constitucional e Ciecircncia Poliacutetica n 15 p 07-16 1996 Eduardo Capellari A crise da moderni-
dade e a Constituiccedilatildeo Rio de janeiro Ameacuterica Juriacutedica 2004 Daniel Sarmento Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas 2 ed
Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 p 36-45
60Para Jean-Franccedilois Lyotard uma das caracteriacutesticas centrais do pensamento poacutes-moderno de que eacute expoente eacute a desconfianccedila
em relaccedilatildeo agraves metanarrativas - construccedilotildees abstratas grandiosas e totalizadoras tiacutepicas da Filosofia Moderna como direitos
humanos luta de classes e emancipaccedilatildeo pelo uso da razatildeo Cf Lyotard A condiccedilatildeo poacutes-moderna Traduccedilatildeo de Ricardo Correcirca
Barbosa 5 ed 1998 p16
61Cf Luiz Werneck Viana O terceiro poder na carta de 1988 e a tradiccedilatildeo republicana mudanccedila e conservaccedilatildeo In Ruben George
Oliven Marcelo Gildo Marccedilal Branda A Constituiccedilatildeo de 1988 na vida brasileira Satildeo Paulo Aderaldo e Rotshild 2008 p 91-109
62Cf Paulo Ricardo Schier Filtragem constitucional Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1999
63A expressatildeo foi cunhada por Claacuteudio Pereira de Souza Neto Fundamento e normatividade dos direitos fundamentais uma recons-
truccedilatildeo teoacuterica agrave luz do princiacutepio democraacutetico Arquivos de Direitos Humanos n 4 p 17-61 2003
64Cf Luis Roberto Barroso O direito constitucional e a efetividade de suas normas 3 ed Rio de Janeiro Renovar 1996
65Cf Clegravemerson Merlin Clegraveve A teoria constitucional e o direito alternativo para uma dogmaacutetica constitucional emancipatoacuteria In
Uma vida dedicada ao direito homenagem a Carlos Henrique de Carvalho Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1995 p 34-53
66Ressalte-se poreacutem que antes de 88 alguns juristas jaacute defendiam a forccedila normativa da Constituiccedilatildeo como o Prof Joseacute Afonso da
Silva Eacute de 1968 a primeira ediccedilatildeo da sua obra claacutessica A aplicabilidade das normas constitucionais que adotava claramente esta
32
perspectiva Todavia pelo clima nada propiacutecio ao constitucionalismo que reinava por aqui ateacute a nossa redemocratizaccedilatildeo a louvaacute-
vel pregaccedilatildeo dele e de outros juristas em prol da efetivaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo natildeo chegou a render maiores frutos
67Deve-se assinalar ainda a influecircncia marcante do novo constitucionalismo ibeacuterico neste movimento que tambeacutem pugnava pela
atribuiccedilatildeo de forccedila normativa agraves ambiciosas constituiccedilotildees de Portugal e Espanha entatildeo recentemente elaboradas apoacutes o fim de
experiecircncias autoritaacuterias naqueles paiacuteses A tiacutetulo de exemplo mencione-se a penetraccedilatildeo no paiacutes do pensamento do Professor de
Coimbra Joseacute Joaquim Gomes Canotilho especialmente da sua teoria sobre a Constituiccedilatildeo dirigente que ele posteriormente reviu
(cf J J Gomes Canotilho Constituiccedilatildeo dirigente e vinculaccedilatildeo ao legislador contributo para a compreensatildeo das normas constitu-
cionais programaacuteticas 2 ed Coimbra Coimbra 2001 - especialmente o prefaacutecio desta segunda ediccedilatildeo que daacute conta da mudanccedila
de posicionamento) bem como a difusatildeo das liccedilotildees do Professor Eduardo Garciacutea de Enterriacutea (cf La Constitucioacuten como Norma y el
Tribunal Constitucional Madrid Civitas 1981)
68Segundo a avaliaccedilatildeo atual de Luis Roberto Barroso personagem central do movimento o positivismo constitucional que deu
impulso ao movimento natildeo importava em reduzir o direito agrave norma mas sim em elevaacute-la a esta condiccedilatildeo pois ateacute entatildeo ele
havia sido menos do que norma (Curso de direito constitucional contemporacircneo Op cit p 224)
69Paulo Bonavides Curso de direito constitucional 5 ed Satildeo Paulo Malheiros 1994
70Eros Roberto Grau A ordem econocircmica na Constituiccedilatildeo de 88 interpretaccedilatildeo e criacutetica Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1996
71No acircmbito da Poacutes-Graduccedilatildeo em Direito da UERJ em que estou inserido desde 1997 primeiro como aluno e a partir de 2003 como
professor o Ricardo Lobo Torres teve papel central na difusatildeo do pensamento destes e de outros filoacutesofos entre os estudantes e o
proacuteprio corpo docente
72Cf Lecircnio Luiz Streck Hermenecircutica juriacutedica e(m) crise Op cit Eros Roberto Grau Ensaio e discurso sobre a interpreta-
ccedilatildeoaplicaccedilatildeo do direito Satildeo Paulo Malheiros 2002
73Nesta linha veja-se as obras que compotildeem a coletacircnea Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Direitos sociais funda-
mentos judicializaccedilatildeo e direitos sociais em espeacutecie Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 Ricardo Lobo Torres O miacutenimo existencial
e os direitos fundamentais Revista de Direito Administrativo n 177 p 20-49 1989 Ingo Wolfgang Sarlet A eficaacutecia dos direitos
fundamentais 9 ed Porto Alegre Livraria do Advogado 2008 Ana Paula de Barcellos A eficaacutecia juriacutedica dos princiacutepios o princiacute-
pio da dignidade da pessoa humana Op cit Marco Mazzeli Gouveia O controle judicial das omissotildees administrativas Rio de
Janeiro Forense 2003 Andreacuteas Krell Direitos sociais e controle judicial no Brasil e Alemanha os (des)caminhos de um direito
constitucional comparado Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2002
74Cf Gustavo Tepedino Temas de direito civil Rio de Janeiro Renovar 1999 Luiz Edson Fachin Estatuto juriacutedico do patrimocircnio
miacutenimo Rio de Janeiro Renovar 2001 Maria Celina Bodin de Moraes Danos agrave pessoa humana uma leitura civil-constitucional dos
danos morais Rio de Janeiro Renovar 2003 Teresa Negreiros Fundamentos para uma interpretaccedilatildeo constitucional do princiacutepio
da boa-feacute Rio de Janeiro Renovar 1998 Anderson Schreiber A proibiccedilatildeo do comportamento contraditoacuterio Rio de Janeiro Reno-
var 2005
75Cf Luciano Feldens A Constituiccedilatildeo penal a dupla face da proporcionalidade no controle das lei penais Porto Alegre Livraria do
Advogado 2005 Luis Carlos dos Santos Gonccedilalves Mandados expressos de criminalizaccedilatildeo e a proteccedilatildeo de direitos fundamentais na
Constituiccedilatildeo Brasileira de 1988 Belo Horizonte Foacuterum 2007
76Cf Gustavo Binenbojm Uma teoria do direito administrativo direitos fundamentais democracia e constitucionalizaccedilatildeo Rio de
Janeiro Renovar 2006 Alexandre dos Santos Aragatildeo Floriano de Azevedo Marques (Coord) Direito administrativo e seus novos
paradigmas Belo Horizonte Foacuterum 2008
77Cf Gustavo Binenbojm A nova jurisdiccedilatildeo constitucional brasileira legitimidade democraacutetica e instumentos de realizaccedilatildeo Rio de
Janeiro Renovar 2001 Claacuteudio Pereira de Souza Neto Jurisdiccedilatildeo constitucional democracia e racionalidade praacutetica Rio de
Janeiro Renovar 2002 Joseacute Adeacutercio Leite Sampaio A Constituiccedilatildeo reinventada pela jurisdiccedilatildeo constitucional Belo Horizonte Del
Rey 2002 Lecircnio Luiz Streck Jurisdiccedilatildeo constitucional e hermenecircutica Porto Alegre Livraria do Advogado 2002 Aacutelvaro Ricardo
de Souza Cruz Jurisdiccedilatildeo constitucional democraacutetica Belo Horizonte Del Rey 2004
78A expressatildeo dificuldade contramajoritaacuteria eacute de um claacutessico da teoria constitucional norte-americana Alexander Bickel La Cons-
titucioacuten como Norma y el Tribunal Constitucional 2 ed New Haven Yale University Press 1986
33
79Em siacutentese apertada o procedimentalismo sustenta que natildeo eacute papel da jurisdiccedilatildeo constitucional tutelar valores substantivos mas
apenas proteger os pressupostos necessaacuterios ao bom funcionamento da democracia Jaacute o substancialismo reconhece a legitimidade
da atuaccedilatildeo jurisdicional em favor da garantia e promoccedilatildeo de valores substantivos presentes na Constituiccedilatildeo O debate entre o
procedimentalismo identificado com as ideacuteias de autores como John Hart Ely e Juumlrgen Habermas e o substancialismo defendido
por teoacutericos como Ronald Dworkin e Laurence Tribe eacute reproduzido em praticamente toda a literatura contemporacircnea que trata de
Teoria ou Filosofia Constitucional Veja-se a propoacutesito a densa obra de Claacuteudio Ari Mello Democracia constitucional e direitos
fundamentais Porto Alegre Livraria do Advogado 2004
80Neoconstitucionalismo e constitucionalizaccedilatildeo do direito o triunfo tardio do direito constitucional no Brasil Op cit
81A crise paradigmaacutetica do direito no contexto da resistecircncia positivista ao (neo)constitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza
Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm Vinte anos da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Op cit p 203-228
82Nos vinte anos da carta cidadatilde do poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo Op cit
83Neoconstitucionalismo direitos fundamentais e controle de poliacuteticas puacuteblicas In Daniel Sarmento Flaacutevio Galdino (Org) Direitos
fundamentais estudos em homenagem ao prof Ricardo Lobo Torres Rio de Janeiro Renovar 2006 p 31-60
84Direitos humanos legitimidade e constitucionalismo In Daniel Sarmento Flaacutevio Galdino (Org) Direitos fundamentais estudos
em homenagem ao Prof Ricardo Lobo Torres Op cit p325-350
85Novos desafios agrave filtragem constitucional no momento do neoconstitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sar-
mento A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 251-270
86Neoconstitucionalismo a invasatildeo da Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Meacutetodo 2008
87Neoconstitucionalismo e positivismo juriacutedico Satildeo Paulo Landy 2006
88Teoria do direito e argumentaccedilatildeo racional temas de teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica op cit p 141-240
89Uma visatildeo criacutetica do neoconstitucionalismo In George Salomatildeo Leite Glauco Salomatildeo Leite Constituiccedilatildeo e efetividade constitu-
cional Salvador JusPodium 2008 p 43-60
90Neoconstitucionalismo entre a Ciecircncia do direito e o direito da ciecircncia In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento
Gustavo Binenbojm Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 p 187-202
91Cf Peticcedilatildeo 1246 MSSC julgada em 31011997 (obrigaccedilatildeo do Estado de realizar transplante de ceacutelulas mioblaacutesticas para salvar
a vida de crianccedila) Agravo de Instrumento no Recurso Extraordinaacuterio 271286RS DJU 24 nov 2000 (entrega de medicamentos
para portadores de HIV) e Agravo de Instrumento do Recurso Extraordinaacuterio nordm 410715-5 julgado em 22112005 (obrigaccedilatildeo de
fornecimento de vagas para educaccedilatildeo infantil pelo municiacutepio com atendimento em creches e preacute-escola)
92Recursos Extraordinaacuterios nordms 158215-4RS 161243-6DF 201819RJ
93Cf Mandado de Injunccedilatildeo 670ES Rel Min Gilmar Mendes julgado em 25102007 em que o STF revendo orientaccedilatildeo anterior
deu eficaacutecia normativa agrave sentenccedila proferida no mandado de injunccedilatildeo No caso decidiuse que ateacute o advento de lei regulamentado-
ra sobre a greve no serviccedilo puacuteblico o direito de greve poderia ser exercido obedecendo-se os limites impostos pela Lei 778389
que trata dos movimentos paredistas em serviccedilos essenciais no setor privado
94Sobre a tendecircncia agrave superaccedilatildeo da ideacuteia do Judiciaacuterio como legislador negativo na jurisdiccedilatildeo constitucional veja-se Joseacute Adeacutercio
Leite Sampaio A Constituiccedilatildeo reinventada pela jurisdiccedilatildeo constitucional Belo Horizonte Del Rey 2002 p 203-248
95Eacute lugar-comum dentre os autores que tratam da questatildeo associar tais mudanccedilas agrave pluralizaccedilatildeo das vozes na interpretaccedilatildeo consti-
tucional tema em que a referecircncia essencial no cenaacuterio germacircnico eacute Peter Haumlberle Veja-se a propoacutesito Peter Haumlberle Herme-
necircutica constitucional A sociedade aberta dos inteacuterpretes da Constituiccedilatildeo contribuiccedilatildeo para a interpretaccedilatildeo pluralista e procedi-
mental da Constituiccedilatildeo Traduccedilatildeo de Gilmar Ferreira Mendes Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1997 Veja-se ainda na doutrina
brasileira Gustavo Binenbojm A dimensatildeo do Amicus Curiae no processo constitucional brasileiro In Temas de direito constitu-
cional e administrativo Rio de Janeiro Renovar 2008 p 165-190
96ADIN 3510DF Relator Ministro Carlos Ayres Britto A accedilatildeo proposta contra o art 5ordm da Lei de Biosseguranccedila impugnava a auto-
rizaccedilatildeo de pesquisas com embriotildees humanos resultantes de fertilizaccedilatildeo in vitro que fossem inviaacuteveis ou estivessem congelados haacute
mais de trecircs anos A accedilatildeo foi julgada totalmente improcedente por 6 votos a 5
97ADPF nordm 54 A accedilatildeo que tem como relator o Ministro Marco Aureacutelio ainda natildeo foi julgada mas em seu bojo jaacute ocorreram diversas
audiecircncias puacuteblicas que provocaram intensa participaccedilatildeo da sociedade civil e grande interesse na miacutedia
34
98ADPF nordm 132 Relator Ministro Carlos Ayres Britto A accedilatildeo ainda foi julgada
99Mandados de Seguranccedila 26602DF 26603DF e 26604DF Informativo STF n 482
100Recurso Extraordinaacuterio 197917SP Rel p acoacuterdatildeo Min Ceacutesar Peluso DJU 18 fev 2005
101O livro de Alberto Carlos Almeida A cabeccedila do brasileiro lanccedilado em 2007 conteacutem pesquisas feitas sobre uma acuteseacuterie de temas
com pessoas de todas as classes sociais e regiotildees do paiacutes Uma das pesquisas eacute relativa agrave avaliaccedilatildeo das instituiccedilotildees Dentre as treze
avaliadas as duas que obtiveram menor aprovaccedilatildeo foram os partidos poliacuteticos (avaliaccedilatildeo positiva de 28 dos entrevistados) e o
Congresso (avaliaccedilatildeo positiva de 36 dos entrevistados) Cf Antonio Carlos Almeida A cabeccedila do brasileiro Rio de Janeiro Re-
cord 2007 p 187
102Cf Luis Roberto Barroso Judicializaccedilatildeo ativismo judicial e legitimidade democraacutetica Texto ainda ineacutedito gentilmente cedido
pelo autor
103Humberto Aacutevila por exemplo formula outra criacutetica importante de que o neoconstitucionalismo seria inadequado agrave realidade
constitucional brasileira jaacute que privilegia os princiacutepios e a Carta de 88 seria muito mais regulatoacuteria do que principioloacutegica (Neo-
constitucionalismo entre a ciecircncia do direito e o direito da ciecircncia Op cit p 188-192)
104Contudo natildeo eacute razoaacutevel estender esta criacutetica ao ponto de negar o caraacuteter democraacutetico da atuaccedilatildeo judicial Como ressaltou
Eugenio Rauacutel Zaffaroni uma instituiccedilatildeo natildeo eacute democraacutetica unicamente porque natildeo provenha de eleiccedilatildeo popular porque nem tudo
o que proveacutem desta origem eacute necessariamente aristocraacutetico Uma instituiccedilatildeo eacute democraacutetica quando seja funcional para o sistema
democraacutetico quer dizer quando seja necessaacuteria para a sua continuidade como ocorre com o judiciaacuterio (Poder judiciaacuterio crise
acertos e desacertos Traduccedilatildeo de Juarez Tavares Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1995 p 43)
105Cf Robert A Dahl Sobre a democracia Traduccedilatildeo de Beatriz Sidou Brasiacutelia UNB 2001 p 97-113 Juumlrgen Habermas Popular
Sovereignity as Procedure In James Bonham William Rehg Deliberative Democracy Cambridge The MIT Press 1997 p 35-66
106A questatildeo da tensatildeo e sinergia simultacircneas entre constitucionalismo e democracia eacute um dos debates mais fecundos da Teoria
Poliacutetica e da Filosofia Constitucional que tem atravessado o tempo desde o advento do constitucionalismo moderno no seacuteculo
XVIII Veja-se no debate contemporacircneo Jeremy Waldron Preocommitment and Disagreement In Larry Alexander Constitu-
cionalism Philosophical Foundations Cambridge Cambridge University Press 1998 p 271-299 Juumlrgen Habermas O Estado demo-
craacutetico de direito uma amarraccedilatildeo paradoxal de princiacutepios contraditoacuterios In Era das transiccedilotildees Traduccedilatildeo de Flaacutevio Beno Siebe-
neichler Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 2003 p 153-173 Carlos Santiago Nino La Constitucioacuten de la Democracia Deliberativa
Op cit Frank Michelman Brennan and Democracy Princeton Princeton University Press 1999 p 03-62 Stephen Holmes El
Precompromiso y la Paradoja de la Democracia In Jon Elster Rune Slagstad Constitucionalismo y Democracia Traduccedilatildeo de Mocircni-
ca Utrilla de Neira Mexico Fondo de Cultura Econocircmica 1999 p 217-262
107O problema da limitaccedilatildeo do legislador atual pelas decisotildees do constituinte adotadas no passado envolve a problemaacutetica da
partilha intergeracional de poder bem explicitada na fala de Jefferson que defendia que a cada 19 anos deveria ser elaborada
uma nova Constituiccedilatildeo nos Estados Unidos para que a Lei Maior daquele paiacutes natildeo se tornasse um mecanismo de governo dos mor-
tos sobre os vivos Em siacutentese apertada haacute na teoria poliacutetica contemporacircnea duas linhas principais de justificativa para a legiti-
midade destas restriccedilotildees
Uma eacute a teoria da democracia dualista defendida por Bruce Ackerman que sustenta que as decisotildees adotadas pelo proacuteprio povo
em contextos de grande mobilizaccedilatildeo ciacutevica devem ser protegidas do alcance da vontade dos representantes do povo formada em
momentos em que a cidadania natildeo esteja intensamente envolvida Esta teoria distingue a poliacutetica extraordinaacuteria correspondente
agravequeles momentos constitucionais da poliacutetica ordinaacuteria que se realiza atraveacutes das deliberaccedilotildees do dia a dia dos oacutergatildeos represen-
tativos Para a perspectiva ackermaniana a poliacutetica extraordinaacuteria - que natildeo exige necessariamente formalizaccedilatildeo procedimental
atraveacutes de assembleacuteia constituinte ou de emenda constitucional - se situa em patamar superior agrave poliacutetica ordinaacuteria e pode legiti-
mamente impor limites a esta (cf Bruce Ackerman We the people Foundations Cambridge The Belknap Press 1991 p 03-33)
Outra teoria eacute a do preacute-compromisso que jaacute foi advogada por Jon Elster Segundo ela eacute legiacutetimo subtrair do alcance das maiorias
determinadas questotildees fundamentais que expressam princiacutepios fundamentais de justiccedila poliacutetica ou garantam os pressupostos da
proacutepria democracia tendo em vista o risco de que no processo poliacutetico majoritaacuterio em momentos de irracionalidade o povo
35
possa ser viacutetima de suas proacuteprias fraquezas ou paixotildees momentacircneas atentando contra tais princiacutepios (cf Ulisses and Sirens
Cambridge Cambridge University Press 1979)
Ambas as concepccedilotildees - a primeira mais proacutexima ao republicanismo e a segunda de vieacutes mais liberal - tecircm a sua dose de procedecircn-
cia mas ensejam criacuteticas importantes Todavia foge a escopo do presente trabalho analisar esta questatildeo que eacute uma das mais
complexas da Filosofia Poliacutetica moderna e contemporacircnea Para uma visatildeo geral sobre o tema na literatura em liacutengua portuguesa
veja-se Oscar Vilhena Vieira A Constituiccedilatildeo e sua reserva de justiccedila Op cit Miguel Nogueira de Brito A Constituiccedilatildeo constituin-
te ensaio sobre o poder de revisatildeo da Constituiccedilatildeo Coimbra Coimbra 2000 Samantha Chantal Dobrowolski Op cit p 265-312
Rodrigo Brandatildeo Direitos fundamentais democracia e claacuteusulas peacutetreas Rio de Janeiro Renovar 2008 p 59-112
108Cf Michel Troper Justice Constitutionelle et Deacutemocratie In Pour une Theorie Juridique de LEacutetat Paris PUF 1994 p 317-328
Claacuteudio Pereira de Souza Neto Jurisdiccedilatildeo constitucional democracia e racionalidade praacutetica Op cit p 106-130 Gustavo Binen-
bojm A nova jurisdiccedilatildeo constitucional brasileira Op cit p 55-74
109Sobre o modelo revolucionaacuterio francecircs de constitucionalismo completamente avesso agrave ideacuteia de jurisdiccedilatildeo constitucional cf
Maurizio Fioravanti Constitucioacuten de la antiguumledad a nuestros dias Traduccedilatildeo de Manuel Martinez Neira Madrid Trotta 2001 p
120-132
110Cf Carl Schmitt La Defesa de la Constitucioacuten Madrid Tecnos 1983
111O constitucionalismo popular ou populismo constitucional eacute uma importante corrente no debate constitucional norte-americano
contemporacircneo que nega a legitimidade democraacutetica do controle de constitucionalidade advogando que deve caber ao proacuteprio
povo e natildeo a uma elite de juiacutezes natildeo eleitos com assento na Suprema Corte o poder de definir o sentido das claacuteusulas vagas que
abundam no texto constitucional daquele paiacutes Na defesa desta tese satildeo empregados tanto argumentos de teoria e filosofia poliacuteti-
ca de caraacuteter mais universal como razotildees histoacutericas relacionadas agrave evoluccedilatildeo do constitucionalismo estadunidense Veja-se nesta
linha Mark Tushnet Taking the Constitution Away from the Courts Princeton Princeton University Press 1999 Jeremy Waldron
Precommitment and Disagreement Op cit Larry D Kramer The People Themselves Popular constitutionalism and judicial re-
view New York Oxford University Press 1994
Ateacute algumas deacutecadas atraacutes a oposiccedilatildeo agrave jurisdiccedilatildeo constitucional nos Estados Unidos partia em regra da Direita que natildeo se con-
formava com a jurisprudecircncia extremamente liberal em mateacuteria de direitos fundamentais estabelecida pela Corte entre os anos
50 e 70 Atualmente uma boa parte dos opositores agrave judicial review situa-se agrave esquerda do espectro poliacutetico e talvez a nova linha
profundamente conservadora daquele Tribunal ajude a explicar esta mudanccedila
112Sobre a Era de Lochner veja-se Laurence H Tribe American Constitutional Law 2 ed Mineola The Foundation Press 1988 p
567-581 Paul Brest et al Processes of Constitucional Decisionmaking 4 ed New York Aspen Publishers 2000 p 337-354
113Towards Juristocracy hellip Op cit
114Tratei do tema no artigo Direito adquirido emenda constitucional democracia e justiccedila social In Livres e iguais Op cit p
03-32
115Cf Charles R Epp The Rights Revolution Chicago The University of Chicago Press 1998 p 26-70 Owen Fiss The Law as It
Could Be New York New York University Press 2003 p 244-249
116A importacircncia e as peculiaridades da interpretaccedilatildeo legislativa da Constituiccedilatildeo satildeo exploradas em importante obra coletiva
Richard W Bauman Tsvi Kahana The Least Examined Branch The Role of Legislatures in the Constitutional State Cambridge
Cambridge University Press 2006
117Cf em tom ainda mais ceacutetico do que o adotado neste estudo Martonio MontAlverne Barreto Lima Jurisdiccedilatildeo Constitucional
um problema da teoria da democracia poliacutetica In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Gilberto Bercovici Joseacute Filomeno de Moraes
Filho Martonio MontAlverne Teoria da Constituiccedilatildeo estudos sobre o lugar da poliacutetica no direito constitucional Rio de Janeiro
Lumen Juris 2003 p 199-261 Conrado Huumlbner Mendes Controle de constitucionalidade e democracia Rio de Janeiro Elsevier
2008
36
118Para criacutetica semelhante no contexto germacircnico veja-se Ingeborg Maus O judiciaacuterio como superego da sociedade sobre o papel
da atividade jurisprudencial na sociedade oacuterfatilde Traduccedilatildeo de Martonio MontAlverne Barreto Lima Paulo Antonio Menezes de Albu-
querque Anuaacuterio dos Cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito da Faculdade de Direito de Recife n 11 2000
119Eu aprofundo a anaacutelise deste ponto no meu artigo Interpretaccedilatildeo constitucional preacute-compreensatildeo e capacidades institucionais do
inteacuterprete In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm (Coord) Vinte anos da Constituiccedilatildeo Federal
de 1988 Op cit p 311-322 E a necessidade de optar por teoria de interpretaccedilatildeo que leve em consideraccedilatildeo as capacidades
institucionais reais dos juiacutezes comparando-as com as dos agentes de outras instituiccedilotildees eacute explorada no importante estudo de Cass
Sunstein Adrian Vermeulle Interpretations and Institutions Chicago Working Papers in Law amp Economics 2002 p 01-55 bem
como no livro de Adrian Vermeulle Judging under Uncertainty An Institutional Theory for Legal Interpretation Cambridge Har-
vard University Press 2006
120Dentre as honrosas exceccedilotildees mencione-se Luiacutes Roberto Barroso autor de importante artigo com sugestotildees para a reforma poliacuteti-
ca no paiacutes Reforma poliacutetica uma proposta de sistema de governo eleitoral e partidaacuterio para o Brasil Revista de Direito do Esta-
do n 3 p 287-360 jul set 2006
121Sobre o ethos judicial no Brasil veja-se a pesquisa de Maria Tereza Sadek Magistrados uma imagem em movimento Rio de
Janeiro FGV 2006
122Em sentido semelhante veja-se Michael J Perry The Constitution the Courts and Human Rights New Haven Yale University
Press 1982 p 91-145
123Neste ponto entendo que um standard importante que deveria ser adotado para controle de constitucionalidade eacute o de que
quanto maiores forem as credencias democraacuteticas de um ato normativo mais autocontido deve ser o Poder Judiciaacuterio ao avaliar a
sua constitucionalidade Na minha opiniatildeo estas credencias democraacuteticas devem ser aferidas tanto por criteacuterios qualitativos - eg
grau de participaccedilatildeo social no processo legislativo qualidade do processo deliberativo que a antecedeu - como por criteacuterios quanti-
tativos - percentual de votos favoraacuteveis agrave medida Em sentido semelhante veja-se Claacuteudio Ari Mello Democracia e direitos funda-
mentais Op cit p 298
124Em sentido proacuteximo apontam as liccedilotildees de Gustavo Binenbojm e Humberto Aacutevila O primeiro tratando do controle judicial dos
atos administrativos averbou que quanto maior for o grau de tecnicidade da mateacuteria objeto de decisatildeo por oacutergatildeos dotados de
expertise e experiecircncia menos intenso deve ser o grau de controle judicial (Uma teoria do direito administrativo Op cit p
236) Jaacute o segundo salientou que o acircmbito de controle pelo Judiciaacuterio deveraacute ser tanto menor quanto mais difiacutecil e teacutecnico for
o juiacutezo exigido para o tratamento da mateacuteria (Teoria dos princiacutepios Op cit p 126)
125Um exemplo extremado deste posicionamento estaacute na argumentaccedilatildeo adotada pelo STF no julgamento da ADIN 2797 Rel Min
Sepuacutelveda Pertence em que se reconheceu a inconstitucionalidade formal de lei que pretendia interpretar a Constituiccedilatildeo Para o
STF natildeo pode a lei ordinaacuteria pretender impor como seu objeto imediato uma interpretaccedilatildeo a Constituiccedilatildeo a questatildeo eacute de in-
constitucionalidade formal iacutensita a toda norma da gradaccedilatildeo inferior que se proponha a ditar interpretaccedilatildeo de norma superior
Na questatildeo de fundo abordada naquele caso entendo que o STF estava certo Tratava-se de invalidar uma norma legal que esten-
dera o foro de prerrogativa de funccedilatildeo a ex-ocupantes de cargos puacuteblicos visando a restaurar antiga jurisprudecircncia do STF sedi-
mentada na Suacutemula 394 do Tribunal que acabara de ser cancelada O princiacutepio republicano natildeo era compatiacutevel com tal medida
que configurava niacutetido privileacutegio O que me parece inaceitaacutevel e profundamente anti-democraacutetico com a devida vecircnia natildeo eacute o
resultado alcanccedilado pela Corte - com o qual concordo - mas o argumento empregado de que o legislador natildeo pode interpretar a
Constituiccedilatildeo
126Existe hoje uma fecunda produccedilatildeo acadecircmica no cenaacuterio anglo-saxatildeo sobre as vantagens de modelos teoacutericos que favoreccedilam
diaacutelogos entre diversos oacutergatildeos e instituiccedilotildees na interpretaccedilatildeo constitucional ao inveacutes de afirmarem a exclusividade ou mesmo a
supremacia do Judiciaacuterio nesta seara Veja-se a propoacutesito Laurence G Sager Justice in Plainclothes A Theory of American Con-
stitutional Practice New haven Yale University Press 2004 Mark Tushnet Weak Courts Strong Rights Judicial Review and Social
Welfare Rights in Comparative Constitutional Law Princeton Princeton University Press 2008 Mark C Miller Jeb Barnes (Ed)
Making Police Making Law An Interbranch Perspective Washington DC Georgetown University Press 2004
37
127Colhi o exemplo no estudo de Oscar Vilhena Vieira Supremocracia In Daniel Sarmento (Org) Filosofia e teoria constitucional
contemporacircnea Rio de Janeiro Lumen Juris 2009
128Como um natildeo-positivista tenho a necessaacuteria imparcialidade para criticar os equiacutevocos da doutrina brasileira nas suas invectivas
contra o positivismo que muitas vezes caracterizam verdadeira falaacutecia do espantalho ataca-se natildeo a proacutepria teoria positivista
mas uma distorcida caricatura dela Duas afirmaccedilotildees erradas que eu mesmo jaacute fiz em textos anteriores satildeo muito frequumlentes a
de que o positivismo recusa a aplicaccedilatildeo dos princiacutepios juriacutedicos e a de que ele teria sido a Filosofia do Direito cultivada na Alema-
nha nazista
Quanto ao primeiro ponto natildeo haacute nenhuma incompatibilidade loacutegica entre positivismo e princiacutepios desde que os princiacutepios este-
jam devidamente incorporados na ordem juriacutedico-positiva Vaacuterios autores positivistas contemporacircneos jaacute citados neste estudo
como Luis Prietro Sanchiacutes Luigi Ferrajoli e Gregorio Peces-Barba atribuiacuteram espaccedilo importante para princiacutepios nas suas teorias
Mesmo no Direito Puacuteblico brasileiro juristas de inspiraccedilatildeo positivista kelseniana construiacuteram suas teorias com apoio em argumen-
taccedilatildeo principioloacutegica como o falecido Geraldo Ataliba e Celso Antonio Bandeira de Mello
No que tange ao segundo ponto - a chamada redutio ad hitlerum - os estudos mais autorizados de Histoacuteria do Direito comprovam
que natildeo foi o positivismo a teoria juriacutedica dominante no nazismo mas uma espeacutecie de jusnaturalismo de inspiraccedilatildeo hegeliana que
se insurgia contra o formalismo e recorria com frequumlecircncia a conceitos muito vagos para justificar a barbaacuterie como os de comuni-
dade popular (Volksgemeinschaft) Veja-se a propoacutesito Michael Stolleis The Law under the Swastika Studies on Legal History in
Nazi Germany Traduccedilatildeo de Thomas Dunlap Chicago The University of Chicago Press 1998
129Cf Joseacute Joaquim Gomes Canotilho Direito constitucional e Teoria da Constituiccedilatildeo Coimbra Almedina 1998 p 1036
130Sobre a importacircncia das regras veja-se Frederick Schauer Playing by the Rules A Philosophical Exaxamination of Rule-Bases
Decision-Making in Law and Life Oxford Oxford University Press 1998 Humberto Aacutevila Neoconstitucionalismo entre a ciecircncia do
direito e o direito da ciecircncia Op cit Noel Struchiner Posturas institucionais e modelagem institucional a dignidade (contingente)
do formalismo juriacutedico In Daniel Sarmento Filosofia e teoria constitucional contemporacircnea Op cit
131Esta eacute expressatildeo empregada por Ana Paula de Barcellos O direito constitucional em 2006 Revista de Direito do Estado n 5 p
03-23 janmar 2007
132Cf Chaiumlm Perelman P Fories La Motivation des Deacutecisions de Justice Bruxelas Eacutemile Bruylant 1978
133Sobra a influecircncia do jeitinho no Direito brasileiro cf Keith Rosen O jeito na cultura juriacutedica brasileira Rio de Janeiro Reno-
var 1997
134Sobre o patrimonialismo no Brasil veja-se Raimundo Faoro Os donos do poder 8 ed Rio de Janeiro Globo 1989 v 2 p 729-
750
135Raiacutezes do Brasil 26 ed Satildeo Paulo Companhia das Letras 1995
136Cf Joseacute Murilo de Carvalho Brasileiro Cidadatildeo In Pontos e bordados escritos de histoacuteria e poliacutetica Belo Horizonte Ed
UFMG 2005 p 275-288
137Cf Gustavo Zagrebelsky Il Diritto Mite Op cit p 15-19
138Cf Marcelo Neves A constitucionalizaccedilatildeo simboacutelica Satildeo Paulo Acadecircmica 1994
139A obra de Niklas Luhman eacute vasta e complexa e seus textos satildeo de difiacutecil compreensatildeo para os natildeo iniciados Veja-se do proacuteprio
autor Sociologia do direito I e II Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 1983 e 1985 Sistema Jurididico y Dogmaacutetica Juriacutedica Madrid
Centro de Estuacutedios Constitucionales 1983 Confira-se tambeacutem a coletacircnea organizada por Andreacute-Jean Arnaud Dalmir Lopes Jr Do
sistema social agrave sociologia juriacutedica Rio de Janeiro Lumen Juris 2004
140Sobre a autopoieses do Direito veja-se tambeacutem a obra importante de Guumlnther Teubner O direito como sistema autopoieacutetico
Traduccedilatildeo de Joseacute Engracia Nunes Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1993
141Cf Luis Roberto Barroso Neoconstitucionalismo e a constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit
142Esta era basicamente a visatildeo de Hans Kelsen (Cf Hans Kelsen Jurisdiccedilatildeo constitucional Traduccedilatildeo de Alexandre Krug et al Satildeo
Paulo Martins Fontes 2003 p 153) Para uma anaacutelise criacutetica desta posiccedilatildeo veja-se Luis Prietro Sanchiacutes Presupuestos ideoloacutegicos
y doctrinales de la jurisdicioacuten constitucional In Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales Op cit p 21-100
38
143Cf Christian Starck La suprematie La Suprematie de la Constitution et la Justice Constitutionnelle In La Constitution Cadre et
Mesure du Droit Traduccedilatildeo de Freacutederic Weill Paris Econocircmica 1994 p 26-30 Ernst- Wolfgang Boumlckenfoumlrde Les meacutethodes
dinterpretation de la Constitution Un bilan critique In Le Droit lEacutetat et la Constitution Democratique Traduccedilatildeo de Olivier
Jouanjan Paris LGDJ 2000 p 249-250 Virgiacutelio Afonso da Silva Constitucionalizaccedilatildeo do direito os direitos fundamentais nas
relaccedilotildees entre particulares Satildeo Paulo Malheiros 2005 p 107-131 Daniel Sarmento Ubiquumlidade constitucional os dois lados da
moeda Op cit Luis Roberto Barroso Curso de Direito Constitucional Contemporacircneo Op cit p 391-394 Alceu Mauriacutecio Jr
Judicializaccedilatildeo da poliacutetica e a crise do direito constitucional a Constituiccedilatildeo entre ordem marco e ordem fundamenta Revista de
Direito do Estado n 10 p 125-142 abrjun 2008
144Der Staat der Industriegesellshaft 2 ed Muumlnchen Beck 1971 p 144 Apud Robert Alexy Posfaacutecio In Teoria dos direitos
fundamentais Op cit p 578
145De acordo com Carlos Santiago Nino o perfeccionaismo eacute la concepcioacuten seguacuten la cual es una misioacuten legiacutetima del Estado hacer
que los individuos acepten y materializen ideales vaacutelidos de virtud personal Seguacuten este enfoque el Estado no puede permanecer
neutral respecto de concepciones de lo bueno en la vida y debe adoptar las medidas educativas punitorias etc que sean necesa-
rias para que los indiviacuteduos ajusten su vida a los verdaderos ideales de virtud y del bien (Eacutetica y Derechos Humanos Un ensayo de
fundamentacioacuten 2 ed Buenos Aires Astrea 1989 p 413)
146Daniel Sarmento Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas 2 ed Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 Sobre o tema na literatura
nacional veja-se tambeacutem Wilson Antocircnio Steinmetz A vinculaccedilatildeo dos particulares aos direitos fundamentais Satildeo Paulo Malheiros
2004 Virgiacutelio Afonso da Silva Constitucionalizaccedilatildeo do direito os direitos fundamentais nas relaccedilotildees entre particulares Op cit
Ingo Wolfgang Sarlet Direitos fundamentais e direito privado algumas consideraccedilotildees em torno da vinculaccedilatildeo dos particulares aos
direitos fundamentais In Ingo Wolfgang Sarlet (Org) A Constituiccedilatildeo concretizada Porto Alegre Livraria do Advogado 1999 p
129-173 Jane Reis Gonccedilalves Pereira Apontamentos sobre a aplicaccedilatildeo das normas de direito fundamental nas relaccedilotildees juriacutedicas
entre particulares In Luis Roberto Barroso (Org) A nova interpretaccedilatildeo constitucional ponderaccedilatildeo direitos fundamentais e
relaccedilotildees privadas Rio de Janeiro Renovar 2003 p 119-192
147Sobre a questatildeo da (i)legitimidade do perfeccionismo no Direito veja-se Joel Feinberg Rights Justice and the Bounds of Liber-
ty Princeton Princeton University Press 1980 Carlos Santiago Nino Eacutetica y Derechos Humanos Op cit p 413-446 Rainer Forst
Contexts of Justice Political Philosophy beyond Liberalism and Communitarianism Traduccedilatildeo de John M M Farrel Berkeley Uni-
versity of Califoacuternia Press 2001 p 30-87 Macaacuterio Alemany El Paternalismo Juriacutedico Madrid Iustel 2006
148Um sofisticado modelo que busca conciliar a constitucionalizaccedilatildeo do Direito com a democracia estaacute exposto no Poacutesfaacutecio agrave Teo-
ria dos Direitos Fundamentais de Robert Alexy acima citado Veja-se ainda Konrad Hesse Concepto y Cualidad de la Constitu-
cion In Escritos de Derecho Constitucional Traduccedilatildeo de Pedro Cruz Villaloacuten 2 ed 1992 p 03-29
149Tentei articular a minha teoria sobre eficaacutecia horizontal dos direitos fundamentais com este objetivo Cf Daniel Sarmento
Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas Op cit p 141-182 259-272
150Sobre el Neoconstitucionalismo y sus Implicaciones Op cit p 117
151Aqui entendo que o simples reconhecimento da penetraccedilatildeo da Moral no Direito preconizada pelos neoconstitucionalistas brasi-
leiros natildeo eacute suficiente jaacute que certas concepccedilotildees morais podem tornar o ordenamento ainda mais opressivo do que jaacute eacute Afinal
nem sempre a moralizaccedilatildeo do Direito se daacute na direccedilatildeo da emancipaccedilatildeo dos excluiacutedos Veja-se por exemplo a famosa polecircmica
jusfilosoacutefica entre Lord Patrick Devlin e Herbert Hart nos anos 60 na Inglaterra a propoacutesito do uso do Direito Penal para promoccedilatildeo
de Moral em que o primeiro a partir de uma posiccedilatildeo proacute-moral sustentava a legitimidade da criminalizaccedilatildeo da conduta homos-
sexual que o segundo contestava (Cf Lord Patrick Devlin Morals and Criminal Law In Ronald Dworkin (Ed) The Philosophy of
Law Op cit p 66-82 Herbert Hart Immorality and Treason In Idem ibidem)
Eacute preciso assentar as bases criacuteticas desta Moral que deve penetrar o Direito para evitar que o moralismo conservador seja expulso
do ordenamento pela porta da frente superado pela legislaccedilatildeo moderna em razatildeo da progressiva liberalizaccedilatildeo da sociedade mas
volte pela porta dos fundos atraveacutes da argumentaccedilatildeo juriacutedica dos juiacutezes lastreada em conceitos vagos como ordem puacuteblica e
bons constumes ou em standards como o comportamento do bom pai de famiacutelia
39
10
no Brasil o controle da inconstitucionalidade por omissatildeo tanto atraveacutes de accedilatildeo direta como do
mandado de injunccedilatildeo
Esta sistemaacutetica de jurisdiccedilatildeo constitucional adotada pelo constituinte favoreceu em larga
medida o processo de judicializaccedilatildeo da poliacutetica na medida em que conferiu a qualquer parti-
do poliacutetico com representaccedilatildeo no Congresso agraves representaccedilotildees nacionais da sociedade civil
organizada e agraves principais instituiccedilotildees dos Estados-membros dentre outras entidades o poder
de provocar o STF61 Assim eacute praticamente impossiacutevel que alguma questatildeo relevante seja re-
solvida no acircmbito parlamentar sem que os perdedores no processo poliacutetico recorram agrave nossa
Corte Suprema para que decirc a palavra final agrave controveacutersia com base na sua interpretaccedilatildeo da
Constituiccedilatildeo E tal modelo vem se aprofundando desde 88 com a criaccedilatildeo da Accedilatildeo Declaratoacuteria
de Constitucionalidade e a regulamentaccedilatildeo da Arguumliccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fun-
damental
Aleacutem disso a Constituiccedilatildeo de 88 regulou uma grande quantidade de assuntos - muitos deles de
duvidosa dignidade constitucional - subtraindo um vasto nuacutemero de questotildees do alcance do
legislador Ademais ela hospedou em seu texto inuacutemeros princiacutepios vagos mas dotados de for-
te carga axioloacutegica e poder de irradiaccedilatildeo Estas caracteriacutesticas favoreceram o processo de
constitucionalizaccedilatildeo do Direito que envolve natildeo soacute a inclusatildeo no texto constitucional de temas
outrora ignorados ou regulados em sede ordinaacuteria como tambeacutem a releitura de toda a ordem
juriacutedica a partir de uma oacutetica pautada pelos valores constitucionais - a chamada filtragem
constitucional do Direito62
Deve-se tambeacutem destacar o papel importante da doutrina brasileira na mudanccedila de paradigma
do Direito Constitucional brasileiro Na minha opiniatildeo haacute dois momentos distintos nesta evolu-
ccedilatildeo o constitucionalismo brasileiro da efetividade 63e o poacutes-positivismo constitucional
O primeiro momento vem logo apoacutes a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 88 Alguns autores como
Luis Roberto Barroso64 e Clegravemerson Merlin Clegraveve65 passam a advogar a tese de que a Constitui-
ccedilatildeo sendo norma juriacutedica deveria ser rotineiramente aplicada pelos juiacutezes o que ateacute entatildeo
natildeo ocorria O que hoje parece uma obviedade era quase revolucionaacuterio numa eacutepoca em que a
nossa cultura juriacutedica hegemocircnica natildeo tratava a Constituiccedilatildeo como norma mas como pouco
mais do que um repositoacuterio de promessas grandiloquumlentes cuja efetivaccedilatildeo dependeria quase
sempre da boa vontade do legislador e dos governantes de plantatildeo66 Para o constitucionalismo
da efetividade a incidecircncia direta da Constituiccedilatildeo sobre a realidade social independentemen-
te de qualquer mediaccedilatildeo legislativa contribuiria para tirar do papel as proclamaccedilotildees generosas
de direitos contidas na Carta de 88 promovendo justiccedila igualdade e liberdade Se ateacute entatildeo
o discurso da esquerda era de desconstruccedilatildeo da dogmaacutetica juriacutedica a doutrina da efetividade
11
vai defender a possibilidade de um uso emancipatoacuterio da dogmaacutetica tendo como eixo a con-
cretizaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo67
Na verdade tratava-se de uma modalidade de positivismo de combate68 A doutrina constitu-
cional da efetividade natildeo se caracterizava pela abertura do debate juriacutedico agrave argumentaccedilatildeo
moral O seu foco principal centrava-se nas normas e era do caraacuteter mais ou menos denso do
seu texto que o inteacuterprete deveria extrair os respectivos efeitos Por outro lado concebia-se a
jurisdiccedilatildeo como o espaccedilo privilegiado para a realizaccedilatildeo da vontade constitucional Um dos mo-
tes do movimento era afastar o estudo do Direito Constitucional da Teoria do Estado para apro-
ximaacute-lo do Direito Processual Por isso pode-se afirmar que o protagonista desta teoria consti-
tucional era o juiz
Em que pese a falta de efetividade de diversas normas da Constituiccedilatildeo e da eficaacutecia social
seletiva de outras tantas - que protegem muito bem o incluiacutedo mas continuam deixando de
fora os paacuterias de sempre (veja-se a diferenccedila da incidecircncia da inviolabilidade do domiciacutelio nas
residecircncias burguesas e nas favelas) - pode-se dizer que a doutrina constitucional da efetivida-
de teve ecircxito no Brasil no sentido de instalar no senso-comum dos operadores do Direito a i-
deacuteia de que a Constituiccedilatildeo eacute norma que pode e deve ser aplicada independentemente de re-
gulamentaccedilatildeo dos seus dispositivos pelo legislador ordinaacuterio Tal doutrina ainda natildeo correspon-
de ao neoconstitucionalismo mas a conquista que dela resultou para a dogmaacutetica constitucio-
nal brasileira foi um pressuposto para o surgimento deste outro movimento no nosso cenaacuterio
O segundo momento importante eacute o da chegada ao Brasil das teorias juriacutedicas ditas poacutes-
positivistas Foram marcos relevantes a publicaccedilatildeo da 5ordf ediccedilatildeo do Curso de Direito Constitu-
cional de Paulo Bonavides 69bem como do livro A Ordem Econocircmica na Constituiccedilatildeo de 1988
de Eros Roberto Grau70 que divulgaram entre noacutes a teoria dos princiacutepios de autores como Ro-
nald Dworkin e Robert Alexy e fomentaram as discussotildees sobre temas importantes como a
ponderaccedilatildeo de interesses o princiacutepio da proporcionalidade e eficaacutecia dos direitos fundamen-
tais Tambeacutem deve ser salientada a ampla penetraccedilatildeo no acircmbito de algumas poacutes-graduaccedilotildees
em Direito a partir de meados dos anos 90 do pensamento de filoacutesofos que se voltaram para o
estudo da relaccedilatildeo entre Direito Moral e Poliacutetica a partir de uma perspectiva poacutes-metafiacutesica
como John Rawls e Juumlrgen Habermas71 E ainda merece destaque o aprofundamento no paiacutes dos
estudos de hermenecircutica juriacutedica a partir de uma nova matriz teoacuterica inspirada pelo giro lin-
guumliacutestico na Filosofia que denunciou os equiacutevocos do modelo positivista de interpretaccedilatildeo ateacute
entatildeo dominante assentado na separaccedilatildeo cartesiana entre sujeito (o inteacuterprete) e objeto (o
texto da norma)72
12
Nesta nova fase a doutrina brasileira passa a enfatizar o caraacuteter normativo e a importacircncia dos
princiacutepios constitucionais e a estudar as peculiaridades da sua aplicaccedilatildeo Neste contexto haacute
uma verdadeira febre de trabalhos sobre teoria dos princiacutepios ponderaccedilatildeo de interesses teori-
as da argumentaccedilatildeo proporcionalidade e razoabilidade etc Tambeacutem cresce muito o interesse
doutrinaacuterio pelos direitos fundamentais sobretudo os direitos sociais Se antes estes eram vis-
tos preponderantemente como normas programaacuteticas passa-se a discutir a sua eficaacutecia juriacutedica
a partir de novas bases que incorporam ao debate a argumentaccedilatildeo moral Neste campo a ecircn-
fase na anaacutelise dos enunciados normativos que caracterizava a doutrina da efetividade eacute
substituiacuteda por uma discussatildeo marcada pela preocupaccedilatildeo com valores e democracia repleta de
novas categorias importadas sobretudo do Direito germacircnico como o miacutenimo existencial a
reserva do possiacutevel e a proibiccedilatildeo do retrocesso73
E esta nova racionalidade se espraia para diversos ramos do Direito No Direito Civil74 Penal75
Administrativo 76por exemplo cada vez mais a doutrina emprega normas e valores constitu-
cionais para reler os institutos tradicionais colorindo-os com novas tintas E trata-se natildeo ape-
nas de aplicar diretamente as normas constitucionais especificamente voltadas para cada uma
destas aacutereas como tambeacutem de projetar sobre estes campos a influecircncia dos direitos funda-
mentais e dos princiacutepios mais gerais do nosso constitucionalismo muitas vezes superando anti-
gos dogmas e definindo novos paradigmas
Neste segundo momento ocorre ainda uma significativa mudanccedila no enfoque dos estudos sobre
jurisdiccedilatildeo constitucional no Brasil Antes os trabalhos nacionais sobre o tema se limitavam
basicamente a discutir questotildees processuais mas a partir do final dos anos 90 diversos estu-
dos incorporam outras perspectivas agrave anaacutelise da questatildeo dedicando atenccedilatildeo agrave complexa pro-
blemaacutetica da legitimidade democraacutetica do controle de constitucionalidade77 tendo em vista a
chamada dificuldade contra-majoritaacuteria do Judiciaacuterio78 Num contexto como o nosso em que
a jurisdiccedilatildeo constitucional estaacute prevista pelo proacuteprio texto magno o debate relevante do ponto
de vista praacutetico natildeo eacute o de tecirc-la ou natildeo mas sim a forma como deve ser exercida Dependendo
do posicionamento adotado pode-se preconizar um maior ou menor grau de ativismo judicial
ou defender o ativismo em algumas aacutereas mas recusaacute-lo em outras Nesta nova agenda de dis-
cussotildees sobre a jurisdiccedilatildeo constitucional a argumentaccedilatildeo juriacutedica se entrelaccedila inevitavelmen-
te com o debate de Filosofia Poliacutetica abrindo espaccedilo para posiccedilotildees variadas como os vaacuterios
matizes de procedimentalismo e de substancialismo que vecircm florescendo na doutrina brasilei-
ra79 Dentre estas posiccedilotildees natildeo haacute duacutevida de que a mais identificada ao neoconstitucionalismo
eacute a substancialista que compartilha com ele a crenccedila numa ampla legitimidade do ativismo
judicial em favor dos valores constitucionais
13
Apesar destas mudanccedilas importantes que podem ser associadas ao neoconstitucionalismo o uso
da expressatildeo no Brasil eacute mais recente seguindo-se agrave ampla difusatildeo que recebeu na academia
brasileira a jaacute citada obra Neoconstitucionalismo(s) organizada por Miguel Carbonell e publi-
cada em 2003 De laacute para caacute muito se tem escrito sobre o toacutepico e vaacuterios autores nacionais
aderiram explicitamente agrave corrente como Luis Roberto Barroso80 Lecircnio Luiz Streck 81Antonio
Cavalcanti Maia82 Ana Paula de Barcellos83 Diogo de Figueiredo Moreira Neto84 Paulo Ricardo
Schier85 Eduardo Moreira86 Eacutecio Otto Ramos Duarte87 e Thomas Rosa de Bustamante88 Outros
adotaram postura criacutetica sobre a nova perspectiva como Joseacute Ribas Vieira Dimitri Dimoulis89 e
Humberto Aacutevila90 E pode-se notar pela leitura dos trabalhos destes e de outros autores brasi-
leiros que haacute um relativo consenso na definiccedilatildeo das caracteriacutesticas centrais do novo paradig-
ma valorizaccedilatildeo dos princiacutepios adoccedilatildeo de meacutetodos ou estilos mais abertos e flexiacuteveis na her-
menecircutica juriacutedica com destaque para a ponderaccedilatildeo abertura da argumentaccedilatildeo juriacutedica agrave
Moral mas sem recair nas categorias metafiacutesicas do jusnaturalismo reconhecimento e defesa
da constitucionalizaccedilatildeo do Direito e do papel de destaque do Judiciaacuterio na agenda de imple-
mentaccedilatildeo dos valores da Constituiccedilatildeo
Estas novas ideacuteias jaacute reverberam fortemente na jurisprudecircncia nacional sobretudo do Supremo
Tribunal Federal que nos uacuteltimos tempos tem cada vez mais invocado princiacutepios abertos nos
seus julgamentos recorrido agrave ponderaccedilatildeo de interesses e ao princiacutepio da proporcionalidade
com frequumlecircncia e ateacute se valido de referecircncias filosoacuteficas na fundamentaccedilatildeo de decisotildees Aliaacutes
eacute digna de nota a influecircncia da doutrina constitucional na atuaccedilatildeo do Supremo Tribunal Fede-
ral O fenocircmeno eacute relativamente recente uma vez que logo apoacutes a promulgaccedilatildeo da Constitui-
ccedilatildeo de 88 havia um profundo hiato entre o campo doutrinaacuterio que cobrava a efetivaccedilatildeo da
Constituiccedilatildeo pela via judicial e a jurisprudecircncia do STF tiacutemida e reticente diante dos valores
e das inovaccedilotildees da nova Carta - vg orientaccedilatildeo entatildeo adotada pela Corte em relaccedilatildeo ao man-
dado de injunccedilatildeo e ao controle judicial das medidas provisoacuterias Aquele quadro podia em parte
ser debitado agrave duvidosa opccedilatildeo do constituinte originaacuterio de manter no STF os ministros nomea-
dos durante o governo militar que natildeo tinham sintonia poliacutetico-ideoloacutegica nem boa vontade
diante do novo sistema constitucional e que por isso se apegavam a visotildees e interpretaccedilotildees
assentadas durante o regime preteacuterito muitas delas francamente incompatiacuteveis com a nova
ordem Mas hoje apoacutes a completa renovaccedilatildeo do STF constata-se um quadro radicalmente di-
ferente a maioria dos ministros do STF eacute composta por professores de Direito Constitucional
de grande reputaccedilatildeo acadecircmica que ateacute pela origem tecircm mais contato com a produccedilatildeo inte-
lectual de ponta na aacuterea e satildeo mais suscetiacuteveis agrave influecircncia das novas correntes de pensamen-
to
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Como ressaltado esta mudanccedila de paradigma se reflete vivamente na jurisprudecircncia do STF
Satildeo exemplos eloquumlentes a alteraccedilatildeo da posiccedilatildeo da Corte em relaccedilatildeo aos direitos sociais antes
tratados como normas programaacuteticas e hoje submetidos a uma intensa proteccedilatildeo judicial 91o
reconhecimento da eficaacutecia horizontal dos direitos fundamentais92 a mutaccedilatildeo do entendimen-
to do Tribunal em relaccedilatildeo agraves potencialidades do mandado de injunccedilatildeo 93e a progressiva supe-
raccedilatildeo da visatildeo claacutessica kelseniana da jurisdiccedilatildeo constitucional que a equiparava ao legislador
negativo com a admissatildeo de teacutecnicas decisoacuterias mais heterodoxas94 como as declaraccedilotildees de
inconstitucionalidade sem pronuacutencia de nulidade e as sentenccedilas aditivas E para completar o
quadro deve-se acrescentar as mudanccedilas acarretadas por algumas inovaccedilotildees processuais re-
centes na nossa jurisdiccedilatildeo constitucional que permitiram a participaccedilatildeo dos amici curiae bem
como a realizaccedilatildeo de audiecircncias puacuteblicas no acircmbito do processo constitucional ampliando a
possibilidade de atuaccedilatildeo da sociedade civil organizada no STF95
Naturalmente a nova postura de ativismo judicial do STF estimula as forccedilas sociais a procuraacute-
lo com mais frequumlecircncia e contribui para uma significativa alteraccedilatildeo na agenda da Corte Atu-
almente ao lado das questotildees mais tradicionais de Direito Puacuteblico o STF tem se defrontado
com novos temas fortemente impregnados de conteuacutedo moral como as discussotildees sobre a vali-
dade de pesquisa em ceacutelulas-tronco embrionaacuterias96 aborto de feto anenceacutefalo97 e uniatildeo entre
pessoas do mesmo sexo98 Ademais o Tribunal passou a intervir de forma muito mais ativa no
processo poliacutetico adotando decisotildees que se refletem de forma direta e profunda sobre a atua-
ccedilatildeo dos demais poderes do Estado Para citar apenas alguns casos pode-se falar da decisatildeo que
assentou que a mudanccedila de partido implica salvo determinadas exceccedilotildees perda de mandato
parlamentar99 da que estabeleceu criteacuterios riacutegidos para a fixaccedilatildeo do nuacutemero de vereadores de
acordo com a respectiva populaccedilatildeo100 e da intensificaccedilatildeo do controle jurisdicional dos atos das
CPIs bem como dos pressupostos de ediccedilatildeo das medidas provisoacuterias
Poreacutem haacute um componente curioso na recepccedilatildeo deste novo paradigma juriacutedico pelo Judiciaacuterio
brasileiro Embora ainda natildeo existam estudos empiacutericos a este respeito tenho a forte intuiccedilatildeo
de que a penetraccedilatildeo destas novas ideacuteias associadas ao neoconstitucionalismo eacute forte na cuacutepula
e na base da hierarquia judicial mas ainda tiacutemida nos seus escalotildees intermediaacuterios E as causas
natildeo satildeo de difiacutecil compreensatildeo Em relaccedilatildeo agrave cuacutepula - os ministros do STF - as razotildees jaacute foram
explicadas acima Jaacute no que tange agrave base do Judiciaacuterio boa parte dos juiacutezes de 1ordm grau teve a
sua formaccedilatildeo num ambiente acadecircmico que jaacute valorizava o Direito Constitucional e reconhecia
a forccedila normativa dos direitos fundamentais e dos princiacutepios constitucionais Assim eles ten-
dem a levar para a sua praacutetica profissional esta visatildeo do Direito Poreacutem sobretudo na 2ordf ins-
tacircncia composta majoritariamente por magistrados que se formaram e foram socializados no
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seu meio institucional sob a eacutegide do paradigma juriacutedico anterior muito mais voltado para os
coacutedigos e para a letra da lei do que para a Constituiccedilatildeo e seus princiacutepios haacute maior resistecircncia agrave
incorporaccedilatildeo dos novos vetores constitucionais Contudo este fenocircmeno tende a diminuir com
o tempo seja pela consolidaccedilatildeo do paradigma constitucional emergente seja pela promoccedilatildeo
de magistrados mais antenados com o novo constitucionalismo seja ateacute pela influecircncia do pen-
samento e das orientaccedilotildees da cuacutepula do Judiciaacuterio sobre todas as suas instacircncias
No cenaacuterio brasileiro o neoconstitucionalismo eacute tambeacutem impulsionado por outro fenocircmeno a
descrenccedila geral da populaccedilatildeo em relaccedilatildeo agrave poliacutetica majoritaacuteria e em especial o descreacutedito
no Poder Legislativo e nos partidos poliacuteticos101 A percepccedilatildeo geral alimentada por sucessivos
escacircndalos e pelo discurso de alguns meios de comunicaccedilatildeo social de que a poliacutetica parlamen-
tar e partidaacuteria satildeo esferas essencialmente corrompidas que se movem exclusivamente em
torno de interesses e natildeo de valores gera em alguns setores a expectativa de que a soluccedilatildeo
para os problemas nacionais possa vir do Judiciaacuterio102 E este sentimento eacute fortalecido quando
a Justiccedila adota decisotildees em consonacircncia com a opiniatildeo puacuteblica - como ocorreu no recebimento
da denuacutencia criminal no caso do mensalatildeo na definiccedilatildeo de perda do mandato por infidelidade
partidaacuteria e na proibiccedilatildeo do nepotismo na Administraccedilatildeo Puacuteblica
Por outro lado a ascensatildeo institucional do Judiciaacuterio e a riqueza e importacircncia praacutetica ou sim-
boacutelica dos temas que ele vem julgando tem provocado um grande aumento no interesse da so-
ciedade pelo Direito Constitucional e pela atuaccedilatildeo do Supremo Tribunal Federal Eacute difiacutecil um
dia em que os principais meios de comunicaccedilatildeo natildeo discutam alguma decisatildeo da Corte ou mani-
festaccedilatildeo de qualquer dos seus membros E este fenocircmeno eacute potencializado tanto pela extro-
versatildeo midiaacutetica de alguns ministros como tambeacutem pelo fato - sem precedentes em outros
paiacuteses - do televisionamento das sessotildees do STF Com tudo isso as questotildees constitucionais
que antes eram apenas discutidas dentro de um ciacuterculo muito restrito de iniciados hoje satildeo
amplamente debatidas no espaccedilo puacuteblico
Neste quadro em que pesem as muacuteltiplas resistecircncias que sofre eacute possiacutevel apontar a emergecircn-
cia de uma nova forma de conceber o Direito e o Estado na sociedade brasileira contemporacirc-
nea que se quisermos adotar a terminologia hoje em voga pode ser chamada de neoconstitu-
cionalismo
4 Trecircs objeccedilotildees ao neoconstitucionalismo
16
Nas proacuteximas linhas abordarei de maneira breve trecircs criacuteticas que podem ser levantadas con-
tra o neoconstitucionalismo (a) a de que o seu pendor judicialista eacute anti-democraacutetico (b) a de
que a sua preferecircncia por princiacutepios e ponderaccedilatildeo em detrimento de regras e subsunccedilatildeo eacute
perigosa sobretudo no Brasil em razatildeo de singularidades da nossa cultura e (c) a de que ele
pode gerar uma panconstitucionalizaccedilatildeo do Direito em detrimento da autonomia puacuteblica do
cidadatildeo e da autonomia privada do indiviacuteduo Outras criacuteticas importantes existem103 mas por
limites de tempo e espaccedilo preferi priorizar aqui estas trecircs que satildeo as que geram maior apre-
ensatildeo no cenaacuterio brasileiro
a) Neoconstitucionalismo e judiciocracia
Como salientado acima o neoconstitucionalismo tem um foco muito centrado no Poder Judici-
aacuterio no qual deposita enormes expectativas no sentido de concretizaccedilatildeo dos ideais emancipa-
toacuterios presentes nas constituiccedilotildees contemporacircneas Contudo este vieacutes judicialista sofre con-
testaccedilotildees pelo seu suposto caraacuteter antidemocraacutetico na medida em que os juiacutezes diferente-
mente dos parlamentares e chefes do Executivo natildeo satildeo eleitos e natildeo respondem diretamente
perante o povo104
Esta criacutetica democraacutetica se assenta na ideacuteia de que numa democracia eacute essencial que as deci-
sotildees poliacuteticas mais importantes sejam tomadas pelo proacuteprio povo ou por seus representantes
eleitos e natildeo por saacutebios ou tecnocratas de toga Eacute verdade que a maior parte dos teoacutericos con-
temporacircneos da democracia reconhece que ela natildeo se esgota no respeito ao princiacutepio majoritaacute-
rio pressupondo antes o acatamento das regras do jogo democraacutetico que incluem a garantia
de direitos baacutesicos visando a viabilizar a participaccedilatildeo igualitaacuteria do cidadatildeo na esfera puacuteblica
bem como alguma proteccedilatildeo agraves minorias105 Poreacutem temos aqui uma questatildeo de dosagem pois
se a imposiccedilatildeo de alguns limites para a decisatildeo das maiorias pode ser justificada em nome da
democracia o exagero tende a revelar-se antidemocraacutetico por cercear em demasia a possibi-
lidade do povo de se autogovernar106
E a questatildeo natildeo eacute apenas de divisatildeo de poder ao longo do tempo A dificuldade democraacutetica
natildeo estaacute tatildeo-somente no fato de as constituiccedilotildees subtraiacuterem do legislador futuro a possibilida-
de de tomar algumas decisotildees107 O cerne do debate estaacute no reconhecimento de que diante da
vagueza e abertura de boa parte das normas constitucionais mais importantes quem as inter-
preta tambeacutem participa do seu processo de criaccedilatildeo108 Daiacute a criacutetica de que o vieacutes judicialista
subjacente ao neoconstitucionalismo acaba por conferir aos juiacutezes uma espeacutecie de poder cons-
tituinte permanente pois lhes permite moldar a Constituiccedilatildeo de acordo com as suas preferecircn-
cias poliacuteticas e valorativas em detrimento daquelas do legislador eleito Esta visatildeo levou inuacute-
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meras correntes de pensamento ao longo da histoacuteria a rejeitarem a jurisdiccedilatildeo constitucional
ou pelo menos o ativismo judicial no seu exerciacutecio dos revolucionaacuterios franceses do seacuteculo XVI-
II109 passando por Carl Schmitt110 na Repuacuteblica de Weimar ateacute os adeptos do constituciona-
lismo popular nos Estados Unidos de hoje111
No Brasil eacute muito comum traccedilar-se um paralelo entre a defesa do ativismo judicial e posiccedilotildees
sociais progressistas Talvez isso se deva ao fato de que na nossa histoacuteria o Judiciaacuterio brasilei-
ro tem pecado muito mais por omissatildeo acumpliciando-se diante dos desmandos dos poderes
poliacutetico e econocircmico do que por excesso de ativismo Neste quadro quem ousa questionar
possiacuteveis exageros na judicializaccedilatildeo da poliacutetica e da vida social no Brasil de hoje eacute logo tachado
de conservador Poreacutem o paralelismo em questatildeo natildeo existe Muitas vezes o Poder Judiciaacuterio
pode atuar bloqueando mudanccedilas importantes promovidas pelos outros poderes em favor dos
excluiacutedos defendendo o statu quo E esta defesa pode ocorrer inclusive atraveacutes do uso da retoacute-
rica dos direitos fundamentais
Isso se deu por exemplo nos Estados Unidos nas primeiras deacutecadas do seacuteculo passado em pe-
riacuteodo que ficou conhecido como Era de Lochner112 quando a Suprema Corte impediu sistemati-
camente a ediccedilatildeo de legislaccedilatildeo trabalhista e de outras medidas que implicavam em interferecircn-
cia na esfera econocircmica em proveito das classes desfavorecidas com base numa leitura subs-
tantiva da claacuteusula do devido processo legal No cenaacuterio contemporacircneo Ran Hirshl113 sustenta
que o processo de judicializaccedilatildeo da poliacutetica que vem ocorrendo nos uacuteltimos anos em diversos
paiacuteses do mundo - ele fez um atento ainda que controvertido estudo dos casos do Canadaacute
Israel Aacutefrica do Sul e Nova Zelacircndia - teria como pano de fundo uma tentativa das elites eco-
nocircmicas e culturais que perderam espaccedilo na poliacutetica majoritaacuteria de manterem o seu poder
reforccedilando no arranjo institucional do Estado o peso do Judiciaacuterio no qual elas ainda tecircm he-
gemonia E aqui no Brasil seraacute que a proteccedilatildeo absoluta que vem sendo conferida ao direito
adquirido - inclusive o de furar teto salarial do funcionalismo fixado por emenda agrave Constituiccedilatildeo
114 - e o ultra-garantismo penal nos crimes do colarinho branco natildeo seriam exemplos deste
mesmo fenocircmeno
Por outro lado uma ecircnfase excessiva no espaccedilo judicial pode levar ao esquecimento de outras
arenas importantes para a concretizaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo e realizaccedilatildeo de direitos gerando um
resfriamento da mobilizaccedilatildeo ciacutevica do cidadatildeo Eacute verdade que o ativismo judicial pode em
certos contextos atuar em sinergia com a mobilizaccedilatildeo social na esfera puacuteblica Isto ocorreu
por exemplo no movimento dos direitos civis nos Estados Unidos dos anos 50 e 60 que foi a-
quecido pelas respostas positivas obtidos na Suprema Corte no periacuteodo da Corte de Warren115
Mas nem sempre eacute assim A ecircnfase judicialista pode afastar do cenaacuterio de disputa por direitos
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as pessoas e movimentos que natildeo pertenccedilam nem tenham proximidade com as corporaccedilotildees
juriacutedicas
Ademais esta obsessatildeo com a interpretaccedilatildeo judicial da Constituiccedilatildeo tende a obscurecer o pa-
pel central de outras instacircncias na definiccedilatildeo do sentido da Constituiccedilatildeo - como o Legislativo o
Executivo e a proacutepria esfera puacuteblica informal Trata-se de um desvio que gera consequumlecircncias
negativas tanto no plano descritivo como na esfera normativa Sob o prisma descritivo trans-
mite-se uma imagem muito parcial do fenocircmeno constitucional que natildeo eacute captado com todas
as suas nuances e riquezas jaacute que o foco se concentra apenas sobre a accedilatildeo de um dentre os
vaacuterios agentes importantes que povoam a seara da hermenecircutica constitucional116 Sob o acircngu-
lo normativo favorece-se um governo agrave moda platocircnica de saacutebios de toga117 que satildeo convida-
dos a assumir uma posiccedilatildeo paternalista diante de uma sociedade infantilizada118 Justifica-se o
ativismo judicial a partir de uma visatildeo muito criacutetica do processo poliacutetico majoritaacuterio mas que
ignora as inuacutemeras mazelas que tambeacutem afligem o Poder Judiciaacuterio construindo-se teorias a
partir de visotildees romacircnticas e idealizadas do juiz119 Soacute que se eacute verdade que o processo poliacuteti-
co majoritaacuterio tem seus viacutecios - e eles satildeo muito graves no cenaacuterio brasileiro - tambeacutem eacute certo
que os juiacutezes natildeo satildeo semi-deuses e que a esfera em que atuam tampouco eacute imune agrave poliacutetica
com p menor
Esta idealizaccedilatildeo da figura do juiz natildeo se compadece com algumas notoacuterias deficiecircncias que o
Judiciaacuterio brasileiro enfrenta Dentre elas pode-se destacar a sobrecarga de trabalho que
compromete a capacidade dos magistrados de dedicarem a cada processo o tempo e a energia
necessaacuterias para que faccedilam tudo que o que demandam as principais teorias da argumentaccedilatildeo
defendidas pelo neoconstitucionalismo E cabe referir tambeacutem agraves lacunas na formaccedilatildeo do ma-
gistrado brasileiro decorrentes sobretudo das falhas de um ensino juriacutedico formalista e nada
interdisciplinar que ainda viceja no paiacutes que natildeo satildeo corrigidas nos procedimentos de seleccedilatildeo
e treinamento dos juiacutezes
Outra consequumlecircncia da obsessatildeo judicialista do constitucionalismo brasileiro contemporacircneo
estaacute refletida na nossa produccedilatildeo acadecircmica Enquanto somos inundados por livros e artigos
muitas vezes repetitivos sobre assuntos como princiacutepios e regras interpretaccedilatildeo constitucional
e tutela judicial de direitos fundamentais outros temas absolutamente essenciais para a vida
do paiacutes passam ao largo da preocupaccedilatildeo dos juristas Eacute o caso da reforma poliacutetica Em que pese
o caraacuteter essencialmente constitucional do assunto quase nenhum constitucionalista se inte-
ressou por ele 120e praticamente toda a literatura de qualidade produzida sobre o toacutepico tem
vindo da Ciecircncia Poliacutetica
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Estou convencido de que o Poder Judiciaacuterio tem um papel essencial na concretizaccedilatildeo da Consti-
tuiccedilatildeo brasileira Em face do quadro de sistemaacutetica violaccedilatildeo de direitos de certos segmentos da
populaccedilatildeo do arranjo institucional desenhado pela Carta de 88 e da seacuteria crise de representa-
tividade do Poder Legislativo entendo que o ativismo judicial se justifica no Brasil pelo menos
em certas searas como a tutela de direitos fundamentais a proteccedilatildeo das minorias e a garantia
do funcionamento da proacutepria democracia O maior insulamento judicial diante da pressatildeo das
maiorias bem como um certo ethos profissional de valorizaccedilatildeo dos direitos humanos que co-
meccedila a se instalar na nossa magistratura 121 conferem ao Judiciaacuterio uma capacidade institu-
cional privilegiada para atuar nestas aacutereas122
Mas em outros campos pode ser mais recomendaacutevel uma postura de autocontenccedilatildeo judicial
seja por respeito agraves deliberaccedilotildees majoritaacuterias adotadas no espaccedilo poliacutetico123 seja pelo reco-
nhecimento da falta de expertise do Judiciaacuterio para tomar decisotildees que promovam eficiente-
mente os valores constitucionais em jogo em aacutereas que demandem profundos conhecimentos
teacutecnicos fora do Direito - como Economia poliacuteticas puacuteblicas e regulaccedilatildeo124 Nestes casos deve-
se reconhecer que outros oacutergatildeos do Estado estatildeo mais habilitados para assumirem uma posiccedilatildeo
de protagonismo na implementaccedilatildeo da vontade constitucional
Nesta linha vejo com reticecircncias a sedimentaccedilatildeo na nossa cultura juriacutedica da visatildeo de que o
grande - senatildeo o uacutenico - inteacuterprete da Constituiccedilatildeo seria o Poder Judiciaacuterio125 Esta leitura des-
carta a autocontenccedilatildeo judicial bem como tende a desprezar a possibilidade de que sejam tra-
vados construtivos diaacutelogos interinstitucionais entre diversos oacutergatildeos estatais para a definiccedilatildeo da
melhor interpretaccedilatildeo dos ditames constitucionais126 Um bom exemplo127 deste desvio ocorreu
no julgamento da constitucionalidade das pesquisas em ceacutelulas-tronco embrionaacuterias realizada
pelo STF em que pese o resultado final do julgamento ter sido substancialmente correto Na-
quela ocasiatildeo o importante argumento deduzido na tribuna e em memoriais por Luis Roberto
Barroso - que advogava para um dos amici curiae favoraacuteveis agraves pesquisas - de que o Judiciaacuterio
deveria adotar posiccedilatildeo cautelosa no julgamento da constitucionalidade da lei impugnada ten-
do em vista o amplo consenso em torno dela obtido durante o processo legislativo tanto no
Senado como na Cacircmara foi explicitamente rechaccedilado por alguns ministros que consideraram
o ponto irrelevante E outros ministros em votos vencidos se sentiram confortaacuteveis ateacute para
defender a imposiccedilatildeo de novas normas pelo STF na aacuterea do Biodireito arvorando-se agrave condiccedilatildeo
de legisladores num campo para o qual evidentemente lhes faltava qualquer expertise
Enfim o neoconstitucionalismo brasileiro tem pecado por excesso depositando no Judiciaacuterio
expectativas que ele nem sempre teraacute como atender de forma satisfatoacuteria Um dos efeitos co-
laterais deste fenocircmeno eacute a disseminaccedilatildeo de um discurso muito perigoso de que voto e poliacuteti-
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ca natildeo satildeo tatildeo importantes pois relevante mesmo eacute a interpretaccedilatildeo dos princiacutepios constitucio-
nais realizada pelo STF Daiacute a dizer que o povo natildeo sabe votar eacute um pulo e a ditadura de toga
pode natildeo ser muito melhor do que a ditadura de farda
b) Neoconstitucionalismo oba-oba constitucional e Estado Democraacutetico de Direito
Seria uma profunda injusticcedila com a teoria neoconstitucionalista acusaacute-la de promover o decisi-
onismo ou de defender a tomada de decisotildees judiciais puramente emotivas sem lastro em ar-
gumentaccedilatildeo racional soacutelida Pelo contraacuterio como foi destacado acima um dos eixos centrais
do pensamento neoconstitucional eacute a reabilitaccedilatildeo da racionalidade praacutetica no acircmbito juriacutedico
com a articulaccedilatildeo de complexas teorias da argumentaccedilatildeo que demandam muito dos inteacuterpre-
tes e sobretudo dos juiacutezes em mateacuteria de fundamentaccedilatildeo das suas decisotildees Poreacutem a praacutetica
judiciaacuteria brasileira recepcionou apenas parcialmente as teorias juriacutedicas de corte poacutes-
positivista e aqui a valorizaccedilatildeo dos princiacutepios e da ponderaccedilatildeo natildeo tem sido muitas vezes
acompanhada do necessaacuterio cuidado com a justificaccedilatildeo das decisotildees
Se ateacute natildeo muito tempo atraacutes os princiacutepios natildeo eram tratados como autecircnticas normas por
aqui - soacute tinha bom direito quem podia invocar uma regra legal clara e precisa em favor da sua
pretensatildeo - com a chegada do poacutes-positivismo e do neoconstitucionalismo passou-se em pou-
cos anos da aacutegua para o vinho Hoje instalou-se um ambiente intelectual no Brasil que aplaude
e valoriza as decisotildees principioloacutegicas e natildeo aprecia tanto aquelas calcadas em regras legais
que satildeo vistas como burocraacuteticas ou positivistas - e positivismo hoje no paiacutes eacute quase um pala-
vratildeo128 Neste contexto os operadores do Direito satildeo estimulados a invocar sempre princiacutepios
muito vagos nas suas decisotildees mesmo quando isso seja absolutamente desnecessaacuterio pela e-
xistecircncia de regra clara e vaacutelida a reger a hipoacutetese Os campeotildees tecircm sido os princiacutepios da dig-
nidade da pessoa humana e da razoabilidade O primeiro eacute empregado para dar imponecircncia ao
decisionismo judicial vestindo com linguagem pomposa qualquer decisatildeo tida como politica-
mente correta e o segundo para permitir que os juiacutezes substituam livremente as valoraccedilotildees de
outros agentes puacuteblicos pelas suas proacuteprias
Este cenaacuterio eacute problemaacutetico porque um sistema juriacutedico funcional estaacutevel e harmocircnico com os
valores do Estado Democraacutetico de Direito precisa tanto da aplicaccedilatildeo de regras como de princiacute-
pios129 As regras satildeo indispensaacuteveis dentre outras razotildees130 porque geram maior previsibili-
dade e seguranccedila juriacutedica para os seus destinataacuterios diminuem os riscos de erro na sua inci-
decircncia jaacute que natildeo dependem tanto das valoraccedilotildees do inteacuterprete em cada caso concreto en-
volvem um menor custo no seu processo de aplicaccedilatildeo pois podem incidir de forma mais mecacirc-
nica sem demandarem tanto esforccedilo do inteacuterprete e natildeo implicam na mesma medida que os
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princiacutepios em uma transferecircncia de poder decisoacuterio do Legislativo que eacute eleito para o Judici-
aacuterio que natildeo eacute
Natildeo pretendo sustentar com isso que se deva retroceder ao tempo em que os princiacutepios natildeo
eram aplicados pelos juiacutezes brasileiros Tambeacutem os princiacutepios satildeo essenciais na ordem juriacutedica
pois conferem mais plasticidade ao Direito - o que eacute essencial numa sociedade hiper-complexa
como a nossa - e permitem uma maior abertura da argumentaccedilatildeo juriacutedica agrave Moral e ao mundo
empiacuterico subjacente O importante eacute encontrar uma justa medida que natildeo torne o processo de
aplicaccedilatildeo do Direito amarrado demais como ocorreria num sistema baseado exclusivamente
em regras nem solto demais como sucederia com um que se fundasse apenas em princiacutepios
Penso que eacute chegada a hora de um retorno do pecircndulo no Direito brasileiro131 que sem des-
cartar a importacircncia dos princiacutepios e da ponderaccedilatildeo volte a levar a seacuterio tambeacutem as regras e a
subsunccedilatildeo
Ademais naquelas hipoacuteteses em que a aplicaccedilatildeo de princiacutepios for realmente apropriada ela
deve dar-se de forma mais racional e fundamentada Deve-se adotar a premissa de que quanto
mais vaga for a norma a ser aplicada e mais intenso o componente volitivo envolvido no pro-
cesso decisoacuterio maior deve ser o ocircnus argumentativo do inteacuterprete no sentido de mostrar que
a soluccedilatildeo por ele adotada eacute a que melhor realiza os valores do ordenamento naquele caso con-
creto132 A tendecircncia atual de invocaccedilatildeo frouxa e natildeo fundamentada de princiacutepios colide com a
loacutegica do Estado Democraacutetico de Direito pois amplia as chances de arbiacutetrio judicial gera inse-
guranccedila juriacutedica e atropela a divisatildeo funcional de poderes que tem no ideaacuterio democraacutetico um
dos seus fundamentos - a noccedilatildeo baacutesica de que as decisotildees sobre o que os cidadatildeos e o Estado
podem e natildeo podem fazer devem ser tomadas preferencialmente por quem represente o povo
e seja por ele escolhido
E haacute na sociedade brasileira traccedilos que tornam ainda mais perigosa esta tendecircncia agrave frouxidatildeo
e emotividade na metodologia juriacutedica Nossa cultura caracteriza-se muito mais pelo jeiti-
nho133 e pelo patrimonialismo134 do que pela valorizaccedilatildeo do cumprimento impessoal de regras
O brasileiro - jaacute dizia Seacutergio Buarque de Holanda135 - eacute o homem cordial que tende a antepor
a loacutegica privada do compadrio e da simpatia agrave racionalidade objetiva das leis Esta singularida-
de das nossas relaccedilotildees sociais natildeo atua de forma neutra em relaccedilatildeo a todos os cidadatildeos Ela
implica na adoccedilatildeo de posturas estatais em geral muito benevolentes em relaccedilatildeo aos donos do
poder e seus apaniguumlados e de posiccedilotildees muito mais duras dirigidas aos grupos excluiacutedos e mar-
ginalizados136 Uns poucos acabam pairando acima das leis que natildeo os alcanccedilam para limitar a
sua conduta ou sancionar os seus desvios enquanto outros permanecem abaixo dela sendo
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atingidos apenas pelo braccedilo punitivo do Estado pois a violaccedilatildeo rotineira dos seus direitos eacute
naturalizada tornando-se invisiacutevel
Neste quadro cabe indagar sob a perspectiva de uma sociologia da interpretaccedilatildeo constitucio-
nal ateacute que ponto a introduccedilatildeo entre noacutes de uma dogmaacutetica fluida - a expressatildeo eacute de Gusta-
vo Zagrebelsky137 um dos iacutecones do neoconstitucionalismo - natildeo pode ter como efeito colateral
o agravamento de patologias que marcam as nossas relaccedilotildees sociais Seraacute que o nosso Direito
precisa de mais rigidez ou de maior maleabilidade Ao fim e ao cabo quem tende a se benefi-
ciar com a adoccedilatildeo de uma hermenecircutica juriacutedica mais flexiacutevel
Uma reflexatildeo importante sobre tema correlato foi empreendida por Marcelo Neves138 a partir
das categorias da teoria sistecircmica de Niklas Luhman Para Luhman139 em apertada siacutentese o
Direito nas hipercomplexas sociedades modernas seria autopoieacutetico140 pois consistiria num
subsistema social estruturalmente fechado em relaccedilatildeo ao meio envolvente que operaria de
acordo com um coacutedigo binaacuterio proacuteprio - o liacutecito iliacutecito As influecircncias do meio envolvente so-
bre o Direito seriam filtradas atraveacutes deste coacutedigo assegurando a autonomia da esfera juriacutedica
diante dos outros subsistemas sociais como a Economia a Poliacutetica a Religiatildeo etc Contudo
Marcelo Neves sustenta que em sociedades perifeacutericas como o Brasil natildeo se desenvolveu ple-
namente este fechamento estrutural do Direito Por aqui fatores como a nossa constituciona-
lizaccedilatildeo simboacutelica geraram uma insuficiente diferenciaccedilatildeo do Direito em relaccedilatildeo a outros sub-
sistemas sociais permitindo que elementos a princiacutepio estranhos ao coacutedigo binaacuterio do juriacutedico -
como a questatildeo do poder poliacutetico e do poder econocircmico - se infiltrem sistematicamente nos
processos de aplicaccedilatildeo das normas condicionando o seu resultado A teoria dos sistemas de
Luhman natildeo funcionaria bem entre noacutes pois teriacuteamos um Direito em boa parte alopoieacuteti-
coPara tal perspectiva esta maior abertura do Direito ao meio envolvente natildeo assume o po-
tencial emancipatoacuterio preconizado pela teoria neoconstitucionalista Ela funciona muito mais
como um mecanismo de cristalizaccedilatildeo de diferenccedilas sociais mantendo a hiper-inclusatildeo de uns
ao preccedilo da exclusatildeo de outros
Esta reflexatildeo de Marcelo Neves natildeo se dirigiu ao debate metodoloacutegico contemporacircneo envol-
vendo princiacutepios e regras ponderaccedilatildeo e subsunccedilatildeo etc Poreacutem entendo que ela pode ter algu-
ma pertinecircncia tambeacutem aqui pelo menos para nos advertir sobre o perigo de que o neoconsti-
tucionalismo com a fluidez metodoloacutegica e abertura do Direito a outros domiacutenios que preconi-
za possa acabar tornando-se um belo roacutetulo para justificar mais do mesmo patrimonialismo
desigualdade jeitinho Nesta perspectiva a novidade do neoconstitucionalismo poderia pare-
cer com aquela advogada pelo Priacutencipe de Salinas em famosa passagem do romance O Leopar-
do de Giuseppe Lampedusa quando defendia no contexto da crise da aristocracia italiana do
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final do seacuteculo XIX a necessidade de mudanccedilas urgentes no governo para que ao final as
coisas pudessem permanecer exatamente do jeito que sempre foram
Natildeo penso que esta seja uma consequumlecircncia necessaacuteria da adoccedilatildeo de uma perspectiva juriacutedica
mais principialista no Brasil O maior cuidado metodoloacutegico adicionado agrave adoccedilatildeo de uma dire-
triz hermenecircutica substantiva que afirme a missatildeo essencial do Direito de assegurar justiccedila e
seguranccedila agraves pessoas tratando-as como livres e iguais pode minimizar as possibilidades de um
uso enviesado da teoria neoconstitucional que acabe favorecendo aos mesmos de sempre
Mas diante das nossas tradiccedilotildees natildeo haacute como negar que os riscos satildeo elevados
c) Neoconstitucionalismo e panconstitucionalizaccedilatildeo
Uma das caracteriacutesticas do neoconstitucionalismo eacute a defesa da constitucionalizaccedilatildeo do Direi-
to Sustenta-se que a irradiaccedilatildeo das normas constitucionais por todo o ordenamento contribui
para aproximaacute-lo dos valores emancipatoacuterios contidos nas constituiccedilotildees contemporacircneas 141A
Constituiccedilatildeo natildeo eacute vista mais como uma simples norma normarum - cuja finalidade principal eacute
disciplinar o processo de produccedilatildeo de outras normas142 Ela passa a ser enxergada como a en-
carnaccedilatildeo dos valores superiores da comunidade poliacutetica que devem fecundar todo o sistema
juriacutedico Neste modelo cabe ao inteacuterprete natildeo soacute aplicar diretamente os ditames constitucio-
nais agraves relaccedilotildees sociais como tambeacutem reler todas as normas e institutos dos mais variados ra-
mos do Direito agrave luz da Constituiccedilatildeo emprestando-lhes o sentido que mais promova os objeti-
vos e a axiologia da Carta
A constitucionalizaccedilatildeo do Direito de que cogita o neoconstitucionalismo natildeo eacute aquela que resul-
ta do caraacuteter excessivamente analiacutetico da Constituiccedilatildeo e leva ao entricheiramento de meras
opccedilotildees conjunturais do constituinte originaacuterio ou derivado despidas de maior importacircncia ou
dignidade Este eacute um fenocircmeno caracteriacutestico da Carta de 88 que se excedeu no casuiacutesmo e
nos detalhes elevando ao seu texto meros interesses corporativos ou decisotildees de momento
sem focirclego para perdurarem no tempo A constitucionalizaccedilatildeo louvada e defendida pelo neo-
constitucionalismo eacute aquela que parte de uma interpretaccedilatildeo extensiva e irradiante dos direitos
fundamentais e dos princiacutepios mais importantes da ordem constitucional Aqui contudo pode-
se discutir ateacute que ponto o fenocircmeno eacute legiacutetimo Poucos discordaratildeo pelo menos no Brasil de
que alguma constitucionalizaccedilatildeo do Direito eacute positiva e bem-vinda por semear o ordenamento
com os valores humanitaacuterios da Constituiccedilatildeo Poreacutem pode-se objetar contra as teses extrema-
das sobre este processo que acabam amputando em demasia o espaccedilo de liberdade do legisla-
dor em detrimento da democracia 143
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Com efeito quem defende que tudo ou quase tudo jaacute estaacute decidido pela Constituiccedilatildeo e que o
legislador eacute um mero executor das medidas jaacute impostas pelo constituinte nega por conse-
quumlecircncia a autonomia poliacutetica ao povo para em cada momento da sua histoacuteria realizar as suas
proacuteprias escolhas O excesso de constitucionalizaccedilatildeo do Direito reveste-se portanto de um
vieacutes antidemocraacutetico Esta ordem de preocupaccedilotildees levou Ersnt Forsthof na Alemanha a criti-
car as teorias que viam a Constituiccedilatildeo como uma espeacutecie de genoma juriacutedico () do qual tudo
deriva do Coacutedigo Penal ateacute a lei sobre a fabricaccedilatildeo de termocircmetros144 E a questatildeo torna-se
ainda mais delicada diante da constataccedilatildeo de que pela abertura semacircntica dos direitos fun-
damentais e dos princiacutepios - principal mateacuteria-prima da constitucionalizaccedilatildeo do Direito - o seu
principal agente acaba sendo o Poder Judiciaacuterio ao dar a uacuteltima palavra sobre a interpretaccedilatildeo
daquelas claacuteusulas Daiacute porque o debate sobre a constitucionalizaccedilatildeo do Direito se imbrica
inexoravelmente com as discussotildees a propoacutesito da judicializaccedilatildeo da poliacutetica e do decisionismo
referidas acima
Ademais a constitucionalizaccedilatildeo do Direito tambeacutem suscita outra linha de preocupaccedilotildees rela-
cionada ao perfeccionismo moral145 na esfera privada No Brasil assim como em muitos outros
paiacuteses jaacute se assentou a ideacuteia de que os direitos fundamentais natildeo se dirigem apenas contra o
Estado vinculando tambeacutem os particulares Entre noacutes tem prevalecido na doutrina a ideacuteia que
eu mesmo defendi em outro estudo146 que a eficaacutecia dos direitos fundamentais nas relaccedilotildees
privadas eacute direta e imediata Em outras palavras entende-se que a proacutepria Constituiccedilatildeo jaacute inci-
de nas relaccedilotildees privadas independentemente de mediaccedilotildees legislativas e que pode gerar o-
brigaccedilotildees positivas ou negativas para os indiviacuteduos e natildeo soacute para os poderes puacuteblicos sempre
no afatilde de proporcionar uma proteccedilatildeo mais completa agrave dignidade humana Ateacute aqui nada a
contestar
Poreacutem o reconhecimento da vinculaccedilatildeo dos particulares agrave Constituiccedilatildeo suscita um risco que
natildeo pode ser ignorado o de imposiccedilatildeo agraves pessoas supostamente em nome de valores constitu-
cionais de comportamentos e estilos de vida que elas proacuteprias rejeitam em detrimento da sua
liberdade existencial Para dar um exemplo bem tosco seria terriacutevel se o Direito em nome do
princiacutepio da solidariedade social pudesse impor agraves pessoas que demonstrassem afetos e senti-
mentos que elas natildeo possuem genuinamente Ou se em nome da isonomia pretendesse inter-
ferir nas escolhas subjetivas e emocionais que os indiviacuteduos fazem nas suas vidas privadas A
constitucionalizaccedilatildeo neste sentido poderia converter-se num pretexto para o exerciacutecio de um
paternalismo anti-liberal em que as pessoas seriam forccediladas a conformarem-se agraves expectativas
sociais forjadas a partir de pautas de accedilatildeo politicamente corretas com apoio na Constitui-
ccedilatildeo147
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Nenhuma destas duas questotildees eacute insuperaacutevel Eacute possiacutevel aceitar e aplaudir a constitucionaliza-
ccedilatildeo do Direito - fenocircmeno em geral positivo por aproximar a racionalidade emancipatoacuteria da
Constituiccedilatildeo do dia-a-dia das pessoas - mas defender que ela seja temperada por outras preo-
cupaccedilotildees igualmente essenciais no Estado Democraacutetico de Direito com a autonomia puacuteblica e
privada dos cidadatildeos Pode-se reconhecer a legitimidade da constitucionalizaccedilatildeo do Direito
mas numa medida em que natildeo sacrifique em excesso agrave liberdade de conformaccedilatildeo que numa
democracia deve caber ao legislador para realizar opccedilotildees poliacuteticas em nome do povo148 Pode-
se da mesma forma afirmar a incidecircncia direta da Constituiccedilatildeo nas relaccedilotildees privadas mas
sem invadir a esfera das opccedilotildees existenciais da pessoa - que de resto eacute protegida pela proacutepria
Constituiccedilatildeo das ingerecircncias perfeccionistas do Estado e da sociedade149
5 Conclusatildeo Ao fim da leitura destas paacuteginas o leitor pode estar se indagando se eu me alinho ou natildeo ao
neoconstitucionalismo A minha resposta eacute depende da compreensatildeo que se tenha sobre o ne-
oconstitucionalismo Se entendermos o neoconstitucionalismo de acordo com a conhecida defi-
niccedilatildeo de Luis Prietro Sanchiacutes como uma teoria do Direito que se orienta pelas maacuteximas demaacutes
princiacutepios que reglas maacutes ponderacioacuten que subsuncioacuten omnipotencia de la Constitucioacuten en
todas las aacutereas juriacutedicas y en todos conflictos miacutenimamente relevantes en lugar de espacios
exentos en favor de la opcioacuten legislativa o reglamentaria omnipotencia judicial en lugar de
autonomia del legislador ordinaacuterio y por ultimo coexistecircncia de una constelacioacuten plural de
valores a veces tendencialmente contradictorios en lugar de homogeneidad ideoloacutegica150
certamente eu natildeo me considero um neoconstitucionalista De todas as afirmaccedilotildees do professor
espanhol a uacutenica de que natildeo discordo eacute aquela relacionada ao pluralismo de valores cujo re-
conhecimento aliaacutes estaacute longe de ser privileacutegio dos neoconstitucionalistas
Contudo eu assumo o roacutetulo sem constrangimentos se o neoconstitucionalismo for pensado
como uma teoria constitucional que sem descartar a importacircncia das regras e da subsunccedilatildeo
abra tambeacutem espaccedilo para os princiacutepios e para a ponderaccedilatildeo tentando racionalizar o seu uso
Se for visto como uma concepccedilatildeo que sem desprezar o papel protagonista das instacircncias de-
mocraacuteticas na definiccedilatildeo do Direito reconheccedila e valorize a irradiaccedilatildeo dos valores constitucio-
nais pelo ordenamento bem como a atuaccedilatildeo firme e construtiva do Judiciaacuterio para proteccedilatildeo e
promoccedilatildeo dos direitos fundamentais e dos pressupostos da democracia E acima de tudo se
for concebido como uma visatildeo que conecte o Direito com exigecircncias de justiccedila e moralidade
criacutetica151 sem enveredar pelas categorias metafiacutesicas do jusnaturalismo
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Certamente uma visatildeo equilibrada da Teoria do Direito com tais caracteriacutesticas pode contribu-
ir para o aperfeiccediloamento do Estado Democraacutetico de Direito no Brasil O mesmo jaacute natildeo digo de
concepccedilotildees mais radicais do neoconstitucionalismo que podem ser muito boas para arrancar
aplausos entusiasmados das plateacuteias nos seminaacuterios estudantis mas que natildeo se conciliam com
exigecircncias fundamentais de seguranccedila juriacutedica democracia e liberdade que satildeo alicerces de
qualquer bom constitucionalismo - novo ou velho
Curriacuteculo Resumido
Daniel Sarmento
Poacutes-Doutor pela Universidade de Yale (EUA) Procurador Regional da Repuacuteblica
Como citar este artigo
SARMENTO Daniel O neoconstitucionalismo no Brasil riscos e possibilidades Disponiacutevel em httpwwweditoraforumcombrsistconteudolista_conteudoaspFIDT_CONTEUDO=56993 acesso em 09032011 httpdireitoesubjetividadefileswordpresscom201008daniel-sarmento-o-neoconstitucionalismo-no-brasil1doc acesso em 30062012 Material da 1ordf aula da Disciplina Teoria Geral da Constituiccedilatildeo (I) ministrada no Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo Online em Direito Constitucional ndash Anhanguera-UNIDERP | REDE LFG
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1Sobre a teoria de princiacutepios no Brasil veja-se dentre outros Ana Paula de Barcellos A eficaacutecia juriacutedica dos princiacutepios constitu-
cionais o princiacutepio da dignidade da pessoa humana Rio de Janeiro Renovar 2002 Humberto Bergman Aacutevila Teoria dos princiacute-
pios da definiccedilatildeo agrave aplicaccedilatildeo dos princiacutepios juriacutedicos 2 ed Satildeo Paulo RT 2005 Jane Reis Gonccedilalves Pereira Interpretaccedilatildeo
constitucional e direitos fundamentais uma contribuiccedilatildeo ao estudo das restriccedilotildees aos direitos fundamentais na perspectiva da
teoria dos princiacutepios Rio de Janeiro Renovar 2006 Virgiacutelio Afonso da Silva O conteuacutedo essencial dos direitos fundamentais e a
eficaacutecia das normas constitucionais Satildeo Paulo Tese (concurso de Professor Titular de Direito Constitucional da USP)
2Veja-se em tons variados Lecircnio Luiz Streck Hermenecircutica juriacutedica e(m) crise uma exploraccedilatildeo hermenecircutica da construccedilatildeo do
direito Porto Alegre Livraria do Advogado 1999 Luiacutes Roberto Barroso (Org) A nova interpretaccedilatildeo constitucional ponderaccedilatildeo
direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas Rio de Janeiro Renovar 2003 Margarida Maria Lacombe Camargo Hermenecircutica e
argumentaccedilatildeo uma contribuiccedilatildeo ao estudo do direito Rio de Janeiro Renovar 2003 Inocecircncio Maacutertires Coelho Interpretaccedilatildeo
constitucional 2 ed Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2003 Ana Paula de Barcellos Ponderaccedilatildeo racionalidade e atividade
jurisdicional Rio de Janeiro Renovar 2005
3Sobre o fenocircmeno da constitucionalizaccedilatildeo do Direito confira-se os inuacutemeros artigos que compotildeem a coletacircnea organizada por
Claacuteudio Pereira de Souza Neto e por mim A constitucionalizaccedilatildeo do direito fundamentos teoacutericos e aplicaccedilotildees especiacuteficas Rio de
Janeiro Lumen Juris 2007
4Cfr na literatura constitucional brasileira Gisele Guimaratildees Cittadino Pluralismo direito e justiccedila distributiva elementos de
filosofia constitucional contemporacircnea Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 Oscar Vilhena Vieira A Constituiccedilatildeo e sua reserva de
justiccedila um ensaio sobre os limites materiais do poder de reforma Satildeo Paulo Malheiros 1999 Ricardo Lobo Torres (Org) A legi-
timaccedilatildeo dos direitos humanos Rio de Janeiro Renovar 2002 Claacuteudio Pereira de Souza Neto Teoria constitucional e democracia
deliberativa Rio de Janeiro Renovar 2006 Lecircnio Luiz Streck Verdade e consenso Constituiccedilatildeo hermenecircutica e teorias discursi-
vas Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 Samantha Chantal Dobrowolski A construccedilatildeo social do sentido da Constituiccedilatildeo na demo-
cracia contemporacircnea entre soberania popular e direitos humanos Rio de Janeiro Lumen Juris 2007 Aacutelvaro Ricardo de Souza
Cruz Hermenecircutica juriacutedica e(m) debate o constitucionalismo brasileiro entre a teoria do discurso e a ontologia existencial Belo
Horizonte Foacuterum 2007
5Sobre a judicializaccedilatildeo da poliacutetica no Brasil veja-se Luiz Werneck Vianna et al A judicializaccedilatildeo da poliacutetica e das relaccedilotildees sociais
no Brasil Rio de Janeiro Revan 1999 Giselle Cittadino Judicializaccedilatildeo da poliacutetica constitucionalismo democraacutetico e separaccedilatildeo de
poderes In Luiz Werneck Vianna (Org) A democracia e os trecircs poderes no Brasil Belo Horizonte UFMG 2002 p 17-42 Rogeacuterio
B Arantes Constitucionalism the expansion of Justice and the Judicialization of Poltics in Brazil In Rachel Sieder Line Schjol-
den Alan Angell The Judicialization of Politics in Latin America New York Palgrave Macmillan 2005 p 232-262 Luis Roberto
Barroso Judicializaccedilatildeo ativismo judicial e legitimidade democraacutetica Texto ineacutedito gentilmente cedido pelo autor
Para uma perspectiva comparativa veja-se Neal C Tate Tobjorn Vallinder (Ed) The Global Expansion of Judicial Power New
York New York University Press 1995 Alec Stone Sweet Governing with Judges Constitutional Politics in Europe Oxford Oxford
Univesity Press 2000 e em tom profundamente criacutetico Ran Hirschl Towards Juristocracy the Origins and Consequences of the
New Constitucionalism Cambridge Harvard University Press 2004
6Miguel Carbonell et al Neoconstitucionalismo(s) Madrid Trotta 2003 Mais recentemente o autor publicou nova coletacircnea
tambeacutem dedicada ao estudo do neoconstitucionalismo intitulada Teoria del Neoconstitucionalismo Ensayos escogidos Madrid
Trotta 2007
7O jurista argentino Carlos Santiago Nino por exemplo faleceu em 1993 quando ainda nem se empregava esta denominaccedilatildeo
8Cf Robert Alexy Teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica a teoria do discurso racional como teoria da fundamentaccedilatildeo juriacutedica Tradu-
ccedilatildeo de Zilda Hutchinson Schild Silva revisatildeo teacutecnica da traduccedilatildeo e introduccedilatildeo agrave ediccedilatildeo brasileira Claudia Toledo 2 ed Satildeo Paulo
Landy 2005 Luis Roberto Barroso Curso de direito constitucional contemporacircneo os conceitos fundamentais e a construccedilatildeo do
novo modelo Rio de Janeiro Saraiva 2008 p 306-350
9Cf Lecircnio Luiz Streck Verdade e consenso Op cit p 197-246
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10Ronald Dworkin e Carlos Santiago Nino satildeo sem sombra de duacutevida autores liberais natildeo no sentido que se atribui ao termo no
Brasil - de adeptos de doutrina econocircmica favoraacutevel ao Estado miacutenimo e ao mercado - mas sim no sentido corrente na Filosofia
Poliacutetica que associa o liberalismo agrave defesa dos direitos individuais e da neutralidade do Estado em relaccedilatildeo agraves diversas concepccedilotildees
sobre a vida boa existentes na sociedade Veja-se neste sentido Ronald Dworkin A Matter of Principle Cambridge Harvard
University Press 1985 p 181-236 Carlos Santiago Nino La constitucioacuten de la Democracia Deliberativa Barcelona Gedisa 1997
p 70-100
11Lecircnio Luiz Streck que se alinha ao neoconstitucionalismo defende posturas tipicamente comunitaristas como o papel da Consti-
tuiccedilatildeo na definiccedilatildeo de modelos de vida boa para orientaccedilatildeo da vida social e da accedilatildeo individual Cf Jurisdiccedilatildeo constitucional e
hermenecircutica uma nova criacutetica do direito 2 ed Rio de Janeiro Forense 2004 p 95-288
12Antonio Cavalcanti Maia um dos mais ardorosos defensores do neoconstitucionalismo no paiacutes eacute tambeacutem procedimentalista e
adepto das teorias juriacutedicas de Juumlrgen Habermas Veja-se neste sentido o seu denso texto Nos vintes anos da carta cidadatilde do
poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm (Coord) Vinte
anos da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 p 117-168 em que esta sua dupla filiaccedilatildeo intelectual eacute
explicitada
13Segundo Miguel Carbonell o neoconstitucionalismo desdobra-se em trecircs planos de anaacutelise que se conjugam o dos textos consti-
tucionais que se tornaram mais substantivos e incorporaram amplos elencos de direitos fundamentais o das praacuteticas judiciais que
passaram a recorrer a princiacutepios constitucionais agrave ponderaccedilatildeo e a meacutetodos mais flexiacuteveis de interpretaccedilatildeo sobretudo na aacuterea de
direitos fundamentais e o dos desenvolvimentos teoacutericos de autores que com as suas ideacuteias ajudaram natildeo soacute a compreender os
novos modelos constitucionais mas tambeacutem participaram da sua proacutepria criaccedilatildeo Cf Miguel Carbonell Neoconstitucionalismo
elementos para una definicioacuten In Eduardo Ribeiro Moreira Mauricio Pugliesi 20 anos da Constituiccedilatildeo brasileira Satildeo Paulo Sarai-
va 2009 p 197-208
14No mesmo sentido Luis Roberto Barroso Neoconstitucionalismo e Constitucionalizaccedilatildeo do direito o triunfo tardio do direito
constitucional do Brasil In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento A constitucionalizaccedilatildeo do direito fundamentos teoacuteri-
cos e aplicaccedilotildees especiacuteficas Rio de Janeiro Lumen Juris 2007 p 203-250
15Cf Carlos Bernal Pulido El Derecho de los Derechos Bogotaacute Universidad Externado de Colocircmbia 2006 Manoel Jose Cepeda
Espinosa Judicialization of Politics in Colombia the old and the new In Rachel Sieder Line Schonjen Alan Angell The Judiciali-
zation of Politics in Latin America Op cit p 67-104 Rodrigo Uprimmy Mauriacutecio Garcia-Villegas Tribunal Constitucional e eman-
cipaccedilatildeo social na Colocircmbia In Boaventura de Souza Santos Democratizar a democracia os caminhos da democracia participativa
Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2002 p 297-339
16Cf Catalina Smulovitz Petitioning and Creating Rights Judicialization in Argentina In Rachel Sieder Line Scjolden Alan Angell
The Judicialization of Politics in Latin America Op cit p 161-185
17Cf Miguel Carbonell Los Derechos Fundamentales en Meacutexico 2 ed Meacutexico Porruacutea 2006 Pilar Domingo The Changing Political
Role of the Judiciary in Meacutexico In Rachel Sieder Line Scjolden Alan Angell The Judicialization of Politics in Latin Ameacuterica Op
cit p 21-46
18Cf Heinz Klug South Aacutefrica From Constitucional Promise to Social Transformation In Jeffrey Goldsworthy Interpreting Consti-
tutions A Comparative Study Oxford Oxford University Press 2006 p 266-320
19Cf S P Sathe Iacutendia From Positivism to Structuralism In Jeffrey Goldsworthy Op cit p 215-265
20Veja-se a propoacutesito Gustavo Zagrebelsky Il Diritto Mite Torino Einaudi 1992 p 57-96
21Cf Eduardo Garciacutea de Enterriacutea La Constitucioacuten como Norma y el Tribunal Constitucional 3 ed Madrid Civitas 1985 p 41
22Na Alemanha a mudanccedila ocorreu sob a vigecircncia da Lei Fundamental adotada em 1949 e foi fortemente impulsionada pela
jurisprudecircncia do Tribunal Constitucional do paiacutes que construiu teorias importantes como a da Constituiccedilatildeo como uma ordem de
valores em cujo centro situa-se o princiacutepio da dignidade humana que se irradia por todo o ordenamento Veja-se a propoacutesito
Dieter Grimm Human Rights and Judicial Review in Germany In David M Beatty (Org) Human Rights and Judicial Review A
Comparative Perspective Dodrecht Martin Urjhoff 1994 p 267-295
23Na Itaacutelia as mudanccedilas se deram sob a eacutegide da atual Constituiccedilatildeo editada em 1947 mas soacute apoacutes o funcionamento da Corte
Constitucional que se deu em 1956 Ateacute entatildeo a Corte de Cassaccedilatildeo composta por juiacutezes recrutados ainda no periacuteodo do fascismo
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era provisoriamente encarregada da guarda da Constituiccedilatildeo o que fazia de forma muito tiacutemida no mais das vezes negando eficaacute-
cia juriacutedica agraves normas constitucionais sob o argumento de que seriam programaacuteticas Veja-se a propoacutesito Ricardo Guastini A
constitucionalizaccedilatildeo do ordenamento juriacutedico e a experiecircncia italiana In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento A
constitucionalizaccedilatildeo do direito fundamentos teoacutericos e aplicaccedilotildees especiacuteficas Op cit p 271-294
24Cf No modelo do constitucionalismo norte-americano entende-se desde os primoacuterdios que a Constituiccedilatildeo eacute autecircntica lei e que
o Judiciaacuterio pode invalidar as decisotildees legislativas que a contrariem apesar do controle de constitucionalidade natildeo estar expres-
samente previsto no texto constitucional daquele paiacutes Esta ideacuteia que jaacute estava assentada no Federalista n 78 escrito por Ale-
xander Hamilton antes da aprovaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo foi posta em praacutetica pela primeira vez contra lei federal no ceacutelebre caso
Marbury v Madison julgado em 1803 pelo juiz Marshall Veja-se a propoacutesito Paul Brest Sanford Levinson Jack Balkin Akhil Reed
Amar Processes of Constitutional Decisionmaking Cases and Materials New York Aspen Publishers 2000 p 79-103
A versatildeo mais convencional do modelo constitucional norte-americano enfatiza a importacircncia central do Judiciaacuterio na atualizaccedilatildeo
do sentido da Constituiccedilatildeo do paiacutes Contudo esta leitura histoacuterica eacute hoje objeto de intensa disputa Em sentido contraacuterio a tal
posiccedilatildeo sustentando uma menor relevacircncia do Judiciaacuterio no desenvolvimento histoacuterico do constitucionalismo americano veja-se
por exemplo Stephen M Griffin American Constitutionalism From Theory to Politics New Jersey Princeton University Press
1996 p 88-139
25Cf Luis Prietro Sanchiacutes Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales Madrid Trotta 2003 p 107-117
26Cf Daniel Sarmento Ubiquumlidade constitucional Os dois lados da moeda In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento
(Coord) A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 113-148
27Na verdade a reaccedilatildeo contra o formalismo juriacutedico na Europa eacute bem anterior ao advento do constitucionalismo do 2ordm poacutes-guerra
remontando ao final do seacuteculo XIX Veja-se a propoacutesito Constantin M Stamatis Argumenter en Droit Une theacuteorie critique de
largumentation juridique Paris Publisud 1995 p 34-50 Antonio Manoel Hespanha Panorama histoacuterico da cultura juriacutedica euro-
peacuteia Lisboa Publicaccedilotildees Europa-Ameacuterica 1997 p 196-235
28Haacute vasta literatura sobre a ponderaccedilatildeo mas a obra mais influente sobre o tema eacute certamente o livro de Robert Alexy Teoria dos
direitos fundamentais Traduccedilatildeo de Virgiacutelio Afonso da Silva Satildeo Paulo Malheiros 2008 No cenaacuterio norte-americano veja-se a
anaacutelise densa e criacutetica de T Alexander Aleinikoff Constitucional Law in the Age of Balancing Yale Law Journal n 96 p 943-
1005 1987 No Brasil cfr Daniel Sarmento A ponderaccedilatildeo de interesses na Constituiccedilatildeo Federal Rio de Janeiro Lumen Juris
2000 Ana Paula de Barcellos Ponderaccedilatildeo racionalidade e atividade jurisdicional Op cit
29A bibliografia sobre o princiacutepio da proporcionalidade eacute vastiacutessima Veja-se a propoacutesito as densas anaacutelises de Carlos Bernal Puli-
do El Principio de Proporcionalidad y los Derechos Fundamentales Madrid Centro de Estuacutedios Constitucionales 2003 e no Brasil
de Jane Reis Gonccedilalves Pereira Interpretaccedilatildeo constitucional e direitos fundamentais Rio de Janeiro Renovar 2006 p 297-382
30Cf Chaiumlm Perelman Eacutetica e direito Traduccedilatildeo de Maria Ermantina Galvatildeo G Perira Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 p 361-684
Robert Alexy Teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica Op cit Friedrich Muller Discours de la Meacutethode Juridique Traduccedilatildeo de Olivier
Jouanjan Paris PUF 1993 Manuel Atienza Traacutes la Justicia Una Introduccioacuten al Derecho y al Razonamiento Juriacutedico Barcelona
Ariel 1995 Neil MacCormick Argumentaccedilatildeo juriacutedica e teoria do direito Traduccedilatildeo de Waldeacutea Barcellos Satildeo Paulo Martins Fontes
2006 Klaus Guumlnther Teoria da argumentaccedilatildeo no direito e na moral justificaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Claacuteudio Molz Satildeo Pau-
lo Landy 2004
31Cf Martin Shapiro Alec Stone Sweet On Law Politics and Judicialization New York Oxford University Press p 136-208
32Contudo deve-se admitir na linha de Paolo Comanducci que eacute possiacutevel reconhecer as mudanccedilas em questatildeo e propor novas
teorias que sejam adequadas a elas sem defendecirc-las Esta seria nas palavras do autor italiano a diferenccedila entre o neoconstitu-
cionalismo teoacuterico e o neoconstitucionalismo ideoloacutegico que natildeo apenas constroacutei teorias mais compatiacuteveis com os novos fenocirc-
menos mas vai aleacutem sustentando a sua legitimidade e propugnando pelo seu aprofundamento e expansatildeo Veja-se a propoacutesito
Paulo Comanducci Formas de neoconstitucionalismo Un anaacutelisis metateoacuterico In Miguel Carbonell (Ed) Neoconstitucionalis-
mo(s) Op cit p 75-98 Como reconhece o proacuteprio autor tal distinccedilatildeo baseia-se em uma semelhante acerca do positivismo
30
formulada por Norberto Bobbio que fala em positivismo teoacuterico ideoloacutegico e metodoloacutegico Cf Norberto Bobbio O positivismo
juriacutedico liccedilotildees de filosofia do direito Traduccedilatildeo e notas de Marcio Pugliesi et al Satildeo Paulo Iacutecone 1995 p 233-239
33Cf Ronald Dworkin Is Law a Sistem of Rules In Ronald Dworkin (Ed) Philosophy of Law Oxford Oxford University Press 1971
Robert Alexy Constitucionalismo discursivo Traduccedilatildeo de Luiz Afonso Heck Porto Alegre Livraria do Advogado 2007
34Cf Robert Alexy Derecho y Razoacuten Praacutectica Meacutexico Distribuiciones Fontamara 1993 Aulis Aarnio Lo Racional como Razonable
Traduccedilatildeo de Ernesto Garzoacuten Valdeacutes Madrid Centro de Estuacutedios Constitucionales 1991
35Cf Aharon Barak The Judge in a Democracy New Jersey Princeton University Press 2006 p 213-260 Gustavo Zagrebelsky Il
Diritto Mite Op cit p 179-217
36Confronte-se com perspectivas diferentes Luigi Ferrajoli O Estado de direito entre passado e futuro In Pietro Costa Danilo
Zolo (Org) Estado de direito histoacuteria teoria criacutetica Traduccedilatildeo de Carlo Alberto Dastoli Satildeo Paulo Martins Fontes 2006 p 419-
464 Elias Dias Estado de Derecho y Sociedad Democraacutetica Madrid Taurus 1998 Ronald Dworkin Introduction The Moral Reading
and the Majoritarian Premise In Freedoms Law The moral reading of the American Constitution Cambridge Harvard University
Press 1996 p 01-38 Gustavo Zagrebelsky La Crucifixioacuten y la Democracia Barcelona Ariel 1996 Claacuteudio Pereira de Souza Neto
Teoria constitucional da democracia deliberativa Op cit
37Cf Ronald Dworkin Introduction The Moral Reading and the Majoritarian Premise Op cit
38Cf Luigi Ferrajoli El Garantismo y la Filosofia del Derecho Bogotaacute Universidad Externado de Colocircmbia 2000
39Cf Luis Pietro Sanchis Sobre el Neoconstitucionalismo y sus Implicaciones In Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales
Op cit p 101-135
40Cf Ricardo Guastini Sur la Validiteacute de la Constitution du Point de Vue du Positivisme Juridique In Michel Troper Lucien Jaume
(Dir) 1789 et LInvention de la Constitution Paris LGDJ 1994 p 216-225
41Cf Suzana Pozzolo Neoconstituzionalismo e Positivismo Giuridico Torino Giapppicheli 2001
42Cf Ronald Dworkin Law and Morals In Justice in Robes Cambridge Harvard University Press 2006 p 01-35
43Cf Robert Alexy Derecho y Moral In La Institucionalizacioacuten de la Justicia Op cit p 17-30
44Cf Carlos Santiago Nino Eacutetica y Derechos Humanos 2 ed Buenos Aires Astrea 1989 p 11-48
45Cf Gustav Radbruch Cinco minutos de filosofia do direito In Filosofia do direito Traduccedilatildeo de L Cabral de Moncada 6 ed
Coimbra Armecircnio Amado 1979 p 414-418 Para uma densa problematizaccedilatildeo da foacutermula de Radbruch veja-se Thomas da Rosa
Bustamante Poacutes-Positivismo o argumento da injusticcedila aleacutem da Foacutermula de Radbruch In Teoria do direito e decisatildeo racional
temas de teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica Rio de Janeiro Renovar 2008
46Cf Robert Alexy La Institucionalizacioacuten de la Justicia Traduccedilatildeo de Joseacute Antonio Seone et al Granada Comares 2005 p 31-
54
47Sobre o tema cfr Alfonso Garcia Figueroa Princiacutepios e direitos fundamentais In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmen-
to A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 03-34
48O texto mais importante do positivismo inclusivo eacute o poacutes-escrito de Herbert LA Hart agrave sua obra magna The Concept of Law em
que ele responde agraves criacuteticas ao seu pensamento que Ronald Dworkin lhe endereccedilara O autor inglecircs faleceu antes de terminar o
texto mas ele foi publicado postumemente depois de ser editado por Joseph Raz Peneacutelope Bulloch Veja-se Herbert LA Hart
Poacutes-escrito In O conceito de direito Traduccedilatildeo de A Ribeiro Mendes 2 ed 1994 p 299-339 Tambeacutem na linha do positivismo
inclusivo veja-se Gregorio Peces- Barba Derechos Sociales y Positivismo Juriacutedico Escritos de Filosofia Poliacutetica y Juriacutedica Madrid
Dykinson 1999 p 83-90 Jules Coleman The Practice of Principle In defense of a pragmatist approach do legal theory Oxford
Oxford University Press p 103-120 Para uma resenha dos tipos de positivismo no debate contemporacircneo confira-se Dimitri Di-
moulis Positivismo juriacutedico introduccedilatildeo a uma teoria do direito e defesa do pragmatismo juriacutedico-politico Satildeo Paulo Meacutetodo
2006 p 65-166
49Cf Antonio Cavalcanti Maia Nos vinte anos da Constituiccedilatildeo do poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo Op cit Claacuteudio Perei-
ra de Souza Neto A teoria constitucional e seus lugares especiacuteficos notas sobre o aporte reconstrutivo Revista de Direito do
Estado n 1 p 89-104 jan mar 2006 Daniel Sarmento Interpretaccedilatildeo constitucional preacute-compreensatildeo e capacidades institu-
cionais do inteacuterprete In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binebojm Vinte anos da Constituiccedilatildeo de 1988
Op cit p 311-322
31
50Cf Juumlrgen Habermas Escritos sobre Moralidad y Eticidad Traduccedilatildeo de Manuel Jimenez Redondo Barcelona Paidoacutes 1991 p
131-172
51Sobre o comunitarismo haacute extensa literatura Dois textos claacutessicos deste linha de pensamento satildeo Michael Walzer The Communi-
tarian Critique of Liberalism In Politics and Passion New Haven Yale University Press 2004 p 141-163 Charles Taylor The
Procedural Republic and the Unencumbered Self In Robert Goodin Philip Pettit (Ed) Contemporary Political Philosophy 2 ed
Oxford Oxford University Press 2002 p 2462-256 Sobre a penetraccedilatildeo ainda que muitas vezes natildeo consciente das posiccedilotildees do
comunitarismo no constitucionalismo brasileiro veja-se Gisele Cittadino Pluralismo direito e justiccedila distributiva Op cit p
43-74
52Sobre o construtivismo eacutetico corrente filosoacutefica que sustenta a existecircncia de posiccedilotildees certas e erradas na Moral bem como a
possibilidade de encontraacute-las e fundamentaacute-las racionalmente veja-se Carlos Santiago Nino El Constructivismo Eacutetico Madrid
Centro de Estudios Constitucionales 1989
53O fenocircmeno tambeacutem se reproduz na teoria constitucional norte-americana hegemocircnica cf Keith Wittington Constitutional Con-
struction Divided Powers and Constitutional Meaning Cambridge Harvard University Press 1999 p 01-03
54A imagem do Poder Judiciaacuterio como um guardiatildeo de promessas eacute explorada e criticada numa obra importante da teoria juriacutedica
francesa contemporacircnea Antoine Garapon Le Gardien de Promesses Le juge et la democratie Paris Odile Jacob 1996
55Neste sentido o eloquumlente encerramento do Curso de Direito Constitucional Contemporacircneo de Luis Roberto Barroso o consti-
tucionalismo democraacutetico eacute a utopia que nos restou Uma feacute racional que ajuda a acreditar no bem e na justiccedila ainda quando natildeo
estejam ao alcance dos olhos (Op cit p 400)
56Cf Nico Poulantzas State Power Socialism London new Left Books 1978 Alan Hunt Marxist Theory of Law In Dennis Patter-
son (Ed) A Companion to Philosophy of Law and Legal Theory Malden Blackwell Publishers 1996 p 355-367
57Cf David Kairys (Ed) The Politics of Law A Progressive Critique New York Pantheon Books 1982 Roberto Mangabeira Unger
The Critical Legal Studies Movement Cambridge Harvard University Press 1986
58Cf Plauto Faraco Azevedo Criacutetica agrave dogmaacutetica e hermenecircutica juriacutedica Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1989 Luiz Fernando
Coelho Teoria criacutetica do direito 2 ed Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1991
59Natildeo haacute como abordar aqui as relaccedilotildees entre as inuacutemeras correntes do poacutes-modernismo e o Direito Constitucional Veja-se a
propoacutesito Niklas Luhman La Constituzione como Acquisizione Evolutiva In Gustavo Zagrebelsky Piacuteer Paolo Portinaro Joumlrg Lu-
ther Il Futuro della Costituzione Torino Einaudi 1996 p 83-128 Joseacute Joaquim Gomes Canotilho Civilizaccedilatildeo do direito constitu-
cional ou constitucionalizaccedilatildeo do direito civil a eficaacutecia dos direitos fundamentais na ordem juriacutedico-civil no contexto do direito
poacutes-moderno Cadernos de Direito Constitucional e Ciecircncia Poliacutetica n 15 p 07-16 1996 Eduardo Capellari A crise da moderni-
dade e a Constituiccedilatildeo Rio de janeiro Ameacuterica Juriacutedica 2004 Daniel Sarmento Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas 2 ed
Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 p 36-45
60Para Jean-Franccedilois Lyotard uma das caracteriacutesticas centrais do pensamento poacutes-moderno de que eacute expoente eacute a desconfianccedila
em relaccedilatildeo agraves metanarrativas - construccedilotildees abstratas grandiosas e totalizadoras tiacutepicas da Filosofia Moderna como direitos
humanos luta de classes e emancipaccedilatildeo pelo uso da razatildeo Cf Lyotard A condiccedilatildeo poacutes-moderna Traduccedilatildeo de Ricardo Correcirca
Barbosa 5 ed 1998 p16
61Cf Luiz Werneck Viana O terceiro poder na carta de 1988 e a tradiccedilatildeo republicana mudanccedila e conservaccedilatildeo In Ruben George
Oliven Marcelo Gildo Marccedilal Branda A Constituiccedilatildeo de 1988 na vida brasileira Satildeo Paulo Aderaldo e Rotshild 2008 p 91-109
62Cf Paulo Ricardo Schier Filtragem constitucional Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1999
63A expressatildeo foi cunhada por Claacuteudio Pereira de Souza Neto Fundamento e normatividade dos direitos fundamentais uma recons-
truccedilatildeo teoacuterica agrave luz do princiacutepio democraacutetico Arquivos de Direitos Humanos n 4 p 17-61 2003
64Cf Luis Roberto Barroso O direito constitucional e a efetividade de suas normas 3 ed Rio de Janeiro Renovar 1996
65Cf Clegravemerson Merlin Clegraveve A teoria constitucional e o direito alternativo para uma dogmaacutetica constitucional emancipatoacuteria In
Uma vida dedicada ao direito homenagem a Carlos Henrique de Carvalho Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1995 p 34-53
66Ressalte-se poreacutem que antes de 88 alguns juristas jaacute defendiam a forccedila normativa da Constituiccedilatildeo como o Prof Joseacute Afonso da
Silva Eacute de 1968 a primeira ediccedilatildeo da sua obra claacutessica A aplicabilidade das normas constitucionais que adotava claramente esta
32
perspectiva Todavia pelo clima nada propiacutecio ao constitucionalismo que reinava por aqui ateacute a nossa redemocratizaccedilatildeo a louvaacute-
vel pregaccedilatildeo dele e de outros juristas em prol da efetivaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo natildeo chegou a render maiores frutos
67Deve-se assinalar ainda a influecircncia marcante do novo constitucionalismo ibeacuterico neste movimento que tambeacutem pugnava pela
atribuiccedilatildeo de forccedila normativa agraves ambiciosas constituiccedilotildees de Portugal e Espanha entatildeo recentemente elaboradas apoacutes o fim de
experiecircncias autoritaacuterias naqueles paiacuteses A tiacutetulo de exemplo mencione-se a penetraccedilatildeo no paiacutes do pensamento do Professor de
Coimbra Joseacute Joaquim Gomes Canotilho especialmente da sua teoria sobre a Constituiccedilatildeo dirigente que ele posteriormente reviu
(cf J J Gomes Canotilho Constituiccedilatildeo dirigente e vinculaccedilatildeo ao legislador contributo para a compreensatildeo das normas constitu-
cionais programaacuteticas 2 ed Coimbra Coimbra 2001 - especialmente o prefaacutecio desta segunda ediccedilatildeo que daacute conta da mudanccedila
de posicionamento) bem como a difusatildeo das liccedilotildees do Professor Eduardo Garciacutea de Enterriacutea (cf La Constitucioacuten como Norma y el
Tribunal Constitucional Madrid Civitas 1981)
68Segundo a avaliaccedilatildeo atual de Luis Roberto Barroso personagem central do movimento o positivismo constitucional que deu
impulso ao movimento natildeo importava em reduzir o direito agrave norma mas sim em elevaacute-la a esta condiccedilatildeo pois ateacute entatildeo ele
havia sido menos do que norma (Curso de direito constitucional contemporacircneo Op cit p 224)
69Paulo Bonavides Curso de direito constitucional 5 ed Satildeo Paulo Malheiros 1994
70Eros Roberto Grau A ordem econocircmica na Constituiccedilatildeo de 88 interpretaccedilatildeo e criacutetica Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1996
71No acircmbito da Poacutes-Graduccedilatildeo em Direito da UERJ em que estou inserido desde 1997 primeiro como aluno e a partir de 2003 como
professor o Ricardo Lobo Torres teve papel central na difusatildeo do pensamento destes e de outros filoacutesofos entre os estudantes e o
proacuteprio corpo docente
72Cf Lecircnio Luiz Streck Hermenecircutica juriacutedica e(m) crise Op cit Eros Roberto Grau Ensaio e discurso sobre a interpreta-
ccedilatildeoaplicaccedilatildeo do direito Satildeo Paulo Malheiros 2002
73Nesta linha veja-se as obras que compotildeem a coletacircnea Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Direitos sociais funda-
mentos judicializaccedilatildeo e direitos sociais em espeacutecie Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 Ricardo Lobo Torres O miacutenimo existencial
e os direitos fundamentais Revista de Direito Administrativo n 177 p 20-49 1989 Ingo Wolfgang Sarlet A eficaacutecia dos direitos
fundamentais 9 ed Porto Alegre Livraria do Advogado 2008 Ana Paula de Barcellos A eficaacutecia juriacutedica dos princiacutepios o princiacute-
pio da dignidade da pessoa humana Op cit Marco Mazzeli Gouveia O controle judicial das omissotildees administrativas Rio de
Janeiro Forense 2003 Andreacuteas Krell Direitos sociais e controle judicial no Brasil e Alemanha os (des)caminhos de um direito
constitucional comparado Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2002
74Cf Gustavo Tepedino Temas de direito civil Rio de Janeiro Renovar 1999 Luiz Edson Fachin Estatuto juriacutedico do patrimocircnio
miacutenimo Rio de Janeiro Renovar 2001 Maria Celina Bodin de Moraes Danos agrave pessoa humana uma leitura civil-constitucional dos
danos morais Rio de Janeiro Renovar 2003 Teresa Negreiros Fundamentos para uma interpretaccedilatildeo constitucional do princiacutepio
da boa-feacute Rio de Janeiro Renovar 1998 Anderson Schreiber A proibiccedilatildeo do comportamento contraditoacuterio Rio de Janeiro Reno-
var 2005
75Cf Luciano Feldens A Constituiccedilatildeo penal a dupla face da proporcionalidade no controle das lei penais Porto Alegre Livraria do
Advogado 2005 Luis Carlos dos Santos Gonccedilalves Mandados expressos de criminalizaccedilatildeo e a proteccedilatildeo de direitos fundamentais na
Constituiccedilatildeo Brasileira de 1988 Belo Horizonte Foacuterum 2007
76Cf Gustavo Binenbojm Uma teoria do direito administrativo direitos fundamentais democracia e constitucionalizaccedilatildeo Rio de
Janeiro Renovar 2006 Alexandre dos Santos Aragatildeo Floriano de Azevedo Marques (Coord) Direito administrativo e seus novos
paradigmas Belo Horizonte Foacuterum 2008
77Cf Gustavo Binenbojm A nova jurisdiccedilatildeo constitucional brasileira legitimidade democraacutetica e instumentos de realizaccedilatildeo Rio de
Janeiro Renovar 2001 Claacuteudio Pereira de Souza Neto Jurisdiccedilatildeo constitucional democracia e racionalidade praacutetica Rio de
Janeiro Renovar 2002 Joseacute Adeacutercio Leite Sampaio A Constituiccedilatildeo reinventada pela jurisdiccedilatildeo constitucional Belo Horizonte Del
Rey 2002 Lecircnio Luiz Streck Jurisdiccedilatildeo constitucional e hermenecircutica Porto Alegre Livraria do Advogado 2002 Aacutelvaro Ricardo
de Souza Cruz Jurisdiccedilatildeo constitucional democraacutetica Belo Horizonte Del Rey 2004
78A expressatildeo dificuldade contramajoritaacuteria eacute de um claacutessico da teoria constitucional norte-americana Alexander Bickel La Cons-
titucioacuten como Norma y el Tribunal Constitucional 2 ed New Haven Yale University Press 1986
33
79Em siacutentese apertada o procedimentalismo sustenta que natildeo eacute papel da jurisdiccedilatildeo constitucional tutelar valores substantivos mas
apenas proteger os pressupostos necessaacuterios ao bom funcionamento da democracia Jaacute o substancialismo reconhece a legitimidade
da atuaccedilatildeo jurisdicional em favor da garantia e promoccedilatildeo de valores substantivos presentes na Constituiccedilatildeo O debate entre o
procedimentalismo identificado com as ideacuteias de autores como John Hart Ely e Juumlrgen Habermas e o substancialismo defendido
por teoacutericos como Ronald Dworkin e Laurence Tribe eacute reproduzido em praticamente toda a literatura contemporacircnea que trata de
Teoria ou Filosofia Constitucional Veja-se a propoacutesito a densa obra de Claacuteudio Ari Mello Democracia constitucional e direitos
fundamentais Porto Alegre Livraria do Advogado 2004
80Neoconstitucionalismo e constitucionalizaccedilatildeo do direito o triunfo tardio do direito constitucional no Brasil Op cit
81A crise paradigmaacutetica do direito no contexto da resistecircncia positivista ao (neo)constitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza
Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm Vinte anos da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Op cit p 203-228
82Nos vinte anos da carta cidadatilde do poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo Op cit
83Neoconstitucionalismo direitos fundamentais e controle de poliacuteticas puacuteblicas In Daniel Sarmento Flaacutevio Galdino (Org) Direitos
fundamentais estudos em homenagem ao prof Ricardo Lobo Torres Rio de Janeiro Renovar 2006 p 31-60
84Direitos humanos legitimidade e constitucionalismo In Daniel Sarmento Flaacutevio Galdino (Org) Direitos fundamentais estudos
em homenagem ao Prof Ricardo Lobo Torres Op cit p325-350
85Novos desafios agrave filtragem constitucional no momento do neoconstitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sar-
mento A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 251-270
86Neoconstitucionalismo a invasatildeo da Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Meacutetodo 2008
87Neoconstitucionalismo e positivismo juriacutedico Satildeo Paulo Landy 2006
88Teoria do direito e argumentaccedilatildeo racional temas de teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica op cit p 141-240
89Uma visatildeo criacutetica do neoconstitucionalismo In George Salomatildeo Leite Glauco Salomatildeo Leite Constituiccedilatildeo e efetividade constitu-
cional Salvador JusPodium 2008 p 43-60
90Neoconstitucionalismo entre a Ciecircncia do direito e o direito da ciecircncia In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento
Gustavo Binenbojm Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 p 187-202
91Cf Peticcedilatildeo 1246 MSSC julgada em 31011997 (obrigaccedilatildeo do Estado de realizar transplante de ceacutelulas mioblaacutesticas para salvar
a vida de crianccedila) Agravo de Instrumento no Recurso Extraordinaacuterio 271286RS DJU 24 nov 2000 (entrega de medicamentos
para portadores de HIV) e Agravo de Instrumento do Recurso Extraordinaacuterio nordm 410715-5 julgado em 22112005 (obrigaccedilatildeo de
fornecimento de vagas para educaccedilatildeo infantil pelo municiacutepio com atendimento em creches e preacute-escola)
92Recursos Extraordinaacuterios nordms 158215-4RS 161243-6DF 201819RJ
93Cf Mandado de Injunccedilatildeo 670ES Rel Min Gilmar Mendes julgado em 25102007 em que o STF revendo orientaccedilatildeo anterior
deu eficaacutecia normativa agrave sentenccedila proferida no mandado de injunccedilatildeo No caso decidiuse que ateacute o advento de lei regulamentado-
ra sobre a greve no serviccedilo puacuteblico o direito de greve poderia ser exercido obedecendo-se os limites impostos pela Lei 778389
que trata dos movimentos paredistas em serviccedilos essenciais no setor privado
94Sobre a tendecircncia agrave superaccedilatildeo da ideacuteia do Judiciaacuterio como legislador negativo na jurisdiccedilatildeo constitucional veja-se Joseacute Adeacutercio
Leite Sampaio A Constituiccedilatildeo reinventada pela jurisdiccedilatildeo constitucional Belo Horizonte Del Rey 2002 p 203-248
95Eacute lugar-comum dentre os autores que tratam da questatildeo associar tais mudanccedilas agrave pluralizaccedilatildeo das vozes na interpretaccedilatildeo consti-
tucional tema em que a referecircncia essencial no cenaacuterio germacircnico eacute Peter Haumlberle Veja-se a propoacutesito Peter Haumlberle Herme-
necircutica constitucional A sociedade aberta dos inteacuterpretes da Constituiccedilatildeo contribuiccedilatildeo para a interpretaccedilatildeo pluralista e procedi-
mental da Constituiccedilatildeo Traduccedilatildeo de Gilmar Ferreira Mendes Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1997 Veja-se ainda na doutrina
brasileira Gustavo Binenbojm A dimensatildeo do Amicus Curiae no processo constitucional brasileiro In Temas de direito constitu-
cional e administrativo Rio de Janeiro Renovar 2008 p 165-190
96ADIN 3510DF Relator Ministro Carlos Ayres Britto A accedilatildeo proposta contra o art 5ordm da Lei de Biosseguranccedila impugnava a auto-
rizaccedilatildeo de pesquisas com embriotildees humanos resultantes de fertilizaccedilatildeo in vitro que fossem inviaacuteveis ou estivessem congelados haacute
mais de trecircs anos A accedilatildeo foi julgada totalmente improcedente por 6 votos a 5
97ADPF nordm 54 A accedilatildeo que tem como relator o Ministro Marco Aureacutelio ainda natildeo foi julgada mas em seu bojo jaacute ocorreram diversas
audiecircncias puacuteblicas que provocaram intensa participaccedilatildeo da sociedade civil e grande interesse na miacutedia
34
98ADPF nordm 132 Relator Ministro Carlos Ayres Britto A accedilatildeo ainda foi julgada
99Mandados de Seguranccedila 26602DF 26603DF e 26604DF Informativo STF n 482
100Recurso Extraordinaacuterio 197917SP Rel p acoacuterdatildeo Min Ceacutesar Peluso DJU 18 fev 2005
101O livro de Alberto Carlos Almeida A cabeccedila do brasileiro lanccedilado em 2007 conteacutem pesquisas feitas sobre uma acuteseacuterie de temas
com pessoas de todas as classes sociais e regiotildees do paiacutes Uma das pesquisas eacute relativa agrave avaliaccedilatildeo das instituiccedilotildees Dentre as treze
avaliadas as duas que obtiveram menor aprovaccedilatildeo foram os partidos poliacuteticos (avaliaccedilatildeo positiva de 28 dos entrevistados) e o
Congresso (avaliaccedilatildeo positiva de 36 dos entrevistados) Cf Antonio Carlos Almeida A cabeccedila do brasileiro Rio de Janeiro Re-
cord 2007 p 187
102Cf Luis Roberto Barroso Judicializaccedilatildeo ativismo judicial e legitimidade democraacutetica Texto ainda ineacutedito gentilmente cedido
pelo autor
103Humberto Aacutevila por exemplo formula outra criacutetica importante de que o neoconstitucionalismo seria inadequado agrave realidade
constitucional brasileira jaacute que privilegia os princiacutepios e a Carta de 88 seria muito mais regulatoacuteria do que principioloacutegica (Neo-
constitucionalismo entre a ciecircncia do direito e o direito da ciecircncia Op cit p 188-192)
104Contudo natildeo eacute razoaacutevel estender esta criacutetica ao ponto de negar o caraacuteter democraacutetico da atuaccedilatildeo judicial Como ressaltou
Eugenio Rauacutel Zaffaroni uma instituiccedilatildeo natildeo eacute democraacutetica unicamente porque natildeo provenha de eleiccedilatildeo popular porque nem tudo
o que proveacutem desta origem eacute necessariamente aristocraacutetico Uma instituiccedilatildeo eacute democraacutetica quando seja funcional para o sistema
democraacutetico quer dizer quando seja necessaacuteria para a sua continuidade como ocorre com o judiciaacuterio (Poder judiciaacuterio crise
acertos e desacertos Traduccedilatildeo de Juarez Tavares Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1995 p 43)
105Cf Robert A Dahl Sobre a democracia Traduccedilatildeo de Beatriz Sidou Brasiacutelia UNB 2001 p 97-113 Juumlrgen Habermas Popular
Sovereignity as Procedure In James Bonham William Rehg Deliberative Democracy Cambridge The MIT Press 1997 p 35-66
106A questatildeo da tensatildeo e sinergia simultacircneas entre constitucionalismo e democracia eacute um dos debates mais fecundos da Teoria
Poliacutetica e da Filosofia Constitucional que tem atravessado o tempo desde o advento do constitucionalismo moderno no seacuteculo
XVIII Veja-se no debate contemporacircneo Jeremy Waldron Preocommitment and Disagreement In Larry Alexander Constitu-
cionalism Philosophical Foundations Cambridge Cambridge University Press 1998 p 271-299 Juumlrgen Habermas O Estado demo-
craacutetico de direito uma amarraccedilatildeo paradoxal de princiacutepios contraditoacuterios In Era das transiccedilotildees Traduccedilatildeo de Flaacutevio Beno Siebe-
neichler Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 2003 p 153-173 Carlos Santiago Nino La Constitucioacuten de la Democracia Deliberativa
Op cit Frank Michelman Brennan and Democracy Princeton Princeton University Press 1999 p 03-62 Stephen Holmes El
Precompromiso y la Paradoja de la Democracia In Jon Elster Rune Slagstad Constitucionalismo y Democracia Traduccedilatildeo de Mocircni-
ca Utrilla de Neira Mexico Fondo de Cultura Econocircmica 1999 p 217-262
107O problema da limitaccedilatildeo do legislador atual pelas decisotildees do constituinte adotadas no passado envolve a problemaacutetica da
partilha intergeracional de poder bem explicitada na fala de Jefferson que defendia que a cada 19 anos deveria ser elaborada
uma nova Constituiccedilatildeo nos Estados Unidos para que a Lei Maior daquele paiacutes natildeo se tornasse um mecanismo de governo dos mor-
tos sobre os vivos Em siacutentese apertada haacute na teoria poliacutetica contemporacircnea duas linhas principais de justificativa para a legiti-
midade destas restriccedilotildees
Uma eacute a teoria da democracia dualista defendida por Bruce Ackerman que sustenta que as decisotildees adotadas pelo proacuteprio povo
em contextos de grande mobilizaccedilatildeo ciacutevica devem ser protegidas do alcance da vontade dos representantes do povo formada em
momentos em que a cidadania natildeo esteja intensamente envolvida Esta teoria distingue a poliacutetica extraordinaacuteria correspondente
agravequeles momentos constitucionais da poliacutetica ordinaacuteria que se realiza atraveacutes das deliberaccedilotildees do dia a dia dos oacutergatildeos represen-
tativos Para a perspectiva ackermaniana a poliacutetica extraordinaacuteria - que natildeo exige necessariamente formalizaccedilatildeo procedimental
atraveacutes de assembleacuteia constituinte ou de emenda constitucional - se situa em patamar superior agrave poliacutetica ordinaacuteria e pode legiti-
mamente impor limites a esta (cf Bruce Ackerman We the people Foundations Cambridge The Belknap Press 1991 p 03-33)
Outra teoria eacute a do preacute-compromisso que jaacute foi advogada por Jon Elster Segundo ela eacute legiacutetimo subtrair do alcance das maiorias
determinadas questotildees fundamentais que expressam princiacutepios fundamentais de justiccedila poliacutetica ou garantam os pressupostos da
proacutepria democracia tendo em vista o risco de que no processo poliacutetico majoritaacuterio em momentos de irracionalidade o povo
35
possa ser viacutetima de suas proacuteprias fraquezas ou paixotildees momentacircneas atentando contra tais princiacutepios (cf Ulisses and Sirens
Cambridge Cambridge University Press 1979)
Ambas as concepccedilotildees - a primeira mais proacutexima ao republicanismo e a segunda de vieacutes mais liberal - tecircm a sua dose de procedecircn-
cia mas ensejam criacuteticas importantes Todavia foge a escopo do presente trabalho analisar esta questatildeo que eacute uma das mais
complexas da Filosofia Poliacutetica moderna e contemporacircnea Para uma visatildeo geral sobre o tema na literatura em liacutengua portuguesa
veja-se Oscar Vilhena Vieira A Constituiccedilatildeo e sua reserva de justiccedila Op cit Miguel Nogueira de Brito A Constituiccedilatildeo constituin-
te ensaio sobre o poder de revisatildeo da Constituiccedilatildeo Coimbra Coimbra 2000 Samantha Chantal Dobrowolski Op cit p 265-312
Rodrigo Brandatildeo Direitos fundamentais democracia e claacuteusulas peacutetreas Rio de Janeiro Renovar 2008 p 59-112
108Cf Michel Troper Justice Constitutionelle et Deacutemocratie In Pour une Theorie Juridique de LEacutetat Paris PUF 1994 p 317-328
Claacuteudio Pereira de Souza Neto Jurisdiccedilatildeo constitucional democracia e racionalidade praacutetica Op cit p 106-130 Gustavo Binen-
bojm A nova jurisdiccedilatildeo constitucional brasileira Op cit p 55-74
109Sobre o modelo revolucionaacuterio francecircs de constitucionalismo completamente avesso agrave ideacuteia de jurisdiccedilatildeo constitucional cf
Maurizio Fioravanti Constitucioacuten de la antiguumledad a nuestros dias Traduccedilatildeo de Manuel Martinez Neira Madrid Trotta 2001 p
120-132
110Cf Carl Schmitt La Defesa de la Constitucioacuten Madrid Tecnos 1983
111O constitucionalismo popular ou populismo constitucional eacute uma importante corrente no debate constitucional norte-americano
contemporacircneo que nega a legitimidade democraacutetica do controle de constitucionalidade advogando que deve caber ao proacuteprio
povo e natildeo a uma elite de juiacutezes natildeo eleitos com assento na Suprema Corte o poder de definir o sentido das claacuteusulas vagas que
abundam no texto constitucional daquele paiacutes Na defesa desta tese satildeo empregados tanto argumentos de teoria e filosofia poliacuteti-
ca de caraacuteter mais universal como razotildees histoacutericas relacionadas agrave evoluccedilatildeo do constitucionalismo estadunidense Veja-se nesta
linha Mark Tushnet Taking the Constitution Away from the Courts Princeton Princeton University Press 1999 Jeremy Waldron
Precommitment and Disagreement Op cit Larry D Kramer The People Themselves Popular constitutionalism and judicial re-
view New York Oxford University Press 1994
Ateacute algumas deacutecadas atraacutes a oposiccedilatildeo agrave jurisdiccedilatildeo constitucional nos Estados Unidos partia em regra da Direita que natildeo se con-
formava com a jurisprudecircncia extremamente liberal em mateacuteria de direitos fundamentais estabelecida pela Corte entre os anos
50 e 70 Atualmente uma boa parte dos opositores agrave judicial review situa-se agrave esquerda do espectro poliacutetico e talvez a nova linha
profundamente conservadora daquele Tribunal ajude a explicar esta mudanccedila
112Sobre a Era de Lochner veja-se Laurence H Tribe American Constitutional Law 2 ed Mineola The Foundation Press 1988 p
567-581 Paul Brest et al Processes of Constitucional Decisionmaking 4 ed New York Aspen Publishers 2000 p 337-354
113Towards Juristocracy hellip Op cit
114Tratei do tema no artigo Direito adquirido emenda constitucional democracia e justiccedila social In Livres e iguais Op cit p
03-32
115Cf Charles R Epp The Rights Revolution Chicago The University of Chicago Press 1998 p 26-70 Owen Fiss The Law as It
Could Be New York New York University Press 2003 p 244-249
116A importacircncia e as peculiaridades da interpretaccedilatildeo legislativa da Constituiccedilatildeo satildeo exploradas em importante obra coletiva
Richard W Bauman Tsvi Kahana The Least Examined Branch The Role of Legislatures in the Constitutional State Cambridge
Cambridge University Press 2006
117Cf em tom ainda mais ceacutetico do que o adotado neste estudo Martonio MontAlverne Barreto Lima Jurisdiccedilatildeo Constitucional
um problema da teoria da democracia poliacutetica In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Gilberto Bercovici Joseacute Filomeno de Moraes
Filho Martonio MontAlverne Teoria da Constituiccedilatildeo estudos sobre o lugar da poliacutetica no direito constitucional Rio de Janeiro
Lumen Juris 2003 p 199-261 Conrado Huumlbner Mendes Controle de constitucionalidade e democracia Rio de Janeiro Elsevier
2008
36
118Para criacutetica semelhante no contexto germacircnico veja-se Ingeborg Maus O judiciaacuterio como superego da sociedade sobre o papel
da atividade jurisprudencial na sociedade oacuterfatilde Traduccedilatildeo de Martonio MontAlverne Barreto Lima Paulo Antonio Menezes de Albu-
querque Anuaacuterio dos Cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito da Faculdade de Direito de Recife n 11 2000
119Eu aprofundo a anaacutelise deste ponto no meu artigo Interpretaccedilatildeo constitucional preacute-compreensatildeo e capacidades institucionais do
inteacuterprete In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm (Coord) Vinte anos da Constituiccedilatildeo Federal
de 1988 Op cit p 311-322 E a necessidade de optar por teoria de interpretaccedilatildeo que leve em consideraccedilatildeo as capacidades
institucionais reais dos juiacutezes comparando-as com as dos agentes de outras instituiccedilotildees eacute explorada no importante estudo de Cass
Sunstein Adrian Vermeulle Interpretations and Institutions Chicago Working Papers in Law amp Economics 2002 p 01-55 bem
como no livro de Adrian Vermeulle Judging under Uncertainty An Institutional Theory for Legal Interpretation Cambridge Har-
vard University Press 2006
120Dentre as honrosas exceccedilotildees mencione-se Luiacutes Roberto Barroso autor de importante artigo com sugestotildees para a reforma poliacuteti-
ca no paiacutes Reforma poliacutetica uma proposta de sistema de governo eleitoral e partidaacuterio para o Brasil Revista de Direito do Esta-
do n 3 p 287-360 jul set 2006
121Sobre o ethos judicial no Brasil veja-se a pesquisa de Maria Tereza Sadek Magistrados uma imagem em movimento Rio de
Janeiro FGV 2006
122Em sentido semelhante veja-se Michael J Perry The Constitution the Courts and Human Rights New Haven Yale University
Press 1982 p 91-145
123Neste ponto entendo que um standard importante que deveria ser adotado para controle de constitucionalidade eacute o de que
quanto maiores forem as credencias democraacuteticas de um ato normativo mais autocontido deve ser o Poder Judiciaacuterio ao avaliar a
sua constitucionalidade Na minha opiniatildeo estas credencias democraacuteticas devem ser aferidas tanto por criteacuterios qualitativos - eg
grau de participaccedilatildeo social no processo legislativo qualidade do processo deliberativo que a antecedeu - como por criteacuterios quanti-
tativos - percentual de votos favoraacuteveis agrave medida Em sentido semelhante veja-se Claacuteudio Ari Mello Democracia e direitos funda-
mentais Op cit p 298
124Em sentido proacuteximo apontam as liccedilotildees de Gustavo Binenbojm e Humberto Aacutevila O primeiro tratando do controle judicial dos
atos administrativos averbou que quanto maior for o grau de tecnicidade da mateacuteria objeto de decisatildeo por oacutergatildeos dotados de
expertise e experiecircncia menos intenso deve ser o grau de controle judicial (Uma teoria do direito administrativo Op cit p
236) Jaacute o segundo salientou que o acircmbito de controle pelo Judiciaacuterio deveraacute ser tanto menor quanto mais difiacutecil e teacutecnico for
o juiacutezo exigido para o tratamento da mateacuteria (Teoria dos princiacutepios Op cit p 126)
125Um exemplo extremado deste posicionamento estaacute na argumentaccedilatildeo adotada pelo STF no julgamento da ADIN 2797 Rel Min
Sepuacutelveda Pertence em que se reconheceu a inconstitucionalidade formal de lei que pretendia interpretar a Constituiccedilatildeo Para o
STF natildeo pode a lei ordinaacuteria pretender impor como seu objeto imediato uma interpretaccedilatildeo a Constituiccedilatildeo a questatildeo eacute de in-
constitucionalidade formal iacutensita a toda norma da gradaccedilatildeo inferior que se proponha a ditar interpretaccedilatildeo de norma superior
Na questatildeo de fundo abordada naquele caso entendo que o STF estava certo Tratava-se de invalidar uma norma legal que esten-
dera o foro de prerrogativa de funccedilatildeo a ex-ocupantes de cargos puacuteblicos visando a restaurar antiga jurisprudecircncia do STF sedi-
mentada na Suacutemula 394 do Tribunal que acabara de ser cancelada O princiacutepio republicano natildeo era compatiacutevel com tal medida
que configurava niacutetido privileacutegio O que me parece inaceitaacutevel e profundamente anti-democraacutetico com a devida vecircnia natildeo eacute o
resultado alcanccedilado pela Corte - com o qual concordo - mas o argumento empregado de que o legislador natildeo pode interpretar a
Constituiccedilatildeo
126Existe hoje uma fecunda produccedilatildeo acadecircmica no cenaacuterio anglo-saxatildeo sobre as vantagens de modelos teoacutericos que favoreccedilam
diaacutelogos entre diversos oacutergatildeos e instituiccedilotildees na interpretaccedilatildeo constitucional ao inveacutes de afirmarem a exclusividade ou mesmo a
supremacia do Judiciaacuterio nesta seara Veja-se a propoacutesito Laurence G Sager Justice in Plainclothes A Theory of American Con-
stitutional Practice New haven Yale University Press 2004 Mark Tushnet Weak Courts Strong Rights Judicial Review and Social
Welfare Rights in Comparative Constitutional Law Princeton Princeton University Press 2008 Mark C Miller Jeb Barnes (Ed)
Making Police Making Law An Interbranch Perspective Washington DC Georgetown University Press 2004
37
127Colhi o exemplo no estudo de Oscar Vilhena Vieira Supremocracia In Daniel Sarmento (Org) Filosofia e teoria constitucional
contemporacircnea Rio de Janeiro Lumen Juris 2009
128Como um natildeo-positivista tenho a necessaacuteria imparcialidade para criticar os equiacutevocos da doutrina brasileira nas suas invectivas
contra o positivismo que muitas vezes caracterizam verdadeira falaacutecia do espantalho ataca-se natildeo a proacutepria teoria positivista
mas uma distorcida caricatura dela Duas afirmaccedilotildees erradas que eu mesmo jaacute fiz em textos anteriores satildeo muito frequumlentes a
de que o positivismo recusa a aplicaccedilatildeo dos princiacutepios juriacutedicos e a de que ele teria sido a Filosofia do Direito cultivada na Alema-
nha nazista
Quanto ao primeiro ponto natildeo haacute nenhuma incompatibilidade loacutegica entre positivismo e princiacutepios desde que os princiacutepios este-
jam devidamente incorporados na ordem juriacutedico-positiva Vaacuterios autores positivistas contemporacircneos jaacute citados neste estudo
como Luis Prietro Sanchiacutes Luigi Ferrajoli e Gregorio Peces-Barba atribuiacuteram espaccedilo importante para princiacutepios nas suas teorias
Mesmo no Direito Puacuteblico brasileiro juristas de inspiraccedilatildeo positivista kelseniana construiacuteram suas teorias com apoio em argumen-
taccedilatildeo principioloacutegica como o falecido Geraldo Ataliba e Celso Antonio Bandeira de Mello
No que tange ao segundo ponto - a chamada redutio ad hitlerum - os estudos mais autorizados de Histoacuteria do Direito comprovam
que natildeo foi o positivismo a teoria juriacutedica dominante no nazismo mas uma espeacutecie de jusnaturalismo de inspiraccedilatildeo hegeliana que
se insurgia contra o formalismo e recorria com frequumlecircncia a conceitos muito vagos para justificar a barbaacuterie como os de comuni-
dade popular (Volksgemeinschaft) Veja-se a propoacutesito Michael Stolleis The Law under the Swastika Studies on Legal History in
Nazi Germany Traduccedilatildeo de Thomas Dunlap Chicago The University of Chicago Press 1998
129Cf Joseacute Joaquim Gomes Canotilho Direito constitucional e Teoria da Constituiccedilatildeo Coimbra Almedina 1998 p 1036
130Sobre a importacircncia das regras veja-se Frederick Schauer Playing by the Rules A Philosophical Exaxamination of Rule-Bases
Decision-Making in Law and Life Oxford Oxford University Press 1998 Humberto Aacutevila Neoconstitucionalismo entre a ciecircncia do
direito e o direito da ciecircncia Op cit Noel Struchiner Posturas institucionais e modelagem institucional a dignidade (contingente)
do formalismo juriacutedico In Daniel Sarmento Filosofia e teoria constitucional contemporacircnea Op cit
131Esta eacute expressatildeo empregada por Ana Paula de Barcellos O direito constitucional em 2006 Revista de Direito do Estado n 5 p
03-23 janmar 2007
132Cf Chaiumlm Perelman P Fories La Motivation des Deacutecisions de Justice Bruxelas Eacutemile Bruylant 1978
133Sobra a influecircncia do jeitinho no Direito brasileiro cf Keith Rosen O jeito na cultura juriacutedica brasileira Rio de Janeiro Reno-
var 1997
134Sobre o patrimonialismo no Brasil veja-se Raimundo Faoro Os donos do poder 8 ed Rio de Janeiro Globo 1989 v 2 p 729-
750
135Raiacutezes do Brasil 26 ed Satildeo Paulo Companhia das Letras 1995
136Cf Joseacute Murilo de Carvalho Brasileiro Cidadatildeo In Pontos e bordados escritos de histoacuteria e poliacutetica Belo Horizonte Ed
UFMG 2005 p 275-288
137Cf Gustavo Zagrebelsky Il Diritto Mite Op cit p 15-19
138Cf Marcelo Neves A constitucionalizaccedilatildeo simboacutelica Satildeo Paulo Acadecircmica 1994
139A obra de Niklas Luhman eacute vasta e complexa e seus textos satildeo de difiacutecil compreensatildeo para os natildeo iniciados Veja-se do proacuteprio
autor Sociologia do direito I e II Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 1983 e 1985 Sistema Jurididico y Dogmaacutetica Juriacutedica Madrid
Centro de Estuacutedios Constitucionales 1983 Confira-se tambeacutem a coletacircnea organizada por Andreacute-Jean Arnaud Dalmir Lopes Jr Do
sistema social agrave sociologia juriacutedica Rio de Janeiro Lumen Juris 2004
140Sobre a autopoieses do Direito veja-se tambeacutem a obra importante de Guumlnther Teubner O direito como sistema autopoieacutetico
Traduccedilatildeo de Joseacute Engracia Nunes Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1993
141Cf Luis Roberto Barroso Neoconstitucionalismo e a constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit
142Esta era basicamente a visatildeo de Hans Kelsen (Cf Hans Kelsen Jurisdiccedilatildeo constitucional Traduccedilatildeo de Alexandre Krug et al Satildeo
Paulo Martins Fontes 2003 p 153) Para uma anaacutelise criacutetica desta posiccedilatildeo veja-se Luis Prietro Sanchiacutes Presupuestos ideoloacutegicos
y doctrinales de la jurisdicioacuten constitucional In Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales Op cit p 21-100
38
143Cf Christian Starck La suprematie La Suprematie de la Constitution et la Justice Constitutionnelle In La Constitution Cadre et
Mesure du Droit Traduccedilatildeo de Freacutederic Weill Paris Econocircmica 1994 p 26-30 Ernst- Wolfgang Boumlckenfoumlrde Les meacutethodes
dinterpretation de la Constitution Un bilan critique In Le Droit lEacutetat et la Constitution Democratique Traduccedilatildeo de Olivier
Jouanjan Paris LGDJ 2000 p 249-250 Virgiacutelio Afonso da Silva Constitucionalizaccedilatildeo do direito os direitos fundamentais nas
relaccedilotildees entre particulares Satildeo Paulo Malheiros 2005 p 107-131 Daniel Sarmento Ubiquumlidade constitucional os dois lados da
moeda Op cit Luis Roberto Barroso Curso de Direito Constitucional Contemporacircneo Op cit p 391-394 Alceu Mauriacutecio Jr
Judicializaccedilatildeo da poliacutetica e a crise do direito constitucional a Constituiccedilatildeo entre ordem marco e ordem fundamenta Revista de
Direito do Estado n 10 p 125-142 abrjun 2008
144Der Staat der Industriegesellshaft 2 ed Muumlnchen Beck 1971 p 144 Apud Robert Alexy Posfaacutecio In Teoria dos direitos
fundamentais Op cit p 578
145De acordo com Carlos Santiago Nino o perfeccionaismo eacute la concepcioacuten seguacuten la cual es una misioacuten legiacutetima del Estado hacer
que los individuos acepten y materializen ideales vaacutelidos de virtud personal Seguacuten este enfoque el Estado no puede permanecer
neutral respecto de concepciones de lo bueno en la vida y debe adoptar las medidas educativas punitorias etc que sean necesa-
rias para que los indiviacuteduos ajusten su vida a los verdaderos ideales de virtud y del bien (Eacutetica y Derechos Humanos Un ensayo de
fundamentacioacuten 2 ed Buenos Aires Astrea 1989 p 413)
146Daniel Sarmento Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas 2 ed Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 Sobre o tema na literatura
nacional veja-se tambeacutem Wilson Antocircnio Steinmetz A vinculaccedilatildeo dos particulares aos direitos fundamentais Satildeo Paulo Malheiros
2004 Virgiacutelio Afonso da Silva Constitucionalizaccedilatildeo do direito os direitos fundamentais nas relaccedilotildees entre particulares Op cit
Ingo Wolfgang Sarlet Direitos fundamentais e direito privado algumas consideraccedilotildees em torno da vinculaccedilatildeo dos particulares aos
direitos fundamentais In Ingo Wolfgang Sarlet (Org) A Constituiccedilatildeo concretizada Porto Alegre Livraria do Advogado 1999 p
129-173 Jane Reis Gonccedilalves Pereira Apontamentos sobre a aplicaccedilatildeo das normas de direito fundamental nas relaccedilotildees juriacutedicas
entre particulares In Luis Roberto Barroso (Org) A nova interpretaccedilatildeo constitucional ponderaccedilatildeo direitos fundamentais e
relaccedilotildees privadas Rio de Janeiro Renovar 2003 p 119-192
147Sobre a questatildeo da (i)legitimidade do perfeccionismo no Direito veja-se Joel Feinberg Rights Justice and the Bounds of Liber-
ty Princeton Princeton University Press 1980 Carlos Santiago Nino Eacutetica y Derechos Humanos Op cit p 413-446 Rainer Forst
Contexts of Justice Political Philosophy beyond Liberalism and Communitarianism Traduccedilatildeo de John M M Farrel Berkeley Uni-
versity of Califoacuternia Press 2001 p 30-87 Macaacuterio Alemany El Paternalismo Juriacutedico Madrid Iustel 2006
148Um sofisticado modelo que busca conciliar a constitucionalizaccedilatildeo do Direito com a democracia estaacute exposto no Poacutesfaacutecio agrave Teo-
ria dos Direitos Fundamentais de Robert Alexy acima citado Veja-se ainda Konrad Hesse Concepto y Cualidad de la Constitu-
cion In Escritos de Derecho Constitucional Traduccedilatildeo de Pedro Cruz Villaloacuten 2 ed 1992 p 03-29
149Tentei articular a minha teoria sobre eficaacutecia horizontal dos direitos fundamentais com este objetivo Cf Daniel Sarmento
Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas Op cit p 141-182 259-272
150Sobre el Neoconstitucionalismo y sus Implicaciones Op cit p 117
151Aqui entendo que o simples reconhecimento da penetraccedilatildeo da Moral no Direito preconizada pelos neoconstitucionalistas brasi-
leiros natildeo eacute suficiente jaacute que certas concepccedilotildees morais podem tornar o ordenamento ainda mais opressivo do que jaacute eacute Afinal
nem sempre a moralizaccedilatildeo do Direito se daacute na direccedilatildeo da emancipaccedilatildeo dos excluiacutedos Veja-se por exemplo a famosa polecircmica
jusfilosoacutefica entre Lord Patrick Devlin e Herbert Hart nos anos 60 na Inglaterra a propoacutesito do uso do Direito Penal para promoccedilatildeo
de Moral em que o primeiro a partir de uma posiccedilatildeo proacute-moral sustentava a legitimidade da criminalizaccedilatildeo da conduta homos-
sexual que o segundo contestava (Cf Lord Patrick Devlin Morals and Criminal Law In Ronald Dworkin (Ed) The Philosophy of
Law Op cit p 66-82 Herbert Hart Immorality and Treason In Idem ibidem)
Eacute preciso assentar as bases criacuteticas desta Moral que deve penetrar o Direito para evitar que o moralismo conservador seja expulso
do ordenamento pela porta da frente superado pela legislaccedilatildeo moderna em razatildeo da progressiva liberalizaccedilatildeo da sociedade mas
volte pela porta dos fundos atraveacutes da argumentaccedilatildeo juriacutedica dos juiacutezes lastreada em conceitos vagos como ordem puacuteblica e
bons constumes ou em standards como o comportamento do bom pai de famiacutelia
39
11
vai defender a possibilidade de um uso emancipatoacuterio da dogmaacutetica tendo como eixo a con-
cretizaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo67
Na verdade tratava-se de uma modalidade de positivismo de combate68 A doutrina constitu-
cional da efetividade natildeo se caracterizava pela abertura do debate juriacutedico agrave argumentaccedilatildeo
moral O seu foco principal centrava-se nas normas e era do caraacuteter mais ou menos denso do
seu texto que o inteacuterprete deveria extrair os respectivos efeitos Por outro lado concebia-se a
jurisdiccedilatildeo como o espaccedilo privilegiado para a realizaccedilatildeo da vontade constitucional Um dos mo-
tes do movimento era afastar o estudo do Direito Constitucional da Teoria do Estado para apro-
ximaacute-lo do Direito Processual Por isso pode-se afirmar que o protagonista desta teoria consti-
tucional era o juiz
Em que pese a falta de efetividade de diversas normas da Constituiccedilatildeo e da eficaacutecia social
seletiva de outras tantas - que protegem muito bem o incluiacutedo mas continuam deixando de
fora os paacuterias de sempre (veja-se a diferenccedila da incidecircncia da inviolabilidade do domiciacutelio nas
residecircncias burguesas e nas favelas) - pode-se dizer que a doutrina constitucional da efetivida-
de teve ecircxito no Brasil no sentido de instalar no senso-comum dos operadores do Direito a i-
deacuteia de que a Constituiccedilatildeo eacute norma que pode e deve ser aplicada independentemente de re-
gulamentaccedilatildeo dos seus dispositivos pelo legislador ordinaacuterio Tal doutrina ainda natildeo correspon-
de ao neoconstitucionalismo mas a conquista que dela resultou para a dogmaacutetica constitucio-
nal brasileira foi um pressuposto para o surgimento deste outro movimento no nosso cenaacuterio
O segundo momento importante eacute o da chegada ao Brasil das teorias juriacutedicas ditas poacutes-
positivistas Foram marcos relevantes a publicaccedilatildeo da 5ordf ediccedilatildeo do Curso de Direito Constitu-
cional de Paulo Bonavides 69bem como do livro A Ordem Econocircmica na Constituiccedilatildeo de 1988
de Eros Roberto Grau70 que divulgaram entre noacutes a teoria dos princiacutepios de autores como Ro-
nald Dworkin e Robert Alexy e fomentaram as discussotildees sobre temas importantes como a
ponderaccedilatildeo de interesses o princiacutepio da proporcionalidade e eficaacutecia dos direitos fundamen-
tais Tambeacutem deve ser salientada a ampla penetraccedilatildeo no acircmbito de algumas poacutes-graduaccedilotildees
em Direito a partir de meados dos anos 90 do pensamento de filoacutesofos que se voltaram para o
estudo da relaccedilatildeo entre Direito Moral e Poliacutetica a partir de uma perspectiva poacutes-metafiacutesica
como John Rawls e Juumlrgen Habermas71 E ainda merece destaque o aprofundamento no paiacutes dos
estudos de hermenecircutica juriacutedica a partir de uma nova matriz teoacuterica inspirada pelo giro lin-
guumliacutestico na Filosofia que denunciou os equiacutevocos do modelo positivista de interpretaccedilatildeo ateacute
entatildeo dominante assentado na separaccedilatildeo cartesiana entre sujeito (o inteacuterprete) e objeto (o
texto da norma)72
12
Nesta nova fase a doutrina brasileira passa a enfatizar o caraacuteter normativo e a importacircncia dos
princiacutepios constitucionais e a estudar as peculiaridades da sua aplicaccedilatildeo Neste contexto haacute
uma verdadeira febre de trabalhos sobre teoria dos princiacutepios ponderaccedilatildeo de interesses teori-
as da argumentaccedilatildeo proporcionalidade e razoabilidade etc Tambeacutem cresce muito o interesse
doutrinaacuterio pelos direitos fundamentais sobretudo os direitos sociais Se antes estes eram vis-
tos preponderantemente como normas programaacuteticas passa-se a discutir a sua eficaacutecia juriacutedica
a partir de novas bases que incorporam ao debate a argumentaccedilatildeo moral Neste campo a ecircn-
fase na anaacutelise dos enunciados normativos que caracterizava a doutrina da efetividade eacute
substituiacuteda por uma discussatildeo marcada pela preocupaccedilatildeo com valores e democracia repleta de
novas categorias importadas sobretudo do Direito germacircnico como o miacutenimo existencial a
reserva do possiacutevel e a proibiccedilatildeo do retrocesso73
E esta nova racionalidade se espraia para diversos ramos do Direito No Direito Civil74 Penal75
Administrativo 76por exemplo cada vez mais a doutrina emprega normas e valores constitu-
cionais para reler os institutos tradicionais colorindo-os com novas tintas E trata-se natildeo ape-
nas de aplicar diretamente as normas constitucionais especificamente voltadas para cada uma
destas aacutereas como tambeacutem de projetar sobre estes campos a influecircncia dos direitos funda-
mentais e dos princiacutepios mais gerais do nosso constitucionalismo muitas vezes superando anti-
gos dogmas e definindo novos paradigmas
Neste segundo momento ocorre ainda uma significativa mudanccedila no enfoque dos estudos sobre
jurisdiccedilatildeo constitucional no Brasil Antes os trabalhos nacionais sobre o tema se limitavam
basicamente a discutir questotildees processuais mas a partir do final dos anos 90 diversos estu-
dos incorporam outras perspectivas agrave anaacutelise da questatildeo dedicando atenccedilatildeo agrave complexa pro-
blemaacutetica da legitimidade democraacutetica do controle de constitucionalidade77 tendo em vista a
chamada dificuldade contra-majoritaacuteria do Judiciaacuterio78 Num contexto como o nosso em que
a jurisdiccedilatildeo constitucional estaacute prevista pelo proacuteprio texto magno o debate relevante do ponto
de vista praacutetico natildeo eacute o de tecirc-la ou natildeo mas sim a forma como deve ser exercida Dependendo
do posicionamento adotado pode-se preconizar um maior ou menor grau de ativismo judicial
ou defender o ativismo em algumas aacutereas mas recusaacute-lo em outras Nesta nova agenda de dis-
cussotildees sobre a jurisdiccedilatildeo constitucional a argumentaccedilatildeo juriacutedica se entrelaccedila inevitavelmen-
te com o debate de Filosofia Poliacutetica abrindo espaccedilo para posiccedilotildees variadas como os vaacuterios
matizes de procedimentalismo e de substancialismo que vecircm florescendo na doutrina brasilei-
ra79 Dentre estas posiccedilotildees natildeo haacute duacutevida de que a mais identificada ao neoconstitucionalismo
eacute a substancialista que compartilha com ele a crenccedila numa ampla legitimidade do ativismo
judicial em favor dos valores constitucionais
13
Apesar destas mudanccedilas importantes que podem ser associadas ao neoconstitucionalismo o uso
da expressatildeo no Brasil eacute mais recente seguindo-se agrave ampla difusatildeo que recebeu na academia
brasileira a jaacute citada obra Neoconstitucionalismo(s) organizada por Miguel Carbonell e publi-
cada em 2003 De laacute para caacute muito se tem escrito sobre o toacutepico e vaacuterios autores nacionais
aderiram explicitamente agrave corrente como Luis Roberto Barroso80 Lecircnio Luiz Streck 81Antonio
Cavalcanti Maia82 Ana Paula de Barcellos83 Diogo de Figueiredo Moreira Neto84 Paulo Ricardo
Schier85 Eduardo Moreira86 Eacutecio Otto Ramos Duarte87 e Thomas Rosa de Bustamante88 Outros
adotaram postura criacutetica sobre a nova perspectiva como Joseacute Ribas Vieira Dimitri Dimoulis89 e
Humberto Aacutevila90 E pode-se notar pela leitura dos trabalhos destes e de outros autores brasi-
leiros que haacute um relativo consenso na definiccedilatildeo das caracteriacutesticas centrais do novo paradig-
ma valorizaccedilatildeo dos princiacutepios adoccedilatildeo de meacutetodos ou estilos mais abertos e flexiacuteveis na her-
menecircutica juriacutedica com destaque para a ponderaccedilatildeo abertura da argumentaccedilatildeo juriacutedica agrave
Moral mas sem recair nas categorias metafiacutesicas do jusnaturalismo reconhecimento e defesa
da constitucionalizaccedilatildeo do Direito e do papel de destaque do Judiciaacuterio na agenda de imple-
mentaccedilatildeo dos valores da Constituiccedilatildeo
Estas novas ideacuteias jaacute reverberam fortemente na jurisprudecircncia nacional sobretudo do Supremo
Tribunal Federal que nos uacuteltimos tempos tem cada vez mais invocado princiacutepios abertos nos
seus julgamentos recorrido agrave ponderaccedilatildeo de interesses e ao princiacutepio da proporcionalidade
com frequumlecircncia e ateacute se valido de referecircncias filosoacuteficas na fundamentaccedilatildeo de decisotildees Aliaacutes
eacute digna de nota a influecircncia da doutrina constitucional na atuaccedilatildeo do Supremo Tribunal Fede-
ral O fenocircmeno eacute relativamente recente uma vez que logo apoacutes a promulgaccedilatildeo da Constitui-
ccedilatildeo de 88 havia um profundo hiato entre o campo doutrinaacuterio que cobrava a efetivaccedilatildeo da
Constituiccedilatildeo pela via judicial e a jurisprudecircncia do STF tiacutemida e reticente diante dos valores
e das inovaccedilotildees da nova Carta - vg orientaccedilatildeo entatildeo adotada pela Corte em relaccedilatildeo ao man-
dado de injunccedilatildeo e ao controle judicial das medidas provisoacuterias Aquele quadro podia em parte
ser debitado agrave duvidosa opccedilatildeo do constituinte originaacuterio de manter no STF os ministros nomea-
dos durante o governo militar que natildeo tinham sintonia poliacutetico-ideoloacutegica nem boa vontade
diante do novo sistema constitucional e que por isso se apegavam a visotildees e interpretaccedilotildees
assentadas durante o regime preteacuterito muitas delas francamente incompatiacuteveis com a nova
ordem Mas hoje apoacutes a completa renovaccedilatildeo do STF constata-se um quadro radicalmente di-
ferente a maioria dos ministros do STF eacute composta por professores de Direito Constitucional
de grande reputaccedilatildeo acadecircmica que ateacute pela origem tecircm mais contato com a produccedilatildeo inte-
lectual de ponta na aacuterea e satildeo mais suscetiacuteveis agrave influecircncia das novas correntes de pensamen-
to
14
Como ressaltado esta mudanccedila de paradigma se reflete vivamente na jurisprudecircncia do STF
Satildeo exemplos eloquumlentes a alteraccedilatildeo da posiccedilatildeo da Corte em relaccedilatildeo aos direitos sociais antes
tratados como normas programaacuteticas e hoje submetidos a uma intensa proteccedilatildeo judicial 91o
reconhecimento da eficaacutecia horizontal dos direitos fundamentais92 a mutaccedilatildeo do entendimen-
to do Tribunal em relaccedilatildeo agraves potencialidades do mandado de injunccedilatildeo 93e a progressiva supe-
raccedilatildeo da visatildeo claacutessica kelseniana da jurisdiccedilatildeo constitucional que a equiparava ao legislador
negativo com a admissatildeo de teacutecnicas decisoacuterias mais heterodoxas94 como as declaraccedilotildees de
inconstitucionalidade sem pronuacutencia de nulidade e as sentenccedilas aditivas E para completar o
quadro deve-se acrescentar as mudanccedilas acarretadas por algumas inovaccedilotildees processuais re-
centes na nossa jurisdiccedilatildeo constitucional que permitiram a participaccedilatildeo dos amici curiae bem
como a realizaccedilatildeo de audiecircncias puacuteblicas no acircmbito do processo constitucional ampliando a
possibilidade de atuaccedilatildeo da sociedade civil organizada no STF95
Naturalmente a nova postura de ativismo judicial do STF estimula as forccedilas sociais a procuraacute-
lo com mais frequumlecircncia e contribui para uma significativa alteraccedilatildeo na agenda da Corte Atu-
almente ao lado das questotildees mais tradicionais de Direito Puacuteblico o STF tem se defrontado
com novos temas fortemente impregnados de conteuacutedo moral como as discussotildees sobre a vali-
dade de pesquisa em ceacutelulas-tronco embrionaacuterias96 aborto de feto anenceacutefalo97 e uniatildeo entre
pessoas do mesmo sexo98 Ademais o Tribunal passou a intervir de forma muito mais ativa no
processo poliacutetico adotando decisotildees que se refletem de forma direta e profunda sobre a atua-
ccedilatildeo dos demais poderes do Estado Para citar apenas alguns casos pode-se falar da decisatildeo que
assentou que a mudanccedila de partido implica salvo determinadas exceccedilotildees perda de mandato
parlamentar99 da que estabeleceu criteacuterios riacutegidos para a fixaccedilatildeo do nuacutemero de vereadores de
acordo com a respectiva populaccedilatildeo100 e da intensificaccedilatildeo do controle jurisdicional dos atos das
CPIs bem como dos pressupostos de ediccedilatildeo das medidas provisoacuterias
Poreacutem haacute um componente curioso na recepccedilatildeo deste novo paradigma juriacutedico pelo Judiciaacuterio
brasileiro Embora ainda natildeo existam estudos empiacutericos a este respeito tenho a forte intuiccedilatildeo
de que a penetraccedilatildeo destas novas ideacuteias associadas ao neoconstitucionalismo eacute forte na cuacutepula
e na base da hierarquia judicial mas ainda tiacutemida nos seus escalotildees intermediaacuterios E as causas
natildeo satildeo de difiacutecil compreensatildeo Em relaccedilatildeo agrave cuacutepula - os ministros do STF - as razotildees jaacute foram
explicadas acima Jaacute no que tange agrave base do Judiciaacuterio boa parte dos juiacutezes de 1ordm grau teve a
sua formaccedilatildeo num ambiente acadecircmico que jaacute valorizava o Direito Constitucional e reconhecia
a forccedila normativa dos direitos fundamentais e dos princiacutepios constitucionais Assim eles ten-
dem a levar para a sua praacutetica profissional esta visatildeo do Direito Poreacutem sobretudo na 2ordf ins-
tacircncia composta majoritariamente por magistrados que se formaram e foram socializados no
15
seu meio institucional sob a eacutegide do paradigma juriacutedico anterior muito mais voltado para os
coacutedigos e para a letra da lei do que para a Constituiccedilatildeo e seus princiacutepios haacute maior resistecircncia agrave
incorporaccedilatildeo dos novos vetores constitucionais Contudo este fenocircmeno tende a diminuir com
o tempo seja pela consolidaccedilatildeo do paradigma constitucional emergente seja pela promoccedilatildeo
de magistrados mais antenados com o novo constitucionalismo seja ateacute pela influecircncia do pen-
samento e das orientaccedilotildees da cuacutepula do Judiciaacuterio sobre todas as suas instacircncias
No cenaacuterio brasileiro o neoconstitucionalismo eacute tambeacutem impulsionado por outro fenocircmeno a
descrenccedila geral da populaccedilatildeo em relaccedilatildeo agrave poliacutetica majoritaacuteria e em especial o descreacutedito
no Poder Legislativo e nos partidos poliacuteticos101 A percepccedilatildeo geral alimentada por sucessivos
escacircndalos e pelo discurso de alguns meios de comunicaccedilatildeo social de que a poliacutetica parlamen-
tar e partidaacuteria satildeo esferas essencialmente corrompidas que se movem exclusivamente em
torno de interesses e natildeo de valores gera em alguns setores a expectativa de que a soluccedilatildeo
para os problemas nacionais possa vir do Judiciaacuterio102 E este sentimento eacute fortalecido quando
a Justiccedila adota decisotildees em consonacircncia com a opiniatildeo puacuteblica - como ocorreu no recebimento
da denuacutencia criminal no caso do mensalatildeo na definiccedilatildeo de perda do mandato por infidelidade
partidaacuteria e na proibiccedilatildeo do nepotismo na Administraccedilatildeo Puacuteblica
Por outro lado a ascensatildeo institucional do Judiciaacuterio e a riqueza e importacircncia praacutetica ou sim-
boacutelica dos temas que ele vem julgando tem provocado um grande aumento no interesse da so-
ciedade pelo Direito Constitucional e pela atuaccedilatildeo do Supremo Tribunal Federal Eacute difiacutecil um
dia em que os principais meios de comunicaccedilatildeo natildeo discutam alguma decisatildeo da Corte ou mani-
festaccedilatildeo de qualquer dos seus membros E este fenocircmeno eacute potencializado tanto pela extro-
versatildeo midiaacutetica de alguns ministros como tambeacutem pelo fato - sem precedentes em outros
paiacuteses - do televisionamento das sessotildees do STF Com tudo isso as questotildees constitucionais
que antes eram apenas discutidas dentro de um ciacuterculo muito restrito de iniciados hoje satildeo
amplamente debatidas no espaccedilo puacuteblico
Neste quadro em que pesem as muacuteltiplas resistecircncias que sofre eacute possiacutevel apontar a emergecircn-
cia de uma nova forma de conceber o Direito e o Estado na sociedade brasileira contemporacirc-
nea que se quisermos adotar a terminologia hoje em voga pode ser chamada de neoconstitu-
cionalismo
4 Trecircs objeccedilotildees ao neoconstitucionalismo
16
Nas proacuteximas linhas abordarei de maneira breve trecircs criacuteticas que podem ser levantadas con-
tra o neoconstitucionalismo (a) a de que o seu pendor judicialista eacute anti-democraacutetico (b) a de
que a sua preferecircncia por princiacutepios e ponderaccedilatildeo em detrimento de regras e subsunccedilatildeo eacute
perigosa sobretudo no Brasil em razatildeo de singularidades da nossa cultura e (c) a de que ele
pode gerar uma panconstitucionalizaccedilatildeo do Direito em detrimento da autonomia puacuteblica do
cidadatildeo e da autonomia privada do indiviacuteduo Outras criacuteticas importantes existem103 mas por
limites de tempo e espaccedilo preferi priorizar aqui estas trecircs que satildeo as que geram maior apre-
ensatildeo no cenaacuterio brasileiro
a) Neoconstitucionalismo e judiciocracia
Como salientado acima o neoconstitucionalismo tem um foco muito centrado no Poder Judici-
aacuterio no qual deposita enormes expectativas no sentido de concretizaccedilatildeo dos ideais emancipa-
toacuterios presentes nas constituiccedilotildees contemporacircneas Contudo este vieacutes judicialista sofre con-
testaccedilotildees pelo seu suposto caraacuteter antidemocraacutetico na medida em que os juiacutezes diferente-
mente dos parlamentares e chefes do Executivo natildeo satildeo eleitos e natildeo respondem diretamente
perante o povo104
Esta criacutetica democraacutetica se assenta na ideacuteia de que numa democracia eacute essencial que as deci-
sotildees poliacuteticas mais importantes sejam tomadas pelo proacuteprio povo ou por seus representantes
eleitos e natildeo por saacutebios ou tecnocratas de toga Eacute verdade que a maior parte dos teoacutericos con-
temporacircneos da democracia reconhece que ela natildeo se esgota no respeito ao princiacutepio majoritaacute-
rio pressupondo antes o acatamento das regras do jogo democraacutetico que incluem a garantia
de direitos baacutesicos visando a viabilizar a participaccedilatildeo igualitaacuteria do cidadatildeo na esfera puacuteblica
bem como alguma proteccedilatildeo agraves minorias105 Poreacutem temos aqui uma questatildeo de dosagem pois
se a imposiccedilatildeo de alguns limites para a decisatildeo das maiorias pode ser justificada em nome da
democracia o exagero tende a revelar-se antidemocraacutetico por cercear em demasia a possibi-
lidade do povo de se autogovernar106
E a questatildeo natildeo eacute apenas de divisatildeo de poder ao longo do tempo A dificuldade democraacutetica
natildeo estaacute tatildeo-somente no fato de as constituiccedilotildees subtraiacuterem do legislador futuro a possibilida-
de de tomar algumas decisotildees107 O cerne do debate estaacute no reconhecimento de que diante da
vagueza e abertura de boa parte das normas constitucionais mais importantes quem as inter-
preta tambeacutem participa do seu processo de criaccedilatildeo108 Daiacute a criacutetica de que o vieacutes judicialista
subjacente ao neoconstitucionalismo acaba por conferir aos juiacutezes uma espeacutecie de poder cons-
tituinte permanente pois lhes permite moldar a Constituiccedilatildeo de acordo com as suas preferecircn-
cias poliacuteticas e valorativas em detrimento daquelas do legislador eleito Esta visatildeo levou inuacute-
17
meras correntes de pensamento ao longo da histoacuteria a rejeitarem a jurisdiccedilatildeo constitucional
ou pelo menos o ativismo judicial no seu exerciacutecio dos revolucionaacuterios franceses do seacuteculo XVI-
II109 passando por Carl Schmitt110 na Repuacuteblica de Weimar ateacute os adeptos do constituciona-
lismo popular nos Estados Unidos de hoje111
No Brasil eacute muito comum traccedilar-se um paralelo entre a defesa do ativismo judicial e posiccedilotildees
sociais progressistas Talvez isso se deva ao fato de que na nossa histoacuteria o Judiciaacuterio brasilei-
ro tem pecado muito mais por omissatildeo acumpliciando-se diante dos desmandos dos poderes
poliacutetico e econocircmico do que por excesso de ativismo Neste quadro quem ousa questionar
possiacuteveis exageros na judicializaccedilatildeo da poliacutetica e da vida social no Brasil de hoje eacute logo tachado
de conservador Poreacutem o paralelismo em questatildeo natildeo existe Muitas vezes o Poder Judiciaacuterio
pode atuar bloqueando mudanccedilas importantes promovidas pelos outros poderes em favor dos
excluiacutedos defendendo o statu quo E esta defesa pode ocorrer inclusive atraveacutes do uso da retoacute-
rica dos direitos fundamentais
Isso se deu por exemplo nos Estados Unidos nas primeiras deacutecadas do seacuteculo passado em pe-
riacuteodo que ficou conhecido como Era de Lochner112 quando a Suprema Corte impediu sistemati-
camente a ediccedilatildeo de legislaccedilatildeo trabalhista e de outras medidas que implicavam em interferecircn-
cia na esfera econocircmica em proveito das classes desfavorecidas com base numa leitura subs-
tantiva da claacuteusula do devido processo legal No cenaacuterio contemporacircneo Ran Hirshl113 sustenta
que o processo de judicializaccedilatildeo da poliacutetica que vem ocorrendo nos uacuteltimos anos em diversos
paiacuteses do mundo - ele fez um atento ainda que controvertido estudo dos casos do Canadaacute
Israel Aacutefrica do Sul e Nova Zelacircndia - teria como pano de fundo uma tentativa das elites eco-
nocircmicas e culturais que perderam espaccedilo na poliacutetica majoritaacuteria de manterem o seu poder
reforccedilando no arranjo institucional do Estado o peso do Judiciaacuterio no qual elas ainda tecircm he-
gemonia E aqui no Brasil seraacute que a proteccedilatildeo absoluta que vem sendo conferida ao direito
adquirido - inclusive o de furar teto salarial do funcionalismo fixado por emenda agrave Constituiccedilatildeo
114 - e o ultra-garantismo penal nos crimes do colarinho branco natildeo seriam exemplos deste
mesmo fenocircmeno
Por outro lado uma ecircnfase excessiva no espaccedilo judicial pode levar ao esquecimento de outras
arenas importantes para a concretizaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo e realizaccedilatildeo de direitos gerando um
resfriamento da mobilizaccedilatildeo ciacutevica do cidadatildeo Eacute verdade que o ativismo judicial pode em
certos contextos atuar em sinergia com a mobilizaccedilatildeo social na esfera puacuteblica Isto ocorreu
por exemplo no movimento dos direitos civis nos Estados Unidos dos anos 50 e 60 que foi a-
quecido pelas respostas positivas obtidos na Suprema Corte no periacuteodo da Corte de Warren115
Mas nem sempre eacute assim A ecircnfase judicialista pode afastar do cenaacuterio de disputa por direitos
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as pessoas e movimentos que natildeo pertenccedilam nem tenham proximidade com as corporaccedilotildees
juriacutedicas
Ademais esta obsessatildeo com a interpretaccedilatildeo judicial da Constituiccedilatildeo tende a obscurecer o pa-
pel central de outras instacircncias na definiccedilatildeo do sentido da Constituiccedilatildeo - como o Legislativo o
Executivo e a proacutepria esfera puacuteblica informal Trata-se de um desvio que gera consequumlecircncias
negativas tanto no plano descritivo como na esfera normativa Sob o prisma descritivo trans-
mite-se uma imagem muito parcial do fenocircmeno constitucional que natildeo eacute captado com todas
as suas nuances e riquezas jaacute que o foco se concentra apenas sobre a accedilatildeo de um dentre os
vaacuterios agentes importantes que povoam a seara da hermenecircutica constitucional116 Sob o acircngu-
lo normativo favorece-se um governo agrave moda platocircnica de saacutebios de toga117 que satildeo convida-
dos a assumir uma posiccedilatildeo paternalista diante de uma sociedade infantilizada118 Justifica-se o
ativismo judicial a partir de uma visatildeo muito criacutetica do processo poliacutetico majoritaacuterio mas que
ignora as inuacutemeras mazelas que tambeacutem afligem o Poder Judiciaacuterio construindo-se teorias a
partir de visotildees romacircnticas e idealizadas do juiz119 Soacute que se eacute verdade que o processo poliacuteti-
co majoritaacuterio tem seus viacutecios - e eles satildeo muito graves no cenaacuterio brasileiro - tambeacutem eacute certo
que os juiacutezes natildeo satildeo semi-deuses e que a esfera em que atuam tampouco eacute imune agrave poliacutetica
com p menor
Esta idealizaccedilatildeo da figura do juiz natildeo se compadece com algumas notoacuterias deficiecircncias que o
Judiciaacuterio brasileiro enfrenta Dentre elas pode-se destacar a sobrecarga de trabalho que
compromete a capacidade dos magistrados de dedicarem a cada processo o tempo e a energia
necessaacuterias para que faccedilam tudo que o que demandam as principais teorias da argumentaccedilatildeo
defendidas pelo neoconstitucionalismo E cabe referir tambeacutem agraves lacunas na formaccedilatildeo do ma-
gistrado brasileiro decorrentes sobretudo das falhas de um ensino juriacutedico formalista e nada
interdisciplinar que ainda viceja no paiacutes que natildeo satildeo corrigidas nos procedimentos de seleccedilatildeo
e treinamento dos juiacutezes
Outra consequumlecircncia da obsessatildeo judicialista do constitucionalismo brasileiro contemporacircneo
estaacute refletida na nossa produccedilatildeo acadecircmica Enquanto somos inundados por livros e artigos
muitas vezes repetitivos sobre assuntos como princiacutepios e regras interpretaccedilatildeo constitucional
e tutela judicial de direitos fundamentais outros temas absolutamente essenciais para a vida
do paiacutes passam ao largo da preocupaccedilatildeo dos juristas Eacute o caso da reforma poliacutetica Em que pese
o caraacuteter essencialmente constitucional do assunto quase nenhum constitucionalista se inte-
ressou por ele 120e praticamente toda a literatura de qualidade produzida sobre o toacutepico tem
vindo da Ciecircncia Poliacutetica
19
Estou convencido de que o Poder Judiciaacuterio tem um papel essencial na concretizaccedilatildeo da Consti-
tuiccedilatildeo brasileira Em face do quadro de sistemaacutetica violaccedilatildeo de direitos de certos segmentos da
populaccedilatildeo do arranjo institucional desenhado pela Carta de 88 e da seacuteria crise de representa-
tividade do Poder Legislativo entendo que o ativismo judicial se justifica no Brasil pelo menos
em certas searas como a tutela de direitos fundamentais a proteccedilatildeo das minorias e a garantia
do funcionamento da proacutepria democracia O maior insulamento judicial diante da pressatildeo das
maiorias bem como um certo ethos profissional de valorizaccedilatildeo dos direitos humanos que co-
meccedila a se instalar na nossa magistratura 121 conferem ao Judiciaacuterio uma capacidade institu-
cional privilegiada para atuar nestas aacutereas122
Mas em outros campos pode ser mais recomendaacutevel uma postura de autocontenccedilatildeo judicial
seja por respeito agraves deliberaccedilotildees majoritaacuterias adotadas no espaccedilo poliacutetico123 seja pelo reco-
nhecimento da falta de expertise do Judiciaacuterio para tomar decisotildees que promovam eficiente-
mente os valores constitucionais em jogo em aacutereas que demandem profundos conhecimentos
teacutecnicos fora do Direito - como Economia poliacuteticas puacuteblicas e regulaccedilatildeo124 Nestes casos deve-
se reconhecer que outros oacutergatildeos do Estado estatildeo mais habilitados para assumirem uma posiccedilatildeo
de protagonismo na implementaccedilatildeo da vontade constitucional
Nesta linha vejo com reticecircncias a sedimentaccedilatildeo na nossa cultura juriacutedica da visatildeo de que o
grande - senatildeo o uacutenico - inteacuterprete da Constituiccedilatildeo seria o Poder Judiciaacuterio125 Esta leitura des-
carta a autocontenccedilatildeo judicial bem como tende a desprezar a possibilidade de que sejam tra-
vados construtivos diaacutelogos interinstitucionais entre diversos oacutergatildeos estatais para a definiccedilatildeo da
melhor interpretaccedilatildeo dos ditames constitucionais126 Um bom exemplo127 deste desvio ocorreu
no julgamento da constitucionalidade das pesquisas em ceacutelulas-tronco embrionaacuterias realizada
pelo STF em que pese o resultado final do julgamento ter sido substancialmente correto Na-
quela ocasiatildeo o importante argumento deduzido na tribuna e em memoriais por Luis Roberto
Barroso - que advogava para um dos amici curiae favoraacuteveis agraves pesquisas - de que o Judiciaacuterio
deveria adotar posiccedilatildeo cautelosa no julgamento da constitucionalidade da lei impugnada ten-
do em vista o amplo consenso em torno dela obtido durante o processo legislativo tanto no
Senado como na Cacircmara foi explicitamente rechaccedilado por alguns ministros que consideraram
o ponto irrelevante E outros ministros em votos vencidos se sentiram confortaacuteveis ateacute para
defender a imposiccedilatildeo de novas normas pelo STF na aacuterea do Biodireito arvorando-se agrave condiccedilatildeo
de legisladores num campo para o qual evidentemente lhes faltava qualquer expertise
Enfim o neoconstitucionalismo brasileiro tem pecado por excesso depositando no Judiciaacuterio
expectativas que ele nem sempre teraacute como atender de forma satisfatoacuteria Um dos efeitos co-
laterais deste fenocircmeno eacute a disseminaccedilatildeo de um discurso muito perigoso de que voto e poliacuteti-
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ca natildeo satildeo tatildeo importantes pois relevante mesmo eacute a interpretaccedilatildeo dos princiacutepios constitucio-
nais realizada pelo STF Daiacute a dizer que o povo natildeo sabe votar eacute um pulo e a ditadura de toga
pode natildeo ser muito melhor do que a ditadura de farda
b) Neoconstitucionalismo oba-oba constitucional e Estado Democraacutetico de Direito
Seria uma profunda injusticcedila com a teoria neoconstitucionalista acusaacute-la de promover o decisi-
onismo ou de defender a tomada de decisotildees judiciais puramente emotivas sem lastro em ar-
gumentaccedilatildeo racional soacutelida Pelo contraacuterio como foi destacado acima um dos eixos centrais
do pensamento neoconstitucional eacute a reabilitaccedilatildeo da racionalidade praacutetica no acircmbito juriacutedico
com a articulaccedilatildeo de complexas teorias da argumentaccedilatildeo que demandam muito dos inteacuterpre-
tes e sobretudo dos juiacutezes em mateacuteria de fundamentaccedilatildeo das suas decisotildees Poreacutem a praacutetica
judiciaacuteria brasileira recepcionou apenas parcialmente as teorias juriacutedicas de corte poacutes-
positivista e aqui a valorizaccedilatildeo dos princiacutepios e da ponderaccedilatildeo natildeo tem sido muitas vezes
acompanhada do necessaacuterio cuidado com a justificaccedilatildeo das decisotildees
Se ateacute natildeo muito tempo atraacutes os princiacutepios natildeo eram tratados como autecircnticas normas por
aqui - soacute tinha bom direito quem podia invocar uma regra legal clara e precisa em favor da sua
pretensatildeo - com a chegada do poacutes-positivismo e do neoconstitucionalismo passou-se em pou-
cos anos da aacutegua para o vinho Hoje instalou-se um ambiente intelectual no Brasil que aplaude
e valoriza as decisotildees principioloacutegicas e natildeo aprecia tanto aquelas calcadas em regras legais
que satildeo vistas como burocraacuteticas ou positivistas - e positivismo hoje no paiacutes eacute quase um pala-
vratildeo128 Neste contexto os operadores do Direito satildeo estimulados a invocar sempre princiacutepios
muito vagos nas suas decisotildees mesmo quando isso seja absolutamente desnecessaacuterio pela e-
xistecircncia de regra clara e vaacutelida a reger a hipoacutetese Os campeotildees tecircm sido os princiacutepios da dig-
nidade da pessoa humana e da razoabilidade O primeiro eacute empregado para dar imponecircncia ao
decisionismo judicial vestindo com linguagem pomposa qualquer decisatildeo tida como politica-
mente correta e o segundo para permitir que os juiacutezes substituam livremente as valoraccedilotildees de
outros agentes puacuteblicos pelas suas proacuteprias
Este cenaacuterio eacute problemaacutetico porque um sistema juriacutedico funcional estaacutevel e harmocircnico com os
valores do Estado Democraacutetico de Direito precisa tanto da aplicaccedilatildeo de regras como de princiacute-
pios129 As regras satildeo indispensaacuteveis dentre outras razotildees130 porque geram maior previsibili-
dade e seguranccedila juriacutedica para os seus destinataacuterios diminuem os riscos de erro na sua inci-
decircncia jaacute que natildeo dependem tanto das valoraccedilotildees do inteacuterprete em cada caso concreto en-
volvem um menor custo no seu processo de aplicaccedilatildeo pois podem incidir de forma mais mecacirc-
nica sem demandarem tanto esforccedilo do inteacuterprete e natildeo implicam na mesma medida que os
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princiacutepios em uma transferecircncia de poder decisoacuterio do Legislativo que eacute eleito para o Judici-
aacuterio que natildeo eacute
Natildeo pretendo sustentar com isso que se deva retroceder ao tempo em que os princiacutepios natildeo
eram aplicados pelos juiacutezes brasileiros Tambeacutem os princiacutepios satildeo essenciais na ordem juriacutedica
pois conferem mais plasticidade ao Direito - o que eacute essencial numa sociedade hiper-complexa
como a nossa - e permitem uma maior abertura da argumentaccedilatildeo juriacutedica agrave Moral e ao mundo
empiacuterico subjacente O importante eacute encontrar uma justa medida que natildeo torne o processo de
aplicaccedilatildeo do Direito amarrado demais como ocorreria num sistema baseado exclusivamente
em regras nem solto demais como sucederia com um que se fundasse apenas em princiacutepios
Penso que eacute chegada a hora de um retorno do pecircndulo no Direito brasileiro131 que sem des-
cartar a importacircncia dos princiacutepios e da ponderaccedilatildeo volte a levar a seacuterio tambeacutem as regras e a
subsunccedilatildeo
Ademais naquelas hipoacuteteses em que a aplicaccedilatildeo de princiacutepios for realmente apropriada ela
deve dar-se de forma mais racional e fundamentada Deve-se adotar a premissa de que quanto
mais vaga for a norma a ser aplicada e mais intenso o componente volitivo envolvido no pro-
cesso decisoacuterio maior deve ser o ocircnus argumentativo do inteacuterprete no sentido de mostrar que
a soluccedilatildeo por ele adotada eacute a que melhor realiza os valores do ordenamento naquele caso con-
creto132 A tendecircncia atual de invocaccedilatildeo frouxa e natildeo fundamentada de princiacutepios colide com a
loacutegica do Estado Democraacutetico de Direito pois amplia as chances de arbiacutetrio judicial gera inse-
guranccedila juriacutedica e atropela a divisatildeo funcional de poderes que tem no ideaacuterio democraacutetico um
dos seus fundamentos - a noccedilatildeo baacutesica de que as decisotildees sobre o que os cidadatildeos e o Estado
podem e natildeo podem fazer devem ser tomadas preferencialmente por quem represente o povo
e seja por ele escolhido
E haacute na sociedade brasileira traccedilos que tornam ainda mais perigosa esta tendecircncia agrave frouxidatildeo
e emotividade na metodologia juriacutedica Nossa cultura caracteriza-se muito mais pelo jeiti-
nho133 e pelo patrimonialismo134 do que pela valorizaccedilatildeo do cumprimento impessoal de regras
O brasileiro - jaacute dizia Seacutergio Buarque de Holanda135 - eacute o homem cordial que tende a antepor
a loacutegica privada do compadrio e da simpatia agrave racionalidade objetiva das leis Esta singularida-
de das nossas relaccedilotildees sociais natildeo atua de forma neutra em relaccedilatildeo a todos os cidadatildeos Ela
implica na adoccedilatildeo de posturas estatais em geral muito benevolentes em relaccedilatildeo aos donos do
poder e seus apaniguumlados e de posiccedilotildees muito mais duras dirigidas aos grupos excluiacutedos e mar-
ginalizados136 Uns poucos acabam pairando acima das leis que natildeo os alcanccedilam para limitar a
sua conduta ou sancionar os seus desvios enquanto outros permanecem abaixo dela sendo
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atingidos apenas pelo braccedilo punitivo do Estado pois a violaccedilatildeo rotineira dos seus direitos eacute
naturalizada tornando-se invisiacutevel
Neste quadro cabe indagar sob a perspectiva de uma sociologia da interpretaccedilatildeo constitucio-
nal ateacute que ponto a introduccedilatildeo entre noacutes de uma dogmaacutetica fluida - a expressatildeo eacute de Gusta-
vo Zagrebelsky137 um dos iacutecones do neoconstitucionalismo - natildeo pode ter como efeito colateral
o agravamento de patologias que marcam as nossas relaccedilotildees sociais Seraacute que o nosso Direito
precisa de mais rigidez ou de maior maleabilidade Ao fim e ao cabo quem tende a se benefi-
ciar com a adoccedilatildeo de uma hermenecircutica juriacutedica mais flexiacutevel
Uma reflexatildeo importante sobre tema correlato foi empreendida por Marcelo Neves138 a partir
das categorias da teoria sistecircmica de Niklas Luhman Para Luhman139 em apertada siacutentese o
Direito nas hipercomplexas sociedades modernas seria autopoieacutetico140 pois consistiria num
subsistema social estruturalmente fechado em relaccedilatildeo ao meio envolvente que operaria de
acordo com um coacutedigo binaacuterio proacuteprio - o liacutecito iliacutecito As influecircncias do meio envolvente so-
bre o Direito seriam filtradas atraveacutes deste coacutedigo assegurando a autonomia da esfera juriacutedica
diante dos outros subsistemas sociais como a Economia a Poliacutetica a Religiatildeo etc Contudo
Marcelo Neves sustenta que em sociedades perifeacutericas como o Brasil natildeo se desenvolveu ple-
namente este fechamento estrutural do Direito Por aqui fatores como a nossa constituciona-
lizaccedilatildeo simboacutelica geraram uma insuficiente diferenciaccedilatildeo do Direito em relaccedilatildeo a outros sub-
sistemas sociais permitindo que elementos a princiacutepio estranhos ao coacutedigo binaacuterio do juriacutedico -
como a questatildeo do poder poliacutetico e do poder econocircmico - se infiltrem sistematicamente nos
processos de aplicaccedilatildeo das normas condicionando o seu resultado A teoria dos sistemas de
Luhman natildeo funcionaria bem entre noacutes pois teriacuteamos um Direito em boa parte alopoieacuteti-
coPara tal perspectiva esta maior abertura do Direito ao meio envolvente natildeo assume o po-
tencial emancipatoacuterio preconizado pela teoria neoconstitucionalista Ela funciona muito mais
como um mecanismo de cristalizaccedilatildeo de diferenccedilas sociais mantendo a hiper-inclusatildeo de uns
ao preccedilo da exclusatildeo de outros
Esta reflexatildeo de Marcelo Neves natildeo se dirigiu ao debate metodoloacutegico contemporacircneo envol-
vendo princiacutepios e regras ponderaccedilatildeo e subsunccedilatildeo etc Poreacutem entendo que ela pode ter algu-
ma pertinecircncia tambeacutem aqui pelo menos para nos advertir sobre o perigo de que o neoconsti-
tucionalismo com a fluidez metodoloacutegica e abertura do Direito a outros domiacutenios que preconi-
za possa acabar tornando-se um belo roacutetulo para justificar mais do mesmo patrimonialismo
desigualdade jeitinho Nesta perspectiva a novidade do neoconstitucionalismo poderia pare-
cer com aquela advogada pelo Priacutencipe de Salinas em famosa passagem do romance O Leopar-
do de Giuseppe Lampedusa quando defendia no contexto da crise da aristocracia italiana do
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final do seacuteculo XIX a necessidade de mudanccedilas urgentes no governo para que ao final as
coisas pudessem permanecer exatamente do jeito que sempre foram
Natildeo penso que esta seja uma consequumlecircncia necessaacuteria da adoccedilatildeo de uma perspectiva juriacutedica
mais principialista no Brasil O maior cuidado metodoloacutegico adicionado agrave adoccedilatildeo de uma dire-
triz hermenecircutica substantiva que afirme a missatildeo essencial do Direito de assegurar justiccedila e
seguranccedila agraves pessoas tratando-as como livres e iguais pode minimizar as possibilidades de um
uso enviesado da teoria neoconstitucional que acabe favorecendo aos mesmos de sempre
Mas diante das nossas tradiccedilotildees natildeo haacute como negar que os riscos satildeo elevados
c) Neoconstitucionalismo e panconstitucionalizaccedilatildeo
Uma das caracteriacutesticas do neoconstitucionalismo eacute a defesa da constitucionalizaccedilatildeo do Direi-
to Sustenta-se que a irradiaccedilatildeo das normas constitucionais por todo o ordenamento contribui
para aproximaacute-lo dos valores emancipatoacuterios contidos nas constituiccedilotildees contemporacircneas 141A
Constituiccedilatildeo natildeo eacute vista mais como uma simples norma normarum - cuja finalidade principal eacute
disciplinar o processo de produccedilatildeo de outras normas142 Ela passa a ser enxergada como a en-
carnaccedilatildeo dos valores superiores da comunidade poliacutetica que devem fecundar todo o sistema
juriacutedico Neste modelo cabe ao inteacuterprete natildeo soacute aplicar diretamente os ditames constitucio-
nais agraves relaccedilotildees sociais como tambeacutem reler todas as normas e institutos dos mais variados ra-
mos do Direito agrave luz da Constituiccedilatildeo emprestando-lhes o sentido que mais promova os objeti-
vos e a axiologia da Carta
A constitucionalizaccedilatildeo do Direito de que cogita o neoconstitucionalismo natildeo eacute aquela que resul-
ta do caraacuteter excessivamente analiacutetico da Constituiccedilatildeo e leva ao entricheiramento de meras
opccedilotildees conjunturais do constituinte originaacuterio ou derivado despidas de maior importacircncia ou
dignidade Este eacute um fenocircmeno caracteriacutestico da Carta de 88 que se excedeu no casuiacutesmo e
nos detalhes elevando ao seu texto meros interesses corporativos ou decisotildees de momento
sem focirclego para perdurarem no tempo A constitucionalizaccedilatildeo louvada e defendida pelo neo-
constitucionalismo eacute aquela que parte de uma interpretaccedilatildeo extensiva e irradiante dos direitos
fundamentais e dos princiacutepios mais importantes da ordem constitucional Aqui contudo pode-
se discutir ateacute que ponto o fenocircmeno eacute legiacutetimo Poucos discordaratildeo pelo menos no Brasil de
que alguma constitucionalizaccedilatildeo do Direito eacute positiva e bem-vinda por semear o ordenamento
com os valores humanitaacuterios da Constituiccedilatildeo Poreacutem pode-se objetar contra as teses extrema-
das sobre este processo que acabam amputando em demasia o espaccedilo de liberdade do legisla-
dor em detrimento da democracia 143
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Com efeito quem defende que tudo ou quase tudo jaacute estaacute decidido pela Constituiccedilatildeo e que o
legislador eacute um mero executor das medidas jaacute impostas pelo constituinte nega por conse-
quumlecircncia a autonomia poliacutetica ao povo para em cada momento da sua histoacuteria realizar as suas
proacuteprias escolhas O excesso de constitucionalizaccedilatildeo do Direito reveste-se portanto de um
vieacutes antidemocraacutetico Esta ordem de preocupaccedilotildees levou Ersnt Forsthof na Alemanha a criti-
car as teorias que viam a Constituiccedilatildeo como uma espeacutecie de genoma juriacutedico () do qual tudo
deriva do Coacutedigo Penal ateacute a lei sobre a fabricaccedilatildeo de termocircmetros144 E a questatildeo torna-se
ainda mais delicada diante da constataccedilatildeo de que pela abertura semacircntica dos direitos fun-
damentais e dos princiacutepios - principal mateacuteria-prima da constitucionalizaccedilatildeo do Direito - o seu
principal agente acaba sendo o Poder Judiciaacuterio ao dar a uacuteltima palavra sobre a interpretaccedilatildeo
daquelas claacuteusulas Daiacute porque o debate sobre a constitucionalizaccedilatildeo do Direito se imbrica
inexoravelmente com as discussotildees a propoacutesito da judicializaccedilatildeo da poliacutetica e do decisionismo
referidas acima
Ademais a constitucionalizaccedilatildeo do Direito tambeacutem suscita outra linha de preocupaccedilotildees rela-
cionada ao perfeccionismo moral145 na esfera privada No Brasil assim como em muitos outros
paiacuteses jaacute se assentou a ideacuteia de que os direitos fundamentais natildeo se dirigem apenas contra o
Estado vinculando tambeacutem os particulares Entre noacutes tem prevalecido na doutrina a ideacuteia que
eu mesmo defendi em outro estudo146 que a eficaacutecia dos direitos fundamentais nas relaccedilotildees
privadas eacute direta e imediata Em outras palavras entende-se que a proacutepria Constituiccedilatildeo jaacute inci-
de nas relaccedilotildees privadas independentemente de mediaccedilotildees legislativas e que pode gerar o-
brigaccedilotildees positivas ou negativas para os indiviacuteduos e natildeo soacute para os poderes puacuteblicos sempre
no afatilde de proporcionar uma proteccedilatildeo mais completa agrave dignidade humana Ateacute aqui nada a
contestar
Poreacutem o reconhecimento da vinculaccedilatildeo dos particulares agrave Constituiccedilatildeo suscita um risco que
natildeo pode ser ignorado o de imposiccedilatildeo agraves pessoas supostamente em nome de valores constitu-
cionais de comportamentos e estilos de vida que elas proacuteprias rejeitam em detrimento da sua
liberdade existencial Para dar um exemplo bem tosco seria terriacutevel se o Direito em nome do
princiacutepio da solidariedade social pudesse impor agraves pessoas que demonstrassem afetos e senti-
mentos que elas natildeo possuem genuinamente Ou se em nome da isonomia pretendesse inter-
ferir nas escolhas subjetivas e emocionais que os indiviacuteduos fazem nas suas vidas privadas A
constitucionalizaccedilatildeo neste sentido poderia converter-se num pretexto para o exerciacutecio de um
paternalismo anti-liberal em que as pessoas seriam forccediladas a conformarem-se agraves expectativas
sociais forjadas a partir de pautas de accedilatildeo politicamente corretas com apoio na Constitui-
ccedilatildeo147
25
Nenhuma destas duas questotildees eacute insuperaacutevel Eacute possiacutevel aceitar e aplaudir a constitucionaliza-
ccedilatildeo do Direito - fenocircmeno em geral positivo por aproximar a racionalidade emancipatoacuteria da
Constituiccedilatildeo do dia-a-dia das pessoas - mas defender que ela seja temperada por outras preo-
cupaccedilotildees igualmente essenciais no Estado Democraacutetico de Direito com a autonomia puacuteblica e
privada dos cidadatildeos Pode-se reconhecer a legitimidade da constitucionalizaccedilatildeo do Direito
mas numa medida em que natildeo sacrifique em excesso agrave liberdade de conformaccedilatildeo que numa
democracia deve caber ao legislador para realizar opccedilotildees poliacuteticas em nome do povo148 Pode-
se da mesma forma afirmar a incidecircncia direta da Constituiccedilatildeo nas relaccedilotildees privadas mas
sem invadir a esfera das opccedilotildees existenciais da pessoa - que de resto eacute protegida pela proacutepria
Constituiccedilatildeo das ingerecircncias perfeccionistas do Estado e da sociedade149
5 Conclusatildeo Ao fim da leitura destas paacuteginas o leitor pode estar se indagando se eu me alinho ou natildeo ao
neoconstitucionalismo A minha resposta eacute depende da compreensatildeo que se tenha sobre o ne-
oconstitucionalismo Se entendermos o neoconstitucionalismo de acordo com a conhecida defi-
niccedilatildeo de Luis Prietro Sanchiacutes como uma teoria do Direito que se orienta pelas maacuteximas demaacutes
princiacutepios que reglas maacutes ponderacioacuten que subsuncioacuten omnipotencia de la Constitucioacuten en
todas las aacutereas juriacutedicas y en todos conflictos miacutenimamente relevantes en lugar de espacios
exentos en favor de la opcioacuten legislativa o reglamentaria omnipotencia judicial en lugar de
autonomia del legislador ordinaacuterio y por ultimo coexistecircncia de una constelacioacuten plural de
valores a veces tendencialmente contradictorios en lugar de homogeneidad ideoloacutegica150
certamente eu natildeo me considero um neoconstitucionalista De todas as afirmaccedilotildees do professor
espanhol a uacutenica de que natildeo discordo eacute aquela relacionada ao pluralismo de valores cujo re-
conhecimento aliaacutes estaacute longe de ser privileacutegio dos neoconstitucionalistas
Contudo eu assumo o roacutetulo sem constrangimentos se o neoconstitucionalismo for pensado
como uma teoria constitucional que sem descartar a importacircncia das regras e da subsunccedilatildeo
abra tambeacutem espaccedilo para os princiacutepios e para a ponderaccedilatildeo tentando racionalizar o seu uso
Se for visto como uma concepccedilatildeo que sem desprezar o papel protagonista das instacircncias de-
mocraacuteticas na definiccedilatildeo do Direito reconheccedila e valorize a irradiaccedilatildeo dos valores constitucio-
nais pelo ordenamento bem como a atuaccedilatildeo firme e construtiva do Judiciaacuterio para proteccedilatildeo e
promoccedilatildeo dos direitos fundamentais e dos pressupostos da democracia E acima de tudo se
for concebido como uma visatildeo que conecte o Direito com exigecircncias de justiccedila e moralidade
criacutetica151 sem enveredar pelas categorias metafiacutesicas do jusnaturalismo
26
Certamente uma visatildeo equilibrada da Teoria do Direito com tais caracteriacutesticas pode contribu-
ir para o aperfeiccediloamento do Estado Democraacutetico de Direito no Brasil O mesmo jaacute natildeo digo de
concepccedilotildees mais radicais do neoconstitucionalismo que podem ser muito boas para arrancar
aplausos entusiasmados das plateacuteias nos seminaacuterios estudantis mas que natildeo se conciliam com
exigecircncias fundamentais de seguranccedila juriacutedica democracia e liberdade que satildeo alicerces de
qualquer bom constitucionalismo - novo ou velho
Curriacuteculo Resumido
Daniel Sarmento
Poacutes-Doutor pela Universidade de Yale (EUA) Procurador Regional da Repuacuteblica
Como citar este artigo
SARMENTO Daniel O neoconstitucionalismo no Brasil riscos e possibilidades Disponiacutevel em httpwwweditoraforumcombrsistconteudolista_conteudoaspFIDT_CONTEUDO=56993 acesso em 09032011 httpdireitoesubjetividadefileswordpresscom201008daniel-sarmento-o-neoconstitucionalismo-no-brasil1doc acesso em 30062012 Material da 1ordf aula da Disciplina Teoria Geral da Constituiccedilatildeo (I) ministrada no Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo Online em Direito Constitucional ndash Anhanguera-UNIDERP | REDE LFG
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___________________
1Sobre a teoria de princiacutepios no Brasil veja-se dentre outros Ana Paula de Barcellos A eficaacutecia juriacutedica dos princiacutepios constitu-
cionais o princiacutepio da dignidade da pessoa humana Rio de Janeiro Renovar 2002 Humberto Bergman Aacutevila Teoria dos princiacute-
pios da definiccedilatildeo agrave aplicaccedilatildeo dos princiacutepios juriacutedicos 2 ed Satildeo Paulo RT 2005 Jane Reis Gonccedilalves Pereira Interpretaccedilatildeo
constitucional e direitos fundamentais uma contribuiccedilatildeo ao estudo das restriccedilotildees aos direitos fundamentais na perspectiva da
teoria dos princiacutepios Rio de Janeiro Renovar 2006 Virgiacutelio Afonso da Silva O conteuacutedo essencial dos direitos fundamentais e a
eficaacutecia das normas constitucionais Satildeo Paulo Tese (concurso de Professor Titular de Direito Constitucional da USP)
2Veja-se em tons variados Lecircnio Luiz Streck Hermenecircutica juriacutedica e(m) crise uma exploraccedilatildeo hermenecircutica da construccedilatildeo do
direito Porto Alegre Livraria do Advogado 1999 Luiacutes Roberto Barroso (Org) A nova interpretaccedilatildeo constitucional ponderaccedilatildeo
direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas Rio de Janeiro Renovar 2003 Margarida Maria Lacombe Camargo Hermenecircutica e
argumentaccedilatildeo uma contribuiccedilatildeo ao estudo do direito Rio de Janeiro Renovar 2003 Inocecircncio Maacutertires Coelho Interpretaccedilatildeo
constitucional 2 ed Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2003 Ana Paula de Barcellos Ponderaccedilatildeo racionalidade e atividade
jurisdicional Rio de Janeiro Renovar 2005
3Sobre o fenocircmeno da constitucionalizaccedilatildeo do Direito confira-se os inuacutemeros artigos que compotildeem a coletacircnea organizada por
Claacuteudio Pereira de Souza Neto e por mim A constitucionalizaccedilatildeo do direito fundamentos teoacutericos e aplicaccedilotildees especiacuteficas Rio de
Janeiro Lumen Juris 2007
4Cfr na literatura constitucional brasileira Gisele Guimaratildees Cittadino Pluralismo direito e justiccedila distributiva elementos de
filosofia constitucional contemporacircnea Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 Oscar Vilhena Vieira A Constituiccedilatildeo e sua reserva de
justiccedila um ensaio sobre os limites materiais do poder de reforma Satildeo Paulo Malheiros 1999 Ricardo Lobo Torres (Org) A legi-
timaccedilatildeo dos direitos humanos Rio de Janeiro Renovar 2002 Claacuteudio Pereira de Souza Neto Teoria constitucional e democracia
deliberativa Rio de Janeiro Renovar 2006 Lecircnio Luiz Streck Verdade e consenso Constituiccedilatildeo hermenecircutica e teorias discursi-
vas Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 Samantha Chantal Dobrowolski A construccedilatildeo social do sentido da Constituiccedilatildeo na demo-
cracia contemporacircnea entre soberania popular e direitos humanos Rio de Janeiro Lumen Juris 2007 Aacutelvaro Ricardo de Souza
Cruz Hermenecircutica juriacutedica e(m) debate o constitucionalismo brasileiro entre a teoria do discurso e a ontologia existencial Belo
Horizonte Foacuterum 2007
5Sobre a judicializaccedilatildeo da poliacutetica no Brasil veja-se Luiz Werneck Vianna et al A judicializaccedilatildeo da poliacutetica e das relaccedilotildees sociais
no Brasil Rio de Janeiro Revan 1999 Giselle Cittadino Judicializaccedilatildeo da poliacutetica constitucionalismo democraacutetico e separaccedilatildeo de
poderes In Luiz Werneck Vianna (Org) A democracia e os trecircs poderes no Brasil Belo Horizonte UFMG 2002 p 17-42 Rogeacuterio
B Arantes Constitucionalism the expansion of Justice and the Judicialization of Poltics in Brazil In Rachel Sieder Line Schjol-
den Alan Angell The Judicialization of Politics in Latin America New York Palgrave Macmillan 2005 p 232-262 Luis Roberto
Barroso Judicializaccedilatildeo ativismo judicial e legitimidade democraacutetica Texto ineacutedito gentilmente cedido pelo autor
Para uma perspectiva comparativa veja-se Neal C Tate Tobjorn Vallinder (Ed) The Global Expansion of Judicial Power New
York New York University Press 1995 Alec Stone Sweet Governing with Judges Constitutional Politics in Europe Oxford Oxford
Univesity Press 2000 e em tom profundamente criacutetico Ran Hirschl Towards Juristocracy the Origins and Consequences of the
New Constitucionalism Cambridge Harvard University Press 2004
6Miguel Carbonell et al Neoconstitucionalismo(s) Madrid Trotta 2003 Mais recentemente o autor publicou nova coletacircnea
tambeacutem dedicada ao estudo do neoconstitucionalismo intitulada Teoria del Neoconstitucionalismo Ensayos escogidos Madrid
Trotta 2007
7O jurista argentino Carlos Santiago Nino por exemplo faleceu em 1993 quando ainda nem se empregava esta denominaccedilatildeo
8Cf Robert Alexy Teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica a teoria do discurso racional como teoria da fundamentaccedilatildeo juriacutedica Tradu-
ccedilatildeo de Zilda Hutchinson Schild Silva revisatildeo teacutecnica da traduccedilatildeo e introduccedilatildeo agrave ediccedilatildeo brasileira Claudia Toledo 2 ed Satildeo Paulo
Landy 2005 Luis Roberto Barroso Curso de direito constitucional contemporacircneo os conceitos fundamentais e a construccedilatildeo do
novo modelo Rio de Janeiro Saraiva 2008 p 306-350
9Cf Lecircnio Luiz Streck Verdade e consenso Op cit p 197-246
28
10Ronald Dworkin e Carlos Santiago Nino satildeo sem sombra de duacutevida autores liberais natildeo no sentido que se atribui ao termo no
Brasil - de adeptos de doutrina econocircmica favoraacutevel ao Estado miacutenimo e ao mercado - mas sim no sentido corrente na Filosofia
Poliacutetica que associa o liberalismo agrave defesa dos direitos individuais e da neutralidade do Estado em relaccedilatildeo agraves diversas concepccedilotildees
sobre a vida boa existentes na sociedade Veja-se neste sentido Ronald Dworkin A Matter of Principle Cambridge Harvard
University Press 1985 p 181-236 Carlos Santiago Nino La constitucioacuten de la Democracia Deliberativa Barcelona Gedisa 1997
p 70-100
11Lecircnio Luiz Streck que se alinha ao neoconstitucionalismo defende posturas tipicamente comunitaristas como o papel da Consti-
tuiccedilatildeo na definiccedilatildeo de modelos de vida boa para orientaccedilatildeo da vida social e da accedilatildeo individual Cf Jurisdiccedilatildeo constitucional e
hermenecircutica uma nova criacutetica do direito 2 ed Rio de Janeiro Forense 2004 p 95-288
12Antonio Cavalcanti Maia um dos mais ardorosos defensores do neoconstitucionalismo no paiacutes eacute tambeacutem procedimentalista e
adepto das teorias juriacutedicas de Juumlrgen Habermas Veja-se neste sentido o seu denso texto Nos vintes anos da carta cidadatilde do
poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm (Coord) Vinte
anos da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 p 117-168 em que esta sua dupla filiaccedilatildeo intelectual eacute
explicitada
13Segundo Miguel Carbonell o neoconstitucionalismo desdobra-se em trecircs planos de anaacutelise que se conjugam o dos textos consti-
tucionais que se tornaram mais substantivos e incorporaram amplos elencos de direitos fundamentais o das praacuteticas judiciais que
passaram a recorrer a princiacutepios constitucionais agrave ponderaccedilatildeo e a meacutetodos mais flexiacuteveis de interpretaccedilatildeo sobretudo na aacuterea de
direitos fundamentais e o dos desenvolvimentos teoacutericos de autores que com as suas ideacuteias ajudaram natildeo soacute a compreender os
novos modelos constitucionais mas tambeacutem participaram da sua proacutepria criaccedilatildeo Cf Miguel Carbonell Neoconstitucionalismo
elementos para una definicioacuten In Eduardo Ribeiro Moreira Mauricio Pugliesi 20 anos da Constituiccedilatildeo brasileira Satildeo Paulo Sarai-
va 2009 p 197-208
14No mesmo sentido Luis Roberto Barroso Neoconstitucionalismo e Constitucionalizaccedilatildeo do direito o triunfo tardio do direito
constitucional do Brasil In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento A constitucionalizaccedilatildeo do direito fundamentos teoacuteri-
cos e aplicaccedilotildees especiacuteficas Rio de Janeiro Lumen Juris 2007 p 203-250
15Cf Carlos Bernal Pulido El Derecho de los Derechos Bogotaacute Universidad Externado de Colocircmbia 2006 Manoel Jose Cepeda
Espinosa Judicialization of Politics in Colombia the old and the new In Rachel Sieder Line Schonjen Alan Angell The Judiciali-
zation of Politics in Latin America Op cit p 67-104 Rodrigo Uprimmy Mauriacutecio Garcia-Villegas Tribunal Constitucional e eman-
cipaccedilatildeo social na Colocircmbia In Boaventura de Souza Santos Democratizar a democracia os caminhos da democracia participativa
Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2002 p 297-339
16Cf Catalina Smulovitz Petitioning and Creating Rights Judicialization in Argentina In Rachel Sieder Line Scjolden Alan Angell
The Judicialization of Politics in Latin America Op cit p 161-185
17Cf Miguel Carbonell Los Derechos Fundamentales en Meacutexico 2 ed Meacutexico Porruacutea 2006 Pilar Domingo The Changing Political
Role of the Judiciary in Meacutexico In Rachel Sieder Line Scjolden Alan Angell The Judicialization of Politics in Latin Ameacuterica Op
cit p 21-46
18Cf Heinz Klug South Aacutefrica From Constitucional Promise to Social Transformation In Jeffrey Goldsworthy Interpreting Consti-
tutions A Comparative Study Oxford Oxford University Press 2006 p 266-320
19Cf S P Sathe Iacutendia From Positivism to Structuralism In Jeffrey Goldsworthy Op cit p 215-265
20Veja-se a propoacutesito Gustavo Zagrebelsky Il Diritto Mite Torino Einaudi 1992 p 57-96
21Cf Eduardo Garciacutea de Enterriacutea La Constitucioacuten como Norma y el Tribunal Constitucional 3 ed Madrid Civitas 1985 p 41
22Na Alemanha a mudanccedila ocorreu sob a vigecircncia da Lei Fundamental adotada em 1949 e foi fortemente impulsionada pela
jurisprudecircncia do Tribunal Constitucional do paiacutes que construiu teorias importantes como a da Constituiccedilatildeo como uma ordem de
valores em cujo centro situa-se o princiacutepio da dignidade humana que se irradia por todo o ordenamento Veja-se a propoacutesito
Dieter Grimm Human Rights and Judicial Review in Germany In David M Beatty (Org) Human Rights and Judicial Review A
Comparative Perspective Dodrecht Martin Urjhoff 1994 p 267-295
23Na Itaacutelia as mudanccedilas se deram sob a eacutegide da atual Constituiccedilatildeo editada em 1947 mas soacute apoacutes o funcionamento da Corte
Constitucional que se deu em 1956 Ateacute entatildeo a Corte de Cassaccedilatildeo composta por juiacutezes recrutados ainda no periacuteodo do fascismo
29
era provisoriamente encarregada da guarda da Constituiccedilatildeo o que fazia de forma muito tiacutemida no mais das vezes negando eficaacute-
cia juriacutedica agraves normas constitucionais sob o argumento de que seriam programaacuteticas Veja-se a propoacutesito Ricardo Guastini A
constitucionalizaccedilatildeo do ordenamento juriacutedico e a experiecircncia italiana In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento A
constitucionalizaccedilatildeo do direito fundamentos teoacutericos e aplicaccedilotildees especiacuteficas Op cit p 271-294
24Cf No modelo do constitucionalismo norte-americano entende-se desde os primoacuterdios que a Constituiccedilatildeo eacute autecircntica lei e que
o Judiciaacuterio pode invalidar as decisotildees legislativas que a contrariem apesar do controle de constitucionalidade natildeo estar expres-
samente previsto no texto constitucional daquele paiacutes Esta ideacuteia que jaacute estava assentada no Federalista n 78 escrito por Ale-
xander Hamilton antes da aprovaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo foi posta em praacutetica pela primeira vez contra lei federal no ceacutelebre caso
Marbury v Madison julgado em 1803 pelo juiz Marshall Veja-se a propoacutesito Paul Brest Sanford Levinson Jack Balkin Akhil Reed
Amar Processes of Constitutional Decisionmaking Cases and Materials New York Aspen Publishers 2000 p 79-103
A versatildeo mais convencional do modelo constitucional norte-americano enfatiza a importacircncia central do Judiciaacuterio na atualizaccedilatildeo
do sentido da Constituiccedilatildeo do paiacutes Contudo esta leitura histoacuterica eacute hoje objeto de intensa disputa Em sentido contraacuterio a tal
posiccedilatildeo sustentando uma menor relevacircncia do Judiciaacuterio no desenvolvimento histoacuterico do constitucionalismo americano veja-se
por exemplo Stephen M Griffin American Constitutionalism From Theory to Politics New Jersey Princeton University Press
1996 p 88-139
25Cf Luis Prietro Sanchiacutes Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales Madrid Trotta 2003 p 107-117
26Cf Daniel Sarmento Ubiquumlidade constitucional Os dois lados da moeda In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento
(Coord) A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 113-148
27Na verdade a reaccedilatildeo contra o formalismo juriacutedico na Europa eacute bem anterior ao advento do constitucionalismo do 2ordm poacutes-guerra
remontando ao final do seacuteculo XIX Veja-se a propoacutesito Constantin M Stamatis Argumenter en Droit Une theacuteorie critique de
largumentation juridique Paris Publisud 1995 p 34-50 Antonio Manoel Hespanha Panorama histoacuterico da cultura juriacutedica euro-
peacuteia Lisboa Publicaccedilotildees Europa-Ameacuterica 1997 p 196-235
28Haacute vasta literatura sobre a ponderaccedilatildeo mas a obra mais influente sobre o tema eacute certamente o livro de Robert Alexy Teoria dos
direitos fundamentais Traduccedilatildeo de Virgiacutelio Afonso da Silva Satildeo Paulo Malheiros 2008 No cenaacuterio norte-americano veja-se a
anaacutelise densa e criacutetica de T Alexander Aleinikoff Constitucional Law in the Age of Balancing Yale Law Journal n 96 p 943-
1005 1987 No Brasil cfr Daniel Sarmento A ponderaccedilatildeo de interesses na Constituiccedilatildeo Federal Rio de Janeiro Lumen Juris
2000 Ana Paula de Barcellos Ponderaccedilatildeo racionalidade e atividade jurisdicional Op cit
29A bibliografia sobre o princiacutepio da proporcionalidade eacute vastiacutessima Veja-se a propoacutesito as densas anaacutelises de Carlos Bernal Puli-
do El Principio de Proporcionalidad y los Derechos Fundamentales Madrid Centro de Estuacutedios Constitucionales 2003 e no Brasil
de Jane Reis Gonccedilalves Pereira Interpretaccedilatildeo constitucional e direitos fundamentais Rio de Janeiro Renovar 2006 p 297-382
30Cf Chaiumlm Perelman Eacutetica e direito Traduccedilatildeo de Maria Ermantina Galvatildeo G Perira Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 p 361-684
Robert Alexy Teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica Op cit Friedrich Muller Discours de la Meacutethode Juridique Traduccedilatildeo de Olivier
Jouanjan Paris PUF 1993 Manuel Atienza Traacutes la Justicia Una Introduccioacuten al Derecho y al Razonamiento Juriacutedico Barcelona
Ariel 1995 Neil MacCormick Argumentaccedilatildeo juriacutedica e teoria do direito Traduccedilatildeo de Waldeacutea Barcellos Satildeo Paulo Martins Fontes
2006 Klaus Guumlnther Teoria da argumentaccedilatildeo no direito e na moral justificaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Claacuteudio Molz Satildeo Pau-
lo Landy 2004
31Cf Martin Shapiro Alec Stone Sweet On Law Politics and Judicialization New York Oxford University Press p 136-208
32Contudo deve-se admitir na linha de Paolo Comanducci que eacute possiacutevel reconhecer as mudanccedilas em questatildeo e propor novas
teorias que sejam adequadas a elas sem defendecirc-las Esta seria nas palavras do autor italiano a diferenccedila entre o neoconstitu-
cionalismo teoacuterico e o neoconstitucionalismo ideoloacutegico que natildeo apenas constroacutei teorias mais compatiacuteveis com os novos fenocirc-
menos mas vai aleacutem sustentando a sua legitimidade e propugnando pelo seu aprofundamento e expansatildeo Veja-se a propoacutesito
Paulo Comanducci Formas de neoconstitucionalismo Un anaacutelisis metateoacuterico In Miguel Carbonell (Ed) Neoconstitucionalis-
mo(s) Op cit p 75-98 Como reconhece o proacuteprio autor tal distinccedilatildeo baseia-se em uma semelhante acerca do positivismo
30
formulada por Norberto Bobbio que fala em positivismo teoacuterico ideoloacutegico e metodoloacutegico Cf Norberto Bobbio O positivismo
juriacutedico liccedilotildees de filosofia do direito Traduccedilatildeo e notas de Marcio Pugliesi et al Satildeo Paulo Iacutecone 1995 p 233-239
33Cf Ronald Dworkin Is Law a Sistem of Rules In Ronald Dworkin (Ed) Philosophy of Law Oxford Oxford University Press 1971
Robert Alexy Constitucionalismo discursivo Traduccedilatildeo de Luiz Afonso Heck Porto Alegre Livraria do Advogado 2007
34Cf Robert Alexy Derecho y Razoacuten Praacutectica Meacutexico Distribuiciones Fontamara 1993 Aulis Aarnio Lo Racional como Razonable
Traduccedilatildeo de Ernesto Garzoacuten Valdeacutes Madrid Centro de Estuacutedios Constitucionales 1991
35Cf Aharon Barak The Judge in a Democracy New Jersey Princeton University Press 2006 p 213-260 Gustavo Zagrebelsky Il
Diritto Mite Op cit p 179-217
36Confronte-se com perspectivas diferentes Luigi Ferrajoli O Estado de direito entre passado e futuro In Pietro Costa Danilo
Zolo (Org) Estado de direito histoacuteria teoria criacutetica Traduccedilatildeo de Carlo Alberto Dastoli Satildeo Paulo Martins Fontes 2006 p 419-
464 Elias Dias Estado de Derecho y Sociedad Democraacutetica Madrid Taurus 1998 Ronald Dworkin Introduction The Moral Reading
and the Majoritarian Premise In Freedoms Law The moral reading of the American Constitution Cambridge Harvard University
Press 1996 p 01-38 Gustavo Zagrebelsky La Crucifixioacuten y la Democracia Barcelona Ariel 1996 Claacuteudio Pereira de Souza Neto
Teoria constitucional da democracia deliberativa Op cit
37Cf Ronald Dworkin Introduction The Moral Reading and the Majoritarian Premise Op cit
38Cf Luigi Ferrajoli El Garantismo y la Filosofia del Derecho Bogotaacute Universidad Externado de Colocircmbia 2000
39Cf Luis Pietro Sanchis Sobre el Neoconstitucionalismo y sus Implicaciones In Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales
Op cit p 101-135
40Cf Ricardo Guastini Sur la Validiteacute de la Constitution du Point de Vue du Positivisme Juridique In Michel Troper Lucien Jaume
(Dir) 1789 et LInvention de la Constitution Paris LGDJ 1994 p 216-225
41Cf Suzana Pozzolo Neoconstituzionalismo e Positivismo Giuridico Torino Giapppicheli 2001
42Cf Ronald Dworkin Law and Morals In Justice in Robes Cambridge Harvard University Press 2006 p 01-35
43Cf Robert Alexy Derecho y Moral In La Institucionalizacioacuten de la Justicia Op cit p 17-30
44Cf Carlos Santiago Nino Eacutetica y Derechos Humanos 2 ed Buenos Aires Astrea 1989 p 11-48
45Cf Gustav Radbruch Cinco minutos de filosofia do direito In Filosofia do direito Traduccedilatildeo de L Cabral de Moncada 6 ed
Coimbra Armecircnio Amado 1979 p 414-418 Para uma densa problematizaccedilatildeo da foacutermula de Radbruch veja-se Thomas da Rosa
Bustamante Poacutes-Positivismo o argumento da injusticcedila aleacutem da Foacutermula de Radbruch In Teoria do direito e decisatildeo racional
temas de teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica Rio de Janeiro Renovar 2008
46Cf Robert Alexy La Institucionalizacioacuten de la Justicia Traduccedilatildeo de Joseacute Antonio Seone et al Granada Comares 2005 p 31-
54
47Sobre o tema cfr Alfonso Garcia Figueroa Princiacutepios e direitos fundamentais In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmen-
to A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 03-34
48O texto mais importante do positivismo inclusivo eacute o poacutes-escrito de Herbert LA Hart agrave sua obra magna The Concept of Law em
que ele responde agraves criacuteticas ao seu pensamento que Ronald Dworkin lhe endereccedilara O autor inglecircs faleceu antes de terminar o
texto mas ele foi publicado postumemente depois de ser editado por Joseph Raz Peneacutelope Bulloch Veja-se Herbert LA Hart
Poacutes-escrito In O conceito de direito Traduccedilatildeo de A Ribeiro Mendes 2 ed 1994 p 299-339 Tambeacutem na linha do positivismo
inclusivo veja-se Gregorio Peces- Barba Derechos Sociales y Positivismo Juriacutedico Escritos de Filosofia Poliacutetica y Juriacutedica Madrid
Dykinson 1999 p 83-90 Jules Coleman The Practice of Principle In defense of a pragmatist approach do legal theory Oxford
Oxford University Press p 103-120 Para uma resenha dos tipos de positivismo no debate contemporacircneo confira-se Dimitri Di-
moulis Positivismo juriacutedico introduccedilatildeo a uma teoria do direito e defesa do pragmatismo juriacutedico-politico Satildeo Paulo Meacutetodo
2006 p 65-166
49Cf Antonio Cavalcanti Maia Nos vinte anos da Constituiccedilatildeo do poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo Op cit Claacuteudio Perei-
ra de Souza Neto A teoria constitucional e seus lugares especiacuteficos notas sobre o aporte reconstrutivo Revista de Direito do
Estado n 1 p 89-104 jan mar 2006 Daniel Sarmento Interpretaccedilatildeo constitucional preacute-compreensatildeo e capacidades institu-
cionais do inteacuterprete In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binebojm Vinte anos da Constituiccedilatildeo de 1988
Op cit p 311-322
31
50Cf Juumlrgen Habermas Escritos sobre Moralidad y Eticidad Traduccedilatildeo de Manuel Jimenez Redondo Barcelona Paidoacutes 1991 p
131-172
51Sobre o comunitarismo haacute extensa literatura Dois textos claacutessicos deste linha de pensamento satildeo Michael Walzer The Communi-
tarian Critique of Liberalism In Politics and Passion New Haven Yale University Press 2004 p 141-163 Charles Taylor The
Procedural Republic and the Unencumbered Self In Robert Goodin Philip Pettit (Ed) Contemporary Political Philosophy 2 ed
Oxford Oxford University Press 2002 p 2462-256 Sobre a penetraccedilatildeo ainda que muitas vezes natildeo consciente das posiccedilotildees do
comunitarismo no constitucionalismo brasileiro veja-se Gisele Cittadino Pluralismo direito e justiccedila distributiva Op cit p
43-74
52Sobre o construtivismo eacutetico corrente filosoacutefica que sustenta a existecircncia de posiccedilotildees certas e erradas na Moral bem como a
possibilidade de encontraacute-las e fundamentaacute-las racionalmente veja-se Carlos Santiago Nino El Constructivismo Eacutetico Madrid
Centro de Estudios Constitucionales 1989
53O fenocircmeno tambeacutem se reproduz na teoria constitucional norte-americana hegemocircnica cf Keith Wittington Constitutional Con-
struction Divided Powers and Constitutional Meaning Cambridge Harvard University Press 1999 p 01-03
54A imagem do Poder Judiciaacuterio como um guardiatildeo de promessas eacute explorada e criticada numa obra importante da teoria juriacutedica
francesa contemporacircnea Antoine Garapon Le Gardien de Promesses Le juge et la democratie Paris Odile Jacob 1996
55Neste sentido o eloquumlente encerramento do Curso de Direito Constitucional Contemporacircneo de Luis Roberto Barroso o consti-
tucionalismo democraacutetico eacute a utopia que nos restou Uma feacute racional que ajuda a acreditar no bem e na justiccedila ainda quando natildeo
estejam ao alcance dos olhos (Op cit p 400)
56Cf Nico Poulantzas State Power Socialism London new Left Books 1978 Alan Hunt Marxist Theory of Law In Dennis Patter-
son (Ed) A Companion to Philosophy of Law and Legal Theory Malden Blackwell Publishers 1996 p 355-367
57Cf David Kairys (Ed) The Politics of Law A Progressive Critique New York Pantheon Books 1982 Roberto Mangabeira Unger
The Critical Legal Studies Movement Cambridge Harvard University Press 1986
58Cf Plauto Faraco Azevedo Criacutetica agrave dogmaacutetica e hermenecircutica juriacutedica Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1989 Luiz Fernando
Coelho Teoria criacutetica do direito 2 ed Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1991
59Natildeo haacute como abordar aqui as relaccedilotildees entre as inuacutemeras correntes do poacutes-modernismo e o Direito Constitucional Veja-se a
propoacutesito Niklas Luhman La Constituzione como Acquisizione Evolutiva In Gustavo Zagrebelsky Piacuteer Paolo Portinaro Joumlrg Lu-
ther Il Futuro della Costituzione Torino Einaudi 1996 p 83-128 Joseacute Joaquim Gomes Canotilho Civilizaccedilatildeo do direito constitu-
cional ou constitucionalizaccedilatildeo do direito civil a eficaacutecia dos direitos fundamentais na ordem juriacutedico-civil no contexto do direito
poacutes-moderno Cadernos de Direito Constitucional e Ciecircncia Poliacutetica n 15 p 07-16 1996 Eduardo Capellari A crise da moderni-
dade e a Constituiccedilatildeo Rio de janeiro Ameacuterica Juriacutedica 2004 Daniel Sarmento Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas 2 ed
Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 p 36-45
60Para Jean-Franccedilois Lyotard uma das caracteriacutesticas centrais do pensamento poacutes-moderno de que eacute expoente eacute a desconfianccedila
em relaccedilatildeo agraves metanarrativas - construccedilotildees abstratas grandiosas e totalizadoras tiacutepicas da Filosofia Moderna como direitos
humanos luta de classes e emancipaccedilatildeo pelo uso da razatildeo Cf Lyotard A condiccedilatildeo poacutes-moderna Traduccedilatildeo de Ricardo Correcirca
Barbosa 5 ed 1998 p16
61Cf Luiz Werneck Viana O terceiro poder na carta de 1988 e a tradiccedilatildeo republicana mudanccedila e conservaccedilatildeo In Ruben George
Oliven Marcelo Gildo Marccedilal Branda A Constituiccedilatildeo de 1988 na vida brasileira Satildeo Paulo Aderaldo e Rotshild 2008 p 91-109
62Cf Paulo Ricardo Schier Filtragem constitucional Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1999
63A expressatildeo foi cunhada por Claacuteudio Pereira de Souza Neto Fundamento e normatividade dos direitos fundamentais uma recons-
truccedilatildeo teoacuterica agrave luz do princiacutepio democraacutetico Arquivos de Direitos Humanos n 4 p 17-61 2003
64Cf Luis Roberto Barroso O direito constitucional e a efetividade de suas normas 3 ed Rio de Janeiro Renovar 1996
65Cf Clegravemerson Merlin Clegraveve A teoria constitucional e o direito alternativo para uma dogmaacutetica constitucional emancipatoacuteria In
Uma vida dedicada ao direito homenagem a Carlos Henrique de Carvalho Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1995 p 34-53
66Ressalte-se poreacutem que antes de 88 alguns juristas jaacute defendiam a forccedila normativa da Constituiccedilatildeo como o Prof Joseacute Afonso da
Silva Eacute de 1968 a primeira ediccedilatildeo da sua obra claacutessica A aplicabilidade das normas constitucionais que adotava claramente esta
32
perspectiva Todavia pelo clima nada propiacutecio ao constitucionalismo que reinava por aqui ateacute a nossa redemocratizaccedilatildeo a louvaacute-
vel pregaccedilatildeo dele e de outros juristas em prol da efetivaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo natildeo chegou a render maiores frutos
67Deve-se assinalar ainda a influecircncia marcante do novo constitucionalismo ibeacuterico neste movimento que tambeacutem pugnava pela
atribuiccedilatildeo de forccedila normativa agraves ambiciosas constituiccedilotildees de Portugal e Espanha entatildeo recentemente elaboradas apoacutes o fim de
experiecircncias autoritaacuterias naqueles paiacuteses A tiacutetulo de exemplo mencione-se a penetraccedilatildeo no paiacutes do pensamento do Professor de
Coimbra Joseacute Joaquim Gomes Canotilho especialmente da sua teoria sobre a Constituiccedilatildeo dirigente que ele posteriormente reviu
(cf J J Gomes Canotilho Constituiccedilatildeo dirigente e vinculaccedilatildeo ao legislador contributo para a compreensatildeo das normas constitu-
cionais programaacuteticas 2 ed Coimbra Coimbra 2001 - especialmente o prefaacutecio desta segunda ediccedilatildeo que daacute conta da mudanccedila
de posicionamento) bem como a difusatildeo das liccedilotildees do Professor Eduardo Garciacutea de Enterriacutea (cf La Constitucioacuten como Norma y el
Tribunal Constitucional Madrid Civitas 1981)
68Segundo a avaliaccedilatildeo atual de Luis Roberto Barroso personagem central do movimento o positivismo constitucional que deu
impulso ao movimento natildeo importava em reduzir o direito agrave norma mas sim em elevaacute-la a esta condiccedilatildeo pois ateacute entatildeo ele
havia sido menos do que norma (Curso de direito constitucional contemporacircneo Op cit p 224)
69Paulo Bonavides Curso de direito constitucional 5 ed Satildeo Paulo Malheiros 1994
70Eros Roberto Grau A ordem econocircmica na Constituiccedilatildeo de 88 interpretaccedilatildeo e criacutetica Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1996
71No acircmbito da Poacutes-Graduccedilatildeo em Direito da UERJ em que estou inserido desde 1997 primeiro como aluno e a partir de 2003 como
professor o Ricardo Lobo Torres teve papel central na difusatildeo do pensamento destes e de outros filoacutesofos entre os estudantes e o
proacuteprio corpo docente
72Cf Lecircnio Luiz Streck Hermenecircutica juriacutedica e(m) crise Op cit Eros Roberto Grau Ensaio e discurso sobre a interpreta-
ccedilatildeoaplicaccedilatildeo do direito Satildeo Paulo Malheiros 2002
73Nesta linha veja-se as obras que compotildeem a coletacircnea Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Direitos sociais funda-
mentos judicializaccedilatildeo e direitos sociais em espeacutecie Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 Ricardo Lobo Torres O miacutenimo existencial
e os direitos fundamentais Revista de Direito Administrativo n 177 p 20-49 1989 Ingo Wolfgang Sarlet A eficaacutecia dos direitos
fundamentais 9 ed Porto Alegre Livraria do Advogado 2008 Ana Paula de Barcellos A eficaacutecia juriacutedica dos princiacutepios o princiacute-
pio da dignidade da pessoa humana Op cit Marco Mazzeli Gouveia O controle judicial das omissotildees administrativas Rio de
Janeiro Forense 2003 Andreacuteas Krell Direitos sociais e controle judicial no Brasil e Alemanha os (des)caminhos de um direito
constitucional comparado Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2002
74Cf Gustavo Tepedino Temas de direito civil Rio de Janeiro Renovar 1999 Luiz Edson Fachin Estatuto juriacutedico do patrimocircnio
miacutenimo Rio de Janeiro Renovar 2001 Maria Celina Bodin de Moraes Danos agrave pessoa humana uma leitura civil-constitucional dos
danos morais Rio de Janeiro Renovar 2003 Teresa Negreiros Fundamentos para uma interpretaccedilatildeo constitucional do princiacutepio
da boa-feacute Rio de Janeiro Renovar 1998 Anderson Schreiber A proibiccedilatildeo do comportamento contraditoacuterio Rio de Janeiro Reno-
var 2005
75Cf Luciano Feldens A Constituiccedilatildeo penal a dupla face da proporcionalidade no controle das lei penais Porto Alegre Livraria do
Advogado 2005 Luis Carlos dos Santos Gonccedilalves Mandados expressos de criminalizaccedilatildeo e a proteccedilatildeo de direitos fundamentais na
Constituiccedilatildeo Brasileira de 1988 Belo Horizonte Foacuterum 2007
76Cf Gustavo Binenbojm Uma teoria do direito administrativo direitos fundamentais democracia e constitucionalizaccedilatildeo Rio de
Janeiro Renovar 2006 Alexandre dos Santos Aragatildeo Floriano de Azevedo Marques (Coord) Direito administrativo e seus novos
paradigmas Belo Horizonte Foacuterum 2008
77Cf Gustavo Binenbojm A nova jurisdiccedilatildeo constitucional brasileira legitimidade democraacutetica e instumentos de realizaccedilatildeo Rio de
Janeiro Renovar 2001 Claacuteudio Pereira de Souza Neto Jurisdiccedilatildeo constitucional democracia e racionalidade praacutetica Rio de
Janeiro Renovar 2002 Joseacute Adeacutercio Leite Sampaio A Constituiccedilatildeo reinventada pela jurisdiccedilatildeo constitucional Belo Horizonte Del
Rey 2002 Lecircnio Luiz Streck Jurisdiccedilatildeo constitucional e hermenecircutica Porto Alegre Livraria do Advogado 2002 Aacutelvaro Ricardo
de Souza Cruz Jurisdiccedilatildeo constitucional democraacutetica Belo Horizonte Del Rey 2004
78A expressatildeo dificuldade contramajoritaacuteria eacute de um claacutessico da teoria constitucional norte-americana Alexander Bickel La Cons-
titucioacuten como Norma y el Tribunal Constitucional 2 ed New Haven Yale University Press 1986
33
79Em siacutentese apertada o procedimentalismo sustenta que natildeo eacute papel da jurisdiccedilatildeo constitucional tutelar valores substantivos mas
apenas proteger os pressupostos necessaacuterios ao bom funcionamento da democracia Jaacute o substancialismo reconhece a legitimidade
da atuaccedilatildeo jurisdicional em favor da garantia e promoccedilatildeo de valores substantivos presentes na Constituiccedilatildeo O debate entre o
procedimentalismo identificado com as ideacuteias de autores como John Hart Ely e Juumlrgen Habermas e o substancialismo defendido
por teoacutericos como Ronald Dworkin e Laurence Tribe eacute reproduzido em praticamente toda a literatura contemporacircnea que trata de
Teoria ou Filosofia Constitucional Veja-se a propoacutesito a densa obra de Claacuteudio Ari Mello Democracia constitucional e direitos
fundamentais Porto Alegre Livraria do Advogado 2004
80Neoconstitucionalismo e constitucionalizaccedilatildeo do direito o triunfo tardio do direito constitucional no Brasil Op cit
81A crise paradigmaacutetica do direito no contexto da resistecircncia positivista ao (neo)constitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza
Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm Vinte anos da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Op cit p 203-228
82Nos vinte anos da carta cidadatilde do poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo Op cit
83Neoconstitucionalismo direitos fundamentais e controle de poliacuteticas puacuteblicas In Daniel Sarmento Flaacutevio Galdino (Org) Direitos
fundamentais estudos em homenagem ao prof Ricardo Lobo Torres Rio de Janeiro Renovar 2006 p 31-60
84Direitos humanos legitimidade e constitucionalismo In Daniel Sarmento Flaacutevio Galdino (Org) Direitos fundamentais estudos
em homenagem ao Prof Ricardo Lobo Torres Op cit p325-350
85Novos desafios agrave filtragem constitucional no momento do neoconstitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sar-
mento A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 251-270
86Neoconstitucionalismo a invasatildeo da Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Meacutetodo 2008
87Neoconstitucionalismo e positivismo juriacutedico Satildeo Paulo Landy 2006
88Teoria do direito e argumentaccedilatildeo racional temas de teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica op cit p 141-240
89Uma visatildeo criacutetica do neoconstitucionalismo In George Salomatildeo Leite Glauco Salomatildeo Leite Constituiccedilatildeo e efetividade constitu-
cional Salvador JusPodium 2008 p 43-60
90Neoconstitucionalismo entre a Ciecircncia do direito e o direito da ciecircncia In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento
Gustavo Binenbojm Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 p 187-202
91Cf Peticcedilatildeo 1246 MSSC julgada em 31011997 (obrigaccedilatildeo do Estado de realizar transplante de ceacutelulas mioblaacutesticas para salvar
a vida de crianccedila) Agravo de Instrumento no Recurso Extraordinaacuterio 271286RS DJU 24 nov 2000 (entrega de medicamentos
para portadores de HIV) e Agravo de Instrumento do Recurso Extraordinaacuterio nordm 410715-5 julgado em 22112005 (obrigaccedilatildeo de
fornecimento de vagas para educaccedilatildeo infantil pelo municiacutepio com atendimento em creches e preacute-escola)
92Recursos Extraordinaacuterios nordms 158215-4RS 161243-6DF 201819RJ
93Cf Mandado de Injunccedilatildeo 670ES Rel Min Gilmar Mendes julgado em 25102007 em que o STF revendo orientaccedilatildeo anterior
deu eficaacutecia normativa agrave sentenccedila proferida no mandado de injunccedilatildeo No caso decidiuse que ateacute o advento de lei regulamentado-
ra sobre a greve no serviccedilo puacuteblico o direito de greve poderia ser exercido obedecendo-se os limites impostos pela Lei 778389
que trata dos movimentos paredistas em serviccedilos essenciais no setor privado
94Sobre a tendecircncia agrave superaccedilatildeo da ideacuteia do Judiciaacuterio como legislador negativo na jurisdiccedilatildeo constitucional veja-se Joseacute Adeacutercio
Leite Sampaio A Constituiccedilatildeo reinventada pela jurisdiccedilatildeo constitucional Belo Horizonte Del Rey 2002 p 203-248
95Eacute lugar-comum dentre os autores que tratam da questatildeo associar tais mudanccedilas agrave pluralizaccedilatildeo das vozes na interpretaccedilatildeo consti-
tucional tema em que a referecircncia essencial no cenaacuterio germacircnico eacute Peter Haumlberle Veja-se a propoacutesito Peter Haumlberle Herme-
necircutica constitucional A sociedade aberta dos inteacuterpretes da Constituiccedilatildeo contribuiccedilatildeo para a interpretaccedilatildeo pluralista e procedi-
mental da Constituiccedilatildeo Traduccedilatildeo de Gilmar Ferreira Mendes Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1997 Veja-se ainda na doutrina
brasileira Gustavo Binenbojm A dimensatildeo do Amicus Curiae no processo constitucional brasileiro In Temas de direito constitu-
cional e administrativo Rio de Janeiro Renovar 2008 p 165-190
96ADIN 3510DF Relator Ministro Carlos Ayres Britto A accedilatildeo proposta contra o art 5ordm da Lei de Biosseguranccedila impugnava a auto-
rizaccedilatildeo de pesquisas com embriotildees humanos resultantes de fertilizaccedilatildeo in vitro que fossem inviaacuteveis ou estivessem congelados haacute
mais de trecircs anos A accedilatildeo foi julgada totalmente improcedente por 6 votos a 5
97ADPF nordm 54 A accedilatildeo que tem como relator o Ministro Marco Aureacutelio ainda natildeo foi julgada mas em seu bojo jaacute ocorreram diversas
audiecircncias puacuteblicas que provocaram intensa participaccedilatildeo da sociedade civil e grande interesse na miacutedia
34
98ADPF nordm 132 Relator Ministro Carlos Ayres Britto A accedilatildeo ainda foi julgada
99Mandados de Seguranccedila 26602DF 26603DF e 26604DF Informativo STF n 482
100Recurso Extraordinaacuterio 197917SP Rel p acoacuterdatildeo Min Ceacutesar Peluso DJU 18 fev 2005
101O livro de Alberto Carlos Almeida A cabeccedila do brasileiro lanccedilado em 2007 conteacutem pesquisas feitas sobre uma acuteseacuterie de temas
com pessoas de todas as classes sociais e regiotildees do paiacutes Uma das pesquisas eacute relativa agrave avaliaccedilatildeo das instituiccedilotildees Dentre as treze
avaliadas as duas que obtiveram menor aprovaccedilatildeo foram os partidos poliacuteticos (avaliaccedilatildeo positiva de 28 dos entrevistados) e o
Congresso (avaliaccedilatildeo positiva de 36 dos entrevistados) Cf Antonio Carlos Almeida A cabeccedila do brasileiro Rio de Janeiro Re-
cord 2007 p 187
102Cf Luis Roberto Barroso Judicializaccedilatildeo ativismo judicial e legitimidade democraacutetica Texto ainda ineacutedito gentilmente cedido
pelo autor
103Humberto Aacutevila por exemplo formula outra criacutetica importante de que o neoconstitucionalismo seria inadequado agrave realidade
constitucional brasileira jaacute que privilegia os princiacutepios e a Carta de 88 seria muito mais regulatoacuteria do que principioloacutegica (Neo-
constitucionalismo entre a ciecircncia do direito e o direito da ciecircncia Op cit p 188-192)
104Contudo natildeo eacute razoaacutevel estender esta criacutetica ao ponto de negar o caraacuteter democraacutetico da atuaccedilatildeo judicial Como ressaltou
Eugenio Rauacutel Zaffaroni uma instituiccedilatildeo natildeo eacute democraacutetica unicamente porque natildeo provenha de eleiccedilatildeo popular porque nem tudo
o que proveacutem desta origem eacute necessariamente aristocraacutetico Uma instituiccedilatildeo eacute democraacutetica quando seja funcional para o sistema
democraacutetico quer dizer quando seja necessaacuteria para a sua continuidade como ocorre com o judiciaacuterio (Poder judiciaacuterio crise
acertos e desacertos Traduccedilatildeo de Juarez Tavares Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1995 p 43)
105Cf Robert A Dahl Sobre a democracia Traduccedilatildeo de Beatriz Sidou Brasiacutelia UNB 2001 p 97-113 Juumlrgen Habermas Popular
Sovereignity as Procedure In James Bonham William Rehg Deliberative Democracy Cambridge The MIT Press 1997 p 35-66
106A questatildeo da tensatildeo e sinergia simultacircneas entre constitucionalismo e democracia eacute um dos debates mais fecundos da Teoria
Poliacutetica e da Filosofia Constitucional que tem atravessado o tempo desde o advento do constitucionalismo moderno no seacuteculo
XVIII Veja-se no debate contemporacircneo Jeremy Waldron Preocommitment and Disagreement In Larry Alexander Constitu-
cionalism Philosophical Foundations Cambridge Cambridge University Press 1998 p 271-299 Juumlrgen Habermas O Estado demo-
craacutetico de direito uma amarraccedilatildeo paradoxal de princiacutepios contraditoacuterios In Era das transiccedilotildees Traduccedilatildeo de Flaacutevio Beno Siebe-
neichler Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 2003 p 153-173 Carlos Santiago Nino La Constitucioacuten de la Democracia Deliberativa
Op cit Frank Michelman Brennan and Democracy Princeton Princeton University Press 1999 p 03-62 Stephen Holmes El
Precompromiso y la Paradoja de la Democracia In Jon Elster Rune Slagstad Constitucionalismo y Democracia Traduccedilatildeo de Mocircni-
ca Utrilla de Neira Mexico Fondo de Cultura Econocircmica 1999 p 217-262
107O problema da limitaccedilatildeo do legislador atual pelas decisotildees do constituinte adotadas no passado envolve a problemaacutetica da
partilha intergeracional de poder bem explicitada na fala de Jefferson que defendia que a cada 19 anos deveria ser elaborada
uma nova Constituiccedilatildeo nos Estados Unidos para que a Lei Maior daquele paiacutes natildeo se tornasse um mecanismo de governo dos mor-
tos sobre os vivos Em siacutentese apertada haacute na teoria poliacutetica contemporacircnea duas linhas principais de justificativa para a legiti-
midade destas restriccedilotildees
Uma eacute a teoria da democracia dualista defendida por Bruce Ackerman que sustenta que as decisotildees adotadas pelo proacuteprio povo
