UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
Reitor Carlos Edilson de Almeida ManeschyVice-Reitor Horácio SchneiderPró-Reitor de Administração
Edson OrtizPró-Reitora de Ensino de Graduação
Marlene de FreitasPró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação
Emmanuel Zagury TourinhoPró-Reitor de Extensão
Fernando Arthur de Freitas NevesPró-Reitor de Planejamento e Desenvolvimento
Erick PedreiraPró-Reitor de Gestão e Desenvolvimento de Pessoal João Cauby Júnior
CONSELHO EDITORIAL
Presidente Luiz Maffei (UFF)
Membros Maria de Lourdes Soares (UFRJ) Rosa Maria Martelo (Universidade do Porto) Ricardo Pinto de Souza (UFRJ) Phillip Rothwell (Rutgers University) Gerson Luiz Roani (Universidade Federal de Viçosa)
Augusto Sarmento-PantojaÉlcio Loureiro CornelsenTânia Sarmento-Pantoja
(Organizadores)
Literatura e Cinema de ResistênciaNovos olhares sobre a memória
Rio de Janeiro - Belém
© Augusto Sarmento-Pantoja, Élcio Loureiro Cornelsen e Tânia Sarmento-Pantoja (Organizadores), 2013
© Oficina Raquel, 2013
Editores Raquel Menezes e Luiz Maffei
Revisão: Tânia Samento-Pantoja
Editoração: Augusto Sarmento-Pantoja e Tânia Sarmento-Pantoja
CapaAugusto Sarmento-Pantoja
Fotografia Augusto Sarmento-Pantoja
Contato dos Organizadores:[email protected]@[email protected]
Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)Biblioteca Central da UFPA – Belém- PA
Literatura e Cinema de Resistência: novos olhares sobre a memória/Augusto
Sarmento-Pantoja, Élcio Loureiro Cornelsen e Tânia Sarmento-Pantoja
(organizadores). Rio de Janeiro: Editora Oficina Raquel, 2013.
ISBN: 978-85-65505-12-3
1.Cultura. 2. Educação. 3 Pesquisa
CDD B869-91
www.oficinaraquel.com
Cinema & Resistência09
Memória e Resistência Cultural: Reflexões sobre a produção audiovisual entre o patrimônio
intangível e a espetacularização da culturaAndréa Casa Nova Maia
11
Imagens do Futebol no Cinema Brasileiro Contemporâneo:Memória e drama social como modos de resistência
Élcio Loureiro Cornelsen33
Visualidad y Resistencia:El héroe en el imaginario cinematográfico chileno
entre 1970 y 2008Gonzalo Leiva Quijada
49
Dictaduras y Resistencias en el Cine ArgentinoGustavo Aprea
63
Vermelho Como o Céu de RosaMayara Ribeiro Guimarães
81
Estéticas da Resistência91
Sobre o espetáculo em Guy DebordAugusto Sarmento-Pantoja
95
Literatura e Liberdade (a procura da palavra justa)Eduardo Pellejero
105
Direito pós-fáustico:Por um novo tribunal como espaço de rememoração
e elaboração dos traumas sociaisMárcio Seligmann-Silva
123
SSuummáárriioo
Pensar a resistência pela infância: o brinquedo como miniaturização e rastro
Tânia Sarmento-Pantoja139
A terra que não dorme: o testemunho no entremeio do sonho e da realidade
Viviane Dantas Moraes153
Outras Resistências163
Histórias de vida de quebradeiras de côco do Araguaia: mulheres e resistência cultural num território de conflitos
Ailce Margarida Negreiros Alves165
Termos e expressões do falar marabaense: sobre a literatura em Marabá
Eliane Pereira Machado Soares177
Benedito Nunes e o cinema: discussões na década de 1950 em Belém do Pará
Maria de Fátima do Nascimento187
Resistências Poéticas193
Sobre a Pelejja por Augusto Sarmento-Pantoja - 195Aufgabe e Destituição III por Tânia Sarmento-Pantoja - 196
O Dia em Abaetetuba por Eduardo Aníbal Pellejero - 197Cotijuba: memória e ruína de uma ilha-prisão por Augusto
Sarmento-Pantoja e Tânia Sarmento-Pantoja - 202
Os Organizadores205
SSuummáárriioo
Apresentação
Este livro apresenta-se como mais um esforço dos pesquisadores de
diversos grupos e instituições, articulados com investigações envolvendo
literatura, cinema e resistência, em busca de desvendar caminhos ainda obscuros
na pesquisa em ciências humanas e literatura. Nesta coletânea se encontram
vários resultados dessas investigações que, na forma de estudos, foram
primeiramente apresentados no III Seminário Nacional Literatura e Cinema de
Resistência (SELCIR), realizado no período de 27 a 31 de agosto de 2012, na
Universidade Federal (UFPA). O III SELCIR foi organizado pelos grupos de
pesquisa Estudos de Narrativa de Resistência (NARRARES) e Estéticas,
Performances e Hibridismos (ESPHERI), sob a coordenação dos professores
Tânia Sarmento-Pantoja e Augusto Sarmento-Pantoja. O evento contou ainda
com a colaboração do Prof. Élcio Loureiro Cornelsen, da Universidade Federal de
Minas Gerais (UFMG), que co-coordenou o evento como convidado externo à
UFPA.