em contextos de grande mobilizaccedilatildeo ciacutevica devem ser protegidas do alcance da vontade dos representantes do povo formada em
momentos em que a cidadania natildeo esteja intensamente envolvida Esta teoria distingue a poliacutetica extraordinaacuteria correspondente
agravequeles momentos constitucionais da poliacutetica ordinaacuteria que se realiza atraveacutes das deliberaccedilotildees do dia a dia dos oacutergatildeos represen-
tativos Para a perspectiva ackermaniana a poliacutetica extraordinaacuteria - que natildeo exige necessariamente formalizaccedilatildeo procedimental
atraveacutes de assembleacuteia constituinte ou de emenda constitucional - se situa em patamar superior agrave poliacutetica ordinaacuteria e pode legiti-
mamente impor limites a esta (cf Bruce Ackerman We the people Foundations Cambridge The Belknap Press 1991 p 03-33)
Outra teoria eacute a do preacute-compromisso que jaacute foi advogada por Jon Elster Segundo ela eacute legiacutetimo subtrair do alcance das maiorias
determinadas questotildees fundamentais que expressam princiacutepios fundamentais de justiccedila poliacutetica ou garantam os pressupostos da
proacutepria democracia tendo em vista o risco de que no processo poliacutetico majoritaacuterio em momentos de irracionalidade o povo
35
possa ser viacutetima de suas proacuteprias fraquezas ou paixotildees momentacircneas atentando contra tais princiacutepios (cf Ulisses and Sirens
Cambridge Cambridge University Press 1979)
Ambas as concepccedilotildees - a primeira mais proacutexima ao republicanismo e a segunda de vieacutes mais liberal - tecircm a sua dose de procedecircn-
cia mas ensejam criacuteticas importantes Todavia foge a escopo do presente trabalho analisar esta questatildeo que eacute uma das mais
complexas da Filosofia Poliacutetica moderna e contemporacircnea Para uma visatildeo geral sobre o tema na literatura em liacutengua portuguesa
veja-se Oscar Vilhena Vieira A Constituiccedilatildeo e sua reserva de justiccedila Op cit Miguel Nogueira de Brito A Constituiccedilatildeo constituin-
te ensaio sobre o poder de revisatildeo da Constituiccedilatildeo Coimbra Coimbra 2000 Samantha Chantal Dobrowolski Op cit p 265-312
Rodrigo Brandatildeo Direitos fundamentais democracia e claacuteusulas peacutetreas Rio de Janeiro Renovar 2008 p 59-112
108Cf Michel Troper Justice Constitutionelle et Deacutemocratie In Pour une Theorie Juridique de LEacutetat Paris PUF 1994 p 317-328
Claacuteudio Pereira de Souza Neto Jurisdiccedilatildeo constitucional democracia e racionalidade praacutetica Op cit p 106-130 Gustavo Binen-
bojm A nova jurisdiccedilatildeo constitucional brasileira Op cit p 55-74
109Sobre o modelo revolucionaacuterio francecircs de constitucionalismo completamente avesso agrave ideacuteia de jurisdiccedilatildeo constitucional cf
Maurizio Fioravanti Constitucioacuten de la antiguumledad a nuestros dias Traduccedilatildeo de Manuel Martinez Neira Madrid Trotta 2001 p
120-132
110Cf Carl Schmitt La Defesa de la Constitucioacuten Madrid Tecnos 1983
111O constitucionalismo popular ou populismo constitucional eacute uma importante corrente no debate constitucional norte-americano
contemporacircneo que nega a legitimidade democraacutetica do controle de constitucionalidade advogando que deve caber ao proacuteprio
povo e natildeo a uma elite de juiacutezes natildeo eleitos com assento na Suprema Corte o poder de definir o sentido das claacuteusulas vagas que
abundam no texto constitucional daquele paiacutes Na defesa desta tese satildeo empregados tanto argumentos de teoria e filosofia poliacuteti-
ca de caraacuteter mais universal como razotildees histoacutericas relacionadas agrave evoluccedilatildeo do constitucionalismo estadunidense Veja-se nesta
linha Mark Tushnet Taking the Constitution Away from the Courts Princeton Princeton University Press 1999 Jeremy Waldron
Precommitment and Disagreement Op cit Larry D Kramer The People Themselves Popular constitutionalism and judicial re-
view New York Oxford University Press 1994
Ateacute algumas deacutecadas atraacutes a oposiccedilatildeo agrave jurisdiccedilatildeo constitucional nos Estados Unidos partia em regra da Direita que natildeo se con-
formava com a jurisprudecircncia extremamente liberal em mateacuteria de direitos fundamentais estabelecida pela Corte entre os anos
50 e 70 Atualmente uma boa parte dos opositores agrave judicial review situa-se agrave esquerda do espectro poliacutetico e talvez a nova linha
profundamente conservadora daquele Tribunal ajude a explicar esta mudanccedila
112Sobre a Era de Lochner veja-se Laurence H Tribe American Constitutional Law 2 ed Mineola The Foundation Press 1988 p
567-581 Paul Brest et al Processes of Constitucional Decisionmaking 4 ed New York Aspen Publishers 2000 p 337-354
113Towards Juristocracy hellip Op cit
114Tratei do tema no artigo Direito adquirido emenda constitucional democracia e justiccedila social In Livres e iguais Op cit p
03-32
115Cf Charles R Epp The Rights Revolution Chicago The University of Chicago Press 1998 p 26-70 Owen Fiss The Law as It
Could Be New York New York University Press 2003 p 244-249
116A importacircncia e as peculiaridades da interpretaccedilatildeo legislativa da Constituiccedilatildeo satildeo exploradas em importante obra coletiva
Richard W Bauman Tsvi Kahana The Least Examined Branch The Role of Legislatures in the Constitutional State Cambridge
Cambridge University Press 2006
117Cf em tom ainda mais ceacutetico do que o adotado neste estudo Martonio MontAlverne Barreto Lima Jurisdiccedilatildeo Constitucional
um problema da teoria da democracia poliacutetica In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Gilberto Bercovici Joseacute Filomeno de Moraes
Filho Martonio MontAlverne Teoria da Constituiccedilatildeo estudos sobre o lugar da poliacutetica no direito constitucional Rio de Janeiro
Lumen Juris 2003 p 199-261 Conrado Huumlbner Mendes Controle de constitucionalidade e democracia Rio de Janeiro Elsevier
2008
36
118Para criacutetica semelhante no contexto germacircnico veja-se Ingeborg Maus O judiciaacuterio como superego da sociedade sobre o papel
da atividade jurisprudencial na sociedade oacuterfatilde Traduccedilatildeo de Martonio MontAlverne Barreto Lima Paulo Antonio Menezes de Albu-
querque Anuaacuterio dos Cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito da Faculdade de Direito de Recife n 11 2000
119Eu aprofundo a anaacutelise deste ponto no meu artigo Interpretaccedilatildeo constitucional preacute-compreensatildeo e capacidades institucionais do
inteacuterprete In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm (Coord) Vinte anos da Constituiccedilatildeo Federal
de 1988 Op cit p 311-322 E a necessidade de optar por teoria de interpretaccedilatildeo que leve em consideraccedilatildeo as capacidades
institucionais reais dos juiacutezes comparando-as com as dos agentes de outras instituiccedilotildees eacute explorada no importante estudo de Cass
Sunstein Adrian Vermeulle Interpretations and Institutions Chicago Working Papers in Law amp Economics 2002 p 01-55 bem
como no livro de Adrian Vermeulle Judging under Uncertainty An Institutional Theory for Legal Interpretation Cambridge Har-
vard University Press 2006
120Dentre as honrosas exceccedilotildees mencione-se Luiacutes Roberto Barroso autor de importante artigo com sugestotildees para a reforma poliacuteti-
ca no paiacutes Reforma poliacutetica uma proposta de sistema de governo eleitoral e partidaacuterio para o Brasil Revista de Direito do Esta-
do n 3 p 287-360 jul set 2006
121Sobre o ethos judicial no Brasil veja-se a pesquisa de Maria Tereza Sadek Magistrados uma imagem em movimento Rio de
Janeiro FGV 2006
122Em sentido semelhante veja-se Michael J Perry The Constitution the Courts and Human Rights New Haven Yale University
Press 1982 p 91-145
123Neste ponto entendo que um standard importante que deveria ser adotado para controle de constitucionalidade eacute o de que
quanto maiores forem as credencias democraacuteticas de um ato normativo mais autocontido deve ser o Poder Judiciaacuterio ao avaliar a
sua constitucionalidade Na minha opiniatildeo estas credencias democraacuteticas devem ser aferidas tanto por criteacuterios qualitativos - eg
grau de participaccedilatildeo social no processo legislativo qualidade do processo deliberativo que a antecedeu - como por criteacuterios quanti-
tativos - percentual de votos favoraacuteveis agrave medida Em sentido semelhante veja-se Claacuteudio Ari Mello Democracia e direitos funda-
mentais Op cit p 298
124Em sentido proacuteximo apontam as liccedilotildees de Gustavo Binenbojm e Humberto Aacutevila O primeiro tratando do controle judicial dos
atos administrativos averbou que quanto maior for o grau de tecnicidade da mateacuteria objeto de decisatildeo por oacutergatildeos dotados de
expertise e experiecircncia menos intenso deve ser o grau de controle judicial (Uma teoria do direito administrativo Op cit p
236) Jaacute o segundo salientou que o acircmbito de controle pelo Judiciaacuterio deveraacute ser tanto menor quanto mais difiacutecil e teacutecnico for
o juiacutezo exigido para o tratamento da mateacuteria (Teoria dos princiacutepios Op cit p 126)
125Um exemplo extremado deste posicionamento estaacute na argumentaccedilatildeo adotada pelo STF no julgamento da ADIN 2797 Rel Min
Sepuacutelveda Pertence em que se reconheceu a inconstitucionalidade formal de lei que pretendia interpretar a Constituiccedilatildeo Para o
STF natildeo pode a lei ordinaacuteria pretender impor como seu objeto imediato uma interpretaccedilatildeo a Constituiccedilatildeo a questatildeo eacute de in-
constitucionalidade formal iacutensita a toda norma da gradaccedilatildeo inferior que se proponha a ditar interpretaccedilatildeo de norma superior
Na questatildeo de fundo abordada naquele caso entendo que o STF estava certo Tratava-se de invalidar uma norma legal que esten-
dera o foro de prerrogativa de funccedilatildeo a ex-ocupantes de cargos puacuteblicos visando a restaurar antiga jurisprudecircncia do STF sedi-
mentada na Suacutemula 394 do Tribunal que acabara de ser cancelada O princiacutepio republicano natildeo era compatiacutevel com tal medida
que configurava niacutetido privileacutegio O que me parece inaceitaacutevel e profundamente anti-democraacutetico com a devida vecircnia natildeo eacute o
resultado alcanccedilado pela Corte - com o qual concordo - mas o argumento empregado de que o legislador natildeo pode interpretar a
Constituiccedilatildeo
126Existe hoje uma fecunda produccedilatildeo acadecircmica no cenaacuterio anglo-saxatildeo sobre as vantagens de modelos teoacutericos que favoreccedilam
diaacutelogos entre diversos oacutergatildeos e instituiccedilotildees na interpretaccedilatildeo constitucional ao inveacutes de afirmarem a exclusividade ou mesmo a
supremacia do Judiciaacuterio nesta seara Veja-se a propoacutesito Laurence G Sager Justice in Plainclothes A Theory of American Con-
stitutional Practice New haven Yale University Press 2004 Mark Tushnet Weak Courts Strong Rights Judicial Review and Social
Welfare Rights in Comparative Constitutional Law Princeton Princeton University Press 2008 Mark C Miller Jeb Barnes (Ed)
Making Police Making Law An Interbranch Perspective Washington DC Georgetown University Press 2004
37
127Colhi o exemplo no estudo de Oscar Vilhena Vieira Supremocracia In Daniel Sarmento (Org) Filosofia e teoria constitucional
contemporacircnea Rio de Janeiro Lumen Juris 2009
128Como um natildeo-positivista tenho a necessaacuteria imparcialidade para criticar os equiacutevocos da doutrina brasileira nas suas invectivas
contra o positivismo que muitas vezes caracterizam verdadeira falaacutecia do espantalho ataca-se natildeo a proacutepria teoria positivista
mas uma distorcida caricatura dela Duas afirmaccedilotildees erradas que eu mesmo jaacute fiz em textos anteriores satildeo muito frequumlentes a
de que o positivismo recusa a aplicaccedilatildeo dos princiacutepios juriacutedicos e a de que ele teria sido a Filosofia do Direito cultivada na Alema-
nha nazista
Quanto ao primeiro ponto natildeo haacute nenhuma incompatibilidade loacutegica entre positivismo e princiacutepios desde que os princiacutepios este-
jam devidamente incorporados na ordem juriacutedico-positiva Vaacuterios autores positivistas contemporacircneos jaacute citados neste estudo
como Luis Prietro Sanchiacutes Luigi Ferrajoli e Gregorio Peces-Barba atribuiacuteram espaccedilo importante para princiacutepios nas suas teorias
Mesmo no Direito Puacuteblico brasileiro juristas de inspiraccedilatildeo positivista kelseniana construiacuteram suas teorias com apoio em argumen-
taccedilatildeo principioloacutegica como o falecido Geraldo Ataliba e Celso Antonio Bandeira de Mello
No que tange ao segundo ponto - a chamada redutio ad hitlerum - os estudos mais autorizados de Histoacuteria do Direito comprovam
que natildeo foi o positivismo a teoria juriacutedica dominante no nazismo mas uma espeacutecie de jusnaturalismo de inspiraccedilatildeo hegeliana que
se insurgia contra o formalismo e recorria com frequumlecircncia a conceitos muito vagos para justificar a barbaacuterie como os de comuni-
dade popular (Volksgemeinschaft) Veja-se a propoacutesito Michael Stolleis The Law under the Swastika Studies on Legal History in
Nazi Germany Traduccedilatildeo de Thomas Dunlap Chicago The University of Chicago Press 1998
129Cf Joseacute Joaquim Gomes Canotilho Direito constitucional e Teoria da Constituiccedilatildeo Coimbra Almedina 1998 p 1036
130Sobre a importacircncia das regras veja-se Frederick Schauer Playing by the Rules A Philosophical Exaxamination of Rule-Bases
Decision-Making in Law and Life Oxford Oxford University Press 1998 Humberto Aacutevila Neoconstitucionalismo entre a ciecircncia do
direito e o direito da ciecircncia Op cit Noel Struchiner Posturas institucionais e modelagem institucional a dignidade (contingente)
do formalismo juriacutedico In Daniel Sarmento Filosofia e teoria constitucional contemporacircnea Op cit
131Esta eacute expressatildeo empregada por Ana Paula de Barcellos O direito constitucional em 2006 Revista de Direito do Estado n 5 p
03-23 janmar 2007
132Cf Chaiumlm Perelman P Fories La Motivation des Deacutecisions de Justice Bruxelas Eacutemile Bruylant 1978
133Sobra a influecircncia do jeitinho no Direito brasileiro cf Keith Rosen O jeito na cultura juriacutedica brasileira Rio de Janeiro Reno-
var 1997
134Sobre o patrimonialismo no Brasil veja-se Raimundo Faoro Os donos do poder 8 ed Rio de Janeiro Globo 1989 v 2 p 729-
750
135Raiacutezes do Brasil 26 ed Satildeo Paulo Companhia das Letras 1995
136Cf Joseacute Murilo de Carvalho Brasileiro Cidadatildeo In Pontos e bordados escritos de histoacuteria e poliacutetica Belo Horizonte Ed
UFMG 2005 p 275-288
137Cf Gustavo Zagrebelsky Il Diritto Mite Op cit p 15-19
138Cf Marcelo Neves A constitucionalizaccedilatildeo simboacutelica Satildeo Paulo Acadecircmica 1994
139A obra de Niklas Luhman eacute vasta e complexa e seus textos satildeo de difiacutecil compreensatildeo para os natildeo iniciados Veja-se do proacuteprio
autor Sociologia do direito I e II Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 1983 e 1985 Sistema Jurididico y Dogmaacutetica Juriacutedica Madrid
Centro de Estuacutedios Constitucionales 1983 Confira-se tambeacutem a coletacircnea organizada por Andreacute-Jean Arnaud Dalmir Lopes Jr Do
sistema social agrave sociologia juriacutedica Rio de Janeiro Lumen Juris 2004
140Sobre a autopoieses do Direito veja-se tambeacutem a obra importante de Guumlnther Teubner O direito como sistema autopoieacutetico
Traduccedilatildeo de Joseacute Engracia Nunes Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1993
141Cf Luis Roberto Barroso Neoconstitucionalismo e a constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit
142Esta era basicamente a visatildeo de Hans Kelsen (Cf Hans Kelsen Jurisdiccedilatildeo constitucional Traduccedilatildeo de Alexandre Krug et al Satildeo
Paulo Martins Fontes 2003 p 153) Para uma anaacutelise criacutetica desta posiccedilatildeo veja-se Luis Prietro Sanchiacutes Presupuestos ideoloacutegicos
y doctrinales de la jurisdicioacuten constitucional In Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales Op cit p 21-100
38
143Cf Christian Starck La suprematie La Suprematie de la Constitution et la Justice Constitutionnelle In La Constitution Cadre et
Mesure du Droit Traduccedilatildeo de Freacutederic Weill Paris Econocircmica 1994 p 26-30 Ernst- Wolfgang Boumlckenfoumlrde Les meacutethodes
dinterpretation de la Constitution Un bilan critique In Le Droit lEacutetat et la Constitution Democratique Traduccedilatildeo de Olivier
Jouanjan Paris LGDJ 2000 p 249-250 Virgiacutelio Afonso da Silva Constitucionalizaccedilatildeo do direito os direitos fundamentais nas
relaccedilotildees entre particulares Satildeo Paulo Malheiros 2005 p 107-131 Daniel Sarmento Ubiquumlidade constitucional os dois lados da
moeda Op cit Luis Roberto Barroso Curso de Direito Constitucional Contemporacircneo Op cit p 391-394 Alceu Mauriacutecio Jr
Judicializaccedilatildeo da poliacutetica e a crise do direito constitucional a Constituiccedilatildeo entre ordem marco e ordem fundamenta Revista de
Direito do Estado n 10 p 125-142 abrjun 2008
144Der Staat der Industriegesellshaft 2 ed Muumlnchen Beck 1971 p 144 Apud Robert Alexy Posfaacutecio In Teoria dos direitos
fundamentais Op cit p 578
145De acordo com Carlos Santiago Nino o perfeccionaismo eacute la concepcioacuten seguacuten la cual es una misioacuten legiacutetima del Estado hacer
que los individuos acepten y materializen ideales vaacutelidos de virtud personal Seguacuten este enfoque el Estado no puede permanecer
neutral respecto de concepciones de lo bueno en la vida y debe adoptar las medidas educativas punitorias etc que sean necesa-
rias para que los indiviacuteduos ajusten su vida a los verdaderos ideales de virtud y del bien (Eacutetica y Derechos Humanos Un ensayo de
fundamentacioacuten 2 ed Buenos Aires Astrea 1989 p 413)
146Daniel Sarmento Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas 2 ed Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 Sobre o tema na literatura
nacional veja-se tambeacutem Wilson Antocircnio Steinmetz A vinculaccedilatildeo dos particulares aos direitos fundamentais Satildeo Paulo Malheiros
2004 Virgiacutelio Afonso da Silva Constitucionalizaccedilatildeo do direito os direitos fundamentais nas relaccedilotildees entre particulares Op cit
Ingo Wolfgang Sarlet Direitos fundamentais e direito privado algumas consideraccedilotildees em torno da vinculaccedilatildeo dos particulares aos
direitos fundamentais In Ingo Wolfgang Sarlet (Org) A Constituiccedilatildeo concretizada Porto Alegre Livraria do Advogado 1999 p
129-173 Jane Reis Gonccedilalves Pereira Apontamentos sobre a aplicaccedilatildeo das normas de direito fundamental nas relaccedilotildees juriacutedicas
entre particulares In Luis Roberto Barroso (Org) A nova interpretaccedilatildeo constitucional ponderaccedilatildeo direitos fundamentais e
relaccedilotildees privadas Rio de Janeiro Renovar 2003 p 119-192
147Sobre a questatildeo da (i)legitimidade do perfeccionismo no Direito veja-se Joel Feinberg Rights Justice and the Bounds of Liber-
ty Princeton Princeton University Press 1980 Carlos Santiago Nino Eacutetica y Derechos Humanos Op cit p 413-446 Rainer Forst
Contexts of Justice Political Philosophy beyond Liberalism and Communitarianism Traduccedilatildeo de John M M Farrel Berkeley Uni-
versity of Califoacuternia Press 2001 p 30-87 Macaacuterio Alemany El Paternalismo Juriacutedico Madrid Iustel 2006
148Um sofisticado modelo que busca conciliar a constitucionalizaccedilatildeo do Direito com a democracia estaacute exposto no Poacutesfaacutecio agrave Teo-
ria dos Direitos Fundamentais de Robert Alexy acima citado Veja-se ainda Konrad Hesse Concepto y Cualidad de la Constitu-
cion In Escritos de Derecho Constitucional Traduccedilatildeo de Pedro Cruz Villaloacuten 2 ed 1992 p 03-29
149Tentei articular a minha teoria sobre eficaacutecia horizontal dos direitos fundamentais com este objetivo Cf Daniel Sarmento
Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas Op cit p 141-182 259-272
150Sobre el Neoconstitucionalismo y sus Implicaciones Op cit p 117
151Aqui entendo que o simples reconhecimento da penetraccedilatildeo da Moral no Direito preconizada pelos neoconstitucionalistas brasi-
leiros natildeo eacute suficiente jaacute que certas concepccedilotildees morais podem tornar o ordenamento ainda mais opressivo do que jaacute eacute Afinal
nem sempre a moralizaccedilatildeo do Direito se daacute na direccedilatildeo da emancipaccedilatildeo dos excluiacutedos Veja-se por exemplo a famosa polecircmica
jusfilosoacutefica entre Lord Patrick Devlin e Herbert Hart nos anos 60 na Inglaterra a propoacutesito do uso do Direito Penal para promoccedilatildeo
de Moral em que o primeiro a partir de uma posiccedilatildeo proacute-moral sustentava a legitimidade da criminalizaccedilatildeo da conduta homos-
sexual que o segundo contestava (Cf Lord Patrick Devlin Morals and Criminal Law In Ronald Dworkin (Ed) The Philosophy of
Law Op cit p 66-82 Herbert Hart Immorality and Treason In Idem ibidem)
Eacute preciso assentar as bases criacuteticas desta Moral que deve penetrar o Direito para evitar que o moralismo conservador seja expulso
do ordenamento pela porta da frente superado pela legislaccedilatildeo moderna em razatildeo da progressiva liberalizaccedilatildeo da sociedade mas
volte pela porta dos fundos atraveacutes da argumentaccedilatildeo juriacutedica dos juiacutezes lastreada em conceitos vagos como ordem puacuteblica e
bons constumes ou em standards como o comportamento do bom pai de famiacutelia
39
12
Nesta nova fase a doutrina brasileira passa a enfatizar o caraacuteter normativo e a importacircncia dos
princiacutepios constitucionais e a estudar as peculiaridades da sua aplicaccedilatildeo Neste contexto haacute
uma verdadeira febre de trabalhos sobre teoria dos princiacutepios ponderaccedilatildeo de interesses teori-
as da argumentaccedilatildeo proporcionalidade e razoabilidade etc Tambeacutem cresce muito o interesse
doutrinaacuterio pelos direitos fundamentais sobretudo os direitos sociais Se antes estes eram vis-
tos preponderantemente como normas programaacuteticas passa-se a discutir a sua eficaacutecia juriacutedica
a partir de novas bases que incorporam ao debate a argumentaccedilatildeo moral Neste campo a ecircn-
fase na anaacutelise dos enunciados normativos que caracterizava a doutrina da efetividade eacute
substituiacuteda por uma discussatildeo marcada pela preocupaccedilatildeo com valores e democracia repleta de
novas categorias importadas sobretudo do Direito germacircnico como o miacutenimo existencial a
reserva do possiacutevel e a proibiccedilatildeo do retrocesso73
E esta nova racionalidade se espraia para diversos ramos do Direito No Direito Civil74 Penal75
Administrativo 76por exemplo cada vez mais a doutrina emprega normas e valores constitu-
cionais para reler os institutos tradicionais colorindo-os com novas tintas E trata-se natildeo ape-
nas de aplicar diretamente as normas constitucionais especificamente voltadas para cada uma
destas aacutereas como tambeacutem de projetar sobre estes campos a influecircncia dos direitos funda-
mentais e dos princiacutepios mais gerais do nosso constitucionalismo muitas vezes superando anti-
gos dogmas e definindo novos paradigmas
Neste segundo momento ocorre ainda uma significativa mudanccedila no enfoque dos estudos sobre
jurisdiccedilatildeo constitucional no Brasil Antes os trabalhos nacionais sobre o tema se limitavam
basicamente a discutir questotildees processuais mas a partir do final dos anos 90 diversos estu-
dos incorporam outras perspectivas agrave anaacutelise da questatildeo dedicando atenccedilatildeo agrave complexa pro-
blemaacutetica da legitimidade democraacutetica do controle de constitucionalidade77 tendo em vista a
chamada dificuldade contra-majoritaacuteria do Judiciaacuterio78 Num contexto como o nosso em que
a jurisdiccedilatildeo constitucional estaacute prevista pelo proacuteprio texto magno o debate relevante do ponto
de vista praacutetico natildeo eacute o de tecirc-la ou natildeo mas sim a forma como deve ser exercida Dependendo
do posicionamento adotado pode-se preconizar um maior ou menor grau de ativismo judicial
ou defender o ativismo em algumas aacutereas mas recusaacute-lo em outras Nesta nova agenda de dis-
cussotildees sobre a jurisdiccedilatildeo constitucional a argumentaccedilatildeo juriacutedica se entrelaccedila inevitavelmen-
te com o debate de Filosofia Poliacutetica abrindo espaccedilo para posiccedilotildees variadas como os vaacuterios
matizes de procedimentalismo e de substancialismo que vecircm florescendo na doutrina brasilei-
ra79 Dentre estas posiccedilotildees natildeo haacute duacutevida de que a mais identificada ao neoconstitucionalismo
eacute a substancialista que compartilha com ele a crenccedila numa ampla legitimidade do ativismo
judicial em favor dos valores constitucionais
13
Apesar destas mudanccedilas importantes que podem ser associadas ao neoconstitucionalismo o uso
da expressatildeo no Brasil eacute mais recente seguindo-se agrave ampla difusatildeo que recebeu na academia
brasileira a jaacute citada obra Neoconstitucionalismo(s) organizada por Miguel Carbonell e publi-
cada em 2003 De laacute para caacute muito se tem escrito sobre o toacutepico e vaacuterios autores nacionais
aderiram explicitamente agrave corrente como Luis Roberto Barroso80 Lecircnio Luiz Streck 81Antonio
Cavalcanti Maia82 Ana Paula de Barcellos83 Diogo de Figueiredo Moreira Neto84 Paulo Ricardo
Schier85 Eduardo Moreira86 Eacutecio Otto Ramos Duarte87 e Thomas Rosa de Bustamante88 Outros
adotaram postura criacutetica sobre a nova perspectiva como Joseacute Ribas Vieira Dimitri Dimoulis89 e
Humberto Aacutevila90 E pode-se notar pela leitura dos trabalhos destes e de outros autores brasi-
leiros que haacute um relativo consenso na definiccedilatildeo das caracteriacutesticas centrais do novo paradig-
ma valorizaccedilatildeo dos princiacutepios adoccedilatildeo de meacutetodos ou estilos mais abertos e flexiacuteveis na her-
menecircutica juriacutedica com destaque para a ponderaccedilatildeo abertura da argumentaccedilatildeo juriacutedica agrave
Moral mas sem recair nas categorias metafiacutesicas do jusnaturalismo reconhecimento e defesa
da constitucionalizaccedilatildeo do Direito e do papel de destaque do Judiciaacuterio na agenda de imple-
mentaccedilatildeo dos valores da Constituiccedilatildeo
Estas novas ideacuteias jaacute reverberam fortemente na jurisprudecircncia nacional sobretudo do Supremo
Tribunal Federal que nos uacuteltimos tempos tem cada vez mais invocado princiacutepios abertos nos
seus julgamentos recorrido agrave ponderaccedilatildeo de interesses e ao princiacutepio da proporcionalidade
com frequumlecircncia e ateacute se valido de referecircncias filosoacuteficas na fundamentaccedilatildeo de decisotildees Aliaacutes
eacute digna de nota a influecircncia da doutrina constitucional na atuaccedilatildeo do Supremo Tribunal Fede-
ral O fenocircmeno eacute relativamente recente uma vez que logo apoacutes a promulgaccedilatildeo da Constitui-
ccedilatildeo de 88 havia um profundo hiato entre o campo doutrinaacuterio que cobrava a efetivaccedilatildeo da
Constituiccedilatildeo pela via judicial e a jurisprudecircncia do STF tiacutemida e reticente diante dos valores
e das inovaccedilotildees da nova Carta - vg orientaccedilatildeo entatildeo adotada pela Corte em relaccedilatildeo ao man-
dado de injunccedilatildeo e ao controle judicial das medidas provisoacuterias Aquele quadro podia em parte
ser debitado agrave duvidosa opccedilatildeo do constituinte originaacuterio de manter no STF os ministros nomea-
dos durante o governo militar que natildeo tinham sintonia poliacutetico-ideoloacutegica nem boa vontade
diante do novo sistema constitucional e que por isso se apegavam a visotildees e interpretaccedilotildees
assentadas durante o regime preteacuterito muitas delas francamente incompatiacuteveis com a nova
ordem Mas hoje apoacutes a completa renovaccedilatildeo do STF constata-se um quadro radicalmente di-
ferente a maioria dos ministros do STF eacute composta por professores de Direito Constitucional
de grande reputaccedilatildeo acadecircmica que ateacute pela origem tecircm mais contato com a produccedilatildeo inte-
lectual de ponta na aacuterea e satildeo mais suscetiacuteveis agrave influecircncia das novas correntes de pensamen-
to
14
Como ressaltado esta mudanccedila de paradigma se reflete vivamente na jurisprudecircncia do STF
Satildeo exemplos eloquumlentes a alteraccedilatildeo da posiccedilatildeo da Corte em relaccedilatildeo aos direitos sociais antes
tratados como normas programaacuteticas e hoje submetidos a uma intensa proteccedilatildeo judicial 91o
reconhecimento da eficaacutecia horizontal dos direitos fundamentais92 a mutaccedilatildeo do entendimen-
to do Tribunal em relaccedilatildeo agraves potencialidades do mandado de injunccedilatildeo 93e a progressiva supe-
raccedilatildeo da visatildeo claacutessica kelseniana da jurisdiccedilatildeo constitucional que a equiparava ao legislador
negativo com a admissatildeo de teacutecnicas decisoacuterias mais heterodoxas94 como as declaraccedilotildees de
inconstitucionalidade sem pronuacutencia de nulidade e as sentenccedilas aditivas E para completar o
quadro deve-se acrescentar as mudanccedilas acarretadas por algumas inovaccedilotildees processuais re-
centes na nossa jurisdiccedilatildeo constitucional que permitiram a participaccedilatildeo dos amici curiae bem
como a realizaccedilatildeo de audiecircncias puacuteblicas no acircmbito do processo constitucional ampliando a
possibilidade de atuaccedilatildeo da sociedade civil organizada no STF95
Naturalmente a nova postura de ativismo judicial do STF estimula as forccedilas sociais a procuraacute-
lo com mais frequumlecircncia e contribui para uma significativa alteraccedilatildeo na agenda da Corte Atu-
almente ao lado das questotildees mais tradicionais de Direito Puacuteblico o STF tem se defrontado
com novos temas fortemente impregnados de conteuacutedo moral como as discussotildees sobre a vali-
dade de pesquisa em ceacutelulas-tronco embrionaacuterias96 aborto de feto anenceacutefalo97 e uniatildeo entre
pessoas do mesmo sexo98 Ademais o Tribunal passou a intervir de forma muito mais ativa no
processo poliacutetico adotando decisotildees que se refletem de forma direta e profunda sobre a atua-
ccedilatildeo dos demais poderes do Estado Para citar apenas alguns casos pode-se falar da decisatildeo que
assentou que a mudanccedila de partido implica salvo determinadas exceccedilotildees perda de mandato
parlamentar99 da que estabeleceu criteacuterios riacutegidos para a fixaccedilatildeo do nuacutemero de vereadores de
acordo com a respectiva populaccedilatildeo100 e da intensificaccedilatildeo do controle jurisdicional dos atos das
CPIs bem como dos pressupostos de ediccedilatildeo das medidas provisoacuterias
Poreacutem haacute um componente curioso na recepccedilatildeo deste novo paradigma juriacutedico pelo Judiciaacuterio
brasileiro Embora ainda natildeo existam estudos empiacutericos a este respeito tenho a forte intuiccedilatildeo
de que a penetraccedilatildeo destas novas ideacuteias associadas ao neoconstitucionalismo eacute forte na cuacutepula
e na base da hierarquia judicial mas ainda tiacutemida nos seus escalotildees intermediaacuterios E as causas
natildeo satildeo de difiacutecil compreensatildeo Em relaccedilatildeo agrave cuacutepula - os ministros do STF - as razotildees jaacute foram
explicadas acima Jaacute no que tange agrave base do Judiciaacuterio boa parte dos juiacutezes de 1ordm grau teve a
sua formaccedilatildeo num ambiente acadecircmico que jaacute valorizava o Direito Constitucional e reconhecia
a forccedila normativa dos direitos fundamentais e dos princiacutepios constitucionais Assim eles ten-
dem a levar para a sua praacutetica profissional esta visatildeo do Direito Poreacutem sobretudo na 2ordf ins-
tacircncia composta majoritariamente por magistrados que se formaram e foram socializados no
15
seu meio institucional sob a eacutegide do paradigma juriacutedico anterior muito mais voltado para os
coacutedigos e para a letra da lei do que para a Constituiccedilatildeo e seus princiacutepios haacute maior resistecircncia agrave
incorporaccedilatildeo dos novos vetores constitucionais Contudo este fenocircmeno tende a diminuir com
o tempo seja pela consolidaccedilatildeo do paradigma constitucional emergente seja pela promoccedilatildeo
de magistrados mais antenados com o novo constitucionalismo seja ateacute pela influecircncia do pen-
samento e das orientaccedilotildees da cuacutepula do Judiciaacuterio sobre todas as suas instacircncias
No cenaacuterio brasileiro o neoconstitucionalismo eacute tambeacutem impulsionado por outro fenocircmeno a
descrenccedila geral da populaccedilatildeo em relaccedilatildeo agrave poliacutetica majoritaacuteria e em especial o descreacutedito
no Poder Legislativo e nos partidos poliacuteticos101 A percepccedilatildeo geral alimentada por sucessivos
escacircndalos e pelo discurso de alguns meios de comunicaccedilatildeo social de que a poliacutetica parlamen-
tar e partidaacuteria satildeo esferas essencialmente corrompidas que se movem exclusivamente em
torno de interesses e natildeo de valores gera em alguns setores a expectativa de que a soluccedilatildeo
para os problemas nacionais possa vir do Judiciaacuterio102 E este sentimento eacute fortalecido quando
a Justiccedila adota decisotildees em consonacircncia com a opiniatildeo puacuteblica - como ocorreu no recebimento
da denuacutencia criminal no caso do mensalatildeo na definiccedilatildeo de perda do mandato por infidelidade
partidaacuteria e na proibiccedilatildeo do nepotismo na Administraccedilatildeo Puacuteblica
Por outro lado a ascensatildeo institucional do Judiciaacuterio e a riqueza e importacircncia praacutetica ou sim-
boacutelica dos temas que ele vem julgando tem provocado um grande aumento no interesse da so-
ciedade pelo Direito Constitucional e pela atuaccedilatildeo do Supremo Tribunal Federal Eacute difiacutecil um
dia em que os principais meios de comunicaccedilatildeo natildeo discutam alguma decisatildeo da Corte ou mani-
festaccedilatildeo de qualquer dos seus membros E este fenocircmeno eacute potencializado tanto pela extro-
versatildeo midiaacutetica de alguns ministros como tambeacutem pelo fato - sem precedentes em outros
paiacuteses - do televisionamento das sessotildees do STF Com tudo isso as questotildees constitucionais
que antes eram apenas discutidas dentro de um ciacuterculo muito restrito de iniciados hoje satildeo
amplamente debatidas no espaccedilo puacuteblico
Neste quadro em que pesem as muacuteltiplas resistecircncias que sofre eacute possiacutevel apontar a emergecircn-
cia de uma nova forma de conceber o Direito e o Estado na sociedade brasileira contemporacirc-
nea que se quisermos adotar a terminologia hoje em voga pode ser chamada de neoconstitu-
cionalismo
4 Trecircs objeccedilotildees ao neoconstitucionalismo
16
Nas proacuteximas linhas abordarei de maneira breve trecircs criacuteticas que podem ser levantadas con-
tra o neoconstitucionalismo (a) a de que o seu pendor judicialista eacute anti-democraacutetico (b) a de
que a sua preferecircncia por princiacutepios e ponderaccedilatildeo em detrimento de regras e subsunccedilatildeo eacute
perigosa sobretudo no Brasil em razatildeo de singularidades da nossa cultura e (c) a de que ele
pode gerar uma panconstitucionalizaccedilatildeo do Direito em detrimento da autonomia puacuteblica do
cidadatildeo e da autonomia privada do indiviacuteduo Outras criacuteticas importantes existem103 mas por
limites de tempo e espaccedilo preferi priorizar aqui estas trecircs que satildeo as que geram maior apre-
ensatildeo no cenaacuterio brasileiro
a) Neoconstitucionalismo e judiciocracia
Como salientado acima o neoconstitucionalismo tem um foco muito centrado no Poder Judici-
aacuterio no qual deposita enormes expectativas no sentido de concretizaccedilatildeo dos ideais emancipa-
toacuterios presentes nas constituiccedilotildees contemporacircneas Contudo este vieacutes judicialista sofre con-
testaccedilotildees pelo seu suposto caraacuteter antidemocraacutetico na medida em que os juiacutezes diferente-
mente dos parlamentares e chefes do Executivo natildeo satildeo eleitos e natildeo respondem diretamente
perante o povo104
Esta criacutetica democraacutetica se assenta na ideacuteia de que numa democracia eacute essencial que as deci-
sotildees poliacuteticas mais importantes sejam tomadas pelo proacuteprio povo ou por seus representantes
eleitos e natildeo por saacutebios ou tecnocratas de toga Eacute verdade que a maior parte dos teoacutericos con-
temporacircneos da democracia reconhece que ela natildeo se esgota no respeito ao princiacutepio majoritaacute-
rio pressupondo antes o acatamento das regras do jogo democraacutetico que incluem a garantia
de direitos baacutesicos visando a viabilizar a participaccedilatildeo igualitaacuteria do cidadatildeo na esfera puacuteblica
bem como alguma proteccedilatildeo agraves minorias105 Poreacutem temos aqui uma questatildeo de dosagem pois
se a imposiccedilatildeo de alguns limites para a decisatildeo das maiorias pode ser justificada em nome da
democracia o exagero tende a revelar-se antidemocraacutetico por cercear em demasia a possibi-
lidade do povo de se autogovernar106
E a questatildeo natildeo eacute apenas de divisatildeo de poder ao longo do tempo A dificuldade democraacutetica
natildeo estaacute tatildeo-somente no fato de as constituiccedilotildees subtraiacuterem do legislador futuro a possibilida-
de de tomar algumas decisotildees107 O cerne do debate estaacute no reconhecimento de que diante da
vagueza e abertura de boa parte das normas constitucionais mais importantes quem as inter-
preta tambeacutem participa do seu processo de criaccedilatildeo108 Daiacute a criacutetica de que o vieacutes judicialista
subjacente ao neoconstitucionalismo acaba por conferir aos juiacutezes uma espeacutecie de poder cons-
tituinte permanente pois lhes permite moldar a Constituiccedilatildeo de acordo com as suas preferecircn-
cias poliacuteticas e valorativas em detrimento daquelas do legislador eleito Esta visatildeo levou inuacute-
17
meras correntes de pensamento ao longo da histoacuteria a rejeitarem a jurisdiccedilatildeo constitucional
ou pelo menos o ativismo judicial no seu exerciacutecio dos revolucionaacuterios franceses do seacuteculo XVI-
II109 passando por Carl Schmitt110 na Repuacuteblica de Weimar ateacute os adeptos do constituciona-
lismo popular nos Estados Unidos de hoje111
No Brasil eacute muito comum traccedilar-se um paralelo entre a defesa do ativismo judicial e posiccedilotildees
sociais progressistas Talvez isso se deva ao fato de que na nossa histoacuteria o Judiciaacuterio brasilei-
ro tem pecado muito mais por omissatildeo acumpliciando-se diante dos desmandos dos poderes
poliacutetico e econocircmico do que por excesso de ativismo Neste quadro quem ousa questionar
possiacuteveis exageros na judicializaccedilatildeo da poliacutetica e da vida social no Brasil de hoje eacute logo tachado
de conservador Poreacutem o paralelismo em questatildeo natildeo existe Muitas vezes o Poder Judiciaacuterio
pode atuar bloqueando mudanccedilas importantes promovidas pelos outros poderes em favor dos
excluiacutedos defendendo o statu quo E esta defesa pode ocorrer inclusive atraveacutes do uso da retoacute-
rica dos direitos fundamentais
Isso se deu por exemplo nos Estados Unidos nas primeiras deacutecadas do seacuteculo passado em pe-
riacuteodo que ficou conhecido como Era de Lochner112 quando a Suprema Corte impediu sistemati-
camente a ediccedilatildeo de legislaccedilatildeo trabalhista e de outras medidas que implicavam em interferecircn-
cia na esfera econocircmica em proveito das classes desfavorecidas com base numa leitura subs-
tantiva da claacuteusula do devido processo legal No cenaacuterio contemporacircneo Ran Hirshl113 sustenta
que o processo de judicializaccedilatildeo da poliacutetica que vem ocorrendo nos uacuteltimos anos em diversos
paiacuteses do mundo - ele fez um atento ainda que controvertido estudo dos casos do Canadaacute
Israel Aacutefrica do Sul e Nova Zelacircndia - teria como pano de fundo uma tentativa das elites eco-
nocircmicas e culturais que perderam espaccedilo na poliacutetica majoritaacuteria de manterem o seu poder
reforccedilando no arranjo institucional do Estado o peso do Judiciaacuterio no qual elas ainda tecircm he-
gemonia E aqui no Brasil seraacute que a proteccedilatildeo absoluta que vem sendo conferida ao direito
adquirido - inclusive o de furar teto salarial do funcionalismo fixado por emenda agrave Constituiccedilatildeo
114 - e o ultra-garantismo penal nos crimes do colarinho branco natildeo seriam exemplos deste
mesmo fenocircmeno
Por outro lado uma ecircnfase excessiva no espaccedilo judicial pode levar ao esquecimento de outras
arenas importantes para a concretizaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo e realizaccedilatildeo de direitos gerando um
resfriamento da mobilizaccedilatildeo ciacutevica do cidadatildeo Eacute verdade que o ativismo judicial pode em
certos contextos atuar em sinergia com a mobilizaccedilatildeo social na esfera puacuteblica Isto ocorreu
por exemplo no movimento dos direitos civis nos Estados Unidos dos anos 50 e 60 que foi a-
quecido pelas respostas positivas obtidos na Suprema Corte no periacuteodo da Corte de Warren115
Mas nem sempre eacute assim A ecircnfase judicialista pode afastar do cenaacuterio de disputa por direitos
18
as pessoas e movimentos que natildeo pertenccedilam nem tenham proximidade com as corporaccedilotildees
juriacutedicas
Ademais esta obsessatildeo com a interpretaccedilatildeo judicial da Constituiccedilatildeo tende a obscurecer o pa-
pel central de outras instacircncias na definiccedilatildeo do sentido da Constituiccedilatildeo - como o Legislativo o
Executivo e a proacutepria esfera puacuteblica informal Trata-se de um desvio que gera consequumlecircncias
negativas tanto no plano descritivo como na esfera normativa Sob o prisma descritivo trans-
mite-se uma imagem muito parcial do fenocircmeno constitucional que natildeo eacute captado com todas
as suas nuances e riquezas jaacute que o foco se concentra apenas sobre a accedilatildeo de um dentre os
vaacuterios agentes importantes que povoam a seara da hermenecircutica constitucional116 Sob o acircngu-
lo normativo favorece-se um governo agrave moda platocircnica de saacutebios de toga117 que satildeo convida-
dos a assumir uma posiccedilatildeo paternalista diante de uma sociedade infantilizada118 Justifica-se o
ativismo judicial a partir de uma visatildeo muito criacutetica do processo poliacutetico majoritaacuterio mas que
ignora as inuacutemeras mazelas que tambeacutem afligem o Poder Judiciaacuterio construindo-se teorias a
partir de visotildees romacircnticas e idealizadas do juiz119 Soacute que se eacute verdade que o processo poliacuteti-
co majoritaacuterio tem seus viacutecios - e eles satildeo muito graves no cenaacuterio brasileiro - tambeacutem eacute certo
que os juiacutezes natildeo satildeo semi-deuses e que a esfera em que atuam tampouco eacute imune agrave poliacutetica
com p menor
Esta idealizaccedilatildeo da figura do juiz natildeo se compadece com algumas notoacuterias deficiecircncias que o
Judiciaacuterio brasileiro enfrenta Dentre elas pode-se destacar a sobrecarga de trabalho que
compromete a capacidade dos magistrados de dedicarem a cada processo o tempo e a energia
necessaacuterias para que faccedilam tudo que o que demandam as principais teorias da argumentaccedilatildeo
defendidas pelo neoconstitucionalismo E cabe referir tambeacutem agraves lacunas na formaccedilatildeo do ma-
gistrado brasileiro decorrentes sobretudo das falhas de um ensino juriacutedico formalista e nada
interdisciplinar que ainda viceja no paiacutes que natildeo satildeo corrigidas nos procedimentos de seleccedilatildeo
e treinamento dos juiacutezes
Outra consequumlecircncia da obsessatildeo judicialista do constitucionalismo brasileiro contemporacircneo
estaacute refletida na nossa produccedilatildeo acadecircmica Enquanto somos inundados por livros e artigos
muitas vezes repetitivos sobre assuntos como princiacutepios e regras interpretaccedilatildeo constitucional
e tutela judicial de direitos fundamentais outros temas absolutamente essenciais para a vida
do paiacutes passam ao largo da preocupaccedilatildeo dos juristas Eacute o caso da reforma poliacutetica Em que pese
o caraacuteter essencialmente constitucional do assunto quase nenhum constitucionalista se inte-
ressou por ele 120e praticamente toda a literatura de qualidade produzida sobre o toacutepico tem
vindo da Ciecircncia Poliacutetica
19
Estou convencido de que o Poder Judiciaacuterio tem um papel essencial na concretizaccedilatildeo da Consti-
tuiccedilatildeo brasileira Em face do quadro de sistemaacutetica violaccedilatildeo de direitos de certos segmentos da
populaccedilatildeo do arranjo institucional desenhado pela Carta de 88 e da seacuteria crise de representa-
tividade do Poder Legislativo entendo que o ativismo judicial se justifica no Brasil pelo menos
em certas searas como a tutela de direitos fundamentais a proteccedilatildeo das minorias e a garantia
do funcionamento da proacutepria democracia O maior insulamento judicial diante da pressatildeo das
maiorias bem como um certo ethos profissional de valorizaccedilatildeo dos direitos humanos que co-
meccedila a se instalar na nossa magistratura 121 conferem ao Judiciaacuterio uma capacidade institu-
cional privilegiada para atuar nestas aacutereas122
Mas em outros campos pode ser mais recomendaacutevel uma postura de autocontenccedilatildeo judicial
seja por respeito agraves deliberaccedilotildees majoritaacuterias adotadas no espaccedilo poliacutetico123 seja pelo reco-
nhecimento da falta de expertise do Judiciaacuterio para tomar decisotildees que promovam eficiente-
mente os valores constitucionais em jogo em aacutereas que demandem profundos conhecimentos
teacutecnicos fora do Direito - como Economia poliacuteticas puacuteblicas e regulaccedilatildeo124 Nestes casos deve-
se reconhecer que outros oacutergatildeos do Estado estatildeo mais habilitados para assumirem uma posiccedilatildeo
de protagonismo na implementaccedilatildeo da vontade constitucional
Nesta linha vejo com reticecircncias a sedimentaccedilatildeo na nossa cultura juriacutedica da visatildeo de que o
grande - senatildeo o uacutenico - inteacuterprete da Constituiccedilatildeo seria o Poder Judiciaacuterio125 Esta leitura des-
carta a autocontenccedilatildeo judicial bem como tende a desprezar a possibilidade de que sejam tra-
vados construtivos diaacutelogos interinstitucionais entre diversos oacutergatildeos estatais para a definiccedilatildeo da
melhor interpretaccedilatildeo dos ditames constitucionais126 Um bom exemplo127 deste desvio ocorreu
no julgamento da constitucionalidade das pesquisas em ceacutelulas-tronco embrionaacuterias realizada
pelo STF em que pese o resultado final do julgamento ter sido substancialmente correto Na-
quela ocasiatildeo o importante argumento deduzido na tribuna e em memoriais por Luis Roberto
Barroso - que advogava para um dos amici curiae favoraacuteveis agraves pesquisas - de que o Judiciaacuterio
deveria adotar posiccedilatildeo cautelosa no julgamento da constitucionalidade da lei impugnada ten-
do em vista o amplo consenso em torno dela obtido durante o processo legislativo tanto no
Senado como na Cacircmara foi explicitamente rechaccedilado por alguns ministros que consideraram
o ponto irrelevante E outros ministros em votos vencidos se sentiram confortaacuteveis ateacute para
defender a imposiccedilatildeo de novas normas pelo STF na aacuterea do Biodireito arvorando-se agrave condiccedilatildeo
de legisladores num campo para o qual evidentemente lhes faltava qualquer expertise
Enfim o neoconstitucionalismo brasileiro tem pecado por excesso depositando no Judiciaacuterio
expectativas que ele nem sempre teraacute como atender de forma satisfatoacuteria Um dos efeitos co-
laterais deste fenocircmeno eacute a disseminaccedilatildeo de um discurso muito perigoso de que voto e poliacuteti-
20
ca natildeo satildeo tatildeo importantes pois relevante mesmo eacute a interpretaccedilatildeo dos princiacutepios constitucio-
nais realizada pelo STF Daiacute a dizer que o povo natildeo sabe votar eacute um pulo e a ditadura de toga
pode natildeo ser muito melhor do que a ditadura de farda
b) Neoconstitucionalismo oba-oba constitucional e Estado Democraacutetico de Direito
Seria uma profunda injusticcedila com a teoria neoconstitucionalista acusaacute-la de promover o decisi-
onismo ou de defender a tomada de decisotildees judiciais puramente emotivas sem lastro em ar-
gumentaccedilatildeo racional soacutelida Pelo contraacuterio como foi destacado acima um dos eixos centrais
do pensamento neoconstitucional eacute a reabilitaccedilatildeo da racionalidade praacutetica no acircmbito juriacutedico
com a articulaccedilatildeo de complexas teorias da argumentaccedilatildeo que demandam muito dos inteacuterpre-
tes e sobretudo dos juiacutezes em mateacuteria de fundamentaccedilatildeo das suas decisotildees Poreacutem a praacutetica
judiciaacuteria brasileira recepcionou apenas parcialmente as teorias juriacutedicas de corte poacutes-
positivista e aqui a valorizaccedilatildeo dos princiacutepios e da ponderaccedilatildeo natildeo tem sido muitas vezes
acompanhada do necessaacuterio cuidado com a justificaccedilatildeo das decisotildees
Se ateacute natildeo muito tempo atraacutes os princiacutepios natildeo eram tratados como autecircnticas normas por
aqui - soacute tinha bom direito quem podia invocar uma regra legal clara e precisa em favor da sua
pretensatildeo - com a chegada do poacutes-positivismo e do neoconstitucionalismo passou-se em pou-
cos anos da aacutegua para o vinho Hoje instalou-se um ambiente intelectual no Brasil que aplaude
e valoriza as decisotildees principioloacutegicas e natildeo aprecia tanto aquelas calcadas em regras legais
que satildeo vistas como burocraacuteticas ou positivistas - e positivismo hoje no paiacutes eacute quase um pala-
vratildeo128 Neste contexto os operadores do Direito satildeo estimulados a invocar sempre princiacutepios
muito vagos nas suas decisotildees mesmo quando isso seja absolutamente desnecessaacuterio pela e-
xistecircncia de regra clara e vaacutelida a reger a hipoacutetese Os campeotildees tecircm sido os princiacutepios da dig-
nidade da pessoa humana e da razoabilidade O primeiro eacute empregado para dar imponecircncia ao
decisionismo judicial vestindo com linguagem pomposa qualquer decisatildeo tida como politica-
mente correta e o segundo para permitir que os juiacutezes substituam livremente as valoraccedilotildees de
outros agentes puacuteblicos pelas suas proacuteprias
Este cenaacuterio eacute problemaacutetico porque um sistema juriacutedico funcional estaacutevel e harmocircnico com os
valores do Estado Democraacutetico de Direito precisa tanto da aplicaccedilatildeo de regras como de princiacute-
pios129 As regras satildeo indispensaacuteveis dentre outras razotildees130 porque geram maior previsibili-
dade e seguranccedila juriacutedica para os seus destinataacuterios diminuem os riscos de erro na sua inci-
decircncia jaacute que natildeo dependem tanto das valoraccedilotildees do inteacuterprete em cada caso concreto en-
volvem um menor custo no seu processo de aplicaccedilatildeo pois podem incidir de forma mais mecacirc-
nica sem demandarem tanto esforccedilo do inteacuterprete e natildeo implicam na mesma medida que os
21
princiacutepios em uma transferecircncia de poder decisoacuterio do Legislativo que eacute eleito para o Judici-
aacuterio que natildeo eacute
Natildeo pretendo sustentar com isso que se deva retroceder ao tempo em que os princiacutepios natildeo
eram aplicados pelos juiacutezes brasileiros Tambeacutem os princiacutepios satildeo essenciais na ordem juriacutedica
pois conferem mais plasticidade ao Direito - o que eacute essencial numa sociedade hiper-complexa
como a nossa - e permitem uma maior abertura da argumentaccedilatildeo juriacutedica agrave Moral e ao mundo
empiacuterico subjacente O importante eacute encontrar uma justa medida que natildeo torne o processo de
aplicaccedilatildeo do Direito amarrado demais como ocorreria num sistema baseado exclusivamente
em regras nem solto demais como sucederia com um que se fundasse apenas em princiacutepios
Penso que eacute chegada a hora de um retorno do pecircndulo no Direito brasileiro131 que sem des-
cartar a importacircncia dos princiacutepios e da ponderaccedilatildeo volte a levar a seacuterio tambeacutem as regras e a
subsunccedilatildeo
Ademais naquelas hipoacuteteses em que a aplicaccedilatildeo de princiacutepios for realmente apropriada ela
deve dar-se de forma mais racional e fundamentada Deve-se adotar a premissa de que quanto
mais vaga for a norma a ser aplicada e mais intenso o componente volitivo envolvido no pro-
cesso decisoacuterio maior deve ser o ocircnus argumentativo do inteacuterprete no sentido de mostrar que
a soluccedilatildeo por ele adotada eacute a que melhor realiza os valores do ordenamento naquele caso con-
creto132 A tendecircncia atual de invocaccedilatildeo frouxa e natildeo fundamentada de princiacutepios colide com a
loacutegica do Estado Democraacutetico de Direito pois amplia as chances de arbiacutetrio judicial gera inse-
guranccedila juriacutedica e atropela a divisatildeo funcional de poderes que tem no ideaacuterio democraacutetico um
dos seus fundamentos - a noccedilatildeo baacutesica de que as decisotildees sobre o que os cidadatildeos e o Estado
podem e natildeo podem fazer devem ser tomadas preferencialmente por quem represente o povo
e seja por ele escolhido
E haacute na sociedade brasileira traccedilos que tornam ainda mais perigosa esta tendecircncia agrave frouxidatildeo
e emotividade na metodologia juriacutedica Nossa cultura caracteriza-se muito mais pelo jeiti-
nho133 e pelo patrimonialismo134 do que pela valorizaccedilatildeo do cumprimento impessoal de regras
O brasileiro - jaacute dizia Seacutergio Buarque de Holanda135 - eacute o homem cordial que tende a antepor
a loacutegica privada do compadrio e da simpatia agrave racionalidade objetiva das leis Esta singularida-
de das nossas relaccedilotildees sociais natildeo atua de forma neutra em relaccedilatildeo a todos os cidadatildeos Ela
implica na adoccedilatildeo de posturas estatais em geral muito benevolentes em relaccedilatildeo aos donos do
poder e seus apaniguumlados e de posiccedilotildees muito mais duras dirigidas aos grupos excluiacutedos e mar-
ginalizados136 Uns poucos acabam pairando acima das leis que natildeo os alcanccedilam para limitar a
sua conduta ou sancionar os seus desvios enquanto outros permanecem abaixo dela sendo
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atingidos apenas pelo braccedilo punitivo do Estado pois a violaccedilatildeo rotineira dos seus direitos eacute
naturalizada tornando-se invisiacutevel
Neste quadro cabe indagar sob a perspectiva de uma sociologia da interpretaccedilatildeo constitucio-
nal ateacute que ponto a introduccedilatildeo entre noacutes de uma dogmaacutetica fluida - a expressatildeo eacute de Gusta-
vo Zagrebelsky137 um dos iacutecones do neoconstitucionalismo - natildeo pode ter como efeito colateral
o agravamento de patologias que marcam as nossas relaccedilotildees sociais Seraacute que o nosso Direito
precisa de mais rigidez ou de maior maleabilidade Ao fim e ao cabo quem tende a se benefi-
ciar com a adoccedilatildeo de uma hermenecircutica juriacutedica mais flexiacutevel
Uma reflexatildeo importante sobre tema correlato foi empreendida por Marcelo Neves138 a partir
das categorias da teoria sistecircmica de Niklas Luhman Para Luhman139 em apertada siacutentese o
Direito nas hipercomplexas sociedades modernas seria autopoieacutetico140 pois consistiria num
subsistema social estruturalmente fechado em relaccedilatildeo ao meio envolvente que operaria de
acordo com um coacutedigo binaacuterio proacuteprio - o liacutecito iliacutecito As influecircncias do meio envolvente so-
bre o Direito seriam filtradas atraveacutes deste coacutedigo assegurando a autonomia da esfera juriacutedica
diante dos outros subsistemas sociais como a Economia a Poliacutetica a Religiatildeo etc Contudo
Marcelo Neves sustenta que em sociedades perifeacutericas como o Brasil natildeo se desenvolveu ple-
namente este fechamento estrutural do Direito Por aqui fatores como a nossa constituciona-
lizaccedilatildeo simboacutelica geraram uma insuficiente diferenciaccedilatildeo do Direito em relaccedilatildeo a outros sub-
sistemas sociais permitindo que elementos a princiacutepio estranhos ao coacutedigo binaacuterio do juriacutedico -
como a questatildeo do poder poliacutetico e do poder econocircmico - se infiltrem sistematicamente nos
processos de aplicaccedilatildeo das normas condicionando o seu resultado A teoria dos sistemas de
Luhman natildeo funcionaria bem entre noacutes pois teriacuteamos um Direito em boa parte alopoieacuteti-
coPara tal perspectiva esta maior abertura do Direito ao meio envolvente natildeo assume o po-
tencial emancipatoacuterio preconizado pela teoria neoconstitucionalista Ela funciona muito mais
como um mecanismo de cristalizaccedilatildeo de diferenccedilas sociais mantendo a hiper-inclusatildeo de uns
ao preccedilo da exclusatildeo de outros
Esta reflexatildeo de Marcelo Neves natildeo se dirigiu ao debate metodoloacutegico contemporacircneo envol-
vendo princiacutepios e regras ponderaccedilatildeo e subsunccedilatildeo etc Poreacutem entendo que ela pode ter algu-
ma pertinecircncia tambeacutem aqui pelo menos para nos advertir sobre o perigo de que o neoconsti-
tucionalismo com a fluidez metodoloacutegica e abertura do Direito a outros domiacutenios que preconi-
za possa acabar tornando-se um belo roacutetulo para justificar mais do mesmo patrimonialismo
desigualdade jeitinho Nesta perspectiva a novidade do neoconstitucionalismo poderia pare-
cer com aquela advogada pelo Priacutencipe de Salinas em famosa passagem do romance O Leopar-
do de Giuseppe Lampedusa quando defendia no contexto da crise da aristocracia italiana do
23
final do seacuteculo XIX a necessidade de mudanccedilas urgentes no governo para que ao final as
coisas pudessem permanecer exatamente do jeito que sempre foram
Natildeo penso que esta seja uma consequumlecircncia necessaacuteria da adoccedilatildeo de uma perspectiva juriacutedica
mais principialista no Brasil O maior cuidado metodoloacutegico adicionado agrave adoccedilatildeo de uma dire-
triz hermenecircutica substantiva que afirme a missatildeo essencial do Direito de assegurar justiccedila e
seguranccedila agraves pessoas tratando-as como livres e iguais pode minimizar as possibilidades de um
uso enviesado da teoria neoconstitucional que acabe favorecendo aos mesmos de sempre
Mas diante das nossas tradiccedilotildees natildeo haacute como negar que os riscos satildeo elevados
c) Neoconstitucionalismo e panconstitucionalizaccedilatildeo
Uma das caracteriacutesticas do neoconstitucionalismo eacute a defesa da constitucionalizaccedilatildeo do Direi-
to Sustenta-se que a irradiaccedilatildeo das normas constitucionais por todo o ordenamento contribui
para aproximaacute-lo dos valores emancipatoacuterios contidos nas constituiccedilotildees contemporacircneas 141A
Constituiccedilatildeo natildeo eacute vista mais como uma simples norma normarum - cuja finalidade principal eacute
disciplinar o processo de produccedilatildeo de outras normas142 Ela passa a ser enxergada como a en-
carnaccedilatildeo dos valores superiores da comunidade poliacutetica que devem fecundar todo o sistema
juriacutedico Neste modelo cabe ao inteacuterprete natildeo soacute aplicar diretamente os ditames constitucio-
nais agraves relaccedilotildees sociais como tambeacutem reler todas as normas e institutos dos mais variados ra-
mos do Direito agrave luz da Constituiccedilatildeo emprestando-lhes o sentido que mais promova os objeti-
vos e a axiologia da Carta
A constitucionalizaccedilatildeo do Direito de que cogita o neoconstitucionalismo natildeo eacute aquela que resul-
ta do caraacuteter excessivamente analiacutetico da Constituiccedilatildeo e leva ao entricheiramento de meras
opccedilotildees conjunturais do constituinte originaacuterio ou derivado despidas de maior importacircncia ou
dignidade Este eacute um fenocircmeno caracteriacutestico da Carta de 88 que se excedeu no casuiacutesmo e
nos detalhes elevando ao seu texto meros interesses corporativos ou decisotildees de momento
sem focirclego para perdurarem no tempo A constitucionalizaccedilatildeo louvada e defendida pelo neo-
constitucionalismo eacute aquela que parte de uma interpretaccedilatildeo extensiva e irradiante dos direitos
fundamentais e dos princiacutepios mais importantes da ordem constitucional Aqui contudo pode-
se discutir ateacute que ponto o fenocircmeno eacute legiacutetimo Poucos discordaratildeo pelo menos no Brasil de
que alguma constitucionalizaccedilatildeo do Direito eacute positiva e bem-vinda por semear o ordenamento
com os valores humanitaacuterios da Constituiccedilatildeo Poreacutem pode-se objetar contra as teses extrema-
das sobre este processo que acabam amputando em demasia o espaccedilo de liberdade do legisla-
dor em detrimento da democracia 143
24
Com efeito quem defende que tudo ou quase tudo jaacute estaacute decidido pela Constituiccedilatildeo e que o
legislador eacute um mero executor das medidas jaacute impostas pelo constituinte nega por conse-
quumlecircncia a autonomia poliacutetica ao povo para em cada momento da sua histoacuteria realizar as suas
proacuteprias escolhas O excesso de constitucionalizaccedilatildeo do Direito reveste-se portanto de um
vieacutes antidemocraacutetico Esta ordem de preocupaccedilotildees levou Ersnt Forsthof na Alemanha a criti-
car as teorias que viam a Constituiccedilatildeo como uma espeacutecie de genoma juriacutedico () do qual tudo
deriva do Coacutedigo Penal ateacute a lei sobre a fabricaccedilatildeo de termocircmetros144 E a questatildeo torna-se
ainda mais delicada diante da constataccedilatildeo de que pela abertura semacircntica dos direitos fun-
damentais e dos princiacutepios - principal mateacuteria-prima da constitucionalizaccedilatildeo do Direito - o seu
principal agente acaba sendo o Poder Judiciaacuterio ao dar a uacuteltima palavra sobre a interpretaccedilatildeo
daquelas claacuteusulas Daiacute porque o debate sobre a constitucionalizaccedilatildeo do Direito se imbrica
inexoravelmente com as discussotildees a propoacutesito da judicializaccedilatildeo da poliacutetica e do decisionismo
referidas acima
Ademais a constitucionalizaccedilatildeo do Direito tambeacutem suscita outra linha de preocupaccedilotildees rela-
cionada ao perfeccionismo moral145 na esfera privada No Brasil assim como em muitos outros
paiacuteses jaacute se assentou a ideacuteia de que os direitos fundamentais natildeo se dirigem apenas contra o
Estado vinculando tambeacutem os particulares Entre noacutes tem prevalecido na doutrina a ideacuteia que
eu mesmo defendi em outro estudo146 que a eficaacutecia dos direitos fundamentais nas relaccedilotildees
privadas eacute direta e imediata Em outras palavras entende-se que a proacutepria Constituiccedilatildeo jaacute inci-
de nas relaccedilotildees privadas independentemente de mediaccedilotildees legislativas e que pode gerar o-
brigaccedilotildees positivas ou negativas para os indiviacuteduos e natildeo soacute para os poderes puacuteblicos sempre
no afatilde de proporcionar uma proteccedilatildeo mais completa agrave dignidade humana Ateacute aqui nada a
contestar
Poreacutem o reconhecimento da vinculaccedilatildeo dos particulares agrave Constituiccedilatildeo suscita um risco que
natildeo pode ser ignorado o de imposiccedilatildeo agraves pessoas supostamente em nome de valores constitu-
cionais de comportamentos e estilos de vida que elas proacuteprias rejeitam em detrimento da sua
liberdade existencial Para dar um exemplo bem tosco seria terriacutevel se o Direito em nome do
princiacutepio da solidariedade social pudesse impor agraves pessoas que demonstrassem afetos e senti-
mentos que elas natildeo possuem genuinamente Ou se em nome da isonomia pretendesse inter-
ferir nas escolhas subjetivas e emocionais que os indiviacuteduos fazem nas suas vidas privadas A
constitucionalizaccedilatildeo neste sentido poderia converter-se num pretexto para o exerciacutecio de um
paternalismo anti-liberal em que as pessoas seriam forccediladas a conformarem-se agraves expectativas
sociais forjadas a partir de pautas de accedilatildeo politicamente corretas com apoio na Constitui-
ccedilatildeo147
25
Nenhuma destas duas questotildees eacute insuperaacutevel Eacute possiacutevel aceitar e aplaudir a constitucionaliza-
ccedilatildeo do Direito - fenocircmeno em geral positivo por aproximar a racionalidade emancipatoacuteria da
Constituiccedilatildeo do dia-a-dia das pessoas - mas defender que ela seja temperada por outras preo-
cupaccedilotildees igualmente essenciais no Estado Democraacutetico de Direito com a autonomia puacuteblica e
privada dos cidadatildeos Pode-se reconhecer a legitimidade da constitucionalizaccedilatildeo do Direito
mas numa medida em que natildeo sacrifique em excesso agrave liberdade de conformaccedilatildeo que numa
democracia deve caber ao legislador para realizar opccedilotildees poliacuteticas em nome do povo148 Pode-
se da mesma forma afirmar a incidecircncia direta da Constituiccedilatildeo nas relaccedilotildees privadas mas
sem invadir a esfera das opccedilotildees existenciais da pessoa - que de resto eacute protegida pela proacutepria
Constituiccedilatildeo das ingerecircncias perfeccionistas do Estado e da sociedade149
5 Conclusatildeo Ao fim da leitura destas paacuteginas o leitor pode estar se indagando se eu me alinho ou natildeo ao
neoconstitucionalismo A minha resposta eacute depende da compreensatildeo que se tenha sobre o ne-
oconstitucionalismo Se entendermos o neoconstitucionalismo de acordo com a conhecida defi-
niccedilatildeo de Luis Prietro Sanchiacutes como uma teoria do Direito que se orienta pelas maacuteximas demaacutes
princiacutepios que reglas maacutes ponderacioacuten que subsuncioacuten omnipotencia de la Constitucioacuten en
todas las aacutereas juriacutedicas y en todos conflictos miacutenimamente relevantes en lugar de espacios
exentos en favor de la opcioacuten legislativa o reglamentaria omnipotencia judicial en lugar de
autonomia del legislador ordinaacuterio y por ultimo coexistecircncia de una constelacioacuten plural de
valores a veces tendencialmente contradictorios en lugar de homogeneidad ideoloacutegica150
certamente eu natildeo me considero um neoconstitucionalista De todas as afirmaccedilotildees do professor
espanhol a uacutenica de que natildeo discordo eacute aquela relacionada ao pluralismo de valores cujo re-
conhecimento aliaacutes estaacute longe de ser privileacutegio dos neoconstitucionalistas
Contudo eu assumo o roacutetulo sem constrangimentos se o neoconstitucionalismo for pensado
como uma teoria constitucional que sem descartar a importacircncia das regras e da subsunccedilatildeo
abra tambeacutem espaccedilo para os princiacutepios e para a ponderaccedilatildeo tentando racionalizar o seu uso
Se for visto como uma concepccedilatildeo que sem desprezar o papel protagonista das instacircncias de-
mocraacuteticas na definiccedilatildeo do Direito reconheccedila e valorize a irradiaccedilatildeo dos valores constitucio-
nais pelo ordenamento bem como a atuaccedilatildeo firme e construtiva do Judiciaacuterio para proteccedilatildeo e
promoccedilatildeo dos direitos fundamentais e dos pressupostos da democracia E acima de tudo se
for concebido como uma visatildeo que conecte o Direito com exigecircncias de justiccedila e moralidade
criacutetica151 sem enveredar pelas categorias metafiacutesicas do jusnaturalismo
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Certamente uma visatildeo equilibrada da Teoria do Direito com tais caracteriacutesticas pode contribu-
ir para o aperfeiccediloamento do Estado Democraacutetico de Direito no Brasil O mesmo jaacute natildeo digo de
concepccedilotildees mais radicais do neoconstitucionalismo que podem ser muito boas para arrancar
aplausos entusiasmados das plateacuteias nos seminaacuterios estudantis mas que natildeo se conciliam com
exigecircncias fundamentais de seguranccedila juriacutedica democracia e liberdade que satildeo alicerces de
qualquer bom constitucionalismo - novo ou velho
Curriacuteculo Resumido
Daniel Sarmento
Poacutes-Doutor pela Universidade de Yale (EUA) Procurador Regional da Repuacuteblica
Como citar este artigo
SARMENTO Daniel O neoconstitucionalismo no Brasil riscos e possibilidades Disponiacutevel em httpwwweditoraforumcombrsistconteudolista_conteudoaspFIDT_CONTEUDO=56993 acesso em 09032011 httpdireitoesubjetividadefileswordpresscom201008daniel-sarmento-o-neoconstitucionalismo-no-brasil1doc acesso em 30062012 Material da 1ordf aula da Disciplina Teoria Geral da Constituiccedilatildeo (I) ministrada no Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo Online em Direito Constitucional ndash Anhanguera-UNIDERP | REDE LFG
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___________________
1Sobre a teoria de princiacutepios no Brasil veja-se dentre outros Ana Paula de Barcellos A eficaacutecia juriacutedica dos princiacutepios constitu-
cionais o princiacutepio da dignidade da pessoa humana Rio de Janeiro Renovar 2002 Humberto Bergman Aacutevila Teoria dos princiacute-
pios da definiccedilatildeo agrave aplicaccedilatildeo dos princiacutepios juriacutedicos 2 ed Satildeo Paulo RT 2005 Jane Reis Gonccedilalves Pereira Interpretaccedilatildeo
constitucional e direitos fundamentais uma contribuiccedilatildeo ao estudo das restriccedilotildees aos direitos fundamentais na perspectiva da
teoria dos princiacutepios Rio de Janeiro Renovar 2006 Virgiacutelio Afonso da Silva O conteuacutedo essencial dos direitos fundamentais e a
eficaacutecia das normas constitucionais Satildeo Paulo Tese (concurso de Professor Titular de Direito Constitucional da USP)
2Veja-se em tons variados Lecircnio Luiz Streck Hermenecircutica juriacutedica e(m) crise uma exploraccedilatildeo hermenecircutica da construccedilatildeo do
direito Porto Alegre Livraria do Advogado 1999 Luiacutes Roberto Barroso (Org) A nova interpretaccedilatildeo constitucional ponderaccedilatildeo
direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas Rio de Janeiro Renovar 2003 Margarida Maria Lacombe Camargo Hermenecircutica e
argumentaccedilatildeo uma contribuiccedilatildeo ao estudo do direito Rio de Janeiro Renovar 2003 Inocecircncio Maacutertires Coelho Interpretaccedilatildeo
constitucional 2 ed Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2003 Ana Paula de Barcellos Ponderaccedilatildeo racionalidade e atividade
jurisdicional Rio de Janeiro Renovar 2005
3Sobre o fenocircmeno da constitucionalizaccedilatildeo do Direito confira-se os inuacutemeros artigos que compotildeem a coletacircnea organizada por
Claacuteudio Pereira de Souza Neto e por mim A constitucionalizaccedilatildeo do direito fundamentos teoacutericos e aplicaccedilotildees especiacuteficas Rio de
Janeiro Lumen Juris 2007
4Cfr na literatura constitucional brasileira Gisele Guimaratildees Cittadino Pluralismo direito e justiccedila distributiva elementos de
filosofia constitucional contemporacircnea Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 Oscar Vilhena Vieira A Constituiccedilatildeo e sua reserva de
justiccedila um ensaio sobre os limites materiais do poder de reforma Satildeo Paulo Malheiros 1999 Ricardo Lobo Torres (Org) A legi-
timaccedilatildeo dos direitos humanos Rio de Janeiro Renovar 2002 Claacuteudio Pereira de Souza Neto Teoria constitucional e democracia
deliberativa Rio de Janeiro Renovar 2006 Lecircnio Luiz Streck Verdade e consenso Constituiccedilatildeo hermenecircutica e teorias discursi-
vas Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 Samantha Chantal Dobrowolski A construccedilatildeo social do sentido da Constituiccedilatildeo na demo-
cracia contemporacircnea entre soberania popular e direitos humanos Rio de Janeiro Lumen Juris 2007 Aacutelvaro Ricardo de Souza
Cruz Hermenecircutica juriacutedica e(m) debate o constitucionalismo brasileiro entre a teoria do discurso e a ontologia existencial Belo
Horizonte Foacuterum 2007
5Sobre a judicializaccedilatildeo da poliacutetica no Brasil veja-se Luiz Werneck Vianna et al A judicializaccedilatildeo da poliacutetica e das relaccedilotildees sociais
no Brasil Rio de Janeiro Revan 1999 Giselle Cittadino Judicializaccedilatildeo da poliacutetica constitucionalismo democraacutetico e separaccedilatildeo de
poderes In Luiz Werneck Vianna (Org) A democracia e os trecircs poderes no Brasil Belo Horizonte UFMG 2002 p 17-42 Rogeacuterio
B Arantes Constitucionalism the expansion of Justice and the Judicialization of Poltics in Brazil In Rachel Sieder Line Schjol-
den Alan Angell The Judicialization of Politics in Latin America New York Palgrave Macmillan 2005 p 232-262 Luis Roberto
Barroso Judicializaccedilatildeo ativismo judicial e legitimidade democraacutetica Texto ineacutedito gentilmente cedido pelo autor
Para uma perspectiva comparativa veja-se Neal C Tate Tobjorn Vallinder (Ed) The Global Expansion of Judicial Power New
York New York University Press 1995 Alec Stone Sweet Governing with Judges Constitutional Politics in Europe Oxford Oxford
Univesity Press 2000 e em tom profundamente criacutetico Ran Hirschl Towards Juristocracy the Origins and Consequences of the
New Constitucionalism Cambridge Harvard University Press 2004
6Miguel Carbonell et al Neoconstitucionalismo(s) Madrid Trotta 2003 Mais recentemente o autor publicou nova coletacircnea
tambeacutem dedicada ao estudo do neoconstitucionalismo intitulada Teoria del Neoconstitucionalismo Ensayos escogidos Madrid
Trotta 2007
7O jurista argentino Carlos Santiago Nino por exemplo faleceu em 1993 quando ainda nem se empregava esta denominaccedilatildeo
8Cf Robert Alexy Teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica a teoria do discurso racional como teoria da fundamentaccedilatildeo juriacutedica Tradu-
ccedilatildeo de Zilda Hutchinson Schild Silva revisatildeo teacutecnica da traduccedilatildeo e introduccedilatildeo agrave ediccedilatildeo brasileira Claudia Toledo 2 ed Satildeo Paulo
Landy 2005 Luis Roberto Barroso Curso de direito constitucional contemporacircneo os conceitos fundamentais e a construccedilatildeo do
novo modelo Rio de Janeiro Saraiva 2008 p 306-350
9Cf Lecircnio Luiz Streck Verdade e consenso Op cit p 197-246
28
10Ronald Dworkin e Carlos Santiago Nino satildeo sem sombra de duacutevida autores liberais natildeo no sentido que se atribui ao termo no
Brasil - de adeptos de doutrina econocircmica favoraacutevel ao Estado miacutenimo e ao mercado - mas sim no sentido corrente na Filosofia
Poliacutetica que associa o liberalismo agrave defesa dos direitos individuais e da neutralidade do Estado em relaccedilatildeo agraves diversas concepccedilotildees
sobre a vida boa existentes na sociedade Veja-se neste sentido Ronald Dworkin A Matter of Principle Cambridge Harvard
University Press 1985 p 181-236 Carlos Santiago Nino La constitucioacuten de la Democracia Deliberativa Barcelona Gedisa 1997
p 70-100
11Lecircnio Luiz Streck que se alinha ao neoconstitucionalismo defende posturas tipicamente comunitaristas como o papel da Consti-
tuiccedilatildeo na definiccedilatildeo de modelos de vida boa para orientaccedilatildeo da vida social e da accedilatildeo individual Cf Jurisdiccedilatildeo constitucional e
hermenecircutica uma nova criacutetica do direito 2 ed Rio de Janeiro Forense 2004 p 95-288
12Antonio Cavalcanti Maia um dos mais ardorosos defensores do neoconstitucionalismo no paiacutes eacute tambeacutem procedimentalista e
adepto das teorias juriacutedicas de Juumlrgen Habermas Veja-se neste sentido o seu denso texto Nos vintes anos da carta cidadatilde do
poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm (Coord) Vinte
anos da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 p 117-168 em que esta sua dupla filiaccedilatildeo intelectual eacute
explicitada
13Segundo Miguel Carbonell o neoconstitucionalismo desdobra-se em trecircs planos de anaacutelise que se conjugam o dos textos consti-
tucionais que se tornaram mais substantivos e incorporaram amplos elencos de direitos fundamentais o das praacuteticas judiciais que
passaram a recorrer a princiacutepios constitucionais agrave ponderaccedilatildeo e a meacutetodos mais flexiacuteveis de interpretaccedilatildeo sobretudo na aacuterea de
direitos fundamentais e o dos desenvolvimentos teoacutericos de autores que com as suas ideacuteias ajudaram natildeo soacute a compreender os
novos modelos constitucionais mas tambeacutem participaram da sua proacutepria criaccedilatildeo Cf Miguel Carbonell Neoconstitucionalismo
elementos para una definicioacuten In Eduardo Ribeiro Moreira Mauricio Pugliesi 20 anos da Constituiccedilatildeo brasileira Satildeo Paulo Sarai-
va 2009 p 197-208
14No mesmo sentido Luis Roberto Barroso Neoconstitucionalismo e Constitucionalizaccedilatildeo do direito o triunfo tardio do direito
constitucional do Brasil In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento A constitucionalizaccedilatildeo do direito fundamentos teoacuteri-
cos e aplicaccedilotildees especiacuteficas Rio de Janeiro Lumen Juris 2007 p 203-250
15Cf Carlos Bernal Pulido El Derecho de los Derechos Bogotaacute Universidad Externado de Colocircmbia 2006 Manoel Jose Cepeda
Espinosa Judicialization of Politics in Colombia the old and the new In Rachel Sieder Line Schonjen Alan Angell The Judiciali-
zation of Politics in Latin America Op cit p 67-104 Rodrigo Uprimmy Mauriacutecio Garcia-Villegas Tribunal Constitucional e eman-
cipaccedilatildeo social na Colocircmbia In Boaventura de Souza Santos Democratizar a democracia os caminhos da democracia participativa
Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2002 p 297-339
16Cf Catalina Smulovitz Petitioning and Creating Rights Judicialization in Argentina In Rachel Sieder Line Scjolden Alan Angell
The Judicialization of Politics in Latin America Op cit p 161-185
17Cf Miguel Carbonell Los Derechos Fundamentales en Meacutexico 2 ed Meacutexico Porruacutea 2006 Pilar Domingo The Changing Political
Role of the Judiciary in Meacutexico In Rachel Sieder Line Scjolden Alan Angell The Judicialization of Politics in Latin Ameacuterica Op
cit p 21-46
18Cf Heinz Klug South Aacutefrica From Constitucional Promise to Social Transformation In Jeffrey Goldsworthy Interpreting Consti-
tutions A Comparative Study Oxford Oxford University Press 2006 p 266-320
19Cf S P Sathe Iacutendia From Positivism to Structuralism In Jeffrey Goldsworthy Op cit p 215-265
20Veja-se a propoacutesito Gustavo Zagrebelsky Il Diritto Mite Torino Einaudi 1992 p 57-96
21Cf Eduardo Garciacutea de Enterriacutea La Constitucioacuten como Norma y el Tribunal Constitucional 3 ed Madrid Civitas 1985 p 41
22Na Alemanha a mudanccedila ocorreu sob a vigecircncia da Lei Fundamental adotada em 1949 e foi fortemente impulsionada pela
jurisprudecircncia do Tribunal Constitucional do paiacutes que construiu teorias importantes como a da Constituiccedilatildeo como uma ordem de
valores em cujo centro situa-se o princiacutepio da dignidade humana que se irradia por todo o ordenamento Veja-se a propoacutesito
Dieter Grimm Human Rights and Judicial Review in Germany In David M Beatty (Org) Human Rights and Judicial Review A
Comparative Perspective Dodrecht Martin Urjhoff 1994 p 267-295
23Na Itaacutelia as mudanccedilas se deram sob a eacutegide da atual Constituiccedilatildeo editada em 1947 mas soacute apoacutes o funcionamento da Corte
Constitucional que se deu em 1956 Ateacute entatildeo a Corte de Cassaccedilatildeo composta por juiacutezes recrutados ainda no periacuteodo do fascismo
29
era provisoriamente encarregada da guarda da Constituiccedilatildeo o que fazia de forma muito tiacutemida no mais das vezes negando eficaacute-
cia juriacutedica agraves normas constitucionais sob o argumento de que seriam programaacuteticas Veja-se a propoacutesito Ricardo Guastini A
constitucionalizaccedilatildeo do ordenamento juriacutedico e a experiecircncia italiana In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento A
constitucionalizaccedilatildeo do direito fundamentos teoacutericos e aplicaccedilotildees especiacuteficas Op cit p 271-294
24Cf No modelo do constitucionalismo norte-americano entende-se desde os primoacuterdios que a Constituiccedilatildeo eacute autecircntica lei e que
o Judiciaacuterio pode invalidar as decisotildees legislativas que a contrariem apesar do controle de constitucionalidade natildeo estar expres-
samente previsto no texto constitucional daquele paiacutes Esta ideacuteia que jaacute estava assentada no Federalista n 78 escrito por Ale-
xander Hamilton antes da aprovaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo foi posta em praacutetica pela primeira vez contra lei federal no ceacutelebre caso
Marbury v Madison julgado em 1803 pelo juiz Marshall Veja-se a propoacutesito Paul Brest Sanford Levinson Jack Balkin Akhil Reed
Amar Processes of Constitutional Decisionmaking Cases and Materials New York Aspen Publishers 2000 p 79-103
A versatildeo mais convencional do modelo constitucional norte-americano enfatiza a importacircncia central do Judiciaacuterio na atualizaccedilatildeo
do sentido da Constituiccedilatildeo do paiacutes Contudo esta leitura histoacuterica eacute hoje objeto de intensa disputa Em sentido contraacuterio a tal
posiccedilatildeo sustentando uma menor relevacircncia do Judiciaacuterio no desenvolvimento histoacuterico do constitucionalismo americano veja-se
por exemplo Stephen M Griffin American Constitutionalism From Theory to Politics New Jersey Princeton University Press
1996 p 88-139
25Cf Luis Prietro Sanchiacutes Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales Madrid Trotta 2003 p 107-117
26Cf Daniel Sarmento Ubiquumlidade constitucional Os dois lados da moeda In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento
(Coord) A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 113-148
27Na verdade a reaccedilatildeo contra o formalismo juriacutedico na Europa eacute bem anterior ao advento do constitucionalismo do 2ordm poacutes-guerra
remontando ao final do seacuteculo XIX Veja-se a propoacutesito Constantin M Stamatis Argumenter en Droit Une theacuteorie critique de
largumentation juridique Paris Publisud 1995 p 34-50 Antonio Manoel Hespanha Panorama histoacuterico da cultura juriacutedica euro-
peacuteia Lisboa Publicaccedilotildees Europa-Ameacuterica 1997 p 196-235
28Haacute vasta literatura sobre a ponderaccedilatildeo mas a obra mais influente sobre o tema eacute certamente o livro de Robert Alexy Teoria dos
direitos fundamentais Traduccedilatildeo de Virgiacutelio Afonso da Silva Satildeo Paulo Malheiros 2008 No cenaacuterio norte-americano veja-se a
anaacutelise densa e criacutetica de T Alexander Aleinikoff Constitucional Law in the Age of Balancing Yale Law Journal n 96 p 943-
1005 1987 No Brasil cfr Daniel Sarmento A ponderaccedilatildeo de interesses na Constituiccedilatildeo Federal Rio de Janeiro Lumen Juris
2000 Ana Paula de Barcellos Ponderaccedilatildeo racionalidade e atividade jurisdicional Op cit
29A bibliografia sobre o princiacutepio da proporcionalidade eacute vastiacutessima Veja-se a propoacutesito as densas anaacutelises de Carlos Bernal Puli-
do El Principio de Proporcionalidad y los Derechos Fundamentales Madrid Centro de Estuacutedios Constitucionales 2003 e no Brasil
de Jane Reis Gonccedilalves Pereira Interpretaccedilatildeo constitucional e direitos fundamentais Rio de Janeiro Renovar 2006 p 297-382
30Cf Chaiumlm Perelman Eacutetica e direito Traduccedilatildeo de Maria Ermantina Galvatildeo G Perira Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 p 361-684
Robert Alexy Teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica Op cit Friedrich Muller Discours de la Meacutethode Juridique Traduccedilatildeo de Olivier
Jouanjan Paris PUF 1993 Manuel Atienza Traacutes la Justicia Una Introduccioacuten al Derecho y al Razonamiento Juriacutedico Barcelona
Ariel 1995 Neil MacCormick Argumentaccedilatildeo juriacutedica e teoria do direito Traduccedilatildeo de Waldeacutea Barcellos Satildeo Paulo Martins Fontes
2006 Klaus Guumlnther Teoria da argumentaccedilatildeo no direito e na moral justificaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Claacuteudio Molz Satildeo Pau-
lo Landy 2004
31Cf Martin Shapiro Alec Stone Sweet On Law Politics and Judicialization New York Oxford University Press p 136-208
32Contudo deve-se admitir na linha de Paolo Comanducci que eacute possiacutevel reconhecer as mudanccedilas em questatildeo e propor novas
teorias que sejam adequadas a elas sem defendecirc-las Esta seria nas palavras do autor italiano a diferenccedila entre o neoconstitu-
cionalismo teoacuterico e o neoconstitucionalismo ideoloacutegico que natildeo apenas constroacutei teorias mais compatiacuteveis com os novos fenocirc-
menos mas vai aleacutem sustentando a sua legitimidade e propugnando pelo seu aprofundamento e expansatildeo Veja-se a propoacutesito
Paulo Comanducci Formas de neoconstitucionalismo Un anaacutelisis metateoacuterico In Miguel Carbonell (Ed) Neoconstitucionalis-
mo(s) Op cit p 75-98 Como reconhece o proacuteprio autor tal distinccedilatildeo baseia-se em uma semelhante acerca do positivismo
30
formulada por Norberto Bobbio que fala em positivismo teoacuterico ideoloacutegico e metodoloacutegico Cf Norberto Bobbio O positivismo
juriacutedico liccedilotildees de filosofia do direito Traduccedilatildeo e notas de Marcio Pugliesi et al Satildeo Paulo Iacutecone 1995 p 233-239
33Cf Ronald Dworkin Is Law a Sistem of Rules In Ronald Dworkin (Ed) Philosophy of Law Oxford Oxford University Press 1971
Robert Alexy Constitucionalismo discursivo Traduccedilatildeo de Luiz Afonso Heck Porto Alegre Livraria do Advogado 2007
34Cf Robert Alexy Derecho y Razoacuten Praacutectica Meacutexico Distribuiciones Fontamara 1993 Aulis Aarnio Lo Racional como Razonable
Traduccedilatildeo de Ernesto Garzoacuten Valdeacutes Madrid Centro de Estuacutedios Constitucionales 1991
35Cf Aharon Barak The Judge in a Democracy New Jersey Princeton University Press 2006 p 213-260 Gustavo Zagrebelsky Il
Diritto Mite Op cit p 179-217
36Confronte-se com perspectivas diferentes Luigi Ferrajoli O Estado de direito entre passado e futuro In Pietro Costa Danilo
Zolo (Org) Estado de direito histoacuteria teoria criacutetica Traduccedilatildeo de Carlo Alberto Dastoli Satildeo Paulo Martins Fontes 2006 p 419-
464 Elias Dias Estado de Derecho y Sociedad Democraacutetica Madrid Taurus 1998 Ronald Dworkin Introduction The Moral Reading
and the Majoritarian Premise In Freedoms Law The moral reading of the American Constitution Cambridge Harvard University
Press 1996 p 01-38 Gustavo Zagrebelsky La Crucifixioacuten y la Democracia Barcelona Ariel 1996 Claacuteudio Pereira de Souza Neto
Teoria constitucional da democracia deliberativa Op cit
37Cf Ronald Dworkin Introduction The Moral Reading and the Majoritarian Premise Op cit
38Cf Luigi Ferrajoli El Garantismo y la Filosofia del Derecho Bogotaacute Universidad Externado de Colocircmbia 2000
39Cf Luis Pietro Sanchis Sobre el Neoconstitucionalismo y sus Implicaciones In Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales
Op cit p 101-135
40Cf Ricardo Guastini Sur la Validiteacute de la Constitution du Point de Vue du Positivisme Juridique In Michel Troper Lucien Jaume
(Dir) 1789 et LInvention de la Constitution Paris LGDJ 1994 p 216-225
41Cf Suzana Pozzolo Neoconstituzionalismo e Positivismo Giuridico Torino Giapppicheli 2001
42Cf Ronald Dworkin Law and Morals In Justice in Robes Cambridge Harvard University Press 2006 p 01-35
43Cf Robert Alexy Derecho y Moral In La Institucionalizacioacuten de la Justicia Op cit p 17-30
44Cf Carlos Santiago Nino Eacutetica y Derechos Humanos 2 ed Buenos Aires Astrea 1989 p 11-48
45Cf Gustav Radbruch Cinco minutos de filosofia do direito In Filosofia do direito Traduccedilatildeo de L Cabral de Moncada 6 ed
Coimbra Armecircnio Amado 1979 p 414-418 Para uma densa problematizaccedilatildeo da foacutermula de Radbruch veja-se Thomas da Rosa
Bustamante Poacutes-Positivismo o argumento da injusticcedila aleacutem da Foacutermula de Radbruch In Teoria do direito e decisatildeo racional
temas de teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica Rio de Janeiro Renovar 2008
46Cf Robert Alexy La Institucionalizacioacuten de la Justicia Traduccedilatildeo de Joseacute Antonio Seone et al Granada Comares 2005 p 31-
54
47Sobre o tema cfr Alfonso Garcia Figueroa Princiacutepios e direitos fundamentais In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmen-
to A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 03-34
48O texto mais importante do positivismo inclusivo eacute o poacutes-escrito de Herbert LA Hart agrave sua obra magna The Concept of Law em
que ele responde agraves criacuteticas ao seu pensamento que Ronald Dworkin lhe endereccedilara O autor inglecircs faleceu antes de terminar o
texto mas ele foi publicado postumemente depois de ser editado por Joseph Raz Peneacutelope Bulloch Veja-se Herbert LA Hart
Poacutes-escrito In O conceito de direito Traduccedilatildeo de A Ribeiro Mendes 2 ed 1994 p 299-339 Tambeacutem na linha do positivismo
inclusivo veja-se Gregorio Peces- Barba Derechos Sociales y Positivismo Juriacutedico Escritos de Filosofia Poliacutetica y Juriacutedica Madrid
Dykinson 1999 p 83-90 Jules Coleman The Practice of Principle In defense of a pragmatist approach do legal theory Oxford
Oxford University Press p 103-120 Para uma resenha dos tipos de positivismo no debate contemporacircneo confira-se Dimitri Di-
moulis Positivismo juriacutedico introduccedilatildeo a uma teoria do direito e defesa do pragmatismo juriacutedico-politico Satildeo Paulo Meacutetodo
2006 p 65-166
49Cf Antonio Cavalcanti Maia Nos vinte anos da Constituiccedilatildeo do poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo Op cit Claacuteudio Perei-
ra de Souza Neto A teoria constitucional e seus lugares especiacuteficos notas sobre o aporte reconstrutivo Revista de Direito do
Estado n 1 p 89-104 jan mar 2006 Daniel Sarmento Interpretaccedilatildeo constitucional preacute-compreensatildeo e capacidades institu-
cionais do inteacuterprete In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binebojm Vinte anos da Constituiccedilatildeo de 1988
Op cit p 311-322
31
50Cf Juumlrgen Habermas Escritos sobre Moralidad y Eticidad Traduccedilatildeo de Manuel Jimenez Redondo Barcelona Paidoacutes 1991 p
131-172
51Sobre o comunitarismo haacute extensa literatura Dois textos claacutessicos deste linha de pensamento satildeo Michael Walzer The Communi-
tarian Critique of Liberalism In Politics and Passion New Haven Yale University Press 2004 p 141-163 Charles Taylor The
Procedural Republic and the Unencumbered Self In Robert Goodin Philip Pettit (Ed) Contemporary Political Philosophy 2 ed
Oxford Oxford University Press 2002 p 2462-256 Sobre a penetraccedilatildeo ainda que muitas vezes natildeo consciente das posiccedilotildees do
comunitarismo no constitucionalismo brasileiro veja-se Gisele Cittadino Pluralismo direito e justiccedila distributiva Op cit p
43-74
52Sobre o construtivismo eacutetico corrente filosoacutefica que sustenta a existecircncia de posiccedilotildees certas e erradas na Moral bem como a
possibilidade de encontraacute-las e fundamentaacute-las racionalmente veja-se Carlos Santiago Nino El Constructivismo Eacutetico Madrid
Centro de Estudios Constitucionales 1989
53O fenocircmeno tambeacutem se reproduz na teoria constitucional norte-americana hegemocircnica cf Keith Wittington Constitutional Con-
struction Divided Powers and Constitutional Meaning Cambridge Harvard University Press 1999 p 01-03
54A imagem do Poder Judiciaacuterio como um guardiatildeo de promessas eacute explorada e criticada numa obra importante da teoria juriacutedica
francesa contemporacircnea Antoine Garapon Le Gardien de Promesses Le juge et la democratie Paris Odile Jacob 1996
55Neste sentido o eloquumlente encerramento do Curso de Direito Constitucional Contemporacircneo de Luis Roberto Barroso o consti-
tucionalismo democraacutetico eacute a utopia que nos restou Uma feacute racional que ajuda a acreditar no bem e na justiccedila ainda quando natildeo
estejam ao alcance dos olhos (Op cit p 400)
56Cf Nico Poulantzas State Power Socialism London new Left Books 1978 Alan Hunt Marxist Theory of Law In Dennis Patter-
son (Ed) A Companion to Philosophy of Law and Legal Theory Malden Blackwell Publishers 1996 p 355-367
57Cf David Kairys (Ed) The Politics of Law A Progressive Critique New York Pantheon Books 1982 Roberto Mangabeira Unger
The Critical Legal Studies Movement Cambridge Harvard University Press 1986
58Cf Plauto Faraco Azevedo Criacutetica agrave dogmaacutetica e hermenecircutica juriacutedica Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1989 Luiz Fernando
Coelho Teoria criacutetica do direito 2 ed Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1991
59Natildeo haacute como abordar aqui as relaccedilotildees entre as inuacutemeras correntes do poacutes-modernismo e o Direito Constitucional Veja-se a
propoacutesito Niklas Luhman La Constituzione como Acquisizione Evolutiva In Gustavo Zagrebelsky Piacuteer Paolo Portinaro Joumlrg Lu-
ther Il Futuro della Costituzione Torino Einaudi 1996 p 83-128 Joseacute Joaquim Gomes Canotilho Civilizaccedilatildeo do direito constitu-
cional ou constitucionalizaccedilatildeo do direito civil a eficaacutecia dos direitos fundamentais na ordem juriacutedico-civil no contexto do direito
poacutes-moderno Cadernos de Direito Constitucional e Ciecircncia Poliacutetica n 15 p 07-16 1996 Eduardo Capellari A crise da moderni-
dade e a Constituiccedilatildeo Rio de janeiro Ameacuterica Juriacutedica 2004 Daniel Sarmento Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas 2 ed
Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 p 36-45
60Para Jean-Franccedilois Lyotard uma das caracteriacutesticas centrais do pensamento poacutes-moderno de que eacute expoente eacute a desconfianccedila
em relaccedilatildeo agraves metanarrativas - construccedilotildees abstratas grandiosas e totalizadoras tiacutepicas da Filosofia Moderna como direitos
humanos luta de classes e emancipaccedilatildeo pelo uso da razatildeo Cf Lyotard A condiccedilatildeo poacutes-moderna Traduccedilatildeo de Ricardo Correcirca
Barbosa 5 ed 1998 p16
61Cf Luiz Werneck Viana O terceiro poder na carta de 1988 e a tradiccedilatildeo republicana mudanccedila e conservaccedilatildeo In Ruben George
Oliven Marcelo Gildo Marccedilal Branda A Constituiccedilatildeo de 1988 na vida brasileira Satildeo Paulo Aderaldo e Rotshild 2008 p 91-109
62Cf Paulo Ricardo Schier Filtragem constitucional Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1999
63A expressatildeo foi cunhada por Claacuteudio Pereira de Souza Neto Fundamento e normatividade dos direitos fundamentais uma recons-
truccedilatildeo teoacuterica agrave luz do princiacutepio democraacutetico Arquivos de Direitos Humanos n 4 p 17-61 2003
64Cf Luis Roberto Barroso O direito constitucional e a efetividade de suas normas 3 ed Rio de Janeiro Renovar 1996
65Cf Clegravemerson Merlin Clegraveve A teoria constitucional e o direito alternativo para uma dogmaacutetica constitucional emancipatoacuteria In
Uma vida dedicada ao direito homenagem a Carlos Henrique de Carvalho Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1995 p 34-53
66Ressalte-se poreacutem que antes de 88 alguns juristas jaacute defendiam a forccedila normativa da Constituiccedilatildeo como o Prof Joseacute Afonso da
Silva Eacute de 1968 a primeira ediccedilatildeo da sua obra claacutessica A aplicabilidade das normas constitucionais que adotava claramente esta
32
perspectiva Todavia pelo clima nada propiacutecio ao constitucionalismo que reinava por aqui ateacute a nossa redemocratizaccedilatildeo a louvaacute-
vel pregaccedilatildeo dele e de outros juristas em prol da efetivaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo natildeo chegou a render maiores frutos
67Deve-se assinalar ainda a influecircncia marcante do novo constitucionalismo ibeacuterico neste movimento que tambeacutem pugnava pela
atribuiccedilatildeo de forccedila normativa agraves ambiciosas constituiccedilotildees de Portugal e Espanha entatildeo recentemente elaboradas apoacutes o fim de
experiecircncias autoritaacuterias naqueles paiacuteses A tiacutetulo de exemplo mencione-se a penetraccedilatildeo no paiacutes do pensamento do Professor de
Coimbra Joseacute Joaquim Gomes Canotilho especialmente da sua teoria sobre a Constituiccedilatildeo dirigente que ele posteriormente reviu
(cf J J Gomes Canotilho Constituiccedilatildeo dirigente e vinculaccedilatildeo ao legislador contributo para a compreensatildeo das normas constitu-
cionais programaacuteticas 2 ed Coimbra Coimbra 2001 - especialmente o prefaacutecio desta segunda ediccedilatildeo que daacute conta da mudanccedila
de posicionamento) bem como a difusatildeo das liccedilotildees do Professor Eduardo Garciacutea de Enterriacutea (cf La Constitucioacuten como Norma y el
Tribunal Constitucional Madrid Civitas 1981)
68Segundo a avaliaccedilatildeo atual de Luis Roberto Barroso personagem central do movimento o positivismo constitucional que deu
impulso ao movimento natildeo importava em reduzir o direito agrave norma mas sim em elevaacute-la a esta condiccedilatildeo pois ateacute entatildeo ele
havia sido menos do que norma (Curso de direito constitucional contemporacircneo Op cit p 224)
69Paulo Bonavides Curso de direito constitucional 5 ed Satildeo Paulo Malheiros 1994
70Eros Roberto Grau A ordem econocircmica na Constituiccedilatildeo de 88 interpretaccedilatildeo e criacutetica Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1996
71No acircmbito da Poacutes-Graduccedilatildeo em Direito da UERJ em que estou inserido desde 1997 primeiro como aluno e a partir de 2003 como
professor o Ricardo Lobo Torres teve papel central na difusatildeo do pensamento destes e de outros filoacutesofos entre os estudantes e o
proacuteprio corpo docente
72Cf Lecircnio Luiz Streck Hermenecircutica juriacutedica e(m) crise Op cit Eros Roberto Grau Ensaio e discurso sobre a interpreta-
ccedilatildeoaplicaccedilatildeo do direito Satildeo Paulo Malheiros 2002
73Nesta linha veja-se as obras que compotildeem a coletacircnea Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Direitos sociais funda-
mentos judicializaccedilatildeo e direitos sociais em espeacutecie Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 Ricardo Lobo Torres O miacutenimo existencial
e os direitos fundamentais Revista de Direito Administrativo n 177 p 20-49 1989 Ingo Wolfgang Sarlet A eficaacutecia dos direitos
fundamentais 9 ed Porto Alegre Livraria do Advogado 2008 Ana Paula de Barcellos A eficaacutecia juriacutedica dos princiacutepios o princiacute-
pio da dignidade da pessoa humana Op cit Marco Mazzeli Gouveia O controle judicial das omissotildees administrativas Rio de
Janeiro Forense 2003 Andreacuteas Krell Direitos sociais e controle judicial no Brasil e Alemanha os (des)caminhos de um direito
constitucional comparado Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2002
74Cf Gustavo Tepedino Temas de direito civil Rio de Janeiro Renovar 1999 Luiz Edson Fachin Estatuto juriacutedico do patrimocircnio
miacutenimo Rio de Janeiro Renovar 2001 Maria Celina Bodin de Moraes Danos agrave pessoa humana uma leitura civil-constitucional dos
danos morais Rio de Janeiro Renovar 2003 Teresa Negreiros Fundamentos para uma interpretaccedilatildeo constitucional do princiacutepio
da boa-feacute Rio de Janeiro Renovar 1998 Anderson Schreiber A proibiccedilatildeo do comportamento contraditoacuterio Rio de Janeiro Reno-
var 2005
75Cf Luciano Feldens A Constituiccedilatildeo penal a dupla face da proporcionalidade no controle das lei penais Porto Alegre Livraria do
Advogado 2005 Luis Carlos dos Santos Gonccedilalves Mandados expressos de criminalizaccedilatildeo e a proteccedilatildeo de direitos fundamentais na
Constituiccedilatildeo Brasileira de 1988 Belo Horizonte Foacuterum 2007
76Cf Gustavo Binenbojm Uma teoria do direito administrativo direitos fundamentais democracia e constitucionalizaccedilatildeo Rio de
Janeiro Renovar 2006 Alexandre dos Santos Aragatildeo Floriano de Azevedo Marques (Coord) Direito administrativo e seus novos
paradigmas Belo Horizonte Foacuterum 2008
77Cf Gustavo Binenbojm A nova jurisdiccedilatildeo constitucional brasileira legitimidade democraacutetica e instumentos de realizaccedilatildeo Rio de
Janeiro Renovar 2001 Claacuteudio Pereira de Souza Neto Jurisdiccedilatildeo constitucional democracia e racionalidade praacutetica Rio de
Janeiro Renovar 2002 Joseacute Adeacutercio Leite Sampaio A Constituiccedilatildeo reinventada pela jurisdiccedilatildeo constitucional Belo Horizonte Del
Rey 2002 Lecircnio Luiz Streck Jurisdiccedilatildeo constitucional e hermenecircutica Porto Alegre Livraria do Advogado 2002 Aacutelvaro Ricardo
de Souza Cruz Jurisdiccedilatildeo constitucional democraacutetica Belo Horizonte Del Rey 2004
78A expressatildeo dificuldade contramajoritaacuteria eacute de um claacutessico da teoria constitucional norte-americana Alexander Bickel La Cons-
titucioacuten como Norma y el Tribunal Constitucional 2 ed New Haven Yale University Press 1986
33
79Em siacutentese apertada o procedimentalismo sustenta que natildeo eacute papel da jurisdiccedilatildeo constitucional tutelar valores substantivos mas
apenas proteger os pressupostos necessaacuterios ao bom funcionamento da democracia Jaacute o substancialismo reconhece a legitimidade
da atuaccedilatildeo jurisdicional em favor da garantia e promoccedilatildeo de valores substantivos presentes na Constituiccedilatildeo O debate entre o
procedimentalismo identificado com as ideacuteias de autores como John Hart Ely e Juumlrgen Habermas e o substancialismo defendido
por teoacutericos como Ronald Dworkin e Laurence Tribe eacute reproduzido em praticamente toda a literatura contemporacircnea que trata de
Teoria ou Filosofia Constitucional Veja-se a propoacutesito a densa obra de Claacuteudio Ari Mello Democracia constitucional e direitos
fundamentais Porto Alegre Livraria do Advogado 2004
80Neoconstitucionalismo e constitucionalizaccedilatildeo do direito o triunfo tardio do direito constitucional no Brasil Op cit
81A crise paradigmaacutetica do direito no contexto da resistecircncia positivista ao (neo)constitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza
Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm Vinte anos da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Op cit p 203-228
82Nos vinte anos da carta cidadatilde do poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo Op cit
83Neoconstitucionalismo direitos fundamentais e controle de poliacuteticas puacuteblicas In Daniel Sarmento Flaacutevio Galdino (Org) Direitos
fundamentais estudos em homenagem ao prof Ricardo Lobo Torres Rio de Janeiro Renovar 2006 p 31-60
84Direitos humanos legitimidade e constitucionalismo In Daniel Sarmento Flaacutevio Galdino (Org) Direitos fundamentais estudos
em homenagem ao Prof Ricardo Lobo Torres Op cit p325-350
85Novos desafios agrave filtragem constitucional no momento do neoconstitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sar-
mento A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 251-270
86Neoconstitucionalismo a invasatildeo da Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Meacutetodo 2008
87Neoconstitucionalismo e positivismo juriacutedico Satildeo Paulo Landy 2006
88Teoria do direito e argumentaccedilatildeo racional temas de teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica op cit p 141-240
89Uma visatildeo criacutetica do neoconstitucionalismo In George Salomatildeo Leite Glauco Salomatildeo Leite Constituiccedilatildeo e efetividade constitu-
cional Salvador JusPodium 2008 p 43-60
90Neoconstitucionalismo entre a Ciecircncia do direito e o direito da ciecircncia In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento
Gustavo Binenbojm Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 p 187-202
91Cf Peticcedilatildeo 1246 MSSC julgada em 31011997 (obrigaccedilatildeo do Estado de realizar transplante de ceacutelulas mioblaacutesticas para salvar
a vida de crianccedila) Agravo de Instrumento no Recurso Extraordinaacuterio 271286RS DJU 24 nov 2000 (entrega de medicamentos
para portadores de HIV) e Agravo de Instrumento do Recurso Extraordinaacuterio nordm 410715-5 julgado em 22112005 (obrigaccedilatildeo de
fornecimento de vagas para educaccedilatildeo infantil pelo municiacutepio com atendimento em creches e preacute-escola)
92Recursos Extraordinaacuterios nordms 158215-4RS 161243-6DF 201819RJ
93Cf Mandado de Injunccedilatildeo 670ES Rel Min Gilmar Mendes julgado em 25102007 em que o STF revendo orientaccedilatildeo anterior
deu eficaacutecia normativa agrave sentenccedila proferida no mandado de injunccedilatildeo No caso decidiuse que ateacute o advento de lei regulamentado-
ra sobre a greve no serviccedilo puacuteblico o direito de greve poderia ser exercido obedecendo-se os limites impostos pela Lei 778389
que trata dos movimentos paredistas em serviccedilos essenciais no setor privado
94Sobre a tendecircncia agrave superaccedilatildeo da ideacuteia do Judiciaacuterio como legislador negativo na jurisdiccedilatildeo constitucional veja-se Joseacute Adeacutercio
Leite Sampaio A Constituiccedilatildeo reinventada pela jurisdiccedilatildeo constitucional Belo Horizonte Del Rey 2002 p 203-248
95Eacute lugar-comum dentre os autores que tratam da questatildeo associar tais mudanccedilas agrave pluralizaccedilatildeo das vozes na interpretaccedilatildeo consti-
tucional tema em que a referecircncia essencial no cenaacuterio germacircnico eacute Peter Haumlberle Veja-se a propoacutesito Peter Haumlberle Herme-
necircutica constitucional A sociedade aberta dos inteacuterpretes da Constituiccedilatildeo contribuiccedilatildeo para a interpretaccedilatildeo pluralista e procedi-
mental da Constituiccedilatildeo Traduccedilatildeo de Gilmar Ferreira Mendes Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1997 Veja-se ainda na doutrina
brasileira Gustavo Binenbojm A dimensatildeo do Amicus Curiae no processo constitucional brasileiro In Temas de direito constitu-
cional e administrativo Rio de Janeiro Renovar 2008 p 165-190
96ADIN 3510DF Relator Ministro Carlos Ayres Britto A accedilatildeo proposta contra o art 5ordm da Lei de Biosseguranccedila impugnava a auto-
rizaccedilatildeo de pesquisas com embriotildees humanos resultantes de fertilizaccedilatildeo in vitro que fossem inviaacuteveis ou estivessem congelados haacute
mais de trecircs anos A accedilatildeo foi julgada totalmente improcedente por 6 votos a 5
97ADPF nordm 54 A accedilatildeo que tem como relator o Ministro Marco Aureacutelio ainda natildeo foi julgada mas em seu bojo jaacute ocorreram diversas
audiecircncias puacuteblicas que provocaram intensa participaccedilatildeo da sociedade civil e grande interesse na miacutedia
34
98ADPF nordm 132 Relator Ministro Carlos Ayres Britto A accedilatildeo ainda foi julgada
99Mandados de Seguranccedila 26602DF 26603DF e 26604DF Informativo STF n 482
100Recurso Extraordinaacuterio 197917SP Rel p acoacuterdatildeo Min Ceacutesar Peluso DJU 18 fev 2005
101O livro de Alberto Carlos Almeida A cabeccedila do brasileiro lanccedilado em 2007 conteacutem pesquisas feitas sobre uma acuteseacuterie de temas
com pessoas de todas as classes sociais e regiotildees do paiacutes Uma das pesquisas eacute relativa agrave avaliaccedilatildeo das instituiccedilotildees Dentre as treze
avaliadas as duas que obtiveram menor aprovaccedilatildeo foram os partidos poliacuteticos (avaliaccedilatildeo positiva de 28 dos entrevistados) e o
Congresso (avaliaccedilatildeo positiva de 36 dos entrevistados) Cf Antonio Carlos Almeida A cabeccedila do brasileiro Rio de Janeiro Re-
cord 2007 p 187
102Cf Luis Roberto Barroso Judicializaccedilatildeo ativismo judicial e legitimidade democraacutetica Texto ainda ineacutedito gentilmente cedido
pelo autor
103Humberto Aacutevila por exemplo formula outra criacutetica importante de que o neoconstitucionalismo seria inadequado agrave realidade
constitucional brasileira jaacute que privilegia os princiacutepios e a Carta de 88 seria muito mais regulatoacuteria do que principioloacutegica (Neo-
constitucionalismo entre a ciecircncia do direito e o direito da ciecircncia Op cit p 188-192)
104Contudo natildeo eacute razoaacutevel estender esta criacutetica ao ponto de negar o caraacuteter democraacutetico da atuaccedilatildeo judicial Como ressaltou
Eugenio Rauacutel Zaffaroni uma instituiccedilatildeo natildeo eacute democraacutetica unicamente porque natildeo provenha de eleiccedilatildeo popular porque nem tudo
o que proveacutem desta origem eacute necessariamente aristocraacutetico Uma instituiccedilatildeo eacute democraacutetica quando seja funcional para o sistema
democraacutetico quer dizer quando seja necessaacuteria para a sua continuidade como ocorre com o judiciaacuterio (Poder judiciaacuterio crise
acertos e desacertos Traduccedilatildeo de Juarez Tavares Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1995 p 43)
105Cf Robert A Dahl Sobre a democracia Traduccedilatildeo de Beatriz Sidou Brasiacutelia UNB 2001 p 97-113 Juumlrgen Habermas Popular
Sovereignity as Procedure In James Bonham William Rehg Deliberative Democracy Cambridge The MIT Press 1997 p 35-66
106A questatildeo da tensatildeo e sinergia simultacircneas entre constitucionalismo e democracia eacute um dos debates mais fecundos da Teoria
Poliacutetica e da Filosofia Constitucional que tem atravessado o tempo desde o advento do constitucionalismo moderno no seacuteculo
XVIII Veja-se no debate contemporacircneo Jeremy Waldron Preocommitment and Disagreement In Larry Alexander Constitu-
cionalism Philosophical Foundations Cambridge Cambridge University Press 1998 p 271-299 Juumlrgen Habermas O Estado demo-
craacutetico de direito uma amarraccedilatildeo paradoxal de princiacutepios contraditoacuterios In Era das transiccedilotildees Traduccedilatildeo de Flaacutevio Beno Siebe-
neichler Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 2003 p 153-173 Carlos Santiago Nino La Constitucioacuten de la Democracia Deliberativa
Op cit Frank Michelman Brennan and Democracy Princeton Princeton University Press 1999 p 03-62 Stephen Holmes El
Precompromiso y la Paradoja de la Democracia In Jon Elster Rune Slagstad Constitucionalismo y Democracia Traduccedilatildeo de Mocircni-
ca Utrilla de Neira Mexico Fondo de Cultura Econocircmica 1999 p 217-262
107O problema da limitaccedilatildeo do legislador atual pelas decisotildees do constituinte adotadas no passado envolve a problemaacutetica da
partilha intergeracional de poder bem explicitada na fala de Jefferson que defendia que a cada 19 anos deveria ser elaborada
uma nova Constituiccedilatildeo nos Estados Unidos para que a Lei Maior daquele paiacutes natildeo se tornasse um mecanismo de governo dos mor-
tos sobre os vivos Em siacutentese apertada haacute na teoria poliacutetica contemporacircnea duas linhas principais de justificativa para a legiti-
midade destas restriccedilotildees
Uma eacute a teoria da democracia dualista defendida por Bruce Ackerman que sustenta que as decisotildees adotadas pelo proacuteprio povo
em contextos de grande mobilizaccedilatildeo ciacutevica devem ser protegidas do alcance da vontade dos representantes do povo formada em
momentos em que a cidadania natildeo esteja intensamente envolvida Esta teoria distingue a poliacutetica extraordinaacuteria correspondente
agravequeles momentos constitucionais da poliacutetica ordinaacuteria que se realiza atraveacutes das deliberaccedilotildees do dia a dia dos oacutergatildeos represen-
tativos Para a perspectiva ackermaniana a poliacutetica extraordinaacuteria - que natildeo exige necessariamente formalizaccedilatildeo procedimental
atraveacutes de assembleacuteia constituinte ou de emenda constitucional - se situa em patamar superior agrave poliacutetica ordinaacuteria e pode legiti-
mamente impor limites a esta (cf Bruce Ackerman We the people Foundations Cambridge The Belknap Press 1991 p 03-33)
Outra teoria eacute a do preacute-compromisso que jaacute foi advogada por Jon Elster Segundo ela eacute legiacutetimo subtrair do alcance das maiorias
determinadas questotildees fundamentais que expressam princiacutepios fundamentais de justiccedila poliacutetica ou garantam os pressupostos da
proacutepria democracia tendo em vista o risco de que no processo poliacutetico majoritaacuterio em momentos de irracionalidade o povo
35
possa ser viacutetima de suas proacuteprias fraquezas ou paixotildees momentacircneas atentando contra tais princiacutepios (cf Ulisses and Sirens
Cambridge Cambridge University Press 1979)
Ambas as concepccedilotildees - a primeira mais proacutexima ao republicanismo e a segunda de vieacutes mais liberal - tecircm a sua dose de procedecircn-
cia mas ensejam criacuteticas importantes Todavia foge a escopo do presente trabalho analisar esta questatildeo que eacute uma das mais
complexas da Filosofia Poliacutetica moderna e contemporacircnea Para uma visatildeo geral sobre o tema na literatura em liacutengua portuguesa
veja-se Oscar Vilhena Vieira A Constituiccedilatildeo e sua reserva de justiccedila Op cit Miguel Nogueira de Brito A Constituiccedilatildeo constituin-
te ensaio sobre o poder de revisatildeo da Constituiccedilatildeo Coimbra Coimbra 2000 Samantha Chantal Dobrowolski Op cit p 265-312
Rodrigo Brandatildeo Direitos fundamentais democracia e claacuteusulas peacutetreas Rio de Janeiro Renovar 2008 p 59-112
108Cf Michel Troper Justice Constitutionelle et Deacutemocratie In Pour une Theorie Juridique de LEacutetat Paris PUF 1994 p 317-328
Claacuteudio Pereira de Souza Neto Jurisdiccedilatildeo constitucional democracia e racionalidade praacutetica Op cit p 106-130 Gustavo Binen-
bojm A nova jurisdiccedilatildeo constitucional brasileira Op cit p 55-74
109Sobre o modelo revolucionaacuterio francecircs de constitucionalismo completamente avesso agrave ideacuteia de jurisdiccedilatildeo constitucional cf
Maurizio Fioravanti Constitucioacuten de la antiguumledad a nuestros dias Traduccedilatildeo de Manuel Martinez Neira Madrid Trotta 2001 p
120-132
110Cf Carl Schmitt La Defesa de la Constitucioacuten Madrid Tecnos 1983
111O constitucionalismo popular ou populismo constitucional eacute uma importante corrente no debate constitucional norte-americano
contemporacircneo que nega a legitimidade democraacutetica do controle de constitucionalidade advogando que deve caber ao proacuteprio
povo e natildeo a uma elite de juiacutezes natildeo eleitos com assento na Suprema Corte o poder de definir o sentido das claacuteusulas vagas que
abundam no texto constitucional daquele paiacutes Na defesa desta tese satildeo empregados tanto argumentos de teoria e filosofia poliacuteti-
ca de caraacuteter mais universal como razotildees histoacutericas relacionadas agrave evoluccedilatildeo do constitucionalismo estadunidense Veja-se nesta
linha Mark Tushnet Taking the Constitution Away from the Courts Princeton Princeton University Press 1999 Jeremy Waldron
Precommitment and Disagreement Op cit Larry D Kramer The People Themselves Popular constitutionalism and judicial re-
view New York Oxford University Press 1994
Ateacute algumas deacutecadas atraacutes a oposiccedilatildeo agrave jurisdiccedilatildeo constitucional nos Estados Unidos partia em regra da Direita que natildeo se con-
formava com a jurisprudecircncia extremamente liberal em mateacuteria de direitos fundamentais estabelecida pela Corte entre os anos
50 e 70 Atualmente uma boa parte dos opositores agrave judicial review situa-se agrave esquerda do espectro poliacutetico e talvez a nova linha
profundamente conservadora daquele Tribunal ajude a explicar esta mudanccedila
112Sobre a Era de Lochner veja-se Laurence H Tribe American Constitutional Law 2 ed Mineola The Foundation Press 1988 p
567-581 Paul Brest et al Processes of Constitucional Decisionmaking 4 ed New York Aspen Publishers 2000 p 337-354
113Towards Juristocracy hellip Op cit
114Tratei do tema no artigo Direito adquirido emenda constitucional democracia e justiccedila social In Livres e iguais Op cit p
03-32
115Cf Charles R Epp The Rights Revolution Chicago The University of Chicago Press 1998 p 26-70 Owen Fiss The Law as It
Could Be New York New York University Press 2003 p 244-249
116A importacircncia e as peculiaridades da interpretaccedilatildeo legislativa da Constituiccedilatildeo satildeo exploradas em importante obra coletiva
Richard W Bauman Tsvi Kahana The Least Examined Branch The Role of Legislatures in the Constitutional State Cambridge
Cambridge University Press 2006
117Cf em tom ainda mais ceacutetico do que o adotado neste estudo Martonio MontAlverne Barreto Lima Jurisdiccedilatildeo Constitucional
um problema da teoria da democracia poliacutetica In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Gilberto Bercovici Joseacute Filomeno de Moraes
Filho Martonio MontAlverne Teoria da Constituiccedilatildeo estudos sobre o lugar da poliacutetica no direito constitucional Rio de Janeiro
Lumen Juris 2003 p 199-261 Conrado Huumlbner Mendes Controle de constitucionalidade e democracia Rio de Janeiro Elsevier
2008
36
118Para criacutetica semelhante no contexto germacircnico veja-se Ingeborg Maus O judiciaacuterio como superego da sociedade sobre o papel
da atividade jurisprudencial na sociedade oacuterfatilde Traduccedilatildeo de Martonio MontAlverne Barreto Lima Paulo Antonio Menezes de Albu-
querque Anuaacuterio dos Cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito da Faculdade de Direito de Recife n 11 2000
119Eu aprofundo a anaacutelise deste ponto no meu artigo Interpretaccedilatildeo constitucional preacute-compreensatildeo e capacidades institucionais do
inteacuterprete In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm (Coord) Vinte anos da Constituiccedilatildeo Federal
de 1988 Op cit p 311-322 E a necessidade de optar por teoria de interpretaccedilatildeo que leve em consideraccedilatildeo as capacidades
institucionais reais dos juiacutezes comparando-as com as dos agentes de outras instituiccedilotildees eacute explorada no importante estudo de Cass
Sunstein Adrian Vermeulle Interpretations and Institutions Chicago Working Papers in Law amp Economics 2002 p 01-55 bem
como no livro de Adrian Vermeulle Judging under Uncertainty An Institutional Theory for Legal Interpretation Cambridge Har-
vard University Press 2006
120Dentre as honrosas exceccedilotildees mencione-se Luiacutes Roberto Barroso autor de importante artigo com sugestotildees para a reforma poliacuteti-
ca no paiacutes Reforma poliacutetica uma proposta de sistema de governo eleitoral e partidaacuterio para o Brasil Revista de Direito do Esta-
do n 3 p 287-360 jul set 2006
121Sobre o ethos judicial no Brasil veja-se a pesquisa de Maria Tereza Sadek Magistrados uma imagem em movimento Rio de
Janeiro FGV 2006
122Em sentido semelhante veja-se Michael J Perry The Constitution the Courts and Human Rights New Haven Yale University
Press 1982 p 91-145
123Neste ponto entendo que um standard importante que deveria ser adotado para controle de constitucionalidade eacute o de que
quanto maiores forem as credencias democraacuteticas de um ato normativo mais autocontido deve ser o Poder Judiciaacuterio ao avaliar a
sua constitucionalidade Na minha opiniatildeo estas credencias democraacuteticas devem ser aferidas tanto por criteacuterios qualitativos - eg
grau de participaccedilatildeo social no processo legislativo qualidade do processo deliberativo que a antecedeu - como por criteacuterios quanti-
tativos - percentual de votos favoraacuteveis agrave medida Em sentido semelhante veja-se Claacuteudio Ari Mello Democracia e direitos funda-
mentais Op cit p 298
124Em sentido proacuteximo apontam as liccedilotildees de Gustavo Binenbojm e Humberto Aacutevila O primeiro tratando do controle judicial dos
atos administrativos averbou que quanto maior for o grau de tecnicidade da mateacuteria objeto de decisatildeo por oacutergatildeos dotados de
expertise e experiecircncia menos intenso deve ser o grau de controle judicial (Uma teoria do direito administrativo Op cit p
236) Jaacute o segundo salientou que o acircmbito de controle pelo Judiciaacuterio deveraacute ser tanto menor quanto mais difiacutecil e teacutecnico for
o juiacutezo exigido para o tratamento da mateacuteria (Teoria dos princiacutepios Op cit p 126)
125Um exemplo extremado deste posicionamento estaacute na argumentaccedilatildeo adotada pelo STF no julgamento da ADIN 2797 Rel Min
Sepuacutelveda Pertence em que se reconheceu a inconstitucionalidade formal de lei que pretendia interpretar a Constituiccedilatildeo Para o
STF natildeo pode a lei ordinaacuteria pretender impor como seu objeto imediato uma interpretaccedilatildeo a Constituiccedilatildeo a questatildeo eacute de in-
constitucionalidade formal iacutensita a toda norma da gradaccedilatildeo inferior que se proponha a ditar interpretaccedilatildeo de norma superior
Na questatildeo de fundo abordada naquele caso entendo que o STF estava certo Tratava-se de invalidar uma norma legal que esten-
dera o foro de prerrogativa de funccedilatildeo a ex-ocupantes de cargos puacuteblicos visando a restaurar antiga jurisprudecircncia do STF sedi-
mentada na Suacutemula 394 do Tribunal que acabara de ser cancelada O princiacutepio republicano natildeo era compatiacutevel com tal medida
que configurava niacutetido privileacutegio O que me parece inaceitaacutevel e profundamente anti-democraacutetico com a devida vecircnia natildeo eacute o
resultado alcanccedilado pela Corte - com o qual concordo - mas o argumento empregado de que o legislador natildeo pode interpretar a
Constituiccedilatildeo
126Existe hoje uma fecunda produccedilatildeo acadecircmica no cenaacuterio anglo-saxatildeo sobre as vantagens de modelos teoacutericos que favoreccedilam
diaacutelogos entre diversos oacutergatildeos e instituiccedilotildees na interpretaccedilatildeo constitucional ao inveacutes de afirmarem a exclusividade ou mesmo a
supremacia do Judiciaacuterio nesta seara Veja-se a propoacutesito Laurence G Sager Justice in Plainclothes A Theory of American Con-
stitutional Practice New haven Yale University Press 2004 Mark Tushnet Weak Courts Strong Rights Judicial Review and Social
Welfare Rights in Comparative Constitutional Law Princeton Princeton University Press 2008 Mark C Miller Jeb Barnes (Ed)
Making Police Making Law An Interbranch Perspective Washington DC Georgetown University Press 2004
37
127Colhi o exemplo no estudo de Oscar Vilhena Vieira Supremocracia In Daniel Sarmento (Org) Filosofia e teoria constitucional
contemporacircnea Rio de Janeiro Lumen Juris 2009
128Como um natildeo-positivista tenho a necessaacuteria imparcialidade para criticar os equiacutevocos da doutrina brasileira nas suas invectivas
contra o positivismo que muitas vezes caracterizam verdadeira falaacutecia do espantalho ataca-se natildeo a proacutepria teoria positivista
mas uma distorcida caricatura dela Duas afirmaccedilotildees erradas que eu mesmo jaacute fiz em textos anteriores satildeo muito frequumlentes a
de que o positivismo recusa a aplicaccedilatildeo dos princiacutepios juriacutedicos e a de que ele teria sido a Filosofia do Direito cultivada na Alema-
nha nazista
Quanto ao primeiro ponto natildeo haacute nenhuma incompatibilidade loacutegica entre positivismo e princiacutepios desde que os princiacutepios este-
jam devidamente incorporados na ordem juriacutedico-positiva Vaacuterios autores positivistas contemporacircneos jaacute citados neste estudo
como Luis Prietro Sanchiacutes Luigi Ferrajoli e Gregorio Peces-Barba atribuiacuteram espaccedilo importante para princiacutepios nas suas teorias
Mesmo no Direito Puacuteblico brasileiro juristas de inspiraccedilatildeo positivista kelseniana construiacuteram suas teorias com apoio em argumen-
taccedilatildeo principioloacutegica como o falecido Geraldo Ataliba e Celso Antonio Bandeira de Mello
No que tange ao segundo ponto - a chamada redutio ad hitlerum - os estudos mais autorizados de Histoacuteria do Direito comprovam
que natildeo foi o positivismo a teoria juriacutedica dominante no nazismo mas uma espeacutecie de jusnaturalismo de inspiraccedilatildeo hegeliana que
se insurgia contra o formalismo e recorria com frequumlecircncia a conceitos muito vagos para justificar a barbaacuterie como os de comuni-
dade popular (Volksgemeinschaft) Veja-se a propoacutesito Michael Stolleis The Law under the Swastika Studies on Legal History in
Nazi Germany Traduccedilatildeo de Thomas Dunlap Chicago The University of Chicago Press 1998
129Cf Joseacute Joaquim Gomes Canotilho Direito constitucional e Teoria da Constituiccedilatildeo Coimbra Almedina 1998 p 1036
130Sobre a importacircncia das regras veja-se Frederick Schauer Playing by the Rules A Philosophical Exaxamination of Rule-Bases
Decision-Making in Law and Life Oxford Oxford University Press 1998 Humberto Aacutevila Neoconstitucionalismo entre a ciecircncia do
direito e o direito da ciecircncia Op cit Noel Struchiner Posturas institucionais e modelagem institucional a dignidade (contingente)
do formalismo juriacutedico In Daniel Sarmento Filosofia e teoria constitucional contemporacircnea Op cit
131Esta eacute expressatildeo empregada por Ana Paula de Barcellos O direito constitucional em 2006 Revista de Direito do Estado n 5 p
03-23 janmar 2007
132Cf Chaiumlm Perelman P Fories La Motivation des Deacutecisions de Justice Bruxelas Eacutemile Bruylant 1978
133Sobra a influecircncia do jeitinho no Direito brasileiro cf Keith Rosen O jeito na cultura juriacutedica brasileira Rio de Janeiro Reno-
var 1997
134Sobre o patrimonialismo no Brasil veja-se Raimundo Faoro Os donos do poder 8 ed Rio de Janeiro Globo 1989 v 2 p 729-
750
135Raiacutezes do Brasil 26 ed Satildeo Paulo Companhia das Letras 1995
136Cf Joseacute Murilo de Carvalho Brasileiro Cidadatildeo In Pontos e bordados escritos de histoacuteria e poliacutetica Belo Horizonte Ed
UFMG 2005 p 275-288
137Cf Gustavo Zagrebelsky Il Diritto Mite Op cit p 15-19
138Cf Marcelo Neves A constitucionalizaccedilatildeo simboacutelica Satildeo Paulo Acadecircmica 1994
139A obra de Niklas Luhman eacute vasta e complexa e seus textos satildeo de difiacutecil compreensatildeo para os natildeo iniciados Veja-se do proacuteprio
autor Sociologia do direito I e II Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 1983 e 1985 Sistema Jurididico y Dogmaacutetica Juriacutedica Madrid
Centro de Estuacutedios Constitucionales 1983 Confira-se tambeacutem a coletacircnea organizada por Andreacute-Jean Arnaud Dalmir Lopes Jr Do
sistema social agrave sociologia juriacutedica Rio de Janeiro Lumen Juris 2004
140Sobre a autopoieses do Direito veja-se tambeacutem a obra importante de Guumlnther Teubner O direito como sistema autopoieacutetico
Traduccedilatildeo de Joseacute Engracia Nunes Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1993
141Cf Luis Roberto Barroso Neoconstitucionalismo e a constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit
142Esta era basicamente a visatildeo de Hans Kelsen (Cf Hans Kelsen Jurisdiccedilatildeo constitucional Traduccedilatildeo de Alexandre Krug et al Satildeo
Paulo Martins Fontes 2003 p 153) Para uma anaacutelise criacutetica desta posiccedilatildeo veja-se Luis Prietro Sanchiacutes Presupuestos ideoloacutegicos
y doctrinales de la jurisdicioacuten constitucional In Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales Op cit p 21-100
38
143Cf Christian Starck La suprematie La Suprematie de la Constitution et la Justice Constitutionnelle In La Constitution Cadre et
Mesure du Droit Traduccedilatildeo de Freacutederic Weill Paris Econocircmica 1994 p 26-30 Ernst- Wolfgang Boumlckenfoumlrde Les meacutethodes
dinterpretation de la Constitution Un bilan critique In Le Droit lEacutetat et la Constitution Democratique Traduccedilatildeo de Olivier
Jouanjan Paris LGDJ 2000 p 249-250 Virgiacutelio Afonso da Silva Constitucionalizaccedilatildeo do direito os direitos fundamentais nas
relaccedilotildees entre particulares Satildeo Paulo Malheiros 2005 p 107-131 Daniel Sarmento Ubiquumlidade constitucional os dois lados da
moeda Op cit Luis Roberto Barroso Curso de Direito Constitucional Contemporacircneo Op cit p 391-394 Alceu Mauriacutecio Jr
Judicializaccedilatildeo da poliacutetica e a crise do direito constitucional a Constituiccedilatildeo entre ordem marco e ordem fundamenta Revista de
Direito do Estado n 10 p 125-142 abrjun 2008
144Der Staat der Industriegesellshaft 2 ed Muumlnchen Beck 1971 p 144 Apud Robert Alexy Posfaacutecio In Teoria dos direitos
fundamentais Op cit p 578
145De acordo com Carlos Santiago Nino o perfeccionaismo eacute la concepcioacuten seguacuten la cual es una misioacuten legiacutetima del Estado hacer
que los individuos acepten y materializen ideales vaacutelidos de virtud personal Seguacuten este enfoque el Estado no puede permanecer
neutral respecto de concepciones de lo bueno en la vida y debe adoptar las medidas educativas punitorias etc que sean necesa-
rias para que los indiviacuteduos ajusten su vida a los verdaderos ideales de virtud y del bien (Eacutetica y Derechos Humanos Un ensayo de
fundamentacioacuten 2 ed Buenos Aires Astrea 1989 p 413)
146Daniel Sarmento Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas 2 ed Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 Sobre o tema na literatura
nacional veja-se tambeacutem Wilson Antocircnio Steinmetz A vinculaccedilatildeo dos particulares aos direitos fundamentais Satildeo Paulo Malheiros
2004 Virgiacutelio Afonso da Silva Constitucionalizaccedilatildeo do direito os direitos fundamentais nas relaccedilotildees entre particulares Op cit
Ingo Wolfgang Sarlet Direitos fundamentais e direito privado algumas consideraccedilotildees em torno da vinculaccedilatildeo dos particulares aos
direitos fundamentais In Ingo Wolfgang Sarlet (Org) A Constituiccedilatildeo concretizada Porto Alegre Livraria do Advogado 1999 p
129-173 Jane Reis Gonccedilalves Pereira Apontamentos sobre a aplicaccedilatildeo das normas de direito fundamental nas relaccedilotildees juriacutedicas
entre particulares In Luis Roberto Barroso (Org) A nova interpretaccedilatildeo constitucional ponderaccedilatildeo direitos fundamentais e
relaccedilotildees privadas Rio de Janeiro Renovar 2003 p 119-192
147Sobre a questatildeo da (i)legitimidade do perfeccionismo no Direito veja-se Joel Feinberg Rights Justice and the Bounds of Liber-
ty Princeton Princeton University Press 1980 Carlos Santiago Nino Eacutetica y Derechos Humanos Op cit p 413-446 Rainer Forst
Contexts of Justice Political Philosophy beyond Liberalism and Communitarianism Traduccedilatildeo de John M M Farrel Berkeley Uni-
versity of Califoacuternia Press 2001 p 30-87 Macaacuterio Alemany El Paternalismo Juriacutedico Madrid Iustel 2006
148Um sofisticado modelo que busca conciliar a constitucionalizaccedilatildeo do Direito com a democracia estaacute exposto no Poacutesfaacutecio agrave Teo-
ria dos Direitos Fundamentais de Robert Alexy acima citado Veja-se ainda Konrad Hesse Concepto y Cualidad de la Constitu-
cion In Escritos de Derecho Constitucional Traduccedilatildeo de Pedro Cruz Villaloacuten 2 ed 1992 p 03-29
149Tentei articular a minha teoria sobre eficaacutecia horizontal dos direitos fundamentais com este objetivo Cf Daniel Sarmento
Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas Op cit p 141-182 259-272
150Sobre el Neoconstitucionalismo y sus Implicaciones Op cit p 117
151Aqui entendo que o simples reconhecimento da penetraccedilatildeo da Moral no Direito preconizada pelos neoconstitucionalistas brasi-
leiros natildeo eacute suficiente jaacute que certas concepccedilotildees morais podem tornar o ordenamento ainda mais opressivo do que jaacute eacute Afinal
nem sempre a moralizaccedilatildeo do Direito se daacute na direccedilatildeo da emancipaccedilatildeo dos excluiacutedos Veja-se por exemplo a famosa polecircmica
jusfilosoacutefica entre Lord Patrick Devlin e Herbert Hart nos anos 60 na Inglaterra a propoacutesito do uso do Direito Penal para promoccedilatildeo
de Moral em que o primeiro a partir de uma posiccedilatildeo proacute-moral sustentava a legitimidade da criminalizaccedilatildeo da conduta homos-
sexual que o segundo contestava (Cf Lord Patrick Devlin Morals and Criminal Law In Ronald Dworkin (Ed) The Philosophy of
Law Op cit p 66-82 Herbert Hart Immorality and Treason In Idem ibidem)
Eacute preciso assentar as bases criacuteticas desta Moral que deve penetrar o Direito para evitar que o moralismo conservador seja expulso
do ordenamento pela porta da frente superado pela legislaccedilatildeo moderna em razatildeo da progressiva liberalizaccedilatildeo da sociedade mas
volte pela porta dos fundos atraveacutes da argumentaccedilatildeo juriacutedica dos juiacutezes lastreada em conceitos vagos como ordem puacuteblica e
bons constumes ou em standards como o comportamento do bom pai de famiacutelia
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Apesar destas mudanccedilas importantes que podem ser associadas ao neoconstitucionalismo o uso
da expressatildeo no Brasil eacute mais recente seguindo-se agrave ampla difusatildeo que recebeu na academia
brasileira a jaacute citada obra Neoconstitucionalismo(s) organizada por Miguel Carbonell e publi-
cada em 2003 De laacute para caacute muito se tem escrito sobre o toacutepico e vaacuterios autores nacionais
aderiram explicitamente agrave corrente como Luis Roberto Barroso80 Lecircnio Luiz Streck 81Antonio
Cavalcanti Maia82 Ana Paula de Barcellos83 Diogo de Figueiredo Moreira Neto84 Paulo Ricardo
Schier85 Eduardo Moreira86 Eacutecio Otto Ramos Duarte87 e Thomas Rosa de Bustamante88 Outros
adotaram postura criacutetica sobre a nova perspectiva como Joseacute Ribas Vieira Dimitri Dimoulis89 e
Humberto Aacutevila90 E pode-se notar pela leitura dos trabalhos destes e de outros autores brasi-
leiros que haacute um relativo consenso na definiccedilatildeo das caracteriacutesticas centrais do novo paradig-
ma valorizaccedilatildeo dos princiacutepios adoccedilatildeo de meacutetodos ou estilos mais abertos e flexiacuteveis na her-
menecircutica juriacutedica com destaque para a ponderaccedilatildeo abertura da argumentaccedilatildeo juriacutedica agrave
Moral mas sem recair nas categorias metafiacutesicas do jusnaturalismo reconhecimento e defesa
da constitucionalizaccedilatildeo do Direito e do papel de destaque do Judiciaacuterio na agenda de imple-
mentaccedilatildeo dos valores da Constituiccedilatildeo
Estas novas ideacuteias jaacute reverberam fortemente na jurisprudecircncia nacional sobretudo do Supremo
Tribunal Federal que nos uacuteltimos tempos tem cada vez mais invocado princiacutepios abertos nos
seus julgamentos recorrido agrave ponderaccedilatildeo de interesses e ao princiacutepio da proporcionalidade
com frequumlecircncia e ateacute se valido de referecircncias filosoacuteficas na fundamentaccedilatildeo de decisotildees Aliaacutes
eacute digna de nota a influecircncia da doutrina constitucional na atuaccedilatildeo do Supremo Tribunal Fede-
ral O fenocircmeno eacute relativamente recente uma vez que logo apoacutes a promulgaccedilatildeo da Constitui-
ccedilatildeo de 88 havia um profundo hiato entre o campo doutrinaacuterio que cobrava a efetivaccedilatildeo da
Constituiccedilatildeo pela via judicial e a jurisprudecircncia do STF tiacutemida e reticente diante dos valores
e das inovaccedilotildees da nova Carta - vg orientaccedilatildeo entatildeo adotada pela Corte em relaccedilatildeo ao man-
dado de injunccedilatildeo e ao controle judicial das medidas provisoacuterias Aquele quadro podia em parte
ser debitado agrave duvidosa opccedilatildeo do constituinte originaacuterio de manter no STF os ministros nomea-
dos durante o governo militar que natildeo tinham sintonia poliacutetico-ideoloacutegica nem boa vontade
diante do novo sistema constitucional e que por isso se apegavam a visotildees e interpretaccedilotildees
assentadas durante o regime preteacuterito muitas delas francamente incompatiacuteveis com a nova
ordem Mas hoje apoacutes a completa renovaccedilatildeo do STF constata-se um quadro radicalmente di-
ferente a maioria dos ministros do STF eacute composta por professores de Direito Constitucional
de grande reputaccedilatildeo acadecircmica que ateacute pela origem tecircm mais contato com a produccedilatildeo inte-
lectual de ponta na aacuterea e satildeo mais suscetiacuteveis agrave influecircncia das novas correntes de pensamen-
to
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Como ressaltado esta mudanccedila de paradigma se reflete vivamente na jurisprudecircncia do STF
Satildeo exemplos eloquumlentes a alteraccedilatildeo da posiccedilatildeo da Corte em relaccedilatildeo aos direitos sociais antes
tratados como normas programaacuteticas e hoje submetidos a uma intensa proteccedilatildeo judicial 91o
reconhecimento da eficaacutecia horizontal dos direitos fundamentais92 a mutaccedilatildeo do entendimen-
to do Tribunal em relaccedilatildeo agraves potencialidades do mandado de injunccedilatildeo 93e a progressiva supe-
raccedilatildeo da visatildeo claacutessica kelseniana da jurisdiccedilatildeo constitucional que a equiparava ao legislador
negativo com a admissatildeo de teacutecnicas decisoacuterias mais heterodoxas94 como as declaraccedilotildees de
inconstitucionalidade sem pronuacutencia de nulidade e as sentenccedilas aditivas E para completar o
quadro deve-se acrescentar as mudanccedilas acarretadas por algumas inovaccedilotildees processuais re-
centes na nossa jurisdiccedilatildeo constitucional que permitiram a participaccedilatildeo dos amici curiae bem
como a realizaccedilatildeo de audiecircncias puacuteblicas no acircmbito do processo constitucional ampliando a
possibilidade de atuaccedilatildeo da sociedade civil organizada no STF95
Naturalmente a nova postura de ativismo judicial do STF estimula as forccedilas sociais a procuraacute-
lo com mais frequumlecircncia e contribui para uma significativa alteraccedilatildeo na agenda da Corte Atu-
almente ao lado das questotildees mais tradicionais de Direito Puacuteblico o STF tem se defrontado
com novos temas fortemente impregnados de conteuacutedo moral como as discussotildees sobre a vali-
dade de pesquisa em ceacutelulas-tronco embrionaacuterias96 aborto de feto anenceacutefalo97 e uniatildeo entre
pessoas do mesmo sexo98 Ademais o Tribunal passou a intervir de forma muito mais ativa no
processo poliacutetico adotando decisotildees que se refletem de forma direta e profunda sobre a atua-
ccedilatildeo dos demais poderes do Estado Para citar apenas alguns casos pode-se falar da decisatildeo que
assentou que a mudanccedila de partido implica salvo determinadas exceccedilotildees perda de mandato
parlamentar99 da que estabeleceu criteacuterios riacutegidos para a fixaccedilatildeo do nuacutemero de vereadores de
acordo com a respectiva populaccedilatildeo100 e da intensificaccedilatildeo do controle jurisdicional dos atos das
CPIs bem como dos pressupostos de ediccedilatildeo das medidas provisoacuterias
Poreacutem haacute um componente curioso na recepccedilatildeo deste novo paradigma juriacutedico pelo Judiciaacuterio
brasileiro Embora ainda natildeo existam estudos empiacutericos a este respeito tenho a forte intuiccedilatildeo
de que a penetraccedilatildeo destas novas ideacuteias associadas ao neoconstitucionalismo eacute forte na cuacutepula
e na base da hierarquia judicial mas ainda tiacutemida nos seus escalotildees intermediaacuterios E as causas
natildeo satildeo de difiacutecil compreensatildeo Em relaccedilatildeo agrave cuacutepula - os ministros do STF - as razotildees jaacute foram
explicadas acima Jaacute no que tange agrave base do Judiciaacuterio boa parte dos juiacutezes de 1ordm grau teve a
sua formaccedilatildeo num ambiente acadecircmico que jaacute valorizava o Direito Constitucional e reconhecia
a forccedila normativa dos direitos fundamentais e dos princiacutepios constitucionais Assim eles ten-
dem a levar para a sua praacutetica profissional esta visatildeo do Direito Poreacutem sobretudo na 2ordf ins-
tacircncia composta majoritariamente por magistrados que se formaram e foram socializados no
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seu meio institucional sob a eacutegide do paradigma juriacutedico anterior muito mais voltado para os
coacutedigos e para a letra da lei do que para a Constituiccedilatildeo e seus princiacutepios haacute maior resistecircncia agrave
incorporaccedilatildeo dos novos vetores constitucionais Contudo este fenocircmeno tende a diminuir com
o tempo seja pela consolidaccedilatildeo do paradigma constitucional emergente seja pela promoccedilatildeo
de magistrados mais antenados com o novo constitucionalismo seja ateacute pela influecircncia do pen-
samento e das orientaccedilotildees da cuacutepula do Judiciaacuterio sobre todas as suas instacircncias
No cenaacuterio brasileiro o neoconstitucionalismo eacute tambeacutem impulsionado por outro fenocircmeno a
descrenccedila geral da populaccedilatildeo em relaccedilatildeo agrave poliacutetica majoritaacuteria e em especial o descreacutedito
no Poder Legislativo e nos partidos poliacuteticos101 A percepccedilatildeo geral alimentada por sucessivos
escacircndalos e pelo discurso de alguns meios de comunicaccedilatildeo social de que a poliacutetica parlamen-
tar e partidaacuteria satildeo esferas essencialmente corrompidas que se movem exclusivamente em
torno de interesses e natildeo de valores gera em alguns setores a expectativa de que a soluccedilatildeo
para os problemas nacionais possa vir do Judiciaacuterio102 E este sentimento eacute fortalecido quando
a Justiccedila adota decisotildees em consonacircncia com a opiniatildeo puacuteblica - como ocorreu no recebimento
da denuacutencia criminal no caso do mensalatildeo na definiccedilatildeo de perda do mandato por infidelidade
partidaacuteria e na proibiccedilatildeo do nepotismo na Administraccedilatildeo Puacuteblica
Por outro lado a ascensatildeo institucional do Judiciaacuterio e a riqueza e importacircncia praacutetica ou sim-
boacutelica dos temas que ele vem julgando tem provocado um grande aumento no interesse da so-
ciedade pelo Direito Constitucional e pela atuaccedilatildeo do Supremo Tribunal Federal Eacute difiacutecil um
dia em que os principais meios de comunicaccedilatildeo natildeo discutam alguma decisatildeo da Corte ou mani-
festaccedilatildeo de qualquer dos seus membros E este fenocircmeno eacute potencializado tanto pela extro-
versatildeo midiaacutetica de alguns ministros como tambeacutem pelo fato - sem precedentes em outros
paiacuteses - do televisionamento das sessotildees do STF Com tudo isso as questotildees constitucionais
que antes eram apenas discutidas dentro de um ciacuterculo muito restrito de iniciados hoje satildeo
amplamente debatidas no espaccedilo puacuteblico
Neste quadro em que pesem as muacuteltiplas resistecircncias que sofre eacute possiacutevel apontar a emergecircn-
cia de uma nova forma de conceber o Direito e o Estado na sociedade brasileira contemporacirc-
nea que se quisermos adotar a terminologia hoje em voga pode ser chamada de neoconstitu-
cionalismo
4 Trecircs objeccedilotildees ao neoconstitucionalismo
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Nas proacuteximas linhas abordarei de maneira breve trecircs criacuteticas que podem ser levantadas con-
tra o neoconstitucionalismo (a) a de que o seu pendor judicialista eacute anti-democraacutetico (b) a de
que a sua preferecircncia por princiacutepios e ponderaccedilatildeo em detrimento de regras e subsunccedilatildeo eacute
perigosa sobretudo no Brasil em razatildeo de singularidades da nossa cultura e (c) a de que ele
pode gerar uma panconstitucionalizaccedilatildeo do Direito em detrimento da autonomia puacuteblica do
cidadatildeo e da autonomia privada do indiviacuteduo Outras criacuteticas importantes existem103 mas por
limites de tempo e espaccedilo preferi priorizar aqui estas trecircs que satildeo as que geram maior apre-
ensatildeo no cenaacuterio brasileiro
a) Neoconstitucionalismo e judiciocracia
Como salientado acima o neoconstitucionalismo tem um foco muito centrado no Poder Judici-
aacuterio no qual deposita enormes expectativas no sentido de concretizaccedilatildeo dos ideais emancipa-
toacuterios presentes nas constituiccedilotildees contemporacircneas Contudo este vieacutes judicialista sofre con-
testaccedilotildees pelo seu suposto caraacuteter antidemocraacutetico na medida em que os juiacutezes diferente-
mente dos parlamentares e chefes do Executivo natildeo satildeo eleitos e natildeo respondem diretamente
perante o povo104
Esta criacutetica democraacutetica se assenta na ideacuteia de que numa democracia eacute essencial que as deci-
sotildees poliacuteticas mais importantes sejam tomadas pelo proacuteprio povo ou por seus representantes
eleitos e natildeo por saacutebios ou tecnocratas de toga Eacute verdade que a maior parte dos teoacutericos con-
temporacircneos da democracia reconhece que ela natildeo se esgota no respeito ao princiacutepio majoritaacute-
rio pressupondo antes o acatamento das regras do jogo democraacutetico que incluem a garantia
de direitos baacutesicos visando a viabilizar a participaccedilatildeo igualitaacuteria do cidadatildeo na esfera puacuteblica
bem como alguma proteccedilatildeo agraves minorias105 Poreacutem temos aqui uma questatildeo de dosagem pois
se a imposiccedilatildeo de alguns limites para a decisatildeo das maiorias pode ser justificada em nome da
democracia o exagero tende a revelar-se antidemocraacutetico por cercear em demasia a possibi-
lidade do povo de se autogovernar106
E a questatildeo natildeo eacute apenas de divisatildeo de poder ao longo do tempo A dificuldade democraacutetica
natildeo estaacute tatildeo-somente no fato de as constituiccedilotildees subtraiacuterem do legislador futuro a possibilida-
de de tomar algumas decisotildees107 O cerne do debate estaacute no reconhecimento de que diante da
vagueza e abertura de boa parte das normas constitucionais mais importantes quem as inter-
preta tambeacutem participa do seu processo de criaccedilatildeo108 Daiacute a criacutetica de que o vieacutes judicialista
subjacente ao neoconstitucionalismo acaba por conferir aos juiacutezes uma espeacutecie de poder cons-
tituinte permanente pois lhes permite moldar a Constituiccedilatildeo de acordo com as suas preferecircn-
cias poliacuteticas e valorativas em detrimento daquelas do legislador eleito Esta visatildeo levou inuacute-
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meras correntes de pensamento ao longo da histoacuteria a rejeitarem a jurisdiccedilatildeo constitucional
ou pelo menos o ativismo judicial no seu exerciacutecio dos revolucionaacuterios franceses do seacuteculo XVI-
II109 passando por Carl Schmitt110 na Repuacuteblica de Weimar ateacute os adeptos do constituciona-
lismo popular nos Estados Unidos de hoje111
No Brasil eacute muito comum traccedilar-se um paralelo entre a defesa do ativismo judicial e posiccedilotildees
sociais progressistas Talvez isso se deva ao fato de que na nossa histoacuteria o Judiciaacuterio brasilei-
ro tem pecado muito mais por omissatildeo acumpliciando-se diante dos desmandos dos poderes
poliacutetico e econocircmico do que por excesso de ativismo Neste quadro quem ousa questionar
possiacuteveis exageros na judicializaccedilatildeo da poliacutetica e da vida social no Brasil de hoje eacute logo tachado
de conservador Poreacutem o paralelismo em questatildeo natildeo existe Muitas vezes o Poder Judiciaacuterio
pode atuar bloqueando mudanccedilas importantes promovidas pelos outros poderes em favor dos
excluiacutedos defendendo o statu quo E esta defesa pode ocorrer inclusive atraveacutes do uso da retoacute-
rica dos direitos fundamentais
Isso se deu por exemplo nos Estados Unidos nas primeiras deacutecadas do seacuteculo passado em pe-
riacuteodo que ficou conhecido como Era de Lochner112 quando a Suprema Corte impediu sistemati-
camente a ediccedilatildeo de legislaccedilatildeo trabalhista e de outras medidas que implicavam em interferecircn-
cia na esfera econocircmica em proveito das classes desfavorecidas com base numa leitura subs-
tantiva da claacuteusula do devido processo legal No cenaacuterio contemporacircneo Ran Hirshl113 sustenta
que o processo de judicializaccedilatildeo da poliacutetica que vem ocorrendo nos uacuteltimos anos em diversos
paiacuteses do mundo - ele fez um atento ainda que controvertido estudo dos casos do Canadaacute
Israel Aacutefrica do Sul e Nova Zelacircndia - teria como pano de fundo uma tentativa das elites eco-
nocircmicas e culturais que perderam espaccedilo na poliacutetica majoritaacuteria de manterem o seu poder
reforccedilando no arranjo institucional do Estado o peso do Judiciaacuterio no qual elas ainda tecircm he-
gemonia E aqui no Brasil seraacute que a proteccedilatildeo absoluta que vem sendo conferida ao direito
adquirido - inclusive o de furar teto salarial do funcionalismo fixado por emenda agrave Constituiccedilatildeo
114 - e o ultra-garantismo penal nos crimes do colarinho branco natildeo seriam exemplos deste
mesmo fenocircmeno
Por outro lado uma ecircnfase excessiva no espaccedilo judicial pode levar ao esquecimento de outras
arenas importantes para a concretizaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo e realizaccedilatildeo de direitos gerando um
resfriamento da mobilizaccedilatildeo ciacutevica do cidadatildeo Eacute verdade que o ativismo judicial pode em
certos contextos atuar em sinergia com a mobilizaccedilatildeo social na esfera puacuteblica Isto ocorreu
por exemplo no movimento dos direitos civis nos Estados Unidos dos anos 50 e 60 que foi a-
quecido pelas respostas positivas obtidos na Suprema Corte no periacuteodo da Corte de Warren115
Mas nem sempre eacute assim A ecircnfase judicialista pode afastar do cenaacuterio de disputa por direitos
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as pessoas e movimentos que natildeo pertenccedilam nem tenham proximidade com as corporaccedilotildees
juriacutedicas
Ademais esta obsessatildeo com a interpretaccedilatildeo judicial da Constituiccedilatildeo tende a obscurecer o pa-
pel central de outras instacircncias na definiccedilatildeo do sentido da Constituiccedilatildeo - como o Legislativo o
Executivo e a proacutepria esfera puacuteblica informal Trata-se de um desvio que gera consequumlecircncias
negativas tanto no plano descritivo como na esfera normativa Sob o prisma descritivo trans-
mite-se uma imagem muito parcial do fenocircmeno constitucional que natildeo eacute captado com todas
as suas nuances e riquezas jaacute que o foco se concentra apenas sobre a accedilatildeo de um dentre os
vaacuterios agentes importantes que povoam a seara da hermenecircutica constitucional116 Sob o acircngu-
lo normativo favorece-se um governo agrave moda platocircnica de saacutebios de toga117 que satildeo convida-
dos a assumir uma posiccedilatildeo paternalista diante de uma sociedade infantilizada118 Justifica-se o
ativismo judicial a partir de uma visatildeo muito criacutetica do processo poliacutetico majoritaacuterio mas que
ignora as inuacutemeras mazelas que tambeacutem afligem o Poder Judiciaacuterio construindo-se teorias a
partir de visotildees romacircnticas e idealizadas do juiz119 Soacute que se eacute verdade que o processo poliacuteti-
co majoritaacuterio tem seus viacutecios - e eles satildeo muito graves no cenaacuterio brasileiro - tambeacutem eacute certo
que os juiacutezes natildeo satildeo semi-deuses e que a esfera em que atuam tampouco eacute imune agrave poliacutetica
com p menor
Esta idealizaccedilatildeo da figura do juiz natildeo se compadece com algumas notoacuterias deficiecircncias que o
Judiciaacuterio brasileiro enfrenta Dentre elas pode-se destacar a sobrecarga de trabalho que
compromete a capacidade dos magistrados de dedicarem a cada processo o tempo e a energia
necessaacuterias para que faccedilam tudo que o que demandam as principais teorias da argumentaccedilatildeo
defendidas pelo neoconstitucionalismo E cabe referir tambeacutem agraves lacunas na formaccedilatildeo do ma-
gistrado brasileiro decorrentes sobretudo das falhas de um ensino juriacutedico formalista e nada
interdisciplinar que ainda viceja no paiacutes que natildeo satildeo corrigidas nos procedimentos de seleccedilatildeo
e treinamento dos juiacutezes
Outra consequumlecircncia da obsessatildeo judicialista do constitucionalismo brasileiro contemporacircneo
estaacute refletida na nossa produccedilatildeo acadecircmica Enquanto somos inundados por livros e artigos
muitas vezes repetitivos sobre assuntos como princiacutepios e regras interpretaccedilatildeo constitucional
e tutela judicial de direitos fundamentais outros temas absolutamente essenciais para a vida
do paiacutes passam ao largo da preocupaccedilatildeo dos juristas Eacute o caso da reforma poliacutetica Em que pese
o caraacuteter essencialmente constitucional do assunto quase nenhum constitucionalista se inte-
ressou por ele 120e praticamente toda a literatura de qualidade produzida sobre o toacutepico tem
vindo da Ciecircncia Poliacutetica
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Estou convencido de que o Poder Judiciaacuterio tem um papel essencial na concretizaccedilatildeo da Consti-
tuiccedilatildeo brasileira Em face do quadro de sistemaacutetica violaccedilatildeo de direitos de certos segmentos da
populaccedilatildeo do arranjo institucional desenhado pela Carta de 88 e da seacuteria crise de representa-
tividade do Poder Legislativo entendo que o ativismo judicial se justifica no Brasil pelo menos
em certas searas como a tutela de direitos fundamentais a proteccedilatildeo das minorias e a garantia
do funcionamento da proacutepria democracia O maior insulamento judicial diante da pressatildeo das
maiorias bem como um certo ethos profissional de valorizaccedilatildeo dos direitos humanos que co-
meccedila a se instalar na nossa magistratura 121 conferem ao Judiciaacuterio uma capacidade institu-
cional privilegiada para atuar nestas aacutereas122
Mas em outros campos pode ser mais recomendaacutevel uma postura de autocontenccedilatildeo judicial
seja por respeito agraves deliberaccedilotildees majoritaacuterias adotadas no espaccedilo poliacutetico123 seja pelo reco-
nhecimento da falta de expertise do Judiciaacuterio para tomar decisotildees que promovam eficiente-
mente os valores constitucionais em jogo em aacutereas que demandem profundos conhecimentos
teacutecnicos fora do Direito - como Economia poliacuteticas puacuteblicas e regulaccedilatildeo124 Nestes casos deve-
se reconhecer que outros oacutergatildeos do Estado estatildeo mais habilitados para assumirem uma posiccedilatildeo
de protagonismo na implementaccedilatildeo da vontade constitucional
Nesta linha vejo com reticecircncias a sedimentaccedilatildeo na nossa cultura juriacutedica da visatildeo de que o
grande - senatildeo o uacutenico - inteacuterprete da Constituiccedilatildeo seria o Poder Judiciaacuterio125 Esta leitura des-
carta a autocontenccedilatildeo judicial bem como tende a desprezar a possibilidade de que sejam tra-
vados construtivos diaacutelogos interinstitucionais entre diversos oacutergatildeos estatais para a definiccedilatildeo da
melhor interpretaccedilatildeo dos ditames constitucionais126 Um bom exemplo127 deste desvio ocorreu
no julgamento da constitucionalidade das pesquisas em ceacutelulas-tronco embrionaacuterias realizada
pelo STF em que pese o resultado final do julgamento ter sido substancialmente correto Na-
quela ocasiatildeo o importante argumento deduzido na tribuna e em memoriais por Luis Roberto
Barroso - que advogava para um dos amici curiae favoraacuteveis agraves pesquisas - de que o Judiciaacuterio
deveria adotar posiccedilatildeo cautelosa no julgamento da constitucionalidade da lei impugnada ten-
do em vista o amplo consenso em torno dela obtido durante o processo legislativo tanto no
Senado como na Cacircmara foi explicitamente rechaccedilado por alguns ministros que consideraram
o ponto irrelevante E outros ministros em votos vencidos se sentiram confortaacuteveis ateacute para
defender a imposiccedilatildeo de novas normas pelo STF na aacuterea do Biodireito arvorando-se agrave condiccedilatildeo
de legisladores num campo para o qual evidentemente lhes faltava qualquer expertise
Enfim o neoconstitucionalismo brasileiro tem pecado por excesso depositando no Judiciaacuterio
expectativas que ele nem sempre teraacute como atender de forma satisfatoacuteria Um dos efeitos co-
laterais deste fenocircmeno eacute a disseminaccedilatildeo de um discurso muito perigoso de que voto e poliacuteti-
20
ca natildeo satildeo tatildeo importantes pois relevante mesmo eacute a interpretaccedilatildeo dos princiacutepios constitucio-
nais realizada pelo STF Daiacute a dizer que o povo natildeo sabe votar eacute um pulo e a ditadura de toga
pode natildeo ser muito melhor do que a ditadura de farda
b) Neoconstitucionalismo oba-oba constitucional e Estado Democraacutetico de Direito
Seria uma profunda injusticcedila com a teoria neoconstitucionalista acusaacute-la de promover o decisi-
onismo ou de defender a tomada de decisotildees judiciais puramente emotivas sem lastro em ar-
gumentaccedilatildeo racional soacutelida Pelo contraacuterio como foi destacado acima um dos eixos centrais
do pensamento neoconstitucional eacute a reabilitaccedilatildeo da racionalidade praacutetica no acircmbito juriacutedico
com a articulaccedilatildeo de complexas teorias da argumentaccedilatildeo que demandam muito dos inteacuterpre-
tes e sobretudo dos juiacutezes em mateacuteria de fundamentaccedilatildeo das suas decisotildees Poreacutem a praacutetica
judiciaacuteria brasileira recepcionou apenas parcialmente as teorias juriacutedicas de corte poacutes-
positivista e aqui a valorizaccedilatildeo dos princiacutepios e da ponderaccedilatildeo natildeo tem sido muitas vezes
acompanhada do necessaacuterio cuidado com a justificaccedilatildeo das decisotildees
Se ateacute natildeo muito tempo atraacutes os princiacutepios natildeo eram tratados como autecircnticas normas por
aqui - soacute tinha bom direito quem podia invocar uma regra legal clara e precisa em favor da sua
pretensatildeo - com a chegada do poacutes-positivismo e do neoconstitucionalismo passou-se em pou-
cos anos da aacutegua para o vinho Hoje instalou-se um ambiente intelectual no Brasil que aplaude
e valoriza as decisotildees principioloacutegicas e natildeo aprecia tanto aquelas calcadas em regras legais
que satildeo vistas como burocraacuteticas ou positivistas - e positivismo hoje no paiacutes eacute quase um pala-
vratildeo128 Neste contexto os operadores do Direito satildeo estimulados a invocar sempre princiacutepios
muito vagos nas suas decisotildees mesmo quando isso seja absolutamente desnecessaacuterio pela e-
xistecircncia de regra clara e vaacutelida a reger a hipoacutetese Os campeotildees tecircm sido os princiacutepios da dig-
nidade da pessoa humana e da razoabilidade O primeiro eacute empregado para dar imponecircncia ao
decisionismo judicial vestindo com linguagem pomposa qualquer decisatildeo tida como politica-
mente correta e o segundo para permitir que os juiacutezes substituam livremente as valoraccedilotildees de
outros agentes puacuteblicos pelas suas proacuteprias
Este cenaacuterio eacute problemaacutetico porque um sistema juriacutedico funcional estaacutevel e harmocircnico com os
valores do Estado Democraacutetico de Direito precisa tanto da aplicaccedilatildeo de regras como de princiacute-
pios129 As regras satildeo indispensaacuteveis dentre outras razotildees130 porque geram maior previsibili-
dade e seguranccedila juriacutedica para os seus destinataacuterios diminuem os riscos de erro na sua inci-
decircncia jaacute que natildeo dependem tanto das valoraccedilotildees do inteacuterprete em cada caso concreto en-
volvem um menor custo no seu processo de aplicaccedilatildeo pois podem incidir de forma mais mecacirc-
nica sem demandarem tanto esforccedilo do inteacuterprete e natildeo implicam na mesma medida que os
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princiacutepios em uma transferecircncia de poder decisoacuterio do Legislativo que eacute eleito para o Judici-
aacuterio que natildeo eacute
Natildeo pretendo sustentar com isso que se deva retroceder ao tempo em que os princiacutepios natildeo
eram aplicados pelos juiacutezes brasileiros Tambeacutem os princiacutepios satildeo essenciais na ordem juriacutedica
pois conferem mais plasticidade ao Direito - o que eacute essencial numa sociedade hiper-complexa
como a nossa - e permitem uma maior abertura da argumentaccedilatildeo juriacutedica agrave Moral e ao mundo
empiacuterico subjacente O importante eacute encontrar uma justa medida que natildeo torne o processo de
aplicaccedilatildeo do Direito amarrado demais como ocorreria num sistema baseado exclusivamente
em regras nem solto demais como sucederia com um que se fundasse apenas em princiacutepios
Penso que eacute chegada a hora de um retorno do pecircndulo no Direito brasileiro131 que sem des-
cartar a importacircncia dos princiacutepios e da ponderaccedilatildeo volte a levar a seacuterio tambeacutem as regras e a
subsunccedilatildeo
Ademais naquelas hipoacuteteses em que a aplicaccedilatildeo de princiacutepios for realmente apropriada ela
deve dar-se de forma mais racional e fundamentada Deve-se adotar a premissa de que quanto
mais vaga for a norma a ser aplicada e mais intenso o componente volitivo envolvido no pro-
cesso decisoacuterio maior deve ser o ocircnus argumentativo do inteacuterprete no sentido de mostrar que
a soluccedilatildeo por ele adotada eacute a que melhor realiza os valores do ordenamento naquele caso con-
creto132 A tendecircncia atual de invocaccedilatildeo frouxa e natildeo fundamentada de princiacutepios colide com a
loacutegica do Estado Democraacutetico de Direito pois amplia as chances de arbiacutetrio judicial gera inse-
guranccedila juriacutedica e atropela a divisatildeo funcional de poderes que tem no ideaacuterio democraacutetico um
dos seus fundamentos - a noccedilatildeo baacutesica de que as decisotildees sobre o que os cidadatildeos e o Estado
podem e natildeo podem fazer devem ser tomadas preferencialmente por quem represente o povo
e seja por ele escolhido
E haacute na sociedade brasileira traccedilos que tornam ainda mais perigosa esta tendecircncia agrave frouxidatildeo
e emotividade na metodologia juriacutedica Nossa cultura caracteriza-se muito mais pelo jeiti-
nho133 e pelo patrimonialismo134 do que pela valorizaccedilatildeo do cumprimento impessoal de regras
O brasileiro - jaacute dizia Seacutergio Buarque de Holanda135 - eacute o homem cordial que tende a antepor
a loacutegica privada do compadrio e da simpatia agrave racionalidade objetiva das leis Esta singularida-
de das nossas relaccedilotildees sociais natildeo atua de forma neutra em relaccedilatildeo a todos os cidadatildeos Ela
implica na adoccedilatildeo de posturas estatais em geral muito benevolentes em relaccedilatildeo aos donos do
poder e seus apaniguumlados e de posiccedilotildees muito mais duras dirigidas aos grupos excluiacutedos e mar-
ginalizados136 Uns poucos acabam pairando acima das leis que natildeo os alcanccedilam para limitar a
sua conduta ou sancionar os seus desvios enquanto outros permanecem abaixo dela sendo
22
atingidos apenas pelo braccedilo punitivo do Estado pois a violaccedilatildeo rotineira dos seus direitos eacute
naturalizada tornando-se invisiacutevel
Neste quadro cabe indagar sob a perspectiva de uma sociologia da interpretaccedilatildeo constitucio-
nal ateacute que ponto a introduccedilatildeo entre noacutes de uma dogmaacutetica fluida - a expressatildeo eacute de Gusta-
vo Zagrebelsky137 um dos iacutecones do neoconstitucionalismo - natildeo pode ter como efeito colateral
o agravamento de patologias que marcam as nossas relaccedilotildees sociais Seraacute que o nosso Direito
precisa de mais rigidez ou de maior maleabilidade Ao fim e ao cabo quem tende a se benefi-
ciar com a adoccedilatildeo de uma hermenecircutica juriacutedica mais flexiacutevel
Uma reflexatildeo importante sobre tema correlato foi empreendida por Marcelo Neves138 a partir
das categorias da teoria sistecircmica de Niklas Luhman Para Luhman139 em apertada siacutentese o
Direito nas hipercomplexas sociedades modernas seria autopoieacutetico140 pois consistiria num
subsistema social estruturalmente fechado em relaccedilatildeo ao meio envolvente que operaria de
acordo com um coacutedigo binaacuterio proacuteprio - o liacutecito iliacutecito As influecircncias do meio envolvente so-
bre o Direito seriam filtradas atraveacutes deste coacutedigo assegurando a autonomia da esfera juriacutedica
diante dos outros subsistemas sociais como a Economia a Poliacutetica a Religiatildeo etc Contudo
Marcelo Neves sustenta que em sociedades perifeacutericas como o Brasil natildeo se desenvolveu ple-
namente este fechamento estrutural do Direito Por aqui fatores como a nossa constituciona-
lizaccedilatildeo simboacutelica geraram uma insuficiente diferenciaccedilatildeo do Direito em relaccedilatildeo a outros sub-
sistemas sociais permitindo que elementos a princiacutepio estranhos ao coacutedigo binaacuterio do juriacutedico -
como a questatildeo do poder poliacutetico e do poder econocircmico - se infiltrem sistematicamente nos
processos de aplicaccedilatildeo das normas condicionando o seu resultado A teoria dos sistemas de
Luhman natildeo funcionaria bem entre noacutes pois teriacuteamos um Direito em boa parte alopoieacuteti-
coPara tal perspectiva esta maior abertura do Direito ao meio envolvente natildeo assume o po-
tencial emancipatoacuterio preconizado pela teoria neoconstitucionalista Ela funciona muito mais
como um mecanismo de cristalizaccedilatildeo de diferenccedilas sociais mantendo a hiper-inclusatildeo de uns
ao preccedilo da exclusatildeo de outros
Esta reflexatildeo de Marcelo Neves natildeo se dirigiu ao debate metodoloacutegico contemporacircneo envol-
vendo princiacutepios e regras ponderaccedilatildeo e subsunccedilatildeo etc Poreacutem entendo que ela pode ter algu-
ma pertinecircncia tambeacutem aqui pelo menos para nos advertir sobre o perigo de que o neoconsti-
tucionalismo com a fluidez metodoloacutegica e abertura do Direito a outros domiacutenios que preconi-
za possa acabar tornando-se um belo roacutetulo para justificar mais do mesmo patrimonialismo
desigualdade jeitinho Nesta perspectiva a novidade do neoconstitucionalismo poderia pare-
cer com aquela advogada pelo Priacutencipe de Salinas em famosa passagem do romance O Leopar-
do de Giuseppe Lampedusa quando defendia no contexto da crise da aristocracia italiana do
23
final do seacuteculo XIX a necessidade de mudanccedilas urgentes no governo para que ao final as
coisas pudessem permanecer exatamente do jeito que sempre foram
Natildeo penso que esta seja uma consequumlecircncia necessaacuteria da adoccedilatildeo de uma perspectiva juriacutedica
mais principialista no Brasil O maior cuidado metodoloacutegico adicionado agrave adoccedilatildeo de uma dire-
triz hermenecircutica substantiva que afirme a missatildeo essencial do Direito de assegurar justiccedila e
seguranccedila agraves pessoas tratando-as como livres e iguais pode minimizar as possibilidades de um
uso enviesado da teoria neoconstitucional que acabe favorecendo aos mesmos de sempre
Mas diante das nossas tradiccedilotildees natildeo haacute como negar que os riscos satildeo elevados
c) Neoconstitucionalismo e panconstitucionalizaccedilatildeo
Uma das caracteriacutesticas do neoconstitucionalismo eacute a defesa da constitucionalizaccedilatildeo do Direi-
to Sustenta-se que a irradiaccedilatildeo das normas constitucionais por todo o ordenamento contribui
para aproximaacute-lo dos valores emancipatoacuterios contidos nas constituiccedilotildees contemporacircneas 141A
Constituiccedilatildeo natildeo eacute vista mais como uma simples norma normarum - cuja finalidade principal eacute
disciplinar o processo de produccedilatildeo de outras normas142 Ela passa a ser enxergada como a en-
carnaccedilatildeo dos valores superiores da comunidade poliacutetica que devem fecundar todo o sistema
juriacutedico Neste modelo cabe ao inteacuterprete natildeo soacute aplicar diretamente os ditames constitucio-
nais agraves relaccedilotildees sociais como tambeacutem reler todas as normas e institutos dos mais variados ra-
mos do Direito agrave luz da Constituiccedilatildeo emprestando-lhes o sentido que mais promova os objeti-
vos e a axiologia da Carta
A constitucionalizaccedilatildeo do Direito de que cogita o neoconstitucionalismo natildeo eacute aquela que resul-
ta do caraacuteter excessivamente analiacutetico da Constituiccedilatildeo e leva ao entricheiramento de meras
opccedilotildees conjunturais do constituinte originaacuterio ou derivado despidas de maior importacircncia ou
dignidade Este eacute um fenocircmeno caracteriacutestico da Carta de 88 que se excedeu no casuiacutesmo e
nos detalhes elevando ao seu texto meros interesses corporativos ou decisotildees de momento
sem focirclego para perdurarem no tempo A constitucionalizaccedilatildeo louvada e defendida pelo neo-
constitucionalismo eacute aquela que parte de uma interpretaccedilatildeo extensiva e irradiante dos direitos
fundamentais e dos princiacutepios mais importantes da ordem constitucional Aqui contudo pode-
se discutir ateacute que ponto o fenocircmeno eacute legiacutetimo Poucos discordaratildeo pelo menos no Brasil de
que alguma constitucionalizaccedilatildeo do Direito eacute positiva e bem-vinda por semear o ordenamento
com os valores humanitaacuterios da Constituiccedilatildeo Poreacutem pode-se objetar contra as teses extrema-
das sobre este processo que acabam amputando em demasia o espaccedilo de liberdade do legisla-
dor em detrimento da democracia 143
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Com efeito quem defende que tudo ou quase tudo jaacute estaacute decidido pela Constituiccedilatildeo e que o
legislador eacute um mero executor das medidas jaacute impostas pelo constituinte nega por conse-
quumlecircncia a autonomia poliacutetica ao povo para em cada momento da sua histoacuteria realizar as suas
proacuteprias escolhas O excesso de constitucionalizaccedilatildeo do Direito reveste-se portanto de um
vieacutes antidemocraacutetico Esta ordem de preocupaccedilotildees levou Ersnt Forsthof na Alemanha a criti-
car as teorias que viam a Constituiccedilatildeo como uma espeacutecie de genoma juriacutedico () do qual tudo
deriva do Coacutedigo Penal ateacute a lei sobre a fabricaccedilatildeo de termocircmetros144 E a questatildeo torna-se
ainda mais delicada diante da constataccedilatildeo de que pela abertura semacircntica dos direitos fun-
damentais e dos princiacutepios - principal mateacuteria-prima da constitucionalizaccedilatildeo do Direito - o seu
principal agente acaba sendo o Poder Judiciaacuterio ao dar a uacuteltima palavra sobre a interpretaccedilatildeo
daquelas claacuteusulas Daiacute porque o debate sobre a constitucionalizaccedilatildeo do Direito se imbrica
inexoravelmente com as discussotildees a propoacutesito da judicializaccedilatildeo da poliacutetica e do decisionismo
referidas acima
Ademais a constitucionalizaccedilatildeo do Direito tambeacutem suscita outra linha de preocupaccedilotildees rela-
cionada ao perfeccionismo moral145 na esfera privada No Brasil assim como em muitos outros
paiacuteses jaacute se assentou a ideacuteia de que os direitos fundamentais natildeo se dirigem apenas contra o
Estado vinculando tambeacutem os particulares Entre noacutes tem prevalecido na doutrina a ideacuteia que
eu mesmo defendi em outro estudo146 que a eficaacutecia dos direitos fundamentais nas relaccedilotildees
privadas eacute direta e imediata Em outras palavras entende-se que a proacutepria Constituiccedilatildeo jaacute inci-
de nas relaccedilotildees privadas independentemente de mediaccedilotildees legislativas e que pode gerar o-
brigaccedilotildees positivas ou negativas para os indiviacuteduos e natildeo soacute para os poderes puacuteblicos sempre
no afatilde de proporcionar uma proteccedilatildeo mais completa agrave dignidade humana Ateacute aqui nada a
contestar
Poreacutem o reconhecimento da vinculaccedilatildeo dos particulares agrave Constituiccedilatildeo suscita um risco que
natildeo pode ser ignorado o de imposiccedilatildeo agraves pessoas supostamente em nome de valores constitu-
cionais de comportamentos e estilos de vida que elas proacuteprias rejeitam em detrimento da sua
liberdade existencial Para dar um exemplo bem tosco seria terriacutevel se o Direito em nome do
princiacutepio da solidariedade social pudesse impor agraves pessoas que demonstrassem afetos e senti-
mentos que elas natildeo possuem genuinamente Ou se em nome da isonomia pretendesse inter-
ferir nas escolhas subjetivas e emocionais que os indiviacuteduos fazem nas suas vidas privadas A
constitucionalizaccedilatildeo neste sentido poderia converter-se num pretexto para o exerciacutecio de um
paternalismo anti-liberal em que as pessoas seriam forccediladas a conformarem-se agraves expectativas
sociais forjadas a partir de pautas de accedilatildeo politicamente corretas com apoio na Constitui-
ccedilatildeo147
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Nenhuma destas duas questotildees eacute insuperaacutevel Eacute possiacutevel aceitar e aplaudir a constitucionaliza-
ccedilatildeo do Direito - fenocircmeno em geral positivo por aproximar a racionalidade emancipatoacuteria da
Constituiccedilatildeo do dia-a-dia das pessoas - mas defender que ela seja temperada por outras preo-
cupaccedilotildees igualmente essenciais no Estado Democraacutetico de Direito com a autonomia puacuteblica e
privada dos cidadatildeos Pode-se reconhecer a legitimidade da constitucionalizaccedilatildeo do Direito
mas numa medida em que natildeo sacrifique em excesso agrave liberdade de conformaccedilatildeo que numa
democracia deve caber ao legislador para realizar opccedilotildees poliacuteticas em nome do povo148 Pode-
se da mesma forma afirmar a incidecircncia direta da Constituiccedilatildeo nas relaccedilotildees privadas mas
sem invadir a esfera das opccedilotildees existenciais da pessoa - que de resto eacute protegida pela proacutepria
Constituiccedilatildeo das ingerecircncias perfeccionistas do Estado e da sociedade149
5 Conclusatildeo Ao fim da leitura destas paacuteginas o leitor pode estar se indagando se eu me alinho ou natildeo ao
neoconstitucionalismo A minha resposta eacute depende da compreensatildeo que se tenha sobre o ne-
oconstitucionalismo Se entendermos o neoconstitucionalismo de acordo com a conhecida defi-
niccedilatildeo de Luis Prietro Sanchiacutes como uma teoria do Direito que se orienta pelas maacuteximas demaacutes
princiacutepios que reglas maacutes ponderacioacuten que subsuncioacuten omnipotencia de la Constitucioacuten en
todas las aacutereas juriacutedicas y en todos conflictos miacutenimamente relevantes en lugar de espacios
exentos en favor de la opcioacuten legislativa o reglamentaria omnipotencia judicial en lugar de
autonomia del legislador ordinaacuterio y por ultimo coexistecircncia de una constelacioacuten plural de
valores a veces tendencialmente contradictorios en lugar de homogeneidad ideoloacutegica150
certamente eu natildeo me considero um neoconstitucionalista De todas as afirmaccedilotildees do professor
espanhol a uacutenica de que natildeo discordo eacute aquela relacionada ao pluralismo de valores cujo re-
conhecimento aliaacutes estaacute longe de ser privileacutegio dos neoconstitucionalistas
Contudo eu assumo o roacutetulo sem constrangimentos se o neoconstitucionalismo for pensado
como uma teoria constitucional que sem descartar a importacircncia das regras e da subsunccedilatildeo
abra tambeacutem espaccedilo para os princiacutepios e para a ponderaccedilatildeo tentando racionalizar o seu uso
Se for visto como uma concepccedilatildeo que sem desprezar o papel protagonista das instacircncias de-
mocraacuteticas na definiccedilatildeo do Direito reconheccedila e valorize a irradiaccedilatildeo dos valores constitucio-
nais pelo ordenamento bem como a atuaccedilatildeo firme e construtiva do Judiciaacuterio para proteccedilatildeo e
promoccedilatildeo dos direitos fundamentais e dos pressupostos da democracia E acima de tudo se
for concebido como uma visatildeo que conecte o Direito com exigecircncias de justiccedila e moralidade
criacutetica151 sem enveredar pelas categorias metafiacutesicas do jusnaturalismo
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Certamente uma visatildeo equilibrada da Teoria do Direito com tais caracteriacutesticas pode contribu-
ir para o aperfeiccediloamento do Estado Democraacutetico de Direito no Brasil O mesmo jaacute natildeo digo de
concepccedilotildees mais radicais do neoconstitucionalismo que podem ser muito boas para arrancar
aplausos entusiasmados das plateacuteias nos seminaacuterios estudantis mas que natildeo se conciliam com
exigecircncias fundamentais de seguranccedila juriacutedica democracia e liberdade que satildeo alicerces de
qualquer bom constitucionalismo - novo ou velho
Curriacuteculo Resumido
Daniel Sarmento
Poacutes-Doutor pela Universidade de Yale (EUA) Procurador Regional da Repuacuteblica
Como citar este artigo
SARMENTO Daniel O neoconstitucionalismo no Brasil riscos e possibilidades Disponiacutevel em httpwwweditoraforumcombrsistconteudolista_conteudoaspFIDT_CONTEUDO=56993 acesso em 09032011 httpdireitoesubjetividadefileswordpresscom201008daniel-sarmento-o-neoconstitucionalismo-no-brasil1doc acesso em 30062012 Material da 1ordf aula da Disciplina Teoria Geral da Constituiccedilatildeo (I) ministrada no Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo Online em Direito Constitucional ndash Anhanguera-UNIDERP | REDE LFG
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1Sobre a teoria de princiacutepios no Brasil veja-se dentre outros Ana Paula de Barcellos A eficaacutecia juriacutedica dos princiacutepios constitu-
cionais o princiacutepio da dignidade da pessoa humana Rio de Janeiro Renovar 2002 Humberto Bergman Aacutevila Teoria dos princiacute-
pios da definiccedilatildeo agrave aplicaccedilatildeo dos princiacutepios juriacutedicos 2 ed Satildeo Paulo RT 2005 Jane Reis Gonccedilalves Pereira Interpretaccedilatildeo
constitucional e direitos fundamentais uma contribuiccedilatildeo ao estudo das restriccedilotildees aos direitos fundamentais na perspectiva da
teoria dos princiacutepios Rio de Janeiro Renovar 2006 Virgiacutelio Afonso da Silva O conteuacutedo essencial dos direitos fundamentais e a
eficaacutecia das normas constitucionais Satildeo Paulo Tese (concurso de Professor Titular de Direito Constitucional da USP)
2Veja-se em tons variados Lecircnio Luiz Streck Hermenecircutica juriacutedica e(m) crise uma exploraccedilatildeo hermenecircutica da construccedilatildeo do
direito Porto Alegre Livraria do Advogado 1999 Luiacutes Roberto Barroso (Org) A nova interpretaccedilatildeo constitucional ponderaccedilatildeo
direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas Rio de Janeiro Renovar 2003 Margarida Maria Lacombe Camargo Hermenecircutica e
argumentaccedilatildeo uma contribuiccedilatildeo ao estudo do direito Rio de Janeiro Renovar 2003 Inocecircncio Maacutertires Coelho Interpretaccedilatildeo
constitucional 2 ed Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2003 Ana Paula de Barcellos Ponderaccedilatildeo racionalidade e atividade
jurisdicional Rio de Janeiro Renovar 2005
3Sobre o fenocircmeno da constitucionalizaccedilatildeo do Direito confira-se os inuacutemeros artigos que compotildeem a coletacircnea organizada por
Claacuteudio Pereira de Souza Neto e por mim A constitucionalizaccedilatildeo do direito fundamentos teoacutericos e aplicaccedilotildees especiacuteficas Rio de
Janeiro Lumen Juris 2007
4Cfr na literatura constitucional brasileira Gisele Guimaratildees Cittadino Pluralismo direito e justiccedila distributiva elementos de
filosofia constitucional contemporacircnea Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 Oscar Vilhena Vieira A Constituiccedilatildeo e sua reserva de
justiccedila um ensaio sobre os limites materiais do poder de reforma Satildeo Paulo Malheiros 1999 Ricardo Lobo Torres (Org) A legi-
timaccedilatildeo dos direitos humanos Rio de Janeiro Renovar 2002 Claacuteudio Pereira de Souza Neto Teoria constitucional e democracia
deliberativa Rio de Janeiro Renovar 2006 Lecircnio Luiz Streck Verdade e consenso Constituiccedilatildeo hermenecircutica e teorias discursi-
vas Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 Samantha Chantal Dobrowolski A construccedilatildeo social do sentido da Constituiccedilatildeo na demo-
cracia contemporacircnea entre soberania popular e direitos humanos Rio de Janeiro Lumen Juris 2007 Aacutelvaro Ricardo de Souza
Cruz Hermenecircutica juriacutedica e(m) debate o constitucionalismo brasileiro entre a teoria do discurso e a ontologia existencial Belo
Horizonte Foacuterum 2007
5Sobre a judicializaccedilatildeo da poliacutetica no Brasil veja-se Luiz Werneck Vianna et al A judicializaccedilatildeo da poliacutetica e das relaccedilotildees sociais
no Brasil Rio de Janeiro Revan 1999 Giselle Cittadino Judicializaccedilatildeo da poliacutetica constitucionalismo democraacutetico e separaccedilatildeo de
poderes In Luiz Werneck Vianna (Org) A democracia e os trecircs poderes no Brasil Belo Horizonte UFMG 2002 p 17-42 Rogeacuterio
B Arantes Constitucionalism the expansion of Justice and the Judicialization of Poltics in Brazil In Rachel Sieder Line Schjol-
den Alan Angell The Judicialization of Politics in Latin America New York Palgrave Macmillan 2005 p 232-262 Luis Roberto
Barroso Judicializaccedilatildeo ativismo judicial e legitimidade democraacutetica Texto ineacutedito gentilmente cedido pelo autor
Para uma perspectiva comparativa veja-se Neal C Tate Tobjorn Vallinder (Ed) The Global Expansion of Judicial Power New
York New York University Press 1995 Alec Stone Sweet Governing with Judges Constitutional Politics in Europe Oxford Oxford
Univesity Press 2000 e em tom profundamente criacutetico Ran Hirschl Towards Juristocracy the Origins and Consequences of the
New Constitucionalism Cambridge Harvard University Press 2004
6Miguel Carbonell et al Neoconstitucionalismo(s) Madrid Trotta 2003 Mais recentemente o autor publicou nova coletacircnea
tambeacutem dedicada ao estudo do neoconstitucionalismo intitulada Teoria del Neoconstitucionalismo Ensayos escogidos Madrid
Trotta 2007
7O jurista argentino Carlos Santiago Nino por exemplo faleceu em 1993 quando ainda nem se empregava esta denominaccedilatildeo
8Cf Robert Alexy Teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica a teoria do discurso racional como teoria da fundamentaccedilatildeo juriacutedica Tradu-
ccedilatildeo de Zilda Hutchinson Schild Silva revisatildeo teacutecnica da traduccedilatildeo e introduccedilatildeo agrave ediccedilatildeo brasileira Claudia Toledo 2 ed Satildeo Paulo
Landy 2005 Luis Roberto Barroso Curso de direito constitucional contemporacircneo os conceitos fundamentais e a construccedilatildeo do
novo modelo Rio de Janeiro Saraiva 2008 p 306-350
9Cf Lecircnio Luiz Streck Verdade e consenso Op cit p 197-246
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10Ronald Dworkin e Carlos Santiago Nino satildeo sem sombra de duacutevida autores liberais natildeo no sentido que se atribui ao termo no
Brasil - de adeptos de doutrina econocircmica favoraacutevel ao Estado miacutenimo e ao mercado - mas sim no sentido corrente na Filosofia
Poliacutetica que associa o liberalismo agrave defesa dos direitos individuais e da neutralidade do Estado em relaccedilatildeo agraves diversas concepccedilotildees
sobre a vida boa existentes na sociedade Veja-se neste sentido Ronald Dworkin A Matter of Principle Cambridge Harvard
University Press 1985 p 181-236 Carlos Santiago Nino La constitucioacuten de la Democracia Deliberativa Barcelona Gedisa 1997
p 70-100
11Lecircnio Luiz Streck que se alinha ao neoconstitucionalismo defende posturas tipicamente comunitaristas como o papel da Consti-
tuiccedilatildeo na definiccedilatildeo de modelos de vida boa para orientaccedilatildeo da vida social e da accedilatildeo individual Cf Jurisdiccedilatildeo constitucional e
hermenecircutica uma nova criacutetica do direito 2 ed Rio de Janeiro Forense 2004 p 95-288
12Antonio Cavalcanti Maia um dos mais ardorosos defensores do neoconstitucionalismo no paiacutes eacute tambeacutem procedimentalista e
adepto das teorias juriacutedicas de Juumlrgen Habermas Veja-se neste sentido o seu denso texto Nos vintes anos da carta cidadatilde do
poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm (Coord) Vinte
anos da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 p 117-168 em que esta sua dupla filiaccedilatildeo intelectual eacute
explicitada
13Segundo Miguel Carbonell o neoconstitucionalismo desdobra-se em trecircs planos de anaacutelise que se conjugam o dos textos consti-
tucionais que se tornaram mais substantivos e incorporaram amplos elencos de direitos fundamentais o das praacuteticas judiciais que
passaram a recorrer a princiacutepios constitucionais agrave ponderaccedilatildeo e a meacutetodos mais flexiacuteveis de interpretaccedilatildeo sobretudo na aacuterea de
direitos fundamentais e o dos desenvolvimentos teoacutericos de autores que com as suas ideacuteias ajudaram natildeo soacute a compreender os
novos modelos constitucionais mas tambeacutem participaram da sua proacutepria criaccedilatildeo Cf Miguel Carbonell Neoconstitucionalismo
elementos para una definicioacuten In Eduardo Ribeiro Moreira Mauricio Pugliesi 20 anos da Constituiccedilatildeo brasileira Satildeo Paulo Sarai-
va 2009 p 197-208
14No mesmo sentido Luis Roberto Barroso Neoconstitucionalismo e Constitucionalizaccedilatildeo do direito o triunfo tardio do direito
constitucional do Brasil In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento A constitucionalizaccedilatildeo do direito fundamentos teoacuteri-
cos e aplicaccedilotildees especiacuteficas Rio de Janeiro Lumen Juris 2007 p 203-250
15Cf Carlos Bernal Pulido El Derecho de los Derechos Bogotaacute Universidad Externado de Colocircmbia 2006 Manoel Jose Cepeda
Espinosa Judicialization of Politics in Colombia the old and the new In Rachel Sieder Line Schonjen Alan Angell The Judiciali-
zation of Politics in Latin America Op cit p 67-104 Rodrigo Uprimmy Mauriacutecio Garcia-Villegas Tribunal Constitucional e eman-
cipaccedilatildeo social na Colocircmbia In Boaventura de Souza Santos Democratizar a democracia os caminhos da democracia participativa
Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2002 p 297-339
16Cf Catalina Smulovitz Petitioning and Creating Rights Judicialization in Argentina In Rachel Sieder Line Scjolden Alan Angell
The Judicialization of Politics in Latin America Op cit p 161-185
17Cf Miguel Carbonell Los Derechos Fundamentales en Meacutexico 2 ed Meacutexico Porruacutea 2006 Pilar Domingo The Changing Political
Role of the Judiciary in Meacutexico In Rachel Sieder Line Scjolden Alan Angell The Judicialization of Politics in Latin Ameacuterica Op
cit p 21-46
18Cf Heinz Klug South Aacutefrica From Constitucional Promise to Social Transformation In Jeffrey Goldsworthy Interpreting Consti-
tutions A Comparative Study Oxford Oxford University Press 2006 p 266-320
19Cf S P Sathe Iacutendia From Positivism to Structuralism In Jeffrey Goldsworthy Op cit p 215-265
20Veja-se a propoacutesito Gustavo Zagrebelsky Il Diritto Mite Torino Einaudi 1992 p 57-96
21Cf Eduardo Garciacutea de Enterriacutea La Constitucioacuten como Norma y el Tribunal Constitucional 3 ed Madrid Civitas 1985 p 41
22Na Alemanha a mudanccedila ocorreu sob a vigecircncia da Lei Fundamental adotada em 1949 e foi fortemente impulsionada pela
jurisprudecircncia do Tribunal Constitucional do paiacutes que construiu teorias importantes como a da Constituiccedilatildeo como uma ordem de
valores em cujo centro situa-se o princiacutepio da dignidade humana que se irradia por todo o ordenamento Veja-se a propoacutesito
Dieter Grimm Human Rights and Judicial Review in Germany In David M Beatty (Org) Human Rights and Judicial Review A
Comparative Perspective Dodrecht Martin Urjhoff 1994 p 267-295
23Na Itaacutelia as mudanccedilas se deram sob a eacutegide da atual Constituiccedilatildeo editada em 1947 mas soacute apoacutes o funcionamento da Corte
Constitucional que se deu em 1956 Ateacute entatildeo a Corte de Cassaccedilatildeo composta por juiacutezes recrutados ainda no periacuteodo do fascismo
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era provisoriamente encarregada da guarda da Constituiccedilatildeo o que fazia de forma muito tiacutemida no mais das vezes negando eficaacute-
cia juriacutedica agraves normas constitucionais sob o argumento de que seriam programaacuteticas Veja-se a propoacutesito Ricardo Guastini A
constitucionalizaccedilatildeo do ordenamento juriacutedico e a experiecircncia italiana In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento A
constitucionalizaccedilatildeo do direito fundamentos teoacutericos e aplicaccedilotildees especiacuteficas Op cit p 271-294
24Cf No modelo do constitucionalismo norte-americano entende-se desde os primoacuterdios que a Constituiccedilatildeo eacute autecircntica lei e que
o Judiciaacuterio pode invalidar as decisotildees legislativas que a contrariem apesar do controle de constitucionalidade natildeo estar expres-
samente previsto no texto constitucional daquele paiacutes Esta ideacuteia que jaacute estava assentada no Federalista n 78 escrito por Ale-
xander Hamilton antes da aprovaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo foi posta em praacutetica pela primeira vez contra lei federal no ceacutelebre caso
Marbury v Madison julgado em 1803 pelo juiz Marshall Veja-se a propoacutesito Paul Brest Sanford Levinson Jack Balkin Akhil Reed
Amar Processes of Constitutional Decisionmaking Cases and Materials New York Aspen Publishers 2000 p 79-103
A versatildeo mais convencional do modelo constitucional norte-americano enfatiza a importacircncia central do Judiciaacuterio na atualizaccedilatildeo
do sentido da Constituiccedilatildeo do paiacutes Contudo esta leitura histoacuterica eacute hoje objeto de intensa disputa Em sentido contraacuterio a tal
posiccedilatildeo sustentando uma menor relevacircncia do Judiciaacuterio no desenvolvimento histoacuterico do constitucionalismo americano veja-se
por exemplo Stephen M Griffin American Constitutionalism From Theory to Politics New Jersey Princeton University Press
1996 p 88-139
25Cf Luis Prietro Sanchiacutes Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales Madrid Trotta 2003 p 107-117
26Cf Daniel Sarmento Ubiquumlidade constitucional Os dois lados da moeda In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento
(Coord) A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 113-148
27Na verdade a reaccedilatildeo contra o formalismo juriacutedico na Europa eacute bem anterior ao advento do constitucionalismo do 2ordm poacutes-guerra
remontando ao final do seacuteculo XIX Veja-se a propoacutesito Constantin M Stamatis Argumenter en Droit Une theacuteorie critique de
largumentation juridique Paris Publisud 1995 p 34-50 Antonio Manoel Hespanha Panorama histoacuterico da cultura juriacutedica euro-
peacuteia Lisboa Publicaccedilotildees Europa-Ameacuterica 1997 p 196-235
28Haacute vasta literatura sobre a ponderaccedilatildeo mas a obra mais influente sobre o tema eacute certamente o livro de Robert Alexy Teoria dos
direitos fundamentais Traduccedilatildeo de Virgiacutelio Afonso da Silva Satildeo Paulo Malheiros 2008 No cenaacuterio norte-americano veja-se a
anaacutelise densa e criacutetica de T Alexander Aleinikoff Constitucional Law in the Age of Balancing Yale Law Journal n 96 p 943-
1005 1987 No Brasil cfr Daniel Sarmento A ponderaccedilatildeo de interesses na Constituiccedilatildeo Federal Rio de Janeiro Lumen Juris
2000 Ana Paula de Barcellos Ponderaccedilatildeo racionalidade e atividade jurisdicional Op cit
29A bibliografia sobre o princiacutepio da proporcionalidade eacute vastiacutessima Veja-se a propoacutesito as densas anaacutelises de Carlos Bernal Puli-
do El Principio de Proporcionalidad y los Derechos Fundamentales Madrid Centro de Estuacutedios Constitucionales 2003 e no Brasil
de Jane Reis Gonccedilalves Pereira Interpretaccedilatildeo constitucional e direitos fundamentais Rio de Janeiro Renovar 2006 p 297-382
30Cf Chaiumlm Perelman Eacutetica e direito Traduccedilatildeo de Maria Ermantina Galvatildeo G Perira Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 p 361-684
Robert Alexy Teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica Op cit Friedrich Muller Discours de la Meacutethode Juridique Traduccedilatildeo de Olivier
Jouanjan Paris PUF 1993 Manuel Atienza Traacutes la Justicia Una Introduccioacuten al Derecho y al Razonamiento Juriacutedico Barcelona
Ariel 1995 Neil MacCormick Argumentaccedilatildeo juriacutedica e teoria do direito Traduccedilatildeo de Waldeacutea Barcellos Satildeo Paulo Martins Fontes
2006 Klaus Guumlnther Teoria da argumentaccedilatildeo no direito e na moral justificaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Claacuteudio Molz Satildeo Pau-
lo Landy 2004
31Cf Martin Shapiro Alec Stone Sweet On Law Politics and Judicialization New York Oxford University Press p 136-208
32Contudo deve-se admitir na linha de Paolo Comanducci que eacute possiacutevel reconhecer as mudanccedilas em questatildeo e propor novas
teorias que sejam adequadas a elas sem defendecirc-las Esta seria nas palavras do autor italiano a diferenccedila entre o neoconstitu-
cionalismo teoacuterico e o neoconstitucionalismo ideoloacutegico que natildeo apenas constroacutei teorias mais compatiacuteveis com os novos fenocirc-
menos mas vai aleacutem sustentando a sua legitimidade e propugnando pelo seu aprofundamento e expansatildeo Veja-se a propoacutesito
Paulo Comanducci Formas de neoconstitucionalismo Un anaacutelisis metateoacuterico In Miguel Carbonell (Ed) Neoconstitucionalis-
mo(s) Op cit p 75-98 Como reconhece o proacuteprio autor tal distinccedilatildeo baseia-se em uma semelhante acerca do positivismo
30
formulada por Norberto Bobbio que fala em positivismo teoacuterico ideoloacutegico e metodoloacutegico Cf Norberto Bobbio O positivismo
juriacutedico liccedilotildees de filosofia do direito Traduccedilatildeo e notas de Marcio Pugliesi et al Satildeo Paulo Iacutecone 1995 p 233-239
33Cf Ronald Dworkin Is Law a Sistem of Rules In Ronald Dworkin (Ed) Philosophy of Law Oxford Oxford University Press 1971
Robert Alexy Constitucionalismo discursivo Traduccedilatildeo de Luiz Afonso Heck Porto Alegre Livraria do Advogado 2007
34Cf Robert Alexy Derecho y Razoacuten Praacutectica Meacutexico Distribuiciones Fontamara 1993 Aulis Aarnio Lo Racional como Razonable
Traduccedilatildeo de Ernesto Garzoacuten Valdeacutes Madrid Centro de Estuacutedios Constitucionales 1991
35Cf Aharon Barak The Judge in a Democracy New Jersey Princeton University Press 2006 p 213-260 Gustavo Zagrebelsky Il
Diritto Mite Op cit p 179-217
36Confronte-se com perspectivas diferentes Luigi Ferrajoli O Estado de direito entre passado e futuro In Pietro Costa Danilo
Zolo (Org) Estado de direito histoacuteria teoria criacutetica Traduccedilatildeo de Carlo Alberto Dastoli Satildeo Paulo Martins Fontes 2006 p 419-
464 Elias Dias Estado de Derecho y Sociedad Democraacutetica Madrid Taurus 1998 Ronald Dworkin Introduction The Moral Reading
and the Majoritarian Premise In Freedoms Law The moral reading of the American Constitution Cambridge Harvard University
Press 1996 p 01-38 Gustavo Zagrebelsky La Crucifixioacuten y la Democracia Barcelona Ariel 1996 Claacuteudio Pereira de Souza Neto
Teoria constitucional da democracia deliberativa Op cit
37Cf Ronald Dworkin Introduction The Moral Reading and the Majoritarian Premise Op cit
38Cf Luigi Ferrajoli El Garantismo y la Filosofia del Derecho Bogotaacute Universidad Externado de Colocircmbia 2000
39Cf Luis Pietro Sanchis Sobre el Neoconstitucionalismo y sus Implicaciones In Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales
Op cit p 101-135
40Cf Ricardo Guastini Sur la Validiteacute de la Constitution du Point de Vue du Positivisme Juridique In Michel Troper Lucien Jaume
(Dir) 1789 et LInvention de la Constitution Paris LGDJ 1994 p 216-225
41Cf Suzana Pozzolo Neoconstituzionalismo e Positivismo Giuridico Torino Giapppicheli 2001
42Cf Ronald Dworkin Law and Morals In Justice in Robes Cambridge Harvard University Press 2006 p 01-35
43Cf Robert Alexy Derecho y Moral In La Institucionalizacioacuten de la Justicia Op cit p 17-30
44Cf Carlos Santiago Nino Eacutetica y Derechos Humanos 2 ed Buenos Aires Astrea 1989 p 11-48
45Cf Gustav Radbruch Cinco minutos de filosofia do direito In Filosofia do direito Traduccedilatildeo de L Cabral de Moncada 6 ed
Coimbra Armecircnio Amado 1979 p 414-418 Para uma densa problematizaccedilatildeo da foacutermula de Radbruch veja-se Thomas da Rosa
Bustamante Poacutes-Positivismo o argumento da injusticcedila aleacutem da Foacutermula de Radbruch In Teoria do direito e decisatildeo racional
temas de teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica Rio de Janeiro Renovar 2008
46Cf Robert Alexy La Institucionalizacioacuten de la Justicia Traduccedilatildeo de Joseacute Antonio Seone et al Granada Comares 2005 p 31-
54
47Sobre o tema cfr Alfonso Garcia Figueroa Princiacutepios e direitos fundamentais In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmen-
to A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 03-34
48O texto mais importante do positivismo inclusivo eacute o poacutes-escrito de Herbert LA Hart agrave sua obra magna The Concept of Law em
que ele responde agraves criacuteticas ao seu pensamento que Ronald Dworkin lhe endereccedilara O autor inglecircs faleceu antes de terminar o
texto mas ele foi publicado postumemente depois de ser editado por Joseph Raz Peneacutelope Bulloch Veja-se Herbert LA Hart
Poacutes-escrito In O conceito de direito Traduccedilatildeo de A Ribeiro Mendes 2 ed 1994 p 299-339 Tambeacutem na linha do positivismo
inclusivo veja-se Gregorio Peces- Barba Derechos Sociales y Positivismo Juriacutedico Escritos de Filosofia Poliacutetica y Juriacutedica Madrid
Dykinson 1999 p 83-90 Jules Coleman The Practice of Principle In defense of a pragmatist approach do legal theory Oxford
Oxford University Press p 103-120 Para uma resenha dos tipos de positivismo no debate contemporacircneo confira-se Dimitri Di-
moulis Positivismo juriacutedico introduccedilatildeo a uma teoria do direito e defesa do pragmatismo juriacutedico-politico Satildeo Paulo Meacutetodo
2006 p 65-166
49Cf Antonio Cavalcanti Maia Nos vinte anos da Constituiccedilatildeo do poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo Op cit Claacuteudio Perei-
ra de Souza Neto A teoria constitucional e seus lugares especiacuteficos notas sobre o aporte reconstrutivo Revista de Direito do
Estado n 1 p 89-104 jan mar 2006 Daniel Sarmento Interpretaccedilatildeo constitucional preacute-compreensatildeo e capacidades institu-
cionais do inteacuterprete In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binebojm Vinte anos da Constituiccedilatildeo de 1988
Op cit p 311-322
31
50Cf Juumlrgen Habermas Escritos sobre Moralidad y Eticidad Traduccedilatildeo de Manuel Jimenez Redondo Barcelona Paidoacutes 1991 p
131-172
51Sobre o comunitarismo haacute extensa literatura Dois textos claacutessicos deste linha de pensamento satildeo Michael Walzer The Communi-
tarian Critique of Liberalism In Politics and Passion New Haven Yale University Press 2004 p 141-163 Charles Taylor The
Procedural Republic and the Unencumbered Self In Robert Goodin Philip Pettit (Ed) Contemporary Political Philosophy 2 ed
Oxford Oxford University Press 2002 p 2462-256 Sobre a penetraccedilatildeo ainda que muitas vezes natildeo consciente das posiccedilotildees do
comunitarismo no constitucionalismo brasileiro veja-se Gisele Cittadino Pluralismo direito e justiccedila distributiva Op cit p
43-74
52Sobre o construtivismo eacutetico corrente filosoacutefica que sustenta a existecircncia de posiccedilotildees certas e erradas na Moral bem como a
possibilidade de encontraacute-las e fundamentaacute-las racionalmente veja-se Carlos Santiago Nino El Constructivismo Eacutetico Madrid
Centro de Estudios Constitucionales 1989
53O fenocircmeno tambeacutem se reproduz na teoria constitucional norte-americana hegemocircnica cf Keith Wittington Constitutional Con-
struction Divided Powers and Constitutional Meaning Cambridge Harvard University Press 1999 p 01-03
54A imagem do Poder Judiciaacuterio como um guardiatildeo de promessas eacute explorada e criticada numa obra importante da teoria juriacutedica
francesa contemporacircnea Antoine Garapon Le Gardien de Promesses Le juge et la democratie Paris Odile Jacob 1996
55Neste sentido o eloquumlente encerramento do Curso de Direito Constitucional Contemporacircneo de Luis Roberto Barroso o consti-
tucionalismo democraacutetico eacute a utopia que nos restou Uma feacute racional que ajuda a acreditar no bem e na justiccedila ainda quando natildeo
estejam ao alcance dos olhos (Op cit p 400)
56Cf Nico Poulantzas State Power Socialism London new Left Books 1978 Alan Hunt Marxist Theory of Law In Dennis Patter-
son (Ed) A Companion to Philosophy of Law and Legal Theory Malden Blackwell Publishers 1996 p 355-367
57Cf David Kairys (Ed) The Politics of Law A Progressive Critique New York Pantheon Books 1982 Roberto Mangabeira Unger
The Critical Legal Studies Movement Cambridge Harvard University Press 1986
58Cf Plauto Faraco Azevedo Criacutetica agrave dogmaacutetica e hermenecircutica juriacutedica Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1989 Luiz Fernando
Coelho Teoria criacutetica do direito 2 ed Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1991
59Natildeo haacute como abordar aqui as relaccedilotildees entre as inuacutemeras correntes do poacutes-modernismo e o Direito Constitucional Veja-se a
propoacutesito Niklas Luhman La Constituzione como Acquisizione Evolutiva In Gustavo Zagrebelsky Piacuteer Paolo Portinaro Joumlrg Lu-
ther Il Futuro della Costituzione Torino Einaudi 1996 p 83-128 Joseacute Joaquim Gomes Canotilho Civilizaccedilatildeo do direito constitu-
cional ou constitucionalizaccedilatildeo do direito civil a eficaacutecia dos direitos fundamentais na ordem juriacutedico-civil no contexto do direito
poacutes-moderno Cadernos de Direito Constitucional e Ciecircncia Poliacutetica n 15 p 07-16 1996 Eduardo Capellari A crise da moderni-
dade e a Constituiccedilatildeo Rio de janeiro Ameacuterica Juriacutedica 2004 Daniel Sarmento Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas 2 ed
Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 p 36-45
60Para Jean-Franccedilois Lyotard uma das caracteriacutesticas centrais do pensamento poacutes-moderno de que eacute expoente eacute a desconfianccedila
em relaccedilatildeo agraves metanarrativas - construccedilotildees abstratas grandiosas e totalizadoras tiacutepicas da Filosofia Moderna como direitos
humanos luta de classes e emancipaccedilatildeo pelo uso da razatildeo Cf Lyotard A condiccedilatildeo poacutes-moderna Traduccedilatildeo de Ricardo Correcirca
Barbosa 5 ed 1998 p16
61Cf Luiz Werneck Viana O terceiro poder na carta de 1988 e a tradiccedilatildeo republicana mudanccedila e conservaccedilatildeo In Ruben George
Oliven Marcelo Gildo Marccedilal Branda A Constituiccedilatildeo de 1988 na vida brasileira Satildeo Paulo Aderaldo e Rotshild 2008 p 91-109
62Cf Paulo Ricardo Schier Filtragem constitucional Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1999
63A expressatildeo foi cunhada por Claacuteudio Pereira de Souza Neto Fundamento e normatividade dos direitos fundamentais uma recons-
truccedilatildeo teoacuterica agrave luz do princiacutepio democraacutetico Arquivos de Direitos Humanos n 4 p 17-61 2003
64Cf Luis Roberto Barroso O direito constitucional e a efetividade de suas normas 3 ed Rio de Janeiro Renovar 1996
65Cf Clegravemerson Merlin Clegraveve A teoria constitucional e o direito alternativo para uma dogmaacutetica constitucional emancipatoacuteria In
Uma vida dedicada ao direito homenagem a Carlos Henrique de Carvalho Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1995 p 34-53
66Ressalte-se poreacutem que antes de 88 alguns juristas jaacute defendiam a forccedila normativa da Constituiccedilatildeo como o Prof Joseacute Afonso da
Silva Eacute de 1968 a primeira ediccedilatildeo da sua obra claacutessica A aplicabilidade das normas constitucionais que adotava claramente esta
32
perspectiva Todavia pelo clima nada propiacutecio ao constitucionalismo que reinava por aqui ateacute a nossa redemocratizaccedilatildeo a louvaacute-
vel pregaccedilatildeo dele e de outros juristas em prol da efetivaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo natildeo chegou a render maiores frutos
67Deve-se assinalar ainda a influecircncia marcante do novo constitucionalismo ibeacuterico neste movimento que tambeacutem pugnava pela
atribuiccedilatildeo de forccedila normativa agraves ambiciosas constituiccedilotildees de Portugal e Espanha entatildeo recentemente elaboradas apoacutes o fim de
experiecircncias autoritaacuterias naqueles paiacuteses A tiacutetulo de exemplo mencione-se a penetraccedilatildeo no paiacutes do pensamento do Professor de
Coimbra Joseacute Joaquim Gomes Canotilho especialmente da sua teoria sobre a Constituiccedilatildeo dirigente que ele posteriormente reviu
(cf J J Gomes Canotilho Constituiccedilatildeo dirigente e vinculaccedilatildeo ao legislador contributo para a compreensatildeo das normas constitu-
cionais programaacuteticas 2 ed Coimbra Coimbra 2001 - especialmente o prefaacutecio desta segunda ediccedilatildeo que daacute conta da mudanccedila
de posicionamento) bem como a difusatildeo das liccedilotildees do Professor Eduardo Garciacutea de Enterriacutea (cf La Constitucioacuten como Norma y el
Tribunal Constitucional Madrid Civitas 1981)
68Segundo a avaliaccedilatildeo atual de Luis Roberto Barroso personagem central do movimento o positivismo constitucional que deu
impulso ao movimento natildeo importava em reduzir o direito agrave norma mas sim em elevaacute-la a esta condiccedilatildeo pois ateacute entatildeo ele
havia sido menos do que norma (Curso de direito constitucional contemporacircneo Op cit p 224)
69Paulo Bonavides Curso de direito constitucional 5 ed Satildeo Paulo Malheiros 1994
70Eros Roberto Grau A ordem econocircmica na Constituiccedilatildeo de 88 interpretaccedilatildeo e criacutetica Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1996
71No acircmbito da Poacutes-Graduccedilatildeo em Direito da UERJ em que estou inserido desde 1997 primeiro como aluno e a partir de 2003 como
professor o Ricardo Lobo Torres teve papel central na difusatildeo do pensamento destes e de outros filoacutesofos entre os estudantes e o
proacuteprio corpo docente
72Cf Lecircnio Luiz Streck Hermenecircutica juriacutedica e(m) crise Op cit Eros Roberto Grau Ensaio e discurso sobre a interpreta-
ccedilatildeoaplicaccedilatildeo do direito Satildeo Paulo Malheiros 2002
73Nesta linha veja-se as obras que compotildeem a coletacircnea Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Direitos sociais funda-
mentos judicializaccedilatildeo e direitos sociais em espeacutecie Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 Ricardo Lobo Torres O miacutenimo existencial
e os direitos fundamentais Revista de Direito Administrativo n 177 p 20-49 1989 Ingo Wolfgang Sarlet A eficaacutecia dos direitos
fundamentais 9 ed Porto Alegre Livraria do Advogado 2008 Ana Paula de Barcellos A eficaacutecia juriacutedica dos princiacutepios o princiacute-
pio da dignidade da pessoa humana Op cit Marco Mazzeli Gouveia O controle judicial das omissotildees administrativas Rio de
Janeiro Forense 2003 Andreacuteas Krell Direitos sociais e controle judicial no Brasil e Alemanha os (des)caminhos de um direito
constitucional comparado Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2002
74Cf Gustavo Tepedino Temas de direito civil Rio de Janeiro Renovar 1999 Luiz Edson Fachin Estatuto juriacutedico do patrimocircnio
miacutenimo Rio de Janeiro Renovar 2001 Maria Celina Bodin de Moraes Danos agrave pessoa humana uma leitura civil-constitucional dos
danos morais Rio de Janeiro Renovar 2003 Teresa Negreiros Fundamentos para uma interpretaccedilatildeo constitucional do princiacutepio
da boa-feacute Rio de Janeiro Renovar 1998 Anderson Schreiber A proibiccedilatildeo do comportamento contraditoacuterio Rio de Janeiro Reno-
var 2005
75Cf Luciano Feldens A Constituiccedilatildeo penal a dupla face da proporcionalidade no controle das lei penais Porto Alegre Livraria do
Advogado 2005 Luis Carlos dos Santos Gonccedilalves Mandados expressos de criminalizaccedilatildeo e a proteccedilatildeo de direitos fundamentais na
Constituiccedilatildeo Brasileira de 1988 Belo Horizonte Foacuterum 2007
76Cf Gustavo Binenbojm Uma teoria do direito administrativo direitos fundamentais democracia e constitucionalizaccedilatildeo Rio de
Janeiro Renovar 2006 Alexandre dos Santos Aragatildeo Floriano de Azevedo Marques (Coord) Direito administrativo e seus novos
paradigmas Belo Horizonte Foacuterum 2008
77Cf Gustavo Binenbojm A nova jurisdiccedilatildeo constitucional brasileira legitimidade democraacutetica e instumentos de realizaccedilatildeo Rio de
Janeiro Renovar 2001 Claacuteudio Pereira de Souza Neto Jurisdiccedilatildeo constitucional democracia e racionalidade praacutetica Rio de
Janeiro Renovar 2002 Joseacute Adeacutercio Leite Sampaio A Constituiccedilatildeo reinventada pela jurisdiccedilatildeo constitucional Belo Horizonte Del
Rey 2002 Lecircnio Luiz Streck Jurisdiccedilatildeo constitucional e hermenecircutica Porto Alegre Livraria do Advogado 2002 Aacutelvaro Ricardo
de Souza Cruz Jurisdiccedilatildeo constitucional democraacutetica Belo Horizonte Del Rey 2004
78A expressatildeo dificuldade contramajoritaacuteria eacute de um claacutessico da teoria constitucional norte-americana Alexander Bickel La Cons-
titucioacuten como Norma y el Tribunal Constitucional 2 ed New Haven Yale University Press 1986
33
79Em siacutentese apertada o procedimentalismo sustenta que natildeo eacute papel da jurisdiccedilatildeo constitucional tutelar valores substantivos mas
apenas proteger os pressupostos necessaacuterios ao bom funcionamento da democracia Jaacute o substancialismo reconhece a legitimidade
da atuaccedilatildeo jurisdicional em favor da garantia e promoccedilatildeo de valores substantivos presentes na Constituiccedilatildeo O debate entre o
procedimentalismo identificado com as ideacuteias de autores como John Hart Ely e Juumlrgen Habermas e o substancialismo defendido
por teoacutericos como Ronald Dworkin e Laurence Tribe eacute reproduzido em praticamente toda a literatura contemporacircnea que trata de
Teoria ou Filosofia Constitucional Veja-se a propoacutesito a densa obra de Claacuteudio Ari Mello Democracia constitucional e direitos
fundamentais Porto Alegre Livraria do Advogado 2004
80Neoconstitucionalismo e constitucionalizaccedilatildeo do direito o triunfo tardio do direito constitucional no Brasil Op cit
81A crise paradigmaacutetica do direito no contexto da resistecircncia positivista ao (neo)constitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza
Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm Vinte anos da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Op cit p 203-228
82Nos vinte anos da carta cidadatilde do poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo Op cit
83Neoconstitucionalismo direitos fundamentais e controle de poliacuteticas puacuteblicas In Daniel Sarmento Flaacutevio Galdino (Org) Direitos
fundamentais estudos em homenagem ao prof Ricardo Lobo Torres Rio de Janeiro Renovar 2006 p 31-60
84Direitos humanos legitimidade e constitucionalismo In Daniel Sarmento Flaacutevio Galdino (Org) Direitos fundamentais estudos
em homenagem ao Prof Ricardo Lobo Torres Op cit p325-350
85Novos desafios agrave filtragem constitucional no momento do neoconstitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sar-
mento A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 251-270
86Neoconstitucionalismo a invasatildeo da Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Meacutetodo 2008
87Neoconstitucionalismo e positivismo juriacutedico Satildeo Paulo Landy 2006
88Teoria do direito e argumentaccedilatildeo racional temas de teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica op cit p 141-240
89Uma visatildeo criacutetica do neoconstitucionalismo In George Salomatildeo Leite Glauco Salomatildeo Leite Constituiccedilatildeo e efetividade constitu-
cional Salvador JusPodium 2008 p 43-60
90Neoconstitucionalismo entre a Ciecircncia do direito e o direito da ciecircncia In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento
Gustavo Binenbojm Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 p 187-202
91Cf Peticcedilatildeo 1246 MSSC julgada em 31011997 (obrigaccedilatildeo do Estado de realizar transplante de ceacutelulas mioblaacutesticas para salvar
a vida de crianccedila) Agravo de Instrumento no Recurso Extraordinaacuterio 271286RS DJU 24 nov 2000 (entrega de medicamentos
para portadores de HIV) e Agravo de Instrumento do Recurso Extraordinaacuterio nordm 410715-5 julgado em 22112005 (obrigaccedilatildeo de
fornecimento de vagas para educaccedilatildeo infantil pelo municiacutepio com atendimento em creches e preacute-escola)
92Recursos Extraordinaacuterios nordms 158215-4RS 161243-6DF 201819RJ
93Cf Mandado de Injunccedilatildeo 670ES Rel Min Gilmar Mendes julgado em 25102007 em que o STF revendo orientaccedilatildeo anterior
deu eficaacutecia normativa agrave sentenccedila proferida no mandado de injunccedilatildeo No caso decidiuse que ateacute o advento de lei regulamentado-
ra sobre a greve no serviccedilo puacuteblico o direito de greve poderia ser exercido obedecendo-se os limites impostos pela Lei 778389
que trata dos movimentos paredistas em serviccedilos essenciais no setor privado
94Sobre a tendecircncia agrave superaccedilatildeo da ideacuteia do Judiciaacuterio como legislador negativo na jurisdiccedilatildeo constitucional veja-se Joseacute Adeacutercio
Leite Sampaio A Constituiccedilatildeo reinventada pela jurisdiccedilatildeo constitucional Belo Horizonte Del Rey 2002 p 203-248
95Eacute lugar-comum dentre os autores que tratam da questatildeo associar tais mudanccedilas agrave pluralizaccedilatildeo das vozes na interpretaccedilatildeo consti-
tucional tema em que a referecircncia essencial no cenaacuterio germacircnico eacute Peter Haumlberle Veja-se a propoacutesito Peter Haumlberle Herme-
necircutica constitucional A sociedade aberta dos inteacuterpretes da Constituiccedilatildeo contribuiccedilatildeo para a interpretaccedilatildeo pluralista e procedi-
mental da Constituiccedilatildeo Traduccedilatildeo de Gilmar Ferreira Mendes Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1997 Veja-se ainda na doutrina
brasileira Gustavo Binenbojm A dimensatildeo do Amicus Curiae no processo constitucional brasileiro In Temas de direito constitu-
cional e administrativo Rio de Janeiro Renovar 2008 p 165-190
96ADIN 3510DF Relator Ministro Carlos Ayres Britto A accedilatildeo proposta contra o art 5ordm da Lei de Biosseguranccedila impugnava a auto-
rizaccedilatildeo de pesquisas com embriotildees humanos resultantes de fertilizaccedilatildeo in vitro que fossem inviaacuteveis ou estivessem congelados haacute
mais de trecircs anos A accedilatildeo foi julgada totalmente improcedente por 6 votos a 5
97ADPF nordm 54 A accedilatildeo que tem como relator o Ministro Marco Aureacutelio ainda natildeo foi julgada mas em seu bojo jaacute ocorreram diversas
audiecircncias puacuteblicas que provocaram intensa participaccedilatildeo da sociedade civil e grande interesse na miacutedia
34
98ADPF nordm 132 Relator Ministro Carlos Ayres Britto A accedilatildeo ainda foi julgada
99Mandados de Seguranccedila 26602DF 26603DF e 26604DF Informativo STF n 482
100Recurso Extraordinaacuterio 197917SP Rel p acoacuterdatildeo Min Ceacutesar Peluso DJU 18 fev 2005
101O livro de Alberto Carlos Almeida A cabeccedila do brasileiro lanccedilado em 2007 conteacutem pesquisas feitas sobre uma acuteseacuterie de temas
com pessoas de todas as classes sociais e regiotildees do paiacutes Uma das pesquisas eacute relativa agrave avaliaccedilatildeo das instituiccedilotildees Dentre as treze
avaliadas as duas que obtiveram menor aprovaccedilatildeo foram os partidos poliacuteticos (avaliaccedilatildeo positiva de 28 dos entrevistados) e o
Congresso (avaliaccedilatildeo positiva de 36 dos entrevistados) Cf Antonio Carlos Almeida A cabeccedila do brasileiro Rio de Janeiro Re-
cord 2007 p 187
102Cf Luis Roberto Barroso Judicializaccedilatildeo ativismo judicial e legitimidade democraacutetica Texto ainda ineacutedito gentilmente cedido
pelo autor
103Humberto Aacutevila por exemplo formula outra criacutetica importante de que o neoconstitucionalismo seria inadequado agrave realidade
constitucional brasileira jaacute que privilegia os princiacutepios e a Carta de 88 seria muito mais regulatoacuteria do que principioloacutegica (Neo-
constitucionalismo entre a ciecircncia do direito e o direito da ciecircncia Op cit p 188-192)
104Contudo natildeo eacute razoaacutevel estender esta criacutetica ao ponto de negar o caraacuteter democraacutetico da atuaccedilatildeo judicial Como ressaltou
Eugenio Rauacutel Zaffaroni uma instituiccedilatildeo natildeo eacute democraacutetica unicamente porque natildeo provenha de eleiccedilatildeo popular porque nem tudo
o que proveacutem desta origem eacute necessariamente aristocraacutetico Uma instituiccedilatildeo eacute democraacutetica quando seja funcional para o sistema
democraacutetico quer dizer quando seja necessaacuteria para a sua continuidade como ocorre com o judiciaacuterio (Poder judiciaacuterio crise
acertos e desacertos Traduccedilatildeo de Juarez Tavares Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1995 p 43)
105Cf Robert A Dahl Sobre a democracia Traduccedilatildeo de Beatriz Sidou Brasiacutelia UNB 2001 p 97-113 Juumlrgen Habermas Popular
Sovereignity as Procedure In James Bonham William Rehg Deliberative Democracy Cambridge The MIT Press 1997 p 35-66
106A questatildeo da tensatildeo e sinergia simultacircneas entre constitucionalismo e democracia eacute um dos debates mais fecundos da Teoria
Poliacutetica e da Filosofia Constitucional que tem atravessado o tempo desde o advento do constitucionalismo moderno no seacuteculo
XVIII Veja-se no debate contemporacircneo Jeremy Waldron Preocommitment and Disagreement In Larry Alexander Constitu-
cionalism Philosophical Foundations Cambridge Cambridge University Press 1998 p 271-299 Juumlrgen Habermas O Estado demo-
craacutetico de direito uma amarraccedilatildeo paradoxal de princiacutepios contraditoacuterios In Era das transiccedilotildees Traduccedilatildeo de Flaacutevio Beno Siebe-
neichler Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 2003 p 153-173 Carlos Santiago Nino La Constitucioacuten de la Democracia Deliberativa
Op cit Frank Michelman Brennan and Democracy Princeton Princeton University Press 1999 p 03-62 Stephen Holmes El
Precompromiso y la Paradoja de la Democracia In Jon Elster Rune Slagstad Constitucionalismo y Democracia Traduccedilatildeo de Mocircni-
ca Utrilla de Neira Mexico Fondo de Cultura Econocircmica 1999 p 217-262
107O problema da limitaccedilatildeo do legislador atual pelas decisotildees do constituinte adotadas no passado envolve a problemaacutetica da
partilha intergeracional de poder bem explicitada na fala de Jefferson que defendia que a cada 19 anos deveria ser elaborada
uma nova Constituiccedilatildeo nos Estados Unidos para que a Lei Maior daquele paiacutes natildeo se tornasse um mecanismo de governo dos mor-
tos sobre os vivos Em siacutentese apertada haacute na teoria poliacutetica contemporacircnea duas linhas principais de justificativa para a legiti-
midade destas restriccedilotildees
Uma eacute a teoria da democracia dualista defendida por Bruce Ackerman que sustenta que as decisotildees adotadas pelo proacuteprio povo
em contextos de grande mobilizaccedilatildeo ciacutevica devem ser protegidas do alcance da vontade dos representantes do povo formada em
momentos em que a cidadania natildeo esteja intensamente envolvida Esta teoria distingue a poliacutetica extraordinaacuteria correspondente
agravequeles momentos constitucionais da poliacutetica ordinaacuteria que se realiza atraveacutes das deliberaccedilotildees do dia a dia dos oacutergatildeos represen-
tativos Para a perspectiva ackermaniana a poliacutetica extraordinaacuteria - que natildeo exige necessariamente formalizaccedilatildeo procedimental
atraveacutes de assembleacuteia constituinte ou de emenda constitucional - se situa em patamar superior agrave poliacutetica ordinaacuteria e pode legiti-
mamente impor limites a esta (cf Bruce Ackerman We the people Foundations Cambridge The Belknap Press 1991 p 03-33)
Outra teoria eacute a do preacute-compromisso que jaacute foi advogada por Jon Elster Segundo ela eacute legiacutetimo subtrair do alcance das maiorias
determinadas questotildees fundamentais que expressam princiacutepios fundamentais de justiccedila poliacutetica ou garantam os pressupostos da
proacutepria democracia tendo em vista o risco de que no processo poliacutetico majoritaacuterio em momentos de irracionalidade o povo
35
possa ser viacutetima de suas proacuteprias fraquezas ou paixotildees momentacircneas atentando contra tais princiacutepios (cf Ulisses and Sirens
Cambridge Cambridge University Press 1979)
Ambas as concepccedilotildees - a primeira mais proacutexima ao republicanismo e a segunda de vieacutes mais liberal - tecircm a sua dose de procedecircn-
cia mas ensejam criacuteticas importantes Todavia foge a escopo do presente trabalho analisar esta questatildeo que eacute uma das mais
complexas da Filosofia Poliacutetica moderna e contemporacircnea Para uma visatildeo geral sobre o tema na literatura em liacutengua portuguesa
veja-se Oscar Vilhena Vieira A Constituiccedilatildeo e sua reserva de justiccedila Op cit Miguel Nogueira de Brito A Constituiccedilatildeo constituin-
te ensaio sobre o poder de revisatildeo da Constituiccedilatildeo Coimbra Coimbra 2000 Samantha Chantal Dobrowolski Op cit p 265-312
Rodrigo Brandatildeo Direitos fundamentais democracia e claacuteusulas peacutetreas Rio de Janeiro Renovar 2008 p 59-112
108Cf Michel Troper Justice Constitutionelle et Deacutemocratie In Pour une Theorie Juridique de LEacutetat Paris PUF 1994 p 317-328
Claacuteudio Pereira de Souza Neto Jurisdiccedilatildeo constitucional democracia e racionalidade praacutetica Op cit p 106-130 Gustavo Binen-
bojm A nova jurisdiccedilatildeo constitucional brasileira Op cit p 55-74
109Sobre o modelo revolucionaacuterio francecircs de constitucionalismo completamente avesso agrave ideacuteia de jurisdiccedilatildeo constitucional cf
Maurizio Fioravanti Constitucioacuten de la antiguumledad a nuestros dias Traduccedilatildeo de Manuel Martinez Neira Madrid Trotta 2001 p
120-132
110Cf Carl Schmitt La Defesa de la Constitucioacuten Madrid Tecnos 1983
111O constitucionalismo popular ou populismo constitucional eacute uma importante corrente no debate constitucional norte-americano
contemporacircneo que nega a legitimidade democraacutetica do controle de constitucionalidade advogando que deve caber ao proacuteprio
povo e natildeo a uma elite de juiacutezes natildeo eleitos com assento na Suprema Corte o poder de definir o sentido das claacuteusulas vagas que
abundam no texto constitucional daquele paiacutes Na defesa desta tese satildeo empregados tanto argumentos de teoria e filosofia poliacuteti-
ca de caraacuteter mais universal como razotildees histoacutericas relacionadas agrave evoluccedilatildeo do constitucionalismo estadunidense Veja-se nesta
linha Mark Tushnet Taking the Constitution Away from the Courts Princeton Princeton University Press 1999 Jeremy Waldron
Precommitment and Disagreement Op cit Larry D Kramer The People Themselves Popular constitutionalism and judicial re-
view New York Oxford University Press 1994
Ateacute algumas deacutecadas atraacutes a oposiccedilatildeo agrave jurisdiccedilatildeo constitucional nos Estados Unidos partia em regra da Direita que natildeo se con-
formava com a jurisprudecircncia extremamente liberal em mateacuteria de direitos fundamentais estabelecida pela Corte entre os anos
50 e 70 Atualmente uma boa parte dos opositores agrave judicial review situa-se agrave esquerda do espectro poliacutetico e talvez a nova linha
profundamente conservadora daquele Tribunal ajude a explicar esta mudanccedila
112Sobre a Era de Lochner veja-se Laurence H Tribe American Constitutional Law 2 ed Mineola The Foundation Press 1988 p
567-581 Paul Brest et al Processes of Constitucional Decisionmaking 4 ed New York Aspen Publishers 2000 p 337-354
113Towards Juristocracy hellip Op cit
114Tratei do tema no artigo Direito adquirido emenda constitucional democracia e justiccedila social In Livres e iguais Op cit p
03-32
115Cf Charles R Epp The Rights Revolution Chicago The University of Chicago Press 1998 p 26-70 Owen Fiss The Law as It
Could Be New York New York University Press 2003 p 244-249
116A importacircncia e as peculiaridades da interpretaccedilatildeo legislativa da Constituiccedilatildeo satildeo exploradas em importante obra coletiva
Richard W Bauman Tsvi Kahana The Least Examined Branch The Role of Legislatures in the Constitutional State Cambridge
Cambridge University Press 2006
117Cf em tom ainda mais ceacutetico do que o adotado neste estudo Martonio MontAlverne Barreto Lima Jurisdiccedilatildeo Constitucional
um problema da teoria da democracia poliacutetica In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Gilberto Bercovici Joseacute Filomeno de Moraes
Filho Martonio MontAlverne Teoria da Constituiccedilatildeo estudos sobre o lugar da poliacutetica no direito constitucional Rio de Janeiro
Lumen Juris 2003 p 199-261 Conrado Huumlbner Mendes Controle de constitucionalidade e democracia Rio de Janeiro Elsevier
2008
36
118Para criacutetica semelhante no contexto germacircnico veja-se Ingeborg Maus O judiciaacuterio como superego da sociedade sobre o papel
da atividade jurisprudencial na sociedade oacuterfatilde Traduccedilatildeo de Martonio MontAlverne Barreto Lima Paulo Antonio Menezes de Albu-
querque Anuaacuterio dos Cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito da Faculdade de Direito de Recife n 11 2000
119Eu aprofundo a anaacutelise deste ponto no meu artigo Interpretaccedilatildeo constitucional preacute-compreensatildeo e capacidades institucionais do
inteacuterprete In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm (Coord) Vinte anos da Constituiccedilatildeo Federal
de 1988 Op cit p 311-322 E a necessidade de optar por teoria de interpretaccedilatildeo que leve em consideraccedilatildeo as capacidades
institucionais reais dos juiacutezes comparando-as com as dos agentes de outras instituiccedilotildees eacute explorada no importante estudo de Cass
Sunstein Adrian Vermeulle Interpretations and Institutions Chicago Working Papers in Law amp Economics 2002 p 01-55 bem
como no livro de Adrian Vermeulle Judging under Uncertainty An Institutional Theory for Legal Interpretation Cambridge Har-
vard University Press 2006
120Dentre as honrosas exceccedilotildees mencione-se Luiacutes Roberto Barroso autor de importante artigo com sugestotildees para a reforma poliacuteti-
ca no paiacutes Reforma poliacutetica uma proposta de sistema de governo eleitoral e partidaacuterio para o Brasil Revista de Direito do Esta-
do n 3 p 287-360 jul set 2006
121Sobre o ethos judicial no Brasil veja-se a pesquisa de Maria Tereza Sadek Magistrados uma imagem em movimento Rio de
Janeiro FGV 2006
122Em sentido semelhante veja-se Michael J Perry The Constitution the Courts and Human Rights New Haven Yale University
Press 1982 p 91-145
123Neste ponto entendo que um standard importante que deveria ser adotado para controle de constitucionalidade eacute o de que
quanto maiores forem as credencias democraacuteticas de um ato normativo mais autocontido deve ser o Poder Judiciaacuterio ao avaliar a
sua constitucionalidade Na minha opiniatildeo estas credencias democraacuteticas devem ser aferidas tanto por criteacuterios qualitativos - eg
grau de participaccedilatildeo social no processo legislativo qualidade do processo deliberativo que a antecedeu - como por criteacuterios quanti-
tativos - percentual de votos favoraacuteveis agrave medida Em sentido semelhante veja-se Claacuteudio Ari Mello Democracia e direitos funda-
mentais Op cit p 298
124Em sentido proacuteximo apontam as liccedilotildees de Gustavo Binenbojm e Humberto Aacutevila O primeiro tratando do controle judicial dos
atos administrativos averbou que quanto maior for o grau de tecnicidade da mateacuteria objeto de decisatildeo por oacutergatildeos dotados de
expertise e experiecircncia menos intenso deve ser o grau de controle judicial (Uma teoria do direito administrativo Op cit p
236) Jaacute o segundo salientou que o acircmbito de controle pelo Judiciaacuterio deveraacute ser tanto menor quanto mais difiacutecil e teacutecnico for
o juiacutezo exigido para o tratamento da mateacuteria (Teoria dos princiacutepios Op cit p 126)
125Um exemplo extremado deste posicionamento estaacute na argumentaccedilatildeo adotada pelo STF no julgamento da ADIN 2797 Rel Min
Sepuacutelveda Pertence em que se reconheceu a inconstitucionalidade formal de lei que pretendia interpretar a Constituiccedilatildeo Para o
STF natildeo pode a lei ordinaacuteria pretender impor como seu objeto imediato uma interpretaccedilatildeo a Constituiccedilatildeo a questatildeo eacute de in-
constitucionalidade formal iacutensita a toda norma da gradaccedilatildeo inferior que se proponha a ditar interpretaccedilatildeo de norma superior
Na questatildeo de fundo abordada naquele caso entendo que o STF estava certo Tratava-se de invalidar uma norma legal que esten-
dera o foro de prerrogativa de funccedilatildeo a ex-ocupantes de cargos puacuteblicos visando a restaurar antiga jurisprudecircncia do STF sedi-
mentada na Suacutemula 394 do Tribunal que acabara de ser cancelada O princiacutepio republicano natildeo era compatiacutevel com tal medida
que configurava niacutetido privileacutegio O que me parece inaceitaacutevel e profundamente anti-democraacutetico com a devida vecircnia natildeo eacute o
resultado alcanccedilado pela Corte - com o qual concordo - mas o argumento empregado de que o legislador natildeo pode interpretar a
Constituiccedilatildeo
126Existe hoje uma fecunda produccedilatildeo acadecircmica no cenaacuterio anglo-saxatildeo sobre as vantagens de modelos teoacutericos que favoreccedilam
diaacutelogos entre diversos oacutergatildeos e instituiccedilotildees na interpretaccedilatildeo constitucional ao inveacutes de afirmarem a exclusividade ou mesmo a
supremacia do Judiciaacuterio nesta seara Veja-se a propoacutesito Laurence G Sager Justice in Plainclothes A Theory of American Con-
stitutional Practice New haven Yale University Press 2004 Mark Tushnet Weak Courts Strong Rights Judicial Review and Social
Welfare Rights in Comparative Constitutional Law Princeton Princeton University Press 2008 Mark C Miller Jeb Barnes (Ed)
Making Police Making Law An Interbranch Perspective Washington DC Georgetown University Press 2004
37
127Colhi o exemplo no estudo de Oscar Vilhena Vieira Supremocracia In Daniel Sarmento (Org) Filosofia e teoria constitucional
contemporacircnea Rio de Janeiro Lumen Juris 2009
128Como um natildeo-positivista tenho a necessaacuteria imparcialidade para criticar os equiacutevocos da doutrina brasileira nas suas invectivas
contra o positivismo que muitas vezes caracterizam verdadeira falaacutecia do espantalho ataca-se natildeo a proacutepria teoria positivista
mas uma distorcida caricatura dela Duas afirmaccedilotildees erradas que eu mesmo jaacute fiz em textos anteriores satildeo muito frequumlentes a
de que o positivismo recusa a aplicaccedilatildeo dos princiacutepios juriacutedicos e a de que ele teria sido a Filosofia do Direito cultivada na Alema-
nha nazista
Quanto ao primeiro ponto natildeo haacute nenhuma incompatibilidade loacutegica entre positivismo e princiacutepios desde que os princiacutepios este-
jam devidamente incorporados na ordem juriacutedico-positiva Vaacuterios autores positivistas contemporacircneos jaacute citados neste estudo
como Luis Prietro Sanchiacutes Luigi Ferrajoli e Gregorio Peces-Barba atribuiacuteram espaccedilo importante para princiacutepios nas suas teorias
Mesmo no Direito Puacuteblico brasileiro juristas de inspiraccedilatildeo positivista kelseniana construiacuteram suas teorias com apoio em argumen-
taccedilatildeo principioloacutegica como o falecido Geraldo Ataliba e Celso Antonio Bandeira de Mello
No que tange ao segundo ponto - a chamada redutio ad hitlerum - os estudos mais autorizados de Histoacuteria do Direito comprovam
que natildeo foi o positivismo a teoria juriacutedica dominante no nazismo mas uma espeacutecie de jusnaturalismo de inspiraccedilatildeo hegeliana que
se insurgia contra o formalismo e recorria com frequumlecircncia a conceitos muito vagos para justificar a barbaacuterie como os de comuni-
dade popular (Volksgemeinschaft) Veja-se a propoacutesito Michael Stolleis The Law under the Swastika Studies on Legal History in
Nazi Germany Traduccedilatildeo de Thomas Dunlap Chicago The University of Chicago Press 1998
129Cf Joseacute Joaquim Gomes Canotilho Direito constitucional e Teoria da Constituiccedilatildeo Coimbra Almedina 1998 p 1036
130Sobre a importacircncia das regras veja-se Frederick Schauer Playing by the Rules A Philosophical Exaxamination of Rule-Bases
Decision-Making in Law and Life Oxford Oxford University Press 1998 Humberto Aacutevila Neoconstitucionalismo entre a ciecircncia do
direito e o direito da ciecircncia Op cit Noel Struchiner Posturas institucionais e modelagem institucional a dignidade (contingente)
do formalismo juriacutedico In Daniel Sarmento Filosofia e teoria constitucional contemporacircnea Op cit
131Esta eacute expressatildeo empregada por Ana Paula de Barcellos O direito constitucional em 2006 Revista de Direito do Estado n 5 p
03-23 janmar 2007
132Cf Chaiumlm Perelman P Fories La Motivation des Deacutecisions de Justice Bruxelas Eacutemile Bruylant 1978
133Sobra a influecircncia do jeitinho no Direito brasileiro cf Keith Rosen O jeito na cultura juriacutedica brasileira Rio de Janeiro Reno-
var 1997
134Sobre o patrimonialismo no Brasil veja-se Raimundo Faoro Os donos do poder 8 ed Rio de Janeiro Globo 1989 v 2 p 729-
750
135Raiacutezes do Brasil 26 ed Satildeo Paulo Companhia das Letras 1995
136Cf Joseacute Murilo de Carvalho Brasileiro Cidadatildeo In Pontos e bordados escritos de histoacuteria e poliacutetica Belo Horizonte Ed
UFMG 2005 p 275-288
137Cf Gustavo Zagrebelsky Il Diritto Mite Op cit p 15-19
138Cf Marcelo Neves A constitucionalizaccedilatildeo simboacutelica Satildeo Paulo Acadecircmica 1994
139A obra de Niklas Luhman eacute vasta e complexa e seus textos satildeo de difiacutecil compreensatildeo para os natildeo iniciados Veja-se do proacuteprio
autor Sociologia do direito I e II Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 1983 e 1985 Sistema Jurididico y Dogmaacutetica Juriacutedica Madrid
Centro de Estuacutedios Constitucionales 1983 Confira-se tambeacutem a coletacircnea organizada por Andreacute-Jean Arnaud Dalmir Lopes Jr Do
sistema social agrave sociologia juriacutedica Rio de Janeiro Lumen Juris 2004
140Sobre a autopoieses do Direito veja-se tambeacutem a obra importante de Guumlnther Teubner O direito como sistema autopoieacutetico
Traduccedilatildeo de Joseacute Engracia Nunes Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1993
141Cf Luis Roberto Barroso Neoconstitucionalismo e a constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit
142Esta era basicamente a visatildeo de Hans Kelsen (Cf Hans Kelsen Jurisdiccedilatildeo constitucional Traduccedilatildeo de Alexandre Krug et al Satildeo
Paulo Martins Fontes 2003 p 153) Para uma anaacutelise criacutetica desta posiccedilatildeo veja-se Luis Prietro Sanchiacutes Presupuestos ideoloacutegicos
y doctrinales de la jurisdicioacuten constitucional In Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales Op cit p 21-100
38
143Cf Christian Starck La suprematie La Suprematie de la Constitution et la Justice Constitutionnelle In La Constitution Cadre et
Mesure du Droit Traduccedilatildeo de Freacutederic Weill Paris Econocircmica 1994 p 26-30 Ernst- Wolfgang Boumlckenfoumlrde Les meacutethodes
dinterpretation de la Constitution Un bilan critique In Le Droit lEacutetat et la Constitution Democratique Traduccedilatildeo de Olivier
Jouanjan Paris LGDJ 2000 p 249-250 Virgiacutelio Afonso da Silva Constitucionalizaccedilatildeo do direito os direitos fundamentais nas
relaccedilotildees entre particulares Satildeo Paulo Malheiros 2005 p 107-131 Daniel Sarmento Ubiquumlidade constitucional os dois lados da
moeda Op cit Luis Roberto Barroso Curso de Direito Constitucional Contemporacircneo Op cit p 391-394 Alceu Mauriacutecio Jr
Judicializaccedilatildeo da poliacutetica e a crise do direito constitucional a Constituiccedilatildeo entre ordem marco e ordem fundamenta Revista de
Direito do Estado n 10 p 125-142 abrjun 2008
144Der Staat der Industriegesellshaft 2 ed Muumlnchen Beck 1971 p 144 Apud Robert Alexy Posfaacutecio In Teoria dos direitos
fundamentais Op cit p 578
145De acordo com Carlos Santiago Nino o perfeccionaismo eacute la concepcioacuten seguacuten la cual es una misioacuten legiacutetima del Estado hacer
que los individuos acepten y materializen ideales vaacutelidos de virtud personal Seguacuten este enfoque el Estado no puede permanecer
neutral respecto de concepciones de lo bueno en la vida y debe adoptar las medidas educativas punitorias etc que sean necesa-
rias para que los indiviacuteduos ajusten su vida a los verdaderos ideales de virtud y del bien (Eacutetica y Derechos Humanos Un ensayo de
fundamentacioacuten 2 ed Buenos Aires Astrea 1989 p 413)
146Daniel Sarmento Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas 2 ed Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 Sobre o tema na literatura
nacional veja-se tambeacutem Wilson Antocircnio Steinmetz A vinculaccedilatildeo dos particulares aos direitos fundamentais Satildeo Paulo Malheiros
2004 Virgiacutelio Afonso da Silva Constitucionalizaccedilatildeo do direito os direitos fundamentais nas relaccedilotildees entre particulares Op cit
Ingo Wolfgang Sarlet Direitos fundamentais e direito privado algumas consideraccedilotildees em torno da vinculaccedilatildeo dos particulares aos
direitos fundamentais In Ingo Wolfgang Sarlet (Org) A Constituiccedilatildeo concretizada Porto Alegre Livraria do Advogado 1999 p
129-173 Jane Reis Gonccedilalves Pereira Apontamentos sobre a aplicaccedilatildeo das normas de direito fundamental nas relaccedilotildees juriacutedicas
entre particulares In Luis Roberto Barroso (Org) A nova interpretaccedilatildeo constitucional ponderaccedilatildeo direitos fundamentais e
relaccedilotildees privadas Rio de Janeiro Renovar 2003 p 119-192
147Sobre a questatildeo da (i)legitimidade do perfeccionismo no Direito veja-se Joel Feinberg Rights Justice and the Bounds of Liber-
ty Princeton Princeton University Press 1980 Carlos Santiago Nino Eacutetica y Derechos Humanos Op cit p 413-446 Rainer Forst
Contexts of Justice Political Philosophy beyond Liberalism and Communitarianism Traduccedilatildeo de John M M Farrel Berkeley Uni-
versity of Califoacuternia Press 2001 p 30-87 Macaacuterio Alemany El Paternalismo Juriacutedico Madrid Iustel 2006
148Um sofisticado modelo que busca conciliar a constitucionalizaccedilatildeo do Direito com a democracia estaacute exposto no Poacutesfaacutecio agrave Teo-
ria dos Direitos Fundamentais de Robert Alexy acima citado Veja-se ainda Konrad Hesse Concepto y Cualidad de la Constitu-
cion In Escritos de Derecho Constitucional Traduccedilatildeo de Pedro Cruz Villaloacuten 2 ed 1992 p 03-29
149Tentei articular a minha teoria sobre eficaacutecia horizontal dos direitos fundamentais com este objetivo Cf Daniel Sarmento
Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas Op cit p 141-182 259-272
150Sobre el Neoconstitucionalismo y sus Implicaciones Op cit p 117
151Aqui entendo que o simples reconhecimento da penetraccedilatildeo da Moral no Direito preconizada pelos neoconstitucionalistas brasi-
leiros natildeo eacute suficiente jaacute que certas concepccedilotildees morais podem tornar o ordenamento ainda mais opressivo do que jaacute eacute Afinal
nem sempre a moralizaccedilatildeo do Direito se daacute na direccedilatildeo da emancipaccedilatildeo dos excluiacutedos Veja-se por exemplo a famosa polecircmica
jusfilosoacutefica entre Lord Patrick Devlin e Herbert Hart nos anos 60 na Inglaterra a propoacutesito do uso do Direito Penal para promoccedilatildeo
de Moral em que o primeiro a partir de uma posiccedilatildeo proacute-moral sustentava a legitimidade da criminalizaccedilatildeo da conduta homos-
sexual que o segundo contestava (Cf Lord Patrick Devlin Morals and Criminal Law In Ronald Dworkin (Ed) The Philosophy of
Law Op cit p 66-82 Herbert Hart Immorality and Treason In Idem ibidem)
Eacute preciso assentar as bases criacuteticas desta Moral que deve penetrar o Direito para evitar que o moralismo conservador seja expulso
do ordenamento pela porta da frente superado pela legislaccedilatildeo moderna em razatildeo da progressiva liberalizaccedilatildeo da sociedade mas
volte pela porta dos fundos atraveacutes da argumentaccedilatildeo juriacutedica dos juiacutezes lastreada em conceitos vagos como ordem puacuteblica e
bons constumes ou em standards como o comportamento do bom pai de famiacutelia
39
14
Como ressaltado esta mudanccedila de paradigma se reflete vivamente na jurisprudecircncia do STF
Satildeo exemplos eloquumlentes a alteraccedilatildeo da posiccedilatildeo da Corte em relaccedilatildeo aos direitos sociais antes
tratados como normas programaacuteticas e hoje submetidos a uma intensa proteccedilatildeo judicial 91o
reconhecimento da eficaacutecia horizontal dos direitos fundamentais92 a mutaccedilatildeo do entendimen-
to do Tribunal em relaccedilatildeo agraves potencialidades do mandado de injunccedilatildeo 93e a progressiva supe-
raccedilatildeo da visatildeo claacutessica kelseniana da jurisdiccedilatildeo constitucional que a equiparava ao legislador
negativo com a admissatildeo de teacutecnicas decisoacuterias mais heterodoxas94 como as declaraccedilotildees de
inconstitucionalidade sem pronuacutencia de nulidade e as sentenccedilas aditivas E para completar o
quadro deve-se acrescentar as mudanccedilas acarretadas por algumas inovaccedilotildees processuais re-
centes na nossa jurisdiccedilatildeo constitucional que permitiram a participaccedilatildeo dos amici curiae bem
como a realizaccedilatildeo de audiecircncias puacuteblicas no acircmbito do processo constitucional ampliando a
possibilidade de atuaccedilatildeo da sociedade civil organizada no STF95
Naturalmente a nova postura de ativismo judicial do STF estimula as forccedilas sociais a procuraacute-
lo com mais frequumlecircncia e contribui para uma significativa alteraccedilatildeo na agenda da Corte Atu-
almente ao lado das questotildees mais tradicionais de Direito Puacuteblico o STF tem se defrontado
com novos temas fortemente impregnados de conteuacutedo moral como as discussotildees sobre a vali-
dade de pesquisa em ceacutelulas-tronco embrionaacuterias96 aborto de feto anenceacutefalo97 e uniatildeo entre
pessoas do mesmo sexo98 Ademais o Tribunal passou a intervir de forma muito mais ativa no
processo poliacutetico adotando decisotildees que se refletem de forma direta e profunda sobre a atua-
ccedilatildeo dos demais poderes do Estado Para citar apenas alguns casos pode-se falar da decisatildeo que
assentou que a mudanccedila de partido implica salvo determinadas exceccedilotildees perda de mandato
parlamentar99 da que estabeleceu criteacuterios riacutegidos para a fixaccedilatildeo do nuacutemero de vereadores de
acordo com a respectiva populaccedilatildeo100 e da intensificaccedilatildeo do controle jurisdicional dos atos das
CPIs bem como dos pressupostos de ediccedilatildeo das medidas provisoacuterias
Poreacutem haacute um componente curioso na recepccedilatildeo deste novo paradigma juriacutedico pelo Judiciaacuterio
brasileiro Embora ainda natildeo existam estudos empiacutericos a este respeito tenho a forte intuiccedilatildeo
de que a penetraccedilatildeo destas novas ideacuteias associadas ao neoconstitucionalismo eacute forte na cuacutepula
e na base da hierarquia judicial mas ainda tiacutemida nos seus escalotildees intermediaacuterios E as causas
natildeo satildeo de difiacutecil compreensatildeo Em relaccedilatildeo agrave cuacutepula - os ministros do STF - as razotildees jaacute foram
explicadas acima Jaacute no que tange agrave base do Judiciaacuterio boa parte dos juiacutezes de 1ordm grau teve a
sua formaccedilatildeo num ambiente acadecircmico que jaacute valorizava o Direito Constitucional e reconhecia
a forccedila normativa dos direitos fundamentais e dos princiacutepios constitucionais Assim eles ten-
dem a levar para a sua praacutetica profissional esta visatildeo do Direito Poreacutem sobretudo na 2ordf ins-
tacircncia composta majoritariamente por magistrados que se formaram e foram socializados no
15
seu meio institucional sob a eacutegide do paradigma juriacutedico anterior muito mais voltado para os
coacutedigos e para a letra da lei do que para a Constituiccedilatildeo e seus princiacutepios haacute maior resistecircncia agrave
incorporaccedilatildeo dos novos vetores constitucionais Contudo este fenocircmeno tende a diminuir com
o tempo seja pela consolidaccedilatildeo do paradigma constitucional emergente seja pela promoccedilatildeo
de magistrados mais antenados com o novo constitucionalismo seja ateacute pela influecircncia do pen-
samento e das orientaccedilotildees da cuacutepula do Judiciaacuterio sobre todas as suas instacircncias
No cenaacuterio brasileiro o neoconstitucionalismo eacute tambeacutem impulsionado por outro fenocircmeno a
descrenccedila geral da populaccedilatildeo em relaccedilatildeo agrave poliacutetica majoritaacuteria e em especial o descreacutedito
no Poder Legislativo e nos partidos poliacuteticos101 A percepccedilatildeo geral alimentada por sucessivos
escacircndalos e pelo discurso de alguns meios de comunicaccedilatildeo social de que a poliacutetica parlamen-
tar e partidaacuteria satildeo esferas essencialmente corrompidas que se movem exclusivamente em
torno de interesses e natildeo de valores gera em alguns setores a expectativa de que a soluccedilatildeo
para os problemas nacionais possa vir do Judiciaacuterio102 E este sentimento eacute fortalecido quando
a Justiccedila adota decisotildees em consonacircncia com a opiniatildeo puacuteblica - como ocorreu no recebimento
da denuacutencia criminal no caso do mensalatildeo na definiccedilatildeo de perda do mandato por infidelidade
partidaacuteria e na proibiccedilatildeo do nepotismo na Administraccedilatildeo Puacuteblica
Por outro lado a ascensatildeo institucional do Judiciaacuterio e a riqueza e importacircncia praacutetica ou sim-
boacutelica dos temas que ele vem julgando tem provocado um grande aumento no interesse da so-
ciedade pelo Direito Constitucional e pela atuaccedilatildeo do Supremo Tribunal Federal Eacute difiacutecil um
dia em que os principais meios de comunicaccedilatildeo natildeo discutam alguma decisatildeo da Corte ou mani-
festaccedilatildeo de qualquer dos seus membros E este fenocircmeno eacute potencializado tanto pela extro-
versatildeo midiaacutetica de alguns ministros como tambeacutem pelo fato - sem precedentes em outros
paiacuteses - do televisionamento das sessotildees do STF Com tudo isso as questotildees constitucionais
que antes eram apenas discutidas dentro de um ciacuterculo muito restrito de iniciados hoje satildeo
amplamente debatidas no espaccedilo puacuteblico
Neste quadro em que pesem as muacuteltiplas resistecircncias que sofre eacute possiacutevel apontar a emergecircn-
cia de uma nova forma de conceber o Direito e o Estado na sociedade brasileira contemporacirc-
nea que se quisermos adotar a terminologia hoje em voga pode ser chamada de neoconstitu-
cionalismo
4 Trecircs objeccedilotildees ao neoconstitucionalismo
16
Nas proacuteximas linhas abordarei de maneira breve trecircs criacuteticas que podem ser levantadas con-
tra o neoconstitucionalismo (a) a de que o seu pendor judicialista eacute anti-democraacutetico (b) a de
que a sua preferecircncia por princiacutepios e ponderaccedilatildeo em detrimento de regras e subsunccedilatildeo eacute
perigosa sobretudo no Brasil em razatildeo de singularidades da nossa cultura e (c) a de que ele
pode gerar uma panconstitucionalizaccedilatildeo do Direito em detrimento da autonomia puacuteblica do
cidadatildeo e da autonomia privada do indiviacuteduo Outras criacuteticas importantes existem103 mas por
limites de tempo e espaccedilo preferi priorizar aqui estas trecircs que satildeo as que geram maior apre-
ensatildeo no cenaacuterio brasileiro
a) Neoconstitucionalismo e judiciocracia
Como salientado acima o neoconstitucionalismo tem um foco muito centrado no Poder Judici-
aacuterio no qual deposita enormes expectativas no sentido de concretizaccedilatildeo dos ideais emancipa-
toacuterios presentes nas constituiccedilotildees contemporacircneas Contudo este vieacutes judicialista sofre con-
testaccedilotildees pelo seu suposto caraacuteter antidemocraacutetico na medida em que os juiacutezes diferente-
mente dos parlamentares e chefes do Executivo natildeo satildeo eleitos e natildeo respondem diretamente
perante o povo104
Esta criacutetica democraacutetica se assenta na ideacuteia de que numa democracia eacute essencial que as deci-
sotildees poliacuteticas mais importantes sejam tomadas pelo proacuteprio povo ou por seus representantes
eleitos e natildeo por saacutebios ou tecnocratas de toga Eacute verdade que a maior parte dos teoacutericos con-
temporacircneos da democracia reconhece que ela natildeo se esgota no respeito ao princiacutepio majoritaacute-
rio pressupondo antes o acatamento das regras do jogo democraacutetico que incluem a garantia
de direitos baacutesicos visando a viabilizar a participaccedilatildeo igualitaacuteria do cidadatildeo na esfera puacuteblica
bem como alguma proteccedilatildeo agraves minorias105 Poreacutem temos aqui uma questatildeo de dosagem pois
se a imposiccedilatildeo de alguns limites para a decisatildeo das maiorias pode ser justificada em nome da
democracia o exagero tende a revelar-se antidemocraacutetico por cercear em demasia a possibi-
lidade do povo de se autogovernar106
E a questatildeo natildeo eacute apenas de divisatildeo de poder ao longo do tempo A dificuldade democraacutetica
natildeo estaacute tatildeo-somente no fato de as constituiccedilotildees subtraiacuterem do legislador futuro a possibilida-
de de tomar algumas decisotildees107 O cerne do debate estaacute no reconhecimento de que diante da