Para a realização do III SELCIR contamos com fomento da Coordenação
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) por meio do edital de
apoio a eventos no país CAPES 004/2012; da Fundação Amazônia Paraense
(FAPESPA), por meio do edital de Apoio à eventos 002/2012; da Fundação de
Amparo e Desenvolvimento à Pesquisa (FADESP), Pró-Reitoria de Pesquisa e
Pós-Graduação (PROPESP) da UFPA, por meio do edital PAEV 03/2012.
Contamos ainda com o apoio logístico e fomento do Programa de Pós-Graduação
em Letras (PPGL/UFPA). Deixamos registrado que sem aos referidos
financiamentos e o apoio do PPGL seria difícil a materialização do evento e a
concretização deste livro.
Durante os dias de realização do III SELCIR estreitamos os laços
acadêmicos com diversos pesquisadores, em âmbito regional, nacional e
internacional. Os trabalhos apresentados estão disponíveis nos Anais do III
SELCIR e podem ser encontrados no site do evento: iiiselcir.wordpress.com/
anais. As conferências e as palestras proferidas nas mesas de debates estão
sendo disponibilizados neste livro.
Consideramos imprescindível o esforço em divulgar a produção por meio
de uma coletânea, pois materializa as devidas interlocuções com diversos
pesquisadores no Brasil e fora dele em uma prática bastante salutar. Para nós, o III
SELCIR, expressa bem nosso esforço, pois tivemos 48 comunicações,
organizadas em 12 sessões; 15 palestras, distribuídas em 5 mesas de debate; e 8
conferências.
O livro Literatura e Cinema de Resistência: novos olhares sobre a memória
conta com 13 artigos científicos, distribuídos em três seções: “Cinema &
Resistência”, composta de cinco artigos que contribuem para o debate acerca das
relações entre cinema e as várias formas de resistência, em narrativas de ficção e
documentários, abrangendo tanto o cinema, brasileiro, quanto experiências no
Chile, na Argentina e na Itália. Em seguida temos “Estéticas da Resistência”,
seção com cinco trabalhos voltados às dimensões estéticas que envolvem o
espetáculo, a elaboração do trauma, o papel do brinquedo na infância e o
testemunho. A última seção de estudos chama-se “Outras Resistências” e aponta
para outros caminhos intrínsecos à presença da resistência em objetos não
artísticos, o que implica uma travessia para campos de conhecimento para além
da teoria da literatura e da estética: antropologia, sociologia, linguística , história
das mentalidades etc. O livro finaliza com um último setor destinado a arte literária
por nós chamadas de “Resistências Poéticas”, que agrega a poesia e o conto de
alguns dos pesquisadores desta coletânea e um ensaio fotográfico, em mais um
exercício de resistência.
Esse projeto não pode se dizer fundamental apenas por tratarmos de
pesquisas de grande envergadura em âmbito acadêmico, mas também, e
principalmente, por representar a incansável tarefa do pesquisador comprometido
com o dever de memória: resistir, resistir, resistir.
Os Organizadores
Apresentação [08] Os Organizadores
Cinema & Resistência
O cinema teve para a modernidade importância capital no que concerne ao
surgimento de novos regimes de representação, pois instaura uma nova
sensibilidade junto ao público. Walter Benjamin, em texto seminal e bastante
conhecido, A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica, procura mostrar
como essa nova sensibilidade altera o modo de olhar e perceber a experiência. A
captura de universos marcados pela ruína e pelos afetos instaura um saber acerca
do tempo e acerca da experiência comunitária. Contudo, em uma Era que não é só
da Modernidade, mas também das Catástrofes, que corresponde ao Século XX e
ao seu herdeiro, o Século XXI, reverberam nessa experiência os antagonismos
constituídos a partir não apenas de um modo de ser, mas, sobretudo, de um modo
de estar em sociedade.
Essa condição, multifacetada, pode ser apreendida pelos objetos artísticos
de variadas formas e lugares. Ao cinema cabe, a partir do labor com a imagem,
codificar o gesto plurissignificativo desse modo de estar. Se esse modo de estar
corteja, na relação de antagonismo, um pensar acerca do Mal, é possível que
nessa beligerância se faça presente o gesto de resistência ou pelo menos um
lugar especulativo a partir do qual se reflita acerca da resistência ou de sua
ausência. Os textos que compõem a seção Cinema & Resistência apontam para
essas possibilidades.
Memória e Resistência Cultural – reflexões sobre a produção audiovisual
entre o patrimônio intangível e a espetacularização da cultura, parte da
apresentação de um vídeo documentário, que foi um dos produtos de uma
pesquisa histórica sobre a cultura nos antigos Caminhos do Diamante, entre o
Serro e Diamantina (MG). O vídeo constitui-se como ferramenta de registro e
preservação de alguns aspectos da cultura tradicional e dos distintos modos de
vida dos habitantes de pequenos povoados, às margens do antigo caminho de
tropas, mas ao mesmo tempo se instaura no ensaio como provocação a um
pensar acerca dos processos de tratamento da memória. A partir dessa leitura, é
instaurado um debate pautado na seguinte problematização: em que medida é
possível falar de uma resistência através da memória documentada em
fragmentos, já que alguns elementos da cultura regional foram espetacularizados
para atender ao Turismo ou outras demandas externas a essas comunidades.
O ensaio Imagens do futebol no cinema brasileiro contemporâneo:
memória e drama social como modos de emergência visa à análise comparativa
dos filmes Boleiros – era uma vez o futebol… (1998), de Ugo Giorgetti e Linha de
passe (2008), de Walter Salles e Daniela Thomas. O tratamento fílmico dado às
imagens do futebol no Brasil, enquanto modos de resistência ao esquecimento e
ao descaso social, constitui sua principal linha argumentativa.
Em Visualidad y resistencia: El héroe en el imaginario cinematográfico
chileno entre 1970 y 2008 é possível observar como a produção cinematográfica
chilena sofre considerável metamorfose em função do Golpe Militar de 1973 e
interage com esse episódio histórico, firmando-se como lugar de resistência. A
construção desse lugar de resistência – e memória, se faz a partir de uma crítica
do olvidamento a que desde então o cinema chileno esteve sujeito. Crítica
constituída, seja pela presença de protagonistas fracassados, seja por
reconhecer que o lugar de onde se fala é o de um país periférico, com uma
memória ferida.
Dictaduras y resistencias en el cine argentino procura, considerando uma
cartografia prévia, interpretar as lógicas políticas e estéticas a partir das quais foi
concebida a resistência cinematográfica. A proposta é comparar dois momentos,
as ditaduras autodenominadas “Revolução Argentina”, que se estendeu de 1966 a
1973 e o “Processo de Reorganizacão Nacional”, que assolou o país entre os anos
de 1976 e 1983, com vistas a verificar de que modo a resistência esteve
constituída em cada um desses momentos.
Vermelho como o céu de Rosa, além do belíssimo título, propõe, pela
perspectiva do personagente, invenção criada por Guimarães Rosa para designar
o ser convertido em essência autêntica, uma leitura do conto “Pirlimpsiquice”, de
Primeiras estórias, em diálogo poético com o filme Rosso come il cielo (2004), de
Cristiano Bortone. Uma possibilidade de leitura em que poesia e cinema figuram
como instrumentos de resistência à automatização da vida e da arte a partir da
infância como núcleo central.