vagueza e abertura de boa parte das normas constitucionais mais importantes quem as inter-
preta tambeacutem participa do seu processo de criaccedilatildeo108 Daiacute a criacutetica de que o vieacutes judicialista
subjacente ao neoconstitucionalismo acaba por conferir aos juiacutezes uma espeacutecie de poder cons-
tituinte permanente pois lhes permite moldar a Constituiccedilatildeo de acordo com as suas preferecircn-
cias poliacuteticas e valorativas em detrimento daquelas do legislador eleito Esta visatildeo levou inuacute-
17
meras correntes de pensamento ao longo da histoacuteria a rejeitarem a jurisdiccedilatildeo constitucional
ou pelo menos o ativismo judicial no seu exerciacutecio dos revolucionaacuterios franceses do seacuteculo XVI-
II109 passando por Carl Schmitt110 na Repuacuteblica de Weimar ateacute os adeptos do constituciona-
lismo popular nos Estados Unidos de hoje111
No Brasil eacute muito comum traccedilar-se um paralelo entre a defesa do ativismo judicial e posiccedilotildees
sociais progressistas Talvez isso se deva ao fato de que na nossa histoacuteria o Judiciaacuterio brasilei-
ro tem pecado muito mais por omissatildeo acumpliciando-se diante dos desmandos dos poderes
poliacutetico e econocircmico do que por excesso de ativismo Neste quadro quem ousa questionar
possiacuteveis exageros na judicializaccedilatildeo da poliacutetica e da vida social no Brasil de hoje eacute logo tachado
de conservador Poreacutem o paralelismo em questatildeo natildeo existe Muitas vezes o Poder Judiciaacuterio
pode atuar bloqueando mudanccedilas importantes promovidas pelos outros poderes em favor dos
excluiacutedos defendendo o statu quo E esta defesa pode ocorrer inclusive atraveacutes do uso da retoacute-
rica dos direitos fundamentais
Isso se deu por exemplo nos Estados Unidos nas primeiras deacutecadas do seacuteculo passado em pe-
riacuteodo que ficou conhecido como Era de Lochner112 quando a Suprema Corte impediu sistemati-
camente a ediccedilatildeo de legislaccedilatildeo trabalhista e de outras medidas que implicavam em interferecircn-
cia na esfera econocircmica em proveito das classes desfavorecidas com base numa leitura subs-
tantiva da claacuteusula do devido processo legal No cenaacuterio contemporacircneo Ran Hirshl113 sustenta
que o processo de judicializaccedilatildeo da poliacutetica que vem ocorrendo nos uacuteltimos anos em diversos
paiacuteses do mundo - ele fez um atento ainda que controvertido estudo dos casos do Canadaacute
Israel Aacutefrica do Sul e Nova Zelacircndia - teria como pano de fundo uma tentativa das elites eco-
nocircmicas e culturais que perderam espaccedilo na poliacutetica majoritaacuteria de manterem o seu poder
reforccedilando no arranjo institucional do Estado o peso do Judiciaacuterio no qual elas ainda tecircm he-
gemonia E aqui no Brasil seraacute que a proteccedilatildeo absoluta que vem sendo conferida ao direito
adquirido - inclusive o de furar teto salarial do funcionalismo fixado por emenda agrave Constituiccedilatildeo
114 - e o ultra-garantismo penal nos crimes do colarinho branco natildeo seriam exemplos deste
mesmo fenocircmeno
Por outro lado uma ecircnfase excessiva no espaccedilo judicial pode levar ao esquecimento de outras
arenas importantes para a concretizaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo e realizaccedilatildeo de direitos gerando um
resfriamento da mobilizaccedilatildeo ciacutevica do cidadatildeo Eacute verdade que o ativismo judicial pode em
certos contextos atuar em sinergia com a mobilizaccedilatildeo social na esfera puacuteblica Isto ocorreu
por exemplo no movimento dos direitos civis nos Estados Unidos dos anos 50 e 60 que foi a-
quecido pelas respostas positivas obtidos na Suprema Corte no periacuteodo da Corte de Warren115
Mas nem sempre eacute assim A ecircnfase judicialista pode afastar do cenaacuterio de disputa por direitos
18
as pessoas e movimentos que natildeo pertenccedilam nem tenham proximidade com as corporaccedilotildees
juriacutedicas
Ademais esta obsessatildeo com a interpretaccedilatildeo judicial da Constituiccedilatildeo tende a obscurecer o pa-
pel central de outras instacircncias na definiccedilatildeo do sentido da Constituiccedilatildeo - como o Legislativo o
Executivo e a proacutepria esfera puacuteblica informal Trata-se de um desvio que gera consequumlecircncias
negativas tanto no plano descritivo como na esfera normativa Sob o prisma descritivo trans-
mite-se uma imagem muito parcial do fenocircmeno constitucional que natildeo eacute captado com todas
as suas nuances e riquezas jaacute que o foco se concentra apenas sobre a accedilatildeo de um dentre os
vaacuterios agentes importantes que povoam a seara da hermenecircutica constitucional116 Sob o acircngu-
lo normativo favorece-se um governo agrave moda platocircnica de saacutebios de toga117 que satildeo convida-
dos a assumir uma posiccedilatildeo paternalista diante de uma sociedade infantilizada118 Justifica-se o
ativismo judicial a partir de uma visatildeo muito criacutetica do processo poliacutetico majoritaacuterio mas que
ignora as inuacutemeras mazelas que tambeacutem afligem o Poder Judiciaacuterio construindo-se teorias a
partir de visotildees romacircnticas e idealizadas do juiz119 Soacute que se eacute verdade que o processo poliacuteti-
co majoritaacuterio tem seus viacutecios - e eles satildeo muito graves no cenaacuterio brasileiro - tambeacutem eacute certo
que os juiacutezes natildeo satildeo semi-deuses e que a esfera em que atuam tampouco eacute imune agrave poliacutetica
com p menor
Esta idealizaccedilatildeo da figura do juiz natildeo se compadece com algumas notoacuterias deficiecircncias que o
Judiciaacuterio brasileiro enfrenta Dentre elas pode-se destacar a sobrecarga de trabalho que
compromete a capacidade dos magistrados de dedicarem a cada processo o tempo e a energia
necessaacuterias para que faccedilam tudo que o que demandam as principais teorias da argumentaccedilatildeo
defendidas pelo neoconstitucionalismo E cabe referir tambeacutem agraves lacunas na formaccedilatildeo do ma-
gistrado brasileiro decorrentes sobretudo das falhas de um ensino juriacutedico formalista e nada
interdisciplinar que ainda viceja no paiacutes que natildeo satildeo corrigidas nos procedimentos de seleccedilatildeo
e treinamento dos juiacutezes
Outra consequumlecircncia da obsessatildeo judicialista do constitucionalismo brasileiro contemporacircneo
estaacute refletida na nossa produccedilatildeo acadecircmica Enquanto somos inundados por livros e artigos
muitas vezes repetitivos sobre assuntos como princiacutepios e regras interpretaccedilatildeo constitucional
e tutela judicial de direitos fundamentais outros temas absolutamente essenciais para a vida
do paiacutes passam ao largo da preocupaccedilatildeo dos juristas Eacute o caso da reforma poliacutetica Em que pese
o caraacuteter essencialmente constitucional do assunto quase nenhum constitucionalista se inte-
ressou por ele 120e praticamente toda a literatura de qualidade produzida sobre o toacutepico tem
vindo da Ciecircncia Poliacutetica
19
Estou convencido de que o Poder Judiciaacuterio tem um papel essencial na concretizaccedilatildeo da Consti-
tuiccedilatildeo brasileira Em face do quadro de sistemaacutetica violaccedilatildeo de direitos de certos segmentos da
populaccedilatildeo do arranjo institucional desenhado pela Carta de 88 e da seacuteria crise de representa-
tividade do Poder Legislativo entendo que o ativismo judicial se justifica no Brasil pelo menos
em certas searas como a tutela de direitos fundamentais a proteccedilatildeo das minorias e a garantia
do funcionamento da proacutepria democracia O maior insulamento judicial diante da pressatildeo das
maiorias bem como um certo ethos profissional de valorizaccedilatildeo dos direitos humanos que co-
meccedila a se instalar na nossa magistratura 121 conferem ao Judiciaacuterio uma capacidade institu-
cional privilegiada para atuar nestas aacutereas122
Mas em outros campos pode ser mais recomendaacutevel uma postura de autocontenccedilatildeo judicial
seja por respeito agraves deliberaccedilotildees majoritaacuterias adotadas no espaccedilo poliacutetico123 seja pelo reco-
nhecimento da falta de expertise do Judiciaacuterio para tomar decisotildees que promovam eficiente-
mente os valores constitucionais em jogo em aacutereas que demandem profundos conhecimentos
teacutecnicos fora do Direito - como Economia poliacuteticas puacuteblicas e regulaccedilatildeo124 Nestes casos deve-
se reconhecer que outros oacutergatildeos do Estado estatildeo mais habilitados para assumirem uma posiccedilatildeo
de protagonismo na implementaccedilatildeo da vontade constitucional
Nesta linha vejo com reticecircncias a sedimentaccedilatildeo na nossa cultura juriacutedica da visatildeo de que o
grande - senatildeo o uacutenico - inteacuterprete da Constituiccedilatildeo seria o Poder Judiciaacuterio125 Esta leitura des-
carta a autocontenccedilatildeo judicial bem como tende a desprezar a possibilidade de que sejam tra-
vados construtivos diaacutelogos interinstitucionais entre diversos oacutergatildeos estatais para a definiccedilatildeo da
melhor interpretaccedilatildeo dos ditames constitucionais126 Um bom exemplo127 deste desvio ocorreu
no julgamento da constitucionalidade das pesquisas em ceacutelulas-tronco embrionaacuterias realizada
pelo STF em que pese o resultado final do julgamento ter sido substancialmente correto Na-
quela ocasiatildeo o importante argumento deduzido na tribuna e em memoriais por Luis Roberto
Barroso - que advogava para um dos amici curiae favoraacuteveis agraves pesquisas - de que o Judiciaacuterio
deveria adotar posiccedilatildeo cautelosa no julgamento da constitucionalidade da lei impugnada ten-
do em vista o amplo consenso em torno dela obtido durante o processo legislativo tanto no
Senado como na Cacircmara foi explicitamente rechaccedilado por alguns ministros que consideraram
o ponto irrelevante E outros ministros em votos vencidos se sentiram confortaacuteveis ateacute para
defender a imposiccedilatildeo de novas normas pelo STF na aacuterea do Biodireito arvorando-se agrave condiccedilatildeo
de legisladores num campo para o qual evidentemente lhes faltava qualquer expertise
Enfim o neoconstitucionalismo brasileiro tem pecado por excesso depositando no Judiciaacuterio
expectativas que ele nem sempre teraacute como atender de forma satisfatoacuteria Um dos efeitos co-
laterais deste fenocircmeno eacute a disseminaccedilatildeo de um discurso muito perigoso de que voto e poliacuteti-
20
ca natildeo satildeo tatildeo importantes pois relevante mesmo eacute a interpretaccedilatildeo dos princiacutepios constitucio-
nais realizada pelo STF Daiacute a dizer que o povo natildeo sabe votar eacute um pulo e a ditadura de toga
pode natildeo ser muito melhor do que a ditadura de farda
b) Neoconstitucionalismo oba-oba constitucional e Estado Democraacutetico de Direito
Seria uma profunda injusticcedila com a teoria neoconstitucionalista acusaacute-la de promover o decisi-
onismo ou de defender a tomada de decisotildees judiciais puramente emotivas sem lastro em ar-
gumentaccedilatildeo racional soacutelida Pelo contraacuterio como foi destacado acima um dos eixos centrais
do pensamento neoconstitucional eacute a reabilitaccedilatildeo da racionalidade praacutetica no acircmbito juriacutedico
com a articulaccedilatildeo de complexas teorias da argumentaccedilatildeo que demandam muito dos inteacuterpre-
tes e sobretudo dos juiacutezes em mateacuteria de fundamentaccedilatildeo das suas decisotildees Poreacutem a praacutetica
judiciaacuteria brasileira recepcionou apenas parcialmente as teorias juriacutedicas de corte poacutes-
positivista e aqui a valorizaccedilatildeo dos princiacutepios e da ponderaccedilatildeo natildeo tem sido muitas vezes
acompanhada do necessaacuterio cuidado com a justificaccedilatildeo das decisotildees
Se ateacute natildeo muito tempo atraacutes os princiacutepios natildeo eram tratados como autecircnticas normas por
aqui - soacute tinha bom direito quem podia invocar uma regra legal clara e precisa em favor da sua
pretensatildeo - com a chegada do poacutes-positivismo e do neoconstitucionalismo passou-se em pou-
cos anos da aacutegua para o vinho Hoje instalou-se um ambiente intelectual no Brasil que aplaude
e valoriza as decisotildees principioloacutegicas e natildeo aprecia tanto aquelas calcadas em regras legais
que satildeo vistas como burocraacuteticas ou positivistas - e positivismo hoje no paiacutes eacute quase um pala-
vratildeo128 Neste contexto os operadores do Direito satildeo estimulados a invocar sempre princiacutepios
muito vagos nas suas decisotildees mesmo quando isso seja absolutamente desnecessaacuterio pela e-
xistecircncia de regra clara e vaacutelida a reger a hipoacutetese Os campeotildees tecircm sido os princiacutepios da dig-
nidade da pessoa humana e da razoabilidade O primeiro eacute empregado para dar imponecircncia ao
decisionismo judicial vestindo com linguagem pomposa qualquer decisatildeo tida como politica-
mente correta e o segundo para permitir que os juiacutezes substituam livremente as valoraccedilotildees de
outros agentes puacuteblicos pelas suas proacuteprias
Este cenaacuterio eacute problemaacutetico porque um sistema juriacutedico funcional estaacutevel e harmocircnico com os
valores do Estado Democraacutetico de Direito precisa tanto da aplicaccedilatildeo de regras como de princiacute-
pios129 As regras satildeo indispensaacuteveis dentre outras razotildees130 porque geram maior previsibili-
dade e seguranccedila juriacutedica para os seus destinataacuterios diminuem os riscos de erro na sua inci-
decircncia jaacute que natildeo dependem tanto das valoraccedilotildees do inteacuterprete em cada caso concreto en-
volvem um menor custo no seu processo de aplicaccedilatildeo pois podem incidir de forma mais mecacirc-
nica sem demandarem tanto esforccedilo do inteacuterprete e natildeo implicam na mesma medida que os
21
princiacutepios em uma transferecircncia de poder decisoacuterio do Legislativo que eacute eleito para o Judici-
aacuterio que natildeo eacute
Natildeo pretendo sustentar com isso que se deva retroceder ao tempo em que os princiacutepios natildeo
eram aplicados pelos juiacutezes brasileiros Tambeacutem os princiacutepios satildeo essenciais na ordem juriacutedica
pois conferem mais plasticidade ao Direito - o que eacute essencial numa sociedade hiper-complexa
como a nossa - e permitem uma maior abertura da argumentaccedilatildeo juriacutedica agrave Moral e ao mundo
empiacuterico subjacente O importante eacute encontrar uma justa medida que natildeo torne o processo de
aplicaccedilatildeo do Direito amarrado demais como ocorreria num sistema baseado exclusivamente
em regras nem solto demais como sucederia com um que se fundasse apenas em princiacutepios
Penso que eacute chegada a hora de um retorno do pecircndulo no Direito brasileiro131 que sem des-
cartar a importacircncia dos princiacutepios e da ponderaccedilatildeo volte a levar a seacuterio tambeacutem as regras e a
subsunccedilatildeo
Ademais naquelas hipoacuteteses em que a aplicaccedilatildeo de princiacutepios for realmente apropriada ela
deve dar-se de forma mais racional e fundamentada Deve-se adotar a premissa de que quanto
mais vaga for a norma a ser aplicada e mais intenso o componente volitivo envolvido no pro-
cesso decisoacuterio maior deve ser o ocircnus argumentativo do inteacuterprete no sentido de mostrar que
a soluccedilatildeo por ele adotada eacute a que melhor realiza os valores do ordenamento naquele caso con-
creto132 A tendecircncia atual de invocaccedilatildeo frouxa e natildeo fundamentada de princiacutepios colide com a
loacutegica do Estado Democraacutetico de Direito pois amplia as chances de arbiacutetrio judicial gera inse-
guranccedila juriacutedica e atropela a divisatildeo funcional de poderes que tem no ideaacuterio democraacutetico um
dos seus fundamentos - a noccedilatildeo baacutesica de que as decisotildees sobre o que os cidadatildeos e o Estado
podem e natildeo podem fazer devem ser tomadas preferencialmente por quem represente o povo
e seja por ele escolhido
E haacute na sociedade brasileira traccedilos que tornam ainda mais perigosa esta tendecircncia agrave frouxidatildeo
e emotividade na metodologia juriacutedica Nossa cultura caracteriza-se muito mais pelo jeiti-
nho133 e pelo patrimonialismo134 do que pela valorizaccedilatildeo do cumprimento impessoal de regras
O brasileiro - jaacute dizia Seacutergio Buarque de Holanda135 - eacute o homem cordial que tende a antepor
a loacutegica privada do compadrio e da simpatia agrave racionalidade objetiva das leis Esta singularida-
de das nossas relaccedilotildees sociais natildeo atua de forma neutra em relaccedilatildeo a todos os cidadatildeos Ela
implica na adoccedilatildeo de posturas estatais em geral muito benevolentes em relaccedilatildeo aos donos do
poder e seus apaniguumlados e de posiccedilotildees muito mais duras dirigidas aos grupos excluiacutedos e mar-
ginalizados136 Uns poucos acabam pairando acima das leis que natildeo os alcanccedilam para limitar a
sua conduta ou sancionar os seus desvios enquanto outros permanecem abaixo dela sendo
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atingidos apenas pelo braccedilo punitivo do Estado pois a violaccedilatildeo rotineira dos seus direitos eacute
naturalizada tornando-se invisiacutevel
Neste quadro cabe indagar sob a perspectiva de uma sociologia da interpretaccedilatildeo constitucio-
nal ateacute que ponto a introduccedilatildeo entre noacutes de uma dogmaacutetica fluida - a expressatildeo eacute de Gusta-
vo Zagrebelsky137 um dos iacutecones do neoconstitucionalismo - natildeo pode ter como efeito colateral
o agravamento de patologias que marcam as nossas relaccedilotildees sociais Seraacute que o nosso Direito
precisa de mais rigidez ou de maior maleabilidade Ao fim e ao cabo quem tende a se benefi-
ciar com a adoccedilatildeo de uma hermenecircutica juriacutedica mais flexiacutevel
Uma reflexatildeo importante sobre tema correlato foi empreendida por Marcelo Neves138 a partir
das categorias da teoria sistecircmica de Niklas Luhman Para Luhman139 em apertada siacutentese o
Direito nas hipercomplexas sociedades modernas seria autopoieacutetico140 pois consistiria num
subsistema social estruturalmente fechado em relaccedilatildeo ao meio envolvente que operaria de
acordo com um coacutedigo binaacuterio proacuteprio - o liacutecito iliacutecito As influecircncias do meio envolvente so-
bre o Direito seriam filtradas atraveacutes deste coacutedigo assegurando a autonomia da esfera juriacutedica
diante dos outros subsistemas sociais como a Economia a Poliacutetica a Religiatildeo etc Contudo
Marcelo Neves sustenta que em sociedades perifeacutericas como o Brasil natildeo se desenvolveu ple-
namente este fechamento estrutural do Direito Por aqui fatores como a nossa constituciona-
lizaccedilatildeo simboacutelica geraram uma insuficiente diferenciaccedilatildeo do Direito em relaccedilatildeo a outros sub-
sistemas sociais permitindo que elementos a princiacutepio estranhos ao coacutedigo binaacuterio do juriacutedico -
como a questatildeo do poder poliacutetico e do poder econocircmico - se infiltrem sistematicamente nos
processos de aplicaccedilatildeo das normas condicionando o seu resultado A teoria dos sistemas de
Luhman natildeo funcionaria bem entre noacutes pois teriacuteamos um Direito em boa parte alopoieacuteti-
coPara tal perspectiva esta maior abertura do Direito ao meio envolvente natildeo assume o po-
tencial emancipatoacuterio preconizado pela teoria neoconstitucionalista Ela funciona muito mais
como um mecanismo de cristalizaccedilatildeo de diferenccedilas sociais mantendo a hiper-inclusatildeo de uns
ao preccedilo da exclusatildeo de outros
Esta reflexatildeo de Marcelo Neves natildeo se dirigiu ao debate metodoloacutegico contemporacircneo envol-
vendo princiacutepios e regras ponderaccedilatildeo e subsunccedilatildeo etc Poreacutem entendo que ela pode ter algu-
ma pertinecircncia tambeacutem aqui pelo menos para nos advertir sobre o perigo de que o neoconsti-
tucionalismo com a fluidez metodoloacutegica e abertura do Direito a outros domiacutenios que preconi-
za possa acabar tornando-se um belo roacutetulo para justificar mais do mesmo patrimonialismo
desigualdade jeitinho Nesta perspectiva a novidade do neoconstitucionalismo poderia pare-
cer com aquela advogada pelo Priacutencipe de Salinas em famosa passagem do romance O Leopar-
do de Giuseppe Lampedusa quando defendia no contexto da crise da aristocracia italiana do
23
final do seacuteculo XIX a necessidade de mudanccedilas urgentes no governo para que ao final as
coisas pudessem permanecer exatamente do jeito que sempre foram
Natildeo penso que esta seja uma consequumlecircncia necessaacuteria da adoccedilatildeo de uma perspectiva juriacutedica
mais principialista no Brasil O maior cuidado metodoloacutegico adicionado agrave adoccedilatildeo de uma dire-
triz hermenecircutica substantiva que afirme a missatildeo essencial do Direito de assegurar justiccedila e
seguranccedila agraves pessoas tratando-as como livres e iguais pode minimizar as possibilidades de um
uso enviesado da teoria neoconstitucional que acabe favorecendo aos mesmos de sempre
Mas diante das nossas tradiccedilotildees natildeo haacute como negar que os riscos satildeo elevados
c) Neoconstitucionalismo e panconstitucionalizaccedilatildeo
Uma das caracteriacutesticas do neoconstitucionalismo eacute a defesa da constitucionalizaccedilatildeo do Direi-
to Sustenta-se que a irradiaccedilatildeo das normas constitucionais por todo o ordenamento contribui
para aproximaacute-lo dos valores emancipatoacuterios contidos nas constituiccedilotildees contemporacircneas 141A
Constituiccedilatildeo natildeo eacute vista mais como uma simples norma normarum - cuja finalidade principal eacute
disciplinar o processo de produccedilatildeo de outras normas142 Ela passa a ser enxergada como a en-
carnaccedilatildeo dos valores superiores da comunidade poliacutetica que devem fecundar todo o sistema
juriacutedico Neste modelo cabe ao inteacuterprete natildeo soacute aplicar diretamente os ditames constitucio-
nais agraves relaccedilotildees sociais como tambeacutem reler todas as normas e institutos dos mais variados ra-
mos do Direito agrave luz da Constituiccedilatildeo emprestando-lhes o sentido que mais promova os objeti-
vos e a axiologia da Carta
A constitucionalizaccedilatildeo do Direito de que cogita o neoconstitucionalismo natildeo eacute aquela que resul-
ta do caraacuteter excessivamente analiacutetico da Constituiccedilatildeo e leva ao entricheiramento de meras
opccedilotildees conjunturais do constituinte originaacuterio ou derivado despidas de maior importacircncia ou
dignidade Este eacute um fenocircmeno caracteriacutestico da Carta de 88 que se excedeu no casuiacutesmo e
nos detalhes elevando ao seu texto meros interesses corporativos ou decisotildees de momento
sem focirclego para perdurarem no tempo A constitucionalizaccedilatildeo louvada e defendida pelo neo-
constitucionalismo eacute aquela que parte de uma interpretaccedilatildeo extensiva e irradiante dos direitos
fundamentais e dos princiacutepios mais importantes da ordem constitucional Aqui contudo pode-
se discutir ateacute que ponto o fenocircmeno eacute legiacutetimo Poucos discordaratildeo pelo menos no Brasil de
que alguma constitucionalizaccedilatildeo do Direito eacute positiva e bem-vinda por semear o ordenamento
com os valores humanitaacuterios da Constituiccedilatildeo Poreacutem pode-se objetar contra as teses extrema-
das sobre este processo que acabam amputando em demasia o espaccedilo de liberdade do legisla-
dor em detrimento da democracia 143
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Com efeito quem defende que tudo ou quase tudo jaacute estaacute decidido pela Constituiccedilatildeo e que o
legislador eacute um mero executor das medidas jaacute impostas pelo constituinte nega por conse-
quumlecircncia a autonomia poliacutetica ao povo para em cada momento da sua histoacuteria realizar as suas
proacuteprias escolhas O excesso de constitucionalizaccedilatildeo do Direito reveste-se portanto de um
vieacutes antidemocraacutetico Esta ordem de preocupaccedilotildees levou Ersnt Forsthof na Alemanha a criti-
car as teorias que viam a Constituiccedilatildeo como uma espeacutecie de genoma juriacutedico () do qual tudo
deriva do Coacutedigo Penal ateacute a lei sobre a fabricaccedilatildeo de termocircmetros144 E a questatildeo torna-se
ainda mais delicada diante da constataccedilatildeo de que pela abertura semacircntica dos direitos fun-
damentais e dos princiacutepios - principal mateacuteria-prima da constitucionalizaccedilatildeo do Direito - o seu
principal agente acaba sendo o Poder Judiciaacuterio ao dar a uacuteltima palavra sobre a interpretaccedilatildeo
daquelas claacuteusulas Daiacute porque o debate sobre a constitucionalizaccedilatildeo do Direito se imbrica
inexoravelmente com as discussotildees a propoacutesito da judicializaccedilatildeo da poliacutetica e do decisionismo
referidas acima
Ademais a constitucionalizaccedilatildeo do Direito tambeacutem suscita outra linha de preocupaccedilotildees rela-
cionada ao perfeccionismo moral145 na esfera privada No Brasil assim como em muitos outros
paiacuteses jaacute se assentou a ideacuteia de que os direitos fundamentais natildeo se dirigem apenas contra o
Estado vinculando tambeacutem os particulares Entre noacutes tem prevalecido na doutrina a ideacuteia que
eu mesmo defendi em outro estudo146 que a eficaacutecia dos direitos fundamentais nas relaccedilotildees
privadas eacute direta e imediata Em outras palavras entende-se que a proacutepria Constituiccedilatildeo jaacute inci-
de nas relaccedilotildees privadas independentemente de mediaccedilotildees legislativas e que pode gerar o-
brigaccedilotildees positivas ou negativas para os indiviacuteduos e natildeo soacute para os poderes puacuteblicos sempre
no afatilde de proporcionar uma proteccedilatildeo mais completa agrave dignidade humana Ateacute aqui nada a
contestar
Poreacutem o reconhecimento da vinculaccedilatildeo dos particulares agrave Constituiccedilatildeo suscita um risco que
natildeo pode ser ignorado o de imposiccedilatildeo agraves pessoas supostamente em nome de valores constitu-
cionais de comportamentos e estilos de vida que elas proacuteprias rejeitam em detrimento da sua
liberdade existencial Para dar um exemplo bem tosco seria terriacutevel se o Direito em nome do
princiacutepio da solidariedade social pudesse impor agraves pessoas que demonstrassem afetos e senti-
mentos que elas natildeo possuem genuinamente Ou se em nome da isonomia pretendesse inter-
ferir nas escolhas subjetivas e emocionais que os indiviacuteduos fazem nas suas vidas privadas A
constitucionalizaccedilatildeo neste sentido poderia converter-se num pretexto para o exerciacutecio de um
paternalismo anti-liberal em que as pessoas seriam forccediladas a conformarem-se agraves expectativas
sociais forjadas a partir de pautas de accedilatildeo politicamente corretas com apoio na Constitui-
ccedilatildeo147
25
Nenhuma destas duas questotildees eacute insuperaacutevel Eacute possiacutevel aceitar e aplaudir a constitucionaliza-
ccedilatildeo do Direito - fenocircmeno em geral positivo por aproximar a racionalidade emancipatoacuteria da
Constituiccedilatildeo do dia-a-dia das pessoas - mas defender que ela seja temperada por outras preo-
cupaccedilotildees igualmente essenciais no Estado Democraacutetico de Direito com a autonomia puacuteblica e
privada dos cidadatildeos Pode-se reconhecer a legitimidade da constitucionalizaccedilatildeo do Direito
mas numa medida em que natildeo sacrifique em excesso agrave liberdade de conformaccedilatildeo que numa
democracia deve caber ao legislador para realizar opccedilotildees poliacuteticas em nome do povo148 Pode-
se da mesma forma afirmar a incidecircncia direta da Constituiccedilatildeo nas relaccedilotildees privadas mas
sem invadir a esfera das opccedilotildees existenciais da pessoa - que de resto eacute protegida pela proacutepria
Constituiccedilatildeo das ingerecircncias perfeccionistas do Estado e da sociedade149
5 Conclusatildeo Ao fim da leitura destas paacuteginas o leitor pode estar se indagando se eu me alinho ou natildeo ao
neoconstitucionalismo A minha resposta eacute depende da compreensatildeo que se tenha sobre o ne-
oconstitucionalismo Se entendermos o neoconstitucionalismo de acordo com a conhecida defi-
niccedilatildeo de Luis Prietro Sanchiacutes como uma teoria do Direito que se orienta pelas maacuteximas demaacutes
princiacutepios que reglas maacutes ponderacioacuten que subsuncioacuten omnipotencia de la Constitucioacuten en
todas las aacutereas juriacutedicas y en todos conflictos miacutenimamente relevantes en lugar de espacios
exentos en favor de la opcioacuten legislativa o reglamentaria omnipotencia judicial en lugar de
autonomia del legislador ordinaacuterio y por ultimo coexistecircncia de una constelacioacuten plural de
valores a veces tendencialmente contradictorios en lugar de homogeneidad ideoloacutegica150
certamente eu natildeo me considero um neoconstitucionalista De todas as afirmaccedilotildees do professor
espanhol a uacutenica de que natildeo discordo eacute aquela relacionada ao pluralismo de valores cujo re-
conhecimento aliaacutes estaacute longe de ser privileacutegio dos neoconstitucionalistas
Contudo eu assumo o roacutetulo sem constrangimentos se o neoconstitucionalismo for pensado
como uma teoria constitucional que sem descartar a importacircncia das regras e da subsunccedilatildeo
abra tambeacutem espaccedilo para os princiacutepios e para a ponderaccedilatildeo tentando racionalizar o seu uso
Se for visto como uma concepccedilatildeo que sem desprezar o papel protagonista das instacircncias de-
mocraacuteticas na definiccedilatildeo do Direito reconheccedila e valorize a irradiaccedilatildeo dos valores constitucio-
nais pelo ordenamento bem como a atuaccedilatildeo firme e construtiva do Judiciaacuterio para proteccedilatildeo e
promoccedilatildeo dos direitos fundamentais e dos pressupostos da democracia E acima de tudo se
for concebido como uma visatildeo que conecte o Direito com exigecircncias de justiccedila e moralidade
criacutetica151 sem enveredar pelas categorias metafiacutesicas do jusnaturalismo
26
Certamente uma visatildeo equilibrada da Teoria do Direito com tais caracteriacutesticas pode contribu-
ir para o aperfeiccediloamento do Estado Democraacutetico de Direito no Brasil O mesmo jaacute natildeo digo de
concepccedilotildees mais radicais do neoconstitucionalismo que podem ser muito boas para arrancar
aplausos entusiasmados das plateacuteias nos seminaacuterios estudantis mas que natildeo se conciliam com
exigecircncias fundamentais de seguranccedila juriacutedica democracia e liberdade que satildeo alicerces de
qualquer bom constitucionalismo - novo ou velho
Curriacuteculo Resumido
Daniel Sarmento
Poacutes-Doutor pela Universidade de Yale (EUA) Procurador Regional da Repuacuteblica
Como citar este artigo
SARMENTO Daniel O neoconstitucionalismo no Brasil riscos e possibilidades Disponiacutevel em httpwwweditoraforumcombrsistconteudolista_conteudoaspFIDT_CONTEUDO=56993 acesso em 09032011 httpdireitoesubjetividadefileswordpresscom201008daniel-sarmento-o-neoconstitucionalismo-no-brasil1doc acesso em 30062012 Material da 1ordf aula da Disciplina Teoria Geral da Constituiccedilatildeo (I) ministrada no Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo Online em Direito Constitucional ndash Anhanguera-UNIDERP | REDE LFG
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___________________
1Sobre a teoria de princiacutepios no Brasil veja-se dentre outros Ana Paula de Barcellos A eficaacutecia juriacutedica dos princiacutepios constitu-
cionais o princiacutepio da dignidade da pessoa humana Rio de Janeiro Renovar 2002 Humberto Bergman Aacutevila Teoria dos princiacute-
pios da definiccedilatildeo agrave aplicaccedilatildeo dos princiacutepios juriacutedicos 2 ed Satildeo Paulo RT 2005 Jane Reis Gonccedilalves Pereira Interpretaccedilatildeo
constitucional e direitos fundamentais uma contribuiccedilatildeo ao estudo das restriccedilotildees aos direitos fundamentais na perspectiva da
teoria dos princiacutepios Rio de Janeiro Renovar 2006 Virgiacutelio Afonso da Silva O conteuacutedo essencial dos direitos fundamentais e a
eficaacutecia das normas constitucionais Satildeo Paulo Tese (concurso de Professor Titular de Direito Constitucional da USP)
2Veja-se em tons variados Lecircnio Luiz Streck Hermenecircutica juriacutedica e(m) crise uma exploraccedilatildeo hermenecircutica da construccedilatildeo do
direito Porto Alegre Livraria do Advogado 1999 Luiacutes Roberto Barroso (Org) A nova interpretaccedilatildeo constitucional ponderaccedilatildeo
direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas Rio de Janeiro Renovar 2003 Margarida Maria Lacombe Camargo Hermenecircutica e
argumentaccedilatildeo uma contribuiccedilatildeo ao estudo do direito Rio de Janeiro Renovar 2003 Inocecircncio Maacutertires Coelho Interpretaccedilatildeo
constitucional 2 ed Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2003 Ana Paula de Barcellos Ponderaccedilatildeo racionalidade e atividade
jurisdicional Rio de Janeiro Renovar 2005
3Sobre o fenocircmeno da constitucionalizaccedilatildeo do Direito confira-se os inuacutemeros artigos que compotildeem a coletacircnea organizada por
Claacuteudio Pereira de Souza Neto e por mim A constitucionalizaccedilatildeo do direito fundamentos teoacutericos e aplicaccedilotildees especiacuteficas Rio de
Janeiro Lumen Juris 2007
4Cfr na literatura constitucional brasileira Gisele Guimaratildees Cittadino Pluralismo direito e justiccedila distributiva elementos de
filosofia constitucional contemporacircnea Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 Oscar Vilhena Vieira A Constituiccedilatildeo e sua reserva de
justiccedila um ensaio sobre os limites materiais do poder de reforma Satildeo Paulo Malheiros 1999 Ricardo Lobo Torres (Org) A legi-
timaccedilatildeo dos direitos humanos Rio de Janeiro Renovar 2002 Claacuteudio Pereira de Souza Neto Teoria constitucional e democracia
deliberativa Rio de Janeiro Renovar 2006 Lecircnio Luiz Streck Verdade e consenso Constituiccedilatildeo hermenecircutica e teorias discursi-
vas Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 Samantha Chantal Dobrowolski A construccedilatildeo social do sentido da Constituiccedilatildeo na demo-
cracia contemporacircnea entre soberania popular e direitos humanos Rio de Janeiro Lumen Juris 2007 Aacutelvaro Ricardo de Souza
Cruz Hermenecircutica juriacutedica e(m) debate o constitucionalismo brasileiro entre a teoria do discurso e a ontologia existencial Belo
Horizonte Foacuterum 2007
5Sobre a judicializaccedilatildeo da poliacutetica no Brasil veja-se Luiz Werneck Vianna et al A judicializaccedilatildeo da poliacutetica e das relaccedilotildees sociais
no Brasil Rio de Janeiro Revan 1999 Giselle Cittadino Judicializaccedilatildeo da poliacutetica constitucionalismo democraacutetico e separaccedilatildeo de
poderes In Luiz Werneck Vianna (Org) A democracia e os trecircs poderes no Brasil Belo Horizonte UFMG 2002 p 17-42 Rogeacuterio
B Arantes Constitucionalism the expansion of Justice and the Judicialization of Poltics in Brazil In Rachel Sieder Line Schjol-
den Alan Angell The Judicialization of Politics in Latin America New York Palgrave Macmillan 2005 p 232-262 Luis Roberto
Barroso Judicializaccedilatildeo ativismo judicial e legitimidade democraacutetica Texto ineacutedito gentilmente cedido pelo autor
Para uma perspectiva comparativa veja-se Neal C Tate Tobjorn Vallinder (Ed) The Global Expansion of Judicial Power New
York New York University Press 1995 Alec Stone Sweet Governing with Judges Constitutional Politics in Europe Oxford Oxford
Univesity Press 2000 e em tom profundamente criacutetico Ran Hirschl Towards Juristocracy the Origins and Consequences of the
New Constitucionalism Cambridge Harvard University Press 2004
6Miguel Carbonell et al Neoconstitucionalismo(s) Madrid Trotta 2003 Mais recentemente o autor publicou nova coletacircnea
tambeacutem dedicada ao estudo do neoconstitucionalismo intitulada Teoria del Neoconstitucionalismo Ensayos escogidos Madrid
Trotta 2007
7O jurista argentino Carlos Santiago Nino por exemplo faleceu em 1993 quando ainda nem se empregava esta denominaccedilatildeo
8Cf Robert Alexy Teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica a teoria do discurso racional como teoria da fundamentaccedilatildeo juriacutedica Tradu-
ccedilatildeo de Zilda Hutchinson Schild Silva revisatildeo teacutecnica da traduccedilatildeo e introduccedilatildeo agrave ediccedilatildeo brasileira Claudia Toledo 2 ed Satildeo Paulo
Landy 2005 Luis Roberto Barroso Curso de direito constitucional contemporacircneo os conceitos fundamentais e a construccedilatildeo do
novo modelo Rio de Janeiro Saraiva 2008 p 306-350
9Cf Lecircnio Luiz Streck Verdade e consenso Op cit p 197-246
28
10Ronald Dworkin e Carlos Santiago Nino satildeo sem sombra de duacutevida autores liberais natildeo no sentido que se atribui ao termo no
Brasil - de adeptos de doutrina econocircmica favoraacutevel ao Estado miacutenimo e ao mercado - mas sim no sentido corrente na Filosofia
Poliacutetica que associa o liberalismo agrave defesa dos direitos individuais e da neutralidade do Estado em relaccedilatildeo agraves diversas concepccedilotildees
sobre a vida boa existentes na sociedade Veja-se neste sentido Ronald Dworkin A Matter of Principle Cambridge Harvard
University Press 1985 p 181-236 Carlos Santiago Nino La constitucioacuten de la Democracia Deliberativa Barcelona Gedisa 1997
p 70-100
11Lecircnio Luiz Streck que se alinha ao neoconstitucionalismo defende posturas tipicamente comunitaristas como o papel da Consti-
tuiccedilatildeo na definiccedilatildeo de modelos de vida boa para orientaccedilatildeo da vida social e da accedilatildeo individual Cf Jurisdiccedilatildeo constitucional e
hermenecircutica uma nova criacutetica do direito 2 ed Rio de Janeiro Forense 2004 p 95-288
12Antonio Cavalcanti Maia um dos mais ardorosos defensores do neoconstitucionalismo no paiacutes eacute tambeacutem procedimentalista e
adepto das teorias juriacutedicas de Juumlrgen Habermas Veja-se neste sentido o seu denso texto Nos vintes anos da carta cidadatilde do
poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm (Coord) Vinte
anos da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 p 117-168 em que esta sua dupla filiaccedilatildeo intelectual eacute
explicitada
13Segundo Miguel Carbonell o neoconstitucionalismo desdobra-se em trecircs planos de anaacutelise que se conjugam o dos textos consti-
tucionais que se tornaram mais substantivos e incorporaram amplos elencos de direitos fundamentais o das praacuteticas judiciais que
passaram a recorrer a princiacutepios constitucionais agrave ponderaccedilatildeo e a meacutetodos mais flexiacuteveis de interpretaccedilatildeo sobretudo na aacuterea de
direitos fundamentais e o dos desenvolvimentos teoacutericos de autores que com as suas ideacuteias ajudaram natildeo soacute a compreender os
novos modelos constitucionais mas tambeacutem participaram da sua proacutepria criaccedilatildeo Cf Miguel Carbonell Neoconstitucionalismo
elementos para una definicioacuten In Eduardo Ribeiro Moreira Mauricio Pugliesi 20 anos da Constituiccedilatildeo brasileira Satildeo Paulo Sarai-
va 2009 p 197-208
14No mesmo sentido Luis Roberto Barroso Neoconstitucionalismo e Constitucionalizaccedilatildeo do direito o triunfo tardio do direito
constitucional do Brasil In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento A constitucionalizaccedilatildeo do direito fundamentos teoacuteri-
cos e aplicaccedilotildees especiacuteficas Rio de Janeiro Lumen Juris 2007 p 203-250
15Cf Carlos Bernal Pulido El Derecho de los Derechos Bogotaacute Universidad Externado de Colocircmbia 2006 Manoel Jose Cepeda
Espinosa Judicialization of Politics in Colombia the old and the new In Rachel Sieder Line Schonjen Alan Angell The Judiciali-
zation of Politics in Latin America Op cit p 67-104 Rodrigo Uprimmy Mauriacutecio Garcia-Villegas Tribunal Constitucional e eman-
cipaccedilatildeo social na Colocircmbia In Boaventura de Souza Santos Democratizar a democracia os caminhos da democracia participativa
Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2002 p 297-339
16Cf Catalina Smulovitz Petitioning and Creating Rights Judicialization in Argentina In Rachel Sieder Line Scjolden Alan Angell
The Judicialization of Politics in Latin America Op cit p 161-185
17Cf Miguel Carbonell Los Derechos Fundamentales en Meacutexico 2 ed Meacutexico Porruacutea 2006 Pilar Domingo The Changing Political
Role of the Judiciary in Meacutexico In Rachel Sieder Line Scjolden Alan Angell The Judicialization of Politics in Latin Ameacuterica Op
cit p 21-46
18Cf Heinz Klug South Aacutefrica From Constitucional Promise to Social Transformation In Jeffrey Goldsworthy Interpreting Consti-
tutions A Comparative Study Oxford Oxford University Press 2006 p 266-320
19Cf S P Sathe Iacutendia From Positivism to Structuralism In Jeffrey Goldsworthy Op cit p 215-265
20Veja-se a propoacutesito Gustavo Zagrebelsky Il Diritto Mite Torino Einaudi 1992 p 57-96
21Cf Eduardo Garciacutea de Enterriacutea La Constitucioacuten como Norma y el Tribunal Constitucional 3 ed Madrid Civitas 1985 p 41
22Na Alemanha a mudanccedila ocorreu sob a vigecircncia da Lei Fundamental adotada em 1949 e foi fortemente impulsionada pela
jurisprudecircncia do Tribunal Constitucional do paiacutes que construiu teorias importantes como a da Constituiccedilatildeo como uma ordem de
valores em cujo centro situa-se o princiacutepio da dignidade humana que se irradia por todo o ordenamento Veja-se a propoacutesito
Dieter Grimm Human Rights and Judicial Review in Germany In David M Beatty (Org) Human Rights and Judicial Review A
Comparative Perspective Dodrecht Martin Urjhoff 1994 p 267-295
23Na Itaacutelia as mudanccedilas se deram sob a eacutegide da atual Constituiccedilatildeo editada em 1947 mas soacute apoacutes o funcionamento da Corte
Constitucional que se deu em 1956 Ateacute entatildeo a Corte de Cassaccedilatildeo composta por juiacutezes recrutados ainda no periacuteodo do fascismo
29
era provisoriamente encarregada da guarda da Constituiccedilatildeo o que fazia de forma muito tiacutemida no mais das vezes negando eficaacute-
cia juriacutedica agraves normas constitucionais sob o argumento de que seriam programaacuteticas Veja-se a propoacutesito Ricardo Guastini A
constitucionalizaccedilatildeo do ordenamento juriacutedico e a experiecircncia italiana In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento A
constitucionalizaccedilatildeo do direito fundamentos teoacutericos e aplicaccedilotildees especiacuteficas Op cit p 271-294
24Cf No modelo do constitucionalismo norte-americano entende-se desde os primoacuterdios que a Constituiccedilatildeo eacute autecircntica lei e que
o Judiciaacuterio pode invalidar as decisotildees legislativas que a contrariem apesar do controle de constitucionalidade natildeo estar expres-
samente previsto no texto constitucional daquele paiacutes Esta ideacuteia que jaacute estava assentada no Federalista n 78 escrito por Ale-
xander Hamilton antes da aprovaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo foi posta em praacutetica pela primeira vez contra lei federal no ceacutelebre caso
Marbury v Madison julgado em 1803 pelo juiz Marshall Veja-se a propoacutesito Paul Brest Sanford Levinson Jack Balkin Akhil Reed
Amar Processes of Constitutional Decisionmaking Cases and Materials New York Aspen Publishers 2000 p 79-103
A versatildeo mais convencional do modelo constitucional norte-americano enfatiza a importacircncia central do Judiciaacuterio na atualizaccedilatildeo
do sentido da Constituiccedilatildeo do paiacutes Contudo esta leitura histoacuterica eacute hoje objeto de intensa disputa Em sentido contraacuterio a tal
posiccedilatildeo sustentando uma menor relevacircncia do Judiciaacuterio no desenvolvimento histoacuterico do constitucionalismo americano veja-se
por exemplo Stephen M Griffin American Constitutionalism From Theory to Politics New Jersey Princeton University Press
1996 p 88-139
25Cf Luis Prietro Sanchiacutes Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales Madrid Trotta 2003 p 107-117
26Cf Daniel Sarmento Ubiquumlidade constitucional Os dois lados da moeda In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento
(Coord) A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 113-148
27Na verdade a reaccedilatildeo contra o formalismo juriacutedico na Europa eacute bem anterior ao advento do constitucionalismo do 2ordm poacutes-guerra
remontando ao final do seacuteculo XIX Veja-se a propoacutesito Constantin M Stamatis Argumenter en Droit Une theacuteorie critique de
largumentation juridique Paris Publisud 1995 p 34-50 Antonio Manoel Hespanha Panorama histoacuterico da cultura juriacutedica euro-
peacuteia Lisboa Publicaccedilotildees Europa-Ameacuterica 1997 p 196-235
28Haacute vasta literatura sobre a ponderaccedilatildeo mas a obra mais influente sobre o tema eacute certamente o livro de Robert Alexy Teoria dos
direitos fundamentais Traduccedilatildeo de Virgiacutelio Afonso da Silva Satildeo Paulo Malheiros 2008 No cenaacuterio norte-americano veja-se a
anaacutelise densa e criacutetica de T Alexander Aleinikoff Constitucional Law in the Age of Balancing Yale Law Journal n 96 p 943-
1005 1987 No Brasil cfr Daniel Sarmento A ponderaccedilatildeo de interesses na Constituiccedilatildeo Federal Rio de Janeiro Lumen Juris
2000 Ana Paula de Barcellos Ponderaccedilatildeo racionalidade e atividade jurisdicional Op cit
29A bibliografia sobre o princiacutepio da proporcionalidade eacute vastiacutessima Veja-se a propoacutesito as densas anaacutelises de Carlos Bernal Puli-
do El Principio de Proporcionalidad y los Derechos Fundamentales Madrid Centro de Estuacutedios Constitucionales 2003 e no Brasil
de Jane Reis Gonccedilalves Pereira Interpretaccedilatildeo constitucional e direitos fundamentais Rio de Janeiro Renovar 2006 p 297-382
30Cf Chaiumlm Perelman Eacutetica e direito Traduccedilatildeo de Maria Ermantina Galvatildeo G Perira Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 p 361-684
Robert Alexy Teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica Op cit Friedrich Muller Discours de la Meacutethode Juridique Traduccedilatildeo de Olivier
Jouanjan Paris PUF 1993 Manuel Atienza Traacutes la Justicia Una Introduccioacuten al Derecho y al Razonamiento Juriacutedico Barcelona
Ariel 1995 Neil MacCormick Argumentaccedilatildeo juriacutedica e teoria do direito Traduccedilatildeo de Waldeacutea Barcellos Satildeo Paulo Martins Fontes
2006 Klaus Guumlnther Teoria da argumentaccedilatildeo no direito e na moral justificaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Claacuteudio Molz Satildeo Pau-
lo Landy 2004
31Cf Martin Shapiro Alec Stone Sweet On Law Politics and Judicialization New York Oxford University Press p 136-208
32Contudo deve-se admitir na linha de Paolo Comanducci que eacute possiacutevel reconhecer as mudanccedilas em questatildeo e propor novas
teorias que sejam adequadas a elas sem defendecirc-las Esta seria nas palavras do autor italiano a diferenccedila entre o neoconstitu-
cionalismo teoacuterico e o neoconstitucionalismo ideoloacutegico que natildeo apenas constroacutei teorias mais compatiacuteveis com os novos fenocirc-
menos mas vai aleacutem sustentando a sua legitimidade e propugnando pelo seu aprofundamento e expansatildeo Veja-se a propoacutesito
Paulo Comanducci Formas de neoconstitucionalismo Un anaacutelisis metateoacuterico In Miguel Carbonell (Ed) Neoconstitucionalis-
mo(s) Op cit p 75-98 Como reconhece o proacuteprio autor tal distinccedilatildeo baseia-se em uma semelhante acerca do positivismo
30
formulada por Norberto Bobbio que fala em positivismo teoacuterico ideoloacutegico e metodoloacutegico Cf Norberto Bobbio O positivismo
juriacutedico liccedilotildees de filosofia do direito Traduccedilatildeo e notas de Marcio Pugliesi et al Satildeo Paulo Iacutecone 1995 p 233-239
33Cf Ronald Dworkin Is Law a Sistem of Rules In Ronald Dworkin (Ed) Philosophy of Law Oxford Oxford University Press 1971
Robert Alexy Constitucionalismo discursivo Traduccedilatildeo de Luiz Afonso Heck Porto Alegre Livraria do Advogado 2007
34Cf Robert Alexy Derecho y Razoacuten Praacutectica Meacutexico Distribuiciones Fontamara 1993 Aulis Aarnio Lo Racional como Razonable
Traduccedilatildeo de Ernesto Garzoacuten Valdeacutes Madrid Centro de Estuacutedios Constitucionales 1991
35Cf Aharon Barak The Judge in a Democracy New Jersey Princeton University Press 2006 p 213-260 Gustavo Zagrebelsky Il
Diritto Mite Op cit p 179-217
36Confronte-se com perspectivas diferentes Luigi Ferrajoli O Estado de direito entre passado e futuro In Pietro Costa Danilo
Zolo (Org) Estado de direito histoacuteria teoria criacutetica Traduccedilatildeo de Carlo Alberto Dastoli Satildeo Paulo Martins Fontes 2006 p 419-
464 Elias Dias Estado de Derecho y Sociedad Democraacutetica Madrid Taurus 1998 Ronald Dworkin Introduction The Moral Reading
and the Majoritarian Premise In Freedoms Law The moral reading of the American Constitution Cambridge Harvard University
Press 1996 p 01-38 Gustavo Zagrebelsky La Crucifixioacuten y la Democracia Barcelona Ariel 1996 Claacuteudio Pereira de Souza Neto
Teoria constitucional da democracia deliberativa Op cit
37Cf Ronald Dworkin Introduction The Moral Reading and the Majoritarian Premise Op cit
38Cf Luigi Ferrajoli El Garantismo y la Filosofia del Derecho Bogotaacute Universidad Externado de Colocircmbia 2000
39Cf Luis Pietro Sanchis Sobre el Neoconstitucionalismo y sus Implicaciones In Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales
Op cit p 101-135
40Cf Ricardo Guastini Sur la Validiteacute de la Constitution du Point de Vue du Positivisme Juridique In Michel Troper Lucien Jaume
(Dir) 1789 et LInvention de la Constitution Paris LGDJ 1994 p 216-225
41Cf Suzana Pozzolo Neoconstituzionalismo e Positivismo Giuridico Torino Giapppicheli 2001
42Cf Ronald Dworkin Law and Morals In Justice in Robes Cambridge Harvard University Press 2006 p 01-35
43Cf Robert Alexy Derecho y Moral In La Institucionalizacioacuten de la Justicia Op cit p 17-30
44Cf Carlos Santiago Nino Eacutetica y Derechos Humanos 2 ed Buenos Aires Astrea 1989 p 11-48
45Cf Gustav Radbruch Cinco minutos de filosofia do direito In Filosofia do direito Traduccedilatildeo de L Cabral de Moncada 6 ed
Coimbra Armecircnio Amado 1979 p 414-418 Para uma densa problematizaccedilatildeo da foacutermula de Radbruch veja-se Thomas da Rosa
Bustamante Poacutes-Positivismo o argumento da injusticcedila aleacutem da Foacutermula de Radbruch In Teoria do direito e decisatildeo racional
temas de teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica Rio de Janeiro Renovar 2008
46Cf Robert Alexy La Institucionalizacioacuten de la Justicia Traduccedilatildeo de Joseacute Antonio Seone et al Granada Comares 2005 p 31-
54
47Sobre o tema cfr Alfonso Garcia Figueroa Princiacutepios e direitos fundamentais In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmen-
to A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 03-34
48O texto mais importante do positivismo inclusivo eacute o poacutes-escrito de Herbert LA Hart agrave sua obra magna The Concept of Law em
que ele responde agraves criacuteticas ao seu pensamento que Ronald Dworkin lhe endereccedilara O autor inglecircs faleceu antes de terminar o
texto mas ele foi publicado postumemente depois de ser editado por Joseph Raz Peneacutelope Bulloch Veja-se Herbert LA Hart
Poacutes-escrito In O conceito de direito Traduccedilatildeo de A Ribeiro Mendes 2 ed 1994 p 299-339 Tambeacutem na linha do positivismo
inclusivo veja-se Gregorio Peces- Barba Derechos Sociales y Positivismo Juriacutedico Escritos de Filosofia Poliacutetica y Juriacutedica Madrid
Dykinson 1999 p 83-90 Jules Coleman The Practice of Principle In defense of a pragmatist approach do legal theory Oxford
Oxford University Press p 103-120 Para uma resenha dos tipos de positivismo no debate contemporacircneo confira-se Dimitri Di-
moulis Positivismo juriacutedico introduccedilatildeo a uma teoria do direito e defesa do pragmatismo juriacutedico-politico Satildeo Paulo Meacutetodo
2006 p 65-166
49Cf Antonio Cavalcanti Maia Nos vinte anos da Constituiccedilatildeo do poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo Op cit Claacuteudio Perei-
ra de Souza Neto A teoria constitucional e seus lugares especiacuteficos notas sobre o aporte reconstrutivo Revista de Direito do
Estado n 1 p 89-104 jan mar 2006 Daniel Sarmento Interpretaccedilatildeo constitucional preacute-compreensatildeo e capacidades institu-
cionais do inteacuterprete In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binebojm Vinte anos da Constituiccedilatildeo de 1988
Op cit p 311-322
31
50Cf Juumlrgen Habermas Escritos sobre Moralidad y Eticidad Traduccedilatildeo de Manuel Jimenez Redondo Barcelona Paidoacutes 1991 p
131-172
51Sobre o comunitarismo haacute extensa literatura Dois textos claacutessicos deste linha de pensamento satildeo Michael Walzer The Communi-
tarian Critique of Liberalism In Politics and Passion New Haven Yale University Press 2004 p 141-163 Charles Taylor The
Procedural Republic and the Unencumbered Self In Robert Goodin Philip Pettit (Ed) Contemporary Political Philosophy 2 ed
Oxford Oxford University Press 2002 p 2462-256 Sobre a penetraccedilatildeo ainda que muitas vezes natildeo consciente das posiccedilotildees do
comunitarismo no constitucionalismo brasileiro veja-se Gisele Cittadino Pluralismo direito e justiccedila distributiva Op cit p
43-74
52Sobre o construtivismo eacutetico corrente filosoacutefica que sustenta a existecircncia de posiccedilotildees certas e erradas na Moral bem como a
possibilidade de encontraacute-las e fundamentaacute-las racionalmente veja-se Carlos Santiago Nino El Constructivismo Eacutetico Madrid
Centro de Estudios Constitucionales 1989
53O fenocircmeno tambeacutem se reproduz na teoria constitucional norte-americana hegemocircnica cf Keith Wittington Constitutional Con-
struction Divided Powers and Constitutional Meaning Cambridge Harvard University Press 1999 p 01-03
54A imagem do Poder Judiciaacuterio como um guardiatildeo de promessas eacute explorada e criticada numa obra importante da teoria juriacutedica
francesa contemporacircnea Antoine Garapon Le Gardien de Promesses Le juge et la democratie Paris Odile Jacob 1996
55Neste sentido o eloquumlente encerramento do Curso de Direito Constitucional Contemporacircneo de Luis Roberto Barroso o consti-
tucionalismo democraacutetico eacute a utopia que nos restou Uma feacute racional que ajuda a acreditar no bem e na justiccedila ainda quando natildeo
estejam ao alcance dos olhos (Op cit p 400)
56Cf Nico Poulantzas State Power Socialism London new Left Books 1978 Alan Hunt Marxist Theory of Law In Dennis Patter-
son (Ed) A Companion to Philosophy of Law and Legal Theory Malden Blackwell Publishers 1996 p 355-367
57Cf David Kairys (Ed) The Politics of Law A Progressive Critique New York Pantheon Books 1982 Roberto Mangabeira Unger
The Critical Legal Studies Movement Cambridge Harvard University Press 1986
58Cf Plauto Faraco Azevedo Criacutetica agrave dogmaacutetica e hermenecircutica juriacutedica Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1989 Luiz Fernando
Coelho Teoria criacutetica do direito 2 ed Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1991
59Natildeo haacute como abordar aqui as relaccedilotildees entre as inuacutemeras correntes do poacutes-modernismo e o Direito Constitucional Veja-se a
propoacutesito Niklas Luhman La Constituzione como Acquisizione Evolutiva In Gustavo Zagrebelsky Piacuteer Paolo Portinaro Joumlrg Lu-
ther Il Futuro della Costituzione Torino Einaudi 1996 p 83-128 Joseacute Joaquim Gomes Canotilho Civilizaccedilatildeo do direito constitu-
cional ou constitucionalizaccedilatildeo do direito civil a eficaacutecia dos direitos fundamentais na ordem juriacutedico-civil no contexto do direito
poacutes-moderno Cadernos de Direito Constitucional e Ciecircncia Poliacutetica n 15 p 07-16 1996 Eduardo Capellari A crise da moderni-
dade e a Constituiccedilatildeo Rio de janeiro Ameacuterica Juriacutedica 2004 Daniel Sarmento Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas 2 ed
Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 p 36-45
60Para Jean-Franccedilois Lyotard uma das caracteriacutesticas centrais do pensamento poacutes-moderno de que eacute expoente eacute a desconfianccedila
em relaccedilatildeo agraves metanarrativas - construccedilotildees abstratas grandiosas e totalizadoras tiacutepicas da Filosofia Moderna como direitos
humanos luta de classes e emancipaccedilatildeo pelo uso da razatildeo Cf Lyotard A condiccedilatildeo poacutes-moderna Traduccedilatildeo de Ricardo Correcirca
Barbosa 5 ed 1998 p16
61Cf Luiz Werneck Viana O terceiro poder na carta de 1988 e a tradiccedilatildeo republicana mudanccedila e conservaccedilatildeo In Ruben George
Oliven Marcelo Gildo Marccedilal Branda A Constituiccedilatildeo de 1988 na vida brasileira Satildeo Paulo Aderaldo e Rotshild 2008 p 91-109
62Cf Paulo Ricardo Schier Filtragem constitucional Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1999
63A expressatildeo foi cunhada por Claacuteudio Pereira de Souza Neto Fundamento e normatividade dos direitos fundamentais uma recons-
truccedilatildeo teoacuterica agrave luz do princiacutepio democraacutetico Arquivos de Direitos Humanos n 4 p 17-61 2003
64Cf Luis Roberto Barroso O direito constitucional e a efetividade de suas normas 3 ed Rio de Janeiro Renovar 1996
65Cf Clegravemerson Merlin Clegraveve A teoria constitucional e o direito alternativo para uma dogmaacutetica constitucional emancipatoacuteria In
Uma vida dedicada ao direito homenagem a Carlos Henrique de Carvalho Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1995 p 34-53
66Ressalte-se poreacutem que antes de 88 alguns juristas jaacute defendiam a forccedila normativa da Constituiccedilatildeo como o Prof Joseacute Afonso da
Silva Eacute de 1968 a primeira ediccedilatildeo da sua obra claacutessica A aplicabilidade das normas constitucionais que adotava claramente esta
32
perspectiva Todavia pelo clima nada propiacutecio ao constitucionalismo que reinava por aqui ateacute a nossa redemocratizaccedilatildeo a louvaacute-
vel pregaccedilatildeo dele e de outros juristas em prol da efetivaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo natildeo chegou a render maiores frutos
67Deve-se assinalar ainda a influecircncia marcante do novo constitucionalismo ibeacuterico neste movimento que tambeacutem pugnava pela
atribuiccedilatildeo de forccedila normativa agraves ambiciosas constituiccedilotildees de Portugal e Espanha entatildeo recentemente elaboradas apoacutes o fim de
experiecircncias autoritaacuterias naqueles paiacuteses A tiacutetulo de exemplo mencione-se a penetraccedilatildeo no paiacutes do pensamento do Professor de
Coimbra Joseacute Joaquim Gomes Canotilho especialmente da sua teoria sobre a Constituiccedilatildeo dirigente que ele posteriormente reviu
(cf J J Gomes Canotilho Constituiccedilatildeo dirigente e vinculaccedilatildeo ao legislador contributo para a compreensatildeo das normas constitu-
cionais programaacuteticas 2 ed Coimbra Coimbra 2001 - especialmente o prefaacutecio desta segunda ediccedilatildeo que daacute conta da mudanccedila
de posicionamento) bem como a difusatildeo das liccedilotildees do Professor Eduardo Garciacutea de Enterriacutea (cf La Constitucioacuten como Norma y el
Tribunal Constitucional Madrid Civitas 1981)
68Segundo a avaliaccedilatildeo atual de Luis Roberto Barroso personagem central do movimento o positivismo constitucional que deu
impulso ao movimento natildeo importava em reduzir o direito agrave norma mas sim em elevaacute-la a esta condiccedilatildeo pois ateacute entatildeo ele
havia sido menos do que norma (Curso de direito constitucional contemporacircneo Op cit p 224)
69Paulo Bonavides Curso de direito constitucional 5 ed Satildeo Paulo Malheiros 1994
70Eros Roberto Grau A ordem econocircmica na Constituiccedilatildeo de 88 interpretaccedilatildeo e criacutetica Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1996
71No acircmbito da Poacutes-Graduccedilatildeo em Direito da UERJ em que estou inserido desde 1997 primeiro como aluno e a partir de 2003 como
professor o Ricardo Lobo Torres teve papel central na difusatildeo do pensamento destes e de outros filoacutesofos entre os estudantes e o
proacuteprio corpo docente
72Cf Lecircnio Luiz Streck Hermenecircutica juriacutedica e(m) crise Op cit Eros Roberto Grau Ensaio e discurso sobre a interpreta-
ccedilatildeoaplicaccedilatildeo do direito Satildeo Paulo Malheiros 2002
73Nesta linha veja-se as obras que compotildeem a coletacircnea Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Direitos sociais funda-
mentos judicializaccedilatildeo e direitos sociais em espeacutecie Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 Ricardo Lobo Torres O miacutenimo existencial
e os direitos fundamentais Revista de Direito Administrativo n 177 p 20-49 1989 Ingo Wolfgang Sarlet A eficaacutecia dos direitos
fundamentais 9 ed Porto Alegre Livraria do Advogado 2008 Ana Paula de Barcellos A eficaacutecia juriacutedica dos princiacutepios o princiacute-
pio da dignidade da pessoa humana Op cit Marco Mazzeli Gouveia O controle judicial das omissotildees administrativas Rio de
Janeiro Forense 2003 Andreacuteas Krell Direitos sociais e controle judicial no Brasil e Alemanha os (des)caminhos de um direito
constitucional comparado Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2002
74Cf Gustavo Tepedino Temas de direito civil Rio de Janeiro Renovar 1999 Luiz Edson Fachin Estatuto juriacutedico do patrimocircnio
miacutenimo Rio de Janeiro Renovar 2001 Maria Celina Bodin de Moraes Danos agrave pessoa humana uma leitura civil-constitucional dos
danos morais Rio de Janeiro Renovar 2003 Teresa Negreiros Fundamentos para uma interpretaccedilatildeo constitucional do princiacutepio
da boa-feacute Rio de Janeiro Renovar 1998 Anderson Schreiber A proibiccedilatildeo do comportamento contraditoacuterio Rio de Janeiro Reno-
var 2005
75Cf Luciano Feldens A Constituiccedilatildeo penal a dupla face da proporcionalidade no controle das lei penais Porto Alegre Livraria do
Advogado 2005 Luis Carlos dos Santos Gonccedilalves Mandados expressos de criminalizaccedilatildeo e a proteccedilatildeo de direitos fundamentais na
Constituiccedilatildeo Brasileira de 1988 Belo Horizonte Foacuterum 2007
76Cf Gustavo Binenbojm Uma teoria do direito administrativo direitos fundamentais democracia e constitucionalizaccedilatildeo Rio de
Janeiro Renovar 2006 Alexandre dos Santos Aragatildeo Floriano de Azevedo Marques (Coord) Direito administrativo e seus novos
paradigmas Belo Horizonte Foacuterum 2008
77Cf Gustavo Binenbojm A nova jurisdiccedilatildeo constitucional brasileira legitimidade democraacutetica e instumentos de realizaccedilatildeo Rio de
Janeiro Renovar 2001 Claacuteudio Pereira de Souza Neto Jurisdiccedilatildeo constitucional democracia e racionalidade praacutetica Rio de
Janeiro Renovar 2002 Joseacute Adeacutercio Leite Sampaio A Constituiccedilatildeo reinventada pela jurisdiccedilatildeo constitucional Belo Horizonte Del
Rey 2002 Lecircnio Luiz Streck Jurisdiccedilatildeo constitucional e hermenecircutica Porto Alegre Livraria do Advogado 2002 Aacutelvaro Ricardo
de Souza Cruz Jurisdiccedilatildeo constitucional democraacutetica Belo Horizonte Del Rey 2004
78A expressatildeo dificuldade contramajoritaacuteria eacute de um claacutessico da teoria constitucional norte-americana Alexander Bickel La Cons-
titucioacuten como Norma y el Tribunal Constitucional 2 ed New Haven Yale University Press 1986
33
79Em siacutentese apertada o procedimentalismo sustenta que natildeo eacute papel da jurisdiccedilatildeo constitucional tutelar valores substantivos mas
apenas proteger os pressupostos necessaacuterios ao bom funcionamento da democracia Jaacute o substancialismo reconhece a legitimidade
da atuaccedilatildeo jurisdicional em favor da garantia e promoccedilatildeo de valores substantivos presentes na Constituiccedilatildeo O debate entre o
procedimentalismo identificado com as ideacuteias de autores como John Hart Ely e Juumlrgen Habermas e o substancialismo defendido
por teoacutericos como Ronald Dworkin e Laurence Tribe eacute reproduzido em praticamente toda a literatura contemporacircnea que trata de
Teoria ou Filosofia Constitucional Veja-se a propoacutesito a densa obra de Claacuteudio Ari Mello Democracia constitucional e direitos
fundamentais Porto Alegre Livraria do Advogado 2004
80Neoconstitucionalismo e constitucionalizaccedilatildeo do direito o triunfo tardio do direito constitucional no Brasil Op cit
81A crise paradigmaacutetica do direito no contexto da resistecircncia positivista ao (neo)constitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza
Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm Vinte anos da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Op cit p 203-228
82Nos vinte anos da carta cidadatilde do poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo Op cit
83Neoconstitucionalismo direitos fundamentais e controle de poliacuteticas puacuteblicas In Daniel Sarmento Flaacutevio Galdino (Org) Direitos
fundamentais estudos em homenagem ao prof Ricardo Lobo Torres Rio de Janeiro Renovar 2006 p 31-60
84Direitos humanos legitimidade e constitucionalismo In Daniel Sarmento Flaacutevio Galdino (Org) Direitos fundamentais estudos
em homenagem ao Prof Ricardo Lobo Torres Op cit p325-350
85Novos desafios agrave filtragem constitucional no momento do neoconstitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sar-
mento A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 251-270
86Neoconstitucionalismo a invasatildeo da Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Meacutetodo 2008
87Neoconstitucionalismo e positivismo juriacutedico Satildeo Paulo Landy 2006
88Teoria do direito e argumentaccedilatildeo racional temas de teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica op cit p 141-240
89Uma visatildeo criacutetica do neoconstitucionalismo In George Salomatildeo Leite Glauco Salomatildeo Leite Constituiccedilatildeo e efetividade constitu-
cional Salvador JusPodium 2008 p 43-60
90Neoconstitucionalismo entre a Ciecircncia do direito e o direito da ciecircncia In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento
Gustavo Binenbojm Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 p 187-202
91Cf Peticcedilatildeo 1246 MSSC julgada em 31011997 (obrigaccedilatildeo do Estado de realizar transplante de ceacutelulas mioblaacutesticas para salvar
a vida de crianccedila) Agravo de Instrumento no Recurso Extraordinaacuterio 271286RS DJU 24 nov 2000 (entrega de medicamentos
para portadores de HIV) e Agravo de Instrumento do Recurso Extraordinaacuterio nordm 410715-5 julgado em 22112005 (obrigaccedilatildeo de
fornecimento de vagas para educaccedilatildeo infantil pelo municiacutepio com atendimento em creches e preacute-escola)
92Recursos Extraordinaacuterios nordms 158215-4RS 161243-6DF 201819RJ
93Cf Mandado de Injunccedilatildeo 670ES Rel Min Gilmar Mendes julgado em 25102007 em que o STF revendo orientaccedilatildeo anterior
deu eficaacutecia normativa agrave sentenccedila proferida no mandado de injunccedilatildeo No caso decidiuse que ateacute o advento de lei regulamentado-
ra sobre a greve no serviccedilo puacuteblico o direito de greve poderia ser exercido obedecendo-se os limites impostos pela Lei 778389
que trata dos movimentos paredistas em serviccedilos essenciais no setor privado
94Sobre a tendecircncia agrave superaccedilatildeo da ideacuteia do Judiciaacuterio como legislador negativo na jurisdiccedilatildeo constitucional veja-se Joseacute Adeacutercio
Leite Sampaio A Constituiccedilatildeo reinventada pela jurisdiccedilatildeo constitucional Belo Horizonte Del Rey 2002 p 203-248
95Eacute lugar-comum dentre os autores que tratam da questatildeo associar tais mudanccedilas agrave pluralizaccedilatildeo das vozes na interpretaccedilatildeo consti-
tucional tema em que a referecircncia essencial no cenaacuterio germacircnico eacute Peter Haumlberle Veja-se a propoacutesito Peter Haumlberle Herme-
necircutica constitucional A sociedade aberta dos inteacuterpretes da Constituiccedilatildeo contribuiccedilatildeo para a interpretaccedilatildeo pluralista e procedi-
mental da Constituiccedilatildeo Traduccedilatildeo de Gilmar Ferreira Mendes Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1997 Veja-se ainda na doutrina
brasileira Gustavo Binenbojm A dimensatildeo do Amicus Curiae no processo constitucional brasileiro In Temas de direito constitu-
cional e administrativo Rio de Janeiro Renovar 2008 p 165-190
96ADIN 3510DF Relator Ministro Carlos Ayres Britto A accedilatildeo proposta contra o art 5ordm da Lei de Biosseguranccedila impugnava a auto-
rizaccedilatildeo de pesquisas com embriotildees humanos resultantes de fertilizaccedilatildeo in vitro que fossem inviaacuteveis ou estivessem congelados haacute
mais de trecircs anos A accedilatildeo foi julgada totalmente improcedente por 6 votos a 5
97ADPF nordm 54 A accedilatildeo que tem como relator o Ministro Marco Aureacutelio ainda natildeo foi julgada mas em seu bojo jaacute ocorreram diversas
audiecircncias puacuteblicas que provocaram intensa participaccedilatildeo da sociedade civil e grande interesse na miacutedia
34
98ADPF nordm 132 Relator Ministro Carlos Ayres Britto A accedilatildeo ainda foi julgada
99Mandados de Seguranccedila 26602DF 26603DF e 26604DF Informativo STF n 482
100Recurso Extraordinaacuterio 197917SP Rel p acoacuterdatildeo Min Ceacutesar Peluso DJU 18 fev 2005
101O livro de Alberto Carlos Almeida A cabeccedila do brasileiro lanccedilado em 2007 conteacutem pesquisas feitas sobre uma acuteseacuterie de temas
com pessoas de todas as classes sociais e regiotildees do paiacutes Uma das pesquisas eacute relativa agrave avaliaccedilatildeo das instituiccedilotildees Dentre as treze
avaliadas as duas que obtiveram menor aprovaccedilatildeo foram os partidos poliacuteticos (avaliaccedilatildeo positiva de 28 dos entrevistados) e o
Congresso (avaliaccedilatildeo positiva de 36 dos entrevistados) Cf Antonio Carlos Almeida A cabeccedila do brasileiro Rio de Janeiro Re-
cord 2007 p 187
102Cf Luis Roberto Barroso Judicializaccedilatildeo ativismo judicial e legitimidade democraacutetica Texto ainda ineacutedito gentilmente cedido
pelo autor
103Humberto Aacutevila por exemplo formula outra criacutetica importante de que o neoconstitucionalismo seria inadequado agrave realidade
constitucional brasileira jaacute que privilegia os princiacutepios e a Carta de 88 seria muito mais regulatoacuteria do que principioloacutegica (Neo-
constitucionalismo entre a ciecircncia do direito e o direito da ciecircncia Op cit p 188-192)
104Contudo natildeo eacute razoaacutevel estender esta criacutetica ao ponto de negar o caraacuteter democraacutetico da atuaccedilatildeo judicial Como ressaltou
Eugenio Rauacutel Zaffaroni uma instituiccedilatildeo natildeo eacute democraacutetica unicamente porque natildeo provenha de eleiccedilatildeo popular porque nem tudo
o que proveacutem desta origem eacute necessariamente aristocraacutetico Uma instituiccedilatildeo eacute democraacutetica quando seja funcional para o sistema
democraacutetico quer dizer quando seja necessaacuteria para a sua continuidade como ocorre com o judiciaacuterio (Poder judiciaacuterio crise
acertos e desacertos Traduccedilatildeo de Juarez Tavares Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1995 p 43)
105Cf Robert A Dahl Sobre a democracia Traduccedilatildeo de Beatriz Sidou Brasiacutelia UNB 2001 p 97-113 Juumlrgen Habermas Popular
Sovereignity as Procedure In James Bonham William Rehg Deliberative Democracy Cambridge The MIT Press 1997 p 35-66
106A questatildeo da tensatildeo e sinergia simultacircneas entre constitucionalismo e democracia eacute um dos debates mais fecundos da Teoria
Poliacutetica e da Filosofia Constitucional que tem atravessado o tempo desde o advento do constitucionalismo moderno no seacuteculo
XVIII Veja-se no debate contemporacircneo Jeremy Waldron Preocommitment and Disagreement In Larry Alexander Constitu-
cionalism Philosophical Foundations Cambridge Cambridge University Press 1998 p 271-299 Juumlrgen Habermas O Estado demo-
craacutetico de direito uma amarraccedilatildeo paradoxal de princiacutepios contraditoacuterios In Era das transiccedilotildees Traduccedilatildeo de Flaacutevio Beno Siebe-
neichler Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 2003 p 153-173 Carlos Santiago Nino La Constitucioacuten de la Democracia Deliberativa
Op cit Frank Michelman Brennan and Democracy Princeton Princeton University Press 1999 p 03-62 Stephen Holmes El
Precompromiso y la Paradoja de la Democracia In Jon Elster Rune Slagstad Constitucionalismo y Democracia Traduccedilatildeo de Mocircni-
ca Utrilla de Neira Mexico Fondo de Cultura Econocircmica 1999 p 217-262
107O problema da limitaccedilatildeo do legislador atual pelas decisotildees do constituinte adotadas no passado envolve a problemaacutetica da
partilha intergeracional de poder bem explicitada na fala de Jefferson que defendia que a cada 19 anos deveria ser elaborada
uma nova Constituiccedilatildeo nos Estados Unidos para que a Lei Maior daquele paiacutes natildeo se tornasse um mecanismo de governo dos mor-
tos sobre os vivos Em siacutentese apertada haacute na teoria poliacutetica contemporacircnea duas linhas principais de justificativa para a legiti-
midade destas restriccedilotildees
Uma eacute a teoria da democracia dualista defendida por Bruce Ackerman que sustenta que as decisotildees adotadas pelo proacuteprio povo
em contextos de grande mobilizaccedilatildeo ciacutevica devem ser protegidas do alcance da vontade dos representantes do povo formada em
momentos em que a cidadania natildeo esteja intensamente envolvida Esta teoria distingue a poliacutetica extraordinaacuteria correspondente
agravequeles momentos constitucionais da poliacutetica ordinaacuteria que se realiza atraveacutes das deliberaccedilotildees do dia a dia dos oacutergatildeos represen-
tativos Para a perspectiva ackermaniana a poliacutetica extraordinaacuteria - que natildeo exige necessariamente formalizaccedilatildeo procedimental
atraveacutes de assembleacuteia constituinte ou de emenda constitucional - se situa em patamar superior agrave poliacutetica ordinaacuteria e pode legiti-
mamente impor limites a esta (cf Bruce Ackerman We the people Foundations Cambridge The Belknap Press 1991 p 03-33)
Outra teoria eacute a do preacute-compromisso que jaacute foi advogada por Jon Elster Segundo ela eacute legiacutetimo subtrair do alcance das maiorias
determinadas questotildees fundamentais que expressam princiacutepios fundamentais de justiccedila poliacutetica ou garantam os pressupostos da
proacutepria democracia tendo em vista o risco de que no processo poliacutetico majoritaacuterio em momentos de irracionalidade o povo
35
possa ser viacutetima de suas proacuteprias fraquezas ou paixotildees momentacircneas atentando contra tais princiacutepios (cf Ulisses and Sirens
Cambridge Cambridge University Press 1979)
Ambas as concepccedilotildees - a primeira mais proacutexima ao republicanismo e a segunda de vieacutes mais liberal - tecircm a sua dose de procedecircn-
cia mas ensejam criacuteticas importantes Todavia foge a escopo do presente trabalho analisar esta questatildeo que eacute uma das mais
complexas da Filosofia Poliacutetica moderna e contemporacircnea Para uma visatildeo geral sobre o tema na literatura em liacutengua portuguesa
veja-se Oscar Vilhena Vieira A Constituiccedilatildeo e sua reserva de justiccedila Op cit Miguel Nogueira de Brito A Constituiccedilatildeo constituin-
te ensaio sobre o poder de revisatildeo da Constituiccedilatildeo Coimbra Coimbra 2000 Samantha Chantal Dobrowolski Op cit p 265-312
Rodrigo Brandatildeo Direitos fundamentais democracia e claacuteusulas peacutetreas Rio de Janeiro Renovar 2008 p 59-112
108Cf Michel Troper Justice Constitutionelle et Deacutemocratie In Pour une Theorie Juridique de LEacutetat Paris PUF 1994 p 317-328
Claacuteudio Pereira de Souza Neto Jurisdiccedilatildeo constitucional democracia e racionalidade praacutetica Op cit p 106-130 Gustavo Binen-
bojm A nova jurisdiccedilatildeo constitucional brasileira Op cit p 55-74
109Sobre o modelo revolucionaacuterio francecircs de constitucionalismo completamente avesso agrave ideacuteia de jurisdiccedilatildeo constitucional cf
Maurizio Fioravanti Constitucioacuten de la antiguumledad a nuestros dias Traduccedilatildeo de Manuel Martinez Neira Madrid Trotta 2001 p
120-132
110Cf Carl Schmitt La Defesa de la Constitucioacuten Madrid Tecnos 1983
111O constitucionalismo popular ou populismo constitucional eacute uma importante corrente no debate constitucional norte-americano
contemporacircneo que nega a legitimidade democraacutetica do controle de constitucionalidade advogando que deve caber ao proacuteprio
povo e natildeo a uma elite de juiacutezes natildeo eleitos com assento na Suprema Corte o poder de definir o sentido das claacuteusulas vagas que
abundam no texto constitucional daquele paiacutes Na defesa desta tese satildeo empregados tanto argumentos de teoria e filosofia poliacuteti-
ca de caraacuteter mais universal como razotildees histoacutericas relacionadas agrave evoluccedilatildeo do constitucionalismo estadunidense Veja-se nesta
linha Mark Tushnet Taking the Constitution Away from the Courts Princeton Princeton University Press 1999 Jeremy Waldron
Precommitment and Disagreement Op cit Larry D Kramer The People Themselves Popular constitutionalism and judicial re-
view New York Oxford University Press 1994
Ateacute algumas deacutecadas atraacutes a oposiccedilatildeo agrave jurisdiccedilatildeo constitucional nos Estados Unidos partia em regra da Direita que natildeo se con-
formava com a jurisprudecircncia extremamente liberal em mateacuteria de direitos fundamentais estabelecida pela Corte entre os anos
50 e 70 Atualmente uma boa parte dos opositores agrave judicial review situa-se agrave esquerda do espectro poliacutetico e talvez a nova linha
profundamente conservadora daquele Tribunal ajude a explicar esta mudanccedila
112Sobre a Era de Lochner veja-se Laurence H Tribe American Constitutional Law 2 ed Mineola The Foundation Press 1988 p
567-581 Paul Brest et al Processes of Constitucional Decisionmaking 4 ed New York Aspen Publishers 2000 p 337-354
113Towards Juristocracy hellip Op cit
114Tratei do tema no artigo Direito adquirido emenda constitucional democracia e justiccedila social In Livres e iguais Op cit p
03-32
115Cf Charles R Epp The Rights Revolution Chicago The University of Chicago Press 1998 p 26-70 Owen Fiss The Law as It
Could Be New York New York University Press 2003 p 244-249
116A importacircncia e as peculiaridades da interpretaccedilatildeo legislativa da Constituiccedilatildeo satildeo exploradas em importante obra coletiva
Richard W Bauman Tsvi Kahana The Least Examined Branch The Role of Legislatures in the Constitutional State Cambridge
Cambridge University Press 2006
117Cf em tom ainda mais ceacutetico do que o adotado neste estudo Martonio MontAlverne Barreto Lima Jurisdiccedilatildeo Constitucional
um problema da teoria da democracia poliacutetica In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Gilberto Bercovici Joseacute Filomeno de Moraes
Filho Martonio MontAlverne Teoria da Constituiccedilatildeo estudos sobre o lugar da poliacutetica no direito constitucional Rio de Janeiro
Lumen Juris 2003 p 199-261 Conrado Huumlbner Mendes Controle de constitucionalidade e democracia Rio de Janeiro Elsevier
2008
36
118Para criacutetica semelhante no contexto germacircnico veja-se Ingeborg Maus O judiciaacuterio como superego da sociedade sobre o papel
da atividade jurisprudencial na sociedade oacuterfatilde Traduccedilatildeo de Martonio MontAlverne Barreto Lima Paulo Antonio Menezes de Albu-
querque Anuaacuterio dos Cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito da Faculdade de Direito de Recife n 11 2000
119Eu aprofundo a anaacutelise deste ponto no meu artigo Interpretaccedilatildeo constitucional preacute-compreensatildeo e capacidades institucionais do
inteacuterprete In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm (Coord) Vinte anos da Constituiccedilatildeo Federal
de 1988 Op cit p 311-322 E a necessidade de optar por teoria de interpretaccedilatildeo que leve em consideraccedilatildeo as capacidades
institucionais reais dos juiacutezes comparando-as com as dos agentes de outras instituiccedilotildees eacute explorada no importante estudo de Cass
Sunstein Adrian Vermeulle Interpretations and Institutions Chicago Working Papers in Law amp Economics 2002 p 01-55 bem
como no livro de Adrian Vermeulle Judging under Uncertainty An Institutional Theory for Legal Interpretation Cambridge Har-
vard University Press 2006
120Dentre as honrosas exceccedilotildees mencione-se Luiacutes Roberto Barroso autor de importante artigo com sugestotildees para a reforma poliacuteti-
ca no paiacutes Reforma poliacutetica uma proposta de sistema de governo eleitoral e partidaacuterio para o Brasil Revista de Direito do Esta-
do n 3 p 287-360 jul set 2006
121Sobre o ethos judicial no Brasil veja-se a pesquisa de Maria Tereza Sadek Magistrados uma imagem em movimento Rio de
Janeiro FGV 2006
122Em sentido semelhante veja-se Michael J Perry The Constitution the Courts and Human Rights New Haven Yale University
Press 1982 p 91-145
123Neste ponto entendo que um standard importante que deveria ser adotado para controle de constitucionalidade eacute o de que
quanto maiores forem as credencias democraacuteticas de um ato normativo mais autocontido deve ser o Poder Judiciaacuterio ao avaliar a
sua constitucionalidade Na minha opiniatildeo estas credencias democraacuteticas devem ser aferidas tanto por criteacuterios qualitativos - eg
grau de participaccedilatildeo social no processo legislativo qualidade do processo deliberativo que a antecedeu - como por criteacuterios quanti-
tativos - percentual de votos favoraacuteveis agrave medida Em sentido semelhante veja-se Claacuteudio Ari Mello Democracia e direitos funda-
mentais Op cit p 298
124Em sentido proacuteximo apontam as liccedilotildees de Gustavo Binenbojm e Humberto Aacutevila O primeiro tratando do controle judicial dos
atos administrativos averbou que quanto maior for o grau de tecnicidade da mateacuteria objeto de decisatildeo por oacutergatildeos dotados de
expertise e experiecircncia menos intenso deve ser o grau de controle judicial (Uma teoria do direito administrativo Op cit p
236) Jaacute o segundo salientou que o acircmbito de controle pelo Judiciaacuterio deveraacute ser tanto menor quanto mais difiacutecil e teacutecnico for
o juiacutezo exigido para o tratamento da mateacuteria (Teoria dos princiacutepios Op cit p 126)
125Um exemplo extremado deste posicionamento estaacute na argumentaccedilatildeo adotada pelo STF no julgamento da ADIN 2797 Rel Min
Sepuacutelveda Pertence em que se reconheceu a inconstitucionalidade formal de lei que pretendia interpretar a Constituiccedilatildeo Para o
STF natildeo pode a lei ordinaacuteria pretender impor como seu objeto imediato uma interpretaccedilatildeo a Constituiccedilatildeo a questatildeo eacute de in-
constitucionalidade formal iacutensita a toda norma da gradaccedilatildeo inferior que se proponha a ditar interpretaccedilatildeo de norma superior
Na questatildeo de fundo abordada naquele caso entendo que o STF estava certo Tratava-se de invalidar uma norma legal que esten-
dera o foro de prerrogativa de funccedilatildeo a ex-ocupantes de cargos puacuteblicos visando a restaurar antiga jurisprudecircncia do STF sedi-
mentada na Suacutemula 394 do Tribunal que acabara de ser cancelada O princiacutepio republicano natildeo era compatiacutevel com tal medida
que configurava niacutetido privileacutegio O que me parece inaceitaacutevel e profundamente anti-democraacutetico com a devida vecircnia natildeo eacute o
resultado alcanccedilado pela Corte - com o qual concordo - mas o argumento empregado de que o legislador natildeo pode interpretar a
Constituiccedilatildeo
126Existe hoje uma fecunda produccedilatildeo acadecircmica no cenaacuterio anglo-saxatildeo sobre as vantagens de modelos teoacutericos que favoreccedilam
diaacutelogos entre diversos oacutergatildeos e instituiccedilotildees na interpretaccedilatildeo constitucional ao inveacutes de afirmarem a exclusividade ou mesmo a
supremacia do Judiciaacuterio nesta seara Veja-se a propoacutesito Laurence G Sager Justice in Plainclothes A Theory of American Con-
stitutional Practice New haven Yale University Press 2004 Mark Tushnet Weak Courts Strong Rights Judicial Review and Social
Welfare Rights in Comparative Constitutional Law Princeton Princeton University Press 2008 Mark C Miller Jeb Barnes (Ed)
Making Police Making Law An Interbranch Perspective Washington DC Georgetown University Press 2004
37
127Colhi o exemplo no estudo de Oscar Vilhena Vieira Supremocracia In Daniel Sarmento (Org) Filosofia e teoria constitucional
contemporacircnea Rio de Janeiro Lumen Juris 2009
128Como um natildeo-positivista tenho a necessaacuteria imparcialidade para criticar os equiacutevocos da doutrina brasileira nas suas invectivas
contra o positivismo que muitas vezes caracterizam verdadeira falaacutecia do espantalho ataca-se natildeo a proacutepria teoria positivista
mas uma distorcida caricatura dela Duas afirmaccedilotildees erradas que eu mesmo jaacute fiz em textos anteriores satildeo muito frequumlentes a
de que o positivismo recusa a aplicaccedilatildeo dos princiacutepios juriacutedicos e a de que ele teria sido a Filosofia do Direito cultivada na Alema-
nha nazista
Quanto ao primeiro ponto natildeo haacute nenhuma incompatibilidade loacutegica entre positivismo e princiacutepios desde que os princiacutepios este-
jam devidamente incorporados na ordem juriacutedico-positiva Vaacuterios autores positivistas contemporacircneos jaacute citados neste estudo
como Luis Prietro Sanchiacutes Luigi Ferrajoli e Gregorio Peces-Barba atribuiacuteram espaccedilo importante para princiacutepios nas suas teorias
Mesmo no Direito Puacuteblico brasileiro juristas de inspiraccedilatildeo positivista kelseniana construiacuteram suas teorias com apoio em argumen-
taccedilatildeo principioloacutegica como o falecido Geraldo Ataliba e Celso Antonio Bandeira de Mello
No que tange ao segundo ponto - a chamada redutio ad hitlerum - os estudos mais autorizados de Histoacuteria do Direito comprovam
que natildeo foi o positivismo a teoria juriacutedica dominante no nazismo mas uma espeacutecie de jusnaturalismo de inspiraccedilatildeo hegeliana que
se insurgia contra o formalismo e recorria com frequumlecircncia a conceitos muito vagos para justificar a barbaacuterie como os de comuni-
dade popular (Volksgemeinschaft) Veja-se a propoacutesito Michael Stolleis The Law under the Swastika Studies on Legal History in
Nazi Germany Traduccedilatildeo de Thomas Dunlap Chicago The University of Chicago Press 1998
129Cf Joseacute Joaquim Gomes Canotilho Direito constitucional e Teoria da Constituiccedilatildeo Coimbra Almedina 1998 p 1036
130Sobre a importacircncia das regras veja-se Frederick Schauer Playing by the Rules A Philosophical Exaxamination of Rule-Bases
Decision-Making in Law and Life Oxford Oxford University Press 1998 Humberto Aacutevila Neoconstitucionalismo entre a ciecircncia do
direito e o direito da ciecircncia Op cit Noel Struchiner Posturas institucionais e modelagem institucional a dignidade (contingente)
do formalismo juriacutedico In Daniel Sarmento Filosofia e teoria constitucional contemporacircnea Op cit
131Esta eacute expressatildeo empregada por Ana Paula de Barcellos O direito constitucional em 2006 Revista de Direito do Estado n 5 p
03-23 janmar 2007
132Cf Chaiumlm Perelman P Fories La Motivation des Deacutecisions de Justice Bruxelas Eacutemile Bruylant 1978
133Sobra a influecircncia do jeitinho no Direito brasileiro cf Keith Rosen O jeito na cultura juriacutedica brasileira Rio de Janeiro Reno-
var 1997
134Sobre o patrimonialismo no Brasil veja-se Raimundo Faoro Os donos do poder 8 ed Rio de Janeiro Globo 1989 v 2 p 729-
750
135Raiacutezes do Brasil 26 ed Satildeo Paulo Companhia das Letras 1995
136Cf Joseacute Murilo de Carvalho Brasileiro Cidadatildeo In Pontos e bordados escritos de histoacuteria e poliacutetica Belo Horizonte Ed
UFMG 2005 p 275-288
137Cf Gustavo Zagrebelsky Il Diritto Mite Op cit p 15-19
138Cf Marcelo Neves A constitucionalizaccedilatildeo simboacutelica Satildeo Paulo Acadecircmica 1994
139A obra de Niklas Luhman eacute vasta e complexa e seus textos satildeo de difiacutecil compreensatildeo para os natildeo iniciados Veja-se do proacuteprio
autor Sociologia do direito I e II Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 1983 e 1985 Sistema Jurididico y Dogmaacutetica Juriacutedica Madrid
Centro de Estuacutedios Constitucionales 1983 Confira-se tambeacutem a coletacircnea organizada por Andreacute-Jean Arnaud Dalmir Lopes Jr Do
sistema social agrave sociologia juriacutedica Rio de Janeiro Lumen Juris 2004
140Sobre a autopoieses do Direito veja-se tambeacutem a obra importante de Guumlnther Teubner O direito como sistema autopoieacutetico
Traduccedilatildeo de Joseacute Engracia Nunes Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1993
141Cf Luis Roberto Barroso Neoconstitucionalismo e a constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit
142Esta era basicamente a visatildeo de Hans Kelsen (Cf Hans Kelsen Jurisdiccedilatildeo constitucional Traduccedilatildeo de Alexandre Krug et al Satildeo
Paulo Martins Fontes 2003 p 153) Para uma anaacutelise criacutetica desta posiccedilatildeo veja-se Luis Prietro Sanchiacutes Presupuestos ideoloacutegicos
y doctrinales de la jurisdicioacuten constitucional In Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales Op cit p 21-100
38
143Cf Christian Starck La suprematie La Suprematie de la Constitution et la Justice Constitutionnelle In La Constitution Cadre et
Mesure du Droit Traduccedilatildeo de Freacutederic Weill Paris Econocircmica 1994 p 26-30 Ernst- Wolfgang Boumlckenfoumlrde Les meacutethodes
dinterpretation de la Constitution Un bilan critique In Le Droit lEacutetat et la Constitution Democratique Traduccedilatildeo de Olivier
Jouanjan Paris LGDJ 2000 p 249-250 Virgiacutelio Afonso da Silva Constitucionalizaccedilatildeo do direito os direitos fundamentais nas
relaccedilotildees entre particulares Satildeo Paulo Malheiros 2005 p 107-131 Daniel Sarmento Ubiquumlidade constitucional os dois lados da
moeda Op cit Luis Roberto Barroso Curso de Direito Constitucional Contemporacircneo Op cit p 391-394 Alceu Mauriacutecio Jr
Judicializaccedilatildeo da poliacutetica e a crise do direito constitucional a Constituiccedilatildeo entre ordem marco e ordem fundamenta Revista de
Direito do Estado n 10 p 125-142 abrjun 2008
144Der Staat der Industriegesellshaft 2 ed Muumlnchen Beck 1971 p 144 Apud Robert Alexy Posfaacutecio In Teoria dos direitos
fundamentais Op cit p 578
145De acordo com Carlos Santiago Nino o perfeccionaismo eacute la concepcioacuten seguacuten la cual es una misioacuten legiacutetima del Estado hacer
que los individuos acepten y materializen ideales vaacutelidos de virtud personal Seguacuten este enfoque el Estado no puede permanecer
neutral respecto de concepciones de lo bueno en la vida y debe adoptar las medidas educativas punitorias etc que sean necesa-
rias para que los indiviacuteduos ajusten su vida a los verdaderos ideales de virtud y del bien (Eacutetica y Derechos Humanos Un ensayo de
fundamentacioacuten 2 ed Buenos Aires Astrea 1989 p 413)
146Daniel Sarmento Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas 2 ed Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 Sobre o tema na literatura
nacional veja-se tambeacutem Wilson Antocircnio Steinmetz A vinculaccedilatildeo dos particulares aos direitos fundamentais Satildeo Paulo Malheiros
2004 Virgiacutelio Afonso da Silva Constitucionalizaccedilatildeo do direito os direitos fundamentais nas relaccedilotildees entre particulares Op cit
Ingo Wolfgang Sarlet Direitos fundamentais e direito privado algumas consideraccedilotildees em torno da vinculaccedilatildeo dos particulares aos
direitos fundamentais In Ingo Wolfgang Sarlet (Org) A Constituiccedilatildeo concretizada Porto Alegre Livraria do Advogado 1999 p
129-173 Jane Reis Gonccedilalves Pereira Apontamentos sobre a aplicaccedilatildeo das normas de direito fundamental nas relaccedilotildees juriacutedicas
entre particulares In Luis Roberto Barroso (Org) A nova interpretaccedilatildeo constitucional ponderaccedilatildeo direitos fundamentais e
relaccedilotildees privadas Rio de Janeiro Renovar 2003 p 119-192
147Sobre a questatildeo da (i)legitimidade do perfeccionismo no Direito veja-se Joel Feinberg Rights Justice and the Bounds of Liber-
ty Princeton Princeton University Press 1980 Carlos Santiago Nino Eacutetica y Derechos Humanos Op cit p 413-446 Rainer Forst
Contexts of Justice Political Philosophy beyond Liberalism and Communitarianism Traduccedilatildeo de John M M Farrel Berkeley Uni-
versity of Califoacuternia Press 2001 p 30-87 Macaacuterio Alemany El Paternalismo Juriacutedico Madrid Iustel 2006
148Um sofisticado modelo que busca conciliar a constitucionalizaccedilatildeo do Direito com a democracia estaacute exposto no Poacutesfaacutecio agrave Teo-
ria dos Direitos Fundamentais de Robert Alexy acima citado Veja-se ainda Konrad Hesse Concepto y Cualidad de la Constitu-
cion In Escritos de Derecho Constitucional Traduccedilatildeo de Pedro Cruz Villaloacuten 2 ed 1992 p 03-29
149Tentei articular a minha teoria sobre eficaacutecia horizontal dos direitos fundamentais com este objetivo Cf Daniel Sarmento
Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas Op cit p 141-182 259-272
150Sobre el Neoconstitucionalismo y sus Implicaciones Op cit p 117
151Aqui entendo que o simples reconhecimento da penetraccedilatildeo da Moral no Direito preconizada pelos neoconstitucionalistas brasi-
leiros natildeo eacute suficiente jaacute que certas concepccedilotildees morais podem tornar o ordenamento ainda mais opressivo do que jaacute eacute Afinal
nem sempre a moralizaccedilatildeo do Direito se daacute na direccedilatildeo da emancipaccedilatildeo dos excluiacutedos Veja-se por exemplo a famosa polecircmica
jusfilosoacutefica entre Lord Patrick Devlin e Herbert Hart nos anos 60 na Inglaterra a propoacutesito do uso do Direito Penal para promoccedilatildeo
de Moral em que o primeiro a partir de uma posiccedilatildeo proacute-moral sustentava a legitimidade da criminalizaccedilatildeo da conduta homos-
sexual que o segundo contestava (Cf Lord Patrick Devlin Morals and Criminal Law In Ronald Dworkin (Ed) The Philosophy of
Law Op cit p 66-82 Herbert Hart Immorality and Treason In Idem ibidem)
Eacute preciso assentar as bases criacuteticas desta Moral que deve penetrar o Direito para evitar que o moralismo conservador seja expulso
do ordenamento pela porta da frente superado pela legislaccedilatildeo moderna em razatildeo da progressiva liberalizaccedilatildeo da sociedade mas
volte pela porta dos fundos atraveacutes da argumentaccedilatildeo juriacutedica dos juiacutezes lastreada em conceitos vagos como ordem puacuteblica e
bons constumes ou em standards como o comportamento do bom pai de famiacutelia
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seu meio institucional sob a eacutegide do paradigma juriacutedico anterior muito mais voltado para os
coacutedigos e para a letra da lei do que para a Constituiccedilatildeo e seus princiacutepios haacute maior resistecircncia agrave
incorporaccedilatildeo dos novos vetores constitucionais Contudo este fenocircmeno tende a diminuir com
o tempo seja pela consolidaccedilatildeo do paradigma constitucional emergente seja pela promoccedilatildeo
de magistrados mais antenados com o novo constitucionalismo seja ateacute pela influecircncia do pen-
samento e das orientaccedilotildees da cuacutepula do Judiciaacuterio sobre todas as suas instacircncias
No cenaacuterio brasileiro o neoconstitucionalismo eacute tambeacutem impulsionado por outro fenocircmeno a
descrenccedila geral da populaccedilatildeo em relaccedilatildeo agrave poliacutetica majoritaacuteria e em especial o descreacutedito
no Poder Legislativo e nos partidos poliacuteticos101 A percepccedilatildeo geral alimentada por sucessivos
escacircndalos e pelo discurso de alguns meios de comunicaccedilatildeo social de que a poliacutetica parlamen-
tar e partidaacuteria satildeo esferas essencialmente corrompidas que se movem exclusivamente em
torno de interesses e natildeo de valores gera em alguns setores a expectativa de que a soluccedilatildeo
para os problemas nacionais possa vir do Judiciaacuterio102 E este sentimento eacute fortalecido quando
a Justiccedila adota decisotildees em consonacircncia com a opiniatildeo puacuteblica - como ocorreu no recebimento
da denuacutencia criminal no caso do mensalatildeo na definiccedilatildeo de perda do mandato por infidelidade
partidaacuteria e na proibiccedilatildeo do nepotismo na Administraccedilatildeo Puacuteblica
Por outro lado a ascensatildeo institucional do Judiciaacuterio e a riqueza e importacircncia praacutetica ou sim-
boacutelica dos temas que ele vem julgando tem provocado um grande aumento no interesse da so-
ciedade pelo Direito Constitucional e pela atuaccedilatildeo do Supremo Tribunal Federal Eacute difiacutecil um
dia em que os principais meios de comunicaccedilatildeo natildeo discutam alguma decisatildeo da Corte ou mani-
festaccedilatildeo de qualquer dos seus membros E este fenocircmeno eacute potencializado tanto pela extro-
versatildeo midiaacutetica de alguns ministros como tambeacutem pelo fato - sem precedentes em outros
paiacuteses - do televisionamento das sessotildees do STF Com tudo isso as questotildees constitucionais
que antes eram apenas discutidas dentro de um ciacuterculo muito restrito de iniciados hoje satildeo
amplamente debatidas no espaccedilo puacuteblico
Neste quadro em que pesem as muacuteltiplas resistecircncias que sofre eacute possiacutevel apontar a emergecircn-
cia de uma nova forma de conceber o Direito e o Estado na sociedade brasileira contemporacirc-
nea que se quisermos adotar a terminologia hoje em voga pode ser chamada de neoconstitu-
cionalismo
4 Trecircs objeccedilotildees ao neoconstitucionalismo
16
Nas proacuteximas linhas abordarei de maneira breve trecircs criacuteticas que podem ser levantadas con-
tra o neoconstitucionalismo (a) a de que o seu pendor judicialista eacute anti-democraacutetico (b) a de
que a sua preferecircncia por princiacutepios e ponderaccedilatildeo em detrimento de regras e subsunccedilatildeo eacute
perigosa sobretudo no Brasil em razatildeo de singularidades da nossa cultura e (c) a de que ele
pode gerar uma panconstitucionalizaccedilatildeo do Direito em detrimento da autonomia puacuteblica do
cidadatildeo e da autonomia privada do indiviacuteduo Outras criacuteticas importantes existem103 mas por
limites de tempo e espaccedilo preferi priorizar aqui estas trecircs que satildeo as que geram maior apre-
ensatildeo no cenaacuterio brasileiro
a) Neoconstitucionalismo e judiciocracia
Como salientado acima o neoconstitucionalismo tem um foco muito centrado no Poder Judici-
aacuterio no qual deposita enormes expectativas no sentido de concretizaccedilatildeo dos ideais emancipa-
toacuterios presentes nas constituiccedilotildees contemporacircneas Contudo este vieacutes judicialista sofre con-
testaccedilotildees pelo seu suposto caraacuteter antidemocraacutetico na medida em que os juiacutezes diferente-
mente dos parlamentares e chefes do Executivo natildeo satildeo eleitos e natildeo respondem diretamente
perante o povo104
Esta criacutetica democraacutetica se assenta na ideacuteia de que numa democracia eacute essencial que as deci-
sotildees poliacuteticas mais importantes sejam tomadas pelo proacuteprio povo ou por seus representantes
eleitos e natildeo por saacutebios ou tecnocratas de toga Eacute verdade que a maior parte dos teoacutericos con-
temporacircneos da democracia reconhece que ela natildeo se esgota no respeito ao princiacutepio majoritaacute-
rio pressupondo antes o acatamento das regras do jogo democraacutetico que incluem a garantia
de direitos baacutesicos visando a viabilizar a participaccedilatildeo igualitaacuteria do cidadatildeo na esfera puacuteblica
bem como alguma proteccedilatildeo agraves minorias105 Poreacutem temos aqui uma questatildeo de dosagem pois
se a imposiccedilatildeo de alguns limites para a decisatildeo das maiorias pode ser justificada em nome da
democracia o exagero tende a revelar-se antidemocraacutetico por cercear em demasia a possibi-
lidade do povo de se autogovernar106
E a questatildeo natildeo eacute apenas de divisatildeo de poder ao longo do tempo A dificuldade democraacutetica
natildeo estaacute tatildeo-somente no fato de as constituiccedilotildees subtraiacuterem do legislador futuro a possibilida-
de de tomar algumas decisotildees107 O cerne do debate estaacute no reconhecimento de que diante da
vagueza e abertura de boa parte das normas constitucionais mais importantes quem as inter-
preta tambeacutem participa do seu processo de criaccedilatildeo108 Daiacute a criacutetica de que o vieacutes judicialista
subjacente ao neoconstitucionalismo acaba por conferir aos juiacutezes uma espeacutecie de poder cons-
tituinte permanente pois lhes permite moldar a Constituiccedilatildeo de acordo com as suas preferecircn-
cias poliacuteticas e valorativas em detrimento daquelas do legislador eleito Esta visatildeo levou inuacute-
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meras correntes de pensamento ao longo da histoacuteria a rejeitarem a jurisdiccedilatildeo constitucional
ou pelo menos o ativismo judicial no seu exerciacutecio dos revolucionaacuterios franceses do seacuteculo XVI-
II109 passando por Carl Schmitt110 na Repuacuteblica de Weimar ateacute os adeptos do constituciona-
lismo popular nos Estados Unidos de hoje111
No Brasil eacute muito comum traccedilar-se um paralelo entre a defesa do ativismo judicial e posiccedilotildees
sociais progressistas Talvez isso se deva ao fato de que na nossa histoacuteria o Judiciaacuterio brasilei-
ro tem pecado muito mais por omissatildeo acumpliciando-se diante dos desmandos dos poderes
poliacutetico e econocircmico do que por excesso de ativismo Neste quadro quem ousa questionar
possiacuteveis exageros na judicializaccedilatildeo da poliacutetica e da vida social no Brasil de hoje eacute logo tachado
de conservador Poreacutem o paralelismo em questatildeo natildeo existe Muitas vezes o Poder Judiciaacuterio
pode atuar bloqueando mudanccedilas importantes promovidas pelos outros poderes em favor dos
excluiacutedos defendendo o statu quo E esta defesa pode ocorrer inclusive atraveacutes do uso da retoacute-
rica dos direitos fundamentais
Isso se deu por exemplo nos Estados Unidos nas primeiras deacutecadas do seacuteculo passado em pe-
riacuteodo que ficou conhecido como Era de Lochner112 quando a Suprema Corte impediu sistemati-
camente a ediccedilatildeo de legislaccedilatildeo trabalhista e de outras medidas que implicavam em interferecircn-
cia na esfera econocircmica em proveito das classes desfavorecidas com base numa leitura subs-
tantiva da claacuteusula do devido processo legal No cenaacuterio contemporacircneo Ran Hirshl113 sustenta
que o processo de judicializaccedilatildeo da poliacutetica que vem ocorrendo nos uacuteltimos anos em diversos
paiacuteses do mundo - ele fez um atento ainda que controvertido estudo dos casos do Canadaacute
Israel Aacutefrica do Sul e Nova Zelacircndia - teria como pano de fundo uma tentativa das elites eco-
nocircmicas e culturais que perderam espaccedilo na poliacutetica majoritaacuteria de manterem o seu poder
reforccedilando no arranjo institucional do Estado o peso do Judiciaacuterio no qual elas ainda tecircm he-
gemonia E aqui no Brasil seraacute que a proteccedilatildeo absoluta que vem sendo conferida ao direito
adquirido - inclusive o de furar teto salarial do funcionalismo fixado por emenda agrave Constituiccedilatildeo
114 - e o ultra-garantismo penal nos crimes do colarinho branco natildeo seriam exemplos deste
mesmo fenocircmeno
Por outro lado uma ecircnfase excessiva no espaccedilo judicial pode levar ao esquecimento de outras
arenas importantes para a concretizaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo e realizaccedilatildeo de direitos gerando um
resfriamento da mobilizaccedilatildeo ciacutevica do cidadatildeo Eacute verdade que o ativismo judicial pode em
certos contextos atuar em sinergia com a mobilizaccedilatildeo social na esfera puacuteblica Isto ocorreu
por exemplo no movimento dos direitos civis nos Estados Unidos dos anos 50 e 60 que foi a-
quecido pelas respostas positivas obtidos na Suprema Corte no periacuteodo da Corte de Warren115
Mas nem sempre eacute assim A ecircnfase judicialista pode afastar do cenaacuterio de disputa por direitos
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as pessoas e movimentos que natildeo pertenccedilam nem tenham proximidade com as corporaccedilotildees
juriacutedicas
Ademais esta obsessatildeo com a interpretaccedilatildeo judicial da Constituiccedilatildeo tende a obscurecer o pa-
pel central de outras instacircncias na definiccedilatildeo do sentido da Constituiccedilatildeo - como o Legislativo o
Executivo e a proacutepria esfera puacuteblica informal Trata-se de um desvio que gera consequumlecircncias
negativas tanto no plano descritivo como na esfera normativa Sob o prisma descritivo trans-
mite-se uma imagem muito parcial do fenocircmeno constitucional que natildeo eacute captado com todas
as suas nuances e riquezas jaacute que o foco se concentra apenas sobre a accedilatildeo de um dentre os
vaacuterios agentes importantes que povoam a seara da hermenecircutica constitucional116 Sob o acircngu-
lo normativo favorece-se um governo agrave moda platocircnica de saacutebios de toga117 que satildeo convida-
dos a assumir uma posiccedilatildeo paternalista diante de uma sociedade infantilizada118 Justifica-se o
ativismo judicial a partir de uma visatildeo muito criacutetica do processo poliacutetico majoritaacuterio mas que
ignora as inuacutemeras mazelas que tambeacutem afligem o Poder Judiciaacuterio construindo-se teorias a
partir de visotildees romacircnticas e idealizadas do juiz119 Soacute que se eacute verdade que o processo poliacuteti-
co majoritaacuterio tem seus viacutecios - e eles satildeo muito graves no cenaacuterio brasileiro - tambeacutem eacute certo
que os juiacutezes natildeo satildeo semi-deuses e que a esfera em que atuam tampouco eacute imune agrave poliacutetica
com p menor
Esta idealizaccedilatildeo da figura do juiz natildeo se compadece com algumas notoacuterias deficiecircncias que o
Judiciaacuterio brasileiro enfrenta Dentre elas pode-se destacar a sobrecarga de trabalho que
compromete a capacidade dos magistrados de dedicarem a cada processo o tempo e a energia
necessaacuterias para que faccedilam tudo que o que demandam as principais teorias da argumentaccedilatildeo
defendidas pelo neoconstitucionalismo E cabe referir tambeacutem agraves lacunas na formaccedilatildeo do ma-
gistrado brasileiro decorrentes sobretudo das falhas de um ensino juriacutedico formalista e nada
interdisciplinar que ainda viceja no paiacutes que natildeo satildeo corrigidas nos procedimentos de seleccedilatildeo
e treinamento dos juiacutezes
Outra consequumlecircncia da obsessatildeo judicialista do constitucionalismo brasileiro contemporacircneo
estaacute refletida na nossa produccedilatildeo acadecircmica Enquanto somos inundados por livros e artigos
muitas vezes repetitivos sobre assuntos como princiacutepios e regras interpretaccedilatildeo constitucional
e tutela judicial de direitos fundamentais outros temas absolutamente essenciais para a vida
do paiacutes passam ao largo da preocupaccedilatildeo dos juristas Eacute o caso da reforma poliacutetica Em que pese
o caraacuteter essencialmente constitucional do assunto quase nenhum constitucionalista se inte-
ressou por ele 120e praticamente toda a literatura de qualidade produzida sobre o toacutepico tem
vindo da Ciecircncia Poliacutetica
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Estou convencido de que o Poder Judiciaacuterio tem um papel essencial na concretizaccedilatildeo da Consti-
tuiccedilatildeo brasileira Em face do quadro de sistemaacutetica violaccedilatildeo de direitos de certos segmentos da
populaccedilatildeo do arranjo institucional desenhado pela Carta de 88 e da seacuteria crise de representa-
tividade do Poder Legislativo entendo que o ativismo judicial se justifica no Brasil pelo menos
em certas searas como a tutela de direitos fundamentais a proteccedilatildeo das minorias e a garantia
do funcionamento da proacutepria democracia O maior insulamento judicial diante da pressatildeo das
maiorias bem como um certo ethos profissional de valorizaccedilatildeo dos direitos humanos que co-
meccedila a se instalar na nossa magistratura 121 conferem ao Judiciaacuterio uma capacidade institu-
cional privilegiada para atuar nestas aacutereas122
Mas em outros campos pode ser mais recomendaacutevel uma postura de autocontenccedilatildeo judicial
seja por respeito agraves deliberaccedilotildees majoritaacuterias adotadas no espaccedilo poliacutetico123 seja pelo reco-
nhecimento da falta de expertise do Judiciaacuterio para tomar decisotildees que promovam eficiente-
mente os valores constitucionais em jogo em aacutereas que demandem profundos conhecimentos
teacutecnicos fora do Direito - como Economia poliacuteticas puacuteblicas e regulaccedilatildeo124 Nestes casos deve-
se reconhecer que outros oacutergatildeos do Estado estatildeo mais habilitados para assumirem uma posiccedilatildeo
de protagonismo na implementaccedilatildeo da vontade constitucional
Nesta linha vejo com reticecircncias a sedimentaccedilatildeo na nossa cultura juriacutedica da visatildeo de que o
grande - senatildeo o uacutenico - inteacuterprete da Constituiccedilatildeo seria o Poder Judiciaacuterio125 Esta leitura des-
carta a autocontenccedilatildeo judicial bem como tende a desprezar a possibilidade de que sejam tra-
vados construtivos diaacutelogos interinstitucionais entre diversos oacutergatildeos estatais para a definiccedilatildeo da
melhor interpretaccedilatildeo dos ditames constitucionais126 Um bom exemplo127 deste desvio ocorreu
no julgamento da constitucionalidade das pesquisas em ceacutelulas-tronco embrionaacuterias realizada
pelo STF em que pese o resultado final do julgamento ter sido substancialmente correto Na-
quela ocasiatildeo o importante argumento deduzido na tribuna e em memoriais por Luis Roberto
Barroso - que advogava para um dos amici curiae favoraacuteveis agraves pesquisas - de que o Judiciaacuterio
deveria adotar posiccedilatildeo cautelosa no julgamento da constitucionalidade da lei impugnada ten-
do em vista o amplo consenso em torno dela obtido durante o processo legislativo tanto no
Senado como na Cacircmara foi explicitamente rechaccedilado por alguns ministros que consideraram
o ponto irrelevante E outros ministros em votos vencidos se sentiram confortaacuteveis ateacute para
defender a imposiccedilatildeo de novas normas pelo STF na aacuterea do Biodireito arvorando-se agrave condiccedilatildeo
de legisladores num campo para o qual evidentemente lhes faltava qualquer expertise
Enfim o neoconstitucionalismo brasileiro tem pecado por excesso depositando no Judiciaacuterio
expectativas que ele nem sempre teraacute como atender de forma satisfatoacuteria Um dos efeitos co-
laterais deste fenocircmeno eacute a disseminaccedilatildeo de um discurso muito perigoso de que voto e poliacuteti-
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ca natildeo satildeo tatildeo importantes pois relevante mesmo eacute a interpretaccedilatildeo dos princiacutepios constitucio-
nais realizada pelo STF Daiacute a dizer que o povo natildeo sabe votar eacute um pulo e a ditadura de toga
pode natildeo ser muito melhor do que a ditadura de farda
b) Neoconstitucionalismo oba-oba constitucional e Estado Democraacutetico de Direito
Seria uma profunda injusticcedila com a teoria neoconstitucionalista acusaacute-la de promover o decisi-
onismo ou de defender a tomada de decisotildees judiciais puramente emotivas sem lastro em ar-
gumentaccedilatildeo racional soacutelida Pelo contraacuterio como foi destacado acima um dos eixos centrais
do pensamento neoconstitucional eacute a reabilitaccedilatildeo da racionalidade praacutetica no acircmbito juriacutedico
com a articulaccedilatildeo de complexas teorias da argumentaccedilatildeo que demandam muito dos inteacuterpre-
tes e sobretudo dos juiacutezes em mateacuteria de fundamentaccedilatildeo das suas decisotildees Poreacutem a praacutetica
judiciaacuteria brasileira recepcionou apenas parcialmente as teorias juriacutedicas de corte poacutes-
positivista e aqui a valorizaccedilatildeo dos princiacutepios e da ponderaccedilatildeo natildeo tem sido muitas vezes
acompanhada do necessaacuterio cuidado com a justificaccedilatildeo das decisotildees
Se ateacute natildeo muito tempo atraacutes os princiacutepios natildeo eram tratados como autecircnticas normas por
aqui - soacute tinha bom direito quem podia invocar uma regra legal clara e precisa em favor da sua
pretensatildeo - com a chegada do poacutes-positivismo e do neoconstitucionalismo passou-se em pou-
cos anos da aacutegua para o vinho Hoje instalou-se um ambiente intelectual no Brasil que aplaude
e valoriza as decisotildees principioloacutegicas e natildeo aprecia tanto aquelas calcadas em regras legais
que satildeo vistas como burocraacuteticas ou positivistas - e positivismo hoje no paiacutes eacute quase um pala-
vratildeo128 Neste contexto os operadores do Direito satildeo estimulados a invocar sempre princiacutepios
muito vagos nas suas decisotildees mesmo quando isso seja absolutamente desnecessaacuterio pela e-
xistecircncia de regra clara e vaacutelida a reger a hipoacutetese Os campeotildees tecircm sido os princiacutepios da dig-
nidade da pessoa humana e da razoabilidade O primeiro eacute empregado para dar imponecircncia ao
decisionismo judicial vestindo com linguagem pomposa qualquer decisatildeo tida como politica-
mente correta e o segundo para permitir que os juiacutezes substituam livremente as valoraccedilotildees de
outros agentes puacuteblicos pelas suas proacuteprias
Este cenaacuterio eacute problemaacutetico porque um sistema juriacutedico funcional estaacutevel e harmocircnico com os
valores do Estado Democraacutetico de Direito precisa tanto da aplicaccedilatildeo de regras como de princiacute-
pios129 As regras satildeo indispensaacuteveis dentre outras razotildees130 porque geram maior previsibili-
dade e seguranccedila juriacutedica para os seus destinataacuterios diminuem os riscos de erro na sua inci-
decircncia jaacute que natildeo dependem tanto das valoraccedilotildees do inteacuterprete em cada caso concreto en-
volvem um menor custo no seu processo de aplicaccedilatildeo pois podem incidir de forma mais mecacirc-
nica sem demandarem tanto esforccedilo do inteacuterprete e natildeo implicam na mesma medida que os
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princiacutepios em uma transferecircncia de poder decisoacuterio do Legislativo que eacute eleito para o Judici-
aacuterio que natildeo eacute
Natildeo pretendo sustentar com isso que se deva retroceder ao tempo em que os princiacutepios natildeo
eram aplicados pelos juiacutezes brasileiros Tambeacutem os princiacutepios satildeo essenciais na ordem juriacutedica
pois conferem mais plasticidade ao Direito - o que eacute essencial numa sociedade hiper-complexa
como a nossa - e permitem uma maior abertura da argumentaccedilatildeo juriacutedica agrave Moral e ao mundo
empiacuterico subjacente O importante eacute encontrar uma justa medida que natildeo torne o processo de
aplicaccedilatildeo do Direito amarrado demais como ocorreria num sistema baseado exclusivamente
em regras nem solto demais como sucederia com um que se fundasse apenas em princiacutepios
Penso que eacute chegada a hora de um retorno do pecircndulo no Direito brasileiro131 que sem des-
cartar a importacircncia dos princiacutepios e da ponderaccedilatildeo volte a levar a seacuterio tambeacutem as regras e a
subsunccedilatildeo
Ademais naquelas hipoacuteteses em que a aplicaccedilatildeo de princiacutepios for realmente apropriada ela
deve dar-se de forma mais racional e fundamentada Deve-se adotar a premissa de que quanto
mais vaga for a norma a ser aplicada e mais intenso o componente volitivo envolvido no pro-
cesso decisoacuterio maior deve ser o ocircnus argumentativo do inteacuterprete no sentido de mostrar que
a soluccedilatildeo por ele adotada eacute a que melhor realiza os valores do ordenamento naquele caso con-
creto132 A tendecircncia atual de invocaccedilatildeo frouxa e natildeo fundamentada de princiacutepios colide com a
loacutegica do Estado Democraacutetico de Direito pois amplia as chances de arbiacutetrio judicial gera inse-
guranccedila juriacutedica e atropela a divisatildeo funcional de poderes que tem no ideaacuterio democraacutetico um
dos seus fundamentos - a noccedilatildeo baacutesica de que as decisotildees sobre o que os cidadatildeos e o Estado
podem e natildeo podem fazer devem ser tomadas preferencialmente por quem represente o povo
e seja por ele escolhido
E haacute na sociedade brasileira traccedilos que tornam ainda mais perigosa esta tendecircncia agrave frouxidatildeo
e emotividade na metodologia juriacutedica Nossa cultura caracteriza-se muito mais pelo jeiti-
nho133 e pelo patrimonialismo134 do que pela valorizaccedilatildeo do cumprimento impessoal de regras
O brasileiro - jaacute dizia Seacutergio Buarque de Holanda135 - eacute o homem cordial que tende a antepor
a loacutegica privada do compadrio e da simpatia agrave racionalidade objetiva das leis Esta singularida-
de das nossas relaccedilotildees sociais natildeo atua de forma neutra em relaccedilatildeo a todos os cidadatildeos Ela
implica na adoccedilatildeo de posturas estatais em geral muito benevolentes em relaccedilatildeo aos donos do
poder e seus apaniguumlados e de posiccedilotildees muito mais duras dirigidas aos grupos excluiacutedos e mar-
ginalizados136 Uns poucos acabam pairando acima das leis que natildeo os alcanccedilam para limitar a
sua conduta ou sancionar os seus desvios enquanto outros permanecem abaixo dela sendo
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atingidos apenas pelo braccedilo punitivo do Estado pois a violaccedilatildeo rotineira dos seus direitos eacute
naturalizada tornando-se invisiacutevel
Neste quadro cabe indagar sob a perspectiva de uma sociologia da interpretaccedilatildeo constitucio-
nal ateacute que ponto a introduccedilatildeo entre noacutes de uma dogmaacutetica fluida - a expressatildeo eacute de Gusta-
vo Zagrebelsky137 um dos iacutecones do neoconstitucionalismo - natildeo pode ter como efeito colateral
o agravamento de patologias que marcam as nossas relaccedilotildees sociais Seraacute que o nosso Direito
precisa de mais rigidez ou de maior maleabilidade Ao fim e ao cabo quem tende a se benefi-
ciar com a adoccedilatildeo de uma hermenecircutica juriacutedica mais flexiacutevel
Uma reflexatildeo importante sobre tema correlato foi empreendida por Marcelo Neves138 a partir
das categorias da teoria sistecircmica de Niklas Luhman Para Luhman139 em apertada siacutentese o
Direito nas hipercomplexas sociedades modernas seria autopoieacutetico140 pois consistiria num
subsistema social estruturalmente fechado em relaccedilatildeo ao meio envolvente que operaria de
acordo com um coacutedigo binaacuterio proacuteprio - o liacutecito iliacutecito As influecircncias do meio envolvente so-
bre o Direito seriam filtradas atraveacutes deste coacutedigo assegurando a autonomia da esfera juriacutedica
diante dos outros subsistemas sociais como a Economia a Poliacutetica a Religiatildeo etc Contudo
Marcelo Neves sustenta que em sociedades perifeacutericas como o Brasil natildeo se desenvolveu ple-
namente este fechamento estrutural do Direito Por aqui fatores como a nossa constituciona-
lizaccedilatildeo simboacutelica geraram uma insuficiente diferenciaccedilatildeo do Direito em relaccedilatildeo a outros sub-
sistemas sociais permitindo que elementos a princiacutepio estranhos ao coacutedigo binaacuterio do juriacutedico -
como a questatildeo do poder poliacutetico e do poder econocircmico - se infiltrem sistematicamente nos
processos de aplicaccedilatildeo das normas condicionando o seu resultado A teoria dos sistemas de
Luhman natildeo funcionaria bem entre noacutes pois teriacuteamos um Direito em boa parte alopoieacuteti-
coPara tal perspectiva esta maior abertura do Direito ao meio envolvente natildeo assume o po-
tencial emancipatoacuterio preconizado pela teoria neoconstitucionalista Ela funciona muito mais
como um mecanismo de cristalizaccedilatildeo de diferenccedilas sociais mantendo a hiper-inclusatildeo de uns
ao preccedilo da exclusatildeo de outros
Esta reflexatildeo de Marcelo Neves natildeo se dirigiu ao debate metodoloacutegico contemporacircneo envol-
vendo princiacutepios e regras ponderaccedilatildeo e subsunccedilatildeo etc Poreacutem entendo que ela pode ter algu-
ma pertinecircncia tambeacutem aqui pelo menos para nos advertir sobre o perigo de que o neoconsti-
tucionalismo com a fluidez metodoloacutegica e abertura do Direito a outros domiacutenios que preconi-
za possa acabar tornando-se um belo roacutetulo para justificar mais do mesmo patrimonialismo
desigualdade jeitinho Nesta perspectiva a novidade do neoconstitucionalismo poderia pare-
cer com aquela advogada pelo Priacutencipe de Salinas em famosa passagem do romance O Leopar-
do de Giuseppe Lampedusa quando defendia no contexto da crise da aristocracia italiana do
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final do seacuteculo XIX a necessidade de mudanccedilas urgentes no governo para que ao final as
coisas pudessem permanecer exatamente do jeito que sempre foram
Natildeo penso que esta seja uma consequumlecircncia necessaacuteria da adoccedilatildeo de uma perspectiva juriacutedica
mais principialista no Brasil O maior cuidado metodoloacutegico adicionado agrave adoccedilatildeo de uma dire-
triz hermenecircutica substantiva que afirme a missatildeo essencial do Direito de assegurar justiccedila e
seguranccedila agraves pessoas tratando-as como livres e iguais pode minimizar as possibilidades de um
uso enviesado da teoria neoconstitucional que acabe favorecendo aos mesmos de sempre
Mas diante das nossas tradiccedilotildees natildeo haacute como negar que os riscos satildeo elevados
c) Neoconstitucionalismo e panconstitucionalizaccedilatildeo
Uma das caracteriacutesticas do neoconstitucionalismo eacute a defesa da constitucionalizaccedilatildeo do Direi-
to Sustenta-se que a irradiaccedilatildeo das normas constitucionais por todo o ordenamento contribui
para aproximaacute-lo dos valores emancipatoacuterios contidos nas constituiccedilotildees contemporacircneas 141A
Constituiccedilatildeo natildeo eacute vista mais como uma simples norma normarum - cuja finalidade principal eacute
disciplinar o processo de produccedilatildeo de outras normas142 Ela passa a ser enxergada como a en-
carnaccedilatildeo dos valores superiores da comunidade poliacutetica que devem fecundar todo o sistema
juriacutedico Neste modelo cabe ao inteacuterprete natildeo soacute aplicar diretamente os ditames constitucio-
nais agraves relaccedilotildees sociais como tambeacutem reler todas as normas e institutos dos mais variados ra-
mos do Direito agrave luz da Constituiccedilatildeo emprestando-lhes o sentido que mais promova os objeti-
vos e a axiologia da Carta
A constitucionalizaccedilatildeo do Direito de que cogita o neoconstitucionalismo natildeo eacute aquela que resul-
ta do caraacuteter excessivamente analiacutetico da Constituiccedilatildeo e leva ao entricheiramento de meras
opccedilotildees conjunturais do constituinte originaacuterio ou derivado despidas de maior importacircncia ou
dignidade Este eacute um fenocircmeno caracteriacutestico da Carta de 88 que se excedeu no casuiacutesmo e
nos detalhes elevando ao seu texto meros interesses corporativos ou decisotildees de momento
sem focirclego para perdurarem no tempo A constitucionalizaccedilatildeo louvada e defendida pelo neo-
constitucionalismo eacute aquela que parte de uma interpretaccedilatildeo extensiva e irradiante dos direitos
fundamentais e dos princiacutepios mais importantes da ordem constitucional Aqui contudo pode-
se discutir ateacute que ponto o fenocircmeno eacute legiacutetimo Poucos discordaratildeo pelo menos no Brasil de
que alguma constitucionalizaccedilatildeo do Direito eacute positiva e bem-vinda por semear o ordenamento
com os valores humanitaacuterios da Constituiccedilatildeo Poreacutem pode-se objetar contra as teses extrema-
das sobre este processo que acabam amputando em demasia o espaccedilo de liberdade do legisla-
dor em detrimento da democracia 143
24
Com efeito quem defende que tudo ou quase tudo jaacute estaacute decidido pela Constituiccedilatildeo e que o
legislador eacute um mero executor das medidas jaacute impostas pelo constituinte nega por conse-
quumlecircncia a autonomia poliacutetica ao povo para em cada momento da sua histoacuteria realizar as suas
proacuteprias escolhas O excesso de constitucionalizaccedilatildeo do Direito reveste-se portanto de um
vieacutes antidemocraacutetico Esta ordem de preocupaccedilotildees levou Ersnt Forsthof na Alemanha a criti-
car as teorias que viam a Constituiccedilatildeo como uma espeacutecie de genoma juriacutedico () do qual tudo
deriva do Coacutedigo Penal ateacute a lei sobre a fabricaccedilatildeo de termocircmetros144 E a questatildeo torna-se
ainda mais delicada diante da constataccedilatildeo de que pela abertura semacircntica dos direitos fun-
damentais e dos princiacutepios - principal mateacuteria-prima da constitucionalizaccedilatildeo do Direito - o seu
principal agente acaba sendo o Poder Judiciaacuterio ao dar a uacuteltima palavra sobre a interpretaccedilatildeo
daquelas claacuteusulas Daiacute porque o debate sobre a constitucionalizaccedilatildeo do Direito se imbrica
inexoravelmente com as discussotildees a propoacutesito da judicializaccedilatildeo da poliacutetica e do decisionismo
referidas acima
Ademais a constitucionalizaccedilatildeo do Direito tambeacutem suscita outra linha de preocupaccedilotildees rela-
cionada ao perfeccionismo moral145 na esfera privada No Brasil assim como em muitos outros
paiacuteses jaacute se assentou a ideacuteia de que os direitos fundamentais natildeo se dirigem apenas contra o
Estado vinculando tambeacutem os particulares Entre noacutes tem prevalecido na doutrina a ideacuteia que
eu mesmo defendi em outro estudo146 que a eficaacutecia dos direitos fundamentais nas relaccedilotildees
privadas eacute direta e imediata Em outras palavras entende-se que a proacutepria Constituiccedilatildeo jaacute inci-
de nas relaccedilotildees privadas independentemente de mediaccedilotildees legislativas e que pode gerar o-
brigaccedilotildees positivas ou negativas para os indiviacuteduos e natildeo soacute para os poderes puacuteblicos sempre
no afatilde de proporcionar uma proteccedilatildeo mais completa agrave dignidade humana Ateacute aqui nada a
contestar
Poreacutem o reconhecimento da vinculaccedilatildeo dos particulares agrave Constituiccedilatildeo suscita um risco que
natildeo pode ser ignorado o de imposiccedilatildeo agraves pessoas supostamente em nome de valores constitu-
cionais de comportamentos e estilos de vida que elas proacuteprias rejeitam em detrimento da sua
liberdade existencial Para dar um exemplo bem tosco seria terriacutevel se o Direito em nome do
princiacutepio da solidariedade social pudesse impor agraves pessoas que demonstrassem afetos e senti-
mentos que elas natildeo possuem genuinamente Ou se em nome da isonomia pretendesse inter-
ferir nas escolhas subjetivas e emocionais que os indiviacuteduos fazem nas suas vidas privadas A
constitucionalizaccedilatildeo neste sentido poderia converter-se num pretexto para o exerciacutecio de um
paternalismo anti-liberal em que as pessoas seriam forccediladas a conformarem-se agraves expectativas
sociais forjadas a partir de pautas de accedilatildeo politicamente corretas com apoio na Constitui-
ccedilatildeo147
25
Nenhuma destas duas questotildees eacute insuperaacutevel Eacute possiacutevel aceitar e aplaudir a constitucionaliza-
ccedilatildeo do Direito - fenocircmeno em geral positivo por aproximar a racionalidade emancipatoacuteria da
Constituiccedilatildeo do dia-a-dia das pessoas - mas defender que ela seja temperada por outras preo-
cupaccedilotildees igualmente essenciais no Estado Democraacutetico de Direito com a autonomia puacuteblica e
privada dos cidadatildeos Pode-se reconhecer a legitimidade da constitucionalizaccedilatildeo do Direito
mas numa medida em que natildeo sacrifique em excesso agrave liberdade de conformaccedilatildeo que numa
democracia deve caber ao legislador para realizar opccedilotildees poliacuteticas em nome do povo148 Pode-
se da mesma forma afirmar a incidecircncia direta da Constituiccedilatildeo nas relaccedilotildees privadas mas
sem invadir a esfera das opccedilotildees existenciais da pessoa - que de resto eacute protegida pela proacutepria
Constituiccedilatildeo das ingerecircncias perfeccionistas do Estado e da sociedade149
5 Conclusatildeo Ao fim da leitura destas paacuteginas o leitor pode estar se indagando se eu me alinho ou natildeo ao
neoconstitucionalismo A minha resposta eacute depende da compreensatildeo que se tenha sobre o ne-
oconstitucionalismo Se entendermos o neoconstitucionalismo de acordo com a conhecida defi-
niccedilatildeo de Luis Prietro Sanchiacutes como uma teoria do Direito que se orienta pelas maacuteximas demaacutes
princiacutepios que reglas maacutes ponderacioacuten que subsuncioacuten omnipotencia de la Constitucioacuten en
todas las aacutereas juriacutedicas y en todos conflictos miacutenimamente relevantes en lugar de espacios
exentos en favor de la opcioacuten legislativa o reglamentaria omnipotencia judicial en lugar de
autonomia del legislador ordinaacuterio y por ultimo coexistecircncia de una constelacioacuten plural de
valores a veces tendencialmente contradictorios en lugar de homogeneidad ideoloacutegica150
certamente eu natildeo me considero um neoconstitucionalista De todas as afirmaccedilotildees do professor
espanhol a uacutenica de que natildeo discordo eacute aquela relacionada ao pluralismo de valores cujo re-
conhecimento aliaacutes estaacute longe de ser privileacutegio dos neoconstitucionalistas
Contudo eu assumo o roacutetulo sem constrangimentos se o neoconstitucionalismo for pensado
como uma teoria constitucional que sem descartar a importacircncia das regras e da subsunccedilatildeo
abra tambeacutem espaccedilo para os princiacutepios e para a ponderaccedilatildeo tentando racionalizar o seu uso
Se for visto como uma concepccedilatildeo que sem desprezar o papel protagonista das instacircncias de-
mocraacuteticas na definiccedilatildeo do Direito reconheccedila e valorize a irradiaccedilatildeo dos valores constitucio-
nais pelo ordenamento bem como a atuaccedilatildeo firme e construtiva do Judiciaacuterio para proteccedilatildeo e
promoccedilatildeo dos direitos fundamentais e dos pressupostos da democracia E acima de tudo se
for concebido como uma visatildeo que conecte o Direito com exigecircncias de justiccedila e moralidade
criacutetica151 sem enveredar pelas categorias metafiacutesicas do jusnaturalismo
26
Certamente uma visatildeo equilibrada da Teoria do Direito com tais caracteriacutesticas pode contribu-
ir para o aperfeiccediloamento do Estado Democraacutetico de Direito no Brasil O mesmo jaacute natildeo digo de
concepccedilotildees mais radicais do neoconstitucionalismo que podem ser muito boas para arrancar
aplausos entusiasmados das plateacuteias nos seminaacuterios estudantis mas que natildeo se conciliam com
exigecircncias fundamentais de seguranccedila juriacutedica democracia e liberdade que satildeo alicerces de
qualquer bom constitucionalismo - novo ou velho
Curriacuteculo Resumido
Daniel Sarmento
Poacutes-Doutor pela Universidade de Yale (EUA) Procurador Regional da Repuacuteblica
Como citar este artigo
SARMENTO Daniel O neoconstitucionalismo no Brasil riscos e possibilidades Disponiacutevel em httpwwweditoraforumcombrsistconteudolista_conteudoaspFIDT_CONTEUDO=56993 acesso em 09032011 httpdireitoesubjetividadefileswordpresscom201008daniel-sarmento-o-neoconstitucionalismo-no-brasil1doc acesso em 30062012 Material da 1ordf aula da Disciplina Teoria Geral da Constituiccedilatildeo (I) ministrada no Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo Online em Direito Constitucional ndash Anhanguera-UNIDERP | REDE LFG
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1Sobre a teoria de princiacutepios no Brasil veja-se dentre outros Ana Paula de Barcellos A eficaacutecia juriacutedica dos princiacutepios constitu-
cionais o princiacutepio da dignidade da pessoa humana Rio de Janeiro Renovar 2002 Humberto Bergman Aacutevila Teoria dos princiacute-
pios da definiccedilatildeo agrave aplicaccedilatildeo dos princiacutepios juriacutedicos 2 ed Satildeo Paulo RT 2005 Jane Reis Gonccedilalves Pereira Interpretaccedilatildeo
constitucional e direitos fundamentais uma contribuiccedilatildeo ao estudo das restriccedilotildees aos direitos fundamentais na perspectiva da
teoria dos princiacutepios Rio de Janeiro Renovar 2006 Virgiacutelio Afonso da Silva O conteuacutedo essencial dos direitos fundamentais e a
eficaacutecia das normas constitucionais Satildeo Paulo Tese (concurso de Professor Titular de Direito Constitucional da USP)
2Veja-se em tons variados Lecircnio Luiz Streck Hermenecircutica juriacutedica e(m) crise uma exploraccedilatildeo hermenecircutica da construccedilatildeo do
direito Porto Alegre Livraria do Advogado 1999 Luiacutes Roberto Barroso (Org) A nova interpretaccedilatildeo constitucional ponderaccedilatildeo
direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas Rio de Janeiro Renovar 2003 Margarida Maria Lacombe Camargo Hermenecircutica e
argumentaccedilatildeo uma contribuiccedilatildeo ao estudo do direito Rio de Janeiro Renovar 2003 Inocecircncio Maacutertires Coelho Interpretaccedilatildeo
constitucional 2 ed Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2003 Ana Paula de Barcellos Ponderaccedilatildeo racionalidade e atividade
jurisdicional Rio de Janeiro Renovar 2005
3Sobre o fenocircmeno da constitucionalizaccedilatildeo do Direito confira-se os inuacutemeros artigos que compotildeem a coletacircnea organizada por
Claacuteudio Pereira de Souza Neto e por mim A constitucionalizaccedilatildeo do direito fundamentos teoacutericos e aplicaccedilotildees especiacuteficas Rio de
Janeiro Lumen Juris 2007
4Cfr na literatura constitucional brasileira Gisele Guimaratildees Cittadino Pluralismo direito e justiccedila distributiva elementos de
filosofia constitucional contemporacircnea Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 Oscar Vilhena Vieira A Constituiccedilatildeo e sua reserva de
justiccedila um ensaio sobre os limites materiais do poder de reforma Satildeo Paulo Malheiros 1999 Ricardo Lobo Torres (Org) A legi-
timaccedilatildeo dos direitos humanos Rio de Janeiro Renovar 2002 Claacuteudio Pereira de Souza Neto Teoria constitucional e democracia
deliberativa Rio de Janeiro Renovar 2006 Lecircnio Luiz Streck Verdade e consenso Constituiccedilatildeo hermenecircutica e teorias discursi-
vas Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 Samantha Chantal Dobrowolski A construccedilatildeo social do sentido da Constituiccedilatildeo na demo-
cracia contemporacircnea entre soberania popular e direitos humanos Rio de Janeiro Lumen Juris 2007 Aacutelvaro Ricardo de Souza
Cruz Hermenecircutica juriacutedica e(m) debate o constitucionalismo brasileiro entre a teoria do discurso e a ontologia existencial Belo
Horizonte Foacuterum 2007
5Sobre a judicializaccedilatildeo da poliacutetica no Brasil veja-se Luiz Werneck Vianna et al A judicializaccedilatildeo da poliacutetica e das relaccedilotildees sociais
no Brasil Rio de Janeiro Revan 1999 Giselle Cittadino Judicializaccedilatildeo da poliacutetica constitucionalismo democraacutetico e separaccedilatildeo de
poderes In Luiz Werneck Vianna (Org) A democracia e os trecircs poderes no Brasil Belo Horizonte UFMG 2002 p 17-42 Rogeacuterio
B Arantes Constitucionalism the expansion of Justice and the Judicialization of Poltics in Brazil In Rachel Sieder Line Schjol-
den Alan Angell The Judicialization of Politics in Latin America New York Palgrave Macmillan 2005 p 232-262 Luis Roberto
Barroso Judicializaccedilatildeo ativismo judicial e legitimidade democraacutetica Texto ineacutedito gentilmente cedido pelo autor
Para uma perspectiva comparativa veja-se Neal C Tate Tobjorn Vallinder (Ed) The Global Expansion of Judicial Power New
York New York University Press 1995 Alec Stone Sweet Governing with Judges Constitutional Politics in Europe Oxford Oxford
Univesity Press 2000 e em tom profundamente criacutetico Ran Hirschl Towards Juristocracy the Origins and Consequences of the
New Constitucionalism Cambridge Harvard University Press 2004
6Miguel Carbonell et al Neoconstitucionalismo(s) Madrid Trotta 2003 Mais recentemente o autor publicou nova coletacircnea
tambeacutem dedicada ao estudo do neoconstitucionalismo intitulada Teoria del Neoconstitucionalismo Ensayos escogidos Madrid
Trotta 2007
7O jurista argentino Carlos Santiago Nino por exemplo faleceu em 1993 quando ainda nem se empregava esta denominaccedilatildeo
8Cf Robert Alexy Teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica a teoria do discurso racional como teoria da fundamentaccedilatildeo juriacutedica Tradu-
ccedilatildeo de Zilda Hutchinson Schild Silva revisatildeo teacutecnica da traduccedilatildeo e introduccedilatildeo agrave ediccedilatildeo brasileira Claudia Toledo 2 ed Satildeo Paulo
Landy 2005 Luis Roberto Barroso Curso de direito constitucional contemporacircneo os conceitos fundamentais e a construccedilatildeo do
novo modelo Rio de Janeiro Saraiva 2008 p 306-350
9Cf Lecircnio Luiz Streck Verdade e consenso Op cit p 197-246
28
10Ronald Dworkin e Carlos Santiago Nino satildeo sem sombra de duacutevida autores liberais natildeo no sentido que se atribui ao termo no
Brasil - de adeptos de doutrina econocircmica favoraacutevel ao Estado miacutenimo e ao mercado - mas sim no sentido corrente na Filosofia
Poliacutetica que associa o liberalismo agrave defesa dos direitos individuais e da neutralidade do Estado em relaccedilatildeo agraves diversas concepccedilotildees
sobre a vida boa existentes na sociedade Veja-se neste sentido Ronald Dworkin A Matter of Principle Cambridge Harvard
University Press 1985 p 181-236 Carlos Santiago Nino La constitucioacuten de la Democracia Deliberativa Barcelona Gedisa 1997
p 70-100
11Lecircnio Luiz Streck que se alinha ao neoconstitucionalismo defende posturas tipicamente comunitaristas como o papel da Consti-
tuiccedilatildeo na definiccedilatildeo de modelos de vida boa para orientaccedilatildeo da vida social e da accedilatildeo individual Cf Jurisdiccedilatildeo constitucional e
hermenecircutica uma nova criacutetica do direito 2 ed Rio de Janeiro Forense 2004 p 95-288
12Antonio Cavalcanti Maia um dos mais ardorosos defensores do neoconstitucionalismo no paiacutes eacute tambeacutem procedimentalista e
adepto das teorias juriacutedicas de Juumlrgen Habermas Veja-se neste sentido o seu denso texto Nos vintes anos da carta cidadatilde do
poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm (Coord) Vinte
anos da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 p 117-168 em que esta sua dupla filiaccedilatildeo intelectual eacute
explicitada
13Segundo Miguel Carbonell o neoconstitucionalismo desdobra-se em trecircs planos de anaacutelise que se conjugam o dos textos consti-
tucionais que se tornaram mais substantivos e incorporaram amplos elencos de direitos fundamentais o das praacuteticas judiciais que
passaram a recorrer a princiacutepios constitucionais agrave ponderaccedilatildeo e a meacutetodos mais flexiacuteveis de interpretaccedilatildeo sobretudo na aacuterea de
direitos fundamentais e o dos desenvolvimentos teoacutericos de autores que com as suas ideacuteias ajudaram natildeo soacute a compreender os
novos modelos constitucionais mas tambeacutem participaram da sua proacutepria criaccedilatildeo Cf Miguel Carbonell Neoconstitucionalismo
elementos para una definicioacuten In Eduardo Ribeiro Moreira Mauricio Pugliesi 20 anos da Constituiccedilatildeo brasileira Satildeo Paulo Sarai-
va 2009 p 197-208
14No mesmo sentido Luis Roberto Barroso Neoconstitucionalismo e Constitucionalizaccedilatildeo do direito o triunfo tardio do direito
constitucional do Brasil In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento A constitucionalizaccedilatildeo do direito fundamentos teoacuteri-
cos e aplicaccedilotildees especiacuteficas Rio de Janeiro Lumen Juris 2007 p 203-250
15Cf Carlos Bernal Pulido El Derecho de los Derechos Bogotaacute Universidad Externado de Colocircmbia 2006 Manoel Jose Cepeda
Espinosa Judicialization of Politics in Colombia the old and the new In Rachel Sieder Line Schonjen Alan Angell The Judiciali-
zation of Politics in Latin America Op cit p 67-104 Rodrigo Uprimmy Mauriacutecio Garcia-Villegas Tribunal Constitucional e eman-
cipaccedilatildeo social na Colocircmbia In Boaventura de Souza Santos Democratizar a democracia os caminhos da democracia participativa
Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2002 p 297-339
16Cf Catalina Smulovitz Petitioning and Creating Rights Judicialization in Argentina In Rachel Sieder Line Scjolden Alan Angell
The Judicialization of Politics in Latin America Op cit p 161-185
17Cf Miguel Carbonell Los Derechos Fundamentales en Meacutexico 2 ed Meacutexico Porruacutea 2006 Pilar Domingo The Changing Political
Role of the Judiciary in Meacutexico In Rachel Sieder Line Scjolden Alan Angell The Judicialization of Politics in Latin Ameacuterica Op
cit p 21-46
18Cf Heinz Klug South Aacutefrica From Constitucional Promise to Social Transformation In Jeffrey Goldsworthy Interpreting Consti-
tutions A Comparative Study Oxford Oxford University Press 2006 p 266-320
19Cf S P Sathe Iacutendia From Positivism to Structuralism In Jeffrey Goldsworthy Op cit p 215-265
20Veja-se a propoacutesito Gustavo Zagrebelsky Il Diritto Mite Torino Einaudi 1992 p 57-96
21Cf Eduardo Garciacutea de Enterriacutea La Constitucioacuten como Norma y el Tribunal Constitucional 3 ed Madrid Civitas 1985 p 41
22Na Alemanha a mudanccedila ocorreu sob a vigecircncia da Lei Fundamental adotada em 1949 e foi fortemente impulsionada pela
jurisprudecircncia do Tribunal Constitucional do paiacutes que construiu teorias importantes como a da Constituiccedilatildeo como uma ordem de
valores em cujo centro situa-se o princiacutepio da dignidade humana que se irradia por todo o ordenamento Veja-se a propoacutesito
Dieter Grimm Human Rights and Judicial Review in Germany In David M Beatty (Org) Human Rights and Judicial Review A
Comparative Perspective Dodrecht Martin Urjhoff 1994 p 267-295
23Na Itaacutelia as mudanccedilas se deram sob a eacutegide da atual Constituiccedilatildeo editada em 1947 mas soacute apoacutes o funcionamento da Corte
Constitucional que se deu em 1956 Ateacute entatildeo a Corte de Cassaccedilatildeo composta por juiacutezes recrutados ainda no periacuteodo do fascismo
29
era provisoriamente encarregada da guarda da Constituiccedilatildeo o que fazia de forma muito tiacutemida no mais das vezes negando eficaacute-
cia juriacutedica agraves normas constitucionais sob o argumento de que seriam programaacuteticas Veja-se a propoacutesito Ricardo Guastini A
constitucionalizaccedilatildeo do ordenamento juriacutedico e a experiecircncia italiana In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento A
constitucionalizaccedilatildeo do direito fundamentos teoacutericos e aplicaccedilotildees especiacuteficas Op cit p 271-294
24Cf No modelo do constitucionalismo norte-americano entende-se desde os primoacuterdios que a Constituiccedilatildeo eacute autecircntica lei e que
o Judiciaacuterio pode invalidar as decisotildees legislativas que a contrariem apesar do controle de constitucionalidade natildeo estar expres-
samente previsto no texto constitucional daquele paiacutes Esta ideacuteia que jaacute estava assentada no Federalista n 78 escrito por Ale-
xander Hamilton antes da aprovaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo foi posta em praacutetica pela primeira vez contra lei federal no ceacutelebre caso
Marbury v Madison julgado em 1803 pelo juiz Marshall Veja-se a propoacutesito Paul Brest Sanford Levinson Jack Balkin Akhil Reed
Amar Processes of Constitutional Decisionmaking Cases and Materials New York Aspen Publishers 2000 p 79-103
A versatildeo mais convencional do modelo constitucional norte-americano enfatiza a importacircncia central do Judiciaacuterio na atualizaccedilatildeo
do sentido da Constituiccedilatildeo do paiacutes Contudo esta leitura histoacuterica eacute hoje objeto de intensa disputa Em sentido contraacuterio a tal
posiccedilatildeo sustentando uma menor relevacircncia do Judiciaacuterio no desenvolvimento histoacuterico do constitucionalismo americano veja-se
por exemplo Stephen M Griffin American Constitutionalism From Theory to Politics New Jersey Princeton University Press
1996 p 88-139
25Cf Luis Prietro Sanchiacutes Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales Madrid Trotta 2003 p 107-117
26Cf Daniel Sarmento Ubiquumlidade constitucional Os dois lados da moeda In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento
(Coord) A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 113-148
27Na verdade a reaccedilatildeo contra o formalismo juriacutedico na Europa eacute bem anterior ao advento do constitucionalismo do 2ordm poacutes-guerra
remontando ao final do seacuteculo XIX Veja-se a propoacutesito Constantin M Stamatis Argumenter en Droit Une theacuteorie critique de
largumentation juridique Paris Publisud 1995 p 34-50 Antonio Manoel Hespanha Panorama histoacuterico da cultura juriacutedica euro-
peacuteia Lisboa Publicaccedilotildees Europa-Ameacuterica 1997 p 196-235
28Haacute vasta literatura sobre a ponderaccedilatildeo mas a obra mais influente sobre o tema eacute certamente o livro de Robert Alexy Teoria dos
direitos fundamentais Traduccedilatildeo de Virgiacutelio Afonso da Silva Satildeo Paulo Malheiros 2008 No cenaacuterio norte-americano veja-se a
anaacutelise densa e criacutetica de T Alexander Aleinikoff Constitucional Law in the Age of Balancing Yale Law Journal n 96 p 943-
1005 1987 No Brasil cfr Daniel Sarmento A ponderaccedilatildeo de interesses na Constituiccedilatildeo Federal Rio de Janeiro Lumen Juris
2000 Ana Paula de Barcellos Ponderaccedilatildeo racionalidade e atividade jurisdicional Op cit
29A bibliografia sobre o princiacutepio da proporcionalidade eacute vastiacutessima Veja-se a propoacutesito as densas anaacutelises de Carlos Bernal Puli-
do El Principio de Proporcionalidad y los Derechos Fundamentales Madrid Centro de Estuacutedios Constitucionales 2003 e no Brasil
de Jane Reis Gonccedilalves Pereira Interpretaccedilatildeo constitucional e direitos fundamentais Rio de Janeiro Renovar 2006 p 297-382
30Cf Chaiumlm Perelman Eacutetica e direito Traduccedilatildeo de Maria Ermantina Galvatildeo G Perira Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 p 361-684
Robert Alexy Teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica Op cit Friedrich Muller Discours de la Meacutethode Juridique Traduccedilatildeo de Olivier
Jouanjan Paris PUF 1993 Manuel Atienza Traacutes la Justicia Una Introduccioacuten al Derecho y al Razonamiento Juriacutedico Barcelona
Ariel 1995 Neil MacCormick Argumentaccedilatildeo juriacutedica e teoria do direito Traduccedilatildeo de Waldeacutea Barcellos Satildeo Paulo Martins Fontes
2006 Klaus Guumlnther Teoria da argumentaccedilatildeo no direito e na moral justificaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Claacuteudio Molz Satildeo Pau-
lo Landy 2004
31Cf Martin Shapiro Alec Stone Sweet On Law Politics and Judicialization New York Oxford University Press p 136-208
32Contudo deve-se admitir na linha de Paolo Comanducci que eacute possiacutevel reconhecer as mudanccedilas em questatildeo e propor novas
teorias que sejam adequadas a elas sem defendecirc-las Esta seria nas palavras do autor italiano a diferenccedila entre o neoconstitu-
cionalismo teoacuterico e o neoconstitucionalismo ideoloacutegico que natildeo apenas constroacutei teorias mais compatiacuteveis com os novos fenocirc-
menos mas vai aleacutem sustentando a sua legitimidade e propugnando pelo seu aprofundamento e expansatildeo Veja-se a propoacutesito
Paulo Comanducci Formas de neoconstitucionalismo Un anaacutelisis metateoacuterico In Miguel Carbonell (Ed) Neoconstitucionalis-
mo(s) Op cit p 75-98 Como reconhece o proacuteprio autor tal distinccedilatildeo baseia-se em uma semelhante acerca do positivismo
30
formulada por Norberto Bobbio que fala em positivismo teoacuterico ideoloacutegico e metodoloacutegico Cf Norberto Bobbio O positivismo
juriacutedico liccedilotildees de filosofia do direito Traduccedilatildeo e notas de Marcio Pugliesi et al Satildeo Paulo Iacutecone 1995 p 233-239
33Cf Ronald Dworkin Is Law a Sistem of Rules In Ronald Dworkin (Ed) Philosophy of Law Oxford Oxford University Press 1971
Robert Alexy Constitucionalismo discursivo Traduccedilatildeo de Luiz Afonso Heck Porto Alegre Livraria do Advogado 2007
34Cf Robert Alexy Derecho y Razoacuten Praacutectica Meacutexico Distribuiciones Fontamara 1993 Aulis Aarnio Lo Racional como Razonable
Traduccedilatildeo de Ernesto Garzoacuten Valdeacutes Madrid Centro de Estuacutedios Constitucionales 1991
35Cf Aharon Barak The Judge in a Democracy New Jersey Princeton University Press 2006 p 213-260 Gustavo Zagrebelsky Il
Diritto Mite Op cit p 179-217
36Confronte-se com perspectivas diferentes Luigi Ferrajoli O Estado de direito entre passado e futuro In Pietro Costa Danilo
Zolo (Org) Estado de direito histoacuteria teoria criacutetica Traduccedilatildeo de Carlo Alberto Dastoli Satildeo Paulo Martins Fontes 2006 p 419-
464 Elias Dias Estado de Derecho y Sociedad Democraacutetica Madrid Taurus 1998 Ronald Dworkin Introduction The Moral Reading
and the Majoritarian Premise In Freedoms Law The moral reading of the American Constitution Cambridge Harvard University
Press 1996 p 01-38 Gustavo Zagrebelsky La Crucifixioacuten y la Democracia Barcelona Ariel 1996 Claacuteudio Pereira de Souza Neto
Teoria constitucional da democracia deliberativa Op cit
37Cf Ronald Dworkin Introduction The Moral Reading and the Majoritarian Premise Op cit
38Cf Luigi Ferrajoli El Garantismo y la Filosofia del Derecho Bogotaacute Universidad Externado de Colocircmbia 2000
39Cf Luis Pietro Sanchis Sobre el Neoconstitucionalismo y sus Implicaciones In Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales
Op cit p 101-135
40Cf Ricardo Guastini Sur la Validiteacute de la Constitution du Point de Vue du Positivisme Juridique In Michel Troper Lucien Jaume
(Dir) 1789 et LInvention de la Constitution Paris LGDJ 1994 p 216-225
41Cf Suzana Pozzolo Neoconstituzionalismo e Positivismo Giuridico Torino Giapppicheli 2001
42Cf Ronald Dworkin Law and Morals In Justice in Robes Cambridge Harvard University Press 2006 p 01-35
43Cf Robert Alexy Derecho y Moral In La Institucionalizacioacuten de la Justicia Op cit p 17-30
44Cf Carlos Santiago Nino Eacutetica y Derechos Humanos 2 ed Buenos Aires Astrea 1989 p 11-48
45Cf Gustav Radbruch Cinco minutos de filosofia do direito In Filosofia do direito Traduccedilatildeo de L Cabral de Moncada 6 ed
Coimbra Armecircnio Amado 1979 p 414-418 Para uma densa problematizaccedilatildeo da foacutermula de Radbruch veja-se Thomas da Rosa
Bustamante Poacutes-Positivismo o argumento da injusticcedila aleacutem da Foacutermula de Radbruch In Teoria do direito e decisatildeo racional
temas de teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica Rio de Janeiro Renovar 2008
46Cf Robert Alexy La Institucionalizacioacuten de la Justicia Traduccedilatildeo de Joseacute Antonio Seone et al Granada Comares 2005 p 31-
54
47Sobre o tema cfr Alfonso Garcia Figueroa Princiacutepios e direitos fundamentais In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmen-
to A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 03-34
48O texto mais importante do positivismo inclusivo eacute o poacutes-escrito de Herbert LA Hart agrave sua obra magna The Concept of Law em
que ele responde agraves criacuteticas ao seu pensamento que Ronald Dworkin lhe endereccedilara O autor inglecircs faleceu antes de terminar o
texto mas ele foi publicado postumemente depois de ser editado por Joseph Raz Peneacutelope Bulloch Veja-se Herbert LA Hart
Poacutes-escrito In O conceito de direito Traduccedilatildeo de A Ribeiro Mendes 2 ed 1994 p 299-339 Tambeacutem na linha do positivismo
inclusivo veja-se Gregorio Peces- Barba Derechos Sociales y Positivismo Juriacutedico Escritos de Filosofia Poliacutetica y Juriacutedica Madrid
Dykinson 1999 p 83-90 Jules Coleman The Practice of Principle In defense of a pragmatist approach do legal theory Oxford
Oxford University Press p 103-120 Para uma resenha dos tipos de positivismo no debate contemporacircneo confira-se Dimitri Di-
moulis Positivismo juriacutedico introduccedilatildeo a uma teoria do direito e defesa do pragmatismo juriacutedico-politico Satildeo Paulo Meacutetodo
2006 p 65-166
49Cf Antonio Cavalcanti Maia Nos vinte anos da Constituiccedilatildeo do poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo Op cit Claacuteudio Perei-
ra de Souza Neto A teoria constitucional e seus lugares especiacuteficos notas sobre o aporte reconstrutivo Revista de Direito do
Estado n 1 p 89-104 jan mar 2006 Daniel Sarmento Interpretaccedilatildeo constitucional preacute-compreensatildeo e capacidades institu-
cionais do inteacuterprete In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binebojm Vinte anos da Constituiccedilatildeo de 1988
Op cit p 311-322
31
50Cf Juumlrgen Habermas Escritos sobre Moralidad y Eticidad Traduccedilatildeo de Manuel Jimenez Redondo Barcelona Paidoacutes 1991 p
131-172
51Sobre o comunitarismo haacute extensa literatura Dois textos claacutessicos deste linha de pensamento satildeo Michael Walzer The Communi-
tarian Critique of Liberalism In Politics and Passion New Haven Yale University Press 2004 p 141-163 Charles Taylor The
Procedural Republic and the Unencumbered Self In Robert Goodin Philip Pettit (Ed) Contemporary Political Philosophy 2 ed
Oxford Oxford University Press 2002 p 2462-256 Sobre a penetraccedilatildeo ainda que muitas vezes natildeo consciente das posiccedilotildees do
comunitarismo no constitucionalismo brasileiro veja-se Gisele Cittadino Pluralismo direito e justiccedila distributiva Op cit p
43-74
52Sobre o construtivismo eacutetico corrente filosoacutefica que sustenta a existecircncia de posiccedilotildees certas e erradas na Moral bem como a
possibilidade de encontraacute-las e fundamentaacute-las racionalmente veja-se Carlos Santiago Nino El Constructivismo Eacutetico Madrid
Centro de Estudios Constitucionales 1989
53O fenocircmeno tambeacutem se reproduz na teoria constitucional norte-americana hegemocircnica cf Keith Wittington Constitutional Con-
struction Divided Powers and Constitutional Meaning Cambridge Harvard University Press 1999 p 01-03
54A imagem do Poder Judiciaacuterio como um guardiatildeo de promessas eacute explorada e criticada numa obra importante da teoria juriacutedica
francesa contemporacircnea Antoine Garapon Le Gardien de Promesses Le juge et la democratie Paris Odile Jacob 1996
55Neste sentido o eloquumlente encerramento do Curso de Direito Constitucional Contemporacircneo de Luis Roberto Barroso o consti-
tucionalismo democraacutetico eacute a utopia que nos restou Uma feacute racional que ajuda a acreditar no bem e na justiccedila ainda quando natildeo
estejam ao alcance dos olhos (Op cit p 400)
56Cf Nico Poulantzas State Power Socialism London new Left Books 1978 Alan Hunt Marxist Theory of Law In Dennis Patter-
son (Ed) A Companion to Philosophy of Law and Legal Theory Malden Blackwell Publishers 1996 p 355-367
57Cf David Kairys (Ed) The Politics of Law A Progressive Critique New York Pantheon Books 1982 Roberto Mangabeira Unger
The Critical Legal Studies Movement Cambridge Harvard University Press 1986
58Cf Plauto Faraco Azevedo Criacutetica agrave dogmaacutetica e hermenecircutica juriacutedica Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1989 Luiz Fernando
Coelho Teoria criacutetica do direito 2 ed Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1991
59Natildeo haacute como abordar aqui as relaccedilotildees entre as inuacutemeras correntes do poacutes-modernismo e o Direito Constitucional Veja-se a
propoacutesito Niklas Luhman La Constituzione como Acquisizione Evolutiva In Gustavo Zagrebelsky Piacuteer Paolo Portinaro Joumlrg Lu-
ther Il Futuro della Costituzione Torino Einaudi 1996 p 83-128 Joseacute Joaquim Gomes Canotilho Civilizaccedilatildeo do direito constitu-
cional ou constitucionalizaccedilatildeo do direito civil a eficaacutecia dos direitos fundamentais na ordem juriacutedico-civil no contexto do direito
poacutes-moderno Cadernos de Direito Constitucional e Ciecircncia Poliacutetica n 15 p 07-16 1996 Eduardo Capellari A crise da moderni-
dade e a Constituiccedilatildeo Rio de janeiro Ameacuterica Juriacutedica 2004 Daniel Sarmento Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas 2 ed
Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 p 36-45
60Para Jean-Franccedilois Lyotard uma das caracteriacutesticas centrais do pensamento poacutes-moderno de que eacute expoente eacute a desconfianccedila
em relaccedilatildeo agraves metanarrativas - construccedilotildees abstratas grandiosas e totalizadoras tiacutepicas da Filosofia Moderna como direitos
humanos luta de classes e emancipaccedilatildeo pelo uso da razatildeo Cf Lyotard A condiccedilatildeo poacutes-moderna Traduccedilatildeo de Ricardo Correcirca
Barbosa 5 ed 1998 p16
61Cf Luiz Werneck Viana O terceiro poder na carta de 1988 e a tradiccedilatildeo republicana mudanccedila e conservaccedilatildeo In Ruben George
Oliven Marcelo Gildo Marccedilal Branda A Constituiccedilatildeo de 1988 na vida brasileira Satildeo Paulo Aderaldo e Rotshild 2008 p 91-109
62Cf Paulo Ricardo Schier Filtragem constitucional Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1999
63A expressatildeo foi cunhada por Claacuteudio Pereira de Souza Neto Fundamento e normatividade dos direitos fundamentais uma recons-
truccedilatildeo teoacuterica agrave luz do princiacutepio democraacutetico Arquivos de Direitos Humanos n 4 p 17-61 2003
64Cf Luis Roberto Barroso O direito constitucional e a efetividade de suas normas 3 ed Rio de Janeiro Renovar 1996
65Cf Clegravemerson Merlin Clegraveve A teoria constitucional e o direito alternativo para uma dogmaacutetica constitucional emancipatoacuteria In
Uma vida dedicada ao direito homenagem a Carlos Henrique de Carvalho Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1995 p 34-53
66Ressalte-se poreacutem que antes de 88 alguns juristas jaacute defendiam a forccedila normativa da Constituiccedilatildeo como o Prof Joseacute Afonso da
Silva Eacute de 1968 a primeira ediccedilatildeo da sua obra claacutessica A aplicabilidade das normas constitucionais que adotava claramente esta
32
perspectiva Todavia pelo clima nada propiacutecio ao constitucionalismo que reinava por aqui ateacute a nossa redemocratizaccedilatildeo a louvaacute-
vel pregaccedilatildeo dele e de outros juristas em prol da efetivaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo natildeo chegou a render maiores frutos
67Deve-se assinalar ainda a influecircncia marcante do novo constitucionalismo ibeacuterico neste movimento que tambeacutem pugnava pela
atribuiccedilatildeo de forccedila normativa agraves ambiciosas constituiccedilotildees de Portugal e Espanha entatildeo recentemente elaboradas apoacutes o fim de
experiecircncias autoritaacuterias naqueles paiacuteses A tiacutetulo de exemplo mencione-se a penetraccedilatildeo no paiacutes do pensamento do Professor de
Coimbra Joseacute Joaquim Gomes Canotilho especialmente da sua teoria sobre a Constituiccedilatildeo dirigente que ele posteriormente reviu
(cf J J Gomes Canotilho Constituiccedilatildeo dirigente e vinculaccedilatildeo ao legislador contributo para a compreensatildeo das normas constitu-
cionais programaacuteticas 2 ed Coimbra Coimbra 2001 - especialmente o prefaacutecio desta segunda ediccedilatildeo que daacute conta da mudanccedila
de posicionamento) bem como a difusatildeo das liccedilotildees do Professor Eduardo Garciacutea de Enterriacutea (cf La Constitucioacuten como Norma y el
Tribunal Constitucional Madrid Civitas 1981)
68Segundo a avaliaccedilatildeo atual de Luis Roberto Barroso personagem central do movimento o positivismo constitucional que deu
impulso ao movimento natildeo importava em reduzir o direito agrave norma mas sim em elevaacute-la a esta condiccedilatildeo pois ateacute entatildeo ele
havia sido menos do que norma (Curso de direito constitucional contemporacircneo Op cit p 224)
69Paulo Bonavides Curso de direito constitucional 5 ed Satildeo Paulo Malheiros 1994
70Eros Roberto Grau A ordem econocircmica na Constituiccedilatildeo de 88 interpretaccedilatildeo e criacutetica Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1996
71No acircmbito da Poacutes-Graduccedilatildeo em Direito da UERJ em que estou inserido desde 1997 primeiro como aluno e a partir de 2003 como
professor o Ricardo Lobo Torres teve papel central na difusatildeo do pensamento destes e de outros filoacutesofos entre os estudantes e o
proacuteprio corpo docente
72Cf Lecircnio Luiz Streck Hermenecircutica juriacutedica e(m) crise Op cit Eros Roberto Grau Ensaio e discurso sobre a interpreta-
ccedilatildeoaplicaccedilatildeo do direito Satildeo Paulo Malheiros 2002
73Nesta linha veja-se as obras que compotildeem a coletacircnea Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Direitos sociais funda-
mentos judicializaccedilatildeo e direitos sociais em espeacutecie Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 Ricardo Lobo Torres O miacutenimo existencial
e os direitos fundamentais Revista de Direito Administrativo n 177 p 20-49 1989 Ingo Wolfgang Sarlet A eficaacutecia dos direitos
fundamentais 9 ed Porto Alegre Livraria do Advogado 2008 Ana Paula de Barcellos A eficaacutecia juriacutedica dos princiacutepios o princiacute-
pio da dignidade da pessoa humana Op cit Marco Mazzeli Gouveia O controle judicial das omissotildees administrativas Rio de
Janeiro Forense 2003 Andreacuteas Krell Direitos sociais e controle judicial no Brasil e Alemanha os (des)caminhos de um direito
constitucional comparado Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2002
74Cf Gustavo Tepedino Temas de direito civil Rio de Janeiro Renovar 1999 Luiz Edson Fachin Estatuto juriacutedico do patrimocircnio
miacutenimo Rio de Janeiro Renovar 2001 Maria Celina Bodin de Moraes Danos agrave pessoa humana uma leitura civil-constitucional dos
danos morais Rio de Janeiro Renovar 2003 Teresa Negreiros Fundamentos para uma interpretaccedilatildeo constitucional do princiacutepio
da boa-feacute Rio de Janeiro Renovar 1998 Anderson Schreiber A proibiccedilatildeo do comportamento contraditoacuterio Rio de Janeiro Reno-
var 2005
75Cf Luciano Feldens A Constituiccedilatildeo penal a dupla face da proporcionalidade no controle das lei penais Porto Alegre Livraria do
Advogado 2005 Luis Carlos dos Santos Gonccedilalves Mandados expressos de criminalizaccedilatildeo e a proteccedilatildeo de direitos fundamentais na
Constituiccedilatildeo Brasileira de 1988 Belo Horizonte Foacuterum 2007
76Cf Gustavo Binenbojm Uma teoria do direito administrativo direitos fundamentais democracia e constitucionalizaccedilatildeo Rio de
Janeiro Renovar 2006 Alexandre dos Santos Aragatildeo Floriano de Azevedo Marques (Coord) Direito administrativo e seus novos
paradigmas Belo Horizonte Foacuterum 2008
77Cf Gustavo Binenbojm A nova jurisdiccedilatildeo constitucional brasileira legitimidade democraacutetica e instumentos de realizaccedilatildeo Rio de
Janeiro Renovar 2001 Claacuteudio Pereira de Souza Neto Jurisdiccedilatildeo constitucional democracia e racionalidade praacutetica Rio de
Janeiro Renovar 2002 Joseacute Adeacutercio Leite Sampaio A Constituiccedilatildeo reinventada pela jurisdiccedilatildeo constitucional Belo Horizonte Del
Rey 2002 Lecircnio Luiz Streck Jurisdiccedilatildeo constitucional e hermenecircutica Porto Alegre Livraria do Advogado 2002 Aacutelvaro Ricardo
de Souza Cruz Jurisdiccedilatildeo constitucional democraacutetica Belo Horizonte Del Rey 2004
78A expressatildeo dificuldade contramajoritaacuteria eacute de um claacutessico da teoria constitucional norte-americana Alexander Bickel La Cons-
titucioacuten como Norma y el Tribunal Constitucional 2 ed New Haven Yale University Press 1986
33
79Em siacutentese apertada o procedimentalismo sustenta que natildeo eacute papel da jurisdiccedilatildeo constitucional tutelar valores substantivos mas
apenas proteger os pressupostos necessaacuterios ao bom funcionamento da democracia Jaacute o substancialismo reconhece a legitimidade
da atuaccedilatildeo jurisdicional em favor da garantia e promoccedilatildeo de valores substantivos presentes na Constituiccedilatildeo O debate entre o
procedimentalismo identificado com as ideacuteias de autores como John Hart Ely e Juumlrgen Habermas e o substancialismo defendido
por teoacutericos como Ronald Dworkin e Laurence Tribe eacute reproduzido em praticamente toda a literatura contemporacircnea que trata de
Teoria ou Filosofia Constitucional Veja-se a propoacutesito a densa obra de Claacuteudio Ari Mello Democracia constitucional e direitos
fundamentais Porto Alegre Livraria do Advogado 2004
80Neoconstitucionalismo e constitucionalizaccedilatildeo do direito o triunfo tardio do direito constitucional no Brasil Op cit
81A crise paradigmaacutetica do direito no contexto da resistecircncia positivista ao (neo)constitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza
Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm Vinte anos da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Op cit p 203-228
82Nos vinte anos da carta cidadatilde do poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo Op cit
83Neoconstitucionalismo direitos fundamentais e controle de poliacuteticas puacuteblicas In Daniel Sarmento Flaacutevio Galdino (Org) Direitos
fundamentais estudos em homenagem ao prof Ricardo Lobo Torres Rio de Janeiro Renovar 2006 p 31-60
84Direitos humanos legitimidade e constitucionalismo In Daniel Sarmento Flaacutevio Galdino (Org) Direitos fundamentais estudos
em homenagem ao Prof Ricardo Lobo Torres Op cit p325-350
85Novos desafios agrave filtragem constitucional no momento do neoconstitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sar-
mento A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 251-270
86Neoconstitucionalismo a invasatildeo da Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Meacutetodo 2008
87Neoconstitucionalismo e positivismo juriacutedico Satildeo Paulo Landy 2006
88Teoria do direito e argumentaccedilatildeo racional temas de teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica op cit p 141-240
89Uma visatildeo criacutetica do neoconstitucionalismo In George Salomatildeo Leite Glauco Salomatildeo Leite Constituiccedilatildeo e efetividade constitu-
cional Salvador JusPodium 2008 p 43-60
90Neoconstitucionalismo entre a Ciecircncia do direito e o direito da ciecircncia In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento
Gustavo Binenbojm Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 p 187-202
91Cf Peticcedilatildeo 1246 MSSC julgada em 31011997 (obrigaccedilatildeo do Estado de realizar transplante de ceacutelulas mioblaacutesticas para salvar
a vida de crianccedila) Agravo de Instrumento no Recurso Extraordinaacuterio 271286RS DJU 24 nov 2000 (entrega de medicamentos
para portadores de HIV) e Agravo de Instrumento do Recurso Extraordinaacuterio nordm 410715-5 julgado em 22112005 (obrigaccedilatildeo de
fornecimento de vagas para educaccedilatildeo infantil pelo municiacutepio com atendimento em creches e preacute-escola)
92Recursos Extraordinaacuterios nordms 158215-4RS 161243-6DF 201819RJ
93Cf Mandado de Injunccedilatildeo 670ES Rel Min Gilmar Mendes julgado em 25102007 em que o STF revendo orientaccedilatildeo anterior
deu eficaacutecia normativa agrave sentenccedila proferida no mandado de injunccedilatildeo No caso decidiuse que ateacute o advento de lei regulamentado-
ra sobre a greve no serviccedilo puacuteblico o direito de greve poderia ser exercido obedecendo-se os limites impostos pela Lei 778389
que trata dos movimentos paredistas em serviccedilos essenciais no setor privado
94Sobre a tendecircncia agrave superaccedilatildeo da ideacuteia do Judiciaacuterio como legislador negativo na jurisdiccedilatildeo constitucional veja-se Joseacute Adeacutercio
Leite Sampaio A Constituiccedilatildeo reinventada pela jurisdiccedilatildeo constitucional Belo Horizonte Del Rey 2002 p 203-248
95Eacute lugar-comum dentre os autores que tratam da questatildeo associar tais mudanccedilas agrave pluralizaccedilatildeo das vozes na interpretaccedilatildeo consti-
tucional tema em que a referecircncia essencial no cenaacuterio germacircnico eacute Peter Haumlberle Veja-se a propoacutesito Peter Haumlberle Herme-
necircutica constitucional A sociedade aberta dos inteacuterpretes da Constituiccedilatildeo contribuiccedilatildeo para a interpretaccedilatildeo pluralista e procedi-
mental da Constituiccedilatildeo Traduccedilatildeo de Gilmar Ferreira Mendes Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1997 Veja-se ainda na doutrina
brasileira Gustavo Binenbojm A dimensatildeo do Amicus Curiae no processo constitucional brasileiro In Temas de direito constitu-
cional e administrativo Rio de Janeiro Renovar 2008 p 165-190
96ADIN 3510DF Relator Ministro Carlos Ayres Britto A accedilatildeo proposta contra o art 5ordm da Lei de Biosseguranccedila impugnava a auto-
rizaccedilatildeo de pesquisas com embriotildees humanos resultantes de fertilizaccedilatildeo in vitro que fossem inviaacuteveis ou estivessem congelados haacute
mais de trecircs anos A accedilatildeo foi julgada totalmente improcedente por 6 votos a 5
97ADPF nordm 54 A accedilatildeo que tem como relator o Ministro Marco Aureacutelio ainda natildeo foi julgada mas em seu bojo jaacute ocorreram diversas
audiecircncias puacuteblicas que provocaram intensa participaccedilatildeo da sociedade civil e grande interesse na miacutedia
34
98ADPF nordm 132 Relator Ministro Carlos Ayres Britto A accedilatildeo ainda foi julgada
99Mandados de Seguranccedila 26602DF 26603DF e 26604DF Informativo STF n 482
100Recurso Extraordinaacuterio 197917SP Rel p acoacuterdatildeo Min Ceacutesar Peluso DJU 18 fev 2005
101O livro de Alberto Carlos Almeida A cabeccedila do brasileiro lanccedilado em 2007 conteacutem pesquisas feitas sobre uma acuteseacuterie de temas
com pessoas de todas as classes sociais e regiotildees do paiacutes Uma das pesquisas eacute relativa agrave avaliaccedilatildeo das instituiccedilotildees Dentre as treze
avaliadas as duas que obtiveram menor aprovaccedilatildeo foram os partidos poliacuteticos (avaliaccedilatildeo positiva de 28 dos entrevistados) e o
Congresso (avaliaccedilatildeo positiva de 36 dos entrevistados) Cf Antonio Carlos Almeida A cabeccedila do brasileiro Rio de Janeiro Re-
cord 2007 p 187
102Cf Luis Roberto Barroso Judicializaccedilatildeo ativismo judicial e legitimidade democraacutetica Texto ainda ineacutedito gentilmente cedido
pelo autor
103Humberto Aacutevila por exemplo formula outra criacutetica importante de que o neoconstitucionalismo seria inadequado agrave realidade
constitucional brasileira jaacute que privilegia os princiacutepios e a Carta de 88 seria muito mais regulatoacuteria do que principioloacutegica (Neo-
constitucionalismo entre a ciecircncia do direito e o direito da ciecircncia Op cit p 188-192)
104Contudo natildeo eacute razoaacutevel estender esta criacutetica ao ponto de negar o caraacuteter democraacutetico da atuaccedilatildeo judicial Como ressaltou
Eugenio Rauacutel Zaffaroni uma instituiccedilatildeo natildeo eacute democraacutetica unicamente porque natildeo provenha de eleiccedilatildeo popular porque nem tudo
o que proveacutem desta origem eacute necessariamente aristocraacutetico Uma instituiccedilatildeo eacute democraacutetica quando seja funcional para o sistema
democraacutetico quer dizer quando seja necessaacuteria para a sua continuidade como ocorre com o judiciaacuterio (Poder judiciaacuterio crise
acertos e desacertos Traduccedilatildeo de Juarez Tavares Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1995 p 43)
105Cf Robert A Dahl Sobre a democracia Traduccedilatildeo de Beatriz Sidou Brasiacutelia UNB 2001 p 97-113 Juumlrgen Habermas Popular
Sovereignity as Procedure In James Bonham William Rehg Deliberative Democracy Cambridge The MIT Press 1997 p 35-66
106A questatildeo da tensatildeo e sinergia simultacircneas entre constitucionalismo e democracia eacute um dos debates mais fecundos da Teoria
Poliacutetica e da Filosofia Constitucional que tem atravessado o tempo desde o advento do constitucionalismo moderno no seacuteculo
XVIII Veja-se no debate contemporacircneo Jeremy Waldron Preocommitment and Disagreement In Larry Alexander Constitu-
cionalism Philosophical Foundations Cambridge Cambridge University Press 1998 p 271-299 Juumlrgen Habermas O Estado demo-
craacutetico de direito uma amarraccedilatildeo paradoxal de princiacutepios contraditoacuterios In Era das transiccedilotildees Traduccedilatildeo de Flaacutevio Beno Siebe-
neichler Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 2003 p 153-173 Carlos Santiago Nino La Constitucioacuten de la Democracia Deliberativa
Op cit Frank Michelman Brennan and Democracy Princeton Princeton University Press 1999 p 03-62 Stephen Holmes El
Precompromiso y la Paradoja de la Democracia In Jon Elster Rune Slagstad Constitucionalismo y Democracia Traduccedilatildeo de Mocircni-
ca Utrilla de Neira Mexico Fondo de Cultura Econocircmica 1999 p 217-262
107O problema da limitaccedilatildeo do legislador atual pelas decisotildees do constituinte adotadas no passado envolve a problemaacutetica da
partilha intergeracional de poder bem explicitada na fala de Jefferson que defendia que a cada 19 anos deveria ser elaborada
uma nova Constituiccedilatildeo nos Estados Unidos para que a Lei Maior daquele paiacutes natildeo se tornasse um mecanismo de governo dos mor-
tos sobre os vivos Em siacutentese apertada haacute na teoria poliacutetica contemporacircnea duas linhas principais de justificativa para a legiti-
midade destas restriccedilotildees
Uma eacute a teoria da democracia dualista defendida por Bruce Ackerman que sustenta que as decisotildees adotadas pelo proacuteprio povo
em contextos de grande mobilizaccedilatildeo ciacutevica devem ser protegidas do alcance da vontade dos representantes do povo formada em
momentos em que a cidadania natildeo esteja intensamente envolvida Esta teoria distingue a poliacutetica extraordinaacuteria correspondente
agravequeles momentos constitucionais da poliacutetica ordinaacuteria que se realiza atraveacutes das deliberaccedilotildees do dia a dia dos oacutergatildeos represen-
tativos Para a perspectiva ackermaniana a poliacutetica extraordinaacuteria - que natildeo exige necessariamente formalizaccedilatildeo procedimental
atraveacutes de assembleacuteia constituinte ou de emenda constitucional - se situa em patamar superior agrave poliacutetica ordinaacuteria e pode legiti-
mamente impor limites a esta (cf Bruce Ackerman We the people Foundations Cambridge The Belknap Press 1991 p 03-33)
Outra teoria eacute a do preacute-compromisso que jaacute foi advogada por Jon Elster Segundo ela eacute legiacutetimo subtrair do alcance das maiorias
determinadas questotildees fundamentais que expressam princiacutepios fundamentais de justiccedila poliacutetica ou garantam os pressupostos da
proacutepria democracia tendo em vista o risco de que no processo poliacutetico majoritaacuterio em momentos de irracionalidade o povo
35
possa ser viacutetima de suas proacuteprias fraquezas ou paixotildees momentacircneas atentando contra tais princiacutepios (cf Ulisses and Sirens
Cambridge Cambridge University Press 1979)
Ambas as concepccedilotildees - a primeira mais proacutexima ao republicanismo e a segunda de vieacutes mais liberal - tecircm a sua dose de procedecircn-
cia mas ensejam criacuteticas importantes Todavia foge a escopo do presente trabalho analisar esta questatildeo que eacute uma das mais
complexas da Filosofia Poliacutetica moderna e contemporacircnea Para uma visatildeo geral sobre o tema na literatura em liacutengua portuguesa
veja-se Oscar Vilhena Vieira A Constituiccedilatildeo e sua reserva de justiccedila Op cit Miguel Nogueira de Brito A Constituiccedilatildeo constituin-
te ensaio sobre o poder de revisatildeo da Constituiccedilatildeo Coimbra Coimbra 2000 Samantha Chantal Dobrowolski Op cit p 265-312
Rodrigo Brandatildeo Direitos fundamentais democracia e claacuteusulas peacutetreas Rio de Janeiro Renovar 2008 p 59-112
108Cf Michel Troper Justice Constitutionelle et Deacutemocratie In Pour une Theorie Juridique de LEacutetat Paris PUF 1994 p 317-328
Claacuteudio Pereira de Souza Neto Jurisdiccedilatildeo constitucional democracia e racionalidade praacutetica Op cit p 106-130 Gustavo Binen-
bojm A nova jurisdiccedilatildeo constitucional brasileira Op cit p 55-74
109Sobre o modelo revolucionaacuterio francecircs de constitucionalismo completamente avesso agrave ideacuteia de jurisdiccedilatildeo constitucional cf
Maurizio Fioravanti Constitucioacuten de la antiguumledad a nuestros dias Traduccedilatildeo de Manuel Martinez Neira Madrid Trotta 2001 p
120-132
110Cf Carl Schmitt La Defesa de la Constitucioacuten Madrid Tecnos 1983
111O constitucionalismo popular ou populismo constitucional eacute uma importante corrente no debate constitucional norte-americano
contemporacircneo que nega a legitimidade democraacutetica do controle de constitucionalidade advogando que deve caber ao proacuteprio
povo e natildeo a uma elite de juiacutezes natildeo eleitos com assento na Suprema Corte o poder de definir o sentido das claacuteusulas vagas que
abundam no texto constitucional daquele paiacutes Na defesa desta tese satildeo empregados tanto argumentos de teoria e filosofia poliacuteti-
ca de caraacuteter mais universal como razotildees histoacutericas relacionadas agrave evoluccedilatildeo do constitucionalismo estadunidense Veja-se nesta
linha Mark Tushnet Taking the Constitution Away from the Courts Princeton Princeton University Press 1999 Jeremy Waldron
Precommitment and Disagreement Op cit Larry D Kramer The People Themselves Popular constitutionalism and judicial re-
view New York Oxford University Press 1994
Ateacute algumas deacutecadas atraacutes a oposiccedilatildeo agrave jurisdiccedilatildeo constitucional nos Estados Unidos partia em regra da Direita que natildeo se con-
formava com a jurisprudecircncia extremamente liberal em mateacuteria de direitos fundamentais estabelecida pela Corte entre os anos
50 e 70 Atualmente uma boa parte dos opositores agrave judicial review situa-se agrave esquerda do espectro poliacutetico e talvez a nova linha
profundamente conservadora daquele Tribunal ajude a explicar esta mudanccedila
112Sobre a Era de Lochner veja-se Laurence H Tribe American Constitutional Law 2 ed Mineola The Foundation Press 1988 p
567-581 Paul Brest et al Processes of Constitucional Decisionmaking 4 ed New York Aspen Publishers 2000 p 337-354
113Towards Juristocracy hellip Op cit
114Tratei do tema no artigo Direito adquirido emenda constitucional democracia e justiccedila social In Livres e iguais Op cit p
03-32
115Cf Charles R Epp The Rights Revolution Chicago The University of Chicago Press 1998 p 26-70 Owen Fiss The Law as It
Could Be New York New York University Press 2003 p 244-249
116A importacircncia e as peculiaridades da interpretaccedilatildeo legislativa da Constituiccedilatildeo satildeo exploradas em importante obra coletiva
Richard W Bauman Tsvi Kahana The Least Examined Branch The Role of Legislatures in the Constitutional State Cambridge
Cambridge University Press 2006
117Cf em tom ainda mais ceacutetico do que o adotado neste estudo Martonio MontAlverne Barreto Lima Jurisdiccedilatildeo Constitucional
um problema da teoria da democracia poliacutetica In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Gilberto Bercovici Joseacute Filomeno de Moraes
Filho Martonio MontAlverne Teoria da Constituiccedilatildeo estudos sobre o lugar da poliacutetica no direito constitucional Rio de Janeiro
Lumen Juris 2003 p 199-261 Conrado Huumlbner Mendes Controle de constitucionalidade e democracia Rio de Janeiro Elsevier
2008
36
118Para criacutetica semelhante no contexto germacircnico veja-se Ingeborg Maus O judiciaacuterio como superego da sociedade sobre o papel
da atividade jurisprudencial na sociedade oacuterfatilde Traduccedilatildeo de Martonio MontAlverne Barreto Lima Paulo Antonio Menezes de Albu-
querque Anuaacuterio dos Cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito da Faculdade de Direito de Recife n 11 2000
119Eu aprofundo a anaacutelise deste ponto no meu artigo Interpretaccedilatildeo constitucional preacute-compreensatildeo e capacidades institucionais do
inteacuterprete In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm (Coord) Vinte anos da Constituiccedilatildeo Federal
de 1988 Op cit p 311-322 E a necessidade de optar por teoria de interpretaccedilatildeo que leve em consideraccedilatildeo as capacidades
institucionais reais dos juiacutezes comparando-as com as dos agentes de outras instituiccedilotildees eacute explorada no importante estudo de Cass
Sunstein Adrian Vermeulle Interpretations and Institutions Chicago Working Papers in Law amp Economics 2002 p 01-55 bem
como no livro de Adrian Vermeulle Judging under Uncertainty An Institutional Theory for Legal Interpretation Cambridge Har-
vard University Press 2006
120Dentre as honrosas exceccedilotildees mencione-se Luiacutes Roberto Barroso autor de importante artigo com sugestotildees para a reforma poliacuteti-
ca no paiacutes Reforma poliacutetica uma proposta de sistema de governo eleitoral e partidaacuterio para o Brasil Revista de Direito do Esta-
do n 3 p 287-360 jul set 2006
121Sobre o ethos judicial no Brasil veja-se a pesquisa de Maria Tereza Sadek Magistrados uma imagem em movimento Rio de
Janeiro FGV 2006
122Em sentido semelhante veja-se Michael J Perry The Constitution the Courts and Human Rights New Haven Yale University
Press 1982 p 91-145
123Neste ponto entendo que um standard importante que deveria ser adotado para controle de constitucionalidade eacute o de que
quanto maiores forem as credencias democraacuteticas de um ato normativo mais autocontido deve ser o Poder Judiciaacuterio ao avaliar a
sua constitucionalidade Na minha opiniatildeo estas credencias democraacuteticas devem ser aferidas tanto por criteacuterios qualitativos - eg
grau de participaccedilatildeo social no processo legislativo qualidade do processo deliberativo que a antecedeu - como por criteacuterios quanti-
tativos - percentual de votos favoraacuteveis agrave medida Em sentido semelhante veja-se Claacuteudio Ari Mello Democracia e direitos funda-
mentais Op cit p 298
124Em sentido proacuteximo apontam as liccedilotildees de Gustavo Binenbojm e Humberto Aacutevila O primeiro tratando do controle judicial dos
atos administrativos averbou que quanto maior for o grau de tecnicidade da mateacuteria objeto de decisatildeo por oacutergatildeos dotados de
expertise e experiecircncia menos intenso deve ser o grau de controle judicial (Uma teoria do direito administrativo Op cit p
236) Jaacute o segundo salientou que o acircmbito de controle pelo Judiciaacuterio deveraacute ser tanto menor quanto mais difiacutecil e teacutecnico for
o juiacutezo exigido para o tratamento da mateacuteria (Teoria dos princiacutepios Op cit p 126)
125Um exemplo extremado deste posicionamento estaacute na argumentaccedilatildeo adotada pelo STF no julgamento da ADIN 2797 Rel Min
Sepuacutelveda Pertence em que se reconheceu a inconstitucionalidade formal de lei que pretendia interpretar a Constituiccedilatildeo Para o
STF natildeo pode a lei ordinaacuteria pretender impor como seu objeto imediato uma interpretaccedilatildeo a Constituiccedilatildeo a questatildeo eacute de in-
constitucionalidade formal iacutensita a toda norma da gradaccedilatildeo inferior que se proponha a ditar interpretaccedilatildeo de norma superior
Na questatildeo de fundo abordada naquele caso entendo que o STF estava certo Tratava-se de invalidar uma norma legal que esten-
dera o foro de prerrogativa de funccedilatildeo a ex-ocupantes de cargos puacuteblicos visando a restaurar antiga jurisprudecircncia do STF sedi-
mentada na Suacutemula 394 do Tribunal que acabara de ser cancelada O princiacutepio republicano natildeo era compatiacutevel com tal medida
que configurava niacutetido privileacutegio O que me parece inaceitaacutevel e profundamente anti-democraacutetico com a devida vecircnia natildeo eacute o
resultado alcanccedilado pela Corte - com o qual concordo - mas o argumento empregado de que o legislador natildeo pode interpretar a
Constituiccedilatildeo
126Existe hoje uma fecunda produccedilatildeo acadecircmica no cenaacuterio anglo-saxatildeo sobre as vantagens de modelos teoacutericos que favoreccedilam
diaacutelogos entre diversos oacutergatildeos e instituiccedilotildees na interpretaccedilatildeo constitucional ao inveacutes de afirmarem a exclusividade ou mesmo a
supremacia do Judiciaacuterio nesta seara Veja-se a propoacutesito Laurence G Sager Justice in Plainclothes A Theory of American Con-
stitutional Practice New haven Yale University Press 2004 Mark Tushnet Weak Courts Strong Rights Judicial Review and Social
Welfare Rights in Comparative Constitutional Law Princeton Princeton University Press 2008 Mark C Miller Jeb Barnes (Ed)
Making Police Making Law An Interbranch Perspective Washington DC Georgetown University Press 2004
37
127Colhi o exemplo no estudo de Oscar Vilhena Vieira Supremocracia In Daniel Sarmento (Org) Filosofia e teoria constitucional
contemporacircnea Rio de Janeiro Lumen Juris 2009
128Como um natildeo-positivista tenho a necessaacuteria imparcialidade para criticar os equiacutevocos da doutrina brasileira nas suas invectivas
contra o positivismo que muitas vezes caracterizam verdadeira falaacutecia do espantalho ataca-se natildeo a proacutepria teoria positivista
mas uma distorcida caricatura dela Duas afirmaccedilotildees erradas que eu mesmo jaacute fiz em textos anteriores satildeo muito frequumlentes a
de que o positivismo recusa a aplicaccedilatildeo dos princiacutepios juriacutedicos e a de que ele teria sido a Filosofia do Direito cultivada na Alema-
nha nazista
Quanto ao primeiro ponto natildeo haacute nenhuma incompatibilidade loacutegica entre positivismo e princiacutepios desde que os princiacutepios este-
jam devidamente incorporados na ordem juriacutedico-positiva Vaacuterios autores positivistas contemporacircneos jaacute citados neste estudo
como Luis Prietro Sanchiacutes Luigi Ferrajoli e Gregorio Peces-Barba atribuiacuteram espaccedilo importante para princiacutepios nas suas teorias
Mesmo no Direito Puacuteblico brasileiro juristas de inspiraccedilatildeo positivista kelseniana construiacuteram suas teorias com apoio em argumen-
taccedilatildeo principioloacutegica como o falecido Geraldo Ataliba e Celso Antonio Bandeira de Mello
No que tange ao segundo ponto - a chamada redutio ad hitlerum - os estudos mais autorizados de Histoacuteria do Direito comprovam
que natildeo foi o positivismo a teoria juriacutedica dominante no nazismo mas uma espeacutecie de jusnaturalismo de inspiraccedilatildeo hegeliana que
se insurgia contra o formalismo e recorria com frequumlecircncia a conceitos muito vagos para justificar a barbaacuterie como os de comuni-
dade popular (Volksgemeinschaft) Veja-se a propoacutesito Michael Stolleis The Law under the Swastika Studies on Legal History in
Nazi Germany Traduccedilatildeo de Thomas Dunlap Chicago The University of Chicago Press 1998
129Cf Joseacute Joaquim Gomes Canotilho Direito constitucional e Teoria da Constituiccedilatildeo Coimbra Almedina 1998 p 1036
130Sobre a importacircncia das regras veja-se Frederick Schauer Playing by the Rules A Philosophical Exaxamination of Rule-Bases
Decision-Making in Law and Life Oxford Oxford University Press 1998 Humberto Aacutevila Neoconstitucionalismo entre a ciecircncia do
direito e o direito da ciecircncia Op cit Noel Struchiner Posturas institucionais e modelagem institucional a dignidade (contingente)
do formalismo juriacutedico In Daniel Sarmento Filosofia e teoria constitucional contemporacircnea Op cit
131Esta eacute expressatildeo empregada por Ana Paula de Barcellos O direito constitucional em 2006 Revista de Direito do Estado n 5 p
03-23 janmar 2007
132Cf Chaiumlm Perelman P Fories La Motivation des Deacutecisions de Justice Bruxelas Eacutemile Bruylant 1978
133Sobra a influecircncia do jeitinho no Direito brasileiro cf Keith Rosen O jeito na cultura juriacutedica brasileira Rio de Janeiro Reno-
var 1997
134Sobre o patrimonialismo no Brasil veja-se Raimundo Faoro Os donos do poder 8 ed Rio de Janeiro Globo 1989 v 2 p 729-
750
135Raiacutezes do Brasil 26 ed Satildeo Paulo Companhia das Letras 1995
136Cf Joseacute Murilo de Carvalho Brasileiro Cidadatildeo In Pontos e bordados escritos de histoacuteria e poliacutetica Belo Horizonte Ed
UFMG 2005 p 275-288
137Cf Gustavo Zagrebelsky Il Diritto Mite Op cit p 15-19
138Cf Marcelo Neves A constitucionalizaccedilatildeo simboacutelica Satildeo Paulo Acadecircmica 1994
139A obra de Niklas Luhman eacute vasta e complexa e seus textos satildeo de difiacutecil compreensatildeo para os natildeo iniciados Veja-se do proacuteprio
autor Sociologia do direito I e II Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 1983 e 1985 Sistema Jurididico y Dogmaacutetica Juriacutedica Madrid
Centro de Estuacutedios Constitucionales 1983 Confira-se tambeacutem a coletacircnea organizada por Andreacute-Jean Arnaud Dalmir Lopes Jr Do
sistema social agrave sociologia juriacutedica Rio de Janeiro Lumen Juris 2004
140Sobre a autopoieses do Direito veja-se tambeacutem a obra importante de Guumlnther Teubner O direito como sistema autopoieacutetico
Traduccedilatildeo de Joseacute Engracia Nunes Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1993
141Cf Luis Roberto Barroso Neoconstitucionalismo e a constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit
142Esta era basicamente a visatildeo de Hans Kelsen (Cf Hans Kelsen Jurisdiccedilatildeo constitucional Traduccedilatildeo de Alexandre Krug et al Satildeo
Paulo Martins Fontes 2003 p 153) Para uma anaacutelise criacutetica desta posiccedilatildeo veja-se Luis Prietro Sanchiacutes Presupuestos ideoloacutegicos
y doctrinales de la jurisdicioacuten constitucional In Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales Op cit p 21-100
38
143Cf Christian Starck La suprematie La Suprematie de la Constitution et la Justice Constitutionnelle In La Constitution Cadre et
Mesure du Droit Traduccedilatildeo de Freacutederic Weill Paris Econocircmica 1994 p 26-30 Ernst- Wolfgang Boumlckenfoumlrde Les meacutethodes
dinterpretation de la Constitution Un bilan critique In Le Droit lEacutetat et la Constitution Democratique Traduccedilatildeo de Olivier
Jouanjan Paris LGDJ 2000 p 249-250 Virgiacutelio Afonso da Silva Constitucionalizaccedilatildeo do direito os direitos fundamentais nas
relaccedilotildees entre particulares Satildeo Paulo Malheiros 2005 p 107-131 Daniel Sarmento Ubiquumlidade constitucional os dois lados da
moeda Op cit Luis Roberto Barroso Curso de Direito Constitucional Contemporacircneo Op cit p 391-394 Alceu Mauriacutecio Jr
Judicializaccedilatildeo da poliacutetica e a crise do direito constitucional a Constituiccedilatildeo entre ordem marco e ordem fundamenta Revista de
Direito do Estado n 10 p 125-142 abrjun 2008
144Der Staat der Industriegesellshaft 2 ed Muumlnchen Beck 1971 p 144 Apud Robert Alexy Posfaacutecio In Teoria dos direitos
fundamentais Op cit p 578
145De acordo com Carlos Santiago Nino o perfeccionaismo eacute la concepcioacuten seguacuten la cual es una misioacuten legiacutetima del Estado hacer
que los individuos acepten y materializen ideales vaacutelidos de virtud personal Seguacuten este enfoque el Estado no puede permanecer
neutral respecto de concepciones de lo bueno en la vida y debe adoptar las medidas educativas punitorias etc que sean necesa-
rias para que los indiviacuteduos ajusten su vida a los verdaderos ideales de virtud y del bien (Eacutetica y Derechos Humanos Un ensayo de
fundamentacioacuten 2 ed Buenos Aires Astrea 1989 p 413)
146Daniel Sarmento Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas 2 ed Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 Sobre o tema na literatura
nacional veja-se tambeacutem Wilson Antocircnio Steinmetz A vinculaccedilatildeo dos particulares aos direitos fundamentais Satildeo Paulo Malheiros
2004 Virgiacutelio Afonso da Silva Constitucionalizaccedilatildeo do direito os direitos fundamentais nas relaccedilotildees entre particulares Op cit
Ingo Wolfgang Sarlet Direitos fundamentais e direito privado algumas consideraccedilotildees em torno da vinculaccedilatildeo dos particulares aos
direitos fundamentais In Ingo Wolfgang Sarlet (Org) A Constituiccedilatildeo concretizada Porto Alegre Livraria do Advogado 1999 p
129-173 Jane Reis Gonccedilalves Pereira Apontamentos sobre a aplicaccedilatildeo das normas de direito fundamental nas relaccedilotildees juriacutedicas
entre particulares In Luis Roberto Barroso (Org) A nova interpretaccedilatildeo constitucional ponderaccedilatildeo direitos fundamentais e
relaccedilotildees privadas Rio de Janeiro Renovar 2003 p 119-192
147Sobre a questatildeo da (i)legitimidade do perfeccionismo no Direito veja-se Joel Feinberg Rights Justice and the Bounds of Liber-
ty Princeton Princeton University Press 1980 Carlos Santiago Nino Eacutetica y Derechos Humanos Op cit p 413-446 Rainer Forst
Contexts of Justice Political Philosophy beyond Liberalism and Communitarianism Traduccedilatildeo de John M M Farrel Berkeley Uni-
versity of Califoacuternia Press 2001 p 30-87 Macaacuterio Alemany El Paternalismo Juriacutedico Madrid Iustel 2006
148Um sofisticado modelo que busca conciliar a constitucionalizaccedilatildeo do Direito com a democracia estaacute exposto no Poacutesfaacutecio agrave Teo-
ria dos Direitos Fundamentais de Robert Alexy acima citado Veja-se ainda Konrad Hesse Concepto y Cualidad de la Constitu-
cion In Escritos de Derecho Constitucional Traduccedilatildeo de Pedro Cruz Villaloacuten 2 ed 1992 p 03-29
149Tentei articular a minha teoria sobre eficaacutecia horizontal dos direitos fundamentais com este objetivo Cf Daniel Sarmento
Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas Op cit p 141-182 259-272
150Sobre el Neoconstitucionalismo y sus Implicaciones Op cit p 117
151Aqui entendo que o simples reconhecimento da penetraccedilatildeo da Moral no Direito preconizada pelos neoconstitucionalistas brasi-
leiros natildeo eacute suficiente jaacute que certas concepccedilotildees morais podem tornar o ordenamento ainda mais opressivo do que jaacute eacute Afinal
nem sempre a moralizaccedilatildeo do Direito se daacute na direccedilatildeo da emancipaccedilatildeo dos excluiacutedos Veja-se por exemplo a famosa polecircmica
jusfilosoacutefica entre Lord Patrick Devlin e Herbert Hart nos anos 60 na Inglaterra a propoacutesito do uso do Direito Penal para promoccedilatildeo
de Moral em que o primeiro a partir de uma posiccedilatildeo proacute-moral sustentava a legitimidade da criminalizaccedilatildeo da conduta homos-
sexual que o segundo contestava (Cf Lord Patrick Devlin Morals and Criminal Law In Ronald Dworkin (Ed) The Philosophy of
Law Op cit p 66-82 Herbert Hart Immorality and Treason In Idem ibidem)
Eacute preciso assentar as bases criacuteticas desta Moral que deve penetrar o Direito para evitar que o moralismo conservador seja expulso
do ordenamento pela porta da frente superado pela legislaccedilatildeo moderna em razatildeo da progressiva liberalizaccedilatildeo da sociedade mas
volte pela porta dos fundos atraveacutes da argumentaccedilatildeo juriacutedica dos juiacutezes lastreada em conceitos vagos como ordem puacuteblica e
bons constumes ou em standards como o comportamento do bom pai de famiacutelia
39
16
Nas proacuteximas linhas abordarei de maneira breve trecircs criacuteticas que podem ser levantadas con-
tra o neoconstitucionalismo (a) a de que o seu pendor judicialista eacute anti-democraacutetico (b) a de
que a sua preferecircncia por princiacutepios e ponderaccedilatildeo em detrimento de regras e subsunccedilatildeo eacute
perigosa sobretudo no Brasil em razatildeo de singularidades da nossa cultura e (c) a de que ele
pode gerar uma panconstitucionalizaccedilatildeo do Direito em detrimento da autonomia puacuteblica do
cidadatildeo e da autonomia privada do indiviacuteduo Outras criacuteticas importantes existem103 mas por
limites de tempo e espaccedilo preferi priorizar aqui estas trecircs que satildeo as que geram maior apre-
ensatildeo no cenaacuterio brasileiro
a) Neoconstitucionalismo e judiciocracia
Como salientado acima o neoconstitucionalismo tem um foco muito centrado no Poder Judici-
aacuterio no qual deposita enormes expectativas no sentido de concretizaccedilatildeo dos ideais emancipa-
toacuterios presentes nas constituiccedilotildees contemporacircneas Contudo este vieacutes judicialista sofre con-
testaccedilotildees pelo seu suposto caraacuteter antidemocraacutetico na medida em que os juiacutezes diferente-
mente dos parlamentares e chefes do Executivo natildeo satildeo eleitos e natildeo respondem diretamente
perante o povo104
Esta criacutetica democraacutetica se assenta na ideacuteia de que numa democracia eacute essencial que as deci-
sotildees poliacuteticas mais importantes sejam tomadas pelo proacuteprio povo ou por seus representantes
eleitos e natildeo por saacutebios ou tecnocratas de toga Eacute verdade que a maior parte dos teoacutericos con-
temporacircneos da democracia reconhece que ela natildeo se esgota no respeito ao princiacutepio majoritaacute-
rio pressupondo antes o acatamento das regras do jogo democraacutetico que incluem a garantia
de direitos baacutesicos visando a viabilizar a participaccedilatildeo igualitaacuteria do cidadatildeo na esfera puacuteblica
bem como alguma proteccedilatildeo agraves minorias105 Poreacutem temos aqui uma questatildeo de dosagem pois
se a imposiccedilatildeo de alguns limites para a decisatildeo das maiorias pode ser justificada em nome da
democracia o exagero tende a revelar-se antidemocraacutetico por cercear em demasia a possibi-
lidade do povo de se autogovernar106
E a questatildeo natildeo eacute apenas de divisatildeo de poder ao longo do tempo A dificuldade democraacutetica
natildeo estaacute tatildeo-somente no fato de as constituiccedilotildees subtraiacuterem do legislador futuro a possibilida-
de de tomar algumas decisotildees107 O cerne do debate estaacute no reconhecimento de que diante da
vagueza e abertura de boa parte das normas constitucionais mais importantes quem as inter-
preta tambeacutem participa do seu processo de criaccedilatildeo108 Daiacute a criacutetica de que o vieacutes judicialista
subjacente ao neoconstitucionalismo acaba por conferir aos juiacutezes uma espeacutecie de poder cons-
tituinte permanente pois lhes permite moldar a Constituiccedilatildeo de acordo com as suas preferecircn-
cias poliacuteticas e valorativas em detrimento daquelas do legislador eleito Esta visatildeo levou inuacute-
17
meras correntes de pensamento ao longo da histoacuteria a rejeitarem a jurisdiccedilatildeo constitucional
ou pelo menos o ativismo judicial no seu exerciacutecio dos revolucionaacuterios franceses do seacuteculo XVI-
II109 passando por Carl Schmitt110 na Repuacuteblica de Weimar ateacute os adeptos do constituciona-
lismo popular nos Estados Unidos de hoje111
No Brasil eacute muito comum traccedilar-se um paralelo entre a defesa do ativismo judicial e posiccedilotildees
sociais progressistas Talvez isso se deva ao fato de que na nossa histoacuteria o Judiciaacuterio brasilei-
ro tem pecado muito mais por omissatildeo acumpliciando-se diante dos desmandos dos poderes
poliacutetico e econocircmico do que por excesso de ativismo Neste quadro quem ousa questionar
possiacuteveis exageros na judicializaccedilatildeo da poliacutetica e da vida social no Brasil de hoje eacute logo tachado
de conservador Poreacutem o paralelismo em questatildeo natildeo existe Muitas vezes o Poder Judiciaacuterio
pode atuar bloqueando mudanccedilas importantes promovidas pelos outros poderes em favor dos
excluiacutedos defendendo o statu quo E esta defesa pode ocorrer inclusive atraveacutes do uso da retoacute-
rica dos direitos fundamentais
Isso se deu por exemplo nos Estados Unidos nas primeiras deacutecadas do seacuteculo passado em pe-
riacuteodo que ficou conhecido como Era de Lochner112 quando a Suprema Corte impediu sistemati-
camente a ediccedilatildeo de legislaccedilatildeo trabalhista e de outras medidas que implicavam em interferecircn-
cia na esfera econocircmica em proveito das classes desfavorecidas com base numa leitura subs-
tantiva da claacuteusula do devido processo legal No cenaacuterio contemporacircneo Ran Hirshl113 sustenta
que o processo de judicializaccedilatildeo da poliacutetica que vem ocorrendo nos uacuteltimos anos em diversos
paiacuteses do mundo - ele fez um atento ainda que controvertido estudo dos casos do Canadaacute
Israel Aacutefrica do Sul e Nova Zelacircndia - teria como pano de fundo uma tentativa das elites eco-
nocircmicas e culturais que perderam espaccedilo na poliacutetica majoritaacuteria de manterem o seu poder
reforccedilando no arranjo institucional do Estado o peso do Judiciaacuterio no qual elas ainda tecircm he-
gemonia E aqui no Brasil seraacute que a proteccedilatildeo absoluta que vem sendo conferida ao direito
adquirido - inclusive o de furar teto salarial do funcionalismo fixado por emenda agrave Constituiccedilatildeo
114 - e o ultra-garantismo penal nos crimes do colarinho branco natildeo seriam exemplos deste
mesmo fenocircmeno
Por outro lado uma ecircnfase excessiva no espaccedilo judicial pode levar ao esquecimento de outras
arenas importantes para a concretizaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo e realizaccedilatildeo de direitos gerando um
resfriamento da mobilizaccedilatildeo ciacutevica do cidadatildeo Eacute verdade que o ativismo judicial pode em
certos contextos atuar em sinergia com a mobilizaccedilatildeo social na esfera puacuteblica Isto ocorreu
por exemplo no movimento dos direitos civis nos Estados Unidos dos anos 50 e 60 que foi a-
quecido pelas respostas positivas obtidos na Suprema Corte no periacuteodo da Corte de Warren115
Mas nem sempre eacute assim A ecircnfase judicialista pode afastar do cenaacuterio de disputa por direitos
18
as pessoas e movimentos que natildeo pertenccedilam nem tenham proximidade com as corporaccedilotildees
juriacutedicas
Ademais esta obsessatildeo com a interpretaccedilatildeo judicial da Constituiccedilatildeo tende a obscurecer o pa-
pel central de outras instacircncias na definiccedilatildeo do sentido da Constituiccedilatildeo - como o Legislativo o
Executivo e a proacutepria esfera puacuteblica informal Trata-se de um desvio que gera consequumlecircncias
negativas tanto no plano descritivo como na esfera normativa Sob o prisma descritivo trans-
mite-se uma imagem muito parcial do fenocircmeno constitucional que natildeo eacute captado com todas
as suas nuances e riquezas jaacute que o foco se concentra apenas sobre a accedilatildeo de um dentre os
vaacuterios agentes importantes que povoam a seara da hermenecircutica constitucional116 Sob o acircngu-
lo normativo favorece-se um governo agrave moda platocircnica de saacutebios de toga117 que satildeo convida-
dos a assumir uma posiccedilatildeo paternalista diante de uma sociedade infantilizada118 Justifica-se o
ativismo judicial a partir de uma visatildeo muito criacutetica do processo poliacutetico majoritaacuterio mas que
ignora as inuacutemeras mazelas que tambeacutem afligem o Poder Judiciaacuterio construindo-se teorias a
partir de visotildees romacircnticas e idealizadas do juiz119 Soacute que se eacute verdade que o processo poliacuteti-
co majoritaacuterio tem seus viacutecios - e eles satildeo muito graves no cenaacuterio brasileiro - tambeacutem eacute certo
que os juiacutezes natildeo satildeo semi-deuses e que a esfera em que atuam tampouco eacute imune agrave poliacutetica
com p menor
Esta idealizaccedilatildeo da figura do juiz natildeo se compadece com algumas notoacuterias deficiecircncias que o
Judiciaacuterio brasileiro enfrenta Dentre elas pode-se destacar a sobrecarga de trabalho que
compromete a capacidade dos magistrados de dedicarem a cada processo o tempo e a energia
necessaacuterias para que faccedilam tudo que o que demandam as principais teorias da argumentaccedilatildeo
defendidas pelo neoconstitucionalismo E cabe referir tambeacutem agraves lacunas na formaccedilatildeo do ma-
gistrado brasileiro decorrentes sobretudo das falhas de um ensino juriacutedico formalista e nada
interdisciplinar que ainda viceja no paiacutes que natildeo satildeo corrigidas nos procedimentos de seleccedilatildeo
e treinamento dos juiacutezes
Outra consequumlecircncia da obsessatildeo judicialista do constitucionalismo brasileiro contemporacircneo
estaacute refletida na nossa produccedilatildeo acadecircmica Enquanto somos inundados por livros e artigos
muitas vezes repetitivos sobre assuntos como princiacutepios e regras interpretaccedilatildeo constitucional
e tutela judicial de direitos fundamentais outros temas absolutamente essenciais para a vida
do paiacutes passam ao largo da preocupaccedilatildeo dos juristas Eacute o caso da reforma poliacutetica Em que pese
o caraacuteter essencialmente constitucional do assunto quase nenhum constitucionalista se inte-
ressou por ele 120e praticamente toda a literatura de qualidade produzida sobre o toacutepico tem
vindo da Ciecircncia Poliacutetica
19
Estou convencido de que o Poder Judiciaacuterio tem um papel essencial na concretizaccedilatildeo da Consti-
tuiccedilatildeo brasileira Em face do quadro de sistemaacutetica violaccedilatildeo de direitos de certos segmentos da
populaccedilatildeo do arranjo institucional desenhado pela Carta de 88 e da seacuteria crise de representa-
tividade do Poder Legislativo entendo que o ativismo judicial se justifica no Brasil pelo menos
em certas searas como a tutela de direitos fundamentais a proteccedilatildeo das minorias e a garantia
do funcionamento da proacutepria democracia O maior insulamento judicial diante da pressatildeo das
maiorias bem como um certo ethos profissional de valorizaccedilatildeo dos direitos humanos que co-
meccedila a se instalar na nossa magistratura 121 conferem ao Judiciaacuterio uma capacidade institu-
cional privilegiada para atuar nestas aacutereas122
Mas em outros campos pode ser mais recomendaacutevel uma postura de autocontenccedilatildeo judicial
seja por respeito agraves deliberaccedilotildees majoritaacuterias adotadas no espaccedilo poliacutetico123 seja pelo reco-
nhecimento da falta de expertise do Judiciaacuterio para tomar decisotildees que promovam eficiente-
mente os valores constitucionais em jogo em aacutereas que demandem profundos conhecimentos
teacutecnicos fora do Direito - como Economia poliacuteticas puacuteblicas e regulaccedilatildeo124 Nestes casos deve-
se reconhecer que outros oacutergatildeos do Estado estatildeo mais habilitados para assumirem uma posiccedilatildeo
de protagonismo na implementaccedilatildeo da vontade constitucional
Nesta linha vejo com reticecircncias a sedimentaccedilatildeo na nossa cultura juriacutedica da visatildeo de que o
grande - senatildeo o uacutenico - inteacuterprete da Constituiccedilatildeo seria o Poder Judiciaacuterio125 Esta leitura des-
carta a autocontenccedilatildeo judicial bem como tende a desprezar a possibilidade de que sejam tra-
vados construtivos diaacutelogos interinstitucionais entre diversos oacutergatildeos estatais para a definiccedilatildeo da
melhor interpretaccedilatildeo dos ditames constitucionais126 Um bom exemplo127 deste desvio ocorreu
no julgamento da constitucionalidade das pesquisas em ceacutelulas-tronco embrionaacuterias realizada
pelo STF em que pese o resultado final do julgamento ter sido substancialmente correto Na-
quela ocasiatildeo o importante argumento deduzido na tribuna e em memoriais por Luis Roberto
Barroso - que advogava para um dos amici curiae favoraacuteveis agraves pesquisas - de que o Judiciaacuterio
deveria adotar posiccedilatildeo cautelosa no julgamento da constitucionalidade da lei impugnada ten-
do em vista o amplo consenso em torno dela obtido durante o processo legislativo tanto no
Senado como na Cacircmara foi explicitamente rechaccedilado por alguns ministros que consideraram
o ponto irrelevante E outros ministros em votos vencidos se sentiram confortaacuteveis ateacute para
defender a imposiccedilatildeo de novas normas pelo STF na aacuterea do Biodireito arvorando-se agrave condiccedilatildeo
de legisladores num campo para o qual evidentemente lhes faltava qualquer expertise
Enfim o neoconstitucionalismo brasileiro tem pecado por excesso depositando no Judiciaacuterio
expectativas que ele nem sempre teraacute como atender de forma satisfatoacuteria Um dos efeitos co-
laterais deste fenocircmeno eacute a disseminaccedilatildeo de um discurso muito perigoso de que voto e poliacuteti-
20
ca natildeo satildeo tatildeo importantes pois relevante mesmo eacute a interpretaccedilatildeo dos princiacutepios constitucio-
nais realizada pelo STF Daiacute a dizer que o povo natildeo sabe votar eacute um pulo e a ditadura de toga
pode natildeo ser muito melhor do que a ditadura de farda
b) Neoconstitucionalismo oba-oba constitucional e Estado Democraacutetico de Direito
Seria uma profunda injusticcedila com a teoria neoconstitucionalista acusaacute-la de promover o decisi-
onismo ou de defender a tomada de decisotildees judiciais puramente emotivas sem lastro em ar-
gumentaccedilatildeo racional soacutelida Pelo contraacuterio como foi destacado acima um dos eixos centrais
do pensamento neoconstitucional eacute a reabilitaccedilatildeo da racionalidade praacutetica no acircmbito juriacutedico
com a articulaccedilatildeo de complexas teorias da argumentaccedilatildeo que demandam muito dos inteacuterpre-
tes e sobretudo dos juiacutezes em mateacuteria de fundamentaccedilatildeo das suas decisotildees Poreacutem a praacutetica
judiciaacuteria brasileira recepcionou apenas parcialmente as teorias juriacutedicas de corte poacutes-
positivista e aqui a valorizaccedilatildeo dos princiacutepios e da ponderaccedilatildeo natildeo tem sido muitas vezes
acompanhada do necessaacuterio cuidado com a justificaccedilatildeo das decisotildees
Se ateacute natildeo muito tempo atraacutes os princiacutepios natildeo eram tratados como autecircnticas normas por
aqui - soacute tinha bom direito quem podia invocar uma regra legal clara e precisa em favor da sua
pretensatildeo - com a chegada do poacutes-positivismo e do neoconstitucionalismo passou-se em pou-
cos anos da aacutegua para o vinho Hoje instalou-se um ambiente intelectual no Brasil que aplaude
e valoriza as decisotildees principioloacutegicas e natildeo aprecia tanto aquelas calcadas em regras legais
que satildeo vistas como burocraacuteticas ou positivistas - e positivismo hoje no paiacutes eacute quase um pala-
vratildeo128 Neste contexto os operadores do Direito satildeo estimulados a invocar sempre princiacutepios
muito vagos nas suas decisotildees mesmo quando isso seja absolutamente desnecessaacuterio pela e-
xistecircncia de regra clara e vaacutelida a reger a hipoacutetese Os campeotildees tecircm sido os princiacutepios da dig-
nidade da pessoa humana e da razoabilidade O primeiro eacute empregado para dar imponecircncia ao
decisionismo judicial vestindo com linguagem pomposa qualquer decisatildeo tida como politica-
mente correta e o segundo para permitir que os juiacutezes substituam livremente as valoraccedilotildees de
outros agentes puacuteblicos pelas suas proacuteprias
Este cenaacuterio eacute problemaacutetico porque um sistema juriacutedico funcional estaacutevel e harmocircnico com os
valores do Estado Democraacutetico de Direito precisa tanto da aplicaccedilatildeo de regras como de princiacute-
pios129 As regras satildeo indispensaacuteveis dentre outras razotildees130 porque geram maior previsibili-
dade e seguranccedila juriacutedica para os seus destinataacuterios diminuem os riscos de erro na sua inci-
decircncia jaacute que natildeo dependem tanto das valoraccedilotildees do inteacuterprete em cada caso concreto en-
volvem um menor custo no seu processo de aplicaccedilatildeo pois podem incidir de forma mais mecacirc-
nica sem demandarem tanto esforccedilo do inteacuterprete e natildeo implicam na mesma medida que os
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princiacutepios em uma transferecircncia de poder decisoacuterio do Legislativo que eacute eleito para o Judici-
aacuterio que natildeo eacute
Natildeo pretendo sustentar com isso que se deva retroceder ao tempo em que os princiacutepios natildeo
eram aplicados pelos juiacutezes brasileiros Tambeacutem os princiacutepios satildeo essenciais na ordem juriacutedica
pois conferem mais plasticidade ao Direito - o que eacute essencial numa sociedade hiper-complexa
como a nossa - e permitem uma maior abertura da argumentaccedilatildeo juriacutedica agrave Moral e ao mundo
empiacuterico subjacente O importante eacute encontrar uma justa medida que natildeo torne o processo de
aplicaccedilatildeo do Direito amarrado demais como ocorreria num sistema baseado exclusivamente
em regras nem solto demais como sucederia com um que se fundasse apenas em princiacutepios
Penso que eacute chegada a hora de um retorno do pecircndulo no Direito brasileiro131 que sem des-
cartar a importacircncia dos princiacutepios e da ponderaccedilatildeo volte a levar a seacuterio tambeacutem as regras e a
subsunccedilatildeo
Ademais naquelas hipoacuteteses em que a aplicaccedilatildeo de princiacutepios for realmente apropriada ela
deve dar-se de forma mais racional e fundamentada Deve-se adotar a premissa de que quanto
mais vaga for a norma a ser aplicada e mais intenso o componente volitivo envolvido no pro-
cesso decisoacuterio maior deve ser o ocircnus argumentativo do inteacuterprete no sentido de mostrar que
a soluccedilatildeo por ele adotada eacute a que melhor realiza os valores do ordenamento naquele caso con-
creto132 A tendecircncia atual de invocaccedilatildeo frouxa e natildeo fundamentada de princiacutepios colide com a
loacutegica do Estado Democraacutetico de Direito pois amplia as chances de arbiacutetrio judicial gera inse-
guranccedila juriacutedica e atropela a divisatildeo funcional de poderes que tem no ideaacuterio democraacutetico um
dos seus fundamentos - a noccedilatildeo baacutesica de que as decisotildees sobre o que os cidadatildeos e o Estado
podem e natildeo podem fazer devem ser tomadas preferencialmente por quem represente o povo
e seja por ele escolhido
E haacute na sociedade brasileira traccedilos que tornam ainda mais perigosa esta tendecircncia agrave frouxidatildeo
e emotividade na metodologia juriacutedica Nossa cultura caracteriza-se muito mais pelo jeiti-
nho133 e pelo patrimonialismo134 do que pela valorizaccedilatildeo do cumprimento impessoal de regras
O brasileiro - jaacute dizia Seacutergio Buarque de Holanda135 - eacute o homem cordial que tende a antepor
a loacutegica privada do compadrio e da simpatia agrave racionalidade objetiva das leis Esta singularida-
de das nossas relaccedilotildees sociais natildeo atua de forma neutra em relaccedilatildeo a todos os cidadatildeos Ela
implica na adoccedilatildeo de posturas estatais em geral muito benevolentes em relaccedilatildeo aos donos do
poder e seus apaniguumlados e de posiccedilotildees muito mais duras dirigidas aos grupos excluiacutedos e mar-
ginalizados136 Uns poucos acabam pairando acima das leis que natildeo os alcanccedilam para limitar a
sua conduta ou sancionar os seus desvios enquanto outros permanecem abaixo dela sendo
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atingidos apenas pelo braccedilo punitivo do Estado pois a violaccedilatildeo rotineira dos seus direitos eacute
naturalizada tornando-se invisiacutevel
Neste quadro cabe indagar sob a perspectiva de uma sociologia da interpretaccedilatildeo constitucio-
nal ateacute que ponto a introduccedilatildeo entre noacutes de uma dogmaacutetica fluida - a expressatildeo eacute de Gusta-
vo Zagrebelsky137 um dos iacutecones do neoconstitucionalismo - natildeo pode ter como efeito colateral
o agravamento de patologias que marcam as nossas relaccedilotildees sociais Seraacute que o nosso Direito
precisa de mais rigidez ou de maior maleabilidade Ao fim e ao cabo quem tende a se benefi-
ciar com a adoccedilatildeo de uma hermenecircutica juriacutedica mais flexiacutevel
Uma reflexatildeo importante sobre tema correlato foi empreendida por Marcelo Neves138 a partir
das categorias da teoria sistecircmica de Niklas Luhman Para Luhman139 em apertada siacutentese o
Direito nas hipercomplexas sociedades modernas seria autopoieacutetico140 pois consistiria num
subsistema social estruturalmente fechado em relaccedilatildeo ao meio envolvente que operaria de
acordo com um coacutedigo binaacuterio proacuteprio - o liacutecito iliacutecito As influecircncias do meio envolvente so-
bre o Direito seriam filtradas atraveacutes deste coacutedigo assegurando a autonomia da esfera juriacutedica
diante dos outros subsistemas sociais como a Economia a Poliacutetica a Religiatildeo etc Contudo
Marcelo Neves sustenta que em sociedades perifeacutericas como o Brasil natildeo se desenvolveu ple-
namente este fechamento estrutural do Direito Por aqui fatores como a nossa constituciona-
lizaccedilatildeo simboacutelica geraram uma insuficiente diferenciaccedilatildeo do Direito em relaccedilatildeo a outros sub-
sistemas sociais permitindo que elementos a princiacutepio estranhos ao coacutedigo binaacuterio do juriacutedico -
como a questatildeo do poder poliacutetico e do poder econocircmico - se infiltrem sistematicamente nos
processos de aplicaccedilatildeo das normas condicionando o seu resultado A teoria dos sistemas de
Luhman natildeo funcionaria bem entre noacutes pois teriacuteamos um Direito em boa parte alopoieacuteti-
coPara tal perspectiva esta maior abertura do Direito ao meio envolvente natildeo assume o po-
tencial emancipatoacuterio preconizado pela teoria neoconstitucionalista Ela funciona muito mais
como um mecanismo de cristalizaccedilatildeo de diferenccedilas sociais mantendo a hiper-inclusatildeo de uns
ao preccedilo da exclusatildeo de outros
Esta reflexatildeo de Marcelo Neves natildeo se dirigiu ao debate metodoloacutegico contemporacircneo envol-
vendo princiacutepios e regras ponderaccedilatildeo e subsunccedilatildeo etc Poreacutem entendo que ela pode ter algu-
ma pertinecircncia tambeacutem aqui pelo menos para nos advertir sobre o perigo de que o neoconsti-
tucionalismo com a fluidez metodoloacutegica e abertura do Direito a outros domiacutenios que preconi-
za possa acabar tornando-se um belo roacutetulo para justificar mais do mesmo patrimonialismo
desigualdade jeitinho Nesta perspectiva a novidade do neoconstitucionalismo poderia pare-
cer com aquela advogada pelo Priacutencipe de Salinas em famosa passagem do romance O Leopar-
do de Giuseppe Lampedusa quando defendia no contexto da crise da aristocracia italiana do
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final do seacuteculo XIX a necessidade de mudanccedilas urgentes no governo para que ao final as
coisas pudessem permanecer exatamente do jeito que sempre foram
Natildeo penso que esta seja uma consequumlecircncia necessaacuteria da adoccedilatildeo de uma perspectiva juriacutedica
mais principialista no Brasil O maior cuidado metodoloacutegico adicionado agrave adoccedilatildeo de uma dire-
triz hermenecircutica substantiva que afirme a missatildeo essencial do Direito de assegurar justiccedila e
seguranccedila agraves pessoas tratando-as como livres e iguais pode minimizar as possibilidades de um
uso enviesado da teoria neoconstitucional que acabe favorecendo aos mesmos de sempre
Mas diante das nossas tradiccedilotildees natildeo haacute como negar que os riscos satildeo elevados
c) Neoconstitucionalismo e panconstitucionalizaccedilatildeo
Uma das caracteriacutesticas do neoconstitucionalismo eacute a defesa da constitucionalizaccedilatildeo do Direi-
to Sustenta-se que a irradiaccedilatildeo das normas constitucionais por todo o ordenamento contribui
para aproximaacute-lo dos valores emancipatoacuterios contidos nas constituiccedilotildees contemporacircneas 141A
Constituiccedilatildeo natildeo eacute vista mais como uma simples norma normarum - cuja finalidade principal eacute
disciplinar o processo de produccedilatildeo de outras normas142 Ela passa a ser enxergada como a en-
carnaccedilatildeo dos valores superiores da comunidade poliacutetica que devem fecundar todo o sistema
juriacutedico Neste modelo cabe ao inteacuterprete natildeo soacute aplicar diretamente os ditames constitucio-
nais agraves relaccedilotildees sociais como tambeacutem reler todas as normas e institutos dos mais variados ra-
mos do Direito agrave luz da Constituiccedilatildeo emprestando-lhes o sentido que mais promova os objeti-
vos e a axiologia da Carta
A constitucionalizaccedilatildeo do Direito de que cogita o neoconstitucionalismo natildeo eacute aquela que resul-
ta do caraacuteter excessivamente analiacutetico da Constituiccedilatildeo e leva ao entricheiramento de meras
opccedilotildees conjunturais do constituinte originaacuterio ou derivado despidas de maior importacircncia ou
dignidade Este eacute um fenocircmeno caracteriacutestico da Carta de 88 que se excedeu no casuiacutesmo e
nos detalhes elevando ao seu texto meros interesses corporativos ou decisotildees de momento
sem focirclego para perdurarem no tempo A constitucionalizaccedilatildeo louvada e defendida pelo neo-
constitucionalismo eacute aquela que parte de uma interpretaccedilatildeo extensiva e irradiante dos direitos
fundamentais e dos princiacutepios mais importantes da ordem constitucional Aqui contudo pode-
se discutir ateacute que ponto o fenocircmeno eacute legiacutetimo Poucos discordaratildeo pelo menos no Brasil de
que alguma constitucionalizaccedilatildeo do Direito eacute positiva e bem-vinda por semear o ordenamento
com os valores humanitaacuterios da Constituiccedilatildeo Poreacutem pode-se objetar contra as teses extrema-
das sobre este processo que acabam amputando em demasia o espaccedilo de liberdade do legisla-
dor em detrimento da democracia 143
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Com efeito quem defende que tudo ou quase tudo jaacute estaacute decidido pela Constituiccedilatildeo e que o
legislador eacute um mero executor das medidas jaacute impostas pelo constituinte nega por conse-
quumlecircncia a autonomia poliacutetica ao povo para em cada momento da sua histoacuteria realizar as suas
proacuteprias escolhas O excesso de constitucionalizaccedilatildeo do Direito reveste-se portanto de um
vieacutes antidemocraacutetico Esta ordem de preocupaccedilotildees levou Ersnt Forsthof na Alemanha a criti-
car as teorias que viam a Constituiccedilatildeo como uma espeacutecie de genoma juriacutedico () do qual tudo
deriva do Coacutedigo Penal ateacute a lei sobre a fabricaccedilatildeo de termocircmetros144 E a questatildeo torna-se
ainda mais delicada diante da constataccedilatildeo de que pela abertura semacircntica dos direitos fun-
damentais e dos princiacutepios - principal mateacuteria-prima da constitucionalizaccedilatildeo do Direito - o seu
principal agente acaba sendo o Poder Judiciaacuterio ao dar a uacuteltima palavra sobre a interpretaccedilatildeo
daquelas claacuteusulas Daiacute porque o debate sobre a constitucionalizaccedilatildeo do Direito se imbrica
inexoravelmente com as discussotildees a propoacutesito da judicializaccedilatildeo da poliacutetica e do decisionismo
referidas acima
Ademais a constitucionalizaccedilatildeo do Direito tambeacutem suscita outra linha de preocupaccedilotildees rela-
cionada ao perfeccionismo moral145 na esfera privada No Brasil assim como em muitos outros
paiacuteses jaacute se assentou a ideacuteia de que os direitos fundamentais natildeo se dirigem apenas contra o
Estado vinculando tambeacutem os particulares Entre noacutes tem prevalecido na doutrina a ideacuteia que
eu mesmo defendi em outro estudo146 que a eficaacutecia dos direitos fundamentais nas relaccedilotildees
privadas eacute direta e imediata Em outras palavras entende-se que a proacutepria Constituiccedilatildeo jaacute inci-
de nas relaccedilotildees privadas independentemente de mediaccedilotildees legislativas e que pode gerar o-
brigaccedilotildees positivas ou negativas para os indiviacuteduos e natildeo soacute para os poderes puacuteblicos sempre
no afatilde de proporcionar uma proteccedilatildeo mais completa agrave dignidade humana Ateacute aqui nada a
contestar
Poreacutem o reconhecimento da vinculaccedilatildeo dos particulares agrave Constituiccedilatildeo suscita um risco que
natildeo pode ser ignorado o de imposiccedilatildeo agraves pessoas supostamente em nome de valores constitu-
cionais de comportamentos e estilos de vida que elas proacuteprias rejeitam em detrimento da sua
liberdade existencial Para dar um exemplo bem tosco seria terriacutevel se o Direito em nome do
princiacutepio da solidariedade social pudesse impor agraves pessoas que demonstrassem afetos e senti-
mentos que elas natildeo possuem genuinamente Ou se em nome da isonomia pretendesse inter-
ferir nas escolhas subjetivas e emocionais que os indiviacuteduos fazem nas suas vidas privadas A
constitucionalizaccedilatildeo neste sentido poderia converter-se num pretexto para o exerciacutecio de um
paternalismo anti-liberal em que as pessoas seriam forccediladas a conformarem-se agraves expectativas
sociais forjadas a partir de pautas de accedilatildeo politicamente corretas com apoio na Constitui-
ccedilatildeo147
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Nenhuma destas duas questotildees eacute insuperaacutevel Eacute possiacutevel aceitar e aplaudir a constitucionaliza-
ccedilatildeo do Direito - fenocircmeno em geral positivo por aproximar a racionalidade emancipatoacuteria da
Constituiccedilatildeo do dia-a-dia das pessoas - mas defender que ela seja temperada por outras preo-
cupaccedilotildees igualmente essenciais no Estado Democraacutetico de Direito com a autonomia puacuteblica e
privada dos cidadatildeos Pode-se reconhecer a legitimidade da constitucionalizaccedilatildeo do Direito
mas numa medida em que natildeo sacrifique em excesso agrave liberdade de conformaccedilatildeo que numa
democracia deve caber ao legislador para realizar opccedilotildees poliacuteticas em nome do povo148 Pode-
se da mesma forma afirmar a incidecircncia direta da Constituiccedilatildeo nas relaccedilotildees privadas mas
sem invadir a esfera das opccedilotildees existenciais da pessoa - que de resto eacute protegida pela proacutepria
Constituiccedilatildeo das ingerecircncias perfeccionistas do Estado e da sociedade149
5 Conclusatildeo Ao fim da leitura destas paacuteginas o leitor pode estar se indagando se eu me alinho ou natildeo ao
neoconstitucionalismo A minha resposta eacute depende da compreensatildeo que se tenha sobre o ne-
oconstitucionalismo Se entendermos o neoconstitucionalismo de acordo com a conhecida defi-
niccedilatildeo de Luis Prietro Sanchiacutes como uma teoria do Direito que se orienta pelas maacuteximas demaacutes
princiacutepios que reglas maacutes ponderacioacuten que subsuncioacuten omnipotencia de la Constitucioacuten en
todas las aacutereas juriacutedicas y en todos conflictos miacutenimamente relevantes en lugar de espacios
exentos en favor de la opcioacuten legislativa o reglamentaria omnipotencia judicial en lugar de
autonomia del legislador ordinaacuterio y por ultimo coexistecircncia de una constelacioacuten plural de
valores a veces tendencialmente contradictorios en lugar de homogeneidad ideoloacutegica150
certamente eu natildeo me considero um neoconstitucionalista De todas as afirmaccedilotildees do professor
espanhol a uacutenica de que natildeo discordo eacute aquela relacionada ao pluralismo de valores cujo re-
conhecimento aliaacutes estaacute longe de ser privileacutegio dos neoconstitucionalistas
Contudo eu assumo o roacutetulo sem constrangimentos se o neoconstitucionalismo for pensado
como uma teoria constitucional que sem descartar a importacircncia das regras e da subsunccedilatildeo
abra tambeacutem espaccedilo para os princiacutepios e para a ponderaccedilatildeo tentando racionalizar o seu uso
Se for visto como uma concepccedilatildeo que sem desprezar o papel protagonista das instacircncias de-
mocraacuteticas na definiccedilatildeo do Direito reconheccedila e valorize a irradiaccedilatildeo dos valores constitucio-
nais pelo ordenamento bem como a atuaccedilatildeo firme e construtiva do Judiciaacuterio para proteccedilatildeo e
promoccedilatildeo dos direitos fundamentais e dos pressupostos da democracia E acima de tudo se
for concebido como uma visatildeo que conecte o Direito com exigecircncias de justiccedila e moralidade
criacutetica151 sem enveredar pelas categorias metafiacutesicas do jusnaturalismo
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Certamente uma visatildeo equilibrada da Teoria do Direito com tais caracteriacutesticas pode contribu-
ir para o aperfeiccediloamento do Estado Democraacutetico de Direito no Brasil O mesmo jaacute natildeo digo de
concepccedilotildees mais radicais do neoconstitucionalismo que podem ser muito boas para arrancar
aplausos entusiasmados das plateacuteias nos seminaacuterios estudantis mas que natildeo se conciliam com
exigecircncias fundamentais de seguranccedila juriacutedica democracia e liberdade que satildeo alicerces de
qualquer bom constitucionalismo - novo ou velho
Curriacuteculo Resumido
Daniel Sarmento
Poacutes-Doutor pela Universidade de Yale (EUA) Procurador Regional da Repuacuteblica
Como citar este artigo
SARMENTO Daniel O neoconstitucionalismo no Brasil riscos e possibilidades Disponiacutevel em httpwwweditoraforumcombrsistconteudolista_conteudoaspFIDT_CONTEUDO=56993 acesso em 09032011 httpdireitoesubjetividadefileswordpresscom201008daniel-sarmento-o-neoconstitucionalismo-no-brasil1doc acesso em 30062012 Material da 1ordf aula da Disciplina Teoria Geral da Constituiccedilatildeo (I) ministrada no Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo Online em Direito Constitucional ndash Anhanguera-UNIDERP | REDE LFG
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1Sobre a teoria de princiacutepios no Brasil veja-se dentre outros Ana Paula de Barcellos A eficaacutecia juriacutedica dos princiacutepios constitu-
cionais o princiacutepio da dignidade da pessoa humana Rio de Janeiro Renovar 2002 Humberto Bergman Aacutevila Teoria dos princiacute-
pios da definiccedilatildeo agrave aplicaccedilatildeo dos princiacutepios juriacutedicos 2 ed Satildeo Paulo RT 2005 Jane Reis Gonccedilalves Pereira Interpretaccedilatildeo
constitucional e direitos fundamentais uma contribuiccedilatildeo ao estudo das restriccedilotildees aos direitos fundamentais na perspectiva da
teoria dos princiacutepios Rio de Janeiro Renovar 2006 Virgiacutelio Afonso da Silva O conteuacutedo essencial dos direitos fundamentais e a
eficaacutecia das normas constitucionais Satildeo Paulo Tese (concurso de Professor Titular de Direito Constitucional da USP)
2Veja-se em tons variados Lecircnio Luiz Streck Hermenecircutica juriacutedica e(m) crise uma exploraccedilatildeo hermenecircutica da construccedilatildeo do
direito Porto Alegre Livraria do Advogado 1999 Luiacutes Roberto Barroso (Org) A nova interpretaccedilatildeo constitucional ponderaccedilatildeo
direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas Rio de Janeiro Renovar 2003 Margarida Maria Lacombe Camargo Hermenecircutica e
argumentaccedilatildeo uma contribuiccedilatildeo ao estudo do direito Rio de Janeiro Renovar 2003 Inocecircncio Maacutertires Coelho Interpretaccedilatildeo
constitucional 2 ed Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2003 Ana Paula de Barcellos Ponderaccedilatildeo racionalidade e atividade
jurisdicional Rio de Janeiro Renovar 2005
3Sobre o fenocircmeno da constitucionalizaccedilatildeo do Direito confira-se os inuacutemeros artigos que compotildeem a coletacircnea organizada por
Claacuteudio Pereira de Souza Neto e por mim A constitucionalizaccedilatildeo do direito fundamentos teoacutericos e aplicaccedilotildees especiacuteficas Rio de
Janeiro Lumen Juris 2007
4Cfr na literatura constitucional brasileira Gisele Guimaratildees Cittadino Pluralismo direito e justiccedila distributiva elementos de
filosofia constitucional contemporacircnea Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 Oscar Vilhena Vieira A Constituiccedilatildeo e sua reserva de
justiccedila um ensaio sobre os limites materiais do poder de reforma Satildeo Paulo Malheiros 1999 Ricardo Lobo Torres (Org) A legi-
timaccedilatildeo dos direitos humanos Rio de Janeiro Renovar 2002 Claacuteudio Pereira de Souza Neto Teoria constitucional e democracia
deliberativa Rio de Janeiro Renovar 2006 Lecircnio Luiz Streck Verdade e consenso Constituiccedilatildeo hermenecircutica e teorias discursi-
vas Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 Samantha Chantal Dobrowolski A construccedilatildeo social do sentido da Constituiccedilatildeo na demo-
cracia contemporacircnea entre soberania popular e direitos humanos Rio de Janeiro Lumen Juris 2007 Aacutelvaro Ricardo de Souza
Cruz Hermenecircutica juriacutedica e(m) debate o constitucionalismo brasileiro entre a teoria do discurso e a ontologia existencial Belo
Horizonte Foacuterum 2007
5Sobre a judicializaccedilatildeo da poliacutetica no Brasil veja-se Luiz Werneck Vianna et al A judicializaccedilatildeo da poliacutetica e das relaccedilotildees sociais
no Brasil Rio de Janeiro Revan 1999 Giselle Cittadino Judicializaccedilatildeo da poliacutetica constitucionalismo democraacutetico e separaccedilatildeo de
poderes In Luiz Werneck Vianna (Org) A democracia e os trecircs poderes no Brasil Belo Horizonte UFMG 2002 p 17-42 Rogeacuterio
B Arantes Constitucionalism the expansion of Justice and the Judicialization of Poltics in Brazil In Rachel Sieder Line Schjol-
den Alan Angell The Judicialization of Politics in Latin America New York Palgrave Macmillan 2005 p 232-262 Luis Roberto
Barroso Judicializaccedilatildeo ativismo judicial e legitimidade democraacutetica Texto ineacutedito gentilmente cedido pelo autor
Para uma perspectiva comparativa veja-se Neal C Tate Tobjorn Vallinder (Ed) The Global Expansion of Judicial Power New
York New York University Press 1995 Alec Stone Sweet Governing with Judges Constitutional Politics in Europe Oxford Oxford
Univesity Press 2000 e em tom profundamente criacutetico Ran Hirschl Towards Juristocracy the Origins and Consequences of the
New Constitucionalism Cambridge Harvard University Press 2004
6Miguel Carbonell et al Neoconstitucionalismo(s) Madrid Trotta 2003 Mais recentemente o autor publicou nova coletacircnea
tambeacutem dedicada ao estudo do neoconstitucionalismo intitulada Teoria del Neoconstitucionalismo Ensayos escogidos Madrid
Trotta 2007
7O jurista argentino Carlos Santiago Nino por exemplo faleceu em 1993 quando ainda nem se empregava esta denominaccedilatildeo
8Cf Robert Alexy Teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica a teoria do discurso racional como teoria da fundamentaccedilatildeo juriacutedica Tradu-
ccedilatildeo de Zilda Hutchinson Schild Silva revisatildeo teacutecnica da traduccedilatildeo e introduccedilatildeo agrave ediccedilatildeo brasileira Claudia Toledo 2 ed Satildeo Paulo
Landy 2005 Luis Roberto Barroso Curso de direito constitucional contemporacircneo os conceitos fundamentais e a construccedilatildeo do
novo modelo Rio de Janeiro Saraiva 2008 p 306-350
9Cf Lecircnio Luiz Streck Verdade e consenso Op cit p 197-246
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10Ronald Dworkin e Carlos Santiago Nino satildeo sem sombra de duacutevida autores liberais natildeo no sentido que se atribui ao termo no
Brasil - de adeptos de doutrina econocircmica favoraacutevel ao Estado miacutenimo e ao mercado - mas sim no sentido corrente na Filosofia
Poliacutetica que associa o liberalismo agrave defesa dos direitos individuais e da neutralidade do Estado em relaccedilatildeo agraves diversas concepccedilotildees
sobre a vida boa existentes na sociedade Veja-se neste sentido Ronald Dworkin A Matter of Principle Cambridge Harvard
University Press 1985 p 181-236 Carlos Santiago Nino La constitucioacuten de la Democracia Deliberativa Barcelona Gedisa 1997
p 70-100
11Lecircnio Luiz Streck que se alinha ao neoconstitucionalismo defende posturas tipicamente comunitaristas como o papel da Consti-
tuiccedilatildeo na definiccedilatildeo de modelos de vida boa para orientaccedilatildeo da vida social e da accedilatildeo individual Cf Jurisdiccedilatildeo constitucional e
hermenecircutica uma nova criacutetica do direito 2 ed Rio de Janeiro Forense 2004 p 95-288
12Antonio Cavalcanti Maia um dos mais ardorosos defensores do neoconstitucionalismo no paiacutes eacute tambeacutem procedimentalista e
adepto das teorias juriacutedicas de Juumlrgen Habermas Veja-se neste sentido o seu denso texto Nos vintes anos da carta cidadatilde do
poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm (Coord) Vinte
anos da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 p 117-168 em que esta sua dupla filiaccedilatildeo intelectual eacute
explicitada
13Segundo Miguel Carbonell o neoconstitucionalismo desdobra-se em trecircs planos de anaacutelise que se conjugam o dos textos consti-
tucionais que se tornaram mais substantivos e incorporaram amplos elencos de direitos fundamentais o das praacuteticas judiciais que
passaram a recorrer a princiacutepios constitucionais agrave ponderaccedilatildeo e a meacutetodos mais flexiacuteveis de interpretaccedilatildeo sobretudo na aacuterea de
direitos fundamentais e o dos desenvolvimentos teoacutericos de autores que com as suas ideacuteias ajudaram natildeo soacute a compreender os
novos modelos constitucionais mas tambeacutem participaram da sua proacutepria criaccedilatildeo Cf Miguel Carbonell Neoconstitucionalismo
elementos para una definicioacuten In Eduardo Ribeiro Moreira Mauricio Pugliesi 20 anos da Constituiccedilatildeo brasileira Satildeo Paulo Sarai-
va 2009 p 197-208
14No mesmo sentido Luis Roberto Barroso Neoconstitucionalismo e Constitucionalizaccedilatildeo do direito o triunfo tardio do direito
constitucional do Brasil In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento A constitucionalizaccedilatildeo do direito fundamentos teoacuteri-
cos e aplicaccedilotildees especiacuteficas Rio de Janeiro Lumen Juris 2007 p 203-250
15Cf Carlos Bernal Pulido El Derecho de los Derechos Bogotaacute Universidad Externado de Colocircmbia 2006 Manoel Jose Cepeda
Espinosa Judicialization of Politics in Colombia the old and the new In Rachel Sieder Line Schonjen Alan Angell The Judiciali-
zation of Politics in Latin America Op cit p 67-104 Rodrigo Uprimmy Mauriacutecio Garcia-Villegas Tribunal Constitucional e eman-
cipaccedilatildeo social na Colocircmbia In Boaventura de Souza Santos Democratizar a democracia os caminhos da democracia participativa
Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2002 p 297-339
16Cf Catalina Smulovitz Petitioning and Creating Rights Judicialization in Argentina In Rachel Sieder Line Scjolden Alan Angell
The Judicialization of Politics in Latin America Op cit p 161-185
17Cf Miguel Carbonell Los Derechos Fundamentales en Meacutexico 2 ed Meacutexico Porruacutea 2006 Pilar Domingo The Changing Political
Role of the Judiciary in Meacutexico In Rachel Sieder Line Scjolden Alan Angell The Judicialization of Politics in Latin Ameacuterica Op
cit p 21-46
18Cf Heinz Klug South Aacutefrica From Constitucional Promise to Social Transformation In Jeffrey Goldsworthy Interpreting Consti-
tutions A Comparative Study Oxford Oxford University Press 2006 p 266-320
19Cf S P Sathe Iacutendia From Positivism to Structuralism In Jeffrey Goldsworthy Op cit p 215-265
20Veja-se a propoacutesito Gustavo Zagrebelsky Il Diritto Mite Torino Einaudi 1992 p 57-96
21Cf Eduardo Garciacutea de Enterriacutea La Constitucioacuten como Norma y el Tribunal Constitucional 3 ed Madrid Civitas 1985 p 41
22Na Alemanha a mudanccedila ocorreu sob a vigecircncia da Lei Fundamental adotada em 1949 e foi fortemente impulsionada pela
jurisprudecircncia do Tribunal Constitucional do paiacutes que construiu teorias importantes como a da Constituiccedilatildeo como uma ordem de
valores em cujo centro situa-se o princiacutepio da dignidade humana que se irradia por todo o ordenamento Veja-se a propoacutesito
Dieter Grimm Human Rights and Judicial Review in Germany In David M Beatty (Org) Human Rights and Judicial Review A
Comparative Perspective Dodrecht Martin Urjhoff 1994 p 267-295
23Na Itaacutelia as mudanccedilas se deram sob a eacutegide da atual Constituiccedilatildeo editada em 1947 mas soacute apoacutes o funcionamento da Corte
Constitucional que se deu em 1956 Ateacute entatildeo a Corte de Cassaccedilatildeo composta por juiacutezes recrutados ainda no periacuteodo do fascismo
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era provisoriamente encarregada da guarda da Constituiccedilatildeo o que fazia de forma muito tiacutemida no mais das vezes negando eficaacute-
cia juriacutedica agraves normas constitucionais sob o argumento de que seriam programaacuteticas Veja-se a propoacutesito Ricardo Guastini A
constitucionalizaccedilatildeo do ordenamento juriacutedico e a experiecircncia italiana In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento A
constitucionalizaccedilatildeo do direito fundamentos teoacutericos e aplicaccedilotildees especiacuteficas Op cit p 271-294
24Cf No modelo do constitucionalismo norte-americano entende-se desde os primoacuterdios que a Constituiccedilatildeo eacute autecircntica lei e que
o Judiciaacuterio pode invalidar as decisotildees legislativas que a contrariem apesar do controle de constitucionalidade natildeo estar expres-
samente previsto no texto constitucional daquele paiacutes Esta ideacuteia que jaacute estava assentada no Federalista n 78 escrito por Ale-
xander Hamilton antes da aprovaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo foi posta em praacutetica pela primeira vez contra lei federal no ceacutelebre caso
Marbury v Madison julgado em 1803 pelo juiz Marshall Veja-se a propoacutesito Paul Brest Sanford Levinson Jack Balkin Akhil Reed
Amar Processes of Constitutional Decisionmaking Cases and Materials New York Aspen Publishers 2000 p 79-103
A versatildeo mais convencional do modelo constitucional norte-americano enfatiza a importacircncia central do Judiciaacuterio na atualizaccedilatildeo
do sentido da Constituiccedilatildeo do paiacutes Contudo esta leitura histoacuterica eacute hoje objeto de intensa disputa Em sentido contraacuterio a tal
posiccedilatildeo sustentando uma menor relevacircncia do Judiciaacuterio no desenvolvimento histoacuterico do constitucionalismo americano veja-se
por exemplo Stephen M Griffin American Constitutionalism From Theory to Politics New Jersey Princeton University Press
1996 p 88-139
25Cf Luis Prietro Sanchiacutes Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales Madrid Trotta 2003 p 107-117
26Cf Daniel Sarmento Ubiquumlidade constitucional Os dois lados da moeda In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento
(Coord) A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 113-148
27Na verdade a reaccedilatildeo contra o formalismo juriacutedico na Europa eacute bem anterior ao advento do constitucionalismo do 2ordm poacutes-guerra
remontando ao final do seacuteculo XIX Veja-se a propoacutesito Constantin M Stamatis Argumenter en Droit Une theacuteorie critique de
largumentation juridique Paris Publisud 1995 p 34-50 Antonio Manoel Hespanha Panorama histoacuterico da cultura juriacutedica euro-
peacuteia Lisboa Publicaccedilotildees Europa-Ameacuterica 1997 p 196-235
28Haacute vasta literatura sobre a ponderaccedilatildeo mas a obra mais influente sobre o tema eacute certamente o livro de Robert Alexy Teoria dos
direitos fundamentais Traduccedilatildeo de Virgiacutelio Afonso da Silva Satildeo Paulo Malheiros 2008 No cenaacuterio norte-americano veja-se a
anaacutelise densa e criacutetica de T Alexander Aleinikoff Constitucional Law in the Age of Balancing Yale Law Journal n 96 p 943-
1005 1987 No Brasil cfr Daniel Sarmento A ponderaccedilatildeo de interesses na Constituiccedilatildeo Federal Rio de Janeiro Lumen Juris
2000 Ana Paula de Barcellos Ponderaccedilatildeo racionalidade e atividade jurisdicional Op cit
29A bibliografia sobre o princiacutepio da proporcionalidade eacute vastiacutessima Veja-se a propoacutesito as densas anaacutelises de Carlos Bernal Puli-
do El Principio de Proporcionalidad y los Derechos Fundamentales Madrid Centro de Estuacutedios Constitucionales 2003 e no Brasil
de Jane Reis Gonccedilalves Pereira Interpretaccedilatildeo constitucional e direitos fundamentais Rio de Janeiro Renovar 2006 p 297-382
30Cf Chaiumlm Perelman Eacutetica e direito Traduccedilatildeo de Maria Ermantina Galvatildeo G Perira Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 p 361-684
Robert Alexy Teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica Op cit Friedrich Muller Discours de la Meacutethode Juridique Traduccedilatildeo de Olivier
Jouanjan Paris PUF 1993 Manuel Atienza Traacutes la Justicia Una Introduccioacuten al Derecho y al Razonamiento Juriacutedico Barcelona
Ariel 1995 Neil MacCormick Argumentaccedilatildeo juriacutedica e teoria do direito Traduccedilatildeo de Waldeacutea Barcellos Satildeo Paulo Martins Fontes
2006 Klaus Guumlnther Teoria da argumentaccedilatildeo no direito e na moral justificaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Claacuteudio Molz Satildeo Pau-
lo Landy 2004
31Cf Martin Shapiro Alec Stone Sweet On Law Politics and Judicialization New York Oxford University Press p 136-208
32Contudo deve-se admitir na linha de Paolo Comanducci que eacute possiacutevel reconhecer as mudanccedilas em questatildeo e propor novas
teorias que sejam adequadas a elas sem defendecirc-las Esta seria nas palavras do autor italiano a diferenccedila entre o neoconstitu-
cionalismo teoacuterico e o neoconstitucionalismo ideoloacutegico que natildeo apenas constroacutei teorias mais compatiacuteveis com os novos fenocirc-
menos mas vai aleacutem sustentando a sua legitimidade e propugnando pelo seu aprofundamento e expansatildeo Veja-se a propoacutesito
Paulo Comanducci Formas de neoconstitucionalismo Un anaacutelisis metateoacuterico In Miguel Carbonell (Ed) Neoconstitucionalis-
mo(s) Op cit p 75-98 Como reconhece o proacuteprio autor tal distinccedilatildeo baseia-se em uma semelhante acerca do positivismo
30
formulada por Norberto Bobbio que fala em positivismo teoacuterico ideoloacutegico e metodoloacutegico Cf Norberto Bobbio O positivismo
juriacutedico liccedilotildees de filosofia do direito Traduccedilatildeo e notas de Marcio Pugliesi et al Satildeo Paulo Iacutecone 1995 p 233-239
33Cf Ronald Dworkin Is Law a Sistem of Rules In Ronald Dworkin (Ed) Philosophy of Law Oxford Oxford University Press 1971
Robert Alexy Constitucionalismo discursivo Traduccedilatildeo de Luiz Afonso Heck Porto Alegre Livraria do Advogado 2007
34Cf Robert Alexy Derecho y Razoacuten Praacutectica Meacutexico Distribuiciones Fontamara 1993 Aulis Aarnio Lo Racional como Razonable
Traduccedilatildeo de Ernesto Garzoacuten Valdeacutes Madrid Centro de Estuacutedios Constitucionales 1991
35Cf Aharon Barak The Judge in a Democracy New Jersey Princeton University Press 2006 p 213-260 Gustavo Zagrebelsky Il
Diritto Mite Op cit p 179-217
36Confronte-se com perspectivas diferentes Luigi Ferrajoli O Estado de direito entre passado e futuro In Pietro Costa Danilo
Zolo (Org) Estado de direito histoacuteria teoria criacutetica Traduccedilatildeo de Carlo Alberto Dastoli Satildeo Paulo Martins Fontes 2006 p 419-
464 Elias Dias Estado de Derecho y Sociedad Democraacutetica Madrid Taurus 1998 Ronald Dworkin Introduction The Moral Reading
and the Majoritarian Premise In Freedoms Law The moral reading of the American Constitution Cambridge Harvard University
Press 1996 p 01-38 Gustavo Zagrebelsky La Crucifixioacuten y la Democracia Barcelona Ariel 1996 Claacuteudio Pereira de Souza Neto
Teoria constitucional da democracia deliberativa Op cit
37Cf Ronald Dworkin Introduction The Moral Reading and the Majoritarian Premise Op cit
38Cf Luigi Ferrajoli El Garantismo y la Filosofia del Derecho Bogotaacute Universidad Externado de Colocircmbia 2000
39Cf Luis Pietro Sanchis Sobre el Neoconstitucionalismo y sus Implicaciones In Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales
Op cit p 101-135
40Cf Ricardo Guastini Sur la Validiteacute de la Constitution du Point de Vue du Positivisme Juridique In Michel Troper Lucien Jaume
(Dir) 1789 et LInvention de la Constitution Paris LGDJ 1994 p 216-225
41Cf Suzana Pozzolo Neoconstituzionalismo e Positivismo Giuridico Torino Giapppicheli 2001
42Cf Ronald Dworkin Law and Morals In Justice in Robes Cambridge Harvard University Press 2006 p 01-35
43Cf Robert Alexy Derecho y Moral In La Institucionalizacioacuten de la Justicia Op cit p 17-30
44Cf Carlos Santiago Nino Eacutetica y Derechos Humanos 2 ed Buenos Aires Astrea 1989 p 11-48
45Cf Gustav Radbruch Cinco minutos de filosofia do direito In Filosofia do direito Traduccedilatildeo de L Cabral de Moncada 6 ed
Coimbra Armecircnio Amado 1979 p 414-418 Para uma densa problematizaccedilatildeo da foacutermula de Radbruch veja-se Thomas da Rosa
Bustamante Poacutes-Positivismo o argumento da injusticcedila aleacutem da Foacutermula de Radbruch In Teoria do direito e decisatildeo racional
temas de teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica Rio de Janeiro Renovar 2008
46Cf Robert Alexy La Institucionalizacioacuten de la Justicia Traduccedilatildeo de Joseacute Antonio Seone et al Granada Comares 2005 p 31-
54
47Sobre o tema cfr Alfonso Garcia Figueroa Princiacutepios e direitos fundamentais In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmen-
to A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 03-34
48O texto mais importante do positivismo inclusivo eacute o poacutes-escrito de Herbert LA Hart agrave sua obra magna The Concept of Law em
que ele responde agraves criacuteticas ao seu pensamento que Ronald Dworkin lhe endereccedilara O autor inglecircs faleceu antes de terminar o
texto mas ele foi publicado postumemente depois de ser editado por Joseph Raz Peneacutelope Bulloch Veja-se Herbert LA Hart