Os Organizadores
Cinema e Resistência [10] Os Organizadores
Estéticas da Resistência
Ilana Feldman em um texto intitulado O apelo realista cita Jean-Louis
Comolli: “No auge do triunfo do espetáculo, espera-se um espetáculo que não
mais simule”. O que parece mais uma ilusão frente a um universo que aposta cada
vez mais não somente na simulação, mas sobretudo no simulacro e na
dissimulação, percebemos que o espetáculo pode se transformar em uma
ferramenta conceitual densa e capaz de dar conta de experiências antes
impensáveis de serem compreendidas na chave do espetáculo, como é o caso
dos textos de cunho memorialístico, caso, por exemplo, do testemunho. Contudo,
para que essa possibilidade se materialize é necessário repensar o próprio
conceito de espetáculo. É justamente esse desafio que norteia o estudo de
Augusto Sarmento-Pantoja em Sobre o Espetáculo em Guy Debord. O autor
retoma A Sociedade do Espetáculo, obra máxima do pensamento filosófico de
Guy Debord, em busca de repensar a relação do ensaio de Debord com o
pensamento marxista e a dimensão estética, com vistas à compreensão das
poéticas visuais contemporâneas. Na revisitação ao texto base de Debord
Sarmento-Pantoja estabelece um repensar acerca do espetáculo sobre o viés das
visualidades, para assim construir uma argumentação que compreende o
espetáculo como processo de formulação das espetacularizações e das
performances artísticas.
Em Literatura e Liberdade (a procura da palavra justa), ensaio de Eduardo
Pellejero, o núcleo especulativo é a liberdade pensada como imperativo para a
arte, para além dos projetos políticos e morais. Por essa razão Pellejero analisa as
diferentes esferas em que se encontram a literatura e a moral, privilegiando o
papel que a ideia de liberdade assume no limiar entre esses dois campos e como a
dimensão ética se torna um dos principais interlocutores em produções artísticas,
cujos autores estiveram deliberadamente envolvidos com a práxis política. É o
caso de Francisco “Paco” Urondo, ativista político e militante que, no contexto da
ditadura argentina, foi assassinado, em 1976, durante cerco conjunto organizado
pela polícia e pelo exército. E Haroldo Conti, que também em 1976, no mesmo
contexto em que ocorre a morte de Urondo, foi seqüestrado por forças policiais e
até hoje figura como desaparecido político. O autor analisa a produção dos dois
com vistas a traçar algumas considerações acerca da procura da palavra justa,
pensada no entremeio entre o dever de justiça e a adequação da matéria artística.
As preocupações com a memória e sua relação com o dever de justiça
permanecem como núcleo fulcral dos trabalhos que compõem a presente
coletânea. Assim como o espetáculo se torna uma alternativa instrumental e
conceitual para a compreensão de determinadas performances, algumas
categorias implicadas em uma teoria – e uma filosofia do direito, como é o caso do
tribunal, se constituem no ponto de partida de Márcio Seligmann-Silva no ensaio
Direito pós-fáustico: Por um novo tribunal como espaço de rememoração e
elaboração dos traumas sociais. O trabalho apresenta algumas ideias acerca da
questão da memória e do arquivamento em um mundo afundado na hipermnésia
do universo da web. Enfoca alguns aspectos no que tange às dificuldades da
rememoração e do arquivamento, destacando o papel do testemunho como meio
de inscrição da violência e como canal de busca da justiça. Desse modo, introduz
uma consciência clara da relação entre direito e memória, que revela também a
necessária relação entre direito e política. Destaca também a amnésia e a
hipomnésia como faces não menos importantes da nossa hipermnésia. Com base
em Jacques Derrida para quem, em Mal de arquivo, “Não haveria certamente
desejo de arquivo sem a finitude radical, sem a possibilidade de um esquecimento
que não se limita ao recalcamento.” (2001, 32), Seligmann-Silva aposta na ideia
de que o esquecimento pode ter muitas faces: o apagamento, a tentativa de borrar
da história, uma amnésia provocada por catástrofes naturais, ou ainda um
esquecimento decretado que, no fundo é uma contradição nos seus próprios
termos. Para ele o testemunho, como exercício de narrar e elaborar traumas
sociais, na prática política, conforme se mostra, é uma tentativa de se escovar a
história a contrapelo, abrindo espaço para aquilo que normalmente permanece
esquecido, recalcado e legado a um segundo (ou último) plano.