Poacutes-escrito In O conceito de direito Traduccedilatildeo de A Ribeiro Mendes 2 ed 1994 p 299-339 Tambeacutem na linha do positivismo
inclusivo veja-se Gregorio Peces- Barba Derechos Sociales y Positivismo Juriacutedico Escritos de Filosofia Poliacutetica y Juriacutedica Madrid
Dykinson 1999 p 83-90 Jules Coleman The Practice of Principle In defense of a pragmatist approach do legal theory Oxford
Oxford University Press p 103-120 Para uma resenha dos tipos de positivismo no debate contemporacircneo confira-se Dimitri Di-
moulis Positivismo juriacutedico introduccedilatildeo a uma teoria do direito e defesa do pragmatismo juriacutedico-politico Satildeo Paulo Meacutetodo
2006 p 65-166
49Cf Antonio Cavalcanti Maia Nos vinte anos da Constituiccedilatildeo do poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo Op cit Claacuteudio Perei-
ra de Souza Neto A teoria constitucional e seus lugares especiacuteficos notas sobre o aporte reconstrutivo Revista de Direito do
Estado n 1 p 89-104 jan mar 2006 Daniel Sarmento Interpretaccedilatildeo constitucional preacute-compreensatildeo e capacidades institu-
cionais do inteacuterprete In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binebojm Vinte anos da Constituiccedilatildeo de 1988
Op cit p 311-322
31
50Cf Juumlrgen Habermas Escritos sobre Moralidad y Eticidad Traduccedilatildeo de Manuel Jimenez Redondo Barcelona Paidoacutes 1991 p
131-172
51Sobre o comunitarismo haacute extensa literatura Dois textos claacutessicos deste linha de pensamento satildeo Michael Walzer The Communi-
tarian Critique of Liberalism In Politics and Passion New Haven Yale University Press 2004 p 141-163 Charles Taylor The
Procedural Republic and the Unencumbered Self In Robert Goodin Philip Pettit (Ed) Contemporary Political Philosophy 2 ed
Oxford Oxford University Press 2002 p 2462-256 Sobre a penetraccedilatildeo ainda que muitas vezes natildeo consciente das posiccedilotildees do
comunitarismo no constitucionalismo brasileiro veja-se Gisele Cittadino Pluralismo direito e justiccedila distributiva Op cit p
43-74
52Sobre o construtivismo eacutetico corrente filosoacutefica que sustenta a existecircncia de posiccedilotildees certas e erradas na Moral bem como a
possibilidade de encontraacute-las e fundamentaacute-las racionalmente veja-se Carlos Santiago Nino El Constructivismo Eacutetico Madrid
Centro de Estudios Constitucionales 1989
53O fenocircmeno tambeacutem se reproduz na teoria constitucional norte-americana hegemocircnica cf Keith Wittington Constitutional Con-
struction Divided Powers and Constitutional Meaning Cambridge Harvard University Press 1999 p 01-03
54A imagem do Poder Judiciaacuterio como um guardiatildeo de promessas eacute explorada e criticada numa obra importante da teoria juriacutedica
francesa contemporacircnea Antoine Garapon Le Gardien de Promesses Le juge et la democratie Paris Odile Jacob 1996
55Neste sentido o eloquumlente encerramento do Curso de Direito Constitucional Contemporacircneo de Luis Roberto Barroso o consti-
tucionalismo democraacutetico eacute a utopia que nos restou Uma feacute racional que ajuda a acreditar no bem e na justiccedila ainda quando natildeo
estejam ao alcance dos olhos (Op cit p 400)
56Cf Nico Poulantzas State Power Socialism London new Left Books 1978 Alan Hunt Marxist Theory of Law In Dennis Patter-
son (Ed) A Companion to Philosophy of Law and Legal Theory Malden Blackwell Publishers 1996 p 355-367
57Cf David Kairys (Ed) The Politics of Law A Progressive Critique New York Pantheon Books 1982 Roberto Mangabeira Unger
The Critical Legal Studies Movement Cambridge Harvard University Press 1986
58Cf Plauto Faraco Azevedo Criacutetica agrave dogmaacutetica e hermenecircutica juriacutedica Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1989 Luiz Fernando
Coelho Teoria criacutetica do direito 2 ed Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1991
59Natildeo haacute como abordar aqui as relaccedilotildees entre as inuacutemeras correntes do poacutes-modernismo e o Direito Constitucional Veja-se a
propoacutesito Niklas Luhman La Constituzione como Acquisizione Evolutiva In Gustavo Zagrebelsky Piacuteer Paolo Portinaro Joumlrg Lu-
ther Il Futuro della Costituzione Torino Einaudi 1996 p 83-128 Joseacute Joaquim Gomes Canotilho Civilizaccedilatildeo do direito constitu-
cional ou constitucionalizaccedilatildeo do direito civil a eficaacutecia dos direitos fundamentais na ordem juriacutedico-civil no contexto do direito
poacutes-moderno Cadernos de Direito Constitucional e Ciecircncia Poliacutetica n 15 p 07-16 1996 Eduardo Capellari A crise da moderni-
dade e a Constituiccedilatildeo Rio de janeiro Ameacuterica Juriacutedica 2004 Daniel Sarmento Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas 2 ed
Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 p 36-45
60Para Jean-Franccedilois Lyotard uma das caracteriacutesticas centrais do pensamento poacutes-moderno de que eacute expoente eacute a desconfianccedila
em relaccedilatildeo agraves metanarrativas - construccedilotildees abstratas grandiosas e totalizadoras tiacutepicas da Filosofia Moderna como direitos
humanos luta de classes e emancipaccedilatildeo pelo uso da razatildeo Cf Lyotard A condiccedilatildeo poacutes-moderna Traduccedilatildeo de Ricardo Correcirca
Barbosa 5 ed 1998 p16
61Cf Luiz Werneck Viana O terceiro poder na carta de 1988 e a tradiccedilatildeo republicana mudanccedila e conservaccedilatildeo In Ruben George
Oliven Marcelo Gildo Marccedilal Branda A Constituiccedilatildeo de 1988 na vida brasileira Satildeo Paulo Aderaldo e Rotshild 2008 p 91-109
62Cf Paulo Ricardo Schier Filtragem constitucional Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1999
63A expressatildeo foi cunhada por Claacuteudio Pereira de Souza Neto Fundamento e normatividade dos direitos fundamentais uma recons-
truccedilatildeo teoacuterica agrave luz do princiacutepio democraacutetico Arquivos de Direitos Humanos n 4 p 17-61 2003
64Cf Luis Roberto Barroso O direito constitucional e a efetividade de suas normas 3 ed Rio de Janeiro Renovar 1996
65Cf Clegravemerson Merlin Clegraveve A teoria constitucional e o direito alternativo para uma dogmaacutetica constitucional emancipatoacuteria In
Uma vida dedicada ao direito homenagem a Carlos Henrique de Carvalho Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1995 p 34-53
66Ressalte-se poreacutem que antes de 88 alguns juristas jaacute defendiam a forccedila normativa da Constituiccedilatildeo como o Prof Joseacute Afonso da
Silva Eacute de 1968 a primeira ediccedilatildeo da sua obra claacutessica A aplicabilidade das normas constitucionais que adotava claramente esta
32
perspectiva Todavia pelo clima nada propiacutecio ao constitucionalismo que reinava por aqui ateacute a nossa redemocratizaccedilatildeo a louvaacute-
vel pregaccedilatildeo dele e de outros juristas em prol da efetivaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo natildeo chegou a render maiores frutos
67Deve-se assinalar ainda a influecircncia marcante do novo constitucionalismo ibeacuterico neste movimento que tambeacutem pugnava pela
atribuiccedilatildeo de forccedila normativa agraves ambiciosas constituiccedilotildees de Portugal e Espanha entatildeo recentemente elaboradas apoacutes o fim de
experiecircncias autoritaacuterias naqueles paiacuteses A tiacutetulo de exemplo mencione-se a penetraccedilatildeo no paiacutes do pensamento do Professor de
Coimbra Joseacute Joaquim Gomes Canotilho especialmente da sua teoria sobre a Constituiccedilatildeo dirigente que ele posteriormente reviu
(cf J J Gomes Canotilho Constituiccedilatildeo dirigente e vinculaccedilatildeo ao legislador contributo para a compreensatildeo das normas constitu-
cionais programaacuteticas 2 ed Coimbra Coimbra 2001 - especialmente o prefaacutecio desta segunda ediccedilatildeo que daacute conta da mudanccedila
de posicionamento) bem como a difusatildeo das liccedilotildees do Professor Eduardo Garciacutea de Enterriacutea (cf La Constitucioacuten como Norma y el
Tribunal Constitucional Madrid Civitas 1981)
68Segundo a avaliaccedilatildeo atual de Luis Roberto Barroso personagem central do movimento o positivismo constitucional que deu
impulso ao movimento natildeo importava em reduzir o direito agrave norma mas sim em elevaacute-la a esta condiccedilatildeo pois ateacute entatildeo ele
havia sido menos do que norma (Curso de direito constitucional contemporacircneo Op cit p 224)
69Paulo Bonavides Curso de direito constitucional 5 ed Satildeo Paulo Malheiros 1994
70Eros Roberto Grau A ordem econocircmica na Constituiccedilatildeo de 88 interpretaccedilatildeo e criacutetica Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1996
71No acircmbito da Poacutes-Graduccedilatildeo em Direito da UERJ em que estou inserido desde 1997 primeiro como aluno e a partir de 2003 como
professor o Ricardo Lobo Torres teve papel central na difusatildeo do pensamento destes e de outros filoacutesofos entre os estudantes e o
proacuteprio corpo docente
72Cf Lecircnio Luiz Streck Hermenecircutica juriacutedica e(m) crise Op cit Eros Roberto Grau Ensaio e discurso sobre a interpreta-
ccedilatildeoaplicaccedilatildeo do direito Satildeo Paulo Malheiros 2002
73Nesta linha veja-se as obras que compotildeem a coletacircnea Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Direitos sociais funda-
mentos judicializaccedilatildeo e direitos sociais em espeacutecie Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 Ricardo Lobo Torres O miacutenimo existencial
e os direitos fundamentais Revista de Direito Administrativo n 177 p 20-49 1989 Ingo Wolfgang Sarlet A eficaacutecia dos direitos
fundamentais 9 ed Porto Alegre Livraria do Advogado 2008 Ana Paula de Barcellos A eficaacutecia juriacutedica dos princiacutepios o princiacute-
pio da dignidade da pessoa humana Op cit Marco Mazzeli Gouveia O controle judicial das omissotildees administrativas Rio de
Janeiro Forense 2003 Andreacuteas Krell Direitos sociais e controle judicial no Brasil e Alemanha os (des)caminhos de um direito
constitucional comparado Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2002
74Cf Gustavo Tepedino Temas de direito civil Rio de Janeiro Renovar 1999 Luiz Edson Fachin Estatuto juriacutedico do patrimocircnio
miacutenimo Rio de Janeiro Renovar 2001 Maria Celina Bodin de Moraes Danos agrave pessoa humana uma leitura civil-constitucional dos
danos morais Rio de Janeiro Renovar 2003 Teresa Negreiros Fundamentos para uma interpretaccedilatildeo constitucional do princiacutepio
da boa-feacute Rio de Janeiro Renovar 1998 Anderson Schreiber A proibiccedilatildeo do comportamento contraditoacuterio Rio de Janeiro Reno-
var 2005
75Cf Luciano Feldens A Constituiccedilatildeo penal a dupla face da proporcionalidade no controle das lei penais Porto Alegre Livraria do
Advogado 2005 Luis Carlos dos Santos Gonccedilalves Mandados expressos de criminalizaccedilatildeo e a proteccedilatildeo de direitos fundamentais na
Constituiccedilatildeo Brasileira de 1988 Belo Horizonte Foacuterum 2007
76Cf Gustavo Binenbojm Uma teoria do direito administrativo direitos fundamentais democracia e constitucionalizaccedilatildeo Rio de
Janeiro Renovar 2006 Alexandre dos Santos Aragatildeo Floriano de Azevedo Marques (Coord) Direito administrativo e seus novos
paradigmas Belo Horizonte Foacuterum 2008
77Cf Gustavo Binenbojm A nova jurisdiccedilatildeo constitucional brasileira legitimidade democraacutetica e instumentos de realizaccedilatildeo Rio de
Janeiro Renovar 2001 Claacuteudio Pereira de Souza Neto Jurisdiccedilatildeo constitucional democracia e racionalidade praacutetica Rio de
Janeiro Renovar 2002 Joseacute Adeacutercio Leite Sampaio A Constituiccedilatildeo reinventada pela jurisdiccedilatildeo constitucional Belo Horizonte Del
Rey 2002 Lecircnio Luiz Streck Jurisdiccedilatildeo constitucional e hermenecircutica Porto Alegre Livraria do Advogado 2002 Aacutelvaro Ricardo
de Souza Cruz Jurisdiccedilatildeo constitucional democraacutetica Belo Horizonte Del Rey 2004
78A expressatildeo dificuldade contramajoritaacuteria eacute de um claacutessico da teoria constitucional norte-americana Alexander Bickel La Cons-
titucioacuten como Norma y el Tribunal Constitucional 2 ed New Haven Yale University Press 1986
33
79Em siacutentese apertada o procedimentalismo sustenta que natildeo eacute papel da jurisdiccedilatildeo constitucional tutelar valores substantivos mas
apenas proteger os pressupostos necessaacuterios ao bom funcionamento da democracia Jaacute o substancialismo reconhece a legitimidade
da atuaccedilatildeo jurisdicional em favor da garantia e promoccedilatildeo de valores substantivos presentes na Constituiccedilatildeo O debate entre o
procedimentalismo identificado com as ideacuteias de autores como John Hart Ely e Juumlrgen Habermas e o substancialismo defendido
por teoacutericos como Ronald Dworkin e Laurence Tribe eacute reproduzido em praticamente toda a literatura contemporacircnea que trata de
Teoria ou Filosofia Constitucional Veja-se a propoacutesito a densa obra de Claacuteudio Ari Mello Democracia constitucional e direitos
fundamentais Porto Alegre Livraria do Advogado 2004
80Neoconstitucionalismo e constitucionalizaccedilatildeo do direito o triunfo tardio do direito constitucional no Brasil Op cit
81A crise paradigmaacutetica do direito no contexto da resistecircncia positivista ao (neo)constitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza
Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm Vinte anos da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Op cit p 203-228
82Nos vinte anos da carta cidadatilde do poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo Op cit
83Neoconstitucionalismo direitos fundamentais e controle de poliacuteticas puacuteblicas In Daniel Sarmento Flaacutevio Galdino (Org) Direitos
fundamentais estudos em homenagem ao prof Ricardo Lobo Torres Rio de Janeiro Renovar 2006 p 31-60
84Direitos humanos legitimidade e constitucionalismo In Daniel Sarmento Flaacutevio Galdino (Org) Direitos fundamentais estudos
em homenagem ao Prof Ricardo Lobo Torres Op cit p325-350
85Novos desafios agrave filtragem constitucional no momento do neoconstitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sar-
mento A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 251-270
86Neoconstitucionalismo a invasatildeo da Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Meacutetodo 2008
87Neoconstitucionalismo e positivismo juriacutedico Satildeo Paulo Landy 2006
88Teoria do direito e argumentaccedilatildeo racional temas de teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica op cit p 141-240
89Uma visatildeo criacutetica do neoconstitucionalismo In George Salomatildeo Leite Glauco Salomatildeo Leite Constituiccedilatildeo e efetividade constitu-
cional Salvador JusPodium 2008 p 43-60
90Neoconstitucionalismo entre a Ciecircncia do direito e o direito da ciecircncia In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento
Gustavo Binenbojm Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 p 187-202
91Cf Peticcedilatildeo 1246 MSSC julgada em 31011997 (obrigaccedilatildeo do Estado de realizar transplante de ceacutelulas mioblaacutesticas para salvar
a vida de crianccedila) Agravo de Instrumento no Recurso Extraordinaacuterio 271286RS DJU 24 nov 2000 (entrega de medicamentos
para portadores de HIV) e Agravo de Instrumento do Recurso Extraordinaacuterio nordm 410715-5 julgado em 22112005 (obrigaccedilatildeo de
fornecimento de vagas para educaccedilatildeo infantil pelo municiacutepio com atendimento em creches e preacute-escola)
92Recursos Extraordinaacuterios nordms 158215-4RS 161243-6DF 201819RJ
93Cf Mandado de Injunccedilatildeo 670ES Rel Min Gilmar Mendes julgado em 25102007 em que o STF revendo orientaccedilatildeo anterior
deu eficaacutecia normativa agrave sentenccedila proferida no mandado de injunccedilatildeo No caso decidiuse que ateacute o advento de lei regulamentado-
ra sobre a greve no serviccedilo puacuteblico o direito de greve poderia ser exercido obedecendo-se os limites impostos pela Lei 778389
que trata dos movimentos paredistas em serviccedilos essenciais no setor privado
94Sobre a tendecircncia agrave superaccedilatildeo da ideacuteia do Judiciaacuterio como legislador negativo na jurisdiccedilatildeo constitucional veja-se Joseacute Adeacutercio
Leite Sampaio A Constituiccedilatildeo reinventada pela jurisdiccedilatildeo constitucional Belo Horizonte Del Rey 2002 p 203-248
95Eacute lugar-comum dentre os autores que tratam da questatildeo associar tais mudanccedilas agrave pluralizaccedilatildeo das vozes na interpretaccedilatildeo consti-
tucional tema em que a referecircncia essencial no cenaacuterio germacircnico eacute Peter Haumlberle Veja-se a propoacutesito Peter Haumlberle Herme-
necircutica constitucional A sociedade aberta dos inteacuterpretes da Constituiccedilatildeo contribuiccedilatildeo para a interpretaccedilatildeo pluralista e procedi-
mental da Constituiccedilatildeo Traduccedilatildeo de Gilmar Ferreira Mendes Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1997 Veja-se ainda na doutrina
brasileira Gustavo Binenbojm A dimensatildeo do Amicus Curiae no processo constitucional brasileiro In Temas de direito constitu-
cional e administrativo Rio de Janeiro Renovar 2008 p 165-190
96ADIN 3510DF Relator Ministro Carlos Ayres Britto A accedilatildeo proposta contra o art 5ordm da Lei de Biosseguranccedila impugnava a auto-
rizaccedilatildeo de pesquisas com embriotildees humanos resultantes de fertilizaccedilatildeo in vitro que fossem inviaacuteveis ou estivessem congelados haacute
mais de trecircs anos A accedilatildeo foi julgada totalmente improcedente por 6 votos a 5
97ADPF nordm 54 A accedilatildeo que tem como relator o Ministro Marco Aureacutelio ainda natildeo foi julgada mas em seu bojo jaacute ocorreram diversas
audiecircncias puacuteblicas que provocaram intensa participaccedilatildeo da sociedade civil e grande interesse na miacutedia
34
98ADPF nordm 132 Relator Ministro Carlos Ayres Britto A accedilatildeo ainda foi julgada
99Mandados de Seguranccedila 26602DF 26603DF e 26604DF Informativo STF n 482
100Recurso Extraordinaacuterio 197917SP Rel p acoacuterdatildeo Min Ceacutesar Peluso DJU 18 fev 2005
101O livro de Alberto Carlos Almeida A cabeccedila do brasileiro lanccedilado em 2007 conteacutem pesquisas feitas sobre uma acuteseacuterie de temas
com pessoas de todas as classes sociais e regiotildees do paiacutes Uma das pesquisas eacute relativa agrave avaliaccedilatildeo das instituiccedilotildees Dentre as treze
avaliadas as duas que obtiveram menor aprovaccedilatildeo foram os partidos poliacuteticos (avaliaccedilatildeo positiva de 28 dos entrevistados) e o
Congresso (avaliaccedilatildeo positiva de 36 dos entrevistados) Cf Antonio Carlos Almeida A cabeccedila do brasileiro Rio de Janeiro Re-
cord 2007 p 187
102Cf Luis Roberto Barroso Judicializaccedilatildeo ativismo judicial e legitimidade democraacutetica Texto ainda ineacutedito gentilmente cedido
pelo autor
103Humberto Aacutevila por exemplo formula outra criacutetica importante de que o neoconstitucionalismo seria inadequado agrave realidade
constitucional brasileira jaacute que privilegia os princiacutepios e a Carta de 88 seria muito mais regulatoacuteria do que principioloacutegica (Neo-
constitucionalismo entre a ciecircncia do direito e o direito da ciecircncia Op cit p 188-192)
104Contudo natildeo eacute razoaacutevel estender esta criacutetica ao ponto de negar o caraacuteter democraacutetico da atuaccedilatildeo judicial Como ressaltou
Eugenio Rauacutel Zaffaroni uma instituiccedilatildeo natildeo eacute democraacutetica unicamente porque natildeo provenha de eleiccedilatildeo popular porque nem tudo
o que proveacutem desta origem eacute necessariamente aristocraacutetico Uma instituiccedilatildeo eacute democraacutetica quando seja funcional para o sistema
democraacutetico quer dizer quando seja necessaacuteria para a sua continuidade como ocorre com o judiciaacuterio (Poder judiciaacuterio crise
acertos e desacertos Traduccedilatildeo de Juarez Tavares Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1995 p 43)
105Cf Robert A Dahl Sobre a democracia Traduccedilatildeo de Beatriz Sidou Brasiacutelia UNB 2001 p 97-113 Juumlrgen Habermas Popular
Sovereignity as Procedure In James Bonham William Rehg Deliberative Democracy Cambridge The MIT Press 1997 p 35-66
106A questatildeo da tensatildeo e sinergia simultacircneas entre constitucionalismo e democracia eacute um dos debates mais fecundos da Teoria
Poliacutetica e da Filosofia Constitucional que tem atravessado o tempo desde o advento do constitucionalismo moderno no seacuteculo
XVIII Veja-se no debate contemporacircneo Jeremy Waldron Preocommitment and Disagreement In Larry Alexander Constitu-
cionalism Philosophical Foundations Cambridge Cambridge University Press 1998 p 271-299 Juumlrgen Habermas O Estado demo-
craacutetico de direito uma amarraccedilatildeo paradoxal de princiacutepios contraditoacuterios In Era das transiccedilotildees Traduccedilatildeo de Flaacutevio Beno Siebe-
neichler Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 2003 p 153-173 Carlos Santiago Nino La Constitucioacuten de la Democracia Deliberativa
Op cit Frank Michelman Brennan and Democracy Princeton Princeton University Press 1999 p 03-62 Stephen Holmes El
Precompromiso y la Paradoja de la Democracia In Jon Elster Rune Slagstad Constitucionalismo y Democracia Traduccedilatildeo de Mocircni-
ca Utrilla de Neira Mexico Fondo de Cultura Econocircmica 1999 p 217-262
107O problema da limitaccedilatildeo do legislador atual pelas decisotildees do constituinte adotadas no passado envolve a problemaacutetica da
partilha intergeracional de poder bem explicitada na fala de Jefferson que defendia que a cada 19 anos deveria ser elaborada
uma nova Constituiccedilatildeo nos Estados Unidos para que a Lei Maior daquele paiacutes natildeo se tornasse um mecanismo de governo dos mor-
tos sobre os vivos Em siacutentese apertada haacute na teoria poliacutetica contemporacircnea duas linhas principais de justificativa para a legiti-
midade destas restriccedilotildees
Uma eacute a teoria da democracia dualista defendida por Bruce Ackerman que sustenta que as decisotildees adotadas pelo proacuteprio povo
em contextos de grande mobilizaccedilatildeo ciacutevica devem ser protegidas do alcance da vontade dos representantes do povo formada em
momentos em que a cidadania natildeo esteja intensamente envolvida Esta teoria distingue a poliacutetica extraordinaacuteria correspondente
agravequeles momentos constitucionais da poliacutetica ordinaacuteria que se realiza atraveacutes das deliberaccedilotildees do dia a dia dos oacutergatildeos represen-
tativos Para a perspectiva ackermaniana a poliacutetica extraordinaacuteria - que natildeo exige necessariamente formalizaccedilatildeo procedimental
atraveacutes de assembleacuteia constituinte ou de emenda constitucional - se situa em patamar superior agrave poliacutetica ordinaacuteria e pode legiti-
mamente impor limites a esta (cf Bruce Ackerman We the people Foundations Cambridge The Belknap Press 1991 p 03-33)
Outra teoria eacute a do preacute-compromisso que jaacute foi advogada por Jon Elster Segundo ela eacute legiacutetimo subtrair do alcance das maiorias
determinadas questotildees fundamentais que expressam princiacutepios fundamentais de justiccedila poliacutetica ou garantam os pressupostos da
proacutepria democracia tendo em vista o risco de que no processo poliacutetico majoritaacuterio em momentos de irracionalidade o povo
35
possa ser viacutetima de suas proacuteprias fraquezas ou paixotildees momentacircneas atentando contra tais princiacutepios (cf Ulisses and Sirens
Cambridge Cambridge University Press 1979)
Ambas as concepccedilotildees - a primeira mais proacutexima ao republicanismo e a segunda de vieacutes mais liberal - tecircm a sua dose de procedecircn-
cia mas ensejam criacuteticas importantes Todavia foge a escopo do presente trabalho analisar esta questatildeo que eacute uma das mais
complexas da Filosofia Poliacutetica moderna e contemporacircnea Para uma visatildeo geral sobre o tema na literatura em liacutengua portuguesa
veja-se Oscar Vilhena Vieira A Constituiccedilatildeo e sua reserva de justiccedila Op cit Miguel Nogueira de Brito A Constituiccedilatildeo constituin-
te ensaio sobre o poder de revisatildeo da Constituiccedilatildeo Coimbra Coimbra 2000 Samantha Chantal Dobrowolski Op cit p 265-312
Rodrigo Brandatildeo Direitos fundamentais democracia e claacuteusulas peacutetreas Rio de Janeiro Renovar 2008 p 59-112
108Cf Michel Troper Justice Constitutionelle et Deacutemocratie In Pour une Theorie Juridique de LEacutetat Paris PUF 1994 p 317-328
Claacuteudio Pereira de Souza Neto Jurisdiccedilatildeo constitucional democracia e racionalidade praacutetica Op cit p 106-130 Gustavo Binen-
bojm A nova jurisdiccedilatildeo constitucional brasileira Op cit p 55-74
109Sobre o modelo revolucionaacuterio francecircs de constitucionalismo completamente avesso agrave ideacuteia de jurisdiccedilatildeo constitucional cf
Maurizio Fioravanti Constitucioacuten de la antiguumledad a nuestros dias Traduccedilatildeo de Manuel Martinez Neira Madrid Trotta 2001 p
120-132
110Cf Carl Schmitt La Defesa de la Constitucioacuten Madrid Tecnos 1983
111O constitucionalismo popular ou populismo constitucional eacute uma importante corrente no debate constitucional norte-americano
contemporacircneo que nega a legitimidade democraacutetica do controle de constitucionalidade advogando que deve caber ao proacuteprio
povo e natildeo a uma elite de juiacutezes natildeo eleitos com assento na Suprema Corte o poder de definir o sentido das claacuteusulas vagas que
abundam no texto constitucional daquele paiacutes Na defesa desta tese satildeo empregados tanto argumentos de teoria e filosofia poliacuteti-
ca de caraacuteter mais universal como razotildees histoacutericas relacionadas agrave evoluccedilatildeo do constitucionalismo estadunidense Veja-se nesta
linha Mark Tushnet Taking the Constitution Away from the Courts Princeton Princeton University Press 1999 Jeremy Waldron
Precommitment and Disagreement Op cit Larry D Kramer The People Themselves Popular constitutionalism and judicial re-
view New York Oxford University Press 1994
Ateacute algumas deacutecadas atraacutes a oposiccedilatildeo agrave jurisdiccedilatildeo constitucional nos Estados Unidos partia em regra da Direita que natildeo se con-
formava com a jurisprudecircncia extremamente liberal em mateacuteria de direitos fundamentais estabelecida pela Corte entre os anos
50 e 70 Atualmente uma boa parte dos opositores agrave judicial review situa-se agrave esquerda do espectro poliacutetico e talvez a nova linha
profundamente conservadora daquele Tribunal ajude a explicar esta mudanccedila
112Sobre a Era de Lochner veja-se Laurence H Tribe American Constitutional Law 2 ed Mineola The Foundation Press 1988 p
567-581 Paul Brest et al Processes of Constitucional Decisionmaking 4 ed New York Aspen Publishers 2000 p 337-354
113Towards Juristocracy hellip Op cit
114Tratei do tema no artigo Direito adquirido emenda constitucional democracia e justiccedila social In Livres e iguais Op cit p
03-32
115Cf Charles R Epp The Rights Revolution Chicago The University of Chicago Press 1998 p 26-70 Owen Fiss The Law as It
Could Be New York New York University Press 2003 p 244-249
116A importacircncia e as peculiaridades da interpretaccedilatildeo legislativa da Constituiccedilatildeo satildeo exploradas em importante obra coletiva
Richard W Bauman Tsvi Kahana The Least Examined Branch The Role of Legislatures in the Constitutional State Cambridge
Cambridge University Press 2006
117Cf em tom ainda mais ceacutetico do que o adotado neste estudo Martonio MontAlverne Barreto Lima Jurisdiccedilatildeo Constitucional
um problema da teoria da democracia poliacutetica In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Gilberto Bercovici Joseacute Filomeno de Moraes
Filho Martonio MontAlverne Teoria da Constituiccedilatildeo estudos sobre o lugar da poliacutetica no direito constitucional Rio de Janeiro
Lumen Juris 2003 p 199-261 Conrado Huumlbner Mendes Controle de constitucionalidade e democracia Rio de Janeiro Elsevier
2008
36
118Para criacutetica semelhante no contexto germacircnico veja-se Ingeborg Maus O judiciaacuterio como superego da sociedade sobre o papel
da atividade jurisprudencial na sociedade oacuterfatilde Traduccedilatildeo de Martonio MontAlverne Barreto Lima Paulo Antonio Menezes de Albu-
querque Anuaacuterio dos Cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito da Faculdade de Direito de Recife n 11 2000
119Eu aprofundo a anaacutelise deste ponto no meu artigo Interpretaccedilatildeo constitucional preacute-compreensatildeo e capacidades institucionais do
inteacuterprete In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm (Coord) Vinte anos da Constituiccedilatildeo Federal
de 1988 Op cit p 311-322 E a necessidade de optar por teoria de interpretaccedilatildeo que leve em consideraccedilatildeo as capacidades
institucionais reais dos juiacutezes comparando-as com as dos agentes de outras instituiccedilotildees eacute explorada no importante estudo de Cass
Sunstein Adrian Vermeulle Interpretations and Institutions Chicago Working Papers in Law amp Economics 2002 p 01-55 bem
como no livro de Adrian Vermeulle Judging under Uncertainty An Institutional Theory for Legal Interpretation Cambridge Har-
vard University Press 2006
120Dentre as honrosas exceccedilotildees mencione-se Luiacutes Roberto Barroso autor de importante artigo com sugestotildees para a reforma poliacuteti-
ca no paiacutes Reforma poliacutetica uma proposta de sistema de governo eleitoral e partidaacuterio para o Brasil Revista de Direito do Esta-
do n 3 p 287-360 jul set 2006
121Sobre o ethos judicial no Brasil veja-se a pesquisa de Maria Tereza Sadek Magistrados uma imagem em movimento Rio de
Janeiro FGV 2006
122Em sentido semelhante veja-se Michael J Perry The Constitution the Courts and Human Rights New Haven Yale University
Press 1982 p 91-145
123Neste ponto entendo que um standard importante que deveria ser adotado para controle de constitucionalidade eacute o de que
quanto maiores forem as credencias democraacuteticas de um ato normativo mais autocontido deve ser o Poder Judiciaacuterio ao avaliar a
sua constitucionalidade Na minha opiniatildeo estas credencias democraacuteticas devem ser aferidas tanto por criteacuterios qualitativos - eg
grau de participaccedilatildeo social no processo legislativo qualidade do processo deliberativo que a antecedeu - como por criteacuterios quanti-
tativos - percentual de votos favoraacuteveis agrave medida Em sentido semelhante veja-se Claacuteudio Ari Mello Democracia e direitos funda-
mentais Op cit p 298
124Em sentido proacuteximo apontam as liccedilotildees de Gustavo Binenbojm e Humberto Aacutevila O primeiro tratando do controle judicial dos
atos administrativos averbou que quanto maior for o grau de tecnicidade da mateacuteria objeto de decisatildeo por oacutergatildeos dotados de
expertise e experiecircncia menos intenso deve ser o grau de controle judicial (Uma teoria do direito administrativo Op cit p
236) Jaacute o segundo salientou que o acircmbito de controle pelo Judiciaacuterio deveraacute ser tanto menor quanto mais difiacutecil e teacutecnico for
o juiacutezo exigido para o tratamento da mateacuteria (Teoria dos princiacutepios Op cit p 126)
125Um exemplo extremado deste posicionamento estaacute na argumentaccedilatildeo adotada pelo STF no julgamento da ADIN 2797 Rel Min
Sepuacutelveda Pertence em que se reconheceu a inconstitucionalidade formal de lei que pretendia interpretar a Constituiccedilatildeo Para o
STF natildeo pode a lei ordinaacuteria pretender impor como seu objeto imediato uma interpretaccedilatildeo a Constituiccedilatildeo a questatildeo eacute de in-
constitucionalidade formal iacutensita a toda norma da gradaccedilatildeo inferior que se proponha a ditar interpretaccedilatildeo de norma superior
Na questatildeo de fundo abordada naquele caso entendo que o STF estava certo Tratava-se de invalidar uma norma legal que esten-
dera o foro de prerrogativa de funccedilatildeo a ex-ocupantes de cargos puacuteblicos visando a restaurar antiga jurisprudecircncia do STF sedi-
mentada na Suacutemula 394 do Tribunal que acabara de ser cancelada O princiacutepio republicano natildeo era compatiacutevel com tal medida
que configurava niacutetido privileacutegio O que me parece inaceitaacutevel e profundamente anti-democraacutetico com a devida vecircnia natildeo eacute o
resultado alcanccedilado pela Corte - com o qual concordo - mas o argumento empregado de que o legislador natildeo pode interpretar a
Constituiccedilatildeo
126Existe hoje uma fecunda produccedilatildeo acadecircmica no cenaacuterio anglo-saxatildeo sobre as vantagens de modelos teoacutericos que favoreccedilam
diaacutelogos entre diversos oacutergatildeos e instituiccedilotildees na interpretaccedilatildeo constitucional ao inveacutes de afirmarem a exclusividade ou mesmo a
supremacia do Judiciaacuterio nesta seara Veja-se a propoacutesito Laurence G Sager Justice in Plainclothes A Theory of American Con-
stitutional Practice New haven Yale University Press 2004 Mark Tushnet Weak Courts Strong Rights Judicial Review and Social
Welfare Rights in Comparative Constitutional Law Princeton Princeton University Press 2008 Mark C Miller Jeb Barnes (Ed)
Making Police Making Law An Interbranch Perspective Washington DC Georgetown University Press 2004
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127Colhi o exemplo no estudo de Oscar Vilhena Vieira Supremocracia In Daniel Sarmento (Org) Filosofia e teoria constitucional
contemporacircnea Rio de Janeiro Lumen Juris 2009
128Como um natildeo-positivista tenho a necessaacuteria imparcialidade para criticar os equiacutevocos da doutrina brasileira nas suas invectivas
contra o positivismo que muitas vezes caracterizam verdadeira falaacutecia do espantalho ataca-se natildeo a proacutepria teoria positivista
mas uma distorcida caricatura dela Duas afirmaccedilotildees erradas que eu mesmo jaacute fiz em textos anteriores satildeo muito frequumlentes a
de que o positivismo recusa a aplicaccedilatildeo dos princiacutepios juriacutedicos e a de que ele teria sido a Filosofia do Direito cultivada na Alema-
nha nazista
Quanto ao primeiro ponto natildeo haacute nenhuma incompatibilidade loacutegica entre positivismo e princiacutepios desde que os princiacutepios este-
jam devidamente incorporados na ordem juriacutedico-positiva Vaacuterios autores positivistas contemporacircneos jaacute citados neste estudo
como Luis Prietro Sanchiacutes Luigi Ferrajoli e Gregorio Peces-Barba atribuiacuteram espaccedilo importante para princiacutepios nas suas teorias
Mesmo no Direito Puacuteblico brasileiro juristas de inspiraccedilatildeo positivista kelseniana construiacuteram suas teorias com apoio em argumen-
taccedilatildeo principioloacutegica como o falecido Geraldo Ataliba e Celso Antonio Bandeira de Mello
No que tange ao segundo ponto - a chamada redutio ad hitlerum - os estudos mais autorizados de Histoacuteria do Direito comprovam
que natildeo foi o positivismo a teoria juriacutedica dominante no nazismo mas uma espeacutecie de jusnaturalismo de inspiraccedilatildeo hegeliana que
se insurgia contra o formalismo e recorria com frequumlecircncia a conceitos muito vagos para justificar a barbaacuterie como os de comuni-
dade popular (Volksgemeinschaft) Veja-se a propoacutesito Michael Stolleis The Law under the Swastika Studies on Legal History in
Nazi Germany Traduccedilatildeo de Thomas Dunlap Chicago The University of Chicago Press 1998
129Cf Joseacute Joaquim Gomes Canotilho Direito constitucional e Teoria da Constituiccedilatildeo Coimbra Almedina 1998 p 1036
130Sobre a importacircncia das regras veja-se Frederick Schauer Playing by the Rules A Philosophical Exaxamination of Rule-Bases
Decision-Making in Law and Life Oxford Oxford University Press 1998 Humberto Aacutevila Neoconstitucionalismo entre a ciecircncia do
direito e o direito da ciecircncia Op cit Noel Struchiner Posturas institucionais e modelagem institucional a dignidade (contingente)
do formalismo juriacutedico In Daniel Sarmento Filosofia e teoria constitucional contemporacircnea Op cit
131Esta eacute expressatildeo empregada por Ana Paula de Barcellos O direito constitucional em 2006 Revista de Direito do Estado n 5 p
03-23 janmar 2007
132Cf Chaiumlm Perelman P Fories La Motivation des Deacutecisions de Justice Bruxelas Eacutemile Bruylant 1978
133Sobra a influecircncia do jeitinho no Direito brasileiro cf Keith Rosen O jeito na cultura juriacutedica brasileira Rio de Janeiro Reno-
var 1997
134Sobre o patrimonialismo no Brasil veja-se Raimundo Faoro Os donos do poder 8 ed Rio de Janeiro Globo 1989 v 2 p 729-
750
135Raiacutezes do Brasil 26 ed Satildeo Paulo Companhia das Letras 1995
136Cf Joseacute Murilo de Carvalho Brasileiro Cidadatildeo In Pontos e bordados escritos de histoacuteria e poliacutetica Belo Horizonte Ed
UFMG 2005 p 275-288
137Cf Gustavo Zagrebelsky Il Diritto Mite Op cit p 15-19
138Cf Marcelo Neves A constitucionalizaccedilatildeo simboacutelica Satildeo Paulo Acadecircmica 1994
139A obra de Niklas Luhman eacute vasta e complexa e seus textos satildeo de difiacutecil compreensatildeo para os natildeo iniciados Veja-se do proacuteprio
autor Sociologia do direito I e II Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 1983 e 1985 Sistema Jurididico y Dogmaacutetica Juriacutedica Madrid
Centro de Estuacutedios Constitucionales 1983 Confira-se tambeacutem a coletacircnea organizada por Andreacute-Jean Arnaud Dalmir Lopes Jr Do
sistema social agrave sociologia juriacutedica Rio de Janeiro Lumen Juris 2004
140Sobre a autopoieses do Direito veja-se tambeacutem a obra importante de Guumlnther Teubner O direito como sistema autopoieacutetico
Traduccedilatildeo de Joseacute Engracia Nunes Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1993
141Cf Luis Roberto Barroso Neoconstitucionalismo e a constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit
142Esta era basicamente a visatildeo de Hans Kelsen (Cf Hans Kelsen Jurisdiccedilatildeo constitucional Traduccedilatildeo de Alexandre Krug et al Satildeo
Paulo Martins Fontes 2003 p 153) Para uma anaacutelise criacutetica desta posiccedilatildeo veja-se Luis Prietro Sanchiacutes Presupuestos ideoloacutegicos
y doctrinales de la jurisdicioacuten constitucional In Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales Op cit p 21-100
38
143Cf Christian Starck La suprematie La Suprematie de la Constitution et la Justice Constitutionnelle In La Constitution Cadre et
Mesure du Droit Traduccedilatildeo de Freacutederic Weill Paris Econocircmica 1994 p 26-30 Ernst- Wolfgang Boumlckenfoumlrde Les meacutethodes
dinterpretation de la Constitution Un bilan critique In Le Droit lEacutetat et la Constitution Democratique Traduccedilatildeo de Olivier
Jouanjan Paris LGDJ 2000 p 249-250 Virgiacutelio Afonso da Silva Constitucionalizaccedilatildeo do direito os direitos fundamentais nas
relaccedilotildees entre particulares Satildeo Paulo Malheiros 2005 p 107-131 Daniel Sarmento Ubiquumlidade constitucional os dois lados da
moeda Op cit Luis Roberto Barroso Curso de Direito Constitucional Contemporacircneo Op cit p 391-394 Alceu Mauriacutecio Jr
Judicializaccedilatildeo da poliacutetica e a crise do direito constitucional a Constituiccedilatildeo entre ordem marco e ordem fundamenta Revista de
Direito do Estado n 10 p 125-142 abrjun 2008
144Der Staat der Industriegesellshaft 2 ed Muumlnchen Beck 1971 p 144 Apud Robert Alexy Posfaacutecio In Teoria dos direitos
fundamentais Op cit p 578
145De acordo com Carlos Santiago Nino o perfeccionaismo eacute la concepcioacuten seguacuten la cual es una misioacuten legiacutetima del Estado hacer
que los individuos acepten y materializen ideales vaacutelidos de virtud personal Seguacuten este enfoque el Estado no puede permanecer
neutral respecto de concepciones de lo bueno en la vida y debe adoptar las medidas educativas punitorias etc que sean necesa-
rias para que los indiviacuteduos ajusten su vida a los verdaderos ideales de virtud y del bien (Eacutetica y Derechos Humanos Un ensayo de
fundamentacioacuten 2 ed Buenos Aires Astrea 1989 p 413)
146Daniel Sarmento Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas 2 ed Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 Sobre o tema na literatura
nacional veja-se tambeacutem Wilson Antocircnio Steinmetz A vinculaccedilatildeo dos particulares aos direitos fundamentais Satildeo Paulo Malheiros
2004 Virgiacutelio Afonso da Silva Constitucionalizaccedilatildeo do direito os direitos fundamentais nas relaccedilotildees entre particulares Op cit
Ingo Wolfgang Sarlet Direitos fundamentais e direito privado algumas consideraccedilotildees em torno da vinculaccedilatildeo dos particulares aos
direitos fundamentais In Ingo Wolfgang Sarlet (Org) A Constituiccedilatildeo concretizada Porto Alegre Livraria do Advogado 1999 p
129-173 Jane Reis Gonccedilalves Pereira Apontamentos sobre a aplicaccedilatildeo das normas de direito fundamental nas relaccedilotildees juriacutedicas
entre particulares In Luis Roberto Barroso (Org) A nova interpretaccedilatildeo constitucional ponderaccedilatildeo direitos fundamentais e
relaccedilotildees privadas Rio de Janeiro Renovar 2003 p 119-192
147Sobre a questatildeo da (i)legitimidade do perfeccionismo no Direito veja-se Joel Feinberg Rights Justice and the Bounds of Liber-
ty Princeton Princeton University Press 1980 Carlos Santiago Nino Eacutetica y Derechos Humanos Op cit p 413-446 Rainer Forst
Contexts of Justice Political Philosophy beyond Liberalism and Communitarianism Traduccedilatildeo de John M M Farrel Berkeley Uni-
versity of Califoacuternia Press 2001 p 30-87 Macaacuterio Alemany El Paternalismo Juriacutedico Madrid Iustel 2006
148Um sofisticado modelo que busca conciliar a constitucionalizaccedilatildeo do Direito com a democracia estaacute exposto no Poacutesfaacutecio agrave Teo-
ria dos Direitos Fundamentais de Robert Alexy acima citado Veja-se ainda Konrad Hesse Concepto y Cualidad de la Constitu-
cion In Escritos de Derecho Constitucional Traduccedilatildeo de Pedro Cruz Villaloacuten 2 ed 1992 p 03-29
149Tentei articular a minha teoria sobre eficaacutecia horizontal dos direitos fundamentais com este objetivo Cf Daniel Sarmento
Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas Op cit p 141-182 259-272
150Sobre el Neoconstitucionalismo y sus Implicaciones Op cit p 117
151Aqui entendo que o simples reconhecimento da penetraccedilatildeo da Moral no Direito preconizada pelos neoconstitucionalistas brasi-
leiros natildeo eacute suficiente jaacute que certas concepccedilotildees morais podem tornar o ordenamento ainda mais opressivo do que jaacute eacute Afinal
nem sempre a moralizaccedilatildeo do Direito se daacute na direccedilatildeo da emancipaccedilatildeo dos excluiacutedos Veja-se por exemplo a famosa polecircmica
jusfilosoacutefica entre Lord Patrick Devlin e Herbert Hart nos anos 60 na Inglaterra a propoacutesito do uso do Direito Penal para promoccedilatildeo
de Moral em que o primeiro a partir de uma posiccedilatildeo proacute-moral sustentava a legitimidade da criminalizaccedilatildeo da conduta homos-
sexual que o segundo contestava (Cf Lord Patrick Devlin Morals and Criminal Law In Ronald Dworkin (Ed) The Philosophy of
Law Op cit p 66-82 Herbert Hart Immorality and Treason In Idem ibidem)
Eacute preciso assentar as bases criacuteticas desta Moral que deve penetrar o Direito para evitar que o moralismo conservador seja expulso
do ordenamento pela porta da frente superado pela legislaccedilatildeo moderna em razatildeo da progressiva liberalizaccedilatildeo da sociedade mas
volte pela porta dos fundos atraveacutes da argumentaccedilatildeo juriacutedica dos juiacutezes lastreada em conceitos vagos como ordem puacuteblica e
bons constumes ou em standards como o comportamento do bom pai de famiacutelia
39
17
meras correntes de pensamento ao longo da histoacuteria a rejeitarem a jurisdiccedilatildeo constitucional
ou pelo menos o ativismo judicial no seu exerciacutecio dos revolucionaacuterios franceses do seacuteculo XVI-
II109 passando por Carl Schmitt110 na Repuacuteblica de Weimar ateacute os adeptos do constituciona-
lismo popular nos Estados Unidos de hoje111
No Brasil eacute muito comum traccedilar-se um paralelo entre a defesa do ativismo judicial e posiccedilotildees
sociais progressistas Talvez isso se deva ao fato de que na nossa histoacuteria o Judiciaacuterio brasilei-
ro tem pecado muito mais por omissatildeo acumpliciando-se diante dos desmandos dos poderes
poliacutetico e econocircmico do que por excesso de ativismo Neste quadro quem ousa questionar
possiacuteveis exageros na judicializaccedilatildeo da poliacutetica e da vida social no Brasil de hoje eacute logo tachado
de conservador Poreacutem o paralelismo em questatildeo natildeo existe Muitas vezes o Poder Judiciaacuterio
pode atuar bloqueando mudanccedilas importantes promovidas pelos outros poderes em favor dos
excluiacutedos defendendo o statu quo E esta defesa pode ocorrer inclusive atraveacutes do uso da retoacute-
rica dos direitos fundamentais
Isso se deu por exemplo nos Estados Unidos nas primeiras deacutecadas do seacuteculo passado em pe-
riacuteodo que ficou conhecido como Era de Lochner112 quando a Suprema Corte impediu sistemati-
camente a ediccedilatildeo de legislaccedilatildeo trabalhista e de outras medidas que implicavam em interferecircn-
cia na esfera econocircmica em proveito das classes desfavorecidas com base numa leitura subs-
tantiva da claacuteusula do devido processo legal No cenaacuterio contemporacircneo Ran Hirshl113 sustenta
que o processo de judicializaccedilatildeo da poliacutetica que vem ocorrendo nos uacuteltimos anos em diversos
paiacuteses do mundo - ele fez um atento ainda que controvertido estudo dos casos do Canadaacute
Israel Aacutefrica do Sul e Nova Zelacircndia - teria como pano de fundo uma tentativa das elites eco-
nocircmicas e culturais que perderam espaccedilo na poliacutetica majoritaacuteria de manterem o seu poder
reforccedilando no arranjo institucional do Estado o peso do Judiciaacuterio no qual elas ainda tecircm he-
gemonia E aqui no Brasil seraacute que a proteccedilatildeo absoluta que vem sendo conferida ao direito
adquirido - inclusive o de furar teto salarial do funcionalismo fixado por emenda agrave Constituiccedilatildeo
114 - e o ultra-garantismo penal nos crimes do colarinho branco natildeo seriam exemplos deste
mesmo fenocircmeno
Por outro lado uma ecircnfase excessiva no espaccedilo judicial pode levar ao esquecimento de outras
arenas importantes para a concretizaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo e realizaccedilatildeo de direitos gerando um
resfriamento da mobilizaccedilatildeo ciacutevica do cidadatildeo Eacute verdade que o ativismo judicial pode em
certos contextos atuar em sinergia com a mobilizaccedilatildeo social na esfera puacuteblica Isto ocorreu
por exemplo no movimento dos direitos civis nos Estados Unidos dos anos 50 e 60 que foi a-
quecido pelas respostas positivas obtidos na Suprema Corte no periacuteodo da Corte de Warren115
Mas nem sempre eacute assim A ecircnfase judicialista pode afastar do cenaacuterio de disputa por direitos
18
as pessoas e movimentos que natildeo pertenccedilam nem tenham proximidade com as corporaccedilotildees
juriacutedicas
Ademais esta obsessatildeo com a interpretaccedilatildeo judicial da Constituiccedilatildeo tende a obscurecer o pa-
pel central de outras instacircncias na definiccedilatildeo do sentido da Constituiccedilatildeo - como o Legislativo o
Executivo e a proacutepria esfera puacuteblica informal Trata-se de um desvio que gera consequumlecircncias
negativas tanto no plano descritivo como na esfera normativa Sob o prisma descritivo trans-
mite-se uma imagem muito parcial do fenocircmeno constitucional que natildeo eacute captado com todas
as suas nuances e riquezas jaacute que o foco se concentra apenas sobre a accedilatildeo de um dentre os
vaacuterios agentes importantes que povoam a seara da hermenecircutica constitucional116 Sob o acircngu-
lo normativo favorece-se um governo agrave moda platocircnica de saacutebios de toga117 que satildeo convida-
dos a assumir uma posiccedilatildeo paternalista diante de uma sociedade infantilizada118 Justifica-se o
ativismo judicial a partir de uma visatildeo muito criacutetica do processo poliacutetico majoritaacuterio mas que
ignora as inuacutemeras mazelas que tambeacutem afligem o Poder Judiciaacuterio construindo-se teorias a
partir de visotildees romacircnticas e idealizadas do juiz119 Soacute que se eacute verdade que o processo poliacuteti-
co majoritaacuterio tem seus viacutecios - e eles satildeo muito graves no cenaacuterio brasileiro - tambeacutem eacute certo
que os juiacutezes natildeo satildeo semi-deuses e que a esfera em que atuam tampouco eacute imune agrave poliacutetica
com p menor
Esta idealizaccedilatildeo da figura do juiz natildeo se compadece com algumas notoacuterias deficiecircncias que o
Judiciaacuterio brasileiro enfrenta Dentre elas pode-se destacar a sobrecarga de trabalho que
compromete a capacidade dos magistrados de dedicarem a cada processo o tempo e a energia
necessaacuterias para que faccedilam tudo que o que demandam as principais teorias da argumentaccedilatildeo
defendidas pelo neoconstitucionalismo E cabe referir tambeacutem agraves lacunas na formaccedilatildeo do ma-
gistrado brasileiro decorrentes sobretudo das falhas de um ensino juriacutedico formalista e nada
interdisciplinar que ainda viceja no paiacutes que natildeo satildeo corrigidas nos procedimentos de seleccedilatildeo
e treinamento dos juiacutezes
Outra consequumlecircncia da obsessatildeo judicialista do constitucionalismo brasileiro contemporacircneo
estaacute refletida na nossa produccedilatildeo acadecircmica Enquanto somos inundados por livros e artigos
muitas vezes repetitivos sobre assuntos como princiacutepios e regras interpretaccedilatildeo constitucional
e tutela judicial de direitos fundamentais outros temas absolutamente essenciais para a vida
do paiacutes passam ao largo da preocupaccedilatildeo dos juristas Eacute o caso da reforma poliacutetica Em que pese
o caraacuteter essencialmente constitucional do assunto quase nenhum constitucionalista se inte-
ressou por ele 120e praticamente toda a literatura de qualidade produzida sobre o toacutepico tem
vindo da Ciecircncia Poliacutetica
19
Estou convencido de que o Poder Judiciaacuterio tem um papel essencial na concretizaccedilatildeo da Consti-
tuiccedilatildeo brasileira Em face do quadro de sistemaacutetica violaccedilatildeo de direitos de certos segmentos da
populaccedilatildeo do arranjo institucional desenhado pela Carta de 88 e da seacuteria crise de representa-
tividade do Poder Legislativo entendo que o ativismo judicial se justifica no Brasil pelo menos
em certas searas como a tutela de direitos fundamentais a proteccedilatildeo das minorias e a garantia
do funcionamento da proacutepria democracia O maior insulamento judicial diante da pressatildeo das
maiorias bem como um certo ethos profissional de valorizaccedilatildeo dos direitos humanos que co-
meccedila a se instalar na nossa magistratura 121 conferem ao Judiciaacuterio uma capacidade institu-
cional privilegiada para atuar nestas aacutereas122
Mas em outros campos pode ser mais recomendaacutevel uma postura de autocontenccedilatildeo judicial
seja por respeito agraves deliberaccedilotildees majoritaacuterias adotadas no espaccedilo poliacutetico123 seja pelo reco-
nhecimento da falta de expertise do Judiciaacuterio para tomar decisotildees que promovam eficiente-
mente os valores constitucionais em jogo em aacutereas que demandem profundos conhecimentos
teacutecnicos fora do Direito - como Economia poliacuteticas puacuteblicas e regulaccedilatildeo124 Nestes casos deve-
se reconhecer que outros oacutergatildeos do Estado estatildeo mais habilitados para assumirem uma posiccedilatildeo
de protagonismo na implementaccedilatildeo da vontade constitucional
Nesta linha vejo com reticecircncias a sedimentaccedilatildeo na nossa cultura juriacutedica da visatildeo de que o
grande - senatildeo o uacutenico - inteacuterprete da Constituiccedilatildeo seria o Poder Judiciaacuterio125 Esta leitura des-
carta a autocontenccedilatildeo judicial bem como tende a desprezar a possibilidade de que sejam tra-
vados construtivos diaacutelogos interinstitucionais entre diversos oacutergatildeos estatais para a definiccedilatildeo da
melhor interpretaccedilatildeo dos ditames constitucionais126 Um bom exemplo127 deste desvio ocorreu
no julgamento da constitucionalidade das pesquisas em ceacutelulas-tronco embrionaacuterias realizada
pelo STF em que pese o resultado final do julgamento ter sido substancialmente correto Na-
quela ocasiatildeo o importante argumento deduzido na tribuna e em memoriais por Luis Roberto
Barroso - que advogava para um dos amici curiae favoraacuteveis agraves pesquisas - de que o Judiciaacuterio
deveria adotar posiccedilatildeo cautelosa no julgamento da constitucionalidade da lei impugnada ten-
do em vista o amplo consenso em torno dela obtido durante o processo legislativo tanto no
Senado como na Cacircmara foi explicitamente rechaccedilado por alguns ministros que consideraram
o ponto irrelevante E outros ministros em votos vencidos se sentiram confortaacuteveis ateacute para
defender a imposiccedilatildeo de novas normas pelo STF na aacuterea do Biodireito arvorando-se agrave condiccedilatildeo
de legisladores num campo para o qual evidentemente lhes faltava qualquer expertise
Enfim o neoconstitucionalismo brasileiro tem pecado por excesso depositando no Judiciaacuterio
expectativas que ele nem sempre teraacute como atender de forma satisfatoacuteria Um dos efeitos co-
laterais deste fenocircmeno eacute a disseminaccedilatildeo de um discurso muito perigoso de que voto e poliacuteti-
20
ca natildeo satildeo tatildeo importantes pois relevante mesmo eacute a interpretaccedilatildeo dos princiacutepios constitucio-
nais realizada pelo STF Daiacute a dizer que o povo natildeo sabe votar eacute um pulo e a ditadura de toga
pode natildeo ser muito melhor do que a ditadura de farda
b) Neoconstitucionalismo oba-oba constitucional e Estado Democraacutetico de Direito
Seria uma profunda injusticcedila com a teoria neoconstitucionalista acusaacute-la de promover o decisi-
onismo ou de defender a tomada de decisotildees judiciais puramente emotivas sem lastro em ar-
gumentaccedilatildeo racional soacutelida Pelo contraacuterio como foi destacado acima um dos eixos centrais
do pensamento neoconstitucional eacute a reabilitaccedilatildeo da racionalidade praacutetica no acircmbito juriacutedico
com a articulaccedilatildeo de complexas teorias da argumentaccedilatildeo que demandam muito dos inteacuterpre-
tes e sobretudo dos juiacutezes em mateacuteria de fundamentaccedilatildeo das suas decisotildees Poreacutem a praacutetica
judiciaacuteria brasileira recepcionou apenas parcialmente as teorias juriacutedicas de corte poacutes-
positivista e aqui a valorizaccedilatildeo dos princiacutepios e da ponderaccedilatildeo natildeo tem sido muitas vezes
acompanhada do necessaacuterio cuidado com a justificaccedilatildeo das decisotildees
Se ateacute natildeo muito tempo atraacutes os princiacutepios natildeo eram tratados como autecircnticas normas por
aqui - soacute tinha bom direito quem podia invocar uma regra legal clara e precisa em favor da sua
pretensatildeo - com a chegada do poacutes-positivismo e do neoconstitucionalismo passou-se em pou-
cos anos da aacutegua para o vinho Hoje instalou-se um ambiente intelectual no Brasil que aplaude
e valoriza as decisotildees principioloacutegicas e natildeo aprecia tanto aquelas calcadas em regras legais
que satildeo vistas como burocraacuteticas ou positivistas - e positivismo hoje no paiacutes eacute quase um pala-
vratildeo128 Neste contexto os operadores do Direito satildeo estimulados a invocar sempre princiacutepios
muito vagos nas suas decisotildees mesmo quando isso seja absolutamente desnecessaacuterio pela e-
xistecircncia de regra clara e vaacutelida a reger a hipoacutetese Os campeotildees tecircm sido os princiacutepios da dig-
nidade da pessoa humana e da razoabilidade O primeiro eacute empregado para dar imponecircncia ao
decisionismo judicial vestindo com linguagem pomposa qualquer decisatildeo tida como politica-
mente correta e o segundo para permitir que os juiacutezes substituam livremente as valoraccedilotildees de
outros agentes puacuteblicos pelas suas proacuteprias
Este cenaacuterio eacute problemaacutetico porque um sistema juriacutedico funcional estaacutevel e harmocircnico com os
valores do Estado Democraacutetico de Direito precisa tanto da aplicaccedilatildeo de regras como de princiacute-
pios129 As regras satildeo indispensaacuteveis dentre outras razotildees130 porque geram maior previsibili-
dade e seguranccedila juriacutedica para os seus destinataacuterios diminuem os riscos de erro na sua inci-
decircncia jaacute que natildeo dependem tanto das valoraccedilotildees do inteacuterprete em cada caso concreto en-
volvem um menor custo no seu processo de aplicaccedilatildeo pois podem incidir de forma mais mecacirc-
nica sem demandarem tanto esforccedilo do inteacuterprete e natildeo implicam na mesma medida que os
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princiacutepios em uma transferecircncia de poder decisoacuterio do Legislativo que eacute eleito para o Judici-
aacuterio que natildeo eacute
Natildeo pretendo sustentar com isso que se deva retroceder ao tempo em que os princiacutepios natildeo
eram aplicados pelos juiacutezes brasileiros Tambeacutem os princiacutepios satildeo essenciais na ordem juriacutedica
pois conferem mais plasticidade ao Direito - o que eacute essencial numa sociedade hiper-complexa
como a nossa - e permitem uma maior abertura da argumentaccedilatildeo juriacutedica agrave Moral e ao mundo
empiacuterico subjacente O importante eacute encontrar uma justa medida que natildeo torne o processo de
aplicaccedilatildeo do Direito amarrado demais como ocorreria num sistema baseado exclusivamente
em regras nem solto demais como sucederia com um que se fundasse apenas em princiacutepios
Penso que eacute chegada a hora de um retorno do pecircndulo no Direito brasileiro131 que sem des-
cartar a importacircncia dos princiacutepios e da ponderaccedilatildeo volte a levar a seacuterio tambeacutem as regras e a
subsunccedilatildeo
Ademais naquelas hipoacuteteses em que a aplicaccedilatildeo de princiacutepios for realmente apropriada ela
deve dar-se de forma mais racional e fundamentada Deve-se adotar a premissa de que quanto
mais vaga for a norma a ser aplicada e mais intenso o componente volitivo envolvido no pro-
cesso decisoacuterio maior deve ser o ocircnus argumentativo do inteacuterprete no sentido de mostrar que
a soluccedilatildeo por ele adotada eacute a que melhor realiza os valores do ordenamento naquele caso con-
creto132 A tendecircncia atual de invocaccedilatildeo frouxa e natildeo fundamentada de princiacutepios colide com a
loacutegica do Estado Democraacutetico de Direito pois amplia as chances de arbiacutetrio judicial gera inse-
guranccedila juriacutedica e atropela a divisatildeo funcional de poderes que tem no ideaacuterio democraacutetico um
dos seus fundamentos - a noccedilatildeo baacutesica de que as decisotildees sobre o que os cidadatildeos e o Estado
podem e natildeo podem fazer devem ser tomadas preferencialmente por quem represente o povo
e seja por ele escolhido
E haacute na sociedade brasileira traccedilos que tornam ainda mais perigosa esta tendecircncia agrave frouxidatildeo
e emotividade na metodologia juriacutedica Nossa cultura caracteriza-se muito mais pelo jeiti-
nho133 e pelo patrimonialismo134 do que pela valorizaccedilatildeo do cumprimento impessoal de regras
O brasileiro - jaacute dizia Seacutergio Buarque de Holanda135 - eacute o homem cordial que tende a antepor
a loacutegica privada do compadrio e da simpatia agrave racionalidade objetiva das leis Esta singularida-
de das nossas relaccedilotildees sociais natildeo atua de forma neutra em relaccedilatildeo a todos os cidadatildeos Ela
implica na adoccedilatildeo de posturas estatais em geral muito benevolentes em relaccedilatildeo aos donos do
poder e seus apaniguumlados e de posiccedilotildees muito mais duras dirigidas aos grupos excluiacutedos e mar-
ginalizados136 Uns poucos acabam pairando acima das leis que natildeo os alcanccedilam para limitar a
sua conduta ou sancionar os seus desvios enquanto outros permanecem abaixo dela sendo
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atingidos apenas pelo braccedilo punitivo do Estado pois a violaccedilatildeo rotineira dos seus direitos eacute
naturalizada tornando-se invisiacutevel
Neste quadro cabe indagar sob a perspectiva de uma sociologia da interpretaccedilatildeo constitucio-
nal ateacute que ponto a introduccedilatildeo entre noacutes de uma dogmaacutetica fluida - a expressatildeo eacute de Gusta-
vo Zagrebelsky137 um dos iacutecones do neoconstitucionalismo - natildeo pode ter como efeito colateral
o agravamento de patologias que marcam as nossas relaccedilotildees sociais Seraacute que o nosso Direito
precisa de mais rigidez ou de maior maleabilidade Ao fim e ao cabo quem tende a se benefi-
ciar com a adoccedilatildeo de uma hermenecircutica juriacutedica mais flexiacutevel
Uma reflexatildeo importante sobre tema correlato foi empreendida por Marcelo Neves138 a partir
das categorias da teoria sistecircmica de Niklas Luhman Para Luhman139 em apertada siacutentese o
Direito nas hipercomplexas sociedades modernas seria autopoieacutetico140 pois consistiria num
subsistema social estruturalmente fechado em relaccedilatildeo ao meio envolvente que operaria de
acordo com um coacutedigo binaacuterio proacuteprio - o liacutecito iliacutecito As influecircncias do meio envolvente so-
bre o Direito seriam filtradas atraveacutes deste coacutedigo assegurando a autonomia da esfera juriacutedica
diante dos outros subsistemas sociais como a Economia a Poliacutetica a Religiatildeo etc Contudo
Marcelo Neves sustenta que em sociedades perifeacutericas como o Brasil natildeo se desenvolveu ple-
namente este fechamento estrutural do Direito Por aqui fatores como a nossa constituciona-
lizaccedilatildeo simboacutelica geraram uma insuficiente diferenciaccedilatildeo do Direito em relaccedilatildeo a outros sub-
sistemas sociais permitindo que elementos a princiacutepio estranhos ao coacutedigo binaacuterio do juriacutedico -
como a questatildeo do poder poliacutetico e do poder econocircmico - se infiltrem sistematicamente nos
processos de aplicaccedilatildeo das normas condicionando o seu resultado A teoria dos sistemas de
Luhman natildeo funcionaria bem entre noacutes pois teriacuteamos um Direito em boa parte alopoieacuteti-
coPara tal perspectiva esta maior abertura do Direito ao meio envolvente natildeo assume o po-
tencial emancipatoacuterio preconizado pela teoria neoconstitucionalista Ela funciona muito mais
como um mecanismo de cristalizaccedilatildeo de diferenccedilas sociais mantendo a hiper-inclusatildeo de uns
ao preccedilo da exclusatildeo de outros
Esta reflexatildeo de Marcelo Neves natildeo se dirigiu ao debate metodoloacutegico contemporacircneo envol-
vendo princiacutepios e regras ponderaccedilatildeo e subsunccedilatildeo etc Poreacutem entendo que ela pode ter algu-
ma pertinecircncia tambeacutem aqui pelo menos para nos advertir sobre o perigo de que o neoconsti-
tucionalismo com a fluidez metodoloacutegica e abertura do Direito a outros domiacutenios que preconi-
za possa acabar tornando-se um belo roacutetulo para justificar mais do mesmo patrimonialismo
desigualdade jeitinho Nesta perspectiva a novidade do neoconstitucionalismo poderia pare-
cer com aquela advogada pelo Priacutencipe de Salinas em famosa passagem do romance O Leopar-
do de Giuseppe Lampedusa quando defendia no contexto da crise da aristocracia italiana do
23
final do seacuteculo XIX a necessidade de mudanccedilas urgentes no governo para que ao final as
coisas pudessem permanecer exatamente do jeito que sempre foram
Natildeo penso que esta seja uma consequumlecircncia necessaacuteria da adoccedilatildeo de uma perspectiva juriacutedica
mais principialista no Brasil O maior cuidado metodoloacutegico adicionado agrave adoccedilatildeo de uma dire-
triz hermenecircutica substantiva que afirme a missatildeo essencial do Direito de assegurar justiccedila e
seguranccedila agraves pessoas tratando-as como livres e iguais pode minimizar as possibilidades de um
uso enviesado da teoria neoconstitucional que acabe favorecendo aos mesmos de sempre
Mas diante das nossas tradiccedilotildees natildeo haacute como negar que os riscos satildeo elevados
c) Neoconstitucionalismo e panconstitucionalizaccedilatildeo
Uma das caracteriacutesticas do neoconstitucionalismo eacute a defesa da constitucionalizaccedilatildeo do Direi-
to Sustenta-se que a irradiaccedilatildeo das normas constitucionais por todo o ordenamento contribui
para aproximaacute-lo dos valores emancipatoacuterios contidos nas constituiccedilotildees contemporacircneas 141A
Constituiccedilatildeo natildeo eacute vista mais como uma simples norma normarum - cuja finalidade principal eacute
disciplinar o processo de produccedilatildeo de outras normas142 Ela passa a ser enxergada como a en-
carnaccedilatildeo dos valores superiores da comunidade poliacutetica que devem fecundar todo o sistema
juriacutedico Neste modelo cabe ao inteacuterprete natildeo soacute aplicar diretamente os ditames constitucio-
nais agraves relaccedilotildees sociais como tambeacutem reler todas as normas e institutos dos mais variados ra-
mos do Direito agrave luz da Constituiccedilatildeo emprestando-lhes o sentido que mais promova os objeti-
vos e a axiologia da Carta
A constitucionalizaccedilatildeo do Direito de que cogita o neoconstitucionalismo natildeo eacute aquela que resul-
ta do caraacuteter excessivamente analiacutetico da Constituiccedilatildeo e leva ao entricheiramento de meras
opccedilotildees conjunturais do constituinte originaacuterio ou derivado despidas de maior importacircncia ou
dignidade Este eacute um fenocircmeno caracteriacutestico da Carta de 88 que se excedeu no casuiacutesmo e
nos detalhes elevando ao seu texto meros interesses corporativos ou decisotildees de momento
sem focirclego para perdurarem no tempo A constitucionalizaccedilatildeo louvada e defendida pelo neo-
constitucionalismo eacute aquela que parte de uma interpretaccedilatildeo extensiva e irradiante dos direitos
fundamentais e dos princiacutepios mais importantes da ordem constitucional Aqui contudo pode-
se discutir ateacute que ponto o fenocircmeno eacute legiacutetimo Poucos discordaratildeo pelo menos no Brasil de
que alguma constitucionalizaccedilatildeo do Direito eacute positiva e bem-vinda por semear o ordenamento
com os valores humanitaacuterios da Constituiccedilatildeo Poreacutem pode-se objetar contra as teses extrema-
das sobre este processo que acabam amputando em demasia o espaccedilo de liberdade do legisla-
dor em detrimento da democracia 143
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Com efeito quem defende que tudo ou quase tudo jaacute estaacute decidido pela Constituiccedilatildeo e que o
legislador eacute um mero executor das medidas jaacute impostas pelo constituinte nega por conse-
quumlecircncia a autonomia poliacutetica ao povo para em cada momento da sua histoacuteria realizar as suas
proacuteprias escolhas O excesso de constitucionalizaccedilatildeo do Direito reveste-se portanto de um
vieacutes antidemocraacutetico Esta ordem de preocupaccedilotildees levou Ersnt Forsthof na Alemanha a criti-
car as teorias que viam a Constituiccedilatildeo como uma espeacutecie de genoma juriacutedico () do qual tudo
deriva do Coacutedigo Penal ateacute a lei sobre a fabricaccedilatildeo de termocircmetros144 E a questatildeo torna-se
ainda mais delicada diante da constataccedilatildeo de que pela abertura semacircntica dos direitos fun-
damentais e dos princiacutepios - principal mateacuteria-prima da constitucionalizaccedilatildeo do Direito - o seu
principal agente acaba sendo o Poder Judiciaacuterio ao dar a uacuteltima palavra sobre a interpretaccedilatildeo
daquelas claacuteusulas Daiacute porque o debate sobre a constitucionalizaccedilatildeo do Direito se imbrica
inexoravelmente com as discussotildees a propoacutesito da judicializaccedilatildeo da poliacutetica e do decisionismo
referidas acima
Ademais a constitucionalizaccedilatildeo do Direito tambeacutem suscita outra linha de preocupaccedilotildees rela-
cionada ao perfeccionismo moral145 na esfera privada No Brasil assim como em muitos outros
paiacuteses jaacute se assentou a ideacuteia de que os direitos fundamentais natildeo se dirigem apenas contra o
Estado vinculando tambeacutem os particulares Entre noacutes tem prevalecido na doutrina a ideacuteia que
eu mesmo defendi em outro estudo146 que a eficaacutecia dos direitos fundamentais nas relaccedilotildees
privadas eacute direta e imediata Em outras palavras entende-se que a proacutepria Constituiccedilatildeo jaacute inci-
de nas relaccedilotildees privadas independentemente de mediaccedilotildees legislativas e que pode gerar o-
brigaccedilotildees positivas ou negativas para os indiviacuteduos e natildeo soacute para os poderes puacuteblicos sempre
no afatilde de proporcionar uma proteccedilatildeo mais completa agrave dignidade humana Ateacute aqui nada a
contestar
Poreacutem o reconhecimento da vinculaccedilatildeo dos particulares agrave Constituiccedilatildeo suscita um risco que
natildeo pode ser ignorado o de imposiccedilatildeo agraves pessoas supostamente em nome de valores constitu-
cionais de comportamentos e estilos de vida que elas proacuteprias rejeitam em detrimento da sua
liberdade existencial Para dar um exemplo bem tosco seria terriacutevel se o Direito em nome do
princiacutepio da solidariedade social pudesse impor agraves pessoas que demonstrassem afetos e senti-
mentos que elas natildeo possuem genuinamente Ou se em nome da isonomia pretendesse inter-
ferir nas escolhas subjetivas e emocionais que os indiviacuteduos fazem nas suas vidas privadas A
constitucionalizaccedilatildeo neste sentido poderia converter-se num pretexto para o exerciacutecio de um
paternalismo anti-liberal em que as pessoas seriam forccediladas a conformarem-se agraves expectativas
sociais forjadas a partir de pautas de accedilatildeo politicamente corretas com apoio na Constitui-
ccedilatildeo147
25
Nenhuma destas duas questotildees eacute insuperaacutevel Eacute possiacutevel aceitar e aplaudir a constitucionaliza-
ccedilatildeo do Direito - fenocircmeno em geral positivo por aproximar a racionalidade emancipatoacuteria da
Constituiccedilatildeo do dia-a-dia das pessoas - mas defender que ela seja temperada por outras preo-
cupaccedilotildees igualmente essenciais no Estado Democraacutetico de Direito com a autonomia puacuteblica e
privada dos cidadatildeos Pode-se reconhecer a legitimidade da constitucionalizaccedilatildeo do Direito
mas numa medida em que natildeo sacrifique em excesso agrave liberdade de conformaccedilatildeo que numa
democracia deve caber ao legislador para realizar opccedilotildees poliacuteticas em nome do povo148 Pode-
se da mesma forma afirmar a incidecircncia direta da Constituiccedilatildeo nas relaccedilotildees privadas mas
sem invadir a esfera das opccedilotildees existenciais da pessoa - que de resto eacute protegida pela proacutepria
Constituiccedilatildeo das ingerecircncias perfeccionistas do Estado e da sociedade149
5 Conclusatildeo Ao fim da leitura destas paacuteginas o leitor pode estar se indagando se eu me alinho ou natildeo ao
neoconstitucionalismo A minha resposta eacute depende da compreensatildeo que se tenha sobre o ne-
oconstitucionalismo Se entendermos o neoconstitucionalismo de acordo com a conhecida defi-
niccedilatildeo de Luis Prietro Sanchiacutes como uma teoria do Direito que se orienta pelas maacuteximas demaacutes
princiacutepios que reglas maacutes ponderacioacuten que subsuncioacuten omnipotencia de la Constitucioacuten en
todas las aacutereas juriacutedicas y en todos conflictos miacutenimamente relevantes en lugar de espacios
exentos en favor de la opcioacuten legislativa o reglamentaria omnipotencia judicial en lugar de
autonomia del legislador ordinaacuterio y por ultimo coexistecircncia de una constelacioacuten plural de
valores a veces tendencialmente contradictorios en lugar de homogeneidad ideoloacutegica150
certamente eu natildeo me considero um neoconstitucionalista De todas as afirmaccedilotildees do professor
espanhol a uacutenica de que natildeo discordo eacute aquela relacionada ao pluralismo de valores cujo re-
conhecimento aliaacutes estaacute longe de ser privileacutegio dos neoconstitucionalistas
Contudo eu assumo o roacutetulo sem constrangimentos se o neoconstitucionalismo for pensado
como uma teoria constitucional que sem descartar a importacircncia das regras e da subsunccedilatildeo
abra tambeacutem espaccedilo para os princiacutepios e para a ponderaccedilatildeo tentando racionalizar o seu uso
Se for visto como uma concepccedilatildeo que sem desprezar o papel protagonista das instacircncias de-
mocraacuteticas na definiccedilatildeo do Direito reconheccedila e valorize a irradiaccedilatildeo dos valores constitucio-
nais pelo ordenamento bem como a atuaccedilatildeo firme e construtiva do Judiciaacuterio para proteccedilatildeo e
promoccedilatildeo dos direitos fundamentais e dos pressupostos da democracia E acima de tudo se
for concebido como uma visatildeo que conecte o Direito com exigecircncias de justiccedila e moralidade
criacutetica151 sem enveredar pelas categorias metafiacutesicas do jusnaturalismo
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Certamente uma visatildeo equilibrada da Teoria do Direito com tais caracteriacutesticas pode contribu-
ir para o aperfeiccediloamento do Estado Democraacutetico de Direito no Brasil O mesmo jaacute natildeo digo de
concepccedilotildees mais radicais do neoconstitucionalismo que podem ser muito boas para arrancar
aplausos entusiasmados das plateacuteias nos seminaacuterios estudantis mas que natildeo se conciliam com
exigecircncias fundamentais de seguranccedila juriacutedica democracia e liberdade que satildeo alicerces de
qualquer bom constitucionalismo - novo ou velho
Curriacuteculo Resumido
Daniel Sarmento
Poacutes-Doutor pela Universidade de Yale (EUA) Procurador Regional da Repuacuteblica
Como citar este artigo
SARMENTO Daniel O neoconstitucionalismo no Brasil riscos e possibilidades Disponiacutevel em httpwwweditoraforumcombrsistconteudolista_conteudoaspFIDT_CONTEUDO=56993 acesso em 09032011 httpdireitoesubjetividadefileswordpresscom201008daniel-sarmento-o-neoconstitucionalismo-no-brasil1doc acesso em 30062012 Material da 1ordf aula da Disciplina Teoria Geral da Constituiccedilatildeo (I) ministrada no Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo Online em Direito Constitucional ndash Anhanguera-UNIDERP | REDE LFG
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1Sobre a teoria de princiacutepios no Brasil veja-se dentre outros Ana Paula de Barcellos A eficaacutecia juriacutedica dos princiacutepios constitu-
cionais o princiacutepio da dignidade da pessoa humana Rio de Janeiro Renovar 2002 Humberto Bergman Aacutevila Teoria dos princiacute-
pios da definiccedilatildeo agrave aplicaccedilatildeo dos princiacutepios juriacutedicos 2 ed Satildeo Paulo RT 2005 Jane Reis Gonccedilalves Pereira Interpretaccedilatildeo
constitucional e direitos fundamentais uma contribuiccedilatildeo ao estudo das restriccedilotildees aos direitos fundamentais na perspectiva da
teoria dos princiacutepios Rio de Janeiro Renovar 2006 Virgiacutelio Afonso da Silva O conteuacutedo essencial dos direitos fundamentais e a
eficaacutecia das normas constitucionais Satildeo Paulo Tese (concurso de Professor Titular de Direito Constitucional da USP)
2Veja-se em tons variados Lecircnio Luiz Streck Hermenecircutica juriacutedica e(m) crise uma exploraccedilatildeo hermenecircutica da construccedilatildeo do
direito Porto Alegre Livraria do Advogado 1999 Luiacutes Roberto Barroso (Org) A nova interpretaccedilatildeo constitucional ponderaccedilatildeo
direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas Rio de Janeiro Renovar 2003 Margarida Maria Lacombe Camargo Hermenecircutica e
argumentaccedilatildeo uma contribuiccedilatildeo ao estudo do direito Rio de Janeiro Renovar 2003 Inocecircncio Maacutertires Coelho Interpretaccedilatildeo
constitucional 2 ed Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2003 Ana Paula de Barcellos Ponderaccedilatildeo racionalidade e atividade
jurisdicional Rio de Janeiro Renovar 2005
3Sobre o fenocircmeno da constitucionalizaccedilatildeo do Direito confira-se os inuacutemeros artigos que compotildeem a coletacircnea organizada por
Claacuteudio Pereira de Souza Neto e por mim A constitucionalizaccedilatildeo do direito fundamentos teoacutericos e aplicaccedilotildees especiacuteficas Rio de
Janeiro Lumen Juris 2007
4Cfr na literatura constitucional brasileira Gisele Guimaratildees Cittadino Pluralismo direito e justiccedila distributiva elementos de
filosofia constitucional contemporacircnea Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 Oscar Vilhena Vieira A Constituiccedilatildeo e sua reserva de
justiccedila um ensaio sobre os limites materiais do poder de reforma Satildeo Paulo Malheiros 1999 Ricardo Lobo Torres (Org) A legi-
timaccedilatildeo dos direitos humanos Rio de Janeiro Renovar 2002 Claacuteudio Pereira de Souza Neto Teoria constitucional e democracia
deliberativa Rio de Janeiro Renovar 2006 Lecircnio Luiz Streck Verdade e consenso Constituiccedilatildeo hermenecircutica e teorias discursi-
vas Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 Samantha Chantal Dobrowolski A construccedilatildeo social do sentido da Constituiccedilatildeo na demo-
cracia contemporacircnea entre soberania popular e direitos humanos Rio de Janeiro Lumen Juris 2007 Aacutelvaro Ricardo de Souza
Cruz Hermenecircutica juriacutedica e(m) debate o constitucionalismo brasileiro entre a teoria do discurso e a ontologia existencial Belo
Horizonte Foacuterum 2007
5Sobre a judicializaccedilatildeo da poliacutetica no Brasil veja-se Luiz Werneck Vianna et al A judicializaccedilatildeo da poliacutetica e das relaccedilotildees sociais
no Brasil Rio de Janeiro Revan 1999 Giselle Cittadino Judicializaccedilatildeo da poliacutetica constitucionalismo democraacutetico e separaccedilatildeo de
poderes In Luiz Werneck Vianna (Org) A democracia e os trecircs poderes no Brasil Belo Horizonte UFMG 2002 p 17-42 Rogeacuterio
B Arantes Constitucionalism the expansion of Justice and the Judicialization of Poltics in Brazil In Rachel Sieder Line Schjol-
den Alan Angell The Judicialization of Politics in Latin America New York Palgrave Macmillan 2005 p 232-262 Luis Roberto
Barroso Judicializaccedilatildeo ativismo judicial e legitimidade democraacutetica Texto ineacutedito gentilmente cedido pelo autor
Para uma perspectiva comparativa veja-se Neal C Tate Tobjorn Vallinder (Ed) The Global Expansion of Judicial Power New
York New York University Press 1995 Alec Stone Sweet Governing with Judges Constitutional Politics in Europe Oxford Oxford
Univesity Press 2000 e em tom profundamente criacutetico Ran Hirschl Towards Juristocracy the Origins and Consequences of the
New Constitucionalism Cambridge Harvard University Press 2004
6Miguel Carbonell et al Neoconstitucionalismo(s) Madrid Trotta 2003 Mais recentemente o autor publicou nova coletacircnea
tambeacutem dedicada ao estudo do neoconstitucionalismo intitulada Teoria del Neoconstitucionalismo Ensayos escogidos Madrid
Trotta 2007
7O jurista argentino Carlos Santiago Nino por exemplo faleceu em 1993 quando ainda nem se empregava esta denominaccedilatildeo
8Cf Robert Alexy Teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica a teoria do discurso racional como teoria da fundamentaccedilatildeo juriacutedica Tradu-
ccedilatildeo de Zilda Hutchinson Schild Silva revisatildeo teacutecnica da traduccedilatildeo e introduccedilatildeo agrave ediccedilatildeo brasileira Claudia Toledo 2 ed Satildeo Paulo
Landy 2005 Luis Roberto Barroso Curso de direito constitucional contemporacircneo os conceitos fundamentais e a construccedilatildeo do
novo modelo Rio de Janeiro Saraiva 2008 p 306-350
9Cf Lecircnio Luiz Streck Verdade e consenso Op cit p 197-246
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10Ronald Dworkin e Carlos Santiago Nino satildeo sem sombra de duacutevida autores liberais natildeo no sentido que se atribui ao termo no
Brasil - de adeptos de doutrina econocircmica favoraacutevel ao Estado miacutenimo e ao mercado - mas sim no sentido corrente na Filosofia
Poliacutetica que associa o liberalismo agrave defesa dos direitos individuais e da neutralidade do Estado em relaccedilatildeo agraves diversas concepccedilotildees
sobre a vida boa existentes na sociedade Veja-se neste sentido Ronald Dworkin A Matter of Principle Cambridge Harvard
University Press 1985 p 181-236 Carlos Santiago Nino La constitucioacuten de la Democracia Deliberativa Barcelona Gedisa 1997
p 70-100
11Lecircnio Luiz Streck que se alinha ao neoconstitucionalismo defende posturas tipicamente comunitaristas como o papel da Consti-
tuiccedilatildeo na definiccedilatildeo de modelos de vida boa para orientaccedilatildeo da vida social e da accedilatildeo individual Cf Jurisdiccedilatildeo constitucional e
hermenecircutica uma nova criacutetica do direito 2 ed Rio de Janeiro Forense 2004 p 95-288
12Antonio Cavalcanti Maia um dos mais ardorosos defensores do neoconstitucionalismo no paiacutes eacute tambeacutem procedimentalista e
adepto das teorias juriacutedicas de Juumlrgen Habermas Veja-se neste sentido o seu denso texto Nos vintes anos da carta cidadatilde do
poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm (Coord) Vinte
anos da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 p 117-168 em que esta sua dupla filiaccedilatildeo intelectual eacute
explicitada
13Segundo Miguel Carbonell o neoconstitucionalismo desdobra-se em trecircs planos de anaacutelise que se conjugam o dos textos consti-
tucionais que se tornaram mais substantivos e incorporaram amplos elencos de direitos fundamentais o das praacuteticas judiciais que
passaram a recorrer a princiacutepios constitucionais agrave ponderaccedilatildeo e a meacutetodos mais flexiacuteveis de interpretaccedilatildeo sobretudo na aacuterea de
direitos fundamentais e o dos desenvolvimentos teoacutericos de autores que com as suas ideacuteias ajudaram natildeo soacute a compreender os
novos modelos constitucionais mas tambeacutem participaram da sua proacutepria criaccedilatildeo Cf Miguel Carbonell Neoconstitucionalismo
elementos para una definicioacuten In Eduardo Ribeiro Moreira Mauricio Pugliesi 20 anos da Constituiccedilatildeo brasileira Satildeo Paulo Sarai-
va 2009 p 197-208
14No mesmo sentido Luis Roberto Barroso Neoconstitucionalismo e Constitucionalizaccedilatildeo do direito o triunfo tardio do direito
constitucional do Brasil In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento A constitucionalizaccedilatildeo do direito fundamentos teoacuteri-
cos e aplicaccedilotildees especiacuteficas Rio de Janeiro Lumen Juris 2007 p 203-250
15Cf Carlos Bernal Pulido El Derecho de los Derechos Bogotaacute Universidad Externado de Colocircmbia 2006 Manoel Jose Cepeda
Espinosa Judicialization of Politics in Colombia the old and the new In Rachel Sieder Line Schonjen Alan Angell The Judiciali-
zation of Politics in Latin America Op cit p 67-104 Rodrigo Uprimmy Mauriacutecio Garcia-Villegas Tribunal Constitucional e eman-
cipaccedilatildeo social na Colocircmbia In Boaventura de Souza Santos Democratizar a democracia os caminhos da democracia participativa
Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2002 p 297-339
16Cf Catalina Smulovitz Petitioning and Creating Rights Judicialization in Argentina In Rachel Sieder Line Scjolden Alan Angell
The Judicialization of Politics in Latin America Op cit p 161-185
17Cf Miguel Carbonell Los Derechos Fundamentales en Meacutexico 2 ed Meacutexico Porruacutea 2006 Pilar Domingo The Changing Political
Role of the Judiciary in Meacutexico In Rachel Sieder Line Scjolden Alan Angell The Judicialization of Politics in Latin Ameacuterica Op
cit p 21-46
18Cf Heinz Klug South Aacutefrica From Constitucional Promise to Social Transformation In Jeffrey Goldsworthy Interpreting Consti-
tutions A Comparative Study Oxford Oxford University Press 2006 p 266-320
19Cf S P Sathe Iacutendia From Positivism to Structuralism In Jeffrey Goldsworthy Op cit p 215-265
20Veja-se a propoacutesito Gustavo Zagrebelsky Il Diritto Mite Torino Einaudi 1992 p 57-96
21Cf Eduardo Garciacutea de Enterriacutea La Constitucioacuten como Norma y el Tribunal Constitucional 3 ed Madrid Civitas 1985 p 41
22Na Alemanha a mudanccedila ocorreu sob a vigecircncia da Lei Fundamental adotada em 1949 e foi fortemente impulsionada pela
jurisprudecircncia do Tribunal Constitucional do paiacutes que construiu teorias importantes como a da Constituiccedilatildeo como uma ordem de
valores em cujo centro situa-se o princiacutepio da dignidade humana que se irradia por todo o ordenamento Veja-se a propoacutesito
Dieter Grimm Human Rights and Judicial Review in Germany In David M Beatty (Org) Human Rights and Judicial Review A
Comparative Perspective Dodrecht Martin Urjhoff 1994 p 267-295
23Na Itaacutelia as mudanccedilas se deram sob a eacutegide da atual Constituiccedilatildeo editada em 1947 mas soacute apoacutes o funcionamento da Corte
Constitucional que se deu em 1956 Ateacute entatildeo a Corte de Cassaccedilatildeo composta por juiacutezes recrutados ainda no periacuteodo do fascismo
29
era provisoriamente encarregada da guarda da Constituiccedilatildeo o que fazia de forma muito tiacutemida no mais das vezes negando eficaacute-
cia juriacutedica agraves normas constitucionais sob o argumento de que seriam programaacuteticas Veja-se a propoacutesito Ricardo Guastini A
constitucionalizaccedilatildeo do ordenamento juriacutedico e a experiecircncia italiana In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento A
constitucionalizaccedilatildeo do direito fundamentos teoacutericos e aplicaccedilotildees especiacuteficas Op cit p 271-294
24Cf No modelo do constitucionalismo norte-americano entende-se desde os primoacuterdios que a Constituiccedilatildeo eacute autecircntica lei e que
o Judiciaacuterio pode invalidar as decisotildees legislativas que a contrariem apesar do controle de constitucionalidade natildeo estar expres-
samente previsto no texto constitucional daquele paiacutes Esta ideacuteia que jaacute estava assentada no Federalista n 78 escrito por Ale-
xander Hamilton antes da aprovaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo foi posta em praacutetica pela primeira vez contra lei federal no ceacutelebre caso
Marbury v Madison julgado em 1803 pelo juiz Marshall Veja-se a propoacutesito Paul Brest Sanford Levinson Jack Balkin Akhil Reed
Amar Processes of Constitutional Decisionmaking Cases and Materials New York Aspen Publishers 2000 p 79-103
A versatildeo mais convencional do modelo constitucional norte-americano enfatiza a importacircncia central do Judiciaacuterio na atualizaccedilatildeo
do sentido da Constituiccedilatildeo do paiacutes Contudo esta leitura histoacuterica eacute hoje objeto de intensa disputa Em sentido contraacuterio a tal
posiccedilatildeo sustentando uma menor relevacircncia do Judiciaacuterio no desenvolvimento histoacuterico do constitucionalismo americano veja-se
por exemplo Stephen M Griffin American Constitutionalism From Theory to Politics New Jersey Princeton University Press
1996 p 88-139
25Cf Luis Prietro Sanchiacutes Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales Madrid Trotta 2003 p 107-117
26Cf Daniel Sarmento Ubiquumlidade constitucional Os dois lados da moeda In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento
(Coord) A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 113-148
27Na verdade a reaccedilatildeo contra o formalismo juriacutedico na Europa eacute bem anterior ao advento do constitucionalismo do 2ordm poacutes-guerra
remontando ao final do seacuteculo XIX Veja-se a propoacutesito Constantin M Stamatis Argumenter en Droit Une theacuteorie critique de
largumentation juridique Paris Publisud 1995 p 34-50 Antonio Manoel Hespanha Panorama histoacuterico da cultura juriacutedica euro-
peacuteia Lisboa Publicaccedilotildees Europa-Ameacuterica 1997 p 196-235
28Haacute vasta literatura sobre a ponderaccedilatildeo mas a obra mais influente sobre o tema eacute certamente o livro de Robert Alexy Teoria dos
direitos fundamentais Traduccedilatildeo de Virgiacutelio Afonso da Silva Satildeo Paulo Malheiros 2008 No cenaacuterio norte-americano veja-se a
anaacutelise densa e criacutetica de T Alexander Aleinikoff Constitucional Law in the Age of Balancing Yale Law Journal n 96 p 943-
1005 1987 No Brasil cfr Daniel Sarmento A ponderaccedilatildeo de interesses na Constituiccedilatildeo Federal Rio de Janeiro Lumen Juris
2000 Ana Paula de Barcellos Ponderaccedilatildeo racionalidade e atividade jurisdicional Op cit
29A bibliografia sobre o princiacutepio da proporcionalidade eacute vastiacutessima Veja-se a propoacutesito as densas anaacutelises de Carlos Bernal Puli-
do El Principio de Proporcionalidad y los Derechos Fundamentales Madrid Centro de Estuacutedios Constitucionales 2003 e no Brasil
de Jane Reis Gonccedilalves Pereira Interpretaccedilatildeo constitucional e direitos fundamentais Rio de Janeiro Renovar 2006 p 297-382
30Cf Chaiumlm Perelman Eacutetica e direito Traduccedilatildeo de Maria Ermantina Galvatildeo G Perira Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 p 361-684
Robert Alexy Teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica Op cit Friedrich Muller Discours de la Meacutethode Juridique Traduccedilatildeo de Olivier
Jouanjan Paris PUF 1993 Manuel Atienza Traacutes la Justicia Una Introduccioacuten al Derecho y al Razonamiento Juriacutedico Barcelona
Ariel 1995 Neil MacCormick Argumentaccedilatildeo juriacutedica e teoria do direito Traduccedilatildeo de Waldeacutea Barcellos Satildeo Paulo Martins Fontes
2006 Klaus Guumlnther Teoria da argumentaccedilatildeo no direito e na moral justificaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Claacuteudio Molz Satildeo Pau-
lo Landy 2004
31Cf Martin Shapiro Alec Stone Sweet On Law Politics and Judicialization New York Oxford University Press p 136-208
32Contudo deve-se admitir na linha de Paolo Comanducci que eacute possiacutevel reconhecer as mudanccedilas em questatildeo e propor novas
teorias que sejam adequadas a elas sem defendecirc-las Esta seria nas palavras do autor italiano a diferenccedila entre o neoconstitu-
cionalismo teoacuterico e o neoconstitucionalismo ideoloacutegico que natildeo apenas constroacutei teorias mais compatiacuteveis com os novos fenocirc-
menos mas vai aleacutem sustentando a sua legitimidade e propugnando pelo seu aprofundamento e expansatildeo Veja-se a propoacutesito
Paulo Comanducci Formas de neoconstitucionalismo Un anaacutelisis metateoacuterico In Miguel Carbonell (Ed) Neoconstitucionalis-
mo(s) Op cit p 75-98 Como reconhece o proacuteprio autor tal distinccedilatildeo baseia-se em uma semelhante acerca do positivismo
30
formulada por Norberto Bobbio que fala em positivismo teoacuterico ideoloacutegico e metodoloacutegico Cf Norberto Bobbio O positivismo
juriacutedico liccedilotildees de filosofia do direito Traduccedilatildeo e notas de Marcio Pugliesi et al Satildeo Paulo Iacutecone 1995 p 233-239
33Cf Ronald Dworkin Is Law a Sistem of Rules In Ronald Dworkin (Ed) Philosophy of Law Oxford Oxford University Press 1971
Robert Alexy Constitucionalismo discursivo Traduccedilatildeo de Luiz Afonso Heck Porto Alegre Livraria do Advogado 2007
34Cf Robert Alexy Derecho y Razoacuten Praacutectica Meacutexico Distribuiciones Fontamara 1993 Aulis Aarnio Lo Racional como Razonable
Traduccedilatildeo de Ernesto Garzoacuten Valdeacutes Madrid Centro de Estuacutedios Constitucionales 1991
35Cf Aharon Barak The Judge in a Democracy New Jersey Princeton University Press 2006 p 213-260 Gustavo Zagrebelsky Il
Diritto Mite Op cit p 179-217
36Confronte-se com perspectivas diferentes Luigi Ferrajoli O Estado de direito entre passado e futuro In Pietro Costa Danilo
Zolo (Org) Estado de direito histoacuteria teoria criacutetica Traduccedilatildeo de Carlo Alberto Dastoli Satildeo Paulo Martins Fontes 2006 p 419-
464 Elias Dias Estado de Derecho y Sociedad Democraacutetica Madrid Taurus 1998 Ronald Dworkin Introduction The Moral Reading
and the Majoritarian Premise In Freedoms Law The moral reading of the American Constitution Cambridge Harvard University
Press 1996 p 01-38 Gustavo Zagrebelsky La Crucifixioacuten y la Democracia Barcelona Ariel 1996 Claacuteudio Pereira de Souza Neto
Teoria constitucional da democracia deliberativa Op cit
37Cf Ronald Dworkin Introduction The Moral Reading and the Majoritarian Premise Op cit
38Cf Luigi Ferrajoli El Garantismo y la Filosofia del Derecho Bogotaacute Universidad Externado de Colocircmbia 2000
39Cf Luis Pietro Sanchis Sobre el Neoconstitucionalismo y sus Implicaciones In Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales
Op cit p 101-135
40Cf Ricardo Guastini Sur la Validiteacute de la Constitution du Point de Vue du Positivisme Juridique In Michel Troper Lucien Jaume
(Dir) 1789 et LInvention de la Constitution Paris LGDJ 1994 p 216-225
41Cf Suzana Pozzolo Neoconstituzionalismo e Positivismo Giuridico Torino Giapppicheli 2001
42Cf Ronald Dworkin Law and Morals In Justice in Robes Cambridge Harvard University Press 2006 p 01-35
43Cf Robert Alexy Derecho y Moral In La Institucionalizacioacuten de la Justicia Op cit p 17-30
44Cf Carlos Santiago Nino Eacutetica y Derechos Humanos 2 ed Buenos Aires Astrea 1989 p 11-48
45Cf Gustav Radbruch Cinco minutos de filosofia do direito In Filosofia do direito Traduccedilatildeo de L Cabral de Moncada 6 ed
Coimbra Armecircnio Amado 1979 p 414-418 Para uma densa problematizaccedilatildeo da foacutermula de Radbruch veja-se Thomas da Rosa
Bustamante Poacutes-Positivismo o argumento da injusticcedila aleacutem da Foacutermula de Radbruch In Teoria do direito e decisatildeo racional
temas de teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica Rio de Janeiro Renovar 2008
46Cf Robert Alexy La Institucionalizacioacuten de la Justicia Traduccedilatildeo de Joseacute Antonio Seone et al Granada Comares 2005 p 31-
54
47Sobre o tema cfr Alfonso Garcia Figueroa Princiacutepios e direitos fundamentais In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmen-
to A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 03-34
48O texto mais importante do positivismo inclusivo eacute o poacutes-escrito de Herbert LA Hart agrave sua obra magna The Concept of Law em
que ele responde agraves criacuteticas ao seu pensamento que Ronald Dworkin lhe endereccedilara O autor inglecircs faleceu antes de terminar o
texto mas ele foi publicado postumemente depois de ser editado por Joseph Raz Peneacutelope Bulloch Veja-se Herbert LA Hart
Poacutes-escrito In O conceito de direito Traduccedilatildeo de A Ribeiro Mendes 2 ed 1994 p 299-339 Tambeacutem na linha do positivismo
inclusivo veja-se Gregorio Peces- Barba Derechos Sociales y Positivismo Juriacutedico Escritos de Filosofia Poliacutetica y Juriacutedica Madrid
Dykinson 1999 p 83-90 Jules Coleman The Practice of Principle In defense of a pragmatist approach do legal theory Oxford
Oxford University Press p 103-120 Para uma resenha dos tipos de positivismo no debate contemporacircneo confira-se Dimitri Di-
moulis Positivismo juriacutedico introduccedilatildeo a uma teoria do direito e defesa do pragmatismo juriacutedico-politico Satildeo Paulo Meacutetodo
2006 p 65-166
49Cf Antonio Cavalcanti Maia Nos vinte anos da Constituiccedilatildeo do poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo Op cit Claacuteudio Perei-
ra de Souza Neto A teoria constitucional e seus lugares especiacuteficos notas sobre o aporte reconstrutivo Revista de Direito do
Estado n 1 p 89-104 jan mar 2006 Daniel Sarmento Interpretaccedilatildeo constitucional preacute-compreensatildeo e capacidades institu-
cionais do inteacuterprete In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binebojm Vinte anos da Constituiccedilatildeo de 1988
Op cit p 311-322
31
50Cf Juumlrgen Habermas Escritos sobre Moralidad y Eticidad Traduccedilatildeo de Manuel Jimenez Redondo Barcelona Paidoacutes 1991 p
131-172
51Sobre o comunitarismo haacute extensa literatura Dois textos claacutessicos deste linha de pensamento satildeo Michael Walzer The Communi-
tarian Critique of Liberalism In Politics and Passion New Haven Yale University Press 2004 p 141-163 Charles Taylor The
Procedural Republic and the Unencumbered Self In Robert Goodin Philip Pettit (Ed) Contemporary Political Philosophy 2 ed
Oxford Oxford University Press 2002 p 2462-256 Sobre a penetraccedilatildeo ainda que muitas vezes natildeo consciente das posiccedilotildees do
comunitarismo no constitucionalismo brasileiro veja-se Gisele Cittadino Pluralismo direito e justiccedila distributiva Op cit p
43-74
52Sobre o construtivismo eacutetico corrente filosoacutefica que sustenta a existecircncia de posiccedilotildees certas e erradas na Moral bem como a
possibilidade de encontraacute-las e fundamentaacute-las racionalmente veja-se Carlos Santiago Nino El Constructivismo Eacutetico Madrid
Centro de Estudios Constitucionales 1989
53O fenocircmeno tambeacutem se reproduz na teoria constitucional norte-americana hegemocircnica cf Keith Wittington Constitutional Con-
struction Divided Powers and Constitutional Meaning Cambridge Harvard University Press 1999 p 01-03
54A imagem do Poder Judiciaacuterio como um guardiatildeo de promessas eacute explorada e criticada numa obra importante da teoria juriacutedica
francesa contemporacircnea Antoine Garapon Le Gardien de Promesses Le juge et la democratie Paris Odile Jacob 1996
55Neste sentido o eloquumlente encerramento do Curso de Direito Constitucional Contemporacircneo de Luis Roberto Barroso o consti-
tucionalismo democraacutetico eacute a utopia que nos restou Uma feacute racional que ajuda a acreditar no bem e na justiccedila ainda quando natildeo
estejam ao alcance dos olhos (Op cit p 400)
56Cf Nico Poulantzas State Power Socialism London new Left Books 1978 Alan Hunt Marxist Theory of Law In Dennis Patter-
son (Ed) A Companion to Philosophy of Law and Legal Theory Malden Blackwell Publishers 1996 p 355-367
57Cf David Kairys (Ed) The Politics of Law A Progressive Critique New York Pantheon Books 1982 Roberto Mangabeira Unger
The Critical Legal Studies Movement Cambridge Harvard University Press 1986
58Cf Plauto Faraco Azevedo Criacutetica agrave dogmaacutetica e hermenecircutica juriacutedica Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1989 Luiz Fernando
Coelho Teoria criacutetica do direito 2 ed Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1991
59Natildeo haacute como abordar aqui as relaccedilotildees entre as inuacutemeras correntes do poacutes-modernismo e o Direito Constitucional Veja-se a
propoacutesito Niklas Luhman La Constituzione como Acquisizione Evolutiva In Gustavo Zagrebelsky Piacuteer Paolo Portinaro Joumlrg Lu-
ther Il Futuro della Costituzione Torino Einaudi 1996 p 83-128 Joseacute Joaquim Gomes Canotilho Civilizaccedilatildeo do direito constitu-
cional ou constitucionalizaccedilatildeo do direito civil a eficaacutecia dos direitos fundamentais na ordem juriacutedico-civil no contexto do direito
poacutes-moderno Cadernos de Direito Constitucional e Ciecircncia Poliacutetica n 15 p 07-16 1996 Eduardo Capellari A crise da moderni-
dade e a Constituiccedilatildeo Rio de janeiro Ameacuterica Juriacutedica 2004 Daniel Sarmento Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas 2 ed
Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 p 36-45
60Para Jean-Franccedilois Lyotard uma das caracteriacutesticas centrais do pensamento poacutes-moderno de que eacute expoente eacute a desconfianccedila
em relaccedilatildeo agraves metanarrativas - construccedilotildees abstratas grandiosas e totalizadoras tiacutepicas da Filosofia Moderna como direitos
humanos luta de classes e emancipaccedilatildeo pelo uso da razatildeo Cf Lyotard A condiccedilatildeo poacutes-moderna Traduccedilatildeo de Ricardo Correcirca
Barbosa 5 ed 1998 p16
61Cf Luiz Werneck Viana O terceiro poder na carta de 1988 e a tradiccedilatildeo republicana mudanccedila e conservaccedilatildeo In Ruben George
Oliven Marcelo Gildo Marccedilal Branda A Constituiccedilatildeo de 1988 na vida brasileira Satildeo Paulo Aderaldo e Rotshild 2008 p 91-109
62Cf Paulo Ricardo Schier Filtragem constitucional Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1999
63A expressatildeo foi cunhada por Claacuteudio Pereira de Souza Neto Fundamento e normatividade dos direitos fundamentais uma recons-
truccedilatildeo teoacuterica agrave luz do princiacutepio democraacutetico Arquivos de Direitos Humanos n 4 p 17-61 2003
64Cf Luis Roberto Barroso O direito constitucional e a efetividade de suas normas 3 ed Rio de Janeiro Renovar 1996
65Cf Clegravemerson Merlin Clegraveve A teoria constitucional e o direito alternativo para uma dogmaacutetica constitucional emancipatoacuteria In
Uma vida dedicada ao direito homenagem a Carlos Henrique de Carvalho Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1995 p 34-53
66Ressalte-se poreacutem que antes de 88 alguns juristas jaacute defendiam a forccedila normativa da Constituiccedilatildeo como o Prof Joseacute Afonso da
Silva Eacute de 1968 a primeira ediccedilatildeo da sua obra claacutessica A aplicabilidade das normas constitucionais que adotava claramente esta
32
perspectiva Todavia pelo clima nada propiacutecio ao constitucionalismo que reinava por aqui ateacute a nossa redemocratizaccedilatildeo a louvaacute-
vel pregaccedilatildeo dele e de outros juristas em prol da efetivaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo natildeo chegou a render maiores frutos
67Deve-se assinalar ainda a influecircncia marcante do novo constitucionalismo ibeacuterico neste movimento que tambeacutem pugnava pela
atribuiccedilatildeo de forccedila normativa agraves ambiciosas constituiccedilotildees de Portugal e Espanha entatildeo recentemente elaboradas apoacutes o fim de
experiecircncias autoritaacuterias naqueles paiacuteses A tiacutetulo de exemplo mencione-se a penetraccedilatildeo no paiacutes do pensamento do Professor de
Coimbra Joseacute Joaquim Gomes Canotilho especialmente da sua teoria sobre a Constituiccedilatildeo dirigente que ele posteriormente reviu
(cf J J Gomes Canotilho Constituiccedilatildeo dirigente e vinculaccedilatildeo ao legislador contributo para a compreensatildeo das normas constitu-
cionais programaacuteticas 2 ed Coimbra Coimbra 2001 - especialmente o prefaacutecio desta segunda ediccedilatildeo que daacute conta da mudanccedila
de posicionamento) bem como a difusatildeo das liccedilotildees do Professor Eduardo Garciacutea de Enterriacutea (cf La Constitucioacuten como Norma y el
Tribunal Constitucional Madrid Civitas 1981)
68Segundo a avaliaccedilatildeo atual de Luis Roberto Barroso personagem central do movimento o positivismo constitucional que deu
impulso ao movimento natildeo importava em reduzir o direito agrave norma mas sim em elevaacute-la a esta condiccedilatildeo pois ateacute entatildeo ele
havia sido menos do que norma (Curso de direito constitucional contemporacircneo Op cit p 224)
69Paulo Bonavides Curso de direito constitucional 5 ed Satildeo Paulo Malheiros 1994
70Eros Roberto Grau A ordem econocircmica na Constituiccedilatildeo de 88 interpretaccedilatildeo e criacutetica Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1996
71No acircmbito da Poacutes-Graduccedilatildeo em Direito da UERJ em que estou inserido desde 1997 primeiro como aluno e a partir de 2003 como
professor o Ricardo Lobo Torres teve papel central na difusatildeo do pensamento destes e de outros filoacutesofos entre os estudantes e o
proacuteprio corpo docente
72Cf Lecircnio Luiz Streck Hermenecircutica juriacutedica e(m) crise Op cit Eros Roberto Grau Ensaio e discurso sobre a interpreta-
ccedilatildeoaplicaccedilatildeo do direito Satildeo Paulo Malheiros 2002
73Nesta linha veja-se as obras que compotildeem a coletacircnea Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Direitos sociais funda-
mentos judicializaccedilatildeo e direitos sociais em espeacutecie Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 Ricardo Lobo Torres O miacutenimo existencial
e os direitos fundamentais Revista de Direito Administrativo n 177 p 20-49 1989 Ingo Wolfgang Sarlet A eficaacutecia dos direitos
fundamentais 9 ed Porto Alegre Livraria do Advogado 2008 Ana Paula de Barcellos A eficaacutecia juriacutedica dos princiacutepios o princiacute-
pio da dignidade da pessoa humana Op cit Marco Mazzeli Gouveia O controle judicial das omissotildees administrativas Rio de
Janeiro Forense 2003 Andreacuteas Krell Direitos sociais e controle judicial no Brasil e Alemanha os (des)caminhos de um direito
constitucional comparado Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2002
74Cf Gustavo Tepedino Temas de direito civil Rio de Janeiro Renovar 1999 Luiz Edson Fachin Estatuto juriacutedico do patrimocircnio
miacutenimo Rio de Janeiro Renovar 2001 Maria Celina Bodin de Moraes Danos agrave pessoa humana uma leitura civil-constitucional dos
danos morais Rio de Janeiro Renovar 2003 Teresa Negreiros Fundamentos para uma interpretaccedilatildeo constitucional do princiacutepio
da boa-feacute Rio de Janeiro Renovar 1998 Anderson Schreiber A proibiccedilatildeo do comportamento contraditoacuterio Rio de Janeiro Reno-
var 2005
75Cf Luciano Feldens A Constituiccedilatildeo penal a dupla face da proporcionalidade no controle das lei penais Porto Alegre Livraria do
Advogado 2005 Luis Carlos dos Santos Gonccedilalves Mandados expressos de criminalizaccedilatildeo e a proteccedilatildeo de direitos fundamentais na
Constituiccedilatildeo Brasileira de 1988 Belo Horizonte Foacuterum 2007
76Cf Gustavo Binenbojm Uma teoria do direito administrativo direitos fundamentais democracia e constitucionalizaccedilatildeo Rio de
Janeiro Renovar 2006 Alexandre dos Santos Aragatildeo Floriano de Azevedo Marques (Coord) Direito administrativo e seus novos
paradigmas Belo Horizonte Foacuterum 2008
77Cf Gustavo Binenbojm A nova jurisdiccedilatildeo constitucional brasileira legitimidade democraacutetica e instumentos de realizaccedilatildeo Rio de
Janeiro Renovar 2001 Claacuteudio Pereira de Souza Neto Jurisdiccedilatildeo constitucional democracia e racionalidade praacutetica Rio de
Janeiro Renovar 2002 Joseacute Adeacutercio Leite Sampaio A Constituiccedilatildeo reinventada pela jurisdiccedilatildeo constitucional Belo Horizonte Del
Rey 2002 Lecircnio Luiz Streck Jurisdiccedilatildeo constitucional e hermenecircutica Porto Alegre Livraria do Advogado 2002 Aacutelvaro Ricardo
de Souza Cruz Jurisdiccedilatildeo constitucional democraacutetica Belo Horizonte Del Rey 2004
78A expressatildeo dificuldade contramajoritaacuteria eacute de um claacutessico da teoria constitucional norte-americana Alexander Bickel La Cons-
titucioacuten como Norma y el Tribunal Constitucional 2 ed New Haven Yale University Press 1986
33
79Em siacutentese apertada o procedimentalismo sustenta que natildeo eacute papel da jurisdiccedilatildeo constitucional tutelar valores substantivos mas
apenas proteger os pressupostos necessaacuterios ao bom funcionamento da democracia Jaacute o substancialismo reconhece a legitimidade
da atuaccedilatildeo jurisdicional em favor da garantia e promoccedilatildeo de valores substantivos presentes na Constituiccedilatildeo O debate entre o
procedimentalismo identificado com as ideacuteias de autores como John Hart Ely e Juumlrgen Habermas e o substancialismo defendido
por teoacutericos como Ronald Dworkin e Laurence Tribe eacute reproduzido em praticamente toda a literatura contemporacircnea que trata de
Teoria ou Filosofia Constitucional Veja-se a propoacutesito a densa obra de Claacuteudio Ari Mello Democracia constitucional e direitos
fundamentais Porto Alegre Livraria do Advogado 2004
80Neoconstitucionalismo e constitucionalizaccedilatildeo do direito o triunfo tardio do direito constitucional no Brasil Op cit
81A crise paradigmaacutetica do direito no contexto da resistecircncia positivista ao (neo)constitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza
Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm Vinte anos da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Op cit p 203-228
82Nos vinte anos da carta cidadatilde do poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo Op cit
83Neoconstitucionalismo direitos fundamentais e controle de poliacuteticas puacuteblicas In Daniel Sarmento Flaacutevio Galdino (Org) Direitos
fundamentais estudos em homenagem ao prof Ricardo Lobo Torres Rio de Janeiro Renovar 2006 p 31-60
84Direitos humanos legitimidade e constitucionalismo In Daniel Sarmento Flaacutevio Galdino (Org) Direitos fundamentais estudos
em homenagem ao Prof Ricardo Lobo Torres Op cit p325-350
85Novos desafios agrave filtragem constitucional no momento do neoconstitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sar-
mento A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 251-270
86Neoconstitucionalismo a invasatildeo da Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Meacutetodo 2008
87Neoconstitucionalismo e positivismo juriacutedico Satildeo Paulo Landy 2006
88Teoria do direito e argumentaccedilatildeo racional temas de teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica op cit p 141-240
89Uma visatildeo criacutetica do neoconstitucionalismo In George Salomatildeo Leite Glauco Salomatildeo Leite Constituiccedilatildeo e efetividade constitu-
cional Salvador JusPodium 2008 p 43-60
90Neoconstitucionalismo entre a Ciecircncia do direito e o direito da ciecircncia In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento
Gustavo Binenbojm Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 p 187-202
91Cf Peticcedilatildeo 1246 MSSC julgada em 31011997 (obrigaccedilatildeo do Estado de realizar transplante de ceacutelulas mioblaacutesticas para salvar
a vida de crianccedila) Agravo de Instrumento no Recurso Extraordinaacuterio 271286RS DJU 24 nov 2000 (entrega de medicamentos
para portadores de HIV) e Agravo de Instrumento do Recurso Extraordinaacuterio nordm 410715-5 julgado em 22112005 (obrigaccedilatildeo de
fornecimento de vagas para educaccedilatildeo infantil pelo municiacutepio com atendimento em creches e preacute-escola)
92Recursos Extraordinaacuterios nordms 158215-4RS 161243-6DF 201819RJ
93Cf Mandado de Injunccedilatildeo 670ES Rel Min Gilmar Mendes julgado em 25102007 em que o STF revendo orientaccedilatildeo anterior
deu eficaacutecia normativa agrave sentenccedila proferida no mandado de injunccedilatildeo No caso decidiuse que ateacute o advento de lei regulamentado-
ra sobre a greve no serviccedilo puacuteblico o direito de greve poderia ser exercido obedecendo-se os limites impostos pela Lei 778389
que trata dos movimentos paredistas em serviccedilos essenciais no setor privado
94Sobre a tendecircncia agrave superaccedilatildeo da ideacuteia do Judiciaacuterio como legislador negativo na jurisdiccedilatildeo constitucional veja-se Joseacute Adeacutercio
Leite Sampaio A Constituiccedilatildeo reinventada pela jurisdiccedilatildeo constitucional Belo Horizonte Del Rey 2002 p 203-248
95Eacute lugar-comum dentre os autores que tratam da questatildeo associar tais mudanccedilas agrave pluralizaccedilatildeo das vozes na interpretaccedilatildeo consti-
tucional tema em que a referecircncia essencial no cenaacuterio germacircnico eacute Peter Haumlberle Veja-se a propoacutesito Peter Haumlberle Herme-
necircutica constitucional A sociedade aberta dos inteacuterpretes da Constituiccedilatildeo contribuiccedilatildeo para a interpretaccedilatildeo pluralista e procedi-
mental da Constituiccedilatildeo Traduccedilatildeo de Gilmar Ferreira Mendes Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1997 Veja-se ainda na doutrina
brasileira Gustavo Binenbojm A dimensatildeo do Amicus Curiae no processo constitucional brasileiro In Temas de direito constitu-
cional e administrativo Rio de Janeiro Renovar 2008 p 165-190
96ADIN 3510DF Relator Ministro Carlos Ayres Britto A accedilatildeo proposta contra o art 5ordm da Lei de Biosseguranccedila impugnava a auto-
rizaccedilatildeo de pesquisas com embriotildees humanos resultantes de fertilizaccedilatildeo in vitro que fossem inviaacuteveis ou estivessem congelados haacute
mais de trecircs anos A accedilatildeo foi julgada totalmente improcedente por 6 votos a 5
97ADPF nordm 54 A accedilatildeo que tem como relator o Ministro Marco Aureacutelio ainda natildeo foi julgada mas em seu bojo jaacute ocorreram diversas
audiecircncias puacuteblicas que provocaram intensa participaccedilatildeo da sociedade civil e grande interesse na miacutedia
34
98ADPF nordm 132 Relator Ministro Carlos Ayres Britto A accedilatildeo ainda foi julgada
99Mandados de Seguranccedila 26602DF 26603DF e 26604DF Informativo STF n 482
100Recurso Extraordinaacuterio 197917SP Rel p acoacuterdatildeo Min Ceacutesar Peluso DJU 18 fev 2005
101O livro de Alberto Carlos Almeida A cabeccedila do brasileiro lanccedilado em 2007 conteacutem pesquisas feitas sobre uma acuteseacuterie de temas
com pessoas de todas as classes sociais e regiotildees do paiacutes Uma das pesquisas eacute relativa agrave avaliaccedilatildeo das instituiccedilotildees Dentre as treze
avaliadas as duas que obtiveram menor aprovaccedilatildeo foram os partidos poliacuteticos (avaliaccedilatildeo positiva de 28 dos entrevistados) e o
Congresso (avaliaccedilatildeo positiva de 36 dos entrevistados) Cf Antonio Carlos Almeida A cabeccedila do brasileiro Rio de Janeiro Re-
cord 2007 p 187
102Cf Luis Roberto Barroso Judicializaccedilatildeo ativismo judicial e legitimidade democraacutetica Texto ainda ineacutedito gentilmente cedido
pelo autor
103Humberto Aacutevila por exemplo formula outra criacutetica importante de que o neoconstitucionalismo seria inadequado agrave realidade
constitucional brasileira jaacute que privilegia os princiacutepios e a Carta de 88 seria muito mais regulatoacuteria do que principioloacutegica (Neo-
constitucionalismo entre a ciecircncia do direito e o direito da ciecircncia Op cit p 188-192)
104Contudo natildeo eacute razoaacutevel estender esta criacutetica ao ponto de negar o caraacuteter democraacutetico da atuaccedilatildeo judicial Como ressaltou
Eugenio Rauacutel Zaffaroni uma instituiccedilatildeo natildeo eacute democraacutetica unicamente porque natildeo provenha de eleiccedilatildeo popular porque nem tudo
o que proveacutem desta origem eacute necessariamente aristocraacutetico Uma instituiccedilatildeo eacute democraacutetica quando seja funcional para o sistema
democraacutetico quer dizer quando seja necessaacuteria para a sua continuidade como ocorre com o judiciaacuterio (Poder judiciaacuterio crise
acertos e desacertos Traduccedilatildeo de Juarez Tavares Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1995 p 43)
105Cf Robert A Dahl Sobre a democracia Traduccedilatildeo de Beatriz Sidou Brasiacutelia UNB 2001 p 97-113 Juumlrgen Habermas Popular
Sovereignity as Procedure In James Bonham William Rehg Deliberative Democracy Cambridge The MIT Press 1997 p 35-66
106A questatildeo da tensatildeo e sinergia simultacircneas entre constitucionalismo e democracia eacute um dos debates mais fecundos da Teoria
Poliacutetica e da Filosofia Constitucional que tem atravessado o tempo desde o advento do constitucionalismo moderno no seacuteculo
XVIII Veja-se no debate contemporacircneo Jeremy Waldron Preocommitment and Disagreement In Larry Alexander Constitu-
cionalism Philosophical Foundations Cambridge Cambridge University Press 1998 p 271-299 Juumlrgen Habermas O Estado demo-
craacutetico de direito uma amarraccedilatildeo paradoxal de princiacutepios contraditoacuterios In Era das transiccedilotildees Traduccedilatildeo de Flaacutevio Beno Siebe-
neichler Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 2003 p 153-173 Carlos Santiago Nino La Constitucioacuten de la Democracia Deliberativa
Op cit Frank Michelman Brennan and Democracy Princeton Princeton University Press 1999 p 03-62 Stephen Holmes El
Precompromiso y la Paradoja de la Democracia In Jon Elster Rune Slagstad Constitucionalismo y Democracia Traduccedilatildeo de Mocircni-
ca Utrilla de Neira Mexico Fondo de Cultura Econocircmica 1999 p 217-262
107O problema da limitaccedilatildeo do legislador atual pelas decisotildees do constituinte adotadas no passado envolve a problemaacutetica da
partilha intergeracional de poder bem explicitada na fala de Jefferson que defendia que a cada 19 anos deveria ser elaborada
uma nova Constituiccedilatildeo nos Estados Unidos para que a Lei Maior daquele paiacutes natildeo se tornasse um mecanismo de governo dos mor-
tos sobre os vivos Em siacutentese apertada haacute na teoria poliacutetica contemporacircnea duas linhas principais de justificativa para a legiti-
midade destas restriccedilotildees
Uma eacute a teoria da democracia dualista defendida por Bruce Ackerman que sustenta que as decisotildees adotadas pelo proacuteprio povo
em contextos de grande mobilizaccedilatildeo ciacutevica devem ser protegidas do alcance da vontade dos representantes do povo formada em
momentos em que a cidadania natildeo esteja intensamente envolvida Esta teoria distingue a poliacutetica extraordinaacuteria correspondente
agravequeles momentos constitucionais da poliacutetica ordinaacuteria que se realiza atraveacutes das deliberaccedilotildees do dia a dia dos oacutergatildeos represen-
tativos Para a perspectiva ackermaniana a poliacutetica extraordinaacuteria - que natildeo exige necessariamente formalizaccedilatildeo procedimental
atraveacutes de assembleacuteia constituinte ou de emenda constitucional - se situa em patamar superior agrave poliacutetica ordinaacuteria e pode legiti-
mamente impor limites a esta (cf Bruce Ackerman We the people Foundations Cambridge The Belknap Press 1991 p 03-33)
Outra teoria eacute a do preacute-compromisso que jaacute foi advogada por Jon Elster Segundo ela eacute legiacutetimo subtrair do alcance das maiorias
determinadas questotildees fundamentais que expressam princiacutepios fundamentais de justiccedila poliacutetica ou garantam os pressupostos da
proacutepria democracia tendo em vista o risco de que no processo poliacutetico majoritaacuterio em momentos de irracionalidade o povo
35
possa ser viacutetima de suas proacuteprias fraquezas ou paixotildees momentacircneas atentando contra tais princiacutepios (cf Ulisses and Sirens
Cambridge Cambridge University Press 1979)
Ambas as concepccedilotildees - a primeira mais proacutexima ao republicanismo e a segunda de vieacutes mais liberal - tecircm a sua dose de procedecircn-
cia mas ensejam criacuteticas importantes Todavia foge a escopo do presente trabalho analisar esta questatildeo que eacute uma das mais
complexas da Filosofia Poliacutetica moderna e contemporacircnea Para uma visatildeo geral sobre o tema na literatura em liacutengua portuguesa
veja-se Oscar Vilhena Vieira A Constituiccedilatildeo e sua reserva de justiccedila Op cit Miguel Nogueira de Brito A Constituiccedilatildeo constituin-
te ensaio sobre o poder de revisatildeo da Constituiccedilatildeo Coimbra Coimbra 2000 Samantha Chantal Dobrowolski Op cit p 265-312
Rodrigo Brandatildeo Direitos fundamentais democracia e claacuteusulas peacutetreas Rio de Janeiro Renovar 2008 p 59-112
108Cf Michel Troper Justice Constitutionelle et Deacutemocratie In Pour une Theorie Juridique de LEacutetat Paris PUF 1994 p 317-328
Claacuteudio Pereira de Souza Neto Jurisdiccedilatildeo constitucional democracia e racionalidade praacutetica Op cit p 106-130 Gustavo Binen-
bojm A nova jurisdiccedilatildeo constitucional brasileira Op cit p 55-74
109Sobre o modelo revolucionaacuterio francecircs de constitucionalismo completamente avesso agrave ideacuteia de jurisdiccedilatildeo constitucional cf
Maurizio Fioravanti Constitucioacuten de la antiguumledad a nuestros dias Traduccedilatildeo de Manuel Martinez Neira Madrid Trotta 2001 p
120-132
110Cf Carl Schmitt La Defesa de la Constitucioacuten Madrid Tecnos 1983
111O constitucionalismo popular ou populismo constitucional eacute uma importante corrente no debate constitucional norte-americano
contemporacircneo que nega a legitimidade democraacutetica do controle de constitucionalidade advogando que deve caber ao proacuteprio
povo e natildeo a uma elite de juiacutezes natildeo eleitos com assento na Suprema Corte o poder de definir o sentido das claacuteusulas vagas que
abundam no texto constitucional daquele paiacutes Na defesa desta tese satildeo empregados tanto argumentos de teoria e filosofia poliacuteti-
ca de caraacuteter mais universal como razotildees histoacutericas relacionadas agrave evoluccedilatildeo do constitucionalismo estadunidense Veja-se nesta
linha Mark Tushnet Taking the Constitution Away from the Courts Princeton Princeton University Press 1999 Jeremy Waldron
Precommitment and Disagreement Op cit Larry D Kramer The People Themselves Popular constitutionalism and judicial re-
view New York Oxford University Press 1994
Ateacute algumas deacutecadas atraacutes a oposiccedilatildeo agrave jurisdiccedilatildeo constitucional nos Estados Unidos partia em regra da Direita que natildeo se con-
formava com a jurisprudecircncia extremamente liberal em mateacuteria de direitos fundamentais estabelecida pela Corte entre os anos
50 e 70 Atualmente uma boa parte dos opositores agrave judicial review situa-se agrave esquerda do espectro poliacutetico e talvez a nova linha
profundamente conservadora daquele Tribunal ajude a explicar esta mudanccedila
112Sobre a Era de Lochner veja-se Laurence H Tribe American Constitutional Law 2 ed Mineola The Foundation Press 1988 p
567-581 Paul Brest et al Processes of Constitucional Decisionmaking 4 ed New York Aspen Publishers 2000 p 337-354
113Towards Juristocracy hellip Op cit
114Tratei do tema no artigo Direito adquirido emenda constitucional democracia e justiccedila social In Livres e iguais Op cit p
03-32
115Cf Charles R Epp The Rights Revolution Chicago The University of Chicago Press 1998 p 26-70 Owen Fiss The Law as It
Could Be New York New York University Press 2003 p 244-249
116A importacircncia e as peculiaridades da interpretaccedilatildeo legislativa da Constituiccedilatildeo satildeo exploradas em importante obra coletiva
Richard W Bauman Tsvi Kahana The Least Examined Branch The Role of Legislatures in the Constitutional State Cambridge
Cambridge University Press 2006
117Cf em tom ainda mais ceacutetico do que o adotado neste estudo Martonio MontAlverne Barreto Lima Jurisdiccedilatildeo Constitucional
um problema da teoria da democracia poliacutetica In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Gilberto Bercovici Joseacute Filomeno de Moraes
Filho Martonio MontAlverne Teoria da Constituiccedilatildeo estudos sobre o lugar da poliacutetica no direito constitucional Rio de Janeiro
Lumen Juris 2003 p 199-261 Conrado Huumlbner Mendes Controle de constitucionalidade e democracia Rio de Janeiro Elsevier
2008
36
118Para criacutetica semelhante no contexto germacircnico veja-se Ingeborg Maus O judiciaacuterio como superego da sociedade sobre o papel
da atividade jurisprudencial na sociedade oacuterfatilde Traduccedilatildeo de Martonio MontAlverne Barreto Lima Paulo Antonio Menezes de Albu-
querque Anuaacuterio dos Cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito da Faculdade de Direito de Recife n 11 2000
119Eu aprofundo a anaacutelise deste ponto no meu artigo Interpretaccedilatildeo constitucional preacute-compreensatildeo e capacidades institucionais do
inteacuterprete In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm (Coord) Vinte anos da Constituiccedilatildeo Federal
de 1988 Op cit p 311-322 E a necessidade de optar por teoria de interpretaccedilatildeo que leve em consideraccedilatildeo as capacidades
institucionais reais dos juiacutezes comparando-as com as dos agentes de outras instituiccedilotildees eacute explorada no importante estudo de Cass
Sunstein Adrian Vermeulle Interpretations and Institutions Chicago Working Papers in Law amp Economics 2002 p 01-55 bem
como no livro de Adrian Vermeulle Judging under Uncertainty An Institutional Theory for Legal Interpretation Cambridge Har-
vard University Press 2006
120Dentre as honrosas exceccedilotildees mencione-se Luiacutes Roberto Barroso autor de importante artigo com sugestotildees para a reforma poliacuteti-
ca no paiacutes Reforma poliacutetica uma proposta de sistema de governo eleitoral e partidaacuterio para o Brasil Revista de Direito do Esta-
do n 3 p 287-360 jul set 2006
121Sobre o ethos judicial no Brasil veja-se a pesquisa de Maria Tereza Sadek Magistrados uma imagem em movimento Rio de
Janeiro FGV 2006
122Em sentido semelhante veja-se Michael J Perry The Constitution the Courts and Human Rights New Haven Yale University
Press 1982 p 91-145
123Neste ponto entendo que um standard importante que deveria ser adotado para controle de constitucionalidade eacute o de que
quanto maiores forem as credencias democraacuteticas de um ato normativo mais autocontido deve ser o Poder Judiciaacuterio ao avaliar a
sua constitucionalidade Na minha opiniatildeo estas credencias democraacuteticas devem ser aferidas tanto por criteacuterios qualitativos - eg
grau de participaccedilatildeo social no processo legislativo qualidade do processo deliberativo que a antecedeu - como por criteacuterios quanti-
tativos - percentual de votos favoraacuteveis agrave medida Em sentido semelhante veja-se Claacuteudio Ari Mello Democracia e direitos funda-
mentais Op cit p 298
124Em sentido proacuteximo apontam as liccedilotildees de Gustavo Binenbojm e Humberto Aacutevila O primeiro tratando do controle judicial dos
atos administrativos averbou que quanto maior for o grau de tecnicidade da mateacuteria objeto de decisatildeo por oacutergatildeos dotados de
expertise e experiecircncia menos intenso deve ser o grau de controle judicial (Uma teoria do direito administrativo Op cit p
236) Jaacute o segundo salientou que o acircmbito de controle pelo Judiciaacuterio deveraacute ser tanto menor quanto mais difiacutecil e teacutecnico for
o juiacutezo exigido para o tratamento da mateacuteria (Teoria dos princiacutepios Op cit p 126)
125Um exemplo extremado deste posicionamento estaacute na argumentaccedilatildeo adotada pelo STF no julgamento da ADIN 2797 Rel Min
Sepuacutelveda Pertence em que se reconheceu a inconstitucionalidade formal de lei que pretendia interpretar a Constituiccedilatildeo Para o
STF natildeo pode a lei ordinaacuteria pretender impor como seu objeto imediato uma interpretaccedilatildeo a Constituiccedilatildeo a questatildeo eacute de in-
constitucionalidade formal iacutensita a toda norma da gradaccedilatildeo inferior que se proponha a ditar interpretaccedilatildeo de norma superior
Na questatildeo de fundo abordada naquele caso entendo que o STF estava certo Tratava-se de invalidar uma norma legal que esten-
dera o foro de prerrogativa de funccedilatildeo a ex-ocupantes de cargos puacuteblicos visando a restaurar antiga jurisprudecircncia do STF sedi-
mentada na Suacutemula 394 do Tribunal que acabara de ser cancelada O princiacutepio republicano natildeo era compatiacutevel com tal medida
que configurava niacutetido privileacutegio O que me parece inaceitaacutevel e profundamente anti-democraacutetico com a devida vecircnia natildeo eacute o
resultado alcanccedilado pela Corte - com o qual concordo - mas o argumento empregado de que o legislador natildeo pode interpretar a
Constituiccedilatildeo
126Existe hoje uma fecunda produccedilatildeo acadecircmica no cenaacuterio anglo-saxatildeo sobre as vantagens de modelos teoacutericos que favoreccedilam
diaacutelogos entre diversos oacutergatildeos e instituiccedilotildees na interpretaccedilatildeo constitucional ao inveacutes de afirmarem a exclusividade ou mesmo a
supremacia do Judiciaacuterio nesta seara Veja-se a propoacutesito Laurence G Sager Justice in Plainclothes A Theory of American Con-
stitutional Practice New haven Yale University Press 2004 Mark Tushnet Weak Courts Strong Rights Judicial Review and Social
Welfare Rights in Comparative Constitutional Law Princeton Princeton University Press 2008 Mark C Miller Jeb Barnes (Ed)
Making Police Making Law An Interbranch Perspective Washington DC Georgetown University Press 2004
37
127Colhi o exemplo no estudo de Oscar Vilhena Vieira Supremocracia In Daniel Sarmento (Org) Filosofia e teoria constitucional
contemporacircnea Rio de Janeiro Lumen Juris 2009
128Como um natildeo-positivista tenho a necessaacuteria imparcialidade para criticar os equiacutevocos da doutrina brasileira nas suas invectivas
contra o positivismo que muitas vezes caracterizam verdadeira falaacutecia do espantalho ataca-se natildeo a proacutepria teoria positivista
mas uma distorcida caricatura dela Duas afirmaccedilotildees erradas que eu mesmo jaacute fiz em textos anteriores satildeo muito frequumlentes a
de que o positivismo recusa a aplicaccedilatildeo dos princiacutepios juriacutedicos e a de que ele teria sido a Filosofia do Direito cultivada na Alema-
nha nazista
Quanto ao primeiro ponto natildeo haacute nenhuma incompatibilidade loacutegica entre positivismo e princiacutepios desde que os princiacutepios este-
jam devidamente incorporados na ordem juriacutedico-positiva Vaacuterios autores positivistas contemporacircneos jaacute citados neste estudo
como Luis Prietro Sanchiacutes Luigi Ferrajoli e Gregorio Peces-Barba atribuiacuteram espaccedilo importante para princiacutepios nas suas teorias
Mesmo no Direito Puacuteblico brasileiro juristas de inspiraccedilatildeo positivista kelseniana construiacuteram suas teorias com apoio em argumen-
taccedilatildeo principioloacutegica como o falecido Geraldo Ataliba e Celso Antonio Bandeira de Mello
No que tange ao segundo ponto - a chamada redutio ad hitlerum - os estudos mais autorizados de Histoacuteria do Direito comprovam
que natildeo foi o positivismo a teoria juriacutedica dominante no nazismo mas uma espeacutecie de jusnaturalismo de inspiraccedilatildeo hegeliana que
se insurgia contra o formalismo e recorria com frequumlecircncia a conceitos muito vagos para justificar a barbaacuterie como os de comuni-
dade popular (Volksgemeinschaft) Veja-se a propoacutesito Michael Stolleis The Law under the Swastika Studies on Legal History in
Nazi Germany Traduccedilatildeo de Thomas Dunlap Chicago The University of Chicago Press 1998
129Cf Joseacute Joaquim Gomes Canotilho Direito constitucional e Teoria da Constituiccedilatildeo Coimbra Almedina 1998 p 1036
130Sobre a importacircncia das regras veja-se Frederick Schauer Playing by the Rules A Philosophical Exaxamination of Rule-Bases
Decision-Making in Law and Life Oxford Oxford University Press 1998 Humberto Aacutevila Neoconstitucionalismo entre a ciecircncia do
direito e o direito da ciecircncia Op cit Noel Struchiner Posturas institucionais e modelagem institucional a dignidade (contingente)
do formalismo juriacutedico In Daniel Sarmento Filosofia e teoria constitucional contemporacircnea Op cit
131Esta eacute expressatildeo empregada por Ana Paula de Barcellos O direito constitucional em 2006 Revista de Direito do Estado n 5 p
03-23 janmar 2007
132Cf Chaiumlm Perelman P Fories La Motivation des Deacutecisions de Justice Bruxelas Eacutemile Bruylant 1978
133Sobra a influecircncia do jeitinho no Direito brasileiro cf Keith Rosen O jeito na cultura juriacutedica brasileira Rio de Janeiro Reno-
var 1997
134Sobre o patrimonialismo no Brasil veja-se Raimundo Faoro Os donos do poder 8 ed Rio de Janeiro Globo 1989 v 2 p 729-
750
135Raiacutezes do Brasil 26 ed Satildeo Paulo Companhia das Letras 1995
136Cf Joseacute Murilo de Carvalho Brasileiro Cidadatildeo In Pontos e bordados escritos de histoacuteria e poliacutetica Belo Horizonte Ed
UFMG 2005 p 275-288
137Cf Gustavo Zagrebelsky Il Diritto Mite Op cit p 15-19
138Cf Marcelo Neves A constitucionalizaccedilatildeo simboacutelica Satildeo Paulo Acadecircmica 1994
139A obra de Niklas Luhman eacute vasta e complexa e seus textos satildeo de difiacutecil compreensatildeo para os natildeo iniciados Veja-se do proacuteprio
autor Sociologia do direito I e II Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 1983 e 1985 Sistema Jurididico y Dogmaacutetica Juriacutedica Madrid
Centro de Estuacutedios Constitucionales 1983 Confira-se tambeacutem a coletacircnea organizada por Andreacute-Jean Arnaud Dalmir Lopes Jr Do
sistema social agrave sociologia juriacutedica Rio de Janeiro Lumen Juris 2004
140Sobre a autopoieses do Direito veja-se tambeacutem a obra importante de Guumlnther Teubner O direito como sistema autopoieacutetico
Traduccedilatildeo de Joseacute Engracia Nunes Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1993
141Cf Luis Roberto Barroso Neoconstitucionalismo e a constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit
142Esta era basicamente a visatildeo de Hans Kelsen (Cf Hans Kelsen Jurisdiccedilatildeo constitucional Traduccedilatildeo de Alexandre Krug et al Satildeo
Paulo Martins Fontes 2003 p 153) Para uma anaacutelise criacutetica desta posiccedilatildeo veja-se Luis Prietro Sanchiacutes Presupuestos ideoloacutegicos
y doctrinales de la jurisdicioacuten constitucional In Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales Op cit p 21-100
38
143Cf Christian Starck La suprematie La Suprematie de la Constitution et la Justice Constitutionnelle In La Constitution Cadre et
Mesure du Droit Traduccedilatildeo de Freacutederic Weill Paris Econocircmica 1994 p 26-30 Ernst- Wolfgang Boumlckenfoumlrde Les meacutethodes
dinterpretation de la Constitution Un bilan critique In Le Droit lEacutetat et la Constitution Democratique Traduccedilatildeo de Olivier
Jouanjan Paris LGDJ 2000 p 249-250 Virgiacutelio Afonso da Silva Constitucionalizaccedilatildeo do direito os direitos fundamentais nas
relaccedilotildees entre particulares Satildeo Paulo Malheiros 2005 p 107-131 Daniel Sarmento Ubiquumlidade constitucional os dois lados da
moeda Op cit Luis Roberto Barroso Curso de Direito Constitucional Contemporacircneo Op cit p 391-394 Alceu Mauriacutecio Jr
Judicializaccedilatildeo da poliacutetica e a crise do direito constitucional a Constituiccedilatildeo entre ordem marco e ordem fundamenta Revista de
Direito do Estado n 10 p 125-142 abrjun 2008
144Der Staat der Industriegesellshaft 2 ed Muumlnchen Beck 1971 p 144 Apud Robert Alexy Posfaacutecio In Teoria dos direitos
fundamentais Op cit p 578
145De acordo com Carlos Santiago Nino o perfeccionaismo eacute la concepcioacuten seguacuten la cual es una misioacuten legiacutetima del Estado hacer
que los individuos acepten y materializen ideales vaacutelidos de virtud personal Seguacuten este enfoque el Estado no puede permanecer
neutral respecto de concepciones de lo bueno en la vida y debe adoptar las medidas educativas punitorias etc que sean necesa-
rias para que los indiviacuteduos ajusten su vida a los verdaderos ideales de virtud y del bien (Eacutetica y Derechos Humanos Un ensayo de
fundamentacioacuten 2 ed Buenos Aires Astrea 1989 p 413)
146Daniel Sarmento Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas 2 ed Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 Sobre o tema na literatura
nacional veja-se tambeacutem Wilson Antocircnio Steinmetz A vinculaccedilatildeo dos particulares aos direitos fundamentais Satildeo Paulo Malheiros
2004 Virgiacutelio Afonso da Silva Constitucionalizaccedilatildeo do direito os direitos fundamentais nas relaccedilotildees entre particulares Op cit
Ingo Wolfgang Sarlet Direitos fundamentais e direito privado algumas consideraccedilotildees em torno da vinculaccedilatildeo dos particulares aos
direitos fundamentais In Ingo Wolfgang Sarlet (Org) A Constituiccedilatildeo concretizada Porto Alegre Livraria do Advogado 1999 p
129-173 Jane Reis Gonccedilalves Pereira Apontamentos sobre a aplicaccedilatildeo das normas de direito fundamental nas relaccedilotildees juriacutedicas
entre particulares In Luis Roberto Barroso (Org) A nova interpretaccedilatildeo constitucional ponderaccedilatildeo direitos fundamentais e
relaccedilotildees privadas Rio de Janeiro Renovar 2003 p 119-192
147Sobre a questatildeo da (i)legitimidade do perfeccionismo no Direito veja-se Joel Feinberg Rights Justice and the Bounds of Liber-
ty Princeton Princeton University Press 1980 Carlos Santiago Nino Eacutetica y Derechos Humanos Op cit p 413-446 Rainer Forst
Contexts of Justice Political Philosophy beyond Liberalism and Communitarianism Traduccedilatildeo de John M M Farrel Berkeley Uni-
versity of Califoacuternia Press 2001 p 30-87 Macaacuterio Alemany El Paternalismo Juriacutedico Madrid Iustel 2006
148Um sofisticado modelo que busca conciliar a constitucionalizaccedilatildeo do Direito com a democracia estaacute exposto no Poacutesfaacutecio agrave Teo-
ria dos Direitos Fundamentais de Robert Alexy acima citado Veja-se ainda Konrad Hesse Concepto y Cualidad de la Constitu-
cion In Escritos de Derecho Constitucional Traduccedilatildeo de Pedro Cruz Villaloacuten 2 ed 1992 p 03-29
149Tentei articular a minha teoria sobre eficaacutecia horizontal dos direitos fundamentais com este objetivo Cf Daniel Sarmento
Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas Op cit p 141-182 259-272
150Sobre el Neoconstitucionalismo y sus Implicaciones Op cit p 117
151Aqui entendo que o simples reconhecimento da penetraccedilatildeo da Moral no Direito preconizada pelos neoconstitucionalistas brasi-
leiros natildeo eacute suficiente jaacute que certas concepccedilotildees morais podem tornar o ordenamento ainda mais opressivo do que jaacute eacute Afinal
nem sempre a moralizaccedilatildeo do Direito se daacute na direccedilatildeo da emancipaccedilatildeo dos excluiacutedos Veja-se por exemplo a famosa polecircmica
jusfilosoacutefica entre Lord Patrick Devlin e Herbert Hart nos anos 60 na Inglaterra a propoacutesito do uso do Direito Penal para promoccedilatildeo
de Moral em que o primeiro a partir de uma posiccedilatildeo proacute-moral sustentava a legitimidade da criminalizaccedilatildeo da conduta homos-
sexual que o segundo contestava (Cf Lord Patrick Devlin Morals and Criminal Law In Ronald Dworkin (Ed) The Philosophy of
Law Op cit p 66-82 Herbert Hart Immorality and Treason In Idem ibidem)
Eacute preciso assentar as bases criacuteticas desta Moral que deve penetrar o Direito para evitar que o moralismo conservador seja expulso
do ordenamento pela porta da frente superado pela legislaccedilatildeo moderna em razatildeo da progressiva liberalizaccedilatildeo da sociedade mas
volte pela porta dos fundos atraveacutes da argumentaccedilatildeo juriacutedica dos juiacutezes lastreada em conceitos vagos como ordem puacuteblica e
bons constumes ou em standards como o comportamento do bom pai de famiacutelia
39
18
as pessoas e movimentos que natildeo pertenccedilam nem tenham proximidade com as corporaccedilotildees
juriacutedicas
Ademais esta obsessatildeo com a interpretaccedilatildeo judicial da Constituiccedilatildeo tende a obscurecer o pa-
pel central de outras instacircncias na definiccedilatildeo do sentido da Constituiccedilatildeo - como o Legislativo o
Executivo e a proacutepria esfera puacuteblica informal Trata-se de um desvio que gera consequumlecircncias
negativas tanto no plano descritivo como na esfera normativa Sob o prisma descritivo trans-
mite-se uma imagem muito parcial do fenocircmeno constitucional que natildeo eacute captado com todas
as suas nuances e riquezas jaacute que o foco se concentra apenas sobre a accedilatildeo de um dentre os
vaacuterios agentes importantes que povoam a seara da hermenecircutica constitucional116 Sob o acircngu-
lo normativo favorece-se um governo agrave moda platocircnica de saacutebios de toga117 que satildeo convida-
dos a assumir uma posiccedilatildeo paternalista diante de uma sociedade infantilizada118 Justifica-se o
ativismo judicial a partir de uma visatildeo muito criacutetica do processo poliacutetico majoritaacuterio mas que
ignora as inuacutemeras mazelas que tambeacutem afligem o Poder Judiciaacuterio construindo-se teorias a
partir de visotildees romacircnticas e idealizadas do juiz119 Soacute que se eacute verdade que o processo poliacuteti-
co majoritaacuterio tem seus viacutecios - e eles satildeo muito graves no cenaacuterio brasileiro - tambeacutem eacute certo
que os juiacutezes natildeo satildeo semi-deuses e que a esfera em que atuam tampouco eacute imune agrave poliacutetica
com p menor
Esta idealizaccedilatildeo da figura do juiz natildeo se compadece com algumas notoacuterias deficiecircncias que o
Judiciaacuterio brasileiro enfrenta Dentre elas pode-se destacar a sobrecarga de trabalho que
compromete a capacidade dos magistrados de dedicarem a cada processo o tempo e a energia
necessaacuterias para que faccedilam tudo que o que demandam as principais teorias da argumentaccedilatildeo
defendidas pelo neoconstitucionalismo E cabe referir tambeacutem agraves lacunas na formaccedilatildeo do ma-
gistrado brasileiro decorrentes sobretudo das falhas de um ensino juriacutedico formalista e nada
interdisciplinar que ainda viceja no paiacutes que natildeo satildeo corrigidas nos procedimentos de seleccedilatildeo
e treinamento dos juiacutezes
Outra consequumlecircncia da obsessatildeo judicialista do constitucionalismo brasileiro contemporacircneo
estaacute refletida na nossa produccedilatildeo acadecircmica Enquanto somos inundados por livros e artigos
muitas vezes repetitivos sobre assuntos como princiacutepios e regras interpretaccedilatildeo constitucional
e tutela judicial de direitos fundamentais outros temas absolutamente essenciais para a vida
do paiacutes passam ao largo da preocupaccedilatildeo dos juristas Eacute o caso da reforma poliacutetica Em que pese
o caraacuteter essencialmente constitucional do assunto quase nenhum constitucionalista se inte-
ressou por ele 120e praticamente toda a literatura de qualidade produzida sobre o toacutepico tem
vindo da Ciecircncia Poliacutetica
19
Estou convencido de que o Poder Judiciaacuterio tem um papel essencial na concretizaccedilatildeo da Consti-
tuiccedilatildeo brasileira Em face do quadro de sistemaacutetica violaccedilatildeo de direitos de certos segmentos da
populaccedilatildeo do arranjo institucional desenhado pela Carta de 88 e da seacuteria crise de representa-
tividade do Poder Legislativo entendo que o ativismo judicial se justifica no Brasil pelo menos
em certas searas como a tutela de direitos fundamentais a proteccedilatildeo das minorias e a garantia
do funcionamento da proacutepria democracia O maior insulamento judicial diante da pressatildeo das
maiorias bem como um certo ethos profissional de valorizaccedilatildeo dos direitos humanos que co-
meccedila a se instalar na nossa magistratura 121 conferem ao Judiciaacuterio uma capacidade institu-
cional privilegiada para atuar nestas aacutereas122
Mas em outros campos pode ser mais recomendaacutevel uma postura de autocontenccedilatildeo judicial
seja por respeito agraves deliberaccedilotildees majoritaacuterias adotadas no espaccedilo poliacutetico123 seja pelo reco-
nhecimento da falta de expertise do Judiciaacuterio para tomar decisotildees que promovam eficiente-
mente os valores constitucionais em jogo em aacutereas que demandem profundos conhecimentos
teacutecnicos fora do Direito - como Economia poliacuteticas puacuteblicas e regulaccedilatildeo124 Nestes casos deve-
se reconhecer que outros oacutergatildeos do Estado estatildeo mais habilitados para assumirem uma posiccedilatildeo
de protagonismo na implementaccedilatildeo da vontade constitucional
Nesta linha vejo com reticecircncias a sedimentaccedilatildeo na nossa cultura juriacutedica da visatildeo de que o
grande - senatildeo o uacutenico - inteacuterprete da Constituiccedilatildeo seria o Poder Judiciaacuterio125 Esta leitura des-
carta a autocontenccedilatildeo judicial bem como tende a desprezar a possibilidade de que sejam tra-
vados construtivos diaacutelogos interinstitucionais entre diversos oacutergatildeos estatais para a definiccedilatildeo da
melhor interpretaccedilatildeo dos ditames constitucionais126 Um bom exemplo127 deste desvio ocorreu
no julgamento da constitucionalidade das pesquisas em ceacutelulas-tronco embrionaacuterias realizada
pelo STF em que pese o resultado final do julgamento ter sido substancialmente correto Na-
quela ocasiatildeo o importante argumento deduzido na tribuna e em memoriais por Luis Roberto
Barroso - que advogava para um dos amici curiae favoraacuteveis agraves pesquisas - de que o Judiciaacuterio
deveria adotar posiccedilatildeo cautelosa no julgamento da constitucionalidade da lei impugnada ten-
do em vista o amplo consenso em torno dela obtido durante o processo legislativo tanto no
Senado como na Cacircmara foi explicitamente rechaccedilado por alguns ministros que consideraram
o ponto irrelevante E outros ministros em votos vencidos se sentiram confortaacuteveis ateacute para
defender a imposiccedilatildeo de novas normas pelo STF na aacuterea do Biodireito arvorando-se agrave condiccedilatildeo
de legisladores num campo para o qual evidentemente lhes faltava qualquer expertise
Enfim o neoconstitucionalismo brasileiro tem pecado por excesso depositando no Judiciaacuterio
expectativas que ele nem sempre teraacute como atender de forma satisfatoacuteria Um dos efeitos co-
laterais deste fenocircmeno eacute a disseminaccedilatildeo de um discurso muito perigoso de que voto e poliacuteti-
20
ca natildeo satildeo tatildeo importantes pois relevante mesmo eacute a interpretaccedilatildeo dos princiacutepios constitucio-
nais realizada pelo STF Daiacute a dizer que o povo natildeo sabe votar eacute um pulo e a ditadura de toga
pode natildeo ser muito melhor do que a ditadura de farda
b) Neoconstitucionalismo oba-oba constitucional e Estado Democraacutetico de Direito
Seria uma profunda injusticcedila com a teoria neoconstitucionalista acusaacute-la de promover o decisi-
onismo ou de defender a tomada de decisotildees judiciais puramente emotivas sem lastro em ar-
gumentaccedilatildeo racional soacutelida Pelo contraacuterio como foi destacado acima um dos eixos centrais
do pensamento neoconstitucional eacute a reabilitaccedilatildeo da racionalidade praacutetica no acircmbito juriacutedico
com a articulaccedilatildeo de complexas teorias da argumentaccedilatildeo que demandam muito dos inteacuterpre-
tes e sobretudo dos juiacutezes em mateacuteria de fundamentaccedilatildeo das suas decisotildees Poreacutem a praacutetica
judiciaacuteria brasileira recepcionou apenas parcialmente as teorias juriacutedicas de corte poacutes-
positivista e aqui a valorizaccedilatildeo dos princiacutepios e da ponderaccedilatildeo natildeo tem sido muitas vezes
acompanhada do necessaacuterio cuidado com a justificaccedilatildeo das decisotildees
Se ateacute natildeo muito tempo atraacutes os princiacutepios natildeo eram tratados como autecircnticas normas por
aqui - soacute tinha bom direito quem podia invocar uma regra legal clara e precisa em favor da sua
pretensatildeo - com a chegada do poacutes-positivismo e do neoconstitucionalismo passou-se em pou-
cos anos da aacutegua para o vinho Hoje instalou-se um ambiente intelectual no Brasil que aplaude
e valoriza as decisotildees principioloacutegicas e natildeo aprecia tanto aquelas calcadas em regras legais
que satildeo vistas como burocraacuteticas ou positivistas - e positivismo hoje no paiacutes eacute quase um pala-
vratildeo128 Neste contexto os operadores do Direito satildeo estimulados a invocar sempre princiacutepios
muito vagos nas suas decisotildees mesmo quando isso seja absolutamente desnecessaacuterio pela e-
xistecircncia de regra clara e vaacutelida a reger a hipoacutetese Os campeotildees tecircm sido os princiacutepios da dig-
nidade da pessoa humana e da razoabilidade O primeiro eacute empregado para dar imponecircncia ao
decisionismo judicial vestindo com linguagem pomposa qualquer decisatildeo tida como politica-
mente correta e o segundo para permitir que os juiacutezes substituam livremente as valoraccedilotildees de
outros agentes puacuteblicos pelas suas proacuteprias
Este cenaacuterio eacute problemaacutetico porque um sistema juriacutedico funcional estaacutevel e harmocircnico com os
valores do Estado Democraacutetico de Direito precisa tanto da aplicaccedilatildeo de regras como de princiacute-
pios129 As regras satildeo indispensaacuteveis dentre outras razotildees130 porque geram maior previsibili-
dade e seguranccedila juriacutedica para os seus destinataacuterios diminuem os riscos de erro na sua inci-
decircncia jaacute que natildeo dependem tanto das valoraccedilotildees do inteacuterprete em cada caso concreto en-
volvem um menor custo no seu processo de aplicaccedilatildeo pois podem incidir de forma mais mecacirc-
nica sem demandarem tanto esforccedilo do inteacuterprete e natildeo implicam na mesma medida que os
21
princiacutepios em uma transferecircncia de poder decisoacuterio do Legislativo que eacute eleito para o Judici-
aacuterio que natildeo eacute
Natildeo pretendo sustentar com isso que se deva retroceder ao tempo em que os princiacutepios natildeo
eram aplicados pelos juiacutezes brasileiros Tambeacutem os princiacutepios satildeo essenciais na ordem juriacutedica
pois conferem mais plasticidade ao Direito - o que eacute essencial numa sociedade hiper-complexa
como a nossa - e permitem uma maior abertura da argumentaccedilatildeo juriacutedica agrave Moral e ao mundo
empiacuterico subjacente O importante eacute encontrar uma justa medida que natildeo torne o processo de
aplicaccedilatildeo do Direito amarrado demais como ocorreria num sistema baseado exclusivamente
em regras nem solto demais como sucederia com um que se fundasse apenas em princiacutepios
Penso que eacute chegada a hora de um retorno do pecircndulo no Direito brasileiro131 que sem des-
cartar a importacircncia dos princiacutepios e da ponderaccedilatildeo volte a levar a seacuterio tambeacutem as regras e a
subsunccedilatildeo
Ademais naquelas hipoacuteteses em que a aplicaccedilatildeo de princiacutepios for realmente apropriada ela
deve dar-se de forma mais racional e fundamentada Deve-se adotar a premissa de que quanto
mais vaga for a norma a ser aplicada e mais intenso o componente volitivo envolvido no pro-
cesso decisoacuterio maior deve ser o ocircnus argumentativo do inteacuterprete no sentido de mostrar que
a soluccedilatildeo por ele adotada eacute a que melhor realiza os valores do ordenamento naquele caso con-
creto132 A tendecircncia atual de invocaccedilatildeo frouxa e natildeo fundamentada de princiacutepios colide com a
loacutegica do Estado Democraacutetico de Direito pois amplia as chances de arbiacutetrio judicial gera inse-
guranccedila juriacutedica e atropela a divisatildeo funcional de poderes que tem no ideaacuterio democraacutetico um
dos seus fundamentos - a noccedilatildeo baacutesica de que as decisotildees sobre o que os cidadatildeos e o Estado
podem e natildeo podem fazer devem ser tomadas preferencialmente por quem represente o povo
e seja por ele escolhido
E haacute na sociedade brasileira traccedilos que tornam ainda mais perigosa esta tendecircncia agrave frouxidatildeo
e emotividade na metodologia juriacutedica Nossa cultura caracteriza-se muito mais pelo jeiti-
nho133 e pelo patrimonialismo134 do que pela valorizaccedilatildeo do cumprimento impessoal de regras
O brasileiro - jaacute dizia Seacutergio Buarque de Holanda135 - eacute o homem cordial que tende a antepor
a loacutegica privada do compadrio e da simpatia agrave racionalidade objetiva das leis Esta singularida-
de das nossas relaccedilotildees sociais natildeo atua de forma neutra em relaccedilatildeo a todos os cidadatildeos Ela
implica na adoccedilatildeo de posturas estatais em geral muito benevolentes em relaccedilatildeo aos donos do
poder e seus apaniguumlados e de posiccedilotildees muito mais duras dirigidas aos grupos excluiacutedos e mar-
ginalizados136 Uns poucos acabam pairando acima das leis que natildeo os alcanccedilam para limitar a
sua conduta ou sancionar os seus desvios enquanto outros permanecem abaixo dela sendo
22
atingidos apenas pelo braccedilo punitivo do Estado pois a violaccedilatildeo rotineira dos seus direitos eacute
naturalizada tornando-se invisiacutevel
Neste quadro cabe indagar sob a perspectiva de uma sociologia da interpretaccedilatildeo constitucio-
nal ateacute que ponto a introduccedilatildeo entre noacutes de uma dogmaacutetica fluida - a expressatildeo eacute de Gusta-
vo Zagrebelsky137 um dos iacutecones do neoconstitucionalismo - natildeo pode ter como efeito colateral
o agravamento de patologias que marcam as nossas relaccedilotildees sociais Seraacute que o nosso Direito
precisa de mais rigidez ou de maior maleabilidade Ao fim e ao cabo quem tende a se benefi-
ciar com a adoccedilatildeo de uma hermenecircutica juriacutedica mais flexiacutevel
Uma reflexatildeo importante sobre tema correlato foi empreendida por Marcelo Neves138 a partir
das categorias da teoria sistecircmica de Niklas Luhman Para Luhman139 em apertada siacutentese o
Direito nas hipercomplexas sociedades modernas seria autopoieacutetico140 pois consistiria num
subsistema social estruturalmente fechado em relaccedilatildeo ao meio envolvente que operaria de
acordo com um coacutedigo binaacuterio proacuteprio - o liacutecito iliacutecito As influecircncias do meio envolvente so-
bre o Direito seriam filtradas atraveacutes deste coacutedigo assegurando a autonomia da esfera juriacutedica
diante dos outros subsistemas sociais como a Economia a Poliacutetica a Religiatildeo etc Contudo
Marcelo Neves sustenta que em sociedades perifeacutericas como o Brasil natildeo se desenvolveu ple-
namente este fechamento estrutural do Direito Por aqui fatores como a nossa constituciona-
lizaccedilatildeo simboacutelica geraram uma insuficiente diferenciaccedilatildeo do Direito em relaccedilatildeo a outros sub-
sistemas sociais permitindo que elementos a princiacutepio estranhos ao coacutedigo binaacuterio do juriacutedico -
como a questatildeo do poder poliacutetico e do poder econocircmico - se infiltrem sistematicamente nos
processos de aplicaccedilatildeo das normas condicionando o seu resultado A teoria dos sistemas de
Luhman natildeo funcionaria bem entre noacutes pois teriacuteamos um Direito em boa parte alopoieacuteti-
coPara tal perspectiva esta maior abertura do Direito ao meio envolvente natildeo assume o po-
tencial emancipatoacuterio preconizado pela teoria neoconstitucionalista Ela funciona muito mais
como um mecanismo de cristalizaccedilatildeo de diferenccedilas sociais mantendo a hiper-inclusatildeo de uns
ao preccedilo da exclusatildeo de outros
Esta reflexatildeo de Marcelo Neves natildeo se dirigiu ao debate metodoloacutegico contemporacircneo envol-
vendo princiacutepios e regras ponderaccedilatildeo e subsunccedilatildeo etc Poreacutem entendo que ela pode ter algu-
ma pertinecircncia tambeacutem aqui pelo menos para nos advertir sobre o perigo de que o neoconsti-
tucionalismo com a fluidez metodoloacutegica e abertura do Direito a outros domiacutenios que preconi-
za possa acabar tornando-se um belo roacutetulo para justificar mais do mesmo patrimonialismo
desigualdade jeitinho Nesta perspectiva a novidade do neoconstitucionalismo poderia pare-
cer com aquela advogada pelo Priacutencipe de Salinas em famosa passagem do romance O Leopar-
do de Giuseppe Lampedusa quando defendia no contexto da crise da aristocracia italiana do
23
final do seacuteculo XIX a necessidade de mudanccedilas urgentes no governo para que ao final as
coisas pudessem permanecer exatamente do jeito que sempre foram
Natildeo penso que esta seja uma consequumlecircncia necessaacuteria da adoccedilatildeo de uma perspectiva juriacutedica
mais principialista no Brasil O maior cuidado metodoloacutegico adicionado agrave adoccedilatildeo de uma dire-
triz hermenecircutica substantiva que afirme a missatildeo essencial do Direito de assegurar justiccedila e
seguranccedila agraves pessoas tratando-as como livres e iguais pode minimizar as possibilidades de um
uso enviesado da teoria neoconstitucional que acabe favorecendo aos mesmos de sempre
Mas diante das nossas tradiccedilotildees natildeo haacute como negar que os riscos satildeo elevados
c) Neoconstitucionalismo e panconstitucionalizaccedilatildeo
Uma das caracteriacutesticas do neoconstitucionalismo eacute a defesa da constitucionalizaccedilatildeo do Direi-
to Sustenta-se que a irradiaccedilatildeo das normas constitucionais por todo o ordenamento contribui
para aproximaacute-lo dos valores emancipatoacuterios contidos nas constituiccedilotildees contemporacircneas 141A
Constituiccedilatildeo natildeo eacute vista mais como uma simples norma normarum - cuja finalidade principal eacute
disciplinar o processo de produccedilatildeo de outras normas142 Ela passa a ser enxergada como a en-
carnaccedilatildeo dos valores superiores da comunidade poliacutetica que devem fecundar todo o sistema
juriacutedico Neste modelo cabe ao inteacuterprete natildeo soacute aplicar diretamente os ditames constitucio-
nais agraves relaccedilotildees sociais como tambeacutem reler todas as normas e institutos dos mais variados ra-
mos do Direito agrave luz da Constituiccedilatildeo emprestando-lhes o sentido que mais promova os objeti-
vos e a axiologia da Carta
A constitucionalizaccedilatildeo do Direito de que cogita o neoconstitucionalismo natildeo eacute aquela que resul-
ta do caraacuteter excessivamente analiacutetico da Constituiccedilatildeo e leva ao entricheiramento de meras
opccedilotildees conjunturais do constituinte originaacuterio ou derivado despidas de maior importacircncia ou
dignidade Este eacute um fenocircmeno caracteriacutestico da Carta de 88 que se excedeu no casuiacutesmo e
nos detalhes elevando ao seu texto meros interesses corporativos ou decisotildees de momento
sem focirclego para perdurarem no tempo A constitucionalizaccedilatildeo louvada e defendida pelo neo-
constitucionalismo eacute aquela que parte de uma interpretaccedilatildeo extensiva e irradiante dos direitos
fundamentais e dos princiacutepios mais importantes da ordem constitucional Aqui contudo pode-
se discutir ateacute que ponto o fenocircmeno eacute legiacutetimo Poucos discordaratildeo pelo menos no Brasil de
que alguma constitucionalizaccedilatildeo do Direito eacute positiva e bem-vinda por semear o ordenamento
com os valores humanitaacuterios da Constituiccedilatildeo Poreacutem pode-se objetar contra as teses extrema-
das sobre este processo que acabam amputando em demasia o espaccedilo de liberdade do legisla-
dor em detrimento da democracia 143
24
Com efeito quem defende que tudo ou quase tudo jaacute estaacute decidido pela Constituiccedilatildeo e que o
legislador eacute um mero executor das medidas jaacute impostas pelo constituinte nega por conse-
quumlecircncia a autonomia poliacutetica ao povo para em cada momento da sua histoacuteria realizar as suas
proacuteprias escolhas O excesso de constitucionalizaccedilatildeo do Direito reveste-se portanto de um
vieacutes antidemocraacutetico Esta ordem de preocupaccedilotildees levou Ersnt Forsthof na Alemanha a criti-
car as teorias que viam a Constituiccedilatildeo como uma espeacutecie de genoma juriacutedico () do qual tudo
deriva do Coacutedigo Penal ateacute a lei sobre a fabricaccedilatildeo de termocircmetros144 E a questatildeo torna-se
ainda mais delicada diante da constataccedilatildeo de que pela abertura semacircntica dos direitos fun-
damentais e dos princiacutepios - principal mateacuteria-prima da constitucionalizaccedilatildeo do Direito - o seu
principal agente acaba sendo o Poder Judiciaacuterio ao dar a uacuteltima palavra sobre a interpretaccedilatildeo
daquelas claacuteusulas Daiacute porque o debate sobre a constitucionalizaccedilatildeo do Direito se imbrica
inexoravelmente com as discussotildees a propoacutesito da judicializaccedilatildeo da poliacutetica e do decisionismo
referidas acima
Ademais a constitucionalizaccedilatildeo do Direito tambeacutem suscita outra linha de preocupaccedilotildees rela-
cionada ao perfeccionismo moral145 na esfera privada No Brasil assim como em muitos outros
paiacuteses jaacute se assentou a ideacuteia de que os direitos fundamentais natildeo se dirigem apenas contra o
Estado vinculando tambeacutem os particulares Entre noacutes tem prevalecido na doutrina a ideacuteia que
eu mesmo defendi em outro estudo146 que a eficaacutecia dos direitos fundamentais nas relaccedilotildees
privadas eacute direta e imediata Em outras palavras entende-se que a proacutepria Constituiccedilatildeo jaacute inci-
de nas relaccedilotildees privadas independentemente de mediaccedilotildees legislativas e que pode gerar o-
brigaccedilotildees positivas ou negativas para os indiviacuteduos e natildeo soacute para os poderes puacuteblicos sempre
no afatilde de proporcionar uma proteccedilatildeo mais completa agrave dignidade humana Ateacute aqui nada a
contestar
Poreacutem o reconhecimento da vinculaccedilatildeo dos particulares agrave Constituiccedilatildeo suscita um risco que
natildeo pode ser ignorado o de imposiccedilatildeo agraves pessoas supostamente em nome de valores constitu-
cionais de comportamentos e estilos de vida que elas proacuteprias rejeitam em detrimento da sua
liberdade existencial Para dar um exemplo bem tosco seria terriacutevel se o Direito em nome do
princiacutepio da solidariedade social pudesse impor agraves pessoas que demonstrassem afetos e senti-
mentos que elas natildeo possuem genuinamente Ou se em nome da isonomia pretendesse inter-
ferir nas escolhas subjetivas e emocionais que os indiviacuteduos fazem nas suas vidas privadas A
constitucionalizaccedilatildeo neste sentido poderia converter-se num pretexto para o exerciacutecio de um
paternalismo anti-liberal em que as pessoas seriam forccediladas a conformarem-se agraves expectativas
sociais forjadas a partir de pautas de accedilatildeo politicamente corretas com apoio na Constitui-
ccedilatildeo147
25
Nenhuma destas duas questotildees eacute insuperaacutevel Eacute possiacutevel aceitar e aplaudir a constitucionaliza-
ccedilatildeo do Direito - fenocircmeno em geral positivo por aproximar a racionalidade emancipatoacuteria da
Constituiccedilatildeo do dia-a-dia das pessoas - mas defender que ela seja temperada por outras preo-
cupaccedilotildees igualmente essenciais no Estado Democraacutetico de Direito com a autonomia puacuteblica e
privada dos cidadatildeos Pode-se reconhecer a legitimidade da constitucionalizaccedilatildeo do Direito
mas numa medida em que natildeo sacrifique em excesso agrave liberdade de conformaccedilatildeo que numa
democracia deve caber ao legislador para realizar opccedilotildees poliacuteticas em nome do povo148 Pode-
se da mesma forma afirmar a incidecircncia direta da Constituiccedilatildeo nas relaccedilotildees privadas mas
sem invadir a esfera das opccedilotildees existenciais da pessoa - que de resto eacute protegida pela proacutepria
Constituiccedilatildeo das ingerecircncias perfeccionistas do Estado e da sociedade149
5 Conclusatildeo Ao fim da leitura destas paacuteginas o leitor pode estar se indagando se eu me alinho ou natildeo ao
neoconstitucionalismo A minha resposta eacute depende da compreensatildeo que se tenha sobre o ne-
oconstitucionalismo Se entendermos o neoconstitucionalismo de acordo com a conhecida defi-
niccedilatildeo de Luis Prietro Sanchiacutes como uma teoria do Direito que se orienta pelas maacuteximas demaacutes
princiacutepios que reglas maacutes ponderacioacuten que subsuncioacuten omnipotencia de la Constitucioacuten en
todas las aacutereas juriacutedicas y en todos conflictos miacutenimamente relevantes en lugar de espacios
exentos en favor de la opcioacuten legislativa o reglamentaria omnipotencia judicial en lugar de
autonomia del legislador ordinaacuterio y por ultimo coexistecircncia de una constelacioacuten plural de
valores a veces tendencialmente contradictorios en lugar de homogeneidad ideoloacutegica150
certamente eu natildeo me considero um neoconstitucionalista De todas as afirmaccedilotildees do professor
espanhol a uacutenica de que natildeo discordo eacute aquela relacionada ao pluralismo de valores cujo re-
conhecimento aliaacutes estaacute longe de ser privileacutegio dos neoconstitucionalistas
Contudo eu assumo o roacutetulo sem constrangimentos se o neoconstitucionalismo for pensado
como uma teoria constitucional que sem descartar a importacircncia das regras e da subsunccedilatildeo
abra tambeacutem espaccedilo para os princiacutepios e para a ponderaccedilatildeo tentando racionalizar o seu uso
Se for visto como uma concepccedilatildeo que sem desprezar o papel protagonista das instacircncias de-
mocraacuteticas na definiccedilatildeo do Direito reconheccedila e valorize a irradiaccedilatildeo dos valores constitucio-
nais pelo ordenamento bem como a atuaccedilatildeo firme e construtiva do Judiciaacuterio para proteccedilatildeo e
promoccedilatildeo dos direitos fundamentais e dos pressupostos da democracia E acima de tudo se
for concebido como uma visatildeo que conecte o Direito com exigecircncias de justiccedila e moralidade
criacutetica151 sem enveredar pelas categorias metafiacutesicas do jusnaturalismo
26
Certamente uma visatildeo equilibrada da Teoria do Direito com tais caracteriacutesticas pode contribu-
ir para o aperfeiccediloamento do Estado Democraacutetico de Direito no Brasil O mesmo jaacute natildeo digo de
concepccedilotildees mais radicais do neoconstitucionalismo que podem ser muito boas para arrancar
aplausos entusiasmados das plateacuteias nos seminaacuterios estudantis mas que natildeo se conciliam com
exigecircncias fundamentais de seguranccedila juriacutedica democracia e liberdade que satildeo alicerces de
qualquer bom constitucionalismo - novo ou velho
Curriacuteculo Resumido
Daniel Sarmento
Poacutes-Doutor pela Universidade de Yale (EUA) Procurador Regional da Repuacuteblica
Como citar este artigo
SARMENTO Daniel O neoconstitucionalismo no Brasil riscos e possibilidades Disponiacutevel em httpwwweditoraforumcombrsistconteudolista_conteudoaspFIDT_CONTEUDO=56993 acesso em 09032011 httpdireitoesubjetividadefileswordpresscom201008daniel-sarmento-o-neoconstitucionalismo-no-brasil1doc acesso em 30062012 Material da 1ordf aula da Disciplina Teoria Geral da Constituiccedilatildeo (I) ministrada no Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo Online em Direito Constitucional ndash Anhanguera-UNIDERP | REDE LFG
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___________________
1Sobre a teoria de princiacutepios no Brasil veja-se dentre outros Ana Paula de Barcellos A eficaacutecia juriacutedica dos princiacutepios constitu-
cionais o princiacutepio da dignidade da pessoa humana Rio de Janeiro Renovar 2002 Humberto Bergman Aacutevila Teoria dos princiacute-
pios da definiccedilatildeo agrave aplicaccedilatildeo dos princiacutepios juriacutedicos 2 ed Satildeo Paulo RT 2005 Jane Reis Gonccedilalves Pereira Interpretaccedilatildeo
constitucional e direitos fundamentais uma contribuiccedilatildeo ao estudo das restriccedilotildees aos direitos fundamentais na perspectiva da
teoria dos princiacutepios Rio de Janeiro Renovar 2006 Virgiacutelio Afonso da Silva O conteuacutedo essencial dos direitos fundamentais e a
eficaacutecia das normas constitucionais Satildeo Paulo Tese (concurso de Professor Titular de Direito Constitucional da USP)
2Veja-se em tons variados Lecircnio Luiz Streck Hermenecircutica juriacutedica e(m) crise uma exploraccedilatildeo hermenecircutica da construccedilatildeo do
direito Porto Alegre Livraria do Advogado 1999 Luiacutes Roberto Barroso (Org) A nova interpretaccedilatildeo constitucional ponderaccedilatildeo
direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas Rio de Janeiro Renovar 2003 Margarida Maria Lacombe Camargo Hermenecircutica e
argumentaccedilatildeo uma contribuiccedilatildeo ao estudo do direito Rio de Janeiro Renovar 2003 Inocecircncio Maacutertires Coelho Interpretaccedilatildeo
constitucional 2 ed Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2003 Ana Paula de Barcellos Ponderaccedilatildeo racionalidade e atividade
jurisdicional Rio de Janeiro Renovar 2005
3Sobre o fenocircmeno da constitucionalizaccedilatildeo do Direito confira-se os inuacutemeros artigos que compotildeem a coletacircnea organizada por
Claacuteudio Pereira de Souza Neto e por mim A constitucionalizaccedilatildeo do direito fundamentos teoacutericos e aplicaccedilotildees especiacuteficas Rio de
Janeiro Lumen Juris 2007
4Cfr na literatura constitucional brasileira Gisele Guimaratildees Cittadino Pluralismo direito e justiccedila distributiva elementos de
filosofia constitucional contemporacircnea Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 Oscar Vilhena Vieira A Constituiccedilatildeo e sua reserva de
justiccedila um ensaio sobre os limites materiais do poder de reforma Satildeo Paulo Malheiros 1999 Ricardo Lobo Torres (Org) A legi-
timaccedilatildeo dos direitos humanos Rio de Janeiro Renovar 2002 Claacuteudio Pereira de Souza Neto Teoria constitucional e democracia
deliberativa Rio de Janeiro Renovar 2006 Lecircnio Luiz Streck Verdade e consenso Constituiccedilatildeo hermenecircutica e teorias discursi-
vas Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 Samantha Chantal Dobrowolski A construccedilatildeo social do sentido da Constituiccedilatildeo na demo-
cracia contemporacircnea entre soberania popular e direitos humanos Rio de Janeiro Lumen Juris 2007 Aacutelvaro Ricardo de Souza
Cruz Hermenecircutica juriacutedica e(m) debate o constitucionalismo brasileiro entre a teoria do discurso e a ontologia existencial Belo
Horizonte Foacuterum 2007
5Sobre a judicializaccedilatildeo da poliacutetica no Brasil veja-se Luiz Werneck Vianna et al A judicializaccedilatildeo da poliacutetica e das relaccedilotildees sociais
no Brasil Rio de Janeiro Revan 1999 Giselle Cittadino Judicializaccedilatildeo da poliacutetica constitucionalismo democraacutetico e separaccedilatildeo de
poderes In Luiz Werneck Vianna (Org) A democracia e os trecircs poderes no Brasil Belo Horizonte UFMG 2002 p 17-42 Rogeacuterio
B Arantes Constitucionalism the expansion of Justice and the Judicialization of Poltics in Brazil In Rachel Sieder Line Schjol-
den Alan Angell The Judicialization of Politics in Latin America New York Palgrave Macmillan 2005 p 232-262 Luis Roberto
Barroso Judicializaccedilatildeo ativismo judicial e legitimidade democraacutetica Texto ineacutedito gentilmente cedido pelo autor
Para uma perspectiva comparativa veja-se Neal C Tate Tobjorn Vallinder (Ed) The Global Expansion of Judicial Power New
York New York University Press 1995 Alec Stone Sweet Governing with Judges Constitutional Politics in Europe Oxford Oxford
Univesity Press 2000 e em tom profundamente criacutetico Ran Hirschl Towards Juristocracy the Origins and Consequences of the
New Constitucionalism Cambridge Harvard University Press 2004
6Miguel Carbonell et al Neoconstitucionalismo(s) Madrid Trotta 2003 Mais recentemente o autor publicou nova coletacircnea
tambeacutem dedicada ao estudo do neoconstitucionalismo intitulada Teoria del Neoconstitucionalismo Ensayos escogidos Madrid
Trotta 2007
7O jurista argentino Carlos Santiago Nino por exemplo faleceu em 1993 quando ainda nem se empregava esta denominaccedilatildeo
8Cf Robert Alexy Teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica a teoria do discurso racional como teoria da fundamentaccedilatildeo juriacutedica Tradu-
ccedilatildeo de Zilda Hutchinson Schild Silva revisatildeo teacutecnica da traduccedilatildeo e introduccedilatildeo agrave ediccedilatildeo brasileira Claudia Toledo 2 ed Satildeo Paulo
Landy 2005 Luis Roberto Barroso Curso de direito constitucional contemporacircneo os conceitos fundamentais e a construccedilatildeo do
novo modelo Rio de Janeiro Saraiva 2008 p 306-350
9Cf Lecircnio Luiz Streck Verdade e consenso Op cit p 197-246
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10Ronald Dworkin e Carlos Santiago Nino satildeo sem sombra de duacutevida autores liberais natildeo no sentido que se atribui ao termo no
Brasil - de adeptos de doutrina econocircmica favoraacutevel ao Estado miacutenimo e ao mercado - mas sim no sentido corrente na Filosofia
Poliacutetica que associa o liberalismo agrave defesa dos direitos individuais e da neutralidade do Estado em relaccedilatildeo agraves diversas concepccedilotildees
sobre a vida boa existentes na sociedade Veja-se neste sentido Ronald Dworkin A Matter of Principle Cambridge Harvard
University Press 1985 p 181-236 Carlos Santiago Nino La constitucioacuten de la Democracia Deliberativa Barcelona Gedisa 1997
p 70-100
11Lecircnio Luiz Streck que se alinha ao neoconstitucionalismo defende posturas tipicamente comunitaristas como o papel da Consti-
tuiccedilatildeo na definiccedilatildeo de modelos de vida boa para orientaccedilatildeo da vida social e da accedilatildeo individual Cf Jurisdiccedilatildeo constitucional e
hermenecircutica uma nova criacutetica do direito 2 ed Rio de Janeiro Forense 2004 p 95-288
12Antonio Cavalcanti Maia um dos mais ardorosos defensores do neoconstitucionalismo no paiacutes eacute tambeacutem procedimentalista e
adepto das teorias juriacutedicas de Juumlrgen Habermas Veja-se neste sentido o seu denso texto Nos vintes anos da carta cidadatilde do
poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm (Coord) Vinte
anos da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 p 117-168 em que esta sua dupla filiaccedilatildeo intelectual eacute
explicitada
13Segundo Miguel Carbonell o neoconstitucionalismo desdobra-se em trecircs planos de anaacutelise que se conjugam o dos textos consti-
tucionais que se tornaram mais substantivos e incorporaram amplos elencos de direitos fundamentais o das praacuteticas judiciais que
passaram a recorrer a princiacutepios constitucionais agrave ponderaccedilatildeo e a meacutetodos mais flexiacuteveis de interpretaccedilatildeo sobretudo na aacuterea de
direitos fundamentais e o dos desenvolvimentos teoacutericos de autores que com as suas ideacuteias ajudaram natildeo soacute a compreender os
novos modelos constitucionais mas tambeacutem participaram da sua proacutepria criaccedilatildeo Cf Miguel Carbonell Neoconstitucionalismo
elementos para una definicioacuten In Eduardo Ribeiro Moreira Mauricio Pugliesi 20 anos da Constituiccedilatildeo brasileira Satildeo Paulo Sarai-
va 2009 p 197-208
14No mesmo sentido Luis Roberto Barroso Neoconstitucionalismo e Constitucionalizaccedilatildeo do direito o triunfo tardio do direito
constitucional do Brasil In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento A constitucionalizaccedilatildeo do direito fundamentos teoacuteri-
cos e aplicaccedilotildees especiacuteficas Rio de Janeiro Lumen Juris 2007 p 203-250
15Cf Carlos Bernal Pulido El Derecho de los Derechos Bogotaacute Universidad Externado de Colocircmbia 2006 Manoel Jose Cepeda
Espinosa Judicialization of Politics in Colombia the old and the new In Rachel Sieder Line Schonjen Alan Angell The Judiciali-
zation of Politics in Latin America Op cit p 67-104 Rodrigo Uprimmy Mauriacutecio Garcia-Villegas Tribunal Constitucional e eman-
cipaccedilatildeo social na Colocircmbia In Boaventura de Souza Santos Democratizar a democracia os caminhos da democracia participativa
Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2002 p 297-339
16Cf Catalina Smulovitz Petitioning and Creating Rights Judicialization in Argentina In Rachel Sieder Line Scjolden Alan Angell
The Judicialization of Politics in Latin America Op cit p 161-185
17Cf Miguel Carbonell Los Derechos Fundamentales en Meacutexico 2 ed Meacutexico Porruacutea 2006 Pilar Domingo The Changing Political
Role of the Judiciary in Meacutexico In Rachel Sieder Line Scjolden Alan Angell The Judicialization of Politics in Latin Ameacuterica Op
cit p 21-46
18Cf Heinz Klug South Aacutefrica From Constitucional Promise to Social Transformation In Jeffrey Goldsworthy Interpreting Consti-
tutions A Comparative Study Oxford Oxford University Press 2006 p 266-320
19Cf S P Sathe Iacutendia From Positivism to Structuralism In Jeffrey Goldsworthy Op cit p 215-265
20Veja-se a propoacutesito Gustavo Zagrebelsky Il Diritto Mite Torino Einaudi 1992 p 57-96
21Cf Eduardo Garciacutea de Enterriacutea La Constitucioacuten como Norma y el Tribunal Constitucional 3 ed Madrid Civitas 1985 p 41
22Na Alemanha a mudanccedila ocorreu sob a vigecircncia da Lei Fundamental adotada em 1949 e foi fortemente impulsionada pela
jurisprudecircncia do Tribunal Constitucional do paiacutes que construiu teorias importantes como a da Constituiccedilatildeo como uma ordem de
valores em cujo centro situa-se o princiacutepio da dignidade humana que se irradia por todo o ordenamento Veja-se a propoacutesito
Dieter Grimm Human Rights and Judicial Review in Germany In David M Beatty (Org) Human Rights and Judicial Review A
Comparative Perspective Dodrecht Martin Urjhoff 1994 p 267-295
23Na Itaacutelia as mudanccedilas se deram sob a eacutegide da atual Constituiccedilatildeo editada em 1947 mas soacute apoacutes o funcionamento da Corte
Constitucional que se deu em 1956 Ateacute entatildeo a Corte de Cassaccedilatildeo composta por juiacutezes recrutados ainda no periacuteodo do fascismo
29
era provisoriamente encarregada da guarda da Constituiccedilatildeo o que fazia de forma muito tiacutemida no mais das vezes negando eficaacute-
cia juriacutedica agraves normas constitucionais sob o argumento de que seriam programaacuteticas Veja-se a propoacutesito Ricardo Guastini A
constitucionalizaccedilatildeo do ordenamento juriacutedico e a experiecircncia italiana In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento A
constitucionalizaccedilatildeo do direito fundamentos teoacutericos e aplicaccedilotildees especiacuteficas Op cit p 271-294
24Cf No modelo do constitucionalismo norte-americano entende-se desde os primoacuterdios que a Constituiccedilatildeo eacute autecircntica lei e que
o Judiciaacuterio pode invalidar as decisotildees legislativas que a contrariem apesar do controle de constitucionalidade natildeo estar expres-
samente previsto no texto constitucional daquele paiacutes Esta ideacuteia que jaacute estava assentada no Federalista n 78 escrito por Ale-
xander Hamilton antes da aprovaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo foi posta em praacutetica pela primeira vez contra lei federal no ceacutelebre caso
Marbury v Madison julgado em 1803 pelo juiz Marshall Veja-se a propoacutesito Paul Brest Sanford Levinson Jack Balkin Akhil Reed
Amar Processes of Constitutional Decisionmaking Cases and Materials New York Aspen Publishers 2000 p 79-103
A versatildeo mais convencional do modelo constitucional norte-americano enfatiza a importacircncia central do Judiciaacuterio na atualizaccedilatildeo
do sentido da Constituiccedilatildeo do paiacutes Contudo esta leitura histoacuterica eacute hoje objeto de intensa disputa Em sentido contraacuterio a tal
posiccedilatildeo sustentando uma menor relevacircncia do Judiciaacuterio no desenvolvimento histoacuterico do constitucionalismo americano veja-se
por exemplo Stephen M Griffin American Constitutionalism From Theory to Politics New Jersey Princeton University Press
1996 p 88-139
25Cf Luis Prietro Sanchiacutes Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales Madrid Trotta 2003 p 107-117
26Cf Daniel Sarmento Ubiquumlidade constitucional Os dois lados da moeda In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento
(Coord) A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 113-148
27Na verdade a reaccedilatildeo contra o formalismo juriacutedico na Europa eacute bem anterior ao advento do constitucionalismo do 2ordm poacutes-guerra
remontando ao final do seacuteculo XIX Veja-se a propoacutesito Constantin M Stamatis Argumenter en Droit Une theacuteorie critique de
largumentation juridique Paris Publisud 1995 p 34-50 Antonio Manoel Hespanha Panorama histoacuterico da cultura juriacutedica euro-
peacuteia Lisboa Publicaccedilotildees Europa-Ameacuterica 1997 p 196-235
28Haacute vasta literatura sobre a ponderaccedilatildeo mas a obra mais influente sobre o tema eacute certamente o livro de Robert Alexy Teoria dos
direitos fundamentais Traduccedilatildeo de Virgiacutelio Afonso da Silva Satildeo Paulo Malheiros 2008 No cenaacuterio norte-americano veja-se a
anaacutelise densa e criacutetica de T Alexander Aleinikoff Constitucional Law in the Age of Balancing Yale Law Journal n 96 p 943-
1005 1987 No Brasil cfr Daniel Sarmento A ponderaccedilatildeo de interesses na Constituiccedilatildeo Federal Rio de Janeiro Lumen Juris
2000 Ana Paula de Barcellos Ponderaccedilatildeo racionalidade e atividade jurisdicional Op cit
29A bibliografia sobre o princiacutepio da proporcionalidade eacute vastiacutessima Veja-se a propoacutesito as densas anaacutelises de Carlos Bernal Puli-
do El Principio de Proporcionalidad y los Derechos Fundamentales Madrid Centro de Estuacutedios Constitucionales 2003 e no Brasil
de Jane Reis Gonccedilalves Pereira Interpretaccedilatildeo constitucional e direitos fundamentais Rio de Janeiro Renovar 2006 p 297-382
30Cf Chaiumlm Perelman Eacutetica e direito Traduccedilatildeo de Maria Ermantina Galvatildeo G Perira Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 p 361-684
Robert Alexy Teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica Op cit Friedrich Muller Discours de la Meacutethode Juridique Traduccedilatildeo de Olivier
Jouanjan Paris PUF 1993 Manuel Atienza Traacutes la Justicia Una Introduccioacuten al Derecho y al Razonamiento Juriacutedico Barcelona
Ariel 1995 Neil MacCormick Argumentaccedilatildeo juriacutedica e teoria do direito Traduccedilatildeo de Waldeacutea Barcellos Satildeo Paulo Martins Fontes
2006 Klaus Guumlnther Teoria da argumentaccedilatildeo no direito e na moral justificaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Claacuteudio Molz Satildeo Pau-
lo Landy 2004
31Cf Martin Shapiro Alec Stone Sweet On Law Politics and Judicialization New York Oxford University Press p 136-208
32Contudo deve-se admitir na linha de Paolo Comanducci que eacute possiacutevel reconhecer as mudanccedilas em questatildeo e propor novas
teorias que sejam adequadas a elas sem defendecirc-las Esta seria nas palavras do autor italiano a diferenccedila entre o neoconstitu-
cionalismo teoacuterico e o neoconstitucionalismo ideoloacutegico que natildeo apenas constroacutei teorias mais compatiacuteveis com os novos fenocirc-
menos mas vai aleacutem sustentando a sua legitimidade e propugnando pelo seu aprofundamento e expansatildeo Veja-se a propoacutesito
Paulo Comanducci Formas de neoconstitucionalismo Un anaacutelisis metateoacuterico In Miguel Carbonell (Ed) Neoconstitucionalis-
mo(s) Op cit p 75-98 Como reconhece o proacuteprio autor tal distinccedilatildeo baseia-se em uma semelhante acerca do positivismo
30
formulada por Norberto Bobbio que fala em positivismo teoacuterico ideoloacutegico e metodoloacutegico Cf Norberto Bobbio O positivismo
juriacutedico liccedilotildees de filosofia do direito Traduccedilatildeo e notas de Marcio Pugliesi et al Satildeo Paulo Iacutecone 1995 p 233-239
33Cf Ronald Dworkin Is Law a Sistem of Rules In Ronald Dworkin (Ed) Philosophy of Law Oxford Oxford University Press 1971
Robert Alexy Constitucionalismo discursivo Traduccedilatildeo de Luiz Afonso Heck Porto Alegre Livraria do Advogado 2007
34Cf Robert Alexy Derecho y Razoacuten Praacutectica Meacutexico Distribuiciones Fontamara 1993 Aulis Aarnio Lo Racional como Razonable
Traduccedilatildeo de Ernesto Garzoacuten Valdeacutes Madrid Centro de Estuacutedios Constitucionales 1991
35Cf Aharon Barak The Judge in a Democracy New Jersey Princeton University Press 2006 p 213-260 Gustavo Zagrebelsky Il
Diritto Mite Op cit p 179-217
36Confronte-se com perspectivas diferentes Luigi Ferrajoli O Estado de direito entre passado e futuro In Pietro Costa Danilo
Zolo (Org) Estado de direito histoacuteria teoria criacutetica Traduccedilatildeo de Carlo Alberto Dastoli Satildeo Paulo Martins Fontes 2006 p 419-
464 Elias Dias Estado de Derecho y Sociedad Democraacutetica Madrid Taurus 1998 Ronald Dworkin Introduction The Moral Reading
and the Majoritarian Premise In Freedoms Law The moral reading of the American Constitution Cambridge Harvard University
Press 1996 p 01-38 Gustavo Zagrebelsky La Crucifixioacuten y la Democracia Barcelona Ariel 1996 Claacuteudio Pereira de Souza Neto
Teoria constitucional da democracia deliberativa Op cit
37Cf Ronald Dworkin Introduction The Moral Reading and the Majoritarian Premise Op cit
38Cf Luigi Ferrajoli El Garantismo y la Filosofia del Derecho Bogotaacute Universidad Externado de Colocircmbia 2000
39Cf Luis Pietro Sanchis Sobre el Neoconstitucionalismo y sus Implicaciones In Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales
Op cit p 101-135
40Cf Ricardo Guastini Sur la Validiteacute de la Constitution du Point de Vue du Positivisme Juridique In Michel Troper Lucien Jaume
(Dir) 1789 et LInvention de la Constitution Paris LGDJ 1994 p 216-225
41Cf Suzana Pozzolo Neoconstituzionalismo e Positivismo Giuridico Torino Giapppicheli 2001
42Cf Ronald Dworkin Law and Morals In Justice in Robes Cambridge Harvard University Press 2006 p 01-35
43Cf Robert Alexy Derecho y Moral In La Institucionalizacioacuten de la Justicia Op cit p 17-30
44Cf Carlos Santiago Nino Eacutetica y Derechos Humanos 2 ed Buenos Aires Astrea 1989 p 11-48
45Cf Gustav Radbruch Cinco minutos de filosofia do direito In Filosofia do direito Traduccedilatildeo de L Cabral de Moncada 6 ed
Coimbra Armecircnio Amado 1979 p 414-418 Para uma densa problematizaccedilatildeo da foacutermula de Radbruch veja-se Thomas da Rosa
Bustamante Poacutes-Positivismo o argumento da injusticcedila aleacutem da Foacutermula de Radbruch In Teoria do direito e decisatildeo racional
temas de teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica Rio de Janeiro Renovar 2008
46Cf Robert Alexy La Institucionalizacioacuten de la Justicia Traduccedilatildeo de Joseacute Antonio Seone et al Granada Comares 2005 p 31-
54
47Sobre o tema cfr Alfonso Garcia Figueroa Princiacutepios e direitos fundamentais In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmen-
to A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 03-34
48O texto mais importante do positivismo inclusivo eacute o poacutes-escrito de Herbert LA Hart agrave sua obra magna The Concept of Law em
que ele responde agraves criacuteticas ao seu pensamento que Ronald Dworkin lhe endereccedilara O autor inglecircs faleceu antes de terminar o
texto mas ele foi publicado postumemente depois de ser editado por Joseph Raz Peneacutelope Bulloch Veja-se Herbert LA Hart
Poacutes-escrito In O conceito de direito Traduccedilatildeo de A Ribeiro Mendes 2 ed 1994 p 299-339 Tambeacutem na linha do positivismo
inclusivo veja-se Gregorio Peces- Barba Derechos Sociales y Positivismo Juriacutedico Escritos de Filosofia Poliacutetica y Juriacutedica Madrid
Dykinson 1999 p 83-90 Jules Coleman The Practice of Principle In defense of a pragmatist approach do legal theory Oxford
Oxford University Press p 103-120 Para uma resenha dos tipos de positivismo no debate contemporacircneo confira-se Dimitri Di-
moulis Positivismo juriacutedico introduccedilatildeo a uma teoria do direito e defesa do pragmatismo juriacutedico-politico Satildeo Paulo Meacutetodo
2006 p 65-166
49Cf Antonio Cavalcanti Maia Nos vinte anos da Constituiccedilatildeo do poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo Op cit Claacuteudio Perei-
ra de Souza Neto A teoria constitucional e seus lugares especiacuteficos notas sobre o aporte reconstrutivo Revista de Direito do
Estado n 1 p 89-104 jan mar 2006 Daniel Sarmento Interpretaccedilatildeo constitucional preacute-compreensatildeo e capacidades institu-
cionais do inteacuterprete In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binebojm Vinte anos da Constituiccedilatildeo de 1988
Op cit p 311-322
31
50Cf Juumlrgen Habermas Escritos sobre Moralidad y Eticidad Traduccedilatildeo de Manuel Jimenez Redondo Barcelona Paidoacutes 1991 p
131-172
51Sobre o comunitarismo haacute extensa literatura Dois textos claacutessicos deste linha de pensamento satildeo Michael Walzer The Communi-
tarian Critique of Liberalism In Politics and Passion New Haven Yale University Press 2004 p 141-163 Charles Taylor The
Procedural Republic and the Unencumbered Self In Robert Goodin Philip Pettit (Ed) Contemporary Political Philosophy 2 ed
Oxford Oxford University Press 2002 p 2462-256 Sobre a penetraccedilatildeo ainda que muitas vezes natildeo consciente das posiccedilotildees do
comunitarismo no constitucionalismo brasileiro veja-se Gisele Cittadino Pluralismo direito e justiccedila distributiva Op cit p
43-74
52Sobre o construtivismo eacutetico corrente filosoacutefica que sustenta a existecircncia de posiccedilotildees certas e erradas na Moral bem como a
possibilidade de encontraacute-las e fundamentaacute-las racionalmente veja-se Carlos Santiago Nino El Constructivismo Eacutetico Madrid
Centro de Estudios Constitucionales 1989
53O fenocircmeno tambeacutem se reproduz na teoria constitucional norte-americana hegemocircnica cf Keith Wittington Constitutional Con-
struction Divided Powers and Constitutional Meaning Cambridge Harvard University Press 1999 p 01-03
54A imagem do Poder Judiciaacuterio como um guardiatildeo de promessas eacute explorada e criticada numa obra importante da teoria juriacutedica
francesa contemporacircnea Antoine Garapon Le Gardien de Promesses Le juge et la democratie Paris Odile Jacob 1996
55Neste sentido o eloquumlente encerramento do Curso de Direito Constitucional Contemporacircneo de Luis Roberto Barroso o consti-
tucionalismo democraacutetico eacute a utopia que nos restou Uma feacute racional que ajuda a acreditar no bem e na justiccedila ainda quando natildeo
estejam ao alcance dos olhos (Op cit p 400)
56Cf Nico Poulantzas State Power Socialism London new Left Books 1978 Alan Hunt Marxist Theory of Law In Dennis Patter-
son (Ed) A Companion to Philosophy of Law and Legal Theory Malden Blackwell Publishers 1996 p 355-367
57Cf David Kairys (Ed) The Politics of Law A Progressive Critique New York Pantheon Books 1982 Roberto Mangabeira Unger
The Critical Legal Studies Movement Cambridge Harvard University Press 1986
58Cf Plauto Faraco Azevedo Criacutetica agrave dogmaacutetica e hermenecircutica juriacutedica Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1989 Luiz Fernando
Coelho Teoria criacutetica do direito 2 ed Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1991
59Natildeo haacute como abordar aqui as relaccedilotildees entre as inuacutemeras correntes do poacutes-modernismo e o Direito Constitucional Veja-se a
propoacutesito Niklas Luhman La Constituzione como Acquisizione Evolutiva In Gustavo Zagrebelsky Piacuteer Paolo Portinaro Joumlrg Lu-
ther Il Futuro della Costituzione Torino Einaudi 1996 p 83-128 Joseacute Joaquim Gomes Canotilho Civilizaccedilatildeo do direito constitu-
cional ou constitucionalizaccedilatildeo do direito civil a eficaacutecia dos direitos fundamentais na ordem juriacutedico-civil no contexto do direito
poacutes-moderno Cadernos de Direito Constitucional e Ciecircncia Poliacutetica n 15 p 07-16 1996 Eduardo Capellari A crise da moderni-
dade e a Constituiccedilatildeo Rio de janeiro Ameacuterica Juriacutedica 2004 Daniel Sarmento Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas 2 ed
Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 p 36-45
60Para Jean-Franccedilois Lyotard uma das caracteriacutesticas centrais do pensamento poacutes-moderno de que eacute expoente eacute a desconfianccedila
em relaccedilatildeo agraves metanarrativas - construccedilotildees abstratas grandiosas e totalizadoras tiacutepicas da Filosofia Moderna como direitos
humanos luta de classes e emancipaccedilatildeo pelo uso da razatildeo Cf Lyotard A condiccedilatildeo poacutes-moderna Traduccedilatildeo de Ricardo Correcirca
Barbosa 5 ed 1998 p16
61Cf Luiz Werneck Viana O terceiro poder na carta de 1988 e a tradiccedilatildeo republicana mudanccedila e conservaccedilatildeo In Ruben George
Oliven Marcelo Gildo Marccedilal Branda A Constituiccedilatildeo de 1988 na vida brasileira Satildeo Paulo Aderaldo e Rotshild 2008 p 91-109
62Cf Paulo Ricardo Schier Filtragem constitucional Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1999
63A expressatildeo foi cunhada por Claacuteudio Pereira de Souza Neto Fundamento e normatividade dos direitos fundamentais uma recons-
truccedilatildeo teoacuterica agrave luz do princiacutepio democraacutetico Arquivos de Direitos Humanos n 4 p 17-61 2003
64Cf Luis Roberto Barroso O direito constitucional e a efetividade de suas normas 3 ed Rio de Janeiro Renovar 1996
65Cf Clegravemerson Merlin Clegraveve A teoria constitucional e o direito alternativo para uma dogmaacutetica constitucional emancipatoacuteria In
Uma vida dedicada ao direito homenagem a Carlos Henrique de Carvalho Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1995 p 34-53
66Ressalte-se poreacutem que antes de 88 alguns juristas jaacute defendiam a forccedila normativa da Constituiccedilatildeo como o Prof Joseacute Afonso da
Silva Eacute de 1968 a primeira ediccedilatildeo da sua obra claacutessica A aplicabilidade das normas constitucionais que adotava claramente esta
32
perspectiva Todavia pelo clima nada propiacutecio ao constitucionalismo que reinava por aqui ateacute a nossa redemocratizaccedilatildeo a louvaacute-
vel pregaccedilatildeo dele e de outros juristas em prol da efetivaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo natildeo chegou a render maiores frutos
67Deve-se assinalar ainda a influecircncia marcante do novo constitucionalismo ibeacuterico neste movimento que tambeacutem pugnava pela
atribuiccedilatildeo de forccedila normativa agraves ambiciosas constituiccedilotildees de Portugal e Espanha entatildeo recentemente elaboradas apoacutes o fim de
experiecircncias autoritaacuterias naqueles paiacuteses A tiacutetulo de exemplo mencione-se a penetraccedilatildeo no paiacutes do pensamento do Professor de
Coimbra Joseacute Joaquim Gomes Canotilho especialmente da sua teoria sobre a Constituiccedilatildeo dirigente que ele posteriormente reviu
(cf J J Gomes Canotilho Constituiccedilatildeo dirigente e vinculaccedilatildeo ao legislador contributo para a compreensatildeo das normas constitu-
cionais programaacuteticas 2 ed Coimbra Coimbra 2001 - especialmente o prefaacutecio desta segunda ediccedilatildeo que daacute conta da mudanccedila
de posicionamento) bem como a difusatildeo das liccedilotildees do Professor Eduardo Garciacutea de Enterriacutea (cf La Constitucioacuten como Norma y el
Tribunal Constitucional Madrid Civitas 1981)
68Segundo a avaliaccedilatildeo atual de Luis Roberto Barroso personagem central do movimento o positivismo constitucional que deu
impulso ao movimento natildeo importava em reduzir o direito agrave norma mas sim em elevaacute-la a esta condiccedilatildeo pois ateacute entatildeo ele
havia sido menos do que norma (Curso de direito constitucional contemporacircneo Op cit p 224)
69Paulo Bonavides Curso de direito constitucional 5 ed Satildeo Paulo Malheiros 1994
70Eros Roberto Grau A ordem econocircmica na Constituiccedilatildeo de 88 interpretaccedilatildeo e criacutetica Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1996
71No acircmbito da Poacutes-Graduccedilatildeo em Direito da UERJ em que estou inserido desde 1997 primeiro como aluno e a partir de 2003 como
professor o Ricardo Lobo Torres teve papel central na difusatildeo do pensamento destes e de outros filoacutesofos entre os estudantes e o
proacuteprio corpo docente
72Cf Lecircnio Luiz Streck Hermenecircutica juriacutedica e(m) crise Op cit Eros Roberto Grau Ensaio e discurso sobre a interpreta-
ccedilatildeoaplicaccedilatildeo do direito Satildeo Paulo Malheiros 2002
73Nesta linha veja-se as obras que compotildeem a coletacircnea Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Direitos sociais funda-
mentos judicializaccedilatildeo e direitos sociais em espeacutecie Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 Ricardo Lobo Torres O miacutenimo existencial
e os direitos fundamentais Revista de Direito Administrativo n 177 p 20-49 1989 Ingo Wolfgang Sarlet A eficaacutecia dos direitos
fundamentais 9 ed Porto Alegre Livraria do Advogado 2008 Ana Paula de Barcellos A eficaacutecia juriacutedica dos princiacutepios o princiacute-
pio da dignidade da pessoa humana Op cit Marco Mazzeli Gouveia O controle judicial das omissotildees administrativas Rio de
Janeiro Forense 2003 Andreacuteas Krell Direitos sociais e controle judicial no Brasil e Alemanha os (des)caminhos de um direito
constitucional comparado Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2002
74Cf Gustavo Tepedino Temas de direito civil Rio de Janeiro Renovar 1999 Luiz Edson Fachin Estatuto juriacutedico do patrimocircnio
miacutenimo Rio de Janeiro Renovar 2001 Maria Celina Bodin de Moraes Danos agrave pessoa humana uma leitura civil-constitucional dos
danos morais Rio de Janeiro Renovar 2003 Teresa Negreiros Fundamentos para uma interpretaccedilatildeo constitucional do princiacutepio
da boa-feacute Rio de Janeiro Renovar 1998 Anderson Schreiber A proibiccedilatildeo do comportamento contraditoacuterio Rio de Janeiro Reno-
var 2005
75Cf Luciano Feldens A Constituiccedilatildeo penal a dupla face da proporcionalidade no controle das lei penais Porto Alegre Livraria do
Advogado 2005 Luis Carlos dos Santos Gonccedilalves Mandados expressos de criminalizaccedilatildeo e a proteccedilatildeo de direitos fundamentais na
Constituiccedilatildeo Brasileira de 1988 Belo Horizonte Foacuterum 2007
76Cf Gustavo Binenbojm Uma teoria do direito administrativo direitos fundamentais democracia e constitucionalizaccedilatildeo Rio de
Janeiro Renovar 2006 Alexandre dos Santos Aragatildeo Floriano de Azevedo Marques (Coord) Direito administrativo e seus novos
paradigmas Belo Horizonte Foacuterum 2008
77Cf Gustavo Binenbojm A nova jurisdiccedilatildeo constitucional brasileira legitimidade democraacutetica e instumentos de realizaccedilatildeo Rio de
Janeiro Renovar 2001 Claacuteudio Pereira de Souza Neto Jurisdiccedilatildeo constitucional democracia e racionalidade praacutetica Rio de
Janeiro Renovar 2002 Joseacute Adeacutercio Leite Sampaio A Constituiccedilatildeo reinventada pela jurisdiccedilatildeo constitucional Belo Horizonte Del
Rey 2002 Lecircnio Luiz Streck Jurisdiccedilatildeo constitucional e hermenecircutica Porto Alegre Livraria do Advogado 2002 Aacutelvaro Ricardo
de Souza Cruz Jurisdiccedilatildeo constitucional democraacutetica Belo Horizonte Del Rey 2004
78A expressatildeo dificuldade contramajoritaacuteria eacute de um claacutessico da teoria constitucional norte-americana Alexander Bickel La Cons-
titucioacuten como Norma y el Tribunal Constitucional 2 ed New Haven Yale University Press 1986
33
79Em siacutentese apertada o procedimentalismo sustenta que natildeo eacute papel da jurisdiccedilatildeo constitucional tutelar valores substantivos mas
apenas proteger os pressupostos necessaacuterios ao bom funcionamento da democracia Jaacute o substancialismo reconhece a legitimidade
da atuaccedilatildeo jurisdicional em favor da garantia e promoccedilatildeo de valores substantivos presentes na Constituiccedilatildeo O debate entre o
procedimentalismo identificado com as ideacuteias de autores como John Hart Ely e Juumlrgen Habermas e o substancialismo defendido
por teoacutericos como Ronald Dworkin e Laurence Tribe eacute reproduzido em praticamente toda a literatura contemporacircnea que trata de
Teoria ou Filosofia Constitucional Veja-se a propoacutesito a densa obra de Claacuteudio Ari Mello Democracia constitucional e direitos
fundamentais Porto Alegre Livraria do Advogado 2004
80Neoconstitucionalismo e constitucionalizaccedilatildeo do direito o triunfo tardio do direito constitucional no Brasil Op cit
81A crise paradigmaacutetica do direito no contexto da resistecircncia positivista ao (neo)constitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza
Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm Vinte anos da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Op cit p 203-228
82Nos vinte anos da carta cidadatilde do poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo Op cit
83Neoconstitucionalismo direitos fundamentais e controle de poliacuteticas puacuteblicas In Daniel Sarmento Flaacutevio Galdino (Org) Direitos
fundamentais estudos em homenagem ao prof Ricardo Lobo Torres Rio de Janeiro Renovar 2006 p 31-60
84Direitos humanos legitimidade e constitucionalismo In Daniel Sarmento Flaacutevio Galdino (Org) Direitos fundamentais estudos
em homenagem ao Prof Ricardo Lobo Torres Op cit p325-350
85Novos desafios agrave filtragem constitucional no momento do neoconstitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sar-
mento A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 251-270
86Neoconstitucionalismo a invasatildeo da Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Meacutetodo 2008
87Neoconstitucionalismo e positivismo juriacutedico Satildeo Paulo Landy 2006
88Teoria do direito e argumentaccedilatildeo racional temas de teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica op cit p 141-240
89Uma visatildeo criacutetica do neoconstitucionalismo In George Salomatildeo Leite Glauco Salomatildeo Leite Constituiccedilatildeo e efetividade constitu-
cional Salvador JusPodium 2008 p 43-60
90Neoconstitucionalismo entre a Ciecircncia do direito e o direito da ciecircncia In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento
Gustavo Binenbojm Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 p 187-202
91Cf Peticcedilatildeo 1246 MSSC julgada em 31011997 (obrigaccedilatildeo do Estado de realizar transplante de ceacutelulas mioblaacutesticas para salvar
a vida de crianccedila) Agravo de Instrumento no Recurso Extraordinaacuterio 271286RS DJU 24 nov 2000 (entrega de medicamentos
para portadores de HIV) e Agravo de Instrumento do Recurso Extraordinaacuterio nordm 410715-5 julgado em 22112005 (obrigaccedilatildeo de
fornecimento de vagas para educaccedilatildeo infantil pelo municiacutepio com atendimento em creches e preacute-escola)
92Recursos Extraordinaacuterios nordms 158215-4RS 161243-6DF 201819RJ
93Cf Mandado de Injunccedilatildeo 670ES Rel Min Gilmar Mendes julgado em 25102007 em que o STF revendo orientaccedilatildeo anterior
deu eficaacutecia normativa agrave sentenccedila proferida no mandado de injunccedilatildeo No caso decidiuse que ateacute o advento de lei regulamentado-
ra sobre a greve no serviccedilo puacuteblico o direito de greve poderia ser exercido obedecendo-se os limites impostos pela Lei 778389
que trata dos movimentos paredistas em serviccedilos essenciais no setor privado
94Sobre a tendecircncia agrave superaccedilatildeo da ideacuteia do Judiciaacuterio como legislador negativo na jurisdiccedilatildeo constitucional veja-se Joseacute Adeacutercio
Leite Sampaio A Constituiccedilatildeo reinventada pela jurisdiccedilatildeo constitucional Belo Horizonte Del Rey 2002 p 203-248
95Eacute lugar-comum dentre os autores que tratam da questatildeo associar tais mudanccedilas agrave pluralizaccedilatildeo das vozes na interpretaccedilatildeo consti-
tucional tema em que a referecircncia essencial no cenaacuterio germacircnico eacute Peter Haumlberle Veja-se a propoacutesito Peter Haumlberle Herme-
necircutica constitucional A sociedade aberta dos inteacuterpretes da Constituiccedilatildeo contribuiccedilatildeo para a interpretaccedilatildeo pluralista e procedi-
mental da Constituiccedilatildeo Traduccedilatildeo de Gilmar Ferreira Mendes Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1997 Veja-se ainda na doutrina
brasileira Gustavo Binenbojm A dimensatildeo do Amicus Curiae no processo constitucional brasileiro In Temas de direito constitu-
cional e administrativo Rio de Janeiro Renovar 2008 p 165-190
96ADIN 3510DF Relator Ministro Carlos Ayres Britto A accedilatildeo proposta contra o art 5ordm da Lei de Biosseguranccedila impugnava a auto-
rizaccedilatildeo de pesquisas com embriotildees humanos resultantes de fertilizaccedilatildeo in vitro que fossem inviaacuteveis ou estivessem congelados haacute
mais de trecircs anos A accedilatildeo foi julgada totalmente improcedente por 6 votos a 5
97ADPF nordm 54 A accedilatildeo que tem como relator o Ministro Marco Aureacutelio ainda natildeo foi julgada mas em seu bojo jaacute ocorreram diversas
audiecircncias puacuteblicas que provocaram intensa participaccedilatildeo da sociedade civil e grande interesse na miacutedia
34
98ADPF nordm 132 Relator Ministro Carlos Ayres Britto A accedilatildeo ainda foi julgada
99Mandados de Seguranccedila 26602DF 26603DF e 26604DF Informativo STF n 482
100Recurso Extraordinaacuterio 197917SP Rel p acoacuterdatildeo Min Ceacutesar Peluso DJU 18 fev 2005
101O livro de Alberto Carlos Almeida A cabeccedila do brasileiro lanccedilado em 2007 conteacutem pesquisas feitas sobre uma acuteseacuterie de temas
com pessoas de todas as classes sociais e regiotildees do paiacutes Uma das pesquisas eacute relativa agrave avaliaccedilatildeo das instituiccedilotildees Dentre as treze
avaliadas as duas que obtiveram menor aprovaccedilatildeo foram os partidos poliacuteticos (avaliaccedilatildeo positiva de 28 dos entrevistados) e o
Congresso (avaliaccedilatildeo positiva de 36 dos entrevistados) Cf Antonio Carlos Almeida A cabeccedila do brasileiro Rio de Janeiro Re-
cord 2007 p 187
102Cf Luis Roberto Barroso Judicializaccedilatildeo ativismo judicial e legitimidade democraacutetica Texto ainda ineacutedito gentilmente cedido
pelo autor
103Humberto Aacutevila por exemplo formula outra criacutetica importante de que o neoconstitucionalismo seria inadequado agrave realidade
constitucional brasileira jaacute que privilegia os princiacutepios e a Carta de 88 seria muito mais regulatoacuteria do que principioloacutegica (Neo-
constitucionalismo entre a ciecircncia do direito e o direito da ciecircncia Op cit p 188-192)
104Contudo natildeo eacute razoaacutevel estender esta criacutetica ao ponto de negar o caraacuteter democraacutetico da atuaccedilatildeo judicial Como ressaltou
Eugenio Rauacutel Zaffaroni uma instituiccedilatildeo natildeo eacute democraacutetica unicamente porque natildeo provenha de eleiccedilatildeo popular porque nem tudo
o que proveacutem desta origem eacute necessariamente aristocraacutetico Uma instituiccedilatildeo eacute democraacutetica quando seja funcional para o sistema
democraacutetico quer dizer quando seja necessaacuteria para a sua continuidade como ocorre com o judiciaacuterio (Poder judiciaacuterio crise
acertos e desacertos Traduccedilatildeo de Juarez Tavares Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1995 p 43)
105Cf Robert A Dahl Sobre a democracia Traduccedilatildeo de Beatriz Sidou Brasiacutelia UNB 2001 p 97-113 Juumlrgen Habermas Popular
Sovereignity as Procedure In James Bonham William Rehg Deliberative Democracy Cambridge The MIT Press 1997 p 35-66
106A questatildeo da tensatildeo e sinergia simultacircneas entre constitucionalismo e democracia eacute um dos debates mais fecundos da Teoria
Poliacutetica e da Filosofia Constitucional que tem atravessado o tempo desde o advento do constitucionalismo moderno no seacuteculo
XVIII Veja-se no debate contemporacircneo Jeremy Waldron Preocommitment and Disagreement In Larry Alexander Constitu-
cionalism Philosophical Foundations Cambridge Cambridge University Press 1998 p 271-299 Juumlrgen Habermas O Estado demo-
craacutetico de direito uma amarraccedilatildeo paradoxal de princiacutepios contraditoacuterios In Era das transiccedilotildees Traduccedilatildeo de Flaacutevio Beno Siebe-
neichler Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 2003 p 153-173 Carlos Santiago Nino La Constitucioacuten de la Democracia Deliberativa
Op cit Frank Michelman Brennan and Democracy Princeton Princeton University Press 1999 p 03-62 Stephen Holmes El
Precompromiso y la Paradoja de la Democracia In Jon Elster Rune Slagstad Constitucionalismo y Democracia Traduccedilatildeo de Mocircni-
ca Utrilla de Neira Mexico Fondo de Cultura Econocircmica 1999 p 217-262
107O problema da limitaccedilatildeo do legislador atual pelas decisotildees do constituinte adotadas no passado envolve a problemaacutetica da
partilha intergeracional de poder bem explicitada na fala de Jefferson que defendia que a cada 19 anos deveria ser elaborada
uma nova Constituiccedilatildeo nos Estados Unidos para que a Lei Maior daquele paiacutes natildeo se tornasse um mecanismo de governo dos mor-
tos sobre os vivos Em siacutentese apertada haacute na teoria poliacutetica contemporacircnea duas linhas principais de justificativa para a legiti-
midade destas restriccedilotildees
Uma eacute a teoria da democracia dualista defendida por Bruce Ackerman que sustenta que as decisotildees adotadas pelo proacuteprio povo
em contextos de grande mobilizaccedilatildeo ciacutevica devem ser protegidas do alcance da vontade dos representantes do povo formada em
momentos em que a cidadania natildeo esteja intensamente envolvida Esta teoria distingue a poliacutetica extraordinaacuteria correspondente
agravequeles momentos constitucionais da poliacutetica ordinaacuteria que se realiza atraveacutes das deliberaccedilotildees do dia a dia dos oacutergatildeos represen-
tativos Para a perspectiva ackermaniana a poliacutetica extraordinaacuteria - que natildeo exige necessariamente formalizaccedilatildeo procedimental
atraveacutes de assembleacuteia constituinte ou de emenda constitucional - se situa em patamar superior agrave poliacutetica ordinaacuteria e pode legiti-
mamente impor limites a esta (cf Bruce Ackerman We the people Foundations Cambridge The Belknap Press 1991 p 03-33)
Outra teoria eacute a do preacute-compromisso que jaacute foi advogada por Jon Elster Segundo ela eacute legiacutetimo subtrair do alcance das maiorias
determinadas questotildees fundamentais que expressam princiacutepios fundamentais de justiccedila poliacutetica ou garantam os pressupostos da
proacutepria democracia tendo em vista o risco de que no processo poliacutetico majoritaacuterio em momentos de irracionalidade o povo
35
possa ser viacutetima de suas proacuteprias fraquezas ou paixotildees momentacircneas atentando contra tais princiacutepios (cf Ulisses and Sirens
Cambridge Cambridge University Press 1979)
Ambas as concepccedilotildees - a primeira mais proacutexima ao republicanismo e a segunda de vieacutes mais liberal - tecircm a sua dose de procedecircn-
cia mas ensejam criacuteticas importantes Todavia foge a escopo do presente trabalho analisar esta questatildeo que eacute uma das mais
complexas da Filosofia Poliacutetica moderna e contemporacircnea Para uma visatildeo geral sobre o tema na literatura em liacutengua portuguesa
veja-se Oscar Vilhena Vieira A Constituiccedilatildeo e sua reserva de justiccedila Op cit Miguel Nogueira de Brito A Constituiccedilatildeo constituin-
te ensaio sobre o poder de revisatildeo da Constituiccedilatildeo Coimbra Coimbra 2000 Samantha Chantal Dobrowolski Op cit p 265-312
Rodrigo Brandatildeo Direitos fundamentais democracia e claacuteusulas peacutetreas Rio de Janeiro Renovar 2008 p 59-112
108Cf Michel Troper Justice Constitutionelle et Deacutemocratie In Pour une Theorie Juridique de LEacutetat Paris PUF 1994 p 317-328
Claacuteudio Pereira de Souza Neto Jurisdiccedilatildeo constitucional democracia e racionalidade praacutetica Op cit p 106-130 Gustavo Binen-
bojm A nova jurisdiccedilatildeo constitucional brasileira Op cit p 55-74
109Sobre o modelo revolucionaacuterio francecircs de constitucionalismo completamente avesso agrave ideacuteia de jurisdiccedilatildeo constitucional cf
Maurizio Fioravanti Constitucioacuten de la antiguumledad a nuestros dias Traduccedilatildeo de Manuel Martinez Neira Madrid Trotta 2001 p
120-132
110Cf Carl Schmitt La Defesa de la Constitucioacuten Madrid Tecnos 1983
111O constitucionalismo popular ou populismo constitucional eacute uma importante corrente no debate constitucional norte-americano
contemporacircneo que nega a legitimidade democraacutetica do controle de constitucionalidade advogando que deve caber ao proacuteprio
povo e natildeo a uma elite de juiacutezes natildeo eleitos com assento na Suprema Corte o poder de definir o sentido das claacuteusulas vagas que
abundam no texto constitucional daquele paiacutes Na defesa desta tese satildeo empregados tanto argumentos de teoria e filosofia poliacuteti-
ca de caraacuteter mais universal como razotildees histoacutericas relacionadas agrave evoluccedilatildeo do constitucionalismo estadunidense Veja-se nesta
linha Mark Tushnet Taking the Constitution Away from the Courts Princeton Princeton University Press 1999 Jeremy Waldron
Precommitment and Disagreement Op cit Larry D Kramer The People Themselves Popular constitutionalism and judicial re-
view New York Oxford University Press 1994
Ateacute algumas deacutecadas atraacutes a oposiccedilatildeo agrave jurisdiccedilatildeo constitucional nos Estados Unidos partia em regra da Direita que natildeo se con-
formava com a jurisprudecircncia extremamente liberal em mateacuteria de direitos fundamentais estabelecida pela Corte entre os anos
50 e 70 Atualmente uma boa parte dos opositores agrave judicial review situa-se agrave esquerda do espectro poliacutetico e talvez a nova linha
profundamente conservadora daquele Tribunal ajude a explicar esta mudanccedila
112Sobre a Era de Lochner veja-se Laurence H Tribe American Constitutional Law 2 ed Mineola The Foundation Press 1988 p
567-581 Paul Brest et al Processes of Constitucional Decisionmaking 4 ed New York Aspen Publishers 2000 p 337-354
113Towards Juristocracy hellip Op cit
114Tratei do tema no artigo Direito adquirido emenda constitucional democracia e justiccedila social In Livres e iguais Op cit p
03-32
115Cf Charles R Epp The Rights Revolution Chicago The University of Chicago Press 1998 p 26-70 Owen Fiss The Law as It
Could Be New York New York University Press 2003 p 244-249
116A importacircncia e as peculiaridades da interpretaccedilatildeo legislativa da Constituiccedilatildeo satildeo exploradas em importante obra coletiva
Richard W Bauman Tsvi Kahana The Least Examined Branch The Role of Legislatures in the Constitutional State Cambridge
Cambridge University Press 2006
117Cf em tom ainda mais ceacutetico do que o adotado neste estudo Martonio MontAlverne Barreto Lima Jurisdiccedilatildeo Constitucional
um problema da teoria da democracia poliacutetica In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Gilberto Bercovici Joseacute Filomeno de Moraes
Filho Martonio MontAlverne Teoria da Constituiccedilatildeo estudos sobre o lugar da poliacutetica no direito constitucional Rio de Janeiro
Lumen Juris 2003 p 199-261 Conrado Huumlbner Mendes Controle de constitucionalidade e democracia Rio de Janeiro Elsevier
2008
36
118Para criacutetica semelhante no contexto germacircnico veja-se Ingeborg Maus O judiciaacuterio como superego da sociedade sobre o papel
da atividade jurisprudencial na sociedade oacuterfatilde Traduccedilatildeo de Martonio MontAlverne Barreto Lima Paulo Antonio Menezes de Albu-
querque Anuaacuterio dos Cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito da Faculdade de Direito de Recife n 11 2000
119Eu aprofundo a anaacutelise deste ponto no meu artigo Interpretaccedilatildeo constitucional preacute-compreensatildeo e capacidades institucionais do
inteacuterprete In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm (Coord) Vinte anos da Constituiccedilatildeo Federal
de 1988 Op cit p 311-322 E a necessidade de optar por teoria de interpretaccedilatildeo que leve em consideraccedilatildeo as capacidades
institucionais reais dos juiacutezes comparando-as com as dos agentes de outras instituiccedilotildees eacute explorada no importante estudo de Cass
Sunstein Adrian Vermeulle Interpretations and Institutions Chicago Working Papers in Law amp Economics 2002 p 01-55 bem
como no livro de Adrian Vermeulle Judging under Uncertainty An Institutional Theory for Legal Interpretation Cambridge Har-
vard University Press 2006
120Dentre as honrosas exceccedilotildees mencione-se Luiacutes Roberto Barroso autor de importante artigo com sugestotildees para a reforma poliacuteti-
ca no paiacutes Reforma poliacutetica uma proposta de sistema de governo eleitoral e partidaacuterio para o Brasil Revista de Direito do Esta-
do n 3 p 287-360 jul set 2006
121Sobre o ethos judicial no Brasil veja-se a pesquisa de Maria Tereza Sadek Magistrados uma imagem em movimento Rio de
Janeiro FGV 2006
122Em sentido semelhante veja-se Michael J Perry The Constitution the Courts and Human Rights New Haven Yale University
Press 1982 p 91-145
123Neste ponto entendo que um standard importante que deveria ser adotado para controle de constitucionalidade eacute o de que
quanto maiores forem as credencias democraacuteticas de um ato normativo mais autocontido deve ser o Poder Judiciaacuterio ao avaliar a
sua constitucionalidade Na minha opiniatildeo estas credencias democraacuteticas devem ser aferidas tanto por criteacuterios qualitativos - eg
grau de participaccedilatildeo social no processo legislativo qualidade do processo deliberativo que a antecedeu - como por criteacuterios quanti-
tativos - percentual de votos favoraacuteveis agrave medida Em sentido semelhante veja-se Claacuteudio Ari Mello Democracia e direitos funda-
mentais Op cit p 298
124Em sentido proacuteximo apontam as liccedilotildees de Gustavo Binenbojm e Humberto Aacutevila O primeiro tratando do controle judicial dos
atos administrativos averbou que quanto maior for o grau de tecnicidade da mateacuteria objeto de decisatildeo por oacutergatildeos dotados de
expertise e experiecircncia menos intenso deve ser o grau de controle judicial (Uma teoria do direito administrativo Op cit p
236) Jaacute o segundo salientou que o acircmbito de controle pelo Judiciaacuterio deveraacute ser tanto menor quanto mais difiacutecil e teacutecnico for
o juiacutezo exigido para o tratamento da mateacuteria (Teoria dos princiacutepios Op cit p 126)
125Um exemplo extremado deste posicionamento estaacute na argumentaccedilatildeo adotada pelo STF no julgamento da ADIN 2797 Rel Min
Sepuacutelveda Pertence em que se reconheceu a inconstitucionalidade formal de lei que pretendia interpretar a Constituiccedilatildeo Para o
STF natildeo pode a lei ordinaacuteria pretender impor como seu objeto imediato uma interpretaccedilatildeo a Constituiccedilatildeo a questatildeo eacute de in-
constitucionalidade formal iacutensita a toda norma da gradaccedilatildeo inferior que se proponha a ditar interpretaccedilatildeo de norma superior
Na questatildeo de fundo abordada naquele caso entendo que o STF estava certo Tratava-se de invalidar uma norma legal que esten-
dera o foro de prerrogativa de funccedilatildeo a ex-ocupantes de cargos puacuteblicos visando a restaurar antiga jurisprudecircncia do STF sedi-
mentada na Suacutemula 394 do Tribunal que acabara de ser cancelada O princiacutepio republicano natildeo era compatiacutevel com tal medida
que configurava niacutetido privileacutegio O que me parece inaceitaacutevel e profundamente anti-democraacutetico com a devida vecircnia natildeo eacute o
resultado alcanccedilado pela Corte - com o qual concordo - mas o argumento empregado de que o legislador natildeo pode interpretar a
Constituiccedilatildeo
126Existe hoje uma fecunda produccedilatildeo acadecircmica no cenaacuterio anglo-saxatildeo sobre as vantagens de modelos teoacutericos que favoreccedilam
diaacutelogos entre diversos oacutergatildeos e instituiccedilotildees na interpretaccedilatildeo constitucional ao inveacutes de afirmarem a exclusividade ou mesmo a
supremacia do Judiciaacuterio nesta seara Veja-se a propoacutesito Laurence G Sager Justice in Plainclothes A Theory of American Con-
stitutional Practice New haven Yale University Press 2004 Mark Tushnet Weak Courts Strong Rights Judicial Review and Social
Welfare Rights in Comparative Constitutional Law Princeton Princeton University Press 2008 Mark C Miller Jeb Barnes (Ed)
Making Police Making Law An Interbranch Perspective Washington DC Georgetown University Press 2004
37
127Colhi o exemplo no estudo de Oscar Vilhena Vieira Supremocracia In Daniel Sarmento (Org) Filosofia e teoria constitucional
contemporacircnea Rio de Janeiro Lumen Juris 2009
128Como um natildeo-positivista tenho a necessaacuteria imparcialidade para criticar os equiacutevocos da doutrina brasileira nas suas invectivas
contra o positivismo que muitas vezes caracterizam verdadeira falaacutecia do espantalho ataca-se natildeo a proacutepria teoria positivista
mas uma distorcida caricatura dela Duas afirmaccedilotildees erradas que eu mesmo jaacute fiz em textos anteriores satildeo muito frequumlentes a
de que o positivismo recusa a aplicaccedilatildeo dos princiacutepios juriacutedicos e a de que ele teria sido a Filosofia do Direito cultivada na Alema-
nha nazista
Quanto ao primeiro ponto natildeo haacute nenhuma incompatibilidade loacutegica entre positivismo e princiacutepios desde que os princiacutepios este-
jam devidamente incorporados na ordem juriacutedico-positiva Vaacuterios autores positivistas contemporacircneos jaacute citados neste estudo
como Luis Prietro Sanchiacutes Luigi Ferrajoli e Gregorio Peces-Barba atribuiacuteram espaccedilo importante para princiacutepios nas suas teorias
Mesmo no Direito Puacuteblico brasileiro juristas de inspiraccedilatildeo positivista kelseniana construiacuteram suas teorias com apoio em argumen-
taccedilatildeo principioloacutegica como o falecido Geraldo Ataliba e Celso Antonio Bandeira de Mello
No que tange ao segundo ponto - a chamada redutio ad hitlerum - os estudos mais autorizados de Histoacuteria do Direito comprovam
que natildeo foi o positivismo a teoria juriacutedica dominante no nazismo mas uma espeacutecie de jusnaturalismo de inspiraccedilatildeo hegeliana que
se insurgia contra o formalismo e recorria com frequumlecircncia a conceitos muito vagos para justificar a barbaacuterie como os de comuni-
dade popular (Volksgemeinschaft) Veja-se a propoacutesito Michael Stolleis The Law under the Swastika Studies on Legal History in
Nazi Germany Traduccedilatildeo de Thomas Dunlap Chicago The University of Chicago Press 1998
129Cf Joseacute Joaquim Gomes Canotilho Direito constitucional e Teoria da Constituiccedilatildeo Coimbra Almedina 1998 p 1036
130Sobre a importacircncia das regras veja-se Frederick Schauer Playing by the Rules A Philosophical Exaxamination of Rule-Bases
Decision-Making in Law and Life Oxford Oxford University Press 1998 Humberto Aacutevila Neoconstitucionalismo entre a ciecircncia do
direito e o direito da ciecircncia Op cit Noel Struchiner Posturas institucionais e modelagem institucional a dignidade (contingente)
do formalismo juriacutedico In Daniel Sarmento Filosofia e teoria constitucional contemporacircnea Op cit
131Esta eacute expressatildeo empregada por Ana Paula de Barcellos O direito constitucional em 2006 Revista de Direito do Estado n 5 p
03-23 janmar 2007
132Cf Chaiumlm Perelman P Fories La Motivation des Deacutecisions de Justice Bruxelas Eacutemile Bruylant 1978
133Sobra a influecircncia do jeitinho no Direito brasileiro cf Keith Rosen O jeito na cultura juriacutedica brasileira Rio de Janeiro Reno-
var 1997
134Sobre o patrimonialismo no Brasil veja-se Raimundo Faoro Os donos do poder 8 ed Rio de Janeiro Globo 1989 v 2 p 729-
750
135Raiacutezes do Brasil 26 ed Satildeo Paulo Companhia das Letras 1995
136Cf Joseacute Murilo de Carvalho Brasileiro Cidadatildeo In Pontos e bordados escritos de histoacuteria e poliacutetica Belo Horizonte Ed
UFMG 2005 p 275-288
137Cf Gustavo Zagrebelsky Il Diritto Mite Op cit p 15-19
138Cf Marcelo Neves A constitucionalizaccedilatildeo simboacutelica Satildeo Paulo Acadecircmica 1994
139A obra de Niklas Luhman eacute vasta e complexa e seus textos satildeo de difiacutecil compreensatildeo para os natildeo iniciados Veja-se do proacuteprio
autor Sociologia do direito I e II Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 1983 e 1985 Sistema Jurididico y Dogmaacutetica Juriacutedica Madrid
Centro de Estuacutedios Constitucionales 1983 Confira-se tambeacutem a coletacircnea organizada por Andreacute-Jean Arnaud Dalmir Lopes Jr Do
sistema social agrave sociologia juriacutedica Rio de Janeiro Lumen Juris 2004
140Sobre a autopoieses do Direito veja-se tambeacutem a obra importante de Guumlnther Teubner O direito como sistema autopoieacutetico
Traduccedilatildeo de Joseacute Engracia Nunes Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1993
141Cf Luis Roberto Barroso Neoconstitucionalismo e a constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit
142Esta era basicamente a visatildeo de Hans Kelsen (Cf Hans Kelsen Jurisdiccedilatildeo constitucional Traduccedilatildeo de Alexandre Krug et al Satildeo
Paulo Martins Fontes 2003 p 153) Para uma anaacutelise criacutetica desta posiccedilatildeo veja-se Luis Prietro Sanchiacutes Presupuestos ideoloacutegicos
y doctrinales de la jurisdicioacuten constitucional In Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales Op cit p 21-100
38
143Cf Christian Starck La suprematie La Suprematie de la Constitution et la Justice Constitutionnelle In La Constitution Cadre et
Mesure du Droit Traduccedilatildeo de Freacutederic Weill Paris Econocircmica 1994 p 26-30 Ernst- Wolfgang Boumlckenfoumlrde Les meacutethodes
dinterpretation de la Constitution Un bilan critique In Le Droit lEacutetat et la Constitution Democratique Traduccedilatildeo de Olivier
Jouanjan Paris LGDJ 2000 p 249-250 Virgiacutelio Afonso da Silva Constitucionalizaccedilatildeo do direito os direitos fundamentais nas
relaccedilotildees entre particulares Satildeo Paulo Malheiros 2005 p 107-131 Daniel Sarmento Ubiquumlidade constitucional os dois lados da
moeda Op cit Luis Roberto Barroso Curso de Direito Constitucional Contemporacircneo Op cit p 391-394 Alceu Mauriacutecio Jr
Judicializaccedilatildeo da poliacutetica e a crise do direito constitucional a Constituiccedilatildeo entre ordem marco e ordem fundamenta Revista de
Direito do Estado n 10 p 125-142 abrjun 2008
144Der Staat der Industriegesellshaft 2 ed Muumlnchen Beck 1971 p 144 Apud Robert Alexy Posfaacutecio In Teoria dos direitos
fundamentais Op cit p 578
145De acordo com Carlos Santiago Nino o perfeccionaismo eacute la concepcioacuten seguacuten la cual es una misioacuten legiacutetima del Estado hacer
que los individuos acepten y materializen ideales vaacutelidos de virtud personal Seguacuten este enfoque el Estado no puede permanecer
neutral respecto de concepciones de lo bueno en la vida y debe adoptar las medidas educativas punitorias etc que sean necesa-
rias para que los indiviacuteduos ajusten su vida a los verdaderos ideales de virtud y del bien (Eacutetica y Derechos Humanos Un ensayo de
fundamentacioacuten 2 ed Buenos Aires Astrea 1989 p 413)
146Daniel Sarmento Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas 2 ed Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 Sobre o tema na literatura
nacional veja-se tambeacutem Wilson Antocircnio Steinmetz A vinculaccedilatildeo dos particulares aos direitos fundamentais Satildeo Paulo Malheiros
2004 Virgiacutelio Afonso da Silva Constitucionalizaccedilatildeo do direito os direitos fundamentais nas relaccedilotildees entre particulares Op cit
Ingo Wolfgang Sarlet Direitos fundamentais e direito privado algumas consideraccedilotildees em torno da vinculaccedilatildeo dos particulares aos
direitos fundamentais In Ingo Wolfgang Sarlet (Org) A Constituiccedilatildeo concretizada Porto Alegre Livraria do Advogado 1999 p
129-173 Jane Reis Gonccedilalves Pereira Apontamentos sobre a aplicaccedilatildeo das normas de direito fundamental nas relaccedilotildees juriacutedicas
entre particulares In Luis Roberto Barroso (Org) A nova interpretaccedilatildeo constitucional ponderaccedilatildeo direitos fundamentais e
relaccedilotildees privadas Rio de Janeiro Renovar 2003 p 119-192
147Sobre a questatildeo da (i)legitimidade do perfeccionismo no Direito veja-se Joel Feinberg Rights Justice and the Bounds of Liber-
ty Princeton Princeton University Press 1980 Carlos Santiago Nino Eacutetica y Derechos Humanos Op cit p 413-446 Rainer Forst
Contexts of Justice Political Philosophy beyond Liberalism and Communitarianism Traduccedilatildeo de John M M Farrel Berkeley Uni-
versity of Califoacuternia Press 2001 p 30-87 Macaacuterio Alemany El Paternalismo Juriacutedico Madrid Iustel 2006
148Um sofisticado modelo que busca conciliar a constitucionalizaccedilatildeo do Direito com a democracia estaacute exposto no Poacutesfaacutecio agrave Teo-
ria dos Direitos Fundamentais de Robert Alexy acima citado Veja-se ainda Konrad Hesse Concepto y Cualidad de la Constitu-
cion In Escritos de Derecho Constitucional Traduccedilatildeo de Pedro Cruz Villaloacuten 2 ed 1992 p 03-29
149Tentei articular a minha teoria sobre eficaacutecia horizontal dos direitos fundamentais com este objetivo Cf Daniel Sarmento
Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas Op cit p 141-182 259-272
150Sobre el Neoconstitucionalismo y sus Implicaciones Op cit p 117
151Aqui entendo que o simples reconhecimento da penetraccedilatildeo da Moral no Direito preconizada pelos neoconstitucionalistas brasi-
leiros natildeo eacute suficiente jaacute que certas concepccedilotildees morais podem tornar o ordenamento ainda mais opressivo do que jaacute eacute Afinal
nem sempre a moralizaccedilatildeo do Direito se daacute na direccedilatildeo da emancipaccedilatildeo dos excluiacutedos Veja-se por exemplo a famosa polecircmica
jusfilosoacutefica entre Lord Patrick Devlin e Herbert Hart nos anos 60 na Inglaterra a propoacutesito do uso do Direito Penal para promoccedilatildeo
de Moral em que o primeiro a partir de uma posiccedilatildeo proacute-moral sustentava a legitimidade da criminalizaccedilatildeo da conduta homos-
sexual que o segundo contestava (Cf Lord Patrick Devlin Morals and Criminal Law In Ronald Dworkin (Ed) The Philosophy of
Law Op cit p 66-82 Herbert Hart Immorality and Treason In Idem ibidem)
Eacute preciso assentar as bases criacuteticas desta Moral que deve penetrar o Direito para evitar que o moralismo conservador seja expulso
do ordenamento pela porta da frente superado pela legislaccedilatildeo moderna em razatildeo da progressiva liberalizaccedilatildeo da sociedade mas
volte pela porta dos fundos atraveacutes da argumentaccedilatildeo juriacutedica dos juiacutezes lastreada em conceitos vagos como ordem puacuteblica e
bons constumes ou em standards como o comportamento do bom pai de famiacutelia
39
19
Estou convencido de que o Poder Judiciaacuterio tem um papel essencial na concretizaccedilatildeo da Consti-
tuiccedilatildeo brasileira Em face do quadro de sistemaacutetica violaccedilatildeo de direitos de certos segmentos da
populaccedilatildeo do arranjo institucional desenhado pela Carta de 88 e da seacuteria crise de representa-
tividade do Poder Legislativo entendo que o ativismo judicial se justifica no Brasil pelo menos
em certas searas como a tutela de direitos fundamentais a proteccedilatildeo das minorias e a garantia
do funcionamento da proacutepria democracia O maior insulamento judicial diante da pressatildeo das
maiorias bem como um certo ethos profissional de valorizaccedilatildeo dos direitos humanos que co-
meccedila a se instalar na nossa magistratura 121 conferem ao Judiciaacuterio uma capacidade institu-
cional privilegiada para atuar nestas aacutereas122
Mas em outros campos pode ser mais recomendaacutevel uma postura de autocontenccedilatildeo judicial
seja por respeito agraves deliberaccedilotildees majoritaacuterias adotadas no espaccedilo poliacutetico123 seja pelo reco-
nhecimento da falta de expertise do Judiciaacuterio para tomar decisotildees que promovam eficiente-
mente os valores constitucionais em jogo em aacutereas que demandem profundos conhecimentos
teacutecnicos fora do Direito - como Economia poliacuteticas puacuteblicas e regulaccedilatildeo124 Nestes casos deve-
se reconhecer que outros oacutergatildeos do Estado estatildeo mais habilitados para assumirem uma posiccedilatildeo
de protagonismo na implementaccedilatildeo da vontade constitucional
Nesta linha vejo com reticecircncias a sedimentaccedilatildeo na nossa cultura juriacutedica da visatildeo de que o
grande - senatildeo o uacutenico - inteacuterprete da Constituiccedilatildeo seria o Poder Judiciaacuterio125 Esta leitura des-
carta a autocontenccedilatildeo judicial bem como tende a desprezar a possibilidade de que sejam tra-
vados construtivos diaacutelogos interinstitucionais entre diversos oacutergatildeos estatais para a definiccedilatildeo da
melhor interpretaccedilatildeo dos ditames constitucionais126 Um bom exemplo127 deste desvio ocorreu
no julgamento da constitucionalidade das pesquisas em ceacutelulas-tronco embrionaacuterias realizada
pelo STF em que pese o resultado final do julgamento ter sido substancialmente correto Na-
quela ocasiatildeo o importante argumento deduzido na tribuna e em memoriais por Luis Roberto
Barroso - que advogava para um dos amici curiae favoraacuteveis agraves pesquisas - de que o Judiciaacuterio
deveria adotar posiccedilatildeo cautelosa no julgamento da constitucionalidade da lei impugnada ten-
do em vista o amplo consenso em torno dela obtido durante o processo legislativo tanto no
Senado como na Cacircmara foi explicitamente rechaccedilado por alguns ministros que consideraram
o ponto irrelevante E outros ministros em votos vencidos se sentiram confortaacuteveis ateacute para
defender a imposiccedilatildeo de novas normas pelo STF na aacuterea do Biodireito arvorando-se agrave condiccedilatildeo
de legisladores num campo para o qual evidentemente lhes faltava qualquer expertise
Enfim o neoconstitucionalismo brasileiro tem pecado por excesso depositando no Judiciaacuterio
expectativas que ele nem sempre teraacute como atender de forma satisfatoacuteria Um dos efeitos co-
laterais deste fenocircmeno eacute a disseminaccedilatildeo de um discurso muito perigoso de que voto e poliacuteti-
20
ca natildeo satildeo tatildeo importantes pois relevante mesmo eacute a interpretaccedilatildeo dos princiacutepios constitucio-
nais realizada pelo STF Daiacute a dizer que o povo natildeo sabe votar eacute um pulo e a ditadura de toga
pode natildeo ser muito melhor do que a ditadura de farda
b) Neoconstitucionalismo oba-oba constitucional e Estado Democraacutetico de Direito
Seria uma profunda injusticcedila com a teoria neoconstitucionalista acusaacute-la de promover o decisi-
onismo ou de defender a tomada de decisotildees judiciais puramente emotivas sem lastro em ar-
gumentaccedilatildeo racional soacutelida Pelo contraacuterio como foi destacado acima um dos eixos centrais
do pensamento neoconstitucional eacute a reabilitaccedilatildeo da racionalidade praacutetica no acircmbito juriacutedico
com a articulaccedilatildeo de complexas teorias da argumentaccedilatildeo que demandam muito dos inteacuterpre-
tes e sobretudo dos juiacutezes em mateacuteria de fundamentaccedilatildeo das suas decisotildees Poreacutem a praacutetica
judiciaacuteria brasileira recepcionou apenas parcialmente as teorias juriacutedicas de corte poacutes-
positivista e aqui a valorizaccedilatildeo dos princiacutepios e da ponderaccedilatildeo natildeo tem sido muitas vezes
acompanhada do necessaacuterio cuidado com a justificaccedilatildeo das decisotildees
Se ateacute natildeo muito tempo atraacutes os princiacutepios natildeo eram tratados como autecircnticas normas por
aqui - soacute tinha bom direito quem podia invocar uma regra legal clara e precisa em favor da sua
pretensatildeo - com a chegada do poacutes-positivismo e do neoconstitucionalismo passou-se em pou-
cos anos da aacutegua para o vinho Hoje instalou-se um ambiente intelectual no Brasil que aplaude
e valoriza as decisotildees principioloacutegicas e natildeo aprecia tanto aquelas calcadas em regras legais
que satildeo vistas como burocraacuteticas ou positivistas - e positivismo hoje no paiacutes eacute quase um pala-
vratildeo128 Neste contexto os operadores do Direito satildeo estimulados a invocar sempre princiacutepios
muito vagos nas suas decisotildees mesmo quando isso seja absolutamente desnecessaacuterio pela e-
xistecircncia de regra clara e vaacutelida a reger a hipoacutetese Os campeotildees tecircm sido os princiacutepios da dig-
nidade da pessoa humana e da razoabilidade O primeiro eacute empregado para dar imponecircncia ao
decisionismo judicial vestindo com linguagem pomposa qualquer decisatildeo tida como politica-
mente correta e o segundo para permitir que os juiacutezes substituam livremente as valoraccedilotildees de
outros agentes puacuteblicos pelas suas proacuteprias
Este cenaacuterio eacute problemaacutetico porque um sistema juriacutedico funcional estaacutevel e harmocircnico com os
valores do Estado Democraacutetico de Direito precisa tanto da aplicaccedilatildeo de regras como de princiacute-
pios129 As regras satildeo indispensaacuteveis dentre outras razotildees130 porque geram maior previsibili-
dade e seguranccedila juriacutedica para os seus destinataacuterios diminuem os riscos de erro na sua inci-
decircncia jaacute que natildeo dependem tanto das valoraccedilotildees do inteacuterprete em cada caso concreto en-
volvem um menor custo no seu processo de aplicaccedilatildeo pois podem incidir de forma mais mecacirc-
nica sem demandarem tanto esforccedilo do inteacuterprete e natildeo implicam na mesma medida que os
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princiacutepios em uma transferecircncia de poder decisoacuterio do Legislativo que eacute eleito para o Judici-
aacuterio que natildeo eacute
Natildeo pretendo sustentar com isso que se deva retroceder ao tempo em que os princiacutepios natildeo
eram aplicados pelos juiacutezes brasileiros Tambeacutem os princiacutepios satildeo essenciais na ordem juriacutedica
pois conferem mais plasticidade ao Direito - o que eacute essencial numa sociedade hiper-complexa
como a nossa - e permitem uma maior abertura da argumentaccedilatildeo juriacutedica agrave Moral e ao mundo
empiacuterico subjacente O importante eacute encontrar uma justa medida que natildeo torne o processo de
aplicaccedilatildeo do Direito amarrado demais como ocorreria num sistema baseado exclusivamente
em regras nem solto demais como sucederia com um que se fundasse apenas em princiacutepios
Penso que eacute chegada a hora de um retorno do pecircndulo no Direito brasileiro131 que sem des-
cartar a importacircncia dos princiacutepios e da ponderaccedilatildeo volte a levar a seacuterio tambeacutem as regras e a
subsunccedilatildeo
Ademais naquelas hipoacuteteses em que a aplicaccedilatildeo de princiacutepios for realmente apropriada ela
deve dar-se de forma mais racional e fundamentada Deve-se adotar a premissa de que quanto
mais vaga for a norma a ser aplicada e mais intenso o componente volitivo envolvido no pro-
cesso decisoacuterio maior deve ser o ocircnus argumentativo do inteacuterprete no sentido de mostrar que
a soluccedilatildeo por ele adotada eacute a que melhor realiza os valores do ordenamento naquele caso con-
creto132 A tendecircncia atual de invocaccedilatildeo frouxa e natildeo fundamentada de princiacutepios colide com a
loacutegica do Estado Democraacutetico de Direito pois amplia as chances de arbiacutetrio judicial gera inse-
guranccedila juriacutedica e atropela a divisatildeo funcional de poderes que tem no ideaacuterio democraacutetico um
dos seus fundamentos - a noccedilatildeo baacutesica de que as decisotildees sobre o que os cidadatildeos e o Estado
podem e natildeo podem fazer devem ser tomadas preferencialmente por quem represente o povo
e seja por ele escolhido
E haacute na sociedade brasileira traccedilos que tornam ainda mais perigosa esta tendecircncia agrave frouxidatildeo
e emotividade na metodologia juriacutedica Nossa cultura caracteriza-se muito mais pelo jeiti-
nho133 e pelo patrimonialismo134 do que pela valorizaccedilatildeo do cumprimento impessoal de regras
O brasileiro - jaacute dizia Seacutergio Buarque de Holanda135 - eacute o homem cordial que tende a antepor
a loacutegica privada do compadrio e da simpatia agrave racionalidade objetiva das leis Esta singularida-
de das nossas relaccedilotildees sociais natildeo atua de forma neutra em relaccedilatildeo a todos os cidadatildeos Ela
implica na adoccedilatildeo de posturas estatais em geral muito benevolentes em relaccedilatildeo aos donos do
poder e seus apaniguumlados e de posiccedilotildees muito mais duras dirigidas aos grupos excluiacutedos e mar-
ginalizados136 Uns poucos acabam pairando acima das leis que natildeo os alcanccedilam para limitar a
sua conduta ou sancionar os seus desvios enquanto outros permanecem abaixo dela sendo
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atingidos apenas pelo braccedilo punitivo do Estado pois a violaccedilatildeo rotineira dos seus direitos eacute
naturalizada tornando-se invisiacutevel
Neste quadro cabe indagar sob a perspectiva de uma sociologia da interpretaccedilatildeo constitucio-
nal ateacute que ponto a introduccedilatildeo entre noacutes de uma dogmaacutetica fluida - a expressatildeo eacute de Gusta-
vo Zagrebelsky137 um dos iacutecones do neoconstitucionalismo - natildeo pode ter como efeito colateral
o agravamento de patologias que marcam as nossas relaccedilotildees sociais Seraacute que o nosso Direito
precisa de mais rigidez ou de maior maleabilidade Ao fim e ao cabo quem tende a se benefi-
ciar com a adoccedilatildeo de uma hermenecircutica juriacutedica mais flexiacutevel
Uma reflexatildeo importante sobre tema correlato foi empreendida por Marcelo Neves138 a partir
das categorias da teoria sistecircmica de Niklas Luhman Para Luhman139 em apertada siacutentese o
Direito nas hipercomplexas sociedades modernas seria autopoieacutetico140 pois consistiria num
subsistema social estruturalmente fechado em relaccedilatildeo ao meio envolvente que operaria de
acordo com um coacutedigo binaacuterio proacuteprio - o liacutecito iliacutecito As influecircncias do meio envolvente so-
bre o Direito seriam filtradas atraveacutes deste coacutedigo assegurando a autonomia da esfera juriacutedica
diante dos outros subsistemas sociais como a Economia a Poliacutetica a Religiatildeo etc Contudo
Marcelo Neves sustenta que em sociedades perifeacutericas como o Brasil natildeo se desenvolveu ple-
namente este fechamento estrutural do Direito Por aqui fatores como a nossa constituciona-
lizaccedilatildeo simboacutelica geraram uma insuficiente diferenciaccedilatildeo do Direito em relaccedilatildeo a outros sub-
sistemas sociais permitindo que elementos a princiacutepio estranhos ao coacutedigo binaacuterio do juriacutedico -
como a questatildeo do poder poliacutetico e do poder econocircmico - se infiltrem sistematicamente nos
processos de aplicaccedilatildeo das normas condicionando o seu resultado A teoria dos sistemas de
Luhman natildeo funcionaria bem entre noacutes pois teriacuteamos um Direito em boa parte alopoieacuteti-
coPara tal perspectiva esta maior abertura do Direito ao meio envolvente natildeo assume o po-
tencial emancipatoacuterio preconizado pela teoria neoconstitucionalista Ela funciona muito mais
como um mecanismo de cristalizaccedilatildeo de diferenccedilas sociais mantendo a hiper-inclusatildeo de uns
ao preccedilo da exclusatildeo de outros
Esta reflexatildeo de Marcelo Neves natildeo se dirigiu ao debate metodoloacutegico contemporacircneo envol-
vendo princiacutepios e regras ponderaccedilatildeo e subsunccedilatildeo etc Poreacutem entendo que ela pode ter algu-
ma pertinecircncia tambeacutem aqui pelo menos para nos advertir sobre o perigo de que o neoconsti-
tucionalismo com a fluidez metodoloacutegica e abertura do Direito a outros domiacutenios que preconi-
za possa acabar tornando-se um belo roacutetulo para justificar mais do mesmo patrimonialismo
desigualdade jeitinho Nesta perspectiva a novidade do neoconstitucionalismo poderia pare-
cer com aquela advogada pelo Priacutencipe de Salinas em famosa passagem do romance O Leopar-
do de Giuseppe Lampedusa quando defendia no contexto da crise da aristocracia italiana do
23
final do seacuteculo XIX a necessidade de mudanccedilas urgentes no governo para que ao final as
coisas pudessem permanecer exatamente do jeito que sempre foram
Natildeo penso que esta seja uma consequumlecircncia necessaacuteria da adoccedilatildeo de uma perspectiva juriacutedica
mais principialista no Brasil O maior cuidado metodoloacutegico adicionado agrave adoccedilatildeo de uma dire-
triz hermenecircutica substantiva que afirme a missatildeo essencial do Direito de assegurar justiccedila e
seguranccedila agraves pessoas tratando-as como livres e iguais pode minimizar as possibilidades de um
uso enviesado da teoria neoconstitucional que acabe favorecendo aos mesmos de sempre
Mas diante das nossas tradiccedilotildees natildeo haacute como negar que os riscos satildeo elevados
c) Neoconstitucionalismo e panconstitucionalizaccedilatildeo
Uma das caracteriacutesticas do neoconstitucionalismo eacute a defesa da constitucionalizaccedilatildeo do Direi-
to Sustenta-se que a irradiaccedilatildeo das normas constitucionais por todo o ordenamento contribui
para aproximaacute-lo dos valores emancipatoacuterios contidos nas constituiccedilotildees contemporacircneas 141A
Constituiccedilatildeo natildeo eacute vista mais como uma simples norma normarum - cuja finalidade principal eacute
disciplinar o processo de produccedilatildeo de outras normas142 Ela passa a ser enxergada como a en-
carnaccedilatildeo dos valores superiores da comunidade poliacutetica que devem fecundar todo o sistema
juriacutedico Neste modelo cabe ao inteacuterprete natildeo soacute aplicar diretamente os ditames constitucio-
nais agraves relaccedilotildees sociais como tambeacutem reler todas as normas e institutos dos mais variados ra-
mos do Direito agrave luz da Constituiccedilatildeo emprestando-lhes o sentido que mais promova os objeti-
vos e a axiologia da Carta
A constitucionalizaccedilatildeo do Direito de que cogita o neoconstitucionalismo natildeo eacute aquela que resul-
ta do caraacuteter excessivamente analiacutetico da Constituiccedilatildeo e leva ao entricheiramento de meras
opccedilotildees conjunturais do constituinte originaacuterio ou derivado despidas de maior importacircncia ou
dignidade Este eacute um fenocircmeno caracteriacutestico da Carta de 88 que se excedeu no casuiacutesmo e
nos detalhes elevando ao seu texto meros interesses corporativos ou decisotildees de momento
sem focirclego para perdurarem no tempo A constitucionalizaccedilatildeo louvada e defendida pelo neo-
constitucionalismo eacute aquela que parte de uma interpretaccedilatildeo extensiva e irradiante dos direitos
fundamentais e dos princiacutepios mais importantes da ordem constitucional Aqui contudo pode-
se discutir ateacute que ponto o fenocircmeno eacute legiacutetimo Poucos discordaratildeo pelo menos no Brasil de
que alguma constitucionalizaccedilatildeo do Direito eacute positiva e bem-vinda por semear o ordenamento
com os valores humanitaacuterios da Constituiccedilatildeo Poreacutem pode-se objetar contra as teses extrema-
das sobre este processo que acabam amputando em demasia o espaccedilo de liberdade do legisla-
dor em detrimento da democracia 143
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Com efeito quem defende que tudo ou quase tudo jaacute estaacute decidido pela Constituiccedilatildeo e que o
legislador eacute um mero executor das medidas jaacute impostas pelo constituinte nega por conse-
quumlecircncia a autonomia poliacutetica ao povo para em cada momento da sua histoacuteria realizar as suas
proacuteprias escolhas O excesso de constitucionalizaccedilatildeo do Direito reveste-se portanto de um
vieacutes antidemocraacutetico Esta ordem de preocupaccedilotildees levou Ersnt Forsthof na Alemanha a criti-
car as teorias que viam a Constituiccedilatildeo como uma espeacutecie de genoma juriacutedico () do qual tudo
deriva do Coacutedigo Penal ateacute a lei sobre a fabricaccedilatildeo de termocircmetros144 E a questatildeo torna-se
ainda mais delicada diante da constataccedilatildeo de que pela abertura semacircntica dos direitos fun-
damentais e dos princiacutepios - principal mateacuteria-prima da constitucionalizaccedilatildeo do Direito - o seu
principal agente acaba sendo o Poder Judiciaacuterio ao dar a uacuteltima palavra sobre a interpretaccedilatildeo
daquelas claacuteusulas Daiacute porque o debate sobre a constitucionalizaccedilatildeo do Direito se imbrica
inexoravelmente com as discussotildees a propoacutesito da judicializaccedilatildeo da poliacutetica e do decisionismo
referidas acima
Ademais a constitucionalizaccedilatildeo do Direito tambeacutem suscita outra linha de preocupaccedilotildees rela-
cionada ao perfeccionismo moral145 na esfera privada No Brasil assim como em muitos outros
paiacuteses jaacute se assentou a ideacuteia de que os direitos fundamentais natildeo se dirigem apenas contra o
Estado vinculando tambeacutem os particulares Entre noacutes tem prevalecido na doutrina a ideacuteia que
eu mesmo defendi em outro estudo146 que a eficaacutecia dos direitos fundamentais nas relaccedilotildees
privadas eacute direta e imediata Em outras palavras entende-se que a proacutepria Constituiccedilatildeo jaacute inci-
de nas relaccedilotildees privadas independentemente de mediaccedilotildees legislativas e que pode gerar o-
brigaccedilotildees positivas ou negativas para os indiviacuteduos e natildeo soacute para os poderes puacuteblicos sempre
no afatilde de proporcionar uma proteccedilatildeo mais completa agrave dignidade humana Ateacute aqui nada a
contestar
Poreacutem o reconhecimento da vinculaccedilatildeo dos particulares agrave Constituiccedilatildeo suscita um risco que
natildeo pode ser ignorado o de imposiccedilatildeo agraves pessoas supostamente em nome de valores constitu-
cionais de comportamentos e estilos de vida que elas proacuteprias rejeitam em detrimento da sua
liberdade existencial Para dar um exemplo bem tosco seria terriacutevel se o Direito em nome do
princiacutepio da solidariedade social pudesse impor agraves pessoas que demonstrassem afetos e senti-
mentos que elas natildeo possuem genuinamente Ou se em nome da isonomia pretendesse inter-
ferir nas escolhas subjetivas e emocionais que os indiviacuteduos fazem nas suas vidas privadas A
constitucionalizaccedilatildeo neste sentido poderia converter-se num pretexto para o exerciacutecio de um
paternalismo anti-liberal em que as pessoas seriam forccediladas a conformarem-se agraves expectativas
sociais forjadas a partir de pautas de accedilatildeo politicamente corretas com apoio na Constitui-
ccedilatildeo147
25
Nenhuma destas duas questotildees eacute insuperaacutevel Eacute possiacutevel aceitar e aplaudir a constitucionaliza-
ccedilatildeo do Direito - fenocircmeno em geral positivo por aproximar a racionalidade emancipatoacuteria da
Constituiccedilatildeo do dia-a-dia das pessoas - mas defender que ela seja temperada por outras preo-
cupaccedilotildees igualmente essenciais no Estado Democraacutetico de Direito com a autonomia puacuteblica e
privada dos cidadatildeos Pode-se reconhecer a legitimidade da constitucionalizaccedilatildeo do Direito
mas numa medida em que natildeo sacrifique em excesso agrave liberdade de conformaccedilatildeo que numa
democracia deve caber ao legislador para realizar opccedilotildees poliacuteticas em nome do povo148 Pode-
se da mesma forma afirmar a incidecircncia direta da Constituiccedilatildeo nas relaccedilotildees privadas mas