Igualmente sem perder de vista a dimensão do trabalho com a memória o
ensaio Pensar a resistência pela infância: o brinquedo como miniaturização e
Estéticas da Resistência [92 ] Os Organizadores
rastro, de Tânia Sarmento-Pantoja, parte de várias contribuições de Giorgio
Agamben e Walter Benjamin, para pensar acerca da infância como paradigma e
ferramenta conceitual. O intuito central é construir algumas considerações acerca
da miniaturização e de como essa categoria pode auxiliar no desvelamento de
alguns nuances presentes na narrativa da catástrofe com protagonismo infantil.
Testemunho, experiência anticolonial e dever de memória são os aspectos
que movem a análise realizada por Viviane Dantas Moraes, no estudo A terra que
não dorme: o testemunho no entremeio do sonho e da realidade. Para Dantas
Moraes o romance Terra Sonâmbula, do escritor moçambicano Mia Couto, assim
como muitas de suas obras, retrata uma visão intimista da África devastada pelas
conseqüências da colonização e pela violência de quase trinta anos de guerra civil
e anticolonial. No livro, um menino e um homem desamparados pelas atrocidades
do conflito encontram ao lado de um jovem morto uma mala com vários escritos.
Cada um dos cadernos retrata os horrores desse universo destruído, além de nos
revelar, ao mesmo tempo, as tentativas que a memória tem de camuflar ou
transfigurar fatos a partir de experiências dolorosas. Por meio dos cadernos, que
podem servir como uma espécie de testemunho de um fugitivo de guerra, o
menino Muidinga e o velho Tuhair adentram em vários relatos que traduzem o
sentimento conturbado de uma terra devastada pela catástrofe. Entrelaçando
memória, identidade e História, os manuscritos de Kindzu trazem à tona a tradição
oral africana, símbolo da resistência identitária que, de certa forma, aludem à
única tentativa de vivência de um povo castigado pelos sofrimentos da guerra.
Os Organizadores
Literatura e Cinema de Resistência: [93] Novos olhares sobre a memória
Outras Resistências
Os rastros da memória podem se expressar de muitos modos. Muitos são
os modos de usá-los. Diversificados, os rastros cintilam não apenas o tempo a que
estiveram factualmente agregados, cintilam outras mobilidades da práxis
humana. Os rastros transmitem – e tramitam – uma “tradição” como aquela a que
se reporta Jeanne Marie Gagnebin no conhecido ensaio A Cicatriz de Ulisses.
Traços como a cicatriz deixada por um javali no corpo de Ulisses nos dizem da
“continuidade das gerações”, das alianças da força da palavra. Nos falam de
outras dimensões da existência humana, especialmente daquelas existências
singulares, não somente porque são singulares, mas porque se deixaram
envolver por formas de resistência. A possibilidade de correlação entre resistência
e memória é reclamada como norte nos estudos que compõem os textos desta
seção.
O estudo apresentado por Ailce Margarida Negreiros Alves, intitulado
Histórias de vida de quebradeiras de côco do Araguaia: mulheres e resistência
cultural num território de conflitos têm como locus e objeto a micro-região do
Araguaia, mais precisamente os municípios de São Domingos do Araguaia e
Palestina do Pará. Trata-se de um dos territórios entre os tantos das regiões que
compõe o Sudeste do Pará onde residem e resistem centenas de mulheres
sobrevivendo da quebra do coco babaçu. Buscando formas de sobrevivência,
essas mulheres catam, quebram e beneficiam o babaçu produzindo vários
subprodutos: azeite, sabonete, farinha, carvão e o artesanato usado como
utensílios domésticos (abanos, cestos, esteiras, etc.). Há também um espaço em
disputa, onde essas mulheres sofrem pressões de todas as ordens, conforme
mostram seus relatos. Intalaram-se ali mandos e desmandos das oligarquias da
castanha; grandes projetos da conhecida Operação Amazônia; da Guerrilha do
Araguaia; e mais recentemente do agronegócio. O estudo analisa as formas de
resistência construídas pelas mulheres quebradeiras de coco babaçu na luta pela
sobrevivência, bem como o enfrentamento das variadas formas de pressão,
opressão e exploração, além da resistência à tentativa do modelo de
desenvolvimento vigente, de eliminar essa forma de vida no campo.