sem invadir a esfera das opccedilotildees existenciais da pessoa - que de resto eacute protegida pela proacutepria
Constituiccedilatildeo das ingerecircncias perfeccionistas do Estado e da sociedade149
5 Conclusatildeo Ao fim da leitura destas paacuteginas o leitor pode estar se indagando se eu me alinho ou natildeo ao
neoconstitucionalismo A minha resposta eacute depende da compreensatildeo que se tenha sobre o ne-
oconstitucionalismo Se entendermos o neoconstitucionalismo de acordo com a conhecida defi-
niccedilatildeo de Luis Prietro Sanchiacutes como uma teoria do Direito que se orienta pelas maacuteximas demaacutes
princiacutepios que reglas maacutes ponderacioacuten que subsuncioacuten omnipotencia de la Constitucioacuten en
todas las aacutereas juriacutedicas y en todos conflictos miacutenimamente relevantes en lugar de espacios
exentos en favor de la opcioacuten legislativa o reglamentaria omnipotencia judicial en lugar de
autonomia del legislador ordinaacuterio y por ultimo coexistecircncia de una constelacioacuten plural de
valores a veces tendencialmente contradictorios en lugar de homogeneidad ideoloacutegica150
certamente eu natildeo me considero um neoconstitucionalista De todas as afirmaccedilotildees do professor
espanhol a uacutenica de que natildeo discordo eacute aquela relacionada ao pluralismo de valores cujo re-
conhecimento aliaacutes estaacute longe de ser privileacutegio dos neoconstitucionalistas
Contudo eu assumo o roacutetulo sem constrangimentos se o neoconstitucionalismo for pensado
como uma teoria constitucional que sem descartar a importacircncia das regras e da subsunccedilatildeo
abra tambeacutem espaccedilo para os princiacutepios e para a ponderaccedilatildeo tentando racionalizar o seu uso
Se for visto como uma concepccedilatildeo que sem desprezar o papel protagonista das instacircncias de-
mocraacuteticas na definiccedilatildeo do Direito reconheccedila e valorize a irradiaccedilatildeo dos valores constitucio-
nais pelo ordenamento bem como a atuaccedilatildeo firme e construtiva do Judiciaacuterio para proteccedilatildeo e
promoccedilatildeo dos direitos fundamentais e dos pressupostos da democracia E acima de tudo se
for concebido como uma visatildeo que conecte o Direito com exigecircncias de justiccedila e moralidade
criacutetica151 sem enveredar pelas categorias metafiacutesicas do jusnaturalismo
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Certamente uma visatildeo equilibrada da Teoria do Direito com tais caracteriacutesticas pode contribu-
ir para o aperfeiccediloamento do Estado Democraacutetico de Direito no Brasil O mesmo jaacute natildeo digo de
concepccedilotildees mais radicais do neoconstitucionalismo que podem ser muito boas para arrancar
aplausos entusiasmados das plateacuteias nos seminaacuterios estudantis mas que natildeo se conciliam com
exigecircncias fundamentais de seguranccedila juriacutedica democracia e liberdade que satildeo alicerces de
qualquer bom constitucionalismo - novo ou velho
Curriacuteculo Resumido
Daniel Sarmento
Poacutes-Doutor pela Universidade de Yale (EUA) Procurador Regional da Repuacuteblica
Como citar este artigo
SARMENTO Daniel O neoconstitucionalismo no Brasil riscos e possibilidades Disponiacutevel em httpwwweditoraforumcombrsistconteudolista_conteudoaspFIDT_CONTEUDO=56993 acesso em 09032011 httpdireitoesubjetividadefileswordpresscom201008daniel-sarmento-o-neoconstitucionalismo-no-brasil1doc acesso em 30062012 Material da 1ordf aula da Disciplina Teoria Geral da Constituiccedilatildeo (I) ministrada no Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo Online em Direito Constitucional ndash Anhanguera-UNIDERP | REDE LFG
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1Sobre a teoria de princiacutepios no Brasil veja-se dentre outros Ana Paula de Barcellos A eficaacutecia juriacutedica dos princiacutepios constitu-
cionais o princiacutepio da dignidade da pessoa humana Rio de Janeiro Renovar 2002 Humberto Bergman Aacutevila Teoria dos princiacute-
pios da definiccedilatildeo agrave aplicaccedilatildeo dos princiacutepios juriacutedicos 2 ed Satildeo Paulo RT 2005 Jane Reis Gonccedilalves Pereira Interpretaccedilatildeo
constitucional e direitos fundamentais uma contribuiccedilatildeo ao estudo das restriccedilotildees aos direitos fundamentais na perspectiva da
teoria dos princiacutepios Rio de Janeiro Renovar 2006 Virgiacutelio Afonso da Silva O conteuacutedo essencial dos direitos fundamentais e a
eficaacutecia das normas constitucionais Satildeo Paulo Tese (concurso de Professor Titular de Direito Constitucional da USP)
2Veja-se em tons variados Lecircnio Luiz Streck Hermenecircutica juriacutedica e(m) crise uma exploraccedilatildeo hermenecircutica da construccedilatildeo do
direito Porto Alegre Livraria do Advogado 1999 Luiacutes Roberto Barroso (Org) A nova interpretaccedilatildeo constitucional ponderaccedilatildeo
direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas Rio de Janeiro Renovar 2003 Margarida Maria Lacombe Camargo Hermenecircutica e
argumentaccedilatildeo uma contribuiccedilatildeo ao estudo do direito Rio de Janeiro Renovar 2003 Inocecircncio Maacutertires Coelho Interpretaccedilatildeo
constitucional 2 ed Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2003 Ana Paula de Barcellos Ponderaccedilatildeo racionalidade e atividade
jurisdicional Rio de Janeiro Renovar 2005
3Sobre o fenocircmeno da constitucionalizaccedilatildeo do Direito confira-se os inuacutemeros artigos que compotildeem a coletacircnea organizada por
Claacuteudio Pereira de Souza Neto e por mim A constitucionalizaccedilatildeo do direito fundamentos teoacutericos e aplicaccedilotildees especiacuteficas Rio de
Janeiro Lumen Juris 2007
4Cfr na literatura constitucional brasileira Gisele Guimaratildees Cittadino Pluralismo direito e justiccedila distributiva elementos de
filosofia constitucional contemporacircnea Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 Oscar Vilhena Vieira A Constituiccedilatildeo e sua reserva de
justiccedila um ensaio sobre os limites materiais do poder de reforma Satildeo Paulo Malheiros 1999 Ricardo Lobo Torres (Org) A legi-
timaccedilatildeo dos direitos humanos Rio de Janeiro Renovar 2002 Claacuteudio Pereira de Souza Neto Teoria constitucional e democracia
deliberativa Rio de Janeiro Renovar 2006 Lecircnio Luiz Streck Verdade e consenso Constituiccedilatildeo hermenecircutica e teorias discursi-
vas Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 Samantha Chantal Dobrowolski A construccedilatildeo social do sentido da Constituiccedilatildeo na demo-
cracia contemporacircnea entre soberania popular e direitos humanos Rio de Janeiro Lumen Juris 2007 Aacutelvaro Ricardo de Souza
Cruz Hermenecircutica juriacutedica e(m) debate o constitucionalismo brasileiro entre a teoria do discurso e a ontologia existencial Belo
Horizonte Foacuterum 2007
5Sobre a judicializaccedilatildeo da poliacutetica no Brasil veja-se Luiz Werneck Vianna et al A judicializaccedilatildeo da poliacutetica e das relaccedilotildees sociais
no Brasil Rio de Janeiro Revan 1999 Giselle Cittadino Judicializaccedilatildeo da poliacutetica constitucionalismo democraacutetico e separaccedilatildeo de
poderes In Luiz Werneck Vianna (Org) A democracia e os trecircs poderes no Brasil Belo Horizonte UFMG 2002 p 17-42 Rogeacuterio
B Arantes Constitucionalism the expansion of Justice and the Judicialization of Poltics in Brazil In Rachel Sieder Line Schjol-
den Alan Angell The Judicialization of Politics in Latin America New York Palgrave Macmillan 2005 p 232-262 Luis Roberto
Barroso Judicializaccedilatildeo ativismo judicial e legitimidade democraacutetica Texto ineacutedito gentilmente cedido pelo autor
Para uma perspectiva comparativa veja-se Neal C Tate Tobjorn Vallinder (Ed) The Global Expansion of Judicial Power New
York New York University Press 1995 Alec Stone Sweet Governing with Judges Constitutional Politics in Europe Oxford Oxford
Univesity Press 2000 e em tom profundamente criacutetico Ran Hirschl Towards Juristocracy the Origins and Consequences of the
New Constitucionalism Cambridge Harvard University Press 2004
6Miguel Carbonell et al Neoconstitucionalismo(s) Madrid Trotta 2003 Mais recentemente o autor publicou nova coletacircnea
tambeacutem dedicada ao estudo do neoconstitucionalismo intitulada Teoria del Neoconstitucionalismo Ensayos escogidos Madrid
Trotta 2007
7O jurista argentino Carlos Santiago Nino por exemplo faleceu em 1993 quando ainda nem se empregava esta denominaccedilatildeo
8Cf Robert Alexy Teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica a teoria do discurso racional como teoria da fundamentaccedilatildeo juriacutedica Tradu-
ccedilatildeo de Zilda Hutchinson Schild Silva revisatildeo teacutecnica da traduccedilatildeo e introduccedilatildeo agrave ediccedilatildeo brasileira Claudia Toledo 2 ed Satildeo Paulo
Landy 2005 Luis Roberto Barroso Curso de direito constitucional contemporacircneo os conceitos fundamentais e a construccedilatildeo do
novo modelo Rio de Janeiro Saraiva 2008 p 306-350
9Cf Lecircnio Luiz Streck Verdade e consenso Op cit p 197-246
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10Ronald Dworkin e Carlos Santiago Nino satildeo sem sombra de duacutevida autores liberais natildeo no sentido que se atribui ao termo no
Brasil - de adeptos de doutrina econocircmica favoraacutevel ao Estado miacutenimo e ao mercado - mas sim no sentido corrente na Filosofia
Poliacutetica que associa o liberalismo agrave defesa dos direitos individuais e da neutralidade do Estado em relaccedilatildeo agraves diversas concepccedilotildees
sobre a vida boa existentes na sociedade Veja-se neste sentido Ronald Dworkin A Matter of Principle Cambridge Harvard
University Press 1985 p 181-236 Carlos Santiago Nino La constitucioacuten de la Democracia Deliberativa Barcelona Gedisa 1997
p 70-100
11Lecircnio Luiz Streck que se alinha ao neoconstitucionalismo defende posturas tipicamente comunitaristas como o papel da Consti-
tuiccedilatildeo na definiccedilatildeo de modelos de vida boa para orientaccedilatildeo da vida social e da accedilatildeo individual Cf Jurisdiccedilatildeo constitucional e
hermenecircutica uma nova criacutetica do direito 2 ed Rio de Janeiro Forense 2004 p 95-288
12Antonio Cavalcanti Maia um dos mais ardorosos defensores do neoconstitucionalismo no paiacutes eacute tambeacutem procedimentalista e
adepto das teorias juriacutedicas de Juumlrgen Habermas Veja-se neste sentido o seu denso texto Nos vintes anos da carta cidadatilde do
poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm (Coord) Vinte
anos da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 p 117-168 em que esta sua dupla filiaccedilatildeo intelectual eacute
explicitada
13Segundo Miguel Carbonell o neoconstitucionalismo desdobra-se em trecircs planos de anaacutelise que se conjugam o dos textos consti-
tucionais que se tornaram mais substantivos e incorporaram amplos elencos de direitos fundamentais o das praacuteticas judiciais que
passaram a recorrer a princiacutepios constitucionais agrave ponderaccedilatildeo e a meacutetodos mais flexiacuteveis de interpretaccedilatildeo sobretudo na aacuterea de
direitos fundamentais e o dos desenvolvimentos teoacutericos de autores que com as suas ideacuteias ajudaram natildeo soacute a compreender os
novos modelos constitucionais mas tambeacutem participaram da sua proacutepria criaccedilatildeo Cf Miguel Carbonell Neoconstitucionalismo
elementos para una definicioacuten In Eduardo Ribeiro Moreira Mauricio Pugliesi 20 anos da Constituiccedilatildeo brasileira Satildeo Paulo Sarai-
va 2009 p 197-208
14No mesmo sentido Luis Roberto Barroso Neoconstitucionalismo e Constitucionalizaccedilatildeo do direito o triunfo tardio do direito
constitucional do Brasil In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento A constitucionalizaccedilatildeo do direito fundamentos teoacuteri-
cos e aplicaccedilotildees especiacuteficas Rio de Janeiro Lumen Juris 2007 p 203-250
15Cf Carlos Bernal Pulido El Derecho de los Derechos Bogotaacute Universidad Externado de Colocircmbia 2006 Manoel Jose Cepeda
Espinosa Judicialization of Politics in Colombia the old and the new In Rachel Sieder Line Schonjen Alan Angell The Judiciali-
zation of Politics in Latin America Op cit p 67-104 Rodrigo Uprimmy Mauriacutecio Garcia-Villegas Tribunal Constitucional e eman-
cipaccedilatildeo social na Colocircmbia In Boaventura de Souza Santos Democratizar a democracia os caminhos da democracia participativa
Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2002 p 297-339
16Cf Catalina Smulovitz Petitioning and Creating Rights Judicialization in Argentina In Rachel Sieder Line Scjolden Alan Angell
The Judicialization of Politics in Latin America Op cit p 161-185
17Cf Miguel Carbonell Los Derechos Fundamentales en Meacutexico 2 ed Meacutexico Porruacutea 2006 Pilar Domingo The Changing Political
Role of the Judiciary in Meacutexico In Rachel Sieder Line Scjolden Alan Angell The Judicialization of Politics in Latin Ameacuterica Op
cit p 21-46
18Cf Heinz Klug South Aacutefrica From Constitucional Promise to Social Transformation In Jeffrey Goldsworthy Interpreting Consti-
tutions A Comparative Study Oxford Oxford University Press 2006 p 266-320
19Cf S P Sathe Iacutendia From Positivism to Structuralism In Jeffrey Goldsworthy Op cit p 215-265
20Veja-se a propoacutesito Gustavo Zagrebelsky Il Diritto Mite Torino Einaudi 1992 p 57-96
21Cf Eduardo Garciacutea de Enterriacutea La Constitucioacuten como Norma y el Tribunal Constitucional 3 ed Madrid Civitas 1985 p 41
22Na Alemanha a mudanccedila ocorreu sob a vigecircncia da Lei Fundamental adotada em 1949 e foi fortemente impulsionada pela
jurisprudecircncia do Tribunal Constitucional do paiacutes que construiu teorias importantes como a da Constituiccedilatildeo como uma ordem de
valores em cujo centro situa-se o princiacutepio da dignidade humana que se irradia por todo o ordenamento Veja-se a propoacutesito
Dieter Grimm Human Rights and Judicial Review in Germany In David M Beatty (Org) Human Rights and Judicial Review A
Comparative Perspective Dodrecht Martin Urjhoff 1994 p 267-295
23Na Itaacutelia as mudanccedilas se deram sob a eacutegide da atual Constituiccedilatildeo editada em 1947 mas soacute apoacutes o funcionamento da Corte
Constitucional que se deu em 1956 Ateacute entatildeo a Corte de Cassaccedilatildeo composta por juiacutezes recrutados ainda no periacuteodo do fascismo
29
era provisoriamente encarregada da guarda da Constituiccedilatildeo o que fazia de forma muito tiacutemida no mais das vezes negando eficaacute-
cia juriacutedica agraves normas constitucionais sob o argumento de que seriam programaacuteticas Veja-se a propoacutesito Ricardo Guastini A
constitucionalizaccedilatildeo do ordenamento juriacutedico e a experiecircncia italiana In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento A
constitucionalizaccedilatildeo do direito fundamentos teoacutericos e aplicaccedilotildees especiacuteficas Op cit p 271-294
24Cf No modelo do constitucionalismo norte-americano entende-se desde os primoacuterdios que a Constituiccedilatildeo eacute autecircntica lei e que
o Judiciaacuterio pode invalidar as decisotildees legislativas que a contrariem apesar do controle de constitucionalidade natildeo estar expres-
samente previsto no texto constitucional daquele paiacutes Esta ideacuteia que jaacute estava assentada no Federalista n 78 escrito por Ale-
xander Hamilton antes da aprovaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo foi posta em praacutetica pela primeira vez contra lei federal no ceacutelebre caso
Marbury v Madison julgado em 1803 pelo juiz Marshall Veja-se a propoacutesito Paul Brest Sanford Levinson Jack Balkin Akhil Reed
Amar Processes of Constitutional Decisionmaking Cases and Materials New York Aspen Publishers 2000 p 79-103
A versatildeo mais convencional do modelo constitucional norte-americano enfatiza a importacircncia central do Judiciaacuterio na atualizaccedilatildeo
do sentido da Constituiccedilatildeo do paiacutes Contudo esta leitura histoacuterica eacute hoje objeto de intensa disputa Em sentido contraacuterio a tal
posiccedilatildeo sustentando uma menor relevacircncia do Judiciaacuterio no desenvolvimento histoacuterico do constitucionalismo americano veja-se
por exemplo Stephen M Griffin American Constitutionalism From Theory to Politics New Jersey Princeton University Press
1996 p 88-139
25Cf Luis Prietro Sanchiacutes Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales Madrid Trotta 2003 p 107-117
26Cf Daniel Sarmento Ubiquumlidade constitucional Os dois lados da moeda In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento
(Coord) A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 113-148
27Na verdade a reaccedilatildeo contra o formalismo juriacutedico na Europa eacute bem anterior ao advento do constitucionalismo do 2ordm poacutes-guerra
remontando ao final do seacuteculo XIX Veja-se a propoacutesito Constantin M Stamatis Argumenter en Droit Une theacuteorie critique de
largumentation juridique Paris Publisud 1995 p 34-50 Antonio Manoel Hespanha Panorama histoacuterico da cultura juriacutedica euro-
peacuteia Lisboa Publicaccedilotildees Europa-Ameacuterica 1997 p 196-235
28Haacute vasta literatura sobre a ponderaccedilatildeo mas a obra mais influente sobre o tema eacute certamente o livro de Robert Alexy Teoria dos
direitos fundamentais Traduccedilatildeo de Virgiacutelio Afonso da Silva Satildeo Paulo Malheiros 2008 No cenaacuterio norte-americano veja-se a
anaacutelise densa e criacutetica de T Alexander Aleinikoff Constitucional Law in the Age of Balancing Yale Law Journal n 96 p 943-
1005 1987 No Brasil cfr Daniel Sarmento A ponderaccedilatildeo de interesses na Constituiccedilatildeo Federal Rio de Janeiro Lumen Juris
2000 Ana Paula de Barcellos Ponderaccedilatildeo racionalidade e atividade jurisdicional Op cit
29A bibliografia sobre o princiacutepio da proporcionalidade eacute vastiacutessima Veja-se a propoacutesito as densas anaacutelises de Carlos Bernal Puli-
do El Principio de Proporcionalidad y los Derechos Fundamentales Madrid Centro de Estuacutedios Constitucionales 2003 e no Brasil
de Jane Reis Gonccedilalves Pereira Interpretaccedilatildeo constitucional e direitos fundamentais Rio de Janeiro Renovar 2006 p 297-382
30Cf Chaiumlm Perelman Eacutetica e direito Traduccedilatildeo de Maria Ermantina Galvatildeo G Perira Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 p 361-684
Robert Alexy Teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica Op cit Friedrich Muller Discours de la Meacutethode Juridique Traduccedilatildeo de Olivier
Jouanjan Paris PUF 1993 Manuel Atienza Traacutes la Justicia Una Introduccioacuten al Derecho y al Razonamiento Juriacutedico Barcelona
Ariel 1995 Neil MacCormick Argumentaccedilatildeo juriacutedica e teoria do direito Traduccedilatildeo de Waldeacutea Barcellos Satildeo Paulo Martins Fontes
2006 Klaus Guumlnther Teoria da argumentaccedilatildeo no direito e na moral justificaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Claacuteudio Molz Satildeo Pau-
lo Landy 2004
31Cf Martin Shapiro Alec Stone Sweet On Law Politics and Judicialization New York Oxford University Press p 136-208
32Contudo deve-se admitir na linha de Paolo Comanducci que eacute possiacutevel reconhecer as mudanccedilas em questatildeo e propor novas
teorias que sejam adequadas a elas sem defendecirc-las Esta seria nas palavras do autor italiano a diferenccedila entre o neoconstitu-
cionalismo teoacuterico e o neoconstitucionalismo ideoloacutegico que natildeo apenas constroacutei teorias mais compatiacuteveis com os novos fenocirc-
menos mas vai aleacutem sustentando a sua legitimidade e propugnando pelo seu aprofundamento e expansatildeo Veja-se a propoacutesito
Paulo Comanducci Formas de neoconstitucionalismo Un anaacutelisis metateoacuterico In Miguel Carbonell (Ed) Neoconstitucionalis-
mo(s) Op cit p 75-98 Como reconhece o proacuteprio autor tal distinccedilatildeo baseia-se em uma semelhante acerca do positivismo
30
formulada por Norberto Bobbio que fala em positivismo teoacuterico ideoloacutegico e metodoloacutegico Cf Norberto Bobbio O positivismo
juriacutedico liccedilotildees de filosofia do direito Traduccedilatildeo e notas de Marcio Pugliesi et al Satildeo Paulo Iacutecone 1995 p 233-239
33Cf Ronald Dworkin Is Law a Sistem of Rules In Ronald Dworkin (Ed) Philosophy of Law Oxford Oxford University Press 1971
Robert Alexy Constitucionalismo discursivo Traduccedilatildeo de Luiz Afonso Heck Porto Alegre Livraria do Advogado 2007
34Cf Robert Alexy Derecho y Razoacuten Praacutectica Meacutexico Distribuiciones Fontamara 1993 Aulis Aarnio Lo Racional como Razonable
Traduccedilatildeo de Ernesto Garzoacuten Valdeacutes Madrid Centro de Estuacutedios Constitucionales 1991
35Cf Aharon Barak The Judge in a Democracy New Jersey Princeton University Press 2006 p 213-260 Gustavo Zagrebelsky Il
Diritto Mite Op cit p 179-217
36Confronte-se com perspectivas diferentes Luigi Ferrajoli O Estado de direito entre passado e futuro In Pietro Costa Danilo
Zolo (Org) Estado de direito histoacuteria teoria criacutetica Traduccedilatildeo de Carlo Alberto Dastoli Satildeo Paulo Martins Fontes 2006 p 419-
464 Elias Dias Estado de Derecho y Sociedad Democraacutetica Madrid Taurus 1998 Ronald Dworkin Introduction The Moral Reading
and the Majoritarian Premise In Freedoms Law The moral reading of the American Constitution Cambridge Harvard University
Press 1996 p 01-38 Gustavo Zagrebelsky La Crucifixioacuten y la Democracia Barcelona Ariel 1996 Claacuteudio Pereira de Souza Neto
Teoria constitucional da democracia deliberativa Op cit
37Cf Ronald Dworkin Introduction The Moral Reading and the Majoritarian Premise Op cit
38Cf Luigi Ferrajoli El Garantismo y la Filosofia del Derecho Bogotaacute Universidad Externado de Colocircmbia 2000
39Cf Luis Pietro Sanchis Sobre el Neoconstitucionalismo y sus Implicaciones In Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales
Op cit p 101-135
40Cf Ricardo Guastini Sur la Validiteacute de la Constitution du Point de Vue du Positivisme Juridique In Michel Troper Lucien Jaume
(Dir) 1789 et LInvention de la Constitution Paris LGDJ 1994 p 216-225
41Cf Suzana Pozzolo Neoconstituzionalismo e Positivismo Giuridico Torino Giapppicheli 2001
42Cf Ronald Dworkin Law and Morals In Justice in Robes Cambridge Harvard University Press 2006 p 01-35
43Cf Robert Alexy Derecho y Moral In La Institucionalizacioacuten de la Justicia Op cit p 17-30
44Cf Carlos Santiago Nino Eacutetica y Derechos Humanos 2 ed Buenos Aires Astrea 1989 p 11-48
45Cf Gustav Radbruch Cinco minutos de filosofia do direito In Filosofia do direito Traduccedilatildeo de L Cabral de Moncada 6 ed
Coimbra Armecircnio Amado 1979 p 414-418 Para uma densa problematizaccedilatildeo da foacutermula de Radbruch veja-se Thomas da Rosa
Bustamante Poacutes-Positivismo o argumento da injusticcedila aleacutem da Foacutermula de Radbruch In Teoria do direito e decisatildeo racional
temas de teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica Rio de Janeiro Renovar 2008
46Cf Robert Alexy La Institucionalizacioacuten de la Justicia Traduccedilatildeo de Joseacute Antonio Seone et al Granada Comares 2005 p 31-
54
47Sobre o tema cfr Alfonso Garcia Figueroa Princiacutepios e direitos fundamentais In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmen-
to A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 03-34
48O texto mais importante do positivismo inclusivo eacute o poacutes-escrito de Herbert LA Hart agrave sua obra magna The Concept of Law em
que ele responde agraves criacuteticas ao seu pensamento que Ronald Dworkin lhe endereccedilara O autor inglecircs faleceu antes de terminar o
texto mas ele foi publicado postumemente depois de ser editado por Joseph Raz Peneacutelope Bulloch Veja-se Herbert LA Hart
Poacutes-escrito In O conceito de direito Traduccedilatildeo de A Ribeiro Mendes 2 ed 1994 p 299-339 Tambeacutem na linha do positivismo
inclusivo veja-se Gregorio Peces- Barba Derechos Sociales y Positivismo Juriacutedico Escritos de Filosofia Poliacutetica y Juriacutedica Madrid
Dykinson 1999 p 83-90 Jules Coleman The Practice of Principle In defense of a pragmatist approach do legal theory Oxford
Oxford University Press p 103-120 Para uma resenha dos tipos de positivismo no debate contemporacircneo confira-se Dimitri Di-
moulis Positivismo juriacutedico introduccedilatildeo a uma teoria do direito e defesa do pragmatismo juriacutedico-politico Satildeo Paulo Meacutetodo
2006 p 65-166
49Cf Antonio Cavalcanti Maia Nos vinte anos da Constituiccedilatildeo do poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo Op cit Claacuteudio Perei-
ra de Souza Neto A teoria constitucional e seus lugares especiacuteficos notas sobre o aporte reconstrutivo Revista de Direito do
Estado n 1 p 89-104 jan mar 2006 Daniel Sarmento Interpretaccedilatildeo constitucional preacute-compreensatildeo e capacidades institu-
cionais do inteacuterprete In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binebojm Vinte anos da Constituiccedilatildeo de 1988
Op cit p 311-322
31
50Cf Juumlrgen Habermas Escritos sobre Moralidad y Eticidad Traduccedilatildeo de Manuel Jimenez Redondo Barcelona Paidoacutes 1991 p
131-172
51Sobre o comunitarismo haacute extensa literatura Dois textos claacutessicos deste linha de pensamento satildeo Michael Walzer The Communi-
tarian Critique of Liberalism In Politics and Passion New Haven Yale University Press 2004 p 141-163 Charles Taylor The
Procedural Republic and the Unencumbered Self In Robert Goodin Philip Pettit (Ed) Contemporary Political Philosophy 2 ed
Oxford Oxford University Press 2002 p 2462-256 Sobre a penetraccedilatildeo ainda que muitas vezes natildeo consciente das posiccedilotildees do
comunitarismo no constitucionalismo brasileiro veja-se Gisele Cittadino Pluralismo direito e justiccedila distributiva Op cit p
43-74
52Sobre o construtivismo eacutetico corrente filosoacutefica que sustenta a existecircncia de posiccedilotildees certas e erradas na Moral bem como a
possibilidade de encontraacute-las e fundamentaacute-las racionalmente veja-se Carlos Santiago Nino El Constructivismo Eacutetico Madrid
Centro de Estudios Constitucionales 1989
53O fenocircmeno tambeacutem se reproduz na teoria constitucional norte-americana hegemocircnica cf Keith Wittington Constitutional Con-
struction Divided Powers and Constitutional Meaning Cambridge Harvard University Press 1999 p 01-03
54A imagem do Poder Judiciaacuterio como um guardiatildeo de promessas eacute explorada e criticada numa obra importante da teoria juriacutedica
francesa contemporacircnea Antoine Garapon Le Gardien de Promesses Le juge et la democratie Paris Odile Jacob 1996
55Neste sentido o eloquumlente encerramento do Curso de Direito Constitucional Contemporacircneo de Luis Roberto Barroso o consti-
tucionalismo democraacutetico eacute a utopia que nos restou Uma feacute racional que ajuda a acreditar no bem e na justiccedila ainda quando natildeo
estejam ao alcance dos olhos (Op cit p 400)
56Cf Nico Poulantzas State Power Socialism London new Left Books 1978 Alan Hunt Marxist Theory of Law In Dennis Patter-
son (Ed) A Companion to Philosophy of Law and Legal Theory Malden Blackwell Publishers 1996 p 355-367
57Cf David Kairys (Ed) The Politics of Law A Progressive Critique New York Pantheon Books 1982 Roberto Mangabeira Unger
The Critical Legal Studies Movement Cambridge Harvard University Press 1986
58Cf Plauto Faraco Azevedo Criacutetica agrave dogmaacutetica e hermenecircutica juriacutedica Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1989 Luiz Fernando
Coelho Teoria criacutetica do direito 2 ed Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1991
59Natildeo haacute como abordar aqui as relaccedilotildees entre as inuacutemeras correntes do poacutes-modernismo e o Direito Constitucional Veja-se a
propoacutesito Niklas Luhman La Constituzione como Acquisizione Evolutiva In Gustavo Zagrebelsky Piacuteer Paolo Portinaro Joumlrg Lu-
ther Il Futuro della Costituzione Torino Einaudi 1996 p 83-128 Joseacute Joaquim Gomes Canotilho Civilizaccedilatildeo do direito constitu-
cional ou constitucionalizaccedilatildeo do direito civil a eficaacutecia dos direitos fundamentais na ordem juriacutedico-civil no contexto do direito
poacutes-moderno Cadernos de Direito Constitucional e Ciecircncia Poliacutetica n 15 p 07-16 1996 Eduardo Capellari A crise da moderni-
dade e a Constituiccedilatildeo Rio de janeiro Ameacuterica Juriacutedica 2004 Daniel Sarmento Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas 2 ed
Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 p 36-45
60Para Jean-Franccedilois Lyotard uma das caracteriacutesticas centrais do pensamento poacutes-moderno de que eacute expoente eacute a desconfianccedila
em relaccedilatildeo agraves metanarrativas - construccedilotildees abstratas grandiosas e totalizadoras tiacutepicas da Filosofia Moderna como direitos
humanos luta de classes e emancipaccedilatildeo pelo uso da razatildeo Cf Lyotard A condiccedilatildeo poacutes-moderna Traduccedilatildeo de Ricardo Correcirca
Barbosa 5 ed 1998 p16
61Cf Luiz Werneck Viana O terceiro poder na carta de 1988 e a tradiccedilatildeo republicana mudanccedila e conservaccedilatildeo In Ruben George
Oliven Marcelo Gildo Marccedilal Branda A Constituiccedilatildeo de 1988 na vida brasileira Satildeo Paulo Aderaldo e Rotshild 2008 p 91-109
62Cf Paulo Ricardo Schier Filtragem constitucional Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1999
63A expressatildeo foi cunhada por Claacuteudio Pereira de Souza Neto Fundamento e normatividade dos direitos fundamentais uma recons-
truccedilatildeo teoacuterica agrave luz do princiacutepio democraacutetico Arquivos de Direitos Humanos n 4 p 17-61 2003
64Cf Luis Roberto Barroso O direito constitucional e a efetividade de suas normas 3 ed Rio de Janeiro Renovar 1996
65Cf Clegravemerson Merlin Clegraveve A teoria constitucional e o direito alternativo para uma dogmaacutetica constitucional emancipatoacuteria In
Uma vida dedicada ao direito homenagem a Carlos Henrique de Carvalho Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1995 p 34-53
66Ressalte-se poreacutem que antes de 88 alguns juristas jaacute defendiam a forccedila normativa da Constituiccedilatildeo como o Prof Joseacute Afonso da
Silva Eacute de 1968 a primeira ediccedilatildeo da sua obra claacutessica A aplicabilidade das normas constitucionais que adotava claramente esta
32
perspectiva Todavia pelo clima nada propiacutecio ao constitucionalismo que reinava por aqui ateacute a nossa redemocratizaccedilatildeo a louvaacute-
vel pregaccedilatildeo dele e de outros juristas em prol da efetivaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo natildeo chegou a render maiores frutos
67Deve-se assinalar ainda a influecircncia marcante do novo constitucionalismo ibeacuterico neste movimento que tambeacutem pugnava pela
atribuiccedilatildeo de forccedila normativa agraves ambiciosas constituiccedilotildees de Portugal e Espanha entatildeo recentemente elaboradas apoacutes o fim de
experiecircncias autoritaacuterias naqueles paiacuteses A tiacutetulo de exemplo mencione-se a penetraccedilatildeo no paiacutes do pensamento do Professor de
Coimbra Joseacute Joaquim Gomes Canotilho especialmente da sua teoria sobre a Constituiccedilatildeo dirigente que ele posteriormente reviu
(cf J J Gomes Canotilho Constituiccedilatildeo dirigente e vinculaccedilatildeo ao legislador contributo para a compreensatildeo das normas constitu-
cionais programaacuteticas 2 ed Coimbra Coimbra 2001 - especialmente o prefaacutecio desta segunda ediccedilatildeo que daacute conta da mudanccedila
de posicionamento) bem como a difusatildeo das liccedilotildees do Professor Eduardo Garciacutea de Enterriacutea (cf La Constitucioacuten como Norma y el
Tribunal Constitucional Madrid Civitas 1981)
68Segundo a avaliaccedilatildeo atual de Luis Roberto Barroso personagem central do movimento o positivismo constitucional que deu
impulso ao movimento natildeo importava em reduzir o direito agrave norma mas sim em elevaacute-la a esta condiccedilatildeo pois ateacute entatildeo ele
havia sido menos do que norma (Curso de direito constitucional contemporacircneo Op cit p 224)
69Paulo Bonavides Curso de direito constitucional 5 ed Satildeo Paulo Malheiros 1994
70Eros Roberto Grau A ordem econocircmica na Constituiccedilatildeo de 88 interpretaccedilatildeo e criacutetica Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1996
71No acircmbito da Poacutes-Graduccedilatildeo em Direito da UERJ em que estou inserido desde 1997 primeiro como aluno e a partir de 2003 como
professor o Ricardo Lobo Torres teve papel central na difusatildeo do pensamento destes e de outros filoacutesofos entre os estudantes e o
proacuteprio corpo docente
72Cf Lecircnio Luiz Streck Hermenecircutica juriacutedica e(m) crise Op cit Eros Roberto Grau Ensaio e discurso sobre a interpreta-
ccedilatildeoaplicaccedilatildeo do direito Satildeo Paulo Malheiros 2002
73Nesta linha veja-se as obras que compotildeem a coletacircnea Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Direitos sociais funda-
mentos judicializaccedilatildeo e direitos sociais em espeacutecie Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 Ricardo Lobo Torres O miacutenimo existencial
e os direitos fundamentais Revista de Direito Administrativo n 177 p 20-49 1989 Ingo Wolfgang Sarlet A eficaacutecia dos direitos
fundamentais 9 ed Porto Alegre Livraria do Advogado 2008 Ana Paula de Barcellos A eficaacutecia juriacutedica dos princiacutepios o princiacute-
pio da dignidade da pessoa humana Op cit Marco Mazzeli Gouveia O controle judicial das omissotildees administrativas Rio de
Janeiro Forense 2003 Andreacuteas Krell Direitos sociais e controle judicial no Brasil e Alemanha os (des)caminhos de um direito
constitucional comparado Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2002
74Cf Gustavo Tepedino Temas de direito civil Rio de Janeiro Renovar 1999 Luiz Edson Fachin Estatuto juriacutedico do patrimocircnio
miacutenimo Rio de Janeiro Renovar 2001 Maria Celina Bodin de Moraes Danos agrave pessoa humana uma leitura civil-constitucional dos
danos morais Rio de Janeiro Renovar 2003 Teresa Negreiros Fundamentos para uma interpretaccedilatildeo constitucional do princiacutepio
da boa-feacute Rio de Janeiro Renovar 1998 Anderson Schreiber A proibiccedilatildeo do comportamento contraditoacuterio Rio de Janeiro Reno-
var 2005
75Cf Luciano Feldens A Constituiccedilatildeo penal a dupla face da proporcionalidade no controle das lei penais Porto Alegre Livraria do
Advogado 2005 Luis Carlos dos Santos Gonccedilalves Mandados expressos de criminalizaccedilatildeo e a proteccedilatildeo de direitos fundamentais na
Constituiccedilatildeo Brasileira de 1988 Belo Horizonte Foacuterum 2007
76Cf Gustavo Binenbojm Uma teoria do direito administrativo direitos fundamentais democracia e constitucionalizaccedilatildeo Rio de
Janeiro Renovar 2006 Alexandre dos Santos Aragatildeo Floriano de Azevedo Marques (Coord) Direito administrativo e seus novos
paradigmas Belo Horizonte Foacuterum 2008
77Cf Gustavo Binenbojm A nova jurisdiccedilatildeo constitucional brasileira legitimidade democraacutetica e instumentos de realizaccedilatildeo Rio de
Janeiro Renovar 2001 Claacuteudio Pereira de Souza Neto Jurisdiccedilatildeo constitucional democracia e racionalidade praacutetica Rio de
Janeiro Renovar 2002 Joseacute Adeacutercio Leite Sampaio A Constituiccedilatildeo reinventada pela jurisdiccedilatildeo constitucional Belo Horizonte Del
Rey 2002 Lecircnio Luiz Streck Jurisdiccedilatildeo constitucional e hermenecircutica Porto Alegre Livraria do Advogado 2002 Aacutelvaro Ricardo
de Souza Cruz Jurisdiccedilatildeo constitucional democraacutetica Belo Horizonte Del Rey 2004
78A expressatildeo dificuldade contramajoritaacuteria eacute de um claacutessico da teoria constitucional norte-americana Alexander Bickel La Cons-
titucioacuten como Norma y el Tribunal Constitucional 2 ed New Haven Yale University Press 1986
33
79Em siacutentese apertada o procedimentalismo sustenta que natildeo eacute papel da jurisdiccedilatildeo constitucional tutelar valores substantivos mas
apenas proteger os pressupostos necessaacuterios ao bom funcionamento da democracia Jaacute o substancialismo reconhece a legitimidade
da atuaccedilatildeo jurisdicional em favor da garantia e promoccedilatildeo de valores substantivos presentes na Constituiccedilatildeo O debate entre o
procedimentalismo identificado com as ideacuteias de autores como John Hart Ely e Juumlrgen Habermas e o substancialismo defendido
por teoacutericos como Ronald Dworkin e Laurence Tribe eacute reproduzido em praticamente toda a literatura contemporacircnea que trata de
Teoria ou Filosofia Constitucional Veja-se a propoacutesito a densa obra de Claacuteudio Ari Mello Democracia constitucional e direitos
fundamentais Porto Alegre Livraria do Advogado 2004
80Neoconstitucionalismo e constitucionalizaccedilatildeo do direito o triunfo tardio do direito constitucional no Brasil Op cit
81A crise paradigmaacutetica do direito no contexto da resistecircncia positivista ao (neo)constitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza
Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm Vinte anos da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Op cit p 203-228
82Nos vinte anos da carta cidadatilde do poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo Op cit
83Neoconstitucionalismo direitos fundamentais e controle de poliacuteticas puacuteblicas In Daniel Sarmento Flaacutevio Galdino (Org) Direitos
fundamentais estudos em homenagem ao prof Ricardo Lobo Torres Rio de Janeiro Renovar 2006 p 31-60
84Direitos humanos legitimidade e constitucionalismo In Daniel Sarmento Flaacutevio Galdino (Org) Direitos fundamentais estudos
em homenagem ao Prof Ricardo Lobo Torres Op cit p325-350
85Novos desafios agrave filtragem constitucional no momento do neoconstitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sar-
mento A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 251-270
86Neoconstitucionalismo a invasatildeo da Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Meacutetodo 2008
87Neoconstitucionalismo e positivismo juriacutedico Satildeo Paulo Landy 2006
88Teoria do direito e argumentaccedilatildeo racional temas de teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica op cit p 141-240
89Uma visatildeo criacutetica do neoconstitucionalismo In George Salomatildeo Leite Glauco Salomatildeo Leite Constituiccedilatildeo e efetividade constitu-
cional Salvador JusPodium 2008 p 43-60
90Neoconstitucionalismo entre a Ciecircncia do direito e o direito da ciecircncia In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento
Gustavo Binenbojm Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 p 187-202
91Cf Peticcedilatildeo 1246 MSSC julgada em 31011997 (obrigaccedilatildeo do Estado de realizar transplante de ceacutelulas mioblaacutesticas para salvar
a vida de crianccedila) Agravo de Instrumento no Recurso Extraordinaacuterio 271286RS DJU 24 nov 2000 (entrega de medicamentos
para portadores de HIV) e Agravo de Instrumento do Recurso Extraordinaacuterio nordm 410715-5 julgado em 22112005 (obrigaccedilatildeo de
fornecimento de vagas para educaccedilatildeo infantil pelo municiacutepio com atendimento em creches e preacute-escola)
92Recursos Extraordinaacuterios nordms 158215-4RS 161243-6DF 201819RJ
93Cf Mandado de Injunccedilatildeo 670ES Rel Min Gilmar Mendes julgado em 25102007 em que o STF revendo orientaccedilatildeo anterior
deu eficaacutecia normativa agrave sentenccedila proferida no mandado de injunccedilatildeo No caso decidiuse que ateacute o advento de lei regulamentado-
ra sobre a greve no serviccedilo puacuteblico o direito de greve poderia ser exercido obedecendo-se os limites impostos pela Lei 778389
que trata dos movimentos paredistas em serviccedilos essenciais no setor privado
94Sobre a tendecircncia agrave superaccedilatildeo da ideacuteia do Judiciaacuterio como legislador negativo na jurisdiccedilatildeo constitucional veja-se Joseacute Adeacutercio
Leite Sampaio A Constituiccedilatildeo reinventada pela jurisdiccedilatildeo constitucional Belo Horizonte Del Rey 2002 p 203-248
95Eacute lugar-comum dentre os autores que tratam da questatildeo associar tais mudanccedilas agrave pluralizaccedilatildeo das vozes na interpretaccedilatildeo consti-
tucional tema em que a referecircncia essencial no cenaacuterio germacircnico eacute Peter Haumlberle Veja-se a propoacutesito Peter Haumlberle Herme-
necircutica constitucional A sociedade aberta dos inteacuterpretes da Constituiccedilatildeo contribuiccedilatildeo para a interpretaccedilatildeo pluralista e procedi-
mental da Constituiccedilatildeo Traduccedilatildeo de Gilmar Ferreira Mendes Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1997 Veja-se ainda na doutrina
brasileira Gustavo Binenbojm A dimensatildeo do Amicus Curiae no processo constitucional brasileiro In Temas de direito constitu-
cional e administrativo Rio de Janeiro Renovar 2008 p 165-190
96ADIN 3510DF Relator Ministro Carlos Ayres Britto A accedilatildeo proposta contra o art 5ordm da Lei de Biosseguranccedila impugnava a auto-
rizaccedilatildeo de pesquisas com embriotildees humanos resultantes de fertilizaccedilatildeo in vitro que fossem inviaacuteveis ou estivessem congelados haacute
mais de trecircs anos A accedilatildeo foi julgada totalmente improcedente por 6 votos a 5
97ADPF nordm 54 A accedilatildeo que tem como relator o Ministro Marco Aureacutelio ainda natildeo foi julgada mas em seu bojo jaacute ocorreram diversas
audiecircncias puacuteblicas que provocaram intensa participaccedilatildeo da sociedade civil e grande interesse na miacutedia
34
98ADPF nordm 132 Relator Ministro Carlos Ayres Britto A accedilatildeo ainda foi julgada
99Mandados de Seguranccedila 26602DF 26603DF e 26604DF Informativo STF n 482
100Recurso Extraordinaacuterio 197917SP Rel p acoacuterdatildeo Min Ceacutesar Peluso DJU 18 fev 2005
101O livro de Alberto Carlos Almeida A cabeccedila do brasileiro lanccedilado em 2007 conteacutem pesquisas feitas sobre uma acuteseacuterie de temas
com pessoas de todas as classes sociais e regiotildees do paiacutes Uma das pesquisas eacute relativa agrave avaliaccedilatildeo das instituiccedilotildees Dentre as treze
avaliadas as duas que obtiveram menor aprovaccedilatildeo foram os partidos poliacuteticos (avaliaccedilatildeo positiva de 28 dos entrevistados) e o
Congresso (avaliaccedilatildeo positiva de 36 dos entrevistados) Cf Antonio Carlos Almeida A cabeccedila do brasileiro Rio de Janeiro Re-
cord 2007 p 187
102Cf Luis Roberto Barroso Judicializaccedilatildeo ativismo judicial e legitimidade democraacutetica Texto ainda ineacutedito gentilmente cedido
pelo autor
103Humberto Aacutevila por exemplo formula outra criacutetica importante de que o neoconstitucionalismo seria inadequado agrave realidade
constitucional brasileira jaacute que privilegia os princiacutepios e a Carta de 88 seria muito mais regulatoacuteria do que principioloacutegica (Neo-
constitucionalismo entre a ciecircncia do direito e o direito da ciecircncia Op cit p 188-192)
104Contudo natildeo eacute razoaacutevel estender esta criacutetica ao ponto de negar o caraacuteter democraacutetico da atuaccedilatildeo judicial Como ressaltou
Eugenio Rauacutel Zaffaroni uma instituiccedilatildeo natildeo eacute democraacutetica unicamente porque natildeo provenha de eleiccedilatildeo popular porque nem tudo
o que proveacutem desta origem eacute necessariamente aristocraacutetico Uma instituiccedilatildeo eacute democraacutetica quando seja funcional para o sistema
democraacutetico quer dizer quando seja necessaacuteria para a sua continuidade como ocorre com o judiciaacuterio (Poder judiciaacuterio crise
acertos e desacertos Traduccedilatildeo de Juarez Tavares Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1995 p 43)
105Cf Robert A Dahl Sobre a democracia Traduccedilatildeo de Beatriz Sidou Brasiacutelia UNB 2001 p 97-113 Juumlrgen Habermas Popular
Sovereignity as Procedure In James Bonham William Rehg Deliberative Democracy Cambridge The MIT Press 1997 p 35-66
106A questatildeo da tensatildeo e sinergia simultacircneas entre constitucionalismo e democracia eacute um dos debates mais fecundos da Teoria
Poliacutetica e da Filosofia Constitucional que tem atravessado o tempo desde o advento do constitucionalismo moderno no seacuteculo
XVIII Veja-se no debate contemporacircneo Jeremy Waldron Preocommitment and Disagreement In Larry Alexander Constitu-
cionalism Philosophical Foundations Cambridge Cambridge University Press 1998 p 271-299 Juumlrgen Habermas O Estado demo-
craacutetico de direito uma amarraccedilatildeo paradoxal de princiacutepios contraditoacuterios In Era das transiccedilotildees Traduccedilatildeo de Flaacutevio Beno Siebe-
neichler Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 2003 p 153-173 Carlos Santiago Nino La Constitucioacuten de la Democracia Deliberativa
Op cit Frank Michelman Brennan and Democracy Princeton Princeton University Press 1999 p 03-62 Stephen Holmes El
Precompromiso y la Paradoja de la Democracia In Jon Elster Rune Slagstad Constitucionalismo y Democracia Traduccedilatildeo de Mocircni-
ca Utrilla de Neira Mexico Fondo de Cultura Econocircmica 1999 p 217-262
107O problema da limitaccedilatildeo do legislador atual pelas decisotildees do constituinte adotadas no passado envolve a problemaacutetica da
partilha intergeracional de poder bem explicitada na fala de Jefferson que defendia que a cada 19 anos deveria ser elaborada
uma nova Constituiccedilatildeo nos Estados Unidos para que a Lei Maior daquele paiacutes natildeo se tornasse um mecanismo de governo dos mor-
tos sobre os vivos Em siacutentese apertada haacute na teoria poliacutetica contemporacircnea duas linhas principais de justificativa para a legiti-
midade destas restriccedilotildees
Uma eacute a teoria da democracia dualista defendida por Bruce Ackerman que sustenta que as decisotildees adotadas pelo proacuteprio povo
em contextos de grande mobilizaccedilatildeo ciacutevica devem ser protegidas do alcance da vontade dos representantes do povo formada em
momentos em que a cidadania natildeo esteja intensamente envolvida Esta teoria distingue a poliacutetica extraordinaacuteria correspondente
agravequeles momentos constitucionais da poliacutetica ordinaacuteria que se realiza atraveacutes das deliberaccedilotildees do dia a dia dos oacutergatildeos represen-
tativos Para a perspectiva ackermaniana a poliacutetica extraordinaacuteria - que natildeo exige necessariamente formalizaccedilatildeo procedimental
atraveacutes de assembleacuteia constituinte ou de emenda constitucional - se situa em patamar superior agrave poliacutetica ordinaacuteria e pode legiti-
mamente impor limites a esta (cf Bruce Ackerman We the people Foundations Cambridge The Belknap Press 1991 p 03-33)
Outra teoria eacute a do preacute-compromisso que jaacute foi advogada por Jon Elster Segundo ela eacute legiacutetimo subtrair do alcance das maiorias
determinadas questotildees fundamentais que expressam princiacutepios fundamentais de justiccedila poliacutetica ou garantam os pressupostos da
proacutepria democracia tendo em vista o risco de que no processo poliacutetico majoritaacuterio em momentos de irracionalidade o povo
35
possa ser viacutetima de suas proacuteprias fraquezas ou paixotildees momentacircneas atentando contra tais princiacutepios (cf Ulisses and Sirens
Cambridge Cambridge University Press 1979)
Ambas as concepccedilotildees - a primeira mais proacutexima ao republicanismo e a segunda de vieacutes mais liberal - tecircm a sua dose de procedecircn-
cia mas ensejam criacuteticas importantes Todavia foge a escopo do presente trabalho analisar esta questatildeo que eacute uma das mais
complexas da Filosofia Poliacutetica moderna e contemporacircnea Para uma visatildeo geral sobre o tema na literatura em liacutengua portuguesa
veja-se Oscar Vilhena Vieira A Constituiccedilatildeo e sua reserva de justiccedila Op cit Miguel Nogueira de Brito A Constituiccedilatildeo constituin-
te ensaio sobre o poder de revisatildeo da Constituiccedilatildeo Coimbra Coimbra 2000 Samantha Chantal Dobrowolski Op cit p 265-312
Rodrigo Brandatildeo Direitos fundamentais democracia e claacuteusulas peacutetreas Rio de Janeiro Renovar 2008 p 59-112
108Cf Michel Troper Justice Constitutionelle et Deacutemocratie In Pour une Theorie Juridique de LEacutetat Paris PUF 1994 p 317-328
Claacuteudio Pereira de Souza Neto Jurisdiccedilatildeo constitucional democracia e racionalidade praacutetica Op cit p 106-130 Gustavo Binen-
bojm A nova jurisdiccedilatildeo constitucional brasileira Op cit p 55-74
109Sobre o modelo revolucionaacuterio francecircs de constitucionalismo completamente avesso agrave ideacuteia de jurisdiccedilatildeo constitucional cf
Maurizio Fioravanti Constitucioacuten de la antiguumledad a nuestros dias Traduccedilatildeo de Manuel Martinez Neira Madrid Trotta 2001 p
120-132
110Cf Carl Schmitt La Defesa de la Constitucioacuten Madrid Tecnos 1983
111O constitucionalismo popular ou populismo constitucional eacute uma importante corrente no debate constitucional norte-americano
contemporacircneo que nega a legitimidade democraacutetica do controle de constitucionalidade advogando que deve caber ao proacuteprio
povo e natildeo a uma elite de juiacutezes natildeo eleitos com assento na Suprema Corte o poder de definir o sentido das claacuteusulas vagas que
abundam no texto constitucional daquele paiacutes Na defesa desta tese satildeo empregados tanto argumentos de teoria e filosofia poliacuteti-
ca de caraacuteter mais universal como razotildees histoacutericas relacionadas agrave evoluccedilatildeo do constitucionalismo estadunidense Veja-se nesta
linha Mark Tushnet Taking the Constitution Away from the Courts Princeton Princeton University Press 1999 Jeremy Waldron
Precommitment and Disagreement Op cit Larry D Kramer The People Themselves Popular constitutionalism and judicial re-
view New York Oxford University Press 1994
Ateacute algumas deacutecadas atraacutes a oposiccedilatildeo agrave jurisdiccedilatildeo constitucional nos Estados Unidos partia em regra da Direita que natildeo se con-
formava com a jurisprudecircncia extremamente liberal em mateacuteria de direitos fundamentais estabelecida pela Corte entre os anos
50 e 70 Atualmente uma boa parte dos opositores agrave judicial review situa-se agrave esquerda do espectro poliacutetico e talvez a nova linha
profundamente conservadora daquele Tribunal ajude a explicar esta mudanccedila
112Sobre a Era de Lochner veja-se Laurence H Tribe American Constitutional Law 2 ed Mineola The Foundation Press 1988 p
567-581 Paul Brest et al Processes of Constitucional Decisionmaking 4 ed New York Aspen Publishers 2000 p 337-354
113Towards Juristocracy hellip Op cit
114Tratei do tema no artigo Direito adquirido emenda constitucional democracia e justiccedila social In Livres e iguais Op cit p
03-32
115Cf Charles R Epp The Rights Revolution Chicago The University of Chicago Press 1998 p 26-70 Owen Fiss The Law as It
Could Be New York New York University Press 2003 p 244-249
116A importacircncia e as peculiaridades da interpretaccedilatildeo legislativa da Constituiccedilatildeo satildeo exploradas em importante obra coletiva
Richard W Bauman Tsvi Kahana The Least Examined Branch The Role of Legislatures in the Constitutional State Cambridge
Cambridge University Press 2006
117Cf em tom ainda mais ceacutetico do que o adotado neste estudo Martonio MontAlverne Barreto Lima Jurisdiccedilatildeo Constitucional
um problema da teoria da democracia poliacutetica In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Gilberto Bercovici Joseacute Filomeno de Moraes
Filho Martonio MontAlverne Teoria da Constituiccedilatildeo estudos sobre o lugar da poliacutetica no direito constitucional Rio de Janeiro
Lumen Juris 2003 p 199-261 Conrado Huumlbner Mendes Controle de constitucionalidade e democracia Rio de Janeiro Elsevier
2008
36
118Para criacutetica semelhante no contexto germacircnico veja-se Ingeborg Maus O judiciaacuterio como superego da sociedade sobre o papel
da atividade jurisprudencial na sociedade oacuterfatilde Traduccedilatildeo de Martonio MontAlverne Barreto Lima Paulo Antonio Menezes de Albu-
querque Anuaacuterio dos Cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito da Faculdade de Direito de Recife n 11 2000
119Eu aprofundo a anaacutelise deste ponto no meu artigo Interpretaccedilatildeo constitucional preacute-compreensatildeo e capacidades institucionais do
inteacuterprete In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm (Coord) Vinte anos da Constituiccedilatildeo Federal
de 1988 Op cit p 311-322 E a necessidade de optar por teoria de interpretaccedilatildeo que leve em consideraccedilatildeo as capacidades
institucionais reais dos juiacutezes comparando-as com as dos agentes de outras instituiccedilotildees eacute explorada no importante estudo de Cass
Sunstein Adrian Vermeulle Interpretations and Institutions Chicago Working Papers in Law amp Economics 2002 p 01-55 bem
como no livro de Adrian Vermeulle Judging under Uncertainty An Institutional Theory for Legal Interpretation Cambridge Har-
vard University Press 2006
120Dentre as honrosas exceccedilotildees mencione-se Luiacutes Roberto Barroso autor de importante artigo com sugestotildees para a reforma poliacuteti-
ca no paiacutes Reforma poliacutetica uma proposta de sistema de governo eleitoral e partidaacuterio para o Brasil Revista de Direito do Esta-
do n 3 p 287-360 jul set 2006
121Sobre o ethos judicial no Brasil veja-se a pesquisa de Maria Tereza Sadek Magistrados uma imagem em movimento Rio de
Janeiro FGV 2006
122Em sentido semelhante veja-se Michael J Perry The Constitution the Courts and Human Rights New Haven Yale University
Press 1982 p 91-145
123Neste ponto entendo que um standard importante que deveria ser adotado para controle de constitucionalidade eacute o de que
quanto maiores forem as credencias democraacuteticas de um ato normativo mais autocontido deve ser o Poder Judiciaacuterio ao avaliar a
sua constitucionalidade Na minha opiniatildeo estas credencias democraacuteticas devem ser aferidas tanto por criteacuterios qualitativos - eg
grau de participaccedilatildeo social no processo legislativo qualidade do processo deliberativo que a antecedeu - como por criteacuterios quanti-
tativos - percentual de votos favoraacuteveis agrave medida Em sentido semelhante veja-se Claacuteudio Ari Mello Democracia e direitos funda-
mentais Op cit p 298
124Em sentido proacuteximo apontam as liccedilotildees de Gustavo Binenbojm e Humberto Aacutevila O primeiro tratando do controle judicial dos
atos administrativos averbou que quanto maior for o grau de tecnicidade da mateacuteria objeto de decisatildeo por oacutergatildeos dotados de
expertise e experiecircncia menos intenso deve ser o grau de controle judicial (Uma teoria do direito administrativo Op cit p
236) Jaacute o segundo salientou que o acircmbito de controle pelo Judiciaacuterio deveraacute ser tanto menor quanto mais difiacutecil e teacutecnico for
o juiacutezo exigido para o tratamento da mateacuteria (Teoria dos princiacutepios Op cit p 126)
125Um exemplo extremado deste posicionamento estaacute na argumentaccedilatildeo adotada pelo STF no julgamento da ADIN 2797 Rel Min
Sepuacutelveda Pertence em que se reconheceu a inconstitucionalidade formal de lei que pretendia interpretar a Constituiccedilatildeo Para o
STF natildeo pode a lei ordinaacuteria pretender impor como seu objeto imediato uma interpretaccedilatildeo a Constituiccedilatildeo a questatildeo eacute de in-
constitucionalidade formal iacutensita a toda norma da gradaccedilatildeo inferior que se proponha a ditar interpretaccedilatildeo de norma superior
Na questatildeo de fundo abordada naquele caso entendo que o STF estava certo Tratava-se de invalidar uma norma legal que esten-
dera o foro de prerrogativa de funccedilatildeo a ex-ocupantes de cargos puacuteblicos visando a restaurar antiga jurisprudecircncia do STF sedi-
mentada na Suacutemula 394 do Tribunal que acabara de ser cancelada O princiacutepio republicano natildeo era compatiacutevel com tal medida
que configurava niacutetido privileacutegio O que me parece inaceitaacutevel e profundamente anti-democraacutetico com a devida vecircnia natildeo eacute o
resultado alcanccedilado pela Corte - com o qual concordo - mas o argumento empregado de que o legislador natildeo pode interpretar a
Constituiccedilatildeo
126Existe hoje uma fecunda produccedilatildeo acadecircmica no cenaacuterio anglo-saxatildeo sobre as vantagens de modelos teoacutericos que favoreccedilam
diaacutelogos entre diversos oacutergatildeos e instituiccedilotildees na interpretaccedilatildeo constitucional ao inveacutes de afirmarem a exclusividade ou mesmo a
supremacia do Judiciaacuterio nesta seara Veja-se a propoacutesito Laurence G Sager Justice in Plainclothes A Theory of American Con-
stitutional Practice New haven Yale University Press 2004 Mark Tushnet Weak Courts Strong Rights Judicial Review and Social
Welfare Rights in Comparative Constitutional Law Princeton Princeton University Press 2008 Mark C Miller Jeb Barnes (Ed)
Making Police Making Law An Interbranch Perspective Washington DC Georgetown University Press 2004
37
127Colhi o exemplo no estudo de Oscar Vilhena Vieira Supremocracia In Daniel Sarmento (Org) Filosofia e teoria constitucional
contemporacircnea Rio de Janeiro Lumen Juris 2009
128Como um natildeo-positivista tenho a necessaacuteria imparcialidade para criticar os equiacutevocos da doutrina brasileira nas suas invectivas
contra o positivismo que muitas vezes caracterizam verdadeira falaacutecia do espantalho ataca-se natildeo a proacutepria teoria positivista
mas uma distorcida caricatura dela Duas afirmaccedilotildees erradas que eu mesmo jaacute fiz em textos anteriores satildeo muito frequumlentes a
de que o positivismo recusa a aplicaccedilatildeo dos princiacutepios juriacutedicos e a de que ele teria sido a Filosofia do Direito cultivada na Alema-
nha nazista
Quanto ao primeiro ponto natildeo haacute nenhuma incompatibilidade loacutegica entre positivismo e princiacutepios desde que os princiacutepios este-
jam devidamente incorporados na ordem juriacutedico-positiva Vaacuterios autores positivistas contemporacircneos jaacute citados neste estudo
como Luis Prietro Sanchiacutes Luigi Ferrajoli e Gregorio Peces-Barba atribuiacuteram espaccedilo importante para princiacutepios nas suas teorias
Mesmo no Direito Puacuteblico brasileiro juristas de inspiraccedilatildeo positivista kelseniana construiacuteram suas teorias com apoio em argumen-
taccedilatildeo principioloacutegica como o falecido Geraldo Ataliba e Celso Antonio Bandeira de Mello
No que tange ao segundo ponto - a chamada redutio ad hitlerum - os estudos mais autorizados de Histoacuteria do Direito comprovam
que natildeo foi o positivismo a teoria juriacutedica dominante no nazismo mas uma espeacutecie de jusnaturalismo de inspiraccedilatildeo hegeliana que
se insurgia contra o formalismo e recorria com frequumlecircncia a conceitos muito vagos para justificar a barbaacuterie como os de comuni-
dade popular (Volksgemeinschaft) Veja-se a propoacutesito Michael Stolleis The Law under the Swastika Studies on Legal History in
Nazi Germany Traduccedilatildeo de Thomas Dunlap Chicago The University of Chicago Press 1998
129Cf Joseacute Joaquim Gomes Canotilho Direito constitucional e Teoria da Constituiccedilatildeo Coimbra Almedina 1998 p 1036
130Sobre a importacircncia das regras veja-se Frederick Schauer Playing by the Rules A Philosophical Exaxamination of Rule-Bases
Decision-Making in Law and Life Oxford Oxford University Press 1998 Humberto Aacutevila Neoconstitucionalismo entre a ciecircncia do
direito e o direito da ciecircncia Op cit Noel Struchiner Posturas institucionais e modelagem institucional a dignidade (contingente)
do formalismo juriacutedico In Daniel Sarmento Filosofia e teoria constitucional contemporacircnea Op cit
131Esta eacute expressatildeo empregada por Ana Paula de Barcellos O direito constitucional em 2006 Revista de Direito do Estado n 5 p
03-23 janmar 2007
132Cf Chaiumlm Perelman P Fories La Motivation des Deacutecisions de Justice Bruxelas Eacutemile Bruylant 1978
133Sobra a influecircncia do jeitinho no Direito brasileiro cf Keith Rosen O jeito na cultura juriacutedica brasileira Rio de Janeiro Reno-
var 1997
134Sobre o patrimonialismo no Brasil veja-se Raimundo Faoro Os donos do poder 8 ed Rio de Janeiro Globo 1989 v 2 p 729-
750
135Raiacutezes do Brasil 26 ed Satildeo Paulo Companhia das Letras 1995
136Cf Joseacute Murilo de Carvalho Brasileiro Cidadatildeo In Pontos e bordados escritos de histoacuteria e poliacutetica Belo Horizonte Ed
UFMG 2005 p 275-288
137Cf Gustavo Zagrebelsky Il Diritto Mite Op cit p 15-19
138Cf Marcelo Neves A constitucionalizaccedilatildeo simboacutelica Satildeo Paulo Acadecircmica 1994
139A obra de Niklas Luhman eacute vasta e complexa e seus textos satildeo de difiacutecil compreensatildeo para os natildeo iniciados Veja-se do proacuteprio
autor Sociologia do direito I e II Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 1983 e 1985 Sistema Jurididico y Dogmaacutetica Juriacutedica Madrid
Centro de Estuacutedios Constitucionales 1983 Confira-se tambeacutem a coletacircnea organizada por Andreacute-Jean Arnaud Dalmir Lopes Jr Do
sistema social agrave sociologia juriacutedica Rio de Janeiro Lumen Juris 2004
140Sobre a autopoieses do Direito veja-se tambeacutem a obra importante de Guumlnther Teubner O direito como sistema autopoieacutetico
Traduccedilatildeo de Joseacute Engracia Nunes Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1993
141Cf Luis Roberto Barroso Neoconstitucionalismo e a constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit
142Esta era basicamente a visatildeo de Hans Kelsen (Cf Hans Kelsen Jurisdiccedilatildeo constitucional Traduccedilatildeo de Alexandre Krug et al Satildeo
Paulo Martins Fontes 2003 p 153) Para uma anaacutelise criacutetica desta posiccedilatildeo veja-se Luis Prietro Sanchiacutes Presupuestos ideoloacutegicos
y doctrinales de la jurisdicioacuten constitucional In Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales Op cit p 21-100
38
143Cf Christian Starck La suprematie La Suprematie de la Constitution et la Justice Constitutionnelle In La Constitution Cadre et
Mesure du Droit Traduccedilatildeo de Freacutederic Weill Paris Econocircmica 1994 p 26-30 Ernst- Wolfgang Boumlckenfoumlrde Les meacutethodes
dinterpretation de la Constitution Un bilan critique In Le Droit lEacutetat et la Constitution Democratique Traduccedilatildeo de Olivier
Jouanjan Paris LGDJ 2000 p 249-250 Virgiacutelio Afonso da Silva Constitucionalizaccedilatildeo do direito os direitos fundamentais nas
relaccedilotildees entre particulares Satildeo Paulo Malheiros 2005 p 107-131 Daniel Sarmento Ubiquumlidade constitucional os dois lados da
moeda Op cit Luis Roberto Barroso Curso de Direito Constitucional Contemporacircneo Op cit p 391-394 Alceu Mauriacutecio Jr
Judicializaccedilatildeo da poliacutetica e a crise do direito constitucional a Constituiccedilatildeo entre ordem marco e ordem fundamenta Revista de
Direito do Estado n 10 p 125-142 abrjun 2008
144Der Staat der Industriegesellshaft 2 ed Muumlnchen Beck 1971 p 144 Apud Robert Alexy Posfaacutecio In Teoria dos direitos
fundamentais Op cit p 578
145De acordo com Carlos Santiago Nino o perfeccionaismo eacute la concepcioacuten seguacuten la cual es una misioacuten legiacutetima del Estado hacer
que los individuos acepten y materializen ideales vaacutelidos de virtud personal Seguacuten este enfoque el Estado no puede permanecer
neutral respecto de concepciones de lo bueno en la vida y debe adoptar las medidas educativas punitorias etc que sean necesa-
rias para que los indiviacuteduos ajusten su vida a los verdaderos ideales de virtud y del bien (Eacutetica y Derechos Humanos Un ensayo de
fundamentacioacuten 2 ed Buenos Aires Astrea 1989 p 413)
146Daniel Sarmento Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas 2 ed Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 Sobre o tema na literatura
nacional veja-se tambeacutem Wilson Antocircnio Steinmetz A vinculaccedilatildeo dos particulares aos direitos fundamentais Satildeo Paulo Malheiros
2004 Virgiacutelio Afonso da Silva Constitucionalizaccedilatildeo do direito os direitos fundamentais nas relaccedilotildees entre particulares Op cit
Ingo Wolfgang Sarlet Direitos fundamentais e direito privado algumas consideraccedilotildees em torno da vinculaccedilatildeo dos particulares aos
direitos fundamentais In Ingo Wolfgang Sarlet (Org) A Constituiccedilatildeo concretizada Porto Alegre Livraria do Advogado 1999 p
129-173 Jane Reis Gonccedilalves Pereira Apontamentos sobre a aplicaccedilatildeo das normas de direito fundamental nas relaccedilotildees juriacutedicas
entre particulares In Luis Roberto Barroso (Org) A nova interpretaccedilatildeo constitucional ponderaccedilatildeo direitos fundamentais e
relaccedilotildees privadas Rio de Janeiro Renovar 2003 p 119-192
147Sobre a questatildeo da (i)legitimidade do perfeccionismo no Direito veja-se Joel Feinberg Rights Justice and the Bounds of Liber-
ty Princeton Princeton University Press 1980 Carlos Santiago Nino Eacutetica y Derechos Humanos Op cit p 413-446 Rainer Forst
Contexts of Justice Political Philosophy beyond Liberalism and Communitarianism Traduccedilatildeo de John M M Farrel Berkeley Uni-
versity of Califoacuternia Press 2001 p 30-87 Macaacuterio Alemany El Paternalismo Juriacutedico Madrid Iustel 2006
148Um sofisticado modelo que busca conciliar a constitucionalizaccedilatildeo do Direito com a democracia estaacute exposto no Poacutesfaacutecio agrave Teo-
ria dos Direitos Fundamentais de Robert Alexy acima citado Veja-se ainda Konrad Hesse Concepto y Cualidad de la Constitu-
cion In Escritos de Derecho Constitucional Traduccedilatildeo de Pedro Cruz Villaloacuten 2 ed 1992 p 03-29
149Tentei articular a minha teoria sobre eficaacutecia horizontal dos direitos fundamentais com este objetivo Cf Daniel Sarmento
Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas Op cit p 141-182 259-272
150Sobre el Neoconstitucionalismo y sus Implicaciones Op cit p 117
151Aqui entendo que o simples reconhecimento da penetraccedilatildeo da Moral no Direito preconizada pelos neoconstitucionalistas brasi-
leiros natildeo eacute suficiente jaacute que certas concepccedilotildees morais podem tornar o ordenamento ainda mais opressivo do que jaacute eacute Afinal
nem sempre a moralizaccedilatildeo do Direito se daacute na direccedilatildeo da emancipaccedilatildeo dos excluiacutedos Veja-se por exemplo a famosa polecircmica
jusfilosoacutefica entre Lord Patrick Devlin e Herbert Hart nos anos 60 na Inglaterra a propoacutesito do uso do Direito Penal para promoccedilatildeo
de Moral em que o primeiro a partir de uma posiccedilatildeo proacute-moral sustentava a legitimidade da criminalizaccedilatildeo da conduta homos-
sexual que o segundo contestava (Cf Lord Patrick Devlin Morals and Criminal Law In Ronald Dworkin (Ed) The Philosophy of
Law Op cit p 66-82 Herbert Hart Immorality and Treason In Idem ibidem)
Eacute preciso assentar as bases criacuteticas desta Moral que deve penetrar o Direito para evitar que o moralismo conservador seja expulso
do ordenamento pela porta da frente superado pela legislaccedilatildeo moderna em razatildeo da progressiva liberalizaccedilatildeo da sociedade mas
volte pela porta dos fundos atraveacutes da argumentaccedilatildeo juriacutedica dos juiacutezes lastreada em conceitos vagos como ordem puacuteblica e
bons constumes ou em standards como o comportamento do bom pai de famiacutelia
39
20
ca natildeo satildeo tatildeo importantes pois relevante mesmo eacute a interpretaccedilatildeo dos princiacutepios constitucio-
nais realizada pelo STF Daiacute a dizer que o povo natildeo sabe votar eacute um pulo e a ditadura de toga
pode natildeo ser muito melhor do que a ditadura de farda
b) Neoconstitucionalismo oba-oba constitucional e Estado Democraacutetico de Direito
Seria uma profunda injusticcedila com a teoria neoconstitucionalista acusaacute-la de promover o decisi-
onismo ou de defender a tomada de decisotildees judiciais puramente emotivas sem lastro em ar-
gumentaccedilatildeo racional soacutelida Pelo contraacuterio como foi destacado acima um dos eixos centrais
do pensamento neoconstitucional eacute a reabilitaccedilatildeo da racionalidade praacutetica no acircmbito juriacutedico
com a articulaccedilatildeo de complexas teorias da argumentaccedilatildeo que demandam muito dos inteacuterpre-
tes e sobretudo dos juiacutezes em mateacuteria de fundamentaccedilatildeo das suas decisotildees Poreacutem a praacutetica
judiciaacuteria brasileira recepcionou apenas parcialmente as teorias juriacutedicas de corte poacutes-
positivista e aqui a valorizaccedilatildeo dos princiacutepios e da ponderaccedilatildeo natildeo tem sido muitas vezes
acompanhada do necessaacuterio cuidado com a justificaccedilatildeo das decisotildees
Se ateacute natildeo muito tempo atraacutes os princiacutepios natildeo eram tratados como autecircnticas normas por
aqui - soacute tinha bom direito quem podia invocar uma regra legal clara e precisa em favor da sua
pretensatildeo - com a chegada do poacutes-positivismo e do neoconstitucionalismo passou-se em pou-
cos anos da aacutegua para o vinho Hoje instalou-se um ambiente intelectual no Brasil que aplaude
e valoriza as decisotildees principioloacutegicas e natildeo aprecia tanto aquelas calcadas em regras legais
que satildeo vistas como burocraacuteticas ou positivistas - e positivismo hoje no paiacutes eacute quase um pala-
vratildeo128 Neste contexto os operadores do Direito satildeo estimulados a invocar sempre princiacutepios
muito vagos nas suas decisotildees mesmo quando isso seja absolutamente desnecessaacuterio pela e-
xistecircncia de regra clara e vaacutelida a reger a hipoacutetese Os campeotildees tecircm sido os princiacutepios da dig-
nidade da pessoa humana e da razoabilidade O primeiro eacute empregado para dar imponecircncia ao
decisionismo judicial vestindo com linguagem pomposa qualquer decisatildeo tida como politica-
mente correta e o segundo para permitir que os juiacutezes substituam livremente as valoraccedilotildees de
outros agentes puacuteblicos pelas suas proacuteprias
Este cenaacuterio eacute problemaacutetico porque um sistema juriacutedico funcional estaacutevel e harmocircnico com os
valores do Estado Democraacutetico de Direito precisa tanto da aplicaccedilatildeo de regras como de princiacute-
pios129 As regras satildeo indispensaacuteveis dentre outras razotildees130 porque geram maior previsibili-
dade e seguranccedila juriacutedica para os seus destinataacuterios diminuem os riscos de erro na sua inci-
decircncia jaacute que natildeo dependem tanto das valoraccedilotildees do inteacuterprete em cada caso concreto en-
volvem um menor custo no seu processo de aplicaccedilatildeo pois podem incidir de forma mais mecacirc-
nica sem demandarem tanto esforccedilo do inteacuterprete e natildeo implicam na mesma medida que os
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princiacutepios em uma transferecircncia de poder decisoacuterio do Legislativo que eacute eleito para o Judici-
aacuterio que natildeo eacute
Natildeo pretendo sustentar com isso que se deva retroceder ao tempo em que os princiacutepios natildeo
eram aplicados pelos juiacutezes brasileiros Tambeacutem os princiacutepios satildeo essenciais na ordem juriacutedica
pois conferem mais plasticidade ao Direito - o que eacute essencial numa sociedade hiper-complexa
como a nossa - e permitem uma maior abertura da argumentaccedilatildeo juriacutedica agrave Moral e ao mundo
empiacuterico subjacente O importante eacute encontrar uma justa medida que natildeo torne o processo de
aplicaccedilatildeo do Direito amarrado demais como ocorreria num sistema baseado exclusivamente
em regras nem solto demais como sucederia com um que se fundasse apenas em princiacutepios
Penso que eacute chegada a hora de um retorno do pecircndulo no Direito brasileiro131 que sem des-
cartar a importacircncia dos princiacutepios e da ponderaccedilatildeo volte a levar a seacuterio tambeacutem as regras e a
subsunccedilatildeo
Ademais naquelas hipoacuteteses em que a aplicaccedilatildeo de princiacutepios for realmente apropriada ela
deve dar-se de forma mais racional e fundamentada Deve-se adotar a premissa de que quanto
mais vaga for a norma a ser aplicada e mais intenso o componente volitivo envolvido no pro-
cesso decisoacuterio maior deve ser o ocircnus argumentativo do inteacuterprete no sentido de mostrar que
a soluccedilatildeo por ele adotada eacute a que melhor realiza os valores do ordenamento naquele caso con-
creto132 A tendecircncia atual de invocaccedilatildeo frouxa e natildeo fundamentada de princiacutepios colide com a
loacutegica do Estado Democraacutetico de Direito pois amplia as chances de arbiacutetrio judicial gera inse-
guranccedila juriacutedica e atropela a divisatildeo funcional de poderes que tem no ideaacuterio democraacutetico um
dos seus fundamentos - a noccedilatildeo baacutesica de que as decisotildees sobre o que os cidadatildeos e o Estado
podem e natildeo podem fazer devem ser tomadas preferencialmente por quem represente o povo
e seja por ele escolhido
E haacute na sociedade brasileira traccedilos que tornam ainda mais perigosa esta tendecircncia agrave frouxidatildeo
e emotividade na metodologia juriacutedica Nossa cultura caracteriza-se muito mais pelo jeiti-
nho133 e pelo patrimonialismo134 do que pela valorizaccedilatildeo do cumprimento impessoal de regras
O brasileiro - jaacute dizia Seacutergio Buarque de Holanda135 - eacute o homem cordial que tende a antepor
a loacutegica privada do compadrio e da simpatia agrave racionalidade objetiva das leis Esta singularida-
de das nossas relaccedilotildees sociais natildeo atua de forma neutra em relaccedilatildeo a todos os cidadatildeos Ela
implica na adoccedilatildeo de posturas estatais em geral muito benevolentes em relaccedilatildeo aos donos do
poder e seus apaniguumlados e de posiccedilotildees muito mais duras dirigidas aos grupos excluiacutedos e mar-
ginalizados136 Uns poucos acabam pairando acima das leis que natildeo os alcanccedilam para limitar a
sua conduta ou sancionar os seus desvios enquanto outros permanecem abaixo dela sendo
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atingidos apenas pelo braccedilo punitivo do Estado pois a violaccedilatildeo rotineira dos seus direitos eacute
naturalizada tornando-se invisiacutevel
Neste quadro cabe indagar sob a perspectiva de uma sociologia da interpretaccedilatildeo constitucio-
nal ateacute que ponto a introduccedilatildeo entre noacutes de uma dogmaacutetica fluida - a expressatildeo eacute de Gusta-
vo Zagrebelsky137 um dos iacutecones do neoconstitucionalismo - natildeo pode ter como efeito colateral
o agravamento de patologias que marcam as nossas relaccedilotildees sociais Seraacute que o nosso Direito
precisa de mais rigidez ou de maior maleabilidade Ao fim e ao cabo quem tende a se benefi-
ciar com a adoccedilatildeo de uma hermenecircutica juriacutedica mais flexiacutevel
Uma reflexatildeo importante sobre tema correlato foi empreendida por Marcelo Neves138 a partir
das categorias da teoria sistecircmica de Niklas Luhman Para Luhman139 em apertada siacutentese o
Direito nas hipercomplexas sociedades modernas seria autopoieacutetico140 pois consistiria num
subsistema social estruturalmente fechado em relaccedilatildeo ao meio envolvente que operaria de
acordo com um coacutedigo binaacuterio proacuteprio - o liacutecito iliacutecito As influecircncias do meio envolvente so-
bre o Direito seriam filtradas atraveacutes deste coacutedigo assegurando a autonomia da esfera juriacutedica
diante dos outros subsistemas sociais como a Economia a Poliacutetica a Religiatildeo etc Contudo
Marcelo Neves sustenta que em sociedades perifeacutericas como o Brasil natildeo se desenvolveu ple-
namente este fechamento estrutural do Direito Por aqui fatores como a nossa constituciona-
lizaccedilatildeo simboacutelica geraram uma insuficiente diferenciaccedilatildeo do Direito em relaccedilatildeo a outros sub-
sistemas sociais permitindo que elementos a princiacutepio estranhos ao coacutedigo binaacuterio do juriacutedico -
como a questatildeo do poder poliacutetico e do poder econocircmico - se infiltrem sistematicamente nos
processos de aplicaccedilatildeo das normas condicionando o seu resultado A teoria dos sistemas de
Luhman natildeo funcionaria bem entre noacutes pois teriacuteamos um Direito em boa parte alopoieacuteti-
coPara tal perspectiva esta maior abertura do Direito ao meio envolvente natildeo assume o po-
tencial emancipatoacuterio preconizado pela teoria neoconstitucionalista Ela funciona muito mais
como um mecanismo de cristalizaccedilatildeo de diferenccedilas sociais mantendo a hiper-inclusatildeo de uns
ao preccedilo da exclusatildeo de outros
Esta reflexatildeo de Marcelo Neves natildeo se dirigiu ao debate metodoloacutegico contemporacircneo envol-
vendo princiacutepios e regras ponderaccedilatildeo e subsunccedilatildeo etc Poreacutem entendo que ela pode ter algu-
ma pertinecircncia tambeacutem aqui pelo menos para nos advertir sobre o perigo de que o neoconsti-
tucionalismo com a fluidez metodoloacutegica e abertura do Direito a outros domiacutenios que preconi-
za possa acabar tornando-se um belo roacutetulo para justificar mais do mesmo patrimonialismo
desigualdade jeitinho Nesta perspectiva a novidade do neoconstitucionalismo poderia pare-
cer com aquela advogada pelo Priacutencipe de Salinas em famosa passagem do romance O Leopar-
do de Giuseppe Lampedusa quando defendia no contexto da crise da aristocracia italiana do
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final do seacuteculo XIX a necessidade de mudanccedilas urgentes no governo para que ao final as
coisas pudessem permanecer exatamente do jeito que sempre foram
Natildeo penso que esta seja uma consequumlecircncia necessaacuteria da adoccedilatildeo de uma perspectiva juriacutedica
mais principialista no Brasil O maior cuidado metodoloacutegico adicionado agrave adoccedilatildeo de uma dire-
triz hermenecircutica substantiva que afirme a missatildeo essencial do Direito de assegurar justiccedila e
seguranccedila agraves pessoas tratando-as como livres e iguais pode minimizar as possibilidades de um
uso enviesado da teoria neoconstitucional que acabe favorecendo aos mesmos de sempre
Mas diante das nossas tradiccedilotildees natildeo haacute como negar que os riscos satildeo elevados
c) Neoconstitucionalismo e panconstitucionalizaccedilatildeo
Uma das caracteriacutesticas do neoconstitucionalismo eacute a defesa da constitucionalizaccedilatildeo do Direi-
to Sustenta-se que a irradiaccedilatildeo das normas constitucionais por todo o ordenamento contribui
para aproximaacute-lo dos valores emancipatoacuterios contidos nas constituiccedilotildees contemporacircneas 141A
Constituiccedilatildeo natildeo eacute vista mais como uma simples norma normarum - cuja finalidade principal eacute
disciplinar o processo de produccedilatildeo de outras normas142 Ela passa a ser enxergada como a en-
carnaccedilatildeo dos valores superiores da comunidade poliacutetica que devem fecundar todo o sistema
juriacutedico Neste modelo cabe ao inteacuterprete natildeo soacute aplicar diretamente os ditames constitucio-
nais agraves relaccedilotildees sociais como tambeacutem reler todas as normas e institutos dos mais variados ra-
mos do Direito agrave luz da Constituiccedilatildeo emprestando-lhes o sentido que mais promova os objeti-
vos e a axiologia da Carta
A constitucionalizaccedilatildeo do Direito de que cogita o neoconstitucionalismo natildeo eacute aquela que resul-
ta do caraacuteter excessivamente analiacutetico da Constituiccedilatildeo e leva ao entricheiramento de meras
opccedilotildees conjunturais do constituinte originaacuterio ou derivado despidas de maior importacircncia ou
dignidade Este eacute um fenocircmeno caracteriacutestico da Carta de 88 que se excedeu no casuiacutesmo e
nos detalhes elevando ao seu texto meros interesses corporativos ou decisotildees de momento
sem focirclego para perdurarem no tempo A constitucionalizaccedilatildeo louvada e defendida pelo neo-
constitucionalismo eacute aquela que parte de uma interpretaccedilatildeo extensiva e irradiante dos direitos
fundamentais e dos princiacutepios mais importantes da ordem constitucional Aqui contudo pode-
se discutir ateacute que ponto o fenocircmeno eacute legiacutetimo Poucos discordaratildeo pelo menos no Brasil de
que alguma constitucionalizaccedilatildeo do Direito eacute positiva e bem-vinda por semear o ordenamento
com os valores humanitaacuterios da Constituiccedilatildeo Poreacutem pode-se objetar contra as teses extrema-
das sobre este processo que acabam amputando em demasia o espaccedilo de liberdade do legisla-
dor em detrimento da democracia 143
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Com efeito quem defende que tudo ou quase tudo jaacute estaacute decidido pela Constituiccedilatildeo e que o
legislador eacute um mero executor das medidas jaacute impostas pelo constituinte nega por conse-
quumlecircncia a autonomia poliacutetica ao povo para em cada momento da sua histoacuteria realizar as suas
proacuteprias escolhas O excesso de constitucionalizaccedilatildeo do Direito reveste-se portanto de um
vieacutes antidemocraacutetico Esta ordem de preocupaccedilotildees levou Ersnt Forsthof na Alemanha a criti-
car as teorias que viam a Constituiccedilatildeo como uma espeacutecie de genoma juriacutedico () do qual tudo
deriva do Coacutedigo Penal ateacute a lei sobre a fabricaccedilatildeo de termocircmetros144 E a questatildeo torna-se
ainda mais delicada diante da constataccedilatildeo de que pela abertura semacircntica dos direitos fun-
damentais e dos princiacutepios - principal mateacuteria-prima da constitucionalizaccedilatildeo do Direito - o seu
principal agente acaba sendo o Poder Judiciaacuterio ao dar a uacuteltima palavra sobre a interpretaccedilatildeo
daquelas claacuteusulas Daiacute porque o debate sobre a constitucionalizaccedilatildeo do Direito se imbrica
inexoravelmente com as discussotildees a propoacutesito da judicializaccedilatildeo da poliacutetica e do decisionismo
referidas acima
Ademais a constitucionalizaccedilatildeo do Direito tambeacutem suscita outra linha de preocupaccedilotildees rela-
cionada ao perfeccionismo moral145 na esfera privada No Brasil assim como em muitos outros
paiacuteses jaacute se assentou a ideacuteia de que os direitos fundamentais natildeo se dirigem apenas contra o
Estado vinculando tambeacutem os particulares Entre noacutes tem prevalecido na doutrina a ideacuteia que
eu mesmo defendi em outro estudo146 que a eficaacutecia dos direitos fundamentais nas relaccedilotildees
privadas eacute direta e imediata Em outras palavras entende-se que a proacutepria Constituiccedilatildeo jaacute inci-
de nas relaccedilotildees privadas independentemente de mediaccedilotildees legislativas e que pode gerar o-
brigaccedilotildees positivas ou negativas para os indiviacuteduos e natildeo soacute para os poderes puacuteblicos sempre
no afatilde de proporcionar uma proteccedilatildeo mais completa agrave dignidade humana Ateacute aqui nada a
contestar
Poreacutem o reconhecimento da vinculaccedilatildeo dos particulares agrave Constituiccedilatildeo suscita um risco que
natildeo pode ser ignorado o de imposiccedilatildeo agraves pessoas supostamente em nome de valores constitu-
cionais de comportamentos e estilos de vida que elas proacuteprias rejeitam em detrimento da sua
liberdade existencial Para dar um exemplo bem tosco seria terriacutevel se o Direito em nome do
princiacutepio da solidariedade social pudesse impor agraves pessoas que demonstrassem afetos e senti-
mentos que elas natildeo possuem genuinamente Ou se em nome da isonomia pretendesse inter-
ferir nas escolhas subjetivas e emocionais que os indiviacuteduos fazem nas suas vidas privadas A
constitucionalizaccedilatildeo neste sentido poderia converter-se num pretexto para o exerciacutecio de um
paternalismo anti-liberal em que as pessoas seriam forccediladas a conformarem-se agraves expectativas
sociais forjadas a partir de pautas de accedilatildeo politicamente corretas com apoio na Constitui-
ccedilatildeo147
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Nenhuma destas duas questotildees eacute insuperaacutevel Eacute possiacutevel aceitar e aplaudir a constitucionaliza-
ccedilatildeo do Direito - fenocircmeno em geral positivo por aproximar a racionalidade emancipatoacuteria da
Constituiccedilatildeo do dia-a-dia das pessoas - mas defender que ela seja temperada por outras preo-
cupaccedilotildees igualmente essenciais no Estado Democraacutetico de Direito com a autonomia puacuteblica e
privada dos cidadatildeos Pode-se reconhecer a legitimidade da constitucionalizaccedilatildeo do Direito
mas numa medida em que natildeo sacrifique em excesso agrave liberdade de conformaccedilatildeo que numa
democracia deve caber ao legislador para realizar opccedilotildees poliacuteticas em nome do povo148 Pode-
se da mesma forma afirmar a incidecircncia direta da Constituiccedilatildeo nas relaccedilotildees privadas mas
sem invadir a esfera das opccedilotildees existenciais da pessoa - que de resto eacute protegida pela proacutepria
Constituiccedilatildeo das ingerecircncias perfeccionistas do Estado e da sociedade149
5 Conclusatildeo Ao fim da leitura destas paacuteginas o leitor pode estar se indagando se eu me alinho ou natildeo ao
neoconstitucionalismo A minha resposta eacute depende da compreensatildeo que se tenha sobre o ne-
oconstitucionalismo Se entendermos o neoconstitucionalismo de acordo com a conhecida defi-
niccedilatildeo de Luis Prietro Sanchiacutes como uma teoria do Direito que se orienta pelas maacuteximas demaacutes
princiacutepios que reglas maacutes ponderacioacuten que subsuncioacuten omnipotencia de la Constitucioacuten en
todas las aacutereas juriacutedicas y en todos conflictos miacutenimamente relevantes en lugar de espacios
exentos en favor de la opcioacuten legislativa o reglamentaria omnipotencia judicial en lugar de
autonomia del legislador ordinaacuterio y por ultimo coexistecircncia de una constelacioacuten plural de
valores a veces tendencialmente contradictorios en lugar de homogeneidad ideoloacutegica150
certamente eu natildeo me considero um neoconstitucionalista De todas as afirmaccedilotildees do professor
espanhol a uacutenica de que natildeo discordo eacute aquela relacionada ao pluralismo de valores cujo re-
conhecimento aliaacutes estaacute longe de ser privileacutegio dos neoconstitucionalistas
Contudo eu assumo o roacutetulo sem constrangimentos se o neoconstitucionalismo for pensado
como uma teoria constitucional que sem descartar a importacircncia das regras e da subsunccedilatildeo
abra tambeacutem espaccedilo para os princiacutepios e para a ponderaccedilatildeo tentando racionalizar o seu uso
Se for visto como uma concepccedilatildeo que sem desprezar o papel protagonista das instacircncias de-
mocraacuteticas na definiccedilatildeo do Direito reconheccedila e valorize a irradiaccedilatildeo dos valores constitucio-
nais pelo ordenamento bem como a atuaccedilatildeo firme e construtiva do Judiciaacuterio para proteccedilatildeo e
promoccedilatildeo dos direitos fundamentais e dos pressupostos da democracia E acima de tudo se
for concebido como uma visatildeo que conecte o Direito com exigecircncias de justiccedila e moralidade
criacutetica151 sem enveredar pelas categorias metafiacutesicas do jusnaturalismo
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Certamente uma visatildeo equilibrada da Teoria do Direito com tais caracteriacutesticas pode contribu-
ir para o aperfeiccediloamento do Estado Democraacutetico de Direito no Brasil O mesmo jaacute natildeo digo de
concepccedilotildees mais radicais do neoconstitucionalismo que podem ser muito boas para arrancar
aplausos entusiasmados das plateacuteias nos seminaacuterios estudantis mas que natildeo se conciliam com
exigecircncias fundamentais de seguranccedila juriacutedica democracia e liberdade que satildeo alicerces de
qualquer bom constitucionalismo - novo ou velho
Curriacuteculo Resumido
Daniel Sarmento
Poacutes-Doutor pela Universidade de Yale (EUA) Procurador Regional da Repuacuteblica
Como citar este artigo
SARMENTO Daniel O neoconstitucionalismo no Brasil riscos e possibilidades Disponiacutevel em httpwwweditoraforumcombrsistconteudolista_conteudoaspFIDT_CONTEUDO=56993 acesso em 09032011 httpdireitoesubjetividadefileswordpresscom201008daniel-sarmento-o-neoconstitucionalismo-no-brasil1doc acesso em 30062012 Material da 1ordf aula da Disciplina Teoria Geral da Constituiccedilatildeo (I) ministrada no Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo Online em Direito Constitucional ndash Anhanguera-UNIDERP | REDE LFG
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1Sobre a teoria de princiacutepios no Brasil veja-se dentre outros Ana Paula de Barcellos A eficaacutecia juriacutedica dos princiacutepios constitu-
cionais o princiacutepio da dignidade da pessoa humana Rio de Janeiro Renovar 2002 Humberto Bergman Aacutevila Teoria dos princiacute-
pios da definiccedilatildeo agrave aplicaccedilatildeo dos princiacutepios juriacutedicos 2 ed Satildeo Paulo RT 2005 Jane Reis Gonccedilalves Pereira Interpretaccedilatildeo
constitucional e direitos fundamentais uma contribuiccedilatildeo ao estudo das restriccedilotildees aos direitos fundamentais na perspectiva da
teoria dos princiacutepios Rio de Janeiro Renovar 2006 Virgiacutelio Afonso da Silva O conteuacutedo essencial dos direitos fundamentais e a
eficaacutecia das normas constitucionais Satildeo Paulo Tese (concurso de Professor Titular de Direito Constitucional da USP)
2Veja-se em tons variados Lecircnio Luiz Streck Hermenecircutica juriacutedica e(m) crise uma exploraccedilatildeo hermenecircutica da construccedilatildeo do
direito Porto Alegre Livraria do Advogado 1999 Luiacutes Roberto Barroso (Org) A nova interpretaccedilatildeo constitucional ponderaccedilatildeo
direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas Rio de Janeiro Renovar 2003 Margarida Maria Lacombe Camargo Hermenecircutica e
argumentaccedilatildeo uma contribuiccedilatildeo ao estudo do direito Rio de Janeiro Renovar 2003 Inocecircncio Maacutertires Coelho Interpretaccedilatildeo
constitucional 2 ed Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2003 Ana Paula de Barcellos Ponderaccedilatildeo racionalidade e atividade
jurisdicional Rio de Janeiro Renovar 2005
3Sobre o fenocircmeno da constitucionalizaccedilatildeo do Direito confira-se os inuacutemeros artigos que compotildeem a coletacircnea organizada por
Claacuteudio Pereira de Souza Neto e por mim A constitucionalizaccedilatildeo do direito fundamentos teoacutericos e aplicaccedilotildees especiacuteficas Rio de
Janeiro Lumen Juris 2007
4Cfr na literatura constitucional brasileira Gisele Guimaratildees Cittadino Pluralismo direito e justiccedila distributiva elementos de
filosofia constitucional contemporacircnea Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 Oscar Vilhena Vieira A Constituiccedilatildeo e sua reserva de
justiccedila um ensaio sobre os limites materiais do poder de reforma Satildeo Paulo Malheiros 1999 Ricardo Lobo Torres (Org) A legi-
timaccedilatildeo dos direitos humanos Rio de Janeiro Renovar 2002 Claacuteudio Pereira de Souza Neto Teoria constitucional e democracia
deliberativa Rio de Janeiro Renovar 2006 Lecircnio Luiz Streck Verdade e consenso Constituiccedilatildeo hermenecircutica e teorias discursi-
vas Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 Samantha Chantal Dobrowolski A construccedilatildeo social do sentido da Constituiccedilatildeo na demo-
cracia contemporacircnea entre soberania popular e direitos humanos Rio de Janeiro Lumen Juris 2007 Aacutelvaro Ricardo de Souza
Cruz Hermenecircutica juriacutedica e(m) debate o constitucionalismo brasileiro entre a teoria do discurso e a ontologia existencial Belo
Horizonte Foacuterum 2007
5Sobre a judicializaccedilatildeo da poliacutetica no Brasil veja-se Luiz Werneck Vianna et al A judicializaccedilatildeo da poliacutetica e das relaccedilotildees sociais
no Brasil Rio de Janeiro Revan 1999 Giselle Cittadino Judicializaccedilatildeo da poliacutetica constitucionalismo democraacutetico e separaccedilatildeo de
poderes In Luiz Werneck Vianna (Org) A democracia e os trecircs poderes no Brasil Belo Horizonte UFMG 2002 p 17-42 Rogeacuterio
B Arantes Constitucionalism the expansion of Justice and the Judicialization of Poltics in Brazil In Rachel Sieder Line Schjol-
den Alan Angell The Judicialization of Politics in Latin America New York Palgrave Macmillan 2005 p 232-262 Luis Roberto
Barroso Judicializaccedilatildeo ativismo judicial e legitimidade democraacutetica Texto ineacutedito gentilmente cedido pelo autor
Para uma perspectiva comparativa veja-se Neal C Tate Tobjorn Vallinder (Ed) The Global Expansion of Judicial Power New
York New York University Press 1995 Alec Stone Sweet Governing with Judges Constitutional Politics in Europe Oxford Oxford
Univesity Press 2000 e em tom profundamente criacutetico Ran Hirschl Towards Juristocracy the Origins and Consequences of the
New Constitucionalism Cambridge Harvard University Press 2004
6Miguel Carbonell et al Neoconstitucionalismo(s) Madrid Trotta 2003 Mais recentemente o autor publicou nova coletacircnea
tambeacutem dedicada ao estudo do neoconstitucionalismo intitulada Teoria del Neoconstitucionalismo Ensayos escogidos Madrid
Trotta 2007
7O jurista argentino Carlos Santiago Nino por exemplo faleceu em 1993 quando ainda nem se empregava esta denominaccedilatildeo
8Cf Robert Alexy Teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica a teoria do discurso racional como teoria da fundamentaccedilatildeo juriacutedica Tradu-
ccedilatildeo de Zilda Hutchinson Schild Silva revisatildeo teacutecnica da traduccedilatildeo e introduccedilatildeo agrave ediccedilatildeo brasileira Claudia Toledo 2 ed Satildeo Paulo
Landy 2005 Luis Roberto Barroso Curso de direito constitucional contemporacircneo os conceitos fundamentais e a construccedilatildeo do
novo modelo Rio de Janeiro Saraiva 2008 p 306-350
9Cf Lecircnio Luiz Streck Verdade e consenso Op cit p 197-246
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10Ronald Dworkin e Carlos Santiago Nino satildeo sem sombra de duacutevida autores liberais natildeo no sentido que se atribui ao termo no
Brasil - de adeptos de doutrina econocircmica favoraacutevel ao Estado miacutenimo e ao mercado - mas sim no sentido corrente na Filosofia
Poliacutetica que associa o liberalismo agrave defesa dos direitos individuais e da neutralidade do Estado em relaccedilatildeo agraves diversas concepccedilotildees
sobre a vida boa existentes na sociedade Veja-se neste sentido Ronald Dworkin A Matter of Principle Cambridge Harvard
University Press 1985 p 181-236 Carlos Santiago Nino La constitucioacuten de la Democracia Deliberativa Barcelona Gedisa 1997
p 70-100
11Lecircnio Luiz Streck que se alinha ao neoconstitucionalismo defende posturas tipicamente comunitaristas como o papel da Consti-
tuiccedilatildeo na definiccedilatildeo de modelos de vida boa para orientaccedilatildeo da vida social e da accedilatildeo individual Cf Jurisdiccedilatildeo constitucional e
hermenecircutica uma nova criacutetica do direito 2 ed Rio de Janeiro Forense 2004 p 95-288
12Antonio Cavalcanti Maia um dos mais ardorosos defensores do neoconstitucionalismo no paiacutes eacute tambeacutem procedimentalista e
adepto das teorias juriacutedicas de Juumlrgen Habermas Veja-se neste sentido o seu denso texto Nos vintes anos da carta cidadatilde do
poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm (Coord) Vinte
anos da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 p 117-168 em que esta sua dupla filiaccedilatildeo intelectual eacute
explicitada
13Segundo Miguel Carbonell o neoconstitucionalismo desdobra-se em trecircs planos de anaacutelise que se conjugam o dos textos consti-
tucionais que se tornaram mais substantivos e incorporaram amplos elencos de direitos fundamentais o das praacuteticas judiciais que
passaram a recorrer a princiacutepios constitucionais agrave ponderaccedilatildeo e a meacutetodos mais flexiacuteveis de interpretaccedilatildeo sobretudo na aacuterea de
direitos fundamentais e o dos desenvolvimentos teoacutericos de autores que com as suas ideacuteias ajudaram natildeo soacute a compreender os
novos modelos constitucionais mas tambeacutem participaram da sua proacutepria criaccedilatildeo Cf Miguel Carbonell Neoconstitucionalismo
elementos para una definicioacuten In Eduardo Ribeiro Moreira Mauricio Pugliesi 20 anos da Constituiccedilatildeo brasileira Satildeo Paulo Sarai-
va 2009 p 197-208
14No mesmo sentido Luis Roberto Barroso Neoconstitucionalismo e Constitucionalizaccedilatildeo do direito o triunfo tardio do direito
constitucional do Brasil In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento A constitucionalizaccedilatildeo do direito fundamentos teoacuteri-
cos e aplicaccedilotildees especiacuteficas Rio de Janeiro Lumen Juris 2007 p 203-250
15Cf Carlos Bernal Pulido El Derecho de los Derechos Bogotaacute Universidad Externado de Colocircmbia 2006 Manoel Jose Cepeda
Espinosa Judicialization of Politics in Colombia the old and the new In Rachel Sieder Line Schonjen Alan Angell The Judiciali-
zation of Politics in Latin America Op cit p 67-104 Rodrigo Uprimmy Mauriacutecio Garcia-Villegas Tribunal Constitucional e eman-
cipaccedilatildeo social na Colocircmbia In Boaventura de Souza Santos Democratizar a democracia os caminhos da democracia participativa
Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2002 p 297-339
16Cf Catalina Smulovitz Petitioning and Creating Rights Judicialization in Argentina In Rachel Sieder Line Scjolden Alan Angell
The Judicialization of Politics in Latin America Op cit p 161-185
17Cf Miguel Carbonell Los Derechos Fundamentales en Meacutexico 2 ed Meacutexico Porruacutea 2006 Pilar Domingo The Changing Political
Role of the Judiciary in Meacutexico In Rachel Sieder Line Scjolden Alan Angell The Judicialization of Politics in Latin Ameacuterica Op
cit p 21-46
18Cf Heinz Klug South Aacutefrica From Constitucional Promise to Social Transformation In Jeffrey Goldsworthy Interpreting Consti-
tutions A Comparative Study Oxford Oxford University Press 2006 p 266-320
19Cf S P Sathe Iacutendia From Positivism to Structuralism In Jeffrey Goldsworthy Op cit p 215-265
20Veja-se a propoacutesito Gustavo Zagrebelsky Il Diritto Mite Torino Einaudi 1992 p 57-96
21Cf Eduardo Garciacutea de Enterriacutea La Constitucioacuten como Norma y el Tribunal Constitucional 3 ed Madrid Civitas 1985 p 41
22Na Alemanha a mudanccedila ocorreu sob a vigecircncia da Lei Fundamental adotada em 1949 e foi fortemente impulsionada pela
jurisprudecircncia do Tribunal Constitucional do paiacutes que construiu teorias importantes como a da Constituiccedilatildeo como uma ordem de
valores em cujo centro situa-se o princiacutepio da dignidade humana que se irradia por todo o ordenamento Veja-se a propoacutesito
Dieter Grimm Human Rights and Judicial Review in Germany In David M Beatty (Org) Human Rights and Judicial Review A
Comparative Perspective Dodrecht Martin Urjhoff 1994 p 267-295
23Na Itaacutelia as mudanccedilas se deram sob a eacutegide da atual Constituiccedilatildeo editada em 1947 mas soacute apoacutes o funcionamento da Corte
Constitucional que se deu em 1956 Ateacute entatildeo a Corte de Cassaccedilatildeo composta por juiacutezes recrutados ainda no periacuteodo do fascismo
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era provisoriamente encarregada da guarda da Constituiccedilatildeo o que fazia de forma muito tiacutemida no mais das vezes negando eficaacute-
cia juriacutedica agraves normas constitucionais sob o argumento de que seriam programaacuteticas Veja-se a propoacutesito Ricardo Guastini A
constitucionalizaccedilatildeo do ordenamento juriacutedico e a experiecircncia italiana In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento A
constitucionalizaccedilatildeo do direito fundamentos teoacutericos e aplicaccedilotildees especiacuteficas Op cit p 271-294
24Cf No modelo do constitucionalismo norte-americano entende-se desde os primoacuterdios que a Constituiccedilatildeo eacute autecircntica lei e que
o Judiciaacuterio pode invalidar as decisotildees legislativas que a contrariem apesar do controle de constitucionalidade natildeo estar expres-
samente previsto no texto constitucional daquele paiacutes Esta ideacuteia que jaacute estava assentada no Federalista n 78 escrito por Ale-
xander Hamilton antes da aprovaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo foi posta em praacutetica pela primeira vez contra lei federal no ceacutelebre caso
Marbury v Madison julgado em 1803 pelo juiz Marshall Veja-se a propoacutesito Paul Brest Sanford Levinson Jack Balkin Akhil Reed
Amar Processes of Constitutional Decisionmaking Cases and Materials New York Aspen Publishers 2000 p 79-103
A versatildeo mais convencional do modelo constitucional norte-americano enfatiza a importacircncia central do Judiciaacuterio na atualizaccedilatildeo
do sentido da Constituiccedilatildeo do paiacutes Contudo esta leitura histoacuterica eacute hoje objeto de intensa disputa Em sentido contraacuterio a tal
posiccedilatildeo sustentando uma menor relevacircncia do Judiciaacuterio no desenvolvimento histoacuterico do constitucionalismo americano veja-se
por exemplo Stephen M Griffin American Constitutionalism From Theory to Politics New Jersey Princeton University Press
1996 p 88-139
25Cf Luis Prietro Sanchiacutes Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales Madrid Trotta 2003 p 107-117
26Cf Daniel Sarmento Ubiquumlidade constitucional Os dois lados da moeda In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento
(Coord) A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 113-148
27Na verdade a reaccedilatildeo contra o formalismo juriacutedico na Europa eacute bem anterior ao advento do constitucionalismo do 2ordm poacutes-guerra
remontando ao final do seacuteculo XIX Veja-se a propoacutesito Constantin M Stamatis Argumenter en Droit Une theacuteorie critique de
largumentation juridique Paris Publisud 1995 p 34-50 Antonio Manoel Hespanha Panorama histoacuterico da cultura juriacutedica euro-
peacuteia Lisboa Publicaccedilotildees Europa-Ameacuterica 1997 p 196-235
28Haacute vasta literatura sobre a ponderaccedilatildeo mas a obra mais influente sobre o tema eacute certamente o livro de Robert Alexy Teoria dos
direitos fundamentais Traduccedilatildeo de Virgiacutelio Afonso da Silva Satildeo Paulo Malheiros 2008 No cenaacuterio norte-americano veja-se a
anaacutelise densa e criacutetica de T Alexander Aleinikoff Constitucional Law in the Age of Balancing Yale Law Journal n 96 p 943-
1005 1987 No Brasil cfr Daniel Sarmento A ponderaccedilatildeo de interesses na Constituiccedilatildeo Federal Rio de Janeiro Lumen Juris
2000 Ana Paula de Barcellos Ponderaccedilatildeo racionalidade e atividade jurisdicional Op cit
29A bibliografia sobre o princiacutepio da proporcionalidade eacute vastiacutessima Veja-se a propoacutesito as densas anaacutelises de Carlos Bernal Puli-
do El Principio de Proporcionalidad y los Derechos Fundamentales Madrid Centro de Estuacutedios Constitucionales 2003 e no Brasil
de Jane Reis Gonccedilalves Pereira Interpretaccedilatildeo constitucional e direitos fundamentais Rio de Janeiro Renovar 2006 p 297-382
30Cf Chaiumlm Perelman Eacutetica e direito Traduccedilatildeo de Maria Ermantina Galvatildeo G Perira Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 p 361-684
Robert Alexy Teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica Op cit Friedrich Muller Discours de la Meacutethode Juridique Traduccedilatildeo de Olivier
Jouanjan Paris PUF 1993 Manuel Atienza Traacutes la Justicia Una Introduccioacuten al Derecho y al Razonamiento Juriacutedico Barcelona
Ariel 1995 Neil MacCormick Argumentaccedilatildeo juriacutedica e teoria do direito Traduccedilatildeo de Waldeacutea Barcellos Satildeo Paulo Martins Fontes
2006 Klaus Guumlnther Teoria da argumentaccedilatildeo no direito e na moral justificaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Claacuteudio Molz Satildeo Pau-
lo Landy 2004
31Cf Martin Shapiro Alec Stone Sweet On Law Politics and Judicialization New York Oxford University Press p 136-208
32Contudo deve-se admitir na linha de Paolo Comanducci que eacute possiacutevel reconhecer as mudanccedilas em questatildeo e propor novas
teorias que sejam adequadas a elas sem defendecirc-las Esta seria nas palavras do autor italiano a diferenccedila entre o neoconstitu-
cionalismo teoacuterico e o neoconstitucionalismo ideoloacutegico que natildeo apenas constroacutei teorias mais compatiacuteveis com os novos fenocirc-
menos mas vai aleacutem sustentando a sua legitimidade e propugnando pelo seu aprofundamento e expansatildeo Veja-se a propoacutesito
Paulo Comanducci Formas de neoconstitucionalismo Un anaacutelisis metateoacuterico In Miguel Carbonell (Ed) Neoconstitucionalis-
mo(s) Op cit p 75-98 Como reconhece o proacuteprio autor tal distinccedilatildeo baseia-se em uma semelhante acerca do positivismo
30
formulada por Norberto Bobbio que fala em positivismo teoacuterico ideoloacutegico e metodoloacutegico Cf Norberto Bobbio O positivismo
juriacutedico liccedilotildees de filosofia do direito Traduccedilatildeo e notas de Marcio Pugliesi et al Satildeo Paulo Iacutecone 1995 p 233-239
33Cf Ronald Dworkin Is Law a Sistem of Rules In Ronald Dworkin (Ed) Philosophy of Law Oxford Oxford University Press 1971
Robert Alexy Constitucionalismo discursivo Traduccedilatildeo de Luiz Afonso Heck Porto Alegre Livraria do Advogado 2007
34Cf Robert Alexy Derecho y Razoacuten Praacutectica Meacutexico Distribuiciones Fontamara 1993 Aulis Aarnio Lo Racional como Razonable
Traduccedilatildeo de Ernesto Garzoacuten Valdeacutes Madrid Centro de Estuacutedios Constitucionales 1991
35Cf Aharon Barak The Judge in a Democracy New Jersey Princeton University Press 2006 p 213-260 Gustavo Zagrebelsky Il
Diritto Mite Op cit p 179-217
36Confronte-se com perspectivas diferentes Luigi Ferrajoli O Estado de direito entre passado e futuro In Pietro Costa Danilo
Zolo (Org) Estado de direito histoacuteria teoria criacutetica Traduccedilatildeo de Carlo Alberto Dastoli Satildeo Paulo Martins Fontes 2006 p 419-
464 Elias Dias Estado de Derecho y Sociedad Democraacutetica Madrid Taurus 1998 Ronald Dworkin Introduction The Moral Reading
and the Majoritarian Premise In Freedoms Law The moral reading of the American Constitution Cambridge Harvard University
Press 1996 p 01-38 Gustavo Zagrebelsky La Crucifixioacuten y la Democracia Barcelona Ariel 1996 Claacuteudio Pereira de Souza Neto
Teoria constitucional da democracia deliberativa Op cit
37Cf Ronald Dworkin Introduction The Moral Reading and the Majoritarian Premise Op cit
38Cf Luigi Ferrajoli El Garantismo y la Filosofia del Derecho Bogotaacute Universidad Externado de Colocircmbia 2000
39Cf Luis Pietro Sanchis Sobre el Neoconstitucionalismo y sus Implicaciones In Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales
Op cit p 101-135
40Cf Ricardo Guastini Sur la Validiteacute de la Constitution du Point de Vue du Positivisme Juridique In Michel Troper Lucien Jaume
(Dir) 1789 et LInvention de la Constitution Paris LGDJ 1994 p 216-225
41Cf Suzana Pozzolo Neoconstituzionalismo e Positivismo Giuridico Torino Giapppicheli 2001
42Cf Ronald Dworkin Law and Morals In Justice in Robes Cambridge Harvard University Press 2006 p 01-35
43Cf Robert Alexy Derecho y Moral In La Institucionalizacioacuten de la Justicia Op cit p 17-30
44Cf Carlos Santiago Nino Eacutetica y Derechos Humanos 2 ed Buenos Aires Astrea 1989 p 11-48
45Cf Gustav Radbruch Cinco minutos de filosofia do direito In Filosofia do direito Traduccedilatildeo de L Cabral de Moncada 6 ed
Coimbra Armecircnio Amado 1979 p 414-418 Para uma densa problematizaccedilatildeo da foacutermula de Radbruch veja-se Thomas da Rosa
Bustamante Poacutes-Positivismo o argumento da injusticcedila aleacutem da Foacutermula de Radbruch In Teoria do direito e decisatildeo racional
temas de teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica Rio de Janeiro Renovar 2008
46Cf Robert Alexy La Institucionalizacioacuten de la Justicia Traduccedilatildeo de Joseacute Antonio Seone et al Granada Comares 2005 p 31-
54
47Sobre o tema cfr Alfonso Garcia Figueroa Princiacutepios e direitos fundamentais In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmen-
to A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 03-34
48O texto mais importante do positivismo inclusivo eacute o poacutes-escrito de Herbert LA Hart agrave sua obra magna The Concept of Law em
que ele responde agraves criacuteticas ao seu pensamento que Ronald Dworkin lhe endereccedilara O autor inglecircs faleceu antes de terminar o
texto mas ele foi publicado postumemente depois de ser editado por Joseph Raz Peneacutelope Bulloch Veja-se Herbert LA Hart
Poacutes-escrito In O conceito de direito Traduccedilatildeo de A Ribeiro Mendes 2 ed 1994 p 299-339 Tambeacutem na linha do positivismo
inclusivo veja-se Gregorio Peces- Barba Derechos Sociales y Positivismo Juriacutedico Escritos de Filosofia Poliacutetica y Juriacutedica Madrid
Dykinson 1999 p 83-90 Jules Coleman The Practice of Principle In defense of a pragmatist approach do legal theory Oxford
Oxford University Press p 103-120 Para uma resenha dos tipos de positivismo no debate contemporacircneo confira-se Dimitri Di-
moulis Positivismo juriacutedico introduccedilatildeo a uma teoria do direito e defesa do pragmatismo juriacutedico-politico Satildeo Paulo Meacutetodo
2006 p 65-166
49Cf Antonio Cavalcanti Maia Nos vinte anos da Constituiccedilatildeo do poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo Op cit Claacuteudio Perei-
ra de Souza Neto A teoria constitucional e seus lugares especiacuteficos notas sobre o aporte reconstrutivo Revista de Direito do
Estado n 1 p 89-104 jan mar 2006 Daniel Sarmento Interpretaccedilatildeo constitucional preacute-compreensatildeo e capacidades institu-
cionais do inteacuterprete In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binebojm Vinte anos da Constituiccedilatildeo de 1988
Op cit p 311-322
31
50Cf Juumlrgen Habermas Escritos sobre Moralidad y Eticidad Traduccedilatildeo de Manuel Jimenez Redondo Barcelona Paidoacutes 1991 p
131-172
51Sobre o comunitarismo haacute extensa literatura Dois textos claacutessicos deste linha de pensamento satildeo Michael Walzer The Communi-
tarian Critique of Liberalism In Politics and Passion New Haven Yale University Press 2004 p 141-163 Charles Taylor The
Procedural Republic and the Unencumbered Self In Robert Goodin Philip Pettit (Ed) Contemporary Political Philosophy 2 ed
Oxford Oxford University Press 2002 p 2462-256 Sobre a penetraccedilatildeo ainda que muitas vezes natildeo consciente das posiccedilotildees do
comunitarismo no constitucionalismo brasileiro veja-se Gisele Cittadino Pluralismo direito e justiccedila distributiva Op cit p
43-74
52Sobre o construtivismo eacutetico corrente filosoacutefica que sustenta a existecircncia de posiccedilotildees certas e erradas na Moral bem como a
possibilidade de encontraacute-las e fundamentaacute-las racionalmente veja-se Carlos Santiago Nino El Constructivismo Eacutetico Madrid
Centro de Estudios Constitucionales 1989
53O fenocircmeno tambeacutem se reproduz na teoria constitucional norte-americana hegemocircnica cf Keith Wittington Constitutional Con-
struction Divided Powers and Constitutional Meaning Cambridge Harvard University Press 1999 p 01-03
54A imagem do Poder Judiciaacuterio como um guardiatildeo de promessas eacute explorada e criticada numa obra importante da teoria juriacutedica
francesa contemporacircnea Antoine Garapon Le Gardien de Promesses Le juge et la democratie Paris Odile Jacob 1996
55Neste sentido o eloquumlente encerramento do Curso de Direito Constitucional Contemporacircneo de Luis Roberto Barroso o consti-
tucionalismo democraacutetico eacute a utopia que nos restou Uma feacute racional que ajuda a acreditar no bem e na justiccedila ainda quando natildeo
estejam ao alcance dos olhos (Op cit p 400)
56Cf Nico Poulantzas State Power Socialism London new Left Books 1978 Alan Hunt Marxist Theory of Law In Dennis Patter-
son (Ed) A Companion to Philosophy of Law and Legal Theory Malden Blackwell Publishers 1996 p 355-367
57Cf David Kairys (Ed) The Politics of Law A Progressive Critique New York Pantheon Books 1982 Roberto Mangabeira Unger
The Critical Legal Studies Movement Cambridge Harvard University Press 1986
58Cf Plauto Faraco Azevedo Criacutetica agrave dogmaacutetica e hermenecircutica juriacutedica Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1989 Luiz Fernando
Coelho Teoria criacutetica do direito 2 ed Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1991
59Natildeo haacute como abordar aqui as relaccedilotildees entre as inuacutemeras correntes do poacutes-modernismo e o Direito Constitucional Veja-se a
propoacutesito Niklas Luhman La Constituzione como Acquisizione Evolutiva In Gustavo Zagrebelsky Piacuteer Paolo Portinaro Joumlrg Lu-
ther Il Futuro della Costituzione Torino Einaudi 1996 p 83-128 Joseacute Joaquim Gomes Canotilho Civilizaccedilatildeo do direito constitu-
cional ou constitucionalizaccedilatildeo do direito civil a eficaacutecia dos direitos fundamentais na ordem juriacutedico-civil no contexto do direito
poacutes-moderno Cadernos de Direito Constitucional e Ciecircncia Poliacutetica n 15 p 07-16 1996 Eduardo Capellari A crise da moderni-
dade e a Constituiccedilatildeo Rio de janeiro Ameacuterica Juriacutedica 2004 Daniel Sarmento Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas 2 ed
Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 p 36-45
60Para Jean-Franccedilois Lyotard uma das caracteriacutesticas centrais do pensamento poacutes-moderno de que eacute expoente eacute a desconfianccedila
em relaccedilatildeo agraves metanarrativas - construccedilotildees abstratas grandiosas e totalizadoras tiacutepicas da Filosofia Moderna como direitos
humanos luta de classes e emancipaccedilatildeo pelo uso da razatildeo Cf Lyotard A condiccedilatildeo poacutes-moderna Traduccedilatildeo de Ricardo Correcirca
Barbosa 5 ed 1998 p16
61Cf Luiz Werneck Viana O terceiro poder na carta de 1988 e a tradiccedilatildeo republicana mudanccedila e conservaccedilatildeo In Ruben George
Oliven Marcelo Gildo Marccedilal Branda A Constituiccedilatildeo de 1988 na vida brasileira Satildeo Paulo Aderaldo e Rotshild 2008 p 91-109
62Cf Paulo Ricardo Schier Filtragem constitucional Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1999
63A expressatildeo foi cunhada por Claacuteudio Pereira de Souza Neto Fundamento e normatividade dos direitos fundamentais uma recons-
truccedilatildeo teoacuterica agrave luz do princiacutepio democraacutetico Arquivos de Direitos Humanos n 4 p 17-61 2003
64Cf Luis Roberto Barroso O direito constitucional e a efetividade de suas normas 3 ed Rio de Janeiro Renovar 1996
65Cf Clegravemerson Merlin Clegraveve A teoria constitucional e o direito alternativo para uma dogmaacutetica constitucional emancipatoacuteria In
Uma vida dedicada ao direito homenagem a Carlos Henrique de Carvalho Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1995 p 34-53
66Ressalte-se poreacutem que antes de 88 alguns juristas jaacute defendiam a forccedila normativa da Constituiccedilatildeo como o Prof Joseacute Afonso da
Silva Eacute de 1968 a primeira ediccedilatildeo da sua obra claacutessica A aplicabilidade das normas constitucionais que adotava claramente esta
32
perspectiva Todavia pelo clima nada propiacutecio ao constitucionalismo que reinava por aqui ateacute a nossa redemocratizaccedilatildeo a louvaacute-
vel pregaccedilatildeo dele e de outros juristas em prol da efetivaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo natildeo chegou a render maiores frutos
67Deve-se assinalar ainda a influecircncia marcante do novo constitucionalismo ibeacuterico neste movimento que tambeacutem pugnava pela
atribuiccedilatildeo de forccedila normativa agraves ambiciosas constituiccedilotildees de Portugal e Espanha entatildeo recentemente elaboradas apoacutes o fim de
experiecircncias autoritaacuterias naqueles paiacuteses A tiacutetulo de exemplo mencione-se a penetraccedilatildeo no paiacutes do pensamento do Professor de
Coimbra Joseacute Joaquim Gomes Canotilho especialmente da sua teoria sobre a Constituiccedilatildeo dirigente que ele posteriormente reviu
(cf J J Gomes Canotilho Constituiccedilatildeo dirigente e vinculaccedilatildeo ao legislador contributo para a compreensatildeo das normas constitu-
cionais programaacuteticas 2 ed Coimbra Coimbra 2001 - especialmente o prefaacutecio desta segunda ediccedilatildeo que daacute conta da mudanccedila
de posicionamento) bem como a difusatildeo das liccedilotildees do Professor Eduardo Garciacutea de Enterriacutea (cf La Constitucioacuten como Norma y el
Tribunal Constitucional Madrid Civitas 1981)
68Segundo a avaliaccedilatildeo atual de Luis Roberto Barroso personagem central do movimento o positivismo constitucional que deu
impulso ao movimento natildeo importava em reduzir o direito agrave norma mas sim em elevaacute-la a esta condiccedilatildeo pois ateacute entatildeo ele
havia sido menos do que norma (Curso de direito constitucional contemporacircneo Op cit p 224)
69Paulo Bonavides Curso de direito constitucional 5 ed Satildeo Paulo Malheiros 1994
70Eros Roberto Grau A ordem econocircmica na Constituiccedilatildeo de 88 interpretaccedilatildeo e criacutetica Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1996
71No acircmbito da Poacutes-Graduccedilatildeo em Direito da UERJ em que estou inserido desde 1997 primeiro como aluno e a partir de 2003 como
professor o Ricardo Lobo Torres teve papel central na difusatildeo do pensamento destes e de outros filoacutesofos entre os estudantes e o
proacuteprio corpo docente
72Cf Lecircnio Luiz Streck Hermenecircutica juriacutedica e(m) crise Op cit Eros Roberto Grau Ensaio e discurso sobre a interpreta-
ccedilatildeoaplicaccedilatildeo do direito Satildeo Paulo Malheiros 2002
73Nesta linha veja-se as obras que compotildeem a coletacircnea Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Direitos sociais funda-
mentos judicializaccedilatildeo e direitos sociais em espeacutecie Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 Ricardo Lobo Torres O miacutenimo existencial
e os direitos fundamentais Revista de Direito Administrativo n 177 p 20-49 1989 Ingo Wolfgang Sarlet A eficaacutecia dos direitos
fundamentais 9 ed Porto Alegre Livraria do Advogado 2008 Ana Paula de Barcellos A eficaacutecia juriacutedica dos princiacutepios o princiacute-
pio da dignidade da pessoa humana Op cit Marco Mazzeli Gouveia O controle judicial das omissotildees administrativas Rio de
Janeiro Forense 2003 Andreacuteas Krell Direitos sociais e controle judicial no Brasil e Alemanha os (des)caminhos de um direito
constitucional comparado Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2002
74Cf Gustavo Tepedino Temas de direito civil Rio de Janeiro Renovar 1999 Luiz Edson Fachin Estatuto juriacutedico do patrimocircnio
miacutenimo Rio de Janeiro Renovar 2001 Maria Celina Bodin de Moraes Danos agrave pessoa humana uma leitura civil-constitucional dos
danos morais Rio de Janeiro Renovar 2003 Teresa Negreiros Fundamentos para uma interpretaccedilatildeo constitucional do princiacutepio
da boa-feacute Rio de Janeiro Renovar 1998 Anderson Schreiber A proibiccedilatildeo do comportamento contraditoacuterio Rio de Janeiro Reno-
var 2005
75Cf Luciano Feldens A Constituiccedilatildeo penal a dupla face da proporcionalidade no controle das lei penais Porto Alegre Livraria do
Advogado 2005 Luis Carlos dos Santos Gonccedilalves Mandados expressos de criminalizaccedilatildeo e a proteccedilatildeo de direitos fundamentais na
Constituiccedilatildeo Brasileira de 1988 Belo Horizonte Foacuterum 2007
76Cf Gustavo Binenbojm Uma teoria do direito administrativo direitos fundamentais democracia e constitucionalizaccedilatildeo Rio de
Janeiro Renovar 2006 Alexandre dos Santos Aragatildeo Floriano de Azevedo Marques (Coord) Direito administrativo e seus novos
paradigmas Belo Horizonte Foacuterum 2008
77Cf Gustavo Binenbojm A nova jurisdiccedilatildeo constitucional brasileira legitimidade democraacutetica e instumentos de realizaccedilatildeo Rio de
Janeiro Renovar 2001 Claacuteudio Pereira de Souza Neto Jurisdiccedilatildeo constitucional democracia e racionalidade praacutetica Rio de
Janeiro Renovar 2002 Joseacute Adeacutercio Leite Sampaio A Constituiccedilatildeo reinventada pela jurisdiccedilatildeo constitucional Belo Horizonte Del
Rey 2002 Lecircnio Luiz Streck Jurisdiccedilatildeo constitucional e hermenecircutica Porto Alegre Livraria do Advogado 2002 Aacutelvaro Ricardo
de Souza Cruz Jurisdiccedilatildeo constitucional democraacutetica Belo Horizonte Del Rey 2004
78A expressatildeo dificuldade contramajoritaacuteria eacute de um claacutessico da teoria constitucional norte-americana Alexander Bickel La Cons-
titucioacuten como Norma y el Tribunal Constitucional 2 ed New Haven Yale University Press 1986
33
79Em siacutentese apertada o procedimentalismo sustenta que natildeo eacute papel da jurisdiccedilatildeo constitucional tutelar valores substantivos mas
apenas proteger os pressupostos necessaacuterios ao bom funcionamento da democracia Jaacute o substancialismo reconhece a legitimidade
da atuaccedilatildeo jurisdicional em favor da garantia e promoccedilatildeo de valores substantivos presentes na Constituiccedilatildeo O debate entre o
procedimentalismo identificado com as ideacuteias de autores como John Hart Ely e Juumlrgen Habermas e o substancialismo defendido
por teoacutericos como Ronald Dworkin e Laurence Tribe eacute reproduzido em praticamente toda a literatura contemporacircnea que trata de
Teoria ou Filosofia Constitucional Veja-se a propoacutesito a densa obra de Claacuteudio Ari Mello Democracia constitucional e direitos
fundamentais Porto Alegre Livraria do Advogado 2004
80Neoconstitucionalismo e constitucionalizaccedilatildeo do direito o triunfo tardio do direito constitucional no Brasil Op cit
81A crise paradigmaacutetica do direito no contexto da resistecircncia positivista ao (neo)constitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza
Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm Vinte anos da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Op cit p 203-228
82Nos vinte anos da carta cidadatilde do poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo Op cit
83Neoconstitucionalismo direitos fundamentais e controle de poliacuteticas puacuteblicas In Daniel Sarmento Flaacutevio Galdino (Org) Direitos
fundamentais estudos em homenagem ao prof Ricardo Lobo Torres Rio de Janeiro Renovar 2006 p 31-60
84Direitos humanos legitimidade e constitucionalismo In Daniel Sarmento Flaacutevio Galdino (Org) Direitos fundamentais estudos
em homenagem ao Prof Ricardo Lobo Torres Op cit p325-350
85Novos desafios agrave filtragem constitucional no momento do neoconstitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sar-
mento A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 251-270
86Neoconstitucionalismo a invasatildeo da Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Meacutetodo 2008
87Neoconstitucionalismo e positivismo juriacutedico Satildeo Paulo Landy 2006
88Teoria do direito e argumentaccedilatildeo racional temas de teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica op cit p 141-240
89Uma visatildeo criacutetica do neoconstitucionalismo In George Salomatildeo Leite Glauco Salomatildeo Leite Constituiccedilatildeo e efetividade constitu-
cional Salvador JusPodium 2008 p 43-60
90Neoconstitucionalismo entre a Ciecircncia do direito e o direito da ciecircncia In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento
Gustavo Binenbojm Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 p 187-202
91Cf Peticcedilatildeo 1246 MSSC julgada em 31011997 (obrigaccedilatildeo do Estado de realizar transplante de ceacutelulas mioblaacutesticas para salvar
a vida de crianccedila) Agravo de Instrumento no Recurso Extraordinaacuterio 271286RS DJU 24 nov 2000 (entrega de medicamentos
para portadores de HIV) e Agravo de Instrumento do Recurso Extraordinaacuterio nordm 410715-5 julgado em 22112005 (obrigaccedilatildeo de
fornecimento de vagas para educaccedilatildeo infantil pelo municiacutepio com atendimento em creches e preacute-escola)
92Recursos Extraordinaacuterios nordms 158215-4RS 161243-6DF 201819RJ
93Cf Mandado de Injunccedilatildeo 670ES Rel Min Gilmar Mendes julgado em 25102007 em que o STF revendo orientaccedilatildeo anterior
deu eficaacutecia normativa agrave sentenccedila proferida no mandado de injunccedilatildeo No caso decidiuse que ateacute o advento de lei regulamentado-
ra sobre a greve no serviccedilo puacuteblico o direito de greve poderia ser exercido obedecendo-se os limites impostos pela Lei 778389
que trata dos movimentos paredistas em serviccedilos essenciais no setor privado
94Sobre a tendecircncia agrave superaccedilatildeo da ideacuteia do Judiciaacuterio como legislador negativo na jurisdiccedilatildeo constitucional veja-se Joseacute Adeacutercio
Leite Sampaio A Constituiccedilatildeo reinventada pela jurisdiccedilatildeo constitucional Belo Horizonte Del Rey 2002 p 203-248
95Eacute lugar-comum dentre os autores que tratam da questatildeo associar tais mudanccedilas agrave pluralizaccedilatildeo das vozes na interpretaccedilatildeo consti-
tucional tema em que a referecircncia essencial no cenaacuterio germacircnico eacute Peter Haumlberle Veja-se a propoacutesito Peter Haumlberle Herme-
necircutica constitucional A sociedade aberta dos inteacuterpretes da Constituiccedilatildeo contribuiccedilatildeo para a interpretaccedilatildeo pluralista e procedi-
mental da Constituiccedilatildeo Traduccedilatildeo de Gilmar Ferreira Mendes Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1997 Veja-se ainda na doutrina
brasileira Gustavo Binenbojm A dimensatildeo do Amicus Curiae no processo constitucional brasileiro In Temas de direito constitu-
cional e administrativo Rio de Janeiro Renovar 2008 p 165-190
96ADIN 3510DF Relator Ministro Carlos Ayres Britto A accedilatildeo proposta contra o art 5ordm da Lei de Biosseguranccedila impugnava a auto-
rizaccedilatildeo de pesquisas com embriotildees humanos resultantes de fertilizaccedilatildeo in vitro que fossem inviaacuteveis ou estivessem congelados haacute
mais de trecircs anos A accedilatildeo foi julgada totalmente improcedente por 6 votos a 5
97ADPF nordm 54 A accedilatildeo que tem como relator o Ministro Marco Aureacutelio ainda natildeo foi julgada mas em seu bojo jaacute ocorreram diversas
audiecircncias puacuteblicas que provocaram intensa participaccedilatildeo da sociedade civil e grande interesse na miacutedia
34
98ADPF nordm 132 Relator Ministro Carlos Ayres Britto A accedilatildeo ainda foi julgada
99Mandados de Seguranccedila 26602DF 26603DF e 26604DF Informativo STF n 482
100Recurso Extraordinaacuterio 197917SP Rel p acoacuterdatildeo Min Ceacutesar Peluso DJU 18 fev 2005
101O livro de Alberto Carlos Almeida A cabeccedila do brasileiro lanccedilado em 2007 conteacutem pesquisas feitas sobre uma acuteseacuterie de temas
com pessoas de todas as classes sociais e regiotildees do paiacutes Uma das pesquisas eacute relativa agrave avaliaccedilatildeo das instituiccedilotildees Dentre as treze
avaliadas as duas que obtiveram menor aprovaccedilatildeo foram os partidos poliacuteticos (avaliaccedilatildeo positiva de 28 dos entrevistados) e o
Congresso (avaliaccedilatildeo positiva de 36 dos entrevistados) Cf Antonio Carlos Almeida A cabeccedila do brasileiro Rio de Janeiro Re-
cord 2007 p 187
102Cf Luis Roberto Barroso Judicializaccedilatildeo ativismo judicial e legitimidade democraacutetica Texto ainda ineacutedito gentilmente cedido
pelo autor
103Humberto Aacutevila por exemplo formula outra criacutetica importante de que o neoconstitucionalismo seria inadequado agrave realidade
constitucional brasileira jaacute que privilegia os princiacutepios e a Carta de 88 seria muito mais regulatoacuteria do que principioloacutegica (Neo-
constitucionalismo entre a ciecircncia do direito e o direito da ciecircncia Op cit p 188-192)
104Contudo natildeo eacute razoaacutevel estender esta criacutetica ao ponto de negar o caraacuteter democraacutetico da atuaccedilatildeo judicial Como ressaltou
Eugenio Rauacutel Zaffaroni uma instituiccedilatildeo natildeo eacute democraacutetica unicamente porque natildeo provenha de eleiccedilatildeo popular porque nem tudo
o que proveacutem desta origem eacute necessariamente aristocraacutetico Uma instituiccedilatildeo eacute democraacutetica quando seja funcional para o sistema
democraacutetico quer dizer quando seja necessaacuteria para a sua continuidade como ocorre com o judiciaacuterio (Poder judiciaacuterio crise
acertos e desacertos Traduccedilatildeo de Juarez Tavares Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1995 p 43)
105Cf Robert A Dahl Sobre a democracia Traduccedilatildeo de Beatriz Sidou Brasiacutelia UNB 2001 p 97-113 Juumlrgen Habermas Popular
Sovereignity as Procedure In James Bonham William Rehg Deliberative Democracy Cambridge The MIT Press 1997 p 35-66
106A questatildeo da tensatildeo e sinergia simultacircneas entre constitucionalismo e democracia eacute um dos debates mais fecundos da Teoria
Poliacutetica e da Filosofia Constitucional que tem atravessado o tempo desde o advento do constitucionalismo moderno no seacuteculo
XVIII Veja-se no debate contemporacircneo Jeremy Waldron Preocommitment and Disagreement In Larry Alexander Constitu-
cionalism Philosophical Foundations Cambridge Cambridge University Press 1998 p 271-299 Juumlrgen Habermas O Estado demo-
craacutetico de direito uma amarraccedilatildeo paradoxal de princiacutepios contraditoacuterios In Era das transiccedilotildees Traduccedilatildeo de Flaacutevio Beno Siebe-
neichler Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 2003 p 153-173 Carlos Santiago Nino La Constitucioacuten de la Democracia Deliberativa
Op cit Frank Michelman Brennan and Democracy Princeton Princeton University Press 1999 p 03-62 Stephen Holmes El
Precompromiso y la Paradoja de la Democracia In Jon Elster Rune Slagstad Constitucionalismo y Democracia Traduccedilatildeo de Mocircni-
ca Utrilla de Neira Mexico Fondo de Cultura Econocircmica 1999 p 217-262
107O problema da limitaccedilatildeo do legislador atual pelas decisotildees do constituinte adotadas no passado envolve a problemaacutetica da
partilha intergeracional de poder bem explicitada na fala de Jefferson que defendia que a cada 19 anos deveria ser elaborada
uma nova Constituiccedilatildeo nos Estados Unidos para que a Lei Maior daquele paiacutes natildeo se tornasse um mecanismo de governo dos mor-
tos sobre os vivos Em siacutentese apertada haacute na teoria poliacutetica contemporacircnea duas linhas principais de justificativa para a legiti-
midade destas restriccedilotildees
Uma eacute a teoria da democracia dualista defendida por Bruce Ackerman que sustenta que as decisotildees adotadas pelo proacuteprio povo
em contextos de grande mobilizaccedilatildeo ciacutevica devem ser protegidas do alcance da vontade dos representantes do povo formada em
momentos em que a cidadania natildeo esteja intensamente envolvida Esta teoria distingue a poliacutetica extraordinaacuteria correspondente
agravequeles momentos constitucionais da poliacutetica ordinaacuteria que se realiza atraveacutes das deliberaccedilotildees do dia a dia dos oacutergatildeos represen-
tativos Para a perspectiva ackermaniana a poliacutetica extraordinaacuteria - que natildeo exige necessariamente formalizaccedilatildeo procedimental
atraveacutes de assembleacuteia constituinte ou de emenda constitucional - se situa em patamar superior agrave poliacutetica ordinaacuteria e pode legiti-
mamente impor limites a esta (cf Bruce Ackerman We the people Foundations Cambridge The Belknap Press 1991 p 03-33)
Outra teoria eacute a do preacute-compromisso que jaacute foi advogada por Jon Elster Segundo ela eacute legiacutetimo subtrair do alcance das maiorias
determinadas questotildees fundamentais que expressam princiacutepios fundamentais de justiccedila poliacutetica ou garantam os pressupostos da
proacutepria democracia tendo em vista o risco de que no processo poliacutetico majoritaacuterio em momentos de irracionalidade o povo
35
possa ser viacutetima de suas proacuteprias fraquezas ou paixotildees momentacircneas atentando contra tais princiacutepios (cf Ulisses and Sirens
Cambridge Cambridge University Press 1979)
Ambas as concepccedilotildees - a primeira mais proacutexima ao republicanismo e a segunda de vieacutes mais liberal - tecircm a sua dose de procedecircn-
cia mas ensejam criacuteticas importantes Todavia foge a escopo do presente trabalho analisar esta questatildeo que eacute uma das mais
complexas da Filosofia Poliacutetica moderna e contemporacircnea Para uma visatildeo geral sobre o tema na literatura em liacutengua portuguesa
veja-se Oscar Vilhena Vieira A Constituiccedilatildeo e sua reserva de justiccedila Op cit Miguel Nogueira de Brito A Constituiccedilatildeo constituin-
te ensaio sobre o poder de revisatildeo da Constituiccedilatildeo Coimbra Coimbra 2000 Samantha Chantal Dobrowolski Op cit p 265-312
Rodrigo Brandatildeo Direitos fundamentais democracia e claacuteusulas peacutetreas Rio de Janeiro Renovar 2008 p 59-112
108Cf Michel Troper Justice Constitutionelle et Deacutemocratie In Pour une Theorie Juridique de LEacutetat Paris PUF 1994 p 317-328
Claacuteudio Pereira de Souza Neto Jurisdiccedilatildeo constitucional democracia e racionalidade praacutetica Op cit p 106-130 Gustavo Binen-
bojm A nova jurisdiccedilatildeo constitucional brasileira Op cit p 55-74
109Sobre o modelo revolucionaacuterio francecircs de constitucionalismo completamente avesso agrave ideacuteia de jurisdiccedilatildeo constitucional cf
Maurizio Fioravanti Constitucioacuten de la antiguumledad a nuestros dias Traduccedilatildeo de Manuel Martinez Neira Madrid Trotta 2001 p
120-132
110Cf Carl Schmitt La Defesa de la Constitucioacuten Madrid Tecnos 1983
111O constitucionalismo popular ou populismo constitucional eacute uma importante corrente no debate constitucional norte-americano
contemporacircneo que nega a legitimidade democraacutetica do controle de constitucionalidade advogando que deve caber ao proacuteprio
povo e natildeo a uma elite de juiacutezes natildeo eleitos com assento na Suprema Corte o poder de definir o sentido das claacuteusulas vagas que
abundam no texto constitucional daquele paiacutes Na defesa desta tese satildeo empregados tanto argumentos de teoria e filosofia poliacuteti-
ca de caraacuteter mais universal como razotildees histoacutericas relacionadas agrave evoluccedilatildeo do constitucionalismo estadunidense Veja-se nesta
linha Mark Tushnet Taking the Constitution Away from the Courts Princeton Princeton University Press 1999 Jeremy Waldron
Precommitment and Disagreement Op cit Larry D Kramer The People Themselves Popular constitutionalism and judicial re-
view New York Oxford University Press 1994
Ateacute algumas deacutecadas atraacutes a oposiccedilatildeo agrave jurisdiccedilatildeo constitucional nos Estados Unidos partia em regra da Direita que natildeo se con-
formava com a jurisprudecircncia extremamente liberal em mateacuteria de direitos fundamentais estabelecida pela Corte entre os anos
50 e 70 Atualmente uma boa parte dos opositores agrave judicial review situa-se agrave esquerda do espectro poliacutetico e talvez a nova linha
profundamente conservadora daquele Tribunal ajude a explicar esta mudanccedila
112Sobre a Era de Lochner veja-se Laurence H Tribe American Constitutional Law 2 ed Mineola The Foundation Press 1988 p
567-581 Paul Brest et al Processes of Constitucional Decisionmaking 4 ed New York Aspen Publishers 2000 p 337-354
113Towards Juristocracy hellip Op cit
114Tratei do tema no artigo Direito adquirido emenda constitucional democracia e justiccedila social In Livres e iguais Op cit p
03-32
115Cf Charles R Epp The Rights Revolution Chicago The University of Chicago Press 1998 p 26-70 Owen Fiss The Law as It
Could Be New York New York University Press 2003 p 244-249
116A importacircncia e as peculiaridades da interpretaccedilatildeo legislativa da Constituiccedilatildeo satildeo exploradas em importante obra coletiva
Richard W Bauman Tsvi Kahana The Least Examined Branch The Role of Legislatures in the Constitutional State Cambridge
Cambridge University Press 2006
117Cf em tom ainda mais ceacutetico do que o adotado neste estudo Martonio MontAlverne Barreto Lima Jurisdiccedilatildeo Constitucional
um problema da teoria da democracia poliacutetica In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Gilberto Bercovici Joseacute Filomeno de Moraes
Filho Martonio MontAlverne Teoria da Constituiccedilatildeo estudos sobre o lugar da poliacutetica no direito constitucional Rio de Janeiro
Lumen Juris 2003 p 199-261 Conrado Huumlbner Mendes Controle de constitucionalidade e democracia Rio de Janeiro Elsevier
2008
36
118Para criacutetica semelhante no contexto germacircnico veja-se Ingeborg Maus O judiciaacuterio como superego da sociedade sobre o papel
da atividade jurisprudencial na sociedade oacuterfatilde Traduccedilatildeo de Martonio MontAlverne Barreto Lima Paulo Antonio Menezes de Albu-
querque Anuaacuterio dos Cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito da Faculdade de Direito de Recife n 11 2000
119Eu aprofundo a anaacutelise deste ponto no meu artigo Interpretaccedilatildeo constitucional preacute-compreensatildeo e capacidades institucionais do
inteacuterprete In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm (Coord) Vinte anos da Constituiccedilatildeo Federal
de 1988 Op cit p 311-322 E a necessidade de optar por teoria de interpretaccedilatildeo que leve em consideraccedilatildeo as capacidades
institucionais reais dos juiacutezes comparando-as com as dos agentes de outras instituiccedilotildees eacute explorada no importante estudo de Cass
Sunstein Adrian Vermeulle Interpretations and Institutions Chicago Working Papers in Law amp Economics 2002 p 01-55 bem
como no livro de Adrian Vermeulle Judging under Uncertainty An Institutional Theory for Legal Interpretation Cambridge Har-
vard University Press 2006
120Dentre as honrosas exceccedilotildees mencione-se Luiacutes Roberto Barroso autor de importante artigo com sugestotildees para a reforma poliacuteti-
ca no paiacutes Reforma poliacutetica uma proposta de sistema de governo eleitoral e partidaacuterio para o Brasil Revista de Direito do Esta-
do n 3 p 287-360 jul set 2006
121Sobre o ethos judicial no Brasil veja-se a pesquisa de Maria Tereza Sadek Magistrados uma imagem em movimento Rio de
Janeiro FGV 2006
122Em sentido semelhante veja-se Michael J Perry The Constitution the Courts and Human Rights New Haven Yale University
Press 1982 p 91-145
123Neste ponto entendo que um standard importante que deveria ser adotado para controle de constitucionalidade eacute o de que
quanto maiores forem as credencias democraacuteticas de um ato normativo mais autocontido deve ser o Poder Judiciaacuterio ao avaliar a
sua constitucionalidade Na minha opiniatildeo estas credencias democraacuteticas devem ser aferidas tanto por criteacuterios qualitativos - eg
grau de participaccedilatildeo social no processo legislativo qualidade do processo deliberativo que a antecedeu - como por criteacuterios quanti-
tativos - percentual de votos favoraacuteveis agrave medida Em sentido semelhante veja-se Claacuteudio Ari Mello Democracia e direitos funda-
mentais Op cit p 298
124Em sentido proacuteximo apontam as liccedilotildees de Gustavo Binenbojm e Humberto Aacutevila O primeiro tratando do controle judicial dos
atos administrativos averbou que quanto maior for o grau de tecnicidade da mateacuteria objeto de decisatildeo por oacutergatildeos dotados de
expertise e experiecircncia menos intenso deve ser o grau de controle judicial (Uma teoria do direito administrativo Op cit p
236) Jaacute o segundo salientou que o acircmbito de controle pelo Judiciaacuterio deveraacute ser tanto menor quanto mais difiacutecil e teacutecnico for
o juiacutezo exigido para o tratamento da mateacuteria (Teoria dos princiacutepios Op cit p 126)
125Um exemplo extremado deste posicionamento estaacute na argumentaccedilatildeo adotada pelo STF no julgamento da ADIN 2797 Rel Min
Sepuacutelveda Pertence em que se reconheceu a inconstitucionalidade formal de lei que pretendia interpretar a Constituiccedilatildeo Para o
STF natildeo pode a lei ordinaacuteria pretender impor como seu objeto imediato uma interpretaccedilatildeo a Constituiccedilatildeo a questatildeo eacute de in-
constitucionalidade formal iacutensita a toda norma da gradaccedilatildeo inferior que se proponha a ditar interpretaccedilatildeo de norma superior
Na questatildeo de fundo abordada naquele caso entendo que o STF estava certo Tratava-se de invalidar uma norma legal que esten-
dera o foro de prerrogativa de funccedilatildeo a ex-ocupantes de cargos puacuteblicos visando a restaurar antiga jurisprudecircncia do STF sedi-
mentada na Suacutemula 394 do Tribunal que acabara de ser cancelada O princiacutepio republicano natildeo era compatiacutevel com tal medida
que configurava niacutetido privileacutegio O que me parece inaceitaacutevel e profundamente anti-democraacutetico com a devida vecircnia natildeo eacute o
resultado alcanccedilado pela Corte - com o qual concordo - mas o argumento empregado de que o legislador natildeo pode interpretar a
Constituiccedilatildeo
126Existe hoje uma fecunda produccedilatildeo acadecircmica no cenaacuterio anglo-saxatildeo sobre as vantagens de modelos teoacutericos que favoreccedilam
diaacutelogos entre diversos oacutergatildeos e instituiccedilotildees na interpretaccedilatildeo constitucional ao inveacutes de afirmarem a exclusividade ou mesmo a
supremacia do Judiciaacuterio nesta seara Veja-se a propoacutesito Laurence G Sager Justice in Plainclothes A Theory of American Con-
stitutional Practice New haven Yale University Press 2004 Mark Tushnet Weak Courts Strong Rights Judicial Review and Social
Welfare Rights in Comparative Constitutional Law Princeton Princeton University Press 2008 Mark C Miller Jeb Barnes (Ed)
Making Police Making Law An Interbranch Perspective Washington DC Georgetown University Press 2004
37
127Colhi o exemplo no estudo de Oscar Vilhena Vieira Supremocracia In Daniel Sarmento (Org) Filosofia e teoria constitucional
contemporacircnea Rio de Janeiro Lumen Juris 2009
128Como um natildeo-positivista tenho a necessaacuteria imparcialidade para criticar os equiacutevocos da doutrina brasileira nas suas invectivas
contra o positivismo que muitas vezes caracterizam verdadeira falaacutecia do espantalho ataca-se natildeo a proacutepria teoria positivista
mas uma distorcida caricatura dela Duas afirmaccedilotildees erradas que eu mesmo jaacute fiz em textos anteriores satildeo muito frequumlentes a
de que o positivismo recusa a aplicaccedilatildeo dos princiacutepios juriacutedicos e a de que ele teria sido a Filosofia do Direito cultivada na Alema-
nha nazista
Quanto ao primeiro ponto natildeo haacute nenhuma incompatibilidade loacutegica entre positivismo e princiacutepios desde que os princiacutepios este-
jam devidamente incorporados na ordem juriacutedico-positiva Vaacuterios autores positivistas contemporacircneos jaacute citados neste estudo
como Luis Prietro Sanchiacutes Luigi Ferrajoli e Gregorio Peces-Barba atribuiacuteram espaccedilo importante para princiacutepios nas suas teorias
Mesmo no Direito Puacuteblico brasileiro juristas de inspiraccedilatildeo positivista kelseniana construiacuteram suas teorias com apoio em argumen-
taccedilatildeo principioloacutegica como o falecido Geraldo Ataliba e Celso Antonio Bandeira de Mello
No que tange ao segundo ponto - a chamada redutio ad hitlerum - os estudos mais autorizados de Histoacuteria do Direito comprovam
que natildeo foi o positivismo a teoria juriacutedica dominante no nazismo mas uma espeacutecie de jusnaturalismo de inspiraccedilatildeo hegeliana que
se insurgia contra o formalismo e recorria com frequumlecircncia a conceitos muito vagos para justificar a barbaacuterie como os de comuni-
dade popular (Volksgemeinschaft) Veja-se a propoacutesito Michael Stolleis The Law under the Swastika Studies on Legal History in
Nazi Germany Traduccedilatildeo de Thomas Dunlap Chicago The University of Chicago Press 1998
129Cf Joseacute Joaquim Gomes Canotilho Direito constitucional e Teoria da Constituiccedilatildeo Coimbra Almedina 1998 p 1036
130Sobre a importacircncia das regras veja-se Frederick Schauer Playing by the Rules A Philosophical Exaxamination of Rule-Bases
Decision-Making in Law and Life Oxford Oxford University Press 1998 Humberto Aacutevila Neoconstitucionalismo entre a ciecircncia do
direito e o direito da ciecircncia Op cit Noel Struchiner Posturas institucionais e modelagem institucional a dignidade (contingente)
do formalismo juriacutedico In Daniel Sarmento Filosofia e teoria constitucional contemporacircnea Op cit
131Esta eacute expressatildeo empregada por Ana Paula de Barcellos O direito constitucional em 2006 Revista de Direito do Estado n 5 p
03-23 janmar 2007
132Cf Chaiumlm Perelman P Fories La Motivation des Deacutecisions de Justice Bruxelas Eacutemile Bruylant 1978
133Sobra a influecircncia do jeitinho no Direito brasileiro cf Keith Rosen O jeito na cultura juriacutedica brasileira Rio de Janeiro Reno-
var 1997
134Sobre o patrimonialismo no Brasil veja-se Raimundo Faoro Os donos do poder 8 ed Rio de Janeiro Globo 1989 v 2 p 729-
750
135Raiacutezes do Brasil 26 ed Satildeo Paulo Companhia das Letras 1995
136Cf Joseacute Murilo de Carvalho Brasileiro Cidadatildeo In Pontos e bordados escritos de histoacuteria e poliacutetica Belo Horizonte Ed
UFMG 2005 p 275-288
137Cf Gustavo Zagrebelsky Il Diritto Mite Op cit p 15-19
138Cf Marcelo Neves A constitucionalizaccedilatildeo simboacutelica Satildeo Paulo Acadecircmica 1994
139A obra de Niklas Luhman eacute vasta e complexa e seus textos satildeo de difiacutecil compreensatildeo para os natildeo iniciados Veja-se do proacuteprio
autor Sociologia do direito I e II Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 1983 e 1985 Sistema Jurididico y Dogmaacutetica Juriacutedica Madrid
Centro de Estuacutedios Constitucionales 1983 Confira-se tambeacutem a coletacircnea organizada por Andreacute-Jean Arnaud Dalmir Lopes Jr Do
sistema social agrave sociologia juriacutedica Rio de Janeiro Lumen Juris 2004
140Sobre a autopoieses do Direito veja-se tambeacutem a obra importante de Guumlnther Teubner O direito como sistema autopoieacutetico
Traduccedilatildeo de Joseacute Engracia Nunes Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1993
141Cf Luis Roberto Barroso Neoconstitucionalismo e a constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit
142Esta era basicamente a visatildeo de Hans Kelsen (Cf Hans Kelsen Jurisdiccedilatildeo constitucional Traduccedilatildeo de Alexandre Krug et al Satildeo
Paulo Martins Fontes 2003 p 153) Para uma anaacutelise criacutetica desta posiccedilatildeo veja-se Luis Prietro Sanchiacutes Presupuestos ideoloacutegicos
y doctrinales de la jurisdicioacuten constitucional In Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales Op cit p 21-100
38
143Cf Christian Starck La suprematie La Suprematie de la Constitution et la Justice Constitutionnelle In La Constitution Cadre et
Mesure du Droit Traduccedilatildeo de Freacutederic Weill Paris Econocircmica 1994 p 26-30 Ernst- Wolfgang Boumlckenfoumlrde Les meacutethodes
dinterpretation de la Constitution Un bilan critique In Le Droit lEacutetat et la Constitution Democratique Traduccedilatildeo de Olivier
Jouanjan Paris LGDJ 2000 p 249-250 Virgiacutelio Afonso da Silva Constitucionalizaccedilatildeo do direito os direitos fundamentais nas
relaccedilotildees entre particulares Satildeo Paulo Malheiros 2005 p 107-131 Daniel Sarmento Ubiquumlidade constitucional os dois lados da
moeda Op cit Luis Roberto Barroso Curso de Direito Constitucional Contemporacircneo Op cit p 391-394 Alceu Mauriacutecio Jr
Judicializaccedilatildeo da poliacutetica e a crise do direito constitucional a Constituiccedilatildeo entre ordem marco e ordem fundamenta Revista de
Direito do Estado n 10 p 125-142 abrjun 2008
144Der Staat der Industriegesellshaft 2 ed Muumlnchen Beck 1971 p 144 Apud Robert Alexy Posfaacutecio In Teoria dos direitos
fundamentais Op cit p 578
145De acordo com Carlos Santiago Nino o perfeccionaismo eacute la concepcioacuten seguacuten la cual es una misioacuten legiacutetima del Estado hacer
que los individuos acepten y materializen ideales vaacutelidos de virtud personal Seguacuten este enfoque el Estado no puede permanecer
neutral respecto de concepciones de lo bueno en la vida y debe adoptar las medidas educativas punitorias etc que sean necesa-
rias para que los indiviacuteduos ajusten su vida a los verdaderos ideales de virtud y del bien (Eacutetica y Derechos Humanos Un ensayo de
fundamentacioacuten 2 ed Buenos Aires Astrea 1989 p 413)
146Daniel Sarmento Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas 2 ed Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 Sobre o tema na literatura
nacional veja-se tambeacutem Wilson Antocircnio Steinmetz A vinculaccedilatildeo dos particulares aos direitos fundamentais Satildeo Paulo Malheiros
2004 Virgiacutelio Afonso da Silva Constitucionalizaccedilatildeo do direito os direitos fundamentais nas relaccedilotildees entre particulares Op cit
Ingo Wolfgang Sarlet Direitos fundamentais e direito privado algumas consideraccedilotildees em torno da vinculaccedilatildeo dos particulares aos
direitos fundamentais In Ingo Wolfgang Sarlet (Org) A Constituiccedilatildeo concretizada Porto Alegre Livraria do Advogado 1999 p
129-173 Jane Reis Gonccedilalves Pereira Apontamentos sobre a aplicaccedilatildeo das normas de direito fundamental nas relaccedilotildees juriacutedicas
entre particulares In Luis Roberto Barroso (Org) A nova interpretaccedilatildeo constitucional ponderaccedilatildeo direitos fundamentais e
relaccedilotildees privadas Rio de Janeiro Renovar 2003 p 119-192
147Sobre a questatildeo da (i)legitimidade do perfeccionismo no Direito veja-se Joel Feinberg Rights Justice and the Bounds of Liber-
ty Princeton Princeton University Press 1980 Carlos Santiago Nino Eacutetica y Derechos Humanos Op cit p 413-446 Rainer Forst
Contexts of Justice Political Philosophy beyond Liberalism and Communitarianism Traduccedilatildeo de John M M Farrel Berkeley Uni-
versity of Califoacuternia Press 2001 p 30-87 Macaacuterio Alemany El Paternalismo Juriacutedico Madrid Iustel 2006
148Um sofisticado modelo que busca conciliar a constitucionalizaccedilatildeo do Direito com a democracia estaacute exposto no Poacutesfaacutecio agrave Teo-
ria dos Direitos Fundamentais de Robert Alexy acima citado Veja-se ainda Konrad Hesse Concepto y Cualidad de la Constitu-
cion In Escritos de Derecho Constitucional Traduccedilatildeo de Pedro Cruz Villaloacuten 2 ed 1992 p 03-29
149Tentei articular a minha teoria sobre eficaacutecia horizontal dos direitos fundamentais com este objetivo Cf Daniel Sarmento
Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas Op cit p 141-182 259-272
150Sobre el Neoconstitucionalismo y sus Implicaciones Op cit p 117
151Aqui entendo que o simples reconhecimento da penetraccedilatildeo da Moral no Direito preconizada pelos neoconstitucionalistas brasi-
leiros natildeo eacute suficiente jaacute que certas concepccedilotildees morais podem tornar o ordenamento ainda mais opressivo do que jaacute eacute Afinal
nem sempre a moralizaccedilatildeo do Direito se daacute na direccedilatildeo da emancipaccedilatildeo dos excluiacutedos Veja-se por exemplo a famosa polecircmica
jusfilosoacutefica entre Lord Patrick Devlin e Herbert Hart nos anos 60 na Inglaterra a propoacutesito do uso do Direito Penal para promoccedilatildeo
de Moral em que o primeiro a partir de uma posiccedilatildeo proacute-moral sustentava a legitimidade da criminalizaccedilatildeo da conduta homos-
sexual que o segundo contestava (Cf Lord Patrick Devlin Morals and Criminal Law In Ronald Dworkin (Ed) The Philosophy of
Law Op cit p 66-82 Herbert Hart Immorality and Treason In Idem ibidem)
Eacute preciso assentar as bases criacuteticas desta Moral que deve penetrar o Direito para evitar que o moralismo conservador seja expulso
do ordenamento pela porta da frente superado pela legislaccedilatildeo moderna em razatildeo da progressiva liberalizaccedilatildeo da sociedade mas
volte pela porta dos fundos atraveacutes da argumentaccedilatildeo juriacutedica dos juiacutezes lastreada em conceitos vagos como ordem puacuteblica e
bons constumes ou em standards como o comportamento do bom pai de famiacutelia
39
21
princiacutepios em uma transferecircncia de poder decisoacuterio do Legislativo que eacute eleito para o Judici-
aacuterio que natildeo eacute
Natildeo pretendo sustentar com isso que se deva retroceder ao tempo em que os princiacutepios natildeo
eram aplicados pelos juiacutezes brasileiros Tambeacutem os princiacutepios satildeo essenciais na ordem juriacutedica
pois conferem mais plasticidade ao Direito - o que eacute essencial numa sociedade hiper-complexa
como a nossa - e permitem uma maior abertura da argumentaccedilatildeo juriacutedica agrave Moral e ao mundo
empiacuterico subjacente O importante eacute encontrar uma justa medida que natildeo torne o processo de
aplicaccedilatildeo do Direito amarrado demais como ocorreria num sistema baseado exclusivamente
em regras nem solto demais como sucederia com um que se fundasse apenas em princiacutepios
Penso que eacute chegada a hora de um retorno do pecircndulo no Direito brasileiro131 que sem des-
cartar a importacircncia dos princiacutepios e da ponderaccedilatildeo volte a levar a seacuterio tambeacutem as regras e a
subsunccedilatildeo
Ademais naquelas hipoacuteteses em que a aplicaccedilatildeo de princiacutepios for realmente apropriada ela
deve dar-se de forma mais racional e fundamentada Deve-se adotar a premissa de que quanto
mais vaga for a norma a ser aplicada e mais intenso o componente volitivo envolvido no pro-
cesso decisoacuterio maior deve ser o ocircnus argumentativo do inteacuterprete no sentido de mostrar que
a soluccedilatildeo por ele adotada eacute a que melhor realiza os valores do ordenamento naquele caso con-
creto132 A tendecircncia atual de invocaccedilatildeo frouxa e natildeo fundamentada de princiacutepios colide com a
loacutegica do Estado Democraacutetico de Direito pois amplia as chances de arbiacutetrio judicial gera inse-
guranccedila juriacutedica e atropela a divisatildeo funcional de poderes que tem no ideaacuterio democraacutetico um
dos seus fundamentos - a noccedilatildeo baacutesica de que as decisotildees sobre o que os cidadatildeos e o Estado
podem e natildeo podem fazer devem ser tomadas preferencialmente por quem represente o povo
e seja por ele escolhido
E haacute na sociedade brasileira traccedilos que tornam ainda mais perigosa esta tendecircncia agrave frouxidatildeo
e emotividade na metodologia juriacutedica Nossa cultura caracteriza-se muito mais pelo jeiti-
nho133 e pelo patrimonialismo134 do que pela valorizaccedilatildeo do cumprimento impessoal de regras
O brasileiro - jaacute dizia Seacutergio Buarque de Holanda135 - eacute o homem cordial que tende a antepor
a loacutegica privada do compadrio e da simpatia agrave racionalidade objetiva das leis Esta singularida-
de das nossas relaccedilotildees sociais natildeo atua de forma neutra em relaccedilatildeo a todos os cidadatildeos Ela
implica na adoccedilatildeo de posturas estatais em geral muito benevolentes em relaccedilatildeo aos donos do
poder e seus apaniguumlados e de posiccedilotildees muito mais duras dirigidas aos grupos excluiacutedos e mar-
ginalizados136 Uns poucos acabam pairando acima das leis que natildeo os alcanccedilam para limitar a
sua conduta ou sancionar os seus desvios enquanto outros permanecem abaixo dela sendo
22
atingidos apenas pelo braccedilo punitivo do Estado pois a violaccedilatildeo rotineira dos seus direitos eacute
naturalizada tornando-se invisiacutevel
Neste quadro cabe indagar sob a perspectiva de uma sociologia da interpretaccedilatildeo constitucio-
nal ateacute que ponto a introduccedilatildeo entre noacutes de uma dogmaacutetica fluida - a expressatildeo eacute de Gusta-
vo Zagrebelsky137 um dos iacutecones do neoconstitucionalismo - natildeo pode ter como efeito colateral
o agravamento de patologias que marcam as nossas relaccedilotildees sociais Seraacute que o nosso Direito
precisa de mais rigidez ou de maior maleabilidade Ao fim e ao cabo quem tende a se benefi-
ciar com a adoccedilatildeo de uma hermenecircutica juriacutedica mais flexiacutevel
Uma reflexatildeo importante sobre tema correlato foi empreendida por Marcelo Neves138 a partir
das categorias da teoria sistecircmica de Niklas Luhman Para Luhman139 em apertada siacutentese o
Direito nas hipercomplexas sociedades modernas seria autopoieacutetico140 pois consistiria num
subsistema social estruturalmente fechado em relaccedilatildeo ao meio envolvente que operaria de
acordo com um coacutedigo binaacuterio proacuteprio - o liacutecito iliacutecito As influecircncias do meio envolvente so-
bre o Direito seriam filtradas atraveacutes deste coacutedigo assegurando a autonomia da esfera juriacutedica
diante dos outros subsistemas sociais como a Economia a Poliacutetica a Religiatildeo etc Contudo
Marcelo Neves sustenta que em sociedades perifeacutericas como o Brasil natildeo se desenvolveu ple-
namente este fechamento estrutural do Direito Por aqui fatores como a nossa constituciona-
lizaccedilatildeo simboacutelica geraram uma insuficiente diferenciaccedilatildeo do Direito em relaccedilatildeo a outros sub-
sistemas sociais permitindo que elementos a princiacutepio estranhos ao coacutedigo binaacuterio do juriacutedico -
como a questatildeo do poder poliacutetico e do poder econocircmico - se infiltrem sistematicamente nos
processos de aplicaccedilatildeo das normas condicionando o seu resultado A teoria dos sistemas de
Luhman natildeo funcionaria bem entre noacutes pois teriacuteamos um Direito em boa parte alopoieacuteti-
coPara tal perspectiva esta maior abertura do Direito ao meio envolvente natildeo assume o po-
tencial emancipatoacuterio preconizado pela teoria neoconstitucionalista Ela funciona muito mais
como um mecanismo de cristalizaccedilatildeo de diferenccedilas sociais mantendo a hiper-inclusatildeo de uns
ao preccedilo da exclusatildeo de outros
Esta reflexatildeo de Marcelo Neves natildeo se dirigiu ao debate metodoloacutegico contemporacircneo envol-
vendo princiacutepios e regras ponderaccedilatildeo e subsunccedilatildeo etc Poreacutem entendo que ela pode ter algu-
ma pertinecircncia tambeacutem aqui pelo menos para nos advertir sobre o perigo de que o neoconsti-
tucionalismo com a fluidez metodoloacutegica e abertura do Direito a outros domiacutenios que preconi-
za possa acabar tornando-se um belo roacutetulo para justificar mais do mesmo patrimonialismo
desigualdade jeitinho Nesta perspectiva a novidade do neoconstitucionalismo poderia pare-
cer com aquela advogada pelo Priacutencipe de Salinas em famosa passagem do romance O Leopar-
do de Giuseppe Lampedusa quando defendia no contexto da crise da aristocracia italiana do
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final do seacuteculo XIX a necessidade de mudanccedilas urgentes no governo para que ao final as
coisas pudessem permanecer exatamente do jeito que sempre foram
Natildeo penso que esta seja uma consequumlecircncia necessaacuteria da adoccedilatildeo de uma perspectiva juriacutedica
mais principialista no Brasil O maior cuidado metodoloacutegico adicionado agrave adoccedilatildeo de uma dire-
triz hermenecircutica substantiva que afirme a missatildeo essencial do Direito de assegurar justiccedila e
seguranccedila agraves pessoas tratando-as como livres e iguais pode minimizar as possibilidades de um
uso enviesado da teoria neoconstitucional que acabe favorecendo aos mesmos de sempre
Mas diante das nossas tradiccedilotildees natildeo haacute como negar que os riscos satildeo elevados
c) Neoconstitucionalismo e panconstitucionalizaccedilatildeo
Uma das caracteriacutesticas do neoconstitucionalismo eacute a defesa da constitucionalizaccedilatildeo do Direi-
to Sustenta-se que a irradiaccedilatildeo das normas constitucionais por todo o ordenamento contribui
para aproximaacute-lo dos valores emancipatoacuterios contidos nas constituiccedilotildees contemporacircneas 141A
Constituiccedilatildeo natildeo eacute vista mais como uma simples norma normarum - cuja finalidade principal eacute
disciplinar o processo de produccedilatildeo de outras normas142 Ela passa a ser enxergada como a en-
carnaccedilatildeo dos valores superiores da comunidade poliacutetica que devem fecundar todo o sistema
juriacutedico Neste modelo cabe ao inteacuterprete natildeo soacute aplicar diretamente os ditames constitucio-
nais agraves relaccedilotildees sociais como tambeacutem reler todas as normas e institutos dos mais variados ra-
mos do Direito agrave luz da Constituiccedilatildeo emprestando-lhes o sentido que mais promova os objeti-
vos e a axiologia da Carta
A constitucionalizaccedilatildeo do Direito de que cogita o neoconstitucionalismo natildeo eacute aquela que resul-
ta do caraacuteter excessivamente analiacutetico da Constituiccedilatildeo e leva ao entricheiramento de meras
opccedilotildees conjunturais do constituinte originaacuterio ou derivado despidas de maior importacircncia ou
dignidade Este eacute um fenocircmeno caracteriacutestico da Carta de 88 que se excedeu no casuiacutesmo e
nos detalhes elevando ao seu texto meros interesses corporativos ou decisotildees de momento
sem focirclego para perdurarem no tempo A constitucionalizaccedilatildeo louvada e defendida pelo neo-
constitucionalismo eacute aquela que parte de uma interpretaccedilatildeo extensiva e irradiante dos direitos
fundamentais e dos princiacutepios mais importantes da ordem constitucional Aqui contudo pode-
se discutir ateacute que ponto o fenocircmeno eacute legiacutetimo Poucos discordaratildeo pelo menos no Brasil de
que alguma constitucionalizaccedilatildeo do Direito eacute positiva e bem-vinda por semear o ordenamento
com os valores humanitaacuterios da Constituiccedilatildeo Poreacutem pode-se objetar contra as teses extrema-
das sobre este processo que acabam amputando em demasia o espaccedilo de liberdade do legisla-
dor em detrimento da democracia 143
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Com efeito quem defende que tudo ou quase tudo jaacute estaacute decidido pela Constituiccedilatildeo e que o
legislador eacute um mero executor das medidas jaacute impostas pelo constituinte nega por conse-
quumlecircncia a autonomia poliacutetica ao povo para em cada momento da sua histoacuteria realizar as suas
proacuteprias escolhas O excesso de constitucionalizaccedilatildeo do Direito reveste-se portanto de um
vieacutes antidemocraacutetico Esta ordem de preocupaccedilotildees levou Ersnt Forsthof na Alemanha a criti-
car as teorias que viam a Constituiccedilatildeo como uma espeacutecie de genoma juriacutedico () do qual tudo
deriva do Coacutedigo Penal ateacute a lei sobre a fabricaccedilatildeo de termocircmetros144 E a questatildeo torna-se
ainda mais delicada diante da constataccedilatildeo de que pela abertura semacircntica dos direitos fun-
damentais e dos princiacutepios - principal mateacuteria-prima da constitucionalizaccedilatildeo do Direito - o seu
principal agente acaba sendo o Poder Judiciaacuterio ao dar a uacuteltima palavra sobre a interpretaccedilatildeo
daquelas claacuteusulas Daiacute porque o debate sobre a constitucionalizaccedilatildeo do Direito se imbrica
inexoravelmente com as discussotildees a propoacutesito da judicializaccedilatildeo da poliacutetica e do decisionismo
referidas acima
Ademais a constitucionalizaccedilatildeo do Direito tambeacutem suscita outra linha de preocupaccedilotildees rela-
cionada ao perfeccionismo moral145 na esfera privada No Brasil assim como em muitos outros
paiacuteses jaacute se assentou a ideacuteia de que os direitos fundamentais natildeo se dirigem apenas contra o
Estado vinculando tambeacutem os particulares Entre noacutes tem prevalecido na doutrina a ideacuteia que
eu mesmo defendi em outro estudo146 que a eficaacutecia dos direitos fundamentais nas relaccedilotildees
privadas eacute direta e imediata Em outras palavras entende-se que a proacutepria Constituiccedilatildeo jaacute inci-
de nas relaccedilotildees privadas independentemente de mediaccedilotildees legislativas e que pode gerar o-
brigaccedilotildees positivas ou negativas para os indiviacuteduos e natildeo soacute para os poderes puacuteblicos sempre
no afatilde de proporcionar uma proteccedilatildeo mais completa agrave dignidade humana Ateacute aqui nada a
contestar
Poreacutem o reconhecimento da vinculaccedilatildeo dos particulares agrave Constituiccedilatildeo suscita um risco que
natildeo pode ser ignorado o de imposiccedilatildeo agraves pessoas supostamente em nome de valores constitu-
cionais de comportamentos e estilos de vida que elas proacuteprias rejeitam em detrimento da sua
liberdade existencial Para dar um exemplo bem tosco seria terriacutevel se o Direito em nome do
princiacutepio da solidariedade social pudesse impor agraves pessoas que demonstrassem afetos e senti-
mentos que elas natildeo possuem genuinamente Ou se em nome da isonomia pretendesse inter-
ferir nas escolhas subjetivas e emocionais que os indiviacuteduos fazem nas suas vidas privadas A
constitucionalizaccedilatildeo neste sentido poderia converter-se num pretexto para o exerciacutecio de um
paternalismo anti-liberal em que as pessoas seriam forccediladas a conformarem-se agraves expectativas
sociais forjadas a partir de pautas de accedilatildeo politicamente corretas com apoio na Constitui-
ccedilatildeo147
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Nenhuma destas duas questotildees eacute insuperaacutevel Eacute possiacutevel aceitar e aplaudir a constitucionaliza-
ccedilatildeo do Direito - fenocircmeno em geral positivo por aproximar a racionalidade emancipatoacuteria da
Constituiccedilatildeo do dia-a-dia das pessoas - mas defender que ela seja temperada por outras preo-
cupaccedilotildees igualmente essenciais no Estado Democraacutetico de Direito com a autonomia puacuteblica e
privada dos cidadatildeos Pode-se reconhecer a legitimidade da constitucionalizaccedilatildeo do Direito
mas numa medida em que natildeo sacrifique em excesso agrave liberdade de conformaccedilatildeo que numa
democracia deve caber ao legislador para realizar opccedilotildees poliacuteticas em nome do povo148 Pode-
se da mesma forma afirmar a incidecircncia direta da Constituiccedilatildeo nas relaccedilotildees privadas mas
sem invadir a esfera das opccedilotildees existenciais da pessoa - que de resto eacute protegida pela proacutepria
Constituiccedilatildeo das ingerecircncias perfeccionistas do Estado e da sociedade149
5 Conclusatildeo Ao fim da leitura destas paacuteginas o leitor pode estar se indagando se eu me alinho ou natildeo ao
neoconstitucionalismo A minha resposta eacute depende da compreensatildeo que se tenha sobre o ne-
oconstitucionalismo Se entendermos o neoconstitucionalismo de acordo com a conhecida defi-
niccedilatildeo de Luis Prietro Sanchiacutes como uma teoria do Direito que se orienta pelas maacuteximas demaacutes
princiacutepios que reglas maacutes ponderacioacuten que subsuncioacuten omnipotencia de la Constitucioacuten en
todas las aacutereas juriacutedicas y en todos conflictos miacutenimamente relevantes en lugar de espacios
exentos en favor de la opcioacuten legislativa o reglamentaria omnipotencia judicial en lugar de
autonomia del legislador ordinaacuterio y por ultimo coexistecircncia de una constelacioacuten plural de
valores a veces tendencialmente contradictorios en lugar de homogeneidad ideoloacutegica150
certamente eu natildeo me considero um neoconstitucionalista De todas as afirmaccedilotildees do professor
espanhol a uacutenica de que natildeo discordo eacute aquela relacionada ao pluralismo de valores cujo re-
conhecimento aliaacutes estaacute longe de ser privileacutegio dos neoconstitucionalistas
Contudo eu assumo o roacutetulo sem constrangimentos se o neoconstitucionalismo for pensado
como uma teoria constitucional que sem descartar a importacircncia das regras e da subsunccedilatildeo
abra tambeacutem espaccedilo para os princiacutepios e para a ponderaccedilatildeo tentando racionalizar o seu uso
Se for visto como uma concepccedilatildeo que sem desprezar o papel protagonista das instacircncias de-
mocraacuteticas na definiccedilatildeo do Direito reconheccedila e valorize a irradiaccedilatildeo dos valores constitucio-
nais pelo ordenamento bem como a atuaccedilatildeo firme e construtiva do Judiciaacuterio para proteccedilatildeo e
promoccedilatildeo dos direitos fundamentais e dos pressupostos da democracia E acima de tudo se
for concebido como uma visatildeo que conecte o Direito com exigecircncias de justiccedila e moralidade
criacutetica151 sem enveredar pelas categorias metafiacutesicas do jusnaturalismo
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Certamente uma visatildeo equilibrada da Teoria do Direito com tais caracteriacutesticas pode contribu-
ir para o aperfeiccediloamento do Estado Democraacutetico de Direito no Brasil O mesmo jaacute natildeo digo de
concepccedilotildees mais radicais do neoconstitucionalismo que podem ser muito boas para arrancar
aplausos entusiasmados das plateacuteias nos seminaacuterios estudantis mas que natildeo se conciliam com
exigecircncias fundamentais de seguranccedila juriacutedica democracia e liberdade que satildeo alicerces de
qualquer bom constitucionalismo - novo ou velho
Curriacuteculo Resumido
Daniel Sarmento
Poacutes-Doutor pela Universidade de Yale (EUA) Procurador Regional da Repuacuteblica
Como citar este artigo
SARMENTO Daniel O neoconstitucionalismo no Brasil riscos e possibilidades Disponiacutevel em httpwwweditoraforumcombrsistconteudolista_conteudoaspFIDT_CONTEUDO=56993 acesso em 09032011 httpdireitoesubjetividadefileswordpresscom201008daniel-sarmento-o-neoconstitucionalismo-no-brasil1doc acesso em 30062012 Material da 1ordf aula da Disciplina Teoria Geral da Constituiccedilatildeo (I) ministrada no Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo Online em Direito Constitucional ndash Anhanguera-UNIDERP | REDE LFG
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1Sobre a teoria de princiacutepios no Brasil veja-se dentre outros Ana Paula de Barcellos A eficaacutecia juriacutedica dos princiacutepios constitu-
cionais o princiacutepio da dignidade da pessoa humana Rio de Janeiro Renovar 2002 Humberto Bergman Aacutevila Teoria dos princiacute-
pios da definiccedilatildeo agrave aplicaccedilatildeo dos princiacutepios juriacutedicos 2 ed Satildeo Paulo RT 2005 Jane Reis Gonccedilalves Pereira Interpretaccedilatildeo
constitucional e direitos fundamentais uma contribuiccedilatildeo ao estudo das restriccedilotildees aos direitos fundamentais na perspectiva da
teoria dos princiacutepios Rio de Janeiro Renovar 2006 Virgiacutelio Afonso da Silva O conteuacutedo essencial dos direitos fundamentais e a
eficaacutecia das normas constitucionais Satildeo Paulo Tese (concurso de Professor Titular de Direito Constitucional da USP)
2Veja-se em tons variados Lecircnio Luiz Streck Hermenecircutica juriacutedica e(m) crise uma exploraccedilatildeo hermenecircutica da construccedilatildeo do
direito Porto Alegre Livraria do Advogado 1999 Luiacutes Roberto Barroso (Org) A nova interpretaccedilatildeo constitucional ponderaccedilatildeo
direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas Rio de Janeiro Renovar 2003 Margarida Maria Lacombe Camargo Hermenecircutica e
argumentaccedilatildeo uma contribuiccedilatildeo ao estudo do direito Rio de Janeiro Renovar 2003 Inocecircncio Maacutertires Coelho Interpretaccedilatildeo
constitucional 2 ed Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2003 Ana Paula de Barcellos Ponderaccedilatildeo racionalidade e atividade
jurisdicional Rio de Janeiro Renovar 2005
3Sobre o fenocircmeno da constitucionalizaccedilatildeo do Direito confira-se os inuacutemeros artigos que compotildeem a coletacircnea organizada por
Claacuteudio Pereira de Souza Neto e por mim A constitucionalizaccedilatildeo do direito fundamentos teoacutericos e aplicaccedilotildees especiacuteficas Rio de
Janeiro Lumen Juris 2007
4Cfr na literatura constitucional brasileira Gisele Guimaratildees Cittadino Pluralismo direito e justiccedila distributiva elementos de
filosofia constitucional contemporacircnea Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 Oscar Vilhena Vieira A Constituiccedilatildeo e sua reserva de
justiccedila um ensaio sobre os limites materiais do poder de reforma Satildeo Paulo Malheiros 1999 Ricardo Lobo Torres (Org) A legi-
timaccedilatildeo dos direitos humanos Rio de Janeiro Renovar 2002 Claacuteudio Pereira de Souza Neto Teoria constitucional e democracia
deliberativa Rio de Janeiro Renovar 2006 Lecircnio Luiz Streck Verdade e consenso Constituiccedilatildeo hermenecircutica e teorias discursi-
vas Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 Samantha Chantal Dobrowolski A construccedilatildeo social do sentido da Constituiccedilatildeo na demo-
cracia contemporacircnea entre soberania popular e direitos humanos Rio de Janeiro Lumen Juris 2007 Aacutelvaro Ricardo de Souza
Cruz Hermenecircutica juriacutedica e(m) debate o constitucionalismo brasileiro entre a teoria do discurso e a ontologia existencial Belo
Horizonte Foacuterum 2007
5Sobre a judicializaccedilatildeo da poliacutetica no Brasil veja-se Luiz Werneck Vianna et al A judicializaccedilatildeo da poliacutetica e das relaccedilotildees sociais
no Brasil Rio de Janeiro Revan 1999 Giselle Cittadino Judicializaccedilatildeo da poliacutetica constitucionalismo democraacutetico e separaccedilatildeo de
poderes In Luiz Werneck Vianna (Org) A democracia e os trecircs poderes no Brasil Belo Horizonte UFMG 2002 p 17-42 Rogeacuterio
B Arantes Constitucionalism the expansion of Justice and the Judicialization of Poltics in Brazil In Rachel Sieder Line Schjol-
den Alan Angell The Judicialization of Politics in Latin America New York Palgrave Macmillan 2005 p 232-262 Luis Roberto
Barroso Judicializaccedilatildeo ativismo judicial e legitimidade democraacutetica Texto ineacutedito gentilmente cedido pelo autor
Para uma perspectiva comparativa veja-se Neal C Tate Tobjorn Vallinder (Ed) The Global Expansion of Judicial Power New
York New York University Press 1995 Alec Stone Sweet Governing with Judges Constitutional Politics in Europe Oxford Oxford
Univesity Press 2000 e em tom profundamente criacutetico Ran Hirschl Towards Juristocracy the Origins and Consequences of the
New Constitucionalism Cambridge Harvard University Press 2004
6Miguel Carbonell et al Neoconstitucionalismo(s) Madrid Trotta 2003 Mais recentemente o autor publicou nova coletacircnea
tambeacutem dedicada ao estudo do neoconstitucionalismo intitulada Teoria del Neoconstitucionalismo Ensayos escogidos Madrid
Trotta 2007
7O jurista argentino Carlos Santiago Nino por exemplo faleceu em 1993 quando ainda nem se empregava esta denominaccedilatildeo
8Cf Robert Alexy Teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica a teoria do discurso racional como teoria da fundamentaccedilatildeo juriacutedica Tradu-
ccedilatildeo de Zilda Hutchinson Schild Silva revisatildeo teacutecnica da traduccedilatildeo e introduccedilatildeo agrave ediccedilatildeo brasileira Claudia Toledo 2 ed Satildeo Paulo
Landy 2005 Luis Roberto Barroso Curso de direito constitucional contemporacircneo os conceitos fundamentais e a construccedilatildeo do
novo modelo Rio de Janeiro Saraiva 2008 p 306-350
9Cf Lecircnio Luiz Streck Verdade e consenso Op cit p 197-246
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10Ronald Dworkin e Carlos Santiago Nino satildeo sem sombra de duacutevida autores liberais natildeo no sentido que se atribui ao termo no
Brasil - de adeptos de doutrina econocircmica favoraacutevel ao Estado miacutenimo e ao mercado - mas sim no sentido corrente na Filosofia
Poliacutetica que associa o liberalismo agrave defesa dos direitos individuais e da neutralidade do Estado em relaccedilatildeo agraves diversas concepccedilotildees
sobre a vida boa existentes na sociedade Veja-se neste sentido Ronald Dworkin A Matter of Principle Cambridge Harvard
University Press 1985 p 181-236 Carlos Santiago Nino La constitucioacuten de la Democracia Deliberativa Barcelona Gedisa 1997
p 70-100
11Lecircnio Luiz Streck que se alinha ao neoconstitucionalismo defende posturas tipicamente comunitaristas como o papel da Consti-
tuiccedilatildeo na definiccedilatildeo de modelos de vida boa para orientaccedilatildeo da vida social e da accedilatildeo individual Cf Jurisdiccedilatildeo constitucional e
hermenecircutica uma nova criacutetica do direito 2 ed Rio de Janeiro Forense 2004 p 95-288
12Antonio Cavalcanti Maia um dos mais ardorosos defensores do neoconstitucionalismo no paiacutes eacute tambeacutem procedimentalista e
adepto das teorias juriacutedicas de Juumlrgen Habermas Veja-se neste sentido o seu denso texto Nos vintes anos da carta cidadatilde do
poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm (Coord) Vinte
anos da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 p 117-168 em que esta sua dupla filiaccedilatildeo intelectual eacute
explicitada
13Segundo Miguel Carbonell o neoconstitucionalismo desdobra-se em trecircs planos de anaacutelise que se conjugam o dos textos consti-
tucionais que se tornaram mais substantivos e incorporaram amplos elencos de direitos fundamentais o das praacuteticas judiciais que
passaram a recorrer a princiacutepios constitucionais agrave ponderaccedilatildeo e a meacutetodos mais flexiacuteveis de interpretaccedilatildeo sobretudo na aacuterea de
direitos fundamentais e o dos desenvolvimentos teoacutericos de autores que com as suas ideacuteias ajudaram natildeo soacute a compreender os
novos modelos constitucionais mas tambeacutem participaram da sua proacutepria criaccedilatildeo Cf Miguel Carbonell Neoconstitucionalismo
elementos para una definicioacuten In Eduardo Ribeiro Moreira Mauricio Pugliesi 20 anos da Constituiccedilatildeo brasileira Satildeo Paulo Sarai-
va 2009 p 197-208
14No mesmo sentido Luis Roberto Barroso Neoconstitucionalismo e Constitucionalizaccedilatildeo do direito o triunfo tardio do direito
constitucional do Brasil In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento A constitucionalizaccedilatildeo do direito fundamentos teoacuteri-
cos e aplicaccedilotildees especiacuteficas Rio de Janeiro Lumen Juris 2007 p 203-250
15Cf Carlos Bernal Pulido El Derecho de los Derechos Bogotaacute Universidad Externado de Colocircmbia 2006 Manoel Jose Cepeda
Espinosa Judicialization of Politics in Colombia the old and the new In Rachel Sieder Line Schonjen Alan Angell The Judiciali-
zation of Politics in Latin America Op cit p 67-104 Rodrigo Uprimmy Mauriacutecio Garcia-Villegas Tribunal Constitucional e eman-
cipaccedilatildeo social na Colocircmbia In Boaventura de Souza Santos Democratizar a democracia os caminhos da democracia participativa
Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2002 p 297-339
16Cf Catalina Smulovitz Petitioning and Creating Rights Judicialization in Argentina In Rachel Sieder Line Scjolden Alan Angell
The Judicialization of Politics in Latin America Op cit p 161-185
17Cf Miguel Carbonell Los Derechos Fundamentales en Meacutexico 2 ed Meacutexico Porruacutea 2006 Pilar Domingo The Changing Political
Role of the Judiciary in Meacutexico In Rachel Sieder Line Scjolden Alan Angell The Judicialization of Politics in Latin Ameacuterica Op
cit p 21-46
18Cf Heinz Klug South Aacutefrica From Constitucional Promise to Social Transformation In Jeffrey Goldsworthy Interpreting Consti-
tutions A Comparative Study Oxford Oxford University Press 2006 p 266-320
19Cf S P Sathe Iacutendia From Positivism to Structuralism In Jeffrey Goldsworthy Op cit p 215-265
20Veja-se a propoacutesito Gustavo Zagrebelsky Il Diritto Mite Torino Einaudi 1992 p 57-96
21Cf Eduardo Garciacutea de Enterriacutea La Constitucioacuten como Norma y el Tribunal Constitucional 3 ed Madrid Civitas 1985 p 41
22Na Alemanha a mudanccedila ocorreu sob a vigecircncia da Lei Fundamental adotada em 1949 e foi fortemente impulsionada pela
jurisprudecircncia do Tribunal Constitucional do paiacutes que construiu teorias importantes como a da Constituiccedilatildeo como uma ordem de
valores em cujo centro situa-se o princiacutepio da dignidade humana que se irradia por todo o ordenamento Veja-se a propoacutesito
Dieter Grimm Human Rights and Judicial Review in Germany In David M Beatty (Org) Human Rights and Judicial Review A
Comparative Perspective Dodrecht Martin Urjhoff 1994 p 267-295
23Na Itaacutelia as mudanccedilas se deram sob a eacutegide da atual Constituiccedilatildeo editada em 1947 mas soacute apoacutes o funcionamento da Corte
Constitucional que se deu em 1956 Ateacute entatildeo a Corte de Cassaccedilatildeo composta por juiacutezes recrutados ainda no periacuteodo do fascismo
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era provisoriamente encarregada da guarda da Constituiccedilatildeo o que fazia de forma muito tiacutemida no mais das vezes negando eficaacute-
cia juriacutedica agraves normas constitucionais sob o argumento de que seriam programaacuteticas Veja-se a propoacutesito Ricardo Guastini A
constitucionalizaccedilatildeo do ordenamento juriacutedico e a experiecircncia italiana In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento A
constitucionalizaccedilatildeo do direito fundamentos teoacutericos e aplicaccedilotildees especiacuteficas Op cit p 271-294
24Cf No modelo do constitucionalismo norte-americano entende-se desde os primoacuterdios que a Constituiccedilatildeo eacute autecircntica lei e que
o Judiciaacuterio pode invalidar as decisotildees legislativas que a contrariem apesar do controle de constitucionalidade natildeo estar expres-
samente previsto no texto constitucional daquele paiacutes Esta ideacuteia que jaacute estava assentada no Federalista n 78 escrito por Ale-
xander Hamilton antes da aprovaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo foi posta em praacutetica pela primeira vez contra lei federal no ceacutelebre caso
Marbury v Madison julgado em 1803 pelo juiz Marshall Veja-se a propoacutesito Paul Brest Sanford Levinson Jack Balkin Akhil Reed
Amar Processes of Constitutional Decisionmaking Cases and Materials New York Aspen Publishers 2000 p 79-103
A versatildeo mais convencional do modelo constitucional norte-americano enfatiza a importacircncia central do Judiciaacuterio na atualizaccedilatildeo
do sentido da Constituiccedilatildeo do paiacutes Contudo esta leitura histoacuterica eacute hoje objeto de intensa disputa Em sentido contraacuterio a tal
posiccedilatildeo sustentando uma menor relevacircncia do Judiciaacuterio no desenvolvimento histoacuterico do constitucionalismo americano veja-se
por exemplo Stephen M Griffin American Constitutionalism From Theory to Politics New Jersey Princeton University Press
1996 p 88-139
25Cf Luis Prietro Sanchiacutes Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales Madrid Trotta 2003 p 107-117
26Cf Daniel Sarmento Ubiquumlidade constitucional Os dois lados da moeda In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento
(Coord) A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 113-148
27Na verdade a reaccedilatildeo contra o formalismo juriacutedico na Europa eacute bem anterior ao advento do constitucionalismo do 2ordm poacutes-guerra
remontando ao final do seacuteculo XIX Veja-se a propoacutesito Constantin M Stamatis Argumenter en Droit Une theacuteorie critique de
largumentation juridique Paris Publisud 1995 p 34-50 Antonio Manoel Hespanha Panorama histoacuterico da cultura juriacutedica euro-
peacuteia Lisboa Publicaccedilotildees Europa-Ameacuterica 1997 p 196-235
28Haacute vasta literatura sobre a ponderaccedilatildeo mas a obra mais influente sobre o tema eacute certamente o livro de Robert Alexy Teoria dos
direitos fundamentais Traduccedilatildeo de Virgiacutelio Afonso da Silva Satildeo Paulo Malheiros 2008 No cenaacuterio norte-americano veja-se a
anaacutelise densa e criacutetica de T Alexander Aleinikoff Constitucional Law in the Age of Balancing Yale Law Journal n 96 p 943-
1005 1987 No Brasil cfr Daniel Sarmento A ponderaccedilatildeo de interesses na Constituiccedilatildeo Federal Rio de Janeiro Lumen Juris
2000 Ana Paula de Barcellos Ponderaccedilatildeo racionalidade e atividade jurisdicional Op cit
29A bibliografia sobre o princiacutepio da proporcionalidade eacute vastiacutessima Veja-se a propoacutesito as densas anaacutelises de Carlos Bernal Puli-
do El Principio de Proporcionalidad y los Derechos Fundamentales Madrid Centro de Estuacutedios Constitucionales 2003 e no Brasil
de Jane Reis Gonccedilalves Pereira Interpretaccedilatildeo constitucional e direitos fundamentais Rio de Janeiro Renovar 2006 p 297-382
30Cf Chaiumlm Perelman Eacutetica e direito Traduccedilatildeo de Maria Ermantina Galvatildeo G Perira Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 p 361-684
Robert Alexy Teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica Op cit Friedrich Muller Discours de la Meacutethode Juridique Traduccedilatildeo de Olivier
Jouanjan Paris PUF 1993 Manuel Atienza Traacutes la Justicia Una Introduccioacuten al Derecho y al Razonamiento Juriacutedico Barcelona
Ariel 1995 Neil MacCormick Argumentaccedilatildeo juriacutedica e teoria do direito Traduccedilatildeo de Waldeacutea Barcellos Satildeo Paulo Martins Fontes
2006 Klaus Guumlnther Teoria da argumentaccedilatildeo no direito e na moral justificaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Claacuteudio Molz Satildeo Pau-
lo Landy 2004
31Cf Martin Shapiro Alec Stone Sweet On Law Politics and Judicialization New York Oxford University Press p 136-208
32Contudo deve-se admitir na linha de Paolo Comanducci que eacute possiacutevel reconhecer as mudanccedilas em questatildeo e propor novas
teorias que sejam adequadas a elas sem defendecirc-las Esta seria nas palavras do autor italiano a diferenccedila entre o neoconstitu-
cionalismo teoacuterico e o neoconstitucionalismo ideoloacutegico que natildeo apenas constroacutei teorias mais compatiacuteveis com os novos fenocirc-
menos mas vai aleacutem sustentando a sua legitimidade e propugnando pelo seu aprofundamento e expansatildeo Veja-se a propoacutesito
Paulo Comanducci Formas de neoconstitucionalismo Un anaacutelisis metateoacuterico In Miguel Carbonell (Ed) Neoconstitucionalis-
mo(s) Op cit p 75-98 Como reconhece o proacuteprio autor tal distinccedilatildeo baseia-se em uma semelhante acerca do positivismo
30
formulada por Norberto Bobbio que fala em positivismo teoacuterico ideoloacutegico e metodoloacutegico Cf Norberto Bobbio O positivismo
juriacutedico liccedilotildees de filosofia do direito Traduccedilatildeo e notas de Marcio Pugliesi et al Satildeo Paulo Iacutecone 1995 p 233-239
33Cf Ronald Dworkin Is Law a Sistem of Rules In Ronald Dworkin (Ed) Philosophy of Law Oxford Oxford University Press 1971
Robert Alexy Constitucionalismo discursivo Traduccedilatildeo de Luiz Afonso Heck Porto Alegre Livraria do Advogado 2007
34Cf Robert Alexy Derecho y Razoacuten Praacutectica Meacutexico Distribuiciones Fontamara 1993 Aulis Aarnio Lo Racional como Razonable
Traduccedilatildeo de Ernesto Garzoacuten Valdeacutes Madrid Centro de Estuacutedios Constitucionales 1991
35Cf Aharon Barak The Judge in a Democracy New Jersey Princeton University Press 2006 p 213-260 Gustavo Zagrebelsky Il
Diritto Mite Op cit p 179-217
36Confronte-se com perspectivas diferentes Luigi Ferrajoli O Estado de direito entre passado e futuro In Pietro Costa Danilo
Zolo (Org) Estado de direito histoacuteria teoria criacutetica Traduccedilatildeo de Carlo Alberto Dastoli Satildeo Paulo Martins Fontes 2006 p 419-
464 Elias Dias Estado de Derecho y Sociedad Democraacutetica Madrid Taurus 1998 Ronald Dworkin Introduction The Moral Reading
and the Majoritarian Premise In Freedoms Law The moral reading of the American Constitution Cambridge Harvard University
Press 1996 p 01-38 Gustavo Zagrebelsky La Crucifixioacuten y la Democracia Barcelona Ariel 1996 Claacuteudio Pereira de Souza Neto
Teoria constitucional da democracia deliberativa Op cit
37Cf Ronald Dworkin Introduction The Moral Reading and the Majoritarian Premise Op cit
38Cf Luigi Ferrajoli El Garantismo y la Filosofia del Derecho Bogotaacute Universidad Externado de Colocircmbia 2000
39Cf Luis Pietro Sanchis Sobre el Neoconstitucionalismo y sus Implicaciones In Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales
Op cit p 101-135
40Cf Ricardo Guastini Sur la Validiteacute de la Constitution du Point de Vue du Positivisme Juridique In Michel Troper Lucien Jaume
(Dir) 1789 et LInvention de la Constitution Paris LGDJ 1994 p 216-225
41Cf Suzana Pozzolo Neoconstituzionalismo e Positivismo Giuridico Torino Giapppicheli 2001
42Cf Ronald Dworkin Law and Morals In Justice in Robes Cambridge Harvard University Press 2006 p 01-35
43Cf Robert Alexy Derecho y Moral In La Institucionalizacioacuten de la Justicia Op cit p 17-30
44Cf Carlos Santiago Nino Eacutetica y Derechos Humanos 2 ed Buenos Aires Astrea 1989 p 11-48
45Cf Gustav Radbruch Cinco minutos de filosofia do direito In Filosofia do direito Traduccedilatildeo de L Cabral de Moncada 6 ed
Coimbra Armecircnio Amado 1979 p 414-418 Para uma densa problematizaccedilatildeo da foacutermula de Radbruch veja-se Thomas da Rosa
Bustamante Poacutes-Positivismo o argumento da injusticcedila aleacutem da Foacutermula de Radbruch In Teoria do direito e decisatildeo racional
temas de teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica Rio de Janeiro Renovar 2008
46Cf Robert Alexy La Institucionalizacioacuten de la Justicia Traduccedilatildeo de Joseacute Antonio Seone et al Granada Comares 2005 p 31-
54
47Sobre o tema cfr Alfonso Garcia Figueroa Princiacutepios e direitos fundamentais In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmen-
to A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 03-34
48O texto mais importante do positivismo inclusivo eacute o poacutes-escrito de Herbert LA Hart agrave sua obra magna The Concept of Law em
que ele responde agraves criacuteticas ao seu pensamento que Ronald Dworkin lhe endereccedilara O autor inglecircs faleceu antes de terminar o
texto mas ele foi publicado postumemente depois de ser editado por Joseph Raz Peneacutelope Bulloch Veja-se Herbert LA Hart
Poacutes-escrito In O conceito de direito Traduccedilatildeo de A Ribeiro Mendes 2 ed 1994 p 299-339 Tambeacutem na linha do positivismo
inclusivo veja-se Gregorio Peces- Barba Derechos Sociales y Positivismo Juriacutedico Escritos de Filosofia Poliacutetica y Juriacutedica Madrid
Dykinson 1999 p 83-90 Jules Coleman The Practice of Principle In defense of a pragmatist approach do legal theory Oxford
Oxford University Press p 103-120 Para uma resenha dos tipos de positivismo no debate contemporacircneo confira-se Dimitri Di-
moulis Positivismo juriacutedico introduccedilatildeo a uma teoria do direito e defesa do pragmatismo juriacutedico-politico Satildeo Paulo Meacutetodo
2006 p 65-166
49Cf Antonio Cavalcanti Maia Nos vinte anos da Constituiccedilatildeo do poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo Op cit Claacuteudio Perei-
ra de Souza Neto A teoria constitucional e seus lugares especiacuteficos notas sobre o aporte reconstrutivo Revista de Direito do
Estado n 1 p 89-104 jan mar 2006 Daniel Sarmento Interpretaccedilatildeo constitucional preacute-compreensatildeo e capacidades institu-
cionais do inteacuterprete In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binebojm Vinte anos da Constituiccedilatildeo de 1988
Op cit p 311-322
31
50Cf Juumlrgen Habermas Escritos sobre Moralidad y Eticidad Traduccedilatildeo de Manuel Jimenez Redondo Barcelona Paidoacutes 1991 p
131-172
51Sobre o comunitarismo haacute extensa literatura Dois textos claacutessicos deste linha de pensamento satildeo Michael Walzer The Communi-
tarian Critique of Liberalism In Politics and Passion New Haven Yale University Press 2004 p 141-163 Charles Taylor The
Procedural Republic and the Unencumbered Self In Robert Goodin Philip Pettit (Ed) Contemporary Political Philosophy 2 ed
Oxford Oxford University Press 2002 p 2462-256 Sobre a penetraccedilatildeo ainda que muitas vezes natildeo consciente das posiccedilotildees do
comunitarismo no constitucionalismo brasileiro veja-se Gisele Cittadino Pluralismo direito e justiccedila distributiva Op cit p
43-74
52Sobre o construtivismo eacutetico corrente filosoacutefica que sustenta a existecircncia de posiccedilotildees certas e erradas na Moral bem como a
possibilidade de encontraacute-las e fundamentaacute-las racionalmente veja-se Carlos Santiago Nino El Constructivismo Eacutetico Madrid
Centro de Estudios Constitucionales 1989
53O fenocircmeno tambeacutem se reproduz na teoria constitucional norte-americana hegemocircnica cf Keith Wittington Constitutional Con-
struction Divided Powers and Constitutional Meaning Cambridge Harvard University Press 1999 p 01-03
54A imagem do Poder Judiciaacuterio como um guardiatildeo de promessas eacute explorada e criticada numa obra importante da teoria juriacutedica
francesa contemporacircnea Antoine Garapon Le Gardien de Promesses Le juge et la democratie Paris Odile Jacob 1996
55Neste sentido o eloquumlente encerramento do Curso de Direito Constitucional Contemporacircneo de Luis Roberto Barroso o consti-
tucionalismo democraacutetico eacute a utopia que nos restou Uma feacute racional que ajuda a acreditar no bem e na justiccedila ainda quando natildeo
estejam ao alcance dos olhos (Op cit p 400)
56Cf Nico Poulantzas State Power Socialism London new Left Books 1978 Alan Hunt Marxist Theory of Law In Dennis Patter-
son (Ed) A Companion to Philosophy of Law and Legal Theory Malden Blackwell Publishers 1996 p 355-367
57Cf David Kairys (Ed) The Politics of Law A Progressive Critique New York Pantheon Books 1982 Roberto Mangabeira Unger
The Critical Legal Studies Movement Cambridge Harvard University Press 1986
58Cf Plauto Faraco Azevedo Criacutetica agrave dogmaacutetica e hermenecircutica juriacutedica Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1989 Luiz Fernando
Coelho Teoria criacutetica do direito 2 ed Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1991
59Natildeo haacute como abordar aqui as relaccedilotildees entre as inuacutemeras correntes do poacutes-modernismo e o Direito Constitucional Veja-se a
propoacutesito Niklas Luhman La Constituzione como Acquisizione Evolutiva In Gustavo Zagrebelsky Piacuteer Paolo Portinaro Joumlrg Lu-
ther Il Futuro della Costituzione Torino Einaudi 1996 p 83-128 Joseacute Joaquim Gomes Canotilho Civilizaccedilatildeo do direito constitu-
cional ou constitucionalizaccedilatildeo do direito civil a eficaacutecia dos direitos fundamentais na ordem juriacutedico-civil no contexto do direito
poacutes-moderno Cadernos de Direito Constitucional e Ciecircncia Poliacutetica n 15 p 07-16 1996 Eduardo Capellari A crise da moderni-
dade e a Constituiccedilatildeo Rio de janeiro Ameacuterica Juriacutedica 2004 Daniel Sarmento Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas 2 ed
Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 p 36-45
60Para Jean-Franccedilois Lyotard uma das caracteriacutesticas centrais do pensamento poacutes-moderno de que eacute expoente eacute a desconfianccedila
em relaccedilatildeo agraves metanarrativas - construccedilotildees abstratas grandiosas e totalizadoras tiacutepicas da Filosofia Moderna como direitos
humanos luta de classes e emancipaccedilatildeo pelo uso da razatildeo Cf Lyotard A condiccedilatildeo poacutes-moderna Traduccedilatildeo de Ricardo Correcirca
Barbosa 5 ed 1998 p16
61Cf Luiz Werneck Viana O terceiro poder na carta de 1988 e a tradiccedilatildeo republicana mudanccedila e conservaccedilatildeo In Ruben George
Oliven Marcelo Gildo Marccedilal Branda A Constituiccedilatildeo de 1988 na vida brasileira Satildeo Paulo Aderaldo e Rotshild 2008 p 91-109
62Cf Paulo Ricardo Schier Filtragem constitucional Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1999
63A expressatildeo foi cunhada por Claacuteudio Pereira de Souza Neto Fundamento e normatividade dos direitos fundamentais uma recons-
truccedilatildeo teoacuterica agrave luz do princiacutepio democraacutetico Arquivos de Direitos Humanos n 4 p 17-61 2003
64Cf Luis Roberto Barroso O direito constitucional e a efetividade de suas normas 3 ed Rio de Janeiro Renovar 1996
65Cf Clegravemerson Merlin Clegraveve A teoria constitucional e o direito alternativo para uma dogmaacutetica constitucional emancipatoacuteria In
Uma vida dedicada ao direito homenagem a Carlos Henrique de Carvalho Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1995 p 34-53
66Ressalte-se poreacutem que antes de 88 alguns juristas jaacute defendiam a forccedila normativa da Constituiccedilatildeo como o Prof Joseacute Afonso da
Silva Eacute de 1968 a primeira ediccedilatildeo da sua obra claacutessica A aplicabilidade das normas constitucionais que adotava claramente esta
32
perspectiva Todavia pelo clima nada propiacutecio ao constitucionalismo que reinava por aqui ateacute a nossa redemocratizaccedilatildeo a louvaacute-
vel pregaccedilatildeo dele e de outros juristas em prol da efetivaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo natildeo chegou a render maiores frutos
67Deve-se assinalar ainda a influecircncia marcante do novo constitucionalismo ibeacuterico neste movimento que tambeacutem pugnava pela
atribuiccedilatildeo de forccedila normativa agraves ambiciosas constituiccedilotildees de Portugal e Espanha entatildeo recentemente elaboradas apoacutes o fim de
experiecircncias autoritaacuterias naqueles paiacuteses A tiacutetulo de exemplo mencione-se a penetraccedilatildeo no paiacutes do pensamento do Professor de
Coimbra Joseacute Joaquim Gomes Canotilho especialmente da sua teoria sobre a Constituiccedilatildeo dirigente que ele posteriormente reviu
(cf J J Gomes Canotilho Constituiccedilatildeo dirigente e vinculaccedilatildeo ao legislador contributo para a compreensatildeo das normas constitu-
cionais programaacuteticas 2 ed Coimbra Coimbra 2001 - especialmente o prefaacutecio desta segunda ediccedilatildeo que daacute conta da mudanccedila
de posicionamento) bem como a difusatildeo das liccedilotildees do Professor Eduardo Garciacutea de Enterriacutea (cf La Constitucioacuten como Norma y el
Tribunal Constitucional Madrid Civitas 1981)
68Segundo a avaliaccedilatildeo atual de Luis Roberto Barroso personagem central do movimento o positivismo constitucional que deu
impulso ao movimento natildeo importava em reduzir o direito agrave norma mas sim em elevaacute-la a esta condiccedilatildeo pois ateacute entatildeo ele
havia sido menos do que norma (Curso de direito constitucional contemporacircneo Op cit p 224)
69Paulo Bonavides Curso de direito constitucional 5 ed Satildeo Paulo Malheiros 1994
70Eros Roberto Grau A ordem econocircmica na Constituiccedilatildeo de 88 interpretaccedilatildeo e criacutetica Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1996
71No acircmbito da Poacutes-Graduccedilatildeo em Direito da UERJ em que estou inserido desde 1997 primeiro como aluno e a partir de 2003 como
professor o Ricardo Lobo Torres teve papel central na difusatildeo do pensamento destes e de outros filoacutesofos entre os estudantes e o
proacuteprio corpo docente
72Cf Lecircnio Luiz Streck Hermenecircutica juriacutedica e(m) crise Op cit Eros Roberto Grau Ensaio e discurso sobre a interpreta-
ccedilatildeoaplicaccedilatildeo do direito Satildeo Paulo Malheiros 2002
73Nesta linha veja-se as obras que compotildeem a coletacircnea Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Direitos sociais funda-
mentos judicializaccedilatildeo e direitos sociais em espeacutecie Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 Ricardo Lobo Torres O miacutenimo existencial
e os direitos fundamentais Revista de Direito Administrativo n 177 p 20-49 1989 Ingo Wolfgang Sarlet A eficaacutecia dos direitos
fundamentais 9 ed Porto Alegre Livraria do Advogado 2008 Ana Paula de Barcellos A eficaacutecia juriacutedica dos princiacutepios o princiacute-
pio da dignidade da pessoa humana Op cit Marco Mazzeli Gouveia O controle judicial das omissotildees administrativas Rio de
Janeiro Forense 2003 Andreacuteas Krell Direitos sociais e controle judicial no Brasil e Alemanha os (des)caminhos de um direito
constitucional comparado Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2002
74Cf Gustavo Tepedino Temas de direito civil Rio de Janeiro Renovar 1999 Luiz Edson Fachin Estatuto juriacutedico do patrimocircnio
miacutenimo Rio de Janeiro Renovar 2001 Maria Celina Bodin de Moraes Danos agrave pessoa humana uma leitura civil-constitucional dos
danos morais Rio de Janeiro Renovar 2003 Teresa Negreiros Fundamentos para uma interpretaccedilatildeo constitucional do princiacutepio
da boa-feacute Rio de Janeiro Renovar 1998 Anderson Schreiber A proibiccedilatildeo do comportamento contraditoacuterio Rio de Janeiro Reno-
var 2005
75Cf Luciano Feldens A Constituiccedilatildeo penal a dupla face da proporcionalidade no controle das lei penais Porto Alegre Livraria do
Advogado 2005 Luis Carlos dos Santos Gonccedilalves Mandados expressos de criminalizaccedilatildeo e a proteccedilatildeo de direitos fundamentais na
Constituiccedilatildeo Brasileira de 1988 Belo Horizonte Foacuterum 2007
76Cf Gustavo Binenbojm Uma teoria do direito administrativo direitos fundamentais democracia e constitucionalizaccedilatildeo Rio de
Janeiro Renovar 2006 Alexandre dos Santos Aragatildeo Floriano de Azevedo Marques (Coord) Direito administrativo e seus novos
paradigmas Belo Horizonte Foacuterum 2008
77Cf Gustavo Binenbojm A nova jurisdiccedilatildeo constitucional brasileira legitimidade democraacutetica e instumentos de realizaccedilatildeo Rio de
Janeiro Renovar 2001 Claacuteudio Pereira de Souza Neto Jurisdiccedilatildeo constitucional democracia e racionalidade praacutetica Rio de
Janeiro Renovar 2002 Joseacute Adeacutercio Leite Sampaio A Constituiccedilatildeo reinventada pela jurisdiccedilatildeo constitucional Belo Horizonte Del
Rey 2002 Lecircnio Luiz Streck Jurisdiccedilatildeo constitucional e hermenecircutica Porto Alegre Livraria do Advogado 2002 Aacutelvaro Ricardo
de Souza Cruz Jurisdiccedilatildeo constitucional democraacutetica Belo Horizonte Del Rey 2004
78A expressatildeo dificuldade contramajoritaacuteria eacute de um claacutessico da teoria constitucional norte-americana Alexander Bickel La Cons-
titucioacuten como Norma y el Tribunal Constitucional 2 ed New Haven Yale University Press 1986
33
79Em siacutentese apertada o procedimentalismo sustenta que natildeo eacute papel da jurisdiccedilatildeo constitucional tutelar valores substantivos mas
apenas proteger os pressupostos necessaacuterios ao bom funcionamento da democracia Jaacute o substancialismo reconhece a legitimidade
da atuaccedilatildeo jurisdicional em favor da garantia e promoccedilatildeo de valores substantivos presentes na Constituiccedilatildeo O debate entre o
procedimentalismo identificado com as ideacuteias de autores como John Hart Ely e Juumlrgen Habermas e o substancialismo defendido
por teoacutericos como Ronald Dworkin e Laurence Tribe eacute reproduzido em praticamente toda a literatura contemporacircnea que trata de
Teoria ou Filosofia Constitucional Veja-se a propoacutesito a densa obra de Claacuteudio Ari Mello Democracia constitucional e direitos
fundamentais Porto Alegre Livraria do Advogado 2004
80Neoconstitucionalismo e constitucionalizaccedilatildeo do direito o triunfo tardio do direito constitucional no Brasil Op cit
81A crise paradigmaacutetica do direito no contexto da resistecircncia positivista ao (neo)constitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza
Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm Vinte anos da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Op cit p 203-228
82Nos vinte anos da carta cidadatilde do poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo Op cit
83Neoconstitucionalismo direitos fundamentais e controle de poliacuteticas puacuteblicas In Daniel Sarmento Flaacutevio Galdino (Org) Direitos
fundamentais estudos em homenagem ao prof Ricardo Lobo Torres Rio de Janeiro Renovar 2006 p 31-60
84Direitos humanos legitimidade e constitucionalismo In Daniel Sarmento Flaacutevio Galdino (Org) Direitos fundamentais estudos
em homenagem ao Prof Ricardo Lobo Torres Op cit p325-350
85Novos desafios agrave filtragem constitucional no momento do neoconstitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sar-
mento A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 251-270
86Neoconstitucionalismo a invasatildeo da Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Meacutetodo 2008
87Neoconstitucionalismo e positivismo juriacutedico Satildeo Paulo Landy 2006
88Teoria do direito e argumentaccedilatildeo racional temas de teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica op cit p 141-240
89Uma visatildeo criacutetica do neoconstitucionalismo In George Salomatildeo Leite Glauco Salomatildeo Leite Constituiccedilatildeo e efetividade constitu-
cional Salvador JusPodium 2008 p 43-60
90Neoconstitucionalismo entre a Ciecircncia do direito e o direito da ciecircncia In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento
Gustavo Binenbojm Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 p 187-202
91Cf Peticcedilatildeo 1246 MSSC julgada em 31011997 (obrigaccedilatildeo do Estado de realizar transplante de ceacutelulas mioblaacutesticas para salvar
a vida de crianccedila) Agravo de Instrumento no Recurso Extraordinaacuterio 271286RS DJU 24 nov 2000 (entrega de medicamentos
para portadores de HIV) e Agravo de Instrumento do Recurso Extraordinaacuterio nordm 410715-5 julgado em 22112005 (obrigaccedilatildeo de
fornecimento de vagas para educaccedilatildeo infantil pelo municiacutepio com atendimento em creches e preacute-escola)
92Recursos Extraordinaacuterios nordms 158215-4RS 161243-6DF 201819RJ
93Cf Mandado de Injunccedilatildeo 670ES Rel Min Gilmar Mendes julgado em 25102007 em que o STF revendo orientaccedilatildeo anterior
deu eficaacutecia normativa agrave sentenccedila proferida no mandado de injunccedilatildeo No caso decidiuse que ateacute o advento de lei regulamentado-
ra sobre a greve no serviccedilo puacuteblico o direito de greve poderia ser exercido obedecendo-se os limites impostos pela Lei 778389
que trata dos movimentos paredistas em serviccedilos essenciais no setor privado
94Sobre a tendecircncia agrave superaccedilatildeo da ideacuteia do Judiciaacuterio como legislador negativo na jurisdiccedilatildeo constitucional veja-se Joseacute Adeacutercio
Leite Sampaio A Constituiccedilatildeo reinventada pela jurisdiccedilatildeo constitucional Belo Horizonte Del Rey 2002 p 203-248
95Eacute lugar-comum dentre os autores que tratam da questatildeo associar tais mudanccedilas agrave pluralizaccedilatildeo das vozes na interpretaccedilatildeo consti-
tucional tema em que a referecircncia essencial no cenaacuterio germacircnico eacute Peter Haumlberle Veja-se a propoacutesito Peter Haumlberle Herme-
necircutica constitucional A sociedade aberta dos inteacuterpretes da Constituiccedilatildeo contribuiccedilatildeo para a interpretaccedilatildeo pluralista e procedi-
mental da Constituiccedilatildeo Traduccedilatildeo de Gilmar Ferreira Mendes Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1997 Veja-se ainda na doutrina
brasileira Gustavo Binenbojm A dimensatildeo do Amicus Curiae no processo constitucional brasileiro In Temas de direito constitu-
cional e administrativo Rio de Janeiro Renovar 2008 p 165-190
96ADIN 3510DF Relator Ministro Carlos Ayres Britto A accedilatildeo proposta contra o art 5ordm da Lei de Biosseguranccedila impugnava a auto-
rizaccedilatildeo de pesquisas com embriotildees humanos resultantes de fertilizaccedilatildeo in vitro que fossem inviaacuteveis ou estivessem congelados haacute
mais de trecircs anos A accedilatildeo foi julgada totalmente improcedente por 6 votos a 5
97ADPF nordm 54 A accedilatildeo que tem como relator o Ministro Marco Aureacutelio ainda natildeo foi julgada mas em seu bojo jaacute ocorreram diversas
audiecircncias puacuteblicas que provocaram intensa participaccedilatildeo da sociedade civil e grande interesse na miacutedia
34
98ADPF nordm 132 Relator Ministro Carlos Ayres Britto A accedilatildeo ainda foi julgada
99Mandados de Seguranccedila 26602DF 26603DF e 26604DF Informativo STF n 482
100Recurso Extraordinaacuterio 197917SP Rel p acoacuterdatildeo Min Ceacutesar Peluso DJU 18 fev 2005
101O livro de Alberto Carlos Almeida A cabeccedila do brasileiro lanccedilado em 2007 conteacutem pesquisas feitas sobre uma acuteseacuterie de temas
com pessoas de todas as classes sociais e regiotildees do paiacutes Uma das pesquisas eacute relativa agrave avaliaccedilatildeo das instituiccedilotildees Dentre as treze
avaliadas as duas que obtiveram menor aprovaccedilatildeo foram os partidos poliacuteticos (avaliaccedilatildeo positiva de 28 dos entrevistados) e o
Congresso (avaliaccedilatildeo positiva de 36 dos entrevistados) Cf Antonio Carlos Almeida A cabeccedila do brasileiro Rio de Janeiro Re-
cord 2007 p 187
102Cf Luis Roberto Barroso Judicializaccedilatildeo ativismo judicial e legitimidade democraacutetica Texto ainda ineacutedito gentilmente cedido
pelo autor
103Humberto Aacutevila por exemplo formula outra criacutetica importante de que o neoconstitucionalismo seria inadequado agrave realidade
constitucional brasileira jaacute que privilegia os princiacutepios e a Carta de 88 seria muito mais regulatoacuteria do que principioloacutegica (Neo-
constitucionalismo entre a ciecircncia do direito e o direito da ciecircncia Op cit p 188-192)
104Contudo natildeo eacute razoaacutevel estender esta criacutetica ao ponto de negar o caraacuteter democraacutetico da atuaccedilatildeo judicial Como ressaltou
Eugenio Rauacutel Zaffaroni uma instituiccedilatildeo natildeo eacute democraacutetica unicamente porque natildeo provenha de eleiccedilatildeo popular porque nem tudo
o que proveacutem desta origem eacute necessariamente aristocraacutetico Uma instituiccedilatildeo eacute democraacutetica quando seja funcional para o sistema
democraacutetico quer dizer quando seja necessaacuteria para a sua continuidade como ocorre com o judiciaacuterio (Poder judiciaacuterio crise
acertos e desacertos Traduccedilatildeo de Juarez Tavares Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1995 p 43)
105Cf Robert A Dahl Sobre a democracia Traduccedilatildeo de Beatriz Sidou Brasiacutelia UNB 2001 p 97-113 Juumlrgen Habermas Popular
Sovereignity as Procedure In James Bonham William Rehg Deliberative Democracy Cambridge The MIT Press 1997 p 35-66
106A questatildeo da tensatildeo e sinergia simultacircneas entre constitucionalismo e democracia eacute um dos debates mais fecundos da Teoria
Poliacutetica e da Filosofia Constitucional que tem atravessado o tempo desde o advento do constitucionalismo moderno no seacuteculo
XVIII Veja-se no debate contemporacircneo Jeremy Waldron Preocommitment and Disagreement In Larry Alexander Constitu-
cionalism Philosophical Foundations Cambridge Cambridge University Press 1998 p 271-299 Juumlrgen Habermas O Estado demo-
craacutetico de direito uma amarraccedilatildeo paradoxal de princiacutepios contraditoacuterios In Era das transiccedilotildees Traduccedilatildeo de Flaacutevio Beno Siebe-
neichler Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 2003 p 153-173 Carlos Santiago Nino La Constitucioacuten de la Democracia Deliberativa
Op cit Frank Michelman Brennan and Democracy Princeton Princeton University Press 1999 p 03-62 Stephen Holmes El
Precompromiso y la Paradoja de la Democracia In Jon Elster Rune Slagstad Constitucionalismo y Democracia Traduccedilatildeo de Mocircni-
ca Utrilla de Neira Mexico Fondo de Cultura Econocircmica 1999 p 217-262
107O problema da limitaccedilatildeo do legislador atual pelas decisotildees do constituinte adotadas no passado envolve a problemaacutetica da
partilha intergeracional de poder bem explicitada na fala de Jefferson que defendia que a cada 19 anos deveria ser elaborada
uma nova Constituiccedilatildeo nos Estados Unidos para que a Lei Maior daquele paiacutes natildeo se tornasse um mecanismo de governo dos mor-
tos sobre os vivos Em siacutentese apertada haacute na teoria poliacutetica contemporacircnea duas linhas principais de justificativa para a legiti-
midade destas restriccedilotildees
Uma eacute a teoria da democracia dualista defendida por Bruce Ackerman que sustenta que as decisotildees adotadas pelo proacuteprio povo
em contextos de grande mobilizaccedilatildeo ciacutevica devem ser protegidas do alcance da vontade dos representantes do povo formada em
momentos em que a cidadania natildeo esteja intensamente envolvida Esta teoria distingue a poliacutetica extraordinaacuteria correspondente
agravequeles momentos constitucionais da poliacutetica ordinaacuteria que se realiza atraveacutes das deliberaccedilotildees do dia a dia dos oacutergatildeos represen-
tativos Para a perspectiva ackermaniana a poliacutetica extraordinaacuteria - que natildeo exige necessariamente formalizaccedilatildeo procedimental
atraveacutes de assembleacuteia constituinte ou de emenda constitucional - se situa em patamar superior agrave poliacutetica ordinaacuteria e pode legiti-
mamente impor limites a esta (cf Bruce Ackerman We the people Foundations Cambridge The Belknap Press 1991 p 03-33)
Outra teoria eacute a do preacute-compromisso que jaacute foi advogada por Jon Elster Segundo ela eacute legiacutetimo subtrair do alcance das maiorias
determinadas questotildees fundamentais que expressam princiacutepios fundamentais de justiccedila poliacutetica ou garantam os pressupostos da
proacutepria democracia tendo em vista o risco de que no processo poliacutetico majoritaacuterio em momentos de irracionalidade o povo
35
possa ser viacutetima de suas proacuteprias fraquezas ou paixotildees momentacircneas atentando contra tais princiacutepios (cf Ulisses and Sirens
Cambridge Cambridge University Press 1979)
Ambas as concepccedilotildees - a primeira mais proacutexima ao republicanismo e a segunda de vieacutes mais liberal - tecircm a sua dose de procedecircn-
cia mas ensejam criacuteticas importantes Todavia foge a escopo do presente trabalho analisar esta questatildeo que eacute uma das mais
complexas da Filosofia Poliacutetica moderna e contemporacircnea Para uma visatildeo geral sobre o tema na literatura em liacutengua portuguesa
veja-se Oscar Vilhena Vieira A Constituiccedilatildeo e sua reserva de justiccedila Op cit Miguel Nogueira de Brito A Constituiccedilatildeo constituin-
te ensaio sobre o poder de revisatildeo da Constituiccedilatildeo Coimbra Coimbra 2000 Samantha Chantal Dobrowolski Op cit p 265-312
Rodrigo Brandatildeo Direitos fundamentais democracia e claacuteusulas peacutetreas Rio de Janeiro Renovar 2008 p 59-112
108Cf Michel Troper Justice Constitutionelle et Deacutemocratie In Pour une Theorie Juridique de LEacutetat Paris PUF 1994 p 317-328
Claacuteudio Pereira de Souza Neto Jurisdiccedilatildeo constitucional democracia e racionalidade praacutetica Op cit p 106-130 Gustavo Binen-
bojm A nova jurisdiccedilatildeo constitucional brasileira Op cit p 55-74
109Sobre o modelo revolucionaacuterio francecircs de constitucionalismo completamente avesso agrave ideacuteia de jurisdiccedilatildeo constitucional cf
Maurizio Fioravanti Constitucioacuten de la antiguumledad a nuestros dias Traduccedilatildeo de Manuel Martinez Neira Madrid Trotta 2001 p
120-132
110Cf Carl Schmitt La Defesa de la Constitucioacuten Madrid Tecnos 1983
111O constitucionalismo popular ou populismo constitucional eacute uma importante corrente no debate constitucional norte-americano
contemporacircneo que nega a legitimidade democraacutetica do controle de constitucionalidade advogando que deve caber ao proacuteprio
povo e natildeo a uma elite de juiacutezes natildeo eleitos com assento na Suprema Corte o poder de definir o sentido das claacuteusulas vagas que
abundam no texto constitucional daquele paiacutes Na defesa desta tese satildeo empregados tanto argumentos de teoria e filosofia poliacuteti-
ca de caraacuteter mais universal como razotildees histoacutericas relacionadas agrave evoluccedilatildeo do constitucionalismo estadunidense Veja-se nesta
linha Mark Tushnet Taking the Constitution Away from the Courts Princeton Princeton University Press 1999 Jeremy Waldron
Precommitment and Disagreement Op cit Larry D Kramer The People Themselves Popular constitutionalism and judicial re-
view New York Oxford University Press 1994
Ateacute algumas deacutecadas atraacutes a oposiccedilatildeo agrave jurisdiccedilatildeo constitucional nos Estados Unidos partia em regra da Direita que natildeo se con-
formava com a jurisprudecircncia extremamente liberal em mateacuteria de direitos fundamentais estabelecida pela Corte entre os anos
50 e 70 Atualmente uma boa parte dos opositores agrave judicial review situa-se agrave esquerda do espectro poliacutetico e talvez a nova linha
profundamente conservadora daquele Tribunal ajude a explicar esta mudanccedila
112Sobre a Era de Lochner veja-se Laurence H Tribe American Constitutional Law 2 ed Mineola The Foundation Press 1988 p
567-581 Paul Brest et al Processes of Constitucional Decisionmaking 4 ed New York Aspen Publishers 2000 p 337-354
113Towards Juristocracy hellip Op cit
114Tratei do tema no artigo Direito adquirido emenda constitucional democracia e justiccedila social In Livres e iguais Op cit p
03-32
115Cf Charles R Epp The Rights Revolution Chicago The University of Chicago Press 1998 p 26-70 Owen Fiss The Law as It
Could Be New York New York University Press 2003 p 244-249
116A importacircncia e as peculiaridades da interpretaccedilatildeo legislativa da Constituiccedilatildeo satildeo exploradas em importante obra coletiva
Richard W Bauman Tsvi Kahana The Least Examined Branch The Role of Legislatures in the Constitutional State Cambridge
Cambridge University Press 2006
117Cf em tom ainda mais ceacutetico do que o adotado neste estudo Martonio MontAlverne Barreto Lima Jurisdiccedilatildeo Constitucional
um problema da teoria da democracia poliacutetica In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Gilberto Bercovici Joseacute Filomeno de Moraes
Filho Martonio MontAlverne Teoria da Constituiccedilatildeo estudos sobre o lugar da poliacutetica no direito constitucional Rio de Janeiro
Lumen Juris 2003 p 199-261 Conrado Huumlbner Mendes Controle de constitucionalidade e democracia Rio de Janeiro Elsevier
2008
36
118Para criacutetica semelhante no contexto germacircnico veja-se Ingeborg Maus O judiciaacuterio como superego da sociedade sobre o papel
da atividade jurisprudencial na sociedade oacuterfatilde Traduccedilatildeo de Martonio MontAlverne Barreto Lima Paulo Antonio Menezes de Albu-
querque Anuaacuterio dos Cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito da Faculdade de Direito de Recife n 11 2000
119Eu aprofundo a anaacutelise deste ponto no meu artigo Interpretaccedilatildeo constitucional preacute-compreensatildeo e capacidades institucionais do
inteacuterprete In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm (Coord) Vinte anos da Constituiccedilatildeo Federal
de 1988 Op cit p 311-322 E a necessidade de optar por teoria de interpretaccedilatildeo que leve em consideraccedilatildeo as capacidades
institucionais reais dos juiacutezes comparando-as com as dos agentes de outras instituiccedilotildees eacute explorada no importante estudo de Cass
Sunstein Adrian Vermeulle Interpretations and Institutions Chicago Working Papers in Law amp Economics 2002 p 01-55 bem
como no livro de Adrian Vermeulle Judging under Uncertainty An Institutional Theory for Legal Interpretation Cambridge Har-
vard University Press 2006
120Dentre as honrosas exceccedilotildees mencione-se Luiacutes Roberto Barroso autor de importante artigo com sugestotildees para a reforma poliacuteti-
ca no paiacutes Reforma poliacutetica uma proposta de sistema de governo eleitoral e partidaacuterio para o Brasil Revista de Direito do Esta-
do n 3 p 287-360 jul set 2006
121Sobre o ethos judicial no Brasil veja-se a pesquisa de Maria Tereza Sadek Magistrados uma imagem em movimento Rio de
Janeiro FGV 2006
122Em sentido semelhante veja-se Michael J Perry The Constitution the Courts and Human Rights New Haven Yale University
Press 1982 p 91-145
123Neste ponto entendo que um standard importante que deveria ser adotado para controle de constitucionalidade eacute o de que
quanto maiores forem as credencias democraacuteticas de um ato normativo mais autocontido deve ser o Poder Judiciaacuterio ao avaliar a
sua constitucionalidade Na minha opiniatildeo estas credencias democraacuteticas devem ser aferidas tanto por criteacuterios qualitativos - eg
grau de participaccedilatildeo social no processo legislativo qualidade do processo deliberativo que a antecedeu - como por criteacuterios quanti-
tativos - percentual de votos favoraacuteveis agrave medida Em sentido semelhante veja-se Claacuteudio Ari Mello Democracia e direitos funda-
mentais Op cit p 298
124Em sentido proacuteximo apontam as liccedilotildees de Gustavo Binenbojm e Humberto Aacutevila O primeiro tratando do controle judicial dos
atos administrativos averbou que quanto maior for o grau de tecnicidade da mateacuteria objeto de decisatildeo por oacutergatildeos dotados de
expertise e experiecircncia menos intenso deve ser o grau de controle judicial (Uma teoria do direito administrativo Op cit p
236) Jaacute o segundo salientou que o acircmbito de controle pelo Judiciaacuterio deveraacute ser tanto menor quanto mais difiacutecil e teacutecnico for
o juiacutezo exigido para o tratamento da mateacuteria (Teoria dos princiacutepios Op cit p 126)
125Um exemplo extremado deste posicionamento estaacute na argumentaccedilatildeo adotada pelo STF no julgamento da ADIN 2797 Rel Min
Sepuacutelveda Pertence em que se reconheceu a inconstitucionalidade formal de lei que pretendia interpretar a Constituiccedilatildeo Para o
STF natildeo pode a lei ordinaacuteria pretender impor como seu objeto imediato uma interpretaccedilatildeo a Constituiccedilatildeo a questatildeo eacute de in-
constitucionalidade formal iacutensita a toda norma da gradaccedilatildeo inferior que se proponha a ditar interpretaccedilatildeo de norma superior
Na questatildeo de fundo abordada naquele caso entendo que o STF estava certo Tratava-se de invalidar uma norma legal que esten-
dera o foro de prerrogativa de funccedilatildeo a ex-ocupantes de cargos puacuteblicos visando a restaurar antiga jurisprudecircncia do STF sedi-
mentada na Suacutemula 394 do Tribunal que acabara de ser cancelada O princiacutepio republicano natildeo era compatiacutevel com tal medida
que configurava niacutetido privileacutegio O que me parece inaceitaacutevel e profundamente anti-democraacutetico com a devida vecircnia natildeo eacute o
resultado alcanccedilado pela Corte - com o qual concordo - mas o argumento empregado de que o legislador natildeo pode interpretar a
Constituiccedilatildeo
126Existe hoje uma fecunda produccedilatildeo acadecircmica no cenaacuterio anglo-saxatildeo sobre as vantagens de modelos teoacutericos que favoreccedilam
diaacutelogos entre diversos oacutergatildeos e instituiccedilotildees na interpretaccedilatildeo constitucional ao inveacutes de afirmarem a exclusividade ou mesmo a
supremacia do Judiciaacuterio nesta seara Veja-se a propoacutesito Laurence G Sager Justice in Plainclothes A Theory of American Con-
stitutional Practice New haven Yale University Press 2004 Mark Tushnet Weak Courts Strong Rights Judicial Review and Social
Welfare Rights in Comparative Constitutional Law Princeton Princeton University Press 2008 Mark C Miller Jeb Barnes (Ed)
Making Police Making Law An Interbranch Perspective Washington DC Georgetown University Press 2004
37
127Colhi o exemplo no estudo de Oscar Vilhena Vieira Supremocracia In Daniel Sarmento (Org) Filosofia e teoria constitucional
contemporacircnea Rio de Janeiro Lumen Juris 2009
128Como um natildeo-positivista tenho a necessaacuteria imparcialidade para criticar os equiacutevocos da doutrina brasileira nas suas invectivas
contra o positivismo que muitas vezes caracterizam verdadeira falaacutecia do espantalho ataca-se natildeo a proacutepria teoria positivista
mas uma distorcida caricatura dela Duas afirmaccedilotildees erradas que eu mesmo jaacute fiz em textos anteriores satildeo muito frequumlentes a
de que o positivismo recusa a aplicaccedilatildeo dos princiacutepios juriacutedicos e a de que ele teria sido a Filosofia do Direito cultivada na Alema-
nha nazista
Quanto ao primeiro ponto natildeo haacute nenhuma incompatibilidade loacutegica entre positivismo e princiacutepios desde que os princiacutepios este-
jam devidamente incorporados na ordem juriacutedico-positiva Vaacuterios autores positivistas contemporacircneos jaacute citados neste estudo
como Luis Prietro Sanchiacutes Luigi Ferrajoli e Gregorio Peces-Barba atribuiacuteram espaccedilo importante para princiacutepios nas suas teorias
Mesmo no Direito Puacuteblico brasileiro juristas de inspiraccedilatildeo positivista kelseniana construiacuteram suas teorias com apoio em argumen-
taccedilatildeo principioloacutegica como o falecido Geraldo Ataliba e Celso Antonio Bandeira de Mello
No que tange ao segundo ponto - a chamada redutio ad hitlerum - os estudos mais autorizados de Histoacuteria do Direito comprovam
que natildeo foi o positivismo a teoria juriacutedica dominante no nazismo mas uma espeacutecie de jusnaturalismo de inspiraccedilatildeo hegeliana que
se insurgia contra o formalismo e recorria com frequumlecircncia a conceitos muito vagos para justificar a barbaacuterie como os de comuni-
dade popular (Volksgemeinschaft) Veja-se a propoacutesito Michael Stolleis The Law under the Swastika Studies on Legal History in
Nazi Germany Traduccedilatildeo de Thomas Dunlap Chicago The University of Chicago Press 1998
129Cf Joseacute Joaquim Gomes Canotilho Direito constitucional e Teoria da Constituiccedilatildeo Coimbra Almedina 1998 p 1036
130Sobre a importacircncia das regras veja-se Frederick Schauer Playing by the Rules A Philosophical Exaxamination of Rule-Bases
Decision-Making in Law and Life Oxford Oxford University Press 1998 Humberto Aacutevila Neoconstitucionalismo entre a ciecircncia do
direito e o direito da ciecircncia Op cit Noel Struchiner Posturas institucionais e modelagem institucional a dignidade (contingente)
do formalismo juriacutedico In Daniel Sarmento Filosofia e teoria constitucional contemporacircnea Op cit
131Esta eacute expressatildeo empregada por Ana Paula de Barcellos O direito constitucional em 2006 Revista de Direito do Estado n 5 p
03-23 janmar 2007
132Cf Chaiumlm Perelman P Fories La Motivation des Deacutecisions de Justice Bruxelas Eacutemile Bruylant 1978
133Sobra a influecircncia do jeitinho no Direito brasileiro cf Keith Rosen O jeito na cultura juriacutedica brasileira Rio de Janeiro Reno-
var 1997
134Sobre o patrimonialismo no Brasil veja-se Raimundo Faoro Os donos do poder 8 ed Rio de Janeiro Globo 1989 v 2 p 729-
750
135Raiacutezes do Brasil 26 ed Satildeo Paulo Companhia das Letras 1995
136Cf Joseacute Murilo de Carvalho Brasileiro Cidadatildeo In Pontos e bordados escritos de histoacuteria e poliacutetica Belo Horizonte Ed
UFMG 2005 p 275-288
137Cf Gustavo Zagrebelsky Il Diritto Mite Op cit p 15-19
138Cf Marcelo Neves A constitucionalizaccedilatildeo simboacutelica Satildeo Paulo Acadecircmica 1994
139A obra de Niklas Luhman eacute vasta e complexa e seus textos satildeo de difiacutecil compreensatildeo para os natildeo iniciados Veja-se do proacuteprio
autor Sociologia do direito I e II Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 1983 e 1985 Sistema Jurididico y Dogmaacutetica Juriacutedica Madrid
Centro de Estuacutedios Constitucionales 1983 Confira-se tambeacutem a coletacircnea organizada por Andreacute-Jean Arnaud Dalmir Lopes Jr Do
sistema social agrave sociologia juriacutedica Rio de Janeiro Lumen Juris 2004
140Sobre a autopoieses do Direito veja-se tambeacutem a obra importante de Guumlnther Teubner O direito como sistema autopoieacutetico
Traduccedilatildeo de Joseacute Engracia Nunes Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1993
141Cf Luis Roberto Barroso Neoconstitucionalismo e a constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit
142Esta era basicamente a visatildeo de Hans Kelsen (Cf Hans Kelsen Jurisdiccedilatildeo constitucional Traduccedilatildeo de Alexandre Krug et al Satildeo
Paulo Martins Fontes 2003 p 153) Para uma anaacutelise criacutetica desta posiccedilatildeo veja-se Luis Prietro Sanchiacutes Presupuestos ideoloacutegicos
y doctrinales de la jurisdicioacuten constitucional In Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales Op cit p 21-100
38
143Cf Christian Starck La suprematie La Suprematie de la Constitution et la Justice Constitutionnelle In La Constitution Cadre et
Mesure du Droit Traduccedilatildeo de Freacutederic Weill Paris Econocircmica 1994 p 26-30 Ernst- Wolfgang Boumlckenfoumlrde Les meacutethodes
dinterpretation de la Constitution Un bilan critique In Le Droit lEacutetat et la Constitution Democratique Traduccedilatildeo de Olivier
Jouanjan Paris LGDJ 2000 p 249-250 Virgiacutelio Afonso da Silva Constitucionalizaccedilatildeo do direito os direitos fundamentais nas
relaccedilotildees entre particulares Satildeo Paulo Malheiros 2005 p 107-131 Daniel Sarmento Ubiquumlidade constitucional os dois lados da
moeda Op cit Luis Roberto Barroso Curso de Direito Constitucional Contemporacircneo Op cit p 391-394 Alceu Mauriacutecio Jr
Judicializaccedilatildeo da poliacutetica e a crise do direito constitucional a Constituiccedilatildeo entre ordem marco e ordem fundamenta Revista de
Direito do Estado n 10 p 125-142 abrjun 2008
144Der Staat der Industriegesellshaft 2 ed Muumlnchen Beck 1971 p 144 Apud Robert Alexy Posfaacutecio In Teoria dos direitos
fundamentais Op cit p 578
145De acordo com Carlos Santiago Nino o perfeccionaismo eacute la concepcioacuten seguacuten la cual es una misioacuten legiacutetima del Estado hacer
que los individuos acepten y materializen ideales vaacutelidos de virtud personal Seguacuten este enfoque el Estado no puede permanecer
neutral respecto de concepciones de lo bueno en la vida y debe adoptar las medidas educativas punitorias etc que sean necesa-
rias para que los indiviacuteduos ajusten su vida a los verdaderos ideales de virtud y del bien (Eacutetica y Derechos Humanos Un ensayo de
fundamentacioacuten 2 ed Buenos Aires Astrea 1989 p 413)
146Daniel Sarmento Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas 2 ed Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 Sobre o tema na literatura
nacional veja-se tambeacutem Wilson Antocircnio Steinmetz A vinculaccedilatildeo dos particulares aos direitos fundamentais Satildeo Paulo Malheiros
2004 Virgiacutelio Afonso da Silva Constitucionalizaccedilatildeo do direito os direitos fundamentais nas relaccedilotildees entre particulares Op cit
Ingo Wolfgang Sarlet Direitos fundamentais e direito privado algumas consideraccedilotildees em torno da vinculaccedilatildeo dos particulares aos
direitos fundamentais In Ingo Wolfgang Sarlet (Org) A Constituiccedilatildeo concretizada Porto Alegre Livraria do Advogado 1999 p
129-173 Jane Reis Gonccedilalves Pereira Apontamentos sobre a aplicaccedilatildeo das normas de direito fundamental nas relaccedilotildees juriacutedicas
entre particulares In Luis Roberto Barroso (Org) A nova interpretaccedilatildeo constitucional ponderaccedilatildeo direitos fundamentais e
relaccedilotildees privadas Rio de Janeiro Renovar 2003 p 119-192
147Sobre a questatildeo da (i)legitimidade do perfeccionismo no Direito veja-se Joel Feinberg Rights Justice and the Bounds of Liber-
ty Princeton Princeton University Press 1980 Carlos Santiago Nino Eacutetica y Derechos Humanos Op cit p 413-446 Rainer Forst
Contexts of Justice Political Philosophy beyond Liberalism and Communitarianism Traduccedilatildeo de John M M Farrel Berkeley Uni-
versity of Califoacuternia Press 2001 p 30-87 Macaacuterio Alemany El Paternalismo Juriacutedico Madrid Iustel 2006
148Um sofisticado modelo que busca conciliar a constitucionalizaccedilatildeo do Direito com a democracia estaacute exposto no Poacutesfaacutecio agrave Teo-
ria dos Direitos Fundamentais de Robert Alexy acima citado Veja-se ainda Konrad Hesse Concepto y Cualidad de la Constitu-
cion In Escritos de Derecho Constitucional Traduccedilatildeo de Pedro Cruz Villaloacuten 2 ed 1992 p 03-29
149Tentei articular a minha teoria sobre eficaacutecia horizontal dos direitos fundamentais com este objetivo Cf Daniel Sarmento
Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas Op cit p 141-182 259-272
150Sobre el Neoconstitucionalismo y sus Implicaciones Op cit p 117
151Aqui entendo que o simples reconhecimento da penetraccedilatildeo da Moral no Direito preconizada pelos neoconstitucionalistas brasi-
leiros natildeo eacute suficiente jaacute que certas concepccedilotildees morais podem tornar o ordenamento ainda mais opressivo do que jaacute eacute Afinal
nem sempre a moralizaccedilatildeo do Direito se daacute na direccedilatildeo da emancipaccedilatildeo dos excluiacutedos Veja-se por exemplo a famosa polecircmica
jusfilosoacutefica entre Lord Patrick Devlin e Herbert Hart nos anos 60 na Inglaterra a propoacutesito do uso do Direito Penal para promoccedilatildeo
de Moral em que o primeiro a partir de uma posiccedilatildeo proacute-moral sustentava a legitimidade da criminalizaccedilatildeo da conduta homos-
sexual que o segundo contestava (Cf Lord Patrick Devlin Morals and Criminal Law In Ronald Dworkin (Ed) The Philosophy of
Law Op cit p 66-82 Herbert Hart Immorality and Treason In Idem ibidem)
Eacute preciso assentar as bases criacuteticas desta Moral que deve penetrar o Direito para evitar que o moralismo conservador seja expulso
do ordenamento pela porta da frente superado pela legislaccedilatildeo moderna em razatildeo da progressiva liberalizaccedilatildeo da sociedade mas
volte pela porta dos fundos atraveacutes da argumentaccedilatildeo juriacutedica dos juiacutezes lastreada em conceitos vagos como ordem puacuteblica e
bons constumes ou em standards como o comportamento do bom pai de famiacutelia
39
22
atingidos apenas pelo braccedilo punitivo do Estado pois a violaccedilatildeo rotineira dos seus direitos eacute
naturalizada tornando-se invisiacutevel
Neste quadro cabe indagar sob a perspectiva de uma sociologia da interpretaccedilatildeo constitucio-
nal ateacute que ponto a introduccedilatildeo entre noacutes de uma dogmaacutetica fluida - a expressatildeo eacute de Gusta-
vo Zagrebelsky137 um dos iacutecones do neoconstitucionalismo - natildeo pode ter como efeito colateral
o agravamento de patologias que marcam as nossas relaccedilotildees sociais Seraacute que o nosso Direito
precisa de mais rigidez ou de maior maleabilidade Ao fim e ao cabo quem tende a se benefi-
ciar com a adoccedilatildeo de uma hermenecircutica juriacutedica mais flexiacutevel
Uma reflexatildeo importante sobre tema correlato foi empreendida por Marcelo Neves138 a partir
das categorias da teoria sistecircmica de Niklas Luhman Para Luhman139 em apertada siacutentese o
Direito nas hipercomplexas sociedades modernas seria autopoieacutetico140 pois consistiria num
subsistema social estruturalmente fechado em relaccedilatildeo ao meio envolvente que operaria de
acordo com um coacutedigo binaacuterio proacuteprio - o liacutecito iliacutecito As influecircncias do meio envolvente so-
bre o Direito seriam filtradas atraveacutes deste coacutedigo assegurando a autonomia da esfera juriacutedica
diante dos outros subsistemas sociais como a Economia a Poliacutetica a Religiatildeo etc Contudo
Marcelo Neves sustenta que em sociedades perifeacutericas como o Brasil natildeo se desenvolveu ple-
namente este fechamento estrutural do Direito Por aqui fatores como a nossa constituciona-
lizaccedilatildeo simboacutelica geraram uma insuficiente diferenciaccedilatildeo do Direito em relaccedilatildeo a outros sub-
sistemas sociais permitindo que elementos a princiacutepio estranhos ao coacutedigo binaacuterio do juriacutedico -
como a questatildeo do poder poliacutetico e do poder econocircmico - se infiltrem sistematicamente nos
processos de aplicaccedilatildeo das normas condicionando o seu resultado A teoria dos sistemas de
Luhman natildeo funcionaria bem entre noacutes pois teriacuteamos um Direito em boa parte alopoieacuteti-
coPara tal perspectiva esta maior abertura do Direito ao meio envolvente natildeo assume o po-
tencial emancipatoacuterio preconizado pela teoria neoconstitucionalista Ela funciona muito mais
como um mecanismo de cristalizaccedilatildeo de diferenccedilas sociais mantendo a hiper-inclusatildeo de uns
ao preccedilo da exclusatildeo de outros
Esta reflexatildeo de Marcelo Neves natildeo se dirigiu ao debate metodoloacutegico contemporacircneo envol-
vendo princiacutepios e regras ponderaccedilatildeo e subsunccedilatildeo etc Poreacutem entendo que ela pode ter algu-
ma pertinecircncia tambeacutem aqui pelo menos para nos advertir sobre o perigo de que o neoconsti-
tucionalismo com a fluidez metodoloacutegica e abertura do Direito a outros domiacutenios que preconi-
za possa acabar tornando-se um belo roacutetulo para justificar mais do mesmo patrimonialismo
desigualdade jeitinho Nesta perspectiva a novidade do neoconstitucionalismo poderia pare-
cer com aquela advogada pelo Priacutencipe de Salinas em famosa passagem do romance O Leopar-
do de Giuseppe Lampedusa quando defendia no contexto da crise da aristocracia italiana do
23
final do seacuteculo XIX a necessidade de mudanccedilas urgentes no governo para que ao final as
coisas pudessem permanecer exatamente do jeito que sempre foram
Natildeo penso que esta seja uma consequumlecircncia necessaacuteria da adoccedilatildeo de uma perspectiva juriacutedica
mais principialista no Brasil O maior cuidado metodoloacutegico adicionado agrave adoccedilatildeo de uma dire-
triz hermenecircutica substantiva que afirme a missatildeo essencial do Direito de assegurar justiccedila e
seguranccedila agraves pessoas tratando-as como livres e iguais pode minimizar as possibilidades de um
uso enviesado da teoria neoconstitucional que acabe favorecendo aos mesmos de sempre
Mas diante das nossas tradiccedilotildees natildeo haacute como negar que os riscos satildeo elevados
c) Neoconstitucionalismo e panconstitucionalizaccedilatildeo
Uma das caracteriacutesticas do neoconstitucionalismo eacute a defesa da constitucionalizaccedilatildeo do Direi-
to Sustenta-se que a irradiaccedilatildeo das normas constitucionais por todo o ordenamento contribui
para aproximaacute-lo dos valores emancipatoacuterios contidos nas constituiccedilotildees contemporacircneas 141A
Constituiccedilatildeo natildeo eacute vista mais como uma simples norma normarum - cuja finalidade principal eacute
disciplinar o processo de produccedilatildeo de outras normas142 Ela passa a ser enxergada como a en-
carnaccedilatildeo dos valores superiores da comunidade poliacutetica que devem fecundar todo o sistema
juriacutedico Neste modelo cabe ao inteacuterprete natildeo soacute aplicar diretamente os ditames constitucio-
nais agraves relaccedilotildees sociais como tambeacutem reler todas as normas e institutos dos mais variados ra-
mos do Direito agrave luz da Constituiccedilatildeo emprestando-lhes o sentido que mais promova os objeti-
vos e a axiologia da Carta
A constitucionalizaccedilatildeo do Direito de que cogita o neoconstitucionalismo natildeo eacute aquela que resul-
ta do caraacuteter excessivamente analiacutetico da Constituiccedilatildeo e leva ao entricheiramento de meras
opccedilotildees conjunturais do constituinte originaacuterio ou derivado despidas de maior importacircncia ou
dignidade Este eacute um fenocircmeno caracteriacutestico da Carta de 88 que se excedeu no casuiacutesmo e
nos detalhes elevando ao seu texto meros interesses corporativos ou decisotildees de momento
sem focirclego para perdurarem no tempo A constitucionalizaccedilatildeo louvada e defendida pelo neo-
constitucionalismo eacute aquela que parte de uma interpretaccedilatildeo extensiva e irradiante dos direitos
fundamentais e dos princiacutepios mais importantes da ordem constitucional Aqui contudo pode-
se discutir ateacute que ponto o fenocircmeno eacute legiacutetimo Poucos discordaratildeo pelo menos no Brasil de
que alguma constitucionalizaccedilatildeo do Direito eacute positiva e bem-vinda por semear o ordenamento
com os valores humanitaacuterios da Constituiccedilatildeo Poreacutem pode-se objetar contra as teses extrema-
das sobre este processo que acabam amputando em demasia o espaccedilo de liberdade do legisla-
dor em detrimento da democracia 143
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Com efeito quem defende que tudo ou quase tudo jaacute estaacute decidido pela Constituiccedilatildeo e que o
legislador eacute um mero executor das medidas jaacute impostas pelo constituinte nega por conse-
quumlecircncia a autonomia poliacutetica ao povo para em cada momento da sua histoacuteria realizar as suas
proacuteprias escolhas O excesso de constitucionalizaccedilatildeo do Direito reveste-se portanto de um
vieacutes antidemocraacutetico Esta ordem de preocupaccedilotildees levou Ersnt Forsthof na Alemanha a criti-
car as teorias que viam a Constituiccedilatildeo como uma espeacutecie de genoma juriacutedico () do qual tudo
deriva do Coacutedigo Penal ateacute a lei sobre a fabricaccedilatildeo de termocircmetros144 E a questatildeo torna-se
ainda mais delicada diante da constataccedilatildeo de que pela abertura semacircntica dos direitos fun-
damentais e dos princiacutepios - principal mateacuteria-prima da constitucionalizaccedilatildeo do Direito - o seu
principal agente acaba sendo o Poder Judiciaacuterio ao dar a uacuteltima palavra sobre a interpretaccedilatildeo
daquelas claacuteusulas Daiacute porque o debate sobre a constitucionalizaccedilatildeo do Direito se imbrica
inexoravelmente com as discussotildees a propoacutesito da judicializaccedilatildeo da poliacutetica e do decisionismo
referidas acima
Ademais a constitucionalizaccedilatildeo do Direito tambeacutem suscita outra linha de preocupaccedilotildees rela-
cionada ao perfeccionismo moral145 na esfera privada No Brasil assim como em muitos outros
paiacuteses jaacute se assentou a ideacuteia de que os direitos fundamentais natildeo se dirigem apenas contra o
Estado vinculando tambeacutem os particulares Entre noacutes tem prevalecido na doutrina a ideacuteia que
eu mesmo defendi em outro estudo146 que a eficaacutecia dos direitos fundamentais nas relaccedilotildees
privadas eacute direta e imediata Em outras palavras entende-se que a proacutepria Constituiccedilatildeo jaacute inci-
de nas relaccedilotildees privadas independentemente de mediaccedilotildees legislativas e que pode gerar o-
brigaccedilotildees positivas ou negativas para os indiviacuteduos e natildeo soacute para os poderes puacuteblicos sempre
no afatilde de proporcionar uma proteccedilatildeo mais completa agrave dignidade humana Ateacute aqui nada a
contestar
Poreacutem o reconhecimento da vinculaccedilatildeo dos particulares agrave Constituiccedilatildeo suscita um risco que
natildeo pode ser ignorado o de imposiccedilatildeo agraves pessoas supostamente em nome de valores constitu-
cionais de comportamentos e estilos de vida que elas proacuteprias rejeitam em detrimento da sua
liberdade existencial Para dar um exemplo bem tosco seria terriacutevel se o Direito em nome do
princiacutepio da solidariedade social pudesse impor agraves pessoas que demonstrassem afetos e senti-
mentos que elas natildeo possuem genuinamente Ou se em nome da isonomia pretendesse inter-
ferir nas escolhas subjetivas e emocionais que os indiviacuteduos fazem nas suas vidas privadas A
constitucionalizaccedilatildeo neste sentido poderia converter-se num pretexto para o exerciacutecio de um
paternalismo anti-liberal em que as pessoas seriam forccediladas a conformarem-se agraves expectativas
sociais forjadas a partir de pautas de accedilatildeo politicamente corretas com apoio na Constitui-
ccedilatildeo147
25
Nenhuma destas duas questotildees eacute insuperaacutevel Eacute possiacutevel aceitar e aplaudir a constitucionaliza-
ccedilatildeo do Direito - fenocircmeno em geral positivo por aproximar a racionalidade emancipatoacuteria da
Constituiccedilatildeo do dia-a-dia das pessoas - mas defender que ela seja temperada por outras preo-
cupaccedilotildees igualmente essenciais no Estado Democraacutetico de Direito com a autonomia puacuteblica e
privada dos cidadatildeos Pode-se reconhecer a legitimidade da constitucionalizaccedilatildeo do Direito
mas numa medida em que natildeo sacrifique em excesso agrave liberdade de conformaccedilatildeo que numa
democracia deve caber ao legislador para realizar opccedilotildees poliacuteticas em nome do povo148 Pode-
se da mesma forma afirmar a incidecircncia direta da Constituiccedilatildeo nas relaccedilotildees privadas mas
sem invadir a esfera das opccedilotildees existenciais da pessoa - que de resto eacute protegida pela proacutepria
Constituiccedilatildeo das ingerecircncias perfeccionistas do Estado e da sociedade149
5 Conclusatildeo Ao fim da leitura destas paacuteginas o leitor pode estar se indagando se eu me alinho ou natildeo ao
neoconstitucionalismo A minha resposta eacute depende da compreensatildeo que se tenha sobre o ne-
oconstitucionalismo Se entendermos o neoconstitucionalismo de acordo com a conhecida defi-
niccedilatildeo de Luis Prietro Sanchiacutes como uma teoria do Direito que se orienta pelas maacuteximas demaacutes
princiacutepios que reglas maacutes ponderacioacuten que subsuncioacuten omnipotencia de la Constitucioacuten en
todas las aacutereas juriacutedicas y en todos conflictos miacutenimamente relevantes en lugar de espacios
exentos en favor de la opcioacuten legislativa o reglamentaria omnipotencia judicial en lugar de
autonomia del legislador ordinaacuterio y por ultimo coexistecircncia de una constelacioacuten plural de
valores a veces tendencialmente contradictorios en lugar de homogeneidad ideoloacutegica150
certamente eu natildeo me considero um neoconstitucionalista De todas as afirmaccedilotildees do professor
espanhol a uacutenica de que natildeo discordo eacute aquela relacionada ao pluralismo de valores cujo re-
conhecimento aliaacutes estaacute longe de ser privileacutegio dos neoconstitucionalistas
Contudo eu assumo o roacutetulo sem constrangimentos se o neoconstitucionalismo for pensado
como uma teoria constitucional que sem descartar a importacircncia das regras e da subsunccedilatildeo
abra tambeacutem espaccedilo para os princiacutepios e para a ponderaccedilatildeo tentando racionalizar o seu uso
Se for visto como uma concepccedilatildeo que sem desprezar o papel protagonista das instacircncias de-
mocraacuteticas na definiccedilatildeo do Direito reconheccedila e valorize a irradiaccedilatildeo dos valores constitucio-
nais pelo ordenamento bem como a atuaccedilatildeo firme e construtiva do Judiciaacuterio para proteccedilatildeo e
promoccedilatildeo dos direitos fundamentais e dos pressupostos da democracia E acima de tudo se
for concebido como uma visatildeo que conecte o Direito com exigecircncias de justiccedila e moralidade
criacutetica151 sem enveredar pelas categorias metafiacutesicas do jusnaturalismo
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Certamente uma visatildeo equilibrada da Teoria do Direito com tais caracteriacutesticas pode contribu-
ir para o aperfeiccediloamento do Estado Democraacutetico de Direito no Brasil O mesmo jaacute natildeo digo de
concepccedilotildees mais radicais do neoconstitucionalismo que podem ser muito boas para arrancar
aplausos entusiasmados das plateacuteias nos seminaacuterios estudantis mas que natildeo se conciliam com
exigecircncias fundamentais de seguranccedila juriacutedica democracia e liberdade que satildeo alicerces de
qualquer bom constitucionalismo - novo ou velho
Curriacuteculo Resumido
Daniel Sarmento
Poacutes-Doutor pela Universidade de Yale (EUA) Procurador Regional da Repuacuteblica
Como citar este artigo
SARMENTO Daniel O neoconstitucionalismo no Brasil riscos e possibilidades Disponiacutevel em httpwwweditoraforumcombrsistconteudolista_conteudoaspFIDT_CONTEUDO=56993 acesso em 09032011 httpdireitoesubjetividadefileswordpresscom201008daniel-sarmento-o-neoconstitucionalismo-no-brasil1doc acesso em 30062012 Material da 1ordf aula da Disciplina Teoria Geral da Constituiccedilatildeo (I) ministrada no Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo Online em Direito Constitucional ndash Anhanguera-UNIDERP | REDE LFG
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1Sobre a teoria de princiacutepios no Brasil veja-se dentre outros Ana Paula de Barcellos A eficaacutecia juriacutedica dos princiacutepios constitu-
cionais o princiacutepio da dignidade da pessoa humana Rio de Janeiro Renovar 2002 Humberto Bergman Aacutevila Teoria dos princiacute-
pios da definiccedilatildeo agrave aplicaccedilatildeo dos princiacutepios juriacutedicos 2 ed Satildeo Paulo RT 2005 Jane Reis Gonccedilalves Pereira Interpretaccedilatildeo
constitucional e direitos fundamentais uma contribuiccedilatildeo ao estudo das restriccedilotildees aos direitos fundamentais na perspectiva da
teoria dos princiacutepios Rio de Janeiro Renovar 2006 Virgiacutelio Afonso da Silva O conteuacutedo essencial dos direitos fundamentais e a
eficaacutecia das normas constitucionais Satildeo Paulo Tese (concurso de Professor Titular de Direito Constitucional da USP)
2Veja-se em tons variados Lecircnio Luiz Streck Hermenecircutica juriacutedica e(m) crise uma exploraccedilatildeo hermenecircutica da construccedilatildeo do
direito Porto Alegre Livraria do Advogado 1999 Luiacutes Roberto Barroso (Org) A nova interpretaccedilatildeo constitucional ponderaccedilatildeo
direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas Rio de Janeiro Renovar 2003 Margarida Maria Lacombe Camargo Hermenecircutica e
argumentaccedilatildeo uma contribuiccedilatildeo ao estudo do direito Rio de Janeiro Renovar 2003 Inocecircncio Maacutertires Coelho Interpretaccedilatildeo
constitucional 2 ed Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2003 Ana Paula de Barcellos Ponderaccedilatildeo racionalidade e atividade
jurisdicional Rio de Janeiro Renovar 2005
3Sobre o fenocircmeno da constitucionalizaccedilatildeo do Direito confira-se os inuacutemeros artigos que compotildeem a coletacircnea organizada por
Claacuteudio Pereira de Souza Neto e por mim A constitucionalizaccedilatildeo do direito fundamentos teoacutericos e aplicaccedilotildees especiacuteficas Rio de
Janeiro Lumen Juris 2007
4Cfr na literatura constitucional brasileira Gisele Guimaratildees Cittadino Pluralismo direito e justiccedila distributiva elementos de
filosofia constitucional contemporacircnea Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 Oscar Vilhena Vieira A Constituiccedilatildeo e sua reserva de
justiccedila um ensaio sobre os limites materiais do poder de reforma Satildeo Paulo Malheiros 1999 Ricardo Lobo Torres (Org) A legi-
timaccedilatildeo dos direitos humanos Rio de Janeiro Renovar 2002 Claacuteudio Pereira de Souza Neto Teoria constitucional e democracia
deliberativa Rio de Janeiro Renovar 2006 Lecircnio Luiz Streck Verdade e consenso Constituiccedilatildeo hermenecircutica e teorias discursi-
vas Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 Samantha Chantal Dobrowolski A construccedilatildeo social do sentido da Constituiccedilatildeo na demo-
cracia contemporacircnea entre soberania popular e direitos humanos Rio de Janeiro Lumen Juris 2007 Aacutelvaro Ricardo de Souza
Cruz Hermenecircutica juriacutedica e(m) debate o constitucionalismo brasileiro entre a teoria do discurso e a ontologia existencial Belo
Horizonte Foacuterum 2007
5Sobre a judicializaccedilatildeo da poliacutetica no Brasil veja-se Luiz Werneck Vianna et al A judicializaccedilatildeo da poliacutetica e das relaccedilotildees sociais
no Brasil Rio de Janeiro Revan 1999 Giselle Cittadino Judicializaccedilatildeo da poliacutetica constitucionalismo democraacutetico e separaccedilatildeo de
poderes In Luiz Werneck Vianna (Org) A democracia e os trecircs poderes no Brasil Belo Horizonte UFMG 2002 p 17-42 Rogeacuterio
B Arantes Constitucionalism the expansion of Justice and the Judicialization of Poltics in Brazil In Rachel Sieder Line Schjol-
den Alan Angell The Judicialization of Politics in Latin America New York Palgrave Macmillan 2005 p 232-262 Luis Roberto
Barroso Judicializaccedilatildeo ativismo judicial e legitimidade democraacutetica Texto ineacutedito gentilmente cedido pelo autor
Para uma perspectiva comparativa veja-se Neal C Tate Tobjorn Vallinder (Ed) The Global Expansion of Judicial Power New
York New York University Press 1995 Alec Stone Sweet Governing with Judges Constitutional Politics in Europe Oxford Oxford
Univesity Press 2000 e em tom profundamente criacutetico Ran Hirschl Towards Juristocracy the Origins and Consequences of the
New Constitucionalism Cambridge Harvard University Press 2004
6Miguel Carbonell et al Neoconstitucionalismo(s) Madrid Trotta 2003 Mais recentemente o autor publicou nova coletacircnea
tambeacutem dedicada ao estudo do neoconstitucionalismo intitulada Teoria del Neoconstitucionalismo Ensayos escogidos Madrid
Trotta 2007
7O jurista argentino Carlos Santiago Nino por exemplo faleceu em 1993 quando ainda nem se empregava esta denominaccedilatildeo
8Cf Robert Alexy Teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica a teoria do discurso racional como teoria da fundamentaccedilatildeo juriacutedica Tradu-
ccedilatildeo de Zilda Hutchinson Schild Silva revisatildeo teacutecnica da traduccedilatildeo e introduccedilatildeo agrave ediccedilatildeo brasileira Claudia Toledo 2 ed Satildeo Paulo
Landy 2005 Luis Roberto Barroso Curso de direito constitucional contemporacircneo os conceitos fundamentais e a construccedilatildeo do
novo modelo Rio de Janeiro Saraiva 2008 p 306-350
9Cf Lecircnio Luiz Streck Verdade e consenso Op cit p 197-246
28
10Ronald Dworkin e Carlos Santiago Nino satildeo sem sombra de duacutevida autores liberais natildeo no sentido que se atribui ao termo no
Brasil - de adeptos de doutrina econocircmica favoraacutevel ao Estado miacutenimo e ao mercado - mas sim no sentido corrente na Filosofia
Poliacutetica que associa o liberalismo agrave defesa dos direitos individuais e da neutralidade do Estado em relaccedilatildeo agraves diversas concepccedilotildees
sobre a vida boa existentes na sociedade Veja-se neste sentido Ronald Dworkin A Matter of Principle Cambridge Harvard
University Press 1985 p 181-236 Carlos Santiago Nino La constitucioacuten de la Democracia Deliberativa Barcelona Gedisa 1997
p 70-100
11Lecircnio Luiz Streck que se alinha ao neoconstitucionalismo defende posturas tipicamente comunitaristas como o papel da Consti-
tuiccedilatildeo na definiccedilatildeo de modelos de vida boa para orientaccedilatildeo da vida social e da accedilatildeo individual Cf Jurisdiccedilatildeo constitucional e
hermenecircutica uma nova criacutetica do direito 2 ed Rio de Janeiro Forense 2004 p 95-288
12Antonio Cavalcanti Maia um dos mais ardorosos defensores do neoconstitucionalismo no paiacutes eacute tambeacutem procedimentalista e
adepto das teorias juriacutedicas de Juumlrgen Habermas Veja-se neste sentido o seu denso texto Nos vintes anos da carta cidadatilde do
poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm (Coord) Vinte
anos da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 p 117-168 em que esta sua dupla filiaccedilatildeo intelectual eacute
explicitada
13Segundo Miguel Carbonell o neoconstitucionalismo desdobra-se em trecircs planos de anaacutelise que se conjugam o dos textos consti-
tucionais que se tornaram mais substantivos e incorporaram amplos elencos de direitos fundamentais o das praacuteticas judiciais que
passaram a recorrer a princiacutepios constitucionais agrave ponderaccedilatildeo e a meacutetodos mais flexiacuteveis de interpretaccedilatildeo sobretudo na aacuterea de
direitos fundamentais e o dos desenvolvimentos teoacutericos de autores que com as suas ideacuteias ajudaram natildeo soacute a compreender os
novos modelos constitucionais mas tambeacutem participaram da sua proacutepria criaccedilatildeo Cf Miguel Carbonell Neoconstitucionalismo
elementos para una definicioacuten In Eduardo Ribeiro Moreira Mauricio Pugliesi 20 anos da Constituiccedilatildeo brasileira Satildeo Paulo Sarai-
va 2009 p 197-208
14No mesmo sentido Luis Roberto Barroso Neoconstitucionalismo e Constitucionalizaccedilatildeo do direito o triunfo tardio do direito
constitucional do Brasil In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento A constitucionalizaccedilatildeo do direito fundamentos teoacuteri-
cos e aplicaccedilotildees especiacuteficas Rio de Janeiro Lumen Juris 2007 p 203-250
15Cf Carlos Bernal Pulido El Derecho de los Derechos Bogotaacute Universidad Externado de Colocircmbia 2006 Manoel Jose Cepeda
Espinosa Judicialization of Politics in Colombia the old and the new In Rachel Sieder Line Schonjen Alan Angell The Judiciali-
zation of Politics in Latin America Op cit p 67-104 Rodrigo Uprimmy Mauriacutecio Garcia-Villegas Tribunal Constitucional e eman-
cipaccedilatildeo social na Colocircmbia In Boaventura de Souza Santos Democratizar a democracia os caminhos da democracia participativa
Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2002 p 297-339
16Cf Catalina Smulovitz Petitioning and Creating Rights Judicialization in Argentina In Rachel Sieder Line Scjolden Alan Angell
The Judicialization of Politics in Latin America Op cit p 161-185
17Cf Miguel Carbonell Los Derechos Fundamentales en Meacutexico 2 ed Meacutexico Porruacutea 2006 Pilar Domingo The Changing Political
Role of the Judiciary in Meacutexico In Rachel Sieder Line Scjolden Alan Angell The Judicialization of Politics in Latin Ameacuterica Op
cit p 21-46
18Cf Heinz Klug South Aacutefrica From Constitucional Promise to Social Transformation In Jeffrey Goldsworthy Interpreting Consti-
tutions A Comparative Study Oxford Oxford University Press 2006 p 266-320
19Cf S P Sathe Iacutendia From Positivism to Structuralism In Jeffrey Goldsworthy Op cit p 215-265
20Veja-se a propoacutesito Gustavo Zagrebelsky Il Diritto Mite Torino Einaudi 1992 p 57-96
21Cf Eduardo Garciacutea de Enterriacutea La Constitucioacuten como Norma y el Tribunal Constitucional 3 ed Madrid Civitas 1985 p 41
22Na Alemanha a mudanccedila ocorreu sob a vigecircncia da Lei Fundamental adotada em 1949 e foi fortemente impulsionada pela
jurisprudecircncia do Tribunal Constitucional do paiacutes que construiu teorias importantes como a da Constituiccedilatildeo como uma ordem de
valores em cujo centro situa-se o princiacutepio da dignidade humana que se irradia por todo o ordenamento Veja-se a propoacutesito
Dieter Grimm Human Rights and Judicial Review in Germany In David M Beatty (Org) Human Rights and Judicial Review A
Comparative Perspective Dodrecht Martin Urjhoff 1994 p 267-295
23Na Itaacutelia as mudanccedilas se deram sob a eacutegide da atual Constituiccedilatildeo editada em 1947 mas soacute apoacutes o funcionamento da Corte
Constitucional que se deu em 1956 Ateacute entatildeo a Corte de Cassaccedilatildeo composta por juiacutezes recrutados ainda no periacuteodo do fascismo
29
era provisoriamente encarregada da guarda da Constituiccedilatildeo o que fazia de forma muito tiacutemida no mais das vezes negando eficaacute-
cia juriacutedica agraves normas constitucionais sob o argumento de que seriam programaacuteticas Veja-se a propoacutesito Ricardo Guastini A
constitucionalizaccedilatildeo do ordenamento juriacutedico e a experiecircncia italiana In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento A
constitucionalizaccedilatildeo do direito fundamentos teoacutericos e aplicaccedilotildees especiacuteficas Op cit p 271-294
24Cf No modelo do constitucionalismo norte-americano entende-se desde os primoacuterdios que a Constituiccedilatildeo eacute autecircntica lei e que
o Judiciaacuterio pode invalidar as decisotildees legislativas que a contrariem apesar do controle de constitucionalidade natildeo estar expres-
samente previsto no texto constitucional daquele paiacutes Esta ideacuteia que jaacute estava assentada no Federalista n 78 escrito por Ale-
xander Hamilton antes da aprovaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo foi posta em praacutetica pela primeira vez contra lei federal no ceacutelebre caso
Marbury v Madison julgado em 1803 pelo juiz Marshall Veja-se a propoacutesito Paul Brest Sanford Levinson Jack Balkin Akhil Reed
Amar Processes of Constitutional Decisionmaking Cases and Materials New York Aspen Publishers 2000 p 79-103
A versatildeo mais convencional do modelo constitucional norte-americano enfatiza a importacircncia central do Judiciaacuterio na atualizaccedilatildeo
do sentido da Constituiccedilatildeo do paiacutes Contudo esta leitura histoacuterica eacute hoje objeto de intensa disputa Em sentido contraacuterio a tal
posiccedilatildeo sustentando uma menor relevacircncia do Judiciaacuterio no desenvolvimento histoacuterico do constitucionalismo americano veja-se
por exemplo Stephen M Griffin American Constitutionalism From Theory to Politics New Jersey Princeton University Press
1996 p 88-139
25Cf Luis Prietro Sanchiacutes Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales Madrid Trotta 2003 p 107-117
26Cf Daniel Sarmento Ubiquumlidade constitucional Os dois lados da moeda In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento
(Coord) A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 113-148
27Na verdade a reaccedilatildeo contra o formalismo juriacutedico na Europa eacute bem anterior ao advento do constitucionalismo do 2ordm poacutes-guerra
remontando ao final do seacuteculo XIX Veja-se a propoacutesito Constantin M Stamatis Argumenter en Droit Une theacuteorie critique de
largumentation juridique Paris Publisud 1995 p 34-50 Antonio Manoel Hespanha Panorama histoacuterico da cultura juriacutedica euro-
peacuteia Lisboa Publicaccedilotildees Europa-Ameacuterica 1997 p 196-235
28Haacute vasta literatura sobre a ponderaccedilatildeo mas a obra mais influente sobre o tema eacute certamente o livro de Robert Alexy Teoria dos
direitos fundamentais Traduccedilatildeo de Virgiacutelio Afonso da Silva Satildeo Paulo Malheiros 2008 No cenaacuterio norte-americano veja-se a
anaacutelise densa e criacutetica de T Alexander Aleinikoff Constitucional Law in the Age of Balancing Yale Law Journal n 96 p 943-
1005 1987 No Brasil cfr Daniel Sarmento A ponderaccedilatildeo de interesses na Constituiccedilatildeo Federal Rio de Janeiro Lumen Juris
2000 Ana Paula de Barcellos Ponderaccedilatildeo racionalidade e atividade jurisdicional Op cit
29A bibliografia sobre o princiacutepio da proporcionalidade eacute vastiacutessima Veja-se a propoacutesito as densas anaacutelises de Carlos Bernal Puli-
do El Principio de Proporcionalidad y los Derechos Fundamentales Madrid Centro de Estuacutedios Constitucionales 2003 e no Brasil
de Jane Reis Gonccedilalves Pereira Interpretaccedilatildeo constitucional e direitos fundamentais Rio de Janeiro Renovar 2006 p 297-382
30Cf Chaiumlm Perelman Eacutetica e direito Traduccedilatildeo de Maria Ermantina Galvatildeo G Perira Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 p 361-684
Robert Alexy Teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica Op cit Friedrich Muller Discours de la Meacutethode Juridique Traduccedilatildeo de Olivier
Jouanjan Paris PUF 1993 Manuel Atienza Traacutes la Justicia Una Introduccioacuten al Derecho y al Razonamiento Juriacutedico Barcelona
Ariel 1995 Neil MacCormick Argumentaccedilatildeo juriacutedica e teoria do direito Traduccedilatildeo de Waldeacutea Barcellos Satildeo Paulo Martins Fontes
2006 Klaus Guumlnther Teoria da argumentaccedilatildeo no direito e na moral justificaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Claacuteudio Molz Satildeo Pau-
lo Landy 2004
31Cf Martin Shapiro Alec Stone Sweet On Law Politics and Judicialization New York Oxford University Press p 136-208
32Contudo deve-se admitir na linha de Paolo Comanducci que eacute possiacutevel reconhecer as mudanccedilas em questatildeo e propor novas
teorias que sejam adequadas a elas sem defendecirc-las Esta seria nas palavras do autor italiano a diferenccedila entre o neoconstitu-
cionalismo teoacuterico e o neoconstitucionalismo ideoloacutegico que natildeo apenas constroacutei teorias mais compatiacuteveis com os novos fenocirc-
menos mas vai aleacutem sustentando a sua legitimidade e propugnando pelo seu aprofundamento e expansatildeo Veja-se a propoacutesito
Paulo Comanducci Formas de neoconstitucionalismo Un anaacutelisis metateoacuterico In Miguel Carbonell (Ed) Neoconstitucionalis-
mo(s) Op cit p 75-98 Como reconhece o proacuteprio autor tal distinccedilatildeo baseia-se em uma semelhante acerca do positivismo
30
formulada por Norberto Bobbio que fala em positivismo teoacuterico ideoloacutegico e metodoloacutegico Cf Norberto Bobbio O positivismo
juriacutedico liccedilotildees de filosofia do direito Traduccedilatildeo e notas de Marcio Pugliesi et al Satildeo Paulo Iacutecone 1995 p 233-239
33Cf Ronald Dworkin Is Law a Sistem of Rules In Ronald Dworkin (Ed) Philosophy of Law Oxford Oxford University Press 1971
Robert Alexy Constitucionalismo discursivo Traduccedilatildeo de Luiz Afonso Heck Porto Alegre Livraria do Advogado 2007
34Cf Robert Alexy Derecho y Razoacuten Praacutectica Meacutexico Distribuiciones Fontamara 1993 Aulis Aarnio Lo Racional como Razonable
Traduccedilatildeo de Ernesto Garzoacuten Valdeacutes Madrid Centro de Estuacutedios Constitucionales 1991
35Cf Aharon Barak The Judge in a Democracy New Jersey Princeton University Press 2006 p 213-260 Gustavo Zagrebelsky Il
Diritto Mite Op cit p 179-217
36Confronte-se com perspectivas diferentes Luigi Ferrajoli O Estado de direito entre passado e futuro In Pietro Costa Danilo
Zolo (Org) Estado de direito histoacuteria teoria criacutetica Traduccedilatildeo de Carlo Alberto Dastoli Satildeo Paulo Martins Fontes 2006 p 419-
464 Elias Dias Estado de Derecho y Sociedad Democraacutetica Madrid Taurus 1998 Ronald Dworkin Introduction The Moral Reading
and the Majoritarian Premise In Freedoms Law The moral reading of the American Constitution Cambridge Harvard University
Press 1996 p 01-38 Gustavo Zagrebelsky La Crucifixioacuten y la Democracia Barcelona Ariel 1996 Claacuteudio Pereira de Souza Neto
Teoria constitucional da democracia deliberativa Op cit
37Cf Ronald Dworkin Introduction The Moral Reading and the Majoritarian Premise Op cit
38Cf Luigi Ferrajoli El Garantismo y la Filosofia del Derecho Bogotaacute Universidad Externado de Colocircmbia 2000
39Cf Luis Pietro Sanchis Sobre el Neoconstitucionalismo y sus Implicaciones In Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales
Op cit p 101-135
40Cf Ricardo Guastini Sur la Validiteacute de la Constitution du Point de Vue du Positivisme Juridique In Michel Troper Lucien Jaume
(Dir) 1789 et LInvention de la Constitution Paris LGDJ 1994 p 216-225
41Cf Suzana Pozzolo Neoconstituzionalismo e Positivismo Giuridico Torino Giapppicheli 2001
42Cf Ronald Dworkin Law and Morals In Justice in Robes Cambridge Harvard University Press 2006 p 01-35
43Cf Robert Alexy Derecho y Moral In La Institucionalizacioacuten de la Justicia Op cit p 17-30
44Cf Carlos Santiago Nino Eacutetica y Derechos Humanos 2 ed Buenos Aires Astrea 1989 p 11-48
45Cf Gustav Radbruch Cinco minutos de filosofia do direito In Filosofia do direito Traduccedilatildeo de L Cabral de Moncada 6 ed
Coimbra Armecircnio Amado 1979 p 414-418 Para uma densa problematizaccedilatildeo da foacutermula de Radbruch veja-se Thomas da Rosa
Bustamante Poacutes-Positivismo o argumento da injusticcedila aleacutem da Foacutermula de Radbruch In Teoria do direito e decisatildeo racional
temas de teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica Rio de Janeiro Renovar 2008
46Cf Robert Alexy La Institucionalizacioacuten de la Justicia Traduccedilatildeo de Joseacute Antonio Seone et al Granada Comares 2005 p 31-
54
47Sobre o tema cfr Alfonso Garcia Figueroa Princiacutepios e direitos fundamentais In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmen-
to A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 03-34
48O texto mais importante do positivismo inclusivo eacute o poacutes-escrito de Herbert LA Hart agrave sua obra magna The Concept of Law em
que ele responde agraves criacuteticas ao seu pensamento que Ronald Dworkin lhe endereccedilara O autor inglecircs faleceu antes de terminar o
texto mas ele foi publicado postumemente depois de ser editado por Joseph Raz Peneacutelope Bulloch Veja-se Herbert LA Hart
Poacutes-escrito In O conceito de direito Traduccedilatildeo de A Ribeiro Mendes 2 ed 1994 p 299-339 Tambeacutem na linha do positivismo
inclusivo veja-se Gregorio Peces- Barba Derechos Sociales y Positivismo Juriacutedico Escritos de Filosofia Poliacutetica y Juriacutedica Madrid
Dykinson 1999 p 83-90 Jules Coleman The Practice of Principle In defense of a pragmatist approach do legal theory Oxford
Oxford University Press p 103-120 Para uma resenha dos tipos de positivismo no debate contemporacircneo confira-se Dimitri Di-
moulis Positivismo juriacutedico introduccedilatildeo a uma teoria do direito e defesa do pragmatismo juriacutedico-politico Satildeo Paulo Meacutetodo
2006 p 65-166
49Cf Antonio Cavalcanti Maia Nos vinte anos da Constituiccedilatildeo do poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo Op cit Claacuteudio Perei-
ra de Souza Neto A teoria constitucional e seus lugares especiacuteficos notas sobre o aporte reconstrutivo Revista de Direito do
Estado n 1 p 89-104 jan mar 2006 Daniel Sarmento Interpretaccedilatildeo constitucional preacute-compreensatildeo e capacidades institu-
cionais do inteacuterprete In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binebojm Vinte anos da Constituiccedilatildeo de 1988
Op cit p 311-322
31
50Cf Juumlrgen Habermas Escritos sobre Moralidad y Eticidad Traduccedilatildeo de Manuel Jimenez Redondo Barcelona Paidoacutes 1991 p
131-172
51Sobre o comunitarismo haacute extensa literatura Dois textos claacutessicos deste linha de pensamento satildeo Michael Walzer The Communi-
tarian Critique of Liberalism In Politics and Passion New Haven Yale University Press 2004 p 141-163 Charles Taylor The
Procedural Republic and the Unencumbered Self In Robert Goodin Philip Pettit (Ed) Contemporary Political Philosophy 2 ed
Oxford Oxford University Press 2002 p 2462-256 Sobre a penetraccedilatildeo ainda que muitas vezes natildeo consciente das posiccedilotildees do
comunitarismo no constitucionalismo brasileiro veja-se Gisele Cittadino Pluralismo direito e justiccedila distributiva Op cit p
43-74
52Sobre o construtivismo eacutetico corrente filosoacutefica que sustenta a existecircncia de posiccedilotildees certas e erradas na Moral bem como a
possibilidade de encontraacute-las e fundamentaacute-las racionalmente veja-se Carlos Santiago Nino El Constructivismo Eacutetico Madrid
Centro de Estudios Constitucionales 1989
53O fenocircmeno tambeacutem se reproduz na teoria constitucional norte-americana hegemocircnica cf Keith Wittington Constitutional Con-
struction Divided Powers and Constitutional Meaning Cambridge Harvard University Press 1999 p 01-03
54A imagem do Poder Judiciaacuterio como um guardiatildeo de promessas eacute explorada e criticada numa obra importante da teoria juriacutedica
francesa contemporacircnea Antoine Garapon Le Gardien de Promesses Le juge et la democratie Paris Odile Jacob 1996
55Neste sentido o eloquumlente encerramento do Curso de Direito Constitucional Contemporacircneo de Luis Roberto Barroso o consti-
tucionalismo democraacutetico eacute a utopia que nos restou Uma feacute racional que ajuda a acreditar no bem e na justiccedila ainda quando natildeo
estejam ao alcance dos olhos (Op cit p 400)
56Cf Nico Poulantzas State Power Socialism London new Left Books 1978 Alan Hunt Marxist Theory of Law In Dennis Patter-
son (Ed) A Companion to Philosophy of Law and Legal Theory Malden Blackwell Publishers 1996 p 355-367
57Cf David Kairys (Ed) The Politics of Law A Progressive Critique New York Pantheon Books 1982 Roberto Mangabeira Unger
The Critical Legal Studies Movement Cambridge Harvard University Press 1986
58Cf Plauto Faraco Azevedo Criacutetica agrave dogmaacutetica e hermenecircutica juriacutedica Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1989 Luiz Fernando
Coelho Teoria criacutetica do direito 2 ed Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1991
59Natildeo haacute como abordar aqui as relaccedilotildees entre as inuacutemeras correntes do poacutes-modernismo e o Direito Constitucional Veja-se a
propoacutesito Niklas Luhman La Constituzione como Acquisizione Evolutiva In Gustavo Zagrebelsky Piacuteer Paolo Portinaro Joumlrg Lu-
ther Il Futuro della Costituzione Torino Einaudi 1996 p 83-128 Joseacute Joaquim Gomes Canotilho Civilizaccedilatildeo do direito constitu-
cional ou constitucionalizaccedilatildeo do direito civil a eficaacutecia dos direitos fundamentais na ordem juriacutedico-civil no contexto do direito
poacutes-moderno Cadernos de Direito Constitucional e Ciecircncia Poliacutetica n 15 p 07-16 1996 Eduardo Capellari A crise da moderni-
dade e a Constituiccedilatildeo Rio de janeiro Ameacuterica Juriacutedica 2004 Daniel Sarmento Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas 2 ed
Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 p 36-45
60Para Jean-Franccedilois Lyotard uma das caracteriacutesticas centrais do pensamento poacutes-moderno de que eacute expoente eacute a desconfianccedila
em relaccedilatildeo agraves metanarrativas - construccedilotildees abstratas grandiosas e totalizadoras tiacutepicas da Filosofia Moderna como direitos
humanos luta de classes e emancipaccedilatildeo pelo uso da razatildeo Cf Lyotard A condiccedilatildeo poacutes-moderna Traduccedilatildeo de Ricardo Correcirca
Barbosa 5 ed 1998 p16
61Cf Luiz Werneck Viana O terceiro poder na carta de 1988 e a tradiccedilatildeo republicana mudanccedila e conservaccedilatildeo In Ruben George
Oliven Marcelo Gildo Marccedilal Branda A Constituiccedilatildeo de 1988 na vida brasileira Satildeo Paulo Aderaldo e Rotshild 2008 p 91-109
62Cf Paulo Ricardo Schier Filtragem constitucional Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1999
63A expressatildeo foi cunhada por Claacuteudio Pereira de Souza Neto Fundamento e normatividade dos direitos fundamentais uma recons-
truccedilatildeo teoacuterica agrave luz do princiacutepio democraacutetico Arquivos de Direitos Humanos n 4 p 17-61 2003
64Cf Luis Roberto Barroso O direito constitucional e a efetividade de suas normas 3 ed Rio de Janeiro Renovar 1996
65Cf Clegravemerson Merlin Clegraveve A teoria constitucional e o direito alternativo para uma dogmaacutetica constitucional emancipatoacuteria In
Uma vida dedicada ao direito homenagem a Carlos Henrique de Carvalho Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1995 p 34-53
66Ressalte-se poreacutem que antes de 88 alguns juristas jaacute defendiam a forccedila normativa da Constituiccedilatildeo como o Prof Joseacute Afonso da
Silva Eacute de 1968 a primeira ediccedilatildeo da sua obra claacutessica A aplicabilidade das normas constitucionais que adotava claramente esta
32
perspectiva Todavia pelo clima nada propiacutecio ao constitucionalismo que reinava por aqui ateacute a nossa redemocratizaccedilatildeo a louvaacute-
vel pregaccedilatildeo dele e de outros juristas em prol da efetivaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo natildeo chegou a render maiores frutos
67Deve-se assinalar ainda a influecircncia marcante do novo constitucionalismo ibeacuterico neste movimento que tambeacutem pugnava pela
atribuiccedilatildeo de forccedila normativa agraves ambiciosas constituiccedilotildees de Portugal e Espanha entatildeo recentemente elaboradas apoacutes o fim de
experiecircncias autoritaacuterias naqueles paiacuteses A tiacutetulo de exemplo mencione-se a penetraccedilatildeo no paiacutes do pensamento do Professor de
Coimbra Joseacute Joaquim Gomes Canotilho especialmente da sua teoria sobre a Constituiccedilatildeo dirigente que ele posteriormente reviu
(cf J J Gomes Canotilho Constituiccedilatildeo dirigente e vinculaccedilatildeo ao legislador contributo para a compreensatildeo das normas constitu-
cionais programaacuteticas 2 ed Coimbra Coimbra 2001 - especialmente o prefaacutecio desta segunda ediccedilatildeo que daacute conta da mudanccedila
de posicionamento) bem como a difusatildeo das liccedilotildees do Professor Eduardo Garciacutea de Enterriacutea (cf La Constitucioacuten como Norma y el
Tribunal Constitucional Madrid Civitas 1981)
68Segundo a avaliaccedilatildeo atual de Luis Roberto Barroso personagem central do movimento o positivismo constitucional que deu
impulso ao movimento natildeo importava em reduzir o direito agrave norma mas sim em elevaacute-la a esta condiccedilatildeo pois ateacute entatildeo ele
havia sido menos do que norma (Curso de direito constitucional contemporacircneo Op cit p 224)
69Paulo Bonavides Curso de direito constitucional 5 ed Satildeo Paulo Malheiros 1994
70Eros Roberto Grau A ordem econocircmica na Constituiccedilatildeo de 88 interpretaccedilatildeo e criacutetica Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1996
71No acircmbito da Poacutes-Graduccedilatildeo em Direito da UERJ em que estou inserido desde 1997 primeiro como aluno e a partir de 2003 como
professor o Ricardo Lobo Torres teve papel central na difusatildeo do pensamento destes e de outros filoacutesofos entre os estudantes e o
proacuteprio corpo docente
72Cf Lecircnio Luiz Streck Hermenecircutica juriacutedica e(m) crise Op cit Eros Roberto Grau Ensaio e discurso sobre a interpreta-
ccedilatildeoaplicaccedilatildeo do direito Satildeo Paulo Malheiros 2002
73Nesta linha veja-se as obras que compotildeem a coletacircnea Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Direitos sociais funda-
mentos judicializaccedilatildeo e direitos sociais em espeacutecie Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 Ricardo Lobo Torres O miacutenimo existencial
e os direitos fundamentais Revista de Direito Administrativo n 177 p 20-49 1989 Ingo Wolfgang Sarlet A eficaacutecia dos direitos
fundamentais 9 ed Porto Alegre Livraria do Advogado 2008 Ana Paula de Barcellos A eficaacutecia juriacutedica dos princiacutepios o princiacute-
pio da dignidade da pessoa humana Op cit Marco Mazzeli Gouveia O controle judicial das omissotildees administrativas Rio de
Janeiro Forense 2003 Andreacuteas Krell Direitos sociais e controle judicial no Brasil e Alemanha os (des)caminhos de um direito
constitucional comparado Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2002
74Cf Gustavo Tepedino Temas de direito civil Rio de Janeiro Renovar 1999 Luiz Edson Fachin Estatuto juriacutedico do patrimocircnio
miacutenimo Rio de Janeiro Renovar 2001 Maria Celina Bodin de Moraes Danos agrave pessoa humana uma leitura civil-constitucional dos
danos morais Rio de Janeiro Renovar 2003 Teresa Negreiros Fundamentos para uma interpretaccedilatildeo constitucional do princiacutepio
da boa-feacute Rio de Janeiro Renovar 1998 Anderson Schreiber A proibiccedilatildeo do comportamento contraditoacuterio Rio de Janeiro Reno-
var 2005
75Cf Luciano Feldens A Constituiccedilatildeo penal a dupla face da proporcionalidade no controle das lei penais Porto Alegre Livraria do
Advogado 2005 Luis Carlos dos Santos Gonccedilalves Mandados expressos de criminalizaccedilatildeo e a proteccedilatildeo de direitos fundamentais na
Constituiccedilatildeo Brasileira de 1988 Belo Horizonte Foacuterum 2007
76Cf Gustavo Binenbojm Uma teoria do direito administrativo direitos fundamentais democracia e constitucionalizaccedilatildeo Rio de
Janeiro Renovar 2006 Alexandre dos Santos Aragatildeo Floriano de Azevedo Marques (Coord) Direito administrativo e seus novos
paradigmas Belo Horizonte Foacuterum 2008
77Cf Gustavo Binenbojm A nova jurisdiccedilatildeo constitucional brasileira legitimidade democraacutetica e instumentos de realizaccedilatildeo Rio de
Janeiro Renovar 2001 Claacuteudio Pereira de Souza Neto Jurisdiccedilatildeo constitucional democracia e racionalidade praacutetica Rio de
Janeiro Renovar 2002 Joseacute Adeacutercio Leite Sampaio A Constituiccedilatildeo reinventada pela jurisdiccedilatildeo constitucional Belo Horizonte Del
Rey 2002 Lecircnio Luiz Streck Jurisdiccedilatildeo constitucional e hermenecircutica Porto Alegre Livraria do Advogado 2002 Aacutelvaro Ricardo
de Souza Cruz Jurisdiccedilatildeo constitucional democraacutetica Belo Horizonte Del Rey 2004
78A expressatildeo dificuldade contramajoritaacuteria eacute de um claacutessico da teoria constitucional norte-americana Alexander Bickel La Cons-
titucioacuten como Norma y el Tribunal Constitucional 2 ed New Haven Yale University Press 1986
33
79Em siacutentese apertada o procedimentalismo sustenta que natildeo eacute papel da jurisdiccedilatildeo constitucional tutelar valores substantivos mas
apenas proteger os pressupostos necessaacuterios ao bom funcionamento da democracia Jaacute o substancialismo reconhece a legitimidade
da atuaccedilatildeo jurisdicional em favor da garantia e promoccedilatildeo de valores substantivos presentes na Constituiccedilatildeo O debate entre o
procedimentalismo identificado com as ideacuteias de autores como John Hart Ely e Juumlrgen Habermas e o substancialismo defendido
por teoacutericos como Ronald Dworkin e Laurence Tribe eacute reproduzido em praticamente toda a literatura contemporacircnea que trata de
Teoria ou Filosofia Constitucional Veja-se a propoacutesito a densa obra de Claacuteudio Ari Mello Democracia constitucional e direitos
fundamentais Porto Alegre Livraria do Advogado 2004
80Neoconstitucionalismo e constitucionalizaccedilatildeo do direito o triunfo tardio do direito constitucional no Brasil Op cit
81A crise paradigmaacutetica do direito no contexto da resistecircncia positivista ao (neo)constitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza
Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm Vinte anos da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Op cit p 203-228
82Nos vinte anos da carta cidadatilde do poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo Op cit
83Neoconstitucionalismo direitos fundamentais e controle de poliacuteticas puacuteblicas In Daniel Sarmento Flaacutevio Galdino (Org) Direitos
fundamentais estudos em homenagem ao prof Ricardo Lobo Torres Rio de Janeiro Renovar 2006 p 31-60
84Direitos humanos legitimidade e constitucionalismo In Daniel Sarmento Flaacutevio Galdino (Org) Direitos fundamentais estudos
em homenagem ao Prof Ricardo Lobo Torres Op cit p325-350
85Novos desafios agrave filtragem constitucional no momento do neoconstitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sar-
mento A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 251-270
86Neoconstitucionalismo a invasatildeo da Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Meacutetodo 2008
87Neoconstitucionalismo e positivismo juriacutedico Satildeo Paulo Landy 2006
88Teoria do direito e argumentaccedilatildeo racional temas de teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica op cit p 141-240
89Uma visatildeo criacutetica do neoconstitucionalismo In George Salomatildeo Leite Glauco Salomatildeo Leite Constituiccedilatildeo e efetividade constitu-
cional Salvador JusPodium 2008 p 43-60
90Neoconstitucionalismo entre a Ciecircncia do direito e o direito da ciecircncia In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento
Gustavo Binenbojm Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 p 187-202
91Cf Peticcedilatildeo 1246 MSSC julgada em 31011997 (obrigaccedilatildeo do Estado de realizar transplante de ceacutelulas mioblaacutesticas para salvar
a vida de crianccedila) Agravo de Instrumento no Recurso Extraordinaacuterio 271286RS DJU 24 nov 2000 (entrega de medicamentos
para portadores de HIV) e Agravo de Instrumento do Recurso Extraordinaacuterio nordm 410715-5 julgado em 22112005 (obrigaccedilatildeo de
fornecimento de vagas para educaccedilatildeo infantil pelo municiacutepio com atendimento em creches e preacute-escola)
92Recursos Extraordinaacuterios nordms 158215-4RS 161243-6DF 201819RJ
93Cf Mandado de Injunccedilatildeo 670ES Rel Min Gilmar Mendes julgado em 25102007 em que o STF revendo orientaccedilatildeo anterior
deu eficaacutecia normativa agrave sentenccedila proferida no mandado de injunccedilatildeo No caso decidiuse que ateacute o advento de lei regulamentado-
ra sobre a greve no serviccedilo puacuteblico o direito de greve poderia ser exercido obedecendo-se os limites impostos pela Lei 778389
que trata dos movimentos paredistas em serviccedilos essenciais no setor privado
94Sobre a tendecircncia agrave superaccedilatildeo da ideacuteia do Judiciaacuterio como legislador negativo na jurisdiccedilatildeo constitucional veja-se Joseacute Adeacutercio
Leite Sampaio A Constituiccedilatildeo reinventada pela jurisdiccedilatildeo constitucional Belo Horizonte Del Rey 2002 p 203-248
95Eacute lugar-comum dentre os autores que tratam da questatildeo associar tais mudanccedilas agrave pluralizaccedilatildeo das vozes na interpretaccedilatildeo consti-
tucional tema em que a referecircncia essencial no cenaacuterio germacircnico eacute Peter Haumlberle Veja-se a propoacutesito Peter Haumlberle Herme-
necircutica constitucional A sociedade aberta dos inteacuterpretes da Constituiccedilatildeo contribuiccedilatildeo para a interpretaccedilatildeo pluralista e procedi-
mental da Constituiccedilatildeo Traduccedilatildeo de Gilmar Ferreira Mendes Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1997 Veja-se ainda na doutrina
brasileira Gustavo Binenbojm A dimensatildeo do Amicus Curiae no processo constitucional brasileiro In Temas de direito constitu-
cional e administrativo Rio de Janeiro Renovar 2008 p 165-190
96ADIN 3510DF Relator Ministro Carlos Ayres Britto A accedilatildeo proposta contra o art 5ordm da Lei de Biosseguranccedila impugnava a auto-
rizaccedilatildeo de pesquisas com embriotildees humanos resultantes de fertilizaccedilatildeo in vitro que fossem inviaacuteveis ou estivessem congelados haacute
mais de trecircs anos A accedilatildeo foi julgada totalmente improcedente por 6 votos a 5
97ADPF nordm 54 A accedilatildeo que tem como relator o Ministro Marco Aureacutelio ainda natildeo foi julgada mas em seu bojo jaacute ocorreram diversas
audiecircncias puacuteblicas que provocaram intensa participaccedilatildeo da sociedade civil e grande interesse na miacutedia
34
98ADPF nordm 132 Relator Ministro Carlos Ayres Britto A accedilatildeo ainda foi julgada
99Mandados de Seguranccedila 26602DF 26603DF e 26604DF Informativo STF n 482
100Recurso Extraordinaacuterio 197917SP Rel p acoacuterdatildeo Min Ceacutesar Peluso DJU 18 fev 2005
101O livro de Alberto Carlos Almeida A cabeccedila do brasileiro lanccedilado em 2007 conteacutem pesquisas feitas sobre uma acuteseacuterie de temas
com pessoas de todas as classes sociais e regiotildees do paiacutes Uma das pesquisas eacute relativa agrave avaliaccedilatildeo das instituiccedilotildees Dentre as treze
avaliadas as duas que obtiveram menor aprovaccedilatildeo foram os partidos poliacuteticos (avaliaccedilatildeo positiva de 28 dos entrevistados) e o
Congresso (avaliaccedilatildeo positiva de 36 dos entrevistados) Cf Antonio Carlos Almeida A cabeccedila do brasileiro Rio de Janeiro Re-
cord 2007 p 187
102Cf Luis Roberto Barroso Judicializaccedilatildeo ativismo judicial e legitimidade democraacutetica Texto ainda ineacutedito gentilmente cedido
pelo autor
103Humberto Aacutevila por exemplo formula outra criacutetica importante de que o neoconstitucionalismo seria inadequado agrave realidade
constitucional brasileira jaacute que privilegia os princiacutepios e a Carta de 88 seria muito mais regulatoacuteria do que principioloacutegica (Neo-
constitucionalismo entre a ciecircncia do direito e o direito da ciecircncia Op cit p 188-192)
104Contudo natildeo eacute razoaacutevel estender esta criacutetica ao ponto de negar o caraacuteter democraacutetico da atuaccedilatildeo judicial Como ressaltou
Eugenio Rauacutel Zaffaroni uma instituiccedilatildeo natildeo eacute democraacutetica unicamente porque natildeo provenha de eleiccedilatildeo popular porque nem tudo
o que proveacutem desta origem eacute necessariamente aristocraacutetico Uma instituiccedilatildeo eacute democraacutetica quando seja funcional para o sistema
democraacutetico quer dizer quando seja necessaacuteria para a sua continuidade como ocorre com o judiciaacuterio (Poder judiciaacuterio crise
acertos e desacertos Traduccedilatildeo de Juarez Tavares Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1995 p 43)
105Cf Robert A Dahl Sobre a democracia Traduccedilatildeo de Beatriz Sidou Brasiacutelia UNB 2001 p 97-113 Juumlrgen Habermas Popular
Sovereignity as Procedure In James Bonham William Rehg Deliberative Democracy Cambridge The MIT Press 1997 p 35-66
106A questatildeo da tensatildeo e sinergia simultacircneas entre constitucionalismo e democracia eacute um dos debates mais fecundos da Teoria
Poliacutetica e da Filosofia Constitucional que tem atravessado o tempo desde o advento do constitucionalismo moderno no seacuteculo
XVIII Veja-se no debate contemporacircneo Jeremy Waldron Preocommitment and Disagreement In Larry Alexander Constitu-
cionalism Philosophical Foundations Cambridge Cambridge University Press 1998 p 271-299 Juumlrgen Habermas O Estado demo-
craacutetico de direito uma amarraccedilatildeo paradoxal de princiacutepios contraditoacuterios In Era das transiccedilotildees Traduccedilatildeo de Flaacutevio Beno Siebe-
neichler Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 2003 p 153-173 Carlos Santiago Nino La Constitucioacuten de la Democracia Deliberativa
Op cit Frank Michelman Brennan and Democracy Princeton Princeton University Press 1999 p 03-62 Stephen Holmes El
Precompromiso y la Paradoja de la Democracia In Jon Elster Rune Slagstad Constitucionalismo y Democracia Traduccedilatildeo de Mocircni-
ca Utrilla de Neira Mexico Fondo de Cultura Econocircmica 1999 p 217-262
107O problema da limitaccedilatildeo do legislador atual pelas decisotildees do constituinte adotadas no passado envolve a problemaacutetica da
partilha intergeracional de poder bem explicitada na fala de Jefferson que defendia que a cada 19 anos deveria ser elaborada
uma nova Constituiccedilatildeo nos Estados Unidos para que a Lei Maior daquele paiacutes natildeo se tornasse um mecanismo de governo dos mor-
tos sobre os vivos Em siacutentese apertada haacute na teoria poliacutetica contemporacircnea duas linhas principais de justificativa para a legiti-
midade destas restriccedilotildees
Uma eacute a teoria da democracia dualista defendida por Bruce Ackerman que sustenta que as decisotildees adotadas pelo proacuteprio povo
em contextos de grande mobilizaccedilatildeo ciacutevica devem ser protegidas do alcance da vontade dos representantes do povo formada em
momentos em que a cidadania natildeo esteja intensamente envolvida Esta teoria distingue a poliacutetica extraordinaacuteria correspondente
agravequeles momentos constitucionais da poliacutetica ordinaacuteria que se realiza atraveacutes das deliberaccedilotildees do dia a dia dos oacutergatildeos represen-
tativos Para a perspectiva ackermaniana a poliacutetica extraordinaacuteria - que natildeo exige necessariamente formalizaccedilatildeo procedimental
atraveacutes de assembleacuteia constituinte ou de emenda constitucional - se situa em patamar superior agrave poliacutetica ordinaacuteria e pode legiti-
mamente impor limites a esta (cf Bruce Ackerman We the people Foundations Cambridge The Belknap Press 1991 p 03-33)
Outra teoria eacute a do preacute-compromisso que jaacute foi advogada por Jon Elster Segundo ela eacute legiacutetimo subtrair do alcance das maiorias
determinadas questotildees fundamentais que expressam princiacutepios fundamentais de justiccedila poliacutetica ou garantam os pressupostos da
proacutepria democracia tendo em vista o risco de que no processo poliacutetico majoritaacuterio em momentos de irracionalidade o povo
35
possa ser viacutetima de suas proacuteprias fraquezas ou paixotildees momentacircneas atentando contra tais princiacutepios (cf Ulisses and Sirens
Cambridge Cambridge University Press 1979)
Ambas as concepccedilotildees - a primeira mais proacutexima ao republicanismo e a segunda de vieacutes mais liberal - tecircm a sua dose de procedecircn-
cia mas ensejam criacuteticas importantes Todavia foge a escopo do presente trabalho analisar esta questatildeo que eacute uma das mais
complexas da Filosofia Poliacutetica moderna e contemporacircnea Para uma visatildeo geral sobre o tema na literatura em liacutengua portuguesa
veja-se Oscar Vilhena Vieira A Constituiccedilatildeo e sua reserva de justiccedila Op cit Miguel Nogueira de Brito A Constituiccedilatildeo constituin-
te ensaio sobre o poder de revisatildeo da Constituiccedilatildeo Coimbra Coimbra 2000 Samantha Chantal Dobrowolski Op cit p 265-312
Rodrigo Brandatildeo Direitos fundamentais democracia e claacuteusulas peacutetreas Rio de Janeiro Renovar 2008 p 59-112
108Cf Michel Troper Justice Constitutionelle et Deacutemocratie In Pour une Theorie Juridique de LEacutetat Paris PUF 1994 p 317-328
Claacuteudio Pereira de Souza Neto Jurisdiccedilatildeo constitucional democracia e racionalidade praacutetica Op cit p 106-130 Gustavo Binen-
bojm A nova jurisdiccedilatildeo constitucional brasileira Op cit p 55-74
109Sobre o modelo revolucionaacuterio francecircs de constitucionalismo completamente avesso agrave ideacuteia de jurisdiccedilatildeo constitucional cf
Maurizio Fioravanti Constitucioacuten de la antiguumledad a nuestros dias Traduccedilatildeo de Manuel Martinez Neira Madrid Trotta 2001 p
120-132
110Cf Carl Schmitt La Defesa de la Constitucioacuten Madrid Tecnos 1983
111O constitucionalismo popular ou populismo constitucional eacute uma importante corrente no debate constitucional norte-americano
contemporacircneo que nega a legitimidade democraacutetica do controle de constitucionalidade advogando que deve caber ao proacuteprio
povo e natildeo a uma elite de juiacutezes natildeo eleitos com assento na Suprema Corte o poder de definir o sentido das claacuteusulas vagas que
abundam no texto constitucional daquele paiacutes Na defesa desta tese satildeo empregados tanto argumentos de teoria e filosofia poliacuteti-
ca de caraacuteter mais universal como razotildees histoacutericas relacionadas agrave evoluccedilatildeo do constitucionalismo estadunidense Veja-se nesta
linha Mark Tushnet Taking the Constitution Away from the Courts Princeton Princeton University Press 1999 Jeremy Waldron
Precommitment and Disagreement Op cit Larry D Kramer The People Themselves Popular constitutionalism and judicial re-
view New York Oxford University Press 1994
Ateacute algumas deacutecadas atraacutes a oposiccedilatildeo agrave jurisdiccedilatildeo constitucional nos Estados Unidos partia em regra da Direita que natildeo se con-
formava com a jurisprudecircncia extremamente liberal em mateacuteria de direitos fundamentais estabelecida pela Corte entre os anos
50 e 70 Atualmente uma boa parte dos opositores agrave judicial review situa-se agrave esquerda do espectro poliacutetico e talvez a nova linha
profundamente conservadora daquele Tribunal ajude a explicar esta mudanccedila
112Sobre a Era de Lochner veja-se Laurence H Tribe American Constitutional Law 2 ed Mineola The Foundation Press 1988 p
567-581 Paul Brest et al Processes of Constitucional Decisionmaking 4 ed New York Aspen Publishers 2000 p 337-354
113Towards Juristocracy hellip Op cit
114Tratei do tema no artigo Direito adquirido emenda constitucional democracia e justiccedila social In Livres e iguais Op cit p
03-32
115Cf Charles R Epp The Rights Revolution Chicago The University of Chicago Press 1998 p 26-70 Owen Fiss The Law as It
Could Be New York New York University Press 2003 p 244-249
116A importacircncia e as peculiaridades da interpretaccedilatildeo legislativa da Constituiccedilatildeo satildeo exploradas em importante obra coletiva
Richard W Bauman Tsvi Kahana The Least Examined Branch The Role of Legislatures in the Constitutional State Cambridge
Cambridge University Press 2006
117Cf em tom ainda mais ceacutetico do que o adotado neste estudo Martonio MontAlverne Barreto Lima Jurisdiccedilatildeo Constitucional
um problema da teoria da democracia poliacutetica In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Gilberto Bercovici Joseacute Filomeno de Moraes
Filho Martonio MontAlverne Teoria da Constituiccedilatildeo estudos sobre o lugar da poliacutetica no direito constitucional Rio de Janeiro
Lumen Juris 2003 p 199-261 Conrado Huumlbner Mendes Controle de constitucionalidade e democracia Rio de Janeiro Elsevier
2008
36
118Para criacutetica semelhante no contexto germacircnico veja-se Ingeborg Maus O judiciaacuterio como superego da sociedade sobre o papel
da atividade jurisprudencial na sociedade oacuterfatilde Traduccedilatildeo de Martonio MontAlverne Barreto Lima Paulo Antonio Menezes de Albu-
querque Anuaacuterio dos Cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito da Faculdade de Direito de Recife n 11 2000
119Eu aprofundo a anaacutelise deste ponto no meu artigo Interpretaccedilatildeo constitucional preacute-compreensatildeo e capacidades institucionais do
inteacuterprete In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm (Coord) Vinte anos da Constituiccedilatildeo Federal
de 1988 Op cit p 311-322 E a necessidade de optar por teoria de interpretaccedilatildeo que leve em consideraccedilatildeo as capacidades
institucionais reais dos juiacutezes comparando-as com as dos agentes de outras instituiccedilotildees eacute explorada no importante estudo de Cass
Sunstein Adrian Vermeulle Interpretations and Institutions Chicago Working Papers in Law amp Economics 2002 p 01-55 bem
como no livro de Adrian Vermeulle Judging under Uncertainty An Institutional Theory for Legal Interpretation Cambridge Har-
vard University Press 2006
120Dentre as honrosas exceccedilotildees mencione-se Luiacutes Roberto Barroso autor de importante artigo com sugestotildees para a reforma poliacuteti-
ca no paiacutes Reforma poliacutetica uma proposta de sistema de governo eleitoral e partidaacuterio para o Brasil Revista de Direito do Esta-
do n 3 p 287-360 jul set 2006
121Sobre o ethos judicial no Brasil veja-se a pesquisa de Maria Tereza Sadek Magistrados uma imagem em movimento Rio de
Janeiro FGV 2006
122Em sentido semelhante veja-se Michael J Perry The Constitution the Courts and Human Rights New Haven Yale University
Press 1982 p 91-145
123Neste ponto entendo que um standard importante que deveria ser adotado para controle de constitucionalidade eacute o de que
quanto maiores forem as credencias democraacuteticas de um ato normativo mais autocontido deve ser o Poder Judiciaacuterio ao avaliar a
sua constitucionalidade Na minha opiniatildeo estas credencias democraacuteticas devem ser aferidas tanto por criteacuterios qualitativos - eg
grau de participaccedilatildeo social no processo legislativo qualidade do processo deliberativo que a antecedeu - como por criteacuterios quanti-
tativos - percentual de votos favoraacuteveis agrave medida Em sentido semelhante veja-se Claacuteudio Ari Mello Democracia e direitos funda-
mentais Op cit p 298
124Em sentido proacuteximo apontam as liccedilotildees de Gustavo Binenbojm e Humberto Aacutevila O primeiro tratando do controle judicial dos
atos administrativos averbou que quanto maior for o grau de tecnicidade da mateacuteria objeto de decisatildeo por oacutergatildeos dotados de
expertise e experiecircncia menos intenso deve ser o grau de controle judicial (Uma teoria do direito administrativo Op cit p
236) Jaacute o segundo salientou que o acircmbito de controle pelo Judiciaacuterio deveraacute ser tanto menor quanto mais difiacutecil e teacutecnico for
o juiacutezo exigido para o tratamento da mateacuteria (Teoria dos princiacutepios Op cit p 126)
125Um exemplo extremado deste posicionamento estaacute na argumentaccedilatildeo adotada pelo STF no julgamento da ADIN 2797 Rel Min
Sepuacutelveda Pertence em que se reconheceu a inconstitucionalidade formal de lei que pretendia interpretar a Constituiccedilatildeo Para o
STF natildeo pode a lei ordinaacuteria pretender impor como seu objeto imediato uma interpretaccedilatildeo a Constituiccedilatildeo a questatildeo eacute de in-
constitucionalidade formal iacutensita a toda norma da gradaccedilatildeo inferior que se proponha a ditar interpretaccedilatildeo de norma superior
Na questatildeo de fundo abordada naquele caso entendo que o STF estava certo Tratava-se de invalidar uma norma legal que esten-
dera o foro de prerrogativa de funccedilatildeo a ex-ocupantes de cargos puacuteblicos visando a restaurar antiga jurisprudecircncia do STF sedi-
mentada na Suacutemula 394 do Tribunal que acabara de ser cancelada O princiacutepio republicano natildeo era compatiacutevel com tal medida
que configurava niacutetido privileacutegio O que me parece inaceitaacutevel e profundamente anti-democraacutetico com a devida vecircnia natildeo eacute o
resultado alcanccedilado pela Corte - com o qual concordo - mas o argumento empregado de que o legislador natildeo pode interpretar a
Constituiccedilatildeo
126Existe hoje uma fecunda produccedilatildeo acadecircmica no cenaacuterio anglo-saxatildeo sobre as vantagens de modelos teoacutericos que favoreccedilam
diaacutelogos entre diversos oacutergatildeos e instituiccedilotildees na interpretaccedilatildeo constitucional ao inveacutes de afirmarem a exclusividade ou mesmo a
supremacia do Judiciaacuterio nesta seara Veja-se a propoacutesito Laurence G Sager Justice in Plainclothes A Theory of American Con-
stitutional Practice New haven Yale University Press 2004 Mark Tushnet Weak Courts Strong Rights Judicial Review and Social
Welfare Rights in Comparative Constitutional Law Princeton Princeton University Press 2008 Mark C Miller Jeb Barnes (Ed)
Making Police Making Law An Interbranch Perspective Washington DC Georgetown University Press 2004
37
127Colhi o exemplo no estudo de Oscar Vilhena Vieira Supremocracia In Daniel Sarmento (Org) Filosofia e teoria constitucional
contemporacircnea Rio de Janeiro Lumen Juris 2009
128Como um natildeo-positivista tenho a necessaacuteria imparcialidade para criticar os equiacutevocos da doutrina brasileira nas suas invectivas
contra o positivismo que muitas vezes caracterizam verdadeira falaacutecia do espantalho ataca-se natildeo a proacutepria teoria positivista
mas uma distorcida caricatura dela Duas afirmaccedilotildees erradas que eu mesmo jaacute fiz em textos anteriores satildeo muito frequumlentes a
de que o positivismo recusa a aplicaccedilatildeo dos princiacutepios juriacutedicos e a de que ele teria sido a Filosofia do Direito cultivada na Alema-
nha nazista
Quanto ao primeiro ponto natildeo haacute nenhuma incompatibilidade loacutegica entre positivismo e princiacutepios desde que os princiacutepios este-
jam devidamente incorporados na ordem juriacutedico-positiva Vaacuterios autores positivistas contemporacircneos jaacute citados neste estudo
como Luis Prietro Sanchiacutes Luigi Ferrajoli e Gregorio Peces-Barba atribuiacuteram espaccedilo importante para princiacutepios nas suas teorias
Mesmo no Direito Puacuteblico brasileiro juristas de inspiraccedilatildeo positivista kelseniana construiacuteram suas teorias com apoio em argumen-
taccedilatildeo principioloacutegica como o falecido Geraldo Ataliba e Celso Antonio Bandeira de Mello
No que tange ao segundo ponto - a chamada redutio ad hitlerum - os estudos mais autorizados de Histoacuteria do Direito comprovam
que natildeo foi o positivismo a teoria juriacutedica dominante no nazismo mas uma espeacutecie de jusnaturalismo de inspiraccedilatildeo hegeliana que
se insurgia contra o formalismo e recorria com frequumlecircncia a conceitos muito vagos para justificar a barbaacuterie como os de comuni-
dade popular (Volksgemeinschaft) Veja-se a propoacutesito Michael Stolleis The Law under the Swastika Studies on Legal History in
Nazi Germany Traduccedilatildeo de Thomas Dunlap Chicago The University of Chicago Press 1998
129Cf Joseacute Joaquim Gomes Canotilho Direito constitucional e Teoria da Constituiccedilatildeo Coimbra Almedina 1998 p 1036
130Sobre a importacircncia das regras veja-se Frederick Schauer Playing by the Rules A Philosophical Exaxamination of Rule-Bases
Decision-Making in Law and Life Oxford Oxford University Press 1998 Humberto Aacutevila Neoconstitucionalismo entre a ciecircncia do
direito e o direito da ciecircncia Op cit Noel Struchiner Posturas institucionais e modelagem institucional a dignidade (contingente)
do formalismo juriacutedico In Daniel Sarmento Filosofia e teoria constitucional contemporacircnea Op cit
131Esta eacute expressatildeo empregada por Ana Paula de Barcellos O direito constitucional em 2006 Revista de Direito do Estado n 5 p
03-23 janmar 2007
132Cf Chaiumlm Perelman P Fories La Motivation des Deacutecisions de Justice Bruxelas Eacutemile Bruylant 1978
133Sobra a influecircncia do jeitinho no Direito brasileiro cf Keith Rosen O jeito na cultura juriacutedica brasileira Rio de Janeiro Reno-
var 1997
134Sobre o patrimonialismo no Brasil veja-se Raimundo Faoro Os donos do poder 8 ed Rio de Janeiro Globo 1989 v 2 p 729-
750
135Raiacutezes do Brasil 26 ed Satildeo Paulo Companhia das Letras 1995
136Cf Joseacute Murilo de Carvalho Brasileiro Cidadatildeo In Pontos e bordados escritos de histoacuteria e poliacutetica Belo Horizonte Ed
UFMG 2005 p 275-288
137Cf Gustavo Zagrebelsky Il Diritto Mite Op cit p 15-19
138Cf Marcelo Neves A constitucionalizaccedilatildeo simboacutelica Satildeo Paulo Acadecircmica 1994
139A obra de Niklas Luhman eacute vasta e complexa e seus textos satildeo de difiacutecil compreensatildeo para os natildeo iniciados Veja-se do proacuteprio
autor Sociologia do direito I e II Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 1983 e 1985 Sistema Jurididico y Dogmaacutetica Juriacutedica Madrid
Centro de Estuacutedios Constitucionales 1983 Confira-se tambeacutem a coletacircnea organizada por Andreacute-Jean Arnaud Dalmir Lopes Jr Do
sistema social agrave sociologia juriacutedica Rio de Janeiro Lumen Juris 2004
140Sobre a autopoieses do Direito veja-se tambeacutem a obra importante de Guumlnther Teubner O direito como sistema autopoieacutetico
Traduccedilatildeo de Joseacute Engracia Nunes Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1993
141Cf Luis Roberto Barroso Neoconstitucionalismo e a constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit
142Esta era basicamente a visatildeo de Hans Kelsen (Cf Hans Kelsen Jurisdiccedilatildeo constitucional Traduccedilatildeo de Alexandre Krug et al Satildeo
Paulo Martins Fontes 2003 p 153) Para uma anaacutelise criacutetica desta posiccedilatildeo veja-se Luis Prietro Sanchiacutes Presupuestos ideoloacutegicos
y doctrinales de la jurisdicioacuten constitucional In Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales Op cit p 21-100
38
143Cf Christian Starck La suprematie La Suprematie de la Constitution et la Justice Constitutionnelle In La Constitution Cadre et
Mesure du Droit Traduccedilatildeo de Freacutederic Weill Paris Econocircmica 1994 p 26-30 Ernst- Wolfgang Boumlckenfoumlrde Les meacutethodes
dinterpretation de la Constitution Un bilan critique In Le Droit lEacutetat et la Constitution Democratique Traduccedilatildeo de Olivier
Jouanjan Paris LGDJ 2000 p 249-250 Virgiacutelio Afonso da Silva Constitucionalizaccedilatildeo do direito os direitos fundamentais nas
relaccedilotildees entre particulares Satildeo Paulo Malheiros 2005 p 107-131 Daniel Sarmento Ubiquumlidade constitucional os dois lados da
moeda Op cit Luis Roberto Barroso Curso de Direito Constitucional Contemporacircneo Op cit p 391-394 Alceu Mauriacutecio Jr
Judicializaccedilatildeo da poliacutetica e a crise do direito constitucional a Constituiccedilatildeo entre ordem marco e ordem fundamenta Revista de
Direito do Estado n 10 p 125-142 abrjun 2008
144Der Staat der Industriegesellshaft 2 ed Muumlnchen Beck 1971 p 144 Apud Robert Alexy Posfaacutecio In Teoria dos direitos
fundamentais Op cit p 578
145De acordo com Carlos Santiago Nino o perfeccionaismo eacute la concepcioacuten seguacuten la cual es una misioacuten legiacutetima del Estado hacer
que los individuos acepten y materializen ideales vaacutelidos de virtud personal Seguacuten este enfoque el Estado no puede permanecer
neutral respecto de concepciones de lo bueno en la vida y debe adoptar las medidas educativas punitorias etc que sean necesa-
rias para que los indiviacuteduos ajusten su vida a los verdaderos ideales de virtud y del bien (Eacutetica y Derechos Humanos Un ensayo de
fundamentacioacuten 2 ed Buenos Aires Astrea 1989 p 413)
146Daniel Sarmento Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas 2 ed Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 Sobre o tema na literatura
nacional veja-se tambeacutem Wilson Antocircnio Steinmetz A vinculaccedilatildeo dos particulares aos direitos fundamentais Satildeo Paulo Malheiros
2004 Virgiacutelio Afonso da Silva Constitucionalizaccedilatildeo do direito os direitos fundamentais nas relaccedilotildees entre particulares Op cit
Ingo Wolfgang Sarlet Direitos fundamentais e direito privado algumas consideraccedilotildees em torno da vinculaccedilatildeo dos particulares aos
direitos fundamentais In Ingo Wolfgang Sarlet (Org) A Constituiccedilatildeo concretizada Porto Alegre Livraria do Advogado 1999 p
129-173 Jane Reis Gonccedilalves Pereira Apontamentos sobre a aplicaccedilatildeo das normas de direito fundamental nas relaccedilotildees juriacutedicas
entre particulares In Luis Roberto Barroso (Org) A nova interpretaccedilatildeo constitucional ponderaccedilatildeo direitos fundamentais e
relaccedilotildees privadas Rio de Janeiro Renovar 2003 p 119-192
147Sobre a questatildeo da (i)legitimidade do perfeccionismo no Direito veja-se Joel Feinberg Rights Justice and the Bounds of Liber-
ty Princeton Princeton University Press 1980 Carlos Santiago Nino Eacutetica y Derechos Humanos Op cit p 413-446 Rainer Forst
Contexts of Justice Political Philosophy beyond Liberalism and Communitarianism Traduccedilatildeo de John M M Farrel Berkeley Uni-
versity of Califoacuternia Press 2001 p 30-87 Macaacuterio Alemany El Paternalismo Juriacutedico Madrid Iustel 2006
148Um sofisticado modelo que busca conciliar a constitucionalizaccedilatildeo do Direito com a democracia estaacute exposto no Poacutesfaacutecio agrave Teo-
ria dos Direitos Fundamentais de Robert Alexy acima citado Veja-se ainda Konrad Hesse Concepto y Cualidad de la Constitu-
cion In Escritos de Derecho Constitucional Traduccedilatildeo de Pedro Cruz Villaloacuten 2 ed 1992 p 03-29
149Tentei articular a minha teoria sobre eficaacutecia horizontal dos direitos fundamentais com este objetivo Cf Daniel Sarmento
Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas Op cit p 141-182 259-272
150Sobre el Neoconstitucionalismo y sus Implicaciones Op cit p 117
151Aqui entendo que o simples reconhecimento da penetraccedilatildeo da Moral no Direito preconizada pelos neoconstitucionalistas brasi-
leiros natildeo eacute suficiente jaacute que certas concepccedilotildees morais podem tornar o ordenamento ainda mais opressivo do que jaacute eacute Afinal
nem sempre a moralizaccedilatildeo do Direito se daacute na direccedilatildeo da emancipaccedilatildeo dos excluiacutedos Veja-se por exemplo a famosa polecircmica
jusfilosoacutefica entre Lord Patrick Devlin e Herbert Hart nos anos 60 na Inglaterra a propoacutesito do uso do Direito Penal para promoccedilatildeo
de Moral em que o primeiro a partir de uma posiccedilatildeo proacute-moral sustentava a legitimidade da criminalizaccedilatildeo da conduta homos-
sexual que o segundo contestava (Cf Lord Patrick Devlin Morals and Criminal Law In Ronald Dworkin (Ed) The Philosophy of
Law Op cit p 66-82 Herbert Hart Immorality and Treason In Idem ibidem)
Eacute preciso assentar as bases criacuteticas desta Moral que deve penetrar o Direito para evitar que o moralismo conservador seja expulso
do ordenamento pela porta da frente superado pela legislaccedilatildeo moderna em razatildeo da progressiva liberalizaccedilatildeo da sociedade mas
volte pela porta dos fundos atraveacutes da argumentaccedilatildeo juriacutedica dos juiacutezes lastreada em conceitos vagos como ordem puacuteblica e
bons constumes ou em standards como o comportamento do bom pai de famiacutelia
39
23
final do seacuteculo XIX a necessidade de mudanccedilas urgentes no governo para que ao final as
coisas pudessem permanecer exatamente do jeito que sempre foram
Natildeo penso que esta seja uma consequumlecircncia necessaacuteria da adoccedilatildeo de uma perspectiva juriacutedica
mais principialista no Brasil O maior cuidado metodoloacutegico adicionado agrave adoccedilatildeo de uma dire-
triz hermenecircutica substantiva que afirme a missatildeo essencial do Direito de assegurar justiccedila e
seguranccedila agraves pessoas tratando-as como livres e iguais pode minimizar as possibilidades de um
uso enviesado da teoria neoconstitucional que acabe favorecendo aos mesmos de sempre
Mas diante das nossas tradiccedilotildees natildeo haacute como negar que os riscos satildeo elevados
c) Neoconstitucionalismo e panconstitucionalizaccedilatildeo
Uma das caracteriacutesticas do neoconstitucionalismo eacute a defesa da constitucionalizaccedilatildeo do Direi-
to Sustenta-se que a irradiaccedilatildeo das normas constitucionais por todo o ordenamento contribui
para aproximaacute-lo dos valores emancipatoacuterios contidos nas constituiccedilotildees contemporacircneas 141A
Constituiccedilatildeo natildeo eacute vista mais como uma simples norma normarum - cuja finalidade principal eacute
disciplinar o processo de produccedilatildeo de outras normas142 Ela passa a ser enxergada como a en-
carnaccedilatildeo dos valores superiores da comunidade poliacutetica que devem fecundar todo o sistema
juriacutedico Neste modelo cabe ao inteacuterprete natildeo soacute aplicar diretamente os ditames constitucio-
nais agraves relaccedilotildees sociais como tambeacutem reler todas as normas e institutos dos mais variados ra-
mos do Direito agrave luz da Constituiccedilatildeo emprestando-lhes o sentido que mais promova os objeti-
vos e a axiologia da Carta
A constitucionalizaccedilatildeo do Direito de que cogita o neoconstitucionalismo natildeo eacute aquela que resul-
ta do caraacuteter excessivamente analiacutetico da Constituiccedilatildeo e leva ao entricheiramento de meras
opccedilotildees conjunturais do constituinte originaacuterio ou derivado despidas de maior importacircncia ou
dignidade Este eacute um fenocircmeno caracteriacutestico da Carta de 88 que se excedeu no casuiacutesmo e
nos detalhes elevando ao seu texto meros interesses corporativos ou decisotildees de momento
sem focirclego para perdurarem no tempo A constitucionalizaccedilatildeo louvada e defendida pelo neo-
constitucionalismo eacute aquela que parte de uma interpretaccedilatildeo extensiva e irradiante dos direitos
fundamentais e dos princiacutepios mais importantes da ordem constitucional Aqui contudo pode-
se discutir ateacute que ponto o fenocircmeno eacute legiacutetimo Poucos discordaratildeo pelo menos no Brasil de
que alguma constitucionalizaccedilatildeo do Direito eacute positiva e bem-vinda por semear o ordenamento
com os valores humanitaacuterios da Constituiccedilatildeo Poreacutem pode-se objetar contra as teses extrema-
das sobre este processo que acabam amputando em demasia o espaccedilo de liberdade do legisla-
dor em detrimento da democracia 143
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Com efeito quem defende que tudo ou quase tudo jaacute estaacute decidido pela Constituiccedilatildeo e que o
legislador eacute um mero executor das medidas jaacute impostas pelo constituinte nega por conse-
quumlecircncia a autonomia poliacutetica ao povo para em cada momento da sua histoacuteria realizar as suas
proacuteprias escolhas O excesso de constitucionalizaccedilatildeo do Direito reveste-se portanto de um
vieacutes antidemocraacutetico Esta ordem de preocupaccedilotildees levou Ersnt Forsthof na Alemanha a criti-
car as teorias que viam a Constituiccedilatildeo como uma espeacutecie de genoma juriacutedico () do qual tudo
deriva do Coacutedigo Penal ateacute a lei sobre a fabricaccedilatildeo de termocircmetros144 E a questatildeo torna-se
ainda mais delicada diante da constataccedilatildeo de que pela abertura semacircntica dos direitos fun-
damentais e dos princiacutepios - principal mateacuteria-prima da constitucionalizaccedilatildeo do Direito - o seu
principal agente acaba sendo o Poder Judiciaacuterio ao dar a uacuteltima palavra sobre a interpretaccedilatildeo
daquelas claacuteusulas Daiacute porque o debate sobre a constitucionalizaccedilatildeo do Direito se imbrica
inexoravelmente com as discussotildees a propoacutesito da judicializaccedilatildeo da poliacutetica e do decisionismo
referidas acima
Ademais a constitucionalizaccedilatildeo do Direito tambeacutem suscita outra linha de preocupaccedilotildees rela-
cionada ao perfeccionismo moral145 na esfera privada No Brasil assim como em muitos outros
paiacuteses jaacute se assentou a ideacuteia de que os direitos fundamentais natildeo se dirigem apenas contra o
Estado vinculando tambeacutem os particulares Entre noacutes tem prevalecido na doutrina a ideacuteia que
eu mesmo defendi em outro estudo146 que a eficaacutecia dos direitos fundamentais nas relaccedilotildees
privadas eacute direta e imediata Em outras palavras entende-se que a proacutepria Constituiccedilatildeo jaacute inci-
de nas relaccedilotildees privadas independentemente de mediaccedilotildees legislativas e que pode gerar o-
brigaccedilotildees positivas ou negativas para os indiviacuteduos e natildeo soacute para os poderes puacuteblicos sempre
no afatilde de proporcionar uma proteccedilatildeo mais completa agrave dignidade humana Ateacute aqui nada a
contestar
Poreacutem o reconhecimento da vinculaccedilatildeo dos particulares agrave Constituiccedilatildeo suscita um risco que
natildeo pode ser ignorado o de imposiccedilatildeo agraves pessoas supostamente em nome de valores constitu-
cionais de comportamentos e estilos de vida que elas proacuteprias rejeitam em detrimento da sua
liberdade existencial Para dar um exemplo bem tosco seria terriacutevel se o Direito em nome do
princiacutepio da solidariedade social pudesse impor agraves pessoas que demonstrassem afetos e senti-
mentos que elas natildeo possuem genuinamente Ou se em nome da isonomia pretendesse inter-
ferir nas escolhas subjetivas e emocionais que os indiviacuteduos fazem nas suas vidas privadas A
constitucionalizaccedilatildeo neste sentido poderia converter-se num pretexto para o exerciacutecio de um
paternalismo anti-liberal em que as pessoas seriam forccediladas a conformarem-se agraves expectativas
sociais forjadas a partir de pautas de accedilatildeo politicamente corretas com apoio na Constitui-
ccedilatildeo147
25
Nenhuma destas duas questotildees eacute insuperaacutevel Eacute possiacutevel aceitar e aplaudir a constitucionaliza-
ccedilatildeo do Direito - fenocircmeno em geral positivo por aproximar a racionalidade emancipatoacuteria da
Constituiccedilatildeo do dia-a-dia das pessoas - mas defender que ela seja temperada por outras preo-
cupaccedilotildees igualmente essenciais no Estado Democraacutetico de Direito com a autonomia puacuteblica e
privada dos cidadatildeos Pode-se reconhecer a legitimidade da constitucionalizaccedilatildeo do Direito
mas numa medida em que natildeo sacrifique em excesso agrave liberdade de conformaccedilatildeo que numa
democracia deve caber ao legislador para realizar opccedilotildees poliacuteticas em nome do povo148 Pode-
se da mesma forma afirmar a incidecircncia direta da Constituiccedilatildeo nas relaccedilotildees privadas mas
sem invadir a esfera das opccedilotildees existenciais da pessoa - que de resto eacute protegida pela proacutepria
Constituiccedilatildeo das ingerecircncias perfeccionistas do Estado e da sociedade149
5 Conclusatildeo Ao fim da leitura destas paacuteginas o leitor pode estar se indagando se eu me alinho ou natildeo ao
neoconstitucionalismo A minha resposta eacute depende da compreensatildeo que se tenha sobre o ne-
oconstitucionalismo Se entendermos o neoconstitucionalismo de acordo com a conhecida defi-
niccedilatildeo de Luis Prietro Sanchiacutes como uma teoria do Direito que se orienta pelas maacuteximas demaacutes
princiacutepios que reglas maacutes ponderacioacuten que subsuncioacuten omnipotencia de la Constitucioacuten en
todas las aacutereas juriacutedicas y en todos conflictos miacutenimamente relevantes en lugar de espacios
exentos en favor de la opcioacuten legislativa o reglamentaria omnipotencia judicial en lugar de
autonomia del legislador ordinaacuterio y por ultimo coexistecircncia de una constelacioacuten plural de
valores a veces tendencialmente contradictorios en lugar de homogeneidad ideoloacutegica150
certamente eu natildeo me considero um neoconstitucionalista De todas as afirmaccedilotildees do professor
espanhol a uacutenica de que natildeo discordo eacute aquela relacionada ao pluralismo de valores cujo re-
conhecimento aliaacutes estaacute longe de ser privileacutegio dos neoconstitucionalistas
Contudo eu assumo o roacutetulo sem constrangimentos se o neoconstitucionalismo for pensado
como uma teoria constitucional que sem descartar a importacircncia das regras e da subsunccedilatildeo
abra tambeacutem espaccedilo para os princiacutepios e para a ponderaccedilatildeo tentando racionalizar o seu uso
Se for visto como uma concepccedilatildeo que sem desprezar o papel protagonista das instacircncias de-
mocraacuteticas na definiccedilatildeo do Direito reconheccedila e valorize a irradiaccedilatildeo dos valores constitucio-
nais pelo ordenamento bem como a atuaccedilatildeo firme e construtiva do Judiciaacuterio para proteccedilatildeo e
promoccedilatildeo dos direitos fundamentais e dos pressupostos da democracia E acima de tudo se
for concebido como uma visatildeo que conecte o Direito com exigecircncias de justiccedila e moralidade
criacutetica151 sem enveredar pelas categorias metafiacutesicas do jusnaturalismo
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Certamente uma visatildeo equilibrada da Teoria do Direito com tais caracteriacutesticas pode contribu-
ir para o aperfeiccediloamento do Estado Democraacutetico de Direito no Brasil O mesmo jaacute natildeo digo de
concepccedilotildees mais radicais do neoconstitucionalismo que podem ser muito boas para arrancar
aplausos entusiasmados das plateacuteias nos seminaacuterios estudantis mas que natildeo se conciliam com
exigecircncias fundamentais de seguranccedila juriacutedica democracia e liberdade que satildeo alicerces de
qualquer bom constitucionalismo - novo ou velho
Curriacuteculo Resumido
Daniel Sarmento
Poacutes-Doutor pela Universidade de Yale (EUA) Procurador Regional da Repuacuteblica
Como citar este artigo
SARMENTO Daniel O neoconstitucionalismo no Brasil riscos e possibilidades Disponiacutevel em httpwwweditoraforumcombrsistconteudolista_conteudoaspFIDT_CONTEUDO=56993 acesso em 09032011 httpdireitoesubjetividadefileswordpresscom201008daniel-sarmento-o-neoconstitucionalismo-no-brasil1doc acesso em 30062012 Material da 1ordf aula da Disciplina Teoria Geral da Constituiccedilatildeo (I) ministrada no Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo Online em Direito Constitucional ndash Anhanguera-UNIDERP | REDE LFG
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1Sobre a teoria de princiacutepios no Brasil veja-se dentre outros Ana Paula de Barcellos A eficaacutecia juriacutedica dos princiacutepios constitu-
cionais o princiacutepio da dignidade da pessoa humana Rio de Janeiro Renovar 2002 Humberto Bergman Aacutevila Teoria dos princiacute-
pios da definiccedilatildeo agrave aplicaccedilatildeo dos princiacutepios juriacutedicos 2 ed Satildeo Paulo RT 2005 Jane Reis Gonccedilalves Pereira Interpretaccedilatildeo
constitucional e direitos fundamentais uma contribuiccedilatildeo ao estudo das restriccedilotildees aos direitos fundamentais na perspectiva da
teoria dos princiacutepios Rio de Janeiro Renovar 2006 Virgiacutelio Afonso da Silva O conteuacutedo essencial dos direitos fundamentais e a
eficaacutecia das normas constitucionais Satildeo Paulo Tese (concurso de Professor Titular de Direito Constitucional da USP)
2Veja-se em tons variados Lecircnio Luiz Streck Hermenecircutica juriacutedica e(m) crise uma exploraccedilatildeo hermenecircutica da construccedilatildeo do
direito Porto Alegre Livraria do Advogado 1999 Luiacutes Roberto Barroso (Org) A nova interpretaccedilatildeo constitucional ponderaccedilatildeo
direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas Rio de Janeiro Renovar 2003 Margarida Maria Lacombe Camargo Hermenecircutica e
argumentaccedilatildeo uma contribuiccedilatildeo ao estudo do direito Rio de Janeiro Renovar 2003 Inocecircncio Maacutertires Coelho Interpretaccedilatildeo
constitucional 2 ed Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2003 Ana Paula de Barcellos Ponderaccedilatildeo racionalidade e atividade
jurisdicional Rio de Janeiro Renovar 2005
3Sobre o fenocircmeno da constitucionalizaccedilatildeo do Direito confira-se os inuacutemeros artigos que compotildeem a coletacircnea organizada por
Claacuteudio Pereira de Souza Neto e por mim A constitucionalizaccedilatildeo do direito fundamentos teoacutericos e aplicaccedilotildees especiacuteficas Rio de
Janeiro Lumen Juris 2007
4Cfr na literatura constitucional brasileira Gisele Guimaratildees Cittadino Pluralismo direito e justiccedila distributiva elementos de
filosofia constitucional contemporacircnea Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 Oscar Vilhena Vieira A Constituiccedilatildeo e sua reserva de
justiccedila um ensaio sobre os limites materiais do poder de reforma Satildeo Paulo Malheiros 1999 Ricardo Lobo Torres (Org) A legi-
timaccedilatildeo dos direitos humanos Rio de Janeiro Renovar 2002 Claacuteudio Pereira de Souza Neto Teoria constitucional e democracia
deliberativa Rio de Janeiro Renovar 2006 Lecircnio Luiz Streck Verdade e consenso Constituiccedilatildeo hermenecircutica e teorias discursi-
vas Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 Samantha Chantal Dobrowolski A construccedilatildeo social do sentido da Constituiccedilatildeo na demo-
cracia contemporacircnea entre soberania popular e direitos humanos Rio de Janeiro Lumen Juris 2007 Aacutelvaro Ricardo de Souza
Cruz Hermenecircutica juriacutedica e(m) debate o constitucionalismo brasileiro entre a teoria do discurso e a ontologia existencial Belo
Horizonte Foacuterum 2007
5Sobre a judicializaccedilatildeo da poliacutetica no Brasil veja-se Luiz Werneck Vianna et al A judicializaccedilatildeo da poliacutetica e das relaccedilotildees sociais
no Brasil Rio de Janeiro Revan 1999 Giselle Cittadino Judicializaccedilatildeo da poliacutetica constitucionalismo democraacutetico e separaccedilatildeo de
poderes In Luiz Werneck Vianna (Org) A democracia e os trecircs poderes no Brasil Belo Horizonte UFMG 2002 p 17-42 Rogeacuterio
B Arantes Constitucionalism the expansion of Justice and the Judicialization of Poltics in Brazil In Rachel Sieder Line Schjol-
den Alan Angell The Judicialization of Politics in Latin America New York Palgrave Macmillan 2005 p 232-262 Luis Roberto
Barroso Judicializaccedilatildeo ativismo judicial e legitimidade democraacutetica Texto ineacutedito gentilmente cedido pelo autor
Para uma perspectiva comparativa veja-se Neal C Tate Tobjorn Vallinder (Ed) The Global Expansion of Judicial Power New
York New York University Press 1995 Alec Stone Sweet Governing with Judges Constitutional Politics in Europe Oxford Oxford
Univesity Press 2000 e em tom profundamente criacutetico Ran Hirschl Towards Juristocracy the Origins and Consequences of the
New Constitucionalism Cambridge Harvard University Press 2004
6Miguel Carbonell et al Neoconstitucionalismo(s) Madrid Trotta 2003 Mais recentemente o autor publicou nova coletacircnea
tambeacutem dedicada ao estudo do neoconstitucionalismo intitulada Teoria del Neoconstitucionalismo Ensayos escogidos Madrid
Trotta 2007
7O jurista argentino Carlos Santiago Nino por exemplo faleceu em 1993 quando ainda nem se empregava esta denominaccedilatildeo
8Cf Robert Alexy Teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica a teoria do discurso racional como teoria da fundamentaccedilatildeo juriacutedica Tradu-
ccedilatildeo de Zilda Hutchinson Schild Silva revisatildeo teacutecnica da traduccedilatildeo e introduccedilatildeo agrave ediccedilatildeo brasileira Claudia Toledo 2 ed Satildeo Paulo
Landy 2005 Luis Roberto Barroso Curso de direito constitucional contemporacircneo os conceitos fundamentais e a construccedilatildeo do
novo modelo Rio de Janeiro Saraiva 2008 p 306-350
9Cf Lecircnio Luiz Streck Verdade e consenso Op cit p 197-246
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10Ronald Dworkin e Carlos Santiago Nino satildeo sem sombra de duacutevida autores liberais natildeo no sentido que se atribui ao termo no
Brasil - de adeptos de doutrina econocircmica favoraacutevel ao Estado miacutenimo e ao mercado - mas sim no sentido corrente na Filosofia
Poliacutetica que associa o liberalismo agrave defesa dos direitos individuais e da neutralidade do Estado em relaccedilatildeo agraves diversas concepccedilotildees
sobre a vida boa existentes na sociedade Veja-se neste sentido Ronald Dworkin A Matter of Principle Cambridge Harvard
University Press 1985 p 181-236 Carlos Santiago Nino La constitucioacuten de la Democracia Deliberativa Barcelona Gedisa 1997
p 70-100
11Lecircnio Luiz Streck que se alinha ao neoconstitucionalismo defende posturas tipicamente comunitaristas como o papel da Consti-
tuiccedilatildeo na definiccedilatildeo de modelos de vida boa para orientaccedilatildeo da vida social e da accedilatildeo individual Cf Jurisdiccedilatildeo constitucional e
hermenecircutica uma nova criacutetica do direito 2 ed Rio de Janeiro Forense 2004 p 95-288
12Antonio Cavalcanti Maia um dos mais ardorosos defensores do neoconstitucionalismo no paiacutes eacute tambeacutem procedimentalista e
adepto das teorias juriacutedicas de Juumlrgen Habermas Veja-se neste sentido o seu denso texto Nos vintes anos da carta cidadatilde do
poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm (Coord) Vinte
anos da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 p 117-168 em que esta sua dupla filiaccedilatildeo intelectual eacute
explicitada
13Segundo Miguel Carbonell o neoconstitucionalismo desdobra-se em trecircs planos de anaacutelise que se conjugam o dos textos consti-
tucionais que se tornaram mais substantivos e incorporaram amplos elencos de direitos fundamentais o das praacuteticas judiciais que
passaram a recorrer a princiacutepios constitucionais agrave ponderaccedilatildeo e a meacutetodos mais flexiacuteveis de interpretaccedilatildeo sobretudo na aacuterea de
direitos fundamentais e o dos desenvolvimentos teoacutericos de autores que com as suas ideacuteias ajudaram natildeo soacute a compreender os
novos modelos constitucionais mas tambeacutem participaram da sua proacutepria criaccedilatildeo Cf Miguel Carbonell Neoconstitucionalismo
elementos para una definicioacuten In Eduardo Ribeiro Moreira Mauricio Pugliesi 20 anos da Constituiccedilatildeo brasileira Satildeo Paulo Sarai-
va 2009 p 197-208
14No mesmo sentido Luis Roberto Barroso Neoconstitucionalismo e Constitucionalizaccedilatildeo do direito o triunfo tardio do direito
constitucional do Brasil In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento A constitucionalizaccedilatildeo do direito fundamentos teoacuteri-
cos e aplicaccedilotildees especiacuteficas Rio de Janeiro Lumen Juris 2007 p 203-250
15Cf Carlos Bernal Pulido El Derecho de los Derechos Bogotaacute Universidad Externado de Colocircmbia 2006 Manoel Jose Cepeda
Espinosa Judicialization of Politics in Colombia the old and the new In Rachel Sieder Line Schonjen Alan Angell The Judiciali-
zation of Politics in Latin America Op cit p 67-104 Rodrigo Uprimmy Mauriacutecio Garcia-Villegas Tribunal Constitucional e eman-
cipaccedilatildeo social na Colocircmbia In Boaventura de Souza Santos Democratizar a democracia os caminhos da democracia participativa
Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2002 p 297-339
16Cf Catalina Smulovitz Petitioning and Creating Rights Judicialization in Argentina In Rachel Sieder Line Scjolden Alan Angell
The Judicialization of Politics in Latin America Op cit p 161-185
17Cf Miguel Carbonell Los Derechos Fundamentales en Meacutexico 2 ed Meacutexico Porruacutea 2006 Pilar Domingo The Changing Political
Role of the Judiciary in Meacutexico In Rachel Sieder Line Scjolden Alan Angell The Judicialization of Politics in Latin Ameacuterica Op
cit p 21-46
18Cf Heinz Klug South Aacutefrica From Constitucional Promise to Social Transformation In Jeffrey Goldsworthy Interpreting Consti-
tutions A Comparative Study Oxford Oxford University Press 2006 p 266-320
19Cf S P Sathe Iacutendia From Positivism to Structuralism In Jeffrey Goldsworthy Op cit p 215-265
20Veja-se a propoacutesito Gustavo Zagrebelsky Il Diritto Mite Torino Einaudi 1992 p 57-96
21Cf Eduardo Garciacutea de Enterriacutea La Constitucioacuten como Norma y el Tribunal Constitucional 3 ed Madrid Civitas 1985 p 41
22Na Alemanha a mudanccedila ocorreu sob a vigecircncia da Lei Fundamental adotada em 1949 e foi fortemente impulsionada pela
jurisprudecircncia do Tribunal Constitucional do paiacutes que construiu teorias importantes como a da Constituiccedilatildeo como uma ordem de
valores em cujo centro situa-se o princiacutepio da dignidade humana que se irradia por todo o ordenamento Veja-se a propoacutesito
Dieter Grimm Human Rights and Judicial Review in Germany In David M Beatty (Org) Human Rights and Judicial Review A
Comparative Perspective Dodrecht Martin Urjhoff 1994 p 267-295
23Na Itaacutelia as mudanccedilas se deram sob a eacutegide da atual Constituiccedilatildeo editada em 1947 mas soacute apoacutes o funcionamento da Corte
Constitucional que se deu em 1956 Ateacute entatildeo a Corte de Cassaccedilatildeo composta por juiacutezes recrutados ainda no periacuteodo do fascismo
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era provisoriamente encarregada da guarda da Constituiccedilatildeo o que fazia de forma muito tiacutemida no mais das vezes negando eficaacute-
cia juriacutedica agraves normas constitucionais sob o argumento de que seriam programaacuteticas Veja-se a propoacutesito Ricardo Guastini A
constitucionalizaccedilatildeo do ordenamento juriacutedico e a experiecircncia italiana In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento A
constitucionalizaccedilatildeo do direito fundamentos teoacutericos e aplicaccedilotildees especiacuteficas Op cit p 271-294
24Cf No modelo do constitucionalismo norte-americano entende-se desde os primoacuterdios que a Constituiccedilatildeo eacute autecircntica lei e que
o Judiciaacuterio pode invalidar as decisotildees legislativas que a contrariem apesar do controle de constitucionalidade natildeo estar expres-
samente previsto no texto constitucional daquele paiacutes Esta ideacuteia que jaacute estava assentada no Federalista n 78 escrito por Ale-
xander Hamilton antes da aprovaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo foi posta em praacutetica pela primeira vez contra lei federal no ceacutelebre caso
Marbury v Madison julgado em 1803 pelo juiz Marshall Veja-se a propoacutesito Paul Brest Sanford Levinson Jack Balkin Akhil Reed
Amar Processes of Constitutional Decisionmaking Cases and Materials New York Aspen Publishers 2000 p 79-103
A versatildeo mais convencional do modelo constitucional norte-americano enfatiza a importacircncia central do Judiciaacuterio na atualizaccedilatildeo
do sentido da Constituiccedilatildeo do paiacutes Contudo esta leitura histoacuterica eacute hoje objeto de intensa disputa Em sentido contraacuterio a tal
posiccedilatildeo sustentando uma menor relevacircncia do Judiciaacuterio no desenvolvimento histoacuterico do constitucionalismo americano veja-se
por exemplo Stephen M Griffin American Constitutionalism From Theory to Politics New Jersey Princeton University Press
1996 p 88-139
25Cf Luis Prietro Sanchiacutes Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales Madrid Trotta 2003 p 107-117
26Cf Daniel Sarmento Ubiquumlidade constitucional Os dois lados da moeda In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento
(Coord) A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 113-148
27Na verdade a reaccedilatildeo contra o formalismo juriacutedico na Europa eacute bem anterior ao advento do constitucionalismo do 2ordm poacutes-guerra
remontando ao final do seacuteculo XIX Veja-se a propoacutesito Constantin M Stamatis Argumenter en Droit Une theacuteorie critique de
largumentation juridique Paris Publisud 1995 p 34-50 Antonio Manoel Hespanha Panorama histoacuterico da cultura juriacutedica euro-
peacuteia Lisboa Publicaccedilotildees Europa-Ameacuterica 1997 p 196-235
28Haacute vasta literatura sobre a ponderaccedilatildeo mas a obra mais influente sobre o tema eacute certamente o livro de Robert Alexy Teoria dos
direitos fundamentais Traduccedilatildeo de Virgiacutelio Afonso da Silva Satildeo Paulo Malheiros 2008 No cenaacuterio norte-americano veja-se a
anaacutelise densa e criacutetica de T Alexander Aleinikoff Constitucional Law in the Age of Balancing Yale Law Journal n 96 p 943-
1005 1987 No Brasil cfr Daniel Sarmento A ponderaccedilatildeo de interesses na Constituiccedilatildeo Federal Rio de Janeiro Lumen Juris
2000 Ana Paula de Barcellos Ponderaccedilatildeo racionalidade e atividade jurisdicional Op cit
29A bibliografia sobre o princiacutepio da proporcionalidade eacute vastiacutessima Veja-se a propoacutesito as densas anaacutelises de Carlos Bernal Puli-
do El Principio de Proporcionalidad y los Derechos Fundamentales Madrid Centro de Estuacutedios Constitucionales 2003 e no Brasil
de Jane Reis Gonccedilalves Pereira Interpretaccedilatildeo constitucional e direitos fundamentais Rio de Janeiro Renovar 2006 p 297-382
30Cf Chaiumlm Perelman Eacutetica e direito Traduccedilatildeo de Maria Ermantina Galvatildeo G Perira Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 p 361-684
Robert Alexy Teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica Op cit Friedrich Muller Discours de la Meacutethode Juridique Traduccedilatildeo de Olivier
Jouanjan Paris PUF 1993 Manuel Atienza Traacutes la Justicia Una Introduccioacuten al Derecho y al Razonamiento Juriacutedico Barcelona
Ariel 1995 Neil MacCormick Argumentaccedilatildeo juriacutedica e teoria do direito Traduccedilatildeo de Waldeacutea Barcellos Satildeo Paulo Martins Fontes
2006 Klaus Guumlnther Teoria da argumentaccedilatildeo no direito e na moral justificaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Claacuteudio Molz Satildeo Pau-
lo Landy 2004
31Cf Martin Shapiro Alec Stone Sweet On Law Politics and Judicialization New York Oxford University Press p 136-208
32Contudo deve-se admitir na linha de Paolo Comanducci que eacute possiacutevel reconhecer as mudanccedilas em questatildeo e propor novas
teorias que sejam adequadas a elas sem defendecirc-las Esta seria nas palavras do autor italiano a diferenccedila entre o neoconstitu-
cionalismo teoacuterico e o neoconstitucionalismo ideoloacutegico que natildeo apenas constroacutei teorias mais compatiacuteveis com os novos fenocirc-
menos mas vai aleacutem sustentando a sua legitimidade e propugnando pelo seu aprofundamento e expansatildeo Veja-se a propoacutesito
Paulo Comanducci Formas de neoconstitucionalismo Un anaacutelisis metateoacuterico In Miguel Carbonell (Ed) Neoconstitucionalis-
mo(s) Op cit p 75-98 Como reconhece o proacuteprio autor tal distinccedilatildeo baseia-se em uma semelhante acerca do positivismo
30
formulada por Norberto Bobbio que fala em positivismo teoacuterico ideoloacutegico e metodoloacutegico Cf Norberto Bobbio O positivismo
juriacutedico liccedilotildees de filosofia do direito Traduccedilatildeo e notas de Marcio Pugliesi et al Satildeo Paulo Iacutecone 1995 p 233-239
33Cf Ronald Dworkin Is Law a Sistem of Rules In Ronald Dworkin (Ed) Philosophy of Law Oxford Oxford University Press 1971
Robert Alexy Constitucionalismo discursivo Traduccedilatildeo de Luiz Afonso Heck Porto Alegre Livraria do Advogado 2007
34Cf Robert Alexy Derecho y Razoacuten Praacutectica Meacutexico Distribuiciones Fontamara 1993 Aulis Aarnio Lo Racional como Razonable
Traduccedilatildeo de Ernesto Garzoacuten Valdeacutes Madrid Centro de Estuacutedios Constitucionales 1991
35Cf Aharon Barak The Judge in a Democracy New Jersey Princeton University Press 2006 p 213-260 Gustavo Zagrebelsky Il
Diritto Mite Op cit p 179-217
36Confronte-se com perspectivas diferentes Luigi Ferrajoli O Estado de direito entre passado e futuro In Pietro Costa Danilo
Zolo (Org) Estado de direito histoacuteria teoria criacutetica Traduccedilatildeo de Carlo Alberto Dastoli Satildeo Paulo Martins Fontes 2006 p 419-
464 Elias Dias Estado de Derecho y Sociedad Democraacutetica Madrid Taurus 1998 Ronald Dworkin Introduction The Moral Reading
and the Majoritarian Premise In Freedoms Law The moral reading of the American Constitution Cambridge Harvard University
Press 1996 p 01-38 Gustavo Zagrebelsky La Crucifixioacuten y la Democracia Barcelona Ariel 1996 Claacuteudio Pereira de Souza Neto
Teoria constitucional da democracia deliberativa Op cit
37Cf Ronald Dworkin Introduction The Moral Reading and the Majoritarian Premise Op cit
38Cf Luigi Ferrajoli El Garantismo y la Filosofia del Derecho Bogotaacute Universidad Externado de Colocircmbia 2000
39Cf Luis Pietro Sanchis Sobre el Neoconstitucionalismo y sus Implicaciones In Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales
Op cit p 101-135
40Cf Ricardo Guastini Sur la Validiteacute de la Constitution du Point de Vue du Positivisme Juridique In Michel Troper Lucien Jaume
(Dir) 1789 et LInvention de la Constitution Paris LGDJ 1994 p 216-225
41Cf Suzana Pozzolo Neoconstituzionalismo e Positivismo Giuridico Torino Giapppicheli 2001
42Cf Ronald Dworkin Law and Morals In Justice in Robes Cambridge Harvard University Press 2006 p 01-35
43Cf Robert Alexy Derecho y Moral In La Institucionalizacioacuten de la Justicia Op cit p 17-30
44Cf Carlos Santiago Nino Eacutetica y Derechos Humanos 2 ed Buenos Aires Astrea 1989 p 11-48
45Cf Gustav Radbruch Cinco minutos de filosofia do direito In Filosofia do direito Traduccedilatildeo de L Cabral de Moncada 6 ed
Coimbra Armecircnio Amado 1979 p 414-418 Para uma densa problematizaccedilatildeo da foacutermula de Radbruch veja-se Thomas da Rosa
Bustamante Poacutes-Positivismo o argumento da injusticcedila aleacutem da Foacutermula de Radbruch In Teoria do direito e decisatildeo racional
temas de teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica Rio de Janeiro Renovar 2008
46Cf Robert Alexy La Institucionalizacioacuten de la Justicia Traduccedilatildeo de Joseacute Antonio Seone et al Granada Comares 2005 p 31-
54
47Sobre o tema cfr Alfonso Garcia Figueroa Princiacutepios e direitos fundamentais In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmen-
to A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 03-34
48O texto mais importante do positivismo inclusivo eacute o poacutes-escrito de Herbert LA Hart agrave sua obra magna The Concept of Law em
que ele responde agraves criacuteticas ao seu pensamento que Ronald Dworkin lhe endereccedilara O autor inglecircs faleceu antes de terminar o
texto mas ele foi publicado postumemente depois de ser editado por Joseph Raz Peneacutelope Bulloch Veja-se Herbert LA Hart
Poacutes-escrito In O conceito de direito Traduccedilatildeo de A Ribeiro Mendes 2 ed 1994 p 299-339 Tambeacutem na linha do positivismo
inclusivo veja-se Gregorio Peces- Barba Derechos Sociales y Positivismo Juriacutedico Escritos de Filosofia Poliacutetica y Juriacutedica Madrid
Dykinson 1999 p 83-90 Jules Coleman The Practice of Principle In defense of a pragmatist approach do legal theory Oxford
Oxford University Press p 103-120 Para uma resenha dos tipos de positivismo no debate contemporacircneo confira-se Dimitri Di-
moulis Positivismo juriacutedico introduccedilatildeo a uma teoria do direito e defesa do pragmatismo juriacutedico-politico Satildeo Paulo Meacutetodo
2006 p 65-166
49Cf Antonio Cavalcanti Maia Nos vinte anos da Constituiccedilatildeo do poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo Op cit Claacuteudio Perei-
ra de Souza Neto A teoria constitucional e seus lugares especiacuteficos notas sobre o aporte reconstrutivo Revista de Direito do
Estado n 1 p 89-104 jan mar 2006 Daniel Sarmento Interpretaccedilatildeo constitucional preacute-compreensatildeo e capacidades institu-
cionais do inteacuterprete In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binebojm Vinte anos da Constituiccedilatildeo de 1988
Op cit p 311-322
31
50Cf Juumlrgen Habermas Escritos sobre Moralidad y Eticidad Traduccedilatildeo de Manuel Jimenez Redondo Barcelona Paidoacutes 1991 p
131-172
51Sobre o comunitarismo haacute extensa literatura Dois textos claacutessicos deste linha de pensamento satildeo Michael Walzer The Communi-
tarian Critique of Liberalism In Politics and Passion New Haven Yale University Press 2004 p 141-163 Charles Taylor The
Procedural Republic and the Unencumbered Self In Robert Goodin Philip Pettit (Ed) Contemporary Political Philosophy 2 ed
Oxford Oxford University Press 2002 p 2462-256 Sobre a penetraccedilatildeo ainda que muitas vezes natildeo consciente das posiccedilotildees do
comunitarismo no constitucionalismo brasileiro veja-se Gisele Cittadino Pluralismo direito e justiccedila distributiva Op cit p
43-74
52Sobre o construtivismo eacutetico corrente filosoacutefica que sustenta a existecircncia de posiccedilotildees certas e erradas na Moral bem como a
possibilidade de encontraacute-las e fundamentaacute-las racionalmente veja-se Carlos Santiago Nino El Constructivismo Eacutetico Madrid
Centro de Estudios Constitucionales 1989
53O fenocircmeno tambeacutem se reproduz na teoria constitucional norte-americana hegemocircnica cf Keith Wittington Constitutional Con-
struction Divided Powers and Constitutional Meaning Cambridge Harvard University Press 1999 p 01-03
54A imagem do Poder Judiciaacuterio como um guardiatildeo de promessas eacute explorada e criticada numa obra importante da teoria juriacutedica
francesa contemporacircnea Antoine Garapon Le Gardien de Promesses Le juge et la democratie Paris Odile Jacob 1996
55Neste sentido o eloquumlente encerramento do Curso de Direito Constitucional Contemporacircneo de Luis Roberto Barroso o consti-
tucionalismo democraacutetico eacute a utopia que nos restou Uma feacute racional que ajuda a acreditar no bem e na justiccedila ainda quando natildeo
estejam ao alcance dos olhos (Op cit p 400)
56Cf Nico Poulantzas State Power Socialism London new Left Books 1978 Alan Hunt Marxist Theory of Law In Dennis Patter-
son (Ed) A Companion to Philosophy of Law and Legal Theory Malden Blackwell Publishers 1996 p 355-367
57Cf David Kairys (Ed) The Politics of Law A Progressive Critique New York Pantheon Books 1982 Roberto Mangabeira Unger
The Critical Legal Studies Movement Cambridge Harvard University Press 1986
58Cf Plauto Faraco Azevedo Criacutetica agrave dogmaacutetica e hermenecircutica juriacutedica Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1989 Luiz Fernando
Coelho Teoria criacutetica do direito 2 ed Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1991
59Natildeo haacute como abordar aqui as relaccedilotildees entre as inuacutemeras correntes do poacutes-modernismo e o Direito Constitucional Veja-se a
propoacutesito Niklas Luhman La Constituzione como Acquisizione Evolutiva In Gustavo Zagrebelsky Piacuteer Paolo Portinaro Joumlrg Lu-
ther Il Futuro della Costituzione Torino Einaudi 1996 p 83-128 Joseacute Joaquim Gomes Canotilho Civilizaccedilatildeo do direito constitu-
cional ou constitucionalizaccedilatildeo do direito civil a eficaacutecia dos direitos fundamentais na ordem juriacutedico-civil no contexto do direito
poacutes-moderno Cadernos de Direito Constitucional e Ciecircncia Poliacutetica n 15 p 07-16 1996 Eduardo Capellari A crise da moderni-
dade e a Constituiccedilatildeo Rio de janeiro Ameacuterica Juriacutedica 2004 Daniel Sarmento Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas 2 ed
Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 p 36-45
60Para Jean-Franccedilois Lyotard uma das caracteriacutesticas centrais do pensamento poacutes-moderno de que eacute expoente eacute a desconfianccedila
em relaccedilatildeo agraves metanarrativas - construccedilotildees abstratas grandiosas e totalizadoras tiacutepicas da Filosofia Moderna como direitos
humanos luta de classes e emancipaccedilatildeo pelo uso da razatildeo Cf Lyotard A condiccedilatildeo poacutes-moderna Traduccedilatildeo de Ricardo Correcirca
Barbosa 5 ed 1998 p16
61Cf Luiz Werneck Viana O terceiro poder na carta de 1988 e a tradiccedilatildeo republicana mudanccedila e conservaccedilatildeo In Ruben George
Oliven Marcelo Gildo Marccedilal Branda A Constituiccedilatildeo de 1988 na vida brasileira Satildeo Paulo Aderaldo e Rotshild 2008 p 91-109
62Cf Paulo Ricardo Schier Filtragem constitucional Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1999
63A expressatildeo foi cunhada por Claacuteudio Pereira de Souza Neto Fundamento e normatividade dos direitos fundamentais uma recons-
truccedilatildeo teoacuterica agrave luz do princiacutepio democraacutetico Arquivos de Direitos Humanos n 4 p 17-61 2003
64Cf Luis Roberto Barroso O direito constitucional e a efetividade de suas normas 3 ed Rio de Janeiro Renovar 1996
65Cf Clegravemerson Merlin Clegraveve A teoria constitucional e o direito alternativo para uma dogmaacutetica constitucional emancipatoacuteria In
Uma vida dedicada ao direito homenagem a Carlos Henrique de Carvalho Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1995 p 34-53
66Ressalte-se poreacutem que antes de 88 alguns juristas jaacute defendiam a forccedila normativa da Constituiccedilatildeo como o Prof Joseacute Afonso da
Silva Eacute de 1968 a primeira ediccedilatildeo da sua obra claacutessica A aplicabilidade das normas constitucionais que adotava claramente esta
32
perspectiva Todavia pelo clima nada propiacutecio ao constitucionalismo que reinava por aqui ateacute a nossa redemocratizaccedilatildeo a louvaacute-
vel pregaccedilatildeo dele e de outros juristas em prol da efetivaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo natildeo chegou a render maiores frutos
67Deve-se assinalar ainda a influecircncia marcante do novo constitucionalismo ibeacuterico neste movimento que tambeacutem pugnava pela
atribuiccedilatildeo de forccedila normativa agraves ambiciosas constituiccedilotildees de Portugal e Espanha entatildeo recentemente elaboradas apoacutes o fim de
experiecircncias autoritaacuterias naqueles paiacuteses A tiacutetulo de exemplo mencione-se a penetraccedilatildeo no paiacutes do pensamento do Professor de
Coimbra Joseacute Joaquim Gomes Canotilho especialmente da sua teoria sobre a Constituiccedilatildeo dirigente que ele posteriormente reviu
(cf J J Gomes Canotilho Constituiccedilatildeo dirigente e vinculaccedilatildeo ao legislador contributo para a compreensatildeo das normas constitu-
cionais programaacuteticas 2 ed Coimbra Coimbra 2001 - especialmente o prefaacutecio desta segunda ediccedilatildeo que daacute conta da mudanccedila
de posicionamento) bem como a difusatildeo das liccedilotildees do Professor Eduardo Garciacutea de Enterriacutea (cf La Constitucioacuten como Norma y el
Tribunal Constitucional Madrid Civitas 1981)
68Segundo a avaliaccedilatildeo atual de Luis Roberto Barroso personagem central do movimento o positivismo constitucional que deu
impulso ao movimento natildeo importava em reduzir o direito agrave norma mas sim em elevaacute-la a esta condiccedilatildeo pois ateacute entatildeo ele
havia sido menos do que norma (Curso de direito constitucional contemporacircneo Op cit p 224)
69Paulo Bonavides Curso de direito constitucional 5 ed Satildeo Paulo Malheiros 1994
70Eros Roberto Grau A ordem econocircmica na Constituiccedilatildeo de 88 interpretaccedilatildeo e criacutetica Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1996
71No acircmbito da Poacutes-Graduccedilatildeo em Direito da UERJ em que estou inserido desde 1997 primeiro como aluno e a partir de 2003 como
professor o Ricardo Lobo Torres teve papel central na difusatildeo do pensamento destes e de outros filoacutesofos entre os estudantes e o
proacuteprio corpo docente
72Cf Lecircnio Luiz Streck Hermenecircutica juriacutedica e(m) crise Op cit Eros Roberto Grau Ensaio e discurso sobre a interpreta-
ccedilatildeoaplicaccedilatildeo do direito Satildeo Paulo Malheiros 2002
73Nesta linha veja-se as obras que compotildeem a coletacircnea Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Direitos sociais funda-
mentos judicializaccedilatildeo e direitos sociais em espeacutecie Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 Ricardo Lobo Torres O miacutenimo existencial
e os direitos fundamentais Revista de Direito Administrativo n 177 p 20-49 1989 Ingo Wolfgang Sarlet A eficaacutecia dos direitos
fundamentais 9 ed Porto Alegre Livraria do Advogado 2008 Ana Paula de Barcellos A eficaacutecia juriacutedica dos princiacutepios o princiacute-
pio da dignidade da pessoa humana Op cit Marco Mazzeli Gouveia O controle judicial das omissotildees administrativas Rio de
Janeiro Forense 2003 Andreacuteas Krell Direitos sociais e controle judicial no Brasil e Alemanha os (des)caminhos de um direito
constitucional comparado Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2002
74Cf Gustavo Tepedino Temas de direito civil Rio de Janeiro Renovar 1999 Luiz Edson Fachin Estatuto juriacutedico do patrimocircnio
miacutenimo Rio de Janeiro Renovar 2001 Maria Celina Bodin de Moraes Danos agrave pessoa humana uma leitura civil-constitucional dos
danos morais Rio de Janeiro Renovar 2003 Teresa Negreiros Fundamentos para uma interpretaccedilatildeo constitucional do princiacutepio
da boa-feacute Rio de Janeiro Renovar 1998 Anderson Schreiber A proibiccedilatildeo do comportamento contraditoacuterio Rio de Janeiro Reno-
var 2005
75Cf Luciano Feldens A Constituiccedilatildeo penal a dupla face da proporcionalidade no controle das lei penais Porto Alegre Livraria do
Advogado 2005 Luis Carlos dos Santos Gonccedilalves Mandados expressos de criminalizaccedilatildeo e a proteccedilatildeo de direitos fundamentais na
Constituiccedilatildeo Brasileira de 1988 Belo Horizonte Foacuterum 2007
76Cf Gustavo Binenbojm Uma teoria do direito administrativo direitos fundamentais democracia e constitucionalizaccedilatildeo Rio de
Janeiro Renovar 2006 Alexandre dos Santos Aragatildeo Floriano de Azevedo Marques (Coord) Direito administrativo e seus novos
paradigmas Belo Horizonte Foacuterum 2008
77Cf Gustavo Binenbojm A nova jurisdiccedilatildeo constitucional brasileira legitimidade democraacutetica e instumentos de realizaccedilatildeo Rio de
Janeiro Renovar 2001 Claacuteudio Pereira de Souza Neto Jurisdiccedilatildeo constitucional democracia e racionalidade praacutetica Rio de
Janeiro Renovar 2002 Joseacute Adeacutercio Leite Sampaio A Constituiccedilatildeo reinventada pela jurisdiccedilatildeo constitucional Belo Horizonte Del
Rey 2002 Lecircnio Luiz Streck Jurisdiccedilatildeo constitucional e hermenecircutica Porto Alegre Livraria do Advogado 2002 Aacutelvaro Ricardo
de Souza Cruz Jurisdiccedilatildeo constitucional democraacutetica Belo Horizonte Del Rey 2004
78A expressatildeo dificuldade contramajoritaacuteria eacute de um claacutessico da teoria constitucional norte-americana Alexander Bickel La Cons-
titucioacuten como Norma y el Tribunal Constitucional 2 ed New Haven Yale University Press 1986
33
79Em siacutentese apertada o procedimentalismo sustenta que natildeo eacute papel da jurisdiccedilatildeo constitucional tutelar valores substantivos mas
apenas proteger os pressupostos necessaacuterios ao bom funcionamento da democracia Jaacute o substancialismo reconhece a legitimidade
da atuaccedilatildeo jurisdicional em favor da garantia e promoccedilatildeo de valores substantivos presentes na Constituiccedilatildeo O debate entre o
procedimentalismo identificado com as ideacuteias de autores como John Hart Ely e Juumlrgen Habermas e o substancialismo defendido
por teoacutericos como Ronald Dworkin e Laurence Tribe eacute reproduzido em praticamente toda a literatura contemporacircnea que trata de
Teoria ou Filosofia Constitucional Veja-se a propoacutesito a densa obra de Claacuteudio Ari Mello Democracia constitucional e direitos
fundamentais Porto Alegre Livraria do Advogado 2004
80Neoconstitucionalismo e constitucionalizaccedilatildeo do direito o triunfo tardio do direito constitucional no Brasil Op cit
81A crise paradigmaacutetica do direito no contexto da resistecircncia positivista ao (neo)constitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza
Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm Vinte anos da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Op cit p 203-228
82Nos vinte anos da carta cidadatilde do poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo Op cit
83Neoconstitucionalismo direitos fundamentais e controle de poliacuteticas puacuteblicas In Daniel Sarmento Flaacutevio Galdino (Org) Direitos
fundamentais estudos em homenagem ao prof Ricardo Lobo Torres Rio de Janeiro Renovar 2006 p 31-60
84Direitos humanos legitimidade e constitucionalismo In Daniel Sarmento Flaacutevio Galdino (Org) Direitos fundamentais estudos
em homenagem ao Prof Ricardo Lobo Torres Op cit p325-350
85Novos desafios agrave filtragem constitucional no momento do neoconstitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sar-
mento A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 251-270
86Neoconstitucionalismo a invasatildeo da Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Meacutetodo 2008
87Neoconstitucionalismo e positivismo juriacutedico Satildeo Paulo Landy 2006
88Teoria do direito e argumentaccedilatildeo racional temas de teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica op cit p 141-240
89Uma visatildeo criacutetica do neoconstitucionalismo In George Salomatildeo Leite Glauco Salomatildeo Leite Constituiccedilatildeo e efetividade constitu-
cional Salvador JusPodium 2008 p 43-60
90Neoconstitucionalismo entre a Ciecircncia do direito e o direito da ciecircncia In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento
Gustavo Binenbojm Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 p 187-202
91Cf Peticcedilatildeo 1246 MSSC julgada em 31011997 (obrigaccedilatildeo do Estado de realizar transplante de ceacutelulas mioblaacutesticas para salvar
a vida de crianccedila) Agravo de Instrumento no Recurso Extraordinaacuterio 271286RS DJU 24 nov 2000 (entrega de medicamentos
para portadores de HIV) e Agravo de Instrumento do Recurso Extraordinaacuterio nordm 410715-5 julgado em 22112005 (obrigaccedilatildeo de
fornecimento de vagas para educaccedilatildeo infantil pelo municiacutepio com atendimento em creches e preacute-escola)
92Recursos Extraordinaacuterios nordms 158215-4RS 161243-6DF 201819RJ
93Cf Mandado de Injunccedilatildeo 670ES Rel Min Gilmar Mendes julgado em 25102007 em que o STF revendo orientaccedilatildeo anterior
deu eficaacutecia normativa agrave sentenccedila proferida no mandado de injunccedilatildeo No caso decidiuse que ateacute o advento de lei regulamentado-
ra sobre a greve no serviccedilo puacuteblico o direito de greve poderia ser exercido obedecendo-se os limites impostos pela Lei 778389
que trata dos movimentos paredistas em serviccedilos essenciais no setor privado
94Sobre a tendecircncia agrave superaccedilatildeo da ideacuteia do Judiciaacuterio como legislador negativo na jurisdiccedilatildeo constitucional veja-se Joseacute Adeacutercio
Leite Sampaio A Constituiccedilatildeo reinventada pela jurisdiccedilatildeo constitucional Belo Horizonte Del Rey 2002 p 203-248
95Eacute lugar-comum dentre os autores que tratam da questatildeo associar tais mudanccedilas agrave pluralizaccedilatildeo das vozes na interpretaccedilatildeo consti-
tucional tema em que a referecircncia essencial no cenaacuterio germacircnico eacute Peter Haumlberle Veja-se a propoacutesito Peter Haumlberle Herme-
necircutica constitucional A sociedade aberta dos inteacuterpretes da Constituiccedilatildeo contribuiccedilatildeo para a interpretaccedilatildeo pluralista e procedi-
mental da Constituiccedilatildeo Traduccedilatildeo de Gilmar Ferreira Mendes Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1997 Veja-se ainda na doutrina
brasileira Gustavo Binenbojm A dimensatildeo do Amicus Curiae no processo constitucional brasileiro In Temas de direito constitu-
cional e administrativo Rio de Janeiro Renovar 2008 p 165-190
96ADIN 3510DF Relator Ministro Carlos Ayres Britto A accedilatildeo proposta contra o art 5ordm da Lei de Biosseguranccedila impugnava a auto-
rizaccedilatildeo de pesquisas com embriotildees humanos resultantes de fertilizaccedilatildeo in vitro que fossem inviaacuteveis ou estivessem congelados haacute
mais de trecircs anos A accedilatildeo foi julgada totalmente improcedente por 6 votos a 5
97ADPF nordm 54 A accedilatildeo que tem como relator o Ministro Marco Aureacutelio ainda natildeo foi julgada mas em seu bojo jaacute ocorreram diversas
audiecircncias puacuteblicas que provocaram intensa participaccedilatildeo da sociedade civil e grande interesse na miacutedia
34
98ADPF nordm 132 Relator Ministro Carlos Ayres Britto A accedilatildeo ainda foi julgada
99Mandados de Seguranccedila 26602DF 26603DF e 26604DF Informativo STF n 482
100Recurso Extraordinaacuterio 197917SP Rel p acoacuterdatildeo Min Ceacutesar Peluso DJU 18 fev 2005
101O livro de Alberto Carlos Almeida A cabeccedila do brasileiro lanccedilado em 2007 conteacutem pesquisas feitas sobre uma acuteseacuterie de temas
com pessoas de todas as classes sociais e regiotildees do paiacutes Uma das pesquisas eacute relativa agrave avaliaccedilatildeo das instituiccedilotildees Dentre as treze
avaliadas as duas que obtiveram menor aprovaccedilatildeo foram os partidos poliacuteticos (avaliaccedilatildeo positiva de 28 dos entrevistados) e o
Congresso (avaliaccedilatildeo positiva de 36 dos entrevistados) Cf Antonio Carlos Almeida A cabeccedila do brasileiro Rio de Janeiro Re-
cord 2007 p 187
102Cf Luis Roberto Barroso Judicializaccedilatildeo ativismo judicial e legitimidade democraacutetica Texto ainda ineacutedito gentilmente cedido
pelo autor
103Humberto Aacutevila por exemplo formula outra criacutetica importante de que o neoconstitucionalismo seria inadequado agrave realidade
constitucional brasileira jaacute que privilegia os princiacutepios e a Carta de 88 seria muito mais regulatoacuteria do que principioloacutegica (Neo-
constitucionalismo entre a ciecircncia do direito e o direito da ciecircncia Op cit p 188-192)
104Contudo natildeo eacute razoaacutevel estender esta criacutetica ao ponto de negar o caraacuteter democraacutetico da atuaccedilatildeo judicial Como ressaltou
Eugenio Rauacutel Zaffaroni uma instituiccedilatildeo natildeo eacute democraacutetica unicamente porque natildeo provenha de eleiccedilatildeo popular porque nem tudo
o que proveacutem desta origem eacute necessariamente aristocraacutetico Uma instituiccedilatildeo eacute democraacutetica quando seja funcional para o sistema
democraacutetico quer dizer quando seja necessaacuteria para a sua continuidade como ocorre com o judiciaacuterio (Poder judiciaacuterio crise
acertos e desacertos Traduccedilatildeo de Juarez Tavares Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1995 p 43)
105Cf Robert A Dahl Sobre a democracia Traduccedilatildeo de Beatriz Sidou Brasiacutelia UNB 2001 p 97-113 Juumlrgen Habermas Popular
Sovereignity as Procedure In James Bonham William Rehg Deliberative Democracy Cambridge The MIT Press 1997 p 35-66
106A questatildeo da tensatildeo e sinergia simultacircneas entre constitucionalismo e democracia eacute um dos debates mais fecundos da Teoria
Poliacutetica e da Filosofia Constitucional que tem atravessado o tempo desde o advento do constitucionalismo moderno no seacuteculo
XVIII Veja-se no debate contemporacircneo Jeremy Waldron Preocommitment and Disagreement In Larry Alexander Constitu-
cionalism Philosophical Foundations Cambridge Cambridge University Press 1998 p 271-299 Juumlrgen Habermas O Estado demo-
craacutetico de direito uma amarraccedilatildeo paradoxal de princiacutepios contraditoacuterios In Era das transiccedilotildees Traduccedilatildeo de Flaacutevio Beno Siebe-
neichler Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 2003 p 153-173 Carlos Santiago Nino La Constitucioacuten de la Democracia Deliberativa
Op cit Frank Michelman Brennan and Democracy Princeton Princeton University Press 1999 p 03-62 Stephen Holmes El
Precompromiso y la Paradoja de la Democracia In Jon Elster Rune Slagstad Constitucionalismo y Democracia Traduccedilatildeo de Mocircni-
ca Utrilla de Neira Mexico Fondo de Cultura Econocircmica 1999 p 217-262
107O problema da limitaccedilatildeo do legislador atual pelas decisotildees do constituinte adotadas no passado envolve a problemaacutetica da
partilha intergeracional de poder bem explicitada na fala de Jefferson que defendia que a cada 19 anos deveria ser elaborada
uma nova Constituiccedilatildeo nos Estados Unidos para que a Lei Maior daquele paiacutes natildeo se tornasse um mecanismo de governo dos mor-
tos sobre os vivos Em siacutentese apertada haacute na teoria poliacutetica contemporacircnea duas linhas principais de justificativa para a legiti-
midade destas restriccedilotildees
Uma eacute a teoria da democracia dualista defendida por Bruce Ackerman que sustenta que as decisotildees adotadas pelo proacuteprio povo
em contextos de grande mobilizaccedilatildeo ciacutevica devem ser protegidas do alcance da vontade dos representantes do povo formada em
momentos em que a cidadania natildeo esteja intensamente envolvida Esta teoria distingue a poliacutetica extraordinaacuteria correspondente
agravequeles momentos constitucionais da poliacutetica ordinaacuteria que se realiza atraveacutes das deliberaccedilotildees do dia a dia dos oacutergatildeos represen-
tativos Para a perspectiva ackermaniana a poliacutetica extraordinaacuteria - que natildeo exige necessariamente formalizaccedilatildeo procedimental
atraveacutes de assembleacuteia constituinte ou de emenda constitucional - se situa em patamar superior agrave poliacutetica ordinaacuteria e pode legiti-
mamente impor limites a esta (cf Bruce Ackerman We the people Foundations Cambridge The Belknap Press 1991 p 03-33)
Outra teoria eacute a do preacute-compromisso que jaacute foi advogada por Jon Elster Segundo ela eacute legiacutetimo subtrair do alcance das maiorias
determinadas questotildees fundamentais que expressam princiacutepios fundamentais de justiccedila poliacutetica ou garantam os pressupostos da
proacutepria democracia tendo em vista o risco de que no processo poliacutetico majoritaacuterio em momentos de irracionalidade o povo
35
possa ser viacutetima de suas proacuteprias fraquezas ou paixotildees momentacircneas atentando contra tais princiacutepios (cf Ulisses and Sirens
Cambridge Cambridge University Press 1979)
Ambas as concepccedilotildees - a primeira mais proacutexima ao republicanismo e a segunda de vieacutes mais liberal - tecircm a sua dose de procedecircn-
cia mas ensejam criacuteticas importantes Todavia foge a escopo do presente trabalho analisar esta questatildeo que eacute uma das mais
complexas da Filosofia Poliacutetica moderna e contemporacircnea Para uma visatildeo geral sobre o tema na literatura em liacutengua portuguesa
veja-se Oscar Vilhena Vieira A Constituiccedilatildeo e sua reserva de justiccedila Op cit Miguel Nogueira de Brito A Constituiccedilatildeo constituin-
te ensaio sobre o poder de revisatildeo da Constituiccedilatildeo Coimbra Coimbra 2000 Samantha Chantal Dobrowolski Op cit p 265-312
Rodrigo Brandatildeo Direitos fundamentais democracia e claacuteusulas peacutetreas Rio de Janeiro Renovar 2008 p 59-112
108Cf Michel Troper Justice Constitutionelle et Deacutemocratie In Pour une Theorie Juridique de LEacutetat Paris PUF 1994 p 317-328
Claacuteudio Pereira de Souza Neto Jurisdiccedilatildeo constitucional democracia e racionalidade praacutetica Op cit p 106-130 Gustavo Binen-
bojm A nova jurisdiccedilatildeo constitucional brasileira Op cit p 55-74
109Sobre o modelo revolucionaacuterio francecircs de constitucionalismo completamente avesso agrave ideacuteia de jurisdiccedilatildeo constitucional cf
Maurizio Fioravanti Constitucioacuten de la antiguumledad a nuestros dias Traduccedilatildeo de Manuel Martinez Neira Madrid Trotta 2001 p
120-132
110Cf Carl Schmitt La Defesa de la Constitucioacuten Madrid Tecnos 1983
111O constitucionalismo popular ou populismo constitucional eacute uma importante corrente no debate constitucional norte-americano
contemporacircneo que nega a legitimidade democraacutetica do controle de constitucionalidade advogando que deve caber ao proacuteprio
povo e natildeo a uma elite de juiacutezes natildeo eleitos com assento na Suprema Corte o poder de definir o sentido das claacuteusulas vagas que
abundam no texto constitucional daquele paiacutes Na defesa desta tese satildeo empregados tanto argumentos de teoria e filosofia poliacuteti-
ca de caraacuteter mais universal como razotildees histoacutericas relacionadas agrave evoluccedilatildeo do constitucionalismo estadunidense Veja-se nesta
linha Mark Tushnet Taking the Constitution Away from the Courts Princeton Princeton University Press 1999 Jeremy Waldron
Precommitment and Disagreement Op cit Larry D Kramer The People Themselves Popular constitutionalism and judicial re-
view New York Oxford University Press 1994
Ateacute algumas deacutecadas atraacutes a oposiccedilatildeo agrave jurisdiccedilatildeo constitucional nos Estados Unidos partia em regra da Direita que natildeo se con-
formava com a jurisprudecircncia extremamente liberal em mateacuteria de direitos fundamentais estabelecida pela Corte entre os anos
50 e 70 Atualmente uma boa parte dos opositores agrave judicial review situa-se agrave esquerda do espectro poliacutetico e talvez a nova linha
profundamente conservadora daquele Tribunal ajude a explicar esta mudanccedila
112Sobre a Era de Lochner veja-se Laurence H Tribe American Constitutional Law 2 ed Mineola The Foundation Press 1988 p
567-581 Paul Brest et al Processes of Constitucional Decisionmaking 4 ed New York Aspen Publishers 2000 p 337-354
113Towards Juristocracy hellip Op cit
114Tratei do tema no artigo Direito adquirido emenda constitucional democracia e justiccedila social In Livres e iguais Op cit p
03-32
115Cf Charles R Epp The Rights Revolution Chicago The University of Chicago Press 1998 p 26-70 Owen Fiss The Law as It
Could Be New York New York University Press 2003 p 244-249
116A importacircncia e as peculiaridades da interpretaccedilatildeo legislativa da Constituiccedilatildeo satildeo exploradas em importante obra coletiva
Richard W Bauman Tsvi Kahana The Least Examined Branch The Role of Legislatures in the Constitutional State Cambridge
Cambridge University Press 2006
117Cf em tom ainda mais ceacutetico do que o adotado neste estudo Martonio MontAlverne Barreto Lima Jurisdiccedilatildeo Constitucional
um problema da teoria da democracia poliacutetica In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Gilberto Bercovici Joseacute Filomeno de Moraes
Filho Martonio MontAlverne Teoria da Constituiccedilatildeo estudos sobre o lugar da poliacutetica no direito constitucional Rio de Janeiro
Lumen Juris 2003 p 199-261 Conrado Huumlbner Mendes Controle de constitucionalidade e democracia Rio de Janeiro Elsevier
2008
36
118Para criacutetica semelhante no contexto germacircnico veja-se Ingeborg Maus O judiciaacuterio como superego da sociedade sobre o papel
da atividade jurisprudencial na sociedade oacuterfatilde Traduccedilatildeo de Martonio MontAlverne Barreto Lima Paulo Antonio Menezes de Albu-
querque Anuaacuterio dos Cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito da Faculdade de Direito de Recife n 11 2000
119Eu aprofundo a anaacutelise deste ponto no meu artigo Interpretaccedilatildeo constitucional preacute-compreensatildeo e capacidades institucionais do
inteacuterprete In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm (Coord) Vinte anos da Constituiccedilatildeo Federal
de 1988 Op cit p 311-322 E a necessidade de optar por teoria de interpretaccedilatildeo que leve em consideraccedilatildeo as capacidades
institucionais reais dos juiacutezes comparando-as com as dos agentes de outras instituiccedilotildees eacute explorada no importante estudo de Cass
Sunstein Adrian Vermeulle Interpretations and Institutions Chicago Working Papers in Law amp Economics 2002 p 01-55 bem
como no livro de Adrian Vermeulle Judging under Uncertainty An Institutional Theory for Legal Interpretation Cambridge Har-
vard University Press 2006
120Dentre as honrosas exceccedilotildees mencione-se Luiacutes Roberto Barroso autor de importante artigo com sugestotildees para a reforma poliacuteti-
ca no paiacutes Reforma poliacutetica uma proposta de sistema de governo eleitoral e partidaacuterio para o Brasil Revista de Direito do Esta-
do n 3 p 287-360 jul set 2006
121Sobre o ethos judicial no Brasil veja-se a pesquisa de Maria Tereza Sadek Magistrados uma imagem em movimento Rio de
Janeiro FGV 2006
122Em sentido semelhante veja-se Michael J Perry The Constitution the Courts and Human Rights New Haven Yale University
Press 1982 p 91-145
123Neste ponto entendo que um standard importante que deveria ser adotado para controle de constitucionalidade eacute o de que
quanto maiores forem as credencias democraacuteticas de um ato normativo mais autocontido deve ser o Poder Judiciaacuterio ao avaliar a
sua constitucionalidade Na minha opiniatildeo estas credencias democraacuteticas devem ser aferidas tanto por criteacuterios qualitativos - eg
grau de participaccedilatildeo social no processo legislativo qualidade do processo deliberativo que a antecedeu - como por criteacuterios quanti-
tativos - percentual de votos favoraacuteveis agrave medida Em sentido semelhante veja-se Claacuteudio Ari Mello Democracia e direitos funda-
mentais Op cit p 298
124Em sentido proacuteximo apontam as liccedilotildees de Gustavo Binenbojm e Humberto Aacutevila O primeiro tratando do controle judicial dos
atos administrativos averbou que quanto maior for o grau de tecnicidade da mateacuteria objeto de decisatildeo por oacutergatildeos dotados de
expertise e experiecircncia menos intenso deve ser o grau de controle judicial (Uma teoria do direito administrativo Op cit p
236) Jaacute o segundo salientou que o acircmbito de controle pelo Judiciaacuterio deveraacute ser tanto menor quanto mais difiacutecil e teacutecnico for
o juiacutezo exigido para o tratamento da mateacuteria (Teoria dos princiacutepios Op cit p 126)
125Um exemplo extremado deste posicionamento estaacute na argumentaccedilatildeo adotada pelo STF no julgamento da ADIN 2797 Rel Min
Sepuacutelveda Pertence em que se reconheceu a inconstitucionalidade formal de lei que pretendia interpretar a Constituiccedilatildeo Para o
STF natildeo pode a lei ordinaacuteria pretender impor como seu objeto imediato uma interpretaccedilatildeo a Constituiccedilatildeo a questatildeo eacute de in-
constitucionalidade formal iacutensita a toda norma da gradaccedilatildeo inferior que se proponha a ditar interpretaccedilatildeo de norma superior
Na questatildeo de fundo abordada naquele caso entendo que o STF estava certo Tratava-se de invalidar uma norma legal que esten-
dera o foro de prerrogativa de funccedilatildeo a ex-ocupantes de cargos puacuteblicos visando a restaurar antiga jurisprudecircncia do STF sedi-
mentada na Suacutemula 394 do Tribunal que acabara de ser cancelada O princiacutepio republicano natildeo era compatiacutevel com tal medida
que configurava niacutetido privileacutegio O que me parece inaceitaacutevel e profundamente anti-democraacutetico com a devida vecircnia natildeo eacute o
resultado alcanccedilado pela Corte - com o qual concordo - mas o argumento empregado de que o legislador natildeo pode interpretar a
Constituiccedilatildeo
126Existe hoje uma fecunda produccedilatildeo acadecircmica no cenaacuterio anglo-saxatildeo sobre as vantagens de modelos teoacutericos que favoreccedilam
diaacutelogos entre diversos oacutergatildeos e instituiccedilotildees na interpretaccedilatildeo constitucional ao inveacutes de afirmarem a exclusividade ou mesmo a
supremacia do Judiciaacuterio nesta seara Veja-se a propoacutesito Laurence G Sager Justice in Plainclothes A Theory of American Con-
stitutional Practice New haven Yale University Press 2004 Mark Tushnet Weak Courts Strong Rights Judicial Review and Social
Welfare Rights in Comparative Constitutional Law Princeton Princeton University Press 2008 Mark C Miller Jeb Barnes (Ed)
Making Police Making Law An Interbranch Perspective Washington DC Georgetown University Press 2004
37
127Colhi o exemplo no estudo de Oscar Vilhena Vieira Supremocracia In Daniel Sarmento (Org) Filosofia e teoria constitucional
contemporacircnea Rio de Janeiro Lumen Juris 2009
128Como um natildeo-positivista tenho a necessaacuteria imparcialidade para criticar os equiacutevocos da doutrina brasileira nas suas invectivas
contra o positivismo que muitas vezes caracterizam verdadeira falaacutecia do espantalho ataca-se natildeo a proacutepria teoria positivista
mas uma distorcida caricatura dela Duas afirmaccedilotildees erradas que eu mesmo jaacute fiz em textos anteriores satildeo muito frequumlentes a
de que o positivismo recusa a aplicaccedilatildeo dos princiacutepios juriacutedicos e a de que ele teria sido a Filosofia do Direito cultivada na Alema-
nha nazista
Quanto ao primeiro ponto natildeo haacute nenhuma incompatibilidade loacutegica entre positivismo e princiacutepios desde que os princiacutepios este-
jam devidamente incorporados na ordem juriacutedico-positiva Vaacuterios autores positivistas contemporacircneos jaacute citados neste estudo
como Luis Prietro Sanchiacutes Luigi Ferrajoli e Gregorio Peces-Barba atribuiacuteram espaccedilo importante para princiacutepios nas suas teorias
Mesmo no Direito Puacuteblico brasileiro juristas de inspiraccedilatildeo positivista kelseniana construiacuteram suas teorias com apoio em argumen-
taccedilatildeo principioloacutegica como o falecido Geraldo Ataliba e Celso Antonio Bandeira de Mello
No que tange ao segundo ponto - a chamada redutio ad hitlerum - os estudos mais autorizados de Histoacuteria do Direito comprovam
que natildeo foi o positivismo a teoria juriacutedica dominante no nazismo mas uma espeacutecie de jusnaturalismo de inspiraccedilatildeo hegeliana que
se insurgia contra o formalismo e recorria com frequumlecircncia a conceitos muito vagos para justificar a barbaacuterie como os de comuni-
dade popular (Volksgemeinschaft) Veja-se a propoacutesito Michael Stolleis The Law under the Swastika Studies on Legal History in
Nazi Germany Traduccedilatildeo de Thomas Dunlap Chicago The University of Chicago Press 1998
129Cf Joseacute Joaquim Gomes Canotilho Direito constitucional e Teoria da Constituiccedilatildeo Coimbra Almedina 1998 p 1036
130Sobre a importacircncia das regras veja-se Frederick Schauer Playing by the Rules A Philosophical Exaxamination of Rule-Bases
Decision-Making in Law and Life Oxford Oxford University Press 1998 Humberto Aacutevila Neoconstitucionalismo entre a ciecircncia do
direito e o direito da ciecircncia Op cit Noel Struchiner Posturas institucionais e modelagem institucional a dignidade (contingente)
do formalismo juriacutedico In Daniel Sarmento Filosofia e teoria constitucional contemporacircnea Op cit
131Esta eacute expressatildeo empregada por Ana Paula de Barcellos O direito constitucional em 2006 Revista de Direito do Estado n 5 p
03-23 janmar 2007
132Cf Chaiumlm Perelman P Fories La Motivation des Deacutecisions de Justice Bruxelas Eacutemile Bruylant 1978
133Sobra a influecircncia do jeitinho no Direito brasileiro cf Keith Rosen O jeito na cultura juriacutedica brasileira Rio de Janeiro Reno-
var 1997
134Sobre o patrimonialismo no Brasil veja-se Raimundo Faoro Os donos do poder 8 ed Rio de Janeiro Globo 1989 v 2 p 729-
750
135Raiacutezes do Brasil 26 ed Satildeo Paulo Companhia das Letras 1995
136Cf Joseacute Murilo de Carvalho Brasileiro Cidadatildeo In Pontos e bordados escritos de histoacuteria e poliacutetica Belo Horizonte Ed
UFMG 2005 p 275-288
137Cf Gustavo Zagrebelsky Il Diritto Mite Op cit p 15-19
138Cf Marcelo Neves A constitucionalizaccedilatildeo simboacutelica Satildeo Paulo Acadecircmica 1994
139A obra de Niklas Luhman eacute vasta e complexa e seus textos satildeo de difiacutecil compreensatildeo para os natildeo iniciados Veja-se do proacuteprio
autor Sociologia do direito I e II Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 1983 e 1985 Sistema Jurididico y Dogmaacutetica Juriacutedica Madrid
Centro de Estuacutedios Constitucionales 1983 Confira-se tambeacutem a coletacircnea organizada por Andreacute-Jean Arnaud Dalmir Lopes Jr Do
sistema social agrave sociologia juriacutedica Rio de Janeiro Lumen Juris 2004
140Sobre a autopoieses do Direito veja-se tambeacutem a obra importante de Guumlnther Teubner O direito como sistema autopoieacutetico
Traduccedilatildeo de Joseacute Engracia Nunes Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1993
141Cf Luis Roberto Barroso Neoconstitucionalismo e a constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit
142Esta era basicamente a visatildeo de Hans Kelsen (Cf Hans Kelsen Jurisdiccedilatildeo constitucional Traduccedilatildeo de Alexandre Krug et al Satildeo
Paulo Martins Fontes 2003 p 153) Para uma anaacutelise criacutetica desta posiccedilatildeo veja-se Luis Prietro Sanchiacutes Presupuestos ideoloacutegicos
y doctrinales de la jurisdicioacuten constitucional In Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales Op cit p 21-100
38
143Cf Christian Starck La suprematie La Suprematie de la Constitution et la Justice Constitutionnelle In La Constitution Cadre et
Mesure du Droit Traduccedilatildeo de Freacutederic Weill Paris Econocircmica 1994 p 26-30 Ernst- Wolfgang Boumlckenfoumlrde Les meacutethodes
dinterpretation de la Constitution Un bilan critique In Le Droit lEacutetat et la Constitution Democratique Traduccedilatildeo de Olivier
Jouanjan Paris LGDJ 2000 p 249-250 Virgiacutelio Afonso da Silva Constitucionalizaccedilatildeo do direito os direitos fundamentais nas
relaccedilotildees entre particulares Satildeo Paulo Malheiros 2005 p 107-131 Daniel Sarmento Ubiquumlidade constitucional os dois lados da
moeda Op cit Luis Roberto Barroso Curso de Direito Constitucional Contemporacircneo Op cit p 391-394 Alceu Mauriacutecio Jr
Judicializaccedilatildeo da poliacutetica e a crise do direito constitucional a Constituiccedilatildeo entre ordem marco e ordem fundamenta Revista de
Direito do Estado n 10 p 125-142 abrjun 2008
144Der Staat der Industriegesellshaft 2 ed Muumlnchen Beck 1971 p 144 Apud Robert Alexy Posfaacutecio In Teoria dos direitos
fundamentais Op cit p 578
145De acordo com Carlos Santiago Nino o perfeccionaismo eacute la concepcioacuten seguacuten la cual es una misioacuten legiacutetima del Estado hacer
que los individuos acepten y materializen ideales vaacutelidos de virtud personal Seguacuten este enfoque el Estado no puede permanecer
neutral respecto de concepciones de lo bueno en la vida y debe adoptar las medidas educativas punitorias etc que sean necesa-
rias para que los indiviacuteduos ajusten su vida a los verdaderos ideales de virtud y del bien (Eacutetica y Derechos Humanos Un ensayo de
fundamentacioacuten 2 ed Buenos Aires Astrea 1989 p 413)
146Daniel Sarmento Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas 2 ed Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 Sobre o tema na literatura
nacional veja-se tambeacutem Wilson Antocircnio Steinmetz A vinculaccedilatildeo dos particulares aos direitos fundamentais Satildeo Paulo Malheiros
2004 Virgiacutelio Afonso da Silva Constitucionalizaccedilatildeo do direito os direitos fundamentais nas relaccedilotildees entre particulares Op cit
Ingo Wolfgang Sarlet Direitos fundamentais e direito privado algumas consideraccedilotildees em torno da vinculaccedilatildeo dos particulares aos
direitos fundamentais In Ingo Wolfgang Sarlet (Org) A Constituiccedilatildeo concretizada Porto Alegre Livraria do Advogado 1999 p
129-173 Jane Reis Gonccedilalves Pereira Apontamentos sobre a aplicaccedilatildeo das normas de direito fundamental nas relaccedilotildees juriacutedicas
entre particulares In Luis Roberto Barroso (Org) A nova interpretaccedilatildeo constitucional ponderaccedilatildeo direitos fundamentais e
relaccedilotildees privadas Rio de Janeiro Renovar 2003 p 119-192
147Sobre a questatildeo da (i)legitimidade do perfeccionismo no Direito veja-se Joel Feinberg Rights Justice and the Bounds of Liber-
ty Princeton Princeton University Press 1980 Carlos Santiago Nino Eacutetica y Derechos Humanos Op cit p 413-446 Rainer Forst
Contexts of Justice Political Philosophy beyond Liberalism and Communitarianism Traduccedilatildeo de John M M Farrel Berkeley Uni-
versity of Califoacuternia Press 2001 p 30-87 Macaacuterio Alemany El Paternalismo Juriacutedico Madrid Iustel 2006
148Um sofisticado modelo que busca conciliar a constitucionalizaccedilatildeo do Direito com a democracia estaacute exposto no Poacutesfaacutecio agrave Teo-
ria dos Direitos Fundamentais de Robert Alexy acima citado Veja-se ainda Konrad Hesse Concepto y Cualidad de la Constitu-
cion In Escritos de Derecho Constitucional Traduccedilatildeo de Pedro Cruz Villaloacuten 2 ed 1992 p 03-29
149Tentei articular a minha teoria sobre eficaacutecia horizontal dos direitos fundamentais com este objetivo Cf Daniel Sarmento
Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas Op cit p 141-182 259-272
150Sobre el Neoconstitucionalismo y sus Implicaciones Op cit p 117
151Aqui entendo que o simples reconhecimento da penetraccedilatildeo da Moral no Direito preconizada pelos neoconstitucionalistas brasi-
leiros natildeo eacute suficiente jaacute que certas concepccedilotildees morais podem tornar o ordenamento ainda mais opressivo do que jaacute eacute Afinal
nem sempre a moralizaccedilatildeo do Direito se daacute na direccedilatildeo da emancipaccedilatildeo dos excluiacutedos Veja-se por exemplo a famosa polecircmica
jusfilosoacutefica entre Lord Patrick Devlin e Herbert Hart nos anos 60 na Inglaterra a propoacutesito do uso do Direito Penal para promoccedilatildeo
de Moral em que o primeiro a partir de uma posiccedilatildeo proacute-moral sustentava a legitimidade da criminalizaccedilatildeo da conduta homos-
sexual que o segundo contestava (Cf Lord Patrick Devlin Morals and Criminal Law In Ronald Dworkin (Ed) The Philosophy of
Law Op cit p 66-82 Herbert Hart Immorality and Treason In Idem ibidem)
Eacute preciso assentar as bases criacuteticas desta Moral que deve penetrar o Direito para evitar que o moralismo conservador seja expulso
do ordenamento pela porta da frente superado pela legislaccedilatildeo moderna em razatildeo da progressiva liberalizaccedilatildeo da sociedade mas
volte pela porta dos fundos atraveacutes da argumentaccedilatildeo juriacutedica dos juiacutezes lastreada em conceitos vagos como ordem puacuteblica e
bons constumes ou em standards como o comportamento do bom pai de famiacutelia
39
24
Com efeito quem defende que tudo ou quase tudo jaacute estaacute decidido pela Constituiccedilatildeo e que o
legislador eacute um mero executor das medidas jaacute impostas pelo constituinte nega por conse-
quumlecircncia a autonomia poliacutetica ao povo para em cada momento da sua histoacuteria realizar as suas
proacuteprias escolhas O excesso de constitucionalizaccedilatildeo do Direito reveste-se portanto de um
vieacutes antidemocraacutetico Esta ordem de preocupaccedilotildees levou Ersnt Forsthof na Alemanha a criti-
car as teorias que viam a Constituiccedilatildeo como uma espeacutecie de genoma juriacutedico () do qual tudo
deriva do Coacutedigo Penal ateacute a lei sobre a fabricaccedilatildeo de termocircmetros144 E a questatildeo torna-se
ainda mais delicada diante da constataccedilatildeo de que pela abertura semacircntica dos direitos fun-
damentais e dos princiacutepios - principal mateacuteria-prima da constitucionalizaccedilatildeo do Direito - o seu
principal agente acaba sendo o Poder Judiciaacuterio ao dar a uacuteltima palavra sobre a interpretaccedilatildeo
daquelas claacuteusulas Daiacute porque o debate sobre a constitucionalizaccedilatildeo do Direito se imbrica
inexoravelmente com as discussotildees a propoacutesito da judicializaccedilatildeo da poliacutetica e do decisionismo
referidas acima
Ademais a constitucionalizaccedilatildeo do Direito tambeacutem suscita outra linha de preocupaccedilotildees rela-
cionada ao perfeccionismo moral145 na esfera privada No Brasil assim como em muitos outros
paiacuteses jaacute se assentou a ideacuteia de que os direitos fundamentais natildeo se dirigem apenas contra o
Estado vinculando tambeacutem os particulares Entre noacutes tem prevalecido na doutrina a ideacuteia que
eu mesmo defendi em outro estudo146 que a eficaacutecia dos direitos fundamentais nas relaccedilotildees
privadas eacute direta e imediata Em outras palavras entende-se que a proacutepria Constituiccedilatildeo jaacute inci-
de nas relaccedilotildees privadas independentemente de mediaccedilotildees legislativas e que pode gerar o-
brigaccedilotildees positivas ou negativas para os indiviacuteduos e natildeo soacute para os poderes puacuteblicos sempre
no afatilde de proporcionar uma proteccedilatildeo mais completa agrave dignidade humana Ateacute aqui nada a
contestar
Poreacutem o reconhecimento da vinculaccedilatildeo dos particulares agrave Constituiccedilatildeo suscita um risco que
natildeo pode ser ignorado o de imposiccedilatildeo agraves pessoas supostamente em nome de valores constitu-
cionais de comportamentos e estilos de vida que elas proacuteprias rejeitam em detrimento da sua
liberdade existencial Para dar um exemplo bem tosco seria terriacutevel se o Direito em nome do
princiacutepio da solidariedade social pudesse impor agraves pessoas que demonstrassem afetos e senti-
mentos que elas natildeo possuem genuinamente Ou se em nome da isonomia pretendesse inter-
ferir nas escolhas subjetivas e emocionais que os indiviacuteduos fazem nas suas vidas privadas A
constitucionalizaccedilatildeo neste sentido poderia converter-se num pretexto para o exerciacutecio de um
paternalismo anti-liberal em que as pessoas seriam forccediladas a conformarem-se agraves expectativas
sociais forjadas a partir de pautas de accedilatildeo politicamente corretas com apoio na Constitui-
ccedilatildeo147
25
Nenhuma destas duas questotildees eacute insuperaacutevel Eacute possiacutevel aceitar e aplaudir a constitucionaliza-
ccedilatildeo do Direito - fenocircmeno em geral positivo por aproximar a racionalidade emancipatoacuteria da
Constituiccedilatildeo do dia-a-dia das pessoas - mas defender que ela seja temperada por outras preo-
cupaccedilotildees igualmente essenciais no Estado Democraacutetico de Direito com a autonomia puacuteblica e
privada dos cidadatildeos Pode-se reconhecer a legitimidade da constitucionalizaccedilatildeo do Direito
mas numa medida em que natildeo sacrifique em excesso agrave liberdade de conformaccedilatildeo que numa
democracia deve caber ao legislador para realizar opccedilotildees poliacuteticas em nome do povo148 Pode-
se da mesma forma afirmar a incidecircncia direta da Constituiccedilatildeo nas relaccedilotildees privadas mas
sem invadir a esfera das opccedilotildees existenciais da pessoa - que de resto eacute protegida pela proacutepria
Constituiccedilatildeo das ingerecircncias perfeccionistas do Estado e da sociedade149
5 Conclusatildeo Ao fim da leitura destas paacuteginas o leitor pode estar se indagando se eu me alinho ou natildeo ao
neoconstitucionalismo A minha resposta eacute depende da compreensatildeo que se tenha sobre o ne-
oconstitucionalismo Se entendermos o neoconstitucionalismo de acordo com a conhecida defi-
niccedilatildeo de Luis Prietro Sanchiacutes como uma teoria do Direito que se orienta pelas maacuteximas demaacutes
princiacutepios que reglas maacutes ponderacioacuten que subsuncioacuten omnipotencia de la Constitucioacuten en
todas las aacutereas juriacutedicas y en todos conflictos miacutenimamente relevantes en lugar de espacios
exentos en favor de la opcioacuten legislativa o reglamentaria omnipotencia judicial en lugar de
autonomia del legislador ordinaacuterio y por ultimo coexistecircncia de una constelacioacuten plural de
valores a veces tendencialmente contradictorios en lugar de homogeneidad ideoloacutegica150
certamente eu natildeo me considero um neoconstitucionalista De todas as afirmaccedilotildees do professor
espanhol a uacutenica de que natildeo discordo eacute aquela relacionada ao pluralismo de valores cujo re-
conhecimento aliaacutes estaacute longe de ser privileacutegio dos neoconstitucionalistas
Contudo eu assumo o roacutetulo sem constrangimentos se o neoconstitucionalismo for pensado
como uma teoria constitucional que sem descartar a importacircncia das regras e da subsunccedilatildeo
abra tambeacutem espaccedilo para os princiacutepios e para a ponderaccedilatildeo tentando racionalizar o seu uso
Se for visto como uma concepccedilatildeo que sem desprezar o papel protagonista das instacircncias de-
mocraacuteticas na definiccedilatildeo do Direito reconheccedila e valorize a irradiaccedilatildeo dos valores constitucio-
nais pelo ordenamento bem como a atuaccedilatildeo firme e construtiva do Judiciaacuterio para proteccedilatildeo e
promoccedilatildeo dos direitos fundamentais e dos pressupostos da democracia E acima de tudo se
for concebido como uma visatildeo que conecte o Direito com exigecircncias de justiccedila e moralidade
criacutetica151 sem enveredar pelas categorias metafiacutesicas do jusnaturalismo
26
Certamente uma visatildeo equilibrada da Teoria do Direito com tais caracteriacutesticas pode contribu-
ir para o aperfeiccediloamento do Estado Democraacutetico de Direito no Brasil O mesmo jaacute natildeo digo de
concepccedilotildees mais radicais do neoconstitucionalismo que podem ser muito boas para arrancar
aplausos entusiasmados das plateacuteias nos seminaacuterios estudantis mas que natildeo se conciliam com
exigecircncias fundamentais de seguranccedila juriacutedica democracia e liberdade que satildeo alicerces de
qualquer bom constitucionalismo - novo ou velho
Curriacuteculo Resumido
Daniel Sarmento
Poacutes-Doutor pela Universidade de Yale (EUA) Procurador Regional da Repuacuteblica
Como citar este artigo
SARMENTO Daniel O neoconstitucionalismo no Brasil riscos e possibilidades Disponiacutevel em httpwwweditoraforumcombrsistconteudolista_conteudoaspFIDT_CONTEUDO=56993 acesso em 09032011 httpdireitoesubjetividadefileswordpresscom201008daniel-sarmento-o-neoconstitucionalismo-no-brasil1doc acesso em 30062012 Material da 1ordf aula da Disciplina Teoria Geral da Constituiccedilatildeo (I) ministrada no Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo Online em Direito Constitucional ndash Anhanguera-UNIDERP | REDE LFG
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1Sobre a teoria de princiacutepios no Brasil veja-se dentre outros Ana Paula de Barcellos A eficaacutecia juriacutedica dos princiacutepios constitu-
cionais o princiacutepio da dignidade da pessoa humana Rio de Janeiro Renovar 2002 Humberto Bergman Aacutevila Teoria dos princiacute-
pios da definiccedilatildeo agrave aplicaccedilatildeo dos princiacutepios juriacutedicos 2 ed Satildeo Paulo RT 2005 Jane Reis Gonccedilalves Pereira Interpretaccedilatildeo
constitucional e direitos fundamentais uma contribuiccedilatildeo ao estudo das restriccedilotildees aos direitos fundamentais na perspectiva da
teoria dos princiacutepios Rio de Janeiro Renovar 2006 Virgiacutelio Afonso da Silva O conteuacutedo essencial dos direitos fundamentais e a
eficaacutecia das normas constitucionais Satildeo Paulo Tese (concurso de Professor Titular de Direito Constitucional da USP)
2Veja-se em tons variados Lecircnio Luiz Streck Hermenecircutica juriacutedica e(m) crise uma exploraccedilatildeo hermenecircutica da construccedilatildeo do
direito Porto Alegre Livraria do Advogado 1999 Luiacutes Roberto Barroso (Org) A nova interpretaccedilatildeo constitucional ponderaccedilatildeo
direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas Rio de Janeiro Renovar 2003 Margarida Maria Lacombe Camargo Hermenecircutica e
argumentaccedilatildeo uma contribuiccedilatildeo ao estudo do direito Rio de Janeiro Renovar 2003 Inocecircncio Maacutertires Coelho Interpretaccedilatildeo
constitucional 2 ed Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2003 Ana Paula de Barcellos Ponderaccedilatildeo racionalidade e atividade
jurisdicional Rio de Janeiro Renovar 2005
3Sobre o fenocircmeno da constitucionalizaccedilatildeo do Direito confira-se os inuacutemeros artigos que compotildeem a coletacircnea organizada por
Claacuteudio Pereira de Souza Neto e por mim A constitucionalizaccedilatildeo do direito fundamentos teoacutericos e aplicaccedilotildees especiacuteficas Rio de
Janeiro Lumen Juris 2007
4Cfr na literatura constitucional brasileira Gisele Guimaratildees Cittadino Pluralismo direito e justiccedila distributiva elementos de
filosofia constitucional contemporacircnea Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 Oscar Vilhena Vieira A Constituiccedilatildeo e sua reserva de
justiccedila um ensaio sobre os limites materiais do poder de reforma Satildeo Paulo Malheiros 1999 Ricardo Lobo Torres (Org) A legi-
timaccedilatildeo dos direitos humanos Rio de Janeiro Renovar 2002 Claacuteudio Pereira de Souza Neto Teoria constitucional e democracia
deliberativa Rio de Janeiro Renovar 2006 Lecircnio Luiz Streck Verdade e consenso Constituiccedilatildeo hermenecircutica e teorias discursi-
vas Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 Samantha Chantal Dobrowolski A construccedilatildeo social do sentido da Constituiccedilatildeo na demo-
cracia contemporacircnea entre soberania popular e direitos humanos Rio de Janeiro Lumen Juris 2007 Aacutelvaro Ricardo de Souza
Cruz Hermenecircutica juriacutedica e(m) debate o constitucionalismo brasileiro entre a teoria do discurso e a ontologia existencial Belo
Horizonte Foacuterum 2007
5Sobre a judicializaccedilatildeo da poliacutetica no Brasil veja-se Luiz Werneck Vianna et al A judicializaccedilatildeo da poliacutetica e das relaccedilotildees sociais
no Brasil Rio de Janeiro Revan 1999 Giselle Cittadino Judicializaccedilatildeo da poliacutetica constitucionalismo democraacutetico e separaccedilatildeo de
poderes In Luiz Werneck Vianna (Org) A democracia e os trecircs poderes no Brasil Belo Horizonte UFMG 2002 p 17-42 Rogeacuterio
B Arantes Constitucionalism the expansion of Justice and the Judicialization of Poltics in Brazil In Rachel Sieder Line Schjol-
den Alan Angell The Judicialization of Politics in Latin America New York Palgrave Macmillan 2005 p 232-262 Luis Roberto
Barroso Judicializaccedilatildeo ativismo judicial e legitimidade democraacutetica Texto ineacutedito gentilmente cedido pelo autor
Para uma perspectiva comparativa veja-se Neal C Tate Tobjorn Vallinder (Ed) The Global Expansion of Judicial Power New
York New York University Press 1995 Alec Stone Sweet Governing with Judges Constitutional Politics in Europe Oxford Oxford
Univesity Press 2000 e em tom profundamente criacutetico Ran Hirschl Towards Juristocracy the Origins and Consequences of the
New Constitucionalism Cambridge Harvard University Press 2004
6Miguel Carbonell et al Neoconstitucionalismo(s) Madrid Trotta 2003 Mais recentemente o autor publicou nova coletacircnea
tambeacutem dedicada ao estudo do neoconstitucionalismo intitulada Teoria del Neoconstitucionalismo Ensayos escogidos Madrid
Trotta 2007
7O jurista argentino Carlos Santiago Nino por exemplo faleceu em 1993 quando ainda nem se empregava esta denominaccedilatildeo
8Cf Robert Alexy Teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica a teoria do discurso racional como teoria da fundamentaccedilatildeo juriacutedica Tradu-
ccedilatildeo de Zilda Hutchinson Schild Silva revisatildeo teacutecnica da traduccedilatildeo e introduccedilatildeo agrave ediccedilatildeo brasileira Claudia Toledo 2 ed Satildeo Paulo
Landy 2005 Luis Roberto Barroso Curso de direito constitucional contemporacircneo os conceitos fundamentais e a construccedilatildeo do
novo modelo Rio de Janeiro Saraiva 2008 p 306-350
9Cf Lecircnio Luiz Streck Verdade e consenso Op cit p 197-246
28
10Ronald Dworkin e Carlos Santiago Nino satildeo sem sombra de duacutevida autores liberais natildeo no sentido que se atribui ao termo no
Brasil - de adeptos de doutrina econocircmica favoraacutevel ao Estado miacutenimo e ao mercado - mas sim no sentido corrente na Filosofia
Poliacutetica que associa o liberalismo agrave defesa dos direitos individuais e da neutralidade do Estado em relaccedilatildeo agraves diversas concepccedilotildees
sobre a vida boa existentes na sociedade Veja-se neste sentido Ronald Dworkin A Matter of Principle Cambridge Harvard
University Press 1985 p 181-236 Carlos Santiago Nino La constitucioacuten de la Democracia Deliberativa Barcelona Gedisa 1997
p 70-100
11Lecircnio Luiz Streck que se alinha ao neoconstitucionalismo defende posturas tipicamente comunitaristas como o papel da Consti-
tuiccedilatildeo na definiccedilatildeo de modelos de vida boa para orientaccedilatildeo da vida social e da accedilatildeo individual Cf Jurisdiccedilatildeo constitucional e
hermenecircutica uma nova criacutetica do direito 2 ed Rio de Janeiro Forense 2004 p 95-288
12Antonio Cavalcanti Maia um dos mais ardorosos defensores do neoconstitucionalismo no paiacutes eacute tambeacutem procedimentalista e
adepto das teorias juriacutedicas de Juumlrgen Habermas Veja-se neste sentido o seu denso texto Nos vintes anos da carta cidadatilde do
poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm (Coord) Vinte
anos da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 p 117-168 em que esta sua dupla filiaccedilatildeo intelectual eacute
explicitada
13Segundo Miguel Carbonell o neoconstitucionalismo desdobra-se em trecircs planos de anaacutelise que se conjugam o dos textos consti-
tucionais que se tornaram mais substantivos e incorporaram amplos elencos de direitos fundamentais o das praacuteticas judiciais que
passaram a recorrer a princiacutepios constitucionais agrave ponderaccedilatildeo e a meacutetodos mais flexiacuteveis de interpretaccedilatildeo sobretudo na aacuterea de
direitos fundamentais e o dos desenvolvimentos teoacutericos de autores que com as suas ideacuteias ajudaram natildeo soacute a compreender os
novos modelos constitucionais mas tambeacutem participaram da sua proacutepria criaccedilatildeo Cf Miguel Carbonell Neoconstitucionalismo
elementos para una definicioacuten In Eduardo Ribeiro Moreira Mauricio Pugliesi 20 anos da Constituiccedilatildeo brasileira Satildeo Paulo Sarai-
va 2009 p 197-208
14No mesmo sentido Luis Roberto Barroso Neoconstitucionalismo e Constitucionalizaccedilatildeo do direito o triunfo tardio do direito
constitucional do Brasil In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento A constitucionalizaccedilatildeo do direito fundamentos teoacuteri-
cos e aplicaccedilotildees especiacuteficas Rio de Janeiro Lumen Juris 2007 p 203-250
15Cf Carlos Bernal Pulido El Derecho de los Derechos Bogotaacute Universidad Externado de Colocircmbia 2006 Manoel Jose Cepeda
Espinosa Judicialization of Politics in Colombia the old and the new In Rachel Sieder Line Schonjen Alan Angell The Judiciali-
zation of Politics in Latin America Op cit p 67-104 Rodrigo Uprimmy Mauriacutecio Garcia-Villegas Tribunal Constitucional e eman-
cipaccedilatildeo social na Colocircmbia In Boaventura de Souza Santos Democratizar a democracia os caminhos da democracia participativa
Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2002 p 297-339
16Cf Catalina Smulovitz Petitioning and Creating Rights Judicialization in Argentina In Rachel Sieder Line Scjolden Alan Angell
The Judicialization of Politics in Latin America Op cit p 161-185
17Cf Miguel Carbonell Los Derechos Fundamentales en Meacutexico 2 ed Meacutexico Porruacutea 2006 Pilar Domingo The Changing Political
Role of the Judiciary in Meacutexico In Rachel Sieder Line Scjolden Alan Angell The Judicialization of Politics in Latin Ameacuterica Op
cit p 21-46
18Cf Heinz Klug South Aacutefrica From Constitucional Promise to Social Transformation In Jeffrey Goldsworthy Interpreting Consti-
tutions A Comparative Study Oxford Oxford University Press 2006 p 266-320
19Cf S P Sathe Iacutendia From Positivism to Structuralism In Jeffrey Goldsworthy Op cit p 215-265
20Veja-se a propoacutesito Gustavo Zagrebelsky Il Diritto Mite Torino Einaudi 1992 p 57-96
21Cf Eduardo Garciacutea de Enterriacutea La Constitucioacuten como Norma y el Tribunal Constitucional 3 ed Madrid Civitas 1985 p 41
22Na Alemanha a mudanccedila ocorreu sob a vigecircncia da Lei Fundamental adotada em 1949 e foi fortemente impulsionada pela
jurisprudecircncia do Tribunal Constitucional do paiacutes que construiu teorias importantes como a da Constituiccedilatildeo como uma ordem de
valores em cujo centro situa-se o princiacutepio da dignidade humana que se irradia por todo o ordenamento Veja-se a propoacutesito
Dieter Grimm Human Rights and Judicial Review in Germany In David M Beatty (Org) Human Rights and Judicial Review A
Comparative Perspective Dodrecht Martin Urjhoff 1994 p 267-295
23Na Itaacutelia as mudanccedilas se deram sob a eacutegide da atual Constituiccedilatildeo editada em 1947 mas soacute apoacutes o funcionamento da Corte
Constitucional que se deu em 1956 Ateacute entatildeo a Corte de Cassaccedilatildeo composta por juiacutezes recrutados ainda no periacuteodo do fascismo
29
era provisoriamente encarregada da guarda da Constituiccedilatildeo o que fazia de forma muito tiacutemida no mais das vezes negando eficaacute-
cia juriacutedica agraves normas constitucionais sob o argumento de que seriam programaacuteticas Veja-se a propoacutesito Ricardo Guastini A
constitucionalizaccedilatildeo do ordenamento juriacutedico e a experiecircncia italiana In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento A
constitucionalizaccedilatildeo do direito fundamentos teoacutericos e aplicaccedilotildees especiacuteficas Op cit p 271-294
24Cf No modelo do constitucionalismo norte-americano entende-se desde os primoacuterdios que a Constituiccedilatildeo eacute autecircntica lei e que
o Judiciaacuterio pode invalidar as decisotildees legislativas que a contrariem apesar do controle de constitucionalidade natildeo estar expres-
samente previsto no texto constitucional daquele paiacutes Esta ideacuteia que jaacute estava assentada no Federalista n 78 escrito por Ale-
xander Hamilton antes da aprovaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo foi posta em praacutetica pela primeira vez contra lei federal no ceacutelebre caso
Marbury v Madison julgado em 1803 pelo juiz Marshall Veja-se a propoacutesito Paul Brest Sanford Levinson Jack Balkin Akhil Reed
Amar Processes of Constitutional Decisionmaking Cases and Materials New York Aspen Publishers 2000 p 79-103
A versatildeo mais convencional do modelo constitucional norte-americano enfatiza a importacircncia central do Judiciaacuterio na atualizaccedilatildeo
do sentido da Constituiccedilatildeo do paiacutes Contudo esta leitura histoacuterica eacute hoje objeto de intensa disputa Em sentido contraacuterio a tal
posiccedilatildeo sustentando uma menor relevacircncia do Judiciaacuterio no desenvolvimento histoacuterico do constitucionalismo americano veja-se
por exemplo Stephen M Griffin American Constitutionalism From Theory to Politics New Jersey Princeton University Press
1996 p 88-139
25Cf Luis Prietro Sanchiacutes Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales Madrid Trotta 2003 p 107-117
26Cf Daniel Sarmento Ubiquumlidade constitucional Os dois lados da moeda In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento
(Coord) A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 113-148
27Na verdade a reaccedilatildeo contra o formalismo juriacutedico na Europa eacute bem anterior ao advento do constitucionalismo do 2ordm poacutes-guerra
remontando ao final do seacuteculo XIX Veja-se a propoacutesito Constantin M Stamatis Argumenter en Droit Une theacuteorie critique de
largumentation juridique Paris Publisud 1995 p 34-50 Antonio Manoel Hespanha Panorama histoacuterico da cultura juriacutedica euro-
peacuteia Lisboa Publicaccedilotildees Europa-Ameacuterica 1997 p 196-235
28Haacute vasta literatura sobre a ponderaccedilatildeo mas a obra mais influente sobre o tema eacute certamente o livro de Robert Alexy Teoria dos
direitos fundamentais Traduccedilatildeo de Virgiacutelio Afonso da Silva Satildeo Paulo Malheiros 2008 No cenaacuterio norte-americano veja-se a
anaacutelise densa e criacutetica de T Alexander Aleinikoff Constitucional Law in the Age of Balancing Yale Law Journal n 96 p 943-
1005 1987 No Brasil cfr Daniel Sarmento A ponderaccedilatildeo de interesses na Constituiccedilatildeo Federal Rio de Janeiro Lumen Juris
2000 Ana Paula de Barcellos Ponderaccedilatildeo racionalidade e atividade jurisdicional Op cit
29A bibliografia sobre o princiacutepio da proporcionalidade eacute vastiacutessima Veja-se a propoacutesito as densas anaacutelises de Carlos Bernal Puli-
do El Principio de Proporcionalidad y los Derechos Fundamentales Madrid Centro de Estuacutedios Constitucionales 2003 e no Brasil
de Jane Reis Gonccedilalves Pereira Interpretaccedilatildeo constitucional e direitos fundamentais Rio de Janeiro Renovar 2006 p 297-382
30Cf Chaiumlm Perelman Eacutetica e direito Traduccedilatildeo de Maria Ermantina Galvatildeo G Perira Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 p 361-684
Robert Alexy Teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica Op cit Friedrich Muller Discours de la Meacutethode Juridique Traduccedilatildeo de Olivier
Jouanjan Paris PUF 1993 Manuel Atienza Traacutes la Justicia Una Introduccioacuten al Derecho y al Razonamiento Juriacutedico Barcelona
Ariel 1995 Neil MacCormick Argumentaccedilatildeo juriacutedica e teoria do direito Traduccedilatildeo de Waldeacutea Barcellos Satildeo Paulo Martins Fontes
2006 Klaus Guumlnther Teoria da argumentaccedilatildeo no direito e na moral justificaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Claacuteudio Molz Satildeo Pau-
lo Landy 2004
31Cf Martin Shapiro Alec Stone Sweet On Law Politics and Judicialization New York Oxford University Press p 136-208
32Contudo deve-se admitir na linha de Paolo Comanducci que eacute possiacutevel reconhecer as mudanccedilas em questatildeo e propor novas
teorias que sejam adequadas a elas sem defendecirc-las Esta seria nas palavras do autor italiano a diferenccedila entre o neoconstitu-
cionalismo teoacuterico e o neoconstitucionalismo ideoloacutegico que natildeo apenas constroacutei teorias mais compatiacuteveis com os novos fenocirc-
menos mas vai aleacutem sustentando a sua legitimidade e propugnando pelo seu aprofundamento e expansatildeo Veja-se a propoacutesito
Paulo Comanducci Formas de neoconstitucionalismo Un anaacutelisis metateoacuterico In Miguel Carbonell (Ed) Neoconstitucionalis-
mo(s) Op cit p 75-98 Como reconhece o proacuteprio autor tal distinccedilatildeo baseia-se em uma semelhante acerca do positivismo
30
formulada por Norberto Bobbio que fala em positivismo teoacuterico ideoloacutegico e metodoloacutegico Cf Norberto Bobbio O positivismo
juriacutedico liccedilotildees de filosofia do direito Traduccedilatildeo e notas de Marcio Pugliesi et al Satildeo Paulo Iacutecone 1995 p 233-239
33Cf Ronald Dworkin Is Law a Sistem of Rules In Ronald Dworkin (Ed) Philosophy of Law Oxford Oxford University Press 1971
Robert Alexy Constitucionalismo discursivo Traduccedilatildeo de Luiz Afonso Heck Porto Alegre Livraria do Advogado 2007
34Cf Robert Alexy Derecho y Razoacuten Praacutectica Meacutexico Distribuiciones Fontamara 1993 Aulis Aarnio Lo Racional como Razonable
Traduccedilatildeo de Ernesto Garzoacuten Valdeacutes Madrid Centro de Estuacutedios Constitucionales 1991
35Cf Aharon Barak The Judge in a Democracy New Jersey Princeton University Press 2006 p 213-260 Gustavo Zagrebelsky Il
Diritto Mite Op cit p 179-217
36Confronte-se com perspectivas diferentes Luigi Ferrajoli O Estado de direito entre passado e futuro In Pietro Costa Danilo
Zolo (Org) Estado de direito histoacuteria teoria criacutetica Traduccedilatildeo de Carlo Alberto Dastoli Satildeo Paulo Martins Fontes 2006 p 419-
464 Elias Dias Estado de Derecho y Sociedad Democraacutetica Madrid Taurus 1998 Ronald Dworkin Introduction The Moral Reading
and the Majoritarian Premise In Freedoms Law The moral reading of the American Constitution Cambridge Harvard University
Press 1996 p 01-38 Gustavo Zagrebelsky La Crucifixioacuten y la Democracia Barcelona Ariel 1996 Claacuteudio Pereira de Souza Neto
Teoria constitucional da democracia deliberativa Op cit
37Cf Ronald Dworkin Introduction The Moral Reading and the Majoritarian Premise Op cit
38Cf Luigi Ferrajoli El Garantismo y la Filosofia del Derecho Bogotaacute Universidad Externado de Colocircmbia 2000
39Cf Luis Pietro Sanchis Sobre el Neoconstitucionalismo y sus Implicaciones In Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales
Op cit p 101-135
40Cf Ricardo Guastini Sur la Validiteacute de la Constitution du Point de Vue du Positivisme Juridique In Michel Troper Lucien Jaume
(Dir) 1789 et LInvention de la Constitution Paris LGDJ 1994 p 216-225
41Cf Suzana Pozzolo Neoconstituzionalismo e Positivismo Giuridico Torino Giapppicheli 2001
42Cf Ronald Dworkin Law and Morals In Justice in Robes Cambridge Harvard University Press 2006 p 01-35
43Cf Robert Alexy Derecho y Moral In La Institucionalizacioacuten de la Justicia Op cit p 17-30
44Cf Carlos Santiago Nino Eacutetica y Derechos Humanos 2 ed Buenos Aires Astrea 1989 p 11-48
45Cf Gustav Radbruch Cinco minutos de filosofia do direito In Filosofia do direito Traduccedilatildeo de L Cabral de Moncada 6 ed
Coimbra Armecircnio Amado 1979 p 414-418 Para uma densa problematizaccedilatildeo da foacutermula de Radbruch veja-se Thomas da Rosa
Bustamante Poacutes-Positivismo o argumento da injusticcedila aleacutem da Foacutermula de Radbruch In Teoria do direito e decisatildeo racional
temas de teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica Rio de Janeiro Renovar 2008
46Cf Robert Alexy La Institucionalizacioacuten de la Justicia Traduccedilatildeo de Joseacute Antonio Seone et al Granada Comares 2005 p 31-
54
47Sobre o tema cfr Alfonso Garcia Figueroa Princiacutepios e direitos fundamentais In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmen-
to A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 03-34
48O texto mais importante do positivismo inclusivo eacute o poacutes-escrito de Herbert LA Hart agrave sua obra magna The Concept of Law em
que ele responde agraves criacuteticas ao seu pensamento que Ronald Dworkin lhe endereccedilara O autor inglecircs faleceu antes de terminar o
texto mas ele foi publicado postumemente depois de ser editado por Joseph Raz Peneacutelope Bulloch Veja-se Herbert LA Hart
Poacutes-escrito In O conceito de direito Traduccedilatildeo de A Ribeiro Mendes 2 ed 1994 p 299-339 Tambeacutem na linha do positivismo
inclusivo veja-se Gregorio Peces- Barba Derechos Sociales y Positivismo Juriacutedico Escritos de Filosofia Poliacutetica y Juriacutedica Madrid
Dykinson 1999 p 83-90 Jules Coleman The Practice of Principle In defense of a pragmatist approach do legal theory Oxford
Oxford University Press p 103-120 Para uma resenha dos tipos de positivismo no debate contemporacircneo confira-se Dimitri Di-
moulis Positivismo juriacutedico introduccedilatildeo a uma teoria do direito e defesa do pragmatismo juriacutedico-politico Satildeo Paulo Meacutetodo
2006 p 65-166
49Cf Antonio Cavalcanti Maia Nos vinte anos da Constituiccedilatildeo do poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo Op cit Claacuteudio Perei-
ra de Souza Neto A teoria constitucional e seus lugares especiacuteficos notas sobre o aporte reconstrutivo Revista de Direito do
Estado n 1 p 89-104 jan mar 2006 Daniel Sarmento Interpretaccedilatildeo constitucional preacute-compreensatildeo e capacidades institu-
cionais do inteacuterprete In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binebojm Vinte anos da Constituiccedilatildeo de 1988
Op cit p 311-322
31
50Cf Juumlrgen Habermas Escritos sobre Moralidad y Eticidad Traduccedilatildeo de Manuel Jimenez Redondo Barcelona Paidoacutes 1991 p
131-172
51Sobre o comunitarismo haacute extensa literatura Dois textos claacutessicos deste linha de pensamento satildeo Michael Walzer The Communi-
tarian Critique of Liberalism In Politics and Passion New Haven Yale University Press 2004 p 141-163 Charles Taylor The
Procedural Republic and the Unencumbered Self In Robert Goodin Philip Pettit (Ed) Contemporary Political Philosophy 2 ed
Oxford Oxford University Press 2002 p 2462-256 Sobre a penetraccedilatildeo ainda que muitas vezes natildeo consciente das posiccedilotildees do
comunitarismo no constitucionalismo brasileiro veja-se Gisele Cittadino Pluralismo direito e justiccedila distributiva Op cit p
43-74
52Sobre o construtivismo eacutetico corrente filosoacutefica que sustenta a existecircncia de posiccedilotildees certas e erradas na Moral bem como a
possibilidade de encontraacute-las e fundamentaacute-las racionalmente veja-se Carlos Santiago Nino El Constructivismo Eacutetico Madrid
Centro de Estudios Constitucionales 1989
53O fenocircmeno tambeacutem se reproduz na teoria constitucional norte-americana hegemocircnica cf Keith Wittington Constitutional Con-
struction Divided Powers and Constitutional Meaning Cambridge Harvard University Press 1999 p 01-03
54A imagem do Poder Judiciaacuterio como um guardiatildeo de promessas eacute explorada e criticada numa obra importante da teoria juriacutedica
francesa contemporacircnea Antoine Garapon Le Gardien de Promesses Le juge et la democratie Paris Odile Jacob 1996
55Neste sentido o eloquumlente encerramento do Curso de Direito Constitucional Contemporacircneo de Luis Roberto Barroso o consti-
tucionalismo democraacutetico eacute a utopia que nos restou Uma feacute racional que ajuda a acreditar no bem e na justiccedila ainda quando natildeo
estejam ao alcance dos olhos (Op cit p 400)
56Cf Nico Poulantzas State Power Socialism London new Left Books 1978 Alan Hunt Marxist Theory of Law In Dennis Patter-
son (Ed) A Companion to Philosophy of Law and Legal Theory Malden Blackwell Publishers 1996 p 355-367
57Cf David Kairys (Ed) The Politics of Law A Progressive Critique New York Pantheon Books 1982 Roberto Mangabeira Unger
The Critical Legal Studies Movement Cambridge Harvard University Press 1986
58Cf Plauto Faraco Azevedo Criacutetica agrave dogmaacutetica e hermenecircutica juriacutedica Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1989 Luiz Fernando
Coelho Teoria criacutetica do direito 2 ed Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1991
59Natildeo haacute como abordar aqui as relaccedilotildees entre as inuacutemeras correntes do poacutes-modernismo e o Direito Constitucional Veja-se a
propoacutesito Niklas Luhman La Constituzione como Acquisizione Evolutiva In Gustavo Zagrebelsky Piacuteer Paolo Portinaro Joumlrg Lu-
ther Il Futuro della Costituzione Torino Einaudi 1996 p 83-128 Joseacute Joaquim Gomes Canotilho Civilizaccedilatildeo do direito constitu-
cional ou constitucionalizaccedilatildeo do direito civil a eficaacutecia dos direitos fundamentais na ordem juriacutedico-civil no contexto do direito
poacutes-moderno Cadernos de Direito Constitucional e Ciecircncia Poliacutetica n 15 p 07-16 1996 Eduardo Capellari A crise da moderni-
dade e a Constituiccedilatildeo Rio de janeiro Ameacuterica Juriacutedica 2004 Daniel Sarmento Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas 2 ed
Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 p 36-45
60Para Jean-Franccedilois Lyotard uma das caracteriacutesticas centrais do pensamento poacutes-moderno de que eacute expoente eacute a desconfianccedila
em relaccedilatildeo agraves metanarrativas - construccedilotildees abstratas grandiosas e totalizadoras tiacutepicas da Filosofia Moderna como direitos
humanos luta de classes e emancipaccedilatildeo pelo uso da razatildeo Cf Lyotard A condiccedilatildeo poacutes-moderna Traduccedilatildeo de Ricardo Correcirca
Barbosa 5 ed 1998 p16
61Cf Luiz Werneck Viana O terceiro poder na carta de 1988 e a tradiccedilatildeo republicana mudanccedila e conservaccedilatildeo In Ruben George
Oliven Marcelo Gildo Marccedilal Branda A Constituiccedilatildeo de 1988 na vida brasileira Satildeo Paulo Aderaldo e Rotshild 2008 p 91-109
62Cf Paulo Ricardo Schier Filtragem constitucional Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1999
63A expressatildeo foi cunhada por Claacuteudio Pereira de Souza Neto Fundamento e normatividade dos direitos fundamentais uma recons-
truccedilatildeo teoacuterica agrave luz do princiacutepio democraacutetico Arquivos de Direitos Humanos n 4 p 17-61 2003
64Cf Luis Roberto Barroso O direito constitucional e a efetividade de suas normas 3 ed Rio de Janeiro Renovar 1996
65Cf Clegravemerson Merlin Clegraveve A teoria constitucional e o direito alternativo para uma dogmaacutetica constitucional emancipatoacuteria In
Uma vida dedicada ao direito homenagem a Carlos Henrique de Carvalho Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1995 p 34-53
66Ressalte-se poreacutem que antes de 88 alguns juristas jaacute defendiam a forccedila normativa da Constituiccedilatildeo como o Prof Joseacute Afonso da
Silva Eacute de 1968 a primeira ediccedilatildeo da sua obra claacutessica A aplicabilidade das normas constitucionais que adotava claramente esta
32
perspectiva Todavia pelo clima nada propiacutecio ao constitucionalismo que reinava por aqui ateacute a nossa redemocratizaccedilatildeo a louvaacute-
vel pregaccedilatildeo dele e de outros juristas em prol da efetivaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo natildeo chegou a render maiores frutos
67Deve-se assinalar ainda a influecircncia marcante do novo constitucionalismo ibeacuterico neste movimento que tambeacutem pugnava pela
atribuiccedilatildeo de forccedila normativa agraves ambiciosas constituiccedilotildees de Portugal e Espanha entatildeo recentemente elaboradas apoacutes o fim de
experiecircncias autoritaacuterias naqueles paiacuteses A tiacutetulo de exemplo mencione-se a penetraccedilatildeo no paiacutes do pensamento do Professor de
Coimbra Joseacute Joaquim Gomes Canotilho especialmente da sua teoria sobre a Constituiccedilatildeo dirigente que ele posteriormente reviu
(cf J J Gomes Canotilho Constituiccedilatildeo dirigente e vinculaccedilatildeo ao legislador contributo para a compreensatildeo das normas constitu-
cionais programaacuteticas 2 ed Coimbra Coimbra 2001 - especialmente o prefaacutecio desta segunda ediccedilatildeo que daacute conta da mudanccedila
de posicionamento) bem como a difusatildeo das liccedilotildees do Professor Eduardo Garciacutea de Enterriacutea (cf La Constitucioacuten como Norma y el
Tribunal Constitucional Madrid Civitas 1981)
68Segundo a avaliaccedilatildeo atual de Luis Roberto Barroso personagem central do movimento o positivismo constitucional que deu
impulso ao movimento natildeo importava em reduzir o direito agrave norma mas sim em elevaacute-la a esta condiccedilatildeo pois ateacute entatildeo ele
havia sido menos do que norma (Curso de direito constitucional contemporacircneo Op cit p 224)
69Paulo Bonavides Curso de direito constitucional 5 ed Satildeo Paulo Malheiros 1994
70Eros Roberto Grau A ordem econocircmica na Constituiccedilatildeo de 88 interpretaccedilatildeo e criacutetica Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1996
71No acircmbito da Poacutes-Graduccedilatildeo em Direito da UERJ em que estou inserido desde 1997 primeiro como aluno e a partir de 2003 como
professor o Ricardo Lobo Torres teve papel central na difusatildeo do pensamento destes e de outros filoacutesofos entre os estudantes e o
proacuteprio corpo docente
72Cf Lecircnio Luiz Streck Hermenecircutica juriacutedica e(m) crise Op cit Eros Roberto Grau Ensaio e discurso sobre a interpreta-
ccedilatildeoaplicaccedilatildeo do direito Satildeo Paulo Malheiros 2002
73Nesta linha veja-se as obras que compotildeem a coletacircnea Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Direitos sociais funda-
mentos judicializaccedilatildeo e direitos sociais em espeacutecie Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 Ricardo Lobo Torres O miacutenimo existencial
e os direitos fundamentais Revista de Direito Administrativo n 177 p 20-49 1989 Ingo Wolfgang Sarlet A eficaacutecia dos direitos
fundamentais 9 ed Porto Alegre Livraria do Advogado 2008 Ana Paula de Barcellos A eficaacutecia juriacutedica dos princiacutepios o princiacute-
pio da dignidade da pessoa humana Op cit Marco Mazzeli Gouveia O controle judicial das omissotildees administrativas Rio de
Janeiro Forense 2003 Andreacuteas Krell Direitos sociais e controle judicial no Brasil e Alemanha os (des)caminhos de um direito
constitucional comparado Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2002
74Cf Gustavo Tepedino Temas de direito civil Rio de Janeiro Renovar 1999 Luiz Edson Fachin Estatuto juriacutedico do patrimocircnio
miacutenimo Rio de Janeiro Renovar 2001 Maria Celina Bodin de Moraes Danos agrave pessoa humana uma leitura civil-constitucional dos
danos morais Rio de Janeiro Renovar 2003 Teresa Negreiros Fundamentos para uma interpretaccedilatildeo constitucional do princiacutepio
da boa-feacute Rio de Janeiro Renovar 1998 Anderson Schreiber A proibiccedilatildeo do comportamento contraditoacuterio Rio de Janeiro Reno-
var 2005
75Cf Luciano Feldens A Constituiccedilatildeo penal a dupla face da proporcionalidade no controle das lei penais Porto Alegre Livraria do
Advogado 2005 Luis Carlos dos Santos Gonccedilalves Mandados expressos de criminalizaccedilatildeo e a proteccedilatildeo de direitos fundamentais na
Constituiccedilatildeo Brasileira de 1988 Belo Horizonte Foacuterum 2007
76Cf Gustavo Binenbojm Uma teoria do direito administrativo direitos fundamentais democracia e constitucionalizaccedilatildeo Rio de
Janeiro Renovar 2006 Alexandre dos Santos Aragatildeo Floriano de Azevedo Marques (Coord) Direito administrativo e seus novos
paradigmas Belo Horizonte Foacuterum 2008
77Cf Gustavo Binenbojm A nova jurisdiccedilatildeo constitucional brasileira legitimidade democraacutetica e instumentos de realizaccedilatildeo Rio de
Janeiro Renovar 2001 Claacuteudio Pereira de Souza Neto Jurisdiccedilatildeo constitucional democracia e racionalidade praacutetica Rio de
Janeiro Renovar 2002 Joseacute Adeacutercio Leite Sampaio A Constituiccedilatildeo reinventada pela jurisdiccedilatildeo constitucional Belo Horizonte Del
Rey 2002 Lecircnio Luiz Streck Jurisdiccedilatildeo constitucional e hermenecircutica Porto Alegre Livraria do Advogado 2002 Aacutelvaro Ricardo
de Souza Cruz Jurisdiccedilatildeo constitucional democraacutetica Belo Horizonte Del Rey 2004
78A expressatildeo dificuldade contramajoritaacuteria eacute de um claacutessico da teoria constitucional norte-americana Alexander Bickel La Cons-
titucioacuten como Norma y el Tribunal Constitucional 2 ed New Haven Yale University Press 1986
33
79Em siacutentese apertada o procedimentalismo sustenta que natildeo eacute papel da jurisdiccedilatildeo constitucional tutelar valores substantivos mas
apenas proteger os pressupostos necessaacuterios ao bom funcionamento da democracia Jaacute o substancialismo reconhece a legitimidade
da atuaccedilatildeo jurisdicional em favor da garantia e promoccedilatildeo de valores substantivos presentes na Constituiccedilatildeo O debate entre o
procedimentalismo identificado com as ideacuteias de autores como John Hart Ely e Juumlrgen Habermas e o substancialismo defendido
por teoacutericos como Ronald Dworkin e Laurence Tribe eacute reproduzido em praticamente toda a literatura contemporacircnea que trata de
Teoria ou Filosofia Constitucional Veja-se a propoacutesito a densa obra de Claacuteudio Ari Mello Democracia constitucional e direitos
fundamentais Porto Alegre Livraria do Advogado 2004
80Neoconstitucionalismo e constitucionalizaccedilatildeo do direito o triunfo tardio do direito constitucional no Brasil Op cit
81A crise paradigmaacutetica do direito no contexto da resistecircncia positivista ao (neo)constitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza
Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm Vinte anos da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Op cit p 203-228
82Nos vinte anos da carta cidadatilde do poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo Op cit
83Neoconstitucionalismo direitos fundamentais e controle de poliacuteticas puacuteblicas In Daniel Sarmento Flaacutevio Galdino (Org) Direitos
fundamentais estudos em homenagem ao prof Ricardo Lobo Torres Rio de Janeiro Renovar 2006 p 31-60
84Direitos humanos legitimidade e constitucionalismo In Daniel Sarmento Flaacutevio Galdino (Org) Direitos fundamentais estudos
em homenagem ao Prof Ricardo Lobo Torres Op cit p325-350
85Novos desafios agrave filtragem constitucional no momento do neoconstitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sar-
mento A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 251-270
86Neoconstitucionalismo a invasatildeo da Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Meacutetodo 2008
87Neoconstitucionalismo e positivismo juriacutedico Satildeo Paulo Landy 2006
88Teoria do direito e argumentaccedilatildeo racional temas de teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica op cit p 141-240
89Uma visatildeo criacutetica do neoconstitucionalismo In George Salomatildeo Leite Glauco Salomatildeo Leite Constituiccedilatildeo e efetividade constitu-
cional Salvador JusPodium 2008 p 43-60
90Neoconstitucionalismo entre a Ciecircncia do direito e o direito da ciecircncia In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento
Gustavo Binenbojm Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 p 187-202
91Cf Peticcedilatildeo 1246 MSSC julgada em 31011997 (obrigaccedilatildeo do Estado de realizar transplante de ceacutelulas mioblaacutesticas para salvar
a vida de crianccedila) Agravo de Instrumento no Recurso Extraordinaacuterio 271286RS DJU 24 nov 2000 (entrega de medicamentos
para portadores de HIV) e Agravo de Instrumento do Recurso Extraordinaacuterio nordm 410715-5 julgado em 22112005 (obrigaccedilatildeo de
fornecimento de vagas para educaccedilatildeo infantil pelo municiacutepio com atendimento em creches e preacute-escola)
92Recursos Extraordinaacuterios nordms 158215-4RS 161243-6DF 201819RJ
93Cf Mandado de Injunccedilatildeo 670ES Rel Min Gilmar Mendes julgado em 25102007 em que o STF revendo orientaccedilatildeo anterior
deu eficaacutecia normativa agrave sentenccedila proferida no mandado de injunccedilatildeo No caso decidiuse que ateacute o advento de lei regulamentado-
ra sobre a greve no serviccedilo puacuteblico o direito de greve poderia ser exercido obedecendo-se os limites impostos pela Lei 778389
que trata dos movimentos paredistas em serviccedilos essenciais no setor privado
94Sobre a tendecircncia agrave superaccedilatildeo da ideacuteia do Judiciaacuterio como legislador negativo na jurisdiccedilatildeo constitucional veja-se Joseacute Adeacutercio
Leite Sampaio A Constituiccedilatildeo reinventada pela jurisdiccedilatildeo constitucional Belo Horizonte Del Rey 2002 p 203-248
95Eacute lugar-comum dentre os autores que tratam da questatildeo associar tais mudanccedilas agrave pluralizaccedilatildeo das vozes na interpretaccedilatildeo consti-
tucional tema em que a referecircncia essencial no cenaacuterio germacircnico eacute Peter Haumlberle Veja-se a propoacutesito Peter Haumlberle Herme-
necircutica constitucional A sociedade aberta dos inteacuterpretes da Constituiccedilatildeo contribuiccedilatildeo para a interpretaccedilatildeo pluralista e procedi-
mental da Constituiccedilatildeo Traduccedilatildeo de Gilmar Ferreira Mendes Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1997 Veja-se ainda na doutrina
brasileira Gustavo Binenbojm A dimensatildeo do Amicus Curiae no processo constitucional brasileiro In Temas de direito constitu-
cional e administrativo Rio de Janeiro Renovar 2008 p 165-190
96ADIN 3510DF Relator Ministro Carlos Ayres Britto A accedilatildeo proposta contra o art 5ordm da Lei de Biosseguranccedila impugnava a auto-
rizaccedilatildeo de pesquisas com embriotildees humanos resultantes de fertilizaccedilatildeo in vitro que fossem inviaacuteveis ou estivessem congelados haacute
mais de trecircs anos A accedilatildeo foi julgada totalmente improcedente por 6 votos a 5
97ADPF nordm 54 A accedilatildeo que tem como relator o Ministro Marco Aureacutelio ainda natildeo foi julgada mas em seu bojo jaacute ocorreram diversas
audiecircncias puacuteblicas que provocaram intensa participaccedilatildeo da sociedade civil e grande interesse na miacutedia
34
98ADPF nordm 132 Relator Ministro Carlos Ayres Britto A accedilatildeo ainda foi julgada
99Mandados de Seguranccedila 26602DF 26603DF e 26604DF Informativo STF n 482
100Recurso Extraordinaacuterio 197917SP Rel p acoacuterdatildeo Min Ceacutesar Peluso DJU 18 fev 2005
101O livro de Alberto Carlos Almeida A cabeccedila do brasileiro lanccedilado em 2007 conteacutem pesquisas feitas sobre uma acuteseacuterie de temas
com pessoas de todas as classes sociais e regiotildees do paiacutes Uma das pesquisas eacute relativa agrave avaliaccedilatildeo das instituiccedilotildees Dentre as treze
avaliadas as duas que obtiveram menor aprovaccedilatildeo foram os partidos poliacuteticos (avaliaccedilatildeo positiva de 28 dos entrevistados) e o
Congresso (avaliaccedilatildeo positiva de 36 dos entrevistados) Cf Antonio Carlos Almeida A cabeccedila do brasileiro Rio de Janeiro Re-
cord 2007 p 187
102Cf Luis Roberto Barroso Judicializaccedilatildeo ativismo judicial e legitimidade democraacutetica Texto ainda ineacutedito gentilmente cedido
pelo autor
103Humberto Aacutevila por exemplo formula outra criacutetica importante de que o neoconstitucionalismo seria inadequado agrave realidade
constitucional brasileira jaacute que privilegia os princiacutepios e a Carta de 88 seria muito mais regulatoacuteria do que principioloacutegica (Neo-
constitucionalismo entre a ciecircncia do direito e o direito da ciecircncia Op cit p 188-192)
104Contudo natildeo eacute razoaacutevel estender esta criacutetica ao ponto de negar o caraacuteter democraacutetico da atuaccedilatildeo judicial Como ressaltou
Eugenio Rauacutel Zaffaroni uma instituiccedilatildeo natildeo eacute democraacutetica unicamente porque natildeo provenha de eleiccedilatildeo popular porque nem tudo
o que proveacutem desta origem eacute necessariamente aristocraacutetico Uma instituiccedilatildeo eacute democraacutetica quando seja funcional para o sistema
democraacutetico quer dizer quando seja necessaacuteria para a sua continuidade como ocorre com o judiciaacuterio (Poder judiciaacuterio crise
acertos e desacertos Traduccedilatildeo de Juarez Tavares Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1995 p 43)
105Cf Robert A Dahl Sobre a democracia Traduccedilatildeo de Beatriz Sidou Brasiacutelia UNB 2001 p 97-113 Juumlrgen Habermas Popular
Sovereignity as Procedure In James Bonham William Rehg Deliberative Democracy Cambridge The MIT Press 1997 p 35-66
106A questatildeo da tensatildeo e sinergia simultacircneas entre constitucionalismo e democracia eacute um dos debates mais fecundos da Teoria
Poliacutetica e da Filosofia Constitucional que tem atravessado o tempo desde o advento do constitucionalismo moderno no seacuteculo
XVIII Veja-se no debate contemporacircneo Jeremy Waldron Preocommitment and Disagreement In Larry Alexander Constitu-
cionalism Philosophical Foundations Cambridge Cambridge University Press 1998 p 271-299 Juumlrgen Habermas O Estado demo-
craacutetico de direito uma amarraccedilatildeo paradoxal de princiacutepios contraditoacuterios In Era das transiccedilotildees Traduccedilatildeo de Flaacutevio Beno Siebe-
neichler Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 2003 p 153-173 Carlos Santiago Nino La Constitucioacuten de la Democracia Deliberativa
Op cit Frank Michelman Brennan and Democracy Princeton Princeton University Press 1999 p 03-62 Stephen Holmes El
Precompromiso y la Paradoja de la Democracia In Jon Elster Rune Slagstad Constitucionalismo y Democracia Traduccedilatildeo de Mocircni-
ca Utrilla de Neira Mexico Fondo de Cultura Econocircmica 1999 p 217-262
107O problema da limitaccedilatildeo do legislador atual pelas decisotildees do constituinte adotadas no passado envolve a problemaacutetica da
partilha intergeracional de poder bem explicitada na fala de Jefferson que defendia que a cada 19 anos deveria ser elaborada
uma nova Constituiccedilatildeo nos Estados Unidos para que a Lei Maior daquele paiacutes natildeo se tornasse um mecanismo de governo dos mor-
tos sobre os vivos Em siacutentese apertada haacute na teoria poliacutetica contemporacircnea duas linhas principais de justificativa para a legiti-
midade destas restriccedilotildees
Uma eacute a teoria da democracia dualista defendida por Bruce Ackerman que sustenta que as decisotildees adotadas pelo proacuteprio povo
em contextos de grande mobilizaccedilatildeo ciacutevica devem ser protegidas do alcance da vontade dos representantes do povo formada em
momentos em que a cidadania natildeo esteja intensamente envolvida Esta teoria distingue a poliacutetica extraordinaacuteria correspondente
agravequeles momentos constitucionais da poliacutetica ordinaacuteria que se realiza atraveacutes das deliberaccedilotildees do dia a dia dos oacutergatildeos represen-
tativos Para a perspectiva ackermaniana a poliacutetica extraordinaacuteria - que natildeo exige necessariamente formalizaccedilatildeo procedimental
atraveacutes de assembleacuteia constituinte ou de emenda constitucional - se situa em patamar superior agrave poliacutetica ordinaacuteria e pode legiti-
mamente impor limites a esta (cf Bruce Ackerman We the people Foundations Cambridge The Belknap Press 1991 p 03-33)
Outra teoria eacute a do preacute-compromisso que jaacute foi advogada por Jon Elster Segundo ela eacute legiacutetimo subtrair do alcance das maiorias
determinadas questotildees fundamentais que expressam princiacutepios fundamentais de justiccedila poliacutetica ou garantam os pressupostos da
proacutepria democracia tendo em vista o risco de que no processo poliacutetico majoritaacuterio em momentos de irracionalidade o povo
35
possa ser viacutetima de suas proacuteprias fraquezas ou paixotildees momentacircneas atentando contra tais princiacutepios (cf Ulisses and Sirens
Cambridge Cambridge University Press 1979)
Ambas as concepccedilotildees - a primeira mais proacutexima ao republicanismo e a segunda de vieacutes mais liberal - tecircm a sua dose de procedecircn-
cia mas ensejam criacuteticas importantes Todavia foge a escopo do presente trabalho analisar esta questatildeo que eacute uma das mais
complexas da Filosofia Poliacutetica moderna e contemporacircnea Para uma visatildeo geral sobre o tema na literatura em liacutengua portuguesa
veja-se Oscar Vilhena Vieira A Constituiccedilatildeo e sua reserva de justiccedila Op cit Miguel Nogueira de Brito A Constituiccedilatildeo constituin-
te ensaio sobre o poder de revisatildeo da Constituiccedilatildeo Coimbra Coimbra 2000 Samantha Chantal Dobrowolski Op cit p 265-312
Rodrigo Brandatildeo Direitos fundamentais democracia e claacuteusulas peacutetreas Rio de Janeiro Renovar 2008 p 59-112
108Cf Michel Troper Justice Constitutionelle et Deacutemocratie In Pour une Theorie Juridique de LEacutetat Paris PUF 1994 p 317-328
Claacuteudio Pereira de Souza Neto Jurisdiccedilatildeo constitucional democracia e racionalidade praacutetica Op cit p 106-130 Gustavo Binen-
bojm A nova jurisdiccedilatildeo constitucional brasileira Op cit p 55-74
109Sobre o modelo revolucionaacuterio francecircs de constitucionalismo completamente avesso agrave ideacuteia de jurisdiccedilatildeo constitucional cf
Maurizio Fioravanti Constitucioacuten de la antiguumledad a nuestros dias Traduccedilatildeo de Manuel Martinez Neira Madrid Trotta 2001 p
120-132
110Cf Carl Schmitt La Defesa de la Constitucioacuten Madrid Tecnos 1983
111O constitucionalismo popular ou populismo constitucional eacute uma importante corrente no debate constitucional norte-americano
contemporacircneo que nega a legitimidade democraacutetica do controle de constitucionalidade advogando que deve caber ao proacuteprio
povo e natildeo a uma elite de juiacutezes natildeo eleitos com assento na Suprema Corte o poder de definir o sentido das claacuteusulas vagas que
abundam no texto constitucional daquele paiacutes Na defesa desta tese satildeo empregados tanto argumentos de teoria e filosofia poliacuteti-
ca de caraacuteter mais universal como razotildees histoacutericas relacionadas agrave evoluccedilatildeo do constitucionalismo estadunidense Veja-se nesta
linha Mark Tushnet Taking the Constitution Away from the Courts Princeton Princeton University Press 1999 Jeremy Waldron
Precommitment and Disagreement Op cit Larry D Kramer The People Themselves Popular constitutionalism and judicial re-
view New York Oxford University Press 1994
Ateacute algumas deacutecadas atraacutes a oposiccedilatildeo agrave jurisdiccedilatildeo constitucional nos Estados Unidos partia em regra da Direita que natildeo se con-
formava com a jurisprudecircncia extremamente liberal em mateacuteria de direitos fundamentais estabelecida pela Corte entre os anos
50 e 70 Atualmente uma boa parte dos opositores agrave judicial review situa-se agrave esquerda do espectro poliacutetico e talvez a nova linha
profundamente conservadora daquele Tribunal ajude a explicar esta mudanccedila
112Sobre a Era de Lochner veja-se Laurence H Tribe American Constitutional Law 2 ed Mineola The Foundation Press 1988 p
567-581 Paul Brest et al Processes of Constitucional Decisionmaking 4 ed New York Aspen Publishers 2000 p 337-354
113Towards Juristocracy hellip Op cit
114Tratei do tema no artigo Direito adquirido emenda constitucional democracia e justiccedila social In Livres e iguais Op cit p
03-32
115Cf Charles R Epp The Rights Revolution Chicago The University of Chicago Press 1998 p 26-70 Owen Fiss The Law as It
Could Be New York New York University Press 2003 p 244-249
116A importacircncia e as peculiaridades da interpretaccedilatildeo legislativa da Constituiccedilatildeo satildeo exploradas em importante obra coletiva
Richard W Bauman Tsvi Kahana The Least Examined Branch The Role of Legislatures in the Constitutional State Cambridge
Cambridge University Press 2006
117Cf em tom ainda mais ceacutetico do que o adotado neste estudo Martonio MontAlverne Barreto Lima Jurisdiccedilatildeo Constitucional
um problema da teoria da democracia poliacutetica In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Gilberto Bercovici Joseacute Filomeno de Moraes
Filho Martonio MontAlverne Teoria da Constituiccedilatildeo estudos sobre o lugar da poliacutetica no direito constitucional Rio de Janeiro
Lumen Juris 2003 p 199-261 Conrado Huumlbner Mendes Controle de constitucionalidade e democracia Rio de Janeiro Elsevier
2008
36
118Para criacutetica semelhante no contexto germacircnico veja-se Ingeborg Maus O judiciaacuterio como superego da sociedade sobre o papel
da atividade jurisprudencial na sociedade oacuterfatilde Traduccedilatildeo de Martonio MontAlverne Barreto Lima Paulo Antonio Menezes de Albu-
querque Anuaacuterio dos Cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito da Faculdade de Direito de Recife n 11 2000
119Eu aprofundo a anaacutelise deste ponto no meu artigo Interpretaccedilatildeo constitucional preacute-compreensatildeo e capacidades institucionais do
inteacuterprete In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm (Coord) Vinte anos da Constituiccedilatildeo Federal
de 1988 Op cit p 311-322 E a necessidade de optar por teoria de interpretaccedilatildeo que leve em consideraccedilatildeo as capacidades
institucionais reais dos juiacutezes comparando-as com as dos agentes de outras instituiccedilotildees eacute explorada no importante estudo de Cass
Sunstein Adrian Vermeulle Interpretations and Institutions Chicago Working Papers in Law amp Economics 2002 p 01-55 bem
como no livro de Adrian Vermeulle Judging under Uncertainty An Institutional Theory for Legal Interpretation Cambridge Har-
vard University Press 2006
120Dentre as honrosas exceccedilotildees mencione-se Luiacutes Roberto Barroso autor de importante artigo com sugestotildees para a reforma poliacuteti-
ca no paiacutes Reforma poliacutetica uma proposta de sistema de governo eleitoral e partidaacuterio para o Brasil Revista de Direito do Esta-
do n 3 p 287-360 jul set 2006
121Sobre o ethos judicial no Brasil veja-se a pesquisa de Maria Tereza Sadek Magistrados uma imagem em movimento Rio de
Janeiro FGV 2006
122Em sentido semelhante veja-se Michael J Perry The Constitution the Courts and Human Rights New Haven Yale University
Press 1982 p 91-145
123Neste ponto entendo que um standard importante que deveria ser adotado para controle de constitucionalidade eacute o de que
quanto maiores forem as credencias democraacuteticas de um ato normativo mais autocontido deve ser o Poder Judiciaacuterio ao avaliar a
sua constitucionalidade Na minha opiniatildeo estas credencias democraacuteticas devem ser aferidas tanto por criteacuterios qualitativos - eg
grau de participaccedilatildeo social no processo legislativo qualidade do processo deliberativo que a antecedeu - como por criteacuterios quanti-
tativos - percentual de votos favoraacuteveis agrave medida Em sentido semelhante veja-se Claacuteudio Ari Mello Democracia e direitos funda-
mentais Op cit p 298
124Em sentido proacuteximo apontam as liccedilotildees de Gustavo Binenbojm e Humberto Aacutevila O primeiro tratando do controle judicial dos
atos administrativos averbou que quanto maior for o grau de tecnicidade da mateacuteria objeto de decisatildeo por oacutergatildeos dotados de
expertise e experiecircncia menos intenso deve ser o grau de controle judicial (Uma teoria do direito administrativo Op cit p
236) Jaacute o segundo salientou que o acircmbito de controle pelo Judiciaacuterio deveraacute ser tanto menor quanto mais difiacutecil e teacutecnico for
o juiacutezo exigido para o tratamento da mateacuteria (Teoria dos princiacutepios Op cit p 126)
125Um exemplo extremado deste posicionamento estaacute na argumentaccedilatildeo adotada pelo STF no julgamento da ADIN 2797 Rel Min
Sepuacutelveda Pertence em que se reconheceu a inconstitucionalidade formal de lei que pretendia interpretar a Constituiccedilatildeo Para o
STF natildeo pode a lei ordinaacuteria pretender impor como seu objeto imediato uma interpretaccedilatildeo a Constituiccedilatildeo a questatildeo eacute de in-
constitucionalidade formal iacutensita a toda norma da gradaccedilatildeo inferior que se proponha a ditar interpretaccedilatildeo de norma superior
Na questatildeo de fundo abordada naquele caso entendo que o STF estava certo Tratava-se de invalidar uma norma legal que esten-
dera o foro de prerrogativa de funccedilatildeo a ex-ocupantes de cargos puacuteblicos visando a restaurar antiga jurisprudecircncia do STF sedi-
mentada na Suacutemula 394 do Tribunal que acabara de ser cancelada O princiacutepio republicano natildeo era compatiacutevel com tal medida
que configurava niacutetido privileacutegio O que me parece inaceitaacutevel e profundamente anti-democraacutetico com a devida vecircnia natildeo eacute o
resultado alcanccedilado pela Corte - com o qual concordo - mas o argumento empregado de que o legislador natildeo pode interpretar a
Constituiccedilatildeo
126Existe hoje uma fecunda produccedilatildeo acadecircmica no cenaacuterio anglo-saxatildeo sobre as vantagens de modelos teoacutericos que favoreccedilam
diaacutelogos entre diversos oacutergatildeos e instituiccedilotildees na interpretaccedilatildeo constitucional ao inveacutes de afirmarem a exclusividade ou mesmo a
supremacia do Judiciaacuterio nesta seara Veja-se a propoacutesito Laurence G Sager Justice in Plainclothes A Theory of American Con-
stitutional Practice New haven Yale University Press 2004 Mark Tushnet Weak Courts Strong Rights Judicial Review and Social
Welfare Rights in Comparative Constitutional Law Princeton Princeton University Press 2008 Mark C Miller Jeb Barnes (Ed)
Making Police Making Law An Interbranch Perspective Washington DC Georgetown University Press 2004
37
127Colhi o exemplo no estudo de Oscar Vilhena Vieira Supremocracia In Daniel Sarmento (Org) Filosofia e teoria constitucional
contemporacircnea Rio de Janeiro Lumen Juris 2009
128Como um natildeo-positivista tenho a necessaacuteria imparcialidade para criticar os equiacutevocos da doutrina brasileira nas suas invectivas
contra o positivismo que muitas vezes caracterizam verdadeira falaacutecia do espantalho ataca-se natildeo a proacutepria teoria positivista
mas uma distorcida caricatura dela Duas afirmaccedilotildees erradas que eu mesmo jaacute fiz em textos anteriores satildeo muito frequumlentes a
de que o positivismo recusa a aplicaccedilatildeo dos princiacutepios juriacutedicos e a de que ele teria sido a Filosofia do Direito cultivada na Alema-
nha nazista
Quanto ao primeiro ponto natildeo haacute nenhuma incompatibilidade loacutegica entre positivismo e princiacutepios desde que os princiacutepios este-
jam devidamente incorporados na ordem juriacutedico-positiva Vaacuterios autores positivistas contemporacircneos jaacute citados neste estudo
como Luis Prietro Sanchiacutes Luigi Ferrajoli e Gregorio Peces-Barba atribuiacuteram espaccedilo importante para princiacutepios nas suas teorias
Mesmo no Direito Puacuteblico brasileiro juristas de inspiraccedilatildeo positivista kelseniana construiacuteram suas teorias com apoio em argumen-
taccedilatildeo principioloacutegica como o falecido Geraldo Ataliba e Celso Antonio Bandeira de Mello
No que tange ao segundo ponto - a chamada redutio ad hitlerum - os estudos mais autorizados de Histoacuteria do Direito comprovam
que natildeo foi o positivismo a teoria juriacutedica dominante no nazismo mas uma espeacutecie de jusnaturalismo de inspiraccedilatildeo hegeliana que
se insurgia contra o formalismo e recorria com frequumlecircncia a conceitos muito vagos para justificar a barbaacuterie como os de comuni-
dade popular (Volksgemeinschaft) Veja-se a propoacutesito Michael Stolleis The Law under the Swastika Studies on Legal History in
Nazi Germany Traduccedilatildeo de Thomas Dunlap Chicago The University of Chicago Press 1998
129Cf Joseacute Joaquim Gomes Canotilho Direito constitucional e Teoria da Constituiccedilatildeo Coimbra Almedina 1998 p 1036
130Sobre a importacircncia das regras veja-se Frederick Schauer Playing by the Rules A Philosophical Exaxamination of Rule-Bases
Decision-Making in Law and Life Oxford Oxford University Press 1998 Humberto Aacutevila Neoconstitucionalismo entre a ciecircncia do
direito e o direito da ciecircncia Op cit Noel Struchiner Posturas institucionais e modelagem institucional a dignidade (contingente)
do formalismo juriacutedico In Daniel Sarmento Filosofia e teoria constitucional contemporacircnea Op cit
131Esta eacute expressatildeo empregada por Ana Paula de Barcellos O direito constitucional em 2006 Revista de Direito do Estado n 5 p
03-23 janmar 2007
132Cf Chaiumlm Perelman P Fories La Motivation des Deacutecisions de Justice Bruxelas Eacutemile Bruylant 1978
133Sobra a influecircncia do jeitinho no Direito brasileiro cf Keith Rosen O jeito na cultura juriacutedica brasileira Rio de Janeiro Reno-
var 1997
134Sobre o patrimonialismo no Brasil veja-se Raimundo Faoro Os donos do poder 8 ed Rio de Janeiro Globo 1989 v 2 p 729-
750
135Raiacutezes do Brasil 26 ed Satildeo Paulo Companhia das Letras 1995
136Cf Joseacute Murilo de Carvalho Brasileiro Cidadatildeo In Pontos e bordados escritos de histoacuteria e poliacutetica Belo Horizonte Ed
UFMG 2005 p 275-288
137Cf Gustavo Zagrebelsky Il Diritto Mite Op cit p 15-19
138Cf Marcelo Neves A constitucionalizaccedilatildeo simboacutelica Satildeo Paulo Acadecircmica 1994
139A obra de Niklas Luhman eacute vasta e complexa e seus textos satildeo de difiacutecil compreensatildeo para os natildeo iniciados Veja-se do proacuteprio
autor Sociologia do direito I e II Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 1983 e 1985 Sistema Jurididico y Dogmaacutetica Juriacutedica Madrid
Centro de Estuacutedios Constitucionales 1983 Confira-se tambeacutem a coletacircnea organizada por Andreacute-Jean Arnaud Dalmir Lopes Jr Do
sistema social agrave sociologia juriacutedica Rio de Janeiro Lumen Juris 2004
140Sobre a autopoieses do Direito veja-se tambeacutem a obra importante de Guumlnther Teubner O direito como sistema autopoieacutetico
Traduccedilatildeo de Joseacute Engracia Nunes Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1993
141Cf Luis Roberto Barroso Neoconstitucionalismo e a constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit
142Esta era basicamente a visatildeo de Hans Kelsen (Cf Hans Kelsen Jurisdiccedilatildeo constitucional Traduccedilatildeo de Alexandre Krug et al Satildeo
Paulo Martins Fontes 2003 p 153) Para uma anaacutelise criacutetica desta posiccedilatildeo veja-se Luis Prietro Sanchiacutes Presupuestos ideoloacutegicos
y doctrinales de la jurisdicioacuten constitucional In Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales Op cit p 21-100
38
143Cf Christian Starck La suprematie La Suprematie de la Constitution et la Justice Constitutionnelle In La Constitution Cadre et
Mesure du Droit Traduccedilatildeo de Freacutederic Weill Paris Econocircmica 1994 p 26-30 Ernst- Wolfgang Boumlckenfoumlrde Les meacutethodes
dinterpretation de la Constitution Un bilan critique In Le Droit lEacutetat et la Constitution Democratique Traduccedilatildeo de Olivier
Jouanjan Paris LGDJ 2000 p 249-250 Virgiacutelio Afonso da Silva Constitucionalizaccedilatildeo do direito os direitos fundamentais nas
relaccedilotildees entre particulares Satildeo Paulo Malheiros 2005 p 107-131 Daniel Sarmento Ubiquumlidade constitucional os dois lados da
moeda Op cit Luis Roberto Barroso Curso de Direito Constitucional Contemporacircneo Op cit p 391-394 Alceu Mauriacutecio Jr
Judicializaccedilatildeo da poliacutetica e a crise do direito constitucional a Constituiccedilatildeo entre ordem marco e ordem fundamenta Revista de
Direito do Estado n 10 p 125-142 abrjun 2008
144Der Staat der Industriegesellshaft 2 ed Muumlnchen Beck 1971 p 144 Apud Robert Alexy Posfaacutecio In Teoria dos direitos
fundamentais Op cit p 578
145De acordo com Carlos Santiago Nino o perfeccionaismo eacute la concepcioacuten seguacuten la cual es una misioacuten legiacutetima del Estado hacer
que los individuos acepten y materializen ideales vaacutelidos de virtud personal Seguacuten este enfoque el Estado no puede permanecer
neutral respecto de concepciones de lo bueno en la vida y debe adoptar las medidas educativas punitorias etc que sean necesa-
rias para que los indiviacuteduos ajusten su vida a los verdaderos ideales de virtud y del bien (Eacutetica y Derechos Humanos Un ensayo de
fundamentacioacuten 2 ed Buenos Aires Astrea 1989 p 413)
146Daniel Sarmento Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas 2 ed Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 Sobre o tema na literatura
nacional veja-se tambeacutem Wilson Antocircnio Steinmetz A vinculaccedilatildeo dos particulares aos direitos fundamentais Satildeo Paulo Malheiros
2004 Virgiacutelio Afonso da Silva Constitucionalizaccedilatildeo do direito os direitos fundamentais nas relaccedilotildees entre particulares Op cit
Ingo Wolfgang Sarlet Direitos fundamentais e direito privado algumas consideraccedilotildees em torno da vinculaccedilatildeo dos particulares aos
direitos fundamentais In Ingo Wolfgang Sarlet (Org) A Constituiccedilatildeo concretizada Porto Alegre Livraria do Advogado 1999 p
129-173 Jane Reis Gonccedilalves Pereira Apontamentos sobre a aplicaccedilatildeo das normas de direito fundamental nas relaccedilotildees juriacutedicas
entre particulares In Luis Roberto Barroso (Org) A nova interpretaccedilatildeo constitucional ponderaccedilatildeo direitos fundamentais e
relaccedilotildees privadas Rio de Janeiro Renovar 2003 p 119-192
147Sobre a questatildeo da (i)legitimidade do perfeccionismo no Direito veja-se Joel Feinberg Rights Justice and the Bounds of Liber-
ty Princeton Princeton University Press 1980 Carlos Santiago Nino Eacutetica y Derechos Humanos Op cit p 413-446 Rainer Forst
Contexts of Justice Political Philosophy beyond Liberalism and Communitarianism Traduccedilatildeo de John M M Farrel Berkeley Uni-
versity of Califoacuternia Press 2001 p 30-87 Macaacuterio Alemany El Paternalismo Juriacutedico Madrid Iustel 2006
148Um sofisticado modelo que busca conciliar a constitucionalizaccedilatildeo do Direito com a democracia estaacute exposto no Poacutesfaacutecio agrave Teo-
ria dos Direitos Fundamentais de Robert Alexy acima citado Veja-se ainda Konrad Hesse Concepto y Cualidad de la Constitu-
cion In Escritos de Derecho Constitucional Traduccedilatildeo de Pedro Cruz Villaloacuten 2 ed 1992 p 03-29
149Tentei articular a minha teoria sobre eficaacutecia horizontal dos direitos fundamentais com este objetivo Cf Daniel Sarmento
Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas Op cit p 141-182 259-272
150Sobre el Neoconstitucionalismo y sus Implicaciones Op cit p 117
151Aqui entendo que o simples reconhecimento da penetraccedilatildeo da Moral no Direito preconizada pelos neoconstitucionalistas brasi-
leiros natildeo eacute suficiente jaacute que certas concepccedilotildees morais podem tornar o ordenamento ainda mais opressivo do que jaacute eacute Afinal
nem sempre a moralizaccedilatildeo do Direito se daacute na direccedilatildeo da emancipaccedilatildeo dos excluiacutedos Veja-se por exemplo a famosa polecircmica
jusfilosoacutefica entre Lord Patrick Devlin e Herbert Hart nos anos 60 na Inglaterra a propoacutesito do uso do Direito Penal para promoccedilatildeo
de Moral em que o primeiro a partir de uma posiccedilatildeo proacute-moral sustentava a legitimidade da criminalizaccedilatildeo da conduta homos-
sexual que o segundo contestava (Cf Lord Patrick Devlin Morals and Criminal Law In Ronald Dworkin (Ed) The Philosophy of
Law Op cit p 66-82 Herbert Hart Immorality and Treason In Idem ibidem)
Eacute preciso assentar as bases criacuteticas desta Moral que deve penetrar o Direito para evitar que o moralismo conservador seja expulso
do ordenamento pela porta da frente superado pela legislaccedilatildeo moderna em razatildeo da progressiva liberalizaccedilatildeo da sociedade mas
volte pela porta dos fundos atraveacutes da argumentaccedilatildeo juriacutedica dos juiacutezes lastreada em conceitos vagos como ordem puacuteblica e
bons constumes ou em standards como o comportamento do bom pai de famiacutelia
39
25
Nenhuma destas duas questotildees eacute insuperaacutevel Eacute possiacutevel aceitar e aplaudir a constitucionaliza-
ccedilatildeo do Direito - fenocircmeno em geral positivo por aproximar a racionalidade emancipatoacuteria da
Constituiccedilatildeo do dia-a-dia das pessoas - mas defender que ela seja temperada por outras preo-
cupaccedilotildees igualmente essenciais no Estado Democraacutetico de Direito com a autonomia puacuteblica e
privada dos cidadatildeos Pode-se reconhecer a legitimidade da constitucionalizaccedilatildeo do Direito
mas numa medida em que natildeo sacrifique em excesso agrave liberdade de conformaccedilatildeo que numa
democracia deve caber ao legislador para realizar opccedilotildees poliacuteticas em nome do povo148 Pode-
se da mesma forma afirmar a incidecircncia direta da Constituiccedilatildeo nas relaccedilotildees privadas mas
sem invadir a esfera das opccedilotildees existenciais da pessoa - que de resto eacute protegida pela proacutepria
Constituiccedilatildeo das ingerecircncias perfeccionistas do Estado e da sociedade149
5 Conclusatildeo Ao fim da leitura destas paacuteginas o leitor pode estar se indagando se eu me alinho ou natildeo ao
neoconstitucionalismo A minha resposta eacute depende da compreensatildeo que se tenha sobre o ne-
oconstitucionalismo Se entendermos o neoconstitucionalismo de acordo com a conhecida defi-
niccedilatildeo de Luis Prietro Sanchiacutes como uma teoria do Direito que se orienta pelas maacuteximas demaacutes
princiacutepios que reglas maacutes ponderacioacuten que subsuncioacuten omnipotencia de la Constitucioacuten en
todas las aacutereas juriacutedicas y en todos conflictos miacutenimamente relevantes en lugar de espacios
exentos en favor de la opcioacuten legislativa o reglamentaria omnipotencia judicial en lugar de
autonomia del legislador ordinaacuterio y por ultimo coexistecircncia de una constelacioacuten plural de
valores a veces tendencialmente contradictorios en lugar de homogeneidad ideoloacutegica150
certamente eu natildeo me considero um neoconstitucionalista De todas as afirmaccedilotildees do professor
espanhol a uacutenica de que natildeo discordo eacute aquela relacionada ao pluralismo de valores cujo re-
conhecimento aliaacutes estaacute longe de ser privileacutegio dos neoconstitucionalistas
Contudo eu assumo o roacutetulo sem constrangimentos se o neoconstitucionalismo for pensado
como uma teoria constitucional que sem descartar a importacircncia das regras e da subsunccedilatildeo
abra tambeacutem espaccedilo para os princiacutepios e para a ponderaccedilatildeo tentando racionalizar o seu uso
Se for visto como uma concepccedilatildeo que sem desprezar o papel protagonista das instacircncias de-
mocraacuteticas na definiccedilatildeo do Direito reconheccedila e valorize a irradiaccedilatildeo dos valores constitucio-
nais pelo ordenamento bem como a atuaccedilatildeo firme e construtiva do Judiciaacuterio para proteccedilatildeo e
promoccedilatildeo dos direitos fundamentais e dos pressupostos da democracia E acima de tudo se
for concebido como uma visatildeo que conecte o Direito com exigecircncias de justiccedila e moralidade
criacutetica151 sem enveredar pelas categorias metafiacutesicas do jusnaturalismo
26
Certamente uma visatildeo equilibrada da Teoria do Direito com tais caracteriacutesticas pode contribu-
ir para o aperfeiccediloamento do Estado Democraacutetico de Direito no Brasil O mesmo jaacute natildeo digo de
concepccedilotildees mais radicais do neoconstitucionalismo que podem ser muito boas para arrancar
aplausos entusiasmados das plateacuteias nos seminaacuterios estudantis mas que natildeo se conciliam com
exigecircncias fundamentais de seguranccedila juriacutedica democracia e liberdade que satildeo alicerces de
qualquer bom constitucionalismo - novo ou velho
Curriacuteculo Resumido
Daniel Sarmento
Poacutes-Doutor pela Universidade de Yale (EUA) Procurador Regional da Repuacuteblica
Como citar este artigo
SARMENTO Daniel O neoconstitucionalismo no Brasil riscos e possibilidades Disponiacutevel em httpwwweditoraforumcombrsistconteudolista_conteudoaspFIDT_CONTEUDO=56993 acesso em 09032011 httpdireitoesubjetividadefileswordpresscom201008daniel-sarmento-o-neoconstitucionalismo-no-brasil1doc acesso em 30062012 Material da 1ordf aula da Disciplina Teoria Geral da Constituiccedilatildeo (I) ministrada no Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo Online em Direito Constitucional ndash Anhanguera-UNIDERP | REDE LFG
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___________________
1Sobre a teoria de princiacutepios no Brasil veja-se dentre outros Ana Paula de Barcellos A eficaacutecia juriacutedica dos princiacutepios constitu-
cionais o princiacutepio da dignidade da pessoa humana Rio de Janeiro Renovar 2002 Humberto Bergman Aacutevila Teoria dos princiacute-
pios da definiccedilatildeo agrave aplicaccedilatildeo dos princiacutepios juriacutedicos 2 ed Satildeo Paulo RT 2005 Jane Reis Gonccedilalves Pereira Interpretaccedilatildeo
constitucional e direitos fundamentais uma contribuiccedilatildeo ao estudo das restriccedilotildees aos direitos fundamentais na perspectiva da
teoria dos princiacutepios Rio de Janeiro Renovar 2006 Virgiacutelio Afonso da Silva O conteuacutedo essencial dos direitos fundamentais e a
eficaacutecia das normas constitucionais Satildeo Paulo Tese (concurso de Professor Titular de Direito Constitucional da USP)
2Veja-se em tons variados Lecircnio Luiz Streck Hermenecircutica juriacutedica e(m) crise uma exploraccedilatildeo hermenecircutica da construccedilatildeo do
direito Porto Alegre Livraria do Advogado 1999 Luiacutes Roberto Barroso (Org) A nova interpretaccedilatildeo constitucional ponderaccedilatildeo
direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas Rio de Janeiro Renovar 2003 Margarida Maria Lacombe Camargo Hermenecircutica e
argumentaccedilatildeo uma contribuiccedilatildeo ao estudo do direito Rio de Janeiro Renovar 2003 Inocecircncio Maacutertires Coelho Interpretaccedilatildeo
constitucional 2 ed Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2003 Ana Paula de Barcellos Ponderaccedilatildeo racionalidade e atividade
jurisdicional Rio de Janeiro Renovar 2005
3Sobre o fenocircmeno da constitucionalizaccedilatildeo do Direito confira-se os inuacutemeros artigos que compotildeem a coletacircnea organizada por
Claacuteudio Pereira de Souza Neto e por mim A constitucionalizaccedilatildeo do direito fundamentos teoacutericos e aplicaccedilotildees especiacuteficas Rio de
Janeiro Lumen Juris 2007
4Cfr na literatura constitucional brasileira Gisele Guimaratildees Cittadino Pluralismo direito e justiccedila distributiva elementos de
filosofia constitucional contemporacircnea Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 Oscar Vilhena Vieira A Constituiccedilatildeo e sua reserva de
justiccedila um ensaio sobre os limites materiais do poder de reforma Satildeo Paulo Malheiros 1999 Ricardo Lobo Torres (Org) A legi-
timaccedilatildeo dos direitos humanos Rio de Janeiro Renovar 2002 Claacuteudio Pereira de Souza Neto Teoria constitucional e democracia
deliberativa Rio de Janeiro Renovar 2006 Lecircnio Luiz Streck Verdade e consenso Constituiccedilatildeo hermenecircutica e teorias discursi-
vas Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 Samantha Chantal Dobrowolski A construccedilatildeo social do sentido da Constituiccedilatildeo na demo-
cracia contemporacircnea entre soberania popular e direitos humanos Rio de Janeiro Lumen Juris 2007 Aacutelvaro Ricardo de Souza
Cruz Hermenecircutica juriacutedica e(m) debate o constitucionalismo brasileiro entre a teoria do discurso e a ontologia existencial Belo
Horizonte Foacuterum 2007
5Sobre a judicializaccedilatildeo da poliacutetica no Brasil veja-se Luiz Werneck Vianna et al A judicializaccedilatildeo da poliacutetica e das relaccedilotildees sociais
no Brasil Rio de Janeiro Revan 1999 Giselle Cittadino Judicializaccedilatildeo da poliacutetica constitucionalismo democraacutetico e separaccedilatildeo de
poderes In Luiz Werneck Vianna (Org) A democracia e os trecircs poderes no Brasil Belo Horizonte UFMG 2002 p 17-42 Rogeacuterio
B Arantes Constitucionalism the expansion of Justice and the Judicialization of Poltics in Brazil In Rachel Sieder Line Schjol-
den Alan Angell The Judicialization of Politics in Latin America New York Palgrave Macmillan 2005 p 232-262 Luis Roberto
Barroso Judicializaccedilatildeo ativismo judicial e legitimidade democraacutetica Texto ineacutedito gentilmente cedido pelo autor
Para uma perspectiva comparativa veja-se Neal C Tate Tobjorn Vallinder (Ed) The Global Expansion of Judicial Power New
York New York University Press 1995 Alec Stone Sweet Governing with Judges Constitutional Politics in Europe Oxford Oxford
Univesity Press 2000 e em tom profundamente criacutetico Ran Hirschl Towards Juristocracy the Origins and Consequences of the
New Constitucionalism Cambridge Harvard University Press 2004
6Miguel Carbonell et al Neoconstitucionalismo(s) Madrid Trotta 2003 Mais recentemente o autor publicou nova coletacircnea
tambeacutem dedicada ao estudo do neoconstitucionalismo intitulada Teoria del Neoconstitucionalismo Ensayos escogidos Madrid
Trotta 2007
7O jurista argentino Carlos Santiago Nino por exemplo faleceu em 1993 quando ainda nem se empregava esta denominaccedilatildeo
8Cf Robert Alexy Teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica a teoria do discurso racional como teoria da fundamentaccedilatildeo juriacutedica Tradu-
ccedilatildeo de Zilda Hutchinson Schild Silva revisatildeo teacutecnica da traduccedilatildeo e introduccedilatildeo agrave ediccedilatildeo brasileira Claudia Toledo 2 ed Satildeo Paulo
Landy 2005 Luis Roberto Barroso Curso de direito constitucional contemporacircneo os conceitos fundamentais e a construccedilatildeo do
novo modelo Rio de Janeiro Saraiva 2008 p 306-350
9Cf Lecircnio Luiz Streck Verdade e consenso Op cit p 197-246
28
10Ronald Dworkin e Carlos Santiago Nino satildeo sem sombra de duacutevida autores liberais natildeo no sentido que se atribui ao termo no
Brasil - de adeptos de doutrina econocircmica favoraacutevel ao Estado miacutenimo e ao mercado - mas sim no sentido corrente na Filosofia
Poliacutetica que associa o liberalismo agrave defesa dos direitos individuais e da neutralidade do Estado em relaccedilatildeo agraves diversas concepccedilotildees
sobre a vida boa existentes na sociedade Veja-se neste sentido Ronald Dworkin A Matter of Principle Cambridge Harvard
University Press 1985 p 181-236 Carlos Santiago Nino La constitucioacuten de la Democracia Deliberativa Barcelona Gedisa 1997
p 70-100
11Lecircnio Luiz Streck que se alinha ao neoconstitucionalismo defende posturas tipicamente comunitaristas como o papel da Consti-
tuiccedilatildeo na definiccedilatildeo de modelos de vida boa para orientaccedilatildeo da vida social e da accedilatildeo individual Cf Jurisdiccedilatildeo constitucional e
hermenecircutica uma nova criacutetica do direito 2 ed Rio de Janeiro Forense 2004 p 95-288
12Antonio Cavalcanti Maia um dos mais ardorosos defensores do neoconstitucionalismo no paiacutes eacute tambeacutem procedimentalista e
adepto das teorias juriacutedicas de Juumlrgen Habermas Veja-se neste sentido o seu denso texto Nos vintes anos da carta cidadatilde do
poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm (Coord) Vinte
anos da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 p 117-168 em que esta sua dupla filiaccedilatildeo intelectual eacute
explicitada
13Segundo Miguel Carbonell o neoconstitucionalismo desdobra-se em trecircs planos de anaacutelise que se conjugam o dos textos consti-
tucionais que se tornaram mais substantivos e incorporaram amplos elencos de direitos fundamentais o das praacuteticas judiciais que
passaram a recorrer a princiacutepios constitucionais agrave ponderaccedilatildeo e a meacutetodos mais flexiacuteveis de interpretaccedilatildeo sobretudo na aacuterea de
direitos fundamentais e o dos desenvolvimentos teoacutericos de autores que com as suas ideacuteias ajudaram natildeo soacute a compreender os
novos modelos constitucionais mas tambeacutem participaram da sua proacutepria criaccedilatildeo Cf Miguel Carbonell Neoconstitucionalismo
elementos para una definicioacuten In Eduardo Ribeiro Moreira Mauricio Pugliesi 20 anos da Constituiccedilatildeo brasileira Satildeo Paulo Sarai-
va 2009 p 197-208
14No mesmo sentido Luis Roberto Barroso Neoconstitucionalismo e Constitucionalizaccedilatildeo do direito o triunfo tardio do direito
constitucional do Brasil In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento A constitucionalizaccedilatildeo do direito fundamentos teoacuteri-
cos e aplicaccedilotildees especiacuteficas Rio de Janeiro Lumen Juris 2007 p 203-250
15Cf Carlos Bernal Pulido El Derecho de los Derechos Bogotaacute Universidad Externado de Colocircmbia 2006 Manoel Jose Cepeda
Espinosa Judicialization of Politics in Colombia the old and the new In Rachel Sieder Line Schonjen Alan Angell The Judiciali-
zation of Politics in Latin America Op cit p 67-104 Rodrigo Uprimmy Mauriacutecio Garcia-Villegas Tribunal Constitucional e eman-
cipaccedilatildeo social na Colocircmbia In Boaventura de Souza Santos Democratizar a democracia os caminhos da democracia participativa
Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2002 p 297-339
16Cf Catalina Smulovitz Petitioning and Creating Rights Judicialization in Argentina In Rachel Sieder Line Scjolden Alan Angell
The Judicialization of Politics in Latin America Op cit p 161-185
17Cf Miguel Carbonell Los Derechos Fundamentales en Meacutexico 2 ed Meacutexico Porruacutea 2006 Pilar Domingo The Changing Political
Role of the Judiciary in Meacutexico In Rachel Sieder Line Scjolden Alan Angell The Judicialization of Politics in Latin Ameacuterica Op
cit p 21-46
18Cf Heinz Klug South Aacutefrica From Constitucional Promise to Social Transformation In Jeffrey Goldsworthy Interpreting Consti-
tutions A Comparative Study Oxford Oxford University Press 2006 p 266-320
19Cf S P Sathe Iacutendia From Positivism to Structuralism In Jeffrey Goldsworthy Op cit p 215-265
20Veja-se a propoacutesito Gustavo Zagrebelsky Il Diritto Mite Torino Einaudi 1992 p 57-96
21Cf Eduardo Garciacutea de Enterriacutea La Constitucioacuten como Norma y el Tribunal Constitucional 3 ed Madrid Civitas 1985 p 41
22Na Alemanha a mudanccedila ocorreu sob a vigecircncia da Lei Fundamental adotada em 1949 e foi fortemente impulsionada pela
jurisprudecircncia do Tribunal Constitucional do paiacutes que construiu teorias importantes como a da Constituiccedilatildeo como uma ordem de
valores em cujo centro situa-se o princiacutepio da dignidade humana que se irradia por todo o ordenamento Veja-se a propoacutesito
Dieter Grimm Human Rights and Judicial Review in Germany In David M Beatty (Org) Human Rights and Judicial Review A
Comparative Perspective Dodrecht Martin Urjhoff 1994 p 267-295
23Na Itaacutelia as mudanccedilas se deram sob a eacutegide da atual Constituiccedilatildeo editada em 1947 mas soacute apoacutes o funcionamento da Corte
Constitucional que se deu em 1956 Ateacute entatildeo a Corte de Cassaccedilatildeo composta por juiacutezes recrutados ainda no periacuteodo do fascismo
29
era provisoriamente encarregada da guarda da Constituiccedilatildeo o que fazia de forma muito tiacutemida no mais das vezes negando eficaacute-
cia juriacutedica agraves normas constitucionais sob o argumento de que seriam programaacuteticas Veja-se a propoacutesito Ricardo Guastini A
constitucionalizaccedilatildeo do ordenamento juriacutedico e a experiecircncia italiana In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento A
constitucionalizaccedilatildeo do direito fundamentos teoacutericos e aplicaccedilotildees especiacuteficas Op cit p 271-294
24Cf No modelo do constitucionalismo norte-americano entende-se desde os primoacuterdios que a Constituiccedilatildeo eacute autecircntica lei e que
o Judiciaacuterio pode invalidar as decisotildees legislativas que a contrariem apesar do controle de constitucionalidade natildeo estar expres-
samente previsto no texto constitucional daquele paiacutes Esta ideacuteia que jaacute estava assentada no Federalista n 78 escrito por Ale-
xander Hamilton antes da aprovaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo foi posta em praacutetica pela primeira vez contra lei federal no ceacutelebre caso
Marbury v Madison julgado em 1803 pelo juiz Marshall Veja-se a propoacutesito Paul Brest Sanford Levinson Jack Balkin Akhil Reed
Amar Processes of Constitutional Decisionmaking Cases and Materials New York Aspen Publishers 2000 p 79-103
A versatildeo mais convencional do modelo constitucional norte-americano enfatiza a importacircncia central do Judiciaacuterio na atualizaccedilatildeo
do sentido da Constituiccedilatildeo do paiacutes Contudo esta leitura histoacuterica eacute hoje objeto de intensa disputa Em sentido contraacuterio a tal
posiccedilatildeo sustentando uma menor relevacircncia do Judiciaacuterio no desenvolvimento histoacuterico do constitucionalismo americano veja-se
por exemplo Stephen M Griffin American Constitutionalism From Theory to Politics New Jersey Princeton University Press
1996 p 88-139
25Cf Luis Prietro Sanchiacutes Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales Madrid Trotta 2003 p 107-117
26Cf Daniel Sarmento Ubiquumlidade constitucional Os dois lados da moeda In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento
(Coord) A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 113-148
27Na verdade a reaccedilatildeo contra o formalismo juriacutedico na Europa eacute bem anterior ao advento do constitucionalismo do 2ordm poacutes-guerra
remontando ao final do seacuteculo XIX Veja-se a propoacutesito Constantin M Stamatis Argumenter en Droit Une theacuteorie critique de
largumentation juridique Paris Publisud 1995 p 34-50 Antonio Manoel Hespanha Panorama histoacuterico da cultura juriacutedica euro-
peacuteia Lisboa Publicaccedilotildees Europa-Ameacuterica 1997 p 196-235
28Haacute vasta literatura sobre a ponderaccedilatildeo mas a obra mais influente sobre o tema eacute certamente o livro de Robert Alexy Teoria dos
direitos fundamentais Traduccedilatildeo de Virgiacutelio Afonso da Silva Satildeo Paulo Malheiros 2008 No cenaacuterio norte-americano veja-se a
anaacutelise densa e criacutetica de T Alexander Aleinikoff Constitucional Law in the Age of Balancing Yale Law Journal n 96 p 943-
1005 1987 No Brasil cfr Daniel Sarmento A ponderaccedilatildeo de interesses na Constituiccedilatildeo Federal Rio de Janeiro Lumen Juris
2000 Ana Paula de Barcellos Ponderaccedilatildeo racionalidade e atividade jurisdicional Op cit
29A bibliografia sobre o princiacutepio da proporcionalidade eacute vastiacutessima Veja-se a propoacutesito as densas anaacutelises de Carlos Bernal Puli-
do El Principio de Proporcionalidad y los Derechos Fundamentales Madrid Centro de Estuacutedios Constitucionales 2003 e no Brasil
de Jane Reis Gonccedilalves Pereira Interpretaccedilatildeo constitucional e direitos fundamentais Rio de Janeiro Renovar 2006 p 297-382
30Cf Chaiumlm Perelman Eacutetica e direito Traduccedilatildeo de Maria Ermantina Galvatildeo G Perira Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 p 361-684
Robert Alexy Teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica Op cit Friedrich Muller Discours de la Meacutethode Juridique Traduccedilatildeo de Olivier
Jouanjan Paris PUF 1993 Manuel Atienza Traacutes la Justicia Una Introduccioacuten al Derecho y al Razonamiento Juriacutedico Barcelona
Ariel 1995 Neil MacCormick Argumentaccedilatildeo juriacutedica e teoria do direito Traduccedilatildeo de Waldeacutea Barcellos Satildeo Paulo Martins Fontes
2006 Klaus Guumlnther Teoria da argumentaccedilatildeo no direito e na moral justificaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Claacuteudio Molz Satildeo Pau-
lo Landy 2004
31Cf Martin Shapiro Alec Stone Sweet On Law Politics and Judicialization New York Oxford University Press p 136-208
32Contudo deve-se admitir na linha de Paolo Comanducci que eacute possiacutevel reconhecer as mudanccedilas em questatildeo e propor novas
teorias que sejam adequadas a elas sem defendecirc-las Esta seria nas palavras do autor italiano a diferenccedila entre o neoconstitu-
cionalismo teoacuterico e o neoconstitucionalismo ideoloacutegico que natildeo apenas constroacutei teorias mais compatiacuteveis com os novos fenocirc-
menos mas vai aleacutem sustentando a sua legitimidade e propugnando pelo seu aprofundamento e expansatildeo Veja-se a propoacutesito
Paulo Comanducci Formas de neoconstitucionalismo Un anaacutelisis metateoacuterico In Miguel Carbonell (Ed) Neoconstitucionalis-
mo(s) Op cit p 75-98 Como reconhece o proacuteprio autor tal distinccedilatildeo baseia-se em uma semelhante acerca do positivismo
30
formulada por Norberto Bobbio que fala em positivismo teoacuterico ideoloacutegico e metodoloacutegico Cf Norberto Bobbio O positivismo
juriacutedico liccedilotildees de filosofia do direito Traduccedilatildeo e notas de Marcio Pugliesi et al Satildeo Paulo Iacutecone 1995 p 233-239
33Cf Ronald Dworkin Is Law a Sistem of Rules In Ronald Dworkin (Ed) Philosophy of Law Oxford Oxford University Press 1971
Robert Alexy Constitucionalismo discursivo Traduccedilatildeo de Luiz Afonso Heck Porto Alegre Livraria do Advogado 2007
34Cf Robert Alexy Derecho y Razoacuten Praacutectica Meacutexico Distribuiciones Fontamara 1993 Aulis Aarnio Lo Racional como Razonable
Traduccedilatildeo de Ernesto Garzoacuten Valdeacutes Madrid Centro de Estuacutedios Constitucionales 1991
35Cf Aharon Barak The Judge in a Democracy New Jersey Princeton University Press 2006 p 213-260 Gustavo Zagrebelsky Il
Diritto Mite Op cit p 179-217
36Confronte-se com perspectivas diferentes Luigi Ferrajoli O Estado de direito entre passado e futuro In Pietro Costa Danilo
Zolo (Org) Estado de direito histoacuteria teoria criacutetica Traduccedilatildeo de Carlo Alberto Dastoli Satildeo Paulo Martins Fontes 2006 p 419-
464 Elias Dias Estado de Derecho y Sociedad Democraacutetica Madrid Taurus 1998 Ronald Dworkin Introduction The Moral Reading
and the Majoritarian Premise In Freedoms Law The moral reading of the American Constitution Cambridge Harvard University
Press 1996 p 01-38 Gustavo Zagrebelsky La Crucifixioacuten y la Democracia Barcelona Ariel 1996 Claacuteudio Pereira de Souza Neto
Teoria constitucional da democracia deliberativa Op cit
37Cf Ronald Dworkin Introduction The Moral Reading and the Majoritarian Premise Op cit
38Cf Luigi Ferrajoli El Garantismo y la Filosofia del Derecho Bogotaacute Universidad Externado de Colocircmbia 2000
39Cf Luis Pietro Sanchis Sobre el Neoconstitucionalismo y sus Implicaciones In Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales
Op cit p 101-135
40Cf Ricardo Guastini Sur la Validiteacute de la Constitution du Point de Vue du Positivisme Juridique In Michel Troper Lucien Jaume
(Dir) 1789 et LInvention de la Constitution Paris LGDJ 1994 p 216-225
41Cf Suzana Pozzolo Neoconstituzionalismo e Positivismo Giuridico Torino Giapppicheli 2001
42Cf Ronald Dworkin Law and Morals In Justice in Robes Cambridge Harvard University Press 2006 p 01-35
43Cf Robert Alexy Derecho y Moral In La Institucionalizacioacuten de la Justicia Op cit p 17-30
44Cf Carlos Santiago Nino Eacutetica y Derechos Humanos 2 ed Buenos Aires Astrea 1989 p 11-48
45Cf Gustav Radbruch Cinco minutos de filosofia do direito In Filosofia do direito Traduccedilatildeo de L Cabral de Moncada 6 ed
Coimbra Armecircnio Amado 1979 p 414-418 Para uma densa problematizaccedilatildeo da foacutermula de Radbruch veja-se Thomas da Rosa
Bustamante Poacutes-Positivismo o argumento da injusticcedila aleacutem da Foacutermula de Radbruch In Teoria do direito e decisatildeo racional
temas de teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica Rio de Janeiro Renovar 2008
46Cf Robert Alexy La Institucionalizacioacuten de la Justicia Traduccedilatildeo de Joseacute Antonio Seone et al Granada Comares 2005 p 31-
54
47Sobre o tema cfr Alfonso Garcia Figueroa Princiacutepios e direitos fundamentais In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmen-
to A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 03-34
48O texto mais importante do positivismo inclusivo eacute o poacutes-escrito de Herbert LA Hart agrave sua obra magna The Concept of Law em
que ele responde agraves criacuteticas ao seu pensamento que Ronald Dworkin lhe endereccedilara O autor inglecircs faleceu antes de terminar o
texto mas ele foi publicado postumemente depois de ser editado por Joseph Raz Peneacutelope Bulloch Veja-se Herbert LA Hart
Poacutes-escrito In O conceito de direito Traduccedilatildeo de A Ribeiro Mendes 2 ed 1994 p 299-339 Tambeacutem na linha do positivismo
inclusivo veja-se Gregorio Peces- Barba Derechos Sociales y Positivismo Juriacutedico Escritos de Filosofia Poliacutetica y Juriacutedica Madrid
Dykinson 1999 p 83-90 Jules Coleman The Practice of Principle In defense of a pragmatist approach do legal theory Oxford
Oxford University Press p 103-120 Para uma resenha dos tipos de positivismo no debate contemporacircneo confira-se Dimitri Di-
moulis Positivismo juriacutedico introduccedilatildeo a uma teoria do direito e defesa do pragmatismo juriacutedico-politico Satildeo Paulo Meacutetodo
2006 p 65-166
49Cf Antonio Cavalcanti Maia Nos vinte anos da Constituiccedilatildeo do poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo Op cit Claacuteudio Perei-
ra de Souza Neto A teoria constitucional e seus lugares especiacuteficos notas sobre o aporte reconstrutivo Revista de Direito do
Estado n 1 p 89-104 jan mar 2006 Daniel Sarmento Interpretaccedilatildeo constitucional preacute-compreensatildeo e capacidades institu-
cionais do inteacuterprete In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binebojm Vinte anos da Constituiccedilatildeo de 1988
Op cit p 311-322
31
50Cf Juumlrgen Habermas Escritos sobre Moralidad y Eticidad Traduccedilatildeo de Manuel Jimenez Redondo Barcelona Paidoacutes 1991 p
131-172
51Sobre o comunitarismo haacute extensa literatura Dois textos claacutessicos deste linha de pensamento satildeo Michael Walzer The Communi-
tarian Critique of Liberalism In Politics and Passion New Haven Yale University Press 2004 p 141-163 Charles Taylor The
Procedural Republic and the Unencumbered Self In Robert Goodin Philip Pettit (Ed) Contemporary Political Philosophy 2 ed
Oxford Oxford University Press 2002 p 2462-256 Sobre a penetraccedilatildeo ainda que muitas vezes natildeo consciente das posiccedilotildees do
comunitarismo no constitucionalismo brasileiro veja-se Gisele Cittadino Pluralismo direito e justiccedila distributiva Op cit p
43-74
52Sobre o construtivismo eacutetico corrente filosoacutefica que sustenta a existecircncia de posiccedilotildees certas e erradas na Moral bem como a
possibilidade de encontraacute-las e fundamentaacute-las racionalmente veja-se Carlos Santiago Nino El Constructivismo Eacutetico Madrid
Centro de Estudios Constitucionales 1989
53O fenocircmeno tambeacutem se reproduz na teoria constitucional norte-americana hegemocircnica cf Keith Wittington Constitutional Con-
struction Divided Powers and Constitutional Meaning Cambridge Harvard University Press 1999 p 01-03
54A imagem do Poder Judiciaacuterio como um guardiatildeo de promessas eacute explorada e criticada numa obra importante da teoria juriacutedica
francesa contemporacircnea Antoine Garapon Le Gardien de Promesses Le juge et la democratie Paris Odile Jacob 1996
55Neste sentido o eloquumlente encerramento do Curso de Direito Constitucional Contemporacircneo de Luis Roberto Barroso o consti-
tucionalismo democraacutetico eacute a utopia que nos restou Uma feacute racional que ajuda a acreditar no bem e na justiccedila ainda quando natildeo
estejam ao alcance dos olhos (Op cit p 400)
56Cf Nico Poulantzas State Power Socialism London new Left Books 1978 Alan Hunt Marxist Theory of Law In Dennis Patter-
son (Ed) A Companion to Philosophy of Law and Legal Theory Malden Blackwell Publishers 1996 p 355-367
57Cf David Kairys (Ed) The Politics of Law A Progressive Critique New York Pantheon Books 1982 Roberto Mangabeira Unger
The Critical Legal Studies Movement Cambridge Harvard University Press 1986
58Cf Plauto Faraco Azevedo Criacutetica agrave dogmaacutetica e hermenecircutica juriacutedica Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1989 Luiz Fernando
Coelho Teoria criacutetica do direito 2 ed Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1991
59Natildeo haacute como abordar aqui as relaccedilotildees entre as inuacutemeras correntes do poacutes-modernismo e o Direito Constitucional Veja-se a
propoacutesito Niklas Luhman La Constituzione como Acquisizione Evolutiva In Gustavo Zagrebelsky Piacuteer Paolo Portinaro Joumlrg Lu-
ther Il Futuro della Costituzione Torino Einaudi 1996 p 83-128 Joseacute Joaquim Gomes Canotilho Civilizaccedilatildeo do direito constitu-
cional ou constitucionalizaccedilatildeo do direito civil a eficaacutecia dos direitos fundamentais na ordem juriacutedico-civil no contexto do direito
poacutes-moderno Cadernos de Direito Constitucional e Ciecircncia Poliacutetica n 15 p 07-16 1996 Eduardo Capellari A crise da moderni-
dade e a Constituiccedilatildeo Rio de janeiro Ameacuterica Juriacutedica 2004 Daniel Sarmento Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas 2 ed
Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 p 36-45
60Para Jean-Franccedilois Lyotard uma das caracteriacutesticas centrais do pensamento poacutes-moderno de que eacute expoente eacute a desconfianccedila
em relaccedilatildeo agraves metanarrativas - construccedilotildees abstratas grandiosas e totalizadoras tiacutepicas da Filosofia Moderna como direitos
humanos luta de classes e emancipaccedilatildeo pelo uso da razatildeo Cf Lyotard A condiccedilatildeo poacutes-moderna Traduccedilatildeo de Ricardo Correcirca
Barbosa 5 ed 1998 p16
61Cf Luiz Werneck Viana O terceiro poder na carta de 1988 e a tradiccedilatildeo republicana mudanccedila e conservaccedilatildeo In Ruben George
Oliven Marcelo Gildo Marccedilal Branda A Constituiccedilatildeo de 1988 na vida brasileira Satildeo Paulo Aderaldo e Rotshild 2008 p 91-109
62Cf Paulo Ricardo Schier Filtragem constitucional Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1999
63A expressatildeo foi cunhada por Claacuteudio Pereira de Souza Neto Fundamento e normatividade dos direitos fundamentais uma recons-
truccedilatildeo teoacuterica agrave luz do princiacutepio democraacutetico Arquivos de Direitos Humanos n 4 p 17-61 2003
64Cf Luis Roberto Barroso O direito constitucional e a efetividade de suas normas 3 ed Rio de Janeiro Renovar 1996
65Cf Clegravemerson Merlin Clegraveve A teoria constitucional e o direito alternativo para uma dogmaacutetica constitucional emancipatoacuteria In
Uma vida dedicada ao direito homenagem a Carlos Henrique de Carvalho Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1995 p 34-53
66Ressalte-se poreacutem que antes de 88 alguns juristas jaacute defendiam a forccedila normativa da Constituiccedilatildeo como o Prof Joseacute Afonso da
Silva Eacute de 1968 a primeira ediccedilatildeo da sua obra claacutessica A aplicabilidade das normas constitucionais que adotava claramente esta
32
perspectiva Todavia pelo clima nada propiacutecio ao constitucionalismo que reinava por aqui ateacute a nossa redemocratizaccedilatildeo a louvaacute-
vel pregaccedilatildeo dele e de outros juristas em prol da efetivaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo natildeo chegou a render maiores frutos
67Deve-se assinalar ainda a influecircncia marcante do novo constitucionalismo ibeacuterico neste movimento que tambeacutem pugnava pela
atribuiccedilatildeo de forccedila normativa agraves ambiciosas constituiccedilotildees de Portugal e Espanha entatildeo recentemente elaboradas apoacutes o fim de
experiecircncias autoritaacuterias naqueles paiacuteses A tiacutetulo de exemplo mencione-se a penetraccedilatildeo no paiacutes do pensamento do Professor de
Coimbra Joseacute Joaquim Gomes Canotilho especialmente da sua teoria sobre a Constituiccedilatildeo dirigente que ele posteriormente reviu
(cf J J Gomes Canotilho Constituiccedilatildeo dirigente e vinculaccedilatildeo ao legislador contributo para a compreensatildeo das normas constitu-
cionais programaacuteticas 2 ed Coimbra Coimbra 2001 - especialmente o prefaacutecio desta segunda ediccedilatildeo que daacute conta da mudanccedila
de posicionamento) bem como a difusatildeo das liccedilotildees do Professor Eduardo Garciacutea de Enterriacutea (cf La Constitucioacuten como Norma y el
Tribunal Constitucional Madrid Civitas 1981)
68Segundo a avaliaccedilatildeo atual de Luis Roberto Barroso personagem central do movimento o positivismo constitucional que deu
impulso ao movimento natildeo importava em reduzir o direito agrave norma mas sim em elevaacute-la a esta condiccedilatildeo pois ateacute entatildeo ele
havia sido menos do que norma (Curso de direito constitucional contemporacircneo Op cit p 224)
69Paulo Bonavides Curso de direito constitucional 5 ed Satildeo Paulo Malheiros 1994
70Eros Roberto Grau A ordem econocircmica na Constituiccedilatildeo de 88 interpretaccedilatildeo e criacutetica Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1996
71No acircmbito da Poacutes-Graduccedilatildeo em Direito da UERJ em que estou inserido desde 1997 primeiro como aluno e a partir de 2003 como
professor o Ricardo Lobo Torres teve papel central na difusatildeo do pensamento destes e de outros filoacutesofos entre os estudantes e o
proacuteprio corpo docente
72Cf Lecircnio Luiz Streck Hermenecircutica juriacutedica e(m) crise Op cit Eros Roberto Grau Ensaio e discurso sobre a interpreta-
ccedilatildeoaplicaccedilatildeo do direito Satildeo Paulo Malheiros 2002
73Nesta linha veja-se as obras que compotildeem a coletacircnea Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Direitos sociais funda-
mentos judicializaccedilatildeo e direitos sociais em espeacutecie Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 Ricardo Lobo Torres O miacutenimo existencial
e os direitos fundamentais Revista de Direito Administrativo n 177 p 20-49 1989 Ingo Wolfgang Sarlet A eficaacutecia dos direitos
fundamentais 9 ed Porto Alegre Livraria do Advogado 2008 Ana Paula de Barcellos A eficaacutecia juriacutedica dos princiacutepios o princiacute-
pio da dignidade da pessoa humana Op cit Marco Mazzeli Gouveia O controle judicial das omissotildees administrativas Rio de
Janeiro Forense 2003 Andreacuteas Krell Direitos sociais e controle judicial no Brasil e Alemanha os (des)caminhos de um direito
constitucional comparado Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2002
74Cf Gustavo Tepedino Temas de direito civil Rio de Janeiro Renovar 1999 Luiz Edson Fachin Estatuto juriacutedico do patrimocircnio
miacutenimo Rio de Janeiro Renovar 2001 Maria Celina Bodin de Moraes Danos agrave pessoa humana uma leitura civil-constitucional dos
danos morais Rio de Janeiro Renovar 2003 Teresa Negreiros Fundamentos para uma interpretaccedilatildeo constitucional do princiacutepio
da boa-feacute Rio de Janeiro Renovar 1998 Anderson Schreiber A proibiccedilatildeo do comportamento contraditoacuterio Rio de Janeiro Reno-
var 2005
75Cf Luciano Feldens A Constituiccedilatildeo penal a dupla face da proporcionalidade no controle das lei penais Porto Alegre Livraria do
Advogado 2005 Luis Carlos dos Santos Gonccedilalves Mandados expressos de criminalizaccedilatildeo e a proteccedilatildeo de direitos fundamentais na
Constituiccedilatildeo Brasileira de 1988 Belo Horizonte Foacuterum 2007
76Cf Gustavo Binenbojm Uma teoria do direito administrativo direitos fundamentais democracia e constitucionalizaccedilatildeo Rio de
Janeiro Renovar 2006 Alexandre dos Santos Aragatildeo Floriano de Azevedo Marques (Coord) Direito administrativo e seus novos
paradigmas Belo Horizonte Foacuterum 2008
77Cf Gustavo Binenbojm A nova jurisdiccedilatildeo constitucional brasileira legitimidade democraacutetica e instumentos de realizaccedilatildeo Rio de
Janeiro Renovar 2001 Claacuteudio Pereira de Souza Neto Jurisdiccedilatildeo constitucional democracia e racionalidade praacutetica Rio de
Janeiro Renovar 2002 Joseacute Adeacutercio Leite Sampaio A Constituiccedilatildeo reinventada pela jurisdiccedilatildeo constitucional Belo Horizonte Del
Rey 2002 Lecircnio Luiz Streck Jurisdiccedilatildeo constitucional e hermenecircutica Porto Alegre Livraria do Advogado 2002 Aacutelvaro Ricardo
de Souza Cruz Jurisdiccedilatildeo constitucional democraacutetica Belo Horizonte Del Rey 2004
78A expressatildeo dificuldade contramajoritaacuteria eacute de um claacutessico da teoria constitucional norte-americana Alexander Bickel La Cons-
titucioacuten como Norma y el Tribunal Constitucional 2 ed New Haven Yale University Press 1986
33
79Em siacutentese apertada o procedimentalismo sustenta que natildeo eacute papel da jurisdiccedilatildeo constitucional tutelar valores substantivos mas
apenas proteger os pressupostos necessaacuterios ao bom funcionamento da democracia Jaacute o substancialismo reconhece a legitimidade
da atuaccedilatildeo jurisdicional em favor da garantia e promoccedilatildeo de valores substantivos presentes na Constituiccedilatildeo O debate entre o
procedimentalismo identificado com as ideacuteias de autores como John Hart Ely e Juumlrgen Habermas e o substancialismo defendido
por teoacutericos como Ronald Dworkin e Laurence Tribe eacute reproduzido em praticamente toda a literatura contemporacircnea que trata de
Teoria ou Filosofia Constitucional Veja-se a propoacutesito a densa obra de Claacuteudio Ari Mello Democracia constitucional e direitos
fundamentais Porto Alegre Livraria do Advogado 2004
80Neoconstitucionalismo e constitucionalizaccedilatildeo do direito o triunfo tardio do direito constitucional no Brasil Op cit
81A crise paradigmaacutetica do direito no contexto da resistecircncia positivista ao (neo)constitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza
Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm Vinte anos da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Op cit p 203-228
82Nos vinte anos da carta cidadatilde do poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo Op cit
83Neoconstitucionalismo direitos fundamentais e controle de poliacuteticas puacuteblicas In Daniel Sarmento Flaacutevio Galdino (Org) Direitos
fundamentais estudos em homenagem ao prof Ricardo Lobo Torres Rio de Janeiro Renovar 2006 p 31-60
84Direitos humanos legitimidade e constitucionalismo In Daniel Sarmento Flaacutevio Galdino (Org) Direitos fundamentais estudos
em homenagem ao Prof Ricardo Lobo Torres Op cit p325-350
85Novos desafios agrave filtragem constitucional no momento do neoconstitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sar-
mento A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 251-270
86Neoconstitucionalismo a invasatildeo da Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Meacutetodo 2008
87Neoconstitucionalismo e positivismo juriacutedico Satildeo Paulo Landy 2006
88Teoria do direito e argumentaccedilatildeo racional temas de teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica op cit p 141-240
89Uma visatildeo criacutetica do neoconstitucionalismo In George Salomatildeo Leite Glauco Salomatildeo Leite Constituiccedilatildeo e efetividade constitu-
cional Salvador JusPodium 2008 p 43-60
90Neoconstitucionalismo entre a Ciecircncia do direito e o direito da ciecircncia In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento
Gustavo Binenbojm Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 p 187-202
91Cf Peticcedilatildeo 1246 MSSC julgada em 31011997 (obrigaccedilatildeo do Estado de realizar transplante de ceacutelulas mioblaacutesticas para salvar
a vida de crianccedila) Agravo de Instrumento no Recurso Extraordinaacuterio 271286RS DJU 24 nov 2000 (entrega de medicamentos
para portadores de HIV) e Agravo de Instrumento do Recurso Extraordinaacuterio nordm 410715-5 julgado em 22112005 (obrigaccedilatildeo de
fornecimento de vagas para educaccedilatildeo infantil pelo municiacutepio com atendimento em creches e preacute-escola)
92Recursos Extraordinaacuterios nordms 158215-4RS 161243-6DF 201819RJ
93Cf Mandado de Injunccedilatildeo 670ES Rel Min Gilmar Mendes julgado em 25102007 em que o STF revendo orientaccedilatildeo anterior
deu eficaacutecia normativa agrave sentenccedila proferida no mandado de injunccedilatildeo No caso decidiuse que ateacute o advento de lei regulamentado-
ra sobre a greve no serviccedilo puacuteblico o direito de greve poderia ser exercido obedecendo-se os limites impostos pela Lei 778389
que trata dos movimentos paredistas em serviccedilos essenciais no setor privado
94Sobre a tendecircncia agrave superaccedilatildeo da ideacuteia do Judiciaacuterio como legislador negativo na jurisdiccedilatildeo constitucional veja-se Joseacute Adeacutercio
Leite Sampaio A Constituiccedilatildeo reinventada pela jurisdiccedilatildeo constitucional Belo Horizonte Del Rey 2002 p 203-248
95Eacute lugar-comum dentre os autores que tratam da questatildeo associar tais mudanccedilas agrave pluralizaccedilatildeo das vozes na interpretaccedilatildeo consti-
tucional tema em que a referecircncia essencial no cenaacuterio germacircnico eacute Peter Haumlberle Veja-se a propoacutesito Peter Haumlberle Herme-
necircutica constitucional A sociedade aberta dos inteacuterpretes da Constituiccedilatildeo contribuiccedilatildeo para a interpretaccedilatildeo pluralista e procedi-
mental da Constituiccedilatildeo Traduccedilatildeo de Gilmar Ferreira Mendes Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1997 Veja-se ainda na doutrina
brasileira Gustavo Binenbojm A dimensatildeo do Amicus Curiae no processo constitucional brasileiro In Temas de direito constitu-
cional e administrativo Rio de Janeiro Renovar 2008 p 165-190
96ADIN 3510DF Relator Ministro Carlos Ayres Britto A accedilatildeo proposta contra o art 5ordm da Lei de Biosseguranccedila impugnava a auto-
rizaccedilatildeo de pesquisas com embriotildees humanos resultantes de fertilizaccedilatildeo in vitro que fossem inviaacuteveis ou estivessem congelados haacute
mais de trecircs anos A accedilatildeo foi julgada totalmente improcedente por 6 votos a 5
97ADPF nordm 54 A accedilatildeo que tem como relator o Ministro Marco Aureacutelio ainda natildeo foi julgada mas em seu bojo jaacute ocorreram diversas
audiecircncias puacuteblicas que provocaram intensa participaccedilatildeo da sociedade civil e grande interesse na miacutedia
34
98ADPF nordm 132 Relator Ministro Carlos Ayres Britto A accedilatildeo ainda foi julgada
99Mandados de Seguranccedila 26602DF 26603DF e 26604DF Informativo STF n 482
100Recurso Extraordinaacuterio 197917SP Rel p acoacuterdatildeo Min Ceacutesar Peluso DJU 18 fev 2005
101O livro de Alberto Carlos Almeida A cabeccedila do brasileiro lanccedilado em 2007 conteacutem pesquisas feitas sobre uma acuteseacuterie de temas
com pessoas de todas as classes sociais e regiotildees do paiacutes Uma das pesquisas eacute relativa agrave avaliaccedilatildeo das instituiccedilotildees Dentre as treze
avaliadas as duas que obtiveram menor aprovaccedilatildeo foram os partidos poliacuteticos (avaliaccedilatildeo positiva de 28 dos entrevistados) e o
Congresso (avaliaccedilatildeo positiva de 36 dos entrevistados) Cf Antonio Carlos Almeida A cabeccedila do brasileiro Rio de Janeiro Re-
cord 2007 p 187
102Cf Luis Roberto Barroso Judicializaccedilatildeo ativismo judicial e legitimidade democraacutetica Texto ainda ineacutedito gentilmente cedido