Os Organizadores
Augusto Sarmento-Pantoja: Doutorando em Teoria e
História Literária pela UNICAMP. Mestre em Letras pela
UFPA (2006). Possui Graduação em Letras pela UFPA.
Atualmente e professor Assistente II, de Literatura
Vernácula na UFPA (Campus Abaetetuba). Lidera o grupo
de Pesquisa Estéticas, Performances e Hibridismos (ESPERHI) e coordena o
projeto de pesquisa Performance e espetacularização da violência nas narrativas
da memória traumática pós-64, com financiamento da PROPESP/UFPA, por meio
da Bolsa PIBIC-Interior/UFPA. Organizou as coletâneas: Cultura, Educação e
Pesquisa na Amazônia (2011); Memória e Resistência: percursos, histórias e
identidades ( 2012); Vertigens no Olhar: estudos de literatura vernácula (2012).
Élcio Loureiro Cornelsen. Possui graduação em Letras
Alemão e Português pela USP (1992), Mestrado em Letras
(Língua e Literatura Alemã) pela USP (1995), doutorado em
Germanística-Freie Universität Berlin(1999), na Alemanha,
pós-doutorado em Estudos Organizacionais pela Fundação
Getúlio Vargas (FGV-EAESP; 2005), e pós-doutorado em Teoria Literária pelo
Instituto de Estudos da Linguagem, da Unicamp (IEL-Unicamp; concluído em fev.
2010). É Professor Associado II da Faculdade de Letras da UFMG, credenciado
junto ao Programa de Pós Graduação em Estudos Literários. É docente
credenciado junto ao Programa de Pós-Graduação em Estudos do Lazer, da
Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional (EEFFTO/UFMG).
É membro do Grupo Integrado de Pesquisa: Literatura e Autoritarismo;
(CAL/UFSM-RS) desde 2000, do Núcleo Walter Benjamin (FALE/UFMG), desde
2006, do Núcleo de Estudos sobre Literatura e Guerra (FALE/UFMG), desde
2009, e líder do FULIA - Núcleo de Estudos sobre Futebol, Linguagem e Artes
[205]
(FALE/UFMG), fundado em 2010. Tem experiência na área de Letras, com ênfase
em Literatura Moderna Alemã, Literatura, História e Memória Cultural, e Literatura
e outros Sistemas Semióticos, atuando principalmente nos seguintes âmbitos:
teoria literária, literatura alemã, língua alemã, análise do discurso e cinema.
Atualmente, desenvolve atividades também no âmbito da relação entre futebol,
linguagem, artes e cultura. É Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq -
nível II e do Programa Pesquisador Mineiro da FAPEMIG, com o Projeto:
Literatura, Música e Futebol.
Tânia Sarment-Pantoja. Possui graduação em Letras pela
Universidade Federal do Pará (1995), mestrado em Letras
pela Universidade Federal de Pernambuco (1999) e
doutorado em Estudos Literários pela Universidade
Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2005).
Foi bolsista CAPES no Mestrado e no Doutorado. Atualmente, é professora
Adjunto I da Universidade Federal do Pará atuando na Graduação e na Pós-
Graduação. Possui experiência na área de Letras, com ênfase em narrativas
literárias brasileiras e portuguesas, desenvolvidas na contemporaneidade,
atuando principalmente nos seguintes tópicos: narrativa pós-ditatorial, narrativa
de resistência, romance histórico contemporâneo de língua portuguesa. Tem
trabalhos publicados sobre Jorge de Sena, José Riço Direitinho, Alexandre
Pinheiro Torres, Benedicto Monteiro, Bernardo Carvalho, Antonio Callado, Ignácio
de Loyolla Brandão, entre outros. É líder do Grupo de Pesquisa NARRARES -
Estudos sobre narrativa de resistência. Organizou as coletâneas: Multiplicidades
do discurso (2010) Memórias do Presente (2012), Vertigens do Olhar: estudos de
literatura vernácula (2012).
[206]