pelo autor
103Humberto Aacutevila por exemplo formula outra criacutetica importante de que o neoconstitucionalismo seria inadequado agrave realidade
constitucional brasileira jaacute que privilegia os princiacutepios e a Carta de 88 seria muito mais regulatoacuteria do que principioloacutegica (Neo-
constitucionalismo entre a ciecircncia do direito e o direito da ciecircncia Op cit p 188-192)
104Contudo natildeo eacute razoaacutevel estender esta criacutetica ao ponto de negar o caraacuteter democraacutetico da atuaccedilatildeo judicial Como ressaltou
Eugenio Rauacutel Zaffaroni uma instituiccedilatildeo natildeo eacute democraacutetica unicamente porque natildeo provenha de eleiccedilatildeo popular porque nem tudo
o que proveacutem desta origem eacute necessariamente aristocraacutetico Uma instituiccedilatildeo eacute democraacutetica quando seja funcional para o sistema
democraacutetico quer dizer quando seja necessaacuteria para a sua continuidade como ocorre com o judiciaacuterio (Poder judiciaacuterio crise
acertos e desacertos Traduccedilatildeo de Juarez Tavares Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1995 p 43)
105Cf Robert A Dahl Sobre a democracia Traduccedilatildeo de Beatriz Sidou Brasiacutelia UNB 2001 p 97-113 Juumlrgen Habermas Popular
Sovereignity as Procedure In James Bonham William Rehg Deliberative Democracy Cambridge The MIT Press 1997 p 35-66
106A questatildeo da tensatildeo e sinergia simultacircneas entre constitucionalismo e democracia eacute um dos debates mais fecundos da Teoria
Poliacutetica e da Filosofia Constitucional que tem atravessado o tempo desde o advento do constitucionalismo moderno no seacuteculo
XVIII Veja-se no debate contemporacircneo Jeremy Waldron Preocommitment and Disagreement In Larry Alexander Constitu-
cionalism Philosophical Foundations Cambridge Cambridge University Press 1998 p 271-299 Juumlrgen Habermas O Estado demo-
craacutetico de direito uma amarraccedilatildeo paradoxal de princiacutepios contraditoacuterios In Era das transiccedilotildees Traduccedilatildeo de Flaacutevio Beno Siebe-
neichler Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 2003 p 153-173 Carlos Santiago Nino La Constitucioacuten de la Democracia Deliberativa
Op cit Frank Michelman Brennan and Democracy Princeton Princeton University Press 1999 p 03-62 Stephen Holmes El
Precompromiso y la Paradoja de la Democracia In Jon Elster Rune Slagstad Constitucionalismo y Democracia Traduccedilatildeo de Mocircni-
ca Utrilla de Neira Mexico Fondo de Cultura Econocircmica 1999 p 217-262
107O problema da limitaccedilatildeo do legislador atual pelas decisotildees do constituinte adotadas no passado envolve a problemaacutetica da
partilha intergeracional de poder bem explicitada na fala de Jefferson que defendia que a cada 19 anos deveria ser elaborada
uma nova Constituiccedilatildeo nos Estados Unidos para que a Lei Maior daquele paiacutes natildeo se tornasse um mecanismo de governo dos mor-
tos sobre os vivos Em siacutentese apertada haacute na teoria poliacutetica contemporacircnea duas linhas principais de justificativa para a legiti-
midade destas restriccedilotildees
Uma eacute a teoria da democracia dualista defendida por Bruce Ackerman que sustenta que as decisotildees adotadas pelo proacuteprio povo
em contextos de grande mobilizaccedilatildeo ciacutevica devem ser protegidas do alcance da vontade dos representantes do povo formada em
momentos em que a cidadania natildeo esteja intensamente envolvida Esta teoria distingue a poliacutetica extraordinaacuteria correspondente
agravequeles momentos constitucionais da poliacutetica ordinaacuteria que se realiza atraveacutes das deliberaccedilotildees do dia a dia dos oacutergatildeos represen-
tativos Para a perspectiva ackermaniana a poliacutetica extraordinaacuteria - que natildeo exige necessariamente formalizaccedilatildeo procedimental
atraveacutes de assembleacuteia constituinte ou de emenda constitucional - se situa em patamar superior agrave poliacutetica ordinaacuteria e pode legiti-
mamente impor limites a esta (cf Bruce Ackerman We the people Foundations Cambridge The Belknap Press 1991 p 03-33)
Outra teoria eacute a do preacute-compromisso que jaacute foi advogada por Jon Elster Segundo ela eacute legiacutetimo subtrair do alcance das maiorias
determinadas questotildees fundamentais que expressam princiacutepios fundamentais de justiccedila poliacutetica ou garantam os pressupostos da
proacutepria democracia tendo em vista o risco de que no processo poliacutetico majoritaacuterio em momentos de irracionalidade o povo
35
possa ser viacutetima de suas proacuteprias fraquezas ou paixotildees momentacircneas atentando contra tais princiacutepios (cf Ulisses and Sirens
Cambridge Cambridge University Press 1979)
Ambas as concepccedilotildees - a primeira mais proacutexima ao republicanismo e a segunda de vieacutes mais liberal - tecircm a sua dose de procedecircn-
cia mas ensejam criacuteticas importantes Todavia foge a escopo do presente trabalho analisar esta questatildeo que eacute uma das mais
complexas da Filosofia Poliacutetica moderna e contemporacircnea Para uma visatildeo geral sobre o tema na literatura em liacutengua portuguesa
veja-se Oscar Vilhena Vieira A Constituiccedilatildeo e sua reserva de justiccedila Op cit Miguel Nogueira de Brito A Constituiccedilatildeo constituin-
te ensaio sobre o poder de revisatildeo da Constituiccedilatildeo Coimbra Coimbra 2000 Samantha Chantal Dobrowolski Op cit p 265-312
Rodrigo Brandatildeo Direitos fundamentais democracia e claacuteusulas peacutetreas Rio de Janeiro Renovar 2008 p 59-112
108Cf Michel Troper Justice Constitutionelle et Deacutemocratie In Pour une Theorie Juridique de LEacutetat Paris PUF 1994 p 317-328
Claacuteudio Pereira de Souza Neto Jurisdiccedilatildeo constitucional democracia e racionalidade praacutetica Op cit p 106-130 Gustavo Binen-
bojm A nova jurisdiccedilatildeo constitucional brasileira Op cit p 55-74
109Sobre o modelo revolucionaacuterio francecircs de constitucionalismo completamente avesso agrave ideacuteia de jurisdiccedilatildeo constitucional cf
Maurizio Fioravanti Constitucioacuten de la antiguumledad a nuestros dias Traduccedilatildeo de Manuel Martinez Neira Madrid Trotta 2001 p
120-132
110Cf Carl Schmitt La Defesa de la Constitucioacuten Madrid Tecnos 1983
111O constitucionalismo popular ou populismo constitucional eacute uma importante corrente no debate constitucional norte-americano
contemporacircneo que nega a legitimidade democraacutetica do controle de constitucionalidade advogando que deve caber ao proacuteprio
povo e natildeo a uma elite de juiacutezes natildeo eleitos com assento na Suprema Corte o poder de definir o sentido das claacuteusulas vagas que
abundam no texto constitucional daquele paiacutes Na defesa desta tese satildeo empregados tanto argumentos de teoria e filosofia poliacuteti-
ca de caraacuteter mais universal como razotildees histoacutericas relacionadas agrave evoluccedilatildeo do constitucionalismo estadunidense Veja-se nesta
linha Mark Tushnet Taking the Constitution Away from the Courts Princeton Princeton University Press 1999 Jeremy Waldron
Precommitment and Disagreement Op cit Larry D Kramer The People Themselves Popular constitutionalism and judicial re-
view New York Oxford University Press 1994
Ateacute algumas deacutecadas atraacutes a oposiccedilatildeo agrave jurisdiccedilatildeo constitucional nos Estados Unidos partia em regra da Direita que natildeo se con-
formava com a jurisprudecircncia extremamente liberal em mateacuteria de direitos fundamentais estabelecida pela Corte entre os anos
50 e 70 Atualmente uma boa parte dos opositores agrave judicial review situa-se agrave esquerda do espectro poliacutetico e talvez a nova linha
profundamente conservadora daquele Tribunal ajude a explicar esta mudanccedila
112Sobre a Era de Lochner veja-se Laurence H Tribe American Constitutional Law 2 ed Mineola The Foundation Press 1988 p
567-581 Paul Brest et al Processes of Constitucional Decisionmaking 4 ed New York Aspen Publishers 2000 p 337-354
113Towards Juristocracy hellip Op cit
114Tratei do tema no artigo Direito adquirido emenda constitucional democracia e justiccedila social In Livres e iguais Op cit p
03-32
115Cf Charles R Epp The Rights Revolution Chicago The University of Chicago Press 1998 p 26-70 Owen Fiss The Law as It
Could Be New York New York University Press 2003 p 244-249
116A importacircncia e as peculiaridades da interpretaccedilatildeo legislativa da Constituiccedilatildeo satildeo exploradas em importante obra coletiva
Richard W Bauman Tsvi Kahana The Least Examined Branch The Role of Legislatures in the Constitutional State Cambridge
Cambridge University Press 2006
117Cf em tom ainda mais ceacutetico do que o adotado neste estudo Martonio MontAlverne Barreto Lima Jurisdiccedilatildeo Constitucional
um problema da teoria da democracia poliacutetica In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Gilberto Bercovici Joseacute Filomeno de Moraes
Filho Martonio MontAlverne Teoria da Constituiccedilatildeo estudos sobre o lugar da poliacutetica no direito constitucional Rio de Janeiro
Lumen Juris 2003 p 199-261 Conrado Huumlbner Mendes Controle de constitucionalidade e democracia Rio de Janeiro Elsevier
2008
36
118Para criacutetica semelhante no contexto germacircnico veja-se Ingeborg Maus O judiciaacuterio como superego da sociedade sobre o papel
da atividade jurisprudencial na sociedade oacuterfatilde Traduccedilatildeo de Martonio MontAlverne Barreto Lima Paulo Antonio Menezes de Albu-
querque Anuaacuterio dos Cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito da Faculdade de Direito de Recife n 11 2000
119Eu aprofundo a anaacutelise deste ponto no meu artigo Interpretaccedilatildeo constitucional preacute-compreensatildeo e capacidades institucionais do
inteacuterprete In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm (Coord) Vinte anos da Constituiccedilatildeo Federal
de 1988 Op cit p 311-322 E a necessidade de optar por teoria de interpretaccedilatildeo que leve em consideraccedilatildeo as capacidades
institucionais reais dos juiacutezes comparando-as com as dos agentes de outras instituiccedilotildees eacute explorada no importante estudo de Cass
Sunstein Adrian Vermeulle Interpretations and Institutions Chicago Working Papers in Law amp Economics 2002 p 01-55 bem
como no livro de Adrian Vermeulle Judging under Uncertainty An Institutional Theory for Legal Interpretation Cambridge Har-
vard University Press 2006
120Dentre as honrosas exceccedilotildees mencione-se Luiacutes Roberto Barroso autor de importante artigo com sugestotildees para a reforma poliacuteti-
ca no paiacutes Reforma poliacutetica uma proposta de sistema de governo eleitoral e partidaacuterio para o Brasil Revista de Direito do Esta-
do n 3 p 287-360 jul set 2006
121Sobre o ethos judicial no Brasil veja-se a pesquisa de Maria Tereza Sadek Magistrados uma imagem em movimento Rio de
Janeiro FGV 2006
122Em sentido semelhante veja-se Michael J Perry The Constitution the Courts and Human Rights New Haven Yale University
Press 1982 p 91-145
123Neste ponto entendo que um standard importante que deveria ser adotado para controle de constitucionalidade eacute o de que
quanto maiores forem as credencias democraacuteticas de um ato normativo mais autocontido deve ser o Poder Judiciaacuterio ao avaliar a
sua constitucionalidade Na minha opiniatildeo estas credencias democraacuteticas devem ser aferidas tanto por criteacuterios qualitativos - eg
grau de participaccedilatildeo social no processo legislativo qualidade do processo deliberativo que a antecedeu - como por criteacuterios quanti-
tativos - percentual de votos favoraacuteveis agrave medida Em sentido semelhante veja-se Claacuteudio Ari Mello Democracia e direitos funda-
mentais Op cit p 298
124Em sentido proacuteximo apontam as liccedilotildees de Gustavo Binenbojm e Humberto Aacutevila O primeiro tratando do controle judicial dos
atos administrativos averbou que quanto maior for o grau de tecnicidade da mateacuteria objeto de decisatildeo por oacutergatildeos dotados de
expertise e experiecircncia menos intenso deve ser o grau de controle judicial (Uma teoria do direito administrativo Op cit p
236) Jaacute o segundo salientou que o acircmbito de controle pelo Judiciaacuterio deveraacute ser tanto menor quanto mais difiacutecil e teacutecnico for
o juiacutezo exigido para o tratamento da mateacuteria (Teoria dos princiacutepios Op cit p 126)
125Um exemplo extremado deste posicionamento estaacute na argumentaccedilatildeo adotada pelo STF no julgamento da ADIN 2797 Rel Min
Sepuacutelveda Pertence em que se reconheceu a inconstitucionalidade formal de lei que pretendia interpretar a Constituiccedilatildeo Para o
STF natildeo pode a lei ordinaacuteria pretender impor como seu objeto imediato uma interpretaccedilatildeo a Constituiccedilatildeo a questatildeo eacute de in-
constitucionalidade formal iacutensita a toda norma da gradaccedilatildeo inferior que se proponha a ditar interpretaccedilatildeo de norma superior
Na questatildeo de fundo abordada naquele caso entendo que o STF estava certo Tratava-se de invalidar uma norma legal que esten-
dera o foro de prerrogativa de funccedilatildeo a ex-ocupantes de cargos puacuteblicos visando a restaurar antiga jurisprudecircncia do STF sedi-
mentada na Suacutemula 394 do Tribunal que acabara de ser cancelada O princiacutepio republicano natildeo era compatiacutevel com tal medida
que configurava niacutetido privileacutegio O que me parece inaceitaacutevel e profundamente anti-democraacutetico com a devida vecircnia natildeo eacute o
resultado alcanccedilado pela Corte - com o qual concordo - mas o argumento empregado de que o legislador natildeo pode interpretar a
Constituiccedilatildeo
126Existe hoje uma fecunda produccedilatildeo acadecircmica no cenaacuterio anglo-saxatildeo sobre as vantagens de modelos teoacutericos que favoreccedilam
diaacutelogos entre diversos oacutergatildeos e instituiccedilotildees na interpretaccedilatildeo constitucional ao inveacutes de afirmarem a exclusividade ou mesmo a
supremacia do Judiciaacuterio nesta seara Veja-se a propoacutesito Laurence G Sager Justice in Plainclothes A Theory of American Con-
stitutional Practice New haven Yale University Press 2004 Mark Tushnet Weak Courts Strong Rights Judicial Review and Social
Welfare Rights in Comparative Constitutional Law Princeton Princeton University Press 2008 Mark C Miller Jeb Barnes (Ed)
Making Police Making Law An Interbranch Perspective Washington DC Georgetown University Press 2004
37
127Colhi o exemplo no estudo de Oscar Vilhena Vieira Supremocracia In Daniel Sarmento (Org) Filosofia e teoria constitucional
contemporacircnea Rio de Janeiro Lumen Juris 2009
128Como um natildeo-positivista tenho a necessaacuteria imparcialidade para criticar os equiacutevocos da doutrina brasileira nas suas invectivas
contra o positivismo que muitas vezes caracterizam verdadeira falaacutecia do espantalho ataca-se natildeo a proacutepria teoria positivista
mas uma distorcida caricatura dela Duas afirmaccedilotildees erradas que eu mesmo jaacute fiz em textos anteriores satildeo muito frequumlentes a
de que o positivismo recusa a aplicaccedilatildeo dos princiacutepios juriacutedicos e a de que ele teria sido a Filosofia do Direito cultivada na Alema-
nha nazista
Quanto ao primeiro ponto natildeo haacute nenhuma incompatibilidade loacutegica entre positivismo e princiacutepios desde que os princiacutepios este-
jam devidamente incorporados na ordem juriacutedico-positiva Vaacuterios autores positivistas contemporacircneos jaacute citados neste estudo
como Luis Prietro Sanchiacutes Luigi Ferrajoli e Gregorio Peces-Barba atribuiacuteram espaccedilo importante para princiacutepios nas suas teorias
Mesmo no Direito Puacuteblico brasileiro juristas de inspiraccedilatildeo positivista kelseniana construiacuteram suas teorias com apoio em argumen-
taccedilatildeo principioloacutegica como o falecido Geraldo Ataliba e Celso Antonio Bandeira de Mello
No que tange ao segundo ponto - a chamada redutio ad hitlerum - os estudos mais autorizados de Histoacuteria do Direito comprovam
que natildeo foi o positivismo a teoria juriacutedica dominante no nazismo mas uma espeacutecie de jusnaturalismo de inspiraccedilatildeo hegeliana que
se insurgia contra o formalismo e recorria com frequumlecircncia a conceitos muito vagos para justificar a barbaacuterie como os de comuni-
dade popular (Volksgemeinschaft) Veja-se a propoacutesito Michael Stolleis The Law under the Swastika Studies on Legal History in
Nazi Germany Traduccedilatildeo de Thomas Dunlap Chicago The University of Chicago Press 1998
129Cf Joseacute Joaquim Gomes Canotilho Direito constitucional e Teoria da Constituiccedilatildeo Coimbra Almedina 1998 p 1036
130Sobre a importacircncia das regras veja-se Frederick Schauer Playing by the Rules A Philosophical Exaxamination of Rule-Bases
Decision-Making in Law and Life Oxford Oxford University Press 1998 Humberto Aacutevila Neoconstitucionalismo entre a ciecircncia do
direito e o direito da ciecircncia Op cit Noel Struchiner Posturas institucionais e modelagem institucional a dignidade (contingente)
do formalismo juriacutedico In Daniel Sarmento Filosofia e teoria constitucional contemporacircnea Op cit
131Esta eacute expressatildeo empregada por Ana Paula de Barcellos O direito constitucional em 2006 Revista de Direito do Estado n 5 p
03-23 janmar 2007
132Cf Chaiumlm Perelman P Fories La Motivation des Deacutecisions de Justice Bruxelas Eacutemile Bruylant 1978
133Sobra a influecircncia do jeitinho no Direito brasileiro cf Keith Rosen O jeito na cultura juriacutedica brasileira Rio de Janeiro Reno-
var 1997
134Sobre o patrimonialismo no Brasil veja-se Raimundo Faoro Os donos do poder 8 ed Rio de Janeiro Globo 1989 v 2 p 729-
750
135Raiacutezes do Brasil 26 ed Satildeo Paulo Companhia das Letras 1995
136Cf Joseacute Murilo de Carvalho Brasileiro Cidadatildeo In Pontos e bordados escritos de histoacuteria e poliacutetica Belo Horizonte Ed
UFMG 2005 p 275-288
137Cf Gustavo Zagrebelsky Il Diritto Mite Op cit p 15-19
138Cf Marcelo Neves A constitucionalizaccedilatildeo simboacutelica Satildeo Paulo Acadecircmica 1994
139A obra de Niklas Luhman eacute vasta e complexa e seus textos satildeo de difiacutecil compreensatildeo para os natildeo iniciados Veja-se do proacuteprio
autor Sociologia do direito I e II Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 1983 e 1985 Sistema Jurididico y Dogmaacutetica Juriacutedica Madrid
Centro de Estuacutedios Constitucionales 1983 Confira-se tambeacutem a coletacircnea organizada por Andreacute-Jean Arnaud Dalmir Lopes Jr Do
sistema social agrave sociologia juriacutedica Rio de Janeiro Lumen Juris 2004
140Sobre a autopoieses do Direito veja-se tambeacutem a obra importante de Guumlnther Teubner O direito como sistema autopoieacutetico
Traduccedilatildeo de Joseacute Engracia Nunes Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1993
141Cf Luis Roberto Barroso Neoconstitucionalismo e a constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit
142Esta era basicamente a visatildeo de Hans Kelsen (Cf Hans Kelsen Jurisdiccedilatildeo constitucional Traduccedilatildeo de Alexandre Krug et al Satildeo
Paulo Martins Fontes 2003 p 153) Para uma anaacutelise criacutetica desta posiccedilatildeo veja-se Luis Prietro Sanchiacutes Presupuestos ideoloacutegicos
y doctrinales de la jurisdicioacuten constitucional In Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales Op cit p 21-100
38
143Cf Christian Starck La suprematie La Suprematie de la Constitution et la Justice Constitutionnelle In La Constitution Cadre et
Mesure du Droit Traduccedilatildeo de Freacutederic Weill Paris Econocircmica 1994 p 26-30 Ernst- Wolfgang Boumlckenfoumlrde Les meacutethodes
dinterpretation de la Constitution Un bilan critique In Le Droit lEacutetat et la Constitution Democratique Traduccedilatildeo de Olivier
Jouanjan Paris LGDJ 2000 p 249-250 Virgiacutelio Afonso da Silva Constitucionalizaccedilatildeo do direito os direitos fundamentais nas
relaccedilotildees entre particulares Satildeo Paulo Malheiros 2005 p 107-131 Daniel Sarmento Ubiquumlidade constitucional os dois lados da
moeda Op cit Luis Roberto Barroso Curso de Direito Constitucional Contemporacircneo Op cit p 391-394 Alceu Mauriacutecio Jr
Judicializaccedilatildeo da poliacutetica e a crise do direito constitucional a Constituiccedilatildeo entre ordem marco e ordem fundamenta Revista de
Direito do Estado n 10 p 125-142 abrjun 2008
144Der Staat der Industriegesellshaft 2 ed Muumlnchen Beck 1971 p 144 Apud Robert Alexy Posfaacutecio In Teoria dos direitos
fundamentais Op cit p 578
145De acordo com Carlos Santiago Nino o perfeccionaismo eacute la concepcioacuten seguacuten la cual es una misioacuten legiacutetima del Estado hacer
que los individuos acepten y materializen ideales vaacutelidos de virtud personal Seguacuten este enfoque el Estado no puede permanecer
neutral respecto de concepciones de lo bueno en la vida y debe adoptar las medidas educativas punitorias etc que sean necesa-
rias para que los indiviacuteduos ajusten su vida a los verdaderos ideales de virtud y del bien (Eacutetica y Derechos Humanos Un ensayo de
fundamentacioacuten 2 ed Buenos Aires Astrea 1989 p 413)
146Daniel Sarmento Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas 2 ed Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 Sobre o tema na literatura
nacional veja-se tambeacutem Wilson Antocircnio Steinmetz A vinculaccedilatildeo dos particulares aos direitos fundamentais Satildeo Paulo Malheiros
2004 Virgiacutelio Afonso da Silva Constitucionalizaccedilatildeo do direito os direitos fundamentais nas relaccedilotildees entre particulares Op cit
Ingo Wolfgang Sarlet Direitos fundamentais e direito privado algumas consideraccedilotildees em torno da vinculaccedilatildeo dos particulares aos
direitos fundamentais In Ingo Wolfgang Sarlet (Org) A Constituiccedilatildeo concretizada Porto Alegre Livraria do Advogado 1999 p
129-173 Jane Reis Gonccedilalves Pereira Apontamentos sobre a aplicaccedilatildeo das normas de direito fundamental nas relaccedilotildees juriacutedicas
entre particulares In Luis Roberto Barroso (Org) A nova interpretaccedilatildeo constitucional ponderaccedilatildeo direitos fundamentais e
relaccedilotildees privadas Rio de Janeiro Renovar 2003 p 119-192
147Sobre a questatildeo da (i)legitimidade do perfeccionismo no Direito veja-se Joel Feinberg Rights Justice and the Bounds of Liber-
ty Princeton Princeton University Press 1980 Carlos Santiago Nino Eacutetica y Derechos Humanos Op cit p 413-446 Rainer Forst
Contexts of Justice Political Philosophy beyond Liberalism and Communitarianism Traduccedilatildeo de John M M Farrel Berkeley Uni-
versity of Califoacuternia Press 2001 p 30-87 Macaacuterio Alemany El Paternalismo Juriacutedico Madrid Iustel 2006
148Um sofisticado modelo que busca conciliar a constitucionalizaccedilatildeo do Direito com a democracia estaacute exposto no Poacutesfaacutecio agrave Teo-
ria dos Direitos Fundamentais de Robert Alexy acima citado Veja-se ainda Konrad Hesse Concepto y Cualidad de la Constitu-
cion In Escritos de Derecho Constitucional Traduccedilatildeo de Pedro Cruz Villaloacuten 2 ed 1992 p 03-29
149Tentei articular a minha teoria sobre eficaacutecia horizontal dos direitos fundamentais com este objetivo Cf Daniel Sarmento
Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas Op cit p 141-182 259-272
150Sobre el Neoconstitucionalismo y sus Implicaciones Op cit p 117
151Aqui entendo que o simples reconhecimento da penetraccedilatildeo da Moral no Direito preconizada pelos neoconstitucionalistas brasi-
leiros natildeo eacute suficiente jaacute que certas concepccedilotildees morais podem tornar o ordenamento ainda mais opressivo do que jaacute eacute Afinal
nem sempre a moralizaccedilatildeo do Direito se daacute na direccedilatildeo da emancipaccedilatildeo dos excluiacutedos Veja-se por exemplo a famosa polecircmica
jusfilosoacutefica entre Lord Patrick Devlin e Herbert Hart nos anos 60 na Inglaterra a propoacutesito do uso do Direito Penal para promoccedilatildeo
de Moral em que o primeiro a partir de uma posiccedilatildeo proacute-moral sustentava a legitimidade da criminalizaccedilatildeo da conduta homos-
sexual que o segundo contestava (Cf Lord Patrick Devlin Morals and Criminal Law In Ronald Dworkin (Ed) The Philosophy of
Law Op cit p 66-82 Herbert Hart Immorality and Treason In Idem ibidem)
Eacute preciso assentar as bases criacuteticas desta Moral que deve penetrar o Direito para evitar que o moralismo conservador seja expulso
do ordenamento pela porta da frente superado pela legislaccedilatildeo moderna em razatildeo da progressiva liberalizaccedilatildeo da sociedade mas
volte pela porta dos fundos atraveacutes da argumentaccedilatildeo juriacutedica dos juiacutezes lastreada em conceitos vagos como ordem puacuteblica e
bons constumes ou em standards como o comportamento do bom pai de famiacutelia
39
26
Certamente uma visatildeo equilibrada da Teoria do Direito com tais caracteriacutesticas pode contribu-
ir para o aperfeiccediloamento do Estado Democraacutetico de Direito no Brasil O mesmo jaacute natildeo digo de
concepccedilotildees mais radicais do neoconstitucionalismo que podem ser muito boas para arrancar
aplausos entusiasmados das plateacuteias nos seminaacuterios estudantis mas que natildeo se conciliam com
exigecircncias fundamentais de seguranccedila juriacutedica democracia e liberdade que satildeo alicerces de
qualquer bom constitucionalismo - novo ou velho
Curriacuteculo Resumido
Daniel Sarmento
Poacutes-Doutor pela Universidade de Yale (EUA) Procurador Regional da Repuacuteblica
Como citar este artigo
SARMENTO Daniel O neoconstitucionalismo no Brasil riscos e possibilidades Disponiacutevel em httpwwweditoraforumcombrsistconteudolista_conteudoaspFIDT_CONTEUDO=56993 acesso em 09032011 httpdireitoesubjetividadefileswordpresscom201008daniel-sarmento-o-neoconstitucionalismo-no-brasil1doc acesso em 30062012 Material da 1ordf aula da Disciplina Teoria Geral da Constituiccedilatildeo (I) ministrada no Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo Online em Direito Constitucional ndash Anhanguera-UNIDERP | REDE LFG
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1Sobre a teoria de princiacutepios no Brasil veja-se dentre outros Ana Paula de Barcellos A eficaacutecia juriacutedica dos princiacutepios constitu-
cionais o princiacutepio da dignidade da pessoa humana Rio de Janeiro Renovar 2002 Humberto Bergman Aacutevila Teoria dos princiacute-
pios da definiccedilatildeo agrave aplicaccedilatildeo dos princiacutepios juriacutedicos 2 ed Satildeo Paulo RT 2005 Jane Reis Gonccedilalves Pereira Interpretaccedilatildeo
constitucional e direitos fundamentais uma contribuiccedilatildeo ao estudo das restriccedilotildees aos direitos fundamentais na perspectiva da
teoria dos princiacutepios Rio de Janeiro Renovar 2006 Virgiacutelio Afonso da Silva O conteuacutedo essencial dos direitos fundamentais e a
eficaacutecia das normas constitucionais Satildeo Paulo Tese (concurso de Professor Titular de Direito Constitucional da USP)
2Veja-se em tons variados Lecircnio Luiz Streck Hermenecircutica juriacutedica e(m) crise uma exploraccedilatildeo hermenecircutica da construccedilatildeo do
direito Porto Alegre Livraria do Advogado 1999 Luiacutes Roberto Barroso (Org) A nova interpretaccedilatildeo constitucional ponderaccedilatildeo
direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas Rio de Janeiro Renovar 2003 Margarida Maria Lacombe Camargo Hermenecircutica e
argumentaccedilatildeo uma contribuiccedilatildeo ao estudo do direito Rio de Janeiro Renovar 2003 Inocecircncio Maacutertires Coelho Interpretaccedilatildeo
constitucional 2 ed Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2003 Ana Paula de Barcellos Ponderaccedilatildeo racionalidade e atividade
jurisdicional Rio de Janeiro Renovar 2005
3Sobre o fenocircmeno da constitucionalizaccedilatildeo do Direito confira-se os inuacutemeros artigos que compotildeem a coletacircnea organizada por
Claacuteudio Pereira de Souza Neto e por mim A constitucionalizaccedilatildeo do direito fundamentos teoacutericos e aplicaccedilotildees especiacuteficas Rio de
Janeiro Lumen Juris 2007
4Cfr na literatura constitucional brasileira Gisele Guimaratildees Cittadino Pluralismo direito e justiccedila distributiva elementos de
filosofia constitucional contemporacircnea Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 Oscar Vilhena Vieira A Constituiccedilatildeo e sua reserva de
justiccedila um ensaio sobre os limites materiais do poder de reforma Satildeo Paulo Malheiros 1999 Ricardo Lobo Torres (Org) A legi-
timaccedilatildeo dos direitos humanos Rio de Janeiro Renovar 2002 Claacuteudio Pereira de Souza Neto Teoria constitucional e democracia
deliberativa Rio de Janeiro Renovar 2006 Lecircnio Luiz Streck Verdade e consenso Constituiccedilatildeo hermenecircutica e teorias discursi-
vas Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 Samantha Chantal Dobrowolski A construccedilatildeo social do sentido da Constituiccedilatildeo na demo-
cracia contemporacircnea entre soberania popular e direitos humanos Rio de Janeiro Lumen Juris 2007 Aacutelvaro Ricardo de Souza
Cruz Hermenecircutica juriacutedica e(m) debate o constitucionalismo brasileiro entre a teoria do discurso e a ontologia existencial Belo
Horizonte Foacuterum 2007
5Sobre a judicializaccedilatildeo da poliacutetica no Brasil veja-se Luiz Werneck Vianna et al A judicializaccedilatildeo da poliacutetica e das relaccedilotildees sociais
no Brasil Rio de Janeiro Revan 1999 Giselle Cittadino Judicializaccedilatildeo da poliacutetica constitucionalismo democraacutetico e separaccedilatildeo de
poderes In Luiz Werneck Vianna (Org) A democracia e os trecircs poderes no Brasil Belo Horizonte UFMG 2002 p 17-42 Rogeacuterio
B Arantes Constitucionalism the expansion of Justice and the Judicialization of Poltics in Brazil In Rachel Sieder Line Schjol-
den Alan Angell The Judicialization of Politics in Latin America New York Palgrave Macmillan 2005 p 232-262 Luis Roberto
Barroso Judicializaccedilatildeo ativismo judicial e legitimidade democraacutetica Texto ineacutedito gentilmente cedido pelo autor
Para uma perspectiva comparativa veja-se Neal C Tate Tobjorn Vallinder (Ed) The Global Expansion of Judicial Power New
York New York University Press 1995 Alec Stone Sweet Governing with Judges Constitutional Politics in Europe Oxford Oxford
Univesity Press 2000 e em tom profundamente criacutetico Ran Hirschl Towards Juristocracy the Origins and Consequences of the
New Constitucionalism Cambridge Harvard University Press 2004
6Miguel Carbonell et al Neoconstitucionalismo(s) Madrid Trotta 2003 Mais recentemente o autor publicou nova coletacircnea
tambeacutem dedicada ao estudo do neoconstitucionalismo intitulada Teoria del Neoconstitucionalismo Ensayos escogidos Madrid
Trotta 2007
7O jurista argentino Carlos Santiago Nino por exemplo faleceu em 1993 quando ainda nem se empregava esta denominaccedilatildeo
8Cf Robert Alexy Teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica a teoria do discurso racional como teoria da fundamentaccedilatildeo juriacutedica Tradu-
ccedilatildeo de Zilda Hutchinson Schild Silva revisatildeo teacutecnica da traduccedilatildeo e introduccedilatildeo agrave ediccedilatildeo brasileira Claudia Toledo 2 ed Satildeo Paulo
Landy 2005 Luis Roberto Barroso Curso de direito constitucional contemporacircneo os conceitos fundamentais e a construccedilatildeo do
novo modelo Rio de Janeiro Saraiva 2008 p 306-350
9Cf Lecircnio Luiz Streck Verdade e consenso Op cit p 197-246
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10Ronald Dworkin e Carlos Santiago Nino satildeo sem sombra de duacutevida autores liberais natildeo no sentido que se atribui ao termo no
Brasil - de adeptos de doutrina econocircmica favoraacutevel ao Estado miacutenimo e ao mercado - mas sim no sentido corrente na Filosofia
Poliacutetica que associa o liberalismo agrave defesa dos direitos individuais e da neutralidade do Estado em relaccedilatildeo agraves diversas concepccedilotildees
sobre a vida boa existentes na sociedade Veja-se neste sentido Ronald Dworkin A Matter of Principle Cambridge Harvard
University Press 1985 p 181-236 Carlos Santiago Nino La constitucioacuten de la Democracia Deliberativa Barcelona Gedisa 1997
p 70-100
11Lecircnio Luiz Streck que se alinha ao neoconstitucionalismo defende posturas tipicamente comunitaristas como o papel da Consti-
tuiccedilatildeo na definiccedilatildeo de modelos de vida boa para orientaccedilatildeo da vida social e da accedilatildeo individual Cf Jurisdiccedilatildeo constitucional e
hermenecircutica uma nova criacutetica do direito 2 ed Rio de Janeiro Forense 2004 p 95-288
12Antonio Cavalcanti Maia um dos mais ardorosos defensores do neoconstitucionalismo no paiacutes eacute tambeacutem procedimentalista e
adepto das teorias juriacutedicas de Juumlrgen Habermas Veja-se neste sentido o seu denso texto Nos vintes anos da carta cidadatilde do
poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm (Coord) Vinte
anos da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 p 117-168 em que esta sua dupla filiaccedilatildeo intelectual eacute
explicitada
13Segundo Miguel Carbonell o neoconstitucionalismo desdobra-se em trecircs planos de anaacutelise que se conjugam o dos textos consti-
tucionais que se tornaram mais substantivos e incorporaram amplos elencos de direitos fundamentais o das praacuteticas judiciais que
passaram a recorrer a princiacutepios constitucionais agrave ponderaccedilatildeo e a meacutetodos mais flexiacuteveis de interpretaccedilatildeo sobretudo na aacuterea de
direitos fundamentais e o dos desenvolvimentos teoacutericos de autores que com as suas ideacuteias ajudaram natildeo soacute a compreender os
novos modelos constitucionais mas tambeacutem participaram da sua proacutepria criaccedilatildeo Cf Miguel Carbonell Neoconstitucionalismo
elementos para una definicioacuten In Eduardo Ribeiro Moreira Mauricio Pugliesi 20 anos da Constituiccedilatildeo brasileira Satildeo Paulo Sarai-
va 2009 p 197-208
14No mesmo sentido Luis Roberto Barroso Neoconstitucionalismo e Constitucionalizaccedilatildeo do direito o triunfo tardio do direito
constitucional do Brasil In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento A constitucionalizaccedilatildeo do direito fundamentos teoacuteri-
cos e aplicaccedilotildees especiacuteficas Rio de Janeiro Lumen Juris 2007 p 203-250
15Cf Carlos Bernal Pulido El Derecho de los Derechos Bogotaacute Universidad Externado de Colocircmbia 2006 Manoel Jose Cepeda
Espinosa Judicialization of Politics in Colombia the old and the new In Rachel Sieder Line Schonjen Alan Angell The Judiciali-
zation of Politics in Latin America Op cit p 67-104 Rodrigo Uprimmy Mauriacutecio Garcia-Villegas Tribunal Constitucional e eman-
cipaccedilatildeo social na Colocircmbia In Boaventura de Souza Santos Democratizar a democracia os caminhos da democracia participativa
Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2002 p 297-339
16Cf Catalina Smulovitz Petitioning and Creating Rights Judicialization in Argentina In Rachel Sieder Line Scjolden Alan Angell
The Judicialization of Politics in Latin America Op cit p 161-185
17Cf Miguel Carbonell Los Derechos Fundamentales en Meacutexico 2 ed Meacutexico Porruacutea 2006 Pilar Domingo The Changing Political
Role of the Judiciary in Meacutexico In Rachel Sieder Line Scjolden Alan Angell The Judicialization of Politics in Latin Ameacuterica Op
cit p 21-46
18Cf Heinz Klug South Aacutefrica From Constitucional Promise to Social Transformation In Jeffrey Goldsworthy Interpreting Consti-
tutions A Comparative Study Oxford Oxford University Press 2006 p 266-320
19Cf S P Sathe Iacutendia From Positivism to Structuralism In Jeffrey Goldsworthy Op cit p 215-265
20Veja-se a propoacutesito Gustavo Zagrebelsky Il Diritto Mite Torino Einaudi 1992 p 57-96
21Cf Eduardo Garciacutea de Enterriacutea La Constitucioacuten como Norma y el Tribunal Constitucional 3 ed Madrid Civitas 1985 p 41
22Na Alemanha a mudanccedila ocorreu sob a vigecircncia da Lei Fundamental adotada em 1949 e foi fortemente impulsionada pela
jurisprudecircncia do Tribunal Constitucional do paiacutes que construiu teorias importantes como a da Constituiccedilatildeo como uma ordem de
valores em cujo centro situa-se o princiacutepio da dignidade humana que se irradia por todo o ordenamento Veja-se a propoacutesito
Dieter Grimm Human Rights and Judicial Review in Germany In David M Beatty (Org) Human Rights and Judicial Review A
Comparative Perspective Dodrecht Martin Urjhoff 1994 p 267-295
23Na Itaacutelia as mudanccedilas se deram sob a eacutegide da atual Constituiccedilatildeo editada em 1947 mas soacute apoacutes o funcionamento da Corte
Constitucional que se deu em 1956 Ateacute entatildeo a Corte de Cassaccedilatildeo composta por juiacutezes recrutados ainda no periacuteodo do fascismo
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era provisoriamente encarregada da guarda da Constituiccedilatildeo o que fazia de forma muito tiacutemida no mais das vezes negando eficaacute-
cia juriacutedica agraves normas constitucionais sob o argumento de que seriam programaacuteticas Veja-se a propoacutesito Ricardo Guastini A
constitucionalizaccedilatildeo do ordenamento juriacutedico e a experiecircncia italiana In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento A
constitucionalizaccedilatildeo do direito fundamentos teoacutericos e aplicaccedilotildees especiacuteficas Op cit p 271-294
24Cf No modelo do constitucionalismo norte-americano entende-se desde os primoacuterdios que a Constituiccedilatildeo eacute autecircntica lei e que
o Judiciaacuterio pode invalidar as decisotildees legislativas que a contrariem apesar do controle de constitucionalidade natildeo estar expres-
samente previsto no texto constitucional daquele paiacutes Esta ideacuteia que jaacute estava assentada no Federalista n 78 escrito por Ale-
xander Hamilton antes da aprovaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo foi posta em praacutetica pela primeira vez contra lei federal no ceacutelebre caso
Marbury v Madison julgado em 1803 pelo juiz Marshall Veja-se a propoacutesito Paul Brest Sanford Levinson Jack Balkin Akhil Reed
Amar Processes of Constitutional Decisionmaking Cases and Materials New York Aspen Publishers 2000 p 79-103
A versatildeo mais convencional do modelo constitucional norte-americano enfatiza a importacircncia central do Judiciaacuterio na atualizaccedilatildeo
do sentido da Constituiccedilatildeo do paiacutes Contudo esta leitura histoacuterica eacute hoje objeto de intensa disputa Em sentido contraacuterio a tal
posiccedilatildeo sustentando uma menor relevacircncia do Judiciaacuterio no desenvolvimento histoacuterico do constitucionalismo americano veja-se
por exemplo Stephen M Griffin American Constitutionalism From Theory to Politics New Jersey Princeton University Press
1996 p 88-139
25Cf Luis Prietro Sanchiacutes Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales Madrid Trotta 2003 p 107-117
26Cf Daniel Sarmento Ubiquumlidade constitucional Os dois lados da moeda In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento
(Coord) A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 113-148
27Na verdade a reaccedilatildeo contra o formalismo juriacutedico na Europa eacute bem anterior ao advento do constitucionalismo do 2ordm poacutes-guerra
remontando ao final do seacuteculo XIX Veja-se a propoacutesito Constantin M Stamatis Argumenter en Droit Une theacuteorie critique de
largumentation juridique Paris Publisud 1995 p 34-50 Antonio Manoel Hespanha Panorama histoacuterico da cultura juriacutedica euro-
peacuteia Lisboa Publicaccedilotildees Europa-Ameacuterica 1997 p 196-235
28Haacute vasta literatura sobre a ponderaccedilatildeo mas a obra mais influente sobre o tema eacute certamente o livro de Robert Alexy Teoria dos
direitos fundamentais Traduccedilatildeo de Virgiacutelio Afonso da Silva Satildeo Paulo Malheiros 2008 No cenaacuterio norte-americano veja-se a
anaacutelise densa e criacutetica de T Alexander Aleinikoff Constitucional Law in the Age of Balancing Yale Law Journal n 96 p 943-
1005 1987 No Brasil cfr Daniel Sarmento A ponderaccedilatildeo de interesses na Constituiccedilatildeo Federal Rio de Janeiro Lumen Juris
2000 Ana Paula de Barcellos Ponderaccedilatildeo racionalidade e atividade jurisdicional Op cit
29A bibliografia sobre o princiacutepio da proporcionalidade eacute vastiacutessima Veja-se a propoacutesito as densas anaacutelises de Carlos Bernal Puli-
do El Principio de Proporcionalidad y los Derechos Fundamentales Madrid Centro de Estuacutedios Constitucionales 2003 e no Brasil
de Jane Reis Gonccedilalves Pereira Interpretaccedilatildeo constitucional e direitos fundamentais Rio de Janeiro Renovar 2006 p 297-382
30Cf Chaiumlm Perelman Eacutetica e direito Traduccedilatildeo de Maria Ermantina Galvatildeo G Perira Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 p 361-684
Robert Alexy Teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica Op cit Friedrich Muller Discours de la Meacutethode Juridique Traduccedilatildeo de Olivier
Jouanjan Paris PUF 1993 Manuel Atienza Traacutes la Justicia Una Introduccioacuten al Derecho y al Razonamiento Juriacutedico Barcelona
Ariel 1995 Neil MacCormick Argumentaccedilatildeo juriacutedica e teoria do direito Traduccedilatildeo de Waldeacutea Barcellos Satildeo Paulo Martins Fontes
2006 Klaus Guumlnther Teoria da argumentaccedilatildeo no direito e na moral justificaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Claacuteudio Molz Satildeo Pau-
lo Landy 2004
31Cf Martin Shapiro Alec Stone Sweet On Law Politics and Judicialization New York Oxford University Press p 136-208
32Contudo deve-se admitir na linha de Paolo Comanducci que eacute possiacutevel reconhecer as mudanccedilas em questatildeo e propor novas
teorias que sejam adequadas a elas sem defendecirc-las Esta seria nas palavras do autor italiano a diferenccedila entre o neoconstitu-
cionalismo teoacuterico e o neoconstitucionalismo ideoloacutegico que natildeo apenas constroacutei teorias mais compatiacuteveis com os novos fenocirc-
menos mas vai aleacutem sustentando a sua legitimidade e propugnando pelo seu aprofundamento e expansatildeo Veja-se a propoacutesito
Paulo Comanducci Formas de neoconstitucionalismo Un anaacutelisis metateoacuterico In Miguel Carbonell (Ed) Neoconstitucionalis-
mo(s) Op cit p 75-98 Como reconhece o proacuteprio autor tal distinccedilatildeo baseia-se em uma semelhante acerca do positivismo
30
formulada por Norberto Bobbio que fala em positivismo teoacuterico ideoloacutegico e metodoloacutegico Cf Norberto Bobbio O positivismo
juriacutedico liccedilotildees de filosofia do direito Traduccedilatildeo e notas de Marcio Pugliesi et al Satildeo Paulo Iacutecone 1995 p 233-239
33Cf Ronald Dworkin Is Law a Sistem of Rules In Ronald Dworkin (Ed) Philosophy of Law Oxford Oxford University Press 1971
Robert Alexy Constitucionalismo discursivo Traduccedilatildeo de Luiz Afonso Heck Porto Alegre Livraria do Advogado 2007
34Cf Robert Alexy Derecho y Razoacuten Praacutectica Meacutexico Distribuiciones Fontamara 1993 Aulis Aarnio Lo Racional como Razonable
Traduccedilatildeo de Ernesto Garzoacuten Valdeacutes Madrid Centro de Estuacutedios Constitucionales 1991
35Cf Aharon Barak The Judge in a Democracy New Jersey Princeton University Press 2006 p 213-260 Gustavo Zagrebelsky Il
Diritto Mite Op cit p 179-217
36Confronte-se com perspectivas diferentes Luigi Ferrajoli O Estado de direito entre passado e futuro In Pietro Costa Danilo
Zolo (Org) Estado de direito histoacuteria teoria criacutetica Traduccedilatildeo de Carlo Alberto Dastoli Satildeo Paulo Martins Fontes 2006 p 419-
464 Elias Dias Estado de Derecho y Sociedad Democraacutetica Madrid Taurus 1998 Ronald Dworkin Introduction The Moral Reading
and the Majoritarian Premise In Freedoms Law The moral reading of the American Constitution Cambridge Harvard University
Press 1996 p 01-38 Gustavo Zagrebelsky La Crucifixioacuten y la Democracia Barcelona Ariel 1996 Claacuteudio Pereira de Souza Neto
Teoria constitucional da democracia deliberativa Op cit
37Cf Ronald Dworkin Introduction The Moral Reading and the Majoritarian Premise Op cit
38Cf Luigi Ferrajoli El Garantismo y la Filosofia del Derecho Bogotaacute Universidad Externado de Colocircmbia 2000
39Cf Luis Pietro Sanchis Sobre el Neoconstitucionalismo y sus Implicaciones In Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales
Op cit p 101-135
40Cf Ricardo Guastini Sur la Validiteacute de la Constitution du Point de Vue du Positivisme Juridique In Michel Troper Lucien Jaume
(Dir) 1789 et LInvention de la Constitution Paris LGDJ 1994 p 216-225
41Cf Suzana Pozzolo Neoconstituzionalismo e Positivismo Giuridico Torino Giapppicheli 2001
42Cf Ronald Dworkin Law and Morals In Justice in Robes Cambridge Harvard University Press 2006 p 01-35
43Cf Robert Alexy Derecho y Moral In La Institucionalizacioacuten de la Justicia Op cit p 17-30
44Cf Carlos Santiago Nino Eacutetica y Derechos Humanos 2 ed Buenos Aires Astrea 1989 p 11-48
45Cf Gustav Radbruch Cinco minutos de filosofia do direito In Filosofia do direito Traduccedilatildeo de L Cabral de Moncada 6 ed
Coimbra Armecircnio Amado 1979 p 414-418 Para uma densa problematizaccedilatildeo da foacutermula de Radbruch veja-se Thomas da Rosa
Bustamante Poacutes-Positivismo o argumento da injusticcedila aleacutem da Foacutermula de Radbruch In Teoria do direito e decisatildeo racional
temas de teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica Rio de Janeiro Renovar 2008
46Cf Robert Alexy La Institucionalizacioacuten de la Justicia Traduccedilatildeo de Joseacute Antonio Seone et al Granada Comares 2005 p 31-
54
47Sobre o tema cfr Alfonso Garcia Figueroa Princiacutepios e direitos fundamentais In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmen-
to A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 03-34
48O texto mais importante do positivismo inclusivo eacute o poacutes-escrito de Herbert LA Hart agrave sua obra magna The Concept of Law em
que ele responde agraves criacuteticas ao seu pensamento que Ronald Dworkin lhe endereccedilara O autor inglecircs faleceu antes de terminar o
texto mas ele foi publicado postumemente depois de ser editado por Joseph Raz Peneacutelope Bulloch Veja-se Herbert LA Hart
Poacutes-escrito In O conceito de direito Traduccedilatildeo de A Ribeiro Mendes 2 ed 1994 p 299-339 Tambeacutem na linha do positivismo
inclusivo veja-se Gregorio Peces- Barba Derechos Sociales y Positivismo Juriacutedico Escritos de Filosofia Poliacutetica y Juriacutedica Madrid
Dykinson 1999 p 83-90 Jules Coleman The Practice of Principle In defense of a pragmatist approach do legal theory Oxford
Oxford University Press p 103-120 Para uma resenha dos tipos de positivismo no debate contemporacircneo confira-se Dimitri Di-
moulis Positivismo juriacutedico introduccedilatildeo a uma teoria do direito e defesa do pragmatismo juriacutedico-politico Satildeo Paulo Meacutetodo
2006 p 65-166
49Cf Antonio Cavalcanti Maia Nos vinte anos da Constituiccedilatildeo do poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo Op cit Claacuteudio Perei-
ra de Souza Neto A teoria constitucional e seus lugares especiacuteficos notas sobre o aporte reconstrutivo Revista de Direito do
Estado n 1 p 89-104 jan mar 2006 Daniel Sarmento Interpretaccedilatildeo constitucional preacute-compreensatildeo e capacidades institu-
cionais do inteacuterprete In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binebojm Vinte anos da Constituiccedilatildeo de 1988
Op cit p 311-322
31
50Cf Juumlrgen Habermas Escritos sobre Moralidad y Eticidad Traduccedilatildeo de Manuel Jimenez Redondo Barcelona Paidoacutes 1991 p
131-172
51Sobre o comunitarismo haacute extensa literatura Dois textos claacutessicos deste linha de pensamento satildeo Michael Walzer The Communi-
tarian Critique of Liberalism In Politics and Passion New Haven Yale University Press 2004 p 141-163 Charles Taylor The
Procedural Republic and the Unencumbered Self In Robert Goodin Philip Pettit (Ed) Contemporary Political Philosophy 2 ed
Oxford Oxford University Press 2002 p 2462-256 Sobre a penetraccedilatildeo ainda que muitas vezes natildeo consciente das posiccedilotildees do
comunitarismo no constitucionalismo brasileiro veja-se Gisele Cittadino Pluralismo direito e justiccedila distributiva Op cit p
43-74
52Sobre o construtivismo eacutetico corrente filosoacutefica que sustenta a existecircncia de posiccedilotildees certas e erradas na Moral bem como a
possibilidade de encontraacute-las e fundamentaacute-las racionalmente veja-se Carlos Santiago Nino El Constructivismo Eacutetico Madrid
Centro de Estudios Constitucionales 1989
53O fenocircmeno tambeacutem se reproduz na teoria constitucional norte-americana hegemocircnica cf Keith Wittington Constitutional Con-
struction Divided Powers and Constitutional Meaning Cambridge Harvard University Press 1999 p 01-03
54A imagem do Poder Judiciaacuterio como um guardiatildeo de promessas eacute explorada e criticada numa obra importante da teoria juriacutedica
francesa contemporacircnea Antoine Garapon Le Gardien de Promesses Le juge et la democratie Paris Odile Jacob 1996
55Neste sentido o eloquumlente encerramento do Curso de Direito Constitucional Contemporacircneo de Luis Roberto Barroso o consti-
tucionalismo democraacutetico eacute a utopia que nos restou Uma feacute racional que ajuda a acreditar no bem e na justiccedila ainda quando natildeo
estejam ao alcance dos olhos (Op cit p 400)
56Cf Nico Poulantzas State Power Socialism London new Left Books 1978 Alan Hunt Marxist Theory of Law In Dennis Patter-
son (Ed) A Companion to Philosophy of Law and Legal Theory Malden Blackwell Publishers 1996 p 355-367
57Cf David Kairys (Ed) The Politics of Law A Progressive Critique New York Pantheon Books 1982 Roberto Mangabeira Unger
The Critical Legal Studies Movement Cambridge Harvard University Press 1986
58Cf Plauto Faraco Azevedo Criacutetica agrave dogmaacutetica e hermenecircutica juriacutedica Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1989 Luiz Fernando
Coelho Teoria criacutetica do direito 2 ed Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1991
59Natildeo haacute como abordar aqui as relaccedilotildees entre as inuacutemeras correntes do poacutes-modernismo e o Direito Constitucional Veja-se a
propoacutesito Niklas Luhman La Constituzione como Acquisizione Evolutiva In Gustavo Zagrebelsky Piacuteer Paolo Portinaro Joumlrg Lu-
ther Il Futuro della Costituzione Torino Einaudi 1996 p 83-128 Joseacute Joaquim Gomes Canotilho Civilizaccedilatildeo do direito constitu-
cional ou constitucionalizaccedilatildeo do direito civil a eficaacutecia dos direitos fundamentais na ordem juriacutedico-civil no contexto do direito
poacutes-moderno Cadernos de Direito Constitucional e Ciecircncia Poliacutetica n 15 p 07-16 1996 Eduardo Capellari A crise da moderni-
dade e a Constituiccedilatildeo Rio de janeiro Ameacuterica Juriacutedica 2004 Daniel Sarmento Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas 2 ed
Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 p 36-45
60Para Jean-Franccedilois Lyotard uma das caracteriacutesticas centrais do pensamento poacutes-moderno de que eacute expoente eacute a desconfianccedila
em relaccedilatildeo agraves metanarrativas - construccedilotildees abstratas grandiosas e totalizadoras tiacutepicas da Filosofia Moderna como direitos
humanos luta de classes e emancipaccedilatildeo pelo uso da razatildeo Cf Lyotard A condiccedilatildeo poacutes-moderna Traduccedilatildeo de Ricardo Correcirca
Barbosa 5 ed 1998 p16
61Cf Luiz Werneck Viana O terceiro poder na carta de 1988 e a tradiccedilatildeo republicana mudanccedila e conservaccedilatildeo In Ruben George
Oliven Marcelo Gildo Marccedilal Branda A Constituiccedilatildeo de 1988 na vida brasileira Satildeo Paulo Aderaldo e Rotshild 2008 p 91-109
62Cf Paulo Ricardo Schier Filtragem constitucional Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1999
63A expressatildeo foi cunhada por Claacuteudio Pereira de Souza Neto Fundamento e normatividade dos direitos fundamentais uma recons-
truccedilatildeo teoacuterica agrave luz do princiacutepio democraacutetico Arquivos de Direitos Humanos n 4 p 17-61 2003
64Cf Luis Roberto Barroso O direito constitucional e a efetividade de suas normas 3 ed Rio de Janeiro Renovar 1996
65Cf Clegravemerson Merlin Clegraveve A teoria constitucional e o direito alternativo para uma dogmaacutetica constitucional emancipatoacuteria In
Uma vida dedicada ao direito homenagem a Carlos Henrique de Carvalho Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1995 p 34-53
66Ressalte-se poreacutem que antes de 88 alguns juristas jaacute defendiam a forccedila normativa da Constituiccedilatildeo como o Prof Joseacute Afonso da
Silva Eacute de 1968 a primeira ediccedilatildeo da sua obra claacutessica A aplicabilidade das normas constitucionais que adotava claramente esta
32
perspectiva Todavia pelo clima nada propiacutecio ao constitucionalismo que reinava por aqui ateacute a nossa redemocratizaccedilatildeo a louvaacute-
vel pregaccedilatildeo dele e de outros juristas em prol da efetivaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo natildeo chegou a render maiores frutos
67Deve-se assinalar ainda a influecircncia marcante do novo constitucionalismo ibeacuterico neste movimento que tambeacutem pugnava pela
atribuiccedilatildeo de forccedila normativa agraves ambiciosas constituiccedilotildees de Portugal e Espanha entatildeo recentemente elaboradas apoacutes o fim de
experiecircncias autoritaacuterias naqueles paiacuteses A tiacutetulo de exemplo mencione-se a penetraccedilatildeo no paiacutes do pensamento do Professor de
Coimbra Joseacute Joaquim Gomes Canotilho especialmente da sua teoria sobre a Constituiccedilatildeo dirigente que ele posteriormente reviu
(cf J J Gomes Canotilho Constituiccedilatildeo dirigente e vinculaccedilatildeo ao legislador contributo para a compreensatildeo das normas constitu-
cionais programaacuteticas 2 ed Coimbra Coimbra 2001 - especialmente o prefaacutecio desta segunda ediccedilatildeo que daacute conta da mudanccedila
de posicionamento) bem como a difusatildeo das liccedilotildees do Professor Eduardo Garciacutea de Enterriacutea (cf La Constitucioacuten como Norma y el
Tribunal Constitucional Madrid Civitas 1981)
68Segundo a avaliaccedilatildeo atual de Luis Roberto Barroso personagem central do movimento o positivismo constitucional que deu
impulso ao movimento natildeo importava em reduzir o direito agrave norma mas sim em elevaacute-la a esta condiccedilatildeo pois ateacute entatildeo ele
havia sido menos do que norma (Curso de direito constitucional contemporacircneo Op cit p 224)
69Paulo Bonavides Curso de direito constitucional 5 ed Satildeo Paulo Malheiros 1994
70Eros Roberto Grau A ordem econocircmica na Constituiccedilatildeo de 88 interpretaccedilatildeo e criacutetica Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1996
71No acircmbito da Poacutes-Graduccedilatildeo em Direito da UERJ em que estou inserido desde 1997 primeiro como aluno e a partir de 2003 como
professor o Ricardo Lobo Torres teve papel central na difusatildeo do pensamento destes e de outros filoacutesofos entre os estudantes e o
proacuteprio corpo docente
72Cf Lecircnio Luiz Streck Hermenecircutica juriacutedica e(m) crise Op cit Eros Roberto Grau Ensaio e discurso sobre a interpreta-
ccedilatildeoaplicaccedilatildeo do direito Satildeo Paulo Malheiros 2002
73Nesta linha veja-se as obras que compotildeem a coletacircnea Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Direitos sociais funda-
mentos judicializaccedilatildeo e direitos sociais em espeacutecie Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 Ricardo Lobo Torres O miacutenimo existencial
e os direitos fundamentais Revista de Direito Administrativo n 177 p 20-49 1989 Ingo Wolfgang Sarlet A eficaacutecia dos direitos
fundamentais 9 ed Porto Alegre Livraria do Advogado 2008 Ana Paula de Barcellos A eficaacutecia juriacutedica dos princiacutepios o princiacute-
pio da dignidade da pessoa humana Op cit Marco Mazzeli Gouveia O controle judicial das omissotildees administrativas Rio de
Janeiro Forense 2003 Andreacuteas Krell Direitos sociais e controle judicial no Brasil e Alemanha os (des)caminhos de um direito
constitucional comparado Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2002
74Cf Gustavo Tepedino Temas de direito civil Rio de Janeiro Renovar 1999 Luiz Edson Fachin Estatuto juriacutedico do patrimocircnio
miacutenimo Rio de Janeiro Renovar 2001 Maria Celina Bodin de Moraes Danos agrave pessoa humana uma leitura civil-constitucional dos
danos morais Rio de Janeiro Renovar 2003 Teresa Negreiros Fundamentos para uma interpretaccedilatildeo constitucional do princiacutepio
da boa-feacute Rio de Janeiro Renovar 1998 Anderson Schreiber A proibiccedilatildeo do comportamento contraditoacuterio Rio de Janeiro Reno-
var 2005
75Cf Luciano Feldens A Constituiccedilatildeo penal a dupla face da proporcionalidade no controle das lei penais Porto Alegre Livraria do
Advogado 2005 Luis Carlos dos Santos Gonccedilalves Mandados expressos de criminalizaccedilatildeo e a proteccedilatildeo de direitos fundamentais na
Constituiccedilatildeo Brasileira de 1988 Belo Horizonte Foacuterum 2007
76Cf Gustavo Binenbojm Uma teoria do direito administrativo direitos fundamentais democracia e constitucionalizaccedilatildeo Rio de
Janeiro Renovar 2006 Alexandre dos Santos Aragatildeo Floriano de Azevedo Marques (Coord) Direito administrativo e seus novos
paradigmas Belo Horizonte Foacuterum 2008
77Cf Gustavo Binenbojm A nova jurisdiccedilatildeo constitucional brasileira legitimidade democraacutetica e instumentos de realizaccedilatildeo Rio de
Janeiro Renovar 2001 Claacuteudio Pereira de Souza Neto Jurisdiccedilatildeo constitucional democracia e racionalidade praacutetica Rio de
Janeiro Renovar 2002 Joseacute Adeacutercio Leite Sampaio A Constituiccedilatildeo reinventada pela jurisdiccedilatildeo constitucional Belo Horizonte Del
Rey 2002 Lecircnio Luiz Streck Jurisdiccedilatildeo constitucional e hermenecircutica Porto Alegre Livraria do Advogado 2002 Aacutelvaro Ricardo
de Souza Cruz Jurisdiccedilatildeo constitucional democraacutetica Belo Horizonte Del Rey 2004
78A expressatildeo dificuldade contramajoritaacuteria eacute de um claacutessico da teoria constitucional norte-americana Alexander Bickel La Cons-
titucioacuten como Norma y el Tribunal Constitucional 2 ed New Haven Yale University Press 1986
33
79Em siacutentese apertada o procedimentalismo sustenta que natildeo eacute papel da jurisdiccedilatildeo constitucional tutelar valores substantivos mas
apenas proteger os pressupostos necessaacuterios ao bom funcionamento da democracia Jaacute o substancialismo reconhece a legitimidade
da atuaccedilatildeo jurisdicional em favor da garantia e promoccedilatildeo de valores substantivos presentes na Constituiccedilatildeo O debate entre o
procedimentalismo identificado com as ideacuteias de autores como John Hart Ely e Juumlrgen Habermas e o substancialismo defendido
por teoacutericos como Ronald Dworkin e Laurence Tribe eacute reproduzido em praticamente toda a literatura contemporacircnea que trata de
Teoria ou Filosofia Constitucional Veja-se a propoacutesito a densa obra de Claacuteudio Ari Mello Democracia constitucional e direitos
fundamentais Porto Alegre Livraria do Advogado 2004
80Neoconstitucionalismo e constitucionalizaccedilatildeo do direito o triunfo tardio do direito constitucional no Brasil Op cit
81A crise paradigmaacutetica do direito no contexto da resistecircncia positivista ao (neo)constitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza
Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm Vinte anos da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Op cit p 203-228
82Nos vinte anos da carta cidadatilde do poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo Op cit
83Neoconstitucionalismo direitos fundamentais e controle de poliacuteticas puacuteblicas In Daniel Sarmento Flaacutevio Galdino (Org) Direitos
fundamentais estudos em homenagem ao prof Ricardo Lobo Torres Rio de Janeiro Renovar 2006 p 31-60
84Direitos humanos legitimidade e constitucionalismo In Daniel Sarmento Flaacutevio Galdino (Org) Direitos fundamentais estudos
em homenagem ao Prof Ricardo Lobo Torres Op cit p325-350
85Novos desafios agrave filtragem constitucional no momento do neoconstitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sar-
mento A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 251-270
86Neoconstitucionalismo a invasatildeo da Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Meacutetodo 2008
87Neoconstitucionalismo e positivismo juriacutedico Satildeo Paulo Landy 2006
88Teoria do direito e argumentaccedilatildeo racional temas de teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica op cit p 141-240
89Uma visatildeo criacutetica do neoconstitucionalismo In George Salomatildeo Leite Glauco Salomatildeo Leite Constituiccedilatildeo e efetividade constitu-
cional Salvador JusPodium 2008 p 43-60
90Neoconstitucionalismo entre a Ciecircncia do direito e o direito da ciecircncia In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento
Gustavo Binenbojm Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 p 187-202
91Cf Peticcedilatildeo 1246 MSSC julgada em 31011997 (obrigaccedilatildeo do Estado de realizar transplante de ceacutelulas mioblaacutesticas para salvar
a vida de crianccedila) Agravo de Instrumento no Recurso Extraordinaacuterio 271286RS DJU 24 nov 2000 (entrega de medicamentos
para portadores de HIV) e Agravo de Instrumento do Recurso Extraordinaacuterio nordm 410715-5 julgado em 22112005 (obrigaccedilatildeo de
fornecimento de vagas para educaccedilatildeo infantil pelo municiacutepio com atendimento em creches e preacute-escola)
92Recursos Extraordinaacuterios nordms 158215-4RS 161243-6DF 201819RJ
93Cf Mandado de Injunccedilatildeo 670ES Rel Min Gilmar Mendes julgado em 25102007 em que o STF revendo orientaccedilatildeo anterior
deu eficaacutecia normativa agrave sentenccedila proferida no mandado de injunccedilatildeo No caso decidiuse que ateacute o advento de lei regulamentado-
ra sobre a greve no serviccedilo puacuteblico o direito de greve poderia ser exercido obedecendo-se os limites impostos pela Lei 778389
que trata dos movimentos paredistas em serviccedilos essenciais no setor privado
94Sobre a tendecircncia agrave superaccedilatildeo da ideacuteia do Judiciaacuterio como legislador negativo na jurisdiccedilatildeo constitucional veja-se Joseacute Adeacutercio
Leite Sampaio A Constituiccedilatildeo reinventada pela jurisdiccedilatildeo constitucional Belo Horizonte Del Rey 2002 p 203-248
95Eacute lugar-comum dentre os autores que tratam da questatildeo associar tais mudanccedilas agrave pluralizaccedilatildeo das vozes na interpretaccedilatildeo consti-
tucional tema em que a referecircncia essencial no cenaacuterio germacircnico eacute Peter Haumlberle Veja-se a propoacutesito Peter Haumlberle Herme-
necircutica constitucional A sociedade aberta dos inteacuterpretes da Constituiccedilatildeo contribuiccedilatildeo para a interpretaccedilatildeo pluralista e procedi-
mental da Constituiccedilatildeo Traduccedilatildeo de Gilmar Ferreira Mendes Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1997 Veja-se ainda na doutrina
brasileira Gustavo Binenbojm A dimensatildeo do Amicus Curiae no processo constitucional brasileiro In Temas de direito constitu-
cional e administrativo Rio de Janeiro Renovar 2008 p 165-190
96ADIN 3510DF Relator Ministro Carlos Ayres Britto A accedilatildeo proposta contra o art 5ordm da Lei de Biosseguranccedila impugnava a auto-
rizaccedilatildeo de pesquisas com embriotildees humanos resultantes de fertilizaccedilatildeo in vitro que fossem inviaacuteveis ou estivessem congelados haacute
mais de trecircs anos A accedilatildeo foi julgada totalmente improcedente por 6 votos a 5
97ADPF nordm 54 A accedilatildeo que tem como relator o Ministro Marco Aureacutelio ainda natildeo foi julgada mas em seu bojo jaacute ocorreram diversas
audiecircncias puacuteblicas que provocaram intensa participaccedilatildeo da sociedade civil e grande interesse na miacutedia
34
98ADPF nordm 132 Relator Ministro Carlos Ayres Britto A accedilatildeo ainda foi julgada
99Mandados de Seguranccedila 26602DF 26603DF e 26604DF Informativo STF n 482
100Recurso Extraordinaacuterio 197917SP Rel p acoacuterdatildeo Min Ceacutesar Peluso DJU 18 fev 2005
101O livro de Alberto Carlos Almeida A cabeccedila do brasileiro lanccedilado em 2007 conteacutem pesquisas feitas sobre uma acuteseacuterie de temas
com pessoas de todas as classes sociais e regiotildees do paiacutes Uma das pesquisas eacute relativa agrave avaliaccedilatildeo das instituiccedilotildees Dentre as treze
avaliadas as duas que obtiveram menor aprovaccedilatildeo foram os partidos poliacuteticos (avaliaccedilatildeo positiva de 28 dos entrevistados) e o
Congresso (avaliaccedilatildeo positiva de 36 dos entrevistados) Cf Antonio Carlos Almeida A cabeccedila do brasileiro Rio de Janeiro Re-
cord 2007 p 187
102Cf Luis Roberto Barroso Judicializaccedilatildeo ativismo judicial e legitimidade democraacutetica Texto ainda ineacutedito gentilmente cedido
pelo autor
103Humberto Aacutevila por exemplo formula outra criacutetica importante de que o neoconstitucionalismo seria inadequado agrave realidade
constitucional brasileira jaacute que privilegia os princiacutepios e a Carta de 88 seria muito mais regulatoacuteria do que principioloacutegica (Neo-
constitucionalismo entre a ciecircncia do direito e o direito da ciecircncia Op cit p 188-192)
104Contudo natildeo eacute razoaacutevel estender esta criacutetica ao ponto de negar o caraacuteter democraacutetico da atuaccedilatildeo judicial Como ressaltou
Eugenio Rauacutel Zaffaroni uma instituiccedilatildeo natildeo eacute democraacutetica unicamente porque natildeo provenha de eleiccedilatildeo popular porque nem tudo
o que proveacutem desta origem eacute necessariamente aristocraacutetico Uma instituiccedilatildeo eacute democraacutetica quando seja funcional para o sistema
democraacutetico quer dizer quando seja necessaacuteria para a sua continuidade como ocorre com o judiciaacuterio (Poder judiciaacuterio crise
acertos e desacertos Traduccedilatildeo de Juarez Tavares Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1995 p 43)
105Cf Robert A Dahl Sobre a democracia Traduccedilatildeo de Beatriz Sidou Brasiacutelia UNB 2001 p 97-113 Juumlrgen Habermas Popular
Sovereignity as Procedure In James Bonham William Rehg Deliberative Democracy Cambridge The MIT Press 1997 p 35-66
106A questatildeo da tensatildeo e sinergia simultacircneas entre constitucionalismo e democracia eacute um dos debates mais fecundos da Teoria
Poliacutetica e da Filosofia Constitucional que tem atravessado o tempo desde o advento do constitucionalismo moderno no seacuteculo
XVIII Veja-se no debate contemporacircneo Jeremy Waldron Preocommitment and Disagreement In Larry Alexander Constitu-
cionalism Philosophical Foundations Cambridge Cambridge University Press 1998 p 271-299 Juumlrgen Habermas O Estado demo-
craacutetico de direito uma amarraccedilatildeo paradoxal de princiacutepios contraditoacuterios In Era das transiccedilotildees Traduccedilatildeo de Flaacutevio Beno Siebe-
neichler Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 2003 p 153-173 Carlos Santiago Nino La Constitucioacuten de la Democracia Deliberativa
Op cit Frank Michelman Brennan and Democracy Princeton Princeton University Press 1999 p 03-62 Stephen Holmes El
Precompromiso y la Paradoja de la Democracia In Jon Elster Rune Slagstad Constitucionalismo y Democracia Traduccedilatildeo de Mocircni-
ca Utrilla de Neira Mexico Fondo de Cultura Econocircmica 1999 p 217-262
107O problema da limitaccedilatildeo do legislador atual pelas decisotildees do constituinte adotadas no passado envolve a problemaacutetica da
partilha intergeracional de poder bem explicitada na fala de Jefferson que defendia que a cada 19 anos deveria ser elaborada
uma nova Constituiccedilatildeo nos Estados Unidos para que a Lei Maior daquele paiacutes natildeo se tornasse um mecanismo de governo dos mor-
tos sobre os vivos Em siacutentese apertada haacute na teoria poliacutetica contemporacircnea duas linhas principais de justificativa para a legiti-
midade destas restriccedilotildees
Uma eacute a teoria da democracia dualista defendida por Bruce Ackerman que sustenta que as decisotildees adotadas pelo proacuteprio povo
em contextos de grande mobilizaccedilatildeo ciacutevica devem ser protegidas do alcance da vontade dos representantes do povo formada em
momentos em que a cidadania natildeo esteja intensamente envolvida Esta teoria distingue a poliacutetica extraordinaacuteria correspondente
agravequeles momentos constitucionais da poliacutetica ordinaacuteria que se realiza atraveacutes das deliberaccedilotildees do dia a dia dos oacutergatildeos represen-
tativos Para a perspectiva ackermaniana a poliacutetica extraordinaacuteria - que natildeo exige necessariamente formalizaccedilatildeo procedimental
atraveacutes de assembleacuteia constituinte ou de emenda constitucional - se situa em patamar superior agrave poliacutetica ordinaacuteria e pode legiti-
mamente impor limites a esta (cf Bruce Ackerman We the people Foundations Cambridge The Belknap Press 1991 p 03-33)
Outra teoria eacute a do preacute-compromisso que jaacute foi advogada por Jon Elster Segundo ela eacute legiacutetimo subtrair do alcance das maiorias
determinadas questotildees fundamentais que expressam princiacutepios fundamentais de justiccedila poliacutetica ou garantam os pressupostos da
proacutepria democracia tendo em vista o risco de que no processo poliacutetico majoritaacuterio em momentos de irracionalidade o povo
35
possa ser viacutetima de suas proacuteprias fraquezas ou paixotildees momentacircneas atentando contra tais princiacutepios (cf Ulisses and Sirens
Cambridge Cambridge University Press 1979)
Ambas as concepccedilotildees - a primeira mais proacutexima ao republicanismo e a segunda de vieacutes mais liberal - tecircm a sua dose de procedecircn-
cia mas ensejam criacuteticas importantes Todavia foge a escopo do presente trabalho analisar esta questatildeo que eacute uma das mais
complexas da Filosofia Poliacutetica moderna e contemporacircnea Para uma visatildeo geral sobre o tema na literatura em liacutengua portuguesa
veja-se Oscar Vilhena Vieira A Constituiccedilatildeo e sua reserva de justiccedila Op cit Miguel Nogueira de Brito A Constituiccedilatildeo constituin-
te ensaio sobre o poder de revisatildeo da Constituiccedilatildeo Coimbra Coimbra 2000 Samantha Chantal Dobrowolski Op cit p 265-312
Rodrigo Brandatildeo Direitos fundamentais democracia e claacuteusulas peacutetreas Rio de Janeiro Renovar 2008 p 59-112
108Cf Michel Troper Justice Constitutionelle et Deacutemocratie In Pour une Theorie Juridique de LEacutetat Paris PUF 1994 p 317-328
Claacuteudio Pereira de Souza Neto Jurisdiccedilatildeo constitucional democracia e racionalidade praacutetica Op cit p 106-130 Gustavo Binen-
bojm A nova jurisdiccedilatildeo constitucional brasileira Op cit p 55-74
109Sobre o modelo revolucionaacuterio francecircs de constitucionalismo completamente avesso agrave ideacuteia de jurisdiccedilatildeo constitucional cf
Maurizio Fioravanti Constitucioacuten de la antiguumledad a nuestros dias Traduccedilatildeo de Manuel Martinez Neira Madrid Trotta 2001 p
120-132
110Cf Carl Schmitt La Defesa de la Constitucioacuten Madrid Tecnos 1983
111O constitucionalismo popular ou populismo constitucional eacute uma importante corrente no debate constitucional norte-americano
contemporacircneo que nega a legitimidade democraacutetica do controle de constitucionalidade advogando que deve caber ao proacuteprio
povo e natildeo a uma elite de juiacutezes natildeo eleitos com assento na Suprema Corte o poder de definir o sentido das claacuteusulas vagas que
abundam no texto constitucional daquele paiacutes Na defesa desta tese satildeo empregados tanto argumentos de teoria e filosofia poliacuteti-
ca de caraacuteter mais universal como razotildees histoacutericas relacionadas agrave evoluccedilatildeo do constitucionalismo estadunidense Veja-se nesta
linha Mark Tushnet Taking the Constitution Away from the Courts Princeton Princeton University Press 1999 Jeremy Waldron
Precommitment and Disagreement Op cit Larry D Kramer The People Themselves Popular constitutionalism and judicial re-
view New York Oxford University Press 1994
Ateacute algumas deacutecadas atraacutes a oposiccedilatildeo agrave jurisdiccedilatildeo constitucional nos Estados Unidos partia em regra da Direita que natildeo se con-
formava com a jurisprudecircncia extremamente liberal em mateacuteria de direitos fundamentais estabelecida pela Corte entre os anos
50 e 70 Atualmente uma boa parte dos opositores agrave judicial review situa-se agrave esquerda do espectro poliacutetico e talvez a nova linha
profundamente conservadora daquele Tribunal ajude a explicar esta mudanccedila
112Sobre a Era de Lochner veja-se Laurence H Tribe American Constitutional Law 2 ed Mineola The Foundation Press 1988 p
567-581 Paul Brest et al Processes of Constitucional Decisionmaking 4 ed New York Aspen Publishers 2000 p 337-354
113Towards Juristocracy hellip Op cit
114Tratei do tema no artigo Direito adquirido emenda constitucional democracia e justiccedila social In Livres e iguais Op cit p
03-32
115Cf Charles R Epp The Rights Revolution Chicago The University of Chicago Press 1998 p 26-70 Owen Fiss The Law as It
Could Be New York New York University Press 2003 p 244-249
116A importacircncia e as peculiaridades da interpretaccedilatildeo legislativa da Constituiccedilatildeo satildeo exploradas em importante obra coletiva
Richard W Bauman Tsvi Kahana The Least Examined Branch The Role of Legislatures in the Constitutional State Cambridge
Cambridge University Press 2006
117Cf em tom ainda mais ceacutetico do que o adotado neste estudo Martonio MontAlverne Barreto Lima Jurisdiccedilatildeo Constitucional
um problema da teoria da democracia poliacutetica In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Gilberto Bercovici Joseacute Filomeno de Moraes
Filho Martonio MontAlverne Teoria da Constituiccedilatildeo estudos sobre o lugar da poliacutetica no direito constitucional Rio de Janeiro
Lumen Juris 2003 p 199-261 Conrado Huumlbner Mendes Controle de constitucionalidade e democracia Rio de Janeiro Elsevier
2008
36
118Para criacutetica semelhante no contexto germacircnico veja-se Ingeborg Maus O judiciaacuterio como superego da sociedade sobre o papel
da atividade jurisprudencial na sociedade oacuterfatilde Traduccedilatildeo de Martonio MontAlverne Barreto Lima Paulo Antonio Menezes de Albu-
querque Anuaacuterio dos Cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito da Faculdade de Direito de Recife n 11 2000
119Eu aprofundo a anaacutelise deste ponto no meu artigo Interpretaccedilatildeo constitucional preacute-compreensatildeo e capacidades institucionais do
inteacuterprete In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm (Coord) Vinte anos da Constituiccedilatildeo Federal
de 1988 Op cit p 311-322 E a necessidade de optar por teoria de interpretaccedilatildeo que leve em consideraccedilatildeo as capacidades
institucionais reais dos juiacutezes comparando-as com as dos agentes de outras instituiccedilotildees eacute explorada no importante estudo de Cass
Sunstein Adrian Vermeulle Interpretations and Institutions Chicago Working Papers in Law amp Economics 2002 p 01-55 bem
como no livro de Adrian Vermeulle Judging under Uncertainty An Institutional Theory for Legal Interpretation Cambridge Har-
vard University Press 2006
120Dentre as honrosas exceccedilotildees mencione-se Luiacutes Roberto Barroso autor de importante artigo com sugestotildees para a reforma poliacuteti-
ca no paiacutes Reforma poliacutetica uma proposta de sistema de governo eleitoral e partidaacuterio para o Brasil Revista de Direito do Esta-
do n 3 p 287-360 jul set 2006
121Sobre o ethos judicial no Brasil veja-se a pesquisa de Maria Tereza Sadek Magistrados uma imagem em movimento Rio de
Janeiro FGV 2006
122Em sentido semelhante veja-se Michael J Perry The Constitution the Courts and Human Rights New Haven Yale University
Press 1982 p 91-145
123Neste ponto entendo que um standard importante que deveria ser adotado para controle de constitucionalidade eacute o de que
quanto maiores forem as credencias democraacuteticas de um ato normativo mais autocontido deve ser o Poder Judiciaacuterio ao avaliar a
sua constitucionalidade Na minha opiniatildeo estas credencias democraacuteticas devem ser aferidas tanto por criteacuterios qualitativos - eg
grau de participaccedilatildeo social no processo legislativo qualidade do processo deliberativo que a antecedeu - como por criteacuterios quanti-
tativos - percentual de votos favoraacuteveis agrave medida Em sentido semelhante veja-se Claacuteudio Ari Mello Democracia e direitos funda-
mentais Op cit p 298
124Em sentido proacuteximo apontam as liccedilotildees de Gustavo Binenbojm e Humberto Aacutevila O primeiro tratando do controle judicial dos
atos administrativos averbou que quanto maior for o grau de tecnicidade da mateacuteria objeto de decisatildeo por oacutergatildeos dotados de
expertise e experiecircncia menos intenso deve ser o grau de controle judicial (Uma teoria do direito administrativo Op cit p
236) Jaacute o segundo salientou que o acircmbito de controle pelo Judiciaacuterio deveraacute ser tanto menor quanto mais difiacutecil e teacutecnico for
o juiacutezo exigido para o tratamento da mateacuteria (Teoria dos princiacutepios Op cit p 126)
125Um exemplo extremado deste posicionamento estaacute na argumentaccedilatildeo adotada pelo STF no julgamento da ADIN 2797 Rel Min
Sepuacutelveda Pertence em que se reconheceu a inconstitucionalidade formal de lei que pretendia interpretar a Constituiccedilatildeo Para o
STF natildeo pode a lei ordinaacuteria pretender impor como seu objeto imediato uma interpretaccedilatildeo a Constituiccedilatildeo a questatildeo eacute de in-
constitucionalidade formal iacutensita a toda norma da gradaccedilatildeo inferior que se proponha a ditar interpretaccedilatildeo de norma superior
Na questatildeo de fundo abordada naquele caso entendo que o STF estava certo Tratava-se de invalidar uma norma legal que esten-
dera o foro de prerrogativa de funccedilatildeo a ex-ocupantes de cargos puacuteblicos visando a restaurar antiga jurisprudecircncia do STF sedi-
mentada na Suacutemula 394 do Tribunal que acabara de ser cancelada O princiacutepio republicano natildeo era compatiacutevel com tal medida
que configurava niacutetido privileacutegio O que me parece inaceitaacutevel e profundamente anti-democraacutetico com a devida vecircnia natildeo eacute o
resultado alcanccedilado pela Corte - com o qual concordo - mas o argumento empregado de que o legislador natildeo pode interpretar a
Constituiccedilatildeo
126Existe hoje uma fecunda produccedilatildeo acadecircmica no cenaacuterio anglo-saxatildeo sobre as vantagens de modelos teoacutericos que favoreccedilam
diaacutelogos entre diversos oacutergatildeos e instituiccedilotildees na interpretaccedilatildeo constitucional ao inveacutes de afirmarem a exclusividade ou mesmo a
supremacia do Judiciaacuterio nesta seara Veja-se a propoacutesito Laurence G Sager Justice in Plainclothes A Theory of American Con-
stitutional Practice New haven Yale University Press 2004 Mark Tushnet Weak Courts Strong Rights Judicial Review and Social
Welfare Rights in Comparative Constitutional Law Princeton Princeton University Press 2008 Mark C Miller Jeb Barnes (Ed)
Making Police Making Law An Interbranch Perspective Washington DC Georgetown University Press 2004
37
127Colhi o exemplo no estudo de Oscar Vilhena Vieira Supremocracia In Daniel Sarmento (Org) Filosofia e teoria constitucional
contemporacircnea Rio de Janeiro Lumen Juris 2009
128Como um natildeo-positivista tenho a necessaacuteria imparcialidade para criticar os equiacutevocos da doutrina brasileira nas suas invectivas
contra o positivismo que muitas vezes caracterizam verdadeira falaacutecia do espantalho ataca-se natildeo a proacutepria teoria positivista
mas uma distorcida caricatura dela Duas afirmaccedilotildees erradas que eu mesmo jaacute fiz em textos anteriores satildeo muito frequumlentes a
de que o positivismo recusa a aplicaccedilatildeo dos princiacutepios juriacutedicos e a de que ele teria sido a Filosofia do Direito cultivada na Alema-
nha nazista
Quanto ao primeiro ponto natildeo haacute nenhuma incompatibilidade loacutegica entre positivismo e princiacutepios desde que os princiacutepios este-
jam devidamente incorporados na ordem juriacutedico-positiva Vaacuterios autores positivistas contemporacircneos jaacute citados neste estudo
como Luis Prietro Sanchiacutes Luigi Ferrajoli e Gregorio Peces-Barba atribuiacuteram espaccedilo importante para princiacutepios nas suas teorias
Mesmo no Direito Puacuteblico brasileiro juristas de inspiraccedilatildeo positivista kelseniana construiacuteram suas teorias com apoio em argumen-
taccedilatildeo principioloacutegica como o falecido Geraldo Ataliba e Celso Antonio Bandeira de Mello
No que tange ao segundo ponto - a chamada redutio ad hitlerum - os estudos mais autorizados de Histoacuteria do Direito comprovam
que natildeo foi o positivismo a teoria juriacutedica dominante no nazismo mas uma espeacutecie de jusnaturalismo de inspiraccedilatildeo hegeliana que
se insurgia contra o formalismo e recorria com frequumlecircncia a conceitos muito vagos para justificar a barbaacuterie como os de comuni-
dade popular (Volksgemeinschaft) Veja-se a propoacutesito Michael Stolleis The Law under the Swastika Studies on Legal History in
Nazi Germany Traduccedilatildeo de Thomas Dunlap Chicago The University of Chicago Press 1998
129Cf Joseacute Joaquim Gomes Canotilho Direito constitucional e Teoria da Constituiccedilatildeo Coimbra Almedina 1998 p 1036
130Sobre a importacircncia das regras veja-se Frederick Schauer Playing by the Rules A Philosophical Exaxamination of Rule-Bases
Decision-Making in Law and Life Oxford Oxford University Press 1998 Humberto Aacutevila Neoconstitucionalismo entre a ciecircncia do
direito e o direito da ciecircncia Op cit Noel Struchiner Posturas institucionais e modelagem institucional a dignidade (contingente)
do formalismo juriacutedico In Daniel Sarmento Filosofia e teoria constitucional contemporacircnea Op cit
131Esta eacute expressatildeo empregada por Ana Paula de Barcellos O direito constitucional em 2006 Revista de Direito do Estado n 5 p
03-23 janmar 2007
132Cf Chaiumlm Perelman P Fories La Motivation des Deacutecisions de Justice Bruxelas Eacutemile Bruylant 1978
133Sobra a influecircncia do jeitinho no Direito brasileiro cf Keith Rosen O jeito na cultura juriacutedica brasileira Rio de Janeiro Reno-
var 1997
134Sobre o patrimonialismo no Brasil veja-se Raimundo Faoro Os donos do poder 8 ed Rio de Janeiro Globo 1989 v 2 p 729-
750
135Raiacutezes do Brasil 26 ed Satildeo Paulo Companhia das Letras 1995
136Cf Joseacute Murilo de Carvalho Brasileiro Cidadatildeo In Pontos e bordados escritos de histoacuteria e poliacutetica Belo Horizonte Ed
UFMG 2005 p 275-288
137Cf Gustavo Zagrebelsky Il Diritto Mite Op cit p 15-19
138Cf Marcelo Neves A constitucionalizaccedilatildeo simboacutelica Satildeo Paulo Acadecircmica 1994
139A obra de Niklas Luhman eacute vasta e complexa e seus textos satildeo de difiacutecil compreensatildeo para os natildeo iniciados Veja-se do proacuteprio
autor Sociologia do direito I e II Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 1983 e 1985 Sistema Jurididico y Dogmaacutetica Juriacutedica Madrid
Centro de Estuacutedios Constitucionales 1983 Confira-se tambeacutem a coletacircnea organizada por Andreacute-Jean Arnaud Dalmir Lopes Jr Do
sistema social agrave sociologia juriacutedica Rio de Janeiro Lumen Juris 2004
140Sobre a autopoieses do Direito veja-se tambeacutem a obra importante de Guumlnther Teubner O direito como sistema autopoieacutetico
Traduccedilatildeo de Joseacute Engracia Nunes Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1993
141Cf Luis Roberto Barroso Neoconstitucionalismo e a constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit
142Esta era basicamente a visatildeo de Hans Kelsen (Cf Hans Kelsen Jurisdiccedilatildeo constitucional Traduccedilatildeo de Alexandre Krug et al Satildeo
Paulo Martins Fontes 2003 p 153) Para uma anaacutelise criacutetica desta posiccedilatildeo veja-se Luis Prietro Sanchiacutes Presupuestos ideoloacutegicos
y doctrinales de la jurisdicioacuten constitucional In Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales Op cit p 21-100
38
143Cf Christian Starck La suprematie La Suprematie de la Constitution et la Justice Constitutionnelle In La Constitution Cadre et
Mesure du Droit Traduccedilatildeo de Freacutederic Weill Paris Econocircmica 1994 p 26-30 Ernst- Wolfgang Boumlckenfoumlrde Les meacutethodes
dinterpretation de la Constitution Un bilan critique In Le Droit lEacutetat et la Constitution Democratique Traduccedilatildeo de Olivier
Jouanjan Paris LGDJ 2000 p 249-250 Virgiacutelio Afonso da Silva Constitucionalizaccedilatildeo do direito os direitos fundamentais nas
relaccedilotildees entre particulares Satildeo Paulo Malheiros 2005 p 107-131 Daniel Sarmento Ubiquumlidade constitucional os dois lados da
moeda Op cit Luis Roberto Barroso Curso de Direito Constitucional Contemporacircneo Op cit p 391-394 Alceu Mauriacutecio Jr
Judicializaccedilatildeo da poliacutetica e a crise do direito constitucional a Constituiccedilatildeo entre ordem marco e ordem fundamenta Revista de
Direito do Estado n 10 p 125-142 abrjun 2008
144Der Staat der Industriegesellshaft 2 ed Muumlnchen Beck 1971 p 144 Apud Robert Alexy Posfaacutecio In Teoria dos direitos
fundamentais Op cit p 578
145De acordo com Carlos Santiago Nino o perfeccionaismo eacute la concepcioacuten seguacuten la cual es una misioacuten legiacutetima del Estado hacer
que los individuos acepten y materializen ideales vaacutelidos de virtud personal Seguacuten este enfoque el Estado no puede permanecer
neutral respecto de concepciones de lo bueno en la vida y debe adoptar las medidas educativas punitorias etc que sean necesa-
rias para que los indiviacuteduos ajusten su vida a los verdaderos ideales de virtud y del bien (Eacutetica y Derechos Humanos Un ensayo de
fundamentacioacuten 2 ed Buenos Aires Astrea 1989 p 413)
146Daniel Sarmento Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas 2 ed Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 Sobre o tema na literatura
nacional veja-se tambeacutem Wilson Antocircnio Steinmetz A vinculaccedilatildeo dos particulares aos direitos fundamentais Satildeo Paulo Malheiros
2004 Virgiacutelio Afonso da Silva Constitucionalizaccedilatildeo do direito os direitos fundamentais nas relaccedilotildees entre particulares Op cit
Ingo Wolfgang Sarlet Direitos fundamentais e direito privado algumas consideraccedilotildees em torno da vinculaccedilatildeo dos particulares aos
direitos fundamentais In Ingo Wolfgang Sarlet (Org) A Constituiccedilatildeo concretizada Porto Alegre Livraria do Advogado 1999 p
129-173 Jane Reis Gonccedilalves Pereira Apontamentos sobre a aplicaccedilatildeo das normas de direito fundamental nas relaccedilotildees juriacutedicas
entre particulares In Luis Roberto Barroso (Org) A nova interpretaccedilatildeo constitucional ponderaccedilatildeo direitos fundamentais e
relaccedilotildees privadas Rio de Janeiro Renovar 2003 p 119-192
147Sobre a questatildeo da (i)legitimidade do perfeccionismo no Direito veja-se Joel Feinberg Rights Justice and the Bounds of Liber-
ty Princeton Princeton University Press 1980 Carlos Santiago Nino Eacutetica y Derechos Humanos Op cit p 413-446 Rainer Forst
Contexts of Justice Political Philosophy beyond Liberalism and Communitarianism Traduccedilatildeo de John M M Farrel Berkeley Uni-
versity of Califoacuternia Press 2001 p 30-87 Macaacuterio Alemany El Paternalismo Juriacutedico Madrid Iustel 2006
148Um sofisticado modelo que busca conciliar a constitucionalizaccedilatildeo do Direito com a democracia estaacute exposto no Poacutesfaacutecio agrave Teo-
ria dos Direitos Fundamentais de Robert Alexy acima citado Veja-se ainda Konrad Hesse Concepto y Cualidad de la Constitu-
cion In Escritos de Derecho Constitucional Traduccedilatildeo de Pedro Cruz Villaloacuten 2 ed 1992 p 03-29
149Tentei articular a minha teoria sobre eficaacutecia horizontal dos direitos fundamentais com este objetivo Cf Daniel Sarmento
Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas Op cit p 141-182 259-272
150Sobre el Neoconstitucionalismo y sus Implicaciones Op cit p 117
151Aqui entendo que o simples reconhecimento da penetraccedilatildeo da Moral no Direito preconizada pelos neoconstitucionalistas brasi-
leiros natildeo eacute suficiente jaacute que certas concepccedilotildees morais podem tornar o ordenamento ainda mais opressivo do que jaacute eacute Afinal
nem sempre a moralizaccedilatildeo do Direito se daacute na direccedilatildeo da emancipaccedilatildeo dos excluiacutedos Veja-se por exemplo a famosa polecircmica
jusfilosoacutefica entre Lord Patrick Devlin e Herbert Hart nos anos 60 na Inglaterra a propoacutesito do uso do Direito Penal para promoccedilatildeo
de Moral em que o primeiro a partir de uma posiccedilatildeo proacute-moral sustentava a legitimidade da criminalizaccedilatildeo da conduta homos-
sexual que o segundo contestava (Cf Lord Patrick Devlin Morals and Criminal Law In Ronald Dworkin (Ed) The Philosophy of
Law Op cit p 66-82 Herbert Hart Immorality and Treason In Idem ibidem)
Eacute preciso assentar as bases criacuteticas desta Moral que deve penetrar o Direito para evitar que o moralismo conservador seja expulso
do ordenamento pela porta da frente superado pela legislaccedilatildeo moderna em razatildeo da progressiva liberalizaccedilatildeo da sociedade mas
volte pela porta dos fundos atraveacutes da argumentaccedilatildeo juriacutedica dos juiacutezes lastreada em conceitos vagos como ordem puacuteblica e
bons constumes ou em standards como o comportamento do bom pai de famiacutelia
39
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___________________
1Sobre a teoria de princiacutepios no Brasil veja-se dentre outros Ana Paula de Barcellos A eficaacutecia juriacutedica dos princiacutepios constitu-
cionais o princiacutepio da dignidade da pessoa humana Rio de Janeiro Renovar 2002 Humberto Bergman Aacutevila Teoria dos princiacute-
pios da definiccedilatildeo agrave aplicaccedilatildeo dos princiacutepios juriacutedicos 2 ed Satildeo Paulo RT 2005 Jane Reis Gonccedilalves Pereira Interpretaccedilatildeo
constitucional e direitos fundamentais uma contribuiccedilatildeo ao estudo das restriccedilotildees aos direitos fundamentais na perspectiva da
teoria dos princiacutepios Rio de Janeiro Renovar 2006 Virgiacutelio Afonso da Silva O conteuacutedo essencial dos direitos fundamentais e a
eficaacutecia das normas constitucionais Satildeo Paulo Tese (concurso de Professor Titular de Direito Constitucional da USP)
2Veja-se em tons variados Lecircnio Luiz Streck Hermenecircutica juriacutedica e(m) crise uma exploraccedilatildeo hermenecircutica da construccedilatildeo do
direito Porto Alegre Livraria do Advogado 1999 Luiacutes Roberto Barroso (Org) A nova interpretaccedilatildeo constitucional ponderaccedilatildeo
direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas Rio de Janeiro Renovar 2003 Margarida Maria Lacombe Camargo Hermenecircutica e
argumentaccedilatildeo uma contribuiccedilatildeo ao estudo do direito Rio de Janeiro Renovar 2003 Inocecircncio Maacutertires Coelho Interpretaccedilatildeo
constitucional 2 ed Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2003 Ana Paula de Barcellos Ponderaccedilatildeo racionalidade e atividade
jurisdicional Rio de Janeiro Renovar 2005
3Sobre o fenocircmeno da constitucionalizaccedilatildeo do Direito confira-se os inuacutemeros artigos que compotildeem a coletacircnea organizada por
Claacuteudio Pereira de Souza Neto e por mim A constitucionalizaccedilatildeo do direito fundamentos teoacutericos e aplicaccedilotildees especiacuteficas Rio de
Janeiro Lumen Juris 2007
4Cfr na literatura constitucional brasileira Gisele Guimaratildees Cittadino Pluralismo direito e justiccedila distributiva elementos de
filosofia constitucional contemporacircnea Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 Oscar Vilhena Vieira A Constituiccedilatildeo e sua reserva de
justiccedila um ensaio sobre os limites materiais do poder de reforma Satildeo Paulo Malheiros 1999 Ricardo Lobo Torres (Org) A legi-
timaccedilatildeo dos direitos humanos Rio de Janeiro Renovar 2002 Claacuteudio Pereira de Souza Neto Teoria constitucional e democracia
deliberativa Rio de Janeiro Renovar 2006 Lecircnio Luiz Streck Verdade e consenso Constituiccedilatildeo hermenecircutica e teorias discursi-
vas Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 Samantha Chantal Dobrowolski A construccedilatildeo social do sentido da Constituiccedilatildeo na demo-
cracia contemporacircnea entre soberania popular e direitos humanos Rio de Janeiro Lumen Juris 2007 Aacutelvaro Ricardo de Souza
Cruz Hermenecircutica juriacutedica e(m) debate o constitucionalismo brasileiro entre a teoria do discurso e a ontologia existencial Belo
Horizonte Foacuterum 2007
5Sobre a judicializaccedilatildeo da poliacutetica no Brasil veja-se Luiz Werneck Vianna et al A judicializaccedilatildeo da poliacutetica e das relaccedilotildees sociais
no Brasil Rio de Janeiro Revan 1999 Giselle Cittadino Judicializaccedilatildeo da poliacutetica constitucionalismo democraacutetico e separaccedilatildeo de
poderes In Luiz Werneck Vianna (Org) A democracia e os trecircs poderes no Brasil Belo Horizonte UFMG 2002 p 17-42 Rogeacuterio
B Arantes Constitucionalism the expansion of Justice and the Judicialization of Poltics in Brazil In Rachel Sieder Line Schjol-
den Alan Angell The Judicialization of Politics in Latin America New York Palgrave Macmillan 2005 p 232-262 Luis Roberto
Barroso Judicializaccedilatildeo ativismo judicial e legitimidade democraacutetica Texto ineacutedito gentilmente cedido pelo autor
Para uma perspectiva comparativa veja-se Neal C Tate Tobjorn Vallinder (Ed) The Global Expansion of Judicial Power New
York New York University Press 1995 Alec Stone Sweet Governing with Judges Constitutional Politics in Europe Oxford Oxford
Univesity Press 2000 e em tom profundamente criacutetico Ran Hirschl Towards Juristocracy the Origins and Consequences of the
New Constitucionalism Cambridge Harvard University Press 2004
6Miguel Carbonell et al Neoconstitucionalismo(s) Madrid Trotta 2003 Mais recentemente o autor publicou nova coletacircnea
tambeacutem dedicada ao estudo do neoconstitucionalismo intitulada Teoria del Neoconstitucionalismo Ensayos escogidos Madrid
Trotta 2007
7O jurista argentino Carlos Santiago Nino por exemplo faleceu em 1993 quando ainda nem se empregava esta denominaccedilatildeo
8Cf Robert Alexy Teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica a teoria do discurso racional como teoria da fundamentaccedilatildeo juriacutedica Tradu-
ccedilatildeo de Zilda Hutchinson Schild Silva revisatildeo teacutecnica da traduccedilatildeo e introduccedilatildeo agrave ediccedilatildeo brasileira Claudia Toledo 2 ed Satildeo Paulo
Landy 2005 Luis Roberto Barroso Curso de direito constitucional contemporacircneo os conceitos fundamentais e a construccedilatildeo do
novo modelo Rio de Janeiro Saraiva 2008 p 306-350
9Cf Lecircnio Luiz Streck Verdade e consenso Op cit p 197-246
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10Ronald Dworkin e Carlos Santiago Nino satildeo sem sombra de duacutevida autores liberais natildeo no sentido que se atribui ao termo no
Brasil - de adeptos de doutrina econocircmica favoraacutevel ao Estado miacutenimo e ao mercado - mas sim no sentido corrente na Filosofia
Poliacutetica que associa o liberalismo agrave defesa dos direitos individuais e da neutralidade do Estado em relaccedilatildeo agraves diversas concepccedilotildees
sobre a vida boa existentes na sociedade Veja-se neste sentido Ronald Dworkin A Matter of Principle Cambridge Harvard
University Press 1985 p 181-236 Carlos Santiago Nino La constitucioacuten de la Democracia Deliberativa Barcelona Gedisa 1997
p 70-100
11Lecircnio Luiz Streck que se alinha ao neoconstitucionalismo defende posturas tipicamente comunitaristas como o papel da Consti-
tuiccedilatildeo na definiccedilatildeo de modelos de vida boa para orientaccedilatildeo da vida social e da accedilatildeo individual Cf Jurisdiccedilatildeo constitucional e
hermenecircutica uma nova criacutetica do direito 2 ed Rio de Janeiro Forense 2004 p 95-288
12Antonio Cavalcanti Maia um dos mais ardorosos defensores do neoconstitucionalismo no paiacutes eacute tambeacutem procedimentalista e
adepto das teorias juriacutedicas de Juumlrgen Habermas Veja-se neste sentido o seu denso texto Nos vintes anos da carta cidadatilde do
poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm (Coord) Vinte
anos da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 p 117-168 em que esta sua dupla filiaccedilatildeo intelectual eacute
explicitada
13Segundo Miguel Carbonell o neoconstitucionalismo desdobra-se em trecircs planos de anaacutelise que se conjugam o dos textos consti-
tucionais que se tornaram mais substantivos e incorporaram amplos elencos de direitos fundamentais o das praacuteticas judiciais que
passaram a recorrer a princiacutepios constitucionais agrave ponderaccedilatildeo e a meacutetodos mais flexiacuteveis de interpretaccedilatildeo sobretudo na aacuterea de
direitos fundamentais e o dos desenvolvimentos teoacutericos de autores que com as suas ideacuteias ajudaram natildeo soacute a compreender os
novos modelos constitucionais mas tambeacutem participaram da sua proacutepria criaccedilatildeo Cf Miguel Carbonell Neoconstitucionalismo
elementos para una definicioacuten In Eduardo Ribeiro Moreira Mauricio Pugliesi 20 anos da Constituiccedilatildeo brasileira Satildeo Paulo Sarai-
va 2009 p 197-208
14No mesmo sentido Luis Roberto Barroso Neoconstitucionalismo e Constitucionalizaccedilatildeo do direito o triunfo tardio do direito
constitucional do Brasil In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento A constitucionalizaccedilatildeo do direito fundamentos teoacuteri-
cos e aplicaccedilotildees especiacuteficas Rio de Janeiro Lumen Juris 2007 p 203-250
15Cf Carlos Bernal Pulido El Derecho de los Derechos Bogotaacute Universidad Externado de Colocircmbia 2006 Manoel Jose Cepeda
Espinosa Judicialization of Politics in Colombia the old and the new In Rachel Sieder Line Schonjen Alan Angell The Judiciali-
zation of Politics in Latin America Op cit p 67-104 Rodrigo Uprimmy Mauriacutecio Garcia-Villegas Tribunal Constitucional e eman-
cipaccedilatildeo social na Colocircmbia In Boaventura de Souza Santos Democratizar a democracia os caminhos da democracia participativa
Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2002 p 297-339
16Cf Catalina Smulovitz Petitioning and Creating Rights Judicialization in Argentina In Rachel Sieder Line Scjolden Alan Angell
The Judicialization of Politics in Latin America Op cit p 161-185
17Cf Miguel Carbonell Los Derechos Fundamentales en Meacutexico 2 ed Meacutexico Porruacutea 2006 Pilar Domingo The Changing Political
Role of the Judiciary in Meacutexico In Rachel Sieder Line Scjolden Alan Angell The Judicialization of Politics in Latin Ameacuterica Op
cit p 21-46
18Cf Heinz Klug South Aacutefrica From Constitucional Promise to Social Transformation In Jeffrey Goldsworthy Interpreting Consti-
tutions A Comparative Study Oxford Oxford University Press 2006 p 266-320
19Cf S P Sathe Iacutendia From Positivism to Structuralism In Jeffrey Goldsworthy Op cit p 215-265
20Veja-se a propoacutesito Gustavo Zagrebelsky Il Diritto Mite Torino Einaudi 1992 p 57-96
21Cf Eduardo Garciacutea de Enterriacutea La Constitucioacuten como Norma y el Tribunal Constitucional 3 ed Madrid Civitas 1985 p 41
22Na Alemanha a mudanccedila ocorreu sob a vigecircncia da Lei Fundamental adotada em 1949 e foi fortemente impulsionada pela
jurisprudecircncia do Tribunal Constitucional do paiacutes que construiu teorias importantes como a da Constituiccedilatildeo como uma ordem de
valores em cujo centro situa-se o princiacutepio da dignidade humana que se irradia por todo o ordenamento Veja-se a propoacutesito
Dieter Grimm Human Rights and Judicial Review in Germany In David M Beatty (Org) Human Rights and Judicial Review A
Comparative Perspective Dodrecht Martin Urjhoff 1994 p 267-295
23Na Itaacutelia as mudanccedilas se deram sob a eacutegide da atual Constituiccedilatildeo editada em 1947 mas soacute apoacutes o funcionamento da Corte
Constitucional que se deu em 1956 Ateacute entatildeo a Corte de Cassaccedilatildeo composta por juiacutezes recrutados ainda no periacuteodo do fascismo
29
era provisoriamente encarregada da guarda da Constituiccedilatildeo o que fazia de forma muito tiacutemida no mais das vezes negando eficaacute-
cia juriacutedica agraves normas constitucionais sob o argumento de que seriam programaacuteticas Veja-se a propoacutesito Ricardo Guastini A
constitucionalizaccedilatildeo do ordenamento juriacutedico e a experiecircncia italiana In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento A
constitucionalizaccedilatildeo do direito fundamentos teoacutericos e aplicaccedilotildees especiacuteficas Op cit p 271-294
24Cf No modelo do constitucionalismo norte-americano entende-se desde os primoacuterdios que a Constituiccedilatildeo eacute autecircntica lei e que
o Judiciaacuterio pode invalidar as decisotildees legislativas que a contrariem apesar do controle de constitucionalidade natildeo estar expres-
samente previsto no texto constitucional daquele paiacutes Esta ideacuteia que jaacute estava assentada no Federalista n 78 escrito por Ale-
xander Hamilton antes da aprovaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo foi posta em praacutetica pela primeira vez contra lei federal no ceacutelebre caso
Marbury v Madison julgado em 1803 pelo juiz Marshall Veja-se a propoacutesito Paul Brest Sanford Levinson Jack Balkin Akhil Reed
Amar Processes of Constitutional Decisionmaking Cases and Materials New York Aspen Publishers 2000 p 79-103
A versatildeo mais convencional do modelo constitucional norte-americano enfatiza a importacircncia central do Judiciaacuterio na atualizaccedilatildeo
do sentido da Constituiccedilatildeo do paiacutes Contudo esta leitura histoacuterica eacute hoje objeto de intensa disputa Em sentido contraacuterio a tal
posiccedilatildeo sustentando uma menor relevacircncia do Judiciaacuterio no desenvolvimento histoacuterico do constitucionalismo americano veja-se
por exemplo Stephen M Griffin American Constitutionalism From Theory to Politics New Jersey Princeton University Press
1996 p 88-139
25Cf Luis Prietro Sanchiacutes Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales Madrid Trotta 2003 p 107-117
26Cf Daniel Sarmento Ubiquumlidade constitucional Os dois lados da moeda In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento
(Coord) A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 113-148
27Na verdade a reaccedilatildeo contra o formalismo juriacutedico na Europa eacute bem anterior ao advento do constitucionalismo do 2ordm poacutes-guerra
remontando ao final do seacuteculo XIX Veja-se a propoacutesito Constantin M Stamatis Argumenter en Droit Une theacuteorie critique de
largumentation juridique Paris Publisud 1995 p 34-50 Antonio Manoel Hespanha Panorama histoacuterico da cultura juriacutedica euro-
peacuteia Lisboa Publicaccedilotildees Europa-Ameacuterica 1997 p 196-235
28Haacute vasta literatura sobre a ponderaccedilatildeo mas a obra mais influente sobre o tema eacute certamente o livro de Robert Alexy Teoria dos
direitos fundamentais Traduccedilatildeo de Virgiacutelio Afonso da Silva Satildeo Paulo Malheiros 2008 No cenaacuterio norte-americano veja-se a
anaacutelise densa e criacutetica de T Alexander Aleinikoff Constitucional Law in the Age of Balancing Yale Law Journal n 96 p 943-
1005 1987 No Brasil cfr Daniel Sarmento A ponderaccedilatildeo de interesses na Constituiccedilatildeo Federal Rio de Janeiro Lumen Juris
2000 Ana Paula de Barcellos Ponderaccedilatildeo racionalidade e atividade jurisdicional Op cit
29A bibliografia sobre o princiacutepio da proporcionalidade eacute vastiacutessima Veja-se a propoacutesito as densas anaacutelises de Carlos Bernal Puli-
do El Principio de Proporcionalidad y los Derechos Fundamentales Madrid Centro de Estuacutedios Constitucionales 2003 e no Brasil
de Jane Reis Gonccedilalves Pereira Interpretaccedilatildeo constitucional e direitos fundamentais Rio de Janeiro Renovar 2006 p 297-382
30Cf Chaiumlm Perelman Eacutetica e direito Traduccedilatildeo de Maria Ermantina Galvatildeo G Perira Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 p 361-684
Robert Alexy Teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica Op cit Friedrich Muller Discours de la Meacutethode Juridique Traduccedilatildeo de Olivier
Jouanjan Paris PUF 1993 Manuel Atienza Traacutes la Justicia Una Introduccioacuten al Derecho y al Razonamiento Juriacutedico Barcelona
Ariel 1995 Neil MacCormick Argumentaccedilatildeo juriacutedica e teoria do direito Traduccedilatildeo de Waldeacutea Barcellos Satildeo Paulo Martins Fontes
2006 Klaus Guumlnther Teoria da argumentaccedilatildeo no direito e na moral justificaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Claacuteudio Molz Satildeo Pau-
lo Landy 2004
31Cf Martin Shapiro Alec Stone Sweet On Law Politics and Judicialization New York Oxford University Press p 136-208
32Contudo deve-se admitir na linha de Paolo Comanducci que eacute possiacutevel reconhecer as mudanccedilas em questatildeo e propor novas
teorias que sejam adequadas a elas sem defendecirc-las Esta seria nas palavras do autor italiano a diferenccedila entre o neoconstitu-
cionalismo teoacuterico e o neoconstitucionalismo ideoloacutegico que natildeo apenas constroacutei teorias mais compatiacuteveis com os novos fenocirc-
menos mas vai aleacutem sustentando a sua legitimidade e propugnando pelo seu aprofundamento e expansatildeo Veja-se a propoacutesito
Paulo Comanducci Formas de neoconstitucionalismo Un anaacutelisis metateoacuterico In Miguel Carbonell (Ed) Neoconstitucionalis-
mo(s) Op cit p 75-98 Como reconhece o proacuteprio autor tal distinccedilatildeo baseia-se em uma semelhante acerca do positivismo
30
formulada por Norberto Bobbio que fala em positivismo teoacuterico ideoloacutegico e metodoloacutegico Cf Norberto Bobbio O positivismo
juriacutedico liccedilotildees de filosofia do direito Traduccedilatildeo e notas de Marcio Pugliesi et al Satildeo Paulo Iacutecone 1995 p 233-239
33Cf Ronald Dworkin Is Law a Sistem of Rules In Ronald Dworkin (Ed) Philosophy of Law Oxford Oxford University Press 1971
Robert Alexy Constitucionalismo discursivo Traduccedilatildeo de Luiz Afonso Heck Porto Alegre Livraria do Advogado 2007
34Cf Robert Alexy Derecho y Razoacuten Praacutectica Meacutexico Distribuiciones Fontamara 1993 Aulis Aarnio Lo Racional como Razonable
Traduccedilatildeo de Ernesto Garzoacuten Valdeacutes Madrid Centro de Estuacutedios Constitucionales 1991
35Cf Aharon Barak The Judge in a Democracy New Jersey Princeton University Press 2006 p 213-260 Gustavo Zagrebelsky Il
Diritto Mite Op cit p 179-217
36Confronte-se com perspectivas diferentes Luigi Ferrajoli O Estado de direito entre passado e futuro In Pietro Costa Danilo
Zolo (Org) Estado de direito histoacuteria teoria criacutetica Traduccedilatildeo de Carlo Alberto Dastoli Satildeo Paulo Martins Fontes 2006 p 419-
464 Elias Dias Estado de Derecho y Sociedad Democraacutetica Madrid Taurus 1998 Ronald Dworkin Introduction The Moral Reading
and the Majoritarian Premise In Freedoms Law The moral reading of the American Constitution Cambridge Harvard University
Press 1996 p 01-38 Gustavo Zagrebelsky La Crucifixioacuten y la Democracia Barcelona Ariel 1996 Claacuteudio Pereira de Souza Neto
Teoria constitucional da democracia deliberativa Op cit
37Cf Ronald Dworkin Introduction The Moral Reading and the Majoritarian Premise Op cit
38Cf Luigi Ferrajoli El Garantismo y la Filosofia del Derecho Bogotaacute Universidad Externado de Colocircmbia 2000
39Cf Luis Pietro Sanchis Sobre el Neoconstitucionalismo y sus Implicaciones In Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales
Op cit p 101-135
40Cf Ricardo Guastini Sur la Validiteacute de la Constitution du Point de Vue du Positivisme Juridique In Michel Troper Lucien Jaume
(Dir) 1789 et LInvention de la Constitution Paris LGDJ 1994 p 216-225
41Cf Suzana Pozzolo Neoconstituzionalismo e Positivismo Giuridico Torino Giapppicheli 2001
42Cf Ronald Dworkin Law and Morals In Justice in Robes Cambridge Harvard University Press 2006 p 01-35
43Cf Robert Alexy Derecho y Moral In La Institucionalizacioacuten de la Justicia Op cit p 17-30
44Cf Carlos Santiago Nino Eacutetica y Derechos Humanos 2 ed Buenos Aires Astrea 1989 p 11-48
45Cf Gustav Radbruch Cinco minutos de filosofia do direito In Filosofia do direito Traduccedilatildeo de L Cabral de Moncada 6 ed
Coimbra Armecircnio Amado 1979 p 414-418 Para uma densa problematizaccedilatildeo da foacutermula de Radbruch veja-se Thomas da Rosa
Bustamante Poacutes-Positivismo o argumento da injusticcedila aleacutem da Foacutermula de Radbruch In Teoria do direito e decisatildeo racional
temas de teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica Rio de Janeiro Renovar 2008
46Cf Robert Alexy La Institucionalizacioacuten de la Justicia Traduccedilatildeo de Joseacute Antonio Seone et al Granada Comares 2005 p 31-
54
47Sobre o tema cfr Alfonso Garcia Figueroa Princiacutepios e direitos fundamentais In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmen-
to A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 03-34
48O texto mais importante do positivismo inclusivo eacute o poacutes-escrito de Herbert LA Hart agrave sua obra magna The Concept of Law em
que ele responde agraves criacuteticas ao seu pensamento que Ronald Dworkin lhe endereccedilara O autor inglecircs faleceu antes de terminar o
texto mas ele foi publicado postumemente depois de ser editado por Joseph Raz Peneacutelope Bulloch Veja-se Herbert LA Hart
Poacutes-escrito In O conceito de direito Traduccedilatildeo de A Ribeiro Mendes 2 ed 1994 p 299-339 Tambeacutem na linha do positivismo
inclusivo veja-se Gregorio Peces- Barba Derechos Sociales y Positivismo Juriacutedico Escritos de Filosofia Poliacutetica y Juriacutedica Madrid
Dykinson 1999 p 83-90 Jules Coleman The Practice of Principle In defense of a pragmatist approach do legal theory Oxford
Oxford University Press p 103-120 Para uma resenha dos tipos de positivismo no debate contemporacircneo confira-se Dimitri Di-
moulis Positivismo juriacutedico introduccedilatildeo a uma teoria do direito e defesa do pragmatismo juriacutedico-politico Satildeo Paulo Meacutetodo
2006 p 65-166
49Cf Antonio Cavalcanti Maia Nos vinte anos da Constituiccedilatildeo do poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo Op cit Claacuteudio Perei-
ra de Souza Neto A teoria constitucional e seus lugares especiacuteficos notas sobre o aporte reconstrutivo Revista de Direito do
Estado n 1 p 89-104 jan mar 2006 Daniel Sarmento Interpretaccedilatildeo constitucional preacute-compreensatildeo e capacidades institu-
cionais do inteacuterprete In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binebojm Vinte anos da Constituiccedilatildeo de 1988
Op cit p 311-322
31
50Cf Juumlrgen Habermas Escritos sobre Moralidad y Eticidad Traduccedilatildeo de Manuel Jimenez Redondo Barcelona Paidoacutes 1991 p
131-172
51Sobre o comunitarismo haacute extensa literatura Dois textos claacutessicos deste linha de pensamento satildeo Michael Walzer The Communi-
tarian Critique of Liberalism In Politics and Passion New Haven Yale University Press 2004 p 141-163 Charles Taylor The
Procedural Republic and the Unencumbered Self In Robert Goodin Philip Pettit (Ed) Contemporary Political Philosophy 2 ed
Oxford Oxford University Press 2002 p 2462-256 Sobre a penetraccedilatildeo ainda que muitas vezes natildeo consciente das posiccedilotildees do
comunitarismo no constitucionalismo brasileiro veja-se Gisele Cittadino Pluralismo direito e justiccedila distributiva Op cit p
43-74
52Sobre o construtivismo eacutetico corrente filosoacutefica que sustenta a existecircncia de posiccedilotildees certas e erradas na Moral bem como a
possibilidade de encontraacute-las e fundamentaacute-las racionalmente veja-se Carlos Santiago Nino El Constructivismo Eacutetico Madrid
Centro de Estudios Constitucionales 1989
53O fenocircmeno tambeacutem se reproduz na teoria constitucional norte-americana hegemocircnica cf Keith Wittington Constitutional Con-
struction Divided Powers and Constitutional Meaning Cambridge Harvard University Press 1999 p 01-03
54A imagem do Poder Judiciaacuterio como um guardiatildeo de promessas eacute explorada e criticada numa obra importante da teoria juriacutedica
francesa contemporacircnea Antoine Garapon Le Gardien de Promesses Le juge et la democratie Paris Odile Jacob 1996
55Neste sentido o eloquumlente encerramento do Curso de Direito Constitucional Contemporacircneo de Luis Roberto Barroso o consti-
tucionalismo democraacutetico eacute a utopia que nos restou Uma feacute racional que ajuda a acreditar no bem e na justiccedila ainda quando natildeo
estejam ao alcance dos olhos (Op cit p 400)
56Cf Nico Poulantzas State Power Socialism London new Left Books 1978 Alan Hunt Marxist Theory of Law In Dennis Patter-
son (Ed) A Companion to Philosophy of Law and Legal Theory Malden Blackwell Publishers 1996 p 355-367
57Cf David Kairys (Ed) The Politics of Law A Progressive Critique New York Pantheon Books 1982 Roberto Mangabeira Unger
The Critical Legal Studies Movement Cambridge Harvard University Press 1986
58Cf Plauto Faraco Azevedo Criacutetica agrave dogmaacutetica e hermenecircutica juriacutedica Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1989 Luiz Fernando
Coelho Teoria criacutetica do direito 2 ed Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1991
59Natildeo haacute como abordar aqui as relaccedilotildees entre as inuacutemeras correntes do poacutes-modernismo e o Direito Constitucional Veja-se a
propoacutesito Niklas Luhman La Constituzione como Acquisizione Evolutiva In Gustavo Zagrebelsky Piacuteer Paolo Portinaro Joumlrg Lu-
ther Il Futuro della Costituzione Torino Einaudi 1996 p 83-128 Joseacute Joaquim Gomes Canotilho Civilizaccedilatildeo do direito constitu-
cional ou constitucionalizaccedilatildeo do direito civil a eficaacutecia dos direitos fundamentais na ordem juriacutedico-civil no contexto do direito
poacutes-moderno Cadernos de Direito Constitucional e Ciecircncia Poliacutetica n 15 p 07-16 1996 Eduardo Capellari A crise da moderni-
dade e a Constituiccedilatildeo Rio de janeiro Ameacuterica Juriacutedica 2004 Daniel Sarmento Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas 2 ed
Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 p 36-45
60Para Jean-Franccedilois Lyotard uma das caracteriacutesticas centrais do pensamento poacutes-moderno de que eacute expoente eacute a desconfianccedila
em relaccedilatildeo agraves metanarrativas - construccedilotildees abstratas grandiosas e totalizadoras tiacutepicas da Filosofia Moderna como direitos
humanos luta de classes e emancipaccedilatildeo pelo uso da razatildeo Cf Lyotard A condiccedilatildeo poacutes-moderna Traduccedilatildeo de Ricardo Correcirca
Barbosa 5 ed 1998 p16
61Cf Luiz Werneck Viana O terceiro poder na carta de 1988 e a tradiccedilatildeo republicana mudanccedila e conservaccedilatildeo In Ruben George
Oliven Marcelo Gildo Marccedilal Branda A Constituiccedilatildeo de 1988 na vida brasileira Satildeo Paulo Aderaldo e Rotshild 2008 p 91-109
62Cf Paulo Ricardo Schier Filtragem constitucional Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1999
63A expressatildeo foi cunhada por Claacuteudio Pereira de Souza Neto Fundamento e normatividade dos direitos fundamentais uma recons-
truccedilatildeo teoacuterica agrave luz do princiacutepio democraacutetico Arquivos de Direitos Humanos n 4 p 17-61 2003
64Cf Luis Roberto Barroso O direito constitucional e a efetividade de suas normas 3 ed Rio de Janeiro Renovar 1996
65Cf Clegravemerson Merlin Clegraveve A teoria constitucional e o direito alternativo para uma dogmaacutetica constitucional emancipatoacuteria In
Uma vida dedicada ao direito homenagem a Carlos Henrique de Carvalho Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1995 p 34-53
66Ressalte-se poreacutem que antes de 88 alguns juristas jaacute defendiam a forccedila normativa da Constituiccedilatildeo como o Prof Joseacute Afonso da
Silva Eacute de 1968 a primeira ediccedilatildeo da sua obra claacutessica A aplicabilidade das normas constitucionais que adotava claramente esta
32
perspectiva Todavia pelo clima nada propiacutecio ao constitucionalismo que reinava por aqui ateacute a nossa redemocratizaccedilatildeo a louvaacute-
vel pregaccedilatildeo dele e de outros juristas em prol da efetivaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo natildeo chegou a render maiores frutos
67Deve-se assinalar ainda a influecircncia marcante do novo constitucionalismo ibeacuterico neste movimento que tambeacutem pugnava pela
atribuiccedilatildeo de forccedila normativa agraves ambiciosas constituiccedilotildees de Portugal e Espanha entatildeo recentemente elaboradas apoacutes o fim de
experiecircncias autoritaacuterias naqueles paiacuteses A tiacutetulo de exemplo mencione-se a penetraccedilatildeo no paiacutes do pensamento do Professor de
Coimbra Joseacute Joaquim Gomes Canotilho especialmente da sua teoria sobre a Constituiccedilatildeo dirigente que ele posteriormente reviu
(cf J J Gomes Canotilho Constituiccedilatildeo dirigente e vinculaccedilatildeo ao legislador contributo para a compreensatildeo das normas constitu-
cionais programaacuteticas 2 ed Coimbra Coimbra 2001 - especialmente o prefaacutecio desta segunda ediccedilatildeo que daacute conta da mudanccedila
de posicionamento) bem como a difusatildeo das liccedilotildees do Professor Eduardo Garciacutea de Enterriacutea (cf La Constitucioacuten como Norma y el
Tribunal Constitucional Madrid Civitas 1981)
68Segundo a avaliaccedilatildeo atual de Luis Roberto Barroso personagem central do movimento o positivismo constitucional que deu
impulso ao movimento natildeo importava em reduzir o direito agrave norma mas sim em elevaacute-la a esta condiccedilatildeo pois ateacute entatildeo ele
havia sido menos do que norma (Curso de direito constitucional contemporacircneo Op cit p 224)
69Paulo Bonavides Curso de direito constitucional 5 ed Satildeo Paulo Malheiros 1994
70Eros Roberto Grau A ordem econocircmica na Constituiccedilatildeo de 88 interpretaccedilatildeo e criacutetica Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1996
71No acircmbito da Poacutes-Graduccedilatildeo em Direito da UERJ em que estou inserido desde 1997 primeiro como aluno e a partir de 2003 como
professor o Ricardo Lobo Torres teve papel central na difusatildeo do pensamento destes e de outros filoacutesofos entre os estudantes e o
proacuteprio corpo docente
72Cf Lecircnio Luiz Streck Hermenecircutica juriacutedica e(m) crise Op cit Eros Roberto Grau Ensaio e discurso sobre a interpreta-
ccedilatildeoaplicaccedilatildeo do direito Satildeo Paulo Malheiros 2002
73Nesta linha veja-se as obras que compotildeem a coletacircnea Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Direitos sociais funda-
mentos judicializaccedilatildeo e direitos sociais em espeacutecie Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 Ricardo Lobo Torres O miacutenimo existencial
e os direitos fundamentais Revista de Direito Administrativo n 177 p 20-49 1989 Ingo Wolfgang Sarlet A eficaacutecia dos direitos
fundamentais 9 ed Porto Alegre Livraria do Advogado 2008 Ana Paula de Barcellos A eficaacutecia juriacutedica dos princiacutepios o princiacute-
pio da dignidade da pessoa humana Op cit Marco Mazzeli Gouveia O controle judicial das omissotildees administrativas Rio de
Janeiro Forense 2003 Andreacuteas Krell Direitos sociais e controle judicial no Brasil e Alemanha os (des)caminhos de um direito
constitucional comparado Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2002
74Cf Gustavo Tepedino Temas de direito civil Rio de Janeiro Renovar 1999 Luiz Edson Fachin Estatuto juriacutedico do patrimocircnio
miacutenimo Rio de Janeiro Renovar 2001 Maria Celina Bodin de Moraes Danos agrave pessoa humana uma leitura civil-constitucional dos
danos morais Rio de Janeiro Renovar 2003 Teresa Negreiros Fundamentos para uma interpretaccedilatildeo constitucional do princiacutepio
da boa-feacute Rio de Janeiro Renovar 1998 Anderson Schreiber A proibiccedilatildeo do comportamento contraditoacuterio Rio de Janeiro Reno-
var 2005
75Cf Luciano Feldens A Constituiccedilatildeo penal a dupla face da proporcionalidade no controle das lei penais Porto Alegre Livraria do
Advogado 2005 Luis Carlos dos Santos Gonccedilalves Mandados expressos de criminalizaccedilatildeo e a proteccedilatildeo de direitos fundamentais na
Constituiccedilatildeo Brasileira de 1988 Belo Horizonte Foacuterum 2007
76Cf Gustavo Binenbojm Uma teoria do direito administrativo direitos fundamentais democracia e constitucionalizaccedilatildeo Rio de
Janeiro Renovar 2006 Alexandre dos Santos Aragatildeo Floriano de Azevedo Marques (Coord) Direito administrativo e seus novos
paradigmas Belo Horizonte Foacuterum 2008
77Cf Gustavo Binenbojm A nova jurisdiccedilatildeo constitucional brasileira legitimidade democraacutetica e instumentos de realizaccedilatildeo Rio de
Janeiro Renovar 2001 Claacuteudio Pereira de Souza Neto Jurisdiccedilatildeo constitucional democracia e racionalidade praacutetica Rio de
Janeiro Renovar 2002 Joseacute Adeacutercio Leite Sampaio A Constituiccedilatildeo reinventada pela jurisdiccedilatildeo constitucional Belo Horizonte Del
Rey 2002 Lecircnio Luiz Streck Jurisdiccedilatildeo constitucional e hermenecircutica Porto Alegre Livraria do Advogado 2002 Aacutelvaro Ricardo
de Souza Cruz Jurisdiccedilatildeo constitucional democraacutetica Belo Horizonte Del Rey 2004
78A expressatildeo dificuldade contramajoritaacuteria eacute de um claacutessico da teoria constitucional norte-americana Alexander Bickel La Cons-
titucioacuten como Norma y el Tribunal Constitucional 2 ed New Haven Yale University Press 1986
33
79Em siacutentese apertada o procedimentalismo sustenta que natildeo eacute papel da jurisdiccedilatildeo constitucional tutelar valores substantivos mas
apenas proteger os pressupostos necessaacuterios ao bom funcionamento da democracia Jaacute o substancialismo reconhece a legitimidade
da atuaccedilatildeo jurisdicional em favor da garantia e promoccedilatildeo de valores substantivos presentes na Constituiccedilatildeo O debate entre o
procedimentalismo identificado com as ideacuteias de autores como John Hart Ely e Juumlrgen Habermas e o substancialismo defendido
por teoacutericos como Ronald Dworkin e Laurence Tribe eacute reproduzido em praticamente toda a literatura contemporacircnea que trata de
Teoria ou Filosofia Constitucional Veja-se a propoacutesito a densa obra de Claacuteudio Ari Mello Democracia constitucional e direitos
fundamentais Porto Alegre Livraria do Advogado 2004
80Neoconstitucionalismo e constitucionalizaccedilatildeo do direito o triunfo tardio do direito constitucional no Brasil Op cit
81A crise paradigmaacutetica do direito no contexto da resistecircncia positivista ao (neo)constitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza
Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm Vinte anos da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Op cit p 203-228
82Nos vinte anos da carta cidadatilde do poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo Op cit
83Neoconstitucionalismo direitos fundamentais e controle de poliacuteticas puacuteblicas In Daniel Sarmento Flaacutevio Galdino (Org) Direitos
fundamentais estudos em homenagem ao prof Ricardo Lobo Torres Rio de Janeiro Renovar 2006 p 31-60
84Direitos humanos legitimidade e constitucionalismo In Daniel Sarmento Flaacutevio Galdino (Org) Direitos fundamentais estudos
em homenagem ao Prof Ricardo Lobo Torres Op cit p325-350
85Novos desafios agrave filtragem constitucional no momento do neoconstitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sar-
mento A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 251-270
86Neoconstitucionalismo a invasatildeo da Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Meacutetodo 2008
87Neoconstitucionalismo e positivismo juriacutedico Satildeo Paulo Landy 2006
88Teoria do direito e argumentaccedilatildeo racional temas de teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica op cit p 141-240
89Uma visatildeo criacutetica do neoconstitucionalismo In George Salomatildeo Leite Glauco Salomatildeo Leite Constituiccedilatildeo e efetividade constitu-
cional Salvador JusPodium 2008 p 43-60
90Neoconstitucionalismo entre a Ciecircncia do direito e o direito da ciecircncia In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento
Gustavo Binenbojm Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 p 187-202
91Cf Peticcedilatildeo 1246 MSSC julgada em 31011997 (obrigaccedilatildeo do Estado de realizar transplante de ceacutelulas mioblaacutesticas para salvar
a vida de crianccedila) Agravo de Instrumento no Recurso Extraordinaacuterio 271286RS DJU 24 nov 2000 (entrega de medicamentos
para portadores de HIV) e Agravo de Instrumento do Recurso Extraordinaacuterio nordm 410715-5 julgado em 22112005 (obrigaccedilatildeo de
fornecimento de vagas para educaccedilatildeo infantil pelo municiacutepio com atendimento em creches e preacute-escola)
92Recursos Extraordinaacuterios nordms 158215-4RS 161243-6DF 201819RJ
93Cf Mandado de Injunccedilatildeo 670ES Rel Min Gilmar Mendes julgado em 25102007 em que o STF revendo orientaccedilatildeo anterior
deu eficaacutecia normativa agrave sentenccedila proferida no mandado de injunccedilatildeo No caso decidiuse que ateacute o advento de lei regulamentado-
ra sobre a greve no serviccedilo puacuteblico o direito de greve poderia ser exercido obedecendo-se os limites impostos pela Lei 778389
que trata dos movimentos paredistas em serviccedilos essenciais no setor privado
94Sobre a tendecircncia agrave superaccedilatildeo da ideacuteia do Judiciaacuterio como legislador negativo na jurisdiccedilatildeo constitucional veja-se Joseacute Adeacutercio
Leite Sampaio A Constituiccedilatildeo reinventada pela jurisdiccedilatildeo constitucional Belo Horizonte Del Rey 2002 p 203-248
95Eacute lugar-comum dentre os autores que tratam da questatildeo associar tais mudanccedilas agrave pluralizaccedilatildeo das vozes na interpretaccedilatildeo consti-
tucional tema em que a referecircncia essencial no cenaacuterio germacircnico eacute Peter Haumlberle Veja-se a propoacutesito Peter Haumlberle Herme-
necircutica constitucional A sociedade aberta dos inteacuterpretes da Constituiccedilatildeo contribuiccedilatildeo para a interpretaccedilatildeo pluralista e procedi-
mental da Constituiccedilatildeo Traduccedilatildeo de Gilmar Ferreira Mendes Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1997 Veja-se ainda na doutrina
brasileira Gustavo Binenbojm A dimensatildeo do Amicus Curiae no processo constitucional brasileiro In Temas de direito constitu-
cional e administrativo Rio de Janeiro Renovar 2008 p 165-190
96ADIN 3510DF Relator Ministro Carlos Ayres Britto A accedilatildeo proposta contra o art 5ordm da Lei de Biosseguranccedila impugnava a auto-
rizaccedilatildeo de pesquisas com embriotildees humanos resultantes de fertilizaccedilatildeo in vitro que fossem inviaacuteveis ou estivessem congelados haacute
mais de trecircs anos A accedilatildeo foi julgada totalmente improcedente por 6 votos a 5
97ADPF nordm 54 A accedilatildeo que tem como relator o Ministro Marco Aureacutelio ainda natildeo foi julgada mas em seu bojo jaacute ocorreram diversas
audiecircncias puacuteblicas que provocaram intensa participaccedilatildeo da sociedade civil e grande interesse na miacutedia
34
98ADPF nordm 132 Relator Ministro Carlos Ayres Britto A accedilatildeo ainda foi julgada
99Mandados de Seguranccedila 26602DF 26603DF e 26604DF Informativo STF n 482
100Recurso Extraordinaacuterio 197917SP Rel p acoacuterdatildeo Min Ceacutesar Peluso DJU 18 fev 2005
101O livro de Alberto Carlos Almeida A cabeccedila do brasileiro lanccedilado em 2007 conteacutem pesquisas feitas sobre uma acuteseacuterie de temas
com pessoas de todas as classes sociais e regiotildees do paiacutes Uma das pesquisas eacute relativa agrave avaliaccedilatildeo das instituiccedilotildees Dentre as treze
avaliadas as duas que obtiveram menor aprovaccedilatildeo foram os partidos poliacuteticos (avaliaccedilatildeo positiva de 28 dos entrevistados) e o
Congresso (avaliaccedilatildeo positiva de 36 dos entrevistados) Cf Antonio Carlos Almeida A cabeccedila do brasileiro Rio de Janeiro Re-
cord 2007 p 187
102Cf Luis Roberto Barroso Judicializaccedilatildeo ativismo judicial e legitimidade democraacutetica Texto ainda ineacutedito gentilmente cedido
pelo autor
103Humberto Aacutevila por exemplo formula outra criacutetica importante de que o neoconstitucionalismo seria inadequado agrave realidade
constitucional brasileira jaacute que privilegia os princiacutepios e a Carta de 88 seria muito mais regulatoacuteria do que principioloacutegica (Neo-
constitucionalismo entre a ciecircncia do direito e o direito da ciecircncia Op cit p 188-192)
104Contudo natildeo eacute razoaacutevel estender esta criacutetica ao ponto de negar o caraacuteter democraacutetico da atuaccedilatildeo judicial Como ressaltou
Eugenio Rauacutel Zaffaroni uma instituiccedilatildeo natildeo eacute democraacutetica unicamente porque natildeo provenha de eleiccedilatildeo popular porque nem tudo
o que proveacutem desta origem eacute necessariamente aristocraacutetico Uma instituiccedilatildeo eacute democraacutetica quando seja funcional para o sistema
democraacutetico quer dizer quando seja necessaacuteria para a sua continuidade como ocorre com o judiciaacuterio (Poder judiciaacuterio crise
acertos e desacertos Traduccedilatildeo de Juarez Tavares Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1995 p 43)
105Cf Robert A Dahl Sobre a democracia Traduccedilatildeo de Beatriz Sidou Brasiacutelia UNB 2001 p 97-113 Juumlrgen Habermas Popular
Sovereignity as Procedure In James Bonham William Rehg Deliberative Democracy Cambridge The MIT Press 1997 p 35-66
106A questatildeo da tensatildeo e sinergia simultacircneas entre constitucionalismo e democracia eacute um dos debates mais fecundos da Teoria
Poliacutetica e da Filosofia Constitucional que tem atravessado o tempo desde o advento do constitucionalismo moderno no seacuteculo
XVIII Veja-se no debate contemporacircneo Jeremy Waldron Preocommitment and Disagreement In Larry Alexander Constitu-
cionalism Philosophical Foundations Cambridge Cambridge University Press 1998 p 271-299 Juumlrgen Habermas O Estado demo-
craacutetico de direito uma amarraccedilatildeo paradoxal de princiacutepios contraditoacuterios In Era das transiccedilotildees Traduccedilatildeo de Flaacutevio Beno Siebe-
neichler Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 2003 p 153-173 Carlos Santiago Nino La Constitucioacuten de la Democracia Deliberativa
Op cit Frank Michelman Brennan and Democracy Princeton Princeton University Press 1999 p 03-62 Stephen Holmes El
Precompromiso y la Paradoja de la Democracia In Jon Elster Rune Slagstad Constitucionalismo y Democracia Traduccedilatildeo de Mocircni-
ca Utrilla de Neira Mexico Fondo de Cultura Econocircmica 1999 p 217-262
107O problema da limitaccedilatildeo do legislador atual pelas decisotildees do constituinte adotadas no passado envolve a problemaacutetica da
partilha intergeracional de poder bem explicitada na fala de Jefferson que defendia que a cada 19 anos deveria ser elaborada
uma nova Constituiccedilatildeo nos Estados Unidos para que a Lei Maior daquele paiacutes natildeo se tornasse um mecanismo de governo dos mor-
tos sobre os vivos Em siacutentese apertada haacute na teoria poliacutetica contemporacircnea duas linhas principais de justificativa para a legiti-
midade destas restriccedilotildees
Uma eacute a teoria da democracia dualista defendida por Bruce Ackerman que sustenta que as decisotildees adotadas pelo proacuteprio povo
em contextos de grande mobilizaccedilatildeo ciacutevica devem ser protegidas do alcance da vontade dos representantes do povo formada em
momentos em que a cidadania natildeo esteja intensamente envolvida Esta teoria distingue a poliacutetica extraordinaacuteria correspondente
agravequeles momentos constitucionais da poliacutetica ordinaacuteria que se realiza atraveacutes das deliberaccedilotildees do dia a dia dos oacutergatildeos represen-
tativos Para a perspectiva ackermaniana a poliacutetica extraordinaacuteria - que natildeo exige necessariamente formalizaccedilatildeo procedimental
atraveacutes de assembleacuteia constituinte ou de emenda constitucional - se situa em patamar superior agrave poliacutetica ordinaacuteria e pode legiti-
mamente impor limites a esta (cf Bruce Ackerman We the people Foundations Cambridge The Belknap Press 1991 p 03-33)
Outra teoria eacute a do preacute-compromisso que jaacute foi advogada por Jon Elster Segundo ela eacute legiacutetimo subtrair do alcance das maiorias
determinadas questotildees fundamentais que expressam princiacutepios fundamentais de justiccedila poliacutetica ou garantam os pressupostos da
proacutepria democracia tendo em vista o risco de que no processo poliacutetico majoritaacuterio em momentos de irracionalidade o povo
35
possa ser viacutetima de suas proacuteprias fraquezas ou paixotildees momentacircneas atentando contra tais princiacutepios (cf Ulisses and Sirens
Cambridge Cambridge University Press 1979)
Ambas as concepccedilotildees - a primeira mais proacutexima ao republicanismo e a segunda de vieacutes mais liberal - tecircm a sua dose de procedecircn-
cia mas ensejam criacuteticas importantes Todavia foge a escopo do presente trabalho analisar esta questatildeo que eacute uma das mais
complexas da Filosofia Poliacutetica moderna e contemporacircnea Para uma visatildeo geral sobre o tema na literatura em liacutengua portuguesa
veja-se Oscar Vilhena Vieira A Constituiccedilatildeo e sua reserva de justiccedila Op cit Miguel Nogueira de Brito A Constituiccedilatildeo constituin-
te ensaio sobre o poder de revisatildeo da Constituiccedilatildeo Coimbra Coimbra 2000 Samantha Chantal Dobrowolski Op cit p 265-312
Rodrigo Brandatildeo Direitos fundamentais democracia e claacuteusulas peacutetreas Rio de Janeiro Renovar 2008 p 59-112
108Cf Michel Troper Justice Constitutionelle et Deacutemocratie In Pour une Theorie Juridique de LEacutetat Paris PUF 1994 p 317-328
Claacuteudio Pereira de Souza Neto Jurisdiccedilatildeo constitucional democracia e racionalidade praacutetica Op cit p 106-130 Gustavo Binen-
bojm A nova jurisdiccedilatildeo constitucional brasileira Op cit p 55-74
109Sobre o modelo revolucionaacuterio francecircs de constitucionalismo completamente avesso agrave ideacuteia de jurisdiccedilatildeo constitucional cf
Maurizio Fioravanti Constitucioacuten de la antiguumledad a nuestros dias Traduccedilatildeo de Manuel Martinez Neira Madrid Trotta 2001 p
120-132
110Cf Carl Schmitt La Defesa de la Constitucioacuten Madrid Tecnos 1983
111O constitucionalismo popular ou populismo constitucional eacute uma importante corrente no debate constitucional norte-americano
contemporacircneo que nega a legitimidade democraacutetica do controle de constitucionalidade advogando que deve caber ao proacuteprio
povo e natildeo a uma elite de juiacutezes natildeo eleitos com assento na Suprema Corte o poder de definir o sentido das claacuteusulas vagas que
abundam no texto constitucional daquele paiacutes Na defesa desta tese satildeo empregados tanto argumentos de teoria e filosofia poliacuteti-
ca de caraacuteter mais universal como razotildees histoacutericas relacionadas agrave evoluccedilatildeo do constitucionalismo estadunidense Veja-se nesta
linha Mark Tushnet Taking the Constitution Away from the Courts Princeton Princeton University Press 1999 Jeremy Waldron
Precommitment and Disagreement Op cit Larry D Kramer The People Themselves Popular constitutionalism and judicial re-
view New York Oxford University Press 1994
Ateacute algumas deacutecadas atraacutes a oposiccedilatildeo agrave jurisdiccedilatildeo constitucional nos Estados Unidos partia em regra da Direita que natildeo se con-
formava com a jurisprudecircncia extremamente liberal em mateacuteria de direitos fundamentais estabelecida pela Corte entre os anos
50 e 70 Atualmente uma boa parte dos opositores agrave judicial review situa-se agrave esquerda do espectro poliacutetico e talvez a nova linha
profundamente conservadora daquele Tribunal ajude a explicar esta mudanccedila
112Sobre a Era de Lochner veja-se Laurence H Tribe American Constitutional Law 2 ed Mineola The Foundation Press 1988 p
567-581 Paul Brest et al Processes of Constitucional Decisionmaking 4 ed New York Aspen Publishers 2000 p 337-354
113Towards Juristocracy hellip Op cit
114Tratei do tema no artigo Direito adquirido emenda constitucional democracia e justiccedila social In Livres e iguais Op cit p
03-32
115Cf Charles R Epp The Rights Revolution Chicago The University of Chicago Press 1998 p 26-70 Owen Fiss The Law as It
Could Be New York New York University Press 2003 p 244-249
116A importacircncia e as peculiaridades da interpretaccedilatildeo legislativa da Constituiccedilatildeo satildeo exploradas em importante obra coletiva
Richard W Bauman Tsvi Kahana The Least Examined Branch The Role of Legislatures in the Constitutional State Cambridge
Cambridge University Press 2006
117Cf em tom ainda mais ceacutetico do que o adotado neste estudo Martonio MontAlverne Barreto Lima Jurisdiccedilatildeo Constitucional
um problema da teoria da democracia poliacutetica In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Gilberto Bercovici Joseacute Filomeno de Moraes
Filho Martonio MontAlverne Teoria da Constituiccedilatildeo estudos sobre o lugar da poliacutetica no direito constitucional Rio de Janeiro
Lumen Juris 2003 p 199-261 Conrado Huumlbner Mendes Controle de constitucionalidade e democracia Rio de Janeiro Elsevier
2008
36
118Para criacutetica semelhante no contexto germacircnico veja-se Ingeborg Maus O judiciaacuterio como superego da sociedade sobre o papel
da atividade jurisprudencial na sociedade oacuterfatilde Traduccedilatildeo de Martonio MontAlverne Barreto Lima Paulo Antonio Menezes de Albu-
querque Anuaacuterio dos Cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito da Faculdade de Direito de Recife n 11 2000
119Eu aprofundo a anaacutelise deste ponto no meu artigo Interpretaccedilatildeo constitucional preacute-compreensatildeo e capacidades institucionais do
inteacuterprete In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm (Coord) Vinte anos da Constituiccedilatildeo Federal
de 1988 Op cit p 311-322 E a necessidade de optar por teoria de interpretaccedilatildeo que leve em consideraccedilatildeo as capacidades
institucionais reais dos juiacutezes comparando-as com as dos agentes de outras instituiccedilotildees eacute explorada no importante estudo de Cass
Sunstein Adrian Vermeulle Interpretations and Institutions Chicago Working Papers in Law amp Economics 2002 p 01-55 bem
como no livro de Adrian Vermeulle Judging under Uncertainty An Institutional Theory for Legal Interpretation Cambridge Har-
vard University Press 2006
120Dentre as honrosas exceccedilotildees mencione-se Luiacutes Roberto Barroso autor de importante artigo com sugestotildees para a reforma poliacuteti-
ca no paiacutes Reforma poliacutetica uma proposta de sistema de governo eleitoral e partidaacuterio para o Brasil Revista de Direito do Esta-
do n 3 p 287-360 jul set 2006
121Sobre o ethos judicial no Brasil veja-se a pesquisa de Maria Tereza Sadek Magistrados uma imagem em movimento Rio de
Janeiro FGV 2006
122Em sentido semelhante veja-se Michael J Perry The Constitution the Courts and Human Rights New Haven Yale University
Press 1982 p 91-145
123Neste ponto entendo que um standard importante que deveria ser adotado para controle de constitucionalidade eacute o de que
quanto maiores forem as credencias democraacuteticas de um ato normativo mais autocontido deve ser o Poder Judiciaacuterio ao avaliar a
sua constitucionalidade Na minha opiniatildeo estas credencias democraacuteticas devem ser aferidas tanto por criteacuterios qualitativos - eg
grau de participaccedilatildeo social no processo legislativo qualidade do processo deliberativo que a antecedeu - como por criteacuterios quanti-
tativos - percentual de votos favoraacuteveis agrave medida Em sentido semelhante veja-se Claacuteudio Ari Mello Democracia e direitos funda-
mentais Op cit p 298
124Em sentido proacuteximo apontam as liccedilotildees de Gustavo Binenbojm e Humberto Aacutevila O primeiro tratando do controle judicial dos
atos administrativos averbou que quanto maior for o grau de tecnicidade da mateacuteria objeto de decisatildeo por oacutergatildeos dotados de
expertise e experiecircncia menos intenso deve ser o grau de controle judicial (Uma teoria do direito administrativo Op cit p
236) Jaacute o segundo salientou que o acircmbito de controle pelo Judiciaacuterio deveraacute ser tanto menor quanto mais difiacutecil e teacutecnico for
o juiacutezo exigido para o tratamento da mateacuteria (Teoria dos princiacutepios Op cit p 126)
125Um exemplo extremado deste posicionamento estaacute na argumentaccedilatildeo adotada pelo STF no julgamento da ADIN 2797 Rel Min
Sepuacutelveda Pertence em que se reconheceu a inconstitucionalidade formal de lei que pretendia interpretar a Constituiccedilatildeo Para o
STF natildeo pode a lei ordinaacuteria pretender impor como seu objeto imediato uma interpretaccedilatildeo a Constituiccedilatildeo a questatildeo eacute de in-
constitucionalidade formal iacutensita a toda norma da gradaccedilatildeo inferior que se proponha a ditar interpretaccedilatildeo de norma superior
Na questatildeo de fundo abordada naquele caso entendo que o STF estava certo Tratava-se de invalidar uma norma legal que esten-
dera o foro de prerrogativa de funccedilatildeo a ex-ocupantes de cargos puacuteblicos visando a restaurar antiga jurisprudecircncia do STF sedi-
mentada na Suacutemula 394 do Tribunal que acabara de ser cancelada O princiacutepio republicano natildeo era compatiacutevel com tal medida
que configurava niacutetido privileacutegio O que me parece inaceitaacutevel e profundamente anti-democraacutetico com a devida vecircnia natildeo eacute o
resultado alcanccedilado pela Corte - com o qual concordo - mas o argumento empregado de que o legislador natildeo pode interpretar a
Constituiccedilatildeo
126Existe hoje uma fecunda produccedilatildeo acadecircmica no cenaacuterio anglo-saxatildeo sobre as vantagens de modelos teoacutericos que favoreccedilam
diaacutelogos entre diversos oacutergatildeos e instituiccedilotildees na interpretaccedilatildeo constitucional ao inveacutes de afirmarem a exclusividade ou mesmo a
supremacia do Judiciaacuterio nesta seara Veja-se a propoacutesito Laurence G Sager Justice in Plainclothes A Theory of American Con-
stitutional Practice New haven Yale University Press 2004 Mark Tushnet Weak Courts Strong Rights Judicial Review and Social
Welfare Rights in Comparative Constitutional Law Princeton Princeton University Press 2008 Mark C Miller Jeb Barnes (Ed)
Making Police Making Law An Interbranch Perspective Washington DC Georgetown University Press 2004
37
127Colhi o exemplo no estudo de Oscar Vilhena Vieira Supremocracia In Daniel Sarmento (Org) Filosofia e teoria constitucional
contemporacircnea Rio de Janeiro Lumen Juris 2009
128Como um natildeo-positivista tenho a necessaacuteria imparcialidade para criticar os equiacutevocos da doutrina brasileira nas suas invectivas
contra o positivismo que muitas vezes caracterizam verdadeira falaacutecia do espantalho ataca-se natildeo a proacutepria teoria positivista
mas uma distorcida caricatura dela Duas afirmaccedilotildees erradas que eu mesmo jaacute fiz em textos anteriores satildeo muito frequumlentes a
de que o positivismo recusa a aplicaccedilatildeo dos princiacutepios juriacutedicos e a de que ele teria sido a Filosofia do Direito cultivada na Alema-
nha nazista
Quanto ao primeiro ponto natildeo haacute nenhuma incompatibilidade loacutegica entre positivismo e princiacutepios desde que os princiacutepios este-
jam devidamente incorporados na ordem juriacutedico-positiva Vaacuterios autores positivistas contemporacircneos jaacute citados neste estudo
como Luis Prietro Sanchiacutes Luigi Ferrajoli e Gregorio Peces-Barba atribuiacuteram espaccedilo importante para princiacutepios nas suas teorias
Mesmo no Direito Puacuteblico brasileiro juristas de inspiraccedilatildeo positivista kelseniana construiacuteram suas teorias com apoio em argumen-
taccedilatildeo principioloacutegica como o falecido Geraldo Ataliba e Celso Antonio Bandeira de Mello
No que tange ao segundo ponto - a chamada redutio ad hitlerum - os estudos mais autorizados de Histoacuteria do Direito comprovam
que natildeo foi o positivismo a teoria juriacutedica dominante no nazismo mas uma espeacutecie de jusnaturalismo de inspiraccedilatildeo hegeliana que
se insurgia contra o formalismo e recorria com frequumlecircncia a conceitos muito vagos para justificar a barbaacuterie como os de comuni-
dade popular (Volksgemeinschaft) Veja-se a propoacutesito Michael Stolleis The Law under the Swastika Studies on Legal History in
Nazi Germany Traduccedilatildeo de Thomas Dunlap Chicago The University of Chicago Press 1998
129Cf Joseacute Joaquim Gomes Canotilho Direito constitucional e Teoria da Constituiccedilatildeo Coimbra Almedina 1998 p 1036
130Sobre a importacircncia das regras veja-se Frederick Schauer Playing by the Rules A Philosophical Exaxamination of Rule-Bases
Decision-Making in Law and Life Oxford Oxford University Press 1998 Humberto Aacutevila Neoconstitucionalismo entre a ciecircncia do
direito e o direito da ciecircncia Op cit Noel Struchiner Posturas institucionais e modelagem institucional a dignidade (contingente)
do formalismo juriacutedico In Daniel Sarmento Filosofia e teoria constitucional contemporacircnea Op cit
131Esta eacute expressatildeo empregada por Ana Paula de Barcellos O direito constitucional em 2006 Revista de Direito do Estado n 5 p
03-23 janmar 2007
132Cf Chaiumlm Perelman P Fories La Motivation des Deacutecisions de Justice Bruxelas Eacutemile Bruylant 1978
133Sobra a influecircncia do jeitinho no Direito brasileiro cf Keith Rosen O jeito na cultura juriacutedica brasileira Rio de Janeiro Reno-
var 1997
134Sobre o patrimonialismo no Brasil veja-se Raimundo Faoro Os donos do poder 8 ed Rio de Janeiro Globo 1989 v 2 p 729-
750
135Raiacutezes do Brasil 26 ed Satildeo Paulo Companhia das Letras 1995
136Cf Joseacute Murilo de Carvalho Brasileiro Cidadatildeo In Pontos e bordados escritos de histoacuteria e poliacutetica Belo Horizonte Ed
UFMG 2005 p 275-288
137Cf Gustavo Zagrebelsky Il Diritto Mite Op cit p 15-19
138Cf Marcelo Neves A constitucionalizaccedilatildeo simboacutelica Satildeo Paulo Acadecircmica 1994
139A obra de Niklas Luhman eacute vasta e complexa e seus textos satildeo de difiacutecil compreensatildeo para os natildeo iniciados Veja-se do proacuteprio
autor Sociologia do direito I e II Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 1983 e 1985 Sistema Jurididico y Dogmaacutetica Juriacutedica Madrid
Centro de Estuacutedios Constitucionales 1983 Confira-se tambeacutem a coletacircnea organizada por Andreacute-Jean Arnaud Dalmir Lopes Jr Do
sistema social agrave sociologia juriacutedica Rio de Janeiro Lumen Juris 2004
140Sobre a autopoieses do Direito veja-se tambeacutem a obra importante de Guumlnther Teubner O direito como sistema autopoieacutetico
Traduccedilatildeo de Joseacute Engracia Nunes Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1993
141Cf Luis Roberto Barroso Neoconstitucionalismo e a constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit
142Esta era basicamente a visatildeo de Hans Kelsen (Cf Hans Kelsen Jurisdiccedilatildeo constitucional Traduccedilatildeo de Alexandre Krug et al Satildeo
Paulo Martins Fontes 2003 p 153) Para uma anaacutelise criacutetica desta posiccedilatildeo veja-se Luis Prietro Sanchiacutes Presupuestos ideoloacutegicos
y doctrinales de la jurisdicioacuten constitucional In Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales Op cit p 21-100
38
143Cf Christian Starck La suprematie La Suprematie de la Constitution et la Justice Constitutionnelle In La Constitution Cadre et
Mesure du Droit Traduccedilatildeo de Freacutederic Weill Paris Econocircmica 1994 p 26-30 Ernst- Wolfgang Boumlckenfoumlrde Les meacutethodes
dinterpretation de la Constitution Un bilan critique In Le Droit lEacutetat et la Constitution Democratique Traduccedilatildeo de Olivier
Jouanjan Paris LGDJ 2000 p 249-250 Virgiacutelio Afonso da Silva Constitucionalizaccedilatildeo do direito os direitos fundamentais nas
relaccedilotildees entre particulares Satildeo Paulo Malheiros 2005 p 107-131 Daniel Sarmento Ubiquumlidade constitucional os dois lados da
moeda Op cit Luis Roberto Barroso Curso de Direito Constitucional Contemporacircneo Op cit p 391-394 Alceu Mauriacutecio Jr
Judicializaccedilatildeo da poliacutetica e a crise do direito constitucional a Constituiccedilatildeo entre ordem marco e ordem fundamenta Revista de
Direito do Estado n 10 p 125-142 abrjun 2008
144Der Staat der Industriegesellshaft 2 ed Muumlnchen Beck 1971 p 144 Apud Robert Alexy Posfaacutecio In Teoria dos direitos
fundamentais Op cit p 578
145De acordo com Carlos Santiago Nino o perfeccionaismo eacute la concepcioacuten seguacuten la cual es una misioacuten legiacutetima del Estado hacer
que los individuos acepten y materializen ideales vaacutelidos de virtud personal Seguacuten este enfoque el Estado no puede permanecer
neutral respecto de concepciones de lo bueno en la vida y debe adoptar las medidas educativas punitorias etc que sean necesa-
rias para que los indiviacuteduos ajusten su vida a los verdaderos ideales de virtud y del bien (Eacutetica y Derechos Humanos Un ensayo de
fundamentacioacuten 2 ed Buenos Aires Astrea 1989 p 413)
146Daniel Sarmento Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas 2 ed Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 Sobre o tema na literatura
nacional veja-se tambeacutem Wilson Antocircnio Steinmetz A vinculaccedilatildeo dos particulares aos direitos fundamentais Satildeo Paulo Malheiros
2004 Virgiacutelio Afonso da Silva Constitucionalizaccedilatildeo do direito os direitos fundamentais nas relaccedilotildees entre particulares Op cit
Ingo Wolfgang Sarlet Direitos fundamentais e direito privado algumas consideraccedilotildees em torno da vinculaccedilatildeo dos particulares aos
direitos fundamentais In Ingo Wolfgang Sarlet (Org) A Constituiccedilatildeo concretizada Porto Alegre Livraria do Advogado 1999 p
129-173 Jane Reis Gonccedilalves Pereira Apontamentos sobre a aplicaccedilatildeo das normas de direito fundamental nas relaccedilotildees juriacutedicas
entre particulares In Luis Roberto Barroso (Org) A nova interpretaccedilatildeo constitucional ponderaccedilatildeo direitos fundamentais e
relaccedilotildees privadas Rio de Janeiro Renovar 2003 p 119-192
147Sobre a questatildeo da (i)legitimidade do perfeccionismo no Direito veja-se Joel Feinberg Rights Justice and the Bounds of Liber-
ty Princeton Princeton University Press 1980 Carlos Santiago Nino Eacutetica y Derechos Humanos Op cit p 413-446 Rainer Forst
Contexts of Justice Political Philosophy beyond Liberalism and Communitarianism Traduccedilatildeo de John M M Farrel Berkeley Uni-
versity of Califoacuternia Press 2001 p 30-87 Macaacuterio Alemany El Paternalismo Juriacutedico Madrid Iustel 2006
148Um sofisticado modelo que busca conciliar a constitucionalizaccedilatildeo do Direito com a democracia estaacute exposto no Poacutesfaacutecio agrave Teo-
ria dos Direitos Fundamentais de Robert Alexy acima citado Veja-se ainda Konrad Hesse Concepto y Cualidad de la Constitu-
cion In Escritos de Derecho Constitucional Traduccedilatildeo de Pedro Cruz Villaloacuten 2 ed 1992 p 03-29
149Tentei articular a minha teoria sobre eficaacutecia horizontal dos direitos fundamentais com este objetivo Cf Daniel Sarmento
Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas Op cit p 141-182 259-272
150Sobre el Neoconstitucionalismo y sus Implicaciones Op cit p 117
151Aqui entendo que o simples reconhecimento da penetraccedilatildeo da Moral no Direito preconizada pelos neoconstitucionalistas brasi-
leiros natildeo eacute suficiente jaacute que certas concepccedilotildees morais podem tornar o ordenamento ainda mais opressivo do que jaacute eacute Afinal
nem sempre a moralizaccedilatildeo do Direito se daacute na direccedilatildeo da emancipaccedilatildeo dos excluiacutedos Veja-se por exemplo a famosa polecircmica
jusfilosoacutefica entre Lord Patrick Devlin e Herbert Hart nos anos 60 na Inglaterra a propoacutesito do uso do Direito Penal para promoccedilatildeo
de Moral em que o primeiro a partir de uma posiccedilatildeo proacute-moral sustentava a legitimidade da criminalizaccedilatildeo da conduta homos-
sexual que o segundo contestava (Cf Lord Patrick Devlin Morals and Criminal Law In Ronald Dworkin (Ed) The Philosophy of
Law Op cit p 66-82 Herbert Hart Immorality and Treason In Idem ibidem)
Eacute preciso assentar as bases criacuteticas desta Moral que deve penetrar o Direito para evitar que o moralismo conservador seja expulso
do ordenamento pela porta da frente superado pela legislaccedilatildeo moderna em razatildeo da progressiva liberalizaccedilatildeo da sociedade mas
volte pela porta dos fundos atraveacutes da argumentaccedilatildeo juriacutedica dos juiacutezes lastreada em conceitos vagos como ordem puacuteblica e
bons constumes ou em standards como o comportamento do bom pai de famiacutelia
39
28
10Ronald Dworkin e Carlos Santiago Nino satildeo sem sombra de duacutevida autores liberais natildeo no sentido que se atribui ao termo no
Brasil - de adeptos de doutrina econocircmica favoraacutevel ao Estado miacutenimo e ao mercado - mas sim no sentido corrente na Filosofia
Poliacutetica que associa o liberalismo agrave defesa dos direitos individuais e da neutralidade do Estado em relaccedilatildeo agraves diversas concepccedilotildees
sobre a vida boa existentes na sociedade Veja-se neste sentido Ronald Dworkin A Matter of Principle Cambridge Harvard
University Press 1985 p 181-236 Carlos Santiago Nino La constitucioacuten de la Democracia Deliberativa Barcelona Gedisa 1997
p 70-100
11Lecircnio Luiz Streck que se alinha ao neoconstitucionalismo defende posturas tipicamente comunitaristas como o papel da Consti-
tuiccedilatildeo na definiccedilatildeo de modelos de vida boa para orientaccedilatildeo da vida social e da accedilatildeo individual Cf Jurisdiccedilatildeo constitucional e
hermenecircutica uma nova criacutetica do direito 2 ed Rio de Janeiro Forense 2004 p 95-288
12Antonio Cavalcanti Maia um dos mais ardorosos defensores do neoconstitucionalismo no paiacutes eacute tambeacutem procedimentalista e
adepto das teorias juriacutedicas de Juumlrgen Habermas Veja-se neste sentido o seu denso texto Nos vintes anos da carta cidadatilde do
poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm (Coord) Vinte
anos da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 p 117-168 em que esta sua dupla filiaccedilatildeo intelectual eacute
explicitada
13Segundo Miguel Carbonell o neoconstitucionalismo desdobra-se em trecircs planos de anaacutelise que se conjugam o dos textos consti-
tucionais que se tornaram mais substantivos e incorporaram amplos elencos de direitos fundamentais o das praacuteticas judiciais que
passaram a recorrer a princiacutepios constitucionais agrave ponderaccedilatildeo e a meacutetodos mais flexiacuteveis de interpretaccedilatildeo sobretudo na aacuterea de
direitos fundamentais e o dos desenvolvimentos teoacutericos de autores que com as suas ideacuteias ajudaram natildeo soacute a compreender os
novos modelos constitucionais mas tambeacutem participaram da sua proacutepria criaccedilatildeo Cf Miguel Carbonell Neoconstitucionalismo
elementos para una definicioacuten In Eduardo Ribeiro Moreira Mauricio Pugliesi 20 anos da Constituiccedilatildeo brasileira Satildeo Paulo Sarai-
va 2009 p 197-208
14No mesmo sentido Luis Roberto Barroso Neoconstitucionalismo e Constitucionalizaccedilatildeo do direito o triunfo tardio do direito
constitucional do Brasil In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento A constitucionalizaccedilatildeo do direito fundamentos teoacuteri-
cos e aplicaccedilotildees especiacuteficas Rio de Janeiro Lumen Juris 2007 p 203-250
15Cf Carlos Bernal Pulido El Derecho de los Derechos Bogotaacute Universidad Externado de Colocircmbia 2006 Manoel Jose Cepeda
Espinosa Judicialization of Politics in Colombia the old and the new In Rachel Sieder Line Schonjen Alan Angell The Judiciali-
zation of Politics in Latin America Op cit p 67-104 Rodrigo Uprimmy Mauriacutecio Garcia-Villegas Tribunal Constitucional e eman-
cipaccedilatildeo social na Colocircmbia In Boaventura de Souza Santos Democratizar a democracia os caminhos da democracia participativa
Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2002 p 297-339
16Cf Catalina Smulovitz Petitioning and Creating Rights Judicialization in Argentina In Rachel Sieder Line Scjolden Alan Angell
The Judicialization of Politics in Latin America Op cit p 161-185
17Cf Miguel Carbonell Los Derechos Fundamentales en Meacutexico 2 ed Meacutexico Porruacutea 2006 Pilar Domingo The Changing Political
Role of the Judiciary in Meacutexico In Rachel Sieder Line Scjolden Alan Angell The Judicialization of Politics in Latin Ameacuterica Op
cit p 21-46
18Cf Heinz Klug South Aacutefrica From Constitucional Promise to Social Transformation In Jeffrey Goldsworthy Interpreting Consti-
tutions A Comparative Study Oxford Oxford University Press 2006 p 266-320
19Cf S P Sathe Iacutendia From Positivism to Structuralism In Jeffrey Goldsworthy Op cit p 215-265
20Veja-se a propoacutesito Gustavo Zagrebelsky Il Diritto Mite Torino Einaudi 1992 p 57-96
21Cf Eduardo Garciacutea de Enterriacutea La Constitucioacuten como Norma y el Tribunal Constitucional 3 ed Madrid Civitas 1985 p 41
22Na Alemanha a mudanccedila ocorreu sob a vigecircncia da Lei Fundamental adotada em 1949 e foi fortemente impulsionada pela
jurisprudecircncia do Tribunal Constitucional do paiacutes que construiu teorias importantes como a da Constituiccedilatildeo como uma ordem de
valores em cujo centro situa-se o princiacutepio da dignidade humana que se irradia por todo o ordenamento Veja-se a propoacutesito
Dieter Grimm Human Rights and Judicial Review in Germany In David M Beatty (Org) Human Rights and Judicial Review A
Comparative Perspective Dodrecht Martin Urjhoff 1994 p 267-295
23Na Itaacutelia as mudanccedilas se deram sob a eacutegide da atual Constituiccedilatildeo editada em 1947 mas soacute apoacutes o funcionamento da Corte
Constitucional que se deu em 1956 Ateacute entatildeo a Corte de Cassaccedilatildeo composta por juiacutezes recrutados ainda no periacuteodo do fascismo
29
era provisoriamente encarregada da guarda da Constituiccedilatildeo o que fazia de forma muito tiacutemida no mais das vezes negando eficaacute-
cia juriacutedica agraves normas constitucionais sob o argumento de que seriam programaacuteticas Veja-se a propoacutesito Ricardo Guastini A
constitucionalizaccedilatildeo do ordenamento juriacutedico e a experiecircncia italiana In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento A
constitucionalizaccedilatildeo do direito fundamentos teoacutericos e aplicaccedilotildees especiacuteficas Op cit p 271-294
24Cf No modelo do constitucionalismo norte-americano entende-se desde os primoacuterdios que a Constituiccedilatildeo eacute autecircntica lei e que
o Judiciaacuterio pode invalidar as decisotildees legislativas que a contrariem apesar do controle de constitucionalidade natildeo estar expres-
samente previsto no texto constitucional daquele paiacutes Esta ideacuteia que jaacute estava assentada no Federalista n 78 escrito por Ale-
xander Hamilton antes da aprovaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo foi posta em praacutetica pela primeira vez contra lei federal no ceacutelebre caso
Marbury v Madison julgado em 1803 pelo juiz Marshall Veja-se a propoacutesito Paul Brest Sanford Levinson Jack Balkin Akhil Reed
Amar Processes of Constitutional Decisionmaking Cases and Materials New York Aspen Publishers 2000 p 79-103
A versatildeo mais convencional do modelo constitucional norte-americano enfatiza a importacircncia central do Judiciaacuterio na atualizaccedilatildeo
do sentido da Constituiccedilatildeo do paiacutes Contudo esta leitura histoacuterica eacute hoje objeto de intensa disputa Em sentido contraacuterio a tal
posiccedilatildeo sustentando uma menor relevacircncia do Judiciaacuterio no desenvolvimento histoacuterico do constitucionalismo americano veja-se
por exemplo Stephen M Griffin American Constitutionalism From Theory to Politics New Jersey Princeton University Press
1996 p 88-139
25Cf Luis Prietro Sanchiacutes Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales Madrid Trotta 2003 p 107-117
26Cf Daniel Sarmento Ubiquumlidade constitucional Os dois lados da moeda In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento
(Coord) A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 113-148
27Na verdade a reaccedilatildeo contra o formalismo juriacutedico na Europa eacute bem anterior ao advento do constitucionalismo do 2ordm poacutes-guerra
remontando ao final do seacuteculo XIX Veja-se a propoacutesito Constantin M Stamatis Argumenter en Droit Une theacuteorie critique de
largumentation juridique Paris Publisud 1995 p 34-50 Antonio Manoel Hespanha Panorama histoacuterico da cultura juriacutedica euro-
peacuteia Lisboa Publicaccedilotildees Europa-Ameacuterica 1997 p 196-235
28Haacute vasta literatura sobre a ponderaccedilatildeo mas a obra mais influente sobre o tema eacute certamente o livro de Robert Alexy Teoria dos
direitos fundamentais Traduccedilatildeo de Virgiacutelio Afonso da Silva Satildeo Paulo Malheiros 2008 No cenaacuterio norte-americano veja-se a
anaacutelise densa e criacutetica de T Alexander Aleinikoff Constitucional Law in the Age of Balancing Yale Law Journal n 96 p 943-
1005 1987 No Brasil cfr Daniel Sarmento A ponderaccedilatildeo de interesses na Constituiccedilatildeo Federal Rio de Janeiro Lumen Juris
2000 Ana Paula de Barcellos Ponderaccedilatildeo racionalidade e atividade jurisdicional Op cit
29A bibliografia sobre o princiacutepio da proporcionalidade eacute vastiacutessima Veja-se a propoacutesito as densas anaacutelises de Carlos Bernal Puli-
do El Principio de Proporcionalidad y los Derechos Fundamentales Madrid Centro de Estuacutedios Constitucionales 2003 e no Brasil
de Jane Reis Gonccedilalves Pereira Interpretaccedilatildeo constitucional e direitos fundamentais Rio de Janeiro Renovar 2006 p 297-382
30Cf Chaiumlm Perelman Eacutetica e direito Traduccedilatildeo de Maria Ermantina Galvatildeo G Perira Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 p 361-684
Robert Alexy Teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica Op cit Friedrich Muller Discours de la Meacutethode Juridique Traduccedilatildeo de Olivier
Jouanjan Paris PUF 1993 Manuel Atienza Traacutes la Justicia Una Introduccioacuten al Derecho y al Razonamiento Juriacutedico Barcelona
Ariel 1995 Neil MacCormick Argumentaccedilatildeo juriacutedica e teoria do direito Traduccedilatildeo de Waldeacutea Barcellos Satildeo Paulo Martins Fontes
2006 Klaus Guumlnther Teoria da argumentaccedilatildeo no direito e na moral justificaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Claacuteudio Molz Satildeo Pau-
lo Landy 2004
31Cf Martin Shapiro Alec Stone Sweet On Law Politics and Judicialization New York Oxford University Press p 136-208
32Contudo deve-se admitir na linha de Paolo Comanducci que eacute possiacutevel reconhecer as mudanccedilas em questatildeo e propor novas
teorias que sejam adequadas a elas sem defendecirc-las Esta seria nas palavras do autor italiano a diferenccedila entre o neoconstitu-
cionalismo teoacuterico e o neoconstitucionalismo ideoloacutegico que natildeo apenas constroacutei teorias mais compatiacuteveis com os novos fenocirc-
menos mas vai aleacutem sustentando a sua legitimidade e propugnando pelo seu aprofundamento e expansatildeo Veja-se a propoacutesito
Paulo Comanducci Formas de neoconstitucionalismo Un anaacutelisis metateoacuterico In Miguel Carbonell (Ed) Neoconstitucionalis-
mo(s) Op cit p 75-98 Como reconhece o proacuteprio autor tal distinccedilatildeo baseia-se em uma semelhante acerca do positivismo
30
formulada por Norberto Bobbio que fala em positivismo teoacuterico ideoloacutegico e metodoloacutegico Cf Norberto Bobbio O positivismo
juriacutedico liccedilotildees de filosofia do direito Traduccedilatildeo e notas de Marcio Pugliesi et al Satildeo Paulo Iacutecone 1995 p 233-239
33Cf Ronald Dworkin Is Law a Sistem of Rules In Ronald Dworkin (Ed) Philosophy of Law Oxford Oxford University Press 1971
Robert Alexy Constitucionalismo discursivo Traduccedilatildeo de Luiz Afonso Heck Porto Alegre Livraria do Advogado 2007
34Cf Robert Alexy Derecho y Razoacuten Praacutectica Meacutexico Distribuiciones Fontamara 1993 Aulis Aarnio Lo Racional como Razonable
Traduccedilatildeo de Ernesto Garzoacuten Valdeacutes Madrid Centro de Estuacutedios Constitucionales 1991
35Cf Aharon Barak The Judge in a Democracy New Jersey Princeton University Press 2006 p 213-260 Gustavo Zagrebelsky Il
Diritto Mite Op cit p 179-217
36Confronte-se com perspectivas diferentes Luigi Ferrajoli O Estado de direito entre passado e futuro In Pietro Costa Danilo
Zolo (Org) Estado de direito histoacuteria teoria criacutetica Traduccedilatildeo de Carlo Alberto Dastoli Satildeo Paulo Martins Fontes 2006 p 419-
464 Elias Dias Estado de Derecho y Sociedad Democraacutetica Madrid Taurus 1998 Ronald Dworkin Introduction The Moral Reading
and the Majoritarian Premise In Freedoms Law The moral reading of the American Constitution Cambridge Harvard University
Press 1996 p 01-38 Gustavo Zagrebelsky La Crucifixioacuten y la Democracia Barcelona Ariel 1996 Claacuteudio Pereira de Souza Neto
Teoria constitucional da democracia deliberativa Op cit
37Cf Ronald Dworkin Introduction The Moral Reading and the Majoritarian Premise Op cit
38Cf Luigi Ferrajoli El Garantismo y la Filosofia del Derecho Bogotaacute Universidad Externado de Colocircmbia 2000
39Cf Luis Pietro Sanchis Sobre el Neoconstitucionalismo y sus Implicaciones In Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales
Op cit p 101-135
40Cf Ricardo Guastini Sur la Validiteacute de la Constitution du Point de Vue du Positivisme Juridique In Michel Troper Lucien Jaume
(Dir) 1789 et LInvention de la Constitution Paris LGDJ 1994 p 216-225
41Cf Suzana Pozzolo Neoconstituzionalismo e Positivismo Giuridico Torino Giapppicheli 2001
42Cf Ronald Dworkin Law and Morals In Justice in Robes Cambridge Harvard University Press 2006 p 01-35
43Cf Robert Alexy Derecho y Moral In La Institucionalizacioacuten de la Justicia Op cit p 17-30
44Cf Carlos Santiago Nino Eacutetica y Derechos Humanos 2 ed Buenos Aires Astrea 1989 p 11-48
45Cf Gustav Radbruch Cinco minutos de filosofia do direito In Filosofia do direito Traduccedilatildeo de L Cabral de Moncada 6 ed
Coimbra Armecircnio Amado 1979 p 414-418 Para uma densa problematizaccedilatildeo da foacutermula de Radbruch veja-se Thomas da Rosa
Bustamante Poacutes-Positivismo o argumento da injusticcedila aleacutem da Foacutermula de Radbruch In Teoria do direito e decisatildeo racional
temas de teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica Rio de Janeiro Renovar 2008
46Cf Robert Alexy La Institucionalizacioacuten de la Justicia Traduccedilatildeo de Joseacute Antonio Seone et al Granada Comares 2005 p 31-
54
47Sobre o tema cfr Alfonso Garcia Figueroa Princiacutepios e direitos fundamentais In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmen-
to A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 03-34
48O texto mais importante do positivismo inclusivo eacute o poacutes-escrito de Herbert LA Hart agrave sua obra magna The Concept of Law em
que ele responde agraves criacuteticas ao seu pensamento que Ronald Dworkin lhe endereccedilara O autor inglecircs faleceu antes de terminar o
texto mas ele foi publicado postumemente depois de ser editado por Joseph Raz Peneacutelope Bulloch Veja-se Herbert LA Hart
Poacutes-escrito In O conceito de direito Traduccedilatildeo de A Ribeiro Mendes 2 ed 1994 p 299-339 Tambeacutem na linha do positivismo
inclusivo veja-se Gregorio Peces- Barba Derechos Sociales y Positivismo Juriacutedico Escritos de Filosofia Poliacutetica y Juriacutedica Madrid
Dykinson 1999 p 83-90 Jules Coleman The Practice of Principle In defense of a pragmatist approach do legal theory Oxford
Oxford University Press p 103-120 Para uma resenha dos tipos de positivismo no debate contemporacircneo confira-se Dimitri Di-
moulis Positivismo juriacutedico introduccedilatildeo a uma teoria do direito e defesa do pragmatismo juriacutedico-politico Satildeo Paulo Meacutetodo
2006 p 65-166
49Cf Antonio Cavalcanti Maia Nos vinte anos da Constituiccedilatildeo do poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo Op cit Claacuteudio Perei-
ra de Souza Neto A teoria constitucional e seus lugares especiacuteficos notas sobre o aporte reconstrutivo Revista de Direito do
Estado n 1 p 89-104 jan mar 2006 Daniel Sarmento Interpretaccedilatildeo constitucional preacute-compreensatildeo e capacidades institu-
cionais do inteacuterprete In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binebojm Vinte anos da Constituiccedilatildeo de 1988
Op cit p 311-322
31
50Cf Juumlrgen Habermas Escritos sobre Moralidad y Eticidad Traduccedilatildeo de Manuel Jimenez Redondo Barcelona Paidoacutes 1991 p
131-172
51Sobre o comunitarismo haacute extensa literatura Dois textos claacutessicos deste linha de pensamento satildeo Michael Walzer The Communi-
tarian Critique of Liberalism In Politics and Passion New Haven Yale University Press 2004 p 141-163 Charles Taylor The
Procedural Republic and the Unencumbered Self In Robert Goodin Philip Pettit (Ed) Contemporary Political Philosophy 2 ed
Oxford Oxford University Press 2002 p 2462-256 Sobre a penetraccedilatildeo ainda que muitas vezes natildeo consciente das posiccedilotildees do
comunitarismo no constitucionalismo brasileiro veja-se Gisele Cittadino Pluralismo direito e justiccedila distributiva Op cit p
43-74
52Sobre o construtivismo eacutetico corrente filosoacutefica que sustenta a existecircncia de posiccedilotildees certas e erradas na Moral bem como a
possibilidade de encontraacute-las e fundamentaacute-las racionalmente veja-se Carlos Santiago Nino El Constructivismo Eacutetico Madrid
Centro de Estudios Constitucionales 1989
53O fenocircmeno tambeacutem se reproduz na teoria constitucional norte-americana hegemocircnica cf Keith Wittington Constitutional Con-
struction Divided Powers and Constitutional Meaning Cambridge Harvard University Press 1999 p 01-03
54A imagem do Poder Judiciaacuterio como um guardiatildeo de promessas eacute explorada e criticada numa obra importante da teoria juriacutedica
francesa contemporacircnea Antoine Garapon Le Gardien de Promesses Le juge et la democratie Paris Odile Jacob 1996
55Neste sentido o eloquumlente encerramento do Curso de Direito Constitucional Contemporacircneo de Luis Roberto Barroso o consti-
tucionalismo democraacutetico eacute a utopia que nos restou Uma feacute racional que ajuda a acreditar no bem e na justiccedila ainda quando natildeo
estejam ao alcance dos olhos (Op cit p 400)
56Cf Nico Poulantzas State Power Socialism London new Left Books 1978 Alan Hunt Marxist Theory of Law In Dennis Patter-
son (Ed) A Companion to Philosophy of Law and Legal Theory Malden Blackwell Publishers 1996 p 355-367
57Cf David Kairys (Ed) The Politics of Law A Progressive Critique New York Pantheon Books 1982 Roberto Mangabeira Unger
The Critical Legal Studies Movement Cambridge Harvard University Press 1986
58Cf Plauto Faraco Azevedo Criacutetica agrave dogmaacutetica e hermenecircutica juriacutedica Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1989 Luiz Fernando
Coelho Teoria criacutetica do direito 2 ed Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1991
59Natildeo haacute como abordar aqui as relaccedilotildees entre as inuacutemeras correntes do poacutes-modernismo e o Direito Constitucional Veja-se a
propoacutesito Niklas Luhman La Constituzione como Acquisizione Evolutiva In Gustavo Zagrebelsky Piacuteer Paolo Portinaro Joumlrg Lu-
ther Il Futuro della Costituzione Torino Einaudi 1996 p 83-128 Joseacute Joaquim Gomes Canotilho Civilizaccedilatildeo do direito constitu-
cional ou constitucionalizaccedilatildeo do direito civil a eficaacutecia dos direitos fundamentais na ordem juriacutedico-civil no contexto do direito
poacutes-moderno Cadernos de Direito Constitucional e Ciecircncia Poliacutetica n 15 p 07-16 1996 Eduardo Capellari A crise da moderni-
dade e a Constituiccedilatildeo Rio de janeiro Ameacuterica Juriacutedica 2004 Daniel Sarmento Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas 2 ed
Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 p 36-45
60Para Jean-Franccedilois Lyotard uma das caracteriacutesticas centrais do pensamento poacutes-moderno de que eacute expoente eacute a desconfianccedila
em relaccedilatildeo agraves metanarrativas - construccedilotildees abstratas grandiosas e totalizadoras tiacutepicas da Filosofia Moderna como direitos
humanos luta de classes e emancipaccedilatildeo pelo uso da razatildeo Cf Lyotard A condiccedilatildeo poacutes-moderna Traduccedilatildeo de Ricardo Correcirca
Barbosa 5 ed 1998 p16
61Cf Luiz Werneck Viana O terceiro poder na carta de 1988 e a tradiccedilatildeo republicana mudanccedila e conservaccedilatildeo In Ruben George
Oliven Marcelo Gildo Marccedilal Branda A Constituiccedilatildeo de 1988 na vida brasileira Satildeo Paulo Aderaldo e Rotshild 2008 p 91-109
62Cf Paulo Ricardo Schier Filtragem constitucional Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1999
63A expressatildeo foi cunhada por Claacuteudio Pereira de Souza Neto Fundamento e normatividade dos direitos fundamentais uma recons-
truccedilatildeo teoacuterica agrave luz do princiacutepio democraacutetico Arquivos de Direitos Humanos n 4 p 17-61 2003
64Cf Luis Roberto Barroso O direito constitucional e a efetividade de suas normas 3 ed Rio de Janeiro Renovar 1996
65Cf Clegravemerson Merlin Clegraveve A teoria constitucional e o direito alternativo para uma dogmaacutetica constitucional emancipatoacuteria In
Uma vida dedicada ao direito homenagem a Carlos Henrique de Carvalho Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1995 p 34-53
66Ressalte-se poreacutem que antes de 88 alguns juristas jaacute defendiam a forccedila normativa da Constituiccedilatildeo como o Prof Joseacute Afonso da
Silva Eacute de 1968 a primeira ediccedilatildeo da sua obra claacutessica A aplicabilidade das normas constitucionais que adotava claramente esta
32
perspectiva Todavia pelo clima nada propiacutecio ao constitucionalismo que reinava por aqui ateacute a nossa redemocratizaccedilatildeo a louvaacute-
vel pregaccedilatildeo dele e de outros juristas em prol da efetivaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo natildeo chegou a render maiores frutos
67Deve-se assinalar ainda a influecircncia marcante do novo constitucionalismo ibeacuterico neste movimento que tambeacutem pugnava pela
atribuiccedilatildeo de forccedila normativa agraves ambiciosas constituiccedilotildees de Portugal e Espanha entatildeo recentemente elaboradas apoacutes o fim de
experiecircncias autoritaacuterias naqueles paiacuteses A tiacutetulo de exemplo mencione-se a penetraccedilatildeo no paiacutes do pensamento do Professor de
Coimbra Joseacute Joaquim Gomes Canotilho especialmente da sua teoria sobre a Constituiccedilatildeo dirigente que ele posteriormente reviu
(cf J J Gomes Canotilho Constituiccedilatildeo dirigente e vinculaccedilatildeo ao legislador contributo para a compreensatildeo das normas constitu-
cionais programaacuteticas 2 ed Coimbra Coimbra 2001 - especialmente o prefaacutecio desta segunda ediccedilatildeo que daacute conta da mudanccedila
de posicionamento) bem como a difusatildeo das liccedilotildees do Professor Eduardo Garciacutea de Enterriacutea (cf La Constitucioacuten como Norma y el
Tribunal Constitucional Madrid Civitas 1981)
68Segundo a avaliaccedilatildeo atual de Luis Roberto Barroso personagem central do movimento o positivismo constitucional que deu
impulso ao movimento natildeo importava em reduzir o direito agrave norma mas sim em elevaacute-la a esta condiccedilatildeo pois ateacute entatildeo ele
havia sido menos do que norma (Curso de direito constitucional contemporacircneo Op cit p 224)
69Paulo Bonavides Curso de direito constitucional 5 ed Satildeo Paulo Malheiros 1994
70Eros Roberto Grau A ordem econocircmica na Constituiccedilatildeo de 88 interpretaccedilatildeo e criacutetica Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1996
71No acircmbito da Poacutes-Graduccedilatildeo em Direito da UERJ em que estou inserido desde 1997 primeiro como aluno e a partir de 2003 como
professor o Ricardo Lobo Torres teve papel central na difusatildeo do pensamento destes e de outros filoacutesofos entre os estudantes e o
proacuteprio corpo docente
72Cf Lecircnio Luiz Streck Hermenecircutica juriacutedica e(m) crise Op cit Eros Roberto Grau Ensaio e discurso sobre a interpreta-
ccedilatildeoaplicaccedilatildeo do direito Satildeo Paulo Malheiros 2002
73Nesta linha veja-se as obras que compotildeem a coletacircnea Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Direitos sociais funda-
mentos judicializaccedilatildeo e direitos sociais em espeacutecie Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 Ricardo Lobo Torres O miacutenimo existencial
e os direitos fundamentais Revista de Direito Administrativo n 177 p 20-49 1989 Ingo Wolfgang Sarlet A eficaacutecia dos direitos
fundamentais 9 ed Porto Alegre Livraria do Advogado 2008 Ana Paula de Barcellos A eficaacutecia juriacutedica dos princiacutepios o princiacute-
pio da dignidade da pessoa humana Op cit Marco Mazzeli Gouveia O controle judicial das omissotildees administrativas Rio de
Janeiro Forense 2003 Andreacuteas Krell Direitos sociais e controle judicial no Brasil e Alemanha os (des)caminhos de um direito
constitucional comparado Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2002
74Cf Gustavo Tepedino Temas de direito civil Rio de Janeiro Renovar 1999 Luiz Edson Fachin Estatuto juriacutedico do patrimocircnio
miacutenimo Rio de Janeiro Renovar 2001 Maria Celina Bodin de Moraes Danos agrave pessoa humana uma leitura civil-constitucional dos
danos morais Rio de Janeiro Renovar 2003 Teresa Negreiros Fundamentos para uma interpretaccedilatildeo constitucional do princiacutepio
da boa-feacute Rio de Janeiro Renovar 1998 Anderson Schreiber A proibiccedilatildeo do comportamento contraditoacuterio Rio de Janeiro Reno-
var 2005
75Cf Luciano Feldens A Constituiccedilatildeo penal a dupla face da proporcionalidade no controle das lei penais Porto Alegre Livraria do
Advogado 2005 Luis Carlos dos Santos Gonccedilalves Mandados expressos de criminalizaccedilatildeo e a proteccedilatildeo de direitos fundamentais na
Constituiccedilatildeo Brasileira de 1988 Belo Horizonte Foacuterum 2007
76Cf Gustavo Binenbojm Uma teoria do direito administrativo direitos fundamentais democracia e constitucionalizaccedilatildeo Rio de
Janeiro Renovar 2006 Alexandre dos Santos Aragatildeo Floriano de Azevedo Marques (Coord) Direito administrativo e seus novos
paradigmas Belo Horizonte Foacuterum 2008
77Cf Gustavo Binenbojm A nova jurisdiccedilatildeo constitucional brasileira legitimidade democraacutetica e instumentos de realizaccedilatildeo Rio de
Janeiro Renovar 2001 Claacuteudio Pereira de Souza Neto Jurisdiccedilatildeo constitucional democracia e racionalidade praacutetica Rio de
Janeiro Renovar 2002 Joseacute Adeacutercio Leite Sampaio A Constituiccedilatildeo reinventada pela jurisdiccedilatildeo constitucional Belo Horizonte Del
Rey 2002 Lecircnio Luiz Streck Jurisdiccedilatildeo constitucional e hermenecircutica Porto Alegre Livraria do Advogado 2002 Aacutelvaro Ricardo
de Souza Cruz Jurisdiccedilatildeo constitucional democraacutetica Belo Horizonte Del Rey 2004
78A expressatildeo dificuldade contramajoritaacuteria eacute de um claacutessico da teoria constitucional norte-americana Alexander Bickel La Cons-
titucioacuten como Norma y el Tribunal Constitucional 2 ed New Haven Yale University Press 1986
33
79Em siacutentese apertada o procedimentalismo sustenta que natildeo eacute papel da jurisdiccedilatildeo constitucional tutelar valores substantivos mas
apenas proteger os pressupostos necessaacuterios ao bom funcionamento da democracia Jaacute o substancialismo reconhece a legitimidade
da atuaccedilatildeo jurisdicional em favor da garantia e promoccedilatildeo de valores substantivos presentes na Constituiccedilatildeo O debate entre o
procedimentalismo identificado com as ideacuteias de autores como John Hart Ely e Juumlrgen Habermas e o substancialismo defendido
por teoacutericos como Ronald Dworkin e Laurence Tribe eacute reproduzido em praticamente toda a literatura contemporacircnea que trata de
Teoria ou Filosofia Constitucional Veja-se a propoacutesito a densa obra de Claacuteudio Ari Mello Democracia constitucional e direitos
fundamentais Porto Alegre Livraria do Advogado 2004
80Neoconstitucionalismo e constitucionalizaccedilatildeo do direito o triunfo tardio do direito constitucional no Brasil Op cit
81A crise paradigmaacutetica do direito no contexto da resistecircncia positivista ao (neo)constitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza
Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm Vinte anos da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Op cit p 203-228
82Nos vinte anos da carta cidadatilde do poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo Op cit
83Neoconstitucionalismo direitos fundamentais e controle de poliacuteticas puacuteblicas In Daniel Sarmento Flaacutevio Galdino (Org) Direitos
fundamentais estudos em homenagem ao prof Ricardo Lobo Torres Rio de Janeiro Renovar 2006 p 31-60
84Direitos humanos legitimidade e constitucionalismo In Daniel Sarmento Flaacutevio Galdino (Org) Direitos fundamentais estudos
em homenagem ao Prof Ricardo Lobo Torres Op cit p325-350
85Novos desafios agrave filtragem constitucional no momento do neoconstitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sar-
mento A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 251-270
86Neoconstitucionalismo a invasatildeo da Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Meacutetodo 2008
87Neoconstitucionalismo e positivismo juriacutedico Satildeo Paulo Landy 2006
88Teoria do direito e argumentaccedilatildeo racional temas de teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica op cit p 141-240
89Uma visatildeo criacutetica do neoconstitucionalismo In George Salomatildeo Leite Glauco Salomatildeo Leite Constituiccedilatildeo e efetividade constitu-
cional Salvador JusPodium 2008 p 43-60
90Neoconstitucionalismo entre a Ciecircncia do direito e o direito da ciecircncia In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento
Gustavo Binenbojm Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 p 187-202
91Cf Peticcedilatildeo 1246 MSSC julgada em 31011997 (obrigaccedilatildeo do Estado de realizar transplante de ceacutelulas mioblaacutesticas para salvar
a vida de crianccedila) Agravo de Instrumento no Recurso Extraordinaacuterio 271286RS DJU 24 nov 2000 (entrega de medicamentos
para portadores de HIV) e Agravo de Instrumento do Recurso Extraordinaacuterio nordm 410715-5 julgado em 22112005 (obrigaccedilatildeo de
fornecimento de vagas para educaccedilatildeo infantil pelo municiacutepio com atendimento em creches e preacute-escola)
92Recursos Extraordinaacuterios nordms 158215-4RS 161243-6DF 201819RJ
93Cf Mandado de Injunccedilatildeo 670ES Rel Min Gilmar Mendes julgado em 25102007 em que o STF revendo orientaccedilatildeo anterior
deu eficaacutecia normativa agrave sentenccedila proferida no mandado de injunccedilatildeo No caso decidiuse que ateacute o advento de lei regulamentado-
ra sobre a greve no serviccedilo puacuteblico o direito de greve poderia ser exercido obedecendo-se os limites impostos pela Lei 778389
que trata dos movimentos paredistas em serviccedilos essenciais no setor privado
94Sobre a tendecircncia agrave superaccedilatildeo da ideacuteia do Judiciaacuterio como legislador negativo na jurisdiccedilatildeo constitucional veja-se Joseacute Adeacutercio
Leite Sampaio A Constituiccedilatildeo reinventada pela jurisdiccedilatildeo constitucional Belo Horizonte Del Rey 2002 p 203-248
95Eacute lugar-comum dentre os autores que tratam da questatildeo associar tais mudanccedilas agrave pluralizaccedilatildeo das vozes na interpretaccedilatildeo consti-
tucional tema em que a referecircncia essencial no cenaacuterio germacircnico eacute Peter Haumlberle Veja-se a propoacutesito Peter Haumlberle Herme-
necircutica constitucional A sociedade aberta dos inteacuterpretes da Constituiccedilatildeo contribuiccedilatildeo para a interpretaccedilatildeo pluralista e procedi-
mental da Constituiccedilatildeo Traduccedilatildeo de Gilmar Ferreira Mendes Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1997 Veja-se ainda na doutrina
brasileira Gustavo Binenbojm A dimensatildeo do Amicus Curiae no processo constitucional brasileiro In Temas de direito constitu-
cional e administrativo Rio de Janeiro Renovar 2008 p 165-190
96ADIN 3510DF Relator Ministro Carlos Ayres Britto A accedilatildeo proposta contra o art 5ordm da Lei de Biosseguranccedila impugnava a auto-
rizaccedilatildeo de pesquisas com embriotildees humanos resultantes de fertilizaccedilatildeo in vitro que fossem inviaacuteveis ou estivessem congelados haacute
mais de trecircs anos A accedilatildeo foi julgada totalmente improcedente por 6 votos a 5
97ADPF nordm 54 A accedilatildeo que tem como relator o Ministro Marco Aureacutelio ainda natildeo foi julgada mas em seu bojo jaacute ocorreram diversas
audiecircncias puacuteblicas que provocaram intensa participaccedilatildeo da sociedade civil e grande interesse na miacutedia
34
98ADPF nordm 132 Relator Ministro Carlos Ayres Britto A accedilatildeo ainda foi julgada
99Mandados de Seguranccedila 26602DF 26603DF e 26604DF Informativo STF n 482
100Recurso Extraordinaacuterio 197917SP Rel p acoacuterdatildeo Min Ceacutesar Peluso DJU 18 fev 2005
101O livro de Alberto Carlos Almeida A cabeccedila do brasileiro lanccedilado em 2007 conteacutem pesquisas feitas sobre uma acuteseacuterie de temas
com pessoas de todas as classes sociais e regiotildees do paiacutes Uma das pesquisas eacute relativa agrave avaliaccedilatildeo das instituiccedilotildees Dentre as treze
avaliadas as duas que obtiveram menor aprovaccedilatildeo foram os partidos poliacuteticos (avaliaccedilatildeo positiva de 28 dos entrevistados) e o
Congresso (avaliaccedilatildeo positiva de 36 dos entrevistados) Cf Antonio Carlos Almeida A cabeccedila do brasileiro Rio de Janeiro Re-
cord 2007 p 187
102Cf Luis Roberto Barroso Judicializaccedilatildeo ativismo judicial e legitimidade democraacutetica Texto ainda ineacutedito gentilmente cedido
pelo autor
103Humberto Aacutevila por exemplo formula outra criacutetica importante de que o neoconstitucionalismo seria inadequado agrave realidade
constitucional brasileira jaacute que privilegia os princiacutepios e a Carta de 88 seria muito mais regulatoacuteria do que principioloacutegica (Neo-
constitucionalismo entre a ciecircncia do direito e o direito da ciecircncia Op cit p 188-192)
104Contudo natildeo eacute razoaacutevel estender esta criacutetica ao ponto de negar o caraacuteter democraacutetico da atuaccedilatildeo judicial Como ressaltou
Eugenio Rauacutel Zaffaroni uma instituiccedilatildeo natildeo eacute democraacutetica unicamente porque natildeo provenha de eleiccedilatildeo popular porque nem tudo
o que proveacutem desta origem eacute necessariamente aristocraacutetico Uma instituiccedilatildeo eacute democraacutetica quando seja funcional para o sistema
democraacutetico quer dizer quando seja necessaacuteria para a sua continuidade como ocorre com o judiciaacuterio (Poder judiciaacuterio crise
acertos e desacertos Traduccedilatildeo de Juarez Tavares Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1995 p 43)
105Cf Robert A Dahl Sobre a democracia Traduccedilatildeo de Beatriz Sidou Brasiacutelia UNB 2001 p 97-113 Juumlrgen Habermas Popular
Sovereignity as Procedure In James Bonham William Rehg Deliberative Democracy Cambridge The MIT Press 1997 p 35-66
106A questatildeo da tensatildeo e sinergia simultacircneas entre constitucionalismo e democracia eacute um dos debates mais fecundos da Teoria
Poliacutetica e da Filosofia Constitucional que tem atravessado o tempo desde o advento do constitucionalismo moderno no seacuteculo
XVIII Veja-se no debate contemporacircneo Jeremy Waldron Preocommitment and Disagreement In Larry Alexander Constitu-
cionalism Philosophical Foundations Cambridge Cambridge University Press 1998 p 271-299 Juumlrgen Habermas O Estado demo-
craacutetico de direito uma amarraccedilatildeo paradoxal de princiacutepios contraditoacuterios In Era das transiccedilotildees Traduccedilatildeo de Flaacutevio Beno Siebe-
neichler Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 2003 p 153-173 Carlos Santiago Nino La Constitucioacuten de la Democracia Deliberativa
Op cit Frank Michelman Brennan and Democracy Princeton Princeton University Press 1999 p 03-62 Stephen Holmes El
Precompromiso y la Paradoja de la Democracia In Jon Elster Rune Slagstad Constitucionalismo y Democracia Traduccedilatildeo de Mocircni-
ca Utrilla de Neira Mexico Fondo de Cultura Econocircmica 1999 p 217-262
107O problema da limitaccedilatildeo do legislador atual pelas decisotildees do constituinte adotadas no passado envolve a problemaacutetica da
partilha intergeracional de poder bem explicitada na fala de Jefferson que defendia que a cada 19 anos deveria ser elaborada
uma nova Constituiccedilatildeo nos Estados Unidos para que a Lei Maior daquele paiacutes natildeo se tornasse um mecanismo de governo dos mor-
tos sobre os vivos Em siacutentese apertada haacute na teoria poliacutetica contemporacircnea duas linhas principais de justificativa para a legiti-
midade destas restriccedilotildees
Uma eacute a teoria da democracia dualista defendida por Bruce Ackerman que sustenta que as decisotildees adotadas pelo proacuteprio povo
em contextos de grande mobilizaccedilatildeo ciacutevica devem ser protegidas do alcance da vontade dos representantes do povo formada em
momentos em que a cidadania natildeo esteja intensamente envolvida Esta teoria distingue a poliacutetica extraordinaacuteria correspondente
agravequeles momentos constitucionais da poliacutetica ordinaacuteria que se realiza atraveacutes das deliberaccedilotildees do dia a dia dos oacutergatildeos represen-
tativos Para a perspectiva ackermaniana a poliacutetica extraordinaacuteria - que natildeo exige necessariamente formalizaccedilatildeo procedimental
atraveacutes de assembleacuteia constituinte ou de emenda constitucional - se situa em patamar superior agrave poliacutetica ordinaacuteria e pode legiti-
mamente impor limites a esta (cf Bruce Ackerman We the people Foundations Cambridge The Belknap Press 1991 p 03-33)
Outra teoria eacute a do preacute-compromisso que jaacute foi advogada por Jon Elster Segundo ela eacute legiacutetimo subtrair do alcance das maiorias
determinadas questotildees fundamentais que expressam princiacutepios fundamentais de justiccedila poliacutetica ou garantam os pressupostos da
proacutepria democracia tendo em vista o risco de que no processo poliacutetico majoritaacuterio em momentos de irracionalidade o povo
35
possa ser viacutetima de suas proacuteprias fraquezas ou paixotildees momentacircneas atentando contra tais princiacutepios (cf Ulisses and Sirens
Cambridge Cambridge University Press 1979)
Ambas as concepccedilotildees - a primeira mais proacutexima ao republicanismo e a segunda de vieacutes mais liberal - tecircm a sua dose de procedecircn-
cia mas ensejam criacuteticas importantes Todavia foge a escopo do presente trabalho analisar esta questatildeo que eacute uma das mais
complexas da Filosofia Poliacutetica moderna e contemporacircnea Para uma visatildeo geral sobre o tema na literatura em liacutengua portuguesa
veja-se Oscar Vilhena Vieira A Constituiccedilatildeo e sua reserva de justiccedila Op cit Miguel Nogueira de Brito A Constituiccedilatildeo constituin-
te ensaio sobre o poder de revisatildeo da Constituiccedilatildeo Coimbra Coimbra 2000 Samantha Chantal Dobrowolski Op cit p 265-312
Rodrigo Brandatildeo Direitos fundamentais democracia e claacuteusulas peacutetreas Rio de Janeiro Renovar 2008 p 59-112
108Cf Michel Troper Justice Constitutionelle et Deacutemocratie In Pour une Theorie Juridique de LEacutetat Paris PUF 1994 p 317-328
Claacuteudio Pereira de Souza Neto Jurisdiccedilatildeo constitucional democracia e racionalidade praacutetica Op cit p 106-130 Gustavo Binen-
bojm A nova jurisdiccedilatildeo constitucional brasileira Op cit p 55-74
109Sobre o modelo revolucionaacuterio francecircs de constitucionalismo completamente avesso agrave ideacuteia de jurisdiccedilatildeo constitucional cf
Maurizio Fioravanti Constitucioacuten de la antiguumledad a nuestros dias Traduccedilatildeo de Manuel Martinez Neira Madrid Trotta 2001 p
120-132
110Cf Carl Schmitt La Defesa de la Constitucioacuten Madrid Tecnos 1983
111O constitucionalismo popular ou populismo constitucional eacute uma importante corrente no debate constitucional norte-americano
contemporacircneo que nega a legitimidade democraacutetica do controle de constitucionalidade advogando que deve caber ao proacuteprio
povo e natildeo a uma elite de juiacutezes natildeo eleitos com assento na Suprema Corte o poder de definir o sentido das claacuteusulas vagas que
abundam no texto constitucional daquele paiacutes Na defesa desta tese satildeo empregados tanto argumentos de teoria e filosofia poliacuteti-
ca de caraacuteter mais universal como razotildees histoacutericas relacionadas agrave evoluccedilatildeo do constitucionalismo estadunidense Veja-se nesta
linha Mark Tushnet Taking the Constitution Away from the Courts Princeton Princeton University Press 1999 Jeremy Waldron
Precommitment and Disagreement Op cit Larry D Kramer The People Themselves Popular constitutionalism and judicial re-
view New York Oxford University Press 1994
Ateacute algumas deacutecadas atraacutes a oposiccedilatildeo agrave jurisdiccedilatildeo constitucional nos Estados Unidos partia em regra da Direita que natildeo se con-
formava com a jurisprudecircncia extremamente liberal em mateacuteria de direitos fundamentais estabelecida pela Corte entre os anos
50 e 70 Atualmente uma boa parte dos opositores agrave judicial review situa-se agrave esquerda do espectro poliacutetico e talvez a nova linha
profundamente conservadora daquele Tribunal ajude a explicar esta mudanccedila
112Sobre a Era de Lochner veja-se Laurence H Tribe American Constitutional Law 2 ed Mineola The Foundation Press 1988 p
567-581 Paul Brest et al Processes of Constitucional Decisionmaking 4 ed New York Aspen Publishers 2000 p 337-354
113Towards Juristocracy hellip Op cit
114Tratei do tema no artigo Direito adquirido emenda constitucional democracia e justiccedila social In Livres e iguais Op cit p
03-32
115Cf Charles R Epp The Rights Revolution Chicago The University of Chicago Press 1998 p 26-70 Owen Fiss The Law as It
Could Be New York New York University Press 2003 p 244-249
116A importacircncia e as peculiaridades da interpretaccedilatildeo legislativa da Constituiccedilatildeo satildeo exploradas em importante obra coletiva
Richard W Bauman Tsvi Kahana The Least Examined Branch The Role of Legislatures in the Constitutional State Cambridge
Cambridge University Press 2006
117Cf em tom ainda mais ceacutetico do que o adotado neste estudo Martonio MontAlverne Barreto Lima Jurisdiccedilatildeo Constitucional
um problema da teoria da democracia poliacutetica In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Gilberto Bercovici Joseacute Filomeno de Moraes
Filho Martonio MontAlverne Teoria da Constituiccedilatildeo estudos sobre o lugar da poliacutetica no direito constitucional Rio de Janeiro
Lumen Juris 2003 p 199-261 Conrado Huumlbner Mendes Controle de constitucionalidade e democracia Rio de Janeiro Elsevier
2008
36
118Para criacutetica semelhante no contexto germacircnico veja-se Ingeborg Maus O judiciaacuterio como superego da sociedade sobre o papel
da atividade jurisprudencial na sociedade oacuterfatilde Traduccedilatildeo de Martonio MontAlverne Barreto Lima Paulo Antonio Menezes de Albu-
querque Anuaacuterio dos Cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito da Faculdade de Direito de Recife n 11 2000
119Eu aprofundo a anaacutelise deste ponto no meu artigo Interpretaccedilatildeo constitucional preacute-compreensatildeo e capacidades institucionais do
inteacuterprete In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm (Coord) Vinte anos da Constituiccedilatildeo Federal
de 1988 Op cit p 311-322 E a necessidade de optar por teoria de interpretaccedilatildeo que leve em consideraccedilatildeo as capacidades
institucionais reais dos juiacutezes comparando-as com as dos agentes de outras instituiccedilotildees eacute explorada no importante estudo de Cass
Sunstein Adrian Vermeulle Interpretations and Institutions Chicago Working Papers in Law amp Economics 2002 p 01-55 bem
como no livro de Adrian Vermeulle Judging under Uncertainty An Institutional Theory for Legal Interpretation Cambridge Har-
vard University Press 2006
120Dentre as honrosas exceccedilotildees mencione-se Luiacutes Roberto Barroso autor de importante artigo com sugestotildees para a reforma poliacuteti-
ca no paiacutes Reforma poliacutetica uma proposta de sistema de governo eleitoral e partidaacuterio para o Brasil Revista de Direito do Esta-
do n 3 p 287-360 jul set 2006
121Sobre o ethos judicial no Brasil veja-se a pesquisa de Maria Tereza Sadek Magistrados uma imagem em movimento Rio de
Janeiro FGV 2006
122Em sentido semelhante veja-se Michael J Perry The Constitution the Courts and Human Rights New Haven Yale University
Press 1982 p 91-145
123Neste ponto entendo que um standard importante que deveria ser adotado para controle de constitucionalidade eacute o de que
quanto maiores forem as credencias democraacuteticas de um ato normativo mais autocontido deve ser o Poder Judiciaacuterio ao avaliar a
sua constitucionalidade Na minha opiniatildeo estas credencias democraacuteticas devem ser aferidas tanto por criteacuterios qualitativos - eg
grau de participaccedilatildeo social no processo legislativo qualidade do processo deliberativo que a antecedeu - como por criteacuterios quanti-
tativos - percentual de votos favoraacuteveis agrave medida Em sentido semelhante veja-se Claacuteudio Ari Mello Democracia e direitos funda-
mentais Op cit p 298
124Em sentido proacuteximo apontam as liccedilotildees de Gustavo Binenbojm e Humberto Aacutevila O primeiro tratando do controle judicial dos
atos administrativos averbou que quanto maior for o grau de tecnicidade da mateacuteria objeto de decisatildeo por oacutergatildeos dotados de
expertise e experiecircncia menos intenso deve ser o grau de controle judicial (Uma teoria do direito administrativo Op cit p
236) Jaacute o segundo salientou que o acircmbito de controle pelo Judiciaacuterio deveraacute ser tanto menor quanto mais difiacutecil e teacutecnico for
o juiacutezo exigido para o tratamento da mateacuteria (Teoria dos princiacutepios Op cit p 126)
125Um exemplo extremado deste posicionamento estaacute na argumentaccedilatildeo adotada pelo STF no julgamento da ADIN 2797 Rel Min
Sepuacutelveda Pertence em que se reconheceu a inconstitucionalidade formal de lei que pretendia interpretar a Constituiccedilatildeo Para o
STF natildeo pode a lei ordinaacuteria pretender impor como seu objeto imediato uma interpretaccedilatildeo a Constituiccedilatildeo a questatildeo eacute de in-
constitucionalidade formal iacutensita a toda norma da gradaccedilatildeo inferior que se proponha a ditar interpretaccedilatildeo de norma superior
Na questatildeo de fundo abordada naquele caso entendo que o STF estava certo Tratava-se de invalidar uma norma legal que esten-
dera o foro de prerrogativa de funccedilatildeo a ex-ocupantes de cargos puacuteblicos visando a restaurar antiga jurisprudecircncia do STF sedi-
mentada na Suacutemula 394 do Tribunal que acabara de ser cancelada O princiacutepio republicano natildeo era compatiacutevel com tal medida
que configurava niacutetido privileacutegio O que me parece inaceitaacutevel e profundamente anti-democraacutetico com a devida vecircnia natildeo eacute o
resultado alcanccedilado pela Corte - com o qual concordo - mas o argumento empregado de que o legislador natildeo pode interpretar a
Constituiccedilatildeo
126Existe hoje uma fecunda produccedilatildeo acadecircmica no cenaacuterio anglo-saxatildeo sobre as vantagens de modelos teoacutericos que favoreccedilam
diaacutelogos entre diversos oacutergatildeos e instituiccedilotildees na interpretaccedilatildeo constitucional ao inveacutes de afirmarem a exclusividade ou mesmo a
supremacia do Judiciaacuterio nesta seara Veja-se a propoacutesito Laurence G Sager Justice in Plainclothes A Theory of American Con-
stitutional Practice New haven Yale University Press 2004 Mark Tushnet Weak Courts Strong Rights Judicial Review and Social
Welfare Rights in Comparative Constitutional Law Princeton Princeton University Press 2008 Mark C Miller Jeb Barnes (Ed)
Making Police Making Law An Interbranch Perspective Washington DC Georgetown University Press 2004
37
127Colhi o exemplo no estudo de Oscar Vilhena Vieira Supremocracia In Daniel Sarmento (Org) Filosofia e teoria constitucional
contemporacircnea Rio de Janeiro Lumen Juris 2009
128Como um natildeo-positivista tenho a necessaacuteria imparcialidade para criticar os equiacutevocos da doutrina brasileira nas suas invectivas
contra o positivismo que muitas vezes caracterizam verdadeira falaacutecia do espantalho ataca-se natildeo a proacutepria teoria positivista
mas uma distorcida caricatura dela Duas afirmaccedilotildees erradas que eu mesmo jaacute fiz em textos anteriores satildeo muito frequumlentes a
de que o positivismo recusa a aplicaccedilatildeo dos princiacutepios juriacutedicos e a de que ele teria sido a Filosofia do Direito cultivada na Alema-
nha nazista
Quanto ao primeiro ponto natildeo haacute nenhuma incompatibilidade loacutegica entre positivismo e princiacutepios desde que os princiacutepios este-
jam devidamente incorporados na ordem juriacutedico-positiva Vaacuterios autores positivistas contemporacircneos jaacute citados neste estudo
como Luis Prietro Sanchiacutes Luigi Ferrajoli e Gregorio Peces-Barba atribuiacuteram espaccedilo importante para princiacutepios nas suas teorias
Mesmo no Direito Puacuteblico brasileiro juristas de inspiraccedilatildeo positivista kelseniana construiacuteram suas teorias com apoio em argumen-
taccedilatildeo principioloacutegica como o falecido Geraldo Ataliba e Celso Antonio Bandeira de Mello
No que tange ao segundo ponto - a chamada redutio ad hitlerum - os estudos mais autorizados de Histoacuteria do Direito comprovam
que natildeo foi o positivismo a teoria juriacutedica dominante no nazismo mas uma espeacutecie de jusnaturalismo de inspiraccedilatildeo hegeliana que
se insurgia contra o formalismo e recorria com frequumlecircncia a conceitos muito vagos para justificar a barbaacuterie como os de comuni-
dade popular (Volksgemeinschaft) Veja-se a propoacutesito Michael Stolleis The Law under the Swastika Studies on Legal History in
Nazi Germany Traduccedilatildeo de Thomas Dunlap Chicago The University of Chicago Press 1998
129Cf Joseacute Joaquim Gomes Canotilho Direito constitucional e Teoria da Constituiccedilatildeo Coimbra Almedina 1998 p 1036
130Sobre a importacircncia das regras veja-se Frederick Schauer Playing by the Rules A Philosophical Exaxamination of Rule-Bases
Decision-Making in Law and Life Oxford Oxford University Press 1998 Humberto Aacutevila Neoconstitucionalismo entre a ciecircncia do
direito e o direito da ciecircncia Op cit Noel Struchiner Posturas institucionais e modelagem institucional a dignidade (contingente)
do formalismo juriacutedico In Daniel Sarmento Filosofia e teoria constitucional contemporacircnea Op cit
131Esta eacute expressatildeo empregada por Ana Paula de Barcellos O direito constitucional em 2006 Revista de Direito do Estado n 5 p
03-23 janmar 2007
132Cf Chaiumlm Perelman P Fories La Motivation des Deacutecisions de Justice Bruxelas Eacutemile Bruylant 1978
133Sobra a influecircncia do jeitinho no Direito brasileiro cf Keith Rosen O jeito na cultura juriacutedica brasileira Rio de Janeiro Reno-
var 1997
134Sobre o patrimonialismo no Brasil veja-se Raimundo Faoro Os donos do poder 8 ed Rio de Janeiro Globo 1989 v 2 p 729-
750
135Raiacutezes do Brasil 26 ed Satildeo Paulo Companhia das Letras 1995
136Cf Joseacute Murilo de Carvalho Brasileiro Cidadatildeo In Pontos e bordados escritos de histoacuteria e poliacutetica Belo Horizonte Ed
UFMG 2005 p 275-288
137Cf Gustavo Zagrebelsky Il Diritto Mite Op cit p 15-19
138Cf Marcelo Neves A constitucionalizaccedilatildeo simboacutelica Satildeo Paulo Acadecircmica 1994
139A obra de Niklas Luhman eacute vasta e complexa e seus textos satildeo de difiacutecil compreensatildeo para os natildeo iniciados Veja-se do proacuteprio
autor Sociologia do direito I e II Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 1983 e 1985 Sistema Jurididico y Dogmaacutetica Juriacutedica Madrid
Centro de Estuacutedios Constitucionales 1983 Confira-se tambeacutem a coletacircnea organizada por Andreacute-Jean Arnaud Dalmir Lopes Jr Do
sistema social agrave sociologia juriacutedica Rio de Janeiro Lumen Juris 2004
140Sobre a autopoieses do Direito veja-se tambeacutem a obra importante de Guumlnther Teubner O direito como sistema autopoieacutetico
Traduccedilatildeo de Joseacute Engracia Nunes Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1993
141Cf Luis Roberto Barroso Neoconstitucionalismo e a constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit
142Esta era basicamente a visatildeo de Hans Kelsen (Cf Hans Kelsen Jurisdiccedilatildeo constitucional Traduccedilatildeo de Alexandre Krug et al Satildeo
Paulo Martins Fontes 2003 p 153) Para uma anaacutelise criacutetica desta posiccedilatildeo veja-se Luis Prietro Sanchiacutes Presupuestos ideoloacutegicos
y doctrinales de la jurisdicioacuten constitucional In Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales Op cit p 21-100
38
143Cf Christian Starck La suprematie La Suprematie de la Constitution et la Justice Constitutionnelle In La Constitution Cadre et
Mesure du Droit Traduccedilatildeo de Freacutederic Weill Paris Econocircmica 1994 p 26-30 Ernst- Wolfgang Boumlckenfoumlrde Les meacutethodes
dinterpretation de la Constitution Un bilan critique In Le Droit lEacutetat et la Constitution Democratique Traduccedilatildeo de Olivier
Jouanjan Paris LGDJ 2000 p 249-250 Virgiacutelio Afonso da Silva Constitucionalizaccedilatildeo do direito os direitos fundamentais nas
relaccedilotildees entre particulares Satildeo Paulo Malheiros 2005 p 107-131 Daniel Sarmento Ubiquumlidade constitucional os dois lados da
moeda Op cit Luis Roberto Barroso Curso de Direito Constitucional Contemporacircneo Op cit p 391-394 Alceu Mauriacutecio Jr
Judicializaccedilatildeo da poliacutetica e a crise do direito constitucional a Constituiccedilatildeo entre ordem marco e ordem fundamenta Revista de
Direito do Estado n 10 p 125-142 abrjun 2008
144Der Staat der Industriegesellshaft 2 ed Muumlnchen Beck 1971 p 144 Apud Robert Alexy Posfaacutecio In Teoria dos direitos
fundamentais Op cit p 578
145De acordo com Carlos Santiago Nino o perfeccionaismo eacute la concepcioacuten seguacuten la cual es una misioacuten legiacutetima del Estado hacer
que los individuos acepten y materializen ideales vaacutelidos de virtud personal Seguacuten este enfoque el Estado no puede permanecer
neutral respecto de concepciones de lo bueno en la vida y debe adoptar las medidas educativas punitorias etc que sean necesa-
rias para que los indiviacuteduos ajusten su vida a los verdaderos ideales de virtud y del bien (Eacutetica y Derechos Humanos Un ensayo de
fundamentacioacuten 2 ed Buenos Aires Astrea 1989 p 413)
146Daniel Sarmento Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas 2 ed Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 Sobre o tema na literatura
nacional veja-se tambeacutem Wilson Antocircnio Steinmetz A vinculaccedilatildeo dos particulares aos direitos fundamentais Satildeo Paulo Malheiros
2004 Virgiacutelio Afonso da Silva Constitucionalizaccedilatildeo do direito os direitos fundamentais nas relaccedilotildees entre particulares Op cit
Ingo Wolfgang Sarlet Direitos fundamentais e direito privado algumas consideraccedilotildees em torno da vinculaccedilatildeo dos particulares aos
direitos fundamentais In Ingo Wolfgang Sarlet (Org) A Constituiccedilatildeo concretizada Porto Alegre Livraria do Advogado 1999 p
129-173 Jane Reis Gonccedilalves Pereira Apontamentos sobre a aplicaccedilatildeo das normas de direito fundamental nas relaccedilotildees juriacutedicas
entre particulares In Luis Roberto Barroso (Org) A nova interpretaccedilatildeo constitucional ponderaccedilatildeo direitos fundamentais e
relaccedilotildees privadas Rio de Janeiro Renovar 2003 p 119-192
147Sobre a questatildeo da (i)legitimidade do perfeccionismo no Direito veja-se Joel Feinberg Rights Justice and the Bounds of Liber-
ty Princeton Princeton University Press 1980 Carlos Santiago Nino Eacutetica y Derechos Humanos Op cit p 413-446 Rainer Forst
Contexts of Justice Political Philosophy beyond Liberalism and Communitarianism Traduccedilatildeo de John M M Farrel Berkeley Uni-
versity of Califoacuternia Press 2001 p 30-87 Macaacuterio Alemany El Paternalismo Juriacutedico Madrid Iustel 2006
148Um sofisticado modelo que busca conciliar a constitucionalizaccedilatildeo do Direito com a democracia estaacute exposto no Poacutesfaacutecio agrave Teo-
ria dos Direitos Fundamentais de Robert Alexy acima citado Veja-se ainda Konrad Hesse Concepto y Cualidad de la Constitu-
cion In Escritos de Derecho Constitucional Traduccedilatildeo de Pedro Cruz Villaloacuten 2 ed 1992 p 03-29
149Tentei articular a minha teoria sobre eficaacutecia horizontal dos direitos fundamentais com este objetivo Cf Daniel Sarmento
Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas Op cit p 141-182 259-272
150Sobre el Neoconstitucionalismo y sus Implicaciones Op cit p 117
151Aqui entendo que o simples reconhecimento da penetraccedilatildeo da Moral no Direito preconizada pelos neoconstitucionalistas brasi-
leiros natildeo eacute suficiente jaacute que certas concepccedilotildees morais podem tornar o ordenamento ainda mais opressivo do que jaacute eacute Afinal
nem sempre a moralizaccedilatildeo do Direito se daacute na direccedilatildeo da emancipaccedilatildeo dos excluiacutedos Veja-se por exemplo a famosa polecircmica
jusfilosoacutefica entre Lord Patrick Devlin e Herbert Hart nos anos 60 na Inglaterra a propoacutesito do uso do Direito Penal para promoccedilatildeo
de Moral em que o primeiro a partir de uma posiccedilatildeo proacute-moral sustentava a legitimidade da criminalizaccedilatildeo da conduta homos-
sexual que o segundo contestava (Cf Lord Patrick Devlin Morals and Criminal Law In Ronald Dworkin (Ed) The Philosophy of
Law Op cit p 66-82 Herbert Hart Immorality and Treason In Idem ibidem)
Eacute preciso assentar as bases criacuteticas desta Moral que deve penetrar o Direito para evitar que o moralismo conservador seja expulso
do ordenamento pela porta da frente superado pela legislaccedilatildeo moderna em razatildeo da progressiva liberalizaccedilatildeo da sociedade mas
volte pela porta dos fundos atraveacutes da argumentaccedilatildeo juriacutedica dos juiacutezes lastreada em conceitos vagos como ordem puacuteblica e
bons constumes ou em standards como o comportamento do bom pai de famiacutelia
39
29
era provisoriamente encarregada da guarda da Constituiccedilatildeo o que fazia de forma muito tiacutemida no mais das vezes negando eficaacute-
cia juriacutedica agraves normas constitucionais sob o argumento de que seriam programaacuteticas Veja-se a propoacutesito Ricardo Guastini A
constitucionalizaccedilatildeo do ordenamento juriacutedico e a experiecircncia italiana In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento A
constitucionalizaccedilatildeo do direito fundamentos teoacutericos e aplicaccedilotildees especiacuteficas Op cit p 271-294
24Cf No modelo do constitucionalismo norte-americano entende-se desde os primoacuterdios que a Constituiccedilatildeo eacute autecircntica lei e que
o Judiciaacuterio pode invalidar as decisotildees legislativas que a contrariem apesar do controle de constitucionalidade natildeo estar expres-
samente previsto no texto constitucional daquele paiacutes Esta ideacuteia que jaacute estava assentada no Federalista n 78 escrito por Ale-
xander Hamilton antes da aprovaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo foi posta em praacutetica pela primeira vez contra lei federal no ceacutelebre caso
Marbury v Madison julgado em 1803 pelo juiz Marshall Veja-se a propoacutesito Paul Brest Sanford Levinson Jack Balkin Akhil Reed
Amar Processes of Constitutional Decisionmaking Cases and Materials New York Aspen Publishers 2000 p 79-103
A versatildeo mais convencional do modelo constitucional norte-americano enfatiza a importacircncia central do Judiciaacuterio na atualizaccedilatildeo
do sentido da Constituiccedilatildeo do paiacutes Contudo esta leitura histoacuterica eacute hoje objeto de intensa disputa Em sentido contraacuterio a tal
posiccedilatildeo sustentando uma menor relevacircncia do Judiciaacuterio no desenvolvimento histoacuterico do constitucionalismo americano veja-se
por exemplo Stephen M Griffin American Constitutionalism From Theory to Politics New Jersey Princeton University Press
1996 p 88-139
25Cf Luis Prietro Sanchiacutes Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales Madrid Trotta 2003 p 107-117
26Cf Daniel Sarmento Ubiquumlidade constitucional Os dois lados da moeda In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento
(Coord) A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 113-148
27Na verdade a reaccedilatildeo contra o formalismo juriacutedico na Europa eacute bem anterior ao advento do constitucionalismo do 2ordm poacutes-guerra
remontando ao final do seacuteculo XIX Veja-se a propoacutesito Constantin M Stamatis Argumenter en Droit Une theacuteorie critique de
largumentation juridique Paris Publisud 1995 p 34-50 Antonio Manoel Hespanha Panorama histoacuterico da cultura juriacutedica euro-
peacuteia Lisboa Publicaccedilotildees Europa-Ameacuterica 1997 p 196-235
28Haacute vasta literatura sobre a ponderaccedilatildeo mas a obra mais influente sobre o tema eacute certamente o livro de Robert Alexy Teoria dos
direitos fundamentais Traduccedilatildeo de Virgiacutelio Afonso da Silva Satildeo Paulo Malheiros 2008 No cenaacuterio norte-americano veja-se a
anaacutelise densa e criacutetica de T Alexander Aleinikoff Constitucional Law in the Age of Balancing Yale Law Journal n 96 p 943-
1005 1987 No Brasil cfr Daniel Sarmento A ponderaccedilatildeo de interesses na Constituiccedilatildeo Federal Rio de Janeiro Lumen Juris
2000 Ana Paula de Barcellos Ponderaccedilatildeo racionalidade e atividade jurisdicional Op cit
29A bibliografia sobre o princiacutepio da proporcionalidade eacute vastiacutessima Veja-se a propoacutesito as densas anaacutelises de Carlos Bernal Puli-
do El Principio de Proporcionalidad y los Derechos Fundamentales Madrid Centro de Estuacutedios Constitucionales 2003 e no Brasil
de Jane Reis Gonccedilalves Pereira Interpretaccedilatildeo constitucional e direitos fundamentais Rio de Janeiro Renovar 2006 p 297-382
30Cf Chaiumlm Perelman Eacutetica e direito Traduccedilatildeo de Maria Ermantina Galvatildeo G Perira Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 p 361-684
Robert Alexy Teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica Op cit Friedrich Muller Discours de la Meacutethode Juridique Traduccedilatildeo de Olivier
Jouanjan Paris PUF 1993 Manuel Atienza Traacutes la Justicia Una Introduccioacuten al Derecho y al Razonamiento Juriacutedico Barcelona
Ariel 1995 Neil MacCormick Argumentaccedilatildeo juriacutedica e teoria do direito Traduccedilatildeo de Waldeacutea Barcellos Satildeo Paulo Martins Fontes
2006 Klaus Guumlnther Teoria da argumentaccedilatildeo no direito e na moral justificaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Claacuteudio Molz Satildeo Pau-
lo Landy 2004
31Cf Martin Shapiro Alec Stone Sweet On Law Politics and Judicialization New York Oxford University Press p 136-208
32Contudo deve-se admitir na linha de Paolo Comanducci que eacute possiacutevel reconhecer as mudanccedilas em questatildeo e propor novas
teorias que sejam adequadas a elas sem defendecirc-las Esta seria nas palavras do autor italiano a diferenccedila entre o neoconstitu-
cionalismo teoacuterico e o neoconstitucionalismo ideoloacutegico que natildeo apenas constroacutei teorias mais compatiacuteveis com os novos fenocirc-
menos mas vai aleacutem sustentando a sua legitimidade e propugnando pelo seu aprofundamento e expansatildeo Veja-se a propoacutesito
Paulo Comanducci Formas de neoconstitucionalismo Un anaacutelisis metateoacuterico In Miguel Carbonell (Ed) Neoconstitucionalis-
mo(s) Op cit p 75-98 Como reconhece o proacuteprio autor tal distinccedilatildeo baseia-se em uma semelhante acerca do positivismo
30
formulada por Norberto Bobbio que fala em positivismo teoacuterico ideoloacutegico e metodoloacutegico Cf Norberto Bobbio O positivismo
juriacutedico liccedilotildees de filosofia do direito Traduccedilatildeo e notas de Marcio Pugliesi et al Satildeo Paulo Iacutecone 1995 p 233-239
33Cf Ronald Dworkin Is Law a Sistem of Rules In Ronald Dworkin (Ed) Philosophy of Law Oxford Oxford University Press 1971
Robert Alexy Constitucionalismo discursivo Traduccedilatildeo de Luiz Afonso Heck Porto Alegre Livraria do Advogado 2007
34Cf Robert Alexy Derecho y Razoacuten Praacutectica Meacutexico Distribuiciones Fontamara 1993 Aulis Aarnio Lo Racional como Razonable
Traduccedilatildeo de Ernesto Garzoacuten Valdeacutes Madrid Centro de Estuacutedios Constitucionales 1991
35Cf Aharon Barak The Judge in a Democracy New Jersey Princeton University Press 2006 p 213-260 Gustavo Zagrebelsky Il
Diritto Mite Op cit p 179-217
36Confronte-se com perspectivas diferentes Luigi Ferrajoli O Estado de direito entre passado e futuro In Pietro Costa Danilo
Zolo (Org) Estado de direito histoacuteria teoria criacutetica Traduccedilatildeo de Carlo Alberto Dastoli Satildeo Paulo Martins Fontes 2006 p 419-
464 Elias Dias Estado de Derecho y Sociedad Democraacutetica Madrid Taurus 1998 Ronald Dworkin Introduction The Moral Reading
and the Majoritarian Premise In Freedoms Law The moral reading of the American Constitution Cambridge Harvard University
Press 1996 p 01-38 Gustavo Zagrebelsky La Crucifixioacuten y la Democracia Barcelona Ariel 1996 Claacuteudio Pereira de Souza Neto
Teoria constitucional da democracia deliberativa Op cit
37Cf Ronald Dworkin Introduction The Moral Reading and the Majoritarian Premise Op cit
38Cf Luigi Ferrajoli El Garantismo y la Filosofia del Derecho Bogotaacute Universidad Externado de Colocircmbia 2000
39Cf Luis Pietro Sanchis Sobre el Neoconstitucionalismo y sus Implicaciones In Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales
Op cit p 101-135
40Cf Ricardo Guastini Sur la Validiteacute de la Constitution du Point de Vue du Positivisme Juridique In Michel Troper Lucien Jaume
(Dir) 1789 et LInvention de la Constitution Paris LGDJ 1994 p 216-225
41Cf Suzana Pozzolo Neoconstituzionalismo e Positivismo Giuridico Torino Giapppicheli 2001
42Cf Ronald Dworkin Law and Morals In Justice in Robes Cambridge Harvard University Press 2006 p 01-35
43Cf Robert Alexy Derecho y Moral In La Institucionalizacioacuten de la Justicia Op cit p 17-30
44Cf Carlos Santiago Nino Eacutetica y Derechos Humanos 2 ed Buenos Aires Astrea 1989 p 11-48
45Cf Gustav Radbruch Cinco minutos de filosofia do direito In Filosofia do direito Traduccedilatildeo de L Cabral de Moncada 6 ed
Coimbra Armecircnio Amado 1979 p 414-418 Para uma densa problematizaccedilatildeo da foacutermula de Radbruch veja-se Thomas da Rosa
Bustamante Poacutes-Positivismo o argumento da injusticcedila aleacutem da Foacutermula de Radbruch In Teoria do direito e decisatildeo racional
temas de teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica Rio de Janeiro Renovar 2008
46Cf Robert Alexy La Institucionalizacioacuten de la Justicia Traduccedilatildeo de Joseacute Antonio Seone et al Granada Comares 2005 p 31-
54
47Sobre o tema cfr Alfonso Garcia Figueroa Princiacutepios e direitos fundamentais In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmen-
to A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 03-34
48O texto mais importante do positivismo inclusivo eacute o poacutes-escrito de Herbert LA Hart agrave sua obra magna The Concept of Law em
que ele responde agraves criacuteticas ao seu pensamento que Ronald Dworkin lhe endereccedilara O autor inglecircs faleceu antes de terminar o
texto mas ele foi publicado postumemente depois de ser editado por Joseph Raz Peneacutelope Bulloch Veja-se Herbert LA Hart
Poacutes-escrito In O conceito de direito Traduccedilatildeo de A Ribeiro Mendes 2 ed 1994 p 299-339 Tambeacutem na linha do positivismo
inclusivo veja-se Gregorio Peces- Barba Derechos Sociales y Positivismo Juriacutedico Escritos de Filosofia Poliacutetica y Juriacutedica Madrid
Dykinson 1999 p 83-90 Jules Coleman The Practice of Principle In defense of a pragmatist approach do legal theory Oxford
Oxford University Press p 103-120 Para uma resenha dos tipos de positivismo no debate contemporacircneo confira-se Dimitri Di-
moulis Positivismo juriacutedico introduccedilatildeo a uma teoria do direito e defesa do pragmatismo juriacutedico-politico Satildeo Paulo Meacutetodo
2006 p 65-166
49Cf Antonio Cavalcanti Maia Nos vinte anos da Constituiccedilatildeo do poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo Op cit Claacuteudio Perei-
ra de Souza Neto A teoria constitucional e seus lugares especiacuteficos notas sobre o aporte reconstrutivo Revista de Direito do
Estado n 1 p 89-104 jan mar 2006 Daniel Sarmento Interpretaccedilatildeo constitucional preacute-compreensatildeo e capacidades institu-
cionais do inteacuterprete In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binebojm Vinte anos da Constituiccedilatildeo de 1988
Op cit p 311-322
31
50Cf Juumlrgen Habermas Escritos sobre Moralidad y Eticidad Traduccedilatildeo de Manuel Jimenez Redondo Barcelona Paidoacutes 1991 p
131-172
51Sobre o comunitarismo haacute extensa literatura Dois textos claacutessicos deste linha de pensamento satildeo Michael Walzer The Communi-
tarian Critique of Liberalism In Politics and Passion New Haven Yale University Press 2004 p 141-163 Charles Taylor The
Procedural Republic and the Unencumbered Self In Robert Goodin Philip Pettit (Ed) Contemporary Political Philosophy 2 ed
Oxford Oxford University Press 2002 p 2462-256 Sobre a penetraccedilatildeo ainda que muitas vezes natildeo consciente das posiccedilotildees do
comunitarismo no constitucionalismo brasileiro veja-se Gisele Cittadino Pluralismo direito e justiccedila distributiva Op cit p
43-74
52Sobre o construtivismo eacutetico corrente filosoacutefica que sustenta a existecircncia de posiccedilotildees certas e erradas na Moral bem como a
possibilidade de encontraacute-las e fundamentaacute-las racionalmente veja-se Carlos Santiago Nino El Constructivismo Eacutetico Madrid
Centro de Estudios Constitucionales 1989
53O fenocircmeno tambeacutem se reproduz na teoria constitucional norte-americana hegemocircnica cf Keith Wittington Constitutional Con-
struction Divided Powers and Constitutional Meaning Cambridge Harvard University Press 1999 p 01-03
54A imagem do Poder Judiciaacuterio como um guardiatildeo de promessas eacute explorada e criticada numa obra importante da teoria juriacutedica
francesa contemporacircnea Antoine Garapon Le Gardien de Promesses Le juge et la democratie Paris Odile Jacob 1996
55Neste sentido o eloquumlente encerramento do Curso de Direito Constitucional Contemporacircneo de Luis Roberto Barroso o consti-
tucionalismo democraacutetico eacute a utopia que nos restou Uma feacute racional que ajuda a acreditar no bem e na justiccedila ainda quando natildeo
estejam ao alcance dos olhos (Op cit p 400)
56Cf Nico Poulantzas State Power Socialism London new Left Books 1978 Alan Hunt Marxist Theory of Law In Dennis Patter-
son (Ed) A Companion to Philosophy of Law and Legal Theory Malden Blackwell Publishers 1996 p 355-367
57Cf David Kairys (Ed) The Politics of Law A Progressive Critique New York Pantheon Books 1982 Roberto Mangabeira Unger
The Critical Legal Studies Movement Cambridge Harvard University Press 1986
58Cf Plauto Faraco Azevedo Criacutetica agrave dogmaacutetica e hermenecircutica juriacutedica Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1989 Luiz Fernando
Coelho Teoria criacutetica do direito 2 ed Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1991
59Natildeo haacute como abordar aqui as relaccedilotildees entre as inuacutemeras correntes do poacutes-modernismo e o Direito Constitucional Veja-se a
propoacutesito Niklas Luhman La Constituzione como Acquisizione Evolutiva In Gustavo Zagrebelsky Piacuteer Paolo Portinaro Joumlrg Lu-
ther Il Futuro della Costituzione Torino Einaudi 1996 p 83-128 Joseacute Joaquim Gomes Canotilho Civilizaccedilatildeo do direito constitu-
cional ou constitucionalizaccedilatildeo do direito civil a eficaacutecia dos direitos fundamentais na ordem juriacutedico-civil no contexto do direito
poacutes-moderno Cadernos de Direito Constitucional e Ciecircncia Poliacutetica n 15 p 07-16 1996 Eduardo Capellari A crise da moderni-
dade e a Constituiccedilatildeo Rio de janeiro Ameacuterica Juriacutedica 2004 Daniel Sarmento Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas 2 ed
Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 p 36-45
60Para Jean-Franccedilois Lyotard uma das caracteriacutesticas centrais do pensamento poacutes-moderno de que eacute expoente eacute a desconfianccedila
em relaccedilatildeo agraves metanarrativas - construccedilotildees abstratas grandiosas e totalizadoras tiacutepicas da Filosofia Moderna como direitos
humanos luta de classes e emancipaccedilatildeo pelo uso da razatildeo Cf Lyotard A condiccedilatildeo poacutes-moderna Traduccedilatildeo de Ricardo Correcirca
Barbosa 5 ed 1998 p16
61Cf Luiz Werneck Viana O terceiro poder na carta de 1988 e a tradiccedilatildeo republicana mudanccedila e conservaccedilatildeo In Ruben George
Oliven Marcelo Gildo Marccedilal Branda A Constituiccedilatildeo de 1988 na vida brasileira Satildeo Paulo Aderaldo e Rotshild 2008 p 91-109
62Cf Paulo Ricardo Schier Filtragem constitucional Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1999
63A expressatildeo foi cunhada por Claacuteudio Pereira de Souza Neto Fundamento e normatividade dos direitos fundamentais uma recons-
truccedilatildeo teoacuterica agrave luz do princiacutepio democraacutetico Arquivos de Direitos Humanos n 4 p 17-61 2003
64Cf Luis Roberto Barroso O direito constitucional e a efetividade de suas normas 3 ed Rio de Janeiro Renovar 1996
65Cf Clegravemerson Merlin Clegraveve A teoria constitucional e o direito alternativo para uma dogmaacutetica constitucional emancipatoacuteria In
Uma vida dedicada ao direito homenagem a Carlos Henrique de Carvalho Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1995 p 34-53
66Ressalte-se poreacutem que antes de 88 alguns juristas jaacute defendiam a forccedila normativa da Constituiccedilatildeo como o Prof Joseacute Afonso da
Silva Eacute de 1968 a primeira ediccedilatildeo da sua obra claacutessica A aplicabilidade das normas constitucionais que adotava claramente esta
32
perspectiva Todavia pelo clima nada propiacutecio ao constitucionalismo que reinava por aqui ateacute a nossa redemocratizaccedilatildeo a louvaacute-
vel pregaccedilatildeo dele e de outros juristas em prol da efetivaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo natildeo chegou a render maiores frutos
67Deve-se assinalar ainda a influecircncia marcante do novo constitucionalismo ibeacuterico neste movimento que tambeacutem pugnava pela
atribuiccedilatildeo de forccedila normativa agraves ambiciosas constituiccedilotildees de Portugal e Espanha entatildeo recentemente elaboradas apoacutes o fim de
experiecircncias autoritaacuterias naqueles paiacuteses A tiacutetulo de exemplo mencione-se a penetraccedilatildeo no paiacutes do pensamento do Professor de
Coimbra Joseacute Joaquim Gomes Canotilho especialmente da sua teoria sobre a Constituiccedilatildeo dirigente que ele posteriormente reviu
(cf J J Gomes Canotilho Constituiccedilatildeo dirigente e vinculaccedilatildeo ao legislador contributo para a compreensatildeo das normas constitu-
cionais programaacuteticas 2 ed Coimbra Coimbra 2001 - especialmente o prefaacutecio desta segunda ediccedilatildeo que daacute conta da mudanccedila
de posicionamento) bem como a difusatildeo das liccedilotildees do Professor Eduardo Garciacutea de Enterriacutea (cf La Constitucioacuten como Norma y el
Tribunal Constitucional Madrid Civitas 1981)
68Segundo a avaliaccedilatildeo atual de Luis Roberto Barroso personagem central do movimento o positivismo constitucional que deu
impulso ao movimento natildeo importava em reduzir o direito agrave norma mas sim em elevaacute-la a esta condiccedilatildeo pois ateacute entatildeo ele
havia sido menos do que norma (Curso de direito constitucional contemporacircneo Op cit p 224)
69Paulo Bonavides Curso de direito constitucional 5 ed Satildeo Paulo Malheiros 1994
70Eros Roberto Grau A ordem econocircmica na Constituiccedilatildeo de 88 interpretaccedilatildeo e criacutetica Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1996
71No acircmbito da Poacutes-Graduccedilatildeo em Direito da UERJ em que estou inserido desde 1997 primeiro como aluno e a partir de 2003 como
professor o Ricardo Lobo Torres teve papel central na difusatildeo do pensamento destes e de outros filoacutesofos entre os estudantes e o
proacuteprio corpo docente
72Cf Lecircnio Luiz Streck Hermenecircutica juriacutedica e(m) crise Op cit Eros Roberto Grau Ensaio e discurso sobre a interpreta-
ccedilatildeoaplicaccedilatildeo do direito Satildeo Paulo Malheiros 2002
73Nesta linha veja-se as obras que compotildeem a coletacircnea Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Direitos sociais funda-
mentos judicializaccedilatildeo e direitos sociais em espeacutecie Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 Ricardo Lobo Torres O miacutenimo existencial
e os direitos fundamentais Revista de Direito Administrativo n 177 p 20-49 1989 Ingo Wolfgang Sarlet A eficaacutecia dos direitos
fundamentais 9 ed Porto Alegre Livraria do Advogado 2008 Ana Paula de Barcellos A eficaacutecia juriacutedica dos princiacutepios o princiacute-
pio da dignidade da pessoa humana Op cit Marco Mazzeli Gouveia O controle judicial das omissotildees administrativas Rio de
Janeiro Forense 2003 Andreacuteas Krell Direitos sociais e controle judicial no Brasil e Alemanha os (des)caminhos de um direito
constitucional comparado Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2002
74Cf Gustavo Tepedino Temas de direito civil Rio de Janeiro Renovar 1999 Luiz Edson Fachin Estatuto juriacutedico do patrimocircnio
miacutenimo Rio de Janeiro Renovar 2001 Maria Celina Bodin de Moraes Danos agrave pessoa humana uma leitura civil-constitucional dos
danos morais Rio de Janeiro Renovar 2003 Teresa Negreiros Fundamentos para uma interpretaccedilatildeo constitucional do princiacutepio
da boa-feacute Rio de Janeiro Renovar 1998 Anderson Schreiber A proibiccedilatildeo do comportamento contraditoacuterio Rio de Janeiro Reno-
var 2005
75Cf Luciano Feldens A Constituiccedilatildeo penal a dupla face da proporcionalidade no controle das lei penais Porto Alegre Livraria do
Advogado 2005 Luis Carlos dos Santos Gonccedilalves Mandados expressos de criminalizaccedilatildeo e a proteccedilatildeo de direitos fundamentais na
Constituiccedilatildeo Brasileira de 1988 Belo Horizonte Foacuterum 2007
76Cf Gustavo Binenbojm Uma teoria do direito administrativo direitos fundamentais democracia e constitucionalizaccedilatildeo Rio de
Janeiro Renovar 2006 Alexandre dos Santos Aragatildeo Floriano de Azevedo Marques (Coord) Direito administrativo e seus novos
paradigmas Belo Horizonte Foacuterum 2008
77Cf Gustavo Binenbojm A nova jurisdiccedilatildeo constitucional brasileira legitimidade democraacutetica e instumentos de realizaccedilatildeo Rio de
Janeiro Renovar 2001 Claacuteudio Pereira de Souza Neto Jurisdiccedilatildeo constitucional democracia e racionalidade praacutetica Rio de
Janeiro Renovar 2002 Joseacute Adeacutercio Leite Sampaio A Constituiccedilatildeo reinventada pela jurisdiccedilatildeo constitucional Belo Horizonte Del
Rey 2002 Lecircnio Luiz Streck Jurisdiccedilatildeo constitucional e hermenecircutica Porto Alegre Livraria do Advogado 2002 Aacutelvaro Ricardo
de Souza Cruz Jurisdiccedilatildeo constitucional democraacutetica Belo Horizonte Del Rey 2004
78A expressatildeo dificuldade contramajoritaacuteria eacute de um claacutessico da teoria constitucional norte-americana Alexander Bickel La Cons-
titucioacuten como Norma y el Tribunal Constitucional 2 ed New Haven Yale University Press 1986
33
79Em siacutentese apertada o procedimentalismo sustenta que natildeo eacute papel da jurisdiccedilatildeo constitucional tutelar valores substantivos mas
apenas proteger os pressupostos necessaacuterios ao bom funcionamento da democracia Jaacute o substancialismo reconhece a legitimidade
da atuaccedilatildeo jurisdicional em favor da garantia e promoccedilatildeo de valores substantivos presentes na Constituiccedilatildeo O debate entre o
procedimentalismo identificado com as ideacuteias de autores como John Hart Ely e Juumlrgen Habermas e o substancialismo defendido
por teoacutericos como Ronald Dworkin e Laurence Tribe eacute reproduzido em praticamente toda a literatura contemporacircnea que trata de
Teoria ou Filosofia Constitucional Veja-se a propoacutesito a densa obra de Claacuteudio Ari Mello Democracia constitucional e direitos
fundamentais Porto Alegre Livraria do Advogado 2004
80Neoconstitucionalismo e constitucionalizaccedilatildeo do direito o triunfo tardio do direito constitucional no Brasil Op cit
81A crise paradigmaacutetica do direito no contexto da resistecircncia positivista ao (neo)constitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza
Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm Vinte anos da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Op cit p 203-228
82Nos vinte anos da carta cidadatilde do poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo Op cit
83Neoconstitucionalismo direitos fundamentais e controle de poliacuteticas puacuteblicas In Daniel Sarmento Flaacutevio Galdino (Org) Direitos
fundamentais estudos em homenagem ao prof Ricardo Lobo Torres Rio de Janeiro Renovar 2006 p 31-60
84Direitos humanos legitimidade e constitucionalismo In Daniel Sarmento Flaacutevio Galdino (Org) Direitos fundamentais estudos
em homenagem ao Prof Ricardo Lobo Torres Op cit p325-350
85Novos desafios agrave filtragem constitucional no momento do neoconstitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sar-
mento A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 251-270
86Neoconstitucionalismo a invasatildeo da Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Meacutetodo 2008
87Neoconstitucionalismo e positivismo juriacutedico Satildeo Paulo Landy 2006
88Teoria do direito e argumentaccedilatildeo racional temas de teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica op cit p 141-240
89Uma visatildeo criacutetica do neoconstitucionalismo In George Salomatildeo Leite Glauco Salomatildeo Leite Constituiccedilatildeo e efetividade constitu-
cional Salvador JusPodium 2008 p 43-60
90Neoconstitucionalismo entre a Ciecircncia do direito e o direito da ciecircncia In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento
Gustavo Binenbojm Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 p 187-202
91Cf Peticcedilatildeo 1246 MSSC julgada em 31011997 (obrigaccedilatildeo do Estado de realizar transplante de ceacutelulas mioblaacutesticas para salvar
a vida de crianccedila) Agravo de Instrumento no Recurso Extraordinaacuterio 271286RS DJU 24 nov 2000 (entrega de medicamentos
para portadores de HIV) e Agravo de Instrumento do Recurso Extraordinaacuterio nordm 410715-5 julgado em 22112005 (obrigaccedilatildeo de
fornecimento de vagas para educaccedilatildeo infantil pelo municiacutepio com atendimento em creches e preacute-escola)
92Recursos Extraordinaacuterios nordms 158215-4RS 161243-6DF 201819RJ
93Cf Mandado de Injunccedilatildeo 670ES Rel Min Gilmar Mendes julgado em 25102007 em que o STF revendo orientaccedilatildeo anterior
deu eficaacutecia normativa agrave sentenccedila proferida no mandado de injunccedilatildeo No caso decidiuse que ateacute o advento de lei regulamentado-
ra sobre a greve no serviccedilo puacuteblico o direito de greve poderia ser exercido obedecendo-se os limites impostos pela Lei 778389
que trata dos movimentos paredistas em serviccedilos essenciais no setor privado
94Sobre a tendecircncia agrave superaccedilatildeo da ideacuteia do Judiciaacuterio como legislador negativo na jurisdiccedilatildeo constitucional veja-se Joseacute Adeacutercio
Leite Sampaio A Constituiccedilatildeo reinventada pela jurisdiccedilatildeo constitucional Belo Horizonte Del Rey 2002 p 203-248
95Eacute lugar-comum dentre os autores que tratam da questatildeo associar tais mudanccedilas agrave pluralizaccedilatildeo das vozes na interpretaccedilatildeo consti-
tucional tema em que a referecircncia essencial no cenaacuterio germacircnico eacute Peter Haumlberle Veja-se a propoacutesito Peter Haumlberle Herme-
necircutica constitucional A sociedade aberta dos inteacuterpretes da Constituiccedilatildeo contribuiccedilatildeo para a interpretaccedilatildeo pluralista e procedi-
mental da Constituiccedilatildeo Traduccedilatildeo de Gilmar Ferreira Mendes Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1997 Veja-se ainda na doutrina
brasileira Gustavo Binenbojm A dimensatildeo do Amicus Curiae no processo constitucional brasileiro In Temas de direito constitu-
cional e administrativo Rio de Janeiro Renovar 2008 p 165-190
96ADIN 3510DF Relator Ministro Carlos Ayres Britto A accedilatildeo proposta contra o art 5ordm da Lei de Biosseguranccedila impugnava a auto-
rizaccedilatildeo de pesquisas com embriotildees humanos resultantes de fertilizaccedilatildeo in vitro que fossem inviaacuteveis ou estivessem congelados haacute
mais de trecircs anos A accedilatildeo foi julgada totalmente improcedente por 6 votos a 5
97ADPF nordm 54 A accedilatildeo que tem como relator o Ministro Marco Aureacutelio ainda natildeo foi julgada mas em seu bojo jaacute ocorreram diversas
audiecircncias puacuteblicas que provocaram intensa participaccedilatildeo da sociedade civil e grande interesse na miacutedia
34
98ADPF nordm 132 Relator Ministro Carlos Ayres Britto A accedilatildeo ainda foi julgada
99Mandados de Seguranccedila 26602DF 26603DF e 26604DF Informativo STF n 482
100Recurso Extraordinaacuterio 197917SP Rel p acoacuterdatildeo Min Ceacutesar Peluso DJU 18 fev 2005
101O livro de Alberto Carlos Almeida A cabeccedila do brasileiro lanccedilado em 2007 conteacutem pesquisas feitas sobre uma acuteseacuterie de temas
com pessoas de todas as classes sociais e regiotildees do paiacutes Uma das pesquisas eacute relativa agrave avaliaccedilatildeo das instituiccedilotildees Dentre as treze
avaliadas as duas que obtiveram menor aprovaccedilatildeo foram os partidos poliacuteticos (avaliaccedilatildeo positiva de 28 dos entrevistados) e o
Congresso (avaliaccedilatildeo positiva de 36 dos entrevistados) Cf Antonio Carlos Almeida A cabeccedila do brasileiro Rio de Janeiro Re-
cord 2007 p 187
102Cf Luis Roberto Barroso Judicializaccedilatildeo ativismo judicial e legitimidade democraacutetica Texto ainda ineacutedito gentilmente cedido
pelo autor
103Humberto Aacutevila por exemplo formula outra criacutetica importante de que o neoconstitucionalismo seria inadequado agrave realidade
constitucional brasileira jaacute que privilegia os princiacutepios e a Carta de 88 seria muito mais regulatoacuteria do que principioloacutegica (Neo-
constitucionalismo entre a ciecircncia do direito e o direito da ciecircncia Op cit p 188-192)
104Contudo natildeo eacute razoaacutevel estender esta criacutetica ao ponto de negar o caraacuteter democraacutetico da atuaccedilatildeo judicial Como ressaltou
Eugenio Rauacutel Zaffaroni uma instituiccedilatildeo natildeo eacute democraacutetica unicamente porque natildeo provenha de eleiccedilatildeo popular porque nem tudo
o que proveacutem desta origem eacute necessariamente aristocraacutetico Uma instituiccedilatildeo eacute democraacutetica quando seja funcional para o sistema
democraacutetico quer dizer quando seja necessaacuteria para a sua continuidade como ocorre com o judiciaacuterio (Poder judiciaacuterio crise
acertos e desacertos Traduccedilatildeo de Juarez Tavares Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1995 p 43)
105Cf Robert A Dahl Sobre a democracia Traduccedilatildeo de Beatriz Sidou Brasiacutelia UNB 2001 p 97-113 Juumlrgen Habermas Popular
Sovereignity as Procedure In James Bonham William Rehg Deliberative Democracy Cambridge The MIT Press 1997 p 35-66
106A questatildeo da tensatildeo e sinergia simultacircneas entre constitucionalismo e democracia eacute um dos debates mais fecundos da Teoria
Poliacutetica e da Filosofia Constitucional que tem atravessado o tempo desde o advento do constitucionalismo moderno no seacuteculo
XVIII Veja-se no debate contemporacircneo Jeremy Waldron Preocommitment and Disagreement In Larry Alexander Constitu-
cionalism Philosophical Foundations Cambridge Cambridge University Press 1998 p 271-299 Juumlrgen Habermas O Estado demo-
craacutetico de direito uma amarraccedilatildeo paradoxal de princiacutepios contraditoacuterios In Era das transiccedilotildees Traduccedilatildeo de Flaacutevio Beno Siebe-
neichler Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 2003 p 153-173 Carlos Santiago Nino La Constitucioacuten de la Democracia Deliberativa
Op cit Frank Michelman Brennan and Democracy Princeton Princeton University Press 1999 p 03-62 Stephen Holmes El
Precompromiso y la Paradoja de la Democracia In Jon Elster Rune Slagstad Constitucionalismo y Democracia Traduccedilatildeo de Mocircni-
ca Utrilla de Neira Mexico Fondo de Cultura Econocircmica 1999 p 217-262
107O problema da limitaccedilatildeo do legislador atual pelas decisotildees do constituinte adotadas no passado envolve a problemaacutetica da
partilha intergeracional de poder bem explicitada na fala de Jefferson que defendia que a cada 19 anos deveria ser elaborada
uma nova Constituiccedilatildeo nos Estados Unidos para que a Lei Maior daquele paiacutes natildeo se tornasse um mecanismo de governo dos mor-
tos sobre os vivos Em siacutentese apertada haacute na teoria poliacutetica contemporacircnea duas linhas principais de justificativa para a legiti-
midade destas restriccedilotildees
Uma eacute a teoria da democracia dualista defendida por Bruce Ackerman que sustenta que as decisotildees adotadas pelo proacuteprio povo
em contextos de grande mobilizaccedilatildeo ciacutevica devem ser protegidas do alcance da vontade dos representantes do povo formada em
momentos em que a cidadania natildeo esteja intensamente envolvida Esta teoria distingue a poliacutetica extraordinaacuteria correspondente
agravequeles momentos constitucionais da poliacutetica ordinaacuteria que se realiza atraveacutes das deliberaccedilotildees do dia a dia dos oacutergatildeos represen-
tativos Para a perspectiva ackermaniana a poliacutetica extraordinaacuteria - que natildeo exige necessariamente formalizaccedilatildeo procedimental
atraveacutes de assembleacuteia constituinte ou de emenda constitucional - se situa em patamar superior agrave poliacutetica ordinaacuteria e pode legiti-
mamente impor limites a esta (cf Bruce Ackerman We the people Foundations Cambridge The Belknap Press 1991 p 03-33)
Outra teoria eacute a do preacute-compromisso que jaacute foi advogada por Jon Elster Segundo ela eacute legiacutetimo subtrair do alcance das maiorias
determinadas questotildees fundamentais que expressam princiacutepios fundamentais de justiccedila poliacutetica ou garantam os pressupostos da
proacutepria democracia tendo em vista o risco de que no processo poliacutetico majoritaacuterio em momentos de irracionalidade o povo
35
possa ser viacutetima de suas proacuteprias fraquezas ou paixotildees momentacircneas atentando contra tais princiacutepios (cf Ulisses and Sirens
Cambridge Cambridge University Press 1979)
Ambas as concepccedilotildees - a primeira mais proacutexima ao republicanismo e a segunda de vieacutes mais liberal - tecircm a sua dose de procedecircn-
cia mas ensejam criacuteticas importantes Todavia foge a escopo do presente trabalho analisar esta questatildeo que eacute uma das mais
complexas da Filosofia Poliacutetica moderna e contemporacircnea Para uma visatildeo geral sobre o tema na literatura em liacutengua portuguesa
veja-se Oscar Vilhena Vieira A Constituiccedilatildeo e sua reserva de justiccedila Op cit Miguel Nogueira de Brito A Constituiccedilatildeo constituin-
te ensaio sobre o poder de revisatildeo da Constituiccedilatildeo Coimbra Coimbra 2000 Samantha Chantal Dobrowolski Op cit p 265-312
Rodrigo Brandatildeo Direitos fundamentais democracia e claacuteusulas peacutetreas Rio de Janeiro Renovar 2008 p 59-112
108Cf Michel Troper Justice Constitutionelle et Deacutemocratie In Pour une Theorie Juridique de LEacutetat Paris PUF 1994 p 317-328
Claacuteudio Pereira de Souza Neto Jurisdiccedilatildeo constitucional democracia e racionalidade praacutetica Op cit p 106-130 Gustavo Binen-
bojm A nova jurisdiccedilatildeo constitucional brasileira Op cit p 55-74
109Sobre o modelo revolucionaacuterio francecircs de constitucionalismo completamente avesso agrave ideacuteia de jurisdiccedilatildeo constitucional cf
Maurizio Fioravanti Constitucioacuten de la antiguumledad a nuestros dias Traduccedilatildeo de Manuel Martinez Neira Madrid Trotta 2001 p
120-132
110Cf Carl Schmitt La Defesa de la Constitucioacuten Madrid Tecnos 1983
111O constitucionalismo popular ou populismo constitucional eacute uma importante corrente no debate constitucional norte-americano
contemporacircneo que nega a legitimidade democraacutetica do controle de constitucionalidade advogando que deve caber ao proacuteprio
povo e natildeo a uma elite de juiacutezes natildeo eleitos com assento na Suprema Corte o poder de definir o sentido das claacuteusulas vagas que
abundam no texto constitucional daquele paiacutes Na defesa desta tese satildeo empregados tanto argumentos de teoria e filosofia poliacuteti-
ca de caraacuteter mais universal como razotildees histoacutericas relacionadas agrave evoluccedilatildeo do constitucionalismo estadunidense Veja-se nesta
linha Mark Tushnet Taking the Constitution Away from the Courts Princeton Princeton University Press 1999 Jeremy Waldron
Precommitment and Disagreement Op cit Larry D Kramer The People Themselves Popular constitutionalism and judicial re-
view New York Oxford University Press 1994
Ateacute algumas deacutecadas atraacutes a oposiccedilatildeo agrave jurisdiccedilatildeo constitucional nos Estados Unidos partia em regra da Direita que natildeo se con-
formava com a jurisprudecircncia extremamente liberal em mateacuteria de direitos fundamentais estabelecida pela Corte entre os anos
50 e 70 Atualmente uma boa parte dos opositores agrave judicial review situa-se agrave esquerda do espectro poliacutetico e talvez a nova linha
profundamente conservadora daquele Tribunal ajude a explicar esta mudanccedila
112Sobre a Era de Lochner veja-se Laurence H Tribe American Constitutional Law 2 ed Mineola The Foundation Press 1988 p
567-581 Paul Brest et al Processes of Constitucional Decisionmaking 4 ed New York Aspen Publishers 2000 p 337-354
113Towards Juristocracy hellip Op cit
114Tratei do tema no artigo Direito adquirido emenda constitucional democracia e justiccedila social In Livres e iguais Op cit p
03-32
115Cf Charles R Epp The Rights Revolution Chicago The University of Chicago Press 1998 p 26-70 Owen Fiss The Law as It
Could Be New York New York University Press 2003 p 244-249
116A importacircncia e as peculiaridades da interpretaccedilatildeo legislativa da Constituiccedilatildeo satildeo exploradas em importante obra coletiva
Richard W Bauman Tsvi Kahana The Least Examined Branch The Role of Legislatures in the Constitutional State Cambridge
Cambridge University Press 2006
117Cf em tom ainda mais ceacutetico do que o adotado neste estudo Martonio MontAlverne Barreto Lima Jurisdiccedilatildeo Constitucional
um problema da teoria da democracia poliacutetica In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Gilberto Bercovici Joseacute Filomeno de Moraes
Filho Martonio MontAlverne Teoria da Constituiccedilatildeo estudos sobre o lugar da poliacutetica no direito constitucional Rio de Janeiro
Lumen Juris 2003 p 199-261 Conrado Huumlbner Mendes Controle de constitucionalidade e democracia Rio de Janeiro Elsevier
2008
36
118Para criacutetica semelhante no contexto germacircnico veja-se Ingeborg Maus O judiciaacuterio como superego da sociedade sobre o papel
da atividade jurisprudencial na sociedade oacuterfatilde Traduccedilatildeo de Martonio MontAlverne Barreto Lima Paulo Antonio Menezes de Albu-
querque Anuaacuterio dos Cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito da Faculdade de Direito de Recife n 11 2000
119Eu aprofundo a anaacutelise deste ponto no meu artigo Interpretaccedilatildeo constitucional preacute-compreensatildeo e capacidades institucionais do
inteacuterprete In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm (Coord) Vinte anos da Constituiccedilatildeo Federal
de 1988 Op cit p 311-322 E a necessidade de optar por teoria de interpretaccedilatildeo que leve em consideraccedilatildeo as capacidades
institucionais reais dos juiacutezes comparando-as com as dos agentes de outras instituiccedilotildees eacute explorada no importante estudo de Cass
Sunstein Adrian Vermeulle Interpretations and Institutions Chicago Working Papers in Law amp Economics 2002 p 01-55 bem
como no livro de Adrian Vermeulle Judging under Uncertainty An Institutional Theory for Legal Interpretation Cambridge Har-
vard University Press 2006
120Dentre as honrosas exceccedilotildees mencione-se Luiacutes Roberto Barroso autor de importante artigo com sugestotildees para a reforma poliacuteti-
ca no paiacutes Reforma poliacutetica uma proposta de sistema de governo eleitoral e partidaacuterio para o Brasil Revista de Direito do Esta-
do n 3 p 287-360 jul set 2006
121Sobre o ethos judicial no Brasil veja-se a pesquisa de Maria Tereza Sadek Magistrados uma imagem em movimento Rio de
Janeiro FGV 2006
122Em sentido semelhante veja-se Michael J Perry The Constitution the Courts and Human Rights New Haven Yale University
Press 1982 p 91-145
123Neste ponto entendo que um standard importante que deveria ser adotado para controle de constitucionalidade eacute o de que
quanto maiores forem as credencias democraacuteticas de um ato normativo mais autocontido deve ser o Poder Judiciaacuterio ao avaliar a
sua constitucionalidade Na minha opiniatildeo estas credencias democraacuteticas devem ser aferidas tanto por criteacuterios qualitativos - eg
grau de participaccedilatildeo social no processo legislativo qualidade do processo deliberativo que a antecedeu - como por criteacuterios quanti-
tativos - percentual de votos favoraacuteveis agrave medida Em sentido semelhante veja-se Claacuteudio Ari Mello Democracia e direitos funda-
mentais Op cit p 298
124Em sentido proacuteximo apontam as liccedilotildees de Gustavo Binenbojm e Humberto Aacutevila O primeiro tratando do controle judicial dos
atos administrativos averbou que quanto maior for o grau de tecnicidade da mateacuteria objeto de decisatildeo por oacutergatildeos dotados de
expertise e experiecircncia menos intenso deve ser o grau de controle judicial (Uma teoria do direito administrativo Op cit p
236) Jaacute o segundo salientou que o acircmbito de controle pelo Judiciaacuterio deveraacute ser tanto menor quanto mais difiacutecil e teacutecnico for
o juiacutezo exigido para o tratamento da mateacuteria (Teoria dos princiacutepios Op cit p 126)
125Um exemplo extremado deste posicionamento estaacute na argumentaccedilatildeo adotada pelo STF no julgamento da ADIN 2797 Rel Min
Sepuacutelveda Pertence em que se reconheceu a inconstitucionalidade formal de lei que pretendia interpretar a Constituiccedilatildeo Para o
STF natildeo pode a lei ordinaacuteria pretender impor como seu objeto imediato uma interpretaccedilatildeo a Constituiccedilatildeo a questatildeo eacute de in-
constitucionalidade formal iacutensita a toda norma da gradaccedilatildeo inferior que se proponha a ditar interpretaccedilatildeo de norma superior
Na questatildeo de fundo abordada naquele caso entendo que o STF estava certo Tratava-se de invalidar uma norma legal que esten-
dera o foro de prerrogativa de funccedilatildeo a ex-ocupantes de cargos puacuteblicos visando a restaurar antiga jurisprudecircncia do STF sedi-
mentada na Suacutemula 394 do Tribunal que acabara de ser cancelada O princiacutepio republicano natildeo era compatiacutevel com tal medida
que configurava niacutetido privileacutegio O que me parece inaceitaacutevel e profundamente anti-democraacutetico com a devida vecircnia natildeo eacute o
resultado alcanccedilado pela Corte - com o qual concordo - mas o argumento empregado de que o legislador natildeo pode interpretar a
Constituiccedilatildeo
126Existe hoje uma fecunda produccedilatildeo acadecircmica no cenaacuterio anglo-saxatildeo sobre as vantagens de modelos teoacutericos que favoreccedilam
diaacutelogos entre diversos oacutergatildeos e instituiccedilotildees na interpretaccedilatildeo constitucional ao inveacutes de afirmarem a exclusividade ou mesmo a
supremacia do Judiciaacuterio nesta seara Veja-se a propoacutesito Laurence G Sager Justice in Plainclothes A Theory of American Con-
stitutional Practice New haven Yale University Press 2004 Mark Tushnet Weak Courts Strong Rights Judicial Review and Social
Welfare Rights in Comparative Constitutional Law Princeton Princeton University Press 2008 Mark C Miller Jeb Barnes (Ed)
Making Police Making Law An Interbranch Perspective Washington DC Georgetown University Press 2004
37
127Colhi o exemplo no estudo de Oscar Vilhena Vieira Supremocracia In Daniel Sarmento (Org) Filosofia e teoria constitucional
contemporacircnea Rio de Janeiro Lumen Juris 2009
128Como um natildeo-positivista tenho a necessaacuteria imparcialidade para criticar os equiacutevocos da doutrina brasileira nas suas invectivas
contra o positivismo que muitas vezes caracterizam verdadeira falaacutecia do espantalho ataca-se natildeo a proacutepria teoria positivista
mas uma distorcida caricatura dela Duas afirmaccedilotildees erradas que eu mesmo jaacute fiz em textos anteriores satildeo muito frequumlentes a
de que o positivismo recusa a aplicaccedilatildeo dos princiacutepios juriacutedicos e a de que ele teria sido a Filosofia do Direito cultivada na Alema-
nha nazista
Quanto ao primeiro ponto natildeo haacute nenhuma incompatibilidade loacutegica entre positivismo e princiacutepios desde que os princiacutepios este-
jam devidamente incorporados na ordem juriacutedico-positiva Vaacuterios autores positivistas contemporacircneos jaacute citados neste estudo
como Luis Prietro Sanchiacutes Luigi Ferrajoli e Gregorio Peces-Barba atribuiacuteram espaccedilo importante para princiacutepios nas suas teorias
Mesmo no Direito Puacuteblico brasileiro juristas de inspiraccedilatildeo positivista kelseniana construiacuteram suas teorias com apoio em argumen-
taccedilatildeo principioloacutegica como o falecido Geraldo Ataliba e Celso Antonio Bandeira de Mello
No que tange ao segundo ponto - a chamada redutio ad hitlerum - os estudos mais autorizados de Histoacuteria do Direito comprovam
que natildeo foi o positivismo a teoria juriacutedica dominante no nazismo mas uma espeacutecie de jusnaturalismo de inspiraccedilatildeo hegeliana que
se insurgia contra o formalismo e recorria com frequumlecircncia a conceitos muito vagos para justificar a barbaacuterie como os de comuni-
dade popular (Volksgemeinschaft) Veja-se a propoacutesito Michael Stolleis The Law under the Swastika Studies on Legal History in
Nazi Germany Traduccedilatildeo de Thomas Dunlap Chicago The University of Chicago Press 1998
129Cf Joseacute Joaquim Gomes Canotilho Direito constitucional e Teoria da Constituiccedilatildeo Coimbra Almedina 1998 p 1036
130Sobre a importacircncia das regras veja-se Frederick Schauer Playing by the Rules A Philosophical Exaxamination of Rule-Bases
Decision-Making in Law and Life Oxford Oxford University Press 1998 Humberto Aacutevila Neoconstitucionalismo entre a ciecircncia do
direito e o direito da ciecircncia Op cit Noel Struchiner Posturas institucionais e modelagem institucional a dignidade (contingente)
do formalismo juriacutedico In Daniel Sarmento Filosofia e teoria constitucional contemporacircnea Op cit
131Esta eacute expressatildeo empregada por Ana Paula de Barcellos O direito constitucional em 2006 Revista de Direito do Estado n 5 p
03-23 janmar 2007
132Cf Chaiumlm Perelman P Fories La Motivation des Deacutecisions de Justice Bruxelas Eacutemile Bruylant 1978
133Sobra a influecircncia do jeitinho no Direito brasileiro cf Keith Rosen O jeito na cultura juriacutedica brasileira Rio de Janeiro Reno-
var 1997
134Sobre o patrimonialismo no Brasil veja-se Raimundo Faoro Os donos do poder 8 ed Rio de Janeiro Globo 1989 v 2 p 729-
750
135Raiacutezes do Brasil 26 ed Satildeo Paulo Companhia das Letras 1995
136Cf Joseacute Murilo de Carvalho Brasileiro Cidadatildeo In Pontos e bordados escritos de histoacuteria e poliacutetica Belo Horizonte Ed
UFMG 2005 p 275-288
137Cf Gustavo Zagrebelsky Il Diritto Mite Op cit p 15-19
138Cf Marcelo Neves A constitucionalizaccedilatildeo simboacutelica Satildeo Paulo Acadecircmica 1994
139A obra de Niklas Luhman eacute vasta e complexa e seus textos satildeo de difiacutecil compreensatildeo para os natildeo iniciados Veja-se do proacuteprio
autor Sociologia do direito I e II Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 1983 e 1985 Sistema Jurididico y Dogmaacutetica Juriacutedica Madrid
Centro de Estuacutedios Constitucionales 1983 Confira-se tambeacutem a coletacircnea organizada por Andreacute-Jean Arnaud Dalmir Lopes Jr Do
sistema social agrave sociologia juriacutedica Rio de Janeiro Lumen Juris 2004
140Sobre a autopoieses do Direito veja-se tambeacutem a obra importante de Guumlnther Teubner O direito como sistema autopoieacutetico
Traduccedilatildeo de Joseacute Engracia Nunes Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1993
141Cf Luis Roberto Barroso Neoconstitucionalismo e a constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit
142Esta era basicamente a visatildeo de Hans Kelsen (Cf Hans Kelsen Jurisdiccedilatildeo constitucional Traduccedilatildeo de Alexandre Krug et al Satildeo
Paulo Martins Fontes 2003 p 153) Para uma anaacutelise criacutetica desta posiccedilatildeo veja-se Luis Prietro Sanchiacutes Presupuestos ideoloacutegicos
y doctrinales de la jurisdicioacuten constitucional In Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales Op cit p 21-100
38
143Cf Christian Starck La suprematie La Suprematie de la Constitution et la Justice Constitutionnelle In La Constitution Cadre et
Mesure du Droit Traduccedilatildeo de Freacutederic Weill Paris Econocircmica 1994 p 26-30 Ernst- Wolfgang Boumlckenfoumlrde Les meacutethodes
dinterpretation de la Constitution Un bilan critique In Le Droit lEacutetat et la Constitution Democratique Traduccedilatildeo de Olivier
Jouanjan Paris LGDJ 2000 p 249-250 Virgiacutelio Afonso da Silva Constitucionalizaccedilatildeo do direito os direitos fundamentais nas
relaccedilotildees entre particulares Satildeo Paulo Malheiros 2005 p 107-131 Daniel Sarmento Ubiquumlidade constitucional os dois lados da
moeda Op cit Luis Roberto Barroso Curso de Direito Constitucional Contemporacircneo Op cit p 391-394 Alceu Mauriacutecio Jr
Judicializaccedilatildeo da poliacutetica e a crise do direito constitucional a Constituiccedilatildeo entre ordem marco e ordem fundamenta Revista de
Direito do Estado n 10 p 125-142 abrjun 2008
144Der Staat der Industriegesellshaft 2 ed Muumlnchen Beck 1971 p 144 Apud Robert Alexy Posfaacutecio In Teoria dos direitos
fundamentais Op cit p 578
145De acordo com Carlos Santiago Nino o perfeccionaismo eacute la concepcioacuten seguacuten la cual es una misioacuten legiacutetima del Estado hacer
que los individuos acepten y materializen ideales vaacutelidos de virtud personal Seguacuten este enfoque el Estado no puede permanecer
neutral respecto de concepciones de lo bueno en la vida y debe adoptar las medidas educativas punitorias etc que sean necesa-
rias para que los indiviacuteduos ajusten su vida a los verdaderos ideales de virtud y del bien (Eacutetica y Derechos Humanos Un ensayo de
fundamentacioacuten 2 ed Buenos Aires Astrea 1989 p 413)
146Daniel Sarmento Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas 2 ed Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 Sobre o tema na literatura
nacional veja-se tambeacutem Wilson Antocircnio Steinmetz A vinculaccedilatildeo dos particulares aos direitos fundamentais Satildeo Paulo Malheiros
2004 Virgiacutelio Afonso da Silva Constitucionalizaccedilatildeo do direito os direitos fundamentais nas relaccedilotildees entre particulares Op cit
Ingo Wolfgang Sarlet Direitos fundamentais e direito privado algumas consideraccedilotildees em torno da vinculaccedilatildeo dos particulares aos
direitos fundamentais In Ingo Wolfgang Sarlet (Org) A Constituiccedilatildeo concretizada Porto Alegre Livraria do Advogado 1999 p
129-173 Jane Reis Gonccedilalves Pereira Apontamentos sobre a aplicaccedilatildeo das normas de direito fundamental nas relaccedilotildees juriacutedicas
entre particulares In Luis Roberto Barroso (Org) A nova interpretaccedilatildeo constitucional ponderaccedilatildeo direitos fundamentais e
relaccedilotildees privadas Rio de Janeiro Renovar 2003 p 119-192
147Sobre a questatildeo da (i)legitimidade do perfeccionismo no Direito veja-se Joel Feinberg Rights Justice and the Bounds of Liber-
ty Princeton Princeton University Press 1980 Carlos Santiago Nino Eacutetica y Derechos Humanos Op cit p 413-446 Rainer Forst
Contexts of Justice Political Philosophy beyond Liberalism and Communitarianism Traduccedilatildeo de John M M Farrel Berkeley Uni-
versity of Califoacuternia Press 2001 p 30-87 Macaacuterio Alemany El Paternalismo Juriacutedico Madrid Iustel 2006
148Um sofisticado modelo que busca conciliar a constitucionalizaccedilatildeo do Direito com a democracia estaacute exposto no Poacutesfaacutecio agrave Teo-
ria dos Direitos Fundamentais de Robert Alexy acima citado Veja-se ainda Konrad Hesse Concepto y Cualidad de la Constitu-
cion In Escritos de Derecho Constitucional Traduccedilatildeo de Pedro Cruz Villaloacuten 2 ed 1992 p 03-29
149Tentei articular a minha teoria sobre eficaacutecia horizontal dos direitos fundamentais com este objetivo Cf Daniel Sarmento
Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas Op cit p 141-182 259-272
150Sobre el Neoconstitucionalismo y sus Implicaciones Op cit p 117
151Aqui entendo que o simples reconhecimento da penetraccedilatildeo da Moral no Direito preconizada pelos neoconstitucionalistas brasi-
leiros natildeo eacute suficiente jaacute que certas concepccedilotildees morais podem tornar o ordenamento ainda mais opressivo do que jaacute eacute Afinal
nem sempre a moralizaccedilatildeo do Direito se daacute na direccedilatildeo da emancipaccedilatildeo dos excluiacutedos Veja-se por exemplo a famosa polecircmica
jusfilosoacutefica entre Lord Patrick Devlin e Herbert Hart nos anos 60 na Inglaterra a propoacutesito do uso do Direito Penal para promoccedilatildeo
de Moral em que o primeiro a partir de uma posiccedilatildeo proacute-moral sustentava a legitimidade da criminalizaccedilatildeo da conduta homos-
sexual que o segundo contestava (Cf Lord Patrick Devlin Morals and Criminal Law In Ronald Dworkin (Ed) The Philosophy of
Law Op cit p 66-82 Herbert Hart Immorality and Treason In Idem ibidem)
Eacute preciso assentar as bases criacuteticas desta Moral que deve penetrar o Direito para evitar que o moralismo conservador seja expulso
do ordenamento pela porta da frente superado pela legislaccedilatildeo moderna em razatildeo da progressiva liberalizaccedilatildeo da sociedade mas
volte pela porta dos fundos atraveacutes da argumentaccedilatildeo juriacutedica dos juiacutezes lastreada em conceitos vagos como ordem puacuteblica e
bons constumes ou em standards como o comportamento do bom pai de famiacutelia
39
30
formulada por Norberto Bobbio que fala em positivismo teoacuterico ideoloacutegico e metodoloacutegico Cf Norberto Bobbio O positivismo
juriacutedico liccedilotildees de filosofia do direito Traduccedilatildeo e notas de Marcio Pugliesi et al Satildeo Paulo Iacutecone 1995 p 233-239
33Cf Ronald Dworkin Is Law a Sistem of Rules In Ronald Dworkin (Ed) Philosophy of Law Oxford Oxford University Press 1971
Robert Alexy Constitucionalismo discursivo Traduccedilatildeo de Luiz Afonso Heck Porto Alegre Livraria do Advogado 2007
34Cf Robert Alexy Derecho y Razoacuten Praacutectica Meacutexico Distribuiciones Fontamara 1993 Aulis Aarnio Lo Racional como Razonable
Traduccedilatildeo de Ernesto Garzoacuten Valdeacutes Madrid Centro de Estuacutedios Constitucionales 1991
35Cf Aharon Barak The Judge in a Democracy New Jersey Princeton University Press 2006 p 213-260 Gustavo Zagrebelsky Il
Diritto Mite Op cit p 179-217
36Confronte-se com perspectivas diferentes Luigi Ferrajoli O Estado de direito entre passado e futuro In Pietro Costa Danilo
Zolo (Org) Estado de direito histoacuteria teoria criacutetica Traduccedilatildeo de Carlo Alberto Dastoli Satildeo Paulo Martins Fontes 2006 p 419-
464 Elias Dias Estado de Derecho y Sociedad Democraacutetica Madrid Taurus 1998 Ronald Dworkin Introduction The Moral Reading
and the Majoritarian Premise In Freedoms Law The moral reading of the American Constitution Cambridge Harvard University
Press 1996 p 01-38 Gustavo Zagrebelsky La Crucifixioacuten y la Democracia Barcelona Ariel 1996 Claacuteudio Pereira de Souza Neto
Teoria constitucional da democracia deliberativa Op cit
37Cf Ronald Dworkin Introduction The Moral Reading and the Majoritarian Premise Op cit
38Cf Luigi Ferrajoli El Garantismo y la Filosofia del Derecho Bogotaacute Universidad Externado de Colocircmbia 2000
39Cf Luis Pietro Sanchis Sobre el Neoconstitucionalismo y sus Implicaciones In Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales
Op cit p 101-135
40Cf Ricardo Guastini Sur la Validiteacute de la Constitution du Point de Vue du Positivisme Juridique In Michel Troper Lucien Jaume
(Dir) 1789 et LInvention de la Constitution Paris LGDJ 1994 p 216-225
41Cf Suzana Pozzolo Neoconstituzionalismo e Positivismo Giuridico Torino Giapppicheli 2001
42Cf Ronald Dworkin Law and Morals In Justice in Robes Cambridge Harvard University Press 2006 p 01-35
43Cf Robert Alexy Derecho y Moral In La Institucionalizacioacuten de la Justicia Op cit p 17-30
44Cf Carlos Santiago Nino Eacutetica y Derechos Humanos 2 ed Buenos Aires Astrea 1989 p 11-48
45Cf Gustav Radbruch Cinco minutos de filosofia do direito In Filosofia do direito Traduccedilatildeo de L Cabral de Moncada 6 ed
Coimbra Armecircnio Amado 1979 p 414-418 Para uma densa problematizaccedilatildeo da foacutermula de Radbruch veja-se Thomas da Rosa
Bustamante Poacutes-Positivismo o argumento da injusticcedila aleacutem da Foacutermula de Radbruch In Teoria do direito e decisatildeo racional
temas de teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica Rio de Janeiro Renovar 2008
46Cf Robert Alexy La Institucionalizacioacuten de la Justicia Traduccedilatildeo de Joseacute Antonio Seone et al Granada Comares 2005 p 31-
54
47Sobre o tema cfr Alfonso Garcia Figueroa Princiacutepios e direitos fundamentais In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmen-
to A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 03-34
48O texto mais importante do positivismo inclusivo eacute o poacutes-escrito de Herbert LA Hart agrave sua obra magna The Concept of Law em
que ele responde agraves criacuteticas ao seu pensamento que Ronald Dworkin lhe endereccedilara O autor inglecircs faleceu antes de terminar o
texto mas ele foi publicado postumemente depois de ser editado por Joseph Raz Peneacutelope Bulloch Veja-se Herbert LA Hart
Poacutes-escrito In O conceito de direito Traduccedilatildeo de A Ribeiro Mendes 2 ed 1994 p 299-339 Tambeacutem na linha do positivismo
inclusivo veja-se Gregorio Peces- Barba Derechos Sociales y Positivismo Juriacutedico Escritos de Filosofia Poliacutetica y Juriacutedica Madrid
Dykinson 1999 p 83-90 Jules Coleman The Practice of Principle In defense of a pragmatist approach do legal theory Oxford
Oxford University Press p 103-120 Para uma resenha dos tipos de positivismo no debate contemporacircneo confira-se Dimitri Di-
moulis Positivismo juriacutedico introduccedilatildeo a uma teoria do direito e defesa do pragmatismo juriacutedico-politico Satildeo Paulo Meacutetodo
2006 p 65-166
49Cf Antonio Cavalcanti Maia Nos vinte anos da Constituiccedilatildeo do poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo Op cit Claacuteudio Perei-
ra de Souza Neto A teoria constitucional e seus lugares especiacuteficos notas sobre o aporte reconstrutivo Revista de Direito do
Estado n 1 p 89-104 jan mar 2006 Daniel Sarmento Interpretaccedilatildeo constitucional preacute-compreensatildeo e capacidades institu-
cionais do inteacuterprete In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binebojm Vinte anos da Constituiccedilatildeo de 1988
Op cit p 311-322
31
50Cf Juumlrgen Habermas Escritos sobre Moralidad y Eticidad Traduccedilatildeo de Manuel Jimenez Redondo Barcelona Paidoacutes 1991 p
131-172
51Sobre o comunitarismo haacute extensa literatura Dois textos claacutessicos deste linha de pensamento satildeo Michael Walzer The Communi-
tarian Critique of Liberalism In Politics and Passion New Haven Yale University Press 2004 p 141-163 Charles Taylor The
Procedural Republic and the Unencumbered Self In Robert Goodin Philip Pettit (Ed) Contemporary Political Philosophy 2 ed
Oxford Oxford University Press 2002 p 2462-256 Sobre a penetraccedilatildeo ainda que muitas vezes natildeo consciente das posiccedilotildees do
comunitarismo no constitucionalismo brasileiro veja-se Gisele Cittadino Pluralismo direito e justiccedila distributiva Op cit p
43-74
52Sobre o construtivismo eacutetico corrente filosoacutefica que sustenta a existecircncia de posiccedilotildees certas e erradas na Moral bem como a
possibilidade de encontraacute-las e fundamentaacute-las racionalmente veja-se Carlos Santiago Nino El Constructivismo Eacutetico Madrid
Centro de Estudios Constitucionales 1989
53O fenocircmeno tambeacutem se reproduz na teoria constitucional norte-americana hegemocircnica cf Keith Wittington Constitutional Con-
struction Divided Powers and Constitutional Meaning Cambridge Harvard University Press 1999 p 01-03
54A imagem do Poder Judiciaacuterio como um guardiatildeo de promessas eacute explorada e criticada numa obra importante da teoria juriacutedica
francesa contemporacircnea Antoine Garapon Le Gardien de Promesses Le juge et la democratie Paris Odile Jacob 1996
55Neste sentido o eloquumlente encerramento do Curso de Direito Constitucional Contemporacircneo de Luis Roberto Barroso o consti-
tucionalismo democraacutetico eacute a utopia que nos restou Uma feacute racional que ajuda a acreditar no bem e na justiccedila ainda quando natildeo
estejam ao alcance dos olhos (Op cit p 400)
56Cf Nico Poulantzas State Power Socialism London new Left Books 1978 Alan Hunt Marxist Theory of Law In Dennis Patter-
son (Ed) A Companion to Philosophy of Law and Legal Theory Malden Blackwell Publishers 1996 p 355-367
57Cf David Kairys (Ed) The Politics of Law A Progressive Critique New York Pantheon Books 1982 Roberto Mangabeira Unger
The Critical Legal Studies Movement Cambridge Harvard University Press 1986
58Cf Plauto Faraco Azevedo Criacutetica agrave dogmaacutetica e hermenecircutica juriacutedica Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1989 Luiz Fernando
Coelho Teoria criacutetica do direito 2 ed Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1991
59Natildeo haacute como abordar aqui as relaccedilotildees entre as inuacutemeras correntes do poacutes-modernismo e o Direito Constitucional Veja-se a
propoacutesito Niklas Luhman La Constituzione como Acquisizione Evolutiva In Gustavo Zagrebelsky Piacuteer Paolo Portinaro Joumlrg Lu-
ther Il Futuro della Costituzione Torino Einaudi 1996 p 83-128 Joseacute Joaquim Gomes Canotilho Civilizaccedilatildeo do direito constitu-
cional ou constitucionalizaccedilatildeo do direito civil a eficaacutecia dos direitos fundamentais na ordem juriacutedico-civil no contexto do direito
poacutes-moderno Cadernos de Direito Constitucional e Ciecircncia Poliacutetica n 15 p 07-16 1996 Eduardo Capellari A crise da moderni-
dade e a Constituiccedilatildeo Rio de janeiro Ameacuterica Juriacutedica 2004 Daniel Sarmento Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas 2 ed
Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 p 36-45
60Para Jean-Franccedilois Lyotard uma das caracteriacutesticas centrais do pensamento poacutes-moderno de que eacute expoente eacute a desconfianccedila
em relaccedilatildeo agraves metanarrativas - construccedilotildees abstratas grandiosas e totalizadoras tiacutepicas da Filosofia Moderna como direitos
humanos luta de classes e emancipaccedilatildeo pelo uso da razatildeo Cf Lyotard A condiccedilatildeo poacutes-moderna Traduccedilatildeo de Ricardo Correcirca
Barbosa 5 ed 1998 p16
61Cf Luiz Werneck Viana O terceiro poder na carta de 1988 e a tradiccedilatildeo republicana mudanccedila e conservaccedilatildeo In Ruben George
Oliven Marcelo Gildo Marccedilal Branda A Constituiccedilatildeo de 1988 na vida brasileira Satildeo Paulo Aderaldo e Rotshild 2008 p 91-109
62Cf Paulo Ricardo Schier Filtragem constitucional Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1999
63A expressatildeo foi cunhada por Claacuteudio Pereira de Souza Neto Fundamento e normatividade dos direitos fundamentais uma recons-
truccedilatildeo teoacuterica agrave luz do princiacutepio democraacutetico Arquivos de Direitos Humanos n 4 p 17-61 2003
64Cf Luis Roberto Barroso O direito constitucional e a efetividade de suas normas 3 ed Rio de Janeiro Renovar 1996
65Cf Clegravemerson Merlin Clegraveve A teoria constitucional e o direito alternativo para uma dogmaacutetica constitucional emancipatoacuteria In
Uma vida dedicada ao direito homenagem a Carlos Henrique de Carvalho Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1995 p 34-53
66Ressalte-se poreacutem que antes de 88 alguns juristas jaacute defendiam a forccedila normativa da Constituiccedilatildeo como o Prof Joseacute Afonso da
Silva Eacute de 1968 a primeira ediccedilatildeo da sua obra claacutessica A aplicabilidade das normas constitucionais que adotava claramente esta
32
perspectiva Todavia pelo clima nada propiacutecio ao constitucionalismo que reinava por aqui ateacute a nossa redemocratizaccedilatildeo a louvaacute-
vel pregaccedilatildeo dele e de outros juristas em prol da efetivaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo natildeo chegou a render maiores frutos
67Deve-se assinalar ainda a influecircncia marcante do novo constitucionalismo ibeacuterico neste movimento que tambeacutem pugnava pela
atribuiccedilatildeo de forccedila normativa agraves ambiciosas constituiccedilotildees de Portugal e Espanha entatildeo recentemente elaboradas apoacutes o fim de
experiecircncias autoritaacuterias naqueles paiacuteses A tiacutetulo de exemplo mencione-se a penetraccedilatildeo no paiacutes do pensamento do Professor de
Coimbra Joseacute Joaquim Gomes Canotilho especialmente da sua teoria sobre a Constituiccedilatildeo dirigente que ele posteriormente reviu
(cf J J Gomes Canotilho Constituiccedilatildeo dirigente e vinculaccedilatildeo ao legislador contributo para a compreensatildeo das normas constitu-
cionais programaacuteticas 2 ed Coimbra Coimbra 2001 - especialmente o prefaacutecio desta segunda ediccedilatildeo que daacute conta da mudanccedila
de posicionamento) bem como a difusatildeo das liccedilotildees do Professor Eduardo Garciacutea de Enterriacutea (cf La Constitucioacuten como Norma y el
Tribunal Constitucional Madrid Civitas 1981)
68Segundo a avaliaccedilatildeo atual de Luis Roberto Barroso personagem central do movimento o positivismo constitucional que deu
impulso ao movimento natildeo importava em reduzir o direito agrave norma mas sim em elevaacute-la a esta condiccedilatildeo pois ateacute entatildeo ele
havia sido menos do que norma (Curso de direito constitucional contemporacircneo Op cit p 224)
69Paulo Bonavides Curso de direito constitucional 5 ed Satildeo Paulo Malheiros 1994
70Eros Roberto Grau A ordem econocircmica na Constituiccedilatildeo de 88 interpretaccedilatildeo e criacutetica Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1996
71No acircmbito da Poacutes-Graduccedilatildeo em Direito da UERJ em que estou inserido desde 1997 primeiro como aluno e a partir de 2003 como
professor o Ricardo Lobo Torres teve papel central na difusatildeo do pensamento destes e de outros filoacutesofos entre os estudantes e o
proacuteprio corpo docente
72Cf Lecircnio Luiz Streck Hermenecircutica juriacutedica e(m) crise Op cit Eros Roberto Grau Ensaio e discurso sobre a interpreta-
ccedilatildeoaplicaccedilatildeo do direito Satildeo Paulo Malheiros 2002
73Nesta linha veja-se as obras que compotildeem a coletacircnea Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Direitos sociais funda-
mentos judicializaccedilatildeo e direitos sociais em espeacutecie Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 Ricardo Lobo Torres O miacutenimo existencial
e os direitos fundamentais Revista de Direito Administrativo n 177 p 20-49 1989 Ingo Wolfgang Sarlet A eficaacutecia dos direitos
fundamentais 9 ed Porto Alegre Livraria do Advogado 2008 Ana Paula de Barcellos A eficaacutecia juriacutedica dos princiacutepios o princiacute-
pio da dignidade da pessoa humana Op cit Marco Mazzeli Gouveia O controle judicial das omissotildees administrativas Rio de
Janeiro Forense 2003 Andreacuteas Krell Direitos sociais e controle judicial no Brasil e Alemanha os (des)caminhos de um direito
constitucional comparado Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2002
74Cf Gustavo Tepedino Temas de direito civil Rio de Janeiro Renovar 1999 Luiz Edson Fachin Estatuto juriacutedico do patrimocircnio
miacutenimo Rio de Janeiro Renovar 2001 Maria Celina Bodin de Moraes Danos agrave pessoa humana uma leitura civil-constitucional dos
danos morais Rio de Janeiro Renovar 2003 Teresa Negreiros Fundamentos para uma interpretaccedilatildeo constitucional do princiacutepio
da boa-feacute Rio de Janeiro Renovar 1998 Anderson Schreiber A proibiccedilatildeo do comportamento contraditoacuterio Rio de Janeiro Reno-
var 2005
75Cf Luciano Feldens A Constituiccedilatildeo penal a dupla face da proporcionalidade no controle das lei penais Porto Alegre Livraria do
Advogado 2005 Luis Carlos dos Santos Gonccedilalves Mandados expressos de criminalizaccedilatildeo e a proteccedilatildeo de direitos fundamentais na
Constituiccedilatildeo Brasileira de 1988 Belo Horizonte Foacuterum 2007
76Cf Gustavo Binenbojm Uma teoria do direito administrativo direitos fundamentais democracia e constitucionalizaccedilatildeo Rio de
Janeiro Renovar 2006 Alexandre dos Santos Aragatildeo Floriano de Azevedo Marques (Coord) Direito administrativo e seus novos
paradigmas Belo Horizonte Foacuterum 2008
77Cf Gustavo Binenbojm A nova jurisdiccedilatildeo constitucional brasileira legitimidade democraacutetica e instumentos de realizaccedilatildeo Rio de
Janeiro Renovar 2001 Claacuteudio Pereira de Souza Neto Jurisdiccedilatildeo constitucional democracia e racionalidade praacutetica Rio de
Janeiro Renovar 2002 Joseacute Adeacutercio Leite Sampaio A Constituiccedilatildeo reinventada pela jurisdiccedilatildeo constitucional Belo Horizonte Del
Rey 2002 Lecircnio Luiz Streck Jurisdiccedilatildeo constitucional e hermenecircutica Porto Alegre Livraria do Advogado 2002 Aacutelvaro Ricardo
de Souza Cruz Jurisdiccedilatildeo constitucional democraacutetica Belo Horizonte Del Rey 2004
78A expressatildeo dificuldade contramajoritaacuteria eacute de um claacutessico da teoria constitucional norte-americana Alexander Bickel La Cons-
titucioacuten como Norma y el Tribunal Constitucional 2 ed New Haven Yale University Press 1986
33
79Em siacutentese apertada o procedimentalismo sustenta que natildeo eacute papel da jurisdiccedilatildeo constitucional tutelar valores substantivos mas
apenas proteger os pressupostos necessaacuterios ao bom funcionamento da democracia Jaacute o substancialismo reconhece a legitimidade
da atuaccedilatildeo jurisdicional em favor da garantia e promoccedilatildeo de valores substantivos presentes na Constituiccedilatildeo O debate entre o
procedimentalismo identificado com as ideacuteias de autores como John Hart Ely e Juumlrgen Habermas e o substancialismo defendido
por teoacutericos como Ronald Dworkin e Laurence Tribe eacute reproduzido em praticamente toda a literatura contemporacircnea que trata de
Teoria ou Filosofia Constitucional Veja-se a propoacutesito a densa obra de Claacuteudio Ari Mello Democracia constitucional e direitos
fundamentais Porto Alegre Livraria do Advogado 2004
80Neoconstitucionalismo e constitucionalizaccedilatildeo do direito o triunfo tardio do direito constitucional no Brasil Op cit
81A crise paradigmaacutetica do direito no contexto da resistecircncia positivista ao (neo)constitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza
Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm Vinte anos da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Op cit p 203-228
82Nos vinte anos da carta cidadatilde do poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo Op cit
83Neoconstitucionalismo direitos fundamentais e controle de poliacuteticas puacuteblicas In Daniel Sarmento Flaacutevio Galdino (Org) Direitos
fundamentais estudos em homenagem ao prof Ricardo Lobo Torres Rio de Janeiro Renovar 2006 p 31-60
84Direitos humanos legitimidade e constitucionalismo In Daniel Sarmento Flaacutevio Galdino (Org) Direitos fundamentais estudos
em homenagem ao Prof Ricardo Lobo Torres Op cit p325-350
85Novos desafios agrave filtragem constitucional no momento do neoconstitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sar-
mento A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 251-270
86Neoconstitucionalismo a invasatildeo da Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Meacutetodo 2008
87Neoconstitucionalismo e positivismo juriacutedico Satildeo Paulo Landy 2006
88Teoria do direito e argumentaccedilatildeo racional temas de teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica op cit p 141-240
89Uma visatildeo criacutetica do neoconstitucionalismo In George Salomatildeo Leite Glauco Salomatildeo Leite Constituiccedilatildeo e efetividade constitu-
cional Salvador JusPodium 2008 p 43-60
90Neoconstitucionalismo entre a Ciecircncia do direito e o direito da ciecircncia In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento
Gustavo Binenbojm Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 p 187-202
91Cf Peticcedilatildeo 1246 MSSC julgada em 31011997 (obrigaccedilatildeo do Estado de realizar transplante de ceacutelulas mioblaacutesticas para salvar
a vida de crianccedila) Agravo de Instrumento no Recurso Extraordinaacuterio 271286RS DJU 24 nov 2000 (entrega de medicamentos
para portadores de HIV) e Agravo de Instrumento do Recurso Extraordinaacuterio nordm 410715-5 julgado em 22112005 (obrigaccedilatildeo de
fornecimento de vagas para educaccedilatildeo infantil pelo municiacutepio com atendimento em creches e preacute-escola)
92Recursos Extraordinaacuterios nordms 158215-4RS 161243-6DF 201819RJ
93Cf Mandado de Injunccedilatildeo 670ES Rel Min Gilmar Mendes julgado em 25102007 em que o STF revendo orientaccedilatildeo anterior
deu eficaacutecia normativa agrave sentenccedila proferida no mandado de injunccedilatildeo No caso decidiuse que ateacute o advento de lei regulamentado-
ra sobre a greve no serviccedilo puacuteblico o direito de greve poderia ser exercido obedecendo-se os limites impostos pela Lei 778389
que trata dos movimentos paredistas em serviccedilos essenciais no setor privado
94Sobre a tendecircncia agrave superaccedilatildeo da ideacuteia do Judiciaacuterio como legislador negativo na jurisdiccedilatildeo constitucional veja-se Joseacute Adeacutercio
Leite Sampaio A Constituiccedilatildeo reinventada pela jurisdiccedilatildeo constitucional Belo Horizonte Del Rey 2002 p 203-248
95Eacute lugar-comum dentre os autores que tratam da questatildeo associar tais mudanccedilas agrave pluralizaccedilatildeo das vozes na interpretaccedilatildeo consti-
tucional tema em que a referecircncia essencial no cenaacuterio germacircnico eacute Peter Haumlberle Veja-se a propoacutesito Peter Haumlberle Herme-
necircutica constitucional A sociedade aberta dos inteacuterpretes da Constituiccedilatildeo contribuiccedilatildeo para a interpretaccedilatildeo pluralista e procedi-
mental da Constituiccedilatildeo Traduccedilatildeo de Gilmar Ferreira Mendes Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1997 Veja-se ainda na doutrina
brasileira Gustavo Binenbojm A dimensatildeo do Amicus Curiae no processo constitucional brasileiro In Temas de direito constitu-
cional e administrativo Rio de Janeiro Renovar 2008 p 165-190
96ADIN 3510DF Relator Ministro Carlos Ayres Britto A accedilatildeo proposta contra o art 5ordm da Lei de Biosseguranccedila impugnava a auto-
rizaccedilatildeo de pesquisas com embriotildees humanos resultantes de fertilizaccedilatildeo in vitro que fossem inviaacuteveis ou estivessem congelados haacute
mais de trecircs anos A accedilatildeo foi julgada totalmente improcedente por 6 votos a 5
97ADPF nordm 54 A accedilatildeo que tem como relator o Ministro Marco Aureacutelio ainda natildeo foi julgada mas em seu bojo jaacute ocorreram diversas
audiecircncias puacuteblicas que provocaram intensa participaccedilatildeo da sociedade civil e grande interesse na miacutedia
34
98ADPF nordm 132 Relator Ministro Carlos Ayres Britto A accedilatildeo ainda foi julgada
99Mandados de Seguranccedila 26602DF 26603DF e 26604DF Informativo STF n 482
100Recurso Extraordinaacuterio 197917SP Rel p acoacuterdatildeo Min Ceacutesar Peluso DJU 18 fev 2005
101O livro de Alberto Carlos Almeida A cabeccedila do brasileiro lanccedilado em 2007 conteacutem pesquisas feitas sobre uma acuteseacuterie de temas
com pessoas de todas as classes sociais e regiotildees do paiacutes Uma das pesquisas eacute relativa agrave avaliaccedilatildeo das instituiccedilotildees Dentre as treze
avaliadas as duas que obtiveram menor aprovaccedilatildeo foram os partidos poliacuteticos (avaliaccedilatildeo positiva de 28 dos entrevistados) e o
Congresso (avaliaccedilatildeo positiva de 36 dos entrevistados) Cf Antonio Carlos Almeida A cabeccedila do brasileiro Rio de Janeiro Re-
cord 2007 p 187
102Cf Luis Roberto Barroso Judicializaccedilatildeo ativismo judicial e legitimidade democraacutetica Texto ainda ineacutedito gentilmente cedido
pelo autor
103Humberto Aacutevila por exemplo formula outra criacutetica importante de que o neoconstitucionalismo seria inadequado agrave realidade
constitucional brasileira jaacute que privilegia os princiacutepios e a Carta de 88 seria muito mais regulatoacuteria do que principioloacutegica (Neo-
constitucionalismo entre a ciecircncia do direito e o direito da ciecircncia Op cit p 188-192)
104Contudo natildeo eacute razoaacutevel estender esta criacutetica ao ponto de negar o caraacuteter democraacutetico da atuaccedilatildeo judicial Como ressaltou
Eugenio Rauacutel Zaffaroni uma instituiccedilatildeo natildeo eacute democraacutetica unicamente porque natildeo provenha de eleiccedilatildeo popular porque nem tudo
o que proveacutem desta origem eacute necessariamente aristocraacutetico Uma instituiccedilatildeo eacute democraacutetica quando seja funcional para o sistema
democraacutetico quer dizer quando seja necessaacuteria para a sua continuidade como ocorre com o judiciaacuterio (Poder judiciaacuterio crise
acertos e desacertos Traduccedilatildeo de Juarez Tavares Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1995 p 43)
105Cf Robert A Dahl Sobre a democracia Traduccedilatildeo de Beatriz Sidou Brasiacutelia UNB 2001 p 97-113 Juumlrgen Habermas Popular
Sovereignity as Procedure In James Bonham William Rehg Deliberative Democracy Cambridge The MIT Press 1997 p 35-66
106A questatildeo da tensatildeo e sinergia simultacircneas entre constitucionalismo e democracia eacute um dos debates mais fecundos da Teoria
Poliacutetica e da Filosofia Constitucional que tem atravessado o tempo desde o advento do constitucionalismo moderno no seacuteculo
XVIII Veja-se no debate contemporacircneo Jeremy Waldron Preocommitment and Disagreement In Larry Alexander Constitu-
cionalism Philosophical Foundations Cambridge Cambridge University Press 1998 p 271-299 Juumlrgen Habermas O Estado demo-
craacutetico de direito uma amarraccedilatildeo paradoxal de princiacutepios contraditoacuterios In Era das transiccedilotildees Traduccedilatildeo de Flaacutevio Beno Siebe-
neichler Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 2003 p 153-173 Carlos Santiago Nino La Constitucioacuten de la Democracia Deliberativa
Op cit Frank Michelman Brennan and Democracy Princeton Princeton University Press 1999 p 03-62 Stephen Holmes El
Precompromiso y la Paradoja de la Democracia In Jon Elster Rune Slagstad Constitucionalismo y Democracia Traduccedilatildeo de Mocircni-
ca Utrilla de Neira Mexico Fondo de Cultura Econocircmica 1999 p 217-262
107O problema da limitaccedilatildeo do legislador atual pelas decisotildees do constituinte adotadas no passado envolve a problemaacutetica da
partilha intergeracional de poder bem explicitada na fala de Jefferson que defendia que a cada 19 anos deveria ser elaborada
uma nova Constituiccedilatildeo nos Estados Unidos para que a Lei Maior daquele paiacutes natildeo se tornasse um mecanismo de governo dos mor-
tos sobre os vivos Em siacutentese apertada haacute na teoria poliacutetica contemporacircnea duas linhas principais de justificativa para a legiti-
midade destas restriccedilotildees
Uma eacute a teoria da democracia dualista defendida por Bruce Ackerman que sustenta que as decisotildees adotadas pelo proacuteprio povo
em contextos de grande mobilizaccedilatildeo ciacutevica devem ser protegidas do alcance da vontade dos representantes do povo formada em
momentos em que a cidadania natildeo esteja intensamente envolvida Esta teoria distingue a poliacutetica extraordinaacuteria correspondente
agravequeles momentos constitucionais da poliacutetica ordinaacuteria que se realiza atraveacutes das deliberaccedilotildees do dia a dia dos oacutergatildeos represen-
tativos Para a perspectiva ackermaniana a poliacutetica extraordinaacuteria - que natildeo exige necessariamente formalizaccedilatildeo procedimental
atraveacutes de assembleacuteia constituinte ou de emenda constitucional - se situa em patamar superior agrave poliacutetica ordinaacuteria e pode legiti-
mamente impor limites a esta (cf Bruce Ackerman We the people Foundations Cambridge The Belknap Press 1991 p 03-33)
Outra teoria eacute a do preacute-compromisso que jaacute foi advogada por Jon Elster Segundo ela eacute legiacutetimo subtrair do alcance das maiorias
determinadas questotildees fundamentais que expressam princiacutepios fundamentais de justiccedila poliacutetica ou garantam os pressupostos da
proacutepria democracia tendo em vista o risco de que no processo poliacutetico majoritaacuterio em momentos de irracionalidade o povo
35
possa ser viacutetima de suas proacuteprias fraquezas ou paixotildees momentacircneas atentando contra tais princiacutepios (cf Ulisses and Sirens
Cambridge Cambridge University Press 1979)
Ambas as concepccedilotildees - a primeira mais proacutexima ao republicanismo e a segunda de vieacutes mais liberal - tecircm a sua dose de procedecircn-
cia mas ensejam criacuteticas importantes Todavia foge a escopo do presente trabalho analisar esta questatildeo que eacute uma das mais
complexas da Filosofia Poliacutetica moderna e contemporacircnea Para uma visatildeo geral sobre o tema na literatura em liacutengua portuguesa
veja-se Oscar Vilhena Vieira A Constituiccedilatildeo e sua reserva de justiccedila Op cit Miguel Nogueira de Brito A Constituiccedilatildeo constituin-
te ensaio sobre o poder de revisatildeo da Constituiccedilatildeo Coimbra Coimbra 2000 Samantha Chantal Dobrowolski Op cit p 265-312
Rodrigo Brandatildeo Direitos fundamentais democracia e claacuteusulas peacutetreas Rio de Janeiro Renovar 2008 p 59-112
108Cf Michel Troper Justice Constitutionelle et Deacutemocratie In Pour une Theorie Juridique de LEacutetat Paris PUF 1994 p 317-328
Claacuteudio Pereira de Souza Neto Jurisdiccedilatildeo constitucional democracia e racionalidade praacutetica Op cit p 106-130 Gustavo Binen-
bojm A nova jurisdiccedilatildeo constitucional brasileira Op cit p 55-74
109Sobre o modelo revolucionaacuterio francecircs de constitucionalismo completamente avesso agrave ideacuteia de jurisdiccedilatildeo constitucional cf
Maurizio Fioravanti Constitucioacuten de la antiguumledad a nuestros dias Traduccedilatildeo de Manuel Martinez Neira Madrid Trotta 2001 p
120-132
110Cf Carl Schmitt La Defesa de la Constitucioacuten Madrid Tecnos 1983
111O constitucionalismo popular ou populismo constitucional eacute uma importante corrente no debate constitucional norte-americano
contemporacircneo que nega a legitimidade democraacutetica do controle de constitucionalidade advogando que deve caber ao proacuteprio
povo e natildeo a uma elite de juiacutezes natildeo eleitos com assento na Suprema Corte o poder de definir o sentido das claacuteusulas vagas que
abundam no texto constitucional daquele paiacutes Na defesa desta tese satildeo empregados tanto argumentos de teoria e filosofia poliacuteti-
ca de caraacuteter mais universal como razotildees histoacutericas relacionadas agrave evoluccedilatildeo do constitucionalismo estadunidense Veja-se nesta
linha Mark Tushnet Taking the Constitution Away from the Courts Princeton Princeton University Press 1999 Jeremy Waldron
Precommitment and Disagreement Op cit Larry D Kramer The People Themselves Popular constitutionalism and judicial re-
view New York Oxford University Press 1994
Ateacute algumas deacutecadas atraacutes a oposiccedilatildeo agrave jurisdiccedilatildeo constitucional nos Estados Unidos partia em regra da Direita que natildeo se con-
formava com a jurisprudecircncia extremamente liberal em mateacuteria de direitos fundamentais estabelecida pela Corte entre os anos
50 e 70 Atualmente uma boa parte dos opositores agrave judicial review situa-se agrave esquerda do espectro poliacutetico e talvez a nova linha
profundamente conservadora daquele Tribunal ajude a explicar esta mudanccedila
112Sobre a Era de Lochner veja-se Laurence H Tribe American Constitutional Law 2 ed Mineola The Foundation Press 1988 p
567-581 Paul Brest et al Processes of Constitucional Decisionmaking 4 ed New York Aspen Publishers 2000 p 337-354
113Towards Juristocracy hellip Op cit
114Tratei do tema no artigo Direito adquirido emenda constitucional democracia e justiccedila social In Livres e iguais Op cit p
03-32
115Cf Charles R Epp The Rights Revolution Chicago The University of Chicago Press 1998 p 26-70 Owen Fiss The Law as It
Could Be New York New York University Press 2003 p 244-249
116A importacircncia e as peculiaridades da interpretaccedilatildeo legislativa da Constituiccedilatildeo satildeo exploradas em importante obra coletiva
Richard W Bauman Tsvi Kahana The Least Examined Branch The Role of Legislatures in the Constitutional State Cambridge
Cambridge University Press 2006
117Cf em tom ainda mais ceacutetico do que o adotado neste estudo Martonio MontAlverne Barreto Lima Jurisdiccedilatildeo Constitucional
um problema da teoria da democracia poliacutetica In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Gilberto Bercovici Joseacute Filomeno de Moraes
Filho Martonio MontAlverne Teoria da Constituiccedilatildeo estudos sobre o lugar da poliacutetica no direito constitucional Rio de Janeiro
Lumen Juris 2003 p 199-261 Conrado Huumlbner Mendes Controle de constitucionalidade e democracia Rio de Janeiro Elsevier
2008
36
118Para criacutetica semelhante no contexto germacircnico veja-se Ingeborg Maus O judiciaacuterio como superego da sociedade sobre o papel
da atividade jurisprudencial na sociedade oacuterfatilde Traduccedilatildeo de Martonio MontAlverne Barreto Lima Paulo Antonio Menezes de Albu-
querque Anuaacuterio dos Cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito da Faculdade de Direito de Recife n 11 2000
119Eu aprofundo a anaacutelise deste ponto no meu artigo Interpretaccedilatildeo constitucional preacute-compreensatildeo e capacidades institucionais do
inteacuterprete In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm (Coord) Vinte anos da Constituiccedilatildeo Federal
de 1988 Op cit p 311-322 E a necessidade de optar por teoria de interpretaccedilatildeo que leve em consideraccedilatildeo as capacidades
institucionais reais dos juiacutezes comparando-as com as dos agentes de outras instituiccedilotildees eacute explorada no importante estudo de Cass
Sunstein Adrian Vermeulle Interpretations and Institutions Chicago Working Papers in Law amp Economics 2002 p 01-55 bem
como no livro de Adrian Vermeulle Judging under Uncertainty An Institutional Theory for Legal Interpretation Cambridge Har-
vard University Press 2006
120Dentre as honrosas exceccedilotildees mencione-se Luiacutes Roberto Barroso autor de importante artigo com sugestotildees para a reforma poliacuteti-
ca no paiacutes Reforma poliacutetica uma proposta de sistema de governo eleitoral e partidaacuterio para o Brasil Revista de Direito do Esta-
do n 3 p 287-360 jul set 2006
121Sobre o ethos judicial no Brasil veja-se a pesquisa de Maria Tereza Sadek Magistrados uma imagem em movimento Rio de
Janeiro FGV 2006
122Em sentido semelhante veja-se Michael J Perry The Constitution the Courts and Human Rights New Haven Yale University
Press 1982 p 91-145
123Neste ponto entendo que um standard importante que deveria ser adotado para controle de constitucionalidade eacute o de que
quanto maiores forem as credencias democraacuteticas de um ato normativo mais autocontido deve ser o Poder Judiciaacuterio ao avaliar a
sua constitucionalidade Na minha opiniatildeo estas credencias democraacuteticas devem ser aferidas tanto por criteacuterios qualitativos - eg
grau de participaccedilatildeo social no processo legislativo qualidade do processo deliberativo que a antecedeu - como por criteacuterios quanti-
tativos - percentual de votos favoraacuteveis agrave medida Em sentido semelhante veja-se Claacuteudio Ari Mello Democracia e direitos funda-
mentais Op cit p 298
124Em sentido proacuteximo apontam as liccedilotildees de Gustavo Binenbojm e Humberto Aacutevila O primeiro tratando do controle judicial dos
atos administrativos averbou que quanto maior for o grau de tecnicidade da mateacuteria objeto de decisatildeo por oacutergatildeos dotados de
expertise e experiecircncia menos intenso deve ser o grau de controle judicial (Uma teoria do direito administrativo Op cit p
236) Jaacute o segundo salientou que o acircmbito de controle pelo Judiciaacuterio deveraacute ser tanto menor quanto mais difiacutecil e teacutecnico for
o juiacutezo exigido para o tratamento da mateacuteria (Teoria dos princiacutepios Op cit p 126)
125Um exemplo extremado deste posicionamento estaacute na argumentaccedilatildeo adotada pelo STF no julgamento da ADIN 2797 Rel Min
Sepuacutelveda Pertence em que se reconheceu a inconstitucionalidade formal de lei que pretendia interpretar a Constituiccedilatildeo Para o
STF natildeo pode a lei ordinaacuteria pretender impor como seu objeto imediato uma interpretaccedilatildeo a Constituiccedilatildeo a questatildeo eacute de in-
constitucionalidade formal iacutensita a toda norma da gradaccedilatildeo inferior que se proponha a ditar interpretaccedilatildeo de norma superior
Na questatildeo de fundo abordada naquele caso entendo que o STF estava certo Tratava-se de invalidar uma norma legal que esten-
dera o foro de prerrogativa de funccedilatildeo a ex-ocupantes de cargos puacuteblicos visando a restaurar antiga jurisprudecircncia do STF sedi-
mentada na Suacutemula 394 do Tribunal que acabara de ser cancelada O princiacutepio republicano natildeo era compatiacutevel com tal medida
que configurava niacutetido privileacutegio O que me parece inaceitaacutevel e profundamente anti-democraacutetico com a devida vecircnia natildeo eacute o
resultado alcanccedilado pela Corte - com o qual concordo - mas o argumento empregado de que o legislador natildeo pode interpretar a
Constituiccedilatildeo
126Existe hoje uma fecunda produccedilatildeo acadecircmica no cenaacuterio anglo-saxatildeo sobre as vantagens de modelos teoacutericos que favoreccedilam
diaacutelogos entre diversos oacutergatildeos e instituiccedilotildees na interpretaccedilatildeo constitucional ao inveacutes de afirmarem a exclusividade ou mesmo a
supremacia do Judiciaacuterio nesta seara Veja-se a propoacutesito Laurence G Sager Justice in Plainclothes A Theory of American Con-
stitutional Practice New haven Yale University Press 2004 Mark Tushnet Weak Courts Strong Rights Judicial Review and Social
Welfare Rights in Comparative Constitutional Law Princeton Princeton University Press 2008 Mark C Miller Jeb Barnes (Ed)
Making Police Making Law An Interbranch Perspective Washington DC Georgetown University Press 2004
37
127Colhi o exemplo no estudo de Oscar Vilhena Vieira Supremocracia In Daniel Sarmento (Org) Filosofia e teoria constitucional
contemporacircnea Rio de Janeiro Lumen Juris 2009
128Como um natildeo-positivista tenho a necessaacuteria imparcialidade para criticar os equiacutevocos da doutrina brasileira nas suas invectivas
contra o positivismo que muitas vezes caracterizam verdadeira falaacutecia do espantalho ataca-se natildeo a proacutepria teoria positivista
mas uma distorcida caricatura dela Duas afirmaccedilotildees erradas que eu mesmo jaacute fiz em textos anteriores satildeo muito frequumlentes a
de que o positivismo recusa a aplicaccedilatildeo dos princiacutepios juriacutedicos e a de que ele teria sido a Filosofia do Direito cultivada na Alema-
nha nazista
Quanto ao primeiro ponto natildeo haacute nenhuma incompatibilidade loacutegica entre positivismo e princiacutepios desde que os princiacutepios este-
jam devidamente incorporados na ordem juriacutedico-positiva Vaacuterios autores positivistas contemporacircneos jaacute citados neste estudo
como Luis Prietro Sanchiacutes Luigi Ferrajoli e Gregorio Peces-Barba atribuiacuteram espaccedilo importante para princiacutepios nas suas teorias
Mesmo no Direito Puacuteblico brasileiro juristas de inspiraccedilatildeo positivista kelseniana construiacuteram suas teorias com apoio em argumen-
taccedilatildeo principioloacutegica como o falecido Geraldo Ataliba e Celso Antonio Bandeira de Mello
No que tange ao segundo ponto - a chamada redutio ad hitlerum - os estudos mais autorizados de Histoacuteria do Direito comprovam
que natildeo foi o positivismo a teoria juriacutedica dominante no nazismo mas uma espeacutecie de jusnaturalismo de inspiraccedilatildeo hegeliana que
se insurgia contra o formalismo e recorria com frequumlecircncia a conceitos muito vagos para justificar a barbaacuterie como os de comuni-
dade popular (Volksgemeinschaft) Veja-se a propoacutesito Michael Stolleis The Law under the Swastika Studies on Legal History in
Nazi Germany Traduccedilatildeo de Thomas Dunlap Chicago The University of Chicago Press 1998
129Cf Joseacute Joaquim Gomes Canotilho Direito constitucional e Teoria da Constituiccedilatildeo Coimbra Almedina 1998 p 1036
130Sobre a importacircncia das regras veja-se Frederick Schauer Playing by the Rules A Philosophical Exaxamination of Rule-Bases
Decision-Making in Law and Life Oxford Oxford University Press 1998 Humberto Aacutevila Neoconstitucionalismo entre a ciecircncia do
direito e o direito da ciecircncia Op cit Noel Struchiner Posturas institucionais e modelagem institucional a dignidade (contingente)
do formalismo juriacutedico In Daniel Sarmento Filosofia e teoria constitucional contemporacircnea Op cit
131Esta eacute expressatildeo empregada por Ana Paula de Barcellos O direito constitucional em 2006 Revista de Direito do Estado n 5 p
03-23 janmar 2007
132Cf Chaiumlm Perelman P Fories La Motivation des Deacutecisions de Justice Bruxelas Eacutemile Bruylant 1978
133Sobra a influecircncia do jeitinho no Direito brasileiro cf Keith Rosen O jeito na cultura juriacutedica brasileira Rio de Janeiro Reno-
var 1997
134Sobre o patrimonialismo no Brasil veja-se Raimundo Faoro Os donos do poder 8 ed Rio de Janeiro Globo 1989 v 2 p 729-
750
135Raiacutezes do Brasil 26 ed Satildeo Paulo Companhia das Letras 1995
136Cf Joseacute Murilo de Carvalho Brasileiro Cidadatildeo In Pontos e bordados escritos de histoacuteria e poliacutetica Belo Horizonte Ed
UFMG 2005 p 275-288
137Cf Gustavo Zagrebelsky Il Diritto Mite Op cit p 15-19
138Cf Marcelo Neves A constitucionalizaccedilatildeo simboacutelica Satildeo Paulo Acadecircmica 1994
139A obra de Niklas Luhman eacute vasta e complexa e seus textos satildeo de difiacutecil compreensatildeo para os natildeo iniciados Veja-se do proacuteprio
autor Sociologia do direito I e II Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 1983 e 1985 Sistema Jurididico y Dogmaacutetica Juriacutedica Madrid
Centro de Estuacutedios Constitucionales 1983 Confira-se tambeacutem a coletacircnea organizada por Andreacute-Jean Arnaud Dalmir Lopes Jr Do
sistema social agrave sociologia juriacutedica Rio de Janeiro Lumen Juris 2004
140Sobre a autopoieses do Direito veja-se tambeacutem a obra importante de Guumlnther Teubner O direito como sistema autopoieacutetico
Traduccedilatildeo de Joseacute Engracia Nunes Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1993
141Cf Luis Roberto Barroso Neoconstitucionalismo e a constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit
142Esta era basicamente a visatildeo de Hans Kelsen (Cf Hans Kelsen Jurisdiccedilatildeo constitucional Traduccedilatildeo de Alexandre Krug et al Satildeo
Paulo Martins Fontes 2003 p 153) Para uma anaacutelise criacutetica desta posiccedilatildeo veja-se Luis Prietro Sanchiacutes Presupuestos ideoloacutegicos
y doctrinales de la jurisdicioacuten constitucional In Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales Op cit p 21-100
38
143Cf Christian Starck La suprematie La Suprematie de la Constitution et la Justice Constitutionnelle In La Constitution Cadre et
Mesure du Droit Traduccedilatildeo de Freacutederic Weill Paris Econocircmica 1994 p 26-30 Ernst- Wolfgang Boumlckenfoumlrde Les meacutethodes
dinterpretation de la Constitution Un bilan critique In Le Droit lEacutetat et la Constitution Democratique Traduccedilatildeo de Olivier
Jouanjan Paris LGDJ 2000 p 249-250 Virgiacutelio Afonso da Silva Constitucionalizaccedilatildeo do direito os direitos fundamentais nas
relaccedilotildees entre particulares Satildeo Paulo Malheiros 2005 p 107-131 Daniel Sarmento Ubiquumlidade constitucional os dois lados da
moeda Op cit Luis Roberto Barroso Curso de Direito Constitucional Contemporacircneo Op cit p 391-394 Alceu Mauriacutecio Jr
Judicializaccedilatildeo da poliacutetica e a crise do direito constitucional a Constituiccedilatildeo entre ordem marco e ordem fundamenta Revista de
Direito do Estado n 10 p 125-142 abrjun 2008
144Der Staat der Industriegesellshaft 2 ed Muumlnchen Beck 1971 p 144 Apud Robert Alexy Posfaacutecio In Teoria dos direitos
fundamentais Op cit p 578
145De acordo com Carlos Santiago Nino o perfeccionaismo eacute la concepcioacuten seguacuten la cual es una misioacuten legiacutetima del Estado hacer
que los individuos acepten y materializen ideales vaacutelidos de virtud personal Seguacuten este enfoque el Estado no puede permanecer
neutral respecto de concepciones de lo bueno en la vida y debe adoptar las medidas educativas punitorias etc que sean necesa-
rias para que los indiviacuteduos ajusten su vida a los verdaderos ideales de virtud y del bien (Eacutetica y Derechos Humanos Un ensayo de
fundamentacioacuten 2 ed Buenos Aires Astrea 1989 p 413)
146Daniel Sarmento Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas 2 ed Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 Sobre o tema na literatura
nacional veja-se tambeacutem Wilson Antocircnio Steinmetz A vinculaccedilatildeo dos particulares aos direitos fundamentais Satildeo Paulo Malheiros
2004 Virgiacutelio Afonso da Silva Constitucionalizaccedilatildeo do direito os direitos fundamentais nas relaccedilotildees entre particulares Op cit
Ingo Wolfgang Sarlet Direitos fundamentais e direito privado algumas consideraccedilotildees em torno da vinculaccedilatildeo dos particulares aos
direitos fundamentais In Ingo Wolfgang Sarlet (Org) A Constituiccedilatildeo concretizada Porto Alegre Livraria do Advogado 1999 p
129-173 Jane Reis Gonccedilalves Pereira Apontamentos sobre a aplicaccedilatildeo das normas de direito fundamental nas relaccedilotildees juriacutedicas
entre particulares In Luis Roberto Barroso (Org) A nova interpretaccedilatildeo constitucional ponderaccedilatildeo direitos fundamentais e
relaccedilotildees privadas Rio de Janeiro Renovar 2003 p 119-192
147Sobre a questatildeo da (i)legitimidade do perfeccionismo no Direito veja-se Joel Feinberg Rights Justice and the Bounds of Liber-
ty Princeton Princeton University Press 1980 Carlos Santiago Nino Eacutetica y Derechos Humanos Op cit p 413-446 Rainer Forst
Contexts of Justice Political Philosophy beyond Liberalism and Communitarianism Traduccedilatildeo de John M M Farrel Berkeley Uni-
versity of Califoacuternia Press 2001 p 30-87 Macaacuterio Alemany El Paternalismo Juriacutedico Madrid Iustel 2006
148Um sofisticado modelo que busca conciliar a constitucionalizaccedilatildeo do Direito com a democracia estaacute exposto no Poacutesfaacutecio agrave Teo-
ria dos Direitos Fundamentais de Robert Alexy acima citado Veja-se ainda Konrad Hesse Concepto y Cualidad de la Constitu-
cion In Escritos de Derecho Constitucional Traduccedilatildeo de Pedro Cruz Villaloacuten 2 ed 1992 p 03-29
149Tentei articular a minha teoria sobre eficaacutecia horizontal dos direitos fundamentais com este objetivo Cf Daniel Sarmento
Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas Op cit p 141-182 259-272
150Sobre el Neoconstitucionalismo y sus Implicaciones Op cit p 117
151Aqui entendo que o simples reconhecimento da penetraccedilatildeo da Moral no Direito preconizada pelos neoconstitucionalistas brasi-
leiros natildeo eacute suficiente jaacute que certas concepccedilotildees morais podem tornar o ordenamento ainda mais opressivo do que jaacute eacute Afinal
nem sempre a moralizaccedilatildeo do Direito se daacute na direccedilatildeo da emancipaccedilatildeo dos excluiacutedos Veja-se por exemplo a famosa polecircmica
jusfilosoacutefica entre Lord Patrick Devlin e Herbert Hart nos anos 60 na Inglaterra a propoacutesito do uso do Direito Penal para promoccedilatildeo
de Moral em que o primeiro a partir de uma posiccedilatildeo proacute-moral sustentava a legitimidade da criminalizaccedilatildeo da conduta homos-
sexual que o segundo contestava (Cf Lord Patrick Devlin Morals and Criminal Law In Ronald Dworkin (Ed) The Philosophy of
Law Op cit p 66-82 Herbert Hart Immorality and Treason In Idem ibidem)
Eacute preciso assentar as bases criacuteticas desta Moral que deve penetrar o Direito para evitar que o moralismo conservador seja expulso
do ordenamento pela porta da frente superado pela legislaccedilatildeo moderna em razatildeo da progressiva liberalizaccedilatildeo da sociedade mas
volte pela porta dos fundos atraveacutes da argumentaccedilatildeo juriacutedica dos juiacutezes lastreada em conceitos vagos como ordem puacuteblica e
bons constumes ou em standards como o comportamento do bom pai de famiacutelia
39
31
50Cf Juumlrgen Habermas Escritos sobre Moralidad y Eticidad Traduccedilatildeo de Manuel Jimenez Redondo Barcelona Paidoacutes 1991 p
131-172
51Sobre o comunitarismo haacute extensa literatura Dois textos claacutessicos deste linha de pensamento satildeo Michael Walzer The Communi-
tarian Critique of Liberalism In Politics and Passion New Haven Yale University Press 2004 p 141-163 Charles Taylor The
Procedural Republic and the Unencumbered Self In Robert Goodin Philip Pettit (Ed) Contemporary Political Philosophy 2 ed
Oxford Oxford University Press 2002 p 2462-256 Sobre a penetraccedilatildeo ainda que muitas vezes natildeo consciente das posiccedilotildees do
comunitarismo no constitucionalismo brasileiro veja-se Gisele Cittadino Pluralismo direito e justiccedila distributiva Op cit p
43-74
52Sobre o construtivismo eacutetico corrente filosoacutefica que sustenta a existecircncia de posiccedilotildees certas e erradas na Moral bem como a
possibilidade de encontraacute-las e fundamentaacute-las racionalmente veja-se Carlos Santiago Nino El Constructivismo Eacutetico Madrid
Centro de Estudios Constitucionales 1989
53O fenocircmeno tambeacutem se reproduz na teoria constitucional norte-americana hegemocircnica cf Keith Wittington Constitutional Con-
struction Divided Powers and Constitutional Meaning Cambridge Harvard University Press 1999 p 01-03
54A imagem do Poder Judiciaacuterio como um guardiatildeo de promessas eacute explorada e criticada numa obra importante da teoria juriacutedica
francesa contemporacircnea Antoine Garapon Le Gardien de Promesses Le juge et la democratie Paris Odile Jacob 1996
55Neste sentido o eloquumlente encerramento do Curso de Direito Constitucional Contemporacircneo de Luis Roberto Barroso o consti-
tucionalismo democraacutetico eacute a utopia que nos restou Uma feacute racional que ajuda a acreditar no bem e na justiccedila ainda quando natildeo
estejam ao alcance dos olhos (Op cit p 400)
56Cf Nico Poulantzas State Power Socialism London new Left Books 1978 Alan Hunt Marxist Theory of Law In Dennis Patter-
son (Ed) A Companion to Philosophy of Law and Legal Theory Malden Blackwell Publishers 1996 p 355-367
57Cf David Kairys (Ed) The Politics of Law A Progressive Critique New York Pantheon Books 1982 Roberto Mangabeira Unger
The Critical Legal Studies Movement Cambridge Harvard University Press 1986
58Cf Plauto Faraco Azevedo Criacutetica agrave dogmaacutetica e hermenecircutica juriacutedica Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1989 Luiz Fernando
Coelho Teoria criacutetica do direito 2 ed Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1991
59Natildeo haacute como abordar aqui as relaccedilotildees entre as inuacutemeras correntes do poacutes-modernismo e o Direito Constitucional Veja-se a
propoacutesito Niklas Luhman La Constituzione como Acquisizione Evolutiva In Gustavo Zagrebelsky Piacuteer Paolo Portinaro Joumlrg Lu-
ther Il Futuro della Costituzione Torino Einaudi 1996 p 83-128 Joseacute Joaquim Gomes Canotilho Civilizaccedilatildeo do direito constitu-
cional ou constitucionalizaccedilatildeo do direito civil a eficaacutecia dos direitos fundamentais na ordem juriacutedico-civil no contexto do direito
poacutes-moderno Cadernos de Direito Constitucional e Ciecircncia Poliacutetica n 15 p 07-16 1996 Eduardo Capellari A crise da moderni-
dade e a Constituiccedilatildeo Rio de janeiro Ameacuterica Juriacutedica 2004 Daniel Sarmento Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas 2 ed
Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 p 36-45
60Para Jean-Franccedilois Lyotard uma das caracteriacutesticas centrais do pensamento poacutes-moderno de que eacute expoente eacute a desconfianccedila
em relaccedilatildeo agraves metanarrativas - construccedilotildees abstratas grandiosas e totalizadoras tiacutepicas da Filosofia Moderna como direitos
humanos luta de classes e emancipaccedilatildeo pelo uso da razatildeo Cf Lyotard A condiccedilatildeo poacutes-moderna Traduccedilatildeo de Ricardo Correcirca
Barbosa 5 ed 1998 p16
61Cf Luiz Werneck Viana O terceiro poder na carta de 1988 e a tradiccedilatildeo republicana mudanccedila e conservaccedilatildeo In Ruben George
Oliven Marcelo Gildo Marccedilal Branda A Constituiccedilatildeo de 1988 na vida brasileira Satildeo Paulo Aderaldo e Rotshild 2008 p 91-109
62Cf Paulo Ricardo Schier Filtragem constitucional Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1999
63A expressatildeo foi cunhada por Claacuteudio Pereira de Souza Neto Fundamento e normatividade dos direitos fundamentais uma recons-
truccedilatildeo teoacuterica agrave luz do princiacutepio democraacutetico Arquivos de Direitos Humanos n 4 p 17-61 2003
64Cf Luis Roberto Barroso O direito constitucional e a efetividade de suas normas 3 ed Rio de Janeiro Renovar 1996
65Cf Clegravemerson Merlin Clegraveve A teoria constitucional e o direito alternativo para uma dogmaacutetica constitucional emancipatoacuteria In
Uma vida dedicada ao direito homenagem a Carlos Henrique de Carvalho Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1995 p 34-53
66Ressalte-se poreacutem que antes de 88 alguns juristas jaacute defendiam a forccedila normativa da Constituiccedilatildeo como o Prof Joseacute Afonso da
Silva Eacute de 1968 a primeira ediccedilatildeo da sua obra claacutessica A aplicabilidade das normas constitucionais que adotava claramente esta
32
perspectiva Todavia pelo clima nada propiacutecio ao constitucionalismo que reinava por aqui ateacute a nossa redemocratizaccedilatildeo a louvaacute-
vel pregaccedilatildeo dele e de outros juristas em prol da efetivaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo natildeo chegou a render maiores frutos
67Deve-se assinalar ainda a influecircncia marcante do novo constitucionalismo ibeacuterico neste movimento que tambeacutem pugnava pela
atribuiccedilatildeo de forccedila normativa agraves ambiciosas constituiccedilotildees de Portugal e Espanha entatildeo recentemente elaboradas apoacutes o fim de
experiecircncias autoritaacuterias naqueles paiacuteses A tiacutetulo de exemplo mencione-se a penetraccedilatildeo no paiacutes do pensamento do Professor de
Coimbra Joseacute Joaquim Gomes Canotilho especialmente da sua teoria sobre a Constituiccedilatildeo dirigente que ele posteriormente reviu
(cf J J Gomes Canotilho Constituiccedilatildeo dirigente e vinculaccedilatildeo ao legislador contributo para a compreensatildeo das normas constitu-
cionais programaacuteticas 2 ed Coimbra Coimbra 2001 - especialmente o prefaacutecio desta segunda ediccedilatildeo que daacute conta da mudanccedila
de posicionamento) bem como a difusatildeo das liccedilotildees do Professor Eduardo Garciacutea de Enterriacutea (cf La Constitucioacuten como Norma y el
Tribunal Constitucional Madrid Civitas 1981)
68Segundo a avaliaccedilatildeo atual de Luis Roberto Barroso personagem central do movimento o positivismo constitucional que deu
impulso ao movimento natildeo importava em reduzir o direito agrave norma mas sim em elevaacute-la a esta condiccedilatildeo pois ateacute entatildeo ele
havia sido menos do que norma (Curso de direito constitucional contemporacircneo Op cit p 224)
69Paulo Bonavides Curso de direito constitucional 5 ed Satildeo Paulo Malheiros 1994
70Eros Roberto Grau A ordem econocircmica na Constituiccedilatildeo de 88 interpretaccedilatildeo e criacutetica Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1996
71No acircmbito da Poacutes-Graduccedilatildeo em Direito da UERJ em que estou inserido desde 1997 primeiro como aluno e a partir de 2003 como
professor o Ricardo Lobo Torres teve papel central na difusatildeo do pensamento destes e de outros filoacutesofos entre os estudantes e o
proacuteprio corpo docente
72Cf Lecircnio Luiz Streck Hermenecircutica juriacutedica e(m) crise Op cit Eros Roberto Grau Ensaio e discurso sobre a interpreta-
ccedilatildeoaplicaccedilatildeo do direito Satildeo Paulo Malheiros 2002
73Nesta linha veja-se as obras que compotildeem a coletacircnea Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Direitos sociais funda-
mentos judicializaccedilatildeo e direitos sociais em espeacutecie Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 Ricardo Lobo Torres O miacutenimo existencial
e os direitos fundamentais Revista de Direito Administrativo n 177 p 20-49 1989 Ingo Wolfgang Sarlet A eficaacutecia dos direitos
fundamentais 9 ed Porto Alegre Livraria do Advogado 2008 Ana Paula de Barcellos A eficaacutecia juriacutedica dos princiacutepios o princiacute-
pio da dignidade da pessoa humana Op cit Marco Mazzeli Gouveia O controle judicial das omissotildees administrativas Rio de
Janeiro Forense 2003 Andreacuteas Krell Direitos sociais e controle judicial no Brasil e Alemanha os (des)caminhos de um direito
constitucional comparado Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2002
74Cf Gustavo Tepedino Temas de direito civil Rio de Janeiro Renovar 1999 Luiz Edson Fachin Estatuto juriacutedico do patrimocircnio
miacutenimo Rio de Janeiro Renovar 2001 Maria Celina Bodin de Moraes Danos agrave pessoa humana uma leitura civil-constitucional dos
danos morais Rio de Janeiro Renovar 2003 Teresa Negreiros Fundamentos para uma interpretaccedilatildeo constitucional do princiacutepio
da boa-feacute Rio de Janeiro Renovar 1998 Anderson Schreiber A proibiccedilatildeo do comportamento contraditoacuterio Rio de Janeiro Reno-
var 2005
75Cf Luciano Feldens A Constituiccedilatildeo penal a dupla face da proporcionalidade no controle das lei penais Porto Alegre Livraria do
Advogado 2005 Luis Carlos dos Santos Gonccedilalves Mandados expressos de criminalizaccedilatildeo e a proteccedilatildeo de direitos fundamentais na
Constituiccedilatildeo Brasileira de 1988 Belo Horizonte Foacuterum 2007
76Cf Gustavo Binenbojm Uma teoria do direito administrativo direitos fundamentais democracia e constitucionalizaccedilatildeo Rio de
Janeiro Renovar 2006 Alexandre dos Santos Aragatildeo Floriano de Azevedo Marques (Coord) Direito administrativo e seus novos
paradigmas Belo Horizonte Foacuterum 2008
77Cf Gustavo Binenbojm A nova jurisdiccedilatildeo constitucional brasileira legitimidade democraacutetica e instumentos de realizaccedilatildeo Rio de
Janeiro Renovar 2001 Claacuteudio Pereira de Souza Neto Jurisdiccedilatildeo constitucional democracia e racionalidade praacutetica Rio de
Janeiro Renovar 2002 Joseacute Adeacutercio Leite Sampaio A Constituiccedilatildeo reinventada pela jurisdiccedilatildeo constitucional Belo Horizonte Del
Rey 2002 Lecircnio Luiz Streck Jurisdiccedilatildeo constitucional e hermenecircutica Porto Alegre Livraria do Advogado 2002 Aacutelvaro Ricardo
de Souza Cruz Jurisdiccedilatildeo constitucional democraacutetica Belo Horizonte Del Rey 2004
78A expressatildeo dificuldade contramajoritaacuteria eacute de um claacutessico da teoria constitucional norte-americana Alexander Bickel La Cons-
titucioacuten como Norma y el Tribunal Constitucional 2 ed New Haven Yale University Press 1986
33
79Em siacutentese apertada o procedimentalismo sustenta que natildeo eacute papel da jurisdiccedilatildeo constitucional tutelar valores substantivos mas
apenas proteger os pressupostos necessaacuterios ao bom funcionamento da democracia Jaacute o substancialismo reconhece a legitimidade
da atuaccedilatildeo jurisdicional em favor da garantia e promoccedilatildeo de valores substantivos presentes na Constituiccedilatildeo O debate entre o
procedimentalismo identificado com as ideacuteias de autores como John Hart Ely e Juumlrgen Habermas e o substancialismo defendido
por teoacutericos como Ronald Dworkin e Laurence Tribe eacute reproduzido em praticamente toda a literatura contemporacircnea que trata de
Teoria ou Filosofia Constitucional Veja-se a propoacutesito a densa obra de Claacuteudio Ari Mello Democracia constitucional e direitos
fundamentais Porto Alegre Livraria do Advogado 2004
80Neoconstitucionalismo e constitucionalizaccedilatildeo do direito o triunfo tardio do direito constitucional no Brasil Op cit
81A crise paradigmaacutetica do direito no contexto da resistecircncia positivista ao (neo)constitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza
Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm Vinte anos da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Op cit p 203-228
82Nos vinte anos da carta cidadatilde do poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo Op cit
83Neoconstitucionalismo direitos fundamentais e controle de poliacuteticas puacuteblicas In Daniel Sarmento Flaacutevio Galdino (Org) Direitos
fundamentais estudos em homenagem ao prof Ricardo Lobo Torres Rio de Janeiro Renovar 2006 p 31-60
84Direitos humanos legitimidade e constitucionalismo In Daniel Sarmento Flaacutevio Galdino (Org) Direitos fundamentais estudos
em homenagem ao Prof Ricardo Lobo Torres Op cit p325-350
85Novos desafios agrave filtragem constitucional no momento do neoconstitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sar-
mento A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 251-270
86Neoconstitucionalismo a invasatildeo da Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Meacutetodo 2008
87Neoconstitucionalismo e positivismo juriacutedico Satildeo Paulo Landy 2006
88Teoria do direito e argumentaccedilatildeo racional temas de teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica op cit p 141-240
89Uma visatildeo criacutetica do neoconstitucionalismo In George Salomatildeo Leite Glauco Salomatildeo Leite Constituiccedilatildeo e efetividade constitu-
cional Salvador JusPodium 2008 p 43-60
90Neoconstitucionalismo entre a Ciecircncia do direito e o direito da ciecircncia In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento
Gustavo Binenbojm Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 p 187-202
91Cf Peticcedilatildeo 1246 MSSC julgada em 31011997 (obrigaccedilatildeo do Estado de realizar transplante de ceacutelulas mioblaacutesticas para salvar
a vida de crianccedila) Agravo de Instrumento no Recurso Extraordinaacuterio 271286RS DJU 24 nov 2000 (entrega de medicamentos
para portadores de HIV) e Agravo de Instrumento do Recurso Extraordinaacuterio nordm 410715-5 julgado em 22112005 (obrigaccedilatildeo de
fornecimento de vagas para educaccedilatildeo infantil pelo municiacutepio com atendimento em creches e preacute-escola)
92Recursos Extraordinaacuterios nordms 158215-4RS 161243-6DF 201819RJ
93Cf Mandado de Injunccedilatildeo 670ES Rel Min Gilmar Mendes julgado em 25102007 em que o STF revendo orientaccedilatildeo anterior
deu eficaacutecia normativa agrave sentenccedila proferida no mandado de injunccedilatildeo No caso decidiuse que ateacute o advento de lei regulamentado-
ra sobre a greve no serviccedilo puacuteblico o direito de greve poderia ser exercido obedecendo-se os limites impostos pela Lei 778389
que trata dos movimentos paredistas em serviccedilos essenciais no setor privado
94Sobre a tendecircncia agrave superaccedilatildeo da ideacuteia do Judiciaacuterio como legislador negativo na jurisdiccedilatildeo constitucional veja-se Joseacute Adeacutercio
Leite Sampaio A Constituiccedilatildeo reinventada pela jurisdiccedilatildeo constitucional Belo Horizonte Del Rey 2002 p 203-248
95Eacute lugar-comum dentre os autores que tratam da questatildeo associar tais mudanccedilas agrave pluralizaccedilatildeo das vozes na interpretaccedilatildeo consti-
tucional tema em que a referecircncia essencial no cenaacuterio germacircnico eacute Peter Haumlberle Veja-se a propoacutesito Peter Haumlberle Herme-
necircutica constitucional A sociedade aberta dos inteacuterpretes da Constituiccedilatildeo contribuiccedilatildeo para a interpretaccedilatildeo pluralista e procedi-
mental da Constituiccedilatildeo Traduccedilatildeo de Gilmar Ferreira Mendes Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1997 Veja-se ainda na doutrina
brasileira Gustavo Binenbojm A dimensatildeo do Amicus Curiae no processo constitucional brasileiro In Temas de direito constitu-
cional e administrativo Rio de Janeiro Renovar 2008 p 165-190
96ADIN 3510DF Relator Ministro Carlos Ayres Britto A accedilatildeo proposta contra o art 5ordm da Lei de Biosseguranccedila impugnava a auto-
rizaccedilatildeo de pesquisas com embriotildees humanos resultantes de fertilizaccedilatildeo in vitro que fossem inviaacuteveis ou estivessem congelados haacute
mais de trecircs anos A accedilatildeo foi julgada totalmente improcedente por 6 votos a 5
97ADPF nordm 54 A accedilatildeo que tem como relator o Ministro Marco Aureacutelio ainda natildeo foi julgada mas em seu bojo jaacute ocorreram diversas
audiecircncias puacuteblicas que provocaram intensa participaccedilatildeo da sociedade civil e grande interesse na miacutedia
34
98ADPF nordm 132 Relator Ministro Carlos Ayres Britto A accedilatildeo ainda foi julgada
99Mandados de Seguranccedila 26602DF 26603DF e 26604DF Informativo STF n 482
100Recurso Extraordinaacuterio 197917SP Rel p acoacuterdatildeo Min Ceacutesar Peluso DJU 18 fev 2005
101O livro de Alberto Carlos Almeida A cabeccedila do brasileiro lanccedilado em 2007 conteacutem pesquisas feitas sobre uma acuteseacuterie de temas
com pessoas de todas as classes sociais e regiotildees do paiacutes Uma das pesquisas eacute relativa agrave avaliaccedilatildeo das instituiccedilotildees Dentre as treze
avaliadas as duas que obtiveram menor aprovaccedilatildeo foram os partidos poliacuteticos (avaliaccedilatildeo positiva de 28 dos entrevistados) e o
Congresso (avaliaccedilatildeo positiva de 36 dos entrevistados) Cf Antonio Carlos Almeida A cabeccedila do brasileiro Rio de Janeiro Re-
cord 2007 p 187
102Cf Luis Roberto Barroso Judicializaccedilatildeo ativismo judicial e legitimidade democraacutetica Texto ainda ineacutedito gentilmente cedido
pelo autor
103Humberto Aacutevila por exemplo formula outra criacutetica importante de que o neoconstitucionalismo seria inadequado agrave realidade
constitucional brasileira jaacute que privilegia os princiacutepios e a Carta de 88 seria muito mais regulatoacuteria do que principioloacutegica (Neo-
constitucionalismo entre a ciecircncia do direito e o direito da ciecircncia Op cit p 188-192)
104Contudo natildeo eacute razoaacutevel estender esta criacutetica ao ponto de negar o caraacuteter democraacutetico da atuaccedilatildeo judicial Como ressaltou
Eugenio Rauacutel Zaffaroni uma instituiccedilatildeo natildeo eacute democraacutetica unicamente porque natildeo provenha de eleiccedilatildeo popular porque nem tudo
o que proveacutem desta origem eacute necessariamente aristocraacutetico Uma instituiccedilatildeo eacute democraacutetica quando seja funcional para o sistema
democraacutetico quer dizer quando seja necessaacuteria para a sua continuidade como ocorre com o judiciaacuterio (Poder judiciaacuterio crise
acertos e desacertos Traduccedilatildeo de Juarez Tavares Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1995 p 43)
105Cf Robert A Dahl Sobre a democracia Traduccedilatildeo de Beatriz Sidou Brasiacutelia UNB 2001 p 97-113 Juumlrgen Habermas Popular
Sovereignity as Procedure In James Bonham William Rehg Deliberative Democracy Cambridge The MIT Press 1997 p 35-66
106A questatildeo da tensatildeo e sinergia simultacircneas entre constitucionalismo e democracia eacute um dos debates mais fecundos da Teoria
Poliacutetica e da Filosofia Constitucional que tem atravessado o tempo desde o advento do constitucionalismo moderno no seacuteculo
XVIII Veja-se no debate contemporacircneo Jeremy Waldron Preocommitment and Disagreement In Larry Alexander Constitu-
cionalism Philosophical Foundations Cambridge Cambridge University Press 1998 p 271-299 Juumlrgen Habermas O Estado demo-
craacutetico de direito uma amarraccedilatildeo paradoxal de princiacutepios contraditoacuterios In Era das transiccedilotildees Traduccedilatildeo de Flaacutevio Beno Siebe-
neichler Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 2003 p 153-173 Carlos Santiago Nino La Constitucioacuten de la Democracia Deliberativa
Op cit Frank Michelman Brennan and Democracy Princeton Princeton University Press 1999 p 03-62 Stephen Holmes El
Precompromiso y la Paradoja de la Democracia In Jon Elster Rune Slagstad Constitucionalismo y Democracia Traduccedilatildeo de Mocircni-
ca Utrilla de Neira Mexico Fondo de Cultura Econocircmica 1999 p 217-262
107O problema da limitaccedilatildeo do legislador atual pelas decisotildees do constituinte adotadas no passado envolve a problemaacutetica da
partilha intergeracional de poder bem explicitada na fala de Jefferson que defendia que a cada 19 anos deveria ser elaborada
uma nova Constituiccedilatildeo nos Estados Unidos para que a Lei Maior daquele paiacutes natildeo se tornasse um mecanismo de governo dos mor-
tos sobre os vivos Em siacutentese apertada haacute na teoria poliacutetica contemporacircnea duas linhas principais de justificativa para a legiti-
midade destas restriccedilotildees
Uma eacute a teoria da democracia dualista defendida por Bruce Ackerman que sustenta que as decisotildees adotadas pelo proacuteprio povo
em contextos de grande mobilizaccedilatildeo ciacutevica devem ser protegidas do alcance da vontade dos representantes do povo formada em
momentos em que a cidadania natildeo esteja intensamente envolvida Esta teoria distingue a poliacutetica extraordinaacuteria correspondente
agravequeles momentos constitucionais da poliacutetica ordinaacuteria que se realiza atraveacutes das deliberaccedilotildees do dia a dia dos oacutergatildeos represen-
tativos Para a perspectiva ackermaniana a poliacutetica extraordinaacuteria - que natildeo exige necessariamente formalizaccedilatildeo procedimental
atraveacutes de assembleacuteia constituinte ou de emenda constitucional - se situa em patamar superior agrave poliacutetica ordinaacuteria e pode legiti-
mamente impor limites a esta (cf Bruce Ackerman We the people Foundations Cambridge The Belknap Press 1991 p 03-33)
Outra teoria eacute a do preacute-compromisso que jaacute foi advogada por Jon Elster Segundo ela eacute legiacutetimo subtrair do alcance das maiorias
determinadas questotildees fundamentais que expressam princiacutepios fundamentais de justiccedila poliacutetica ou garantam os pressupostos da
proacutepria democracia tendo em vista o risco de que no processo poliacutetico majoritaacuterio em momentos de irracionalidade o povo
35
possa ser viacutetima de suas proacuteprias fraquezas ou paixotildees momentacircneas atentando contra tais princiacutepios (cf Ulisses and Sirens
Cambridge Cambridge University Press 1979)
Ambas as concepccedilotildees - a primeira mais proacutexima ao republicanismo e a segunda de vieacutes mais liberal - tecircm a sua dose de procedecircn-
cia mas ensejam criacuteticas importantes Todavia foge a escopo do presente trabalho analisar esta questatildeo que eacute uma das mais
complexas da Filosofia Poliacutetica moderna e contemporacircnea Para uma visatildeo geral sobre o tema na literatura em liacutengua portuguesa
veja-se Oscar Vilhena Vieira A Constituiccedilatildeo e sua reserva de justiccedila Op cit Miguel Nogueira de Brito A Constituiccedilatildeo constituin-
te ensaio sobre o poder de revisatildeo da Constituiccedilatildeo Coimbra Coimbra 2000 Samantha Chantal Dobrowolski Op cit p 265-312
Rodrigo Brandatildeo Direitos fundamentais democracia e claacuteusulas peacutetreas Rio de Janeiro Renovar 2008 p 59-112
108Cf Michel Troper Justice Constitutionelle et Deacutemocratie In Pour une Theorie Juridique de LEacutetat Paris PUF 1994 p 317-328
Claacuteudio Pereira de Souza Neto Jurisdiccedilatildeo constitucional democracia e racionalidade praacutetica Op cit p 106-130 Gustavo Binen-
bojm A nova jurisdiccedilatildeo constitucional brasileira Op cit p 55-74
109Sobre o modelo revolucionaacuterio francecircs de constitucionalismo completamente avesso agrave ideacuteia de jurisdiccedilatildeo constitucional cf
Maurizio Fioravanti Constitucioacuten de la antiguumledad a nuestros dias Traduccedilatildeo de Manuel Martinez Neira Madrid Trotta 2001 p
120-132
110Cf Carl Schmitt La Defesa de la Constitucioacuten Madrid Tecnos 1983
111O constitucionalismo popular ou populismo constitucional eacute uma importante corrente no debate constitucional norte-americano
contemporacircneo que nega a legitimidade democraacutetica do controle de constitucionalidade advogando que deve caber ao proacuteprio
povo e natildeo a uma elite de juiacutezes natildeo eleitos com assento na Suprema Corte o poder de definir o sentido das claacuteusulas vagas que
abundam no texto constitucional daquele paiacutes Na defesa desta tese satildeo empregados tanto argumentos de teoria e filosofia poliacuteti-
ca de caraacuteter mais universal como razotildees histoacutericas relacionadas agrave evoluccedilatildeo do constitucionalismo estadunidense Veja-se nesta
linha Mark Tushnet Taking the Constitution Away from the Courts Princeton Princeton University Press 1999 Jeremy Waldron
Precommitment and Disagreement Op cit Larry D Kramer The People Themselves Popular constitutionalism and judicial re-
view New York Oxford University Press 1994
Ateacute algumas deacutecadas atraacutes a oposiccedilatildeo agrave jurisdiccedilatildeo constitucional nos Estados Unidos partia em regra da Direita que natildeo se con-
formava com a jurisprudecircncia extremamente liberal em mateacuteria de direitos fundamentais estabelecida pela Corte entre os anos
50 e 70 Atualmente uma boa parte dos opositores agrave judicial review situa-se agrave esquerda do espectro poliacutetico e talvez a nova linha
profundamente conservadora daquele Tribunal ajude a explicar esta mudanccedila
112Sobre a Era de Lochner veja-se Laurence H Tribe American Constitutional Law 2 ed Mineola The Foundation Press 1988 p
567-581 Paul Brest et al Processes of Constitucional Decisionmaking 4 ed New York Aspen Publishers 2000 p 337-354
113Towards Juristocracy hellip Op cit
114Tratei do tema no artigo Direito adquirido emenda constitucional democracia e justiccedila social In Livres e iguais Op cit p
03-32
115Cf Charles R Epp The Rights Revolution Chicago The University of Chicago Press 1998 p 26-70 Owen Fiss The Law as It
Could Be New York New York University Press 2003 p 244-249
116A importacircncia e as peculiaridades da interpretaccedilatildeo legislativa da Constituiccedilatildeo satildeo exploradas em importante obra coletiva
Richard W Bauman Tsvi Kahana The Least Examined Branch The Role of Legislatures in the Constitutional State Cambridge
Cambridge University Press 2006
117Cf em tom ainda mais ceacutetico do que o adotado neste estudo Martonio MontAlverne Barreto Lima Jurisdiccedilatildeo Constitucional
um problema da teoria da democracia poliacutetica In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Gilberto Bercovici Joseacute Filomeno de Moraes
Filho Martonio MontAlverne Teoria da Constituiccedilatildeo estudos sobre o lugar da poliacutetica no direito constitucional Rio de Janeiro
Lumen Juris 2003 p 199-261 Conrado Huumlbner Mendes Controle de constitucionalidade e democracia Rio de Janeiro Elsevier
2008
36
118Para criacutetica semelhante no contexto germacircnico veja-se Ingeborg Maus O judiciaacuterio como superego da sociedade sobre o papel
da atividade jurisprudencial na sociedade oacuterfatilde Traduccedilatildeo de Martonio MontAlverne Barreto Lima Paulo Antonio Menezes de Albu-
querque Anuaacuterio dos Cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito da Faculdade de Direito de Recife n 11 2000
119Eu aprofundo a anaacutelise deste ponto no meu artigo Interpretaccedilatildeo constitucional preacute-compreensatildeo e capacidades institucionais do
inteacuterprete In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm (Coord) Vinte anos da Constituiccedilatildeo Federal
de 1988 Op cit p 311-322 E a necessidade de optar por teoria de interpretaccedilatildeo que leve em consideraccedilatildeo as capacidades
institucionais reais dos juiacutezes comparando-as com as dos agentes de outras instituiccedilotildees eacute explorada no importante estudo de Cass
Sunstein Adrian Vermeulle Interpretations and Institutions Chicago Working Papers in Law amp Economics 2002 p 01-55 bem
como no livro de Adrian Vermeulle Judging under Uncertainty An Institutional Theory for Legal Interpretation Cambridge Har-
vard University Press 2006
120Dentre as honrosas exceccedilotildees mencione-se Luiacutes Roberto Barroso autor de importante artigo com sugestotildees para a reforma poliacuteti-
ca no paiacutes Reforma poliacutetica uma proposta de sistema de governo eleitoral e partidaacuterio para o Brasil Revista de Direito do Esta-
do n 3 p 287-360 jul set 2006
121Sobre o ethos judicial no Brasil veja-se a pesquisa de Maria Tereza Sadek Magistrados uma imagem em movimento Rio de
Janeiro FGV 2006
122Em sentido semelhante veja-se Michael J Perry The Constitution the Courts and Human Rights New Haven Yale University
Press 1982 p 91-145
123Neste ponto entendo que um standard importante que deveria ser adotado para controle de constitucionalidade eacute o de que
quanto maiores forem as credencias democraacuteticas de um ato normativo mais autocontido deve ser o Poder Judiciaacuterio ao avaliar a
sua constitucionalidade Na minha opiniatildeo estas credencias democraacuteticas devem ser aferidas tanto por criteacuterios qualitativos - eg
grau de participaccedilatildeo social no processo legislativo qualidade do processo deliberativo que a antecedeu - como por criteacuterios quanti-
tativos - percentual de votos favoraacuteveis agrave medida Em sentido semelhante veja-se Claacuteudio Ari Mello Democracia e direitos funda-
mentais Op cit p 298
124Em sentido proacuteximo apontam as liccedilotildees de Gustavo Binenbojm e Humberto Aacutevila O primeiro tratando do controle judicial dos
atos administrativos averbou que quanto maior for o grau de tecnicidade da mateacuteria objeto de decisatildeo por oacutergatildeos dotados de
expertise e experiecircncia menos intenso deve ser o grau de controle judicial (Uma teoria do direito administrativo Op cit p
236) Jaacute o segundo salientou que o acircmbito de controle pelo Judiciaacuterio deveraacute ser tanto menor quanto mais difiacutecil e teacutecnico for
o juiacutezo exigido para o tratamento da mateacuteria (Teoria dos princiacutepios Op cit p 126)
125Um exemplo extremado deste posicionamento estaacute na argumentaccedilatildeo adotada pelo STF no julgamento da ADIN 2797 Rel Min
Sepuacutelveda Pertence em que se reconheceu a inconstitucionalidade formal de lei que pretendia interpretar a Constituiccedilatildeo Para o
STF natildeo pode a lei ordinaacuteria pretender impor como seu objeto imediato uma interpretaccedilatildeo a Constituiccedilatildeo a questatildeo eacute de in-
constitucionalidade formal iacutensita a toda norma da gradaccedilatildeo inferior que se proponha a ditar interpretaccedilatildeo de norma superior
Na questatildeo de fundo abordada naquele caso entendo que o STF estava certo Tratava-se de invalidar uma norma legal que esten-
dera o foro de prerrogativa de funccedilatildeo a ex-ocupantes de cargos puacuteblicos visando a restaurar antiga jurisprudecircncia do STF sedi-
mentada na Suacutemula 394 do Tribunal que acabara de ser cancelada O princiacutepio republicano natildeo era compatiacutevel com tal medida
que configurava niacutetido privileacutegio O que me parece inaceitaacutevel e profundamente anti-democraacutetico com a devida vecircnia natildeo eacute o
resultado alcanccedilado pela Corte - com o qual concordo - mas o argumento empregado de que o legislador natildeo pode interpretar a
Constituiccedilatildeo
126Existe hoje uma fecunda produccedilatildeo acadecircmica no cenaacuterio anglo-saxatildeo sobre as vantagens de modelos teoacutericos que favoreccedilam
diaacutelogos entre diversos oacutergatildeos e instituiccedilotildees na interpretaccedilatildeo constitucional ao inveacutes de afirmarem a exclusividade ou mesmo a
supremacia do Judiciaacuterio nesta seara Veja-se a propoacutesito Laurence G Sager Justice in Plainclothes A Theory of American Con-
stitutional Practice New haven Yale University Press 2004 Mark Tushnet Weak Courts Strong Rights Judicial Review and Social
Welfare Rights in Comparative Constitutional Law Princeton Princeton University Press 2008 Mark C Miller Jeb Barnes (Ed)
Making Police Making Law An Interbranch Perspective Washington DC Georgetown University Press 2004
37
127Colhi o exemplo no estudo de Oscar Vilhena Vieira Supremocracia In Daniel Sarmento (Org) Filosofia e teoria constitucional
contemporacircnea Rio de Janeiro Lumen Juris 2009
128Como um natildeo-positivista tenho a necessaacuteria imparcialidade para criticar os equiacutevocos da doutrina brasileira nas suas invectivas
contra o positivismo que muitas vezes caracterizam verdadeira falaacutecia do espantalho ataca-se natildeo a proacutepria teoria positivista
mas uma distorcida caricatura dela Duas afirmaccedilotildees erradas que eu mesmo jaacute fiz em textos anteriores satildeo muito frequumlentes a
de que o positivismo recusa a aplicaccedilatildeo dos princiacutepios juriacutedicos e a de que ele teria sido a Filosofia do Direito cultivada na Alema-
nha nazista
Quanto ao primeiro ponto natildeo haacute nenhuma incompatibilidade loacutegica entre positivismo e princiacutepios desde que os princiacutepios este-
jam devidamente incorporados na ordem juriacutedico-positiva Vaacuterios autores positivistas contemporacircneos jaacute citados neste estudo
como Luis Prietro Sanchiacutes Luigi Ferrajoli e Gregorio Peces-Barba atribuiacuteram espaccedilo importante para princiacutepios nas suas teorias
Mesmo no Direito Puacuteblico brasileiro juristas de inspiraccedilatildeo positivista kelseniana construiacuteram suas teorias com apoio em argumen-
taccedilatildeo principioloacutegica como o falecido Geraldo Ataliba e Celso Antonio Bandeira de Mello
No que tange ao segundo ponto - a chamada redutio ad hitlerum - os estudos mais autorizados de Histoacuteria do Direito comprovam
que natildeo foi o positivismo a teoria juriacutedica dominante no nazismo mas uma espeacutecie de jusnaturalismo de inspiraccedilatildeo hegeliana que
se insurgia contra o formalismo e recorria com frequumlecircncia a conceitos muito vagos para justificar a barbaacuterie como os de comuni-
dade popular (Volksgemeinschaft) Veja-se a propoacutesito Michael Stolleis The Law under the Swastika Studies on Legal History in
Nazi Germany Traduccedilatildeo de Thomas Dunlap Chicago The University of Chicago Press 1998
129Cf Joseacute Joaquim Gomes Canotilho Direito constitucional e Teoria da Constituiccedilatildeo Coimbra Almedina 1998 p 1036
130Sobre a importacircncia das regras veja-se Frederick Schauer Playing by the Rules A Philosophical Exaxamination of Rule-Bases
Decision-Making in Law and Life Oxford Oxford University Press 1998 Humberto Aacutevila Neoconstitucionalismo entre a ciecircncia do
direito e o direito da ciecircncia Op cit Noel Struchiner Posturas institucionais e modelagem institucional a dignidade (contingente)
do formalismo juriacutedico In Daniel Sarmento Filosofia e teoria constitucional contemporacircnea Op cit
131Esta eacute expressatildeo empregada por Ana Paula de Barcellos O direito constitucional em 2006 Revista de Direito do Estado n 5 p
03-23 janmar 2007
132Cf Chaiumlm Perelman P Fories La Motivation des Deacutecisions de Justice Bruxelas Eacutemile Bruylant 1978
133Sobra a influecircncia do jeitinho no Direito brasileiro cf Keith Rosen O jeito na cultura juriacutedica brasileira Rio de Janeiro Reno-
var 1997
134Sobre o patrimonialismo no Brasil veja-se Raimundo Faoro Os donos do poder 8 ed Rio de Janeiro Globo 1989 v 2 p 729-
750
135Raiacutezes do Brasil 26 ed Satildeo Paulo Companhia das Letras 1995
136Cf Joseacute Murilo de Carvalho Brasileiro Cidadatildeo In Pontos e bordados escritos de histoacuteria e poliacutetica Belo Horizonte Ed
UFMG 2005 p 275-288
137Cf Gustavo Zagrebelsky Il Diritto Mite Op cit p 15-19
138Cf Marcelo Neves A constitucionalizaccedilatildeo simboacutelica Satildeo Paulo Acadecircmica 1994
139A obra de Niklas Luhman eacute vasta e complexa e seus textos satildeo de difiacutecil compreensatildeo para os natildeo iniciados Veja-se do proacuteprio
autor Sociologia do direito I e II Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 1983 e 1985 Sistema Jurididico y Dogmaacutetica Juriacutedica Madrid
Centro de Estuacutedios Constitucionales 1983 Confira-se tambeacutem a coletacircnea organizada por Andreacute-Jean Arnaud Dalmir Lopes Jr Do
sistema social agrave sociologia juriacutedica Rio de Janeiro Lumen Juris 2004
140Sobre a autopoieses do Direito veja-se tambeacutem a obra importante de Guumlnther Teubner O direito como sistema autopoieacutetico
Traduccedilatildeo de Joseacute Engracia Nunes Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1993
141Cf Luis Roberto Barroso Neoconstitucionalismo e a constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit
142Esta era basicamente a visatildeo de Hans Kelsen (Cf Hans Kelsen Jurisdiccedilatildeo constitucional Traduccedilatildeo de Alexandre Krug et al Satildeo
Paulo Martins Fontes 2003 p 153) Para uma anaacutelise criacutetica desta posiccedilatildeo veja-se Luis Prietro Sanchiacutes Presupuestos ideoloacutegicos
y doctrinales de la jurisdicioacuten constitucional In Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales Op cit p 21-100
38
143Cf Christian Starck La suprematie La Suprematie de la Constitution et la Justice Constitutionnelle In La Constitution Cadre et
Mesure du Droit Traduccedilatildeo de Freacutederic Weill Paris Econocircmica 1994 p 26-30 Ernst- Wolfgang Boumlckenfoumlrde Les meacutethodes
dinterpretation de la Constitution Un bilan critique In Le Droit lEacutetat et la Constitution Democratique Traduccedilatildeo de Olivier
Jouanjan Paris LGDJ 2000 p 249-250 Virgiacutelio Afonso da Silva Constitucionalizaccedilatildeo do direito os direitos fundamentais nas
relaccedilotildees entre particulares Satildeo Paulo Malheiros 2005 p 107-131 Daniel Sarmento Ubiquumlidade constitucional os dois lados da
moeda Op cit Luis Roberto Barroso Curso de Direito Constitucional Contemporacircneo Op cit p 391-394 Alceu Mauriacutecio Jr
Judicializaccedilatildeo da poliacutetica e a crise do direito constitucional a Constituiccedilatildeo entre ordem marco e ordem fundamenta Revista de
Direito do Estado n 10 p 125-142 abrjun 2008
144Der Staat der Industriegesellshaft 2 ed Muumlnchen Beck 1971 p 144 Apud Robert Alexy Posfaacutecio In Teoria dos direitos
fundamentais Op cit p 578
145De acordo com Carlos Santiago Nino o perfeccionaismo eacute la concepcioacuten seguacuten la cual es una misioacuten legiacutetima del Estado hacer
que los individuos acepten y materializen ideales vaacutelidos de virtud personal Seguacuten este enfoque el Estado no puede permanecer
neutral respecto de concepciones de lo bueno en la vida y debe adoptar las medidas educativas punitorias etc que sean necesa-
rias para que los indiviacuteduos ajusten su vida a los verdaderos ideales de virtud y del bien (Eacutetica y Derechos Humanos Un ensayo de
fundamentacioacuten 2 ed Buenos Aires Astrea 1989 p 413)
146Daniel Sarmento Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas 2 ed Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 Sobre o tema na literatura
nacional veja-se tambeacutem Wilson Antocircnio Steinmetz A vinculaccedilatildeo dos particulares aos direitos fundamentais Satildeo Paulo Malheiros
2004 Virgiacutelio Afonso da Silva Constitucionalizaccedilatildeo do direito os direitos fundamentais nas relaccedilotildees entre particulares Op cit
Ingo Wolfgang Sarlet Direitos fundamentais e direito privado algumas consideraccedilotildees em torno da vinculaccedilatildeo dos particulares aos
direitos fundamentais In Ingo Wolfgang Sarlet (Org) A Constituiccedilatildeo concretizada Porto Alegre Livraria do Advogado 1999 p
129-173 Jane Reis Gonccedilalves Pereira Apontamentos sobre a aplicaccedilatildeo das normas de direito fundamental nas relaccedilotildees juriacutedicas
entre particulares In Luis Roberto Barroso (Org) A nova interpretaccedilatildeo constitucional ponderaccedilatildeo direitos fundamentais e
relaccedilotildees privadas Rio de Janeiro Renovar 2003 p 119-192
147Sobre a questatildeo da (i)legitimidade do perfeccionismo no Direito veja-se Joel Feinberg Rights Justice and the Bounds of Liber-
ty Princeton Princeton University Press 1980 Carlos Santiago Nino Eacutetica y Derechos Humanos Op cit p 413-446 Rainer Forst
Contexts of Justice Political Philosophy beyond Liberalism and Communitarianism Traduccedilatildeo de John M M Farrel Berkeley Uni-
versity of Califoacuternia Press 2001 p 30-87 Macaacuterio Alemany El Paternalismo Juriacutedico Madrid Iustel 2006
148Um sofisticado modelo que busca conciliar a constitucionalizaccedilatildeo do Direito com a democracia estaacute exposto no Poacutesfaacutecio agrave Teo-
ria dos Direitos Fundamentais de Robert Alexy acima citado Veja-se ainda Konrad Hesse Concepto y Cualidad de la Constitu-
cion In Escritos de Derecho Constitucional Traduccedilatildeo de Pedro Cruz Villaloacuten 2 ed 1992 p 03-29
149Tentei articular a minha teoria sobre eficaacutecia horizontal dos direitos fundamentais com este objetivo Cf Daniel Sarmento
Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas Op cit p 141-182 259-272
150Sobre el Neoconstitucionalismo y sus Implicaciones Op cit p 117
151Aqui entendo que o simples reconhecimento da penetraccedilatildeo da Moral no Direito preconizada pelos neoconstitucionalistas brasi-
leiros natildeo eacute suficiente jaacute que certas concepccedilotildees morais podem tornar o ordenamento ainda mais opressivo do que jaacute eacute Afinal
nem sempre a moralizaccedilatildeo do Direito se daacute na direccedilatildeo da emancipaccedilatildeo dos excluiacutedos Veja-se por exemplo a famosa polecircmica
jusfilosoacutefica entre Lord Patrick Devlin e Herbert Hart nos anos 60 na Inglaterra a propoacutesito do uso do Direito Penal para promoccedilatildeo
de Moral em que o primeiro a partir de uma posiccedilatildeo proacute-moral sustentava a legitimidade da criminalizaccedilatildeo da conduta homos-
sexual que o segundo contestava (Cf Lord Patrick Devlin Morals and Criminal Law In Ronald Dworkin (Ed) The Philosophy of
Law Op cit p 66-82 Herbert Hart Immorality and Treason In Idem ibidem)
Eacute preciso assentar as bases criacuteticas desta Moral que deve penetrar o Direito para evitar que o moralismo conservador seja expulso
do ordenamento pela porta da frente superado pela legislaccedilatildeo moderna em razatildeo da progressiva liberalizaccedilatildeo da sociedade mas
volte pela porta dos fundos atraveacutes da argumentaccedilatildeo juriacutedica dos juiacutezes lastreada em conceitos vagos como ordem puacuteblica e
bons constumes ou em standards como o comportamento do bom pai de famiacutelia
39
32
perspectiva Todavia pelo clima nada propiacutecio ao constitucionalismo que reinava por aqui ateacute a nossa redemocratizaccedilatildeo a louvaacute-
vel pregaccedilatildeo dele e de outros juristas em prol da efetivaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo natildeo chegou a render maiores frutos
67Deve-se assinalar ainda a influecircncia marcante do novo constitucionalismo ibeacuterico neste movimento que tambeacutem pugnava pela
atribuiccedilatildeo de forccedila normativa agraves ambiciosas constituiccedilotildees de Portugal e Espanha entatildeo recentemente elaboradas apoacutes o fim de
experiecircncias autoritaacuterias naqueles paiacuteses A tiacutetulo de exemplo mencione-se a penetraccedilatildeo no paiacutes do pensamento do Professor de
Coimbra Joseacute Joaquim Gomes Canotilho especialmente da sua teoria sobre a Constituiccedilatildeo dirigente que ele posteriormente reviu
(cf J J Gomes Canotilho Constituiccedilatildeo dirigente e vinculaccedilatildeo ao legislador contributo para a compreensatildeo das normas constitu-
cionais programaacuteticas 2 ed Coimbra Coimbra 2001 - especialmente o prefaacutecio desta segunda ediccedilatildeo que daacute conta da mudanccedila
de posicionamento) bem como a difusatildeo das liccedilotildees do Professor Eduardo Garciacutea de Enterriacutea (cf La Constitucioacuten como Norma y el
Tribunal Constitucional Madrid Civitas 1981)
68Segundo a avaliaccedilatildeo atual de Luis Roberto Barroso personagem central do movimento o positivismo constitucional que deu
impulso ao movimento natildeo importava em reduzir o direito agrave norma mas sim em elevaacute-la a esta condiccedilatildeo pois ateacute entatildeo ele
havia sido menos do que norma (Curso de direito constitucional contemporacircneo Op cit p 224)
69Paulo Bonavides Curso de direito constitucional 5 ed Satildeo Paulo Malheiros 1994
70Eros Roberto Grau A ordem econocircmica na Constituiccedilatildeo de 88 interpretaccedilatildeo e criacutetica Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1996
71No acircmbito da Poacutes-Graduccedilatildeo em Direito da UERJ em que estou inserido desde 1997 primeiro como aluno e a partir de 2003 como
professor o Ricardo Lobo Torres teve papel central na difusatildeo do pensamento destes e de outros filoacutesofos entre os estudantes e o
proacuteprio corpo docente
72Cf Lecircnio Luiz Streck Hermenecircutica juriacutedica e(m) crise Op cit Eros Roberto Grau Ensaio e discurso sobre a interpreta-
ccedilatildeoaplicaccedilatildeo do direito Satildeo Paulo Malheiros 2002
73Nesta linha veja-se as obras que compotildeem a coletacircnea Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Direitos sociais funda-
mentos judicializaccedilatildeo e direitos sociais em espeacutecie Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 Ricardo Lobo Torres O miacutenimo existencial
e os direitos fundamentais Revista de Direito Administrativo n 177 p 20-49 1989 Ingo Wolfgang Sarlet A eficaacutecia dos direitos
fundamentais 9 ed Porto Alegre Livraria do Advogado 2008 Ana Paula de Barcellos A eficaacutecia juriacutedica dos princiacutepios o princiacute-
pio da dignidade da pessoa humana Op cit Marco Mazzeli Gouveia O controle judicial das omissotildees administrativas Rio de
Janeiro Forense 2003 Andreacuteas Krell Direitos sociais e controle judicial no Brasil e Alemanha os (des)caminhos de um direito
constitucional comparado Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 2002
74Cf Gustavo Tepedino Temas de direito civil Rio de Janeiro Renovar 1999 Luiz Edson Fachin Estatuto juriacutedico do patrimocircnio
miacutenimo Rio de Janeiro Renovar 2001 Maria Celina Bodin de Moraes Danos agrave pessoa humana uma leitura civil-constitucional dos
danos morais Rio de Janeiro Renovar 2003 Teresa Negreiros Fundamentos para uma interpretaccedilatildeo constitucional do princiacutepio
da boa-feacute Rio de Janeiro Renovar 1998 Anderson Schreiber A proibiccedilatildeo do comportamento contraditoacuterio Rio de Janeiro Reno-
var 2005
75Cf Luciano Feldens A Constituiccedilatildeo penal a dupla face da proporcionalidade no controle das lei penais Porto Alegre Livraria do
Advogado 2005 Luis Carlos dos Santos Gonccedilalves Mandados expressos de criminalizaccedilatildeo e a proteccedilatildeo de direitos fundamentais na
Constituiccedilatildeo Brasileira de 1988 Belo Horizonte Foacuterum 2007
76Cf Gustavo Binenbojm Uma teoria do direito administrativo direitos fundamentais democracia e constitucionalizaccedilatildeo Rio de
Janeiro Renovar 2006 Alexandre dos Santos Aragatildeo Floriano de Azevedo Marques (Coord) Direito administrativo e seus novos
paradigmas Belo Horizonte Foacuterum 2008
77Cf Gustavo Binenbojm A nova jurisdiccedilatildeo constitucional brasileira legitimidade democraacutetica e instumentos de realizaccedilatildeo Rio de
Janeiro Renovar 2001 Claacuteudio Pereira de Souza Neto Jurisdiccedilatildeo constitucional democracia e racionalidade praacutetica Rio de
Janeiro Renovar 2002 Joseacute Adeacutercio Leite Sampaio A Constituiccedilatildeo reinventada pela jurisdiccedilatildeo constitucional Belo Horizonte Del
Rey 2002 Lecircnio Luiz Streck Jurisdiccedilatildeo constitucional e hermenecircutica Porto Alegre Livraria do Advogado 2002 Aacutelvaro Ricardo
de Souza Cruz Jurisdiccedilatildeo constitucional democraacutetica Belo Horizonte Del Rey 2004
78A expressatildeo dificuldade contramajoritaacuteria eacute de um claacutessico da teoria constitucional norte-americana Alexander Bickel La Cons-
titucioacuten como Norma y el Tribunal Constitucional 2 ed New Haven Yale University Press 1986
33
79Em siacutentese apertada o procedimentalismo sustenta que natildeo eacute papel da jurisdiccedilatildeo constitucional tutelar valores substantivos mas
apenas proteger os pressupostos necessaacuterios ao bom funcionamento da democracia Jaacute o substancialismo reconhece a legitimidade
da atuaccedilatildeo jurisdicional em favor da garantia e promoccedilatildeo de valores substantivos presentes na Constituiccedilatildeo O debate entre o
procedimentalismo identificado com as ideacuteias de autores como John Hart Ely e Juumlrgen Habermas e o substancialismo defendido
por teoacutericos como Ronald Dworkin e Laurence Tribe eacute reproduzido em praticamente toda a literatura contemporacircnea que trata de
Teoria ou Filosofia Constitucional Veja-se a propoacutesito a densa obra de Claacuteudio Ari Mello Democracia constitucional e direitos
fundamentais Porto Alegre Livraria do Advogado 2004
80Neoconstitucionalismo e constitucionalizaccedilatildeo do direito o triunfo tardio do direito constitucional no Brasil Op cit
81A crise paradigmaacutetica do direito no contexto da resistecircncia positivista ao (neo)constitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza
Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm Vinte anos da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Op cit p 203-228
82Nos vinte anos da carta cidadatilde do poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo Op cit
83Neoconstitucionalismo direitos fundamentais e controle de poliacuteticas puacuteblicas In Daniel Sarmento Flaacutevio Galdino (Org) Direitos
fundamentais estudos em homenagem ao prof Ricardo Lobo Torres Rio de Janeiro Renovar 2006 p 31-60
84Direitos humanos legitimidade e constitucionalismo In Daniel Sarmento Flaacutevio Galdino (Org) Direitos fundamentais estudos
em homenagem ao Prof Ricardo Lobo Torres Op cit p325-350
85Novos desafios agrave filtragem constitucional no momento do neoconstitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sar-
mento A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 251-270
86Neoconstitucionalismo a invasatildeo da Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Meacutetodo 2008
87Neoconstitucionalismo e positivismo juriacutedico Satildeo Paulo Landy 2006
88Teoria do direito e argumentaccedilatildeo racional temas de teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica op cit p 141-240
89Uma visatildeo criacutetica do neoconstitucionalismo In George Salomatildeo Leite Glauco Salomatildeo Leite Constituiccedilatildeo e efetividade constitu-
cional Salvador JusPodium 2008 p 43-60
90Neoconstitucionalismo entre a Ciecircncia do direito e o direito da ciecircncia In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento
Gustavo Binenbojm Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 p 187-202
91Cf Peticcedilatildeo 1246 MSSC julgada em 31011997 (obrigaccedilatildeo do Estado de realizar transplante de ceacutelulas mioblaacutesticas para salvar
a vida de crianccedila) Agravo de Instrumento no Recurso Extraordinaacuterio 271286RS DJU 24 nov 2000 (entrega de medicamentos
para portadores de HIV) e Agravo de Instrumento do Recurso Extraordinaacuterio nordm 410715-5 julgado em 22112005 (obrigaccedilatildeo de
fornecimento de vagas para educaccedilatildeo infantil pelo municiacutepio com atendimento em creches e preacute-escola)
92Recursos Extraordinaacuterios nordms 158215-4RS 161243-6DF 201819RJ
93Cf Mandado de Injunccedilatildeo 670ES Rel Min Gilmar Mendes julgado em 25102007 em que o STF revendo orientaccedilatildeo anterior
deu eficaacutecia normativa agrave sentenccedila proferida no mandado de injunccedilatildeo No caso decidiuse que ateacute o advento de lei regulamentado-
ra sobre a greve no serviccedilo puacuteblico o direito de greve poderia ser exercido obedecendo-se os limites impostos pela Lei 778389
que trata dos movimentos paredistas em serviccedilos essenciais no setor privado
94Sobre a tendecircncia agrave superaccedilatildeo da ideacuteia do Judiciaacuterio como legislador negativo na jurisdiccedilatildeo constitucional veja-se Joseacute Adeacutercio
Leite Sampaio A Constituiccedilatildeo reinventada pela jurisdiccedilatildeo constitucional Belo Horizonte Del Rey 2002 p 203-248
95Eacute lugar-comum dentre os autores que tratam da questatildeo associar tais mudanccedilas agrave pluralizaccedilatildeo das vozes na interpretaccedilatildeo consti-
tucional tema em que a referecircncia essencial no cenaacuterio germacircnico eacute Peter Haumlberle Veja-se a propoacutesito Peter Haumlberle Herme-
necircutica constitucional A sociedade aberta dos inteacuterpretes da Constituiccedilatildeo contribuiccedilatildeo para a interpretaccedilatildeo pluralista e procedi-
mental da Constituiccedilatildeo Traduccedilatildeo de Gilmar Ferreira Mendes Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1997 Veja-se ainda na doutrina
brasileira Gustavo Binenbojm A dimensatildeo do Amicus Curiae no processo constitucional brasileiro In Temas de direito constitu-
cional e administrativo Rio de Janeiro Renovar 2008 p 165-190
96ADIN 3510DF Relator Ministro Carlos Ayres Britto A accedilatildeo proposta contra o art 5ordm da Lei de Biosseguranccedila impugnava a auto-
rizaccedilatildeo de pesquisas com embriotildees humanos resultantes de fertilizaccedilatildeo in vitro que fossem inviaacuteveis ou estivessem congelados haacute
mais de trecircs anos A accedilatildeo foi julgada totalmente improcedente por 6 votos a 5
97ADPF nordm 54 A accedilatildeo que tem como relator o Ministro Marco Aureacutelio ainda natildeo foi julgada mas em seu bojo jaacute ocorreram diversas
audiecircncias puacuteblicas que provocaram intensa participaccedilatildeo da sociedade civil e grande interesse na miacutedia
34
98ADPF nordm 132 Relator Ministro Carlos Ayres Britto A accedilatildeo ainda foi julgada
99Mandados de Seguranccedila 26602DF 26603DF e 26604DF Informativo STF n 482
100Recurso Extraordinaacuterio 197917SP Rel p acoacuterdatildeo Min Ceacutesar Peluso DJU 18 fev 2005
101O livro de Alberto Carlos Almeida A cabeccedila do brasileiro lanccedilado em 2007 conteacutem pesquisas feitas sobre uma acuteseacuterie de temas
com pessoas de todas as classes sociais e regiotildees do paiacutes Uma das pesquisas eacute relativa agrave avaliaccedilatildeo das instituiccedilotildees Dentre as treze
avaliadas as duas que obtiveram menor aprovaccedilatildeo foram os partidos poliacuteticos (avaliaccedilatildeo positiva de 28 dos entrevistados) e o
Congresso (avaliaccedilatildeo positiva de 36 dos entrevistados) Cf Antonio Carlos Almeida A cabeccedila do brasileiro Rio de Janeiro Re-
cord 2007 p 187
102Cf Luis Roberto Barroso Judicializaccedilatildeo ativismo judicial e legitimidade democraacutetica Texto ainda ineacutedito gentilmente cedido
pelo autor
103Humberto Aacutevila por exemplo formula outra criacutetica importante de que o neoconstitucionalismo seria inadequado agrave realidade
constitucional brasileira jaacute que privilegia os princiacutepios e a Carta de 88 seria muito mais regulatoacuteria do que principioloacutegica (Neo-
constitucionalismo entre a ciecircncia do direito e o direito da ciecircncia Op cit p 188-192)
104Contudo natildeo eacute razoaacutevel estender esta criacutetica ao ponto de negar o caraacuteter democraacutetico da atuaccedilatildeo judicial Como ressaltou
Eugenio Rauacutel Zaffaroni uma instituiccedilatildeo natildeo eacute democraacutetica unicamente porque natildeo provenha de eleiccedilatildeo popular porque nem tudo
o que proveacutem desta origem eacute necessariamente aristocraacutetico Uma instituiccedilatildeo eacute democraacutetica quando seja funcional para o sistema
democraacutetico quer dizer quando seja necessaacuteria para a sua continuidade como ocorre com o judiciaacuterio (Poder judiciaacuterio crise
acertos e desacertos Traduccedilatildeo de Juarez Tavares Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1995 p 43)
105Cf Robert A Dahl Sobre a democracia Traduccedilatildeo de Beatriz Sidou Brasiacutelia UNB 2001 p 97-113 Juumlrgen Habermas Popular
Sovereignity as Procedure In James Bonham William Rehg Deliberative Democracy Cambridge The MIT Press 1997 p 35-66
106A questatildeo da tensatildeo e sinergia simultacircneas entre constitucionalismo e democracia eacute um dos debates mais fecundos da Teoria
Poliacutetica e da Filosofia Constitucional que tem atravessado o tempo desde o advento do constitucionalismo moderno no seacuteculo
XVIII Veja-se no debate contemporacircneo Jeremy Waldron Preocommitment and Disagreement In Larry Alexander Constitu-
cionalism Philosophical Foundations Cambridge Cambridge University Press 1998 p 271-299 Juumlrgen Habermas O Estado demo-
craacutetico de direito uma amarraccedilatildeo paradoxal de princiacutepios contraditoacuterios In Era das transiccedilotildees Traduccedilatildeo de Flaacutevio Beno Siebe-
neichler Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 2003 p 153-173 Carlos Santiago Nino La Constitucioacuten de la Democracia Deliberativa
Op cit Frank Michelman Brennan and Democracy Princeton Princeton University Press 1999 p 03-62 Stephen Holmes El
Precompromiso y la Paradoja de la Democracia In Jon Elster Rune Slagstad Constitucionalismo y Democracia Traduccedilatildeo de Mocircni-
ca Utrilla de Neira Mexico Fondo de Cultura Econocircmica 1999 p 217-262
107O problema da limitaccedilatildeo do legislador atual pelas decisotildees do constituinte adotadas no passado envolve a problemaacutetica da
partilha intergeracional de poder bem explicitada na fala de Jefferson que defendia que a cada 19 anos deveria ser elaborada
uma nova Constituiccedilatildeo nos Estados Unidos para que a Lei Maior daquele paiacutes natildeo se tornasse um mecanismo de governo dos mor-
tos sobre os vivos Em siacutentese apertada haacute na teoria poliacutetica contemporacircnea duas linhas principais de justificativa para a legiti-
midade destas restriccedilotildees
Uma eacute a teoria da democracia dualista defendida por Bruce Ackerman que sustenta que as decisotildees adotadas pelo proacuteprio povo
em contextos de grande mobilizaccedilatildeo ciacutevica devem ser protegidas do alcance da vontade dos representantes do povo formada em
momentos em que a cidadania natildeo esteja intensamente envolvida Esta teoria distingue a poliacutetica extraordinaacuteria correspondente
agravequeles momentos constitucionais da poliacutetica ordinaacuteria que se realiza atraveacutes das deliberaccedilotildees do dia a dia dos oacutergatildeos represen-
tativos Para a perspectiva ackermaniana a poliacutetica extraordinaacuteria - que natildeo exige necessariamente formalizaccedilatildeo procedimental
atraveacutes de assembleacuteia constituinte ou de emenda constitucional - se situa em patamar superior agrave poliacutetica ordinaacuteria e pode legiti-
mamente impor limites a esta (cf Bruce Ackerman We the people Foundations Cambridge The Belknap Press 1991 p 03-33)
Outra teoria eacute a do preacute-compromisso que jaacute foi advogada por Jon Elster Segundo ela eacute legiacutetimo subtrair do alcance das maiorias
determinadas questotildees fundamentais que expressam princiacutepios fundamentais de justiccedila poliacutetica ou garantam os pressupostos da
proacutepria democracia tendo em vista o risco de que no processo poliacutetico majoritaacuterio em momentos de irracionalidade o povo
35
possa ser viacutetima de suas proacuteprias fraquezas ou paixotildees momentacircneas atentando contra tais princiacutepios (cf Ulisses and Sirens
Cambridge Cambridge University Press 1979)
Ambas as concepccedilotildees - a primeira mais proacutexima ao republicanismo e a segunda de vieacutes mais liberal - tecircm a sua dose de procedecircn-
cia mas ensejam criacuteticas importantes Todavia foge a escopo do presente trabalho analisar esta questatildeo que eacute uma das mais
complexas da Filosofia Poliacutetica moderna e contemporacircnea Para uma visatildeo geral sobre o tema na literatura em liacutengua portuguesa
veja-se Oscar Vilhena Vieira A Constituiccedilatildeo e sua reserva de justiccedila Op cit Miguel Nogueira de Brito A Constituiccedilatildeo constituin-
te ensaio sobre o poder de revisatildeo da Constituiccedilatildeo Coimbra Coimbra 2000 Samantha Chantal Dobrowolski Op cit p 265-312
Rodrigo Brandatildeo Direitos fundamentais democracia e claacuteusulas peacutetreas Rio de Janeiro Renovar 2008 p 59-112
108Cf Michel Troper Justice Constitutionelle et Deacutemocratie In Pour une Theorie Juridique de LEacutetat Paris PUF 1994 p 317-328
Claacuteudio Pereira de Souza Neto Jurisdiccedilatildeo constitucional democracia e racionalidade praacutetica Op cit p 106-130 Gustavo Binen-
bojm A nova jurisdiccedilatildeo constitucional brasileira Op cit p 55-74
109Sobre o modelo revolucionaacuterio francecircs de constitucionalismo completamente avesso agrave ideacuteia de jurisdiccedilatildeo constitucional cf
Maurizio Fioravanti Constitucioacuten de la antiguumledad a nuestros dias Traduccedilatildeo de Manuel Martinez Neira Madrid Trotta 2001 p
120-132
110Cf Carl Schmitt La Defesa de la Constitucioacuten Madrid Tecnos 1983
111O constitucionalismo popular ou populismo constitucional eacute uma importante corrente no debate constitucional norte-americano
contemporacircneo que nega a legitimidade democraacutetica do controle de constitucionalidade advogando que deve caber ao proacuteprio
povo e natildeo a uma elite de juiacutezes natildeo eleitos com assento na Suprema Corte o poder de definir o sentido das claacuteusulas vagas que
abundam no texto constitucional daquele paiacutes Na defesa desta tese satildeo empregados tanto argumentos de teoria e filosofia poliacuteti-
ca de caraacuteter mais universal como razotildees histoacutericas relacionadas agrave evoluccedilatildeo do constitucionalismo estadunidense Veja-se nesta
linha Mark Tushnet Taking the Constitution Away from the Courts Princeton Princeton University Press 1999 Jeremy Waldron
Precommitment and Disagreement Op cit Larry D Kramer The People Themselves Popular constitutionalism and judicial re-
view New York Oxford University Press 1994
Ateacute algumas deacutecadas atraacutes a oposiccedilatildeo agrave jurisdiccedilatildeo constitucional nos Estados Unidos partia em regra da Direita que natildeo se con-
formava com a jurisprudecircncia extremamente liberal em mateacuteria de direitos fundamentais estabelecida pela Corte entre os anos
50 e 70 Atualmente uma boa parte dos opositores agrave judicial review situa-se agrave esquerda do espectro poliacutetico e talvez a nova linha
profundamente conservadora daquele Tribunal ajude a explicar esta mudanccedila
112Sobre a Era de Lochner veja-se Laurence H Tribe American Constitutional Law 2 ed Mineola The Foundation Press 1988 p
567-581 Paul Brest et al Processes of Constitucional Decisionmaking 4 ed New York Aspen Publishers 2000 p 337-354
113Towards Juristocracy hellip Op cit
114Tratei do tema no artigo Direito adquirido emenda constitucional democracia e justiccedila social In Livres e iguais Op cit p
03-32
115Cf Charles R Epp The Rights Revolution Chicago The University of Chicago Press 1998 p 26-70 Owen Fiss The Law as It
Could Be New York New York University Press 2003 p 244-249
116A importacircncia e as peculiaridades da interpretaccedilatildeo legislativa da Constituiccedilatildeo satildeo exploradas em importante obra coletiva
Richard W Bauman Tsvi Kahana The Least Examined Branch The Role of Legislatures in the Constitutional State Cambridge
Cambridge University Press 2006
117Cf em tom ainda mais ceacutetico do que o adotado neste estudo Martonio MontAlverne Barreto Lima Jurisdiccedilatildeo Constitucional
um problema da teoria da democracia poliacutetica In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Gilberto Bercovici Joseacute Filomeno de Moraes
Filho Martonio MontAlverne Teoria da Constituiccedilatildeo estudos sobre o lugar da poliacutetica no direito constitucional Rio de Janeiro
Lumen Juris 2003 p 199-261 Conrado Huumlbner Mendes Controle de constitucionalidade e democracia Rio de Janeiro Elsevier
2008
36
118Para criacutetica semelhante no contexto germacircnico veja-se Ingeborg Maus O judiciaacuterio como superego da sociedade sobre o papel
da atividade jurisprudencial na sociedade oacuterfatilde Traduccedilatildeo de Martonio MontAlverne Barreto Lima Paulo Antonio Menezes de Albu-
querque Anuaacuterio dos Cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito da Faculdade de Direito de Recife n 11 2000
119Eu aprofundo a anaacutelise deste ponto no meu artigo Interpretaccedilatildeo constitucional preacute-compreensatildeo e capacidades institucionais do
inteacuterprete In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm (Coord) Vinte anos da Constituiccedilatildeo Federal
de 1988 Op cit p 311-322 E a necessidade de optar por teoria de interpretaccedilatildeo que leve em consideraccedilatildeo as capacidades
institucionais reais dos juiacutezes comparando-as com as dos agentes de outras instituiccedilotildees eacute explorada no importante estudo de Cass
Sunstein Adrian Vermeulle Interpretations and Institutions Chicago Working Papers in Law amp Economics 2002 p 01-55 bem
como no livro de Adrian Vermeulle Judging under Uncertainty An Institutional Theory for Legal Interpretation Cambridge Har-
vard University Press 2006
120Dentre as honrosas exceccedilotildees mencione-se Luiacutes Roberto Barroso autor de importante artigo com sugestotildees para a reforma poliacuteti-
ca no paiacutes Reforma poliacutetica uma proposta de sistema de governo eleitoral e partidaacuterio para o Brasil Revista de Direito do Esta-
do n 3 p 287-360 jul set 2006
121Sobre o ethos judicial no Brasil veja-se a pesquisa de Maria Tereza Sadek Magistrados uma imagem em movimento Rio de
Janeiro FGV 2006
122Em sentido semelhante veja-se Michael J Perry The Constitution the Courts and Human Rights New Haven Yale University
Press 1982 p 91-145
123Neste ponto entendo que um standard importante que deveria ser adotado para controle de constitucionalidade eacute o de que
quanto maiores forem as credencias democraacuteticas de um ato normativo mais autocontido deve ser o Poder Judiciaacuterio ao avaliar a
sua constitucionalidade Na minha opiniatildeo estas credencias democraacuteticas devem ser aferidas tanto por criteacuterios qualitativos - eg
grau de participaccedilatildeo social no processo legislativo qualidade do processo deliberativo que a antecedeu - como por criteacuterios quanti-
tativos - percentual de votos favoraacuteveis agrave medida Em sentido semelhante veja-se Claacuteudio Ari Mello Democracia e direitos funda-
mentais Op cit p 298
124Em sentido proacuteximo apontam as liccedilotildees de Gustavo Binenbojm e Humberto Aacutevila O primeiro tratando do controle judicial dos
atos administrativos averbou que quanto maior for o grau de tecnicidade da mateacuteria objeto de decisatildeo por oacutergatildeos dotados de
expertise e experiecircncia menos intenso deve ser o grau de controle judicial (Uma teoria do direito administrativo Op cit p
236) Jaacute o segundo salientou que o acircmbito de controle pelo Judiciaacuterio deveraacute ser tanto menor quanto mais difiacutecil e teacutecnico for
o juiacutezo exigido para o tratamento da mateacuteria (Teoria dos princiacutepios Op cit p 126)
125Um exemplo extremado deste posicionamento estaacute na argumentaccedilatildeo adotada pelo STF no julgamento da ADIN 2797 Rel Min
Sepuacutelveda Pertence em que se reconheceu a inconstitucionalidade formal de lei que pretendia interpretar a Constituiccedilatildeo Para o
STF natildeo pode a lei ordinaacuteria pretender impor como seu objeto imediato uma interpretaccedilatildeo a Constituiccedilatildeo a questatildeo eacute de in-
constitucionalidade formal iacutensita a toda norma da gradaccedilatildeo inferior que se proponha a ditar interpretaccedilatildeo de norma superior
Na questatildeo de fundo abordada naquele caso entendo que o STF estava certo Tratava-se de invalidar uma norma legal que esten-
dera o foro de prerrogativa de funccedilatildeo a ex-ocupantes de cargos puacuteblicos visando a restaurar antiga jurisprudecircncia do STF sedi-
mentada na Suacutemula 394 do Tribunal que acabara de ser cancelada O princiacutepio republicano natildeo era compatiacutevel com tal medida
que configurava niacutetido privileacutegio O que me parece inaceitaacutevel e profundamente anti-democraacutetico com a devida vecircnia natildeo eacute o
resultado alcanccedilado pela Corte - com o qual concordo - mas o argumento empregado de que o legislador natildeo pode interpretar a
Constituiccedilatildeo
126Existe hoje uma fecunda produccedilatildeo acadecircmica no cenaacuterio anglo-saxatildeo sobre as vantagens de modelos teoacutericos que favoreccedilam
diaacutelogos entre diversos oacutergatildeos e instituiccedilotildees na interpretaccedilatildeo constitucional ao inveacutes de afirmarem a exclusividade ou mesmo a
supremacia do Judiciaacuterio nesta seara Veja-se a propoacutesito Laurence G Sager Justice in Plainclothes A Theory of American Con-
stitutional Practice New haven Yale University Press 2004 Mark Tushnet Weak Courts Strong Rights Judicial Review and Social
Welfare Rights in Comparative Constitutional Law Princeton Princeton University Press 2008 Mark C Miller Jeb Barnes (Ed)
Making Police Making Law An Interbranch Perspective Washington DC Georgetown University Press 2004
37
127Colhi o exemplo no estudo de Oscar Vilhena Vieira Supremocracia In Daniel Sarmento (Org) Filosofia e teoria constitucional
contemporacircnea Rio de Janeiro Lumen Juris 2009
128Como um natildeo-positivista tenho a necessaacuteria imparcialidade para criticar os equiacutevocos da doutrina brasileira nas suas invectivas
contra o positivismo que muitas vezes caracterizam verdadeira falaacutecia do espantalho ataca-se natildeo a proacutepria teoria positivista
mas uma distorcida caricatura dela Duas afirmaccedilotildees erradas que eu mesmo jaacute fiz em textos anteriores satildeo muito frequumlentes a
de que o positivismo recusa a aplicaccedilatildeo dos princiacutepios juriacutedicos e a de que ele teria sido a Filosofia do Direito cultivada na Alema-
nha nazista
Quanto ao primeiro ponto natildeo haacute nenhuma incompatibilidade loacutegica entre positivismo e princiacutepios desde que os princiacutepios este-
jam devidamente incorporados na ordem juriacutedico-positiva Vaacuterios autores positivistas contemporacircneos jaacute citados neste estudo
como Luis Prietro Sanchiacutes Luigi Ferrajoli e Gregorio Peces-Barba atribuiacuteram espaccedilo importante para princiacutepios nas suas teorias
Mesmo no Direito Puacuteblico brasileiro juristas de inspiraccedilatildeo positivista kelseniana construiacuteram suas teorias com apoio em argumen-
taccedilatildeo principioloacutegica como o falecido Geraldo Ataliba e Celso Antonio Bandeira de Mello
No que tange ao segundo ponto - a chamada redutio ad hitlerum - os estudos mais autorizados de Histoacuteria do Direito comprovam
que natildeo foi o positivismo a teoria juriacutedica dominante no nazismo mas uma espeacutecie de jusnaturalismo de inspiraccedilatildeo hegeliana que
se insurgia contra o formalismo e recorria com frequumlecircncia a conceitos muito vagos para justificar a barbaacuterie como os de comuni-
dade popular (Volksgemeinschaft) Veja-se a propoacutesito Michael Stolleis The Law under the Swastika Studies on Legal History in
Nazi Germany Traduccedilatildeo de Thomas Dunlap Chicago The University of Chicago Press 1998
129Cf Joseacute Joaquim Gomes Canotilho Direito constitucional e Teoria da Constituiccedilatildeo Coimbra Almedina 1998 p 1036
130Sobre a importacircncia das regras veja-se Frederick Schauer Playing by the Rules A Philosophical Exaxamination of Rule-Bases
Decision-Making in Law and Life Oxford Oxford University Press 1998 Humberto Aacutevila Neoconstitucionalismo entre a ciecircncia do
direito e o direito da ciecircncia Op cit Noel Struchiner Posturas institucionais e modelagem institucional a dignidade (contingente)
do formalismo juriacutedico In Daniel Sarmento Filosofia e teoria constitucional contemporacircnea Op cit
131Esta eacute expressatildeo empregada por Ana Paula de Barcellos O direito constitucional em 2006 Revista de Direito do Estado n 5 p
03-23 janmar 2007
132Cf Chaiumlm Perelman P Fories La Motivation des Deacutecisions de Justice Bruxelas Eacutemile Bruylant 1978
133Sobra a influecircncia do jeitinho no Direito brasileiro cf Keith Rosen O jeito na cultura juriacutedica brasileira Rio de Janeiro Reno-
var 1997
134Sobre o patrimonialismo no Brasil veja-se Raimundo Faoro Os donos do poder 8 ed Rio de Janeiro Globo 1989 v 2 p 729-
750
135Raiacutezes do Brasil 26 ed Satildeo Paulo Companhia das Letras 1995
136Cf Joseacute Murilo de Carvalho Brasileiro Cidadatildeo In Pontos e bordados escritos de histoacuteria e poliacutetica Belo Horizonte Ed
UFMG 2005 p 275-288
137Cf Gustavo Zagrebelsky Il Diritto Mite Op cit p 15-19
138Cf Marcelo Neves A constitucionalizaccedilatildeo simboacutelica Satildeo Paulo Acadecircmica 1994
139A obra de Niklas Luhman eacute vasta e complexa e seus textos satildeo de difiacutecil compreensatildeo para os natildeo iniciados Veja-se do proacuteprio
autor Sociologia do direito I e II Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 1983 e 1985 Sistema Jurididico y Dogmaacutetica Juriacutedica Madrid
Centro de Estuacutedios Constitucionales 1983 Confira-se tambeacutem a coletacircnea organizada por Andreacute-Jean Arnaud Dalmir Lopes Jr Do
sistema social agrave sociologia juriacutedica Rio de Janeiro Lumen Juris 2004
140Sobre a autopoieses do Direito veja-se tambeacutem a obra importante de Guumlnther Teubner O direito como sistema autopoieacutetico
Traduccedilatildeo de Joseacute Engracia Nunes Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1993
141Cf Luis Roberto Barroso Neoconstitucionalismo e a constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit
142Esta era basicamente a visatildeo de Hans Kelsen (Cf Hans Kelsen Jurisdiccedilatildeo constitucional Traduccedilatildeo de Alexandre Krug et al Satildeo
Paulo Martins Fontes 2003 p 153) Para uma anaacutelise criacutetica desta posiccedilatildeo veja-se Luis Prietro Sanchiacutes Presupuestos ideoloacutegicos
y doctrinales de la jurisdicioacuten constitucional In Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales Op cit p 21-100
38
143Cf Christian Starck La suprematie La Suprematie de la Constitution et la Justice Constitutionnelle In La Constitution Cadre et
Mesure du Droit Traduccedilatildeo de Freacutederic Weill Paris Econocircmica 1994 p 26-30 Ernst- Wolfgang Boumlckenfoumlrde Les meacutethodes
dinterpretation de la Constitution Un bilan critique In Le Droit lEacutetat et la Constitution Democratique Traduccedilatildeo de Olivier
Jouanjan Paris LGDJ 2000 p 249-250 Virgiacutelio Afonso da Silva Constitucionalizaccedilatildeo do direito os direitos fundamentais nas
relaccedilotildees entre particulares Satildeo Paulo Malheiros 2005 p 107-131 Daniel Sarmento Ubiquumlidade constitucional os dois lados da
moeda Op cit Luis Roberto Barroso Curso de Direito Constitucional Contemporacircneo Op cit p 391-394 Alceu Mauriacutecio Jr
Judicializaccedilatildeo da poliacutetica e a crise do direito constitucional a Constituiccedilatildeo entre ordem marco e ordem fundamenta Revista de
Direito do Estado n 10 p 125-142 abrjun 2008
144Der Staat der Industriegesellshaft 2 ed Muumlnchen Beck 1971 p 144 Apud Robert Alexy Posfaacutecio In Teoria dos direitos
fundamentais Op cit p 578
145De acordo com Carlos Santiago Nino o perfeccionaismo eacute la concepcioacuten seguacuten la cual es una misioacuten legiacutetima del Estado hacer
que los individuos acepten y materializen ideales vaacutelidos de virtud personal Seguacuten este enfoque el Estado no puede permanecer
neutral respecto de concepciones de lo bueno en la vida y debe adoptar las medidas educativas punitorias etc que sean necesa-
rias para que los indiviacuteduos ajusten su vida a los verdaderos ideales de virtud y del bien (Eacutetica y Derechos Humanos Un ensayo de
fundamentacioacuten 2 ed Buenos Aires Astrea 1989 p 413)
146Daniel Sarmento Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas 2 ed Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 Sobre o tema na literatura
nacional veja-se tambeacutem Wilson Antocircnio Steinmetz A vinculaccedilatildeo dos particulares aos direitos fundamentais Satildeo Paulo Malheiros
2004 Virgiacutelio Afonso da Silva Constitucionalizaccedilatildeo do direito os direitos fundamentais nas relaccedilotildees entre particulares Op cit
Ingo Wolfgang Sarlet Direitos fundamentais e direito privado algumas consideraccedilotildees em torno da vinculaccedilatildeo dos particulares aos
direitos fundamentais In Ingo Wolfgang Sarlet (Org) A Constituiccedilatildeo concretizada Porto Alegre Livraria do Advogado 1999 p
129-173 Jane Reis Gonccedilalves Pereira Apontamentos sobre a aplicaccedilatildeo das normas de direito fundamental nas relaccedilotildees juriacutedicas
entre particulares In Luis Roberto Barroso (Org) A nova interpretaccedilatildeo constitucional ponderaccedilatildeo direitos fundamentais e
relaccedilotildees privadas Rio de Janeiro Renovar 2003 p 119-192
147Sobre a questatildeo da (i)legitimidade do perfeccionismo no Direito veja-se Joel Feinberg Rights Justice and the Bounds of Liber-
ty Princeton Princeton University Press 1980 Carlos Santiago Nino Eacutetica y Derechos Humanos Op cit p 413-446 Rainer Forst
Contexts of Justice Political Philosophy beyond Liberalism and Communitarianism Traduccedilatildeo de John M M Farrel Berkeley Uni-
versity of Califoacuternia Press 2001 p 30-87 Macaacuterio Alemany El Paternalismo Juriacutedico Madrid Iustel 2006
148Um sofisticado modelo que busca conciliar a constitucionalizaccedilatildeo do Direito com a democracia estaacute exposto no Poacutesfaacutecio agrave Teo-
ria dos Direitos Fundamentais de Robert Alexy acima citado Veja-se ainda Konrad Hesse Concepto y Cualidad de la Constitu-
cion In Escritos de Derecho Constitucional Traduccedilatildeo de Pedro Cruz Villaloacuten 2 ed 1992 p 03-29
149Tentei articular a minha teoria sobre eficaacutecia horizontal dos direitos fundamentais com este objetivo Cf Daniel Sarmento
Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas Op cit p 141-182 259-272
150Sobre el Neoconstitucionalismo y sus Implicaciones Op cit p 117
151Aqui entendo que o simples reconhecimento da penetraccedilatildeo da Moral no Direito preconizada pelos neoconstitucionalistas brasi-
leiros natildeo eacute suficiente jaacute que certas concepccedilotildees morais podem tornar o ordenamento ainda mais opressivo do que jaacute eacute Afinal
nem sempre a moralizaccedilatildeo do Direito se daacute na direccedilatildeo da emancipaccedilatildeo dos excluiacutedos Veja-se por exemplo a famosa polecircmica
jusfilosoacutefica entre Lord Patrick Devlin e Herbert Hart nos anos 60 na Inglaterra a propoacutesito do uso do Direito Penal para promoccedilatildeo
de Moral em que o primeiro a partir de uma posiccedilatildeo proacute-moral sustentava a legitimidade da criminalizaccedilatildeo da conduta homos-
sexual que o segundo contestava (Cf Lord Patrick Devlin Morals and Criminal Law In Ronald Dworkin (Ed) The Philosophy of
Law Op cit p 66-82 Herbert Hart Immorality and Treason In Idem ibidem)
Eacute preciso assentar as bases criacuteticas desta Moral que deve penetrar o Direito para evitar que o moralismo conservador seja expulso
do ordenamento pela porta da frente superado pela legislaccedilatildeo moderna em razatildeo da progressiva liberalizaccedilatildeo da sociedade mas
volte pela porta dos fundos atraveacutes da argumentaccedilatildeo juriacutedica dos juiacutezes lastreada em conceitos vagos como ordem puacuteblica e
bons constumes ou em standards como o comportamento do bom pai de famiacutelia
39
33
79Em siacutentese apertada o procedimentalismo sustenta que natildeo eacute papel da jurisdiccedilatildeo constitucional tutelar valores substantivos mas
apenas proteger os pressupostos necessaacuterios ao bom funcionamento da democracia Jaacute o substancialismo reconhece a legitimidade
da atuaccedilatildeo jurisdicional em favor da garantia e promoccedilatildeo de valores substantivos presentes na Constituiccedilatildeo O debate entre o
procedimentalismo identificado com as ideacuteias de autores como John Hart Ely e Juumlrgen Habermas e o substancialismo defendido
por teoacutericos como Ronald Dworkin e Laurence Tribe eacute reproduzido em praticamente toda a literatura contemporacircnea que trata de
Teoria ou Filosofia Constitucional Veja-se a propoacutesito a densa obra de Claacuteudio Ari Mello Democracia constitucional e direitos
fundamentais Porto Alegre Livraria do Advogado 2004
80Neoconstitucionalismo e constitucionalizaccedilatildeo do direito o triunfo tardio do direito constitucional no Brasil Op cit
81A crise paradigmaacutetica do direito no contexto da resistecircncia positivista ao (neo)constitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza
Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm Vinte anos da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Op cit p 203-228
82Nos vinte anos da carta cidadatilde do poacutes-positivismo ao neoconstitucionalismo Op cit
83Neoconstitucionalismo direitos fundamentais e controle de poliacuteticas puacuteblicas In Daniel Sarmento Flaacutevio Galdino (Org) Direitos
fundamentais estudos em homenagem ao prof Ricardo Lobo Torres Rio de Janeiro Renovar 2006 p 31-60
84Direitos humanos legitimidade e constitucionalismo In Daniel Sarmento Flaacutevio Galdino (Org) Direitos fundamentais estudos
em homenagem ao Prof Ricardo Lobo Torres Op cit p325-350
85Novos desafios agrave filtragem constitucional no momento do neoconstitucionalismo In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sar-
mento A constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit p 251-270
86Neoconstitucionalismo a invasatildeo da Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Meacutetodo 2008
87Neoconstitucionalismo e positivismo juriacutedico Satildeo Paulo Landy 2006
88Teoria do direito e argumentaccedilatildeo racional temas de teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica op cit p 141-240
89Uma visatildeo criacutetica do neoconstitucionalismo In George Salomatildeo Leite Glauco Salomatildeo Leite Constituiccedilatildeo e efetividade constitu-
cional Salvador JusPodium 2008 p 43-60
90Neoconstitucionalismo entre a Ciecircncia do direito e o direito da ciecircncia In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento
Gustavo Binenbojm Rio de Janeiro Lumen Juris 2008 p 187-202
91Cf Peticcedilatildeo 1246 MSSC julgada em 31011997 (obrigaccedilatildeo do Estado de realizar transplante de ceacutelulas mioblaacutesticas para salvar
a vida de crianccedila) Agravo de Instrumento no Recurso Extraordinaacuterio 271286RS DJU 24 nov 2000 (entrega de medicamentos
para portadores de HIV) e Agravo de Instrumento do Recurso Extraordinaacuterio nordm 410715-5 julgado em 22112005 (obrigaccedilatildeo de
fornecimento de vagas para educaccedilatildeo infantil pelo municiacutepio com atendimento em creches e preacute-escola)
92Recursos Extraordinaacuterios nordms 158215-4RS 161243-6DF 201819RJ
93Cf Mandado de Injunccedilatildeo 670ES Rel Min Gilmar Mendes julgado em 25102007 em que o STF revendo orientaccedilatildeo anterior
deu eficaacutecia normativa agrave sentenccedila proferida no mandado de injunccedilatildeo No caso decidiuse que ateacute o advento de lei regulamentado-
ra sobre a greve no serviccedilo puacuteblico o direito de greve poderia ser exercido obedecendo-se os limites impostos pela Lei 778389
que trata dos movimentos paredistas em serviccedilos essenciais no setor privado
94Sobre a tendecircncia agrave superaccedilatildeo da ideacuteia do Judiciaacuterio como legislador negativo na jurisdiccedilatildeo constitucional veja-se Joseacute Adeacutercio
Leite Sampaio A Constituiccedilatildeo reinventada pela jurisdiccedilatildeo constitucional Belo Horizonte Del Rey 2002 p 203-248
95Eacute lugar-comum dentre os autores que tratam da questatildeo associar tais mudanccedilas agrave pluralizaccedilatildeo das vozes na interpretaccedilatildeo consti-
tucional tema em que a referecircncia essencial no cenaacuterio germacircnico eacute Peter Haumlberle Veja-se a propoacutesito Peter Haumlberle Herme-
necircutica constitucional A sociedade aberta dos inteacuterpretes da Constituiccedilatildeo contribuiccedilatildeo para a interpretaccedilatildeo pluralista e procedi-
mental da Constituiccedilatildeo Traduccedilatildeo de Gilmar Ferreira Mendes Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1997 Veja-se ainda na doutrina
brasileira Gustavo Binenbojm A dimensatildeo do Amicus Curiae no processo constitucional brasileiro In Temas de direito constitu-
cional e administrativo Rio de Janeiro Renovar 2008 p 165-190
96ADIN 3510DF Relator Ministro Carlos Ayres Britto A accedilatildeo proposta contra o art 5ordm da Lei de Biosseguranccedila impugnava a auto-
rizaccedilatildeo de pesquisas com embriotildees humanos resultantes de fertilizaccedilatildeo in vitro que fossem inviaacuteveis ou estivessem congelados haacute
mais de trecircs anos A accedilatildeo foi julgada totalmente improcedente por 6 votos a 5
97ADPF nordm 54 A accedilatildeo que tem como relator o Ministro Marco Aureacutelio ainda natildeo foi julgada mas em seu bojo jaacute ocorreram diversas
audiecircncias puacuteblicas que provocaram intensa participaccedilatildeo da sociedade civil e grande interesse na miacutedia
34
98ADPF nordm 132 Relator Ministro Carlos Ayres Britto A accedilatildeo ainda foi julgada
99Mandados de Seguranccedila 26602DF 26603DF e 26604DF Informativo STF n 482
100Recurso Extraordinaacuterio 197917SP Rel p acoacuterdatildeo Min Ceacutesar Peluso DJU 18 fev 2005
101O livro de Alberto Carlos Almeida A cabeccedila do brasileiro lanccedilado em 2007 conteacutem pesquisas feitas sobre uma acuteseacuterie de temas
com pessoas de todas as classes sociais e regiotildees do paiacutes Uma das pesquisas eacute relativa agrave avaliaccedilatildeo das instituiccedilotildees Dentre as treze
avaliadas as duas que obtiveram menor aprovaccedilatildeo foram os partidos poliacuteticos (avaliaccedilatildeo positiva de 28 dos entrevistados) e o
Congresso (avaliaccedilatildeo positiva de 36 dos entrevistados) Cf Antonio Carlos Almeida A cabeccedila do brasileiro Rio de Janeiro Re-
cord 2007 p 187
102Cf Luis Roberto Barroso Judicializaccedilatildeo ativismo judicial e legitimidade democraacutetica Texto ainda ineacutedito gentilmente cedido
pelo autor
103Humberto Aacutevila por exemplo formula outra criacutetica importante de que o neoconstitucionalismo seria inadequado agrave realidade
constitucional brasileira jaacute que privilegia os princiacutepios e a Carta de 88 seria muito mais regulatoacuteria do que principioloacutegica (Neo-
constitucionalismo entre a ciecircncia do direito e o direito da ciecircncia Op cit p 188-192)
104Contudo natildeo eacute razoaacutevel estender esta criacutetica ao ponto de negar o caraacuteter democraacutetico da atuaccedilatildeo judicial Como ressaltou
Eugenio Rauacutel Zaffaroni uma instituiccedilatildeo natildeo eacute democraacutetica unicamente porque natildeo provenha de eleiccedilatildeo popular porque nem tudo
o que proveacutem desta origem eacute necessariamente aristocraacutetico Uma instituiccedilatildeo eacute democraacutetica quando seja funcional para o sistema
democraacutetico quer dizer quando seja necessaacuteria para a sua continuidade como ocorre com o judiciaacuterio (Poder judiciaacuterio crise
acertos e desacertos Traduccedilatildeo de Juarez Tavares Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1995 p 43)
105Cf Robert A Dahl Sobre a democracia Traduccedilatildeo de Beatriz Sidou Brasiacutelia UNB 2001 p 97-113 Juumlrgen Habermas Popular
Sovereignity as Procedure In James Bonham William Rehg Deliberative Democracy Cambridge The MIT Press 1997 p 35-66
106A questatildeo da tensatildeo e sinergia simultacircneas entre constitucionalismo e democracia eacute um dos debates mais fecundos da Teoria
Poliacutetica e da Filosofia Constitucional que tem atravessado o tempo desde o advento do constitucionalismo moderno no seacuteculo
XVIII Veja-se no debate contemporacircneo Jeremy Waldron Preocommitment and Disagreement In Larry Alexander Constitu-
cionalism Philosophical Foundations Cambridge Cambridge University Press 1998 p 271-299 Juumlrgen Habermas O Estado demo-
craacutetico de direito uma amarraccedilatildeo paradoxal de princiacutepios contraditoacuterios In Era das transiccedilotildees Traduccedilatildeo de Flaacutevio Beno Siebe-
neichler Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 2003 p 153-173 Carlos Santiago Nino La Constitucioacuten de la Democracia Deliberativa
Op cit Frank Michelman Brennan and Democracy Princeton Princeton University Press 1999 p 03-62 Stephen Holmes El
Precompromiso y la Paradoja de la Democracia In Jon Elster Rune Slagstad Constitucionalismo y Democracia Traduccedilatildeo de Mocircni-
ca Utrilla de Neira Mexico Fondo de Cultura Econocircmica 1999 p 217-262
107O problema da limitaccedilatildeo do legislador atual pelas decisotildees do constituinte adotadas no passado envolve a problemaacutetica da
partilha intergeracional de poder bem explicitada na fala de Jefferson que defendia que a cada 19 anos deveria ser elaborada
uma nova Constituiccedilatildeo nos Estados Unidos para que a Lei Maior daquele paiacutes natildeo se tornasse um mecanismo de governo dos mor-
tos sobre os vivos Em siacutentese apertada haacute na teoria poliacutetica contemporacircnea duas linhas principais de justificativa para a legiti-
midade destas restriccedilotildees
Uma eacute a teoria da democracia dualista defendida por Bruce Ackerman que sustenta que as decisotildees adotadas pelo proacuteprio povo
em contextos de grande mobilizaccedilatildeo ciacutevica devem ser protegidas do alcance da vontade dos representantes do povo formada em
momentos em que a cidadania natildeo esteja intensamente envolvida Esta teoria distingue a poliacutetica extraordinaacuteria correspondente
agravequeles momentos constitucionais da poliacutetica ordinaacuteria que se realiza atraveacutes das deliberaccedilotildees do dia a dia dos oacutergatildeos represen-
tativos Para a perspectiva ackermaniana a poliacutetica extraordinaacuteria - que natildeo exige necessariamente formalizaccedilatildeo procedimental
atraveacutes de assembleacuteia constituinte ou de emenda constitucional - se situa em patamar superior agrave poliacutetica ordinaacuteria e pode legiti-
mamente impor limites a esta (cf Bruce Ackerman We the people Foundations Cambridge The Belknap Press 1991 p 03-33)
Outra teoria eacute a do preacute-compromisso que jaacute foi advogada por Jon Elster Segundo ela eacute legiacutetimo subtrair do alcance das maiorias
determinadas questotildees fundamentais que expressam princiacutepios fundamentais de justiccedila poliacutetica ou garantam os pressupostos da
proacutepria democracia tendo em vista o risco de que no processo poliacutetico majoritaacuterio em momentos de irracionalidade o povo
35
possa ser viacutetima de suas proacuteprias fraquezas ou paixotildees momentacircneas atentando contra tais princiacutepios (cf Ulisses and Sirens
Cambridge Cambridge University Press 1979)
Ambas as concepccedilotildees - a primeira mais proacutexima ao republicanismo e a segunda de vieacutes mais liberal - tecircm a sua dose de procedecircn-
cia mas ensejam criacuteticas importantes Todavia foge a escopo do presente trabalho analisar esta questatildeo que eacute uma das mais
complexas da Filosofia Poliacutetica moderna e contemporacircnea Para uma visatildeo geral sobre o tema na literatura em liacutengua portuguesa
veja-se Oscar Vilhena Vieira A Constituiccedilatildeo e sua reserva de justiccedila Op cit Miguel Nogueira de Brito A Constituiccedilatildeo constituin-
te ensaio sobre o poder de revisatildeo da Constituiccedilatildeo Coimbra Coimbra 2000 Samantha Chantal Dobrowolski Op cit p 265-312
Rodrigo Brandatildeo Direitos fundamentais democracia e claacuteusulas peacutetreas Rio de Janeiro Renovar 2008 p 59-112
108Cf Michel Troper Justice Constitutionelle et Deacutemocratie In Pour une Theorie Juridique de LEacutetat Paris PUF 1994 p 317-328
Claacuteudio Pereira de Souza Neto Jurisdiccedilatildeo constitucional democracia e racionalidade praacutetica Op cit p 106-130 Gustavo Binen-
bojm A nova jurisdiccedilatildeo constitucional brasileira Op cit p 55-74
109Sobre o modelo revolucionaacuterio francecircs de constitucionalismo completamente avesso agrave ideacuteia de jurisdiccedilatildeo constitucional cf
Maurizio Fioravanti Constitucioacuten de la antiguumledad a nuestros dias Traduccedilatildeo de Manuel Martinez Neira Madrid Trotta 2001 p
120-132
110Cf Carl Schmitt La Defesa de la Constitucioacuten Madrid Tecnos 1983
111O constitucionalismo popular ou populismo constitucional eacute uma importante corrente no debate constitucional norte-americano
contemporacircneo que nega a legitimidade democraacutetica do controle de constitucionalidade advogando que deve caber ao proacuteprio
povo e natildeo a uma elite de juiacutezes natildeo eleitos com assento na Suprema Corte o poder de definir o sentido das claacuteusulas vagas que
abundam no texto constitucional daquele paiacutes Na defesa desta tese satildeo empregados tanto argumentos de teoria e filosofia poliacuteti-
ca de caraacuteter mais universal como razotildees histoacutericas relacionadas agrave evoluccedilatildeo do constitucionalismo estadunidense Veja-se nesta
linha Mark Tushnet Taking the Constitution Away from the Courts Princeton Princeton University Press 1999 Jeremy Waldron
Precommitment and Disagreement Op cit Larry D Kramer The People Themselves Popular constitutionalism and judicial re-
view New York Oxford University Press 1994
Ateacute algumas deacutecadas atraacutes a oposiccedilatildeo agrave jurisdiccedilatildeo constitucional nos Estados Unidos partia em regra da Direita que natildeo se con-
formava com a jurisprudecircncia extremamente liberal em mateacuteria de direitos fundamentais estabelecida pela Corte entre os anos
50 e 70 Atualmente uma boa parte dos opositores agrave judicial review situa-se agrave esquerda do espectro poliacutetico e talvez a nova linha
profundamente conservadora daquele Tribunal ajude a explicar esta mudanccedila
112Sobre a Era de Lochner veja-se Laurence H Tribe American Constitutional Law 2 ed Mineola The Foundation Press 1988 p
567-581 Paul Brest et al Processes of Constitucional Decisionmaking 4 ed New York Aspen Publishers 2000 p 337-354
113Towards Juristocracy hellip Op cit
114Tratei do tema no artigo Direito adquirido emenda constitucional democracia e justiccedila social In Livres e iguais Op cit p
03-32
115Cf Charles R Epp The Rights Revolution Chicago The University of Chicago Press 1998 p 26-70 Owen Fiss The Law as It
Could Be New York New York University Press 2003 p 244-249
116A importacircncia e as peculiaridades da interpretaccedilatildeo legislativa da Constituiccedilatildeo satildeo exploradas em importante obra coletiva
Richard W Bauman Tsvi Kahana The Least Examined Branch The Role of Legislatures in the Constitutional State Cambridge
Cambridge University Press 2006
117Cf em tom ainda mais ceacutetico do que o adotado neste estudo Martonio MontAlverne Barreto Lima Jurisdiccedilatildeo Constitucional
um problema da teoria da democracia poliacutetica In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Gilberto Bercovici Joseacute Filomeno de Moraes
Filho Martonio MontAlverne Teoria da Constituiccedilatildeo estudos sobre o lugar da poliacutetica no direito constitucional Rio de Janeiro
Lumen Juris 2003 p 199-261 Conrado Huumlbner Mendes Controle de constitucionalidade e democracia Rio de Janeiro Elsevier
2008
36
118Para criacutetica semelhante no contexto germacircnico veja-se Ingeborg Maus O judiciaacuterio como superego da sociedade sobre o papel
da atividade jurisprudencial na sociedade oacuterfatilde Traduccedilatildeo de Martonio MontAlverne Barreto Lima Paulo Antonio Menezes de Albu-
querque Anuaacuterio dos Cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito da Faculdade de Direito de Recife n 11 2000
119Eu aprofundo a anaacutelise deste ponto no meu artigo Interpretaccedilatildeo constitucional preacute-compreensatildeo e capacidades institucionais do
inteacuterprete In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm (Coord) Vinte anos da Constituiccedilatildeo Federal
de 1988 Op cit p 311-322 E a necessidade de optar por teoria de interpretaccedilatildeo que leve em consideraccedilatildeo as capacidades
institucionais reais dos juiacutezes comparando-as com as dos agentes de outras instituiccedilotildees eacute explorada no importante estudo de Cass
Sunstein Adrian Vermeulle Interpretations and Institutions Chicago Working Papers in Law amp Economics 2002 p 01-55 bem
como no livro de Adrian Vermeulle Judging under Uncertainty An Institutional Theory for Legal Interpretation Cambridge Har-
vard University Press 2006
120Dentre as honrosas exceccedilotildees mencione-se Luiacutes Roberto Barroso autor de importante artigo com sugestotildees para a reforma poliacuteti-
ca no paiacutes Reforma poliacutetica uma proposta de sistema de governo eleitoral e partidaacuterio para o Brasil Revista de Direito do Esta-
do n 3 p 287-360 jul set 2006
121Sobre o ethos judicial no Brasil veja-se a pesquisa de Maria Tereza Sadek Magistrados uma imagem em movimento Rio de
Janeiro FGV 2006
122Em sentido semelhante veja-se Michael J Perry The Constitution the Courts and Human Rights New Haven Yale University
Press 1982 p 91-145
123Neste ponto entendo que um standard importante que deveria ser adotado para controle de constitucionalidade eacute o de que
quanto maiores forem as credencias democraacuteticas de um ato normativo mais autocontido deve ser o Poder Judiciaacuterio ao avaliar a
sua constitucionalidade Na minha opiniatildeo estas credencias democraacuteticas devem ser aferidas tanto por criteacuterios qualitativos - eg
grau de participaccedilatildeo social no processo legislativo qualidade do processo deliberativo que a antecedeu - como por criteacuterios quanti-
tativos - percentual de votos favoraacuteveis agrave medida Em sentido semelhante veja-se Claacuteudio Ari Mello Democracia e direitos funda-
mentais Op cit p 298
124Em sentido proacuteximo apontam as liccedilotildees de Gustavo Binenbojm e Humberto Aacutevila O primeiro tratando do controle judicial dos
atos administrativos averbou que quanto maior for o grau de tecnicidade da mateacuteria objeto de decisatildeo por oacutergatildeos dotados de
expertise e experiecircncia menos intenso deve ser o grau de controle judicial (Uma teoria do direito administrativo Op cit p
236) Jaacute o segundo salientou que o acircmbito de controle pelo Judiciaacuterio deveraacute ser tanto menor quanto mais difiacutecil e teacutecnico for
o juiacutezo exigido para o tratamento da mateacuteria (Teoria dos princiacutepios Op cit p 126)
125Um exemplo extremado deste posicionamento estaacute na argumentaccedilatildeo adotada pelo STF no julgamento da ADIN 2797 Rel Min
Sepuacutelveda Pertence em que se reconheceu a inconstitucionalidade formal de lei que pretendia interpretar a Constituiccedilatildeo Para o
STF natildeo pode a lei ordinaacuteria pretender impor como seu objeto imediato uma interpretaccedilatildeo a Constituiccedilatildeo a questatildeo eacute de in-
constitucionalidade formal iacutensita a toda norma da gradaccedilatildeo inferior que se proponha a ditar interpretaccedilatildeo de norma superior
Na questatildeo de fundo abordada naquele caso entendo que o STF estava certo Tratava-se de invalidar uma norma legal que esten-
dera o foro de prerrogativa de funccedilatildeo a ex-ocupantes de cargos puacuteblicos visando a restaurar antiga jurisprudecircncia do STF sedi-
mentada na Suacutemula 394 do Tribunal que acabara de ser cancelada O princiacutepio republicano natildeo era compatiacutevel com tal medida
que configurava niacutetido privileacutegio O que me parece inaceitaacutevel e profundamente anti-democraacutetico com a devida vecircnia natildeo eacute o
resultado alcanccedilado pela Corte - com o qual concordo - mas o argumento empregado de que o legislador natildeo pode interpretar a
Constituiccedilatildeo
126Existe hoje uma fecunda produccedilatildeo acadecircmica no cenaacuterio anglo-saxatildeo sobre as vantagens de modelos teoacutericos que favoreccedilam
diaacutelogos entre diversos oacutergatildeos e instituiccedilotildees na interpretaccedilatildeo constitucional ao inveacutes de afirmarem a exclusividade ou mesmo a
supremacia do Judiciaacuterio nesta seara Veja-se a propoacutesito Laurence G Sager Justice in Plainclothes A Theory of American Con-
stitutional Practice New haven Yale University Press 2004 Mark Tushnet Weak Courts Strong Rights Judicial Review and Social
Welfare Rights in Comparative Constitutional Law Princeton Princeton University Press 2008 Mark C Miller Jeb Barnes (Ed)
Making Police Making Law An Interbranch Perspective Washington DC Georgetown University Press 2004
37
127Colhi o exemplo no estudo de Oscar Vilhena Vieira Supremocracia In Daniel Sarmento (Org) Filosofia e teoria constitucional
contemporacircnea Rio de Janeiro Lumen Juris 2009
128Como um natildeo-positivista tenho a necessaacuteria imparcialidade para criticar os equiacutevocos da doutrina brasileira nas suas invectivas
contra o positivismo que muitas vezes caracterizam verdadeira falaacutecia do espantalho ataca-se natildeo a proacutepria teoria positivista
mas uma distorcida caricatura dela Duas afirmaccedilotildees erradas que eu mesmo jaacute fiz em textos anteriores satildeo muito frequumlentes a
de que o positivismo recusa a aplicaccedilatildeo dos princiacutepios juriacutedicos e a de que ele teria sido a Filosofia do Direito cultivada na Alema-
nha nazista
Quanto ao primeiro ponto natildeo haacute nenhuma incompatibilidade loacutegica entre positivismo e princiacutepios desde que os princiacutepios este-
jam devidamente incorporados na ordem juriacutedico-positiva Vaacuterios autores positivistas contemporacircneos jaacute citados neste estudo
como Luis Prietro Sanchiacutes Luigi Ferrajoli e Gregorio Peces-Barba atribuiacuteram espaccedilo importante para princiacutepios nas suas teorias
Mesmo no Direito Puacuteblico brasileiro juristas de inspiraccedilatildeo positivista kelseniana construiacuteram suas teorias com apoio em argumen-
taccedilatildeo principioloacutegica como o falecido Geraldo Ataliba e Celso Antonio Bandeira de Mello
No que tange ao segundo ponto - a chamada redutio ad hitlerum - os estudos mais autorizados de Histoacuteria do Direito comprovam
que natildeo foi o positivismo a teoria juriacutedica dominante no nazismo mas uma espeacutecie de jusnaturalismo de inspiraccedilatildeo hegeliana que
se insurgia contra o formalismo e recorria com frequumlecircncia a conceitos muito vagos para justificar a barbaacuterie como os de comuni-
dade popular (Volksgemeinschaft) Veja-se a propoacutesito Michael Stolleis The Law under the Swastika Studies on Legal History in
Nazi Germany Traduccedilatildeo de Thomas Dunlap Chicago The University of Chicago Press 1998
129Cf Joseacute Joaquim Gomes Canotilho Direito constitucional e Teoria da Constituiccedilatildeo Coimbra Almedina 1998 p 1036
130Sobre a importacircncia das regras veja-se Frederick Schauer Playing by the Rules A Philosophical Exaxamination of Rule-Bases
Decision-Making in Law and Life Oxford Oxford University Press 1998 Humberto Aacutevila Neoconstitucionalismo entre a ciecircncia do
direito e o direito da ciecircncia Op cit Noel Struchiner Posturas institucionais e modelagem institucional a dignidade (contingente)
do formalismo juriacutedico In Daniel Sarmento Filosofia e teoria constitucional contemporacircnea Op cit
131Esta eacute expressatildeo empregada por Ana Paula de Barcellos O direito constitucional em 2006 Revista de Direito do Estado n 5 p
03-23 janmar 2007
132Cf Chaiumlm Perelman P Fories La Motivation des Deacutecisions de Justice Bruxelas Eacutemile Bruylant 1978
133Sobra a influecircncia do jeitinho no Direito brasileiro cf Keith Rosen O jeito na cultura juriacutedica brasileira Rio de Janeiro Reno-
var 1997
134Sobre o patrimonialismo no Brasil veja-se Raimundo Faoro Os donos do poder 8 ed Rio de Janeiro Globo 1989 v 2 p 729-
750
135Raiacutezes do Brasil 26 ed Satildeo Paulo Companhia das Letras 1995
136Cf Joseacute Murilo de Carvalho Brasileiro Cidadatildeo In Pontos e bordados escritos de histoacuteria e poliacutetica Belo Horizonte Ed
UFMG 2005 p 275-288
137Cf Gustavo Zagrebelsky Il Diritto Mite Op cit p 15-19
138Cf Marcelo Neves A constitucionalizaccedilatildeo simboacutelica Satildeo Paulo Acadecircmica 1994
139A obra de Niklas Luhman eacute vasta e complexa e seus textos satildeo de difiacutecil compreensatildeo para os natildeo iniciados Veja-se do proacuteprio
autor Sociologia do direito I e II Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 1983 e 1985 Sistema Jurididico y Dogmaacutetica Juriacutedica Madrid
Centro de Estuacutedios Constitucionales 1983 Confira-se tambeacutem a coletacircnea organizada por Andreacute-Jean Arnaud Dalmir Lopes Jr Do
sistema social agrave sociologia juriacutedica Rio de Janeiro Lumen Juris 2004
140Sobre a autopoieses do Direito veja-se tambeacutem a obra importante de Guumlnther Teubner O direito como sistema autopoieacutetico
Traduccedilatildeo de Joseacute Engracia Nunes Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1993
141Cf Luis Roberto Barroso Neoconstitucionalismo e a constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit
142Esta era basicamente a visatildeo de Hans Kelsen (Cf Hans Kelsen Jurisdiccedilatildeo constitucional Traduccedilatildeo de Alexandre Krug et al Satildeo
Paulo Martins Fontes 2003 p 153) Para uma anaacutelise criacutetica desta posiccedilatildeo veja-se Luis Prietro Sanchiacutes Presupuestos ideoloacutegicos
y doctrinales de la jurisdicioacuten constitucional In Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales Op cit p 21-100
38
143Cf Christian Starck La suprematie La Suprematie de la Constitution et la Justice Constitutionnelle In La Constitution Cadre et
Mesure du Droit Traduccedilatildeo de Freacutederic Weill Paris Econocircmica 1994 p 26-30 Ernst- Wolfgang Boumlckenfoumlrde Les meacutethodes
dinterpretation de la Constitution Un bilan critique In Le Droit lEacutetat et la Constitution Democratique Traduccedilatildeo de Olivier
Jouanjan Paris LGDJ 2000 p 249-250 Virgiacutelio Afonso da Silva Constitucionalizaccedilatildeo do direito os direitos fundamentais nas
relaccedilotildees entre particulares Satildeo Paulo Malheiros 2005 p 107-131 Daniel Sarmento Ubiquumlidade constitucional os dois lados da
moeda Op cit Luis Roberto Barroso Curso de Direito Constitucional Contemporacircneo Op cit p 391-394 Alceu Mauriacutecio Jr
Judicializaccedilatildeo da poliacutetica e a crise do direito constitucional a Constituiccedilatildeo entre ordem marco e ordem fundamenta Revista de
Direito do Estado n 10 p 125-142 abrjun 2008
144Der Staat der Industriegesellshaft 2 ed Muumlnchen Beck 1971 p 144 Apud Robert Alexy Posfaacutecio In Teoria dos direitos
fundamentais Op cit p 578
145De acordo com Carlos Santiago Nino o perfeccionaismo eacute la concepcioacuten seguacuten la cual es una misioacuten legiacutetima del Estado hacer
que los individuos acepten y materializen ideales vaacutelidos de virtud personal Seguacuten este enfoque el Estado no puede permanecer
neutral respecto de concepciones de lo bueno en la vida y debe adoptar las medidas educativas punitorias etc que sean necesa-
rias para que los indiviacuteduos ajusten su vida a los verdaderos ideales de virtud y del bien (Eacutetica y Derechos Humanos Un ensayo de
fundamentacioacuten 2 ed Buenos Aires Astrea 1989 p 413)
146Daniel Sarmento Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas 2 ed Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 Sobre o tema na literatura
nacional veja-se tambeacutem Wilson Antocircnio Steinmetz A vinculaccedilatildeo dos particulares aos direitos fundamentais Satildeo Paulo Malheiros
2004 Virgiacutelio Afonso da Silva Constitucionalizaccedilatildeo do direito os direitos fundamentais nas relaccedilotildees entre particulares Op cit
Ingo Wolfgang Sarlet Direitos fundamentais e direito privado algumas consideraccedilotildees em torno da vinculaccedilatildeo dos particulares aos
direitos fundamentais In Ingo Wolfgang Sarlet (Org) A Constituiccedilatildeo concretizada Porto Alegre Livraria do Advogado 1999 p
129-173 Jane Reis Gonccedilalves Pereira Apontamentos sobre a aplicaccedilatildeo das normas de direito fundamental nas relaccedilotildees juriacutedicas
entre particulares In Luis Roberto Barroso (Org) A nova interpretaccedilatildeo constitucional ponderaccedilatildeo direitos fundamentais e
relaccedilotildees privadas Rio de Janeiro Renovar 2003 p 119-192
147Sobre a questatildeo da (i)legitimidade do perfeccionismo no Direito veja-se Joel Feinberg Rights Justice and the Bounds of Liber-
ty Princeton Princeton University Press 1980 Carlos Santiago Nino Eacutetica y Derechos Humanos Op cit p 413-446 Rainer Forst
Contexts of Justice Political Philosophy beyond Liberalism and Communitarianism Traduccedilatildeo de John M M Farrel Berkeley Uni-
versity of Califoacuternia Press 2001 p 30-87 Macaacuterio Alemany El Paternalismo Juriacutedico Madrid Iustel 2006
148Um sofisticado modelo que busca conciliar a constitucionalizaccedilatildeo do Direito com a democracia estaacute exposto no Poacutesfaacutecio agrave Teo-
ria dos Direitos Fundamentais de Robert Alexy acima citado Veja-se ainda Konrad Hesse Concepto y Cualidad de la Constitu-
cion In Escritos de Derecho Constitucional Traduccedilatildeo de Pedro Cruz Villaloacuten 2 ed 1992 p 03-29
149Tentei articular a minha teoria sobre eficaacutecia horizontal dos direitos fundamentais com este objetivo Cf Daniel Sarmento
Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas Op cit p 141-182 259-272
150Sobre el Neoconstitucionalismo y sus Implicaciones Op cit p 117
151Aqui entendo que o simples reconhecimento da penetraccedilatildeo da Moral no Direito preconizada pelos neoconstitucionalistas brasi-
leiros natildeo eacute suficiente jaacute que certas concepccedilotildees morais podem tornar o ordenamento ainda mais opressivo do que jaacute eacute Afinal
nem sempre a moralizaccedilatildeo do Direito se daacute na direccedilatildeo da emancipaccedilatildeo dos excluiacutedos Veja-se por exemplo a famosa polecircmica
jusfilosoacutefica entre Lord Patrick Devlin e Herbert Hart nos anos 60 na Inglaterra a propoacutesito do uso do Direito Penal para promoccedilatildeo
de Moral em que o primeiro a partir de uma posiccedilatildeo proacute-moral sustentava a legitimidade da criminalizaccedilatildeo da conduta homos-
sexual que o segundo contestava (Cf Lord Patrick Devlin Morals and Criminal Law In Ronald Dworkin (Ed) The Philosophy of
Law Op cit p 66-82 Herbert Hart Immorality and Treason In Idem ibidem)
Eacute preciso assentar as bases criacuteticas desta Moral que deve penetrar o Direito para evitar que o moralismo conservador seja expulso
do ordenamento pela porta da frente superado pela legislaccedilatildeo moderna em razatildeo da progressiva liberalizaccedilatildeo da sociedade mas
volte pela porta dos fundos atraveacutes da argumentaccedilatildeo juriacutedica dos juiacutezes lastreada em conceitos vagos como ordem puacuteblica e
bons constumes ou em standards como o comportamento do bom pai de famiacutelia
39
34
98ADPF nordm 132 Relator Ministro Carlos Ayres Britto A accedilatildeo ainda foi julgada
99Mandados de Seguranccedila 26602DF 26603DF e 26604DF Informativo STF n 482
100Recurso Extraordinaacuterio 197917SP Rel p acoacuterdatildeo Min Ceacutesar Peluso DJU 18 fev 2005
101O livro de Alberto Carlos Almeida A cabeccedila do brasileiro lanccedilado em 2007 conteacutem pesquisas feitas sobre uma acuteseacuterie de temas
com pessoas de todas as classes sociais e regiotildees do paiacutes Uma das pesquisas eacute relativa agrave avaliaccedilatildeo das instituiccedilotildees Dentre as treze
avaliadas as duas que obtiveram menor aprovaccedilatildeo foram os partidos poliacuteticos (avaliaccedilatildeo positiva de 28 dos entrevistados) e o
Congresso (avaliaccedilatildeo positiva de 36 dos entrevistados) Cf Antonio Carlos Almeida A cabeccedila do brasileiro Rio de Janeiro Re-
cord 2007 p 187
102Cf Luis Roberto Barroso Judicializaccedilatildeo ativismo judicial e legitimidade democraacutetica Texto ainda ineacutedito gentilmente cedido
pelo autor
103Humberto Aacutevila por exemplo formula outra criacutetica importante de que o neoconstitucionalismo seria inadequado agrave realidade
constitucional brasileira jaacute que privilegia os princiacutepios e a Carta de 88 seria muito mais regulatoacuteria do que principioloacutegica (Neo-
constitucionalismo entre a ciecircncia do direito e o direito da ciecircncia Op cit p 188-192)
104Contudo natildeo eacute razoaacutevel estender esta criacutetica ao ponto de negar o caraacuteter democraacutetico da atuaccedilatildeo judicial Como ressaltou
Eugenio Rauacutel Zaffaroni uma instituiccedilatildeo natildeo eacute democraacutetica unicamente porque natildeo provenha de eleiccedilatildeo popular porque nem tudo
o que proveacutem desta origem eacute necessariamente aristocraacutetico Uma instituiccedilatildeo eacute democraacutetica quando seja funcional para o sistema
democraacutetico quer dizer quando seja necessaacuteria para a sua continuidade como ocorre com o judiciaacuterio (Poder judiciaacuterio crise
acertos e desacertos Traduccedilatildeo de Juarez Tavares Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1995 p 43)
105Cf Robert A Dahl Sobre a democracia Traduccedilatildeo de Beatriz Sidou Brasiacutelia UNB 2001 p 97-113 Juumlrgen Habermas Popular
Sovereignity as Procedure In James Bonham William Rehg Deliberative Democracy Cambridge The MIT Press 1997 p 35-66
106A questatildeo da tensatildeo e sinergia simultacircneas entre constitucionalismo e democracia eacute um dos debates mais fecundos da Teoria
Poliacutetica e da Filosofia Constitucional que tem atravessado o tempo desde o advento do constitucionalismo moderno no seacuteculo
XVIII Veja-se no debate contemporacircneo Jeremy Waldron Preocommitment and Disagreement In Larry Alexander Constitu-
cionalism Philosophical Foundations Cambridge Cambridge University Press 1998 p 271-299 Juumlrgen Habermas O Estado demo-
craacutetico de direito uma amarraccedilatildeo paradoxal de princiacutepios contraditoacuterios In Era das transiccedilotildees Traduccedilatildeo de Flaacutevio Beno Siebe-
neichler Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 2003 p 153-173 Carlos Santiago Nino La Constitucioacuten de la Democracia Deliberativa
Op cit Frank Michelman Brennan and Democracy Princeton Princeton University Press 1999 p 03-62 Stephen Holmes El
Precompromiso y la Paradoja de la Democracia In Jon Elster Rune Slagstad Constitucionalismo y Democracia Traduccedilatildeo de Mocircni-
ca Utrilla de Neira Mexico Fondo de Cultura Econocircmica 1999 p 217-262
107O problema da limitaccedilatildeo do legislador atual pelas decisotildees do constituinte adotadas no passado envolve a problemaacutetica da
partilha intergeracional de poder bem explicitada na fala de Jefferson que defendia que a cada 19 anos deveria ser elaborada
uma nova Constituiccedilatildeo nos Estados Unidos para que a Lei Maior daquele paiacutes natildeo se tornasse um mecanismo de governo dos mor-
tos sobre os vivos Em siacutentese apertada haacute na teoria poliacutetica contemporacircnea duas linhas principais de justificativa para a legiti-
midade destas restriccedilotildees
Uma eacute a teoria da democracia dualista defendida por Bruce Ackerman que sustenta que as decisotildees adotadas pelo proacuteprio povo
em contextos de grande mobilizaccedilatildeo ciacutevica devem ser protegidas do alcance da vontade dos representantes do povo formada em
momentos em que a cidadania natildeo esteja intensamente envolvida Esta teoria distingue a poliacutetica extraordinaacuteria correspondente
agravequeles momentos constitucionais da poliacutetica ordinaacuteria que se realiza atraveacutes das deliberaccedilotildees do dia a dia dos oacutergatildeos represen-
tativos Para a perspectiva ackermaniana a poliacutetica extraordinaacuteria - que natildeo exige necessariamente formalizaccedilatildeo procedimental
atraveacutes de assembleacuteia constituinte ou de emenda constitucional - se situa em patamar superior agrave poliacutetica ordinaacuteria e pode legiti-
mamente impor limites a esta (cf Bruce Ackerman We the people Foundations Cambridge The Belknap Press 1991 p 03-33)
Outra teoria eacute a do preacute-compromisso que jaacute foi advogada por Jon Elster Segundo ela eacute legiacutetimo subtrair do alcance das maiorias
determinadas questotildees fundamentais que expressam princiacutepios fundamentais de justiccedila poliacutetica ou garantam os pressupostos da
proacutepria democracia tendo em vista o risco de que no processo poliacutetico majoritaacuterio em momentos de irracionalidade o povo
35
possa ser viacutetima de suas proacuteprias fraquezas ou paixotildees momentacircneas atentando contra tais princiacutepios (cf Ulisses and Sirens
Cambridge Cambridge University Press 1979)
Ambas as concepccedilotildees - a primeira mais proacutexima ao republicanismo e a segunda de vieacutes mais liberal - tecircm a sua dose de procedecircn-
cia mas ensejam criacuteticas importantes Todavia foge a escopo do presente trabalho analisar esta questatildeo que eacute uma das mais
complexas da Filosofia Poliacutetica moderna e contemporacircnea Para uma visatildeo geral sobre o tema na literatura em liacutengua portuguesa
veja-se Oscar Vilhena Vieira A Constituiccedilatildeo e sua reserva de justiccedila Op cit Miguel Nogueira de Brito A Constituiccedilatildeo constituin-
te ensaio sobre o poder de revisatildeo da Constituiccedilatildeo Coimbra Coimbra 2000 Samantha Chantal Dobrowolski Op cit p 265-312
Rodrigo Brandatildeo Direitos fundamentais democracia e claacuteusulas peacutetreas Rio de Janeiro Renovar 2008 p 59-112
108Cf Michel Troper Justice Constitutionelle et Deacutemocratie In Pour une Theorie Juridique de LEacutetat Paris PUF 1994 p 317-328
Claacuteudio Pereira de Souza Neto Jurisdiccedilatildeo constitucional democracia e racionalidade praacutetica Op cit p 106-130 Gustavo Binen-
bojm A nova jurisdiccedilatildeo constitucional brasileira Op cit p 55-74
109Sobre o modelo revolucionaacuterio francecircs de constitucionalismo completamente avesso agrave ideacuteia de jurisdiccedilatildeo constitucional cf
Maurizio Fioravanti Constitucioacuten de la antiguumledad a nuestros dias Traduccedilatildeo de Manuel Martinez Neira Madrid Trotta 2001 p
120-132
110Cf Carl Schmitt La Defesa de la Constitucioacuten Madrid Tecnos 1983
111O constitucionalismo popular ou populismo constitucional eacute uma importante corrente no debate constitucional norte-americano
contemporacircneo que nega a legitimidade democraacutetica do controle de constitucionalidade advogando que deve caber ao proacuteprio
povo e natildeo a uma elite de juiacutezes natildeo eleitos com assento na Suprema Corte o poder de definir o sentido das claacuteusulas vagas que
abundam no texto constitucional daquele paiacutes Na defesa desta tese satildeo empregados tanto argumentos de teoria e filosofia poliacuteti-
ca de caraacuteter mais universal como razotildees histoacutericas relacionadas agrave evoluccedilatildeo do constitucionalismo estadunidense Veja-se nesta
linha Mark Tushnet Taking the Constitution Away from the Courts Princeton Princeton University Press 1999 Jeremy Waldron
Precommitment and Disagreement Op cit Larry D Kramer The People Themselves Popular constitutionalism and judicial re-
view New York Oxford University Press 1994
Ateacute algumas deacutecadas atraacutes a oposiccedilatildeo agrave jurisdiccedilatildeo constitucional nos Estados Unidos partia em regra da Direita que natildeo se con-
formava com a jurisprudecircncia extremamente liberal em mateacuteria de direitos fundamentais estabelecida pela Corte entre os anos
50 e 70 Atualmente uma boa parte dos opositores agrave judicial review situa-se agrave esquerda do espectro poliacutetico e talvez a nova linha
profundamente conservadora daquele Tribunal ajude a explicar esta mudanccedila
112Sobre a Era de Lochner veja-se Laurence H Tribe American Constitutional Law 2 ed Mineola The Foundation Press 1988 p
567-581 Paul Brest et al Processes of Constitucional Decisionmaking 4 ed New York Aspen Publishers 2000 p 337-354
113Towards Juristocracy hellip Op cit
114Tratei do tema no artigo Direito adquirido emenda constitucional democracia e justiccedila social In Livres e iguais Op cit p
03-32
115Cf Charles R Epp The Rights Revolution Chicago The University of Chicago Press 1998 p 26-70 Owen Fiss The Law as It
Could Be New York New York University Press 2003 p 244-249
116A importacircncia e as peculiaridades da interpretaccedilatildeo legislativa da Constituiccedilatildeo satildeo exploradas em importante obra coletiva
Richard W Bauman Tsvi Kahana The Least Examined Branch The Role of Legislatures in the Constitutional State Cambridge
Cambridge University Press 2006
117Cf em tom ainda mais ceacutetico do que o adotado neste estudo Martonio MontAlverne Barreto Lima Jurisdiccedilatildeo Constitucional
um problema da teoria da democracia poliacutetica In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Gilberto Bercovici Joseacute Filomeno de Moraes
Filho Martonio MontAlverne Teoria da Constituiccedilatildeo estudos sobre o lugar da poliacutetica no direito constitucional Rio de Janeiro
Lumen Juris 2003 p 199-261 Conrado Huumlbner Mendes Controle de constitucionalidade e democracia Rio de Janeiro Elsevier
2008
36
118Para criacutetica semelhante no contexto germacircnico veja-se Ingeborg Maus O judiciaacuterio como superego da sociedade sobre o papel
da atividade jurisprudencial na sociedade oacuterfatilde Traduccedilatildeo de Martonio MontAlverne Barreto Lima Paulo Antonio Menezes de Albu-
querque Anuaacuterio dos Cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito da Faculdade de Direito de Recife n 11 2000
119Eu aprofundo a anaacutelise deste ponto no meu artigo Interpretaccedilatildeo constitucional preacute-compreensatildeo e capacidades institucionais do
inteacuterprete In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm (Coord) Vinte anos da Constituiccedilatildeo Federal
de 1988 Op cit p 311-322 E a necessidade de optar por teoria de interpretaccedilatildeo que leve em consideraccedilatildeo as capacidades
institucionais reais dos juiacutezes comparando-as com as dos agentes de outras instituiccedilotildees eacute explorada no importante estudo de Cass
Sunstein Adrian Vermeulle Interpretations and Institutions Chicago Working Papers in Law amp Economics 2002 p 01-55 bem
como no livro de Adrian Vermeulle Judging under Uncertainty An Institutional Theory for Legal Interpretation Cambridge Har-
vard University Press 2006
120Dentre as honrosas exceccedilotildees mencione-se Luiacutes Roberto Barroso autor de importante artigo com sugestotildees para a reforma poliacuteti-
ca no paiacutes Reforma poliacutetica uma proposta de sistema de governo eleitoral e partidaacuterio para o Brasil Revista de Direito do Esta-
do n 3 p 287-360 jul set 2006
121Sobre o ethos judicial no Brasil veja-se a pesquisa de Maria Tereza Sadek Magistrados uma imagem em movimento Rio de
Janeiro FGV 2006
122Em sentido semelhante veja-se Michael J Perry The Constitution the Courts and Human Rights New Haven Yale University
Press 1982 p 91-145
123Neste ponto entendo que um standard importante que deveria ser adotado para controle de constitucionalidade eacute o de que
quanto maiores forem as credencias democraacuteticas de um ato normativo mais autocontido deve ser o Poder Judiciaacuterio ao avaliar a
sua constitucionalidade Na minha opiniatildeo estas credencias democraacuteticas devem ser aferidas tanto por criteacuterios qualitativos - eg
grau de participaccedilatildeo social no processo legislativo qualidade do processo deliberativo que a antecedeu - como por criteacuterios quanti-
tativos - percentual de votos favoraacuteveis agrave medida Em sentido semelhante veja-se Claacuteudio Ari Mello Democracia e direitos funda-
mentais Op cit p 298
124Em sentido proacuteximo apontam as liccedilotildees de Gustavo Binenbojm e Humberto Aacutevila O primeiro tratando do controle judicial dos
atos administrativos averbou que quanto maior for o grau de tecnicidade da mateacuteria objeto de decisatildeo por oacutergatildeos dotados de
expertise e experiecircncia menos intenso deve ser o grau de controle judicial (Uma teoria do direito administrativo Op cit p
236) Jaacute o segundo salientou que o acircmbito de controle pelo Judiciaacuterio deveraacute ser tanto menor quanto mais difiacutecil e teacutecnico for
o juiacutezo exigido para o tratamento da mateacuteria (Teoria dos princiacutepios Op cit p 126)
125Um exemplo extremado deste posicionamento estaacute na argumentaccedilatildeo adotada pelo STF no julgamento da ADIN 2797 Rel Min
Sepuacutelveda Pertence em que se reconheceu a inconstitucionalidade formal de lei que pretendia interpretar a Constituiccedilatildeo Para o
STF natildeo pode a lei ordinaacuteria pretender impor como seu objeto imediato uma interpretaccedilatildeo a Constituiccedilatildeo a questatildeo eacute de in-
constitucionalidade formal iacutensita a toda norma da gradaccedilatildeo inferior que se proponha a ditar interpretaccedilatildeo de norma superior
Na questatildeo de fundo abordada naquele caso entendo que o STF estava certo Tratava-se de invalidar uma norma legal que esten-
dera o foro de prerrogativa de funccedilatildeo a ex-ocupantes de cargos puacuteblicos visando a restaurar antiga jurisprudecircncia do STF sedi-
mentada na Suacutemula 394 do Tribunal que acabara de ser cancelada O princiacutepio republicano natildeo era compatiacutevel com tal medida
que configurava niacutetido privileacutegio O que me parece inaceitaacutevel e profundamente anti-democraacutetico com a devida vecircnia natildeo eacute o
resultado alcanccedilado pela Corte - com o qual concordo - mas o argumento empregado de que o legislador natildeo pode interpretar a
Constituiccedilatildeo
126Existe hoje uma fecunda produccedilatildeo acadecircmica no cenaacuterio anglo-saxatildeo sobre as vantagens de modelos teoacutericos que favoreccedilam
diaacutelogos entre diversos oacutergatildeos e instituiccedilotildees na interpretaccedilatildeo constitucional ao inveacutes de afirmarem a exclusividade ou mesmo a
supremacia do Judiciaacuterio nesta seara Veja-se a propoacutesito Laurence G Sager Justice in Plainclothes A Theory of American Con-
stitutional Practice New haven Yale University Press 2004 Mark Tushnet Weak Courts Strong Rights Judicial Review and Social
Welfare Rights in Comparative Constitutional Law Princeton Princeton University Press 2008 Mark C Miller Jeb Barnes (Ed)
Making Police Making Law An Interbranch Perspective Washington DC Georgetown University Press 2004
37
127Colhi o exemplo no estudo de Oscar Vilhena Vieira Supremocracia In Daniel Sarmento (Org) Filosofia e teoria constitucional
contemporacircnea Rio de Janeiro Lumen Juris 2009
128Como um natildeo-positivista tenho a necessaacuteria imparcialidade para criticar os equiacutevocos da doutrina brasileira nas suas invectivas
contra o positivismo que muitas vezes caracterizam verdadeira falaacutecia do espantalho ataca-se natildeo a proacutepria teoria positivista
mas uma distorcida caricatura dela Duas afirmaccedilotildees erradas que eu mesmo jaacute fiz em textos anteriores satildeo muito frequumlentes a
de que o positivismo recusa a aplicaccedilatildeo dos princiacutepios juriacutedicos e a de que ele teria sido a Filosofia do Direito cultivada na Alema-
nha nazista
Quanto ao primeiro ponto natildeo haacute nenhuma incompatibilidade loacutegica entre positivismo e princiacutepios desde que os princiacutepios este-
jam devidamente incorporados na ordem juriacutedico-positiva Vaacuterios autores positivistas contemporacircneos jaacute citados neste estudo
como Luis Prietro Sanchiacutes Luigi Ferrajoli e Gregorio Peces-Barba atribuiacuteram espaccedilo importante para princiacutepios nas suas teorias
Mesmo no Direito Puacuteblico brasileiro juristas de inspiraccedilatildeo positivista kelseniana construiacuteram suas teorias com apoio em argumen-
taccedilatildeo principioloacutegica como o falecido Geraldo Ataliba e Celso Antonio Bandeira de Mello
No que tange ao segundo ponto - a chamada redutio ad hitlerum - os estudos mais autorizados de Histoacuteria do Direito comprovam
que natildeo foi o positivismo a teoria juriacutedica dominante no nazismo mas uma espeacutecie de jusnaturalismo de inspiraccedilatildeo hegeliana que
se insurgia contra o formalismo e recorria com frequumlecircncia a conceitos muito vagos para justificar a barbaacuterie como os de comuni-
dade popular (Volksgemeinschaft) Veja-se a propoacutesito Michael Stolleis The Law under the Swastika Studies on Legal History in
Nazi Germany Traduccedilatildeo de Thomas Dunlap Chicago The University of Chicago Press 1998
129Cf Joseacute Joaquim Gomes Canotilho Direito constitucional e Teoria da Constituiccedilatildeo Coimbra Almedina 1998 p 1036
130Sobre a importacircncia das regras veja-se Frederick Schauer Playing by the Rules A Philosophical Exaxamination of Rule-Bases
Decision-Making in Law and Life Oxford Oxford University Press 1998 Humberto Aacutevila Neoconstitucionalismo entre a ciecircncia do
direito e o direito da ciecircncia Op cit Noel Struchiner Posturas institucionais e modelagem institucional a dignidade (contingente)
do formalismo juriacutedico In Daniel Sarmento Filosofia e teoria constitucional contemporacircnea Op cit
131Esta eacute expressatildeo empregada por Ana Paula de Barcellos O direito constitucional em 2006 Revista de Direito do Estado n 5 p
03-23 janmar 2007
132Cf Chaiumlm Perelman P Fories La Motivation des Deacutecisions de Justice Bruxelas Eacutemile Bruylant 1978
133Sobra a influecircncia do jeitinho no Direito brasileiro cf Keith Rosen O jeito na cultura juriacutedica brasileira Rio de Janeiro Reno-
var 1997
134Sobre o patrimonialismo no Brasil veja-se Raimundo Faoro Os donos do poder 8 ed Rio de Janeiro Globo 1989 v 2 p 729-
750
135Raiacutezes do Brasil 26 ed Satildeo Paulo Companhia das Letras 1995
136Cf Joseacute Murilo de Carvalho Brasileiro Cidadatildeo In Pontos e bordados escritos de histoacuteria e poliacutetica Belo Horizonte Ed
UFMG 2005 p 275-288
137Cf Gustavo Zagrebelsky Il Diritto Mite Op cit p 15-19
138Cf Marcelo Neves A constitucionalizaccedilatildeo simboacutelica Satildeo Paulo Acadecircmica 1994
139A obra de Niklas Luhman eacute vasta e complexa e seus textos satildeo de difiacutecil compreensatildeo para os natildeo iniciados Veja-se do proacuteprio
autor Sociologia do direito I e II Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 1983 e 1985 Sistema Jurididico y Dogmaacutetica Juriacutedica Madrid
Centro de Estuacutedios Constitucionales 1983 Confira-se tambeacutem a coletacircnea organizada por Andreacute-Jean Arnaud Dalmir Lopes Jr Do
sistema social agrave sociologia juriacutedica Rio de Janeiro Lumen Juris 2004
140Sobre a autopoieses do Direito veja-se tambeacutem a obra importante de Guumlnther Teubner O direito como sistema autopoieacutetico
Traduccedilatildeo de Joseacute Engracia Nunes Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1993
141Cf Luis Roberto Barroso Neoconstitucionalismo e a constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit
142Esta era basicamente a visatildeo de Hans Kelsen (Cf Hans Kelsen Jurisdiccedilatildeo constitucional Traduccedilatildeo de Alexandre Krug et al Satildeo
Paulo Martins Fontes 2003 p 153) Para uma anaacutelise criacutetica desta posiccedilatildeo veja-se Luis Prietro Sanchiacutes Presupuestos ideoloacutegicos
y doctrinales de la jurisdicioacuten constitucional In Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales Op cit p 21-100
38
143Cf Christian Starck La suprematie La Suprematie de la Constitution et la Justice Constitutionnelle In La Constitution Cadre et
Mesure du Droit Traduccedilatildeo de Freacutederic Weill Paris Econocircmica 1994 p 26-30 Ernst- Wolfgang Boumlckenfoumlrde Les meacutethodes
dinterpretation de la Constitution Un bilan critique In Le Droit lEacutetat et la Constitution Democratique Traduccedilatildeo de Olivier
Jouanjan Paris LGDJ 2000 p 249-250 Virgiacutelio Afonso da Silva Constitucionalizaccedilatildeo do direito os direitos fundamentais nas
relaccedilotildees entre particulares Satildeo Paulo Malheiros 2005 p 107-131 Daniel Sarmento Ubiquumlidade constitucional os dois lados da
moeda Op cit Luis Roberto Barroso Curso de Direito Constitucional Contemporacircneo Op cit p 391-394 Alceu Mauriacutecio Jr
Judicializaccedilatildeo da poliacutetica e a crise do direito constitucional a Constituiccedilatildeo entre ordem marco e ordem fundamenta Revista de
Direito do Estado n 10 p 125-142 abrjun 2008
144Der Staat der Industriegesellshaft 2 ed Muumlnchen Beck 1971 p 144 Apud Robert Alexy Posfaacutecio In Teoria dos direitos
fundamentais Op cit p 578
145De acordo com Carlos Santiago Nino o perfeccionaismo eacute la concepcioacuten seguacuten la cual es una misioacuten legiacutetima del Estado hacer
que los individuos acepten y materializen ideales vaacutelidos de virtud personal Seguacuten este enfoque el Estado no puede permanecer
neutral respecto de concepciones de lo bueno en la vida y debe adoptar las medidas educativas punitorias etc que sean necesa-
rias para que los indiviacuteduos ajusten su vida a los verdaderos ideales de virtud y del bien (Eacutetica y Derechos Humanos Un ensayo de
fundamentacioacuten 2 ed Buenos Aires Astrea 1989 p 413)
146Daniel Sarmento Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas 2 ed Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 Sobre o tema na literatura
nacional veja-se tambeacutem Wilson Antocircnio Steinmetz A vinculaccedilatildeo dos particulares aos direitos fundamentais Satildeo Paulo Malheiros
2004 Virgiacutelio Afonso da Silva Constitucionalizaccedilatildeo do direito os direitos fundamentais nas relaccedilotildees entre particulares Op cit
Ingo Wolfgang Sarlet Direitos fundamentais e direito privado algumas consideraccedilotildees em torno da vinculaccedilatildeo dos particulares aos
direitos fundamentais In Ingo Wolfgang Sarlet (Org) A Constituiccedilatildeo concretizada Porto Alegre Livraria do Advogado 1999 p
129-173 Jane Reis Gonccedilalves Pereira Apontamentos sobre a aplicaccedilatildeo das normas de direito fundamental nas relaccedilotildees juriacutedicas
entre particulares In Luis Roberto Barroso (Org) A nova interpretaccedilatildeo constitucional ponderaccedilatildeo direitos fundamentais e
relaccedilotildees privadas Rio de Janeiro Renovar 2003 p 119-192
147Sobre a questatildeo da (i)legitimidade do perfeccionismo no Direito veja-se Joel Feinberg Rights Justice and the Bounds of Liber-
ty Princeton Princeton University Press 1980 Carlos Santiago Nino Eacutetica y Derechos Humanos Op cit p 413-446 Rainer Forst
Contexts of Justice Political Philosophy beyond Liberalism and Communitarianism Traduccedilatildeo de John M M Farrel Berkeley Uni-
versity of Califoacuternia Press 2001 p 30-87 Macaacuterio Alemany El Paternalismo Juriacutedico Madrid Iustel 2006
148Um sofisticado modelo que busca conciliar a constitucionalizaccedilatildeo do Direito com a democracia estaacute exposto no Poacutesfaacutecio agrave Teo-
ria dos Direitos Fundamentais de Robert Alexy acima citado Veja-se ainda Konrad Hesse Concepto y Cualidad de la Constitu-
cion In Escritos de Derecho Constitucional Traduccedilatildeo de Pedro Cruz Villaloacuten 2 ed 1992 p 03-29
149Tentei articular a minha teoria sobre eficaacutecia horizontal dos direitos fundamentais com este objetivo Cf Daniel Sarmento
Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas Op cit p 141-182 259-272
150Sobre el Neoconstitucionalismo y sus Implicaciones Op cit p 117
151Aqui entendo que o simples reconhecimento da penetraccedilatildeo da Moral no Direito preconizada pelos neoconstitucionalistas brasi-
leiros natildeo eacute suficiente jaacute que certas concepccedilotildees morais podem tornar o ordenamento ainda mais opressivo do que jaacute eacute Afinal
nem sempre a moralizaccedilatildeo do Direito se daacute na direccedilatildeo da emancipaccedilatildeo dos excluiacutedos Veja-se por exemplo a famosa polecircmica
jusfilosoacutefica entre Lord Patrick Devlin e Herbert Hart nos anos 60 na Inglaterra a propoacutesito do uso do Direito Penal para promoccedilatildeo
de Moral em que o primeiro a partir de uma posiccedilatildeo proacute-moral sustentava a legitimidade da criminalizaccedilatildeo da conduta homos-
sexual que o segundo contestava (Cf Lord Patrick Devlin Morals and Criminal Law In Ronald Dworkin (Ed) The Philosophy of
Law Op cit p 66-82 Herbert Hart Immorality and Treason In Idem ibidem)
Eacute preciso assentar as bases criacuteticas desta Moral que deve penetrar o Direito para evitar que o moralismo conservador seja expulso
do ordenamento pela porta da frente superado pela legislaccedilatildeo moderna em razatildeo da progressiva liberalizaccedilatildeo da sociedade mas
volte pela porta dos fundos atraveacutes da argumentaccedilatildeo juriacutedica dos juiacutezes lastreada em conceitos vagos como ordem puacuteblica e
bons constumes ou em standards como o comportamento do bom pai de famiacutelia
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possa ser viacutetima de suas proacuteprias fraquezas ou paixotildees momentacircneas atentando contra tais princiacutepios (cf Ulisses and Sirens
Cambridge Cambridge University Press 1979)
Ambas as concepccedilotildees - a primeira mais proacutexima ao republicanismo e a segunda de vieacutes mais liberal - tecircm a sua dose de procedecircn-
cia mas ensejam criacuteticas importantes Todavia foge a escopo do presente trabalho analisar esta questatildeo que eacute uma das mais
complexas da Filosofia Poliacutetica moderna e contemporacircnea Para uma visatildeo geral sobre o tema na literatura em liacutengua portuguesa
veja-se Oscar Vilhena Vieira A Constituiccedilatildeo e sua reserva de justiccedila Op cit Miguel Nogueira de Brito A Constituiccedilatildeo constituin-
te ensaio sobre o poder de revisatildeo da Constituiccedilatildeo Coimbra Coimbra 2000 Samantha Chantal Dobrowolski Op cit p 265-312
Rodrigo Brandatildeo Direitos fundamentais democracia e claacuteusulas peacutetreas Rio de Janeiro Renovar 2008 p 59-112
108Cf Michel Troper Justice Constitutionelle et Deacutemocratie In Pour une Theorie Juridique de LEacutetat Paris PUF 1994 p 317-328
Claacuteudio Pereira de Souza Neto Jurisdiccedilatildeo constitucional democracia e racionalidade praacutetica Op cit p 106-130 Gustavo Binen-
bojm A nova jurisdiccedilatildeo constitucional brasileira Op cit p 55-74
109Sobre o modelo revolucionaacuterio francecircs de constitucionalismo completamente avesso agrave ideacuteia de jurisdiccedilatildeo constitucional cf
Maurizio Fioravanti Constitucioacuten de la antiguumledad a nuestros dias Traduccedilatildeo de Manuel Martinez Neira Madrid Trotta 2001 p
120-132
110Cf Carl Schmitt La Defesa de la Constitucioacuten Madrid Tecnos 1983
111O constitucionalismo popular ou populismo constitucional eacute uma importante corrente no debate constitucional norte-americano
contemporacircneo que nega a legitimidade democraacutetica do controle de constitucionalidade advogando que deve caber ao proacuteprio
povo e natildeo a uma elite de juiacutezes natildeo eleitos com assento na Suprema Corte o poder de definir o sentido das claacuteusulas vagas que
abundam no texto constitucional daquele paiacutes Na defesa desta tese satildeo empregados tanto argumentos de teoria e filosofia poliacuteti-
ca de caraacuteter mais universal como razotildees histoacutericas relacionadas agrave evoluccedilatildeo do constitucionalismo estadunidense Veja-se nesta
linha Mark Tushnet Taking the Constitution Away from the Courts Princeton Princeton University Press 1999 Jeremy Waldron
Precommitment and Disagreement Op cit Larry D Kramer The People Themselves Popular constitutionalism and judicial re-
view New York Oxford University Press 1994
Ateacute algumas deacutecadas atraacutes a oposiccedilatildeo agrave jurisdiccedilatildeo constitucional nos Estados Unidos partia em regra da Direita que natildeo se con-
formava com a jurisprudecircncia extremamente liberal em mateacuteria de direitos fundamentais estabelecida pela Corte entre os anos
50 e 70 Atualmente uma boa parte dos opositores agrave judicial review situa-se agrave esquerda do espectro poliacutetico e talvez a nova linha
profundamente conservadora daquele Tribunal ajude a explicar esta mudanccedila
112Sobre a Era de Lochner veja-se Laurence H Tribe American Constitutional Law 2 ed Mineola The Foundation Press 1988 p
567-581 Paul Brest et al Processes of Constitucional Decisionmaking 4 ed New York Aspen Publishers 2000 p 337-354
113Towards Juristocracy hellip Op cit
114Tratei do tema no artigo Direito adquirido emenda constitucional democracia e justiccedila social In Livres e iguais Op cit p
03-32
115Cf Charles R Epp The Rights Revolution Chicago The University of Chicago Press 1998 p 26-70 Owen Fiss The Law as It
Could Be New York New York University Press 2003 p 244-249
116A importacircncia e as peculiaridades da interpretaccedilatildeo legislativa da Constituiccedilatildeo satildeo exploradas em importante obra coletiva
Richard W Bauman Tsvi Kahana The Least Examined Branch The Role of Legislatures in the Constitutional State Cambridge
Cambridge University Press 2006
117Cf em tom ainda mais ceacutetico do que o adotado neste estudo Martonio MontAlverne Barreto Lima Jurisdiccedilatildeo Constitucional
um problema da teoria da democracia poliacutetica In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Gilberto Bercovici Joseacute Filomeno de Moraes
Filho Martonio MontAlverne Teoria da Constituiccedilatildeo estudos sobre o lugar da poliacutetica no direito constitucional Rio de Janeiro
Lumen Juris 2003 p 199-261 Conrado Huumlbner Mendes Controle de constitucionalidade e democracia Rio de Janeiro Elsevier
2008
36
118Para criacutetica semelhante no contexto germacircnico veja-se Ingeborg Maus O judiciaacuterio como superego da sociedade sobre o papel
da atividade jurisprudencial na sociedade oacuterfatilde Traduccedilatildeo de Martonio MontAlverne Barreto Lima Paulo Antonio Menezes de Albu-
querque Anuaacuterio dos Cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito da Faculdade de Direito de Recife n 11 2000
119Eu aprofundo a anaacutelise deste ponto no meu artigo Interpretaccedilatildeo constitucional preacute-compreensatildeo e capacidades institucionais do
inteacuterprete In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm (Coord) Vinte anos da Constituiccedilatildeo Federal
de 1988 Op cit p 311-322 E a necessidade de optar por teoria de interpretaccedilatildeo que leve em consideraccedilatildeo as capacidades
institucionais reais dos juiacutezes comparando-as com as dos agentes de outras instituiccedilotildees eacute explorada no importante estudo de Cass
Sunstein Adrian Vermeulle Interpretations and Institutions Chicago Working Papers in Law amp Economics 2002 p 01-55 bem
como no livro de Adrian Vermeulle Judging under Uncertainty An Institutional Theory for Legal Interpretation Cambridge Har-
vard University Press 2006
120Dentre as honrosas exceccedilotildees mencione-se Luiacutes Roberto Barroso autor de importante artigo com sugestotildees para a reforma poliacuteti-
ca no paiacutes Reforma poliacutetica uma proposta de sistema de governo eleitoral e partidaacuterio para o Brasil Revista de Direito do Esta-
do n 3 p 287-360 jul set 2006
121Sobre o ethos judicial no Brasil veja-se a pesquisa de Maria Tereza Sadek Magistrados uma imagem em movimento Rio de
Janeiro FGV 2006
122Em sentido semelhante veja-se Michael J Perry The Constitution the Courts and Human Rights New Haven Yale University
Press 1982 p 91-145
123Neste ponto entendo que um standard importante que deveria ser adotado para controle de constitucionalidade eacute o de que
quanto maiores forem as credencias democraacuteticas de um ato normativo mais autocontido deve ser o Poder Judiciaacuterio ao avaliar a
sua constitucionalidade Na minha opiniatildeo estas credencias democraacuteticas devem ser aferidas tanto por criteacuterios qualitativos - eg
grau de participaccedilatildeo social no processo legislativo qualidade do processo deliberativo que a antecedeu - como por criteacuterios quanti-
tativos - percentual de votos favoraacuteveis agrave medida Em sentido semelhante veja-se Claacuteudio Ari Mello Democracia e direitos funda-
mentais Op cit p 298
124Em sentido proacuteximo apontam as liccedilotildees de Gustavo Binenbojm e Humberto Aacutevila O primeiro tratando do controle judicial dos
atos administrativos averbou que quanto maior for o grau de tecnicidade da mateacuteria objeto de decisatildeo por oacutergatildeos dotados de
expertise e experiecircncia menos intenso deve ser o grau de controle judicial (Uma teoria do direito administrativo Op cit p
236) Jaacute o segundo salientou que o acircmbito de controle pelo Judiciaacuterio deveraacute ser tanto menor quanto mais difiacutecil e teacutecnico for
o juiacutezo exigido para o tratamento da mateacuteria (Teoria dos princiacutepios Op cit p 126)
125Um exemplo extremado deste posicionamento estaacute na argumentaccedilatildeo adotada pelo STF no julgamento da ADIN 2797 Rel Min
Sepuacutelveda Pertence em que se reconheceu a inconstitucionalidade formal de lei que pretendia interpretar a Constituiccedilatildeo Para o
STF natildeo pode a lei ordinaacuteria pretender impor como seu objeto imediato uma interpretaccedilatildeo a Constituiccedilatildeo a questatildeo eacute de in-
constitucionalidade formal iacutensita a toda norma da gradaccedilatildeo inferior que se proponha a ditar interpretaccedilatildeo de norma superior
Na questatildeo de fundo abordada naquele caso entendo que o STF estava certo Tratava-se de invalidar uma norma legal que esten-
dera o foro de prerrogativa de funccedilatildeo a ex-ocupantes de cargos puacuteblicos visando a restaurar antiga jurisprudecircncia do STF sedi-
mentada na Suacutemula 394 do Tribunal que acabara de ser cancelada O princiacutepio republicano natildeo era compatiacutevel com tal medida
que configurava niacutetido privileacutegio O que me parece inaceitaacutevel e profundamente anti-democraacutetico com a devida vecircnia natildeo eacute o
resultado alcanccedilado pela Corte - com o qual concordo - mas o argumento empregado de que o legislador natildeo pode interpretar a
Constituiccedilatildeo
126Existe hoje uma fecunda produccedilatildeo acadecircmica no cenaacuterio anglo-saxatildeo sobre as vantagens de modelos teoacutericos que favoreccedilam
diaacutelogos entre diversos oacutergatildeos e instituiccedilotildees na interpretaccedilatildeo constitucional ao inveacutes de afirmarem a exclusividade ou mesmo a
supremacia do Judiciaacuterio nesta seara Veja-se a propoacutesito Laurence G Sager Justice in Plainclothes A Theory of American Con-
stitutional Practice New haven Yale University Press 2004 Mark Tushnet Weak Courts Strong Rights Judicial Review and Social
Welfare Rights in Comparative Constitutional Law Princeton Princeton University Press 2008 Mark C Miller Jeb Barnes (Ed)
Making Police Making Law An Interbranch Perspective Washington DC Georgetown University Press 2004
37
127Colhi o exemplo no estudo de Oscar Vilhena Vieira Supremocracia In Daniel Sarmento (Org) Filosofia e teoria constitucional
contemporacircnea Rio de Janeiro Lumen Juris 2009
128Como um natildeo-positivista tenho a necessaacuteria imparcialidade para criticar os equiacutevocos da doutrina brasileira nas suas invectivas
contra o positivismo que muitas vezes caracterizam verdadeira falaacutecia do espantalho ataca-se natildeo a proacutepria teoria positivista
mas uma distorcida caricatura dela Duas afirmaccedilotildees erradas que eu mesmo jaacute fiz em textos anteriores satildeo muito frequumlentes a
de que o positivismo recusa a aplicaccedilatildeo dos princiacutepios juriacutedicos e a de que ele teria sido a Filosofia do Direito cultivada na Alema-
nha nazista
Quanto ao primeiro ponto natildeo haacute nenhuma incompatibilidade loacutegica entre positivismo e princiacutepios desde que os princiacutepios este-
jam devidamente incorporados na ordem juriacutedico-positiva Vaacuterios autores positivistas contemporacircneos jaacute citados neste estudo
como Luis Prietro Sanchiacutes Luigi Ferrajoli e Gregorio Peces-Barba atribuiacuteram espaccedilo importante para princiacutepios nas suas teorias
Mesmo no Direito Puacuteblico brasileiro juristas de inspiraccedilatildeo positivista kelseniana construiacuteram suas teorias com apoio em argumen-
taccedilatildeo principioloacutegica como o falecido Geraldo Ataliba e Celso Antonio Bandeira de Mello
No que tange ao segundo ponto - a chamada redutio ad hitlerum - os estudos mais autorizados de Histoacuteria do Direito comprovam
que natildeo foi o positivismo a teoria juriacutedica dominante no nazismo mas uma espeacutecie de jusnaturalismo de inspiraccedilatildeo hegeliana que
se insurgia contra o formalismo e recorria com frequumlecircncia a conceitos muito vagos para justificar a barbaacuterie como os de comuni-
dade popular (Volksgemeinschaft) Veja-se a propoacutesito Michael Stolleis The Law under the Swastika Studies on Legal History in
Nazi Germany Traduccedilatildeo de Thomas Dunlap Chicago The University of Chicago Press 1998
129Cf Joseacute Joaquim Gomes Canotilho Direito constitucional e Teoria da Constituiccedilatildeo Coimbra Almedina 1998 p 1036
130Sobre a importacircncia das regras veja-se Frederick Schauer Playing by the Rules A Philosophical Exaxamination of Rule-Bases
Decision-Making in Law and Life Oxford Oxford University Press 1998 Humberto Aacutevila Neoconstitucionalismo entre a ciecircncia do
direito e o direito da ciecircncia Op cit Noel Struchiner Posturas institucionais e modelagem institucional a dignidade (contingente)
do formalismo juriacutedico In Daniel Sarmento Filosofia e teoria constitucional contemporacircnea Op cit
131Esta eacute expressatildeo empregada por Ana Paula de Barcellos O direito constitucional em 2006 Revista de Direito do Estado n 5 p
03-23 janmar 2007
132Cf Chaiumlm Perelman P Fories La Motivation des Deacutecisions de Justice Bruxelas Eacutemile Bruylant 1978
133Sobra a influecircncia do jeitinho no Direito brasileiro cf Keith Rosen O jeito na cultura juriacutedica brasileira Rio de Janeiro Reno-
var 1997
134Sobre o patrimonialismo no Brasil veja-se Raimundo Faoro Os donos do poder 8 ed Rio de Janeiro Globo 1989 v 2 p 729-
750
135Raiacutezes do Brasil 26 ed Satildeo Paulo Companhia das Letras 1995
136Cf Joseacute Murilo de Carvalho Brasileiro Cidadatildeo In Pontos e bordados escritos de histoacuteria e poliacutetica Belo Horizonte Ed
UFMG 2005 p 275-288
137Cf Gustavo Zagrebelsky Il Diritto Mite Op cit p 15-19
138Cf Marcelo Neves A constitucionalizaccedilatildeo simboacutelica Satildeo Paulo Acadecircmica 1994
139A obra de Niklas Luhman eacute vasta e complexa e seus textos satildeo de difiacutecil compreensatildeo para os natildeo iniciados Veja-se do proacuteprio
autor Sociologia do direito I e II Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 1983 e 1985 Sistema Jurididico y Dogmaacutetica Juriacutedica Madrid
Centro de Estuacutedios Constitucionales 1983 Confira-se tambeacutem a coletacircnea organizada por Andreacute-Jean Arnaud Dalmir Lopes Jr Do
sistema social agrave sociologia juriacutedica Rio de Janeiro Lumen Juris 2004
140Sobre a autopoieses do Direito veja-se tambeacutem a obra importante de Guumlnther Teubner O direito como sistema autopoieacutetico
Traduccedilatildeo de Joseacute Engracia Nunes Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1993
141Cf Luis Roberto Barroso Neoconstitucionalismo e a constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit
142Esta era basicamente a visatildeo de Hans Kelsen (Cf Hans Kelsen Jurisdiccedilatildeo constitucional Traduccedilatildeo de Alexandre Krug et al Satildeo
Paulo Martins Fontes 2003 p 153) Para uma anaacutelise criacutetica desta posiccedilatildeo veja-se Luis Prietro Sanchiacutes Presupuestos ideoloacutegicos
y doctrinales de la jurisdicioacuten constitucional In Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales Op cit p 21-100
38
143Cf Christian Starck La suprematie La Suprematie de la Constitution et la Justice Constitutionnelle In La Constitution Cadre et
Mesure du Droit Traduccedilatildeo de Freacutederic Weill Paris Econocircmica 1994 p 26-30 Ernst- Wolfgang Boumlckenfoumlrde Les meacutethodes
dinterpretation de la Constitution Un bilan critique In Le Droit lEacutetat et la Constitution Democratique Traduccedilatildeo de Olivier
Jouanjan Paris LGDJ 2000 p 249-250 Virgiacutelio Afonso da Silva Constitucionalizaccedilatildeo do direito os direitos fundamentais nas
relaccedilotildees entre particulares Satildeo Paulo Malheiros 2005 p 107-131 Daniel Sarmento Ubiquumlidade constitucional os dois lados da
moeda Op cit Luis Roberto Barroso Curso de Direito Constitucional Contemporacircneo Op cit p 391-394 Alceu Mauriacutecio Jr
Judicializaccedilatildeo da poliacutetica e a crise do direito constitucional a Constituiccedilatildeo entre ordem marco e ordem fundamenta Revista de
Direito do Estado n 10 p 125-142 abrjun 2008
144Der Staat der Industriegesellshaft 2 ed Muumlnchen Beck 1971 p 144 Apud Robert Alexy Posfaacutecio In Teoria dos direitos
fundamentais Op cit p 578
145De acordo com Carlos Santiago Nino o perfeccionaismo eacute la concepcioacuten seguacuten la cual es una misioacuten legiacutetima del Estado hacer
que los individuos acepten y materializen ideales vaacutelidos de virtud personal Seguacuten este enfoque el Estado no puede permanecer
neutral respecto de concepciones de lo bueno en la vida y debe adoptar las medidas educativas punitorias etc que sean necesa-
rias para que los indiviacuteduos ajusten su vida a los verdaderos ideales de virtud y del bien (Eacutetica y Derechos Humanos Un ensayo de
fundamentacioacuten 2 ed Buenos Aires Astrea 1989 p 413)
146Daniel Sarmento Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas 2 ed Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 Sobre o tema na literatura
nacional veja-se tambeacutem Wilson Antocircnio Steinmetz A vinculaccedilatildeo dos particulares aos direitos fundamentais Satildeo Paulo Malheiros
2004 Virgiacutelio Afonso da Silva Constitucionalizaccedilatildeo do direito os direitos fundamentais nas relaccedilotildees entre particulares Op cit
Ingo Wolfgang Sarlet Direitos fundamentais e direito privado algumas consideraccedilotildees em torno da vinculaccedilatildeo dos particulares aos
direitos fundamentais In Ingo Wolfgang Sarlet (Org) A Constituiccedilatildeo concretizada Porto Alegre Livraria do Advogado 1999 p
129-173 Jane Reis Gonccedilalves Pereira Apontamentos sobre a aplicaccedilatildeo das normas de direito fundamental nas relaccedilotildees juriacutedicas
entre particulares In Luis Roberto Barroso (Org) A nova interpretaccedilatildeo constitucional ponderaccedilatildeo direitos fundamentais e
relaccedilotildees privadas Rio de Janeiro Renovar 2003 p 119-192
147Sobre a questatildeo da (i)legitimidade do perfeccionismo no Direito veja-se Joel Feinberg Rights Justice and the Bounds of Liber-
ty Princeton Princeton University Press 1980 Carlos Santiago Nino Eacutetica y Derechos Humanos Op cit p 413-446 Rainer Forst
Contexts of Justice Political Philosophy beyond Liberalism and Communitarianism Traduccedilatildeo de John M M Farrel Berkeley Uni-
versity of Califoacuternia Press 2001 p 30-87 Macaacuterio Alemany El Paternalismo Juriacutedico Madrid Iustel 2006
148Um sofisticado modelo que busca conciliar a constitucionalizaccedilatildeo do Direito com a democracia estaacute exposto no Poacutesfaacutecio agrave Teo-
ria dos Direitos Fundamentais de Robert Alexy acima citado Veja-se ainda Konrad Hesse Concepto y Cualidad de la Constitu-
cion In Escritos de Derecho Constitucional Traduccedilatildeo de Pedro Cruz Villaloacuten 2 ed 1992 p 03-29
149Tentei articular a minha teoria sobre eficaacutecia horizontal dos direitos fundamentais com este objetivo Cf Daniel Sarmento
Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas Op cit p 141-182 259-272
150Sobre el Neoconstitucionalismo y sus Implicaciones Op cit p 117
151Aqui entendo que o simples reconhecimento da penetraccedilatildeo da Moral no Direito preconizada pelos neoconstitucionalistas brasi-
leiros natildeo eacute suficiente jaacute que certas concepccedilotildees morais podem tornar o ordenamento ainda mais opressivo do que jaacute eacute Afinal
nem sempre a moralizaccedilatildeo do Direito se daacute na direccedilatildeo da emancipaccedilatildeo dos excluiacutedos Veja-se por exemplo a famosa polecircmica
jusfilosoacutefica entre Lord Patrick Devlin e Herbert Hart nos anos 60 na Inglaterra a propoacutesito do uso do Direito Penal para promoccedilatildeo
de Moral em que o primeiro a partir de uma posiccedilatildeo proacute-moral sustentava a legitimidade da criminalizaccedilatildeo da conduta homos-
sexual que o segundo contestava (Cf Lord Patrick Devlin Morals and Criminal Law In Ronald Dworkin (Ed) The Philosophy of
Law Op cit p 66-82 Herbert Hart Immorality and Treason In Idem ibidem)
Eacute preciso assentar as bases criacuteticas desta Moral que deve penetrar o Direito para evitar que o moralismo conservador seja expulso
do ordenamento pela porta da frente superado pela legislaccedilatildeo moderna em razatildeo da progressiva liberalizaccedilatildeo da sociedade mas
volte pela porta dos fundos atraveacutes da argumentaccedilatildeo juriacutedica dos juiacutezes lastreada em conceitos vagos como ordem puacuteblica e
bons constumes ou em standards como o comportamento do bom pai de famiacutelia
39
36
118Para criacutetica semelhante no contexto germacircnico veja-se Ingeborg Maus O judiciaacuterio como superego da sociedade sobre o papel
da atividade jurisprudencial na sociedade oacuterfatilde Traduccedilatildeo de Martonio MontAlverne Barreto Lima Paulo Antonio Menezes de Albu-
querque Anuaacuterio dos Cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito da Faculdade de Direito de Recife n 11 2000
119Eu aprofundo a anaacutelise deste ponto no meu artigo Interpretaccedilatildeo constitucional preacute-compreensatildeo e capacidades institucionais do
inteacuterprete In Claacuteudio Pereira de Souza Neto Daniel Sarmento Gustavo Binenbojm (Coord) Vinte anos da Constituiccedilatildeo Federal
de 1988 Op cit p 311-322 E a necessidade de optar por teoria de interpretaccedilatildeo que leve em consideraccedilatildeo as capacidades
institucionais reais dos juiacutezes comparando-as com as dos agentes de outras instituiccedilotildees eacute explorada no importante estudo de Cass
Sunstein Adrian Vermeulle Interpretations and Institutions Chicago Working Papers in Law amp Economics 2002 p 01-55 bem
como no livro de Adrian Vermeulle Judging under Uncertainty An Institutional Theory for Legal Interpretation Cambridge Har-
vard University Press 2006
120Dentre as honrosas exceccedilotildees mencione-se Luiacutes Roberto Barroso autor de importante artigo com sugestotildees para a reforma poliacuteti-
ca no paiacutes Reforma poliacutetica uma proposta de sistema de governo eleitoral e partidaacuterio para o Brasil Revista de Direito do Esta-
do n 3 p 287-360 jul set 2006
121Sobre o ethos judicial no Brasil veja-se a pesquisa de Maria Tereza Sadek Magistrados uma imagem em movimento Rio de
Janeiro FGV 2006
122Em sentido semelhante veja-se Michael J Perry The Constitution the Courts and Human Rights New Haven Yale University
Press 1982 p 91-145
123Neste ponto entendo que um standard importante que deveria ser adotado para controle de constitucionalidade eacute o de que
quanto maiores forem as credencias democraacuteticas de um ato normativo mais autocontido deve ser o Poder Judiciaacuterio ao avaliar a
sua constitucionalidade Na minha opiniatildeo estas credencias democraacuteticas devem ser aferidas tanto por criteacuterios qualitativos - eg
grau de participaccedilatildeo social no processo legislativo qualidade do processo deliberativo que a antecedeu - como por criteacuterios quanti-
tativos - percentual de votos favoraacuteveis agrave medida Em sentido semelhante veja-se Claacuteudio Ari Mello Democracia e direitos funda-
mentais Op cit p 298
124Em sentido proacuteximo apontam as liccedilotildees de Gustavo Binenbojm e Humberto Aacutevila O primeiro tratando do controle judicial dos
atos administrativos averbou que quanto maior for o grau de tecnicidade da mateacuteria objeto de decisatildeo por oacutergatildeos dotados de
expertise e experiecircncia menos intenso deve ser o grau de controle judicial (Uma teoria do direito administrativo Op cit p
236) Jaacute o segundo salientou que o acircmbito de controle pelo Judiciaacuterio deveraacute ser tanto menor quanto mais difiacutecil e teacutecnico for
o juiacutezo exigido para o tratamento da mateacuteria (Teoria dos princiacutepios Op cit p 126)
125Um exemplo extremado deste posicionamento estaacute na argumentaccedilatildeo adotada pelo STF no julgamento da ADIN 2797 Rel Min
Sepuacutelveda Pertence em que se reconheceu a inconstitucionalidade formal de lei que pretendia interpretar a Constituiccedilatildeo Para o
STF natildeo pode a lei ordinaacuteria pretender impor como seu objeto imediato uma interpretaccedilatildeo a Constituiccedilatildeo a questatildeo eacute de in-
constitucionalidade formal iacutensita a toda norma da gradaccedilatildeo inferior que se proponha a ditar interpretaccedilatildeo de norma superior
Na questatildeo de fundo abordada naquele caso entendo que o STF estava certo Tratava-se de invalidar uma norma legal que esten-
dera o foro de prerrogativa de funccedilatildeo a ex-ocupantes de cargos puacuteblicos visando a restaurar antiga jurisprudecircncia do STF sedi-
mentada na Suacutemula 394 do Tribunal que acabara de ser cancelada O princiacutepio republicano natildeo era compatiacutevel com tal medida
que configurava niacutetido privileacutegio O que me parece inaceitaacutevel e profundamente anti-democraacutetico com a devida vecircnia natildeo eacute o
resultado alcanccedilado pela Corte - com o qual concordo - mas o argumento empregado de que o legislador natildeo pode interpretar a
Constituiccedilatildeo
126Existe hoje uma fecunda produccedilatildeo acadecircmica no cenaacuterio anglo-saxatildeo sobre as vantagens de modelos teoacutericos que favoreccedilam
diaacutelogos entre diversos oacutergatildeos e instituiccedilotildees na interpretaccedilatildeo constitucional ao inveacutes de afirmarem a exclusividade ou mesmo a
supremacia do Judiciaacuterio nesta seara Veja-se a propoacutesito Laurence G Sager Justice in Plainclothes A Theory of American Con-
stitutional Practice New haven Yale University Press 2004 Mark Tushnet Weak Courts Strong Rights Judicial Review and Social
Welfare Rights in Comparative Constitutional Law Princeton Princeton University Press 2008 Mark C Miller Jeb Barnes (Ed)
Making Police Making Law An Interbranch Perspective Washington DC Georgetown University Press 2004
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127Colhi o exemplo no estudo de Oscar Vilhena Vieira Supremocracia In Daniel Sarmento (Org) Filosofia e teoria constitucional
contemporacircnea Rio de Janeiro Lumen Juris 2009
128Como um natildeo-positivista tenho a necessaacuteria imparcialidade para criticar os equiacutevocos da doutrina brasileira nas suas invectivas
contra o positivismo que muitas vezes caracterizam verdadeira falaacutecia do espantalho ataca-se natildeo a proacutepria teoria positivista
mas uma distorcida caricatura dela Duas afirmaccedilotildees erradas que eu mesmo jaacute fiz em textos anteriores satildeo muito frequumlentes a
de que o positivismo recusa a aplicaccedilatildeo dos princiacutepios juriacutedicos e a de que ele teria sido a Filosofia do Direito cultivada na Alema-
nha nazista
Quanto ao primeiro ponto natildeo haacute nenhuma incompatibilidade loacutegica entre positivismo e princiacutepios desde que os princiacutepios este-
jam devidamente incorporados na ordem juriacutedico-positiva Vaacuterios autores positivistas contemporacircneos jaacute citados neste estudo
como Luis Prietro Sanchiacutes Luigi Ferrajoli e Gregorio Peces-Barba atribuiacuteram espaccedilo importante para princiacutepios nas suas teorias
Mesmo no Direito Puacuteblico brasileiro juristas de inspiraccedilatildeo positivista kelseniana construiacuteram suas teorias com apoio em argumen-
taccedilatildeo principioloacutegica como o falecido Geraldo Ataliba e Celso Antonio Bandeira de Mello
No que tange ao segundo ponto - a chamada redutio ad hitlerum - os estudos mais autorizados de Histoacuteria do Direito comprovam
que natildeo foi o positivismo a teoria juriacutedica dominante no nazismo mas uma espeacutecie de jusnaturalismo de inspiraccedilatildeo hegeliana que
se insurgia contra o formalismo e recorria com frequumlecircncia a conceitos muito vagos para justificar a barbaacuterie como os de comuni-
dade popular (Volksgemeinschaft) Veja-se a propoacutesito Michael Stolleis The Law under the Swastika Studies on Legal History in
Nazi Germany Traduccedilatildeo de Thomas Dunlap Chicago The University of Chicago Press 1998
129Cf Joseacute Joaquim Gomes Canotilho Direito constitucional e Teoria da Constituiccedilatildeo Coimbra Almedina 1998 p 1036
130Sobre a importacircncia das regras veja-se Frederick Schauer Playing by the Rules A Philosophical Exaxamination of Rule-Bases
Decision-Making in Law and Life Oxford Oxford University Press 1998 Humberto Aacutevila Neoconstitucionalismo entre a ciecircncia do
direito e o direito da ciecircncia Op cit Noel Struchiner Posturas institucionais e modelagem institucional a dignidade (contingente)
do formalismo juriacutedico In Daniel Sarmento Filosofia e teoria constitucional contemporacircnea Op cit
131Esta eacute expressatildeo empregada por Ana Paula de Barcellos O direito constitucional em 2006 Revista de Direito do Estado n 5 p
03-23 janmar 2007
132Cf Chaiumlm Perelman P Fories La Motivation des Deacutecisions de Justice Bruxelas Eacutemile Bruylant 1978
133Sobra a influecircncia do jeitinho no Direito brasileiro cf Keith Rosen O jeito na cultura juriacutedica brasileira Rio de Janeiro Reno-
var 1997
134Sobre o patrimonialismo no Brasil veja-se Raimundo Faoro Os donos do poder 8 ed Rio de Janeiro Globo 1989 v 2 p 729-
750
135Raiacutezes do Brasil 26 ed Satildeo Paulo Companhia das Letras 1995
136Cf Joseacute Murilo de Carvalho Brasileiro Cidadatildeo In Pontos e bordados escritos de histoacuteria e poliacutetica Belo Horizonte Ed
UFMG 2005 p 275-288
137Cf Gustavo Zagrebelsky Il Diritto Mite Op cit p 15-19
138Cf Marcelo Neves A constitucionalizaccedilatildeo simboacutelica Satildeo Paulo Acadecircmica 1994
139A obra de Niklas Luhman eacute vasta e complexa e seus textos satildeo de difiacutecil compreensatildeo para os natildeo iniciados Veja-se do proacuteprio
autor Sociologia do direito I e II Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 1983 e 1985 Sistema Jurididico y Dogmaacutetica Juriacutedica Madrid
Centro de Estuacutedios Constitucionales 1983 Confira-se tambeacutem a coletacircnea organizada por Andreacute-Jean Arnaud Dalmir Lopes Jr Do
sistema social agrave sociologia juriacutedica Rio de Janeiro Lumen Juris 2004
140Sobre a autopoieses do Direito veja-se tambeacutem a obra importante de Guumlnther Teubner O direito como sistema autopoieacutetico
Traduccedilatildeo de Joseacute Engracia Nunes Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1993
141Cf Luis Roberto Barroso Neoconstitucionalismo e a constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit
142Esta era basicamente a visatildeo de Hans Kelsen (Cf Hans Kelsen Jurisdiccedilatildeo constitucional Traduccedilatildeo de Alexandre Krug et al Satildeo
Paulo Martins Fontes 2003 p 153) Para uma anaacutelise criacutetica desta posiccedilatildeo veja-se Luis Prietro Sanchiacutes Presupuestos ideoloacutegicos
y doctrinales de la jurisdicioacuten constitucional In Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales Op cit p 21-100
38
143Cf Christian Starck La suprematie La Suprematie de la Constitution et la Justice Constitutionnelle In La Constitution Cadre et
Mesure du Droit Traduccedilatildeo de Freacutederic Weill Paris Econocircmica 1994 p 26-30 Ernst- Wolfgang Boumlckenfoumlrde Les meacutethodes
dinterpretation de la Constitution Un bilan critique In Le Droit lEacutetat et la Constitution Democratique Traduccedilatildeo de Olivier
Jouanjan Paris LGDJ 2000 p 249-250 Virgiacutelio Afonso da Silva Constitucionalizaccedilatildeo do direito os direitos fundamentais nas
relaccedilotildees entre particulares Satildeo Paulo Malheiros 2005 p 107-131 Daniel Sarmento Ubiquumlidade constitucional os dois lados da
moeda Op cit Luis Roberto Barroso Curso de Direito Constitucional Contemporacircneo Op cit p 391-394 Alceu Mauriacutecio Jr
Judicializaccedilatildeo da poliacutetica e a crise do direito constitucional a Constituiccedilatildeo entre ordem marco e ordem fundamenta Revista de
Direito do Estado n 10 p 125-142 abrjun 2008
144Der Staat der Industriegesellshaft 2 ed Muumlnchen Beck 1971 p 144 Apud Robert Alexy Posfaacutecio In Teoria dos direitos
fundamentais Op cit p 578
145De acordo com Carlos Santiago Nino o perfeccionaismo eacute la concepcioacuten seguacuten la cual es una misioacuten legiacutetima del Estado hacer
que los individuos acepten y materializen ideales vaacutelidos de virtud personal Seguacuten este enfoque el Estado no puede permanecer
neutral respecto de concepciones de lo bueno en la vida y debe adoptar las medidas educativas punitorias etc que sean necesa-
rias para que los indiviacuteduos ajusten su vida a los verdaderos ideales de virtud y del bien (Eacutetica y Derechos Humanos Un ensayo de
fundamentacioacuten 2 ed Buenos Aires Astrea 1989 p 413)
146Daniel Sarmento Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas 2 ed Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 Sobre o tema na literatura
nacional veja-se tambeacutem Wilson Antocircnio Steinmetz A vinculaccedilatildeo dos particulares aos direitos fundamentais Satildeo Paulo Malheiros
2004 Virgiacutelio Afonso da Silva Constitucionalizaccedilatildeo do direito os direitos fundamentais nas relaccedilotildees entre particulares Op cit
Ingo Wolfgang Sarlet Direitos fundamentais e direito privado algumas consideraccedilotildees em torno da vinculaccedilatildeo dos particulares aos
direitos fundamentais In Ingo Wolfgang Sarlet (Org) A Constituiccedilatildeo concretizada Porto Alegre Livraria do Advogado 1999 p
129-173 Jane Reis Gonccedilalves Pereira Apontamentos sobre a aplicaccedilatildeo das normas de direito fundamental nas relaccedilotildees juriacutedicas
entre particulares In Luis Roberto Barroso (Org) A nova interpretaccedilatildeo constitucional ponderaccedilatildeo direitos fundamentais e
relaccedilotildees privadas Rio de Janeiro Renovar 2003 p 119-192
147Sobre a questatildeo da (i)legitimidade do perfeccionismo no Direito veja-se Joel Feinberg Rights Justice and the Bounds of Liber-
ty Princeton Princeton University Press 1980 Carlos Santiago Nino Eacutetica y Derechos Humanos Op cit p 413-446 Rainer Forst
Contexts of Justice Political Philosophy beyond Liberalism and Communitarianism Traduccedilatildeo de John M M Farrel Berkeley Uni-
versity of Califoacuternia Press 2001 p 30-87 Macaacuterio Alemany El Paternalismo Juriacutedico Madrid Iustel 2006
148Um sofisticado modelo que busca conciliar a constitucionalizaccedilatildeo do Direito com a democracia estaacute exposto no Poacutesfaacutecio agrave Teo-
ria dos Direitos Fundamentais de Robert Alexy acima citado Veja-se ainda Konrad Hesse Concepto y Cualidad de la Constitu-
cion In Escritos de Derecho Constitucional Traduccedilatildeo de Pedro Cruz Villaloacuten 2 ed 1992 p 03-29
149Tentei articular a minha teoria sobre eficaacutecia horizontal dos direitos fundamentais com este objetivo Cf Daniel Sarmento
Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas Op cit p 141-182 259-272
150Sobre el Neoconstitucionalismo y sus Implicaciones Op cit p 117
151Aqui entendo que o simples reconhecimento da penetraccedilatildeo da Moral no Direito preconizada pelos neoconstitucionalistas brasi-
leiros natildeo eacute suficiente jaacute que certas concepccedilotildees morais podem tornar o ordenamento ainda mais opressivo do que jaacute eacute Afinal
nem sempre a moralizaccedilatildeo do Direito se daacute na direccedilatildeo da emancipaccedilatildeo dos excluiacutedos Veja-se por exemplo a famosa polecircmica
jusfilosoacutefica entre Lord Patrick Devlin e Herbert Hart nos anos 60 na Inglaterra a propoacutesito do uso do Direito Penal para promoccedilatildeo
de Moral em que o primeiro a partir de uma posiccedilatildeo proacute-moral sustentava a legitimidade da criminalizaccedilatildeo da conduta homos-
sexual que o segundo contestava (Cf Lord Patrick Devlin Morals and Criminal Law In Ronald Dworkin (Ed) The Philosophy of
Law Op cit p 66-82 Herbert Hart Immorality and Treason In Idem ibidem)
Eacute preciso assentar as bases criacuteticas desta Moral que deve penetrar o Direito para evitar que o moralismo conservador seja expulso
do ordenamento pela porta da frente superado pela legislaccedilatildeo moderna em razatildeo da progressiva liberalizaccedilatildeo da sociedade mas
volte pela porta dos fundos atraveacutes da argumentaccedilatildeo juriacutedica dos juiacutezes lastreada em conceitos vagos como ordem puacuteblica e
bons constumes ou em standards como o comportamento do bom pai de famiacutelia
39
37
127Colhi o exemplo no estudo de Oscar Vilhena Vieira Supremocracia In Daniel Sarmento (Org) Filosofia e teoria constitucional
contemporacircnea Rio de Janeiro Lumen Juris 2009
128Como um natildeo-positivista tenho a necessaacuteria imparcialidade para criticar os equiacutevocos da doutrina brasileira nas suas invectivas
contra o positivismo que muitas vezes caracterizam verdadeira falaacutecia do espantalho ataca-se natildeo a proacutepria teoria positivista
mas uma distorcida caricatura dela Duas afirmaccedilotildees erradas que eu mesmo jaacute fiz em textos anteriores satildeo muito frequumlentes a
de que o positivismo recusa a aplicaccedilatildeo dos princiacutepios juriacutedicos e a de que ele teria sido a Filosofia do Direito cultivada na Alema-
nha nazista
Quanto ao primeiro ponto natildeo haacute nenhuma incompatibilidade loacutegica entre positivismo e princiacutepios desde que os princiacutepios este-
jam devidamente incorporados na ordem juriacutedico-positiva Vaacuterios autores positivistas contemporacircneos jaacute citados neste estudo
como Luis Prietro Sanchiacutes Luigi Ferrajoli e Gregorio Peces-Barba atribuiacuteram espaccedilo importante para princiacutepios nas suas teorias
Mesmo no Direito Puacuteblico brasileiro juristas de inspiraccedilatildeo positivista kelseniana construiacuteram suas teorias com apoio em argumen-
taccedilatildeo principioloacutegica como o falecido Geraldo Ataliba e Celso Antonio Bandeira de Mello
No que tange ao segundo ponto - a chamada redutio ad hitlerum - os estudos mais autorizados de Histoacuteria do Direito comprovam
que natildeo foi o positivismo a teoria juriacutedica dominante no nazismo mas uma espeacutecie de jusnaturalismo de inspiraccedilatildeo hegeliana que
se insurgia contra o formalismo e recorria com frequumlecircncia a conceitos muito vagos para justificar a barbaacuterie como os de comuni-
dade popular (Volksgemeinschaft) Veja-se a propoacutesito Michael Stolleis The Law under the Swastika Studies on Legal History in
Nazi Germany Traduccedilatildeo de Thomas Dunlap Chicago The University of Chicago Press 1998
129Cf Joseacute Joaquim Gomes Canotilho Direito constitucional e Teoria da Constituiccedilatildeo Coimbra Almedina 1998 p 1036
130Sobre a importacircncia das regras veja-se Frederick Schauer Playing by the Rules A Philosophical Exaxamination of Rule-Bases
Decision-Making in Law and Life Oxford Oxford University Press 1998 Humberto Aacutevila Neoconstitucionalismo entre a ciecircncia do
direito e o direito da ciecircncia Op cit Noel Struchiner Posturas institucionais e modelagem institucional a dignidade (contingente)
do formalismo juriacutedico In Daniel Sarmento Filosofia e teoria constitucional contemporacircnea Op cit
131Esta eacute expressatildeo empregada por Ana Paula de Barcellos O direito constitucional em 2006 Revista de Direito do Estado n 5 p
03-23 janmar 2007
132Cf Chaiumlm Perelman P Fories La Motivation des Deacutecisions de Justice Bruxelas Eacutemile Bruylant 1978
133Sobra a influecircncia do jeitinho no Direito brasileiro cf Keith Rosen O jeito na cultura juriacutedica brasileira Rio de Janeiro Reno-
var 1997
134Sobre o patrimonialismo no Brasil veja-se Raimundo Faoro Os donos do poder 8 ed Rio de Janeiro Globo 1989 v 2 p 729-
750
135Raiacutezes do Brasil 26 ed Satildeo Paulo Companhia das Letras 1995
136Cf Joseacute Murilo de Carvalho Brasileiro Cidadatildeo In Pontos e bordados escritos de histoacuteria e poliacutetica Belo Horizonte Ed
UFMG 2005 p 275-288
137Cf Gustavo Zagrebelsky Il Diritto Mite Op cit p 15-19
138Cf Marcelo Neves A constitucionalizaccedilatildeo simboacutelica Satildeo Paulo Acadecircmica 1994
139A obra de Niklas Luhman eacute vasta e complexa e seus textos satildeo de difiacutecil compreensatildeo para os natildeo iniciados Veja-se do proacuteprio
autor Sociologia do direito I e II Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 1983 e 1985 Sistema Jurididico y Dogmaacutetica Juriacutedica Madrid
Centro de Estuacutedios Constitucionales 1983 Confira-se tambeacutem a coletacircnea organizada por Andreacute-Jean Arnaud Dalmir Lopes Jr Do
sistema social agrave sociologia juriacutedica Rio de Janeiro Lumen Juris 2004
140Sobre a autopoieses do Direito veja-se tambeacutem a obra importante de Guumlnther Teubner O direito como sistema autopoieacutetico
Traduccedilatildeo de Joseacute Engracia Nunes Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1993
141Cf Luis Roberto Barroso Neoconstitucionalismo e a constitucionalizaccedilatildeo do direito Op cit
142Esta era basicamente a visatildeo de Hans Kelsen (Cf Hans Kelsen Jurisdiccedilatildeo constitucional Traduccedilatildeo de Alexandre Krug et al Satildeo
Paulo Martins Fontes 2003 p 153) Para uma anaacutelise criacutetica desta posiccedilatildeo veja-se Luis Prietro Sanchiacutes Presupuestos ideoloacutegicos
y doctrinales de la jurisdicioacuten constitucional In Justicia Constitucional y Derechos Fundamentales Op cit p 21-100
38
143Cf Christian Starck La suprematie La Suprematie de la Constitution et la Justice Constitutionnelle In La Constitution Cadre et
Mesure du Droit Traduccedilatildeo de Freacutederic Weill Paris Econocircmica 1994 p 26-30 Ernst- Wolfgang Boumlckenfoumlrde Les meacutethodes
dinterpretation de la Constitution Un bilan critique In Le Droit lEacutetat et la Constitution Democratique Traduccedilatildeo de Olivier
Jouanjan Paris LGDJ 2000 p 249-250 Virgiacutelio Afonso da Silva Constitucionalizaccedilatildeo do direito os direitos fundamentais nas
relaccedilotildees entre particulares Satildeo Paulo Malheiros 2005 p 107-131 Daniel Sarmento Ubiquumlidade constitucional os dois lados da
moeda Op cit Luis Roberto Barroso Curso de Direito Constitucional Contemporacircneo Op cit p 391-394 Alceu Mauriacutecio Jr
Judicializaccedilatildeo da poliacutetica e a crise do direito constitucional a Constituiccedilatildeo entre ordem marco e ordem fundamenta Revista de
Direito do Estado n 10 p 125-142 abrjun 2008
144Der Staat der Industriegesellshaft 2 ed Muumlnchen Beck 1971 p 144 Apud Robert Alexy Posfaacutecio In Teoria dos direitos
fundamentais Op cit p 578
145De acordo com Carlos Santiago Nino o perfeccionaismo eacute la concepcioacuten seguacuten la cual es una misioacuten legiacutetima del Estado hacer
que los individuos acepten y materializen ideales vaacutelidos de virtud personal Seguacuten este enfoque el Estado no puede permanecer
neutral respecto de concepciones de lo bueno en la vida y debe adoptar las medidas educativas punitorias etc que sean necesa-
rias para que los indiviacuteduos ajusten su vida a los verdaderos ideales de virtud y del bien (Eacutetica y Derechos Humanos Un ensayo de
fundamentacioacuten 2 ed Buenos Aires Astrea 1989 p 413)
146Daniel Sarmento Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas 2 ed Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 Sobre o tema na literatura
nacional veja-se tambeacutem Wilson Antocircnio Steinmetz A vinculaccedilatildeo dos particulares aos direitos fundamentais Satildeo Paulo Malheiros
2004 Virgiacutelio Afonso da Silva Constitucionalizaccedilatildeo do direito os direitos fundamentais nas relaccedilotildees entre particulares Op cit
Ingo Wolfgang Sarlet Direitos fundamentais e direito privado algumas consideraccedilotildees em torno da vinculaccedilatildeo dos particulares aos
direitos fundamentais In Ingo Wolfgang Sarlet (Org) A Constituiccedilatildeo concretizada Porto Alegre Livraria do Advogado 1999 p
129-173 Jane Reis Gonccedilalves Pereira Apontamentos sobre a aplicaccedilatildeo das normas de direito fundamental nas relaccedilotildees juriacutedicas
entre particulares In Luis Roberto Barroso (Org) A nova interpretaccedilatildeo constitucional ponderaccedilatildeo direitos fundamentais e
relaccedilotildees privadas Rio de Janeiro Renovar 2003 p 119-192
147Sobre a questatildeo da (i)legitimidade do perfeccionismo no Direito veja-se Joel Feinberg Rights Justice and the Bounds of Liber-
ty Princeton Princeton University Press 1980 Carlos Santiago Nino Eacutetica y Derechos Humanos Op cit p 413-446 Rainer Forst
Contexts of Justice Political Philosophy beyond Liberalism and Communitarianism Traduccedilatildeo de John M M Farrel Berkeley Uni-
versity of Califoacuternia Press 2001 p 30-87 Macaacuterio Alemany El Paternalismo Juriacutedico Madrid Iustel 2006
148Um sofisticado modelo que busca conciliar a constitucionalizaccedilatildeo do Direito com a democracia estaacute exposto no Poacutesfaacutecio agrave Teo-
ria dos Direitos Fundamentais de Robert Alexy acima citado Veja-se ainda Konrad Hesse Concepto y Cualidad de la Constitu-
cion In Escritos de Derecho Constitucional Traduccedilatildeo de Pedro Cruz Villaloacuten 2 ed 1992 p 03-29
149Tentei articular a minha teoria sobre eficaacutecia horizontal dos direitos fundamentais com este objetivo Cf Daniel Sarmento
Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas Op cit p 141-182 259-272
150Sobre el Neoconstitucionalismo y sus Implicaciones Op cit p 117
151Aqui entendo que o simples reconhecimento da penetraccedilatildeo da Moral no Direito preconizada pelos neoconstitucionalistas brasi-
leiros natildeo eacute suficiente jaacute que certas concepccedilotildees morais podem tornar o ordenamento ainda mais opressivo do que jaacute eacute Afinal
nem sempre a moralizaccedilatildeo do Direito se daacute na direccedilatildeo da emancipaccedilatildeo dos excluiacutedos Veja-se por exemplo a famosa polecircmica
jusfilosoacutefica entre Lord Patrick Devlin e Herbert Hart nos anos 60 na Inglaterra a propoacutesito do uso do Direito Penal para promoccedilatildeo
de Moral em que o primeiro a partir de uma posiccedilatildeo proacute-moral sustentava a legitimidade da criminalizaccedilatildeo da conduta homos-
sexual que o segundo contestava (Cf Lord Patrick Devlin Morals and Criminal Law In Ronald Dworkin (Ed) The Philosophy of
Law Op cit p 66-82 Herbert Hart Immorality and Treason In Idem ibidem)
Eacute preciso assentar as bases criacuteticas desta Moral que deve penetrar o Direito para evitar que o moralismo conservador seja expulso
do ordenamento pela porta da frente superado pela legislaccedilatildeo moderna em razatildeo da progressiva liberalizaccedilatildeo da sociedade mas
volte pela porta dos fundos atraveacutes da argumentaccedilatildeo juriacutedica dos juiacutezes lastreada em conceitos vagos como ordem puacuteblica e
bons constumes ou em standards como o comportamento do bom pai de famiacutelia
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143Cf Christian Starck La suprematie La Suprematie de la Constitution et la Justice Constitutionnelle In La Constitution Cadre et
Mesure du Droit Traduccedilatildeo de Freacutederic Weill Paris Econocircmica 1994 p 26-30 Ernst- Wolfgang Boumlckenfoumlrde Les meacutethodes
dinterpretation de la Constitution Un bilan critique In Le Droit lEacutetat et la Constitution Democratique Traduccedilatildeo de Olivier
Jouanjan Paris LGDJ 2000 p 249-250 Virgiacutelio Afonso da Silva Constitucionalizaccedilatildeo do direito os direitos fundamentais nas
relaccedilotildees entre particulares Satildeo Paulo Malheiros 2005 p 107-131 Daniel Sarmento Ubiquumlidade constitucional os dois lados da
moeda Op cit Luis Roberto Barroso Curso de Direito Constitucional Contemporacircneo Op cit p 391-394 Alceu Mauriacutecio Jr
Judicializaccedilatildeo da poliacutetica e a crise do direito constitucional a Constituiccedilatildeo entre ordem marco e ordem fundamenta Revista de
Direito do Estado n 10 p 125-142 abrjun 2008
144Der Staat der Industriegesellshaft 2 ed Muumlnchen Beck 1971 p 144 Apud Robert Alexy Posfaacutecio In Teoria dos direitos
fundamentais Op cit p 578
145De acordo com Carlos Santiago Nino o perfeccionaismo eacute la concepcioacuten seguacuten la cual es una misioacuten legiacutetima del Estado hacer
que los individuos acepten y materializen ideales vaacutelidos de virtud personal Seguacuten este enfoque el Estado no puede permanecer
neutral respecto de concepciones de lo bueno en la vida y debe adoptar las medidas educativas punitorias etc que sean necesa-
rias para que los indiviacuteduos ajusten su vida a los verdaderos ideales de virtud y del bien (Eacutetica y Derechos Humanos Un ensayo de
fundamentacioacuten 2 ed Buenos Aires Astrea 1989 p 413)
146Daniel Sarmento Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas 2 ed Rio de Janeiro Lumen Juris 2006 Sobre o tema na literatura
nacional veja-se tambeacutem Wilson Antocircnio Steinmetz A vinculaccedilatildeo dos particulares aos direitos fundamentais Satildeo Paulo Malheiros
2004 Virgiacutelio Afonso da Silva Constitucionalizaccedilatildeo do direito os direitos fundamentais nas relaccedilotildees entre particulares Op cit
Ingo Wolfgang Sarlet Direitos fundamentais e direito privado algumas consideraccedilotildees em torno da vinculaccedilatildeo dos particulares aos
direitos fundamentais In Ingo Wolfgang Sarlet (Org) A Constituiccedilatildeo concretizada Porto Alegre Livraria do Advogado 1999 p
129-173 Jane Reis Gonccedilalves Pereira Apontamentos sobre a aplicaccedilatildeo das normas de direito fundamental nas relaccedilotildees juriacutedicas
entre particulares In Luis Roberto Barroso (Org) A nova interpretaccedilatildeo constitucional ponderaccedilatildeo direitos fundamentais e
relaccedilotildees privadas Rio de Janeiro Renovar 2003 p 119-192
147Sobre a questatildeo da (i)legitimidade do perfeccionismo no Direito veja-se Joel Feinberg Rights Justice and the Bounds of Liber-
ty Princeton Princeton University Press 1980 Carlos Santiago Nino Eacutetica y Derechos Humanos Op cit p 413-446 Rainer Forst
Contexts of Justice Political Philosophy beyond Liberalism and Communitarianism Traduccedilatildeo de John M M Farrel Berkeley Uni-
versity of Califoacuternia Press 2001 p 30-87 Macaacuterio Alemany El Paternalismo Juriacutedico Madrid Iustel 2006
148Um sofisticado modelo que busca conciliar a constitucionalizaccedilatildeo do Direito com a democracia estaacute exposto no Poacutesfaacutecio agrave Teo-
ria dos Direitos Fundamentais de Robert Alexy acima citado Veja-se ainda Konrad Hesse Concepto y Cualidad de la Constitu-
cion In Escritos de Derecho Constitucional Traduccedilatildeo de Pedro Cruz Villaloacuten 2 ed 1992 p 03-29
149Tentei articular a minha teoria sobre eficaacutecia horizontal dos direitos fundamentais com este objetivo Cf Daniel Sarmento
Direitos fundamentais e relaccedilotildees privadas Op cit p 141-182 259-272
150Sobre el Neoconstitucionalismo y sus Implicaciones Op cit p 117
151Aqui entendo que o simples reconhecimento da penetraccedilatildeo da Moral no Direito preconizada pelos neoconstitucionalistas brasi-
leiros natildeo eacute suficiente jaacute que certas concepccedilotildees morais podem tornar o ordenamento ainda mais opressivo do que jaacute eacute Afinal
nem sempre a moralizaccedilatildeo do Direito se daacute na direccedilatildeo da emancipaccedilatildeo dos excluiacutedos Veja-se por exemplo a famosa polecircmica
jusfilosoacutefica entre Lord Patrick Devlin e Herbert Hart nos anos 60 na Inglaterra a propoacutesito do uso do Direito Penal para promoccedilatildeo
de Moral em que o primeiro a partir de uma posiccedilatildeo proacute-moral sustentava a legitimidade da criminalizaccedilatildeo da conduta homos-
sexual que o segundo contestava (Cf Lord Patrick Devlin Morals and Criminal Law In Ronald Dworkin (Ed) The Philosophy of
Law Op cit p 66-82 Herbert Hart Immorality and Treason In Idem ibidem)
Eacute preciso assentar as bases criacuteticas desta Moral que deve penetrar o Direito para evitar que o moralismo conservador seja expulso
do ordenamento pela porta da frente superado pela legislaccedilatildeo moderna em razatildeo da progressiva liberalizaccedilatildeo da sociedade mas
volte pela porta dos fundos atraveacutes da argumentaccedilatildeo juriacutedica dos juiacutezes lastreada em conceitos vagos como ordem puacuteblica e
bons constumes ou em standards como o comportamento do bom pai de famiacutelia
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